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CATOLICISMO

Nº 529 Janeiro

Discernindo, distinguindo, classificando ...

ONGs na educação infantil: •

um risco Juiz de Menores denuncia ONGs que cuidam de crianças de rua. E agora querem fornecer às ONGs dinheiro e atribuições para a educação infantil!

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No Rio, diz o Dr. Liborne, "não se contam mais do que 800 meninos de rua .... interessa mantê-los nas ruas, porque na hora em que se tira, acaba-se com o comércio" das ONGs. E acrescentou: "Não existe o problema do menino de rua", mas sim "o grave problema db menor de casa". 60% dos menores ditos abandonados, têm farru1ia. Lamentou que o nome do País está sendo denegrido lá fora por audiovisuais e denúncias feitas por algumas dessas ONGs, As ONGs não se limitam a que no ano passado receberam ser não-estatais (o que de si é 2,3 milhões de dólares, sem bastante simpático); mas muitas qualquer fiscalização . delas passaram a ser anti-esta-: Segundo Liborne, "a solução tais, ou seja, visam um socialispara este problema [do menor] mo anárquico, sem a existência está em educação, saúde e fanúdo Estado, o que positivamente lia" é condenável. Uma mistura de Por outro lado, vai se esbohippismo com esquerdismo e çando um movimento para fazer macumba, apresentando-se as ONGs cuidarem não s6 dos como a fórmula mágico-social meninos de rua, mas da educado futuro. ção das crianças em geral. Da Eco-92 para cá o número Em 1993, o Orçamento Geral de ONGs cresceu consideravelda União destinou 480 milhões mente e a propaganda em torno de dólares para programas de delas também. Hoje em dia há alfabetização a cargo das ONGs. ONGs mais ou menos para tudo: E, presentemente, o governo do promover subversão, campaEstado de São Paulo destinará às nhas sociais, segurança alimenONGs 80% das verbas enviadas tar, ecologia etc, etc. No primeiro plano da foto acima, quatro meninos de rua, pelo Banco Mundial para proNos Estados Unidos, as no centro do Rio de Janeiro. Tanto eles quanto seus gramas de educação pré-escolar. ONGs constituem uma potência companheiros, para as ONGs, devem continuar na rua ... Não é uma temeridade pôr financeira de primeira ordem, tanto dinheiro público nas mãos movimentando a astronômica lares. Mas pode ser bem mais, se se de organizações que não prestam quantia de 600 bilhões de dólares. contarem os cheques vindos pelo contas de seus gastos? No Brasil, em alguns casos, fun- Correio. Mas o pior ainda não é isso. O dar ONGs é fonte de enriquecimenRecentemente, o Juiz titular da que é que as ONGs vão inculcar nas to, pois o dinheiro que las recebem do Exterior é considerável, e tais Vara de Menores do Rio, Dr. Libome mentes infantis? A doutrina mágicoSiqueira denunciou o "comércio" em anarquista? verbas não estão sujeitas a controle. A secretária geral da associação de que estão envolvidas as 43 ONGs Fontes: "Jomnl da Tarde", São Paulo (22-8-94); "Veja", SIio Paulo, (26-10-94); "O Estado de S. ONGs brasileiras, Letícia Cotrim, de- ligadas à questão do menor naquele Estado. Paulo" (13 e 20-11-93).

oi com a EC0-92, realizada no Rio, que o público brasileiro começou a familiarizar-se com a expressão ONGs (Organizações Não Governamentais). O nome ficou ligado à idéia de associações estranhas que, em plena Praia do Flamengo, entregavam-se desinibidamente a cultos supersticiosos, mágicos ou mesmo diretamente diabólicos. Ademais, não lhes faltava uma certa nota de contestação às atuais estruturas sócio-econômicas.

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CATO_~l<_:;_ISMO, JANEIRO DE 1996

clarou "Receber dinheiro, pode; ser fiscalizada, não .. ." Elas proliferam como cogumelos. Calcula-se em 5 mil as ONGs nacionais, que administraram, no ano de 1993,. mais de 700 milhões de dólares. Só na Grande São Paulo estão cadastradas 439 ONGs. O Banco Central calcula que as doações do Exterior somam 400 milhões de dó-

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Assestando o Foco A ÉPOCA atual, que tantos cientistas sociais já denominam de "pós-moderna", ·caíram por terra muitos mitos da modernidade. Até há pouco, ser moderno significava ser igualitário, socialista, racionalista. . Com a queda do Muro de Berlim e da Cortina de Ferro, além do evidente fracasso dos velhos modelos de modernidade incontáveis pessoas estão revendo seu; conceitos. Uma apetência por temas e modelos elevados vem se manifestando em muitos países, e sobretudo entre os jovens, como se comprova, por exemplo, pela excepcional receptividade alcançada pelo livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, do insigne pensador

católico Plínio Corrêa de Oliveira. Outro sintoma nesse sentido observase nos Estados Unidos, considerados por

mu/tos como sendo o país da igualdade social e da soberapia popular por excelência. Ora, precisamente nessa nação vêm sendo colocados em questão os aludidos mi_tos de~ocráticos, ~e o sociólogo C. Mills qualifica como imagens de contos de fadas". E, em sentido contrário, é posto e~ re_alce o papel capital das elites tradic10na1s na formação e desenvolvimento do mencionado país. Diante dessa realidade, sociólogos e historiadores norte-americanos antes costumavam simplesmente desconhecer a existência e o papel das elites nos Estados Unidos, a existência de elites análogas à no~reza, com seu importante papel na vida social e cultural, política e econômica do país. Em nossos dias, porém, tal realidade é reconhecida por estudiosos que passaram a constituir uma nova escola: a elitista. Esses pesquisadores realçam o papel histórico das elites norte-americanas. Con-

trariando todos os surrados clichês p~opagados entre nós, ditos sociólogos afirmam que, sobrepondo-se · ao dinheiro, é a tradição familiar que constitui em sua nação, o mais precioso patrimônio de uma pessoa. Em vista dessa disJ?<lridade entre a realidade e o mito, pareceu-nos de capital importância levar ao conhecimento de nossos leitores dados concretos a respeito da existência de tais elites na sociedade norte-americana, mediante alentado artigo estampado na presente edição. Poi~ ninguém pode negar a influência revol1;1c10nána, embora hoJe em declínio, exercida pelo chamadoAmerican way of/ife - o estilo de vida norte-americano - apresentado pelo cinema de ~ollywood, e que se encontra na raiz das mais profundas transformações psicológicas, sociais e culturais ocomdas em nosso século, especialmente na América Latina.

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Indice Discernindo ONGs na educação infantil: um risco

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Rea/ldade concisamente Rússia pós(?} -

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comunista

Destaque Índios: afinal um· pouco de bom senso

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Internacional Nos Estados Unidos, modernidade ajusta-se à tradição

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ln memoriam 12

HeitorTakao ·Takahashi

Caderno Especial Nossa Senhora de Banneux -

Liàge, Bélgica 13

Entrevista Um desmentido de que o "comunismo morreu": a guerrilha colombiana 17

t:Jrasfl Real Missão providencial do Brasil no olhar dos profetas

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Hagiografia São Basílio e São Gregório Nazianzeno, modelos de inflexibilidade na Fé

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Escrevem os /e/tores Relatório Extra "Grandezas e misérias marcam Medicina no Brasil"

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Em painel Frases e imagens

Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho

Jornalista Responsável:

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TFPs em ação Apelo ao novo Presidente da República

Calolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Be lchior de Ponte s Ltda.

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Mariza Mazzilli Costa do Lago - Registrada na DRTSP sob o N2 13748

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Nossa capa: Mansão Lyndhurst: um dos mufos solares construidos durante o século passado por magnatas, às margens do rio Hudson (EUA) . EMicada em estilo neogótico inglês, a planta e a concepção de Lyndhurst enspiraram-se em castelos n'M!dievais da nobreza br~ànica.

0008-8528


Rússia pós(?)-con,unista - 1

presidente do Gmpo de Deputados Interregionais no Congresso Soviético. A vinculação ao antigo regime soviético, do qual era profundo conhecedor, toma mais insuspeito o depoimento do historiador russo .

.. Na ex-URSS, as agências de planejamento central e de distribuição modificaram seus nomes, mas não as funções. O Banco Central assumiu muitasfunções de distribuição. No âmbito das regiões, o Rússia pós(?)-comunista - li controle é da nomenkwtura local .... "Para muitos economistas, o progra"A agricultura continua num estado lastimável .... Até hoje os camponesés ma de privatização russo tem muito do estilo soviético, o dos pwnos quinquedas fazendas coletivas entregam suas safras e recebem mercadorias em troca. .. De uma maneira espantosa e inesperada [sic], o arcaico sistema comunal das aldeias russas, juntamente com as prálicas socialistas do Agroprom [gigantesco monopólio estatal], se transformou num obstáculo intransponível para as reformas .... "Três forças predominam na Rússia. Na produção, o complexo militar industrial; seu interesse primário é à de receber pagamentos adicionais do orçamento estatal. A segunda força é formada O deputado Andrei Aizderdzis, que vinha combapelos camponeses dos coletivos, sem tendo pelos jornais máfias de bandidos, é assasbase fixa, acostumados a um estilo de . sinado numa rua de Moscou vida parasitário, a roubos e a trabalhos nais: é vultoso demais, anda muito rapimalfeitos, sempre contando com o apoio da 11ome11klatura agrária. A única espe- damente e é movido pela obsessão com rança desses camponeses também é o metas que não levam em conta a singu&tado. A terceira força, finalmente, é a laridade da Rússia. Propriedades privadas foram parar nas mãos das máfias de burocracia formada por 20 milhões de bandidos e criminosos. Não houve reesfuncionários quase que totalmente corruptos, os quais buscam oportunidades truturação ou investimento nas empreadicionais de suborno para formarem o sas, muitas das quais estão d beira da mercado negro. &sas três forças estão falência. juntas, alinhadas contra a economia de "Uma pesquisa recente mostrou que mercado e a democracia~24 % dos russos cederam de graça seu certificado de privatização, ou nada fizeA percuciente análise, extraída da reram com ele - até prostitutas o aceitavista .. Foreign Affairs", provém do coram .... nhecido comunista Yuri Afanasyev, his"Por outro lado, não há legislação toriador, reitor da Universidade Estatal Russa de Humanidade (Moscou) e antigo para proteger os direitos dos acionistas,

Em tempos não tão remotos, sabia-se cultivar com esmero uma arte.que emprestava à vida humana colorido e sabor - o gosto da boa prosa.

Reabilita-se, agora, pela voz da ciência, o hábito da conversa amena e

Indigência cultural Muito se discorre acerca dos problemas sócio-econômicos do País. Parece, mesmo, ser este o fator mais profundo da crise brasileira. Na concepção de vida materialista, com efeito, preocupações de ordem espiritual ou cultural não entram em linha de conta. O mundo do pensamento, afim com o dos livros, portanto, freqüentemente, é pouco cogitado entre nós. Pesquisa realizada em São Paulo demonstrou que 71 % dos paulistanos entrevis tados não estava lendo livro nenhum. Acrescente-se ao quadro outro dado, obtido na mesma consulta: mais da metade dos paulista nos ouvidos não havia lido sequer um livro no decorrer do último ano. A proporção dos que leram de seis a dez obras é de 8%, sendo que apenas 6% leram mais de dez trabalhos. Que julgar quanto ao gênero de literatura pre(erida? Confonne o levantamento, tal interesse se circunscreve, quase exclusivamente, a magia, regimes alimentares, pornografia e noções ele etiqueta. Conclui um comentarista: .. a verdade é que entre os livros deficção encontramos pouca literatura, e entre os livros de não ficção nos deparamos com um mundo bastante fictfcio ". agradável - sobretudo o encontro à mesa - como fator decisivo para a coesão familiar e o equilíbrio mental.

Terapia caseira

A presença niveladora da TV operou aí verdadeira devastação: em escala crescente nos lares, foi tornando sempre mais rarefeito e insosso o convívio caseiro, que se relegou quase à condição de reminiscência de museu.

as empresas privatizadas continuam inchadas e falta d Rússia um mercado de capitais que forneça recurso para a recuperação das empresas". As observações acima são do articulista James Meelc, do diário inglês .. Toe Guardian", e corroboram as de AfanaS'jev.

A esta conclusão - mais vale a pena conversar do que assistir à TV, durante as refeições - chegou a socióloga alemã Ângela Keppler, após coordenar trabalho de observação de trezentas famílias germânicas, cttjo comportamento analisou detldamcnte. Refeições e festas familiares em lugar da tirània televisiva dentro dos lares

Pela via dos cspcciaUstas confirma-se, assim, o que a tradição cristã nunca deixou de propugnar.

Drogas: Copacabana ultrapassa as 400 favelas do Rio - Nas dez maiores ca_pitais brasileiras, o número de estudantes secundários que usaram cocaína aumentou 7 1 %, no período de 1989 a 1993. Numa única noite em Copacabana, em determinados locais vende-se mais droga do que em todas as 400 favelas cariocas somadas; onde se alojam quadrilhas de narcotraficantes. Uma juventude drogada é uma juventude infeliz e ruma para a sua autodestruição. Metamorfose da Teologia da Libertação -É próprio de toda heresia o caráter camaleônico, ou seja, o transformar-se conforme as circunstâncias. Somente a verdade católica é imutável, fixa, eterna. Assim, a Teologia da Libertação passa iporprofunda transformação, tornando-se menos intelectual e eclesial para ser mais indigenista. Vera Candau, professora da Universidade do Rio de janeiro, afirma que: a Teologia da Libertação esqueceuse de "um aspecto muito brasileiro: o corpo, o tato, a festa, a necessidade de expressar-se através dos sentidos, e não só com a racionalidade". E o pior: a racionalidade que entra nessa heresia é só no sentido negativo, para conduzir a inteligência ao erro ...

Rituais satânicos nas prisões - Nos Estados Unidos, um juiz determnou que as autoridades das prisões federais devem permitir ao presidiário, cultor declarado do demônio, exercer rituais satânicos e fornecer ao mesmo trajes negros, se necessário. Eis até que extremos pode chegar o liberalismo religioso e moral. E quem defende uma noção distorcida do ecumenismo, como poderá argumentar contra a absurda decisão desse magistrado? Rato como alimento -Em Timbaúba (PE), alguns recolhedores de lixo chegam até a comer ratos. Ora, esses animais são repelentes e além disso transmissores da terrível peste bubônica. Comê-los significa um atentado contra o asseio e até o bom senso, e prepara o caminho para coisas piores. Não se trata de um problema de fome, mas de cultura e civilização. Cuidado com a imprensa! - Juntamente com a televisão, a imprensa tem causado muitos danos à sociedade. Oveterano jornalista Alberto Dines declarou que: a imprensa brasileira está "viciada pela frivolidade". Assim, se o leitor tende a confiar cegamente na imprensa, cuidado! Caso contrário, tornar-se-á fácil joguete ou cobaia das manipulações e desinformações de órgãos da mídia .

Empregados defendem fazenda contra os sem-terra - Vão se multiplicando os casos de empregados de fazendas que se opõem aos sem-terra invasores. Assim, em agosto último os sem-terra tentaram invadir pela terceira vez a Fazenda Parolim, em Sarita Terezinha (SC). Mas felizmente não concretizaram a invasão porque os empregados da Madeireira Parolim, proprietária do imóvel, lhes impediram a entrada. Até hoje, não se tem notícia de empregados de propriedades rurais que adiram aos invasores para formar um bloco único contra o fazendeiro. 5 milhões de folhetos sobre Nossa Senhora de Fátima - A campanha promovida pela TFP "Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis!" conseguiu .este esplêndido resultado: foram distribuídos 5 milhões de cupons sobre a mensagem e as profecias de Fátima, nos mais variados pontos de nosso imenso território. E para 1995 a meta da campanha é distribuir' outros 5 milhões. Com esse meritó.rio trabalho, realizado sobretudo pelos correspondentes da TFP, o livro de Antonio Augusto Borelli Machado sobre o tema Fátima, atingiu, só no Brasil, a impressionante tiragem de um milhão de exemplares.

DESTAO.!J.}U Tudo isso ·roi previsto e denunciado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em 1977, em seu profético liDe WlS tempos para cá, tudo vro Tribalismo Indígena, ideal coquanto se refere aos útdios brasileimuno-missionário para o Brasil do ros vem sendo tratado com uma tal século XXI. falta de bom senso, que se fica pasAgora, uma proposta de bom senmo. E também desconfiado. so afinal se fez ouvir no panorama. O São propostas para que eles sociólogo Hélio Jaguaribe, ex-minispermaneçam eternamente estagtro da Ciência e Tecnologia - cujas nados em sua situação de atraso, posições doutrinárias não temos em para que não se lhes estendam as vista aqui analisar - defendeu a invantagens da civilização, sobretutegração do índio ao mundo civilizado para que se impeça qualquer do . evangelização que lhes leve a dou- Setores indigenistas têm proposto que os silvícolas brasileiros "A idéia de congelar o homem no trina santa de Nosso Senhor Jesus permaneçam eternamente estagnados, como os índios da foto estado primário", disse ele, "é, na Cristo etc. Tudo a pretexto de man- acima, que habitam a região do Xingu verdade, cruel e hipócrita" ("Folha ter sua "cultura". de S. Paulo", 30-8-94). Criticou as Ao mesmo tempo, aos útdios de ONGs e organismos internacionais de ONGs e os estudos de um grupo da ONU são destinados latifúndios imensos, equivaesquerda, têm deixado muita gente desconque propõe independência para os índios. lentes a territórios de países inteiros, para fiada. Parece preparar-se nos bastidores Jaguaribe defendeu a criação de escolas que perambulem à vontade pelo mato sem uma "independência" das ditas "nações" em áreas indígenas, para que "os índios fazer nada. E isso enquanto uma Reforma indígenas, separando-as do Brasil, para em tenham direito de se tomar cidadãos brasiAgrária draconiana vai arrancando aos proseguida submeter ao dominio estrangeiro os kiros" . prietários rurais suas terras. territórios que ocupam. A pretexto, é claro, O bom senso é como ar fresco, produz Tais propostas amalucadas, vindas em de "proteção" aos útdios. alívio. geral da esquerda "católica", mas também

Índios: afinal, um pouco de bom senso


Nos·, Estados Unidos, modernidade ajusta-se à tradição A mídia, a propaganda e Hollywood difundiram largamente pelo mundo, e de modo especial no Brasil, a imagem de uns Estados Unidos maciçamente igualitários, ponta-de-lança do espírito revolt:tcionário; entretanto, debaixo dessa crosta igualitária e revolucionária, a vida social e cultural norte-americana é uma realidade complexa, variegada, na qual, representam importante papel a tradição e a hierarquia.

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811rQpa, cercada de novos perigos surgidos do mundo pós-Cortina de Ferro e profundamente corroída por todos os gérmens de deterioração moral vê renascer neste fim de século e de milênio anseio~ de reatamento histórico e culhlral com seu rico patrimônio proveniente da Civilização Cristã e da Idade Média.

A mais lídima expressão desses anseios de incontáveis europeus está consubstanciada no livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana (*), do Prof. Plinio Corrêa de OI_iveira, ~ue, ao aprese?tar a _única saida poss1vel para a ternvel cnse de noss?s dias, fá-~o a peça-chave ~esse movimento máximo de reação à imobilidade, ao entreguismo e ao caos. Dir-se-ia entretanto à primeira vista que não se dá o mesmo .despertar nos Estados Unidos, país onde títulos de nobreza e distinções aristocráticas não existem e no qual as diferenciações sociais se definem apenas no pragmático tribunal do todo-poderoso dólar. Com efeito, as raízes do mito norte-americano são profundas e exaltam a idéia de que ser de classe alta nos Estados Unidos é tornar-se um riquíssimo self-made man (homem que se fez por si), com gostos e maneiras democráticas, sem qualquer apreço a tradições familiares ou distinções culturais. Embora todo mito tenha vida longa, poucos parecem ter assumido tantos predicados de imortalidade quanto esse. Tal noção tornou-se generalizada na consciência pública por influência de autores como o nobre francês Alex de Tocqueville, em sua famosa obra Democracia na América. Mais tarde, General Robert E. Lee - Pertencente à aristocrática família Lee, da Virgínia, que já alcançara grande realce na época colonial

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Hollywood espalhou pelo mundo todo as mesmas idéias. Embora a riqueza seja um componente necessário para se adquirir status social nos Estados Unidos, numerosos estudos sociológicos deixam claro, como se. yerá, que ela só não basta, nesse país, para que uma pessoa atinja os píncaros da distinção social. Durante muito tempo os sociólogos simplesmente ignoraram a existência de elites tradicionais nos Estados Unidos . Hoje, porém, as próprias bases desse mito estão sendo questionadas. William Domhoff, por exemplo, chegá à conclusão .de que a sociedade norteamericana é hierárquica e que "os estudiosos acabaram com o mito de uma sociedade sem classes. A estrutura social da América é formada por camadas que se imbricam umas nas outras até chegarmos ao nível mais alto" (1). Por outro lado, em seus estudos o sociólogo Lloyd Warner demonstra que o status social nos Estados Unidos não provém da plutocracia: "[Constata-se] a presença de um sistema de classes bem definido. Em seu cimo encontra-se.uma aristocracia de berço e fortuna ... [a classe das velhas famílias] ... cuja linhagem tem participado, por muitas gerações, de um estilo de vida característico da classe alta . . .. As novas famílias .... aspiram ao status de Velha Família, se não para si mesmas, ao menos para seus filhos" (2) . Na ausência de títulos de nobreza, a dignidade do status de "Velha Familia" manifesta-se em várias cidades ou

te em dirigir o curso dos acontecimentos e dar o tom à vida nacional. Assim, os sociólogos Prewitt e Stone declaram: "A história norte-americana é apresentada de modo popular em [livros de] textos e discursos de políticos como se a participação das massas .. . tivesse sido de grande significado político ..... Apesar da popularidade dessa interpretação da história americana, muitos estudiosos ... têm chegado a conclusões bem diversas. .... Produziu-se suficiente número de estudos pondo em séria dúvida a visão convencional da história americana e convencendo o leitor de que a participação popular nas decisões políticas tem sido geralmente de pouca importância" (4). Outros estudos mostram que é a classe alta que lidera a moda, patrocina a cultura e as artes, dirige os trabalhos de caridade e apóia os serviços de assistência social, mantendo assim a estabilidade de todo o edificio social (5). O papel diretivo das elites é muitas vezes imponderável. Pelo próprio estilo de consumir e o hábito de se vestir, influenciam elas o gosto do grande público (6).

