REVISTA NEPP 01

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NEPP-NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM PSICANÁLISE

Email: nepp@nepp.com.br Site: www.nepp.com.br

Prof.Sergio Costa


Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise

Av.Cristiano Machado,640-Sl:1501 Bairro Sagrada Família Belo Horizonte – MG CEP.: 31.140-660 Telefax: (31) 3241-2042 www.nepp.com.br

Publicação Semestral Belo Horizonte –MG Maio/Junho 2013 Número 1


PSICANÁLISE Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise

Comissão Editorial Irani Adalgisa dos Santos Araújo Ricardo Cunha Falcão Rosiane Cláudia da Silva Sérgio Costa

Apoio Livraria do Psicólogo

Propaganda/Marketing Geraldo Oliveira

Revisão de Texto Elaine De Paoli

Revista de Psicanalise-Maio/Junho 2013


O conteú d o d os ar tigos, aqu i p u blicad os, é d e in teir a respon sab ilid ad e d e seu s au tores.

É pr oibid a q ua lq u er m od alid ad e d e reprod u ção d esta revis ta , seja to ta l ou p arcial, sob pena d a lei.

Ind ice

Editorial A pre se ntaç ão Me m ór ia e E le me ntos Se nsoriais ad vindas d os d esej os em a ná lise Sé rgio C os ta

e

nã o

se nsorialidade

Poe m a de Épo ca Sé rgio C os ta A dole scênc ia, P sicos social Ricardo Falcão

Violência

Ur ba na

e

R e spons ab ilidade

Cu lto ao Corpo, A nab olizantes e A dol escê ncia Va léri a T rinc hero

Frág ua -Fre u dia na S ér gio C osta

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Introdução e Fundamentos de uma Sociedade de Espetáculos Sérgio Costa

Psicanálise e Direito de Família Sérgio Costa Irani Araújo Maira Teixeira

Poema: Depressão Sérgio Costa

Pacientes Somatizadores David Zimerman

Neurose Obsessiva: Neurose ou Transtorno? Transtorno de Personalidade Bordeline Irani Adalgisa dos Santos Araujo

Editorial

Uma Psicanálise genuinamente brasileira para brasileiros Já passou um século e a Psicanálise continua tão viva e intensa como nos anos 1886, quando foi criada. O NEPP (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise) vem refazendo o percurso de sua história e vem apresentar, com a 1a. Edição de sua revista, uma Psicanálise genuinamente brasileira para brasileiros. Acredita que a criação humana não é obra de um único autor, mas de uma coletividade motivada por um pai carismático e por um objetivo compartilhado.

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Todo desequilíbrio psíquico decorre das experiências e da imaginação de um povo, de acordo com o espírito da época. Além disso, depara-se com forças contraditórias que se alternam e entrelaçam incessantemente. Para atender a expectativa do eterno desejo do homem pela felicidade, o NEPP desenvolve uma Psicanálise a partir da realidade brasileira, acreditando que essa é una e em constante processo de mudanças, e que os homens brasileiros de hoje não são os de ontem, e nem serão os de amanhã. Segundo o Diretor do NEPP, Dr Sérgio Costa, esta revista tem como meta levar o leitor a refletir sobre a nossa realidade, e sobre a necessidade de estar buscando força para sobreviver psiquicamente dentro dessa comunidade, que, atualmente, se encontra sem uma referência paterna, ou seja, diante de um Estado adoecido. Esta 1 a. Edição traz temas reais, que são estudos e pesquisas relevantes sobre o que há de mais atual no nosso cotidiano, e propõe chamar atenção para a construção de um saber genuinamente brasileiro, atendendo as exigências dos tempos em que vivemos: a necessidade de uma Psicanálise para todos.

Alcebino de Souza Santana

Apresentação A Psicanálise é a ciência do inconsciente, criada por Sigmund Freud (18561939), neurologista, austríaco e judeu. É uma forma de terapia psicodinâmica baseada na idéia de que as neuroses são manifestações de traumas ocultos no inconsciente, e que ao rememorar e analisar esse material é possível romper as barreiras prejudiciais. É um processo longo, pois parte do princípio de que o eu interior está preso a uma luta com mensagens conflitantes provenientes do ego, do id e do superego, em especial no tocante às questões da sexualidade controlada pela libido.

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Presum e-se q u e a rea lida de rep resenta d a p elo s tem ores e desejo s inconscientes, e nã o as im pressões conscientes ou a rea lida de o bjetiva , é o m a is im po rta nte fa tor determ ina nte do com po rta m ento e da au to-im a gem do pa ciente. Acredita- se q ue a ca pa cid a de hum a na dia nte do co nflito psíq uico é eq uilibra da p or u m a po stura de “síntese cria tiva ”, q ue p erm ite a a d ap taçã o e cura , a tra vés do pro cesso da livre a sso cia çã o, interp reta çã o d e sonh os, a ná lise do s a to s fa lhos e da resistência . O NE PP (Núcleo de E studo s e Pesq uisas em Psicaná lise) é um a a sso ciaçã o , fund a da em 02 d e setem bro de 2 002 , regida po r um esta tuto a pro vad o po r Assem b léia G era l, sem vin cula çã o po lítico -pa rtid ária o u religio sa , sem distin çã o de raça , cor, sexo ou na ciona lid a de. A su a sed e a dm inistra tiva é em Belo H o rizo nte-M G , ond e a tu a sem lim ites o u restriçõ es, ta nto geog rá fica s com o p olíticas. Tem co m o exercício so cia l, coincidente com o a no civil, e p raz o inde term ina do pa ra o exercício d e sua s a tivida des. É a d m inistra da po r u m a dire to ria e um co nselh o fisca l. É co nstituído p or p sica na lista s clín ico s vo lta do s p ara o estud o con tínuo d a Psica ná lise. Tem a m issã o de co ntrib uir e estim ula r o desenvolvim ento d a Psica nálise, d e a cordo com as no rm a s e fina lida des lega is. Pa ra tan to , oferece cursos, en co ntros científicos, estud os d e caso s clínico s, a ná lises de film es, projetos vo lta do s pa ra a ed uca çã o, a a ná lise d as cau sa s e efeito s da violência so cia l, a s fa m ília s etc. O ferece, a in da , um a biblio teca rica e um a video teca pa ra pesq uisa s e estud os. Pro cura form a r psica nalista s e estudio sos, desenvo lvend o a escu ta psica na lítica a po ia d a n a tra nsferência , e o co nhecim en to do sujeito e sua s o rga niza çõ es p ato ló gicas, a ssociad as às dem a nd as do m und o con tem po râ neo . Além da tra nsm issã o d a Psica nálise ba sea da nas ob ra s freud ia na s, estud a se outros a uto res. Ap resenta com o re qu isitos essen cia is à fo rm a çã o, a sup ervisã o in d ividu al d o tra ba lho clínico, aná lises pessoa is e d id á tica s, pa rticipa çã o do s g ru po s d e estud os e a ex ecu çã o de tra ba lhos científico s m ensa is e co nclu sivo s.

ME M ÓRIA E EL EM E NTO S S EN SO RIAIS E NÃO SE NS ORIA LIDA D E A D VIND A S D OS DE S EJO S E M A NÁ LIS E

Sérgio Cos ta

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R ESUMO : As ex periências vividas na infância até a ado lescência são permeadas de elem ento s fund amentais p ara o aprim oramento d o ser hu mano n a fase adulta, po rém presos a u ma valo riz ação mitológ ica d a função da mãe. O ind ivíduo , insatisfeito co m o m od elo aprendido na s ua dinâmica fam iliar, bu sca um co mp an heiro para a co nstituição de um a família, on de se repete o mo delo apreendid o e prod uz u m relacio namento co ntu rb ado . Co m o fracasso caem po r terra tod os valores e vários sintom as manifestam-se como u ma dep ressão po r um relacionam ento desg astado e d estruído . Na bu sca d a P sicanálise acontece o reco rdar, r evive r e elabor ar, e isso só o corre se ho uver uma neuro se de transferência, po ssível desenvolver so mente com u m analista.

PALAVR AS

C HAVE:

Infân cia – Mãe Transferência

Neurose

de

Go staria de co meçar o m eu artigo com trecho d a letra do Gilb erto Gil, “Se eu q uise r f alar co m D eus...”. Tal mú sica me rem ete a uma fase d e vid a, qu e ante a dificu ld ade da crian ça, saindo da primeira infância e tend o co ntato com o con hecimento da mo rte, e já em estado de pro ntid ão para a socialização, se perturba co m tantas mod ificaçõ es psíquicas pro fundas. Su a mãe lhe ensina a rezar ou até “co nve rsar co m Deu s”, para não ter no ites d e sonho s de angústia. Estas o bservaçõ es nos remetem à aflição d a pessoa “deseja ndo não ter desejo s”, o u não se esquecendo nunca, que não devem ter m emória. As crianças go stam d e ver film es d e terro r e as mães p erm item. Depo is, mo rrem d e medo ao d ormir. P arece qu e essas crianças ficam à mercê do material imp rimido no p siquismo : go stam e sentem ex citação, e no med o d e serem destruíd as, d evoradas, suas m ãe s as acalentam e p edem p ara não pensarem e, ao mesm o temp o, p edirem a D eus a p ro teção p ara um bo m son o. Neste jo go d e prazer x desp raz er, tod o o material lib id inal (EROS x TA NAT OS) imp õe a sua lu ta p ara sob rep o r o destino do sujeito na form ação e no recalcamento do m aterial psíquico na vid a ad ulta. Ora a m ãe estim ula a pu lsão d e vida, o ra permite o trânsito d a p ulsão de mo rte. A ssim, o m ito se impõ e e, fu tu ram ente, atuará co mo um elemento ansio gênico, e gerará um esforço p ara alcançar o equilíbrio, em con trapo sição a u ma sugestão tranqü iliz ad ora de u m exercício e bu sca d e discip lina d o su jeito , ante o s seus med os, cujos o bjetivos p od em, talvez,

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nunca se realizarem, ou podem inúm eras vezes ser alcançad os, p erd id os e recuperados. O vento qu e sop ra com força, faz tremer a janela e assovia. Passos qu e se escutam. Temores que alguém vai aparecer e d estruir seu corpo, desped açar, devorá-lo vivo. A quilo que não se p od e falar, aquilo qu e dá p raz er gera emoções e sensações sexu ais fortes. Talvez o gozo, ou p róximo ao gozo da morte, o profano, o vamp iro que su ga o sangu e, o p sicótico que esfaqueia as pessoas, os hom en s qu e estup ram as mulheres, as mu lheres qu e se entreg am aos homens, vão lhe fazer mal, m atar, comer e comer, esquartejar. Não sab em lidar com a p resença do perig o, p orque estão em estad o d e êxtase e se entregam ao mal, mas nu m clima e energia d e sed ução. Cria-se êxtase, prazer, p ecad o, punição. Jovens ind efesas nas mãos de homens sanguinários. C ria-se, então, o “vazio” ou a “ilumin aç ão”, a “coisa”!?. A questão é transp ortarm os aos u mb rais do místico, qu an do a su gestão através d os sons que estão imp reg nando o n osso aparelho psíqu ico, é que estaríamos lid ando com a essência irred utível a qualquer linguagem, e que se revela somente ao coração e à intu ição. S eria algo d o instinto..., sob revivência..., primeiros contatos com o sobrenatural, com o profano, aquilo que não se p od e falar, mas pode-se p edir ajud a à outra força, a do bem . A lu ta d o bem x o m al. O grito de socorro p ela mãe (...), a aju da da mãe, a santificação da mãe (...). Não existe mulher no m und o melhor d o que ela. Ela d eixa de ser m ulh er porque não pode ser a mulher do filho. Ela d eixa de ser mulher porqu e a filha é u ma mu lher e seria a concorrente d e ser possuíd a em seu lugar. Passa a ser, então, algo sag rad o sem sexo, sem od ores; u ma santa qu e em seu nome somos cap azes até d e d estruir qu em dela falar mal. E ela passa a ter um comp anh eiro, que é o p ai, m as que tamb ém tem que ser d esprovido do p apel de hom em. Qu ando algu ns sussurros são ouvid os, vind os d o quarto do casal, m il fantasias rolam e persistem p or muitos anos na cabeça dos filhos: “Será que meu pai es tá m ach uc ando a minh a mãe ?” “Po rqu e é qu e na ma nh ã se gu in te ela leva nta tão feliz? ” “O qu e eles e stão fazendo de porta fe cha da ?” “Porque min h a m ãe briga co m o meu pai por ca us a da s ecre tária, da vizin h a?” “Por qu e meu p ai fa z a min ha mã e ch orar tan to?” “E u nã o en tendo porque depo is das br igas eles s e sen tem felizes e dó ceis u m com o ou tro.” As exper iências ou pseudoexper iências vividas na infância até a adolescência, dentr o do lar, são a meu ver, componentes fundamentais para o aprimoramento do ser humano na fase adulta. Torna-se insatisfeito com o modelo aprendido no convívio do relacionamento e dinâmica familiar , pois nessa fase é o namoro e a procura por um companheiro para a constituição de uma família. Nós pensamos em fazer e sermos difer entes do modelo que nos foi passado. Até mesmo, quando nos casamos procuramos, na repetição, um nível de insatisfação própria, e criamos uma dinâmica conturbada de r elacionamento. Só aí é que se caem por

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terra todos os nossos valores e a manifestação da ansiedade por causa do fracasso. Um complexo de Édipo, mal resolvido vai nos remeter à procura de uma psicoterapia, por várias maneiras de manifestações de sintomas, como uma depressão por um relacionamento destruído. Dentro da postura mística, agora peran te a destruição de toda uma vida idealizada na busca do parceiro perfeito (...), o sujeito analítico passa a “exigir” de si próprio, que trabalhe veja e reveja suas experiências ou aprenda com elas, o que lhe traz tantos conflitos e como man ejá-los para evitar tantas dores e dissabores. Atestando a proposta de liberdade de sua “alma” (psique), que ele faz segundo as suas próprias limitações, em fun ção de suas angústias de defesa. Reduzindo os seus aspectos formais em análise, na transferência promove até o surgimento de expressões clássicas como: “não tenho contato” ou “não dou conta de tais experiências”. Simplesmente não está sendo aprendido o particular contato que aquela pessoa está podendo estabelecer, naquele determinado momento, ou mesmo, não participa da experiência. Algo impossível para quem está vinculado a um ideal de ego, a um superego rígido, ou o ego presente ou ausente de contatos com o mundo real. O que me passa e parece ocorrer na sua vida, é que não está de forma alguma sendo compartilhado, ou melhor, participando da forma que o desejo quer satisfazer o seu eu. E a sua forma de atuação é desproporcional e atemporal aos seus verdadeiros motivos de inter-relacionamento com o mundo. Qualquer estímulo leva o sujeito à atuação que não tem nada a ver com a sua pessoa, agindo sob o mito de que é preciso experimentar. Viver na experiência, algo inevitável, natural e espontâneo, que se processa de fora para dentro, onde o desejo não é consultado e nem permitido se manifestar. Destaco, que neste momento, o sujeito é tomado de uma regressão e o ser desejante fica substituído pelo “desejo de ser”, o alcançar o que se é, é substituído pelo alcançar o que se deve ser. Vira uma busca desesperada pela mãe da infância, que o salva dos vampiros e Fred Krugers. No passo seguinte ao sujeito na busca da sua redenção, a escolha do par analítico é de grande importância para que haja a transferência. Assim, se se criar a transferência, cria-se uma região, um portal intermediário entre a doença e a vida real, através da qual se faz a transição de uma para a outra. A nova condição assume o comando de todas as características da doença; mas ela representa uma doença artificial que é, em todos os pontos, acessível à intervenção do analista.

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Dou aqu i, a ênfase na natureza artificial da neurose de transferência, de um trab alho que só pode ser realizad o por um analista. Cito a C onferência Introdu tória (19 16 -19 17 ) p ara su stentar as bases e o desenrolar d e sensações presas num p assad o d e valorização mitológ ica da fu nção m ãe, que só p od e ser desm istificada através da transferência. Freu d define a transferência, m as tamb ém enfatiza, energicam ente, como a neurose de transferência concentra tu do num “p onto ú nico”, a relação d o paciente com o analista. Nós já não estamos p reocup ados com a d oença anterior do paciente, mas com a neuros e recém-criad a e transform ad a qu e tom ou o lu gar d a an terior. Assim, o analista faz com qu e tod os os sintomas do paciente aband onem seu sig nificado original e assum am um novo sentido baseados nu ma relação com a transferência, ou só persistirão aqueles sintom as capazes d e sofrer tal transform ação. Mas o domínio dessa nova neurose artificial, aos poucos, vai deb eland o tais sentim entos con fu sos e ansiog ênicos no trato do sujeito com os seus d esejos pessoais. Su as sensações energ éticas, capazes d e sofrer tais transform ações, se tornam possíveis com a realização da nossa tarefa terap êutica. Em “Alé m do Prin cíp io do Praze r” (19 20 ), Freu d enfatizou a neurose de transferência com a essência e o concentrado da transferência, vista como um a repetição, “uma e xpres são da co mpu ls ão à repe tiç ão”, a serviço de evitar o record ar: o su jeito é obrigad o a repetir o material rep rimido com o um a exp eriência contemp orânea (...), e estar sem pre bu scan do o ideal de m ulh er que o salve d e seu desejo d e su gar e sorver a mulher d esejosa p or u m vamp iro, que lhe extraia a essência e preencha o vaz io ou a iluminação da sua alm a. Talvez o trecho que melhor n os explique o não dito, seria da música d e Belchior “ ...eu quero g ozar no seu céu, p od e ser no seu inferno; viver a divina comédia hum ana, onde nada é eterno.”

SUMMARY MEMO RY AND SEN SO RIAL ELEMEN TS AND N OT PERCEPTION THAT CAME FROM DESIRES IN ANALISYS The exp eriences lived b etween child hood and ad olescence are com posed of basic elements to the hum an b eing imp rovement in the adu lt phase, however attached to a

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m y th o lo gic a l va lu a tio n o f th e fu n c tion o f th e m o th e r . Th e in div id u a l, u n s a tis fie d w ith th e m o de l le a r n e d in h is / h e r fa m ily, loo ks fo r a pa r tn e r to c on stitu te a fa m ily, w h e r e th e m o de l le a r n e d r e pe a ts its e lf a n d pr o du c e s a c on fu s ed r e la tio n s h ip. W ith th e fa ilu re e v er y v alu e fa lls ap a rt an d s e v e ra l s y m pto m s re v e a l th e m s e lv e s a s a de p re s s ion of a s tre s s e d an d de s tr oy e d r e la tio n s h ip. In th e qu e s t o f ps y ch oa n a ly s is , th e “rem em b er, liv e ag ain an d ela b ora te” h a pp e n s a n d th is o n ly h ap pe n s if th e r e is a n e u r o s is of tra n s fe r e n c e th a t on ly a n a n a lys t c a n de v e lop . K E Y W O R D S : C h ildh o od – M o th e r – N e u r o sis of tr an sfe r e n c e

S obr e o A u t or S érg io C osta – P si can al ist a D i d ata – D ire tor e p r ofe ssor d o N ú cle o d e E stu do s e P esq ui sas P sic an alí tic as. P o e m a d e é p oc a

S érg io C os ta

O pe ito o pr im id o C au s a r e p u ls a n o pe n s a r e c a la a bo c a n o fa la r . N ã o v e n tila o c é r e br o E n ã o de ixa p e n s ar ... A fa lta de s e e xp r e ss a r L e v a o h o m e m a s e a c a b ar . A fom e d e ix a a v o n ta de de v ive r Pr a lá . O s gov e r n a n te s a o n de e s tã o? Q u e n e s s e m o m e n to de s a p ar e c e m c o m o o s pa is Q u e n ã o m e de ixa m fa ze r o m e u fic a r... D ia n te do m u n d o q u e n ã o po de m e a br iga r. O s gov e r n a n te s a o n de e s tã o? Q u e n e s te m om e n to de s a pa r e c e m c om o o s p a is E m e r e m e te m a o p a s s ad o d a in fâ n c ia ... Q u e n ã o m e de ixa m fa ze r o m e u fic a r... D ia n te do m u n d o q u e n ã o po de m e a br iga r.

F ico dia n te d e u m m u n do q u e n ã o p od e m e ab r iga r E é n o s in to m a q u e v ou m e in s ta la r .

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ADOLESCÊNCIA, VIOLÊNCIA URBANA E RESPONSABILIDADE PSICOSSOCIAL.

Ricardo Falcão “Violência do desejo que se perpetua na repetição, violência do pai que se instala no superego, violência da castração que bloqueia o amor, violência da cultura que internaliza o terror, violência do conflito defensivo que incapacita o neurótico; violência, enfim, do próprio discurso do paciente, do verbo do analista, da realidade que impõe seu tributo e liquida as ilusões. A guerra e as metáforas militares(...) se tornam o referencial para pensar o homem, folha solta na tempestade das suas paixões e dos obstáculos que os outros homens se vêem forçados a erguer contra a besta desenfreada que se agita por trás da sua máscara civilizada.”.

