CATOLICISMO 42 anos de luta, na fidelidade doutrinária
i, .
N2 505 Janeiro
Discernindo, distinguindo, classificando...
1993
Palavras e boinbons
Assestando o foco
O
Por que a palavra "sacra/" é cheia de luzes, enquanto "sinuoso" é inquietante? Palavras e sensibilidade, tema pouco explorado
T
Já na palavra sinuoso, omemos a palavra à medida que cada sílaba imperial. O dicionávai sendo pronunciad.a, os rio nos diz que se trdta de diferentes sons sobem e um adjetivo relativo ao descem como a lembrar o império ou ao imperador, movimento ondulado e innão há dúvida. Mas a soquietante da cobra. noridade própria . da palavra vai além, dá-lhe uma *** qualquer rutilância que é O saber sentir adequn toda especial, e faz dela damente essas realidndcs um vocábulo cheio de beajuda inclusive II pronun leza, brilhante mesmo. ciarbcmas palavms, fozcn Certas palavras são como do vibrar nelas, <X)mo 1111111 pedras preciosas postas instrumento 111usic111, ns ao sol: elas brilham quancordas qu · lhes sno 1111d, do pronunciadas, existincarn ·t ·ríslicas. 1>0111 1111 do não apenas para serem si ·o não é só o qu1· <·nh·mhentendidas, mas admiracorr ·ta111e11k II pnililu111 , das. 111as o qu • imhe tinir <k lll'II inslnuu .1110 0 melhor 110111 Se é verdade que a Os hebreus diante do Monte Sinai (gravura de Gustavo Doré). A voz de Deus era ali "tão returnba:nte, qu,e nnu,eles qne ri palavra foi dada ao ho·-·1 qu · est • pode dnr. Úcu rios o, 11111 8 0 modo mem para exprimir suas ouvirarn suplicaram que não se lhes falass e mais"(! l eb. 12, 19) idéias, é igualmente certo O som de sagrado, por exemplo, d. pronun ·iar as piilavrns <'NlÍI 1l'lncio que tal função não deve ser vista de nos impõe um sentimento de respeito nado com a psicolo in do povo. (~ por modo banal, quase matemático: a profundo, quase de adoração, qu s isso que 11 111 ·s1rn1 pa lnvrn luur, por palavra pode também ser captada de acresccnt11 ao significado próprio d:1 ·x ·mplo · "c11 111ad11" pelo baiano, maneira rica e cheia de vida. palavra e o cnriquc ··;dá-nos voulad · " nmrklad 11 " p ·lo parnna ·ns · · Assim, o som de uma palavra não de nos ajoelhar. mda " pdo ce11rt·1111 ·. 1011 o mmuo é a mera representação abstrata de Mas seas coism; sugr11cl11s nomuil - do (.'lll'io,·11 se disso lve il medida que é uma idéia, como H20 é o símbolo mente perl ·ucem il S1111h1 lgr ·jn, há pronunci11do, enqu11nlo o não seco do químico da água. Pois H20 é uma também um modo de a soei ·dade t ·mpaulista mais parece u1rn chicotada. noção tão abstrata, tão teórica de água, pornl ser s11grnda e qu · se exprime Observar essas realidades psicolóque nem serve para ma lar a sede. Não adequadamcntc pela palavrn sucral. gicas, e .saber saboreá-las, é um dos nos lembra a agradável água mineral De onde se originam expressões prazeres castos da vida. Devo ao Prof. borbulhante, nem a comum água pomaravilhosas como Sacro Império. Plinio Corrêa de Oliveira - de quem tável, nem mesmo a torneira!. H20 é Curiosamente, se tornarmos Civiliza- provêm alguns dos exemplos acima uma abstração que circula apenas nas çúo Bacral, a palavra sacral, ao ser - 0 ter aprendido a degustar o som retortas dos laboratórios, diante de seconjugada com civili:zação, faz ver dos vocábulos quase como se degusta nhores sisudos que usam óculos de uma luz própria, que sem essa conjuum bombom. Não só enquanto mestre lentes espessas e guarda-pó branco. gação não se nota. Outra é a luz que se que ele é no ensinar o assunto-como Ora, o som de uma palavra não f desprende de ordem sacral. Poder-seem tantos outros-, mas também pelo isso. Ademais de seu papel de simboliia, pois, dizer que a palavra sacral é seu modo de falar: rico, variado, <·0111 zar a idéia, fala-nos também à sensibiliuma espécie de caixa de luzes, as quais as entonações adequadas, timbn· forll' dade, e, conforme sua sonoridade se manifestam alternadamente, semse e belo, sabend0 tanger as palnvrn quase diria sua musicalidade - produz contraditarem uma às outras, conforcomo David a sua harpa. em nós urna sensação ora de beleza, ora me se ayerte a caixa de um jeito ou de Tanger a harpa, aliá11 , 1111111 ,. de força, ora de delicadeza, de feiúra, e outro. E um verdadeiro tesouro de ma- pressão melodiosa. assim por diante. E a língua portuguesa, tizes que estão dentro dessa palavra, e com seu vocabulário variado e rico, tenque vêm à tona de acordo como modo C.A. de muito a exprimir tais realidades. pelo qual a empregamos.
"~!•?·
s frutos da civilização cristã se perpetuam através dos séculos pela Tradição, permanencendo sempre novos, sempre fonte de vida. Entre eles podemos salientar a indissolubilidade do matrimônio. Onde ela existe, é a família que se consolida, é a sociedade que floresce, é o Estado que prospera. Mas a "modernidade" também tem seus frutos, reluzentes quando surgem, parecendo até ofuscar os da Tradição. Só que em pouco tempo envelhecem ... e apodrecem. É o que se dá com o divórcio. As desastrosas conseqüências que advieram dessa ruptura do vínculo conjugal já se vão manifestando por todas as partes, e nos EUA especialistas de diversos ramos se debruçam sobre elas
,,,
para analisá-las e tentar diminuir seus malefícios. Após décadas de implantação do divórcio na nação norte~americana, problemas psicológicos e psíquicos afetamos cônjuges separados, e mais agudamente ainda os filhos. E a sociedade se desfaz. Os divorciados que se re-casam - nova oportunidade de ser feliz, como dizia a propaganda -são os mais atingidos pela depressão e pela angústia. É o que pormenorizadamente aborda um importante artigo publicado nesta edição. No Brasil, o divórcio trouxe logo, como conseqüência, mais até do que separações legais, a diminuição do número de casamentos, em favor dos concubinatos ou "ajuntamentos", de estabilidade (ou instabilidade) variável.
Com isso, a bênção de Deus, que operava especialmente através da bênção da Igreja, no sacramento do matrimônio, se retraiu. Eai daqueles de quem a bênção se retrai! O Apóstolo São Paulo é claro: "Quanto àqueles que estão unidos em matrimônio, mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido; e se ela se separar fique sem casar, ou reconcilie-se com seu marido. E o marido igualmente não repudie sua mulher" (I Cor. 7, 10-11). Subtrair-se ao Mandamento divino é expor-se ainda nesta vida -para não falar da outra - a temíveis punições. Elas já vão se fazendo largamente sentir.
.
lnd1ce Discernindo ... Palavras e bombons A Realidade Concisamente Partido socialista moribundo Destaque Eleição norte-americana: não houve esquerdização Atualidade O divórcio, essa "modernidade" velha Entrevista Expoente da "Teologia da Libertação" confessa o fracasso das CEBs TFPs em ação TFP entrega abaixo-assinado no Planalto Caderno Especial Festa de Maria Santíssima, Mãe de Deus História Bicentenário da morte de Luiz XVI Hagiografia São Sebastião , glorioso mártir romano Brasil Real, Brasil Brasileiro Festejos pitorescos pouco conhecidos Escrevem os leitores Complementando Em painel Frases e imagens
2
Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida.
4
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o Nº 13748
5 6
Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 · São Paulo, SP Tel: {011) 825.7707
9 12
Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro
13
Fotolitos: Microformas Fotolitos Lida. Rua Javaés, 681 · 01130-010 São Paulo· SP Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Edtora Lida. Rua Javaés, 681 · 01130-010 São Paulo . SP
17 20
25
A correspordência relativa a · assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerêrcia de Catolicismo.
26
ISSN · 0008-8528
27
Nossa capa: Retrato de Famí lia - Pintura de Friedrlch Overbeci< (1820-1830), Lüb eci< (Alemanha)
CATOLICISMO
JANEIRO 1993
2
3
Nacional Africano (CNA)
PC chinês: comemora.çoo e recuo quanto ao tralamento marxista... declínio tão grande em Partido Socialista Nova York, um dos estados moribundo com maior número de catóA ministra da Habitação licos nos Estados Unidos, francesa, Marie-Noelle Lie- que pais casados, morando nemann, defendeu a aliança com seus próprios filhos, do Partido Socialista com constituem apenas um sexnovos parceiros, principal- to dos lares, diz o "The New mente os ecologi$tas, para York Times". evitar uma derrota nas eleiUm em cada quatro ções legislativas de março brancos, por exemplo, não (as pesquisas dão apenas vive com a farm1ia - refle20% dos votos aos socialis- xo do crescente número de tas). idosos que vivem sós, de E ·declarou: "O Partido pessoas que moram juntas Socialista acabou. Nós te- para dividir despesas e, mos que criar uma nova eventualmente até, de aboestrutura, um novo parti- mináveis uniões homossedo". xuais. Declarações de fracasso, como esta da ministra socialista, vão se tomando comuns nos arraiais da esquerda em todo o mundo.
admitiu que o grupo torturou prisioneiros e dissidentes em suas bases no Exterior, nos anos 80 e no imcio dos 90. E também que alguns dos responsáveis por violações dos direitos humanos ainda ocupam cargos na organização antiapartheid sul-africana. Com desembaraço chocante, complementa ele sua autocrítica com esta "atenuante": "Muitas das
transgressões cometidas precisam ser compreendidas no contexto em que ocorreram". Ora, acontece que esse "contexto" foram as lutas de classes e de raças promovidas pelo próprio CNA. ..
EUA: desmorona a família A tradicional família norte-americana sofreu um
Privatização bem sucedida
A Usiminas, primeira empresa a ser privatizada, há apenas um ano, produz frutos. Nos primeiros nove meses do ano passado, a empresa já acumula lucro líqüido de 88,4 milhões de dólares e um faturamcnto de 1,1 bilhão de dólares,
Nova arma russa-Informa a revista britânica "Jane's Defence Weekly" que a Rússia está preparando uma arma de microondas, capaz de paralisar radares de sistemas defensivos. A arma emite impulsos de energia que destroem os circuitos eletrônicos dos radares. Ossadas de vítimas de Stalin Durante escavações recentes realizadas perto de Berlim, foram encontradas ossadas de 12.500 vítimas de Stalin. Os ossos estavam espalhados em 50 fossas comuns, num terreno de manobras do exército da antiga Alemanha Oriental. E agora, manifestantes pedem nas ruas de Moscou a reabilitação do tirano Stalin! Discoteca em igreja! - Próximo a Madri, foi reconstruído o edifício de uma igreja, com toda espécie de luxos e
detalhes, inclusive afrescos inspirados na Capela Sixtina. Da cúpula, entretanto, desce uma luz que, em tons cambiantes, ilumina o solo de mármore: o templo foi transformado numa discoteca, cujo nome é... "Pecados". E não consta ter havido nenhum protesto de autoridades eclesiásticas!
que, devido ao desgoverno e à corrupção, o tráfico de bebês cresce na Rússia, e se converteu em lucrativo "itemdeexportação". O país está "inundado de intermediários russos e estrangeiros à procura de crianças". O preço de cada uma oscila entre 10 mil e 50 mil dólares!
Prefeito com~nista - Sérgio Grando, do antigo PCB (agora aggiornato sob o título de Partido Popular Socialista - PPS), é o novo prefeito de Florianópolis, tendo obtido apenas 33% dos votos. Foi eleito pela coligação PPS, PT e PC do B. Grando se diz católico e, segundo o "Jornal do Brasil" (11-1092), blasfema dizendo que "Jesus Cristo foi o maior de todos os comunistas".
Geladeiras para esqu imós? Segundo voz corrente, bom vendedor seria aquele que conseguisse vender geladeiras para esquimós. E o que se diria de quem vendesse vodka aos russos? Pois bem - conforme "The Economist" (25-7-92)-, a Caves Byrrh, subsidiária da Pemod-Ricard, da França, acaba de entregar à Rússia um terço dos 3 milhões de litros encomendados . Mas, prud'entemente, só efetuou a entrega após o pagamento.
Tráfico de bebês na Rússia - o jornal moscovita "Trud" informou
DESTA.0.!,1~ Eleição norte-americana: não houve esquerdiz.ação
Passeata em São Paulo: exalta.ção do massacre de inocentes Aborto: contradições socialistas
Adeus, camaradas ... Na China, o termo "camarada" cai em desuso, reconhece o jornal oficial do Partido, "Diário Econômico". Cansados do igualitarismo, os chineses retomam o emprego de "senhor" e "senhora". Mudanças reais, ou meras aparências? Se ficar só nisso, é muito pouco!
seu corpo, ao estilo do direito romano .... Não existe argumento capaz de nos convencer de que o feto não constitu_i um núcleo de vida, um sujeito de direito autônomo em relação à genitora, que não é sua proprietária, mas somente sua hospedeira".
O ensaísta Gilberto de Mello Kujawski, cm colaboração para o " Jornal da Tarde" (SP), foz notar com relação ao abo1to: "A 11111/lwr é clona do
seu corpo? Ntlo existe tese mais hipócrita e p erversa do q11 , •sta. É curiosa a posiçao dos senhores socialistas, que se batem •11cami ·adamente contra todo tipo de abuso do direito de propriedade, ao mesmo tempo que admitem, sem rubor, que a mulher é proprietária absoluta do
Mandela: autocrí,tica "atenuadri" Atenuante que agride Vem à lona, mais umu vez, a verdadeira face do movimento liderndo por Nelson Mandela. Dcsla fci la, o líder do Congresso
J\T LlCISMO
4
tendo conseguido pagar, cm apenas seis meses, os primeiros dividendos aos seus acionistas. Comenta o presidente da empresa, Rinaldo Campos Soares : "livre das
amarras do Estado, ela se tornou mais ágil, mais dinâmica, com maior flexibilidade para se adaptar " novas situações ou pt1ra aproveitar novas oport1111i dades de negócios". O quadro de fu11do111\ rios permancc p111tlrn mente o mesmo : 1 .-IHO funcionários, !ui 11111 111111, l 12.202 hoje.
Em 3 de novembro último, o governador do Arkansas e candidato do Partido Democrático, William Clinton, foi eleito presidente dos Estados Unidos, obtendo 43% dos votos populares. O presidente Georg Bush, candidato republicano, que alcançou 38% dos votos, não conseguiu se reeleger. O terceiro candidato, o bilionário texano Ross Perot, arregimentou 19% dos votos. A mídia norte-americana e a do Exterior apresentaram, de modo geral, a eleição de Clinton como um desejo avassalador de mudanças por parte do eleitorado e um realinhamento deste em favor do Partido Democrático, após 12 anos de domínio conservador, exercido pelos republicanos. A revista "Time", cóntu~o, em sua edição de 16 de novembro, apresenta dados que levam a refletir e mesmo põem em xeque aquela visão inculcada pela generalidade dos meios de comunicação social. E é curioso que o próprio semanário norte-americano não tira as conclusões lógicas dos dados por ele publicados. Mediante a análise das porcentagens estampadas no "Time", verifica-se que a vota-
ção de Clinton é quase idêntica à do governador Dukakis, candidato democrático derrotado por Bush na eleição de 1988. E que, portanto, o eleitorado democrático não aumentou em relação ao daquele pleito. Senão vejamos.
Sexo e Raça Clinton: 41 % do voto masculino Dukakis: idem Clinton: 47% do voto feminino Dukakis : 49% do voto feminino Clinton: 40% do voto dos brancos Dukakis: idem Clinton: 83% do voto dos negros Dukakis: 86% do voto dos negros Clinton: 62% do voto dos hispanos Dukakis: 69 % do voto dos hispanos
Idade Clinton: 18 a 24 a1 ps - 47% dos votos Dukakis: 18 a 24 anos - idem Clinton: 25 a 29 anos - 41% dos votos Dukakis: 25 a 29 anos - 42% dos votos Clinton: 30 a 44 anos - 43% dos votos Dukakis: 30 a 44 anos -45% dos votos Clinton: 45 a 59 anos - 43% dos votos Dukakis: 45 a 59 anos-42% dos votos Clinton: 60 anos em diante - 50% dos votos JANEIRO 1993
5
Dukakis: 60 anos em diante - 49 % dos votos Deve-se ainda levar em consideração o fato de ter Ross Perot feito sua campanha com base numa mensagem basicamente conservadora, semelhante à de Bush. Também convém ressaltar que o candidato democrático apresentou uma plataforma política moderada e não esquerdista, bastante semelhante à de Bush, evitando assim assustar os eleitores. Em vista do acima exposto, ao contrário do que trombeteou a múlia, não se pode falar numa derivação do eleitorado norte-americano para a esquerda. Esse fato foi ainda confirmado mediante pesquisas realizadas na "boca-de-uma" (a mesma edição do "Time" o registra), as quais comprovaram a opinião da maioria dos votantes: eles preferiam um encolhimento da . ação do Estado, ou seja, menos socialismo. De modo que, se o Governo norteamericano conduzir de agora em diante o país para a esquerda, ou, quiçá; para o caos, como alguns prevêem, não terá sido por causa de uma oscilação da opinião pública nessa direção.
ATUALIDADE
.
O divórcio, essa ''modernidade'' velha Psicólogos e terapeutas norte-americanos -mostrando as vantagens, no plano científico, da doutrina católica sobre a indissolubilidade do vínculo conjugal, no país-símbolo da modernidade -empenham-se em preservar e consolidar a família, combatendo o divórcio por razões de saúde mental
V
isitando certo dia um honrado ancião, encontrei-o rodeado de filhos, netos e bisnetos. Família numerosa, estável, muito unida, todos se sentiam bem em estar juntos, o que os influenciava poderosamente no sentido de manterem um equilíbrio psicólogico e mesmo psíquico invejável. Surpreendeu-me, entretanto, o estado de debilitamento físico em que o achei, pois há poucos meses ainda o encontrara robusto e saudável, apesar de octogenário. Pondo-se naturalmente a ocasião, procurei saber o que com ele se passara. -Ah - respondeu-me com a fisionomia marcada pela amargura - , é-me difícil suportar a ausência de minha mulher ... ! Lembrei-me então de que há cerca de seis meses ele perdera a esposa, após prolongada enfermidade que a tornara disforme e quase completamente inválida! Tal situação da anciã era extremamente penosa para o fiel marido, obrigado a atender às mais elementares necessidades de sua infeliz consorte. Tarefa que ele executava com requintes de dedicação e de afeto. O abalo psicológico produzido pelo fim dessa união - que o Sacramento tomara especialmente sagrada, e o tempo solidificara no mútuo querer-se e no comum combate às adversidades da vida - vai, aos poucos, extinguindo a existência daquele respeitável marido. Profundo, estável, santo, esse casamento fez com que aquele bom homem sentisse saudades inclusive da cruz que o deixou! Aquele casal, unido por vínculo tão sólido, baseado no sacramento do matrimônio, tinha umsublime mode-
lo em toda sua vida conjugal: a Sagrada Família.
***
Separação? Divórcio? Tais pensamentos sequer poderiam passar pelo espírito de casais assim constituídos .
Sagrada Fo:mília: exemplo excelso de estabilidade con;ugal A simples menção dessas palavras soaria como verdadeira blasfêmia, dignas da mais imediata, total e categórica repulsa. Se o leitor se der ao trabalho de procurar - esparsos aqui, lá e acolá exemplos como esse, ainda os encontra1á, certamente. Não serão eles freqüentes, mas atestarão a existência, num passado próximo, de uma realidade que se perdeu quase completamente nos presentes dias. Com efeito, consideradas duas ou CATOLICISMO
6
três gerações anteriores à atual, a estabilidade do matrimônio ainda era a regra na sociedade. Desquites, separações divórcios não os havia-se afiguravam como situações anômalas, lamentáveis, que, se indispensáveis, se procurava ocultar tanto quanto possível até dos mais íntimos. De onde advinham, no plano sócio-político, instituições profundamente estáveis. Família estável propicia instituições estáveis e, portanto, país estável. Corramos agora os olhos sobre a triste situação atual. A precariedade vai se instalando em tudo: a insegurança, a incerteza quanto ao dia de amanhã. Como conseqüência, as depressões, os problemas psicológicos e psíquicos, os distúrbios nervosos e quanto mais se queira, vão convivendo desgraçadamente conosco no dia-a-dia. Entre as causas de tão grave situação, apontadas pelos estudiosos, não figurava até agora, com o devido destaque, o esfacelamento da família, atingida pela propaganda do divórcio. Propaganda do divórcio, sim! Pois ainda mais nociva do que a própria existência de uma "lei de divórcio" é a perda da convicção da indissolubilidadedomatrimônioqueela traz, e o desaparecim<::nto do horror à separação dos cônjuges. Tal foi o malefício supremo que a propaganda, e depois a const·qllt•ntc aprovação do divórcio, produ :t:irnm em nosso país. De fato, o d'l•ito da introdução do divórcio rntn· 111í foi muito mais a prolifcrn\110 do l'o111·ubinato e das uniões e sq11,111"m' llv1 ·s, do que as separn"cw k ui , ohjl'lo imediato dar ·fnid11 lc•i.
Por que mecanismos psicológicos tal se deu? Como pôde um povo quase inteiro ser iludido quanto às vantagens e pretensas desvantagens da indissolubilidade do vínculo conjugal?-Etambém quanto à separação, considerada como verdadeira panacéia para solucionar os problemas conjugais: quais as conseqüências dessa ilusão para a saúde física e mental dos cônjuges divorciados, e dos filhos? O tema já vem sendo debatido nos Estados Unidos. Teorias divorcistas agredidas pela realidade
1977-1992! Quinze anos acabám de nos separar do lutuoso dia em que o divórcio entrou em nossa legislação civil. Bem feitas todas as contas, o antidivorcismo eclesiástico - e outros capitulou, naquela ocasião, ante uma ofensiva de "razões" sentimentais e românticas, contra as quais não soube ou não quis se defender. Exacerbavase ao extremo a compaixão para com as "pobres vítimas" de um casamento fracassado, que se viam na contingência de carregar a infelicidade até o fim de seus dias, pois que não lhes era permitido contrair nova união. Quantas situações dolorosas não viria o divórcio solucionar! A quantas vidas atormentadas não devolveria a paz! E quantas almas amarguradas não reencontrariam no divórcio a felicidade perdida! Em apoio de tais choramingos, sem qualquer base moral ou racional, esgueirava-se ardilosamente uma outra "argumentação": o Brasil daria provas de subdesenvolvimento intelectual e de mentalidade - oh suprema afronta! - medieval, fechando as portas para o divórcio. Pois não era este uma conquista intangível da modernidade, característica das nações mais desenvolvidas da terra? Contra tais lamúrias românticas e
mitos modernistas, em vão se opunha a cristalina lógica da doutrina católica.
***
"Os novos opositores do divórcio têm chamado a atenção de seus colegas e do público. As seções de 'psicologia' das livrarias de caráter popular apresentam uma enchente de livros com títulos como: 'O Divórcio não é a Solução', 'Argumentos contra o Divórcio', 'O Poder da Familia'. A oposição de terapeutas ao diyórcio tem sido estampada na primeira página do 'Was-
"A mentira tem pernas curtas", diz um velho ditado. O que diria o romântico-modernista de então se alguém lhe predissesse que todo o edifício de suas "convicções" poderia ruir como um castelo de cartas, em menos de quinze anos? Considere pois, leitor, as informações que nos chegam dos Estad os Unidos,- naçãosímbolo da modernidade. Sob o título "Por motivo de saúde mental, o divórcio está saindo de moda", escreve Bryce Christensen *. "Para crescente número de psicólogos e terapeutas, proteger a saúde mental significa evitar o divórcio. 'Apaixona-me salvar casamentos', declara a terapeuta Michele Weiner-Davis, a qual se proclama 'destruidora de divórcios'. "O psicólogo Paul Pearsall argumenta Após os divórcios - em número crescente - cônjuges que é hora de substituir educam sozinhos os filhos: é a "meia familia" o slogan 'se o seu cahingtonPost' e da revista 'Time'". samento rompeu-se, consiga outro Continua o mesmo documento: companheiro', por uma máxima mais "Belas teorias de psicologia comesadia: 'Se o seu casamento rompeu-se, çaram a ruir diante de fatos sociais conserte-o'. horríveis. "Outra voz neste coro, a terapeuta "Documentada por uma década de Diane M edved assevera que 'o proces- pesquisas, Judith Wallerstein chocou so e o amanhã do divórcio são tão profundamente os meios terapeutas nos profundamente desastrosos - para o anos 80 com suas descobertas sobre o corpo, mente e espírito - que num divórcio. Contrariamente às suposiesmagador número de casos, a cura ções teóricas de que o divórcio permique ele produz é certamente pior do tira a casais infelizes formarem melhor que a enfermidade'. seus novos relacionamentos, Wallers-
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil JANEIRO 1993
7
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
ENTREVISTA
FAMÍLIA? CRISTÃ?
S
e, no que concerne aos males do divórcio, cientistas norte-americanos vão-se rendendo à evidência dos fatos, não faltam no Brasil os arautos da "modernidade" - de ontem - que continuam a crer em mitos do passado. Entre esses está a revista catóiica "Família Cristã", das Edições Paulinas. Com efeito, em seu número 678, de junho último, estampa ela (pp. 6 a 9) uma entrevista com o advogado canônico provisionado pela Arquidiocese de São Paulo, EdsonLuís Sampcl, o qual declara que "os católicos que padecem as angústias de um casamento malfadado são estimulados a procurar o tribunal eclesiástico de sua região" para requererem um processo de nulidade de matrimônio. Faz dessa forma uma evidente propaganda de anulação de casamentos (utilizada como divórcio disfarçado), contrariamente ao proceder tradicional da Santa Igreja, que sempre tratou esse assunto com extrema discrição e cuidado. Mas não é apenas desse modo que a instituição da família é atingida pela mesma edição da referida revista católica. Sob o título "Aprendizado do Amor" apresenta ela (pp. 50 a 52) reportagem na qual jovens ligados a "comunidades eclesiais" sustentam opiniões flagrantemente contraditórias coma moral católica, sem a menor crítica (ou censura) por parte da revista. Jovens entrevistados chegam mesmo a admitir a prática de relações sexuais antes do casamento. Singular concepção de fanu1ia e de cristianismo tem "Fanu1ia Cristã"! Revista que se diz católica e se pretende moderna, discrepa frontalmente da doutrina católica e talvez o faça cm nome daquela modernidade mentirosa, na qual cientistas e estudiosos verdadeiramente atualizados já não crêem mais.
tein descobriu que, dez anos após o divórcio, em apenas um décimo dos casos investigados por ela a qualidade da vida 'melhorava concretamente' para ambos os ex-cónjuges. Um quinto dos ex-cónjuges estavam 'vivendo num estado significativamente pior' do que quando estavam juntos. Dez anos depois de seus divórcios, o 'mal-estar originado por um sentimento de ter sido explorado e rejeitado permanecia alto em 40% das mulheres e cerca de 30% dos homens' pesquisados". Estas são conclusões muito dignas de atenção, pois que foram alcançadas após 10 anos de pesquisas. Vejamos agora o que dizem os estudos do efeito do divórcio sobre os filhos. "A pesquisa sobre as conseqüências para os filhos do divórcio dos pais revelaram verdades muito mais negras. "Pouca credibilidade resta aos paradigmas de psicologias os quais predi-
ziam que o divórcio criaria uma crise de pouca duração, e que os filhos logo a superariam. Estudos e mais estudos têm documentado efeitos danosos muitos dos quais de longa duração do divórcio sobre as crianças". É outro mito que cai por terra. Consideremos, por fim, o que os especialistas dizem das conseqüências sociais do divórcio: "A montanha de evidências continua a aumentar. O divórcio é uma forte causa de pobreza entre as mulheres e crianças; além de fraco desempenho escolar das crianças, delinqüência, uso de drogas e suicídio entre adolescentes. Traz também má saúde mental e física para adultos e crianças. O que é pior, relatam sociólogos, poucos desses problemas são aliviados e alguns se tornam exacerbados quando novas famílias se formam através de re-casamento". CATOLICISMO
8
Poderia o leitor imaginar, neste borrascoso fim de século, um tal movimento de rejeição ao divórcio? E as evidentes vantagens, para a saúde psicológica e física dos cônjuges e dos filhos, do matrimônio indissolúvel? Triste situação de quantos,_ adoradores da moda, esvoaçam sem rumo pela vida, como folhas secas ao vento. Infelizes os que abandonaram o porto seguro de todas as certezas que é o rochedo inabalável da doutrina tradicional da Igreja, nossa Mãe e Mestra infalível. AnNÓIJIO GLAVAM
NOTA • Bryce
J. Chrisu:nN<'n , /tm Mm taJ HeaJth Divorce Is Goi111( 0,11 11/ l•'tuhlo11, in "The Plain D ·a ler", ~O I (EUA).
oi,
Cl!'vclnnd , Ohio
Expoente da "teologia da libertação'' confessa o fracasso das comunidades eclesiais de base O teólogo belga, Pe. Joseph Comblin, revela: "As CEBs estão marginalizadas fustigadas, fulminadas em todas as parles. Hoje, elas constituem minorias se,;, projeção no conjunto das igrejas locais. Aqui, todo mundo odeia o PT".
S
erra Redonda é um lugarejo no agreste sertão da Paraíba, a 90 km de João Pessoa. Em 1981, sob os auspícios de D. José Maria Pires, Arcebispo dessa capital, e financiado por agências católicas internacionais, lá se instalou o Centro de Formação Missionária (CFM), encarregado de formar "líderes rurais" para as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de todo o Nordeste. Excetuada a antena parabólica, que capta sinais de TV via satélite, à primeira vista nada chama a atenção no CFM, um aglomerado de edifícios espalhados, sem muita ordem, por um terreno árido e acidentado. Na casa principal, o parco mobiliário é rústico e de mau gosto. Alguns motivos indígenas enfeitam a sala de visitas. Um ar de melancolia domina o ambiente, não obstante o dardejar inclemente do sol nordestino . A certa distância da entrada desse conjunto de edifícios, seguindo uma trilha no meio da campina, encontra-se um barracão de alvenaria, que bem poderia servir de garagem para dois automóveis. Rodeado por estantes de livros empoeiradas, ali mora, desde 1983, o teólogo belga Pe. Joseph Comblin, 69 anos, um dos mentores intelectuais da "Teologia da Libertação" na América Latina. Em 1968, o Pe. Comblin, então professor no Instituto Teológico do Recife, tomou-se tristemente cé lebre no Brasil, quando um documento de sua lavra, não destinado à publicidade, caiu nas mãos da grande imprensa brasileira. Até hoje não se sabe de que modo isso se deu. Porém, uma vez conhecido, estarreceu a opinião pública . Tratava-se de estudo reservado, que deveria servir de subsídio à Conferência do Ceiam, realizada em Medellin naquele mesmo ano. Em linguagem clara
e sem rodeios, o Pe. Comblin preconizava, como meios válidos para derrubar as estruturas sociais vigentes, a revolução na Igreja, a subversão de todos os poderes constituídos no País: a derrubada do Governo, a dissolução das Forças Armadas, a instituição de uma ditadura socialista férrea, esteada em tribunais de exceção, e aparelhada para reduzir ao silêncio - pelo terror - os descontentes 1 . Um quarto de século após aquele evento, a Agência Boa Imprensa (ABIM) foi entrevistar, com exclusividade para CATOLICISMO, esse propugnador de uma revolução marxista radical. Encontrou-o cético em relação ao trabalho das CEBs e desiludido com os atuais rumos da Igreja, embora continue aferrado aos velhos chavões marxistas, sobreviventes na "Teologia da Libertação".
***
P e. foseph Comblin JANEIRO 1993
9
ABIM: Na década de 80, falava-se muito das CEBs. Hoje quase já não se fala delas. O que houve? Diminuiu a sua influência? ,Pe. CO:MBLIN: As massas populares dos anos 80 se orientaram para a ilusão da democracia, mas as suas reivindicações sociais e econômicas se enfraqueceram e continuam se enfraquecendo, porque o peso das massas populares está diminuindo em todos os países da América Latina, inclusive no Brasil. As CEBs também sofreram o impacto deste enfraquecimento geral 2 • A desindustrialização arrefeceu muito a força da classe operária, que cedeu lugar ao setor de economia informal. Neste mundo da economia informal, em que cada um se arranja por si, as CEBs se enfraqueceram, pois foram elaboradas para atuar junto às massas ope{árias. ABIM: Mas os desempregados que ingressaram na economia informal não seriam mais sensíveis às reinvidicações sociais,justamente porque estão desempregados? Isso não aumentaria o campo de atividade das CEDs? Pe. COMBLIN: Não! Estes desempregados se identificam como Collorde Mello! Eles têm outra perspectiva da sociedade. Para eles, o clientelismo é a solução. Não é a reinvindicação. Quer dizer, o trabalhador, uma vez sindicalizado e trabalhando numa fábrica, identifica-se com o Partido dos Trabalhadores (P1). Este mesmo operário, uma vez desempregado, vira do Collor. O paulista então se transforma em malufista ... Hoje, a imensa maioria da população é clientela do malufismo! E é claro que este não é o' pessoal que as CEBs visam atingir.
Pe. COMBLIN: Infalibilidade! para criar o novo, coisas que podem Esta palavra não é muito feliz [sic!J. ser de pouca impor- Mas que seja algo de última instância, tância a curto prazo, último recurso, levando-se em conta, mas que poderão por exemplo, uma Câmara de Deputatrazer elementos dos: quando há empate, o Presidente então desempata. A infalibilidade é um novos para tempos desempate final... novos. ABIM: E Pio IX proclamando No mundo rural, tem-se mais li- sozinho o dogma da Imaculada Conberdade de buscar e ceição? Pe. COMBLIN: Pois é ... Isso é um experimentar como será . o futuro. Se ato de autoritarismo! Tem-se de cofosse na cidade, os nhecer primeiro o que o povo deseja. vigários se senti- Se não há unanimidade, deve-se esperar Pe. Comblin (esq.) e Raymundo Nonato, riam feridos nos que ela se forme. A história não tem coordenador do Centro de Formaçiio Missionária (CFM) seus direitos, pois pressa! Atualmente, todo governo é pluABIM: Há na Igreja oposição doural. Uma pessoa só para tomar as decialguém viria mexer no feudo deles. binária à atuação das CEBs? Porque o sistema clerical da Igreja sões nunca dá certo. Pe. COMBLIN: No campo doutriABIM: Quais as experiências em Católica é um sistema medieval, que nário não existe oposição. O problema é persevera pela rotina de um atavismo, gestação no Centro de Formação Misque as CEBs são re-absorvidas dentro mas não tem futuro. Forma uma classe sionária? do sistema paroquial. Com o tempo, se que dispõe de todos os poderes, uma Pe. COMBLIN: Temos várias. Esta transformam em sucursais das paró- classe privilegiada, um verdadeiro siste- casa forma missionários leigos, que se quias, tomam-se inofensivas e perdem ma feudal. Isso não pode ter futuro. dedicamà organização de Comunidades sua identidade. Vira reunião de velhiOnde compensar isso? Onde gerar o Eclesiais de Base. Aqui, eles têm dois nhas, que não leva a nada. futuro? Só num lugar onde este sistema anos de formação básica. Depois, em No plano original, as CEBs foram feudo-clerical é tão fraco ou quase ine- grupos de quatro, passam a conviver nas concebidas para ser um fermento, um. xistente! comunidades rurais para adquirir os fator de transformação social e econôcostumes, os modos de ser e de pensar ABIM: Como seria uma Igreja mica. Se elas se contentam apenas em "não-feudal"? do povo. Do contrário, provoca rejeição. fazer o trabalho paroquial - a catequePe. COMBLIN: As comunidades se das crianças, a preparação para a pri- deviam ter participação na escolha de Trata-se de mostrar que se é inofenmeira comunhão, para o Batismo etc seus dirigentes. Atualmente tudo é de sivo, que não se vem para destruir nem elas perdema força. Este tipo de trabalho cima para baixo. ~ - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - , não cria nenhum problema, não leva a Por que o povo não nada. Para isso não precisa haver CEBs, pode participar da que é a expressão socializada e politizada escolha dos Pároda Igreja. cos, dos Bispos e do Mesmo nas dioceses mais compro- Papa? Por que o metidas, se verifica hoje um menor in- Papa tem de ser teresse pelo social. Roma não está preo- escolhido apenas cupada com estas coisas, mas sim com por alguns Caros problemas de disciplina interna, coi- deais? sas de terceira ou quarta categoria. Se há um Bispo Ao lado das reivindicações sociais, que não convém, as questões ligadas à ortodoxia e ao que se faça um procatecismo são bem secundárias. Como cesso de impeachresultado disso, as CEBs estão margi- mentpara tirá-lo do nali:mdas, fustigadas, fulminadas em cargo! Por exemCasa principal do Centro de Formaçiio Missionária todas as partes. Hoje, elas constituem plo, lá no Recife: roubar. Se logo utilizarmos nosso vocaminorias sem projeção no conjunto por que não abrir um processo de imbulário, que o povo não entende, cria-se peachment contra D. José Cardoso Sodas igrejas locais. resistências e se afasta o povo. Este foi brinho, que de tal maneira se mostrou ABIM: Por que o senhor mora em o erro do PT. Aqui, todo mundo odeia o Serra Redonda, quando poderia ser incapaz de governar a igreja local? PT por isso. As massas populares têm Seria, portanto, a democratb:ação professor na Europa? medo do PT. Dizem: " sscs do PT são Pe. COMBLIN: Eu poderia ensinar total da Igreja para se eliminar os ladrões! Vêm para roubar a terra dos estigmas feudais que na sociedade cinum seminário tradicional, mas não donos!" Justamente por falta de incultuvejo muita saída por aí, porque lá só se vil já foram elimimados. A soberania, . ração. mesmo dentro da Igreja, reside no repetem coisas já sabidas, e não adianta ABIM: Tem luavklo sucesso nesse povo. dedicar meus últimos anos de vida para trabalho? ABIM: E como fica o dogma da repetir as coisas de sempre. Pe. OMHUN: Acm, o sucesso é infalibilidade do Papa? Aqui pelo menos gozo de liberdade
naturalmente pequeno porque somos poucos. Mas nos lugares em que os missionários estão trabalhando se nota que o povo se transforma e se dinamiza. Texto e fotos: Bráulio de Aragão
N. da R: A entrevista acima foi redigida com base em fitas magnéticas, pertencentes à
Agência Boa Imprensa -ABIM, à qual o entrevistado prestou declarações. NOTAS 1. O Documento Comblin deu ensejo a que a
TFP brasileira desencadeasse a campanha a que nos referimos em quadro à parte. Denunciada pela TFP, de modo tão eficiente e com tamanho impacto, essa ameaça clérico-marxis ta que pesava sobre a Nação, a corrente progressista radical teve que encolher as garras . O Pe. Comblin.
após a campanha promovida pela TFP, não encontrando clima para prosseguir seu trabalho no Instituto Teológico do Recife, passou vários anos no Exterior. 2. O Pe. Comblin, ao explicar as razões do declínio das CEBs em nossa Pátria, omite uma que se reveste de grande importância. Trata-se da pujante campanha, de âmbito nacional, promovida·.pela TFP, que difundiu a obra "As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - a TFP as descreve como são" (ver quadro).
Mensagem da TFP a Paulo VI No dia 21 de junho de 1968, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, na qualidade de Presidente do Conselho Nacional da TFP, dirigiu carta pública ao então Arcebispo de Olinda e Recife, D. Helder Câmara, pedindo medidas enérgicas contra as atividades subversivas do Pe. Joseph Comblin, na época professor do Instituto Teológico daquela Arquidiocese. A referida carta foi publicada em 16 jornais e distribuída à população de 25 cidades, de Fortaleza a Porto Alegre, causando forte impacto na opinião nacional. Até então, o público brasileiro desconhecia a profundidade da infiltração comunista nos meios eclesiásticos. O Documento Comblin deu ensejo a que a TFP brasileira desencadeasse, a partir de 17 de julho de 1968, uma campanha de coleta de assinaturas para uma Mensagem a Paulo VI, pedindo respeitosamente medidas eficazes contra tal infiltração. Em
58 dias de campanha, 1.600.368 brasileiros de 229 cidades de 21 Unidades da Federação haviam assinado as listas apresentadas pelaTFP. ' O abaixo-assinado da TFP teve repercussão internacional. A conhecida revista norteamericana "lime" comentou na ocasião: "A facilidade com que a TFP coletou as assinaturas reflete o fato de que a maioria dos latino-americanos aprova ou pelo menos tolera o conservadorismo católico" rrime", 23-8-68). As TFPs coirmãs da Argentina, do Chile e do Uruguai promoveram abaixo-assinados semelhantes ao da TFP brasileira. Depois de meticulosa recontagem, o impressionante total de 2.025.201 assinaturas colhidas nas quatro nações pôde ser entregue, em microfilmes, ao Vaticano, no dia 7 de novembro de 1969. Causando grande perplexidade aos signatários da Mensagem, Paulo VI não respondeu.
Contra o V poder emergente, a denúncia da TFP As CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) são pequenos grupos de caráter religioso geralmente engajados no empreendimento de "reformar a Igreja e o Br~l"..Constituem elas uma "cruzada política" uma cruzada sem Cruz- que lança uma minoria fanática de prosélitos em agitações de rua, em invasões de propriedades rurais e urbanas. Seu objetivo é a luta de dac,ses e a instauração do "modelo cubano" em nosso país, através de uma revolução comunista. No início dos anos 80, a mídia vinha apontando as CEBs como a grande potência emergente no campo eleitoral brasileiro, a qual iria levar de roldão as eleições de novembro de 1982. Por isso, dizia-se que, ao lado dos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário) e do chamado IV poder (a mídia), surgira um V poder paralelo que visava instrumentalizar o Estado brasileiro: as CEBs! Contra este novo Leviatá encastelado no seio da Igreja, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, e os irmãos Gustavo e Luiz Solimeo
escreveram a obra As Cebs... das quais muito se fala, pouco se conhece - a TFP as descreve como são (Editora Vera Cruz, São Paulo, 6 edições, 72 mil exemplares). A divulgação do livro começou em agosto de 1982, e rapidamente se estendeu em diversas capitais e 1.510 cidades de todos os Estados da Federação. Desde então, as CEBs, vulneradas a fundo; nunca mais se restabeleceram do impacto esclarecedor causado na opinião pública pela campanha da TFP. Neste sentido, vem a propósito aduzir pronunciamento insuspeito do próprio sacerdote belga, Pe. Joseph Comblin, por ocasião do Congresso "Fé e Secularismo", realizado no verão do corrente ano no palácio do Escorial, em Madri: •~ntre 1972 e 1982 as CEBs estavam no seu auge, mas a partir deste último ano começou o seu declínio, que se consumou em 198S'!
A estrutura monárguica da Igreja A Igreja Católica foi fundada diretamente pelo Divino Salva_,ot stade" jfe. Ludovico Lercher, S. J., lnstitutiones Tbeologiae · . .6iD maticae Herder, Barcelona, 1945, t. l, p. 163). Tudo aquilo que nela foi instituído por Ele, sendo.de origem · A Igreja, portanto, não pode deixar de ter uma forma monárdivina, não pode ser modificado pelos homens. E esses E!lemen- quica, e o Papa deverá ser seu chefe supremo. As correntes tos não sofrem a variação do tempo nem podem se m?dificar f ig\J~lit~ ias pr~estantes, e mais tarde a dos modernistas (herecom as transformações sociais, culturais ou políticas d~ soéieges condenados por São Pio X, no começo deste século) quisedade civil. ram aoolir essa monarquia papal, contrariando assim, de forma "Cristo quis que a Igreja, que é unida pela caridade, em sinal e expressa, os desígnios de Nosso Senhor, O qual disse a São como penhor dessa unidade, fosse uma monarquia e designou a Pedro:• Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha lgrejéi' São Pedro (e seus sucessores) como detentor dessa suprema (Mt. 16, 18). dor.
CATOLICISMO
JANEIRO 1993
10
11
TFP entrega abaixo-assinado no Planalto e oficios aos Presidentes das Casas Legislativas
-
aderno Especial Nº 18
U
ma: comissão de 20 sócios e cooperadores da TFP, tanto da capital federal quanto de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e do Ceará, entregou, no dia 1° de dezembro último, no gabinete militar da presidência da República, ofício assinado pelo diretor da entidade, Dr. Plínio Vidigal Xavier da Silveira, que chefiava a delegação, dirigido ao presidente Itamar Franco. Esse documento comunicava ao Chefe do Executivo federal o êxito alcançado pelo abaixo-assinado promovido pela entidade em 15 Unidades da Federação. A campanha, iniciada a 11 de agosto passado, obtivera em 30 dias o expressivo total de 1.133.932 assinaturas, em apoio à mensagem dirigida a autoridades federais, contrárias aos projetos de Reforma Agrária (11 D/91 e 71 B/89) e de Reforma Urbana, (5.788/90), ora tramitando no Congresso Nacional. O oficio esclarecia também que a referida mensagem solicitava ainda a convocação de um plebiscito para que a população se pronuncie sobre a importante questão. A mesma comissão, que antes havia
A comissoo da TFP com os dois funcionários do arquivo do palácio do Planalto, que receberam as 40 caixas (Ver outras fotos na contra-capa) sido fotografada diante do palácio do Planalto e do edificio do Congresso, dirigiu-se, eni seguida, ao protocolo do palácio presidencial, a fim de efetuar a entrega de 40 caixas, contendo 117.973 folhas de abaixo-assinado com o aludido número de assinaturas. No Congresso nacional
A comissão da TFP rumou então para o edificio do Congresso, permanecendo durante duas horas nos gabinetes da presidência das duas Casas legislativas, bem como no saguão que dá acesso aos plenários das mesmas. Nessa ocasião, os membros da delegação, que envergavam suas características capas rubras marcadas pelo leão dourado, foram cumprimenta dos por muitos parlamentares e assessores. Na Câmara Federal, foi encaminhado a seu presidente, Dr. Ibsen Pinheiro, ofício da TFP, no qual secomunicava o resultado alcançado pelo abaixo-assinado, No Senado Federal, o chefe do protocolo do presidente dessa bem como a entreCasa legislativa assina o recibo de entrega do oficio da TFP ga das listas do CATOLICISMO
12
mesmo no palácio do Planalto. A comissão da TFP foi recebida a seguir pelo presidente do Senado, Dr. Mauro Benevides, a qual lhe entregou ofício de teor idêntico àquele encaminhado ao presidente da Câmara. O presidente da Câmara Alta agradeceu a apresentação do ofício, declarando, na ocasião, que comunicaria o fato ao plenário, na primeira sessão ordinária que se seguisse ao ato. O chefe do cerimonial do presidente do Senado, Dr. Marcos Parente, assinou o protocolo de recebimento do oficio. Na Ermida Dom Bosco
Finalmente, no final do mesmo dia, a comitiva de sócios e cooperadores da TFP deslocou-se para a ·ermida Dom Bosco, situada em Brasília, para rezar pelo bem da civilização cristã no Brasil e para que nossa Pátria seja preservada das reformas socialistas e confiscatórias, que serão implantadas, caso os aludidos projetos sejam aprovados. Para transportar as 40 caixas comas listas de assinaturas, a comissão da TFP viajou de São Paulo a Brasília, em ônibus especial, que ostentava cm ambos os lados, à frente e atrás, faixas com dizeres, dentre os quais destacava-se o seguinte: "A TFP leva ao presidente Itamar 1.133.932 assinaturas contra as Reformas Agrária e Urbana!"
A Virp eo Menino - Oaus de Werve, Mqseu Metropol itano deAr1e, NewYork:
jfesta be Jlaría ~antíssíma,
;fflãe be 1!\eu~
1
Jfesus encontra-se com os três prímeíros bíscípulos (São João, 1, 35-42)
No outro dia,João (Batista) lá estava novamente com dois de seus discípulos, e vendo Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus. E, ouvindo as suas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. E Jesus, voltando-se para trás, e vendo que o seguiam, disse-lhes: Que buscais vós? E el~s disseram: Rabi (que quer dizer Mestre), onde habitas? Gesus) disse-lhes: Vinde e vede. Foram e viram onde habitava, e fica-
ram lá aquele dia. Era então quase a hora décima. Ora, André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido o que João (Batista) dissera, e que tinham seguido Jesus. Este encontrou primeiro seu irmão 'Simão, e disse-lhe: Encontramos o Messias (que quer dizer o Cristo). E levou-o aJesus. E Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro.
~omentáríos compílabos por ~anto momás be ~quíno na "~atena ~urea" Alcuíno: Aqueles discípulos (André e João) seguiamJesus para vê-Lo,e não puderam ver o rosto do Senhor. Por essa razão esus) voltou-se para eles, e, como que descendo de sua majestade, permitiu que os discípulos pudessem contemplar sua sagrada figura. E eles, não desejando se beneficiar do ensinamento (do Mestre) de modo transitório, perguntam-Lhe onde Este habita, para, de futuro, poder ouvir reservadamente suas palavras, poder visitá-Lo muitas vezes e instruir-se muito melhor. Num sentido espiritual, querem saber onde moraJesus Cristo, a fim de que, com o exemplo de suas virtudes, possam apresentar-se dignos para que Ele habite em suas almas. Tendo observado Jesus que os dois discípulos Lhe perguntam de boa maneira, pa-
a
tenteia-lhes livremente seus desígnios. Por isso, segue-se: "E disse-lhes: Vinde e vede". Como que afirmando: não posso explicar minha morada com palavras, mas vos ensinarei com obras: vir, pois, crendo e agindo; e ver, entendendo. Orígenes: E quando Jesus lhes diz vinde, convida-os a agir; e quando lhes diz vede, convida-os à contemplação. São João Crisóstomo: Jesus Cristo não apresenta aos discípulos indícios de sua habitação, nem lhes designa qualquer lugar, mas unicamente os atrai para que O sigam, manifestando-lhes que já os aceitou; não lhes responde: agora não é ocasião; amanhã tereis notícia, se algo quereis aprender; porém, trata-os como amigos familiares, como se tivessem vivido com Ele longo tempo.
~omentáríos bo ~e. JLuís ~láubío jfíllíon Vendo Goão Batista) outra vez Jesus passar pelo lugar onde estava, disse, sem comentário, a dois discípulos seus que se encontravam junto dele: Vede o Cordeiro de Deus. O efeito que produziram essas palavras foi admirável, chegando elas a ser no quarto Evangelho (o de São João Evangelista) o tema de um relato dramático, que nos faz assistir aos primórdios da Igreja de Cristo. Um dos discípulos era André, irmão de Simão Pedro; o outro, João, o futuro evangelista, que logo se tornará o predileto do Senhor (1). Compreenderam ambos que, mostrando-lhes seu mestre [São João Batista] com tal insistência o Cordeiro de Deus, os ·induzia ajuntar-se a Ele. Começaram, pois, a seguir tímida e acanhadamente aJ esus. E, voltando-se o Senhor, lhes disse com doçura:
"Que buscais?" E responderam-Lhe: "Mestre, onde habitas?" Expressavam assim, com discrição, o desejo que sentiam de conversar com Ele. "Vinde e vede", disse-lhes. Foram, pois, com Ele ao local onde havia estabelecido sua residência provisória (2) e permaneceram ali desde a hora décima, isto é, quatro da tarde, até a noite. Logo que André voltou dessa conversa, foi procurar seu irmão, e ao encontrá-lo, disse-lhe com tom de satisfação: "Encontramos o Messias". Depois, guiou-o atéJ esus. O Salvador, lançando um olhar penetrante sobre o novo discípulo, disse-lhe: "Tu és Simão, filho de João, tu te chamarás Cefas". No dialeto aramaico, que falavaJesus, este vocábulo significa pedra. Era um jogo de palavras, no estilo oriental, para anunciar
1 ~ chegana · a ser um d'1a o run d aque· s·1mao mento indestrutível sobre o qual seria edificada a Igreja do Messias.
N. daR.
I. Este trecho do Evangelho de São João parece entrar em contradição com a narração dos outros evangelistas que apresentam o encontro de Jesus com os primeiros discípulos mais tarde, quando o Redentor os encontrou pescando no mar da Galiléia e os chamou para o apostolado. Entretanto, como explica Santo Agostinho, essa
convocação definitiva de Nosso Senhor não exclui o fato de os dois discípulos mencionados e Simão Pedro terem conhecido anteriormente o Messias na região do Jordão, ouvido e admirado seus ensinamentos, voltando depois a suas fainas diárias. 2. Alguns comentadores julgam que a referida habitação · provisória era uma gruta, que servia de asilo ao Redentor durante alguns dias, numa região situada à margem esquerda do rio Jordão. (Nuestro Senor Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, p. 100).
jfesta be ftlaría ~antíssíma, ftlãe be 11\eus (1° de janeiro) A invocação de Nossa Senhora, Mãe de Deus, remonta aos primeiros tempos do Cristianismo, tendo se difundido especialmente por ocasião do aparecimento da heresia de N estório, Patriarca de Constantinopla, o qual negava·a maternidade divina de Maria Santíssima. O Concílio de Éfeso (antiga cidade da atual Turquia), em 431, condenou tal heresia, incentivando e difundindo aquela invocação mariana. No Brasil, tornou-se famoso o Santuário da Mãe de Deus, edificado em 1679 na ilha de Cururupeva, no Recôncavo baiano, pelo Pe. Manuel Rodrigues. Ele visava dedicar, em terras brasileiras, à Rainha celeste, com a mencionada invocação, um santuário semelhante ao que existia em Lisboa, construído sob os auspícios da rainha Dona Leonor, espos;;t de DomJoão II (1481-1495). Já desde o século XVII, o povo da região do Recôncavo e o santuário da mencionada ilha comemoram a Mãe de Deus em festividade realizada no dia 1° de janeiro, a oitava de Natal, ocasião em que grande número de romeiros costumam acorrer àquele local para reverenciar a Virgem Santíssima. Nossa Senhora, Mãe de Deus, é também padroeira das Catedrais de Porto Alegre (RS), Montes Claros (MG ), Parnaíba (PI) e Paranavaí (PR).
*** O título Teowkos (Mãe de Deus, em grego) de tal maneira havia penetrado no espírito e no coração dos fiéis, que se armou um escândalo, enorme no dia em que, ante Nestório, Bispo de Constantinopla, um sacerdote, porta-voz seu, teve a ousadia de pretender que Maria não era Mãe senão de um homem, porque era impossível que um Deus nascesse de uma mulher. Ocupava então a sede de Alexandria um bispo, São Cirilo, suscitado por Deus para defender a honra da Mãe de seu Filho. Prontamente tornou pública sua estranheza: "Es-
tou admirado de que haja homens que ponham em
dúvida poder chamar-se Má.e de Deus à Santíssima Virgem . Se Nosso Senhor é Deus, corrw poderá ser que Maria, a qual, O deu ao mundo, nã.o seja Mãe de Deus? Esta é a fé que nos transmitiram os discípulos, embora eles nã.o utilizassem semelhante expressá.o; é também a doutrina que nos ensi,naram os Santos Padres".
*** Nestório não admitiu qualquer retificação de suas idéias. O Imperador convocou então um Çoncílio, que inaugurou suas sessões em Efeso, em 22 de junho de 431; presidiu-o São Cirilo, como Legado do Papa Celestino. Congregaram-se 200 Bispos: proclamaram que "a pessoa de Cristo é una e divina
e que a Sant{ssi,ma Virgem tem que ser reconhecida e venerada por todos como realmente Mãe de Deus". E os Padres do Concílio, segundo narra a Tradição, para perpétua memória, acrescentaram à Ave Maria esta cláusula:
"Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por n6s, pecaaores, agora e na hora de nossa morte". Oração que, desde então, recitam todos os dias milhões de almas para reconhecer em Maria a glória de Mãe de Deus, que um herege quis lhe arrebatar.
*** Em 1931, ao comemorar-se o décimo quinto centenário desse Concílio,julgou Pio XI que seria "útil e graJ,o aos fiéis meditar e refletir sobre um dogma tá.o importante" como o da maternidade divina. Para que permanecesse um perpétuo testemunho de sua devoção mariana, escreveu aquele Pontífice a Encíclica Lux Veritatis, restaurou a Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e, ademais, instituiu uma festa litúrgica que "con-
tribuiria para o aumento da devoção à Soberana Mãe de Deus entre o clero e os fiéis, e que apresentaria a Santissi,ma Virgem e a Sagrada Família de Nazaré como um model,o para as famílias". (Dom Prosper G uéranger, El Ano Liturgico, tomo V, El Tiempo después de Pentec;ostés, segunda parte, Editorial Aldecoa, Burgos, 1954, excertos das pp. 589-591 ).
História Sagrada
em seu lar
noções básicas
OS SACRIFÍCIOS ENTRE OS HEBREUS Deus revelou a Moisés os Dez Mandamentos no Monte Sinai, em meio a trovões, relâmpagos, fogo e o som de uma trombeta que atroava muito forte. Moisés promove um sacrifício "Moisés pôs por escrito todas as palavras de Jeová [Deus], e levantando-se bem cedo erigiu umaltar ao pé da montanha, com doze colunas, segundo as doze tribos de Israel. Ao mesmo tempo enviou jovens - crê-se que eram os primogênitos - e estes ofereceram holocaustos, bem como vítimas pacíficas. Moisés tomou a metade do sangue destas vítimas, colocou-as em taças, e aspergiu a outra metade sobre o altar. "Em seguida, tomando o livro da aliança, leu-o diante de todo o povo, o qual disse: Tudo o que disse o Eterno, nós o faremos e Lhe obedeceremos. Então, tomando o sangue que estava nas taças, Moisés o derramou sobre o povo, e disse: Eis o sangue da aliança que o Eterno fez convosco" 1 • A respeito dos sacrifícios, no Antigo Testamento, vejamos: Sacrifícios cruentos - Entre os hebreus havia "os sacrifícios sangrentos e os sacrifícios não sangrentos. Os primeiros consistiam na imolação de animais que só podiam ser o cordeiro, a cabra, o boi e a pomba. "A vítima era conduzida diante do altar; punha-se a mão sobre ela como que para dela tomar posse em nome de Deus. Depois era morta e queimada total ou parcialmente no altar, conforme a qualidade do sacrifício oferecido.
"Distinguiam-se, de fato, entre os ficando somente a Missa, misteriosasacrifícios sangrentos: o holocausto, o mente anunciada na oblação de pura sacrifício pacífico e o sacrifício expiafarinha e de vinho, que acompanhava tório. todos os sacrifícios cruentos" 2 • "O holocausto era assim chamado Comentários - "Desde o nascer porque então se queimava inteiramendo sol até o poente, o meu nome é te a vítima. Seu fim era reconhecer o grande entre as nações, e em todo o soberano domínio de Deus, e confeslugar se sacrifica e se oferece ao meu sar que diante dEle a criatura nada é. nome uma oblação pura, porque o meu "O sacrifício pacífico se oferecia nome é grande entre as nações, diz o em ação de graças por um benefício Senhor dos exércitos" (MI. 1, 11). alcançado e chamava-se eucarístico; "O Altíssimo não aprova os dons ou para pedir uma graça, era então dos iníquos, nem olha para as oblações impetra tório. Queimava-se parte da vídos maus; nem pela multidão dos seus tima, reservando-se outra para os sa- sacrifícios lhes perdoará os seus pecacerdotes, e uma terceira para aqueles dos" (E.elo. 34, 23). que mandavam oferecer o sacrifício. "Deus é um só, e não há outro fora "O sacrifício de expiação era ofedEle; ~ o amá-Lo com todo o coração, recido para implorar o perdão do pecae com todo o entendimento, e com toda do quer em nome do povo, quer em a alma, e com todas as forças, e amar nome dos indivíduos. Queimava-se o próximo como a si mesmo, vale mais parte da vítima, tocando o resto aos do que todos os holocaustos e sacrifísacerdotes somente. cios" (Me. 12, 33). Sacrifícios incruentos - "Consistiamemofertas de perfumes, flor de Notas farinha com óleo, bolos, pães não le1. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de vedados, e também libações de vinho. L'Eglise Catlwlique, Gaume Freres, Paris, Significação simbólica - "Estes 1842, tomo I, p. 432. vários sacrifícios diziam muito bem qual 2. Mons. Cauly, Curso de Instrução Religiosa - História da Religião e da Igreja, Livraria a nossa situação, quais os nossos deveres Francisco Alves, São Paulo, 1913, pp. 73 em relação a Deus: criaturas, devemose 74 . Lhe a homenagem da adoração; cumulados de benefícios, precisa mos exprimir nossa gratidão; sempre em apuros, temos de implorar auxílio; finalmente, pecadores, cumpre pedirmos perdão. "Um dia, achar-se-ão estes quatro fins do sacrifício reunidos na imolação de Jesus Cristo no Calvário. Será o único sacrifício apto a saldar todas as dívidas, e a Missa será .sua renovação [incruenta] e continuação através dos séculos. "Os antigos sacrifícios todos não passavam de sombras e figuras . Só tinham eficácia e virtude Todos os sacrifícios da Antiga Lei desapareceram por sua significação simapós a morte do Divino Redentor na cruz, para bólica. É por isso que hão dar lugar ao único Sacrifício do Novo de desaparecer todos deTestamento: a Santa Missa pois do sacrifício da Cruz,
HISTÓRIA
11
"111! '
"' -
~
•
l.
Bicentenário da morte de Luiz XVI, Rei de França PARIS-Nodia21 do corrente, às 10:22 hs, comemora-se um dos maiores crimes político-religiosos perpetrados na História: precisamente nessa data e nesse horário foi guilhotinado, há 200 anos, na praça da Revolução (anteriormente Praça Luiz XV, e que atualmente leva o nome inadequado de Praça da Concórdia), em Paris, o Rei Cristianíssimo, Luiz XVI. Foi constituída uma associação para organizar as comemorações do bicentenário do regicídio: o Comitê Nacional para a Comemoração Solene da Morte de Luiz XVI. O primeiro dos eventos teve lugar no último dia 10 de agosto, em Luiz XVI, Rei, de França honra dos guardas suíqualificado como mártir pelo Papa Pio VI çosmortos hádoisséculos, em defesa do palácio das To- ra das festividades está convidando lherias, onde vivia o Rei. A cerimô- toda a população a depositar flores naquele local. Tal convite não se resnia realizou-se nas catacumbas de tringe à data da execução, mas se esParis, nas quais se encontram os tende até o domingo seguinte, dia 24. restos mortais desses mártires da realeza francesa. O diário parisiense "Le Figaro" Nos dias 8 e 9 do corrente, efetua-se lançou uma campanha, convidanuma série de 17 conferências, no Sena- do o povo a levar igualmente flores do e na biblioteca da Ordem dos Advo- ao mesmo lugar, no próximo dia 16 gados de França, sobre problemas jurí- de outubro, em memória da execudicos levantados pelos processos movi- ção da Rainha Maria Antonieta, dos contra Luiz XVI e outras vítimas da guilhotinada nesse dia, em 1793, Revolução Francesa. mesmo ano em que foi morto Luiz XVI. Para o dia 20 de janeiro, está programada uma iluminação da *** "Catolicismo", que publicou no Praça da Concórdia, com 10 mil decurso de 1989 uma série de artigos velas. No dia 21, data da execução, o lu- sobre o bicentenário da Revolução gar exato onde estava localizada a gui- Francesa, não poderia deixar lhotina deverá ser abundantemente transcorrer sem um registro o biDorido, pois a associação organizado- centenário da execução de Luiz JANEIRO 1993
17
XVI. Ela constitui um marco importante da Revolução Francesa, essa segunda grande etapa do multissecular processo revolucionário, analisado magistralmente no renomado ensaio do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução" 1 •
***
Votando a morte de Luiz XVI, a odiosa "Convenção" -assembléia da Revolução Francesa que proclamou a República - visava eliminar o homemsímbolo de uma instituição milenar como era a monarquia da França, nação escolhida por Deus para ser a primogênita da Cristandade. Monarquia cujas raízes profundas remontam a Clóvis, sagrado Rei por São Remígio no século V, numa cerimônia que teve aspectos miraculosos. Pareceu-nos que uma adequada homenagem a ser prestada à memória de Luiz XVI, por "Catolicismo", em comemoração a sua morte 2, seria transcrever os excertos mais importantes de emocionante documento histórico. Nele são narrados com autenticidade os fatos que antecederam de imediato a execução do soberano francês. O relato, de autoria do Pe. Edgeworth de Firmont, último confessor de Luiz XVI, revela a alma do Rei, naquele momento extremo, como a de um verdadeiro católico, que soube enfrentar a morte com fortaleza e resignação, bem como as insolências revolucionárias com nobre altivez.
esquivarem. "Onde encontrar um padre àquela hora", disseram-me. "E se o encontrássemos, como fazer para arranjar os paramentos?" - "O padre já está encontrado, repliquei-lhes, pois eis-me aqui; e quanto aos paramentos, a igreja mais próxima os fornecerá; basta enviar alguém para buscá-los. Quanto ao mais, meu pedido é justo, e seria ir contra os seus princípios recusá-lo". Um dos comissários tomou logo a pala.vra, e (embora em termos comedidos) deu claramente a entender que meu pedido bem poderia ser uma cila.da, e que, sob pretexto de dar a comunhão ao rei, eu poderia envenená-lo. "A História, acrescentou ele, nos fornece vários exemplos a esse respeito, que nos obrigam a ser circunspectos". Limitei-me a olhar fixamente este homem e dizer-lhe: "A maneira pela qual fui revistado ao entrar aqui deve ter
palavra disse-me: "Cidadão ministro do culto, o conselho levou em consideração o pedido que o Sr. lhe fez em nome de Luiz Capeto, e ficou resolvido que, sendo conforme às leis que declaram serem os cultos livres, ser-lhe-á concedido. Nós, entretanto, na concessão impomos duas condições: a primeira, que o senhor faça já um requerimento, no qual conste seu pedido e o assine; a segunda, que todo o serviço de seu culto esteja concluído amanhã às 7 horas, no mais tardar, porque, às 8 horas em ponto, Luiz Capeto deve partir para o local de sua execução". Estas últimas palavras me foram ditas, como todo o resto, com um sangue frio que caracterizava uma alma cruel, a qual vislumbrava sem remorso o maior dos crimes. Pus meu pedido por escrito, e deixei-o sobre a escrivaninha. Reconduziram-me imediatamente ao rei, que esperava com uma espécie de preocupação o desfecho do caso: e o relato sumário que lhe fiz, suprimindo todas as circunstâncias, parece lhe ter dado o maior prazer. (N. da R. - No dia seguinte, foi celebrada a Missa, tendo Luiz XVI, nessa ocasião, recebido a santa Comunhão).
Pe. Edgeworth de Firmont Uma idéia vagava há muito tempo em meu espírito, ocupando-o ainda maispossanú:mente a partir do momento em que vi o rei de mais perto: era a de lhe proporcionar, a qual,q_uer preço que fosse, a santa comunhão, da qual ele estava há tanto tempo privado. Eu lhe teria podido trazê-la escondida, como se era obrigado a fazer então para todos os fiéis que não podiam sair de suas casas, mas a inspeção minuciosa pela. qual se tinha de passar ao entrar no Templo e a profanação que seria dela. a infalível conseqüência foram razões mais que suficientes para que disso eu desistisse. Não me restava pois outro recur*** so senão celebrar a MisO dia começava a sa no quarto do rei, se raiar e já em todas as para isso pudesse enconseções de Paris os tamtrar os meios. bores rufavam fazendo Eu lhe fiz a proposta, ouvir toques de ala.rme. mas de início ela pareEsse movimento extraorceu assustá-lo; entretandinário reboava muito to, como ele conhecia claramente na torre, e todo o valor de tal graça confesso que ele me gee a desejava mesmo arlava o sangue nas veias; Último encontro de Luiz XVI com a família real, dentemente, e como toda mas o rei, mais. calmo do em 20 de ianeiro de 1793 sua oposição não provique eu, depois de por um nha senão do temor de que o pedido me provado que não trago veneno comigo: momento ter prestado comprometesse, supliquei-lhe que me se, portanto, o encontrarem amanhã seatenção, disse-me sem emoção: "É prodesse carta branca, prometendo-lhe ria dos senhores que o teria recebido,já vavelmente a Guarda Nacional que coque empregaria na empresa prudência que tudo o que peço passa por suas meça a se reunir". Pouco depois, dese discrição. Ele mo permitiu, enfim: mãos". Ele quis replicar, mas seus cotacamentos de cavalaria entraram no "Ide, disse-me ele; mas temo que nada legas lhe impuseram silêncio, e, por pátio do Templo e ouviu-se cla.ramente conseguireis; pois conheço os homens último subterfú.gio, disseram-me que o a voz dos oficiais e os passos dos cavacom os quais ireis tratar: não concedem conselho não estava completo, e, nessas los. O rei ouviu ainda essa vez e dissesenão o que não podem recusar". condições, não podiam assumir tal resme com o mesmo sangue frio: "Na apaMunido dessa permissão, pedi para ponsabilidade; mas que iam chamar os rência, eles se aproximam" .... ser conduzido à sala do conselho e aí membros ausentes e me comunicariam Finalmente, bateram à porta pela formulei meu pedido em nome do rei. o resultado de sua deliberação. última vez: era Santerre e sua tropa. O Tal proposta, para a qual os comissáUm quarto de hora se passou entre rei abriu sua porta normalmente, e rios da torre não estavam preparados, convocar os membros ausentes e delianunciaram-lhe (eu 'não pude ouvir em desconcertou-os extremamente; eles berar. Ao fim desse tempo, fui introduque termos) que eram preciso ir para a procuraram diversos pretextos para a zido de novo, e o presidente tomando a morte. "Eu estou ocupado, lhes disse
com autoridade; esperem-me al4 eu me confiarei aos senhores". Dizendo essas pala.vras, fechou a porta, e veio lançarse aos meus joelhos. "Tudo está consumado, disse-me ele, senhor, dai-me vossa última bênção, e pedi a Deus que me sustente até o fim". Ele levantou-se logo, e, saindo de seu aposento, adiantou-se em direção à tropa que estava no meio do quarto de dormir. Seus rostos não anunciavam nada mais que a segurança; eles estavam entretanto com os chapéus nas cabeças. O re, percebendo isto, pediu imediatamente o seu. Enquanto C léry, banhado em lágrimas correu para apanhá-lo: "Há entre os senhores algum membro da Comuna? disse o rei Eu o encarrego de entregar este escrito". Era seu testamento, que um dos presentes tomou da mão do rei. "E recomendo também à Comuna C léry, meu criado de quarto, cujos serviços só tenho que elogiar. Far-me-ão o favor de lhe dar meu relógio e todas as minhas roupas, tanto as que aqui estão como as que foram deixadas na Comuna; eu desejo igualmente que, em recompensa da dedicação que demonstrou, o façam passar ao serviço da rainha -de minha mulher''. Ninguém tendo respondido: "Vamos caminhar", disse-lhes o rei num tom firme. A essas palavras, toda a tropa desfilou. O rei atravessou o primeiro pátio (outrora o jardim) a pé, ele voltou-se uma ou duas vezes para a torre, como para dizer adeus a tudo o que tinha de mais caro neste mundo; e, pelo movimento que fez, via-se que ele tomava em mãos toda sua força e sua coragem. Na entrada do segundo pátio, encontrava-se um coche à espera; dois guardas seguravam a porta; à aproximação do re4 um deles entrou primeiro e se colocou na frente; o rei subiu em seguida, e colocou-me a seu lado, no fundo; o outro guarda entrou por último, e fechou a porta. A marcha durou cerca de duas horas. Todas as ruas estavam ladeadas de diversas fileiras de cidadãos armados ora de lanças ora de fuzis. Além disso o próprio carro estava cercado de um imponente corpo de tropas, formado, sem dúvida, do que havia de mais corrompido em Paris. Como auge de precaução, haviam colocado na frente dos cavalos uma multidão de tambores, a fim de abafar por seu barulho os gritos que pudessem ser ouvidos em favor do rei. Mas, como eles se ouviriam? Ninguém aparecia nem às portas, nem às
janela.s, e não se viam nas ruas senão cidadãos armados que, pelo menos por fraqueza, concorriam para um crime que talvez detestassem em seu coração. O coche alcançou assim, no maior silêncio, a praça de Luiz XV, e parou no meio de um grande espaço vazio, que haviam deixado em volta do cadafalso,· esse espaço era cercado de canhões; para além, tanto quanto a vista podia alcançar, ·via-se uma multidão em armas. Logo que o rei sentiu que o carro não prosseguia mais, voltou-se e'disseme ao ouvido: "Chegamos, se não me engano". Meu silêncio lhe respondeu que sim. Um dos carrascos veio imediatamente abrir-lhe a porta; mas o rei os deteve, e apoiando a mão sobre meu joelho: "Senhores, lhes disse ele em tom de autoridade, eu lhes recomendo este senhor que aqui está: tomem cuidado para que depois de minha morte não lhe seja feito nenhum insulto; eu os encarrego de cuidar disso". Esses dois homens nada tendo respondido, o rei quis repetir em tom mais alto; mas um deles lhe cortou a palavra: "Sim, sim, disse-lhe, nós cuidaremos dele; deixe por nossa conta". E devo acrescentar que tais pala.vras foram ditas num tom que me teria feito gela.r o sangue se naquele momento me tivesse sido possível pensar em mim mesmo. Logo que o rei desceu do veículo, três carrascos o cercaram e quiseram tirar-lhe as roupas; mas ele os repeliu com altivez e as tirou ele mesmo. Desabotoou igualmente seu cola.rinho, sua camisa e se arrumou com suas próprias mãos. Os carrascos, aos quais a atitude altiva do rei havia desconcertado por um momento, pareceram então retomar audácia; cercaram-no de novo, e quiseram amarrar suas mãos. "Que pretendem? disse-lhes o rei, retirando suas mãos com energia. -Atar suas mãos, respondeu um dos carrascos. -Atarme, redarguiu o rei, em tom de indignação: não, jamais consentirei nisto! F açam o que lhes mandaram, mas não me atarão. Renunciem a esse projeto". Os carrascos insistiram; levantaram a voz, e pareciam querl!r pedir socorro para fazê-lo à viva força. Esse foi o momento mais terrível na dolorosa manhã: um minuto a mais, e o melhor dos reis receberia, sob os olhos de seus súditos rebeldes, um ultraje mil vezes mais insuportável que a morte, pela. violência que contra ele pareciam querer exercer. Ele mesmo pareceu temê-lo; e voltando-se para mim, o-
CATOLICISMO
JANEIRO 1993
18
19
lhou-me fixamente, como para mepedir conselho. Infelizmente, era-me impossível dar-lhe um; respondi-lhe primeiro por meu silêncio; mas como ele continuasse a me olhar: "Sire, disse-lhe com lágrimas, nesse novo ultraje não vejo senão um último traço de semelhança entre Vossa majestade e o Deus que vai ser sua recompensa". Ao ouvir essas pala.vras, ele levantou os olhos ao Céu com uma expressão de dor, que nunca saberei descrever: "Seguramente, disse-me ele, nada menos do que seu exemplo é necessário para que eu me submeta a semelhante afronta". E voltando-se imediatamente para os carrascos: "Façam o que quiserem, disse-lhes ele, eu beberei o cálice até à borra". Os degraus que conduziam ao cadafalso eram extremamente abruptos para subir. O rei foi obrigado a se apoiar sobre meu braço, e pelo sofrimelito que ele parecia ter, temi um instante que sua coragem começasse a desfalecer. Mas qual não foi meu espanto quando, tendo chegado ao último degrau, eu o vi escapar, por assim dizer, das minhas mãos, atravessar com passo fume toda a largura do cadafalso, impor silêncio, com um só olhar, a quinze ou vinte tambores que estavam colocados em face dele, e com uma voz tão forte que deve ter sido ouvida até a ponte, pronunciar claramente estas palavras para sempre memoráveis: "Mor.ro inocente de todos os crimes que me imputam. Perdôo os autores de minha morte, e peço a Deus que o sangue que _vão derramar não recaia jamais sobre a França". (Librairie de Firmin Didot Freres, Fils e Cie, imprimeurs de L 'Institut de France, Paris, 1856, excertos das pp. 118-126). NELSON RIBEIRO FRAGELLI Nosso Correspondente
NOTAS 1. Nossa revista teve a honra insigne de publicar, em primeira mão, "Revolução e Contra Revolução", em abril de 1959, obra que inspirou a formação de TFPs e entidades afins, coirmãs e autônomas, e "bureaux-TFP" de representação em 22 outros países. Análoga primazia de lançamento no Brasil coube a "Catolicismo", quando o autor, em janeiro de 1976, anexou ao livro uma terceira parte, atualizada na edição especial comemorativa de nosso nº 500, em agosto do ª11º passado. 2. O Papa Pio VI, ajusto título, qualificou a morte de Luiz XVI como martírio, na Alocução ao Consistório, em 17-6-1793.
.
HAGIOGRAFIA
•
.; .. , 'r~r/~t
:~: <~-~Jl :1,_
São Sebastião,
glorioso mártir romano Um santo combativo, com profundas raízes na devoção popular brasileira "Não deixe de mencionar minha cidade", dizia-me um amigo da simpática localidade mineira de São Sebastião e AJmas de Ponte Nova (MG), quando lhe manifestei minha intenção de escrever sobre o santo para a edição de janeiro de Catolicismo. Com efeito, numerosas são as cidades brasileiras que, antes da onda laicista que assolou nossa Pátria, traziam São Sebastião em seu nome. AJgumas delas ostentam ainda esse nome glorioso: lembro-me, de momento, de São Sebastião do Paraíso e São Sebastião da Bela Vista (MG), São Sebastião (AL, PR e SP), São Sebastião da Amoreira (PR), São Sebastião do Passe (BA), São Sebastião do Caí (RS). Outras, contudo, parecem ter-se esquecido de seu patrono. Por exemplo, São Sebastião dos Correntes, atual Sabinópolis (MG), que leva seu nome em homenagem a Sabino Barroso, senador da República Velha. São Sebastião do Tijuco Preto, atual Piraju, no interior do Estado de São Paulo. Para não falar do Rio de Janeiro, a primeira cidade brasileira que levou o nome do santo. E a História registra em que circunstâncias gloriosas! De fato, Estácio de Sá, a mando da Rainha de Portugal, vinha apoiar seu tio, Mem de Sá, na conquista da Baía do Rio de Janeiro. A essa empresa se associaram dois filhos da Companhia de Jesus, luminares de nossa História, os Padres Manoel da Nóbrega e o Bem-aventurado José de Anchieta, Apóstolo do Brasil. Os hereges calvinistas franceses, secundados pelos ferozes índios tamoios, constituíam forte obstáculo para a consecução do empreendimento. E foi recorrendo à intercessão do glorioso mártir romano que, repetidas vezes, de 1565 a 1567,precisamente no dia de sua festa (20 de janeiro), as tropas luso-brasileiras conseguiram brilhantes vitórias militares, até vergar a resistência desses
inimigos temíveis e instalar-se definitivamente, a l2 de março de 1567, na cidade que então passou a chamar-se São Sebastião do Rio de Janeiro. No Brasil-colônia, a devoção ao santo era tão popular quanto a de Santo Antonio, Santa Bárbara e São Jorge. O Diretório Litúrgico da Igreja no Brasil no-lo apresenta como padroeiro principal das cidades do Rio de Janeiro, Bagé (RS), Leopoldina (MG), Pouso AJegre (MG), Presidente Prudente e Ribeirão Preto (SP), Ilhéus (BA), J acarezinho e Paranavaí (PR), Valença (RJ). E padroeiro secundário de Uberaba (MG), Coari (AM), Xingu (RS) e Itapipoca (CE). O ímpio Diocleciano persegue os cristãos
No século III da era cristã, à época em que o governo da Santa Igreja estava em mãos do Papa São Marcelino (296304), governava o Império Romano, Diocleciano (284-305). Pagão inveterado, era ele sem dúvida um homem de grandes dotes de administrador. No ano de 286, concebeu
um plano inteiramente novo para combater os inimigos que o acometiam, associando-se ao seu rude companheiro de armas Maximiano (286-305), designando-lhe a parte ocidental do Império, enquanto ele próprio governava todo o Oriente. Ambos esses regentes - o oriental e o ocidental-passariam a ser tratados pelo título de Augustos. J'i{o ano de 293, Diocleciano empreendeu nova subdivisão do Império, designando dois "Césares" para auxiliar os dois "Augustos" no governo e suceder-lhes no trono, vinte anos depois, em virtude da renúncia automática de ambos. Galério Máximo, militar valente, mas grosseiro, inculto, fanático adorador dos ídolos e acérrimo inimigo dos cristãos, foi indicado por Diocleciano como César oriental. E Constâncio Cloro, pai do futuro imperador Constantino, general benévolo e competente, como César do Ocidente. Sob a influência crescente de Galério, Diocleciano - cuja esposa e filha eram cristãs - reuniu em 303 seu
conselho secreto, tendo decidido aniqüilar o Cristianismo no Império. Em um primeiro edito geral, ordenava para todo o Império a destruição das igrejas e dos livros sagrados; a privação, para os .cristãos, de seus cargos, títulos e dignidades, não lhes reconhecendo qualquer direito diante dos tribunais c_ivis. Editos ulteriores agravavam este: ordem de prisão para todo eclesiástico, desde os Bispos até os clérigos exorcistas; liberdade e favor imperial para todos os cristãos encarcerados que sacrificassem aos deuses, e ordem de supliciar atrozmente, até à morte, os que perseverassem na Fé, sem distinção de classe, sexo ou idade. Nessa perseguição sequer fora poupado o Papa São Marcelino, apesar de sua avançada idade e respeitabilidade. O insigne herói da Fé preferiu o martírio, permanecendo vacante a Sé de Pedro durante três anos. São Sebastião: síntese biográfica
Em meio a tal conjuntura, e antes mesmo do Pontificado de São Marcelino, fora nomeado chefe da Primeira Companhia das Guardas Imperiais, São Sebastião. Tomou-se ele, desde logo, um dos favoritos de Diocleciano. Servindo-se do prestígio de sua posição, bem como de seus bens, assistia e encorajava os cristãos que aguardavam o martírio. E foi tão salutar sua influência em favor do Cristianismo, que o Papa São Caio (283-296) proclamou-o Defensor da Igreja. São Sebastião nasceu em Narbona,
nas Gálias, sendo educado em Milão, terra de sua farm1ia. O desejo de auxiliar seus irmãos nas perseguições levou-o a escolher a· carreira das armas. Sabia que os soldados de Cristo, cobertos pelas armaduras dos soldados de César, podiam introduzir-se facilmente nas prisões para reanimar a coragem dos confessores da Fé. Dotado de singular dom da palavra, de tal maneira inflamava seus ouvintes nas enxovias que chegou mesmo a converter o carcereiro da principal prisão romana, o primeiro escrivão do Tribunal Romano e sua esposa, e até o Governador da capital do Império, Cromácio, com toda sua família. Destes novos convertidos, vários sofreram o martírio e são cultuados como santos pela Igreja. Depois de ter encaminhado para o Céu uma quantidade inumerável de mártires, denunciado por um cristão apóstata, o santo incorre na desgraça de Diocleciano. O Imperador chama-o e o repreende por observar tão mal suas obrigações. O santo responde que, considerando ser uma loucura pedir favores e socorros a pedras (os ídolos), havia adorado sem cessar a Nosso Senhor Jesus Cristo, tanto pela salvação do Príncipe como de todo o Império. O martírio
Descontente, o Imperador entregou-
º aos arqueiros da Mauritânia (África), os quais, por sua ordem, cravaram-no de flechas de todos os lados. Ele foi abandonado como morto no local do suplício. Mas Santa Irene, viúva do mártir São Castulo, e que tinha seus aposentos
no próprio palácio imperial, vindo para enterrá-lo segundo os costumes cristãos, encontrou-o ainda vivo e o .levou para sua casa, onde recobrou pouco a pouco a saúde perfeita. Os cristãos exortaram-no a sair de Roma. Mas, depois de ter invocado a Deus, o herói colocou-se numa escadaria por oncle deveria passar Diocleciano e invectivou-o. Pôs em realce, em termos veementes, toda a injustiça cometida pelos membros mais fanáticos do Senado e do sacerdócio pagão, bem como das demais forças da filosofia neoplatônica hostil ao Cristianismo. Mostrava ele que os cristãos, acusados de serem inimigos do Estado, eram na realidade os que rezavam continuamente pelo bem do Império. Diocleciano ficou surpreso ao vêlo, pois o acreditava morto, conforme suas ordens. O santo explicou-lhe que Jesus Cristo lhe havia devolvido a ;vida para que protestasse diante de todo o povo contra aquela injustiça extrema. O Imperador, em cólera, fêlo conduzir imediatamente ao hipódromo do palácio, para que ali o espancassem até morrer. Temendo que os cristãos o venerassem como mártir, mandou lançar o corpo na Cloaca Máxima (esgoto de Roma), onde ficou pendurado numgancho.Apareceu emsonhoa Santa Lucina, viúva, matrona das mais estimadas na Cidade Eterna, indicando-lhe o local em que estava seu corpo, pedindo que o enterrasse nas catacumbas, à entrada da gruta dos Apóstolos. A vidente executou religiosamente essa ordem, passando trinta dias junto de seu túmulo. Isto se deu no ano de 304. Intercessor contra epidemias
Catacumba de Soo Sebastiáb: parte exterior...
Em atenção ao zelo de São Sebastião pelas almas dos fiéis, que ele tanto desejou preservar do contágio dopaganismo, Deus ]be concedeu tomar-se intercessor do povo cristão contra o flagelo das epidemias. Este poder do mártir foi comprovado em Roma, no ano 680, sob o pontificado de Santo Agatão; em Milão, no ano de 1575; e em Lisboa, no ano de 1599. É neste seu poder que se baseia a escolha do Evangelho para o dia de sua festa e da antífona da Comunhão: "A turba dos doentes e dos que eram vexados de espíritos impuros vinham a Ele, porque dEle saía uma 1:irtude que os curava a todos".
... e o interior do sepulcro de Clodio I-Iermete
CATOLICISMO
JANEIRO 1993
20
21
Sã,o Sebastião - Rafael Sanzi.o, séc. XVI, Academia Carrara, Bergamo (Jt;ólia) Representações artísticas lamentáveis Quem considera a estatura moral desse herói da Fé, não pode senão estranhar as representações artísticas que dele nos foram legadas pelo Renascimento, o qual, inspirado no paganismo clássico, difundiu pela arte um estado de espírito impalpável mas contagioso, capaz de contradizer discretamente a ver-
dadeira posição da Igreja sobre perfeição moral. O quadro ao lado é obra do célebre Rafael Sanzio (1483-1520), quando ainda jovem pintor. São Sebastião, esse expoente do Renascimento no-lo representa como um moço bem feito de rosto e de corpo, gorducho até, muito seguro de sua boa aparência, encantado talvez de se exibir. A atitude do corpo é a de quem está, mole e sentimentalmente, gozando o sol e as brisas. A flecha que traz na mão, longe de evocar seu instrumento de suplício, mais parece um enfeite faceiró que ele sustenta elegantemente. Nada, na sua figura, dá a impressão de que vai morrer. Menos ainda de que é um batalhador. A lembrança de Deus e da vida eterna, a súplica para alcançar a perseverança final, a prece pela Santa Igreja, a invectiva salutar, que ele tão bem sabia fazer, ou a palavra de perdão para os algozes, nada disto é expresso no quadro de Rafael, jovem. Em última análise, trata-se de uma
esplêndida representação artística de uma figura moral medíocre, preocupada exclusivamente consigo, e com o mundo ... na medida em que este lhe diz respeito. Melhor seria apagar o título "São Sebastião", que leva o quadro, e chamá-lo: "Exibição de moço faceiro, tomando sol" ... Luís
r· ;\o
1!fr, - Restaurante italiano
-·
.,,,
Almoço e jantar
;:.~....::,,::~·"': vr',
Massas-Pizzas-Carnes-Grelhados 39 anos servindo São Paulo Estacionamento próprio
é ladeada por ruínas veneráveis. Aquela velha estrada, que evoca dois milênios de História, traz-nos à lembrança as legiões conquistadoras que deixavam a capital para manter e estender os domínios imperiais. Por ela passaram homens sem conta do mundo civilizado de então, desde os mais diversos estrangeiros atraídos pelo esplendor dos Césares, até mercadores em busca de lucro, além de escravos das mais variadas proveniências. Palmilharam-na também os primeiros cristãos intrépidos à demanda da Metrópole, que estadeava a alegria desabrida dos prazeres terrenos, para ali levar as verdades eternas ensinadas por Nosso Senhor Jesus Cristo. E ao longo dela nossos maiores edificaram estes monumentos vivos, que são nossas igrejas, sobre os corpos dos santos. "Monumentos vivos"! A expressão é exata, pois ali o incenso queima, a oração canta e os ornatos são de flores, mármores e ouro. Não são subterrâneos obscuros, são igrejas lu-
CATOLICISMO
22
Plantas medicinais Homeopatia
CARLOS AzEVEDO
Shampus - Cremes - Chás Todas à base de plantas medicinai s
OBRAS CONSULTADAS
1. B. Llorca e outros, Historia de la Iglesia Cat6lica, BAC, Madri, 1955, tomo 1. 2. Abbé Profillet, Les Saints Militaires,
Solicite nossos catálogos gratuitamente com a relação de nossa manipulação. Remetemos tudo pelo Reembol$o Postal
Retaux-Bray, Libraire-Éditeur, Paris, 1890, tomo 1. 3. Abbé Rohrbacher, Vie des Saints pour tous les jours de l'Année, Gaume Freres, Libraires-Éditeurs, Paris, 1853, tomo I. 4. Cardeal Wiseman, Fabiola ou l'Église des Catacombes, Ernest Flammarion, Éditeurs, Paris, 1854. 5. Louis Veuillot, Le Parfum de Rome, J.M. Dcmt et Fils, Paris, tomo I. 6. Elaine Sanceau, Capitães do Brasil, Livraria Civilização-Editora, Porto, 1975, 2ª edição.
Rua 16 de Março, 322 CEP 25620-040 - Petrópolis - RJ Tel.: (0242) 43-8235
Na catacumba de São Sebastião ROMA - O bom tempo que caracteriza as semanas de outubro na Cidade Eterna -as ottobrate - oferecemocasião única a quemdeseja peregrinar pela capital da Cristandade. O céu azul das manhãs contrasta com a pátina áurea da atmosfera, que banha a vegetação -- sempre verde-, monumentos e edifícios. O dia é auto, e já pelas 16 horas o sol se apresta em deitar seus últimos raios. Tudo se doura, exceto os verdejantes pinheiros romanos, por cujas copas filtram graciosamente os raios crepusculares. Completam o quadro os milhares de pássaros em migração, para fugir aos rigores do inverno que se aproxima. Foi numa tarde dessas que visitei a catacumba de São Sebastião. A poucos quilômetros de Roma, situa-se a Via Appia, construída há mais de dois mil anos, no tempo de Appius Claudius, estrada ao longo da qual os pagãos costumavam enterrar os seus mortos. Ligando Roma a Brindisi, no extremo sul da península, ela
PHARMÁCIA NATURAL PETRÓPOLIS
GATO QUE RI
Tel.: (011) 825-7707 Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Apesar de d-Ois milênios de existência, a Via Appi,a encontra-se relativamente bem conservada minosas: claras pela luz da alegria.católica e da vida sobrenatural da graça que por ali paira. Naquela Via, na catacumba que leva seu nome, repousam sob o altar os restos do grande mártir romano, São Sebastião. E, por ocasião de seu suplício, ninguém jamais suspeitaria que, transcorridos quase dois milênios, povos da terra inteira para ali afluiriam a fim de venerar as suas relíquias sagradas e celebrar sua festa a 20 de janeiro! JUAN MIGUEL MoNTES Nosso 'correspondente
Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX
TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO
Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu
_'©, WRôPi\lACE __ Rua das Palmeiras, 78- Tel. 10111 220-0422 - CEP.01226 TELEX 11 23208 - FAX (0111220-9955 DDG IOll 1800-8272 Siio Paulo
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
-X -
' Ao 1
1
Lord Palace Hotel: Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. Nome : End .:
1
CEP: .
. ........... Cidade: .
. ......................................... UF:
MEDALHA ., ' MILAGROSA de Nossa Senhora das Graças
ESC\\
15mm em latão e em alumínio 48mm em latão IMAGENS de N. Sra. das Graças, gesso, cor marfim, 20cm.
Assessoria Contábil &Tributária S/C Ltda .
Brasil Real Brasil Brasileiro
Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE - ASSUNTOS FISCAIS
Festejos pitorescos pouco conhecidos
Edivaldo José Ciryllo Rangel FALKENBERG BRINDES LTDA. Rua Suzana, 794 - CEP 03223 - São Paulo - SP
Rua Julio de Castilhos, /081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068
Tel: (011) 216.5282
Comércio de Carnes
Norton Atacadista de carnes em geral R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
• NBERG
construtora
ADOLPHO LINDE .
1, _ 6º
R a General Jardim , 70 . _u zc-"- 0 4 11 . São Paulo
l·one:
,o
----·----------------
S/A e 7° andar
-- ·
~ntia
tudo com a g _
----
--- · -- -------------
Talento Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Seguranç~ . Soluções .ori~ma1s H_armoma Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe amento personalizado A cab 1 . d Local privi egia o Sucesso
desta
__.;.....--
--assi~ura -
U
m dos mais preciosos legados que Portugal nos deixou foi, sem dúvida, o espírito religioso, tão inerente ao povo brasileiro. Isso é facilmente observado nos festejos e manifestações de religiosidade de norte a sul do Brasil. Desde as grandes concentrações de milhares de pessoas, como no dia 12 de outubro, festa de Nossa Senhora Aparecida, até as diversas celebrações em pequenas cidades do interior de qualquer Estado da Federação. >
conduzem uma esplendorosa coroa, símbolo da realeza de Nossa Senhora do Rosário. À frente vão os marujos e cavaleiros de escolta, fazendo movimentos
cortejo retoma à casa da rainha, onde é servido um banquete aos principais convidados. Ao povo, nas ruas e praças da cidade, é distribuído vinho em tonéis, para a alegria geral. Os festeiros régios são escolhidos, no final de cada celebração anual, para a próxima vez, entre os vários pretendentes que se oferecem ou são sugeridos pelo vigário. Devem ser pessoas bem relacionadas na cidade, a fim de obterem fundos para as despesas, que não são pequenas: banda de música uniformizada, vestimentas para os marujos e cavaleiros, além de todos os ornamentos e providências necessárias. *** Corte do rei e da rainha do Rosário; o encerà esquerda, atrás, os marinheiros A título de ramento dá-se no exemplo, fâlareentrecruzados, ao dia 16 de agosto mos da festa do Rosário, ou festa de som de belos câncom uma solene agosto, em Sabinópolis, Minas Gerais. ticos, proclamaprocissão, na Nesse município, com 15.000 ha- ções e slogans de qual é-carregado bitantes, a 280 quilômetros de Belo desafio. um magnífico Horizonte, há mais de meio século é O cortejo sai IA!l.<l!!'aar'X..1111 andor, regiacelebrada, no dia 15 de agosto, uma das casas dos fesmente orfesta cm honra da Assunção de Nossa teiros por volta namentado, de Senhora aos Céus. Trata-se da reme- das 10 horas da Nossa Senhora moração de cerimônias realizadas no manhã, seguido do Rosário. Na tempo do Brasil-colônia, quando vi- pelo povo da cidaocasião, são gorava o regime de união entre o poder de e pela banda de cumpridas as espiritual e o temporal. música. O rei e a promessas feitas Precedido por sua corte, l d A festa atualmente é precedida por rainha do Rosário, . do R , . di . , d . ha pe os evotos, e como são chama- 0 rei osano n.~e-se casa ram assim as festiviuma novena, durante a qual se instala uma quermesse com suas barraquinhas dos, caminham dentro de uma armação dades chegam ao seu fim. e leilões típicos, com base nas ofertas quadrangular e debaixo de um enorme recebidas para o custeio dos gastos. sombreiro colorido até a igreja matriz, No dia 14 que antecede as comemo- já toda engalanada ,rara as cerimônias. *** rações, dá -se o hasteamento, em um Aí chegando, os reis dirigem-se para o mastro, da bandeira de Nossa Senhora presbitério, onde permanecem em lugar do Rosário, acompanhado de um espe- de honra . Na nave central da igreja, bem Reminiscências de um Brasil catótáculo de fogos de artificios e músicas à frente, fica todo o séquito que os lico, autêntico, tão diferente do Brasil apresentadas por uma banda. acompanhou, ostentando suas vesti- massificado das grandes cidades. No dia 15 de agosto, um rei e uma mentas de cores vivas, em tecidos de Como essa, muitas outras festividades rainha seguidos de cortejo do qual fa- seda e veludo. há disseminadas em nosso território zem parle príncipes, princesas e pajens, Após a celebração da Santa Missa, o continental.
ª
/ t'
JANEIRO 1993
25
ª
'
c47oúosA-t o
lt'
ESCREVEM OS LEITORES
.,
;
C OMPLEMENTANDO
Vimos felicitá-lo pelo magnífico número de "Catolicismo" do mês de outubro. Tanto a capa como a contracapa muito atraentes e com excelentes matérias . Aproveitando a oportunidade, comunico-lhe que, na relação das cidades onde foi realizada a campanha contra a Reforma Agrária e a Reforma Urbana, descrita na p. 17, houve, certamente por algum equívoco, a omissão de 17 (dezessete) cidades de três Unidades da Federação, várias das quais de certo porte: I - ESPÍRI1D SANTO 1. Cachoeiro de Itapemerim (a segunda maior cidade do Estado) 2. Cariacica 3. Alegre 4. Guaçuí II - MINAS GERAIS 1. Muriaé 2. Leopoldina 3. Cataguazes 4. Além Paraíba 5. Pirapetinga 6. Carangola
III- RIO DE JANEIRO 1. Petrópolis 2. Niterói 3.Macaé 4 . Santo Antônio de Pádua 5. Itaocara 6 . Laje do Muriaé 7. Carmo Informo-lhe que nas cidades supra enumeradas, foi colhido expressivo número de assinaturas. · 0.8.
N. da R. Quando se encerrou a edição de outubro de Catolicismo, a campanha da TFP ai nda não havia atingido as cidades ind icadas pelo missiv ista. B ISTURI
Desejo participar minha alegria pela chegada do 500g número da combativa revista "Catolicismo". Com sincera reverência, li este mensário com o assombro dos que se rendem às evidências dos assuntos tratados . A notável tese "Revolução e Contra-Revolução", de autoria de nosso admirável pensador católico Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, é um marco indiscutível em matéria histórico-religiosa, pois, em seu bojo, traz o bisturi que disseca a História humana e também a cada um de nós em particular. Poderíamos dizer, sem temeridade, que após sua leitura cada homem já está julgado ! Tal é a impressão: cada palavra parece queimar com um santo fulgor nossas almas. Não há como resistir ou refutar. Há momentos tais em que a verdade se escancara com tal audácia e violência, como o faz emRCR, que as consciências são tangidas inexoraveJJ.iiente por ela, preparando os espíritos para o grande destino dos que são fiéis a Deus. Desta forma, não poderiam ter escolhido melhor tema para comemorar todos esses anos de luta em prol da civilização cristã. Contem com nossas orações para que mais graças do Céu obtenham forças na caminhada rumo ao Reino de Maria.
Ribeirão Preto - SP
Campos - RJ
;
SE INTREPIDO! Sê intrépido quando escutares uma ofensa por causa de Cristo; de cabeça erguida, mostra valentia plena. Por sentires agora respeito humano terás de ficar corrido quando o Senhor vier na sua glória para dar o que prometeu aos bons, para infligir o que ameaçou aos maus. Onde estarás, o que farás se aquele Ser excelso, dirigindo-se a ti, te disser: Tiveste vergonha da minha humildade, por isso não participarás de minha claridade? Por consegüinte, que a vergonha indevida se afaste de ti, que se achegue a ti a salutar impudência, se é que tal nome lhe cabe. Não te envergonhes d e Cristo.
SANTO AGOSTINHO CATOLICISMO
26
GARcfA MÁRQUBZ
Sob toda a vida contemporânea latqa uma injustiça profunda e irritante: a falsa suposiçiío de ip;ualdade real entre os homens JosJ! ORTEGA y GASSBT
O comunisrrw destruiu o tecido social dos países do Leste. Niio há mais sociedade, niio há mais regime político e as populações fo ro:m privadas de seu passado FRANÇOIS FURBT
O Brasil está se debatendo niío propriamente numa crise, mas numa convergência de crises de ordens diversas - morais, sócio-econômicas que constituem um só torvelinho, o qual vai agitando a naçiío de ponta a ponta
o.
Luís
DB ÜRLBANS B BRAGANÇA
O século XX é a expressão de um mundo que tomou por ideal não o Direito, como Roma, n em a Filosofia, como a Grécia, e muito menos a T eo/ogia, como o século X III, mas a máquina, ou seja, a m at éria PLINIO CORRffA DB OLIVBIRA ,
AN TONIO VEIGA
BIANCHINI
,..
O ser humano niío pode ser tão imbecil corrw o foi no século XX
A fisionomia de um santo Embora o renomado pintor espanhol Sánchez Coello tenha se inspirado numa máscara mortuária para pintar o quadro apresentado nesta página, a fisionomia aqui retratada exprime vitalidade e dinamismo. A fronte larga, acentuada pela .calvície, dá a impressão de uma cabeça habituada ·a considerar os horizontes sem limites da teologia e da metafísica. Grandes e expressivos, os olhos revelam uma especial acuidade em observar a realidade. O nariz saliente e aguçado, à maneira de uma proa de navio, sugere um caráter audacioso e um olfato apurado. Mas, nesse semblante, a audácia parece andar de mãos dadas com a prud ência. O queixo se afina repentinamente, exprimindo-certo imponderável de reserva e subtileza. Uma nota marcante de desprendimento e uma tota I dedicação ao serviço de Deus compõem os últimos traços desse perfil fisionômico, característico de um grande santo: Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus .
Membros da comissão da entidade, que levou à capital federal as listas do recente abaixo-assinado promovido pela TFP contra as Reformas Agrária e Urbana, exibem, diante do palácio do Planalto, 15 das 40 cai.xas contendo as mencionadas listas
A delegação da TFP, envergando suas características capas rubras e portando dois estandartes da entidade, ostentam, em frente ao edifício do Congresso Nacional, fai.xa alusiva à entrega do abai.xo-assinado ao presidente da República
A comitiva da TFP, tendo ao fundo a ermida Dom Basco, após ter rezado nesse local para que o Brasil seja preservado das reformas socialistas e confiscatórias a serem implantadas em nossa Pátria, se forem aprovados os projetos de Reforma Agrária (llD/91 e 71B/89) e de Reforma Urbana (5788/90)
A faixa afi.xada na parte lateral do ônibus que conduziu a comitiva da TFP a Brasília propugna plebiscito já
CATOLICISMO 42 anos de luta, n~ fidelidade doutrinária N2 506 Fevereiro
Discernindo, distinguindo, classificando...
1993
Os teinpos dourados
Assestando o foco
Inocência ... Sabedoria ... Crepúsculo ... Saudade ... Restauração...
N
ão obstante o pecado original, algo há na criança, acentuadamente se ela for batizada, que se pode chamar inocência. O seu olhar é límpjdo e puro, capaz de ver os aspectos espirituais mais elevados de todas as coisas, sem esforço, com a naturalidade de quem toma um copo d'água. Ela não sabe explicar nem transmitir verbalmente o que vê. Pouco importa; ela vê, ama e sente. Vive por assim dizer no mundo dos anjos, em função . dessas realidades superiores, e as difunde em tomo de si pelo brilho do olhar, pela pureza do gesto, pela atitude exclamativa de toda sua pessoa. Por isso a crianO Menino Jesus (FraAngélico),cuja plena ça não tem dificuldade em crer inocência foi levada olé o aüo M Calvário em Deus, nas verdades religiosas prazer; sua sensibilidade se desvia e se e no lado sublime da vida. É a partir dessa visão e desse amor entorpece; e ela toda afunda de modo que mais tarde o jovem, e depois dele ignóbil no materialismo prático e no o adulto, deveriam construir todo o indiferentismo religioso. Numerosos são os homens de leedifício de sua vida interior, vida de pensamento e vida religiosa , utilizan- tras, brasileiros e estrangeiros, que, do-se para isso das pedras que lhe vão cheios de saudade, exprimiram de alchegando com os conhecimentos ad- gum modo essa inocência que ficou para trás, feita para produzir doces quiridos , e sobretudo com os dados sagrados da Fé católica. O resultado: frutos, e no entanto tisnada e tornada estéril. Um deles foi o escritor portua sabedoria na velhice e a plenitude no Céu. Bem-aventurados os que assim guês Alexandre Herculano (18101877, que infelizmente deixou emsua fizeram. Mas, infelizmente, no mundo de vasta obra páginas muito censuráhoje não é o que acontece. Tudo cons- veis), em "O Pároco da Aldeia", parte pira em tomo da criança para esmagar de suas "Lendas e Narrativas". Vamos a suas palavras. com pata de elefante sua inocência: em lugar das verdades religiosas, dão*** lhe a televisão; em lugar da educação A verdadeira felicidade está "nos da inocência a que ela tem direito, anos da infância e da juventude, antes impingem-lhe uma degradante educa- que o bafo árido da ciência a queição sexual; o próprio ambiente farni masse passando por cima dela. Nesse liar, em tantíssimos casos ... é bom espírito e nessa idade, a religião não nem falar. está só nos preceitos e nos dogmas; Com isso, logo, logo, e cada vez está na natureza inteira. A alegria de mais cedo, na criança vai se evanes- Deus, o aspirar das fragrâncias cecendo a inocência, os olhos da alma lestes, a toada suavíssima dos hinos tomam-se míopes e ela passa a ver só dos anjos descem a ela nos raios do o palpável, o imediato; seu amor ao sol; tremulam no espelhar-se da lua sublime perde o calor e ela só quer o nas águas; misturam-se no cicio das
árvores; entretecem-se com os mil gemidos da noite; vivem nas afeições domésticas. Tudo então é viçoso e puro". Porém, mais tarde, "a inocência morreu, a poesia íntima e crente desbaratou-se, o sentimento religioso esmoreceu .... A poesia suave e pura da inf/Jncia e da puberdade passou .... Começa então o pardo crepúsculo deste ceticismo que, semelhante a herpes lentos, vai lavrando por todas as nossas opiniões e afetos e os prostra e subjuga .... "Os olhos da alma vão-se pouco a pouco enevoando no meio das trevas do mundo, nesta atmosfera grosseira e corrupta .... Cada dia lhe desfolha um afeto, lhe discute uma crença, lhe mata uma esperança, /fie traz um desengano cruel .... Às vezes, com as minhas recordações infantis, p onhome a comparar o aspecto prosaico e triste que tem atualmente para mim o universo com as formas sua ves e poéticas em que ele me parecia en volto nesses tempos dourados. É uma comparação amarga .... Dai-me uma nota só dos cânticos que eu enuío escutava; dar-vos-ei em troca toda a minha estúpida e inútil ciência " . E acrescenta: "Hipócritas são aqueles que mentem aos que os escutam; que simulam a paz no descrer tranqüilo, quando vai lá dentro o u,mulálar das incertezas. ComoSatanás, eles dizem que o inferno é o Céu; dizem que a irreligiosidade tem o segredo do repouso e da ventura, quando o que ela dá é inquietação e desesperança".
0
***
É possível a alguém restaurar a inocência de alma perdida? "A Deus todas as coisas süo possíveis" (Me. 10, 27). Peçamos, pois, com confiança, se necessário com insistência, por meio de Nossa Senhora e deixemo-La agir! C. A.
A
presentamos nesta edição alguns relatos históricos e tradições, quase desconhecidos pelo grande público, a respeito da passagem do Apóstolo São Tomé por diversas regiões do continente americano, em que pregou o Evangelho entre os índios, no início da era cristã. Numerosos cronistas e historiadores, alguns deles de vários séculos atrás, têm tratado desse fascinante tema, relatando episódios marcantes em quase todos os países das três Américas. Um sinal dos mais impressionantes a respeito de São Tomé encontramos na Bolívia: a célebre Cruz de Carabuco, uma das relíquias legadas
,,,.
pelo Apóstolo. Um pedaço da mesma, em forma de cruz, é venerada até nossos dias no altar-mor da catedral da cidade de Sucre. Em sua passagem por aquele país, o Santo teria deixado pesada cruz de madeira implantada em uma praça da cidade de Carabuco, às margens do lago Titicaca, seguindo depois sua peregrinação pelas Américas. Qualquer pedaço da madeira dessa cruz, que se lance em alguma quantidade de água, logo vai ao fundo, contrariando as leis da física. Instigados por demônios, os índios de Carabuco tentaram queimá-la, mas o fogo não a consumia. E os que qui-
.
lnd1ce Discernindo; .. Os tempos dourados 2 A Realidade Concisamente Por gue reformar a agricultura? 4 História A legenda de São Tomé no Brasil e nas Américas 6 Entrevista "O Amanhã de Nossos Filhos": vigorosa reação contra imoralidade e violência na TV 9 Atualidade Erotismo na televisão 10 Caderno Especial As bodas de Caná e o primeiro milagre do Redentor 13 Nacional Ameaças para o Brasil: Reformas socialistas 16 Hagiografia Pio IX: batalhador incansável contra os erros de sua época 18 Brasil Real, Brasil Brasileiro Qualidades· e defeitos do caipira 21 ln Memoriam Milton Eduardo Peterssen 23 Educação Pobre ensino nacional. .. 24 Em painel Frases e imagens 27
Catolicismo é uma publicação mensal da Edfora Padre Belchior de Pontes Lida. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Rtlo Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o Ng 13748 Redação e Gerência: Rua Martin Francisco, 665 01226-001 • São Paulo, SP Tel: (011) 825.7707 Diagramação: Antonio Carlos F. Cordero Fotolitos: Microformas Fotoitos Lida. Rua Javaés, 681 - 01130-01 O São Paulo • SP Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Edlora Lida. · Rua Javaés, 681 - 01130-01 O São Paulo • SP Acorre~rdência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerêrcia de Catolicismo. ISSN - 0008-8528
Nossa capa: A increduidade de São Tomé Caravagglo (1573·1610}
CATOLICISMO
2
seram retirá-la da praça da cidade foram punidos com morte repentina. Séculos mais tarde, Deus permitiu que os silvícolas a lançassem no lago Titicaca, tendo ela ido ao fundo. Os espanhóis, quando chegaram àquela região, no século XVI, tendolhes sido narrada a história, retiraram-na das águas em perfeito estado de conservação. Da madeira desta cruz se confeccionaram várias outras cruz.es. Elas têm operado muitos milagres, sendo veneradas como relíquias, tanto na catedral de Sucre, quanto em vária& outras igrejas e locais de peregrinação.
FEVEREIRO 1993
3
Por que reformar a agricultura? Qualquer pessoa medianamente informada sabe: se há algo que funciona neste Brasil é a agricultura. Apesar disso, as esquerdas de todos os matizes vivem martelando a desgastada tecia da Reforma Agrária, entre outras coisas para combater a miséria no campo. Os fatos, porém, desmentem estrepitosamente a cantilena agro-reformista. Vejamos os resultados, só' em 1991: 70 milhões e quinhentas mil toneladas de grãos; 35 milhões de toneladas de hortigranjeiros; 30 milhões de toneladas de frutas; Mais de 8 milhões de toneladas de carnes; 12 bilhões de litros de leite·I 1,5 milhões de toneladas de algodão para tecidos; 200 milhões de toneladas de cana para produção de açúcar e álcool; 30 milhões de toneladas de frutas para produção de sucos e bebidas; 2 milhões de toneladas de café e cacau. Com tais resultados, miséria, fome etc., por efeito da estrutura agrária, existem apenas na tacanha cabeça dosesquerdistas.
TV: vlolêncla e Imoralidade No Brasil, a ex-secretária de Educação do Distrito Federal, deputada Eurídice Britto, lançou um brado de alerta
rio das pessoas. Por isso convém ainda tratar dela, vez por outra. Um dos obstáculos mais sérios às teorias evolutivas é a idade do nosso planeta. Tal é a diversidade e complexidade das formas de vida aqui existentes, que os bilhões de · anos atribuídos à Terra não seriam suficientes para produzi-las. Daí que, há algumas décadas, dobrou-se, sem se saber bem por que, a idade do universo. Recentemente, o pesquisador inglês Richard Milton lançou, em Londres, o livro "Os fatos da Vida: Destruindo o mito do Darwinismo". É tese do autor que nosso planeta é muito mais jovem do que as entenas de milhões d anos necessários para p rmitir a lenta evolução das spécies. Se gundo o livro, os volucio nistas se bas aram m mé todos de datação das rochas incorretos.
contra a permissividade na televisão. Segundo pesquisa informal coordenada pela deputada, em apenas um mês foram constatadas no vídeo 276 relações sexuais explícitas ou sugeridas, 83 cenas de nudez total feminina, três cenas de violência sexual, 72 palavrões, 1940 tiros, 651 brigas e 13 cenas de tortura. Que vida de família poderá existir quando o denominador comum do lar é uma janela aberta para a depravação, através da qual se procura mostrar o que há de mais sórdido? Compreende-se, pois, a observação feita pelo Ministro da Cultura da Itália, Alberto Ronchey, em entrevista ao jornal "li Messagero": "Nenhuma invenção humana causou tanto mal às pessoas como a TV".
A famosa terceira via-já tão batida e tão desacreditada -seria agora a panacéia de Lulal Algo que nunca foi conseguido em lugar algum. Pasma ver o aventureirismo, para não falar em primarismo, de tal afirmação. Durante mais de setenta anos procura-se fazer uma convergência entre o sistema capitalista e o socialista. Todas as tentativas não deram certo. Há que se encontrar uma via nova. Qual é? A mesma terceira via. Dizer que tal pensamento está esderosado é dizer pouco ...
garam a erradicar a pobreza, o desemprego ou o racismo. Tem que se inventar outra coisa, encontrar uma terceira via". Estas são dedarações do ex-deputado Luís Inácio Lula da Silva em entrevista o:mredida a "l'Evenement du jeudi" (3 a 912-92), de Paris.
Desmitificando o darwinismo Cada vez mais contestada e desacreditada, a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin tem, entretanto, uma sobrevida no imaginá-
CATOLICISMO
4
Miséria em Moscou - O jornal "Moskovskaia Pravda" afirma que 75% da população de Moscou vive na pobreza. E o número anual de homicídios naquela capital supera os da Inglaterra e da Alemanha juntos.
Riqueza no Nordeste - Pernambuco possui grandes jazidas de granitos ornamentais, bem como de gipsita. 95% do gesso extraído no Brasil provêm daquele Estado. Vanildo Almeida, gerente da AD/DIPER, assegura: "As jazidas [de Pernambuco] têm um potencial de 500 milhões de toneladas e são suficientes para mais quinhentos anos".
***
***
***
Baile de homossexuais na USP - Na década de 60, o CRUSP-prédio residencial do campus da Universidade de São Paulo - era conhecido como foco de estudantes da extrema-esquerda e até de terroristas. E hoje, o que lá acontece? O "Jornal do Campus", daquela Universidade, informa que moradores do CRUSP realizaram um baile de homossexuais, no próprio campus, ten-
População moscovita decresce O mesmo periódico diz que o número de habitantes de Moscou - atualmente mais de 9 milhões-está decaindo. Um casamento em cada dois acaba em divórcio. Cem pessoas por dia tentam o suicídio, e 12 a 15 o levam a cabo. No primeiro semestre de 1992, houve 270 mil abortos. Há grande mortalidade infantil (19/1.000).
Ociosidade em presídios - Diariamente ocorrem duas rebeliões em presídios do País (são 298). Segundo o presidente do Conselho Nacional de Políticas Criminal e Penitenciária, Edmundo Oliveira, o principal motivo dessas tensões é a ociosidade. Acrescenta ele que há 175 rn.il mandados de prisão não cumpridos, sendo 100 mil só em São Paulo.
***
OESTAO!J_!Ú "Sacerdotizas" na igreja anglicana
Terceira via esclflrosada - "Vo<::Jj se queixa do socialismo. De qual? O dos países do Leste ou da social-democracia? - "Nem de um, nem de outro. O socialismo burocrático e a social-democracia não che-
do o salão ficado lotado! Em que abismo está caindo a juventude!
Sucesso do latim -A rádio estatal da Finlândia apresenta três vezes por semana um noticiário em língua latina. O programa é ouvido com interesse também em muitos outros países. Face ao sucesso dessa iniciativa, a emissora norte-americana CNN - a maior do mundo - está considerando a possibilidade de difundir alguns programas na língua de Cícero.
Chernomyrdin: "tercei-Ta tia"?(!) Ainda a terceira via No final do ano passado, o presidente russo Boris Yeltsin esco lheu Viktor Chernomyrdin como primeiro-ministro em lugar de Yegor Caidar, este último favorável à adoção do modelo capitalista. Comentando a mudança, arevista inglesa "The Economist" disse: "Yeltsin fez grandes concessões ao Congresso que é anti-reformista, e recebeu pouco em troca .... Sobretudo, ao substitu ir Caidar por Chernomyrdin, ele permitiu que o poder passasse de um jovem que buscava construir o capitalismo em estilo ocidental, para um outro, burocrata om unista, de uma g ração mais velha, que espora topar com uma 'ter ira via' ntre planejam nto 'ntral o mercado. Nã exis11 ter ira via - ap n, s 11m abismo, rum qual a Rú ssia se pr xim II mais".
A igreja anglicana, ramo protestante também conhecido como igreja da Inglaterra, e que tein ramificações em diversos países, resolveu admitir mulheres como "sacerdotizas". A decisão foi tomada por maioria de 2(3, dentre os bispos, padres e leigos presentes numa espécie de sínodo anglicano, realizado em Londres, na segunda quinzena de novembro. A medida deverá entrar em vigor em 1994, após a ratificação pelo Parlamento e pela Rainha Elizabeth II. Historicamente, a igreja anglicana foi o ramo protestante que menos se distanciou da Igreja Católica nas práticas e ritos, e tem sido freqüente a conversão de anglicanos ao catolicismo. Embora pertençam ao veio protestante episcopaliano - que admite a existência não só de padres, mas também de bispos-, os anglicanos tiveram suas ordenações sacerdotais declaradas inválidas pelo Papa Leão XIII, em sua Bula Apostolicae Curae, de 1896. Ou seja, não há verdadeiro sacerdócio nessa igreja. A admissão, agora, de mulheres, ao clero anglicano, vem provocando acirrada polêmica na Inglaterra, a ponto de
Anglicanos em vi,gília, durante o debate sobre a ordenaçiio de mulheres se falar abertamente na possibilidade de um cisma entre os anglicanos, ou pelo menos uma grande hemorragia de adeptos. 1350 "diaconisas" aguardam o momento de se tornarem "padras". E já se discute se as nova~ "sacerdotizas" poderão ser divorciadas, lésbicas ou abortistas.
Apostolado: atrair os melhores anglicanos Tomar uma decisão desse alcance, por maioria de votos, numa igreja que se apresenta como cristã, contrariamente ao autêntico ensinamento de Cristo nesFEVEREIRO 1993
5
sa matéria, e ao que nos diz a Tradição bimilenar e a Sagrada Teologia, é uma aberração. Mas não surpreende, em se tratando de uma igreja protestante. O que surpreende, isso sim, é a repercussão que o fato teve em certos setores da Igreja Católica, que parecem colocar o ecumenismo acima de tudo. Mons. Kevin McDona ld - informa a revista norte-americana "Newsweek" (23-11-92) - , que "faz a ligação entre o Vaticano e os anglicanos, declarou que a decisão da igreja da Inglaterra coloca a meta [a união das igrejas] fora do campo de visão". Por sua vez, diz a revista "Time" (23-11-92): "O Vaticano olha para isso com alanne". E prosse-· gue: "O problema da admissão de mulheres no sacerdócio ministerial, declara um porta-voz d.o Vaticano, constitui um novo e grave obstáculo para o processo de reconciliação". Cabe, a propósito da reação acima aludida, observar que o principal não é lamentar que os piores se afastem da Igreja Católica, mas sim procurar os melhores dentre os anglicanos, os que rejeitam as "sacerdotizas", pois a ocasião de convertê-los à verdadeira Igreja é única. Este, sim, seria um autêntico programa apostólico, que possibilitaria sinceras conversões ao catolicismo!
HISTÓRIA
..,
A Legenda de São Tomé no Brasil e nas Américas Alguns relatos históricos e numerosos indícios materiais -quase desconhecidos do grande público -atestam a passagem do Apóstolo São Tomé, no início de nossa era, entre os índios brasileiros e de norte a sul do continente
''L
de e ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pa~ e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt. 28, 19). Esse o preceito de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Apóstolos, que assumiram a missão de percorrer o mundo pregando o Evangelho a todos os povos. Admite-se, como hipótese muito provável, que São Tomé teria pregado aos índios do Ocidente, logo no início da era cristã. Isto explicaria as cruzes encontradas com diversos grupos indígenas em toda a América, e certas pegadas gravadas nas pedras em vários lugares do Brasil e outros países, além de tradições orais nesse sentido, existentes entre os indígenas. Presume-se-dizem alguns cronistas -que São Tomé teria vindo primeiramente para o continente americano, passando pela Ásia. Outros discordam, afirmando haver passado antes pelo Oriente. O certo é que esse Apóstolo pregou sempre os Evangelhos em terras longínquas, desconhecidas e inóspitas, tendo atingido a Etiópia, a antiga Pérsia (hoje
Ancestrai,s desses índios, que hahitam nas margens do lago Titicaca, lançaram em suas águas a cruz deixada pelo Apóstolo Irã), indo depois para a Índia, o Tibete Percorrendo São Tomé grande parte chegando à China. do mundo conhecido de então, criou-se Em todos os lugares por onde pre- em tomo dele uma legenda universal. gou a Fé cristã, realizou sempre rnila- Por todas as partes onde esteve, mas gres extraordinários, deixando sinais principalmente nas Américas, e em parque perduram até nossos dias. ticular no Brasil, foi deixando gravadas, em certas pedras doca rninho, as impressões de seus pés como testemunhas de seu trânsito por esses lugares, além de cruzes.
Ao mostrarem tais pegadas aos portugueses, os índios indicavam também cruzes existentes terra adentro. E quando falavam do Apóstolo, chamavam-no de deus pequeno, pois havia outro Deus maior. ( É tradição antiga entre os índios que aquele Apóstolo, a quem chamavam Sumé, veio ao Brasil e lhes forneceu a planta da mandioca e da banana, ajudando-os a cultivar a terra. Pregou o bem àqueles indígenas, ensinando-os a adorar e servir a Deus e não ao demônio, a não terem mais de uma mulher e não comerem carne humana. Outra informação histórica da existência das pegadas no Brasil foi-nos transmitida pelo padre Manoel da Nóbrega - dos primeiros missionários jesuítas vindos de Portugal após o Descobrimento-em suas "Cartas do Brasil". Poucos dias após sua chegada aqui, em março de 1549, escrevia: "Também me contou pessoa fidedigna que as raízes de que cá se faz pão, que São Tomé as deu, porque cá não tinham pão". E, em data posterior, acrescenta: "Dizem os índios que São Tomé pàssou por aqu~ e isto lhes foi dito por seus antepassados e quf! suas pisadas estão sina/adas junto de um rio, as quais eu fui ver, por mais certeza da verdade e vi com os próprios ol/ws quatro pisadas sina/adas com seus dedos. Dizem que quando deixou estas pisadas ia fugindo dos índios que o queriam flechar, e chegando ali se abrira o rio e passara por meio dele a outra parte sem se
molhar. Contam que, quando queriam o flechar os índios, as flechas se tornavam para eles e os matos lhe faziam caminho para onde passasse". Constata-se nesse relato do padre Manoel da Nóbrega a intenção missionária de São Tomé,espalhandoporestas plagas brasílicas a palavra de Deus, e deixando visíveis as marcas de sua passagem em vários lugares conhecidos. Desde o Rio Grande do Sul, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Ceará e Maranhão, encontramos pegadas atribuídas a São Tomé, que, pela tradição dos índios, vêm de remotas eras, anteriores ao Descobrimento, em 1500. Além destas, e das cruzes mostradas pelos índios, há várias outras marcas e fatos pitorescos ocorridos em nosso território. Perto da cidade de Cabo Frio, no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, existe um grande penedo que parece ter levado várias bordoadas. Estas estão impressas na pedra como se o bordão tivesse golpeado com força em cera branda. E é tradição dos índios terem sido as bordoadas impressas pelo bordão de São Tomé, numa ocasião em que eles haviam resistido à doutrina pregada pelo Apóstolo. Na Bahia, em São Tomé do Peripé, há uma fonte perene de água doce, que brota ,de um penedo junto a certas pegadas. E tradição que por ali desceu São Tomé. A esta fonte o povo deu o nome de São Tomé núlagroso, porque a água nasce de pedra viva.
.i1,... ... J.
Exterior da catedral de Sã.o Tomé, em Meleapur (Índia) Pegadas e cruzes nas Américas
Em diversos países americanos podemos encontrar marcas atribuídas a São Tomé, segundo tradições antigas dos silvícolas. Elas estão espalhadas por todos os países da América do Sul. Há ainda sinais análogos em Cuba e no Haiti. A eles se referiram os antigos maias na América Central, o mesmo acontecendo no México, Estados Unidos e Canadá.
As pegadas de São Tomé no Brasil
A cúpula do altar-mor da catedral de Sucre...
... é encimada por uma cruz de madeira negra, confeccionada com a cruz de Sã.o Tomé, proveniente de Carahuco
Em nosso país, a legenda e vestígios de São Tomé encontram-se espalhados por muitos lugares. Com base em informações dadas pelos índios à época do Descobrimento, os portugueses recém-chegados constata ram a existência das impressões dos pés de São Tomé no litoral e mesmo no interior. "A Nova Gazeta da Terrn do Brasil" publicava, em 1514, tradi\õcs ornis dos índios brasileiros quanto à cxist ·ncia no país das pcg;idas de ão Tom·, bem como recordações que com;crv11v11m d lc.
Caverna onde Sã.o Tomé se refugiava em Meleapur; no alto, à direita, vê-se a ";anela" aberta miraculosamente na pedra através da qual ele escapou de seus persef!:Uidores
CATOLICISMO
FEVEREIRO 1993
6
7
l \1,li
'
Como no Brasil, também em outras nações aparecem cruzes: no Peru, os incas possuíam uma de már~qre muito famosa, que, segundo a tradição de seus antepassados, lhes fora presenteada por São Tomé. Em Carabuco, porto costeiro do lado norte do lago Ti ti caca (Bolívia), havia uma cruz que os indígenas da região, de acordo com tradição muito antiga, asseguravam ter sido deixada por São Tomé a seus ancestrais. Venera-se hoje, na cúpula do altar-mor da catedral de Sucre, uma cruz confeccionada com a madeira negra da aludida cruz de São Tomé. Fernão Cortez, quando chegou ao México, achou um muro de pedra quadrada, e no meio uma cruz de dez palmos de altura, venerada pelos aztecas, implantada pelo Apóstolo. Também no Canadá os índios da parte oriental do país conheciam a cruz cristã, quando lá chegaram os primeiros desbravadores. O padre Antonio Ruiz de Montoya, missionário no Paraguai, conta um episódio interessante em seu livro, escrito em 1639, quando de sua chegada a uma aldeia indígena daquele país, ostentando uma cruz. Foi recebido com demonstração de amor, danças e júbilo. As mulheres fo-
ram recebê-lo com as crianças ao colo; os habitantes lhe ofereciam comida, coisa que nunca antes havia ocorrido. Os índios contaram-lhe então uma tradição antiquíssima recebida dos antepassados. Quando São Tomé, que chamavam de Pai Zumé, fez sua passagem por aquelas terras, dissera-lhes estas palavras: "A doutrina que eu agora vos prego , perdê-la-eis com o tempo. Mas, quando depois de muito tempo, vierem uns sacerdotes sucessores meus, que trouxerem cruzes como eu trago, ouvirão os vossos descendentes esta mesma doutrina que vos ensino". Foi essa tradição que os levou a dar ao missionário tão boa acolhida. Ali foi fundada uma povoação, início de muitas outras. De volta dessa longa peregrinação pelo mundo, São Tomé, segundo a tradição, foi martirizado em Meleapor, na Índia, transpassado poruma lança. Dois séculos mais tarde, o imperador romano Alexandre Severo mandou buscar o corpo do Apóstolo, ordenando seu sepultamento em Edersa, hoje Orfia, na Turquia asiática. A legenda de São Tomé desabro. chou para os índios com a chegada dos novos missionários trazidos pelos descobrimentos dos séculos XV-XVI.
Tais missionários acabariam por se constituir nos verdadeiros herdeiros do ancestral mítico, enviado por Deus a nosso continente como primeiro propagador da Fé. Hoje uma verdadeira campanha, bem orquestrada, procura denegrir a ação desses missionários. Que São Tomé esmague uma vez mais as argúcias satânicas nestas plagas que ele tanto quis converter para Nosso Senhor Jesus Cristo por meio de Maria, Medianeira de todas as graças.
Bibliografia l. Pe. Antônio Ruiz de Montoya, Conquista
Espi,ritual feita pelos religiosos da Companhia de jesus nas Províncias do Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape, Martins Livreiro Editora Ltda, lª edição, Porto Alegre, 1985.
2. Maxime Haubert, Índios ejesu(tas no tempo das Missões, Editora Schwarcz Ltda, 1ª ed ição, São Paulo, 1990. 3 . Fra ncisco Adolfo de Varnhagen, História <Úi Brasil, Edições Melhoramentos, 5ª edição, São Paulo, 1956. 4 . Alberto Silva, A cidade de Salvador - Aspectos seculares, Prefeitura Municipal , Salvador, 1957 . 5 . Fray Diego de Oca íia, Un viajefascinante por la America Hispana dei sigla XVI , Studium Ediciones, Madri, 1969.
São Tomé foi um dos doze Apóstolos de confirmado a tradição várias vezes secular a Nosso Senhor. Encontramos dele várias referespeito do Apóstob. Sua figura faz parte da rências nos quatro Evange lhos, especialmente história indiana, a qual admite ter São Tomé no de São João, e uma nos Atos dos Apóstolos. implantado o c ristianismo ao sul do país, em Esse Evangelista narra episódios qµe revelam o Malabar na costa de Coromandel. Muitos se caráter ao mesmo tempo corajoso, afeito ao conve rtera m media nte sua pregação, tendo e le raciocínio e tendente ao cetismo de São Tomé. construído igrejas e m várias cidades. Tornou-se famosa sua atitude cética diante Segundo essa tradição, São Tomé chegou da afirmação dos ou'1osApóstobs, que haviam à lndia em meados do século 1, tendo evangevisto Jesus após a Ressureição: "Se não vir nas lizado a re gião d e Cranganur. No ano 72, quansuas mãos [do Redentor) a abertura dos cravos do o Apóstolo rezava diante da cruz de granito e não meter a minha mão no seu lado, não esculpida por ele próprio, no monte de São creio", asseverou, na ocasião Oo, 20, 25). Tomé, foi martirizado, sendo transpassado por Acrescenta o Evangelista que, oito dias deuma lança. Seu corpo foi sepultado em Meleapois, estavam os disdpubs reunidos, e São Tom é pur-Santhome, na igreja por ele construída. com eles. Jesus apareceu-lhes e disse então a Conservam-se nessa cidade diversos moOrat6rio esculpido pelo Ap6stolo na São Tomé: "Mete aqui o teudedoevêasminhas numentos que atestam a atuação apostólica pedra destacando-se nele a f a:mosa mãos, aproxima também a tua mão, e mete-a no de São Tomé, como a caverna na qual se meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel. Respon- .cruz de São Tomé - diante da qual, o escondia de seus perseguidores, o oratório deu Tomé, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu. esculpido por ele, diante do qual foi martiriSanto foi martiriuulo Disse-lhe Jesus: Tu creste, Tomé, porque me viste, zado, e seu túmulo. bem-aventurados os que não viram, e creram # Oo. 20, 27-29). Uma bela catedral gótica foi construída, no ano de 1893, em honra ao glorioso Apóstolo, em Meleapur. O templo religioso foi edificado no *** mesmo local onde os portugueses haviam construído uma igreja a ele É uma tradição muito arraigada ter São Tomé exercido seu dedicada, no início do século XVI. ~posto lado em regiões do Oriente situadas entre .a Síria, a Pé rsia e a As reriquias do Santo foram levadas a Edessa, na Palestina, e lndia. O artigo que publicamos nesta edição ressalta outra tradição posteriormente a Ortona, na Itália. referente ao Apóstolo, pouco conhecida e até certo ponto silenciada, Na comemoração do XIX Centenário de São Tomé, na cidade de mas que encontra sólidas raízes nos relatos dos povos indígenas das Madras, em 1972, o Legado papal, Cardeal Convey, declarou São To111 6 Américas: sua ação evangelizadora nesse continente. Patrono e Apóstolo da lndia. Pesquisas históricas realizadas na Índia, nos últimos 70 anos, têm
e
8
''O Amanhã de Nossos Filhos'': Vigorosa reação contra imoralidade e violência na TV
CARLOS SODRÉ lANNA
São Tomé na Sagrada Escritura e na Tradição
CATOLICISMO
ENTREVISTA
Sr. Paulo Henrique Chaves, diretor de "O Amanhã de Nossos Fillws" Catolicismo - Por que foi criado " O Amanhã de Nossos Filhos" e qual o principal método de atuação da entidade? Paulo Henrique Chaves - O telespectador brasileiro sente-se cada vez mais afrontado com os descalabros morais da televisão. Cenas do mais completo despudor e de violência são apresentadas em programas e comerciais, nos horários de maior audiência. Uma reação apareceu entretanto no horizonte com a fundação de "O Amanhã de Nossos Filhos". Atuando especialmente através de mala-direta, a entidade concita os brasileiros a dizerem "BASTA à imoralidade e à violência na TV!" O objetivo dessa operação é aglutinar todos aqueles que têm as mesmas preocupações para, em seguida, levá-los a uma denúncia de âmbito nacional, como intuito de fazer sentir às autoridades e aos diretores de cadeias de TV a enorme extensão do descontentamento popular com a degradação moral na televisão. Catolicismo - Quantas cartas já enviou "O Amanhã de Nossos Filhos"? P. H. Chaves - Desde sua fündação, há quase quatro anos, nossa asso-
Tendo conhecimento da larga repercussão alcançada pela campanha empreendida em âmbito nacional por uma associação que vem denunciando os abusos praticados por emissoras de TV, a reportagem de Catolicismo entrevistou o Sr. Paulo Henrique Chaves, diretor de "O Amanhã de Nossos Fillws", no escritório dessa entidade. Sociedade civil sem fins lucrativos fundada em 1989 em São Paulo, "O Amanhã de Nossos Fillws "procura aglutinar todos aqueles que estão preocupados com os graves danos causados à população brasileira pela Tv, com o intuito de fazer sentir às autoridades e aos diretores de tele-emissoras a enorme extensão do descontentamento popular, relativo à degradação moral promovida pela televisão (para mais dados sobre essa benemérita entidade, ver artigo e entrevista já publicados em nossa edição de out./91 ). ciação enviou, em suas atividades contra a imoralidade televisiva, mais de 1 milhão de cartas, que atingiram cerca de quatro milhões de brasileiros, considerando que uma família brasileira consta em média de quatro pessoas. Catolicismo-Quais foramas principais atividades empreendidas por "O Amanhã de Nossos Filhos" desde o ano passado? P. H. Chaves - Nossa entidade remeteu 35.000 cartões pedindo o cancelamento do programa "Cocktail", do SBT. Tais cartões tinham como destinatário o Sr. Sílvio Santos, diretor daquela emissora. Em agosto do ano passado, tivemos a boa surpresa de ver "Cocktail" cancelado. No dia 15 de novembro, o apresentador do programa, Miele, em entrevista para o "Talk-show" da TV Record, deu a verdadeira razão do cancelamento: o programa atraía audiência muito jovem e, por isso, foi alvo de fortes pressões de um movimento, cujo nome ele não citou. Outro passo vitorioso foi a pressão de telefonemas junto à TV Bandeirantes e à Cia. Souza Cruz, a propósito do filme blasfemo "A última tentação de Cristo". A campanha deixou muito mal-àvontade os diretores da TV Bandeirantes. A emissora projetou o filme, mas FEVEREIRO 1993
9
antes viu-se obrigada a dar uma longa explicação, que, na realidade, nada explicou. A Souza · Cruz, entretanto, foi mais sensível a nossos protestos e cancelou o patrocínio do referido filme. A campanha de telefonemas, em outra ocasião, mostrou igualmente sua eficácia. Pressionada por nossos aderentes, a Rede OM suspendeu a projeção do pornográfico filme "Calígula", programada para o dia de Corpus Christi. Estimulados por nossa iniciativa, advogados, procuradores e juízes acionaram a Justiça e o filme foi proibido. Além disso, contando com o apoio militante de aderentes de São Paulo,Rio e Belo Horizonte, resolvemos ir às ruas e coletar assinaturas em prol do "Apelo à Cia. Antárctica Paulista", para que retirasse o patrocínio do vulgar programa "Hebe Camargo". Obtivemos uma calorosa adesão popular. E já nos preparávamos para entregar o primeiro lote de 10 mil assinaturas quando nos chegou a boa notícia de que a Antárctica não era mais patrocinadora da "Hebe". Mais recentemente, recebemos em nosso escritório carta da Antárctica dirigida a uma aderente, na qual aquela empresa confirma a notícia. Catolicismo -Além do sistema de mala-direta e da pressão exercida me-
diante telefonemas, a associação emprega algum outro método de a~a~o? P. H. Chaves - Sim. Tefuos também utilizado o recurso da publicação de anúncios em jornais e revistas do País, contando para isso com a ajuda de nossos aderentes. Dessa forma, esperamos reforçar o setor de expansão, conquistando novos simpatizantes. Catolicismo- "O Amanhã de Nossos Filhos" tem recebido adesões de eclesiásticos? P. H. Chaves - É considerável o número de eclesiásticos que apoiaram nossa campanha . Até o momento, cerca de 90Arcebispos e Bispos e mais de mil sacerdotes, religiosos e religiosas deram sua adesão. Particularmente expressivos foram os apoios que recebemos do Cardeal Edouard Gagnon, do Pontifício Conselho para a Família, do Vaticano, e de Dom José Cardoso Sobrinho, Arcebispo de Olinda e Recife. Catolicismo -Quais são os planos da associação para 1993? P. H. Chaves - Antes de tudo será intensificada a campanha de "Mensagem ao Sr. Roberto Marinho", cobrando dele coerência em relação a seu compromisso de "dar ao Brasil uma televisão que seja boa companhia e moralmente saudável". Figura também em nossas prioridades para 1993 a pesquisa, redação e publicação de fascículos sobre os males da TV. Vamos divulgá-los particularmente junto aos professores. O primeiro desses opúsculos denunciará os prejuízos que a excessiva audiência da TV causam ao ensino. Além disso, pretendemos lançar um "Manual de Defesa do Consumidor de Imagens". Já foi realizada uma primeira reunião com juízes e advogados, para traçar um plano de pesquisas sobre a matéria. E, finalmente , contamos também com o apoio de alguns deputados, dispostos a atuar no Congresso Nacional em defesa dos princípios propugnados pela nossa associação , por ocasião da revisão da Constituição vigente, qu e terá início em outubro de 1993. Catolicismo As pessoas qu e, lendo esta entrevista, desejarem conceder seu apoio a "O Amanhã de Nossos Filhos", a quem devem se dirigir? P. H. Chaves - Os leitores de Catolicismo, e especialmente os pais preocupados com a formação de seus filhos, poderão aderir à campanha ou pedir mais informações, escrevendo para: Rua Maranhão, 620 - Sala 13 - CEP 01240-000 - São Paulo - SP.
. ATUALIDADE
.
i
:,i
~-JA1i
Erotismo na televisão Dom José Cardoso Sobrinho Arcebispo de Olinda e Recife
N
ão podemos silenciar diante dessa avalanche de erotismo e pornografia que têm invadido nossas emissoras de televisão. Vários jornais têm descrito os excessos inadmissíveis a que chegaram certos programas televisivos, numa vergonhosa competição, cujos protagonistas, obcecados pelo propósito de aumentar a audiência e o lucro, já ultrapassaram todos os limites de permissividade, não hesitando em exibir e até exaltar as piores aberrações sexuais. Vítimas dessa inominável agressão moral são os milhões de telespectadores, sem distinção de idade e de nível cultural. Crianças inocentes, altamente impressionáveis, talvez ainda incapazes de distinguir entre fantasia e realidade, estão expostas a esse impacto cruel de cenas aberrantemente torpes, com todas as previsíveis conseqüências negativas em seu processo educativo. Adolescentes e jovens, cujas convicções morais ainda não alcançaram suficiente solidez, se vêem na contingência de dever optar entre os valores transmitidos pela família e pela escola e as mensagens contrárias que, tentadoramente, os induzem a aceitar a mentalidade e imitar o comportamento dos "heróis" das novelas. O que está acontecendo constitui um enorme desserviço, uma gravíssima in-
júria a toda a sociedade brasileira que está sendo empurrada ladeira abaixo, no caminho da decadência moral. Não podemos omitir-nos diante dessa verdadeira calamidade. Não se trata aqui de defender um ponto de vista pessoal ou a visão doutrinal desta ou daquela religião, desta ou daquela corrente filosófica. Trata-se simplesmente de um problema do bem comum. A quase totalidade da população brasileira acredita em Deus e em Jesus Cristo. Tem, portanto, o direito de viver num contexto social condizente com suas convicções religiosas. Entretanto, poderíamos até prescindir do aspecto estritamente religioso e limitar nossas considerações às normas que devem estruturar e assegurar a convivência humana numa sociedade civilizada e pluralista. Um dos critérios fimdamentais na organização da sociedade é o respeito e a proteção eficaz à dig1údade da pessoa humana. Esta é precisamente a razão de ser de todas as instituições sociais: oferecer a cada ser humano um ambiente apto no qual ele possa exercer seus direitos e cumprir seus deveres, desenvolvendo-se e crescendo no caminho da perfeição. Este conjunto de condições da vida social denonúna-se Bem Comum e é, por sua vez, a razão
C1ianças inocentes: maiores vítimas das cenas de violência e dej:rravaçãn r,wral apresentadas por emissoras de TV em horários nobres de ser da autoridade. Os poderes públicos existem para criar, garantir e proteger o Bem Comum. Ora, um dos elementos essenciais desse Bem Comum é precisamente a tutela da moralidade pública. A ciência e a experiência demons tram que é uma utopia pretender organizar qualquer setor da vida social unica mente com conselhos ou normas mera mente orientativas. A censura foi abolida e substituída por apelos ao senso de responsabilidade . O resultado está aí.. . No entanto, devemos reconhecer qu e a Legislação Brasileira não é omissa a esse respeito. Logo no artigo 1, da nova Constituição Federal, coloca-se a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. O art. 221 estabelece, em seguida, que o respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família deve ser um dos princípios normativos na produção e programação das emissoras de rádio e televisão. É conhecida a resposta de alguns: "Quem não estiver gostando do progra-
ma, desligue a televisão"! Esta resposta retrata um posicionamento superficial, egoístico e injusto . Não vai ao âmago da questão. Não se interessa pelo bem comum. Podem os pais e educadores privar seus filhos e alunos de todos os programas televisivos? Com efeito, esta seria a única medida eficaz, pois a enxurrada de imoralidade já invadiu todos os programas, com as "chamadas" nos intervalos e os comerciais. Comes ta mesma "lógica" de desligar a televisão, poder-se-ia também aconselhar aos cidadãos honestos e sobretudo às mulheres, que, se quiserem proteger-se contra os assaltos, permaneçam em suas residências, privando-se de passeios saudáveis nos jardins e parques públicos que foram construídos para benefício de toda a população. A solução não consiste em privar os cidadãos de um lazer honesto, mas sim em coibir os crimes. Alega-se também a liberdade de expressão. Acontece, porém, que nenhum ser humano goza de liberdade ilinútada. Além das restrições provenientes da lei de Deus e da convivência social, que nos
impõem o respeito aos direitos alheios, convém recordar que poder praticar o mal não é uma perfeição, mas sim uma imperfeição da liberdade. Deus é sumamente livre e, no entanto, não pode praticar o mal; sua vontade adere necessariamente ao bem. Resta-nos apenas conclamar todos os homens de bem para que se unam numa campanha de protestos. Temos direito a esperar e augurar que esta maravilhosa invenção da técnica moderna - a televisão - seja usada não como veículo de torpezas, mas sim como instrumento eficaz para educar, para instruir, para erradicar o analfabetismo, para ensinar e não para massacrar a língua pátria, para suscitar bons sentimentos, para elevar o nível de cultura e os padrões morais da consciência nacional, enfim, para construir um Brasil melhor. Nota O artigo acima foi transcrito de "A Mensagem Católica", mensário da Arqu idiocese de Olinda e Reciíe, se tembro de 1992.
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX Milhões de telespectadores, sem distinção de idade e nível _c7:1tural, sofrem a contínua agressão moral de programas televistvos CATOLICISMO
10
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil FEVEREIRO 1993
11
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
ESCREVEM OS LEITORES ;~
'
intensivos de reabilitação, além de outras condições quanto
Privatização dos presídios
à recreação, alimentação e segurança". Em seu discurso de
16-4-91, na Assembléia Legislativa, o dep. Erasmo Dias menciona o sucesso das experiências feitas em Kyle, no Texas, em Bridge Porte MacFarland, na Califórnia, em Aurora, no Colorado, e emSpringfield, em Nova York. "Tem-se provado que, sob a iniciativa privada, uma estrutura que dê ao apenado condições de preparo para o ingresso na vida civil vem ao encontro daquilo que seria até uma moderna política penitenciária, a um custo mais baixo do que a estrutura que o Estado está mantendo".
Sr. Redator A propósito da entrevista do Sr.LuizFlávio Borges d'Urso e do artigo assinado publicados no "Catolicismo" de dezembro último, submeto a sua apreciação nosso voto em separado proferido na CPI da qual fui membro. A respeito da privatização dos presídios e do problema carcerário, remeto em anexo publicação, inclusive com projeto de lei de nossa autoria. Atenciosamente. Deputado Erasmo Dias - São Paulo -
aderno Especial Nº 19
SP
Artigo oportuno
N. da R.: Do interessante material que nos envia o ilustre deputado, destacamos, por sua grande oportunidade, o projeto de lei nº 944, de sua autoria. Seu primeiro artigo aponta para a mais viável solução até agora surgida para o problema carcerário, ou seja "a participação da iniciativa privada na reabilitação, reeducação e ressocialização dos apenados". Em sua Indicação nº 166, de 9-4-91, recorda o nobre parlamentar que "nos Estados Unidos e na Europa vêm sendo postos em execução pela iniciativa privada serviços de detenção para os apenados. Com capacidade para 300/600 detentos como média, são destinados a apenados de periculosidade mínima/média, com penas leves/médias, e mesmo a custodiados de tipologias diversas, cumprindo os últimos dois anos da pena. São estabelecimentos prisionais com cursos de educação e profissionalização, assistência jurídica, programas
Acuso, e agradeço, o recebimento do nº 503 do importante veículo CATOLICISMO. Em particular, além da esmerada produção gráfica e cuidadosa linha editorial, destaco o seu lúcido e oportuno artigo "Projeto Delgado: quem é o louco?" Coloco-me, outrossim, à sua inteira disposição, manifestando interesse no recebimento das futuras edições mensais deste veículo, assim como de outras publicações que, a seu critério, possam ser úteis. C. J. Allgayer - Porto Alegre -
RS
As desigualdades unem os homens "Essas inelutáveis desigualdades podem, quando vistas de maneira pagã, parecer uma inflexível conseqüência do conflito entre forças sociais e da supremacia conseguida por uns sobre outros, segundo as leis cegas que se supõe regerem a atividade humana ... . Pelo contrário, tais desigualdades não podem ser consideradas por uma mente cristãmente instruída e educada, senão como disposição desejada por Deus pelas mesmas razões que explicam as desigualdades no interior da família, e portanto com o fim de unir mais os homens entre si, na viagem da vida presente para a pátria do Céu, ajudando-os da mesma forma que um pai ajuda a mãe e os filhos" (Discurso ao
Patriciado e à Nobreza romana, 5 de janeiro de 1942).
PIO VII CATOLICISMO
12
.,,,
•1
~~
boba~ be C!Caná
t o prímtíro mílagrt bo l\tbtntor
•
~as.bôhas bt ~aná, o prímcíro mílagrc bt Jesus (São joão, 2, 1-11) Três dias depois, celebraram-se umas bodas em Caná da Galiléia, e encontrava-se lá a Mãe de) esus. Foi também convidado Jesus com seus discípulos para as bodas. E, faltando vinho, a Mãe de Jesus disse-Lhe: Não têm vinho. E Jesus disse-lhe: Mulher, que nos importa a mim e a ti isso? Ainda não chegou minha hora. Disse sua Mãe aos que O serviam: Fazei tudo o que Ele vos disser. Ora, estavam ali seis talhas de pedra, preparadas para a purificação judaica, que levavam cada uma duas ou três medidas. Disse-lhes Jesus: Enchei as talhas de água. E encheram-nas até em cima. Então, disse-lhes Jesus: Tirai
agora, e levai ao arquitriclino. E eles levaram. E o arquitriclino logo que provou a água, convertida em vinho, como não sabia donde lhe viera (este vinho), ainda que o sabiam os serventes, porque tinham tirado a água, o arquitriclino chamou o esposo, e disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o bom vinho, e, quando já (os convidados) têm bebido bem, então lhes apresenta o inferior; tu, ao contrário, tiveste o bom vinho guardado até agora. Por este modo deu Jesus princípio aos (seus) milagres em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nEle.
~omcntáríos compílabos por ~anto momás bt ~quíno na "~atcna ~urca" São João Crisóstomo - Embora Jesus tenha dito "não é chegada minha hora", acabou fazendo o que sua Mãe Lhe havia pedido; e provou assim suficientemente que não estava subordinado a horas. Pois, se o estivesse, como fez isso quando ainda não havia chegado a hora devida? Ademais, o fez em consideração a sua Mãe, a quem não julgava oportuno contradizer, nem desejava envergonhar diante de todos. Pois ela Lhe havia trazido os que serviam a fim de que a solicitação se efetuasse mediante muitas pessoas. Santo Hilário - Eis que se lançou água nas talhas e delas se tirou vinho, o qual se
esvaziava nos copos; sucedeu, assim, que a opinião dos que lançaram a água [os servos] diferia da opinião dos que bebiam. Os que encheram as talhas [os servos] acreditavám que [delas] sairia água, mas os que as esvaziavam [os convivas] viam que [das mesmas] saía vinho. Por isso, prossegue [o evangelista]: "E logo que o mestre-sala [arquitriclino] provou a água transformada em vinho, não sabendo donde este viera (embora os que serviam soubessem muito bem que haviam jogado água), chamou o esposo. E no fato ocorrido não houve mescla [de líquidos], mas criação: desapareceu a simplicidade da água e surgiu o sabor do vinho.
~omcntáríos bo ~t. JLuís ~láubío jfíllíon (excertos) Jesus e seus companheiros de viagem chegaram a Caná, pátria de N atanael (São Bartolomeu), que hoje se chama Kefr-Kenna, situada a meio caminho entre Nazaré e Tiberíades, ao Nordeste, a cerca de oito quilômetros de Nazaré. Nessa cidade, em casa de uma família com a qual á Mãe do Salvador mantinha relações amistosas, pois aí se encontrava quando chegou seu Filho, celebravam-se então umas bodas. Como era natural, foram
convidados Jesus e seus cinco ou seis discípulos, chamados também a fazer parte da festa. O Salvador, que havia vindo ao mundo para santificar todos os acontecimentos da vida humana, não recusou o convite. Logo Maria, como alma fina, perspicaz e delicada, percebeu que o vinho iria faltar e já não pensou senão em poupar dessa humilhação as pessoas da casa. "Não têm vinho", disse a Jesus. Estas palavras, pronunciadas em voz baixa, encer-
ram um ped~d_o premente, embora indireto, de socorrer os noivos por meios sobrenaturais.Jesus, ao que parece, como fará notar o Evangelista, não havia feito nenhum milagre; mas sua Mãe conhecias ua natureza divina e sua onipotência. "Mulher - respondeu Jesus - , que nos importa isto? Ainda não é chegada a minha hora". Para quem conhece o Oriente e suas fórmulas de linguagem, a resposta do Salvador é seca só na aparência. Equivale em suma a essa outra: "Deixai-me fazer, minha Mãe". Maria compreendeu isso, e não a considerou como recusa, pois, dirigindo-se aos que serviam, disselhes: "Fazei o que Ele vos disser". Percebeu Ela que seu Filho estava prestes a intervir. Dizendo que sua hora não havia ainda chegado, não manifestava Ele que faltava pouco para aquela sobrevir? Havia ali seis grandes ânforas de pedra, capazes cada uma de conter 80 ou 120 . litros; no total 480 a 720 litros. Estavam desti-
nadas a receber a água das abluções e purificações, tão freqüentes ente os judeus. Disse Jesus imediatamente aos que serviam: "Enchei de água aqueles potes". E eles os encheram até a borda. Disse-lhes depois Jesus: Levai-os ao mestre-sala (arquitriclino). Quando o encarregado do abastecimento da mesa provou o líquido, cuja procedência ignorava, percebeu que era um excelente vinho. E então, dirigindo-se ao noivo, disse-lhe com familiaridade: "Todos servem no começo o melhorvinho,equandoosconvidadosjáestão satisfeitos oferecem o mais fraco. Vós, ao contrário, reservais o bom vinho para o fim". Com uma calma celestial fez Jesus um grande milagre, o primeiro de todos os seus prodígios, diz seu biógrafo. Com tal ato de austeridade soberana,] esus "manifestou sua glória e seus discípulos creram nEle". Nuestro Sefior Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusi6n, Buenos Aires, 1917 excertos das pp. 101-103.
jfcsta bt ~ossa ~tnbora bas ~anbcías (2 de Jevereiro) Realiza a Santa Igreja, no dia 2 de fevereiro, a solene bênção das candeias, uma das três principais [bênçãos] de todo o ano; as outras duas são a de Cinzas e a de Ramos. Essa cerimônia tem relação direta com o dia da Purificação da Santíssima Virgem, de maneira que, se o dia 2 de fevereiro coincide com um domingo, transfere-se aquela festa para o dia seguinte, mas a bênção das Candeias e a Procissão, que é seu complemento, permanecem fixas no dia 2 de fevereiro. Com o fim de unir sob um mesmo rito as três grandes bênçãos de que falamos, ordenou a Igreja o uso da cor roxa para a das Candeias, a mesma qy.e se usa na de Cinzas e de Ramos: O "Liber Pontificaµs" diz que a Procissão foi estabelecida em Roma pelo Papa Sérgio (687707) e que se realizava na igraja de Sant~ Adriano para a de Santa Maria Maior; contudo, ela, seguramente, é anterior a esse Papa. A princípio, a procissão teve em Roma um caráter penitencial: o Papa caminhava descalço: os paramentos eram por vezes negros, Foi no século XII que ela perdeu esse caráter de austeridade, tomando o de alegria. Apesar disto, os oficiantes conservam os
paramentos de cor roxa, e somente os deixam por ocasião da Missa. Desde o século VII os estudiosos da Sagrada Liturgia vêm dando muitas explicações ao mistério desta cerimônia. Para San to Ivo de Chartres, em seu Segundo Sermão sobre a presente festa, a cera das velas, extraída do suco das flores pelas abelhas, as quais toda a Antiguidade considerou como símbolo da virgindade, significa a carne virginal do divino Infante, que não violou a integridade de Maria, nem em sua concepção, nem em seu nascimento. Na chama da vela nos faz ver o santo Bispo a figura de Cristo, que veio para iluminar nossas trevas. Santo Anselmo, em suas "narrações" sobre São Lucas, explicando esse mesmo mistério nos diz que há de se considerar três coisas no Círio: a cera, a mecha, e a chama. A cera, diz ele, obra da abelha virgem, é a carne de Cristo; a mecha, que é interior, é a alma; a chama que brilha na parte superior, é a divindade. Dom Prospero Guéranger, El Ano Liturgico, tomo I, Adviento y Navidad, Editorai Aldecoa, Burgos, excertos das pp. 835 a 838.
