Deriva Continental Imagética - o percurso em cinco cidades européias, primavera de 2015

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DERIVA CONTINENTAL IMAGÉTICA O PERCURSO EM CINCO CIDADES EUROPÉIAS PRIMAVERA DE 2015

Márcio Rocha



Titulo: Deriva continental imagética. O percurso em cinco cidades européias primavera de 2015. Editora: PGE/UEM Ano: 2015 Cod. Assunto: 770 ISBN: 978-85-87884-32-9 Conselho Editorial: Beatriz Ribeiro Soares Wagner Costa Ribeiro Dirce Maria Antunes Suertegaray Cesar Miranda Mendes Maria Teresa de Nobrega

NEMO - Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização Maringá - Paraná - Brasil

Fotografia e Textos: Márcio Mendes Rocha

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PREFÁCIO Este trabalho de Márcio Rocha é antes de tudo bonito. São fotos agradáveis de se ver, revelando um olhar atento, objetivo e, ao mesmo tempo, sensível. E é a isso mesmo que ele se propõe. Sua ideia explícita é a de fazer derivas (p. 6-8), que, neste caso, se exprimem através da imagem. Isso se inspira em trabalhos de Guy Debord e diz respeito a um método-teoria psicogeográfico, segundo o qual a subjetividade do observador de algum modo revela verdades da vida urbana. O pesquisador ou grupo de pesquisadores voltando-se sobre o próprio caminho que fizeram dentro de uma ou outra ou, ainda, outras urbes podem compreender suas próprias motivações na escolha das direções que tomaram. A partir disso, veem-se, então, produzindo conhecimento sobre as cidades e, muitas vezes, transformando-as (ver Berenstein, 2003). O pesquisador, nessa proposta, deixa-se conduzir pelo meio, pelos caminhos que, ambos, meio urbano e ele traçam ao sabor dessa relação subjetiva-objetiva que se cria entre ambos, cidade e pesquisador. A palavra “deriva” parece ser muito bem escolhida para esse propósito. “Dérive”, em francês, que é a língua originária desse tipo de trabalho, assim como em português, significa “desvio” de uma embarcação, mas não um desvio qualquer, mas aquele causado pelas correntes; significa também abandonar-se (CNTR, 2015), ir à aventura, etc. Transplantando isso para a psicogeografia, temos o pesquisador que é levado ao sabor das “correntes” da cidade, suas linhas de força e atração, ao mesmo tempo em que nela se aventura. O sujeito deixa-se levar pelas suas próprias emoções e por aquilo que no meio urbano que ele visita está relacionado a elas. Mas, não se trata exatamente de algo passivo. A tática da deriva é também uma forma de contestação, de crítica da urbe e isso no que tange às relações sociais que se materializam nos caminhos, nas pontes, nas construções, nas formas de habitação, de comércio, de indústria, nos bairros, nas junções e separações espaciais e em tudo que pode conter uma cidade, que é algo criado pelo Homem e que o revela. Revela-o, pois, em muitas dimensões e é isso que as imagens colhidas por Márcio Rocha e os pequenos textos que as acompanham buscam fazer ver. São, pois, fotos multidimensionais, digamos, que, na maior parte das vezes, enquadram elementos muito diversos num mesmo quadro, numa mesma foto. Desse ponto de vista, o trabalho é, então, uma procura bem sucedida de harmonização, mas não só isso. Muitas vezes, o que vemos em cada quadro-foto é uma harmonização no que tange a sua beleza pacífica, mas é a indicação de contrastes, de movimento intenso. É, pois, o próprio movimento emocional do autor, mas também o movimento que as contradições internas do quadro e da urbe provocam. Márcio Rocha tirou um período de licença especial (equivalente a uma licença-prêmio), na Universidade onde leciona e aproveitou-o para ir em missão de estudos e trabalho à França, mais especificamente, à Clermont-Ferrand, no centro do país, onde tem alunos realizando atividades de “doutorado-sanduíche” e pesquisa. A partir desse objetivo bem delimitado, o autor foi fazendo-traçando seus desvios. Propôs-se um roteiro francófono pela Europa.

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Foi, então, de Clermont-Ferrand para a Suíça, à Berna e a Zurique, que são cidades germanófonas, mas em que é possível se entender em francês com os habitantes. Da Suíça, Márcio rumou para Bruxelas e, de lá, para Paris, fazendo assim um percurso quase circular, cujo traçado está na página 13. Isso lembra um pouco as associações livres, usadas classicamente pela psicanálise (Freud, 1990/1903), em que uma conversa sem objetivos conhecidos, que salta de assunto em assunto, acaba sendo a única maneira de acesso aos pensamentos e afetos mais recônditos do sujeito. De mais interessante está que os objetivos aparentemente ausentes – o desejo do sujeito – são ao final encontrados se se tratar, claro, de um trabalho exitoso. O que vamos vendo no “passeio” pelas imagens e textos de Marcio Rocha é de fato algo que tem a ver com sua proposta. Desde o início somos postos diante de um olhar que reúne natureza e construção humana num mesmo quadro. Mais que isso, une a subjetividade do autor com sua objetividade - sua proposta - e a objetividade da paisagem, enquanto coisa e, ainda a subjetividade de seus criadores, que está cristalizada na coisa criada. Um exemplo são as tantas fotos com bicicletas. A bicicleta faz parte da objetividade da paisagem e do uso como meio de transporte; a subjetividade está numa postura de recusa da poluição, dos males do tráfico de autos, de cuidado do corpo; a subjetividade está também no encanto que o autor experimenta na visão desses quadros. Isso é também um encanto com a subjetividade do outro, que é um outro no sentido de ser alguém diferente do autor, mas também no sentido de ser um outro europeu - sujeito, subjetividade de outro continente. É aí que a bicicleta aparece como solução, uma solução muito simples, porém mais “civilizada” e aí, de algum modo, pode-se ver uma crítica implícita a nós latino-americanos que estamos apenas enchendo as ruas de autos e de buzinas. Um elemento também interessante no conjunto das fotos é o contraste. É algo na maior parte das vezes expresso claramente, em texto, e outras vezes é algo que notamos sem que haja indicação escrita. É o contraste entre o velho e o novo numa mesma foto e isso de várias maneiras. Há, pois, o velho e o novo arquiteturais. Está-se na Europa, onde abundam construções do século XIX e, mesmo do XVIII, ao lado de prédios e confortos ultra-atuais. Eis aí uma oposição marcante sobretudo para a subjetividade de quem vai de outros continentes. Em outras fotos, o velho e o novo aparecem de uma forma humanizada. Esse é o exemplo das fotos da página 27, em que homens velhos contrastam não só com crianças, mas também com coisas, coisas novas. Diga-se de passagem que esse é outro elemento do trabalho de Márcio Rocha, contrastar pessoas e coisas. Na página 29, encontramos ainda esse contraste entre o velho e o novo, mas de uma forma inusitada. Diz o autor: “A igreja e o testemunho de um agnóstico com múltiplas influências, que concebe a beleza entre natureza e produção humana”. Seja o agnóstico - que é o autor em sua subjetividade - seja a igreja centenária, cada um deles porta a sua história, que se faz também ao modo de um contraste: velha igreja europeia foi feita para outro sujeito, para outros tempos, diferentemente do autor, que é um homem de agora. Ao lado, há construções e árvores secas; a paisagem europeia é profundamente domesticada pelo homem, de forma que as árvores que rodeiam um templo, de alguma forma se relacionam com o culto que lá dentro se pratica. A domesticação também aparece na forma de contraste. Na página 30, há uma casinha de pássaro, colocada na janela de um prédio e o contraste mais óbvio aí é entre o (muito) grande e o pequeno. Mas, é interessante que prédio e casinha têm a mesma cor, como se um fosse o outro em ponto menor: uma casa humana para humanos, uma casa também humana para passarinhos. 3