"Uma Corte Republicana Recepção de Lady Washington" Pintura de Huntington, séc. XVIII, Museu do Brooklyn, Nova York. Regida por so lene etiqueta, a vida social dos · primórdios da República ' norte-americana assemelha-se mais a uma corte do que a uma sociedade de tipo democrático, como atesta o próprio título do quadro

INTERNACIONAL

Estados por expressões de uso corrente que celebram a tradição e continuidade familiares, tais como Proper San Franciscans, Genteel Charlestonians, First Families of Virginia, Proper Philadelphians, Boston Brahmins, Knickerbockers de Nova York etc. Muitas dessas familias mantêm suas mansões ancestrais. Em 1981, das 37 mansões históricas do vale do Rio Hudson registradas pela Liga de Preservação de Nova York, 22 continuavam em mãos das· familias originais. Muitas das mais famosas mansões do sul do paí5' pertencem às mesmas familias há várias gerações. As elites na sociedade

norte-americana Sociólogos norte-americanos admitem hoje o fato, apontado por Pio XII, de que "as desigualdades sociais, mesmo aquelas relacionadas com o berço, são inevitáveis" (3), e que portanto toda sociedade é hierárquica. Reconhecem ainda que a estratificação social é algo natural e inerente a toda sociedade, ao que a norte-americana não pode subtrair-se; e que esta, embora não use títulos de nobreza como a européia, não é menos hierárquica do que aquela. Assim sendo, estudam eles a História dos Estados Unidos e a sociedade norte-americana do ponto de vista das elites e de seu papel dominan-

Elites tradicionais nos Estados Unidos, hoje: uma realidade picante, viva e saudável Os sociólogos mostram que a posição de uma pessoa na hierarquia social norte-americana depende de muitos fatores, alguns bem definidos e outros imponderáveis. O termo status social é usado para designar situações pró-

prias à classe alta. "O status social de uma pessoa é a posição que seus contemporâneos lhe atribuem na sociedade", explica Joseph Fichter (7). Entre os vários fatores que conferem status social nos Estados Unidos, os sociólogos incluem: riqueza, linhagem de familia, grau de instrução, pertencença a clubes, profissão e grau de autoridade. Richard Coleman e Lee Rainwater narram nos seguintes termos os múltiplos elementos que delineiam o status social: "Ao descreverem como classificam na sociedade as pessoas que conhecem, e como se .classificam a si mesmos, os norteamericanos referem-se não somente à renda da pessoa, mas também à renda mais grau de educação mais profissão." Eles se reportam a uma combinação de "padrões morais, história familiar, participação na comunidade, qualidades sociais, maneira de falar e aparência física .... dos quais poucos podem ou têm sido me~idos em estudos quantitativos sobre fatores que influenciam o status. A estes chamamos de pontos mais finos do status social" (8):

Riqueza e familia enquanto fatores de status social nos Estados Unidos No entender dos norte-americanos, ao contrário da tradição, que confere brilho, charme e status, nem toda riqueza proporciona alto status. A riqueza he.rdada é que a confere maior prestígio. O próximo iúvel é constituído pelas pessoas que vivem de renda. O nível ·mais baixo é o dos que necessitam trabalhar para viver. Os estudos de Coleman e Rainwater confirmam que bens herdados dão

Rendição do Exército Sulista, assinada por seu comandante General Robert Lee, tendo a seu lado o chefe do Exército do Norte, General Grant. Dignidade na adversidade é uma característica da verdadeira elite, ensina a propósito o Papa Pio XII

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maior prestígio: "herdeiros, em todos os níveis econômicos, foram designados por seus conhecidos como exemplos de pessoas de mais i lto status social . . . . e mais ail\da na classe alta" (9) . Vance Packard deixa claro que é um erro superestimar o papel da riqueza para determinar a situação social nos Estados Unidos e que a família da pessoa e seu estilo de vida aristocrático são igualmente importantes (10). Para Robert Nisbet, "a preeminência da riqueza ou o fato de que a família da pessoa foi rica no passado são .vistos comumente como uma manifestação de alto status" (11). Talvez nenhum critério seja tão importante para determinar o status social nos Estados Unidos como a família. Kingsley Davis explica: "Uma das principais funções da família é dar status . . . . as crianças automaticamente recebem status como membros da família" (12). O renomado sociólogo Max Lerner também destaca a importância da família na obtenção de alto status social: "Berço e família são chaves para entrar [na classe alta] ... . Em comunidades como as velhas cidades da Nova Inglaterra, apenas as 'velhas famílias' ocupam as mais altas posições sociais. As novas famílias, enibora pertençam à plutocracia e sejam mais ricas, não possuem a mesma qualidade carismática" (13).

Em seus estudos sobre a família na sociedade norte-americana, Robert Nisbet também conclui que mesmo nos

da família e nas mãos dos primogênitos, e gravitam em torno da propriedade familiar e do lar ancestral. Assim, a continuidade familiar com status de elite contribui para formar verdadeiras dinastias semelhantes às européias (16).

A hereditariedade de status social nos Estados Unidos

Mansão Evergreen, em Baltimore: exemplo de tradição familiar do Maryland, cujas raízes remontam a uma aristocracia baseada em direitos feudais da época colonial Estados Unidos de hoje ~ ascendência familiar é o principal componente de um alto status social (14). Como na nobreza européia, os membros das famílias norte-americanas de elite casam-se entre si, têm alta consideração pelos interesses do clã e fazem alianças com outras famílias poderosas. Os sucessivos casamentos entre pessoas da classe alta resultaram na formação de um esquema social baseado na família, em que as pessoas adquirem status não somente enquanto indivíduos, mas também como membros de uma grande família ou clã. Essa tendência a uma grande família patriarcal é especialmente notável no Sul e na Nova Inglaterra (15). Tais clãs tendem a manter seu patrimônio dentro

O status se transmite através da família. Quando um membro desta adquire por mérito próprio um status de especial distinção, os demais membros participam do mesmo, tornando-o parte do patrimônio familiar. Assim, o status social conferido a uma família tende naturalmente a tomar-se hereditário. Em seu estudo sobre estratificação social, Egon Bergel afirma: "O que é totalmente ignorado é o ca.ráter hereditário do status; até mesmo em nosso sistema extremamente móvel, o status conferido, herdado, é a regra, e o status adquirido, a exceção" (17). Quando essa transmissão natural de status social ocorre dentro de uma linhagem da classe alta, na qual as famílias procuram casar seus membros entre si, ela tende a perpetuar o status social por muitas gerações e formar em que pese o arcabouço democrático do Estado - a fundação de uma elite tradicional, ou aristocracia. Basta mencionar os Adams e Lowells , de Massachusetts, ou os Byrd e Ran-. dolphs, da Virgínia, para compreender

essa realidade social nos Estados Unidos. Além do statús e da propriedade, qualidades morais constituem igualmente inapreciável legado transmitido de geração em geração, formando o precioso patrimônio moral da família. Cada geração transmite à próxima seus valores morais e tradições culturais, bem como a soma total das honras e realizações da famílla. Esse patrimônio é definido pelo sociólogo Bernard Barber como "possivelmente a mais valiosa propriedade de um grupo familiar" (18).

A mansão Oaklyn Plantation, na Carolina do Sul,

Organização atual das elites tradicionais

é um símbolo do modo de vida aristocrático, impregnado de valores culturais da tradição sulista, da qual perduram importantes aspectos A realidade dinâmica das elites tra- até nossos dias dicionais nos Estados Unidos é hoje "Pensam alguns que a aristocracia muitas vezes posta de lado ou escondinorte-americana acabou há duzentos da atrás da retórica democrática de anos, quando os títulos hereditários uma sociedade de massa e de uma foram proibidos pela Constituição, cultura igualitária . Infelizmente, no mas isso absolutamente não é assim. arcabouço e cultura do Estado demoNão existem títulos hereditários norcrático moderno, o público fica privado do que Pio XII chama de influência te-americanos, mas a aristocracia em todos os outros sentidos - pesbenéfica de modelos sociais tradiciosoas de educação, influência e fortunais. As elites tradicionais são usurpana .... está viva e crescendo atualdas pelo jet-set e pelas celebridades de mente neste país" (19). Hollywood ou do mundo dos esportes, São essas "velhas famílias" que perdendo assim a oportunidade de transmitem tônus e caráter aos setores mostrar em público suas tendências mais refinados da classe alta nortearistocráticas. americana, através de um surpreenIsso entretanto não significa que dente conjunto de instituições sociais'e essas elites autênticas não existam ou econômicos, como também pelas suas tenham perdido seu vigor. É o que associações. Nesse sentido a comentaafirma o jornalista Martin Stanfield: rista social Lucy Kavaler cita um mem-

Fim da Igualdade ou revailche da Tradição?

Com o renovado interesse pela nobreza e pela cultura tradicional que o livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patri- política esquerdista de utilizar impostos psicológica que se dá em vastos setores ciado e à Nobreza romana, do Prof. Plí- para: confiscar e redistribuir recursos da opinião pública norte-americana. Tal nio Corrêa de Oliveira, vem despertando particulares cm nome da igualdade ccô- tra11sfom1ação nos permite afirmar que por toda a Europa, os partidários de pa- nomica e social acabaram cm fracasso . _ _ __ _ _ nacéias igualitárias poderiam ficar tenta- Tentativas da esquerda de construir A elite dos a se voltarem para os Estados Uni- uma sociedade igualitária e sem distintradicional dos, país-símbolo do progresso e da mo- ções sociais falharam de modo inexo- norte-americana dernidade, para justificar seu bitolado rável. Hoje a desigualdade social é vis- inspira, de modo geral, o bom ponto de vista. Entretanto, a pergunta ta como aceitável por vastos setores da gosto na que se põe é: uma vez que algo seme- · classe média norte-americana. Kaus, decoração, lhante está acontecendo nos Estados ele mesmo de esquerda, afirma: ''.4 como, por Unidos, caberia à tradição e às elites um casa do esquerdismo precisa mais do exemplo, o fazia papel importante numa América consa- que uma simples pintura, remodelaa conhecida grada ao liberalismo igualitário e à igual- ção, ou reforma. Precisamos derrubádecoradora dade social? Dorothy May /a e construí-la novamente sobre um A re~posta é dada pelo jornalista e alicerce mais firm e" . Kinnicutt (foto à escritor Micky Kaus em seu recente livro direita, do Mais ligada à nossa pergunta iniThe End ofEquality (O fim da igualdade) cial está a questão da transformação quadro pintado em 1968) (*). Segundo ele, décadas da visionária

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trastando como antigo ideal de igualdade social numa classe média, Kaus mostra que nos anos 80 a _sociedade norteamericana buscou Ela temperava de maneira cresceu; a opulência te novas marcas de · característica status e supeda aristocracia rioridade social. · européia com o Gente que se imagiaconc hegado nava "engajada" a tradicional_ismo favor da igualdade norte-americano, social sente agora como se necessidade de se faobserva_na miliarizar com os decoraçao que . . ,........---. realizou na produtos mais fmos . biblioteca da usados pela classe foto à alta e imitar seu estiesquerda . lo de vida.

SIM, as elites tradicionais têm um importante papel num país que busca novos modelos e fórmulas sociais. Con-

bro de uma das mais antigas famílias de Nova York: "Um verdadeiro registro social teria que ser compilado a partir da lista de membros de organizações hereditárias" (20). Nos Estados Unidos, as elites tradicionais formam com freqüência associações com a finalidade exclusiva de perpetuar a memória de antepassados que fundaram colônias ou Estados, ou ocuparam postos importantes no governo, na sociedade ou na vida militar da nação em diferentes períodos de sua história. A maior parte dessas associações é apresentada ao público - e por ele vista - como patriótica óu cultural, segundo seus objetivos. Na realidade, elas são mais do que aparentam. Existe em muitas delas um exclusivismo baseado na descendência que pareceria contradizer o "inclusivismo'' democrático que caracteriza a .~ociedade democrática igualitária. Wallace Davies, em seu estudo sobre associações hereditárias norte-americanas, registra este paradoxo: "O pr.ó prio sentimento de patriotismo e a absorção no passado norte-americano não conseguem explicar a forma hereditária dessas sociedades. Com efeito, um interesse renovado pelas instituições republicanas e idéias de democracia .... pareceria contraditório com tal imitação da aristocracia do Velho Mundo e posição [social] baseada no berço" (21).

Claro está que o simples fato de pertencer a uma dessas organizações Kaus lamenta: ''Isso é significativo, porque representa uma tendência, que ficou marcada nos anos 80, de os americanos abastados olharem 'para cima' da escala social em busca de exemplo, ao invés de se contentarem com a igualdade generalizada do consenso de classe média que caracterizou os anos 50 e 60, ... e por um desejo de distinguir-se dos que se encontram abaixo na escala social, atra~és de seu estilo de vida e bens de consumo. " Isso equivale a dizer que, para muitos norte-americanos, ser moderno é imitar as elites sociais - ou seja, todas as dissertações sobre igualdade social constituem tada vez mais, nos Estados · Unidos, um anacronismo. (*) Michey Kaus, Th e End ofEquality, A New Republic Book, New York, 1992.


não transforma ninguém em aristocrata. O que realmente interessa aqui são as motivações psicológicas que inspiraram muitas dessas assoêiàções, baseadas em critérios sel~tivos anti-igualitários e devotadas ao princípio hereditãrio, analogamente ao que se observa numa aristocracia de títulos nobiliãrquicos. Em seu conjunto, tais organizações formam círculos concêntricos de exclusividade, compostos de famílias tradicionais. O historiador social John logram explica que a classe alta tradicional formou essas instituições e associações de classe como uma teia de tradições e boas maneiras "destinada a manter fora os desleixados e moderar as aspirações dos impetuosos" (22). De maneira tal que as famílias dos "novos ricos" são obrigadas a homenagear a tradição e a não assumir uma atitude de arrogância e desprezo, exibindo sua riqueza diante dó aristo- . crata empobrecido. No final das contas isso favoreceu a própria respeitabilidade dos novos ricos, que foram admitidos na sociedade tradicional de acordo com o grau de respeito que manifestavam para com o · modo de vida desta e pela imitação de seus costumes. Como afirma Lloyd Warner, "freqüentemente uma família só é considerada parte do nível mais alto da classe alta quando se comporta como uma família de alta classe por vãrias gerações" (23). O Registro Hereditãrio dos Estados Unidos cita 109 associações hereditãrias, · a mais antiga fundada em 1637 e a mais recente em 1975. Outras associações qe elites tradicionais que merecem menção são as formadas por descendentes de personagens históricos para perpetuar as tradições da família e a memória de seus antepassados, bem como dar assistência a seus membros menos favorecidos, ajudando-os a manter um status social condizente com o renome da família. A continuidade das elites norte-americanas constitui uma fonte importante de conservadorismo social e de estabilidade. Razão pela qual podemos concluir com as palavras do sociólogo William Domhoff, ao Sala de música - Mansão Breakers, em Newport . Distinção, refinamento e charme inspirados em palácios da aristocracia européia

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2. W. Lloyd Wamer, Social Class inAmerlca: A Manual of Procedure for the Measurement of Social Status, Harper Torchbooks, New York, 1960, pp. 11-13.

3. Apud Plínio Corrêa de Oliveira, Nobility and Analogous Traditional Elites in the Alloculions of Pio XII, a Tbeme llluminatlng Amerlcan Sociall-Iistory, Hamilton Press, 1993, p. 436. 4. Prewitt and Stone, Tbe Ruling Elites: Elite Tbeory, Power and Amerlcan Democracy, Harper and Row, New York, 1973, p. 31.

5. Cfr. Doinhoff, Tbe l-Iigher Circles, Vintage Books, New York, 1970, pp. 33, 56.

6. Charlotte Curtis, Tbe Rich and Other Atroctlies, Harper and Row, New York, 1973.

7. Joseph Fitcher, Status and Social Class in America, Univ. ofCh icagoPress, Chicago, 1957, p. 279.

Salão medieval de banquetes - Mansão Baltmore, Asherville, Carolina do Norte. A majestade e a imponência do ambiente refletem o espírito aristocrático europeu, que a elite tradicional norte-americana procurou assimilar

avaliar a atual condição da classe alta norte-americana: "A classe alta não é constituída de um punhado de excêntricos, membros do jet-set ou develqas famílias decadentes deixadas de lado pela ascensão de grandes companhias privadas e burocracias estatais. Pelo contrãrio, eles são membros de uma classe em plena expansão que continua tão viva e saudãvel como sempre foi" (24). Leo Horvat

NOTAS (•) O prese nte art igo é uma sú1tese da primeira parte - que constituiu uma análise soc io l6gica da nação norte-americana - do apênd ice da edição em língua inglesa da obra do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Nobilily and Analogous Tradilional Elites in the Allocutions ofPio XII, a

Tbeme llluminating American Social History, Hamilton Press, 1993. ' 1. G. · William Domhoff, Tbe Higher Circles, Vintage Books, New York, 1970, pp. 73-74.

8. Richard Coleman and Lee Rainwater, Social

Standing in Amer.ican.· New Dimensions of Class, Basic Books, New York, 1978, p. 22 .

9. Op. cit., pp. 139-142. 10. Vance Packard, Tbe Status Seekers, David Mckay Co., New York, 1959, p . 39. 11. Robert A. Nisbet, Tbe Social Bond: An Introduclion to lhe Study of Society, Alfred A. Knopf, New York, 1970, pp. 191-192.

12. Kingsley Davis, l-Iuman Society, The Macmillian Co., New York, 1949, p. 364. 13. Max Lerner, Amerlca as a Ctvtlizalton, Henry Holt & Co., New York, 1987, p. 481.

14. Robert A. Nisbet, Tbe Social Bond: An Jntroduclion to the Study of Society, Alfred A. Knopf, New York, 1970, pp. 196.

15. Cfr. Stephen Brimingham, America's Secret Artstocracy, Little Brown & Co., Boston, 1987, p. 23. Nathaniel Burt, Tbe Perennial Philadelphians, Little Brown & Co., ~oston, 1963, p. 42.

16. Talcott Parsons, Tbe Kinship System ln lhe Contemporary United States, in AmerlcanAnthropolgist, vol. 45, 1943, p. 29. 17. Egon Ernest Berg!=l, Social Stratificalion, Mcgraw-Hill, New York, 1962, p. 265. 18. Bern;ird Farbe r, Kinship and Class, Basic Books, New York, 1971, p. 8 . 19. Martin Stanfield, llmerlcan ·.tlrlstocracY, is Very Much Alive and G1r:>wing, "US News a nd World Rcport", 12-12-1983, p. 64 . · 20. Lucy Kavale r, Tbe Private World of l-Iigh Society, David Mckay Co., New York, 1960, p. 7.

21. Wallacc Evan Davies, Patriotism onParade, Harvard Univ. Press, Cam bridge, 1955, p. 47 . 22. John Ingram, Tbe Iron Barons:

SoctalAnalysts ofAmericas UrbanElites, 1874-1965, Greenwood Press, Westport, Conn, 1978, p. 20.

23.. Warner, American Life, Dream and Reality, Univ. of Chicago Press, Chicago, 1962, pp. 116-177. 24. G . Willian Domhoff, Tbe Powers that Be, Simon & Schuster, New York, 1983, p . 4.

TFPs em ação

APELO AO NOVO PRESIDENTE DA REPÚBLICA TFP propõe debate nacional sobre Reforma Agrária

A

ascensão do novo Presidente da No dia seguinte, "A voz do Brasil" Ora, como é de conhecimento geral, 1 noticiou o discurso do referido parla- hã muito acentuadas divergências na 0 República abre exce ente P?~opinião pública nacional sobre o tema da tunidade para uma ampla anáh- mentar. Reforma Agrária. Uns a apresentam se sobre o modo pelo qual as autoridades Seguem abaixo excertos importantes como a panacéia que resolveria todos os governamentais vêm conduzindo o polê- da Mensagem da;;;· problemas do Brasil. A grande maioria mico tema das desapropriações de terras. dos agricultores tem por óbvio que essa Ultimamente o produtor rural tem p , Afinal, por que não se po-e fim às · b onda de desapropriações levarão ais a sido posto em contínuo e inJusto so res. à · invasões ilegais de propriedades? Por calamidades semelhantes s que se vique o INCRA continua desa- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - , ram na antiga URSS e se vêem propriando terras particulaainda em Cuba. res, quando abundam as do E trabalhos fundados . deEstado? O que se fez de tanta monstram que os assentamentos terra jã desapropriada? Que de Reforma Agrãria vão fracasmistério hã por detrãs disso sando por toda parte, .dissemitudo? nando favelas rurais de Norte a A TFP organizou uma Sul de nosso extenso território. campanha de mala direta Ante tal quadro, cheio de junto a milhares de ruralistas apreensões, peço instantemente e pessoas ligadas ao campo, a V .Excia. que, tão logo tome solicitando que enviem ao posse de seu alto cargo: Presidente Fernando Henrique Cardoso, uma mensa1 - determine um levantagem expondo as graves mento criterioso e o quanto posapreensões da classe rural e sível completo de qual foi o real as dificuldades que padecem Assentamento Pirituba, Área li, ltupeva (SP): o abandono que aproveitamento dado - desde a caracteriza a paisagem da foto é uma constante nos assentamentos de os que se dedicam à agropepromulgação do "Estatuto da todo o País cuária. Terra", em 1964, até o presente A mensagem pede ao salto. Quer no que se refere à ameaça de - às terras desapropriadas e não distriPresidente que SUSTE toda e qualquer ver sua propriedade invadida por hordas buídas, como também dos resultados desapropriação para fins de Reforma de auto-denominados sem-terra, quer obtidos com as efetivamente distribuíAgrãria, enquanto não for feito um es- ainda no que tange às desapropriações das; tudo sério sobre esse assunto e se pro- promovidas pelo INCRA. 2 - determine que, quando tal estumova um debate nacional com todas as As invasões transgridem acintosa- do estiver concluído, seja publicado com entidades interessadas, quer de propriemente a lei, tanto civil quanto penal, base nele um relatório circunstanciado tãrios quer de trabalhadores manuais. E usam técnicas de guerrilha e apesar disso para ser debatido com todos os setores também se tomem providências urgentes seus líderes têm sido largamente favore- interessados, tanto as entidades de classe com relação ao Movimento dos Sem cidos por desconcertante impunidade. patronais quanto as de trabalhadores maTerra (MST). nuais; assim haverá um debate entre Para "justificar" as invasões, exageA campanha despertou grande intera-se até, de modo absurdo, o número elementos qualificados que dissipe as resse na classe rural - inúmeras mende famintos. De outro lado, embora o múltiplas incógnitas com que se depara sagens foram enviadas ao escritório do maior latifundiãrio improdutivo da Na- a opinião nacional, sempre que vêm à Sr. Fernando Henrique Cardoso, em ção, de longe, seja o Estado, timbra este tona na publicidade os problemas das Brasília - e abriu esperanças de que o em desapropriar terras particulares. Só terras desapropriadas; novo Primeiro Mandatário da Nação ve- o Governo Itamar Franco produziu de3 - enquanto a tal não se proceder, nha de fato atender ao pedido respeitoso cretos sujeitando ao confisco desapro- pedimos a V .Excià. que determine SEJA e firme que lhe é enviado. priatório do INCRA mais de 1 milhão SUSTADA qualquer nova desapropriaEm discurso pronunciado na Câmara de hectares! ção para fins de Reforma Agrãria; Federal, em 7 de dezembro último, o É fácil avaliar, à vista disto, a situa4 - a respeito da reprovável indúsdeputado Lael Varela (PFL-MG), reeção precãria a que ficam atiradas assim tria de invasões de terras, pedimos que leito a 3 de outubro p.p., elogiou a u·m número incalculãvel de famílias que com urgência se investiguem suas vermensagem que milhares de ruralistas trabalham com entusiasmo e êxito para dadeiras finalidades, seus promotores, a enviaram ao presidente Fernando Heno brilhante desenvolvimento do PIB. origem de seus recursos. rique Cardoso.