NACIONAL
História Sagrada em seu lar - noções básicas
O Bezerro de Ouro Após ter promovido um holocausto, por ordem de Deus subiu Moisés novamente ao Monte Sinai, onde o-Senhor se manifestou a ele. E "o aspecto da glória do Senhor era como um fogo ardente sobre o cimo do monte, à vista dos filhos de Israel" (Ex. 24, 17). Deus escreve os Mandamentos em duas tábuas de pedra - "Ali esteve Moisés quarenta dias e quarenta noites sem comer nem beber. Durante este tempo, declarou Deus a Moisés circunstaneiadamente tudo o que Ele exigia para a construção do tabernáculo, o ministério dos sacerdotes e as cerimônias do culto" 1 • "E, terminadas estas práticas sobre o Monte Sinai, o Senhor deu a Moisés duas tábuas de pedra do testemunho, escritas pelo dedo de Deus" (Ex. 31, 18). Hebreus caem na idolatria - "Mas o povo, vendo que Moisés tardava em descer do monte, juntou-se contra Aarão [irmão de Moisés] e disse: Levanta-te, faze-nos deuses que vão diante de nós; porque não sabemos o que aconteceu a Moisés, a esse homem que nos tirou da terra do Egito" (Ex. 32, 1). "Aarão, temendo as ameaças do povo, condescendeu, e mandou que trouxessem brincos de ouro das mulheres. Fundiu-os e fabricou um bezerro, que os hebreus começaram a adorar no meio de sacrifícios, festas e orgias" 2 • "E disseram: estes são, ó Israel, os teus deuses que te tiraram da terra do Egito. E o Senhor falou a Moisés dizendo: Vai, desce; o teu povo, que tiraste da terra do Egito, pecou. Este povo é de cerviz dura; deixa-me a fim de que o meu
furor se acenda contra eles e que os extermine, e eu te farei chefe de uma grande nação. Moisés, porém, suplicava ao Senhor (pelo povo]. E o Senhor se aplacou e não fez ao seu povo o mal que tinha dito" (Ex. 32, 4-14). Mediação de Moisés - "Deus não diz mais a Moisés Meu povo, pois o pecado como que rompera a aliança. Mas Ele diz Teu povo. Esta única palavra fazia com que Moisés compreendesse que este povo culpado e infeliz não poderia esperar a salvação senão por ele, por sua mediação" 3• Moisés faz engulir o pó do bezen-o - "E Moisés voltou do monte, levando na mão as duas tábuas do testemunho, escritas de ambas as partes e feitas por obra de Deus; a escrita gravada nas tábuas era também de Deus. E, tendo-se aproximado dos acampamentos, viu o bezerro e as danças; e muito irado atirou das suas mãos as tábuas, e quebrou-as ao pé do monte. "E, pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o e esmagou-o até o reduzir a pó, que espalhou na água, e deu a beber dele aos filhos de Israel" (Ex. 32, 15-20). Depois repreendeu duramente a Aarão. Tenivel castigo pela idolatria - E Moisés, "estando à porta dos acampamentos, disse: Quem é pelo Senhor junte-se a mim. E ajuntaram-se a ele todos os filhos de Levi.
"E ele disse-lhes: Eis o que diz o Senhor Deus de Israel: Cada um cinja a sua espada ao seu lado; passai e tornai a passar de porta em porta através dos acampamentos, e cada um mate o seu irrnão e o seu amigo e o seu vizinho. "E os filhos de Levi fizeram o que Moisés tinha ordenado, e cerca de vinte e três mil homens caíram (mortos) naquele dia. "E Moisés disse-lhes: Consagrastes hoje as vossas mãos ao Senhor, cada um em seu filho e em seu irmão, para vos ser dada a bênção" (Ex. 32, 26-29). Moisés era da tribo de Lev1. "É belo ver que os homens de sua tribo, os levitas, são os primeiros a se reunir junto a ele, e preludiar assim seu ministério sagrado" 4 • De fato, os levitas seriam designados, logo depois, para ministros do culto.
Notas l. Cônego J. 1. Roquete, Hiswria Sagrada M Antigo e Novo TestanumJ.o, GuiUard Aillaud, Li.5boa, 1896, 9ª edição, !Dmo I, p.217. 2. São João Bosco,Hist6riaSagrada, Livraria Edi!Dra Salesiana, São Paulo, 1965, 14ª edição, p. 79. 3. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de L'Eglise Catholique, Gaume Freres, Pari.5, 1842, tomo I, pp. 438-439. 4. Padre L. C. Fillion, La Sainte Bible Commentée, Librairie Letouzey et Ané, Paris, 1928, tomo I, p. 297.
Puniçãn pelo pecado de idolatria: obedecendo ordens de Moisés, os filhos de Levi, executaram vinte e três mil homens, num só dia
Ameaças para o Brasil: Reformas socialistas PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
E
m meio ao conjunto de crises que atualmente fustigam a Nação, abre contraste luminoso nossa situação agropecuária, em franco progresso em seus aspectos essenciais, de sorte a constituir hoje, segundo o consenso nacional, a coluna mestra, e a salvaguarda honrada e forte da economia brasileira. Isto faz compreender quanto é de se temer que uma reforma agrária radical, inspirada toda ela em cogitàções preponderantemente ideológicas, e não em considerações concretas e práticas que tenham em vista a realidade dos serviços e das necessidades da agropecuária e do País, reforme - deforme, seria o termo exato - nossa estrutura agropecuária, com o risco de ficar abatido assim o baluarte que resta da prosperidade nacional, e, portanto, o baluarte econômico mais válido do próprio Brasil. Com efeito, a Reforma Agrária, cujo projeto tramita no Congresso Nacional, surpreende por ser toda ela concebida e redigida com as costas voltadas para a realidade histórica mais recente e ao mesmo tempo mais flagrante. A dita reforma confere atribuições com amplidão típica de uma ditadura stalinista -ou mais ou menos tanto ao Estado, o qual fica com poderes absolutos para pôr e dispor, segundo o arbítrio de seus mais altos órgãos, dos bens e da situação pessoal de todos os agricultores e pecuaristas do País. No momento em que a trágica experiência da URSS ainda se patenteia aos olhos de todo o mundo como um câncer gigantesco, ao qual ninguém, dentro ou fora da Rússia, sabe ou consegue dar remédio, a Reforma Agrária ameaça instituir -no Brasil todos os fatores que atiraram a Rússia no fundo do abismo em que jaz! Compreende-se facilmente a partir daí que, a despeito do apoio compacto que a núdia silenciosa vem prestando, e pelo próprio fato de seu silêncio, ao andamento do projeto de lei 11D/91, que implanta no País a Reforma Agrária, o povo brasileiro, lúcido e ágil, de
há muito já percebeu a espada de Dâmo_cles suspensa sobre sua cabeça porumfio dos mais tênues. Tanto mais quanto a situação tristíssima em que se encontra no Brasil a "res publica" vem inspirando, há mais de uma década, nesse povo, a maior apreensão quanto ao acerto e eficácia da gestão que a classe política vem dando aos interesses nacionais.
***
Por exemplo, inúmeros são os brasileiros que comentam, a esse respeito, a lentidão que vem tenProf do, desde os primeiros momentos, o processo das privatizações, cuja morosidade vai pesando sobre o erário público, o qual, ao invés de as acelerar, só encontra uma solução: onerar, sobrecarregar, esmagar os contribuintes brasileiros com impostos, impostos e mais impostos. Esse descontentamento público é ademais agravado por outro fator: a ameaça de uma Reforma Urbana quiçá ainda mais tempestuosamente esquerdista do que a Reforma Agrária ora em vista. O projeto de lei ng 5 .788f)0, também em tramitação no Congresso Nacional, constitui, nessa perspectiva, mais um fantasma acabrunhador a perturbar as horas de tra1Jalho, de lazer e de sono de todos quantos no Brasil possuem imóveis. O solo urbano, o solo rural - o País todo, pois - está ameaçado. Embora essa ameaça se estenda sobre a população urbana ou rural, não produz agitações de massa imediatamente tenúveis como as que precederam na França de Luís XVI a Revolução Francesa e na FEVEREIRO 1993
17
Plinio Corrêa de Oliveira
Rússia de Nicolau II a Revolução Comunista. O povo se cala, porém seu silêncio não é o da modorra. "O silêncio dos povos é a lição dos reis", diz conhecido adágio. "Dos reis": para atualizá-lo inteiramente, bastará que se substituam essas palavras por outras ... "dos presidentes".
***
Nessa perspectiva, avulta a nossos olhos o contraste entre a ameaça dantesca que pesa sobre os cidadãos prestantes que habitam nosso solo rural e urbano, não só desprotegidos pela lei, mas ameaçados de sofrer dela a mais sumária, despótica e arrasadora perseguição, e, em sentido contrário, a liberdade impressionante de que gozam aqui, lá ou acolá, os agitadores camuflados pela demagógica qualificação de "sem-terra" ou "sem-teto". Enquanto a desordem assim vai se propagando no Brasil todo, como uma erisipela, ninguém se pergunta qual está sendo o resultado prático da Reforma
Em 30 di,as de campanha,1.133.932 brasileiros subscreveram, em todo o País, a mensagem da TFP contra a Reforma Agrária e a Reforma Urbana socialistas e confiscatórias
Agrária aplicada e.mjá extensas e numerosas áreas do território nacional. Elas vão sendo faveladas pura e simples.mente, conforme decisiva doeu.menta- · ção que r~petidas vezes a TFP pôde entregar ao conhecimento público. À vista desse quadro, qual o brasileiro que se sinta bastante fundado para afirmar que a aplicação de ambas as reformas (e aplicação conjunta!) não venha a produzir descontentamento próprio a causar viva apreensão? Tal consideração faz-nos desejar, por bem da concórdia nacional, que os nossos homens públicos conheçam o verdadeiro sentir do nosso povo, e não se deixem precipitar em ilusões e enganos como os que colocaram recente.mente o Executivo e o Legislativo da França na envergonhada situação em que os deixou a .milimétrica "vitória" acerca dos trata dos de Maastricht. E por desilusões e vexames ainda maiores teriam passado os homens públicos franceses, se em boa hora não tivessem convocado esse plebiscito. Pois ninguém sabe o que lhes resultaria da aplicação compulsória daqueles tratados que o · povo não quer. Isso levou a TFP a desejar como medida de salvação pública, a convocação urgente de um plebiscito nacional, para que o povo, proclamado "soberano" nas democracias, diga se quer ou não quer tais reformas. A TFP, de cujo Conselho Nacional tenho a honra de ser presidente, é uma entidade quintessenciadamente pacífi-
ca, que jamais apoiou soluções de força, que sempre procurou cooperar com os governos vigentes, e quevempautando ininterruptamente sua ação segundo os princípios fundamentais da civilização cristã e em obediência às leis emanadas dosPoderesPúblicoscompetentes. Tem ela, por exemplo, uma prova desse fato notório: declarações de prefeitos, presidentes de Câmaras Municipais, juízes, delegados e outras autoridades de diversas ordens, que atestam, com nobre ênfase, o caráter ordeiro de sua atuação. Essas declarações, cuidadosamente arquivadas, somam 4502. O número dispensa comentários.
Para pleitear a .mencionada realização de um plebiscito, a TFP organizou um abaixo-assinado nacional em que 344 coletores, atuando sete horas por dia, em 15 Estados, num total de 98 Municípios - coadjuvados nessa ingente tarefa por 135 Correspondentes da entidade, que a ela consagraram suas horas de lazer - conseguiram, em uma atmosfera de cordialidade geral, 1.133.932 assinaturas. O abaixo-assinado dirige-se simultaneamente aos Srs. Presidentes da República, do Senado e da Câmara dos Deputados. O documento já fala muito a favor da popularidade do plebiscito em questão. E autoriza, impõe até, a convicção de que o povo será ouvido afinal. Pois, do contrário, a História não saberá explicar de futuro que nossa proposta plebiscitária, tão pacífica, tão moderada, tão consoante com os princípios demo cráticos que estão nos lábios de todos, e apoiada desde já por mais de um milhão de brasileiros, haja de ser recusada por homens públicos que se jacta.m de democráticos, quando não de populistas, ou até de socialistas extremados. Uma comissão de 20 sócios e cooperadores da TFP entregou, no dia 1º de dezembro último, no protocolo do Palácio do Planalto, 40 caixas, contendo 117 .973 folhas de abaixo-assinado com o aludido número de assinaturas. Analogamente, foram encaminhados ofícios aos presidentes do Senado e da Câmara Federal, comunicando a entrega daquela documentação no palácio presidencial.
Na Câmara Federal, funcionária do gabinete do presidente dessa Casa Legislativa assina o recibo de entrega do oficio da TFP CATOLICISMO
18
HAGIOGRAFIA
Papa Pio IX: batalhador incansável contra os erros de sua época No dia 7 de fevereiro de 1878, vinha a falecer um Papa -cuja heroicidade de virtudes foi reconhecida há sete anos pela Santa Sé -que marcou profundamente, com o mais longo de todos os pontificados, a História da Igreja, tendo-se realçado pela energia com que combateu os inimigos da Fé
E
ntre oito e nove horas da manhã do dia 18 de julho de 1870, 535 Padres conciliares (Cardeais, Patriarcas, Arcebispos, Bispos) dirigem-se à Basílica de São Pedro, em Roma. Depois de revestidos com os seus ornamentos e de terem adorado ao Santíssimo Sacramento, encaminham-se individualmente para a Sala do Concílio, tomando cada qual o seu lugar de costume. Concluída a Missa, celebrada por Mons. Basilli, o Soberano Pontífice, em traje de grande solenidade, entra na Sala seguido de sua Corte. Os Padres ajoelham-se e o Papa invoca a assistência do Espírito Santo, seguindose-lhe longa e admirável série de hinos, ladainhas e orações, que não duraram menos de meia hora. Já coma mitra na cabeça e tendo na mão esquerda a cruz em lugar do báculo, o Sumo Pontífice abençoa por seis vezes o Concílio. Ter.minadas as orações prescritas, o mestre de cerimônias se prepara para pronunciar o Exeant omnes (retirem-se todos) e mandar fechar as portas da Sala Conciliar, quando o Papa ordena que a sessão seja pública até o fim, como o tinham sido as três sessões anteriores. Então, o secretário do Concílio, Mons. Fessler, encaminha-se para o trono pontifício, oscula os pés de Sua Santidade e recebe de suas mãos o texto da Constituição De Ecclesia Christi. Depois passa-o a Mons. Valenziani que
o lê, e em seguida interpela os Padres, dizendo: "Reverendissimi Patres, placentuae vobis decreta et canones qui in hac Constitutioni continentur ?" (Reverendíssimos Padres, agradam-vos os
Uma das rarag fotos de Pio IX
decretos e cânones que esta Constituição contém?). Procede-se, então, à chamada nominal, começando pelos Cardeais e Patriarcas, seguindo a ordem hierárquica e a de antigüidade. Ao ouvir o seu nome, cada Padre responde com a palavra placet (aprovo) ou non placet. FEVEREIRO 1993
19
Quinhentos e trinta e três Padres votam a favor e só dois contra aquela Constituição que expõe a instituição e o exercício perpétuo do primado do Papa, proclama sua infalibilidade em matéria de Fé e Costumes e a universalidade de seu Episcopado em toda a Igreja. Logo depois oe apurada a votação, o Papa quis falar, mas nesse momento fez-se tal rumor na Sala, houve tal explosão de brados: "Viva Pio IX! Viva o Papa infalível", que o Santo Padre teve de esperar. Após o que, de pé, com a mitra na cabeça, proclamou e sancionou com sua Suprema Autoridade os decretos e os canônes da Constituição De Ecclesia Christi. Esse acontecimento, transcorrido na IV Sessão do Concílio Vaticano I, foi um dos eventos mais santamente graves de todo o século XIX. Seu principal protagonista: o Papa Pio IX (1846-1878), o grande Pontífice da Imaculada Conceição, do Syllabus e do dogma da infalibilidade pontifícia.
Um Pontificado Inigualável O dia 16 de junho de 1871 foi para Pio IX um aniversário como nenhum de seus predecessores havia conhecido: nesse dia ele atingiu e ultrapassou o número de anos do Pontificado de São Pedro.
Tu non videbes annosPetris (Tu não O Papa da Imaculada na Fé e se acha separado da unidade da chegarás aos anos de Pedro) dizia, de Igreja!" Foi no dia 8 de dezembro de 1854 conformidade com longa rtadição, a liHavia longos séculos que a Cristanque, na Basílica de São Pedro, perante a turgia na coroação dosJ>apas. Essa tradade aguardava o momento dessa defimultidão de Cardeais e Prelados, dignidição foi alegremente desmentida por nição. E, ao pronunciar Pio IX essas tários pontifícios, corpo diplomático e aquele nobre varão da fanúlia lombarda palavras confirmando as Escrituras, a Fé imensa multidão de fiéis de todos os dos Mastai-Ferretti. universal dos povos católicos regozipaíses da Terra, Pio IX declarou, proSua estatura se eleva quando fala, jou-se, tocaram todos os sinos da Cidanunciou e definiu o dogma da Imaculasabendo encontrar, para cada um, uma de Eterna, e os canhões do Castelo de da Conceição: palavra, uma frase ou um sorriso animaSanto Ângelo atroaram anunciando a "Nós declaramos, pronunciamos e dor. Seu olhar vai direto ao coração glorificação da Virgem Imaculada. definimos que a doutrina que afirma como as suas palavras. Sua voz forte e "À noite, Roma, cheia de ruidosas e que a bem-aventurada Virgem Maria sonora é penetrante, seu acento firme e alegres orquestras, embandeirada, ilusuave ao mesmo tempo, o gesminada, coroada de insto sempre digno. É a grandecrições e de transparenza e a benevolência do sutes emblemas, foi imitapremo Pontífice. Ele nunca da por milliares de vilas escreve suas alocuções, é o e cidades em toda a suEspírito Santo quem as insperftcie do globo" 4• pira em frases claras, conciA definição desse sas e apropriadas. dogma pulverizou todos Certa vez, sentiu-se os sistemas filosóficos "passar o sopro da cólera racionalistas, que não divina pela boca do seu Viquerem admitir em nossa gário. Via-se a chama ilunatureza nemqueda,nem minar aquele nobre aspecredenção sobrenatural. to coroado de cãs. Pela coRatificando esplenmoção de sua alma, a sua dorosamente essa definivoz era cheia como a do ção, quatro anos mais tartrovão e seu braço ameade, uma menina dos Piriçador parecia armado da neus via na gruta de Masonipotência" 1 • sa bieille (Lourdes) "Roma é a cidade das "uma Mulher vestida de maravilhas, mas a maravibranco com um cinto lha de Roma é Pio IX", coazul de onde pendia um mentou o Bispo de Moulins rosário, aureolada por (França), Mons. de Dreuxuma luz sobrenatural", Bresé. que lhe dizia: "Eu sou a Sim, este Pio IX do non Imaculada Conceição" possumus, varão de todas as (aparição de 25 de março intransigências santas, prode 1858). clamador de todas as verdaO Papa do Syllabus des doa a quem doer, que noutra ocasião disse a resOs sistemas filosófipeito de si mesmo: "não cos, as novas idéias políquero ser obrigado a exclaticas, as agitações somar um dia em presença do ciais, os conflitos interjuiz eterno: Vae mihi quia nacionais encadeavamSoo Pedro - estátua de bronze, Basílica Vaticana. O primeiro tacui (maldito de mim, porse, embaralhavam-se, Papa e seus sucessores, seg;undo o Concílio Vaticano I, soo que me calei)" 2• apresentando do século infal,íveis em matéria de Fé e Costumes Pelos idos de 1860, um XIX um aspecto confuso ilustre escultor, que trabae desnorteador. lhava um busto do Papa, parou um dia · foi preservada e limpa de toda a manNessa conjuntura, a atitude polítipara admirar a altura e o escampado de cha do pecado original, desde o primei- co-social de Pio IX consistiu numa sua fronte. Pio IX pegou na argila e ro instante de sua conceição, em vista réplica espiritual aos dois grandes matraçou com suas mãos os seguintes dos merecimentos de Jesus Cristo, sal- les do seu tempo: o naturalismo e o dizeres: vador dos homens, é uma doutrina re- liberalismo. velada por Deus, e por essa razão todos Sua voz se fez ouvir primeiro pela Ecce dedi frontem tuam duriorem os fiéis devem crer nela com firmeza e Encíclica Qui Pluribus, sobre os erros frontibus eorum (Eis que eu tornei o teu constância. Pelo que, se alguém tiver a modernos e os meios de combatê-los; aspecto mais rijo que o deles). Ou seja, presunção - o que Deus não permita! depois pela Encíclica Quanta Cura, por mais que seus inimigos se obstinas- -de admitir uma crença em contrário contra os erros do naturalismo e do libesem, ele seria mais forte do que eles 3 • de nossa definição, saiba que deslizou ralismo; mas seu documento mais me-
"O que mais receio por vós não são esses miseráveis da Comuna (de Paris, de 1870), verdadeiros demônios saídos do Inferno; o que mais temo é o liberalismo católico, (que) medita e trabalha sempre para acomodar duas coisas inconciliáveis: a Igreja e a Revolução'>6. Falando, a 6 de janeiro de 1875, a uma delegação da mocidade italiana sobre as verdadeiras intenções dos homens e dos partidos que vivem blasonando seu amor à liberdade, Pio IX assim se exprime: "Não há nada pior que ser revolucionário. O revolucionário deseja primeiro a liberdade, e quando chega a obtê-la, servease desta para chegar ao poder. Logo que se apossa do poderio e se acha instalado solidamente, não tem mais contemplações, e se os outros reclamam liberdade para s~ transforma-se num tirano, condenando já a liberdade. Então a liberdade degenerou em tirania e desregramento, recaindo com todo o seu peso sobre as províncias e cidades. "Desgraçados daqueles q1,e se associam com os ímpios e que brincam com a Revolução pretendendo dominá-la! Tarde ou cedo esta mesma Revolução os arrastará ao abismo" 7 •
***
QJJ,atro anos após a proclamm;iio do cÚJgma, na apariçoo de Lourdes, em 1858, Nossa Senfwra confirmou-o: "Eu sou a Imaculada Conceiçiio" morável é o Syllabus, publicado no lOU aniversário da definição do dogma da Imaculada Conceição e que continha a súmula dos principais erros da época denunciados em suas anteriores alocuções, encíclicas e outras cartas apostólicas. Foi este um de seus mais terríveis golpes contra a Revolução. De todos os erros ali fustigados: "Não há nenhum que não seja flagrante para quem, admitindo a subordinação do homem a Deus, quiser dar-se ao trabalho de meditar um pouco. Por outro lado, não há nenhum direito civil europeu que se não apoie nestes erros, nenhum governo que os não tenha adotado e não esteja disposto a tomá-los como regra de seu proceder. Desta maneira, governantes e republicanos não tiveram mais que uma voz para abafar a de Pio IX. "Censuram-lhe criar gratuita-
mente um divórcio entre o catolicismo e o liberalismo moderno .... Sim, é verdade, o Papa perturbava a paz do mundo, como a sentinela perturba o repouso do campo chamando às armas contra o inimigo; como o médico perturba o sossego do enfermo passando o escalpelo pelas carnes pútridas e gangrenadas" 5 • Esse liberalismo, diretamente proveniente da Revolução Francesa e mais remotamente oriun~o da Renascença, propugnava uma liberdade absoluta tanto na vida pública como na particular, tanto no que se refere ao Estado, como à E.conomia e à Religião. Pio IX o verberou sobretudo em sua modalidade dita "católica". Assim se exprimiu o Pontífice, fa!ando a uma delegação de franceses que o visitava em 1871:
CATOLICISMO
FEVEREIRO 1993
20
21
Este gigante da História da Igreja, o Papa que proclamou dois dentre os mais importantes dogmas, além de fulminar os erros capitais de seu tempo o naturalismo e o liberalismo - , teve reconhecidas, mediante decreto da Congregação para a Causa dos Santos, de 6 de julho de 1985, como heróicas suas virtudes. Peçamos a Nossa Senhora que apresse a beatificação do admirável Pontífice e nos conceda, nos conturbados dias por que passa atualmente a Santa Igreja, a fé inquebrantável e o vigor para defender hoje a Esposa de Cristo, análogos aos que o Venerável Pio IX praticou em sua época. LUIS CARLOS AzEVEDO
Notas 1. Alex. de Saint-Albin, História de Pio IX, tomo II, p. 211; apud J.M. Villefranche, Pio IX, Edições Panorama, São Paulo, 1948, p. 229. 2.J. M. Villefranche, op. cit, p. 227. 3. Idem, p. 174 4. Idem, pp 132-133 . 5. Idem, p. 238 . 6. Idem, p. 354. 7. Idem, pp. 376-377.
Qualidades e defeitos do caipira
Brasil Real Brasil Brasileiro
PUNIO CORRÊA DE ÜLIVEIRA
caboclo é a largueza. Vivemos em um ambiente em que os maiores plutocratas são agarrados, pequeninos e egoístas como os ma is ínfimos burgueses. A avidez e a ganância do proletariado neopagão também é bestial e repugnante. O caboclo, pelo contrário, na sua miséria semi-voluntária, tem a !argueza de um grand seigneur. A sua mesa pobre embora - sempre há lugar. Lugar, primeiramente, para os filhos que Deus manda, e para os filhos dos outros, que o infortúnio deixa na orfandade. Lugar, ainda, para toda espécie de parentel:i. Lugar, finalmente, para os estranhos de toda marca, em cujo favor a hospitalidade cabocla, sempre desinteressada, sabe multiplicar estranhamente os recursos fornecidos pelos rudimentos de horta e de pomar, em meio dos quais a velha tapera vai lentamente caindo em ruínas. É bem de ver que essa alma ca boda era um grande potencial a ser educado. Se se insuflasse ncss,1s qualidades nativas uma formação cristã genuína e vigorosa, que transformasse a meditaç.ão rica, mas infecunda, em interioridade disciplinada e produtiva; se se conservasse e se cristianizasse profunda, pela qual nosso caipira .._. esse magnífico predomínio do esvive pobre e doente, co1no Jó en1 ~ seus piores dias. E isto na própria L-- - -- - - - - - - - - - - - -- - - - ' piritual sobre o material, mas se criasse ao lado dele um sentimento terra onde o caipira poderia ter a Caipira cortando funw - Quadro de Alrneidajr., de respeito e consideração para fortuna e o esplendor dos dias em Museu Paulista com o corpo humano, o "irmão queJó era próspero e feliz. corpo", diria São Francisco de Aste, há mais pobreza na trivialidade do *** sis; se a graça de Deus, conduzida nas burguês que na espiritual indigência do O mais curioso é que essa inapetênasas de um apostolado diligente e socia, se é um defeito em si, revela a · caipira.Mas o homem nem é corpo, nem brenatural, pousando sobre tal natureza só alma, e toda a civilização que vive só grandeza de certas qualidades de que é favorável, desenvolvesse para Deus to 0 do corpo, ou só das especulações da rica a alma caipira. Assim, a primeira das essas qualidades, o Brasil muito tecoisa que impressiona na miséria do cai- alma, por isso mesmo é falha. A superia a esperar, não só do braço, mas sorioridade de espírito do cabocl9 não é pira é o que poderíamos chamar talvez bretudo da alma cabocla, para a formatitulo que justifique sua inércia. E,antes, a transcendentalidade de seus pensação de sua nacionalidade. motivo para que se aproveite seu potenmentos. Não é preciso ser grande psicócial interior na construção de um Brasil logo para sentir toda a força de contem("Legionário", 18-2-1945, excertos grande. plação que há na inércia do caipira. Perda seção "7 dias em revista", redigida dido em seu vasto e melancólico mundo *** Outra nota que impressiona no lar pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira). interior, ele se distrai com suas impres-
H
á, no fundo de nosso caipira, uma inapetência profunda e geral. Não é apenas que el~ tenha fastio em relação ao alimento. E um fastio universal. Tudo lhe basta. Um nada já lhe sobra. E a sobra o irrita. Basta-lhe a farinha como alimento, num solo onde abundam frutos de toda espécie. Basta-lhe como morada a tapera escura e decadente, quando lhe sobram meios para construir uma habitação fresca, arejada e convidativa. Em matéria de teto, só o simples sapé. Em matéria de paredes, terra amassada. A caiação é um luxo. E, por isto, não o incomoda que sobre a superfície branca das paredes se notem largos trechos escalavrados, em que aparece a cor triste e feia da taipa. Chão? Terra batida basta. Jardim? Um cercadinho avariado, por onde passam aves e porcos, feito de material precário e pobre. Neste cercadinho, raros os legumes, raríssimas as flores. Em abundância bichos e criançada. Por que tudo isto? Porque nosso caipira tempreguiça?Sim.Mas ele venceria por certo essa preguiça se sentisse o imenso mal-estar da vida em que está. Sua auto-suficiência é a causa, talvez mais
sões, idéias, anseios, com tudo quanto há de rico e indefinido em sua alma, como um espírito mais trivial, mais burguês, se distrairia contemplando sua biblioteca, seus móveis ou, melhor ainda, as prateleiras de vinho de seu bar e os álbuns de sua discoteca moderna, rica emsambas, frevos etc. Indiscutivelmen-
IN
MEMORIAM
Milton Eduardo Petterssen 1
A
pós prolongada e dolorida enfermidade, faleceu no dia 27 de dezembro último, às 18:35 hs., em São Paulo, Milton Eduardo Petterssen (43 anos), destacado cooperador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Fanu1ia e Propriedade - TFP. Em seus 25 anôs de atuação na entidade, assinalados por grande dedicação e diligência, tornou-se, por seu trato gentil e agradável com todos, excepcionalmente benquisto não só entre os sócios e cooperadores da TFP brasileira como entre os de outras TFPs que o conheceram. Ainda jovem estudante, empenhouse na difusão dos ideais da TFP nos meios estudandis da capital paranaense. Como caravanista da associação, percorreu vários estados brasileiros em contacto direto com o público. Aplicado membro da Casa de Estudos da TFP, localizada no bairro deltaquera, em São Paulo, edificou a todos pelo exemplo de sua vida de piedade. Durante algum tempo esteve no Chile, onde prestou abnegada colaboração à TFP daquele país. Mais recentemente, destacou-se emseus trabalhos na Diretoria Administrativa e Financeira da Sociedade. Atingido por mortal enfermidade, edificou a todos por suas insignes virtudes cristãs: de resignação, fortaleza de ânimo, piedade, e sobretudo, de fé, esperança e caridade. Destacou-se também por ardoroso amor à Igreja, devo-
Milton Eduardo Pelterssen
ção a Nossa Senhora e devotamento à Civilização Cristã. Agravando-se-lhe os padecimentos no dia 22 de dezembro, fez uma confissão geral e recebeu a Unção dos Enfermos. Até o dia de sua morte, manteve o hábito da Comunhão diária. Por volta das 18:15 hs., no dia 27, recebeu o Sacramento da Eucaristia com especial fervor. Transcorridos 20 minutos, depois de breve e serena agonia, entregou sua alma a Deus, portando o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo.
Membros de sua distinta família vindos especialmente de Curitiba, associaram-se inteiramente a todas as manifestações de pesar da TFP. Ovelório realizou-se na Sede do Conselho Nacional da Sociedade, à rua Maranhão 341, em São Paulo. O féretro foi acompanhado a pé por numeroso cortejo, constituído de sócios e cooperadores tanto da TFP brasileira, quanto das TFPs existentes em vários outros países. O imponente desfile, no qual os participantes envergavam as capas características da TFP e portavam numerosos estandartes da associação, contou com a participação da Fanfarra dos Santos Anjos e do Coro São Gregório VII. O público que presenciou o cortejo fúnebre, naquela radiosa tarde do dia 28, manifestou sentimentos derespeito e simpatia. Durante o sepultamento foram entoados o Credo e diversos cânticos religiosos . Usou da palavra em nome do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, o Dr. Plinio Vidigal Xavier da Silveira. O orador enalteceu as marcantes virtudes do falecido, ressaltando que os sócios e cooperadores da TFP brasileira e das demais entidades coirmãs e autônomas existentes nos cinco continentes haviam alcançado, com a morte de Milton Eduardo Petterssen, um valoroso intercessor no Céu.
-
•
Sócios e cooperadores da TFP carregarn o ataúde durante todo o percurso
A fanfarra da entidade participou do cortejo fún ebre
CATOLICISMO
FEVEREIRO 1993
22
23
r· ;\o
EDUCAÇÃO
PHARMÁCIA NATURAL PETRÓPOLIS
GATO QUE RI
~~ - , Restaurante italiano .,,,
Almoço e jantar
-~---=··-:·:... ,
Pobre ensino nacional...
Massas-Pizzas-Camcs-GrcU1ados 39 anos servindo São Paulo Estacionamento próprio
Plantas medicinais Homeopatia
Largo do Arouche, 41 - Tcl: 221-2 577
J.
Pobre ensino nacional... as escolas, de todos os rúveis, se transformam cada vez mais em parlamento. Sem dúvida teremos no futuro muitos deputados, muitos senadores, muitos sindicalistas. A dúvida é se teremos também advogados, médicos , engenheiros, professores ... Pobre ensino nacional. .. quase todo nas mãos da esquerda. Sabemos que para um comunista a verdade não está no fato real, mas no que sua imaginação fabricou. Assim é que o "educador" Paulo Freire, comunista confesso, promovido a "bonzo" em matéria de educação, anda dizendo que "o problema da educação no Brasil não é pedagógico e metodológico, mas ideológico e de recursos. Se o governo quisesse resolver o problema da educação deveria construir milhares de escolas para abrigar os milhões de crianças que não as freqüentam". Ora, P. Freire sabe perfeitamente que nove entre dez crianças brasileiras conseguem vaga em escola, que não há alarmante falta de professores, que de cada dólar encaminhado pelo governo para a educação no Nordeste só 20 centavos chegam às salas de aula, segundo estudo do Banco Mundial de 1989. O problema é mesmo outro. Mas P. Freire e seus camaradas fingem que não sabem .. É com gente assim no leme que chegará a bom porto o barco do ensino? Pobre ensino naeional... suprimiram o latim, acabaram como curso clássico, reduziram o ensino de humanidades e línguas a algo de segunda categoria. Resultado: um número cada vez maior de diplomados desconhece a herança cultural do Ocidente, além de demonstrar algumas (?) vezes uma ignorância supina a respeito de nossa língua pátria. Pobre ensino nacional... como afirmou uma educadora paulista(*), a escola brasileira virou "sinôiúmo de assistencialismo , recomposição de cardápio, formação político-ideológica, educação sexual [qu e absurdo!], ambientalismo". Aonde vamos parar? Só falta mesmo à
escola que faça o que deveria fazer: educar, desenvolver o raciocínio, transmitir cultura. Pobre ensino nacional ... os autores de livros escolares hoje em dia não se cansam de bombardear as cabeças dos alunos com chavões, como a respeito da colonização da América. Os portugueses seriam culpados de desastres ecológicos em nossos tempos coloniais, quando realizavam queimadas a fim de
Shampus - Cremes - Chás Todos à base de plantas medicinais
8ETTINCK CARVALHO
dizagem por silabação, análise, memorização, são ridicularizados, acusados, condenados. Moderno é o professor nada ensinar ao aluno, e deixar que ele aprenda sozinho ... Nossa esquerda, sempre atrasada, não gosta de olhar a experiência dos outros. Por exemplo, países da Europa já passaram pela fase de adoração desses métodos revolucionários e descobriram suas falhas. Na própria França, que foi a mais avançada
Solicite nossos catálogos gratuitamente com a relação de nossa manipulação . Remetemos tudo pel o Reembol ~o Postal Rua 16 de Março, 322 CEP 25620-040 - Petrópolis - RJ Tel. : (0242) 43-8235
Tel.: (011) 825-7707 Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos
Pobres al,unos das escolas nacionai,s ... praticar a agricultura. Seriam até culpados pelo semi-árido do Nordeste. Os mesmos livros, porém, nos ensinam que "uma das contribuições que os índios nos deixaram foi a técnica da coivara, que consiste em preparar o solo para a lavoura, por meio das queimadas". É · isto, queimadas. Moral da estória: uma mesma coisa pode ter sido boa ou má, tudo depende de quem a fez. Esses livros ... Pobre ensino nacional. .. as revistas dirigidas aos professores continuam a incentivar métodos educativos inventados pela esquerda européia ou latino-americana. Fala-se em "construtivismo", Piaget, Foucambert, Paulo Freire. Os antigos métodos de apreCAT OLICISMO
24
nesse terreno, estão sendo ressuscitadas a tabuada e a "decoreba". Mas nossos educadores fechamos olhos à evidência e censuram os professores que cedem à tentação de ensinar o b-a-bá. Pobre ensino nacional ... os professores, ah! os professores. Seu salário costuma ser menor que o de motorista profissional e igual ao de empregada doméstica. Será que formar as mentes que dirigirão o Brasil de amanhã vale menos do que conduzir um veículo ou empunhar espanador e vassoura? Pobre ... pobre ensino nacional... • Profa. Guiomar Namo de Mello, e m "Veja", 20-11-91.
constantemente mantidos em alto padrão . FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro , quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado .
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO :::....;:..;::..::.;.;..,;.._J...=.=....-
.1111a.
Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpres trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu
-'©:i WRôPALACE __ 111111
dns Pnlmcirns, 78 - Tcl. 1011) 220-0422 - CEP.01226 TELEX 11 23208 - FAX 10111 220-9955 DDG 1011 l 800-8272 Siio Pnulo
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ' Ao 1
.
-X -
Lord Palace Hotel:
1
Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços.
1
Nome:
1
CEP:
End. : Cidade:
............................ UF:
·~
MEDALHA MILAGROSA ' de Nossa Senhora das Graças ~
15mm em latão e em alumínio 48mm em latão IMAG ENS de N. Sra. das Graças, gesso , cor marfim, 20cm .
ES&\\
Assessoria Contábil &Tributária S/C Ltda. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS Edivaldo José Ciryllo Rangel
FALKENBERG BRINDES LT OA. Rua Suzana, 794 - CEP 03223 - São Paulo - SP
São Paulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068 Rua Julio de Castilhos, 1081 -
Tel: (011) 216.5282
Belém -
A esperança dos impios reside no
presente; a tua, no futuro SANTO AGOSTINHO
pertencem ao passado e, por seus pensamentos, ao amanhã, dificilmente encontram lugar no presente LOUIS DE BONALD
O amanhã está mais para ser descoberto do que para ser inventado
Comércio de Carnes
GAsTON BERGER
Norton
O futuro é a parcela mais sensivel do instante
Atacadista de carnes em geral
PAUL VALÉRY
Os homens que, pelos seus sentimentos,
R. Joaquim Cavalhares, 79
O passado prepara o presente, o presente protege o passado, o passado e o presente elaboram o futuro PUNI0 C0RRÊA DE OLIVEIRA
O futuro não se aceita, mas se faz GE0RGES BERNAN0S
Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
------------§ :::::= -
--- ·. --------
Talento Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Seguranç~ . ::::= Soluções originais ~ Harmonia Elegância ~ ~ Sensibilidade ~ Sofisticação :::::= ~ Classe ::::== c onstrutora ERG ~ A bamento personalizado § _ ca 1·d ADOLPHO LINDENB S/A =--=== Local privi egia o :::== ", 6º e 7° andar ::::::=: Sucesso :::::::: Rua Gcrn: ral Jardim . 7 0 . zc. ~ ll 4 I 1 . São Paulo l·onc : ,o
•
::::::= \
tudo com a
-~ g~ ----
===
--
·nÍU,ura
ntia desta ass1
=.=.=.=:
· Sorriso forçado, olhar fixo na máquina fotográfica , o personagem se gaba de ostentar a foice e o martelo, pintados de modo berrante em seu rosto. O comunismo morreu? Ou reaparece com face nova?
CATOLICISMO 42 anos de luta, na fidelidade doutrinária N 2 507 Março 1993
•, Discernindo, distinguindo, classificando...
O Rei Casto D. Sebastião, Rei de Portugal e do Brasil. À medida que "seu corpo vestia-se de castidade", ele rogava a Deus: "concedei-me ser vosso capitão!" Nossa época é cheia de contradições. Uma delas, não pequena, se refere ao modo de apreciar.a virtude da castidade. De um lado, a castidade se encontra tão abolida dos costumes, que as próprias palavras virgindade e castidade praticamente não se usam mais. São termos envelhecidos em face da avalanche de imoralidades, adultérios, homossexualismo e não sei mais que aberrações, tidas como "nonnais", "naturais"... De outro lado, na época em que freqüentei os bancos escolares, no ensino de História, os alunos aprendiam a "escandalizarse" com reis como Luís XIV e Luís XV, da França, devido a suas concubinas. As Montespan, as Pompadour eram apresentadas como megeras insuportáveis, símbolos da depravação daqueD. les soberanos e de suas cortes. E quase nada se dizia do índice assustador de imoralidade de não sei quantos ambientes políticos de muitíssimas nações. Se, em escândalos de todo tipo, nossa época é pródiga, hoje em dia o que a mídia ressalta com volúpia, rasgando as vestes como os antigos fariseus, são os lamentáveis fatos que têm ocorrido na família real britânica. É claro que, em tudo quanto membros daquela ilustre estirpe são protagonistas de ações contrárias à Lei de Deus, eles são censuráveis e, co11forme o caso, até altamente censuráveis. Mas - aqui está a co11tradição ululante - por que não são também censuráveis todos quantos fazem coisas equivalentes ou muito piores, sejam eles Presidentes da República, senadores, deputados, ministros ou simples particulares? Por que essa indignação tem mão e 11ão tem contra-mão? Será que a impureza só é vício em
po vestia-se de castidade. Não deixava que nenhuma dama lhe tocasse, e quando passeava a cavalo pela Rua Nova, ou pelas betesgas [becos] da velha e mourisca Lisboa, jamais levantava os olhos para as donzelas que chegavam às venta nas [janelas ) ou curiosamente espreitavam por detrás das verdes adufas [ muxarabiês] árabes. "Era que seu esplrito, vivendo exclusivamente para o catolicismo e para a guerra, queria servir estas idé ias com almll pura e corpo casto. "Uma manlu'i, na ign,ja d,• Sdo Roque, confessado e co1111mwulo, recolheu-se todo em si, li ClllH•ç11 inclinada para o peito, em profim da absorção. Esteve llssim muito tempo. Depois, ergueu il fronl<', pôs firme os olhos num crucifixo alto e, entre grossas lágrima.,; ro Sebastião, o Rei-urgem de Portugal e do gou com a alma int •ira: Brasil, de 1557 a 1578 "- S enhor, V6s que li t1mtos casas reais ou estirpes com brasões príncipes haveis concedido implrios nobiliárquicos? e monarq1tias, concedei-m<· ser vosso Alguém dirá: é porque o escândalo capitão! choca mais quando se manifesta entre "Eram trlJs flS s,ws oraç(xw diárias: reis, príncipes e nobres. "- Que Deus o inflamflsS<' no zdo Se assim é, a virtude da castidade da fé, que éle queria propagflr pelo deveria brilhar mais neles do que cn1 mundo; - q1te Deus o torrwsse um outros. Por que então não se salientam ardido guerreiro; - que Deus o cone 11ão se elogiam os reis, príncipes e servasse casto. nobres que foram modelos de castida"Ser casto! Para ele a castidade de? E os houvealésantos,e em grande era uma graça física que o tornava número. forte, uma fortaleza que o fazia ledo Bem perto de 116s pelos laços da [alegre]. A castidade dilatava-lhe a História e do afeto está D. Sebastião alma, amando a todos -ao reino, à de Portugal e do Brasil, o rci casto. grei [ ao povo]. Era uma pureza q,u~ Leiamos a seu respeito esta admirável vivendo em si, marcava conceito no página do talentoso e renomado escribre em todos os seus prop6siu,s, lhe tor português, Antero de Figueiredo punha frescor no olhar e //, e fmmi11 (Dom Sebastião, Rei de Portugal, Li[tomava brilhante] as faa.ç om ,w1r vraria Bertrand, 1943, Lisboa). risos brancos. S er casto "r" 11,wtir "'" arnês [annadura l de camlum ". *** "Sua alma cada vez mais se esmaltava de intenções formosas, e seu corC.A.
Assestando o foco
Q
uando os Apóstolos, após Pentecostes, iniciavam sua pregação por toda a Palestina, havia na cidade de Samaria um homem chamado Simão, o qual exercia a magia "e todos lhe davam ouvidos desde o menor até o maior .... E obedeciam-lhe, porque com suas artes mágicas os trazia seduzidos desde há muito tempo'' (Atos 8, 9-11). Na ocasião, o próprio Simão Mago se fez batizar, mas com sinceridade bastante duvidosa, pois .assim que viu São Pedro e São João impondo as mãos aos fiéis para transmitil(lhes o Espírito Santo, "ofereceu-lhes àinheiro, dizendo: Daime também a mim este poder". São Pedro, justamente indignado, respondeu-lhe: "O teu dinheiro pereça contigo, visto que julgaste que o dom de Deus se adquire com dinheiro. Tu não tens parte nem sorte neste minis-
tério, porque o teu coração não é reto diante de Deus .. .. eu vejo-te cheio de amargosíssimo fel e entre os laços da iniqüidade". Assustado como que ouvira, Simão Mago pede orações aos Apóstolos, mas o livro sagrado nada nos conta sobre como prosseguiu sua vida. O relato acima é completado por uma antiga tradição. São Pedro, chegando a Roma, lá encontrou novamente o mesmo Simão, entregue a suas artes mágicas. Querendo mostrar que, a exemplo de Cristo, era capaz de elevar-se nos ares, o mago voava pelos céus de Roma transportado por demônios, com grande admiração do povo. Para fazer cessar tão grande escândalo, São Pedro rogou a Deus, e, por sua oraç.iío exorcística, os demônios abandonaram Simão em pleno ar, o qual,
caindo, se estatelou no chão. Tal narração - tanto a da Escritura quanto a da legenda - é aqui recordada, muito a propósito, em face da espantosa proliferação, em nossos dias, de artes diabólicas que chegam, como no paganismo antigo, aos sacrifícios humanos, especialmente de crianças. Documentado artigo, que estampamos nesta edição, aborda com precisão esses fatos que as circunstâncias atuais nos obrigam absolutamente a conhecer, se queremos ser sérios. É de se conjeturar que o triunfo do Imaculado Coração de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima, tenha, entre outros aspectos, também um efeito exorcístico semelhante ao da vitória de São Pedro sobre Simão Mago.
Índice 1
Discernindo ... O rei casto 2 A Realidade Concisamente Influência da tradição 4 Atua/Idade A escalada da bruxaria e dos ritos satâni'Cos 5 Nacional A opinião pública brasileira ante a alternativa Monarquia-República 11 Caderno Especial Festa de Anunciação de Maria Santíssima 13 História Poema à Virgem, insigne preito mariano do Apóstolo do Brasil 17 Brasll Real, Brasl/ Brasl/elro Sem-terra, sem-teto ... mas completamente de outro jeito 19 Escrevem os leitores Mais exemplares 20 Comente, comente O sucesso do medíocre e a glória do santo 21 Hagiografia São José 22 Internacional O enigma da Rússia: luzes e sombras no quadro 24 Em painel Frases e imagens 27
,
Catolicismo é uma
publi::ação mensal da Edfora Padre Belchior de Po ntes Lida. Diretor: Paulo Corrêa de Br~o Rho Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o N2 13748 Redação e Gerência: Rua Martim Fra ncisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP Tel: (011) 825.7707 Diagramação: Antonio Carlos F. Cordero Fotolitos: Mi::roformas Fotofitos Lida. Rua Javaés, 681 - 01 130-01 O São Paulo - SP Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Edlora Ltda. Rua Javaés, 681 - 01130-01 O São Paulo - SP
Acorrespondência relatila à assi-· nalll'a e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Jaguaribe, 648 Co~. 02 - CEP 01 224-000 - São Paulo - SP Fone: (011) 66-3361 ISSN - 0008-8528
Nossa capa: A queda de Simão Mago - Escola Italiana, séc. XV
CATOLICISMO
MARÇO 1993
2
3
Universidade de Oxford
biente propício não só para elaborar como para transmitir suas idéias, sonhos, alegrias e apreensões. Prec;entemente, o convívio social só tinha a ganhar com essa instituição que, em 1960, contava com 200 mil estabelecimentos. Hoje, entretanto, seu número está reduzido para menos de 60 mil, vítima não só das lanchonetes, mas da televisão, pois um número cada vez maior de franceses é levado a beber em casa diante da "telinha".
Influência da tradição . Um ex-al uno da tradicional e famosa Universidade de Oxford, Inglaterra, tornou-se o atual presidente dos Estados Unidos. Três membros do gabinete de William Clinton, dois juízes da Corte Suprema e um considerável número de membros do Congresso norteamericano são ex-"oxford ianos". O príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, e sua futura esposa, Masako, estão entre seus ex-alunos. Nela estudam 400 japoneses e 9000 norteamericanos. Comenta a revista inglesa "The Economist": "A Inglaterra não mais dirige o mundo. Porém, graças a uma velha Universidade, com um nome excelente, ela pelo menos ·ajuda a modelar os governantes do mundo".
TV X Cafés Os caíés franceses são uma . famosa instituição que, nos úl timos 300 anos, serviu de veículo para influenciar a fundo a sociedade. Filósofos, literatos, artistas e mesmo o povo em geral encontraram neles o am-
substituam "por uma cômoda Luís XIV, por uma tulipa holandesa ou cravo isra e lense" , que, segundo os agricultores, combina mais com o espírito do partido. Um dos motivos da rejeição é o aumento de imposto sobre a venda de flores.
Nem prêmio, nem castigo = castigo! A idéia de prêmio e castigo, pode-se dizer, faz parte da natureza humana. É clássica a figura do bom aluno, que recebe prêmio por ter-se distinguido nos estudos. O mau aluno, pelo contrário, recebe o castigo das notas baixas, e, conforme o caso, a reprovação. Na vida profissional, a mesma coisa ocorre. Premeia-
O punho e a rosa O símbolo de uma empresa, partido político ou time esportivo exprime algo da mentalidade que orienta a instituição. O sinistro símbolo - a foice e martelo - dosdiv rsos Partidos Comunistas t.orn utão impopular qu , m todi am nte, v m nd ai ,ind n, do . Os so ialista fr, n s s adotaram um símbol apar ntom ntc mais simpáli : um punho gur, nd uma r P rém, o punho s gura om tal brutalidade a rosa - como o pôs em evidência o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu comunicado "O punho estrangulando a rosa" - , que constitui, por assim dizer, um mistério oomo esta resiste. Sentindo na própria pele a .ação nefasta dos socialistas, os produtores de flores franceses enviaram carta pedindo que o Partido retire de seu logotipo a rosa-símbolo. Sugerem que a
nos nos cinco primeiros anos de escolaridade. Por quê? A repetência desmotiva o aluno! Como não ver que, garantida a aprovação, e la se tornar.á pelo menos um desestimulo ao estudo, à aplicação etc., fa vorecendo a preguiça e a desatenção? Tal sistema já não deu certo em Santa Catarina, porque se trata de utopia que viola a natureza humana. Nem prêmio, nem castigo: eis ocastigo!
ONU - Mau Conselho - Calfás - Infonna o jornal "Toe Australian" que foram encontrados em Jerusalém os ossos de Caifás - sumo-sacerdote que pressionou Pilatos, governador romano, a condenar à morte Nosso Senhor Jesus Cristo. É também digno de nota que os restos mortais de Caifás foramJocalizados num parque, próximo da colina tradicionalmente conhecida como "Colina do Mau Conselho", onde as Nações Unidas têm sua sede em JerusalénL
Mais caixões que berços!
Nem lâmpada, nem vela Cuba está mergulhada na pior crise econômica, desde 1959, quando Fidel Castro tomou o poder. O que não é dizer pouco! Falta energia elétrica e, além disso, o governo advertiu que até mesmo as velas fazem parte da extensa lista de produtos escassos, a qual inclui frutas, remédios, sabonete, gaso-
Até há bem pouco tempo
as famílias numerosas constituíam, sobretudo no campo, um fator de prosperidade. Contratava-se de preferência - por exemplo, no cultivo do café - as que tinham maior número de braços. A pr I numerosa represcnl, w, , inda um fator de amparo a s pnis na velhice. O sald p iliv ntre nascimentos 6bit s 6 um sinal da saúde nã s6 ffsicn, mas sobretud spiritu,11 d um país. Cada vc; mni cm n s s trist s dias aumc nla númcr cJ n;iç >O. m d6fi il popul, i nnl. A o ntrári do qu se divulgn, muil do qu fruto d ri ' nômi .a, 1al d6fi it é um sinal ins fi. máv ~I da pr funda cri se m ral ciuc , ling mundo h di rn . Mais um p fs se soma aos vários que tê m sua popula ção diminuída : a Rússia, onde o número de mortes excede em 72 mil o de nascimentos! Diz um especialista em demografia de Moscou: "temos mais caixões do que berços" ...
-·-
lina e outros artigos de primeira necessidade.
-·-
cém-fundado Partido da Liberdade Econômica. Segundo eles, Yeltsin não só não perdoou esses comerciantes da era soviética, como também permite que as detenções continuem.
-·-
Ter lucro é crime - A maioria desses empresários foi encarcerada pelos seguintes "delitos": ter lucro num negócio, aceitar presentes de sócios comerciais, gastar dólares ou outras moedas fortes. O estudante Oleg Khitrov, por exemplo, foi condenado a sete anos de prisão, em 1989em plena era do "liberal" Gorbachcv - , por ter comprado 70 dólares!
Matou o filhinho e deu o cadáver ao cão - Um nova-iorquino matou seu filhinho de apenas seis dias, e fez o cachorro comer o corpo da inocente vítima. O pai assassino disse ter ficado com raiva, porque a criança satisfiz.era uma necessidade fisiológica! Rússia: 90 mil empresários na cadeia Um dos motivos por que Yeltsin enfrenta tanta dificuldade em criar uma economia de livre mercado é este: perto de 90 mil empresários estão definhando nas prisões , segundo artigo do "Los Angeles Times", reproduzido pelo "Jornal do Brasil". Tal afirmação foi feita por líderes de negócios da Rússia a antigos dissidentes soviéticos. Muitos desses líderes pertencem ao re-
-·-
-·-
Suicídio de crianças - Na Alemanha, 40 crianças tentam o suicídio a cada dia, e quatro delas o efetivam. Esses dados altamente preocupantes foramdivu lgados emBonn, pela Associação de Tutela da Infância.
DESTAO.!Jj\J Assinaram sem ler... Em menos de oito horas, 54 deputados (cerca de 10% da Câmara) assinaram um projeto simulado, preparado pela "Folha de S. Paulo", que faz o Brasil retornar à condição de colônia de Portugal, e restabelece a escravidão no País. Os parlamentares, cm declarações publicadas na edição de 17 de janeiro do referido jornal, admitem que assinaram a proposição sem ler! Existem moças cujo trabalho consiste em obter assinaturas de congressistas para projetos a serem apresentados. Neste caso, o projeto ademais era atribuído a um deputado que não existe, batizado de José Fagundes, o qual propunha que todo o território naciona I e as reservas em dólares passassem para o Governo portu-
guês. Tentando justificar-se, o deputado José Dirceu (PT-SP) argumentou que sua assinatura "representa apenas um apoiamento à discussão do projeto e não um apoio às idéias que defende". Como se fosse possível apoiar a discussão da volta do Brasil à situação de colônia, e reinstauração da escravidão ... Já Hilário Braum (PMDB-RS) disse que fica "com pena destas gurias que ganham um
troquinho para conseguir assinaturas". Parece que não fica com pena do Brasil! Enquanto Geraldo Alkmin Filho (PSDB-SP) declarou: "quando assinei, já existiam diversas assinaturas na folha". Maria-vai-com-as-outras!? E assim prosseguem a~ explicações ... que não explicam onde foi parar a seriedade do Congresso Nacional.
Outras mazelas A mesma edição daquele matutino paulista informa que a Gráfica do Senado imprime cadernos escolares com fotos, nomes e propaganda dos senadores. Que dos 4 mil assessores parlamentares
CATOLICISMO
MARÇO 1993
4
5
pagos pela Câmara, 2.500 ficam nos Estados, atuando como cabos eleitorais. Que a Câmara possui uma Assessoria Legislativa com 115 técnicos por ela contra ta dos para fazer minutas de projetos, pareceres, discursos etc. (ao que tudo indica, os deputados se limitam a lê-los, talvez corrigindo um pouco antes). Que, o pior está nisto: ao mes.m o tempo a Câmara sustenta uma estrutura paralela - paga Cr$ 300 milhões ao IPEAC, uma empresa particular de pesquisas, a fim de fazer exatamente o mesmo trabalho da Assessoria Legislativa. Que ... o jornal pára por aqui.Realmente, é melhor não prosseguir.
Não podemos nos habituar ATUALIDADE
A escalada da bruxaria e dos ritos satânicos Práticas diabólicas, que proliferavam na Antigüidade pagã e no início do Cristianismo, renascem e tomam vigor crescente em nossa época de neopaganismo, exigindo, da parte dos católicos, vigilância especial
e
uma civilização nascida de o nta uma bela e p iedosa Cristo e que O repudiava. tradição que o Menino Nosso Senhor mesmo haJesus, em sua fuga para o Egivia advertido seus seguidores to nos braços de sua tema Mãe para que vigiassem, pois o dee sob a proteção vigilante de mônio, depois de ter s ido exSão José, fazia ruir à sua simpulso de u m homem (ou de ples passagem os ídolos que uma geração), "vai e toma infestavam aquelas regiões. consigo outros sete espíritos Era o Rei legítimo que chegapiores do que ele" e volta va a esta Terra para dela tomar àquele mesmo lugar: "e o últiposse, e anunciava sua presenmo estado daque le homem ça ao demônio usurpador destorna-se pior que o primeiro" truindo-lhe as estátuas, símbo(Mt. 12, 45). E o que boje cm los de seu maléfico poder, nas SM Pedro disputando com Sim{Í,O Mago -A. Tiarini dia podemos constatar, sem diquais astutamente se fazia ficuldade. (1577-1668), GaleriaDoria, Roma adorar. Porém, abj etamente orgudro, já em Roma, exorcizando os demôDe fato, há muito tempo lhoso, Satanás não se contenta cm domi nios que sustentavam Simão Mago no que a decadência da humanidade a ha~ia nar como verme oculto dentro da fruta ar, o que fez com que ele se estatelasse feito chegar aos piores horrores do pado prazer. Ele quer, no fim do caminho, no solo (ver"Assestando o Foco", p. 3). ganismo. O próprio povo eleito de enmostrar-se como é, fazer-se adorar cm Leis, costumes, atitudes, tudo enfim tão, a quem Deus cumulara de graças e toda sua hcdiondez. de bênçãos, não soubera manter altivo a se viu penetrado pela santidade do crisintegridade de sua fé e de suas leis, e se deixara arrastar à imitação indigna de seus vizinhos, ao servilismo político, à hipocrisia religiosa e mesmo à heresia declarada. Satanás imperava por toda parte. Cristo veio quebrar-lhe o cetro. A partir do Natal do ano I, "onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rom. 5, 20), começou nova era histórica: a Santa Igreja, arca da salvação, foi fundada à custa do Sangue precioso de Cristo, os homens foram redimidos, as almas se purificaram, as mentalidades se modificaram, Nossa Senhora nos foi dada como penhor de misericórdia. Quebrado cm sua base, foi retrocedendo o poder diabólico, cujos vestígios ainda encontramos nos relatos das Epístolas e dos Atos dos Apóstolos. É neste último livro sagrado que lemos, por exemplo, a famosa disputa de São Pedro com Simão Mago, o qual, por suas artes diabólicas, "trazia seduzidos desde há muito" (8, 9) os habitantes de Samaria. Uma tradição bastante arraigada completa o quadro, falando-nos de São Pe-
tianismo, produzindo no decorrer dos séculos uma esplêndida civilização ca tólica, da qual nasceram, como de terra abençoada, santos e santas cm profusão .
O demônio que volta Mas, a partir de certo momento que pode situar-se historicamente no fim da Idade Média e começo dos Tempos Modernos - os homens se cansaram de levar "o jugo suave e o fardo leve" de Cristo (Mt. 11, 30), e começaram a reintroduzir em suas vidas o gosto pagão pelo prazer mundano. E com ele, involucrado nas delícias como o verme no coração da fruta, retomava disfarçado o demônio. De lá para cá, pouco a pouco, a presença diabólica foi-se fazendo progressivamente atuante, em busca de um domínio efetivo e geral. Mas uma presença e um domínio ainda mais terríveis do que nos tempos anteriores à Encarnação do Verbo, pois então Satanás dominava os que não haviam conhecido o Redentor; agora ele cavalgava a apostasia de CATOLICISMO
6
Que at.é esse extreino chegaríamos, o havia previsto com admirável penetração de espírito o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 1976, quando perguntava, com base no desenrolar dos acontecimentos contemporâneos: já não "é dado ao católico divisar as fulgurações enganosas, o cântico a um tempo sinistro e atraente, emoliente e delirante, ateu e fetichisticamente crédulo com que, do fundo dos abismos em que eternamente jaz, o príncipe das trevas atrai os ho: mens que negaram a Igreja de Cristo? E uma pergunta sobre a qual podem e devem discutir os teólogos. Digo os teólogos verdadeiros, ou seja, os poucos que ainda crêem na existência do dem{)nio ' do inferno" ("Revolução e Contra-Revolução", apud. Catolicismo, agostoN2). Hoje em dia, bem se pmh-d11 diz ·r que"tenebraefactae sunf" (Lu<' .· \, 44) (fizeram-se trcv11s) sohu· o 1111111cl11. A'i manifestações d i11h 1lil'11 v110 pontilhando, aqui, lá l' lll'OI 11 fn'lrndo T 1·11da vez mais fo:qllt·nh's, nwis 01111111111 , 11111 is inso lcnksl
Já tivemos oportunidade de noticiar e comentar nesta mesma revista (" Ofensiva da Bruxaria-Os antros se abrem", novembro/91) a proliferação de feitiçarias, magias, pajelanças, metempsicoses, curandeirismos, astrologia, tarologia, búzios, "sensitivos"; e mesmo filosofias, meditações ou práticas ditas orientais, aparentadas à ioga ou à parapsicologia. Difundem-se através de congressos, cursos, livros, feiras "místicas" e transborda para os shoppings e até para as ruas e praças das cidades, onde cartomantes, gurus, astrólogos e outros que tais oferecem seus "serviços" aos incautos. E com grande cobertura da mídia. Nisso tudo, qu e de lá para cá só cresceu, se há muito de vulgar charlatanismo e até, quiçá, de efeitos naturais, não deixa de estar presente também, "em proporções difíceis de medir" dizíamos no artigo citado - , muito de influência diabólica. Ora, é exatamente essa co mponente diabólica que veio claramente se avolumando a partir de então. O demônio parece ir-se sentindo mais "à vontad e" para manifestar abertamente toda sua asquerosa e repelente figura . E também, de vez em quando , soltar um urro que faz estremecer... mas que acos't uma : " não são poucos os qu e acred itam que as seitas satânicas já fazem parte da rea lidade" (OG, 23-8-92). Pesqu isa da Info-Globo, na Grande Rio, apurou que "80% não têm dúvidas da ex istência de seitas qu e se dedicam aos sacrifícios liu ma nos ". Dentre 439 pessoas entrev istad as, 17 chegaram a ponto de afirmar que "encomendaria m um trabalho de magia negra contra uma pessoa que as estivesse prejudicando" (ide m).
Certos fatos, por mais horríveis que sejam, vãose tomando rotina. É preciso, pois, absolutamente conhecê-los. De uni lado para evitar a nossas ai mas o supremo mal que seria habituar-se a conviver com os ritos satânicos, primeiro passo para ser depois absorvido por eles. E sobretudo para ter em relação ao de mônio que avahça a única atitude de espírito possível a um verdadeiro católico: horror, indigna ção e oposição total, que constituem a outra face do amor de
Moloch - Divi.ndade pagã cultuada em Cartago à qual se ofereciam crianças, cujos corpos eram queimados dentro do ídolo; imolações semelhantes de crianças sãn praticadas aLé nossos dias em rituai,s de magi,a negra Deus.
Fatos concretos * Contatos - No Rio , Ary Araujo, "da Editora Palias, especializada e m esoterismo , revela que cresce o número dos que ligam para a Editora em busca de um contato com o demônio" (OG, 23-8-92).
* Crianças queimadas - "Em nome do diabo crescem também no Rio os casos de crianças queimadas ou sangradas até a morte por integrantes de seitas macabras ou adeptos da magia negra" (idem). * Guaratuba - Ficou tristemente famoso o ca so de Guara tuba-PR. O menino Evandro Ramos Caetano, de sete anos, " foi morto durante um ritual satânico comandado por Oswaldo Marceneiro, o Bruxo" e seus auxiliares David dos Santos Soares e Vicente de Paula Ferreira. Duas mulheres, Celina Corde iro Abbage e Beatri z Abbage, respectivamente mulher e filha do prefeito local ,
haviam seqüestrado o menino, conduzindo-o ao ritua 1. Um dos bruxos e as duas mulheres seguravam Evandro pelas mãos e pelos pés, enquanto outro o estrangulava, e cortava-lhe o pescoço para retirar o sa\1gue. Em seguida, com um serrote e uma faca abriram-lhe o peito e o abdômen e retiraram órgãos internos para oferecêlos ao demônio. Cortaram também os órgãos genitais, os pezinhos e as mãozinhas, tudo para ser oferecido. No ritual, "pedia-se a Exu (o diabo, no candomblé) proteção e sucesso financeiro". Tudo foi feito ao som de pontos de macumba (TS e OE de 10-7-92). Há suspeita de casos semelhantes na mesma regi ão . Os três bruxos confessaram também te r seqüestrado o menino Leandro Rossi, oito anos, e m 15-2-92 (FSP, 13-792). * Discos Voadores - A seita dos bruxos teria ramificações na Argentina. Um argentino, José Alfredo Taruggi, e sua mulher brasileira, Valcntina Andra-
Bruxedos na Eco-92 Os que acompanharam o desenDe fa to, basta dizer que na "Vigília das Re ligiões do Mundo", ocorrida rolar dos fatos ocorridos na Eco-92, realizada no Rio de Jane iro de 3 a 14 - numa madrugada, na Praia do Flame ngo, dura nte a Eco-92, cada uma de junho último , pude ra m da r-se condas numerosas se itas mágico-tribalista de como va i longe a insole nte outas ali prese ntes - i~ lusive a chamasadia dos bruxedos, e que altos prote tores tê m eles no mundo a tual. A ponda "Igreja Unida de Satanás" - entregaram-se a seus ritos e macumbas, to de o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira invocando seus "de uses". E que, em ter leva ntado a hipótese, com base no me io a esse estranho sabat, também o ali ocorrido, de que "o de mônio estaPresidente da CNBB, D. Luciano ria proje tando a sombra de sua banMe ndes de Alme ida, ce le brou uma de ira sobre toda a Terra '.' ("Eco-92: Missa e D. Helde r Câmara pronunAparência e Realidade profunda", in ciou uma Oração à Te rra! Catolicismo, setembro/92). MARÇO 1993
7
Da/ai-Lama (esq.) e D. Helder Câmara durante uma reuniãn do Parlamento da Terra, constante do programa <ÍiJ Fornm Global das ONGs, naEco-92
Assembléia de fei,ticei,ras - Francisco Goya (1819 - 1823 ), Museu do Prado, Madri de, suspeitos de participação nesses crimes, fugiram de Londrina, onde residiam. Presidem eles a uma seita de magia negra chamada Lineamento Universal Superior, e já tentaram, sem êxito, levar os membros dela ao suicídio.
mônio' no momento do crime" (OG, 12-7-92). * TV - A TV Globo se propôs a exibir o filme "Adoradores do Diabo". O aeronauta Lineu Gomes Marinho de Andrade, indignado, recorreu a ação judicial contra a exibição, alegando, com razão, que a bruxaria do enredo inspira assassinatos de crianças. Deu-se no entretempo o caso de Guaratuba e a Globo oportunamente (oportunisticamente seria melhor dizer) suspendeu a exibiç.ão (JB, 15-7-92).
Em sua residência de Londrina, encontrou-se um livro escrito por Valentina, "Deus, a grande farsa", o qual mostra uma imagem do diabo com o ventre aberto, onde aparece uma criança. Também se achou uma fita de vídeo-cassette com cenas referentes ao sexo, numa es- . * Classe alta -Apesar de ser um pécie de rito satânico. Valentina se apresenta como estudiosa de discos voado- dos países mais violentos do mundo, res e afirma ouvir vozes extra-terrestres. "durante a última década, o culto a Satanás na Colômbia chegou a um auge Noutra fita, Taruggi manda matar uma criancinha (1S, 18-7-92; JT, 16-7-92; maior do que o homicídio e as lesões pessoais". Tal é a conclusão de um inFSP, 22-7-92; JB, 24-7-92). quérito realizado em 122 paróquias de * Homenagem - "Episódios seme- Bogotá. lhantes ao de Guaratuba têm acontecido com preocupante freqüência nos últimos anos. Podem diferir nos detalhes, mas guardam em comum o fato de as pessoas serem sacrificadas 'em homenagem ao diabo'. Há casos em que os assassinos se dizem 'possuídos pelo de-
"O pacto com o diabo e a utilização de malefícios são manifestações que estão aflorando espontaneamente, e com mais freqüência nos grupos de oração paroquiais", informam os sacerdotes consultados. E acrescentam: "Isto se pratica mais nas classes média e alta".
Segundo alguns párocos, "o encontro de cadáveres de crianças mutiladas em Cauca, em 1989, e o assassinato de um sacerdote no Valle, em 1991, são indícios da realização de ritos satânicos. "Dezenas de pessoas acorrem à Catedral de Rionegro e à de Sonsón para que Mons. Jaramillo (Bispo exorcista) as livre de maleficios .... Há casos raros, mas que ocorrem, nos quais as pessoas expelem pela boca animais como vermes e rãs" (ET, 6-3-92). * Adoração - O pai-de-santo Marcos Fabian Vieira, "em noite de lua cheia invade os cemitérios para roubar crânios para seus rituais de magia negra para o bem ou para o mal .... Nas noites de cerimônia se apresenta como pai Marcos Diabo e incorpora o Exu Tiriri - o próprio diabo em pessoa. É assim que abre seu terreiro às sextas-feiras para atender uma clientela que varia entre 30 e 40 pessoas semanalmente. Adorador co1úesso de Satã, ele garante que ~ capaz tanto de salvar vidas como de matar através da magia negrd" (OG, 23-8-92). * Sangue - Em maio do ano passado, a menina Fernanda Soares Militão,
Rock:
Ossos para o Diabo O demonismo, como é sabido, há algum tempo vem invadindo os grupos de rock, sobretudo do tipo heavy metal (meral pesado), inspirando letras de músicas e nomes de conjuntos como 8/ack Sabbath (Sábado Negro), Judas Priest (0 Sacerdote Judas), Kiss (que seria uma sigla de Kid in Satan's Seryice - Cabrito a Serviço de Satanás) e outros. "Integrantes da ala mais radical da tribo dos metaleiros, os Death
Bangers(Batedores da Morte), da Ilha do Covernador-RJ, cultuam a morte e se dedicam a estudar rituais salc'lnicos. Eles não hesitam em entrar cm cemitérios, violar túmulos e retirar ossos para homenagear o diabo. Costumam ainda comer e beber as oforendas aos santos dos 'despachos' d umbanda. 'Preferimos o diabo, qu tem a mesma força d Jesus', afirrné'l Abutre", inlegranto do grupo ( C, 4-10-92).
12 anos, foi morta por João Rocha Silva e outro comparsa em Guapó, a 30 quilômetros de Goiânia, a pedido do pai-desa nto Donizete Martins do Carmo, "que precisava do sangue para um trabalho de magia negra". Primeiro cortaram-lhe o pescoço para retirar o sangue, e depois o corpo foi violentado. O sangue da menina foi guardado numa geladeira e utilizado depois num ritual de magia negra, do qual participaram pelo menos seis pessoas, sob o comando de Edmilson de Oxumaré (JB, 29-5-92; JT, 13-792 e FSP, 6-12-92). *Cerimônia-José Luís da Silva, em Bananal-SP, "até hoje não sabe explicar por que matou a sobrinha, Fabia-
* Fascinante - "Você acredita no demônio?" perguntou um repórter ao escritor e bruxo brasileiro Paulo Coelho. Resposta: "Acredito. E ele é sedutor e fascinante". Durante seis anos Paulo Coelho e um grupo de amigos "procuraram os favores do demônio através da magia negra". Depois, buscou livrar-se do pacto (OG, 23-8-92). * Coração - Nos EUA, os Gyspsy Jockeys (ciganos trapaceiros) têm como seu último grau de iniciação a "Consagração Total ao Mal". Para atingi-lo, o adepto tem de comer o coração de uma vítima humana. Em Los Angeles, os Bike Groups (Grupo Bicicleta) sacrificam animais, principalmente cães, para
Anton Sandor Lavcy, fundador da "irçreja de Satanás", situada em Sã.o Francisco (EUA) ... ne, de 3 anos, numa cerimônia de magia negra" (OG, 23-8-92). * Ao ouvido - Existem "grupos vampirescos na Califórnia, que vão da teoria draculesca até a prática de beber sangue humano". O "célebreSandor Lavey, o papa do demonismo nos EUA", esteve num Congresso de Bruxos na Cidade do México, ao qual também esteve presente o Pe. Oscar Quevedo, que atua no Brasil como parapsicólogo. Nesse Congresso, a filha de Sandor, sobre cujo corpo são celebradas missas negras, "sussurrou ao ouvido do Pe. Quevedo: Nosso ideal é matar humanos, certos humanos .... Porque se Deus manda não matar, nosso mestre diz o contrário" (JT, 28-7-92).
extra ir-lhes o sangue que será misturado em caldeirões, com drogas alucinógenas (FSP, 15-7-92). * Manuais - "Os rituais satânicos e a magia negra têm freguesia garantida". Com pouco dinheiro "qualquer um pode ter acesso a manuais e guias práticos que ensinam a destruir casamentos, derrotar inimigos e até mesmo a matar. Houve um aumento na ~ rocura pelo assunto. Best-seller no gênero, o livro 'Trabalhos práticos de magia Negra' já está na 7ª edição" (OG, 23-8-82). *Animais-A mãe-de-santo Sílvia de Oxalá, do templo Axé-Ilê-Obá, presidente do Centro de Articulação dos Religiosos Afro-Brasileiros, confirma que o candomblé utiliza animais em ai-
CATOLICISMO
MARÇO 1993
8
9
guns rituais. O sangue é oferecido e a carne consumida pelos participantes. Seu terreiro é freqüentado por empresários, políticos, um ex-governador de São Paulo, deputados e senadores. Nega sacrifícios humanos. Todos os anos passa dois meses em Nova Iorque, onde tem clientela garantida (FSP, 16-7-92). * Crianças -Cinco crianças, de 10 a 13 anos, foram encontradas mortas em São Luís-MA, entre novembro/91 e março/92, todas nuas, em matagais, deitadas de bruços, com os braços esticados para trás, com órgãos extirpados e as cabeças apontando para o Poente. Tudo indica que foram mortas em rituais de magia negra (JT, 16-7-92). * Shopping - "Não poderia faltar um shopping místico: o Mercado de Madureira, na Zona Norte do Rio, onde, além de livros, 26 lojas vendem materiais para cultos de magia negra e até animais para sacrificios. Um morcego pequeno está custando Cr$ 5 mil, um sapo não sai por menos de Cr$ 25 mil, enquanto que uma cobra de pequeno porte está cotada em Cr$ 50 mil" (OG, 23-8-92).
... adotou corrw insígnia de seu culto o antigo sí,mbolo de magia nerçra: a cabeça (de bode) da "dirindade" denominada Baplwmet * Coveiros - Coveiros vendem corpos de crianças, inteiros ou em pedaços, para rituais. Um repórter, fazendose passar por ajudante de pai-de-santo, "comprou" por Cr$ 3 milhões o cadáver de uma criança. O coveiro afirmou que pais-de-santos são seus clientes. Em vários cemitérios a reportagem constatou que é rotina a venda de corpos e ossos (FSP, 16-7-92). * Macumbódromos-A ex-prefeita de São Paulo, Luíza Erundina, do PT, autorizou durante sua gestão a construção de "macumbódromos" em vários cemitérios da capital paulista, "para que adeptos da umbanda e candomblé faç,am seus rituais" (FSP, 19-7-92).
alguns de vossos amigos UMA FUTUAlegou "que estava possuído por entidades so- RA RENOVAÇAO DE VOSSA IGREbrenaturais". Há um ano JA? Não devem os judeus converter-se à verdade? Não é esta a expectadva da fez um pacto com o demônio. Mantinha uma Igreja? Não vos clamam todos os santos do Céu: 'Jusdça' Vindica?' Não vos espécie de templo de dizem todos os justos da Terra: Amen, magia negra cm sua ven~ Domine? Não gemem todas as casa, onde foram criaturas, até as mais insensíveis, sob o apreendidos dois atabaqucs e outros objetos. peso dos inumeráveis pecados de Babilônia, pedindo a vossa vinda para RESSeus rituais atraíam alTABELECER TODAS AS COISAS? gumas "personalidades Omnis creatura ingemiscit (todas as importantes e influentes criaturas gemem). da cidade". Costumava sacrificar bodes, gatos e "Senhor Jesus, memento Congregagalos pretos por exigêntionis tuae. Lembrai-vos de dar a vossa cias de Exu, que as pesMãe uma nova Companhia, afunde por soas adoravam(OG, 12ela RENOVAR TODAS AS COISAS, e a 9-92). fim de TERMINAR POR MARIA SAN* Rituais-No caso TÍSSIMA OS ANOS DE GRAÇA, assim do bárbaro assassinato como por Ela os começastes" ("Oração da atriz de TV, Daniela Abrasada", in "Tratado da Verdadeira Perez, persiste a versão Devoção à Santíssima Virgem", Vozes, de magia negra, sustenPetrópolis, 1983 - o destaque cm vertada pelo advogado da sal é nosso). Disseminação de utensílios para feitiçaria: Eloise família da vítima, com Stricklard segura em suas mãos uma bola de cristal, base cm depoimentos de em sua "bouti,que mági.ca", na cidade de testemunhas. Os assasGREGÓRIO LOPES São Francisco (EUA) sinos estariam ligados * Crânio - Em Viamão-RS, a po"com rituais diabólicos" (FSP, 7-1-93). • Siglas utilizadas para os jornais ci1ados: lícia encontrou um crânio humano junto ET ("El Tiempo", Bogotá); FSP ("Folha de "Venl, Domine" com velas, penas de galinha, carvão, S. Paulo"); JB ("Jornal do Brasil", Rio de aguardente e um pote com azeite dcndê. Após o que acabamos de ver, não é Janeiro); JT ("Jornal da Tarde", São PauSuspeita-se de um crime durante um possível redigir uma conclusão quallo); OE ("O Estado d e S. Paulo"); OG ("O Globo••, Rio de Janeiro) e TS ("Tribuna", quer. Seria preciso ter lábios proféticos, ritual (OG, 24-7-92). São José dos Pinhais-PR). e não pecadores, para clamar adequada* Torturas-Em Manaus, desde os seis meses até os dois anos de idade, um mente a Deus Nosso Senhor. E pedir a vitória do menino era torturado diariamente e Coração Imaculado de obrigado a ingerir bebidas alcoólicas e Maria, prometida em suas próprias fezes durante rituais satâFátima. nicos promovidos por Maria de Fátima Gomes de Freitas, a "feiticeira". ViziDeixemos, pois, que nhos denunciaram o fato e a criança foi clame por nós São Luís resgatada com desnutrição aguda e aneMaria Grignion de mia profunda. O me1úno disputava resMontfort, e que com tos de comida com seis gatos mantidos acentos proféticos peça no mesmo cômodo pela feiticeira. o fim desta situação satânica e o advento do A mãe da criança, Claudia Ferreira Reino de Maria : da Silva, alega ler permitido as torturas no filho por "se sentir cspiritualmcnlc "E assim deixareis dominada pela feiticeira". E acrescenta: tudo ao abandono, justo "ela soltava uma fumaça cm cima de Senhor, Deus das vinmim e cu ficava indefesa". ganças? Tornar-se-á Fátima também feriu com uma faca tudo afinal como Sodoma e Gomorra? Ca/aro braç.o de Inácia Ferreira da Silva, lia do menino, para tirar dois litros de sanvos-eis sempre? Não cumpre que SETA FEIgue para os rituais (JB, 20-8-92). * Estrangular-Marconi Fraga de TA A VOSSA VONTADE assim NA TERRA Magalhães foi preso cm Bom,Jesus do llabapoana-RJ, cm 10-9-92, por tentar como no Céu, e que A estrangular com uma fralda sua filha de NÓS VENHA O VOSSO um ano e sete meses, pois queria "ofe- REINO? Não mostrasFeitiçaria hoie: feiticeiro eu,ro/Jlm, ro11tm11Jx,rllneo tes antecipadamente a recer o sangue da criança ao demônio".
NACIONAL
A opinião pública brasileira ante a alternativa Monarquia-República Conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira proferida a convite do Conselho Pró-Brasil Monárquico, no congresso promovido por este em São Bernardo do Campo (SP), de 16 a 17 de janeiro de 1993 (excertos). Presidiu o Encontro D. Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, tendo dele participado também D. Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil, e D. Antonio de Orleans e Bragança
D
esdc que é um país independente, o Brasil jamais se encontrou ante uma escolha tão importante quanto a que se lhe depara no momento: Monarquia ou República. E, nesta situação, para aquilatar os valores respectivos da Monarquia e da República, o País tem diante de si dois aspectos a considerar: o prático e o doutrinário. E é tendo em vista primeiro as lições da prática, e depois as da doutrina, que desejo analisar a opção entre esses dois regimes, tal como ela se põe diante da opinião pública brasileira.
Experiência fala pró-Monarquia O Brasil viveu sessenta e sete anos de experiência monárquica, de 1822 até 1889. E de 1889 até nossos dias temos mais de cem anos de vigência do regime republicano. Portanto, os períodos monárquico e republicano foram inteiramente suficientes, do ponto de vista da duraç.ão, para produzir os frutos que teriam de produzir. Os frutos que a Monarquia produziu foram característicos de um regime monárquico quando funciona bem, enquanto os frutos produzidos pela República foram desgraçada e catastroficamente característicos dos regimes republicanos quando funcionam mal e, muitas vezes, até mesmo quando funcionam bem. Qual dessas experiências atrai em seu favor a opção, pede uma escolha? O que deve pensar a tal respeito a opinião pública brasileira?
Se considerannos, no tempo do regime monárquico, o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, em que a orla das terras cultivadas dilatou-se para o interior do País e assim se aproveitaram cada vez mais amplamente nossas riquezas naturais; se examinannos o grande empecilho para nos beneficiarmos desse progresso, ou seja, a dificuldade cm exportar largamente aquilo que produzíamos em quantidade muito maior do que eram nossas necessidades, pois o transporte marítimo se apresentava difícil naquele tempo; se analisarmos, em conseqüência, o desenvolvimento da marinha mercante no regime imperial, que, para dar vazão a essa riqueza, chegou a ser das maiores do mundo; se considerannos ainda a seriedade com que essas transações econômicas eram feitas, a credibilidade desfrutada pelo Brasil em todos os mercados civilizados do mundo de então; se tivermos cm vista o valor do papel-moeda brasileiro, naquele tempo, gozando de uma confiança absoluta; enfim, se a opinião pública brasileira tiver cm vista tudo isso, ela não terá dificuldade cm optar. Cabe recordar tamt éni a abertura das estradas, sobretudo estradas de ferro, o aproveitamento das vias de comunicação fluviais, o estabelecimento e ampliação de correios e telégrafos.
O homem é a grande riqueza Entretanto, mesmo considerando tudo isso, não teremos analisado o prin-
CATOLICISMO
MARÇO 1993
10
11
O Prof Plínio Co?'rêa de Oliveira
pro(erindo sua con(erência cipal. O Império teve a sua atenção muito voltada para o desenvolvimento adequado de uma determinada riqueza do Brasil que, por mais que se lhe elogiem as riquezas naturais, vale mais: o brasileiro. O brasileiro, inteligente, sutil, ágil, vivaz, com uma facilidade de compreensão que só aquilatamos bem quando temos oportunidade de ter alunos não brasileiros. Há uma necessidade, portanto, que o Império viu bem, de desenvolver ao máximo os recursos intelectuais do País. Isto porque a grande raiz do progresso não é a máquina, não é sequer a riqueza da terra, é o homem. São suas convicções, sua vontade de produzir, sua capacidade de criar, é sobretudo isso que torna rico um país. O homem é o maior fator de progresso do Brasil e de sua verdadeira grandeza. E tudo isso se desenvolveu esplendidamente no Império. Nessa linha de pensamento, compreende-se por que a instituição da família viveu no Brasil monárquico os seus grandes dias.A experiência da Monarquia constitucional foi em tudo esplêndida, e seu saldo é positivo para as proporções das coisas naquele tempo.
*** Passemos daí para o Brasil repu~licano. Valerá a pena? Será necessário? Diante da escolha entre a Monarquia
te de alegria. Quem vê algo de mais seria: a única regra de justiça belo, com isto se alegra, se entusiasma no mundo é o comunismo . E - , o que nos leva a admirar e amar as quem adotasse esse modo de hierarquias devidas. ver a Religião Católica deveria Todo o Universo é pois uma coleção logicamente fazer-se comude desigualdades harmônicas e propornista! cionadas, as quais, na sua hierarq.uia e Esse assunto da legitimino seu conjunto, refletem a Deus. dade das desigualdades políticas, sociais e econômicas foi As desigualdades devem ser tratado amplamente pelos proporcionadas e harmônicas Pontífices Romanos. A doutriFalamos de desigualdades proporna católica ensina, nesta matéMesa de presi,dência da sessã.o (da esq. para a di,rei,ta): Dr. cionadas, justas, e harmônicas. Com ria, o seguinte: Deus era perjuvenal de Arruda Furtado, D. Antonio de Orleans e efeito, se é verdade que entre os homens feitamente livre para criar seBragança, Prof Plinio Corrêa de Oliveira, D. Luiz de deve haver desigualdades, é verdade res, ou nada criar. Mas, crianOrleans e Bragança, D. Bertrand de Orleans e Bragança, também que elas devem ser proporciodo, era necessário que Ele Dr. [osé de Oliveira Pinho, Dr. Renato Cruz Vieira nadas à natureza humana. agisse com sabedoria e justiça: parlamentar e a República, seja esta preLembremos em primeiro lugar que os ou seja, que o fizesse em primeiro lugar sidencialista ou parlamentar, os fatos homens são todos iguais por natureza, e visando um bem proporcional à sua inbradam em favor da Monarquia. diveisos apenas em seus acidentes. Os direifinita perfeição. E este teria que ser que a tos que lhes vêm do simples fato de serem criação Lhe desse a glória devida. O que A desigualdade social é um bem homens são iguais para todos. Eas desigualsó seria obtenível se a criação espelhasse Qual o fator que leva, então, um país dades que atentem contra esses direitos são adequadamente as perfeições de Deus. tão lúcido como o Brasil, a hesitar diante contrárias à ordem da Providência. Se Deus criasse um só ente..:___ bom, da escolha que se impõe? Se conhecermos Em segundo lugar, todo homem deve santo e poderoso, igual a Ele - teria esse fator, ficará claro o que é preciso fazer ter uma situação que não o relegue abaixo obtido a referida finalidade; mas tal hipara que no plebiscito vença o Brasil mopótese é absurda. Porque Deus pode do que é próprio à digiúdadc humana. nárquico. Vejamos de que se trata. criar seres muito perfeitos, mas não um Pela doutrina católica, se as institui Há um fator de ordem psicológica ções, leis etc. de uma sociedade rebaioutro Deus. Um Deus criado por outro atuando profundamente no mundo con-· não seria um Deus, não seria um Ser xam um homem, ou uma categoria de temporâneo, e por mais que se diga que homens, aquém deste limite, estaremos infinito, fonte de seu próprio ser. Seria o mundo de hoje não é sensível a consiface à injustiça. Por exemplo, se a desium efeito de uma causa. derações de caráter doutrinário, podegualdade é tal que um possa fruir do Deus, portanto, a criar, teria que mos verificar o quanto esse fator atua auge da fortuna enquanto o outro morra criar seres inferiores a Ele. habitualmente: trata-se da posição cm de fome, a proporção harmônica e os Se fosse verdade que o criar um ser face da desigualdade social. direitos deste último foram violados, inferior faz sempre sofrer esse inferior O homem de hoje, para o qual a Então, tal desigualdade transgride a pró- porque ele se entristeceria ao ver a desigualdade é uma injustiça, considera pria Lei estabelecida por Deus. superioridade do Criador - , então a antipática uma sociedade que seja hieImporta, pois, que seja explicada a criatura que mais teve razão até hoje, rarquizada desde a Família Imperial até todos o quanto é justa, o quanto redunda foi ... Satanás, que se revoltou contra a o proletário. no bem dos grandes e dos pequenos , o superioridade de Deus! A questão resume-se no seguinte: a quanto corresponde à ordem natural das Ora, Satanás é o mentiroso e o revolcoisas e à sabedoria de Deus criador, a Monarquia é uma forma de governo que tado por exc.elência. Contemplar as perexistência de uma desigualdade social traz consigo toda uma organização da feições maravilhosas de Deus e sentir-se harmônica, de uma desigualdade social sociedade, da vida cultural, da atmosfesemelhante - se bem que inferior - a cristã, em que todas as exigências da ra psicológica, que toma como ponto de Ele, como pode isto não ser uma fonte natureza humana, dos grandes e dos pepartida a desigualdade entre as pessoas. de indizível e incessante felicidade? No píncaro da organização política e quenos, sejam atendidas. Ora, algo de análogo deve ser dito Encontram-se aqui os pontos essensocial estão o Imperador e a Família quanto às desigualdades proporcionadas, Imperial; depois a nobreza, em seguida ciais da doutrina católica sobre a igualharmônicas e justas, entre as criaturas. a burguesia e, por fim, o proletariado. dade e a desigualdade entre os homens. A esse respeito, Santo Tomás de Estes pontos é que seria preciso cxpl icar Ora, segundo a mentalidade contemAquino explica que, não podendo haver aos brasileiros, de modo a que eles os porânea, tal hierarquia seria injusta, pois · urna criatura só que reflita adequadacompreendam e os amem. E assim commente as perfeições divjnas, era preciso não estaria de acordo com a lei do preendam o bem que para todos resulta que a criação se constituísse de muitas e Evangelho pregada por Nosso Senhor destes aspectos de uma estrutura monárdiferentes criaturas de modo que o conJesus Cristo. A desigualdade faz sofrer quica de governo. junto delas manifestasse convenienteos que estão por baixo, e o que faz sofrer A opção pela Monarquia poder-se-á é contrário ao ensinamento de Nosso mente a Deus Criador. fazer então dcscmbaraçadamcntc, porSenhor Jesus Cristo, que passou pela Ora, de A a Z no Evangelho - e é o que o obstáculo igualitário terá caído, Terra fazendo o bem, segundo a tocante fundamento do ensinamento dos Papas sendo natural que convirjam para essa frase de São Pedro, e aliviando as dores. a respeito-encontramos o princípio de forma de governo as opiniões daqueles que as desigualdades justas não fazem Se tal interpretação do Evangelho que ainda eram bcsilant ·s. sofrer. Pelo contrário, elas são uma fonfosse verdadeira, a conseqüência disso CATOLICISMO
12
aderno Especial Nº 20
A An1mciaçio- Fra ~ico, 1450, Museu de São Marca,, Florcoça (Itália)
jfesta ba ~nuncíação ba ~antíssíma l'írgem
i\ (
Jesus <!Crísto expulsa os benbílbões bo memplo (São João 2, 13-22) Ora, estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém; e encontrou no templo muitos vendendo bois, ovelhas, pombas, e os cambistas sentados (às suas mesas). E, tendo feito um como que azorrague de cordas, expulsou-os a todos do templo, e as ovelhas e os bois, e deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derribou as mesas. E aos que vendiam pombas, disse: Tirai daqui isto, e não façais da casa de meu Pai, casa de negócios. Então lembraram-se seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa
devorou-me. Tomaram então a palavra os judeus, e disseram-lhe: Com que sinal nos mostras tu que tens autoridade para fazer estas coisas? Jesus respondeu-lhes, e disse: Desfazei este templo, e eu o reedificarei em três dias. Replicaram, pois, os judeus: Este templo foi edificado em quarenta e seis anos, e tu o reedificarás em três dias? Ora, Ele falava do templo de seu corpo. Quando, pois, ressuscitou dos mortos, lembraram-se seus discípulos do que Ele dissera, e creram na Escritura e nas palavras que Jesus tinha dito.
cteomentáríos compílabos por ~anto momás bt ~quíno na "((atena ~ureaH Orígenes - Consideremos também, não nos pareça isto um exagero, que o Filho de Deus preparou uma espécie de açoite, com as cordas que havia recolhido, para expulsar [os vendilhões] do templo. Para explicar esse fato, temos poderoso argumento: o divino poder de Jesus, que, quando queria, podia dominar a fúria de seus inimigos, ainda que fossem muitos, e apagar o fogo de suas maquinações; porque o Senhor dissipa as resoluções das pesosoas e censura os pensamentos dos povos. O presente fato demonstra-nos que Ele não exerceu menor poder para isto que para fazer milagres; este feito é maior que o milagre de ter convertido a água em vinho, pois, naquela ocasião [as bodas de Caná], havia uma matéria inanimada, enquanto, mediante a expulsão presente, foram desbaratados os tráficos de milhares de homens.
Santo Agostinho - O Senhor nos apresentou um símbolo quando fez aquele açoite de retalhos de cordão, e açoitou a todos os que negociavam no temp lo. Pois cada um tece para si um cordão com seus pecados, quando acrescenta pecado sobre pecado. Por conseguinte, quando os homens sofrem algo por seus pecados, reconheç~m que o Senhor faz como que um açoite de vários cordões e ainda os aJverte a mudar de vida, porque senão, no final, ouvirão aquelas palavras: "Atai-os dos pés às mãos". São Beda - Havendo feito o açoite com pedaços de cordão, expulsou-os do te~plo, de onde são expulsos aqueles qt\C, eleitos e postos entre os santos, ou fazem suas boas obras de uma maneira fingida ou abcrtamen te agem mal.
((omentáríos bo ~e. JLuís <tCláubío jfíllíon Vendedores de reses haviam se estabelecido nos adros sagrados e aí vendiam bois, vacas, carneiros destinados aos sacrificios. Ouu·os mercadores e traficantes enchiam, com amesma finalidade, grandes gaiolas com pombos cm número considerável. Era uma verdadeira feira, tal a afluência de vendedores e compradores. Também estavam ali sentados às suas mesas, sobre as quais se viam gamelas ou vasilhas com moedas de ouro, prata e cobre de toda espécie, os cambistas e almoxarifes que, com grande lucro e ganância, trocavam por moedas judaicas as gregas, romanas e outras, cltjas inscrições e emblemas pagãos as tornavam inaceitáveis para o tesouro do Templo.
Cheio de indignaçáo, J esus, havendo feito de cordas como que um açoite, e brandindo-o contra toda aquela gente, expulsou do recinto sagrado mercadores e mercadorias, bois e ovelhas. E derrubando as mesas, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, e aos que vendiam pombas, disse-lhes: "Tirai isso daqui e não queirais fazer da casa de meu Pai um lugar de negócio". Os discípulos, testemunhas desse espetáculo, lembraram-se do belo texto dos Salmos, que logo aplicaram a seu Mestre: "O zelo de vossa casa devora-me". Mas os chefes religiosos do povo não puderam dissirnul~r nem abafar seu descontentamento, pois,
sem a autorização deles, havia Jesus exercido o papel de reformador em seus próprios domínios. E, dirigindo-se a Ele, perguntaram-Lhe: "Que sinal nos dás para fazer essas coisas e legitimar essa conduta? Não ousando condenar o ato em si mesmo, esperavam deixar embaraçado o Salvador obrigando-o a operar ali mesmo, sem demora, um milagre. Mas Jesus respondeu-lhes com dignidade: "Destruí este templo e eu o reedificarei em três dias" . Tomando a resposta ao pé da letra, replicaram, em tom de mofa: "Quarenta e seis anos se gastaram na reedificação deste templo e tu o hás de reconstruir em
três dias?" Com efeito, iniciada por Herodes, o grande, no décimo oitavo ano de seu reinado, muito antes do nascimento de Jesus, essa construção grandiosa estava então bem longe de haver sido terminada; foi concluída somente no ano 64 da era cristã, pouco tempo antes de ser destruída pelos romanos. Mas Jesus falava do templo místico de seu corpo, que era o santuário da Divindade. A morte o destruiu na Cruz, e logo foi restaurado ao terceiro dia pela ressurreição. Nuestro Seiíor jesucristo según los Eva11gelios, Ed. Difusión,
Buenos Aires , l 917, excertos das pp. 104-l 06.
jftsta ba ~nuncíação ba ~antíssíma Yírgem (25 de março) Pela redenção da humanidade, Maria havia aspirado ano após ano, pela pronta vinda do Redentor é que Ela havia suplicado dia após dia, para esta vinda é que Ela tinha se preparado com uma generosidade cada vez maior. Foi, portanto, com um coração transbordando de desejo, de amor de Deus e de dedicação ao plano divino referente àh umanidade decaída, que Ela d eu seu consentimento à descida e à habitação nEla do Redentor. É, portanto, à redenção dos homens que Ela consagrou sua vida inteira, quando disse: "Sou a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua palavra"! A união mate1·na de Maria a Jesus é uma união não só exterior, mas também interior, uma participação voluntária no ministério de Jesus. Esta concepção se mantém invariável na Igrtja, em todas as épocas. Nos primeirns séculos, os teólogos a explicaram dizendo que Maria não se tinha tornado Mãe de Jesus por uma espécie de constrangimento, mas por uma aceitação consciente e livre.
~
Santo Tomás exprime o mesmo pensamento afirmando que Maria, no momento da Anunciação, representou a humanidade inteira e que, de seu sim ou de seu não, dependeu que os homens fossem ou não resgatados. Em outra passagem, Santo Tomás precisaseu pensamento dizendo: "Nadaseopõe a que outros seres criados possam receber, em um certo sentido, o nome de mediadores, especialmente quando eles preparam e facilitam a união dos homens com Deus .... Foi Ela que deu o Redentor aos homens condenados à perdição eterna. Isto Ela o fez a partir do momento em que recebeu, em nome de todo o gênero humano, com uma admirável submissão, a mensagem de misteriosa pacificação que o a1~0 havia trazido à Terra. -Foi d Ela também que nasceu Jesus; Ela é, portanto, sua verdadeira Mãe. Por essa razão, é Ela a digna mediadora em face do Mediador". François-Michel Willan, La Vie de Marie Mere de Jésus, Editions Salvator, Mulhouse (Haut-Rhin), 1947, excertos das pp. 77-78.
berrota bt ~atanás
Jamais houve derrota tão humilhante e completa quanto~ que sofreu Satanás nesse dia [da Anunciação]. O pé da mulher, contra quem ele cria obter uma vitória tão fácil, pes.f agora com toda a força sobre sua cabeça orgulhosa,jáesmagada. Eva levanta-se em sua filha [Maria] para esmagar a serpente. Deus · não quis escolher um homem [e sim uma mulher] para essa vingança, pois a humilhação de Sa1:a.nás não teria sido tão vergonhosa. Pelo preço de um triunfo tão alto, Maria dominará, a partir de então, não somente os anjos rebeldes, mas também toda a raça humana; e, mais ainda, todas as hierarquias dos
espíritos celestiais. Do alto de seu trono, Maria, Mãe de Deus, domina toda a criação. No fundo dos infernos, Satanás rugirá com eterno desespero, pensando na desdita de haver dirigido seus primeiros ataques contra um ser frágil e crédulo, a quem Deus vingou t{io magnificamente; e no alto dos Céus, os Serafins e Querubins levantarão seus olhares para Maria, se encantarão com um sorriso seu e sentir-se-ão felizes em cumprir os menores desejos da Mãe de Deus e dos homens. Dom Prospero Guéranger, EI Afio Liturgico, tomo II (Septuagésima, Cuaresma y Pasión), Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, excertos das pp. 907-908.
História Sagrada -
No Tabernáculo, o "Santo dos Santos"
1
Após ter quebrado as tábuas da Lei e punido severamente o povo israelita pela abominável idolatria do bezerro de ouro, "Moisés tornou a subir ao Monte [Sinai], e pediu perdão para o povo infiel. Deus atendeu à oração de Moisés e renovou os Mandamentos, pela segunda vez, em duas outras pedras. "Moisés permaneceu ainda no Monte 40 dias e 40 noites, sem comer nem beber. Ao descer, tinha o rosto tão resplandecente que os israelitas não ousavam aproximar-se dele. Quando queria falar ao povo, velava o rosto com um véu e somente o desvendava quando falava com Deus" 1• Mistérios revelados a Moisés Durante os 40 dias em que Moisés esteve no Sinai, Deus revelou-lhe as mais sublimes verdades, tais como "o mistério altíssimo da Trindade, o da divindade do Messias, o do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e muito particularn1ente as figuras que pertenciam à Virgem Mãe de Deus e Senhora Nossa. Assim o afirma e tem como indubitável São Metódio, no sermão da Epifania. "Os resplendores de luz que lançava de si o rosto de Moisés são uma contínua prova de sua missão. Destinado também a figurar a santidade do Salvador e de seu Evangelho, estava coberto para os judeus, cuja cegueira não soube reconhecer a divindade de Jesus Cristo, escondida debaixo do véu de sua Humanidade" 2• Construção do tabernáculo "Moisés reuniu o povo e disse: Escolhei
HISTÓRIA
em seu lar
Poema à Virgem, insigne preito mariano do Apóstolo do Brasil
noções básicas
vossos melhores presentes, a fim de ofeSanto dos Santos que se rasgou de alto recê-los, de boa vontade, ao tabernáculo a baixo, quando Nosso Senhor expirou do Senhor. Todos se apressaram em trana Cruz" 8• zer jóias de ouro e prata, pedras preciosas e estofos de valor. Moisés confiou a exeNOTAS l. Frei Bruno Heuser, História Sagrada do cução da obra a dois hábeis artistas Antigo e do Novo Testamento, Vozes, [escolhidos pelo próprio Deus], que Petrópolis, 24ª ed., 1957, p. 61. construíram o tabernáculo e fiuram os 2. Cônego J. I. Roquete, História Sagrada do utensílios sagrados, conforme os modeAntigo e do Novo Testamento, Guillard Aillaud, Lisboa, 1896, 9ª ed., tomo I, p. los indicados pelo Senhor. Durante a 225. construção, todas as manhãs, o povo tra3. Frei Bruno Heuser, op. cit pp. 61-62. zia novas ofertas, a tal ponto que Moisés 4. Diz a Sagrada Escritura (Ex. 38, 24 e 26) se viu obrigado e dizer-lhes: Basta! Já há que foram empregados na obra do 3 mais do que é preciso!" • tabernáculo mais de 29 talentos de ouro e 100 talentos de prata. O Padre Matos Na construção do tabernáculo foram Soares (Bíblia Sagrada, Paulinas, 6ª ed., utilizados mais de 1.247 kg de ouro e p. 105) afirma que um talento equivalia 4 4.300 kg de prata • a43 kg. Descrição do tabernáculo "O 5. Frei Bruno Heuser, op. cit, pp. 62-63. tabernáculo era uma tenda portátil de 30 6. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de l'Eglise Catlwliquc, Gaume Freres, Paris, CÕvados (aproximadamente 20 m) de com1842, tomo I, p.148. primento, 10 (6,6 m) de largura e 10 (6,6 7. Padre Tiago Ecker, Btblia das Escolas m) de altura. Uma cortina artisticamente Calólicas, Vozes, Petrópolis, 1951, p. 63. . tecida de seda azul, púrpura e escarlate 8. Padre Rohrbachcr, op. cit, p. 448. dividia o interior da tenda em duas partes. A parte anterior, que era de 20 rovados (13,2 m) de comprimento, chamava-se Santo. O espaço atrás da cortina era denominado Santo dos Santos. "Ao rcJor do tabernácuio havia um Átrio, de 100 côvados (66 m) de comprimento e 50 (33 m) de largura. Era cercado por .uma cortina de linho, de 5 côvados (3,3 m) de altura, que estava dependurada entre colunas revestidas de ouro. Arca da Aliança - "No Santo dos Na construção do tabernáculo foram Santos foi colocada a Arca da Aliança, de utilizados mais de 1247 kg de ouro e madeira de acácia e revestida, por dentro e 4300 kg de prata por fora, de ouro finíssinlo. A parte superior, feita de puro ouro, chamava-se propiciatório, e era de maneira especial o trono de Deus na terra. Daí manifestava-se sua presença e dava suas ordens a Moisés.Dois querubins de ouro, postos na frente um do outro, cobriam a Arca, com suas asas estendidas" 5• "Apenas o Sumo Sacerdote podia penetrar no Santo dos Santos e, mesmo assim, somente uma vez por ano, no dia da Expiação_" 6 • "Na Arca depositaram as duas tábuas de pedra da Lei, a urna de ouro onde estava A Arca da Aliança continha as duas o maná, e a vara florida de Aarão" 7• táhuas da Lei,, o maná e a vara florida "Foi o véu [ou cortina] diante do de Aarão
Uma importante obra literária de nossa História -cuja edição original foi impressa nas brancas areias do País nascente - revela a acendrada devoção marial de Anchieta sob risco iminente de martírio
A
origem do Poema à Virgem está ligada a um dos mais heróicos episódios de nossa História. Nele transparecem admiravelmente reunidos o espírito deFé,a confiança na Providência, a fortaleza de alma e o fino tato diplomático do Beato José de Anchieta, esse admirável homem de Deus. Com efeito, o núcleo de indígenas, já católicos, por ele evangelizados em São Vicente, encontrava-se ameaçado de extinção pelos incessantes a taques da feroz tribo dos tamoios do Rio, que "levando continuamente como escravos, mulheres e fillws dos cristãos, matavaos e comia-os", conforme relata o próprio Pe. Anchieta em carta ao Geral da Companhia de Jesus, Pe. Lainez, em janeiro de 1565 (cfr. Cartas do B. An-
chi.eta, Anais da Biblioteca Nacional, vol. II, p. 78, apud O Poema da Virgem, versão do Pe. A. Cardoso, SJ, Paulinas, SP, 1958, 4ª ed.). Movido pelo ardente zelo apostólico que o imortalizou, quis Anchieta pôrum fim a estas contendas, e prosseguir, em grande estilo, seu trabalho de evangelização. Para alcançar sua meta, durante as conversações de paz, lànçou-se heroicamente como refém dos tamoios, na aldeia de Iperoig (atual Ubatuba-SP), onde conviveu como espectro da morte. Permaneceu entre os silvícolas de maio a setembro de 1563. Inicialmente, teveporcompanheiros o valoroso Pe. Nóbrega e um fiel servidor. Após o retomo de Nóbrega a São Vicente, para dirigir as negociações de
paz, o outro companheiro foi morto e comido pelos índios, em presença de Anchieta. Sozinho em meio à ferocidade e o despudor dos selvagens, cercado de riscos por todos os lados, a todos os instantes, esse herói da Fé escreveu uma obraprima em versos, para ocupar a imaginação com elevadas cogitações, atrair a proteção da Imaculada para sua castidade exposta a risco, e preparar-se para o martírio, como está expressamente dito nos últimos versos de seu cântico. A lascívia dos índios via-se de tal modo contundida pela ilibada pureza deste varão íntegro, que por diversas vezes ofereceram-lhe sua filhas e mulheres. Mas o homem de Deus impôslhes o respeito, de tal maneira que che-
,1/f'
Poema à Virgem -
Óleo sobre tela, Benedito Calixto, 1901, Col~gi,o São Luís, São Paulo MARÇO 1993
17
não houve sombra em t~ doce noiva de Deus!"
Assumido pelo mesmo fogo de seu Pai espiritual e Fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loiola, José de Anchieta investe como um raio contra a insolência de Calvino, que atacou a virgindade perpétua da Rainha do Céu: "Com negro coração roído pela lepra, te atiras setas envenenadas em fel de víbora Monstro, por que te inchas, com a inveja da antiga serpente? por que róis com loucos dentes a beleza da Virgem Mãe? Ousaste, venenosa cobra, tocar com essa tua maldita língua, o leito alvíssimo do eterno Deus?"
O poema termina num brado de amor à Virgem, no desejo ardente do martírio e em nobilíssimo sentimento de humildade:
-magem de Nossa Senhora da Luz di,ante da qual Ancitieta celebrou sua ,primeira Missa Museu de Arte Sacra, Sã.o Paulo ·
gou a exigir que não se aproximassem de sua tenda! E foi atendido (op. cit, pp 84-85).
Impresso nas areias e na memória Sua única distração era passear nas alvas areias da praia, onde com seu tosco bordão pôs-se a traçar, como que em largos vôos de gaivota, os louvores da Virgem Mãe de Deus, ditados pela abundante devoção que ardia como acesa fornalha em seu marial coração. Naquela continuada disputa com as ondas do mar, que iam apagando seus versos, tão logo se imprimiam na lousa branca das areias, exercitava também sua agilidade de espírito para os combates nos quais estava engajado. Sua privilegiada inteligência e prodigiosa memória venceram por fim a destreza das ondas. Enquanto uma produzia tão encantadores versos, a outra os guardava para a edificação das gerações futuras.
O Poema A título de amostragem, oferecemos abaixo trechos do célebre Poema à Virgem, de mais de 5700 versos, composto em latim clássico. Começamos pelo ofe-
recimento, cuja sublime clave perpassa de início a fim toda a peça literária: "Cantar ou calar? Mãe Santíssima de Jesus, os teus louvores hei de os cantar, ou hei de os calar? A mente alvoroçada sente-se impelida pelo aguilhão do amor a oferecer à sua rainha uns versos. Como ousará mundana língua enaltecer a que encerrou no seio o Onipotente?"
Séculos antes da definição dogmática da Imaculada Conceição, o grande Anchieta, nas areias da Terra de Santa Cruz, tendo como testemunhas apenas os anjos de Deus e os inquietantes olhares dos ferozes índios, assim se expriinia: "Concebida em seio materno, como todos nós Só tu, ó Virgem, fostes livre do labéu que mancha os outros todos, e esmagas ao calcanhar a cabeça do enroscado dragão, retendo sob as plantas sua fronte humilhada. Toda bela de alvura e luz
"Eis os versos que outrora, ó Mãe Santíssima, te prometi em voto vendo-me cercado de feróis inimigos Enquanto entre os tamoios conjurados pobre refém, tratava as suspiradas pazes tua graça me acolheu em teu materno manto e teu véu me velou intactos corpo e alma. À inspiração do céu, eu muitas vezes desejei penar e cruelmente em duros ferros expirar Mas sofreram merecida repulsa meus desejos! só a heróis compete tanta glória!"
***
Peçamos confiantes que, a rogos deste incomparável herói, a Senhora da Conceição Aparecida nos obtenha, na atual encruzilhada histórica por que passa a Nação, graças extraordinárias para que de fato nosso País seja a Terra de Santa Cruz, com a qual sonharam seus Fundadores. E cujo futuro grandioso foi pelo mesmo Beato José de Anchieta profetizado no De Gestis Mendi de Sá (A Gesta de Mcm de Sá), poema composto em mais de 3000 versos latinos - a primeira obra redigida em nossa Pátria - , editado em Coimbra no mesmo ano em que o Apóstolo do Brasil cantava as glórias da Virgem IInaculada, nas alvas areias de Iperoig.
Brasil Real Brasil Brasileiro
Sem-terra, sem-teto ... ... mas completamente de outro jeito!
Será válido fazer uma comparação entre os atuais semteto, os atuais sem-terra, de um lado, e de outro os alemães, italianos, japoneses etc., que para cá vieram no século passado e neste, como simples colonos imigrantes, e portanto também sem terra e sem teto? Essa pergunta estava rodando em minha cabeça, quando conheci os irmãos Auro e F.dir Hõrbe, em Restinga Seca
Catolicismo - O que se conta na colônia a respeito da chegada de seus ancestrais? A. H. - Eles moravam na Pomerânia. Lá havia muita gente e pouca terra. Diziam que no Brasil havia muita riqueza. Então eles se aventuraram, cm 1875. Catolicismo - Eles encontraram a]gumapoio? A H. - Havia um agrimensor, barão von Halben, que já estava estabelecido aqui. Era o encarregado de distribuir terras. Chegaram em Agudo pelo rio Jacuí, desembarcaram. Havia um galpão na beira do rio, e só. Meteram-se pelo mato, para "dar uma olhada" na terra. Acharam que não era como lhes tinham contado, e queriam voltar. E. H. - Quando chegaram à beira do rio, viram que os tripulantes do vapor haviam desembarcado suas mochilas e o barco havia partido, ficando eles abandonados praticamente à própria sorte ... A. H. - Isto era o avô quem contava. Aí, fazer o quê? Esperaram dois dias no galpão até que apareceu obarão, e acabaram ficando. Catolicismo - Era muita gente? E. H. - Quinze a vinte famílias. Então, para fazer construções, árvores havia bastante, pois o mato era fechadO". Não existiam serrarias naquela época. Faziam tábuas à mão, usando
(RS). Descendentes de colonos alemães, que se estabeleceram em Agudo (RS), e donos de uma boa churrascaria, gente simp]es e cheia de bom senso, deram entrevista gravada a Catolicismo, regada por um ótimo chopp. Os irmãos Hõrbe, como bem se pode imaginar, não falam aqui como historiadores. Mas em suas respostas há base para muitas reflexões.
um serrote que chamam de traçador. Hoje, se se fosse fazeruma casa nessas condições, acho eu que não sairia casa, nunca. Catolicismo - E os pregos, onde conseguiam? E. H. - Não havia. Então, com ferramentas vindas da Alemanha, de alta durabilidade, faziam furos e neles se colocava um tarugo de madeira. Eram umedecidos, inchavam, e aquilo ficava preso, praticamente como se houvesse um prego. AH. (com uma pontinha de orgulho)- Casas que existem até hoje, hein? Catolicismo - Eos telhados? E. H. -Não existiam telliasdc barro. Era tudo de madeira. Dessas telhas de madeira, em português nem conheço o nome: "Schindeldach",. E. H. - A a ração também era manual, pois não tinham condições de comprar um cavalo, um boi ... Passaram por muita necessidade, mesmo! A. H. - Para se abastecerem, tinham de ir a Cachoeira do Sul. Estrada não havia. Iam a cavalo. Uma viagem de dois dias, mais ou menos. Catolicismo - Como o Sr. vê os sem-terra de hoje? Um alemão daquele tempo como veria isto? A. H. - Olha, essa gente que não é ligada à lavoura, não adianta ganhar terra. É a mes~ coisa que um operário ganharuma fábrica .. ~Eles não têm como sobreviver.
Confesso que fiquei envergonhado pensando nos sem-terra. brasileiros que se vêem por toda parte. Eles cla1nam por terra grátis, e alguns deles, para não colocarem a mão no pesado,
Catolicismo - O que o Sr. acha mais difícil: um alemão como seu avô vir aqui desbravar aquela região de Agudo, ou um sem-terra de hoje ir para a fronteira agrícola: Mato Grosso, Rondônia etc.? A. H. - O que os imigrantes fizeram era muito mais dificil, barbaridade! Não havia avião, não havia ônibus, não havia trator, telefone não existia, comunicações não existiam. Havia a formiga corrcição que, quando invadia, era preciso sair de casa, porque ela "não respeitava". Meu avô contava, até os instrumentos de sopro eram feitos por eles. Dava-se muito valor para a música. Catolicismo - O Sr. gostaria de dizer algo para concluir? A. H. - Sem sacrifício não se consegue nada. É preciso trabalhar, lutar, ter esperança, determinação e vontade de fazer as coisas. Não adianta dar uma roupa nova para alguém, se ele não dá valor para aquela roupa, não é? Já houve um exemplo, em Bagé. Um governador deu uma vaca de leite para cada colono. Em vez de ordenharem a vaca, mataram-na e a comeram ... Se derem um galo e uma galinha para começarem uma criação, eles em vez de esperar botar ovos, chocar etc., acham mais fácil colocaro galo e galinha na panela ... LEo DANIELE
chegam até a arrendar a ten:eiros as glebas que ganharam, e ficam no do/cefarniente, vivendoderendas.Pudecomprovar isto no Rio Grande do Sul. Talvez volte ao assunto.
GERALDO MARTINS
CATOLICISMO
MARÇO 1993
18
19
ESCREVEM OS LEITORES
., '
Mais e~emplares Solícito que me enviem os "Catolicismos" números 494 e 495. Desejo-os para oferecer, pois o artigo sobre Santa Bernadete é maravilhoso. Sou assinante e aprecio muito a revista - sua boa aparência e ótimos artigos - e não quero me desfazer dos meus números. R. Paiva Governador Valadares - MG
Nosso Imperador Felicito-o particularmente pelo feliz empreendimento de homenagear o centenário do nosso Imperador Dom Pedro II, o grande responsável pela unidade do nosso Brasil, cuja área é continental. Lamentavelmente tal justíssima homenagem não encontrou eco nos grandes meios de comunicação, tão pródigos em homenagens que chegam à raia do delírio como por exemplo as prestadas a Elvis Presley, que foi sabidamente um consumidor de tóxicos. J.L.V. Barros Jundiaí - SP
Algum Bispo apóia a TFP? Sendo o "Catolicismo" órgão porta-voz da TFP, desejo saber quais são as relações que a entidade mantém com as autoridades eclesiásticas. Algum Bispo apói;i. a TFP? J . M. Queiroz. Governador Valadares - MG
N. da R. -Há vários Srs. Arcebispos e Bispos, numerosos Sacerdotes e Religiosas que apóiam a TFP, de maneira discreta. Não estamos autorizados a divulgar seus nomes. A TFP é uma associação de natureza mista, que comporta elementos religiosos e elementos temporais. Do ponto de vista das leis do Estado, ela é uma sociedade cívica, cultural e beneficente. Do ponto de vista do Código de Direito Canônico, a TFP pode ser considerada uma associação particular de fiéis. Ela é uma associação livre, ou seja, foi constituída pelo livre acordo de fiéis entre si, no uso de seu direito de fundar e dirigir associações livremente; tal direito é reconhecido no Código de Direito Canônico 1 • Segundo o Direito Canônico, associações desse gênero não precisam de licença ecJcsiástica para atuar. Por essa razão, a TFP, enquanto tal, não está especialmente subordinada à Autoridade eclesiástica, cabendo à Hierarquia, no referente à entidade, apenas o venerável poder exercido por ela sobre o comum dos fiéis, isto é, a vigilância em matéria de Fé, moral e disciplina eclesiástica. Vigilância esta que, em conseqüência, se exerce também sobre os membros da TFP e quaisquer outros católicos considerados individualmente. Embora a TFP seja uma associação de inspiração católica, voltada para o que Pio XII chamou "a consagração do mundo" 2, ela não pretende falar em nome da Igreja, mas em nome próprio e privado, como é direito de todo fiel 3 • NOTAS
1. Cfr. C.ânones 215 e 299.
2. Cfr. C.ânones 215,216,225,227 e 298. 3. Cfr. C.ânon 212, § 2.
O sucesso do medíocre e a glória do santo
Foto de São. Pio X tirada pouco antes da rrwrte do Pontífice: fisionornia séria que desagradou os esfiritos medíocres de entãn
e
onta-se que certo camponês medieval, lavrando um dia a terra, teve sua atenção despertada por toques de trombeta e tropel de cavalos. Não tárdou em perceber que se tratava do cortejo real. Ao ver passar a carruagem onde viajava o soberano, como que aureolada por uma nuvem de poeira que à luz do ocaso se fazia dourada, ajoelha-se e, arrebatado pelo entusiasmo, exclama: "Ventura imerecida proporcionou-me o bom Deus, que me deu um rei para admirar, um senhor para servir, e por quem lutar e morrer". Eis a muito grande alma de um tão pequeno homem!
***
falso que todo o poder vem do povo Grande número de modernos, seguindo as pegadas daqueles que, no século passado, se deram o nome dt filósofos, declaram que todo o poder vem do povo. Em conseqüência, aqueles que exercem o poder na sociedade não o exerceriam como sua própria autoridade, mas como uma autoridade a eles delegada pelo povo. E sob a condição de poder ser revogada pela vontade do povo, de quem eles a têm.
Inteiramente contrário é o pensamento dos católicos, que fazem derivar de Deus o direito de comandar, como de seu princípio natural e necessário (passagem da encíclica "Diuturnum Illud", do Papa Leão XIII, citada pelo Papa São Pio X na Carta Apostólica "Notre Charge Apostolique")
LEÃO XIII CATOLICISMO
20 .
Grandeza! Seria ela privilégio tãosomente dos grandes homens? De nenhummodo! Se a estes últimos cabe, via de regra, representá-la e simbolizá-Ia, aos pequenos cabe, pela admiração, de algum modo elevar suas almas àquelas cuhninâncias. Disto nos dá belo exemplo o grande pequeno camponês.
*** Entretanto, se considerarmos a vocação sobrenatural a que fomos chamados, tal verdade se reveste de cores supremamente vivas. Com efeito, remidos, como fomos, pelo Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, e adtnitidos à vida da graça pelo santo Batismo, somos especialmente chamados a adorar, servir, lutar, e quiçá d ar nossa vida por Cristo, nosso Rei, por Maria, sua divina Mãe e nossa Rainha. De onde a grandeza - nos graus e
nas formas a que cada um é chamado a exprimir - ser patrimônio comum ao alcance de todo católico, quer ele se encontre nos píncaros do poder ou da fortuna, querna mais modesta das situações. A consideração e o amor da grandeza, em quaisquer graus em que esta se apresente, fazem as delícias e o encanto da vida do verdadeiro católico. Bem diverso é o estado de alma de tantos e tantos de nossos contemporâneos, que erigem como padrão de vida a superficialidade, a vulgaridade, a incoerência e o egoísmo. Como qualificar adequadamente tal defeito moral? Uma palavra bem o exprime: mediocridade.
*** Convido agora o leitor a considerar "o homem medíocre" como foi descrito pelo talento do escritor católico francês Emest Hello (1828-1885), em sua obraL'Homme. Extraímos alguns trechos do capítulo "L'Homme médwcre", pp. 58-67). O homem medíocre "nunca fala; repete sempre. Não concebe que um homem ainda obscuro, ao qual se é muit.o chegado, possa ser um gênio .... "Não vê em profundidade as coisas e nunca assim as verá. Ele pode informar-se, mas não prever .... "Por vezes admite algum princípio, mas se se chega às últimas conseqüências deste, dirá que é exagero. "Se a palavra exagero não existisse, o medíocre a inventaria. "O medíocre pode ter estima para com pessoas virtuosas e homens de talento. Mas tem medo e horror dos santos e dos gênios, pois que os julga exagerados. "O homem verdadeiramente medíocre admira um pouco todas as coisas; mas nada admira com calor .... Prefere seus inimigos, se forem frios, a seus amigos, se forem quentes. O que detesta acima de tudo é o calor. "O medíocre s6 possui uma paixão: ódio ao belo. El.e pode repetir muitas vezes uma verdade bana4 de modo baMARÇO 1993
21
na!. Se alguém exprimir esta mesma verdade com esplendor ele o amaldiçoará, pois então terá encontrado seu inimigo pessoal: o belo. "Há uma apreensão que permanece no medíocre, ativa e em funcionamento: é o medo de se comprometer. Por isso exprime alguns pensament.os [banais] com a reserva, a timidez e a prudência de um homem que teme que suas palavras, demasiadamente ousadas, possam sacudir o mundo .... "O medíocre diz que há aspectos bons e maus em todas as coisas, e que não se pode ser absoluto nos julgamentos etc ..... "O temor que o medíocre tem das coisas superiores faz-lhe dizer que estima antes de tudo o bom senso, mas ele não sabe o que é bom senso. Entende por tal, a negação de tudo o que é grande. "O homem superior levanta a cabeça para admirar e adorar; o medíocre o faz para debicar. Tudo aquilo que está acima dei.e lhe parece ridículo; o infinito se lhe afigura ausente. "O medíocre é muito mais perverso do que se imagina, e do que os outros o imaginam, pois que sua frieza vela sua maldade. "O homem que é superior luta primeiro e obtém depois o sucesso. "O medíocre vence porque segue a correnteza; o homem superior triunfa porque vai contra a correnteza. "A trajet6ria do sucesso consiste em andar junto com os outros; a da glória em marchar contra os outros". *** Procure, o leitor, em tomo de si os homens sérios, os espíritos superiores, c0mo o são, por exemplo, os santos. Não sei se os encontrará numerosos! Talvez tenha de percorrer as ruas à maneira de Diógenes, com uma lanterna na mão-a dizer, por sua vez: "Procuro um homem superior!" Procure outrossim os medíocres ... mas não comente o texto acima com eles, a menos que deseje fazer inimigos de morte ...
HAGIOGRAFIA
SÃO JOSÉ N
ão estranhe, leitor, a simplicidade intimidade desse santo varão com Nossa 25), assim foi quando da fuga para o do título. Normalmente é-se leva- Senhora, e como Verbo de Deus Encar- Egito e do retomo. O sono, esse grande do a acrescentar algum qualificativo que nado, que sua sublimidade é simples- silêncio da natureza, era o templo onde realce este ou aquele aspecto particular- mente inimaginável, excedendo toda São José ouvia a voz do Céu! mente saliente da vida do santo. Contu- cogitação humana. Somente no paraíso Toda essa a trnosfera de silêncio que do, tratando-se de São José, o pai adoti- celeste teremos noção de sua altíssima o envolve parece ser uma homenagem vo do Menino Jesus, o castíssimo espo- perfeição. da palavra humana quando ela abdica de qualquer louvor diante do so da Santíssima Virgem, o ll§sl]~~~~::;::::~~iai~ ~~~.. Patrono da Igreja Universal, inexprimível, do insondável. cuja festa a Igreja celebra a 19 Hoje em dia, quanta gente de março, qualquer qualificafala aos borbotões sem ter ção apoucaria a sua imensíssinada para dizer, dissimulando ma grandeza. no estrepitoso de sua linguaCom efeito, imagine, leigem, como na turbulência de tor, se lhe for possível, a fisiosuas vidas, o vazio de seus nornia moral de um varão que pensamentos e sentimentos. O teve bastante discernimento e castíssimo São José, que teria sabedoria para guardar, detantas coisas a nos dizer, guarfender e governar o próprio da o silêncio! Talvez porque Deus-Menino e a Virgem Manão queiramos ou não saibaria. mos ouvi-lo. Ele conserva no Um varão, modelado pela fundo de si mesmo as grandegraça do Divino Espírito Sanzas que contempla. Nossos to, para ter proporção com a contemporâneos miseravelmais excelsa das criaturas mente se deixam arrastar pelo Nossa Senhora, sua esposa fascínio das ninharias. São e com Nosso Senhor Jesus José, contudo, permanece em Cristo, o Verbo de Deus hupaz, senhor de sua alma e na manado, a segunda Pessoa da posse de seu silêncio. Santíssima Trindade, seu filho Na Intimidade da legal. Este é São José, descenSagrada Família dente de David e, conforme afirma São Pedro Julião EyQuantas reflexões nos sumard, seu sucessor no trono de gere o intensíssimo convívio Israel, pai adotivo do Filho de de Jesus, Maria e José na santa Deus. Quanta grandeza! casa de Nazaré. Que mistérios Considere-se quantas veter-se-ão revelado diante dos S& José, da estirpe real de Davi, coroado pelo Menino zes São José teve nos braços o olhos deste homem a quemJeJesus - tela de p;,ntor anônimo, século XVIII, Escola Menino Jesus, esse Meninosus obedecia? O que discernia equatoriana, Quito São José nas ações de Jesus e Deus redentor que ele foi o São José e o silêncio primeiro a adorar, depois de Maria Sande Maria? Estas ações, envoltas em simOs Santos Evangelhos, habitual- plicidade, assumiam sem dúvida a seus tíssima! Quantas vezes este Menino se terá voltado para ele e indagado: "Papai, mente tão cheios de elevada simplicida- olhos dimensões incomensuráveis. E como devo fazer tal coisa?" E São José de em suas narrações, tomam-se ainda quando a palavra humana é chamada a teve os lábios suficientemente puros e a mais sóbrios quando tratam de São José. se pronunciar e o homem se declara humildade suficientemente grande para, São Mateus nos diz, a respeito dele, incapaz de exprimir o que traz no fundo sabendo ser Deus o interrogante, res- estas poucas palavras: "Ele era um hoda alma, então ele se põe de joelhos e o mem justo" (1, 18-20). São José é todo silêncio se levanta de dentro dele. Uma ponder aconselhando ... Imagine-se agora quantas e quantas ele envolto em silêncios, ele inspira o vez mais, São José envolto em seu silênsilêncio, o silêncio é sua atmosfera pró- cio ... vezes Nossa Senhora se voltou solícita para servir ao seu esposo, chefe da Sa- pria. É no silêncio da noite que, repetiO que o Evangelho narra de Nosso grada Família! Estamos em presença de das vezes, durante o sono, Deus lhe ma- Senhor, que "Ele crescia em sabedoria, realidades que, sob aparências simples nifesta seus misteriosos desígnios. As- idade e graça diante de Deus e dos hoe naturais, são tão desproporcionadas sim foi a respeito do mistério da Encar- mens" (Lc. 2, 52), de certo modo se pode com o ·resto dos homens, que não pode- nação do Verbo no claustro virginal de dizer de toda a Sagrada Família. Em certo momento, a Providência mos sequer fazer idéia delas. Tal é a sua Santíssima Esposa (cfr. Mt. 1, 18-
~~'.;.:,::-m:=------:~a
CATOLICISMO
22
chamou a Si aquele varão virgide excelsa bondade, um ar de nalíssimo, que foi assistido em grande majestade. Era um casal seu transe derradeiro por Nosso sumamente distinto, mas pobre. Senhof e Nossa Senhora, os Ora, aceitar que outros tequais, até o último momento, nham distinção com riqueza, vá pessoalmente ajudaram São José lá, pois a segunda faz perdoar a a elevar sua alma até aquele pináprimeira, e o interesse em conseculo de perfeição moral para o guir dinheiro incute uma -vontade qual fora criado. Umgrau de perde bajular, que faz as vezes de feição tão alto e alcandorado que, respeito. Mas, quando se está acima dele, só contemplamos a diante do pobre que tem urna Santíssima Virgem e Nosso Segrande distinção, a qual resulta nhor Jesus Cristo. José havia de um grau de virtude assinalada, atingido a sua plenitude de "saentão é a recusa. bedoria, idade e graça" ... Por Alguém poderia, talvez, objeisso, em razão de toda essa assistar: mas, e se aquele povo soubestência que recebeu, São José é se que Nossa Senhora estava para merecidamente tido como o padar à luz o Menino Jesus? droeiro por excelência da boa - Também não receberia o morte. santo casal! Jesus, Maria, José, três auges O Menino Jesus era parecido inimagináveis de perfeições decom Nossa Senhora, era seu fisiguais que se amavam reciprolho... São José também, por sua camente e se interpenetravam, S& José e o Menino Jesus -Zurbarán (1598-1664), altíssima virtude, parecia-se moIgreia de São M erardo, Paris constituindo uma ordem hierárralmente com Ele. Aquela sociequica admiravelmente inversa: o dade não queria Nossa Senhora, dificuldade em receber aquilo que é chefe da Sagrada Família no plano hunem São José, nem o Menino. Apetecia grande, por causa de sua mediocridade. a vulgaridade e a riqueza. Ora, estes não mano era o menor na ordem soPor vezes somos levados a achar que o brenatural; e aquele Menino, que devia tinham nem uma, nem outra, pois eram gosto do homem está em tratar com o obediência a Maria e a José, era o prónobres e pobres. Resultado: essa é a prique é importante, elevado, sublime. prio Deus! Realiza-se aqu : 11ma harmomt ira recusa do povo, o primeiro momenInfelizmente, neste vale de lágrimas, nia de desigualdades tão sublime como to em que Nosso Senhor, já na Terra, por o grande apego do homem não é à gran- meio de São José batia às portas dos honunca houve nem haverá em toda a criadeza, nem mesmo à riqueza, mas à meção. mens sendo recusado. diocridade, particularmente se há nela Quanta grandeza! Nessa rejeição, São José encontrava um misto de bem e de mal, com um uma grande glória. Ele representava Mártir da grandeza sabor mais acentuado de mal que de algo que a vulgaridade e o espírito probem. Há uma tendência profunda no Falei da grandeza de São José. saico dos judeus de então detestava. Como foi ela recebida pelos homens de homem para a banalidade, avessa a tod~ Deu-se aí o primeiro lance de seu marseu tempo? Diz o Evangelho: "E (Ma- forma de grandeza e de sublimidade. E tírio: conduzir Nossa Senhora a uma ria) deu à luz o seu filho primogênito, e a herança que nos vem do pecado origigruta, própria.'d e animais, onde o Meninal e que cresce com nossos pecados o enfaixou, e reclinou numa manjedouno nasceu. atuais. ra: porque não havia lugar para eles na São José, mártir da grandeza, rogai Então se compreende por que não haestalagem" (Lc. 2, 7). por nós! via vontade de ceder lugar à Sagrada Fa"Não havia lugar para eles na estamília! Tanto mais que aquele nobilíssimo lagem". A frase encerra urna verdade LUIZ CARLOS AzEVEDO amarga. Os homens têm urna particular casal conservava, ao lado de um aspecto
Imagem de São José espelha suas virtudes Que impressão de força se desprende dele! Quanto vigor e quanta vigilância em seu olhar! Quanta firmeza errf seus lábios! Quanta coragem em seu peito possante! O que se sabe deste homem coincide com o brio que nesta ~magem se retr~t?. Com efeito, sendo de estirpe ilustre, conviveu com os personagens mais altos que participaram jamais do convívio humano. Recebeu sob sua guarda o legado mais valioso de todos os tempos, e o defendeu com êxito debaixo de enormes riscos. Foi um grande homem, em toda a força da expressão. Trata-se de São José, Patrono da Igreja, cuja festa se comemora a 19 do corrente. Esculpida de ,acordo com a Fé e a lógica (o que infelizmente é raro), encontra-se essa imagem em Avila, na Espanha. MARÇO 1993
23
INTERNACIONAL
~
O enigma da Rússia: luzes e sombras no quadro
;\o GATO QUE RI ~~ -
Bebidas nacionais e estrangeiras. Queijos e doces tipo europeu. Arenkes e Salmons
Restaurante italiano Almoço e jantar
. ~~·-:·--
CASA ZILANNA MERCEARIA
'
Massas-Pizzas-Carnes-Grelhados 39 anos servindo São Paulo Estacionamento próprio
Rua ltambé, 506 - Higienópolis São Paulo - Fone: 257-8671
O livro "As aparições e a mensagem de Fátima segundo os manuscritos da Irmã Lúcia", do eng. Antonio Augusto Borelli Machado -best-seller no Brasil e em outros países do Ocidente -está sendo largamente difundido pela TFP francesa na Rússia, país cujo rumo ainda constitui uma incógnita PARIS-Lumieres sur l'Est-Luzes sobre o Leste - é o nome escolhido pela TFP francesa para seu empreendimento, mediante o qual está sendo difundida nas vastidões do ex-império soviético a mensagem de Nossa Senhora de Fátima ao mundo. As palavras da Virgem Santíssima referem-se de modo especial à Russia e ao comunismo. Para tal empreendimento, dois emissários daquela entidade já viajaram duas vezes a Moscou. Eles colocaram em jornais, na rádio e na televisão russas anúncios oferecendo gratuitamente ao público o livro sobre Fátima. Os pedidos provenientes de interessados afluíram, aos milhares! São recebidas em Paris cartas de todas as latitudes do imenso território da República russa. Elas são comovedoras. Por outro lado, os enviados da TFP francesa - eu mesmo fui um deles, participando da segunda viagem - tiveram oportunidade de constatar in loco os estragos terríveis causados por 70 anos de marxismo.
que acorda após tantos anos de ateísmo. Os senhores estão s'emeando na boa terra, ela dará frutos". De Moscou, Boris agradece: "Desejaria agradecer-vos pelo livro que acabo de receber. O que os senhores estão fazendo é muito importante para meu país. Em 1917, esquecemos de Deus, e agora sofremos as conseqüências disso". E de Novossibirsk vários signatários enviaram a seguinte missiva : "Na longínqua Sibéria chegou-nos a notí.cia de que poderíamos receber um livro sobre Fátima. Desde já agradecemovos, e que Deus os proteja". Mas essas cartas comovedoras só confirmam a triste realidade do mundo comunista: ao lado de certas pessoas que desejam voltar-se para Deus, quantas - e quantos jovens-estão atoladas numa vida destituída de qualquer regra moral, semnemhum princípio religioso, cuja única norma de conduta são as próprias paixões desregradas? A isso as conduziu o comunismo. E essa é uma de suas grandes vitórias!
Rússia: esperanças, Incógnitas e graves apreensões
Carência total de princípios morais
Há dias em que é de oito mil o número de pedidos da referida obra que chegam a Paris! Ao todo, mais de 200.000 cartas já foram recebidas pela TFP francesa. Para muitos, esta é a primeira ocasião de receber algum socorro espiritual, após 75 anos de perseguição religiosa. Nesse sentido, Olga, 25 anos, escrevia da Moldávia : "Estou feliz, por se apresentar esta ocasião para agradecer aos senhores por seu trabalho, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. ... Os senhores devem saber que aqui não se pode comprar livrosdepiedade,porque nenhum está à venda. Os senhores conhecem a sede que existe num país
Muitas vezes as pessoas se perguntam: a Rússia está realmente realizando mudanças econômicas, está caminhando para uma economia de mercado? Antes de se dar uma resposta a essa questão, é necessário ressaltar um as. pecto capital da realidade russa: os danos devastadores causados pelo comunismo às almas. E sobretudo aos jovens. Segundo recente artigo publicado no jornal "Libération" (1_3/1/93), a criminalidade na juventude está aumentando significativamente. A psicóloga Elena Mikholar declarou que o grande .problema consiste no fato de os jovens estarem privados totalmente de critérios morais. "Para eles -explica a psicóloCATOLICISMO
24
ga -, vender frutas no farol luminoso ou prostituir-se é .exatamente a mesma coisa". Durante 75 anos o comunismo combateu a família, a religião, as regras morais. Os pais de hoje são incapazes de educaros filhos.Nessa linha, é oportuno lembrar que apenas na cidade de Moscou haveria mais de 160 gangs organizadas de adolescentes!
Ligeira cirurgia plás~lca 1 Na imensa maioria dos casos, a atividade econômica, em qualquer setor, é controlada por verdadeiras máfias. Ou seja, muitas atividades econômicas são exercidas na base da corrupção e do roubo. Estas incluem funcionários públicos de todos os escalões, policiais e militares. Na chefia dessas máfias estão ... os ex-responsáveis do Partido Comunista soviético. Portanto, são as mesmas pessoas que continuam dirigindo a infeliz Rússia! Deixamos aos otimistas inveterados, para tema de meditação, esta declaração do próprio Boris Yeltsin sobre os rumos que ele vem imprimindo a seu país. Em recente entrevista concedida ao semanário russo "Argumenti y fakti", declarou ele : "A Rússia não está nem um pouco caminhando rumo ao capitalismo, pela simples razão de que ela não é feita para isso. A Rússia é e será um país unido, poderoso e temívef'. Mas, então, para onde está indo a Rússia? O quadro é de luzes e sombras. É difícil, de momento, sondar até o fim seus rumos profundos. Por ora, importa sobretudo manter-se atento, não ·se surpreender ante nenhuma eventualidade, confiantes em que Nossa Senhora de Fátima cumprirá seus desígnios sobre aquela nação. 8ENOfT 8EMELMANS
Especial para Catolicismo
PHARMÁCIA NATURAL PETRÓPOLIS Plantas medicinais Homeopatia Shampus - Cremes - Chás Todas à base de pl 9 ntas medicinais Solicite nossos catálogos gratuitamente com a relação de nossa man ipulação. Remetemos tudo pelo Reembolso Postal Rua 16 de Março, 322 CEP 25620-040 - Petrópolis - RJ Tel. : (0242) 43-8235
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão .
FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO
Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu Hote1 * * * * LORD PAI.AC[ ___ ---
rÃ; --------------------------X Lord Palace Hotel:
1
Rua das Palmeiras, 78-Tcl. (0JI 1220-0422 - CEP.01226 TELEX 1123208 - FAX (0111 220-9955 DDG (OJJI 800-8272 São Paulo
Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. Nome: End.: .
1
CEP: ....................... Cidade: ........................................................................ UF:
AfOlJ<CISMO Preços durante o mês de MARÇO de 1993:
ASSINATURA ANUAL
ESC\\
Assessoria Contábil &TributáriaS/C Ltda. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE - ASSUNTOS FISCAIS
COMUM: Cr$ 450.000,00 COOPERADOR: Cr$ 550.000,00
Edivaldo José Ciryllo Rangel
Onde o valor, aí a cortesia PROVÉRBIO FRANdS
BENFEITOR: Cr$ 900.000,00 G RAND E BE N FE ITOR: Cr$ 1.500.000,00 EXEMPLAR AVULSO: Cr$ 45.000,00
Rua Julio de Castilhos, 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068
Uma palavra amável é como um dia de primavera PROVÉRBIO Russo As maneiras são um espelho em que cada qual mostra seu rosto
Comércio de Carnes
Shoppings • Jardins Centro • ltaim
• construtora
AD
-----·-------------
====
OLPHO LINDENBERG
S/A
. -'i 6º e 7° andar Rua General Jardim, 70 . . c. /.) 0 4 1 1 _ São Paulo h) Ot: : 2 ' '
tudo com a
---
-~
Norton
As belas maneiras são uma tradução da virtude em língua vulgar
Atacadista de carnes em geral
A polidez é uma moeda que enriquece, não quem a recebe, mas quem a dá
R. Joaqu im Cavalhares , 79 Fone: (011 ) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
--- · ----------------
Talento ::::::=, Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Segurança ==== Soluções .originais Harmonia Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe ::::::z Acabamento pe:so?alizado Local privilegiado Sucesso
·nlitura g~ntia desta ass1 =='=
-----
Go ETHE
FRANCISCO BACO N
PROVÉRBIO PERSA
O de~apar:e~imento rápido das fórmulas de cortesia só pode ter como jJontofinal a simplicidade absoluta (para empregar só esse qualifú:,ativo) do trato tribal PLINI0 CoRRfA DE OLIVEIRA
NO LIMITE DOS HEMISFÉRIOS Macapá, latitude 0°. No Monumento à linha do Equador, que divide a T erra em dois hemisférios, caravanistas da TFP fincaram, bem no alto, o pendão auri-rubro da entidade. "Do Prata ao Amazonas, do mar às cordilheiras", o Brasil tornou-se p equeno para esses incansáveis e heróicos propagandistas, que em 20 anos percorreram cinco milhões d e quilôme tros de nosso imenso território, equivalente a 125 voltas em torno do círculo máximo da esfera terrestre!
ontados em camelos e quase ocultos por inesperada sombra, três beduínos atravessam lentamente o deserto rumo ao desconhecido. Ao longe, o sol se vela por trás das montanhas, transfigurando as nuvens com o esplendor do ocaso. Luz e sombra aqui se mesclam para projetar em solo árido a silhueta do mistério. Algo de imponderável confere à paisagem uma atração especial. Sente-se a solidão do deserto, o calor inclemente e a ameaça constante das intempéries da natureza. "Ouve-se", por assim dizer, o silêncio profundo das vastidões áridas, só interrompido pelo trqpel cadenciado das montarias. Rica em significado simbólico, esta cena evoca o doloroso peregrinar do homem pelo deserto das provações, quando a sensibilidade
se torna estéril, a vontade cambaleante e a inteligência se deixa envolver pelas sombras da incerteza. Nessas circunstâncias, revela-se toda a grandeza da alma católica diante do sofrimento e da dor. Auxiliada pela graça divina, ela sempre terá condições de atravessar o penoso vale de lágrimas desta vida terrena, desde que não esmoreça na fé nem perca a confiança na Providência. E assim como os nômades continuam a enfrentar a solidão do deserto, mesmo envoltos pelas sombras do mistério, assim também a alma cristã saberá progredir na vida sobrenatural, apesar das trevas do infortúnio. Acrisolada no cadinho das provações, ela caminhará rumo à perfeição, atraída pela Luz da eterna bem-aventurança.
CATOLICISMO
Ng 508
,, ·
Abril
Discernindo, distinguindo, classificando...
1993
Contrateinpos ou sinais?
Assestando o foco
Conhecer a situação do clero no século XVIII pode ajudar a entender . os dias de hoje. Pequenos fatos exemplificativos
A
1770, de realizar seu grandioso inda outro dia, numa roda, projeto: pôr abaixo a renda gótica conversava-se sobre a side sua catedral e dotá-la de uma tuação atual da Igreja. Um dos fachada neo-clássica! Apesar de participantes salientava, não sem tudo, nc"io era mais insensata a tristeza, o papel preponderante idéia do BispoLafont de Savine de de clérigos na espantosa deca pintar num tricolor berrante co. dência do espírito religioso entre res da Revolução) o coro e o órgüo os católicos. Ao que um dos inda catedral de Vi.viers, em 1792. A terlocutores redargüiu: moda do dia não opera s mio de- Nas épocas de crise é semvastações" (p. 125). pre assim. Veja, por exemplo, o * "A decisiva ruptura ·om 'o século XVIII, marcado a fundo espírito do mundo ' na ·ongr •gapela péssima._ Revolu ção Francesa. Quantos sacerdotes a ela adeção dos maurienses p ,rt ,,, · '" ao capítulo geral de 7783. Ef , proriram, alguns até a promovera m. vocou a demissão dis r ' ta da Muitos outros, por sua indiferenmaior parte dos dignitários ma ça, facilitaram a tarefa dos revoçônicos, até então muito 1111111 •rolu cionários. - É verdade :____ co mpletou sos entre os mauri ns ,s. Dom . Malherbe, futuro vigário ·onstium te rceiro, bom conhecedor de tucional [aderente à R vo/11çüoj História-, mas co m uma ressalva. É que no século XVIII, ao Um clé?igo do séc'. XVIII confraterniza com dois da paróquia Saint-G 1 r111ai11 -deslado do clero revolucionário ou Pres assim anunciou a seus iroutros rnaçons, diante de uma loja rnaçônica colaboracionista, existia ainda (gravura de Perseval, Museu de R eims). As lojas mãos de loja que f , s , d 'lllitia 'E11 vos cons iderável parcela de bons pa- fàrain centros propulsores da Revolução Francesa do cargo de venerá v dres. Grande número não aceitou declaro com franqu •zr1 e o,n reconhecimento q11 , mio posso as leis impostas ao clero' pela ReCito aqui um ou outro fato extraívolução e houve até sacerdotes márticontinuar a preencher ,.,·ta Jim çi10 e do dessa obra, para ajudar o leitor a que ning uém tem mellior s raz J •s do res. Ademais, mesmo dentre os que tomar o pulso da situação do clero que eu para demilir-s absol11ta111 enapostataram,, encontraram-se depois naquela época, comparando-a, se quipenitentes arrependidos. De modo que ser, com a atual. te'. Gesto repetido 11111111itos co11 v 'ntos parisiense,,, (p. l l ). a história do clero no século XVIII é *** complexa. Se, no tota 1, faltou-lhes a * Após a torn1 ' 11h1 r ·volut· i wftria, * "Ter-se-ia causado espanto à quanecessá ria fibra contra-revolu cionária cm1803,"osji i·da ·atedrald •A 11 •rse totalidade dos eclesiásticos francere, q11 , cli •gam /X I ra a Misso do dom i11para impedir a avalanche qu e se preci- ses do fim do Antigo Regime se se lhes pitou contra o Alta r e o Trono,é difícil, mostrasse que, aquilo que eles toma- go, l 1111 a surpresa d 1 ·0111.e111pla1; due pode ser injusto, generalizar. vam por contratempos de sua vida quo- rant um 01101 um v ,fl,o prosternado A lembrança dessa conversa ainda tidiana, eram na realidade sinais pre- diant dogmndeportal, durante todo o estava fresca em minha m emória, cursores das altas turbulências anun- t •111po. A atit11d , digna, o porte de caquando me caiu nas mãos um livro que ciadoras de tempestades faiais" (p. 32). beça que de 11, t r sido altivo, espantam fornece preciosos elementos para es-· * "Entre 1760 e 1785 muJtijJlicam - 1111111 liom '111 que se recomenda humild •m nt , às preces dos passantes. Coela recer esse tema: L a Vi.e Quotidien- se os mandamentos e artigos sinodais
r
1
1
ne du Clergé Français auXVJIIe siecle (A Vida Quotidiana do Clero Francês no século XVIII), Hachette, Paris, 1987. Seu autor, Bernard Plongeron, que já lecionou nas Universidad es de Strasbourg(França) e Louvain (Bélgica), é professor no Instituto Católico de Paris.
referentes à batina 'uniforme da milfcia santa '. O Bispo de N evers recorda, em 1768, ·que ela é uma dura obrigação: 'Envergonhar-se e depô-la é ser des.ertor, triinsfuga e declarar-se indigno de revesti-la '" (p. 75). * "Umapro videncialpenúria imp ediu os cônegos de S ens, por volta de
/ :
c/1ic/,a-se logo que se trata de um antigo vigário-geral de D. Cicé, depois sabese seu nome e sua história: o cônego
Wiullier, que se casou, na época do Terror, com uma antiga religiosa; ele tem mais de 67 anos" (p. 51). C .A
CATOLICISMO associa-se, nesta Semana Santa, às comemorações promovidas pela Igreja em memória da Paixão e Morte do divino Redentor. Convém ressaltar que nosso Salvador previu em sua Paixão a crise que assola atualmente sua Esposa Mística, e padeceu por esse triste estado de coisas, descrito por Paulo VI como a penetração da "fumaça de Satanás no Templo de Deus''. Além disso, parece muito oportuno oferecer aos católicos a ocasião de meditarem alguns lances da Paixão, que apresentam especial analogia com situações que estamos vivendo. E um desses episódios, dos mais característicos, é o iníquo processo a que foi submetido o Deus humanado. Nesse evento, pode-se analisar o ódio sem limites, a ingratidão brutal, precisamente por parte daqueles que deveriam ser os primeiros a receber e homenagear o ~
Messias prometido: os chefes do Sinédrio. Ódio cego que articula turbas, pressiona e ameaça um procônsul romano mole ecovarde, para obter a morte de Jesus, o Verbo Encarnado. O aprofundamento de tais reflexões nos leva a constatar a semelhança existente entre os fatos ocorridos na Sagrada Paixão e os acontecimentos de nossa época, como os leitores poderão encontrar adiante, no Caderno Especial. Outra matéria - esta de caráter mais recente, mas alusiva também à Semana Santa - estampada na presente edição, será, sem dúvida, para o leitor, objeto de ed ificação. Trata-se da descrição de antiga e tocante cerimônia, que desde 1242 até 1931 se efetuou na corte espanhola, em todas as Quintas-Feiras Santas: o lavapés de mendigos. É comovedor verificar que os mais altos personagens, ocupando o ápice de
um_a· sociedade cristã, imitavam a Nosso Senhor Jesus Cristo, servindo humildemente os mais pobres dentre os pobres. Como é igualmente digno de menção o costume, que vigorou desde o século XIII até o reinado de Isabel, a Católica, no século XV, de o Soberano espanhol perdoar, na Sexta-Feira Santa, um condenado à pena capital. Os monarcas esco lhi am, dentre alguns envelopes brancos fechados que continham os nomes dos diversos condenados à morte, um deles . O sentenciado, cujo nome figurava dentro do envelope escolhido, tinha sua pena remitida. Isabel II, num gesto de excessiva gen~rosidade, que foi imitado por todos os monarcas espanhó is subseqüentes até Afonso XIII, concedia indulto a todos os condenados à pena capital, nas SextasFe iras Santas.
.
lnd1ce Discernindo ... Contratempos ou sinais? 2 A Realidade Concisamente Contra a legalização das drogas 4 Nacional O Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança no Centro Acadêm ico X I de Agosto... 6 TFPs em ação Marcante presença da TFP francesa no bicentenário da morte de Luís XVI 8 Espiritualidade Reflexões sobre a execução de Luís XVI 9 Semana Santa A cerimônia do lavapés na Corte de Afonso XIII I 11 Caderno Especial O iníquo julgamento de Nosso Senhor Jesus Cristo 13 Históri.a A Maravilh osa legenda do Penha, no Convento da Espírito Santo 17 Educação A verdade se encontra nos livros? 19 Comente, comente ... O que mudou em Aparício? 21 Entrevista Lavrador gaúcho denuncia "massa maligna" que subverte o campo 22 Em painel Frases e imagens 27 Nossa capa: Cristo diante de Pilatos -
Catolicismo é uma publi::ação mensal da Edfora Padre Belchior de Pontes Ltda.
Diretor: Paulo Corrêa de Brfo Fiho Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o Nª 13748 Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 • São Paulo, SP Tel: (011) 825.7707 Diagramação: Antonio Carlos F. Cordero Fotolitos: Mi::roformas Fotofitos ltda. Rua Javaés, 681 • 01130-01 O São Paulo - SP Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Edlora Ltda. Rua Javaés, 681 -01130-010 São Paulo - SP
Acorrespondência relativa à assi-· natura e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsio de Assinaturas. Endereço: Rua Jaguarilie, 648 Conj. 02 - CEP 01224-000 - São Paulo - SP · Fone: (011) ~-3361 ISSN - 0008-8528
lintóreto (1564-1566),
refeitório da Confraria de São Roch, Veneza
CATOU CISM O
ABRIL 1993
2
3
Contra a legalização das drogas O relatório anual da ONU sobre tráfico e uso de drogas no mundo rejeita, como nociva à saúde pública e ao ben1-estar social, a proposta de descriminalizar o consumo de entorpecentes. Para os espedqlistas, o primeiro equívoco das campanhas pela descriminalização é ignorar que as sanções têm ajudado efetivamente a diminuir o consumo. Outra id éia falsa, ainda segundo os especialistas, é que a legalização reduzi ria a corrupção, a violência e o crime, tornando as drogas menos nocivas socialmente. O acesso fácil aos narcóticos, de acordo com o r elatório, "poderia na verdade contribuir para aumentar os crimes cometidos sob influência das drogas, assim como a violência crônica dentro da família e da comunidade".
Declínio socialista O Partido Socialista francês, fundado há 22 anos por François Mitterrand, não está doente, está moribundo. No ano passado, os principais líderes socialistas estiveram
citada revista londrina. O líder do PSI, Bettino Craxi, recebeu outra notificação - a quarta - de que está sendo investigado em Milão, ligado a possível cor-
envolvidos em interminável séries de escândalo~, come nta a conceituada revista "The Economiit, de Londres. Recentes pesquisas de opinião indicam que três quartos do público (incluindo mais da metade dos esquerdistas) estão insatisfeitos pelo modo como o país está sendo governado pelo presidente socialista. Também as relações entre o Partido Socialista e Mitterrand atingiram o
Craxi, ex-presidente do PSI: investigado
rupção. O naufrági ausad p lo ândalos d c rrupção sl 1 afasLando os el ilor se membros do PSI m tal núm ero qu e, m idades como Milão, os fun cion ários da agremiação esperam fechar a metade de suas sedes. Até Cláudio Martelli, prin cipal opositor de Craxi no Partido, tem poucas esperanças de fazer reviver o PSI.
Mitterrand: deprirnente ocaso político
ponto mais baixo. Muitos líderes socialistas vêem o impopular presidente como um peso . MarieN oelle Linemann, a recém-nomeada ministra da Habitação, declarou que o Partido Socialista está ultrapassado e que é hora de criar outro partido ...
Bruxa, criminoso e zumbis Lançado nos Estados Unidos, o jogo WaxWorks faz renascer da escuridão
personagens como Jack, o Estripador, zumbis, plan tas carnívoras e dezen as de outras criaturas h diondas. O jogo conta a história de um rapa? que recebe de herança urrr museu de cera, voltado ao culto das mais perversas e malévolas criaturas. Opapel do personagem principal é vivido pelo próprio jogador, que para tal se utiliza de computador. A missão é encontrar seu "irmão gêmeo", AI x, desaparecido ainda ri ança, víLima da maldi ão d um a bruxa, lx na. A m ldição di/ qu toda v / qu nasr m gêm o , um deles s rá discípul do diabo. Para acabar m a praga e resgatar AI x, o jogador precisa entrar no museu e enfrentar qu, lro nários de horror: um ·cmitério repleto de 7U!11l>is, a tumba de um f, raô sanguinário, as antigas íll i'lS d Londres com J, k, o [ tripador, e uma min,1 d arvão na qual há uma pl,1nta carnívora. F i- , o l< mp dos belos nlo da arochinha, d s contos maravilhosos m gN,11. P,1 samos à épo a do hc diond o, começa-s a "hrin ·ar" com o s nhor d,,s trc,va : Satanás!
Na Itália, idem Os socialistas, na Itália, também estão em maus lençóis. A televisão italiana apresentou policiais em uniforme dando uma batida na sede do Partido, em Roma, seguindo ordens de juízes de Milão, os quais investigam uma rede nacional de vantagens e financiamentos ilegais do Partido, inform a a
Bruxa entm
1•111,
jogo 11/l'lr6nico
TV desvirtua paladar - Os anúncios de alimentos ou bebidas na televisão podem desvirtuar a saúde e provocar bulim.ia (aumento exagerado da fome) ou anorexia (perda total do apetite). Estudo feito pelo prof. Riccardo Roscalli, da Universidade Católica de Milão, mostra que a publicidade contribui fortemente para a formação do gosto e que, de certa forma, bebe-se e come-se por telecomando ...
-·-
De Lenine a Michael Jackson - Logo após a queda da cortina de ferro, os rumenos derrubaram a estátua de Lenine, em Bucareste. Agora, sobre o mesmo pedestal, foi colocada uma estátua de cinco metros de altura do cantor de rock norte-americano, Mickael Jackson. Ao que parece, o comunismo por lá
Fatos que repercutem Tão paradoxal é nossa época que, embora tudo esteja ruindo por todos os lados , é difícil por vezes encontrar notícias que verdadeiramente repercutam. Folheando os jornais, ouvindo os rádios, vendo as televisões, é aquela enxurrada de fatos horríveis, mas desgastados pela repetição, pelo sensacionalismo e pela indiferença geral. Quem se interessa hoje pelas jogadas políticas, pelas oposições de princípios, pelos atos de Governo? Ninguém! Também ... os grandes pensamentos, as grandes · disputas , os grandes homens, até as grandes emoções, tudo que é grande desapareceu da mídia. Para que o leitor possa medir bem o alcance do fenômeno, remontemos a uma época em que ainda havia grandes personagens e grandes acontecimentos. Tomemos a esmo a repercussão de um fato festivo, na corte de Luís XIV, Rei de França. Noticia a famosa Mme. de Sévigné - literata que se tornou renomada pelo gênero epistolar - em carta à ua filha, de 15 de dezembro de 1670 (não havia midia na ·época e as cartas constituíam um dos principais meios de comunicação):
não morreu, apenas se metamorfoseou numa revolução ainda mais radical, a do rock, que se caracteriza pelo espontaneísmo das reações primárias, sem o controle da inteligência, nem a participação efetiva da vontade, como expli ca o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira cm "Revolução e Contra-Revolução". México privatiza estatais ...presidente do México, Salinas,já privatizou 214 empresas estatais, o que proporcionou um rendimento de 21 bilhões de dólares para o país. Passaram para o setor privado os bancos e as siderurgias, além de companhias telefônicas e aéreas. ... e dá lições aó Brasil - Desde 1990, Salinas vem privatizando mais de 50 estatais por ano, devendo liquid ar as
·-
º
·-
"Vou anunciar-vos a coisa mais es pantosa, mais surpreendente, mais maravilhosa, mais miraculosa, mais triunfante, mais estonteante, mais inaudita, mais singular, mais extraordinária, mais incrível, mais imprevista, maior, menor, mais rara, mais comum, ma is fulgurante, mais secreta até hoje, a mais brilhante, a mais digna de inveja .... M. de Lauzun desposa domingo, no Castelo do Louvre, com a permissão do Rei, Mademoiselle, a grande Madcmoiselle, neta deHenriqueIV,prima-irmã do Rei, Mademoiselle destinada ao trono. "Se estais fora de vós mesma, se achais que estou mentindo, que isso é falso, que estou caçoando de vós .... se, enfim, me dizeis injúrias, cu vos dou razão, porque também eu fiz outro tanto. "Adeus, as cartas que se scguiriio vos farão ver se estou dizendo ou niio a verdade". E, cm 31 de julhll e 2 de agosto de 1675, a mesma autora anuncia um fato, desta vez lutuoso: "Eis M. de Turcnne morto; eis uma consternação geral; eis a França desolada . Todo mundo se procura para falar de M. de Turenne; aglomeram-se; ontem todos choravam nas nrns, todo o comércio fechou.