(Renato Mezan, Freud: Atrama dos Conceitos)

RESUMO: O presente artigo traz reflexões acerca dos adolescentes e sua participação como protagonistas no cenário de violência urbana da sociedade moderna. Através de algumas matrizes teóricas do pensamento psicanalítico freudiano, tais como: Complexo de Édipo, Ideal de Ego, Superego, serão feitas considerações a respeito do excesso de gozo e a ausência da lei que permeia o nosso atual momento histórico e suas influências no que tange violência.

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U N IT E R M O S : V i o lê n c i a U rba n a A d o le s c ê n c i a R e s p o n sa b i li d a d e P s ic o s oc ia l

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A t u al m e n t e , s om os c o n fro n t ad os c a d a v e z m a i s c om s i t u a ç õe s d e v io lê n c i a u r b an a q u e t ê m c o m o p ro t a g on i s t a s p r in c i p a i s: o s ad ol e s c e n te s . A s in st i t u i çõ e s s o c ia i s q u e c on st i t u e m a n o s s a s o c ie d a d e d e m on st r a m c la r a m e n t e e m s u a s a t i tu d e s - o n ã o s a b e r o q u e fa ze r d e for m a c o n c r et a e a r ti c u l a d a fre n t e a e s ta r e al i d a d e . T a l a fir m a ç ã o n ã o n e g a q u e h a ja in c u r s õe s d a s o ci e d a d e o rg an i za d a n a t e n t at i v a d e r e so l ve r e st a si t u a ç ã o, a p e n as p o n d e r a q u e a in d a é p re c i s o u m a a t u a ç ã o m a i s p r ofu n d a s ob re o g ru p o s oc i a l a d o le s c e n t e . A s a ç õ e s d e v e m t e r c om o a l vo à s c a u s a s e n ã o os s i n t om as , o ri g o r m o ra l c om o ú n i c o in s t r u m e n t o d e a t u a ç ão n o c o m p or t a m e n t o v io le n t o d o s a d o le s c e n t e s p r o v oc a u m a l h e am e n to d a d i s p o s iç ã o i n s ti n t u a l , re s u lt a n d o n o s fe n ô m e n o s r e a t iv o s d e d e s o rd e n s n e u r ót i ca s . A e s s ê n cia m a is pr o fu n d a d a n a tu re z a h u m a n a co n s is te e m im pu lso s in s tin tu a is d e n a tu re za e le m e n tar (...) E m s i m e sm o s, e s se s im p u ls o s n ã o s ã o n e m b o n s ne m m a us . C la s s if ic am o s e s se s im pu ls o s se g u nd o s u a re laç ão co m a s n e ce s s id a d e s e a s e x ig ê n cias d a co m u n id ad e h u m a n a . 1

P a r a q u e r e al m e n t e p os s a m os a g ir e fe t iv a m e n t e e e m d e t e r m i n ad o fe n ôm e n o d e n at u re z a p s i co s s oc i a l, é d e s u m a i m p o rt â n c i a a re fl e xã o p r ofu n d a d e s u a s c a u s a s , p a ra p o s t e ri or m en te i n te r v i rm os n os s i n to m a s a c u rt o , m é d i o e l on g o p r a zo . D e v e m o s t er cl ar o q u e q u e s t õ e s r e la t i v a s a s t a t u s , c la s s e s o c ia l, b e n s d e c o n s u m o , e st é t i c a, é t ic a , a r t e , e s p o r t e, p o lí t ic a , le i , e c o n o m i a , e d u ca ç ã o , b io lo gi a , p s i q u e , m er c a d o d e t r a b a lh o , f a m íl ia , m íd ia , h i s t ó r i a , r e lig i ã o , a f e t o s , de s a f e t o s , s e x u a li d ad e e e s t a d o a f e t a m a v i v ê n c ia e a c o n s t it u iç ã o

1

A D e s ilu s ã o d a G ue r ra , S .E ., X IV , p .3 1 7.

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a fe to s , d e s a fe to s , s e x u a l id ad e e e s t a d o afe t a m a v iv ê n c i a e a co n s t it u i ç ã o d o s e r a d ol e s c e n te . O s ad ol e s c e n t es r ep r e se n t a m u m p e r c e n tu a l d a s o c ie d a d e b r as i l ei r a q u e p o s s u i for m a s e s p e c í fic a s d e c om p or t a m e n t o, d e m a n d a n d o u m a p o io e u m a a t e n ç ão e s p e c ia l , p a r a o d ir e c io n a m e n to e q u il ib ra d o d a tr a n s iç ã o d o s er c r ia n ç a -a d o le s c e n t e -a d u lt o. O c o n h e c im e n to d e s t a fa s e p e r ti n e n t e a u m a e t a p a d o d e s e n v o lv i m e n t o h u m a n o e s tá s u j e it o à s v a ri a ç õe s h is t ór i co -c u l t u r a is , p o ré m , n ã o p e r d e a c r it i ci d ad e q u a n t o a d im en sã o d o c on fl it o e x is t e n c ia l p e c u l ia r a u m p e rí o d o d e t r a n s iç ã o fí s ic o , p s íq u ic o e s o c ia l . A s tr a n s for m a ç õ e s d o m u n d o g lo b a l iz ad o d e m a n d a m d o s a d o le s c e n t e s u m a v e lo c id a d e n a a d a p t a ç ã o à s c on s t a n t e s m u d a n ç a s d a r ea l id a d e , ob r ig a n d o-o s a fa ze r e s c ol h a s s ob re s u a c on d u t a d e v i d a . P o r é m , a o m e s m o t em p o e m q u e e s t as e s c ol h a s s ã o fei t a s , os c om p on en te s v u l n e rá v e i s d e s t a fa s e s e to r n a m e v id e n t e s e p as s í v e is d e m a n ip u l aç ã o s oc i al . A s oc i e d a d e g l ob al iz a d a , c o m s u a s p r e r r og a t i v as , c ri a u m d e sc o m p a ss o d a s a s p i ra ç õ e s d os ad ol e s c e n te s fre n t e às in s t i t u i çõ e s s o c ia l iz ad or a s , e n v o lv e n d o a m b as a s p a r te s e m c on fl it o s q u e r e s u l ta m n a d e s o r ie n t a ç ão , e m b u s c a d e v a lo r e s e r e fe re n c i a is , o c as i on a n d o c om p o rt a m e n t o s e xt r em os e c on tr a d i t ór io s d e c o n v iv ê n c i a e o rg an i za ç ã o s o c ia l . E s ta m u d a n ç a r a d i c al d os c ód ig os d e c o n v i v ê n ci a e m q u e e s ta m os im e r s o s e a in v e r s ã o d e v a l or e s p r ov o c a m c ol a p s o s p s íq u ic o s e m t o d a a c ol e ti v i d a d e . N e m s e d e v e co n stitu ir s u rp re s a qu e e s se re lax a m e n to d e to d o s o s la ço s m o ra is e n tre o s in d iv íd u o s co le tiv o s d a h u m a n id a d e d e v a te r r e pe rcu s s õ e s s o bre a m o r alid a d e d o s in d iv íd uo s. 1

N e s s e s e n t id o, a v io lê n c i a u r b a n a é u m e x e m p l o d e s t e s c ol a p s o s , r e p r e s e n ta m i n s c ri ç õ es d e c o n fli to n o i m a g i n ár i o a d o le s c e n t e .É e x p r e s s ão e c on se q ü ê n ci a d e u m a p a to lo g i a s o c ia l, e a t ra v é s d e s u a i n te n s i d a d e , p o d e m os i d e n t ifi c a r a d e s o rd e m d a v i d a p s i c os s o c ia l . E s te c o n t e xt o d e m an d a a n e c e s s id a d e d e s e c ri a r u m es p a ç o, o n d e o s s u j e it o s d a s o c ie d a d e e n c on t r e m u m t e m p o p ar a o r e c ol h im e n t o e a r e fle x ã o e m p r ofu n d id a d e d e s u a s p ró p r i a s e xp e ri ê n c ia s i n d i v id u a i s e c ol e t iv a s n o q u e d i z r e s p e i t o à ad ol e s c ê n c ia .

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A D e s ilu s ã o d a G ue rra , S .E ., X IV , p .3 1 2 .

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E s s a fo r m a d e ag ir r e s u l ta r i a p r ofí c u a , p r i n c ip al m e n t e n a p ro d u ç ã o d e n ov a s p e r s p e c t i v as p ar a li d a r c om a s u b j e t iv i d a d e d os a d o le s c e n t e s fr e n t e ao s p a r a d i g m a s d a m od er n i d a d e. A P s ic a n á li s e s e n d o u m a á r ea d o c on h e c i m e n t o, q u e b u s c a re fl e ti r e e n t e n d e r o c o m p o r ta m e n to h u m an o , d e v e p r om ov e r , a p ar t i r d e s u a s m a t r iz es t eó r ic a s , c o n h e c im e n t o s q u e v i s e m m in o r a r co n fl it os e c on fr o n to s q u e p r o m o va m a d e s ag re g a ç ã o so c ia l . P a r a o c r ia d or e fu n d a d o r d a P s ic a n á l is e , F re u d , o “ C o m p le x o d e É d ip o ” é a p r i n c ip a l a r ti c u l a ç ão e s tr u tu ra n t e d o p s i q u is m o h u m a n o. N a s u a i n fâ n c ia , os s e re s h u m an os n ã o p o s s u e m s e n t id o d e m o r al e n e m i n te r d it os e m oc i on a i s q u e s e j am e fic i e nt e s n o c on t r ol e d as d e m a n d as d o Id . Es t a fu n ç ã o é e x e rc i d a i n i c ia l m e n t e p e l as fi g u ra s p a re n t a i s . N o d e c or r e r d e s e u d e s e n v ol v im e n to p s í q u i co oc o r re a v iv ê n c i a d o c o m p l e x o d e É d i p o , fa s e e m qu e s e d á o p r o c es s o d e i d e n t ifi c a çã o e as e s c ol h a s ob je t a is . S e o p r o ce s s o d e i d e n t ifi c a ç ão o c or r eu d e fo rm a s at i s fat ó ri a , o S u p e r e g o c om o u m a in s t â n c ia p a r e n ta l , t a m b ém o fo i. P o s te r i or m e n t e , o S u p e r e g o s e a fa st a d a s fi g u r a s p a re n t a i s p ar a s e a p ro x im a r e r e c eb e r i n flu ên ci a s d a s fig u r a s c u lt u r a i s, q u e t a m b é m c on t r ib u e m p a ra a s u a for m a ç ã o. C o m a e q u il ib ra d a r e s ol u ç ã o d o c om p l e xo d e É d i p o , a c r ia n ç a te m i n s e r id o e m s u a p s iq u e a c u lt u r a . E l a a b a n d on a o p r i n c íp io d o p r a ze r e a c e it a o p r i n c íp io d a r e a li d a d e ; g a r a n t in d o a in s t a u r a ç ã o d o s u p e r e g o c om o r e p r e s e n ta n t e d a m or a l, d a s l e is , d as n or m a s , d os ac o r d o s t á ci t os c ri a d o s a o l on g o d a v id a h u m a n a e m s o c ie d a d e . A c iv iliz a çã o f o i a lca n ça d a a tra v é s d a re n ú n cia à s a tis f aç ão in s t in tu a l, e x igin d o e la , po r s u a v e z , a m e s m a re n ú nc ia d e cad a re cé m -ch e g ad o. N o d e co rre r d a v id a d e u m in d iv íd uo h á u m a s u b st itu içã o co n s tan te d a co m pu ls ã o e x te rn a p e la in te rn a. 1

A o r d e m d o s im b ól i co é a c e s s a d a , i n s tr u m e n t o d e fu n d a m e n t a l i m p or t ân ci a n a c ri a ç ã o d o s c a m in h os p e l os q u a i s p e r c or r e rã o o s s e u s d e s e j os . A s o c ie d a d e m od e rn a g l ob a li za d a, i n fel i zm e n t e , t e m s e c a ra c t e ri za d o p o r u m a m b ie n t e d i c ot ôm ic o n eg a ti v o: fa lt a (d e l e i ) e o e xc e s s o ( g o zo) , cr i a n d o u m a p r e d is p o s i çã o p a r a r u p t u r a d o p a c to e d í p i c o , p ro p i c ia n d o o re s s u rg i m e n t o d o r e c al c a d o . A p a r t i r d e s t e r e fe r e n c i a l, o a d o le s c e n t e e n c o n t r a -s e em u m a s i t u a ç ão f e r t ili za d o r a d e t r a u m a s : a v iv ê n c i a p le n a d o s d e s e jo s se m o r e c o n h e c im e n t o d a d if e r e n ç a e d a al t e r id a de .

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A D e s ilu s ã o d a G ue r ra , S .E ., X IV , p.3 1 9 .

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O d iq u e d o r e c al q u e r om p i d o l i b e r a u m a g ra n d e e fo rt e c or r e n t e za d e p u ls õ e s c on ti d a s , p re d is p on d o o s u r g i m e n t o d e c o n d i ç õe s i n t ra e e xt r ap s íq u ic a s p a r a a in s t a u r a ç ã o d o c om p o rt a m e n t o v i o le n t o e m s o c ie d a d e . O s im pu ls o s p rim itiv o s, s e lv a ge n s e m a u s d a h u m an id ad e n ã o d e s ap a re ce ra m e m qu a lqu e r d e s e u s m e m b ro s in d iv id u a is , m a s pe rs is te m , n u m e s tad o re p rim id o , no in co n s cie n te e a gu a rd a m a s o p o rtu n id a d e s p ar a s e to rn a re m a tiv o s m a is u m a v e z 1

A n os s a s oc i e d a d e p r e c is a g a ra n t i r c om e q u i d a d e e a l t er i d a d e o s d i r e it o s c iv i s , s oc i a is e p o lí t ic o s , p a ra ofe r e ce r u m a v id a d i g n a ao s s u j e it o s qu e a c on st i t u e m . S e m t al fe i t o, à c o e s ão e a i n t e g r a çã o d o t e c i d o s o ci a l n ã o oc o r re r á , p oi s n ã o h a v e rá v a lo r e s d e c o n s is t ê n c ia m o r al e é ti c a q u e e s t r u t u r e m o i d e a l d e e g o d a s oc i ed a d e . N a a u s ê n c ia d e s te id e al d e e g o, a r e fe r ên ci a d e id e n ti fic a ç ã o e n t re o s s u je i t os n ã o s e fa r á p ro m o v e n d o a d e s ag re g aç ã o . A v i ol ê n c ia u rb a n a é a fo rm a p e r v e rs a d e p r ot e s t o d os a d ol e s c en te s à e s t a s it u aç ã o : o fa le c i m e n t o e a u s u r p a ç ã o d os d ir e it o s ci v i s, s o c ia i s e p ol ít i c os . M e s m o a s s im , as in s t it u iç õ e s s oc i al i za d or a s t ê m q u e s er p r es e r v a d a s . N ã o s e po de s om en te c ri t ic á -l as sem a p re se n t a r a l te r n a t iv a s i n s t it u c i on ai s c on st r u t i v as . E x is te m m u ito m a is h ip ó critas cu ltu r ais d o qu e h o m e n s v e rd ad e ira m e n te civ iliz a d o s (...) a m a n ute n çã o d a civ iliz a çã o , m e s m o n u m a ba s e tã o d ú b ia , f or n e ce a p e rs pe c tiv a d e , a ca d a n o v a g e raç ão , p re p a rar o c am in h o p ara u m a tr an s fo r m aç ão d e m a io r alca n ce d o in s tin to , a q u al se rá v e ícu lo d e u m a civ iliz aç ão m e lh o r.2

S e n os in ti t u l am os “S o c ie d ad e O rg an i za d a ” d e v e m os t om a r c on s c i ê n c ia d o s e fe it o s d e s t ru id or e s d a om is s ã o m or a l e m re l a ç ão à fo r m a ç ã o p s ic o ss o c ia l d o s n os s o s a d ol e s c e n te s , ou a e r r ad ic a ç ã o d a v i ol ê n c ia n e s te g r u p o s e r á u m m e r o p r o c e d i m e n t o id e ol óg i c o d e s t i n a d o a e n c ob ri r a n os s a r e sp on sa b il id a d e s oc i a l. P a r a a q u e le s q u e a ch a m q u e es t a r e a li d ad e é n o r m a l, co m o p a r t e in t e g r an t e d o f r u i r e v o lu t i v o do s t e m p o s , s ó n o s r e s t a p a r a fr a s e a r G il b e r t o G i l: - q u e m sa b e J A N O 3 v e n h a n o s r e s t i t u ir a p r u dê n c i a , a p a z e a c a p a ci d a de d e v e r o f u t u r o c o m o co n s e q ü ê n c i a d e u m p a s s a do . E , c om o

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C a rta a Fr e de r ik V a n E ed e n , S .E ., X IV , p . 34 0 . A d e s ilu s ão d a Gu e r ra , S . E ., X IV , p .32 3 . 3 D e u s g r eg o , q u e r ec e b e u de S a tu rn o o d o m da p r u dê n c ia e d e v e r o p a s sa d o e o fu tu ro , é a q ue le q u e p r e s ide o s c a m i nh o s e tr a z a p a z . C O M M E L IN , P . N o v a M ito lo g ia G r e g a e R o m an a .Ita tia ia L td a .1 99 7 , B h te , p .1 44 . 2

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um Deus benevolente, nos livre do continuum da repetição e recordação, elaborando de vez o rumo desta história.

SUMMARY This present article brings reflections respective about adolescents and their participation how m ain characters in setting urban violence of modern society. Through some teorics matrixes the psychoanalytic thought Freudian, such in those cases: Oedipus Complex, Ego Ideal, Superego, will make considerations respective enjoyment excess and the absence of law that which our moment historic current and their influences respect for violence.

UNITERMS:Urban Violence – Adolescence - Psychosocial Responsibility BIBLIOGRAFIA FREUD, Sigmund. A D issecção da Personalidade Psíquica. Vol. XX II, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Imago, 1997. FREUD, Sigmund. Reflexões Para os Tempos de Guerra e Morte. Vol. XIV, Edição S tandard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Imago, 1997. FREUD, Sigmun d. A Dissolução do Com plexo de Édipo. Vol. XIX, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Imago, 1997

Sobre o Autor Ricardo Falcão – Sociólogo – Psicopedagogo – Sexólogo e Psicanalista (NEPP)

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Culto ao Corpo, Anabolizantes e AdolescĂŞncia ValĂŠria Trinchero

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Resumo: Sabe-se que, quand o ingeridos sem indicação méd ica, os esteróides anabolizantes causam efeitos deletérios g raves e até mesmo fatais. A facilidad e de obtenção destas d rogas, aliada a id ealização do corpo existente em nossa socied ad e, levou ao consumo de anab oliz antes e p ela faixa d e maior risco: a adolescência. O presente estud o p rocurou d iscu tir algumas questões acerca da estrutura psíquica dos usuários d estas drogas, e b uscar as modificações estruturais necessárias p ara p erm itir o autoconh ecimento e au to-aceitação, levando-os a com preensão de que a perfeição, im posta pelo mom ento social vig ente,é ilusória e inatingível. Un itermo s:

Adolescência – A nabolizantes Histérica - Cu lto ao Corp o.

