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DIÁSPORA

Apesardisso,decisõesprecisaramsertomadaspara queessaspessoas pudessemgradativamente,viver sem medo da incerteza do amanhã. É meados de 1989quandoRitaPreta,entãolíderdogrupo,decide tentar a sorte na cidade, em busca de facilitar a venda das peças. Cerca de 300 pessoas a acompanharam, da Serra do Talhado até Santa Luzia. Segundo Gileide Ferreira, presidente da associação e antiga moradora do Talhado, “A mudançafoidifícil,masagenteprecisouseadaptar, não tinha outra escolha. Foi a única forma que encontramosparasobreviver.Aindaficaramalgumas pessoas, mas com as dificuldades, foram vindo.”. Gileide recorda saudosa dos tempos em que ainda estavalá.

“A gente era feliz e não sabia'', diz, com um sorriso presonocantodabocaeoolharlevedequemtem saudade,masaprendeuaverbelezaemoutrolugar. Olocalqueasabrigoueque,apesardasdificuldades, semprefoiconsideradolar,precisouserdeixadopara trás. Para o historiador Iranilson Buriti, professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), os benefícios do êxodo para a comunidade do Talhado estão desde o acesso à água até a maior proximidadedoproduto comoconsumidor.

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Para ele, apesar da mudança também apresentar pontos negativos, como o desenraizamento cultural com ela foi possível uma estabilidade econômica maiorparaaspessoasdoquilombo.

Antes, no Talhado, precisavam caminharcercade12horasatéSanta Luzia,paraconseguirvenderaspeças. Hoje, comercializam no próprio galpão onde produzem as louças; com mais facilidade na venda, conseguiram aumentaraproduçãoemcercade100 peças - cada uma das mulheres produz,emmédia,200louçaspormês. Com a criação da associação, que congrega13mulheresnegrasartesãs, passamachamarmaisatençãoparao trabalhohonesto,degarraeresistência queexercem,firmandoparcerias estratégicas como a celebrada com o Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (PROCASE), que as ajudaram em ganho de infraestrutura e visibilidade. A situação da comunidade melhorou, mas seria inocência falar que ela vive completamente bem. Apesar da paixão envolvida desde o manuseio da matéria-prima até a finalização do artesanato, a população do Talhado ainda sofre e luta pela sua sobrevivência.

A Asmudanças,inegavelmente,aconteceram,mas smudanças,inegavelmente,aconteceram,mas aindahámuitoaserfeitoparaqueoquilombodo aindahámuitoaserfeitoparaqueoquilombodo

Talhado seja próspero em todas as suas Talhado seja próspero em todas as suas potencialidades. A solução foi encontrada e tem potencialidades. A solução foi encontrada e tem tido êxito desde então, tanto do Talhado Rural tido êxito desde então, tanto do Talhado Rural quanto do Urbano (embora em proporções quanto do Urbano (embora em proporções distintas), mas a situação provavelmente seria distintas), mas a situação provavelmente seria melhorsehouvessemaisapoiodopoderpúblico. melhorsehouvessemaisapoiodopoderpúblico.

Nesse sentido, o historiador Iranilson Buriti Nesse sentido, o historiador Iranilson Buriti aponta um caminho: “Apesar do território ser aponta um caminho: “Apesar do território ser reconhecido como comunidade quilombola e de reconhecido como comunidade quilombola e de haver um registro sobre isso, infelizmente muitas haver um registro sobre isso, infelizmente muitas vezes as políticas públicas existentes não vezes as políticas públicas existentes não chegam até essas comunidades. Elas ficam à chegam até essas comunidades. Elas ficam à míngua e na dependência de uma ajuda da míngua e na dependência de uma ajuda da prefeitura ou órgão local. As louceiras precisam prefeitura ou órgão local. As louceiras precisam de um reconhecimento muito maior para que a de um reconhecimento muito maior para que a artedelassejavalorizadanãosomenteenquanto artedelassejavalorizadanãosomenteenquanto um patrimônio histórico material e imaterial, mas um patrimônio histórico material e imaterial, mas também como um local de sobrevivência, de também como um local de sobrevivência, de onde elas tiram o sustento não somente para si, onde elas tiram o sustento não somente para si, comotambémparasuafamília.” comotambémparasuafamília.”