CATOLICISMO
ABRIL 1993
4
5
que faltam (218) até o fim de seu mandato. No Brasil, no mesmo período, as 22 privatizações realizadas até hoje estão atravancadas por questões judiciais.
Sapos e morcegos Por influência do radicalismo ecológico, o governo da Suíça aprovou uma lei segundo a qual é proibido - mesmo nas residências - destruir ou danificar os lugares onde os morcegos hibernam ou se reproduzem. Anterionnente, sob as principais estradas daquele país, foram construídos túneis para proteger os sapos. Seres hum a nos são assassinados pelo aborto e eutanásia, mas morcegos e sapos são protegidos ... Um abismo atrai outro abismo, diz a Sagrada Escritura.
Madame de Sévigné - Detalhe de pintura de Claude Lefebvre, Museu Carnavalet, Paris " O Rei ficou muito aflito, toda a corte esteve em lágrimas. Todo Paris e todo o povo estava na perturbação e na emoção. "Imagino, minha filha, vosso espanto e vossa dor pela morte de M. de Turenne. O Cardeal de Bouillon, ao saber desta terrível morte, desmaiou; levaram-no a Pontoise, onde permaneceu dois dias sem comer, com lágrimas e gemidos contínuos" (Lettres, Editions Varicté, Montréal- Canadá, 1945).
NACIONAL
'. ,
o·PRINCIPE D. BERTRAND DE ORLEANS E BRAGANÇA NO CENTRO /\
ACADEMICO XI DE AGOSTO DA FACULDADE DE DIREITO DA USP O balanço de uma visita
D
ois "Br~sis" se defrontaram na histórica Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, no dia 12 de março último. O primeiro "Brasil" - o autêntico, o da Fé católica, da tradição, da digtúdade, da compostura - era representado pelo Príncipe D. Bertrand de Orlcans e Bragança, bisneto da princesa Isabel, a Redentora. O segundo "Brasil" - na realidade um anti-Brasil, porque inteiramente oposto à vocação providencial de nossa pátria e afeito ao desregramento dos costumes, à vulgaridade soez, ao achincalhe em sua expressão mais repudiável - era representado por um grupo heterogêneo composto por meia dúzia de figuras circenses, extra-Faculdade, acrescido de alguns alunos desta. Esse núcleo, sustentado por pequena claque, logo no início da exposição aproximou-se de D. Bertrand, e um de seus figurantes, trajando-se com paletó, gravata e de cuecas, declarou -lhe: "Vamos entregar ao candidato a rei o abacaxi". E, ato contínuo, pôs sobre a mesa de conferências um abacaxi, acompanhado da bandeira nacional. O Príncipe manteve-se tranqüilo e aguardou que a bandeja fosse colocada sobre a mesa. Levantou-se depois com dignidade e rcdargüiu: "Embora o Brasil esteja passando por momentos difíceis de sua História, eu jamais o compararia a um abacaxi. Tal comparação é uma atitude antipatriótica, um acinte contra nossa p~ítria". Essas palavras foram acolhidas com palmas por parte do auditório.
Parcialidade de órgãos da imprensa
Sob as Arcadas históricas: estudantes - entre os quais vários calouros, de cabeça raspada, conforme a tradição da Casa - se aglomeram ern torno d.o visitante · pedindo-lhe autógrafos
Tais aplausos, bem como o desagrado manifestado pela generalidade dos assistentes, quando o mesmo grupelho irrompeu uma segunda vez na sala de conferências, foram ig11orados por certos órgãos de imprensa. Pelo noticiário desses jornais muito mais empenhado em divulgar o desalinhavado e estridente das pa lhaçadas do que a serena, vivaz e lúcida reação do Príncipe - o leitor é levado a imaginar que a platéia aplaudiu às gargalhadas os figurantes burlescamente fantasiados de no bres, valetes e mendigos. Análoga impressão causa o título nada veraz de um noticiário: "D. Bertrand cai cm cilada real". Seguido da afirma- ~ ção ainda mais inverídica de que os .:g alunos de Direito impediram-no de exaltar a monarquia. :i:
j
Resguardando, a justo título, o renome do Centro Acadêmico XI de Agosto, desdourado pelas intenções evidentemente agressivas da chanchada, o próprio presidente desse grêmio levantou-se e protestou contra o grupelho contestatário, declarando que as pessoas convidadas•para falar tinham o direito de se expressar li vremente. E D. Bertrand de Orlcans e Bragança, que conserva no tálgica recordação do tempo cm que cursou a histórica Faculdade, externou, cm seguida, sua decepção e perplexidade diante da falta de liberdade reinante naquela instituição de cn ino. Acrescentou que, na época cm que estudou na mesma Faculdade, observava-se muito mais ordem e respeito. Cc1to noticiário jornalístico apresentou o Príncipe como um ingênuo, que caiu numa armadilha, ficando in-
teiramcntc desco ncertado ante uma platéia maciçamente hostil. No cnlanto, contrariando essa tendenciosa versão dos acontecimentos, conslalci, mesmo antes da conferência, a simpatia e o respeito com que D. Bertrand foi recebido, no pátio do edifício, sob as famosas Arcadas, por C011Sidcrávcl número de estu- HumbertodeCasto dantes que o rodearam, pedindo-lhe autógrafos e colocandose a seu lado para serem fotografados. Convém ressaltar que, afastada pela segunda vez a coorte de baderneiros, o Príncipe prosseguiu normalmente sua exposição diante de um auditório atento e tranqüilo. Na mesma atmosfera, respondeu de modo cordial a múltiplas perguntas, algumas
delas despertadas certamente pela simpatia e pelo interesse com que vários assistentes haviam acompanhado a exposição atraente e cristalina do seu pensamento. E também pela destreza com que havia frustrado as inúteis investidas da baderna. · Tais disposições da maioria dos ouvintes se fizeram sentir mediante a salva de palmas que se seguiu a suas últimas palavras.
de manifestar-lhe tanto seu repúdio àquelas insípidas burlas, quanto seu apreço pelo orador. Vários deles pediram-lhe autógrafos, enquanto outros tiraram fotos e filmaram o Príncipe Imperial do Brasil. Ouvi de um desses universitários significativa observação, que merece ser reproduzida aqui : "D. Bertrand foi a única pessoa que se mostrou por inteiro neste ambiente. Ele não teve medo de dizer o que -era e o que pensava. Outros oradores, que falaram na Faculdade, moldaram-se ao auditório para obter sua simpatia. Fiquei impressionado com a atitude de D. Bertrand, com sua finneza, sua clareza e sua integridade".
Monarquia hoje representa o futuro Bem analisadas as coisas, valeu largamente a pena D. Bertrand ter aceito o convite para fazer uma palestra no Centro Acadêmico XI de Agosto.
Terminada a conferência, considcnívcl número de alunos acercou-se de D. Bertrand, a fim
Houve uma modificação bastante significativa a respeito da monarquia, e, portanto, de D. Bertrand, com relação à atmosfera rei1Jante na década de 60, quando ele colou grau na mesma Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Diante deste abacaxi ostentado pela demagogia, muitos cederiam, outros se enfureceriam: sereno, o Plincipe responde corn allaneria e precisão
Se, naquela época, maciçamente republicana, todos o chamavam "o Príncipe", hoje verificou-se uma transfonnação, pela qual houve quem tentasse praticar contra ele uma ir-
CATOL!CISM O
ABRIL 1993
6
7
reverência então impensável; mas, de outro lado, surgiram também não poucos partidários da monarquia, que, na década de 60, inexistiam de todo. A conferência na Faculdade do Largo São Francisco atestou que está nascendo um impulso rumo à monarquia, em ritmo ascensional, e que o movimento no sentido da república, majoritário, está decaindo. Ora, a tendência monárquica em ascensão representa o futuro, pois o que está crescendo é mais próprio a significar o futuro. Pelo contrário, o que vai minguando - como sucede com a tendência republicana - ruma para o desaparecimento. O impulso monárquico é representado por gente decidida: certos alunos, após a conferência, pediram a D. Bertrand para fundar um centro monarquista na Faculdade. Essa tendência mostra um crescimento inesperado, absolutamente impensável na época em que "o Príncipe" era aluno da Faculdade. Sua conferência e a atitude digna que assumiu cm face da troupe de desordeiros à Sorbonne, consolidou, naquele ambiente universitário, os monarquistas declarados e atraiu outros, que não se manifestavam até aquela data. E despertou ademais a solidariedade de alunos sem posição política definida, que admiraram a integridade do Príncipe - universitários que formam a corrente dos nostálgicos da compostura, rejeitando os aspectos de desagregação e decomposição cada vez mais freqüentes no mundo contemporâneo. LUIZ AUGUSTO RODRIGUES FERREIRA -
Especial para Catolicismo
TFPsEMAÇÃO
ESPIRITUALIDADE
Reflexões sobre a execução de Luís XVI Na praça da Concórdia, em ari, tremulam estandartes da entidade, esvoaçam capas de seus m.,e b os, irlJJlres iopam o público os dizeres de uma faixa, emociona-o evoca i d coroa de fl@res e o espírito de oração PARIS - Praça da Concórdia (anti- - pasmem! - tentou impedir que o sobre os outros, os ramalhetes eleva ga praça Luís XV, que durante a Revo- estandarte grande e a faixa chegassem vam-sea 1 metro de altura. Iução Francesa tomou o nome de praça junto ao "perímetro sagrado". Após colocarem sobre um tripé junda Revo lução), dia 21 de janeiro de Foi contestado por dirigentes da to àquela montanha floral, a cruz de 1993, 16:15 h. Cerca de 500 pessoas TFP, que qualificaram sua atitude de cravos mbros, os membros da TFP iniconstituíam o público presente. . - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - ---. ciaram a recitação do terço. EuDesde a manifestação proquanto o público maciçamente movida pelo CÓmitê Nacional acompanhava a oração, a faixa pela comemoração solene da aproximou-se um pouco mais do morte de Luís Xvi, às 10:22 h. "perímetro sagrado". Os mem- horário da morte do Rei bros do Comitê desapareceram tinha havido, durante todo o dia, da cena, pouco depois de iniciarcontínuo movimento. Milhares se a prece. E o estandarte grande de pessoas se revezaram numa marcou o ambiente, tremulando grande "ilha" cognominada "pesob a ação da brisa suave e gélirimetro sagrado", em frente ao da, tal como a que soprava no Hotel Crillon, para associar-se, mesmo local na trágica manhã de alguma forma, à comemorade 21 de janeiro <l c 1793. ção do trágico evento histórico. Foram distribuídos ao públiNo local (aproximado) onde se co folhetos da TFP alusivos havia erguido a guilhotina que àquela comemoração. As pescxecutou o monarca - um esMembros da T.FP fran cesa junto ao ''perímetro soas prcscnt s acompanharam o paço de 50 m2, coberto com pia- sagrado", pouco antes de iniciarem a recitação do terço cântico final do "Salve Regina", cas de grama, colocadas sobre entoado por s cios e coopcradodiscriminatória . Estabeleceu-se logo os paralelelípedos - , as pessoas depores da entidade. uma discussão entre as pessoas presensitavam fl ores diretamente no solo. _Terminad o o terço , foi depositada a tes, ouvindo-se então protestos de algucoroa de cravos vcrm lhos no alto do Foi às 16:15 h. que, a 100 m do local mas delas, como por exemplo: "É radiconjunto 0ora 1, onde (i ou numa posionde se aglomerava o público, erguecalismo contra eles [da TFP], deixairam-se três estandartes da TFP. Um deles , de 4 m de altura - com uma tarja de luto que pendia da flor-de-) is dourada que o encimava, símbolo da Casa real francesa. Dois outros menores o ladeavam. Uma faixa, transcrevendo palavras muito apropriadas, foi desdobrada, e 27 membros da TFP francesa revestiram-se <las capas rubras, características da associação. Foram logo circundados por curiosos, simpaticamente atraídos por tantas cores. Entre eles se encontrava o escritor Jean Raspai), presidente do mencionado Comitê, acompanhado de alguns outros de seus membros. Raspai)
os"; "que mal fazem eles?"; "o cadafalso está nova mente na Concórdia!" Depois de algum tempo de disputa , os dirigentes da TFP francesa decidi ram que os três estandartes avançariam até o "perímetro sagrado" e que a faixa ficaria a uma distância de 50 m do aglomerado de pessoas. Um cortejo composto pelos estandartes, por uma bela coroa de flores cm cru z, e por sócios e cooperadores da TFP, dispostos artisticamente cm forma de farpa, caminhou então até o círculo de uns 6 m de diâmetro. Nele, colocados uns
ção <lc realce. Membros da TFP, lendo se dispersado cm me io ao público, conversaram então com circunsta ntes. As pessoas manifes tavam grn ndc simpatia pela associação, assina la da admiração por seus símbo los e compree nsão real cio significado do a to ·que acabavam de assistir. O público da praça da Concórdia conhecera, naquela data histórica de tanto significado contra-revolucionário, o "charme grandioso" da TFP francesa. NELSON RIBEIRO FRAGELLI
Nosso correspondente
A pedido da TFP francesa, o insigne pensador católico redigiu tocante meditação sobre a morte de Luís XVI, por ocasião do bicentenário desse trágico acontecimento histórico, ocorrido a 21 de janeiro último. Reproduzimos abaixo significativos excertos do mencionado texto PLINIO CORRÊA DE OLI VEIRA
lhança entre vós e o Deus que será o vosso prêmio" . Ó Maria Santíssima, tendo em conEstas sublimes palavras do sacerdosideração tudo quanto esse pobre Rei te alentara ma piedade do Rei. Luís XVI teve de sofrer por ter ror""""rrnz-.tF,--....,...---- - - - - - - - - - - - - - - - - - - --, estende as mãos. sido mole, nós Vos pe"Fazei o qu e quiserdes!" dimos que nos obteE os asseclas de nhais a graça de jamais Sa11Son - bem dignos sermos moles em face da Revolução, de não da Revolução à qual perdermos uma só ocaserviam de cúmplices - ataram as mãos do sião de a combater, e de Rei. E foi assim, com a a combater implacavelmente! Obtendeintenção de imitar a Nosso Senhor Jesu s nos a graça de empreCristo, cujas divinas gartodos os meios para Mãos foram atadas peconter o ímpeto da Relos seus algozes duranvolução, para aniquilála e para fazer vencer te a Paixão, que o Rei por toda parte a Santa escalou, passo a passo, Igreja e a Civilização as escadas do patíbulo Cristã. Para que com e se dirigiu demododeisto vençais Vós, ó Macidido para a guiria, Rainha do Céu e da lhotina. Terra, e vença o vosso A Família Real no jardim da Torre do Templo, Divino Filho. Vós sim, Suas últimas última pri,sã.o do nwnarca francês ó Maria, cuja vitória é palavras ram como uma coroa, e eles souberam necessariamente e esplendidamente a Ele faz então um sinal aos tambores ser, ao mesmo tempo, terríveis na hora vitória de vosso Divino Filho. que se acham em frente dele. Impressioda batalha e despretensiosos e desapenados, os soldados param de bater: Ó Maria, venha a nós o vosso Reino , gados na hora da vitória. "Franceses - brada o Rei com voz para que a nós venha o Reino de Jesus. Como a Nosso Senhor, ataram audível até à extremidade <la praça - , Mandai que se acelerem os acontecieu morro inocente. Perdôo aos autores mentos por Vós previstos em Fátima, a as mãos do Rei de minha morte, e peço a Deus que o fim de que a presente época de reinado Os ajudantes do carrasco Sanson se sangue que vai ser derramado não caia <la Revolu Ç<'ío satânica e igualitária aproximam de Luís XVI, e querem jamais sobre a França! E vós, ó povo da qual a execução de Luís XVI foi um amarrar-lhe as mãos. desafortunado ... " *. lance característico e pungente - cesse o quanto antes, e sobre nós desça o -Amarrar-me? Não, jamais conO Rei pretende continuar sua objurvosso Reino. Não para ser o Reino dos sentirei nisto! - a talha ele. gatória, mas um homem a cavalo, em preguiçosos, dos moles - que, em últiuniforme da guarda nacional, desfere a O sacerdote lhe sussurra: ma análise, se venceram terá sido só espada sobre um dos tambores e forçaporque Vós interviestes, com os vossos - "Sire, nesta nova afronta não os a cobrira voz do Rei como seu ruído. Anjos, a favor deles - , mas para ser o vejo senão um último traço de seme- Nesse instante supremo, a um passo da Petição
Reino dos heróis que lutaram como gigantes, porque a graça e as virtudes cristãs, e sobretudo as virtudes da pureza, da fortaleza e da humildade, os nimba-
•
CATOLICISMO
ABRIL 1993
8
9
par, das portas celestes para a alma deste comovedor filho de São Luís? Lá do alto do Céu, ele contempla - com essa benignidade que deveria ter sido tantas vezes completada pela força - a França de hoje. E posto que quem está no Céu não sofre o tormento do arrependimento, pois já está perdoado de todos os seus pecados e não tem mais qualquer perdão a pedir, ele olha para a França, essa querida França, essa grande França, essa França que Nossa Senhora não cessa de amar e de favorecer, e que, não obstante, como a maior parte das nações de nossos dias, não cessa de A ofender e de A renegar. ComcerLuís XVI, três dias antes de sua morte. Desenfw tcza a Virgem Mãe reza por ela , executado na Torre do Templo pelo artista Ducreux para que sacuda vigorosa evitoguilhotina, os revolucionários ainda teriosamentc o jugo da Revolução. mcm que as palavras do soberano comoÉ assim o perdão de um Rei Católivam a multidão e todo o processo rcvoco, de um Filho de São Luís. lucionário retroceda! *** * ** Entrementes, o Abbé Edgeworth de Finnont foi se afastando aos poucos do Os algozes estendem o Rei sobre a pàtíbulo, onde sua presença não tinha plataforma da guilhotina. A lâmina cai mais raz,'ío de ser. Chegado junto à mulpesadamente sobre a nuca do Rei, e sua tidão, temia que esta o estraçalhasse. cabeça rola pelo chão. Mas, por um mistério sublime, o sacerO infame carrasco toma-a enquanto dote escapou ileso e sumiu 110 meio da ainda gotejava sangue e dá a volta por multidão, sem que ninguém o procurastodo o patíbulo, para que o povo inteiro se agarrar. tome conhecimento de que o Rei estava No Templo, os tambores da guarda decapitado. Para Luís XVI, a luz do sol rufam. Sob as janelas do donjon as sennão brilhará mais neste mundo, a não ser tinelas gritam: "Viva a República!" no dia em que todos ressuscitarmos. Maria Antonieta compreende tudo ... Foi no momento em que o Rei estava Sente-se esmagada pela dor. O jovem sendo estendido para receber o golpe príncipe desata em lágrima s . Madame fatal que, segundo algumas narrações, o Royale solta gritos lancinantes. Maria Abbé Edgeworth deFirmontteria exclaAntonieta, o corpo convulsionado pelos mado as sublimes palavras: "Filho de soluços, se deixa abater sobre o Jeito. São Luís, subi ao Céu!" De repente, ela se levanta, ajoelha-se Várias testemunhas afirmam a audiante de seu filho, e o saúda com o tenticidade dessa apóstrofe. O sacerdote título de Rei. irlandês, entretanto, sempre negou tê-la *** pronunciado. De onde se pode pensar Luís XVII, sucessor de Luís XVI, que, ou o Abbé de Finnont fez essa sumiu misteriosamente da prisão do exclamação movido por uma inspiração Templo, ou foi morto por seus verdu divina, e depois <leia se esqueceu (fato gos: a questão é discutida até hoje. A facilmente compreensível, na emoção rainha Maria Antonieta será co nd enada em que se encontrava), ou a frase foi à morte dentro cm breve. Madame Elicriada por outrem a fim de exprimir sabeth, irmã do Rei, foi igualmente conaliás de modo muito feliz-a realidade denada. profunda desse instante histórico * *. Madame Royale, filha dos infortu nados monarcas, após três anos de catiDo Céu, Luís XVI contempla a veiro solitário na Torre do Templo, foi França de hoje por fim trocada por revolu cionários caídos em poder dos austríacos. Quem pode de fato duvidar de que O Abbé de Finnont, com a cabeça uma morte consumada nessas condições posta a prêmio, permaneceu foragido, tenha sido seguida da abertura de par em
escapando de um lugar para outro dentro da França, até que tomou conhecimento da execução de Madame Elisabcth, a quem pretendia servir, se ainda lhe fosse possível. Agora, a fidelidade ao seu monarca lhe pedia algo mais: dirigir-se ao exílio, procurar os irmãos de Luís XVI, o Conde de Provence, füturo Luís XVIII, e o Conde de Artois, füturo Carlos X, e pôr-se a .serviço deles. Tendo acompanhado a família real por todos os caminhos do exílio, entregou a alma a Deus em 1807, com a idade de 62 anos.
Símbolos que não morrem Terminou esta história? Se há uma história que não terminou foi esta. Porque a memória de Luís XVI, como a de Maria Antonieta, continuam vivas. São símbolos que não morrem na recordação nem no coração de muitos franceses. Quer por serem amados como merecem, quer por serem odiados como não merecem. Mas, de algum modo, simbolizam a luta entre o Bem e o Mal, a Revolução e a Contra-Revolução. Eles serão sempre lembrados, com profundo respeito e profunda dor, por todos aqueles que têm uma fagulha de Contra-Revoluç.ão na alma. E serão vistos com extremo ódio por todos aqueles que, portadores do espírito de S atanás, e odiando todas as desigualdades, odeiam a esse Rei, cujo grande defeito , entretanto, foi o excesso de mansidão (isto se pode dizer também de Maria Antonieta). Mais uma vez devemos nos voltar para eles e pedir que nos obtenham de Deus força, força, força! Força a favor da Justiça, força a favor do Bem, força a favor da Con tra-Revolução. Forç.a a favor vosso, Maria Santíssima, nossa Mãe, a favor de vosso Divino Filho, nosso Salvador e Redentor. Força, enfim, a favor da Santa Igreja e da Civiliz,1ção Cris,tã. Tornai-nos fortes para que, amandoVos com o amor dos fortes, saibamos servir-Vos com a dedicaç.ão e a eficácia dos fortes·, a fim de que chegue o quanto antes vosso Reino sobre a terra, ó Maria, ó Jesus! NOTAS Cfr. G. Lenotre e André Cast.e lot, Lcs gra ndes heures de la Revólution Française Lamort d u Roi,, p. 295. ++ c rr. Nesta H. Webster, Louis XVI and Mari e Antoinetle During the Rl'Volution , Co nstable a nd Company Ltd, London, p. 524; We iss , Historia Universal, T ipografia La Educación, Barcelona, 1931, vol XVII, p . 98.
+
'
,, ~; p·
'
!§'!'•..,
-:1,.:f..
, :),,iii:L, 1,.d l""
SEMANA SANTA
"
iJitÍr:,'..,lJYl·'J
A Cerimônia do Lavapés na Corte de Afonso XIII, Rei da Espanha Desde 1242, no reinado de Fernando III, o Santo, até a abdicação de Afonso XIII, em 1931, realizou-se na corte espanhola, em cada Quinta-Feira Santa, tocante cerimônia em que o Rei e a Rainha, imitando o Divino Redentor, lavavam os pés de mendigos e mendigas. Reproduzimos abaixo os excertos principais da descrição de uma das últimas dessas admiráveis celebrações
D
e todas as cerimônias da Semana Santa na Corte espanhola, a mais emocionante e de significado mais profundo é o Lava pés de Quinta-Feira Santa. Pratica-se hoje, como se vinha fazendo desde 1242, no reinado de Fernando, o Santo. Todos os anos, o belo gesto é desempenhado pelo Rei e a Rainha genuflexos. A cerimônia se dá na magní-
magnífico tapete feito na Real Fábrica de Tapetes, de Madrid.
Nobres e mendigos tomam seus lugares
Pouco depois, vistosos lacaios aparecem conduzindo, um a um, doze anciãos e doze anciãs, colocando-os cuidadosamente nos assentos, dispostos em cada lado do altar. É necessário ter cuidado, porque vários são cegos. As mu lheres, vestidas de negro, usam mantilhas da mesma cor. Os homens se revestem de longa capa negra e levam chapéus de copa, de antigo uso. Tanto as mulheres como os homens calçam grossos sapatos e meias de lã cinza. Como sempre, há alguém que conhece todo mundo e se empenha cm nomear as várias pessoas importantes conforme enA Família Real espanhola, em 1908. De pé, da trem. Entre estas, o Núncio esquerda para a direita: Infanta Luísa, Rei Afonso de Sua Santidade, MonseXIII, Princesa Maria del Pilar da Baviera, autora nhor Federico Tedeschini, do presente texto; sentada, terceira da esquerda para altivo com o grande título a direita: Rainha Victoria Eugênia de Arcebispo de Lepanto. fica sala de pedra chamada Salão das O conde de Welczeck, cortês e digno, Colunas, disposta especialmente para representa a Alemanha na magnífica o ato. embaixada situada no Paseo de la Castellana. Aquele senh"r alto e distinto é A0 longo d.e um dos lados do salão Sir George Grahame, de aparência incriacham-se dispostas três tribunas: a do velmente jovem para ser embaixador centro, para a Família Real; à sua direita, extraordinário de Sua Majestade britâpara o Corpo Diplomático; e à esquerda, nica e ministro plenipotenciário. para o Presidente do Conselho, o Governo e outros. No lado oposto, está o es A tribuna governamental, à esquerpaço reservado para o público, onde se da da régia, está completa também. Ali, apinham pessoas de todas as classes. O o Presidente do Conselho, Almirante centro do grande sa lão permanece comAznar; o Marquês de Hoyos, Ministro e pletamente vazio e coberto com um Prefeito de Madrid ....
CA.TOqCISMO
ABR lL 1993
10
11
Foram acesas as velas do altar. Os vinte e quatro anciãos vestidos de preto permanecem sentados, impassíveis. Produz-se um ligeiro movimento, todos se levantam e a Família Real entra. Saudando, primeiro os diplomatas e depois a tribuna governamental, tomam seus assentos. Desfilam os Grandes de Espanha [a mais antiga nobreza do país] e ocupam seus postos em fileira, os cavalheiros à esquerda e as senhoras à direita, fonnando assim uma longa avenida desde a entrada até o altar. Chega o clero, com o Bispo de Sião, o qual ocupa o posto central nas fileiras sacras. Os últimos são o Rei e a Rainha. Neste momento o espetáculo é grandioso. As damas mais nobres de Espanha, com vestidos de Corte de longas caudas, diademas e condecorações; ao lado oposto, os Grandes, com toda sorte
Embaixo: Rei Afonso XIII (2° da esquerda para a direita);. na parte superior da foto: ao centro, Rainha Victoria Eugênia, tendo à sua esquerda o Cardeal de Burgos. Cerimônia da trasladaçã.o dos restos mortais de E l Cid Cam:peador
Rei Afonso XIII (esquerda) com um de :Seus filhos de uniformes e condecorações de todas as Ordens, alguns anciãos, todos distintos, todos portadores de nomes e títulos ilustres, muitos deles servidores, em diversas ocasiões, do Estado. Reza-se em latim o Evangelho do dia: "Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou.Se Eu, pois, (sendo vosso) Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, assim façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se compreendeis estas coisas, bemaventurados sereis, se as praticardes". O Rei e a Rainha lavam os pés dos mendigos Então, é abençoada a assembléia . O Rei e a Rainha são espargidos com água benta e, dando as costas ao altar, voltamse face ao público. O Rei, secundado pelo Duque de Miranda, seu grande camarista, entrega sua barretina militar a um cavaleiro e, tirando as luvas brancas e a espada, as dá a outro.
em bandejas de ouro pelo clero, aos ajudantes, para tal efeito. Enquanto isso, umGrandedeEspanha se ajoelha ante cada ancião e lhe tira os sapatos e as meias. Uma Duquesa, Marquesa ou Grande de Espanha, todas damas de Sua Majestade, a Rainha, está genuflexa também ante cada anciã, executando a mesma função para com ela. O Rei, coma toalha brnnca por cima do uniforme, e na mão um grnnde guardanapo branco, ajoelha-se ante o ancião mais próximo ao altar, que mantém o pé sobre a grande bacia de prata. O Bispo lhe despeja um pouco de água e o Rei o seca cuidadosamente e o oscula. Deslocando-se de joelhos, repete a cerimônia com cada um dos outros onze. Algumas vezes seus lábios tocam uma ferida. Outras vezes, um artelho
inchado, defonnado por alguma enfermidade ou transformado em algo repugnante pelos anos e pelo trabalho. À medida que passa o Rei, o Grande (de Espanha), encarregado de cada pobre, volta a lhe colocar as meias e os sapatos. A cerimônia é profundamente rica em significados, de emoção incrivelmente pungente: assim é a Espanha. Em nenhum outro país poderia assumir yalor ou expressão tão vivaz. Na Espanha, a pobreza não é ignóbil. Enquanto o Rei lava os pés dos anciãos, a Rainha lava de modo análogo os das anciãs. Demora mais porque, depois de cada lavapés, precisa levantar-se e voltar a ajoelhar-se, dado que seu longo vestido torna impossível o procedimento mais expedito do Rei. Este, ao tenninar, a fica aguardando no centro do salão, ante o altar. Ao cabo de certo tempo, a Rainha se aproxima dele. O banquete dos pobres é servido pelos Soberanos
A Rainha confia sua bolsa e suas luvas a uma de suas damas e, neste mesmo momento, cingem-na, e ao Rei, com amplas toalhas brancas oferecidas
São trazidos os pequenos vasos de ouro, e os Soberanos lavam as mãos, sendo servida a Rainha pela Duquesa de San Carlos, e o Rei pelo Duque de Mi-
randa. Enquanto isso, cada dama e cada Grande acompanha cerimoniosamente seu ancião ou anciã, até deixá-lo em um assento da longa mesa preparada de antemão. O Rei se dirige à dos homens, e a Rainha à das mulheres. Os grandes camaristas passam os pratos aos Soberanos, que os colocam ante os hóspedes. Em seguida, o Rei volta à cabeceira da mesa e, a partir dali, vai recolhendo, um a um, os pratos, que entrega ao grande camarista, o qual os faz passar, de mão em mão, até fora do salão. Desta maneira, os oito ou nove pratos são rapidamente servidos. O primeiro é uma tortilla espanho la de cebola e bata ta, apetitosa e nutritiva. Vêm a seguir dois ou três pratos de peixe (pois é abstinência). Depois um "queijo de bola" inteiro .... Servem-se depois aos anciãos um pequeno barril de azeitonas, grandes quantidades de ameixas, pêssegos em compota e, por fim, algo que parece uma torta de arroz .... No fim, são tirados os jarros, cada um dos quais contém dois litros de vinho, e as travessas de pão, bem como os copos e os saleiros, porque toda a conúda, toda a baixela, _os jarros, os saleiros etc., são dados de presente aos anciãos, que os levam consigo, conservando-os como valiosas lembranças, enquanto os alimentos manterão suas respectivas fanúlias durante uma sem11na ou mais. Então o Rei, com um grande movimento de braço, tira a toalha da mesa e a passa ao grande camarista. Sua tarefa está concluída, e foi feita com eficácia e amabilidade, como quase tudo o que é empreendido por Dom Afonso. É o Rei das Espanhas atuando com perfeição, como representante de todos os católicos do mundo, pondo diante deles, uma vez por ano, nesta pictórica cerimônia secular, o alto ideal de humildade e serviço. O Rei lava as mãos novamente, volta pt1ra o altar, tonm seu st1bre, suas luvas, seu capacete, e espera a Rainha .... A mag1úfica procissão volta a formar-se e sai, tendo, ao fim, os Soberanos. Ao deixar o salão, o Rei se inclina, e a Rainha faz profundas reverências à tribuna do Governo, à régia e à diplomática. O grupo real deixa então seus assentos, inclinando-se à direita e à esquerda. Acompanham-no os diplomatas, os Ministros da Coroa e o público em geral... Tcnninou o Lavapés. +
S.A.R. Princesa Pilar de Baviera e Coma ndante Desmond Chapman- lfuslOn, 11/Jonso XIJJ, Editorialjuventud S.A., Barcelona, 1959, pp. 243 a 249 .
(l[aberno ~~pedal j]lº 21 -- ~emana ~anta
e íníquo julgamento be Jlosso ~enbor Jesus <tCrísto NOSSO SENHOR - muito mais do que qualquer outro, o Homem das dores, pelos terríveis sofrimentos arrostados, seja na ordem fisica, seja na ordem moral tinha perfeito conhecimento de que, mediante sua dolorosa Paixão, ia redimir o gênero humano. Sabia tudo quanto de glorioso e de magnífico dela resultaria. Nas profundezas de seus insondáveis padecimentos, Ele prelibou o surgimento, no futuro, do cortejo de seus incontáveis mártires e santos. Descortinou a difusão da sua Igreja na Bacia do Mediterrâneo, sua penetraçãq na
<louros. De maneira que, durante a sua Paixão, era-Lhe dado antever-nos aqui e agora considerando os seus sofrimentos. Pressentia o estado do coração de cada um de nós: até que ponto tínhamos mérito na meditação de sua Paixão, o modo pelo qual a realizávamos, como correspondíamos às graças que dela emanavam. Ele ponderou também as profundidades abissais da crise pela qual haveria de passar atualmente a Santa Igreja, seu Corpo Místico! Imaginemos que sofrimentos indizíveis Lhe causou a constatação de que, segundo as próprias palavras de Paulo VI, "por alguma fissura" entraria "a fumaça de Satanás no Templo de Deus", bem como certificar-se de que na sua Igreja "alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição". E um dos grandes aviltamentos a que está submetida a Barca de Pedro, no atual momento histórico, é o fato de ponderável parcela dos católicos hodiernos fecharem os olhos para a ação daqueles que, no interior da própria Santa Igreja, procuram demoli-la, como afirmou Paulo VI. Qual a lição a tirar de tudo isto? Esta é a vida do católico! Esta é a vida da Igreja, heia d e humilhações e de vitórias! Humilhações tão grandes, que diríamos: Ela nunca se reerguerá! Vitórias tão grandes, que exclamai:íamos: Ela nunca mais cairá nos anteriores opróbrios! E como uma nau velejando por ondas vertiginosas, as quais a levantam tão alto, que não se sabe até q e alturas a levarão! Mas, de repente, as on s se liqüefazem e a nau está serena no fundo da vo agem. E assim a Barca de São Pedro vai atravessando a His'tória, co todas as honras e todos os ultrajes de Cristo.
***
Jesus Cristo Diante de Pilaios Europa e no Norte daÁfrica. Anteviu a glória que adviria para sua Esposa Mística da Evangelização da América. Previu, enfim, toda a sua expansão pelo resto do mundo. Porém, percebeu também todas as ingratidões, todas as maldades de cada homem, porque Ele, o HomemDeus, penetrava totalmente os mistérios dos séculos vin-
Nosso Senhor sofreu, em ·sua sagrada Paixão, todos os ultrajes lançados a Deus e à sua Lei, no decorrer da atual crise que acomete a Santa Igreja, bem como no desenrolar de todas as provações que se abaterão sobre a Esposa de Cristo até a consumação dos séculos. Provações estas que encontram, na injusta condenação a que E le foi submetido, uma significativa analogia. Por quê? Precisamente na fase do simulacro de julgamento a que foi constrangido, patenteiam-se-a par da covardia e moleza de Pilatos-o espírito de ódio e de conjuração daqueles que deveriam ser os primeiros a reconhecer e reverenciar o Messias prometido pelas Escrituras: os membros do Sinédrio e as autoridades da Sinagoga, s pré-figura da Igreja Católica. Em vista disso, convidamos o leitor a meditar mais profundamente sobre alguns aspectos, geralmente pouco realçados, do oceano de impiedade e de utjustiça que representou o mais odioso veredicto da Histór~a.
~motitmbos bíante be t)ílatos Por volta das nove horas, os chefes do Sinédrio, seguidos de multidão cada vez mais_tumultuosa, apare-
CATOLICISMO
12
CATOLICISMO Nº 508, ABRIL 1993
cem diante do palácio de Pilatos, o procônsul romano, pedindo, com altos brados, a morte de Jesus. Um juiz de consciência teria proclamado ~em contradita a inocência do acusado e, em caso de neé · ssidade, dispersaria pela força os sinedritas com os energúmenos por e les assalariados . Porém, dominado pelo temor de se comprometer, recuou Pilatos diante de sua obrigação. Pôs-se a parlamentar com os mentores do motim, coisa que, naturalmente, lhes aumentou a audácia. É interessante notar, no decurso desses acontecin1entos, o processo de uma revolução. Primeiro são os chefes do Sinédrio que arregimentam sucessivas turbas, cada vez mais numerosas . É como cresce uma sublevação, quando não encontra em oposição força suficiente para esmagá-la. Depois comparecem eles diante de Pilatos em evidente atitude intimidatória. Com efeito, Pilatos estava com medo de ser denunciado como um homem que zela pouco pelos O Homem das Dores ap6s aflagelaçiio interesses do Imperador Romano, e, por isso, temia perder o cargo de prncônsul. Assim, devido a uma vil ambição, vai cometer a maior irtjustiça da História. E se Pilatos caiu até esse ponto, foi porque começou por parlamentar com aquela gente. Pilatos era um procônsul ~nole. Embora sabendo que a multidão não reagiria diante dos soldados romanos, e certo de que, nessas condições, poderia ter uma vitória fácil, rápida e brilhante, ele absolutamente não quis empregar a força em favor do direito. N ate-se, de passagem, que assim também agiram Luís XVI e Nicolau II, respectivamente diante da Revolução Francesa e da Bolchevista. E com isso tornaram-se responsáveis não só pela própria morte, mas também pela de familiares seus e de incontáveis membros da nobreza e do povo de seus países. Mas, voltando a Pilato,s, é o caso de perguntar: por que terá ele agido assim? E que, do contrário, o Sinédrio faria uma denúncia contra ele ao Imperador Romano. Denúncia falsa, contra a qual o procônsul facilmente poderia se defender. Contudo, não foi o que aconteceu. Veremos como esse espírito mole e ambicioso irá recuando.e se degradando ao longo dos fatos.
tado contra a dominação romana. Ora, depois de o ter interrrogado diante de vós, não achei fundamento nenhum nas acusações que Lhe imputáveis. Remeti-vos para Herodes, e vedes que o tetrarca também não O julgou digno de morte ... " la prosseguir, quando os amotinados, pressagiando uma sentença de absolvição, o interromperam com gritos ferozes e sinais de furor diabólico. Pilatos ficou de tal modo atemorizado que, depois de ter estabelecido a perfeita inocência de Jesus, concluiu sua alocução de um modo singular e de todo inesperado: "Como este homem de nenhum modo mereceu a pena capital, mandarei açoitá-Lo e depois soltá-Lo". É inocente, portanto vou mandar açoitá-lo! Por que não mandou açoitar aquela gente que ali estava? Pegasse ele cinco ou dez dos mais revo ltados, mandasse os soldados romanos arrastá-los ao lugar onde se promoviam os açoites, e os açoitasse! E depois dissesse: "Agora, se continuardes, vou pegar outros!" Não foi o que fez. Esta concessão covarde produziu violentos protestos. Se Jesus é inocente, por que açoitá-Lo? Se é culpado, por que poupá-Lo? E de todos os ângulos da praça elevaramse clamores selvagens: "Morte! Morte! Queremos que ele morra!" É mais um gesto dos amotinados. Não havia culpa da parte dEle. Isso foi reconhecido pelo procônsul, ou seja, pelo governador do lugar. Então, o que fazer dEle? A subversão grita: "Morte! Morte!" Razão? Não há razão. É porque queremos que Ele morra. Assim é as ubversão! Quando a autoridade, para servir a justiça, para servir o bem, usa de energia, a subversão grita: "Violência! Injustiça! Não pode ser!" A isto só se responde com energia pr~ver_itiva. Feita a pnmerra concessão, o resto é resvalo!
j)}a multibão enfureciba sempre bá besorbeíros
A coroaçiio de espinhos
~ primeira concessão, segue-se o resbalo
Resolveu Pilatos permitir ao povo que escolhesse entre Jesus e Barrabás, um malfeitor insigne, chefe de horda de salteadores, cujo nome inspirava terror. Cinco dias antes, aquele povo levava Jesus em triunfo! Seria ele capaz, tão pouco tempo depois, movido por um sentimento de ódio execrável, de preferir Barrabás? Não podia Pilatos, devido a seu pouco zelo, crer tal.
Eis o exórdio de sua arenga: "Há algumas horas apresentastes-me este homem como um faccioso, revol-
Levantando, pois, a voz, de modo a que o ouvisse a multidão, recordou-lhes como naquele dia tinha por
CATOLICISMO N° 508, ABRIL 1993
costume libertar um criminoso. E, depois, sem lhes dar tempo de tomar conselho, perguntou aos assistentes: "Qual dos dois quereis vós que eu ponha em liberdade: o salteador Barrabás ou Jesus, vosso rei?" Ali estava Jesus, cuja santidade divina qualquer um podia contemplar. Que por toda parte havia praticado milagres, feito sermões admiráveis, pregado, as virtudes mais eminentes e delas tinha dado exem pio ! E o pináculo da perfeição. De outro lado, em sentido oposto, Barrabás, o pináculo da infâmia, opináculodatorpeza! Pilatos - como sempre, em todos os seus atos, um mole, um centrista com certeza achou que os _homens não senam tão ruins, que preferissem Barrabás a Jesus. Ele não compreendia o seguinte: quando os homens não seguem a Jesus, preferem quase necessariamente a Barrabás! É o qu_e veremos a segmr. Evidentement e, os chefes do Sinédrio dispunham '==#=====:;;;;;=:!!:;:;;::;=:;;:;:!!!!:!!!!!:!!!:!:!J d e agentes que, como um mau fermento, agitavam a massa. Pilatos deveria mandar vir logo todas as legiões romanas aquarteladas em Jerusalém e pô-las ali na praça, munidas de armas e de todo o necessário para debelar a rebelião. Porém, não foi o que ele fez! E quando, alguns momentos depois, renovou a pergunta, ecoou-lhe aos ouvidos este grito feroz, que dominava toda a praça: "Não Este, mas Barrabás! Queremos Barrabás! Dai-nos Barrabás!" E Pilatos respondeu-lhes: "Que quereis vós então que eu faça de Jesus, reidos judeus?" E o povo todo, a uma voz: "Crucifica-O! Crucifica-O!"
vação para tranqüilizá-la. Com isso, apenas a assanha. A multidão, por sua vez, açulada pelos sacerdotes, não cede, e avança por cima da autoridade que, por moleza, não cumpre o seu dever. Após o episódio estúpido e cruel da flagelação, os soldados levaram Jesus a Pilatos. ;Este não duvidou que aquela figura ensangüentada inspiraria, enfim, ao povo, um sentimento de comiseração. "Torno-vos a trazer o acusado, disse ele, e declaro-vos mais uma vez que O julgo inocente. E, caso fosse culpado, ides ver em que estado Ele se encontra, e d~-vos-eis por satisfeitos". E Jesus, levado pelos soldados, apareceu ao lado de Pilatos, com o rosto inundado de sangue, com a coroa de espinhos na cabeça e com o andrajo de púrpura sobre as espáduas . Estendendo o braço para Ele, mostrou-O Pilatos ao povo: ' "Eis o homem!" - bradou ele com força. Vozes dos chefes e dos desordeiros, seus agentes, responderamlhe: "Crucifica-O! Crucifica-O!" Disse Pilatos: "Que eu O crucifique? Tomai-O vós mesmos e crucificai-O. Quanto a mim, repito-vos que não encontro motivo para uma condenação".
~===~
~ílatos recusa uma berrabeíra grata
<!onbetu1tão be Jlosso ~enbor: becorrênda be sucessíbas concessões Pilatos foi mais uma vez vencido. Em lugar de prolatar uma sentença em nome da justiça, tinha receado contrariar as paixões de um povo fora de si. E agora aquele povo, encarniçando-se contra ?-sua presa, impera como senhor. Já não vê nem ouve. E um tigre sedento de sangue. Pilatos volta à sua primeira idéia. Já que o povo quer sangue, ele o fornecerá, mas com certa medida. Mandará açoitar Jesus para dar alguma satisfação aos judeus, e depois, colocá-Lo-á em liberdade. É sempre o cálculo do fraco: conceder algo à suble-
1
. "É culpado - vociferavam eles •em tom ameaçador - e, segundo a nossa legislação, deve ser punido com a morte, pois Se atreveu a proclamar-Se Filho de Deus". Ao ouvir este nome de Filho de Deus, o olhar de Pilatos fixou-se em Jesus, sempre calmo e paciente em meio de dores e ignomínias . Recordou-se daquelas palavras que Jesus dissera: "O meu Reino não é deste mundo", e começou a pensar se não teria diante dos olhos um daqueles gênios benéfico~ que os deuses enviavam aos mortais para lhes reve1ar um segredo. Deixando de novo os judeus a tumultuar a praça, reentrou no Pretório e Pilai,os lava as miios mandou que lhe levassem Jesus, a fim de esclarecer aquele mistério. "Donde és Tu?" perguntou-Lhe Pilatos. Jesus, entretanto, nada respondeu, o que acabou de desorientar o procônsul, que se sentia subjugado pelo ascendente de um Ser em tudo superior aos outros homens. À pergunta de Pilatos - "Não me respondes a mim? Não sabes que tenho poder sobre ti, e que de mim depende mandar-Te crucificar ou pôr-Te em liberda-
CATOLICISMO Nº 508, ABRIL 1993
,_.
de?" - contestou Jesus: "Tu não tens outro poder sobre Mim, senão o que do alto te foi dado". E ao mesmo tempo, o seu.olhar divino mergulhou até o mais íntimo da alma do p' ocônsul para lhe exprobar a iniqüidade do seu procedimento. Todavia, levando em conta os esforços que fizera para salvá-Lo da morte, acrescentou: "Os _que Me entregaram em tuas mãos são mais pecadores do que tu". Desassossegado, transtornado, levantou-se Pilatos, bem decidido a cumprir com o seu dever, ainda que à custa de incorrer na ira dos judeus. Voltou a anunciarlhes a sua resolução definitiva, que era de pôr Jesus em liberdade. Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo esperavam-no naquele momento decisivo para lhe disparar o último tiro psicológico: "Se o deixas em liberdade, não és amigo de César, pois todo o que se faz rei conspira contra César". Pilatos sucumbiu como que esmagado por uma martelada. Ao ouvir o nome de César, esqueceu-se de Jesus,
Ou seja, mole quando desfecharam contra ele a suprema ameaça, ele foi capaz da suprema infàmia. Fica claro, entretanto, que ele estava profundamente impressionado com Jesus, e que recebera graças de Nosso Senhor. E como ninguém recebe graças que não tenham sido obtidas a rogos de Nossa Senhora, é de se supor que Ela - acompanhando à distância e de modo sobrenatural os fatos - tenha rezado por ele. E que Nosso Senhor, a pedido de Nossa Senhora, tenha concedido graças especiais a Pilatos. Os partidários do demônio ocasionaram uma tentação especial. Pilatos, armado de graças, podia resistir a ela. Porém, colocado o seu interesse pessoal em cena, não há o que ele não faria. E ele o fez. Mandando que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: "Povo, eu estou inocente do sangue deste Justo; vós respondereis por ele". O que é uma mentira, pois ele, como juiz, era o responsável e tinha obrigação de salvar Nosso Senhor. Era uma inverdade mediante a qual procurava ele adormecer a própria consciência. Porém, como resposta a essas palavras de Pilatos, um grito formidável, saído de milhares de peitos, ressoou pela cidade santa: "Caia o seu sangue sobre nós e sobre nossos filhos!" Este grito subiu até Deus e decidiu a ruína de Jerusalém, a dispersão de um povo inteiro e a destruição da nação deicida. De fato, quarenta anos depois da morte de Nosso Senhor, os romanos entraram e arrasaram Jerusalém e mataram incontáveis judeus em meio a terríveis sofrimentos, tendo sido aquele povo obrigado a se dispersar pelos quatro cantos da Terra. Momentos depois, proclamava um arauto a sentença redigida por Pilatos. Dizia ela que "Jesus de Nazaré, sedutor do povo, desprezador de César e falso Messias, seria levado, através das ruas da cidade, ao lugar ordinário das execuções e uma vez lá, despido de suas vestimentas, seria pregado numa cruz, onde ficaria suspenso até a morte". E assim termina o mais iníquo de todos os processos. Os príncipes dos sacerdotes felicitaram-se pelo seu triunfo; a multidão, ébria de sangue, bateu palmas; Pilatos, sombrio e mal-humorado, entrou no palácio para lá ocultar sua vergonha. Só Jesus, o condenado à morte, possuía, no meio das suas dores, uma alegria sobrenatural que nada pode traduzir. A hora do sacrifício que havia de salvar o mundo, aquela hora pela qual vinha suspirando desde .seu nascimento, acabava afinal de soar.
A Via Crucis da justiça e do sentimento de sua dignidade. César era então o temível Tibério, rodeado dos seus delatores. Era o monstro que, por uma simples suspeita, condenava à morte amigos e parentes. Imaginou-se logo denunciado, deposto e perdido para sempre. O interesse levou de vencida a consciência e decidiu enfim sacrificar Jesus.
Fontes de referência: 1. Conferências pronunciadas pelo Prof. Plinio Corrêade Oliveira para sócios e cooperadores da TFP em 28-4-1984, 15-3-1988 e 10-4-1992 (Sexta-Feiras Santas). 2. Pe. Berthe, CSSR, jesus Cristo, sua vida, sua Paixão, seu triunfo, Estabelecimentos Benziger, editores e impressores daSantaSé Apostólica, 1925, Einsiedeln, Suiça, tradução portuguesa, pp. 378 e ss. N.R. - As gravuras que figuram neste Caderno Especial são de autoria do renor:i;;,do pintor alemão AJbrecht Dürer (1471-1528).
HISTÓRIA
A maravilhosa legenda do Convento da Penha, no Espírito Santo Nascido de um prodígio e baluarte na luta contra as invasões holandesas, o convento abriga uma imagem milagrosa de Nossa Senhora da Penha
e
algum célebre pintor do Re· é lebre é o Santuário de nascimento . Em 1570, cedeu Nossa Senhora da Peele lugar à imagem de Nossa nha, no Estado do Espírito Senhora da Penha que até hoje Santo, situado soberbamente se venera no local. Atualmenno alto de uma montanha de te, o quadro de Nossa Senhora 154 metros de altura, como dos Prazeres conserva-se na um farol que ilumina com as parede do Santuário, à direita luzes do cristianismo a entrado púlpito. da da magnífica enseada da capital, Vitória . A imagem de Nossa Contíguo ao Santuário erSenhora da Penha gue-se o convento, desde Após dez anos de trabalhos 1650, arrojadamente construíárduos e incessantes, além de do nas escarpas da rocha, danconstantes penitências, pouco do de longe a impressão de antes de sua morte, Frei Paláinexpugnável fortaleza. O santuário da Penha e o convento franciscano, cuja cios prontificou-se em obter Desde o século XVI, váconstrução termi,nou em 1644, estÕIJ localizados, de modo para a ermida de Nossa Serios cronistas têm escrito sosoberbo, no alto de um rochedo nhora da Penha uma nova imabre esse monumento, contande marear uma imagem de Nossa Segem, encomendando-a em Portugal. do sua história de milagres e de defesa nhora, que trazia em um painel, a qual Diz a tradição que a pessoa designacontra os inimigos de nossa pátria, com destinava para teatro de suas virtudes da para mandar fazê-la em Portugal esepisódios desconhecidos da imensa um monte, o qual conheceria pelo sinal queceu-se da encomenda durante a viamaioria do público. de duas palmeiras que ver ia no cume de gem, não tomando nenhuma providêntal monte". cia para isso. No entanto, às vésperas de Pré-história do Santuário da Não se sabe exata mente quando Frei voltar ao Brasil, um desconhecido lhe Penha Palácios deu início à construção da erentregou um caixote, e ao abri-lo, en1nida no alto da montanha. A legenda No ano de 1558 chegou à então Cacontrou a imagem exatamente com as pitania do Espírito Santo, pelo Porto de atribui a resolução de edificá-la ao fato indicações pedidas por Frei Palácios! seguinte: "Certo dia desapareceu o paiVila Velha, o Irmão franciscano Frei Ela tem 76 centímetros de altura, nonel da Virgem na capela usada pelo Pedro Palácios, futuro fundador do Sanbreza, graça e naturalidade inimitáveis, frei, na base do morro. Após longa protuário da Penha. Nascido na Espanha, e uma expressão de doce melancolia. cura encontrou-o no alto da penha, endesejava ajudar os jesuítas -instalados Assim, ficou aquela região, durante em Vitória desde 1551 - na catequese tre as duas palmeiras. Satisfeito, recodécadas, sob a maternal proteção de locou-o na capela em baixo do monte. dos índios. Nossa Senhora da Penha. O desaparecimento no entanto ocorreu Frei Palácios era devoto da Virgem mais duas vezes, sendo o painel enconSantíssima, sob a invocação de Nossa Ataque frustrado dos trado no mesmo lugar. Ao mesmo temSenhora dos Prazeres. Trouxera de Porholandeses tugal um quadro pintado a óleo, que a po, uma fonte com água copiosa nascia no vértice da rocha.Fr ei Palácios recoEm 1630, os protestantes holanderepresentava, colocando-o numa capelinheceu nestes sinais a vontade expressa ses chegaram a nossa pátria, invadindo nha no alto da montanha. Daí se originou a denominação de Penha (= pe- de Nossa Senhora em querer que se lhe vasta região do Nordeste e aí permaneconstruísse uma capela no lugar indicendo durante 24 anos. Trazendo na nhasco). cado e não demorou com a execução". alma ódio ao catolicismo e desenfreada Ao encontrar duas palmeiras no Esse quadro trazido por Frei Palácobiça, como bárbaros irracio'nais, secume do rochedo, Frei Pedro disse aos cios é de grande beleza, executado com meavam, por todas as partes, a morte, que o conheciam, com muita alegria, perfeição. Não se sabe onde o teria adfazendo vítimas inocentes, violando laque já achara o que procurava. Segundo res, profanando templos, enfim, prntias crônicas da época sobre Frei Palácios, quirido, nem sua autoria, havendo hipó"é de tradição que lhe servia de carta teses de que seja obra de discípulos de cando os crimes mais hediondos. ABRIL 1993
CATOLICISMO Nº 508, ABRIL 1993
17
,
Deus, entretanto, que protegia a terra de Santa Cruz, suscitou para a sua defesa bravos heróis, fazendo inúiberos milagres e prodígios. • Nessa época, a capitania do Espírito Santo sofreu diversos assa !tos dos hereges, seguidores de Calvino e Lutero, um dos quais contra o Santuário da Penha, milagrosamente frustrado. A construção desse templo, iniciada em 1639, já estava quase concluída quando os holandeses tentaram tomá-lo de assalto em 1643. No ano seguinte, terminou-se a sua edificação. No dia 22 de setembro de 1643 haviam os holandeses se assenhoreado do porto de Vila Velha e já começavam a fortificar-se quando, diante de seus olhos, o Santuário ia se transformando em castelo, cercado de fortes muralhas e defendido por um esquadrão de soldados. Do monte descia muita gente, a pé e a cavalo, todos com armas luzentes e bem preparadas (no morro, entretanto, não havia ficado pessoa alguma; e a própria imagem da Penha havia sido removida para o convento de São Francisco, embaixo, na vila}. A vista desse espetáculo aterrador, fugiram os holandeses desordenadamente, recolhendo-se à suas naus , tendo sido massacrados ainda quarenta deles por habitantes da vila. Tal fato ocorreu no dia da festa dos santos soldados 1n,1rtires da Legião Tcbana, com seu capitão São Mau ócio. Daí interpretarcin os moradores que o esquadrão ao pé do castelo era constituído pelo santo e seus companheiros, os quais, no dia de seu martírio, vieram. prestar socorro aos católicos. Uma ação, portanto, da Legião Tebana, sob inspiração de Nossa Senhora da Penha. Os habitantes erigiram mais tarde no Santuário um altar em louvor de São Maurício, e em honra dele fundaram uma confrarfr1 .
Expulsão definitiva do herege invasor Uma segunda tentativa de saquear o convento foi feita pelos holandeses no final de 1653, pouco antes de serem expulsos definitivamente do Brasil. O superior do Santuário da Penha era então Frei Francisco da Madre de Deus, que trabalhava ativamente para levar adiante sua construção. Os holandeses chegaram de repente e em plena madrugada, tomando de assalto toda a montanha e arredores, pegando de surpresa religiosos e empregados. Contra a força das armas não podia haver resistência, mas Frei Francisco permaneceu imóvel cm oração diante da imagem de Nossa Senhora da Penha. Os holandeses roubaram todas as preciosidades da sacristia e do altar, sem molestaro religioso. Quando pro curaram pegar a coroa e o manto da Virgem, Frei Francisco levantou-se, exigindo que não a tocassem, que ele mesmo os tiraria. E assim o fez, obrigado pelas armas. Um dos holandeses tentou então apossar-se de um precioso anel do dedo da imagem, mas não o conseguiu, nem tampouco cortar seu dedo ou sua mão, tendo que desistir. Mas levaram a coroa, o manto e os brincos da efígie sagrada. Após a fracassada tentativa, o frade passou a increpar o holandês com enérgicas palavras: "Vai-te embora e lá verás os brincos que te hão de custar caro; e este será o último atrevimento dos teus companheiros no Brasil, porque só isto faltava por teus pecados para castigo teu e dos demais". Os holandeses partiram, levando muitos valores e alguns empregados como escravos, mas com os religiosos nada fizeram. A previsão de Frei Francisco se cumpriu do modo mais completo. Não
Busto-relicário de Siio Cândido (séc. XII) com cena do martírio da Legião T ebana - Tesouro da Abadia de Saint Maurice (Vallese), França
muitos dias depois, no memorável 27 de janeiro de 1654, João Fernandes Vieira -que comandava a vanguarda do exército luso-brasileiro - entrava triunfalmente na cidade de Recife, e a libertava do jugo holandês, colocando ponto final à invásão batava no Brasil. Venceu os hereges o mesmo Fer~ nandes Vieira contra quem, pouco antes, os holandeses haviam espalhado a notícia de que havia sido morto. Ao que o bravo comandante mandou responder: "Graças, quem disse isso aos flamengos falou verdade que era morto, e fa4 mas chegando ao céu me perguntou Deus se ficaram mais flamengos no Recife e eu lhe respondi que sim, e ele me tornou a mandar para que os ví,esse a acabar de matar". Na rendição final dos hereges invasores, em Recife, esteve presente Frei Daniel, do Santuário da Penha, a quem foram restituídos os empregados levados como escravos, juntamente com as alfaias, ornamentos e outras peças roubadas pouco antes, durante o saque do Santuário. Na história de Nossa Senhora da Penha, no Espírito Santo, são abundantes os milagres e prodígios que Ela sempre operou e que continuam até nossos dias . &colhemos apenas os que poderiam caber nos limites de um simples artigo, suficientes para levar os leitores à veneração de uma das padroeiras mais cultuadas do Brasil. CARLOS SODRÉ lANNA
BIBLIOGRAFIA I. P. Dr. H.C. Frei Basílio Rowe r O.F.M e Frei AJfredo W. Setaro O .F.M., O convento de Nossa Senhora da Penha do Esp(rito Santo, Vozes, Petrópolis, 1965. 2. Manoel E. Altenfelder Silva, Brasileiros Her6is da Fé, Livraria Sales iana Editora, São Paulo, 1928. 3. Major Antônio de S. Júnior , Do Recôncavo aos Guarara/1es, Biblioteca Miliiar, 1949.
Legião tebana Segundo o Martirológio Romano, durante a guerra movida pelo Imperador Maximiano contra os bagaudios-camponeses da Gália que se rebelaram contra a dominação romana em 286 -, a legião denominada tebana, aquartelada em Agauno, naqu ela província do Império, foi convocada à cidade de Octodurum, a fim de sacrificar aos deuses e prestar um juramento especial. Recusando-se a fazê-lo, pelo fato de serem cristãos, Maurício, Esupério, Cândido, Víctor, Inocêncio e Vital e seus 666 companheiros de Legião foram massacrados. A Santa Igreja os canonizou como mártires.
....
,.)
' :';I; ::~~:\t
EDUCAÇÃO
A verdade se encontra nos livros? Livros didáticos de inspiração socialo -comunista manipulam fatos, instilando nas mentes infantis e juvenis um espírito de inconformidade com qualquer desigualdade co" é muito mais grato lidar· oa pergunta, esta do tícom chavões sentimentais e Ari t-lc rculino de Souz.1 l' tulo acima. Se ela se redemagógicos do que com afere a bom número de livros ili JJli~ llllimlu~ nálises verdadeiramente atualmente em voga nas escientíficas. co las brasileiras, o "sim" A Igreja, o Estado, a fanão consegue brotar facilmília, a própria esco la são mente nos lábios. Os profesalvo de críticas odientas. sores assinantes de CATOElas seriam instituições maLICISMO (e seu número é léficas, que sempre esgrande) sabem que esta é a tiveram a serviço dos opresrealidade. sores, e seu pecado capital Feli zmente ainda temos consiste em violar o sagrado livros didáticos que, tanto no dogma esta belccido pelos método quanto no conteúdo, "donos da verdade", ou seja, seguem a linha tradicional pelos sumo-sacerdotes so- eu quase diria racional. cia lo-comunistas: o dogma Mas vão aos poucos rareanda igualdade . Ao mesmo do, face à enxurrada dos litempo em que rendem um vros revolucionários que auExemplares de coleções da Ática, da Ed. do Brasil e da culto quase idolátrico à dementa ano a ano. E é indisAtual: apresentaçãn atraente, linguagem direta, mo cra ci a, esses livros pensável que se diga: esta conteúdo venenoso mostram-se bem pouco deenxurrada vem crescendo, mocráticos quando se trata pelo incentivo recebido das um.a linguagem fluente e agradável, próde impor seus pontos de vista. propostas curriculares oficiais de vários pria a es timular a leitura . De passagem, fique aqui assinalado Estados, como São Paulo, Minas GeO dogma da igualdade, para o seguinte alerta de vários especialistas: rai s, Pernambuco etc. ser aceito sem discussão a "pedagogia da emancipação", baseada Chama a atenção uma série de colena crítica, acarreta danos psicológicos ções constituídas por obras de aparência Alguém que leia uns poucos capítuaos jovens, muitos deles tornam-se cétigeralmente atraente, ricamente impreslos à procura da filiação doutrinária sas, bem ilustradas e fartamente divuldessas coleções, encontra-a sem cos, amargos e cínicos . Existe mesmo o perigo da neurotização de gerações ingadas. São livros destinados a tra lar em dificuldade: marxista, pura e simplesteiras 5• Isto é assunto complexo que fica detalhe determinados pontos das matémente. Expressões como "processo sopara outro artigo. rias ensinadas, inclusive desperta ndo no cial", "trabalho produtivo", "mais vaGostaria de perguntar ao autor do aluno o gosto pela leitura. Até aí, muito lia", "prática social", "classe oprimida", opúsculo Os Direitos Humanos, da "probem. A questão, evidentemente, é saber "classes privilegiadas" etc., tão caras à gressista" coleção Visão de Mundo, se não que idéias essas obras estão inculcando esquerda tupiniquim, estão onipresenexiste um direito do aluno de ser infonnado nos esp íritos juvenis. tes. Aprofundando a pesquisa, verificoma verdade ... Continuaremos depois. Entre essas coleções está Visão do camos que os textos dessas coleções Mundo 1, constituída por uma enumera - revelam inconformidade com a ordem J. BETTINCK CARVALHO ção de sentenças de sabor socia lo-code co isas inspirada na Igreja Católica, NOTAS: munista , lançadas sobre o leitor para que transformou o mu ~do pagão antigo, l Ed itora do Brasil S.A., São Paulo, 1989. serem aceitas como verdades absolutas. greco-romano ou bárbaro, na Civiliza2 Ed ito ra Mod e rna Lwa., São Paulo, 1988. 2 Polêmica pelo menos se esforça por ção Cristã. Dentro deste contexto, os 3 Editora ÁLica, São Paulo, 1987. dar uma aparência cie ntífíca às suas rea taques co ntra a desigualdade revelam4 ALUa l Editora, São Paulo , 1991 . 3 dações. Já Viagem pela Ge_ografia tem se verdadeira obsessão. A fim de gravar 5 cfr. Helmut Shoecks, "K inderverstoe rung -D ic missb rauc hte Kindheit- Umschuapresentação muito atraente e bem anas mentes dos alunos que um mundo lung a u[ c ine a nd ere Re publik", MUTdaptada ao modo de ser brasileiro, farta justo só pode ser igualitário, os autores Vcrlag , Asendorf, Al e manha, 198 7 ; c m desenhos e com enredos romancealançam mão de surrados mitos socialisFrank-Die Lrich Poelert, "Erz ie hung und dos. Por isso mesmo, mais insinuante. tas, fazendo pouco caso da real idad e. Manipulation", Luehe-Ve rlag, SLeink irPor fim, História em Documentos 4 tem Para os adeptos do "socialismo cicntífi chc n, Ak:manha, 1988.
B
1
CATOLICISMO
A.13R IL 1993
18
19
ESCREVEM OS LEITORES
' ' ,i'·'
:. , ,1Ji .-_
... Contra-Revolução" do prof. Plinio Corrêa de Oliveira, obra capital para todos aqueles que desejam entender e se opor à apocalíptica crise do século XX. Face à IV Revolução, chamou-me a atenção a importância que o Dr. Plinio dá de que os contra-revolucionários combatam, com todos os recursos, a Revolução nas tendências (cfr. parte III, capítulo III, subtítulo 3. Dever dos contra-revolucionários ante a IV Revolução nascente-p. 28). Catolicismo não poderia dar ênfase especial ao combate a essa revolução nas tendências?
Parabéns Escrevo para parabenizá-los pela excelente edição comemorativa 112 500, de agosto passado. Compartilho com as idéias e ideais da TFP e creio que todo verdadeiro católico deve lutar contra o processo de autodemolição por que passa nossa Igreja, seja denunciando a infiltração esquerdista em suas bases, seja proclamando a verdade etc ... o que não podemos é ficar omissos. Temos sim, que rezar para que possa nascer logo o sol da Contra-Revolução, prometido por Nossa Senhora em Fátima. Saibam que cada vez cresce mais minha admiração e afeição pela TFP e por Catolicismo.
M.H . Azeredo Santos São Paulo - SP
N.da R.: Pareceu-nos muito oportuna a sugestão da prezada missivista, que, aliás, vai na linha da proposta enunciada pelo insigne autor de "Revolução e Contra-Revolução". Catolicismo, que já vinha se ocupando desse assunto mediante colaborações de alguns de seus articulistas, especialmente em seções como "Discernindo, distinguindo, classificando ... " e "Imagens em Painel", pretende doravante abordar o tema de modo mais freqüente e explícito.
L.P. de S. Gouvêa Santa Cruz - RJ
Aniversário No magnífico 112 500 da revista Catolicismo, comemorativo dos 42 anos de luta na fidelidade doutrinária, vem publicada a III parte atualizada do livro "Revolução e
Tradição, marcha para a frente e mais ainda do que isto Muitos espíritos, mesmo sinceros, imaginam e crêem que tal tradição não seja mais do qu a lembrança, o pálido vestígio de um passado que não existe mais, que não pode voltar, e que, quando muito, é relegado com veneração, se se quiser, e com reconhecimento, à conservação de um museu, que poucos amadores ou amigos visitam .... A tradição é coisa muito divers·a de um simples apego a um passado já desaparecido, é justamente o contrário de uma reação que desconfie de todo são progresso. O próprio vocábulo etimologicamente é sinônimo de caminho e de marcha para a frente - sinonímia e não identidade. Com efeito, enquanto o progresso indica somente o fato de caminhar para a frente, passo após passo, procurando com o olhar um incerto porvir, a tradição indica também um caminho para a frente, mas um caminho contínuo, que se desenvolve ao mesmo tempo tranqüilo e vivaz (Discurso ao Patriciado e Nobreza Romana, 1944, pp. 178-180).
PIO XII
O que mudou em Aparício? E
ncontrei-me com Aparício numa oficina mecânica. Vivaz e falante como sempre, veio ele cumprimentarme, lembrando os velhos tempos em que, juntos, núlitávamos nas gloriosas fileiras das Congregações Marianas: - "Cara" - gritou ele para se fazer ouvir em meio ao ruído dos motores-, há quanto tempo não o vejo! Olhe "bicho", "gozado", você sabe que eu contitmo católico como antes; não mudei em nada "viu" "cara" ... E você? Um tanto desconcertado pela mudança de linguagem daquele de quem conheci o vocabulário digno e elevado, respondi-lhe que também, graças a Deus, mantinha-me firme nos princípios que aprendera no Catecismo tradicional e permanecia católico praticante. - "Falou heim!" "Tchau"! "Bicho". Ligou seu carro e saiu apressadamente. Ao vê-lo afastar-se, voltaram-me ao espírito suas palavras: "Não mudei em nada ... " Como mudou - pensei meu pobre companheiro de militância católica! Mas, de fato, mudou no quê? Mudou de idéias? De convicções? Não parece, pois garantiu-me ele que as conservava tais e quais eram nos tempos de congregado mariano. E, entretanto, via que mudara profundamente ... Sim, mudara o linguajar. Mas só por isso teria mudado de mentalidade e de princípios? Nesse instante, o mecânico anunciou que meu automóvel já estava reparado.Tomei-o, e afastando-me da cacofonia do ambiente, meu pensamento retomou instintivamente à breve conversa mantida com Aparício. Chamou-me ele de "cara". Ora, eu não me reduzo a uma cara. Aliás, cara têm também os animais. O homem tem rosto. Posso me referir à cara do cavalo ou do cão. O que a minha "cara" tem de distinto da do animal é a fisionomia. Positivamente, a fisionomia é um traço distintivo de minha personalidade, mas também este não esgota o que eu sou. Sou um todo, composto de corpo e alma, criado à "imagem e semelhança de Deus". Sou uma pessoa. Dirigir-se, portanto, a alguém com o qualificativo "cara" é desconhecer a
dignidade racional do homem e aproximá-lo do bicho. Aliás, muito coerentemente, na linguagem de meu velho conhecido, os apelativos "cara" e "bicho" vinham juntos. Ora, desfigurar com traços degradantes o retrato de alguém, é ofender o retratado . Se a alma humana é a mais perfeita imagem de Deus na ordem terrena criada, conspurcá-la a ponto de confundir o homem com o bicho é atentar contra a ordem da Criação e, portanto, blasfemar contra o Criador. Com manifesto alívio e júbilo, a conclusão saltou-me ao espírito: o palavreado de Aparício é anti-católico, pois viola o Primeiro Mandamento da Lei de Deus que nos obriga a amá-Lo, como Ele é nos seus predicados e nas suas obras. Por outro lado, o termo usado por ele para sedespedirdemimtambémnão me agradou: "Falou". Haveria alguma relação entre o verbo "falou" e as palavras "cara" e "bicho"? Não seria também aquele censurável do ponto de vista da doutrina católica? O papagaio também fala. O homem, quando fala, diz algo. O dizer, ao contrário do "falou", é uma operação do espírito. Tomar indistintamente, na linguagem corrente, o "dizer" por "falar" é amesquinhar as qualidades mais nobres do homem. Mais uma vez, é degradá-lo e subverter a ordem da natureza. Eufórico com as conclusões a que meu raciocínio ia chegando, tomei o propósito de, encontrando-me com Aparício, expor-lhe tudo isso para o bem de sua alma. Eis que paro num semáforo e ... quem vejo estacionado a meu lado? Precisamente Aparício! Meu ímpeto de fazer-lhe algum bem levou-me a convidálo para almoçar neste mesmo dia. Entre um pra to e º!1 tro - invocando nossa velha amizade -expus-lhe meus pensa me1;1tos. Outra surpresa, entretanto, me aguardava. Esperava dele, como é normal, uma reação ou favorável ou contrária, quando o vi responder, numa espécie de espontânea indiferença: "Respeito sua 'colocação'. Mas minha 'colocação' é outra".
CATOLICJSMO
ABRIL 1993
20
21
Desconcertado, e impossibilitado de argumentar com ele, linútei-me a pagar a conta e despedir-me. Cada qual seguiu seu caminho ... "Colocação", saí pensando, mais uma palavra afim com "cara", "bicho", "gozado" e "falou". Mas ... afim no quê? Em matéria de Religião Católica, há verdade e bem em contraposição a erro e mal. Há doutrinas, há princípios. Aliás, é próprio do homem, em muitas outras matérias, ter convicções, e não "colocações". "Colocação" exprime uma posição · relativista de quem diz: "Eu penso de um modo e para núm a verdade é esta. O que não impede a um outro de pensar
de maneira diferente e também possuir a verdade; pois o que é a verdade senão aquilo que cada um sente dentro de si?" É, mais uma vez, uma degradação em que a verdade é rebaixada ao nível do erro, e a razão humana ao plano da mera sensibilidade. Ah! As mudanças do Aparício são muito mais profundas do que eu imaginava. Não são apenas inovações no linguajar, mas envolvem uma mudança de mentalidade, de concepção da vida, e quiçá, de religião. O leitor conheceria outras expressões que vão entrando no linguajar corrente, e que seriam gratas ao Aparício? Se conhecer, analise-as e comente com seus amigos. Se quiser, escreva-me.
ENTREVISTA
·~ '
LAVRADOR GA CHO DENUNCIA "MASSA MALIGNA" QUE SUBVERTE O CAMPO '
Comprovando a tese de que o lavrador brasileiro é geralmente ordeiro e. infenso à luta de classes e às invasões de terras, nosso enviado especial, Leo Daniele, entrevistou o fundador e presidente do · Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tupanciretã (RS), Sr. Ely da Silveira. O texto foi extraído da respectiva gravação magnética Catolicismo - Qual sua posição face à luta de classes? E. da Silveira - Eu estou engajado nessa luta de aproximação das classes em nosso município. Porque sempre pensei que Deus criou e colocou capital e trabalho lado a lado, e assim meu propósito, conforme disse no discuiso de posse, é a luta pela preservação dos valores morais de Tupanciretã. Essa é a minha luta. Quando existe uma invasão de propriedade, com exploração de trabalhadores -uma massa maligna que está acontecendo em nossos dias - , está havendo um duplo esbulho. Ali está um proprietário rural sendo esbulhado em seus bens materiais, e estão t.-abalhadores rurais sendo esbulhados em seus valores morais. Os bens materiais se recompõem por inteiro. Os valores morais, nunca! Não é possível recomporva ]ores mora is. Se uma pessoa furtar, ela será lembrada durante toda a vida dela como aquela que fürtou. Agora, se o proprietário perder uma quadra de campo, ele pode reaver outra. Quem está perdendo nessa luta aqui, não é o grande proprietário, que está com
Ely da Silveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tupanciretã a propriedade ameaçada. Quem está perdendo é o trabalhador, que está se deixando desmoralizar e está se deixando levar por um cantinho que não convém.
"Numa invasão de propriedade, há um duplo esbullw. o proprietário rural é esbulhado em seus bens materiais, e nós, trabalhadores rurais, em nossos valores morais" Os politiqueiros vêm nos pregar ideologias que nos são estranhas e que não nos convêm. Deus estabeleceu o direito de propriedade, e ele deve ser respeitado. Porque no dia em que o direito de propriedade cair, ou houver desrespeito, então vem a anarquia. V em o desmoronamento da própria sociedade, porque o sujeito sai de sua casa e quando volta tem um outro lá ocupando sua casa, ocupando sua terra . Catolicismo - O Sr. então é a favor da concórdia das classes sociais?
E. da Silveira - Essa é a causa da nossa luta. Por isso mesmo nós não temos tido assim apoio e força, porque não somos esquerdistas e combatemos essas coisas. Eu pelo menos combato com veras d'alma mesmo, sou contra
essas coisas. Eu não nego, sou cristão redimido no sangue de Jesus Cristo e gosto de dizer a realidade como Ele mandou dizer. Eu não tenho nenhum ódio por urna pessoa possuir fortuna. Eu vivo aqui, sou pobre e cercado de muitas pessoas que têm bens. Eu sou amigo de todos eles e não tenho nada contra eles, porque eles não são culpados de minha pobreza. Não foi pela minha pobreza também que eles enriqueceram. O que eles têm, eles não tiraram de mim. Então eu penso: sempre colocar o capital e o trabalho juntos, que é para que haja progresso, para que haja justiça social. Seu m proprietário se tornar inimjgo de seus trabalhadores, como é que eles vão coexistir juntos? Vão progredir, se um está atentando contra o outro? Catolicismo - O Sr. diz que aqui na região o procedimento de alguns trabalhadores é digno de censura. O que está acontecendo? E. da Silveira - O que está acontecendo é que pessoas que receberam terra, que clamavam por terrc1, que diziam que queriam produzir, e que hoje estão assentadas aqu~ estão vendendo essas mesmas terras que receberam como doação, porque não têm capacidade para produzir. Simplesmente por isso. Eles não são colonos, apenas tomaram esse nome. Esse vocábulo - "colono" - sempre foi o de um cidadão honrado, um cidadão respeitado. Todo mundo respeitava o colono, porque ele era, vamos dizer, o cidadão responsável pela fartura da mesa do próprio rico, não é? Hoje um trabalhador honesto não quer mais ser chamado "colono". Eu me sinto constrangido quando me chamam de "colono", por causa de certas pessoas, que fracassaram como mecânicos, que fracassaram como carpinteiros, que fracassaram como construtores, e acampam à beira da estiada e se dizem "colonos".
Catoljcismo - Existem muitos assentamentos aqui na região? E. da Silveira -Aqui cm Tupanciretã nós temos três. Catolicismo - Todos os três o Sr. considera que ... E. da Silveim - Eu não tenho conhecimento desse novo assentamento (Nova Tupancirctã). Mas nos outros dois há casos de pessoas que estão vendendo as propriedades que receberam por preços ínfimos, que não é possível, para irem se ajuntai· ele novo a outros grupos a fim de fazer agitação e clamar por ten·a novamente. Inclusive posso mostrar onde estão as coisas. Catolicismo - E economicamente, o Sr. acha que esses assentinnentos estão indo bem? E. da SHveira -A informação que me deram, isso por gente deles mesmos, é de que no primeiro assentamento de 53 famílias (Nossa Senhora Aparecida), 19 estão indo mais ou menos bem ( apenas 36%). No outro assentamento, das 31 famílias (Bela Vi ta), 9 estão indo mais ou menos, estão lendo algum progresso (29%). E o mais não.
Catolicismo - E o que o Sr. acha, Sr. Ely, das invasões? É um método
certo número de coisas que deveriam ser consideradas. Primeiro, o plano dessas invasões. Segundo, o custo dessas invasões. E o terceiro, que deveria ser esclarecido, e que até hoje não foi esclarecido e nenhuma autoridade tomou qualquer atitude, é saber quem está patrocinando, quem está planejando, quemas está custeando. Um trabalhador que quer se deslocar 50 quilômetros, ele tem que planejar, porque não tem como carregar sua mudança. Tem umdelcrntinado custo muito elevado. Agora, eles dizem que não têm dinheiro. Que estão à beira da estrada. A própria contida recebem de favor. Como é que podem se deslocar 700 famílias, de noite, em conduções? Com quem eles atTumam essas conduções? Quem é que paga? Quem é que planejou? Quem é que vai mostrnr para eles o lugar onde eles vão se localiz.·u·? Como eles sabem que em cletenuinado lug,u- distante tem uma fazenda que tem um riacho, tem uma mata onde eles podem se localizar? Quem é que mostra para eles essas · coisas? Como é que eles conseguem? Qual foi a autoridade até hoje que abriu um inquérito para saber quanto custou uma invasão de terras? Isso até parece um movimento paramilitar, de pessoas que estão sendo conduzidas no sentido ele produzii·em prop,;amente agitação, de trazer agitação ao meio rura~ de impedir que o grande proprietário invista na propriedade. Esse proprietário está com a propriedade ameaçada, ele não vai investir! Vem então o desemp1-ego. Cada vez vai aumentar o número dos sem-terra, dessas pessoas que estão para essa agitação, não é? O trabalhador rum'! legítimo, ele é
legítimo? Qual é it figurn que o Sr. foz
um cidadão. Ele assume sua cidadania.
do invasor? E. da Silveira Eu penso o seguinte: uma invasão de terra, assim como tem acontecido no Rio Grande cio Sul, é um processo que envolve um
Não vai invadir a terra de ninguém. Não é esse o propósito dele. O trabalhador rural quer simplesmente governos que promovam o desenvolvimento, o amparo para aquele que trabalha, _para aquele
"As invasões até parecem um movimento paramilitar, feito para impedir que o grande proprietário invista na propriedade. Esse proprietário com a propriedade ameaçada não vai investir! vem então o desemprego e vão aumentar os sem-terra"
CATOLICISMO
ABRIL 1993
22
23
que prod uz. Ele quer ter sua fanúlia amparada, com subsistência, com casa, com educação. É isso que ele quer, não quer invasão de terra. A invasão de terra não é feita pelo colono, como dizem. Ela não é feita pelo trabalhador rural honesto. Esse, luta pela preservação de seus valores morais. Ele quer ser um cidadão e é um cidadão. Qualquer um dos nossos trabalhadores, aqueles que cu represento e defendo, o Sr. pode confiar nele. E esses que invaden1propriedades, eu pergunto: quem confia neles? Qual é o proprietário rural que oferece uma moradia para um deles? Se o governo não der, eles estão na beira da estrada. O nosso trabalhador é de boa índole, ele é cidadão. Ele tem amor a sua Pátria, tem amora sua família . Ele não joga sua fanúlia assim num beco, não. Ele vai lutar por ela. Catolicismo - O que o Sr. acha desse projeto de Reforma Agrária, para o qual a única propriedade que não pode ser desapropriada é aquela que é explorada pessoal e diretamente só pelo proprietário e sua fanúlia? E. da Silveira - Eu acho que é totalmente errado. Se nós queremos o progresso na agricultura, ou queremos o progresso na pecuária, como é que vamos fazer esse progresso em propriedades restritas, onde não existe possibilidade ele investimento? De onde vai sair dinheiro para investir? Porque a grande propriedade é necessária principalmente no Rio Grande do Sul, por causa de nosso clima e. de outras coisas, pois muitas partes de nossas propriedades não são aráveis, não são próprias para a agricultura. Parece que o problema não está em tirar a terra de ninguém, não é? Afinal nós vivemos
num país onde 54% da área está inexplorada. Sou contra, acho que se deveria definir primeiro o que é rcfonna agrâria e haver um estudo mais acurado da propriedade rnral.
"Não temos tido apoio e força, porque não somos esquerdistas"
Preços du rante o mês de ABRIL de 1993: ASS INATURA ANUAL
Bebidas nacionais e estrangeiras. Queijos e doces ti po eu ropeu. Arenkes e Salmons
COM UM: Cr$ 590.000,00
PHARMÁCIA NATURAL PETRÓPOLIS
*
CASA ZILANNA
COO PERADOR: Cr$ 750.000,00
MERCEARIA
BENFE ITOR : Cr$1.200.000,00
Plantas medicinais Homeopatia
GRAN DE BENFE ITOR: Cr$ 2.000.000,00
"Essas pessoas 'engrupam' em um lugar e formam uma república à parte, porque raramente se relacionam com as pessoas que moram em roda" Uma pessoa tem 50 ha. de terra, precisa admitir um empregado e sua propriedade já se tomou passível de desapropliação? Não é possíve~ não é? Acho que isso tudo está errado. Isso tudo é agitação e não vamos ter reforma agrária nenhuma. Nós vamos ter essas coisas como estão acontencendo agora, esse banimento de pessoas. Pegam essas pessoas, "engrupam" em um lugar e botam ali para eles formarem uma república à parte, porque raramente eles se relacionam com as pessoas que moram em roda ali. Catolicismo - Não se relacionam? E.da SiJveira - Muito pou-co, muito pouco. Catolicismo - Pode qualquer um entrar, ver como é? E. da Silveira-Poder entrar, pode, mas as pessoas de roda ali são tachadas de latinfundiários, de tubarões. Há aquele choque, sempre. Catolicismo - Parece que eles não suportam ver que outros têm mais do que eles. O Sr. e seus liderados, como sentem esse problema? E. da SiJveira - Nós não invejamos o progresso. O próprio Rui Barbosa, que foi um dos nossos grandes homens, disse que a Pátria não, pode se compor da miséria de todos. E preciso que haja riqueza, é preciso que haja grandes industriais, para que os outros tenham amparo, tenham trabalho. E assim é na propriedade rurnl. Se nós formos repartir o ruo Grande todo em minifúndios, nós vamos acabar com a pujança da nossa produção primária, que está maravilhosa. Eu convido qualquer pessoa a visitar urna de nossas feiras, por exemplo. E ver o que nós estamos produzindo. Aquilo não será possíve l produzir se todos forem pobres .
Catolicismo - O Sr. pode explicar isto melhor? E. da Silveira - Um proprietário rural, vamos dizer com seis trabalhadores, ele explora e cultiva 500 ha. de terra. Esses 500 ha. de plantas vão produzir uma quantia considerável. Se ele aquinhoar esses seis trabalhadores ali, em vez desses 500 ha. esses seis trabalhadores vão produzir no máximo 40, 50 ha. Então aquela propriedade, que produzia uma certa quantia, vai cair verticalmente e vai virar pobreza. Enganam-se aqueles que querem uma suposta igualdade, porque é isso que eles querem. Se não fosse assim, eles não recebiam dinheiro das esquerdas internacionais para fazer campanha política, mas a gente sabe que recebem, não é? Catolicismo - O que o Sr. acha dessa pregação que fazem da igualdade absoluta entre os homens?
O casal Ely da Silveira
com dois de seus filhos E. da Silveira - Moisés, quando falava ao povo de Deus, que estava para introduzir na terra prometida, diz no Deuteronômio que nunca deixará de haver pob_res sobre a Terra. Urna sociedade em que desaparecesse o pobre também se tornaria miserável. Aqui no frigorífico de Tupanciretã, alguns anos atrás, era exportado um guisado, cozido, em vidros. Aquela porção de guisado era exportada para países ricos, onde não existiam empregadas domésticas. Então [nesses países] não tinham quem fizesse a comida, e se resignavam a comprar um punhado de guisado cozido em outro país para poder comer... Uma sociedade só de ricos é talvez CATOLI CISMO
24
mais miserável do que aquela em que entra o elemento pobre. Porque uns dependem dos outros. Então, o que é preciso é a dignificação do trabalho. Porque se uma doméstica dignificasse seu trabalho, por exemplo, ela seria das empregadas mais bem remuneradas. Porque além de ganhar o ordenado dela, ainda ganha estadia, tudo do bom e do melhor. Acontece que o que falta no Brasil é a dignificação do trabalho. Catolicismo - Notamos que o Sr. é contra a agitação. Isso quer dizer que o Sr. não quer o progresso para sua classe? E. da SiJveira - Eu quero o progresso, agora eu quero o progresso feito dentro da ordem. Eu não aceito o progresso assim, de uma classe se estabelecer sobre os escombros da outra. Catolicismo - E a fanúlia do Sr., está tendo progresso? E.da Silveira-Sim, cu entendo que sim. Dadas nossas limitações, porque, como trabalhador rural, nós vivemos em cima de uma colônia de terra , e nós temos nossa primeira filha que é fonnada em Ciência pela Faculdade de Cruz Alta e é professora no Colégio Venâncio Aires de Cruz Alta, leciona ma temática, está bem. Temos o segundo filho que é capataz cm uma fazenda, é campeiro. Eo terceiro está se fonnando em técnico agrícola, está fa zendo estágio e vai tentar veterinária. En-· tão a famfüa está bem, graças a Deus . Agora é com luta, não é invadindo propriedade que foi feito tudo isso. Urna luta como um cristão deve lutar. Sempre com fé em Deus e esperando que as portas se abram.
"Os ricos não são culpados por minha pobreza. Não foi pela minha pobreza que enriqueceram. o que eles têm, não tiraram de mim" Catolicismo - O Sr. sente inveja quando o Sr. vê uma pessoa que tem mais que o Sr.? E. da Silveira - Não! Pelo contrário, eu sempre rogo a Deus que ele tenha mais, porque ele tendo mais, é riqueza nacional.
EXEMPLAR AVULSO : Cr$ 60.000,00
Rua ltambé, 506 - Hi gienópolis São Paulo - Fone: 257-8671
Shampus - Cremes - Chás Todos à base de plqntas medicinais Soli cite nossos catálogos gratuitamente com a relação de nossa manipulação. Remetemos tudo pelo Reembolso Postal Rua 16 de Março, 322 CEP 25620-040 - Petrópolis - RJ Tel.: (0242) 43-8235
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS Linha tronco 297-9455- Telex 62234- Telefax 9561979-São Paulo- Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO s Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu
_% WRDPMACE __ Rua das Palmeiras, 78 - Tel. 10111220-0422 - CEP.01226 TELEX 1123208 - FAX (0111 220-9955 DDG (Oll l 800-S272 São Paulo
-X-
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ' Ao Lord Palace Hotel: Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. 1 1
1 1
1 1
Nome: End. : CEP:
........ Cidade: .
................ ................. UF: .
ESC\\
Assessoria Contábil &Tributária S/C Lida. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS
A rnultidão é a rnile dos tiranos
Edivaldo José Ciryllo Rangel
PROVÉRBIO GREGO
A rnultidão é um monstro de mil cabeças Rua Ju/io de Castilhos, 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068
PROVÉRBIO LATINO
A multidão tem muit.as cabeças e não tem cérebro THEODORE FULLER
O meio mais seguro de arruinar um país é dar o poder aos demagogos
Comércio de Carnes
PROVÉRBIO GREGO
Norton
A popularidade é a glória dos demagogos. A glória é a popularidade dos santos e dos heróis
Atacadista de carnes em geral
Mesmo quando uma coisa não é vergonhosa, ela o jJarece quando louvada pela multidão
PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA.
CÍCERO
R. Joaquim Cavalhares, 79 · Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
--
--Estilo -Planejamento Espaço -Conforto -Solidez -Segurança --·-Soluções originais -Harmonia Elegância --Sensibilidade Sofisticação Classe - Acabamento perso?alizado ------Local privilegiado ------Sucesso g ~ntia desta assi~ura ----
---·-------------
• construtora
ADOLPHO LINDENBE~~ .
', _ 6º e 7 " and;H
Rua General Jardim , 7 U. . )' '_ s:1o Pau lo l-one : _ .,n 0 4 11
tudo com a
Talento
D
Dois desfiles, duas concepções do Universo Foi. cs e facões erguidos em gestos ameaçadores, numa manifestaçã.o dos "sem-terra", no Pá tco do Colégio, zona central de São Paulo. Fisionomias displicentes, quase alheias ao qu se passa, se mesclam com outras carregadas de ódio artificia lmente induzido, numa chocha exibição de luta de classes (foto 1 ).
***
Ao som de clarins e txompetes (foto 2), estandartes ao vento, a TFP d esfila em traje de gala, lransfigurando o centro da capital paufüta em é pico cenário: comemora-se o V Centenário do Descobrimento e da Evange!tzação da América.
***
De um lado, o igualitarismo marxista, ultrapassado, ameaçador e vulgar. De outro, o charme grandioso da Tradição, que se exprime em símbolos e que caminha rumo ao futuro! ,
Símbolo vivo de nobreza e combatividade
O
lhos fixos na lu z que lhe ilumina a fronte, o leão, aqui representado, parece assumir urna postura ao mesmo tempo forte, elegante, distend ida e vigilante. Sua juba faz lembrar a dignidade própria de um re i. Seu porte altaneiro infunde temor e respe ito. De que modo um simples bicho pode representar tantos valores morais, como a corage m, a vigilância, a nobreza? Embora irracionais , os brutos tendem instintivamente a manifestar de mil modos sua natureza específica, riada por Deus. E esta manifestação revela a posição qu ocupam dentro da ordem do Universo,
nos fazer ente nd er e apreciai- realidades espirituais e atitud esmorais. Assim, Nosso Senhor Jesus Cristo, ao in struir seus discípulos sobre a missão apostólica que lhes cabia, propõe como modelos de altas virtudes a ovelha, a pomba e a serpente: "Eis que Eu vos mando como ovelhas . no mei,o de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas" (Mt. 10, 16). Nesse sentido, o leão nos dá exemplo eloqüente de combatividade e nobreza. Por isso, ele passou das florestas para os brasões he ráldicos, onde habitualmente é representado em posiçã? rompante, a mesma que assume ao atacar sua presa. A semelhança de uma
dando- nos assim oportunidade de conhecê-la e ad-
proclamação régia, seu formidável rugido faz-se ouvir
mirá-la, enqu anto rcl1exo magnífico da Sabedoria e Beleza incriadas . Alguns an imais de tal modo manifestam o aspecto simb ólico de sua natureza, que as Sagradas Escrituras repetid as vezes apelam para eles, a fim de
a muitos quilômetros, marcando sua absoluta soberania sobre os outros animais. Por estas qualidades fulgurantes, serviu ele para simbolizar o Rei-dos reis , Aque le que é o Leão da tribo de Judá, O Filho da Virgem, a EstirjJe de David!
Sob o regime da propriedade privada e da livre iniciativa, toda a agropecuรกria brasileira tendia a ser assim
CATOLICISMO 42 anos de luta, na fidelidade doutrinária
Discernindo, distinguindo, classificando...
N 2 509
Maio 1993
,, A Lei nº 8.579.243 A superprodução de leis e o fantasma dos "pacotes" legislativos atentam contra a estabilidade social
I
parn o mato que se resolve o promagine, leitor, que alguém, blema da superprodução legislatomado de grande euforia, cotiva. Pois não se trata de ca ir no mentasse numa roda de pessoas erro oposto de querer um mundo o seguinte: anárquico, sem leis. O Poder Pú- Que maravilha! Fiquei sablico tem, é claro, direito de legisbendo que, só em Brasília, temos lar. Mas não a torto e a direito. 503 deputados e 81 senadores, o tempo todo fazendo novas leis *** A verdadeira orienta ção arespara as cumprirmos e, a todo mopeito a encontramos nos escritos mento, modificando as antigas. do grande luminar da Igreja que Isso sem contar, nas Assembléias foi Santo Tomás de Aquino, o Legislativas de todas as unidades qual nos ensina a importância leda Federação, grande número de gislativa do costume, quando este nossos representantes fabricando · não contraria os Mandamentos normas para seus respectivos Esdivinos. Vejamos suas palavras: tados. E importa não esquecer "Diz Santo Agostinho: 'Os ainda as Câmaras de Vereadores, costumes do povo d ' D •us e as nos milhares de Municípios brainstituições de nossos ""tepassasileiros. Que bom termos tantas Triunfo de Santo Tomás (detal,he) - Francisco dos devem ser co11sid •rados leis, e sempre novas, sempre moTraini, igreja de Santa Catarina, Pisa (Itália). como leis '. dificãâãs: O Brasil pode orguPara o grande Doutor da Igreja, o costume é a lei "Como cns iua o Pil6sofo lhar-se de ser uma das maiores fundamental de um povo [Aristóteles], 'as leis re >bem indústrias produtoras de leis do sua máxima :jí á ·ili do costusempre modificadas, sempre renovamundo! me'; por issomiod ,vcm s •r modificadas, num turbilhão que se sucede Qu e receptividade teria nessa das com fa cilidade. como um pesadelo: leis do imposto de roda, caro leitor, quem assim se expri"O cosl1.1.m , t •m força de lei, pode renda, leis da reforma agrária, leis dismisse? Na melhor das hipóteses, o abolir uma f ,i , é i11térpret<1 das leis. to, leis daquilo. mais completo "gelo " se faria em tor"Modifica-.,·' r, ,uu11e11t •11111tt f ,i soEai dele se disser que não conhece no dele, e seu fogoso entusiasmo seria ment , q11a11do, m<rliallle sua mutação, recebido com um balde de água fria . a lei nQ 8.579.243, ou qualquer outra, conlribui-s, parn o hem ·011111111. Mas a porque existe até uma lei que estabeMas poderia acontecer também de ser simpl w 111111/a11ça <!e uma lei já é de si lece que ninguém pode ignorar a lei. ele expulso da roda, chamado de loumesma um prejuízo para o b m comum, Já em 1852, o grande estadista ausco,. demente, e conforme o caso até porque o costume "juda muito o c11mtríaco, Príncipe de Mettcmich, diagagredido. Por quê? É porque todo mundo está farto nosticava: "A mania de fabricar I is é primc•11ü, das leis, a tal ponto que se um sintoma da enfermidade qu há 62 consideram graves todas a-s coisas esdesse peso socialista do Estado anos [desde a Revolução frnnc•sn l tal>elecidas contra o costume .... De modçrno, originário da Revolução assola tão cruelmente o orposo ·ia/" ond, não se deve modificar a lei humaFrancesa, que concentra emsi todos os (Mémoires, tomo 8, p. 577, Piou, Pa- na, a nl1o ser quando o favorecimento poderes e fica o tempo todo legislando do bem comum que se obtém com essa para os súditos indefesos. Não estaris, !884). mudança compense o prejuízo por ela E cm parte d vido 11 ss · emaramos considerando aqui o fato-notótrazido.Isto se dá quando da nova nornhado lega l, que nos · ·rta como os rio - de que uma parte dessas leis é ma se tira um proveito muito grande e iníqua ou contrária ao bom senso;· de · arames farpados d • um campo de connotório, ou em caso de extrema necessicentração, que um número crescente que é enorine o gasto do País com dade, quando a lei vigente por muito de nossos contemporâneos vai se deitantos legisladores; e de que, até, vez tempo contém alguma injustiça manifesxando tentar pela "felicidade" da vida por outra, estouram escândalos finanta, e cumpri-la se torna sumament • no dos índios na selva, e vai dando ouviceiros nos templos da lei. Tudo isso civo" (1-2, q. 97 a.2 e 3). d s a estranhos portadores de teorias posto à margem, resta a realidade bru ecológicas radicais, indigenistas etc. ta, acachapante, de qu e o brasileiro se C.A. Orn, não ~ fugindo da civilização vê perseguido por milhões de leis,
Assestando o foco NOSSOS LEITORES puderam acompanhar, através de matérias publicadas em diversas edições de Catolicismo do ano passado, a tramitação no Congresso Nacional dos projetos de Reforma Agrária (110/91 e 71B/89) e de Reforma Urbana (5788/90). E também se inteirar do êxito alcançado pelo abaixo-assinado promovido pela 1FP contra as referidas reformas: a campanha, iniciada a 11 de agosto de 1992, obteve em 30 dias o expressivo total de 1.133.932 assinaturas, colhidas em 15 Unidades da Federação, em apoio à mensagem ende· reçada a autoridades federais, criticando os mencionados projetos e pedindo um plebiscito. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, autor dessa mensagem, bem como de cartas remetidas durante a campanha ao Presidente da República e aos presidentes do Senado e da Câmara Federal, foi tanto o idealizador quanto o dirigente dessa importante iniciativa. Em nossa edição de janeiro último, foi estampada reportagem referente à ida de uma comissão de sócios e cooperadores da 1FP a Brasília, em 12 de dezembro do ano passado, a qual procedeu àentrega, no Gabinete Militar da Presidência da República, de
ofício assinado pelo diretor da entidade, Dr. Plinio Xavier da Silveira. Tal documento comunicava ao Chefe do Exe· cutivofederal o resultado alcançado pelo abaixo-assinado. A mesma comissão entregou depois, no protocolo do palácio presidencial, 40 caixas conten· do as 117.973 folhas do abaixo-assinado. E, por fim, os membros da delegação deixaram ofícios com os presidentes das duas Casas legislativas, comunicando igualmente o resultado obtido pela iniciativa da entidade, bem como a cessão das caixas com as listas no Palácio do Planalto. Na presente edição, nossa revista apresenta matéria sobre a aprovação pelo Congresso do projeto 11 D/91, referente às desapropriações, a sanção presidenc~ eos vetos a ele apostos pelo Chefe do Executivo. E muito explicável que os leitores, um tanto confusos em virtude da cortina de fumaça e das manobras empreendidas pela esquerda durante o andamento desses projetos, se pergunte: mas afinal, o que já foi ou não aprovado? Para procurar satisfazê~os. vamos esquematizar: Aprovados: • o Projeto 11/91, de autoria de quatro deputados pelistas, que define os critérios que
,,
lndice Catolicismo é uma
Discernindo ... A Lei n 2 8.579.243 A Realidade Concisamente Diretas, sim; para os outros Destaque Para os homens velhos, lixo! Reforma Agrária Uma reforma ruinosa e divorciada da opinião pública Educação Cuidado com os livros... Caderno Especial Festa da Visitação da Santíssima Virgem Hagiografia São Gregório VII, destemido protetor dos direitos da Igreja Escrevem os leitores Novíssimos do Homem Brasil real, Brasil brasileiro Uma epopéia, uma legenda História A expulsão dos franceses do Rio de Janeiro Em painel Frases e imagens
publicação mensal da Edfora Padre Beldlior de Pontes Ltda. Diretor:
2
Paulo Corrêa de Brfo Rho Jornalista Responsável:
4
5
Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o N2 13748
6
Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP Tel: (011) 825. 7707
Redação e Gerência:
Diagramação:
11
Antonio Carlos F. Cordeirn Fotolitos:
13
Mboformas Fotofitos Ltda. Rua Javaés, 681 - 01130-010 São Paulo • SP
17
Impressão:
Artpress Indústria Gráfica e Edlora Lida. Rua Java és, 681 - 01130-01 O São Paulo - SP
20 21
Acorrespondência relatwa à assi-· natt.ra e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Jaguarile, 648 Corj. 02 • CEP 01224-000 - São Paub - SP Fone: (011) 66-3361
22
27
ISSN - 0008-8528
Nossa capa: Foto superior. propriedade agrícola no Estado do Paranã; foto inferior: família de assentados em sua favela rural,
CATOLICISMO
2
deverão ser adotados nas desapropriações. Aprovado na Câmara em 26-6-92, no Senado em 2-6-92, na Câmara, em segundo turno em 27-1-93 e sancionado pelo Presidente em 25-3-93 (Lei n2 8629). • O Projeto 71/89, de autoria do deputado Amaury Müller (PDT-RS), que estabelece um rito processual sumário, reduzindo o tempo e simplifi· cando as formalidades nas desapropriações, foi aprovado na Câmara em 30-6-92 . Ao encerrarmos a presente edição, o Senado aprovou, em 14-4-93, um substnutivo ao referido projeto, de autoria do senador Alfredo Campos, mediante o qual o proprietário terá poucas chances de defender seus direitos, porque os prazos são curtos, não podendo ele, ademais, discutir a legalidade da desapropriação, que será irreversível. A discussão só poderá versar sobre o preço e eventuais vícios processuais. Além disso, o imóvel, uma vez registrado em nome do Estado, não voltará mais ao antigo dono. Falta aprovar: o substitutivo Alfredo Campos deverá ser remetido à Câmara para ser votado, como última fase de sua tramitação, pelos deputados.
Gleba X V de Novembro do Pontal paulista
MAIO 1993
3
Diretas, sim; para os outros Em seus 55 anos de existência, a União Nacional dos Estudantes - UNE nunca elegeu um presidente que não fosse ligado a partido político de esquerda. E, paladinos do voto direto para o País, defendem, entretanto, a eleição indireta para a agremiação, modo mais fáci l de eleger seus apan iguad9s. Assim, a UNE termina como sucursal dos partidos e ideologias esquerdistas. Descontentes com essa situação, surgem novos grêmios estudantis, que batalham agora para promover eleições diretas na Un ião Brasileira dos Estudantes Secundaristas UBES, cujo sistema é parecido ao da UNE.
práticas psicológicas abusivas".
lham fora por absoluta nece ssi dad e econômica. Agredidas agora pela realidade, as mulheres americanas vão-se libertando dos slogans feministas que marcaram as décadas passadas. A maioria delas, numa salutar reviravolta, responde convicta que troçaria um bom salário e o status de um cargo executivo, por ser mãe em tempo in tegra l.
Mais um golpe contra a família Desta vez, em Nova York. O prefeito David Dinkins assinou lei que permite a casais não casados legalmente, e a duplas de homossexuais, registrarem-se como "parceiros domésticos". E com isso receber alguns dos direi tos garanti dos aos que efetivamente secasaram, tais como licençamaternidade, garantia de visita ao companhe iro(a) em prisões ou hospitais e poder ficar com o aluguel de apartamento no caso de morte do arrendatário legal. Para obter o registro como "companheiros domésticos", os casais ou duplas precisam levar comprovante de identidade, preencher um formulário e pagar US$20. Isto é, US$1 O menos do que uma licença de matrimônio .
Empresa ZIL: privatizada Rússia privatiza "Recasar" não conserta Enquanto a privatização A Sra. Mclanahan cansem nosso País se arrasta, na conturbada Rússia mais outra estatal é colocada à venda. Desta vez trata-se da companhia russa que fabricava limusines para os políticos comunistas: a Zil. Três milhões de ações devem ser vendidas a 1.000 rublos (US$ 1.55) cada.
Salutar reviravolta
O óbvio cubano O trabalho, nas chamadas brigadas de voluntários de Cuba, na verdade é forçado, diz a Organização Internacional do Trabalho, em seu relatório 11 0 Trabalho no Mundo". Segundo um dos autores do relatório, o advogado Max Hern, os que se recusam a colaborar nas brigadas, sem justificativa, podem perder certos benefícios, direitos e privilégios, como vaga na un iversidade, na compra de bens de consumo ou moradia. Tachados de "contra-revai u cionári os", são alvo de "hostilidades e
cujos genitores permanecem juntos. As filhas de pais separados são mais tendentes a serem mães solteiras, antes dos 20 anos, e os meninos a não trabalhar. O maior impacto parece dar-se com crianças da classe média. Tendem três vezes mais, grosso modo, a abandonar o estudo secundário se seus pais se separam.
Enquanto nos anos 60 apenas 20% das mães com filhos menores de seis anos trabalhavam fora, hoje essa cifra ascende a 58%. Nos debates pela imprensa e televisão, as mulheres têm afirmado que prefeririam cu idar pessoalmente dos filhos, pelo menos até a idade escolar. E que só traba-
tata ainda que as crianças que perdem um dos pais por morte saem-se melhor do que aquelas cujos pais se separam. E crianças cujos pais se "recasam" depois do divórcio desempenham-se tão mal naescolaenassuasvidas particulares como as que vivem com apenas um dos pais.
Malefícios do divórcio Um estudo feito por Sara Mclanahan, socióloga da Universidade de Princeton (EUA), sustenta que as crianças cujos pais ses param estão mais suj itas a abandonarem o urso secundário do qu aquelas
Também na Inglaterra Esludo feilo por Kathleen Ki rnan, do Centro de Estudos de Política Familiar, na Inglaterra, suslenla que as crianças cujos pais se divorciam tendem a sair mais cedo da escola, abandonar a casa mais cedo, coabitar cedo e ter filho extra-casamento do que aquelas cujps pais permanecem juntos. Em particular, filhos de casais "recasados" são três vezes mais propensos a sair do próprio lar e qualro v zes e meio mais proI ns s a coabitar antes do 21 anos, do que fi lho de famílias unidas.
Brasil: segunda posição mundial em avicultura - O deputado Neuto De Conto (PMDB-SC) informou que a produção nacional de carnes de aves tem alcançado recordes de crescimento, fazendo com que o Brasil ocupe a segunda posição mundial, perdendo apenas pàra os Estados Unidos . Benefícios da privatização Quando pertencia ao Estado, a Usiminas acumulava prejuízos, como aliás continua sucendendo comas siderúrgicas estatais Cosipa, CST e a de Volta Redonda. Privatizada cm 1991, a Usiminas apresentou já naquele ano um lucro líquido de 64 núlhões de dólares. Em 1992, o lucro foi de 123,4 milhões de dólares, o que representa um aumento de 95%. Bispo propugna saques - O bispo de Afogados do Ingazeira, no sertão de Pernambuco, D. Francisco Austragésilo de Mesquita, declarou que os flagelados da seca deveriam realizar sa-
ques para que as autoridades se preocupassem com a situação deles. Ao que parece, o Bispo está propugnando uma saída caótica à solução do problema. Banquete para mendigos Somente agora os portugueses_conhecem um detalhe preciso do testamento de Dom Lopo de Almeida, falecido em 1584, confessor de Felipe II, rei de Espanha e Portugal: na missa celebrada anualmente, no dia da morte do sacerdote, a Santa Casa de Misericórdia do Porto está obrigada a reunir cinco mendigos, vesti-los condignamente e depois proporcionar-lhes um lauto almoço com os mesários da Santa Casa. Durante quatro séculos, essa recomendação do piedoso Dom Lopo tem sido cumprida à risca! Batalhão de bruxas ... o governo de Serra Leoa - país situado na costa ocidental da África -está enfrentando com sucesso os guerrilheiros da Frente Revolucionária Unida, utilizan-
do um batalhão de bruxas, segundo informa Rod Macjohnson, num despacho da Agência France Press. Esse contingente, formado exclusivamente por estranhas mulheres, é comandado por uma velha de 80 anos, e avança junto com as tropas governamentais. ... aterroriza os inimigos - Recentemente, os guerrilheiros saquearam um armazém, e colocaram os produtos num grande baú metálico. Dois dos quatro homens que carregavam o baú tombaram mortos. Outros dois os substituíram e também morreram. Aterrorizados, os rebeldes chamaram seus próprios bruxos. E dois deles, ao se aproximarem do baú, foram transformados em cadáveres cobertos por vermes que saíam de suas bocas e narizes. Três guerrilheiros dispararam então suas armas contra o baú, mas as balas voltaram e mataram os três. Fazem falta exorcistas.
Para os cães velhos, carinho!
pretende instalar canis para cães idosos, que não se encontram mais em condições de serem adotados. Ali deverão aguardar a morte, cercados de todos os cuidados. Só as obras de adaptação da propriedade para esse fim já custaram mais de 120 mil dólares. Num dos canis, foram instaladas diversas lâmpadas infra-vermelhas, para aquecer os cães velhos no inverno.
Para os homens velhos, lixo! Com o deperecimento progressivo da civilização cristã no mundo moderno, as a berrações vão se tornando habituais. Expulso dos homens o espírito de cruz, que nos foi legado por Nosso Senhor Jesus Cristo, o verme do prazer se vê livre para corroer até os sentimentos mais profundos e arraigados da alma, como é o caso do amor filial. Segundo dados do governo norteamericano, mais de 70 núl idosos são abandonados anualmente no país, nos lugares mais insólitos . Note bem: mais de 70mil por ano! Cerca de 200pordia! Umhomemde80anos foi encontrado no Estado de Iowa, desmemoriado. A polícia descobriu que fora abandonado pela filha, residente a milhares de quilômetros, no Oregon, por considerálo ... um estorvo. Os velhos são "descarregados" nas ruas, praças ou pronto-socorros, sem documentos. Atualmente um dos lugares preferidos para o "despejo" são os slwpping-centers. No Estado de Nova Iorque é tal a quantidade de velhos abandonados, que já há um projeto para qualificar de crime esse ato. Por ironia, o projeto tem o nome de "velhos no lixo".
Enquanto os velhos vão sendo jogados no lixo pelos norte-americanos (só por eles?!), na Fran~ a mesma decadência da civilização crfstã leva a um outro tipo de aberração complementar. Não só o amor filial desaparece, mas em seu lugar surge a mais completa depravação do boinsenso. A ex-atriz Brigitte Bardot comprou uma grande propriedade na região da Normandia - uma casa em estilo normando, em meio a um parque - onde
CATOLICISMO
MAIOI993
4
5
Para os homens velhos, lixo! Para os cães velhos, carinho! Esse é, leitor, não tenha ilusões, o mundo em que vivemos.
1
REFORMA AGRÁRIA
.
#
,
UMA REFORMA AGRARIA RUINOSA EDIVOR IADA DA OPINIAO PUBLI A Jogando com a desinformação do público e mediante manobras no Congresso, a esquerda brasileira obtém a aprovação da Lei de Reforma Agrária com a conivência de não-esquerdistas
P
oucas vezes a História do Brasil que define os critérios relativos às desaregistrou uma tão grande turbulên- propriações 1 • cia política quanto a dos últimos meses. Coincidência ou não, o fato é que os projetos de lei da Reforma Agrária foDesde o segundo semestre de 1992, todas ou quase todas as atenções, por ram aprovados justamente durante esse efeito de uma gigantesca mobilização período de convulsão política. Sintomaticamente, a grande mídia, da generalidade dos veículos de comunicação social, foram polarizadas para o atuando como uma orquestra bem afinada, destilou um noticiário relativo à Reproblema da corrupção. Tudo se passou como se este fosse o mais importante e forma Agrária pontilhado de carências, contradições e até inverdades. único problema do Brasil. A tal ponto foi a desinformação, que Ao lado da convulsão política, um insolúvel quadro de crise econômica · importante jornal de São Paulo, por ocavem absorvendo ao extremo as preocu- sião da aprovação de um dos projetos de lei agro-reformistas, publicou uma notípações quotidianas de quase todos os cia em primeira página anunciando brasileiros. Trabalhada por esses elementos, e "uma vitória" dos ruralistas. Assim, no caso da Reforma Agrária, por outros que não é o caso de mencionar aqui, a opinião pública brasileira o processo de elaboração legislativa foi divorciado da opinião pública, a qual permaneceu alienada dos importantes ficou distante dos fatos, como nós brafatos que se davam em Brasil ia em torno sileiros estamos das pirânúdes do Egito. da aprovação da Reforma Agrária. Contrastando com tal clima de Galerlas vazias modorra e de desitúormação, a TFP promoveu um monumental abaixo-assina"Quem poderia imaginar que votado de repúdio à Reforma Agrária e à ríamos o projeto de regulamentação da Reforma Urbana, tendo conseguido a Reforma Agrária com as galerias vaadesão de 1.133.542 brasileiros quepezias", exclamou o deputado Roberto diam um plebiscito sobre as matérias, Rollemberg, na sessão do dia 26 de juantes da aprovação de qualquer projeto. nho de 1992, quando foi aprovado, em Infelizmente, nossos legisladores primeiro turno, o projeto de lei 11/91 preferiram ignorar os mais profundos desejos do povo, optando porumdescolamento do eleitorado, antes do que rejeitar a Reforma Agrária.
Açodamento De modo sintomático, enquanto a opinião pública era atraída fortemente para outros temas, em Brasília deputa-
C/wça abandonada na Gleba XV de Novembro do Pontal, paulista. Exemplo si,gnificativo da situação desoladora dos assentamentos de Reforma A,e;rária em todo o Pai.s
dos e senadores responsáveis pela tramitação dos projetos trabalhavam sobre eles noite e dia, em clima de inexplicável açodamento. Os projetos foram aprovados sob forte pressão de setores agro-reformistas do Governo e da esquerda parlamentar, que exigiam quase sempre regime de urgência para os mesmos. Em alguns casos, como no dia 26 de junho, os deputados não chegaram sequer a votar, pois prevaleceu o chamado "acordo de lideranças", ficando dispensado o voto pessoal dos parlamentares.
Tática da esquerda No que diz respeito à Reforma Agrária, a esquerda parlamentar atuou decididamente segundo a máxima "dez passos à frente e dois para trás". Ou seja, sempre, ou quase sempre, a iniciativa dos projetos foi de parlamentares dos partidos de esquerda: PT, PSDB, PDT, PPS (ex- PCB) etc. Apresentado o projeto, este come wa a tramitar pelas comissões, as quais a abavam por fazer prevalecer os 1 ·xtos ao gosto dos esquerdistas.
Na discussão que então se apresentava, deputados tidos como defensores da clas&e ruralista faziam pé firme em dois ou três pontos secundários do projeto, como se em tais artigos se jogasse a salvação ou perdição da classe rural. Os esquerdistas, depois de algum tempo, acabavam cedendo nesses pontos, em troca da aceitação do texto básico que eles mesmos haviam apresentado inicialmente. Surgia, assim, em clima de confraternização, um "projeto de consenso". Desta forma, todas as correntes partidárias acabaram trabalhando para a Reforma Agrária. Não houve oposição válida. Até deputados não-comunistas fizeram propostas para tornar viável o plano dos deputados comunistas. Tal situação faz lembrar a disputa entre girondinos e jacobinos durante a Revolução Francesa . Ambos se digladiavam na Assembiéia, mas todos queriam a morte do Rei. Ao final, os girondinos, que eram os moderados, acabaram guilhotinados como sucedeu com Luís XVI, por ordem dos jacobinos.
Com a aplicação da Reforma Agrária, a fazenda tradicional, brasileira tenderá a ser substituída pelos assentamentos com suas fav elas rurais
reforma agrária, agora em votação, o Partido Comunista entende que é importante sua aprovação .... O Partido Comunista vai votar a favor do projeto" 7 •
Apoio de deputados ruralistas
Importância dos atuais projetos
No caso do projeto 11/91, cujo texto-base é de autoria de quatro deputados do PT, ganhou ele possibilidade de aprovação graças a acordos conduzidos por dois deputados ruralistas, atuais ou ex-diretores das Federações de Agricultura em São Paulo e Minas Gerais. "A reforma agrária foi aprovada na Câmara em virtude do trabalho realizado por Fábio Meirelles", declarou o deputado Abelardo Lupion (PFLJPR) 2• Na sessão do dia 26 de junho, quando o projeto foi aprovado em pritneiro turno, o presidente da Câmara, deputado Ibsen Pinheiro, enalteceu "a contribuição excepcional" do deputado Odelmo Leão, distinguindo-o como um dos "maiores responsáveis pela construção dos acordos" que pennitiram a aprovação da matéria 3 •
A Constituição de 1988 incluiu dispositivos relativos à Refonna Agrária (artigos 184 a 191) que precisavam ser regulamentados. Já a partir de março de 1989 começaram a aparecer no Congresso projetos de lei que visavam essa finalidade. O governo Collor não pôde fazer nenhutna desapropriação, uma vez que o Poder Judiciário entendeu que faltava lei que definisse os critérios para isso. Os então ministros Célio Borja, da Justiça, e Antonio Cabrera, da Agricul tura, anunciaram que pretendiam "acelerar as negociações com o Congresso, e garantir a aprovação, o mais rápido possível, do projeto de lei que regulamenta a desapropriação de terras" 8• Cabrera, queixando-se de que o governo só estava podendo fazer assentamentos em áreas compradas, declarou: "Desapropriar é muito mais rápido" 9 •
Esquerda comemora vitória
Queixas atendidas
"Uma vitória dos que lutamos pela refonna agrária. Os latifundiários foram derrotados", anunciou festivamente o "Jornal dos Sem Terra" 4 • "A melhor lei agrária que o Brasil já teve", comentou o deputado federal pelista Pedro Tonelli (PT/PR) 5 • Para o deputado federal Sérgio Arouca, do Partido Popular Socialista (novo nome do Partido Comunista Brasileiro), "esta Casa, as Lideranças e os Relatores que estiveram envolvidos na negociação destes dois projetos têm todos os motivos para comemorar" 6 • A deputada baiana Socorro Gomes, do Partido Comunista do Brasil, autora de um dos projetf>s acolhidos pelos relatores, afirmou : "No caso do projeto da
Além da falta de lei específica para as desapropriações, os agro-reformistas não suportavam a demora dos processos judiciais. Para o ex-mi1ústro Cabrera, a aprovação de um rito sumário nas desapropriações impediria que "os processos pennaneçam até sete anos nas mãos da Justiça" 10• Assim, a Reforma Agrária no Brasil
As produções agrícolas extensivas, que exigem crescente mecanização e grandes extensões de terra, serão fortemente penalizadas com exigências absurdas contidas na recém-aprovada lei ae Reforma A,e:rária
CATOLICISMO
MAIO 1993
6
7
Lei das desapropriações: aspectos nocivos
A pecuária, que normalmente exige projJriedades extensas em virtude das pastagens, também será prejudicada pela aplicaçã.o da Reforma Agrária só podia andar com a regulamentação exigida pelo Judiciário. E só podia ganhar velocidade coma aprovação do rito sumário de desapropriação. Os projetos aprovados no Congresso realizam, pois, todas as ambições da esquerda agro-reformista, que tem assim motivos para estar soltando rojões. ATILIO GUILHERME FAORO
NOTAS 1. "Diário do Congresso Nacional", Secção I, sessão de 26-6-92, p. 1'1840. 2. "A voz rural", órgão de divulgação das atividades parlame ntares do de putado federal Fábio Meirelles,julho/92. 3 . "Diário do Congresso Nacional", Secção I, sessão de 26-6-92, p. 14840. .4. Ediç.ão de junho de 1992. 5. "Nova lei agrária é a melhor da história, diz deputado", "Folha de Londrina", 4-9-92.
6. "Diário do Congresso Nac ional", Secção I, junho de 1992, p. 14838. 7. Idem, p. 14839. 8. "Governo quer acelerar assentamento de sem-terra", "O Estado de S. Paulo" , 28-792. 9. "Governo pretende assentar lOO mil famílias até o final do mandalD" , "Gazeta Me rcantil", São Paulo, 31-10-91. 10. Idem, ibidem.
Assentamento Pirituba, Itararé (SP): famílias residem em favelas rurais e enfrentam grandes dificuldades para subsistir
N
--\ JORNAL DOS TRAB ALHADORES RURAIS
~ EM TERR ~FORMA AGRÁRI
lPK.OVADA A NOVA LB
Vetos do Presidente Itamar satisfazem pedidos da esquerda
O
s vetos do Presidente Itamar Franco ao Projeto 11/91 de Reforma Agrária agradaram os setores esquerdistas, com a ressalva do veto ao artigo que estabelecia o confisco para fazendas onde se praticasse "trabalho escravo". "A lei é boa, especialmente seus .vetos", declarou Alberto Brochi, da Federação dos Traba lbadores da Agricultura - RS (FETAG) *.
Jornal do Movimento Sem Terra manifesta contentamento pela
aprov~ãiJ da Reforma Agrária e apresenta foto da deleg~ão que solicitou ao Presidente da República vetos de artigos ao projeto aprovado no Congresso
Pelos artigos vetados: a) não é mais necessária a autorização do Congresso para desapropriar bens de entidades da administração indireta; b) não é mais permitido à União delegar poderes aos Estados para desapropriações; e) simplifica-se o conceito de CATOLICISMO
8
pequena e média propriedade ao único critério da área, compreendido entre 4 e 15 módulos fiscais; d) elimina-se a possibilidade de confisco de imóvel com emprego de trabalho escravo; e) retira-se a possibilidade de o desapropriado permanecer no imóvel até o trânsito emjulgado da sentença; f) não se permite que os imóveis rurais adquiridos por pagamento de dívida fiquem imunes de desapropriação; g) cancela-se à ordem de prioridade para desapropriação segundo o Grau de Utilização da Terra (GU1). • "Para os sem-terra gaúchos vc IDS d terminados pelo governo viabilizam mudanças", "Gazeta Mercantil", São Paulo, 2-3-93.
~ção _absur~a de ~rodutividade, funçao socrnl" cormga, confisco agrário: alguns dos pontos censuráveis, entre outros, contidos no bojo da lei nº 8.269. Na impossibilidade de tratar de todos os aspectos da nova lei que define os critérios de desapropriação (que recebeu o nº 8629), abordaremos apenas três, dos mais danosos para o País:
O efeito dessa intervenção estatal consistirá na ocorrência de graves distorções na vida e na economia rural. Estudos efetuados por técnicos e
economistas indicam que 70% da área agricultável no Brasil pode ser objeto de expropriação, por utilização abaixo do mínimo de 80% da área aproveitável (GU1). Isso coloca o proprietário diante da seguinte alternativa: ou faz sua terra produzir ou será desapropriado. Para fazer produzir as terras "improdutivas", segundo os mesmos estudos, será preciso dobrar a área atualmente ocupada, incorporando à produção cerca de 100 milhões de hectares! Tal incorporação exige um investimento avaliado em 50 bilhões de dólares, sem considerar recuisos necessários para a infraestrutura e outras atividades ligadas à agropecuária. Se esse dinheiro existir, e se os fazendeiros resolverem gastá-lo, teremos uma super-produção que ceifamente aviltará os preços, produzirá forte crise no setor, com desemprego, crise social e conseqüente aumento dos bolsões de miséria já existentes no campo e na cidade. Essas considerações tornam evidente como são arbitrários e irracionais os critérios que acabam de ser adotados pela nova lei, para quem pensa manter
1. Conceito absurdo de produtividade Em relação à produtividade, a lei exige simultaneamente a utilização obrigatória (GUT) de 80% da área aproveitável e eficiência de 100% na exploração (GEF), segundo índices do INCRA (art. 4°). Impor ao fazendeiro um grau mínimo de exploração e de eficiência na produção equivale a afirmar que o Estado deve substituir o sistema de livre mercado, para indicar ao proprietário quanto e como ele deve produzir. Tal intervenção do Estado é absurda e injusta, urna vez que não está provado que as terras catalogadas como "improdutivas" são prejudiciais à economia nacional e ao bem comum.
. Prop_1iedades rurais que, para serem frrodutivas, consumiram grandes inveslnnentos e dezenas de anos de trabalho por parte de seus donos estão ameaçadas de desapropri,açã.o semelhante a confisco MAIO 1993 ·
9
EDUCAÇÃO
CUIDADO COM OS LIVROS ... 1
\ \\Kl'('lH\.\ 1)0
BRASIL
RAYMUNDO CAMPOS
Dois manuais de História: vi,são distorcida da Históri,a do Brasil A nova lei de Reforma Agrária é infensa a propriedades que erigem grandes áreas plantadas, dificultando culturas como a da cana-de-açúcar
no País a economia de mercado. Aliás, faz parte da ordem natural das coisas e do equilíbrio geral da economia que haja diferentes níveis de ocupação do solo.
2. "Função social": malha da qual ninguém escapa Acabamos de falar da produtividade. Este é um dos requisitos da chamada "função social". Mas não basta a produtividade para cumprir a "função social". A "funç.ão social" (art. 9°), no conceito da nova lei, estabelece, na prática, uma malha fina de exigências a que nenhum ou quase nenhum propriet.-írio consegue escapar, tão ampla e abrangente que acaba matando o próprio direito. Para cumprir a "função social", o fazendeiro precisa conhecer perfeitamente e observar, entre outras, as seguintes leis: Código Florestal (Lei 4.771/65); Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81 e Lei 7.804/89); Lei de Agrotóxicos (Lei 7.802/89); Lei para defesa do meio ambiente (Lei 7.347 /85); Estatuto do
Trabalhador Rural e Código Civil (contratos de parceria e arrendamento). Derrubar uma árvore sem autorização do IBAMA ou ter um empregado sem carteira assinada podem ser motivos válidos para uma desapropriação. O princípio da proporcionalidade da pena fica reduzido a pó: uma simples infração trabalhista pode ter como punição a perda da propriedade. Haverá, também, duplicidade da pena, pois cada uma das leis acima mencionadas já prevê punições para os infratores. Além disso, a nova lei de Reforma Agrária apresenta requisitos vagos, verdadeiros coringas, que tornarão a vida do proprietário um inferno: conflitos e tensões sociais no imóvel; necessidades básicas dos que trabalham a terra; normas de segurança no trabalho; equilíbrio ecológico da propriedade; saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas; vocação natural da terra etc. Se um padre progressista ou um agitador-sem nenhuma culpa do proprietário - introduzir um bando de invasores no imóvel, o "conflito social" está
P
instalado. E também um pretexto para a desapropriação.
3. Títulos da Dívida Agrária: confisco agrário O "pagamento" da terra nua será em Títulos da Dívida Agrária, em até 20 anos. Ora, tais títulos estão desvalorizados em 70% do seu valor de face. Ou seja, não é desapropriação, é confisco! Recentemente, o deputado Roberto Freire, do PPS (ex-PCB), atual líder do Governo na Câmara, ao enumerar os motivos pelos quais o Governo Federal iria interromper as privatizações iniciadas no governo Collor, afinnou que era inaceitável que elas fossem pagas com "moedas podres, os títulos com preço superior aos vigentes no mercado" *. O Governo, pois, não aceita para seu caixa os "títulos podres", mas deseja que os proprietários desapropriados os aceitem. A.G.F • "Ética é também pagar imposto", "Jornal do Bras il", 8-l l -92.
arte considerável dos livros didáticos, atualmente em uso no Brasil, ao invés de infonnarem o aluno, desinformam-no deliberadamente 1 • Transmitem um quadro falseado da realidade e, a qualquer pretexto, deblateram contra as desigualdades existentes na sociedade (existentes, aliás, desde os mais remotos tempos da humanidade, como atestam os documentos históricos). Essa aversão às desigualdades não se volta apenas contra aquelas que são realmente desproporcionadas, porque violam, de algum modo, a própria Lei natural. Não é isto, mas sim uma aversão a toda e qualquer desigualdade. Quer dizer, os adeptos de tal infeliz corrente não suportam que haja diferenças entre as classes sociais, entre os sexos, entre o trabalho intelectual e o manual, entre professor e aluno, entre oficial e soldado, entre empregador e empregado, entre chefe de serviço e funcionário subalterno etc.
A obsessão pelo Igualitarismo Não é difícil descobrir a filiação ideológica desse igualitarismo extremado: o velho e mofado marxismo. O comunismo não morreu nos meios peda-
gógico-didáticos nacionais. Pelo contrário, está mais vivo do que nunca! E o recado que ele envia a quem o quiser ouvir vem resumido nas seguintes palavras: apesar do recuo político do socialo-comunismo no mundo, nas escolas do Brasil a luta continua, para "a denúncia dos aspectos de injustiça e desigualdade constitutivos da sociedade em que vivemos" 2 • Ter presente essa preocupante realidade é o pressuposto indispensável para nos situarmos, não só no que tange a livros didáticos, mas face ao atual contexto educacional brasileiro. Só assim compreenderemos, por exemplo, coisas incríveis como esta: que assistamos em plena década de 90! - à entrada na moda, em certos círculos educativos nacionais, das doutrinas psico-sociais de Vigotsky, Luria, Leontiev etc. 3 • São doutrinas _!_ pasmem! - destiladas nos alambiques ideológico-peda gógicos nada mais nada menos que da Rússia soviética staliniana ! Com o detalhe importante de que certos educadores nacionais têm tomado como ponto de referência não puramente Marx, mas a "dobradinha" Marx-Freud, em combinação com os onipresentes métodos a
CATOLICISMO
MAIO 1993
10
11
ela aparentados e "made in South America": Paulo Freire e Emília Ferreiro. É, o comunismo não morreu na educação brasileira ...
"Cuidado com os Livros! Eles podem ter uma visão enganosa da História. Não aceite pura e simplesmente o que eles dizem. Saiba criticar e questionar o que se diz nos livros, inclusive este que está em suas mãos" 4 • Muito obrigado pelo conselho, Prof. Nelson Piletti, segui-lo-emos já, agora: lemos no livro de OSPB, de Claudino Piletti, que "as formas de relacionamento sexual diferentes da fidelidade tradicional são uma aventura difícil. Desde cedo, fomos condicionados a um forte senso de propriedade em relação aos parceiros sexuais". Essa vida difícil é a das comunidades nas quais "alguns casais são formados por pessoas do mesmo sexo e existe amor Livre entre menores" 5•
É verdade que tais palavras não são do autor do livro, mas ele as transcreve e não faz nenhuma cótica. É assim que pretende educar os alunos? Pode um professorou um pai católico aceitar que idéias como esta, tão gritantemente con-
trária à moral cristã e à Lei natural, tenham cidadania na esco la?
Melhor a tribo que a Idade Média? ...
i
A falta de imparcialidade científica dos livros didáticos, devida à cegueira ideológica de seus autores, leva o ensino de História a situações como a seguinte: atualmente está mais do que restabelecida, por historiadores de quilate (entre outros, Régine Pemoud, Georges Bordonove, Pierre Gaxotte) a verdade sobre a Idade Média. Tornou-se inadmissível, na Europa ou nos Estados Unidos, que um historiador ignore toda a riqueza e todo o progresso do mundo medieval, cujos restos i_mpregnamainda a civilização ocidental. Mas, no Brasil, muitos livros continuam a tratar a Idade Média com malvelada antipatia. Antipatia que pervade, por exemplo, todo o texto do fascículo "O Renascimento", de Antônio Carlos Olivieri. Esse livro considera a Idade Média apenas como uma época obscura, submetida "aos dogmas e preconceitos do misticismo religioso" 6 • A invenção dos hospitais, das universidades, da ousada e elegante arte gótica, dos vitrais, das iluminuras, das primeiras máquinas a utilizar energia eólica ou hidráulica (como o moinho de vento e a roda d'água), dos primeiros mecanismos mais elaborados (como os do relógio), nada disso significa alguma coisa para ele. A antipatia difusa contra a Idade Média contrasta, nos livros de História, com a atitude totalmente benevolente -
-
as nHilh..: rc s ,;111 c,1imulada :- a lraha lh ar ÍM;L lk l·a:-.1 . 11:"111 ap,: na :- pnr 11 ..:1.:..:,:-id:,Jc ..:i.'oni1111il·:1. 111a :-. 1a mbC1n clll h ll :-.l·a de rnelh11r..::-. l'11 nd i,i1..::-. ,11l·ia i:-. e de rc:di 1a1,-:"10 prn fo,:-i1m al: :1, l'1111di1,"ill''- d..: ,itl:1 e 1rahalh11 11:1 ci dade imp..:d..:m f r..:qik n1 c m c 111e ip1c a f:1m ilia pa"c 1mii111 1c111p11 ju11ta .• 1 que. d e l'C rt a m:,n..:ira . dific ulta P, l·u idado, e a l'dlll,::t· i.,"ào t.k l' ri:1111,·as c jtH cns. Por Í"-11. na ci d :1de a famíl i:1 1c nd c a :-cr
1n cn1 1r qu l· 1111 c:111 1p11. prl·d o m ina11do a fo 111ilia
nu clear . Nn 111..: in u rha111 1. C 111a i, comum e n contra r c a :-ai , l·,1111 :itC tr0:- filh o:-. /\ mulher
di, itk l'1H11 11 111 a rid1 1:1 l'l''-1'11111 , ah ilidadc dn la r. O utrn fa1,1r que influ iu ha:-. tantc na:- 1nu d:1111;:t:- da t':1 mili:1 fnra111 11:-. 111i:io :- d e 1,,.· 111111m ica1;ão :-.oc ial. Ant i~arne nt e. o:- prim:ipai , L'a· na is de t.·nmun ic:u,;:"io de , al nrc:-. edur.::1ti v(1s para a cri:,n,a e ram :t fo111ilia e a e scol :1, 11mlc :-e in1..· luia també m a at11a1,·;°111 d a Ig re ja . Ht1jc. outrt1:-. 1..·anai , de ç111111111i..:a1,· :"1n. t.·omo a TV . o r:·1Jin. o t.· incma . o:- j11rnai :- e a:- re\' i:-ta s. a lu am ao lado Lia familia e da c:-cola .
face à "cultura" ... indígena. Que os pobres índios brasileiros mereçam nossa simpatia, não tem dúvida. Mais do que simpatia, merecem compaixão pelo grau de decadência a que chegaram, e esforço para que selibertemda barbárie. Mas para nossos autores, a atitude certa seria a de procurar "compreendêlos" - os índios e outros povos primitivos-, como eles são, deixar de julgar seu mu:ndo pelos nossos padrões culturais, descendo do pedestal de "orgulho" ao qual chamamos de civilização, e reconhecendo sua "sabedoria" milenar ... Faunos inocentes, sem egoísmo, limpos de corpo e de alma, a correrem felizes pelos campos do Brasil. Confiram, em "História do Brasil", de Raymundo Campos: "Antes da chegada do homem branco, os índios formavam sociedades harmoniosas, que funcionavam bem no sentido de proteger e propagar a vida dos seus membros. Consultando os cronistas, é raro, senão impossível, encontrar em abandono ou maltratado um índio velho ou criança. Da mesma forma, não existiam entre eles pessoas passando fome, inseguras em relação ao dia de amanhã. A escravidão, como forma de exploração do trabalho, e a tortura eram igualmente desconhecidas. Os próprios inimigos de guerra, prisioneiros, podiam ser devorados depois de mortos, mas nunca torturados" 7• É muita delicadeza! E o tal "não passando fome" nada tem a ver com carne assada ou arroz ao forno; tratava-se de "deliciosos pratos" à base de baratas e besouros, comm.ilho
rc111 e t.·011:-lituin:ni urna família estáve l. Era n11m1111 ns senhores :-cpararcm o marido , a 11111lhcr e os filhos de seus esc ravos . l:. n1rc
Famílias alternativas
os :-c nhores . a família era profunda-
rncntc p:1tri:1rqi l. O fa zendeiro tinha pode r ah~olut n , ohrc todos: mulher. filho s, outros pare nt e, c c:-c ra vos. Tn<.l os o bedeciam cegame nt e a d e. /\ s mulhe res quase só saíam de ca:-:1
Hoje cm diu . há divcrs:1s expe riências que le ntam sub\ · titu ir a famíli a. As comunid11d ts, por exemplo, tcntum resolver os problemas cnfrcntu dos ~la reduçiio das íamUias. As comunidades nascem da uni ilo de ulguns indivíduos aduhos decididos a viver num grupo soc iul auto-suficiente. Nus comunidades procurn-sc educur colctivu mcntc a\ cri nnçns c intcgrnr os dcficienlCS de qutd<1ucr idutlc. Ou se• ju. procurn-sc evita r o isolumcnlo cm que vive n fo mllia nuclear. A111igo mcn1c, u~ comunidades tinhnm origem religiosa. Hojcclu ssc buseinm cm idéi:1~ di vcrsus, SüCI tcn!ntivas rcvolucion 6rias de fu gir an si~tem:1 socinl, econômico e morul existente. Mais rcccntcmcnl c, temo\ t• cnst) das comunid nitcs hipplu. que vn1iam mu ito cm sua composiçiio e regrns de vida. Em al gumas, mantém-se a mono11:aml11 • entre eis cus:1is. Em' o u1ras. há cx pc riéncius de amor livre entre iodo, os elementos do gru po, inclu-
para ir i1 ig reja.
Com :1 ;1boliç:io da esc ra va tura e o c rcsci111 c 1110 das cidmJcs. surgi ram novas camadas ·" 1~·iai:-. - :1 cla sse médíu e os trabalhad&res urbano, , /\ f:unili :1 dc,sas ca madas não podia mai~ :-cr igual ú dm l,\ rundcs fo zcnde iros. No c ntauto. a:- caraclcrísticas p:1triarca is pcrm anccc r:1111 por mui1 0 te mpo. cmborn não tão fo rt e:-: 11 pa i rnntirmt'l u se ndo o chefe do fa. rn ili:1. a quem a mulhe r e os filh os deveri a m nhcdccc r: :1 111 ai11 ria das mulheres. durante
muito tempo aim.la . continuou a exe rcer· apena s ÍU!l\'Õcs d o m éstica s. Com a imlmt riaiiza1;ão e a inlc nsa urbani' ª \':'io. hou ve mudan \':tS m :1is profunda s. Atua l-
me nte predomina no B ras il a íamília conjugal, n:t qual :1 a utoridade do pai é comparti lhada com a m:i c. qu e frcqücn1cmcntc traba lha fora de casa. A pcs nr d e tmJas essa s mudanças. ainda exi stem família s com íorl es características patriarcai:-. sobre tudo cm ce rtas regiões do interior. l\l gumas <lcs:-as família s apresentam
a forrn:1 conjugal. mas conse rvam os va lores Ja fomili.1 patriarca l.
fermentado "à saliva", depois de várias mastigações pronúscuas ... No fundo, no fundo, de toda essa atitude, encontramos mais uma vez o igualitarismo como razão ideológica. A Idade Média causa irritação, aos autores de nossos livros didáticos, por sua sociedade hierarquizada, ao passo que a igualdade total (só possível na decadência total) e a ausência de propriedade privada, na sociedade tribal, despertamlhes toda condescendência. "Cuidado com os livros", aviso bom não só para os alunos, mas também para os pais e para os professores. J.
12
BETTINCK CARVALHO
NOTAS 1 Ver a respeito "A verdade encontra-se nos livros?", in Catolicismo, abril de 1993. 2 cfr. Tomaz Tadeu da Silva, "A Sociologia da Educação entre o Funcionalismo e o Pós-Mod ernismo", in Em Aberto, órgão de divulgação técnica do Ministério da Educação, Brasília , abr./jun. 1990. 3 cfr. Elvira Cristina Azevedo Souza Lima, "O Conhecimento Psicológico e suas Relações com a Educação", in Em Aberto, out./dez. 1990; Ana Lagôa, "Dez Anos de Construtiv ismo no Brasil", inNovaEscola, São Pa ulo, maio-1991. 4 Nelson Piletti,Hist6riadoBrasil, 12"ed., Ed . Ática, São Paulo, 1991. 5 Claud ino Piletti, Organiz~iio Social e Política Brasileira, 1° Grau, 25ª ed ., Editora Ática, 1990. 6 Coleção O Cotidiano da Hist6ria , Editora Ática, São Pau lo, 1987. 7 Raimundo Campos, Hist6ria do Brasil, l 0 Gra~1. livro I, Atual Editora, São Paulo. ,i \·e e n1 re pc,~na~ do mc~rno ~cxo. As fo rmas de rclucionu. mcnto ~cxua l dife rentes da fidelidad e tradicional ~ilo urna avc nlurudifieit. ... ~ . ccdn, fo rnos condicionados u ~-n0(iríc·~,o tlc propricdu: de cm relação aos paree ir9s scxuo. i'> . Além tlcs<es probl emas, os me mbro~ lle nlgunrns comunidades uwu l~ 5ílo obrlgndm u vive r dn nde<linnmcntc nu nrniori11 tlm pidses, porq ue t1 lei niln pcrmh c v1írln, tipos de t'.\ pcrlê nci:is qu..: e,~u~ pes,ous rcalilum . Por exemplo, cm muilM comunilludc~ :1, crin ni.n~ nilo fr<"qUe n1t1m a~ c~ o lus comun ~. ~ c:1~ is ~ilo for mado~ por pc~~n:1 ~ du mc, mn sexo e cx i~le amor liO uunlo :m aspccl n cconÍI· m ic:1, cm alr, uns c:1~u~ <• indivíduo 1cm ,uas prc'ipria~
funte, tlc , uh, i, tênci a. Em outr11~. a~ pes,llilS deiticam -,e cole1ivan1c111 c a at ividudcs cnm11 agriculturn , art esan ato e outra•. T(l(b ~ c~ ~ a ~ fo rm u~ j:í existi ra m cm out ras ,oc icdudes. Entre ns gregos antigos, por c.xcmplo. :i rn nnogamia sei cm exigida por parte d:is esposa~. O 1narid1, podiu ter umu nu
Em seu manual, Claudina Piletti reproduz texto sobre ''farrúlias alternaJ,ivas", que admitem uniões antinaturms: "casm,s formados por pessoas do mesmo sexo"! CATOLICISMO
aderno Especial Nº 22
mai~ mulhcre, e pmlia munte r relações homos~cx uuis. A fnm/lia poli1:âmlc11 • existe ainda ho je, de fo rma instituciorrnl iladu, cm vtí ri as cullUr:1 ~. Um homem , nc:-sc e:iso. vive cnm várius mulhe rc~ :io mesmo 1cmpo. Es~as mulhc· rc~ lhe prc,tam o~ rm,is v:1 riados :-crviços, além dC d:1r-lhe filh os. Mus cs~c Uircito a te r vária ~ csposu~ nunca foi um direito tle toJm n~ indi víd uos de uma ,ncicdadc. Uma simples rn1iio C que o núme ro de mulhen.:, nunca foi muito maio r do que o de humcns. Em gcr:il , a poligamia in s• tituci1111 :1l só é ace~sível ao hnrucm pcn enccntc ao grupo dominant e, qu.: tem prestígio e poder econômico. O trabnlho da, csptl\:1~ no ca mpo, ,1uc niin é re muncr:1do pelo rn nrilln. per mite n e nriquecime nto do homem. 1111c pndc cxplo rnr in i.i mcn,, l111 cs de tcrru . Com n av:im,·n d :1 i11du~1ri:ilb:uçiio cm tod:1, a~ rcgit'x:~. é ho je cnmum encomr:ir um eu.~ul, numa ~rnnde cid:1dc uíricunu. ,1ue :1parent:i viver o modelo ocidcul :11 de forniliu 11ucleu r. Ma,, 11:i rc:1lid:1de, c~~e c:,su l , e mantém i, cu~la de vdrlu ~ outra~ e~posn~ do marido 1111c íica rn m no campo.
A Vi!âtação- Gid.to(sic. XIV), capela Scro""g,ú, Pódua (lmlia)
jfesta ba.'.}}ísítação ba ~antíssíma '.}}írgem
...
~ncontro be 3Jesus com ,Jlícobemos (São João, 3, 1-8)
Ora, havia um homem da seita dos fariseus chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Mestre, .sabemos que foste enviado. por Deus para ensinar; porque ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele. J esus respondeu, e disse-lhe: Em verdade, em verdade te digo que não pode ver o reino de Deus senão aquele que nascer de novo. Nicodemos disse-lhe: Como pode um homem nascer sendo velho? Porventura pode
tornar a entrar no ventre de sua mãe e renascer? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, quem não renascer por meio (do batismo) da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus. O que nasceu da carne, é carne, e o que nasceu do espírito, é espírito. Não te maravilhes de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. O espírito sopra onde quer; e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que nasceu do es_pírito.
C!Comentáríos compílabos por ~anto momás be ~quíno na "C!Catena ~urea" São João Crisóstomo - Como Nicodemos pensa em um nascimento carnal, de acordo com o que é costume na vida material, Nosso Senhor Jesus Cristo lhe diz mais claramente que se refere a um nascimento espiritual. "Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo, que não pode entrar no reino de Deus senão aquele que tiver renascido da água e do Espírito Santo". Santo Agostinho - Como se dissesse: tu crês que me refiro à geração carnal, porém refiro-me ao nascimento que ocorre por meio da água e do Espírito, por meio do qual nasce o homem para o reino de Deus. Se uma p essoa nasce das entranhas de sua mãe - segundo a carne e de um modo temporal - para obter a herança do pai, nasce das entranhas da Igreja . para a eterna herança de Deus Padre. Como o homem consta de duas substâncias, a saber, de corpo e de alma, deve ter duas espécies de geração: a água, que é visível, se aplica para a limpeza do corpo, e o espírito que é invisível, para a purificação da alma, que é invisível. São João Crisóstomo - Mas se alguém perguntar como o homem nasce da água, eu lhe perguntarei: e como Adão nasceu da terra? Assim como em um princípio era todo de terra e todo o mérito da obra pertenceu ao Criador, agora, servindo-se do elemento água, a obra é do Espírito de graça: [a Adão] então deu-lhe o Paraíso para que vivesse nele, mas agora abrenos as portas do Céu .... E dizendo Nosso Senhor Jesus Cristo que
aquele que nasce do espírito é espírito, viu Nicodemos outra vez perturbado. Deu-lhe outro exemplo sensível, dizendo-lhe: "Não te admires porque te disse: a vós é necessário nascer outra vez". Quando disse "não te admires" dá a conhecer a perturbação de sua alma. E dá um exemplo que não participa nem da grosseira materialidade dos corpos, nem tampouco toca no imaterial das coisas, como acontece com o sopro do vento, dizendo: "O espírito sopra onde quer: e ouves sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai, assim é todo aquele que nasceu do espírito. O que Ele disse, em outras palavras: se não há quem detenha o vento e ele vai aonde quer, muito mais isso ocorre com o espírito, cuja ação as leis da natureza não poderão deter, nem os termos, nem os limites do nascimento corporal, nem qualquer outra coisa parecida. Fala aqui arespeito do vento e o manifesta quando diz: "ouves a sua voz", isto é o som da percussão. Pois não diria isto [do espírito] já que falava com um infiel que desconhecia a ação do espírito. Disse também: "Onde quer sopra", não porque o vento possa escolher, mas porque obedece àquele movimento que lhe é natural, que não pode se deter, equeserealizacom poder. "E não sabes de onde vem, nem aonde vai", isto quer dizer que, se não sabes explicar a vida deste elemento, que percebes pelo sentido da audição e do tato, como quererás averiguar a operação do divino Espírito? Por isso acrescenta: "Assim todo aquele que tiver nascido do espírito".
C!Comentáríos ~o ~abre lLuís C!Cláubío jfíllíon Houve, entretanto, um habitante de Jerus.além a quem o Senhor tocou de uma maneira viva e duradoura. Chamava-se Nicodemos e era respeitado entre as pessoas mais im portantes da nação judaica, como membro do Sinédrio. Além disso, pertencia à seita dos fariseus. Havia-se impressionado muito com os milagres de Jesus, e sem ainda considerá-Lo o Messias, vianEle um homem santo, abençoado particularmente por Deus. Desejoso de conversar com Ele, veio à sua procura, mas temendo comprometer-se com isto, escolheu a noite para o encontro.Jesus, que sabia quão ardoroso discípulo chegaria a ser um dia Nicodemos, e com que valor haveria de pagar e saldar este respeito humano, acolheu-o com grande bondade. "Mestre, disse-lhe respeitosamente o visitante, todos nós sabemos que és enviado de Deus como doutor; pois ninguém pode operar os milagres que tu fazes e não ter a Deus consigo". Em sua resposta, expôs Jesus primei-
ro o princípio da vida nova que viera trazer à terra: "Em verdade, em verdade te digo, que quem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus". Nicodemos, que não havia compreendido, pediu uma explicação. Como pode nascer um homem sendo velho? Por acaso poderá voltar outra vez ao seio de sua mãe para renascer?" Jesus respondeu desenvolvendo a idéia do batismo cristão e sua necessidade. "Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espírito Santo não poderá entrar no reino de Deus. O que nasceu do espírito, é espírito. Portanto não estranhes que te tenha dito: vos é preciso nascer outra vez. Pois o Espirito sopra onde quer; e tu ouves seu som, mas não sabes de onde sai, ou para onde vai; o mesmo sucede com aquele que nasce do Espírito". Nues tro Seí'ior J es ucristo según los Evange lios, Ed. Diíus ión, Buenos Aires, 1917, exce rtos das pp. 106 e 107.
jfesta ba Yísítação ba ~antíssíma Yírgem (31 de maio) Maria, Arca da Aliança - Se se perguntar por que des ejou Deus que o Mistério da Visitação, e não outro, fosse, ao estabelecer-se esta solenidade, o troféu da paz reconquistada, é fácil de se encontrar a razão na natureza mesma deste mistério e nas circunstâncias mediante as quais ele se realizou. Nele aparece Maria especialmente como verdadeira Arca de Aliança: levando em si o Emanuel, o Messias, testemunho vivo de uma reconciliação definitiva entre a Terra e o Céu. Por Ela, melhor que em Adão, todos os homens hão de ser irmãos; porque Aquele que Ela leva escondido em seu seio será o primogênito da grande fumília dos filhos de Deus. Apenas concebido, começa para Ele a obra da propiciação universal. Alegria da Igreja - Celebramos este dia com cantos de alegria; pois neste mistério estáo, como em gérmen, todas as vitórias que alcançarão a Igreja e seus filhos; a partir de hoje a Arca santa preside os combates do novo Israel Basta já de divisão entre o homem e Deus, ente o cristão e seus irmãos; se a antiga arca não conseguiu impedir a cisão das tribos, o cisma e a heresia conseguirão enfrentar Maria por alguns anos ou até séculos, mas, por fim, resplandescerá mais sua glória. O canto de Maria - Não é, pois, muito justo que este dia, em que termina a série das
1
derrotas que começaram no Paraíso terrestre, seja também o dia dos novos cânticos do novo povo? Porém, a quem toca entoar o hino do triunfo, a não ser quem ganha a vitória? Por isso canta Maria nesse dia de triunfo, recordando, noMOf:Ylificat, todos os cantos de vitória que, ao longo de séculos de espera, foram como que prelúdios para seu divino Cântico. As vitórias passadas do povo eleito nada mais foram que pré-figuras da que Ela conseguiu, nesta festa de sua manifestação como soberana gloriosa, que, melhor que Débora,Judith ou Ester, começou a libertar seu povo. Em sua boca, a intensidade de suas ilustres predecessoras evoluiu da aspiração inflamada dos tempos da profecia, para o êxtase sereno, que denota o possuir o Deus por tanto tempo esperado. Uma nova era começa a pairar sobre os cânticos sagrados: o louvor divino toma de Maria o· caráter que não mais perderá neste mundo e que continuará na eternidade. E neste dia também, iniciando sua missão de Co-redentora e de Medianeira, recebeu Maria pela primeira vez na Terra, pela boca de Santa Isabel, o louvor que para todo o sempre merece a Mãe de Deus e dos homens. Dom Prospero Guéranger, El Aiío Liturgi.co, tomo IV (EI Tiempo después de Pentescostés), Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, excertos das pp. 511-514.
HAGIOGRAFIA
História Sagrada em seu lar -
"Ao meio, diante da cortina do Santo dos Santos, achava-se o altar dos perfumes, feito de madeira de acácia e coberto do ouro mais fino. Aí queimava-se todos os dias, pela manhã e à noite, um incenso precioso, composto de 24 essências. O Átrio - "No Átrio, via-se o altar dos holocaustos, de madeira de acácia recoberta de bronze, sobre o qual se imolavam as vítimas dos sacrifícios" 1• "Junto do altar estava colocado o mar de bronze, vasta bacia de onde os sacerdotes tiravam água para lavar as mãos e os pés antes de se chegarem ao , altar, em sinal da pureza interior que devia adornar suas almas. "Quando o tabernáculo se erigiu pela primeira vez, Moisés o consagrou Conforme vimos, o tabernáculo com o óleo santo" 2 • era internamente dividido por uma "Segundo o modelo deste templo cortina em duas partes: o Santo dos · portátil elevado no deserto, se consSantos - onde estava a Arca da truiu depois com mais magnificência, Aliança, e apenas o Sumo Sacerdote porém com as mesmas proporções, o podia entrar - e o Santo. Havia tamsuntuoso templo de Salomão" 3 • bcm o Átrio, espécie de pátio cercado, Assim que o tabernáculo foi conem tomo do tabernáculo, ao qual tinha cluído, uma nuvem pousou sobre ele. acesso o povo. "Esta nuvem cobria a tenda durante o O Santo - "No Santo achava-se, dia; à noite ela se tornava como um ao lado esquerdo, o candelabro dos fogo. Quando a nuvem se elevava, os sete bicos, fabricado de ouro puro e filhos [de Israel] se punham em marcujas sete luzes ardiam continuamencha; onde ela pousava, eles erguiam te". Pesava um talento, ou seja 43 kg 4 seu acampamento" • (Ex. 25, 39). Quando o povo iniciava a cami"Ao lado direito, ficava a mesa dos nhada, a Arca da Aliança era levanpães de proposição, também coberta de ouro. Em cima dela estavam colo- tada e "Moisés dizia: Levantai-Vos, Senhor, e sejam dispersos os vossos cados 12 pães ázimos [sem fermento] inimigos, e fujam de vossa face os da farinha mais fina, que deviam renoque Vos odeiam" (Num. 10, 35). var-se em cada sábado.
No Tabernáculo, o "Santo" e o "Atrio"
São Gregório VII, destemido protetor dos direitos da Igreja
noções básicas
Simbolismo - Se a nuvem "permanecia dois dias, ou um mês, ou mesmo um ano inteiro, eles [os hebreus] ficavam tranqüilos e não partiam. Mas logo que se elevava, eles se punham em marcha. "Assim, no deserto não se residia, acampava-se, ficava-se sob tendas, e sem cessar enrolava-se e transportavase essas casas movediças. "É a pré-figura do Cristianismo, onde todo fiel é viajante. Evitemos o apego a qualquer coisa; passemos por cima de tudo, e, sempre dispostos a partir e prontos a combater, vigiemos como num acampamento: estejamos aqui como sentinelas" 5 • O tabernáculo "era, diz São Paulo, a imagem do Céu, santuário cujo arquiteto não é nenhum homem, senão o próprio Deus. Era igualmente a imagem de nossas igrejas, lugares escolhidos e santificados para a oferta do verdadeiro sacrifício" 6, isto é, a Santa Missa. NOTAS 1. Frei Bruno H e use r , História Sagrada d1J Antigo e do Novo T estamento, Vozes, Pe trópolis, 24ª ed., 1957, pp . 63-64. A r espe ito dos sacrilicios, e ntre os hebre us, ver nossa edição de jane iro de 1993. 2. Mons. Cauly, Curso de Instrução Religi,osa - História da Religião e da Igreja, Livraria Francisco Alves, São Paulo, 1913, p. 70. 3. Cônego J. I. Roquete, História Sagrada d1J Antigo e Novo Testamento, Guillard Aillaud, Lisboa, 1896, 9ª ed., tomo I, p. 228. 4. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de l'Eglise CaJ.holique, Gaume Fre res, Pa ris, 1842, tomo I , pp. 450-451. 5. Id e m, ibid e m . 6. Mons. Cauly, op.cit, p. 70.