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Estrutura

Intro dução Para a g eração nascida en tre as guerras, portad ora de moral bu rguesa d e classe méd ia, a preocu pação excessiva p ela mu scu latura e pela forma corp oral era vista com certo desd ém, indício d e um a inteligência escassa, ou de u m lamentável d esinteresse p or ocupações verdadeiramente imp ortantes, pelos valores esp irituais, intelectuais, econômicos ou profissionais. Porém, a vid a sedentária e cômoda do h omem moderno, seus vícios d e alimentação tem m ostrad o seus efeitos adversos. O exercício popu lar regularizad o se converteu em necessid ad e, em um mecanismo de regulação e com pensação homeostática d e uma cultu ra voltada p arad oxalmente p ara o mínimo esforço corp oral. Grand e parte d o p rogresso d o sécu lo XX nos trouxe economia de movim en tos. Por um lad o, mu ito d o d esenvolvimento econôm ico e do avanço tecnológico e científico teve como meta maior com od id ad e, p or outro lad o, os seres hu manos se viram ob rigados a inventar tod a u ma cultura d e novas ocu pações e atividad es qu e lhes p ermitam reativar ,e m seus hem isférios cereb rais, tod os os movimentos que sua cap acidad e de abstração havia economizado. É difícil, entretanto, p rocessar a du pla mensagem d e uma civilização esquizóid e, que p rimeiro nos envolve e sed uz com a magia d e artefatos que reduz em ao m ínimo nossa atividade c orporal, oferecendo um clim a d e sedentarismo e rep ou so, para logo nos obrigar a consumir freneticamente tod a esta energ ia que havíam os economizado. Em nossa sociedad e, a aparência física, tem sid o d eterminante no modo com o as pessoas são vistas em seu meio social. A escravização a pad rões

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de beleza im postos por um a sociedade esquizóide, tem sido um dos fatores associados ao aumento da incidência de transtornos dismórficos (anorexia, bulimia, vigorexia ) e conseqüentemente ao uso de drogas que possibilitem alcançar o corpo ideal – esteróides anabolizantes, anorexígenos,... A dissociação m ente-corpo, que nos parecia superada, retorna com força total se convertendo em obsessão pela perfeição das formas e doenças psíquicas acompanhadas de grande ansiedade. A im posição m aciça de um ideal absoluto de perfeição do corpo tiraniza o sujeito e sua família, e conduz ao empobrecimento da atividade psíquica, afetando o rendimento intelectual tão im portante para o êxito no campo escolar, durante o período da adolescência. A sensação de músculos poderosos e tensos que lhes pertencem, fazem cumprir, em seu interior, uma inefável sensação de totalidade existencial. O termo “Dism orfia Corporal” foi proposto em 1886, pelo italiano Morselli, e significa um transtorno emocional, onde há sofrim ento significativo, e um a reiterada obsessão com alguma parte do corpo que im peça um a vida normal. Quando o quadro todo se fixa na questão muscular, o transtorno se denomina vigorexia ou transtorno dismórfico m uscular. Freud descreveu o caso do “Hom em Lobo”, uma pessoa que apesar de ter um excesso de pelos pelo corpo, centrava sua excessiva preocupação na forma e tamanho de seu nariz. Não é causalidade que o nom e vigorexia rime com anorexia; as duas doenças promovem a distorção da imagem que o paciente tem sobre si mesmo:o anoréxico nunca se acha suficientem ente magro, o vigoréxico nunca se acha suficientemente musculoso. Am bas podem ser consideradas pat ologias do narcisism o, que se caracterizam pelas exigências arcaicas sobre o self, dependência desregrada de aclam ação por parte de outros e relações objetais m ás, ou deterioradas. Manifestam-se por um senso de ter direito a tudo, uma incansável perseguição da auto perfeição e o prejuízo da capacidade de ter interesse, empatia e am or pelos outros. Os sintom as de vigorexia se evidenciam pela insatisfação com o corpo e pela obsessão em tornar-se m usculosos. Essas pessoas olham-se constantem ente no espelho e, apesar de musculosos, podem ver-se enfraquecidos ou distantes de seus ideais. Para alcançar estes ideais o sujeito abandona suas atividades e se isola num a academ ia dia e noite. Temos então, o risco de usarem anabolizantes, mesmo quando alertados quanto aos graves efeitos colaterais.

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A E strutura D ism órfico s

H istérica

com o

Fator

Predisp on ente

ao s

T ranstorn os

Atu alm ente o conceito de h isteria to rnou -se anacrônico. O qu adro foi fracion ad o em vário s outros m ales – depressão, angústia, co nversão , transto rno s alim entares – no s qu ais não se reconhece um a u nid ade, o que gera u m tratam ento m edicam entoso e sinto m ático , levand o em consideração apenas o sintom a d om inante. No s d ia s de hoje, não vem o s m ais a histeria co m a força d iag nóstica de o utro ra, talvez po r su a plasticid ade e sua cap acidad e d e transfo rm ação, a pato lo gia tenha derivad o d os conh ecid os quad ro s clá ssico s para m anifestaçõ es “atípicas” que não são sequer reconh ecidas p or no ssos colegas. A histeria sem pre ex istiu e acom panha o ho m em desd e o inicio da civilização . D escrições de quad ro s histérico s são enco ntrad os no s p apiro s egípcios que datam de 4 m il anos, com o o de “kahu n”. A taques aparatoso s são raros, restam ho je as “crises d e nervos”, estado s d e angústia , d e cólera e agitação , que se apresentam com o um a insatisfação generaliz ada co m o viver. A religio sa d edicação ao ex ercício, a qu antidad e de p esso as que se sub m etem repetidam ente a to do tip o d e d ietas, correm , fazem “aeró bica”, yo ga, nad am , and am d e b icicleta, no s leva a p ensar num a po ssessão d o corp o, tal qual os casos de histeria coletiva em épo cas passadas, o nde o corp o fo rçava su a ap arição através da po ssessão das M énad es, frenéticas seguido ras de D ionísio . O incessan te m ovim ento d e repetição reap arece nas academ ias co m o form a de “esculpir” o co rp o. D o po nto de vista social, pessoas co m estru tu ra histérica são vistas co m o no rm ais e valo riz ad as co m o ex trem am ente sedu to ras. Acad em ia s de ginástica, consu ltórios d e m edicina estética e d e cirurgia plástica estão abarrotado s d e nosso s ad olescentes, tentand o segu ir um p adrão im po sto pela m ídia d e perfeição d as fo rm as. G eralm en te nutrem um a intensa rejeição p elo p róp rio corp o, entrando em con flito toda vez que se olham no esp elho. A p ro blem ática fund am ental, assim co m o na histeria, é a m á rela ção com o pró prio co rp o, com sua sexu alidade, com seus instin to s, enfim , com sua próp ria natureza. Para seguir o m od elo vigente na so ciedad e e alcançar as “graças” d e um co rpo “sarad o”, tudo se torna lícito – anabo lizantes, m od erad ores d e ap etite, dietas restritivas,... Po dem os pensar então num p rocesso d e estruturação p ato ló gica ideal de ego /ego ideal afetando e red irecio nando o fun cio nam ento psíquico em

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torno da auto -im agem e da auto -estim a, alterando o processo de aceitação do próprio corpo pelo adolescente. Histórico dos Anabolizantes O uso de substâncias para melhorar o desempenho do atleta é descrito desde a antiguidade. Filistrato e Galeano referem, em sua época, que os com petidores olímpicos ingeriam testículos de touro –ricos em testosteronapara melhorar suas m arcas. Os esteróides anabolizantes são derivados da testosterona e foram sin tetizados em 1935, para fins terapêuticos, tendo as seguintes indicações médicas: - Deficiência de testosterona - Câncer de mama - Anemia aplástica - Edema de origem indeterminado - Tratamento da Síndrome de Turner - Estímulo do crescimento em caso de puberdade tardia em hom ens. O uso não terapêutico dos anabolizantes tem sido descrito desde 1950, por atletas profissionais e am adores, com objetivo de aumentar a m assa e força muscular. Atualmente, este uso está sendo divulgado entre “não atletas” visando aum entar habilidade e atuação atléticas e, principalmente m elhorar a aparên cia física. No Brasil, a facilidade de obtenção dos anabolizantes favoreceu seu uso. A grande atração, para o consumo destas drogas, se fundam enta nos seus efeitos visíveis e relativam ente duradouros (cerca de nove meses após o térm ino da ingestão). Estas duas características somadas ao apelo, a aparência física, existente em nossa sociedade, levou ao aum ento do con sumo de esteróides pela faixa etária de m aior risco : a adolescência. É im portante ressaltar, que a aquisição destes produtos é feita dentro das próprias academias, e que a indicação e a venda das drogas é feita pelos próprios instrutores, que se vangloriam do ganho de massa e força muscular de seus alunos. Numa tentativa de diminuir o uso de anabolizantes, em 1990, os EUA tornou-os “medicamentos controlados” o que gerou, na verdade, um grande mercado negro deste produto sem obter a redução de uso desejada

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D efinição de A nd róge nos Os testículos secretam vários horm ônios sexuais m asculinos, coletivam ente denom inados andróg enos, incluindo a tes tos terona, d iidrotestosterona e andros tenediona. Todav ia, a testosterona pode ser considerad a com o o horm ônio testicular fund am ental. A testosterona é resp onsável p elas c aracterísticas peculiares do corpo masculino, incluin do o crescimento d o p ênis e b olsa escrotal , desenvo lvimento d a glând ula p ro stática, vesícu las seminais e du cto s genitais masculinos. Outras fu nções da testostero na são: - Estimular d escid a d os testículos p ara a bo lsa escrotal; - Aum entar pêlos so bre o pú bis, face e peito; - Dim inu ir o crescim ento d o cab elo no alto da cab eça gerand o, às vezes, calvície; - Hip ertro fiar a muco sa d a laringe e au mentar este ó rgão ocasio nando , inicialm ente voz d isco rd ante e apó s a vo z grave masculina; - Aum entar a esp essura da pele em to do o co rp o; - Aum entar o índice de secreção d as g lând ulas seb áceas, principalmente na face, resu ltando em acne; - Aum entar a esp essura dos o ssos; - Aum entar o índice metabó lico b asal; - Aum entar o nú mero d e hem ácias po r m l de sangu e; - Aum entar a reab so rção de só dio p elo rim. M uitos d os derivad os d a testo stero na foram p reparad os e testad os na pro cura de com po sto s qu e pu dessem prom over o crescim ento g eral d o corpo sem p ro du zir efeitos m ascu liniz antes. Estes com po sto s são deno minado s esteró id es anabo lizantes. O g rau de d issociação d os efeitos and ro gênicos e anabo lizantes do s vário s comp osto s depend e do s bioensaios u tilizad os e, com freqü ência é assu nto de d iscu ssão . A p ró pria testo stero na é um do s mais po ten tes esteróides anabo lizantes e , atualmente, é im possível sep arar totalmente as d uas fu nções. No entan to , seria mu ito d esejável ter co mp ostos anab oliz an tes que não fossem andro gênico s, p ois isto to rn aria p ossível o seu u so em m ulheres sem induz ir a masculinização, e em crianças sem causar efeito s ind esejáveis sob re o desenvo lvimento sex ual e crescimento ósseo.

Mecanismo de Ação dos Esteróides Anabolizantes

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Os anabolizantes são conhecid os p elo seu p otencial de m elhorar o desem penho d o atleta, o que seria resultado de diferentes ações com binadas, nem todas conhecidas. As ações conhecid as atualmente são : - Efeito placebo : efeito a n ível p sicológico p elo fato de usar uma drog a qu e “m elhora” o seu desemp enho; - Estimulação do sistema nervoso central : p rodu z efeito eufroriz ante d im inu ind o a sensação de fadiga durante os treinos; - Efeito anti-catabolizante : d im inu em a aç ão catab ólica d os corticosteróid es lib erad os d urante o stress diminuindo a p erd a d e massa m uscular; - Aum entam a u tilização d a proteína ingerid a.

Efeitos C olaterais O uso de esteróides anabolizan tes com fins esté ticos é injus tificável devido aos seus inúm eros efeitos colaterais ; são associados a várias alterações ind esejáve is, clínicas e psíquicas. A ocorrência de e feitos co laterais fatais ou potencialm ente letais é rara, apesar de exis tirem tais relatos na literatura m éd ica p rincipalm ente com as drogas de uso por via oral. Os efeitos colaterais, m ais comuns, tend em a serem reversíveis com a interrup ção de seu uso, com exceção p ara as mu lheres e crianças incluindo os ad olescentes. Pela varied ad e d o padrão de u so d os anabolizantes e a escassez de estu dos sob re seu uso prolongado não há como asseg urar a au sência d e efeitos colaterais, nem prever o ap arecimento e gravid ade destes.

Efeitos sobre o sistema cardiovascular Os anabolizantes alteram o metabolismo do colesterol, d im inu ind o a lip op roteína d e alta d ensid ade (HD L), e au mentam a lip op roteína de baixa densidad e (LDL) com conseqü ente aumento do risco d e d oenças coronarianas. Algu ns estud os referem au mento significativo d a pressão arterial.

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Efeitos sobre o sistema reprodutor Alteram-se os níveis de hormônios sexuais pela baixa de hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). Nos homens pode ocorrer: hipertrofia prostática, atrofia testicular e esterilidade por diminuição da espermatogênese. Estas alterações são reversíveis com a interrupção do uso das drogas. A ginecomastia, que também ocorre em homens, nem sempre é reversível. Nas mulheres temos atrofia de tecido mamário, ciclos menstruais irregulares, esterilidade, crescimento de pêlos com distribuição masculina, hipertrofia de clitóris, Os dois últimos efeitos descritos –efeitos androgênicossão irreversíveis.

Efeitos sobre as enzimas hepáticas Leva a alterações nos testes de função hepática, icterícia, peliose hepática e tumores hepáticos. Em alguns casos, os efeitos são reversíveis com a interrupção do uso dos anabolizantes.

Efeito sobre as crianças e adolescentes Nas crianças e adolescentes, os esteróides anabolizantes causam fechamento prematuro das epífises ósseas, levando à maturação esquelética precoce e, conseqüentemente, baixa estatura, puberdade acelerada, levando também a um crescimento raquítico.

Outros efeitos colaterais Vários são os outros efeitos indesejáveis incluindo calvície, acne, policitemia, exacerbação da apnéia do sono e estrias. Temos maior tendência à lesões do aparelho locomotor, pois as articulações não estão aptas para o aumento da força muscular. Além dos descritos acima,

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a q ueles u su á rios q ue injeta m esteró id es a na bo liza ntes, a inda correm o risco de co m p a rtilha r seringa s e co ntam ina r-se com o vírus da A ID S o u hep a tite, dentre ou tro s. É sem p re bo m ter em m ente, q ue a hipe rtrofia m u scula r a sso cia da à a cne, ginecom astia e estria s estão presentes em um terço d os usu ários d e esteró id es ana b oliz a ntes. Pa ra m inim iz ar o s efeitos co latera is ou p otencia liza r os efeito s do s a na bo liza ntes, seus usu á rios co stum a m lan ça r m ão d o u so d e ou tra s d ro ga s ta m bém preju dicia is - a na lgésico s, ho rm ônio d o crescim en to , insu lina , go na do tro fina coriônica . E fe ito s sobre o p siq uism o O s esteró id es a na b oliz antes sã o droga s psicoa tiva s q ue po dem a lterar o psiq uism o de ca da u suá rio d e form a individ ua l. V á rio s estud os têm dem onstra do q ue 83 a 8 5% do s usu á rios tivera m a lgum tip o d e a ltera ção em seu p siq uism o . A prob a bilida d e d esorde ns estrutura is d e ordem histérica , pela próp ria p la sticida de d a pa tolog ia histeria, levem a o u so d estas d ro ga s deve ser sem pre considera da . D e a cordo com u m a pesq uisa pu blica d a na revista British Jou rnal of Spo rts M edicin e, o co nsum o de a nab oliza ntes p ro voca distúrbios de persona lid a de sig nifica tivos, com tra ços de p ara nó ia , na rcisism o e a gressivida de, entre o utro s. Transto rno de p erso na lida d e é u m dia gnó stico p siq uiá trico q ue se a plica q ua nd o, po r ex em plo , a pesso a exa m ina da se m o stra com ca pa cida d e dim inuída d e se a d ap tar a o m eio . Ap on tar a a rm a co ntra a p róp ria m ã e, chuta r com pu lsivam ente carros esta cio na do s, fora m d ois co m po rtam ento s o bserva d os neste estu do . O uso ilícito d e a na bo liza ntes tem sid o a ssocia do a q ua d ro s d e depressã o, m a nia sinto m a s esq uizo freniform es, a gressivida de m a rca nte, suicíd io s e ho m icídio s. Algu ns d os q ua dro s nã o regrediram m esm o a p ós a interrup çã o do u so da s d ro ga s.O s resultad os de o utro estu do m o stra ra m m a io r incid ência d e dia gnó sticos de p sico se (12 ,2 % ), m a nia (1 2,2% ) e dep ressã o (1 2,2% ), d ura nte os perío do s d e uso , incluind o o s três p rim eiro s m eses a p ós a interrup çã o do uso , qu a ndo co m pa ra do s com período s d e nã ouso . E p isó dios d epressivo s típicos tendem a o correr m a is no s três p rim eiro s m eses de a bstinência . Nu m estu do rea liz ad o na un iversid ad e de Ca p e Tow n, África do Sul, as a ltera ções de p erso na lida de sã o significa tiva s, deb ilita nd o o fu ncio na m ento pesso a l e socia l d essa s pesso a s; ela s d estro em o rela ciona m ento q ue esses usu ários tem com sua s fam ília s. O tra ço de person alida de m a is intenso era o pa ra nóico. Tra ços d e p erso na lida d e narcísica (preocu pa çã o ex cessiva co nsig o m esm o e falta de em pa tia co m

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os ou tros) vieram em segu ndo lugar, e em terceiro os de personalid ad e passivo-agressiva (desp rez o p elas obrigações sociais, mas sem d esafiá-las; a resistência a elas é de forma d issimulada).

Potencial para causar dependência Em 19 80 , foi levantada pela p rimeira vez a p ossibilidade d os anab olizantes causarem depend ência. Estud o recente mostrou qu e, tod os os critérios utilizados pelo D SM -III-R p ara diagnóstico de dep endência foram preenchidos, inclu ind o sin tomas de abstinência, tolerância, perda de con trole do consum o e continuação do uso apesar do conhecim ento de con seqü ências deletérias. Os sintom as d e ab stinência podem se apresentar com o hu mor d epressivo, fad iga, inquietação, p erd a do ap etite, insônia, diminuição da lib id o e cefaléia. A prevalência da d epend ên cia varia de 1 4 a 57 % conform e p op ulação estu dada. Um dos fatores aparentem ente associados à d epend ên cia é a distorção da percepção d a auto-im ag em com a impressão d e qu e “ nu nca se tem mú sculos o b astante.” Trabalhos mostram que, concom itantemente ao u so e ab uso de esteróid es anabolizantes, h á u m consu mo au mentado de ou tras drogas - álcool, tab aco, maconha, cocaína, anfetam inas - p rincip almente em ad olescentes. A taxa de uso d e d rogas, entre amostras selecionad as de usu ários de anabolizantes, varia de 14 a 30% . O abu so do álcool é o mais freqüente, segu id o do uso d a maconha.

Perfil do Us uário No B rasil, não há estud os sob re incid ência e p revalência do u so ilícito de esteróid es an ab oliz antes, mas sabe-se q ue o consumidor preferencial está entre 1 8 e 34 an os de idade e em geral é d o sexo masculino. Nos EUA , foram realizadas algum as p esqu isas com o objetivo de quantificar o uso indevido d e anabolizantes e verificou-se que, entre estudantes d e segun do grau 4 a 1 1% d os homens e 0,5 a 2,5% d as mu lheres já haviam utilizado este tipo d e d roga. Estud os p rosp ectivos comp arand o a p revalên cia do uso de anabolizantes, ao long o d os últimos cinco anos, mostram qu e a idade d e início de con su mo com ob jetivo d e melh orar ap arência e desem penho esp ortivo, se situa entre 1 5 e 1 8 anos, ou seja, estud antes de segun do g rau . Nu ma pesquisa feita em Neb rask a, em 1 99 1, com objetivo d e avaliar a distribu ição d em og ráfica, porcentagem d e usu ários e com portamento d e risco p ara uso de esteróid es entre os estu dantes d e seg undo grau ob servouse que:

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A incidência do u so de esteróides é m aior no sexo m asculino que no fem inin o; Nos últim os 30 d ias, 2,5% do s estu dantes relataram ter usad o an ab olizantes; A m aioria d os usu ários são esp ortistas am ado res; As razõ es apo ntadas p ara o uso são : m elhorar desem penho esportivo e aparên cia física.

E m 1 99 4, nos E U A, fo i estim ad o que m ais de 1 m ilhão d e jo vens já teria m feito uso d e esteróides anabo lizantes.

Conclusão Os efeitos adversos à saú de físic a e m ent al d a ingestão, sem indicação m éd ica, de esteróides anabolizantes estão sen do cad a vez m ais docum entados na literatura. Ao conh ecerm os a estrutura psíquica dest es usuários, tornarem os possível a pre venção desta adicção através de m ud anças estrutuais. Mudanças estruturais estão aqui con ceituadas com o m odificações dentro de cad a um a das instâncias do aparelho psíquico, que reduzir ia m conflitos entre estas instâncias, abran da ndo a s pressões sobre o ego, que se tornaria m enos vulnerá vel aos a pelos atuais de sedu ção am biental. Vivenciam os, atu alm ente, época de intensa sed ução am biental, onde a busca por form a s corporais idealiz ad as é vista com o norm al e saudável, não im port an do os m eios utilizados ou seus efeit os delet érios para alcançar tais objetivos. “Um indivíd uo norm al, em um ambiente bom , tem um superego que o impulsione a viver bem, satisfazendo o id em seus objetos exteriores. C riam-se assim, condições favoráveis par a que o ego possa realizar, sem contratempos, sua função executiva e har monizad ora d e exigências psíq uicas. E m condições distintas, o ego, sem poder modificar ad equad am ente o am biente exterior , realizando o que se chama aloplastia, tem que mod ificar -se a si próprio e a sua per sonalidade, quer dizer, fazer uma au toplastia. Tem que enfrentar-se com a personalidade de q ue forma parte, ou seja, com seu id e seu superego, empregando contra si os c hamados m ecanismo s d e defesa do eg o”.