Heitor Takao Takahashi Heitor Takao Takahashi nasceu em 5 de fevereiro de 1939, em Jacarezinho sexto dos 13 filhos de Hitoshi e Da. Julica Takahashi que, oriundos do Japão, se haviam estabelecido naquela tradicional cidade do Norte Velho paranaense. Convertendo-se eles ao catolicismo, fariam batizar toda a família, recebendo assim Takao na pia batismal o nome cristão de Heitor, pelo qual se tomou conhecido. Sua infância e juventude transcorreram na cidade natal, onde seu pai se fizera cafeicultor conhecido e estimado. Realizou seus estudos primários e secundários no Colégio Cristo Rei, daquela cidade, considerando sempre como uma honra o ter sido, naquele estabelecimento dos padres palotinos, colega do atual Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança. Em Curitiba cursou a Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, pela qual viria a formar-se em 1965, bem como na Faculdade Católica de Filosofia onde se graduou em jornalismo. Católico militante e anticomunista convicto, participou com entusiasmo, no meio acadêmico, das pugnas ideológicas que marcaram o Brasil da primeira metade dos anos 60. Começou a colaborar com Catolicismo em 1961, como um de seus agentes na capital paranaense, colaboração que, com uma ou outra interrupção, manteve ao longo de toda a sua vida. A partir de abril de 1983, até sua morte, foi o jornalista responsável de nossa revista. Com a constituição da TFP, Heitor passou naturalmente a participar das atividades da entidade de que fora antecessora a família de almas de Catolicismo. Por ocasião da formação da Secção do Paranâ da mencionada sociedade, em janeiro de 1966, tomou-se sócio e vogal do respectivo Diretório Seccional, condição que conservou enquanto permaneceu naquela cidade. A dedicação exemplar aos ideais da TFP, que marcou toda a sua existência,

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levou-o a transferir-se para a cidade de São Paulo em 1970, tendo, desde então, se desempenhado em uma grande variedade de atividades, quer na sede nacional da entidade, quer em missões que o levariam a conhecer boa parte do território nacional. Firmou-se assim, no vasto universo da TFP, bem como em quantos tiveram

Heitor Takao Takahashi

com Heitor algum tipo de relacionamento, a imagem das qualidades que seus primeiros companheiros de ideal haviam conhecido tão bem: Fé, idealismo, trato afâvel, benevolência constante sobretudo em relação àqueles com quem convivia, no ambiente da TFP. No ano de 1986 manifestou-se a enfermidade que haveria de marcar seus oito últimos anos de vida. Duas operações, que implicaram em radical extirpação, lhe proporcionaram condições de existência ao mesmo tempo precâria e estâvel, situação que Heitor aceitou com cristã resignação e ânimo; não se diria que aquele que com tanta naturalidade levava suas atividades quotidianas jâ não tinha estômago ... Em 1992, porém novo afloramento da doença, em orgãos vizinhos, parecia

indicar uma propagação incontrolável do mal. Sentiu-se movido então a ir pedir a Nossa Senhora de Lourdes aquilo que a ciência parecia não poder proporcionar-lhe. Viajou assim duas vezes em peregrinação ao famoso Santuário, submetendo-se, éom devoção e confiança, ao ritual dos que pedem, nas âguas miraculosas, a cura. Heitor foi indiscutivelmente favorecido pela Santíssima Virgem nas duas viagens, regressando fortalecido tanto espiritual quanto fisicamente. A tal ponto sentia-se ele melhor que, condiderando a hipótese de ter obtido uma cura completa, preocupava-se em documentá-la, para voltar a Lourdes e apresentar seu caso ante o renomado Bureau médico do Santuârio. Queria ele assim, agradecido, glorificar a Mãe de Déus pelo insigne benefício. Deus Nosso Senhor tem contudo, para cada um, seus desígnios. A doença manifestou-se novamente em agosto último, em partes antes não atingidas, e com tal extensão, que nova intervenção cirúrgica só serviu para revelar que nada mais haveria por fazer. Lourdes foi, ainda uma vez, a esperança que lhe bateu à alma e, por duas vezes, chegou a marcar nova viagem, a última delas para o dia 1° de novembro. Mas Nossa Senhora se antecipou, e antes que ele fosse ter com Ela, Ela veio busca-lo. Heitor faleceu na tarde do dia 31 de outubro, segunda feira, no hospital de São Paulo que leva precisamente o nome de Nossa Senhora de Lourdes. Suas exéquias realizaram-se em Jacarezinho no dia seguinte. Velado na casa dos pais, foi Heitor acompanhado, ao belo túmulo que a família Takahashi possui no cemitério da cidade', por sua veneranda mãe, familiares e amigos, e por uma delegação de cooperados da TFP acorridos de vârias cidades, os quais, durante o sepultamento, entoaram cânticos apropriados, acentuando uma nota de suavidade e sobrenatural unção que jâ se fizera sensível durante o velório.

Caderno Especial Nº 41

"Mamãe! Mamãe! Venha! Parece que Nossa Senhora está no jardim!"

~ ossa ~cnqora hc tlila~ncux ----1fiiegc, tlilélgica (15 de janeiro de 1933)


Wesus rissuscita n filho ·o a &iú&a oe ~ aím (São .Lums, 0 71-18) .

E aconteceu que (algum tempo) depois ia Ele para uma cidade, chamada Naim; e iam com Ele os seus discípulos e muito povo. E quando chegou perto da porta da cidade, eis que era levado um defunto para ser sepultado, filho único de sua mãe. E esta era viúva; e ia com ela muita gente da cidade. E, tendo-a visto o Senhor,

movido de compaixão para com Ela, disse-lhe: Não chores. E aproximou-se, e tocou no esquife. E os que o levavam pararam. Então disse Ele: "Jovem, eu te digo, levanta-te". E sentou-se o que tinha estado morto ecomeçou a falar. E (Jesus) entregou-o à sua mãe.

Wns1. BedamN~! ~~i~~j~~,!lª :~v~Jda~ v¾.!!~~i!::dasascoisas, <!Inmentiirins cnmpilaons por ~auto

duas léguas do monte Tabor. Por permissão divina, acompanhavaumagrandetwbao Senhor,paraquepresenciasse o milagre tão grande que ia fazer: pelo que segue: "E seus discípulos iam com Ele, e uma grande multidão de povo". São Gregório de Nissa- "A qual era viúva. E vinha com ela muita gente da cidade". Estas poucas palavras expressam a intensidade de sua dor. Era mãe viúva, e já não esperava ter mais filhos: nem tinha outro a quem fitar em lugar do defunto, somente havia criado a este e ele só era toda a doçura e todo o tesouro da mãe. São João Crisóstomo - Consolando a tristeza e fazendo cessar as lágrimas, (Jesus) nos ensina a consolarnos da perda de nossos defuntos, esperando a ressurreição: toca, pois, o féretro, saindo a vida ao encontro da morte; pelo que segue: "E se aproximou". São Cirilo - Não fez este milagre só com a palavra, mas também tocou o féretro, para que compreendamos a eficácia do sagrado Corpo de Jesus para a saúde dos homens. E , com efeito, o corpo de vida e a carne do Vetbo onipotente, de quem se origina a virtude; pois assim como o ferro unido ao fogo produz os efeitos do fogo, assim a

se faz também vivificadora e expulsadora da morte. Tito Bostrense - O.Senhor não era semelhante a Elias, que chorava a morte do filho da viúva de Sarepta, nem como Eliseu, que aplicou seu próprio corpo ao corpo de um defunto, nem como São Pedro que rogou por Thabita, mas é Ele quem chama o que não existe como ao que existe; que pode falar aos mortos como aos vivos. Imediatamente se levanta aquele a quem se dirige a ordem: ao poder de Deus nada resiste; não há nenhuma tardança nem tampouco orações ; pelo que segue: "E sentou-se o que havia estado morto e começou a falar, e lhe deu à sua mãe". Indícios são estes de :verdadeira ressurreição; pois mn corpo morto não pode falar, nem tampouco a mulher teria levado para sua casa um filho morto e inanimado. São Beda- Diz o evangelista que o Senhor se moveu primeiro à misericórdia quando viu a mãe, e que depois ressuscitou o filho, para dar-nos, por um lado, um exempio de misericórdia; e, por outro, um motivo de crer em seu poder maravilhoso; pelo que segue: "E tiveram todos grande medo e glorificavam a Deus".

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Este episódio .JP~p~:e! !.1rt!/!Il~v~~i!2o.J!L!!~!.!!:.inúmero de morado,es

situada uma jornada de Cafarnaúm. Este nome, que significaemhebreu "ABela' ',estáperfeitamentejustificado por sua linda posição. Localiza-se na vertente setentrional do Pequeno-Hermon, e da altura saliente que lhe serve como que de trono, contempla aos seus pés a vasta e fértil planície de Esdrelon; diante dela, as colinas povoadas de árvores da Baixa Galiléia, sobre a qual dominam os picos nevados do Líbano e do Grande-Hermón. A perspectiva · hoje é a mesma; mas de Naím não resta mais que um vilarejo miserável. Jesus ia acompanhado não só de seus discípulos, mas de inumerável povo que não se fartava de vê-Lo e ouviLo. No ponto em que ultrapassava com seu séquito a porta da cidade, outro cortejo fúnebre a atravessava em sentido contrário. Era levado ao cemitério, situado, segundo o costume, a certa distância das casas da cidade, um jovem, morto·na flor da idade, filho único que deixava uma mãe viúva, sem apoio, sem esperança, sem consolo. Por simpatia a uma dor tão digna de compaixão e tão pungente,

da aldeia. Muito perto de Naím, onde sem dúvida estava então o campo dos mortos, vêem-se ainda muitos sepulcros abertos na pedra; encontram-se ao leste, junto à rampaoudecliveescarpadopelaqualchegavaoSalvador.

À vista da mãe angustiada que conduzia seu filho ao cemitério, o coração de Jesus sentiu-se comovido poruma profunda compaixão. Quando chegou a passar a viúva perto dEle, disse-lhe: " Não chores"; e aproximando-se em seguida, tocou o féretro aberto no qual o cadáver coberto com um lenço e o sudário era conduzido ao cemitério. Os que o levavam, sensibilizados pela majestade que brilhava no rosto de Jesus, se detiveram. Então o Divino Mestre, em meio ao silêncio e à atenção de todos, exclamou com acento de autoridade irresistível : "Joyem, eu te ordeno, levanta-te". No mesmo instante, o defunto recobrou a vida e começou a falar. Há algo, segundo se disse, um não sei quê de " inefavelmente doce" no traço final: "E Jesus o entregou à sua m:1e".

A sensação produzida por esse prodígio foi imensa. Os mais imediatos ao fato foram tomados primeiro de estupor e temor respeitoso; mas logo sucedeu a esse um sentimento mais nobre que se apoderou de todos, com

um profundo reconhecimento para com Deus. Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Seitor Jesucristo según los Evangelios, Editorial Difusión, Tucurnán, 1859, pp. 147-148.

. ~os::,,~~n~z~!u~ie1!anncux Em sua mais recente obra Nobreza e elites tradicioA menina exclamou então: "Mamãe! Mamãe! Venais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado nha! Parece que Nossa Senhora está no j ardim!" A mãe, f:! à Nobreza romana, mostra o Prof Plínio Corrêa de de outro cômodo da casa, mandou que a filha déixasse Oliveira que a oportuna opção preferencial pelos pode bobagens e fosse dormir. bres, recomendada pelo João Paulo II, se compagina A aparição, entretanto, continuava. A Senhora era bem com uma simultânea opção preferencial pelos node média estatura, com vestido e véu brancos, sendo que bres. Nobres e pobres precisam de muito apoio hoje em a alvura da veste era mais intensa. Esta fechava-se sob dia, tendo em vista as provações especiais que eles o queixo da Senhora, era lisa até a cintura e depois enfrentam cm nossa época. alargava-se até os pés, formando pregas harmoniosas. Assim sendo, a atual resenha mariana é dedicada à As pontas do largo cinto azul caíam-lhe diante do Virgem dos Pobres, tal como Ela se autodenominou ao vestido. O véu cobria-lhe ombros e braços. As mãos aparecer em Banneux, pequeno povoado pertencente à estavam juntas, mas abaixadas. A Dama sorria com o di?cese de Liege, uma das mais célebres cidades da olhar e os lábios, estando ligeiramente inclinada para Belg1ca. . seu lado esquerdo. Essa postura, característica da VirQueira Ela , a mais nobre das criaturas de Deus, nos gem de Banneux, permitia que se visse o pé direito de inclinar a imitá-La em seu caridoso desvelo para com Nossa Senhora, ornado com rosa de ouro. Apoiaos pobres. . . . . va-se ele sobre uma nuvem prateada, a uns três palmos Transcorna um ngoroso mverno na vlla de Bando chão. Urna luz brilhante, opalescente, circundava a neux, em 1933, seis anos antes da II Guerra Mundial. Virgem. E em torno de sua cabeça notava-se uma auDomingo, 15 de janeiro, era mais um dia penoso na réola de raios de luz divergentes. árdua vida de fanúlia de Julião Beco. Este eslava subMariette, que de início tivera medo, tranqüilizou-se, empregado, sua esposa padecia problemas de saúde, a tomou o terço e rezou seis dezenas. A Dama, com um moradia familiar era precária e pobre, além de ser gesto, chamou-a ao jardim. Mas a mãe da menina numerosa a prole: oito filhos pequenos. Mas o pior é trancou a porta da casa à chave e desceu as persianas da que a pobreza não era apenas material, mas também janela. Antes de se retirar do recinto Mariette rezou espiritual._ O pai não praticava a Religião desde a época ainda uns dez minutos, espiando pelaja'nela, levantando de sua Pnme1ra Comunhão. A mãe, como frouxa forum pouco a persiana. Nessa ocasião, a Senhora já havia madora dos filhos, tinha-lhes ensinado sem fervor apedesaparecido. nas algumas_orações. Ocas~ n<'ío se preocupava com o Além dessa, tiveram lugar mais sete aparições, todas bom apro~e1t~ento das cnanças nas aulas de catecisum tanto misteriosas. Ao longo delas, Nossa Senhora mo da paroqma. pronunciou apenas poucas frases, além de comunicar Apesar dessas circunstâncias adversas, a filha prium segredo particular a Mariette. . mo~ênita, Mari~lte, _com doze anos então, ~ra muito Na terceira aparição, ao Lhe ser perguntado quem dedicada. Já sabia cmdar dos afazeres domésllcos quanera, respondeu: "Eu sou a Virgem dos Pobres". E do a mãe ado~cia. Tinha o senso de uma zelosa donaafirmou· que uma fonte natural de água, que havia ali de-casa: apreciava ordem, limpeza, economia. Na escojunto, serviria para o bem de todas as nações, como la, apesar das numerosas mas involuntárias faltas, era também aos doentes. alu1:1 diligente., Seus cadernos atestavam ~em sua apliNossa Senhora pediu que se construísse uma capela caç~o. De boa mdole, esforçava-se em arumar a todos. no local. Pelos frutos - isto é, pelos favores espargidos Sabia degustar as alegrias simples e puras da vida que pela Mãe de Deus - pode-se conhecer a árvore: foram Deus concede. E dando este bom exemplo, edificava os tantas as graças concedidas, que em pouco tempo foi outros. necessário transformar a capela em santuário, devido ao Naquele domingo, aproximadamente às 19 horas, afluxo de peregrinos e à falta de espaço para afixar M~ette ~lha~a pela janela p~ ver s_e já estava de volta • ex-votos de agradecimento. Julião, o 1rmao q_ue ~e _segui~ em idade. InesperadaVárias casas de congregações religiosas instalarammente, no pobre Jardmzinho, Já bem escuro, começou se nas imediações do local das aparições para atender ela a notar a presença de uroa bela Dama luminosa. doentes. De início, Mariette duvidou. Não seria alguma iluPor que colocar limites ao exercício da misericórdia são ,causada pelos re~exos titubeantes de uma lâmpada de Nossa Senhora? Não satisfeita com a água milagrosa de ol~o que estava ali perto, dentro da c~a? Afastou-a de Lourdes, certamente a Virgem Santíssima quis ofee cert:tficou-se de .que se tratava, na reahdade,. de urna recer a seus fiéis devotos também a de Banneux. Senhora que, sorndente, e de modo bondoso, dirigia-se FONTE DE REFERÊNCIA: a ela, aparentando desejar dizer-lhe algo com gestos Pierre Molaine, L 'ltinéraire de la Vierge Marie, Éditions Corrêa, afáveis.

uma

Paris, 1953, pp. 413-43 I.


I 1

História Sagrada (51)

Vingança de Deus contra os madianitas Balaão era tão pétfido que, não tendo podido amaldiçoar o povo hebreu, encontrou entretanto um satânico artificio para perder os israelitas, os quais estavam acampados em Setim. Aconselhou a Balac, rei dos moabitas, que corrompesse os hebreus por meio das mulheres madianitas. Impureza e idolatria - "Balaão partiu para a sua terra, e Balac seguiu o seu conselho. Os filhos de Israel deixaram-se seduzir pelas moabitas .... e caíram na idolatria "Irado o Senhor com tão escandaloso procedimento, disse a Moisés: 'Toma todos os culpados entre os príncipes do povo e enforca-os à vista de todos'. Moisés disse aos juízes de Israel: 'Mate cada um de vós os que se consagraram a [o ídoloJ Beelfegor' (1). Além disso, Deus enviou uma praga sobre os israelitas, e "foram mortos 24 mil homens" (Num. 25, 9). Novo recenseamento - "Depois que foi derramado o sangue dos culpados [dos que tinham se consagrado ao ídolo Beelfegor], o Senhor disse a Moisés e ao sacerdote Eleázaro, filho de Aarão: Fazei o recenseamento de todos os filhos de Israel, desde os vinte anos para cima, segundo as suas casas e familias, todos os que são aptos para pegar em armas" (Num. 26, 1-2). "Moisés e Eleáz.aro fizeram a resenha do povo na planície de Moab, ao longo do Jordão, e acharam-se 601.735 homens feitos, fora 23 mil levitas, os quais não deviam ter parte

na repartição da terra de promissão. Neste número não se achou, exceto Josué e Caleb, nenhum dos que foram contados por Moisés e Aarão no deserto do Sinai; todos tinham morrido, como o Senhor havia predito" (2). Balaão é morto,juntamente com os madianitas - "Após esta revista, Deus ordenou através de Moisés que [os hebreus] marchassem contra os madianitas, a fim de puni-los em virtude das armadilhas que tinham preparado aos filhos de Israel. "Conforme a ordem de Deus, mil homens de cada tribo se dispuseram para o combate, e Finéias, filho do sumo sacerdote Eleázaro, acompanhou-os com as trombetas (3). Os hebreus derrotaram os madianitas, mataram todos os homens adultos, . atearam fogo em suas cidades e aldeias, e trouxeram muitos despojos. Entre os mortos, estavam os cinco reis de Madian. Os israelitas "mataram também com a espada Balaão", mas pouparam as mulheres e crianças. Moisés exprobou os chefes do exército por não terem eliminado as mulheres impúdicas e os meninos, a exemplo do que haviam feito com os homens (cfr. Num. cap. 31). Assim, "todas as pessoas do sexo masculino, em Madiã, foram mortas, bem como as mulheres, exceto as virgens e as donzelas. Enfim, os combatentes [israelitas] notaram que nenhum deles tinha perecido". Deus anuncia a Moisés sua morte próxima ... "No final do quadragésimo ano que o povo de Israel viajava no deserto, e no momento em que deveria passar o Jordão, o Eterno disse a Moisés" (4): "Sobe a este monte Abarim, e contempla de lá a terra que hei de dar aos filhos de Israel. E, depois de a teres visto, irás também para o teu povo, como foi o teu irmão Aarão; porque me ofendeste em Cades. ... e escolhe Josué como seu sucessor - " Moisés respondeu-Lhe: O Senhor Deus dos espíritos de todos os

-

em seu lar

noções básicas homens escolha um homem que seja sobre esta multidão, para que o povo do Senhor não seja como ovelhas sem pastor. " E o Senhor disse-lhe: Toma Josué, filho de Nun, homem no qual reside o (meu) espírito, e põe a tua mão sobre ele. Ele estará diante do sacerdote Eleázaro e de toda a multidão, e tu lhe darás os preceitos à vista de todos, e urna parte da tua glória, para que toda a congregação dos filhos de Israel o ouça (Num. 27, 12 a 20).

"Tem ânimo e sê forte" - "Foi Moisés, pois, e declarou todas estas palavras a todo Israel, e disse-lhes: Eu estou hoje com a idade de cento e vinte anos, já não posso ir e vir, principalmente tendo-me dito o Senhor: Tu não passarás este Jordão. E Moisés chamou Josué, e disse-lhe diante de todo o Israel: Tem ânimo, e sê forte, porque tu hás de introduzir este povo na terra que o Senhor jurou a seus pais que lhes havia de dar, e tu a repartirás por sorte. E o Senhor, que é vosso guia, Ele mesmo será contigo; não te deixará, nem te desamparará; não temas, nem te assustes" (Deut. 31, 1 a 8). Notas: 1. 1. Cônego J. I. Roquete, História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, Guillard Aillaud, Lisboa, 1896, 9" ed., tomo I, pp. 255-2 56. 2. Idem, ibidem, p. 256. 3. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de l 'Eglise Catholique, Gaume Freres, Paris, 1842, tomo I, p. 488. 4. Idem, ibidem, p. 488.

ENTREVISTA

Um desmentido de que ''o comunismo morreu'': a guerrilha marxista colombiana Com a queda do Muro de Berlim, propagou-se por todo o mundo a falsa idéia de que "o comunismo morreu". Várias matérias e informações estampadas por nossa revista têm procurado desmentir tal afirmação, que parece ter sido lançada ... pelo próprio comunismo para acobertar-se e, ao mesmo tempo, veladamente favorecer-se em seus escusos desígnios.

*** Quando se procura esclarecer inocentes-úteis e espíritos incorrigi velmente otimistas de que a "morte" do comunismo é uma balela, costuma-se lembrar umfato inquestionável: a existência atual de regimes ainda estritamente marxistas como o da China comunista, do Vietnã, da Coréia do Norte e de Cuba. Entretanto, alguns recalcitrantes desviam a conversa, procurando enfatizar que tal "morte" teria ocorrido em todas as nações do Mundo Livre. A entrevista que apresentamos hoje a nossos leitores é um desmentido frontal dessa falaciosa tese. A Colômbia, nação sul-americana inteiramente integrada no Mundo Livre e na qual vigora o sistema capitalista, >A imprensa brasileira ultimamente quase não tem publicado nada sobre a guerrilha na Colômbia, tema que ocupou manchetes de primeira página em épocas anteriores. Houve um certo enfraquecimento da atividade guerrilheira no país?

Eugenio Trujillo - Exatamente o contrário. A guerrilha continua traumatizando vastas zonas do território colombiano. Suas fontes de ação aumentaram. Os ataques e emboscadas ao Exército e à Polícia são cada vez mais freqüentes. Segundo um informe recente, amplamente difundido na Colômbia, em 1994 os seqüestros quase se duplicaram com relação ao ano passado. E a maioria desses delitos são perpertrados pela guerrilha. Em suma, a ação guerrilheira aumentou gravemente. Mas é preciso esclarecer que isto não significa em abso-

está seriamente ameaçada de desestabilização devido a um inexorável processo de sublevação marxista que, aliás, vem sendo cuidadosamente silenciado pela mídia no Exterior.

*** Para quebrar esse mito da "morte" do comunismo numa nação capitalista irmã e vizinha do Brasil, escolhemos para entrevistar uma das pessoas mais categorizadas para falar sobre o tema: o vice-presidente da Sociedade Colombiana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFP, Sr. Eugenio Trujillo Villegas. Há mais de dez anos, esse valoroso sócio da TFP colombiana vem dando assessoria ideológica a diversas instituições daquele país, voltadas à luta contra a subversão marxista.

*** O Sr. Eugenio Trujillo tem proferido numerosas conferências para o Exército,

a Polícia e o setor empresarial de quase todas as regiões da Colômbia, trabalho que o qualifica plenamente como um dos maiores conhecedores da atual situação política de sua pátria. luto que a opinião pública a apóie, nem que a guerrilha goze da simpatia das populações nas regiões onde atua. A explicação desse fenômeno está na chamada "política de paz" dos últimos três governos, a qual impede o Exército de realizar verdadeiras e eficazes operações contra a subversão marxista, aos particulares de se organizarem para se defenderem, e pelo contrário, aos guerrilheiros os enche de benefícios, indultos e garantias de toda ordem.

>CATOLICISMO tem estampado matérias sobre o assunto das guerrilhas colombianas, como por exemplo extratos e comentários de oportunos e corajosos manifestos da TFP daquele país contra o movimento guerrilheiro. Mais recentemente essa entidade tem publicado algum documento a respeito? CATOLICISMO, JANEIRO 1995

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E. Trujillo - De modo permanente, a TFP colombiana vem se pronunciando sobre toda essa problemática, quer através de manifestos v.ublicados nos principais jornais do país, quer por meio de nossa revista que, difundida por meio de conhecidas campanhas de contato direto com o público, alcança ampla repercussão em todas as regiões da Colômbia.

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Alguns Bispos fazem o jogo da guerrilha ao pedirem o reatamento do diálogo com esta, de forma incondicional. Com o que a TFP está, evidentemente, em total desacordo. Há alguns meses desatou-se na Colômbia uma polêmica que ilustra bem a realidade presente. O Arcebispo de Bucaramanga, D. Darío Castrillón, acusou publicamente o conrnndante militar dessa cidade, General Harold Bedoya, de promover assassinatos de pacíficos camponeses de sua diocese.