Em 25 de maio, há 908 anos, falecia um paradigma de Papa, autêntico reformador dos costumes eclesiásticos de seu tempo, implacável combatente contra os abusos praticados pelos detentores do Poder temporal, a partir da autoridade suprema, o Imperador alemão*
U
ma das maiores figuras da Idade Média e do Papado foi, sem dúvida alguma , São Gregório VII, o monge Hildebrando da célebre abadia francesa de Cluny, que ocupou o sólio de São Pedro de 1073 a 1085. No ano seguinte ao de sua eleição para o Sumo Pontificado, convocou um concílio em Roma, onde promulgou dois decretos famosos: o primeiro deles proibia a entrada nas igrejas aos padr es desobedientes à lei do celibato; o segundo vedava aos bispos receber a investidura de seu cargo das mãos de príncipes leigos. E durante todo o seu pontificado executou ambos os decretos com infatigável observância. No tempo de São Gregório, vários homens ilustraram com a glória imortal da santidade o firmamento da Igreja. Acodem-nos à lembrança as figuras de São Simão de Crépy; Santo Anselmo, Arcebispo de Cantuária; São Bruno de Segui; Santo Estanislau, Bispo de Cracóvia; Santo Alfano de Salerno; Santo Allmann de Passau; São Gebhard de Salzburgo; São Beno de Mesnie etc. Dentre eles, cabe assiüalar de modo especial o Cardeal e Bispo de Óstia (1057), São Pedro Damião (falecido em
1072), cujo ardor pelo estudo e notável
Candelabro de sete braços - altar dos perfumes - mesa dos pães de proposição
penetração de espírito, valeram-lhe o ser escolhido como conselheiro de quatro Papas que se sucederam na Cátedra de São Pedro. Repetidas vezes foi ele empregado por esses Pontífices no
No século XI, profundamente católico, os príncipes e os povos submetiam-se normalmente, mesmo para dirimir questões temporais, à Igreja e ao Vigário de Cristo, a fim de encontrar, emsua proteção, segurança e paz. A grande autoridade moral do Papa protegia os reis contra as investidas de estrangeiros e contra a revolta dos próprios súditos, levando uns e outros à prática das virtudes cristãs. O povo via no "doce Cristo na Terra" o pai comum de todos os católicos e também um tutor e vingador contra os soberanos tirânicos e injustos. Em doze anos de pontificado, São Gregório VII escreveu páginas das mais be. las da História da Igreja, ao tratar com os potentados temporais da época. São Gregório e a Polônia
São Gregório VII desempenho de importantes missões diplomáticas. E ninguém se consagrou tanto à restauração da disciplina no Clero e nos Mosteiros quanto ele. O grande objetivo de São Gregório, como aliás de váriossde seus predecessores, foi tomar a Santa Igreja livre e independente, subordinando, ademais, a
política temporal à justiça e à moral. Para tanto, empreendeu com coragem e energia a faina de levar reis e príncipes, bispos e sacerdotes, à prática de seus deveres, com vistas à glória de Deus, o serviço da Igreja e a salvação das almas. MAIO 1993
17
Boleslau II sucedeu gloriosamente a seu pai, Casimiro, como duque da Polônia, tornando-se rei em 1076. Entretanto, terminou seus dias entregue a infames devassidões. Servia-se do poder real para satisfazer às mais brutais paixões e praticar os mais horríveis atos de tirania e injustiça, a ponto de ter recebido a alcunha de o Cruel. Contra ele se levantou Santo Esta-
nislau, bispo de Cracóvia, que o excomungou. O feroz Boleslau terminou por massacrar o prelado aos pés do altar da Catedral (8-5-1079). São Gregório VII, para vingar a Religião, anatematizou o rei assassino, pri-
vale a pena nos determos emanalisar sua conduta com relação ao Reino Cristianíssimo de França. Em missiva dirigida a Roclin, Bispo de Châlon-sur-Saône, assim se exprime o Pontífice a respeito do rei Filipe I: "De todos os príncipes que maltratam a Igreja de Deus -Mãe de todos eles, à qual devem honra e reverência segundo os princípios do Senhor - e que deram provas de uma ·cupidez perversa, vendendo dignidades eclesiásticas e querendo sujeitá-la como serva, Filipe, Rei de França, é certamente o mais culpado". Ele se apoderava dos bens de Henrique IV pede à condessa Matilde e ao Abade Hugo seus súditos sem o menor escrúpude Cluny uma audiência com São Gregório VII lo. A própria Abadia de Cluny, Miniatura do livro "Vida de Matilde" de Doniw, 1114, apesar de toda a glória e esplendor Biblioteca vaticana, Roma que adquirira com o movimento vando-o da realeza, e eximiu .todos os de reforma da Igreja, do qual era propulseus súditos do juramento de fidelidade sora, viu-se também espoliada pelo modevido aos monarcas. E, para inspirar narca. Consultado São Gregório VII, o abamaior horror ao ato praticado, retirou aos soberanos poloneses o título de rei. de cluniacense, São Hugo, resolve pedir Estes, com efeito, por longo tempo, usa- a mediação de São Simão, da nobre ram novamente apenas o título de du- família dos Valois, conde de Crépy, o que. Boleslau, abandonado por todos os · qual se achava orientando os trinta e sete mosteiros que havia fundado um pouco seus súditos, morreu na obscuridade. por toda parte. São Gregório e o Reino Simão encontra Filipe I em ComCristianíssimo piegne, cidade para a qual viajara o Soberano a fim de venerar a relíquia do Seria um não mais acabar se nos puséssemos a realçar a paternal solicitu- Santo Sudário, que a Princesa Matilde de de São Gregório VII, por exemplo, da Inglaterra havia doado à França. O rei em relação aos Reinos da Croácia, da então cedeu ante o Santo, e entregou a Cluny os bens reclamados pelo abade. Dinamarca, da Noruega etc. Contudo,
De Compiegne, São Simão vai à Cidade Eterna, para visitar São Gregório VII. Sempre atento aos maiores interesses da Igreja, o Pontífice resolve servirse do senhor de Crépy para conferir-lhe nova missão. Guilherme, o Conquistador, se indispusera com seu primogênito, o príncipe Roberto, e essa desunião da Casa real inglesa enfraquecia um dos esteios da Cristandade. Atravessando o canal da Mancha, o santo, que fora educado na corte inglesa e servira a Guilherme em sua mocidade, conseguiu, em pouco tempo, que o rei e o príncipe herdeiro se reconciliassem. E durante sua permanência na Inglaterra, preparou a nobreza local para os _graves acontecimentos que se anunciavam, em virtude da oposição crescente do Imperador Henrique IV, da Alemanha, à obra reformadora empreendida por São Gregório VII.
São Gregório e a Alemanha Em 1075, o Papa reuniu um Concílio que decretou serem inválidas quaisquer investiduras de Bispo ou Abade concedidas porumleigo, atingindo com penas canônicas os infratores. Equivalia essa medida a uma declaração de guerra aos maus príncipes que acobertavam clérigos devassos. O ímpio Henrique IV, Imperador alemão libertino e ambicioso, negou-se a aceitar essas propostas do Papa, e nomeou grande número de novos Bispos e Abades. Essa pendência entre o Papa e o Im-
A política do Papa São Gregório VII (Cfrõrer, Gregório VII, t. li, pp. 401-436). Para São Gregório, o Cristianismo não é uma pura teoria, mas uma verdade eterna. Ele crê firm emente na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e que o Papa é seu Vigário na Terra. Por isso antepõe a autoridade eclesiástica à temporal. "Assim como Deus - afirma ele - criou dois luzeiros celestes em in entes, o sol e a lu a, para que ilumin ados por seus raios os olhos corporais possam conhecer a formosura do mundo, assim incumbiu a dois Poderes, o apostólico e o real, a conservação da ordem social, a fim de que a linhagem humana, que o Eterno se dignou formar à sua imagem e semelhança, ri.ão se precipite nos erros que corrompem a alma. E a esses dois Poderes deu Ele tal posição relativa, que a dignidade apostólica deve gozar de preeminência sobre a régia" (Carta a Guilherme o Conquistador, de 8 de maio de 1080). Os Príncipes cristãos- ensina o Papa- hão de ser
vassalos de Jesus Cristo, e por isso hão de prestar o juramento feudal ao Vigário de Deus na Terra. Também os Estados serão regidos cristãmente e pelo espírito de Cristo, como o corpo o é pela alma. O Imperador é o protetor natural da Igreja, e recebe sua consagração das mãos do Papa; e se não cumpre suas obrigações o Papa o depõe, colocando outro em seu lugar. Quanto à ordenação do Clero, para São Gregório VII os clérigos devem ser celibatários, pois a virgindade é uma qualidade essencial do sacerdócio, como está prescrito pelo Evangelho, pela doutrina dos Padres da Igreja, pelo exemplo dos Santos. · Estas são algumas das idéias fundamentais do Papa, segundo as quais atuou no cumprimento de seu dever, com vontade férrea, espírito político, sem incomodar-se com o ódio com que o perseguia a massa do Clero, e, mais ainda, os Potentados".
perador durou dois anos (1075 a 1077) e ocasionou primeiramente a humilhação de Henrique IV em Canossa, onde o monarca passou três d ias na neve em traje de penitência (25 a 28-1-1077), pedindo perdão ao Vigário de Cristo. Contudo, impenitente, ele retoma as armas contra São Gregório VII. É excomungado pelo Pontífice e manda matar Rodolpho da Suábia, que o Papa reconhecera como Rei em seu lugar. Ademais, Henrique IV instala em Roma o anti-Papa Clemente III. Cercado no Castelo de Santo Ângelo, São Gregório foi libertado pelas tropas de Roberto Guiscard, senhor dos normandos da Sicília. Convertido para a causa papal, uma vez mais graças à a tu ação sempre eficaz de São Simão de Crépy, Roberto passou a ser um dos mais notáveis sustentáculos do Papado. São Q!egório- teve, entretanto, de acompanhá-lo até Salerno, no sul da Itália, onde adoeceu gravemente . Emseu leito de morte, perguntaramlhe se não queria ser indulgente com
aqueles que havia excomungado, ao que respondeu o Pontífice: - Exceto o pretenso rei Henrique .. .. absolvo e abençôo todos os que crêem que tenho o poder. Suas últimas palavras, ao expirar no dia 25 de maio de 1085, foram: - Amei a justiça e odiei a iniqüidade,por isso morro no exílio. (Weiss, op. cit., p. 357).
trair ajustiça, escrevia em 1081 ante o exército hostil de Henrique IV. A justiça, para ele, significava a ordem de Deus no mundo; isto é, que todas as coisas humanas, desde a menor até a maior, devem estar ordenadas segundo a vontade e a leideDeus, e que o homem foi plasmado não segundo a forma do pecado, mas à imagem de Deus ... ".
***
Por ocasião do reconhecimento do corpo de São Gregório VII, em Salerno, no ano de 1954, Pio XII pôs em relevo precisamente este aspecto da envergadura moral de seu predecessor: "Sinal característico da personalidade de Hildebranq,o [ é] seu culto à justiça, por cujo triunfo se aplicou incessantemente, lutando e morrendo por ela. Poucas palavras pronunciou com tanto respeito e fervor como justitia, como se conservasse sempre na mente a imagem de sua majestade soberana, diante da qual todo poder criado deve inclinar-se .... Antes a morte do que
CATOLICISMO
MAIO 1993
18
19
LUIS CARLOS AzEVEDO
NOTAS
* Por ocasião do nono centenário da morte de São Gregório VII, transcorrido em 1985, Catolicismo dedicou-lhe, em sua edição de maio daquele ano, o artigo intitulado "Intrépido defensor das prerrogativas da Igreja". OBRAS CONSULTADAS 1. Pe. Rohrbacher, Vida dos Santos Editora das Américas, São Paulo, 1959, vol. lX. 2. J.B. Weiss - Historia Universal Tipografia La Ed ucaci6n, Barcelona, 1928, vol. V. 3. Abbé Profillet- Les Saints Milita.ires Reteaux-Bray Editeur, 1890, tomo V.
ESCREVEM OS LEITORES
.
Brasil Real Brasil Brasileiro te reproduzi-los, dando-lhes a maior difusão possível. Traduzi uma série de números e mostrei-os ao responsável da revista "O pão dos pobres", o qual ficou muito agradecido com esse trabalho. Além de felicitá-lo pelo mag1úfico conteúdo da revista, quero outrossim comunicar-lhe essa difusão que iniciamos da História Sagrada. Houve repercussões elogiando a publicação, que tentarei, se me for possível, obter para lhe enviar.
Novíssimos do Homem Solicito enviar-me 2 exemplares da publicação: Rainha do Brasil -A maravilhosa História e o Milagre de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Aproveito ainda a oportunidade para fazer duas sugestões: 1li. A edição de um audiovisual com diapositivos e uma fita de áudio ''bipada", baseada na referida publicação; 2ª Que o excelente artigo "A morte virá ... ", do Catolicismo n 2 502, seja o primeiro de uma série de cinco artigos sobre os Novíssimos do Homem.
L. F. de Zayas y Arancibia Bilbao-Espanha
Bruxaria
M.D.L de Barros Olinda-PE
Venho por meio desta parabenizar os responsáveis por essa nobre revista pelos assuntos que tem tratado, especialmente o tema abordado no artigo "A escalada da bruxaria e dos ritos satânicos"; é muito importante que haja bastante esclarecimento sobre essas coisas horrendas.
N. da R.: Atendendo ao pedido do missivista, o Caderno Especial da próxima edição de junho será dedicado ao segundo dos Novíssin~os, a saber, O Juízo particular.
História Sagrada
G.M.F. Morisson Campos - RJ
Faz uns meses, lendo nas páginas de Catolicismo os capítulos de História Sagrada em seu lar, além de me agradar muitíssimo, julguei que podia ser muito interessan-
Quem é bom, incomoda E quem é mau, o ataca Disseram pois (os ímpios) na loucura dos seus pensamentos: Armemos pois laços ao justo, porque nos é molesto, e é contrário às nossas obras, e nos lança em rosto as transgressões da lei .... Só o vê-lo nos é insuportável! Porque a sua vida não é semelhante à dos outros, e o seu proceder é muito diferente. , Somos considerados por ele como pessoas vãs, e abstém-se de nosso modo de viver como duma coisa imunda (Capítulo II) SAGRADA ESCRITURA, LIVRO DA SABEDORIA
Uma epopéia, uma legenda
H
dice expressivo da excelente poá mais de 20 anos, cinco pularidade que a entidade descaravanas de cooperadores fruta pelo País afora. da TFP percorrem o território nacional, empreendendo *** campanhas públicas permanenNuma cidade do interior mites, em defesa da Civilização neiro, os ponteiros anunciavam Cristã . meia noite quando os caravanisCatolicismo dedicou em sua tas lá chegaram, sem saber onde edição de junho de 1991 extenso pousar. Somente os ribombas artigo a essa epopéia, sob o títudos trovões se ouviam. Ao paslo: "4,5 milhões de quilômesarem defronte de antigo casatros". rão, do assento traseiro da kombi Passaram-se, a partir de enveio a sugestão: "Pare. Esta é a tão, quase dois anos. E tendo casa do prefeito, a ele peçamos essa gesta prosseguido com vialimento e leito". gor crescente, é compreensível O encarregado da caravana, que a presente seção, cujo objediscernindo nessa sugestão a voz tivo é pôr em realce aspectos da graça, exclamou: "Coisa tão pouco divulgados de nossa páDurante duas décadas, as cidades grandes, médias e ousada não costuma ser humatria, focalize uma iniciativa brapequenas de ri,osso paú-coniinente foram visitadas sileira inédita cm todo o mundo. algumas delas várias vezes - pelas caravanas da TFP na". E bateram à porta: "Senhor prefeito, senhor prefeito, a TFP Assim, em todas as cidades plicações para dito silêncio. Julgam elas pede sua ajuda". Uma escotilha se abre grandes e pequenas de nosso imenso que as caravanas transformaram-se a certa altura, e a voz do alcaide se faz País, as caravanas divulgam obras, manuma espécie de legenda, e muito mais ouvir: "Para o Grande Hotel, já vou nifestos, ou colhem assinaturas para importante do que a cobertura da mídia, telefonar. Boasvindas a este modesto abaixo-a,;sinados cm favor dos ideais da é esta bela auréola. solar". Tradição, Fanúl.ia e Propriedade, interEsses jovens, cheios de idealismo, pretados de acordo com a doutrina tra Esses são alguns episódios, inteiralutam desinteressadamente e com ardor dicional da Igreja. mente verídicos, narrados pelos própela restauração da Civilização Cristã, Por onde passam, os caravanistas prios carava1ústas sobre o decorrer das sob as bênçãos da Mãe de Deus. demonstram que esses ideais consticampanhas. Em pouco mais de duas décadas de tuem uma força viva e ativa, dotada de lutas heróicas, 5.389 atestados de preNuma cidade do Paraná, o padre, potência e cheia de futuro. Levam eles, feitos, delegados de polícia, juízes e aslogo após o tém1ino da Missa, fez o para todos os rincões do Brasil, uma mensagem de alerta contra o mal e um· sociações de classe a testam o caráter seguinte elogio da TFP e da nossa revisordeiro e pacífico das campanhas da ta: "Está na cidade um grupo do Catoliconvite para a luta em favor do bem. E TFP. cismo divulgando uma revista muito mais do que isto: a presença de um ideal. Assim, por exemplo, certo delegado boa. É um movimento que luta contra a Os caravanistas da entidade atestam de polícia de São Paulo, ao ser visitado imoralidade na 1V e contra o comunisque, na mocidade, não se encontra apepelos caravanistas que lhe pediam uma mo. O fundador é o Prof. Plínio Corrêa nas a vanguarda da perdição, mas tamdeclaração, afirmou: "Aqui no Brasil, a de Oliveira, que foi deputado por ideal bém uma vanguarda de salvação. Afiúnica coisa que não se corrompeu, que e não para fazer carreira. São rapazes nal, a juventude foi feita para o heroísnão morreu, foi a TFP. Ela é como um muito bons e que merecem todo apoio". mo e não para o prazer. tijolo que está no meio de tudo, e com o qual depois se pode f onstruir um novo Uma epopéia dessa grandeza, tendo *** país, um prédio novo". E concluiu: de vencer tantos obstáculos, supera em Este esforço épico da TFP quase não "Vão em frente jovens, vocês da TFP muito as humanas linútações dos que a recebe, infelizmente, cobertura da núsão os verdadeiros apóstolos do século levam a cabo. dia. Tais caravanas, que são soXX". bejamente conhecidas do público, pasConcluímos, pedindo a Deus e à VirAs caravanas são sustentadas matesam entretanto despercebidas para certa gem Padroeira do Brasil que protejam rialmente - hospedagem, refeições, imprensa, com raras exceções. esses abnegados jovens e os abençoem, combustível - pelas populações, agraconduzindo-os à vitória. decidas, que visitam, sendo este um ínMuitas pessoas não encontram ex-
CATOLICISMO
MAIO 1993
20
21
HISTÓRIA
Fundação da cidade do Rio de Janeiro (1°-3-1565) - Pintura de Rodolfo Arnoedo, Museu da cidade do Rio de faneiro
Após 11 anos de existência, a França Antártica empreendimento de hereges calvinistas - chega ao fim na Guanabara, em meio a milagres e prodígios operados a favor dos portugueses.
D
urante o século XVI, os estrangeiros que mais fustigaram o Brasil foram os franceses . Tentaram por todos os modos estabelecer-se em algum ponto de nosso território. Isso aconteceu no Rio de Janeiro, em 1555, através do marinheiro Nicolau Durand de Villegagnon, que para aqui veio com a missão de fundar a França Antártica. A origem de sua expedição esteve ligada aos problemas religiosos existentes entre católicos e protestantes na França de então. O almirante francês Coligny, personagem de realce no governo de Henrique II, rei da França, era um dos principais seguidores da seita protestante dos hugucnotes. Foi ele quem planejou fundar uma colônia protestante no Brasil, como asilo para seus correligionários políticos e religiosos, que fossem perseguidos em território francês. Coligny convenceu Henrique II a colaborar com os equipamentos da expedição, e obteve apoio dos armadores interessados no comércio com o Novo Mundo. A esquadra de Villegagnon era formada por 100 pessoas em três navios: dois annados e um de alimentos, que chegaram ao Rio de Janeiro no dia lüde novembro de 1555. Os franceses fixa ram-se na baía de Guanabara, na ilha de Sergipe, hoje Villegagnon, construindo ali o forte Coligny.Estabeleceramdesde o dia da chegada boas relações com os índios tamoios, que desde o início da invasão tornaram-se seus aliados contra os portugueses. Sentindo necessidade de reforços, Villegagnon pediu-os à França, demonstrando as-vantagens do empreendimento. Outras expedições se seguiram, de caráter colonizador e não militar como a primeira. No dia 7 de março de 1557, chega-
ram ao Rio de Janeiro três navios com víveres e demais utensílios necessários à vida da neo-colônia, peças de artilharia e uns trezentos colonos e soldados - e até emissários protestantes enviados por Calvino! - numa esquadra comandada por Bois-le-Comte, sobrinho de Villegagnon. Como crescimento da colônia calvinista, várias foram as divergências religiosas com os católicos: os sinais de tonnenta na França Antártica e.ram evidentes. Villegagnon resolveu então regressar à França, numa tentativa de obter mais recursos para a conquista definitiva do Brasil. Sua missão, entretanto, fracassou, pois o rei Henrique II havia falecido e foram tantas e tais as queixas contra sua conduta, que decidiu abandonar a empreitada, não mais voltando ao Brasil. O comando da França Antártica foi entregue a Bois-le-Comte.
O perigo francês Caso se fixasse e crescesse, o estabelecimento dos franceses no Rio de Janeiro poderia implica mas mais funestas conseqüências para a u1údade territorial, política e religiosa do Brasil. O comércio e a catequese já começavam a ressentir-se. A chamada França Antártica degenerou num refúgio de calvinistas. A integridade católica da América corria perigo. Os franceses armaram e acirraram contra os portugueses os indígenas tamoios, que assolavam as costas, roubavam e matavam, e atreveram-se a ir até as portas de Piratininga, hoje São Paulo. Por outro lado, corsários franceses passaram a interceptar o tráfico entre o Brasil e a Europa. Uma fortaleza francesa no Rio de Janeirc:/, separando o norte do sul, representava um grande perigo político.
O considerável número de protestantes que veio abrigar-se na Guanabara, transformou-se num grave fator de desordem, pois os franceses traziam consigo tormentas e contendas sem fim. Houve aqui conspirações, traiçõés, fugas, execuções de pena capital, numa miniatura da França de então, abalada pelas dissensões políticas e religiosas. Um quisto dessa natureza no Brasil, com razão inquietava os portugueses, e as reclamações e descontentamentos começaram em São Vicente, atingiram a Bahia, e daí para Portugal. Os padres jesuítas, sob o comando de Nóbrega e Anchieta, entraram nesse movimento de opinião, e colaboraram ativamente para a expulsão dos hereges invasores. No ponto a que haviam chegado as coisas, de duas uma: ou se abandonava o Rio de Janeiro, ou se o conquistava de vez e inteiramente. As situações dúbias equivaliam à morte, pois nemse povoava a terra, nem se convertiam as almas.
Nessa perspectiva, o perigo francês viera tumultuar o quadro .
A reação portuguesa O terceiro Governador Geral do Brasil na época, Mem de Sá, tinha a expulsão dos franceses como um de seus objetivos. A 30 de novembro de 1559 chegava à Bahia, vinda de Portugal, uma frota comandada por Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, coma intenção de desalojar os invasores do Forte Coligny, situado numa ilha do Rio de Janeiro. Mem de Sá não deixou passar a oportunidade, abastecendo a armada com gente de guerra, num total de 120 portugueses e 140 índios, distribuídos em
Partida de Estácio de Sá de Bertioga para o Rio Detal,he da pintura de Benedito CaJ,ixto, no qual, o Padre Nóbrega abençoa Anchieta, Pal,ácio São foaguirn, Rio de faneiro
duas naus e oito embarcações . A 16 de fevereiro de 1560 chegou à Guanabara, aguardando alguns dias para receber mais reforços de Santos e São Vicente. A 15 de março, o governador ordenou o ataque ao Forte Coligny, onde havia 80 franceses e 800 índios tamoios, diz o Padre Nóbrega, em sua crônica da época. A luta foi renhida durante dois dias e duas noites, quando então os franceses e seus índios aliados abandonaram a fortaleza fugindo todos para o continente. Não se encontrou nenhum sinal de Religião católica, diz o padre Anchieta. Livros heréticos havia muitos. O Forte não mais se reergueu na ilha Sergipe, mas os franceses, abrigados nas aldeias dos tamoios, não tardaram a ocupar novas posições no litoral da Guanabara, como na ilha de Paranapuã, atual Governador, e em Uruçumirirn, atual Outeiro da Glória. Os hereges voltaram a se organizar, e prosseguiram na luta procurando dificultar as relações entre portugueses e indígenas, difundindo a discórdia entre eles, o que foi resolvido com o famoso amústício de Iperoig, do qual foram protagonistas os padres Nóbrega e Anchieta. Com essa trégua, conseguiram os dois valorosos jesuítas que os tamoios de Iperoig (hoje Ubatuba, no Estado de São Paulo) se abstivessem durante algum tempo de assediar as populações de Bertioga e São Vicente, situadas ao sul do Rio de Janeiro. E, dessa forma, a tribo dos tamoios dividiu-se, não podendo os franceses contar com a solidariedade dos iqdígenas de Iperoig, na medida em que estes deixaram de hostilizar as populações portuguesas da capita1úa de São Vicente.
Fundação do Rio de Janeiro Diante das incessantes hostilidades dos franceses, Mem de Sá voltou a soli-
CATOLICISMO
MAIO 1993
22
23
citar reforços a Portugal, para expulsar definitivamente os intrusos da região. Atendendo ao pedido, chegou à Bahia, em 1563, uma frota comandada por Está cio de Sá, sobrinho do governador. Em fins do mesmo ano, a esquadra saía de Salvador, recebendo reforços de gente e barcos no Espírito Santo, chegando ao Rio a 6 de fevereiro de 1564. MemdeSá havia confiado o comando a seu sobrinho, investindo-o como capitão-mor da futura colônia. Logo ao chegar à baía de Guanabara, Estácio de Sá apresou uma nau francesa e ocupou a ilha de Sergipe. Mas, hostilizado pelos índios, seguiu a 31 de março para São Vicente em busca de mais reforços para uma ação final. Na preparação da nova expedição, Estácio de Sá recebeu grande ajuda do Padre Manoel da Nóbrega, que lhe concedeu um capelão militar, o padre Gonçalo de Oliveira, e o Padre Anchieta como cronista. A 1°de março de 1565 desembarcou na Guanabara, lançando os fundamentos da nova cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em honra do Rei de Portugal, D. Sebastião, e seu celeste patrono. Poucos dias depois de sua fundação, as edificações provisórias já seriam atacadas por franceses e índios, e se seguiram investidas constantes, até a vitória portuguesa, quase dois anos depois. Todos os dias eram de guerra, com ciladas e escaramuças. Mas a presença dos padres jesuítas, a proteção de São Sebastião, padroeiro da cidade desde sua fundação, e a valentia de Está cio de Sá, davam uma coragem religiosa à população, toda ela tornada guerreira, com a intenção única de expulsar o adversário, extinguir a heresia e seu aliado selvagem.
O ataque final Prolongando-se esta situação, foi expô-la ao Governador, na cidade de Salvador, o Padre Anchieta, além de avistarem-se Nóbrega e Estácio de Sá. Chegaram à conclusão de que era neces-
sária a intervenção no Rio de Janeiro de uma poderosa armada. A 23 de agosto de 1566, Mem de Sá recebeu de Portugal uma frota sob o comando de Cristóvão Cardoso de Barros, com três galeões. O Governador Geral juntoulhe mais seis caravelões, e foi pessoalmente ao Rio socorrer o sobrinho, lá chegando no dia 18 de janeiro de 1567. O ataque contra os franceses foi marcado para o dia 20 de janeiro, festa de São Sebastião. A primeira investida dirigiu-se contra o forte reduto de Uruçumirim, o maior feito de armas desta conquista. Venceram os portugueses, mas, na batalha, Estácio de Sá foi atingido por uma flecha envenenada no rosto, vindo a falecer um mês depois. Logo em seguida, foram atacadas as guarnições de Paranapuã, que se rendeu após três dias de renhidos combates. Foram muitos e notórios os rnilagres e prodígios ocorridos por ocasião da fundação do Rio de Janeiro e dos combates então travados. Conta a legenda que São Sebastião apareceu ao lado dos portugueses na batalha contra os franceses, incentivando-os na investida contra as posições inimigas, no dia de sua festa, 20 de janeiro de 1567. Poroutro lado, as flechas atiradas contra os padres jesuítas não os atingiam, o que dava ânimo aos combatentes portugueses. No final dos combates, os franceses e seus aliados indígenas ficaram com as fortificações arrasadas, sendo suas tropas desbaratadas, o que determinou sua expulsão definitiva do Rio de Janeiro. Chegava ao fim, desta maneira, o ímpio sonho calvinista de instalação da França Antártica na Guanabara. Venceu o Brasil, triunfou a Civilização Cristã.
Preços durante o mês deMAlO de 1993:
ASSINATURA ANUAL COMUM: Cr$ 800.000,00 COOPERADOR: Cr$ 1000.000,00 BENFEITOR: Cr$1.500.000,00 GRANDE BENFE ITOR: Cr$ 2.soo.000,00
Bebidas nacionais e estrangeiras Queijos e doces tipo europeu. Arenkes e Salmons
CASA ZILANNA MERCEARIA Rua ltambé, 506 - Higienópoli s São Paulo - Fone: 257-8671
NEUROCIRURGIA- NEUROLOGIA
Indústria e Comércio de Molduras, Quadros e Vidros Ltda.
Dr. João Antonio Ardito
Molduras Laqueadas em Ouro e Prata Exposição Permanente
CAM 22.736
Rua Sergipe, 401 -Cj. 131 O Fone: (011) 259-8716 - Higienópolis - SP (Com Estacionamento)
BIBLIOGRAFIA 1. Padre Serafim Leite, Hist6ria da Companhia de Jesus no Brasil, t. I, Livraria Portugalia, Lisboa, 1938. 2. Francisco Adolfo de Varnhagen, Hist6ria Geral do Brasil, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1959. 3. Hist6ria do Brasil, Bloch Editores, Rio de Janeiro, 1972. 4. Helio Vianna, Hist6ria do Brasil, Edições
Melhoramentos, São Paulo, 1972.
Aparição de São Sebastião (na batalha de 20 de janeiro de 1567) - Detalhe da pintura de Carlos Oswaldo, Paláci,o SálJ foaguim, Rio de faneiro CATOLICISMO
24
5. Pedro Calmon, Hist6ria do Brasil, Livraria José Olímpio Editora, Rio de Janeiro, 1959. 6.J. de Souza A. Pizzarro e Araujo, Mem6rias Hist6ricas do Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1945.
Plantas medicinais Homeopatia Shampus - Cremes - Chás Todos à base de plqntas medicinais
Rua Baro nesa de ltú, 38 Fone: (011) 825-1310 - Santa Cecília - SP
Sol icite nossos catálogos gratuitamente com a relação de nossa manipulação. Remetemos tudo pelo Reembolso Postal Rua 16 de Março, 322 CEP 25620-040 - Petrópolis - RJ Tel. : (0242) 43-8235
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos CARLOS SODRÉ lANNA
PHARMÁCIA NATURAL PETRÓPOLIS
constantemente mantidos em alto padrão. FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO
Tudo ao lado do Metrô San,ta Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu
_'@i WRDPi\lACE __ Rua das Palmeiras, 78 - Tel. 101 l) 220-0422 - CEP.01226 TELEX 1123208 - FAX (OJJ) 220-9955 DDG 101J1800~272 São Paulo
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Ao Lord Palace Hotel:
-X
1
Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços.
1
Nome:
1 1 1
End.: .
CEP:
...... Cidade: ..................................................................... UF:
ESt\\
Assessoria Contábil &Tributária S/C Ltda. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS Edivaldo José Ciryllo Rangel
A estima vale mais que a celebridade; a considernção, mais que a fama CHAMFORT
Rua Julio de Cascilhos, /081 - Belém - São Pa ulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068
A mar os homens e não os respeitar, é cpnsiderá-los como animais domésticos DITO CHINÊS ANTIGO
Comércio de Carnes
NOVA CADEIRA ORTOPÉDICA
oe fácil transporte p
O brável e lavável o . · Fone: 298-4080 /Sr. Jayme)
----·-------------
•
-
c onstruto ra AD OLPHO LINDENBERG S/A
. ,, _ 6º e 7° a nda r Rua Ge neral Jardim , 70 . . ) "' ~ (l4 l l _ São Pa ul o hlnC: - ,o
tudo com a
-- ·
PROVÉRBIO BRASILEIRO
Norton
Acaba,-se a amizade, quando começa a familiaridade
Atacadista de carnes em geral
A alma que admira a respeitabilidade com seriedade e com veneração, torna-se respeitável
R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (0 11) 206-6466 - Vi la Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
Temer é fácil, mas penoso; praticar o respeito é difícil, mas agradável
Suporte protetor para sua coluna vertebral
ara viagem -
Quem não se dá o respeito, não é respeitado
--- · ------------assi~ura -
Talento ~ Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Segurança Soluções originais Harmonia Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe Acabamento perso~alizado Local privilegiado Sucesso
-g ~ntia ----
desta
PROVÉRBIO BRASILEIRO
PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
GOETHE
A CHINA DO PESADELO Choca o observador o contraste que se patenteia nesta foto: a ten r a idade das crianças; o rancor estampado em sua fisionomias! Apesar do esforço, n enhuma delas consegue disfarçar uma profunda amargura. Trata-se de chineses, educados pelos comunistas na escola do ódio e da violência. Documentos recentemente trazidos par a o Ocidente por Zheng Yi, ex-membro dessas "milícias populares", mostram que durante a "Revolução CuUural", promovida por Mao Tse-tung no final da década d e 60, até o canibalismo entrava no "currfculo" dos alunos chineses. /Naq uela ocasião, na Província de Guangxi, crianças foram obrigadas a matar e devorar seus próprios professores!
Hib~rnação e esfuziante colorido vegetal
'
maneira dos contos de fadas, em meio ao bosque desfolhado pelo rigor do inverno surge o palácio coberto de neve. Um profundo silêncio paira sobre as vastidões gélidas '. Duas janelas de cristal, douradas provavelrriente pelo crepitar das chamas de lareiras, parecem indicar que a vida se abrigou no interior aconchegante daquele belo edifício de pedra. Onde estamos? No jardim da França? Nas flor estas encantadas da Alemanha? Não, caro leitor. A uma hora de Manhattan , o agitado e poluído centro da capital financeira do mundo: Nova York! Neste vale de sonhos, localizase a sede da TFP norte-americana, que aqui aparece sob ângulos e circunstâncias diversas.
tar as adversidades da vida, mantendo acesa a chama da fé que alimenta a -esperança em dias gloriosos. As mesmas árvores, no inverno desfofüadas e cobertas por um manto branco, ostentam, na segunda foto, trajes bem diversos: o verde profundo da folhagem - indicativo da vida - é temperado, em p a_te, pelo esfuziante amarelo-fogo. Dir-se- ia que essa cobertura vegetal participa em algo das cores explosivas do sol, cujos raios nela se cristalizaram. É o início do outono. O ' espírito humano sente-se atraído pela intensidade e pelo contraste das cores. Embora sob o fascínio de tanta beleza, considera, entretanto, que dentro em pouco o inverno voltará e a morte parecerá de novo triunfar. Fixa, então, piedosamente, sua atenção sobre
Em pleno inverno, tudo pare-
o madeiro negro em forma de
ce inerte e sepultado por fria laje de gelo. Nesta estação do ano, a a}ma cristã tende naturalmente ao recofüimento e à reflexão. Acrisola no cadinho dos sacrifícios a têmpera necessária para enfren-
Cruz,. na qual há dois mil anos foram vencidos a morte e o pecado, dissipadas as trevas do paganismo e inaugurada, p ela graça de Nosso Senhor J esus Cristo, a aurora da vida e terna.
***
Coração de Jesus, fornalha de amor por nós Retribuir-vos-emos comadoração, ódio ou Indiferença?
ruel cena mais de uma vez repetida no século XX:
.
1
CATOLICISMO 42 anos de luta, na fidelidade doutrinária N2 51 0
'' Discernindo, distinguindo, classificando...
Junho 1993
Alternativa Monarquia-socialislllo A Monarquia aponta para o futuro; o socialismo para o passado 6.843.159 B R ASILEIROS se pro nunc ia ram pela M ona rquia - os números são o fi cia is - no último plebiscito . Ou seja, mais d e 10% dos qu e vo tara m. Equi va le a di ze r que, num g ru po d e dez e leitores b ras il e iros, um é mo narquista. Isso não s ignifica qu e os o utros nov e seja m repub lica nos, po is os votos anulad os e os em bra nco soma m 23,7%. Porta nto, nesse mes mo g ru po de d ez patríc ios nossos, se um é mona rquista, apenas seis são republi ca nos, d ois não esco lhera m e o último es tá di v idid o cm p roporções desigua is entre a República , a Mo na rquia e o não q uerer p ronun c ia r-se. Q ua l é a grande novi da de nesse qu adro? Ev id e n1 e me nte a de qu e a M o narqui a a p arece como fo rça e mc rgc n1c. Q uem, a ntes de se ini c iar a ca mpa nha e m to rno do ple biscito, po d eria im ag ina r q ue no Bras il qua se se te milhões d e pessoas são mo na rq ui stas? E fo i nos fa ti1 dos habi tu a lm e nte tid os co mo dos ma is progressistas - Rio e São Pa ul o - qu e a Mo na rqui a obteve me lho r vo tação. Ela saiu d e um profund o e escu ro abismo, no qual a bavia m sepultado, não só o go lpe de Deodoro cm 1889, mas todas as Co nstitui ções republ icanas (excetu ada a última), que proibi am a propaganda mo nárqui rn . Após mais d e cem anos, o id ea l mo nárqui co ressurge, e logo d e uma vez co mo ·send o a co rrente de id éias qu e mais cresceu nos últimos anos . N enhum partid o po líti co, nenhuma corrente de id éias obtiveram e m nossa Pátria, 110 curto lapso d e tempo de q uatro anos, tantos aderentes ! E, no te-se, du ra nte a ca mpa nha qu e precedeu o pl ebiscito, te ntou-se tud o para desacredit á- lo: E m vão !
A esm agadora vitória conservadora na Fra nça e a ascensão de Bdouard Balladur (foto) ao cargo de Primeiro Ministro, são conseqüéncúis da njeíção em massa, po,· parte do eleitorado fra ncês, da concepção socialista do homem brincadeiras apalhaçadas, boa tos maledicentes como o de qu e a M ona rquia pretendia restaurar a escrav id ão etc. Nada disso demoveu os nú lhões de patríc ios nossos qu evo ta rampela Monarqu ia. E feito o pl ebiscito, se a M onarquia não v enceu -até longe disso-, ela entretanto se afirmou co mo fo rça mora l e mes mo política em ascensão. *** Se a M o na rqui a - a té há poucos a nos aprese ntad a po r certa mídia co mo ins tituição apenas do passa do e j á cheirando a inofo - agora se afi rma como fo rça em fra nco cresci·me nto, o qu e have ria a di zer dosoc iali s m o, qu e essa mes ma mídi a, nesses mes mos a nos, apontava como a rea lização do desejo inconte nível das massas modernas? Ei-lo qu e va i deg ringo la nd o a olhos vistos, e toma nd o já o as pecto de peça d e museu de ma u gosto . Não fa lemos da grande ca tás trofe socia lista qu e fo i o d es moroname nto do impéri o soviético. M as fa le mos do CATOLICISMO
2
Assestando ofoco
J
socia lis mo qu e nos era ap·r esentado co mo modernizado, ágil , autogestionário, o socialis mo fra ncês qu e chego u ao poder com M itterrand (ver artigo nes ta mes ma edi ção). As últimas e leições na França tro uxcram-lbe uma derro ta tão fragorosa qu e, no dizer do co nhecido arti culi sta d e esquerda, A lain Touraine, o Pa rtido Socia lista se vê ante a alterna ti va de d esaparecer ou mudar completa mente. E mud ar comp letamente não é senão o utro modo de desaparecer... Ana lis tas políticos dos mais conce itu ados co mo Guy Sorman, Louis Pauwels, por exemplo, afirmam taxativa mente qu e a espetacular derrota socia li sta não se deveu a problemas eco nômicos, m as fo i a concepção que o socialis mo te m do homem, do mundo e d as coisas - visão moral e cultural - qu e os franceses rejeitaram, em massa. Ou sej a, é a própria essência do socia lis mo . É por essas e por outras qu e, no Bras il , Bri zo la va i cada vez mais passando do vermelho para o cor-de-rosa, e L ul a, co m as bênçãos de Amato, va i-se aj eitand o: agora usa palctó -egrav11ta e apa rece co m e mpresá rios. Oportunis mo de po líticos, dirá alguém. Seja. Mas é u m opo rtu nismo reve lador de muda nças p rofu ndas na opini ão pública. D essa forma, pa ra que m não se contenta co m uma visão núope das co isas - para a qu al só interessa a atu al co mpos içiio das fo rç.as po líti cas - mas qu eira lançar um olhar interroga tivo e previd ente para o futuro, não pod e de ixar d e cons ideru que o so.cia )is mo vai derivando para ser u ma fo rça d o passad o, enquanto a Mo narqui a se a firma como co mponente do futu ro . Dua s forças po líticas cm confronto'? Muito mais do qu e isso: duas concepções de vid a e m l·onflito .
C.A.
unho é o mês do Sagrado Coração de Jesus, como maio o é de Maria Santíssima. O primeiro devoto des~e Sagrndo Coração é o Apóstolo amado, São João Evange1ista, o qual se reclinou no peito do Divino Mestre. Entre os Padres da Igreja que escrevera m sobre essa devoção encontram-se Tertu1iano, São Cipriano, Santo Ambrósio, São João Crisóstomo, São Basílio, São Gregório Nazianzeno, Santo Efrém e sobretudo Santo Agostinho,quem co locou nos lábios de Nosso Senhor as seguintes palavras: ''Cons idera, ó hom em. quanto sofri por teu amo,: A minha cabeça foi coroada de espinhos, meus pés e mãos transpassado:,~ meu sangue derramado. E., por ú /timo, abrite o meu coraçã~. e dei-te a beber do precioso sangue que dele corre! Que mais queres? Cheguemo-nos po,·tanto a esta f onte de água viva. cuja água salutar E le nos dará gl'atuitamen.te a beber" (fract. CXX in Joan.).
Na Idade Média, dessa devoção se ocuparam São Boaventura, Santo Tomás de Aquino, o Beato Henri4ue Suso, Tauler e o Doutor melífluo, São Bernardo : ''Oh! que bom e agradável é habitar neste Coração! Oh! precioso tesouro_,pedra rara_, encontrada ao cavar-se no campo do vosso Corpo, bo;i Jesus! Quem poderia rejeitar pérola tão preciosa? 6 J esus~ atraí-me a esse sagrado Coração, e, para eu lá poder morar, lavai-me das minhas iniqüidades" (fract. de Passione, cap. IH). Diversas videntes e contemplativas dos tempos medieval e moderno receberam manifestações desse Sagrado Coração. Assim , as sa ntas: Gertrudes, Mechtilde, Lutgarda, Cata rina de Si ena, Magda lena <le Pazzi, Catarina de Gênova, Margarida de Cortona, Ângela de Foli gno, Clara de Montefa lco, Margarida da Hungria, Fra ncisca Romana, Joa na de Valais, Joana de Chan ta l etc. Nosso Senhor, porém, reseivou a Santa Margarida Maria Ala coque as gra ndiosas re-
velações sobre seu Sagrado Coração, entre os anos de 1673 a 1675. Nessa ocasião, queixou-se o Divino Redentor dos sacril égios e irreverências cometidos contra Aquele. Um dos exemplos mais fr isantes de ta l ódio foi o fuzilamento da estátua do Sagrado Coração, no Cerro de los Angeles, em Madri , empreendido por mi licianos com uni stas, no mês de julho de 1936 (ver foto na ca pa). Esse sacríl ego atentado precedeu à dinamitação do mencionado monumento, executada no mês seguinte. O Sa lvador, nas citadas revelações, lamentou ama rgamente, a par do rancor, a indiferença com que tantas almas consideram seu adorável Coração. Cristo ontem, hoje e sempre! Leitor, sa iba que é nesse Sagrado Coraç,fo que o homem co mbalido de nossos di as encontra rá sempre os recursos mais inesperados para as situações mais desesperadoras.
,,
lndice Discernindo ... Alte rn ativa Monarquia-socialismo A Realidade Concisamente Vão pastar! Destaque Fide l, o b-á-bá e a vacina Espiritualidade Reflexões em tomo da festa do Sagrado Coração de Jesus Internacional A estrondosa derrota do socialismo francês Brasil real, Brasil brasileiro O Brasil para os estrangeiros Comente, comente ... em defesa de Aparício Caderno Especial Novíss imos do Homem: o juízo particular Apostolado O dever cristão da militância contra-revolucionária Invasões No Paraná, invasões de terras abrem esteira de sangue História Imagem de Sta. Antonio castiga calvinistas Em painel Frases e Imagens
Catolicismo é uma publi:ação mensal da Edfora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Fl lho
2
Jornalista Responsável: Takao Takahashi Reg istrado na DRT-SP sob o Nº 13748
4 5
6
Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 · São Paulo, SP Tel: (011) 824.9411
8
Diagramação: Antonio Carlos F Cordeiro Fotolitos: Mi:roformas Fotolitos Lida. Rua Javaés, 681 • 01130-01 O São Daulo . SP
1O 12
Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Edfora Lida. Rua Javaés, 681 - 01130-01 O São Paulo· SP
13
17
Acorrespondência relativa à assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsão
20
Jaguaribe, 648 Conj. 02 • CEP 01224-000 · São Paukl · SP · Fone: (011) 66-3361
de Assinaturas. Endereço: Rua
24
ISSN · 0008-8528
27 JUNHO 1993
Vão pastar! A agência de informações cubana AIN aconselhou os cubanos a comerem folh as, flores e sementes dos vegetais para complementar seu consumo diário de vitaminas, num mom ento em qu e a Ilha sofre uma críti ca escassez de alimentos. Num artigo intitulado "As folhas também são nutritivas", a agência sugere receitas. A esse ponto o comun ismo levou a "Pérola das Antilhas".
são das terras contaminadas. Com o acidente ocorrido no reator atômico em Tomsk, na Sibéria, cujas conseqü ências não estão ainda claras, tivemos agora uma amostra do que pode acontecer em outros lugares. Os reatores mais antigos já deyeriam estar desativados por falta de segurança . Porém, em nom e da necessidad e de ganhar a competição com os americanos, o resultado aí está !
Chernobys multiplicadas A ex- Uni ão Soviética, di z i a-se, foi capaz de competir com os EUA em ai gu n s setores crí t icos
rode esquerda e certa imprensa - ficaram horrizados com o assassinalD de três policiais militares por um grupo de invasores que ocupavam a Fazenda Santana, de Ovídio Beledelli, no Paraná. Os PMs mortos, em traj es civis, iam fazer o levantam ento da ocupação levada a cabo por aproximadamente 1.500 sem-terra. O conflito já dura mais de dois anos e provocou um pedido de intervenção federal naqu ele Estado, em 1992, quand o o governador Rob erto Requi ão decidiu não cumprir a ordem da Justiça de enviar força policial para desocupar a área. As vítim as foram mortas pelas costas, logo depois de conversar com os invasores, e receberam pauladas na cabeça como golpes de misericórd ia.
Risco não pequeno Realidade supera fantasia
Cientista inspeciona a radioatividade no solo, nas proximidades do ,·eator, em Tomsk
como o da tecnologia com aplicação militar. O que só se soube mais ta rd e foi o custo humano dessa competição. Em 1957, a explosão de um depósito de lixo atôm ico em Cheliabinsky, nos Urai s, matou de im ediato centenas d e pessoas. Em Chernobyl, 1986, oito mil pessoas morreram em conseqüência direta da catástrofe, sem falar na exten-
O Vi etnã co muni sta chegou à conclusão de cju e sua economia só poc eri a ser salva pelo capitalism o. Tal política é qualificada de "doi moi", ou renovação econôm i ca . Companhias estrangeiras assinaram mais de 600 contratos de investim ento direto, num total de US$ 4,6 bilhões. Em co nseqüência, ao invés de importar arroz, como vinha
O parque EuroDisney, que ini ciou há um ano atividades na França, fechoJJ seu primeiro semestre de operações com prejuízo de US$60 milhões. Apesar de visitado por sete milhões de pessoas- média de 40 mil por dia - , não atingiu as 11 milhões esperadas para o primeiro ano. A EuroD isney estim ava que metade de seus negócios teria origem nas famílias francesas, mas apenas 30% dos vi sitantes moram no país. Para quem dispõe de maravilh osos castelos de verdade, para que servem os de "m entirinh a"?
E o responsável? Todos -
fazendo, o Vi etnã tornouse o terceiro maior exportador. Diminuindo a impressão de dinheiro, a inflação caiu de 900% ao ano para cerca de 15%. A revi sta americana "Fortune" deixa claro: o país continua comunista, e os campos de reeducação estão ativos. Apesar disso, a Assembléia Nacional permitiu às empresas estrangeiras repatriar os lucros; bem como qu e terras fossem arrendadas por 70 anos, para escritóri os ou fábricas. Val e a pena para os investi dores correr o risco? Pode-se acreditar na palavra de comunistas que arrendam terras por 70 anos? ... E co mo fica o trabalho escravo?
*
Comunista no INCRA - O expresidente do Partido Comunista Brasileiro (atual PPS), em Brasília, Oswaldo Russo, vai conduzir a aplicação da nova lei de Reforma Agrária. Russo foi escolhido por Itamar Franco para assumir apresidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA. Essa nomeação está preocupando muitos fazendeiros, diante da ascensão de comunistas a importantes postos do
Governo. ele Reforma Urbana -
Reforma Urbana, em tramitação no Congresso Nacional, é gravemente atentatório ao direito de propriedade. O diretor do SECOVI (Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis, de São Paulo), Mauro Marcondes Pincherle, declarou que q projeto "seria perfeito na URSS de Stalin .... São resquícios de um comunismo antigo, já esfacelado".
tem levado muitas pessoas a tomarem remédios destinados a animais, que no Estado de São Paulo são isentos de ICM e chegam a custar menos da metade do preço dos produtos farmacêuticos de uso humano. Em Araçatuba (SP), a itogenia, doença causada por medicamentos, é responsável por 20% das ocorrências médicas.
Elegantes e monogâmicos -
Ou ando a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) foi privatizada, em outubro de 1991, uma ação da empresa valia Cr$ 133,00. Hoje, está cotada em Cr$ 22.040.00, o que representa uma valorização de 16.57 i %, superando todas as expectativas. Esse êxito é motivo especial de comemoração para os 17 mil empregados e aposentados da siderúrgica, que compraram 10% do capital da ex-estatal.
•
O suplemento "AgroFolha", do jornal "Folha de S. Paulo", publica interessante reportagem sobre os cisnes, na qual informa: "Os cisnes só andam em pares. Além de monogâmicos, os casamentos são vitalícios; só acabam quando a morte os separa. Em condições propícias, um cisne pode viver até 40 anos".
•
Os brasileiros e os remédios -
O projeto de
O alto preço dos medicamentos
"'
Privatização dá certo -
O divórcio é pior Martin Ri chard s, da Universidad e de Cambridge, na Inglaterra, constata que os sinais de comportamento desajustado e infeliz nos filhos de pais divorciados parecem surgir antes mesmo que a separação se consume. Apesar disso, argumenta que o divórcio, em média, pode ser pior para as crianças do que os danos provocados por um casamento infeliz. Se não for por outro motivo, o divórcio acarreta também pobreza.
Fábrica de caminhões japonasa em Sa lgon - Compensará o risco?
menos o ele-
Lula e a Reforma Agrária - A "Tribuna Metalúrgica", da CUT, estampou a seguinte declaração de Lula: "Se um dia nós ganharmos a Presidência da República e só for possível fazer uma coisa, essa coisa será a Reforma Agrária". Tratase, portanto, de uma ameaça de socialização do campo brasileiro.
Fidel o b-a-bá e a vacina Após o naufrágio do império soviético, Cuba ficou como um destroço de miséria boiando no mar das Antilhas. E as esquerdas de todo o mundo fazem esfo rços ingentes para que Fidel permaneça à flor d 'água e não afunde de vez. Apoios financeiros, morais, propagandísticos de toda ordem continuam a manter o comunismo na infeliz ilha. Assim, a prefeitura petista de Porto Alegre recebeu a pesquisadora do Ministério de Educaç<'ío de Cuba, uma tal de Menojin, que veio "-para conhecer a experiência gaúcha em matéria de educação". Pois Cuba estuda a aplicação do mesmo método em suas escolas primárias. Ora ... até há pouco nos diziam que o ensi no cm Cuba era um sucesso e um exemplo a ser imitado. Como é isso? Fidel então precisa aprendero b-a-bá como PT? *** Enqu~nto isso, emBrasília,o embaixador de Cuba no Brasil, Bola fios, blasonou do "espetacular" progresso cubano na área da saúde. Afirma que a Ilha é o "único país do mundo a dominar a tecnologia para a cura de deficiências visuais co mo a cegueira noturna". Seria
bom que aprendessem a curar também a cegueira mental. Bolaíios, num acesso de generosidade, disse que Fidel "está disposto a colabora r com o Brasil na produ çiío de remédios baratos". Mas deixou escapar que, "com o fim da União Soviética, Cuba vem tentaado redesenhar sua geografia comercial com outras nações". Ou seja, por detrás de toda a bazófia, o que e les es tão querendo é ajuda. Convém lembrar que há dois anos, quando a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul quis importar de Cuba um remédio para comba ter o vitiligo (doença que provoca manchas pelo corpo), o enfüo vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Dr. Julio César Ricart, afirmou que o remédio cubano era "uma farsa". s E há o famoso caso das vacinas contra a meningite, importadas de Cuba, que se mostraram perfeitamente ineficazes. O prejuízo do governo brasileiro com a importação, em 1991, informa a "Folha da Tarde" - SP, foi de 60 milhões de dólares (o triplo do que o Ministério da Saúde pretende gastar este ano em todo o Programa Nacional de
CATOLICISMO
JUNl-101993
4
5
Imunização). Castro evi dentemente nem falou em devolver o dinheiro. Mas o pior é qu e as vacinas foram importadas apesar de pareceres técnicos já indicarem com antecedê ncia sua ineficácia. Se isso não é feito para sustentar o comunismo na Ilha, não se sabe para o que é. O escâ ndalo das vacinas foi grande. O atua l ministro da Saúde, Janúl Haddad , conhecido por suas simpatias pe la esq uerda, anunciou recentemente que Cuba substituiria, sem ônus para o Brasil, o medicamento vencido (por não ter sido utilizado). Anunciou ainda qu e uma conússão formada por seu Ministério e integrada por téc1úcos cubanos e brasileiros concluiu que tem eficácia contra a meningite a vacina que fora colocada sob suspeita ...
ESP I RI TU ALI DAD E
.
•'•r~·· ·~i• . , ' :, ~·!. ~i ./
Reflexões em torno da festa do Sagrado Coração de Jesus É nesse Sagrado Coração que o homem combalido de nossos dias encontrará sempre os recursos mais inesperados para as situações mais desesperadoras *
Presbitério da Basílica do Sagrado Coração de jesus, Montmartre, Paris
A
ssim como a aurora precede o no ciclo litúrgico da Igreja Católica, o mês de maio é o mês de Maria, que é a aurora. E junho é o mês de Jesus, do Sagrado Coração de Jesus, que é o meio-dia. Que é o Coraç,'ío de Jesus? É, naturalmente, um coração vivo que palpita no peito Sagrado do Divino Salvador; um coração formado pela operação onipotente e sapientissima do Divino Espírito Santo, no claustro virginal da Santíssima Virgem e, em conseqüência, tendo toda a perfeição física que ele pode comportar; um coração vivificado pela maior alma, a mais pura, a mais santa, a mais divina que jamais tenha existido; um co-ração que da chaga nele aberta pela lança de Longino deixou correr água e sangue, fonte fecunda de nossa vida espirit1ial e de nossa salvação. Ter-se-ão rea Içado aqui todas as belezas desse Sagrado Coração? Não! O Coração de Jesus não é, como os nossos, um coração de simples criatura. É o Coração de Deus, digno, por isso mesmo, de todas as homenagens e de toda a adoração que não devemos e não prestamos senão a Deus. Eis aí privilégios do Sagrado Coração que o elevam acima de todos os outros corações e também de todos os objetos que, como a Crnz, a manjedou-
J-\..meio-dia, analogamente,
ra, os cravos e a coroa de espinhos, foram santificados pelo contacto direto que tiveram com o Homem-Deus. Com efeito, por mais caros e veneráveis que todos eles sejam para a piedade dos fiéis, sua existência não se confunde com a própria pessoa do Redentor, como é o caso do Sagrado Coração. Esse Coração vivo de Nosso Senhor é o emblema, o símbolo, não de um amor indeterminado, mas do próprio amor de Jesus, inteiramente conforme à sua natureza humana como à sua natureza divina. Jamais se verá em alguém um coração tão sensível à influência de todos os afetos da alma. Nosso Senhor é o homem perfeito e, portanto, nEie há uma perfeita harmonia entre os seus afetos e os sentimentos de seu Coração. Em cada um de nós, os movimentos da vontade podem não ter senão uma repercussão impcrceptivel no coração, porque nossa parte sensível o submete, não raro, a impressões contrárias e mais vivas. Em Nosso Senhor, não. nEle Tudo é ordem, e essas oposições deploráveis entre o sentir e o querer não existem. É um coração reto, puro, imaculado, divino, e todos os sentimentos que aí têm lugar são santos e santificadores: "Eu te farei ler no livro do amor de meu Coração", disse um dia o Divino Mestre à confidente de seu Sagrado Coração, Santa Margarida Maria Alacoque. E nunca - talvez no Céu - conseguiremos ler tudo quanto está escrito nesse divino livro.
A representação do Sagrado Coração de Jesus O Sagrado Coração é normalmente representado com a cruz, as chamas, a coroa de espinhos, acrescentada a chaga nele aberta por Longino. Recordemos o que Santa Margarida Maria conta, ela mesma, em carta dirigida ao Padre Rollin, seu confessor, em 1674: "No dia de São João Evangelista, após ter recebido de meu Divino Salvador uma graça mais ou menos parecida
à que recebeu na noite da Ceia este discípulo bem-amado, o Divino Coração me foi representado como um trono de fogo e de chamas, radiante de todos os lados, mais brilhante que o sol e transparente como um cristal. A chaga que ele recebeu sobre a cruz aparecia aí visivelmente. Uma coroa de espinhos envolvia esse Sagrado Coração, e uma cruz o encimava. "Meu Divino Salvador fez-me conhecer que esses instrumentos de sua Paixão significavam que o amor imenso dEle para com os homens tinha sido a fonte de todos os sofrimentos e de todas as humilhações que Ele quis sofrer por nós; que, desde o primeiro instante de sua Encarnação, todos esses tormentos e desprezos Lhe estavam presentes, e quedesde esse primeiro momento, por assim dizer, essa cruz lhe foi plantada no Coração; que Ele aceitou, desde então, para nos testemunhar seu amor, todas as humilhações, a pobreza, as dores que sua sagrada humanidade deveria sofrer durante toda sua vida mortal".
Mosteiro da Visitação, Parc~y-le-Moniai: capela das aparições
tando de um só e mesmo Coração: "O Coração de Jesus e Maria". A esse propósito, Nosso Senhor, revelando-Se à beata italiana Batista Varani (séc. XVI), assim se exprime: "O gládio mais perfurante que transpassou meu Coração foi o pensar na dor que os sofrimentos e a morte que padeci deveriam causar à minha pura e inocente Mãe! Porque ninguém compartilhava assim dolorosamente como Ela dos sofrimentos de seu Filho. Foi por essa razão que, com toda justiça, nós A exaltaremos nos Céus e A coroamos rainha dos anjos e dos homens. Como nesta terra ninguém sofreu tanto por Mim quanto esta Mãe querida, ninguém A igualará em glória. E porque foi Ela um outro Eu mesmo durante meus próprios sofrimentos, Ela é, no Céu, um outro Eu mesmo pelo poder e pela glória. Não Lhe falta senão a Divindade, da qual nenhuma criatura poderá participar" (D . Guéranger, L 'Année Liturgique, MaisonAlfred etFils, Tours, 1922).
O Sagrado Coração e o pecador Esse Sagrado Coração representa,
portanto, todo o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo por cada um de nós, todo o imenso sacrifício que Ele fez para nos resgatar e nos salvar. Ele nos criou e nos resgatou do pecado pela sua morte infinitamente preciosa. Como HomemDeus, Ele conhecia todos os homens que haveriam de nascer, amando-os intensamente. De maneira que, considerando o pecado gravíssimo de algum deles, Ele diria: "Meu filho,-você mediu o mal que fez? Para você eu quero o Céu e não o inferno. Farei um milagre na ordem da graça para que você se reabilite". Quis Ele, assim, que na consideração da intensidade desse amor, nós fôssemos tocados pela graça divina e mudássemos de vida. O que se compreen~ de, porque um grande ato de bondade pode tocar os corações mais empedernidos e, dessa forma, obter conversões as mais brilhantes. Se tivermos a suprema desventura de pecar, portanto de ofender a Deus, devemos imaginar esse Sagrado Coração, de "majestade infinita", voltandose para nós, cheio de bondade, e nos inquirindo: "Por que me fizeste isso? Que mal te fiz? Em que te contristei?" E deixarmo-nos, por assim dizer, precipitar nesse oceano de grandeza, de realeza, de superioridade infinita, que é o Sagrado Coração, do qual brota para cada um de nós uma fonte inexaurível de misericórdia, de afeto, de ternura, de perdão, que nos inunda e quebra nossa maldade. E, comovidos dessa forma até nossas entranhas, não queiramos outra coi-
sa senão nos arrepender e expiar nossos pecados, para amá-Lo cada vez mais e nos consumirmos em holocausto a Ele. Sirvam estas considerações de motivação para revermos nossas almas e nossas vidas. Para implorarmos ao Sagrado Coração de Jesus o perdão pelos pecados de que não nos tenhamos arrependido suficientemente, pedindo ainda que, a rogos de Maria Santíssima, Ele nos proteja para evitarmos outros pecados. Tendo sempre presente a sublime lamentação de Nosso Senhor feita a Santa Margarida Maria: "Eis este Coração que tanto amou os homens e por eles foi tão pouco amado". Não, absolutamente não! Não sejamos destes que amam pouco, mais sim dos que amam muito, a ponto de renunciarmos a tudo e sofrermos tudo para segui-Lo. "Sagrado Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações - tende piedade de nós!"
Luís
CARLOS AzEVEDO
NOTA + Leiam-se em Catolicismo as seguintes matérias sobre o Sagrado Coração de Jesus, de autoria de Luís Carlos Azevedo: Reuelaçõcs do Sagrado Coração de J 1!5US e a França, nº 403,julho/1984; Santa Margarida Maria Alacoque, a conjidrnte do Sagrado Coração de Jesus, nº 498,junho/1992.
OBRA CONSULTADA Pe.J ean-Baptiste Terrien SJ, Ladévotion au Sacré-Coeur de J ésus d'apres les documrnts authrntiqucs et la Théologie, Pe. Letllielleux,
Libraire-Editeur, Paris, 1927.
O Imaculado Coração de Maria Ao se tratar do Sagrado Coração de Jesus, a alma católica pede que se diga uma palavra a respeito do Imaculado Coração de ~--~~----=------...,.....,..--,.,.., Maria, pois o coração mais semelhante aodo Divino Mestre é precisamente o de sua Mãe Santíssima. Tão intimamente unidos, que São João Eudes nos ensina que pode- Nave centml da igreja do Mosteit-o mos referir- da Visitr,çiio em Paray-le-Monial, nos a eles no onde Santa Margarida Maria s i 11 g u J a r, recebeu ns revelações referentes ao como se tra- _ _..;.S"_a~f<_re,;...u_lo;......;_'o_rn_ç~ · a_-o_d_e],::..e_s._u_s_ _
Conveniência de um culto especial ao amor do Verbo Encarnado, simbolizado em seu Coração - (Pe. Terrien) uem deseje formar-se alguma idéia da infinita grandeza de Deus, deve tentar reunir de alguma maneira todas as pe rfeiçôesesparsas nas Imagem do Sagrado Coração, Matriz de criaturas, afastar todas as imperNossa Senhora do feições que as liPilar (séc, XVIII), mit:.am, e levá-las Ouro Preto (MG) em pensamento até os últimos limites de excelê ncia própria a cada uma delas, reuni-las tanto quanto seja possíve l e m uma só e mesma perfe ic,-.ão e dize r que, assim purifirndas, sublimadas e simplifirndas, faze m parte da divina essência.
Q
Isto é uma tênue imagem, uma sombra de meu Deus. Ele é inmmparavelmente mais belo, sábio, poderoso, em uma palavra, mais perfeito. Assim fazem a Sagrada Escritura e os Padres da Igreja para nos dar alguma idéia do amor que arde por nós no Coração de Deus e no de seu Verbo Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo. Eles recolhem t~sosamores, todas as chamas, todos os gêneros conhecidos de afeto: seu amor é o de um pai, de uma mãe, de um irmão, de um amigo. Mas quanto esse amor único sobrepassa em perfeição todos os que acabamos de enunciar! Com efeito, esse pai perdoa os pródigos; essa mãe abandonada vai ao encalço do filho ingrato; esse irmão, traído em seu afeto, se entrega pela salvação
CATOLICISMO
JUNHO 1993
G
7
daqueles que o venderam; esse amigo se dá à morte, entre todas a mais ignominiosa e a mais cruel, por amigos cuja malícia os transforma em inimigos... Compreendemos assim o amor de nosso Deus? Não! É preciso repassar em nosso pensamento o que Ele é em Si mesmo e o que somos nós. Por mais alta que possa ser nossa idéia a . respeito de sua grandeza e de nosso nada, devemos repetir sempre com São Paulo: "Em verdade, o amor de Cristo ultrapassa toda ciência e todo entendimento". Após estas consideraçôes, quem não reconhecerá o quanto é conveniente prestar um culto especial, e instituir uma devoção particular em honra de Jesus considerado em seu amor, e ao Coração que o simboliza?
raizado nas classes populares, em particular na classe trabalhadora". Quer dizer: as esquerdas, que sempre se apresenta-
com que "por um fenômeno de psicologia social .... tudo aquilo que na cenografia coletiva tende a fazer passar o informe pelo expressivo, o feio pelo sedutor, o grosseiro pelo norma~ o repulsivo pelo atraente, tudo aquilo que, sob ... teve ampla difusão internacional: 187 publicações em 53 países, com repercussão em 124 nações e 34. 767.900 exemplams em 14 idiomas
Entre a morte e a mudança
Cena simbólica: Edouard Balladur, primeiro-ministro do novo governo de centro-direita, sobe as escadas do Palácio do Eliseu e do Poder, para substituir o socialista Pierre Béregovoy (que depois se suicidou), o qual o agua,·da no patamar superior
A estrondosa derrota do socialismo francês Razões morais, culturais e não primordialmente econômicas levaram o socialismo ao fundo do poço NELSON R. FRAGELLI
Correspondente
1113~"11-
Quando o socialista François Mitterrand foi eleito Presidente da República, em 1981-por pequena margem de votos: 2,93%-, as "conquistas" que tal vitória poderia prenunciar pareciam irreversíveis. E o foram ... em parte. Com efeito, o socialismo francês oferecia um cantinho novo, de uma esquerda dinâmica, aparentemente dissociada de Moscou, seguindo trilha própria rumo a um glorioso porvir consubstanciado na fórmula cuidadosamente planejada: a autogestão. Fruto do compronlÍsso assumido em 1971 na cidade deEpinay, comunistas e socialistas, unidos em tomo do "Programa Comum", viam, na vitória daquela primavera de 1981, o coroamento de todos seus esforços, e o meio de conduzir a sociedade
francesa, como um todo, rumo à esquerda. Porém, já no início de 1983, Mitterrand renunciava a aplicar seu plano econômico. A esse propósito, convém lembrar um fato digno de nota. Meses após a primeira eleição de Mitterrand, em dezembro, aparecia nos principais órgãos da imprensa mundial, a denúncia solidamente documentada, da lavra do Professor Plínio Corrêa de Oliveira: Socialismo autogestionário face ao comunismo: barreira ou cabeça-de-ponte?, com mais de 34 núlhões de exemplares. Tal análise punha em xeque o programa autogestionário do socialismo francês, mostrando que ele era a expressão mais radical do comu1úsmo soviético ("O objetivo supremo do Estado Soviético é a construção de
uma sociedade comunista sem classes na qual a autogestão social comunista poderá se desenvolver", Constituição da URSS, de 7-10-1977, Editorial Progresso, Moscou, 1980). Ante as repercussões mundiais dessa denúncia, não restava ao socialismo francês senão abandonar seu cavalo de batalha, a autogestão. A pé, ele começou então a marcar passo, até a estagnação atual: envelhece, esvazia-se de idéias, Mitterrand abandona suas metas radicais, pouco a pouco os debates mais acalorados se dão em tomo de um moribundo, que é o PS francês. Fruto das divisões internas e da sucessão de escândalos financeiros, o recente suicídio de Pierre Beregovoy - último homem de confiança de Mittcrrand - talvez seja o atestado de óbito do socialisme à la française.]
Doze anos após, em fins de março último, o socialismo francês sofreu a maior derrota de um partido em duzentos anos de História. Nessas eleições legislativas, os socialistas ficaram com apenas 70 das 282 cadeiras que possuíam em 1988, os comunista~ perderam três cadeiras, ficando com 23, e a coalizão de centro-direita venceu com uma maioria arrasadora, ficando com 484 cadeiras [ver gráfico]. Que explicações há para tal derrota? Que fatores econônucos, sociais, políticos, culturais - pesaram para tão fragoroso revés, a ponto de ponderadas vozes esquerdistas pedirem o fim do Partido Socialista? Em seu artigo "O Partido socialista entre a morte e a mudança", publicado na revista esquerdista "Globe Hepdo" de 14/20-4-1993, o jornalista Alain Touraine assim descreve o programa, agora derrotado, de Mitterrand: "Transformar profundamente a sociedade francesa, apoiando-se no Estado e num amplo programa de nacionalizações, e atendendo também a fortes demandas sociais, tais como a diminuição da idade para aposentadoria e o aumento das férias pagas". Um programa que se diria simpático, sobretudo no tocante a seus aspectos sociais. Reconhece ele, niin obstante, que "o governo formado çm 1981 teve que dar marcha-à-ré a partir de 1983, diante da crise das empresas, carentes de investimentos". Na verdade, essa razão de natureza econômico-social pesou pouco, como adiante veremos, ao citar outro expo ente do jornal ismo francês, Touraine debita também essa mudança de rumo ao fato de que "o socialismo .... nunca foi verdadeiramente en-
ram como porta-vozes do "proletariado", falavam na verdade em nome próprio, sem a base popular por elas reinvidicada.
Derrota moral e cultural Louis Pauwels, em editorial publicado no "Figaro-Magazine" de 12-41993, diz que a esquerda sofreu a maior derrota de sua história não por causa da "economia, mas por causa da cultura e da moral". Mãis ainda, porque a "modernidade se relaciona com a decomposição dos valores". Lembra ele a "grande lição de Max Weber: é principalmente a moral de uma nação que determina sua economia". E enumera a grande crise ideológica que atinge a França: "Deterioração da consciência pública. Crise do sentido do destino individual e coletivo. Crise da ética edo trabal/w. Crise dos rumos da existência. Crise da identidade pessoal e nacional. Crise de pontos de referência históricos, estéticos e morais. Percebese uma decomposição no vazio. Será isso tudo a modernidade? Se é isso, está-se pagando um preço muito caro. Pare, ó mundo, que queremos descer". Na verdade, o que houve é que os socialistas, impedidos como vimos de prosseguir na via da transformação econônuca da sociedade francesa, procuraram mudá-la através da cultura, das artes, dos costumes ekc, No aspecto cultural-artístico, a construção de monumentos hediondos como a pirânude do Louvre, ou o Arco da Défense, as colunas sem sentido no Palais Royal etc., junto com uma aceleração da decadência dos costumes, da educação, da linguagem, com reformas promovidas pelo nunistro socialista da Cultura, Jacques Lang. Essa verdadeira revolução cultural fez
CATOLICISMO
JUNHO 1993
8
9
pretexto de cultura aberta, f ez circular uma imagem de decadência generalizada; tudo isso, não sem razão, .... foi identificado com a esquerda. E é por isso, em especial, que a esquerda foi maciçamente rejeitada" (id. ib.). TFP francesa em pauta Ora, esses são os temas que a Socieda,de Francesa de Defesa da Tradição, Fanúlia e Propriedade vem apontando como causas da decadência da sociedade. Desde a publicação de seu primeiro manifesto, em fevereiro de 1978, a TFP francesa não cessou o combate doutrinário pacífico em prol de um verdadeiro debate ideológico. Com efeito, já naquela data denunciou aos franceses que as eleições legislativas estavam falseadas a priori, e que se queria reduzi-las a uma simples escolha econômica. E por ocasião das últimas eleições, pediu aos candidatos que se pronunciassem claramente sobre temas morais e doutrinários concernentes à defesa dos valores básicos da Civilização Cristã. Entretanto, ainda é cedo para apontar todo o alcailce do papel desempenhado por essa entidade e por outra associação que manteve, sob o governo socialista, a defesa dos princípios morais da sociedade francesa: A venir de la CulúJre (AC). Muito ativa, contando com crescente número de aderentes, durante esta campanha eleitoral, "AC" dirigiu aos candidatos não-socialistas um questionário, em que lhes perguntava se na nova legislatura defenderiam aqueles princípios, já tão erodidos pela revolução cultural socialista. Com R.
MANSUR GuÉRIOS,
em São Paulo
Brasil Real Brasil Brasileiro
O Brasil para principiantes
tente modificá-lo. É impossível e osso País é a terra do desnecessário. Ao contrário, "Deus é brasileiro", do aprenda a gostar de seus con"emse plantando dá", do "amatrastes e assim você será mais nhã se não chover", onde um sábio e muito mais feliz" (p. misto de sabedoria da vida e es142). perteza nos ensina desde cedo o segredo para se "quebrar o ga*** lho", e para "dar um jeitinho". Em suas descrições sobre as E igualmente cenário de coisas do Brasil, Kellemen fala contrastes violentos e por vezes da viagem de avião, a chegada at.é pitorescos. Apesar de tudo na alfândega, estadia em um bosomos um povo de boa índole, tei, meios de transporte nascidaunido e compreensivo. Tudo des, um país de milhões de méisso é mais do que sabido, e vidicos, economia, indústria, covido pelos brasileiros natos. mércio, política e da laboriosa Mas o que dizer aos estranclasse dos estrangeiros. geiros que vêm para cá fixar reNo entanto, convém dizer sidência? que o livro apresenta uma visão Para se adaptarem ao nosso Cataratas do Iguaçu: a grandiosidade de certos unilateral do brasileiro, consideestilo de vida, único em todo o aspectos da natureza brasileira parece indicar a rado de modo exagerado e carivocação e a missão providenciais do País mundo, são grandes e surpreencato, generalizando os defeitos dentes os contratempos que têm níssimos supermercados e gigantescas do "jeitinho", como malandragem, relaenfrentado. lojas de departamento, verá feiras-litivismo, os quais são encarados de modo Tempos atrás, um húngaro de nascivres e vendedores ambulantes. Homens simpático, como algo quase folclórico. mento, Peter Kellemen, mudou-se para visivelmente pobres, de tamanco, poso Brasil, cuja cidadania adotou. Suas O "Jeitinho" brasileiro -como a suindo milhões e outros, gastando miobservações, experiências e aventuras palavra "saudade": não tem tradução descreveu-as num livro: Brasil para lhões, sem possuir um par de tamancos. para nenhum outro idioma- tem muito principiantes (E.ditora Civilização Bra- Aprenderá que as placas: Estacionade inteligência e sagacidade, mas a ele mento proibido, Não fum e ou Entrada sileira, Rio, 1961). se acrescentou uma camada de defeitos. Proibida -são apenas adornos coloriCitarei aqui alguns trechos interesdos para enfeitar a. cidade" (p. 141). Apoiar na totalidade a visão que o santes do mesmo: "Saiba que o Brasil não tem estraautor formou do Brasil e dos brasileiros, "Não se esqueça, meu jovem amigo, das como as da Alemanha, nem a riqueseria ver nossa Pátria como uma terra de de que é preciso se ambientar durante espertezas e pequenos expedientes, e o primeiro ano. Aprenda a julgar os za dos americanos .... Mas o que importa? Se você não compreender que o portanto negar a vocação e a missão gestos, as meias palavras, os olhares, povo brasileifo é diferente e tem um providenciais do País. Embora se deva as insinuações, pois o brasileiro jamais caráter humano não dominado por leis reconhecer que ele apanhou bem certos dirá a palavra não" (p. 16). aspectos, como flexibilidade de espírito, ''No Brasil, desde a infâ.ncia, as pes- ou parágrafos, nunca o entenderá. em contraposição à rigidez e ao "espírito "Quero ainda confessar uma coisa: soas se acostumam a compreender cergeométrico" que caracterizam outros wdo estrangeiro não quer parecer estos contrastes. Por exemplo, o automópovos. trangeiro. Isto é · uma coisa difícil de vel contrabandeado só vai a leilão derealizar, pois além da aparência, que pois de enferrujado e totalmente inutiNão resta dúvida de que o tão decanlizado, ao invés de na época, quando mostra logo a sua origem estrangeira, tado "jeitinho" é um valor do Brasil. basta o sujeito abrir a boca e todo o está valendo milhões. Edifícios públiMas ele será um mero expediente prátimundo percebe que se trata de alguém . cos com obras paralisadas em meio à co se não estiver a serviço de um país construção, por falta de verba, enquan- · de outra nacionalidade. que sabe voar nos grandes horizontes do "O caráter desse país (se é que uma to outros edifícios públicos recebem o pensamento, da ação e dos planos de dinheiro necessário para poder iniciar Nação possa ter caráter) é cheio de Deus a serem aqui realizados. constrastes, beleza, sinceridade, um a fundação. Verá moleques sem sapatos, mal alimentados, mas com rádio pouco de infantilidade, mistério, insubCARLOS SOORÉ lANNA misso, de personalidade marcante. Não portátil na mão. Ao lado de moder-
PLEBISCITO
ito, Príncipes em Aparecida
N
CATOLI CISMO
10
Da esquerda para a direita: D. Bertrand, D. Luiz, o Pmf Plinio Corrêa de Oliveira e D. Antonio.
TFPs
No dia 21 de abril último, data da realização do plebiscito nacional, D. Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, D. Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil, e seu irmão o Príncipe D. Antonio de Orleans e Bragança estiveram na Basílica da Aparecida. Nessa ocasião, rogaram à Padroeira nacional que proteja nossa Pátria, em situação tão difícil nos dias atuais, e a livre dos graves perigos que a ameaçam, especialmente o de ser lançada no abismo socialo-comunista. Associaram-se a essa prece o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, bem como centenasdesóciosecooperadoresda entidade.
EM AÇÃO
No extremo-sul do Continente, campanhas de TFPs BUENOS AIRES - Jovens cooperadores das TFPs argentina e chilena, aproveitando as férias escolares, realizaram ampla campanha de divulgação de obras editadas por essas entidades, numa caravana que percorreu as principais regiões do país, fazendo um percurso de 10 mil quilômetros. Durante esse trajeto, a caravana visitou a cidade de Ushuaia, na Patagônia, localidade no extremo-sul do continente americano. Seus habitantes acolheram a caravana da 1FP com especial simpatia, oferecendo-lhe também alojamento e refeições.
As coriferêncías d espertaram vivo interesse por parte dos jovens universitá1-ios
No Peru, congresso universitário LIMA - O Núcleo Peruano Tradição, Fanúlia e Propriedade realizou recentemente, na histórica cidade de Cuzco, seu primeiro congresso de estudantes universitários. O ' encontro transcorreu num amplo hotel na periferia da cidade, para estudo das teses contidas no famoso livro "Revolução e Contra-Revolução", de autoria do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira . O programa incluiu também a realização de jogos medievai~ , competições a cavalo e demonstrações de defesa pessoal, e amda representações teatrais ilustrando os temas doutrinários abordados nas conferências.
JUNHO J9Y3
11
Capas e estandartes das 1FPs argentina e chilena acolhidos com simpatia em Ushuaia
... em defesa de Aparício De respeitável leitor recebi apaixonada carta. Ei-la em seus tópicos fundamentais:
"Seu artigo de abril 'Que mudou em Aparicio? ', fez-me ferver de indignação ...• "Então é aquilo caridade cristã? Só porque Aparicio exprimiu-se numa linguagem moderna,- democrática, descontraida, utilizando tennos como "cara", "bicho", "falou", mere.ceu ser objeto de análise e crítica implacáveis, dignas da malfadada Inquisição? "Sim, da Inquisição, pois que o .Sr. aplica as engrenagens impiedosas do raciocinio para demonstrar que seu 'amigo' é .•• veja só, herege! "E como o Sr. ousa ainda falar em amizade? ..•. "Pobre Aparício! Objeto de tão severa intransigência ••• Fico a imaginar sua profunda mágoa ... "Bem se vê que o Sr. , se tivesse vivido na Idade Média - quando a Igreja inventou a perseguição aos hereges, e os queimava cruelmente na fogueira-, teria sido ferrenho pp.rtidário de Torquemada .... "Espero que não se excuse de publicar, em sua coluna, este meu protesto. Atenciosamente E.R.S"
***
Ei-la publicada, caro missivista! Pennita-me que assim o trate. Sim, porque no ambiente impregnado de apatia e. indiferença para com quase tudo característica dos tristes dias em que vivemos - , alguém que se indigne e proteste, ainda que seja contra núm, eu o aplaudo. E a esse título me é caro . Passemos à resposta. Insisto em que foi a caridade cristã que me levou a censurar a linguagem de Aparício. E a adverti-lo a respeito dos caminhos através dos quais - quiçá
inadvertidamente poderia ele ir-se afastando do verdadeiro ensinamento da Santa. Igreja Católica, Apostóliça, Romana. É isso algo bem diverso de Ihe imputar a condição de herege. Informe-se melhor a respeito do que é _um herege, Sr. E .R.S ... Aliás, chamou-me a atenção a justificação que o Sr. faz da linguagem de Aparício: ela é "moderna". Seria, porventura, "moderno" sinônimo de bom, aceitável? É moderna - sem Seria modernidade saudável a tendência de crianças repetirem, na vida mal, episódios como o suicídio, dúvida -certa tendênvividos em novelas de IV?! eia entre crianças de repetir, na vida real; episódios vividos em venção? Nesse caso, o que teríamos feito do conselho do Salvador "vigiai e novelas de televisão. Assim, narra o jororai"? nal "Folha de S . Paulo" de 12-1-93: "Terminou em tragédia a brincadeira A não ser este o sentido da palavra de três garotos sergipanos que resolve"descontração", qual seria o outro? As ram imitar uma cena de enforcamento pessoas que empregam tal vocábulo o que viram em filme na televisão. Um fazem sempre com um sentido legítimo dos meninos, Sérgio L. dos Santos, 11 e preciso? Caso contrário, não poderiam anos, subiu numa mangueira, amarrou estar elas sendo induzidas, inadvertidaa corda ao pescoço e pulou de uma mente, a um estado de espírito displialú.lra de sete metros. Morreu nomescente e relativista, contrário ao preceito mo instante" . evangélico? Seria, pois, saudáve l tal moderReflita, um pouco que seja, meu innidade? dignado missivista, e à força de refletir Ser "moderno", "democrático", talvez sua indignação se aplaque e a consistiria em pensar e agir sempre de razão comece a lhe falar mais alto ... acordo com o que impõe a tirania da moda? Então, quanto mérito há em não *** ser "moderno" nem "democrático"! EsPermita-me umpost-scriptum. O Sr. forçar-se, portanto., para libertar alguém referiu-se à Inquisição. A esse propósito dessa tirania tem de ser igualmente mecabem ainda algumas retificações. A ritória obra de apostolado . Igreja não inventou a perseguição aos · Permita-me, meu furibundo missihereges, nem jamais queimou herege vista - sem desejar aumentar sua fúria algum. A perseguição aos hereges não - , uma outra observação. O que o Sr. nasceu na Idade Média, nem tampouco entende por "descontraído"? Seria pôrTorquemada é medieval. se habitualmente em estado de desprevenção e irreflexão, de modo a acatar Os lünites deste artigo não me perservilmente, sem nenhum juízo crítico, mitem explicações a esse respeito. Meu tudo quanto a moda - ou o chamado missivista - como ai iás qualquer outro "consenso" - imponha? Recusar a leitor - poderá escrever-me que, de priori, portanto, toda sábia desco1úºianbom grado, oferecer-lhc-ci todas as inça, toda justa vigilância e prudente preformações que desejar. CATOLICISMO
12
Cr'isto mdeado de anjos-Hans Memling (1433-1494), Museu de Anvers (Bélgica)
Novíssimos do Homem: o Juízo particular "Está decretado que os homens morram uma só vez, e depois disso se segue o juízo" (São Paulo, Hebreus 9, 27) A comovedora imagem de Nossa Senhora de deve pensar e1n seus novíssi1nos: n1orte, juíFátima que há mais de vinte anos verteu lágrizo, Céu ein ferno. Seneles refletir, salvar-se-á. mas em Nova Orleans, nos Estados Unidos, É a promessa infalível das Sagradas Escrituestc-i - apraz-nos imaginá-lo - passando ras. por nossa cidade. De repente ela toma vida Assim, é com alegria que Catolicismo e, despertc'U1do entusiasmo e alegria em atende a pedidos de prezados leitores, no todos, começa a falar: afirma que revelará sentido de dar continuidade à matéria que um modo infalível de irmos para o Céu. estc'1mpou sobre a Morte - o primeiro dos Maternalmente, começa a ditar sua mensanovíssimos - no Caderno Especial de sua gem, a qual é transcritc'l somente por alguns ed ição de outubro de 1992,abordandodesta que es tão preparados para isso. Logo depois, vez o tema Juízo Particular. Nossa Senhora emudece e volta a ser tão-só a Em publicações subseqüentes, considerarevenerável imagem, muito conhecida de nosso mos os demais novíssimos: Céu e Inferno. público devido a suas peregrinações pelo Cristo juiz-Painel Brasil. Quem, tendo estc'ldo ali presente, dianteiro, altar dourado do não iria celeremente tirar uma cópia dessa Imperador alemão Othon II Miserável é a condição do corpo mensagem? "É lei para os homens morrerem uma só vez" (Heb. *** 9, 27). Terrível é a morte, mas ainda mais terrível e Entretanto, essa revelação existe e estc-i a nosso alcanformidável é o que acrescenta o Apóstolo: "E depois disso ce. O próprio divino Espírito Santo desvendou-nos o serem julgados". segredo da salvação eterna, quando nos comunicou as Bem sabemos nós o que sucederá com o corpo depois seguintes palavras, inspiradas ao autor do Eclesiástico, de morto: ficará tão disforme e tão horrível, e lançará de livro do Antigo Testamento: "Lembra-te dos teus novíssimos e niio pecarás eternamente" (7 , 40). Examinemo-las enteio. • si tão pestilencial odor até se decompor inteiramente, que todos fugirão dele. Freqüentemente são os maiores Ovocábulo"novíssimos"(quevemdolatimnovissima) amigos os primeiros a voltar-lhe as costas, não se atre-
significa os derradeiros acontecimentos na vida de um
vendo a estar mm o defunto nem sequer uma noite. Os
homem, as últimas instc-'lncias. Ou seja, o Espírito Santo nos incita a termos constc'lntemente diante dos olhos que todo homem um dia morrerá e logo em seguida será julgado, indo para o Céu (diretamente, ou mais comumente passando pel? Purgatório) ou inapelavelmente para o mferno. Por isso, quem não quiser se condenar
parentes, mesmo os mais chegados, procurarão logo lançá-lo fora ele casa, para se livrarem do horror que lhes causa a presença do morto. E de tantc'ls riquezas, que com tantos cuidados e trabalhos adquiriu, nenhuma le vará consigo para a outra .vida. Tilintam os telefones e dão-se os sinais de luto,
CADERNO ESPECIAL Nº 23 CATOLICISMO N° 510,JUNHO 1993
Morte violenta e súbita no campo de batalha; ato continuo, o juízo particular
espalha-se a notícia: Morreu fu lano, foi grande homem, deixou muitas riquezas. E depois, com o som dos sinos do cemitério, acaba a memória dele, conforme o dito de Davi, o Profeta Real: "A sua memória acabou com ruído". · Finahnente é enterrado. Ficará sepultado num escuro e horroroso túmulo. E aquele que, soberbo, não cabia em si de presunção e malícia, estará já transformado em cadáver, reduzido a sete palmos de terra; o seu colchão será a traça e a podridão; o seu cobertor serão os vermes, como disse o profeta. !safas. Pronunciará o sacerdote - quando a família ainda tem fé- as últimas preces, até concluir com o "descanse em paz" para sua alma. Sim, certamente será em paz o seu lugar se ele morreu em paz com Deus, tendo antes obtido pelo arrependimento sincero e pela confissão o perdão das suas culpas e a graça divina. Ou se - caso cada vez mais raro em nossos dias - mantinha habitualmente o estado de graça, quer dizer, podia ser considerado verdadeiramente um filho de Deus. Do contrário, como diz o Senhor, "não há paz para o ímpio", e será atirado no "lugar dos tormentos, onde nenhuma ordem reina, mas sim o horror sempiterno".
Só, diante de Cristo Juiz Miserável é a condição do corpo, sem dúvida! Mas quem sabe se será muito mais miserável, sem comparação, a sorte da alma? Naquele mesmo momento em que ela será apartada do corpo, naquele mesmo lugar, naquele mesmo aposento, naquele mesmo leito, em que, talvez, tenha muitas vezes ofendido a Deus, a ahna verá levantado o tribunal da Justiça Divina. Ali, sem advogados que possam chicanar em seu favor, tendo o Anjo da Guarda, de um lado, como testemunha, e o demônio, de outro, como acusador, angustiada e tremendo, a alma será apresentada diante do supremo, reto e severo Juiz, ou seja, diante do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual tudo vê, tudo sabe, e tudo julga com Verdade e Justiça. Exprime com muita propriedade essa situação a primeira estrofe da célebre seqüência da Missa dos funerais: "Dia de ira, aquele dia/ que tudo em cinzas fará/diz Davi e a Sibila/ que temor então advirá,/ quando o Juiz vier/ julgar tudo com rigor?" Onde estarão então aqueles parentes por causa dos quais, para lhes deixar alguma herança, suportaram-se tantos trabalhos e derramaram-se tantos suores, ainda quando contrariavam eles a divina lei? Onde estarão
aqueles amigos que para serem atraídos e conservados, levaram a pessoa a ofender a Deus, causando-lhe a perda da graça e da amizade divinas? Levantem-se agora, venham ajudar-te, e com o seu patrocínio te defendam e amparem.Nenhum deles aparece para dizer uma palavra em tua defesa: todos te deixaram só, na maior necessidade. Não te socorrerão também então os Santos, o Anjo da Guarda, a própria Virgem, Mãe das Misericórdias, porque já não é tempo de intercessões. O Anj o, que te servira de auxiliar para as obras boas, se transformará então em fiscal das tuas obras boas e más, relatando tudo com imparcial exatidão. A Mãe de Deus, que tanto e tanto te procurou ajudar durante toda a tua vida e até teu último suspiro, com graças e favores para que te arrependesses, te convertesses, fizesses penitência, Ela mesma não será para ti nessa hora a doce Mãe de Clemência; porque esta benéfica Lua, da qual dantes emanou tanta graça, não te comunicará então nem sequer o mínimo influxo. Assim, com que temor e tremor aparecerá o pecador empedernido na presença de Jesus Cristo, justissimamente encolerizado! Precipitar-se-ia antes no inferno, do que ver o rosto irado de Cristo, Juiz severo.
1
Temeridade nas nossas vidas Daqui se pode inferir quão grande temeridade seja a nossa, pois que, sabendo por fé infalível que no fim da nossa vida haveremos de aparecer diante de tão formidávelJuiz, nos atrevemos agora a vilipendiá-Lo e provocar a sua cólera com tantas ofensas ! Qual o homem que, tendo uma demanda sobre bens que lhe pertençam diante do juiz civil, ou a própria causa de sua vida dian~e do juiz criminal, se atreveria a injuriá-lo e irrit:i-lo? E, pois, a demanda dos bens celestiais e a causa da vida eterna de menor import:incia? Ah! Que contradição: crer firmemente que Cristo há de ser Juiz, e desprezá-Lo e ofendê-Lo, quebrando com tanta audácia sua divina lei diante de seus olhos! Donde, com muita razão, admirado, o bispo Salviano fazia esta pergunt:, : como dizeis que credes no futuro Juiz, vós que mais do que ninguém desprezais esse mesmo Juiz? Mas, se tão terrível será somente o ver o soberano Juiz, quanto mais o lançar-nos Ele em rosto o abuso que fizemos dos divinos beneficias! Então conheceremos claramente o grande dom da fé, o tennos nascido no grêmio da verdadeira Igreja Católica, ou a Ela nos tennos convertido,
Que confusão nos causará termos sido rebeldes a tant:,s_ luzes de graças especiais com que Deus nos prem10u se~n as merecermos, mediante as quais procurou·nos tirar do relaxamento e nos afastar do mau caminho!
l 1
Morte serena no seio da família; imediatamente depois: juízo particular, do qual ninguém escapará
CADERNO ESPECIAL W 23 CATOLICISMO Nº 510,JU NHO 1993
o termos sido instruídos nas verdades evangélicas, alimentados com os Santos Sacra1nentos. Então veremos mais claramente a nossa enorme ingratidão e perfídia. E que, sendo cristãos, somos piores do que muitos gentios, e mais· disso l utos que muitos bárbaros. Realmente, quanta indiferença na prática dos Dez Mandamentos da Lei de Deus, quant:, impureza, Parentes e amigos procurarão quanto pouco caso realizar logo o enterro do morto: 0 em relação aos que estigma da morte causa horror à se esforçam em lunatureza humana tar pelo bem e que , . . deveriam ser por nos .1porndos, quan~a pregmça em cumprir o próprio dever, quanto respeito humano ao ter que romper com as pessoas, os ambientes e as ocasiões que nos levam para o pecado: quanto medo de dizer não, de fazer o contrário do que r.ios pedem. Sobretudo, sobretudo, quanta tibieza em pedll' a Nossa Senhora, que nos foi dada como Mãe de misericórdia, que tudo pode nos obter na sua incomensurável bondade materna, para que Ela nos ar" ranque de nossos vícios, nos tome como seus filhos bem-amados e nos proteja contra a ação do demônio infernal, obtendo-nos a prática das virtudes crist.'is, uma boa morte e a salvação eterna.
Tantas ilustraç.ões com que Deus nos iluminou o entendimento e nos excitou a vontade. Tantos bons pensamentos na )eitura de livros espirituais que nos mostravam os males do mundo moderno, para nos atrair à virt1:1de. Tantos bons desejos suscitados pelas palavras e escntos de católicos destemidos, para nos emendarmos ~lo~ vícios. Tantos bons exemplos para nos mover à un 1tação. Em suma, do princípio até o fim da vida, uma série contínua de inumeráveis dons sobrenaturais, todos baldados, todos rejeitados e desprezados com enorme s ingratidão! A própria situação atual da Igreja, os sofrimentos pelos quais Ela passa, semelhantes aos de Cristo, nos deixam indiferentes. Vemo-La hoje em dia como que desfigurada, demolida por dentro, quase irreconhecível... e nfto nos importamos. Desde que nossa vidinha não seja perturbada, desde que nossos pequenos prazeres não cessem, desd e que não sejamos incomodados em nossa mediocridade, a Igreja, ora a Igreja, Ela que não me amole com seus sofrimentos e suas dores!
Exame implacável do Juiz Que poderei eu responder quando o Redentor me mostrar suas Sacratíssimas Chagas, dizendo: "Vê a que cún_mlo de amor cheguei para te salvar! Estas chagas as abrll'am não t:,nto o ódio dos judeus para comigo, quanto o meu amor para contigo. Elas e todo o meu sangue derramado foram para te lavar das tuas cu lpas e para te dar uma moeda com que comprasses para ti a· eterna glória. Quanto manifestam a imensa benevolência com que te amei! D_ize-Me, que poderias tu _pedir mais do que um Deus crucificado por teu amor? Dize, se for possível, eomo podia Eu amar-te mais? Com isto, certissimamente estavas tu obrigado a corresponde:i"-Me com todo o teu amor. E, contudo, que caso fizeste de Mim? Como Me agradeceste tão excessivo amor e tão imensos beneficias? Como correspondeste a t~tas graças? Que merece, pois, uma t:"ío enorme ingratidão e uma tão bárbara impiedade? Depois de lançados em rosto os benefícios e ingratidões, proceder-se-á ao exame das culpas, e distint:,mente se examinarão todas as tuas obras, palavras e pensamentos. Como, desde a meninice, conheceste primeiro o p_ecado do que a virtude, jogando pela janela o inapreciável dom da inocência de alma. Mentiras, desobediências, invejas, roubos se seguiram. Perverteste os teus companheiros com tantas malícias. Foste dissoluto na escola, irreverente nas igrejas, escandaloso nas conversações. A mocidade gastaste em jogos e recreações licenciosas, em ler literatura lasciva, em praticar ações desonestas, talvez até na droga, nos pecados contra a natureza e no crin1e. E, ao fazeres zombaria das devoções e criticares os que combatiam pela Igreja, retraíste a este da freqüência aos Sacramentos, àquele da leitura dos bons livros espirituais e àquele outro impediste que permanecesse nos ambientes que não p_a ctuam com o mau espírito do mundo de hoje. Então te dirá o ~oberano Juiz: Cometeste est:..s e aquelas maldades, e Eu sempre calei e dissimulei; porém agora é o momento de lançá-las em teu rosto, ele te mostrar que tinhas olhos para vê-las e mãos para castigá-fas. Mas, sigamos o processo. Na idade de adulto travaste inimizades por razões meramente pessoais e não pela causa da Igreja, procuraste ganhos ilícitos, foste sem motivo injurioso para os iguais, in- Enquanto o cadáver jaz na sepultu,·a, a alma, julgada pelo Juiz supremo, suport.ivel aos inalcança a salvação ou é condenada feriares, invejoso eternamente dos superiores,
CADERNO ESPECIAL Nº 23 CATOLICISMO Nº 510,JUNHO 1993
descomposto nas palavras, dissoluto nas obras. Fizeste a tua confissão, mas sem arrependimento dos pecados nem propósito de emenda. Que mais? Então tornará a dizer o severo Juiz: "Sempre ~'alei e tive paciência. Agora sairá com maior ímpeto a minha indignação, até aqui represada. Dissipar-te-ei e lançar-te-ei no profundo do inferno".
Aparta-te de Mim maldito, para o fogo eterno Acabado o exame, declarados todos os delitos, convencido o delinqüente de sua culpa, Nosso Senhor pronunciará a sentença, terribilíssima para o pecador, porque será de morte eterna! De muitos criminosos, referem narrações, quando lhes foi comunicada a sentença de morte, uns caíram desmaiados por terra, outros, sendo jovens, de repente envelheceram, fazendo-se-lhes brancos todos os cabelos. Outros ainda suaram sangue. E, contudo, tratava-se só da morte temporal. O que ocorrerá, pois, tratando-se da morte eterna? E serão terríveis as palavras que o Deus justiceiro então pronunciará: "Aparta-te de Mim, alma maldita, que não mereces estc,r comigo, nem gozar da minha glória. Malclir,, pela minhajustiça, cujas leis não observaste e maldir,, pela minha misericórdia, de cujas graças abusaste. Quiseste a maldição, efa será tua companheira eterna. Apart,,-te, pois, de mim;teu Criador, teu Redentor e teu Deus. Aparta-te, e fica para sempre separada ela pátria celestial, ela companhia dos bem-aventurados e ele todo gênero de bens. Vai, vai-te ao fogo eterno, como merecem as tuas maldades. Vai-te em má hora em companhia daqueles demônios, aos quais tanto serviste. Vai sepultru·-te no inferno, onde est,,rás ardendo naquele terribilíssimo fogo eternrunente". Com esse trovão tão espantoso, ficará o pecador entregue totalmente ao demônio, que convocará todas as outras fúrias infernais, dizendo: "Deus o abandonou, persegui-o e prendei-o, porque não há ninguém que o livre". Abrirá repentinamente o inferno a sua boca e tragará aquela .mal-aventurada alma, rodeada ele demônios. Qual não será então seu espanto e dor, vendo-se naquele tão horrível lugar de tormento e sentindo-se abrasar por aquele fogo devorador, com indubitável certeza da eternidade elos seus tormentos, que nunca jamais terão fim, nem interrupção, nem alívio algum!
Vem, bendito do meu Pai, toma posse do teu reino Pelo contrário, quão alegre será aquela sentença em favor ela alma just,,: "Vem, bendit,, ele meu Pai, toma posse cio Reino que est,"1 preparado para ti, desde a criação elo mundo". Ou aquela outra: "Alegra-te servo bom e fiel, entra no gozo cio teu Senhor". Se o seráfico São Francisco, recebendo de um anjo a revelação de que era predestinado, foi transportado de tão grande júbilo que não cabia em si de prazer, e pouco lbt. faltou p,u-a morrer afogado na excessiva alegria que sentia, qual não será o contentrunento de um J. usto, vendo que seu Deus, com semblante amigável, fixa nele seus benigníssimos olhos, e com palavras muito amorosas o convida, dizendo: "V em, bencl ito, das fadigas para
o descanso, da pobreza espiritual para as riquezas, das lágrin1as para os prazeres, das penas para as delícias, da morte para a vida, das desonras para a glória, das batalhas para a coroa que, vencendo, mereceste! Oh que jubiloso "Vem"! Oh que bem-aventurada bênção! Nossa Senhora, a cujas preces e bênçãos a alma deve sua salvação, se regozijará com ela e a açolherá como Mãe amorosa. Então o Anjo da Guarda, com festivos aplausos, se alegrará com a alma pelas tentações que tão valorosamente venceu; pelas injúrias que tão firmemente afrontou e tão generosrunente perdoou; pefas tribulações que tão animosamente sofreu; pefas inspirações que tão perfeitrunente executou; pelas lutas que soube conduzir pela Santa Igreja, sem preguiças nem molezas, por ter sabido dizer "não", sem respeito humano, aos atrativos deste século; por ter apoiado tudo quanto é bom. E assim, alegrando-se o Anjo com a mesma alma, acompanha-la-á ao Céu até introduzi-la na visão beatífica com as palavras de Isaías: "Contempla a Sião, a cidade do nosso triunfo". Com aquela primeira visão ficará a bem-aventurada alma absorta em júbilos inefáveis e eternos.
''Lembra-te dos teus novíssimos e nunca jamais pecarás" Contraponha-se, pois, agora, aquele terrível Ide, malditos, para o fogo eterno, intimado aos réprobos, a este dulcíssimo Vinde, benditos, tomai posse do Reino, dito aos justos. A esse respeito, escreve Santo Agostinho: "Que coisa se pode pensar de rnais terrível do que aquele Ide, e que coisa rnais aprazível do que aquele Vinde? São só duas palavras, rnas urna é de todas a rnais horrível, outra a rnais apetecível". Estes dois vocábulos que há de proferir o supremo Juiz soavrun e faziam impressionante eco no coração daquele Doutor da Igreja. Estas mesmas palavras eram o som da trombeta que mantinha sempre vigilante nos combates espirituais a São Jerônimo, ainda que envelhecido no deserto, desfeito com as penitências e tão benemérito na defesa da Igreja. Porque, embora a fatal trombeta vá soar apenas na Juízo universal*, contudo este] uízo particular será, para cada um, como aquele universal. Por isso devemos sempre, em todos nossos trabalhos, nas nossas recreações, em qualquer lugar, lembrarmo-nos deste e do outro juízo, como diz Tomás de Kempis. E, assim, esta meditação termina com o conselho divino com o qual se iniciou: "Lernbra-te dos teus novíssimos e não pecarás eternamente". E com isto infalivelmente conquistarás o Paraíso celeste. •
Logo após a ll'Orte, cada um terá seu Juízo particular, que é o tema desta medi1ação que hoje publicamos. Mas haverá também, no final do mundo, o Juízo universal, que sem alterar em nada as sentenças dos juízos particulares,julgaráo mundo todo e a história dos homens como um conjunto. Tudo então que estava ocu lto se saberá, para a glória de Deus, felicidade dos justos e confusão dos precitos.
FONTES DE REFERÊNCIA 1. Conferência pronunciada pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP, em 21-11-1987. 2. Pes. Pinamonti SJ e Rosignoli SJ, Exerdcios de Santo Inácio e Leituras EsjJirituais, Livraria Aposto lado de Imprensa, Porto, 1958, 4ª ed iç,'io.
CADERNO ESPECIAL Nº 23 CATOLICISMO N° 510,JUNHO 1993
APOSTOLADO
O dever cristão da militância contra-revolucionária Realizou-se em dezembro último, em Madrid, o XXXI Congresso de Amigos de "Ciudad Católica", movimento que difunde a conhecida revista "Verbo". Um dos conferencistas mais aplaudidos no evento foi o Dr. Fernando Gonzalo Elizondo, secretário da Sociedade Espanhola de Defesa da Tradição, Família e Propriedade TFP-Covadonga. Reproduzimos abaixo alguns excertos de sua brilhante exposição
P
ara quem pretenda seriamente seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo, existe um dever de militância que começa desde logo em cada um, e que envolve a obrigação de dar testemunho de Cristo diante dos homens, em presença dos que O atacam, em choq ue contra os que se organizam para destruir sua obra de Salvação. fate dever de militância cristã é iniludível. Cumpriu-o, e quão admiravelmente, Maria Santíssima, pela Liturgia cantada e celebrada como Aquela que "é teJTível como um exército em ordem de batalha" 1• fase dever exigiu o heroísmo nos tempos apostólicos, nas catacumbas, e impôs suas nobres obrigações durante as invasões dos bárbaros e nos embates contra as sucessivas heresias. Foi cumprid o também, com fulgores prototípicos, na expansão medieval do império cristão, a partir da Europa, desde as gestas carolíngeas até as Cruz.adas. A Revolução
Tal dever não se evaporou nas místicas bmmas de um passado medieval. Mas tomou-se cada vez mais sutil, mais complexo, tantas vezes mais árduo, com o advento da modernidade. É que também o inimigo de Cristo, de sua Igreja, da Civiliz.ação Cristã, fezse cada vez mais envolvente, mais abarcativo, mais definido e audaz, mais falacioso e tendencioso. Esse inimigo tem um nome. Ele se chama Revolução. Mas não é esta ou aquela revoluç,fo, este ou aquele motim subversivo: é a Revolução com "R" maiúsculo.
Podemos definila, com o Professor Plinio Corrêa de Oliveira em sua magistral obra Revolu-
ção e Contra-Revolução, como um processo nascido em fins da Idade Média, que tem como causa profunda "uma explosão
de orgulho e sensualidade que inspirou, não diríamos um sistema, mas toda uma cadeia de sistemas ideológicos. Da larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: a PseudoReforma, a Revolução Francesa e o Comunismo'·' 2 • A Revolução não avança só por si mesma
Como poderia a militância cristã em nossos dias, ignora ou ficar indiferente diante da existência deste processo e de seu dinamismo de destruição revolucionária de todas as hierarquias religiosas, políticas, sociais e econômicas,
Godofredo de Bou.illon, libertandoJemsalém e os Lugams Santos por ocasião da I Cruzada, tornou-se u.m modelo de cruzado, de cavaleiro e de müitante cristão
JUNHO 1993
17
,
,
OLUTADOR CATOLICO TUDO POO EM CRISTO, ATRAVES OE MARIA bem como de negação de toda lei divina e natural, o qual pretende extirpar da própria consciência dos homens as noções próprias do Bem e do Mal? Ora, se esse dinamismo é fundamental para que o processo revolucionário seja possível, há também outros fatores, pois a Revolução não avança só por si. É, pois, com notável acerto, espírito de síntese e maestria que o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira coloca em Revolução e Contra-Revolução o problema dos mentores e agentes do processo revolucionário. Os Agentes da Revolução: A Maçonaria e as demais Forças Secretas
"Não acreditamos - diz ele que o mero dinamismo das paixões e dos erros dos homens possa conjugar meios tão diversos, para a consecução de um único fim, isto é, a vitória da Revolução. "Produzir um processo tão coerente, tão contínuo, como o da Revolução, através das mil vicissitudes de séculos inteiros, cheios de imprevistos de toda ordem, nos parece impossível sem a ação de gerações sucessivas de conspiradores de uma inteligência e um poder extraordinários. Pensar que sem isto a Revolução teria chegado ao estado em que se encontra, é o mesmo_ que admitir que centenas de letras atiradas por uma janela poderiam dispor-se espontaneamente no chão, de maneira a formar uma obra qualquer, por exemplo a 'Ode a Satã~ de Carducci. ''As forças propulsoras da Revolução têm sido manipuladas até aqui por agentes sagacíssimos, que delas se têm servido como meios para realizar o processo n,volucionário. "De modo geral, podem qualificar-se rigentes da Revolução todas as seitas de qualquer natureza, engendradas por ela, desde seu nascedouro até nossos dias, para a difusão do
pensamento ou a articulação das tramas revolucionáriqs. Porém, a seitamestra, em torno da qual todas se articulam como simples forças auxiliares - por vezes conscientemente, e outras vezes não - é a Maçonaria, segundo claramente decorre dos documentos pontífícios, e especialmente da Encíclica Humanun Genus de Leão XIII, de 20 de abril de 1884. "O êxito que até aqui têm alcançado esses conspiradores, e particularmente a Maçonaria, deve-se não só ao fato de possuírem incontestável capacidade de se articularem e conspirarem, mas também ao seu lúcido conhecimento do que seja a essência profunda da Revolução, e de como utilizar as leis naturais - falamos das da política, da sociologia, da psicologia, da arte, da economia etc. para fazer progredir a realização de seus planos. "Neste sentido os agentes do caos e da subversão fazem como o cientista que, em vez de agir por si só, estuda e põe em ação as forças, mil vezes mais poderosas, da natureza. "É o que, além de explicar em grande parte o êxito da Revolução, constitui importante indicação para os soldados da Contra-Revolução'·' 3. Continua atual a condenação da Maçonaria?
Se, sobre a existência e a ação revolucionária da Maçonaria, o católico comum estava-abundantemente informado no século XIX e parte do século XX, já pela década de 50 se fazia um · grande silêncio a respeito, e hoje poucos são os que leram, por exemplo, a grande obra de Monsenhor Delassus, La Conjuration Antichrétienne 4, ou que conhecem os sucessivos documentos pontifícios que condenam e denunciam a conspiração maçônica. Desde o mais antigo deles, de 28 de abril de 1738 - há mais de 250 anos - , que é a Carta Apostólica ln eminenti, do Papa Clemente XII, até os
meta da República Universal igualitária, à qual deve corresponder também uma religião mundial ecumênica e relativista, de fundo panteísta. Governo das almas
A este terreno clássico da concepção anti-maçônica, a obra do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira acrescenta um campo novo: é o estudo e a denúncia das técnicas maçônicas de governo das almas. A explicação em profundidade do conhecimento e manuseio das tendências desordenadas, da criação de ambientes, da difusão através dos grandes órgãos da mídia, ou por outros meios de uma mentalidade que, generalizando-se, garante o êxito do avanço das idéias e dos fatos revolucionários. É a denúncia daquilo que, hoje em dia, se conhece pela expressão um tanto imprecisa de Revolução Cultural, revolução dos modos de ser e de viver, que envolve até o cotidiano e abarca o indivíduo em todas as suas manifestações. Segundo a promessa de Nossa Senhora em... triunfará, recompensando assim os que...
226 documentos publicados pela Santa Sé durante os 25 anos que durou o pontificado de Leão XIII, condenando a Maçonaria, os "carbonários" e as sociedades secretas em geral. Lentamente deixou-se na surdina o fato de que o Código de Direito Canônico - vigente até há poucos anos, e que foi elaborado durante o pontificado de São Pio X (1903-1914) e promulgado em 1917 pelo papa Bento XV - punia com pena de excomunhão o católico que se filiasse à Maçonaria ( cfr. cânon 2335). Hoje são raros os católicos que sabem que, embora o novo Código de
... Fátima seu Imaculado e Sapiencial Coração ...fielmente militarem nessa intenção
Direito Canônico, em vigor desde 1983, haja suprimido a pena de excomunhão, continua proibido para o católico filiar-se às associações maçônicas, confonne esclarece a Declaração da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, de 26 de novembro de 1.983 5• República Universal e religião ecumênica
Nos meios católicos anti-maçônicos sempre se teve em vista o desideratum da seita de controlar o maior número de governos, e a própria mecânica das relações políticas e financeiras internacionais, para alcançar a
Vida sobrenatural
Diante desse panorama, analisado em toda sua amplitude e profundidade, diante desta obra de destruição realizada pela Revolução liberal e igualitária, nosso amor à Igreja, nosso amor à Civilização Cristã, nosso amor à Pátria, frutos do amor que sobe até Deus por intermédio de Maria, se transforma num indeclinável dever de militância contra-arevolut:ionária. Sabemos todos, entretanto, que nesta luta tão dramaticamente desigual, não haveria estudo, não haveria sagacidade, não haveria habilidade operativa, nem determinação, nem coragem, que para algo servisse, se o católico quisesse trabalhar ignorando a vida sobrenatural.
CATOLICISMO
JUNHO 1993
18
19
"Sem Mim nada podeis fazer", disse Nosso Senhor. Mas nesta impossibilidade, lembrada e reconhecida constantemente, está a chave, a força do lutador católico. Porque em Cristo, através de Maria, tudo podemos fazer, e poderemos ver como se cumpre em todo seu esplendor a promessa evangélica: "As portas do inferno não pre-
valecerão". Mais ainda, devemos militar pelo Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo com a certeza de sua vitória e com a confiança de que o Sagrado Coração de Jesus reinará por meio do Sapiencial Coração de Maria, conforme Ela nos prometeu em Fátima: "Por fim, meu Imaculado Coração triunfará". NOTAS 1. Câ nt 6, 4. 2. Plínio Corrêa de Oliveira, Revoluci6n y Contra-Rl!IJolu'ci6n, Editorial Fernando III el Santo, Bilbao, 1978, Introdução, p. 26. 3. Idem, op.cit., Parte I, cap. VI, 6. 4. Mons. Henri Delassus, La Conjuration Antichrít.ienne -- Le temple maçonique voulant s'éll!IJer sur les ruines de L'Eglise catlwlique, Desclée, Lille, 1910, 3 vol.; com um a carta de congratulação escrita, em nome do Papa São Pio X, pelo Cardeal Merry dei Vai, Secretário de Estado da Santa Sé. 5 . Acta Apostolicae Sedis, 1-3-1985, nº 3, vol. LXXVI, p. 300.
INVASÕES
,
NO PARANA, INVASOES DE TERRA ABREM UMA ESTEIRA DE SANGUE Cresce a violência dos chamados sem-terra no Paraná. Três soldados da Polícia Militar são emboscados e assassinados de forma brutal, na região de Cascavel. Crime espalha pânico na sociedade local e intranqüilidade na classe rural mais violento e bárbaro crime ocorrido no Paraná por parte de invasores de terras. O fato , um tríplice assassinato, sucedeu no dia 3 de março último, na Fazenda Santana, localizada no município de Campo Bonito, perto de Cascavel, na próspera região do Sudoeste paranaense. Cumprindo o dever, três membros da Polícia Militar do Paraná, sargento Vicente de Freitas, cabo Algacir Bebber e soldado Adelino Arconti, foram vítimas de uma emboscada de perigosos sem-terra, que acabavam de invadir o imóvel, de propriedade do Grupo Beledelli. Os policiais militares, pertencentes ao Serviço de Inteligência da Polícia Militar do Paraná, estavam no local à paisana, a mando de seus superiores, para fazer um levantamento do ocorrido 1• Os detalhes do crime são pavorosos. Um grupo de 60 sem-terra, armados com revólveres, pistolas, espingardas calibre 44 e farta munição, renderam os três policiais e, cm seguida, os mataram com tiros e pauladas na cabeça 2 • "Foi um ato bárbaro, covarde, as vítimas atacadas com tiros à queimaroupa na cabeça, por trás, quando estavam com as meios para cima e as armas na cintura", declarou o secretário da Segurança Pública do Paraná, José Favetti 3 • Os assassinos, fortemente armados, faziam parte da "comissão de seguran-
º
Na região de Cascavel, todos têm ainda viva na _memória a denúncia trazida a público pela TV-Tarobá, que apresentou sensaciona I e reveladora entrevista, concedida ao jornalista Paulo Martins por um semterra que fügiu do acampamento em que vivia. A entrevista acha-se gravada em fita 7 • No depoimento, o agricultor relata as condições humilhantes em que vivem os acampados, a intensa doutrinação a que são submetidos, e a forte liderança que os mantém sob severa vigilância e disciplina. A fita documenta, com riqueza de detalhes, a denúncia de qu e as invasões são organiz.adas, e de que tudo se passa como se existisse um misterioso e forte comando central de operações, com auxílio de pessoas e recursos vindos até do Exterior!
ça" que os sem-terra mantinham na área invadida, incumbida de. controlar a circulação de pessoas no local. Na ocasião, também foi ferido gravem·ente o madeireiro Aldecir Casso!, que fora ao local para tentar retirar maquinárias que se achavam na área invadida. Padres implicados? O sangrento episódio serviu para tomar público que as invasões são organiz.adas por uma "centra/da violência". Um dos líder es da chacina, "Teixeirinha", é velho conhecido da polícia paranaense, por ter comandado pelo menos sete invasões em proprieda·des rurais. Na operação montada pelas polícias civil e militar em busca dos assassinos, "«Teixeirinha" resistiu à ordem de prisão e acabou morrendo num tiroteio com a polícia. Tudo podia da.r a impressão de um episódio de guerrilha no campo. No acampamento dos invasores, a polícia descobriu, além de trincheiras, um arsenal enterrado contendo espingardas e revólveres de diversos calibres e pistolas semi-automáticas. Em declaração à imprensa, um dos assassinos detidos, Lourival Pimentel, confessou que o grupo recebia apoio de dois padres da Catedral de Cascavel, inclusive para a passagem de armas aos sem-terra, quando das invasões \ O próprio governador Requião reconheceu que existem extremistas entre os invasores: "Dentro do movimento dos sem-terra, o que existe é uma fração enlouquecida que quer o confronto armado". · A chacina dos três policiais militares produziu profundo trauma na sociedade local , que vive hoje sob clima de intranqüilidade e até de pânico pela impunidade de que goz.am os invasores da região e pela ousadia que manifestam em seus atos. Sob clima de grande emoção e revolta, além de grande número de autoridades civis e militares, mais de 1500 pessoas compareceram à Missa de corpo presente dos soldados assassinados, cu-
Três soldados da Polícia Müitar do Paraná... invasores da Fazenda Santana, em Campo Bonito, ...
jos corpos percorreram as principais ruas de Cascavel, transportados num caminhão do Corpo de Bombeiros. Eles foram homenageados, antes do sepultamento, com uma salva de tiros. Além disso, receberam promoção post-mortem pelo heroísmo demonstrado em missão.
Um documento conjunto da Associação Comercial e Industrial, do ...foram cruelmente assassinados pelos Clube de Diretores Lojistas, Sindilo... na região Sudoeste do Estado, perto de Cascavel jistas, Sindicato Rural Patronal e Sociedade Rural do Oeste, todos de da gravidade da situação e sobre a inúCascavel, depois de responsabiliz.ar nência de novas invasões. A advertência as autoridades, cujo ''silêncio propiciou não foi ouvida 6• o crescimento sistemático das ações
No ano passado, dirigentes de 19 importantes associações rurais do Paraná advertiram as autoridades a respeito
ATÍLIO GUILHERME FAORO
NOTAS 1. A presente matéria foi elaborada com base e m abundante noticiário da "Gazeta do Paraná" e "O Paraná", ambos de Cascavel, de 5 a 24de março de 1993. Quando for outra a fonte, e la aparece mencionada em no ta. 2. Cfr. "Estado do Paraná", Curitiba, 5-3-93. 3. "Gazeta do Povo", Curitiba, 6-3-93. 4. Cfr. "O Paraná", Cascavel, 7-3-93. . 5. "Gazeta do Povo", Curitiba, 9-3-93. 6. O documento, datado de 24 de agosto d e 1992, foi dirigido ao governador Roberto Requião e ao secretário da Agricultura, Sr. Osmar Dias, e subscrito por 19 associações rurais do Paraná. 7. A mencionada fita da TV-Tarobá constitu i uma peça muito importante para docu me ntar a organização cios sem-terra no Paraná. Reúne também o noticiário jornalístico da emissora fe ito in loco por ocas ião da invasão da Faze nda Sa nta T e res inha, no município de lbema, perto d e Cascavel, em agosto d e 1992. Houve um grave confro nto e ntre invasores armados e empregados da fazenda, resultando e m pelo menos quatro pessoas feridas.
Segunda invasão revela fracasso do "ceder para não perder"
Clima de guerrilha rural? Para muitos paranaenses, o Paraná está vivendo um clima de guerrilha rural. "Nossa guerra é real e diária, nosso combate é contínuo, seja na complexidade dos grandes centros frente à criminalidade sofisticada, seja no covarde planejamento da guerrilha rural, dissimulada sob falsas bandeiras", afirmou em artigo para um importante jornal curitiba no, o capitão Jorge César de Assis, da Polícia Militar do Paraná 5 •
dos sem-terra", denuncia a existência de "uma orquestração muito bem planejada por trás de tudo isso".
E
m 1991, ocorreu uma primeira invasão da Fazenda Santana, de propriedade da Madeireira Beledelli. Os invasores concordaram e m desocupar a área, mediante um acordo que e nvolveu o go erno estadual, o INCRA e o proprietário, tendo como testemunhas dois deputados estaduais. O proprietário concordou em ceder uma área de 950 hectares da faze nda aos invasores, o INCRA providenciaria a escritura definitiva, e o governo estadual daria apoio e financiamento para o projeto. Em troca, os
CATOLICISMO
JUNHO 1993
20
21
invasores se comprometiam a não ocupar outras áreas da mesma fazenda. Passados dois anos, os invasores, não contentes com tudo o que receberam, e alegando que algumas famílias remanescentes não tinham sido assentadas pelo INCRA, resolveram tomar a outra parte da propriedade ... A ruptura do acordo serviu, mais uma vez, para confirmar o desacerto da política de "ceder para não perder", adotada por proprietários e autoridades em relação ao movimento invasor.
Ninguém quer assumir a culpa pelo sangue derramado no Paraná Um clima de emoção e revolta tomou conta das 1500 pessoas que con-,tpareceram à Missa de corpo presente na igreja de Neva, em Cascavel (PR)
Sociedade responsabiliza Governador Requião, PT e Pastoral da Terra. Requião acusa o MST. Invasores culpam o INCRA "O Governador Roberto Requião já passou para a História como o governador das invasões, que usurpou prerrogativas do Poder Judiciário e fez vistas grossas para o assalto à propriedade privada". A dura acusação foi formu lada pelo jornal "Indústria e Comércio", da capital paranaense, em matéria especial sobre dois anos do Governo Requião, comentando as invasões no Paraná 1• O Sr. Euclides Formighieri, presidente da Sociedade Rural do Oeste do Quatro suspeitos do tríplice assassinato, Paraná , que reúne associa,·eco/bidos na Delegacia de Campo Bonito ções e sindicatos rurais da <lidas, 29 pedidos de reintegração de região de C1scavel, responsabiliza "a posse já despachados e não cumpridos, Pastoral da Terra, da Igreja Católica, e 19 pedidos de intervenção federal o Partido dos Trabalhadores e as próaguardando decisão no Supremo Tribuprias organizações governamentais, nal Federal. que foram avisadas com antecedência, mas que sempre acabam dando coEm entrevista ao jornal "Indústria e bertura a esse grupo de marginais que se Comércio", o desembargador Luiz Renadizem sem-terra'' 2 • to Pedroso, até há pouco presidente do Para o dirigente rural, a organização Supremo Tribunal do Estado do Paraná, dos sem-terra é tão intensa que este cri- comentando as dificuldades que o Poder Judiciário vem encontrando para obter do me já era esperado pelos fazendeiros: governador Roberto Requião as ordens de "Acho que veio até meio tímido". reintegração de posse, fez esta impressioPara o Sr. Nelson Menegatti, presidente do Sindicato Rural de Cascavel, o nante declaração: "O direito de propriecrime de Campo Bonito "é o resultado dade não é cumprido no Paraná" 3• do que o Governo Es1adual tem f eito, Tentando fugir das críticas, o goverprotegendo os invasores. Esta proteção nador Requião investiu contra o Movicoloca os invasores como algo mais mento dos Sem-Terra: "A responsabiliforte do que a própria Justiça ". dade é do movimento, que permitiu a invasão". "O direito de propriedade não é cumprido no Paraná" Qual o verdadeiro objetivo das invasões de terras? Nos dois últimos anos, ou seja, durante a gestão do Sr. Roberto Requião, Ao mesmo tempo, Requião anunforam invadidas mais de 30 proprieda- ciou uma verdadeira caçada aos crimides rurais no Paraná. Ao iniciar seu nosos. Na perseguição aos assassinos, governo, ele anunciou que não iria cum- foi morto um dos invasores, conhecido prir as determinações da Justiça de reticomo "Teixeirinha", o que lhe valeu rar os sem-terra das áreas invadidas. uma saraivada de críticas, partidas desta A situação tornou-se explosiva. vez de líderes e deputados pelistas. "O Hoje existem no Paraná 40 áreas inva- governo está agindo de forma ir-
responsável ao permtttr que a tropa faça justiça com as próprias mãos", afinnou da tribuna da Câmara o deputado federal pelo Paraná, Pedro Tone li i, político ligado aos semterra de seu Estado. Em nota oficial, o Movimento dos Sem-Terra, embora sem condenar formalmente os criminosos, lamenta a morte dos policiais . Classifica a ocupação como "um erro político" e "uma decisão isolada" dos invasores; e joga a culpa do ocorrido na "inoperância do INCRA", que tem inviabilizado os esforços de "solucionar pacificamente os conflitos agrários". A Comissão Pastoral da Terra no Paraná também tentou isentar-se daresponsa bilidade: "Policiais e trabalhadores rurais são vítimas da omissão do Estado e da sociedade, que se recusam a realizar a reforma agrária", diz a entidade em nota oficial. Como se vê, o tríplice assassinato de Campo Bonito está servindo para levantar ante a opinião pública a discussão sobre o verdadeiro objetivo das invasões de terras. Ao mesmo tempo, o sangrento episód io serve para que certas autoridades revejam a política imprevidente e até indulgente que vêm adotando em face do movimento invasor, que não cessa de agredir o direito de propriedade, um dos pilares de todo Estado de Direito. A.G.F. NOTAS l. " Indústria e Comé,·cio", Curitiba, 5 a 7-393. 2. A presente matér ia fo i elaborada também co m base no ab un dante noticiár io fornecido pe los j o rn ais "Gaze ta do Paraná" e "O Paraná", a mbos de Cascavel, de 5 a 24 de março de 1993. Qua nd o a informaç.ão é de outra fonte, es ta aparece mencionada e m nota. 3. " lnd ústria e Co mé rcio" , Curi tiba, 18-1 -93
Eclesiásticos acusados de incentivar invasões A opinião é generalizada na sociedade de Cascavel: as invasões não existiriam se não fosse a circunstância de que os sem-terra vêm rece bend o substancioso apoio de padres da Diocese de Cascavel. Lourival Pimentel, um dos invasores que participaram do asssassinato dos três soldados, ac.abo u confessa nd o que dois padres da Catedral de Cascavel estão dando apoio aos invasores, "inclusive para a passagem de armas". Um dos sacerdotes seria o Pe. Láza ro BrDning, conhecido na região por seu trabalho junto aos sem-terra. O sacerdote, declarando-se "nervoso" com o aparecimento de seu nome em dedaraçõesà imprensa, negou qualquer "envolvimento com os invasores da Fazenda Santana". Ao mesmo tempo, porém, a imprensa local noticiava que Lourival tinha "voltado atrás" e que o Pe. Lázaro apenas "dava ajuda espiritual". Seja como for, o invclSOr desmentiu a afirmc1c;ão do sacerd ote, comprometendo-o e confirmando a existê ncia .de vínculos entre o padre e os invasores. Ambigüldades
Em carta lida nas missas do dia 8 de março, D. Armando Círio, Arcebispo de Cascavel, negou o envolvimento da Igreja "com atitudes violentas" e também a participação de sacerd otes no forneci mento de c1rmas aos invasores. A Autoridade eclesiástica quis dar um tom informal ao seu pronunciamento, "escrito apenas para ser lido nos púlpitos". A imprensa local não pôde assim publicar um texto oficial da Diocese, com as palavras do seu titular. Por sua vez, o Pe. José Peruzzo, do Seminário-Maior de Cascavel, compareceu à redação dos jornais para "responder algumas coloca ções". Num a decla ração pontilhada de ambigüi dades, declarou que a Igreja, qua nd o ajuda os se m-te rra, "ajudaos na sua necessidade e não na sua estratégia de invasão". Depois d!~ justifica r o empréstimo do edifício do Seminário para uma reunião de cinco dias, em dezembro último, pa ra os sem-terra "discutirem modos de orga nização de coopera tiva s", concluiu nebulosa me nte que "a Igreja não é socia lista ou capitalista, é a favor do homem". As suspe itas que envolvem sace rdotes como mentores da agit.a ÇéÍO rural Vl~m de longe. Circula em Cascavel, por exemplo, uma ince ndi,l ria "novena" de Nata l, editada em 1985, sob a responsabilidade do Bispado de Toledo e de vários sacerdotes, entre os quais o mencionado Pe. Lázaro Brüning._ A "novena" é dirigida às Comunidades Eclesia is de Base - as famigeradas CEBs e co nté m textos de reflexão elogiosos às "ocupações de terra e acampamentos". Nela se afirma: "cada vez que o povo organizado na sua luta consegue conquistar terra, acontece o Natal hoje em dia" (p. 9). A "novena" defende a Reforma Agr,'.íria e questiona, de vários modos, o direito de propriedade rural e urba no, promovendo de co meço a fim a luta de classes.
CATOLICISMO
JUNHO 1993
22
23
Ministro da Justiça manda apurar morte de sem-terra Por sugestão da bancada do PT na Câmara Fede ral, e a pedido do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil, o ministro da Justiça, Maurício Corrêa, criou uma comissão para investigar a morte do líde r dos sem-terra, Diniz Be nto da Silva, cognominado "Teixeirinha". O invaso r, apontado co mo o mandante do assassinato dos três policiais militares na Faze nda Santana, morre u num tiroteio, ao resistir à ordem de prisão dos policiais que o procuravam. A Comissão do Ministério da Justiça, que contou co m a participação do atual presidente da OAB, Marce lo Lavenere, decepcionou e produziu mesmo revolt.a na sociedade de Cascavel, pois co ncentrou-se em apurar a responsablidad e pela morte de "Teixeirinha", esquecend o-se dos soldados assassinados. Familiares dos policiais mortos pelos se m-terra, com cart.azes e palavras de ordem, protestaram quando a Comissão esteve na cidade de Cascavel, exigindo que ela olhasse t.ambém para o drama vivido pelas famílias dos militares. Para tentar acalmar os manifestantes, a Comissão recebe u as viúvas de dois dos soldados mortos. Ao final, os me mbros da Comissão, para su rpresa ge ral, informaram ao ministro da Justiça que nad a pude ram co ncluir, "já que as versões da Polícia Militar e drrs sem-terra são conflitantes". Sugeriram também a formação de uma subcomissão para "apurar o caso". A insólita atitude despe rtou novos protestos. Lame nta nd o que a Comissão te nha vindo "com opinião formada para distorcer os fatos", o preside nte da Sociedade Rural do Oeste do Paraná, Sr. Eucl ides Formighieri, através de fax e nviad o ao ministro Corrêa, pedi u que seja nomeada uma nova co missão "com pessoas com mais in_teg:idade para divulgar a verdade e não distorce-la .
HISTÓRIA
\11'
t' -~ \ /J " " .
CATOLICISMO Preços dural1te o mês de JUNHO de 1993:
,";.'' 1 ', -~
~
~
Bebidas nacionais e estrangeiras. Queijos e doces tipo europeu. Arenkes eSalmons
ASSINATURA ANUAL
Imagem de Santo Antonio castiga calvinistas É quase desconhecido na História do Brasil o episódio milagroso do castigo infligido a calvinistas franceses, através de uma imagem de Santo Antonio, por eles profanada moções recebidas até então pelo valoroso Capitão das armas católicas .
Castigo da petição insolente
Imagem de Santo Antonio, o Doutor Evangélico, na igreja de São Francisco, em Salvador, com as insígnias de Tenente-Comnel: bastão de mando, chapéu, dragonas e espada
CATOLICISMO já tratou em suas páginas 1 da brilhante "carreira de armas" milagrosamente desenvolvida em nossa Pátria por Santo Antonio de Lisboa - também conhecido como Santo Antonio de Pádua - , merecidamente chamado Martelo dos Hereges. Vejamos algumas datas significativas: 13 de junho de 1640- O célebre orador sacro, Pe. Antonio Vieira SJ, profere inflamado sermão na igreja da Ajuda, em Salvador, enaltecendo as milagrosas intervenções do Doutor Evangélico durante a guerra de expu lsão dos holandeses da Terra-Ma ter do Brasil, o que justificava o soldo que o mesmo já recebia , pago ao Convento franciscano. 16 de julho de 1705 - O Governador do Brasil, D. Rodrigo da Costa, promove Santo Antonio de soldado a capitão, em agradecimento pelas intervenções de nosso Santo para libertar dos mesmos hereges holandeses a Capitania de Pernambuco. Desde 27 de janeiro de 1654, quando teve fim a gloriosa cruzada luso-brasileira naquela Capitan.ia,emSalvador já se celebravam grandes festas com concurso de clérigos, nobres e o povo em geral agradecendo ao taumaturgo. 13 de setembro de 1810- Decreto do então Príncipe Regente, futuro D. João VI - reconhecendo os auxílios do Santo para salvar a Monarquia de "difícil crise" - , resolve, na imagem de Santo Antonio existente no Convento de São Francisco, em Salvador, elevá-lo ao posto de major de Infantaria. O Império reconheceu todas as pro-
Entretanto, é pouco conhecido o modo pelo qual este Santo tão belicoso, cuja figura a má hagiografia teima em reduzir a mero "agente casamenteiro" e "descobridor das coisas perdidas", começou sua carreira de armas no Brasil. Passemos a pena ao conhecido historiador pátrio, Sebastião da Rocha Pitta, em sua famosa obra "História da América Portuguesa": "Do ninho de hereges, de que naquele tempo (1594) estavam apoderados os calvinistas e outros sectários em La Rochelle, saíra uma armada, não só com intenção de piratear nos mares do Brasil, mas de invadir e saquear a cúiade da Bahia. Tinha tomado na costa de África a fortalezq de Arguim, em cujos despojos acharam uma imagem do glorioso Santo Antonio, ilustre português e ilustríssimo santo, ao qual dando muitos golpes lançaram-lhe ao mar, dizendo-lhe em tom de debi.que: Dizem que sois bom navegador, vamos, leva-nos à Bahia! "Mas Deus, que é admirável nos seus santos e vingador das suas injúrias, os castigou com uma tempestade, que derrotados e perdidos por várias partes os seus navios, aportou a sua capitânia destroçada à Província de Sergipe de[ Rey, onde não escapando da prisão os que tinham escapado do naufrágio, foram remetidos à Bahia para serem castigados. "Porém, vindo por terra daquela província, conduzidos por muitos soldados e outros caminhantes que se juntaram à companhia (para que tivesse mais testemunhas o milagre) acharam na praia de I tnpoã, quatro léguas da cidade do São Salvador, com os golpes do herético e sacrílego ferro, a imagem do Santo que tinham lançado ao mar, muitos graus antes de chegarem à altura da Bahia, quando lhe disseram por zombaria que os guiasse a ela. Estava a milagrosa imagem de pé, como que os esperando para os conduzir à cidade, em execução do que CATOLICISMO
24
lhe tinham pedido; que os despachos de petições insolentes são castigos, como experimentaram aqueles hereges, pois foram sentenciados à morte pelo roubo e pelo sacrilégio; e a imagem do santo, com os próprios sinais abertos e permanentes, colocada em seu convento da Bahia, onde por ordem real lhe faz todos os anos o nobilíssimo Senado da Câmara festa com procissão solene, como a padroeiro" 2•
***
Esse maravilhoso fato se insere na longa enumeração de feitos épicos do grande santo português, todos empreendidos em prol da integridade da Fé e do bem da Civilização Cristã no Brasil, e próprios a sacudir o torpor dos verdadeiros católicos em nossos dias. E desta forma, restaurando a velha fibra de outrora, conduzi-los à luta, ainda que psicológica e sempre legal, contra os atuais inimigos da Santa Igreja e da Cristandade na Terra de Santa Cruz. Usando para isso, muitas vezes, daquela que talvez seja a mais terrível das anuas, e que a Providência quis milagrosamente conservar intacta no corpo de Santo Antonio mesmo após sua morte: a língua! Sim, a língua (e também a pena), propalando aos quatro ventos, em todos os ambientes que freqüentamos , fatos épicos e religiosos de nossa História, que a historiografia oficial sistematicamente abafa. Para tal empresa ser-nos-á de valioso auxílio a intercessão do invicto cabo de guerra lisboeta que a Santa Igreja venera oficialmente como perpetuus haereticorum malleus (perpétuo martelo dos hereges), extirpador dos crimes e terror dos demônios, como é invocado em sua piedosa ladainha. GERALDO MARTINS
NOTAS 1. Gustavo Antonio Solirueo, O Invicto Cabo de Guerra ::;10. Antonio de Li.sboa, Catolicismo, junho de 1968 . 2. Sebastião da Rocha Pitt.a,Jackson Editores. Rio, 195 2, pp. 152 -3 .
*
COMUM: Cr$1.000.000,00
CASA ZILANNA
COOPERADOR : Cr$ 1.300.000,00
MERCEARIA
MOLDURAS BARONEZA Indústria e Comércio de Molduras, Quadros e Vidros Ltda.
Molduras Laqueadas em Ouro e Prata Exposição Permanente
BENFEITOR : Cr$ 2.000.000,00 GRANDE BENFEITOR: Cr$ 3.500.000,00 EXEMPLAR AVULSO: Cr$ 100.000,00
Rua Baronesa de ltú, 38 Rua ltambé, 506 - Higienópolis São Paulo - Fone 257-8671
Fone: (011) 825-1310 - Santa Cecília - SP
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu
_'©, WRDPALACE __ Rua das Palmeiras, 78 - 'fel. 101 l 1220-0422 - CEP'0]226 TELEX 1123208 - FAX I0lll 220-9955 DDG 10111 800-8272 Sfio Paulo
r - - - - - - - ~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1
Ao
1
Lord Palace Hotel:
1
1
-X-
Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. Nome: End.:
ESC\\
Assessoria Contábil &Tributária SIC Ltda. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE - ASSUNTOS FISCAIS Edivaldo José Ciryllo Rangel
Shoppings • Jardins Centro
ltaim
Rua Julio de Castilhos, 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068
Deus ajuda o marinheiro na ternjJestade, rnas o tirnoneiro déue estar ao lerne PROVÉRBIO ALEMÃO ·
Comércio de Carnes
NOVA CADEIRA ORTOPÉDICA
Norton
Suporte protetor para sua coluna vertebral
Atacadista de carnes em geral Fone: 298-4080
(Sr. Jayme)
• Construtora
G
----·-----------------
ADOLPHO LINDENBE~/A
703 6 º e 7º anelar Rua General Jardim , . 256 041 1 - São Paulo Fone.
R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
Talento Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Segurança . Soluções originais Harmoma Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe Acabamento perso~alizado Local privilegiado Sucesso
~:::::::= ntia desta tudo com a g
---
----· ---
A desjJreocujJação não sujJrirne os jJroblernas, nem os resolve, rnuitas vezes até os agrava tragicarnente - pois é a grande adormecedora dos sentinelas PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
Por falta de urn cra1.10 perde-se a ferradura - jJor falta de urna ferradura jJerde-se o cavalo - jJorfalta de urn cavalo jJerde-se o cavaleiro - jJorfalta de um cavaleiro jJerde-se a batalha - porfalta de urna vitória jJerde-se o reino. E tudo isso por causa de urn sirnples cravo! ESTADOS UNIDOS
PrejJara o cavalo jJara o dia da batalha, rnas o Senhor é quern dá a vitória Prov. 21, 31
---
----------assi~ura -
Na Coréia do Norte: comunismo e miséria muito vivos ... O sofrimento se esta mpa nas fisionomias dessas pobres mulheres, que aguardam pacientem ente, na longa fila, chegar sua vez d e comprar alguns minguados víveres. A foto foi colhida recentemente num m ercado estatal de Pyongyang, capital da Coréia do Norte. Enquanto a vizinha Coréia do Sul, sob o regime da propriedade privada e da livre
iniciativa, atingiu extraordinária prosperidade econômica, o rígido sistema econômico 'Lalini sta de Pyongyang está seriamente ameaçado de colapso_ Ap .sar desse chocante contraste, otimistas incorrigíveis e inocentes-úteis, ignorando a existAn ·ia de países como Coréia do Norte, China e Cuba, insistem em afirmar que o com,mi smn morreu .. _
Unidade na variedade
T
orre imponente, arcos agivais e mouriscos se mesclam com nervuras em diversas formas geométricas. A profusa e harmoniosa variedade de ornatos em nada çliminui a gravidade do edifício. A primeira vista, até parece uma igreja. Mas será mesmo? O relógio marca .quatro e vinte da tarde. As nuvens plúmb~as do outono conferem certo ar melancólico ao dia, precocemente no ocaso. Na rua, a ausência de
qualquer movimento de pessoas sugere a idéia de se tratar de local pouco freqüentado, talvez um monumento histórico petrificado no tempo. Mas, pasme leitor, a "igreja" que vemos nesta página é, na realidade, um edifício profano, uma estação de trem! Séria sem carranca, adornada sem frivolidade, a estação de trem de Toledo (Espanha) harmoniza a beleza sóbria do gótico
com o fascínio imaginativo do sonho oriental, típico da arte mourisca. Aqui, o Ocidente oscula o Oriente, numa síntese artística em que a imaginação presta homenagem à razão, a unidade encontra seu esplendor na variedade das partes proporcionadas entre si. Daí a nota de sacralidade do edifício, obra-prima da arte mudéjar, que o faz parecer até com uma 1greJa...
CATOLICISMO
\ .VF N 2 511 Julho
'' 'Discernindo, distinguindo, classificando ...
1993
Opção preferencial pelos nobres "É bem uma opção prefencial p elos nobres que anima este livro"
N
o decorrer da fa mosa l;a talha de Fri burgo (1644), o Duque d'Enghi en, futu ro Príncipe de Condé, Marechal de Frarn,--.a , tomou uma atitude extrema que fo i o penhor de sua vitóri a sobre os alemães e o imortalizou aos olhos da posteridade. No mais aceso da luta, quando o pêndulo da vitóri a ainda oscilava entre os dois contendores, o fu turo "Grand Condé", por uma inspiração própri a à geniali dade guerreira, atiro u seu bastão de comando em meio aos inimigos, grita ndo a seus soldados: "vamos apa nhá-l o". Eletri zados pela beleza do gesto, impul sionados pela ousadia de seu general que ia à fren te, os fra nceses se lanc,,-:aram contra os adversá ri os com ímpeto ainda desa.)nhecido. As linhas inimigas foram des fe itas, o ardor bélico dos irred utíveis alemães não ena.rntro u me ios para resistir e o triunfo pendeu inexoravelmente em fa vor de Condé .
"Uma opçií.o preferencial pelos oobres parece quase um sarcasmo atirado contra os pobres. Na realidade, essa antítese entre nobres e pobres tem cada vez menos razão ele ser .... " Ncio é s6 o pobre de recursos materiais que merece opção pref erencial. São também aqueles que, pelas circunstâncias de sua vida, têm deveres particularmente árduos a cumpri,; e aos quais incumbe maior responsabilidade no cumprimento desses deveres pela edificação que daí pode resultar para o corpo social, como, em sentido oposto, pelo escândalo que a transgressão desses deveres pode trazer ao mesmo co,po social. Nessas condições encontram-se fi·eqüentemente membros da nobreza contemporânea .... "A op ção p referencial pelos Luiz II de Bourbon, Príncipe de Condé, nobres e a opção p referencial pelos segu1·anclo o bastão de Mamcha l - Pintura de pobres não se excluem, e menos J uste d 'Egmont, Chantil(y, museu Condé ainda se combatem .... (França). Quando ainda jovem, o duque d 'Enghien, num gesto que se tornou célebre, "Essas diversas opções são lançou seu bastão de comando em meio às modos de manifestação do senso de *** Lendo o mais recente liv ro do fileiras inim igas, durante a batalha de Fribu rgo. justiça ou da caridade cristã, que só podem irmanar-se no se,viço do Prof. P lini o Corrêa de Oliveira, suspeitadas, refletida em suas apli camesmo Senho,; Jesus Cristo, que foi o Nob reza e elites tradicionais análogas ções tempora is mais sublimes. modelo dos nobres e modelo dos pobres, nas alocuções de Pio XII ao PatriciaO ambiente de perpétua fa lta de ar, segundo nos ensinam com insistência os do e à Nobreza romana, encontre i, n que os atuais meios religiosos condeRomanos Pontífices. logo de início - antes mesmo das nam as almas apetentes de santidade, "Si,vam estas palavras ele esclareexp li cações de praxe aos leitores, pre "explode" à simples leitura do extraorcimento para os que, animados pelo escedendo até a nota biográfica sobre o dinário livro do Prof. P líni o Corrêa de pírito de luta de classes -de momento Auto r - , a afirrnac,,.fo clara e taxa ti va Oli veira. num evidente declínio ---, imaginam de que a obra contém uma "opção p reMas ele não deixa também de pôr existir uma relação inevitavelmente fe rencia l pelos nobres". Tive a sensa todos os pingos sobre todos os is, de conflituosa entre o nobre e o pobre. Esta ção de presenciar o bastão de Condé modo que a fa lsa humildade fica sem intelecção equivocada levou muiJ.os delançado em meio à batalha ! Os leitores argume ntos, e a "prudência" des te sécules a inte1p retar as palavras opção p reencontra rão, na presente ed ição, entrelo, desmascarada. f erencial, usadasporS.S.JoãoPaulofl, vista do ins igne Autor a respe ito de sua Para o leitor desta co luna, sirvo alcomo se significassem pref erência exrecém- lançada obra, bem como incisigumas gotas - a lgumas apenas -desclusiva. Ta l inte,pretação, apai.>Conada vas ca rtas de aprovac,,.fo da mesma, tiladas da primeiríssima página dessa e facciosa, carece de qualquer objetiviemanadas de a ltas pe rso nali dades, magiúfica obra. Di z o Autor: dade. As p ref-erên.cias de 1111w p essoa nlém de nrt igo cont endo substa nciosa "OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS sínt ese do li vro. NOBRES: a expressão quiçá possa sur- podem incü:lir simult.rmer1111e11te1 e com graus diversos de i11tensidade, sobre váDe ··orgul hoso", o ncusnrão os propreender à p rimeira vista os que se farios objetos. Pela sua 11at111t•za, a prefe· gress istas; " imprudente", cochicharão miliarizaram com a fórmula cara a ] oão rêt,.cia por 11m deles d<' 1w11/1111n modo os medíocres; "fenomenal'', exclamarão Paulo II, ·opção p referencial pelos poindica uma forçosa" c/11.wio do· outros". entusinsmados os ve rdndeiros fi lhos de bres'. Porém, é bem uma opção prefeNossa Senhora, desejo. o. de ver a do urencial pelos nobres que anima este litrina cntólicn expo. ta nté clevnçõe inC.A. vro ... .
Assestando o Foco
,,.
,
um livro? Eum álbum? Tal alternativa atlora naturalmente ao espírito, ao ter.se em mãos, pela primeira vez, a admiráve l obrn do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Romana, que acaba de vir a lume em Lisboa (Editora Civilizac,,.'io, 330 pp.). E a alternativa é cheia de propósito. É um livro, sem dúvida nenhuma, de alto valor inte lectua l, profund idade de pensamento, vis.'ío elevada, originnlidade ímpar, como veremos nas páginas seguintes. Mas é também um álbum, e de grande categoria, pela apresentac,,.'ío verdadeiramente exímia, fotografias soberbas, paginação artística, impres&'io perfeita, enfim uma mise-en-pages nobre, à altura do conteúdo. Já na l--.apa, um superior contraste de
E
cores ressalta à primeira vista. Trata-se do Papa P io XII em sua Sedia Gestatoria, rodeado da Guarda Nobre e de digititários eclesiásticos. O vermelho dos uniformes e das capas, o branco e o dourado das vestes pontifícias e dos fl.abelli, tudo sobre um prestigioso azul profundo, dão uma impressão de brilho com digi1idade, de grandeza pontifícia, de supremo decoro, elevaç.'ío, numa palavra ... nobreza. As fotos internas, abundantes, são igualmente de grande beleza, como a Missa Pontifical na Basíl ica de São Pedro, o "Triunfo da CMedra de S.'ío Pedro", e São Pedro com a tiara pontifícia, fotos essas que abrem, respectivamente, cada uma das três partes da obra . E muitas outras, todas excelentes, qu e não é possível enumerar aqui, masque extasiam quase a cada página que se transpõe . Folheando o álbum, tem-se a sensaç.'ío
Índice 2
Catolicismo é uma publicação mensal da Edit>ra Padre Belchior de Pontes Ltda.
Permitido proibir · Destaque
3
Paulo Corrêa de Brito Rlho
Rui o socialismo
5
Entrevista A importante missão da nobreza em nossos dias
Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o N213748
6
Redação • Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 ·São Paulo , SP Tel: (011 ) 824.9411
Discernindo 2e5!_-'io preferencial pelos nobres A Realidade Concisamente
Diretor: Jom11llsta Responsável:
Prefácio Excertos do prefácio de D. Lu iz de Orleans e Bragança para o livro do Presidente da TFP 8 Cartas de apoio Notabilidades de fama internacional aplaudem a · obra do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira 9
Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro
Fotolitos: Microformas Fotolnos Ltda. RuaJavaés, 681 · 01130-010
Caderno Especial
13
São Paulo · SP
Nobreza e elites tradicionais análogas
17
TFPsemação Lançada com êxito em Portugal obra do Presidente da TFP
Artpress Indústria Gráfjca e Editora Ltda. RuaJavaés, 681 • 01130-010 São Paulo· SP
23
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro Atualidade
Impressão:
Acorrespondência relàiva à assina·
Brasil real, Brasil brasileiro Ébrio, mas com saúde
tll'aell8rdaavusapodeseremiada oo Setor de Propulsão dt Ass~
24
naturas. Endereço: Rua Jaguaribe,
Em painel Frases e imagens
648 Conj. 02 • CEP 01 224-000 · São Paulo· SP · Fone: (01 1) 00-3361
27
ISSN • 0008-8528 Nossa capa: reprodução da capa de Nobreza e eHtes tradicionais análogas nas alocuções de Pfo X II ao Patriciado e à Nobreza romana.
CATOLICISMO
2
de feeria, de fogos de artifício cada qual mais belo. Se a primeira e a terceira partes são impressas em papel branco, de primeir.a qualidade, a segunda o é em papel ligeirame nte amarelado, também excelente, o que n.'ío só facilita distinguir uma parte da outra, mas toma agradável o manuseio e embeleza o conjunto. A contracapa põe em destaque, com charm~, a bela coroa rea l portuguesa. A Editora Civilização produziu realmente uma obra de arte. Ao elevado valor dos originais correspondeu uma esplêndida encadernação. Terminando de folhear tão estupendo dmjunto, o espírito, sem esforço, tem pronta a resposta à indagação inicial: trata-se de um grande livro, emoldurado em magnífico álbum.
.\
JULHO 1993
3
... Permitido proibir Dan iel Cohn-Bendit, apresentado pela mfdia como principal personagem da Revolução da Sorbonne de 1968 reco-
Cohr~Bendit em 68; hoje, agredido pela realidade
nheceu, por ocasião dos 25 anos daquele evento, que o slogan "proibido proibir" - difundido pelo referido movimento revolucionário - é "frase que perdeu o sentido. Uma sociedade precisa de proibições". Como explicar essa transformação? Atual vice-prefeito de Frankfurt, eleito pelo Partido Verde, é compreensfvel que Cohn-Bendit se oponha hoje à liberdade completa, utopia anarquista incompatfvel com as proibições, freqüentemente insensatas, dos ecologistas . Além disso, o cor ifeu da rebelião de 68 manifestou-se contra outra utopia daquela época: o pacifismo . Agredido pela realidade, reconheceu: "Em certas si tuações excepcionais não podemos ser pacifistas", referindo-se aos conflitos balcânicos. 5% O Estado de Roraima, que tem 70% de seu território ocupado por reservas indígenas - esses
constitufdos em verdadeira casta e a mais privilegiada do Brasil -vê-se ameaçado em ter mais 1,5 milhões de hectares demarcados, reduzindo a área do Estado a apenas 5% da área total ! A região a ser demarcada concentra o rebanho bovino do Estado, estimado em 400 mil cabeças (cfr. "Jornal do Brasil", 23-4-93).
dias! Os quais, como se sabe, não cultivam a terra, apenas a usam, reduzem-na a verdadeiras caatingas, e depois movem-se para outro lugar. Tendo em vista as vantagens que o Brasil poderia ter, aproveitando sabiamente os recursos da região, a esmola oferecida por Viena é demais ... Chernobyl marítima Relatório oficia l do governo russo admite que a frota da ex-URSS despejou no mar de Kara, no Oceano Ártico, 17 reatores nucleares de subm ar i nos, seis deles cheios de combustível usado. Admite também que, desde 1959, os comunistas verteram naquele oceano e no Pacífico resí duas radioativos de baixa e média intensidade, provenientes de sua frota nuclear. Os despejos continuaram até 1992, quando a União Soviética já havia desaparecido.
10% A Áustria doará 600 mil dólares para a demarcação de 1O mil km2 de terras da tribo ticuna, no Estado do Amazonas. "Com isto estaremos ajudando os índios e protegendo a floresta tropical", declarou . o governo de Viena. Essa área cor-
Safra: esperanças e apreensões O Brasi l colheu uma boa safra de verão no presente ano: 64, 1 milhões de toneladas de soja, milho, arroz, feijão e
Índios brasileiros: os grandes latifundiários...
responde à metade do Estado de Sergipe e o dobro do Distrito Federal. Os recursos minerais da Amazônia estão avaliados em mais de 4 tri lhões de dólares . Seria necessário que essa riqueza beneficiasse a todos os brasileiros. Ora, conforme notícia publicada pelo "Jornal do Brasil", 10 % do território nacional 100 milhões de hectares, extensão que corresponde ao território da França - são ocupados por apenas 250 mil ín-
Mais silos para a,·ma.zen11r grãos, sim; Reformo Agrária, nlío
algodão. Enquanto a conacional de grãos, fibras e frutas, cresceu 24% no período de sete anos, seu valor bruto decresceu 33%, despencando de Cr$ 559,9 trilhões para Cr$ 232,2 trilhões. Deficiências no armazenamento e transporte fizeram sumir 1Omil hões de toneladas de soja, milho, arroz, feijão e trigo em 1990/ 91, com prejufzos calculados em 1,5 bilhão de dólares . Não é de Reforma Agrária que o Brasil precisa, mas de boa administração! 1heita
Vacas sagradas mancam Na América Latina, as esquerdas apontaram na maior parte deste século - as companhias petrolíferas estrangeiras como símbolos da exploração imperialista. "O petróleo é nosso". O monopólio estatal tornou-se a regra em toda a região. Porém, a queda dos preços do petróleo diminuiu as entradas de dinheiro e tornou dolorosamente notórias as falhas desses mimados monopólios. A Argentina está propondo a venda da Yacimientos Petrolfferos Fisca/es, a firma petrolífera estatal. A Venezuela tenta atrair os estrangeiros, expulsos em 1975. Até Fidel Castro urgiu os executivos de Cubapetro/eo, a companhia estatal de energia, a que procurassem investimentos estrangeiros mais energicamente. Para tranqüilizar os hesitantes homens de negócios, Cuba adotou emendas na sua constituiç ão p rmltlndo maior prot ç o às propriedad de strangeiros. E a nos a vaca sagrada? ...
Ditadura dos eurocratas A Comunidade Européia, sediada em Bruxelas, decidiu aplicar à Grã-Bretanha um regulamento exigindo que os pepinos sejam retos, para facilitar sua contagem e embalagem: o pepíno não pode se desviar em mais de um centímetro para cada dez de comprimento. A CE transpõe assim o passo que vai do super-planejamento ao ridículo. Encontro mundial de sodomitas -A Associação Internacional de Gays e Lésbicas (AIGL) foi reconhecida pela ONU como organização consultiva. Até lá chegamos ... E realizará sua primeira conferência mundial na cidade de Barcelona (Espanha), em julho. São esperadas 300 delegações de sodomitas, que serão recepcionadas com pompa pelo governo da Catalynha e pela Prefeitura de Barcelona. E uma lepra moral.