S UM MAR Y W hen are in gests w ith out m ed ical prescription the stero id s cau se harm ful effects even fatal. The facility to get this

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drug s w ith the id ealizatio n o f bo dy that exist in o ur societybring to consu m e of the teen ag ers. This stud y d iscuss so m e qu estion s abo ut psical structu re o f the u sers and get the changes necessaries to lead to kno w led ge h im self leading to co m p rehension that the perfectio n is illuso ry. UN ITE R M S :

Ad olescen t - Anab olic Stru ctu re – Bo dy B uild

Stero id

H y sterical

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Sobr e o Au tor Va léria T rinc hero – M éd ica Pe diatr a – H ebiatra - Psic an alis ta (NEP P)

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FRÁGUA – FREUDIANA

Frágua: do latim fábrica Forja, fornalha. Oficina de ferreiro e outros; artífice. Fig. Autor, inventor.

Sigmund Freud nos deixou um legado, que foi construído em uma fornalha e, hoje, após mais de um século, encontra-se mais atual que nunca.

O NEPP propõe uma continuidade da Frágua Freudiana, no sentido de forja, que é uma oficina, onde Freud como artífice, criou Psicanálise.

Mediante as transformações sociais, culturais e econômicas, os códigos de valores são alterados, logo, essa instituição visa trabalhar dentro de uma realidade, apresentando uma Psicanálise de brasileiros para brasileiros, acompanhando a velocidade das mudanças, que é bastante expressiva.

Sérgio Costa

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Introdução e Fundam entos de um a Sociedade de Espetáculos Sérg io Costa O no sso temário prop õe u ma introd ução sob re o que no s p arecem ser os “fund amentos”, os po ntos básicos do pensamento freudiano. No entanto, antes do s fu ndamento s freud iano s so bre a neurose com pulsiva ob sessiva, m e p arece útil colocar alguns co nceito s p ró prios, p ara qu e se p ossa sab er de qu e po nto de vista falamo s e aco mp an har a nossa contrib uição. Referindo -se ao item Intro du ção , o nde fala-se de po ntos id eológicos, formas de leitura, o bjetivação e ap licação d as teorias freu dianas, a nossa equip e, que nasceu co m o prop ósito d e estudar Freud , na su a essência, vem ressaltar a su a prática, aliad a ao no sso m entor P ro f. Sérgio Co sta: o id ealismo d e u ma Psicanálise, sem p erd er o p ilar central do nosso g rand e m estre Sigm und Freud , com uma leitu ra e u ma id eolo gia p ró pria elab orada po r brasileiros para o p ovo brasileiro . Não queremo s banaliz ar a estrutura psíquica do ho mem, n em tão p ou co a descrição do “meio” , qu e po r su a irracionalid ade seria o princip al fator etio ló gico da neurose. No fund o, filiado ao determinism o qu e rep ou sa sob re o indivíd uo ingênuo , p or u m lado , e a sociedad e do o utro, qu e o influ en cia d e fo rm as e g raus variado s, ig norando que o indivíd uo é, em si, um prod uto social, assim co mo ignora o p ró prio co nflito ind ivídu o-so cied ade. Qu anto mais profu ndamente a Psicanálise sond a as zonas inconscientes do sujeito analítico , mais, nós p sicanalistas, no s assustamo s quando percebem os com o os m ecanismo s sociais p rod uziram a ind ividu alidade. So b um m anto de culpa que o enco bre, esse sujeito se trad uz em sintomas o bsessivo s que, aliás, o Estad o estimu la, mas em contrap artida, não co nseg ue manter um a b oa po lítica de saúde mental, p ara ap lacá-los, co ntrib uindo assim p ara o caos em que vivem os. Co nclu ím os que quanto m aio r a aplicação de categ orias so cio ló gicas e psicoló gicas, mais sup erficial se torna a interação entre o p siquismo e o social. A estru tura co ntrad itó ria da sociedade é vista em term os mo ralistas. A co ncorrência aparece como o prin cíp io do minan te d a esfera so cial, e dela derivam o s con flito s psíquicos. Segund o H.Ho rney o narcisista se caracteriza p or um a sob revalorização d o ego , po r uma esp écie d e inflação psíquica qu e, como a inflação econ ômica, oferece valores su perio res ao s qu e de fato existem . E não foi o que acon teceu neste último carnaval em BH? N em o p refeito, nem tampo uco o no sso go vernad or se sensibilizaram com o fracasso d o no sso carn aval, imp edindo até o desfile da Banda M o le, evento que acontece (o u acontecia) há mais d e 2 0 ano s n a cidade send o, po rtanto , tradicio nal. So ld ad os da P M fo ram colocado s nas ru as p ara imped ir a livre ex pressão de aleg ria (aliás, bem po uca ultimamente) do p ovo beloriz ontino. Tu do em nom e d a “ bo a família”

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mineira?! M as, no entanto , nosso “pai totêm ico ” exp resso u a su a alegria (e co mo !) desfiland o na Sap ucaí. A ssistind o pela tv, lembrei-me daqueles p ais, qu e tantas vezes dep aro nos relatos de pacientes, o s quais g astavam com a cerveja nas ro das de amig os, m as que nu nca tinham dinheiro para um cho colate p ro filho e, até mesm o, nem sequer lemb ravam o u se preocu pavam. E é aqui qu e se encon tram os d estinos d o desejo: num a d ireção marcad amente exibicionista e auto cen trada, qu e tem co mo co ntrapartid a o esvaziam ento d o intersub jetivo e o d esinvestim ento nas tro cas inter-hu manas. Esse é o trágico cenário p ara a im plosão e a exp losão d a violência que m arcam a atu alidad e. No que se refere aos f und a me nto s de u ma so cied a de d e espetáculos, no seu b ojo narcísico, o individ ualismo e o autocentram ento ating iram seu po nto m áximo , com o co nseqü ente apagamento d a alteridad e e d a intersub jetivid ad e ao lad o de um en altecim ento exacerbado de si m esmo. A id entificação d a massa com o líd er é o btid a através da técnica d e identificação , mesm o que p arcialmente, do líd er co m a massa. A id ealização é u ma forma d e narcisismo: o ob jeto idealizad o é p arte do p ró prio sujeito e, amá-lo significa amarse a si mesmo . A relação entre a massa e o seu pai to têm ico seg ue o mesm o pad rão . Estam os na terceira capital d o Brasil, mas com u ma p op ulação ind ividu alista e perd id a... A relação indivíd uo -líder é assim com o um jog o de espelho s: não se sabe o que é real e o que é reflex o. E a identificação do indivíduo co m o líder, que se to rna pai totêmico, parece representar a o utra face d a identificação do líd er com o indivíd uo . O rito tem su a o rigem no prazer infantil com a rep etição (fase anal) de so ns e com a articu lação de palavras, qualquer que seja o seu sentido e, p rincipalmente, nas atitud es do p ai. Neste estág io a criança d escob re qu e não tem ego e tem que tentar lidar com isso . A indústria cultural põ e a arte a serviço da vid a, e isso implica o estím ulo da capacidade criativa. Sua p oética tende não so mente à im itação do real, mas à fusão co m o real. E o que tem sid o estimulado , no s último s temp os, é a pu lsão de morte, repressão e recalque como exp ressão d a vida; é cada um pra si e p or si; só se estimu la “eu para eu mesmo ”; o narcisismo acima d e tud o; “eu po sso tu do ”, “eu sou o máx im o”. F reu d d isting ue a projeção do patoló gico da pro jeção d o no rm al. A p ro jeção d o no rm al permite ao sujeito d iferenciar entre a próp ria contrib uição e a do real, na estru tura d o o bjeto percebido , num certo sentid o, tod a a p ercep ção e projeção . O mu ndo do s o bjetos é constitu íd o p ela im pressão receb id a pelos sentid os,

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acom panhado p elo trab alho d e reflexão , no qual o sujeito elabo ra deste material de d escaso . De um a cidade que não tem o qu e fazer no carnaval, só p ensa no s impo stos a pagar e em trabalhar... Na cultura d o narcisism o e na sociedad e d o espetáculo, a fragm en tação da sub jetivid ad e p elo p arado xo entre autocentramento e ex teriorid ade, o cup a po sição fund amental. Trata-se de uma nova forma d e sub jetivação , p or m eio da qual são forjad as ou tras mo dalid ades na atu alidade, o que con stitui o fund amento d a atual psico pato lo gia. A p sico patologia da pó s-mo dernid ade define-se, justamente, pelo fracasso d e mu ito s su jeitos d eprim id os, tox icô mano s e p an icado s, em realizar a g lo rificação do eu e a estetização d a ex istência. Essas p ato lo gias têm recebido maciço investimento financeiro d e grand es laboratório s farmacêutico s internacionais, para a realização d e pesquisas, p red om inantemente, de ord em biológ ica e psicofarmacoló gica. Deixa d e olhar o m undo do s ob jeto s, o s sentid os hu manos e suas implicaçõ es. F reu d descreveu com o nom e d e “W ied erh olungrzw ay” a com pulsão d e repetição : o p ro cesso incoercível p elo qual o su jeito rep ete, interminavelm ente, ex periências passadas sem se reco rdar d o protó tipo , com a im pressão de que percebe e age de acordo com elemento s d a situação p resente. E nessa frágu a freud iana, nó s co mo memb ro s d o N EP P, pensamo s nu ma Psicanálise para brasileiro s, po is tem os u ma cu ltura fund amentada em pequeno s bu rgueses narcisistas, que só p ensam em si p ró prios, e em u ma fo rma d e cad a vez m ais hu milhar e rechaçar àqueles que o s elegeram. A final, não so ub eram votar o u falto u-lhes um o utro que p ud esse honrar e zelar p elo s seu s filho s, já ado ecid os po r um ethos so cial. Qu ero ressaltar qu e F reud b usca o “sentid o p rincip al”d as co mp ulsõ es e pro ib içõ es ob sessivas, que p assa p or b om tempo d esp erceb id o com a ação d o mecanismo d e deslo camento p síquico. Esse movimento de su bstitu ição de sentid o, co nforme o texto d e F reu d d e 19 07, é o que no s p erm ite d iferenciar, co m a utilização da técnica psicanalítica d e investigação d o inconsciente, o ato o bsessivo d o ritual religioso . Será qu e é p or isso que o chavão p erm anece, “A f amília Trad ic ion al M in eir a”?

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Psica nálise e Direito d e Família Sérg io Costa Iran i A ra újo Maira Teix eira

“P ara o p sicanalista francês Jacques Lacan, a fam ília não se co nstitui ap enas d e um ho mem, uma mulher e filho s, ainda que casad os solenemente. Ela é antes de tud o, u ma estru turação psíquica, ond e cada um de seu s mem bros o cup a um lugar definid o. Lu gar do pai, da m ãe e d os filho s sem, entretanto, estarem necessariamente ligado s.” Levando em co nsid eração qu e a família é u ma organização cu ltural, o lu gar do par p arental é d e extrema impo rtância, não tendo p or isso o brigatoried ade que essa ligação seja con sang üínea . Sem a estru tura, o nde o ind ivídu o po ssa existir com o cidadão e, o nde há um lugar definid o p ara cada mem bro, o ind ivídu o seria psicótico. P or relações inad equadas ou insatisfatórias, po demo s pensar nas patolo gias que ap areceram em d iversas fases do desenvolvim ento da criança e qu ando se tornar ad ulto. É aí que se estab elecem as leis psíquicas. Quand o estas se ausentam, faz -se necessária a lei juríd ica p ara sob revivência do pró prio ind ivídu o e da sociedad e. PSICAN ÁLI SE E D IR EIT O D E FAM ÍLI A Dra M aira d e M elo Teix eira, ad vogad a e mem bro de NEPP (Nú cleo d e Estud os e Pesqu isas Psicanalíticas) relata: “Em m ais de vinte e s ete ano s de militân cia na á rea jurídica, e m e special n a áre a de fa mília, tra nsc revo aq ui a min h a e xperiênc ia, q ue ao mes mo temp o em qu e mu ito a juda n as lide s f a milia res, tam bém n os ang us tia e o prim e, a o ver mo s ag ressividade, ima tur idade, e de sam or en tr e os cô nju ges . Por m ais qu e o a dv ogado se esf orc e para qu e o pr oces so de se paraç ão n ão seja u ma taref a árdu a, e pa ra n ão se deixar ating ir pela s aç ões q ue p atroc in a, o prof issiona l do direito lida c om o sen tim ento mais prof u ndo das pe ssoas e torn a-se in evitável tal env olvimen to. O q ue se v ê, n a maioria das v ezes, n as cau sas de fa mília, em espe cia l no s cas os de ‘s epa raç ão/divó rcio ’ s ão du as pess oas se ag redin do, se f erin do, desres peita ndo u ma a o utr a. A pa rtilh a do s ben s, a g u arda dos f ilhos, u ma verdadeira ba talh a ju rídic a e judic ial, co m cad a parte q ue rendo le var m ais van tag em. Tan to o p ai qu an to a mã e, n a verdade, ‘u sa m’ o s filho s pa ra ag redir o ou tr o ge nitor. Não se lem bra m qu e, co m tais a titu de s, pode m c aus ar nos f ilh os, de qu alq uer ida de , rec alq ues de difíceis e até impossíveis re par açõe s.

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Os progenitores, vítimas do avanço da causa feminista, perdem a afeição dos seus filhos pela ação conjugada das mães emancipadas e dos juízes impregnados de estereótipos ultrapassados. Assim, o destino desses pais é infeliz, pois foram ejetados, desestabilizados, desvalorizados, sob efeitos nefastos de sua exclusão da tríade parental sobre o desenvolvimento dos filhos. O resultado do afastamento da figura paterna, do representante das leis na estrutura familiar:- filhos “perdidos”, drogaditos e entregues à marginalidade. Cumpre ressaltar, que todos nós, profissionais do Direito, que militamos amiúde na área de família, podemos sim, e muito, contribuir para uma melhor solução das ações familiares, desde que aliados à Psicanálise, considerando que somos seres de desejo, e este não é legislável. Além do que, todas as relações são regidas, também, pelo inconscientes. Dessa forma, pra efetivarmos a lei e ‘afetivarmos’ o desejo, nosso trabalho deverá buscar sempre o interesse dos seres humanos, dotados de sentimentos e emoções, e uma equilibrada convivência futura da família, após a separação/divórcio. Essas medidas têm que envolver os poderes constituídos, especialmente a justiça e os profissionais que nela atuam. Que a separação conjugal possa dar lugar a uma vontade vital de renascimento e uma nova aliança entre os amantes desunidos. Tudo isto em prol dos pais excluídos, nos interesses de mães abandonadas, mas acima de tudo no real interesse dos filhos ‘fragmentados’.”

Além do exposto pela Dra Maira, acrescentaríamos que não podemos esquecer que a família sempre existiu. O que muda é a sua constituição, num conceito mais amplo. É preciso entendê-la acima da história: 1. Hoje a família está diferente. Isso se deve a busca pelo espaço de liberdade; 2. Os vínculos familiais não fogem da natureza humana: amamos e odiamos; 3. As relações familiares são complexas e sujeitas as normas afetivas, sociais e jurídicas e, ainda, a elementos inconscientes. O que mais nos deparamos em consultório são com as conseqüências de todo o processo de uma separação, que ora atinge mais os filhos, ora mais os progenitores.

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O Dr W alter Soares Oliveira, advogado, especialista em D ireito de Família, relata sobre as conseqüências afetivas proporcionadas pelo “Direito Disciplinado r”, nos indivíduos envolvidos em processo de separação/divórcio: “Gos taria de res saltar que o D ireito não dis ciplina o co mportam ento humano, mas s im normatiz a as co nseqüê ncias do comportam ento humano no que tange às suas relações sociais, e cuida de dirimir as contro vérs ias de inte resse s (quase se mpre antagônicos) deco rrente s do co mportam ento e das relações dos cidadãos. As cons eqüências e mocionais e afetivas têm uma dive rsidade muito grande, variando seus refle xos de pess oa p ara p esso a. Em geral o rom pime nto de uma relação conjugal é precedida de uma perda expre ssiv a de e nergia, pois o clima tens o de uma relação e m fase te rminal provoca grande s tensões e inseguranças . Esta perda de energia costuma ter longa duração p orque e la acom panha todo o process o, ou seja, des de quando uma relação com eça a se dete riorar até o dia que se põ e fim ao p roble ma p elas vias judiciais, de mora muito, porque costuma, via de regra, ocorrer uma longa espera e as pes soas não tomam a prov idência ne cess ária com brevidade, eis que há s empre uma espe rança de norm alizar a relação e há também o fator “sentim ento de culpa” que env olve as partes, o que faz com que ele s retarde m uma to mad a de p osição mais incisiv a. Neste mo mento as pess oas têm uma tendê ncia a se rem tomadas po r sentime ntos , ações e re ações pas sionais , to rnando a questão muito melindros a e, enfre ntar os fatos e a realidade de fre nte é se mpre b as tante desagradáv el; por isto as pe sso as tê m també m um a te ndência a s e aco modar, deix ando os acontecimentos irem determinando as p rovidências, o que acab a ge rando muita ansiedade, agres sividade (ou o contrário, a pe sso a fica pass iva e des mo tivad a), gerando, de qualque r fo rma, um s ofrimento continuado. É como o autoflagelo . Os adiamentos s e dev em, princip alm ente , ao se ntimento de p erda, de me do e de insegurança. P erda de status, de patrim ônio, porto, convívio; Me do de assumir a sua dificuldade, o seu e rro, de reco meçar, etc. Neste proce sso de espe ra e de adiamentos, afora os danos causados ao cas al p ropriamente, os efeitos nos filhos també m s ão b astante dano sos. As sim, procuramos semp re recomendar ao casal o diálogo racional, estimulando-o s através da p ercep ção dos efeito s positivos que isto poderá trazer, ou se ja, a re conciliação ou a decisão definitiva da sep aração. Quando es ta pro pos ta é fe ita co m critério e ética às partes, quas e se mpre há um bo m começo, que pode ser do fim ou mes mo do reinício.

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Ao lon go de n ossa ex periê ncia, pe rce bemos que em mu itos c aso s de desen tendimen tos en tre c asa is, o s mo tivo s estão ligados à co mpetição e ntr e ele s. En tre as c aus as de c ompe tiç ão, destaca-s e o fato de u m deles , ge ralme nte a mulher, após o ca sam en to , co ntin u ar a man ter relacio na men to muito inte ns o co m a fa mília de o rige m e as par tes n ão co nse gu em adminis trar os c onflito s daí advin dos. Nes ta situ aç ão, c om no sso esforç o de rec onc ilia ção, que faz par te de no ssa atu aç ão, a s epar aç ão qua se sempre nã o se efe tiva, ma s ger a exc essivo de sgas te da r ela ção . Em c asa is co m proble mas de r elac ion ame nto, u m dos p rime iros sin to mas qu e se pe rcebe é uma bru sc a qu eda n a au to-e stima dos en volvidos, mu ita s veze s em ra zão da frus traçã o e o sen timen to de fra casso qu e a sep ara ção ger a na s pess oas.” Exp ressou, ainda, sua opinião sobre o Direito, com o ciência universaliz adora das questões éticas sob re a legalidad e, se esta ocu pa o n ecessário com a afetivid ad e do ind ivídu o, quand o se trata da sep araç ão de casais, principalmente no que d iz respeito aos filhos. “Na da, abso lu tame nte nada . O exc essivo volu me de pr oces sos, faz co m qu e tudo an de a toqu e de c aix a. O aspec to soc ial e hu ma no fica relega do a nen hu ma impo rtân cia. A le i é fria e os ju izes se oc upa m apen as do asp ecto da legalida de e do pro cess o. O Minis tério Público qu e tem pre sen ça e a tua çã o obriga tó ria n os proc esso de dire ito de fam ília, po r s ua v ez, cu ida ape na s da fiscalizaçã o da aplic aç ão da lei. As partes s ão tra tadas a pen as co m um n ú mero de pro ces so, c om r ara s exc eçõe s feitas par a algu ns juíze s, que dotados de ma ior se nsibilid ade com a qu estã o hu ma na, dedica m algu ma aten ção a tal que stão , m as is to ac ab a sen do pas sageiro por qu e, co m o tempo , ele ta mbém pa ssa a s e o cup ar, tã o so me nte, do pro cess o e n ão das pa rtes en volvidas. É s istê mico . Até me smo a imp ortan te tar efa da ten tativa de re con ciliaçã o das p artes que, segun do a le i proc essu al, ser ia e xerc ida pelo juiz, foi de clinada ou tran sferida par a le igo s; O u se ja, foi criado o Juízo de Con ciliaç ão P révia, cu jo trab alh o de ten tativ a de con ciliaç ão é c on du zido por estagiário s do c urso de Dire ito, os qu ais “data ven ia” n ão reú ne m co ndiçõ es técn ic as pro fissio nais par a tal mis ter. Aliás, tal tra balh o te ria ma ior efic ácia se exe rcido por profissio nais ligados a áre a da Ps ic aná lise ou da ps ico logia, pode ria até s er des env olvido ju nto co m u m es tagiár io do dir eito, já qu e ele n ão reú ne co nhe cime ntos n e m argume nto s s uficientes p ara u m trab alho eficaz. A cre ditamo s qu e tal me dida, alé m de es tar colo can do “cad a m ac aco no seu galho” o cas ion aria u m gran de ben eficio soc ial.