Qual a posição atual da Hierarquia católica em relação à guerrilha? Continuam os contactos de eclesiásticos esquerdistas com os membros desta? Ou ocorreu algum recuo dos setores progressistas da Igreja quanto à aproximação com os guerrilheiros?

Como é natural, tão grave acusação causou ·grande escândalo em todo o país. O general se defendeu energicamente e exigiu do Arcebispo E. Trujillo - Foi precisamente este o tema de nosso . a apresentação de provas. O Prelado respondeu que as último pronunciamento público sobre a questão. Alguns · provas eram segredo de confissão, e que portanto não Bispos colombianos converteram-se em próceres do diá- poderia revelá-las à opinião pública nem aos juízes. logo indefinido com a guerrilha, criando confusão e Qual a razão de todo esse escândalo? Simplesmente o perplexidade em amplos setores da opinião católica do fato de o General Bedoya (um dos militares mais eficienpaís. tes na luta contra a subversão marxista, nomeado por seus méritos, em novembro último, Comandante do Exército) estar obtendo significativos êxitos na luta anti-guerrilheira no Departamento de Santander (cuja capital é Bucaramanga), no Noroeste do país. Assestando dessa maneira seu ataque contra tão eficiente adversário da guerrilha, D. Castrillón obtinha ipso facto para os inimigos da pátria, o inapreciável benefício de verem suspensas as operações militares a eles tão nocivas. A TFP foi sempre contrária a essa política de diálogo, a qual se baseia em pressupostos equivocados. A guerrilha simplesmente não quer a paz. É o que ela mesma vem demonstrando de forma invariável. Pois enquanto fala de pacificação e de diálogo, assassina, seqüestra e destrói o país.

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Qual tem sido, de modo geral, a reação da população colombiana no tocante à guerrilha ? Esta tem conseguido ir anestesiando a opinião pública, ou a reação à guerrilha vem aumentando ?

E. Trujillo - A resposta a essa pergunta depende da região do.país que analisemos. Nesse sentido, pode-se afirmar que as reações compreendem um verdadeiro leque de atitudes. Há regiões enormemente reativas, onde a população de tal maneira se uniu ao Exército e à Polícia, criando uma rede de informação e defesa, que a guerrilha foi totalmente derrotada e obrigada a migrar para outras partes do território. Como existem

regiões nas quais infelizmente o contrário se deu: a guerrilha conseguiu a tal extremo intimidar e aterrorizar a população, que praticamente controla todas as atividades, erigindo-se numa espécie de Estado pararelo. Esses são os dois extremos da reação. Às vezes há reações valorosas, às vezes capitulações vergonhosas. O que indiscutivelmente é uma constante nesse conflito é que o Estado, a classe política e o clero, na sua imensa maioria, estimulam as capitulações e desanimam os que querem evitá-las. O Estado possui todos os elementos necessários para destruir a guerrilha e pacificar efetivamente o país, mas não quer fazê-lo. Quando os particulares tentam se defender da perseguição criminosa da guerrilha , o Estado não só não o permite , mas os persegue. Qual é o resultado? Muitas vezes as pessoas se desanimam , abandonam suas fazenda s e vão viver em outra cidade, procurando no anoni mato certa tranqüilidade.

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Qual o desempenho de partidos políticos compostos por ex-guerrilheiros (serão de fato "ex" ?) nas últimas eleições presidenciais?

E. Trujillo - A política partidária na Colômbia está no descrédito mais absoluto. Para se ter uma idéia de até onde chega, basta citar os resultados das eleições realizadas em outubro último, quando foram eleitos os governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores de todo o país. Uma vez que o voto não é obrigatório, 80% da população não votou. O que tem um grande significado. É um rechaço . A guerrilha pacificada não teve praticamente nenhum apoio eleitoral. Toda ela está representada pelo M19, cujos votos não alcançaram 5 % dos escrutínios. É de se notar que o M-19, ao apresentar-se pela primeira vez às urnas, há quatro anos, obteve cerca de 20% dos votos ... Definitivamente, o poder da guerrilha está nas armas e não nos votos. Por isso, apesar de todas as suas falsas

O Sr. poderia dar alguns exemplos de como é a ação da guerrilha nas regiões onde sua influência é maior?

E. Trujillo - Algo que ocorre com freqüência é a intercepção das principais rodovias do país. De forma surpreendente e em pleno dia, um grupo de 20 ou 30 guerrilheiros interrompe o trânsito por períodos que variam de 30 minutos a quatro ou cinco horas. Durante esse tempo, os automóveis, ônibus e caminhões ficam detidos.

*** À medida em que os veículos vão chegando, seus passageiros são revistados e obrigados a mostrar seus documentos de identidade. Se encontram algum membro da Polícia ou do Exército , mesmo em traje civil , o fuzilam incontinenti . Roubam os viajantes que querem, violam as mulheres quando querem, tendo havido casos em que as obrigam a permanecer com eles durante vários dias . E se por acaso passam pessoas conhecidas na região, como fazendeiros e empresários prósperos , estes são imediatamente seqüestrados e liberados somente após o pagamento de altas somas .

promessas de pacificação, os seus instrumentos de "proselitismo" - ou seja, suas armas - nunca são entregues . Além do mais, nunca se sabe com exatidão quantos são os guerrilheiros que estão na ilegalidade e quantos são os que não estão. CATOLICISMO, JANEIRO 1995

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Quais as disposições do recém-eleito presidente Samper em relação à guerrilha: de endurecer ou de afrouxar a, 4ção antiguerrilheira desenvolvida pelo ex-presidente GJ víria?

LEGENDA Principais reg iões =sã guerrilheiras

v~N€ <ú~L.,4

E. Trujillo - Permita-me fazer uma precisão a sua pergunta. O ex-presidente Gavíria nunca desenvolveu uma ação antiguerrilheira. Toda sua política foi de diálogo e de concessões à subversão.

Uma vez no Poder, sua política nesse ponto é o contrário do prometido e do que a população esperava. Seus primeiros anúncios sobre a matéria consistem em retomar os diálogos incondicionais com a guerrilha, limitar as operações militares, dar mais garantias à subversão e nomear observadores internacionais que só vão escutar as exigências da guerrilha e nunca as de suas vítimas. No fundo, todas as diretrizes presidenciais conhecidas até aqui indicam que haverá mais concessões à subversão marxista, mais limitações à força pública no cumprimento de seu dever, menos garantias para todos aqueles que integram a Colômbia honesta e laboriosa que desejaverdadeiramente a paz. Ou seja, vamos pelo caminho inverso ao da pacificação.

E. Trujillo - A ação da guerrilha se faz sentir muitíssimo mais no campo do que na cidade. Por essa razão, a Colômbia, nação de vocação eminentemente agropecuária, vê com desconcerto como a agricultura e a pecuária produzem bem menos do que o esperado. Uma das razões que mais influem nisso é o aumento do seqüestro. A Colômbia possui o triste e macabro recorde de ser o país onde mais seqüestros se cometem no mundo: cerca de três mil, em 1994! Isto é uma demolição organizada do setor empresarial.

***

E. Trujillo - Por mandato constitucional, as Forças Armadas estão absolutamente sujeitas às determinações do Presidente da República . Elas não

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Finalmente, uma palavra quanto ao empresariado. Qual a atitude dos fa zendeiros em face do movimento guerrilheiro? E qual a posição dos empresários urbanos? Tem aumentado o número de seqüestros e assassinatos de empresários por parte da guerrilha?

O dinheiro arrecadado em virtude de resgates ascende a somas fabulosas, que alimentam as arcas da guerrilha, e também, em menor escala, os bandos de delinqüentes que se organizam com o mesmo fim.

E qual é a posição das Forças Armadas colombianas no tocante à guerri- · lha: intensificar o combate que vinha sendo movido contra elas, ou atenuálo?

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E, lamentavelmente, tanto o presidente Samper como seus antecessores procuraram atenuar a ação das Forças Armadas contra a guerrilha.

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E, segundo me parece, o atual presidente Samper continuará pelo mesmo caminho. Quando e~tava em campanha eleitoral, ele anunciou uma ação enérgica para derrotar a guerrilha. Mas se ele disse isso é porque estava à caça de votos e soube prometer o que era do agrado da opinião pública.

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são deliberantes. Simplesmente fazem o que o Presidente manda, ainda que não estejam de acordo.

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Com isso, o desemprego, a pobreza, a migração do campo para a cidade são fenômenos que se tornam incontroláveis. Nas cidades grandes e médias vão surgindo cinturões de miséria, compostos por camponeses removidos de seus lugares de origem pela violência e pela falta de oportunidades de trabalho. E onde está a raiz de tudo isto? Na falta de um combate efetivo à guerrilha, que conduza a uma pacificação autêntica do país.

Brasil Real Brasil Brasileiro

e

Missão providencial do Brasil no olhar dos Profetas

ra tardinha quando cheguei a Congonhas do Campo, em Minas, ansioso por ver os Passos da Paixão e os Profetas. Mas as sombras da noite já começavam a se misturar com a luz.

no peito do traidor, bradando: 'Maldito'!" Mais à frente estava a estátua de Santa Maria Madalena e o guarda voltou a solicitar minha atenção:

Da esplanada dos Profetas ainda se avistava o sol, qual imensa bola de fogo que parecia afundar-se no abismo da noite. Alguns focos de nuvens passeavam lentamente pelo céu , sob um fundo avermelhado, quase róseo. No local não restava mais uma "viv'alma". O ambiente dos Passos, tendo logo acima os Profetas altissonantes, como a exprobrar a humanidade, cujos pecados são a causa da Paixão e morte do Redentor, comunicava ao cenário uma solenidade de grandeza bíblica. Mas como ver na escuridão? Não tardou a se aproximar um guarda do santuário, o qual, vendo que se tratava de alguém "de fora", ofereceuse para acender as lu zes e servir-me de guia, explicando detalhe por detalhe aquelas impressionantes cenas. Começou por abrir a ermida da Santa Ceia: Depois de ver de perto as imagens que dão a impressão de pessoas vivas, o versado guarda disse-me: "Para exercer esta função tive quefazer um curso na Secretaria da Cultura, onde me foi explicado o significado de cada uma dessas cenas, e mesmo dos personagens. Por exemplo, veja este Judas. Ele _tem uma pequena marca no peito. E que há muitos anos atrás esteve aqui um missionário, e, na sexta-feira santa, durante o sermão sobre a Paixão, mandou que se pusesse o Judas ao seu lado. Todos.ficaram implicados com aquilo: Por que não levar a imagem de Jesus flagelado, cochichava-se entre o povo". "Mas o piedoso sacerdote sabia o que fazia. A cada atrocidade feita contra Cristo, que ele narrava, ia apontando o Judas como culpado. A indignaçã popular contra o malfeitor foi cr scendo, até que um camponês, nã contendo mais, sacou uma pi tola e descarregou-a

que tenha aguçado a observação, não consegui encontrar a marca do genial escultor. Então o guarda apontou-me o detalhe: "Preste atenção nos pés das figuras. Aquelas que forem aleijadas são obra do Aleijadinho, as demais são dos seus discípulos".

Um respingo de arte gótica no Brasil Imersos num silêncio majestoso e sobrenaturaJ, os Profetas, talhados em pedra sabão, parecem meditar sobre o drama da Paixão que se desenrola abaixo, nas pequenas capelas dos Passos. Seus olhares parecem transpor séculos e milênios, na contemplação do remoto passado em que seus vigorosos lábios anunciaram aqueles acontecimentos que dividiram em duas partes a própria História. Ao mesmo tempo, parecem proclamar acontecimentos futuros ainda mais dramáticos.

Cristo ultrajado, Passos da Paixão -Aleijadinho (séc. XVIII), Congonhas do Campo (MG) Essa imagem é uma das mais famosas obrasprimas do genial artista esculpidas em madeira

" Veja como seu rosto tem um lado plebeu e outro nobre/ É que o Aleijadinho incumbira um seu discípulo de fazer esta escultura, mas este não estava informado sobre a origem nobre da Santa. E quando o mestre viu a escultura, tomou-lhe o cinzel e entalhou com suas próprias mãos, já carcomidas pela lepra, o outro lado. Consta que em sua mocidade levou vida dissoluta como a Madalena, e com este gesto quis qferecer a Deus uma reparação". Junto a outro grupo escultural, alertou-me o guarda: "Procure descobrir a assinatura do Aleijadinho nas obras feitas diretamente por ele. Neste grupo só há duas". Por mais

O conhecido conservador do Museu do Louvre, de Paris, Germain Bazin, que veio ao Brasil especialmente para estudar essas obras, comenta em seu livro O A!eijadinho (Le Temps, Paris, 1965): "No momento em que o artista pega o cinzel para modelar uma estátua, sua visão das formas é a de um homem da Idade Média".! Há quase dois séculos que o Aleijadinho foi devorado pela lepra, mas suas obras tornaram-no imortal. Elas são a expressão, genuinamente nacional, do precioso legado da tradição católica haurida pelos portugueses nos mananciais da Cristandade medieval, e transplantada para o Novo Mundo. Essas e outras relíquias do nosso passado constituem, sem dúvida, uma alentadora primícia do que promete ser o grande e luminoso porvir desta parte do mundo, continuadora do pequeno Portugal, de alma tão grande, do qual nos honramos de provir. É para este futuro que rumamos, com passo resoluto e alma cheia de Fé! Rafael Menezes


HAGIOGRAFIA

São Basílio e São Gregório

Nazianzeno, modelos de inflexibilidade na Fé Beleza} verdade e bondade na atuação e na obra literária de dois luminares da Igreja orienta~ no século IV

A

H!stória da Santa Igreja, no Onente, nos apresenta, no decurso do século IV, as hostes de batalhadores em defesa da ortodoxia católica contra as heresias, bem como as primeiras falanges de anacoretas do deserto. Assim, contemplamos um Santo Atanásio ( + 373), desterrado cinco vezes por confessar a verdadeira Fé· Santo Hilári? de Poitiers ( + 366), insigne p~lellllsta e vítima da fúria dos hereges ananos; Santo Ambrósio de Milão ( + 379); o grande catequista São Cirilo de

.(J , I

oç São Gregório Nazianzeno - Detalhe do "Exultet'' 11t1 (aproximadamente ano 1.000), Arquivo da Catedral de Bari (Itália)

Jerusalém ( + 386); Santo Efrém, o sírio ( + 373) etc. A esses grandes santos devemos acrescentar os heróis do deserto: São P~ulo, o Eremita ( + 347), iniciador da vida de retiro e do ascetismo eremítico· Santo Antão, Abade ( + 356), pai do~ monges e organizador da vida monástica propriamente dita ao lado de São Pacômio ( + 348). Nesse firmamento brilham, como estrelas de primeira grandeza, os chamados "luminares da Capadócia" (Ásia Menor)[ver mapa]: São Basílio, o Gran-

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de ( + 379); seu irmão carnal São Gregório de Nissa ( + 395) e Sã~ Gregório Nazianzeno ( + 389). Tão íntima foi a colaboração entre São Basílio e São Gregório Nazianzeno que a Sagrada Liturgia celebra a festa de ambos na mesma data: 2 de janeiro.

Família de santos "Honremos todos Basílio, o Grande, revelador das coisas celestes, íntimo do Senhor, a luz brilhante saída de Cesaréia e do país de Capadócia". Segundo o ritual bizantino, são essas as expressões entoadas pelo coro na Missa em louvor do Santo. Basílio nasceu no ano 329. Foi o segundo de dez innãos, vários dos quais elevados à honra dos altares: sua irmã mais velha, Santa Macrina (LJ.ue leva o nome da avó paterna); São Gregório B!spo de Nissa; e o caçula, São Pedro'. Bispo de Sebaste. Seu pai foi São Basílio, o Velho, e sua mãe Santa Emélia. O pai d_esta foi martirizado durante as persegwções do Imperador Maximiniano Galério. A avó pelo lado paterno do Santo era originária de Neocesaréia, no Reino do Ponto, e foi instruída na Fé católica pelo grande São Gregório, o Taumaturgo. Aos setenta anos de idade, ela se incumbiu da primeira educação de São Basílio. Seu pai, São Basílio, o Velho residia habitualmente no Ponto e se d~stacava pela piedade e eloqüência, sendo professor de retórica e de filosofia. Instruiu ele o .próprio filho nas Letras Sagradas e profanas até sua morte, que se deu à época do nascimento do caçula, São Pedro de Sebaste .

Em Constantinopla e Atenas De Cesaréia da Capadócia, quando ~s melhor~s mestres da cidade já não t~am ~1s o que lhe ensinar, partiu Sao Basího para Constantinopla, onde

foi aluno de Libânio, que, então, gozava de alta reputação por toda parte. O mestre desde logo destacou o Santo entre seus ouvintes e não cessou de admirar suas esplêndidas disposições para as ciências, sua rara modéstia e extraordinária virtude. Repetidas vezes ele escreveu em suas cartas sentir-se como que fora de si e maravilhado ao ouvir São Basílio falar em público e não cessou de lhe dar mostras de elevada estima e de profunda veneração pelos seus méritos. A reputação de São Basílio voou de C:onstantinopla para a capital das Ciências e das Letras, Atenas, onde seu nome estava praticamente na boca de todo mundo. Nessa cidade reencontrou ele seu grande amigo São Gregório Nazianzeno, o qual declarou, a respeito da permanência de ambos nessa cidade: "A única c_oisa que nos preocupava era nossa santificação, nosso único objetivo era sermos chamados e efetivamente nos proclamarmos católicos". Com efe_ito, em Atenas, cidade prenhe de atrauvos mundanos, São Basílio ~ São Gregório permaneciam sempre Juntos, não freqüentando senão colegas tranqüilos_ e castos. Eles, a bem dizer, só conheciam duas ruas na cidade: a que conduzia à igreja, onde se encontravam os dout?res que ensinavam a Fé, e a que condu21a à escola pública, onde.estavam os mestres que ensinavam as ciências humanas. Em Atenas, tiveram eles a desdita de conhecer Juliano, o futuro imperador

Missa de São Basílio diante do obras de caráter doglnático contra Imperador Valente - Pintura todas elas. de Subleyras (1749), Basílica _Modesto, hábil prefeito dopade Santa Maria dos Anjos, lácio do Imperador ariano ValenRoma

apóstata: estatura medíocre, pescoço grosso, ombros largos, que ele mexia continuamente, como também sua cabeça. Seus pés não eram firmes e seus passos hesitantes, os olhos vivos e o olhar furioso, nariz desdenhoso e insolente, boca grande, lábios espessos, barba eriçada e pontuda. Sempre fazendo brincadeiras ridículas e rindo desmedidamente, esbanjando perguntas impertinentes e dando respostas embrulhadas às questões que lhe eram formuladas, não tinha nada de firme e de metódico. Vendo-o ~ão · Gregório Nazianzeno exclamava; Qu_e peste alimenta o Império Romano! Queua Deus que eu seja um falso profeta!" ~~gressando da capital grega, São Bas1lio fundou uma escola de retórica e~ Cesaréia. Entretanto, vendo que os êxitos alc~çados o expunham à tentação de vanglóna, resolveu abandonar inteiramente o mundo. Foi ordenado sacerdote pelo Bispo Eusébio, daquela cidade, e após a morte deste, nomeado Bispo d~ Cesaréia em 370. À testa de sua D10cese pregava incansavelmente . Fundou um hospital, onde ia pessoalmente consolar os doentes e ensiná-los a fazer bom uso de seus padecimentos.

Inflexibilidade no combate aos abusos e às heresias Co~o. metropolita da Capadócia, São Basího combateu energicamente os abusos e sobretudo as heresias (arianismo, macedonianismo e apolinarismo)[ver quadro] , sendo notáveis as suas

te, tentou repetidas vezes atemorizá-lo. Eis um diálogo entre ambos que a História registra: ' "Modesto - O Imperador Valente vos faz muita honra. Uma vez que sua bondade não consegue nada de vós temei ao menos sua justiça e sua indignação. São Basílio - Que tenho eu a temer? Modesto -Vós podeis temer a perda de vossos bens, vossa liberdade e vossa própria vida. S_ão Basíli~ - Essas ameaças não me dizem respeito, pois quem não possui nada não tem confisco a recear; não es~do eu apegado a qualquer lugar que s~Ja, não tenho que temer qualquer exílio; se me colocardes numa prisão eu ~starei ali mais feliz do que os cortesãos Juntos do Imperador. E quanto aos outros suplícios, onde serão eles aplicados? Não tenho um corpo capaz de suportá-los. O primeiro golpe será o único que vossa força poderá desferir contra miro. Quanto à morte, ela será para mim uma graça e uma felicidade e me colocará na posse da visão de meu Deus único objeto de meus desejos e únic~ objetivo de minhas ações. Modesto - Nunca ninguém ousou falar-me de maneira tão atrevida. . São Basílio - Talvez porque nunca tlveste~ qu~ tratar com um Bispo, pois ~le tena tido a mesma linguagem se tlvesse a mesma causa a defender. Modesto - Tendes o resto da noite para refletir sobre o partido a seguir. São Basílio - Serei amanllã o que sou hoje!"

exc~lência. E, dois séculos depois, apoiados pelo Império Bizantino cada vez mais forte, os basilianos foram os monges por antonomásia do Oriente. Basílio faleceu em janeiro do ano 379, aos 50 anos de idade. Foi um Príncipe da Igreja típico: inflexível na doutrina e na luta contra os abusos. Ao mesmo tempo, afável, desinteressado captando as simpatias dos que trabalha~ vam com ele. Os gregos o chamavam de

Fundador dos basilianos São Basílio foi ainda o fundador da instituição monacal dos basilianos, que conheceu desenvolvimento rápido e extraordinário, chegando mesmo a substituir os demais núcleos de vicia cenobítica. Os basilianos foram, no Oriente o que pouco depois viriam a ser, no Ocidente, São Bento e a Ordem dos beneditinos. . Juntamente com -São Gregório Nananzeno compôs ele as duas Regras dos monges basilianos. A Regra maior conta 55_ c~p!tulos nos quais se expõem os pn11c1p1os fundamentais da vida monástica. A menor consta de 313 breves disposições ou sentenças práticas sobre ~ vi_da monaca! . Ambas as Regras consUtuuam o Código monãstico oriental por

Imperador Juliano, o Apóstata (séc. IV), Museu do Louvre, Paris Conhecendo ainda como jovem estudante em Atenas esse perverso soberano exclamou São Gregório Nazianzeno: "Que pe'ste alimenta o Império Romano!"


o latino, pelo seu espírito eminentemente prático, à maneira ocidental. Mereceu o título de o Grande , ;1 pela amplitude de sua atJ.vidade e o raio de sua influência.

' '

Perfil de São Gregório, o Teólogo São Gregório Nazianzeno (325-389), doutor da Legenda Igreja, como seu íntimo 0 Cidades on de atuaram amigo São Basílio, foi São Basíl io e AFR\C.~ São Gregório Nazianzeno Bispo Patriarca de Constantinopla. Um varão de sensibilidade delicada, mais voltado à nando-o, muito a contragosto, sacerdocontemplação do que à ação, orador te. São Gregório ficou na cidade até a morte do pai, com mais de cem anos de vigoroso e eficaz, polemista vivaz, raidade, em 374. Retirou-se então para o ciocinador lúcido e combativo. Cognominado o Teólogo pela segurança de sua convento de Santa Tecla, em Selêucia de doutrina, elevação de seu pensamento e Isáuria, dali saindo em 379 para dar combate à heresia. esplendor de sua exposição. Sua mãe, Santa Nona, antes mesmo Nesse mesmo ano, com efeito, morde ele nascer, consagrou-o a Deus nosso Senhor. Gregório veio à luz em Arianzo , ria o Imperador ariano Valente e sucepequena aldeia do território de Nazianzo dia-lhe o espanhol Teodósio I no governo do Império do Oriente. No dia 27 de (Capadócia, Ásia Menor) . Teve ele dois irmãos também santos: São Cesário e fevereiro de 380 anunciou ele aos seus súditos que , doravante, dever-se-ia proSanta Gorgonice. Seu pai era pagão. fessar "a religião já ensinada pelo ApósEntretanto, graças às orações e sacrifítolo Pedro aos Romanos, e atualmente cios da esposa, ele converteu-se e em proclamada pelo Pontífice [São] Dâma325 foi batizado pelo Bispo de Cesaréia, so" . Em novembro do mesmo ano, o São Leôncio, de passagem pela cidade, novel Imperador expulsou os arianos de tornando-se ele mesmo, quatro anos deConstantinopla e São Gregório era recepois, aos 55 anos de idade, Bispo de bido em procissão solene, em Santa SoNazianzo. fia , como Patriarca em meio às aclamaO pai chamou-o de Atenas, a fim de ajudá-lo no governo da Diocese, orde- ções populares.