O pássaro aí é tratado e pensado como se fosse um homem; é um esforço de tornar tudo domesticável e anular o que não o é e a urbe é bem isso, um espaço de extrema domesticação, em que a subjetividade humana é o que constitui cada elemento. Como nesses exemplos o autor se encontra na Suíça, algo que dificilmente faltaria é a disciplina: “disciplina e ordenamento no cotidiano social. Isso salta aos olhos no velho mundo” (p. 36). Essa é uma impressão bem forte que o país helvético deixa em seus viajantes. Márcio Rocha (p. 33) vê muita positividade nisso. Cada sociedade vai se ordenando segundo critérios que dizem respeito a sua história e cada sociedade tem a sua forma de disciplina. Agora, vejamos que a disciplina é algo que aparece no convívio com os suíços, mas o autor não está convivendo com eles diretamente, e mesmo assim percebe muito bem na paisagem urbana que eles constroem com a disciplina que imprimem nas relações. Outro elemento importante no trabalho é o tema do tempo. Ele aparece de mais de uma maneira. Aparece nesse contraste do velho e do novo; aparece na vida e morte das estações do ano e nas árvores secas e aparece, embora de modo não muito explícito, no tempo do observador, o autor, e no tempo das cidades que observa. Aí, entre outras coisas, vemos novamente as bicicletas que é de uma só vez um voltar e um avançar no tempo. A foto da página 37 traz-nos uma paisagem, por sinal, muito geométrica, embora feita de casas tradicionais suíças, em que há uma ruela que parece expressar extrema tranquilidade; no primeiro plano há um conjunto de bicicletas estacionadas e não há ninguém na rua. A palavra tranquilidade aí acaba tendo um sentido temporal, de uma temporalidade que contrasta com um mundo de velocidade ascendente que o capitalismo do século XXI nos impõe. Outro ponto que chama a atenção é a cor. O autor em algum momento usa um neologismo bem interessante: “colorpolitano”, que é uma condensação de cor, “color”, e polis. Trata-se de uma espécie de vida que ele sente palpitar no que fotografa e que lhe aparece como cor. É o caso da foto da página 48, em que o que é fotografado é uma parede belamente grafitada em cores muito fortes... que contrastam com o cinza do céu e da vegetação. Essa vida que é cor ganha outras metáforas que são a de energia e a de calor. A energia, então, tem dois sentidos que se complementam. Um deles é o de vida, “calor” humano e o outro é de energia física; os dois sentidos acabam entrando juntos no trabalho de Márcio Rocha. Esse parece ser um exemplo do método objetivo-subjetivo que está utilizando. O sentido de vida, calor, cor é o sentido subjetivo e a energia física – renovável, não renovável, limpa, suja e etc. – é o lado objetivo. Ambas se complementam na manutenção da vida humana, inclusive em seu sentido psíquico. Essas representações do “calor” humano vão se tornar cada vez mais intensas a partir da chegada do autor à Bélgica, ao menos vamos ver que a figura humana vai aparecer com mais intensidade. Há uma foto (p. 63), feita em Bruxelas, que propõe um encontro inusitado. Vê-se uma moça que segue em uma direção. No instante da foto, ela passa por uma estátua de alguém muito antigo e provavelmente importante que “movimenta-se” justamente no sentido contrário e o autor fala em “opostos”. São opostos em idade, em momento histórico e sobretudo no fato de que a moca é um ser humano e móvel, enquanto que a estátua é apenas uma contrafação do humano, um humano de pedra, imóvel e frio. Ainda, se há vida, há morte e há dejetos. Na página 74, o autor chama atenção justamente para isso: são os dejetos e os esconderijos da cidade, coisas que, por vezes, estão no mesmo lugar. Entre merda, diz, “roupas íntimas e outros objetos, uma Bruxelas reservada a todos. Aquilo que foi concebido como um atracadouro, se torna o nicho dos resistentes” (p. 74) 4


A chegada a Paris, onde termina o percurso do autor, parece também enfatizar o “fator” humano. Mas não só isso; traz também ideias de preservação, o que não é inesperado, pois jamais se conseguiria conservar tantos monumentos e edificações dos séculos XIX e XVII (e mais antigas) sem uma mentalidade preservacionista. Essa preservação é feita no dia a dia com base na manutenção dos edifícios. Na página 79, há uma foto muito interessante a esse respeito e que parece reunir preservação do patrimônio e o “calor” humano. Trata-se do quadro de um homem debruçado no balcão de seu apartamento, pintando-o. Ao fazê-lo ele reaviva, refresca, cuida e conserva; e, mais importante, essa foto está no conjunto, crescente, de figuras humanas do trabalho de Márcio Rocha. A sequencia disso é a volta para casa, do autor. A julgar por suas fotos, sobretudo as últimas, ele volta satisfeito, realimentado... Há muitos temas no trabalho do autor. Alguns deles estão indicados claramente nos trechos escritos outros se explicitam na leitura. Mas, é preciso lembrar, finalmente, que a leitura carrega consigo a subjetividade do leitor. Os escritos que acompanham o texto, de fato, organizam a nossa leitura, mas há momentos em que as fotos, apenas elas, dizem algo importante à nossa subjetividade. Para nós, para nossa subjetividade/objetividade, enfim, o trabalho tem dois temas mais importantes. No começo, até o que o autor chamou de unidade de espaço-tempo (UET) Bruxelas, o que mais nos chamou a atenção foram os contrastes e é muito interessante que eles não tornam a foto agressiva, mas há uma harmonia sempre presente. Num segundo momento, a partir dessa UET até o fim, que diz respeito a Paris, a ideia de calor humano, de figura humana, de convivência entre humanos foi o que mais nos reteve a atenção. Desse ponto de vista, há no trabalho um crescendo, um crescendo de humanidade, de calor, de aquecimento para nos acolher nesse livro, afinal, bem interessante. É evidente que há outras interpretações outras leituras a se fazer; esse é, pois, também um trabalho aberto, aberto a muitas subjetividades, a muitos leitores. Por fim, é preciso dizer que nós do continente americano, de norte a sul, temos uma visão encantada com a Europa Ocidental e isso é correto, sabemos. No entanto, sabemos também que lá há graves problemas sociais esperando solução. Estes não desfazem o nosso encanto, mas limitam-no e o põem em seu devido lugar, um lugar de imperfeição, um lugar humano...

Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto Maringá, 13 de maio de 2015

___________________ BERENSTEIN, Paola (org.). Apologia da deriva. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. CNTRL – Centre Nationale de Recherches Textuelles et Lexicales, http://www.cnrtl.fr/definition/derive, página acessada em em 13/05-2015 FREUD, Sigmund. El método psicoanalítico de Freud in: Obras Completas, vol. VII. Buenos Aires, Argentina: Amorrortu, 1990.

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Agradecimentos

A Deus, aos Deuses e outros que direta ou indiretamente, neste ou em outra dimensão, tenham contribuido para o andamento e conclusão deste trabalho. À minha mulher Márcia Campos, companheira que acompanhou dia a dia esta empreitada em nossas conversas virtuais me dando aconchego e tranquilidade. Ao meu irmão Helio Rocha, incentivador deste projeto e sempre presente nestes momentos distantes. Ao professor Henrique Manoel da Silva, amigo, companheiro e coordenador adjunto do programa de pós graduação em geografia da Universidade Estadual de Maringá que assumiu o compromisso de coordenar o programa, possibilitando a minha saída para este trabalho. Aos professores do Departamento de Geografia e do Programa de Pós Graduação que incentivaram minha saída, ao professor Virgílio Bernardino pelo excelente trabalho cartográfico e pela paciência nos acertos necessários para a diagramação e à colega de trabalho Miriam de Carlos, que sempre se disponibilizou para viabilizar administrativamente este projeto. A todos os membros do NEMO que são parte constitutiva desta empreitada, pois levei para esta viagem, em meu alforge, muita discussão acumulada travada com os companheiros.