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As sim, os ju izes já n ão se o cup am da t aref a pre vist a e m lei, de de dica r tempo e esf orç o à reco ncilia ção da s par tes e , a cr iaç ão da qu ele J uízo Prévio de Conc iliação teve mais a f inalidade de desaf og ar o e xces sivo n úmero de proc esso s e a udiên cia s, do qu e propr ia men te ten tar a reco ncilia ção da s par te s. É opo rtuno des tac ar, qu e en tende mos q ue a qu ele J uiz ado Prév io de Conc iliação , n a f orma qu e est á fu nc iona ndo é ile gal, e m f ace do princípio do seg redo de ju stiç a qu e e nvo lve as q ues tõe s liga das ao direito de f amília.” O ad vogad o fam iliarista enco ntra-se d iante de qu estõ es que transcendem a lei. Tais pro blemas, n a maioria d as vezes, não são de ordem jurídica, po r isso é necessário perceb er o qu e há nas entrelinh as. Se ap rimo rar a escu ta, p erceb erá o que se encontra além das no rm as. Diante disto, Dr W alter argum enta so bre a adm issão de um a interd isciplinarid ade entre o Direito e a Psicanálise, princip almente no qu e tange ao p ro cesso d e sep aração/d ivó rcio . “Se m n enh um a dúvida. Con fo rme já f alam os acima, mu ita s da s vezes a solução n ão é a sep ara ção , e ta mbé m mu it as ve zes as pe sso as nã o con seg ue m ter este dis cern ime nto . É co mu m ver mos pe sso as qu e já pass ara m p or v ários c asa men tos o u rela ções . O proble ma nã o é o cas ame nto, é a pess oa co m toda su a his tór ia de vida e s ua s pe culiaridade s, qu e de man dam a te nç ão no c ampo psíqu ic o. Na g ran de ma ioria dos c asos, a soluç ão p ass aria por u m tr ata men to psic an alítico do c as al ou de um dos côn ju ge s. Há u m o utro f ator qu e se mpre ser á relev an te, n ão obs tan te a cad a dia, a s pess oas atribu íre m men or relev ância a ele: o a mor, qu e traz c onsigo o sen time nto de c ompree ns ão, de aju da, de so lidarie dade e porq ue não, de toler ânc ia e etc. A ssim, se o modis mo da f ac ilidade da s epar açã o persistir an te a os p equ eno s pro ble mas ou dif icu ldades , ao con trário da von tade de ace rtar e corrigir, n ão h á ne nh um tr ata men to q ue po ssa ser ef etivo. O advo ga do tem, a té mes mo por f orç a do códig o de étic a e do rito pr oces su al, an tes do pro cess o litigioso o u a mig ável de se paraç ão, a o brig aç ão de ten ta r con ciliar ou rec onc iliar as par tes e muitas v ezes lh e f alta s ubsídios p ara e st a taref a. D iria a té q ue , an te ao modis mo da sep ara ção , esta f u nção te m sido desco nside rada ou rele ga da à impor tân cia se cun dária. As sim a in te rdisciplin aridade en tr e o Dire ito e Ps ic aná lise n ão só a judaria n a min imizaç ão dos ef eitos n eg ativo s q ue a má c onduç ão do p roces so de sepa raç ão/div órcio g era, ma s tamb ém at ua ndo n o proc esso de rec onc iliaçã o entre as p artes e n a imp ossibilidade de sta, n a reco nciliação do in divídu o con sig o próprio e c om a s ua vida q ue pro sse gu irá, s epar ado ou divorc iado.”

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Para Freud, a primeira identificação do sujeito está relacionada com o pai. Podemos considerá-la equivalente à incorporação do nome do Pai, por conseguinte o ideal do eu é sempre o ideal do outro, em geral o pai. É o produto da identificação simbólica na condição de puro significante que, ao barrar a mãe, institui o desejo. É com base no ideal do outro, internalizado como ideal do eu, que as coordenadas simbólicas do desejo do sujeito se constituem. É dentro desta pesquisa e preocupação das crescentes demandas de violência e desestruturação familiar é que o NEPP se coloca.

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Pacientes S omatizadores Man ua l de Téc nic as Psican alític as, C ap. 3 1, Dav id Zimerm an, Ar tmed E ditor a S.A., Por to Alegre -R S

Qu ando o sofrimen to n ão p ode e xpres sar- se pelo pran to, E le faz ch orare m o s o utro s ó rgãos. W. M otsloy (médico ) Se v ocê pen sa positiva men te, o se u sis te ma imun ológic o tamb ém respo nde positiv amen te.

CONCEIT UAÇÕO Semp re hou ve um a tendência – tanto no cam po d a filosofia quanto no da primitiva ciência méd ica – d e sep arar o corpo d a mente. M ais esp ecificam ente no que se refere à Psicanálise, ainda hoje muitos se p ergu ntam se a d oença psicossomática é um campo d e saber à p arte d os p rincípios psicanalíticos ou se estes últim os rep resentam uma extensão, um desenvolvimento e um novo cam po mais abrangente d a P sicanálise, assim fa cilitando a com preensão e o manejo dos pacientes somatizadores. O fato incontes tável é que os psicanalistas têm sido os grandes fomentadores d o m ovimento p sicossom ático, log o, d e uma med icina integ rad a, holística e de um a visão hum anística d a existência. O term o “p sico- somático” (tal como está g rafado, com um hífen nitidamente separador entre ps iqu e e soma ) aparece u pela p rimeira vez na literatura m édica há aproxim adamente 20 0 anos, em u m texto d e Heinroth, clínico e p siquiatra alem ão, no qu al o au tor b uscava adjetivar um a forma particular de insônia. Essa con cep ção pioneira foi fortemente atacada p or grande parte d o conservad orismo científico d a época, enquanto algumas outras vozes tímidas apontavam para aquela concep ção integradora. Um d os seguidores desta linha d e pensamento méd ico foi W illiam M otsloy, qu e há m ais de 1 00 anos, em Fisiologia da men te, dem onstrando um alto grau d e intuição, escreveu que qu an do o so fr imen to n ã o pode expr essar-s e pe lo pran to, ele faz c horar em os outro s ór gã os. A partir d o final da décad a d e 4 0, o term o “p sicossom ático” passou a ser em pregado como sub stantivo, p ara d esignar, no cam po da m edicina, a decisiva influ ência d os fatores psicológ icos na d eterminação das doenças orgânicas, já ad mitindo u ma insep arab ilid ade entre elas. Aliás, ninguém m ais con testa a inequívoca interação entre o psiqu ism o determinando alterações somáticas e vice-versa, o que permitiria a ilustração com exem plos clínicos que vão d esde os mais simp les (a corriqueira evidência d e estad os d e raiva ou med o p rodu zindo p alidez e taquicard ia; verg onha levand o a um en ru bescim ento; um estado grip al desencadeand o u ma reação d epressiva e, recip rocamente, u m estad o d epressivo facilitando o surgimento d e u ma grip e, etc.), passando por situações relativam ente complexas. Assim, é conhecido o fato

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bastante freqü en te d e mu lheres que, emb ora desejosas de engravidar, mantém-se inférteis durante um lo ngo perío do de ano s até que, apó s a ado ção d e uma criança p elo casal, comecem a engravid ar co m facilid ad e. Igualmente as psicosso matiz açõ es po dem atingir níve is b astante mais com plexo s e ain da inexp licáveis, confo rme com pro vam os mod ern os estud os d a psicoimu no log ia e dad os da o bservação clínica, co mo o da instalação d e qu ad ros cancerígenos diante de perdas impo rtantes, etc. Da m esm a forma, as co rrentes exp ressõ es p op ulares, co mo “esto u me cagando de med o”, “cego d e ód io ”, “estô mago em brulhado d e tanto no jo ”, dentre tantos, atestam claram ente o quanto a sabed oria p op ular, d e forma intu itiva, cap to u a existência d e u ma estreita e incon testável relação entre os estado s m entais e o s corp orais. Os ex emp lo s clínicos po deriam ser m ultiplicad os ao infinito, send o qu e esse fato, juntamente co m a m ultiplicidade de vértices d e ab ordag em e de inúmeros fatores etio lógicos em jo go , evid encia a enorm e com plexidad e d o fenôm eno d e psicosso matização . Para dar um ú nico exem plo, so mente o prestig io so Instituto d e Psicosso mátic a d e P aris descreveu cinco tipo s d e “p erso nalidade asmática”, cada uma delas p rivilegiando u ma co mpreensão e um tratamento d istinto d o ou tro . O que impo rta é que a so matiz ação com o resposta à do r mental é u ma das respo stas p síquicas mais co mu ns que o ser hu mano é cap az; no entanto , a recíp ro ca também é verd ad eira, isto é, o sofrimento orgânico, em alguma fo rm a e grau, igu almente rep ercu te no p siquismo . O melhor seria dizer qu e amb os, o psiquismo e o so ma, são indisso ciáveis e estão em um a co nstante interação, influenciando -se recipro cam ente. N ão ob stante, creio ser necessário enfatizar que, p or vezes, o fator p red om inante no d esencad eamento de u ma reação psicosso mática é nitid amente d e o rigem de alg uma forma de conflito em ocional, enquanto em mu itas ou tras situações, o fator d esencad eante é, d e lo nge, de natureza estritam en te o rgânica (nesse ú ltim o caso, talvez o no me mais adequ ad o fosse o d e fenômeno “som ato psíquico”). Aliás, en tend o que, a rigo r, tais d enom inaçõ es diferen ciadas, p rio rizand o um ou o utro fator – ora o orgânico , o ra o p sico lóg ico –, não passam d e um precio sism o inútil, po is se o critério for o de exatid ão ter-se-ia que co nvir qu e u nicamente o binô mio corp o-mente é muito escasso para ex plicar tod a a com plexidad e que dem anda ficar m ais com pletad a na tríade bio psic osso cial, p orquanto ningu ém mais duvida d a enorme influ ên cia que os fatores sociais, econô micos, p olítico s, culturais, familiares, espirituais, d entre tantos exercem na resp osta do o rg anismo de to da e qu alquer pesso a, co mo u m tod o. Segu ind o essa linha d e raciocínio de que ex iste um a p erm anente interação entre mú ltiplas p artes d iferentes, em bo ra ind isso ciad as entre si, agind o so bre um mesm o indivíduo , mu ito s advo gam a id éia de ab olir a terminolog ia d e “p sico sso matiz ação ” e seus term os derivad os, co m o argum ento de isto é um a redun dância, p ois to da situação clínica, po r d efinição , é sem pre p sico sso mática, de mo do a simp lesm ente usar a d en ominação am pla e g eral de “med icina da pesso a”, co nforme p ro põ e Perestrello (1 97 4).

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M eu po sicionamento pesso al a este resp eito é d e continuar emp regand o a exp ressão “p aciente p sico sso mático ”, já que esse n ome está consagrado , embo ra saib amos qu e os fenôm enos ex pressad os na mente, ou no co rpo , o u em am bos con co mitantem ente, não são tão simp les e lineares como essa deno minação reducion ista po de fazer sup or. Creio que o m ais adequad o é co nsid erar que tod o paciente fu ncio na co mo uma ge sta lt, is to é, u m conjunto co mp osto p or u ma “figura” (no caso , é a d oença) e um “fund o” (a pessoa co mo u m ser h umano ), po rém co m a p redo minância, o u com o desencadeante, o ra do orgânico , o ra d o psíquico, ora do social. Entre 1 93 0 e 19 60 , flo resceu o mo vime nto d a “med icina p sicosso mática”, m ais no tad amente p elas contribuições d e F . A lex ander que, na Escola de Chicag o, estudo u e d escreveu as “sete d oenças p sico ssom áticas” (asm a brô nqu ica, ú lcera gástrica, artrite reumató id e, reto colite ulcerativa, neurod erm ato se, tireo to x ico se e hipertensão essen cial), atribu ind o a cad a uma d elas um a esp ecificid ad e d o con flito p sico gênico . A ssim, segund o essa Escola, o s indivíd uo s reag iriam d e forma diferen te con fo rme predo minasse neles u ma hip eratividad e d o sistema simpá tico (sistema d o organismo que imp lica a pred ominância d e reaçõ es adrenalínicas, co m tend ências ativas e agressivas, p orque esse “ sistema sim pático ” está embriologicamente determ inad o a se d efend er co ntra p erigos externos) o u uma hipo atividade do “sistema p arassimpático ”, tamb ém co nhecid o com o “vagal” (que alud e ao sistem a resp onsável pela tend ên cia ao s estado s d e repo uso e lentificação , com uma p ro pensão à passividad e, razão pela qu al esse sistema está determ inad o a se defender co ntra o s p erigo s internos, o u seja, a um a am eaça ao equilíb rio ho meo stático do organismo). AL G UNS I NFOR M ES SOBR E NEU RO CIÊNC IAS As últimas co nsid eraçõ es rep resentam os estud os introd utórios ao camp o das ne uroc iên cias que, cada vez m ais, estão g anh and o um a crescente imp ortância na Psicanálise em geral e no s fenômeno s p sico sso mático s, em particu lar. As neuro ciências d emo nstram co mo as emoçõ es se desenvolveram para au mentar a sob revivência e garantir a existência da espécie – em qualquer espécie animal po r prop iciar e organizar so luções mais ad aptativas aos p ro blemas inerentes aos seres vivos, tal co mo é a b usca d e u ma ho meostasia corp oral, a necessidade de alimento s e d emais d emandas p ulsio nais, a fug a d e perigos, a reprod ução , o s cuidad os com a p ro le e as relações so ciais. Deste mo do, as neurociências o bjetivam ilum inar os circu ito s cerebrais d as emo ções, assim co mp ro vando o fato de que, po r vias neuronais, através d e partes do céreb ro com o tálam o, a míg d ala (funcio na em nível sub cortical, co m respo stas rápidas, cu rtas, em blo co ), h ipoc ampo (fu ncio na em nível cortical, co m resp ostas mais lentas e lon gas, p orque ele registra a “memó ria do perig o”, o qu e lhe po ssib ilita, pelo “m edo ”, a p revenção em esp aços e circunstâncias d elimitad as, d e maneira que, no s caso s d e lesão d o hipo campo , o med o se generaliza), c órtex oc ipita l (m ais destin ad a a reações impu lsivas contra o s supo stos perigos) e córtex pré-f ron ta l (respo nsável pela atenção d irigida e pela to mada d e d ecisõ es, co m um a escolha de resp ostas adequad as, b aseadas em ex periências prévias), juntamente

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com a secreção de serotoninas, cortisol, entre ou tras, d eterminarão resp ostas corp orais que são hormonais, viscerais e da muscu latura esqu elética. Por exemp lo, um d eterminado estresse p rovocará uma excessiva excitação d o sistema n ervoso autônom o e, através do eixo h ipotá la mo-hipófise-s upra-re nal, este últim o elevará o nível d e cortisol, o qual, por sua vez, p romove p rejuízos tanto no sistema imu nológico (determ inand o qu ad ros d e cólon irritável, asm a, úlcera...) quanto no sistem a cognitivo (prom ovendo u ma dimin uição d a m emória, con centração, cap acidad e p ara p ensar, agir com coerência, uma certa confusão e dificu ld ade de usar as outras pessoas qu e, normalm ente, p or intermédio da função d e “reconhecim ento”, exercem o papel de au to-reguladores das em oçõe s). A ausência d essa última cond ição favorece o surgimento de um a “alexitimia”, ou seja, de um a incapacidade p ara ler as emoções, enqu anto o p ensam ento adquire um a natureza ope ratória, p ois as fantasias, fazendo u m curto-circu ito, em vez de ficarem con scientes, d renam através do corpo, assim alimentando u m círculo vicioso. Ainda dentro d o campo das in vestigações que cercam as inter-relações entre os processos m entais e os orgânicos, im põem-se m encionar du as imp ortantes fontes: u ma é a provind a dos estud os d os norte-americanos Sifneos e Nemiah, que introduziram a noção da ale xitimia, antes m encionada. Conforme desig na a etim ologia d essa palavra, qu e d eriva dos étim os a (quer d izer: “privação de”) + le x (leitu ra) + timos (glându la que era consid erada a responsável p elo hum or), o con ceito d e alexitimia alud e à dificuld ad e de os pacientes somatizadores con seg uirem “ler” as su as emoções e, por isso, elas se expressam p elo corp o, assim caracterizan do um a dificu ld ade neu rob iológica de sim bolização. A segu nda fonte procede da Escola d e Psicossomática d e Paris, qu e aportou o conceito de pen sa men to o pera tório , ou seja, o som atizador tem d ificuldades d e fantasiar, de sorte qu e o eg o não consegue processar, elab orar e rep resentar as p ulsões, d o que resulta que ele su perlibidinizar o corpo de forma concreta. Cab e consignar qu e alg uns cientistas contemp orâneos estão descrevendo o princípio da au to-organ ização, seg und o o qual existe um estad o de “regulação mú tu a” entre du as pessoas, que é basead a em u ma troca de informações p or meio d os sistemas perceptivo e afetivo (por exemp lo, de qu e maneira e com qual tip o de afeto os pais sig nificam para a criança d eterminadas experiências, com o a de ela and ar pela prim eira vez de escorregador...) Assim , o bebê, a criança pequ ena, internaliza esse processo de reg ulação mútu a, d e sorte que d esd e ced o aprende a con hecer as formas d e abordagem afetiva que são rejeitadas ou bemaceitas pelos pais, enquanto as emoções desp ertadas, pela via dos circu itos cereb rais, conectam corp o e mente. A emoção processa-se no inconsciente, independ entemente do consciente. N este contexto não se está fazend o referência ao inconsciente de Freud, m as, sim, ao in con scie nte bio lógico , aqu ele que é com andado p ela neurofisiolog ia. Especula-se tam bém a possib ilid ade cientifica de que cad a emoção tenha seu próprio circuito com características particulares. As respostas corporais são hormonais, viscerais e múscu lo-esqu eléticas. Os med os, um a vez estabelecid os, ficam p erm anentes e requ erem um recond icionam ento.