Oprofessorcontinua,afirmandomaisumaveza Oprofessorcontinua,afirmandomaisumaveza necessidade de reconhecimento dessas necessidade de reconhecimento dessas mulheres: “As louças são criadas por elas, “As louças são criadas por elas, formam um patrimônio para o país, formam um formam um patrimônio para o país, formam um bem cultural que resiste há séculos, apresenta bem cultural que resiste há séculos, apresenta diversas características culturais e ecológicas, diversas características culturais e ecológicas, masaindaassimaslouceirasprecisamlutarpelo masaindaassimaslouceirasprecisamlutarpelo reconhecimentodopoderpúblico. reconhecimentodopoderpúblico.

Énecessáriaapreservaçãodessesabertradicional Énecessáriaapreservaçãodessesabertradicional e do produto, além da proteção para essas e do produto, além da proteção para essas comunidades.” Até que a valorização das comunidades.” Até que a valorização das contribuiçõesdaslouceirasparaahistóriaecultura contribuiçõesdaslouceirasparaahistóriaecultura do país se materialize, de forma mais efetiva, em do país se materialize, de forma mais efetiva, em ações que deem assistência a continuação dessa ações que deem assistência a continuação dessa arte no território quilombola e que melhorem arte no território quilombola e que melhorem efetivamente a vida dessas pessoas, essas efetivamente a vida dessas pessoas, essas mulherescontinuarão‘dandoacaraatapa’esendo mulherescontinuarão‘dandoacaraatapa’esendo exemploderesistência. exemploderesistência.

Porém, não queremos romantizar essa luta, sob Porém, não queremos romantizar essa luta, sob penademascararadificuldadequeessaspessoas penademascararadificuldadequeessaspessoas encontram, ainda hoje, de serem reconhecidas e encontram, ainda hoje, de serem reconhecidas e vistas. Elas precisam ser enxergadas não só pela vistas. Elas precisam ser enxergadas não só pela arte que produzem, mas também por quem são; arte que produzem, mas também por quem são; mulheres, crianças, homens, sujeitos que pagam mulheres, crianças, homens, sujeitos que pagam seusimpostos,têmhistórias,sonhospararealizar. seusimpostos,têmhistórias,sonhospararealizar. Esperamos que, contando a história dessas Esperamos que, contando a história dessas pessoas, consigamos abrir espaços para que elas pessoas, consigamos abrir espaços para que elas próprias possam falar e serem ouvidas. As próprias possam falar e serem ouvidas. As mulheres louceiras da Serra do Talhado, assim mulheres louceiras da Serra do Talhado, assim comoasdemaisespalhadasaoredordosemiárido comoasdemaisespalhadasaoredordosemiárido paraibano e lugares distintos do país, mostram ter paraibano e lugares distintos do país, mostram ter uma excelente solução para a convivência com o uma excelente solução para a convivência com o climainfecundo,porissosãosímboloderesistência climainfecundo,porissosãosímboloderesistência e empoderamento, ao usar simplesmente barro, e empoderamento, ao usar simplesmente barro, junto com grande criatividade, perícia e amor, para junto com grande criatividade, perícia e amor, para garantir a continuidade de suas vidas, assim como garantir a continuidade de suas vidas, assim como oJoãodeBarro. oJoãodeBarro.

Precesdeumsertanejo

Passos arrastados pela terra seca, nas costas, o peso do mundo, no céu, um sol macho digno do sertão. — Ô, meu Deus, se eu pudesse te pedir algo, pediria para que olhasse para o nosso povo.

A minha terra é bonita demais para esquecida ficar; o tempo é uma energia não renovável, por isso, avexe o passo, meu amigo, fazer o bem é o melhor que há. A prece que tanto pedi a Deus, foi finalmente atendida e vem doce feito o mel para abrandar nossos corações.

Prefiro as coisas simples lá do sertão e também as novas inovações que vieram para mudar nossa situação. A energia renovável já nos vem da natureza, com a força do vento a eólica faz florescer a esperança; e quem diria que até o sol que faz arder nossa cabeça, é razão da luz nos fornecer.

Tenho pra mim que o vento não deixará de soprar e a chuva voltará a cair. Mas o teu povo, meu Deus, segue aqui; firme, forte e de braços sempre abertos para receber as tuas bênçãos enviadas dos céus. Não abro mão da minha terra, tão amada, pois, já dizia Patativa do Assaré: “sou brasileiro, filho do Nordeste, cabra da peste”, sou feliz.

MariaEduardaBatista

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