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Dedicatória a Willem Kroon Artista holandês, pintor, tradutor, performático, que tem sua maior produção na segunda metade do século passado, contribuindo com a arte de vanguarda daquele período. Contestador, crítico e sagaz, Willem Kroon contribuiu efetivamente com uma produção diversificada e abundante, mas que se tornou efêmera e seu nome não tomou destaque nos circuitos midiáticos. O motivo desta dedicatória foi a sincronicidade do meu momento de elaboração do fotolivro, e minhas inquietações quanto ao sentido a ser dado para o trabalho e o aparecimento da peça de teatro sobre Willem Kroon, intitulada “It`s my life and I do what I want ou la bréve histoire d`un artiste européen du XXe siècle” de Pierre Sartenaer e Guy Dermul, co-produzida por KVS e o “Théatre de Tanneur”, um teatro aconchegante em Bruxelas, onde tomei conhecimento do trabalho. A irreverência, a ruptura, a liberdade e a novidade de sua obra para aquele momento consumista da segunda metade dos anos 60 do século passado, aliada à ousadia e coragem que teve em sua vida, me sensibilizou e trouxe energia para este trabalho. Na vida os encontros nunca são fortuitos. Sempre existe um significado e um sentido sinalizado que pode ou não ser incorporado.

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Apresentação e desdobramentos Apresentar um trabalho pode ser uma tarefa simples, quanto sinalizamos o transcurso da obra, a imbricação entre um capítulo e outro, alguma coisa sobre os objetivos, a finalidade, etc. Nesta caso já encontro maior dificuldade pois este trabalho arrisca e busca novas formas e estruturas para a construção de uma narrativa ampla, que responda às minhas inquietações em vários âmbitos. Arte, ciência e filosofia são parceiras para tentar apresentar um momento, um percurso que reflita uma subjetividade pulsante e em formação, que busca na concretude as possibilidades de fazer história. Todos fazemos história, é bom lembrar. A amplitude desta história se alicerça nas utopias que perseguimos e é claro, em nossa insistência. Nesta obra me liberto um pouco de uma auto censura desmobilizadora e parto para aquilo que pode ser, para que possa acontecer. Embora seja um trabalho autoral, cheguei aqui pelas trilhas percorridas no Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização - NEMO, onde este coletivo oxigena a minha praxis alimentando minhas utopias. O que levou à elaboração deste projeto? Dois fatores contribuíram para a execução do projeto do fotolivro. Primeiro, indiretamente foi a aprovação de um projeto da pós graduação em geografia - PGE/UEM, que apresentava entre os itens financiáveis, missões de pesquisa. Como o Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização-NEMO já se encontrava em um estagio avançado da parceria junto ao instituto “AgroParisTec” em Clermont Ferrand-Fr., a partir da professora pesquisadora Sylvie Landon, como já havia ocorrido uma defesa de Master 2 por video conferência e como no momento temos dois estudantes vinculados ao NEMO desenvolvendo doutorado, neste instituto, pude montar uma proposta de missão visando o aprofundamento de nossas relações com os grupos ali estruturados. Por um outro lado já estava em andamento a solicitação de minha licença especial no departamento de geografia da Universidade Estadual de Maringá, onde trabalho, portanto, houve uma convergência de fatores, que possibilitaram o meu afastamento para esta atividade. Estando já acertada a minha ida à Europa para a missão de pesquisa, de 10 dias de permanência, como já estaria na Europa com tempo, por conta da licença especial, resolvi dedicar mais 15 dias para o desenvolvimento do projeto do fotolivro a partir de ações de deriva. Já tinha executado uma Deriva para Captura de Imagens - “DeCIm”, em Lima no Peru, mas não concluí o projeto com algum tipo de produto, como fotolivro ou uma exposição, então a semente desta idéia já tinha nascido. Neste sentido há que se considerar que a discussão de deriva já existe no NEMO a mais de 3 anos. Discutimos textos de Guy Debord, analisamos a proposta da “Internacional Situacionista” e tinhamos também sinalizado um trabalho empírico de deriva urbana, que nunca do papel. Neste trabalho autoral estou buscando concretizar um pouco do resultado de nossas discussões junto ao grupo. Trago novos resultados e estratégias e espero que fertilize os trabalhos neste sentido, buscando ações coletivas de deriva. Tive, nestes quinze dias, a oportunidade de por em prática, a partir de uma praxis produtiva, as idéias que ainda estavam vibrando em minha cabeça, querendo alçar voo.

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Apresentação e desdobramentos Optei por cidades francofônicas por conta de minha familiaridade muito mais com a língua francesa e muito menos com a língua inglesa. Assim escolhi as cidades de Clermont Ferrand (que entra como convidada no projeto) Berna e Zurique na Suiça, Bruxelas na Bélgica e Paris na França. Dedico três dias de “DeCIm” para cada uma das cidades. Nas cidades onde foram feitas as derivas, tive a oportunidade de trabalhar por 72 horas, três dias. Quase todos os dias, com exceção dos dias de deslocamento de uma cidade para outra, eram feitas derivas de manhã e de tarde. A noite eu dedicava à classificação, retoque e reenquadramento das fotos tiradas no dia. Portanto optei por não capturar fotografias no período noturno. Foi uma opção de gestão de meu tempo. Em um certo momento, percebi que era necessário aproveitar o tempo, evitando desenvolver atividades de gabinete, principalmente a diagramação gráfica do livro, pois eu tinha 72 horas para perceber as paisagens da cidade. Dediquei manhã e tarde para fazer as fotos, mas entendi que, pensando a partir de uma concepção dialética e por uma dimensão de práxis da ação, seria interessante que, depois que as fotografias fossem capturadas, estas seriam avaliadas para poder requalificar e resignificar o trabalho do outro dia. Isso foi amadurecendo o trabalho como um todo, dando melhor consistência e com isso novas idéias foram aparecendo em relação àquilo que se está buscando. A produção dos textos foram iniciadas a partir do título das fotos e uma reflexão específica para cada uma. Alguns textos já foram desdobramentos mais gerais, tratando de questões mais amplas. Existem textos iniciais como o prefácio, agradecimentos, “apresentação e desdobramento” e os “processos e táticas de captura”, depois os textos e fotos foram mesclados de forma livre dentro do fotolivro, respeitando o percurso das cidades. Antes de iniciarmos a apresentação das fotos, foi introduzido o mapa da Europa com as cidades do percurso e suas respectivas malhas urbanas, imprimindo ao trabalho um caráter geográfico de representação espacial do percurso trabalhado. Entendo que este projeto é e está permeável pelas reflexões e inquietações que vivo hoje, quanto mais flexível estivermos para nos apropriarmos destes momentos de reflexão acerca do mundo, das coisas e da vida, melhor é o resultado do trabalho. Há que se criar metodologias para desenvolver esta concepção, é o que tento neste fotolivro. Este trabalho foi pensado como uma deriva internacional, oportunizado por uma atividade acadêmica, uma missão em Clermont Ferrand, França, aonde eu incluo esta cidade no projeto, embora não tenha tido nela o mergulho que ocorreu nas outras cidades, por conta da missão acadêmica que tive que desenvolver. No entanto, houve momentos onde pude fotografar tanto na cidade como na região, a partir das visitas que fiz. É uma seleção mais restrita comparada com as outras cidades mas importante por estar contida nesta viagem à Europa. Estava lá mais como geógrafo do que fotógrafo. No segundo momento inverte-se a ênfase.