300 mil homossexuais realizaram uma passeata em Washington, reivindicando - entre outras aberrações - o reconhecimento legal do "casamento" entre pessoas domesmo sexo. É incrível, mas o Presidente Clinton enviou-lhes uma mensagem de apoio.
• • • Abusos cometidos por parentes - Das 105 .mulheres que procuraram realizar aborto legal no Hospital Municipal do Jabaquara, em São Paulo, 50% têm entre 11 e 16 anos, tendo sido vítimas de transgressões praticadas por padrastos ou outros parentes. A deterioração moral vai atingindo inúmeras famílias. Dívidas das estatais - Relatório do Ministério do Planejamento mostra que a dívida das 163 empresas estatais atinge 87 bilhões de dólares
(cerca de 20% do PIB do País). O mais grave é que esse valor supera até o patrimônio líquido dessas entidades, estimado em 80 bilhões de dólares. Prestígio da Tradição - Os ingressos antecipados para as visitas de grupos ao Palácio real de Buckingham, na Inglaterra, estão esgotados até 1996. Só para visitas de grupos nos meses de agosto e setembro deste ano já foram vendidos 40 mil ingressos.
• • • Privatizada, Petroflex obtém lucro - A Petroflex - fabricante de borrachas sintéticas -, privatizada há um ano, obteve no primeiro trimestre de 1993 um lucro líquido de 1,5 milhão de dólares. Em 1991, quando pertencia ao governo, a empresa teve um prejuízo de 40 milhões de dólares.
DESTA.0.!J.Ja Rui o socialismo No início dos anos 80, muito ante~ do colapso do comunismo russo, o socialismo caiu em descrédito na Europa Ocidental. E não só nos países de há muito socializados, como a Suécia e a Noruega, mas onde quer que os partidos socialistas subiram ao poder: na França, Espanha, ou em coalizão, na Itália. Nesta última, por exemplo, pesquisas de opinião mostram que o PS perdeu uma faixa maior de eleitores do que qualquer outro partido, desde a última eleição há um ano. O corpo de idéias que os socialistas costumavam representar perdeu tanto apoio, que os partidos socialistas estão fadados ao desaparecimento. Nenhum partido socialista encontrou um programa que seja atraente, nem mesmo para o eleitorado nitidamente socialista (cfr. "The Economist", Londres, 8-5-93). Rui o so.cialismo, e não deixa saudade.
Também a TV vacila Mas a crise política trazida pelo socialismo à Europa é só a ponta do
As pétalas da rosa do emblema socialista - hoje desfolhada lembram outro emblema: o da foice e martelo ...
CATOLICISMO
JllLHO 1993
4
5
iceberg. Há um terremoto das consciências, um maremoto, em particular na Itália. Logo estará na alça-de-mira a responsabilidade da televisão como instrumento de poder. Como servil escrava da degeneração e cúmplice do abandono dos valores morais ... Nasce uma fase complexa da história televisiva que faz tremer os inspiradores do vídeo, os donos onipotentes das telinhas. Os espectadores, até agora dóceis, começam a rebelar-se. A televisão é acusada de produzir um excesso de mentiras, hipocrisia e violência, um excesso de incultura e transgressão moral. Líderes dos mais diferentes quadrantes ideológicos lançam nestes tempos um alarme idêntico: a televisão está corrompendo nossa civilização. Os pais querem defender seus filhos dos maus mestres que fornecem lições de violência e morte, e que transmitem a droga, todo tipo de drogas... (cfr. "EI País", Madri, 6-5-93). Desmorona ó socialismo, a televisão começa a ficar abalada, são os ídolos do mundo moderno que caem. Onde não há moral, tudo rui.
ENTREVISTA
A importante missão da nobreza em nossos dias Na presente edição, Catolicismo dedica amplo e substancioso artigo à mais recente obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana. Ess_e livro foi lançado há dias em Lisboa pela conhecida Editora Civilização. Tendo em vista o renome internacional do autor -insigne escritor e homem de ação católico tradicionalista -bem como a importância e atualidade do tema abordado p~la obra, pedimos ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que nos concedesse uma entrevista a respeito do assunto. Recebeu ele a reportagem de Catolicismo em sua residência, no bairro paulistano de Higienópolis. E com sua conhecida penetração de espírito, foi respondendo às questões que lhe iam sendo propostas. CATOLICISMO - Por que o Sr. Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ela desempenhava antigamente, o de escolheu a nobre:za como tema para a Não se trata propriamente de atribuir participar, de algum modo, da direção mais recente de suas obras? um papel à nobreza, mas de reconhecer do Estado, seja mediante o governo de Prof. Plinio Corrêa de Oliveira esse papel diante do panorama objetivo territórios, nos quais aquela classe soAtualmente, parece-me, a atitude da da realidade contemporânea. A nobreza cial exercia um poder feudal, seja atraopinião pública face à nobreza é muito ainda existe, seus títulos ainda se usam, vés da ação preponderante em atividameno:, marcada pelos erdes de importância capiros da Revolução Frantal no Estado e na sociecesa d'> que o era ainda há dade. pouco tempo. Assim, a nobreza, Com efeito, podemos outrora, como classe discernir ·hoje em dia, à eminentemente militar, m~ida que o tempo pascontribuía com elemensa, que os erros da Revotos seus para o recrutalução de 1789 vão "envemento e formação da ofi1hecendo" e perdendo cia tidade de cada país. A atualidade. Isto não sigquase totalidade dos ofinifica que tal atualidade ciais era nobre. Certas altenha passado a ser petas funções, como a de quena, mas apenas é mediplomata e a de magisnor do que já foi, tendentrado, eram, em larga do a decair cada vez medida, também exercimais. das por nobres, o que caNo n,omento dessa racterizava, portanto, a transição histórica, é innobreza como uma clas"Atualmente a atitude da opinião ptÍblica face à nobreza é muito teressante tratar da quesse muito poderosa. menos marcada pelos erros da Revolução Francesa do que o era tão da nobreza, que esteSucede que a opinião ainda há pouco tempo " vede tal maneira no âmapública daquele tempo, suas personalidades freqüente mente go de todas as cogitações, de todas as não massificada pelos meios de comuainda são objeto de especial consideraagita'1-:ões e até mesmo de quase todos os nicação social e por todos os efeitos, tão ção. E até, na linha do que há pouco crimes praticados pela RevolU\iÍO Frannumerosos, que acarretaram no mundo disse, em muitos lugares o prestígio da cesa. inteiro a revolução industria 1, tinha, em nobreza está em ascensão. CATOLICISMO -Qual o papel alto grau, a noção da importância e da que o Sr. atribui à nobreza nos dias de hoje?
No que consiste o papel da nobreza em nossos dias? Não é mais o papel que
respeitabilidade de cada uma dessas tarefas executadas pela nobreza. Raz,'io
pela qual tributava a essa classe social etc. influenciaram a fundo os costumes muitos lugares boa parte de sua influênsociais. Não ·só os costumes, como as cia, a qual ficou fazendo cruel falta às um respeito todo especial. outras camadas sociais, que passaram a -Com a Revolução Francesa, tudo próprias estruturas da sociedade. Pois o isso mudou. O falso dogma revolucioaparecimento de um método novo para viver sob o influxo desajeitado, e às nário de que a suprema nonna de justiça, produzir certo artigo, bem como a invezes até caricato, do nouveaurichismo. Pio XII conclama a nobreza a que em matéria de relacionamento humano, venção de um sistema novo para debelar reúna todos os meios -nada despicienconsiste na igualdade absoluta entre tocerta doença podem ser tidos por um povo como acontecimentos mais impordos -que lhe restam, para contrabalandos os homens, foi aceito como verdaçar esse efeito nocivo. O Pontífice espedeiro por incontáveis pessoas. De onde tantes do que uma vitória militar. ra que ela o faça num nobre sentido de a pressão igualitária da Revolução opeAssim, a invenção do avião por Sanrar, sobre o Estado e a sociedade, efeitos tos Dumont, ou do telefone por Graha m preservação e de elevação religiosa, moimediatos e não raras vezes violentos, a Bel] (diga-se de passagem que este teria ral e cultural, a bem de si mesma, como par de efeitos graduais que se desenvolficado no rol dos inventores descodas demais classes sociais, desde o mais modesto operariado até as culnúnâncias viam mais através da propaganda do que nhecidos, se não fosse a projeção que do mundo dos mediante a força. neo-nababos. Assim, em CATOLICISconsiderável núMO - Pode-se mero de Estados, considerar a o igualitarismo América como político conduziu sendo um contià eclosão de golnente onde se pes de força, cujo constituíram verefeito era a substid a d eiras elites tuição de monartradicionais? quias por repúbliProf. Plinio cas, com a conexa Corrêa de Oliabolição das funveira - Sem dúções políticas da vida. Em muitas nobreza. delas se conserMas, em ouvaram até nossos tros Estados, os dias, desde as progressos do poéticas neves do igualitarismo se Canadá, ainda fizeram sentir monárquico, até pela lenta erosão as nações mais dos poderes polí"A nobreza perdeu em muitos lugares boa parte de sua influência, a qual ficou meridionais do ticos, específicos Jazendo cruel/alta às outras camadas sociais" Continente. dos monarcas e lhe conferiu a surpresa admirativa de D. dos aristocratas, com a conseqüente reCATOLICISMO - A longa prePedro II) tiveram mais importância para duçiio de uns e de outros a meras figuras paração de seu livro decorreu da necesos Estados Unidos e para o mundo do representativas. É este, em nossos dias, sidade de pesquisa em muitas fontes? que diversas batalhas célebres dos sécuo caso do Rei da Suécia ou o da Câmara los XIX e XX. Prof. Plinio Corrêa de Oliveira dos Lordes, na Inglaterra. Essa preparação não foi tão longa. Ela Acrescente-se a isso o exercício de CATOLICISMO - E no campo começou em 1989, desfechando na puprofissões por vezes altamente rendosocial? blicação de uma edição-piloto em desas, mas quiçá cada vez mais arriscadas, Prof. Plínio Corrêa de Oliveira zembro de 1991. Retomei a redação da como as de caráter estritamente finanTal decadencia política acarretou natuobra em fevereiro de 1992, a qua I acaba ceiro, e se terá um quadro do formidável ral mente certa diminuição social. Pois o de vir a lume em Portugal. deslocamento que houve: de uma ecoexercício do poder constitui, emsi mesnomia com base estritamente imomo, uma fonte de prestígio social. CATOLICISMO -Além da edibiliária e, de modo especial, rural, para Mas, nesse campo, as transformação de Portugal, serão lançadas traduoutra sobretudo urbana, financeira, inções mais importantes se deveram a fações da obra em outros países? dustrial e comercial. E se verá que as tores científicos e econômicos . O proatividades profissi cJnais que outrora Prof. Plinio Corrêa de Oliveira gresso acelerado das ciências, iniciado conferiam riqueza e prestígio, passaram Já foi lançada uma tradução italiana do em fins do século XVIII e prosseguindo hoje para segundo plano, com vantagem livro através da Editora Marzorati, de mais ou menos até nossos dias, propipara as novas, aboletadas agora no priMilão. Em breve, a Editora Fernando ciou o aparecimento de técnicas novas, meiro plano. III, el Santo, de Madri, publicará uma aplicáveis aos mais variados donúnios edição em castelhano. Estão em adianDe tudo isso proveio que a nobreza, do existir humano. Em conseqüência, as com todo o seu inapreciável cabedal de tado andamento edições, respectivatécnicas das produções agrícola, pecuámente, na França, nos Estados Unidos e ria e industrial, o advento de novos princípios, de tradições, de estilos de meios de comunicação e de transporte vida e de maneiras de ser, perdeu em no Canadá.
CATOLICISMO
JULHO 1993
G
7
: '~Mf.
PREFÁCIO
CARTAS DE APOTO
.. .~,:/
Prefácio de D. Luiz de Orleans e Bragança O Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, redigiu para a obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira substancioso prefácio, do qual destacamos os seguintes ex,certos:
C
omo um rochedo na ponta de um promontório batido pelas ondas, a nobreza tem sofrido, a partir da Revolução Francesa, sucessivos ataques. Quase por toda a parte, tiraram-lhe o poder político. Em geral as leis negam-lhe qualquer direito específico, que nãC> seja o mero uso da titulatura e do nome tra dicionais. O movimento geral da economia e das finanças fez convergir para outras mãos a riqueza torrencial qu e ergueu ao pináculo o capitalismo e com a qual ajet-set procura deitar as suas luzes - ou antes fazer brilhar as suas lantejoulas - por toda a parte. O que, então, da nobreza sobrevive? Reduzida ao que é, tem ela o direito de existir? Com que proveito para si mesma e para o bem comum? Deve ela confinar-se irredutivelmente ao círculo dos ,.· bem-nascidos"? Ou, a perdurar a nobreza, deve a qualidade nobiliárquica estender-se também a novas elites com características análogas às dela se bem que não idênticas Plínio Corrêa de Oliveira, cujo espírito é marcado poruma coerência modelar, vê na nobreza um desses rochedos imóveis sem cuja resistência épica, às vezes até trágica, aos vagalhões das três Revoluções, as terras do promontório - isto é, as civilizações e culturas teriam perdido a sua coesão e se teriam dissolvido nas ondas revoltas. Não é raro encontrar membros da nobreza conscientes dos deveres individuais que a sua condição de nobre lhes acarreta - como o bom exemplo às demais classes, pelo procedimento moral irrepreensível ou pela assistência aos desvalidos - , mas os quais não possuem sobre as questões acima enumeradas, senão no'r,'.Ões vagas, quando tanto. Aliás, fato análogo ocorre com as outras classes . Antes de tudo coma mais favorecida delas na estrutura social vigente, isto é, a burguesia. O direito de
propriedade é o seu mais firme ponto de apoio, porém são raros os burgueses conhecedores dos fundamentos morais e religiosos da propriedade privada, dos _direitos que esta proporciona e dos encargos que traz consigo. A ambas estas classes a obra de Pli nio Corrêa de Oliveira proporciona proveito inestimável, publicando o texto integral das AJo(,'UÇÕes de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, acrescentando-lhes comentários explica ti vos ·e exemplos históricos muito eloqüentes . Para Plinio Corrêa de Oliveira, a perspectiva de uma árdua ascensão do elemento burguês para a condição de nobre deve ser vista como um convite amigo para que adquira méritos e obtenha para estes uma glorificação autêntica. Mais ainda. Na nossa época, na qual uma profunda penetração da técnica no trabalho manual e um nível não subestimável de instrução na classe operária a matizam com tantas diferenciações, há muitas possibilidades de promoção social e profissional meritórias, que seria injusto não levar em conta. Amigo da hierarquia harmoniosa e equilibrada em todos os donúnios do agir humano, Plinio Corrêa de Oliveira expende, por uma lúcida interpretação, os princípios de Pio Xll a todas as classes sociais, sem fundi-las e, menos ainda, sem confundi-las umas com as outras. Mas é fácil perceber que os seus melhores desvelos se voltam especialmente para os dois extremos da hierarquia social, de onde os seus brilhantes comentários sobre opção preferencial pelos nobres e opção preferencial p elos pobres. É missão especial da nobreza atuar em defesa dos reis, quer eles estejam na posse do poder, na plenitude das respectivas prerrogativas, quer tenham apenas "de jure" aquele poder que lhes veio dos CATOLICISMO
8
seus maiores e que nenhum golpe de força ou de demagogia pode legitimamente suprimir. Reciprocamente é obrigação dos monarcas amar, respeitar e apoiar a sua nobreza, exercendo assim a favor dela uma opção preferencial efetiva, que não se limita apenas a mesuras e cortesias. É neste espírito que, ao encerrar estas linhas, volto o meu pensamento, cheio de anúzade, para as nobrezas e elites análogas de Portugdl - terra dileta e gloriosa dos meus antepassados - e do meu querido Brasil, grande por tantos feitos e sobretudo por tantas esperanças que a Providência lhe deixa ver para o futuro. Esse futuro que - nos quadros da realeza constitucional, única forma de monarquia concebível para os dias que correm - , do fundo da alma anseio cristão, forte e entrelaçado numa como que Coinmonwealth toda ideal, feita de Fé católica, de sentimentos e de cultura, constituída por todos os povos, de tão diversas raças e nações, que amam deveras Portugal e falam português. Por isto, como Chefe do ramo brasileiro da Casa de Bragança e anúgo eulevado e afetuoso da tradição e cultura lusas, tenho a satisfação de apresentar e recomendar largamente, ao público português, a leitura deste livro de Plínio Corrêa de Oliveira. Auguro para ele o aplauso de quantos sabem e sentem o que é uma verdadeira nobreza, que ajude o povo a ser sempre o que Pio XII recomenda , isto é, um verdadeiro povo animado por um pensamento digno de ser chamado cristão. E que não capitule ante o risco de se tomar uma massa anorgânica e inerte, soprada nas mais variadas direções pela psico-ditadura dos grandes cartéis publicitários. LUIZ DE 0RLEANS E BRAGANÇA
Notabilidades de fa1na internacional aplaude1n a obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
a
Do Cardeal Sílvio Oddi Roma, 10 de Fevereiro de 1993
Ilustríssllno Professo,
Li com vivo interesse a sua obra "Nobreza e elites tradicionais análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana". O pensamento do grande Papa Pacelli, que transparece nos documentos assinalados, continua perfeitamente atual e V. Exa. teve a feliz iniciativa de propô-lo ao público hodierno, acompanhando-o de oportunas notas. Convém recordar, como repetiu o próprio Paulo VI depois do Concílio Vaticano II, que os ensinamentos do seu predecessor dirigidos ao Patriciado e
à Nobreza romana mantêm intacta a sua plena vigência. Através dos comentários e da documentação com os quais V. Exa. propicia uma mais completa compreensão de todo o alcance do magistério de Pio XII, patenteiam-se uma grande erudição e segurança de pensamento, postas justamente em relevo pelo conhecido historiador francês Georges Bordonove no seu prefácio a esta obra. Estou certo de fazer uma boa obra recomendando a sua leitura a todos aqueles que queiram ter um conhecimento mais profundo dos sábios
e esclarecedores ensinamentos daquele Pontífice. Fazendo votos de que seu oportuno livro tenha uma grande difusão, apresento-lhe minhas cordiais saudações
&2~~.
~ Silvio C3rd. Oddi
O cardeal Silvio Oddi foi Prefeito da Sagrada Congregação para o Clero, sendo atualmente Legado Pontifício para o Santuário de São Francisco de Assis.
Do Cardeal Mario Luigi Ciappi, O.P. Roma, 18 de Fevereiro de 1993 Ilustríssimo Professor, O seu ilustre renome e as palavras de aplauso e estímulo à sua obra proferidas pelo insigne Pe. Victorino Rodríguez O.P., geralmente considerado como uma das glórias da teologia contemporânea, levaram-me a ler com vivo interesse o livro "Nobreza e elites tradicionais análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana". Quando Pio XII deu ao mundo a esplêndida série de catorze Alocuções ao Patriciado e à Nobreza romana, não foram poucos os que viram nelas não tanto uma obra ao mesmo tempo teológica, filosófica e histórica a respeito de valores destinados a desempenhar
ainda um papel fundamental e perene, quanto uma nostálgica efusão de amor a virtudes, grandezas e glórias, que o mundo compreendia cada vez menos. A mais recente das mencionadas Alocuções foi a de 1958. Transcorridos mais de trinta anos, é possível constatar quanto Sf enganaram estes últimos. Com efeito, o Papa Pacelli vira com acerto o curso dos acontecimentos. Hoje, não só a antiga sanha anti-nobiliárquica vai se apagando gradualmente, como também aparecem, um pouco por toda parte, in telectuais de realce que colocam em relevo o quanto a perda de autênticas elites, com a conseqüente vulgarização do JULHO 1993
tipo humano, prejudicam a cultura e o estilo de vida da sociedade contemporânea. Por conseguinte, manifesta-se em muitos lugares uma ardente aspiração de restaurar a influência de autênticas elites sobre as multidões, de tal forma que estas tomem a ser segundo o ensinamento de Pio XII povos e não massas anônimas ( cfr. Radiomensagem de Natal de Pio XII, 1944). Neste contexto histórico, a sua obra revela-se de uma extraordinária oportunidade, pois ao fazer-se eco do magistério do Papa Pacelli, e ao comentá-lo com notável penetração e coerência, dirige um apelo à nobreza
e elites análogas a fim de que colaborem, com mais ânimo do q~~ nunca, para o bem comum espiritual e temporal das nações. A elas compete, de fato, como sublinha aquele imortal Papa, a excelente missão de transmitir com o exemplo, a palavra e a ação, o tesouro das verdades religiosas e temporais da Cristandade; a tocha lurrúnosa de tantas verdades que as sociedades jamais poderão esquecer, sem o risco de sucumbir no torvelinho de caos e de rrúséria .moral que as ameaça.
Faço votos, pois, que seja bem recebido este livro, ao qual V. Exa. dedicou os amplos recursos da sua inteligência e da sua erudição, além do seu ilimitado amor à Igreja. Queira a Divina Providência favorecer uma ampla difusão dele, para que possam ser sempre mais compreendidas tanto a opção preferencial pelos nobres, inspirada em Pio XII e que V. Exa. traz à luz, quanto a opção preferencial pelos pobres, à qual o atual Pontífice dedica o seu profundo amor.
1'7'?1~ /'('
~:ú' ~e~ jfT
,e:,_<f;
Mario Luigi Card. Ciappi O.P.
O Cardeal Mario Luigi Ciappi O.P., foi teólogo da Casa Pontifícia, ou seja, teólogo particular do Santo Padre~ de 1955 a 1989. Atualmente preside a Pontifícia Academia Romana de Santo Tomás de Aquino e de Religião Católica.
Do Cardeal Alfons M. Stickler, S.D.B. SCV, Festa de São José 1993 Ilustríssimo Senhor Professor, Agradeço-lhe de coração pelo gentil presente de sua obra "Nobreza e elites tradicionais análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Romana", que recebi na tradução italiana. Ela me tocou por vários motivos: antes de mais nada, por sua oportunidade, pois constitui a re-proposição dos ensinamentos do grande Papa Pacelli sobre o tema, num momento histórico-cultural em que a ferocidade anti-nobiliárquica, provocada no mundo inteiro pela Revolução Francesa, parece diminuir em todo o orbe. Em segundo lugar, a obra, face à decadência universal dos valores cristãos sobretudo, mas também dos mera mente naturais, suscitará em toda parte e em muitos corações o desejo de que as elites nobiliárquicas voltem a dar à Humanidade os exemplos de que esta tem urgente e suprema necessidade. As elites, nos séculos passados, tiveram um papel importante, e com freqüência dominante, em e ria !tecer esses valores, através de sua vida e de sua atividade. Um terceiro motivo resulta de suas
considerações - que me parecem de extrema atualidade - a respeito da formação, ao lado das nobrezas e das elites de sangue, de nobrezas e elites de espírito e de ânimo que, associando-se e organizando-se entre as tantas almas nobres que existem, assumam em todo o mundo as funções de exemplo e de guia rumo a uma ordem natural e perene das coisas. Isto tanto para sustentar as nobrezas de sangue ainda existentes e re-emergentes, quanto para substituir as que não sabem reagir eficazmente a decadências que se patenteiam em nossos dias, em mais de um caso. O senhor, valendo-se de uma ampla e segura documentação, realiza em seu livro uma análise fina da muito complexa realidade sócio-política hodierna e, comentando com grande rigor de lógica os lurrúnosos ensinamentos d o Papa Pacell i, faz ver quanto ele, e seus suscessores até João Paulo II, continuam a esperar da nobreza ainda existente, e das elites análogas a serem criadas, a elevação religiosa, moral e cultural do mundo. Por isso, ilustre Professor, alegro-
me por este livro e lhe desejo uma larga difusão, a fim de suscitar, sustentar e construir uma profunda e vasta sensibilidade em relação a esse excelente instrumento de restauração de uma sã ética natural e de uma moralidade religiosa redivivas, que levem toda a Humanidade àquela paz, prosperidade e felicidade que somente os autênticos e genuínos valores podem realizar e garantir. A estes meus votos acrescento ardentes orações ao Senhor e à Mãe da Igreja, para que o sustentem na obra tão benéfica quanto angustiosamente atual no tempo em que vivemos. Seu em Cristo
DOMINGO
EL
Alfons M. Card. Stickler S.D.B. O Cardeal Alfons M. Stickler, SDB, foi Bibliotecário e Arquivista da Santa Igreja Romana e membro da Comissão encarregada de elaborar o novo Código de Direito Canônico.
REAL
Madrid, 25 de Janeiro de 1993
PP, DOMINICOS
Caro anúgo e adrrúrado Professor: Li com toda a atenção o original da sua magnífica obra "Nobreza e elites
tradicionais análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza
modernas democracias inorgânicas. São mais notórios ("nobile" = "noscibile", preclaro, excelente, famoso) os números (de votos ou de dólares) do que as qualidades dignificantes (ciência, virtude, arte). No entanto, corno ouvi várias vezes dizer o grande teólogo Santiago Ranúrez, "a verdade não é democrática, mas aristocrática". Espero que a sua obra, tão cuidadosamente documentada e pensada, traga ao primeiro plano a Nobreza tradicional, portadora de dignidade, de honestidade, de humanismo aberto a Deus e ao bem comum social. Terceiro, parece-me, por outro lado, muito justa e cristã a cornplementariedade harmônicà que estabelece entre "opção preferencial pelos pobres", tão acentuada na nova evangelização, e "a opção preferencial pelos nobres". Trata-se efetivamente de duas perspectivas, não exclusivistas, mas complementares. Penso que a clave é esta: deve-se amar mais aos melhores, e deve-se ajudar mais aos mais necessitados. Aí se harmonizam as duas opções preferenciais. A opção caritativa pelos indigentes não há de ser com prejuízo da singular estima que a Nobreza merece, rnáxime quando essa estima está em crise em épocas de igualitarismo massivo. Com muito acerto se recolhe o dado da elevada percentagem de santos canonizados da Nobreza. Foi Pio XII quem canonizou, em 1943, Santa Margarida da Hungria, O.P., filha do Rei da Hungria e neta do Imperador de Constantinopla.
Quarto, também é interessante deter-se, numa época de "pacifismo"--(=a paz a qualquer preço), no tema da guerra justa na qual tantas vezes se empenhou a Nobreza, tanto militar corno civil e eclesiástica. O Magistério e a Teologia tiveram e têm muito a dizer a esse respeito, como se lembra no Documento XI. Quinto, finalmente, é oportuno recordar, neste tempo em que a democracia é para muitos o único dogma político, sem discernimentos nem ulterior resolução ética, a doutrina social da Igreja sobre as formas de governo. O Magistério Pontifício fez sua a matizada doutrina de São Tomás, tantas vezes reassurrúda pelos pensadores católicos, e agora pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira no Apêndice 3 da sua obra. Poderia ressaltar muitos outros pontos interessantes da sua obra, mas não quero alongar-me, nem repetir o que o leitor encontrará exposto melhor e mais profusamente. Com essas anotações, depois de ter lido com gosto o original, acredito ter correspondido a seu gesto amistoso.
~_. ~~.,.,r~-
li·P.
O Padre Victorino Rodríguez y Rodríguez, OP, foi professor da Faculdade de Teologia de Santo Fstêvão,em Salamanca, e Catedrático da Pontificia Universidade da mesma cidade. Atua!mente é Prior do Convento de Santo Dorrúngo el Real, de Madri.
De um dos mais famosos teólogos italianos
De um dos grandes teólogos contemporâneos SANTO
rado pela confiança que deposita na minha apreciação e possíveis anotações. Por outro lado, admiro o seu ardente desejo de acertar ao querer levar avante esta causa tão nobre, e ao mesmo tempo a sua humildade ao pedir o parecer de quem sabe muitíssimo menos do que o Sr.sobre este tema, tanto no aspecto doutrinário como no aspecto histórico. Devo dizer-lhe que não encontrei absolutamente nada censurável, nem sequer melhorável no seu empreendimento. Desejo, isto sim, sublinhar aquilo que considero como grandes acertos: Primeiro, por escrever uma obra sobre este tema. Era necessária; e o ponto de partida e principal base de argumentação não podia ter sido melhor escolhido: as Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana pronunciadas no início de anos sucessivos. Aquele excepciona I Papa Pacelli, que tinha a nobreza na sua mente, no seu coração e no seu sangue, singularmente atento aos problemas e expectativas do seu tempo, não podia deixar de preocupar-se com os da Nobreza, à qual dirigia estas Alocuções, tão oportunamente dadas a lume agora por um nobre brasileiro, cuja personalidade está tão marcada pela devoção à Sé Apostólica e pelo amor à Civilização Cristã. Segundo, pela sua oportunidade, porque os autênticos valores da Nobreza estão muito eclipsados no "igualitarismo" pós-revolucionário e nas
romana", que teve por bem enviar-me para ser revisto. Sinto-me muito hon-
Ilustríssimo Professor Li atentamente a obra "Nobreza e elites tradicionais análogas nas Alocu ções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana", que V. Exa. teve a gentileza de me enviar. Considero feliz a sua idéia de dar ampla difusão àqueles documentos de Pio XII que, à primeira vista, poderiam parecer carentes de atualidade. Pelo contrário, os comentários lúcidos e documentados de V. Exa. mostram a clarividência do tem.a tratado por aquele Pontifice. Além disso, o senhor oportunamente recorda as belas palavras de Paulo VI: "Quereríamos dizervos muitas coisas . Vossa presença suscita tantas reflexões. Assim também acontecia a nossos venerados
predecessores, ao Papa Pio XII de feliz memória especialmente .... Queremos acreditar que o eco daquelas palavras, semelhante ao vento que enfuna uma vela .... ainda vibre em vossas almas para as encher daqueles austeros e magnânimos princípios, em que se alimenta a vocação que a Providência fixou para vossas vidas, e se orienta a função que a sJciedade contemporânea ainda agora reclama de vós". Sua longa experiência como professor, deputado e homem público tornam seus comentários inteligentes e didáticos, de modo a facilitar agradavelmente a leitura de Documentos Pontifícios de tão alto e tão apreciável valor.
C'ATOLIC:ISMO
JULHO 1993
10
11
Não encontrei no curso de suas páginas nenhum erro teológico ou de outro gênero, concernente aos ensinamentos da Igreja. Só me resta fazer votos de que sua excelente obra receba plena acolhida da parte da opinião pública, à qual está destinada.
1r-i2,~11,1
r ~ ¼·
,Y:
O Padre Raimondo Spiazzi, OP, foi o fundador da Faculdade de Ciências Sociais e decano do Instituto de Ciências Religiosas do Ateneu Angelicum de Roma. Atualmente é consultor da Congregação para a Educação Católica e Reitor da Basílica de São Sixto Velho, na Cidade Eterna.
De um historiador francês de reputação mundial (O texto abaix.o constitui o prefácw da edição francesa) O Professor Plinio Corrêa de Oliveira, de elevada formação jurídica, especialista em História Moderna e Contemporânea, lecionou na prestigiosa Universidade Católica de São Paulo. As suas obras, os seus artigos sócio-religiosos e políticos valeramlhe uma audiência internacional. Católico militante, não cessou de defender os valores tradicionais - não em nome de um saudosismo estéril, mas da Fé autêntica - , nem de se levantar contra a tirania totalitária, quaisquer que tenham sido as formas que esta tomou. No presente ensaio descreve ele a trajetória da nobreza - mais genericamente das elites; mostra o papel eminente que ela assumiu através dos tempos; a influência que exerceu, juntamente com a Igreja; sublinha as razões desta influência, da qual a nossa época não faz senão ouvir um eco longínquo, entretanto ainda perceptível. A partir desta constatação, define as obrigações e os deveres que por isso advêm à nobreza, mesmo quando os privilégios de diversas naturezas que ela detinha tenham sido abolidos, e apesar da diminuição, ou até do desaparecimento, da sua riqueza. Refere-se constantemente, na sua demonstração, às Alocuções dirigidas pelo Papa Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana. É óbvio, entretanto, que o pensamento do Soberano Pontífice se reveste de uma dimensão universal e abarca o conjunto do que se pode chamar patriciado. O Professor Corrêa de Oliveira analisa bri lhantemente esses textos (que se encontram na íntegra, no fim do livro); explica-os, realça-os com comentários e com reflexões pessoais, e extrai deles uma argumentação bem estruturada, na qual aliás transparece o juris-
ta. Sobrepaira, a seguir, a mera análise para definir o papel, ou a missão, que pode ser atribuída ao patriciado no mundo presente e futuro. O ProfessorCorrêa de Oliveira encontra-se entre os espíritos ela ri videntes que percebem, com uma acuidade quase dolorosa, a metamorfose que se opera na sociedade atual, a qual não se sabe que fisionomia adotará . Ele teme, não sem justo motivo, que o efeito combinado de um progresso galopante e de um igualitarismo mal-entendido faça desaparecer o indivíduo num monstruoso nivelamento. Eé sob este ângulo que, com Pio XII, ele situa a missão do patriciado, tomado no seu sentido mais amplo, a não ser que este prefira afundar-se a si mesmo e desaparecer. Noutros termos, ele convida as elites a não se retardarem na lamentação das grandezas desaparecidas, a não se excluírem da sociedade, mas a entrarem resolutamente na vida ativa, a colocarem os seus talentos, a sua herança de experiência, as suas tradições familiares e até o seu modo de ser a serviço da sociedade e com a exclusiva preocupação do bem comum. "A tradição-escreve ele citando Pio XIl---:-é algo muito diverso de um simples apego a um passado já desaparecido; é justamente o contrárw de uma reação que desconfia de qualquer progresso sadio. Etimologicamente o pr6prw vocábulo é sinônimo de caminho e de marcha para a frente - sinonímia e não identidade. Com efeito, enquanto o progresso indica somente o fato de caminhar para a frente, passo após passo, procurando com o olhar um incerto porvir, a tradição indica também um certo caminho para a frente, mas um caminho contfnuo, que se desenvolve ao mesmo tempo tranqüilo e vivaz, de acordo com as leis da vida . .... Não, não se
CATOLI C ISMO
12
aderno Especial Nº 24
trata de remar contra a corrente, de retroceder para as formas de vida e de ação de idades já passadas, mas sim de, tomando e seguindo o que o passado tem de melhor, caminhar ao encontro do porvir com o vigor imutável da juventude". · O Professor Corrêa de Oliveira apo.nta, pois, às elites, de um modo muito preciso, a missão de guardar e de promover os valores tradicionais suscetíveis de harmonizaro mundo de amanhã, em particular os valores religiosos sem os quais a criatura humana não é senão umrobot e o povo se toma a "massa". Poder-se-ia talvez di:zer que ele sonha por ve:zes com algum Estado ideal, com alguma Jerusalém terrestre, à imitação do grande São Luís. De qualquer forma, esta obra é notável em todos os pontos, especialmente pela abundância e pela exatidão rigorosa da documentação, pela cultura universal do autor, pela solidez da argumentação e pela transparência do pensamento. Apreciar-se-á igualmente seu esforço prospectivo, quando o Professor Corrêa de Oliveira aborda o futuro do mundo atual. Quantos tocam, de perto ou de longe, às elites, tirarão proveito deste ensaio. Ele propõe um itinerário; coloca os primeiros marcos do caminho a seguir. Será este o precônio desse século XXI que, como se disse, ou será místico ou não será?
---
Georges Bordonove Georges Bordonove, famoso historiador francês, é autor de quase setenta livros, ensaios, numerosos artigos e novelas, vários dos quais premiados ("Grand Prix des libraires de France" - 1959; " Prix Bretagne" 1963).
Quadro milo groso da Mãe do Perpétuo Socorro, em seu e.'ilodo otu11 I, igrejn de Sonto Afoo s(\ Roma
•
J!o~~a ~tnbora bo Jteruétuo ~ocorro
<!& ...últímo ttsttmunbo bt ~ão João f§atísta (São João, 3, 22-30) Depois disto, foiJesus com seus discípulos para a teITa da Judéia; e aí habitava com eles, e batizava. E João estava também batizando em Enon, junto a Salim; porque havia ali muita água, e o· povo concorria, e era batizado. Porque João ainda não tinha sido posto no cárcere. E levantou-se uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação. E foram ter com João e disseram-lhe: Mestre, o que estava contigo da banda de além do Jordão, de quem tu deste testemunho, ei-lo
que está batizando, e todos vão a ele. Respondeu João, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que eu vos disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado adiante dele. O que tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo, que está (com ele) e o ouve, enche-se de .gozo com a voz elo esposo. Pois este meu gozo está cum-. prido. Convém que ele cresça e que eu diminua.
ctromtntáríos compílabos por ~anto momás bt ~quíno na "ctrattna ~urta'' Beda - Da mesma maneira que é útil aos catecúmenos, mesmo que ainda não tenham sido batizados, o conhecimento da Fé, assim também foi útil o batismo de São João, antes do batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo; porque assim como ele pregava a penitência, e prenunciava o batismo de Cristo e au·aía para o conhecimento da verdade que apareceu ao mundo, assim também os ministros da Igreja instruem primeiramente os que se aproximam no conhecimento da Fé, depois repreendem seus pecados, e, por último, lhes oferecem o perdão deles no batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo, e assim os atraem para o conhecimento e para o amor da verdade. Alcuíno - E se alguém diz: E se tu não és o Cristo, quem és, ou quem é aquele de quem dás testemunho? A isto responde São João Batista: Ele é o esposo e eu sou o amigo do esposo; e fui
enviado para que a esposa fosse preparada por mim para o esposo. Por isso acrescenta: "O que tem esposa é esposo". Chama de esposa a Igreja, formada por todos os povos, a qual é virgem pela integridade de sua alma, pela perfeição de sua caridade, pela unidade de sua fé católica, pela concórdia de sua paz e pela retidão de . sua alma e de seu corpo : esta é aquela que quer o esposo, de quem engendra todos os dias. Teófilo - Assim como a luz dos archotes parece que se extingue ao vir o sol, embora na realidade não está extinta, mas apenas eclipsada por ouu·a luz maior, assim o precursor, como estrela eclipsada pelo sol, diz-se que diminui. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo cresce, dando-se a conhecer pouco a pouco por meio de seus milagres, não porque crescesse nas virtudes ou porque se excedesse, e esta é a opinião de Nestório, mas sim na medida em que se manifestava sua divindade.
ctromtntáríos bo ~abrt JLuís ctrláubío jfíllíon Ao deixar Jerusalém, veio J es us com seus discípulos a uma parte da Judéia, cujo nome desconhecemos, e aí fixou sua residência, provavelmente por inuitos meses. Talvez por est:"ll· esse lugar situado às margens dojordão, o~ discípulos .de Cristo puseram-se a batizar. E pouco provável que esse batismo fosse o de água e de fogo, o sacramento regenerador que parece ter Cristo instituído bem mais tarde. Era, pois, uma sim~mitação do rito praticado por João Batista.
Por esse tempo estavajoão em Enon, perto de Sali1n, lugares que não foram identificados com exatidão 1• Havia ali água em abundância, de maneira ; que se podia administrar facilmente o batismo de imersão.
Poralgum tempoclesempenharamsuabela missão conjuntamente, a pouca distância um do ouu·o, semelhante um ao crepúsculo da tarde, e o ouu·o a uma aurora radiante. Certo dia, porém, alguns discípulos de João vieram ter a ele e disseram-lhe com pesar: "M stre, o qu e estava convosco do outro lado do Jordão e elo qual havíeis dado testemunho, se pôs a batizar e todos vão à procura dele". A denúncia era em parte inexata pois o Evangelista acrescenta, de modo taxativo [alguns versículos adiante] que Jesus pessoalmente não
batizava
2•
Ademais, a expressão significativa
"todos vão à procura dele" era na verdade um exagero desses discípulos, muito devotos do Preéursor, zelosos de sua glória, e desgostosos de ver surgir subitamente um rival a seu lado. Quão pouco o conheciam! A resposta de
João, análoga à que havia dado pouco antes aos enviados do Sinédrio, foi digna de seu nobre caráter. Em breve paralelo estabelecido entre ele e Cristo, lembra primeiramente a grande inferioridade de sua própria missão. Admiremos as palavras de profunda humildade proferidas pelo Precursor e, com elas, a metáfora expressiva com que João põe em relevo a superioridade do Messias. Jesus é o esposo místico cujas bodas vem celebrar. João é somente o amigo do esposo, o paraninfo, o condutor, cujo papel ou cargo é secundário ou transitório, e não pensa em
maisnadaanãosernafelicidadedeseuamigo. Toda essa passagem é de uma beleza sem par. 1. Nota do autor: É possível que os aludidos locais devam ser procurados nas cercanias de Bethsam e Scithépolis. no vale do Jord ão. ao sul do mar de Tiberíades. 2. N. da R.: Embora o Evangelista afirme, no versículo 22 do capítulo III, que jesus "aí habitava com eles [os discípulos], e batizava.. , no versículo 2 do capítulo IV o autor Sagrado faz uma precisão em sua asserção anterior: "todavia não era o próprio Jesus que batizava, mas os seus discípulos ... Nuestro Seíior Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, excertos das pp. 108 e 109.
~ãt bo ~trpétuo ~ocorro Se quisermos conheceras origens primeiras do quadro da Mãe do Perpétuo Socorro ou de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, precisamos remontar aos primórdios do Cristianismo. Consta, por uma tradição oriental, que são Lucas, evangelista, era não só médico e perito conhecedor das letras, mas também pintor. Assim, teria ele pintado - quando ainda vivia a Santíssima Virgem - pelo menos wna imagem da Mãe de Deus levando em seus braços o Menino Jesus. Nossa Senhora, tendo visto o ícone, teria dito: "A minha graça o acompanhará". Com o correr dos séculos, foram sendo feitas cópias desta imagem, com pequenas variações, conforme a piedade e o gênio dos artist:'lS. Ao contemplarmos o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, verifica-se que o artist:'l a concebeu com algumas e, aliás muito fe lizes, modificações em relação ao mencionado ícone primitivo: a cabeça da Virgem está inclinada para seu divino Filho, com uma fisionomia régia, suave e profundamente u·iste. O Menino Jesus volt:'1-se para o lado, onde contempla atent:'l e seriamente algo que Lhe atrai a atenção. Ele parece ver em espírito os futuros sofrimentos de sua vida, simbolizados nos instrumentos da Paixão levados por São Miguel e São Gabriel Suas mãozinhas apert:'lm a mão di:reit:'l da Mãe como a pedir proteção; e, pormenor tocante, com o seu movimento a sandália do pé direito se desamarra. Como chegou até nós o milagroso quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro? Era ele venerado em uma igreja da ilha de Creta, onde operava estupendos milagres. Mas foi roubado por um rico negociante, que o levou para Roma onde pretendia, talvez, vendê-lo por bom preço. Mal havia o navio levantado ferros, desencadeou-se horrível tempest:'lde que ameaçava submergi-lo. Os tripulantes, no auge do desespero - nem de longe suspeitando qual apreciosa carga que est:'lva em risco de perder-sefizeram promessas a Deus e à Santíssima Vir, gem, e foram atendidos, pois a tempest:'lde dissipou-se, e dias depois o barco entrava num porto da Itália.
Após a morte do ladrão sacrílego, que felizmente morreu arrependido, a própria Virgem Maria, por uma série de aparições em sonhos a diversas pessoas, manifestou o desejo de ser venerada na igreja de São Mateus, em Roma. Não tendo sido satisfeito o seu desejo, Nossa Senhora apareceu a uma menina de seis anos, filha da mulher que mantinha em seu poder o quadro, e disse-lhe: "Dize a tua mãe e a teu avô que a Santa Maria do Perpétuo Socorro vos admoesta que a leveis de vossa casa para uma igreja, senão morrereis dentro en1 pouco". A referida mulher atendeu à ordem comunicada por Nossa Senhora e levou o quadro à igreja de São Mateus, dos padres agostinianos, onde foi solenemente enu·onizado no dia 27 de março de 1499. Durante três séculos a milagrosa imagem fez desta igreja um centro glorioso de clevoç.ão, de peregrinações e de graças maravilhosas. No ano de 1798, Roma foi invadida pelos revolucionários franceses que destruíram a igreja de São Mateus. Os religiosos, guardiães da imagem, foram dispersos, levando-a consigo. Mas, em meados do século XIX, Pio IX éhamou para a Cidade Eterna os Redentorist:'ls, que se est:'lbeleceram no lugar .da antiga igreja de São Mateus, os quais acabaram por descobrir a milagrosa imagem. Foi então esta, por ordem do Papa, reconduzida, num cortejo triunfal, ao seu trono, na igreja de Santo Afonso, edificada no lugar da antiga igi·eja de São Mateus. A 23 de junho do ano seguinte, foi a imagem solenemente coroada ao troar dos canhões e ao repicar dos sinos das velhas basílicas, que anunciavam à Cidade Eterna o novo u·iunfo da Mãe de Deus. (•) Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é a padroeira principal da prelazia de C:ristalândia (Goiás), onde secomemora sua fes ta a 30 de julho. Bibliografia l. Dr. Clemente M. Henze C.SS.R, Maler de Perpetuo Succursu, Typis A. de Bievre, Brasschaat, Bonn, 1926. 2. Edésia Acl ucci, Maria e seus gloriosos lílulos. Editora "Lar C:~·úó lico .. , Florianópolis, 1958.
ATUALIDADE
História Sagrada em seu lar - noções básicas
Sacerdotes e Levitas Quando os hebreus cometeram o abonúnável pecado de adorar o bezerro de ouro, os descendentes de Levi, obedecendo às ordens de Moisés, passaram a fio de espada 23 mil homens dos que haviam caído na idolatria. "Deus escolheu a tribodeLevi para o desempenho das funções de culto. A ordem sacerdotal constava de três graus: o Sumo Sacerdote, os sacerdotes e os simples levitas. Sumo Sacerdote - "Ao Sumo Sacerdote cabia a administração geral do culto; só ele podia, uma vez por ano, entrar no Santo dos Santos. As prerrogativas de que gozava lhe davam no Estado um poder quase igual ao do Soberano. "Porca usa desta dignidade, trajava vestimentas cujo detalhe tinha sido explicado pelo próprio Deus. Sobre a roupa talar comum a todos os sacerdotes, e apertada por uma larga faixa, o Sumo Sacerdote trazia outro vestido de jacinto com campainhas que avisavam da sua chegada. E por cima deste vestido, outra roupa curta, sem mangas, de uma riqueza sem igual, chamada efod. Nos ombros, havia duas ônix [variedade especialmente colorida de ágata) trazendo cada uma seis dos nomes das doze tribos de Israel. "No peito aparecia o racional ou peitoral, peça de pano quadrada, cravejada de doze pedras preciosas, também com os nomes das doze tribos. "Na cabeça, o Sumo Sacerdote trazia uma tiara de linho em cuja frente estava uma lânúna de ouro na qual se lia: A santidade é do Senhor.
Sacerdotes -'"As funções principais dos sacerdotes eram oferecer sacrifícios, estudar a Lei e dar dela explicação ao povo. Só eles tinham ingresso no interior do Santo eserviamno altar. Seu traje era o vestido de linho, a cinta e uma tiara de linho" 1• Os sacerdotes "soavam a trombeta para convocar a assembléia, conduzir ao combate, e animar os combatentes" 2 • Levitas - "Os simples levitas preenchiam os empregos inferiores; eram os guardas e servos do santuário" 3 • O Profeta Moisés sagra o Sumo Sacerdote- Moisés, "tendo apresentado ao povo Aarão como o Supremo Sacerdote que o Senhor elegera, revestiu-o das vestes sacerdotais. "Derramou Moisés sobre a cabeça de Aarão o óleo de unção, e o sagrou como Supremo Sacerdote. Revestiu depois também os filhos de Aarão com as vestes que lhes eram destinadas, imolou vítimas, e com seu sangue aspergiu Aarão e seus filhos. "Santificou o tabernáculo e todas as suas alfaias [objetos diversos do culto) com o óleo de unção, ungiu o altar, e fez outros sacrifícios e cerimônias [durante sete dias]. "Quando Aarão ofereceu o primeiro sacrifício e abençoou o povo, apareceu a glória do Senhor, e desceu fogo do céu, que consumiu as vítimas. Então todo o povo se prostrou como rosto em terra e adorou o Senhor" 4 • "Este fogo sagrado, alimentado perpetuamente; foi, no tempo do cativeiro de Babilônia [durante 70 anos) e conforme a ordem de Jeremias, escondido pelos sacerdotes num poço, onde ele se conservou miraculosamente e foi re-encontrado por Neem.ias" 5 • Simbolismo - "O sacerdócio judaico era hereditário na fanúlia de Aarão. Mas é fácil ver que esta instituição era o prenúncio de um sacerdócio mais excelente. Aarão era apenas a figura do verdadeiro sacerdote, Nosso Senhor Jesus Cristo" 6 • " O qual [Jesus] não foi feito (sacerdote) segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude duma vida indissolúvel .... Assim é abolido o mandamento precedente (relativo ao
sacerdócio levítico ), por causa da sua fraquezaeinutilidade .... Jesustornouse por isso mesmo o fiadorduma aliança melhor"(Heb. 7, 16-22). "Igualmente na Igreja Católica existe uma hierarquia', cujo chefe é o Sumo Pontífice, Vigário de Jesus Cristo na terra; depois dele e sujeitos a ele, vêm os Bispos, os sacerdotes, os diáconos e os outros ministros inferiores" 7 • NOTAS l. Mons. C:auly, Curso de Instrução Religiosa
- História da Rel.igião e da Igreja, Livraria
Francisco Alves, São Paulo, 1913 , pp. 71-72. 2. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de l'Églisc Catlwlique, Gaume Freres, Paris, 1842. tomo I, p. 454. 3. Mons. C:auly, op. cit., p. 72. 4. Cônego].!. Roquete,HistóriaSagradado Antigo e Novo Testamento, C:uillard Aillaud, Lisboa, 1896, 9ª. ed., tomo I, pp. 230-231. 5. Padre Rohrbacher, op. cit., p. 453. 6. Mons. Cauly, op. cit., p. 72. 7. São João Bosco, História Sagrada, Livraria Editora Salesiana, São Paulo, 1965, 14ª. ed., p. 82.
Sumo Sacerdote judaico
A Assembléia Nac-kmal, em Versalhes, proclama o abandono de todos os privüégios, na noite de 4 de agosto de 1789: um dos temas que ainda divide a Fraru;a em duas partes
Nobreza e elites tradicionais análogas Lançado em Lisboa livro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
A
tribui-se a Winston Churchill, o eminente estadista inglês, uma apreciação, densa de conseqüências, sobre a França. Teria dito ele que, mais do que em qualquer outro país, nota-se ali uma divisão entre duas partes, produzida por um verdadeiro rio de sangue, nascido da Revoluç,ão Francesa. Muitos poderiam duvidar da objetividade dessa apreciação, julgando-a exagerada . Mas a autoridade de Churchill, enquanto político e enquanto historiador, a genialidade que imprimia aos seus ditos mais famosos e às suas observações mais sagazes, não deixam margem para se tomar como exagero esta sua opinião sobre a França. Quando se considera o resultado da pesquisa de opinião efetuada há pouco tempo naquele país sobre a condenação de Luís XVI e de Maria Antonieta, absolvendo os Soberanos, bem como os recentes conflitos ocorridos na praça denonúnada paradoxalmente "da Concórdia", em Paris, por ocasião do bicentenário da morte daquele Rei (ver Catolicismo, abril/93), constata-se que as palavras do renomado político britânico foram significativamente confirmadas pelos fatos. E provável, entretanto, que tal afirma~-.ão de Churchill não seja igualmente
objetiva no tocante a todas as regiões da França; em algumas a realidade poderá estar aquém, em outras estará além da mencionada descrição. Mas, de qualquer modo, é inegável que existe um desacordo forte, profundo e pode-se até dizer - quase perene entre as duas Franças a propósito do Ancien Régime, da Revolução Francesa e da restauração monárquica dos Bourbons (1815-1830). Seria um erro pensar que tal debate, que divide a França, se reduz a um desacordo sobre as pessoas de Luís XVI e de sua esposa, ou sobre a política seguida por ele enquanto monarca absoluto (1774-1789) e como soberano constitucional (1789-1792). O desacordo é causado também por outros problemas intimamente entrelaçados com esses, tais como: a crise religiosa provocada pela Constituição Civil do Clero, entronização da "deusa" Razão na Catedral de NotreDame, a perseguição contra os padres refratários às inovações revolucionárias, o aprisionamento do Papa Pio VI, em 1798, e sua morte conseqüente, em 1799. Além desses problemas de cunho religioso, houve também, no que diz respeito à ordem· temporal, a supressão da nobreza e dos títulos noJULHO 1993
17
biliárquicos, a abolição dos privilégios feudais etc. Esses três grupos de problemas estão vinculados entre si por vários aspectos. Entre estes, é de especial importância o mito revolucionário nascido da "filosofia das luzes", isto é, o mito da igualdade completa. Cumpre, pois, examiná-lo com mais cuidado.
O mito igualitário Em sua maior radica tidade, tal mito não consiste em atenuar esta ou aquela desigualdade, mas emeli núná-las todas, já e para sempre. Nenhum campo da atividade humana poderia escapara esse nivelamento absoluto e geral: nem o religioso, nem o político, nem o social e econômico. Até os campanários e as árvores particularmente altas deveriam ser derrubados, enquanto os vales seriam preenchidos pela terra tirada às montanhas, conforme se cogitou durante o governo do terrível ComitédeSalut Publique. No campo político, no decorrer da Revolução Francesa, o mito igualitário mostrou-se moderado nas fases iniciais da mesma. Os feuillants, por exemplo, eram monarquistas moderados. Foram seguidos pelos girondinos-já republi-
canos, mas moderados - e pelos jacobinos, bastante radicais. Na ;(ase final daquela Revolução, o igualitaris1\10 afirmou-se como uma p6'sição exacerbada, até chegar aos extremismos comunistas de Babeuf. O mito igualitário, porém, sente-se contundido pela existência de uma nobreza, porque esta constitui uma evidente desigualdade na estrutura social de um país. Ainda mais contundente para o mito igualitário é a nobreza hereditária, ou seja, uma desigualdade social que se transmite de geração em geração, apontada pela Revolução como gratuita e, em conseqüência, provocativa. Assim, que um herói de guerra se tome nobre é um fato que certos iguali-
Pressuposto: as alocuções de Pio XII
Contra tal igualitarismo revolucionário, especialmente em seu aspecto social, o pranteado Papa Pio XII pronunciou, ao longo de seu pontificado, uma série de alocuções dirigidas ao Patriciado e à Nobreza romana, por ocasião dos cumprimentos que os nobres apresentavam ao Pontífice, no início de cada ano. Tais alocuções constituem uma esplêndida coletânea de 14 documentos (elas foram pronunciadas nos anos de 1940 a 1952, e depois em 1958), nos quais aquele Pontífice chama especialmente a atenção de seu auditório para os
Processo dos girondinos rio Tribunal revolucionário (24-1 0-1793). Esses republicanos moderados foram eliminados do panorama político pelos jacobinos, mais à esquerda
tários moderados toleram. Mas que um homem, que não foi herói de guerra, herde o título deu m herói, constitui para tais igualitários uma desigualdade sem fundamento e, por isso, particularmente provoca tiva. Transpondo o mesmo igualitarismo do campo social para o econômico, os comunistas moderados viram algo de justo no maior salário de um trabalhador que trabalha mais . Porém, que o filho dele pudesse herdar o seu ganho, também pareceria a eles um fato provocativamente contrário à igualdade. Atua )mente a exasperação do igualitarismo se manifesta em certas correntes ecológicas extremadas, que chegam a negar ao homem o direito de utilizar-. e dos animais para a sua própria alimentação. Um vegetarianismo bas ea do e m princípios filosóficos igualitários seria um exemplo disso.
seguinte1f)ontos: - a legitimidade da existência da nobreza em nossos dias, pelo menos enquanto classe social, mesmo em regimes republicanos e democráticos; - a nobreza enquanto depositária das verdadeiras tradições e artífice do verdadeiro progresso; - o papel da nobreza como classe dirigente da sociedade, o dever dos nobres de não se esquivarem dessa missão e as qualidades que devem ter para bem cumpri-la; - a existência de elites tradicionais análogas à nobreza que imprimem um tônus aristocrático à sociedade, mesmo em países de regime republicano e democrático. Não se pode alegar que os ensinamentos de Pio XII perderam sua validade doutrinária coma realizaÇ<fo do Concílio Vaticano II. Pois Paulo VI, em pleno período co nciliar, reafirmou avalidade e a atualidade daque les ensinaCATOLICISMO
18
ínt mentos, em alocução dirigida ao Patriciado e à Nobreza romana, em janeiro de 1964. Visão geral do novo livro
Ora, uma das características próprias às diversas TFPs, presentes em mais de vinte países nos cinco continentes, é o combate ao erro do igualitarismo, talvez o mais nocivo de nossa época, na qual já proliferam tantos erros. É fáci I compreender, portanto, que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, e presidentevitalício de seu Conselho Nacional, tenha escrito a obra "Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana ·", na qual analisa e comenta as referidas alocuções, realçando especialmente seu combate ao igualitarismo social que vinha no bojo das repúblicas revolucionárias. O livro acaba de vir a lume em Lisboa, lançado pela prestigiosa Editora Civilização. Em linhas gerais, a obra contém sete capítulos e quatro apêndices, acrescida de doze seções de documentos que confirmam as teses nela defendidas. Nesses documentos, estão incluídos os textos integrais das alocuções de Pio XII, que são o principal objeto dos comentários do Autor. Como o título da obra indica, sua principal tese pode dividir-se em duas partes: -afinnar a legitimidade da existência da nobreza tradicional, titulada, cujas origens remontam geralmente à época da constituição do regime feudal, durante a Idade Média; - afinnar também a existência de outras elites, de origens diversas da nobreza tradicional, mas que, pela continuidade de suas linhagens familiares ao longo das gerações e pelo serviço que prestam ao país no campo cultural, econômico ou administrativo, podem ser consideradas como elites análogas à nobreza. Estão neste caso as elites rurais ou urbanas, constituídas por grandes proprietários e por figuras de relevo no mundo do comércio, da indústria, da
cultura, das finanças, das desigualdades soda administração, das ciais, o conceito de forças armadas. povo e massa, de liberA presença da nodade e igualdade, de breza e de tais elites verdadeira e falsa deanálogas confere uma mocracia. Para isso, o nota especificamente Autor lança mão de ouanti-igualitária a uma tro documento de Pio sociedade bem constiXII, sua famosa rádiotuída e hierarquicamensagem de Natal de mente estruturada. 1944, em que o PontífiPortanto, no comce trata especificamenbate ao igualitarismo, te desses temas. parece ser um ponto de capital importância deCapítulos IV a fender a existência da VI: comentários nobreza e de tais elites. das alocuções Torna-se assim mais explicável por Nos capítulos IV, V A Guarda Nobre Pontifícia presta homenagem ao Papa Pio XII, que o Autor - paladie VI o Prof. Plinio Corpor ocasião do Natal de 1945 no incansável e iniguarêa de Oliveira passa a de Pio XII, quando a Itália passou de lável na luta sem tréguas contra a Revocomentar então os ensinamentos de Pio monarquia a repúbli,ca. Em seguida, o lução gnóstica e igualitária (ver seu livro XII contidos nas alocuções ao PatriciaProf. Plinio Corrêa de Oliveira mostra "Revolução e Contra-Revoluç.ão") do e à Nobreza romana a respeito da como as alocuções de Pio XII, embora tenha julgado mais eficaz para esse missão específica da nobreza em nossos dirigidas diretamente aos nobres romacombate escrever uma obra em defesa dias. nos, têm na realidade um alcance unida nobreza e das elites tradicionais, do O Capítulo IV mostra como, antes versal, pois seus ensinamentos podem de tudo, a nobreza deve continuar a exisque uma obra em favor apenas da moser aplicados às nobrezas de todos os narquia. Pois historicamente está provatir, faz.endo parte da classe dirigente da países, e até mes mo às elites de países do que à Revolução custa mais demolir sociedade, apesar de todas as transforsem passado monárquico. uma sociedade pujantemente hierárquimações políticas, sociais e econômicas O Capítulo III trata de questões báca, do qu e simplesmente derrubar um ocorridas nos últimos tempos. sicas da doutrina social da Igreja, tais trono. O Capítulo V é dedicado ao comencomo: a legitimidade e a necessidade tário do ensinamento de Pio XII sobre a existência das elites tradicionais como guardiãs da tradição e propulsoras do verdadeiro progresso. Um dos itens deste mesmo capítulo trata especificamente de um tema que será desenvolvido mais extensamente no Apêndice III da obra: é a questão das formas de governo e o conceito de democracia segundo a doutrina social da Igreja.
Os três primeiros capítulos: alcance das alocuções de Pio XII
Nos primeiros capítulos da obra, antes de entrar propriamente na análise e nos comentários das alocuções de Pio XII, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira prepara o leitor para compreender melhor o sentido, ai mportância e o alcance daqu elas alocuções. No Capítulo I, após explicar o conceito de nobreza e de elites tradicionais, ele desfaz objeções que poderiam ser levantadas contra a atualidade e a objetividade daqu eles ensinamentos, salientando sua utilidade como escudo contra os inimigos da nobreza. No Capítulo II, há um breve histórico da situação da nobreza italiana - e mais parücularmente da nobreza romana - nos écu los XIX e XX, até a época
O Autor conclui, com Pio XII, pela normalidade da existência da nobreza e das elites tradicionais numa verdadeira democracia.
Praça de São Pedro e Basílica Vaticana (10-5-1939): a Geru:larmari.a pontifícia apresenta armas a Pio XII, recém-eleito Papa, rio momento da bênção solene JULHO 1993
No Capítuló VI, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira comenta os ensinamentos de Pio XII a respeito das qualidades de alma que a nobreza deve ter nos dias atuais. E como tais qualidades devem ser colocadas a serviço do bem comum, através da missão específica da nobreza de ser guia e dirigente da sociedade.
De posse dessas qualidades, a nobreza e as elites tradicionais n~o ,podem eximir-se de sua responsabilidade de serem guias e dirigentes da sociedade. Neste sentido, o absenteísmo e a omissão constituem para elas um pecado; a ausência dos guias torna-se uma virtual cumplicidade com o mal. Porém, não é só pela ausência e pela omissão que a nobreza e as elites tradicionais deixam de cumprir o seu dever. Elas "também podem pecar contra a sua missão deixando-se deteriorar pela impiedade e pela imoralidade··, ta I como aconteceu com a alta sociedade francesa do século XVIII e como suced~ no presente com certos e lementos da aristocracia .
vo do poder real. São apresentados exemplos históricos dessa hipertrofia do poder real em alguns países. Essa evolução no sentido da centralização do poder deu origem ao Estado contemporâneo, em que o absolutismo real se transformou em absolutismo de Estado sob o regime democrático-representativo. À centralização do poder político seguiu-se a centralização do poder econômico, com sua expressão mais radica) no capitalismo de Estado do regime comunista. Tal processo representou a destruição de tudo o que restava das antigas características da nobreza numa sociedade orgânica. Para que se possa compreender como deve ser a nobreza, que qualidades deve ter para cumprir integralmente Capítulo VII: considerações sua missão, o Prof. Plinio Corrêa de amplas sobre a nobreza e Toda a população -autêntico povo- pa,rticipava da construção Oliveira passa a descrever então aquilo elites análogas das catedrais, na Idade Média. que ele considera como um dos mais Leão XIII afirmou que, nessa época, Afastando-se agora dos comentários importantes traços da nobreza: o tipo "a filosofia do Evangelho governava mais estritos e detalhados das alocuções humano do nobre, tomando por modelo os Estados" de Pio XII, que constituem o conteúdo o perfil moral do nobre medieval. dos capítulos anteriores, o Prof. Plinio "Dois princípios essenciais defimedi eval, constituía o ápice de uma piCorrêa de Oliveira, no Capítulo VII de niam a fisionomia do nobre: J. Para ser râmide de senhores feudais. sua obra, estende-se em considerações O Autor mostra em seguida como a o homem modelar posto no píncaro do mais amplas sobre a nobreza e as elites nobreza assim fonnada, tanto em sua feudo como a Luz no lampadário, tinha análogas: sua gênese, a linha geral de existência concreta como em seus prin- ele de ser, por definição, um herói crissua história, suas características pró- cípios doutrinários, resultou de um pro- tão disposto a todos os holocaustos a prias e, muito especialmente, sua miscesso consuetudinário, de uma intera- favor do bem de seu rei e de seu povo, e são na sociedade hodierna. o braço temporal armado em defesa da ção modeladora, da qual participaram os Após uma substanciosa referência à mais diversos setores da escala social. Fé e da Cristandade, na guerra frerelaÇ<'io entre a esfera privada e o setor qüente contra pagãos e hereges. Nos itens seguintes é descrita sucinpúblico, e acerca da "2. Mas, para isso, prevalência do bem coele, como toda sua famum sobre o bem indimília, tinha de dar em vidual, ele descreve o tudo o mais um bom papel da família na soexemplo - ou melhor, ciedade, sua relação um exemplo ótimo -a com os grupos interseus subordinados e mediários e com o Esseus pares. Na virtude, tado, e como ela setorcomo na cultura, no nou a fonte das litrato social exímio, no nhagens que deram orifino bom gosto, na degem às elites. coração do lar, nos fesPassa então a relatejos, o seu exemplo detar as origens históricas veria impulsionar todo da nobreza feudal, a o corpo social a fim de gênese do feudalismo: que cada qual, analocom o desmoronamengamente, melhorasse to do Império carolíntudo" (Cap. VII, 7, geo devido às invasões a). Operários soviéticos num comício. A eles pode-se aplicar dos bárbaros, verifiTambém a nobreza o conceito de massa -multidão amorfa- enunciado por Pio XII na cou-se a reestruturaç.ão em nossos dias, para rádio-mensagem de Natal de 1944 da sociedade, a partir cumprir adequadamentamente, do ponto de vista histórico e te sua missão , deve possuir essas qualidos pequenos feudos que se fonnaram para resistir aos ataques dos invasores; social, como advento da monarquia abdades. Ela deve ser padrão de excelência à medida que o perigo foi diminuindo, soluta, a progressiva destruição dessa e impulso para todas as formas de eleuma hierarquia feudal se foi estruturan- sociedade orgânica e a liquidação da vação e de perfeição. nobreza enquanto elemento participatido, subordinada ao rei que, no período Após a transcrição de substanciosos
em
trechos de uma alocução de Bento XV ao Patriciado e à Nobreza romana, em que aquele Pontífice faz alusão a um "sacerdócio" da nobreza, o Autor passa a tratar, no último item do capítulo, do florescimento de elites análogas como fonnas contemporâneas de nobreza, embora reconhecendo que, a tais fonnas "contemporaneizadas", os Pontífices não chegaram a referir. Apresenta então exemplos históricos de fonnas de nobilitação. Elas vieram dar origem a tipos de nobreza que, embora autênticos, eram diferentes e de bri lho menor que a antiga nobreza tradicional. Tal era, por exemplo, a nobreza de ocupantes de cargos na magistratura, no magistério universitário, na administração pública e nas forças armadas, e também aquelas linhagens de origem comercial ou industrial que haviam prestado relevantes serviços ao bem comum. Com base em tais prece-
dentes históricos, o Autor sugere então a criação de novos degraus hierárquicos - para as novas modalidades de nobreza - na escala social. E, ao terminar o capítulo, o Autor declara que tais cogitações, suscitadas pelo estudo atento das alocuções de Pio XII, exprimem esperanças de que o cantinho traçado por aquele Pontífice não seja esquecido ou subestimado pela nobreza e pelas elites análogas existentes em todo o mundo .
***
O Condestável de Portugal, Beato Nun'Álvares Pereira (1360-1431): elevou as qualidades de grande guerreim e de nobre a virtudes em grau heróico, alcançando a santidade
Na CONCLUSÃO, após substanciosos comentários sobre a situação caótica da política internacional em nossos dias, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira renova suas esperanças, fundamentadas na promessa de Nossa Senhora em Fátima: "Por fim, o meu Imaculado Coraçãotriunfa rá ".
MURILLO GALUEZ
Aristocracia no Brasil; doutrina católica sobre formas de Governo Haveria uma lacuna na resenha sobre o livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciadn e à Nobreza romana se nela não se fizesse menção, ainda que sumária, de dois dos apêndices da obra, os quais, pela importância do tema tratado, poderiam até figurar como publicaçôes independentes. Formação da aristocracia brasileira
O primeiro deles é o Apêndice 1, intitulado No Brasil Colônia, no Brasil Império e no Brasil República: gênese, desenvolvimento e ocaso da 'Nobreza da terra' - O papel ela incorporaç.ão de elementos análogos à nobreza originária. Trata-se de um estudo de caráter histórico e sociológico, apoiado em citaçôes de numerosos e conhecidos autores, mostrando como se formou no Brasil uma aristocracia nativa, a partir de seus primeiros colonizadores e povoadores. E que papel teve essa elite na sociedade, no curso das diversas fases da história de nosso país. Monarquia: em tese. melhor forma de Governo
O outro é o Apêndice Ili, intituladoAs formas de governo
à luz da Doutrina Social da Igreja: em tese - in concreto. Nele são citados documentos pontifícios e textos de Sa nto Tomás de Aquino a respeito das formas de governo. Ao comentá-los, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira mostra como a liberdade de opção entre os três regimes - monárquico, aristocrático ou democrático - deve estar fundamen-
tada apenas nas circunstâncias concretas, próprias a cada país, mas não em pressupostos ideológicos ou doutrinários. Pois, como ensina Santo Tomás, em tese - ou seja, segundo os princípios abstratos - a monarquia é sempre a melhor forma de governo; mas nem sempre é aplicável às condições concretas de cada país. Ass im, um fiel poderia escolher a forma republicana-democrática para seu país, mas somente quando ela fosse a melhor, em vista das circunstâncias concretas próprias àquele país. Porém, não poderia escolhê-la por motivos ideológicos e doutrinários, como, por exemplo, pelo fato de ela ser um regime mais igualitário que a monarquia. Pois um católico, ainda quando levado, por circunstâncias concretas, a preferir uma república democrática para sua pátria, deveria desejar que tais circunstâncias mudassem, a fim de que seu país pudesse ter a forma de governo que, em tese, é a melhor: a monarquia. Por fim, o Prof. Plín io Corrêa de Oliveira apresenta o exemplo da implantação da república revolucionária na rFrança - fruto da Revolução Francesa e de outras revoluções ocorridas naquele país durante o século XIX - , realizada por motivos evidentemente ideológicos e doutrinários. Tal república pretendeu, no decurso do século passado, ser aceita pelos católicos a pretexto de que as condições concretas da França a tornavam necessária ao país. A falsidade desse pretexto, o caráter nitidamente revolucionário e anticat61ico do regime, e a penetração das idéias liberais entre os católicos, produziram uma profunda divisão nas fileiras católicas que, em boa medida, perdura até hoje.
. CATOLIC:ISMO
JULHO 1993
20
21
ESCREVEM OS LEITORES
..
:r:~· ,j,
·~ '
... :
TFPsEMAÇÃO
j
~ugestão
Coragem
Dizer que o mensário "Catolicismo" continua esplêndido, que as matérias nele tratadas são espetaculares e atualíssimas, dizer que o apostolado que ele faz, atraindo um sem-número de almas para as verdades católicas e para a formação de um espírito contra-revolucionário, parece-me pouco. O fato real é que inexistem palavras para exprinúr e qualificar a excelência da revista. Tomo a liberdade, como antigo assinante, de sugerir que ela publique, talvez para o conhecimento ·de muitos e para relembrar a outros, as devoções das primeiras sexta-feiras e dos sábados em desagravo ao Imaculado Coração de Jesus e Maria, advogando em favor da sugestão, que não se tratam de devoções indicadas por santos ou pessoas piedosas e que a Santa Igreja encampou, mas pelo próprio Santo dos Santos, Nosso Senhor Jesus Cristo é por sua Santíssima Mãe. Essas devoç.ões, especialmente a das primeiras sexta-feiras, ainda são praticadas por algumas pessoas, mas suas origens, as condições que devem ser observadas, bem como os méritos que delas se podem alcançar, são em geral desconhecidos, pois não há mais quem as explique e recomende.
Sou assinante deste grande jornal desde a década de 50. Li todos os artigos. São ótimos. Apreciei muito a entrevista que o sr. Leo Daniel e fez ao sr. Ely da Silveira da cidade de Tupanciretã (RS). Estou com a 1FP até morrer. Quem é, hoje em dia, que tem essa coragem? Só ela mesma, não é? Meus parabéns, continuem!
J. N. de Sousa. Florianópolis - SC
A Defanti. Primavera do Leste -
MS
Adaptação Vocês de"Catolicismo" não aceitam novidades. O catolicismo de vocês é do tempo da Idade Média. Ora, a Igreja precisa seadaptaraos tempos modernos e vocês não desejam tais adaptações. Por quê? N. Bonizi. São Paulo - SP
N .R.- A direção e os colaboradores de Catolicismo são de opinião que se deve fazer uma adequada adaptação aos tempos atuais. M~s, principalmente, isto sim, são esses tempos que devem se adaptar à IgreJa Católica, Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo e Fonte de salvação. Cabe aqui, por fim , fazer uma observação: na realidade, nossa revista é atacada por aque les que desejam uma capitulação da Igreja diante dos tempos modernos ... E isto não pode ser!
Os abutres do riso Aqueles que riem excessivamente são chamados bomolochi, quer dizer, rapinadores do templo. . À semelhança dos abutres nojentos que voavam em torno dos templos para se alunentar com as vísceras dos animais imolados, eles ficam à espreita de pegar algo que possam transfçmnar em objeto de risadas . . , . . São incômodos e pesados porque deseprn a propos1to de qualquer coisa provocar a gargalhada, e nisso se aplicam com todas as forças. _ . , Mesmo quando dizem coisas decentes e honestas~ na<? esteJam caçoando _de alguem, ficam à espreita de soltar coisas torpes ou com as quais agite~ ?s outr?s ~ os m?uzam ao riso (ln l)ecem Libras Ethicorum Aristotelis ad Nicomachum Exposzt:w, Manem, Turnn-Roma, 1949).
SÃO TOMÁS DE AQUINO CATOLICISMO
22
Lançada coin êxito .em Portugal obra do Presidente da TFP MAURÍCIO SUCENA
Correspondente
LISBOA - Está circulando largamente aqui em Portugal, lançada pela prestigiosa Editora Civilização, o artístico e denso livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. As primeiras manifestações com que foi recebido - elogios, aplausos, surpresas admirativas, ao lado de algumas rejeições - indica o quanto o tema da nobreza continua atual e capaz de a trair o interesse e a simpatia de ponderável parcela do público português. A obra começou a escoar-se na Feira do Livro, que se realizou em maio passado, simultaneamente nas cidades de Lisboa, Porto e Coimbra, onde ela foi exp0sta com destaqu e nos stands da Editora Civilização. Ao mesmo tempo, chegou ela i\s livrarias das mais importantes cidades do país, como, por exemplo, a famosa e tradicional Livraria Bertrand, de Lisboa. A TFP lusa, por sua vez, está emp ree nd endo uma de suas maiores campanhas, mediante duplas de cooperadores que vísitam o largo círculo de amigos e simpatizantes da entidade, promovendo a divulgação da mencionada obra. Conforme costume adotado por muitas editoras, tanto em Portugal como em outros p,1 íses europeus, se o possível comprador não for encontrado em sua
residência, ou se preferir examinar o 1ivro antes de adquiri-lo, este poderá ser deixado i\ sua disposição por alguns dias. O resultado dessa campanha de visitas tem sido excelente, permitindo se conhecer, ao mesmo tempo, num conta-
to. Certamente o Prof. Plinio deve seruma pessoa muito especializada nesta matéria, pelo pouco que vi do livro deglutidos. Ele fala com muita profundidade e, ao mesmo tempo, com muita clareza. É um homem de muita capacidade". - Uma senhora de Lisboa, que admira há muitos anos o trabalho exercido pela 1FP lusa, observou: "É um livro que vai fazer muito bem não só aos nobres, mas a toda a gente, pois estamos numa sociedade muito igualitária. Eu tenho várias obras do Prof. Plínio Cor-
rêa de Oliveira e admiro muito os seus escritos". - Um médico lisboeta afirmou: "Gosto muito de tudo o que o Prof. Plinio escreve. Ele certamente é um homem muito feliz, pois está vendo, em vida, a sua obra realizar-se. É um homem de Fé. Não só pelo tema, mas útmbém pelo autor, vejo que é um livro ... a obra do insigne pensador católico tradicionalista foi excelente". exposta com realce Um dos to pessoal, as opiniões do público sobre membros do "Círculo Eça de Queiroz", o tema, a 1FP, bem como se comprovar associação de literatos que se reúnem o renome alcançado pelo Prof. Plinio para conversar, encomendou mais um Corrêa de Oliveira entre as pessoas viexemplar do livro, pois o que adquirira sitadas. para uso dos associados havia sido levaA título de exemplos, reproduzo abaido por seu presidente. xo algumas repercussões sigrúficativas: Eis aí alguns sintomas do grau de ~ Um homem de negócios da capiintetesse que a obra do Prof. Plínio Cortal portuguesa comentou: "Conheço várêa de Oliveira vai despertando nos mais rios artigos do autor, do qual gosto muivariados ambientes portugueses.
Em junho 1íllimo1 transcorreu o cinqüentenário do lançamento.do livro-lx>mba "Em Defesa da Ação Católica", de autoria do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Não tendo sido
possível publicar artigo alusivo ao evento na edição daquele mês, como também na presente, tal matéria deverá figurar em nossa edição de agosto próximo.
JULHO 1993
Preços durante o mês de JULHO de 1993:
''r' \
ASSINATURA ANUAL
~
Brasil Real Brasil Brasileiro
~
Ebrio, mas com sande
CASA ZILANNA
COOPERADOR: Cr$ 1.500.000,00
MERCEARIA
BENFE ITOR: Cr$ 2.500.000,00 GRAN DE BE N FEITOR : Cr$ 5.000.000,00
A
safra agrícola brasileira continuou
do a 67 ,6 nu !hões de toneladas de grãos, segundo dados do IBGE. Embora o Produto Interno Bruto tenha caído 0,93% no ano passado, a recessão econômica só não foi maior graças ao setor agropecuário que, apesar da crise, cresceu 5,96%. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Hortigranjeiros (flortinex), a produção brasileira de frutas é atualmente a primeira no mundo, tendo alcançado 30 milhões de toneladas na última safra. De acordo com a Hortinex, devido à má administração pública,a quarta parte da produção se perde por falta de armazenamento, transporte, estabilidade no mercado etc. Uma boa notícia: graças à irrigaç<"ío, o vale do rio São Francisco produz duas safras de uvas por ano, com poucos problemas de doen<,_-.as. E essas frutas do Nordeste - plantadas na região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA)-já começam a ser exportadas para a Europa. E ainda mais: acaba-se de descobrir qu e no cerrado é possível plantar ma<,_'.ás com grande êxito. A experiência está sendo levada a cabo em Uberaba (MG), e é inédita no mundo ("Folha de S. Paulo", 19-1-93).
Por outro lado, em 1992 a produção de carne suína registrou um aumento de 10% e a oferta de carne de frango cres ceu 7% no mercado interno, sendo que as exportações renderam 450 ntilhões de dólares .
*** Apesar de todo esse quadro alentador da agricultura brasileira, o produtor rural acaba de receber um duro golpe com a aprovação, pelo Congresso Nacional, da lei de Reforma Agrária, que fere profundamente a estrutura agropecuária, base da economia do País. No bojo da lei nª 8.269, eis alguns pontos censuráveis entre muitos outros: conceito absurdo de produtividade, "função social" coringa (malha da qual ninguém escapa) e um verdadeiro confisco agrário, ou seja, o "pagamento" da terra nua com os desvalorizados Títulos da Dívida Agrária, em até 20 anos, ma. téria longamente tratada em Catolicismo (nª 509, maio 1993). &sa brutal e absurda intervenção esta tal nos setores produtivos do Brasil não se restringe à agricultura, comércio e indústria, mas se exerce também, direta e pesadamente, até no "pão nosso de cada dia" do povo brasileiro. Demonstração disso foi feita em um estudo recente do Banco Mundial, informando que o total dos impostos sobre a
Advocacia civil, trabalhista e empresarial
*
COMUM: Cr$ 1 .300.000,00
EXEM PLAR AVULSO: Cr$ 130.000,00
rt.seu crescimento em 1992, chegan-
Bebidas nacionais e estrangeiras. Queijos e doces tipo europeu. Arenkes e Salmons
Rua ltambé, 506- Higienópoli s São Paulo - Fone: 257-8671
Dr. Cerson Shiguemori ADVOGADO
Rua 24 de Maio, 188 - 2ª sobreloja, sala 226 Fones: 223-3180 e 220-5901
chamada "cesta básica" atinge a alta marca de32%, em média, do custo final. Ou seja, uma terça parte do que cada um de nós paga nos supermercados pela alimentação essencial é embolsado pelo Estado. A conhecida revista inglesa The Economist publicou, não há muito tempo, um relatório alentador sobre o País, cuja tese é a de que "o Brasil não está doente, está bêbado". "The Economist'' afirma que" a única coisa que se interpõe entre o Brasil e índices de crescimento econômico como os registrados na Ásia (os maiores do mundo) é um mau governo. Se a maldição do mau governo puder ser eliminada, existem poucos milagres que a economia brasileira não possa fazer". A revista aponta o intervencionismo esta tal como a causa principal da crise que nos assola. Daí a situação de ebriedade, que não pode ser confundida com doença. Sanado o Brasil da ebriedade esta tizante, aparecerão condições para que a propriedade privada e a livre iniciativa façam desabrochar o potencial quase ilimitado dos recursos econômicos deste País de dimensões continentais. Que interesses impedem essa cura?
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX
TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
-~WROPÂlAcE __ Apesar da atual recessão econômica, o setor agropecuário nacional cresceu 5,96% em 1992 CATOLICISMO
24
Rua duKPnlmcirns, 78 - Tel. (OI 11220-0422 - CEP.01226 n:u;x 1123208 - FAX (OJ 11220-9955 ODG (Oll 1800~272 São Paulo
-X -
' Ao Lord Palace Hotel: Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. 1
Nome: End.: .. . CEP: ........................ Cidade: ........................................................................ UF: .
ESC\\
Assessoria Contábil &Tributária S/C Lida.
.
.. ·~ ,..
·. . . .
. ..
Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS Edivaldo José Ciryllo Rangel
ltaim
Rua Julio de Castilhos, 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068
Norton
Suporte protetor para sua coluna vertebral
Atacadista de carnes em geral Fone: 298-4080 /Sr. Jayme)
ADÁGIO BRAS ILEIRO
Existe um jJassado que não passa de um cemitério da História. Hâ outro, de onde jorra, em sua profundúlade viva, a fonte do futuro. O revolucionário comete o erro de os confundir e os abominar ao m(',smo tempo
Comércio de Carnes
NOVA CADEIRA ORTOPÉDICA
Pelo fio tirarás o novelo., e pelo passado, o que (',stá para vir
R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
GREGORIO MARANON
Ninguém sabe o que o futuro nos reserva. Tudo cheira e respira tempestxule, mas não há vento, nem nuvens IVA N KHARABAROV
Será isto a modernidade? Se é, o jm?ÇO é caro demais. Parem o mundo, queremos descer LOUIS PAUWELS
A esperança é uma saudade do futuro PLI NI O CORRÊA DE O LI VE IRA
Educação neopagã, educação cristã
----------------
• construto ra
NBERG
ADOLPHO LINDE - 703 - 6 º Rua Ge ne ral Jarcltm , - ?56 04 l l - São Paul o
S/A e:;
tudo com a
Talento Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Segurança_ . Soluções ori~ma1s Harmonia Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe Acabamento pe:so?alizado Local pri-v1leg1ado Sucesso
-------------------assin@ura ~ntia desta g _ -----
7º a nelar
Fone. -
--- --------- --------
SUJEIRA REPUGNANTE, fisionomia imbecilizada, gestos vulgares: quem será o adolescente da foto à esquerda? Um mendigo? Um pobre menino de rua? Não se sabe. No entanto, o flagrante caracteriza um menino espontâneo, bem ao gosto de certos teóricos freudianos, que preconizam a lib eração total dos instintos - em detrimento da razão e da moral - como método válido de educação.
***
Postura distendida e elegante, domínio absoluto sobre si mesmo, de pé no cume ele uma montanha, o pequeno alpinista, na foto da direita, contem pia maravilhado os horizontes sem limites só proporcionados pelas grandes altitudes. Séculos el e civilizaç.ão cristã ant<:.cecleram e influenciaram a formação desse jovem. Acostumado à viela austera, mora l e fisicamente sadia, ele apresenta na fisionomia o equilíbrio e a força ela inocência primaveril.
....··,. '>: -
·
,•: ,· .
:->~~·:·Ir· .:1
,.'• .'.•.~ ·,
.•.:, ·
O MAIS RECE
DOGMA
CATOLICISMO
N2 512
·\ ·Discernindo, distinguindo, classificando...
Agosto 1993
Turisino ou peregrinação Repercussões graves e surpreendentes do turismo na nossa vida quotidiana. Analise com cuidado o problema
U
m dos fenômenos rânea que não tenha a sua co ntemporân eos Manhattan, copiada da orimais impressionantes, tanginal norte-americana, e to pela massa de pessoas pelo menos tão pouco graque desloca como pelos ciosa quanto ela. Entretanefeitos de toda ordem que to, mesmo à procura da traproduz, é o turismo. dição, o turista típico não A população de Portureflete sobre o que vê, nem ga l, por exemplo, já cheama as gra ndezas cristãs do gou a dupli car no verão por passado. Ele ap nas vê, mecausa do turismo, e a Espacan icamente. nha não fica longe di sso. Entre as causas do turisDo ponto de vista econômo, urna veio preponderanmico, em certas nações eudo sobre as outras, a ponto ropéias o turismo é contado de se tornar dominante: é o entre as primeiras fontes de turismo pe lo tu rismo. Ficou renda do país, influencia bonito ser turista, tirar fotodecisivamente o comércio grafias para d 'pois mostrar (que se volta para o atendiaos parentes e ami gos, conmento dos visitantes), leva tar aos Clutros que se viajou Grande variedade de folhetos incrementa um dos fi.mômerios à construção de redes de nas fér ias. A propaganda contemporâneos que tem ocasionado graves e surpreendentes d iz que is.."o ~-bonito, o pritransporte, de hotéis etc. conseqüênc-ías: o tu.rismo As repercussões polítimo ou o viziuho já viajacas são notórias: desde a ram, "entíin hí vou cu tamé servido por uma monumental propacriação de Ministérios e Secretarias esbém!" ganda - cadernos especia is nos jornais, pecializados no assunto, até inJ:luir nas *"'"' nas revistas etc. relações exteriores. Se olharmos para o Como vai longe o t ' mpo 'm que os Temos assim que a vida particular de aspecto socia l, notamos a avassaladora grandes d slo ·am •ntos d ' pessoas se milhões de famílias acaba se adaptando influência que os turist~'ls exercem sobre faziam para fins allam •111 • nobres: quer para servir o turismo. Nelas tudo se moos naturais dos lugares que visitam. Lefins diretam ntc re li giosos orações, difica para esse fim, desde a profissão vam novas modas, novos hábitos, sempenitência , nr,,iies d' gnu,11s, como as exercida por seus membros, até os mopre aureolados pelo prestígio do digrandes per 'gri nnç6 ·s o ao Tiago de dos de ser e as convicções filosóficas e nhe iro. Composte la, a Roma •te. , qu 'r para religiosas. Mesmo a Moral se vê seriamente fins rc li g iosos-cornhativos, co mo as E o que buscam os turistas? Que atingida, pois como um caudaloso rio de Cruzadas para Iih ·rlar o Santo Scpu lcro. causas deslocam cicli camente tantos milama a quebrar todas as.barreiras, assim Hoje ·m dia cncn11tra111os :iinda reslhões de pessoas, produ zindo tão grantem sido o papel do turismo. De modo tos c.le fervor qu • levam multidões a des e graves conseqüências? geral, ele tem trazido às populações mais Fá lima ou II Lourdcs. Mas, infr lizm •nte, À primeira vis ta - dir-sc-ia - é a conservadoras uma ostensiva amoralimesmo aí o espírito de turismo muito se be leza. O turista vai em busca da belci.a dade, através de modos desinibidos de m ·selou. natural - praias, montanhas, panoraser e de portar-se em público, do permisÉ nossu •spcn111<.;:1 qu · os grn ndcs n.1as em geral - ou da belew artística: sivi smo mais completo, chegando, fre11contc ·im ·ntns pr ·vistos por Nossa Seqüentemente, à exibir,,'.áo despudorada arq uitetura típica, aldeias pitorescas, nhora na 'ovu d11 lrin Htraiam do Céu monumentos etc., quase sempre dopasdo próprio corpo . E, quem fa la em Monovos e irnprcs.-.;ionaut •s milagres - e sado . Dificilmente o tu rismo se faz parn ral, fala em religião. Não que os turistas prnd1mm1 fotos tlin cspelaL-ulares,--que ver coisas modernas, pois estas apn·srnse entreguem a alguma forma de prosemurqucrn para sempre certos lugares. E tam pouco ou nc11hum interesse. Tanto li tismo religioso, mas habitualmente qu!' esses locais venham a tomar-se cenfaz ver os edifícios da Quinta avenida, carregam consigo, isto sim, uma mentatros de fervorosa peregrinação, num fu em Nova Iorque, quanto os da Av. Faria 1id ade a-re li giosa, profundamente turo próximo em que o espírito de turisL ima, em São Paulo, ou da Av. Rio Brnn"m undana" no pior sentido do termo, mo esteja completamente a fastado. co, no Rio de Janeiro, ou ainda ver Brapara a qual a religião parece sem sentido. sília. É rara a grande citlade contcmpoAcrescente-se a tudo isso que o turismo C.A.
Assestando o Foco
A
Assunção de Nossa Senhora ao Céu de corpo e alma, que se comemora a 15 do corrente, é verdade conhecida na Santa Igreja desde os tempos mais remotos. É também o mais recente dogma proclamado pelo S upremo Magistério. Dogma! A palavra contunde os espíritos infectados pelo relativismo moderno. Entretanto é ela uma das mais esplendorosas estrelas na constelação da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, a única verdadeira do Deus único e verdadeiro. O que vem a ser, entretanto, um dogma? Uma verdade nova, inventada pela Santa Sé, a qual os cató licos devem acrescentar às outras já anteriormente impostas de modo arbitrário pela Igreja? De ne1J.bum modo! Há no Sagrado depósito da Revelação -Sagrada Escritura e Tradição -verdades explicitamente formuladas e outras que o estão de modo mais ou menos im-
plícito. Tal fato não impede, porém, que um grandíssimo número de fiéis acatem também essas últimas, nelas crendo fervorosamente e de modo ininterrupto através dos séculos. Habitualmente, vem depois o reconhecimento oficial e solene de que esta ou aquela verdade - já larga e amplamente difundida na Igreja - é elemento integrante da Revelação. Tal reconhecimento é fruto de longa e acurada maturação, meticulosos estudos, realizados por eminentes teólogos e exegetas, mas cuja decisão final cabe ao Papa. Em presença das conclusões dos peritos, o Supremo Pontífice emite o próprio juízo, decidindo pela proclamação, ou não, do dogma. O fato de o Soberano Pontífice decidir pela não proclamação não importa, de nenhum modo, na afirmação de que a do utrina em questão não é verdadeira. Mas, ou foram motivos de oportunidade, a juízo da
Santa Sé, que a levaram a esse procedimento, ou foi porque esta não j ulgo u ainda suficientes as razões apresentadas para proceder à solene definição. Quando, entretanto, a Santa Sé e o juízo do Papa as encontram suficientes, pode este último, invocando o privilégio da Infalibi lidade Pontifícia, declarar a referida definição. Ou seja, proclamar o dogma. A proclamação do dogma é, pois, o reconhecimento so lene, oficial e de caráter infalível de que determinada verdade está contida na divina Revelação. E, enquanto tal, exige, da parte do fie l, uma adesão incondicional para que ele pennaneça unido ao corpo das verdades reveladas Àquela que, por disposição de seu divino Fundador, é a guardiã e mestra da Revelação: a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.
Índice Turismo ou peregrinação A Realidade concisamente
2
Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida.
Agricultura e Reforma Agrária Destaque
4
Paulo Corrêa de Brito Filho
Brasília fracassou Festa litúrgica
5
Gloriosa Assunção de Nossa Senhora ao Céu Cinqüentenário
6
No início do início , a denúncia providencial Hagiografia São Pio X: fortaleceu a Igreja, fu lminou a heresia Educação
9
Discernindo...
Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o N2 13748
Redação e Gerência:
16
No Brasil, as crianças pertencerão ao Estado Brasll real, Brasil brasllelro
19
Expressões autênticas da religiosidade popular TFPsemação
22
Estandartes tremulam na Lituânia Em painel
23
Frases e imagens
27
Nossa capa -
Diretor:
Rua Martim Francisco, 665 01226-001 · São Paulo, SP Te!: (011) 624.9411
CINQUENTENÁRIO PLINJO CO RREA DE OLIV EIRA
Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro
Fotolitos:
EM DHES/\ Oi\
,cíio
Cf\IÓLICf\
Microformas Fotol~os Lida. Rua Javaés, 661 - 01130-010 São Paulo • SP
Impressão: Artpress Indústria Grafica e Edilora Lida. Rua Javaés, 661 - 01130-010 São Paulo· SP Acorrespondêrx:ia reláiva à assi1at1.rae veooa avusa p:>de ser enviada oo Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: RuaJaguaribe, 648 Conj. 02 - CEP01 224-000 -São Paulo -SP-Fone: (01 1) ffi.3361
Em cima: Assunção -Jean Fouque~ Les Heures
d'Etienne ChevaNer, séc. 'IW, Castelo de Chantilly
(França) Embaixo: Pio XI I, que prodamou o Dogma da Assunção, no trono pontffído, capela-mor da
l•/.11
ISSN · 0006-6526
l•J!(!
....,,, 1•.1111,,
Basílica de São Pedro (Roma)
CATOLIC ISMO
AGOSTO 1993
2
3
Agricultura e Reforma Agrária
zoável importá-los de um pafs que sabidamente utiliza trabalho escravo, e cuja qualidade dos produtos, em recentes importações de vacinas, se revelou, em boa medida, ineficaz?
Pelas estimativas do governo, a safra de grãos neste ano poderá chegar a 71 milhões de toneladas, cifra apenas um pouco menor do que a safra recorde de 1989, de 71,4
Ioga e coordenadora do Projeto do Idoso na Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados.
*** Rússia envia armas à Sérvia ... - Em virtude de um acordo secreto no valor de 360 milhões de dólares, a Rússia enviou material militar à Sérvia e às zonas croatas e bosnianas controladas pelos sérvios.
Antiga Iugoslávia: "revés para a comunidade internacional"; na Bósnia, o morticínio prossegue
milhões de toneladas. Um aumento de produtividade também foi registrado: colhe-se mais soja, feijão e arroz em área 2% menor do que em 1992. Grande parte dos agricultores, ao invés de recorrerem ao crédi~o oficial, financiaram com recursos próprios o plantio. É neste setor altamente produtivo que se abaterá a lei de Reforma Agrária, com suas catastróficas conseqüências.
dadeiro revés para a comunidade internacional" . Segundo o referido instituto, 1992 foi um ano em que "tudo que podia dar errado deu errado". Cita como exemplos o fracasso do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT); o caos na Rússia; a falta de progresso nas negociações de paz do Oriente Médio; as crises no Camboja e em Angola; a fome na África. Uma situação na qual tudo o que pode dar errado dê errado, é o caos. Dir-se-ia que a única força organizada no mundo hodierno é aquela que caotiza tudo ...
1992 ano do caos ... organizado?
Mais medicamentos ... de
No ano de 1992, a nova ordem mundial pendeu na direção do caos, afirmou o Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais (IIEE), de Londres, no balanço anual "Strategic Survey", edição 1992-1993 ("Jornal do Brasil", 20-5-93). O IIEE enfatiza que o caso da antiga Iugoslávia é o melhor exemplo disso, fazendo com que as instituições "parecessem fracas e ineficazes, num ver-
Cuba O governo brasileiro está fechando um acordo com Cuba para a compra de 300 milhões de dólares em medicamentos, no prazo de dois anos. O acordo faz parte de um tratado mais amplo que está sendo negociado entre o ltamaraty e a chancelaria cubana. A preocupação do governo em baratear o preço dos medicamentos é louvável. Mas será ra-
Polônia anula lei do aborto Após três anos de hesitação, a Polônia anulou a lei comunista que permitia o massacre dos inocentes. Doravante, o aborto é considerado crime.
*** TV e violência
O Bn1sil tende a se tornar um "pais de velhos"
Envelhecimento
O Brasil não pode mais ser chamado de país de jovens: envelhece aceleradamente. Nossa Pátria terá a sexta maior população idosa do planeta até o ano 2025. Ocasião em que as pessoas com mais de 60 anos representarão 15% da população. Ou seja, o Brasil atingirá o mesmo padrão de "envelhecimento" de pafses desenvolvidos. Enquanto os europeus chegaram a essa triste situação ao longo de mais de um século, aqui o processo, impulsionado a partir de 1990, estará completo em apenas 32 anos. Um dos fatores importantes para tal é a redução da taxa de fecundidade de 4,69% em 1960 para 2,44% em 1990. "Quando esse fndlce chega a 2%, é apenas o necessário para a manutenção da população", informa Lizete Prata, soció-
A violência urbana transformou-se em uma das principais causas de doenças mentais em várias partes do mundo, de acordo com participantes do 92 Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em junho passado no Rio. Os psiquiatras acusam a televisão de disseminar a violência. EliotSorel, presidente da Associação Mundial de Psiquiatria (AMP), disse que 21, 7% de todos os tipos de morte de menores de 18 anos, em Washington, (EUA), têm no homicfdo a sua principal causa. Pesquisa realizada pela AMP revela a existência de "cinco atos de violência" a cada hora de programação na televisão, proporção que passa a 18 nos finais de semana. Segundo Sorel, nos EUA um adolescente se mata a cada seis horas, e 35% dos crimes que ocorrem em seu pafs são praticados por pessoas com idade entre 15 e 20 anos, que representam apenas 8,5% da população. A televisão, mais uma vez, contribui, e largamente, para a disseminação da criminalidade.
... bem como soldados e técnicos - Apesar de seu apoio oficial ao embargo, imposto pela ONU, os russos já enviaram soldados e técnicos para ajudar os sérvios a
manobrarem os tanques T-55, bem como mísseis antimísseis e antiaéreos. Por trás do sorriso aos ocidentais, as garras do Urso aparecem ...
*** Mao Tsé-tung A revista "Time" publicou a seguinte frase do ditador comunista chinês, Mao Tsé-tung: "Gosto dos direitistas... Daqueles que na direita podem fazer tudo aquilo que a esquerda só pode falar".
*** Beatles - Em seu livro "Rock e Satanismo", o escritor francês René Laban afirma que, em 1961, John Lennon vendeu sua alma ao diabo para os Beatles terem sucesso.
Kiss - O conjunto Kiss ficou famoso no mundo inteiro, mas poucos sabem o verdadeiro significado de seu nome. Trata-se das iniciais deKnights in Satanica/ Service - Cavaleiros a serviço de Satanás.
*** Seqüência satânica - Os três primeiros discos do conjunto Kiss tiveram os seguintes títulos: o primeiro simplesmente Kiss; o segundo, Hotter than hei/ (Mais quente que o inferno), e o terceiro, Dressed to ki/1 (Vestidos para matar). Disso resulta a seqüência: "Cavaleiros a serviço de Satanás, mais quentes que o inferno e vestidos para matar".
***
DESTA0.!-1.!Ú Brasília fracassou No Brasil, cidades coloniais com séculos de existência, como Ouro Preto, Para ti e muitas outras, aí permanecem a enobrecer o passado e a embelezar o presente. Isto para não falar da Europa, onde construções originadas na longínqua Idade Média dão o tom ainda hoje às nações daquele continente. Brasília, cidade-símbolo da modernidade , tem menos de 30 anos de existência, e já está velha e desgastada. Projetada pelo comunista Oscar Niemeyer para refletir de algum modo sua ideologia, Brasília fracassou, como sucedeu, ai iás, com o comunismo soviético. As paredes de vidro dos prédios feitas para tomar pública e transparente a vida privada - são rejeitadas exatamente por devassarem a realidade íntima. As plantas dos apartamentos foram reinstalando as entradas "sociais" e "de empregados", ao contrário dos projetos originais que evitavam essa distinç,'io. A propriedade familiar substituiu a idéia da vida em condomínio vertical. Os grandes espaços públicos, para lazer, foram abandonados, porque os moradores não se sentem "massa". Os clubes privados reinstaurados no lugar dos pú-
Brasília: com menos de 30 anos, já velha e desgastada
blicos. Foram ressuscitadas as ruas com suas esquinas e vitrinas de lojas. Ou seja, na prática, "o morador de Brasília decretou a falência total do projeto".
Tradição e Modernidade Os comentários acima são inspirados em dois livros recentes (A Cidade Modernista, de James Holston; e A Construção das Cidades segundo seus Princípios Artísticos, de Camilo Sitte). Ambos convergem na idéia de que a cidade "antiga" é o reino da harmonia, enquanto a "moderna" é confusão e mo-
CATOLICISMO
AGOSTO 1993
4
5
notonia.A linha reta, no traçado de uma cidade, é contrária à vida, à organicidade ( cfr. "O Estado de S. Paulo", 8-5-93, artigo de Teixeira Coelho). No fundo, é o velho dilema Tradição-Modernidade.
*** Brasília tentou representar uma modernidade sem tradição e até contrária a ela, e fracassou rotundamente. Prova a mais de que o progresso só é autêntico quando feito na continuidade harmônica da Tradição.
FESTA LITÚRGICA
·~
Gloriosa Assunção de Nossa Senhora ao Céu Comemora-se a 15 de agosto um dos mais antigos e . veneraveis privilégios da Mãe de Deus, proclamado solenemente como Dogma há 43 anos /
"Deus Pai juntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e cha1ilou-as Maria" 1, exclamou São Luís Maria Grignion de Montfort. O grande e ardoroso apóstolo da Virgem Santíssima fazia eco, desta fonna, à saudação angélica: "Ave Maria, cheia de graça ... " Reproduzia outrossim, em fonna alegórica, as palavras do próprio Deus, commúcadas por São Gabriel-o celeste mensageiro que, a partir de então, far-se-ia fidelíssimo súdito dAquela que, em conseqüência mesma da mensagem, setornava sua Rainha e Senhora. Com efeito, por disposiç,fo divina, a hunúlde Maria reinava agora sobre os Serafins e Queru bins, Tronos, Dominações, Potestades e demais coros angélicos. O que, entretanto, significa a designação "cheia de graça", qualidade pela qual Deus definiu perfeitamente Maria, como a Si próprio se identificou a Moisés: "Eu sou Aquele que é" (Ex. 3, 14)? Com toda certeza indica que à Santíssima Virgem Ele outorgou todos os privilégios e predicados sobrenaturais susceptíveis de serem comunicados a uma mera criatura. Por este motivo diz o Papa Alexandre III: "Maria concebeu sem ofensa ao pudor, deu à luz sem dor
e deixou esta Terra sem corrupção, segundo a palavra do anjo, ou melhor, de Deus pelo anjo para que se demonstrasse c~eia, não semi-cheia, de graça ·" 2• E precisamente um desses singulares privilégios - a Assunção de Nossa Senhora ao Céu em corpo e ai ma - que a Santa Igreja comemora a 15 do corrente mês. E ao qual Catolicismo sempre fiel a uma ardentíssima devoção
Imagem barroca de Nossa Senhora da Glória (invocação que, segundo antiga tradição portuguesa, homenageia a Assur~ão), altar-mor, da Glória - RJ
à Virgem Santíssima, que lfnima suas páginas desde o primeiro número presta sua filial e reverente homenagem. 1
Nossa Senhora da Glória Presente na piedade dos fiéis desde remotíssimos tempos da Cristandade, sustentada por uma plêiade incontável de Santos, doutores e teólogos, continuamente reverenciada e louvada pelas almas verdadeiramente mariais ao longo da Hi,;tória, a gloriosa Assunção de Nossa Senhora foi solenemente definida pelo Papa Pio XII, na Constituição dogmática Munificentissimus Deus, de 1ª de novembro de 1950. Eis as palavras com que, naquele Ano Santo, o Pontífice pronunciava a sentença tão ansiosamente esperada:
"Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste·• 3 • "Cumprido o curso de sua vida terrena". Teria Nossa Senhora subido ao Céu sem passar pela morte? Ou, ao contrário, teria, a exemplo de seu Divino Filho, morrido, ressuscitado e sido conduzida pelos anjos ao Céu?
É precisamente a segunda opiruão a mais comum entre os teólogos, que, em sua maioria, sustentam mesmo que a "Dormição" de Nossa Senhora - tão suave fora sua passagem pela morte! durou três dias, ao fim dos quais, tal como nosso Divino Salvador e seu Filho Santíssimo, ressuscitou gloriosamente. Seja-nos pemútido imaginar a celestial cena: foi provavelmente na casa de São.João Evangelista - que sendo dado a Maria por filho, A recebera como Mãe (e que Mãe!)-que a Virgem Santíssima cumpriu "o curso de sua vida terrena". Regiamente reclinado sobre o leito, rodeado pelos apóstolos e por invisíveis multidões de anjos, aquele corpo Sacrossanto, agora exânime, aguardava o momento da ressurreição . As amarguras inerentes à morte ali não se teriam feito sentir, em virtude de uma especial presença sobrenatural, intensa, radiosa, envolvente e carregada de esperanças, que a rumava a todos aqueles corações fiéis. E enquanto um angélico coro se fazia ouvir-e a presença da graça se intensificava mais e mais, o Santíssimo corpo da divina Mãe conhecia sua efêmera morada nesta Terra. Tão logo se cumpriu o que foi, certamente, a vontade dEJa, em estreitíssima e inefável união com os eternos desígnios de Deus, eis que chega o momento de Sua ressurreição e gloriosa Assunção. Resplandescente de glória, ante os olhares extasiados dos apóstolos, a Santíssima Virgem é lentamente elevada ao Céu pelo núrustério dos anjos, entre cantos de júbilo e aclamações celestiais. Indissociável de sua gloriosa coroação pela Santíssima Trindade, a Assunção de Nossa Senhora bem exprime Seu incomparável triunfo e sua inexcedível glória entre todas as criaturas. É por isso que no Brasil, segundo antiga tradição portuguesa, honra-se a Assunção da Santíssima Virgem com a devoção a Nossa Senhora da Glória . "Porei inimizades... " Na Constituição dogmática Munificentissimus Deus, diz o Papa Pio XII:
"Desde o século II Maria Virgem é apresentada pelos Santos Padres como
a nova Eva estreitamente unida ao novo Adão [Nosso Senhor Jesus Cristo1 se bem que subordinada a Ele, naquela luta contra o inimigo infernal que, como foi prenunciado no Proto-evangelho (Gen. 3, 15), havia terminado com a pleníssima vitória sobre o pecado e sobre a morte sempre unidos nos escritos do Apóstolo das Gentes (São Paulo] (cf. Rom., caps. 5 e 6; I Cor. 15, 21-26; 54, 57). Por onde, como a gloriosa ressurreição de Cristo foi parte essencial e signo final desta vitória, assim também para Maria a comum luta deveria concluir com a glorificação de seu corpo virginal porque, como diz o mesmo Apóstolo, quando .. .. este corpo mortal for revestido de imortalidade, então sucederá o que está escrito: a morte foi absorvida na Vitória (/Cor. 15, 54)" 4 • O Gênesis, primeiro livro do Antigo Testamento, contém uma passagem (Gen. 3, 15), na ·qual de tal modo é prenunciada a vinda e a Missão de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Sua Mãe Santíssima que os teólogos a chamam Proto-evangelho, o primeiro Evangelho ou, em outros tennos, o Evangelho por antecipação. Nele está revelado que Deus disse à serpente infernal, após a queda de nossos primeiros pais: "Porei ininúzades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dEla: Ela te esmagará a, cabeça ..." (Gen. 3, 15).
"E essa uma inimizade toda divi-
na", comenta S. Luís M. Grig1úon de Montfort 5 • Ou seja, por Deus mesmo estabelecida. É uma irumizade entre Nossa Senhora e o demôruo sem dúvida, mas também entre a descendência espiritual de Nossa Senhora e a do demônio. Isto é, entre os filhos da Virgem, devotos de Nossa Senhora, e os sequazes do demônio, filhos da concupiscência: de Satanás, do mundo e da carne.
Humanidade de ponta a ponta. É mesmo - para quem compreende a fundo o acontecer humano - o próprio eixo da História dos homens. O Proto-evangelho anuncia, pois, a Virgem esmagando a cabeça do demô1úo, para indic~rde que modo íntimo Maria está associada à vitória final de Cristo sobre Satanás, a antiga seipcnte (Ap. 12,9). Assim, Maria triunfou com Cristo sobre o pecado e a concupiscência, obra do demônio. Mas também sobre a morte, conseqüência dessa obra. Triunfou da morte mediante sua santa e gloriosa Assunção.
"Arca de Santificação" Alguns salmos cantam, no entender de Santos e doutores, a gloriosa Assunção de Maria:
A tradiC'ional e graciosa lgr<da da Glória, situada no outeiro do mesmo nome, é um dos elementos que realça a beleza da baia de Guanabara, rw Rio dejaneiro
Essa irumit.ade inextinguível resulta numa luta que perpassa a História da
"Levantai-vos, Senhor, de vosso repouso, Vós e a arca de vossa santificação (SI. 131, 8). "Estas palavras-diz Santo Alberto Magno - acredita-se com certeza que foram ditas figuradamente de Maria, cujo corpo foi arca de Cristo" 6• "A Rainha assistiu à vossa direita com vestimenta dourada, cercada de variedades" (SI. 44, 10). ''Tal vestimenta dourada se atribui a Maria, já que sua carne santíssima se revestiu da imortalidade, como esplêndidos vesti.dos de ouro" 1•
A partir do século V ganham corpo na Igreja os louvores à Assunção Durante sua vida terrena, e mesmo nos cinro primeiros séculos do Cristianismo, a Virgem Santíssima não foi adequadamente conhecida pelos homens nem suficientemente louvada. Até o século V, pouco ou quase nada foi dito sobre a gloriosa Assunção da Virgem Mãe de Deus. A partir de então um coro de louvores foi-se formando entre os Santos Padres, Doutores, almas especialmente mariais e o povo fiel em geral. Explicam os teólogos que a omissão supra referida não deve causar estranheza. Com efeito, a Santa Igreja tinha nessa ocasião a preocupação predominante de vincar nas almas fiéis as verdades sobre a PeS.50a humano-divina de Nosso Senhor Jesus Cristo, Sua natureza humana hipostaticamente unida à Divindade e as relações entre as três Pe5.50as da Santís;ima Trindade. Dedicar-se à tarefa - a um tempo insondavelmente grande e inefavelmente doce - de exaltar as singulares qualidades com que a Santíssima Trindade ador-
nou a celeste Mãe de Deus seria naquela época favorerer, indireta e involuntariamente, algumas destas heresias: a dos docetistas e valentinianos, por exemplo, que negavam a humanidade de Nosso Senhor. Ou a dos coliridianos, que propugnavam a divindade de Maria. Nos séculos VI e VI 1, São Gregório de Tours dizia que "o Senhor mandou trasladar ao Paraíso, em uma nuvem, o corpo santo [de Maria].... E Slio Modesto de
pojou de sua glória era Deus eternamente .... também era justo que a Mãe da Vida compartilhasse da morada da Vida, recebendo a morte à maneira de sono, e seu necessário trânsito desta vida e despertar fossem correspondentes à Mãe da Vida" 2 • No século XI, "Vossa No século XI, São Fulberto de Chartres declara ser voz corrente entre os fiéis que "Cristo .... ressuscitou gloriosamente sua Mãe e a exaltou sobre os céus" 3 •
Jerusalém afirmava: 'A gloriosíssima Mãe de Cristo Salvador, nosso Deus, que é o criador. da vida e da imortalidade, foi vivificada por Ele, copartfci~ com Ele na incorruptibilidade po todds os séculos, O qual A fez sair do sepulcro e A elevou até Si, de modo que só Ele conhece'" 1 •
Do mesmo modo, Santo Anselmo de Cantuária as;im se dirige à Divina Mãe: "Virgem puríssima Santa Maria, Mãe de
No século Vlll, São Germano de Constantinopla defendia, nos seguintes termos, a Assunção da Virgem Mãe de Deus: "Não podia ser que vosso corpo [de Maria] que foi vaso capaz de conter a
Deus, depois de morto se desfizesse em pó. Porque o mesmo que em Vós se des-
CATOLICISMO
AGOSTO 1993
6
7
Deus, pelos méritos de vossa gloriosa assunção e pelo amor de Vosso dulcíssimo Filho .... dai-me fortaleza contra vossos inimigos e [a graça] de entrar no reino eterno" 4 • 1. Gregorio Alastruey, Tratado de la Virgem Santíssima, BAC:, Madrid, 1961, p. 494. 2. Idem, ibidem, p. 494. 3. Idem, ibidem, p. 495. 4. Idem, ibidem, p. 495.
Os três florões
Desde a Antigüidade,'' tanto no Oriente quanto no Ocidente, os fiéis católicos professam, com ardorosa convicção, sua fé na Assunção de Nossa Senhora. A esse propósito generalizou-se a distinção entre a Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo e a Assunção de Nossa Senhora. No primeiro caso, a expressão indica que Nosso Divino Salvador, 40 dias após sua gloriosa Ressurreição, subiu ao Céu por própria virtude. No segundo, que a Santíssima Virgem foi conduzida à glória celestial pelo ministério dos anjos . Tal fato, porém, não importa em· afirmar que Nossa Senhora não poderia ter subido ao Céu sem o concurso angélico, pois que a agiJidade é um dos predicados dos corpos gloriosos. Mas sim que, para maior glória de Maria, dispôs Deus que o trânsito de Sua Santa Mãe desta Terra para a glória celeste se fizesse mais convenientemente pelo ministério angélico. "Ao terceiro dia, [Nossa Senhora] foi elevada com seu corpo ressuscitado. Isto é piedosamente crido p elos fi éis e confirmado pelos doutores", diz Santo Antonino de Florença 8 • Santo Tomás de Villanueva afirma: ''Hoje celebramos tríplice festividade: o trânsito da Virgem, mediante a qual ela deixou a vida; sua ressurreição p ela qual foi revestida da imortalidade, e sua gloriosa assunção p ela qual voou feliz ao céu em corpo e alma" Q. No mesmo sentido, cantaram as glórias de Maria assunta ao Céu São Carlos Borromeo, Arcebispo de Milão, São Francisco de Sales, Bispo de Genebra, Santo Afopso Maria de Ligório, Bispo de Santa Agueda, e muitos outros Santos e doutores. O clamor crescente do orbe católico pela definição do dogma se manifestou eloqüentemente pelos Padres do Concí1io Vaticano I, que subscreveram uma petição neste sentido. E ma is tard e, pelos Bispos da Espanha, América Espa nhola e Portugal que, reunidos no Congresso Mariano em Sevilha, no ano de 1929, pediram ao Santo Padre Pio XI a definição dogmática da Assunção da Bem-aventurada Mãe de Deus com as seguintes palavras: ''Os abaixo-assinados, .bispos espanhóis, hispano-americanos e portugueses, reunidos em Sevilha para celebrar o Congresso Mariano, confiando piedosamente em Deus que brilhará o dia desejado em que possam definir-se dog-
maticamente, como verdades reveladas por Deus, a Mediação Universal da Virgem Maria Mãe de Deus, e Sua assunção corporal ao céu, humildemente suplicam a Vossa Santidade que, segundo sua sabedoria e piedade insigne para com a Bem-aventurada Virgem, receba benignamente esses desejos, que são os de todos os fiéis de Cristo congregados nesses dias em Sevilha, e se digne defini-las com a autoridade suprema da Sé Apostólica" 10 Pio XII posterionnente atendeu em parte, tão justo anelo, proclamando, como dissemos, solenemente, o dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao Céu. Resta outra definição, ainda não proclamada, entretanto não menos cara aos corações católicos: a da Mediação Universal de Maria Santíssima . Com efeito, são esses dois priviléc gios singulares acima referidos, juntamente com a Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus - definido por Sua Santidade o Papa Pio IX - os três principais florões que ornam a coroa de glória da Rainha do Céu e da Terra. Roguemos pois a Ela que não tarde o dia em que mais este título de glória lhe seja reconhecido solenemente pela Suprema autoridade Apostólica. Vinde ó Maria. e não mais tardeis
Não poderíamos encerrar as presentes considerações - que nos reportam a épocas menos cala nú tosas do que a nossa - sem que voltemos o olhar, carregado de aflições, angústias e também de esperanças, para o presente momento histórico. Com efeito, em seus 20 séculos de
Santíssima Trindade com Maria assunta - tela de josé Cortez de Alcocer, séc. XVIII, Museu Füanbanco, Quilo (Equador) CATOLICISMO
8
existência, jamais a Santa Igreja de Deus se viu atingida por tão devastadoras borrascas; jamais imergiu em tão profunda e generalizada crise; jamais enfrentou tantos e tão ferozes inimigos, e, sobretudo, jamais foi objeto de tão ousada e infernal investida: a da autodemolição denunciada por Paulo VI 11 • O alcance e a profundidade dessa crise foram descritos com extraordinária precisão e clareza, pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira que, com seu ardente e incomensurável amor à Igreja, soube identificar-lhe as causas e apontar-lhe os remédios, em seu magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução 12 • Como ele, e a exemplo dele, são cada vez mais numerosas as almas que, pelos quatro cantos da Terra, têm os olhos postos nos dias de glória inigualáveis que advirão à Santa Igreja e à Cristandade. Dias que, para além das tragédias apocalípticas previstas por Nossa Senhora em Fátima, já se podem divisar no horizonte. Dias de catástrofes, dias de puniç.ão, entretanto também dias de misericórdia e de glória. Nesses dias de glória, queira Nossa Senhora receber entre muitas outras homenagens e manifestações de veneração, o complemento da definição de Sua gloriosa Assunção, ou seja, a solene proclamação e dogmática definiç.ão de Sua Universal mediação entre o Divino e único Mediador necessário, Nosso Senhor Jesus Cristo, e os homens. Refulgirá então em sua coroa de glória o terceiro florão, alegria e honorificência da Igreja e da Cristandade, nos prometidos dias do vindouro Reino do Imaculado Coração de Maria. MNÓBIO GLAVAM
NOT AS l. São Luís M. Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Deuoçiül à Santíssima Virgem, Vozes, Pe trópolis, 1984, 13ª ed ., p. 30 2. Apud Gregorio Alastruey, in Tratado de la Virgem Santíssima, BAC:, Madri, 1961, p. 492. 3. Idem , ibide m, p. 489. 4 . Id e m, ib ide m, p. 491. 5. São Luís M. Grignion de Montfort, op . cil, p. 306 . 6. Gregorici Alastruey, op. cil, p. 492. 7 . Id em, ibidem,, p. 492. 8. Id e m, ibidem, p. 501. 9. Id e m, ibidem, p. 501 -502 . 1O. Idem, ibid e m, p. 502-503. 11. Jnsignamcnti di Pacto VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. V 1, p. 1 188. 12. Plín io C:orrêa de Oliv ira, R l!Uoluçiül e Contra-Rl!Uolução, Dii\rio das L is, São Pa ulo, 1982, 2ª edição. 0
No início do início, a denúncia providencial O livro-bomba "Em Defesa da Ação Católica"
N
o período que se estendeu aproximadamente de 1920 a 1925, os ambientes religiosos brasileiros, até então em lenta e paulatina expansão, começaram a ser perpassados por um vento novo. Novo, sim, mas ao mesmo tempo profundamente afeito a tudo quanto há de imutável na Santa Igreja de Deus. Enquanto tal, esse vento soprava em favor de uma sadia revitalização dentro da Igreja, mas, por outro lado, também contra tudo quanto, no ambiente do tempo, era qualificado de "moderno". O tufão revolucionário
despreocupados atrevimentos, outro tufão se erguia em sentido oposto. Era o movimento das Congregações Marianas,que, com uma valentia digna dos cruzados, se opunha a tudo isso, e que, em lugar de soprar para cima os detritos e o lixo das paixões humanas desordenadas, soprava para o alto a fidelidade incondicional à Santa Igreja de Deus, suas doutrinas, suas nom1as, sua Hierarquia sagrada. Movimento que visava manter na sociedade temporal todas as tradições e os princípios característicos da Civilização Cristã, enquanto cristã. E que, por exemplo, denunciava desassombradamente aquilo que na modernidade ressoava como a heresia das heresias. Isto é, que o jovem - sim, o jovem e não apenas a jovem - deveria observar a castidade perfeita, até o dia do seu casamento. O surto do movimento mariano, que veiculava por todo o País esses tesouros de fé e de civilização, difundia-se por nosso continente com avelocidade não do vento nem do som, mas como um raio de luz.
A palavra "moderno" - na linguagem corrente de amplos meios designava toda uma série de modificações na sociedade temporal que visavam adaptá-la sempre mais rigorosamente à ideologia da Revolução Francesa. Antes de tudo, o igualitarismo: na fanúlia, o declínio da autoridade do esposo em relação à esposa, dos pais em relação aos filhos, dos patrões em relação aos empregados. O tratamento "senhor", usado em várias circunstâncias, ia sendo subsO "Legionário" e seu tituído por "você", nessas diversas contexto relações. Uma expressão dessa pujança foi Analogamente, essa e outras modificações congêneres se passavam Plínio Corrêa de Oliveira, com a publicação de a eleição de Plinio Corrêa de Oliveira "Em De/esa da Ação Católica·; prestou como deputado constituinte, em 1933, entre superiores e súditos, nos locais assinalado servú;o à Igreja pela Liga Eleitoral Católica, bem de trabalho, como nos de lazer. As como de numerosos outros deputados pessoas de idade madura procuravam católicos: Andrade Furtado, pelo Ceará; Mons. Arruda Câ1nacada vez mais tomar os ares, as maneiras, os trajes e os adornos ra e Barreto Campeio, por Pernambuco; Lacerda de Almeida, das pessoas mais jovens. Os cabelos, cortados à la garçonne, pelo Paraná; AJdroaldo Mesquita da Costa, pelo Rio Grande os vestidos modificando-se mais e mais para deixarem ver, em toda a medida da aceitação por parte do ambiente, as fonnas do do Sul etc. Foi no seio desse movimento que surgiu o "Legionário", corpo femitúno, as extravagâncias do jazz, o uso, cada vez mais como órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. Dentre os audaz, do rouge, do baton, tudo enfim indicava uma mudança membros do corpo redatorial desse jornal destacou-se o "grucompleta e, mais do que isso, uma verdadeira revolução nos po do Legionário", chamado posteriormente o "grupo do modos de ser. E, portanto ... nos modos de pensar. Plinio". Tudo isso - que era soprado no mundo inteiro, com especialíssima eficácia, pelo cinema, cujo quartel-general situava-se em Holywood (EUA) - criava uma atmosfera de Duas fontes da esquerda católica "libertação", a qual satisfazia ao desejo de incontáveis pessoas Já antes da II Guerra Mundial começara a penetração, em da época, de se libertarem mais e mais de toda espécie de regras de procedimento. Ou seja, das regras da moral, da , nosso País, de novas influências provenientes da Europa e dos Estados Unidos. Algumas delas se manifestavam mais nos etiqueta e até da simples polidez; da lógica, como do mais planos teológico, filosófico e litúrgico. Outra dessas influênelementar bom senso, dos princípios da ortodoxia, da liturgia cias se exercia mais no terreno social. tradiciona Ida Igreja, e assim por diante. Desses influxos resultaram dois movimentos diversos: o Em suma, estava em curso uma verdadeira revoluç.ão movimento ]jtúrgico e a Ação Católica, profundamente afins, cultural, no sentido atual do termo. e cuja atuação desfechou, anos depois, na fom1ação de um vasto movimento de conjunto, designado genericamente Um tufão católico: como esquerda católica. Esta, por sua vez, desaguou no todo o movimento das Congregações Marianas ainda mais amplo, que constituiu a esquerda brasileira. Tal esquerda veio a contar, a partir da década de 60, com o apoio Mas enquanto esse tufão soprava sobre o Brasil com
CRONOLOGIA 1935 • Fundada a Aç.ão Católica Brasileira.
da Aç.ão Católica. A luta continua, a partir das páginas do "Legionário", órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo, do qual Plínio Corrêa de Oliveira era diretor há muitos a nos.
João Batista Montini, então subsecretá rio de Estado da Santa Sé e futuro Papa Paulo VI, envia caria de louvor a
Católica, de uma tátide influentes eclesiás1939 ca apostólica que, por ticos, dentre os quais NEm Defesa da Ação Católica" • D. José Gaspar de Affonsemétodo, silenciava alo Pe. Comblin e múle se u autor. Mas a nível bcal ca e Silvà é nomeado Arceguns pontos fundaa marginalização continua . tiplos líderes da Teobispo·de São Paulo. Embora 1950 mentais da doutrina dadt às idéias em moda, de- 1947 logia da Libertação. signa Plínio Corrêa de Olivei- • Novembro - Na encíclica * Carta da Sagrada Congrecatólica etc.; Assim, nos amra para a Presidência da Junta "Mediator Dei", Pio XII con- gação dos Seminários e Estu- desvios quanto bientes católicos, no Arqu idiocesana da Ação Ca- dena mais erros dentre os dos Universitários aos Bisao modo de interpresentido contrário ao pos do Brasil, alertando para que Plínio Corrêa de Oliveira tólica. alguns problemas da Igreja tar a moral católica, combatera em seu livro. sadio tufão constituí1943 pois se afirmava que a • Julho - É publicado por Plí- • Dezembro - Cessa de cola- em nossa Pátria. Segundo o do pelo movimento borar nas páginas do "Legio- historiador Fr. José Ariovalnio Corrêa de Oliveira o livroAção Católica não dedas Congregações bomba Em Defesa da Ação nário" o "grupo do Plínio" . do da Silva (cfr. "O Moviveria sujeitar seus Marianas, forte vento Na última ed ição desse jor- mento Litúrgico no Brasil", Católica. membros a regras de p . 3 17), haveria "coincinal, lançada ainda sob a direde desviadas inovaçõ• Agosto - Morre em acidente caráter especial, as es passou a se exercer, aéreo D. José Gaspar de Af- ç.ão de Plínio Corrêa de Oli- dências" entre as de r}úncias veira, foi estampado um arti- veiculadas pelo "grupo do fonseca e Silva. quais, no entanto, são o qual provinha dago elogioso à encícl ica "Me- Plínio" e esse documento, *O utubro Publica-se no Braindispensáveis para quelas duas fontes, sil a enáclica de Pio XII "Mys- diator Dei". A marginalização que é posterior a e las. que o apóstolo se muito vinculadas endaquele grupo a partir de en1951 tici Corporis Christi" (de 26-6mantenha na vida da * Jane iro - Inicia-se a publicatre si, mas distintas: o 43), que condena algu ns dos tão é total. ção de Catolicismo, órgão graça e persevere. erros denunciados no livro de 1948 movimento litúrgico • Pio XII lança a Constituiç.ão do qual Plínio Córrêa d e OliPlínio Corrêa de Oliveira. Na parte final do e a nova associação de Apostólica "Bis Saeculari ve ira é o inspirador e a a lma 1944 livro vinha uma conapostolado - a Ação propulsora. • D. Carlos Carmelo Vascon- Die", que condena mais alfirmação dos arguCatólica. cellos Motta é nomeado Ar- guns dos erros apontados no 1960 mentos apresentados O entrechoque encebispado de São Paulo. livro de Plínio Corrêa de Oli- * Pl ínio Corrêa de Oliveira funda a TFP (Sociedade Branas partes anteriores, Pouco depois, Plínio Corrêa veira. tre esses dois tufões sileira de Defesa da Tradição, de Oliveira deixa a presidên- 1949 mediante textos do soprando nos cia da Junta Arquidiocesana • Em nome de Pio XII, Mons. Família e Propriedade). Novo Testamento. meios católicos em sentidos opostos .. Diagnóstico precoce .. , previsão providencial redundava também em posições contraditórias face ao impulso geral de modernidade, o qual, a partir do fim eia I Guerra A muitos, o aspecto que mais impressiona em todo esse Mundial, assolava toda a sociedade. Tal entrechoque veio à episódio é, como se diz em inglês, o timing (a oportunidade). tona com uma força surpreendente a propósito da publicação No início do início de suas primeiras manifestações, muido livro de autoria de Plínio Corrêa de Oliveira, Em Defesa tos dos problemas que hoje assolam a Santa Igreja no Brasil da Ação Católica, cujo cinqüentenário se comemorou em (e no mundo) foram descritos e denunciados no Em Defesa da junho passado. Ação Católica. A tal ponto que, quando a obra foi publicada, todos os "homens de bom senso" (vejam-se as aspas) diziam: Um livro-bomba "Isso é um exagero, trata-se de uma simples crise de crescimento, algo que se cura por si mesmo. Além do mais, os O lançamento de Em Defesa da Ação Católica detonou caudatários dessa corrente são bons moços ou jovens muito nos ambientes religiosos de então, dividido pelas correntes direitos, que nela entraram 'com a melhor boa fé'. Por que acima mencionadas, como verdadeira bomba. importuná-los? Tenhamos caridade ... " Prefaciado pelo então Núncio Apostólico, Dom Bento Hoje, o assim chamado progressismo católico é como uma Aloisi Masella, o livro constituiu vigoroso brado de alerta enorme serpente, cujos anéis procuram asfixiar toda a Criscontra os erros que se infiltravam na Ação Católica. tandade, e a Teologia da Libertação não passa de um de seus Numa primeira parte da obra eram denunciados erros aspectos. Mas descrever a cobra com precisão e detalhes quanto à natureza jurídica daquela associação e que tinham quando ela mal tinha saído do ovo, na São Paulo tão menor por substrato o igualitarismo: os membros da Ação Católica de 50 anos atrás, é algo muito digno de nota, em que se vê, seriam detentores de um descabido "mandato", mediante o com toda a certeza, a mão da Divina Providência e a grande qual não se distinguiriam essencialmente dos membros do predileção que tem pelo Brasil. Clero, o que tornaria tal organização de leigos superior a todas Em medicina, dá-se tanto mais valor ao clínico, quanto as outras associações do laicato. maior for a capacidade de perceber, logo nos primeiros sinais, Nas partes seguintes eram denunciados desvios da Ação as doenças e seu desenvolvimento provável. Tratadas em seu Católica em relação à espiritualidade, como, por exemplo: início, todas as enfennidades se curam com mais facilidade. críticas às devoções a Nossa Senhora e aos Santos, consiUm médico que diga: "Esta enfermidade, que parece a deradas incompatíveis com uma piedade "cristocêntrica"; muitos uma simples gripe, entretanto é tal ou tal doença menosprezo do Rosário, da Via Sacra e dos exercícios gravíssima", corre ó risco de se ver desmentido pelos fatos. espirituais de Santo Inácio, tachadas de práticas obsoletas Se errar, pode cair no ridículo e até comprometer sua carreira. etc. Por isso mesmo, se acontecer o que ele disse, merece ser Além disso, eram apontados: exaltado como um grande clínico. Ele proferiu o que, no - desvios quanto à liturgia, como, por exemplo, considevocabulário médico, se chama "diagnóstico prc o e", ou seja, rá-la uma fonte de santificação automática, que dispensaria o diagnóstico feito nos primórdios do mal. homem de qua )quer mortificação e do esforço da vida interior; Muito mais difícil, sem compamção, é apanhar no ar a - erros quanto aos métodos de apostolado e de ação, existência de determinado desvio cm matéria de Fé ou de como, por exemplo, a defesa da impunidade sistemática, dos moral; ter a sutileza de perceber todas as suas manifestações, recrutamentos indiscriminados de novos membros da Ação
mesmo as mais diáfanas, e como se correlacionam; possuir a clareza de consciência para não se deixar levar pelas aparências boas de que se reveste com freqüência o erro e, sem nenhuma insegurança ou medo de desagradar, ter a coragem de o denunciar publicamente. Foi o que fez Plínio Corrêa de Oliveira nesse lance. Para tomar viva ao leitor a justeza deste "diagnóstico precoce" providencial, colocamos lado a lado, em quadros, trechos do Em Defesa da Ação Católica e passagens do livro A Fé em crise, do Cardeal J. Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que denuncia erros análogos existentes em nossos dias. O livro de Sua Eminência é de 1985; portanto nada menos que 42 anos mediaram entre a publicação das duas obras. Porém, não se limitando a discernir o mal em seus primórdios, Plínio Corrêa de Oliveira advertiu que ele iria se agravar: ''Estamos em presença de uma idéia em marcha, ou melhor, de uma corrente de homens em marcha atrás de uma idéia, nela se radicando cada vez mais, e de seu espírito cada vez mais se intoxicando" 1
evolução, no dizer de outro eclesiástico, o Pe: Gustavo Gutiérrez, desaguaram na Teologia da Libertação 4 • Progressismo: leão de três patas ...
Freqüentemente há um "quase". O ambiente católico brasileiro de hoje seria outro se esse "quase" não tivesse existido. O livro de Plínio Corrêa de Oliveira nunca foi refutado. Constou que uma comissão de teólogos iria fazê-lo. "O Dr. Plínio se arrependerá de o ter publicado", vaticinou um frade. Mas a refutação jamais viu a luz do dia. Sem embargo, a obra foi posta de quarentena na maior parte dos seminários e noviciados. Assim, no Clero jovem, a penetração progressista continuou a ser feita em larga medida. Deste Clero, bem como de setores estudantis e operários da Ação Católica, também infiltrados, sairiam os líderes religiosos e leigos que, por sua vez, formaram a vanguarda religiosa hoje toda posta em greves, em invasões e na agitação social, quando não em doutrinas heréticas. Ao mesmo tempo, sobre o autor do livro Êxito temporário e os que o seguiam - o chamado "grupo do Plínio" -começaram a cair em cascata De uma bomba, o que se espera é que os ai ijamentos. Pouco depois da publicação exploda como bomba. Até hoje, passados do livro, Plínio Corrêa de Oliveira perdeu cinqüenta anos, ainda se ouvem, de cá e de o cargo de Presidente da Junta Arquidiocelá, ecos dessa explosão. sana da Ação Católica. E assim foi suceden''O livro de P. Corrêa de Oliveira do, até dezembro de 1947, quando ele e seus fazia sucesso", reconhece um adversário amigos perderam o jornal "Legionário", órdo mesmo 2 • Foi tão disputado pelo públigão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. co, que sua edição se esgotou completaNão foram os precursores da Teologia mente. O Autor chegou ao extremo de da Libertação que mergulharam nas catacolocar um anúncio nos jornais para ver cumbas, mas o "grupo do Plínio". Catase alguém lhe poderia vender um exemcumba que constituiu o ambiente fecundo plar de segunda mão, não tendo sido atendo qual, conforme se verá, nasceu a 1FP. dido ... Com isso, seu apostolado de então ficou Um dos adeptos da corrente impugnada incompleto, não tendo podido atingir todos pela obra escreveu a propósito: "O Dr. os seus fins. Mas, como observou Eloi de Plinio, por esta época, publicou seu livro Visita de redatores do "Legionário" a Magalhães Taveiro, em artigo para esta reEm Defesa da Ação Católica. Dizia ele vista, se o erro continuou a progredir, não D. Duarte Leopoldo e Silva. À querer defender a Ação Católica desi mes- esquerda do grande Arcebispo, Plínio está mais, como antes do livro, ufano desi. Corrêa de Oliveira, diretor do ma, mas, na realidade, o livro era uma "E um erro pouco ufano de si é como um semanário terrível catilinária contra a Ação Católica leão de três patas ... Sempre é qualquer e o movimento litúrgico". coisa cortar a pata de um leão ... " 5• Depois dessas palavras, talvez repassadas de algum resDe fato, o progressismo atingiu extremos impressionansentimento, o mesmo autor desabafa: "O pior é que o livro tes, mas convence pouco, entusiasma pouco, arrasta relativatrazia um prefácio do Núncio Apostólico, D. Bento Aloisi mente pouca gente atrás de si. Não se pode dizer que conquisMasella". tou a opinião católica, antes a dizimou. E pouco depois conta: "Mais tarde, o mesmo livro, prefaciado pelo Núncio e oferecido ao Santo Padre pelo autor, Ostracismo fecundo e lançamento de dava ocasião ao Dr. Plinio de receber uma carta da SecretaCATOLICISMO ria de Estado, assinada por mons. Montini [futuro Paulo VJ1 1 agradecendo e abençoando". Plinio Corrêa de Oliveira e seu grupo, coma denúncia feita E conclui: "Anos tenebrosos [sicL os de 1942 a 1944! através doEmDefesadaAçãoCatólica, fizeram umsacrificio Parecia que a garra do integrismo iria asftxiar por muito consciente, pois sabiam que a conseqüência de seu gesto seria tempo a Igreja no Brasil" 3• a marginalização e o ostracismo. Mas decidiram seguir esse Passemos por cima do tenno "integrismo", que os católicos caminho - que faz lembrar o dos kamikazes, na II Guerra de esquerda gostam de atirar aos que se lhes opõem, um pouco Mundial -para defender a Igreja, ameaçada pelos desvios de como os comunistas procuram chamar de "fascistas" todos os então. seus adversários. O importante é notar que, na insuspeita maneira Na catacumba, porém, o "grupo do Plínio" fazia uma de ver de seu autor, a reação que se aglutinou em torno de Em recolhida vigília de anuas para outras lutas em prol da mesma Defesa da Ação Católica quase logrou jugular os erros cuja causa. Dado o reduzido número de amigos postos em convi-
ministravam palestras e orientavam as linhas gerais de suas atividades. A partir de 1952, o "grupo de Catolicismo" passou a promover anualmente Semanas de Estudos, que proporcionavam fervor acrescido, maior firmeza e maior coesão doutrinária aos propagandistas do mensário nos diversos Estados do Brasil. Entrementes, Plinio Corrêa de Oliveira e destacados membros do "grupo de Catolicismo" realizavam viagens à Europa e a diversos países da América do Sul. Foi o ponto de partida de contatos cordiais com pessoas e associações anticomunistas do mundo inteiro. Quando mais completas eram as trevas do isolamento que rodeavam o "grupo do Plínio", e mais pungentemente escasseava o número de aderentes que deste se aproximavam, procurou-o, com uma naturalidade e um desassombro digno de nota, um brasileiro ilustre, chefe modelar de numerosa família, o qual foi adquirindo o simpático hábito de visitar quotidianamente a sede do grupo, sempre que seus afazeres de fazendeiro de café em Jacarezinho (norte do Paraná), o traziam a São Paulo. Profunda afinidade de pensamento e de ideais o ligava Tendo o Pe. Walter Mar-iaux SJ retornado à Europa, em 1949, vários a Plinio Corrêa de Oliveira. Era o Príncipe D. Pedro nembros da Congregação Mariana por ele dirigida (foto) pediram a Plínio Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial Corrêa de Oliveira para serem aceitos em seu grupo do Brasil. Sua presença fazia luzir o brilho da tradição imperial: não só uma grande reminiscência, mas sovência quotidiana em tomo dos mais altos ideais, fonnou-se bretudo uma grande aspiração. entre eles uma tal coesão no pensar, no sentir e no agir, que Quando vinha a São Paulo, D. Pedro Henrique, ao visitar levou o grupo à condição de uma verdadeira fanúlia de almas. a sede do já então "grupo de Catolicismo", fazia-se acompaFa1m1ia de almas que se desenvolveria muito, .pois dela nasnhar deste ou daquele de seus jovens filhos. Era claro o seu ceria, mais de uma década depois, a Sociedade Brasileira de propósito <leque, dentro em breve, quando fossem moços, eles Defesa da Tradição, Família e Propriedade -1FP. integrassem as hostes do mesmo grupo. Durante os anos de ostracismo, a Providência Divina Tal desejo se manifestou com particular idealismo -com aproximou do antigo "grupo do Legionário" novos elementos. especial amor de Deus -em dois desses jovens príncipes: D. Eramjovens membros da Congregação Mariana do Colégio Luiz de Orleans e Bragança, o primogênito dos filhos de D. São Luís, dos padres jesuítas. Eles haviam recebido esmerada Pedro Henrique, e seu continuador na linhagem dinástica formação do Pe. Walter Mariaux SJ., jesuíta alemão que exercera em Roma, durante vários anos, o cargo de Diretor do Secretariado Mundial das Congregações Marianas. Tendo sido esse religioso mandado de volta à Europa, por seus superiores, cm 1949, parte dos congregados marianos por ele formados pediu a Plinio Corrêa de Oliveira para ser aceita cm seu grupo. Pouco depois se agregaram a estes outros jovens, que com os antigos redatores do "Legionário" passavam a constituir todos, um só grupo. A partir de então, a Providência dispôs as coisas para o aparecimento de um continuador do "Legionário": o mensário Catolicismo. Assim, em janeiro de 1951, por inspiração do antigo diretor do "Legionário", foi fundado esse mensário de cultura. A partir de então, o "grupo do Plinio" passou a ser chamado, por anúgos e adversários, de "grupo de Catolicismo". Os membros do "grupo de Catolicismo", sempre sob a orientação desse insigne pensador e escritor católico, rea li:zaram viagens a várias cidades do Brasil, onde mantinham contatos, organizavam reuniões, expunham as teses e objetivos propugnados pelo mensário. Como fruto desses esforços, formaram-se núcleos de propagandistas de Catolicismo no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campos, Porto Alegre, Fortale:za, Salvador, Curitiba, Florianópolis e diversas cidades do Interior. Tais núcleos eram freqüentemente visitados por membros do "grupo de Catolicismo" de São Paulo, que A partir de 1952, o "grupo de Catolicismo" passou a promover anualmente Semanas de Estudos para os propagandistas desse mensário residentes nos diversos Estados do Brasil. Na foto, os participantes da VII Semana de Estudos, nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo
hoje, o que todos admitem . Mas que o seria do Brasil - e provavelmente também de boa parte da América Latina - se os meios católicos nacionais, indivisos, coesos e infectados pelo progressismo, fizessem pender a balança para a es. querda, sem nenhum contrapeso, em todas as graves encruzilhadas que, nas últimas décadas, nosso País a travessou? Profunda afinidade de pensamento e Pergunta inideais ligava o Princípe D. Pedro teressante, que Henrique de Orleans e Bragança entregamos à (esquerda) a Plinio Corrêa de Oliveira (direita) perspicácia de nossos inteligentes leitores. Antes de terminar, cumpre consignar aqui um esclarecimento, tomado necessário pelo vezo de tantos progressistas, de interpretar o que lêem, o que ouvem, à guisa de suas simpatias e propensões. O resultado alcançado pela difusão de Em Defesa da Ação Católica evidentemente não se deve só a Plinio Corrêa de Oliveira e a seu grupo. Se não existissem, em largos setores da opinião brasileira, católicos firmes em sua indefectível fidelidade ao ensino tradicional da Santa Igreja, que constituem em tomo da TFP um largo halo de amigos em crescente desenvolvimento, toda a ação empreendida pela entidade se reduziria a uma repercussão em grupos restritos, isolados, ignorados. Pelo contrário, é pela crescente adesão desses amigos que a 1FP é hoje uma das entidades mais conhecidas na vida pública do Brasil. Manda a justiça que se o diga, com simpatia e reconhecimento.
ilustre de que provinha, seu irmão D. Bertrand de Orleans e Bragança. Este é presentemente o sucessor de D. Luiz nos direitos à coroa imperial brasileira. Por sua piedade, por sua vida exemplar, pela ufania que mostravam ao ostentar o distintivo da Congregação Mariana, que milhares de outros brasileiros haviam começado a arvorar desde os anos 30, D. Luiz e D. Bertrand se assinalaram desde logo como elementos do maior realce no "grupo de Catolicismo" e posteriormente na TFP. Estudiosos, propensos à meditação, dedicados também à vida ativa, constituíam para si personalidades de evidente valor, o que se tomou patente para todos os biasileiros na recente campanha por eles conduzida com notável êxito, em favor da causa monárquica, por ocasião da tão importante consulta plebiscitária reali:zada há pouco no Brasil. Em 1959, PHnio Corrêa de Oliveira escreveu o ensaio Revolução e Contra-Revolução, publicado em primeira mão no mensário Catolicismo (nº 100, abril de 1959). O memorável estudo constituiu um marco para todos os membros do "grupo de Catolicismo", pois nele encontraram consubstanciados os traços essenciais de seu ideário, e a visão panorânúca da epopéia que levavam a cabo. Com a publicação de Revolução e Contra-Revolução e a expansão dos núcleos de propagandistas de Catolicismo por todo o País, foi fundada, em julho de 1960, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade TFP, emblema de tudo quanto essa sigla representa aos olhos dos brasileiros. "Brazilianists.. atraídos pelo assunto
Após essa digressão histórica, indispensável para se enquadrar o lançamento do livro Em Defesa da Ação C aDecréscimo da tólica no panorama geral, Religião católica relacionando o evento com no Brasil fatos que se lhe seguiram, Censo de 1940: voltemos à obra em questão. 95% dos Um leitor incrédulo pobrasileiros são derá objetar: mas será que católicos (fonte um simples livro, escrito IBGEJ cinqüenta anos atrás, pôde 50 anos depois: realmente produzir tão granapenas 75% dos de resultado? Não haverá exagero nisso? brasileiros são Tudo o que aconteceu católicos. Destes, passou para a História. E 80% não praticam pesquisadores, alguns apaimais a religião xonados, outros imparciais, católica (cfr. têm-se ocupado do assunto. "Jornal da Tarde", Um deles, o conhecido São Paulo, 7-5-92). brazilianist (estudioso de assuntos brasileiros) Ralph Della Cava,pôs-sea seguintequestão : qualopontodeorigem das divisões internas da Igreja no Brasil? E concluiu, após analisar as opiniões de outros cinco autores, que foi a publicação do Em Defesa da Ação Católica, em 1943 6 • Afinnação inaceitável, na medida em que parece atribuir a causa das divisões, não aos erros e desvios, mas a quem os desejava remediar. Afirmação preciosa, porque mostra que a reação antimodernista e antiprogressista no Brasil só decolou realmente a partir do livro de Pliruo Corrêa de Oliveira. Essa cisão, no parecer do lúcido estudioso, pennanece até
LEO ÜANIELE
1
NOTA<; 1. Pl ínio C:orrêa de Oliveira, Em Defesa da Ação CaL6lica, Ave Maria, São Pau lo, 1943, p. 338. 2. Fr.José Ariova ld o da Silva O.F.M., O movimento litúrgico no BrasilEstudo histórir.o, Vozes, Petrópo lis, l 983, p. l 95. 3. D. Clemente lsnard O.S.B., no apênd ice da obra de Fr. Bernardo Botte O.S.B., O Movimen/.o litúrgic.o, Paulinas, São Pau lo, 1978, p. 221. 4. Cfr. Luis Alberto Gómez de Souza, AJUC: os estudantes c.atólicos e a polític.a, Vozes, Petrópolis, 1984, p. 9. 5. Catolicismo, nº 150,junho d e 1963. 6. Ralp h Della Cava, Igreja e Estado no Brasil do Século XX: sete monografias recentes sobre o catolicismo brasileiro, 1C/16/64. Estudos CEBRAP 12, Bras ilie nse, São Pau lo, 1975, pp . 36, 37, 51. Márc io More ira Alves defende tese semelh ante, no livro A Igreja e a poUtica no Brasil, pre fácio de Frei Betto, Brasiliense, São Paulo, 1979, p. 228.
OSERROS
PLINIO A
REALMENTE
CORREADE
.E XISTIAM!
OLIVEIRA ,-1
TINHARAZAO Sede da Congregação Mariana de Santa Cecília (SP), onde então se reunia o "grupo do Plínio"
Plinio Corrêa de Oliveira
45
Os Papas haviam proclamado que só o retomo à Igreja salvaria a Humanidade. Entretanto, procurou-se a solução fora da Igreja.
1~ 1
Que diria São Paulo, se ouvisse falar dessa idéia de uma incorporação das mulheres na Hierarquia, ele que escreveu .... 'as mulheres estejam caladas na Igreja'?
~;;4s 1
1
As verdades austeras são rigorosamente proscritas. Não se fala de mortificação, nem de penitência, nem de expiação. Só se fala nos deleites da vida espiritual. [Consideram) supressos os efeitos do pecado original.
A meditação individual é co_nce~ida como mera ilununaç.ao. Estes erros repudiam o exame de consciência, o exercício da vontade, a aplicação da sensibilidade, os chamados tesouros espirituais, a que, tudo, apontam como métodos decrépitos, torturas espirituais.
Cardeal Joseph Ratzinger
El El El El El
Muitos católicos, nestes anos .... provaram o que significa esperar do mundo a redenção, a liberdade e a esperança. Para muitos .... esta possibilidade de haver sacerdotizas católicas parece não apenas justa mas inofensiva. Em muitas casas religiosas, masculinas e femininas, a Cruz cedeu seu lugar, muitas vezes, a símbolos de tradições religiosas.
asiáticas
A incapacidade de compreender e apresentar o ' pecado original' é realmente um dos problemas mais graves da teologia e da pastoral atuais. A vida cultural do católico não pode ser reduzida apenas ao seu aspecto 'comunitário': nela deve continuar a existir também um lugar para devoção privada, embora orientada para o 'orar juntos', isto é, para a Iiturgia.
Plinio Corrêa de Oliveira
É grave erro pretender que · as associações erigidas para cultuar detenninado santo, como Nossa Senhora, por exemplo, [obnubilem] ocaráter 'cristo-cêntrico' que evidentemente toda vida espiritual deve ter. Combatem, os inovadores da Ação Católica, ativamente o Ros~rio e a Vi_a Sacra, devoçoes que, exigindo o esforço da vontade, são por isso mesmo consideradas antiquadas. Ridicularizam as Ordens contemplativas, por viverem, dizem_eles, uma ~ida contemplativa mal onentada.
Tudo quanto signifique combate direto e de viseira erguida contra as modas indecentes, as más leituras, más companhias, maus espetáculos, passa, muitas vezes, sob o mais obscuro silêncio.
Cardeal Joseph Ratzinger
El El El El
Chega-se mesmo a perguntar se, atribuindo a Maria o seu lugar tra?ic_iona~, não ~e ameaça a propna onentaçao da piedade cristã, desviando-a de oll--ar apenas para Deus Pai e para o único mediador, Jesus Cristo.
Depende também do fato de tennos desaprendido [a Via Sacra e o Rosário] se nós boje nos encontramos expostos de modo tão insidioso aos engodos das práticas religiosas asiáticas. Souberam resistir bem as freiras de clasura, as ordens contemplativas , porque mais protegidas doespírito do tempo, e porque c.aracterizadas por uma finalidade bem precisa e não passível de modificação. Torna-se difícil, se não impossível, apresentar a moral da Igreja como razoável, distante demais como ela é daquilo que é considerado óbvio e normal pela maioria das pessoas, condicionadas por uma cultura hegemônica, à qual acabam por aderir, como autorizados flanqueadores, também não poucos moralistas 'católicos'.
Plinio Corrêa de Oliveira Agasta-os tudo que, lembrando a delicadeza feminina, acentua a diversidade dos sexos. Tem-se divulgado a doutrina de que a chamada preparação técnica é muito mais importante do que a preparação espiritual.
Cardeal Joseph Ratzinger
El El El
Masculino? Feminino? São perguntas que, para alguns, tomaram-se velhas, privadas de sentido, quando não racistas.
É de santos, e não de executivos, que a Igreja precisa para responder às carências do homem.
CONCLUSÃO As pessoas que aceitaram algumas destas idéias costumam a~iare aplaudir ~s que camrnbaram mais avante no mesmo terreno, revelando singular entusiasmo pelas que chegaram às posições ideológicas mais radicais .... estamos em presença de uma idéia em marcha, ou melhor, de uma corrente de hfi mens em marcha atrás de uma idéia, nela se radicando cada vez mais, e de seu espírito cada vez mais se intoxicando.
É incontestável que os úl-
timos vinte anos foram decididamente desfavoráveis à Igreja Católica .... Uma refonna real pressupõe um inequívoco abandono dos canúnhos errados, cujas conseqüências catastróficas não podem ser negadas . Os textos foram extraídos literalmente de: (•) Plínio C:ori-êa de Oliveira, Em defesa da Açã.o Cal6lica, Ed. Ave Maria, S. Paulo, 1943, respectivamente pp. 10, 59,205, 98 , 95, 120, 97, 96, 99, 99,170,338. (•") Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, "A Fé em crise?" Ed. Pedagógica e Universitária, S.Paulo, 1985, respectivamente pp. 26, 68, 72, 55, 99, 76, 100, 72, 59, 68, 35 , 16.
HAGIOGRAFIA
- fulminou a heresia São~Pio X: fortaleceu a 1 reJa, O único Pontífice canonizado no século XX, cuja festa se comemora a 24 de agosto, foi destemido batalhador contra a heresia modernista, autêntico reformador do elero, além de recodificar o Direito Canônico e incrementar admiravelmente a piedade católica
Q
uando faleceu Leão XIII, em 1903, a expectativa foi geral: quem seria chamado a manobrar o leme de Pedro naqueles tempos já tão conturbados? O mundo estava febrilmente contagiado pelo liberalismo anticlerical, um dos muitos perniciosos frutos da Revo-
eram Briand, Clemenceau, WaldeckRousseau e Combes - impôs a aprovação de diversas leis frontalmente antireligiosas, preparando terreno para a separação entre a Igreja e o Estado em 1905. Portugal via-se às voltas com a termentação revolucionária que deveria culnúnar, em 1908, no assassinato do rei D. Manoel e do Príncipe herdeiro, com a proclamação da República dois anos mais tarde, e com uma série de medidas contra a Igreja, como a expulsão dos jesuítas, a supressão de congregações religiosas e a aprovação do divórcio . Também na outrora fiel e católica Espanha, os ventos liberais e anarquistas sopravam com violência, chegandose à tentativa de assassinato do rei Afonso XIII, no próprio dia de suas bodas. O império Austro-Húngaro apresentava tantos sintomas de decadência religiosa e moral, que a todo instante se temia sua ruína. Não menos trágica para Igreja e a civilização cristã era a situação no maior
São Pio X em seu gabinete de trabalho no Vaticano; sobre a escrivaninha, imagem do Cura d'Ars, pa,trono dos párocos
lução Francesa, que tomavam tensas as relações entre a Sé Apostólica e várias nações européias. A revolução industrial, por sua vez, criava situações propícias à propaganda, no meio proletário nascente, dos princípios marxistas da luta de classes e do anarquismo.
A
Antonio Fo a=aro
Fulminada a heresia modernista com vigor angélico por São Pio X, em 1907, já no ano seguinte o Pe. George Tyrrell, sectário excomungado pelo Papa Santo por sua ade-. süo à heresia, escrevia a um confidente romano : "Olhando em torno de mim, sou forçado a reconhecer que a onda de resistência modernista acabou, ela já esgotou todas as suas forças, por ora. Devemos esperar o dia em que, através de um trabalho silencioso e secreto, tenhamos ganho para a causa da liberdade uma proporçiio muito maior das tropas da Igreja" 1 . . Esse "trabalho silencioso e secreto" é cinicamente explicitado, nos seguintes ter-
Mesmo nas nações católicas a situação era crítica. Na Itália, um governo usurpador e violento tinha privado o Romano Pontífice de seus Estados, confinando-o ao Vaticano, e criava empecilhos à ação da Igreja. Na França, uma oligarquia maçônica -cujos expoentes
co-nspiração
mos, por um dos fautores da heresia, Antonio Fogazzaro, em seu romance li Santo, posteriormente condenado por São Pio X: "Oevemos constituir uma maçonaria católica ···· a maçonaria das catacumbas" 2. E quem pertencia a esta "maçonaria católica"? O próprio Fogazzaro responde: "Seu nome é legião. Ela vive, pensa e trabalha na França, na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos, na Itália. Ela usa batina, farda ou casaca. Efa ensina em universidades, ela se esconde nos seminários, ela luta na imprensa, ela reza no silêncio profundo dos claustros 3 • Algum tempo depois da publicaçãodessa obra, tendo sido acometido por súbita e estranha enfermidade, São Pio X entregou sua alma a Deus em 1914. A propósito do falecimento do Santo Pontífice éscreveu o Pe. Gencxxhi, sacerdote italiano ligado aos conspiradores modernistas: "Agora estamos respirando mais confortavelmente .... V,írias vítimas da loucura e do fanatismo estão sendo reabilitadas, e outras ainda o serão" 4 • Eum grupelho de neomodernistas levou adiante o "trabalho silencioso e secreto", proposto pe lo padre apóstata Tyrrell. Tal corpúsculo lançou os alicerces da corrente
que, mais tarde, receberia o nome de Teologia Nova
5
•
Os corifeus de$as novas doutrinas difundiam seus escritos_apenas em exemplares datilografados, anônimos, que circulavam de mão em mão em seminários europeus e em conventículos de leigos "engajados", intoxicando a$im o futuro Clero e o laica to com as novas idéias. Um difusor destes panfletos pôde afirmar que uma "irresistível onda estava a tomar conta das novas gerações do Clero" 6 • De toda essa ampla infiltração, haveriam de surgir ao longo das décadas, no campo religioso, o "Movimento Litúrgico", e no campo sócio-político, o "Progre$ismo", dito católico. . Hans Küng 7 , um dos próceres dessa nova orientação, em sua obra Veracidade O futuro da Igreja, presta, nestes termos, o seu preito de homenagem àqueles neo-reformadores, que considera seus precursores: "Não foi pouco o que tiveram de sofrer esses precursores de uma nova veracidade [dentro da Igreja] .... Temos toda razão de inclinar-nos com respeito e gratidão diante do engajamento cristão desses heróis silen-
bloco católico do cadearem-se, pouco universo, a Améridepois, numa das ca Latina, onde as mais cruéis e implajovens nações cáveis perseguições emulavam em imreligiosas copiedade com suas nhecidas pelo munmaiores européias. do moderno. No Brasil, a céSobretudo, no 1ebre "Questão próprio interior da Religiosa" conseIgreja a situação era guira levar à barra grave. Erros filosó dos tribunais e ficos muito em voga condenar à prisão como o naturalisperpétua com mo, o racionalismo trabalhos forçae o cientificismo, a dos, o intrépido par de forte liberabispo de Olinda, l is mo influenciaD. Vita I Maria vam extensamente a Gonçalves de Oliteologia e deturpaveira. No Equador, vam a fé, ao mesmo líderes católicos tempo que esfriaCardeal Rafael Merry dei Vai, são perseguidos e vam nas almas o Secretário de Estado e grande forçados a exilaramor de Deus. colaborador do Santo Pontífice se. No México, as Haviam penenuvens da tormenta revolucionária já se trado a fundo em amplas camadas do acumulavam no horizonte, para desenClero, em estabelecimentos de ensino, e
os 1T1odernistas ciosos de uma luta por uma veracidade renovada, pelo futuro da Igreja, luta que, então, parecia tão pouco promissora. Ge-
mendo sob o jugo da inveracidade .... eles não abandonaram [a Igreja de De us] ... . "O que uns fXHJCos principiaram, com modéstia e insignific"ncia, desenvolveu-se agora, mu ltiplic.ado muitas vezes: na renovação da teologia, da liturgia, da vida eclesial em geral, nçi encontro com o moderno mundo profano. E ficou comprovado que aqueles batedores eram .... a tropa de vanguarda de um exército lento, sem dúvida, mas, no fundo, muito disposto a seguir, frente ao qua l alguns representantes oficiàis da teologia e da direção da Igreja se comprov<1ram como retaguarda" 8 • Juuo LOREDO E LUIZ CARLOS AzEVEDO NOTAS t. Carta cir.a da em Ernesto Buonaiutti, Le Modemisme Catholique. Apud E. Riviêre, Modemisme, Dir.tionnaire de Théologie Cat,/wlique, vol. X, col. 2042. · 2. Anton io Fogazzaro, Jl Santo, Milão, s/e, p. 44.