Sua obra literária é bastante vasta, compreendendo 45 discursos, 245 cartas e grande quantidade de versos, que lhe valeram ser chamado de o poeta da Igreja oriental. São notáveis os cinco discursos teológicos que pronunciou, provave~ mente entre fevereiro e novembro de 380. O discurso em defesa da ortodoxia contra os erros arianos representa o que de melhor se produziu em matéria de eloqüência teológica, no século IV. Suas cartas são importantes quer do ponto de vista literário, quer teológico, enquanto esclarecimento de conceitos dogmáticos no combate às heresias e ainda como contributo aos trabalhos dos Concílios de Éfeso e da Calcedônia.

Ario, que teve o atrevimento de afirmar que o Filho de Deus não é consubstancial ao Pai, mas tão-só criatura sua. Bispos e doutores se levantaram contra ele com a voz e os escritos ; encontrou contudo partidários enganados por sua hipocrisia, e conseguiu perturbar a Igreja em todas as partes. Foi condenado pelo Concílio de Nicéia (325). Apolinarismo - Heresia sutil sustentada em Antioqu{a por Apolinário, o Jovem , Bispo de Laodicéia, segundo a qual o Verbo de Deus ocuparia em Cristo o lugar que ocupa em nós a alma e, portanto, o Verbo se teria unido a um corpo e não a uma

"O que mais vale é a herança espiritual, transmitida não ·tanto por esses misteriosos liames da geração material, quanto pela ação permanente daquele ambiente privilegiado que constitui a farru1ia; com a lenta e profunda formação das almas, na atmosfera de um lar rico de altas tradições intelectuais, morais e sobretudo cristãs; com a mútua influência existente entre os que moram numa mesma casa, influência esta cujos benéficos efeitos se prolongam para muito além dos anos da infância e da juventude, até alcançar o termo de uma longa vida, naquelas almas eleitas que sabem fundir em si mesmas os tesouros de uma preciosa hereditariedade com o contributo das suas própria qualidades e experiências". (Alocução ao Patriciado e à Nobreza Romana, de 5 de janeiro de 1941 - "Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII", Tipografia Poliglotta Vaticana, 5-1-1941, pp. 363-366).

Luís Carlos Azevedo

PIO XII

FONTES DE REFERÊNCIA 1. Padre Bernardino Llorca, S.J., Historia de

la Iglesia Católica, BAC, Madri, 1955, tomo I - Edad Antigua. , 2. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de L 'Église Catholique, Gaumes Frêres Libraires, Paris, 1843, tomo VI. 3. Dom Bosco, Compêndio de História Eclesiástica, Livraria Salesiana Edito ra, São Paulo, 1946. 4. Vies des Saints pour tous les jours de

l'année, Maison AJfred Mame et Fil s, Tours (França), 1914.

ESCREVEM O~ LEITORES

elatório Extra "Grandezas e misérias marcam Medicina no Brasil" (CATOLICISMO nº 527, novembro/94)

Para entender este artigo Monges ou anacoretas e cenobitas - No século IV chamavam-se monges, anacoretas ou solitários os religiosos que viviam separados uns dos outros, e habitavam em celas ou cabanas e às vezes em cavernas, distantes umas das outras, reunindo-se somente em certas ocasiões para rezar juntos, assistir aos divinos ofícios, e receber instruções e avisos. Chamavam-se cenobitas os religiosos que viviam juntos, e dormiam debaixo do mesmo teto. Só com o correr dos tempos monge e cenobita tiveram o mesmo significado. Arianismo - Heresia apregoada pelo ímpio Bispo de Alexandria,

O que mais vale é a herança espiritual

alma humana. Foi cond enado no Concílio de Constantinopla (381). Macedonianismo - Heresia de Macedônio, que negava a divindade do Espírito Santo. Seus erros foram condenados no Concílio de Constantinopla (381), convocado pelo Papa São Dâmaso e apoiado pelo piedoso Imperador Teodósio 1. Ali se acrescentaram as seguintes palavras ao chamado Símbolo de Nicéia: " Creio

no Espírito Santo, Senhor e vivificador .... o qual juntamente com o Pai e com o Filho é adorado e glorificado " L.C.A.

"O mal está no Estado intervencionista, que prejudica e impede o desenvolvimento da livre iniciativa. Se não se puser um forte obstáculo à força socializante do Estado, não haverá saída para a crise da saúde pública no Brasil".

José Paulo Garcia - Florianópolis - se "O abandono por parte dos Governos que se vêm sucedendo, sem sequer terem a sensibilidade de cuidar de tão importante setor nacional, precisa ter uma solução, antes que nosso povo caia num tal estado de degenerescência e inanidade, que não haja como encontrar a saída".

Brig. Carlos Alberto Huet de Oliveira Sampaio - Três Lagoas - MS "Foi muito válido, mas será necessário ampliar a sua divulgação, inclusive na capital federal, bem como em todo o País. Que seja um projeto que possa sair do papel e que as autoridades tomem consciência do caos que a população vem suportanto".

Jorge Miguel B. B. de Andrade - São Paulo- SP

"Não só parece como é a pura realidade. Eu, particularmente, concordo em gênero, número e grau, com as respostas dos entrevistados. O SUS não deu certo, devido a sua fórmula desgastada e antiquada, e ainda as vemas. como foi dito no relatório, foram desviadas. Parabéns aos entrevistados, que fizeram um relatório completo e verdadeiro".

Teresa de Carvalho -:-- São José do Alegre- MG "Embora falida, haveria soluções positivas se os governos se preocupassem menos com seus reajustes salariais, com quem e de quais partidos políticos ficariam os cargos nos seus diversos rinistérios. Diga-se de passagem que não é só a saúde que está falida, podre. Tudo neste País, em todos os seus setores está contaminado pelo "vírus da corrupção".

Maria Velásquez Félipus - Tupã - SP "A saúde pública, assim como todos os demais problemas, é pedestal político. Presta-se, apenas, para os políticos setviremse como trampolim nas eleições. Mais uma vez CATOLICISMO faz um belo trabalho: chama atenção, seriamente - sem


sensacionalismo - para um dos grandes problemas nacionais. Que CATOLICISMO sej a exemplo para os que dirigem o País".

Antonio Prandi - ltajaí - se "A solução seria, o ~s' rápido possível, transferir para a iniciativa privada a incümbência de cuidar da população doente, bem como, da saúde preventiva, como acontece nos países desenvolvidos, pois, infelizmente, no Brasil, em tudo o que o poder público está envolvido está falido; vejamos, por exemplo, o caso da Petrobrás".

João Justino Gomes - Alvinópolis - MG "Foi muito feliz e cópias do mesmo devem ser entregues a todos os novos Governadores, ao Presidente da Republica, aos Ministros e aos Deputados Federais e Estaduais. Inclusive vou encaminhar cópia do mesmo ao Provedor da Santa Casa de Santos".

Prof. Claudio Giannattasio Magalhães - Santos - SP

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Oexemplo das tigresas

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O tigre sempre foi considerado wna das feras mais terríveis e sanguinárias.

ura

Enquanto o leão só ataca_ e mata para saci ar a fome, consta que o tigre lança-se sobre sua presa com intuitos meramente sanguinários e de extermíno. Pois bem, esse grande felino, que entrou na imaginação humana como paradigma da brutalidade fulminante, da dissimulação ágil, conserva sempre, em·seu instinto animal, o desvelo materno ... Até nas piores .feras este nunca falha . A foto ao lado ·o comprova de forma comovedora: a t.igresa, tendo seu filhote pend,urado de seus cientes, o ens ina a perseguir e matar grandes animais. E depois de algum tempo e várias lições, a cria tornar-se-á uma caçadora tão hábil quanto a mãe. • Que exemplo pungente dão as tigresas tão solícitas e mesmo carinhosas para com seus rebentos - às mães abort.istas! Estas, dotadas da razão que falta aos animais, violam-na e abafam o próprio instinto materno, quando sacrificam seus filhos indefesos. Se as ti gresas pudessem falar, cert:amen te exprobariam essas mães assassinas!


Quem, antes de descer no aeroporto da cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, observar do avião as famosas Cataratas do Iguaçu, fica extasiado com a grandiosidade da visão panorâmica das diversas quedas-d'água. Saindo do aeroporto, o viajante precisa percorrer alguns quilômetros para começar a ouvir o r_uítÍ/J das águas. De início um tanto surdo, ele vai crescendo assustadoramente, tomando-se estrondoso junto às quedas. Uma imagem entre outras - é compreensível que ocorra ao espírito do viajante, eventualmente já predisposto por aquele flash anterior: a majestosa ira divina. De fato, se Deus quisesse representar seu

furor para os homens, mediante o som, seria apropriado Ele utilizar tal ruído - prestigioso e terrificante. A visão das quedas que se tem a partir do território brasileiro é bastante panorâmica, embora do lado nacional haja apenas 600 metros de cataratas. De longe, a maior parte destas encontra-se em território platino: 2.600 metros. Compensa largamente, portanto, atravessar a fronteira com a Argentina e andar mais de um quilômetro sobre passarela no país vizinho até chegar bem junto à maior das gargantas, para admirar a espuma d'água que sobe para o céu, proveniente do jato líquido descomunal precipi-

tando-se de uma das rochas! Na foto aérea desta contracapa, essa queda é facilmente notada à esquerda, pela grande altura que tal espuma atinge. As visões dos dois lados completam-se perfeitamente. E não é pequeno o susto do observador, quando percebe um helicóptero baixar do céu, entrar nessa espuma e desaparecer... Trágico acidente? Não. O aparelho, minutos depois, surge lá embaixo,furando a névoa d'água, pouco acima do leito do rio Iguaçu. Brasil, Argentina: duas nações vizinhas e irmãs. Innãs antes de tudo na profissão da Fé católica, mas também na herança do precioso legado ibérico que as une.

Costuma haver certa correspondência entre o espírito, a mentalidade, bem como a história dos povos e os acidentes geográficos que lhes servem de moldura. Se a Providência Divina concedeu a essas duas nações católicas da Ibero-América tal maravilha natural, a decorrência se impõe: a gesta - feitos heróicos de seus habitantes - serem do porte dela. Eis aí uma vocação histórica superior, que o próprio contexto providencial sugere aos dois grandes países da Cristandade ibérica formada no Continente americano! Foto: Gemot Berger Fotoimagem Studio Laboratório Ltda.



\...Ar ).. J. V LJ.\...;J.() l VJ.V

Nº 530 Fevereiro

Di,s cernindo, distinguindo, classificando ...

1995

Femin'ismo já imerge no passado O Brasil está bastante atrasado em matéria de feminismo. Enquanto em outros países o

feminismo está dando mostras de cansaço e vai regredindo, a propaganda.feminista em nosso País ainda é do tempo em que se considerava o feminismo como uma "conquista" das mulheres, rumo ao futuro

D

esvirtua ndo todo re lacionamento no rmal e sadio e nLre homem e mulhe r, feminismo luta por uma ig ualdade ela mulher com o homem, tão ab "urda quanto desejar uma igu aldade do ho me m com a mulhe r. Para o bte r essa propalada igualdade, a mulhe r deve ria re nunciar a suas ca racte rísticas esp ecifi ca me nte femininas, qu e fazem de la uma fl or imprescindível ela civilização , e tra nsformar-se numa virago . Carinho materno, delicadeza, sensibilidade , pureza, tudo deveria ser sacrificado no altar cio feminismo . A palavra ele orde m e ra acaba r com a "di scriminação" - te rmo pejo rativo utili zado para designar ele modo antipático as desig ualdades, a ind a as mais legítimas e necessá rias. E visando isso tra balhavam arduame nte certas correntes políticas de esquerda, e não propria mente as mulheres. Nas últimas décadas , a igualdade e ntre os sexos foi aplicada largame nte na Suécia, inclusive nas escolas, p o r me io ela legislação, sempre impulsio nada p elos ventos ela "modernidade". De modo que a Suéc ia se to rnou, a par ele outros assim chamados avanços sociais, um "mode lo" elo feminismo . Todos os estabe lecime ntos de ensino tornaram-se mistos, o currículo escolar foi unificado p a ra meninos e menina , a idade inicial to m o u-se a mesma para todos . E isso sem ate nde r à voz ela nalureza e ao mais e le me nta r bo m se nso. Agora, a nte os pro blemas que ó tratame nto ig ualitário cios sexos ce m trazido , especia lme nte n as escolas, uma comissão ele esp ecia listas se pôs

a estuda r o ass unlo naqu 'le país candin avo. E co n luiu o I vio: "cada sexo tem seus p roblem as e f acilidades, ou dificuldades, p a ra assim ilar a instrução escolar. Portanto, m eninos e m eninas d evem ser tratados d e maneira diferente"("ABC", Maclri, 29-8-94). O estudo foi divulgado numa entrevista

coletiva d impr n a pe l pró prio Ministério ela Educação sueco. Esse estud o fo i p;·ececlido, há três anos, po r um o utro no mesmo e nticlo, refe rente às esco las e univers idades. Psicólogos recomend am atualme nte um trato dife renciado desde o primeiro an o escolar. E s ciólogos se qu estio nam sobre qu a l foi, afinal, a va ntage m do ig ua litarismo . "Estamos assistindo a um .fato n ovo: reconhecer que a suposta igu a ldade entre os sexos não existe nem n unca existiu ". Ho je em dia, esp ecia listas em modos e costum s mostra m que se ome te u uma g rand e injustiça com "o tra to e estudos igualitários p a ra a m -bos os sexos ". Pe rde ra m-se g"' nios fortes e pessoas ele cará Le r d ·bil , sacrificados no a lLar da ig ua lda 1' . A

legisla ã sueca d ve rá ser mod ificada br ve me nte n sse p o nto . Na Suéc ia o fato é mais marca nte, da lo qu e naqu ele país a igua ldade entre os sexos foi forçada o qu anto possíve l. Mas a tendência é unive rsal. " Vá rios países estudam a volta à sep a ração·d os sexos nas escolas- A escola mista n ão conseg u e plen a compreen são entre m eninos e m eninas" ("El País", Maclri , 18-10-94). E 1 rossegue o conhecido jo rna l e ·pa nhol: "Alema 1tha, Ingla terra, S1técla, /;' ta d os Unidos béí ·er ·a de u m lustro 11êm debatendo seria111 ,111 , o assunto". E, qu a nto isso, no Bras il , 'fabricantes d e brí11q11edos discordam de que a.Jórma de brinco r rle 111 ,11inosemeni11os C'Steja se tornand o se111 elba 11 te. Para o Su /)erí11te11de1tte da A sso·/o çrio /Jrasileira d os J/o/Jr/cm1tes de B rinq1ted os (Ahrí11r1), Slnésio Batista, a m a 11 /m ele cr/011 çc1s rle sexo djfere11tes /11/(' m ,~ln•m com 11m mesm o brinqued o <' rn111/>letm11e111e diversa: 'q11,a 11clo em/)(1/o 111110 lxmeca, a meniua esw hr/11 co 11do de ser mãe, exerc ltm1do o r(/i•IIJJlr!rtde '. Para ele, o i11,teresse r!C' 111(• 11 /11r1s />or esportes como o .Ji1f('/)(J/ ,, j)Ctssageiro" ("O Esw lo d · S. il:iul o" , 6 11 94). Di í'. um co nll ·l' I lo d it:1<.1 0 ín ncês "cbassez /e 11r1l11rC'I ('{ íl r<•11íendra au galo/) " vxpul s: il :1quilo q u_' é naLural · ·I · volt :1r:1 :i ga lo p ·. 11 o q ue s' ·st:í d:111do rn 111 :i d ·sigualdacl e ' nlr · os svx os. 1,: 1t-s foram criados por De us p;11.1 M' co mpl 'Larem numa f ·liz · ll:irn1 0 1lios:1 concórdia, ca da um co111 su;1s c:11.icl ·rísticas pró pri as . )u c rvr lg u:il:1 los, · colocá-los numa situ:1ç:1 0 lo r1,·:1tl:1 qu · range de todos os Indo:-. l' 1v 11tl t· :1 ·xploclir. 1

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ais que o dinheiro, a saúde, o prestígio, o homem deve almejar neste mundo a santidade. Santo é aquele que praticou todas as virtudes em grau heróico; e, quanto mais analisamos os exemplos de sua vida, mais nos encantamos. Sobre Santa Bemadete - que há 137 anos recebeu a graça insigne de ver e conversar com Nossa Senhora-, dezenas de livros e centenas de artigos já foram escritos, versando sobre sua humildade, pobreza, sofrimentos atrozes, e tantas outras virtudes.

CFJ'OLICISMO, que se destaca por lembrar as verdades esquecidas ou negligenciadas, publica nesta edição artigo mostrando a inocência de Santa Bernade-te, virtude que imediatamente desabrocha em sabedona. Nwna linguagem acessível, o autor explica o significado dessas virtudes, em sua acepção mais· corrente, hoje tão silenciadas ou deturpadas pela Revolução anticristã. Como o artigo não se destina a um

público especializado em filosofia, teologia dogmática, moral, ascética e mística, não houve preocupação em tratar a temática no campo específico dessas matérias. Conseqüentemente, não se adotou a terminologia científica própria a cada uma delas. Mesmo assim - com vistas a introduzir o leitor comwn nos grandes panoramas da doutrina católica - é apresentado às páginas 8 e 9 um quadro em que, muito sinteticamente, o termo inocência é abordado em seu conteúdo strictu sensu teológico. Não se faz porém o mesmo com o conceito de sabedória, seja como virtude natural, seja como · virtude sobrenatural ou ainda como dom do Espírito Santo. Por mais sucinta que fosse a exposição, ela exigiria wn desenvolvimento que desvirtuaria a finalidade prática do presente artigo, que é mais bem fazer o leitor degustar, com a ajuda de alguns casos concretos, a prática dessas virtudes pela amável vidente e mensageira de Nossa Senhora, em Lourdes.

Com efeito, no caso de uma santa iletrada como Santa Bernadete, virtudes e dons do Espírito Santo atuam na alma indiscriminadamente, mas de forma palpável, em certas ocasiões. Por exemplo, quando a Santa, com suas respostas sábias, confundia os ilustrados ou pseudo-ilustrados, os presunçosos, os mal--inte~cionados etc. ~ quando despertava sentunentos de admiração, enlevo e veneração nwn grande batalhador católico como Luís Veuillot. Outra insigne pastora - Santa JÓana d' Are - , apesar de ser também iletrada e analfabeta, causou espanto em seus inquisidores eclesiásticos, por suas respostas teológicas sapienciais e precisas: E a sabedoria q_ue a virgem guerreira revelou em todo o míquo processo que desfechou em sua ~justa condenação pela Inqui~ição, desvirtuada esta de sua santa finalidade por maus pastores, constituiu fator ponderável para sua reabilitação histórica e posterior canonização pela Santa Igreja.

Índice Discernindo · Feminismo já imerge no passado A realidade concisamente

2

Prestigio da Tradição em Portugal

4

Destaque Inapetência eleitoral

5

Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho

6

Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago - Registrada na DRT-SP sob o N" 23228

Esplrltual/dade Santa Bemadete.: Inocência e Sabedoria

Lições da História Fé católica ou cegueira: dilema para o homem contemporâneo '

11

Caderno Especial 13

A ceia na casa do fariseu

Haglograffa

,

São João de Deus, Fundador: o orante, o penitenté, o caridoso

17

TFPs em ação Livro do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: repercussão crescente em Portugal

18

População mundial Os mitos da explosão demográfica

20

Brasil real O milagre eucarístico de Sousa

21

História A catequeSe dos índios na História do Brasil 22 Escrevem os /e/tores Relatório Extra "Grandezas e misérias marcam Medicina no Brasil" 26

Em painel Frases e imagens

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida.

27

Noau cape: Santa Bernadete - Quadr(!_ do pintor Charles Belleuve, ap)oxlmadarnente 1863, Lourde5

Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01 226-001 - São Paulo, SP - Tel: (011)824-9411 Fotolitos: Microformas Fotolitos Lida. Rua Javaés, 681 - O1130010 São Paulo - SP Impressão: . Artpress Indústria Gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 681 - 01130010 São Paulo - SP

A correspondência relativa

à assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Martim Francisco, 665 - CEP 01226-001 • São Paulo · SP -Tel.: (011)824-9411

· C.A.

CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995 • 3


Prestígio da Tradição em Portugal Pa ra come mo rar o sexto centenário do nascimento do Infante D. Henrique (1394-1460), fundador da Escola de Sagres - o nde se formaram os valorosos navegadores que descobriram nossa Pátria - realizaram-se várias sole nidades na cidade do Po1to . Ho uve também um jantar de gala q ue reuniu cerca de 700 pessoas, mas o ponto alto, sem sombra de d úvidas, foi o desfile com trajes dos séculos XVIII , XIX e início do atu al. Pertencentes a coleções particulares de fa mílias do Porto, as belas vestes permitiram que se viajasse p elo passado. Vemos assim como em nosso estimado Portugal as tradições histó ricas têm raízes, reúnem o povo e desp ertam entusiasmo. E isso me rece ser registrado.

As cru zes desses verdadeiros márdiferença entre os traj es que estão na tires da Arábia po deriam ser u·azidas m oda e aquilo que os naturistas f ap ara o Ocidente, e com elas se realizem ". zarem p rocissões, com o rações e cânA absurda declaração do prefeito ticos à mane ira das antigas cerimônias confirma o princípio : quem cede num de Sexta-Fe ira Santa. Essa seria uma . ponto, violando a mo ral católica, mais reparação e um revide ao crime necedo o u mais tarde - se não reagir fa ndo cometido p elos islamitas . - chegará ao extremo desse mesmo erro. Não se colocando , de início, um freio às p aixões desorde nadas e não se evitando as infrações da mo ra l, e ntra-se numa rampa que nos conduzirá a abi mo da imo ralidade comp leta.

Ex-guerrilheiro no Governo do Amapá

Catequistas crucificados Em entrevista à Rádio Vaticana, Dom Cesare Mazzolari, Bispo de Rumbek, no Sudão (leste da Africa), afirmou que naquele p aís católicos ro manos estão sendo perseguidos e m um conflito qu e já custo u centenas de milhares de vidas. Anos au·ás, foi instaurado no Sudão um governo islâmico radical, cuja atuação anticatólica provocou a guerra civil que vem assolando o país. Acrescentou o Prelado q ue quatro catequistas na Arábia Saudita foram açoitados e dep ois crucificados, por recusarem pe1ve1te-se ao maometanismo. É um Bispo da Igreja Católica que faz essa declaração impressi nante. Esse fa tos deveriam causa r indignaçã em todos os católicos autêntic s, pois nossos irmãos na Fé estão sendo p rseguidos e mortos.