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Apresentação e desdobramentos

O congelamento da realidade Neste trabalho percebi a importância do congelamento da realidade, o fascínio deste momento. Tratar das relações que se articulam naquele exato momento, nos processos que se reproduziram naquela lógica, naquele fluxo complexo, na medida em que vivemos em uma sociedade complexa, numa natureza complexa. Esse congelamento, este momento, congela uma infinidade de relações que propicia a captura da beleza cristalizada e essa beleza nos alavanca para outras inferências, para outras gramáticas expressivas. Isso é que buscamos. A fotografia apresenta uma estética própria, uma beleza em si, mas ela alavanca inferências importante acerca do mundo e das coisas que estão à nossa volta e que muitas vezes não percebemos e que no congelamento de uma realidade podemos notar alguns sinais. Pode-se conceber a fotografia como um portal. Como um voo de borboleta O texto, neste contexto, tem voo de borboleta, irregular, lento, rápido, sinuoso e fluido. Em certos momentos ela ou ele abre suas asas, tornando-se protagonista do momento de criação, com sua potência imanente. Logo alça voo a observar o que lhe sensibiliza no mundo pictórico dos enquadramentos fotográficos. Podemos definir o seguinte movimento: As fotografias, que alimentam o artista, que alimenta as fotografias, podendo estar cercada por um projeto, fruto de uma racionalidade, pronto a ser resignificado em um próximo momento, mas que num dado instante termina.

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Processo e táticas de captura Visando a integração de múltiplos saberes, buscamos contextualizar e religar as diversas dimensões da vida, tendo como referência o pensamento complexo, não restrito, dimensionamos todos os caminhos como possíveis. As ciências, as artes a filosofia todos são bem vindos e devem ser operados a partir de uma dimensão de práxis transformadora, onde objetividade e subjetividade se mesclam em um contínuo processo de transformação. “Devemos compreender que, na busca da verdade, as atividades auto observadoras devem ser inseparáveis das atividades observadoras; as auto críticas, inseparáveis das críticas., Os processos reflexivos, inseparáveis dos processos de subjetivação”. (MORIM:Posição 405 ).(*) Esta foi a forma que se pretendeu para o desenvolvimento deste projeto que apresenta efetivamente um cunho experimental e como tal passível de imprecisões, imperfeições, incompreensões, enfim, tudo vale quanto o que se pretende é oferecer um produto, resultado de uma utopia, de uma crença, de um afeto, construído a partir de referências coletivas. Capturas e mediações na percepção da paisagem A percepção da paisagem apresenta mediações. A técnica vê mais do que os olhos no momento da tomada. E isso pode ser resignificado, retrabalhado, reprocessado e redimensionado no trabalho de edição. A sutileza das informações que são apreendidas no momento da captura, muitas vezes não aparece aos olhos do fotógrafo. Elas são reveladas no momento da edição, então portanto, o processo de criação ocorre desde o ato de fotografar, o momento da escolha, o nascimento da intensão, que é uma decisão política, pois as circunstâncias determinam isso. No cotidiano o fotógrafo percebe o tema enquadra e captura. Com o advento dos “smarthphones” esta captura se torna mais eficiente, o que muda o comportamento do fotógrafo. Mas quando a dedicação é focada no exercício da produção fotográfica, quando sua atitude perante o social é perceptiva dos processos imagéticos, o produto é outro e os equipamentos básicos, câmera, lentes e flash podem e dever ser acionados. A técnica que utilizo para este exercício, quando a proposta é de uma observação gereralizada, exploratória de um determinado espaço, seja ele urbano ou rural, é a deriva, que possibilita fluir e esta perspectiva da fluência sem premissas inibidora, fertiliza a sensibilidade do fotógrafo para a percepção das imagens e dos enquadramentos. No entanto este fluir livre não descarta a constituição de um projeto. Já existe o enquadramento da fotografia mas também existe um enquadramento conceitual sobre um temário, uma abordagem, uma forma de observação acerca da realidade e isso é importante para o desenvolvimento do produto final, quer seja uma exposição fotográfica, quer seja um fotolivro, quer seja uma exposição virtual. _________________ (*) Os sete saberes necessários à educação do futuro. Edgar Morin Ed. Cortez. E-book.

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Processo e táticas de captura Quando existe a perspectiva da produção de um resultado o enquadramento conceitual é importante. Há que se considerar também que o projeto e suas diretrizes propostas deve ser permeável, deve ser executado a partir de uma perspectiva de praxis, que considera a realidade a partir de seus contrastes, seus conflitos; de suas contradições, da beleza; do sofrimento que a realidade nos apresenta. O fotógrafo como ser humano, ser social, deve estar aberto para estas dimensões e buscar uma significação, dentro do projeto proposto, para uma situação não pensada a priori mas que aparece efetivamente defronte de seus olhos.

A relação imagem/léxico para a elaboração dos textos do fotolivro. Experimentarei uma estratégia de elaboração dos textos para cada cidade trabalhada a partir da seguinte estratégia: • Elenca-se o título da foto que representa aquele micro universo. • depois de totalizada todos os títulos do conjunto de fotos selecionadas para cada cidade, define-se agrupamentos possíveis, que denominaremos de Unidade Espaço Temporal - UET. • Para cada agrupamento desenvolve-se um ou mais parágrafos, constituindo com isso a narrativa reflexo de um processo criativo, fluido e livre, que baseia-se nos títulos das fotos e na lembrança das imagens. • Não descarto o fluxo de elaboração textual que ocorre quando da preparação da foto no “APERTURE”(*) onde defino o título da foto e um texto complementar relacionado a ela especificamente. Este texto é livre, não se atendo apenas a explicações mais objetivas da foto mas também a partir de um fluxo poético, artístico e filosófico. Em Clermont Ferrand aprendi com a Profa. Sylvie Lardon estratégias de elaboração de texto a partir da manipulação de palavras, um jogo léxico para montagem de texto. Incorporei algumas idéias e estabeleci uma metodologia usada para a elaboração de parte dos textos aqui apresentados nas UET`s.

________________ (*) Programa computacional para produção de fotografias. 12


Fotografia: Tainã Campos

Antes da viagem para Europa, preparação dos equipamentos. Limpeza, carga na baterias, checagem dos cartões de memória, organização do "case” e junto a ansiedade do que virá

O Percurso Saí do Brasil no dia 2/03/2015, viajei a noite toda, cheguei a Paris bem de manhã. Tive que atravessar o aeroporto Charles De Gaulle visando a conexão para Clermont Ferrand. Cheguei ao final da manhã. Um carro do Instituto “Agro Paris Tech” estava a minha espera, junto com Vitor meu orientando. Neste momento inicio a primeira parte de minha viagem. Como geógrafo fui para uma missão de pesquisa/extensão com o objetivo de conhecer os grupos de pesquisa, suas metodologias de trabalho, apresentar as nossas formas de atuação, conhecer os laboratórios, as pessoas envolvidas e também conhecer a região de Auvergne. Também agendamos duas orientações conjuntas, eu e a profa. Sylvie Lardon com os doutorandos Vitor e Vanessa. Neste período de 10 dias tive a oportunidade de produzir algumas fotos que resolvi incluir no fotolivro. Entendi que Clermont Ferrand poderia entrar como cidade convidada para o fotolivro. Terminamos as atividades em Clermont Ferrand no dia 13/03/15. No primeiro momento achei que poderia viajar sem reservar hotéis, chegaria e pesquisaria uma boa opção. Já tinha feito isso em uma viagem de Paris para Espanha e Portugal. Só que estava de carro. Agora tinha uma grande mala com rodinhas, uma mochila e o “case”da máquina fotográfica. Levar tudo isso era pesado, desajeitado e lento. Então reservei todos os hotéis, faltava comprar os bilhetes de trem. A primeira viagem já do percurso para as derivas foi a mais complicada. Pelo que eu tinha pesquisado, teria que ir para Paris (lado oposto) chegar na “gare du nord”, fazer o translado para a “gare du lyon”, com duração de quase meia hora. Então François, um pesquisador do INRA que nos acompanhou em toda a missão, se dispôs a procurar para mim uma opção melhor. Foi para a estação de Clermont Ferrand e chegou com uma proposta mais barata e mais rápida. Sairia às 7.43 de Clermont Ferrand para Nevers/Dijon/Basileia/Berna. Todas as cidades com pouco tempo para as conexões. Acontece que, meio sonado ainda esperando sair o trem de Clermont para Nevers, começo a ouvir um falatório alto fora do trem que vai aumentando e derrepente adentra um homem alto gritando com o cobrador, um homem gordo que enfrentou seu opositor com a barriga, bizarro mas verdade. Este homem então correu pelo vagão e saiu. Neste momento, o cobrador aciona o alarme e tudo para. O clima foi de tensão generalizada. A França ainda ressentia-se do atentado ao “Charlie Hebdo”, ocorrido em janeiro de 2015. Resumo, o trem ia atrasar e isso tornaria mais complicada as conexões e realmente foi uma maratona. Rito de passagem para o início do percurso. Depois já mais “calejado” não tive maiores problemas nas viagens entre as cidades, que seguiu a seguinte ordem de chegada: Berna dia 14; Zurique dia 17; Bruxelas dia 20 e Paris dia 23 do mês de março de 2015. 13