.
3. Idem, ibidem. 4. Carta do Pe. Genocchi a Paul Sabatier. Apud Emile Poulat, Intégrisme et Cat,/wlicisme Intégral, Paris, Castetma.n, 1969, p. 15. 5. "Redm.ido a uma espécie de vida clandestina relata o Pe. Albert Besnard - o modernismo caminhou de modo subterrâneo e inspi,rou a maioria das revoltas reügiosas que hoje agitam a Igreja" (Albert Besnard, OP., Modernisme, injean Chevalier, ed. Les Rdigions. Les Dictionnaires du Savoir Modem;, Paris, Centre d'Étude et de Promotion de la lecture, 1972, p. 306. "A mudança tâJJ trágic.a e penosamente tentaiÍa pelo modernismo - comenta o Pe . Germano Patráro -foi assumida e reproposta pela Teologia Nova" (Germano Pattaro, Corso di Teologia dell'Ecumen~imo , Brescia, Queriniana, 1985, p._344). , 6. Citado em Em manu el Barbier, Histoire du Cai,holicisme Libéral et du Callwlid.sme Social . en France, I mprimerie Yves Cadoret, Bordea ux, 1924, p. 115. 7. Em 15 de dezembro de 1979, uma declaração da Congregação para a Doutrina da Fé afirmava que o Pe . Hans Küng "em seus escritos, afasta-se da integridade da Fé cat,6lica e não pode mais ser considerado como teólogo calólico nem,
CATOLIC:lSMO
AGOSTO 1993
16
17
Pe. Hans Küng, que "em seus escritos afasta-se da integridade da Fé católica", não podendo mais "ser considerado como teólogo católico'; segundo declaração da Congregação pa,ra a Doutrina da Fé enquanto tal, exercer o magistério". Essa declaração foi ratificada por João Paulo II em audiência concedida a uma delegação do Episcopado alemão, em 28 de dezembro de I 979. (Apud Pe. Raymond Winling, La thévlogie contemporaine/94 .'i-1980, Le C:enturion, Paris, 1983, pp. 450-451). 8. Veracidade-o futuro da Igreja, Herder, São Paulo, 1969, pp. 161-162.
mesmo em seminários, criando um es- sentimentalismo dos fracos: Pio X era de Trento. 6 • E a reforma que ele empíri to de novidade e de revolta, Grescente um forte" 3. preendeu era bem exatamente o contráque ameaçava fazer soçobrar a Barca de Isso o reconheceu também o exrio da desejada hoje por tantos eclesiásPedro, não tivesse ela a promessa da chancelerdolmpérioalemão,oPríncipe ticos para os quais reformar significa perenidade. VonBülow: "Eumeencontreicommuiincorporar à Igreja os erros modernos. Para fazer face a esse terrível panotos monarcas e legisladores -conta ao Para o Santo, reformar foi extirpar da rama, tornava-se necessário o advento Cardeal Merry dei Vai, após uma entreIgreja as heresias que nela se haviam de um Papa que se colocasse entre os vista - , mas raramente encontrei em introduzido. E o já referido Cardeal maiores da História da Igreja. Por obra algum deles uma tão remarcável per- Mercier se pergunta: "Se houvesse na do Divino Espírito Santo, que não abancepção da natureza humana ou um co- Igreja, na época de Lutero e Calvino, dona a Igreja, Sua Esposa Mística, e a nhecimento como o que Sua Santidade um Papa da têmpera de Pw X, teria rogos de Maria, o mundo teve o Pontí- possui das forças que governam o munconseguido o protestantismo levar um fice de que necessitava: Giuseppe Sarto, do e a sociedade moderna" 4 • terço da Europa ao rompimento com Patriarca de Veneza, eleito com ~-------------------~ Roma?" 1• o nome de Pio X. O pontificado de São Pio X pode ser sintetizado no roteiro Suave ... mas forte por ele traçado em sua Encíclica-Programa: "Restaurar tudo Quem era Pio X, o novo em Cristo". Essa preocupação o Papa, do qual tanto se propalava Pontífice já a tivera quando bisem Veneza, de onde viera como po de Mântua. E depois, quando Cardeal-Patriarca, a bondade e a Cardeal de Veneza,sua primeira doçura? Um "conciliador", penCarta Pastoral continha, em lisava o Governo italiano, entennhas gerais, o pensamento da dendo, por essa designação, um Encíclica. Em síntese, diz São Pio X homem fraco, pronto a entrarem que a apostasia do mundo, "essa acordo com a Revolução. Entredetestável e monstruosa iniqüitanto, a famosa bênç.ão Urbi et dade .... pela qual o homem se Orbi, o primeiro ato do Pontífisubstitui a Deus", manifesta ce, foi dada de um dos balcões uma tal "perversão dos espíriinternos da Basílica de São Pedro, para ratificar o protesto de tos", que é de se perguntar se já não se deu o advento do "fúho seus antecessores contra a tomada perversão". Pois, o modo da de Roma pelas tropas revolucom que "se lança ao ataque da cionárias. Um "cura rural", não habireligião, se investe contra os dogmas da fé, se tende obstinatuado às pumpas do Vaticano damente a aniquilar toda relanem ao trato com os grandes, pensavam os embaixadores e ção do homem com a Divindade", é uma das características do enviados de Potências estrangeiras. Não foi a impressão que Anticristo. Para haver uma restauração, Pio X deixou após a primeira audiência geral, quando o repreos bons devem "proclamar bem alto as verdades ensinadas pela sentante da Prússia, exprimindo Igreja sobre a santidade do mao pensamento dos demais diploD. José 'iarto, Bispo de Mântua: a mesma seriedade de trimônio, educação da injãncia, matas, perguntou a Mons. Merfisionomia, a mesma retidão do olhar estarão posse e uso dos bens temporais, ry dei Vai, Secretário de Estado presentes nas últimas fotos de São Pio X sobre os deveres dos que admiinterino, ao sair da Sala do Tronistram a coisa pública". Ora, se não no: ''Diga-nos, Monsenhor, o que há E, realmente, proclamará muito dehouver verdadeiros sacerdotes, "revesnesse homem que tanto atrai?" "Um pois Pio XII, "com seu olhar de águia Santo - dirá esse eclesiástico, poste- mais perspicaz e mais seguro que a tidos de Cristo", isso não será possível. Portanto, deve-se proceder a uma reforriormente, quando já elevado a Cardeal, curta vista dos míopes raciocinadores, e que haveria de ter papel tão importante via o mundo tal qual era, via a missão ma dos seminários e vigiar para que os novos sacerdotes não se deixem seduzir nesse Pontificado - porque ele é um da Igreja no mundo/-··· e seu dever no "pelas manobras insidiosas de uma homem de Deus" 1 • seio de uma sociedade descristianizada Para o Abbé de Cigala, capelão do .... contaminada pelos erros do tempo e certa ciência nova". "No dia em que, em cada cidade, Conclave, '' a força dos traços e a doçu- pela perversidade do século" 5 • em cada aldeia, a lei do Senhor for ra do olhar, frutos de uma vida interior cuidadosamente guardada . .. . nada e fé ·" ardentes, faziam crer "numa Restaurar tudo em Cristo mais faltará para que contemplemos a ressurreição do imortal Pio IX" 2 • Mas, restauração de todas as coisas em esclarece o Cardeal Mercier, Arcebispo Afinna o historiador R. Aubert que Cristo". Com isso, mesmo "os intede Matinas, na Bélgica: "A invencível São Pio X foi essencialmente um reforgentileza do Santo Padre nada tinha do mador, o maior deles depois do Concílio resses temporais e a prosperidade pú-
O Cardeal josé Sarto, Patriarca de Veneza, retira-se da igr<da da Saúde, daquela cidade, ap6s a Missa soterre pelo repouso da alma de seu predecessor, Leão XIII
blica" também felizmente se ressentirão 8 • E ter-se-á na terra a "paz de Cristo, no Reino de Cristo". Não cabe aqui analisar o pontificado de São Pio X, para constatar como seguiu ele à risca este programa. Só "o que foi publicado de Cartas Apostólicas, Moto Proprio, Encíclicas, e discursos, ultrapassa a casa dos 350". Sea issosesomam ,,·os decretos das Congregações romanas e os diversos documentos emanados da Secretaria de Estado, aos quais o Papa não podia ser estranho, chega-se ao número de 3322" Q' o que toma esses onze anos de pontificádo "'um dos mais fecundos da História da Igreja" 10 • Basta pensar no trabalho monumental de recodificaç.'io do Direito Canônico que durou todo o Pontificado de São Pio X, sendo promulgado só no de Bento XV - , na fundação do Instituto Bíblico, na reforma da Cúria Romana, na instituição da Acta Apostolicae Sedis, noticiário oficial do Vaticano, na rcfonna do Breviário Romano, em normas dadas para a disciplina e refonna do Clero, além de todas as medidas tomadas para facilitar a comunhão freqüente dos fiéis, antecipar a Primeira Comunhão das crianças, regulamentar a comunhão dos enfennos, elaborar adequadamente o catecismo, orientar o c,1ntico litúrgico etc. O modernismo Ao condenar o movimentoSillonem muitos pontos precursor do atual
progressismo - afirma São Pio X que ele "semeia .... noções erradas e funestas .... Para ele toda desigualdade de condição é uma injustiça ou, pelo menos, uma justiça menor! Princípio soberanamente contrário à natureza das coisas, gerador de inveja e de injustiça, subversivo de toda ordem social" 11 • Foi, entretanto, a seita modernista - por ele qualificada de "síntese de todas as heresias" - infiltrada no seio da Igreja, a que mais fez sofrer e mais preocupações trouxe ao Pontífice, devido à sua profunda nocividade e sutileza. Além de numerosos atos, três importantes documentos emanaram do Papa para condená-la: o DecretoLamentabilisane exitu, de 4 de julho de 1907, que condena 65 proposições modernistas; a Encíclica Pascendi dominici gregis, de 8 de setembro do mesmo ano, a mais longa de São Pio X dada a delicadeza da matéria, na qual condena direta mente o modernismo; e, finalmente, oMotuProprio Praestantia Scripturae sacrae, de 18de novembro do mesmo ano [verbox ao lado]. São Pio X, elevado à honra dos altares por Pio XII, em f954, seja o grande intercessor junto à Virgem Santíssima e a seu Divino Filho, de todos os católicos que lutam, em nossos dias, para permanecerem fiéis à Santa Igreja e à sua verdadeira doutrina. O Santo Pontífice, que soube tão bem desmascarar e condenar o modernismo, certamente obterá abundantes
CATOLICISMO
AGOSTO 1993
18
19
graças para os fiéis de nossa época muito pior do que a daquela here:;ia. Sim, da trágica era em que vivemos, na qual, segundo expressões de Paulo VI, tem curso um misterioso processo de "autodemolição da Igreja", tendo nEla penetrado a "fumaça de Satanás". PUNIO SOUMEO
NOTAS 1. Cardeal Merry dei Vai, Memories of Pope Pi11.S X, Burns Oates & Washbourne LI.d., Londres, 1939, pp. 9-1 O. 2. Abbé de C: igala, Vie intime de Sa Sainteté le Pape Pie X, Lethielleux Editeurs, Paris, 1926, p. IX. 3. Lettre Pastorale tJ. Mandement de Câreme de 1915, apud Merry dei Vai, op. cit, p. 29. 4 . Merry dei Vai, op. cit, p. 12. 5. Breve por ocasião da Beatificação de Pio X, Documentos Pontifícios, nº 83, Vozes, 1958, 2ª ed ição. 6. Documents rel.atifs au mouvement catlwlique italien sous le pontifical, de St. Pie X, apud Gianpao lo Romanato, Pio X: Profilo Storico, in Sulle Orme di Pio X, Arnministrazione Comunale <li Salzano, 1986, p. 19. 7. Doe. cit, apud Merry dei Vai, op. cit, p. 27. 8. Encíclica E supremi Apostolat11.S, Vozes, Petrópolis, Documentos Pontificios, nº 87, 1958, 2ª edição. 9. René Bazin, da Academia Francesa, Pie X, Flammarion, Editeur, Paris, 1928, p. 65. 10. D. Benedetto Pierami, apud René Bazin, op. cit, p. 66. 1 I. Notre Charge Apostolique (Sobre os er ros do Sillon) , Vozes, Petrópolis, Doe. Pontifícios, nº 53, 1953, 2ª ed iç.ão.
EDUCAÇÃO '\'
NO BRASIL, ,,.,AS CRIANÇAS PERTENCERAO AO ESTADO
Segundo o inciso III do art. 115 do projeto da LDB aprovado pela Câmara Federal, os pais praticamente serão compelidos a entregar seus filhos ao Estado desde "zero ano" de idade!
U
m absurdo, mas é isso mesmo. Sem que tenha havido nenhum golpe comunista, mas no silêncio, sorrateiramente, pegando de surpresa o cidadão comum - o qual nem sequer foi informado pela mídia a respeito da enormidade do que isto representa foi aprovada, em 13 de maio último, pela Câmara dos Deputados, uma lei que traz em seu bojo um dispositivo iníquo. Se o Senado Federal aprová-la - o que pode acontecer nos próximos dias - , esse dispositivo praticamente obrigará os pais a entregar os filhos ao Estado desde a sua mais tenra idade. Desde "zero ano" (sic) de idade, segundo a lei. Que lei é essa? Trata-se do Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em debate e tramitaç,fo no Congresso desde 1988. Nos últimos cinco anos, a TFP, por meio de sua Comissão de Estudos Pedagógicos,
trabalhou como pôde para combater o que havia de pior no Projeto de Lei. Para isso publicou manifestos em jornais, distribuiu diversos estudos a parlamentares, educadores, empresários do setor de ensino etc., pedindo que se mobilizassem em defesa da educação nacional. Alguns pontos impugnados pela TFP foram felizmente modificados ou retirados do texto. Mas é lamentável que tenha ficado o tal dispositivo: o inciso III do art.115. A Câmara dos Deputados não aceitou nem mesmo colocá-lo em discussão! Fo·i aprovando-o assim, como se fosse um detalhe sem importância. Pelo que me consta, quase nenhum congressista levantou-se contra tal dispositivo. Exceção honrosa foi a deputada Etevalda Grassi de Menezes (do Espírito Santo), que apresentou duas emendas para corrigir o dispostivo absurdo.
Família submetida ao Estado em matéria de educação
Educação infantil obrigatória é uma coisa que existe em países do tipo nazifascista ou socialo-comunista. Compreende-se que um Estado totalitário tenha interesse em seqüestrar o cidadão desde a sua mais tenra idade, a fim de moldá-lo segundo seus sombrios padrões orwelJianos. Mas não se compreende que algo assim passe a vigorar num país como o Brasil, que se tem por nação civilizada e cristã. Pois é, o referido artigo 115 vai levar o Brasil, em matéria de educação, a uma posição que já foi abandonada até mes mo pela Rússia e pelos Raíses ex-comunistas do Leste europeu. Vai nos equiparar a países tão atrasados e ditatoriais como Cuba, Coréia do Norte e China Comunista! Trata-se de um golpe duro assestado
contra os direitos da família e contra o descrevendo o ambiente de fa lta de cariblico da cidade e correm o risco de pátrio poder, e, portanto, contra o prónho, falta de higiene, muita tristeza, bruserem condenados a penas que vão de prio Direito Natural. talidade e até de imoralidade, reinante quinze dias a um mês de prisão. Leitor, é difícil acreditar, mas é a em grande número de creches estatais. "O promotor Renato Monteiro, cupura verdade: no Brasil, as crianças rador de menores do Fórum local, quer praticamente pertencerão ao Estado. A O pai (ou a mãe ... ) atrás das que os pais sejam responsabilizados nova LDB determina que a educação grades! por deixar, sem justa causa, de proviem creches seja obrigatória até para denciar a instrução primária de fi lho crianças de berço. Confira isto: a nova Eu sei que muitos de meus compaem idade escolar. LDB manda que o Governo realize, triotas são acirradamente otimistas. Por "O crime está previsto no art. 46 do nos próximos cinco ,--,,.--- - - - - - -- - -- -- - -~ Código Penal, que traanos, o "Primeiro Plata do abandono inteno Nacional de Educa1ectual, mas a decisão ção", e que esse plano do promotor é inédita. tenha como um de seus A lei jamais foi aplicaobjetivos "a extensão da com tanto rigor" da obrigatoriedade à (*). educação infantil púTorna-se realidade blica", que abrangerá o risco de pais irem paTODAS as crianças rar na cadeia, atual"de zero a seis anos" . mente por causa do enTraduzindo: todos os sino de 1° Grau, dentro pais serão obrigados, em breve pela educaquer queiram quer ção infantil. Poderão não, a mandar os fiter que amargar uns lhos mais novos para trinta dias atrás das graas creches! des, dividindo celas suParece até que a jas com marginaii da maioria dos membros pior espécie. E no caso da Câmara dos Depude filho órfão de pai, tados considera as faevidentemente a conmílias brasileiras indenada será a mãe ... capazes de educar seus filhos , e que o A última Estado cuida melhor esperança: a deles ... votação no Já sei qu e algum Senado otimista virá me di zer que não devo ~xagerar, Resta -nos uma espois os pais poderão perança: a lei, aprova matricular os filhos em da na Câmara, está creches particulares, as agora no Senado, para quais garantirão bom votação definitiva. A tratamento. Que vã TFP, mais uma vez consolação! Em prialerta, por meio de sua Após a creche compulsória, de acordo com o projeto da LDB, que meiro lugar, quem Comissão de Estudos brevemente será votado no Senado, todas as crianças de "zero a seis pode garnntir que um Pedagógicos, enviou arros"ftcarão obrigadas "à educação infantü pública " Estado que chega a imumapeloprementeaos plantar a obrigatoriedade da educação senadores, pedindo-lhes que não amorisso vão procurar se tranqüilizar com o infantil não chegue também a exigir que pensamento de que, afinal de contas, o dacem o Brasil com uma educação inela seja feita em creches públicas? Obfantil obrigatória. Seria uma boa hora artigo da LDB sobre a educação infantil servem, dependurada no texto do dispo- é tão absurdo, tão anti-brasileiro, que também para que outros setores da sositivo, a palavrinha "pública": "a extennenhuma autoridade ousará pressionar ciedade se levantassem, exigindo dos siío da of>rigatoriedade à educação inos pais para pô-lo e1'1 prática. políticos que acabem com aberrações fantil PUBLICA". dessas. Não se iludam, meus a1nigos. Os Além disso, sejamos mais realistas: Meus amigos, voltemos os olhos a tempos no Brasil são outros. Uma notío que fará a maioria dos pais, a qual não nosso último refúgio, Nossa Senhora cia, há pouco estampada nos jornais, tem condições de pagar creches particuAparecida, rogando a Ela que mais uma mostra bem isto. Ei-la: lares? Serão eles obrigados a entregavez proteja o Brasil. ''Filhos deixam escolas e pais porem os filhos às creches estatais. E que dem ser presos. Pais de 134 alunos, que J. BETTINCK CARVALHO creches! Seria bom que o nosso otimista abandonaram a escola pública de Votolesse alguns artigos publicados poresNOTA rantim (SP), durante o ano de 92, estão pecialistas, em revistas de pedagogia, sendo processados p elo ministério pú- (•) "O Estado de S. Paulo", 1-5-93.
CATOLICISMO
AGOSTO 1993
·20
21
TFPsEMAÇÃO
Brasil Real Brasil Brasileiro
E
Expressões autênticas da religiosidade popular
m todas as regiões brasileiras, mes mo nos mais remotos rincões, são realizadas anualmente festas religiosas fixas e móveis, nas quais, não raro, de forma até pitoresca, se manifesta a alma católica da Nação. Certos pormenores desses festejos reflete m costumes tradicionais de festividades análogas da Europa, sobretudo realizadas em nossa mãe-pátria , Portugal. Assim, temos as festas do Divino Espírito Santo, de Corpus Christi com tapetes multicolores nas ruas, e numerosíssimas celebrações em homenagem a Nossa Senhora e a grande número de Santos e Santas da Igreja Católica. Quase todos esses festejos começam, dias antes, com tríduos ou novenas. Então, as ruas das cidades são ornamentadas com band eiras, flores de papel de seda e crepom, arcos de bambus ou taquaras e ramos de palmeira. Junto à igreja ou capela realiza-se a quermesse: algumas barraquinhas com comidas e bebidas típicas de cada região, além de jogos e diversões variadas. Principalmente o dia do Santo que se comemora é marcado com alvorada de foguetes ou tiros de garrucha, repicar de sinos, bandas de música, balões e desfiles folclóricos. Muito comum é o ritual do hasteamento do mastro com a bandeira, na qual figura o santo, a santa ou seus símbolos. As fogueiras, os fogos de artifícios, rojões, morteiros e os tiros de trabuco carrega dos com pólvora seca podem ser também observados. Há festas em que são reali zadas cavalhadas, na forma de cortejos a cavalo, qu e acompanham os festeiros. Muitas vezes a cavalhada sai em busca do rei e da rainha da festa para conduzi-los à igreja. Há ainda irmandades que se apresentam a cavalo e outras que desfilam a toque de tambores. Parte importante do programa de várias festas são os cortejos de carros de bois, carroç.as e outros veículos campestres, enfe itados com bandeiras ou flores. Os desfiles de veículos motorizados
muito numerosos são manifestações características das festas em louvor a São Cristóvão. Em certas comemorações, como a do Divino, São Jorge, São Sebastião e São Benedito, a organização fica sob responsabilidade das irmandades leigas, com mais autoridade, nessas ocasiões, que a dos próprios vigários ou sacerdotes. Em muitas festas , são realizadas visitas aos presos, oferecendo-se-lhes almoço e obtendo-se, por vezes, a libertação de um ou dois deles . Em outras, fazem-se visitas aos ·doentes nos hospitais e santas casas, oferecem-se refeições aos pobres e, em muitas ocaNa Festa do Divino Espírito Santo, siões, são distribuídos alia qual remonta às origens de nossa História, mentos ao povo em geral, é armado um trono, em sala denominada como carnes, pães, doces e Império do Divino, no qual salgados, além de bebidas não senta-se o Imperador, sendo também depositados nesse local a coroa, alcoólicas e café com leite. o cetro, a salva e as bandeiras Especialmente na véspera dos f esteiros, que costumam ser levadas em e no dia do Santo festejado, cortejo pelas ruas realizam-se danças folclóricas, diversas competições e qüentar e prestar seu concurso às comuaté touradas . Para as crianças, outros nidades promotoras dos festejos. jogos como o pau-de-sebo, quebra-pote Embora com pouca cobertura da e corrida de saco. grande imprensa nacional, tais comeSão numerosíssimas as procissões morações constituem importantes e auterrestres, fluviais e marítimas, com antênticas expressões da religiosidade cadores rica mente ornamentados do Santo tólica brasileira, merecedora de apoio, ou Santa homenageados. Cumpre destaincentivo e divulgação. car ainda as bênçãos dos animais, leilões de prendas, garrotes, bois, cavalos e Em futuros artigos apresentaremos aves. aspectos mais significa ti vos de algumas Os personagens dirigentes dos festedessas festividades , rico patrimônio de jos passam a ser chama dos rei e rainha, nossas tradições populares. imperador e imperatriz, festeiro e festeiCARLOS SODRÉ lANNA ra, juiz ou juíza. Estas festas fixas e móveis repreBIBLIOGRAFIA I . Rossini Tavares de Lima, Folclore das Festas sentam, na vida nacional, fator de conC(cvicas , Irmãos Vitale Editores, São Pausolidação dos laços sociais das coletivilo, 1980. dades-sede. Tais festividades, com efei2. Luís da Câmara Cascudo, Dicionário do to, constituem ocasiões para encontros Folclore Brasileiro, 1nst. Nacional do Livro, de parentes, amigos e conhecidos, muiRio, 1954. tos residentes em lugares longínquos, 3. Maria do Rosário de Souza T. de Lima, bem como para novos relacionamentos Mitos que fi zeram História, D.O. Le itura (IMESP), São Paulo, março/93. com estranhos, que poderão vir a fre-
A
Estandartes treinulain na LITUANIA PARIS-Uma cumprimentar pesdelegação de onze soalmente os membros da delegação, repres entantes de Sociedades de Deosculando até a fesa da Tradição, capa rubra que envergavam. Fanúlia e Propriedade de diversos Na mesma cidapaíses, percorreu de, todos se dirigirecentemente 16ciram em cortejo ao dades da Lituânia, cemitério, para reconduzindo em pezar especialmente pelos lituanos asregrinação uma imagem de Nossa sassinados por Senhora de Fátima, agentes comuniscom o objetivo de tas, e cujos corpos eram jogados nesse propagar a Mensagem que a Mãe de local, então um Deus revelou ao simples depósito de mundo em 1917. lixo. Por sua vez, na Ao mesmo tempo, a visita permitiu cidade de Tytuveampliar o número nai vários rapazes se apresentaram e de contatos com simpatizantes e pediram para fazer parte da comitiva, aderentes dos no que foram atenideais das TFPs. A caravana indidos. Também O grande Santuário de Siluva ficou lotado pelos fiéis que foram venerar a cerca de 50 parosere-se no quadro imagem de Nossa Senhora de Fátima, conduzida pela comitiva da TFP de realizações da quianos lotaram um randa, que participou da viagem como velho ônibus, para acompanhar a deleCampanha Lumieres sur l'Est ("Luzes enviado especial de Catolicismo, cau- gação às duas cidades seguintes do rosobre o Leste"), da TFP francesa, a qual sou viva impressão à comitiva das TFPs teiro. divulga estampas e livros sobre Fátima, o modo pelo qual a população lituana, pelo sistema mala -direta, para os países EmSiluva, o principal centro de pemajoritariamente católica, voltou a exda ex-União Soviética. A TFP francesa regrinação mariana do país, a delegação pressar sua gratidão pelo valioso apoio acaba de editar, cm idioma lituano, a foi recebida pelo Cardeal Yicentas Sladprestado por aquelas entidades, tanto obra As aparições e a mensagem de kevicius, que enalteceu e abençoou o por ocasião da independência do país, Fátima conforme os manuscritos da esforço empreendido pelas TFPs, peIrmã Lúcia, de autoria do sócio da TFP quanto agora, em seu esforço de reergui- dindo que essa valiosa colaboração não mento moral. brasileira, Antonio Augusto Borelli Maseja interrompida. Por exemplo, em Kelme, a primeira chado. Tal edição contou com a supercidade lituana visitada, próxima à fronvisão do Revmo. Pe. Pra nas Gavcnas, da Gratidão dos lituanos teira com a Polônia, a delegação das comunidade lituana de São Paulo, e que TFPs foi saudada com o repicar de sinos tem feito várias viagens àquele país bálde sua igreja Matriz. A população datico. Discursando em várias ocasiões duquela localidade, tendo à frente o VigáHá três anos - lembramos - uma rante a peregrinação, o Sr. Julio Ubberio e o deputado Antanas Racas, destadelegação das várias TFPs visitou a Lilohde, que chefiou a delegação das cado líder católico e anticomunista da tuânia para fazer entrega, ao então preTFPs, ressaltou haver "encontrado no região, recebeu festi ~amente a imagem público lituano a permanência da simsidente V. Landsbergis, dos microfilmes do histórico abaixo-assinado com de Nossa Senhora de Fátima. patia e da recordação do encontro com 5,2 milhões de assinaturas, em apoio à Além de cantarem hinos sacros em as TFPs, há três anos. Isso atesta uma declaração de independência daquele gregoriano, como o Credo, Salve Regiqualidade muito rara, porque sabemos país em relaç.ão à URSS. na e Ave Maria, os jovens das TFPs que um dos sentimentos, uma das virtudes mais frágeis no homem é a gratidão. apresentaram audiovisual sobre a MenOs sinos repicam sagem de Fátima, especialmente grava- A Lituânia, pelo contrário, soube mosdo em lituano. Agradecidas e emocionatrar-se amiga daqueles que a visitaram Segundo José Augusto Lisboa Midas, muitas pessoas faziam questão de no infortúnio".
CATOLICISMO
AGOSTO 1993
22
23
CATOLICISMO REÚNE ASSINANTES
.
Auditório do Clube de Vi.retores Lojistas, Campos (I?l). Mesa que presidú, a palestra (da esq. para adir.): Sr. Luís Fernando de Barros; o orador advogado Carlos Alberto Soares Corrêa e Sr. Fernando Bianchi dos Guaranis. No primeiro plano, parte do numeroso público que compareceu à conferência
Juan Miguel Montes Correspondente ROMA - Acaba de ser publicada uma edição italiana da obra Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana , de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a qual foi amplamente comentada na última edição de Catolicismo. Nessa, foram apresentadas significa tivas repercussões que oreferido ensaio vem alcançando em Portugal, lançado pela Editora Civilização, do Porto. A tradução italiana foi estampada pela prestigiosa Editora Marzorati, de Milão, que a tem distribuído a livrarias de todo o país. Merece menção, dentre essas, a Livraria Editrice Vaticana, que se encontra sob a colunata de Bemini, junto ao Arco dos Sinos, portanto em plena praça de São Pedro. Quase todas as livrarias católicas da Via della Conciliazone - avenida pela qual passam os peregrinos ou turistas que se dirigem à Basílica de São Pedro - expuseram o livro em suas vitrines. Ele vem despertando vivo interesse nos fregueses da concorrida livraria Ancora, bem como das conhecidas Paulinas, Coletti eLeoniana. O mesmo vem ocorrendo nas livrarias do centro de Roma.
Ao Bureau das TFPs, sediado na Cidade Eterna, têm chegado repercussões muito favoráveis a respeito da obra. Eis algumas das mais expressivas: - Um membro da alta nobreza italiana, que ocupou cargo do maior destaque na Guarda Nobre, enviou carta, da qual destacamos os seguintes tópicos: "Sou-lhe infinitamente grato pela gentileza a mim dirigida, fazendo chegar-me o belíssimo volume sobre a Nobreza, do preclaríssimo professor Plinio Corrêa de Oliveira. E uma gratíssima homenagem, pela importância da obra e pela recordação, que constitui para mim um período esplêndido, durante o qual servi Pio XII de perto!". -Ao tomar conhecimento do livro, assim se expressou uma representante da nobreza pontifícia: "Está maravilhoso, está maravilhoso verdadeiramente. E, por paradoxal que possa parecer, é o caso de dizer que, por seu tema, este é um livro que está na vanguarda". - Umcondede Milão gostou particulannente do paralelo estabelecido na obra entre "opção preferencial pelos pobres e opção preferencial pelos nobres". Comprou quatro volumes, afirmando que enviaria um deles a uma senhora da nobreza, que preside uma organização de auxílio aos nobres empobrecidos. - Um alto representante do Corpo CATOLICISMO
24
Em Campos (RJ), no auditório do Clube de Diretores Lojistas, o advogado Carlos Alberto Soares Corrêa proferiu palestra para assinantes de Catolicismo, residentes nessa cidade. O orador, que vem coordenando os trabalhos de expansão de nossa revista, ressaltou como, apesar do caos geral e da grave crise moral e religiosa reinantes em nossos dias, há razões de esperança para o futuro do Brasil. Tais esperanças se fundamentam na vocação de nossa Pátria enquanto nação católica, cuja História abre-se com a celebração de uma Missa, bem como nas qualidades de seu povo, nas belezas e nos recursos naturais de seu território. Em Montes Claros (MG), teve lugar análoga palestra, que se insere no quadro dos esforços empreendidos por Catolicismo, com vistas a estabelecer maior entrosamento entre seus propagandistas, leitores e simpatizantes, em todo o País.
CATOLICISMO Preços durante o mês de AGOSTO de 1993:
Bebidas nacionais e estrangeiras . Queij os e doces tipo europeu. Arenkes e Salmons
ASS INATU RA ANUAL
*
COM U M : Cr$ 1.700.0UO,00
CASAZILANNA
COOPERADOR: Cr$ 2.000.000,00
MERCEARIA
BENFEI TOR: Cr$ 3.500.000,00 GRANDE BENFE ITOR: Cr$ 7.000.000,00 EXEM PLAR AVULSO: C!$ 170.000,00
Advocacia civil, trabalhista e empresarial
Rua ltambé, 506 - Hi gienópolis São Pau lo - Fone: 257-8671
D r. Cerson Shiguemori ADVOGADO
Rua 24 de Maio, 188 - 2ª sobreloja, sala 226 Fones: 223-3180 e 220-5901
A~~
C ü@~íl©íl@[IO (011) 824-9411
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234 - Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando
Praticamente todas as livrarias católicas da Via dei/a Conciliazone (ao fundo, além da pr(lÇl de São Pedro, e que termina nas imediações do rio Tibre} expuseram nas vitrines a obra do Prof Plínio Corrêa de Oliveira
da Nobreza italiana fez o seguinte comentário sobre o ensaio: "Estou me deleitando com o livro! É uma alegria poder lê-lo! Como as reflexões que nele encontramos são elevadas!" - Um industrial rico, escandalizado com o nível de igualitarismo decorrente da legislação italiana, sobretudo pelo empobrecimento provocado mediante impostos crescentes, entusiasmou-se bastante com o livro, decidindo comprar 30 exemplares do mesmo. - O Bureau tem recebido centenas de pedidos do livro, por parte de grupos conservadores que atuam em várias regiões da Itália.
Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão . FAX
TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO
Tudo ao lado do Metrô Santa1Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - •
---
Hotel**** LORD PAI.AC[___
Rua das Palmeiras, 78-Tel. IOlll 220-0422 - CEP.01226 TELEX 1123208 - FAX 1011 ) 220-9955 DDG IO11 1800-S272 São Paulo
1
Ao Lord Palace Hotel:
-X-
Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. 1
, Nome: End.: . 1 CEP: .................. Cidade: . 1 1
1
.................. UF: .
ESC\\
Assessoria Contábil &Tributária SIC Lida. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE - ASSUNTOS FISCAIS Rua Julio de Castilhos, 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - Telefax: 264-7068
ltaim
O detrator é a abominação dos homens Prov. XXIV, 9
Quanto mais urna calúnia é difícil de crer, tanto mais os bobos têm memória para a reter Casi mir Delavigne
Comércio de Carnes
NOVA CADEIRA ORTOPÉDICA
Norton
Suporte protetor para sua coluna vertebral
Atacadista de carnes em geral R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: 298-4080 (Sr. Jayme)
• Co nstrutora
. ERG
ADOLPHO LINDENB
--------------------
S/A
Talento Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez
tudo com a
--
--- · --------------assin@ura -
Segurança_ . Soluções origma1s Harmonia Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe amento personalizado A ca b . d Local privilegia o Sucesso
---~·---~ntia desta g ::::::: -----
. 6º e 7 ° anela r R a Ge neral Ja rdim , 70 3 . eu e· , 56 041 1 . São Pau lo
,-on . -
Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
Os culpados, é melhor escolhê-los do que os procurar M arcel Pagno l
Não existe virtude que a calúnia não saiba atingir William Shakespeare
Quem Jaz acusações sem frrovas, ou é um homem sem caráter, ou é um aver;,tureiro. Quem aceita acusações sem_provas - é um imbecil Plínio Corrêa de O liveira
Em virtude do que havia acontecido, chamou aquele jJoço Calúnia Ce n. XXVI, 12, 14 e 20
Claustro (1225-1228) da Abadia do Monte São Miguel, França. No centro da página, vista aérea dessa abadia, cognominada ''Maravilha do Ocidente"
A voz do silêncio
O
uve-me, porque o que tenho a te dizer eleva a alma, descansa e a en- . tretém. Minha voz ouve-se tanto na placidez amena do claustro gótico quanto na singeleza e austeridade do . refeitório de pedra da abadia medieval. Entende que minha voz é a própria matriz da reflexão, do pensamento, e que agora, quando te fala, te convida para 'solidões maravilhosas, do carinho e da severidade. Entende-me, porque ninguém te dará tanta paz.
Refeitório (1212-1225) da Abadia do Monte São Miguel, França
Ouve-me, porque as minhas palavras põem na tua alma um certo refrigério, uma certa luz e uma certa paz, que tu tinhas esquecido que existe, de que tinhas perdido a lembrança e a saudade ... Ouve-me, porque o timbre de minha voz é grave e suave... ! Entende-me, porque ninguém te elevará tanto. Entende-me, porque nada te dará tanta nobreza de alma quanto a minha linguagem sem palavras... A linguagem do silêncio monacal!
42 anos de luta, na fidelidade doutrinária
Discernindo, distinguindo, classificando...
Nº 513
Setembro 1993
h.,,'
Os índios sairão da 1noda? Até Lévy-Strauss, considerado o pai do estruturalismo e o maior admirador das sociedades indígenas, agora critica os índios
O
aborígenes exigiram dele leitor notou que que preenchesse uma piultimamente lha de formulários burotem-se falado cráticos. "Era mais commenos de "índios", "culplicado que a papelada tura indígena", "indigeda Previdência Sociaf', n ismo" etc.? Fala-se exclama Uvy-Strauss. E mais agora de africanisacrescenta: "Chegará o mo. O próprio Genésio dia, e ele pode estar próDarcy (nome atual do ximo, em que os antropóantigo Frei Leonardo logos servirão de tema de Boff), num congresso da estudo para os fodios que revista Concilium, anandam de carro e avião. dou propugnando um Que tal a 'lriho dos Papa africano para suLévy-Strauss' ·omo título cessor de João Paulo II. de trabalho ?" Por que os índios esAcompanhou o notitão passando para um seciário sobre o 'S ·andalogundo plano na propaÍndios gaviões assistem programa de 1V em sua aldeia: decepção para Lévy-Strauss e estruturalistas .. . so índio brasil •iro Paiaganda nacional e interkan, o estuprador, e conacional? Será que eles mentou: "A sociedad, dos brancos apologia da era neolítica e mesmo tiveram o bom senso de não se presestragou a dos índios, mas ,J 'S tamtar às manobras que visavam utili- pré-neolítica tornou-se célebre. bém gostaram da hri,i ·adeira e Estamos cm 1993. A revista zá-los como linha avançada da Re"Veja" publica uma entrevista c m agora pre imm PªKªr por isso". volução mundial? Não o sabemos. Quão díf ·rcntc nos aparece O fato concreto é que os holofotes Lévy-Strauss, agora com 84 anos . E a 1ora este Lévy - 'tra uss - admirada mídia já não os focalizam com - pasmem! - ei-lo que se apresenta tanta insistência como até há pouc . d cepcionado com os índios, e todo dor da ·ultura clássi 'ª e decepciovoltado para a cultura clássi ·a, por- nado com os índios - cm relação *** O maior impulso para a propa- tanto para um auge de civili:1,ação. àquele que, cm 5 de janeiro de ganda indige nista surgiu, na década Ele acaba de lançar na França uma l 960, pronunciava um lírico e inde 60, com as teorias chamadas "e - coletânea de ensaios sobre a música flamado discurso na Aula Inaugutruturalistas''. E o homem-símbolo de Ramcau (séc. XVIII), a pintura ral do College de France, descredo "estruturalismo'' foi - e continua de Poussin (séc. XVII) e a literatura vendo as "maravilhas" das sociea ser - o a_ntropólogo francês Claude de Chabanon (séc. XVIII). E só as- dades indígenas e apontando-as Uvy-Strauss. Esteve ele longa- siste aos filmes clássicos transmiti- como o modelo ideal para o munmente no Brasil, até 1939, estudan- dos pela TV a cabo. Freqüenta os do do futuro. do as tribos indígenas no oeste do leilões de arte de peças do século Estruturalismo, teologia da liMato Grosso. Escreveu diversos li- XIX, e compra bijuterias antigas bertação, ecologia, africanismo. vros, tomou-se catedrático no fa- que oferece a sua mulher. Como uma ventoinha, mudam os moso College de France, em Paris, Sua decepção com os índios as- tempos, variam as modas lnl ·lcce seu nome reboou pelo mundo todo sim se manifesta: "Eles já não nos tuais, mudam os homens. s I nao como o sábio que percebera que a querem". Um de seus colegas no muda Deus e aqucl ·s qt1l'. nl ~lc se verdadeira felicidade para o homem College de France foi estudar as apóiam como sohr · rod111 t lmw . não estava na civilização, mas sim tribos do Canadá, na costa do Pací.A. no modo de viver dos índios. Sua fico, e voltou frustrado porque os
Assestando o Foco Os males causados pela televisão, especialmente à infância e à juventude, é tema que está se tornando cada vez mais candente em esca la universal. Os leitores de Catolicismo poderão formar uma idéia atua lizada da gravidade que vem assumindo os problemas provocados pela TV, especia lmente no Brasil, anali sando os argumentos e a documentação apresentados no artigo "Escola paralela, deseducação e desarticulação familiar". Qu em voltar sua atenção para as cartas pub li cadas nos principa is órgãos da imprensa nacional ficará admirado com o núm ero de missivas ex ternando o espanto, a indignação, a repulsa dos signatários ante o grau estarrece dor de env il ecimento a qu e atingi u a TV brasi le ira. Convém esclarecer que essa crescente
reação encontra, em nosso País, um pólo aglutinador. Há anos, ele vem se empenhando, de modo eficiente e sistemático, em combater a ação deletéria exercida através dos canais de TY. Trata-se da benemérita associação "O Amanhã de Nossos Filh os", que tem alertado continuamente as autoridades e o públi co em geral, quanto a sérias violações de princípios morais e de nossa legislação vigente, praticadas pelos canais televisivos. Assim, o boletim "TV Plebiscito", da referida associação, em seu número de junho último, chama a atenção para a reunião convocada pelo Ministro da Justiça, com vistas a anali sar os desmandos da TV, da qual participaram representantes da Associação Brasi leira de Empresas de Rádio e Televisão (ABERT) e de várias outras entidades. Desse encontro, sa íram mais uma vez vitoriosas as emissoras de televi-
são, pois as entidades presentes optaram pela auto-regulamentação através da ABERT. Em outros termos, os próprios donos de TVs continuarão sendo juízes de si mesmos, uma vez que essa entidade é a fiel representante deles ... Compreepde-se, em vista disso, que o "Código de Etica" elaborado pela mencionada entidade não tenha nemhum poder coercitivo, sendo ape nas indicativo. Logo, as "penal idades" nele previstas não passam de figuras de retórica! Enquanto perdurar tal situação, as promessas de donos de TVs, co mo o Sr. Roberto Marinho, ou de autores de novelas, como o Sr. Benedito Ruy Barbosa, que redigiu o texto de Renascer, no sentido de moderar a "ousadia" das produções televisivas, não passam de mera cortina de fumaça pma iludir os telespectadores.
índice Os índios sairão da moda? A realidade concisamente
2
Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida.
Mesguita em Roma Destaque
4
Paulo Corrêa de Brito Rlho
Reprimenda Televisão "Escola paralela", deseducação e desarticulação familiar TFPsemação Na Espanha, editada recente obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira Caderno Especial
5
Takao Takahashi Registrado na DRT-S P sob o N' 13748
6
Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01 226-001 - São Paulo, SP Tel: (011) 824.9411
Discernindo
12
Diretor: Jornalista Responsável:
Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro
Novíssimos do homem: o Céu Entrevista Mensagem de Nossa Senhora chega à Rússia Reforma Agrária
13
Vêm aí as desapropriações rápidas História A formação das elites no Brasil Colônia Hagiografia São Roberto Belarmino, grande polemista e Doutor da Igreja Verdades Esquecidas
18
17
Fotolitos: Microformas Fotolttos Lida. RuaJavaés, 681 • 01130-010 São Pau lo - SP
Impressão:
20 22
Mundo Moderno: o gue achar dele? Em painel
24
Frases e Imagens
27
Artpress Indústria Gráfica e Editora Lida. RuaJavaés, 681 • 01130-010 São Paulo • SP Acorrespondência relativa à assina· turae verda avulsa pode ser enviada
ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: RuaJaguaribe, 648 Conj. 02 • CEP 01224-000 - São Paulo -SP • Fone: (011) 00-3361
ISSN · 0008-8528
Privatização ,, rosso", da década de 50, continua, portanto, atual, vigorosa ... na com uma ressalva: nossoe, Argentina em larga medida, intocável A Argentina pôs à venda no sub-solo ... a estatal Yacimientos Petrolfferos Fisca les. 45% de seu Perdas de grãos capital foi alienado no merO Brasil perde de 10% a cado internacional por 3,04 37% da sua safra de grãos bilhões de dólares a um anualmente. Uma sangria consórcio liderado pelo de 4 a 16 bilhões de dólaFirst City Bank of Boston e res, sendo o Produto Interpela Merri/1 Lynch & Co. O no Bruto agrfcola equivaresultado da operação sulente a 40 bilhões de dólaperou as previsões dos analistas que calculavam res. Os números foram extrafdos de estudo feito pela em 2 bilhões de dólares o Superintendência da vabr a ser obtido. O preço Companhia Nacional de inicial, fixado em 19 dólares Abastecimento (Conab) por ação, foi superado pedos Estados do Rio de Jalas ofertas, elevando-se a neiro e Espfrito Santo. As 21.50. Nos anos 80, a estaperdas são as seguintes: tal acumulara prejufzo de 6 1 % a 3% na safra; 2% a 7% bilhões de dólares . Em 92, no transporte; 1 % a 5% na lucrou 260 milhões de dólasecagem; 2% a 6% na arres e neste ano deve atingir mazenagem; 4 % a 16% no um lucro estimado em 600 beneficiamento. Mostra o milhões, o que certamente estudo que de uma safra de atraiu os investidores do 69 milhões de toneladas de mundo inteiro. grãos, apenas 40%, ou Enquanto isso, a nossa seja, 28 milhões de tonelaintocável P e t r o b r ás das chegam ao mercado. como a qualificam nacionaSe o Brasil é um dos maiolistas obtusos - patina há res produtores mundiais de mais de uma década em grãos, ele também se torseus 650.000 barris diários para um consumo de 1, 1 nou um dos seus maiores esbanjadores . milhão. O excedente é A produção total da sacomprado das mesmas fra de grãos utiliza apenas companhias mundiais que 4,6% do território nacional. dominam o mercado e das E de acordo com o superinquais pensou-se escapar tendente da Conab, José com o estabelecimento do Marinho Paulo, o Pafs tem monopólio estatal do petrócondições de produzir 1, 7 leo. O slogan o "petróleo é
bilhões de toneladas de grãos, o que ·representa a produção mundial de 1992. Não são, pois, recursos naturais e potencialidades que faltam ao Pafs, mas sim disposição de aproveitá-los racionamente!
Desde cedo, as criaru;as sudanesas decoram trechos do Corão nas escolas
Sudão martirizado A perseguição religiosa no Sudão continua. A liberdade de professar a religião é total e integramente negada. As pessoas são aterrorizadas pela natureza repressiva do regime fundamentalista islâmico, o qual visa arabizar e islamizar os não-árabes e nãomuçulmanos pela força, chegando a utilizar alimentos como arma. Quer ainda eliminar as lfnguas, culturas e tradições africanas e obrigar o povo a praticar o isla-
mismo fundamentalista. O genocfdio e o massacre dos inocentes tornaram-se prática diária naquele pafs. Órfãos e crianças raptadas são conduzidos ao norte, onde são doutrinados na religião islâmica e mantiçjos nas casas como domésticos sem remuneração, alimentados com restos das mesas de seus proprietários. É a escravidão do sécub XX, um fenômeno que atingiu proporções enormes nestes nove anos de guerra... Começaram a ser detidos sacerdotes e catequistas sudaneses, alguns dos quais foram torturados e submetidos a violentos interrogatórios.
Populismo errado O livro "A Economia da América Latina", das professoras Eliana Cardoso e Ann Helwege, que lecionam em universidades norte -americanas, mostra o malogro das experiências populistas no Brasil, na Argentina e no Peru. Aponta o ex-presidente Sarney como populista inconseqüente e afirma que as soluções não podem ser encontradas em medidas de curto prazo. O livro aprofunda as polfticas adotadas pelo México e pelo Chile, deixando claro que os dois pafses encontraram o caminho certo do ajuste fiscal.
Mesquita em Roma O avanço do Islã parece não ter limites. Em cidades européias como Marselha, na França, magotes de imigrantes muçulmanos formam-se nas vias públicas para fazerem suas orações, em conjunto, voltados para Mecca. Noticia o "Corriere della Sera", de Milão: "Paris está coalhada de mesquitas e minaretes, enquanto Roma possui o maior monumento muçulmano da Europa." Até o momento não o inauguraram. "Várias diflculd des: primeiro, o clima hostil gerado pela guerra do Golfo. D pois a escalada da intole-
rância dos povos árabes no xadrez polftico internacional. A idéia de construir um centro do Islã foi do rei Faiçal, em 1973. No ano egulnt foi posta a primeira pedra". R,w der M"r.~c,/lm: or,1r,10 p1íbllcc1 de dezenas de m11ç11/m(lm),\'
Rolling Stones - Eis alguns títulos de discos dos Stones: "Their Satanic Majestic Request" (O pedido de suas majestades satânicas); "Simpathy for the Devif' (Simpatia para com o Diabo); "Dancing with Mr. D." (Dançando com o Sr. D DdeDemon?). Nesta última gravação,os Stones cantam acompanhados ao fundo por incitações de vudu (culto religioso praticado no Haiti) e gritos de possessos do demônio. Fracasso dos cursos de Direito - O Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) efetuou uma pesquisa em todas as Faculdades de Direito do País. Eis o resultado: dos 150 cursos examinados, apenas sete foram considerados aptos para a formação de advogados. É compreensível, pois, que em recente concurso para juiz a reprovação tenha sido quase absoluta ... Título de "Doutor Honoris Causa" para Fidel -A Universidade Federal de Santa Catarina concederá o título de "Doutor Honoris Causa" a Fidel Castro. A iniciativa partiu do Prof. Luiz Osvaldo Coelho, que entre outras coisas elogiou o
sistema de saúde existente em Cuba. A propósito, convém lembrar que o Brasil teve um prejuízo de 60 milhões de dólares com a importação de vacinas cubanas contra a meningite, compradas pelo Governo brasileiro, e que se mostraram ineficazes.
Empresários cortejam a esquerda Durante o jantar com empresários, na residência do industrial Emerson Kapaz, Lula afirmou que almoçara com Cosette Alves, proprietária do Mappin. E acrescentou o líder do PT: "Ela está mais esquerdista do que eu". Junto ao povinho, Lula não tem prestígio, como demonstrou a fraquíssima acolhida por ele obtida, quando participou recentemente de uma caravana ao Nordeste. O grande apoio ao líder esquerdista -muito amigo de Fidel Castro - provém sobretudo de certos elementos do Clero e da alta burguesia. Para os bichos, táxi<. ... -Na Áustria, há quatro milhões de animais domésticos, o que corresponde à metade de sua população. Cada austríaco gasta com esses bichos 100 dólares por mês. Existem lentes
de contato para cães, fazem-se obturações em dentes de gatos e até terapias de rejuvenescimento de animais. Em Viena, a capital, funciona um serviço de táxis para animais, com tarifas 20% mais altas do que os táxis comuns. O preço mais caro é justificado pela necessidade de limpar o veículo após cada viagem. Enquanto os animais proliferam, a limitação da natalidade cresce de modo impressionante. Contradição absurda e cruel!
... hotel e cemitério - Na cidade austríaca de Salzburgo há um hotel para gatos, cuja diária é de 30 dólares (mais de 3 milhões de cruzeiros); as reservas estão esgotadas até o fim do ano. Até um cemitério para animais domésticos existe na cidade de Siernndorg. Muitas pessoas, após a cremação dos animais mortos, levam para casa numa urna as cinzas dos bichos. E, aos poucos, bichos horrendos vão entrando na categoria de "animais domésticos". Muitos austríacos criam porquinhos-da-Índia, ratos e ... cobras. Quantos desses criadores de ratos e cobras talvez prefiriram estes animais repelentes a filhos que Deus lhes enviou?
DESTAO.!Jj\J Reprimenda No recente encontro de líderes latinoamericanos, real iz.ado em Salvador (BA), incontáveis pessoas ficaram perplexas diante da incoerência manifestada, não só por muitos dos governantes de 21 países ali reunidos, como pela mídia. Com efeito, um dos principais pontos do evento foi o "compromisso com a democracia representativa" e o·"respeito, defesa e promoção dos direitos humanos". Em outros termos, eleições livres e liberdade. Ora, umas e outra são reiteradamente negadas por Fidel Castro. Este, demagogicamente, procurou culpar pela miséria reinante na antiga pérola do Caribe o e1iibargo comercial da ilha, levado a cabo pelos Estados Unidos. Ninguém ignora que na raiz da núséria que se abateu sobre aquele país estão os 34anos de revolução comu nista, a violação sistemática e constante de todos os direitos. E entre esses, os da propriedade privada e da livre iniciativa. Seria de esperar, portanto, medidas efetivas contra o regime cubano. Ao contrário, a posição dos norte-americanos foi
condenada. A agenda do encontro destacava temas como comércio, finanças, tecnologia, dívida externa etc. Generalidades, sem referências a quaisquer países ali representados. Entretanto, Fidel Castro conseguiu inserir, na declaração final, reprimenda aos Estados Unidos pelo citado embargo. Torna-se necessário "eliminar a aplicação unilateral, por qualquer Estado, com fins políticos, de medidas de caráter econômico e comercial, contra outro Estado" ("Jornal do Brasil", 17-7-93).
rafais nas manchetes dos jornais, pois fere a "sensibi tidade democrática" do público, despertando, a justo título, antipatias generalfz.adas. É curioso que, no caso de Castro, foi praticamente só isso tudo o que transpirou da entrevista coma imprensa que durou mais de três horas ...
Sensibilidade... Apesar de instado por alguns presidentes participantes do encontro de Salvador a que promovesse a democracia, Fidel, com sua arrogâltcia costumeira, declarou à imprensa: "Em Cuba não há nem pode haver outros partidos, não estamos dispostos a fazer isso. Creio que a UJúdade monolítica do povo é a nossa arma mais importante para resistir" ("O Globo", 19-7-93). Se tal declaração tivesse sido feita por qualquer outro Chefe de Estado, ela figuraria com letras gar-
Castro: até quando?. ..
TELEVISÃO
.,;,:-:-y-------~--~-~~--------------
Como o ídolo Moloch da Antigüidade, ao qual eram sacrificadas inocentes crianças, a TV, em nossos dias, transformou-se num ídolo semelhante, de caráter psicológico; milhões de mentes infantis e juvenis são oferecidas em holocausto ao novo Moloch, no mundo inteiro.
U
ma fanúlia sueca -os pais e dois filhos - foi presa cm abril último, após assaltar bancos, cm várias regiões de seu país, durante 14 meses. Só no ano passado, a gang familiar embolsou 300 mil dólares. O que terá levado a pacata dona-de-casa Bcrit, seu marido Svcn e os jovens filhos Bjorn e Pctcr a ingressar na senda do crime? Endividada com a falência da firma cm que trabalhava Svcn, a fanúlia já havia perdido a casa e os carros. Como sair dessa situação crítica? - "Tive a idéia dos assaltos depois de assistir a um programa de Tv, no qual eram reconstituídos roubos que deram certo", explicou cinicamente a dona-de-casa, condenada agora, juntamente com o esposo e os filhos - já maiores de idade -a passar de quatro a oito anos na prisão. E o programa televisivo forneceu à família sueca, até então honesta, a informação decisiva para ela se atirar na delinqa 't1cia: apenas 3% dos assaltantes naquela naçao sao prc'sos... (d'r. "Jornal do Bmsil", 28-4-93). Se aquele pro m1111a da TV sueca nfto ti vesse desempenhado o r»•pcl de v •rdadeirn escola do crime, o que sue •<leria <.'0111 Swn, Berit e seus dois filhos? Provavelmente, t •riam procurado sair da aflitiva situ11~110 cm que se encontravam, como tantas famílias endividadas, não violando as l •is d· sua pátria e de acordo, ao menos, com normas comezi nhas de moral, que ainda rejeit11m o assalto à mão armada ... No caso concreto, a TV sue a, como aliás
as do mundo inteiro, fez o papel do tentador que apresenta o crime como solução fácil e até segura ... Eo tentado não resistiu. Esse fato é paradigmático de uma situação extrema a que pode levar a TV. Mas seu papel como deseducadora e desarticuladora da famt1ia é patente e universal, causando danos menos graves do que os acima expostos, de modo habitual, especial mente à infância e à juventude. Pelo simples contágio Segundo sempre ensinou a Igreja Católica, cabe aos pais a tarefa principal na educação dos filhos. Coadjuvando a missão desses, vem a escola que, em harmonia com a formação ministrada no lar, a completa e desenvolve. Pais e mestres pois - subordinados ao Magistério eclesiástico no tocante à instrução religiosa - devem agir cm estreita colaboração para a rcali7Jlção desse objetivo comum. Essa doutrina tmdicioual católica entretanto subvertida d modo crescente, no terreno dos fotos. Nossos leitores bem sabem que, a pe{1Urhar · d ·svi11r o caminho que desejariam t?ara s<.·us filhos, entra em cena um "educador" estranho - a 1V - que, oom elaborados recursos técnicos e poderosa influência, se impõe despoticamente comunicando um rumo diverso e freqüentemente contrário ao nobre trabalho dos pais e educadores. Considere, leitor, o expressivo depoimento do especialista alemão, prof. Franz-Dictrich Poelert:
"A televisão influencia até mesmo o modo Erige-se assim, com a televisão, um pode brincar e a linguagem da criança. Meu deroso instrumento de deformação infanti l e fi lho mais novo, de três anos e meio, não vê juvenil ao qual nem a natura I influência patertelevisão e também não sente necessidade na, nem a formação que deveria ser ministradela. No entanto, só pelo contato com seus da nas escolas consegue opor-se. amiguinhos da vizinhança, com os quais A televisão exerce, em muitos casos verdabrinca, começou a adotar um modo de falar deiro fascínio quase hipnótico sobre milhões de que me é bastante estranho.São expressões crianças e adolescentes que passam a maior que certamente estão sendo postas em circuparte de suas horas de lazer ante o vídeo. lação por algum programa humorístico: zurO professor Samuel Pfromm Netto, direros com 'urps'e 'wauu'equantacoisa tor da Faculdade de Psicolomais, acompanhadas de trejeitos e gesgia das Faculdades Metropotos correspondentes. litanas Unidas e professor do "Adquiriu a mania de fazer certos Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, gestos que não aprendeu em casa; ~ -- -.:;~ gestos que não Jazia até a época em palestra proferida no "I em que começou a sair à rua. De Simpósio Naciona I sobre a Televisão repente começou a comportar-se e a Criança", realizado em agosto de como seus amigos Dominik e Oli_ ..!-=.=::.::;-- 1977, salientou o papel que a tevier. Portanto é uma influência levisão está assumindo de verdaque vai desde a linguagem até o modo de deira "escola paralela". brincar" (Franz-Dietrich Poelert,Educa"A conclusão a que chegamos ção e Manipulação, Lühc-Verlag, Stcin~ -afirma - é de que as crianças kirchen, Alemanha, 1988). brasileiras estão vendo, em média, mais teleNote-se que a criança cm questão nem visão do que as de outros países. Cerca de sequer assistia à televisão. Adotou aqueles três a quatro horas são diariamente destinahábitos apenas pelo contato com oulfas que das à televisão, e aos sábados e domingos o os tinham absorvido. O que dizer, pois, da número tende a aumentar. A televisão é a iníluência direta do vídeo sobre milhões de segunda escola, a escola paralela de que fala telespectadores jovens? Friedmann. Uma grande porcentagem de Não é bem verdade que esta é uma reabrasileiros, com menos de 12 anos de idade, lidade com a qual nos deparamos quotidiapassa mais tempo diariamente diante da 'esnamente? Se considerarmos a multidão de cola' da televisão do que na sala de aula" crianças brasileiras que vão se modelando, (Luiz Monteiro Teixeira, A criança e a teleno seu modo de pensar, querer, sentir e agir, visão, Edições Loyola, São Paulo, 1985). segundo certos padrões induzidos pelos De onde advém o fascínio que o vídeo programas de televisão - em contradição exerce, de modo cada vez mais torrencial com a influencia que recebem no lar sobre a juventude brasileira? como não concluir que elas vêm sendo víA resposta é simples: a televisão propicia timas de um poderoso fator de deseducação sensações para as quais não solicita, habitualque é a TV? mente, dos telespectadores o esforço nem da O fascínio quase hipnótico da TV Um matutino paulista estampou meses atrás uma notícia assustadora: meninos de 12 e 13 anos atearam fogo no colégio onde estudavam. Conduzidos ao SOS Criança, um deles afirmou ter-se inspirado num filme de TV, em que um estudante incendiou a escola. Já vimos que a ação deletéria de programas de TV se exerce sobre adultos, como o demonstra o trágico comportamento do mencionado casal sueco, que induziu também os jovens fjlhos a praticar o crime. Se até adultos não resistem a esse influxo malsão, quanto mais crianças e jovens, naturalmente mais débeis! Estão se tornando cada vez mais freqüentes casos análogos ao desses meninos, em que crianças imitam heróis de TV e cujas conseqüênci11s vão desde a adoção de comportamentos extravagantes até atos que desfecham cm verdadeiras tragédias.
e=________, "As crianças brasileiras estão vendo, em média, mais televisão do que as de outros países. Cerca de três a quatro horas são diariamente destinadas à televisão, e aos sábados e domingos o número tende a aumentar. A televisão é a segunda escola, a escola paralela de que fala Friedmann".
Nas lojas comerciais, costuma ser grande o interesse de compradores pelos novos modelos de aparelhos televisivos
Milhões de almas infantis são "sacrificadas" ad novo ídolo, a TVo Moloch psicológico de nossos dias-, submetidas a ele durante várias horas diárias
inteligência, nem da vontade. Induz, pois, ao hábito de não refletir sobre o que se vê ou se ouve. Desse modo, eles vão absorvendo catadupas de.informações desconexas de nenhum ou quase nenhum valor cultural. Em conseqüência, a TV estimula o vício da irreflexão e do mero sentir. Conduz à busca de ef!IOÇÕes cada vez mais intensas e freqüentes. E, pois, todo o mecanismo do vício, com os seus condicionamentos característicos, que entra em cena no caso. A respeito do tema, discorreu a especialista francesa, Mireille Chalvon, em artigo para a revista Neuropsychiatrie de l'enfance et de l'adolescence.
pela TV sobre o processo intelectivo de formação das idéias. 3. A televisão - prossegue a pesquisadora -se dirige a todos ao mesmo tempo e não pode seguir o nível de cada um, o que é necessário a todo aprendizado. A criança aprenderá assim coisas novas sem saber onde elas se dão, sem conhecer o contexto geográfico, histórico ou político de um acontecimento.
4. O super-consumo de televisão é certamente nocivo. A super-informação, excedendo a capacidade de compreensão da criança, é motivo de cansaço e desânimo. A identificação múltipla com heróis variados pode ser fonte de perturl>ação. A eterna procura de uma vida excitante e sensacional conduz ao risco de perder o contato com a realidade quotidiana. (Mireille Chalvon, Problemes Psychok>giques de l'enfant télespectateur, in "Neuropsychiatrie de l'enfance et de l' adolescence", Paris, 1981, nª 29, pp. 147-148). Preferiram a 1V ao pai!
Após qualificar a TV como "mau instrumento de aprendizagem", enumera as razões:
"Estamos criando uma geração deformada pelos exemplos nefastos, porque lhe são oferecidos por indivíduos que não ligam a mínima para a formação moral e psíquica dos jovens". Prof. Salomão A. Chaib
1. Pela rapidez e pelo fato de as imagens se sucederem umas às outras, a TV é mau instrumento de aprendizagem. EJa não deixa tempo para refletir, para deter-se um pouco mais demoradamente nos assuntos, como se faz com as frases de um livro.
2. A TV não propicia a aquisição de linguagem, porque é inútil dar nome àquilo que simplesmente se vê. Por outro lado, ela tende a tomar espetaculares os acontecimentos e as idéias. É sobretudo o lado espetacular ou simpático de um personagem, e não a profundidade de suas idéias, que impressiona o público. "Fornecendo imagens-acrescenta a autora -ela se dirige mais aos sentimentos do que ao espírito, oferecendo mais sensações do que noções". Mireille Chalvon, nesse trecho, encarece bem o efeito nocivo do impacto de sucessivas impressões visuais e sensações produzidas
Pelo que acabamos de ver, o consumo excessivo de televisão prejudica seriamente a vida de fanúlia e o reto aprendizado escolar. Quanto ao relacionamento familiar, são dignas de atenção as palavras do Prof. Salomão Chaib, médico brasileiro, em entrevista para a associação "O Amanhã de Nossos Filhos", de São Paulo. "O perigo da televisão não está só nas modificações do comportamento que prodúz, mas também no que ela impede, como a possibilidade de comunicação entre pais e filhos, a capacidade de se entreter sozinho ou com amigos, a haqilidade de conversar, desenvolver idéias criativas e saber expressá-las, enfim, de enriquecer a cultura. Estamos criando uma geração deformada pelos exemplos nefastos, porque lhe são oferecidos por indivíduos que não ligam a mínima para a formação moral e psíquica dos jovens" (Entrevista com o Prof. Salomão A. Chaib, in Informativo TVPle~iscito, nª 12, março de 1993, p. 2). E ainda o Prof. Chaibque narra, na mesma entrevista, o patético episódio abaixo: "Pesquisa realizada na Universidade de Michigan (EUA) revela um fato chocante, que mostra a profundidade da intoxicação televisiva na mente infantil: a crianças entre quatro e cinco anos de idade foi apresentada a alternativa de escolher entre ficar definitivamente com a televisão ou com o pai. Um terço delas preferiu a televisão". Desaparece a vida de família As horas que deveriam ver consumidas no convívio familiar, no qual se cultiva o natural
afeto entre pais e filhos, são, hoje em dia, na "A televisão é o meio que maiores consequase totalidade dos c.isos, usurpadas pela qüências negativas pode ter sobre a audiêntelevisão. Uns e outros, presos ~o vídeo, têm eia, inclusive ajuda a fomentar o analfabeum pólo de atenção fora do lar. E este, ora um tismo funcional [pessoas que apreenderam a desastre ocorrido na Dinamarca, ora uma ler e escrever mas que, na prática, não sabem episódio passado na Etiópia, ora ainda numa utilizar essas faculdades], segundo foi manipartida de futebol em qualquer cidade do /estado no simp6sio internacional sobre a mundo, ou uma fantástica e escandalosa cena revolução informática e os meios de comude telenovela. Tudo contribui para a pulverinicação, encerrado em Madri pelo Ministro zação psicológica daquela fanúlia, na qual os da Cultura e porta-voz do governo, Javier membros, apesar da proximidade físi- • - Solana. caem que se encontram, vão setor"O debate sobre a televinando cada vez mais estranhos uns aos são foi aberto em função das outros. estatísticas apresentadas .... O elemento aglutinador por expelo professor norte-americelência da vida de familia, que é cano Gera/d Goldhaber. Os a conversação, desaparece ante o mais recentes estudos sobre o consupredomínio despótico do vídeo. mo de televisão nos Estados Unidos Tal convívio já se encontra mostram que as crianças desse imensamente enfraquecido pelos país assistiram, durante O períomúltiplos fatores de desagregação dos lado equivalente ao F grau, 15 ços familiares, largamente em voga no mui[ lwras de televisão, entre 7 e mundo moderno: a imoralidade dos cos8 horas diárias. Em todo esse lumes e das modas (poderosamente veiculada tempo-que supera praticamente o de horas também pela TV); a agitação das grandes letivas no colégio -os escolares viram 350 cidades e a dispersão das atividades. A commil anúncios" ("EI País", Madri, 12-10-85). balida família brasileira sofre, assim, mais "As conseqüências maléficas da televisão ~sse peso demolidor da televisão, enquanto para a formação escolar, na Espanha, foram mstrumcnto de deseducação. apontadas pelo professor Francisco Ayala, da Real Academia Espanhola: A 1V uma "escola paralela" "O cinema e a televisão operam sobre a mente infantil no Referimo-nos às não menos graves consentido negativo seqüências do indiscriminado consumo de de descartar a leitelevisão sobre o rendimento escolar das tura e as consecrianças. Também neste campo as perspectiqüências não povas são alarmantes. deriam ser mais Vejamos a esse respeito o que diz.em algraves. Coguns especialistas. nhecidos, denun-
As horas que deveriam ser consumidas no convívio familiar, no qual se cultiva o natural afeto entre pais e filhos, são, hoje em dia, na quase totalidade dos casos, usurpadas pela televisão. Uns e outros, presos ao vídeo, têm um pólo de atenção fora do lar.
ciados e lamentados, mas não suf,cientemente combatidos, são os perigos desse novo analfabetismo de quem passou pela escola e mesmo pela universidade, e por conseguinte se supõe que saiba ler e escrever, mas que, pelo efeito do desuso, resulta na prática incapaz de exercitar tais atividades" ("ABC",
TV brasileira:
''anti-escola 11 para infância e juventude
Madri, 16-1-85). " O professor pode discorrer -afirma o já citado especialista alemão, Franz-Dictrich Poelert- sobre o quiser, na escola de hoje,
A televisão é o me10 que maiores conseqüências negativas pode ter sobre a audiência, inclusive ajuda a fomentar o analfabetismo funcional (pessoas que apreenderam a ler e escrever mas que, na prática, não sabem utilizar essas faculdades).
e presumivelmente não encontrará quem tenha lido sobre o assunto ... Mas [se] a TV exibiu um filme novo... - Sim, também vi! Depois que começou uma conversa deste gênero, não adianta mais continuar, pois qualquer outro assunto é abafado. Fica impossível levar adiante uma aula pedagogicamente planejada. Os clichês televisivos sufocam qualquer debate construtivo" (Franz-Dietrich Poelert:, op. cit.).
"Muitos estudantes chegam à Universidade sem nunca terem escrito sequer uma carta." ("EI País", Madri, 12-10-85). No Brasil: apreensões e uma grande esperança Tais fenômenos, verificados e descritos por conceituados especialistas, ocorrem nos Estados Unidos e na Europa . E cm nosso País? A eloqüente estatística dos exames vestibulares não fala no sentido de que lá e cá analfabetos funcionais os há? Tanto mais quanto as causas do fenômeno, nos EUA e na Europa como no Brasil, atuam de modo analogamente possante. A título de exemp lo da pobreza mental e cultural dos vestibulandos paulistas que são, como os de qualquer outro Estado do Brasil, consumidores inveterados dos produtos deteriorados emitidos pelo vídeo - citemos apenas algumas "pérolas" aparecidas em provas, enumeradas pela coordenadora do Curso Objetivo, Elisabeth de Melo Massaranduba: "Sentou-se paulati-
namente perto da janela ", "O problema de nossa economia afeta e muito a saúde, esta por sua vez, decorre de moradias impróprias"; "Esta data (do quinto centenário do Descobrimento da América] é f estejada de forma abstrata e formal ". Observa a coordenadora que os alunos usam com freqüência palavras das quais mal sabem o significado, na tentativa de compensar a falta de conteúdo de suas composições (cfr. "Fo lha de S. Paulo", suplemento "Folhateen", 222-93). Em outros termos, percebendo sua própria indigência intelectual , os vestibulandos julgam preencher a lacuna e mprega ndo - como se fosse um bom expcdicnt - termos mais sofisticados, que não raro são impróprios. Assim, a emenda siti pior que o so neto ...
O
Prof. Samuel Pfromm Netto, que, entre outros títulos científicos, apresenta o de conceituado le nte do curso de pós-graduação e m Psicologia na Universidade de São Paulo, assevera que a televisão brasileira atingiu um dos níve is mais baixos em todo o mundo, se comparada ~s e missoras de 1V de o utros países. O especia lista defendeu essa tese em confe rência pronunciada a sócios e cooperadores da TFP, e m maio passado, no a uditório dessa e ntidade , no bairro paulistano de Santana. E fundamentou sua posição com sólida documentação, colhida especialme nte em pesquisas realizadas nos cursos de pós-graduação que ministra, apresentando dados e lucidativos quanto ao grau espantoso de imoralidade, deb che e violência dos programas televisivos brasileiros. O ilustre mestre de Psicologia analisou ta mbém as conseqüê ncias - que podem ser qualificadas de arrasadoras-de tal programação, particularmente na infância e na juve ntude pátrias, co m repercussões impressionantes e m todos os níve is do e nsino brasileiro. Assim, não se pode negar que a 1V ocupe no País um lugar de destaque e ntre os fatores responsáveis pelo péssimo aproveitamento de nossos estudantes. É impossível omitir esse dado, quando se lê , em rece nte re latq rio do Ministério d e Educação, que apenas 3 de cada 100 alunos do 1° grau, matriculados na 1ª séri , chegam a concluir a 8ª sem repetir nenhum ano. E que a taxa de evasão no 1 ° grau, considerando um período de oito an s, h ga a 61 o/o: de cada 100 a lun s qu _ ·om çam a estudar, apenas 39 co ncluem a H·1 séri ! (dr. "Folha de S. Paulo", 1 -2-9]). O Bra il també m é um dos países em que ,1s crianças ficam, e m média, mais tempo dianto da "tclinha mágica": cerca de três a quatro horas diárias. E há pesquisas que mostram como viciado em 1V posta-se várias horas
d iante daque la "te li nha", e m estado de sem idistra ção, a le rtado por uma espéci de ante na me nta l, ao surgir o assunto de ma ior inte resse para e le. Quando essa pobre vítima da "babá e le trônica" Lem que comparece r à sa la de au la, o mesmo distraído de antes - que estava grudado no vídeo freqüentemente durante ma is horas do que as de permanência na escola - torna-se apático e desinte ressado e m relac,-:ão a qualquer apre ndizado. Tais alunos - é compreensíve l - ficam condicionados e m seu pe nsar e linguage m, ao primarismo, ao jargão chulo, quando não inconveniente, despe jados pelos aparelhos de lV. Pobres professores, que s<'io obrigados a e nfre ntar tal indigência me ntal e lingüística ! A esses problemas ele suma gravidade do ponto de vista psicológico, cabe a Catolicismo ressaltar que se ac rescenta o descalabro mo ral. As telenovelas brasileiras, por exemplo, est:ío atingindo graus inimagináve is de abjeção nesse te rreno - o mais importa nte - , pois é a moral que est,.1be lece a r lação do homem com seu último fim . De te mpos para cá, os le i spcctadores-e ntre os quais cria nças e jove ns, uma vez que as cenas os agride m e m horários nobres - não se defrontam apenas com pornografia, nudismo, exa ltação d u vício e vilezas de toda o rde m. Agora já chegou a ponto de insinua r perversôes sexuais, prálic.as antínatura is apresentadas co mo coisas normais e co mpreensíveis, ad mitidas por toda a sociedade! Co111 essa "anti-esmla" - que inve rte todos os ve rdadeiros valores - de formando diariamente, de modo sistemático, milhões de crianças e jovens brasile iros, qua l o futuro que agua rda o País? O que será de nossa infância e juve ntude se não se de r um parade iro a tal situaç,.ío? Apoiêlr o traba lho da benemé rita associação "O Amanhã de Nossos Filhos", e ntidade civil de fins não eco nômi cos ne m lucrativos, à ciual nos re feri mos no "Assesta ndo o Foco", pmece- nos a form a mais e ficaz d e solucionar tão graves proble mas. Para que m desejar e ntrar e m co ntacto com "O Amanhã d e Nossos Filhos": R. Mara nhão, 620, sa la 13 CEP 01240-000 - São Pau lo - SP Tel: (011) 66-9187
Considerando os fatos com os quais quotidianamente convivemos e os depoimentos de renomados mestres e especial istas que, muito sucintamente acabamos de alinhar não podemos escapar a uma conclusão : A TV, no caso concreto brasileiro, vem se portando como poderoso instrumento de desagregação familiar e de enfraquecimento do aprendizado escolar. Em suma, compromete gravemente a formação psicológica e moral de nossas crianças. Tão torrencial e dcmoninante é essa influência que nos sugere ao espírito a lembrança do famoso ídolo Moloch, cu ltuado na Antigüidade, especialmente em Cartago, e que a inda enche de horror todos os povos civilizados. Na base dessa imensa estátua de metal, em certos dias do ano, acendia-se o fogo . Crianças inocentes eram então sacrificadas ao terrível ídolo, sendo atiradas em seu bojo incandescente. Se admitimos que à moderna TV milhões de almas infantis são "sacrificadas", embora de modo mais s util, é lícito compará-la ao maléfico ídolo e adequadamente qualific-í-la de Moloch psico lógico de nossos dias. Levando-se cm conta ainda que de nossos jovens - hoje nos bancos escolares amanhã na direção dos mais altos cargos públicos ou privados-depende o futuro de nossa Pátria, o quadro acima descrito não poderia ser mais alarmante. Com efeito, a não haver por parte de pessoas responsáveis e conscientes dos malefícios produzidos pela tel ev isão brasileira, uma atitude corajosa para denunciar tais ma lefícios, e uma conclmnação a que se unam numa ação conjugada cm prol da salvaguarda de nossa juventude, é bastante sombrio o futuro que nos aguarda. E ntret,rnto, uma luminosa esperança já está acesa na alma de incontáveis brasileiros. É ela representada pela associação " O Amanhã de Nossos Filhos", que há quase cinc-.o anos vem a tu ando larga mente e com excelente receptividade por parte do público, no sentido acima indicado. Nada de verdadeiramente grande e profundo se pode fazer, porém, especialmente na atual quadra histórica em que vivemos, em prol da Civilização Cristã, se não contannos com as maternais bênçãos da Rainha do Céu e da Terra . A Ela, pois, se elevam nossas preces cheias de co!rt'iança, bem como as de todos aqueles que, com olhos postos nas Suas alentadoras promessas feitas em Fátima, aguardam cheios de júbilo , os dia is de triunfo de Seu Imaculado Coração. ARNÓBIO GLAVAM
A TV, no caso concreto brasileiro, vem se portando como poderoso instrumento de desagregação familiar e de enfraquecimento do aprendizado escolar. Em suma, compromete gravemente a formação psicológica e moral de nossas crianças.
TFPs EM AÇÃO
Na Espanha, editada recente obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira PEDRO PAULO DE FIGUEIREDO Correspondente
MADRI - A obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, "Nobreza e elites tradicionais análogas, nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana", acaba de ter sua edição em castelhano lançada nesta capital, pela E.ditorial Fernando III, o Santo. Para sua divulgação, a Sociedade Espanhola de Defesa da Tradição, Fanúlia e Propriedade, TFP-Covadonga mobilizou seus sócios e coopera dores, que têm visitado simpatizantes da entidade, os quais vêm apoiando efusivamente o recente lançamento. Ao mesmo tempo, o livro vem sendo posto ao alcance do grande público, nas livrarias de todo o país. O editorial do boletim da referida entidade, "Covadonga Informa", ressalta a importância e oportunidade da obra: "Comentando e dando a conhecer publicamente o texto integral das 14 alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, o Prof Plinio Corrêa de Oliveira aborda temas de grande aútali-
dade e interesse: o sentido contemporâneo da nobreza histórica e militar, assim como das elites tradicionais anál,ogas de nossos dias; os direitos e deveres específicos de umas e outras; a linha de conduta que devem observar diante das oposições, incompreensões e obstáculos com os quais se defrontam freqüentemente". Ilustres autores do prólogo
No prólogo que escreveram para a edição castelhana do livro, os Duques de Maqueda, Grandes de Espanha e pertencentes a uma das mais ilustres famílias da nobreza desse país, acentuam: "Temoscertezadequeosensinamentos de Pio XII, que o autor, com verda.deira riqueza de erudição, completa com citações de outros Papas, de Santo Tomás de Aquino e de outros Doutores da Igreja, ajudarão a Nobreza e a Fidalguia espanholas a conservar zelosamente sua
identidade consigo mesmas, e a encontrar nos ensinamentos de Pio XII a definição precisa de sua missão e de sua própria razão de ser na sociedade contemporânea, para o que encontrarão especiais subsídios nos comentários penetrantes e valentes do ilustre autor". Um insigne membro da nobreza espanhola, que foi íntimo amigo do último rei dessa nação, Afonso XIII, enviou a TFP-Covadonga significativa carta de apoio, da qual destacamos o seguinte tópico: "Já li uma boa parte do denso conteúdo do livro. O que posso dizer para exprim ir de modo soberbo o que acho do magistral texto do Prof Plinio? Oportuníssimo e exato, devolve ao braço da Nobreza a justi,ça que ela merece por seus muitos méritos em todas as latitudes. Os pareceres dos Cardeais são todos muito acerta dos e o do P e. Victor ino é brilhante e meticuloso".
Itália: êxito na difusão do livro JUAN MIGUEL MONTES Correspondente
ROMA - A edição italiana da obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira continua sendo largamente difundida neste país e recebendo aplausos dignos de men\,'io. A título exemplificativo, destacamos: Em carta dirigida ao Bureau de representação das TFPs, em Roma, dirigente do Corpo da Nobreza Italiana, um dos org,mizadorcs do Congresso da Nobreza Européia que se realizará em Milão, assinala: "Chegou-me com grande agrado o volume 'Nobreza e elites tradicionais análoga,s', do Prof Plínio Corrêa de Oliveira, que suscitou em mim admiraçiio e entusiasmo pelo assunto abordado e pela impostação doutrinária do insigne autor. "Como ca tólico, e até como antigo Guarda Nobre de Sua Santidade, desejo
expressar meu aplauso e meu profundo reconhecimento pela obra publicada, que tentarei dar a conhecer e difundir entre meus amigos". Um Cardeal da Cúria Romana diz a certa altura de sua missiva dirigida ao Bureau: "Chegou-me o volume escrito pelo Professor Plínio Corrêa de Oliveira publicado na Itália, Portugal, França e Estados Unidos. A obra documenta com precisão e competência histórica 14 alocuções do Papa Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana". Na última edição de Catolicismo, enumeramos algumas das principais livrarias da Cidade Eterna que estavam colocando à venda a mencionada obra, exposta ao público, de modo geral, com destaque. Ela vem encontrando, por parle deste, uma acolhida bastante favorável.
Em 11/lr/110 tia U11Nu·lt1 /nlernnclonol das lk lk,· >QS 1'011/Jnas, o livro sobre a Nobr«zt1
A Trindade na Glória - Jean Fouquet, L'Heures d 'Étienne Chevalier, séc. XV, Castelo de Chantüly (França)
jlobíssímos bo bomem: o Céu Um dogma de nossa Fé - o Céu e a felicidade funde milênio, a qual avassala o mundo inteiro eterna-, cuja importância ton1a-se patente, é no o rock'n'roll - são o inferno e Satanás. entanto pouco conhecido pelos fiéis e, ele modo São João Bosco, num de seus famosos sonhos, geral, insuficientemente explanado. encontrou-se com seu antigo discípulo - falecido Explica-se, pois, que, às vezes, ouçam-se frases pouco t<:;mpo antes-, São Domingos Sávio, numa como esta: "O Céu deve ser um local sem animação (a região que não era o Céu empíreo propriamente qual, na mentalidade do homem moderno, é comdito - isto é, o local constituído por matéria espeponente indispensável da felicidade), onde todos ficial, para onde vão os bem-aventurados, após transcam eternamente parados, sentados em nuvens, ou-vindo por os umbrais da morte- mas um vestíbulo dele. as infindáveis melodias dos coros angélicos ... " - Estou num local de felicidade - explicou São Ess.--i distorcida noção do que seja a bem-aventurança Domingos Sávio - , onde se gozam todas as ditas, celeste - infelizmente não rara até entre católicos-, todas as delícias. revela uma ignorância o-assa a res- É este, pois, o prêmio dos peito do prêmio que Deus reserva justos? indagou Dom Bosco. a seus eleitDs, e da própria natu- Não, certamente, redarguiu reza divina. seu ex-aluno. Aqui não se gozam os Todos os católicos bem formabens eternos senão apenas, embora dos devem desejar ardentemente de modo abundante, os temporais ... alcançar o Céu e tê-lo sempre preE São João Bosco descreve, sente em suas cogit:ações. Espemaravilhado, esse local, que deve cialmente em nossos dias, em que ser apenas um fraco reflexo de bea civilização neopagã contempolezas materiais e espirituais existenrânea tende para o oposto, em tes no Céu empíreo: "largos e giganque os modos de se1·, as manifestescos caminhos separavam a p!anú:ie em tações de pseudo-cultura e pseuvastíssimosjardins de irumarrável beleza, do-arte - a moderna e a póstodos elr.s como que divididos em p(',quenos moderna - propendem para o bosques, prados e jardins com flores, de horrível, o monstruoso ... e, no fim formas e cores diversas. desse processo, para o diabólico! "Nenhuma de nossas plantas Exagero ... pensará algum leitor. pode dar-nos uma idéia daquelas, Para convencê-lo elo contrário, se bem que possuem alguma basta lembrar um indício signifisemelhança. As ervas, as flores, as São João fusco descreve cativo: os temas cada vez mais fre- as maravühas árvores, as frutas eram vistosísside um vestíbulo do Céu, qüentes na música-símbolo deste mas e de belíssimo aspecto. visitado por ele, em sonhos CADERNO ESPECIAL N° 25 CATOLICISMO Nº 5 13, SETEMBRO 1993
"As fofüas eram d e ouro;. os troncos e ramos, de diamantes, eq uivalendo o 1-csto a essa riqueza. Impossível contar as dife1·ent~s espécies; e cadaesp'cie e cada flor resp landecia cóh; luz especial. "No meio daqueles jardins e em toda a extensão da planície, contemplei inumeráve is edifkios de uma ordem, beleza, harmonia, magnificência e propo1·ções tão extraordinárias, que paraaconstrnção de um só deles parecia que não deveriam bastar todos os tesou1·os da Tena ... "Enquanto contemplava extasiado tão estupendas maravilhas que adornavam aqueles jardins, chegou a meus ouvidos uma música dulcíssima e de tão grande harmonia, que não posso dar-vos adequada idéia dela. Eram cem mil instrumentos, que produziam, cada um deles, um som diverso do outro, enquanto todos os sons possíveis difundiam pelo ar suas ondas sonorns. A estas uniam-se os coros cios canto1·es. "Vi ent:,-'io uma mult.idão de pessoas que se encontsavam naqueles jardins e se regozijavam alegres e contentes. Tanto quem tocava, quanto os que cant:,1.vam. Cada voz, cada not:,,., fazia o efeito de mil instrumentos reunidos, todos clive1·sos uns dos outros. "Simu)t:,,.neamente ouviam-se as clive1·sas notas ela escala hannônica, desde as mais baixas até as mais altas que se possam imaginar, mas todas num acorde pei-feito. Ah! Para descrever tal harmonia não bastam comparações humanas"()). Se os catól icos de nossos dias tivessem presente que, além da visão beatífica-mediante a qual Deus se manifesta diretamente aos eleitos - no Céu experimentam-se deleites de ordem material ainda maiores cio que esses, descritos pelo grande Fundador dos salesianos, certamente haveria mais apetência ela felicidade celeste e grande interesse em meditá-la e aprofundar seu conhecimento.
~
i) orta bo <tCéu
Merece menção outra parte do diálogo que se travou entre São João Bosco e São Domingos Sávio. Santo Agostinho Pintura de Sandro Botticell~ séc. XV, Galeria dos Ofícios, Florença ·(Itália). O Doutor da Graça, sobre os bem-aventurados, afirmou: "[Estes/ contemplando sem. cessar a eternidade, são eternos. Unidos à verdadei,-a luz, convertem-se também em luz"
O Céu é como que uma cidade fortificada cios bons, à qual só se pode ter acesso por uma única entrada: Maria Santíssima. Com efeito, essa grande verdade foi expressa de modo encantador pelo jovem bemaven turado, quando, após desc1·ever as maravilhas do vestíbulo do Céu - algumas das quais observadas pelo p1·óp1·io São João Bosco - , passou a falar das coisas que mais o encheram de contentamento, no momento de seu trânsito para a etern idade. Eis a conversação: - Pois bem, que1·ido Domingos, tu, que durante tua vicia praticaste todas estas virtudes (a humildade, a obediência, a mortificação e a casticlacle), dize-me: o que foi que mais te consolou na hora da morte? - Que pensa o Sr. que poderia sei·? respondeu Domingos a São João Bosco. - Foi, talvez, o ter conservado a bela virtude da pureza? - Não; não é só isso. -Alegrou-te, talvez, ter a consciência tranqüila? - Bom, é isso, mas não é o melhoi-. - Acaso teu consolo te1·á sido a esperança do paraíso? -Tampouco. - Pois o quê? O ter entesourado muitas obras boas? -Não, não! - Então, qual foi teu consolo naquela última hora, disse-lhe São João Bosco, ent1·e confuso e suplicante, vendo que não conseguia adivinhar. - O que mais me confortou no transe da morte, respondeu São Domingos, foi a assistência da poderosa e amável Mãe do Salvador. Dize-o a teus filhos; e que eles não se esqueçam de invocá-La em todos os momentos ele sua vida ... (2) Depois da descrição de São João Bosco e dessas palavras sobre a gloriosa porta do Céu, Maria Santíssima, passemos a descrevê-lo com base cm textos das Sagradas Esnitu1·as e em comentários d grandes Santos e Doutores da Igreja.
Jhlrílbo e Cfsplcnbor bos dtítos Falando da gló1·ia dos santos no ,éu, SflO João Crisóstomo diz que o último dos I itos possui no Céu um esp lendor e uma glória maior ·s que os manifestados por Jesus Cristo m sua transfigura-
CADERNO ESPECIAL Nº 25 CATOLICISMO Nº 513, SETEMBRO 1993
ção, pois, no Ta.boi·, Ele amenizou tal glória e esplendor para adequá- los à vista ele seus três Apóstolos, São Pedro, São Tiago e São João. Por outro lado, os olhos corporais não podem suportar um b1·ilho que os olhos ela alma podem agüentai· perfeitamente. Logo, os Apóstolos não viam Coroação da Virgem rw Céu - F,·a Angélico, séc. XV, Museu dos Ofíc-i-Os, senão a glória exteFlorença (Itália) rior, enquanto no Céu veremos ao mesmo tempo a gló1·ia exterior e interior ele Deus e ele cada um elos eleitos. Santa Teresa conta que, certo dia, o Divino Redentor mostrou-lhe sua mão glorificada. Para dar-nos uma idéia elo esplendor desta mão, estabeleceu ela a seguinte comparação: "Imaginai, diz a Santa, um rio muiJ,o límpitlo, cujas águas correm tranqüilamente por um leüo do mais puro cristal. Irnaginai, ainda, quinhentos mil sóis fiio ou mais brilhantes que o Sol que ilumina a Terra. Figurai-os reunindo neste rio todos os seus raios refleti.dos pelo cristal sobre o qual o rio corre. Pois bem, esta luz deslumbrante nüo é senüo uma noite escura, comparada com o esplendor da müo de Jesus Cristo". San ta Teresa refere-se apenas, à mão de nosso
Salvador. Qual não será, pois, a luz e o brilho que emitem sua humanidade e sua divindade reunidas! Juntai ao esplendor cio Filho, o cio Pai e o cio Espírito Santo, o da M~k ele Deus, o elos coros dos Anjos, dos Patriarcas e o elos Prnfetas, elos Apóstolos e elos mártires, dos confessores e das virgens e o de todos os santos, e te reis urna idéia elo que é a glória celeste. "Os bem-aventurados - observa Santo Agostinho - vêem a Deus e sempre desejam vê-Lo, fiio agradável é est,a visüo. E neste deleiJ,e descansam cluios de Deus. Nwua se afasl,a ndo da bem-aventurança, süo felizes. Contemj>la:ndo sem cessar a eternidade, süo eternos. Unidos à verdadeira Luz, convertem-se também em luz. Ó bem-aventurada visüo mediante a qual se contempla em toda siw belez,a o Rei dos Anjos, o Santo dos Santos, a quem todos devem a existência" (De Anima et Spiritu).
E São Bernardo, meditando a felicidade celeste, exclama: "Lá veremos o b1illw da glória, o esplendor dos Santos, a majestade de um jJoder verdadeiramente real; conheceremos o poder do Padre, a sabedoria do Filho, a bondade infinit,a do Espírito Santo. Ó bem-aventurrula
visüo, que consiste em ver a Deus em si mesmo, em vê-Lo em nós, e em ver-nos nEle com uma f eliz alegria e com uma inffávelfelici.d ade'' (ln I Medit., c. IV).
Os e le itos são iluminados pelo esplendor de Deus e pelo seu próprio esp lendor que é o reflexo elo de Deus. O Criador, o eterno sol de justiça, enche o Céu e os seus eleitos com o divino brilho. Os santos são como outros tantos sóis submersos nos raios elo sol supremo do qual recebem todo o seu brilho, ao mesmo tempo que cada um deles participa também cio esplendor de todos os seus compan heiros.
1!lesígualbabe bos deítos e ausêncía be ínbeja "No Céu, diz Santo Agostinho, niio haverá ciúmes que provenham da desigualdade de amor. Todos se am.am da mesma maneira. O Céu, acrescenl,a, será testemunha de um beUssimo espetáculo: nenhum inferior invfjará a sorte dos que estiverem acima dele, como no corpo humano o dedo nüo tem ciúme do olho, nem os ouvidos da língua, nem os jJfS r.kl cabeça".
E prossegue o grande Doutor da Igreja sua explicação: Um pequeno vaso cheio de líquido está tão repleto como um grande. Uma fonte Ct~as águas transbordam, está tão cheia quanto o mar. Assim sucede com os eleitos. Deus está igualmente em todos. Porém, aquele que tiver acumulado mais, não dinheiro, mas fé, te1·á mais capacidade relativamente a Deus. Tal caridade une perfeitamente os eleitos entre si: o bem que um eleito não recebe diretamente, ganha-o, ele certo modo, pela felicidade que experimenta, vendo-o recebido por outro. Fica tão satisfeito com o bem que cabe a seus companheiros, como se fosse o próprio bem . E acrescenta Santo Agostinho: Uma terna mãe alegra-se com as carícias que Apari,ção da Virgem a São Bernardo -Pintura de Filippirw Lipp~
1
séc. XV, Abadia, Florença (Itália). O Doutor Melíf!uo, sobre a visão beatífica, explicou: "Ó bem-aventurada visão, que consiste em vera Deus emsi mesmo, em vê-L-0 em nós e em vermos nEle"
CADERNO ESPECIAL Nº 25 CATOLICISMO NO 5 13 , SETEMBRO 1993
ENTREVISTA
fazem a seu filho querido, considera-as como se as concedessem a ela próp.-ia. Da mesma forma, cada um dos eleitos estima como feitos a si mesmo os bens que Deus oferece a seu~\ ~ompanheiros de bemaventurança.
as manifestações hediondas da civilização contemporânea - na linha dos costumes como da cultura e arte - que são o contrário da visão celeste. E que constituem um vestíbulo do inferno, no qual já se experimenta a presença pestilencial ele Satanás.
®ii deítoii iierão reíii Felicidade inefável a elos eleitos! O que cada eleito quiser, seja quanto a si mesmo, seja em relação a seus companheiros, ou ao próprio Deus, imediatamente se verificará. Existe outro reino comparável na Terra? Todos juntos com Deus serão reis, constituindo como que um só rei, como um só poder. "Vi - diz São João no Apocalipse (7, 9) - uma multi.dão que ninguém podia contar, de todas as nações, de todas as tribos, de todos os povos e de todos os idiomas. Estavam de pé diante do trono e diante do Cordeiro portando vestimentas brancas com palmas na mão". Estas paJínas significavam a vitória. Aos vencedores concedem-se honras reais. Os eleitos verão a face de Deus. Seu nome estc'lrá escrito sobre suas frontes. Reinarão por todos os séculos dos séculos. Gozarão constantemente da visão de Deus, como seus amigos e íntimos. elo Criador serão mais príncipes e reis do que servidores. "Ô Senhor, exclama Santo Agostinho, quão glorioso será vosso reino, onde todos os Santos reinam convosco, ret.1(',stidos de luz como de um manto e tendo sobre suas cabeças uma coroa de pedras preciosas! O reino da eterna bem-aventurança, onde sois, Senhor, a esperança dos Santos e o diadema de sua glória!" (Solilóquios, C. XXXV). Ó cidade de Deus, coisas gloriosas foram ditas de ti!
NOTAS 1. Biografia y escritos de San Juan Bosco, BAC, Madri, 1955, p. 655. 2. Idem, pp. 660-661. FONTE DE REFERÊNCIA Tesoros de Cornelio a Lápide, Extratos dos comentários deste autor sobre as Sagradas Escrituras feitos pelo Padre Barbier, tradução da 2" ed ição francesa, 2" edição espanhola, Vich, Madri, 1882, pp. 226 e ss.
Enquanto a verdad<->ira arte católica, como as cer,as da Coroação de Nossa Senhora (parte superior) e sua dormição (parte inferior), obrasprirr,as da escultura gótica (portal da Virgem, tímpano, Catedral de Notre Dame, Paris)robustecem na alma humana o anseio do Céu...
*** E a tal ponto coisas gloriosas foram ditas do Paraíso celeste, que sua descrição não pode ser feita em um só artigo. Para formarmos uma idéia do que
consiste o Céu seria necessário que se escrevesse muito mais. Que essa sucinta exposição ao me1)os reforce em nós a virtude da esperança- da certeza de um dia alcançarmos o prêmio celeste. E também robusteça em nossa alma a rejeição radical de todas
... manifestações da pseudo-arte moderna, como a estátua de Exu (demônio de culto afr-icano), na praça dos Correios, em Salvador (BA), levam os homens a se acostumarem com o inferno e a des<já-lo
CADERNO ESPECIAL NO 25 CATOLICISMO Nº 5 13, SETEMBRO 1993
MENSAGEM DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA ' ' .,, CHEGA A RUSSIA JOSÉ AUGUSTO LISBOA MIRANDA
Enviado Especial com LUÍS CARLOS AzEVEDO São Paulo
ó Maria, e do de vosso Divino Filho no mais alto dos Céus". Mais recentemente, uma delegação de onze componentes de Sociedades de Defesa da Tradição, Farm1ia e Propriedade percorreu, de 12 a 18 de abril p.p., 16 cidades da Lituânia, conduzindo em peregrinação uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, com o objetivo de propagar a Mensagem que a Mãe de Deus revelou ao mundo em 1917. Ao mesmo tempo, a visita permitiu ampliar o número de contatos com simpatizantes e aderentes dos ideais das TFPs. Nesta oportunidade, na cidade de Kaunas, o enviado especial de Catolicismo, José Augusto Lisboa Miranda, pôde entrevistar o padre franciscano Pavel Saulius Bitantas, quem, há dois anos, foi o destinatário daquelas dezenas de milhares de cartões postais com a imagem O Pe. Pavel recebe, em Kaunas, a delegação das 7FPs, , de Nossa Senhora de Fátima. que conduziu a imagem de Nossa Senhora de Fátima O Pe. Pavel, durante seis anos, foi o único sacerdote a prestar serviços religiosos na temível Sibéria soviética. Sua paPARIS - Há mais de dois anos, a No verso do postal se lê uma oração róquia, em Novosibirsk, contava dez mil TFP francesa desencadeou sua campanha a Nossa Senhora, em idioma russo, da paroquianos. "Lumieres sur l'Est" ("Luzes sobre o qual extraímos as seguintes passagens: Catolicismo - Pe. Pavel, quantos Leste"), destinada à divulgação da Men"Ó Santíssima Virgem, no momento em cartões postais o Sr. recebeu e o que foi sagem de Nossa Senhora de Fátima nos que a confusão reina no espírito de infeito deles? países da ex-União Soviética. contáveis filhos que Vós tendes para Pe. Pavel - Recebi uns cem mil além dos vestígios da desditosa cortina Algum tempo antes do envio de mais cartões. E em toda viagem que eu fazia, de 200 mil exemplares da obra mundial- de ferro, ouvi com particular misericórmente famosa, As aparições e a mensa- dia, nós vos suplicamos, os gemidos e as levava pacotes e pacotes com os postais e os distribuía não só aos católicos, mas gem de Fátima, conforme os manuscritos orações que, do fundo de seus corações, a todo mundo que eu abordava e que eles elevam até Vós .... da Irmã Lúcia, de autoria do sócio da nunca tinha ouvido falar em Nossa SeTFP brasileira e grande fatimólogo, Dr. "Vós que, em vossa memorável mennhora. Antonio Augusto Borelli Machado, a sagem de Fátima mostrastes ao mundo o Catolicismo - E quais eram as reacampanha "Luzes sobre o Leste" come- papel saliente da Rússia nos planos diviçou pela amplíssima difusão, em ternos e nas vias da graça neste século XX ções das pessoas? ritório russo, de um cartão postal contenexpirante, dignai-Vos servir de vossos Pe. Pavel -Os Srs. não podem imado bela fotografia da Imagem Peregrina filhos russos como instrumentos entuginar o efeito que uma foto tão bela como de Nossa Senhor;i de Fátima, que chorou siasmados e devotados para a construaquela provocava no povo russo. E.u sou milagrosamente em Nova Orleans ção de vosso reino de amor sobre a Terlituano,e possodizerque nem mesmo em (EUA), em 1972. ra. Para a maior glória de vosso nome, meu país, que é católico, havia fotos de
Nossa Senhora como aquela. Resultado: eu enviava postais também para a Lituânia. Eu não fazia idéia que fosse receber tantos cartões. Fui fazendo pacotes cada vez maiores e distribuindo 6's ' postais também na Lituânia. ~
Líderes decidem
REFORMA AGRÁRIA
Para aprovar projetos polênúcos, a fórmula, iniciada na Constituinte de 1987, continua valendo: os líderes decidem fora do plenário e orientam o voto das respectivas bancadas.
As pessoas sentiam-se muito confortadas em recebê-los, pois não podiam imaginar que pessoas de outros países pudessem se interessar tanto pela Rússia. Todos se encantavam num primeiro momento, depois começavam a perguntar sobre Nossa Senhora e, a seguir, sobre as aparições de Fátima.
Foi assim que, nos últimos tempos, projetos deu ma radical Reforma Agrária, que praticamente extinguem o direito de propriedade rural, foram aprovados.
"Segundo o acordo estabelecido, é importante prosseguirmos com a vota-
ção, pois ele supera qualquer pol.êmica" (1), declarou o deputado Roberto Freire. Se deputados e senadores pudessem votar sem as injunções desses acordos, provavelmente o projeto teria sido rejeitado. "0 líder do Governo nesta Casa é um socialista que lidera quinhentos cristãos democráticos descuidados" (2), protestou o deputado Gerson Peres. A força do acordo foi tal, que até deputados ruralistas apoiaram a liquidação da propriedade no campo. "O PRN encaminha a votação favorável, de acordo com as demais lúieranças que aqui já
o fizeram, inclusive ressaltando que esse é um acordo feiJo também com a lxmcada ruralista desta Casa" (3), declarou o deputado Odelmo Leão, fazendeiro e exvice presidente da Federação da Agricu 1tura do Estado de Minas Gerais. ATILIO
G. FAORO
NOTAS
(1) Anotações do Departamento de Taquigrafia da Câmara dos Deputados, 1-6-93, folha/quarto 118/2. (2) Idem , folha/quarto 127/1. (3) Idem, 26-5-93, folha/quarto 142/1.
Catolicismo - De que países o Sr. recebeu os cartões postais? Pe. Pavel - De todo o mundo: lembro-me do Brasil, México, Chile, Argentina, França, Bélgica, Itália, Holanda, até mesmo do Japão recebi postais.
O INCRA poderá, pela nova legislação, desapropriar até mesmo terras produtivas, alegando que elas não estão cumprindo a 'Jurlfão social'; ficando o juiz
Catolicismo - O Sr. poderia narrar alguma reaç:.ão particularmente expressiva de parte de alguém que tenha recebido o postal?
VÊMAÍAS DESAPROPRIAÇÕES RÁPIDAS
Pe. Pavel - Na Rússia as coisas são muito originais. Por exemplo, havia gente que nunca tinha visto uma oração na vida [sic!]. O primeiro contato era com a oração impressa no cartão postal... Muitos faziam quadros e os pregavam nas paredes de suas casas. Houve um caso de uma senhora que fez um quadro com o cartão, chamou toda sua fanúlia e, processionalmente, fizeram a entronização, por primeira vez, de uma imagem sagrada no lar. Catolicismo - O que o Sr. achou da oração impressa no verso do cartão? Pe. Pavel - Fiquei muito contente com ela, pois estava muito adaptada à mentalidade do povo russo. Catolicismo - Que mensagem o Sr. gostaria de enviar para o Ocidente? Pe. Pavel Antes de mais nada, gostaria de agradecer a todos e a cada um daqueles que enviaram os cartões, e que consagraram suas orações à Rússia e a seu povo. Hoje, embora não existam pressões contra a prática religiosa na Rússia, os jovens não vão à igreja. Minha experiência com a juventude na Sibéria mostra que, para um apostolado eficaz, é preciso começar com o terço e a Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças. Chegando a seu país, peça que nos enviem ter<,_-:os e medalhas! •
O projeto que estabelece o rito sumário iu,s desapropriações foi aprovacio pela Câmara, em primeiro turno. Modificado no Senado, recebeu votaçi'ro favorável na Cârnara, em segundo ltuno, graças a um acordo entre líderes partidários
obrigado a bomo/,ogar a desapropri~ão
TFP alertou congressistas sobre absurdos da nova lei
O
Poder Judiciário não vai mais poder socorrer os fazendeiros injustamente desapropriados. Um projeto de lei, aprovado na Câmara dos Deputados e sancionado pelo Presidente da República no dia 6 de julho p.p., além de estabelecer prazos curtíssimos para as desapropriações de Reforma Agrária, não permite que o juiz verifique se existe base legal que a justifique. Uma vez decretada, a desapropriação se torna irreversível. . Se, por intriga política , o representante do Governo quiser perseguir um adversário, basta denunciar ao INCRA que suas terras não estão cumprindo a " função social". Neste caso, pelo artigo 9° da lei, o juiz homologará a desapropriação, sem que o fazendeiro injustiçado possa contestar a legalidade do ato. O projeto, de autoria do deputado Amaury Müller (PDT-RS), foi aprovado
pela Câmara, em primeiro turno, em 30 de junho do ano passado. Pelo Senado, em 14 de abril deste ano. Uma vez que o Senado modificou o texto original, a Câmara o apreciou, em segundo turno, no dia 26 de maio último. Embora a votação tenha sido nominal, o número de 305 votos favoráveis só foi alcançado graças a um acordo entre os líderes partidários, conduzido pelo deputado Roberto Freire, secretário do exPCB (hoje PPS) e atual líder do Governo na Câmara. A TFP, através de seu Escritório de representação em Brasília, manteve contatos com os parlamentares, alertando-os para os aspectos nocivos do projeto. A entidade distribuiu aos senadores e deputados um estudo mostrando que ele contém vários aspectos que colidem com a Constituição, restringem o direito de defesa do desapropriado e abalam o Estado de Direito.
Deputado Prisco Viana contesta legalidade do "voto de liderança" Na votação da lei do rito sumário, os deputados votaram sob pressão de um acordo de líderes que, fora do plenário, decidiu pela · aprovação do projeto. A decisão dos líderes em nome do plenário, popularm ente conhecida por "voto de liderança", tem dado margem a um outro abuso. Uma vez que os líderes decidiram, a presidência da Mesa dispensa o voto nominal exigido pelo _regimento interno e, em alguns casos, até pela Constituição. Na sessão do dia 26 de maio passado, quando a presidência da M esa, ocupada pelo deputado Adylson M otta, propôs que o pro-
jeto do rito sumário seguisse tal sistema, o Sr. Prisco Viana, um dos mais influentes deputados da Câmara, criticou duramente o "voto de liderança", com as seguintes palavras: "No mínimo por devoção à Constituição e ao Regimento Interno, quero argüir perante V. Exa., a ilegalidade do processo que está sendo colocado em curso. A Constituição determina que lei complem'entar deve ser votada nominalmente para que se apure a maioria absoluta dos votos. "Esse consenso, que leva horas infindáveis para ser consegu ido,
exclui o plenário, porque é construído em outro ambiente, em outro fórum restrito. "Portanto, tem-se transformado em uma praxe votar lei complementar através de acordo de lid eranças. De sorte que eu, mesmo que isoladamente, volto-m e contra esse processo, por ser irregular, já que é inconstitucional e anti-regimental" (Anotações do Departamento de Taquigrafia da Câmara dosDeputados, 26-5-93, folha/quarto 147/ 2). Ato contínuo, o presidente da Mesa voltou atrás e resolveu submeter a matéria ao voto nominal.
A formação das elites no Brasil colônia Gênese e aprimoramento das elites no território ocupado e seu desenvolvimento nas diversas fases da História de nosso País povoadores, fossem eles plebeus, burgueses ou nobres, oriundos de Portugal ou de outras nações, era-lhes exigida a adesão à integridade da Fé Católica. As elites iniciais
F
oram as elites aristocráticas, formadas organicamente no próprio solo americano, englobando no seu seio os nobres que vieram ter à Ibero-América como à América do Norte, que desempenharam, durante muito tempo, uma função propulsora da sociedade temporal. Seu papel foi preponderante tanto pelo número de seus membros, como pelo seu realce na vida social e econômica, como ainda pelo seu relacionamento quase ininterruptamente pacífico com as classes mais modestas. Apresentamos ao le.itor, a título ilustrativo, alguns dados históricos; sumários embora, sobre a formação dessas elites no Brasil. Os primeiros povoadores
Na América Lusa, o povoamento se fez notada mente por elementos das classes ma is modestas da Metrópole, entre os quais~ a par da plebe rural, havia alguns degredados, se bem que não constituíssem a maioria. A esses elementos agregaram-se, ao longo dos séculos, índios catequizados, os quais entravam no novo contexto social quase sempre como trabalhadores manuais, e c.ontra cuja redução a escravos a Igreja sempre batalhou de modo indô-
mito. Aos índios acrescentaram-se os negros escravos importados da África, cujo número foi maior no Brasil, mas que existiram também, ainda que em proporções muito variáveis, numa ou noutra colônia ou vice-reinado dependente da Coroa espanhola. Ao longo dos tempos, cá vieram ter também, procedentes da Metrópole portuguesa, pessoas de nível mais elevado, quer pela sua instrução, quer pela sua nascença. O que as habilitava a exercer cargos públicos, civis ou eclesiásticos, de alguma categoria, difundindo assim no tosco ambiente da Colônia nascente elementos de cultura. Entre elas tinham realce os Governadores-Gerais, os Governadores de partes do Brasil e os Vice-reis. Sem omitir aqueles dos Donatários das capitanias iniciais - todos nobres - , que chegaram a residir durante certo tempo nas respectivas terras. Na mente dos Reis, como de todo o povo português, o empenho missionário tinha grande importânciá. Dizia o Regimento de 17 de dezembro de 1548, dado a Tomé de Souza por el-Rei D. João III: "A principal coisa que me moveu a mandar povoar as dilas terras do Brasil foi para que a gente dela se convertesse à nossa santa Fé Católica". Assim é que a todos os primeiros
O conjunto desses fatores foi formando lentamente, e com orgânica espontaneidade, um escol de elementos diversificados entre si, uma elite - ou, se se preferir, a semente de uma elite -ainda tosca e rude na maior parte dos seus membros, como toscas e rudes eram as condições primeiras da existência neste continente de natureza exuberante e bravia. Faziam parte da camada mais alta os indivíduos que se haviam assinalado, pelos feitos de coragem militar, quer nas lutas (contra os índios, quer nas guerras de expulsão dos hereges estrangeiros - notadamente holandeses e franceses - que aqui vieram ter com propósitos simultaneamente mercantis e religiosos. Outros havia que se sobressaíam pela sua bravura em diferentes terrenos. Assim, pertenciam também a esta camada mais alta da sociedade aqueles que se notabilizavam na árdua tarefa de desbravar a imensidade inculta do nosso território. Passo a passo com o desenvolvimento populacional, desenrolavam-se também atividades de si pacíficas. Isto é, a agricultura e a pecuária iam ganhando espaço nas vastidões territoriais concedidas pelos Reis de Portugal. Respeitados pela própria natureza dos seus poderes, os funcionários encarregados da alta e média administração, foram tendo descendentes que se entrela-
Engenho Mataripe, no Município de São Francisco, Bahia
çavam indiscriminadamente pelo matrimônio. Sendo a aristocracia uma instituição de essência fundamentalmente familiar, a promoção social alcançada pelo indivíduo estendia-se ipso facto à sua esposa. E, como é natural, pertenciam ao mesmo escol também os filhos. Essa elite de tal maneira assumiu as características de uma aristocracia em formação, ou já formada, que passou a ser chamada correntemente de "Nobreza da terra", a qual foi, no período colonial brasileiro, o ápice da estrutura social. E seu núcleo inicial era, mais do que um núcleo de indivíduos, um núcleo de famílias. A nova colônia estava penetrada da justa convicção de que às elites cabe a propulsão e a escolha de rumos do progresso no País. Urgia, pois,_que essas elites se constituíssem de modo autêntico e vigoroso, para que vigorosa fosse a propulsão e sábia a escolha dos rumos. Os ciclos sócio-econômicos
A História sócio-econômica do Brasil divide-se em diversos ciclos: o do paubrasil, o ela cana-de-açúcar, o do ouro e das pedras preciosas e, por fim, o do café. Corresponde cada ciclo ao produto q·ue passou, em deternúnada época, a ser o "eixo" da economia nacional. Porém, o que mais profundamente os caracteriza não são os sistemas e técnicas de produ-
ção e de exploração da terra, nem as condições do meio ambiente onde se desenvolvem, mas sim os seus retlexos sociais. Três anos após o Descobrimento, teve inícjo a exploração, por intermédio de feitorias, do pau-brasil, árvore que se encontrava no litoral de nosso território e cuja madeira era particulanncnte procurada nos mercados europeus, pela tinta rubra que dele era possível obter. Tal exploração, feita sobretudo por silvícolas, que trabalhavam com machado e outras ferramentas fornecidas pelos contratadores, não gerou qualquer tipo especial de colonização. Assim, D. João III, preocupado com a defesa do Brasil, decidiu promover a colonização do mesmo, instalando o regime das Capitanias hereditárias. O Donatário, que gozava do título de Capitão e Governador, era um lugar-tenente do Rei. No princípio, foram doze as Capitanias. Iniciava-se assim, de modo sistemático, a ocupaç.ão e a colonização do solo brasileiro. No ciclo da cana-de-açúcar, o "plantio do canavial" e a "instalaçiío do engenho" constituíram a agricultura nascente, que fixava a gente à terra. Foi, portanto, no quadro feudal das Capitanias, que teve início o ciclo da cana-de-açúcar, e o aparecimento do senhor de Engenho. A isenção do imposto de entrada de açúcar no Reino fez progredir o plantio da cana e multiplicarem-se os engenhos, fornecendo aos poucos uma sólida riqueza, consolidando a colonização, e também configurando a organização social do Brasil de então, ao fonnar uma aristocracia rural. Constituíram os senhores de Engenho a grande força que se opôs às invasões dos holandeses, franceses e ingleses, i1úmigos da Fé e de el-Rei,e que, de outro lado, rebateu os ataques dos selvagens avessos à ação evangelizadora dos missionários. Colonizado o litoral, começou a conquista do sertão. Tem então início o ciclo do ouro e das pedras preciosas, o qual seria marcado a fundo pela ação dos Bandeirantes. Com estes delineava-se um novo traço da nossa aristocracia rural. Geralmente as penetrações desbravadoras de iniciativa da Coroa, representada aqui pelas autoridades locais, chamavam-se "Entradas", e as de iniciativa particular, "Bandeiras". Como a demonstrar, desde esses primórdios, a maior eficácia da iniciativa privada, o bandeirismo teve entre nós um raio de ação e riqueza de resultados muito maiores.
O bandeirante Antonio Raposo Tavares. Museu Paulista, São Paulo
É fora de dúvida que o fito de lucro era um dos elementos propulsores das Bandeiras. Porém, enganar-se-ia rotundamente quem supusesse que tal era sua única meta . Nem se pode afim1ar que era totalmente alheia aos desejos da maioria dos bandeirantes a expansão da Fé, pois ela foi resultado forçoso do desbravamento, e da fixação de populações batizadas nos territórios sobre os quais passava a exercer-se efetivamente a autoridade dos monarcas portugueses, os quais sempre fizeram de tal expansão um dos objetivos principais da epopéia das navegações, e com os mesmos olhos consideravam as "Entradas" e as "Bandeiras". Em próximo artigo, dando seqüência ao tema, apresentaremos o desenvolvimento das elites no Brasil Império e no Brasil República. CARLOS SODRÉ lAN NA
BIBLIOGRAFIA Plínio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas, nas alocuções de Pio XII oo Pairiciado e à Nobreza romana. Livraria Editora Civilização, Porto, 1993, 328 pp.
os hereges de sua época tiveram de enfrentar. De tal maneira suas obras de apologética eram eficazes e obtinham incontáveis conversões, que Isabel I, rainha protestante da Inglaterra, proibiu que as estudassem todos os que não fossem doutores em Teologia.
HAGIOGRAFIA
Mestre das controvérsias
Nascido em Montepulciano, na Toscana (Itália), a 4 de outubro de 1542, ingressou São Roberto Belarmino na Companhia de Jesus aos 18 anos. Pregador emérito aos 21 e aos 27 anos, foi professor de Teologia na Universidade de Louvain, na Bélgica, para onde o enviara o Geral da Companhia, São Francisco de Borgia, em 1569, como Pregador contra o protestantismo nos Países Baixos. O futuro Doutor da Igreja foi logo depois e durante doze anos, encarregado de reger, no Colégio Romano, a recém-criada cátedra de Controvérsias. Obrigado pelo seu superior a escreiante das investidas dos protestantes, a Igreja Católica nunca pennaneceu indiferente, nem resignada. Ela não se encerrou no bastião dos dogmas e dos cânones disciplinares do Concílio de Trento. A Igreja se nos afigura, nesse contexto histórico, como uma praça sitiada. Teólogos e exegetas se esmeram em refutar os erros protestantes. No plano das idéias, como no das armas, a contra-ofensiva da ortodoxia católica foi vigorosamente conduzida. Os protestantes começavam a utilizar a imprensa: múltiplas edições de suas obras ajudavamnos a difundir bastante os seus erros. Seus panfletos e tratados circulavam por toda parte, causando grande prejuízo às almas. No momento em que o Concílio de Trento encerrava seus trabalhos, dispunham eles de uma espécie de suma anticatólica monumental, chamada As Centúrias de Magdeburgo, cujo autor, Flacius Illyricus, expondo o conjunto das doutrinas luteranas, pretendia explicar a história
Breve cronologia 4 de outubro de 1542 - nascimen1o em Montepulciano, na Toscana (Itália). 1558 - Pede ao Pe. Laínez, superior dos jesuítas, para ingressar na Companhia de Jesus. 21 de setembro de 1560-1ngresso na Companhia de Jesus. 1569 - O geral da Companhia, São Francisco de Borgia, envia-o para a Universidade de Louvain, na Bélgica, como pregador contra os erros protes1antes nos Países Baixos. 25 de março de 1570- Ordenação sacerdotal. 1575a 1588-Catedrático da Cátedra das Controvérsias, no Colégio Romano. 1589 - Enviado a Paris como teólogo do legado pontifício, Cardeal Gae1ano. 1590 - É nomeado diretor espiritual do Colégio Romano . 21 de junho de 1591 - Como dire1or espiritual, assiste no lei1o de morte a São Luiz Gonzaga. 1592 - Na qualidade de Rei1or do Colégio Romano, assiste à V Congregação Geral da Companhia, onde propõe, com aceitação unânime, a adoção em seus cursos da Teologia de Santo Tomás de Aquino . 1595-É nomeado Provincial da Companhia, em Nápoles. 1597 - Por indicação do Cardeal Baronia, discípulo de São Felipe Neri, é nomeado teólogo do Papa Clemente VIII; consultor do San1o Ofício e examinador dos Bispos. 3 de março de 1599- Clemente VI li cria-o Cardeal de Santa Praxedes. 21 de abril de 1602 - O Papa Clemente Vl li sagra-o Bispo e o nomeia Arcebispo de Cápua. 17 de setembro de 1621 - falecimen1o em Roma. 29 de junho de 1930-Canonizado por Pio XI. 17 de setembro de 1931 - Dedarado Doutor da Igreja.
do mundo pelo jogo infernal do Anticristo, isto é, o Papa! Essa péssima literatura encontrou imitadores. No Catálogo dos Testemunhos da Verdade, por exemplo, lia-se que em certos conventos de freiras tinha-se encontrado seis mil cabeças de crianças imoladas! Na obra Stupenda Jesuitica, os membros da Companhia de Jesus eram todos apresentados como assassinos profissionais entregues a uma vida debochada. Não era possível deixar sem resposta todas essas obras. Defensor da Fé
Dentre os numerosos santos suscitados pela Providência, no século XVI, para promoverem a verdadeira reforma religiosa na Europa e combaterem a pseudoreforma protestante, São Roberto Belarmino, cuja festa a Igreja celebra a 17 de setembro, surge como um prodígio da natureza e da graça . Escritor fecundo, convincente, polemista invicto, o grande jesuíta foi o mais terrível adversário que, no campo doutrinário,
ver suas aulas, o fruto de seu magistério nesse período resultou nas famosas "Controvérsias", obra na qual o combativo jesuíta ofereceu à Santa Igreja um arsenal contra todas as heresias nascentes. Esse enorme Tratado latino, logo traduzido em diversas Lmguas, com uma objetividade excepcional expunha, ponto por ponto, as doutrinas de Lutero, Calvino e outros heresiarcas, opondolhes a verdadeira doutrina católica. Consistia ele em um autêntico arsenal doutrinário, depositado nas mãos dos pregadores e professores, a fim de que eles pudessem servir-se dos melhores argumentos para refutaras asserções e as teses dos adversários da Fé Insigne pastor de almas
Diretor espiritual do Colégio Romano, do qual veio a ser Reitor, orientou um célebre noviço: o futuro São Luiz Gonzaga. Manteve também regular correspondência com o famoso Bispo de Genebra, São Francisco de Sales,
que se tomaria mais tarde também insigne Doutor da Igreja. São Roberto foi encarregado pelos Papas de empreender diversas missões diplomáticas delicadas, nas quais sempre defendeu, de modo exímio, a ortodoxia e o Primado de Pedro. Cardeal em 1599 e Arcebispo de Cápua em 1602, ingressou depois o já famoso Purpurado na Corte Pontifícia, onde participou de diversas Congregações, como a do Santo Ofício, a da Propagação da Fé - que juntamente comJeande Vendeville, teve a idéia de sugerir a criação - , a do Index, a dos Ritos etc. Em Cápua, o Santo deu provas de excelentes qualidades pastorais, na pregação, no ensino do Catecismo, nas relações com o seu Clero, para o qual escreveu, em 1604, uma esplêndida "Explicação do Credo". Suas obras, especialmente as "Controvérsias", alcançaram repercussão universal e ocasionaram inúmeras conversões. Escreveu também um catecismo para tomar acessível ao povo o
AS TRÊS CONTROVÉRSIAS 1606-1607 - A controvérsia veneziana resultava do ódio anti-romano de Paulo Sarpi. Seus erros, bem como o dos hereges venezianos seus sequazes, foram rebatidos por São Roberto Belarmino. 1607- 1609 - A controvérsia angljcana foi suscitada pelo juramento anti-papal imposto em 5 de julho de 1606 pelo rei Jaime I, da Inglaterra, aos seus súditos católicos. No dia 22 de setembro, o Papa declarou ilícito t_al ato. Mas o arcipreste Blackwell recusou-se a publicar o breve pontifício. O monarca voltou a intervir polemicamente no assunto. Em 1608 fez ele circular uma obra anônima à qual São Roberto Belannino respondeu sob o pseudônimo de Matteo Torti. Ao que Jaime I treplicou, fazendo uma apologia do direito divino do rei. O Santo e mais dois cardeais romanos rebateram-na, encerrando definitivamente a polêmica. 1610-1613-A controvérsia galicana originou-se com a publicação póstuma e anônima da obra do jurista católico
Guilherme Barclay: De potestate papae (O poder do Papa Londres, 1609), na qual o autor propugnava a absoluta independência do poder civil em relação ao eclesiástico, negando qualquer poder, mesmo iRdireto, do Romano Pontífice em assuntos temporais. Na sua tirada anti-papal, Barclay atacava particularmente a obra De Romano Pontífice, de São Roberto Belarmino. O Cardeal refutou magistralmente a obra do extinto jurista, fornecendo novos esclarecimentos sobre a doutrina do poder indireto, considerados a melhor expressão do pensamento católico sobre a matéria. A obra de São Roberto Belarmino, apresentada no Parlamento de Paris, foi proibida em 10 de novembro de 1610. A oportuna e enérgica i-ntervenção do Papa Paulo V e uma carta do Santo à regente Maria de Medieis lograram fazer suspender a proibição. Foto: Conc11io de Trento -detalhe de pintura atribuída a Ticiano (Séc. XVI)
Ardente defensor dos direitos da Santa Sé
Polemista combativo e incansável, suas obras apologéticas ultrapassam os limites da natureza humana e não se explicam sem um grande e contínuo auxílio sobrenatural. Para falar só de uma - as já citadas Controvérsias - , d iziam muitos protestantes não constituir ela trabalho de um só homem mas de todos os jesuítas, sob o pseudôiúmo de "Belarmino". Os sennões e as aulas do santo eram avida mente anotados pelos estudantes, que os faziam publicar, sendo depois esta São Luiz Gonzaga aos 17 anos de idade produção intelectual dis- Pintura de autor desconhecido, putada até em países procapela de São Luiz, Colégio Romano, Roma. testantes, como a O patrono da juventude foi assistido no leüo de Inglaterra, Alemanha e morte por São Roberto Belarmino Holanda. Defensor zeloso da conhecimento das verdades essenciais Santa Sé, São Roberto Belarmino susde nossa Fé. Essa obra, somente durantentou polêmica com a República de te a vida do Santo, foi traduzida para 40 Veneza [ver quadro], em defesa do idiomas. Papa. Refutou também um livro de Jai-
me I, no qual o monarca inglês procurava justificar um juramento de fidelidade de seus súditos, contrário à autoridade pontifícia [ver quadro na página 23]. Estando a Uníveis.idade da Sorbonne, na França, eivada de galicanos, isto é de pessoas que sobrepunham os interesses da França aos da Igreja e da Santa Sé, publicou aquela instituição de ensino uma obra de Guilhenne Baclay, repleta de idéias propugnando autonomias religiosas em relação a Roma. A pedido do Papa, São Roberto Belannino refutou tal livro com tanta erudição e lógica, que o trabalho do santo foi considerado seu mais valioso escrito, após as Controvérsias [ver quadro na página 23]. São Roberto Belarmino faleceu em 1621, aos 79 anos de idade. Entretanto, por razões várias (*), só foi beatificado em 1923 e canonizado em 1930, sendo um ano depois, declarado Doutor da Igreja. LUIZ CARLOSAzEVEDO (•) T id o como santo já em vida, a causa de beatificação de São Robe rto Belarmino teve início no ano seguinte à sua morte, mas não se concluiu senão em 1923. O enorme atraso se deveu a uma série de circunstâncias históricas, entre as quais a animos id ade da Corte galicana e o não breve período da supressão da Compa nhia de jesus. A heroicid ade das suas virtudes foi proclamada por Bento XV em julho de 1920.
CATOLICISMO Preços durante o mês de SETEMBRO de 1993 :
Bebidas nacionais e estrangeiras Queijos e doces tipo eu ropeu. Arenkes eSalmons
ASS INATURA ANUAL
*
COMUM: Cr$ 2.250,00
CASA ZILANNA
COOPERADOR: Cr$ 3.000,00
MERC EARIA
BENFEITOR: Cr$ 5.000,00 GRANDE BENFE ITOR: Cr$ 10.000,00 EXEMPLAR AVULSO: Cr$ 200,00
PROFESSIONAL CENTER ODONTOLOGIA
ORA LUC/A HELENA CRAVERO Rua ltambé, 506 - Higienópoli s São Paulo - Fone 257-8671
ORTODONTIA CRO: 40.304
ORA ANA LUIZA CRAVERO
Advocacia civil, trabalhista e empresarial
SERG/0 ]. 1-1/RANO ALFAIATE
Largo 7 de Setembro, 52 - 2º And . S/ 204 Liberdade - São Paulo - SP Próximo ao Forum João Mendes Tels. : 36-9298-Res.: 278-1212 Condiçées especiais para sócios, cooperadores e correspondentes da TFP
ENDODONTISTA CRO: 28.405
DR. GERSON S/-1/GUEMORI ADVOGADO
Rua 24 de Maio, 188 - 2~ sobreloja, sala 226 Fones: 223-3180 e 220-5901
Rua Sergipe, 401 - Cj. 703 - Higienópolis Tel/Fax: 259-8458
Condiçées especiais para sócios, cooperadores e correspondentes da TFP
- *-
Av. Cangaiba, 1411 - Penha Fones: 295-8779 / 941-3033
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando
Mundo moderno: o que achar dele? O mundo moderno, da mesma forma que tentou sacudir o suave jugo de Deus, repudiou simultaneamente a ordem por Ele estabelecida e, com a mesma soberba do anjo rebelde, no princípio da criação, pretendeu instituir outra a seu arbítrio. Após quase dois séculos de tristes experiências e extravios, todos os que têm ainda mente e coração retos confessam que semelhantes disposições e imposições - as quais têm nome mas não substância de ordem - não deram os resultados prometidos nem corresponderam às naturais aspirações do homem (Radiomensagem do Natal de 1949, Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, nº 28).
PIO XII
Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO
Tudo ao lado do Metrô Santa. Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
- ~ LooôPMACE __ Rua das Palmeiras, 78-Tel. 1011) 220-0422 - CEP'0l226 TELEX 1123208 - FAX 1011) 220-9955 ODG I0ll) 800-8272 Siio Paulo
-X -
' Ao 1
Lord Palace Hotel: Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços . Nome : . End. : .
1
CEP: ....................... Cidade: .......................................................................... UF:
ESC\\
Assessoria Contábil &Tributária S/C Lida. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS Edivaldo José Ciryllo Rangel
Shoppings • Jardins Centro
ltaim
A manhã da vida é como a manhã do dia, cheia de pureza, de imagens e de harmonia
Rua Julio de Castilhos, 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - 292-6052 - 92-0654 - Telefax: 264-7068
FRANÇOIS RENÉ DE CHATEAUBRIAND
Um homem pode considerar-se velho no dia em que tiver apenas saudades, em lugar de sonhos
Comércio de Carnes
JOHN BARRYMOORE
Norton
O gênio não é senão a infância claramente formulada, agora dotada, para se exprimir, de órgãos viris e possantes
Atacadista de carnes em geral
De toda a experiência humana, a nostalgia da inocência e da pureza dos tempos de infância é uma das ma.is duradouras
BAUDELAIRE
ALEX PERISCINOTO
R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (011) 2.06-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
-
A posição da alma em estado de inocência em que a alma por assim dizer, saiu das mãos de Deus é quase a inocência da mão do Criador! PLINIO CORR~ DE OLIVEIRA
---
---------
•
---------
Construtora
AD OLPHO LINDENBE
-------
---
RG S/A
_
,_ São Paul o Fo ne: _) 6 0 4 11
tudo com a
----
-----g~ ---
_6º e 7° andar Rua Ge ni:;_ra\ Jard1rn . 7 0 3
--
-- ---------------assin@ura
Talento Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Segurança_ . Soluções origma1s Harmonia Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe Acabamento pe_rso?alizado Local privilegiado Sucesso
ntia desta
-
A juventude não é um estado. Ela é 1:1-ma amplificação do valor de todas as coisas, ela dá realidade à vida. E a velhice é uma diminuição do valor de todas as coisas, mesmo da mais mínima ZOFIA NALKOWSKA
ALUCINAÇÃO ELETRÔNICA Na aparência, um brinquedo inofensivo: uma espécie de capacete equipado de visor tridimensional e de eletrodos conectados à cabeça, que produzem fortes emoções no cérebro. Os especialistas dizem que será o "LSD [ácido lisérgico] do futuro", mas sem os efeitos maléficos para a saúde. Trata-se da "realidade virtual" ou "ciber-espaço", a mais recente mania que vem conquistando jovens e adultos na Europa e nos Estados Unidos. Se a realidade não agrada, foge-se de la, imergindo-se um mundo de alucinações eletrônicas. Como serão as gerações futuras, saturadas da vida real e loucas por "emoções virtuais"? Julgue o leitor. ..
Jesu .Christi Vicario
lnfallibili
EMBLANTE grave e paternal, olhar penetrante que revela vigilância e dedicação, Pio IX (1846-78), então Supremo Pastor da Santa Igreja, ergue-se majestoso para abençoar a multidão de fiéis reunidos na Basílica de São Pedro. Além de faustosos paramentos, o Soberano Pontífice utiliza nesta solene ocasião a tiara papal, espécie de mitra composta de três coroas superpostas. Não se trata propriamente de um ornamento litúrgico, mas de um símbolo da suprema dignidade do Papa, indicativo de seu tríplice poder: espiritual sobre as almas, temporal sobre os antigos Estados Pontifícios e indireto sobre os reis da terra. Por isso, na Idade Média, era conhecida pela expressão Triregnum.
No século passado, após a solene definição do dogma , , da infalibilidade pontifícia, os católicos da Bélgica presentearam Pio IX com a tiara que nesta página aparece em todo o seu esplendor. Jóia de valor inestimável, finamente trabalhada em ouro e pedras preciosas, nela foi inscrita a seguinte dedicatória: Jesu Christi Vicario Infallibili (ao Infalível Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo); <· Orbis supremo in terra rectori (ao Supremo Governador do mundo na terra);
RegumAtque Populorum Patri (ao Pai das Nações e dos Reis). Embora atualmente em desuso nas solenidades do Vaticano, a tiara papal, muito mais do que nos museus, permanece no coração dos fiéis como símbolo eloqüente da suprema dignidade pontifícia. Juntamente com as chaves, ela evoca as palavras divinas que instituíram o primado de São Pedro: "Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam"... (Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja). • .
-.
'
CATOLICISMO 42 anos de luta, na fi delidade doutrinária
Discernindo, distinguindo, classificando...
Tradição, Cozinha e Café
Assestando o Foco
N
Tomando um café de qualidade, feito numa cozinha de estilo tradiciona~ poderemos estar construindo o futuro
D
urante a última
matizados. Entre estes, encontram-se grãos de prigrande feira de meira qualidade, com sadesign (projetos) de cozibores de menta, chocolate nha - rea~izada em Milão, com trufas, baunilha, aveos admiradores da moderlã, conhaque, canela, lanidade a qualquer preço ranja e outros. tiveram uma decepção Quando o Prof. Plinio não pequena. Corrêa de Oliveir,1 escreA cozinha dos anos 90 veu um artigo - "Refle- noticia a revista Veja xões cm tomo de um café" está muito mais próxima (Folha de S. Paulo, 20-6do clima aconchegante, 79) - para e logiar os cafés dos aromas e humores fade qua lidade no Brasil, só miliares das cozinhas das encontrou parn citar uma avós do que da frieza ascasa cm Londrina. Porém, séptica e dos espaços fimseu bom gosto pa rcce ter cionais, que proliferaram feito escola num setor da As coz inhas clinicas e frias estão saindo de moda durante a década de 80. população. ll oje, "a procuVai ficando para trás a ra cresce de 0% ao ano", E a arquiteta italiana Ga e Aulenti infonna a Flavor Con1pa11y, pio neira idéia de que a funcionalidade é inimiexclama: "Finalmente deixamos para ga do pitoresco. Parece estar chegandos cafés-gourmets cm São Paulo. do ao fim a culinária produzida em tras os anos 80". Os frutos da moder"'"'"' nidade neopagã, em uma década já O retomo às cozinhas d cslilo ambientes CÍrúrgicos: "cozinhas imficam fora de moda. trndicioual e a expansão dos cafés de pecavelmente brancas, modelos de *** funcionalidade absoluta, combinaqualidade - diversos outros exemNão só as cozinhas mas também da com aproveitamento máximo de plos e poderiam ainda aduiir - inos ca fés . Os valores da tradição e do dicam a persistência, nas almas de espaço", pecando entre tanto pela bom gosto vão fazendo seu caminho, muitos de nossos contempon1ucos, de frieza. à medida que cresce o número de valores autênlrco ' que não se deixa· O cons umidor contemporâ neo pessoas fartas do ambiente deprimenmm arrastar pela atual correnteza de "começa a redescobrir o conforto e o te do mundo moderno. horrores. pra zer proporcionado pelas v elhas Atualmente, quem estiver andanMais ainda, tais valores da.tradicozinhas". Nada de "laboratório dedo pela capita l pau lista e quiser tmuar ção e do bom gosto não só resistem, dicado à produção em série de alium café, não está mais obrigado a mas caminham até em direção oposta mentos". Reaparecem as mesas de sorver aquele líquido marrom escuro, à da correnteza. E aquilo que é capa z madeira (é um alívi~ desfazer-se das requentado e scivido num vulgar de afirmar-se contra uma força tão de fórmica ...), os armá rios rústicos, copi nho de cachaça, pouco limpo. avassaladora; pode ter um futu ro b rias paredes de tijolos aparentes e as Um leq ue de opções vai aparecenlhante diante de si. cores quentes. do. Servem-se bons cafés não só nos É esta, bem o sei, uma visão de um O desenhista Antonio C itte rio aspecto da rea lidade atual muito dif projetou para a fábrica italiana Are quiosques de alguns shopping cenLinea uma cozinha típica dessa nova ters, como também vão-se espa- rente daquela que nos procu m i11 ·ui lliando redes especializadas como a car a mídia. Mas a mídia... essa fa z tendência, aliando o prático ao aconTrans Café, além de cafeterias que parte da correnteza. chego. Já para o designer francês suigem de cá e de acolá. Rcnô Bonzon, radicado no Brasil, "a Pode-se tomar ou levar para casa cozinha clínica acabou com a poesia .A. cremosos cappucinos o u ca fés arodo convívio fumiliar''.
Eurocucina - a
•
1
t 1
as opiniões sobre o nosso tempo, há um ponto a respeito do qual praticamente todos estão de acordo: a confusão é uma de suas características salientes. De tal maneira que se chegou a afirmar, pitorescamente: "Se alguém não está confuso, é porque está mal informado" ... Confusão de idéias, confusão de pátrias, confusão de sexos, confusão de idades, confusão de moedas. Confusão nos desejos, nos rumos e nos resultados. Confusão entre o bem e o mal, a verdade e o erro, a inocência e o crime, o belo e o horroroso. Por isso não admira que também o Poder Judiciário - por definição baluarte da resistência contra o caos venha a experimentar nestes dias a sedução envolvente da confusão, sob o
assalto do chamado "direito alternativo", ou "insurgente". Trata-se de uma corrente de juízes para os quais verdadeiro Direito é o que nasce da luta de classes. O Direito que está nas Leis não tem plena legitinúdade. Não podendo ser abolido da noite para o dia, deve ir sendo roído e carcomido aos poucos, pelo outro "direito", o dos "oprimidos". Ou seja, o "direito alternativo". Para dar ao leitor uma idéia mais precisa do que se trata, convém empregar uma imagem ao gosto popular. Seria como uma partida de futebol, em que o juiz aplicasse alternadamente regras de jogo diversas. Haveria ordem e boas condições para um jogo razoável? Ou se teria a confusão, o vale-tudo e, por fim, a violência?
Na realidade concreta: coexistiriam, por exemplo, o direito do dono da terra (que está na Lei), e o do sem-terra que a invadiu . São dois direitos (dizem). O último, é o "alternativo". Se o dono bater às portas da Justiça, poderá ter ganho de causa ou não, conforme o juiz para o qual seu processo for distribuído. A quem aproveitaria o caos que daí nasceria? Que já está nascendo? É uma pergunta. Resistindo a mais essa investida das esquerdas, Catolicismo procurou ouvir o conceituado mestre Celso Bastos a respeito do chamado "direito alternativo". E, mediante artigo gerado em seu corpo de colaboradores, toma posição firme na polêmica, com base na doutrina social católica.
1 Índice Catolicismo é. urna publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda.
Discernindo Tradi~ão, cozi nha e café A realidade concisamente
1
2
Privatiza~fio: em câmara ráeida .. . e lenta Destaque Itamar desaeroeria 37 fazendas Direito
5
Dois vizinhos, dois guintais, dois juízes História Maria Antonieta, vítima simbólica do ódio revolucionário Caderno Especial Nossa Senhora da Graça: devoção mariana dos erimórdios da nacionalidade
6
1
'1 ,,
i' t
Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o N213748 Redação • Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 • São Paulo, SP Tel: (011) 824.9411
11
Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro
13
Fotolitos: Microformas Foi:JJijos Ltda. RuaJavaés, 681 -01130-010 São Paulo - SP
Entrevista "Ma9istrados demolem a ordem estabelecida" TFPsemação Renomado canonista elogia obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira Escrevem os leitores
Diretor: Paulo Comla de Brito Filho
17 21
Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. RuaJavaés, 681 - 01130-010 São Paulo • SP
Revolu!ião e Contra-Revolu!ião Devoção mariana Padroeira da Argentina: Imagem bem brasileira Em painel
22
Acorrespondência reláiva à assinalu'ae vendaav~ podesererwiada
23
naturas. Endereço: RuaJaguaribe, 648 Conj. 02 • CEP 01224-000 - São Pauo -SP • Fone: (011) 00-3361
Frases e imagens
27
Nossa capa: Foto
ao Setor de Propulsão de Assi-
ISSN - 0008-8528
e. Sakl CATOLICISMÇ), OUTUBRO
Privatização: em câmara rápida... e lenta
,.
Criada em 1990, com a finalidade de extinguir ou desestatizar 28 mil empresas (8 mil indústrias) da extinta República Democrática Alemã (Alemanha comu-
''dades inerentes a tal processo, conduzido de forma rápida e maciça - especialmente as de ordem moral e psicológica: a preguiça gerada por quatro décadas de um regime marxista - o êxito é incontestável. Enquanto isso, nosso Programa de Desestatização, no mesmo período, privatizou apenas 20 empresas! Insetos desamparados ...
Maquinária obsoleta de uma fundição na Alemanha oomunista: a grande maioria das empresas estalais da antiga República Democrática Alemã foi extinta
nista), a agência Treuhandanstalt p r a t i c a m e n te encerrou seus trabalhos, registrando o excepcional índice de quase três privatizações por dia, o que possibilitou a arrecadação de aproximadamente 30 milhões de dólares. Não obstante as dificul-
Ecologistas da Baviera concluíram que luminosidade também é poluição, de acordo com o "Globo" de 11-7-93. E conseguiram que o governo da cidade de Garmisch-Patenkirchen, perto dos Alpes, proíba qualquer tipo de letreiro luminoso nas montanhas - o que se compreenderia para preservar a paisagem. Nem mesmo as luzes de sinalização para o teleférico serão permitidas. Mas o motivo da proibição é outro: milhares de insetos morrem "em acidentes" de vôo, desorientados pelas luzes na montanha... Para a "ecologia radical", a vida de todo o inseto é um dom precioso!
Apenas um registro
Imaginar que a queda do comunismo no Leste europeu pôs fin à antiga "nomenklatura", conduz a enganos. Em alguns casos, membros dela foram disseminados em postos estratégicos. Muitos dos agentes da Stasí, a temida polícia secreta da antiga Alemanha comunista, não terminaram na cadeia, segundo noticia o "Globo", em sua edição de 9-8-93. Uma investigação oficial feita recentemente no aeroporto de Munique - note-se, parte da antiga Alemanha Ocidental -, um dos maiores do país, mostrou que mais de 50% dos funcionários da área de segurança vieram da Stasí. Radicalismo
"Cada vez mais freqüentadores de fim-de-sem an a estão recusando despir-se. Tal comportamento é muito ofensivo aos genuínos nudistas". O autor de tais palavras é o prefeito de Cap d'Agde, França, Gerard Paillou, ao apresentar a patrulha de praia, incumbida de obrigar os recalcitrantes banhistas vestidos a se despirem, infor-
ma "Newsweek", de 23-893. Tal prática configura uma perseguição radical a qualquer resquício de decência. O suicídio em marcha
Até a década de 70, as tentativas de suicídio na infância sequer faziam parte da literatura médica. No início dos anos 80, os casos começaram a surgir e continuam a aumentar. De acordo com o psiquiatra Gauderer, o suicídio já é a segunda causa de mortes dos jovens entre 15 a 24 anos, no Rio. Na França, o crescente número de suicídios no país - mais de 11 mil mortes e 120 mil tentativas em um ano - fez com que o Conselho Econômico e Social, pela primeira vez em 50 anos de existência, colocasse o tema em sua pauta de discussões, ao lado de outros grandes problemas nacionais, como a crise econômica, o desemprego e o Tratado de Maastricht. O suicídio é hoje a segunda causa de morte não natural entre jovens e a primeira entre os idosos. O suicídio mata mais do que acidentes de trânsito na França ("O Globo", 8-8-93).
Na Alemanha: os 32 anos do Muro Em agosto, por ocasião do 322 aniversário do início da construção do Muro, que dividiu a cidade de Berlim até 1989, o prefeito Eberhard Diepgen propôs, muito acertadamente, a construção de um monumento permanente em homenagem às pessoas que foram assassinadas pela polícia na Alemanha Oriental, quando tentavam pular o Muro de Berlim para fugir com destino ao Ocidente. Destoante do clima festivo que marcou o evento, havia um grupelho de comunistas - 12 pessoas ao todo - que procurou perturbar as cerimônias, pedindo a volta do muro. Em 16 de agosto de 1961, três dias após o começo do bloqueio de Berlim Oriental efetuado pelo Gowr,,o ,ia Alemanha comunista, os obstáculos eram, qm sua maior parte, cercas de arame. Em poucos dl<1s, 1.500 bflt'lúw,,w• orientais aproveitaram a oportunldt1du para lra,1.o;J,/J./,u " fugir para o Ocidente
•
~
4
1
~ff,.
,1 :;, í ~ •
t
CATOLICISMO, OUTUBRO 1995
BRADO DEALERTA-Aatuante entidade "O AMANHÃ DE NOSSOS FILHOS" está divulgando um denso fascículo sobre os efeitos da televisão no aproveitamento escolar. Citando especialistas famosos, o opúsculo, de 32 páginas, demonstra que a TV deforma a mente das crianças e dos jovens. Para receber o opúsculo, basta escrever ou telefonar para a Rua Maranhão, 620 - sala 13 - 01240-000 - São Paulo (SP) - tel. (011) 66-9187. FLORESTA AMAZÔNICA - O cientista da NASA, David Skole, afirmou que a floresta amazônica está sendo desmatada num ritmo muito mais lento do que o propalado. Baseando-se em imagens transmitidas por satélites, declarou o cientista:
"As estimativas feitas nos últimos cinco anos têm sido muito altas, quatro vezes superiores, no caso daAmazônia ".
ROCK PREJUDICA FETO - Pilar Vizcano, organizadora do I Congresso Mundial sobre Pré-Natal, realizado recentemente em Granada (Espanha), afirmou: "O rock prejudica o feto, enq_uanto a música clássica beneficia o seu desenvolvimento". Pilar apresentou estudos mostrando que o rock favorece a ocorrência de aborto. "Está provado -declarouque o feto ouve a partir do sexto mês de gestação; os estados emocionais da mãe são transmitidos ao futuro bebê". AIDS NAS PRISÕES - O "Jornal
do Advogado", de São Paulo, noticia que nas prisões brasileiras há 52 mil portadores de AIDS. Como se sabe, o pecado de homossexualismo - muito generalizado nos cárceres - é a principal causa de transmissão da doença.
ASQUEROSO - Abandonando o bem, o verdadeiro e o belo, muitas pessoas chegam a admirar o repelente. Segundo a revista "Veja", está sendo vendido um nariz de plástico que, acionado por uma pequena alavanca, expele um viscoso líquido esverdeado, com sabor de menta. A revista, que qualifica o "brinquedo" como "suprema sofisticação do mercado das delícias asquerosas", esclarece ser ele um dos preferidos pelas crianças.
DESTA.O.~ Itamar desapropria 37fazendas De hora em hora aumenta o número dos que exigem do Governo informações sobre o desmantelamento da agropecuária do País, que vem sendo levado a cabo. Começou a ciranda de desapropriações da Reforma Agrária. O presidente Itamar Franco autorizou por decreto a desapropriação de 37 fazendas. É um total de 288529 hectares, distribuídos por dez Estados: Acre, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Santa Catarina ("Diário Oficial", 18 e 20-8-93). A assinatura desses decretos foi aconselhada ao presidente da República pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar, presidido pelo bispo D. Mauro Morclli, conhecido ativista da esquerda católica ("Jornal do Brasil", 19-8-93). Por outro lado, três deputados do PT -ValdirGanz.er(PA), WladimirPalmeira (RJ) e Jacques Wagner (BA) - entraram com um pedido de linúnar na Justiça Federal para suspender o resgate dos 12,310 milhões de Títulos da Dívida Agrária (TDAs) emitidos desde 1988. E também para suspender seu uso nos leilões de privatização. Pela atual legislação, o fazendeiro
está sujeito a receber IDAs pelas suas terras desapropriadas. Chamada "moeda podre", a IDA não é paga desde 1988, nem é aceita no comércio. Vinha sendo recebida nos leilões de privatização. O resgat.e das IDAs já vencidas e não pagas equivale a 700 milhões de dólares ("Folha de S. Paulo", 29-7-93). Ora, no caso de alguma desapropriação se tomar realmente necessária, a inderuz.ação paga pelo Estado ao proprietário deveria ser prévia, justa e em dinheiro. É o que garantia a Constituição brasileira até 1964, de acordo aliás com a doutrina católica e a lei natural.
propriedades pelo Brasil. Numa impurudade espantosa! Aonde nos levará tudo isto? Reeditaremos em nossa Pátria aquela mesma situação caótica e de miséria generalizada que foi imposta à Rússia soviética? E na qual até hoje ela se debate sem con.5eguir sair? Se o Brasil não acordar, é para lá que caminhamos.
O pagamento em títulos desvalorizados, e que ademais não se resgatam, é uma injustiça e equivale a um confisco. Enquanto isso, multiplicam-se os fracassos dos assentamentos de Reforma Agrária. O campo brasileiro vai sendo transfonnado numa favt la rural. É o Brasil todo que perde com a Reforma Agrária. Catolicismo e a TFP têm alertado para esse fato numerosas vez.es, documentadament.e. Além disso, num jogo bem estudado para apressar a Reforma Agrária, a esquerda católica e o Movimento Sem Terra continuam dissenúnando invasões de
Faveia rural no Assentamento Gleba XV de Novembro do Pontal paulista: as desapropriaçõe: da Reforma Agrária conduzirão o campo brasileir a essa miserável situ~ão
DIREITO
i,r
~
...