Órfãos sudaneses - vítimas da guerra civil e da perseguição religiosa que dilaceram a nação africana

Nudistas levam surra Duas pessoas apanharam de banhistas e foram presas, p or estarem totalme nte sem roupa na Praia do Abricó, em Grumari (RJ) . Essa praia, em dezembro de 1994, foi definida como especial p ara o nudismo, p or le i municipal, a qu al depois foi anulada pe lo Poder Judiciário. A d ci ã do juiz foi cri ticada pelo prefe ito d Ri de Ja n ir , Sr. César Maia, q ue h g u a afi rm-1r: "Não vejo

Ap o iado pelo PT e PDT, be m como pelo senado r José Sa rney, do PMDB, foi eleito governado r do Amapá João Alberto Capiberibe, ex-guerrilhe iro da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Em e ntrevista para o "Jornal do Brasil", Capiberibe declarou que, p o r o rdem de Marighela, líder da ALN, mudou-se p ara o Pará, no fim d a década de 60, de o nde seguiu para o Bico do Papagaio, a fim de promover agitação p olítica entre os colo nos e posseiros, montando bases para um movime nto rural de resistê ncia ao Governo militar. Em 1969 foi detido pe lo Exército, e p assou um ano p reso em Belém do Pará . Causa preocupação o fa to de um ex-guerrilhe iro, com tais antecedentes, te r sido ele ito Governado r de um extenso e estratégico te rritório , localizado ao norte do País . A "experiê ncia guerrilheira" do novo governante poderá representar pesado tributo para a população do Amap á, cujo eleitorado sufragou o ex-membro da ALN.

Sacerdotes assassinados Na Argélia (noite da Áftica), quatro padres foram mo1t s a tiros por muçulmanos, no final de dezembro último. Assim, chega a oito Bem-aventurado o número de religiosos Papa Urbano li assass in a d os n a qu e le -Afresco país, por ódio à Fé católilateranense do ca, em 1994. séc. XII. Que O Grupo Islâmico atitude tomaria A rmado (GIA) distribuiu ele diante da comunicado de clarando atual que vai "continuar sua Jiperseguição hak [guerra santa] contra muçulmana? todos os que estiverem obs-

tmtudo o caminho da supremacia da sharia (1 •i islâmica baseada n,o CorJo] e do estc,helectmento de um calt(a do [Esi.ado islfünicol". O GIA teve ainda a insolê ncia d • acrescentar q ue os padres mo rr ·ram cm nome de uma campanha d · "aulq11ilaçàodoscruzados cristãos". O B •111-av ·ntu rado Papa Urbano II (s ·culo XI) cond.unou uma Cruzada para lihcrwr o Sa nto Sepulcro em mãos dos maom ·tanos. Que faria ele hoje se tomasse conhecimento de tais

abo mina~·c'>cs?

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Livreto sobre AIDS- A associação A manhã de Nossos Filhos divulgou recente me nte o muito bem documentado fascíc ulo TV: uma 'escola', mas de quê?, o q ual alcançou a impressionante tirage m de 52 mil exemplares. Agora, a e ntidade está preparando novo livreto, sobre a AIDS. O opúsculo, com base em estudos científi cos, denunciará especialmente as campanhas mal orientadas ou até enganosas, sobre o flagelo da AIDS. E mostrará q ue a única forma ele e evitar a propagação da terrível moléstia é a prática da fidelidade conjugal e da castidade.

Êxito do canto gregoriano Bem ao contrário do rock, o gregoriano é austero, sublime, difunde o sobrenatu ral. É a música própria da Igreja, como afirmo u o Papa São Pio X, qu e re inou no início deste século. Pois bem, o gregoriano está obtendo atualmente grande sucesso. No final de 1993, os monges do mosteiro espanhol de São Domingos ele Silos lançaram um d isco q ue foi o maio r êxito fo nográfi co ele se u país. Somente nos Esta-

dos Unidos, foram vend idas mais de dois milhões de cópias. Diante desse espetacular sucesso, os mo nges daqu ele Mosteiro lança ram recenteme nte novo disco de canto g r goriano . Suicídio assistido - No Estado de Oregon (EUA), os médicos pode rão legalmente ajudar pessoas a porem fim a suas vidas. A iníqua decisão fo i tomada após um pleb iscito realizado em 8 de novembro de 1994. Na Holanda, em 1993 fo i aprovada le i q ue permite aos médicos matar doentes, desde que "demonstrem" qu e os pacientes sofriam ele dor intolerável e pediam insistentemente para morre r. Tudo isso é abominável. Em primeiro lugar porqu e o suicídio é pecado gravíssimo contra o quinto mandame nto el a Lei de Deus "não matar". Além disso, o próprio bom se nso atesta: o médico eleve procurar salvar vidas e não eliminálas ...

Fantasma acompanha o PT -

É

ultra-sabido q ue os líderes cio PT semp re fo ram favo ráveis ao socialismo e até ao comunismo . Agora, ve ndo q ue

a população ·não os acompanha, expoentes do referido partido afirmam que não são socialistas ... Num seminário realizado em São Paulo para analisar as ca usas ela derrota ele Lul a, o deputado federal José Dirceu, ex-candidato pe tista ao governo paulista, chegou a declarar: "Precisamos enfren tar o problema desse morto-vivo, desse fantasma que nos acompanha, que é o socialismo". E acrescento u: "Precisamos nos definir ideologicamente, assumir que somos um partido social-dem ocrata de esquerda, ou socialista [sic) dem ocrático, e defin ir o que é isso".

Nus em pleno centro de Melbourne - O nudismo significa a completa negação do pecado original e, portanto, ele um po nto essencial da doutrina ca tólica. E hoje o nudismo se alastra como uma terrível praga! Uma loja de Me lbo urne (Austrália) ofereceu gratuitame nte discos a quem comparecesse ao estabeleci me nto nu. Do modo mais desavergonhado, muitas pessoas fo ram à loja completamente desp idas.

DESTAO.)l_!\J quem não vota - 16.811 .106 eleito res enorme montante de 31.450.565 votos, Inapetência eleitoral simplesmente se abstiveram de compaquase a votação do candidato vito rioJá se tem cogitado em introduzir no recer às urnas. Ou seja, 17,730/o cio so, Sr. Fernando Henrique Cardoso, Brasil o voto fac ultativo, mediante o corpo e leitoral. É muita ge nte! que fi cou com 34.377.055 . qual li bera-se o cidadão da obrigação de votar. Medida, aliás, corrente r-- - - - - - - -- -=---=~~-------= Se os "32 milhões de fami ntos", propalados pela esquerda "caem vários países, Estados Unitólica", revelaram-se uma fa rsa, dos por exemplo. os 32 milhões de eleitores, que Mas parece q ue os Srs. senadonão escolheram ca ndidato à res e dep utados estão po uco inPresidê ncia, são uma realid ade . teressados na adoção dessa meDisso tudo, decorre uma lição. dida. Se acolhessem o voto faUma fa ixa muito ponderável, cultativo, não muitos se dariam provave lme nte majoritária, da ao trabalho de votar nas ele ições opinião brasile ira, está desagraq ue periodicamente se rea lizam, dada com o modo ele os polítio q ue e vaziaria ainda mais a cos profissionais conduzirem a politicagem atualmente re inante Nação. na conjuntura nacio nal. .. Por q ue e ntão não chamar, à O ra, ta l posição assumida por O voto facultativo não entrou na pauta da recente Revisão pa rticipação na vida política, nossos pa rlame ntares equivale a Constitucional; ao que parece, a referida medida não é do agrado um grandé número de elemenum reconh imento, indi reto dos membros das duas Casas do Congresso Nacional tos ve rd a cl e ira m e nte re premas eloqü nte, da pouca apesentativos dos principais seto res tência que tem o p úblico brasiprofissionais ou sociais da Nação,adoFoi q uase igual à votação de Lula, leiro pelos políticos que são oferecidos segundo colocado, q ue fico u com tanclo assim a fórmula tão lúcida e tão à sua escolha, a cada ple ito. 17 .126.232 votos. Imagine-se q ual seria simples, sugerida pelo Prof. Plínio CorAinda a 3 de o utubro último tivemos a abste nção se o voto fosse fac ultati- rêa ele Oliveira em seu livro "Projeto ele uma clamorosa comp rovação dessa vo ... Constituição Angustia o País", publicainapetê ncia ele itoral por parte da opiHá mais. Dos qu e compareceram às do em 1987? nião pública. urnas, 14.639.459 vota ram em branco Parece que a fó rmula não agracio u aos políticos profissio nais. E, por isso, a Apesar de que o voto continua obriga- o u anularam o voto, o q ue equivale a tório - acarretando multa e uma série 23,2% do eleitorado. Somados os bran- popularidade deles continu a despencando. ele desagra dá ve is di ssa bo res pa ra cos e nulos às abste nções, atinge-se o CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995 • 5


ESPIIUTUALIDADE

Santa Bernadete: Inocência e Sabedoria

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inda há algumas déca. 'das, era comum encontrar-se o brilho da inocência no rosto de crianças e até de pessoas não muito jovens. O sorriso puro, o olhar límpido, a compostura dos gestos e modos, a louçania das atitudes indicavaJU a transparência da alma que não maculara suaveste batismal. Como isso vai rareando! Incontável número de crianças perde a inocência logo nos primeiros embates da vida. Grande responsabilidade por esse gravíssimo dano é da televisão, a qual, com seus programas vulgares, obscenos e violentos, pode ser chamada de verdadeira exterminadora da inocência.

Comparação chocante Observe, caro leitor, as fotografias de Santa Bernadete Soubirous. No retrato da p. 6 - colhido três anos após as aparições - , ela estava com 17 anos de idade. Embora fosse u~a pastora paupérrima e analfabeta, seu traje é digno, limpo, recatado . Sua fisionomia - os olhos sobretudo, que são o espelho da alma -, exprime pureza, retidão, bondade . Em suma, é uma jovem inocente. Na outra fotografia que figura à p. 7 -tirada quando Santa Bernadete estava de partida para a cidade de Nevers, a fim de se tornar religiosa - , vê-se que sua inocência desabrochou em outras virtudes. Sua face virginal indica também seriedade, firmeza, combatividade, amor à Cruz, desejo ardente do Céu . Compare agora essas foto grafias com tantas jovens

A pastora que viu e conversou cotn Nossa Senhora não sabia ler netn escrever, 111 as fazia tretner os orgulhosos de hoje em dia. Quantas delas têm costumes livres, modos de vestir contrários ao pudor, atitudes vulgares, conversação chula, quando não diretamente lúbrica, qu~ revelam almas de há muito rompidas com sua integridade batismal. Tal comparação nos conduz à pergunta: o que vem a ser a inocência?

nuando-se ou dizendo-se claramente que ela se aplica apenas às crianças. E, como conseqüência, inocência é sinônim? de ingenuidade, infantilidade, bobice. Na realidade, a inocência é o oposto disso . A pessoa verdadeiramente inocente é ao mesmo tempo sagaz, firme, séria, refletida, sapiencial. E, sobretudo, a inocência não é uma vir-

"Eu jamais vira um olhar semelhante [ ao de Bernadete], salvo no convento d'Enghien", assegura o Padre Hamard, lazarista. Foi lá que ele viu Santa Catarina Labouré. tude apenas de crianças, mas deve desabrochar em todas as virtudes, ao longo da vida, como é o caso de Santa Bernadete.

Etimologia da palavra Recorramos à etimologia, para conhecer bem o sentido da spalavra. Inocência vem do latim: in (negação) e nocentia (maldade). A inocência, portanto, é a qualidade da alma isenta do mal. É íntegra, temperante, reta. O que a caracteriza é a posse de todas as virtudes, pelo menos em estado germinativo. Nosso Senhor Jesus Cristo é a própria Inocência. Nossa Senhora, a criatura inocente no mais alto grau . E os santos, ou sempre a conservaram, ou restauraram a inocência perdida, amando-a mais do que a menina de seus olhos . A restauração da inocência, após a queda original, não significa a reaquisição do chamado estado de inocência, que era a situação na qual se encontravam Adão e Eva, no Paraíso terrestre, antes daquele pecado. Tal estado supunha a posse dos dons preternaturais (ver quadro Inocência: sentido teológico).

DeturpaçJo do conceito de Inocência É próprio da Revolução anticristã adulterar o sentido de todas as coisas. Assim, a noção de inocência foi distorcida pelo espírito revolucionário, insi-

Restauração da inocência Quem teve a desgraça de perder a inocência, precisa rezar, fazer penitência e lutar arduamente por readquiri-la. Santa Maria Madalena é exemplo belíssimo de inocência readquirida. De pecadora pública, ela se deixou de tal maneira inflamar de amor por Deus, que a única razão de sua vida passou a .e r penitenciar-se por seus pecados ,mteriores , bem como louvar, reverenciar e servir ao Divino Mestre. Santo Agostinho caiu muitas vezes em pecados de sensualidade e, pior, chegou a precipitar-se no abismo da heresia maniquéia. Mas, pelas lágrimas de. sua mãe, Santa Mônica, e pelo apostolado de Santo Ambrósio, ele corr~spondeu à graça, converteu-se, santificou-se, tornando-se um dos maiores luzeiros da Santa Ig~eja. Portanto, mesmo que nossas quedas tenham sido contra a Fé católica pecados muitíssimo mais graves do que a impureza - , não devemos jamais desanimar. Convém esclarecer, entretanto, que a inocência não se identifica com castidade, como muitos poderiam pensar. A inocência é mais alta, mais nobre, mais abarcativa do que a casti~

dade. Todo inocente é casto; mas nem O delegado de polícia tremia todo casto tem inocência. Diz-se que Robespierre - o facínora que domiSimples pastora, Bernadete não sanou o governo na era do Terror, dubia ler nem escrever, ao se iniciarem rante a Revolução Francesa - era as aparições de Nossa Senhora, em 11 casto ... de fevereiro de 1858. Nem mesmo A inocência tal vez pudesse ser fal~va ela o francês; apenas o patois, comparada à opala, enquanto a virtude da pureza seria umas das irisações da- o dialeto local. Tinha catorze anos de quela pedra. , - - - - - - - - - - - - - - - - -- -

Sabedoria: fruto da inocência Um dos mais preciosos frutos da inocência é a virtude e o dom da sabedoria, mediante os quais a alma sempre procura - com gosto, com sabor (daí a palavra sabedoria) - o aspecto mais elevado de todas as coisas. A pessoa sapiencial está continuamente voltada para o sublime . Sabedoria não se confunde com instrução . Para adquiri-la não é preciso freqüentar escolas, obter diplomas ou ler muitos livros. Basta seguir com perfeição o preceito dado pelo Criador a Moisés: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, e de toda a tua alma, e com toda a tua força" (Deut. 6, 5) . 11

0 primeiro olhar'1

O grande teólogo francês, Padre Garrigou-Lagrange OP (18771964), em seu livro O Senso comum, dedicou um capítulo ao tema da inocência. O título do capítulo O primeiro olhar visa designar a inocência, revelando igualmente o interesse do autor em investigar as raízes da mencionada virtude na alma humana. Essas páginas também demonstram a importância que concedia ao tema inocência um dos luminares da teologia e da espiritualidade contemporâneas. O Padre Garrigou-Lagrange lecionou durante 51 anos no Angelicum, famoso instituto teológico de Roma. Foi diretor espiritual de Madre Chiquinha do Rio Negro, brasileira , fundadora de uma congregação religiosa em .Roma, falecida em odor de santidade. Visitou nossa Pátria no início da década de

30 . Alguns exemplos da vida de Santa Bernadete ilustram bem todas essas noções, revelando ao vivo, a sabedoria e vigor da alma inocente.

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CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995. 7


mas o terror dos malfeitoidade, e ainda não recebera a res" (Prov. 10, 29). Primeira Comunhão. Ao sair da delegacia, Entretanto, quando foi inSanta Bernadete foi cercada timada a depor na polícia ..., pelo povinho, que lhe fez à noitinha do domingo 21 de muitas perguntas. Sempre fevereiro de 1858, dia da amável, ela sorriu. sexta aparição - sua inocên- O que te diverte? cia confundiu o orgulhoso indagou alguém. delegado Jacomet. Este havia Num comentário caraccolocado em prisão, durante terístico da alma inocente, quinze dias, no ano anterior, a santa observou: "O deleo pai de Santa Bernadete, gado tremia; ele tinha em Francisco Soubirous, o qual sua boina um pingente fora acusado injustamente de que fazia tintim" (2). ter furtado uma viga de madeira abandonada. A inculpaO procurador bilidade de Francisco foi, imperial não aliás, reconhecida pelo juiz, encontra o buraco que mandou arquivar o prodo tinteiro cesso por falta de matéria criAs repercussões dos faminal. tos ocorridos na gruta de Jacomet crivou Santa Massabielle foram imensas Bernadete d.e perguntas . em toda a França. Os milaQuando indagou a idade da gres estupendos ali operavidente, esta afirmou que não sabia exatamente se tinha treO olhar do delegado de polícia de Lourdes, Jacomet - o dos representavam um terze ou catorze anos .. . Depois qual 1 em seu interrogatório, ofendeu brutalmente a jovem rível golpe no ateísmo que do longo e penoso interroga- Bern adete -, difere diametralmente da inocência e limpidez grassava no século XIX, sob o nome de racionalistório, o delegado começou a que brilham nos olhos da Santa mo. ler o depoimento, mas alteAssim, o próprio Chefe rando propositadamente as pólvora na pequena e pacata Lourdes. palavras de Bernadete. A santa corri- Uma multidão aglomerou-se diante da de Estado francês, Luís Napoleão Bogiu-o com firmeza e segurança, e re- delegacia, começou a gritar e desferir naparte ..!._ que utilizava o título caripetiu fielmente o que dissera. Jacomet golpes nas portas e janelas, exigindo cato de Napoleão III -, enviou a Lourdes o procurador Vital Dutour, a ameaçou prendê-la, mas ela se mante- que Jacomet libertasse Bernadete. fim de interrogar a vidente. ve tranqüila. O pai da vidente entrou na delegaImagine o leitor o que significava Tal foi a brutalidade e insolência de cia para proteger a filha, e o iníquo para a minúscula cidade de Lourdes a Jacomet, que este chegou a dizer à Jacomet também ameaçou-o de prichegada de um enviado de Napoleão inocente jovem: "Você arrasta todo são, caso não proibisse Bernadete de mundo atrás de si, você quer tornar- voltar à gruta de Massabielle, onde se III, o qual, apesar de ter idéias socialistas, gozava então de grande prestíse uma pequena meretriz" (1). Utili- davam as aparições de Nossa Senhora. gio. Ser interrogado por Dutour cauzamos no final dessa frase uma palavra saria temor e talvez até pavor em qualque pode ser consignada numa revista Terminado o interrogatório policatólica. Mas o leitor deve ter presente cial, Santa Bernadete estava calma e quer habitante de Lourdes. Menos na que o delegado empregou o termo chu- distendida, enquanto o delegado tre- inocente Bernadete ... lo correspondente. mia ... Aqui bem se aplica a frase da O interrrogatório foi realizado em O rumor de que Bernadete podia Sagrada Escritura: "O caminho do 25 de fevereiro de 1858, no mesmo dia ser presa correu como um rastilho de Senhor é à fortaleza do inocente,

Inocência: sentido teológico Do ponto de vista estritamente teológico, o termo inocência deriva da expressão estado de inocência, que era a situação desfrutada por Adão e Eva no Paraíso terrestre, antes do pecado original. Esse estado de inocência comportava os dons preternaturais, a saber: o homem, quanto a seu corpo, era

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~~T?LICISMO, FEVEREIRO 1995

preservado da dor e da morte; e, quanto à sua alma, estava isento da concupiscência desordenada e da ignorância. No presente artigo, o termo inocência é empregado no sentido comum ou corrente, que está mais vinculado à acepção etimológica. Entretanto, convém acentuar que mesmo

esse sentido comum dh palavra supõe que a inocência - após a perda do estado de inocência devido ao pecado original - reprime a concupiscência desordenada e, de certo modo, sana a ignorância pela prática da virtude e do dom da sabedoria. O sacramento do Batismo nos obtém a remissão do pecado original,

da nona aparição, na qual a Santíssima Virgem ordenara a Santa Bernadete que bebesse água da gruta, ali se lavasse e também comesse um pouco de erva silvestre existente nas encostas do rochedo. Para cumprir a ordem de Nossa Senhora - que lhe era incompreensível, pois não havia água nenhuma na gruta - Bernadete esgravatou a terra e, tomando com o côncavo da mão a água lamacenta que apareceu, bebeu-a; depois, repetindo a operação, lambuzou o rosto. O gesto pareceu a muitos um ato de insanidade da vidente. Mas foi a origem da famosa fonte de Lourdes, procurada boje por cinco milhões de peregrinos anualmente ... Naquele tempo, usava-se para escrever uma pena de pato ou de ganso, bem como tinteiro com um orificio através do qual se alimentava a pena. Dutour iniciou as perguntas com cortesia e até com benevolência, fazendo muitas anotações nos papéis colocados sobre a escrivaninha. Mas, como fizera Jacomet, ele distorceu as palavras de Bemadete. Lendo-as para a santa, esta protestou energicamente, corrigindo o procurador e repetindo com exatidão o que afirmara. O procurador imperial ficou inseguro diante daqueles olllos límpidos que o julgavam. Tomado pela irritação, disse bruscamente à santa: "Você comeu hera, como fazem os animais". Santa Bernadete sabia perfeitamente que Nossa Senhora lhe dera essa ordem, para que a vidente demonstrasse sua humildade e obediência. Mas

i:qas não restaura o estado de inocência em sua integridade, nem restabelece os quatro dons pretematurais su,pra citados, anexos àquele estado. Assim, muitos dos efeitos do pecado original permanecem no homem, como o trabalho penoso, as doenças e a morte, e sobretudo a inclinação ao pecado, contra a qual devemos lutar, com a indispensável ajuda da graça divina. O sacramento da Penitência, por sua vez, perdoa os pecados que come-

" Então, você confessou? "- Sim, eu disse a verdade; eles falam mentiras". E, pensando nos traços feitos pelo procurador nos papéis colocados sobre a escrivaninha, a santa perguntou: "- Quando não se escreve bem, fazem-se cruzinhas? O senhor procurador fazia continuamente cruzinhas" (3). As cruzinhas indicam bem o desconcerto do procurador Dutour, ao passo que Bernadete conservava - em meio a toda pressão psicológica do interrogatório - pleno domínio de si, a ponto de ainda poder observar candidamente o gesto nervoso contínuo de seu atrabiliário inguiridor.

para o procurador ela nada revelou e apenas sorriu candidamente. Tal foi o desconcerto de Dutour que sua mãos começaram a tremer, e ele não conseguiu mais encontrar o buraco do tinteiro para ali colocar a pena ... Depois de ameaçá-la de prisão e, vendo a firmeza e a calma de Bernadete, Dutour tremia cada vez mais . E acabou por desistir de encontrar o buraco do tinteiro, deixando a pena sobre a escrivaninha. Bernadete sorriu, mostrando mais uma vez sua segurança interior, fruto de sua inocência. Chegando ao cachot - antiga prisão de Lourdes, onde residia a família Soubirous -, uma jovem perguntou a Santa Bernadete: temos depois do Batismo. Analogamente, porém, não restaura em nós a inocência batismal, pois o pecado atual, ou pessoal - assim chamado para distinguir do pecado original deixa em nossa alma marcas mais profundas, ou menos, que só uma vida de séria e continua penitência pode ap;igar. A restauração da inocência - à qual se alude no presente artigo - é uma graça muito especial que Deus concede como prêmio dessa vida de

Luís Veuillot: 11Sou um miserável" O célebre polemista católico Luís Veuillot, que muito combateu o liberalismo no século passado, foi duas vezes a Lourdes para conversar com Santa Bernadete. Ele estava então no apogeu de sua glória, pois havia prestado muitos serviços à Igreja e à França. As autoridades eclesiásticas proibiram o notável escritor de tratar com Santa Bernadete o assunto das aparições. Assim, as entrevistas se desenrolaram sobre temas de somenos importância. Mas o arguto publicista percebeu claramente que estava diante' de uma santa e, logo após a primeira conversa1 em 28 de julho de 1858, afirmou: "E uma ignorante. Mas ela vale mais do que eu, pois sou um miserável" (4). penitência, e corresponde a uma limpidez de alma equivalente à da inocência batismal. Algumas alma muito penitentes têm sido favorecidas com esse dom especialíssimo, como se conta na vida de Santa Margarida de Cortona, por exemplo. O tema é amplo e profundo, e comportaria uma exp!anação mais extensa. O que foi dito é suficiente para o leitor se situar na problemática deste artigo.