UET - Clermont Ferrand A luz revelada naquele movimento, dos fluxos de vento e a tranquila chegada de quem adentra pelas ladeiras serenas e solitárias, envoltas em uma historicidade lúcida e calma e a luz fugidia vislumbra um clima constituído por uma névoa inebriante que pinta o urbano. O ruído de frente aparece e dá um significado mais amplo dentro do universo existente nas quatro linhas da fronteira da imagem. O viaduto de Gatabit nos possibilita a busca de uma nova estética a partir de um produto denso, revolucionário e transformador, de um conhecimento acumulado que fez história. Uma história que no seu perpetuar foi ruindo em certos territóritórios pelas contingências do processo de produção do espaço e ao largo de todo este universo de relações fortemente antrópicas, nós temos tranquilamente, no início desta primavera, o cochilo do cisne, que se deleita ao Sol acolhedor. Acolhida que percebe-se pelo rigor do casal de corvos vigiando o seu ninho, referenciando forte unidade para os homens, a família.

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CLERMONT FERRAND A luz fugidia

A racionalidade geomĂŠtrica e a complexidade da natureza com suas nuvens, colinas e morros, fundem-se nesta imagem. 17


Ruindo

Em “St - Gervais sous Meymont - Auvergne - FR” a cidade se encontra estagnada, com muitas de suas construções abandonadas, um sentimento de que um dia tudo isso vibrava e as coisas aconteciam.


Ruido de frente

A ênfase no secundário, a intencionalidade estética em sua composição, torna o ruído em parte constitutiva. 19


O berço vigiado

Um casal de corvos, provavelmente em seu ninho, constitui uma representação forte da vida e sua perpetuação. São abundantes nas altas galhadas por toda a cidade de Clermont Ferrand.

O cochilo do cisne No “Jardin Lecoq” em Clermont Ferrand - FR incomodei o sono deste cisne que cochilava com o mormaço que vinha, neste início de primavera, mas depois que saí voltou a cochilar.

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A luz revelada Em “St - Gervais sous Meymont - Auvergne” - FR, em uma manhã fria, com uma mata ao fundo o vapor revela atividade, mesmo com os vagões em estado de abandono à frente.


Situado em “Ruynes” França, Gustave Eiffel construiu este viaduto antes da torre Eiffel. Que me inspirou para este tratamento de imagem.

Viaduto de Garabit Ladeira solitária As velhas construções e sua beleza primitiva em um abandono bucólico.

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Tranquila chegada

“Puy de Dôme” em Clermont Ferrand. Nesta época de início tranquilo da primavera, a neve ainda aparece e uma bruma constantemente encobre a cidade.

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UET - BERNA Jovens felizes, olhares geracionais que percorrem uma cidade com sua mobilidade, com seus fluxos ... “BERMOBIL” uma forma, um contato, uma condensação de processos na beleza azul de um ceu, de um rio. Um artesão no urbano, com sua tecnologia high tech cria para os turistas. Nesse fluir a história de uma construção, de uma arquitetura de espaços abandonados, espaços pretéritos, como uma fábrica de chocolate que hoje já não produz. Está para alugar um lugar. Translucidez e a possibilidade de observação do testemunho à sombra de uma bicicleta tão presente nesta cidade. Momentos, ciclos e o corredor da ponte em um bom embalo que logo chega. Satisfação em circunstâncias muitas vezes adversas, por conta de clima, por conta de tempo nos espaços de um cotidiano. Nesta natureza, neste espaço produzido pelo homem na urbis, as curvas e siluetas aparecem e surgem aos olhos e bem dentro, as gerações de crianças em suas tenras idades se manifestando no espaço urbano, se pondo e se expondo ao mundo e nesta busca “sem chupeta eu não dou conta”, como um menino, que busca na sua ação algum tipo de segurança. E este espaço, neste percorrer, as árvores e os vidros. Surge uma janela numa ponte que estabelece ângulos e profundidades que nos leva para um brincar, um brincar de gangorra a dois buscando construções e dialogias, momentos Underground.

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BERNA Bernmobil

Despojamento daquelas pessoas que estão para além das normas e condutas e que de uma forma peculiar, expressam sua razão de viver. 25


Circunstâncias

Condensação

Condição de sobrevivência, de conforto, estética, qualidade, tudo convergindo para uma mercadoria que poderá ser a opção de compra de alguém numa dialética entre aquilo que é oferecido com aquilo que se quer.

O espaço mínimo de fora de uma habitação apresenta várias utilizações. 26


O arco da ponte Rua tranquila, bairro antigo, casas belas e uma boa subida até a ponte.

O Corredor Uma arquitetura ansiã e bela que perpetua seus traços como o correr do rio e dos homens.

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Underground

A sedução de espaços mal iluminados, onde o desconhecido mora perto e as descobertas podem acontecer com tranquilidade, aconchego e um certo medo.


O artesão high tech

Das rodinhas da bancada da serra elétrica escultora, de uma ação performática junto a uma horda de turistas, a maioria oriental, trabalha o artesão com as ferramentas que lhe são dadas por uma sociedade industrial. Sociedade do espetáculo, da tecnologia e dos novos artesanatos.

Olhares geracionais

Gerações se interagem e desta difícil dialogia, valores, percepções, apreensões do mundo, das técnicas, bem como a história, que está por trás de todos os processos que habitam este universo complexo entre velhos e novos.

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Ciclos

O testemunho

A essência da fotografia. O instante congelado de dois ciclos de vida que podemos contemplar.

A igreja e o testemunho de um agnóstico com múltiplas influências, que concebe a beleza entre natureza e produção humana. 30


Trans(lucidez) Na mente uma mulher ao telefone, quantas inquietações podem estar sendo criadas ... à frente um jovem sereno e tranquilo na trans(lucidez) dos vidros dos trens.

Raízes Os ângulos, as profundidades, os percursos de um urbano que resiste na história de suas construções, raízes profundas do velho mundo.

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Momento

Alguns segundos são suficientes para interpretar os sentidos, sinalizar os sonhos e utopias, avaliar as relaçþes e por fim, rapidamente brincar!!

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Contato Pode vir, que por aqui te garanto casa confortรกvel e comida. Com isso poderei ficar um pouco mais perto de ti e talvez de sua prole, querido passarinho.