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P sic o im u nol og ia D ireta m en te liga d o a o s p rocessos estu da do s pela s n eu rociên cia s, o sistem a im un o ló gico de to da pessoa sofre u m a sen sível in flu ên cia do s fa to res em o cio n a is, desem pen h a n do u m im po rta n tíssim o pa p el n o co rp o em gera l e, m a is pa rticu la rm en te, n a s do en ças som á tica s q ue sã o resu lta n tes de a ta q u es “a utoim un es”. O q ue n ã o resta dúvida é o fa to d e q ue, co n form e foi m en cion a d o n a epígra fe d este ca p ítulo, q ua n d o o su jeito “pen sa ” p ositiva m en te, o seu sistem a im un o ló gico resp on d e ta m b ém d e fo rm a po sitiva p a ra a sa úde, e a recíp roca é verda deira. UM A B R E V E R E S E NHA DE P R INCIP A IS A UT O R E S D o p on to de vista p sica n a lítico , sã o m uitos os a u to res q ue têm con tribuído co m en foq u es d istin tos, po rém co m p lem en ta res en tre si. C ita m -se a lg um a s da s prin cip a is co n tribu içõ es desses a u to res q ue, a o lon g o d os an o s, estud ara m – e m u ito s o utros co n tin ua m estud a n do – o fen ô m en o da s psicosso m a tiza çõ es. Co m ecem o s po r F reud . D e fo rm a esq uem ática , p od e-se sin tetiza r sua s con tribuições, ta n to a s direta s q ua n to a s in d ireta s, n o s seg uin tes n o ve iten s: 1. O seu con ceito de r eprese ntaç ão-c ois a e d e rep resen taç ão-pa lav ra. A im p ortâ n cia disso n o su jeito so m a tiz a do r reside n o fato d e q ue o s aco n tecim en to s e o s sen tim en to s d a s experiên cia s a fetiva s viven cia da s n o p a ssad o estã o im pressos e rep resen ta do s n o ego, po rém , se esta s pretérita s vivên cias em o cio n ais a in da n ã o p assa ra m p a ra o p récon scien te e n ão fo ra m sim b oliz ad a s e den om in a d as co m o pa la vra s, elas vão se exp ressa r corp ora lm en te. R ela tiva m en te às rep resen ta çõ es do corpo n o ego , creio ser ú til a crescen tar q ue ta m bém as in tera ções en tre n osso co rp o e o m un d o in a n im a do – p o r ex em plo, a n da r de bicicleta – fa z em pa rte d a rep resen ta çã o do ego co rpo ra l. 2. C om pl acên ci a s om á tic a é o n om e q ue Freud deu ao fen ôm en o de q ue um a determ in a da som a tiza çã o n ã o é específica de a lg um q ua d ro clín ico esp ecia l, m as, sim , ex istem órgã o s p articu la rm en te sen síveis – ou p or ra zõ es d e co n stituiçã o orgâ n ica , o u po r fa tores p síq u ico s, co m o o s d e fa n ta sia s in con scien tes lo ca liza d as e fix a da s em um certo órgã o – q ue, en tã o , fu n cio n a m com o ca ix a de resso n â n cia d o co n flito . 3. O fen ô m en o da s con versõ es, q ue, co m o o n om e su gere, a lude a o fa to de qu e determ in a do con flito psíq uico q ue n ã o con seg ue ser sim bo liza do , lo go ta m po uco co n h ecid o e pen sa do co n scien tem en te, con verte-se em um a m a n ifesta çã o co rp ora l, em a lgum órgã o do s sen tid os, o u em algu m a z on a de m uscu la tura vo lu n tá ria . N esse ca so de fen ô m en o con versivo , os sin tom a s n a rra m , sem p a la vras, um a h istória in co n scien te. N eu roses a tuai s, cuja ca usa , segun d o F reud , era o b lo q ueio da s ex cita ções lib id in a is, co n seq üen tes ta n to d e um a privaçã o de sa tisfa ção sexu al q ua n to d e um ex cesso d e estim ula ção , com o seria o ca so d e um a m a sturba çã o ex cessiva . D izen d o de o utra fo rm a , o con ceito de n eu ro se

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1. atual alude a um excesso de estim ulação que o ego não consegue processar, de sorte que o corpo funciona como um dreno do excesso. A noção de neurose atual implica a aceitação da teoria econ ômica das energias pulsionais, razão pela qual caiu em descrédito na Psicanálise, hibernando em um longo ostracismo, até que, na atualidade, ela ressurge revigorada e com teorias m ais sofisticadas. 2. Processos p rimário e secundário. De form a reduzida, cabe afirmar que as somatizações correspondem às falhas dos processos de simb oliz ação, os quais estão unicamente presentes no processo secundário de pensamento. N os casos em que haja falha do processo secundário, logo da abstração dos pensam entos, predominará a concretude dos sintom as, próprias do processo primário. 3. Ego corporal. A clássica afirmativa de Freud de que “o ego, antes de tudo, é corporal” permite depreender, n os processos somatoformes, a importância das representações do corpo “no ego” e de uma cenarização dos conflitos do ego “no corpo”. Tais concepções adquirem capital importância na Psicanálise atual, tanto para o entendim ento dos transtornos da imagem corporal quanto para a participação do corpo como um cenário dos diversos “teatros” da m en te. 4. Identificações patôgenas. Freud, em Luto e melancolia, afirm ou que a sombra do ob jeto recai sobre o ego, isto é, forma-se uma identificação do sujeito com o objeto perdido, de duração transitória no caso de “luto” normal ou de forma definitiva nos casos de “melancolia”. Nesta última situação, deve ter havido uma relação de conflito com a pessoa que foi atacada e perdida, de sorte a forçar um tipo de identificação patológica, que venho propon do chamar de identificação com a vítima. Quando isso acontece, o sujeito sente-se com o que obrigado a ser igual em tudo ao objeto perdido, o que adquire uma especial im portância nos processos psicossom áticos, pois tal identificação, com grande freqüência, faz-se com os sintomas clínicos da doença que acom panhou ou que vitim ou a pessoa que ambivalentem ente ele am ou e odiou. 5. Para evidenciar a valorização que Freud sem pre atribuiu às íntimas conexões que existem entre psique e o soma, cabe consignar a sua visão profética quando, em 1938, preconizou que o futuro poderá ensinar-nos a influir diretamente no psiquismo mediante substâncias químicas particulares. Essa profecia de que substâncias químicas seriam utilizadas para compensar a patologia da quím ica celular en contra plena confirm ação na m oderna psicofarm acologia, com o são os excelentes resultados clínicos que os medicamentos propiciam em casos de doen ças afetivas ou n os de tran storn o do pânico, por exemplo. 6. Também vale consign ar que coube a Freud o pioneirismo de assinalar que nem toda com unicação é unicam ente verbal, e que, de alguma forma, o corpo também comunica, tal como se pode depreender desta frase, a propósito do “C aso D ora” (1905): “nenhum mortal pode guardar um segredo; se sua boca permanece em silêncio, falarão as pontas de seus dedos [...]”.

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As contribuições de M . Klein que, indiretam en te, facilitam o entendimento do s fenôm enos relativos às som atizações po dem ser resu midas às fu ndamentais con cep ções d e: 1 ) f antasias in con sciente s (qu e imp reg nam os ó rgãos). 2 ) O fenôm eno d a desper sona liza ção (co nseqüente de um ex cessivo jo go de iden tif icaç ões p rojetivas e in troje tiva s). Daí tamb ém resulta o sério prob lem a da distorç ão da imag em corpo ral. 3 ) O seu co nceito de memó ria de sen timen to s (sensaçõ es e em oçõ es p rimitivas, que não co nseguem ex pressar- se p ela lingu agem verb al, p od em estar g ravada s em algu m can to d a memó ria d o ego corp oral). 4 ) A ex plicação que Klein d á p ara o p ro cesso psicop ato ló gico da hipoco ndria, com o sendo a d a introjeção de o bjeto s p ersecu tó rio s qu e se alojam dentro de ó rg ãos e, d aí, ameaçam a saúd e e a vid a do sujeito . 5) De m od o geral, a escola kleiniana considera que tod a do ença psicossom ática é a exp ressão de um lu to patológico (vingativo- persecu tório ) do ob jeto perdido d en tro d o ego. Indica que ho uve predo min ância d o ó dio du rante a rep resentação da mãe, precedendo tais manifestaçõ es som áticas, o surgimento das f obia s. Cab e acrescentar que geralm ente a separação deu-se antes d e co ncluíd a a fase de sim biose, o que isso leva tais p acientes a u ma inalcançável busca de no vas simb io ses. A E scola F ran ces a de P sicanálise emprestou as segu intes contrib uições: Lacan con ceb eu a noção de: 1 ) Corp o e spedaç ado: o beb ê, o u o futuro ad ulto m uito regred ido , é capaz de vivenciar o seu corpo co mo que feito d e, o u em, p edaços dispersos. 2 ) A crença d a criança d e qu e ela está a lien ada no c orpo da mãe , com ela ficando co nfund id a corpo ralmente. 3 ) O disc urso do s pais na m od elação do inconsciente d a criança, de mo do a p oder inscrever significantes d e natu rez a psicosso mática. Dentro d essa Esco la, o Ins titu to de P sic osso má tica, d e Paris, co nceitua: 4 ) O pen sa men to oper atório (equ ivale ao co nceito de “alexitimia” antes descrito) que este Institu to descreve no s p acientes so m atizado res. 5) A rela ção br anc a, isto é, aqueles p acientes que na relação co m o analista m ostram u ma afetivid ad e esvaziad a e só parecem ligado s ao s aspectos con cretos d os fatos narrado s. A renom ada psicanalista J oyce Mac Dou ga ll acrescento u as conceitu ações de: 6) U ma primitiv a rela ção diá dica f usiona l da m ãe com o la cta nte, que p od e cheg ar a um po nto de tal intensid ad e qu e a au to ra cu nhou a ex pressão u m co rpo par a dois. 7 ) Na histó ria do s pacientes so matizad ores sempre existiu u ma im ago materna qu e falhou , o u ex ag ero u, na função d e p arae xcitaç ão, isto é, a de co nter e desintox icar o excesso de estímu lo s provindo s de várias fo ntes, d e mo do qu e a mãe não co nseguiu aju dar a crian ça a pensar, a d ecod ificar e a simb oliz ar o seu universo pré-simbó lico, razão p or que eles se exp ressam p elo corpo . 8)O corpo primário e fragmentário da mais tenra infância d eix a traços psíquicos a partir do com eço d a vida, de mo do que com põ em uma h istória sem pa lavr as, tendo o co rp o com o cenário . 9) O s p rocessos que o peram na somatização po dem ser con siderado s semelhantes aos o nírico s, chegando M acD oug all a asseverar que o sin toma p sico sso mático é um so nho in exitos o. 10) Em relação à organização edipiana desse pacientes, a au tora co nsid era que ela está construída sob re u ma o rganização b astante mais p rimitiva, na qu al p red om ina um a imago materna que usa a criança tanto co mo uma extensão n arcísic a quanto um a ex tensão eró tic a e

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co rporal dela própria, enquanto a figura do pai fica bastante desqualificada e ausente do discurso simbólico. 11) Dessa forma, todo afeto é sentido com o perigoso, e o corpo defende-se como se estivesse em perigo. Bion, por sua vez, também trouxe um a inestimável colaboração para a com preensão da dinâmica do paciente som atizador, por meio de conceitu ações originais, como: 1) A existência de um psiquis mo fetal. Segundo B ion, o feto já tem um a vida psíquica e as arcaicas sensações experim entadas ficam de algu ma forma impressas nos primitivos sistem as neuronal e corporal do feto, de sorte que as m anifestações org ânicas podem ser reexperim entadas na vida adulta, sem que haja u ma cau sa aparente. Creio qu e essa concepção possa ser um a boa explicação para o fato de que um estado mental dem asiadam ente reg ressivo restabelece a conexão com a corporalidade, de modo que aciona um determinado có digo psicosso mático. 2) O dis cur so de um a mãe hipoco ndríaca, que desvirtu a as angústias m anifestas pela criança, dando-lhe um a explicação de cau sa org ânica, atribu indo a responsabilidade do estado ansioso do filho para alg um determ inado órgão. Por exemplo, se a criança chora alegando um determinado tipo de medo, ou pânico, a mãe logo acha um a explicação som atoforme: “É o seu fígado que não está funcionando bem”. A con seqü ência fu tura é que toda vez que esse filho, agora adulto, sentir algu m tipo de angú stia sem causa explícita, muito provavelmente ele a expressará referindo através de u ma queixa localizada no fíg ado... Esse tipo de mãe pode ser inclu ída n aqu ela categoria que, creio, se pode chamar de m ães psicoss omatizantes . 3) A falha na cap acidade para pensar: nesse caso, as experiências em ocionais pen osas, no lug ar de serem pensadas, funcionam com o protopensamentos, isto é, elementos beta, cujo destino é o de evacuação, tanto para fora, sob a form a de actings, qu an to para dentro dos órgãos, em cujo caso se expressam por psicossomatizações. A DOR Penso que, dentre as manifestações do paciente som atizador, cabe inclu ir os aspectos referentes ao problema da dor ; nas su as múltiplas manifestações, aguda ou crônica, a de orig em orgânica ou trau mática com repercussões psíqu icas ou a de origem inicialm ente psicógena com repercussões orgânicas, assim como a dor que é com unicada de forma superlativa, ou aquela que o sujeito sofre silenciosamente, etc. Relativam ente à psicon eu rofisiologia da dor, quatro fatores essenciais devem ser levados em conta: 1) Limiar fisiológico: alude ao momento em que surge a dor; o limiar é igual em todos os indivíduos, como, por exemplo, quando se usa o calor com o fator estimu lante, o lim iar à dor situ a-se em torno de 44 graus. 2) Limiar de tole rância: refere ao ponto em que o estím ulo alcan ça u m grau intolerável, o qu e varia um pou co con forme o indivíduo, de modo qu e m uitas pessoas toleram bem 48 graus. 3) Res istência à dor: varia de u ma pessoa para ou tra, para m ais ou para menos, em fu nção de fatores emocionais, circunstanciais e espiritu ais. Assim, um su jeito em tran se m ístico ou um preso político su bmetido à tortu ra física, qu ando está em um estado de extrema fidelidade à su a ideologia e aos seu s com panheiros, elevam sua resistência à dor a níveis inacreditáveis. 4) Quantidade

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e intensidade da dor: é importante que se estabeleça um a distinção entre a quantidade do estímulo doloroso, físico ou em ocional, e a intensidade da reação que o estímulo desencadeia em uma determ inada pessoa, o que varia com a sensibilidade da área psíquica que foi atingida. ZONA C ORPORAL Um aspecto que também merece ser destacado como relevan te é o que diz respeito à zona corporal na qual o conflito se m anifesta. Um exemplo de min ha clínica privada pode ser m ais esclarecedor: no curso de um a sessão de análise, a paciente, deitada no divã, relatava-m e que desde que começou a amadurecer emocionalm ente está pagando um alto preço cobrado pelos seus fam iliares, porquanto esses a solicitam para tudo e, cada vez mais, esperam que ela resolva toda a sorte de problem as, de todos. Enquanto o relato prosseguia, a paciente com eçou a acusar um desconforto no ombro direito, que foi aum entando de intensidade a ponto de adquirir as características de uma dor aguda insuportável, que ela atribuía a uma possível posição viciosa de como dormira na véspera ou de como deitara no divã da presente sessão. A dor no ombro atingiu tal intensidade que a paciente não m ais conseguia fazer nenhum movimento e estava começando a dar sinais de surgimento de uma forte angústia. Nesse momento decidi intervir psican aliticamente e assinalei o fato da coincidência de que a dor no seu om bro surgiu exatamente no momento em que ela me narrava que estava carregando as mazelas da família nos seus ombros, de modo que o seu corpo falava, através da linguagem da dor no ombro, o quanto o seu papel de sustentáculo da fam ília estava sendo penoso e dolorido para ela. Ao térm ino de minha fala a dor desapareceu instantânea e totalmente, tendo a sessão prosseguido de modo n ormal. OUTRAS SOM ATIZAÇ ÕES Talvez o exemplo anterior não seja o mais adequado, pois as resoluções das som atizações não se passam assim tão facilmente, além de que na vinh eta ilustrativa trata-se de uma situação conversiva, em cujo caso não chega a existir um a lesão somática; além disso, sabe-se que as conversões permitem um a leitura sim bólica do significado dos sintom as, o que não acontece na psicossom atização propriam ente dita. Não obstante esta ressalva, a situação descrita ilustra a íntima conexão que pode existir entre os fatores emocionais e a utilização do corpo com o cenário para a dramatização sim bólica de um determ inado conflito. Em síntese, o importante a destacar é que, como antes foi referido, o corpo fala! – e falam especialm ente aqueles sentimentos que ainda não puderam ser expressos com o simbolismo das palavras. Assim , alguma parte do corpo que estiver mais sensibilizada por um determinado conflito psíquico pode funcionar tanto como um a caix a de ressonância (à moda daquele ditado popular de que “a corda rebenta na parte mais frágil”), com o também a área corporal escolhida – trata-se de uma vulnerabilid ade psicossom ática – pode se constituir com um “cenário” no qual são representados dramas íntimos, com as respectivas fantasias

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inconscientes. Adem ais, m uito ced o o bebê aprende a co nhecer as fo rmas d e abo rdagem afetiva que serão rejeitadas o u bem aco lhidas pelo s p ais. Esses fatos, aliad os à co nstelação d e o utros fato res, com o, p or exemp lo , o s d a repercussões imu nológ icas, adqu irem u ma significativa impo rtância em to do e qualqu er ato méd ico , d e so rte qu e cada esp ecialidad e m édica p ermite, até certo po nto, é claro , a deco dificação d os com po nentes emo cio nais im plícitos em determinado s sintom as orgânicos específico s de u ma determinad a especialidade. Assim, o s g astrentero lo gistas conhecem bem as fantasias o rais que acom panham a ingestão e m etab oliz ação de alim ento s (o u med icamento s) e as fantasias ligadas à analid ad e que se manifestam no s p ro blemas de diarréia, p risão de ventre, etc. Da mesma fo rma, o s cardiolog istas facilmente identificam o quanto alg um sin to ma card íaco está ligad o aos temo res de m orte, p or exemp lo . Em bo ra seja fascinante a id éia d e esmiuçar, estabelecer conex ões e p articularizar os aspectos psicosso mático s que cada esp ecialidad e co mpo rta, não cabe, aqui, fazer esse apro fu ndamento ; cabe, no entanto , lemb rar que, já no início d a P sicanálise, Freu d descrevia casos de p aralisias histéricas e, em 19 10 , p ub licou o elu cidativo trab alho A con cep ção psican alític a da pe rtu rbaç ão psic ogê nic a da v isã o. MAN EJO TÉC NICO 1. Em algum grau , em qu alquer análise, praticamente sem pre su rg irá algum a m anifestação de natureza p sico ssom ática; no entanto , as co nsid eraçõ es relativas ao manejo técnico, no presen te cap ítulo , estão restritas aos pacientes qu e manifestam u ma m arcante co ntinuidad e de d iferentes fo rmas de som atização. 2. M u ito s autores p ostulam a h ip ótese d e que ex iste u ma estru tura p síqu ica próp ria do p aciente psicosso mático , à sem elhança do que o corre co m as estruturas neu ró tica, p sicótica, narcisista, p erversa, etc. Ig ualm ente, u ma questão qu e freqü en tem en te é levantada con cerne a se d eve existir um a clínica especializ ada para do enças p sico ssom áticas ou se, p elo meno s, existem técnicas p sicanalíticas esp ecíficas para estes caso s. A respo sta dep ende da co njunção de um a série de fato res que intervêm no pro cesso , co mo : a tipificação singu lar d as p sico ssom atizações d e cada u m d os p acientes; o esqu ema referencial u tiliz ad o p elo p sicanalista; o tipo de leitura que o analista faz do s sintom as o rgânico s manifestos; o tipo de interação vincular transferencial-co ntratran sferencial pró pria de um determinad o m om ento da análise; as intercorrências amb ientais, o s asp ecto s b io p sico ssociais e espirituais; o s m od elos interpretativos e o s d e ab ordagem analítica. Em síntese, creio qu e o s asp ectos que segu em enu merado s merecem ser co nsid erado s no qu e diz resp eito ao manejo técnico com pacientes som atizad ores. Parece qu e predo mina entre os auto res um a o pinião consensu al de que é necessário haver uma mo dificação na técnica psicanalítica que habitu alm en te é utilizada co m pacientes simplesmente neuróticos. Assim, o analista d eve levar em con ta que o s p acientes somatizado res, genericam ente, apresentam dificu ld ad es não só qu anto à cap acid ade

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1. p ara produ zir fantasias incon scientes, mas tam bém, estão preju dicados no qu e tange à formação d e símb olos e, conseqüentemente, às cap acidad es d e ab stração, conceituação e d e generalização, que cedem lug ar a uma p red om inância d o p ensam ento concreto. 2. É necessário deixar claro que nesses p acientes o preju ízo na formação d e sím bolos, log o, o de p en sar abstratam ente, não significa que haja u ma total au sência dessas capacidades; antes, o referid o prejuízo costuma ser parcial e seletivo, ou seja, u ma pessoa pode ser b astante b em-su ced id a em áreas importantes e com plexas de su a vida, porém p ara um a outra ordem de sentim entos que necessitariam ser p ensados, simb olizados e verbalizados, essa mesm a pessoa pode fazer um b loqueio, de sorte que tais sentim entos falarão através do corpo. 3. A ssim , d iante de pacientes francamente psicossom áticos, freqüentemente os analistas os con sideram no limite do analisável. O s h ipo con dríacos , por exem plo, raram ente chegam à análise, e, quando algum ch eg a, revelam u ma forma concreta de pensar, ao mesmo tem po em qu e passa grand e p arte das sessões manifestando algu m grau de d esespero, assim convidand o o analista a fazer uma aliança de comiseração com o seu corp o, qu e está frag ilizado, d evid o a um a sensação do p aciente d e que algu ma p arte d esse seu corpo esteja send o invadida por inimigos. 4. É indispensável que o analista esteja atento para a p rofu nda p rob lemática e p ara a estru tura p síquica reg ressiva, sub jacentes aos d efensivos recu rsos psicossomatizantes, como, por exemp lo, a d e um temor do paciente d e ele cair em um a grave d epressão. Aliás, um expressivo núm ero de trab alhos correlaciona as somatizações com as situações d e s epar ações , perdas e b aixa auto -e stima. 5. N o p aciente som atizador, é b astante freqüente a con statação d e qu e a m ãe usava o corpo do filho com o se fosse u m p rolongam en to do d ela, de sorte que essas crianças, fu tu ros adultos, ficam muito vulneráveis p aras situ ações de separações. 6. A liás, ning uém m ais contesta que o corp o d o b ebê, no início nãointegrado e sentid o p or ele como sendo feito de ped aços (“ desped açad o”), vai se u nificar e integrar graças a u ma, su ficientem ente b oa, m aternagem d a mãe, à su a voz, ao seu olhar, à su a continência, suas exclam ações laud atórias ou desqualificatórias, aos toques d e suas m ãos, m ãos essas que vão d eslizar sobre o corp o d a criancinha, u nificando os seus ped aços, d efinindo os seus contornos, estabelecend o os limites com a realidade exterior e transform ando o corpo, até então u nicam ente b iológico, em um corpo erógeno. Assim, o corp o é o cenário das p rimitivas inscrições dessa relação mãe-beb ê; o corp o é a memória do inconsciente, dos sentimentos p rimários, d os significados do discurso e do desejo materno. Isso equ ivale à atitud e e à atividad e interp retativa que toca a sensibilidad e d o paciente som atizad or e, d a m esma forma, também creio que toque a d o analista, juntamente com a su a fu nção de co ntin ência, contribuind o decisivamente p ara a construção d e u ma segun da pe le para certos