Dois vizinhos, dois quintais edois juízes Os conceitos-estridentes, desintegradores e destrutivos do "direito alternativo" colidem com a Doutrina Social Católica
D
''
'MAGISTRADO TRADIGONAL (trajes e postura rigorosamente conformes ao original fotográfico)
ois vizi~os ?i~utem a div_isa entre seus 1move1s. Pouco importando se se trata de hectares, metros ou centímetros, conflitos desses dão entrada todos os dias na Justiça. Vamos imaginar que o caso ocorra numa cidade do interior, ou então na Justiça distrital de alguma grande cidade. O assunto sobe ao Fórum. No Fórum, duas varas. Nas varas, dois juízes. Aqui, exatamente, começa meu tema: o chamado "direito alternativo", ou "insurgente". Pois o ambiente do Fórum, tão calmo,.tão compassado, parece momentaneamente tumultuado. É que o juiz de uma das varas, da corrente "alternativa"... vem entrando. Como ele se apresenta? Não vou inventar nada, mas passar a palavra a um repórter: "A maioria .... se veste no estilo yuppieinformal. Um ou outro preside audiências usando tênis de griffe. A gravata não é obrigatória, a toga merece repúdio generalizado. 'O ritual sisudo afasta o juiz das partes', diz Amilton [Bueno de C.arvalho]. Agora, querem botar abaixo o último bastião que os torna semelhantes aos demais juízes: a mesa mais alta. 'Nós queremos serrar os pés, para ficar na mesma altura das pessoas', diz o juiz Márcio Puggina" 1 • Ele toma seu lugar, dizendo alguns palavrões. Também aqui não estou fantasiando. Eu o estou descrevendo de acordo com a teoria "alternativa", para a qual "o que nós queremos é ser uma pessoa só, que diz palavrão e que julga" 2• O súnbolo da Justiça tradicional, com aquela balança, foi banido da sala, pois, também segundo tal corrente, "a balança [da Justiça] tem que ser desequilibrada" 3 • Logo depois, chega o outro juiz, que é do estilo tradicional. E portanto sério, reservado, respeitoso para com as partes. Mas também exigente em matéria de respeito. Sem palavras ou atitudes inúteis, através das quais filtrem suas opiniões a respeito das demandas.Procura ser imparcial e cumprir a legislação. Fica fora da política local. Sua conduta faz lembrar a Lei complemen-
tar nº 35(79, segundo a qual os magistrados devem "manter conduta irrepreensível na vida pública e particular". Traja paletó e gravata. Não vejo, na média dos juízes, requinte especial no modo de trajar mas, também não, relaxamento. Nos tribunais, portam a toga. Talvez, por dentro - é a miséria das coisas humanas! -ele não seja lá tão culto, nem mesmo tão imparcial quanto sua aparência faz supor. Mas talvez o seja até mais do que ostenta. Se seu interior for coerente com os traços externos, ele será culto e imparcial em nível razoável. "O hábito não faz o monge". Mas, quando o monge é bom, ajuda ... Conheço o caso de testemunhas que tinham combinado dizer tais e tais roisas, não exatamente verdadeiras, em uma audiência. Na "hora H", sentados perante o sisudo magistrado, se entreolharam. Intimidadas pelo aparato grave da Justiça, resolveram dizer a verdade. Quantos outros episódios não haverá assim? Muito se fala da "função social da propriedade". Por que não falar em "função social" dessa espécie de sisudez dos juízes? Incoerência coerente. O juiz tradicional encarna o respeito à Lei e às formas. Parece ter presente a famosa frase de Ihering: "A forma, inimiga jurada do arbitrário, é a innã gêmea da liberdade" 4. Mas o juiz "alternativo" afirma roisas um pouco estranhas, como por exemplo que a Lei é "um parâmetro genériro", "uma orientação básica. Em princípio, obedeço a Lei. Só não obedeço quando ela se revelar injusta". E o que é justo? "O justo está no rompromisso roma maioria do povo que, obviamente, no regime capitalista, são os explorados" 5• - "O que decide nossa ronduta é sempre o caso concreto. Não temos compromisso nenhum com a coerência. Aliás, nossa única coerência é ser inooercnte no caso concreto. Um dia eu posso decidir a favor do locatário e outro a favor do locador" 6 • Curioso ... um juiz que se diz incoerente! Voltemos ao caso du diviso. Leitor amigo: para bem entender o qu é o "direito
alternativo", imagine-se como sendo um dos dois litigantes. Estando o Sr. com a razão ou pelo menos de boa fé, para qual dos dois juízes preferiria que sua causa fosse distribuída? Não sei se a resposta é assim tão difícil. Percebe-se então por que, do ponto de vista da população, daqueles que são por assim dizer os "consumidores" da Justiça, o "direito alternativo", ou "insurgente" ,não pode senão cair mal. Dessacralização. Os juízes de tal corrente·não gostam que se fale de suas maneiras, embora se romprazam, eles, em falar delas, e rom rores ainda muito mais carregadas. Se estas linhas chegarem às mãos de algum desses juízes, vai dizer que se trata de uma abordagem superficial, que seus adversários são assim mesmo. Por não terem argumentos, apegam-se às exterioridades. Não pretendo ficar apenas nas exterioridades. Mas, se elas não têm importância, por que se puseram a chamar a atenção do público por meio delas? A polêmica sobre o "direito alternativo" pode muito bem começar por essas exterioridades, uma vez que tal corrente tem como uma de suas principais metas a "dessacralização" da Justiça 7• A Igreja Católica, rontudo, sempre quis que a Justiça fosse sacra!. Por isso, afirrnou Pio XIl: "Nada é tão necessário à comunidade nacional e internacional quanto o respeito à majestade do Direito, romo também a idéia salutar de que o Direito é em si mesmo sagrado e amparado e que, por conseguinte, aquele que o ofende se expõe a castigos e de fato os recebe" 8 • Dever inarredável. Alguém poderá perguntar: o que tem a doutrina da Igreja a ver rom a "justiça alternativa"? Em primeiro lugar, ela é a guardiã do Direito Natural. E, portanto, o ensinamento católico tem muito a ver com a Justiça e o Direito, e isto sempre se entendeu assim. Tem a ver também sob outro aspecto. Entre as lideranças "alternativas", algumas, rom freqüência, referem-se à atuação de setores da Igreja, tais como as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), a CPT (Comissão Pastoral da Terra), CPO (Comissão Pastoral Operária) etc., mencionando a opinião de eclesiástiros e freiras, favoráveis ao "direito alternativo", ou "insurgente" 9• Chegam tais lideranças ao ponto de chamá-lo "Direito da Libertação", em
uma evidente alusão à controvertida Teologia da Libertação, corrente já publicamente censurada por João Paulo II e pela Santa Sé 10• Por exemplo, José Moreira Pinto afirma, sem rodeios, falando de tais movimentos sociais: "Vincu1amos a proposta de justiça nesses movimentos à utopia comunista" 11 • Catolicismo julga urgente evitar que se estabeleça, a esse propósito, qualquer ronfusão entre os católicos e, portanto, no grosso da opinião pública brasileira. Por isso, na qualidade de revista de inspiração católica, formadora de opinião, toma posição na polêmica. Deus, o primeiro "opressor''! A doutrina "alternativa", tal como é explanada por suas lideranças mais em evidência 12, se apóia em uns tantos "dogmas". Menciono, em primeiro lugar, o da luta de classes. A sociedade se dividiria em dois blocos, o dos "dominados" e o dos "dominadores". Para "emancipar" os primeiros, é preciso atirá-los rontra os de cima, até os derrubar. Os autores "alternativos" parecem obcecados por essa velha teoria. No máximo, espanam uma pequena parte do pó que a cobre, falando em "luta de grupos", em vez de "luta de classes", de arordo rom paradigma mais recente. Mas a substância é sempre o igualitarismo. Para dar uma idéia dessa obsessão, Amilton Bueno de C.arvalho, um dos mais destacados deles, chega a interpretar o episódio da expulsão de Adão e Eva do Paraíso com base na luta de classes. Deus representaria a "classe que domina", "o legislador convencional". Adão e Eva seriam os oprimidos, e a serpente, o líder "alternativo/insurgente" que "convence ao humano que ele pode ser igual ao Poder". A luta só tenninará "com a destruição do Poder-dominador" (Deus) 13• Inacreditável! Mas o texto é claro. Eis aí o que, com propriedade, poder-se-ia chamar de "direito insurgente infernal"! Direito, a arma do • crime". Coerente com o "dogma" da luta de classes, nasce um outro: o do caráter "maldito" do Direito. Se alguém se der ao trabalho de ler os livros "alternativos", encontrará um axioma de Marx, repetido até à náusea, rom as mesmas palavras ou rom semelhantes: "O Direito é a vontade, feita Le~ da classe dominante" 14•
JUIZ AL1ERNA11VO
(trajes e postura rigorosamente conformes ao original fotográfico) CATOLICISMO, OUTUBRO 1993
7
l i
DE OUTRORA
maior crime judiciário de toda a História foi a condenação de Nosso Senhor por Pilatos. Os ihimigos de Jesus exploraram habilmente o fato de coexistirem na Palestina de então dois direitos "paralelos", "oonoorrenils": o romano e o dos judeus. Es~s diziam: nós temos uma lei, e segundo a lei, deve morrer" (Jo, 19, 7). A manipulação tendenciosa de uma lei "alternativa" foi relevante na condenação do
º
Justo. Esse "dogma" gera um outro: nossa estrutura jurídica não possui plena legitimidade. Pois, se o Direito é "maldito", não pode, mesmo, ler legitimidade plena. Para acabar com a "dominação", a "comunidade atuante" (leia-se: a esquerda) começa uma ação que se faz em três tempos: 1. Atiçar a lula de classes; 2. Derrubar a classe alta e a burguesia, instalar a ditadura do proletariado; 3. Através desta, implantar gradualmente uma sociedade sem classes sociais, sem Lei e sem Direito ( desnecessário, dizem, numa sociedade igualitária), ou seja,o paraíso na terra.Pelo menos segundo Marx e Lenin 15• Mas, depois da queda do Muro de Berlim, foi _preciso fazer algumas adaptações táticas. E por isso que se dá prioridade hoje à lula em torno do Direito, à qual antes a esquerda conferia pouca importância. Como diz Amilton Bueno de Carvalho, "combale-se com o Direito ante o fracasso das revoluções" 16 • Sendo o Direito "a vontade,. feita Lei, da classe dominante"; tendo ele pouca ou nenhuma legitimidade, deve ser desprestigiado e "dessacralizado" até sua exaustão completa. E para esse moinho que os "alternativos" carregam água, muitos até sem o saberem explicitamente. Cascata. Do "dogma" gratuito do caráter "maldito" do Direito "burguês", os "alternativos" deduzem uma série de conseqüências, das quais seleL'ionei dez: 1. "A legalidade instituída é no mais das vezes o antidireito" 17 • Por isso, vale tudo contra ela.
li
R
obespierre foi, ao mesmo ~mpo, a figura mais simbólica do Terror, na Revolução Francesa, e o homem-forte da "diladura jaoobina", que governou o país durante tal período. Esse poder tirânioo se exerceu, apoiado largamen~ na "lei dos suspeit>s", complementada principalmente pela lei de 10 de junho de 1794, proposta por Couthon, a qual suprimiu a defesa dos réus, as testemunhas e a instauração preliminar nos processos dos suspeitos.
2. "Os grupos e setores populares produzem um direito, com mais legitimidade inclusive [que o do Estado] 18• Em conseqüência, existe um direito "concorrente, ·paralelo, achado na rua, emergente, insurgente". É o "construído pela população na sua caminhada libertária". Que se entende por "população"? Principalmente (continua o texto) "os movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos vanguardeiros, setores progressistas das igrejas, comunidades de base" 19 • Esse direito paralelo por vezes comporta até um estatuto de delitos e penas 20• 3. Quando tal direito paralelo entra em choque com o Direito oficial, é o primeiro que deve prevalecer 21 • 4. O processo legal existente é uma "farsa" 22 • Por conseguinte, a Lei atual pode ser frontalmente desobedecida (corrente radical) ou maquiavelicamente torcida, por meio de chicanas (corrente moderada), quando se trata de servir à Juta de classes 23 • E o que chamam de "guer.-ilha interpretativa" 24 • 5. Não faz sentido ser "imparcial" dentro de um "direito burguês". "A alternatividade assume, pois, sua não neutralidade e seu comprometimento .... é parcial e se compromete com os pobres" 25 • 6. "0 direito é p1·oduto do litígio" '.26. Por isso, por exemplo, as invasões rurais e urbanas constituem verdadeiro direito, válido contra a Le~ que as proíbe. v. 7. Segurançajurídica? "Quem precisa de segurança é conservador .... A segurança é manter a ordem, e a ordem é isso que está aí" 28• Convém notar que, para a Doutrina
Social Católica, a segurança jurídica é um direito inalienável do homem 29 • 8. ''Não há um bem comum extensivo a todas as classes sociais, pois seus objetivos são contraditórios" 30 • 9. O Direito Natural é um "fetiche" 31 , um "ranço medieval" 32, uma "carne de vaca metafísica" 33 , "ideologia j11rídica da burguesia triunfante" 34 • Mas pode serestrategicamente útil invocá-lo, quando se trate de desobedecer à Lei 35 • Leia com atenção a íiltima conseqüência: 10. "Aceitar a tese da revolução processual não significa abandonar, por considerar fora de questão, o 'momento explosivo' que não deve ser descartado", pois é "difícil crer que a burguesia recuará" 36 • Castelo de cartas. Que julgar desse conjunto de dez teses, do ponto de vista da doutrina da Igreja? Todas as posições doutrinárias acima, isoladamente, são facilmente refutáveis com base no ensinamento pontifício ou no de Santo Tomás de Aquino. Os textos, tenho à mão. Não há espaço para os transcrever ou mencionar aqui. Mas estão à disposição dos interessados. A despeito da exigüidade de espaço, essas dez teses não ficarão sem refutação, neste artigo. Para demolir um edifício de vários pavimentos, pode-se fazê-lo destruindo andar por andar. Ou então, irnplodindo os alicerces, com o que toda a construção vem abaixo, em bloco. Ora, o alicerce de todo o edifício "alternativo" é o "dogma" da luta de classes. Vacilando este - é fácil perceber - começa a avalanche de todo o agitado, farfalhante, petulante maciço chamado "direito alternativo", ou .. insurgente". A Igreja, a respeito desse falso dogma, ensina exatan1ente o contrário dos "insurgentes"'. Em poucas palavras: é bom que haja a desigualdade entre 9s homens. E)a está nos planos de Deus. E bofl! que haJa classes sociais e que haja elites. E mau que haja luta entre as classes. Seria bom que houvesse harmonia entre elas 37• Todos os documentos pontifícios que tratam do assunto afirmam essa tese. Nas "Verdades Esquecidas", que Catolicismo publica em outro local desta edição, o leitor encontrará, em resumo magnífico, tal doutrina, explanada por um Papa e reiterada por outro. Em terras brasileiras, João Paulo II a repetiu aos jovens, em Belo Horizonte 38 • Admitido como princípio que a sociedade é desigual nos planos de Deus e não deve haver luta de classes, toda a confusão "alternativa" se coloca em ordem: existe Direito Natural - há bem comum - deve haver ordem e segurança - deve haver autoridade - deve haver Lei - em bloco, a ordem jurídica existente tem legitimidade em princípio, a Lei deve ser obedecida - o
juiz deve ser imparcial -as invasões constituem verdadeiro esbulho - e assim por diante. O resto é retórica. E retórica marxista, neomarxista ou marxistizante. Poder xipófago. Passando da retórica para a estratégia, verifica-se que a corrente "alternativa" não deseja suprimir, de um único tranco, todo o ordenamento jurídico existente. Faltam-lhe forças para tal. Até a vitória pela gradualidade, ou até que o "momento explosivo" (proposição 10, supra) chegue, o que ela quer é concorrer insidiosamente com o Direito oficial, e ao mesmo tempo o infiltrar e corroer. O "dil"eito alternativo" não é, portanto, como pensam alguns, uma corrente formada por uns tantos juízes excêntricos aos quais agrada sentenciar contra a Lei. Ou ajudar os pobres. Ou simplificar os ritos para acelerar a administração da Justiça. Em seu núcleo doutrinário, infelizmente pouco divulgado, ele é algo de bem diverso. Segundo afirma Tarso Genro, o atual prefeito de Porto Alegre, pelo PT, "este direito novo coloca-se como e.o-constitutivo da transição ao socialismo" 39 • E Horácio Wanderley Rodrigues reconhece: "O movimento defende a construção de uma sociedade democrática e socialista(...) Assume-se como dialético e parte da constatação marxista da existência de uma luta de classes que não pode ser negada" 40• A "alternatividade" consiste na simultaneidade de duas onlensjurídicas, dois Poderes, sendo um o "alternativo". Dá-se a corrosão de um em benefício do outro, como aconteceria com dois irmãos xipófagos. Um (o Poder paralelo) vai crescendo e se nutrindo do outro (o Poder oficial), até lhe exaurir a seiva vital. Por exemplo: de acordo com a Lei oficial, a terra é de seu dono. De acordo com a lei "alternativa", ela deve pertencer ao sem-terra que a invade. Um episódio grandioso e eloqüente ilustra tal situação. Nosso Senhor Jesus Cristo comparece diante de Pilatos. Este, não constata crime algum. Mas os inimigos de Jesus, por meio de ·" guerrilha interpretativa", exploraram habilmente o fato de coexistirem na Palestina de então dois direitos "paralelos", "concorrentes": o Romano e o dos judeus. Diziam: "nós temos uma lei, e segundo a lei, deve morrer" 41 • A pressão da lei "paralela", "alternativa", vergou Pilatos, que "temeu ainda mais". Hesitando entre o Direito Romano e os sofismas com os quais se manipulava o Direito hebreu, e pressionado por outros argumentos - notadamente a pretensa "vontade da maioria" dos judeus - Pilatos cometeu o maior crime judiciário de toda a História e condenou o Justo. Por isso, sob certo aspecto e feitos ai~ guns descontos, pode ele ser considerado
l _1____D_E_O_N-::_T_E__M_-_-_-_-_-_-_-~_-_11_
O
S
s prinápios de Direit> Penal adotados na Rússia soviética, em 12 de dezembro de 1919, e os Códigos de 1922 e 1926, abriam caminho para o voluntarismo na aplicação da Lei. E por 1rás da vontade dos juízes, estava é daro - a KGB. Esse exemplo foi seguido por Cuba, onde a Lei 425, de 9-7-59, atribui aos juízes, por exemplo, o podler de punir "os elementos oontra-re\ducionários de qualquer índole", sem definir o que se deva en,mder por tal.
egundo Flitner, Klee e Nie1hammer, a Lei nazista de 28 de junho de 1935 consagrava verdadeiro "direito penal não escrito". Ou seja, os juízes podiam condenar segundo seus sentimenk>s que, naturalmen'3, eram os do regime nazis1a. Os sistemas jurídioos comunista e nazista se assemelhavam, pois, oomo duas golas de água. E, como se vê, ambos tinham pontos em comum com o projeb "alilrnativo" brasileiro con~mporâneo.
um remoto patrono dos atuais juízes "alternativos". P1·ecursores? Muitos outros exemplos históricos poderiam ser lembrados. Quando o ordenamento jurídico admite o subjetivismo exacerbado dos juízes, desaparece a segurança jurídica. E fica aberto o caminho para todo gênero de pressões políticas nos julgados. Foi o que aconteceu na Revolução Francesa, durante o Terror. A "lei dos suspeitos", proposta por Merlin de Drouai e Cambaceres, foi votada pela Convenção, em 17 de setembro de 1793. Aplicava-se a todas as pessoas meramente suspeitas de serem hostis à causa revolucionária. Essa iníqua legislação, responsável pela condenação de milhares de inocentes, consolidou e oficializou o período. Este teve como homem-símbolo Robespierre, alma da "ditadura jacobina", cujo término - ocasionado pela queda e morte desse chefe revolucionário em julho de 1794 -encerrou a mencionada fase histórica. Os princípios de Direito Penal adotados na Rússia soviética, em 12 de dezembro de 1919, e os Códigos de 1922 e 1926, facultavam aos juízes a interpretação analógica, abrindo cantinho para Os voluntarismo na aplicação da Lei. E por trás da vontade dos juízes, estava - é claro - a KGB 42• Esse exemplo foi seguido por Cuba, onde a Lei 425, de 9-7-59, atribui aos juízes, por exemplo, o poder de punir "os elementos contrarevolucionários de qualquer índole", sem defour o que se deva entender por tal 43 • Aliás, nesse ponto os sistemas jurídicos comunista e nazista se assemelham como
duas gotas de água. Segundo Flitner, K.lee e Niethammer, a Lei hitlelista de 28 de junho de 1935 consagrava verdadeiro "direito penal não escrito" 44 • Ou seja, os juízes podiam condenar segundo seus sentimentos que, naturalmente, eram os do regime . nazista. Esse excesso de poder interpretativo, conferido pelos regimes totalitários aos juízes, deixa pensativos os que se dedicam à análise do projeto "alternativo" brasileiro contemporâneo. "To be or not to be". Voltemos ao "dogma" fundamental alternativo: a legitimidade, ou existe, ou não existe. Consideradas as coisas em bloco, não há uma terceira opção. Se o chefe de determinado Estado é, por exemplo, um Hitler, um Stalin, a insurreição - nos termos e nos linutes estabelecidos pela doutrina da Igreja - se justifica. Admite-se a insurgência, por perda de legitimidade de quem ocupa o Poder. Caso contrário, não. Com o "Estado de Direito" dá-se algo de análogo. Ou a ordem jurídica atual, em bloco, tem legitimidade, ou não tem. Se não tem, que os "insurgentes/alternativos" o digam mais abertamente, e se retirem dela, em vez de nela se incrustarem. Mas se tem, como justificar o vale-tudo contra o Direito, o quinta-colunismo de estar dentro dele para melhor o negar? É nesse ponto que a "justiça alternativa" mostra, escancara, sua fundamental injustiça. Bem como a iniqüidade essencial de todas as conseqüências que daí tira. Não podendo fazer uma revolução, por CATOLICISMO, OUTUBRO 1998
9
falta de condições no momento, os "insurgentes/alternativos" procuram fazer milhares de micro-revoluções. Eis as palavras de um deles: ·~ , "Em raz.ão .... da impossibilidade contextual de mudança do sistema pela via revolucionária clássica, impõe-se a necessidade da tomada de algumas medidas ai ternativas - micro-revoluções 45 • E o que vem depois das "micro-revoluções"? Outro autor o completa: "A tomada
do poder é o último estágio da transformação do poder'' 46 • Não se pode admitir que juízes se valham de seus cargos para serem a gangrena
da desordem dentro da ordem vigente, do anti-&tado dentro do "&tado de Direito". Travestir representantes da ordem por definição, como o são os juízes, em agentes da desordem ou da contra-ordem, seria sem dúvida o maior "desideratum" dos inimigos de nossa sociedade. Pois começamos a entrar nisso! E tudo é feito sob o manto da desinformação, uma vez que poucos sabem - quiçá nem todos os "da casa" - que o "direito alternativo" tem, de fato, esse programa. LEOÜANIELE
NOTAS !jornal, da Tarde, São Paulo, 24-10-90. 2 Amilton Bueno de Carvalho,Jornal da Tarde, 24-10-90. 3 Henrique Oswaldo Poeta Roenick, ibid. Vamos ver mais adiante que, para os juízes "alternativos" , imparcialidade é uma coisa quase obscena. 4 Apud Georges Boyer Cham mard, Les Magistral.s, Paris, Presses Universitaíres de France, 1985. P. 77. 5 Amilton Bueno de Carvalho, artigo A lei. O juiz. O justo. Apudjornal, da Tarde, 24-10-90. 6 Marco Scapini, ibid. 7 José Eduardo Faria.Justiça e conflito. Ed. R. dos Tribunais, São Paulo, 1991. P. 122. 8 Pio XII, Alocução para o VI Congresso Internacional de Direito Penal, 3-10-53, Discorsi e Radiomessaggi (doravante DER), vol. XV, p. 352). Salvo indicação em contrário, todos os grifos deste artigo são nossos. 9 Ver, por exem pio, João Batista Moreira Pinto, Direito e novos movimentos sociais (doravante DNMS), Ed. Acadêmica, São Paulo, 1992. 10 Por exemplo, Miguel Alves Lima em Lições de Direito Alternativo -11, Edmundo Lima de Arruda (org.), Ed. Acadêmica, São Paulo, 1991 (doravante LDA2), p. 44. 11 DNMS, p. 53. 12 No seio da corrente "alternativa" existem muitas opiniões, por vezes conflitantes entre si. É claro que não podemos entrar nas discussões internas da escola. Por isso, escolhemos para análise as declarações que nos pareceram mais representativas. Outrossim, não se afirma que todos os "alternativos" sejam marxistas ou neo-marxistas, embora Oscar Correas (que é "da casa") garanta que a estratégia "alternativa" "não
10
CATOLICISMO, OUTUBRO 199!1
pode entender-se sem o aporte do pensamento marxista" (LDA2, p. 153). 13 MagistraJ.ura e DireiioAlternalivo, Ed.Acadêmica, São Paulo, 1992 (doravante MOA). Py. 82 ss. 14 E o ponto de máxima insistência. Diz Eliane Botelho Junqueira: "Em qualquer de suas vertentes, o modelo de transformação da ordem estatal constrói-se a partir de um movimento de subversão do ordenamento jurídico existente - percebido, a partir de uma leitura marcadamente marxista,como um instrumento de dominação e de prote-
ção dos interesses da classe detentora do poder econômico e político - e de formalização e positivação das demandas dos setores subalternizados" (LDA2, pp. 105-106). 15 Cf. Lenin, El Estado y la Reuolucwn, Ed. Progreso, Moscou, 1966, passim. 16 Lições· de Direi.to Alternativo - I, Edmundo Lima de Arruda (org.), Ed. Acadêmica, São Paulo, 1991 (doravante LDA!). P. 57. 17 Edmundo Lima deArrudaJr., LDA!, p. 79. 18 Wilson Ramos Filho, LDA!, p. 157. 19 MOA, p. 90. 20 Um exemplo entre outros : No acampamento dos sem-terra em lper6, município de Sorocaba "foi necessária a criação de um poder de sanção interno, ao mesmo tempo um poder judiciário próprio. Até mesmo porque a polícia e os que foram enviados pelo poder judiciário com suas Leis repressivas e ditatoriais foram expulsos do acampamento pela vontade de seus integrantes. .... O "direito alternativo" apresenta-se toda vez que a população se reúne para a formulação de uma Lei ou mesmo a aplicação da mesma" (Boletim do Direito Alternativo, ano 1, nº O, 1993). 21 Antônio Carlos Wolkmer, LDA2, p. 138. 22 Lédio Rosa de Andrade.Juiz Alternativo e Poder Judici.árw, Ed. Acadêmica, S. Paulo, 1992 (doravanteJAPJ). P. 102. 23 Sobre os limites da liberdade de interpretação, poder-se-ia escrever outro artigo. De momento, é interessante recordar que a Igreja condenou proposição para a qual "o juiz pode julgar segundo uma opinião menos provável" (Denz. 1152). Bem como reprovou a tese segundo a qual "no concurso da opinião menos provável com a mais provável, conhecida e julgada como tal, é lícito seguir a menos provável (Denz. 1219). Quanto à desobediência frontal à Lei, a doutrina católica o admite quando a Lei positiva se choca com a Lei Natural, entendida esta no sentido tradicional. Mas a corrente "alternativa" nega o direito natural. 24 Amilton Bueno de Carvalho, MOA, p. 89, e LDAI, p. 64. 25Cf., porexemplo,Amilton Bueno de Carvalho citado por Horácio Wanderlei Rodrigues, LDA2, p. 192. É de notar que não se trata aqui de ter uma maior condescendência para com o pobre, o que é desejável, dentro dos princípios católicos. Se se tratasse disso, não seria nenhuma inovação do "direito alternativo" (Cf., p. ex., o arL 59do Código Penal, que não é de ontem). Lendo a minuciosa exemplificação de 17 páginas sobre como aplicar a Lei 8.009 - LDAI, pp. 53 a 70 - percebe-se que o que se prega é o uso de dois pesos e duas medidas. Convém recordar que essa questão foi tratada expres-
sarnente por Santo Tomás de Aquino, que a resolve ensinando: "O homem deve amparar no juízo ao pobre quando seja possível, mas sem detrimento da Justiça, do contrário é aplicável a frase do Êxodo: 'Nem mesmo do pobre terás compaixão no juízo' (Ex. 23,3)" (Suma Teolégi,ca, 2-2 q. 63 a.4 ad 3). 26 Sergio Muylaert, in O Direi.to Achadc na Rua, José Geraldo de Sousa Jr., org. - Editora Universidade de Brasília, 1990 (doravante DANR), p. 38; e Paulo Lopo Saraiva, ilid., p. 142. 27 Entre os "alternativos", o apoio às invasões é outro "dogma". Não foi possível encontrar nenhum autor da corrente que não fosse a favor delas. 28 Amilton Bueno de Carvalho,Jornal da Tarde, 24-10-90. 29 Pio XII, Radiomensagem de Natal de 1942, DER, vol. IV, p. 332-333; e João XXIII, Ensegnamenti, vol V, p. 527. 30 Lédio RosadeAndrade,JAPJ, p. 104, nota. 31 Miguel Alves Lima, LDA2, p. 50. 32 Amilton Bueno de Carvalho, MOA, p. 56. 33 Roberto Lyra Filho, DANR, p. 23. 34Antônio Carlos Wolkmer, LDA!, p. 30. 35 Cf. Maria Eliane Menezaes de Farias, DANR, p. 16; Miguel Alves Lima, LDA2, p. 50; Amilton Bueno de Carvalho, MOA, pp. 50, 51. 36 LDAl, p. 97. 37 Ver a respeito Nobreza e elites tradicionais anál.ogas nas alocuções de Pio XII ao Patridadc e à nobreza romana, de Plínio Corrêa de Oliveira, que acaba de ser lançado simultaneamente em português, francês, inglês, italiano e espanhol. Ed. Civilização, Porto (Portugal), 1993, 328 pp. 38 "Aprendi que um jovem começa perigosamente a envelhecer (... ) quando passa a acreditar que a única esperança para melhorar a sociedade está em promover a luta e o ódio entre grupos sociais, na utopia de uma sociedade sem classes (Todos os pronunciamentos do Papa no Brasil, Loyola, São Paulo, 1980, p. 34). 39Apud LDA!, p. 97. 40 LDA2, p. 184. 41Jo, 19, 7. 42 Cf. Pierre Gaxotte, IA Réuolution Française, Fayard, Paris, 1970, p. 366. 43 Ver, sobre a matéria, Luís J iménez de Asua, El DertJCho Penal totalitarw en Alemania y el Derecho voluntarista, in El criminaJ.ista, T. V II, ed. TEA, Buenos Aires, 1950; Michel Lesage, Le Droit soviétique, Presses Universitaries de France, Paris, 1975; Paulo José da Costa Jr., Curso de Direito Penal, Ed.Saraiva, São Paulo, vol 2., p. 2; Luiz Luisi, Sobre o prindpio da Legalidade, in Estudos jurídicos, coord. Rubens Prestes Barra e Ricardo Antunes Andreucci, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1991, p. 253. A respeito do decisionismo dos juízes, ver Ricardo Henry Marques Dip, Da ética geral à ética profissional, dos rtgiJtradores pr«iiais, I.C.A., São Paulo, 1992 . p. 41. 44 Cf. Heleno Cláudio Fragoso, Liçt5es de Direito Penal, Forense, Rio, 1991, p. 96. 45 Luís Jiménez de Asua, op. ciL, p. 97. Ver, também, Hans-HeinrichJeschenk, Tratado de Derecho Penal, Ed. Bosch, Barcelona, 1981, pp. 177-8. 46 Horácio Wandcrlci Rodrigues, LDA!, p. 154. 47 Boaventura de Souza.Santos, DANR, p. 72.
HISTÓRIA
ARIS, 16 de Outubro de 1793. Silenciosa, a multidão aglomerava-se em frente à Conciergerie, local onde se encontrava encarcerada a Rainha Maria Antonieta. Os minutos pareciam longos . De súbito, ouviu-se a vozes tridente de um oficial ordenando a abertura das grades de ferro da prisão. Todas as cabeças, todos os olhares então se voltaram para a carroça que conduziria ao patíbulo a soberana de França, que se tornara o alvo primordial das campanhas mais virulentas, articuladas pelos antros diretivos da Revolução Francesa. "Durante este últimopassew-escreve Jean Chalon---, que segue o itinerárw de seus triunfos esquecidos, ela não é mais
P
uma rainha decaída: ela é a Rainha, a Solitária, a Única, a Rainha da infelicidade e da desolação. Já não pertence a este mundo e a seu nada. Entra na legenda, na qual, para sempre, resplandecerá ... " 1 • No infortúnio, nobreza e dignidade
Maria Antonieta: vítima simbólica do ódio revolucionário Poucos meses após a iníqua execução de seu esposo Luís XVI, a Rainha da França, ,, que na sua epoca encarnou virtudes aristocráticas, há dois séculos enfrentou a morte, com afortaleza de verdadeira mártir
Trinta 1nil soldados formavam um longo corredor de baionetas e canhões por onde passaria o lúgubre cortejo até a guilhotina. Vestida de branco, sentada no duro banco de madeira e com as mãos atadas às costas como vil criminosa, nem por isso Maria Antonieta perdeu a majestade. Até mesmo os revolucionários, como o célebre pintor David, ao lhe desenhar o perfil pouco antes de sua execução, não puderam impedir que a compostura e a dignidade da filha de Maria Teresa refulgisse naquele instante de suprema provaçiio. O desenho, feito nessa ocas ião, revela uma fisionomia marcada pela dor, mas de uma resolução inquebrantável: olhos recolhidos, lábios serrados, postura exi1niamente ereta, sem relaxamento, como se estivesse sentada numa poltrona do palácio de Versalhes. Foi nessa ocasião que manifestou também a virtud e da altivez cristã, quando retrucou ao padre juramentado - a quem se recusara confessar-se - que a aconselhara a "se armat de coragem": "Coragem, ah! Senhor, há diversos anos dedico-me
à aprendizagem dela, não será no moment,o em que meus males
vão terminar que me verão sentir falta da mesma".
2
Era meio dia quando a carreta que transportava a viúva de Luiz XVI chegou à praç.a da Revolução, o mesmo local onde seu marido fora executado, em 21 de janeiro de 1793.
,,·Mar ia Antonieta não tinha senão alguns ins Lantes de vida. Ela receberá a morte como uma irmã bem amada em direção da qual se precipiwu com leveza e prontidão.Na pressa, pisou sobre os pés do carrasco. -Senhor, peço-vos perdão, disse ela. Perdão, será a última palavra que sairá de seus lábws... " "Viva a República! grit,ou a multidão: era Sanson, o carrasco, que mostrava ao povo a cabeça de Maria Anwnieta, enquanto embaixo da guilhotina o policial Mingauet embebia seu lenço no sangue da mártir". 4 M'emória indelével Assassinada quinze dias antes de completar seus 38 anos, Maria Antonieta no entanto continua viva na memória e no coração dos franceses. Por ocasião do bicentenário da queda da Bastilha, em 1989, um canal de TV parisiense promoveu a representação do julgamento da rainha, tal qual descrevem os documentos históricos.
' CATOLICISMO, OUTUBRO 1993
11
Mar'ia Antonieta d'iante do trwunal revolucionário, oito horas antes de sua execução (16 de outubro de 1793, gravura popular da época). Seu apelo a todas as mães presentes provocou aplausos na assistênc'ia
No final do programa, irradiado para toda a França, os telespectadores foram convidados a proferir a sentença. Ao contrário da Convenção revolucionária, que condenara à morte Luiz XVI e Maria Antonieta, 78% dos assistentes absolveram a rainha-mártir. Um dos lances mais pungentes desse processo espúrio deu-se quando o promotor, Fouquier-Tinville, a acusou de ato incestuoso com seu filho. Diante de tamanha afronta, Maria Antonieta calou-se. Intimada a explicar seu silêncio, respondeu: "Calei-me porque a natureza se nega a responder semelhante calúnia feiJa contra uma mãe. Por isso, apelo a todas as mães aqui presentes... " 5 Esta resposta comoveu até as viragos revolucionárias presentes no tribunal da Convenção, a ponto de provocar uma prolongada salva de palmas.
Parábola da História
vítima simbólica do que a fúria do tufão de 1789 engendrou de mais infame. Confessou-o expressamente o repugnante Mirabeau - nobre, traidor de sua classe social e transformado em tribuno da populaça - já durante o desfile comemorativo da abertura dos Estados Gerais, em 5 de maio de 1789: ao ver a rainha desfilar, lançou a palavra-de-ordem para os revolucionários que o seguiam: "Voilà la victime!" (eis aí a vítima!). Vítima de uma poderosa e bem orquestrada máquina de difamação e de calúnias, Maria Antonieta chegou ao pé do cadafalso com a consciência tranqüila de ter cumprido seus deveres de rainha e de mãe. -P or isso, na manhã do dia de sua execução, pôde escrever em sua carta-testamento, dirigida a Madame Elisabeht, irmã de Luiz XVI: "Estou calma como se é quando a consciência nada acusa .... Morro na religião católica, apostólica e romana, na de meus pais, na qual fui criada e a qual sempre professei .... Peço sinceramente perdão· a Deus de todas as faltas que posso ter cometido desde que existo. Espero que em sua bondade Ele quererá receber meus últimos desejos, assim como os que faço há muito tempo para que queira receber minha alma em sua misericórdia e sua bondade .... Perdôo a todos meus inimigos o mal que me [,zeram". 1
CATOLICISMO, OUTUBRO 1993
Aparição, em sonho, de Nossa Senhora da Graça a Paraguaçu - Pintura de Lopes Rodrigues, Igreja de Nossa Senhora da Graça, Salvaoor (BA)
***
Entre o sonho e o pesadelo A vida de Maria Antonieta Josefina Joana de Lorena d' Áustria começou comoumsonho num palácio em Viena, e terminou como um pesadelo numa prisão de Paris. Os sinos que festejaram seu nascimento, a 2 de novembro de 1755, não tocaram em luto pela sua morte, pois todas as igrejas da França, durante o Terror de 1793, foram fechadas pelos revolucionários. Filtre o sonho e o pesadelo, transcorreram dias gloriosos como de um conto de fadas, e lúgubres como a invasão das Tolherias e a queda da Monarquia (1792), que prenunciaram uma catástrofe sem nome para toda a Europa. Poucos historiadores conseguiram sintetizar em poucas linhas um juízo tão profundo sobre Maria Antonieta quanto o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: "Há certas almas que só são grandes quando sobre elas sopram as rajadas do infortúnio. Maria Antonieta, que foi fútil como princesa e imperdoavelmente leviana na sua vida de rainha, perante o vagalhão de sangue e miséria que inundou a França, transformou-se de modo surpreendente. O historiador veryf,ca assim, tomado de respeito, que da rainha surgiu uma mártir, da boneca uma heroína!" 8•
Há certos crimes que, pela vítima atingida ou por serem carregados de simbolis100, ultrapassam o tempo e o cenário onde foram cometidos. Sem nenhuma proporção com os demais, encontra-se, no primeiro caso, o deicídio, a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Crime nefando que dividiu a História em duas partes. No segundo caso, bem se poderia evocar a decapitação de Maria Antonieta. Mar'ia Antonieta na carreta, sendo conduzida à execução Como ·nenhuma outra rainha, ela encarBRAuuo DE AAAGÃO Desenho oo pintor David, nou os valores do Antigo Regime execrados testemunha ocular pela Revolução de 1789: "Sonportde têterelata a baroneza d'Oberkirch - la majesté NOTAS desa taille, /' élégance et la grâce desa personne, .... tout en elle 1.Jean Chalon, Chere Marie-Antoinette, Perrin, Paris, 1988, p. 470. respiraiJ la grandeur de sa race, la douceur et la noblesse de 2.Jean Chalon, op. cit, p.469. son âme; e/le appelait tous Ies coeurs". (Sua impostação de 3. Jean Chalon, op. cit, p. 470. cabeça, a majestade de seu porte, a elegância e a graça de sua 4. Edmond etjules de Gonoourt, Marie Antoioetle, Olivier Orbqn, Paris, 1983,0p.334. pessoa, tudo nela respirava a grandeza de sua raça, a doçura e a 5.Jea Chalon op. cit, p. 15~. nobreza de sua alma; ela atraía todos os corações) 6• 6.Jean Chalon, op. cit, p. 30. Por isso, tornando-se uma expressiva representação da con7. Edmod etjules de Goncourt,Oop . cit, p. 330. dição aristocrática, ela foi a vítima por excelência da Revolução, 8. Catolicismo, nº 463,julho de 1989.
12
Caderno Especial Nº 26
Claustro do Corwento beneditino, anexo à Igreja de Nossa Senhora da Graça, Salvador (BA)
Jlo~~a ~tnbora ba ~raça: btboção maríana bo~ prímórbío~ ba nacíonalíbabt
Jf}bsso ~tnbor Jts~ Qttísto t a ~amarítana •
(São João, cap. 4, 7,8; 19 a 24)
Veio uma mulher da Samaria a tirar água. Jesus disse-lhe: Dá-me de beber. Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. Disse-lhe, porém, a mulher samaritana: Como (é que), sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? .... Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram sobre este monte, e Vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lheJesus: Mulher,crê-meque
é chegada a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte, nem em Jerusalém (mas em qualquer lugar). Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque dos judeus é que vem a salvação. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão ·o Pai em espírito e verdade. Porque é destes adoradores que o Pai procura. Deus é espírito; e em espírito e verdade é que o devem adorar os que O adoram.
Qtomtntários compílabos por ~anto m:omás bt ~quíno na "Qtatena ~urta" Santo Agostinho - E começa (a samaritana) a perguntar o que mais lhe chama a atenção, dizendo: "Nossos pais adoraram neste monte e vós dizeis que em Jerusalém está o lugar onde se deve adorar". Havia dissenções entre os samaritanos e os judeus, porque os judeus adoravam a Deus no templo edificado por Salomão e, por isso, se achavam melhores. Mas, sobre tal posição diziam os samaritanos: Por que vos vangloriais de ter um templo que nós não temos? Por acaso nossos pais, que ontem agradaram a Deus, adoraram-no naquele templo? Rogamos melhor a Deus neste monte, porque nossos pais nele O adoraram. São João Crisóstomo - Os samaritanos adoravam o que não conheciam, crendo que Deus estava circunscrito a certos lugares e que era um Deus particular, não tendo eles for~ado sobre o Criador outra opinião senão a que tmham formado sobre os ídolos; e, portanto, confundiam o culto de Deus com o dos demônios; mas os judeus estavam isentos deste erro, porque sabiam que Deus era o senhor de todo o Universo; por isso disse Qesus): "Nós adoramos o que sabemos". · (Inclui) a si mesmo no número dos judeus, falando conforme a opinião da mulher, que acreditava
ser Ele um profeta dos judeus; por isso disse: "Adoramos", mostrando ser bem sabido que Ele é adorado por todos. E quando disse "porque a salvação vem dos judeus", não manifesta outra coisa senão que dali haveria de sair para todo o mundo o que há de mais saudável .e puro: ali começou-se a conhecer a Deus e a detestar os ídolos; e disto nasceram outros dogmas. Assim levavam os judeus vantagem sobre eles (os samaritanos), ó mulher! No modo de adorar, embora também tal modo haveria de ter seu fim. Por isso acrescenta: "Mas vem a hora (e já é o momento), quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade". E como os profetas haviam predito já muito tempo antes o que haviam predito, por isso diz: "E já é o momento", para que não se creia que esta profecia era das que haviam de ser cumpridas depois de muito tempo. A coisa urge e está já à porta. E em outro lugar também diz: "Os verdadeiros adoradores", para distingui-los dos falsos, porque há alguns que são falsos adoradores, como aqueles que pedem coisas temporais e caducas na oração, ou os que oram mas agem de maneira diversa, quando não estão fazendo alguma prece.
Qtomtntárío bo ~t. Jluís Qtláubio jfíllion De repente, chegou perto do poço, com um cântaro sobre a cabeça e ouuu no ombro, uma mulher ainda jovem, que aí veio fazer sua provisão de água. Depois que, com uma longa corda deslisada pela beira, havia enchido sua ânfora, disse-lhe Jesus: "Dá-me de beber". Estava com sede; mas este divino pedagogo, que começava pelos assuntos mais banais, sabendo muito bem levar seus interlocutores às esferas mais elevadas do mundo sobrenatw,11, tinha especialmente sede desta alma culpada, que Ele esperava. A mulher respondeu maravilhada: "Como tu, sendo judeu, pedes de beber a mim que sou samaritana?" Com efeito, como muito bem faz notar o Evangelista, entre os judeus e samaritanos havia grande inimizade, motivo pelo qual evitavam qualquer relacionamento pessoai quando não chegavam a manifestações violentas de ódio.
"Senhor-disse a samaritana -vejo que és um profeta" E, considerando-O como tal, propôs-lhe imediatamente - habilidade sua, como têm pensado alguns, para sair da situação incômoda? uma dificuldade de ordem religiosa, cuja solução desejava: "Nossos pais adoravam neste monte, e tu dizes que em Jerusalém está o lugar onde se deve adorar". Ao dizer "este monte" indicava com o dedo a Garizim, que se levanta na planície, a Oeste, como um gigante, e em cujo pico haviam construí. ·do os antigos samaritanos, cerca de tJ·ezen tos anos
ante5 da era cr~tã, um templo, cujas ruínas são ainda visíveis. Seus descendentes colocavam-se em direção a ele para orar, e uma vez por ano sacrificavam sobre o mesmo o cordeiro pascoal. Abrindo um horizonte grandioso sobre o futuro, Jesus acena para o culto no Novo Testamento.
Esta hora bendita, em que todo particularismo religioso deveria cessar, tanto a religião judaica como a samaritanaa deveriam fenecer, era a época do Messias. Porém, enquanto aguardavam, os judeus estavam com a razão, porque constituíam realmente o povo de Deus, e o templo de Jerusalém era o único reconhecido e aprovado pelo Senhor. No que se refere ao culto em espírito e verdade, que havia de substituir todos os outros, consiste ele na adoração interior que se pode oferecer a Deus em qualquer lugar, independendo de templo e altar; consiste além
disso, em lugar da imagem e figura dos sacrificios da Antiga Lei, na santa e 6nica Vítima do Calvário. "Não que tenha sido proscrito o culto exterior, como justamente se escreveu: haverá sempre templos materiais, cerimônias, sacerdócio; porém, tudo isto existirá para estimular esta adoração em espírito, que é o fundamento da vida religiosa". Nuestro Sefior Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917.
Jf}os ptímórbíos bo 1/irasíl nasce a btboção a Jf}ossa ~tnbora ba ~raça Por volta de 1362, na praia dos Cascais, em Portugal, foi encontrada, por mãos de humildes pescadores, uma imagem de Nossa Senhora da Graça. Esta foi conduzida por monges e grande quantidade de fiéis para o mosteiro dos Agostinhos em Lisboa, tendo os religiosos, nesta ocasião, entoado diante da imagema "Salve Rainha", fato que deu início à popularização do belo cântico da "Sublime A.ntienne", em Terras de Santa Maria (1). Entretanto, foi no Brasil que essa invocação tomou um simbolismo mais transcendente devido às circunstâncias maravilhosas que passamos a narrar. Por volta de 1505, uma embarcação ·portuguesa que rumava para as Índias naufragou na Bahia, tendo-se salvo, não só do desastre como do ataque dos índios tupinambás, um português natural de Viana, Diogo Álvares Correia. Usando seu arcabuz, fez crer aos nativos que tinha o poder de "produzir fogo", sendo, em vista disso, acolhido como chefe da tribo, a qual passou a chamá-lo Caramuru, cujo significado é filho do troviio. Certa feita a filha do cacique, Paraguaçu, sonhou que "vira um navio destroçado, homens brancos e rotos, tremendo de frio e morrendo de fome, e entre eles uma Mulher muito branca de fascinante beleza, tendo nos braços um lindo Menino" (2). Em virtude da insistência da jovem indígena, os silvícolas fizeram uma busca e encontraram uma nau de castelhanos destroçada. Diogo Álvares, recolhendo os náufragos, proveu-os de todo o necessário, o que lhe valeu uma bela carta de elogio do Imperador Carlos V (3 ). Entretanto, não se encontrou a "bela Senhora". Numa segunda busca, por pressões de Paraguaçu, os tupinambás acharam uma imagem da Virgem, à qual, na falta de invocação, foi dado o nome de Nossa Senhora da Graça, pela mercê feita aos náufragos, ou talvez, por apresentar os mesmos traços da imagem encontrada em Cascais, que possivelmente Diogo Álvares conservara
na memória. Uma singela ermida de taipa foi construída por Caramuru a fim de abrigá-la, seguida da edificação de um pequeno templo, que muitos historiadores consideram o primeiro erguido no Brasil em honra da Mãe de Deus.
Algum tempo depois, aportou na Bahia um navio vindo da França, em busca de pau-brasil, tendo Diogo e Paraguaçu - então ligados pelo vínculo de um casamento natural - nele embarcado rumo àquele país. Levados à corte francesa, em Paris, narra o historiador pátrio Rocha Pita: os monarcas franceses "informados do sucesso e quaüdade dos hóspedes, os receberam com real, agradó e despesa, dando em solen{ssimo ato com assistência de muitos frrincipes, a ela o sacramento do batismo com o nome da rainha, e a ambos o do matrimônio, sendo-lhes em um e 01.aro padrinhos os reis, que lhes conferiram honoríficos tftulos" (4). Paraguaçu, desde então, passou a chamar-se Catarina, nome de sua madrinha, a soberana Catarina de Médecis. De volta ao Brasil, o casal ergueu novo templo à Senhora da Graça e o cedeu, com muitas propriedades, aos beneditinos. Foi nele que o Primeiro Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza, assistiu ao primeiro oficio religioso, celebrado pelo Padre Manoel da Nóbrega. Ainda hoje jaz com seu esposo, nesta igreja, o corpo de Catarina Álvares Correia, que morreu piedosamente depois de muito ter contribuído para a conversão dos índios. Uma pintura de Lopes Rodrigues a retrata extasiada diante da Senhora que vira em sonhos. Nossa Senhora da Graça é a Padroeira principal da diocese de Parnaíba (PI), sendo sua festa comemorada a 11 de outubro. Peçamos a Nossa Senhora da Graça, que desde o início de nossa Pátria manifestou sua predileção pela Terra de Santa Cruz, que proteja a família brasileira ameaçada de extinção pelo neopaganismo, e conceda graças especialíssimas para o soerguimento moral do Brasil. 1
GERALDO MARTINS
NOTAS 1. Edésia Aducci, Maria e seus gwrwsos tituws, Ed. Lar
C,atólico,Ju~de fora, 1958, p. 160. 2. N ilza Botelho Megale, 112 invocações da Virgem Maria nc Brasil, Vozes, Petrópolis, 1986, p. 172. 3. Sebastião da Rocha Pita, Hi.stória da Améric.a Portuguesa, Jackson, São Paulo, 1952, p. 46. 4. Rocha Pita, op. cit, p. 46.
Brasil Real Brasil Brélsileiro
O
N ornes sagrados de
cidades brasileiras
espírito religioso do povo porgem da Lapa (MG), Madre de Deus (AM), São João da Barra (RJ), São Joatuguês encontrou no Brasil um (MA), Amparo da Serra (MG), Carmo da quim (SC), São Luís (MA), São Mateus clima fecundo para sua natural Mata (MG), Dores do Rio Preto (ES), (ES), São Paulo (SP), São Pedro dos Ferexpansão. Piedade de Ponte Nova (MG) etc. ros (MG), São Vicente Ferrer (MA) etc. O costume de se designar os acidenCom o adjetivo "bom", aparece Bom Quanto ao emprego dos nomes de tes geográficos pelos nomes de Deus, da Sucesso (MG), Bom Conselho (PE), Boa santas, a preferência recai sobre Santana Virgem Maria, dos santos e santas teve Morte (MG), provenientes de invocações ou seus compostos, como Santana do Liorigemcom o Descobrimento, a partir de de Nossa Senhora. vramento (RS), vindo logo em seguida as suas primeiras denominações: Terra de Ocupa lugar de destaque a designadesignações de Santa Rita e Santa Rosa, VeraCruzedeSantaCruz. .---- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - com seus complementos, Essa tradição é responem diversos Estados. sável pelos nomes sagraSeguem-se Santa Luzia, dos dados a centenas de ciSanta Bárbara e Santa Isabel. dadcs, distritos e vilas de Paradesignaroscultosàspanossa Pátria, nos mais didroeiras, cabe lembrar Santa versos quadrantes, como Adélia (SP), Santa Amélia também a regiões, rios, la(PR), Santa Brígida (BA), gos, montanhas e pontes, Santa Oara (AP), Santa Inês todos extraídos da religio(MA), Santa Quitéria (CE), sidade católica. Santa Teresa (ES), Santa ViAssim, em primeiro lutória (MG) etc. gar, os nomes de Deus ede Com a designação Jesus Cristo aparecem em Cruz, é expressivo o núformações compostas: mero de municípios, seja Menino Deus (PA) e Crisna forma simples de Santa to-Rei (PR). Cruz (SE), ou composta, Salvador foi atribuído como Santa Cruz do Sul à capital da Bahia, bem (RS),Primeira Cruz(MA), como a cidades de vários além de seus derivados outros Estados. Senhor do como Cruzeiro (SP), CruBonfima uma cidade baiaz.-ília (SP), Cruzeta (RN), na. A denominação Bom Cruzília (MG). Jesus é difundida em diToda essa série de deversas regiões, como, por Museu Paulista, bairro do lpiranga, São Paulo. Nesse locc,i da cúiade signações, consistindo em exemplo, Bom Jesus do que recebeu o nome do Apóstolo dos Gentios (por ler sido fundada nomes de santos e santas, Galho (MG). Divino, na/esta comemorativa de sua conversão, em 25 dejmwiro),/oi concedidas às cidades bracomo a Terceira Pessoa da proclamada a Independêncio do Pais sileiras, tão ampla e variada, constitui o rcllexo do primeiro símção de Santa Maria, cm vários Estados, e Santíssima Trindade, aparece em Divino bolo católico implantado e frutificado em seus compostos como Santa Maria da das Laranjeiras (MG). Espírito Santo, nosso Páis, que foi a cruz. Vitória (BA). além de designar o Estado que leva tal Quanto aos nomes de santos aplicanome, figura cm Espírito Santo do Pinhal dos a cidades, a preferência recai em São Para concluir, reproduzimos um per(SP) e outras localidades. José e Santo Antonio, como, por exemtinente comentário do conceituado histoEm rcla<.'iío a Nossa Senhora, são nuplo, São José do Rio Preto (SP), São José riador Pe. Serafim Leite SJ: "A Cruz de merosas as invocações que figuram como do Ouro (RS), Santo Antonio de Lisboa Cristo estava na bandeira da nação nomes de cidades: Nossa Senhora Apa(PI), Santo Antonio do Levcrgcr (M1) e evangelizadora [Portugal]; e no passado recida (SP), Nossa Senhora da Glória muitas outras localidades. e no presente, numa forma ou noutra, é (SE) etc. o objeto mais visível do culto no Brasil, Podem ser lembrados ainda, na forUma antiga dcvoç.ão mariana consacomo o certifica no Rio de Janeiro a maçiío dos nomes de municípios, vários grada a Nossa Senhora da Conceição é estátua do Cristo Redentor a iluminar e outros santos como São Benedito do Sul igualmente bastante difundida em cidades a abençoar o Brasil em que a própria (PE), São Bento do Norte (RN), São Berbrasileiras: Conceiç.ão do Araguaia (PA), imagem de braços abertos, é a Cruz" nardo do Campo (SP), São Caetano do Conceição do Coité (BA) e várias outras. (Suma histórica da Companhia de Jesus Sul (SP), São Domingos do Prata (MG), Além dessas, é grande o número de no Brasil, Livraria Portugalia, Lisboa, São Félix do Xingu (PA), São Francisco expressões relativas à Mãe de Deus exis1965, p. 138). do Sul (SC), São Gabriel da Cachoeira tentes em todo o território nacional: Vir-
ENTREVISTA
''MAGISTRADOS DEMOLEM A ORDEM ESTABELECIDA'' A ação dos juízes "alternativos", nas palavras do jurista Celso Bastos Em outubro de 1990, a opinião pública brasileira foi surpreendida pelos conceitos dissonantes e desagregadores de alguns juízes gaúchos, divulgados com grande alarde em uma reportagem. Os livros que depois publicaram, geralmente encharcados de concepções marxistas, reafirmaram e acentuaram tais posições. Seguiu-se uma polêmica acesa, da qual tomou parte, entre outros juristas, o conhecido constitucionalista Celso Bastos. Veio daí o desejo da direção de Catolicismo de ouvi-lo sobre o tema, em uma entrevista cujo interessante texto ora apresentamos a nossos leitores. O Prof. Celso Seixas Ribeiro Bastos, autor de várias obras, entre as quais "Curso de Direito Constitucional" (14
A hipótese de um juiz julgar contra a Lei é apresentada por alguns como a "ma.rca registrada" do "direüo aliernativo". Como o Sr. vê essa concepção?
CELSO BASTOS Na verdade, não podemos impugnar a afirmação de que o juiz deve - eu não diria que pode, eu diria que deve - ir além da mera literalidade da Lei. Isto nenhum jurista sustenta hoje, seja filiado a que corrente jus-filosófica for. A Lei é tão-somente a fonte principal do Direito, mas evidentemente não é considerada a única.Nossa Lei de Introdução ao Código Civil reconhece isso. É verdade que ela prevê, as outras fontes como suhsidiárias para compJetar os casos em que a Lei seja lacunosa. Mas de qualquer maneira, acho que fica desde logo certo que a Lei não é a fonte única do Direito. Um Código ou uma Lei não é, como digo sempre em aula, uma lista telefônica. Você quer saber qual é o número de
edições) e "Comentários à Constituição do Brasil" (este em co-autoria com o Prof. lves Gandra da Silva Martins), é considerado um dos maiores constitucionalistas brasileiros da atualidade. Professor de Direito Constitucional na Pontiffcia Universidade Católica de São Paulo, é o Diretor Geral do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional. Afirmou o ilustre entrevistado: "Sei que Catoliqsmo se filia a posições de Direito Natural, das quais eu também em grande parte comungo". Incondicionalmente filiada à Doutrina Social Católica e ao jusnaturalismo tradicional, nossa revista se compraz em registrar a afinidade entre as conclusões a que chegou o Prof. Celso Bastos e as que adota na matéria.
uma pessoa, é encontrar o nome dela, e ler tranqüilamente, acriticamente, o número que segue. Mas um Código não é isto. Ele consagra realmente soluções dadas pelo )e-
E ir conferindo, cada vez, uma densificação àquele preceito que estava até então e)evado a um nível de princípio, e portanto muito etéreo, muito vago.
Sob esse aspecto, então, o "direito alternativo" não apresenta novidade?
gis)ador, vazadas necessariamente numa Jinguagem ahstrata, porque a norma não trabalha com casos concretos. O intérprete, ao aplicá-lo, tem que descer da abstração até o concreto, num processo gradativo de -como dizem os portugueses - densificação semântica.
CELSO BASTOS Todas essas questões, se se deve ou não obedecer à Lei, são mal postas, pois que, evidentemente, a Lei é o referencial básico mas não o ponto final da interpretação jurídica. É por isso que se vai encontrar na própria Constituição alemã artigo que estabelece o dever dos Poderes de obedecer à Lei, mas acrescenta:eaoDireito. Hoje não se exige somente a obediência cega à Lei, mas ao Direito, que é portanto algo diferente da Lei. O Direito compreende a Lei, mais o enriquecimento que lhe é trazido pela jurisprudência, pe)os doutrinadores, que amenizam os
seus rigores, aparam-lhe as arestas, conferem um sentido segundo a evolução dos tempos. Portanto, a pergunta tem de ser respondida no sentido de que a Lei deve ser o ponto fundamental de escoramento do Direito, sob pena de esvaziannos todo o processo de avan~ que acreditamos existir no Estado de Direito. Não vou discutir nuances como "democracia pluralista", "participativa", ou mesmo "democracia social", ou Estado de Direito democrático, como é a afirmação de nossa Constituição. O que é importante é traduzir qual é a postulação fundamental do nosso sistema jurídico. Ninguém pode se intercalar, pela sua vontade própria, à expressão da vontade popular. Nem mesmo um juiz. É bom que fique claro. O excesso de poder interpretativo para poder desmentir e desconfirmar a atividade dos que, em nosso sistema, representam o povo, é uma atividade autoritária, só concebível em regimes despóticos.
À vista do que disse, qual é a críJica mais profunda que, a seu ver, merecem os líderes "alternativos"? CELSO BASTOS - É evidente que, para o marxista, a Lei não tem substância, ela é um mero pretexto para aplicar um "princípio maior'', que é o princípio socialista. Em nome desse princípio se transmuda tudo, inclusive, tranqüilamente, o que estiver escrito na Lei. Se os defensores do "direito alternativo" são pessoas que eu lastimo ainda perfilhem essas crenças, que são repudiadas mundialmente, se eles ainda têm esse vestígio marxistizante, que então o formulem explicitamente. Entrem no PT ou num partido da mesma origem, e façam política.
Dizem que, quem pensa assún, não se condói com a pobreza ... CELSO BASTOS - Essa questão de se condoer com a pobreza, tiro esse privilégio de qualquer esquerdizante, porque ninguém se condói tanto com a pobreza quanto eu. Posso admitir que alguém empate comigo, mas mais não! Todos estão de acordo em que os
homens são por natureza iguais e têm de se beneficiar de um mínimo de riqueza. Evidentemente são iguais, no sentido da
homem resignadamente pobre ou voltado à grandeza material.
Como joga o Direito dentro desse conJexto?
CELSO BASTOS Na verdade, dentro do sistema ocidental, o que se faz com a Lei é uma interpretação inteligente, o que todos os tribunais executam. Temos construções jurisprudenciais que equivalem à autêntica feitura de algumas leis que não foram feitas pelo legislador, mas que deveriam ter sido feitas. Que exemplo o Sr. daria dessa criação?
dignidade, mas não no sentido do talento, da disposição para o trabalho. Há aqueles que preferem, é dado subjetivo seu, certo ócio, ainda que isso não lhes dê uni automóvel importado. Quer dizer, a satisfação da sua natureza estimula o ócio.
"Se quisesse dar wna legitimação a um golpe militar, eu me basearia no 'direito alternativo'. Seria o caminho mais curto para isso. Pois se a todos fosse dado valer-se de sua profissão, como eles se valem da de juiz para alterar o Direito, por que aquele que tem a arma na mão não o vai fazer com muito mais eficiência?" Outros preferem um profundo sacrifício, uma violência até mesmo da sua natureza, "stress" constante, depressões, para atingir uma outra dimensão, que é um bem da sua personalidade. O empresário, na maior parte das vezes, mediante a inversão de seu dinheiro em títulos da dívida do governo americano, que é ainda bastante seguro, poderia víver tranqüilamente em Cannes ou Nice, no clima ameno da Côte-d' Azur, e entretanto prefere investir em instalações fabris, cujo resultado não pode prever. E ainda tem pelas costas Lulas & Cia., para infernizar a vida com injúrias e agressões! O homem num regime planificado tem de cumprir o que foi determinado pelo plano, o qual nunca consulta suas disposições de personalidade, se é um
CELSO BASTOS - Cito aqui o exemplo da responsabilidade do preponente pelo preposto. Nunca as nossas Leis civis tinham avançado a esse ponto. A pessoa contratava um empregado, ou designava um responsável para aqui, ou acolá, essas pessoas causavam danos a terceiros, e segundo as leis v igentes elas é que deveriam responder pelos danos causados. Mas a interpretação correta dos tribunais procurando o sentido profundo - é aqui que nós vamos entrando nos limites possíveis da interpretação-, o legislador pode manipular a literalidade da Lei, mas para coaduná-la com um sistema de valores prevalecente no regime onde ele atua. Ele está sob uma Constituição que consagra esses valores, e que considera crime o atentar contra a Constituição.
É uma forma de eqüidade? CELSO BASTOS - Exatamente, é uma forma de adaptar a Lei por um tratamento isonômico. Mas adaptá-la não a uma vontade subjetiva, gratuita, ideológica, própria de um segmento, de uma casta, de um grupo que por um acaso pode estar inserido num dos poderes do Estado. Adaptá-la para tornar mais efetivos os valores da própria Constituição.
O tribunal que reconheceu a responsabilidade do preponente não julgou contra ale~ mas seguramente captou o sentido mais profundo dessa lei. Manipular dessa forma a Lei pode implicar até mesmo em julgar contra a Lei. Por que não? Mas isto não implica
em julgar contra o Direito, e contra o sistema jurídico vigente. Pelo contrário, implica em desenvolvê-lo e tomálo mais adaptado aos seus valores profundos.
Qual é então o ponto de conflitância que torna realmenJe illemovível sua oposição a esses grupos de "direito alternativo"?
CELSO BASTOS - O que aconteceu no Brasil é que eclodiu, sob esse nome, um movimento específico de número reduzido de magistrados, os quais, nitidamente se alçaram a uma posição de demolidores de toda a ordem estabelecida, a qual consideram injusta. É até um direito político que têm, pois no nosso regime democrático ninguém é obrigado a considerar justa nossa ordem. Mas o que temos que perguntar é se os métodos propostos por esses rapazes são corretos. Eu não o creio. Sem falar na questão dos direüos individuais...
CELSO BASTOS - A tábua de valores dos direitos individuais é, para essas pessoas, meramente formal, e não corresponde a nada de substancial para o ser humano. Parece que sua existência se vê reduzida a essa dimensão biofisiológica de comer, digerir e dormir. E um belo dia cessar o processo fisiológico pela morte. É preciso reconhecer que o trabalho é uma forma de riqueza, muito compatível oom a dignidade humana, porque dá essa dimensão de que falei antes, de acordo com as expressões do Direito Natural. Sei que CATOLICISMO se filia a posições de Direito Natura~ das quais eu também em grande parte comungo. O homem tem essa necessidade de expandir sua personalidade. Ele não está na terra para comer, digerir e dormir. Mas para construir essa dimensão, para dar um sentido à sua passagem pela terra. E este sentido transcende o mero produzir físico. O homem não pode dar um significado mais profundo à sua vida se não tem liberdade nem para escolher o aspecto mais material da sua vida, que seria sua profissão.
"A Lei deve ser o ponto fundamental de escoramento do Direito. .... O excesso de poder interpretativo para poder desmentir e desconfirmar a atividade dos que, em nosso sistema, representam o povo, é uma atividade autoritária, só concebível e,n regimes despóticos" O amor a si próprio nem sempre é egoísmo,_
CELSO BASTOS - Lógico. É uma verdade comprovada, até por posturas não necessariamente de Direito Natural, nem mesmo religiosas. Uma pessoa que odeia a si própria, muito dificilmente poderá amar os outros. Egoísta talvez é aquele que não transcende no seu amor, que exaure o seu amor em si mesmo. Mas evidentemente o amor começa com a reconciliação dele consigo mesmo, sem o que ele não consegue transcender sua personalidade, a ponto de levar amor aos outros. Essas afirmações de que o homem perseguindo ou atendendo o seu "egoísmo" natural é capaz de propiciar o bem coletivo, não devem ter nada de surpreendente. E mais de uma vez, não sei qual desses sábios, ao mesmo tempo humorista, afirmou que preferia ser atendido pelo "egoísta padeiro capitalista", que entre-
gava com regularidade o pão na casa dele, do que por um "solidário oomunista ", que certamente nada fazia devido à ausência de pão nos regimes soviéticos.
F eila esta afirmação, que parece importante, como fica o problema do que o Sr. denominou de "excesso de poder
inJerpretativo", o qual se allogam os juízes "alternativos"? CELSO BASTOS - Nós não podemos nos manter nessa discussão do "direito alternativo", sem definir os valores que enformam nosso Estado. E que têm enformado nosso Estado nesses últimos dois séculos. Esses valores se consubstanciam no fato de que o órgão por excelência que exprime a vontade popwlar, e que é o órgão que deve dar as definições políticas da sociedade, pelo qual se deve caminhar inclusive para fazer esses avan~s sociais, é o órgão legislativo, e não o jurisdicional. Os homens que construíram em todo o mundo o Estado de Direito nunca fizeram passar pelo Poder Judiciário essa função de encarnar as mazelas sociais, porque nesta altura está se dando ao Judiciário - é isso que esses mo~s não compreendem - um poder político que pode ser negativo. Que pode, inclusive, vir no sentido inverso do que eles deseja DL
Trouxe para lhe mostrar uma frase de Aristóteles comentada por Santo Tomás de Aquino: "Melhor é que todas as coisas estejam reguladas pela Lei do que deixá-las ao arbíJrio dos juízes" (Santo Tomás, Suma Teológica, 1-2, q. 95 aJ, ad. 2)
CELSO BASTOS - Exatamente isso! Eu pensei (diz rindo) que estava descobrindo alguma coisa nova. Nada há de novo sob o sol! (*) É preciso, tanto quanto possível, anular a carga subjetiva que cada juiz como ser humano terá. Não vamos querer também que seja ele um ser absoluta mente abúlico, sem idéias e sem emoções. Mas o Judiciário é feito de molde tal a anular essas manifestações e exacerbações do individualismo, pelo processo dos recursos, pela existência de órgãos colegiados em segunda instância, de tal sorte que, no conjunto, pode-se dizer que o Poder Judiciário interpreta as leis existentes no sentido da realidade por que nós passamos. Sem essas considerações, não é possível entender-se por que não é dado agir como querem fazer esses jovens. Não é dado que os juízes manipulem a Lei, para pô-la a serviço dessas idéias. Porque esCATOLICISMO, OUTUBRO 1995
19
sas idéias são repelidas pela nossa Constituição.
idéias a respeito do que seria um Estado legítimo(**).
O Sr., na qualidade de constiJ.ucionalista, de brasileiro, como Jê b plano de alguns dentre e les, de esJabelecer um ''poder dual confrontacional", um poder paralelo em confronto com o oficial, abrindo caminho, dizem eles abertamente, para a desobediência civil?
Como vê as invasões de fazendas e conjuntos urbanos, cuja defesa é, para usar sua expressão, uma obsessão da corrente "alternativa"?
CELSO BASTOS -A desobediência civil é desses institutos qu.e em si não precisam ser repelidos na sua totalidade. Nós temos , por exemplo, Constituições qu e a consagram; a alemã, por exemplo. Mas o que se entend e por desobediência civil, não é desaplicar a Lei para a tingir fins avessos à ord em jurídica . Éo contrário! Toda vez que estiverem sendo afetados, através dos mecanismos do Estado, os valores encampados pela Constituição, aí sim é lícito descumprir a Lei para repelir essas subversões que es tão sendo praticadas. Portanto, no caso al emão se desobedece para restaurar os valores constitu cionais, não para os repudiar.
CELSO BASTOS - É fruto da mais completa demagogia. Em primeiro lugar, boa parte dos que pregam certas idéias sabe que não vai resolver o problema do povo por aí, porque nenhum país do mundo os resolveu assim. Eu, quando vejo pregações em favor de reformas agrárias radicais, pergunto: antes de mais nada, dê-me um exemplo de país em que tenha havido
Para melhor obedecer? CELSO BASTOS - Exatamente. Para melhor obedecer. Para impedir a restauração do na zismo. Isso fica evidente em diversos · pontos. Inclusive neste, qu er dizer, a desobedi ência civil.,Exatamente para propiciar ao cidadão que possa se ergu er e m qualquer momento, como defensor legítimo da ord em democrática. Mas a desobediência civil não existe para ele desobed ecer'às Leis do Estado democrático , para retornar ao nazismo! Não é isso. A desobedi ência civil não é um direito dado a todos para satisfazer ás suas
progresso com uma profunda refornia agrária. Não encontramos. Eu até acho que o Brasil poderia fazer em maior escala do que faz, mas evidentemente essa reforma agrária deveria consistir em dar terras e meios de produção para quem não tem, aproveitando desse largo patrimônio que são as terras inaproveitadas do Brasil.
350 milhões de hectares de terras devolutas na mão do Poder Público! CELSO BASTOS - E nós temos a
"0 Direito está necessariamenle fundado, cm úllima instância, sobre a ordem ontológi ca, sua estabilidade, sua imutabilidade. Em toda parte onde os hom ens e os povos estão agrupados em comunidades jurídicas, não são eles, precisamente, homens, com uma natureza humana substan cialmente idêntica? As exigências que decorrem desta natureza são as normas últimas do Direito. Tão diversas como possa ser a formulação dessas exigências em Direito positivo, segundo os tempos e os lugares, segundo o grau
~IMIMHl&i•likiiiBiiW
décima parte do território nacional na mão dos índios! Resumindo: O "direito alternativo" tanto dá amparo para desajustados sociais mais carentes, quanto para qualquer pretensão militarista de toniar o poder. Se quisesse dar legitimação a um golpe militar, eu me basearia no "direito alternativo". Seria o caminho mais curto para isso. Pois se a todos fosse dado valer-se de sua profissão, como eles se valem da de juiz para alterar o Direito, por que aquele que tem a arma na mão não o vai fazer com muito mais eficiência? Evidentemente, se for para se valer das prerrogativas da profissão, na dúvida entre o decidido pelo militar e o decidido pelo juiz, sempre prevalece o que é dito pelo militar. E eles se esquecem disso. Pois são exatamente os juízes os que mais sofrem cm todo o regime autoritário. Esse perigo deve ser debelado através do uso da Constituição , dentro de um Estado de Direito. É o instrumento para realmente controlar o Poder. No momento cm qu e o conseguirem destruir, não estão abrindo caminho a um suposto Poder jurisdicional, pois nunca houve ditadura de juiz cm nenhum país do mundo. Eles estão abrindo caminho é para unia ditadura militar.
TFPs EM AÇÃO
Renomado canonista elogia obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira Juan Miguel Montes - Correspondente ROMA - Um dos ma iores ca no nistas contemporâ neo s, o Pe. Anastácio C utié rrez C.M.F., co-fundador do Instituto Claretiano de Roma e consultor de vá rias Congregações vatica nas, concede u enfático apo io ao livro rece nteme nte la nçado na Europa, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à N obreza rom ana, de autoria do Presid e nte da TFP. Em missiva dirigida ao diretor d o Bureau d e ré prcse nraç~o das vá ri as TFPs na Cid ade Eterna, o sace rd ote assim se manifestou: " Recebi a bela obra do Prof. Plinio
Corrêa de Oliveira, vosso insigne funda dor: 'Nobreza e elites ... ' Trata-se de um livro de grande valor. Um a obra e/e ma(uric/ac/e científica, histórica, sociológica, hum ana, cristã ... in apreci.ivel . Creio que com meus 8 1 anos, meus 55 anos ele cátedra e estudos sócio-judclicos, meus 50 anos de vicia cio a/to obser-
Na Espanha, prossegue acolhida favorável ao livro do Presidente da TFP
(*) CATOLIC ISMO se co mpraz e m a prese n-
tar a se us le ito res, e m quad ro ao fin al d esta e nt.rcvista, a lg uns o utros textos e lucid a tivos , d a Do utrin a Socia l Cató lica. (••) N . d a R. : O ma rxis ta Flo rcsta n Fe rna nd es, c m e ntrev ista pa ra o j ornal do Brasil de 8 -2-87, a firm a que "hoje , no Brasil, niío há pro pria me n te uma d esobediê ncia c ivil; há um a desobediência prole tária, que rej e ita a o rde m existente; a d esobediê nc ia civil do tipo burguês está id entificad a com o a pe r fe içoa me nto da ord e m d e mocrá tica burg uesa, enqua nto a desobediência revolucionária proletária quer destruir essa ordem: esse e le me nto s urgiu rece nte me n te" .
de evolução e de cultura, seu núcl eo central, porqu e exprim e a 'natureza', é sempre o mesmo" (Pio XII, Alocução para o VI Congresso Internacional de Direito Penal, 3-10-53, "Discorsi e Radiom essaggi", vol. XV, p. 348). "Uma só causa têm os homens para não obedecer, e é quando se lhes pede algo que repugne abertamente ao direito natural ou divino; pois todas aquelas coisas em que se viola a lei natural ou a vontade de Deus, é mau as mandar ou fazer" (Leão XIII, enc. "Diuturnum", nº 16).
vatório de Roma, tenho algum direito de apreciá-la e sobretudo ele estimá-l a. Repito, é uma obra de uma maturidade e equilíbrio ele ju(zo dificilmente igualável por tantos livros, ótimos se se quiser, mas carentes disso que se poderia chamar carisma da ciência e da exp eriência de um grane/e p ensador. E para mim não são tanto os documentos de base, quanto as elaborações cio Prof. Corrêa ele O liveira, que discorre sobre os campos da história, e/a psicologia social, ela filosofia, da teologia e da é tica cristã com profunda observação e capacidade e/e síntese. Enfim, o Prof. Corrêa ele O liveira é um grande M E5TRE /em maiúsculas no origina//, que merece figurar à cabeça destas elites. A apresentação cio vo lum e é digna cio conteúdo, nobre como o tema trata do .... Minhas felicitações, e que le nha a difusão que merece".
Pedro Paulo de Figueiredo
Edição espanhola de "Nobreza e elites l1'adic io na is aná logas nas alocuções de Pio XII ao Pa triciado e à Nobreza roma na''.
Correspondente
MADRI - Na Ciltima edição de CATO LICISMO, foram no ticiados o la nça mento da o bra, em Madri, e as prime iras re pe rcussões favoráve is a esta. Apesa r de na Espa nha ser é poca de fé rias, no deco rre r da qua l mui ras pessoas viaja m, co ntinu a, de mod o cresce nte, o apoio ao livro. Dura nte um mês _d e ca mpanha, já foram ve ndidos mil exemplares do mesmo em vária s regiões do país. A título de amostragem, a presenta mos duas signifi ca tivas re pe rcussões. "Acabo de ler c/elic/amcnlc vosso número esp ecial de Covaclonga-ln form a sobre o livro da Nobreza - escreve u-nos um re ligioso. A( vai, no final de minh,1 leitura ovação, orelha e volta (expressão re lativa ao êxito, 110 desfecho de uma l o urada). Des ta vez deram plenamente no cra vo. Sentia-se necessidade ele se es tabelecer as questões co m clareza ou, para dizer m elhor, de dar a Deus o que é e/e Deu e à nobreza o que é da nobreza. Estávamos bastante fartos de tanta demagogia e de tanto inclin ar -se aos p obres, como se os nobres não tivessem direito se não de calar-se".
E d e um ex-fiscal do Tribuna l Supre mo, de fa mília fid a lga e afilhado de Afo nso XIII, Re i da Espanha qu e abdicou e m 193 1, recebemos apreciação partic ula rme nte elogiosa : "O livro p arece-me oportun(ssim o e exato; e atribuindo à Nobreza a justiça que m erece p or seus muitos m éritos, em toe/as as latitudes. Os ju(zos [ca rtas d e aprova ç~o qu e acompanham a obra/ e/os cardeais, toe/os muito acertados, e o do Padre Victorino, brilhante e meticuloso . Se tiverem ocasião, enviem, e/e minha parte, a se u insigne autor, a felicitação des te leal amigo de toe/os os Senhores e minha admiraç,'io inquebrantáve/".
Jovens evocam cavalaria medieval Em jornadas de formação realizadas na sede campestre da 1FP, em Itapecirica da Serra (SP), jovens cooperadores da associa ção têm promovido encenações teatrais, evocando episódios da História da Cristandad e. Numa dessas representações, o tema central foi o papel da cavalaria medieval , na resistência aos mu çulmanos e sua expulsão da península ibérica, no século XV. O setor teatral da 1FP, sob os cuidados do universitário Carlos Eduardo Toniolo, já conta com um variado acervo de trajes, para cuja confecção têm colaborado senhoras e moças pertencentes ao Setor de correspond entes da entid ade.
BOLÍVIA: Protesto contra visita de Fidel LA PAZ - A entidade "Jovens Bolivianos próCivili zação Cris tã" publicou , nos principais órgãos de imprensa do país, enérgico protesto contra a acolhida dispensada pela Bo lívia ao ditador cubano Fidel Castro. Referindo-se à trajetória revolucionária de Castro, o documento aponta sua participação no " bogotazo" de 1948, a instaura ção, em 1959, do regime marxista cm Cuba, com a conseqü ente persegui ção à Igreja, a instauraç~'io do " paredón" de fuzilamentos, e a tentativa de exportação da revolução cubana para a América Latina, como foi o caso da fracassada atuação de Che Gueva ra na Bolívia. Os "Jovens Bolivianos pró-Civilização Cristã" protes tam contra a clamorosa incoerência dos representantes de um sistema sócio-político baseado no estado de direito, como o boliviano, de receberem fes tivamente Fidcl Castro, o qual siste niaticamcnte despreza e agrid e esse mes mo sistema. "Sejamos coerentes com os ideais civilizados e cristãos que são o fundam ento de nossa nacionalidade, e não concedamos nossa amizade a p ersonagens de um regime que merecerá o mais severo julgamento de Deus e da História", conclui o documento.
ESCREVEM OS LEITORES
DEVOSSÃO MARIANA
Revolução e Centra- Revolução
Santa Edwiges
Nada mais oportuno que a publicação do excelente traballw do Dr. Plínio "Revolução e Contra-Revolução vinte anos depois". Ele será de grande utilidade para os novos assinantes de Catolicismo.
Meu nome é L.P.S. Gouvea., sou catequista e secretário da igreja loca~ e também admiro muito Catolicismo, que sempre se mantém fiel à doutrina da Santa Igreja Católica. Eu e muitas pessoas de minha comunida~ apreciamos muito as matérias do Sr. Luís Carlos Azevedo, sobre a vida dos santos. Gostaríamos de sugerir-lhe que, se possível, fizesse um artigo falando sobre Santa Edwiges, grande rainha polonesa que tanto bem fez pela Igreja e pelos pobres, também porque em minha comunidade temos grande devoção por esta grande santa, cuja memória celebra-se a 16 de outubro. Eu particularmente sou exúnio admirador desta santa e de suas virtudes, tanto é que fundei uma escolinha particular com seu nome. Apreciamos muito também os Cadernos Especiais, TFPs em ação etc... enfim toda revista é sensacional! Parabéns!
S.C.R. de Paula Rio de Janeiro - RJ.
Quero parabenizá-los pela excelente publicação no Caderno Especial de junlw/93 da matéria intitulada "O Juízo Particular". No mundo em que reina o materialismo, estas verdades não podem ser esquecidas. Este maravillwso artigo sôa como um forte sino em meio a tanta agitação, sendo assim fonte de numerosas graças para seus leitores. Continuem divulgando verdades como estas, com este linguajar tão católico que é usado na revista. A.A. Serri. Miracema - RJ
L.P.S. Gouvea Rio de Janeiro - RJ
N. da R.: Tendo nos chegado com bastante atraso a carta acima, não foi possível atender, no presente ano, a solicitação quanto ao artigo sobre Santa Edwiges, pois já estava preparada a matéria referente a Nossa Senhora de Luján. Contudo, levando em consideração a proposta do prezado leitor, contamos publicar oportunamente um artigo a respeito de Santa Edwiges.
Harmoniosa desigualdade A igualdade dos diversos membros sociais consiste somente no fato de todos os homens terem a sua origem em Deus Criador: foram resgatados por Jesus Cristo e devem, segundo a regra exata de seus méritos, ser julgados por Deus e por Ele recompensados ou punidos .... Disto resulta que, segundo a ordem estabelecida por Deus, deve haver na sociedade príncipes e vassalos, patrões e proletários, ricos e pobres, sábios e ignorantes, nobres e plebeus, os quais todos, unidos por um laço comum de amor, se ajudam mutuamente para alcançar seu fim último no Céu e seu bem-estar moral e material na terra (São Pio X, Motu proprio "Fin alia Prima", II e III, citando Leão XIII, Encíclica "Quod Apostolici Muneris")
SÃO PIO X E LEÃO XIII
- f2 ,
CATOLICISMO, OUTUBRO 1995 : '.;
Padroeira da Argentina: imagem bem brasileira A Providência Divina estabeleceu estreito vínculo histórico-religioso entre nossa Pátria e três nobres nações hispano-americanas: no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Luján, na Argentina, venera-se milagrosa imagem de origem brasileira, declarada, em 12 de outubro de 1930, Padroeira daquele país, bem como do Uruguai e do Paraguai
D
iz o adágio que "as Aparecida me recorda Luján. boas contas fazem os Argentina e Brasil: duas nabons amigos". ções filhas de Nossa Senhora A direção de Catolicismo a cujos povos quis Ela favorerecebeu carta de um sacerdocer com graças assinaladas e te de simpática localidade no afins. interior do Estado de Minas I...ei tor, se desde já te sentes Gerais, solicitando que nos tocado por essa invocação, ocupássemos de Nossa Sesaibas que não precisas deslonhora de Luján, Padroeira da car-te à nação innã: uma cópia Argentina, Uruguai e Paraexata da imagem da Imaculaguai. da de Luján foi oferecida Recebi o encargo, não sem fraternalmente pela Argentina me deparar, desde logo, com ao Brasil em 1936, e colocada uma dificuldade: num país na matriz de Nossa Senhora da como o nosso querido Brasil, • Paz, em Ipanema. Ali ela receonde se contam pelo menos be o afeto, não só da colônia 120 invocações mais coargentina radicada no Rio de nhecidas de Nossa Senhora, Janeiro, como o carinho de Basllica de Nossa Ser,hora de Luján, 11-11-19')2: sócios, como interessar o leitor por muitos brasileiros. cooperadores e oon-esporuienles da 1FP argentma prestam outra, como a de Luján, na Ar• •• homenagem à Padroeira nacional e aos Reis C,atólicos, pelo gentina? Transcorre o ano de 1630, Desoobrimenlo e Evangelfza,çiío da América · Entretanto, à medida que época em que nosso avoengo pesquisava, a dificuldade se evanescia de entristecido encontrará o lenitivo que e bem-amado Portugal está sob donúnio meu espírito, pois, como se verá, essa suaviza as ondas amargas da tristeza. Só da coroa de Espanha. Luso-brasileiros e devoção tem muito a ver com nossa terra. de invocá-la, incontáveis almas saem do hispano-americanos das margens do Rio ••• abatimento que as acabrunha. Seu nome da Prata fazem comércio pacificamente A devoção a Nossa Senhora de Luján transfonna o cansaço em repouso, a inentre si, como vassalos de um mesmo se me afigura, desde o início da pesquisa, quietação em paz, as aflições em inefáRei. como especialmente adequada ao hoveis consolações! Os órlãos A chamam Um cavalheiro português, cujo nome mem de nossos dias. de Mãe; as viúvas, sua defesa; e os cula História não registra, muito piedoso e Com efeito, analisando os milagres pados, seu refúgio. devoto da Santíssima Virgem, resolve que por sua intercessão se foram operanSerá preciso apresentar provas disso? construir em sua estância, na localidade do no decurso de sua ação já três vezes de Sumampa de Cónloba do Grande TuOs anais que registram os grandes feitos secular, vemo-la manifestar-se de modo de sua história, as doações que estiveram cumán (hoje Santiago dei Estero, na Arconstante como a grande Consoladora na origem dos ornatos de seu altar, as gentina), uma ermida dedicada à Imacudos Aflitos. peregrinações incessantes ao seu Sanlada Conceição de Nossa Senhora. A aflição de espírito bem pode ser tuário Nacional falam mais alto que a Para tanto, escreve a um patrício, reconsiderada como sinal distintivo do ho- eloqüência de qualquer discurso a esse sidente no Brasil, encomendando-lhe mem de hoje. uma imagem da Virgem para sua capela respeito. É na Virgem de Luján que o coração em Sumampa. O amigo envia-lhe, não se Luján me faz lembrar Aparecida! E CATOLICISMO, OUTUBRO 1995
23
Nesse instante, os bois se põem a andar, sem qualquer estímulo. Vendo no ocorrido a mão de Deus, que assim tão claramente se manifestava, entendem que a Virgem Maria desejava um santuário naquele lugar. Abrem o caixote para ver a milagrosa imagem - era a da Imaculada Conceição - e lhe dão o vocativo de Nossa Senhora de Luján, porque foi à margem do rio deste nome que se deu o prodígio. De simples oratório a Basílica
Imagem venerável de Nossa Senhora de Luján
sabe bem por que, duas esculturas, em caixotes separados: uma, da Imaculada, e a outra, da Mãe de Deus com o Divino Infante nos braços. Prodígio
Após tranqüila travessia marítima, as duas imagens chegam ao porto de Sancta Maria de Buenos Aires, sendo colocadas num dos carros de boi que levavam mercadorias para o interior. Três dias depois, a caravana acampa a uns cinco quilômetros da vila de Luján, num rancho pertencente a outro português, D. Rosendo de Gramas, proprietário de terras na região. Ali pernoitam. Na manhã seguinte, tratam de ajuntar os bois e seguir viagem. Sucede então um prodígio que enche de assombro os circunstantes : todas as carretas abalam facilmente, exceto a que levava as imagens. Por mais esforço que fizessem, o carro continuava imóvel, como se uma força invisível o tivesse chumbado à terra. O carreteiro, indagado sobre o que transportava, responde que nada de extraordinário, exceto dois caixotes com imagens de Nossa Senhora para um amigo. O acontecido logo repercute nos arredores, e inúmeros curiosos acorrem ao local. Admirados, os espectadores aconselham que se tire toda a carga. Imediatamente, sem nenhuma dificuldade, os bois puxam a carreta. Como por inspiração divina, um dos presentes sugere então que se tire tão-só um dos caixotes. Dito e feito: o carro ficou chumbado ao chão. "Troquem os caixotes para ver o que acontece", diz o mesmo assistente.
24
CATOLICISMO, ou:ruBRO
A pequena escultura em terracota, como a Virgem Aparecida do Brasil, mede cerca de 45 cm de altura. O título primitivo da efígie era o de La Limpia y Pura Concepción dei Rio de Luján e representa Nossa Senhora da Conceição sobre um trono de nuvens com a lua debaixo dos pés. Posteriormente, a imagem foi coberta por um manto, de cetim branco bordado a ouro, deixando aparecer só o rosto e as mãos da Senhora, estas unidas devotamente junto ao peito. Do pescoço pende enorme colar terminando com uma cruz, e a cabeça cinge uma coroa imperial. &ta esplêndida e riquíssima coroa de ouro e pedras preciosas foi confeccionada no século passado, graças às generosas doações de distintas senhoras argentinas. Foi ela benta pessoalmente pelo Papa Leão XIII, no dia 30 de setembro de 1886. E a solene coroação da imagem deu-se no dia 8 de maio de 1887.
***
Após aquele prodígio nos remotos idos de 1630, os presentes levam a imagenzinha para a fazendadeD.Rosendo, colocando-a em simples oratório. Anos mais tarde, foi construída uma capela, onde a Virgem começou a ser cultuada pelos fiéis. Como tempo, entretanto, crescem os núlagres; e a fama da Senhora se espalha por toda a região platina. Até que, no século XIX, constrói-se a imponente Basílica, obra do Pe. Jorge Maria Salva ire, intrépido missionário da Congregação das Missões.É devido a um milagre da Virgem de Luján, no ano de 1874, que ele foi salvo de ser morto por . índios ferozes. O plano do edifício ele o concebe no mais autêntico estilo gótico ogival, seguindo o exemplo das grandes catedrais européias. E assim, na Província de Entre Rios, os primeiros fundamentos da Basílica são estabelecidos em 1890. Só será concluída 32 anos mais tarde, após arrostar inúmeras vicissitudes. A Basílica - verdadeira "Lourdes transportada para a América", segundo expressão de
um jornalista chileno - recebe anualmente milhares de romeiros, provenientes de todas as partes da América Latina.
CATOLICISMO Preços durante o mês de OUTUBRO de 1993:
Bebidas nacionais e estrangeiras . Queijos e doces tipo europeu. Arenkes e Salmons
ASSINATURA ANUAL
Em Sumampa
A esta altura, alguém, talvez, possa ter-se perguntado: e o que foi feito da imagenzinha de Nossa Senhora com o Menino transportada no outro caixote? Através de novo prodígio, manifesta ela a vontade de ficar em Sumampa, onde atualmente é venerada sob a invocação de Nossa Senhora da Consolação. Com efeito, quando faltava apenas um quilômetro para chegar ao local de destino, o guia nota que o animal que transportava a caixa com a imagem desaparecera. Mas não tardou em encontrá-lo descansando placidamente junto a uma árvore, não distante do solar do destinatário. Foram vãos todos os esforçoas para fazê-lo completar seu itinerário. Vendo nisso, mais uma vez, a mão da Providência, entenderam que junto ao tronco daquela árvore deveriam erigir um santuário para a imagem. O que realmente foi feito. Ao longo dos séculos, foram se somando os testemunhos de ser essa imagem "milagrosíssima". Todos os ornatos de que ela se reveste são fruto "das esmolas dos que vêm em romaria ao santuário agradecer os milagres da Santa Imagem. .. "
*** Voltemos a Luján.
No dia 12 de outubro de 1930, Nossa Senhora de Luján foi declarada Padroeira das Repúblicas da Argentina, Uruguai e Paraguai. Na ocasião, foi rezada emsua Basília uma oração, da qual extraín~, por sua altíssima oportunidade, o seguinte trecho: "Protege~ grande Senhora, vossa Vila [de Luján] e vosso povo argentino em suas diversas províncias. Concedei igualproteção aos povos irmãos do Uruguai e do Paraguai; mantende-os na Fé católica apesar das maquinações dos incrédulos, dai-lhes sacerdotes zelosos de sua salvação, autoridades honradas e católicas e inspirai a todos Fé, abnegação e amor de Deus". Com esta súplica à Virgem !macula.da de Luján encerro o presente artigo. Luís CARLOS AzEVEDO
*
COMUM: Cr$ 3.000,00
CASA ZILANNA
COOPERADOR: Cr$ 4.000,00
MERCEARIA
BENFEITOR: Cr$ 7.000,00 GRANDE BENFEITOR: Cr$ 14.000,00 EXEMPLAR AVULSO: Cr$ 300,00
PROFESSIONAL CENTER ODONTOLOGIA ORA LUC/A HELENA CRAVERO
Rua ltambé, 506- Higienópolis São Paulo - Fone: 257-8671
ORTODONTIA CRO: 40.304
ORA ANA LUIZA CRAVERO
Advocacia civil, trabalhista e empresarial
SERGIO J. HIRANO ALFAIATE
Largo 7 de Setembro, 52 - 2° And. S/ 204 Liberdade - São Paulo - SP Próximo ao Forum João Mendes Tels.: 36-9298 - Res.: 278-1212 Condições espedais para sécios, cooperadores e correspondentes da TFP
ENDODONTISTA CRO: 28 .405
DR. GERSON SH/GUEMOR/ ADVOGADO
Rua24 de Maio, 188 - 2il sobreloja, sala 226 Fones: 223-3180 e 220-5901
Rua Sergipe, 401 - Cj. 703 - Higienópolis Tel,fax: 259-8458
Condições especiais para sódos, cooperadores e correspondentes da TFP
- *-
Av. Cangaiba, 1411 -Penha Fones: 295-8779 / 941-3033
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234 - Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO
Tudo ao lado do Metrô Santa.Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu OBRAS CONSULTADAS l. Pe. Salvaire e Ham Deimiles, Histeria Popular y Novena de Nuestra Senora de Luján, Santuário de Luján, Argentina, 1951, 4ª edição. 2. J . Julio Maria Matovelle, Jmágenes y Sanlua-rws Célebres de la Virgem Santfsima en la Am~ ricaEspanola, Editora de los Talleres Salesianos, Quito, 1910.
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
_'©itõRôPALACE __ Rua das Palmeiras, 78-Tel. (0111220-0422 - CEP'0l226 TELEX 1123208 - FAX (OI 11220-9955 DDG (0111 800-S272 São Paulo
1
Ao
-:X-
Lord Palace Hotel: Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. 1
Nome: End.: CEP:
ESC\\
Assessoria Contábil &Tributária S/C Ltda. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS ;
.·
,t:. •.
Shoppings • Jardins Centro
Rua Ju lio de Castilhos, 1081 - Belém - Silo Paulo Telefones: 264-6466 - Telefax: 264-7068
ltaim
FDX
Atacadista de carnes em geral
SEMPRE FERA NOOUEFAZ
Certidões para concorrência pública Cancelam ento de protesto Regularização de Conta Corrente Assessoria junto aos Cartórios de protesto em todo País
....
.
. .:
'
,: ·< .... '
' ,• . . . • 1··.
~(
...
'
·,. '
••
,1'.·
Como todas as coisas odiadas e invejadas, o alto nasciment,o exerce fisicamente sobre os que o detestam uma ação que é talvez a melhor prova de seu direito. BARBEY D' AUREVILLY
Na Civilização Cristã, a grandeza, do senhor não humilha o servidor, mas Q eleva. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
---------·-----------------------------------------------------assit@ura ~ntia desta Talento Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Segurança . Soluções ori~ina1s ::::== Harmoma Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe Acabamento perso?alizado Local privilegiado Sucesso
NBERG
S/A
_6 0 e 7° a nda r
Ru a Ge ne ral Jard1111 . 70 3 1 . ) 56 04 1 1 - São Pa u o Fo ne. -
CIA FOX SOTECPRESS SIC LTDA.
Av. Prestes Maia, 241 - 15º and. - CJ. 1506 Centro - São Pau lo - SP Tel.: (011) 227-9547
R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
ADOLPHO LINDE
MARQUÊS DE MARICÁ
VITORHUGO
•• CIA
Norton
c onstruto ra
A inveja defende e promove a doutrina dos niveladores.
Comunismo. Uma igualdade de águias e de pardais, de colibris e de morcegos, que consistiria em colocar todos os fonnatos no mesmo padrão e todas as pupilas no mesmo crepúsculo. Isso não quero eu.
Comércio de Carnes
•
-~·
tudo com a g _
-----
-
Quanto mais variadas forem as desigualdades entre os homens que compõem a sociedade, tanto melhor atenderá esta as necessidades de seus membros.
.
SANTO TOMÁS DE AQUINO
.-: J
...
VELAS, CÁLICES e objetos de culto. Todos se concentram em "oração mental", fazem gestos rituais e olham com fixidez para uma espécie de "hóstia consagrada" erguida pelo "celebrante". Será uma missa católica? Pasme leitor: trata-se de uma sessão ocultista, realizada em Jonesboro (EUA), na qual se cultua o demônio e se invocam os deuses pagãos da Antigüidade. Os símbolos utilizados são cabalísticos. Um pedaço de papel em chamas, contendo uma" fórmula mágica", faz as vezes de "consagração" no ritual satânico. :&tas e outras ormas de "magia branca", largamente difundidas na América e na Europa, revelam a profundidade do abismo cm que caiu o Ocidente outrora cristão. O que falta para as práticas "brancas" se tomarem "negras" e o papel cm chamas ser substituíd.o por vítimas inocentes?
ú'
.
:~
.!
~\
'' :... :
..
,i,.
~i.
...
,,· .a.. . _\,~ .
• !
FUNDO DO ABISMO
. ,· ."
~.:
,,..
.,
•
,
:
CATOLICISMO
N 2 515
Novembro
Discernindo, distinguindo, classificando...
1993
...
Assestando o Foco
DA BRANCA DE NEVE AOS DINOSSAUROS O leitor já pensou o que está por detrás dessa moda de apresentar dinossauros a torto e a direito?
A
tigame nte as crianças ti1ham brinquedos qu e não só s distraíam mas as ajudavam na formação d e s ua personalidad e. As bonecas parn as meninas são um exemplo caracte rístico. Os mil cuidados qu e prodigalizavam a s uas "filhinhas " - qu e elas sempre viam como belas desenvolviam-lhes o senso m atemo, e as p reparavam muito d oce m e nt e p ara os futu ros probl em as a enfrentar na v ida·. J á os jogos dos me ninos pião, bolinhas d e g ude, balões e tantos outros- ia m fa zendo co m qu e insens ive lmente se to rnassem aptos para as rnd es batalhas da exis tência. Mas os folgue dos infa ntis tinham ainda outra ca racte rística d e primeira importância para a fo nnaçã o do cará ter do futuro adulto. Eles freqü entem ente elevavam as almas para admirar as cois as b elas , fazendo uma lig ação o mais das v ezes s ubconsciente, mas poderosa e rica , e nt re o bem , o belo e o verdad eiro . M arc antes nesse sentido eram os contos , e m que o imaginá rio infantil ia sendo povoado d e figuras belas , atra e ntes, inte ressa ntes e se mpre opostas ao m al: B ra nca d e N ev e, por exemplo. * * * De uns te mpos para cá, po rém , a s ituação se inverteu. Um mi tcri o o fole começou so prar para d e nt ro do universo infantil to do tipo d e mo nstros, cada qual mais horrendo qu e o outro. Nas televisões, nas revis tas, na impre ns a cm ge ral, os brinqu ed os e letrô1ú cos ime diatam ente se a linha ram segundo os novos parâm etros da
2
Ci\ 'l 01.ICISI\IO, No\'HIRO l!l'.1:1
mo da . Gorilas ho rre nd os, a nim a is pré-diluvi a nos e m es mo de mô nios saídos do infemo passa ra m a co nv iv er co m a. c ri a nças e m seus jogos e
Os dinossauros a rrastam as crianças ao corwívío com o horrendo
lazeres, e ass im a formá -las (a palavra co rreta seria d efo nná-las) à imagem e semelhança d e s uas ta ras e de fe itos. E<, tão nesse caso os dinossau ros, tiranossauros e outros, que se tra nsformaram numa verdad eira febre. Tamanhos d escomuna is , as pectos m edo nhos, nada ne les tem p ro po rção com a fra g ilidad e e a g rnça p róprias da infância. E ntretanto, a tr's por quatro são imping id os a ela... 111 ·smo aos adultos. & pecialm c ut na capi tal pau lista vai alca nça nd o Lris tcnotori dad ·esse tipo d e horro res. No Moru m hi 'hopping, por exempl o, exis t ' o "Parque do. D inoss,1uros ", ond as criauças · pod em 1110 11l ar com tijolos esses a1úma is p ré -dilu vi1111os, e entregar-se a di versos modos de brincar com eles. Um dos d iv rli m cnlo consiste em fi car p reso dculro de u ma gelad eira co m um mo nst ro . Isso é um jogo infantil ! O refe rido S hopping é freqü entado em m édia po r 300 crianças a c ada dia , e aos sábados por dua s mil. Numa
e na proj etada 110 parque, os mo ns tre ngos fogem dos cercad os e dedica m -se a caça r e comer visitantes ... (cfr. "Vej a", 14-7-93). É ass im que se arrebenta co m a sensibilidade infa ntil. · O Shopping E ldorado, porsua vez, mo nto u e m seu estacioname nto um a expos ição intitulada "Os dinossa uros estão de volta". Fab li cad os à b ase de borracha, plás ti co e a r comprimido, os a1úmais p ré- his tó ri cos estão espalhados po r nad a menos do que 1.400 m etros q uadrados. Al i e. tão carnívoros a lossauros de 2,7 111 de altura e 6 m de co mprime nt o ' os as ustadores ti ra nossauros d' 2, 9 m e 5 m. Eles ro 11am , mov m os o lhos, (:audas e palas. Jl á ai nda s tc rossauros, apatos au ros e parassauros (cfr. "Folha d e . Pa ulo", 9-7-93). 6 os nom es já c;1 usa m ma l-estar ! A Microsoft, •randc produtora de programas para ·o mputador, rcsolv ·u <.:o lo ·ar ·omo atração cm cu estaudc um menino de 5 anos, o qu al mos tra ao públic.:o os vários tipos de dinossauros contidos no programa f>inossaurs. Trnnsfonnado, a inda em tenrn idade, num expeli em a nim ais pré-históricos, o menino explica o modo de vid a desses seres, e , naturalmente, chega ao fim da tard e e xaus to ("Jo rnal do Bras il" , 23-7-93). Poh rc garoto ... A vizinhança com o mo1L5l n1oso, tomada como normal e até lúd ica , vai levando meninos e m e ninas a Sl· mo-
delarem jií não mais de acordo com o bem , o ve rdadeiro e o 1 ·lo. Mas sim co m o mal , o falso e o hor1,·11d o
CA
CATOLICISMO publica nesta edição matéria referente a um grande acontecimento religioso do século passado: a revelação da Medalha Milagrosa. Pergunta-se que interesse apresenta esse tema para o homem do sécu lo XX. Claro que para um público especificamente católico - como é o atingido por Catolicismo-nenhum ponto de História da Igreja deixa de trazer ensinamentos provei toseis . Não obstante, nem por serem em sua grande maioria católi cos nossos le itores, deixam eles de ser homens do século XX, o qual se caracteriza pelo gosto do resu ltado concreto, da contribuição efetiva que algo possa trazer para a resolU<,,.'ío dos problemas de nosso tempo. Sem pretender dilucidar aqui o que essa mentalidade tenha de positivo ou de negativo, convém ajudar esse gênero de leitores a ver no que um acontecimento tão
remoto como é o da difusão da Medalha Milagrosa - que teve sua origem nas revelações recebidas por Santa Catarina Labouré em 1830 - projeta seus efeitos até os dias de hoje. Neste ponto, sim, haveria muito que corrigir na menta li dade do homem do século XX, propenso a ignorar o papel decisivo dos fatores espirituais. Ao contrário do que sustentava Marx, não são os condicionamentos econômicos o elemento determinante dos rumos da História, mas o jogo do sim ou do não que uma,alma diga à graça de Deus. E neste sentido que os bastidores da história da Medalha Mi lagrosa nos fazem ver como os desígnios de misericórdia divina ficam mu itas vezes na dependência da maior ou menor docili dade das pessoas chamadas a dar execuc,'iío às comunicações celestes. A Medalha Milagrosa atraiu para a
humanidade uma superabundância de graças, que justifica a alcunha de milagrosa com que ficou conhecida. E a efígie que nela aparece é me ncionada adequadamente com o título de Nossa Senhora das Graças. Porém, o modo autêntico como a Virgem Santíssima se manifestou a Santa Catarina Labouré permi te concluir que Deus quer inaugurar uma nova era na história da humanidade em que Nossa Senhora seja efetivamente Ra inha cio Universo. O ciclo das grandes aparições mariais que teve início com as revelações da Meda lha Milagrosa em 1830, passando por La Sa lette (1846) e Lourdcs (1858) para citar apenas as mais famosas - culmina com as aparições de Fá tima, já neste século, em 1917, e apo nta sempre para o mesmo grandioso desfecho: o Reino de Maria, que será a mais perfeita concretização do Reino de Cristo, em nossos dias.
Índice Cato licismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda.
Discernindo Da Branca de Neve aos dinossauros A Realidade concisamente
2
"Organizemos os saques ... " Destaque
4
Brasi l e Cuba seguem rumos opostos Devoção mariana Intransigência dos Santos : fidelidade inarredável à sua missão TFPsemação Lançada nos Estados Unidos obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira Caderno Especial
5
Novíssimos do homem : o inferno Entrevista Ameaçada de extinção a Manufatura dos Gobelins Comente, comente
6
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o N2 13748 Redação e Gerência: Rua.Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP Tel: (011) 824.9411 Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro
11 13
17
Respondendo a um jovem leitor Hagiografia São Martinho de Tours Apóstolo das Gálias Em painel
.20
Frases e im agens
27
22
Fotolitos: Microformas Fotolnos Ltda. RuaJavaés, 681 • 01130-010 São Paulo - SP Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. RuaJavaés, 681 • 01130-010 São Paulo - SP Acorrespondência relàiva à assila· ttxae venda avusa pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Jaguaribe, 648 Conj. 02- CEP 01224-000 • São Paulo - SP- Fone: (011 ) 00-3361
ISSN - 0008-8528
Nossa capa: Montagem de C. Santi
"OrganizefflOs os saques ... • ·os saques devem ser feitos a armazéns de atacadistas ou do Governo, depois de uma avaliação dos riscos e conflitos para saber exatamente o local que vai ser atacado ... . Estou estarrecido com a passividade dos trabalhadores que ainda não começaram a matar o boi do fazendeiro para saciar a fome·. A proclamação incendiária foi lançada por Francisco Urbano, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), durante o I Encontro Regional da Cidadania, realizado a 12 de setembro passado, em Feira de Santana, Bahia. Procurando justificá-la, eis seu argumento sui generis: 'Já que existe este risco [iminência de saques nas áreas da seca]. vamos ten~ tar, pelo menos, organizar os trabalhadores para evitar viol{}ncia e baderna na hora em que eles ocorrerem·. Como distinguir tal 'apelo' do incitamento à própria violência e à ilegalidade? Poluição e estatais hindus Por mais de 300 anos, o esplendoroso edifício do Taj Mahal presénciou a ascensão e queda de impérios, foi alvo · de saqueadores que levaram
portões de prata, pedras preciosas das paredes de mármore e ouro dos túmulos. Mas tais vicissitudes representaram uma pequena ameaça àquela jóia arquitetônica se comparada com oveneno da poluição moderna. Emissões dos fornos a carvão das fundições de aço, das termo-elétricas, dos carros e das refinarias de petróleo da região estão corroendo o már-
Taj Mal/ai: rrwnumento ji.merário, obraprima elo estilo arquitetônico biruiu, ameaçado pela polui,ção moderna
more branco do famoso monumento, ameaçando-o de total desagregação. Em vista disso, a Corte Suprema da Índia ordenou que 212 indústrias da região fossem fechadas até que instalassem dispositivos controladores de emissões. Os in-
dustriais reclamam, porém, que a medida não obriga também as poluidoras empresas estatais da área ... ComunisfflO invisível O professor James Buchanan, renomado economista norte-americano, ao criticar em sua obra ' Cost and Choice, an lnquiry in Economia Theo,y'(Custo e escolha, uma pesquisa sobre Teoria Econômica) - agora traduzida para o português o intervencionismo estatal nas economias capitalistas, comparou a· burocracia ossificada a uma ditadura infiltrada na democracia". Segundo ele, o· processo burocrático de decisão tende a inviabilizar o processo democrático de escolha '. E aduz: •Regulamentações excessivas não protegem o público, mas, sim, os governos e as empresas·. Aos que bisonhamente crêem .na 'morte do comunismo' é interessante notar, desta forma, como o totalitarismo pode assumir múltiplas facetas ... É sabido que os pafses ocidentais, há décadas, rumam para um dirigismo sempre mais socialista, cerceador da liberdade individual e dos.corpos intermediários. Tai situação tem suas frisantes analogias com o sistema até há pouco vigente na
extinta URSS e demais paises do Leste europeu. Lá e no Ocidente, ele só produziu rufna e derrocada. Não basta, pois, trocar os nomes dos PCs para que a mentalidade comunista cesse de existir. TV irresponsável? Dentre os numerosos telespectadores da TV Globo, que assistiram ao filme 'Uma questão de Classe', na tarde de domingo, 12 de setembro último, houve um - o estudante paulistano, Marcos Hebert de Souza, de 11 anos, que ficou particularmente impressionado. Resolveu ele imitar uma cena da pelicula-suicldio por enforcamento- para assustar os pais. Na segunda-feira, encontrando-se só no apartamento, trancou a porta de seu quarto, amarrou uma corda no trinco, passando-a depois pelo pescoço. A brincadeira virou tragédia: o tnenino terminou se enforcando, de fato. Embora possa ser considerado um caso extremo, essa morte acidental comprova, mais uma vez, a influência direta qa TV - tantas vezes minimizada e posta em dúvida - no comportamento da infância e juventude . Em face disso, compreende-se por que a emissora em questão resolveu ... prudentemente· não se pronunciar sobre o ocorrido.
Tiro pela culatra ... As tentativas dos comunistas para estabelecer uma sociedade Igualitária sofreram revezes, dos quais só hoje tomamos conhecimento. Assim, na Polônia do pós-guerra, os planejadores marxistas procuraram subverter o · caráter da velha c plt I cultur I d qu le país, Cracóvia, cidade universitária, cons rv dora e anticomunista. Instalaram em suas cercanias um mastodôntico complexo siderúrgico: Nowa Huta (Nova Siderúrgica). Visavam com isso 'unir elementos da alta cultura Intelectual com a vltalldade das classes trabalhadoralf, segundo explicava documento oficial de 1949. Entretanto, ao Invés de desequilibrar o caráter acima descrito daquela cidade, foram os recém-chegados operários que, desiludidos com o novo sistema socialista, se tornaram o foco da resistência anticomunista dos anos 80.
Cracóvia: Grande Praça do Mercado, cujo centro é ocupado pela Galeria Gótica de Roupas, atrâs da qual vê-se a ton-e da Prefeitura
4
CATOLICISMO, NOVEMBRO 19!13 ,''.'
P-ARIAMENTO MUNDIAL DAS RELIGIÕES - Representantes de 125 religiões reuniram-se em Chicago (EUA), no "Parlamento Mundial das Religiões". Seu principal objetivo foi lançar um código de conduta comum, denominado "Uma Ética Global". O que pode ser um código moral comum entre um católico, que por definição defende o casamento uno e indissolúvel, e um muçulmano, adepto da poligamia? Conterá uma "É.tica Contraditória Uni versal" ... É impossível conciliar o bem e o mal, a verdade e o erro.
PROJETO DE LEI ELEITORAL. .. Foi aprovado pelo Senado projeto de lei eleitoral, segundo o qual somente terão representação no Congresso Nacional os partidos que obtiverem pelo
... FAVORECE COMUNISTAS-
VIDA DE CÃO I - Em Paris, contam-se 350 mil crianças matriculadas em escolas e 500 mil cães recenseados pelo Ministério da Agricultura.Há 80 nú) cães beneficiários da Previdência Social. Ou seja, quando ficam doentes ou sofrem acidentes, vão ao veterinário sem ônus nenhum para seus donos .
Apenas dois partidos serão beneficiados por essa cláusula: o PPS (ex-Partido Comunista BrasiJeiro) e o PC do B (Partido Comunista do Brasil). Em outras palavras, essas duas agremiações políticas poderão ter cadeira cativa no Congresso, interferir em decisões, obstmir votações, mesmo que não recebam nenhum voto e não representem ninguém entre os 160 milhões de brasileiros! E há papalvos que ainda acreditam no chavão: "o comunismo morreu".
VIDA DE CÃO II - Na França, os cachorros têm acesso livre a restaurantes, e cos rumam freqüentar o banco da frente dos táxis. Vão a institutos de beleza, butiqucs chiques, psicólogos e até astrólogos ... Querer equiparar o animal irracional à criatura humana é um atentado contra a ordem instituída por Deus. Ele estabeleceu uma hierarquia entre os seres, e criou o homem à sua imagem e semelhança.
menos 5% dos votos na eleição para deputado, em todo o País. Mas os próprios senadores incluíram no projeto uma exceção "para os partidos que possuam caráter nacional historicamente reconhecido, e que atuem no mfoimo há 50 anos".
DESTAO.~ BRASIL E CUBA SEGUEM RUMOS OPOSTOS Cuba sucumbe por falta de alimentos, a agricultura estagnou devido à socializaç."ío do campo. Premido pelas circunstâncias, Fidel Castro "anunciou medidas liberalizan-
tes para a agricultura, que incluem a criação de cooperativas com administraçiío autônoma e o arrendamento de pequenas parcelas de terras aos camponeses. As medidas são destinadas a reativar a produção agrícola" ("Jornal do Brasil", 16-9-93). São medidas muito tínúdas. Mas indi cam um primeiro reconhecimento do fracasso do regime comunista na ilha e um começo de abertura para a livre iniciativa. No Brasil, a atual estrutura sócio-econômica vem produzindo de modo bastante satisfatório. Se a produção fosse bem admüústrada, não haveria problemas com alimentação no País. Entretanto, eis que a Refonna Agrária nos põe nos mmos socialistas dos quais Cuba começa a fugir. Dá para entender? Sim, se tivermos cm conta que, de fato, o objetivo da socialização do campo não _é o bem dos pobres, mas modelaro País segundo uma ideologia cuja constante é gerar núséria .
*** Só alguns exemplos da produção brasileira atua 1:
A socialização do camjX), em Cuba, rndurulou em completo fracasso * Nos últimos 30 anos, o setor agropeq1ário deu um grande salto quantitativo, fazendo do Brasil um exportador diversificado de produtos primários e agroindustriais (cfr. Boletim da Federação da Agricultura do Estado do ParanáFAEP, 25-7-93). * O Brasil tornou-s 1 o segundo produtor mundial decarncs de aves, devendo atingir 3,2 milhões de toneladas até o final deste ano. Além disso, o País é o terceiro maior exportador mundial de carne de frango, atend endo pouco mais de 20% da demanda internacional desse tipo de carne (cfr. "Momento Legislativo", São Paulo, setembroi93). * Em Santa Catarina, a YakulL acabou
de colher 2,5 mil toneladas de maçãs fuji, o dobro do volume obtido na safra passada. 1,8 mil toneladas serão destinadas ao consumo interno e o restante à produçiío de suco (cfr. "Gazeta Mercantil", 30-693). * A produção nacional de cevada cervejeira para a safra 93;94 deverá chegar a 132.193 toneladas, o que significa um aumento de 12,2% em comparação à anterior ( cfr. "Gazeta Mercantil", 16-8-93). * Além do suco de laranja, o Brasil é um dos principais produtores mundiais de óleo de laranja, substância natural aromatizante com aplicação cm pelo menos 32 ramos industriais (cfr."Gazcta Mercantil ", 30-6-93).
DEVOÇÃO MARIANA
Intransigência dos Santos: fidelidade inarredável ' . ,., a sua m1ssao A firmeza inquebrantável de Santa Catarina Labouré na defesa do verdadeiro simbolismo da Medalha Milagrosa
Tomemos, sim, como objeto de nossas reflexões aquela devoção sentimental e romântica que caracterizou o tipo de mentalidade acima referido, e cujos representantes sobrevivem como náufragos pairando sobre as águas, na onda dessacralizante e avassaladora de nossos dias. Se esses católicos remanescentes de outras eras - não tão poucos, ao contrário do que geralmente se pensa - souberem corrigir sua visão distorcida da piedade, ainda poderão colocar em ação os remédios eficazes para enfrentar e vencer os males da atual crise na Igreja e na Cristandade.
Pe. j. M. AI.ade/, confessor da Santa
Depois de muitas insistências da vidente, e sobretudo impressionado com o cumprimento das profecias que ela lhe comunicara sobre a revolução de julho de 1830, o Pe. Aladel resolveu abrir-se com seu superior (Pe. Etienne), e ambos, na primeira oportunidade, obtêm do Arcebispo de Paris autorização para cunhar a medalha. Modificações introduzidas pelo confessor
*** Catolicismo apresenta hoje a seus leitores aspectos pouco conhecidos das admiráveis revelações da Medalha Milagrosa, com que foi favorecida Santa Catarina L1bouré. Decorridos 163 anos dessas aparições e 117 anos após a morte da santa, não há inconveniente em revelar, com o devido respeito, a luta de bas. tidores que a vidente teve que travar, a fim de que fossem acatadas fielmente as orientações de Nossa Senhora a respeito dessa Medalha. Essa fidelidade e firmeza de Santa Catarina L1bouré revelarão a muitos leitores a verdadeira fisionomia da santidade, que só se pode encontrar na Igreja C1tólica.
***
Na aparição de 27 de novembro de 1830, Nossa Senhora segumva um globo do qual partiam ,·aios de luz, tendo a Mãe de Deus mostrado à vidente o modelo de uma medaiha que deveria ser cunhada
O
ciclo anual das festas litúrgicas nos traz, neste mê de novembro, no dia 27, a comemoração de Nossa cnhora da Medalha Milagrosa. Na oportunidade de cada festa, a Igreja Católica sabe oferecer à consideração dos fiéis aspectos novos e antigos, que alimentam as almas, renovando nelas a fé, a e pcrança e a caridade, e todas as virtudes. Inspirado no exemplo da Igreja,
Conforme os tempos e os lugares, formam-se, em meio ao povo fiel, noções correntes sobre o que seja a santidade, que nem sempre correspondem à concepção autêntica da Igreja. Certa escola de espiritualidade, que concedia uma prioridade exage.rada à doçura, à bondade e à tolerância cm detrimento da fortaleza, da combatividade e das virtudes austeras, começou a inculcar seus princí· pios cm fins do século xvm, cm plena fermentação da Revolução Fran esa. ·la se opunha assim caindo no excesso oposto ao azedume e ao rigorismo moral mal entendido que, por obra d janscni mo, contaminara incontáveis ambientes católicos, incl usivc, alguns deles, avessos doutrinariamentc a essa perniciosa heresia.
Tal escola encontrou o caldo de cultura propício para a sua proliferação com o advento do romantismo, logo no início do século XIX, e estendeu suas vagas dominadoras até quase nossos dias, quando, por seu turno, como fruto para muitos inesperado do Concílio Vaticano II, uma onda de dessacralização começou a varrer a Igreja. Não é propósito deste artigo tratar nem dos resquícios de jansenismo, hoje quase extintos nas manifestações da piedade católica, nem, muito menos, do tema - entretanto quão atual! - da tormenta pós-conciliar, que provocou amargurados comentários do próprio Paulo VI, o Pontífice que levou a termo e promulgou, com sua autoridade, os documentos do Concílio Vaticano II 1•
Imagem da 'Virgem do Globo" esculpida em 1876, segundo as indicações da Santa, pouco tempo antes de sua morte e conse,·vada na ,·ua de Reuilf;y, em Ptwls
Santa Catarina Labouré e as admiráveis revelações da Medalha Milagrosa são temas que Catolicismo tem repetidamente tratado 2 A espiritualidade dulçurosa que desejamos pôr em foco imagina que, exclusivamente por sua mansidão, e sem nenhuma forma de energia e de combatividade, os santos conquistam os corações, são por todos compreendidos, reconhecidos como tais em vida e, mal expiram, desde o leito de morte os cercam a veneração e o culto dos que com eles conviviam. Com a vidente da Medalha Milagrosa houve muito disso. Porém, não apenas isso. Os exemplos de sua vida, e o que se seguiu após sua morte, mostram uma e outra coisa. Missão contrariada
Santa Catarina Labouré foi contrariada desde os primórdios de sua vida religiosa pelo Pe. João Maria Aladel, confessor do noviciado das Filhas da Caridade, a quem a santa confiara a mensagem que recebera de Nossa Senhora . Prevendo isto, a Mãe de Deus Rainha dos Profetas - já desde a primeira aparição orientara a então noviça Catarina Labouré sobre como conduzir-se em relação ao seu diretor espiritual: "Sereis contrariada. Mas recebereis a graça. Não tenhais medo. Dizei tudo com confiança e simplicidade. Tende confiança. Não temais" 3• Essa aparição se deu na noite de 18 para 19 de julho de 1830, festa litúrgica de São Vicente de Paulo.
Quatro meses mais tarde, no dia 27 de novembro, Nossa Senhora aparece novamente, mostrando-lhe o modelo de uma medalha que ela deveria mandar cunhar, e que seria o veículo de incontáveis graças. A Mãe de Deus a fez "compreender quanto era agradável rezar a Nossa Senhora, e como Ela era generosa para com as pessoas que rezassem a Ela. Quantas graças Ela concedia às pessoas que lhas pedissem, e que alegria ela sentia ao concedê-las" 4 • O Pe. Aladel recebeu este novo relato da noviça com indisfarçado mau humor: "Pura ilusão! Se quereis honrar a Nossa Senhora, imitai as suas virtudes, e precavei-vos contra a imaginação!" 5•
Tudo agora parecia correr sobre os trilhos. Mas as obras de Deus sofrem percalços inesperados. Por conta própria, o Pe. Aladel modificou a efígie da Mãe de Deus que aparece na Medalha Milagrosa: na visão de Santa Catarina, Nossa Senhora segura com ambas as mãos um globo de ouro, encimado p0r uma pequena cruz, que Ela oferece ao Padre Eterno. Nas mãos, três anéis em cada dedo. Das pedras preciosas desses anéis partem raios de luz que significam as graças que a Mãe de Deus esparge sobre a humanidade. Nesta posição das mãos, os raios de luz caem, como é natural, para baixo e para adiante. O Pe. Aladel houve por bem suprimir o globo das mãos de Nossa Senhora, e representar as mãos pendentes, de modo que os raios partem da ponta dos dedos e das palmas das mãos ... Detalhes sem importància, dirá algum espírito superficial. A Irmã Catarina Labouré não pensava assim: na impossibilidade de corrigir a efígie da medalha, batalhou a vida toda para que ao menos fosse feita uma imagem na atitude verdadeira, e colocada num altar, no local onde Nossa Senhora lhe aparecera pela primeira vez. O simbolismo da Santíssima Virgem como Rainha do Universo estaria assim preservado. "Foi o martírio de minha vida"
Na primavera de 1876, sabendo que lhe restava pouco tempo de vida, lrmãjoana Du/es, superiora de Santa Catarina labouré de 1860 até sua morte
a Irmã Catarina, a quem o Pe. Aladel impusera silêncio sobre as aparições, sentiu necessidade de se abrir com sua superiora, a Irmã Dufês1· Esta ficou perplexa ao tomar conhecimento das modificações introduzidas pelo Pe.Aladel. Um globo nas mãos! Como conciliar isto com a imagem da Medalha Milagrosa? A Irmã Dufes pensa que a Irmã Catarina está delirando: - "Dir-se-á que estais louca! - "Oh! não será a primeira vez! O Pe. AÍ'âdel me chamava de 'vespa danada' [méchante guêpe] quando eu insistia sobre isso!".6• - "Mas ·o que será da Medalha, se isto se divulgar? - "Oh! il ne faut pas toucher à la Médaille!" ("Não se deve mexer na Medalha") - retorquiu a santa 7 •• Com efeito, 45 anos depois de a Medalha ter dado a volta ao mundo,
Pe. Antonio Fiat CM, Geral dos Lazaristas, que obteve, em 1880, licença da Sagrada Congregação dos Ritos para colocar uma imagem da Virgem do Globo na capela das aparú;ões, na rua du Bac
operando autênticos milagres e outras maravilhas da graça, não era mais oportuno alterar a forma pela qual se tornara conhecida. A solução era pois fazer uma representação complementar, conforme pleiteava Santa Catarina L1bouré. A Irmã Dufês, entretanto, insiste: - "Mas se o Pe. Aladel recusou, ele teria suas razões. - "Foi o martírio de minha vida", replica a Irmã Labouré, que assim revela a batalha pertinaz que teve de conduzir para se manter fiel à revelação recebida 8• A Irmã Dufes pede que ela forneça os detalhes para o trabalho do escultor: os traços da Santíssima Virgem - orienta a Irmã Catarina não devem ser "nem muito jovens, nem muito sorridentes, mas de uma gravidade mesclada de tristeza, a qual desaparecia durante a visão, quando o rosto se iluminava com as
claridades radiosas do amor', sobretudq no momento em que Ela rezava" q. Por fim. a Virgem do Globo
Feito o esboço pelo escultor, a Irmã Dufes manda que a Irmã Catarina o vá ver. Ela não consegue esconder sua decepção. "Não, não é isto!". A Irmã Dufes a faz percorrer todas as lojas de imagens sulpicianas (do estilo de Saint-Sulpice) para tentar descobrir o modelo adequado. Pesquisa inútil. Algumas semanas depois, a encomenda é entregue. A Irmã Dufes não a coloca na capela, mas, discretamente, em sua sala de trabalho, · e manda chamar a Irmã Catarina. Esta analisa atentamente. Vários detalhes de sua descrição foram escrupulosamente atendidos: o globo de ouro encimado pot uma cruz, a serpente esverdeada com manchas amarelas,
Pe. Luciano Mísermont CM, vice-postulador do processo de beatificação de Santa Catarina Labouré, seu biógrafo e ardente defensor
que Nossa Senhora esmaga sob os pés. Mas Santa Catarina não manifesta nenhum entusiasmo; pelo contrário, faz uma careta. A Irmã Dufes, um tanto decepcionada com o resultado de sua iniciativa, a admoesta: - "Não vos torneis muito difícil. Os artistas desta terra n;ão podem realizar o que eles não viram" 10• Quatro anos depois da morte de Santa Catarina Labouré, o Pe. Fiat, novo Superior-geral, manda fazer um modelo ampliado da imagem executada pela Irmã Dufês e instala-a num altar construído no local indicado pela vidente. Depois de várias peripécias, em que a imagem da Virgem do Globo deveu ser retirada desse altar por determinação da Sagrada Congregação dos Ritos, foi ela finalmente reentronizada no mesmo altar, após intervenção pessoal de um Bispo lazarista junto ao Papa Leão XIII.
Devoção a Nossa Senh ra das Graças no Brasi 1 Graças insignes e prodígios alcançados recentemente mediante a Medalha Milagrosa E considerável o número de narrações que chegam à redação de Catolicismo, relatando a admirável proteção que a Medalha Milagrosa concede, em nossa Pátria, ..ª seus devotos ou até a pessoas que simplesmente a conservam. Dentre, es~es. rel_a_tos,_ destacamos alguns dos tna1s s1grnficativos, que publicamos a seguir.
Criança salva de seqüestro Contou-me ontem uma sra. o seguinte fato: "Há uns 15 dias, um menino foi seqüestrado. Ele estava sob os cuidados do avô, pois seus pais tinham viajado para os Estados Unidos. "Quando os seqüestradores pegaram o menino das mãos do avô, este tirou uma medalha de Nossa Senhora das Graças, que tinha consigo, apertou-a na mão e se pôs a rezar. Já dentro do carro com o menino, os seqüestradores não conseguiram sair. Após alguns momentos, desceram do carro e devolveram o menino, dizendo que na frente do carro havia uma Senhora, que não os deixava sair de jeito nenhum. :.. " (F.S.L. - Juiz de Fora, MC).
8
CATOLICISMO, NOVEMBRO 1!1:1:j
Pagão convertido antes da morte Fui visitar uma freira na Santa Casa .... Em conversa, ela me disse, na maior tristeza, que perto de onde conversávamos estava um doente, muito mal, com c~nce~ no p~lmão. ~ra um chinês que nao tinha sido batizado e que, infelizmente, iria morrer pagão .... Senti profunda pena e quis visitá-lo .... Ofereci ao doente uma Medalha Milagrosa que ele aceitou, pregando no pijama. Respirava com dificuldade, pois o pulmão já estava quase totalmente tomado. Fiz uma visitinha rápida, deixando-o entregue a Nossa Senhora. Mais tarde, a Irmã perguntou se _não queria se tornar cristão, ser batizado .... Ele queria muito. Sempre desejou ser cristão-..Tinha profunda simpatia pelo Cristianismo, mas nunca achou quem o ajudasse .... Já quase sem forças preparou-se para o Batismo .... Quando o padre perguntou se queria receber o Batismo, como que transfigurado respondeu: "Quero muito!" Depois de batizado, disse que queria comungar todos os dias. Fez uma con-
fissão geral de toda a sua vida e continuou comungando cada dia. Quando já estava mal, muito mal, telefonou à Irmã pedindo que queria ser crismado. Estava vivendo seus últimos dias, mas, mesmo sem forças, fez questão de se levantar, vestiu seu melhor terno para receber o Sacramento do Crisma. Poucos dias depois recebi a notícia de que ele havia morrido. Fui vê-lo. Tinha uma fisionomia de felicidade. Nossa Senhoratinha levado aquele filho para o Céu, coma alma lavada nas águas do Batismo. E pela primeira vez, num velório, sentia o coração em festa e rezei o Magnificat (Y.B.T.P- Belo Horizonte, MC). Há um ano, montaram uma discoteca em frente a minha casa. A vida de minha família se transtornou. Fiz tudo para a vizinhança protestar contra o barulho infernal e o ambiente
de pecado. Mas nada consegu i! O Vasculharam o terreno, mas não tempo foi passando e a agitaÇcío auacharam nada. O estabelecimento está mentando. à venda e a Medalha continua lá, deLembrei-me, então, da Medalha monstrando que é realmente poderaMilagrosa. Nossa Senhora certamente sa ... (L.C.M- São Paulo, SP). daria um jeito... Coloquei uma medalha numa fresCura de tumor maligno ta do muro da discoteca, e comecei a As pessoas que travam contacto rezar, eu e minha esposa, para Nossa com a Medalha sentem, por uma graça Senhora atender o meu pedido. especial que e la irradia, que podem Não demorou muito e o movimenagarrar-se a e la e obterem da Mãe de to começou a cair, cair... e a discoteca Deus a solução para os problemas que está à venda! as afligem. Referem-se, algumas delas, A vizinha me contou que o proprieà Santinha da Medalha, com carinho e t.ário foi "chorar as mágoas" com ela, bastante respeito. dizendo que ia vender a casa porque Um fato aqui ocorrido: a pequena nem a benzedeira que e le chamou Marlene foi internada às pressas com para "fazer um trabalho" lá dentro conforte dor de cabeça. Os médicos idenseguiu recuperar a .fretificararn um tumor canceroso na parguesia. te anterior da cabe<;4. A biópsia acuA reza dela não dava sou tumor maligno, conforme laudo certo, embora ela insistismédico, entranhado há dois anos no se. Ela dizia: "Nas depen- · interior da cabeça. Cheio de esperandências do prédio há ai- · ça em Nossa Senhora das Graças, engum objeto que atrapalha viei, por intermédio de sua avó, a mie eu - não consigo fazer lagrosamedalha,nacertezadequeela nada enquanto ·ele não a usaria. A pequenina esteve às portas for retirado". da morte durante quase um mês, na
UTI da Casa de Saúde São Raimundo, em Fortaleza, mas teve inesperada melhora, recebendo alta no final de mais- ou menos 30 dias. Hoje está conva lescente em casa de um · tio naquela capital. Visitâmo-la recentemente e verificamos est.ar o seu pulso esquerdo envolto com a corrente e a Medalha Milagrosa. Desde o momento de sua internação começamos a novena, o que continuamos a fazer, esperando o milagre de sua cura complet.a O.J.C. - Jaguaribe, CE).
Novena obtém alta médica Uma senhora levou a Medalha para o marido no hospital e começou a novena com ele. O marido estava com insuficiência cardíaca, cirrose no fígado, uma outra doença nos rins e praticamente desenganado. Antes de terminarem a novena, o médico a chamo\J e disse que não sabia como explicar, mas que dos problemas só restava a insuficiência cardíaca e melhorada; as outras haviam desaparecido e por isso deu alta e o marido já está em..,.casa (A.D. - São Paulo, SP).
de Deus, repassado de uma intimidade e ternura indizíveis, culminando, por fim, com as duas manifestações da Medalha Milagrosa-é lícito pensar que, se tivesse havido fidelidade ao que foi determinaqo por 'Nossa Senhora, o oceano de graças derramadas sobre o mundo teria sido ainda maior. E isto teria possivelmente feito reverter o processo revolucionário, o qual vai encaminhando o mundo todo ·para a desordem, a confusão e o caos, num reino que não seria excessivo denominar de reino do demônio 13 •
Prudência humana e ousadia dos Santos
Resta saber por que o P~. ,Aladel procedeu daquela maneira,; rechaçando as reiteradas insistências da vidente. Ao que parece, ele receava ter complicações com a Sagrada Congregação dos Ritos, cujas normas em matéria de iconografia eram então muito estritas, preferindo ater-se aos modelos já consagrados pelo uso. O receio não era de todo infundado seja dito como atenuante, em defesa do Pe. Aladel - , conforme depois se comprovou no episódio da Virgem do Globo, resolvido apenas com a intervenção pessoal de Leão XIII, segundo acaba de ser dito. Faltava porém ao Pe. Aladel a ousadia dos santos. "Ide a Roma, obtereis mais do que pedirdes", dizia a Irmã Catarina Labouré 11 • Previsão que se cumpriu ao pé da letra, após a sua morte. O Pe. Aladel deveria ter tido em mente que se Nossa Senhora ordenou cunhar a Medalha de uma forma e não de outra, Ela haveria de dispor as coisas para que viessem de Roma as aprovações necessárias. Enfim, Nossa Senhora aceitou a Medallfa conforme foi feita, e inundou o mundo com o oceano de graças de todos conhecil 1o [ver quadro de algumas graças recentes obtidas em nossa Pátria, às pp. 8-9). Cabe entretanto perguntar se tais graças não po-
ANTONIO AUGUSTO BORELLI MACHADO
Foto da Santa pouco antes de sua morte, cujo olhar, embora transparente e profundo, apresenta, de acordo com o Pe. René Laurentin, uma peculiaridade: "o olho direito 1·eflete as provações que ela suportou"
deriam ter sido maiores. Esta era a opinião pessoal de Santa Catarina Labouré, para quem as sucessivas recusas do Pe. Aladel redundavam em .vocações menos numerosas para as duas famílias religiosas fundadas por São Vicente de Paulo: os Padres da Missão (lazaristas) e as Filhas da Caridade 12• Considerando o conjunto das revelações com que foi favorecida Santa Catarina Labouré - as visões do coração de São Vicente de Paulo, a de Cristo-Rei despojado de suas vestes, o colóquio de 19 de julho com a Mãe
NOTAS
1. Cfr. Alocução aos alunos do Seminário Lombardo em 7-12-68; Homilia Resistite fortes in lide, de 29-6-72. 2. Cfr. Catolicismo nº 359, nov./80; nº 445, jan./88; nº 447, março/88; nº 467, nov./89. 3. R. Laurentin, Vie authentique de Catherine Labouré, Desclée De Brouwer, Paris, 1980, vol. I, p. 85. 4. Op. cit., p. 91. 5. Op. cit., p. 92. 6. Op. cit., p. 264. 7. Op. cit., p. 265. 8. Op. cit., p. 265. 9. Palavras conservadas pelo Pe. J ulio Chevalier CM , do ·r elato que ouviu da Irmã Dufes; in René Laurentin, Catherine Labouré et la Médaille Miraculeuse, P. Lethielleux, Par.is, 1979, vol. II, p. 111. 10. Pe. R. Laurentin, Vie autbentique de Catherine Labouré, Desclée De Brouwer, Paris, vol. I , p. 269. 11. Op. cit., vol. II, p. 502. 12. Op. cit, p. 411. 13·. C:fr. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte III, C:ap. 111.
Gotpo incon-,,pto de Santa Catarina Labouré exposto na capela da n,a du. Bac, em Paris; o rosto, porém, tendo descorado, foí recoberto com uma camada ele cera
TFPs EM AÇÃO
Lançada nos EUA obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira WASHINGTON -Num Seminário to que tem muito de análogo com o nas- protagonistas e corifeus do Iluminismo. Internacional realizado a 28 de setembro cimento de um homem. Mas com isso de Baseados nas falsas sol.uções que Lhe último, no prestigioso MayDower Hotel, diferente que nascem a todos os instantes deram, tais iluministas e seus sequazes desta capital, foi lançada a edição nortecrianças bem constimúlas, saudáveis e convulsionaram todo o mundo civilizaamericana da obra Nobreza e elites tradicapazes de viver toda uma existência do, a partir de fins do século XVIII até cionais análogas nas alocuções de Pio normal. nossos dias. De então para cá, a bem XII, um tema que ilumina a história soNão se pode dizer, pois, que qualquer dizer não houve revolução a que ele fosse eia! americana, de autoria r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - estranho, nem guerra com do Prof. Plinio Corrêa de cuja motivação ou com Oliveira. cujo desfecho ele não estio evento contou com a vesse relacionado. entusiástica participação A igualdade, sobre a de 800 pessoas, tendo qual discorremos, fazia <:omparecido membros da parte da trilogia ambígua nobre:za européia, destacaLiberté, Égalité, Fraternidas personalidades do moté, tão fortemente controviniento conservador, do vertida que sobre o modo mundo religioso, político e. de a interpretar encontramilitar norte-americano, mos dissonâncias até em bem como sócios, coopetextos pontifícios. radores e correspondentes Não é nosso intuito de diversas TFPs. reabrir aqui a controvérA presidência do Senusia, mas analisar convosnário, que alcançou pleno co, se não toda a famosa êxito, coube ao conhecido trilogia, pelo menos o selíder conservador Sr. Morgundo termo dela, égalité. ton C. Blackwell, PresiE isto, não do ponto de dente do Instituto de Lidevista estritamente filosófirança e membro do Conco, mas segundo a sente o Prof Plínio Gorrêa de Oliveira selho Nacional do Partido homem contemporâneo, o Republicano. O conde Andreas von Mesimples nascimento ocorrido nessas con"homem da rua" que constitui por toda ran, da Áustria, foi o Presidente de honra dições promete revolver de futuro almas parte a maioria "soberana" à qual os do evento. e corações, e -a fortiori -não traz a regimes representativos atribuem ainda A Arquiduquesa Môiuca da Áustria, garantia de que mudará os rumos dos hoje a voz decisiva. Duquesa de Santangelo, Don Baltasar de povos e das civilizações. Este é um grande tema sobre o qual Casanova y de Ferrer, Duque de MaqueE o lançamento de um livro? A imo homem contemporâneo é chamado a da, da Espanha, o Marquês Luigi Coda portância deste ato está em relação darsuaopinião,nãomaisnodesamparo Nunziante di San Ferdinando, da Itália, e direta com o alcance do tema de que doutrinário de eras anteriores, mas à luz o Deputado norte-americano Robert K. este trata. Desde que seja um grande esclarecedora das famosas alocuções de Dornan foram convidados especiais. tema, por certo o livro moverá almas e Pio XII. E é sobre este tema, que, com quiçá até civilizações. E isto, ainda que partteºular atença-o, "OS o·cerecemos /10,ie Após a realizaç.ão de três painéis sov ,, , bre assuntos relacionados com a temática o Livro, considerado em si mesmo, não algumas reflexões, contidas aliás neste do livro, dos quais participaram exposiseja um grande Livro. Livro cujo lançamento vossa ilustre pretores do calibre do Almirante Thomas sença assinaladamentecomemora. Moorer, ex-chefe do Estado-Maior ConA questão da igu-,ldade junto das Forças Armadas dos Estados Limites da desigualdade U1udos, o Seminário encerrou-se com a Quanto ao problema da igualdade, apresentação da substanciosa conferênda harmonia dela com o legitimo bem Muito sumariamente exposta a matécia do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, comum dos povos e das nações, em époria, seja-nos dado dizer que os Limites da impedido de comparecer àquele ato. Descas anteriores já se haviam debruçado desigualdade estão traçados na própria tacamos os seguintes tópicos dessa peça esporadicamente pensadores fundados natureza humana. Isto é, por ser naturaloratória, lida pelo Sr. Raymond Earl Draem pressupostos ai iás muito divergentes mente inteligente e livre, o homem ke, presidente da TFP norte-americana: entre si. Especialmente, esse tema foi todos os homens - têm uma dignidade O lançamento de um livro é um evenversado - e com quanta paixão! -pelos comum que deles faz reis do Universo.
Debaixo desse ponto de vista todos os homens são iguais. E o que reduza de qualquer maneira no homem essa dignidade furuiqmental e nativa, essa igualdade nawral e radica4 o mutila, amesquinha e ofende. Como corolário do que acaba de ser dito, todos os homens são iguais no direito à vida, à constituição de uma família sobre a qual exerçam sua autoridade, no direito ao fruto de seu próprio trabalho, e no direito a que seu salário seja bastante para lhes proporcionar, como Capa da ecUção norte-americana da obra do Prof Plínio Corrêa de Olweira aos seus, habitação condigna e segura, alimentaçãosuf,ciente e saudáve4 recursos para garantir aos próprios filhos ins- maior soma de qualidades intelectuais, e de esforços das mais diferentes modalitrução condigna etc. E, bem entendido, os filhos só devem ser autorizados a tra- dades. Eles que, trabalhando mais, dão balhar caso tenham alcançado a idade mais.E, dando mais, naálralmente recesuficiente para ter adquirido os primei- bem mais do que o comum dos homens. ros rudimentos de educação e instrução. Em suma, são eles os beneméritos por Em outros termos, no que todos os excelência. homens têm igualmente e pelo simples . Papel capital da família fato de serem homens, são iguais. Mas, sucede que, além dessas qualiErraria quem supusesse que tais es<j,ades básicas, os homens são dotados de inúmeras outras, que variam entre si calas se constituem exclusivamente de como que ao infinito pelo simples fato de notabilidades individuais. O homem é, por natureza, membro de uma famllia. E serem homens. E assim, a própria igualdade natu- onde está o grande homem, com ele está ral e legítima costuma ser o ponto de sua família. Assim, os degraus das várias escalas partida de desigualdades legítimas, que estão, elas também, na ordem na - sociais se constiwem naálralmente de tural das coisas. Tão numerosas elas, e famllias cujos membros são solidários tão diferentes, que seria interminável entre si na grandeza como na mediocridade ou na obscuridade. "Ubi tu Gaius tentar enumerá-las todas. et ego Gaia" (''Aqui onde és Gaio, eu também serei Gaia 'J,dizia o cerimonial Elites e bem comum do matrimônio romano. E essa solidariedade naálral se proSem dúvida às elites tão diretamente decorrentes da ordem naálra4 que pro- jeta através das gerações. A glória de um homem benemérito se transmite, com o duziram as desigualdades inevitáveis, cabe-lhes uma tarefa a favor do bem nome, a toda sua descendência. E o porcomum. Pois, se existem, devem estar tador, por via de descendência, de um dispostas ao sacrificio que essa tarefa nome ilustre, carregará consigo algo de exige, e ao aprimoramento que o perfeito ilustre enquanto esta descendência se cumprimento desta tarefa impõe. Pois prolongar através dos decênios, quiçá seria absurdo imaginar que a ordem na- das centúrias. A esta altura de nossas reflexões, tural das coisas criadas por Deus tivesse por únicos beneficiários os gozadores quanto parece vã a objeção antitradicionalista dos que se erguem contra a transempenhados tão-só em utilizar para missão hereditária de glórias e túulos seu exclusivo proveito bens cuja carênacumulados no passado! cia tenderia a criar uma desdita e uma Segttndo essa teoria, nada de mais miséria universais. Essas considerações tornam paten- normal do que ver o pai ilustre ter um te, não só a conveniência, como a ne- filho obscuro e pobre. Quanto este modo de p ensar transcessidade das figuras de escol, para o bem comum. E desfazem uma impres- gride fundamentalmente a instiwição da são falsa que espíritos superficiais têm famllia! formado por vezes acerca da situação O nobre impulso do desvelo paterno dessas figuras. leva o bom pai a querer que, quando Na realidade, são tais homens por tenha transposto os umbrais da morte, excelência os traballiadores, isto é, os deixe ao filho uma situação proporcioque empregam no respectivo traballw a nada com a do genitor. Se o pai consa-
grou toda sua capacidade de agir, em favor do bem comum, natural é que ele espere da gratidão pública que assegure ao filho uma situação proporcionada a tudo quanto seu pai deixou de ganhar para melhor servir à pátria. E não se imagine que, ao tecer essas considerações, tenhamos em vista exclusivamente as famílias de alta categoria social ou até somente as Casas reinantes. Na realidade, mesmo às famílias mais m<Xlestas estão abertas as portas de acesso a esta despretensiosa mas quão genufna glória. Aspresentes considerações tornam evidente a importância da meta com que foi escrito ''Nobreza e Elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII, um tema que ilumina a história social americana".
I
Gárgula .em forma de demôn'io observa a cidade de Paris, do alto da catedral de Notre Dame
Amor à cruz
Não desejaria terminar estas considerações, que foram tornadas excessivamente longas pelo deleite do convívio espiritual convosco, sem entretanto lembrarmos, a túulo de encerramento, uma grande e suprema verdade, cuja recordação deve iluminar os aspectos terminais da meditação desta noite, em que tantas vezes vos falamos acerca das elites consideradas em função de suas relações com o bem dos corpos e das almas nesta vidd terrena. O Evangelho nos faz ver com a maior evidência quanto a misericordia de nosso Divino Salvador se compadece de nossas dores da alma e do corpo. Basta atentar para os milagres assombrosos de sua onipotência, praticados tantas vezes para as mitigar. Entretanto, não imaginemos que esse combate à dor tenha sido o maior beneficio por Ele feito aos homens nesta vida terrena. Nao compreenderia a missão de Cristo ante os homens quem fechasse os olhos para o fato central de que Ele é nosso Redentor, e de que quis padecer dores crudelíssimas para nos remir. Sem a compreensão da Cruz, sem o amor à Cruz, sem ter passado cada qual por sua Via Crucis, não teremos cumprido a nosso respeito os desígnios da Providência. E, ao morrer, não poderemos tornar nossa a oração sublime de São Paulo: "Combati o bom combate, concluí a minha carreira, guardei a fé. De resto, está-me reservada a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia" (II Tim. 4, 7-8).
***
A todos os seus convidados a TFP americana ofereceu no fim um buffet, no elegante salão de Bailes do Mayfiower.
jlobíssímos llo bomem: o Jfnferno · Atendendo a solicitações de le itores, Catolicismo publicou em edições anteriores os três pr imei-
li
uma das sensações mais desagradáveis que pode haver), mas, ao mesmo tempo, nos rins, :1 sensação ,:os novíssimos do homem: morte, juízo particular d e uma pedra enorme que não passa e os congestiona; sentisse todo o mal-estar de um homem com e Céu. Nesta edição, encerraremos o te ma focalizando o derrade iro dos novíssimos, a saber, o o sangue altamente infeccionado, no qual corressem continuamente as piores toxinas e venenos. inferno. A existência do inferno é atestada por numeroSuponha que das narinas dessa pessoa saísse continuamente o pus mais asqueroso; nos ouvidos housas passagens da Sagrada Escritura, pela Tradição vesse vermes roendo continuamente os tímpanos, e pelo Magistério Eclesiástico. E grandes mestres da vida espiritual, como Santo Inácio de Loiola, recoe produzindo dores de estalar. Em uma palavra, mendam que se medite sobre esse local de tormenhouvesse em cada célula a maior dor de que aquela tos eternos, como medida salu tar para se alcançar célula é capaz, de maneira que a pessoa sentisse, continuamente, eternamente, a salvação. sem nenhuma interrupção, miÉ com esse mesmo intuito que lhões de martelos descarregando apresentamos as considerações abaixo. Estamos certos d e que sobre si, comprimindo e chaganelas poderão ser d e proveito parn do continuamente seu corpo. Pois bem, tudo isso é uma imao prng1·esso espiritual dos le itores. gem fraca, irreal, dos tormentos que o corpo padece no inferno, *** Imagine , caro leitor, alguém porque os sofrimentos infernais numa situação de pesadelo, sosão incomparavelmente piores do frendo todas as doenças possíveis, que esses. Pois os tormentos acima juntas, ao mesmo tempo . Quer descritos ainda podemos imaginádizer, tivesse no coração, a dor do los enquanto que as torttu-as inferenfar te; nos olhos, o tormento nais são estritamente inimagináproduzido por um tumor em veis. cada olho; na espinha d orsal, e Para se ter uma idéia disso, com reflexos em todo o apar elho Santo Inácio de Loiola faz a comsensitivo, os efeitos de um caniveparação enn·e o fogo do inferno e te d e fogo que estivesse continuao fogo da terra. mente cort,mdo a espinha de alto São João EvarigeUsta na ilha de Patmos Tomemos uma chama. Nina baixo, e triturando e esmigaguém gostaria de ser condenado a - Gravura de Gustavo Doré (1 ~O) Nesse local, o Apóstolo escreveu o lhando, com todos aqueles colapviver dentro daquela chama, queisos e dores; no estômago, todas as Apocalipse, no qual se w: "O condenado mando-se eternamente. Bastaria beberá do vinho do furor de Deus" náuseas imagin áveis (a náusea é propor a alguém que pusesse a CADERNO ESPECIAL Nº 27 CATOLICISMO Nº 515, NOVEMBRO 1993
,)
mão na chama ou somente o dedo indicador, para que a pessoa susten: tasse uma batalha de anos para evitar isso. O (pgo do inferno é tão mais devorador do que o fogo da terra, que se se colocasse um rochedo (podemos imaginar o Pão de Açúcar) nas chamas infernais ele se consumiria imediatamente, a ponto de não restar do mesmo senão um monte de cinzas. Tal é o fogo do inferno. Imaginemos agora um corpo vivo - porque o que vai para o inferno não é o cadáver, é o corpo ressuscitado e com, vida- posto eternamente num fogo capaz de, num segundo, liquefazer e queimar completamente o Pão de Açúcar. Santo Inácio de Loiola, em seus "Exercícios Espirituais", apresenta a meditação do inferno, recomendando ao retirante "tocar, de algum modo, aquele fogo, cuja ação queima a própria alma". Com efeito, as almas dos condenados, mortos antes da ressureição dos corpos que ocorrerá no fim do mundo, são atormentadas diretamente pelas chamas do infen10.
e corpo não 1it bt1iíntcgra 1 Se todo esse tormento atingisse o homem e, ao cabo de um minuto, de uma hora, de um dia que fosse, passasse, isto seria na realidade terrível, mas, afinal, seria algo passageiro. No entanto, não é o que se dá com o inferno. O precito é ali queimado continuameny. e nunca o seu corpo se desintegra, ele nunca m! ~~·e, nunca acaba. De maneira que a chama, ao n~esmo tempo o torra e o mantém íntegro. O tormento que ele sofre ao cabo de cinco quinquilhões de anos é o mesmo que paçlece no primeiro momento em que toçou tal fogo. E aquela chama devoradora, que não pára! Além da fogo há outros tormentos internos e externos: sensações desagradáveis, cheiros pútridos, visões de coisas trágicas, audições de cacofonias monstniosas. No paladar, a sensação de ingerir as matérias mais purulenta.s e asquero·sas, continuamente.
Santo Inácio de Loiola, na meditação sobre o inferno de seus "EJxercicios Espirituais", propõe ao retirante imaginar os tormentos do inferno, em seus cinco sentidos: a visão, a audu;ão, o olfato, o paladar e o tacto
medonhos. Pelas paredes do estreito corredor havia nichos, uns em frente dos outros, de onde saía fumaça quase sem chama e com cheiro intolerável. Dali, vozes proferiam toda espécie de blasfêmias e palavras impuras. "Algumas maldiziam seus próprios corpos. Outras seus pais. Outras censuravam a si mesmas por não terem aproveitado tais ocasiões ou tais luzes para abandonarem o mal. Era uma confusão de berros, de raiva e de desespero. Condenados submetidos aos "Fui puxada através tormentos do inferno - Portal da dessa espécie de corredor fachada ocidental, Catedral de Notre que não tinha mais fim. Dame, Paris. Depois deram-me um violento empurrão que me enfiou, dobrada entre tábuas incendiadas e espetada de lado a lado por agulhas em brasa. Di.ante de mim, almas amaldi,çoavam e blasfemavam. Foi o que mais me fez sofrer. "Mas o que não pode ter comparação com tormento algum é a angústia da alma que se vê separada de Deus."
Estc1. é a situação de um condenado no inferno. Pense, caro leitor, na situação de um homem que teve a desgraça de co111eter um pecado mortal e é chamado a prestar contas ante o Tribunal de Deus: um auto móvel o atropela na rua, ou c;le é atingido por um derrame fu lm inan te. Como é verdade o que diz o Espírito Santo, na Sagrada Escritura: "Medita nos teus novíssimos e não pecarás eternamente!" (EcJ. 7, 40).
~
bí1ião bo ínftrno, cm bíba
O Criado1·, em sua misericórdia, tanto quer nos livrar do inferno que dispôs que algumas almas eleitas fossem lá conduzidas em vida, para que os homens soubessem, através dessas testemunhas, o que está preparado ao homem que ousa violai· os Mandamentos de seu Deus. Entre as almas privilegiadas que tiveram a graça de, em vida, ver o inferno encontra-se a grande mística espanhola do século XVI, Santa Teresa de Jesus. Ouçâmo-la: "Havia já muito tempo que o Senhor me fazia muiú1,s das mercês que referi e outras grand-fssimas, quando um dia, estando em oração, achá-me subitamente, ao que me parecia, metida corpo e alma no inferno. Entendi que queria o Senhor dar-me a ver o lugar que aí me haviam aparelhado os demônios, e eu merecera por meus pecados. Durou brevíssimo tempo, mas, ainda que vivesse muitos anos, tenho por impossível olvidá-lo. Pareceu-me a entrada um beco bem longo e estreito, semelhante a um forno muito baixo, escuro e apertado. O solo tinha aparência duma água, ou antes, dum lodo suj-fssimo e de pestilencial odor, cheio de répteis venenosos. No fundo havia uma concavidade, aberta numa parede, a modo de armário, onde me vi encerrada estreit-fssimamente. Tudo isto era deleitoso à vista, em comparação do que ali senti. Entreúmto, o que escrevi está muito aquém da verdade." Mas não foi só nos séculos passados que a Providência quis alertar os homens para os horrores do inferno, mas também no atual que estc1.deiaa impiedade e a luxúria. Com efeito, em 1923, falecia em odor de santidade a religiosa espanhola sóror J osefa Menéndez, da Socwté du Sacré Coeur de jésus. Assim, narra ela uma de suas descidas ao inferno: "Então arrastaram-me por um longo caminho mergulhado em escuridão. Comecei a ouvir de todos os lados berros
CADERNO ESPECIAL N~ 27
3Jnstrumcnto ba justiça bíbina
)
Deus é infinito e por isso tudo o que Ele faz é marcado por esse atributo de sua divindade. Assim, quando Ele premeia os justos, é superabundante em sua misericórdia. Mas também é superabundante quando se trata de punir o pecador que, tendo recusado os incontáveis chamados de sua graça, de ter desprezado seus inúmeros perdões, morre em estado de pecado mortc1.l. Assim ensinam os teólogos, com base na Sagrada Escritura, ser o inferno o pior dos males enquanto suplício e aplicação da vingança divina: 1. Porque aquele fogo é um fogo de enxofre, segundo aquelas palavras do Real Profeta: Fará chover sobre eles suas redes; o fogo, o enxofre, o vento das tempestades será o cálice que lhes prepare (SI. 10, 7). 2. É um fogo muito ardente, muito cruel e penetrante. 3. Ccmsome diretamente as almas do mesmo modo que os corpos. 4. Tal fogo não ilumina; é uma densa treva, e atormenta os réprobos não só com sua intensidade, mas também com suas trevas, sua fumaça e seu insuportci.vel odor de enxofre. A esse propósito, diz São João no Apocalipse: "E este {o condenado] beberá do vinho do furor de
Deus, que foi derramado sem mistura na taça de sua ira e será atormentado com ofogo e o enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E o fumo do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos e não terão repouso. Dia e noite aqueles que adorarem a besta e sua imagem, e os que receberem a marca do seu nome" (Apoc. 14, l 0-11). "Meditai estas terríveis verdades, diz Santo Agostinho, e oponde aquelefogo do inferno às chamas da paixão e da cobiça que os atormentam nesta vida. O fogo material de que nos servimos se apodera dos objetos que recebe e os consome; mas o fogo do inferno devora os réprobos e os conserva inteiramente para castigo."
~tparação bt 19tu1i Por ser Deus infinitamente sábio, infinitamente bom e infinitamente belo, ele é infinitamente cativante: Deus atrai. Deus empolga, Deus interessa; a pessoa fica ávida de ve1· todos os seus movimentos, tudo quanto se passa dentro de sua essência, que iremos contemplar face a face; de maneira que tudo quanto o Céu apresenta de belo nada é em comparação com o que contemplaremos diretamente em Deus. O condenado sabe que todos os bem-aventurados estão vendo a Deus. Ele, porém, não pode fazê-lo, está mantido à distância, é o escorraçado, para quem isto foi proibid,o, porque ele não é digno, está marginalizado. E fácil imaginar o tormento que isso deve causar nele, devorado pela inveja e pelo ódio. Pode-se então ter uma idéia dos mil tormentos que percorrem a alma de um preçito. Com efeito, ensina a teologia, a separação de Deus é a pena principal dos condenados. Um Deus perdido, o bem por exceiência, o autor e o manancial de toda a felicidade.' O desejo de ser feliz é um sentimento profundo, que domina o homem e o segue por toda a parte; é o móvel de todos os nossos passos e ações. Tal desejo é obra do próprio Deus, e só Deus pode santisfazêlo: criou o çoração do homem para Si e só Ele pode enchê-lo. Por isso, aquele coração chama o seu Deus como a seu único e soberano bem ... Na Terra, o hoSanta Teresa de Ávila foi conduzida ao lugar que ocuparia no inferno, caso fosse condenada; a terrível provação, ernbora breve, marcou toda a sua · vida
CADERNO ESPECIAL Nº 27
mem, distraído e enganado por tudo o que está ao seu redor, não 1·eflete bastante sobre essa verdade, que passa des~percebida para as pessoas do mundo; mas no inferno não há distrações, porque já não há ilusão. A alma do pecador, que dormia na terra, desperta no inferno e desperta para não vol taradormir. Vêaseu Deuscomoseu únicobem, comooúnicoobjetoquepoderiafazê-lafeliz:sente, porsuanatureza,in tensaatraçãoparaseu criador; mas um braço invisível a detém, a rechaça, um intervalo imenso a separa de seu Deus. Cadeias que não pode romper a detêm em seu cativeiro.
® óbío ta
malbíção bt illtu~
E o condenado estará então eternamente sob o peso daquela maldição divina. Tal é o desgraçado estado dos condenados.
Aineaçada de extinção a Inanufatura dos Gobelins
*** Em nossa edição de setembro, no Caderno Especial dedicado ao Céu, comentávamos que essa matéria de.veria reforçar em nós a virtude da esperança - da certeza de que um dia alcançaremos o prêmio celeste. E também robustecer ,em nossa alma a rejeição a todas as manifestações hediondas da civilização contemporânea, que constituem um vestíbulo do inferno. É muito oportuno, ao concluirmos estas linhas, relembrar a necessidade imperiosa desse rechaço radical, tendo em vista que o influxo pestilencial de Satanás se torna cada vez mais intenso em nossos dias. Na medida em que os últimos vestígios da civilização cristã vão sendo extintos, o neopaganismo vai dominando
O que também faz sofrer imensamente o condenado é o ódio de Deus. Se a privação da
sempre mais a civilização e as manifestações da anticultura hodiernas. Dentre essas, lembremos a título de exemplo, a p1·esença crescente dos temas inferno e demônio na música "rock".
11 '
'
'
FONTES DE REFERÊNCIA 1. Plinio Corrêa de Oliveira, conferência pronunciada para sócios e cooperadores da TFP, em 22 de setembro de 1973. 2. Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, em Obras Completas, tomo I, traduzidas pelas carmelitas descalças do convento de Santa Teresa do Rio de Janeiro, Vozes, Petrópolis, 1946. 3.Josefa Menéndez,Apelo ao Amor, Editora Santa Maria, Rio de Janeiro, 2'edição, 1953, pp.188-9. 4. Padre Barbier, Tesoros de Cornelio a Lapi.de, tomo II, Madrid-Barcelona, 1882, pp. 458 a 467.
CADERNO ESPECIAL Nº 27
Nelson Ribeiro Fragelli Correspondente
.Estátua de Chades Le Brun, decorador de Versaill.es e grande pintor, nomeado por !,uízXIV diretor da Manufatura dos Gobelins após sua funda{;á.o em 1667. Ao fundo, um dos edí.[tcios da Manufatura
PARIS - A sobrevivência dos Gobelins pende de um fio menos resistente do que os excelentes fios de lã australiana de que são feitas as célebres tapeçârias da manufatura parisiense: a vontade política do govemo francês. De fato, a equipe do Primeiro-Ministro Balladur pretende manter o programa de transferência forçada de 5% dos funcionários públicos para fora da capital. As autoridades do Miiiistério da Cultura, do qual dependem os Gobelins, desejam preencher a quota respectiva dispersando uma parte dos tecelões entre as cidades de Beauvais e Aubusson.