A final uma cor

Um dia cinzento, por capricho, nos contempla apenas no finalzinho do dia, com um pouco do azul do cĂŠu e do avermelhado do por do Sol. 34


UET - ZURIQUE “Trilholimpo” na urbanidade complexa dos processos abjetos, a cidade na sua baleza caustica. O corre corre das pessoas, sanduiches fast food comidos andando. Gerações de pessoas que se relacionam, possibilitam as trocas nos espaços públicos. E a seta indica gravidez, naquela dimensão, naquele momento, naquela passagem e tudo isso na mobilidade em dobra, no fluxo e no refluxo. Bem vinda ela que surge no momento certo e na hora certa, para um bem viver e um bem aparecer. No correr dentro/fora eu vejo o futuro e outrora. Pensando e comendo naquele momento lúdico de Sol que também alimenta o pensar, o refletir e o sentir. O rio tranquilo, o universo de suas possibilidades, o náutico, o campus, espaço de crise, o lúdico, espaço de apropriação e de conhecimento. Para além da estação, observamos um imenso universo que corre, percorre e distorse por entre os caminhos A mobilidade ocorre neste momento, avança a possibilidade de uma alternativa mais ampla, de um mundo melhor, por entre as máquinas, é certo, mas correndo para uma resposta, que remete a um sentido complexo, naquele estado de relação. Nessa relação aparentemente calma, aparece uma natureza reguladora, mãe, que trás as intersecções e a energia que busca estabelecer as possibilidades da vida, uma vida heterogênea, entre as pessoas que vivem no urbano. Uma carta na mão, um momento, um sono apaziguador para trazer a possibilidade e a coragem para remetê-la, remando para o mastro, para frente, correndo em direção aos icones, às referências. São diálogos móveis, possíveis por conta de uma atitude pró ativa, construtiva da vida. Um otimismo latente que potencia a vida da gente. Neste momento a floresta anunciada dimensiona para nós a vida futura a partir de uma secura pretérita. Aponte as montanhas e verá da água ao gelo, um movimento ascendente que leva para as janelas e pedais, num ponto, num nicho de num universo urbano, aonde o local dos encontros são valorizados pelos olhos daqueles que nas janelas observam e esta observação leva para a percepção do sono legítimo de um lindo cisne, que num certo momento novamente se alimenta do Sol, que trás possibilidades de vida. A velha síndrome de down nos mostra que na perspectiva de sua publicização, abre-se o caminho e a possibilidade de uma vida digna daqueles que a tem. O banco no carrefour, um momento, não muito atento, aonde por entre as árvores bate o vento que corre sobre o olhar, que transpassa imagens sobrepostas, mostrando a riqueza daquilo que é principal e secundário, relativisando esta hierarquia para tornar este todo pleno. O pneu na faixa mostra, portanto, que o ordenamento, a disciplina existe, em algumas organizações sociais, que levam, muitas vezes, a situações positivas. Nessa positividade observa-se até um pato feliz em uma marca de significação construída por um instante capturado. 35


ZURIQUE Mobilidade

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As cidades grandes necessitam de respostas inteligentes para resolver as questões de mobilidade das pessoas. A multimodalidade, ou seja, a possibilidade de percorrer um trajeto utilizando vários meios de transporte de forma eficiente e conjugada, aparece como resposta eficiente para as cidades. A pertinência do uso de um modal de transporte não esta relacionado apenas ao tempo gasto no trajeto. Hoje se considera a energia que se gasta para percorrer este trajeto e o custo que isso tem para o planeta. Sociedades democráticas com um grau de consciência ecológica demandam do poder público respostas mais eficientes para o estabelecimento da multimodalidade com ônibus, bonde elétrico, trem, carro, bicicleta e por que não o deslocamento a pé. Quando se tem boas calçadas, arborizadas, decoradas, agradáveis para se deslocar, certamente as pessoas utilizarão mais esta possibilidade. Podemos classificar a mobilidade física das pessoas a partir de dois eixos principais. a) a partir da força humana. Onde o deslocamento pode ser à pé, onde a força para o deslocamento vem unicamente do indivíduo, ou a partir de artefatos com bicicletas, patins, skates, patinete, entre outros que a cada dia aparece como uma nova opção. b) a partir de formas motorizadas, onde várias matrizes são utilizadas, como motor a gás, elétrico, a vapor. Tudo isso pela água, pelo solo ou pelo ar. Portanto uma infindável lista de possibilidades aparece como opção de deslocamento. Alguns problemas sócio ambientais estão ocorrendo. Problemas de acesso aos meios de transporte numa sociedade de classes. Qualidade dos meios de transporte coletivo. Invasão de veículos automotores nos espaços urbanos em detrimento de outros modais. Poluição do meio ambiente pelos veículos de motor a combustão, falta de segurança nas ciclovias e ciclofaixas. Além das questões sócio ambientais, temos que avaliar a questão cultural, ou seja, o comportamento dos indivíduos em relação ao uso de certos modais. O império do automóvel é uma das contradições que vivemos hoje, onde interesses de grandes corporações ligadas à produção automotiva pressionam para a perpetuação deste modal que hoje se encontra em colapso. As cidades não sustentam mais o número de veículos circulando, gerando muita poluição e aumentando cada vez mais o tempo de deslocamento nas cidades. A opção por bicicletas, patins e outras formas de deslocamentos a partir da força humana aparece como uma forte tendência que alia 3 aspectos positivos quando do seu uso. A saúde de quem utiliza; a sustentabilidade por não ser poluidora e o seu tamanho no espaço urbano e flexível, podendo hoje, no caso das bicicletas serem portáteis. 37


Pneu na faixa

Disciplina e ordenamento no cotidiano social. Isso salta aos olhos no velho mundo.

A seta indica gravidez

O grande dragĂŁo da cidade aguarda respeitoso o atravessar de uma grĂĄvida, observada por outras duas mulheres.

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Janelas e pedais

Num ritmo lento e um tempo escasso, sinto pulsar a cidade em suas ladeiras e anteparos, aglomerando quartos para ver a praรงa, pequeno locus de uma coletividade esparsa. 39


A velha síndrome de down em nossas vidas

Imbricações que a grande cidade nos proporciona, nos põe a pensar sobre as saídas e as conquistas dos homens.

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Por entre as máquinas Os ciclistas enfrentam na urbes, mesmo nas mais atentas como é o caso de Zurique, o transpassar de grandes máquinas construindo a mobilidade possível.

Sentido Jogo de sentidos onde um pode ser o outro. Depende do ponto, do tempo e do instante.

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Sanduíche fast food Um instante e surge o significado. Retrato de uma vida urbana em todos os lugares, em todas as sociedades. A complexificação que a cidade impõe, nos faz apressados.

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Bem vinda

Uma gaivota ... talvez. Exibida, adentra o quadro jรก preparado e dรก o seu recado com uma bela pose que enriquece a foto. 43


Para além da estação

Um quadro obliquo, traçado por dentro e concebido pela ótica de um instrumento que, pela manipulação, cria em si uma possibilidade. Mediações que resulta uma imagem.

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A floresta anunciada

No início da primavera, a sensação que se tem dentro desta reserva é de uma tranquila espera dos acontecimentos. Árvores caducifóleas são enigmáticas e precavidas, cuidam de si e isso evoca em mim uma paz interior.

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Pensando e comendo

Um passeio de crianças no início da primavera nos arredores da universidade de Zurique (campus Irchel). Casacos tirados para o usufruto de um delicioso Sol.

Pato feliz Percebemos felicidade na mimese dos animais. "A arte é pura mimese”. O esboço da percepção de uma alegria, em um instante capturado, tem valor pelo insólito da cena.

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Decifrando

Uma fugidia imagem da cidade cheia de variantes e densa de atividades, nos instiga a decifrar o enigma da urbes. 47


Diversidade na cidade

Quantas linhas de transmiss達o para tantas possibilidades, neste vai e vem motivado pela diversidade na cidade. 48


Colorpolitano A metrópole quando se colore, trás agrado aos que passam, principalmente quando, por trás das cores, existe a expressão artística. Uma alma incrustada nos tijolos. As cidades necessitam disso, pois elas insistentemente desumanizam as relações. As inscrições feitas em paredes e os grafites, são sempre bem vindos. Plenas cores para a página que segue.