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1. p acientes necessitad os de um a delim itação com o m und o ex terior, co nform e a conceituação de Esther B ick (1 96 8). 2. A prop ósito, é im prescind ível qu e o terap euta sem pre considere o fato d e qu e o co rp o repre sen ta , f ala (às vezes, n arra um a histó ria), serve de c ená rio e d esc arreg a prim itivas sensações e em o ções, qu e não foram representadas co m palavras o u que ficaram fortem ente negad as. Po r ex em p lo , no fenôm eno conversivo , o histérico faz um jo go co nco m itante d e, através do co rp o, o cultar (elu dir) e d e dem onstrar (alu dir) o verdad eiro co nflito p síquico sub jacente. 3. É im p ortante qu e o analista valo riz e o fato de que o paciente p sico ssom ático tem um a fo rm a p eculiar d e pe nsa men to, ling uag e m e d e lid ar com a s emoç ões e vín cu los a fe tivos . Green deno m ina re laç ão bra nc a o víncu lo afetivo qu e caracteriza estes pacientes. Assim , na relação analítica o p aciente e o analista estão p resentes, u m frente ao ou tro , p orém , am bo s sen tem -se vaz io s po rqu e predo m ina no prim eiro um a atitu de d o tipo “d eu, isto é tud o” , ou seja, ele já d isse qual é a su a necessidade e ago ra cabe ao terapeuta reso lvê-la de form a co ncreta e, d e p referência, im ed iata. Às vezes, não há um a negação do reco nhecim ento d as em oçõ es, p orém transparece u m a au sência de afetos. 4. P or essa raz ão a resp osta con tra tran sf e rencial co stum a ser m u ito d ifícil, d e sorte que é bastante com um qu e o analista sinta sentim entos d e vazio , frustração , im p otência, tédio e de um a p aralisação interior, com o se ele estivesse “alex itím ico”, tal co m o o seu paciente é. Isso representa u m risco analítico , p ois o p aciente so m atizad or tem um a g rand e p arte infantil, o u seja, um a parte d e inf an s (em latim , significa “incap acidad e p ara falar”). 5. A ssim cabe à m ãe co m seu filhinho – o u ao analista com o seu paciente – no me ar os sentim ento s que estão anestesiado s e aind a sem nom e, p rop iciar a verbaliz ação de fantasias e afeto s e servir co m o m o delo que d esenvolva a sua cap acid ade para pen sa r. Sabe-se qu e, p elo co ntrário , não raram ente o s pais confu ndem m ais aind a os afetos d a criança, co m o na clássica sentença “m en ino qu e é ho m em não cho ra” o u “faz co m o eu, não deixe ningu ém sab er o que você está sentindo ”, etc. 6. A fim de ilu strar a im po rtância d e o paciente psicosso m ático entrar em co ntato e verbalizar os seu s sentim entos dep ressivos e d e vazio, cabe citar J. M acD ou gall, qu e apó s analisar sete pacientes co m tu berculose d isse que “[...) po r não terem sid o cap az es de ab rir o seu coração para o luto , ab riram o p ulm ão p ara o b acilo de Ko ch”. 7. A ssim , a lin gu ag em em pregada pelo analista d eve ser clara, sim ples e d ireta, d evido às prováveis dificu ld ades d e o p aciente co nseguir abstrair e d ecod ificar as interpretaçõ es m ais sofisticadas. 8. Ig ualm ente, é útil qu e haja u m papel m ais ativo po r p arte d o analista, co m um a ativid ad e in te rpre tativ a que p erm ita o uso de claream ento s, co nfrontos, assinalam ento s de parado xo s e contrad itó rio s e, esp ecialm ente, o em p rego d e p erg untas, não as interro gativas, m as, sim , as estim u lativas, que instiguem o paciente a fazer reflex õ es. De fato, é fu ndam en tal qu e o analista tam b ém pro ced a à an álise d as f un ções d o eg o con scie nte, sob retu do as que se referem à ca pac id ad e

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1. p ara pe ns ar o s proto pensamentos (isto é, aquelas prim itivas sensaçõ es e exp eriências em ocionais que ainda não fo ram rep resentad as com p alavras), as sensações e os sentimentos, d e mo do a estab elecer um trânsito de co mu nicação entre o consciente e o inco nsciente d o p aciente so matiz ado r, além de fazê-lo com prom eter-se afetivam ente com aquilo qu e d iz intelectu almente. 2. U m bo m recurso técnico co nsiste no emprego do métod o d ialé tico, isto é, à tese do paciente (“ o meu único p rob lem a é a m inha colite u lcerativa, eu enlou qu eço de angú stia qu and o evacu o fezes mu cossangü ino lentas, não fo sse isso eu estaria ó tim o...”), o analista contrapõe uma antítes e (“acha po ssível qu e o caminho seja in verso , o u seja, qu e é ju stamente qu an do vo cê está ansioso é qu e surgem o s sinto mas da su a colite? ”), qu e leve o paciente a fazer reflex ões de mo do a pro piciar u ma po ssível co nstru ção de u ma sínte se (na situação analítica isso co rrespo nd e à aquisição d e u m insigh t), síntese essa qu e funciona com o uma nova tese, mo vim entand o um círculo virtuoso crescente e exp ansivo , próp rio s d o m ovimento d ialético. 3. Se o paciente m anifesta d ificu ld ades em dar acesso às interp retações rigoro sam ente transferenciais (o qu e é bastan te com um co m os p acientes som atizad ores), é recom endável qu e o analista não insista nessa tecla, p elo menos temp orariamente, e em tro ca valo rize e utilize o s assinalam ento s interpretativos que são sugerido s p elas narrativas ex tratransferenciais (isto é, aquelas qu e estão contidas nas narrativas d e fato s e do co tid iano d o p aciente), para, a partir daí, po der con struir co m o seu paciente um a verdad eira relaç ão tra nsf ere ncial. 4. D a m esm a fo rma, o emprego de met áf oras simples e facilmente co mp reensíveis, qu e p ossibilitem a junção do p ensam ento com o sentimento e com a im agem visual sug erida pela m etáfo ra, tem revelado em inú meras vezes um excelente resultad o. 5. U m o utro aspecto qu e d eve merecer um a atenção especial d o terap euta d iz respeito à po ssibilid ade d e qu e o surg im en to d a som atização esteja co in cidind o com o anivers ário d e mort e de algu ma p essoa que foi esp ecialmente impo rtante na vid a do p aciente, de mod o que, em nossa p rática clínica, não raramente encontraremo s vário s p onto s de sem elhança entre o sintoma psicossom ático manifesto p elo no sso p aciente e sinto mas de d oença qu e vitimou aquela pesso a sig nificativa. Isso aco ntece m ais comu mente naqu eles casos a qu e antes alud i co m o no me d e ide ntif ic ação co m a vítima. 6. É ú til que o terapeu ta leve em conta que as emo ções co nectam não ap enas a m ente e o co rpo d e cad a indivíduo em sep arado , m as tamb ém as mentes e os co rp os en tre o s ind ivíd uo s co m os quais o p aciente co nvive, em u ma interação qu e po de estar sendo de matiz patog ênica. Assim, na prática clínica não b asta apenas que o s p acientes psico ssom áticos perc eba m os seus sentim en to s; o analista deve ajud á-lo s a qu e o s expr esse m p ara o s o utros, logo , para o analista na situação analítica, p orquanto isto desem penha um papel im po rtante na – fund am ental – fu nção de regulação da atividade emo cio nal. Ad emais, d iante de sin to mas som áticos que são d esconhecido s e incap azes de

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1. serem n o m ea do s com p a la vras p elo pa cie n te, ca be a o a n a lista , m edia n te su a fun çã o in terpretativa , tr a n sform a r m eras sen sa çõ es corpo rais em p a la vra s cap a zes de sim b oliza rem a em o çã o q u e está sub jacen te a o sin tom a so m á tico , assim preen ch en d o um en o rm e va zio in terior. 2. C reio desn ecessário en fa tiza r qu e m esm o d ia n te d e tan ta s evidên cias da in terven çã o da s em oçõ es n o fen ô m en o d a s som a tiza ções, o a n a lista deve esta r a ten to à po ssib ilid a de d e ele en ca m in h a r o seu pa cien te pa ra um m édico clín ico , pa ra u m a a valiaçã o d e possíveis ca u sas orgâ n icas, com vistas à detecçã o d e a lgum a situa çã o m ais grave. 3. P or fim , ca be d iz er qu e a a çã o a n a lítica som en te terá ef icá cia q ua n do o s a ssin a la m en to s in terpretativos d o a n a lista vierem a com pa n h a do s de u m a a utên tica a titud e p sic an alí ti ca i nte rna d ele, q ue en glob e, en tre ta n tos ou tro s a trib utos, co m o o s d e co ntin ênc ia e em p ati a, ta m b ém o d e u m re speito pelos sin tom a s m a n ifestos, jun ta m en te com um sin cero b em q u erer e cren ça n a s ca p acida d es co n stru tiva s la ten tes d esse tip o d e p a cien te. Igu alm en te, é im prescin d ível q ue o tera peuta p ossu a o a trib uto de ser coe rente e ve rda de iro com aq u ilo q ue ele d iz, faz e o q ue, d e fato , é!

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NEUROSE OBSESSIVA: NEUROSE OU TRANSTORNO? Sergio Costa RESUMO: Mais de cem anos se passaram e volta a tona o antigo conceito de sujeito: o sujeito da ciência, porém, hoje, acompanhado e manipulado pelo discurso capitalista. Desaparece o sujeito do inconsciente na imensidão dessa aldeia global e um novo é incentivado a existir: o sujeito consumista e com uso compulsivo de medicamentos. Enquanto Freud em 1896 retira a neurose obsessiva do quadro das psicoses, essa nomenclatura é banida dos manuais psiquiátricos e é reduzida a um mero Transtorno Obsessivo Compulsivo. PALAVRAS CHAVE: Neurose Obsessiva – Psicanálise – Desejo

Introdução: O ser humano, diferentemente dos demais animais, assim que chega ao mundo, é colocado em total estado de dependência. É a partir de uma linguagem, que lhe é peculiar, representada inicialmente por sussurros, gestos ou expressões faciais, ele é interpretado pelo outro para obter ou não a satisfação. Uma linguagem que tem a função de evocar o desejo, e não de representa-lo, e ainda possibilita a imaginação do outro para se alcançar o desejado. É neste contexto que as necessidades se tornam demandas e se instala o desejo inconsciente, com suas pulsões de vida. Desejos que advêm da compreensão ou não do outro, da total, parcial e nenhuma satisfação destes. É nesse vai e vem de desejos alcançados, reprimidos ou sublimados, que o sujeito é capaz de inventar, criar, mudar e seguir em frente. Com esse constante movimento se produzem as neuroses, que são os impasses diante do desejo inconsciente. A Neurose Obsessiva Com o trabalho intitulado “A Hereditariedade e a etiologia das neuroses” (1896), Freud lança uma inovação nosográfica, colocando ao lado da histeria a neurose obsessiva. Até então ela fazia parte do quadro das psicoses.

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F re u d la n ç a , a in d a , n ov a p ro po s iç ã o qu an to a os distú rb io s s e xu a is , q u e e r a m s e m p re s u b or d in a do s à h e r e d ita rie da d e : “ ...qu e e ssas m o di f icaç ões p ato lóg ica s fu nc ion ais têm com o f on te c om u m a vi d a s exu al d o s ujei to, q uer resi da m n u m d istú rb io d e su a v id a sexu al co nte m p or âne a, q uer e m f atos i m p or tan tes d e s ua vid a p a ssad a.” 1 Pa r a e le a n a tu r e za da ne uros e o b sess iva r e s u m e- se n a s e gu in te fór m u la : “ A s id éi as ob sess ivas são (...) au to -acu saç õe s tran sf orm ad a s q ue ree me rgi ram d o rec alc am en to e qu e se m p re se rel acio na m co m a lgu m a to sex ua l p r atic ad o co m p raz e r n a inf ân cia .” 2 N a ne uros e o b sess iva o e n c o n tro c om o s ex o é a c om pa n h a do po r u m pr a ze r , q u e lev a à c u lp a ou à a u to -r ec r im in aç ã o . C r ia -s e o r e c a lq u e e , a pa r tir d is s o , o a fe to é de s loc a d o po r u m a idé ia s u b s titu tiv a. É p or is s o q u e o ob s e s siv o c r ê n a r e pr e s e n ta ç ã o re c a lc ad a , e é e s s a c re n ç a q u e o le v a á dú v id a . É e s s a a s u a de fe s a pr im á r ia : a e s c r u p u los ida de . O c o rr e m , ain d a, e n s im e s m a m e n to o bs e s s iv o s .

ou tr a s d e fe s a s , d ita d a s o bs e s s iv o , ac u m u la ç ã o

po r F r eu d c om o s e c u n dá r ia s : o de o bje to s , d ip s om a n ia , ritu a is

A neu rose ob sess iva s e in s ta la a pa r tir do de s loc a m e n to da s p ro ibiçõ e s , do s ta bu s , e is s o oc o rr e de s de a m ais te n ra ida d e. D . W in n ic ott d iz: “ O p rim eir o esp elh o d a cri atu ra hu m an a é o rosto d a m ã e: a su a ex p ress ão, o s eu o lh ar, a s u a voz (...) É co mo se o b eb ê p e ns asse : olh o e sou vi sto, lo go, e xis to!” 3 O de s e jo n o ob se s s iv o é c on tr a -le i, é p r oib id o pe la m ã e . Ele tr a n s ita s e m p r e e n tre o s a gr a do e o p r ofa n o, e s ta b e le c e n d o u m a c e r tez a in ter n a , q u e e n v o lv e r e n ú n cia s e r es tr iç õ e s , c o n s titu in d o os a tos o bs e s s ivo s ou c om p u ls iv o s . E m T ote m e Tab u (1 913 ), F r e u d r e su m e a s e m e lh a n ç a en tr e a s pr á tic a s do tab u e o s s in tom as o bs e s s iv o s , c om o : “ 1. o a to d e f altar às atrib u içõ es qu alq ue r m otiv o atrib uíve l; 2. o f ato de se rem m a n tid as p or u m a nec ess id ad e i nte rna ; 3. o fato de sere m f aci lm en te de sloc áv eis e d e h aver um risc o d e i nf ecç ão p rov eni ente d o p roib i do ; e 4. o f ato de c riare m in jun ções p ara a re ali za ção d e ato s c eri m oni ais .” 4

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A h ere ditarieda d e e a e tiologia da s ne uro se s (1 89 6). In: E d. Stan da rd Bra sile ira , v ol. II I: 1 996 . pá g. 14 8. A na ture za e o M ec an ism o da n eru ose obse ssiva ( 189 6) . In: E d. Standa rd Br asileir a, vol. II I: 19 96, p ág .16 9. In: Z im e rm an , Da vid. M an ua l de T éc nica Psica na lítica : um a re -visão. Por to Alegr e:Ar tm ed , 2 004 , pá g. 347. T otem e Ta bu (1 913 ). In : Ed . Stan dar d Br a sileira , vol XI II: 19 96, pá g. 46

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N ã o po de m o s de ixa r d e c ita r q u e o ta bu é u m a pr o ib iç ã o im po sta p or a lgu é m de for a , e dir ige -s e s e m p r e c o n tra o s de s e jos d o s u je ito. E s se a lgu é m n a da m ais é q u e a m ã e , qu e é o pr im e ir o o bje to d e a m or n a v ida d e to do s os s e re s h u m a n os . S e gu n do H a rtm a n n (19 39 ) 1 , a m ãe é o “ esc ud o p rote tor” da c r ia n ç a a té à s u a a do le s c ê n c ia. É q u e m r e for ç a a s le is : o pe r m itid o e o pr oibido ... É q u e m faz dis tin g u ir o id d o e go... Tu do is s o a c on te c e de v id o a o to ta l d e s a m p a ro c o m q u e u m a c r ia n ç a ch eg a a o m u n do , q u a n d o a m ã e , po r s u a v e z, c o m tod a s a s s u as lim ita ç õe s de v id a , a le v a pa r a u m e s ta do de de p e n dê n c ia. N ã o e x is te e v id ê n c ia fís ica q u e s u s te n te u m a c r ia n ç a . Ela po s su i u m c o n ju n to de pu ls õ e s au to-e r ótic a s d e s gov e r n a da s e d e s co o rd e n a da s . Pa r a a c o n s titu iç ão do s e u e u de p e n de r á do r e c o n h e c im e n to d e s u a im a ge m , só qu e e s s a d ep e n de r á s e m p re d a p a la v r a d o o u tr o. S e a m ã e é b e m s u c e dida , a c r ia n ç a te r á c o n s c iê n c ia de s e u a m o r, be m c o m o pr o m o ve r á u m b om de s e n v o lv im e n to e s tr u tu ra l, e d ar -s e -á a p a s s ag e m da de p e n dê n c ia p rim á r ia pa r a a de p e n dê n c ia r e la tiv a , c om o be m c oloc a W in n ic ott (196 0) 2 . J á o fr a c a ss o s e dá m u itas v e ze s d e vid o à s n e c e s s id ad e s e co n flitos pe s s oa is da m ã e , pois es s a de v e e te m q u e de s a pon ta r o i d e n ã o eg o da c r ia n ç a . S e n d o a s s im , cr ia -s e as po ss ibilid ad e s da in s talaç ã o da s n e u ro s e s , co m o a c e n tu a A n n a F re u d (1 95 8): “ ...al gu m l ug ar su ti l es tá sen do inf lig id o à cri anç a, e q ue s ua s co nseq üê nci as se m a nif es ta rão em d a ta futu ra..” 3 U m a n e u ros e o u u m tra n s torn o ? F re u d, n o R a s c u n h o H (18 95), c h a m a a a te n ç ão pa r a o fa to de q u e n a p s iq u ia tria , a s idé ia s d e lir an te s da pa r an ó ia s e en co n tr av a m a o la do d as idé ia s ob s e s s iv a s c om o d is tú r bio s in te le c tu a is . J á , e m 1 89 6, ele de s c re v e q u e as id éia s o bs e s s iv as s ã o pr o du to s d e u m c om pr om is s o . A s u a e xp e riê n c ia c om o s e xo é tr au m á tic a , m as a c om p a n h a da p or u m go zo e xc e s s iv o q u e ir á a ca r r e ta r a c u lpa e a a u to -r ec r im in aç ã o . E le diz q u e “ a id éi a ob sessi va p od e ser con trá ria a qu al qu er lóg ica, e m b or a s ua f orça co m p ul siv a sej a i na b al ável .” 4 J á n a p aran ói a, a e x pe r iê n c ia tr a u m á tic a é ac o m p a n h a da ta m bé m p e lo goz o e xc e s s iv o, q u e a c a rr e ta a c u lpa , m a s n ã o fo rm a a a u to -r ec r im in aç ã o , e a c u lpa pa s s a a s er pr o je ta da n o o u tr o. O p a ra n ó ic o é d e s c re n te , po r is s o n ã o d u v ida , o q u e é o o po s to do n e u r ótic o o bs e s s iv o .

1 2 3 4

In: K H A N , M a sud R. Psic an álise : Te or ia T éc nic a e Ca sos C lín ic os. Rio de Jan e ir o: F. A lves, 19 84, pá g.6 2 Ibid, p á g. 6 5 O p cit, p ág . 7 5 RIBE I RO , M ar ia A n ita Ca rn eir o. A ne ur ose ob sessiva . Rio de Jan e ir o: Jorg e Z a har E ditor , 2 003, pá g. 16.

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O n euró tico obs essivo se com porta através de ritu ais, que para ele é como um a religião particu lar. São atos m ágicos que revelam a onipotência do pensamento do sujeito, qu e nad a m enos é do que ind ícios d a onipotência infantil. A p artir dessas diferenças apresentad as, observa-se qu e o sujeito d a P sicanálise, apesar de ser o mesmo sujeito d a ciência, e d e ser reconhecid o como um su jeito político, não se encontra sub metid o aos in teresses do capital. Ele é, ao m esmo tempo, o su jeito d o d esejo e o su jeito d esconhecido qu e apresenta na falha, no son ho, no sintom a... Hoje, a n euro se obs essiva está enquadrada como TOC (Transtorno O bsessivo Comp ulsivo). Mesmo com todo o avanço científico, principalmente no camp o d a neurofarmacologia, deve-se atentar qu e, a obsessão pod e estar presente em várias pessoas, porém é preciso distinguir os tr aço s obsessivo s d e uma pessoa “norm al” ou d e uma p essoa de estrutura n eu rótica m ista, perversa ou p sicótica; o caráter severamen te obsessiv o e o transto rno obsessiv o com pulsiv o. Uma pessoa com traços ob sessivos ou m esmo de caráter obsessivo, normalmente, não significa adoecimento, não existe alteração d e su a harmonia. Já o T.O.C. (Tran storno Obsessivo C om pu lsivo) imp lica em sofrim ento tanto d e si com o de ou tros, podend o prejudicar até quem vive ao seu lad o. P od e levar o sujeito à incapacid ade para viver livrem ente. É im portante saber que apresentar u m diagnóstico d e “ob sessivo” é necessária a escuta. Uma escuta não somente d e cinqüenta minutos, pois os qu adros são semelhantes, mas são m anifestad os d e formas d iferentes. Co nclusão A P sicanálise trata e fala do d esejo. A ssim, para tratar uma neu rose ob sess iva é necessário ocup ar o lu gar do objeto d a fantasia, colocand o-o em posição ativa, para d esp ertar o desejo; en qu anto qu e, na ciência, o objeto permanece passivo diante do d esejo do experimentador. Freu d, na p rática de sua análise, descob riu que p od e op erar sob re a fantasia inconsciente d o su jeito, e modificar a sua realidade p síquica, sua forma d e ver e estar no mund o. A ciência, d iante d o interjogo p olítico, transform a o sujeito em vítima do seu funcionam en to cerebral, torn and o- o, cad a dia, mais sem forma e d escrente... e novas neu roses são estab elecid as. A p olítica que rege a Psicanálise está longe d os discursos da ciência regid os p elo capitalism o selvagem e imp erialista d esta aldeia glob al. P ara a Psicanálise o que importa é o d esejo: a p olítica d o d esejo!

