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HISTÓRIA

Sobrevivente reunida com a família que “deu a ela a vida” Por Dra. Sara Kadosh

Sessenta e cinco anos depois de sua sobrevivência milagrosa durante o Holocausto e sua partida da Europa pós-guerra, Rena Quint recentemente reuniu-se em Jerusalém com a família de Anna Philipstahl, a mulher que lhe deu a chance para uma vida nova. Encontrar a família de Anna foi o ponto culminante de uma pesquisa que começou no Yad Vashem, em 1981.

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Rena tinha nove anos quando foi libertada do campo de concentração Bergen Belsen, em abril de 1945. Nascida Fredzia (Frayda) Lichtenstein em Piotrkow em 1936, ela viveu com sua família no gueto da cidade. Depois que sua mãe e irmãos foram deportados para Treblinka, seu pai vestiu-a como um menino e levou-a para trabalhar com ele na fábrica de vidro Hortensia. Quando a fábrica foi fechada eles foram separados e enviados para campos diferentes. Rena finalmente chegou a Bergen Belsen, embora ela não tenha lembrança de como chegou lá, ou como sobreviveu sozinha. “Eu devo ter sido cuidada por uma sucessão de ‘mães’”, diz ela, embora seja incapaz de recordar os seus nomes ou rostos. Em julho de 1945, Rena – que mal havia sobrevivido a um ataque de tifo – foi enviada para a Suécia junto com outros sobreviventes para cuidados médicos intensivos. Lá, ela começou lentamente a recuperar sua saúde. Ela aprendeu a brincar, teve sua primeira boneca, fez amigos. Então, no campo de reabilitação em Tingsryd, Rena conheceu Anna. Anna Philipstahl e seu filho Sigmund haviam sobrevivido à guerra na Polônia. Eles também tinham sido evacuados de Bergen Belsen. Anna estava determinada a ajudar a criança, que estava sozinha no mundo. Quando seus parentes nos Estados Unidos arranjaram para Anna e Sigmund se juntar a eles, ela ofereceu levar Rena junto como sua filha, Fanny. Rena consentiu. “Eu teria concordado com qualquer coisa”, diz ela. “Eu não tinha outra escolha”. A família chegou aos EUA em março de 1946, mas apenas alguns meses mais tarde a tragédia se abateu mais uma vez: Anna Philipstahl faleceu

repentinamente. Com quinze anos de idade, Sigmund não podia ajudar Rena, e mais uma vez ela foi deixada sozinha. Ela se sentiu estarrecida, mas acreditava que uma outra “mãe” viria cuidar dela. Rena estava certa. Primos de Anna perguntaram a amigos deles, os Globes – um casal sem filhos no Brooklyn – se eles poderiam cuidar da menina órfã por apenas um Shabat até que outros planos pudessem ser feitos. Os Globes concordaram, apaixonaram-se pela menininha, e o Shabat se transformou em uma vida. Em 1947, eles adotaram Fredzia / Fanny e a renomearam como Rena. Ela cresceu no caloroso abraço deles, e mais tarde casou com o rabino Emmanuel Quint, tornou-se professora, e formou uma família. Absorta em sua vida diária, ela raramente falava sobre sua infância traumática. Em 1984, Rena e Emmanuel se estabeleceram em Jerusalém. Rena se tornou uma guia de procurados e conferencista no Yad Vashem, e começou a frequentar seus arquivos, procurando por regis-

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tros de si mesma e de sua família. Em 1989, ela participou de uma viagem do Yad Vashem para a Polônia, onde finalmente encontrou sua certidão de nascimento, a certidão de casamento de seus pais e até mesmo visitou o apartamento de seus pais em Piotrkow. Depois, um pesquisador na Polônia enviou-lhe cópias da certidão de nascimento de seus irmãos. Mas o destino de seu pai permaneceu uma incógnita. No início de 1990, Rena participou de um workshop conduzido pelo Dr. Yaacov Lozowick, então diretor do Arquivo do Yad Vashem. Lozowick explicou que, na procura de nomes, tinha-se que levar em conta todas as permutações possíveis. Como exemplo ele deu o nome Isaac, que tinha um equivalente polonês, “Ignac”. Rena sentou-se de repente. Durante anos ela vinha procurando seu pai Isaac Lichtenstein sem sucesso. Depois que começou a procurá-lo sob o nome Ignac, no entanto, ela descobriu uma grande quantidade de documentos. Com a ajuda da equipe do Yad Vashem, Rena descobriu que seu pai tinha sido enviado para Buchenwald em janeiro de 1945 junto com o rabino Israel Meir Lau e seu irmão Naftali Lau-Lavie. Ela também encontrou registros de si mesma em Bergen Belsen e na Suécia.

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Muitas perguntas ainda permaneciam sobre os primeiros anos de vida de Rena. Ela desejava discuti-los com Sigmund Philipstahl, o “irmão” com quem viajou para os EUA, mas ela não tinha contato com ele desde o início dos anos 1950, e não tinha ideia de onde ele morava. Com a ajuda da escritora deste artigo, Rena localizou a família dele, agora vivendo na Flórida. Sigmund Philipstahl tinha morrido, mas sua esposa Márcia, a quem Rena tinha conhecido quando ela era namorada de Sigmund, ficou emocionada ao ouvir dela, e enviou-lhe fotografias de Rena na Suécia. A filha de Márcia, Nancy Schwartz, também ficou encantada de estar unida com a sua “tia” por tanto tempo perdida. Em abril de 2011, Marcia e Nancy vieram a Israel para um encontro emocionante com Rena. Durante a visita, Rena apresentou os Philipstahls com um certificado em que ela havia escrito: “Em memória de Anna – apesar de ela não ter dado a luz a mim, ela me deu a vida”.

A autora é uma ex-pesquisadora do Instituto Internacional de Pesquisa do Holocausto.

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