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Sobre o olhar

Muitas vezes um véu trás a ênfase na dialética dos superpostos. O que tira a ênfase, anuncia o mistério, que alimenta a atenção curiosa, em um jogo lúdico para a percepção das coisas.

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A procura O tempo passa mas a vida está aí pulsando para ser vivida. Se buscamos, procuramos, construímos utopias, damos um melhor sentido para ela. Os desafios são muitos. Pessoais com o enfrentamento da finitude e sociais, nas relações com os outros.A sociedade contemporânea globalizada e tecnificada, impõe desafios aos mais velhos que tendem a estabilizar suas demandas sociais e com isso perde terreno no uso das novas formas virtuais de comunicação e informação. As formas tradicionais ainda sobrevivem e como uma âncora mantém os mais velhos sintonizados no mundo complexo de hoje.

O banco no "carrefour" Com um colorido monótono, um ponto de entroncamento convidativo para o descanso.

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Adormecido

Em uma quietude profunda, as åguas, o cÊu, as montanhas, as naus, conjugam um momento de consonância serena. 53


Intersecções

Linhas, arcos, formas, que se encontram justapostas, superpostas e por fim expostas em um urbano que nutre tempos diferenciados de sua produção, regido por um industrialismo marcante.

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Trilholimpo

As máquinas se confundem em suas tarefas diversas. Enquanto se limpa, se leva. Um homem espera os acontecimentos.

Gerações Sabendo sobre o mundo, falando sobre o mundo. Este é o incessante movimento que constrói, destrói, resignifica, inventa e sintetiza a cultura de uma sociedade, tudo acontecendo entre as gerações, com os ruídos advindos dos valores que mudam, se transformam.

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Aponte para as montanhas

No sentido direto, da ĂĄgua para o gelo, elementos constitutivos desta paisagem sĂŁo cortados pelo caminho dos homens. 56


Campus A criação do conhecimento pelas universidades pode desagradar quem está no poder, muitas vezes desagrada. Neste universo, interesses particulares são questionados por dados irrefutáveis. Isso muitas vezes desagrada os que detêm o poder. A ciência embora fortemente cooptada, ainda evidencia situações que vão de encontro aos interesses dos que detém. Mais nas ciências humanas menos nas outras que constroem um atrelamento mais orgânico com os ditames do capital. Isso reflete também no comportamento do estado, com sua autonomia relativa, fortemente vinculada às corporações. É por isso que constatamos formas diferentes de zelar pelo bem público. À direita Universidade de Zurique.

Dentrofora

De dentro observo o observador de dentro, que observa o de fora.

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Mobilidade em dobra Contornos e retornos, em um movimento incessante, ditado pelas demandas de quem consome, produz e contempla.

Diรกlogos mรณveis A palavra o ato, vicissitudes no espaรงo. Desafio de quem enfrenta o laรงo que a vida conforma e neste confronto, o diรกlogo mostra a serenidade de quem aguenta e inventa a cada passo.

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Nรกutico

O ambiente nรกutico, os caminhos, os atracadouros algo fascinante. Espaรงo de conexรฃo, uma fronteira.

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Energia Cidade é sinônimo de energia, pois convergem pessoas que produzem os espaços e o fazem, despendendo energia. Quanto maior a concentração populacional, maior a energia. Vivemos agora um problema que diz respeito ao consumo das energias. As energias renováveis e não renováveis ditam nossas opções hoje. Transitamos para novas matrizes e isso traz conflitos e crises. A maior parte das guerras que existem hoje estão, direta ou indiretamente, relacionadas com recursos naturais, principalmente o petróleo. Opções existem e muitas há muito tempo, estão sendo resignificadas, redimensionaras, à luz dos novos incrementos tecnológicos. A possibilidade de escassez trás às pessoas novos olhares e novos comportamentos.

O sono legítimo O que faz um bom sono não depende do conforto, depende sim da busca sensata de um espaço possível para o descanso do corpo.

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Aparentemente calmo Bocejo defronte do rio, ensejo um olhar ao longo. Mas me atenho às formas claras e nítidas e vejo beleza no contraste.

A carta A espera foi longa e o cansaço aparece. O Sol convida a um descanso. Deito e relaxo todo o corpo, mas a carta está firme em minha mão à espera da possível entrega.

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Remando para o mastro

Mastro de bandeira, mastro de embarcação, eles tem em comum a sua visibilidade. Nas embarcações ele é o último e o primeiro a ser visto, nas bandeiras ele possibilita a visibilidade de uma importante representação do Estado, ou de alguma entidade. E o barco percorre e a ave observa. 62


UET - BRUXELAS Trago no ato um fato dado, num processo enquadrado, onde hordas de pessoas percorrem e fluem, observando os monumentos, as estátuas, as pessoas, num fluir constante de uma urbes mista e articulada. São sentidos opostos que se estabelecem a partir de movimentos de mobilidade urbana constantemente fluidos por entre as frestas que desnudam um universo de relações, de imbricações, de coloridos e de luzes. “Run”, sempre na velocidade de uma possibilidade, com um aporte tecnológico para ir além, para buscar algo a mais, muitas vezes uma felicidade singela, fluida, à luz de uma flor. Sempre nos cíclos do tempo temos o momento da pujança, onde as cores vibram para a perpetuação das flores, primavera. Já chega!! Não há como pensar uma outra possibilidade que não seja a sombra da camizinha, simplesmente num articular feliz de significações, percebe-se o insólito, a potência expressiva que se engendra pela apropriação, subversão, resignificação, daquilo que se materializa na história. Encontros e desencontros sempre ocorrem e não tem como evitá-los. Nessas conflituosas relações, alguns espaços públicos se constróem como nichos de resistência, homens penseis, por conta das idiosincrasias que ocorrem no processo de organização e ordenamento dos homens na sociedade contemporânea. Homens manipulados, homens que através de uma cortina não se fazem por si, mas por aquilo que aparenta, num jogo perverso de relações e de formação de valores. DEMOlição, estão sempre presentes na complexa relação entre as diversas culturas, que correm nos espaços públicos, que se transformam, por força e pressão das tecnologias, das novas estéticas, da nova percepção, revelação. Revelação dada nestas transformações, quando a ênfase de uma coisa há muito descoberta, se posta como pertinente em um momento de crise ecológica e de transição da matriz energética. Eis a mobilidade por bicicleta. A síntese que se espera é para uma vida digna para o planeta, para os homens, mais calma, menos corrida. Dois no ponto, preparados, passivos e serenos à espera de uma boa mobilidade pública, coletiva. Possibilidade concreta e sinalização consiente e consistente para um mundo melhor.

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BRUXELAS À luz de uma flor

Início de primavera na esquina da Rua Charles le Grelle.

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O alimento necessário para continuar a jornada pelas praças de Bruxelas, sob a vigia austera de uma estátua.

Sentidos opostos

Trabalhador de rua Em todo o mundo nossos artistas buscam uma forma digna e livre de trabalhar, que é com o povo, sem amarras e intermediações. É a sobrevivência de um "trabalhador de rua".

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A sombra da camisinha

Um mercado popular, em Bruxelas, com vendedores Indianos, Ă rabes, Chineses, visando os turistas de todo o mundo. 66


No trato, um ato, um fato. Sempre que se pode, o trago rápido pleno e tátil.

Trago no ato um fato

Vigília Um momento, um lapso de tempo e a imagem significa. Uma significação retirada e descolada da realidade. O sentido do instante irradia, aos que olham, uma possibilidade infinita de significações.

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Encontros e desencontros

Turistas vagueiam por entre monumentos, a procura de uma história que justifique sua viagem. Algo para contar, um saber enciclopédico que em semanas sumirão das mentes. Histórias oficiais que normalmente são contadas pelos vencedores. Nos guias os textos "politicamente corretos" trazem a versão oficial de uma história caricata.