Todos nós, pecadores, podemos repetir as palavras de Luís Veuillot: somos miseráveis. O grande Doutor marianÔ' e famoso missionário do século XVIII, São Luís Maria Grignion de Montfort, vai muito mais longe, dizendo que todo homem é um "vermezinho e miserável pecador" (5). Compenetrados desta verdade, elevemos nossas almas ao Céu e peçamos a Santa Bernadete que nos obtenha de Nossa Senhora a restauração da insigne virtude da inocência, caso a tenhamos perdido. E que a santa vidente de Lourdes alcance de Maria Virgem a preservação dessa virtude em nossa alma, se ela for inocente. Se cada um de nós for verdadeiramente inocente, pela ação da graça divina - somen-

te concedida através de Nossa Senhora - este vermezinho poderá transformar-se num leão, incutindo terror nos inimigos da Santa Igreja e da Civilização Cristã, e trilhará a bendita senda que conduz à santidade.

Paulo Francisco Martos

NOTAS: l . Padre René Laurentin, Bernadette vous parle, P. Lethielleux, Lourdes, 1972, vol. I, p. 66. 2. Idem, p. 69.

3. Idem, p. 90. 4. Idem, p. 178.

5. Trecho da Consagração a Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, pelas mãos de Maria, in Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Editora Vozes, Petrópolis, 1974, 8ª ed., p. 282.

DATAS DÀS APARIÇÕES E PALAVRAS DE NOSSA SENHORA EM LOURDES.ANO: 1858 11 de fevereiro: primeira aparição. 14 de fevereiro: segunda aparição. 18 de fevereiro: terceira aparição. 1) Isto não é necessário, em resposta à pergunta de Bernadete: "Vós poderíeis ter a bondade de pôr vosso nome por escrito?" 2) Vós poderíeis faur o favor de vir aqui durante quinze dias? 3) Eu não vos prometo tomar feliz neste mundo, mas no outro.

6) Penitência! Penitência! Penitência!

19 de fevereiro: quarta aparição. 20 de fevereiro: quinta aparição. 21 de fevereiro: sexta aparição. 23 de fevereiro: sétima aparição. 24 de fevereiro: oitava aparição. 25 de fevereiro: nona aparição. 4) Ide beber na fonte e ali vos la-

·

7) Vós rezareis a Deus pelos pecadores. 8) Ide beijar o chão em penitência pela conversão dos pecadores. 1° de março: 12ª aparição. 2 de março: 13ª aparição. 9) Ide dizer aos padres que se venha aqui cm procissão e que se construa aqui uma capela. 10) Ide dizer aos padres para construírem aqui uma capela. 3 de março: 14ª aparição. 4 de março: 15ª aparição. 25 de março: 16ª aparição. 11) Eu sou a Imaculada Concei-

ção. 7 de abril: 17ª aparição. 16 de julho: 18ª e última aparição. Palavras de Nossa Senhora em datas incertas: 12) Eu vos proíbo de dizer isso a qualquer pessoa. Essas palavras referem-se aos três segredos e à oração secreta. Nossa Senhora repetiu-as várias vezes.

var. 5) Vós comereis daquela erva que ali está. 27 de fevereiro: décima apari- Na parte superior da foto acima: Basílica de Lourdes contruída em 1876 ção. Na parte inferior: a gruta com a imagem de 28 de fevereiro: 1 lª aparição.

Nossa Senhora em seu interior

(Padre René Laurentin, Bernadette vous parle, P. Lethielleux. Lourdcs, 1972, vo. II, p. 298).

Lições da História

Fé católica ou cegueira: dilema para o homem contemporâneo

N

o ano passado, transcrevemos para nossos leitores alguns prognósticos que, nos mais diversos campos do pensamento e da ativ idade humana, enunciou o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, e provamos, com fatos irrefutáveis, a realização dos mesmos

nunciava: "Os mestres da política internacional não esquecem em momento algum a palavra 'paz'. Apenas, eles a pronunciam tendo sempre em mente os armamentos que possuem e aqueles que podem vir a possuir. Assim a 'paz ' vê-se sempre rodeada por uma atmosfera ardente, rica em. bocas de fogo, em gazes e em outros objetos que dificilmente lhe permitirá longa existência" (3).

(1).

Nesta e em próximas edições de Catolicismo publicaremos previsões do Presidente da TFP a propósito de um dos acontecimentos mais importantes de nosso século: a Segunda Guerra Mundial. Ao comemorar-se, em 1995, cinqüenta anos do fim desse conflito, dedicaremos este primeiro artigo a análises feitas pelo clariv idente escritor católico, nas quais anunciou, com antecedência e precisão, a guerra que anos depois assolaria a humanidade.

"A guerra mundial está a bater às portas" Após apontar a missão primordial de todos os Estados, isto é, de lutar pela Fé e pela civilização, o insigne pensador católico afirmava: "A Europa e os Estados norte-americanos estão a braços com problemas tremendos. Dentro em pouco - e só os cegos podem contestá-lo - virá

Missão do Brasil na guerra que se aproxima

um dilúvio internacional: a guerra mundial está a bater às portas da civilização do Ocidente" (4).

Em 1935, tecendo considerações sobre a harmoni a ét nica reinante no Brasil (em contraposição aos conflitos raciais que se levantavam em outros países), o Fundador da TFP já previa a eclosão das hostilidades no plano internacional que se verificariam quatro anos depois: "Nossa missão hist6rica - afirmava - consiste em manter neste mundo

Nas vésperas da guerra, importância crescente do Brasil Analisando, um ano depois, o interesse crescente que o Brasil ia despertando na imprensa européia e norte-americana a partir de 1934, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira se perguntava: "Por que tanta diferença entre 1937 e 1934 ?" E respond ia: "A

que se defronta com uma ·conflagração universal, um oásis de paz dentro de nossas fronteiras. Assim, contribuiremos para evitar o alastramento do mal, que é a guerra" (2).

A paz não será duradoura Em julho de 1936, discernindo o mau uso que se fazia da palavra paz, de-

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: previsões acertadas às vésperas da conflagração mundial

·

razão é óbvia. Cada vez mais se aproxima do atormentado mundo contemporâneo o espectro de uma grande guerra. E com isso o Brasil cresce de importância, porque é 1Jm. celeiro inesgotável de

CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995 -

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o espectro da guerra for realmente afastado em virtude do encontro Hitler-Chamberlain, a conflagração não será propriamente evitada, mas adiada ".E após descrever o estado de espírito do Führer e do nazismo , afirmava: "Se, de um lado, um povo quer tudo, e por outro lado, povos há que não querem nem podem, no final das contas, ceder tudo, a guerra é uma questão de dias, ou de meses, mas fatalmente explodirá . .. quando poderá ela explodir? Amanhã? Daqui a 6, 10, 12 ou 24 meses ? Não o sabemos. Mas, enquanto Hitler estiver no poder, ela será inevitável" (7). Uma semana depois, o Fundador da TFP sustentava: É verdade

recursos de toda natureza" para o abastecimento de combustíveis, de alimentos etc., o que pode transformá-lo em importante aliado no conflito (5).

A corrida armamentista prepara a conflagração Baseado no mesmo critério acima adotado, o Presidente da TFP insiste, três meses depois, sobre a proximidade da guerra: "Postas estas preliminares, é

muito f ácil compreender-se a razão de toda a luta colonial de que o mundo contemporâneo é teatro. "Em última análise, a corrida armamentista que leva todas as nações a multiplicar o mais rapidamente possível os seus armamentos, nada mais é do que um dos episódios da preparação da futura guerra. Não basta acumular armamentos e treinar homens. É preciso, principalmente, preparar munições e mantimentos" (6).

A eclosão da guerra será inevitável Quando o então primeiro-ministro britânico Chamberlain - um autêntico Kerensky inglês, sempre partidário de ceder para não perder, ao invés de lutar para não perder - viajou para a Alemanha a fim de se entrevistar com Hitler, assim se expressava o ilustre líder católico, analisando o fato: "Por mais que se

procure impedir que o grande público tenha uma visão direta de todas as conseqüências das últimas negociações de Berchtesgarden [casa de campo de Hitler, na Baviera], tudo leva a crer que, se

12- CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995

que a política dos srs. Chamberlain e Deladier [então primeiroministro francês] adiaram a guerra ? A este respe ito achem os católicos o que quiserem. Minha opinião individual é de que, de alguns dias a guerra foi adiada. Mas que essa paz mais do que precária foi comprada por um preço absurdo e que o recuo franco-inglês revela uma miopia assombrosa " (8). No início de setembro de 1939 foi declarada a Segunda Guerra Mundial, confirmando as previsões do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

A encruzilhada dos otimistas de hoje Sirvam esses fatos para abrir os olhos de muitos que têm ignorado ou fingido ignorar as inúmeras advertências, avisos e denúncias que o conhecido escritor católico vem fazendo, com admirável discernimento, ao longo de sua vida. E para que não se espantem quando, se os homens não se converterem seriamente à única Igreja verdadeira " a Católica, Apostólica e Romana " , comecem a realizar-se as previsões muito mais insistentes e radicais do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, no to_cante a um acontecimento imensamente mais terrível que a Segunda Guerra. Isto é, a Terceira Guerra Mundial, coidêntica, na perspectiva do Presidente da TFP, com o castigo profetizado por Nossa Senhora em Fátima, do qual a

Winston Churchill foi dos poucos ingleses que condenou, na época, com acerto e clarividência, a política entreguista de Chamberlain

humanidade vai se tornando merecedora na medida em que sua apostasia da Fé católica está se concretizando de modo alarmante. Quando Chamberlain voltou a Londres, após um de seus encontros entreguistas com Hitler , e foi recebido com entusiasmo de lirante pelo povo inglês, cegado pelo otimismo, Churchill o apostrofou com estas palavras : "Tínheis que

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escolher entre a vergonha e a guerra. Escolhestes a vergonha e tereis a guerra." Parafraseando Churchill, e na iminência de eventuais catástrofes a respeito das quais de longa data o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira nos vem prevenindo, dirigimo-nos aos otimistas de hoje, e os advertimos: caso não modifiquem sua posição nesta hora, que parece ser extrema, o futuro lhes dirá: " Tínheis que escolherentre a cegueira e a Fé. Escolhestes a cegueira e perdestes a Fé!"

Juan Gonzalo Larraín Campbell NOTAS 1) Cfr. artigos deste autor em Catolicismo, edições de abril, mai o, junho, agosto, outubro e dezembro de 1994; e, na mes ma linha, artigo de João Sérgio Guimarães, edição de setembro/94. 2) Se/f-Control, " Leg ionário" , 13- 10-35. 3) À margem dos fatos ," "Legionário" , 5-7-36. 4) Unidade nacional, " Legionário", 22- 11-36. 5) Para que a independência do Brasil não seja um mito, " Legionário" , 19-9-38. 6) Com mouros à vista, " Legionário" , 13-2-38. 7) O verdadeiro sentido do vôo de Chamberlai11, "Legionári o", 18-9-38. 8) À margem da crise," Legionário" , 25-9-38. (Os sublinhados são nossos).

A ceia na casa do fariseu (séc. XVI) - O veronês,Pinacoteca de Brera, Milão(ltália) .

Wcsus õissc it mulfrcr:

H~

tua fé te sal&ou; &ai cm pa7!"-


·,~ p.e.caà~ra aos u.és à.e JJ.esus (Sao.Lucas, 7, 36-3/, 50) E um dos fariseus rogava-Lhe que fosse comer com ele. E, tendo entrado Jesus na casa do fariseu, sentou-se à mesa. E eis que uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que Ele estava à mesa do fariseu, levou um vaso de alabastro cheio de bálsamo; e, estando a seus pés por detrás dele, começou a banhar-lhe os pés com lágri-

·

mas, e os enxugava com os cabelos de sua cabeça e os beijava, e os ungia com bálsamo. Ora, vendo isto, o fariseu que o tinha convidado disse consigo: Se esse fosse profeta, com certeza saberia quem e qual é a mulher que o toca, e que é pecadora. Jesus (porém) disse à mulher: A tua fé te salvou; vai em paz.

(([um.entiirios .compilaàos por ~anto momás à.e J\quino na "(([ai.ena ~ur.ea" São Gregório Nazianzeno - Como esta mulher conhec_ia as manchas de sua má vida, correu a lavá-las na fonte da misericórdia, sem envergonhar-se de que estavam presentes os convidados: pois como se envergonhava muito interiormente,julgou como se fosse nada o rubor exterior. São Gregório de Nissa - Dando a conhecer quanta era sua indignidade, estava por detrás ocultando-se das luzes e abraçando os pés que cobria com seus· cabelos, regava-os por sua vez com suas lágrimas, manifestando assim a tristeza de sua alma, e implorando o perdão. São Gregório Nazianzeno - Com os olhos havia apetecido as coisas da Terra, mas agora chorava com os mesmos em sinal de penitência; com seus cabelos, que antes havia adornado para engalanar seu rosto, agora enx;ugava as lágrimas, pelo que segue: 'E enxugava com os cabelos de sua cabeça' . Com a boca havia falado palavras de vaidade; mas agora, beijando os pés do Senhor, consagra seus lábios a beijá-los. Tudo o que havia

tido para sua própria complacência, agora o oferece em holocausto. Todos os seus crimes os converteu em outras tantas virtudes, para consagrar-se exclusivamente ao Senhor por meio da penitência, tanto como se havia separado dEle pela culpa. São João Crisóstomo -Assim como depois do rude inverno, aparece a calma da primavera, assim depois da efusão de lágrimas, aparece a tranqüilidade e termina a tristeza que ocasionam as culpas; e assim como por meio da água e do espírito nos purificamos, assim também mediante as lágrimas e a confissão; por isso segue: 'Pelo que te digo: que perdoados são muitos pecados porque amou muito' . Os que com violência praticaram o mal também com o mesmo fervor se dedicam a obrar bem quando conhecem o muito que devem. São Gregório Nazianzeno -Tanto mais se destruiu a malícia do pecado, quanto mais se abrasa o coração do pecador ao fogo da caridade.

(([om.entiirios ào

J~o~~~~J~J!i~co~J~~t!~,,~~11!~}!,o

" Vinde a ntlm trabalhos e cargas, que eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minhas lições, porque eu sou manso e humilde de coração; e achareis o repouso para vossas almas. Porque suave é meu jugo e leve o meu peso". A pecadora, ·cuja conversão edificante é o tema do episódio que vamos narrar, estava talvez entre os ouvintes, em presença dos quais lançou Jesus esse terno chamado. Foi pelo menos a primeira a tirar proveito dele e a realiz.á-lo em todo seu significado. Convidado_com instância por um fariseu chamado Simão a tomar uma refeição em sua casa, aceitou-a o Salvador. Não buscava Jesus ocasiões deste tipo, mas tampouco recusava, porque nelas conseguia realizar, tão bem como em outras, a obra de seu Pai celestial. Havendo, pois, entrado na casa de Simão, se pôs à mesa. Para entender melhor a cena que se vai seguir, será bom recordar qual era então a atitude e a postura que tomavam os convidados. "Era urna posição intermediária entre o estar deitado e sentado. As pernas e a parte superior do corpo dispunha-se um tanto levantada e su~tentada sobre o cotovelo esquerdo, que descansava e se apoiava em uma almofada. O braço e a mão direita ficavam assim livres para poder estender-se e tornar o· alimento" (A. Rich, Dictionnaire des antiquités romai-

as

dos convidados se colocava no centro do hemiciclo formado pelos divãs'ou' sofás. Cada um, pois, estava com os pés para fora, e do lado do espaço reservado aos que serviam. · De repente, uma mulher, bemconhecidanacidadepor seus pecados, entrou na sala do banquete com um vaso de alabastro cheio de precioso perfume. Os costumes ou usos austeros do Ocidente fazem-nos julgar estranho, à primeira vista, uma atitude cheia de liberdade; mas está muito de acordo com os usos mais familiares do Oriente. A pecadora reconheceu por isto o lugar do Salvador. E, colocando-se atrás dele, se pôs a lavar seus pés com suas lágrimas e a enxugá-los com seus cabelos; logo os beijou e os ungiu com o perfume. Não proferiu uma só palavra; mas, que eloqüência em todo seu proceder e como, mediante estes atos, demonstrava seu respeito, seu arrependimento, sua fé, além de sua piedosa devoção e afeto! O fariseu Simão, longe de compreender tal cena, que havia arrebatado os próprios anjos do Céu, foi dominado, pelo contrário, por muita estranheza. E disse de si para consigo: Se tal homem fosse profeta, teria conhecido em verdade que classe de mulher é esta que o tocou, porque é na realidade uma pecadora. E precisamente porque. conheceu Jesus os pensamentos mais íntimos de seu

anfitrião e hóspede, vai convencê-lo ~ com uma admoestação cheia de bondade - que é, em verdade, um profeta. Jesus, voltando-se então para a mulher, a quem ainda não havia dirigido uma palavra, contentou-se em dizer-lhe com gravidade: 'Teus pecados te são perdoados'. A estas palavras, como em circunstâncias anteriores, novo escândalo para os convidados: Quem é este que até perdoa pecados? O que equivalia a acusá-10

novamente de blasfêmia. Sem perturbar-se com protestos tão injustos, Jesus disse à Mulher uma segunda frase para despedi-ia docemente: "Tua fé te salvou; vai em paz". Sua fé, junto com sua caridade e a _misericórdia divina, havia produzido esta obra de regeneração. Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Senor Jesucristo· según los Evangelios. Editorial Difusion, S. A., Tucumán, 1959, pp. 154-156.

~ossa ~.enhora ào 'ilílrasil ('J{p,pofes-Itá[ia, 22..,Íefevereiro áe 184Ó}

Contam-se talvez nos dedos as nações cujos nomes constituem titulo para Nossa Senhora: Nossa Senhora da Áustria, de Luxemburgo, do Líbano, do Brasil... É para nós uma razão a mais de esperança ter a Santíssima Virgem querido manifestar-se especialmente dadivosa, como veremos, mediante essa última invocação. Pois quis Ela conceder a nossa Pátria um acréscimo de bondade, em relação aos incontáveis favores espargidos sobre o Brasil, enquanto sua Padroeira, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. É digno de nota ter a denominação Nossa Senhora do Brasil surgido informalmente no seio de urna população longínqua, que sempre se distinguiu por singular devoção mariana. Foi o povo napolitano que começou a invocar Madonna dei Brasile. E isso ocorreu na primeira metade do século XIX, quando não havia se estabelecido ainda relação popular mais estreita entre Brasil e Itália, pois a grande imigração proveniente da bela Peninsula não tinha começado. A imagem que recebeu tal nome representa Nossa Senhora com o Menino Jesus, ambos ostentando o próprio Coração. O Divino Filho aponta com a mão direita o Coração materno. Talhada em madeira, a imagem foi esculpida, segundo a tradição, por algum dos nossos primeiros missionários jesuitas, sob a orientação do Bem-Aventurado Pe. José de Anchieta. Exercendo o Apóstolo do Brasil o cargo de Provincial da Companhia de Jesus, fundou ele no Estado do Espírito Santo a primeira capela dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Posteriormente, de visita a Pernambuco, teria deixado a imagem de Nos~a Senhora dos Divinos Corações, como era então chamada, numa das aldeias de indígenas catequizados. Por volta de 1630, foi ela escondida para escapar da sanha iconoclasta dos invasores calvinistas holandeses. E quase um século depois, em 1710, a imagem ficou aos cuidados dos padres capuchinhos vindos da Itália. Documentos históricos fidedignos comprovam que, em 1725, Nossa Senhora dos Divinos Corações foi escolhida como Padroeira da nova Prefeitura Apostólica dos missionários capuchinhos em Pernambuco, atribuindo-se a Ela um altar na igreja de Nossa Senhora da Penha, no Recife. Em 1828, eclodiram diversos movimentos revolucionários naquela região, durante os quais cometeramse profanações de templos católicos. Frei Joaquim de Afrágola, fervoroso capuchinho, devoto da venerada imagem, constatando o perigo que ela corria, remeteu-a secretamente para o convento de sua Ordem, em Nápoles. Quatro anos mais tarde, foi profanada a igreja que

,

teria abrigado a imagem, caso a previdente atitude de Frei Afrágola não tivesse sido tomada. Em Nápoles, entretanto, por questões de alfândega, os frades capuchinhos retardaram a retirada da encoroenda. A imagem tinha chegadO sem aviso específico, em meio a outros objetos que tornavam a caixa muito pesada. Os religiosos não dispunham de recursos para pagar o imposto. Transcorrido considerável tempo nesse impasse, os guardas aduaneiros, curiosos, romperam a cinta que envolvia a caixa. Ficaram eles admirados ao · descobrir uma bela efígie de Nossa Senhora, que enviaram prontamente para seu destino, o Convento de Santo Efrém, o Novo. Impressionados com a notável perfeição dá escultura, aqueles religiosos resolveram expô-la à veneração dos fiéis, na própria igreja de Santo Efrém. O povo napolitano, depois das grandes honras com que foi exposta à veneração pública, espontaneamente começou a denominá-la Madonna dei Brasile. A nova devoção difundiu-se em pouco tempo, tornando-se patentes numerosas graças obtidas através da artística imagem. Por exemplo, a cessação da então temível epidemia de cólera e numerosas curas. A 22 de fevereiro de 1840, verificou-se impressionante milagre: um devorador incêndio consumiu a igreja de Santo Efrém, reduzindo-a a cinzas. Contudo, a velha madeira da imagem e as vestes que a ornavam ficaram intactas! Muitos que tinham acorrido, devido a notícia do incêndio, constataram com agradável surpresa a preservação da Madonna dei Brasile. Fato que, naturalmente, concorreu para aumentar ainda mais o recurso confiante da população de Nápoles a Ela. Tudo o que acima foi narrado era quase desconhecido entre nós. Em 1924, porém, o Bispo brasileiro Dom Frederico Berucio de Souza Costa, passando por Nápoles; inteirou-se da história da Madonna dei Brasile. E; voltando a nossa Pátria, divulgou-a 'quanto pôde. O culto a Nossa Senhora do Brasil ainda não se tornou muito conhecido no território nacional. Apesar disso, Ela é venerada nas cidades do Rio de Janeiro, • Porto Alegre e São Paulo. Na capital paulista, importante paróquia foi a Ela dedicada, no bairro do Jardim América. A imagem original, entretanto - apesar de diversas tentativas feitas para obter seu retorno ao Brasil -, continua em Nápoles. FONTES DE REFERÊNCIA 1. Nilza Botelho Megale, J12 invocações da Virgem Man·a no Brasil, Editora Vozes, Petrópolis, 1986, 2• ed., pp. 77-79. 2. Folhetos da Pa({>quia Nossa Senhora do Brasil, São Paulo.


HAGIOGRAFIA

História Sagrada (52) acusa. Po rque , se vós crêsseis em Mo isés, ce rta mente cre ríe is também e m mim; p orque ele escreveu de mim. Po ré m, se vós não da is crédito aos seus escritos, co mo have is de dar crédito às minhas palavras?" 0o. 5, 45-47) .

Recordação dos benefícios de Deus

'' '

Profecia de Moisés sobre o Messias Ap ós o espetacular exte rmínio dos habita ntes do p aís de Moa b e de Madian - executado po r orde m de De us, através de Mo isés - , o p rofeta convocou todo povo he bre u pa ra lhe dar se u último conselho , poi e m breve seria le vado deste mundo.

Anúncio da vinda do Messias D isse Mo isés: "O Se nho r te u De us te suscita rá um PROFETA, como eu , ela tua nação, e dentre te us irmãos, o uvi-lo-ás, como o pediste ao Senho r te u De us e m Ho re b [ou mo nte Sinai]. E o Senho r disse-me : Eu lhe suscitarei elo meio ele seus irmãos um p rofeta seme lhante a ti ; e po rei na sua boca as minhas palavras. Mas o qu e não quiser o uvir as p alavras que ele disse r e m meu no me , e u me vinga re i dele" (Deut. 18, 15 a 19). O Pe. Re né-François Rohrbache r (1789-1856) coment; : "Este profeta, como Moisés, .... é o Filho ele Homem, a quem Moisés e Elias prestarão homenagem no Tabo r, e de q uem o Eterno disse: Eis me u Filho b m-a mado, o uvi-O . E, po r não O te r que rido o uvir, os jude us são atingidos há dezoito séculos pe la vinga nça divina" (*) .