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SU MMARY Ob sessive neuosis: neurosis or disup tion ? More than on e h undred y ears had p assed and the old concept of individ ual cam e back: the individ ual of science, however, tod ay, is followed and manipu lated by a capitalist sp eech. The ind ividual of uncon scious disapp ears in the larg en ess of this glob al village and a new is stimu lated to exist: th e consu mer ind ividu al and with com pu lsive u se of m edicines. W hile Freud , in 189 6, removes the obsessive neu rosis of the psychoses list, this nomenclatu re is banished from the psychiatric manuals and it's redu ced to a m ere Comp ulsory Obsessive D isrup tion.

KEY WORDS: ob sessive neurosis – p sy choanalysis – desire

Bib lio grafia:

1.B REN NER, C harles. Noções bás icas d e Psicaná lise. Rio de Janeiro: Imago, 19 87. 2.FREUD, Sigm und . O bras C om pletas . Rio de Janeiro: Im ago, 19 96 . v.1 ;v.3 ; v.1 0; v.13 ; v.1 7 (Eição stantard b rasileira) 3.KHA N, Masud R. Ps ican álise: T eo ria T écnica e C aso s C línico s. Rio d e Janeiro: F. Alves, 1 984 . 4.KUSN ETZO FF, Juan C arlos. Introd ução à psicopatolog ía psica nalítica. Rio de Janeiro: N ova Fronteira, 198 2. 5. LA PLA NCH E E PON TAL IS. Voca bulário d a Ps ican álise. São P aulo: Martins Fontes, 2 00 1. 6.RIB EIRO, Maria Anita Carneiro. A n eurose obsessiv a. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed itor, 2 00 3. 7..ZIMERMAN, David E. Man ual d a T écn ica Ps ican alítica: u ma re-v isão. P orto Aleg re: Artmed , 2 00 4.

Sobre o au tor: Sergio Costa- Profes sor– P sican alista (NE PP)

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TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE Irani Araujo

RESUMO : Os pacientes portadores do Transtorno de C aráter Borderline não possuem claramente uma identidade de si mesmos, com um projeto de vida ou uma escala de valores duradoura, até quanto à própria sexualidade. A instabilidade é tão intensa que incomoda até m esmo o paciente que, em determinados mom entos, rejeita a si próprio; por isso a insatisfação sexual é constante. Possuem rápida variação das emoções passando de um estado de irritação para angústia e depois para depressão (não necessariamente nesta ordem).

UNITERMO S: Personalidade, caráter, Borderline

INTRODUÇ ÃO Ao usar a term inologia específica da Psicanálise, falaremos sobre “TRAN STORN O DE CARÁTER BORDERL IN E”, já que tem os conhecimento que o caráter se form a a partir do nascimento e sendo a personalidade inata, pertence à natureza de um ser. Para Otto Fenichel, o caráter ou a personalidade é o modo habitual de con duta de uma pessoa. Essa conduta, por sua vez, é o resultado final de um a série de complexos e operações referentes aos m odos habituais de adaptação do EGO ao m undo externo, ao ID e ao SUPEREGO. Assim a personalidade, o caráter e a conduta são todos aspectos ligados ao ego, resultados de sua im possível tarefa de equilibrar-se entre as exigências das três instâncias psíquicas, definidas por Freud, com grande propriedade.(O Ego e o Id) 1923. TRANSTORNO / CARÁTER Com relação ao funcionamento do ego, os transtornos de caráter não foram matéria especial para Freud, que se dedicava mais ao mapeam ento e descrição do inconsciente. Mesmo assim, ele fez as primeiras descrições do quadro, em “Três Ensaios sobre um a Teoria da Sexualidade” (1905): “O que descrevemos como caráter de um a pessoa é construído em grande parte com o material de excitações sexuais e, se compõe de instintos que foram fixados desde a infância, de construções alcançadas por meio de sublimação e, de outras construções empregadas para eficaz mente conter os impulsos perversos que foram

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reconhecido s como inutilizáve is. A dis posição sex ual pe rvers a multiforme da infância pode assim s er co nside rada a fonte de v árias de noss as vir tudes, atravé s da for mação r eativa, e stimula o des envo lvimento de las”. Assim, com a descrição do “caráter”, passamos a entender que o caráter é, ele mesm o, o “transtorno”, pois constatamos que determ inados padrões de conduta na vida diária têm origem defensiva, seria u ma adaptação aos conflitos inconscientes, u ma tentativa de resolvê-los do melhor modo possível. Essa alteração do ego, ou vai favorecer descargas pu lsionais, quando terem os caracteres “sublimados”, ou vai impedir tais descarg as, qu ando terem os caracteres “reativos”. Tais alterações n o ego os reg idificam , tirando-lhe toda flexibilidade e liberdade. Fenichel organiza os transtornos de personalidade em três categorias: A) os decorrentes de condu ta patológica frente ao ID (frigidez, pseudoemotividade, defesas contra a angú stia, racionalizaçã o, traços an ais, orais, fálicos, uretrais, castração, caráter fálico e genital). B) os decorrentes de condu ta patológica frente ao SUPEREGO (defesa contra as culpas, masoquism o moral, don ju anismo, falta aparente de sentimento de culpa, crim inalidade e m á iden tificação, atuação, neurose, destino). C) os decorrentes de conduta patológica frente a objetos externos (fixação em etapas prévias do am or, inibições sociais, ciú mes, ambivalência, pseudosexu alidade).

ETIMOLOGIA: B ORDERLINE Do Inglês border  fronteira, margem line  linha, reta Fronteiriço, lim ítrofe.

DEFIN IÇÃO Aqu ele que, sem ter a psicose verdadeira, mostra traços e mecanismos singu lares do tipo esquizofrênico. Tem sido chamado com o esquizóide .No que diz respeito aos mecanism os patog ênicos atuantes, esses casos na verdade são neurose e psicose. Pacientes mu ito comprometidos psiqu icamente mas qu e não podem ser con siderados com o au tên ticos. São insuficientes para se chegar a u m diagnóstico correto, um prognóstico preciso. Robert Knigh t (1953).

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A UTOR

A NO

DENOM IN AÇÃ O

P inel P richard

1 80 1 1 83 5

M ania sem delírio Insan id ad e moral

Kahlbaum Bleuler

1 88 4/9 0 1 91 1

Ad olescentes hebóides Esqu izofren ia latente

Reich Stern

1 92 5 1 93 8

Caráter im pulsivo Neuroses bo rde rlin e

Fairbairn Zilborg

1 94 0 1 94 1

M ecan ismos esqu iz óides Esqu izofren ia ambu latorial

Deu tsch

1 94 2

Personalid ades "como se"

Hoch&Polatin Knight

1 94 9 1 95 3

Esqu izofren ia pseu don eu rótica Estados borderline

CID- 9

1 97 6

DSM - III

1 98 0

Esqu izofren ia latente ou b ord erline Tran storn o de personalid ade borderline

CID- 10

1 99 2

DSM - IV

1 99 4

Jovino Camargo J r. 1 99 4 MO MENT OS SIGNIFI CATI VOS "FRONT EIRIÇOS "

Tran storn o de emocionalmente borderline Tran storn o de borderline

personalid ade instável, tip o

Estruturas-virtuais NA PESQ UISA

personalid ade

SOBRE

OS

CARACT ERÍST ICAS A característica essencial do Transtorno de Caráter Bord erlin e é um p adrão invasivo de instab ilid ade dos relacionamentos interp essoais, auto-imagem e afetos e acentuada im pulsivid ad e qu e começa no início da id ad e ad ulta e está presente n uma variedade d e contextos. Seu com portamento imp ulsivo é, freqü entem ente, au todestrutivo e se d esviam acentuadam ente d as expectativas da cultura m anifestada em pelo menos du as das seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionam ento interpessoal ou controle d os imp ulsos. Este pad rão persistente e inflexível abrange um a am p la faixa de situações p essoais e sociais, provoca sofrim en to clínico significativo, p rejuízo no funcionamento ocup acional ou em ou tras áreas importantes. Os indivíd uos com esse transtorno, freqüentemente, parecem d ram áticos, emotivos ou erráticos. São instáveis em suas emoções. Fazem esforços frenéticos para evitarem um ab and ono real ou imag inado (até tentativa d e su icídio; completad o entre 8 e 10% d esses ind ivíduos) e atos de mu tilação.Têm rom pantes de raiva inadequada. As p essoas à su a volta são con sideradas ótimas, mas frente

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a recusas tornam-se, rapidamente, péssimas. A percepção da separação ou rejeição iminente ou, a perda da estrutura externa podem ocasionar profundas alterações na auto-imagem, afeto, cognição e comportamento. Esses indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais. Têm padrões de relacionamentos instáveis, intensos, e desorganizados. Na realidade, os pacientes com essa patologia têm sérias limitações para usufruírem as disponibilidades de opções emocionais diante dos estímulos do cotidiano e, por causa disso, pequenos estressores são capazes de enfurecê-los. Eles podem idealizar potenciais cuidadores ou amantes, já no primeiro ou segundo encontro, exigir que passem muito tempo juntos e compartilhar detalhes extremamente íntimos na fase inicial de um relacionamento. Pode haver, entretanto, uma rápida passagem da idealização para a desvalorização, por achar que a outra pessoa não se importa o suficiente com ele. Esses indivíduos podem sentir simpatia e carinho por outras pessoas, mas apenas com a expectativa de que a “outra pessoa estará lá”, para também atender às suas próprias necessidades quando exigido. Os indivíduos podem exibir constantes mudanças em seus objetivos, valores e aspirações profissionais, e também de opiniões e planos acerca da carreira, vida sexual, valores e tipos de amigos. Podem mudar subitamente de papel de pessoa suplicante e carente de auxílio para um vingador implacável de maus tratos passados; embora tenham, geralmente, uma auto-imagem de malvados, os indivíduos com esse transtorno, por vezes, têm o sentimento de não existir em absoluto. Podem jogar, fazer gastos irresponsáveis, comer em excesso, engajar-se em sexo inseguro ou dirigir de forma imprudente. Os indivíduos com Transtorno de Caráter Borderline, facilmente entediados, podem estar sempre procurando algo para fazer. Experienciam intensos temores de abandono e raiva inadequada, mesmo diante de uma separação real de tempo limitado ou quando existem mudanças inevitáveis em seus planos (por exemplo, reação de súbito desespero quando o clínico anuncia o final da sessão; pânico ou fúria quando alguém que lhes é importante se atrasa por apenas alguns minutos ou precisa cancelar um encontro). Esse medo do abandono está relacionado a uma intolerância à solidão e a uma necessidade de ter outras pessoas consigo. Os indivíduos com esse transtorno sentem-se mais seguros deslocando e expressando seus afetos para objetos transacionais, isto é, um animal de estimação ou a posse de um objeto inanimado, do que em relações interpessoais. É um tipo de deslocamento associado à postergação, e condensam nesses objetos o seu amor e valores morais não expressos ao seu meio. Além de Freud, Winnicott também falou sobre esse objeto muito especial, transacional,que é “metade” objeto,"metade”fantasia- daí o nome transição, entre pura projeção e a percepção do mundo externo. Essa fantasia,que por algum motivo,em vez de suavemente ir dando lugar à percepção da realidade externa,é em algum momento “cortada” abruptamente, provocará um déficit de onipotência que a criança reencontra no objeto transacional.

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CURSO O padrão mais comum é de instabilidade crônica no início da idade adulta, com episódios de sérios descontroles afetivos e impulsos de alto nível na utilização de serviços de saúde mental. O prejuízo resultante do transtorno e o risco de suicídio são maiores nos anos iniciais da idade adulta e diminuem gradualmente com o avanço da idade. Na faixa dos 30 a 40 anos, a maioria dos indivíduos com transtorno, adquire maior estabilidade em seus relacionamentos e funcionamento profissional. PADRÃO FAMILIAL O Transtorno de Caráter Borderline é cerca de cinco vezes mais comum entre os parentes biológicos em primeiro grau dos indivíduos com o transtorno, que na população em geral. Existe, também, um risco familiar aumentado para Transtornos Relacionados a Substâncias, Transtorno da Personalidade Antisocial e Transtorno de Humor.Além do genótipo, as crianças recebem as toxinas que lhe foram engendradas por seus primeiros objetos de desejo, pela ordem, MÃE e PAI ou quem exerce tais funções. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Não me sentiria muito à vontade em continuar a discorrer sobre tal assunto, se não citasse o critério de diagnóstico diferencial do CID-10 pois, não podemos, no mundo de hoje, nos esquecermos que tivemos avanços profundos na área de diagnósticos de tal patologia, e nem teríamos alcançado tais objetivos se não tivéssemos podido contar com as teorias freudianas.

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Critérios Diagnósticos para F60.31 301.83 Transtorno da Personalidade Borderline Um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios: (1) esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado. Nota: Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério 5[617]; (2) um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização; (3) perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self; (4) impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por exemplo, gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, comer compulsivamente). Nota: Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério 5; (5) recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante; (6) instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por exemplo, episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade, geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias); (7) sentimentos crônicos de vazio; (8) raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por exemplo, demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes); (9) ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos.

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ORIGEM NA INFÂNCIA Os estudos realizados em pacientes com Transtornos de Caráter Borderline, quanto às ocorrências na infância, enfocaram basicamente a privação na criança da presença dos pais (principalmente da mãe), e problemas familiares intensos. Nos últimos anos, passou-se a investigar a relação entre abuso sexual na infância e o caráter borderline. Esses estudos foram inclusivos, mas ficou demonstrada esta relação. Outras formas de abusos também foram encontradas com maior freqüência que o abuso sexual isoladamente: - abandono, humilhações, frustrações, mensagens ambíguas, serem postos em situações de solução impossível, consideradas como abuso emocional. Provavelmente, o caráter borderline é multicausal, e vários tipos de estudos ainda devem ser feitos. CASO CLÍNICO O trabalho, com um analisando de 14 anos de idade, foi iniciado pelos trâmites normais da Psicanálise, e seguindo as orientações técnicas psicanalíticas freudianas. Ao encontrar dificuldades em compreender a nosografia, pela péssima dicção usada, e percebendo que esse recurso, nada mais era que mecanismos de defesa como: resistência, deslocamento; presença freqüente da cisão, foi acrescentada às nossas sessões o método da fixação cognitiva de situações diversas. Debates com temas atuais: “Eleições presidenciais” “Efetividade e afetividade do adolescente”, “Globalização”, “Esportes”, “A informática na atualidade” etc. O analisando demonstrava um bom nível de informações e a comunicação tornavase clara, enquanto debatíamos o tema. Quando voltava a temática para as situações de sua vida, fazendo a prática analítica, denegava imediatamente suas implicações emocionais, fazendo a cisão, dificultando a compreensão na transmissão de suas respostas, que eram frases curtas quando sentia a minha insistência na questão. Exemplo: “não lembro”, “não sei”, “talvez”, “pode ser ...”.

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As sessões transcorriam-se num clima diferente do desejado e precisava-se comprovar empiricamente a hipótese diagnóstica alcançada. Em estudo, cheguei à conclusão que poderia apoiar-me na técnica de Winnicott“Criatividade” Uma vez que o potencial inato é inacessível ao conhecimento direto, só podemos conhecer a singularidade de sugestões num meio cultural determinado. A obra winnicottiana é uma expressão dessa singularidade e a relação das idéias de Winnicott, com a teoria psicanalítica de Freud e Melainie Klein, ressaltam apenas a maneira de como ele as utiliza. “...é impossível ser original sem apoiar sobre a tradição, diz:-os adultos amadurecidos levam vitalidade para o que é antigo e ortodoxo, recriando após destruí-lo”. (Winnicott)

Destruição para Winnicott nesse contexto não tem sentido negativo, e sim, está no processo de destruição e recriação de objetos. Essa idéia faz parte da teoria das relações objetais (Freud) . O seio materno, em relação ao bebê, propõe que a destruição do objeto-seio, na fantasia, preceda o uso criativo dos novos objetos. Sua contribuição original à Psicanálise pode ser entendida como um esforço do analisando de recriar, de maneira pessoal, aspectos de uma teoria imaginariamente destruída por ele. Apoiada na teoria da CRIATIVIDADE, estimulei o analisando a desenhar, a dar asas à sua imaginação, ora temas livres, ora temas sugeridos . Durante um bom tempo, ficamos neste trabalho. Ao final, o analisando já produzia estórias em quadrinhos, caricaturas, esboço de paisa gens... e todas as suas produções eram frutos da sua própria vida. Era sua história de vida. Traços, posições, performance, ideologia, lógica, simbologia, tudo foi estudado e avaliado. O analisando voltou para o divã e, através da técnica da livre associação, que participou com grande desenvoltura, pude concluir : Confirmado. O prognóstico passou a ser diagnóstico: o analisando é portador do Transtorno de Caráter Borderline. O seu tratamento teve início a partir do diagnóstico. Outros casos aconteceram, trocamos experiências em reuniões supervisionadas e, por várias vezes, lançamos mão dessa experiência positiva obtida, alcançando assim, prognósticos, diagnósticos e, partindo para o tratamento, procuramos conduzir os analisandos para fora do labirinto .

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SUMMARY The patients who carry upheaval of borderline character do not have an Identity of themselves, do not have a project for their lives or values.That might linger throughout their lives. They do not even have an Identity of their own sexuality. The instability is so intense that the Patience sometimes rejects him/herself, due to that the sexual Insatisfaction is constant. They shift moods and emotions very fast, Changing from an angry state to anguish and then depression (not necessarily in this order). UNITERMS: Personality, character, Borderline

BIBLIOGRAFIA 1. FREUD, S. Obras Completas. 2a. ed. Rio de Janeiro:Editora Imago,1987. 2. KERNBERG , O. F. Transtornos Graves de Personalidade. Porto Alegre, Editora Artes Médicas, 1995. 3. FENICHEL, O. Teoria Psicanalítica das Neuroses. São Paulo, Editora Atheneu, 2001. 4. LAPLANCHE JEAN & J.B. PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise, São Paulo, Editora Martins Campos, 2001. 5. WINNICOTT, D.W. - Panorama da Teoria de Winnicott 6. DSM - 4 7. CID –10

Sobre o autor: Irani Araújo – Professora de Língua Portuguesa – Psicanalista (NEPP)

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BIBLIO GR AFIA SU GER ID A PARA PES QUIS AS :

Edito ra Ima go: As No rmas de Freud para a Interpretação do s Son hos Grin stein, Alexander

Psican ál ise e Discurso M ahoni ,Patrick Refúgios Psíqu icos Stein er ,John

Impasse e In terpretação Rosenfeld, Herbert

A Psicolo gia do Self Kohut, H einz

Crença e Im aginação Britton, Ronald Direito de Fam ília e Psicanálise Groeninga, Giselle C âmara & Pereira, Rod rigo da Cu nha

A Vida e a Obra de Sigmun d Freud. (3 volum es) Jones, H ernest A C orrespon dên cia Co mpleta de Sigm und Freud M asson , Jeffrey M .

Na Sala de An ál ise Ferro, A ntônio

Ca sa d o Psicó lo go

Adolescência o Segundo Desafio Ferrari, Armand o B. Adolescência Reflex ões Psican al íticas Levisk y, David Leo Além do Divã Pessanha, Antônio Luiz Serpa Co ntratransferência Fig ueira, S. Augu sto Co ntribuiçõ es ao Co nceito de Objeto em Psican álise Baranger, W .

Diálo go en tre a Psicanálise e a Neuro ciência, Um An drade, Vítor M anoel O P en sar – Do Eu-Pel e ao EuPensant e An zieu , D id ier So bre a Co nstrução do Sign ificado Grandesso, M arilene Psican ál ise e Lin guagem – do Co rpo á Fala An zieu r, Didier e Ou tros Pro vérbio s e o I ncon sciente Cohen, Cláu dio

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