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Mais do que o exercício em si, aparece a corrida tecnológica. No capitalismo contemporâneo a criação de novas necessidades, a especialização dos produtos e sua descartabilidade, está criando uma geração plena de parafernálias, onde cada vez mais a busca do prazer esta no consumo pelo consumo.

Run

Dois no ponto Os vidros, as imagens, os reflexos e uma infinidade de significados que a cidade, em seu cotidiano, oferece. Ausência de movimento aparente. Uma espera a dois, manhã em Bruxelas. 69


Mobilidade por bicicleta Um sinal, um projeto. Novos valores de uma sociedade em transformação, que percebe hoje a necessidade de ressignificar o deslocar dos homens.

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Através da cortina

Imagens difusas nos trás à lembrança figuras de nossa mente. Abre os canais da imaginação. Uma cortina de água em vez de obstruir, amplia as perspectivas do olhar, oferecendo um universo infindável de possibilidades.

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O leitor de jornal

Parados, lentos, em grupo, no contrafluxo. Imagens constantes em cidades turĂ­sticas.

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Frestas

A rua estreita ajeita as coisas como pode, parece que o bom é o aperto. Nas vielas são pessoas próximas, calor humano, palavras em profusão na confusão. Neste espalhafato, resta esticar o pescoço e olhar para cima. 73


DEMO lição

A cidade e sua linguagem que parte de muitos canais. Para o ordenamento, localização, informação, propaganda, contestação, afirmação, isso em um complexo mosaico de uma urbes que se modifica a todo o tempo. A arquitetura no espaço urbano se transforma, quando pode, trazendo novos significados e novas funcionalidades. 74


Já chega !!!! Ó triste herói. O que a vida lhe trouxe! Dantes, orgulho de muitos, agora todo cagado e humilhado, pede para que cesse tamanho calvário.

Homens penseis Capturado, sobrepujado, manipulado, os seres humanos/ urbanos, condicionam sua existência a um fatídico cotidiano.

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O nicho dos resistentes

Entre merda, roupas Ă­ntimas e outros objetos, uma Bruxelas reservada a todos. Aquilo que foi concebido como um atracadouro, se torna o nicho dos resistentes.

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Revelação

A fonte jorra pela sua potência. Da imanência à transcendência de uma matéria tornando-se uma imagem forte da sobrevivência. Uma arvore aparentemente seca em meio a uma fonte abundante de água. 77


UET - PARIS

Tudo vermelho, pontuado e fluindo em várias escalas. Em um corte dimensional o signo digital, se contrapõe com a monumentalidade arquitetônica do velho continente. No Brasil, apenas a arte, busca dos pensamentos distantes entre pessoas que fluem por entre os espaços das ruas. Motonetas em movimento, muitas paradas. Fazem, efetivamente, parte da cena urbana, tranquila, protegida, dando sentido múltiplo a toda a festa, do rito dos fluxos. Da cabeça aos pés, desde a superfície, até as profundidades do metrô, vemos fluxos de pessoas adentrando, saindo. “Bresserie”, nesta paisagem é constante, aparece como um porto, necessário para acalentar as pessoas. E o homen na janela, naquele universo estrondoso, um único homem observa como um Deus, um pó, no mundo em sua amplitude. O ciclista elegante flui, o vento imprimindo uma beleza estética, incongruente, indeterminada, por isso bela e nessa relação, uma cena de uma mesa, pequena mesa vazia e sem jeito, ao largo e no caminho das pessoas que dela desviavam. Plasticidade húmida. Naquele espaço com todas aquelas imposições, a transformação e transfiguração que aparece aos olhos de quem observa um mundo plúvio, plúmbeo. Vermelho bombeiro é a cor que ressalta em um momento mais pacifico, mais belo e mais colorido, onde o contraponto das águas, trás uma segurança ontológica. Em uma cidade plena de turistas, como formigas, eles se relacionam imbricadamente para objetivos comuns. Situação das transposições possíveis a partir de uma constatação que ocorrem quando temos a possibilidade de dimensionar, dentro deste espaço/tempo, os possíveis olhares de uma rápida chegada ao banho, por exemplo, de uma pomba, em seu micro universo, junto ao canal, com uma felicidade explícita, percebida e projetada tal qual um sentimento humano, um humano as vezes bizarro, que na saída do metrô suga uma bituca, que reluz em brasa.

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Paris Transposições

As construções humanas quando preservadas e consideradas, estabelecem um patamar civilizatório importante. A história se faz em respeito ao que já se fez. O canal de St. Martin é um exemplo disso. Construído na metade do século XIX ainda trás significado para as pessoas.

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Brasserie

Centenas de pontos como este se espalham por toda Paris. Espaço importante para se alimentar, aquecer com um café, comprar cigarros, reunir com amigos, fazer reuniões de trabalho, lêr, enfim, uma referência urbana para o cotidiano parisiense, mesmo europeu. 80


Tinta fresca

Na borda de um parapeito, a busca da renovação. Uma essência consistente e agregada de trabalho, estética e capricho. Quando recebe uma nova aparência, perpetua no tempo sua beleza. Da mesma forma, certamente o proprietário busca a valorização de seu imóvel em suas diversas dimensões. 81


Sentido multiplo No Brasil apenas a arte

Na fresta que aparece, um mundo de significações, rostos enevoados em sua dinâmica pelo caminho e na luz plena, os símbolos da institucionalização dos estados.

Ao som de Varèse infiro possibilidades de conexões entre objetos, seres e símbolos, numa imagem protagonizada por dois pensamentos autônomos.

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Vermelho bombeiro

O reflexo vermelho nas águas, uma claridade exuberante. Paris não poluída, depois de dias difíceis de inversão térmica. Na semana anterior os transportes públicos eram gratuito para diminuir os automóveis rodando na cidade. 83


O ciclista elegante

Leveza e mo vimento quando transpassa outros. Nos afazeres, na espera, na passagem, todos regidos pelos fluxos que a cidade ofereçe.

Chegada ao banho

O banho de uma pomba revela a saúde da água, instantâneo feliz de uma chegada.

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Plasticidade húmida

O Expressionismo regido pelo tempo/clima. Uma imagem alterada que institui novos sentimentos quando de sua observação.

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Bituca

Um momento preciso de um 煤ltimo trago, saindo do metr么. 86


Momento

Momento tranquilo nas margens do Canal de St. Martin. Pausa do almoรงo de jovens parisienses. 87


Tudo vermelho Sincronia que os olhos inconscientes podem ter percebido, talvez. E nesta sinalização de parada muitos andando.

Da cabeça aos pés

Escada, acesso, sadia, entrada. O fluxo constante nos leva para dentro, para fora, num traço obliquou da cabeça aos pés dos que fluem.

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Turista

Engalfinados em uma eterna fila, mesmo com chuva, turistas de todo mundo querem ver a pir창mide do Museu do Louvre.

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Motonetas

Corre na perspectiva o universo urbano vivo e claro. O fluxo se inicia com a liberação do sinal.

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Mesa vazia

Um signo digital

Não fosse o letreiro digital da farmácia e a bandeira da União Européia, este enquadramento poderia remontar séculos passados.

Uma mesa sem contexto, num fluxo intenso de pessoas na porta do metrô. Chuva e frio.

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Homem na Janela

Varandas solitårias, o dia coberto e uma paisagem rude, inscriçþes por todo lado, um grito contra a regra, a norma, nas colunas e chaminÊs, e como que protegido de tudo, um homem na janela observa. 92


A cena urbana

Manhã chuvosa e fria, mas tudo acontece. A cidade não se dobra ao clima. A metrópole parisiense vibra. O brilho das calçadas e do asfalto completam esta cena urbana.

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Usines Éphémères

Espaço de criação artistica junto à comunidade local, uma fábrica de produtos químicos se transforma e ressignifica a cidade. Seus artistas extravasam sua criatividade nos arredores. 94


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