Com a degradOfã.o crescente da soc'iedade hodierna, a influência demoníaca nas manifestQfÕes pseudo-culturais vai se tornando mais intensa, corno o atestam estas capas de discos de música rock
presença de Deus é dilacerante, sentir sua cólera agrava esse sofrimento. O ódio de Deus é um ódio infinito. Se nenhum de nós gosta de ser odiado, imaginemos o precito sentir contra si, eternamente, como que um olho iracundo que riunca deixa de o olhar com cólera, compreendendo que todos os tormentos que ele sofre é porque Deus deseja que sofra; porque Deus o odeia e Nossa Senhora o abandonou, sendo ele um excomungado, um rejeitc'ldo, um miserável, por toda a eternidade. Todo esse ódio, que cai como um gládio de fogo sobre a cabeça do precito, no inferno, tem como princípio e causa primeira a espantosa maldição com que Deus fulmina o réprobo no momento de sua morte. Com efeito, a partir do instante em que o pecador entra na eternidade, por causa de um só pecado mortal, ele ouve do divino Juiz esta terrível senteça: "Afastf,-te de mim maldito_,para oJogo eterno."
ENTREVISTA
Segundo os artesões, essa trasladação representaria a morte das famosas manufaturas. De um lado, ela afetaria o trabalho em equipe das várias técnicas de tecelagem e destas com a tinturaria; e de outro, os restauradores do Mobiliário Nacional, atualmente instalados nos Gobelins, e também ameaçados de deslocamento, ficariam afastados das obras de arte de que deve~ cuidar, as quais se encontram, em sua grande maioria, nas repartições públicas e museus de Paris. Em vista da resistência enérgica dos tecelões e a oposição da população, o atual Miiústro da Cultura, Jacques Toubon, por sinal também prefeito do XIII arrondissement (equivalente a bairro)
Com a derrota de Mitterrand nas últimas eleições francesas, não se esperava que o atual governo mantivesse o desastroso plano dos socialistas de suprimir precioso patrimônio cultural - várias vezes secular do país: a manufatura dos Gobelins de Paris, onde se encontra a manufatura, prometeu, depois de assumir o cargo, que "os Gobelins não serão tocados". Porém, sem fazer barulho, o novo governo está cumprindo as etapas fixadas pelos socialistas: transferir os ateliers de basse lisse para Beauvais e o centro de formação e parte dos ateliers de restauração para Aubusson; assim como não renovar nos Gobelins os postos que ficarem vagos à medida que os atuais tecelões forem se aposentando. Isso parece às vítimas um absurdo. "Simplesmente - afirmam elas - , porque aqui até a poeira é histórica". Há de fato um espírito naquele local, um "quê" impalpável emanado dos velhos prédios e que fonna a sensibilidade e a identidade dos artistas que ali trabalham. Um pouco de história ajudará o leitor a comprender o alcance da ameaça que pesa sobre a cultura francesa, se os Gobelins vierem a desaparecer.
de seus escarlates. Sucessivas gerações de Gobelin continuaram o ofício de tintureiros, até que, tendo-se tomado ricos e respeitados, abraçaram profissões liberais diversas. Porém, outros tintureiros em escarlate, os Canaye, de origem italiana e aparentados por alianças matrimo1úais aos Gobelins, sucederam-lhes no ofício até fins do século XVI. Nessa época, os Ca,haye introduziram em sua empresa familiar uma manufatura de tapeçarias
Um atelier familihr transforma-se em manufatura real
No ano de 1443, o flamengo Jean Gobelin alugou uma casa cujos fundos davam para o riacho Bievre, e instalou nela um atelier de tinturaria que rapidamente se tomou famoso pela beleza
Fachada principal do conjunto de edífic-ios da renomada Manufatura, na avenida dos Gobelíns CATOLICISMO, NOVEMBRO 1!193
17
Uma gentileza de haute-lisse, assim chaherdada do Antigo mados porque o tear de Regime madeira - que segura uma espécie de colossal Em suma, nas várias harpa de fios de lã - fica manufaturas agrupadas em posição vertical (ennos Gobelins (ateliers de quanto no tipo de bassehaute-lisse, de basse-lislisse a posição do tear é se, e da Savon1,1erie), a horizontal). arte, os estilos, os gestos No começo do reinasão os mesmos há mais do de Luis XIV, o famoso de cinco séculos. "Nós Ministro Colbert adquisomos - asseguram os riu para a coroa a indúsartesãos - um lugar de tria dos Canaye, além das savoir faire, e de transcasas vizinhas, e mandou missão desse savoir faiconstruir os atuais prére". Como bem afirmou dios, especificamente Jean Dutour, da Acadeconcebidos para remúros mia Francesa, em sua coartesãos mais destacados nos mais variados ofí- Estátua de Colbert, fundador dos Gobelins, com os olhos vendados... 1una no quotidiano Atrás, vê-se a fachada da capela, transformada "France Soir": "Esses arcios: pintura, tapeçaria, em depósito pelos socialistas tesãos, melhor, esses artinturaria, orfevreria, fundição, escultura, gravação etc. para os Gobelins devido à destruição tistas, possuem uma. polidez, uma gentileza, um amor a seu trabalho, herdaNasceu assim, em 1667, a Manufatu- dos ateliers de Beauvais. dos diretamente do Antigo Regime". ra Real dos Móveis e Tapeçarias da Coroa, mais conhecida como os Go- Cinco séculos de tinturaria: belins, sob a direção do célebre pintor uma variedade cromática Na intimidade de três Charles le Brun, o grande decorador superior à produzida por um •monumentos nacionais vivos• de Versailles. computador Numa fresca manhã de outono, As manufaturas da mantive um contacto com três desses Mas quem fala de tapeçaria ou Savonnerie e de Beauvais tapete, fala de cor. Incorporado des- tecelões, os quais. no dizer do pintor de o início à manufatura, o laborató- contemporâneo Soulage, deveriam ser Por volta de 1608, o francês Pierre rio de tinturaria desenvolveu-se declarados "monumento nacional Dupont, que aprendera as técnicas de muito entre 1824 e 1883, sob a dire- vivo". Ao chegar diante do edifício dos tecelagem de tapetes no Oriente Médio, ção de Eugene Chevreul, o qual conobteve do Rei Luís XIII hospedagem cebeu um círculo cromático, atual- Gobelins, deparei com a estátua de no Palácio do Louvre e o pomposo mente chamado círculo psicométri- Charles le Brun, primeiro diretor da Manufatura Real dos Gobelins, revestítulo de "tapeceiro ordinário do Rei em co das tonalidades, que definia tida com uma faixa de luto preta. No tapetes de Turquia e do Levante". Ven- 14.420 tons diferentes. Tal círculo páteo em frente à antiga capela-infedo o partido que podia ser tirado dessa ainda é superior, por sua exatidão, lizmente transformada em depósito arte, a coroa adquiriu mais tarde as ao produzido recentemente pelos computadores do Centro Francês de quando da subida dos socialistas ao instalações de uma fábrica de sabonepoder - a estátua de Colbert ostentava tes (em francês, uma savonnerie) que Pesquisas Científicas! funcionava nas margens do Sena, e ali Ademais, as cores dos Gobelins são os olhos cobertos com uma venda de lã instalou sua indústria de tapetes e uma fabricadas a partir de pigmentos vege- preta, como se os artesãos tivessem escola para órfãos, especializada na tais, mais resistentes ao desgaste que os querido poupar-lhe o desgosto de ver aprendiz.agem dessa arte. Nasceu assim de origem mineral usados nas tecela- sua obra desmantelada. a Manufatura da Savonnerie, a qual foi gens comuns. Mas os pigmentos vegeNosso principal entrevistado, Phitrasladada para os Gobelins sob a Res- tais são cambiantes: um mesmo vegetal lippe Lair, é um dos dirigentes do cotauração, em 1826. úão dá sistématica mente o mesmo tom; mitê ad hoc de funcionários opostos à transferência dos Gobelins, ou seja, toPor sua vez, em 1664, Luís XIV a casca de noz, por exemplo, que forconcedeu cartas patentes a Luís Hinart nece o sépia e o marrom, dá uma tona- dos menos três. Há 25 anos ele mora e para instalar, na cidade de Beauvais, lidade mais clara ou mais escura de- trabalha nesse recinto quase sagrado. Alto, magro, bigode varonil, a face sauuma empresa privada subvencionada pendendo do solo em que a nogueira foi plantada. dável iluminada pelo olhar franco de pelo rei e destinada à manufatura de tapeçarias para mobiliário do tipo de Compreende-se que para portar o artesão, todo ele estava envolto numa basse-lisse. Durante a Revolução Fran- título de tintureiro dos Gobelins seja atmosfera indefinível de operosidade cesa, a manufatura foi nacionalizada necessário um aprendizado empírico calma. pela República. Depois da Segunda de dez anos, pois a educação do olho é Enquanto conversávamos, fomos Guerra Mundial, ela foi transferida lenta e difícil de se adq1,Jirir. percorrendo os vários ateliers, a come-
18
çar pelas tapeçarias de haute-Lisse que ocupam o prédio mais antigo. Nesse local nos detivemos para contemplar o trabalho ágil de algumas tecelãs, atarefadas na execução de onze tapeçarias que relatavam a História da Dinamarca. Depois passamos aos modernos ateliers de tapetes da Savonnerie. Plúlippe encontrava-se agora no campo próprio, pois era essa sua especialidade. De tapete em tapete, dos mais variados tamanhos e estilos, a maioria dos quais inspirados em obras de artistas contemporâneos e destinados aos ministérios, dirigimo-nos ao fundo da imensa sala provida de grandes janelas, através das quais a luz natural entrava caudalosamente (a luz artificial distorce as cores). Diante de um tear de tamanho médio, dois jovens tecelões, Catherine Bartolozzi e Vincent Dupres, concentravamse numa bela tapeçaria Luís XIV. Sentamo-nos à mesa de trabalho junto a eles e conversamos longamente. Eis as opiniões de três modernos artesãos, cujas idades somadas não perfazem um século, mas cuja·arte tomá-losia dignos de serem tombados como "monumentos lústóricos".
Por que as autoridades querem transferir os Gobelins? Phillipe Lair: É uma razão exclusivamente política. É verdade que nós não representamos um setor rentável e que ocupamos locais que representam um valor imobiliário imenso. Para as autoridades é, pois, interessante vendêlos ou explorá-los. Elas negam que esse seja o motivo, dizendo que desejam fazer da manufatura um pólo artístico e cultural. Mas não creio que o Ministério da Cultura tenha grande interesse na tapeçaria, pois ela é um setor pouco lucrativo. É uma téc1úca longa, que custa caro. Nós ainda existimos porque a manufatura funciona há trezentos anos. Mas não existem grandes objetivos nem uma política coerente em relação a ela. Nós queremos que a tapeçaria reencontre sua vocação e o lugar que lhe é devido na arquitetura, na decoração. Vincent Dupres: A tapeçaria é considerada como um ofício que saiu de moda ... Catherine: Se as autoridades estudassem a situação, se elas nos concedessem recursos, se nos ajudassem, se
Que importância tem para vocês o prédio e seu ambiente? Philippe: É preciso considerar, em primeiro lugar, que o edifício foi concebido especialmente para a tapeçaria. Se os Gobelins se deslocarem daqui, seria uma ruptura com o passado ... É preciso, sobretudo, estar ligado às próprias raíz.es. A instituição vale alguma coisa, ela já deu provas de seu valor, há uma tradição, um costume, todo um passado histórico que deve ser respeitado. Vincent: É uma instituição única no mundo, porque o atelier de tinturaria, que se encontra na origem da manufatura, começou apenas 70 anos após o fim da construção de Notre Dame de Paris. Imagina o Sr. o que isso representa? Vincent Dupes tecendo uma tapeçaria em estilo Lufs XIV
nos dessem apoio, essa moda poderia voltar.
Qual é a vocação dos Gobelins? Philippe: É um ofício que faz parte da História da França, é um patrimô1úo de todos os franceses. Nós somos funcionários públicos, estamos a serviço do Estado, tecemos um patrimônio que pertence a todos os franceses. O governo não é o dono destes locais, ele é apenas o gerente deles.
Mas a tapeçaria é julgada por muitos como algo supérfluo... Philippe: Tudo pode ser elinúnado ... Podemos usar um caixote de madeira para sentanno-nos encima, ou a palha para donnir! Para que fazer uma bela poltrona para se sentar? Encontrase o supérfluo em muitas áreas! Vincent: Daí se concluiria que a beleza e a qualidade são inúteis. Além do mais, há uma desproporção entre o que custa a manufatura por ano - que não é muito - e os investimentos colossais que são feitos em outros setores. Sem falar do que ela representa em tennos de prestígio, de qualidade artística. FA.J diria que é um luxo perfeitamente acessível para um país como a França. Catherine: Nós somos o último raio de sol do XIII arrondissement ...
A maioria das tapeçarias que estão sendo confeccionadas atualmente é de estilo moderno. É isso uma concessão ao gosto do público atual?
Phüippe Laire, durante a entrevista concedida a Catolicis1110
Vincent: De nenhum modo. Se deixássemos o público escolher, estaríamos sempre fazendo tapeçarias de estilo clássico! Philippe: A téc1úca é antiga, e no espírito do público forma-se a idéia de que, com uma técnica antiga, fazem-se evidentemente coisas em estilo antigo. Catherine: Mas cabe-nos a função de manifestar, através de nossa técnica, o reconhecimento da arte de cada época. CATOLICISMO, NOVEMBIW
CATOLICISMO, NOVEMIIRO 1i1:1:1
. , · Respondendo a um jovem leitor
D
sentada pelas heresias, levou muitos monarcas a tomar a iniciativa de perseguir os hereges. Notadamente as heresias neomaniquéias que se de"Meus pais são assinantes da resenvolveram no sul da França, nos vista 'Catolicismo' há alguns anos. séculos XII e XIII-os albigenses"Estive lendo a seção 'Comente, e que assolaram progressivamente Comente ... · 'Em defesa de Américo', quase toda a Cristandade, puseram de 'Catolicismo' de junho de 1993 ..;. em contínuo sobressalto reis e impee ficaram-me algumas dúvidas que peço, por favor, expli- ,..,...,."""T"T-,----....-,...-.,.....,..,-,-,..,,.,.,...,.,;---:,-c::----.....--rr---""TIITrJrr. radores 5 • Vemos, pois, um Rocações: Foi dito que a berto o Piedoso, Rei da Igreja não inventou a França, que, no século perseguição aos hereges,· nem jamais queiXI, solicita insistentemente ao Papa medidas mou herege algum. A punitivas contra os hereperseguição aos hereges. Temos ainda, no séges não nasceu na Idaculo XII, Henrique, Arde Média nem tampoucebispo de Reims e irco Torquemada é medieval. mão do Rei da França, Luiz VII, que, por ins"Aguardando suas tâncias deste último, se respostas, fico muito apressa a perseguir os hegrato desde já. - A.L." reges cátaros. São os pró*** prios hereges que apelam À alegria de oferecer ao Papa e dão motivo a os esclarecimentos solicitados se soma a de enuma carta de Alexandre contrar, num jovem, tão III ao Arcebispo de vivo interesse por esses Reims, recomendandotemas. Passo, pois, às ihe doçura e clemência respostas: para com aqueles. Advogando, junto ao Desde os primórdios do Cristianismo houve, Papa, a causa da punição dos hereges pode ser citada parte de potentados temporais, a aplicação do o próprio Rei Luiz VII, encontrando ele, pode medidas punitivas Gregório IX entrega a kgislação canônica (decretais) compüada contra hereges 1• Isso rém, resistências por num código a um advogado do Consistório - Gravura baseada num porque, quer no Império afresco de Rafael (1515), Vaticano, Roma. Esse Pontífice estabeleceu parte de Alexandre III 6• Romano cristão do OciAté mesmo monarem 1233 os últimos .delineamentos da Inquisição Medieval dente, quer no Bizanticas temporariamente cm Alguns dos últimos Imperadores oposição à Igreja -como Felipe Auno, e sobretudo nas nações cristãs que foram compondo a Cristandade Me- romanos - antes da Idade Média, gusto, da França - ou francamente dieval, a Religião Católica, sua mo- portanto - desterravam hereges, hostis e excomungados - como ral, suas leis e doutrinas respondiam confiscavam-lhes os bens, mas, via Henrique II, da Inglaterra, responsáem muito larga medida pela organi- de regra, só aplicavam a pena capital vel pelo martírio de São Tomás Beczação e sustentação da ordem civil 2 • aos culpados de atos de violência ket - se puseram a perseguir, julgar A heresia afigurava-se, pois, fre- contra os cristãos 4 • e punir hereges, com a finalidade de A ameaça à ordem civil nas na- manter a ordem civil em seus respecqüentes vezes, comó uma séria ameaça à ordem civil estabelecida. Tanto ções cristãs da Idade Média, repre- tivos Estados.
20
esta vez é de um jovem leitor de Montes Oaros (MG) que me chega uma carta:
CATOLICISMO, NOVEMBRO l!l!l:l
mais quanto quase todas as heresias, que assolaram a Igreja e a Cristadade naqueles séculos, revestiam-se de um caráter nitidamente anarquista e antisocial 3• Foi assim que a iniciativa da perseguição - com o fim de aplicação de penas temporais -aos hereges não partiu da Igreja, mas da sociedade civil.
Dentre os Imperadores alemães, o mentos da Inquisição Medieval, conúltima, e já nos Tempos Modernos, péssimoFredericoBarbarroxa-que fiando-a preferencialmente à Ordem Frei Tomás de Torquemada atuou alimentou motins, expulsou o Papa de São Domingos. Posteriormente como inquisidor para os reinos de de Roma, zombou das excomunhões também à de São Francisco. castela e Leão em fins do século XV, e suscitou antipapas-bem como seu Consciente de que sua missão pri- sendo nomeado para tal função cm neto, Frederico II de Hohenstaufen mordia! é a salvação das almas, a fevereiro de 1482 10 • -dificilmente igualável em ambição Igreja, na direção da Inquisição, busOra, a historiografia costuma e maldade, ele mesmo excomungado cava antes de tudo o arrependimento apresentar como principais marcos - foram dos mais aguerridos perse- e a conversão dos hereges. Ou pelo históricos, indicativos do fim da era guidores dos hereges 7 • Foi , - - - - - - - - - - - , - - - - - - - - - - - - - - - - - , medieval e início da época mesmo este último que, no moderna, a tomada de século XIII, decretou pela Constantinopla pelos turprimeira vez a morte dos cosem 1453, ou a invenção hereges na fogueira 8 • da imprensa por GuttenCompreende-se, pois, berg, em 1445. perfeitamente, a quantos Eis, meu caro A.L., suabusos o exercício desta inmariamente expostas, as dispensável tarefa - qual explicações necessárias seja, a preservação da orpara atender seu pedido, todem pública - se prestava das fundamentadas em conquando executada unicaceituados autores, seja de mente pelas autoridades ciHistória Universal seja de vis Q. Como poderiam estas História da Igreja, indicaúltimé).s, sem a dignidade dos no final deste texto. As eclesiástica e os estudos neexplanações també:n acecessários, emitir retamente nam para outros aspectos juízos em matéria de fé e desse tema, vasto como um moral? oceano. Em muitos casos, aqueTermino com um exemles juízos ocultavam meras pio pouco conhecido: o Trivinganças contra inimigos bunal da Inquisição foi o pessoais dos príncipes. único na História em que à Foi justamente como fim virtude da Justiça veio de coibir semelhantes abusos aliar-se a da misericórdia. que a Santa Sé reivindicou Mas, essa questão já compara a Igreja a exclusividade portaria um outro artigo ... · 1gamento dos hcreges. São Domingos - Detalhe do afresco "Cristo ultrajado, a do JU Se as explicações acima Virgem e São Domingos", Fra Angélico (séc. XV), Museu de São Nasceram assim os TribuMarcos, Floren~a. Itália lhe satisfizeram, prezado nais da Inquisição. A.L., não deixe de as coPrimeiramente, a Santa Sé reco- menos a cessação de seu proselitismo mentar com seus companheiros. mendou aos bispos que, diretamente subversivo, tendo em vista preservar NOTAS ou através de legados, se incumbis- os fiéis dos males da heresia. Nessas 1 C:fr.Jean Guiraud, Inquisition Médil!Valc, Bersem de tal tarefa, colaborando desta condições, nunca o réu era entregue nard Grasset, Paris, 1923, pp. 70 e ss., Wilforma com o poder temporal. Poste- ao poder civil - "braço secular", seliam Thomas Walsh Personajes de la Inquisiriormente a própria Santa Sé assumiu gundo a expressão corrente -para a ci6n, Espasa C:alpe S/A, Madrid, 1948, p.50. a direção geral da Inquisição, através execução da pena. A Igreja, maternal- 2 C:fr. Lea, A History of the Inquisition in the Middle Ages, I, p. 106, apud. W. T. Wa lsh, de legados especiais, inquisidores, mente, os tomava sob sua proteção. op. cit., p. 54-55. por ela nomeados, revestidos de poApenas os hereges "contumazes" 3 Cfr. Jean Gu iraud, op. cit, pp. 72 e ss. deres especiais e devendo atuar em e nocivos à ordem pública eram en- 4 C:fr. W. T. Walsh, op. cit, p. 50. íntima colaboração com os ordinários tregues ao "braço secular". O Estado 5 C:fr. Pe. Rohrbacher, Histoire Univcrsellr. de l'Église Catlwlique, Gaume Freres, Libraries, e com as autoridades temporais. então executava a i entença, quase Paris, 1844, tomo XI, pp. 4 13 -114. Sucessivos regulamentos foram sempre de morte na fogueira. 6 C:fr. J ean Guiraud, op. cit pp.74-76. sendo elaborados por bbpos e inquiComo se vê, a aplicação da pena 7 C:fr. W. T. Walsh, op. cit, pp. 62-65. sidores, tendo por objetivo estabele- capital aos hereges "contumazes" 8 C:fr. Bernardino Llorca S.J., Manual de Historia Eclesiástica, Editorial Labor, Barcelona, cer procedimentos afins com a justiça sempre esteve a cargo do poder civil, 1942, pp. 418-419; Emanuel Barbier, Hise a caridade. e disso nunca se ocupou a Igreja. toire Populaire de l'Église, P. Lethielleux, Paris, 1922, 2' parte, tomo II, p. 92. Foi o Papa Gregório IX que, atraHistórica e cronologicamente disvés de uma bula de 20 de abril de tinta da Inquisião Medieval foi acha- 9 C:fr. J ean Guiraud, op. cit, pp. 76 e ss. 10 C:fr. W. T. Walsh, op. cit., p. 184. 1233, estabeleceu os últimos delinea- mada Inquisição Espanhola. Nesta
HAGIOGRAFIA
'
.
.
.
Ili
', 1t.~'
1
São Martinho de Tours Apóstolo das Gálias e primeiro padre do monaquismo ocidental
Um pouco de História da Igreja Em 311, quatro anos antes do Liberta dos ataques do paganascimento de São Martinho de nismo, a Igreja defrontar-se-á, duTours, termina a última persegui- rante 50 anos, com a heresia ariação pagã contra os cristãos. Em na [ver nota], que negava a divin313, o · imperador Constantino dade de Nosso Senhor Jesus Crispromulga o Edito de Milão, que to. concede plena liberdade religiosa Nessa época ainda, em que a aos católicos. Entre 361 e 363, Cristandade deixa de estar contiJuliano, o apóstata, tentará, em nuamente purificada pelo sangue vão, reanimar o paganismo: os dos mártires e durante a qual a falsos deuses estão mortos! Com corrupção do mundo ameaça Teodósio, o Grande, o passo final contaminá-la, uma elite de catóestará consumalicos encontra do: em 380, o nova forma de Cristianismo torpraticar o heroísna-se a Religião mo. De todas as do Império; em partes, homens e 391, os cultos pamulheres abangãos estão definidonam a vida lutivamente abolixuosa do mundo dos. O século IV romano para vié, para a Igreja, ver na solidão e um século de vitóno despojamento ria. os mais compleEntão, a teolotos, nos desertos do E_gito e da Sígia e a doutrina Estátua do Imperador espiritual ganham Constantino (séc. IV)-Bas{Uca ria. E o tempo de um é/an sem predeSãoJoão de Latrão, Roma. Santo Antão, pai Convertido ao Cristianismo, esse cedente. Com Soberano promulgou, ern313, o dos eremitas, e de São Pacômio, Santo Atanásio e célebre Edito de Milão São Cirilo, no Egifundador do prito; São Basílio, São Gregório de meiro mosteiro de cenobitas (em Nissa, São Gregório Nazi~nzeno, 323): a grande éJX>Ca dos monges São João Crisóstomo, na Asia Me~ e dos Padres do deserto. nor; Santo Hilário de Poitiers, O século IV, enfim, é o grande Santo Ambrósio, São Jerônimo, · século da conversão dos campos no Ocidente; SantoAgostinho, na gauleses e da fundação das paróÁfrica do Norte, aparece uma quias rurais - as primeiras que plêiade de santos e de pensado- fora:m criadas - e estes episódios res que não terão equivalentes se identificam com a vida de São em épocas, ulteriores da História Martinho de Tours, que foi, na da Igreja. E o grande século dos Gália, o maior evangelizador dos Padres da Igreja. campos pagãos.
O
mais popular dos antigos santos franc.eses, patrono de mais de 3.700 igrejas no país, entretanto não era francês. Mais de um século antes que a França nasc.esse, antes mesmo de Clóvis e de Santa Clotilde, ele vivia na Gália, sob dominação dos imperadores romanos. Trata-se de São Martinho de Tours (315397), nascido em Sabaria, na Panonia (sudoeste da atual Hungria), cuja festa a Igreja celebra a 11 de novembro. Quatroc.entas comunas franc.esas levam o seu nome. Nas ruas das cidades, nas rodovias, nas pequenas estações, esse nome proclama a imensa popularidade do santo que evangelizou a França. Antes mesmo de a França tomar-se católica foi preciso que a Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo transpusesse todo o Mediterrâneo, desdeJcrusalématé Marselha. Foram os Apóstolos que, após Pentecostes, levaram a mensagem salvadora aos gregos e romanos. Estes, por sua vez, a levaram às Gálias. E são conhecidos os nomes de São Potino e Santo Irineu, executados cmLyon no século II. Malgrado a perseguição encamiçada movida pelos imperadores romanos contra os cristãos, nos primeiros séculos de nossa era, uma falange de valorosos Bispos funda núcleos de católicos em quase todas as cidades gaulesas, sobretudo no Sul. Entretanto, quando o século IV começa, os campos na Gália são quase inteiramente pagãos. Resta uma tarefa snorme de evangelização por realizar-se. E nesse contexto que a Providência suscita o grande São Martinho.
***
Seu pai era tribuno militarem tempos dos Césares Constantino e Juliano, e conquistou um a um todos os graus de oficial nos exércitos romanos . Terminado seu serviço, retirou-se para Pavia, onde o jovem Martinho (isto é, o pequeno Marte, o Deus da Guerra, segundo a mitologia) foi educado. Com apenas dez anos de idade, São Martinho, por uma moção divina, às escondidas dos pais, ia freqüentemente à igreja pedir instrução religiosa e faz-se catecúmeno. E já aos doze desejava ardentemente a solidão do deserto.
Com efeito, por essa época um sopro da graça arrastava para o deserto um grande número de eremitas, desejosos de se subtraírem à podridão do Império e de se entregarem a uma vida mais contemplativa. Tinha ele quinze anos quando um edito dos imperadores engajou nas armas todos os filhos deveteranos militares, a fim de faz.er frente à invasão dos bárbaros nos domínios imperiais. Após alguns anos passados na Itália para o aprendizado, Martinho foi enviado às Gálias como cavaleiro. A divisão do manto
Cortejo de São Martinho: antiga tradição que subsiste nas aldeias ao longo do rio Reno, na Alemanha. No din da festa do Santo, este "ressuscita", aparece montado num cavalo branco e percorre as ruas dessas localidades, seguido de centenas de criatl{:as; elas portam lampiões colo,·idos de papel e cantam o velho hino: "São Martinho cavalgava através da neve e ckJ vento ... "
Por volta do ano 333, num dia de rigoroso inverno cm que grande número de mendigos morria de frio pelas ruas, São Martinho encontrava-se numa das portas da cidade de Amiens. Ali, um pobre nu implorava piedade aos passantes. Tendo já distribuído todos os seus bens, não lhe restando senão as arm,1s e as roupas, São Martinho rasgou a fio de espada seu manto em duas parles: uma deu ao pobre e com a outra abrigou-se como pôde. Na noite seguinte, cm sonhos, viu Jesus Cristo coberto com a metade do seu manto, dizendo aos anjos que o rodeavam: "Quem me cobriu, porque estava nu e com frio, não passa ainda de catecúmeno". Martinho, impressionado com o sonho, apressou-se cm rccdx:r o Batismo. Contava ele, então, dezoito anos de idade. São Martinho recusa o combate
Um acontecimento súbito pôs fim à vida mnitardcSão Martinho, no a no 356. Fascinados pela riqueza do Império, bárbaros francos, ala manos e saxões irrompem na Gália, e o César Juliano, que deveria combatê-los, distribui ·dinheiro
aos soldados de suas legiões. São Martinho, entretanto, cuja intenção era de recolher-se quanto antes na solidão ercnútica, recusa qualquer quantia, e diz ao César: "Até aqui cu te servi, Juliano, suporta agora que eu sirva a Deus. Teu dinheiro está reservado para quem vai combater. Mas cu sou soldado de Cristo e combater não me é permitido". Com efeito, a Igreja proibia aos religiosos de participarem da guerra. E desde o Imperador Constantino, aliás, o ingresso nas Ordens religiosas dispensava do serviço militar. Juliano, contudo, indignado com a resposta, disse que não era pela religião, mas sim por medo, que ele renunciava ao combate. São Martinho não se deixou intimidar e retrucou: "Atribui-se minha recusa à covardia, não à minha fé. Pois bem, amanhã, na linha de frente, cu me apresentarei sem armas. Em nome de meu Senhor Jesus Cristo, protegido somente pelo sinal da Cruz, sem escudo nem capacctL\ eu penetrarei sem temor nas hostes inimigas". O César fê-lo encarcerar à espera do a manhccer. .. No dia seguinte, entretanto, os inva-
sorcs, misteriosamente confundidos, enviaram embaixadores para pedir a paz. São Martinho é libertado pouc.o depois, tendo perdido todos os benefícios de sua brilhante carreira militar. Ele se apresenta a seu Mestre, o célebre Santo Hilário, Bispo de Poiticrs, muito conhecido na Gália pelo ardor com que defendia a divindade de Cristo contra os hereges arianos 1, o qual, percebendo desde logo os méritos do discípulo, quis ordená-lo diácono. São Martinho, julgando-se indigno, solicitou que o ordenasse apenas exorcista. &ses falos se passaram cm fins do verão do ano 356. Ressurreição de
um morto
Estando em sua terra nata 1, depois de inúmeras vicissitudes de viagem, São Martinho soube que seus conterrâneos de Sabaria haviam aderido à heresia ariana. Ele quis convertê-los, mas a situa\'.ão chegou a tal ponto que ele foi vergastado e expulso da cidade. Ao mesmo tempo, Santo Hilário deixou Poiticrs, no outono do ano 356, perseguido por esses tcnúvcis hereges, e refugiou-se na Frígia (Ásia Menor). Não sabendo para onde ir, São Marti1tho fez construir um mosteiro, nas cercanias de Milão, onde levava vida crcmítica. Em pouco tempo, vários discípulos se agruparam junto dele. Entre os que ali recebeu, estava um catecúmeno que, durante sua ausência, morreu subitamente sem ter recebido o Batismo. Ao voltar da viagem, São Martinho cnc.ontrou os monges cm grande aflição e prc.stcs a enterrar o morto. Com os olhos rasos de lágrimas, fixou o cadáver e, inspirado por Deus, orou fc.rvorosamcntc. O catecúmeno mexeu-se, suspirou, abriu os olhos. Batizado imediataCATOLICISMO, NOVEMBRO l!l!l3
23
mente, acabou vivendo por muitos anos! 2 • ::;ucedeu, entretanto, que Auxentius, Bispo de Milão, perverteu-se para o arianismo, alimentando um ódio d'c' mortc à ortodoxia de São Martinho.. Perseguiu-o, cubriu-o de ultrajes e fê-lo expu lsar da cidade. Este recolheu-se, então, a uma vida solitária na ilha de Gallinaria (hoje Isola d' Albenga ), no mar da Toscana, região selvagem, deserta, infestada Je serpentes. Em 360, reencontrou-se ele com Santo Hilário, em Poitiers, cidade para a qual o Bispo havia retornado depois de três anos de exílio. Fundação do primeiro mosteiro ~a França
Apoiado pelo santo Prelado, São Martinho instala-se a oito quilômetros ao sul de Poitiers, em Ligugé, às margens do rio Clain, onde funda o primeiro mosteiro estável conhecido na Gália. . E.$sc mosteiro é ao mesmo tempo um lugar de recolhimento e de vida apostólica. Os religiosos se instalavam em pequenas cabanas próximas umas das outras e se reuniam em certas horas para rezar em comum. Em outros momentos, eles partiam para anunciar o Evangelho, curar os enfermos, instruindo nos campos gauleses as crianças e pregando. Uniam assim hannon.iosamentc três gêneros de vida: a solitária, a m.issionária e a vida em comum. Essa época representou o grande período de evangelização dos meios rurais na França. Uma sombra, entretanto, entristeceu vivamente São Martinho nesse período:
foi a morte, cm 367, de seu mestre, Santo Hilário. Bispo de Tours
A sede episcopal de Tours, vaga em 371, desejava a São Martinho devido a s ua virtude e pelos m.ilagres que operava. Como ele se recusasse a abandonar o mosteiro de Ligugé, foi empregado um estratagema.Um cidadão, simulando que sua mulher estava muito doente, pôs-se de joelhos e persuadiu-o a acompanhá-lo. No canúnho, o Santo foi raptado e levado para Tours em meio a uma grande multidão , que o aclamava diz.endo: "Martinho é o mais digno do Episcopado. Feliz a Igreja que tenha um tal Bispo". Ele foi sagrado a 4 de julho daquele ano, contando já 55 anos de idade. São Martinho continuou no episcopado a vida monástica, faz.endo construir a duas núlhas de Tours um mosteiro onde vivia com oitenta monges. Esse mosteiro, chamado Marmoutier, existiu até o século passado . Na morte, assistência de Santo Ambrósio
Pouco antes de expirar, São Martinho gritou a plenos pulmões, vendo o demônio perto dele: "Ó besta cruel. Nada .encontrarás em mim que te pertença, maldito! Daqui, com a ajuda de Deus, irei para o seio de Abraão"! Assim, com mais de 80 anos de idade, o grande apóstolo entregou sua alma a Deus, comparecendo aos seus funerais dois mil monges e uma multidão de fiéis. Nesse mesmo dia, Santo Ambrósio,
Bispo de Milão, celebrando a Missa adormeceu sobre o altar à hora da Epístola. Ninguém ousou despertá-lo,c o subdiácono não queria ler a Epístola sem ter recebido ordem para tal. Transcorridas três horas ... Santo Ambrósio foi despertado. - "Já passou a hora, e o povo se cansa de tanto esperar -disseram-lhe. Que nosso Senhor ordene ao clérigo de ler a Epístola". - "Não vos perturbeis -responde o Santo-, pois meu irmão Martinho subiu para junto de Deus; eu assisti aos seus funerais e lhe prestei os últimos deveres; mas vós, despertando-me, impcdislesme de concluir o último responsório" ... No mesmo instante tomou-se nota daquele dia, e se soube que São Martinho, realmente, havia falecido naquele exato momento! Luís
Bebidas nacionais e estrangeiras. Queijos e doces tipo europeu. Arenkes e Salmons
*
ASS INATURA ANUAL
PROFESSIONAL CENTER ODONTOLOGIA
CASAZILANNA
COMUM: Cr$ 3.800,00 COOPERADOR: Cr$ 5.000,00
MERCEARIA
BENFEITOR: Cr$ 8.000,00 GRANDE BENFEITOR: Cr$ 16.000,00 EXEMPLAR AVULSO: Cr$ 350,00
ORA. LUC/A HELENA CRAVERO Rua ltambé, 506 - Higienópolis São Paulo - Fone: 257-8671
ORTODONTIA CRO : 40.304
ORA ANA LUIZA CRAVERO
Advocacia civil, trabalhista e empresarial
SERGIO J. HIRANO ALFAl1\TE
Largo 7 de Setembro, 52 - 2º And . S/ 204 Liberdade - São Paulo - SP Próximo ao Forum João Mendes Tels.: 36-9298 - Res.: 278-1212
ENDODONTISTA CRO: 28.405
DR. GERSON SHIGUEMORI ADVOGADO
Rua 24 de Maio, 188 - 2ª sobreloja, sala 226 Fones: 223-3180 e 220-5901
Coodlções especiais pa,a sócios, cooperadores e oooespoodentes da TTP
Rua Sergipe, 401 - Cj. 703 - Higienópolis Tel/Fax: 259-8458
Coodções especiais para sócios, cooperadores e cooespondentes da TTP
- *-
Av. Cangaiba, 1411 - Penha Fones: 295-8779 / 941-3033
CARLOS AzEVEDO
Veículo limpinho e bem cuidado NOTAS 1. O arianismo foi a mais perigosa he res ia dos primitivos tempos do Cristianismo. Fo i seu fundador um sacerdote de Ale xandria, chamado Ario ( + 336) . Ensinava e le ser o Filho s ubordinado ao Pai. O Filho, segu nd o e le, por ser desprovido cios atributos abso lu tos ela d ivinclade, não pocl ia realizar nem a criação nem a redenção. C:onclenacla a he resia pelo Concílio ele Nicéia (em 325), não cessou a sua obra dcletéria nos meios católicos, envo lve ndo muitos Bispos nas suas ambíguas e imprecisas fórmulas heterodoxas. O Imperador Teodósio, o Grande (379395), reafirmando a ortodoxia, co nseg uiu ate nuar os males do arianismo, que, por mais de meio século, dilaceraram a Ig reja . Fo i d e finitivam e nte condenado pelo Co ncílio de Constantinopla (381 ), após polêmicas violentas, lutas e divis ões e ntre os católicos. O grande São J erô nimo chego u a descrever tal situação com est..-is palavras: "Lastimou-se todo o orbe e admirou-se porque estava ariano". 2 . Na realidade, os biógrafos regislra m três ress urre ições operadas pessoalmente por São Martinho,e m distintas é pocas e lugar<:s. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Tours: em primeiro plano, restos da muralha da cidade galo-romana, sede episcopal ocujXlda por São Martinho de 371 a 395; ao fundo: ton-es da atual catedral da localidade
CATOLICISMO Preços durante o mês de NOVEMBRO de 1993:
1. Dom Pr6s pero Guéranger, EI A,io li.turgico, festas de nove mbro, Editorial Ald ecoa, I3 urgos, 1956. 2. Pe. Rohrbacher, VuladosSantos, festas de novembro, Editora das Américas, São Paulo, 1959. 3. Abbé Profillet, Les Sairits Militaircs, RetcauxI3ray Ed iteur, Paris, 1890, tomo V 1. 4. João Batist..-i Lehmann, Na Luz Perpétua, Livraria Editora "Lar C~-itólico",J uiz de Fora (MG), 1950, vol. li. 5. Jacques de Voragine, LaLégr.ridc Dorée, Garnier-F la mmar ion , Paris, 1!)67, vol. 11. 6. Fêtcs ct Saisons, Revue mens uelle de la familie e t de la paroisse , Paris, nº 54, outubro de 1950.
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro, quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal espec ialmente treinado.
Comida internacional a la carte e sei f service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO
Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu
_'@i WRDPÂlAcE __ Rua das Palmeiras, 78- Tcl. 10111220-0422-CEP.01226 TELEX 1123208 - FAX 10111 220-9955 DDG 10111800~272 São Paulo
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1
Ao
1
Lord Palace Hotel:
-X -
Desejo saber mais a respeito do hotel, incluindo tabela de preços. 1
Nome: End.: ....... Cidade: ................................................................... UF:
Comércio de Carnes
ESC\\
Norton · ~ Atacadista de carnes
Assessoria Contábil & Tributária S/C Ltda. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
'
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS
em geral R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
Rua Julio de Castilhos, 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - Telefax: 264-7068
O "Times" nada diz [sobre a autonomia da Irlanda]. ..
~ ~~~~ ~~!!':,~,~!,:~,~!~~; ~ Cancela mento de protesto FOX s~~~~EE~A~
Regularização de Conta Corrente Assessoria junto aos C1rtórios de protesto em todo País
ÓPTICA TIMES - 35 anos de Tradição
JUSSARA
ÓCULOS - LENTES DE CONTATO
Frios e Laticínios Massas, Sa ladas, Assados em Geral Petiscos Caseiros - Sa lgados para restas
CONSERTOS - LABORATÓRIO PRÓPRIO
Rua Capitão João Cesário, 58 Fones: 295-5250 e 217-1349 São Paulo - SP
Av. Prestes Ma ia, 241 -15° ancJ . - Cj . 1506 Centro - São Pau lo ~ SP Tel. : (011) 230-0448
Condições especiais para sócios, cooperadores e correspondentes da TFP
Rua Dna. Antonia de Queiroz, 562 Fones: 256-6009 e 255-0528 São Paulo - SP
e para este fim consome três colunas CHURCHILL
O jornalismo consiste em grande parte a dizer: "LordJones morreu"
a p essoas que nunca souberam que LordJones existia CHESTERTON
"O dono das máquinas [dos jornais]" é o dono da liberdade PAULO PATARRA
Entre jornalismo e teatro, a diferença é menor do que se p ensa PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
Não compreendo que uma mão pura possa tocar um jornal, sém uma convulsão de nojo BAUDELAIRE REFlllGEllANTES . CEllVF,JAS · ÁGUAS MINEIWS VINHOS - WHISKIES · VODKAS - CONHAQUES · APElllTIVOS
Houve um "Te Deum", ondas de incenso, descargas infinitas de mosquetes e de artilharia. O povo estava ébrio de felicidade e de piedade. Uma tal jornada desfaz a obra de cem números de jornais jacobinos
Além d,, bebidos, tumbcm temos sorvetes, gelo, carvão...
R. MATO GROSSO, 346 - SÃO PAULO 1-::NTREGA À DOMIC i LJO REG IÃO III G IENÔPOLI S CONSOLAÇÃO
--
• BERG
c onstrutora
ADOLPHO LINDEN .
. •
·2 c (-
')
04 l l - S:10 Paulo
--
S/A
_,, _ C, º e 7° andar
lhn General Jardim. 7 0 .
1-onc:
---·---------------
--- -
-
~ntia desta tudo com a g ====
----
--- · ------------assin@ura
Talento :::::=:, Estilo Planejamento Espaço Conforto Solidez Seguranç~ . Soluções ori~ma1s Harmoma Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe amento personalizado A ca b . d Local privilegia 0 Sucesso
-
STENDHAL
Num momento de folga, um operário espanhol utiliza um pequeno tubo de vidro para fazer inalações. Parece ansioso para o efeito desejado. Remédio? Não, cocaína misturada com LSD, um "crack" de drogas altamente lesivo para a saúde mental e física. O que leva o homem moderno a procurar os devaneios proporcionados pelas drogas? Se a fruição dos prazeres terrenos trouxesse felicidade, por que fugir de si mesmo e da própria vida? Um mundo sem Deus não pode oferecer autêntica felicidade, mas apenas trágicas e amargas ilusões. Daí a fuga para as drogas.
DIREITO ALTERNATIVO Tem repercutido ·amplamente a última edição de CATOLICISMO, contendo duas matérias sobre o chamado "direito alternativo": a entrevista do ilustre constitucionalista Prof. Celso Bastos, e o artigo "Dois vizinhos, dois quintais, dois juízes", de nosso colaborador Leo Daniele. Nesse último, registrou -se um lapso nas fases de revisão e diagramação. Tendo sido supressa a nota n2 42, as seguintes não foram renum eradas. Assim, a nota 42 consta como 43, e assim por diante até a nota 46.
CATOLICISMO
., '
N 2 516 Dezembro
Discernindo, distinguindo, classi'ficando...
O que pode uin olhar de 1nãe... Psiqu-iatra de fama mundial estuda a influênc-ia decisiva do relacionamento entre pais e filhos para a formação dos adultos
E
m certos ambientes do mundo Isso tudo, que um espírito superdo rosto humano, com olhos, boca e moderno já vai ficando para ficial poderia tomar como subjetivisnariz, a qualqueroutra imagem. Reatrás, infelizmente, o aspecto mo, fenômeno meramente imaginatilizamos experiências com fotografias sagrado do relacionamento entre pais vo ou emocional, de fato encontra em que montamos uma espécie de e filhos, mais especialmente da mãe respa ldo na ciência mais moderna. quebra-cabeça do rosto da mãe, com com o filho. o nariz no lugar dos olhos, os olhos *** Entretanto esse relaciona- - - - - -- - - - - - - - - - - - - , - - - - . no. lugar da boca e a boca no mento é fundamental para a lugar do nariz. A criança tem reformação dos futuros adultos. pulsa a essa montagem. Sabe-se O amor matemo, o calor de também que o bebê tem prazer alma que a mãe põe no afagar especia l em escutar a voz da o bebê, no alimentá-lo, no mãe". niná-lo, no protegê-lo, comuE acrescenta: "Os pais é nicam à pequena criatura o esque transportam o recém-nassencial de que ela necessita cido para o mundo. A mãe, para seu desenvolvimento psícom um simples olhar, pode quico e físico inteiramente mostrar ao filho que certas são. coisas devem ser feitas e ouSe quiséssemos nos deter tras não. O bebê é capaz de nos exemplos, a H istória nos inte rp reta r a reação dos pais. oferece tantos que não acabaA mãe é seu p rimeiro espelho ríamos mais. Já que estamos para o real, e o bebê tem noção em dezembro, mês do Natal, exata disso logo nos primeiros lembremos o relacionamento dias de vida . O rosto da mãe é entre todos sublime de Nossa seu primeiro guia". Senhora com o Menino Jesus Mesmo do ponto de vista mona gruta de Belém. ral a influência é grande: "A É muito comentado ainda o criança reage de acordo com a vínculo de alma de Santa Mômãe, sua única referência para o nica com seu filho, o luminar que é bom ou ruim". O êxtase de Santo Agostinho e Santa Mônica em da Igreja, Santo Agostinho. Óstia: "Enquanto assim falávamos, anelantes pela E Cramer conclui dizendo Sabedoria, atingimo-La momentaneamente num No declinar da vida dela, ele já que "do relacionamento pais e homem feito, ambos manti- vislumbre completo de nosso cor(lfáo. Suspiramos e filho, mesmo na mais tenra idade-b:amos lá agarradas 'as primícias de nosso nham uma tal união de espíride, nascerá o 'jeito' da criança". espírito'" (Confissões, Livro IX, cap. 10) to, que o êxtase de um era o Diante disso, como não choêxtase do outro, como ocorreu no farar lágrimas de sangue e de indignaO psiquiatra infantil Bertrand moso episódio do colóquio no porto ção num mundo em que tantas e tanCramer, suíço, 59 anos, há mais de 35 italiano de Óstia. anos se dedica a estudar as crianças e tas mães ou abandonam seus filhos, A realidade desse relacionamento · seu relacionamento com os pais. Forou evitam que eles nasçam pela coné de lodos os tempos. Ainda hoje lm ccpção, ou mesmo os matam por mado pela Universidade de Genebra, vemos um homem exponencial ele é atualmente um dos grandes es111 iodo aborto? como o Prof. Plinio Corrêa de Oliveipecialistas mundiai na mal ria . •m E lu do baseado num moderno ra, atribuir cheio de gratidão o meentrevista conc edida I rcvishl "Veja" " planejamento familiar", tantas e tanlhorde sua formação religiosa , moral (11 -8-93), ramcr comprov11 qu e "o tas vezes fruto de um egoísmo delie psicológica à saudosa influê n ia do rocém-1111s ·ido p rf ·ita111 111 apaz ra nle, para o qual o filho não é o fruto sua mãe, a tradicional dama paulista, desejado e bem-amado, mas sim o de i11terprot11r II r ·nç110 dos pnis". Dna. Lucilia Ribeiro dos Santos orbxpli ··1 1 qu " 1111111 ·ri a11y1 de esloivo que vai atrapalhar os prazeres rêa de Oliveira. da vida. três m •sc.'l d • id11d pref •ro II imagem
- 2~' , '"· CATOLIÇI$MO ZEM8RO 11!~!L
1993
Assestando o Foco "MÚSICA, MAESTRO !" Rompendo o silêncio, uma "melodia" feita de ruídos e estampidos se faz ouvir, abafando ·vozes que tentam esboçar uma defesa. É desta forma que muitas vezes parecem iniciar-se certas campanhas orquestradac, pela mídia . Entre elas, o Brasil assiste, surpreso, ao "estrondo publicitário" que se levanta contra o Poder Judiciário. A Justiça em nossos dias parece uma fortaleza sitiada: queixas, escândalos, e um subtil banho de desprestígio e antipatia, arma suprema em tais ofensivas destrutivas. Por dentro das muralhas, os juízes "alternativos", que já foram qualificados nesta revista de " gangrena da de-
sordem dentro da ordem vigente, do anti-Estado dentro do 'Estado de Direito"' (n2 514, outubro de 1993), semeiam a confusão . E a solução para toda essa massa de problemas é apresentada, como simples, óbvia, incontestável: o controle externo do Judiciário. Solução simples, realmente. Sim-
ples demais! Se o controle externo, como num passe de mágica, resolvesse lodos os problemas, certamente seria preferível instalá-lo ou ampliá-lo no Legislativo, no Executivo em geral, no Ministério da Economia em particular, nas inefáveis estatais, nos sindicatos, na Comissão Pastoral da Te rra etc .... Não no Judiciá rio!
A matéria que hoje
Catolicismo publica sobre esse tema suscita inevitavelmente uma pergunta: por que visar precisamente o Judiciário, que é o mais aberto dos três Poderes e já se submete a controle externo? Por que enfraquecer justamente este Poder, que é o que mais necessita ser independente? A idéia de civilização é correlata com a de um Poder Judiciário livre e a seu modo majestoso, pairando acima das paixões do mbmento e assegurando a ordem. O enfraquecimento dessa barreira, obviamente, aproveita à barbárie e à desordem que avançam. É preciso dizer não a esse avanço e nquanto é tempo! Este é o recado deste mês a nossos leitores.
índice Discernindo 2 O que pode um olhar de mãe ... A Realidade consisamente Clamor nacional 4 Destaque Movimento contra a fome deriva para a política? 5 Revisão Constitucional Controle externo do Judiciário: filmando o futuro 6 TFPe em ação I - li Livro de Plinio Corrêa de Oliveira repercute intensamente na Europa e nos Estados Unidos 1O Caderno Especial 13 Venha a nós o vosso Reino Hagiografia São Pedro Canísio: "Coluna da Igreja", baluarte da Contra-Reforma 17 Rememoração oportuna O crime de Sancho Pança 18 TFPs em ação Ili Estandartes tremulan no local da execução da Rainha-mártir, Maria Antonieta 20 Nacional 22 O SIRN, essa monumental "vaca sagrada" Brasil real, Brasil brasileiro 23 Festas do Divino Espírito Santo Escrevem os Leitores 24 "Direito Alternativo" e politização
Em painel Frases e imagens Nossa ca pa: Adoração dos Reis Magos - Pintura de Diego Velasquez (1599-1660) , Museu do Prado, Madrl Montagem de C. Sarti
27
Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda.
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Rlho
Jornalista Responsável: Takao Takahashl Registrado na DRT-SP sob o N2 13748
Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP Te!: (011) 624.9411
Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro
Fotolitos: Microformas Fotol~os ltda. RuaJavaés, 661 -01130-010 São Paulo - SP
Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 661 -01130-010 São Paulo - SP
Acorrespondência rei.tiva à assnattXa evenda avulsa pode ser emiada a:> Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: RuaJaguaribe, 648 Conj. 02 - CEP01224-000 -São Paulo· SP · Fone: (011) 66-3361 ISSN · 0006-6528
Clamor nacional Contrariando avaliações e pareceres técnicos, a Braspetro- subsidiária da Petrobrás no setor internacional investiu, nos últimos anos, 500 milhões de dólares em operações no Exterior. Entre as operações mais desastradas figuram os contratos com a Ubia, onde a estatal brasileira teve prejufzos que podem chegar a 100 milhões de dólares. Os próprios funcionários da Petrobrás enviaram ao Presidente Itamar relatório no qual acusam a empresa de causar prejufzos injustificados e desnecessários ao Pafs, como os relatados acima. Que novos absurdos, escândalos e abusos o monopólio estatal do petróleo continuará acobertando? Clamorosamente deficitárias - em sua grande maioria - continuam intocáveis. Por quê? Clemência para cão As vozes que se levantam em defesa das inocentes vitimas do aborto, pouco espaço obtêm em muitos órgãos da mfdia, sendo objeto de uma campanha de silêncio. Um cão, que ameaçou
, morder uma menina em New Jersey (EUA), há dois anos, está para ser executado, desde aquela ocasião. O animal recebeu inusitado pedido de clemência: por fax, dirigido ao governador James Florio, a tristemente célebre atriz Brigitte Bardot reivindicou a libertação do animal.
í\ Manifest~ão de antí-abortistas em Washington: silenciados em órgãos da mídia excessivamente preocupados com animais
Ai da civilização que se condói de animais e fica cada vez mais insensfvel ao silencioso grito de seres humanos vitimados pelo aborto!
Castidade, única "vacina" contra AIDS Sob pretexto de que os preservativos evitariam a expansão da AIDS, certas campanhas publicitárias sobre o tema constituem autênticos incentivos à prática da imoralidade. Com efeito, esquivandose ao cerne do problema observância da castidade propagam-se conceitos e imagens que tendem a banalizar e a justificar a dissolução dos costumes, e até aceitar o grotesco e o hediondo. Recentemente, Luc Montaignier, do Instituto Pasteur, de Paris, durante a abertura do Congresso Internacional "Ciência e Saúde - AIDS e Câncer", organizado em Bogotá pela Associação Colombiana de Faculdades de Medicina, alertou: "Não há em vista uma solução completa [para a AIDS]. Por isso, insistimos em que a melhor vacina é evitar a promiscuidade sexual .... " Acrescentou, ainda: "A AIDS está 'reativando' enfermidades consideradas sob controle, como a tuberculose, nos Estados Unidos, e a pneumonia, na Europa". Anos atrás, renomados
professores de Zurique, os Drs. April e E. Schreiner, puseram a lume o estudo "Preservativos - nenhuma garantia contra a AIDS e outras doenças sexualmente transmissfveis (DST)", que foi citado na 511 Conferência Internacional de AIDS, em Montreal. Uma "conspiração do silêncio" parece baixar sobre o assunto ... Legislação às moscas No condado californiano de San Bernardino (Los Angeles), matar moscas passou a constituir crime. Os especialistas admitem não ter uma noção clara acerca do "papel" representado pela espécie "Debli Sands" no chamado ecossistema (?), porém consiC:eram essencial preservar a citada mosca, cuja existência estaria ameaçada. Um ano de cadeia, somado à multa de 200 mil dólares, será a punição imposta ao desprevenido ou insolente ... matador do desprezfvel inseto! Na lógica dos desatinos (ou na coerência do erro), enquanto se difundem a propaganda e a legislação abortistas, só as moscas têm seu direito à vida assegurado ...
O latim é nosso ... O belo idioma de Cfcero, abolido das escolas brasileiras, não goza de grande popularidade entre nós. Nem, de modo geral, entre os outros povos de lfngua românica. O prestfgio do latim, em nossos dias, vai todo para. a cultura nórdica: germânica, anglo-saxã ou outra. Teremos razão nisto? Exatamente uma nação nórdica vem nos dizer que não. A rádio estatal finlandesa conhecida por seu prefixo YLE, de Helsinque, transmite nove vezes por semana, para todo o mundo, um noticiário com as últimas novidades ... em latim. O leitor duvida? Sintonize a referida estação, entre 7 e 8 horas (de Brasília) na freqüência de 19 metros. Na redação dos professores Tuomo Pekkanem e Reijo Titkaranta, ouvirá notfcias recentes sobre os conflitos da Bósnia, na mesma lfngua em que Júlio César contou, há dois milênios, sua andanças pela Gália. O programa despertou grande Interesse entre crianças de idade escolar ... da Alemanha! Mas não há informações de que o mesmo tenha acontecido nas grandes nações latinas européias: França, Itália, Espanha, Portugal etc. Muito menos no Brasil. Acordemos, senhores. Dizem que o petróleo é nosso. E o latim? Marcl4s Tui/ h,s Cicero llusto d<• mármore, Museu dos Oflcios, 11/oronça (ll<Wa) () que diria esse grande orador romtmo se ,-eviv~·-~so bo.fa e constatasse que sua língua tem mflis prestigio ,,m J><dses n/íolfltlnos?
Desconfiança quanto à imprensa e à televisão - O jornal francês "Le Monde Diplomatique" afirma: cresce o número das pessoas que se sentem desinformadas, manipuladas e enganadas pela imprensa. Ceticismo, desconfiança e incredulidade são sentimentos dominantes em relação à imprensa, e em particular à televisão. Esta "passou a ditar o estilo da informação dada ao consumidor. Ela se colocou à cabeça da imprensa, e impôs suas perversões a todo seu corpo".
*** Morticínio de jovens - A AIDS já constitui a principal causa de morte de ho_m ens entre 25 e 44 anos, em 64 cidades dos Estados Unidos. São Francisco, na Califórnia - onde há
MOVIMENTO CONTRA FOME DERIVA PARA A POLÍTICA? O chamado "movimento contra a fome" ("Ação Cidadania contra a Miséria e pela Vida") apresentou-se ao público com um objetivo bastante simpático. De fato, qu em não deseja minorar os sofrimentos dos pobres? Ainda mais nosso povo, de natureza tão afetiva e benévola, é muito propenso a ações caritativas. Essa é mesmo uma das qualidades do brasileiro. Tal propensão a querer sanar os sofrim entos alheios é tão acentuada entre nós, qu e por vezes faz com qu e o brasi leiro nem distinga bem o que é uma situação de pobreza autêntica da mera demagogia de certas esquerdas qu e inílam o probl ema para assim obter vantagens inconfessadas. Diante de um povo assim benevolente, era natural qu e um movimento contra a fome encontrasse acolh ida boa e larga. E ele vem obtendo ademais uma extraordinária cobertura da mídia. Certos sintomas porém vêm surgindo no sentido de mostrar o "Ação Cidadania" derivando para uma conotação política qu e não lhe é geralmente reconhecida. E conotação de movi-
grande número de homossexuais - , teve a maior taxa de mortalidade, entre homens dessa faixa de idade, cerca de 61 %. No país inteiro, a AIDS provocou 16% das mortes entre homens jovens, perdendo apenas para os acidentes.
*** Face ao emblema com feiticeira ... - No emblema da Prefeitura de Catanduva (SP) consta o desenho de uma bruxa. No início deste ano, um raio decepou a imagem de Cristo Redentor, que fica no cemitério da cidade. Dois carros novos da Prefeitura, pintados com o referido motivo, foram totalmente destruídos em acidentes, em menos de um mês. Em setembro, incêndios atingiram a Câmara Municipal e a Prefeitura.
mento ideológico de esquerda, qu e aprese nta a Reforma Agrária como solução para a pobreza, quando é sabido qu e ela levou a miséria à antiga União Soviética, a Cuba, teve de ser posta d e lado no M éxico etc. Assim é qu e, informa o "Jornal do Brasil" (8-9-93), para Leonardo Boff (o antigo frade), "a Ação Cidadani a contra a Mi séria e pela Vida, muito mais do qu e um movimento para despertar a humanidade das pessoas, levanta uma discussão política. Segundo Boff 'Você falar de fome é discutir os oligopóli os, os latifúndios, a Reforma Agrária'". Já em 29 de junho o mesmo jornal inform ava: "Segundo Betinho - Herbert de Souza, organizador do movim ento - um dos objetivos da campanha contra a fome é faz er com que não só a comida, mas a terra e o conhecimento sejam de todos .... Para Betinho, a in digênçia vem do campo para a cidade, o que t orna mais fundamental a Reforma Agrária" . · Aliás, em artigo para o m esmo diário (28-9), Herbert de Souza retoma o velho veza socialista de deixar mal a propri edade privada: "Todas as qu estões da propriedade privada se referem exatamente à contradição entre o seu sentido privado e o social", diz ele.
... população assustada pede plebiscito - O prefeito de Catanduva recebeu um abaixo-assinado com 9 mil assinaturas, pedindo que o emblema fosse modificado, com a eliminação do desenho da feiticeira. Diante disso, o chefe do executivo municipal aprovou a realização de um plebiscito, que vai decidir se o desenho deve ou não ser mudado.
*** Fortaleza da Barra Grande - o mais expressivo monumento da arquitetura militar paulista, construído no século XVI, localiza-se em Guarujá (SP). A restauração da Fortaleza já foi iniciada, e as visitas estão liberadas de terça-feira a domingo, das 9 às 16 horas.
/ Dom Mauro More/li: no lançamento do "movimento contra a fome " no Paraná, discurso bern ao gosto das esquerdas
Por sua vez, D. Mauro Morelli, Bispo de Duque de Caxias (RJ), discursando no lançamento da campanha "Ação Cidadania" no Paraná, fez um discurso bem ao gosto das esquerdas: "expôs a política econôm ica do Brasil, sempre favorecendo os ricos, os poderosos, sem atender à cidadania dos pobres, agricultores e operários" (artigo de D. Pedro Fedalto, Arcebispo de Curitiba, "Gazeta do Povo", 22-8-93). ,. CATOLICISMO, DEZEMBRO 1993
5
R.Ev ! SÃO
CONSTITUC I ONAL
Controle externo do Judiciário: filmando o futuro ... A ampliação do controle externo do Judiciário poderá ser votada pelo Congresso e será fatal para o Estado de Direito em nossa Pátria
N
o Brasil, o le,fo caça para o dragão. Em termos mais inteligíveis, a esfola/escorcha dos impostos, que o exagerado bom humor de nossa terra personificou no leão, alimenta, inchando o Estado, o dragão da inflação. A movimentação dessas duas feras constitui ponto de atenção especialmente vivo para qualquer brasileiro 1• Ora, sucede que, recentemente, cruzaram aquelas feras o caminho do Judiciário, com o rumoroso caso do IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira). Se alguém tem a curiosidade desaber o que poderá acontecer em nosso País, se for implantado, ou melhor, ampliado, o chamado "controle externo do Judiciário", convém deitar a atenç.fo no que se passou.
Os "controlistas" revelam suas entnmhas. A Constituição estabelece limitações ao poder de tributar 2 • Tendo o IPMF ultrapassado tais limites, o Supremo Tribunal Federal fez prevalecer a CotLstituição e suspendeu a cobrança do imposto até o início de 1994, reservando-se ainda examinar o mérito das ações de inconstitucionalidade que o contestam. O Supremo limitou-se a exigir o cumprimento da Constituiçáo e a defender o contribuinte contra o arbítrio dos outros dois Poderes. Ato contínuo, o Congresso entra em ebulição. A retaliação contra o Judiciá-
rio é exigida formalmente, no melhor tivação da Justiça. Por exemplo, um gunta-se o que traz piores conseqüênestilo dos sistemas totalitários. O depu- juiz não pode realizar audiências cias para o infrator: ser juiz omisso ou lado Maurílio Ferreira Lima (PMDB- estando fechada a porta principal parlamentar absenteísta? "É preciso PE) apresenta projeto de Lei propondo da sala 5 • lembrar", afirma Américo Lacombe a transferência de verbas destinadas à O Legislativo é tão pouco aberto, um tanto constrangido, "que enquanto Justiça para outros fins, especificando que freqüentemente nem os próprios 90% dos juízes trabaliiam, apenas que assim poderia ela perder de seu congressistas sabem o que suas lideran10% dos parlamentares carregam o orçamento "cerca de US$ 250 mi- ças estão decidindo por eles... Congresso nas costas" 8 • Nessas conlhões". E, para dirimir dúvidas quanto Eo Executivo é mais fechado ainda, dições, quem precisa de mais de conao motivo dessa atitude, sentencia: "Seo Praticamente só é público e registrado trole externo? Judiciário fez o Executivo perder quase o que sai no Diário Oficial... Outro ponto. O Legislativo fixa o US$ 2 bilhões, nada mais natural que ele A não ser excepcionalmente, os che- vencimento dos outros Poderes ... e de dê sua parcela da contribuição" 3• fes do Executivo e os componentes do si mesmo. O Executivo tem poder de E - aqui está o ponto que mais Legislativo não são obrigados (nem cos- veto, nessa matéria. O Judiciário não interessa-vários deputados passam a tumam) fundamentar suas decisões e votem poder algum. Em última análise, clamar pelo que chamam de "controle tos, ao contrário do que acontece com o recebe o que lhe dão. E não é muito. externo do Judiciário" 4 • Judiciário. Tampouco pode o Judiciário ter reCom isso, revela-se o perfil do Mais. As votações do Legislativo presentantes seus com voz e voto nos "controlista": não é um abnegado pro- são geralmente "democraticamente" outros Poderes. No entanto, os tribupugnador do aperfeiçoamento da Justi- combinadas em obscuros corredores ou nais são compostos em parte por elcça. É alguém que não gosta de se ver nos tristemente célebres conchavos das mentas não provenientes da Magistracontrariado. E que está disposto a pres- lideranças dos partidos, combinações e lura de carreira. -sionar os Magistrados, até por meio de conchavos estes que via de regra não Não se pode deixar de notar, por punições. são revelados. O mesmo se pode dizer fim, que muitos dos pi-oblemas que se Assim sendo, a conclusão só pode do Executivo, com algumas adapta- quer solucionar com o controle ser: ampliar o controle externo? Ja- ções. Mas no Judiciário, ludo se passa externo dependem, não do Judkiámais! r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- -- - ~ rio, mas do LegislatiMas há também movo. Ou seja, do Poder a tivos teóricos para ser quem caberá votar o contra tal ampliação. controle externo. Por exemplo, as custas proSe falta controle cessuais, a agilização externo é em outra parda Justiça pela reforma te. Como não sou magisda legislação procestrado, não fica para mim sual, a ampliação e deselegante fazer algumoderniz.açào dos sermas comparações entre viços judiciários. Tudo os Poderes. São elas inisso depende do Legisdispensáveis para que se lativo. Demonstrem os compreendam os aspecsenhores. congressistas tos desatinados do consua boa vontade e seu trole que se propõe. Mas desejo de aperfeiçoar a não marcam de minha Palácio dajustiça -São Paulo Justiça começando por parte nenhum desapreaquilo que já está paraço pelos membros do Primeiro e do em público e é registrado. Onde há do em suas mãos há muito tempo! Segundo Poder. mais possibilidade de fiscalização? Na mesma linha de pensamento, No quadro que acompanha este arAinda. "O magistrado pode ser muito se tem criticado - e com razão tigo, estão enumeradas as diversas-e processado a qualquer instante, in- a "inflação legislativa" causada pelo numerosas -formas de controle exter- dependentemente do levantamento excesso de leis e decretos (estes últino, a que já se submete o Judiciário. de imunidades que possa ter, dife- mos, mais de cem mil!) 9 • Ou seja, os Muitas delas não têm paralelo nem rente do que ocorre com o presidente outros Poderes geram uma situação que no Executivo, nem no Legislativo. da República, governadores e com os prejudica gravemente o Judiciário, sem Antes de tudo, salta aos olhos que, integrantes do nossq inefável Legisnenhuma possibilidade de reação por dos três Poderes, o Judiciário é de longe lativo" 6 • O processo criminal é com parte deste. O que bem mostra não ser o que apresenta maior transparência em instância única, o que implica em ele um Poder prepotente, sedento de seu funcionamento. maior severidade 7• dominar os outros dois, mas pelo conPode-se dizer que o Judiciáiio é Ademais, quando um deputado faltrário, o que mais engole fatos consuum Poder escancamdo, sendo o Le- ta a uma sessão, a vida continua, tal mados que vêm prejudicar seu próprio gislativo um Poder entreaberto e o qual. Mas se não comparece um juiz, funcionamento. Executivo, semi-cerrado. vários processos se empilham, comeTudo é público e registrado na efe- çando o clamor dos prejudicados. PerControle pelo voto? Nessa altura,
os "controlistas" costumam entricheirar-se atrás de um último ~rgumento: o Poder Judiciário '!é o ú1úco quç não se legitima pelo voto" 10• Com 9 Executivo e o Legislativo, dizem, tuào é diferente. Seriam estes controlados externamente, pelo eleitor. As eleições são até consideradas uma forrµa de controle "e.x celsa" por Sérnio Zveiter 11 • Não vejo condições para concordar com tal tese. Pergunto a meus leitores se possuem a vivência íntima de estar controlando quem quer que' seja, na esfera política, por meio de seu voto. Se, nas eleições passadas, "52% dos brasileiros preferiram não votar em ninguém", e se "91 % dos cidadãos não acreditam nos políticos" 12, como é possível pretender que tal çontrole seja realmente efetivo? Será que a maipria dos brasileiros acompanha nos jornais o que se pass;i na cena política? Lembram-se, pelo menos, em quem votaram? Então, controlar quem? Como? 13 Vê-se, portanto, que o controle do Executivo e do Legislativo pelo eleitor, se existe, é extremamente frouxo, sen-
do em conseqüência igualmente frpuxa à arguµientação, apareqtemente impressionante, de que o Judiçi&rio 11&9 é controlado por meio das eleições, devendo sujeitar-se a outra fonna dç controle externo.
Tendênci~ latina,já erQ de~~ência. O amesquinhamento do Judiçiário é realidade em algu11S países latinos da Europa. Diga~se resolutameqte: com os pi9res resultaqos. Esse t,istema, implantado na Fr;inç~ pelo Gçneral De Gaulle, foi exportado para a Itália, Espanha e Portugal, com algumas altçrações. Segundo observa o juiz D. fl. Matagrin, secretário-geral da Association
Professionnelle de~ Magistrqts, a Justiça et,tá qualificada na Cm~tituição frances~ como "autpridade j~dicial", e não mais como "Poder Judiciário" 14 • Na Espanha, a Lei Orgânica do Poder Judiciário (LOPJ), aprovada pela maioria parlame~1tar socialista, determina que o total dos vintç membros do Co11Selho Geral do Poder Judiciário seja eleito pelo Legislativo, isto é, pelos
p~rtidos políticos. Tal órgão cuida das nptpj;~awes, prornoçõet,, inspeção, regime disciplinar dos juízes. "A Justiça já 11ão é µm Poder", constat;\ tristeme11te o catedrático dª Utúversidade Complutçm,e ;\. Muiíoz Alonsp 15 • Na Itália e em Portugal, infelizmeqa te a situação não é substancialmente diversa. Semp~ na preocupação de filmar o ~turo, veja1nos um exemplo do que pode acoµtecer, qu~ndo o Judiciário é cerceado em sua independência. Na vitima ejeição do órgão de controle espanhpl, depois de acirrada disputa e de nmperpsos e indecorosos conchavos entre os partiçlps, foram designados para o mesmo inclusive políticos de trajetória gpvernamental 16• Na Itália, o órgão de contr<;>le está sendo acusado de ser domin~do pela máfia 17• Na França, surgiu denúncia contra o Presidente Mitterrand, de que seu partido ter-se-ia valido de faturas falsas na campanha eleitpral. Mas não foi possível apurar o caso, pois o presidrnte do Conselho Superior de Magistatura, pela lei, é ... o próprio Presidente da
O controle externo do Judiciário já existe! O leitor sabia que~··
* ... na Constituição df? 19~f3 há seis rneçanisrrios, cl!? controle externo do Poder Jµdiciárig? 1 * ... o ingresso na çç1rrf[;?ira de jLJi~ se faz m~diõnte concurso público, com a pflrticipação da Ordem do~ Advogados do Brasil e do Mini~t~rio Públiço, órgãps extf[;?fnos ao Judiciário? 2 ' * ... sob pena de nulidade, todos, os jµlgç1me11tos têm de ser públicos e fundamentadas ~odas as decjsões? 3 '{Nenhum Poder sofre essa fiscalização assim t~o prontç1 1 tão imeçliata, ato a alo, decisão a decisãa"4 * ... ~té o deputaqo José Dirceu (PT-SP), líder "controli sta" radical, reconhece, no que di1 respeito ~ função jurisdiçional do~ rnagislré\dos, que "css tipo de onlrolo !externo] já exjst~, né\ prática, pela via rc ursal"? 5 * ... os v~ncirne11tqs dos j4ízes n~o Sc'io fixados p0lo JuçJiciário, ma~ ~im p~lps, outros d9is Podercs? 6 * .. , qs orçameritos qo Poder Judiciário são eslipulados ern conjunto com qs çlemais Poderes? 7 . * ... o~ Tribun,çiis çle Contas, órgãos do Poder Legislali vp, pr9mov~m a fiscali?çlÇ~o c9ntábil, financeira, orçamentária, operaciqnal e pqi:rirnonial do Judiciário?ª * ... os proçessos co11tr!'l juízes são acompçinhados pelo Ministério Públic9 1 (>rgão ~,çterno ao Judiciário?9 * ... "·os membros do STF j~ ~stão sujeitos ao impeçichment pelo Senado cjesd~ 1891,,,~1 º * ... p~lo merios a quinta parte das vagas dos tribunais superiores e de todos os tribunais de ~e$\.mdo grau, fede-
ré\i~ e esté\çluais, é rt3s~ry{ldf\ é\ acjvogac!os ou promotores, p9rtç111to a profis,sioné\is çle rnrrejrçis ex,terrias à da Magistrntur-f1?11 * .. , f\ e~colh él do? rnini~tr9s dq Supremo Triqunal F~çlf?ra! e quélse tqdqs, q~ trib,µn!'lis sup~riores é feita pelq ~enéld91 por indicf!ÇÊ\9 dª Presidência da República? 12 * ,.. qs jµ.fzesinc\icçido? pélrçl os Tribu11aissuperioressão, primeiro 1 SLJbm~tidO? ao crjvp qç Senado? 13 'I' ••• por todos esses motivos, o Poder Judiciário já está controlado extefnamente e é até o menos independente dos três Podere~ do Estado?
NOTAS \. Muitos qps :\rgu111entos cpntiqos neste quadro foram extraídps de artigo do D 'S. Antonio Carlos, Amorim, Pre~idente do Trib~na! de Justiç.a do Rio de Jane iro, publicado no "Jorrialdo Brasil'', qe6-6-93. 2. ,F, arL 93, 1. 3. CiF 1 art 93, IX. 1. francisco de Paula Xavier Nc,to, "O Esta,do do Par"n~", 11-7-93, 5. "O Estado de S. Paulq", 10-~Q-93. 6. Sebastião ele Oliveira Lima, "O E.s taqo de~- P~ulo", 8,6-93. '?, ,F. arL 99. 8. CF, art. 71, li e IV. 9. Américo Lacombe 1 "O Estaçlo de S. Paulo", 27-6-93, 10. Ministro Celso de Mello, Folh,\ çle S. Paulo, 17-5-~3. CF art. 52, li ,§ único. 11. CF. arts. 94,101, 104 1 107,111,119, 123. 12. C,F. il?id . 13. Sebastião ele Oliveira Lima,. "Jorn~I do Brasil", 26-5-93.
República! O Cpnselho avoCQl! a s.i a questão e a apuração não S<:l fez 18 •
Conclusão. Se o controle externo do Judiciário já e~is,te, o objeti-
Se o ex-presidente Collor tivesse poderes constitucionais par.~ avocar a si a apuração dos fatos q~e determinaram seu afastamentQ, talvez fosse ele aipda tão Presidente da República quanto o é François Mitterrand... ·
vo da atual campanha só pode ser outro, diverso do que se está prop~gapdo.
Já que falei do ex-presidente Collor, não é mau recordar lllais um exeqwlo. Foi o desembargiidor Ainé~ rico L;ico1nbe quem julgQu i~1coqstitucional o bloqueio dos cruzados novos 110 Plano Collor. Sobre o caso, comentil ele, com propriedade: "Se eu não fosse vitalício, o que ocQrreriil depois?" 1° Fica m,1is esta pergunta para o leitQr, pois os "controlis.La$'', geralmente, sãQ contr{irios à vita!i~idnde dos juízes. Alé ª· ONU, geralmente insípida, inodora e incolor em suas tomadas de posição, certmnente alarmada com a siluaç,fo do Judiciário em alguns. piiíses da Europa, houve por bem insistir em que os magistrados decidam "sem ser objeto de influências, iucitiiçõcs, prc5,sões, ameaç,1s ou inlervençõet, indevidns, diretas ou indiretas" 20•
Apresento l!llla lúpótcse. As esquer~ das vêem np Judiciária u111 obs,t,foulo a seus. planos de mudança social 21• Não se ti;ata de fechar os olhos para a crise que assola o Judiciário brasileiro, jl!ntame[\te com - é forçoso -acre$, centar-praticame11te toda~ as instituições nacio11ais, Trata-se de const;itar, como o foz Luiz Flávio Gomes, que "a indepen-
dência qão é um privilégio do juiz, senão uma ~eces~idade do próprio Estaclo de Direito" 22 •
É preciso preservar, custe o que custe, a idéi11 de um Poder Judiciária independente e a seu modo t\rnjestoso, que paira acima das pail'Ões políticas do momento, asseguranqo O ü1wério dii lei e a justiça para todos 23 • Trabalhiir contra a autonomia da Justiça é remrncü1r ao próprio conceito de civiliz:ação. E ~brir as portas do País para a politicag~m e Q caos judiciário. LEO ÜANIELE
NOTAS \. ç:;onvtm reçorc\11r que l'\OSSA :P<1ís é o QH11· peão l'\ lund i<1 I de irn postos, e ncargps socia is e tribu!,!ção inq ireta (cfr. "O Estado de S. Pa ulp'', ~7-9-93.). Es.t\1c!Q do 13,ançp Mllncl iil l, n&o q ivu lg<1cto no B,r<1sil por raiões que se desco nh ece m, informa que a carga tribu tária sob re a chan1ada "cesta bás ica" a tinge a ve rtiginosa n1arca de 32%, e m méd ia, do custo final (cfr. "Zero Hora", Porto Alegre, 17-3-93). Quer d izer, o bras ile iro pobre, que nos supermercados pratie,1mente só ço111pr<1 os <1 li n1entos pf\sicos, alél'll de rece\Jer po11ça ajuqa do E&t;1çlo, cll'liX,íl Pilfª este a te rç<1 pílrte çla despesa! 2. Cfr. Títu lo V!, cap. I, seção II. 3. Cfr. "O Estado de S. Patjlo'', 2'7-9-9;'\. 4. Cfr. "Oazelí\ Mercantil'', 25-9,9,;'\ e "O ~stado de S. Pa1.1!q", ~7-9,-93. 5. El(cetq nqs feitos de P ireiço de Faq1ília, q11e correm debaixo do cl1ama<10 "segredo <le J ustjça'', instituíd o em respeito p!'l la intimidad e dos lares. 6. Celso Bastos, "O Juq ici;\riç, e o S\'l\J contmle", in "O Estado de S. Pa ulo", 28,-6-93 7. Cfr. Antônio Sbano, "Tribuna de S.José'', São José dos Pi11 hais -PR, 3-6-93. 8. "O Es tad o de S. Paulo'', 2-7-93 . 9. Ne m todos sabe m que a Igreja co nd ena o "d ese nfreado 'dinamismo' legislativo" , o qual "excl11 i toda segura nça jurídica, e portanto sup rime elemento básico de toda verdadeira ordemjpdicial'' (Pio XI I, Discorsi e R(Uiiomes,saggi,, vol. Vil, p. 205), 10. Profa. Açla PeUegrini Grinover, "O E.sk1do <le S. Pílulo". l 2.5:93. 11. ''jornal do Brasil", lº-6-93. 12. Clfr. "Oaz.ek1 Merqq1til", S,ão. Paulo, 3 1-893.. 13. O <1ss u11to é duvidoso, mes1rip e m teoria. P<1r<1 Roqsse<1u, o representante não pas.s<1 de um l'\lero procurador de que111 o elegeu , devendo pautar sua atuação legisla tiva estrik,me nte pela von tade daquele. Burke, enÇret:a nto, derrubou essa tese, preganqo a m<1is co.mplet:a autonom ia do repres e11tante, uma vez no cargo, em re laç.ão a se11s e leitores. · 14. Cfr. Luiz Roberto Sabbílto, "I nd epe nd ência do Poder J uçliciário deve ser gara ntida", in "O Estado de S. P<1u lo'', H\-1-92. 15. "AB,C", ~7-IQ-a5, in Esp(lií,(J, anestesi(lda s.in percibirlo, arnordazada sin quererlp, extraviada sinsaberlo - La obra dei PSOE , 'T'FP.-Covadonga, Madr id , 1988. p. 196. 16. Cfr. Luiz Flávio Gomes, "Órg;i.o extern9 pode levar ao perigo de interferência", in "O Estado de S. Paulo", 18-1-92. 17 . Clfr. Declarações de Od yr Porto, "O Estado de S. Paulo'', 2{3-9-93 . 18. C:fr. L.uiz Fláyio Gomes, art. cit. 19."O Estado de S,.Pau lo,", 27-6-93. 20. Princíp ios estabelecidos pe lo Congresso de Milão das Nações Unidas, aco lhid os na resolução 40/146 da Asse.mblé ia Gera l, em 13-12-85. 21. Ver, nesse sentido, o livro dç, ch ileno "alle ndista" E. Novoa Monreal, O Direito corno obstáculo à transformaç&i social, Ed. Sérgio Fabris, Porto Alegre, 1988. 22. Art. cit. 23. Cf. Plínio Corrêa ele O liveira, "Proje to qe Constitu ição a ngustia o País" . CATOLIC:ISMO, ed. ex1ra de 13 - 10-87.
TFPs EM AÇÃO 1
Livro de P.l'inio Corrêa de Oliveira repercute intensamente na Europa e nos Estados Unidos
Desde o jornal comunista até Princesas comentam Um dos aspectos mais graves da presente crise brasileira tem como causa profunda o processo de deperecimento gradual de nossas elites. Desde fins do século XIX, esse fe/nômeno se vem produzindo com crescente intensidàde, sem que nosso otimismo brasileiro, despreocupado e bonacheirão, desse ao fato a devida atenção. E isto nos conduziu a este terrível fim de século.
tempo, as elites novas, originadas do trabalho exercido no campo da cultura, como no da produção, encontrassem condições propícias para constituírem elites autênticas, congêneres com a nobreza por sua formação moral e cultural, como por sua capacidade de mando. Caber-lhes-ia formar, à maneira da nobreza, verdadeiras elites capazes de originar homens de escol nos mais variados campos.
A carência de elites e a crise brasileira
... em vão para o Brasil
Em qualquer campo de atividade onde se queira reintroduzir a honradez, a competência e a ordem, não faltam sugestões inteligentes a pôr em prática. Mas a grande questão que surge desde logo é a da constituição, para cada plano, de uma equipe moral e intelectualmente capaz. E a todo momento nos encontramos diante da embaraçosa constatação: não temos essas equipes. E porque não as temos? Porque não temos elites. Onde há elites moral e intelectualmente capazes, os homens idôneos por sua competência e por sua moralidade não faltam. Onde não há elites, os homens de real valor são raros, pouco conhecidos e condenados a vegetar anônimos na multidão dos medíocres ou dos gatunos. Pio XII procura evitar ...
O memorável Pontífice Pio XII (1939-1958) previu provavelmente que, mais cedo ou mais tarde, as condições morais do mundo moderno levariam a essa situação quase todos os países. O que lançaria a humanidade em uma crise omnímoda de imprevisíveis consequências. Assim é que ele pronunciou, em seu Pontificado, catorze importantíssimas alocuções, as quais contêm um apelo a que fossem preseivados cuidadosamente, nos países com tradição nobiliárquica, as aristocracias respectivas. E que, ao mesmo CATOLICISMO, DEZEMBRO l!l9:3
No Brasil, o apelo de Pio XII quase não teve repercussão. Teve-a escassa em outros países. E, assim, a falta de elites, que para nós era um problema · trágico, para outras nações constitui problema sério a que cumpre dar remédio urgente. · "Nobreza e elites tradicionais análogas"
Visando contribuir para a solução desse magno problema, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Famfüa e Propriedade - TFP, escreveu o livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, que constitui uma análise penetrante das condições do 'mundo contemporâneo à luz das catorze alocuções de Pio XII. Importa notar que, quanto às elites novas, Pio XII recomenda que saibam entretanto ir dotando cada vez mais as gerações que delas provierem, da força de trabalho dos troncos novos, valorizada pelos dotes de cultura, de educação e de trato social de bom quilate. A primeira edição desta obra em idioma português foi confiada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira à conhecida Editora Civilização, de Portugal, e veio a lume em 30 de abril (328 pp., sendo 40 pp. de fotos em cores e 11 em preto e branco). Traduzida para
o castelhano, a obra do ilustre pensador e escritor brasileiro foi divulgada na Espanha, a partir de 21 de julho p.p., pela Editora Fernando III EI Santo. Essa edição está cobrindo o amplíssimo mercado das nações de fala espanhola. Prestigioso lançamento em Washington
Nos Estados Unidos, a obra foi publicada pela importante editora Hamilton Press, e teve seu lançamento oficial a 28 de setembro p.p., no prestigioso Mayflower Hotel de Washington. Foi presidente de honra da sessão o Conde Andreas Meran, um dos dirigentes da juventude da TFP paulista. A presidência efetiva esteve a cargo do Sr. Morton C. Blackwell, que também é presidente do reputado Leadership Institute. Estavam presentes, como convidados especiais, a Arquiduquesa Mônica da Áustria, Duquesa de Satangelo, e seu sogro, Don Baltasar de Casanova y Ferrer, Duque de Maqueda, Grande de Espanha. Na ocasião, diante de um público de 850 convidados, dentre os quais destacavam-se a Arquiduqueza Mônica da Áustria e seu sogro o Duque de Maqueda, discursaram personalidades de alto relevo na vida pública daquele país, como o Almirante (R) Thomas J. Moorer, ex-Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas norteamericanas; Brigadeiro General do Marine Corps (R) William Weise; o Coronel do Marine Corps (R) John W. Ripley, herói da guerra do Vietnã; o conhecido dirigente conservador Morton C. Blackwell, Presidente do Leadership lnstitute; e o deputado pela Califórnia Robert K. Dornan.
ção a edição em língua francesa, publicada pela Editora Albatros. Brilhante lançamento em Roma
Na Itália, a obra, divulgada pela Editora Marzorati, circula desde final de maio. Recentemente foi ela apresentada no Congresso da Nobreza Européia, realizado em Milão de 14 a 16 de outubro. Nesses dias, houve uma concorrida sessão para o lançamento oficial da obra no Circolo della Stampa, Palácio Seberllon.i, daquela cidade. O mais recente desses lançamentos ocorreu em Roma no dia 30 de outubro p.p., no histórico Palácio da Princesa Elvina Pallavicini, com a presença do Cardeal Alfons Stickler, de Mons. Cândido Alvim Pereira, Arcebispo emérito de Lourenço Marques, do Arquiduque Martin da Áustria, do Duque da Calábria, D. Carlos de Bourbon Duas-Sicílias, da Princesa Dona Urraca de Bourbon Duas-Sicílias, do Príncipe Sfo17a Ruspoli, da Princesa Pallavicini, do Príncipe Massimo, do Príncipe Massimo-Brancaccio, do Príncipe Odescalchi, do Príncipe Carlos Cito Filomarino di Rocca D' Aspro, do Duque Giovan Pietro de Caffarelli, presidente do Corpo da Nobreza Italiana, e de inúmeros membros da mais alta aristocracia do país. Na ocasião, foi lida expressiva carta de congratulações do Cardeal Silvio Oddi, que não pôde estar presente, Em todos esses atos, a obra do escritor brasileiro foi objeto de acurada análise da parte dos vários conferencistas que se sucederam no decurso das sessões então realizadas. E que produziram entusiástica manifestação de aplauso da seleta assistência.
Vivas repercussões na imprensa romana
Na imprensa romana, a repercussão desse lançamento foi das mais vivas. Il Tempo do dia 12 de novembro se referiu à jornada de apresentação "da monografia sobre alocuções de Pio XU ao Patriciado e à Nobreza romana (Edição Marzorati) traçada por Plinio Corrêa de Oliveira, um dos maitres à penser da direita". La Repubblica, um dos maiores quotidianos da Itália, com tiragem de um milhão de exemplares, na edição do mesmo dia 12, noticia o Congresso "patrocinado pelo Centro Romano Lepanto e por um Movimento cujo nome é mais eficaz do que um slogan político: Tradição, Família e Propriedade". O jornal comenta ainda que "a presença do ancião cardeal de Cúria Stickler e de uma dezena de sacerdotes, as cartas de adesão de outros Cardeais, como os italianos Oddi e Ciappi, teólogo papal de Paulo W, ao Livro Nobreza e elites tradicionais no pensamento de Pio XII do brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira, revelam a atenção que alguns ambientes da Cúria Romana deram ao encontro". O jornal Seco/o d'ltalia, por seu turno, na edição do dia 2 de novembro, traz uma destacada notícia-comentário, na secção "Idéias" (p. 9). Um subtítulo em forma de pergunta e resposta diz: "No processo de reconstrução moral do País, que papél podem desempenhar as elites tradicionais? - Falouse disto numa convenção em Roma". Em seguida, o título em grandes carateres: "A nobreza que 'obriga"'. A matéria assinada por Guglielmo Marco1ú a11alisa a crise mora1 e política por que passa a Itália e afinna: "Na busca de algo novo, muitas sugestões podem vir da tradição. De uma Convenção realizada nestes dias em Roma (Palacio Pallavicini), sob a iniciativa do Centro Cultural Lepanto e da TFP (Tradição, Família e Propriedade), partiu o con-
vite a reconsiderar o papel que possam desempenhar a nobreza e as elites tradicionais nesta obra de reconstrução moral e cívica. A ocasião ofereceu-a a publicação, na editora Marzorati, de um livro de Plinio Corrêa de Oliveira que se intitula precisamente Nobreza e elites tradicionais análogas nos ensinamentos de Pio XII". Por sua parte, a Rádio-Televisão italiana transmitiu cenas do acontecimento no seu telejornal do domingo 31 de outubro, e entrevistou a respeito o príncipe Sforza Ruspoli, um dos destacados conferencistas, que apresentou a obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na referida Convenção; nas escadarias do Palacio Pallavicini, sob um grande estandarte vennelho com o leão dourado rompante ma reado pela cruz e o lema Tradição, Família e Propriedade. O próprio jornal do ex-partido comutústa L 'Unità traz referências ao lançamento da obra em dois artigos de sua edição de 3 de novembro: um deles assinado por Enrico Vaime comenta o evento e .a transmisão da televisão italiana, assinalando com irritação que a aristocracia romana reaparece "com um programa ornado pelas condessas, sobre um estandarte carmesim: Tradição, Família e Propriedade". O outro comentário, assinado por Stefano Dinúchele, destaca declarações da Princesa Pallavicini, nas quais esta a firma que, para a sociedade atual, "a única salvação é o retorno aos valores verdadeiros". Ao que o jornalista pergunta: "E quais seriam Princesa?", apresentando em seguida a resposta por ela dada: "Tradição, Família e Propriedade, naturalmente". A obra contém amplo folheto com cartas de apoio dos Emmos. Cardeais Silvio Oddi, Luigi Ciappi e Alfons M. Stickler, e de teólogos de fama mundial, como os padres Raimondo Spiazzi OP, Victorino Rodríguez OP, e Anastasio Gutiérrez CMF. (Transcrito do "Jornal do Brasil" de 24-11-93)
Também já se encontra em circulaCATOLICISMO, DEZEMBRO 1!193
1
TFPs EM Aç:Ãb II
·\, Lançada ein Roina obra do Presidente da TFP
. N
ão pbderia haver l0cal mais apropriado para a realizaçãb do rhencionado lançamento do que o fairtoso Paláéib Pallavicini, construído em parte nos priineiros anos do século XVII pelo Cardeal Scipione Borghese Càffarelli; sbbre as ruínas elas teni1às de Constantino, o Grande.
O evento ocorreu nb dia 30 de butubro p.p., nesse histórico palácio, pertencente à Princesa Elvina Pai lavicini. A ele compareceram o Cardeal Alfons Stickler, da Cúria Romana, Mons. Cândido Alvim Pereira, Arcebispo .emérito de Lourenço Marques, o Arquiduque Martin da Austria, o Duque da Calábria, D. Carlos de Bourbon Duas-Sicílias, a Princesa Urraca de Bourbon Duas-Sicílias, a Princesa Pallavicini, o Príncipe Sforza Ruspoli, o Príncipe Massüuo, o Póncipe Massimo-Brancaccio, o Príncipe 0descalchi, o Prfocipe Carlos Cito Filo1narino di Roca D' Aspro e inúmeros membrbs da màis alta nobreza italiana. Foi lida, na ocasião, expressiva carta de congratula-
JUAN M IGUB. MONTES Cdrrespondehte
da tenl.âtica nele desênvolvida, sclldo suas intervenções muito aplaudidas. A sessão da tarde, que teve iníé:ib às 16,30 b, fo} presidida pelo Atquiduque Martin da Aústria. Em sua exposição, o Sr. dlovamü Cantoni, Presidente da Aliança Cdtólicà; qualificou o Prof. Plinio Cortêa de Oli• veira como brilhante co1hentarista e Da esq. para a direita: o apóstolo da doutrina social da Igreja. primeiro conferencista da O Sr. Nelson Fragelti, representante sessão da tarde, Sr. Giovarini do Bureau TFP de Paris, pôs êm realce; Cantorii, Arquiduque Martin eiu sua conferência, a profundidàde de da Áustria, Marquês Luigi análise com que o Autor de Nobreta e Coda Nunziante. Sr. Nelson Fragelli, representante do elites análogas desenvolve o tema etu Bureau 1FP de Paris sua obra. E o Prof. Roberto De Mattêi, Presidente do Centro Culü,ral Lepanto, ressaltou o fato de o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira encarnar as teses que defendê, como também a esperança da restauração católica nb mundo. Esses três oradores foram efusivamente aplaudidos ao fülàl de suas conferências. Em seguida, foi I ido da tribuna o magnífico discurso enviado pelo Presidente da TFP brasileira, seguido com grande interesse Aspecto parcial dd assistência da manhã. Na pela seleta assistência e calorotrihuna, profere a conferência de abertura o samente aplaudido. Príncipe Sforza Ruspoli A sessão encetrou-se com palavras de estímulo dirigidas gi, Secretário da Ordem Constantiniana aos presentes pelo Cardeal Stickler. Durante todo o Encoiltro, notou-se de São Jorge, referindo-se ao livro do um clillia de entusiasmo, bem como o Presidente da TFP brasileira, enalteceempenho para se colocar em prática as ram seu valor, acentuando a importância teses de Nobreza e elites análogas. Muito significativa, nesse sentido, foi a proposta do Póncipe Sforza Ruspoli de unir a nobreza em torno de um objetivo, pois, segundo ele, "não basta a nobreza de jure, é necessário o exercício".
ção do Cardeal Silvio 0ddi, que não pôde estar presente. O Encontro iniciou-se às 10 h, tendo ptesididb a sessão da h1anhã o Duque Giovan Pietro Caffarelli, Presidente do Corpo da Nobrêza ltaliàna. Dentre os oradores, o Príncipe Sfortà Ruspoli e o Bàrão Roberto Maria Selvag-
Da esq. pa.ra a direita: Arquiduque Martin da Âuslt·ia, Cardeal Alfons Stickler, o Duque da Calábria, D. Carlos Bourbon Duas-Slcilias, D. Cândido Alvim Perelt·a, Al"cebispo errwrito de Lour(!nço Marques
Jesus Cristo, deitado em um pobre presépio, estava mais elevado do que Otávio Augusto, a suprema autoridade do poderoso Estado romano
l1tnba a nós o bosso l\tíno "Se em todas as épocas da História Cristã a data de nhamos através de lutas e dissabores que enchem a cada N atai abre uma clareira alegre no curso normal e labomomento de cruzes o nosso caminho. rioso da vida de todos os dias, em nossa época a trégua "Por isso mesmo, porque vivemos nos últimos minunatalina assume um significado especial, porque ela vale tos de um mundo que expira, e já vemos os sinais por um grande e universalsursum corda (corações ao alto) precursores de um outro mundo que nasce, a lição de clamado a uma humanidade tumultuosa e sofredora, Natal tem para nós uril significado profundo, que deveque vai imergindo aceleradamente no caos ela mais .commos, meditar no dia de hoje" 2• pleta dissolução moral e social" 1• E, pois, na perspectiva animadora do Reino de Maria, Assim o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira iniciava seu profetizado por São Luís Maria Grignion de Montfort, o artigo dedicado ao Natal, eril 27 de dezembro de 1938, grande missionário mariano do século XVII, em sua no "Legionário", semanário oficioso da Arquidiocese de famosa Oração Abrasada, e pela própria Mãe de Deus, em São Paulo, do qual era diretor. São palavras ditas, por, Fátima, que damos início às presentes considerações. tanto, há cinqüenta e cinco anos. . Há alterações ou acréscimos que a elas possam ser Jesus Cristo, a expectação de todas as nações feitos? Cremos que apenas no que diz respeito à trégua natalina, porque hoje em dia não há Com palavras de uma simplicidamais trégua alguma, pois a humanide e uma unção todas divinas, porque dade "tumultuosa e sofredora" dainspiradas pelo Espírito Santo, é asquela época imergiu totahnente no sim que o Evangelho de São Lucas "caos da mais completa dissolução narra o nascimento de Jesus: moral e social". "E naqueles dias, saiu um edito de Assim, aquelas palavras são da Cesàr Augusto, para que se fizesse o mais palpitante atualidade, e reverecenseamento de todo o mundo. lam da parte de seu insigne autor Este primeiro recenseamento foi feito grande acuidade de vistas e propor Cirino, governador da Síria. E fundidade de pensamento, pois o iam todos recensear-se, cada um em que apenas se esboçava em 1938, sua cidade. E José foi também da Gah?je tornou-se uma realidade tráliléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, gica. à cidade de Davi, que se chamava E continua o articulista, apresenBelém, porque era da casa e família tando as causas mais remotas da crise de Davi, para se recensear,juntamenque agora chega ao seu auge: te com Maria, sua esposa que estava "Nossa época é um vale sombrio grávida. entre duas cuhninâncias, a civiliza"E, estando ali, aconteceu compleção do passado, da qual decaímos tarem-se os dias em que devia dar à através de sucessivas catástrofes que luz. E deu à luz o seu Filho primogêcomeça1'am com a pseudo-Reforma Otávio Augusto - Estátua de mármore, nito, e o enfaixou, e o reclinou numa e culminaram com os totalitadsmos Museu do Vaticano, Roma. Durante seu mangedoura, porque não havia lugar governo, nasceu na gruta de Belém o da direita e da esquerda, e a civilizapara eles na estalagem" (Lc. 2, 1 a 7). Redentor da humanidade ção do futuro, para a qual camiTais palavras, tão singelas, repre-
CATOLICISMO. DEZEMBRO CADERNO ESPECIAL Nº 28
"Senhor, enviai o que haveis de enviar':
exclamava Moisés, o grande gu-ia e legislador do povo judeu, treze séculos antes da vinda do Messias
sentam, entretanto, o fim de séculos de expectação da humanidade que presencia naquele momento a realização. de seus . ansetos, pois desde o princípio do mundo todas as almas justas que viviam na Terra, como também as do Limbo, desejavam e pediam ardentemente a vinda do Messias prometido. "Senhor, diz Moisés, enviai o que haveis de enviar" (Ex. 4, 3 ). "Abri os céus, Senhor, e descei", exclama Isaías (44, 1). "Senhor, diz Davi, o Profeta real, mostrai o vosso poder e vinde para salvar-nos" (SI. 79, 3). "Manifestai, ó Deus meu, o vosso rosto e seremos salvos" (SI. 79, 4). "Inclinai, Senhor, os céus, e descei" (SI. 143, 5). "Apressai o tempo e apressai o fim, para que os hom e ns contem vossas maravilhas" (SI. 36, 1 O). "Céus, exclama Isaías, derramai o vosso orvalho, nuve ns, espalhai ajustiça; abra-se a Terra, e dê à luz o seu Salvador" (45, 8). "Senhor, diz o profeta Habacuc, salvai o vosso povo no meio d e nossos anos. No meio de nossos dias faze i brilhar vosso poder" (3, 2). Desde Adão até Jesus Cristo, a Terra não produz senão maldade e espinhos. Enviai, Senhor, o Messias. Vinde, ó J esus, arrancai os espinhos e salvai o mundo. "Viverei esperando vossa salvação", diz o Patriarca Jacó (Ge n. 49, 18). O mesmo Patriarca chama o Messias d e "desejo das colinas eternas" (Gen. 49, 26). "O Desejado de todas as nações virá" (2, 8), diz o profe ta Ageu. O mundo inteiro tinha grande necessidade da vinda do Salvador para ver-se livre de suas misérias. Uma terra seca deseja uma chuva abundante. Por isso, durante os quarenta séculos que precederam a vinda do Messias, os justos desejaram que o Céu O e nviásse como um suave orvalho para satisfazer sua sede abrasadora. Por isso, assim que os gentios ouviram São Paulo contar a vida de Jesus Cristo, sua doutrina, sua santidad e, sua moral e seus milagres, desejaràm ir a Ele, O amaram e, seguindo seu exemplo, milhões de mártires d eram a vida por Ele. Isto prova que era a expectação elas nações, como dizJacó no Gênesis. Jesus Cristo satisfez cabalmente os desejos e os votos das nações. O próprio Messias desejava sua vinda e sua ação salvadora com mais ardor ainda que os homens. Seu ard e nte desejo de a1Tancar-nos das garras do demônio,
da morte e do inferno, e de dar-nos a vida, o Céu e a Deus por herança, levaram-nO a encarnar-se, a nascer e morrer pelos homens. Jesus Cristo ama a sua Igreja com um amor infinito. Seu desejo é de cumulá-IA de bens. Como também o desejo da Igreja é de vê-Lo, amá-Lo, possuí-Lo e manifestá-Lo pela Fé, e fazê-Lo amar, servir e possuir por todos os seus filhos e por todo o mundo. O Universo aguardava e desejava o Messias como Salvador do mundo, como sol e esplendor da Luz eterna, como Sol de Justiça para iluminar o mundo submerso na cegueira e na ignorância, e para que curasse, justificasse e santificasse os que estavam sentados nas sombras da morte. Jesus Cristo no Céu é desejado por todos os bemaventurados e satisfaz estes desejos. O Redentor é desejado por todas as almas virtuosas e santas que só querem agradá-Lo, amá-Lo, servi-Lo e possuí-Lo cada vez mais. , Conhecei os vivos desejos de São Bernardo: "O meu Jesus, mil vezes Vos desejo! Quando vierdes tornar-meeis ditoso e satisfareis meus anelos? Jesus, rei admirável, nobre triunfador e doçura inefável, quando visitais nossos corações, estes vêem a verdade. As vaidades do mundo não são nada para eles e vosso amor os transporta" (ln Himno) .
Por que Jesus Cristo quis nascer em Belém
Cristo presente entre os homens através da Eucaristia Apesar de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela sua Encarnação, ter dignificado a Terra, recebido os homens como irmãos e ter-lhes dado sua Mãe Virginal, Maria Santíssima, como Mãe, advogada e protetora, muitos seriam os homens que lamentavelmente se queixariam de que Ele os teria abandonado na Terra em meio a dores e sofrimentos sem fim . É para resolver essa objeção, aliás inteiramente infundada, que o Prof. Plinio CotTêa de Oliveira tece os seguintes comentários: "Mas dirá alguém: Cristo é um Salvador ausente, eternamente mudo atrás da cortina de nuvens que O escondem no Céu . E le não Se mostra à humanidade aflita. E esta então corre à busca de outros pastores. "É hotTÍvel dizê-lo, mas há cntr ea tóli os quem fale as-
"Abri os Céus, Senhor, e descei", suplicava o Profeta Isaías, sete séculos antes do nascimento. do Divino Salvador
CADERNO ESPECIAL Nº 28 C.ATOl.lr.JSMO Nº ,;u;_ nF.7.F.MRRO Hl9~
se engane, o mundo e todos os seus sequazes se enganam" (ln Nativ.). "Este nascimento, diz Santo Agostinho, está cheio de ensinamentos que nos instruem na prática da humildade". 7.Jesus Cristo quis nascer em Belém, porque Belém em hebraico significa "casa do pão", e Jesus Cristo é o pão do mundo e maná baixado do Céu. Belém tem o nome de Efrata, que quer dizer muito produtiva, e como um rico jardim. De Belém, o mundo inteiro recebeu, com efeito. não por vinte anos, como quando José estava no Egito, mas para sempre, o pão da vida eterna, que é Jesus Cristo. "Belém é o Oriente do mundo e a metrópole do universo", diz São Gregório Nazianzeno (Senn. de Glorificação do Santíssimo Sacramento - Detalhe do Incarnat.).
sim. Há ainda quem não ouse fular, mas pensa assim! E há quem não ouse pensar, mas sinta assim. "Ah! São esses os corações que recebem a visita eucarística de Cristo, mas não recebem o seu Espírito: 'in propria venit, et sui eum non receperunt'" (veio para o que era seu, e os seus não O receberam). "Cristo, para o bom católico, não está ausente. Na Eucaristia Ele está tão realmente quanto esteve na Judéia" 3 •
1
Se me perguntardes por que Jesus Cristo quis nascer em Belém em vez de em Jerusalém, em Roma ou em qualquer outro lugar, poderei responder-vos: 1. Porque foi para que se cumprisse a seguinte profecia de Miquéias: "E afresco de Rafael (1509-11), Stanze Vaticano. tu, Belém Efrata, a menor Nosso Senhor instituiu o Sacramento da Católico: vocação entre as cidades de Judá, Eucarist-ia-:-- prr:va de seu grande amor pelos homens grandiosa ouve: De ti há de sair e que a fim de permanecer entre nós dominará e m Israel, e sua origem data do princípio e E quem é o humilde seguidor de Jesus Cristo no dos dias da eternidade. mundo de hoje? Encontrar-se-á entre os hodiernos Cé2. A fim de que Belém manifestasse que Jesus Cristo sares que o governam? Nas mãos de quem se encontram, era Filho de Davi de Belém, a quem Deus o havia na realidade, o poder e as riquezas do Universo? prometido, e que era o verdadeiro Messias, São Lucas dá Se Jesus Cristo é realmente o rei do Universo, como esta razão, dizendo: "José também partiu de Nazaré, e de fato o é, o verdadeiro católico, seu seguidor, 'Já nesta subiu para a Judéia, a cidade de Davi, chamada Belém, vida receberá o cêntuplo, e possuirá a vida eterna" (Mt. porque era da casa e da fumília de Davi (2, 4). 19, 29). 3. Para que nascendo em um lugar humilde, maniOs autênticos discípulos do Redentor - os justos do festasse mais seu poder, segundo aquela palavra de São Novo Testamento- recebem esse cêntuplo em vida e se Paulo aos coríntios: "Deus escolheu o mais simples do t<;>rnam para os desígnios do Criador o centro da Histómundo para confundir os sábios, e o mais débil para na. confundir os fortes". Eis a grandiosa vocação que nos foi concedida, en4. Jesus Cristo quis nascerem Belém, porque Belém quanto católicos, pelo Deus Onipotente. estava no caminho de Jerusalém, e convinha que Jesus Que o Menino Jesus comunique a todos nós a graça Cristo nascesse como a caminho ou em viagem; pois, insigne de termos bem presente em nossas ahnas a segundo diz São Gregório, nascia como na casa de um grandeza que significa portarmos o nome d<; católicos, estranho pela humanidade de que Se havia revestido. especialmente neste caótico fim de milênio. E o que de 5. Para alcançar com este nascim ento pobre e humiltodo o coração a Ele pedimos, neste N atai de 1993, por de, um nascimento sublime por meio da graça e da glória intercessão de sua gloriosa Mãe, Maria Santíssima. e assim conquistar-nos um lugar no Céu. NOTAS 6. "Jesus Cristo, diz São Leão, escolheu Belém para l. Plínio Corrêa d e Oliveira, "Advenial Regnum luum", "Legionário", nascer porque havia tomado a forma de escravo; como 27-12 -1938. também escolheu Jerusalém para moner a fim de con- • 2 · Idem, ibidem. denar o orgulho e as riquezas" (Serm. de Nativ.). Augusto estava sentado no trono do Império R-omano e Jesus 3. Idem, "Glória a Deus no Cé u, e paz na terra aos home ns de boa vontade" , "Legionário", Natal de 1936. Cristo esta deitado em um pobre presépio; porém, este estava mais elevado no estábulo do que Augusto em um FONTE DE REFERÊNCIA sólio. Tesoros de Cornelio a Lapide, extratos dos comentários desse célebre "Ou Jesus Cristo se engana, diz São Bernardo, ou o escritor sobre as Sagradas Escrituras feito pelo Pe . Barbier, traduzimundo inc01Te em e1To, pois ensinam coisas diferentes dos para o espanhol por Carlos Sole r y Arqués, tomo III, p. 30 e ss , Libre ría de D. Miguel Olamendi, Madri, 1882. e contrárias; e como é impossível que a Divina Sabedoria
CADERNO ESPECIAL Nº 28
HAGIOGRAFIA
História Sagrada em seu lar
São Pedro Canísio: ''Coluna da Igreja'', baluarte da Contra-Reforma
noções básicas descubrais a cabeça, nem rasgueis os vossos vestidos, não suceda morrerdes vós, e levantar-se a ira do Senhor contra o povo" (Lev. 10, 6). Assim, ficou "proibido a Aarão e a seus filhos tomarem luto por Nadab e Abió, pois nestas circunstâncias o luto seria como que um protesto contra o procedimento de Deus" 2•
Punição do blasfemador -
mento e apedrejado pelo povo. "Exemplo terrível para aqueles que se atrevem a blasfemar o santo nome de Deus ou a profanar os dias a Ele consagrados. Castigos idênticos ou maiores se devem temer nesta vida ou na outra" 4 •
Deus castiga porque ama "Os judeus carnais tinham necessidade de sentir imediatamente a punição de seus crimes; a nós, porém, cristãos espera-nos Deus em silêncio. Temos a Lei e os Profetas; se lhes não dermos ouvidos, saberemm, ~v~ já ~rd~ q~o ~rr~el coisa é cair nas mãos do Deus vivo. "Como a dureza dos israelitas não podia ceder senão ao terror, permitiu Deus que cada prevaricação contra a Lei fosse punida d,e um modo sensível e espantoso. E um pai que não castiga senão porque a1na" 5•
"Ora, eis que o filho de utna mulher israelita, da tribo de Dan, que ela tivera de um egípcio que vivia entre os filhos de Israel, saiu fora e contenCastigo de deu nos acampamentos com um israelita. sacerdotes e "E, tendo blasfemado e amaldiblasfemadores (40l çoado b nome do Senhor, foi levado a Moisés, e puseram-no em prisão, até saberem o que o Senhor ordenaDeus quer que todos os homens ria. O Qual falou a Moisés, dizendo: sejam santos (Ex. 22, 31) e exige a santidade sobretudo dos sacerdotes: · Tira o blasfemo para fora do arraial, e todos os que o ouviram ponham as "Serão santos para o seu Deus, e não suas mãos sobre a cabeça dele, e todo profanarão o seu nome; porquanto NOTAS oferecem o holocausto do Senhor e o povo o apedreje. E dirás aos filhos 1. Cô nego J. I. Roquete, História Sagr<Uia do de Israel: O homem que blasfemar o os pães do seu Deus, e por isso serão Antigo e Novo Testamento, Guillard nome do Senhor seja punido de morsantos" (Lev. 21, 6). Aillaud, Lisboa, 1896, 9ª ed. , tomo!, p. 245. Nadab e Abiú - Depois de ter te" (Lev. 24, 10-16). O profanador do dia santo 2. Padre Matos Soares, Bíblia Sagrada, sagrado Aarão como Sumo SacerdoEdições Paulinas, 1933, 6° ed., p . 132. "Outro exemplo de grande severidate, Moisés "revestiu também os seus 3. O dia santo passou a ser o domingo de deu, pouco depois, o Senhor, filhos (entre os quais, Nadab e Abiú] porque foi nesse dia que Nosso Senhor mandando aplicar o mesmo castigo de túnicas de linho, e cingiu-os com J es us Cr isto ressuscitou. contra um profanador do dia santo, os cíngulos, e pôs-lhes mitras na ca4. São João Bosco, História Sagrada, Livraria no qual, pouco antes, Deus poribira Editora Salesiana, São Paulo, 1965 , 14° beça, como o Senhor tinha ordenatodo trabalho servil. ed., p. 86. do" (Lev. 8, 13). "Em dia de sábado 3, acontoceu 5. t.ô nego J. 1. Roquete, id e m, p. 239. Nadab era o primogênito de Aaque um homem foi rão e, como tal, seu sucessor no Sumo Sacerdócio. Seguia-o, por or- encontrado a recolher palha e ramos dem, Abiú (Num. 3, 2). secos para o seu Fogo do céu devorou-os~ "Tinha o Senhor ordenado aos sacerdo- uso particular. Letes que não usassem nos sacriücios vado também ele à presença de Moisenão do fogo sagrado, que haviam sés e Aarão, não de tomar do altar dos holocaustos. Mas Nadab e Abiú, filhos mais ve- sabiam estes se, lhos de Aarão, não observaram este ·por falta aparentemente leve, depreceito e serviram-se de fogo ordiviam conderuí-lo à nário para queimarem os aromas cm morte. seus tunôulos. Deséeu imediatamen"Consultaram te fogo do céu que os abrasou, e o Senhor e tiveram morreram na presença do Senhor. como resposta que "Moisés mandou levar os dois cadáveres para fora do acampamen- o profanador devia Os sacerdotes Nadab e Abiú são ser também levado to, e disse a Aarão e a seus outros devorados pelo Jogo vindo do céu 1 fora do acampafilhos [Eleazar e Itamar)" : "Não
Luzeiro da Companhia de Jesus, atuou como éónselheiro dé Reis, pregador na Corte de Viena, téólogo do Concílio dé Trento e Provincial jesuíta na Alemanha do Norte
E
screvendo da cidade alemã de Augsburgo a Santó Inácio de Loyola, Fundador da Companhia de Jesus, o Pe. Jerônimo Nadai, ao descrever a situação da Igreja na Alemanha, comenta: "Não é possível olhar para nada sem irromper em lágrimas e ser tomado de compaixão infinita"(*). Precisamente esse era o campo de batalha que a Providência destinava a São Pedro Canisio (1521-1597), cuja festa se comemora no dia 21 deste mês, e que haveria de ser nomeado por Santo Inácio Provincial da Companhia na Alemanha do Norte. Desde logo o Santo, através de enérgicos sermões, sustentou na Fé os católicos de Colônia contra as heresias do Arcebispo da cidade, Hermann von Wied. Atuando junto ao Ifi!PeradorCarlos V e ao Cardeal Jorge da Austria, PríncipeBispo de Liege, conseguiu o Santo que o Papa excomungasse o heresiarca, removendo-o do cargo. Grande foi a reputação que São Pedro Canísio granjeou entre os católicos. Numa das incontáveis viagens que fazia·, sempre a pé, pela Alemanha, encontrouse em Ulm com o Cardeal Otão Truchsesz, Bispo de Augsburgo. O purpurado, impressionado com seus méritos extraordinários, resolveu pedir a Santo Inácio e ao Papa Pio IV autorização para enviá-lo, juntamente como jesuíta Cláudio Le Jay, como teólogo para o Concílio de Trento (1545-1563). O que realmente foi feito, ocasião em que o incansável jesuíta pôde exercer benéfica atuação em prol da Igreja universal. Lá, como assistente do célebre filho da Companhia, Pe. Tiago 1.aínez, foi incumbido de fazer uma relação exata de todas as heresias a respeito dos Sacramentos da Igreja e de opor-lhes uma refutação adequada. Tarefa que realizou esplendidamente.
São Pedro Canís-io - Gravura de Domingo Custos
Concluídas as sessões daquela magna Assembléia, o Papa nomeia o renomado teólogo do Concílio de Trento seu legado junto aos Príncipes do Império Germâni~ co, a fim de fazê-los aceitar as determi nações de Trento. Assim, visita ele as principais cortes do norte da Alemanha. Detém-se nas cidades mais hostis à Igreja e inquinadas pela heresia, sendo acolhido com respeito e veneração. 0
Catecismo Desde o ano de 1546, os Padres reunidos no Concílio de Trento colocaram como primeira de su s preocupações a Catequese. Com efeito, era preciso reparar a grave ignorância religiosa que, então, era desoladora. Em certas partes da Europa, por exemplo, os católicos não conheciam o sinal da cruz, não sabiam rezar e nunca assistiram a uma Missa!. .. Entretanto, havia uma "fome de
Deus" à qual à pseudo-reforma protestante pretêhdia dar resposta. Õ Catecismo Romano, elaborado pelo Concilio de Trento e publicado pór São Pio V, correspondia a lima grave necessidade da Igreja, mas se destinava a espíritos formados e sobretudo aos membros do Clero. Nessa emergência, São Pedro Canísio é celebrado pela sua Súmula de Doutrina Católica, que ele concebeu destinada a três públicos diferentes: as edições major, minor e minimum colocavam à disposição das crianças, como de católicos cultos, todo o necessário pára a sua formação relig.osa. Ficava assim também atendido o Imperador Fernando I, que sucedeu a Carlos V, e que há muito vinha insistindo com Santo Inácio sobre a necessidade de se elaborar para a Alemanha uin compêndio da doutrina católica, pois Lutero falava e escrevia em alemão e era preciso, nesta língua, rebater-lhe os erros e heresias. Esta Súmula de São Pedro Canísio é considerada, juntamente com o Catecismo Romano, do Conet1io de Trento, um dos maiores triunfos doutrinários da Igreja contra o protestantismo. Assim que o trabalho veio a lume, um decreto imperial fê-lo difundir em todos os donúnios de Fernando 1. Felipe II, rei da Espanha, seguiu o exeinplo de seu tio, fazendo-o imprimir em seus Estados, no Velho e Novo Mundo. A Súmula foi sendo traduzida praticamente em todas as línguas das nações européias e, em pouco tempo, teve mais de 400 edições. Profissão de Fé Os protestantes começaram a espalhar pelo Tirol o boato calunioso de que o Santo e um certo número de jesuítas haviam aderido à Reforma de Lutero. São Pedro fazia uma pregação em Elwangen quando seu grande amigo, o CATOLICISMO, DEZEMBRO 1993
17
REMEMORAÇÃO OPORTUNA
de Sancho Pança E
Imperador Fernando l - Gravura de Hans Gebaúi Lautenfact, 1556. Mediante decreto imperial, esse Soberano alemão difundút em todos os territórios sob sua jurisdição a Súmula de Doutrina Católica de São Pedro Canísio
Cardeal-Bispo de Augsburgo, deu-lhe a conhecer esses rumores, que consternavam os católicos crédulos e transia de alegria os protestantes. Apurou-se que foi a partir da cidade de Wurzburgo que o boato começara a propagar-se pela AJemanha. O Santo não hesitou um instante. Dirigiu-se a pé a essa populosa cidade, percorreu todas as ruas, intimando o povo a comparecer imediatamente à Catedral. O recinto .não podia abrigar a todos. O jesuíta, coberto ainda pelo pó da estrada, cansado, desconcertou seus inimigos. Em três tumos, fez ele abrasada profissão de Fé católica, demonstrando com muita vivacidade o absurdo de todas aquelas imputações. Os hereges ali presentes ficaram confundidos e desarticulados em suas maquinações.
No dia seguinte, o Clero, o Senado e .a Magistratura dispuseram que sua exumação se fizesse na Catedral de São Nicolau. Os habitantes de Friburgo inscreveram em sua lápide o seguinte epitáfio: Com justiça é chamado coluna da Igreja, conheci.do em todo o orbe católico.
***
Leitor, se no fundo de tua alma sentes profundas analogias entre a situação aqui descrita e a nossa época, confia! Ainda que hoje estejamos em condições muito piores, Deus suscita sempre os homens providenciais que hão de sustentar a Fé, em sua época, e defender a ortodoxia católica, a exemplo desta "coluna da Igreja" no século XVI, que foi o extraordinário São Pedro Canísio.
Luís Morte São Pedro Canísio faleceu em Friburgo (Suíça), no dia 29 de dezembro de 1597, aos 76 anos de idade. À notícia de sua morte, a cidade inteira se comoveu. De início seu corpo foi velado na capela do Colégio dos jesuítas, que ele, mesmo fundara na cidade. Ali, alguns esperavam atônitos que seu corpo se reanimasse, a fim de voltarem a ouvir suas eloqüentes palavras. Outros se inclinavam para oscular-lhe os pés e as mãos. Outros ainda, para satisfazer sua devoção, cortavam mechas de seu cabelo, ou pedaços de sua batina, que ficou reduzida a frangalhos.
18
CATOLICISMO, DEZE.MBRO 1!1!1:-J
CARLOS AzEVEDO
OBRAS CONSULTADAS 1. J. Crétineau-Joly, Histoire de la Com/)agnie de Jésus, Paul Mellier, Éditeur, Paris, 1844, tomo II. 2.João Batista Weiss,Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelona, 1929, volume lX. 3. Vies des Saints Jllustrées pour tous les jours de l'année, Bonne Presse, Paris, novembro/dezembro. 4. 0/Jras Completas de San Ignacio de loyola, BAC, Madri, 1947. 5. Encidopedia Universal Ilustrada, Espasa-Calpe, Madri-Barcelona, Tomo XI. (*) Obras Completas de San Ignaâo de Loyola, BAC, Madri, 1947, p. 115.
Plínio Corrêa de Oliveira
Há 58 anos, na edição de 8-12-1935 do semanário católico Legionário, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, então seu jovem diretor, escreveu o artigo reproduzido ao lado. É impressionante o fato de o autor, ao descrever a crise do Brasil naquela época, dias após a Intentona comunista de 1935, já apontar, com rara clarividência, os mesmos defeitos e mazelas que estão na raiz da imensa crise que assola hoje nossa Pátria. Estamos certos de que a reedição deste texto será de grande proveito para os leitores
screvendo a história de Dom Quixote, Cervantes lhe associou um personagem secundário, que nunca abandonou o herói da Mancha. Este homem se chamava Sancho Pança. Que surpresa sentiria Cervantes se um telescópio profético lhe pudesse desvendar os acontecimentos futuros e lhe mostrasse que, enquanto o valente Dom Quixote entraria definitivamente para a galeria dos dementes inofensivos com sua lança, sua couraça e seu esquelético Rossinante, Sancho Pança, o tímido Sancho Pança, o medíocre Sancho Pança, o desprezível Sancho rança, haveria de acometer dentro de alguns séculos uma grande nação, e atirá-la, ele sozinho, às beiras do mais negro precipício? Foi, no entanto, o que se deu com o Brasil. Se nosso País não estivesse sob uma proteção especial da Virgem Aparecida, não duvidaríamos muito que, dentro de algum tempo, se lhe pudesse cavar a sepultura em sua terra fecunda. E, como justo epitáfio poder-se-iam escrever no túmulo estes tristes dizeres: "Aqui jaz uma Nação fundada por heróis, civilizada por Santos e destruída pelo comodismo imprevidente de alguns de seus filhos". Sancho Pança? perguntará alguns leitores, mas Sancho Pança não morreu? Que tem ele a ver, pois, com a crise brasileira? Não. Sancho Pança não morreu. Sancho Pança revive em espírito, e inspirando milhares de mentalidades, dita as atitudes de seus filhos espirituais nos Parlamentos, nas cátedras, nos bancos, na alta administração. Sancho Pança revive no comodismo dos imprevidentes, que fecham os olhos às nuvens de hoje, que serão tempestades amanhã. Ele fecha os olhos, não porque confie na Providência, não porque tenha qualquer motivo sério para negar o perigo, mas simplesmente para gozar em paz o momento que passa. Não morando no Rio, em Pernambuco ou no Rio Grande do Norte, julga que o perigo não existe simplesmente porque não lhe atacou o pelo. Sancho Pança revive no snobismo míope dos jovens plutocratas inscritos na A.N .L [Aliança Nacional Libertadora], que atiçam o incêndio que ameaça sua classe, esquecidos de que o destino de Judas ou de Philippe Égalité será o fruto de sua vaidosa mania de originalidade. Sancho Pança revive no imediatismo mesquinho e cúpido de certos políticos de
oposição, ou de certos literatos vaidosos que não se incomodam de proteger com um liberalismo de mau gosto, os petroleiros [terroristas] que atacam as bases da nação. Na imprevidência de sua ambição só pensam em gozar de momentânea popularidade e ... quem sabe assenhorear-se, por alguns minutos, do poder. Por alguns minutos, dizemos, porque a onda imprudentemente levantada seguirá seu rumo. E ela tragará num futuro bem próximo àqueles mesmos que lhe abriram caminho. Sancho Pança revive na incúria comodista de muitos cidadãos a quem o Brasil havia confiado a missão sagrada de defender a Religião, a Farru1ia, a Propriedade, e que não se pejavam em designar para cargos de máxima responsabilidade os mais encarniçados inimigos dos princípios cuja custódia lhes incumbia como dever sagrado. Sancho Pança revive no terror dos poltrões que, assustados pelas primeiras chamas do incêndio já dominado, exageram as
O encontro de Sancho Pança com seu asno ruço - Detalhe da pintura de Moreno Carbonero. Esse personagem de Cervantes em sua obra "Dom Qub:ote de la Mancha" tornou-se o homem-símbolo.do comodismo, do imediatismo mesquinho, da imprevidência e da poltronú:e
proporções do perigo, alarmando a população laboriosa, e espalhando em torno de si um terror que, longe d~ conduzir à reação, conduza o abatimento e à inércia, paralisando todas as iniciativas boas e inutilizando todas as resistências. Ah! Sancho Pança! Tu que, vestindo farda, beca, toga ou casaca, brincas com o fogo ou foges diante do adversário, tu que simbolizas a imprevidência, a incúria, o comodismo, a cupidez imediatista, o medo,
tu infeccionaste profundamente o Brasil. As chagas que se abriram no Rio Grande do Norte, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, foi teu sangue morno e impuro que as rasgou. Tu brincas hoje, tu chorarás amanhã. Mas ouve: aqueles mesmos revolucionários cujo caminho preparas porque és imediatista ou porque és poltrão, eles mesmos te dirão agora, pela boca de um grande anarquista, o futuro que te aguarda se te não emendares. Tu não nos queres ouvir, dizes que cheiramos sacristia e que não entendemos de política. Quando apontamos o perigo tu te ris, dizendo que somos medrosos. E quando o perigo ruge tu foges, e tachas de quiméricos nosso esforço para organizar a reação. Mas se te não impressiona a voz dos que lutam por Deus, ouve a voz de alguém que lutou pelo mal, ouve Proudhon: - "Quando a primeira colheita tiver sido pilhada, a primeira casa forçada, a primeira igreja profanada, a primeira tocha incendiada, a primeira mulher violada; - quando o primeiro sangue tiver sido derramado; - quando a primeira cabeça tiver caído; - quando a abominação da desolação reinar em toda a França; - Oh então sabereis o que é uma revolução social: uma multidão desencadeada, armada, ébria de vingança e de furor; espetos, machados; espadas nuas, martelos; a polícia no seio dos lares, as opiniões suspeitas, as palavras delatadas, as lágrimas observadas, os suspiros contados, o silêncio espionado, as denúncias, as requisições inexoráveis, os empréstimos forçados e progressivos, o papel moeda depreciado, a guerra civil e o estrangeiro nas fronteiras, os pro-consulados implacáveis, um "comitê de salut public", um comitê com o coração de aço: · - eis aí os frutos da revolução dita democrática e social". E, eis aí, Sancho Pança, o futuro que nos preparas. Mas tu não vencerás o Brasil. Não é possível que uma corte de míopes destroce uma grande nação. Não, Sancho Pança, não! Teus dias estão contados. Não vês essas falanges de moços, que por toda a parte se levantam, trazendo uma cruz na lapela e nos lábios o nome de Maria? Eles são a alma do Brasil que luta, que crê, que espera. Eles são a bênção de Maria, na Terra de Santa Cruz. Por intermédio deles, Maria te esmagará como esmagou a cabeça da serpente!
CATOLICISMO, DEZEMBRO 1993
19
.
Tups
.
EM AÇIÃO
Condecoração
II~
Estandartes tre1nula1n no local da execução da Rainha-1nártir, Maria Antonieta N ELSON R IBBRO FRAGELLI - Correspondente
A TFP francei,a fez então, junto ao de coroa de flqres, junto com uma público presente, larga distribuição de foto da Rainha e uma fita com os prospectos de seu mais recente lançadizeres : "A Maria Antonieta, Tradimento: a obra Nobreza e elites tradicioção, Família e Propriedade". nais nas alocuções de Pio XII ao PatriA cerimônia teve início com a ciado e à Nobreza romana, de autqria emocionante leitura, poruma atriz da do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Comédie Française, da última carta No final da tarde, a TFP francesa escrita por Maria Antonieta à sua cunhada, Madame Elizabeth . Em conduziu a coroa de flores à Capela expiatória, como sua última homenagem à continuação, um Sacerdote recitou o Rainha Maria Antonieta. • Padre-Nosso em latim, como também a oração pela Igreja e pela Dois cooperadores da 1FP Jrw1C,esa Franç-{l, que era reza,da ao final conduzem a magnífica coroa de flores da entidade à área reservqda pqra tal da Missa, seguindo-~e o Credo e o Salmo da Missa de Defuntos. PARIS -A 16. de outubro pasi;ado, Logo após a conclusão dessa por ocasião do bicentenário da decapi ta, cerimônia, um grupo de trinta sóção da Rainha Maria Antonieta, a Sociecios e cooperadores da entidade, dade Francesa de Defesa da Tradição, envergando suas capas rubras e Família e Propriedade marcou soleneportando estandartes de cinco memente sua presença na cerimônia que tros de altura, em cµjos mastros reuniu cerca de três núl admiradores da brilha também a flor-de-lis douraRainha-mártir, no exato local onde ela foi da - símbolo da velha França guilhotinada, e que ironicamente passou O terço rezado por sócios e cooperadores da se postaram junto ao histórico loa chamar-se "Praça da Concórdia". TFP francesa causou impacto no público cal, para recitação dos mistérios Inicialmente, sócios da TFP colocapmsente gloriosos do Rosário. ram, na área reseivada para ta 1, uma gran-
Estados Unidos: ecos de u1n aconteci1nento histórico MARIO
WASHINGTON - Embora já tenhamos registrado anteriormente o lançamento da edição norte-americana do livro Nobreza e elites tradicionais análog_a$ nas al9cuções de Pio XII, um tema que ilumina a história social americana, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira,julgamos indispensável acrescentar mais algumas informações, para que o leitor brasileiro forme uma idéia mais precisa sobre o grande alcance desse acontecimento. O encontro, denominado "Seminário Internacional", realizou-se a 28 de setembro p.p., no prestigioso Hotel Mayjlower, e teve como ponto alto o discurso do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que foi lido pelo Sr. Raymond Drake, Presidente da TPP dos Estados Unidos. O interci,se despertado pelo tema desse livro deve-se, em
20
CATOLICISMO, DEZEMBRO 1993
N.
COSTA - Correspondente
grande parte, ao avanço generalizado das mais diversas formas de caoi,, o que torna as pessoas interessadas em conhecer o pensamento que dê uma sólida fundamentação anti-caos. O programa impresso, distribuído na ocasião, além de fotografias e informações biográficas sobre as altas personalidades e oradores presentes, estampa a expressiva carta dirigida aos participantes pelo Cardeal Silvio Oddi que, embora lamentando não poder estar presente, salienta que "vossa participação neste congresso é histórica. Pois os princípios apontados em 'Nobreza e elites tradicionais análogas' são perenes e devem servir de farol para toda genuína civilização. Adotando e divulgando estes princípios, os senhores estarão prestando um grande serviço para o seu país e para a causa da Civilização Cristã".
O presidente para a região de Washington da associação tradicionalista do Sul dos Estados Unidos, denominada "Os Filhos dos Veteranos Confederados", desejando expressar sua viva gratidão ao Prof. Plínio Corrêa de Oliveira por esse extraordinário livro, concedeu-lhe sua mais importante condecoração. Nos vários painéis que se estenderam ao longo da tarde, antes da sessão solene, fizeram uso da palavra diversas personalidades, como o Almirante Thomas Moorer, o Brigadeiro William Weise, e o Coronel John Walter Ripley, todos da reserva, embora mantendo larga atuação pública de caráter contra-revolucionário. Também fez uso da palavra o donúnicano Frei Frederick M. Jelly, ex-presidente da Sociedade Mariológica dos Estados Unidos e atual professor de Teologia em importante Senúnário conservador norte-americano, que discorreu sobre o ensinamento do Papa Bento XV a respeito do sacerdócio da nobreza, tomando por base as epístolas de São Paulo. A Arquiduquesa Mônica de Habsburgo, que abrilhantou o ato, em diversas ocasiões comentou com agrado a multiplicidade de nacionalidades presentes: "É a primeira vez que converso com pessoas de tantos Estados norte-americanos e de tantas partes do mundo". Fazia questão de sempre saber de onde
O numeroso público acompanhou com grande interesse as exposições apresentadas durante o Seminário Internacional
procediam, mostrandoase surpresa ao ouvir que algumas pessoas tinham viajado dezenove horas para participar do evento. Há algumas décadas, para muitos teria sido inimagin~vel o impressionante lançamento da obr11 do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira no país cm que surgiu Hollywood. Mas de fato ele ocorreu, e contra fatos não há argumentos. É que nos Estados Unidos, por detrás do cenário hoje decrépito de Hollywood, há outra faceta: a de um país sério, adnúrador da tradição e aberto aos ensinamentos da Cátedra de Pedro. •
Milão: lança1nento da edição italiana do livro do Presidente da TFP brasileira JUAN MIGUB.. MONTES - Correspondente
Pio XII, recordando também convívio com o Prof. Plinio análogas nas alocuções de Pio Corrêa de Oliveira, que teve XII ao Patriciado e à Nobreza ocasião de desfrutar por ocaromana, do Prof. Plínio Corrêa sião da presença deste em de Oliveira, foi lançada a 15 de Roma, durante o Concílio outubro último, nesta cidade, Vaticano II. em solenidade realizada no amDiscursou também o plo auditório do Círculo da ImProf. Giovanni Cantoni, deprensa, do Palácio Seberlloni, mostrando como os· regimes uma bela construção que data do Leste europeu encontra111do século XVII. se numa situação ruinosa deEm mostruário à entrada do vido à falta de elites. O Prof, auditório, encontravam-se Roberto de Mattei, Presidenexc111plares das edições cm porte do Centro CulturalLepantu!:,ruês, espaphol, inglês e franto, comentou, em sua exposiA prestigiosa sessão de lançamento de "Nobreza e elites cês, além da edição italiana. Na ção, o notável perfil autoanálogas nas alocuçõe$ de Pio XII" realizou-se no artístico mesma ocasião realizava-se, biográfico de Plínio Corrêa auditório do palácio Seberlloni, do século XVII de Oliveira, sintetizado num nesta mesma cidade, um congresso de nobres europeus, váde seus livros: "Quando ainda muito jovem, considerei enlevado as rios dos quais tiveram a ocasião de estar Jiano, o Conde Neri Capponi, o Coqde ruínas da Cristandade. A elas entreguei o presentes ao mencionado lançamento. Cario Emanucle Ma1úredi e o Marquês meu coração. Voltei as costas ao meu Entre as personalidades presentes Luigi Coda Nunzianti. Tendo pertencido futuro, e fiz daquele passado, carregado destacaram-se o Conde Galimberti, Preà Guarda Pontifícia, o Conde Manfredi sidente do Movimento Monárquico Itaevocou sua atuação sob o pontificado de de bênçãos, o meu Porvir". • MILÃO -
A edição ital ia-
na do livro Nobreza e elites
ó
NACIONAL
O SlRN, ESSA MONUMENTAL ''VACA SAGRADA'' As estatais, com seu enorme déficit, encontram-se no cerne dos problemas econômicos nacionais, pesando no bolso de todos os brasileiros. Mas a mentalidade socialista de nossos governantes impede sua privatização
O
Br~sil verga ao peso das estatais, essas "vacas sagradas" da economia nacional. O absurdo mito socialista, de que o Estado deve ser um superempresário, p?rece ter penetrado tão a fimdo na mentalidade dos dirigentes da Nação, que não há evidência que os faça mudar, não há luz que lhes cure a cegueira. Promessas de privatização não faltam, mas chegam apenas a realizações tão tímidas, que não alteram o panorama de conjunto. Para estabilizar a situação econômica brasileira, de pouco adianta tomar medidas contra a inflação, criar impostos, lançar pacotes econômicos e não sei mais o quê,
As estatais brasileiras - sorvedouro insaciável da riqueza nacional - são intocáveis como as vacas sagradas da Índia, que congest-ionam desembaraçadarnente as ruas das cidades desse país...
22
CATOLICISMO, DEZEMBRO 1993
enquanto as estatais constituírem esse formidável SIRN (Sorvedouro Insaciável da Riqueza Nacional). A agricultura do País produz de modo invejável (ao menos enquanto não lhe for imposta a já aprovada Reforma Agrária), a indústria encontra diante de si possibilidades crescentes, mas tudo tem de servir à voracidade do SIRN, e com isso a economia vai à deriva.
***
Pequenos dados de imprensa nos dão uma idéia concreta: 1- .. As 163 empresas estatais, no seu conjunto, apresentam um estoque de endividamento superior ao total do patrimônio líquido". A dívida total das estatais era de 87 bilhões de dólares em 1992 (13 bilhões a mais do que em 1991), enquanto o patrimônio, no mesmo ano, estava em tomo de 80 milhões! (Gazeta Mercantil, São Paulo, 19-4-93). Só a Cosipa dá um prejuízo ao Governo Federal de 1,3 milhão de dólares por dia! (Jornal do Brasil, 20-6-93). 2- Se, em dez anos, 18 estatais deram ao governo dividendos no valor de 700 milhões de dólares, de outro lado sorveram 21,9 bilhões em investimentos, obrigando o governo a emitir títulos e a endividar-se ainda mais. Dívida que teve de ser paga, ademais, com juros de 4 bilhões de dólares. Os dados são oficiais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e do Ministério do Planejamento (O Estado de S. Paulo, 20-6-93). 3- O deputado federal e ex-Ministro da ·Fazenda, Delfim Netto, afirma que as estatais se tornaram as principais responsáveis pela manutenção da inflação num nível "inacreditavelmente alto". E exemplifica: o Banespa opera com um rombo de 900 milhões de dólares, enquanto a Caixa Econômica Federal teve de receber 4 bilhões do Banco Central para cobrir "um buraco" (Gazeta Mercantil, São Paulo, 11-2-93). 4- Aliás, estudo de Annínio Fraga Neto (ex-diretor da área externa do Banco Cen°
trai) e do Prof. Sérgio Ribeiro Werlang (da Fundação Getúlio Vargas) propõe a privatização dos bancos estatais, inclusive do Banco do Brasil (Folha de S. Paulo, 10-193). Em São Paulo, por exemplo, as empresas estatais (Sabesp, Fepasa, Dersa e até o Tesouro do Estado) recorrem ao Banespa para cobrir suas dívidas. De modo que os bancos se tornam verdadeiros "institutos de emissão de moeda", altamente inflacionários. E, para socorrê-los, o Tesouro Nacional é obrigado a emitir e a endividar-se cada vez mais. Além disso, o custo do pessoal nos bancos estatais é bem superior ao dos bancos privados. O Banespa tem 20 a 30 agências deficitárias, uma delas em Moscou (O Estado de S. Paulo, 5-1 e 2-2-93). 5- Os portos brasileiros (estatizados), além de serem de uma "ineficiência absurda", são dos mais caros do mundo. A movimentação de contêiner custa no País três vezes mais do que nos portos da Europa (Diário Comércio e Indústria, São Paulo, 12-1-93). 6- Documento oficial do Ministério da Fazenda, de 14-6-93, intitulado Programa de Ação Imediata, informa: "De 1982 a 1992, o Tesouro Nacional aportou recursos no equivalente a 21 bilhões de dólares às empresas [estatais] incluídas no atual programa de privatização. Só no setor siderúrgico foram perdidos 12 bilhões de dólares. E, mesmo depois de saneadas, em 1987, praticamente todas as empresas desse setor voltaram a se endividar" (Gazeta Mercanti~ São Paulo, 15-6-93).
***
Em face do eloqüente e desastroso elenco acima, por que não promover a privatização em grande escala dessas empresas tão onerosas para o País e para o bolso de todos os brasileiros, em lugar de medidas homeopáticas e titubeantes no referente à desestatização ? O SIRN é realmente intocável, uma verdadeira "vaca sagrada"! JACKSON SANTOS
Brasil Real Brasil Brasileiro
E
ntre nossas festividades religiosas católicas mais difundidas e importantes aparece a do Divino Espírito Santo, conmmente chamada festa do Divino. Ela é celebrada em todo o território nacional durante sete semanas, que vai do Domingo da Páscoa ou Ressurreição até o de Pentecostes, dia do Divino Espírito Santo, geralmente entre os meses de abril e maio. Foi instituída em Portugal nas primeiras décadas do sécu lo XIV, pela Rainha Santa Isabel (1271-1336), esposa do rei D. Diniz (1261-1325), que a começou pela construção da Igreja do Divino Espírito Santo, em Alenquer. Devoção rapidamente propagada, tornou-se uma das mais intensas e populares, sendo trazida no século XVI para o Brasil, em cujas cidades e vilas passou a existir o Império do Divino, erigido por ocasião das celebrações que lembram a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo. É uma festa de agradecimento após as colheitas, com a promoç.fo de grandes diversões populares tradicionais tais como as cavai hadas, touradas, congadas etc., segundo os costumes de cada região. Seguindo a tradição, no Domingo da Páscoa, diante das igrejas onde se organizam as festas do Divino, em um coreto ou palanque que se chama Império, para assento do lmpcr<1dor-criança ou adulto - ergue-se solenemente um grande mastro com uma bandeira, mostrando no alto a pomba simbólica do Espírito Santo. E.sta cerimônia é realizada depois da eleição do Imperador, que a tudo assiste, em vestimenta de gala, com sua guarda de honra e uma corte numerosa, com Rainha, pajens, alferes, mordomos e criados, passando a ter poderes de libertar presos das cadeias públicas e distribuir comidas aos pobres e ao povo em geral. Para a organização das festividades são formadas as "folias do Divino", gru-
Festas do Divino Espírito Santo pos de músicos e cantores que percorrem sempre um veículo, sob a guarda dos cidades, vilas e regiões inteiras, durante "irmãos do Divino", às vezes com círios as sete semanas das comemorações, peacesos. dindo e recebendo auxílios de toda espéNo Domingo de Pentecostes, sete secie, recepcionados sempre com muito manas depois da Páscoa, engalana-se respeito. toda a igreja, acendem-se as lu zes dos - - ~ - - ~ - - - ~ grandes dias de festas, e ao som de músicas e coros há a celebrnção de solene Missa e, a seguir, a coroação do Imperador do Divino, feita por um sacerdote, de quem recebe a coroa, o cetro, o globo e a bênção católica. Junto ao trono do Imperador ergue-se outro palanque para os músicos e o leilão de prendas. Os instrumentos soam então alegre e incessantemente, enquanto durar o leilão, feito por um experimentado e farfalhante leiloeiro, habilmente escolhido para garantir o bom humor e o lucro na ocasião. A noite corre assim tranqüila entre músicas e as peripécias do pregoeiro, até a hora dos fogos de artifícios, que encerram as festas do Divino com grande esplendor e magnificência, num espetáculo de pirotecnia esfuziante e multicolorida. Em alguns lugares há ainda a apresentação de autos tradicionais, peças de teatro, com o aparecimento final da pomba do Coroação do Imperador na Igmja, Divino Espírito Santo, perante a durante a Festa do Divino qual todos se ajoelham e rezam. Levam consigo a bandeira do Divino, Soocmcntão os últimos fogos entre o ilustrada pela pomba simbólic.a, tratada repicar de sinos, anunciand_o o final das com a máxima veneração. São atribuídos celebrações. Com aplausos e vivas ao dons medicinais e preventivos. Nas caDivino Espírito Santo, o bom povo de sas, a bandeira é passada nas camas dos Deus, satisfeito e contrito, dissolve-se doentes para curá~los e nas cabeças das pouco a pouco, em um ambiente de paz e crianças para dar-lhes juízo. muita bênção, sob o manto da noite. A presença dos símbolos do Divino é também invoc.ada para proteger as propriedades rurais contra as pestes agrícoRAUL SOEIRO 1 las e dos animais. E de porta cm porta passa o grupo, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cantando e tocando músicas. Todos dão 1. Luís da Câmara Cascudo, Dicionário do folclore &rasileiro, Editora I ta tia ia Lula., Belo algum donativo, por menor que seja, Horizonte, l 988, 6ª edição. mesmo os mais pobres. 2. Brasil - Histórias, costumes e lendas, Ed itora Para o transporte das doações em obTrês, São Paulo, I 980. jetos - muito numerosos e dos mais 3. Luis Edmundo, O Rio de janeiro no tempo dos diferentes em qualidade e estilo - vem vice-reis, AtJ1ena Ed itera, Rio, 1960.
--
ESCREVEM OS LEITORES
CATOLICISMO Preços durante o mês de DEZEMBRO de 1993:
"Direito alternativo" e pc;>litização O interessante e contu",,Je~te artigo que sobre o "direito alternativo" elaborou Le<J Daniele (CATOLICISMO, ouÜlbro de 1993, com o tÍÜllo "Dois vizinhos, dois quintais, dois juízes", pp. 6 a 10), suscita inúmeras indagações e reflcrões, especialmente no plano ético e no jurídico. Dentre essas inquirições, parece-me avultar a que se refere aos riscos que acompanham a poliLização dos juízes. Lembrame aqui o ainda atual episódio italiano, com a denominada "MagistraÜlra Democrática", que a juízo do eminente jusfilósofo Francisco Elias de Tejada, postulava para a judicatura "uma função criativa e inovadora, de manifesta orientação marxista ·". O politicismo no direito acenÜlou-se com o marxismo - em que se dá o que Poulantzas chamou de "superpolitização" jurídica-, mas, bem observou Leo Daniele, deve destacar-se a similiÜlde da corrente jus-alternativa com o decisionismo nazista (e, pode acrescentar-se, com a politização jurídica no fascismo italiano). O politicismo jurídico é uma das causas das injustiças: sePôncioPilatos, auscultando (democraticamente) a opinião do vulgo, pode considerar-se, como diz Leo Daniele, precursor e patrono do "direito alternativo", não é menos certo que o mesmo Pilatos, na expressiva observação de Dono- · so Cortés, é o "tipo inmortal de los jueces corrompidos": foi Pilatos quem sacrificou a Verdade pela manipulada e ocasional opinião da turba, o que sacrificou o Direito e a Justiça pelo arbítrio de um emergente "direito" marginal. Ao interessante e oporúmo artigo de Leo Daniele, aditaram-se as respostas não menos interessantes e oporÜlnas do jurista Celso Bastos (CATOLICISMO, outubro de 1993), cuja adesão ao jusnaÜlralismo recebi com adicional simpatia, por ter sido ele meu professor na que foi a Universidade Católica de São Paulo (Ricardo Henry Marques Dip -Juiz no Tribunal de Alçada -São Paulo - SP). Excelente entrevista .... a excelente entrevista do [ProfJ Celso [Bastos] (lves Gandra da Silva Marlins - São Paulo - SP). Debate no campus de Brasllia Não poderíamos deixar de cumprimentar a redação de CATOLICISMO pela excelente contribuição que significou o artigo do Sr. Leo Daniele ["Dois vizinhos, .dois quintais, dois juízes"] para o renascimento do estudo e do debate acadêmico na Universidade brasileira. Tratou-se, neste caso, de quebrar o mito generalizado da inépcia dos bons e da ousadia dos maus. O rejerido artigo de CATOLICISMO, do qual vários estudantes da UNB são assi. nantes, e o conjunto da obra do Prof Plinio Corrêa de Oliveira, criou-nos a ocasião de promover uma campanha de a/erta, na UNB, contra o "direito alternativo-", que redundou numa discussão inédita, entre nós, sobre Revolução x Contra-Revolução, Igualitarismo x Hierarquia.
24
CATOLICISMO, DEZEMBRO 1993
Nós, estudantes católicos da Universidade de Brasllia, vimonos comprometidos a combater tal atentado à Lei Natural e, por conseguinte, à Lei Eterna. Mais uma vez, fez-se jus ao descortíno e à própria atuação do Prof Plinio Corrê.a de Oliveira, cuja magnífica explicitação dos embates entre a Revolução e a ContraRevolução nos forneceu "armas" e coragem para enfrentar, na Universidade, fatores que constiÜlem nossas mais ferozes "bêtesnoires": o consenso e a indiferença. Inicialmente distribuúnos exemplares do número 514 de CATOLICISMO a todos os professores do D epartamento de Direito, a maioria dos quais ocupa altos cargos na Magistratura e no Ministério Público da União. Em seguida, afixamos cópias do referido artigo por toda a Faculdade, e em todas as salas de aula. Na semana seguinte, nenhuma das cópias fora arrancada, e mesmo durante as aulas grupos se formavam diante delas, lendo-as com interesse. Os professores comentavam o artigo, elogiando-o, e um deles, alto dignitário do Ministério Público da União, perguntou a uma classe lotada quem apoiava o "direito alternativo". Após um silêncio expressivo, o professor apontou para o desenho do juiz conservador, no artigo, e disse: Esse.: ... .! (Ministro do Supremo, da ala conservadora). Por fim, apontou para o desenho do "alternativo" edisse:-E este aquiéolosé Geraldo [de Souza] (mentor do "direito alternativo" na UNB). Não é preciso dizer que a turma desatou a rir dos "alternativos". Evidentemente, a claque esquerdista do Departamento de Direito não poderia ficar quieta diante de um ataque frontal. À falta de argumentos, os "alternativos" picharam alguns dos nossos cartazes com calúnias dos mais variados calões. Com presteza, respondemos, nos próprios cartazes, e os desafiamos para um debate, [ que] ocorreu a poucos dias do início da campanha. Após gritos e provocações, eles logo foram obrigados a adotar as nossas regras de discussão. À falta total de argumentos válidos, os "alternativos'' juntaram irreproduzíveis blasfêmias e obscenidades, que os indispuseram ainda mais com o restante dos alunos da Faculdade. Logramos, sobretudo, desmascará-los, pois como todos os consensuais, os "alternativos" negam cinicamente suas ligações com falsos ideais comunistas e ateus. Alguns até se declaram católicos, ao mesmo tempo em que ofendem e renegam vários Mandamentos do Decál.ogo, em especial o 4fl, o 6 52 e o 7 52 (Héli.o Monteiro de Barros Jr. - Brasil.ia - DF). Fontes do Direito Há equivoco (com a devida vênia) na asserção do Prof Celso Bastos, no sentido de que o Direito, no Brasi~ haure em fontes outras, além da Lei. No Brasi~ a Lei, a partir da ConstiÜli,ção, regula o Direito. As ditas fontes alternativas do Direito só podem ser adotadas pelo Juiz, quando autorizadas pela Lei. É o reparo que faço à entrevista do Prof. Celso Bastos (aliás excelente), publicada na revista CATOLICISMO (Benito Montesanti - São Paulo - SP).
Bebidas nacionais e estrangeiras. Queijos e doces tipo europeu. Arenkes e Salmons
*
ASSINATURA ANUAL
PROFESSIONAL CENTER ODONTOLOGIA
CASA ZILANNA
COM UM: Cr$ 5.100,00 COOPERADOR: Cr$ 7.000,00
MERCEARIA
BENFE ITOR: Cr$ 15.000,00 GRANDE BENFE ITOR: Cr$ 25.000,00 EXEMPLAR AVULSO: Cr$ 500,00
ORA LUC/A HELENA CRAVERO Rua ltambé, 506 - Higienópolis São Paulo - Fone: 257-8671
ORTODONTIA CRO: 40.304
ORA ANA LUIZA CRAVERO
~ Advocacia civil, trabalhista ~ e empresarial
ENDODONT ISTA CRO: 28 .405
1-lJ
DR. GERSON SHIGUEMORI ADVOGADO
Rua 24 de Maio, 188 - 2ª sobreloja, sala 226 Fones: 223-3180 e 220-5901
Rua Sergipe, 401 - Cj. 703 - Higienópolis Tel/fax: 259-8458
Condi;ões especiais para sócios, cooperadores e correspon dentes da TFP
-*-
Av. Cangaiba, 1411 - Penha Fones: 295-8779 / 941-3033
Veículo limpinho e bem cuidado SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
VINIL SHAMPOO DETERGENTES DESENGRAXANTES REAVIVADOR PNEUS LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE VEÍCULOS
SILITEX SILITEX SILITEX SILITEX
Linha tronco 297-9455 - Telex 62234- Telefax 9561979 - São Paulo - Brasil
Você conhece muitos hotéis que se possa visitar a cozinha e a área de serviço? No Lord Palace você pode! E aí você verá que as nossas 4 estrelas estão brilhando Brilhando estão os
130 apartamentos constantemente mantidos em alto padrão. FAX TELEX
Brilhando estão os
7 salões para convenções cada um com imfraestrutura completa: telefone, quadro negro , quadro magnético, retro-projetor e o atendimento instantâneo de nosso pessoal especialmente treinado.
Comida internacional a la carte e self service em nosso RESTAURANTE DO TRÓPICO :..:::=...:a..=::a..;:,.....z...=..~.;.....u-. Tudo ao lado do Metrô Santa Cecília e a um passo do Centro da cidade s
Venha conferir e ganhe um presente surpresa trazendo este anúncio ou dizendo onde o viu Hotel
* * **
LORD Pi\LAC[ ___ ---
Rua das Palmeirns, 78- Tcl. 1011) 220-0422- CEP.01226 TELEX 1123208 - FAX I0ll) 220-9955 DDG I0LJ) 800-ll272 Siio Paulo
--X-
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Ao 1 Lord Palace Hotel: Desejo saber mais a respeito do hotel, 1 incluindo tabela de preços. 1
Nome: End.: . 1
CEP: .................... Cidade: .................................................................... UF:
ESC\\
No~ton •
Atacadista de carnes em geral
Assessoria Contábil &Tributária S/C Ltda. Consultoria Legal & Assesoria Empresarial
CONTABILIDADE-ASSUNTOS FISCAIS
R. Joaquim Cavalhares, 79 Fone: (011) 206-6466 - Vila Monte Santo 08060 - São Paulo - SP
Rua Julio de Çastilhos , 1081 - Belém - São Paulo Telefones: 264-6466 - Telefax : 264-7068
A vela ilumina se consumindo PROVÉRBIO INGLÊS
A vida é muito curta para ser pequena
ÓPTICA TIMES - 3s anos de Tradição
DISRAELI
ÓCULOS - LENTES DE CONTATO CONSERTOS - LABORATÓ RIO PRÓPRIO
Não sercís amado, se em ti só tens cuidado
Rua Capitão João Cesário, 58 Fones: 295-5250 e 217-1349 São Paulo - SP
PROVÉRBIO BRASILEIRO
Não existe limite de perfeição no que se faz com amor PÁRA-CHOQUE DE CAMINHÃO
Condições especiais para sódos 1 cooperadores e correspondentes da TFP
Quem não ama até os bordos da alma, não se sacrifica até a última gota do sangue PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
Deus ama aquele que dá com alegria SÃO PAULO APÓSTOLO REFRIGERANTES. CERVEJAS · ÁGUAS MINEIWS VINHOS . WHISKIES · VODKAS· CONHAQUES· APERITIVOS Alé m d,, bebidas, ta mbcm temos sorvetes, gelo, carvão ...
R. MATO GROSSO, 346 - SÃO PAULO ENTREGA À OOM ICfLI O HEGIÁO HIC IENÓPOLIS CONSOLAÇÃO
•
ENBERG
Construto ra
ADOLPHO LINO .
', . 6º
R , Ge ne ral J:.1rd1 m, 70 . ua ·2c:10 /. ll4 1 l . São P:.i ulo Fone:
----·------------------------- A -----====
S/A
e 7º :.in d:.ir
====
tudo c om a g ~
-----
--
---- ·------------------·-~ura
Talen to Estilo Planejamento --Espaço Conforto Solidez Seguranç~ . Soluções ori~1na1s - -Harmonia Elegância Sensibilidade Sofisticação Classe amento personaliz ado ca b ·1 . d Local priv1 egia o Sucesso
t· desta ass11.~ n1a -
CONTRADIÇÃO NEGADA Um couraceiro inglês, envergando uniforme de gala, ao lado de um punk, com brincos nas orelhas e "penteado" exótico. Dois tipos humanos totalmente diversos, representativos de duas mentalidades opostas: a disciplina e a honra cavalheiresca em contraste com a anarquia, a sujeira e o gosto do absurdo. Por que se apresenta lado a lado tal disparidade? Um representaria a tradição e o outro a "modernidade"? Nesse caso, de que "modernidade" se trata? Dos indígenas? Do homem da pedra lascada? Assim apresentados "ecumenicamente", como duas facetas de uma mesma realidade, esses personagens certamente prestam-se para embotar o princípio de contradição na mente das pessoas, a distinção elementar entre belo e feio, sujo e limpo, bem e mal. E, sobretudo, enfraquecido tal princípio - alicerce básico de todo o raciocínio humano - , o processo rumo ao caos, tão acentuado em nossos dias, vem ganhando impulso incalculável.