Confirmação pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo Discutindo com os jude us, em Je rusalém, Nosso Senho r disse-lhes: "Não julg ue is que sou e u que vos hei de acusar diante de me u Pai; Moisés, em que m vós confiais, é que vos

Moisés acrescento u: Maná - "E recordar-te-ás de todo o caminho po r o nde o Senho r te u De us te conduziu pe lo deserto durante quare nta anos, p ara te castigar, e para te provar, e para qu e tornasse ma nifesto o que estava de ntro de te u coração, se guardarás ou não os seus ma ndamentos. Afligiu-te com a fo me , e de u-te po r suste nto o maná, que tu desconhecias e te us pais, p ara te mo trar q ue o ho me m não vive só d pão mas de toda a palavra que sa i da boca de De us" (De ut. 8, 2-3). Vestes e calçados - O Senho r "vos condu ziu quare nta anos pelo deserto; os vossos vestidos não se romp era m, ne m os sa patos dos vossos p és se gastaram com a ve lhice" (De ut. 29, 5).

em seu 1ar noções básicas

ne m a pla nta do teu pé te rá desca nso, p o rqu e o Senhor te dará ali um coração medroso, e uns o lhos lâng uidos, e uma alma consumida de tristeza" (Deut. 28, 58 a 65). Não fazer aliança com os habitantes de Canaã, mas exterminálos Qu anto às nações que e ncontrardes "na te rra ele qu e vais to mar posse, tu as combaterás até ao exte rmínio. Não fa rás alia nça com e las, nem as tratarás com compaixão, ne m contrairás com ela s matrimô nios" (Deut. 7, 1 a 3). NOTA (*) Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de l'Eglise Catholique, Ga um e Freres, Pari s, 1842, tomo !, p. 492.

Ameaça da dispersão dos israelitas "Se não guardardes e não puseres em prática todas as p alavras desta le i, e não tem res o seu no me glo rioso te rrível, isto é , o Senho r te u De us, o Se nho r aum nta rá a tuas pragas e as pragas da tua descendê ncia. Alé m disso, o Senho r e nviará sobre ti , até te destruir, todas as e nfe rmidades e pragas, que não estão escritas no livro desta lei; e ficare is e m p eque no núme ro , vós que antes, p ela multidão, é reis como as estrelas do cé u, po rque não ouviste a voz do Senhor teu De us. "O Se nhor te dispe rsa rá e ntre todos os p ovos desde uma extre midade da terra até O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que a à o utra. Também não te rás profecia de Moisés sobre o Messias se referia à sua rep o uso e ntre estes povos, Sagrada Pessoa

São João de Deus, Fundador: o orante, o penitente, o caridoso

A

existência de São João de Deus transcorreu na primeira metade do século XVI, constituindo sua vida vigorosa refutação dos erros nefastos de Lutero, que se alastravam então pela Europa . O pseudo- reformador subversivo , além de pregar a inutilidade das boas obras, aconselhava claramente o pecado . - "Sê pecador e peca firmemente, mas com mais firmeza ainda vê e alegra -te em Cristo, vence a dor do pecado, da morte e do mundo . Durante a vida devemos pecar bastante. Basta que pela misericórdia de Deus conheçamos o cordeiro que tira os pecados do mundo. Dele não nos há de separar o pecado, ainda qu e, em um dia , cometêssemos mil pecados carnais e mil homicídios" (Dictionnaire de Théologie Catholique, Librairie Paris, 1926, verbete Lutero) . Ao contrário desse heresiarca e autêntico agente revolucionário , São João de Deus foi um filho diletíssimo da Igreja, Mãe e Mestra da verdade, inimiga irreconciliável do erro, do pecado e do mal , e fonte de todo o bem.

A procura da vocação Nascido a 8 de março de 1495, em Montemor-o- Novo, pequena aldeia portuguesa do distrito e arquidiocese de Évora, no Alentejo, entregou ele sua alma a Deus, nesse mesmo dia do ano de 1550, cercado de todas as honras do Clero e da nobreza de Granada, na Espanha . Foram 55 anos totalmente consagrados ao serviço divino, louvor de Maria Santíssima, bem como de incansável dedicação aos doentes e pobres. Desde a mais tenra idade sentiu enorme atração pelo sobrenatural. Aos oito anos de idade, ouvindo um sacerdote falar da magnificência do culto católico em Madri , ficou a tal ponto maravilhado

terníssima devoção a Nossa Senhora e rezava diariamente o santo Rosário. Para mais comodamente recusar a aliança matrimonial , alistou-se nas tropas do Imperador Carlos V, para combater os franceses. A frivolidade da vida de caserna pouco a pouco afastou-o da costumeira piedade e a Providência permitiu uma série de reveses que o fizeram cair em si . Renunciando às armas, voltou novamente ao antigo serviço, dedicandose com tal solicitude aos interesses de seu patrão, que este tornou a propor-lhe a mão da filha. Para fugir das insistências, João retomou o partido das armas, desta vez para lutar na guerra movida por Carlos V contra os turcos maometanos. Animava-o ardente zelo pela santa expedição contra os infiéis . Terminada a guerra, passou dias e noites em oração e exercícios de penitência para conhecer os desígnios de Deus a seu respeito , concluindo que devia se dedicar ao serviço dos infelizes. Trabalhou inicialmente na África, procurando consolar e auxiliar os escravos cristãos , regressando mais tarde à Espanha, a conselho de um confessor. Em Granada, teve oportunidade de ouvir o célebre pregador João de Ávila, cujo sermão impressionou-o profundamente. Passou a praticar tão ousadas São João de Deus - Quadro de Francisco de Zurbarán (1641-1658) , Museu Provincial, Sevilha penitências, que o tomavam por insensato. Mas o douto pregador, conhecido (Espanha) como Apóstoló da Andaluzia, distinque seus pais não conseguiram impedi-lo guiu em João um extraordinário amor à de seguir o missionário até a capital da penitência, aconselhando-o a dedicar-se Espanha . a um gênero de vida que resultasse em Mas este teve que tleixá-lo no Reino proveito para o público. Era o ano de de Castela. Aí trabalhou com tanta dedi1539, contando o santo 44 anos de idade. cação para o Conde de Dropesa, que o Vocação para obras capataz das terras quis dar-lhe sua filha em casamento. Mas o jovem João tinha caritativas o propósito de manter a castidade perAntes de empreender qualquer coisa, feita , e para atingir esse objetivo nutria colocou-se sob a proteção da Santíssima

CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995 -17


Virgem e fez uma peregrinação ao santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, na Estremadura. De regresso, alugou uma casa para '\ ' recolher os pobres e enfermos. Atendia a suas necessidades com llma atividade, uma vigilância e um zelo tais que maravilharam toda a cidade, que não tardou a secundar seus esforços . Foi assim que se deu a fundação da Ordem de Caridade dos Irmãos Hospitaleiros, no ano de 1540, a qual, por uma bênção visível do Céu, espalhou-se por toda a Cristandade. O Bispo de Tuy, presidente da Câmara Real de Granada, convidou-o um dia para jantar. Propôs-lhe diversas questões, às quais o santo respondeu com tanto acerto e precisão, que o Bispo concebeu a respeito dele a mais alta idéia. Perguntando-lhe o nome , respondeu que se chamava João. - " Vós vos chamareis doravante João de Deus", replicou o Bispo, e com este nome passou para a História. A caridade de São João de Deus não se restringia aos hospitais que fundou , mas era universal. Afligia-se ao saber que alguém estava na indigência. Mandou fazer um levantamento completo de todos os pobres da província para prover às suas necessidades . A uns fornecia recursos para viverem em suas casas, a outros procurava trabalho. Não havia meio que não empregasse para consolar e assistir os membros sofredores do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois de 10 anos de contínua assistência aos necessitados, altíssima contemplação e austera penitência, o Santo, atingido por grave enfermidade, faleceu assistido pelo Arcebispo de Granada. Foi sepultado com grande solenidade, participando dos funerais o Clero, a Corte e toda a nobreza. Deus glorificou seu fiel servidor através de muitos milagres. O Papa Urbano VIII beatificou-o no ano de 1630 e o Papa Alexandre VIII canonizou-o em 1690. Luís Carlos Azevedo

FONTE DE REFERÊNC IA Pe. Inácio Maria Magnin, Vida Popular de São João de Deus, Editora Tipografia Fonseca Ltda. , Porto, 1948, 4u edição.

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, 18 • CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995

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TFPs em ação

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Livro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: repercussão crescente em Portugal Antonio Carlos de Azeredo

Na qualidade de Presidente da TFP lusa, o autor destas linhas teve a honra de ler o admirável discurso que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira enviou para o colóquio. A peça oratória , cuja leitura despertou grande interesse, foi muito aplaudida pelo público presente. Aspecto parcial da assistência no salão imperial do Hotel Palácio do No coquetel que Estoril se seguiu à sessão, o

tema dominante nas conversas foi o livro analisado no Colóquio, o qual arejou e revitalizou as autênticas elites, explorando toda uma fundamentação doutrinária de sua missão na sociedade, segundo o ensinamento pontifício . A presença de cinco estudantes da célebre Universidade de Coimbra, com as respectivas capas negras e batinas, marcou muito o ambiente. Causou viva impressão em todos os participantes do Colóquio, a capacidade da TFP lusa de aglutinar jovens atuantes e capazes de efetivamente influírem nos rumos do futuro da Nação.

Especial para Catolicismo

LISBOA- A TFP lusa promoveu recentemente no Hotel Palácio do Estoril, a poucos quilômetros desta capital,

os Condes de Azambuja e de São Martinho . Em sua substanciosa exposição, o Conde de Proença Velha ressaltou a importância e atualidade da obra do Presidente da TFP brasileira , analisando-a, de forma brilhante, sob diversos ângulos. Ao finalizar, comentou que o livro o fez sentir a presença de Deus, tendo ele "como que uma respiração divina ". E acrescentou que a obra "responsabilizaMesa que presidiu os trabalhos, da esq. para adir.: Sr. Nelson Fragell i, Conde de Proença Velha, Duque de Maqueda, Conde de Cartaxo e o nos de tal maneira, advogado Dr. Augusto de Athayde. Na tribuna, o Sr. Anton io Carlos não só por aquilo que de Azeredo, Presidente da TFP lusa somos, mas por aquilo que devemos ser e um colóquio sobre o livro do ilustre fazer que eu arrisco a chamar-lhe o Presidente da TFP brasileira, "Nobreza Evangelho dos Nobres". e Elites Tradicionais análogas nas aloEm seguida , falou o Conde de Carcuções de Pio XII ao Patriciado e à taxo, acentuando que o autor conclama Nobreza romana" . os nobres a "participar ativamente com O referido hotel é um dos mais tratodos os seus talentos e valores próprios, dicionais do país . A sessão realizou-se tradições, experiências, contribuindo em seu amplo e majestoso salão impedesta forma para o bem comum". rial, reunindo mais de uma centena de A seguir, usou da palavra o jovem personalidades , muitas delas pertencen- advogado Augusto de Athayde, neto e tes tanto à nobreza de Portugal quanto à herdeiro dos Condes de Albuquerque. da Espanha. Desenvolveu dois temas abordados no Estiveram presentes o Duque de Malivro: 1) as elites tradicionais como gruqueda e a Condessa de San Isidro, da pos propulsores do verdadeiro progresso Espanha. De Portugal compareceram os e guardiãs da tradição; 2) a importância Marqueses de Valença e de Praia e das instituições aristocráticas nas demoMontfort, o Conde de Proença Velha, cracias modernas. que discorreu sobre a obra do insigne Em nome da TFP brasileira, discurpensador católico brasileiro, bem como sou o Sr. Nelson Fragelli.

Campanha contra plano de educação sexual na Colômbia BOGOTÁ - A Sociedade Colombiana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade saiu às ruas nas principais cidades do país, fazendo tremular seus conhecidos estandartes rubros com o leão rompante, trazendo ao debate público o Plano Nacional de Educação Sexual, já em fase de implantação pelo Governo junto aos estabelecimentos de ensino primário e médio. Os idealizadores desse plano consideram que a influência da Santa Igreja deve ser afastada dos educandos, desde a primeira infância, para que estes permaneçam alheios às normas morais que Ela ensina, bem como à tradição cristã, que em muitos lugares ainda subsiste.

Em conseqüência, as crianças são induzidas a considerar com indiferença os mais graves pecados contra a castidade. Com vistas a manter o público informado sobre esse assunto, até então restrito aos gabinetes, a TFP publicou um livreto, no qual faz acurada análise do Plano, demonstrando como suas inovações contrariam diametralmente os ensinamentos da moral católica tradicional sobre a sexualidade. Juntamente com a divulgação dessa obra, em contato direto com o público nas ruas, a TFP coletou assinaturas de apoio a um apelo dirigido ao Papa João Paulo li . Nesse documento solicita ao Pontífice que faça valer sua influência,

no sentido de suspender a aplicação do Plano Nacional de Educação Sexual, até que a opinião pública o conheça razoavelmente e possa assumir uma posição a respeito. Em apenas três semanas de campanha, foram coletadas 50 mil assinaturas, que serão enviadas, em microfilmes, à Santa Sé. A TFP enviou também uma mensagem a João Paulo II, por fax, informando-o sobre o caloroso apoio concedido pelo público à campanha, mediante o abaixo-assinado, e expressando a confiança dos subscritores em sua paternal acolhida como Pai comum da Cristandade.

Argentina: suspensa doação de terreno para construção de mesquita BUENOS AIRES - A Sociedade Argentina de Defesa da Tra dição, Família e Propriedade enviou mensagem de aplauso ao Conselho Deliberante do país, por sua posição contrária à doação

de um terreno à embaixada da Arábia Saudita, para a construção de uma mesquita nesta capital. A TFP argentina também promoveu nas últimas semanas ampla coleta de

Simpósio de propagandistas de "Catolicismo" em São Paulo Os sócios, cooperadores e correspondentes da TFP que se dedicam à divulgação de nossa revista - órgão porta-voz dessa entidade - em todo o Brasil, reuniram-se na capital paulista, num simpósio, com vistas ao aumento do número de assinantes. Já está em pleno funcionamento o sistema de renovação automática de assinaturas, através de banco ou cartão de crédito . Com o incremento desse processo, o Setor de Propulsão de Assinaturas espera que o crescimento do número de assinantes seja muito considerável.

Através de tal sistema, os propagandistas de Catolicismo podem se dedicar preponderantemente à obtenção de assinaturas novas, o que, por sua vez, permite o aumento da tiragem e o constante aperfeiçoamento editorial da revista. Na foto, o expositor, Cel. Carlos Antonio Espírito Hofmeister Poli, e parte do auditório.

assinaturas contrárias a tal doação , por ser a Arábia Saudita um país onde a Igreja é duramente perseguida e os convertidos ao Cristianismo condenados à pena de morte .


População mundial

Os mitos da explosão demográfica Milão - A recente Conferência In ternacional sobre População e Desenvolvimento- realizada no Ca iro - trouxe novamente à baila um velho fa ntasma, agitado de quando em vez pelos partidários radicais do contro le da natalidade: o suposto perigo de um a "explosão demográfica". Em meio aos debates que precederam a Confe rência do Cairo, fora m especialmente bem r.ecebidas nos ambi entes católicos da Itália duas importantes intervenções do jovem e promissor estudioso italiano, Dr. Lorenzo Cantoni. A primeira consistiu no livro O problema da popu-

lação mundial e as políticas demográfi cas. Aspectos éticos (Cristianità, Piacenza, 1994, 110 pp.). A segunda constituiu interessante artigo publicado no nQ232233 da revista Cristianità, sob o título O problema da população mundial e o "suicídio demográfico" europeu. Recordamos aqui que Cristianitá é o mensário de cultura católica publicado pe lo conhecido movimentoA lleanza Cattolica, ambos fund ados e dirigidos pelo pai do autor, Sr. Giovanni Cantoni. Demo nstra ndo ter realizado acurado trabalho de investigação, o jovem pesquisador da Università Cattolica dei Sacro Cuore de Mil ão desmo nta um a um , medi ante método claro de exposição, os já desgastados mitos da superpopulação mundial.

Manipulação de cifras falseadas

o rganismos italianos de pesquisa populacional não lhe concediam mais de 20 milhões. T al a mbi g üidade é matre iram e nte manipulada pelos partidá rios do co ntrole da natalidade. "As cifras são todas exageradas - diz o jornalista Fra ncesco Migliori -,feitas sob medida pelos lobbies" (Francesco Miglio ri , Demografia, i datifalsi, in "Avve nire", U -6-92).

Os antinatalistas jogam com cifras adulteradas para lançar previsões "apocalíticas" e incrementar o controle da natalidade.

O aspecto mais preocupante da s itu ação é que, longe de um sa udável crescimento demográfico, o u até mesmo um índice mínimo de reposição generacional, as popul ações dos países desenvolvidos estão de fato se encolhendo. Para simplesmente repor a popul ação de uma nação, é necessário uma média de 2,21 filhos por casa l. A médi a européia, contudo, é de apenas 1,57. Na Itália, é de

1,32. Em o utros termos, a Euro pa está morrendo, pois o que ocorre no Velho Mundo é um verdadeiro "suicídio demográfico" .

Como se pôde chegar a tal situação? Eis- nos no â mago do pro bl e ma.

Merece me nção igualmente a Nigéria, nação à qual o Population Reference Bureau (um dos organismos que difunde a psicose da superpopulação) atribui 122 milhões, quando, na realidade, esse país tem apenas 88 milhões, segundo o censo de 1991. No terreno das previsões, constatamos a mesmíssi ma manipulação. Com base em dados j á de si fa lsos, os lobbies do contro le da natalidade prevêem, no caso da Nigéria, uma popul ação de 622 milhões para o ano 2040. Esse cálculo, porém, press upõe que as mulheres nigerianas comecem a ter filhos aos 15 anos e continuem fé rteis até os 45 . Hipótese essa bastante im prováve l.

De início, o autor esclarece ser impossível saber quantos habitantes têm os países do Terceiro Mundo, os quais constituem 77% da população mundial. Dada a precariedade de sua infra-estrutura, muitos desses Estados mal conseguem calcular sua população, pois a margem de erro atinge o índice de 20-30%.

" Boa parte da opinião pública mundial - conclui o D r. Cantoni - tem sido manipulada no sentido de assimilar uma mentalidade antipopulacional, que explora mais o elemento emotivo do que o racional". Em abono de sua conclusão,

Assim, por exemplo, o Governo do Gabão indicava em 1970 uma população de 960.000 habitantes. Porém, o censo realizado pouco depois acusou um contingente populacional de apenas 517.000. A Etiópia, de sua parte, afirmava que sua população era de 50 milhões, se bem que

dos dos ecologistas e dos fu turólogos a resp eito da demografia, que muitas vezes exageram o perigo que o incremento demográfico significa para a qualidade da vida " (Encíclica Familiaris Consortio, nº 30).

20- CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995

Queda demográfica: problema moral

o autor cita João Paulo II, o qual previne contra "certo pânico derivado dos estu-

"Existe consenso em atribuir a queda demográfzca a uma profunda, geral, talvez irreversível mudança dos valores", observa o jesuíta Pe. Calderan Beltrão, citado por Lorenzo Canto ni. A solução, portanto - acrescentamos nós, aprofund ando o comentário aludido acima - só poderá advir de uma igualmente profunda e gera l conversão dos indiv íduos e das sociedades à doutrina e ao espírito da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Ou seja, a substitui ção da atual ordem de coisas hedon ista e libertária po r uma autêntica Civil ização Cristã, fundamenta lmente sacra! e antilibera l. Tal panora ma, porém, excede à temática que o Dr. Ca ntoni se propôs a tra tar em suas duas intervenções. Ele centra sua proposta na criação de "uma ordem so-

cio-econômica que favoreça a família", bem como na ajuda aos " países em desenvolvimento a crescer .... distribuindo os recursos de modo mais equitativo e promovendo um desenvolvimento integral". Sem d úv ida, as duas políticas acima sugeridas são louváveis. Entretanto, devem elas ser subsidiárias de uma solução de fundo cujo alcance é mais amplo. Júlio Loredo

Brasil Real Brasil Brasileiro Dia 25 de março de 1814, festa da Encarnação do Ve rbo .

O milagre eucarístico de Sousa ajoelharam em círculo em to rno de um ponto .

sinos e cânticos de alegria, recolheram o Divino Hóspede à sua Casa.

O Santo Sacrifício da Missa transAproximo u-se. Eis que percebe, Dizia e ainda hoje diz o povo de corria em sua tranq üila e solene pairando no ar sobre um capinzal, a Sousa, qu e naquele cortejo de adomajestade na igrejinha do Rosário, Hóstia com as ovelhas "montando ração a Jesus Eucarístico também na cidadezinha de Sousa, perdida guarda ao Cordeiro de Deus que tira iam as ovelhas e cord eiros acompano sertão do Rio Peixe, ,----:;:-=""""'-=- . : ; ; = - , . = ; . , - - - - - - - - - - - - ~ nhand o, até chegarem à na Paraíba, quando griIgreja da Senho ra dos Retos a ngustiados coitaram médios. E todas as vezes o silê ncio: que o sino tocava, o re baznho qu e estava pastando Sacrilégio ! Sacrilégio! no campo se e ncaminhava Em fração de minupara o p átio da Matriz. tos, a fe rvorosa populaEmbo ra os campos teção põe-se a correr atrás nham sido cercados, e os de um negro e norme q ue re banhos d iminuídos, este se p recipitou pa ra dentro sinal de Deus continua se de um matagal. manifesta ndo através dos home ns e també m dos aniEntre brados de indignação e lágrimas de dor, mais. a piedosa população coDep o is de tantos anos, mentava o ocorrido e peum vigário da paróquia, qu e dia clemê ncia ao Céu , escreve u um livro sobre o pressentindo que algum referido milagre, relata qu e castigo se abateria sobre foi teste munha ocular do sea região. guinte fato : um rebanho de ovelhas e corde iros subiram O fu gitivo era um feibalindo, rodearam e bafejatice iro q u e, te n do-se ram os escombros da velha confessado no dia anterior, aproximou-se da Sa- Ovelho pastor notou que suas ovelhas ajoelharam-se em círculo em torno Matriz do Bom Jesus, em grada Mesa para receber de uma hóstia, que pairava no ar sobre um capinzal fase de de molição. Ele comp leta afirmando que esse sio Corpo do Senhor. Tão os p ecados do mundo". Com pro- nal extraordinário ocorreu no dia 20 logo a Hóstia tocou em sua língua ele A retirou , esconde ndo-A nas do- p riedade de expressão e senso poé- de novembro de 1972, às 5 horas da bras de sua camisa. Pe rcebido o fato tico le mbra uma cronista (*) do fa to manhã, q uando se pre parava p ara por alguns fié is, o infeliz pegou a q ue Jesus Cristo p airava sobre aque- celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Partícula e saiu e m desabalada car- las serranias como o utrora sobre as Entre as lições que de tão belo re ira para praticar talvez mais um águas do mar da Galiléia . fato pode m-se tirar, destaca-se a de ten broso culto satânico. A Sagrada Pa rtícula resistira ao como a Providência Divina é pródi"Deus vai nos castigar!" gritavam calor, às intempé ries e se conserva- ga em premiar um p ovo cheio de fé. muitos, enquanto todos procuravam va de tal modo perfe ita e m sua Galardoado desde o início de sua punir o sacrílego. Mas o nde e ncon- alvura, que as mãos sacrílegas não Histó ria pela , pied ade e ucarística . trá-lo naqu le matagal? O povo per- A p uderam profanar. segu iu-o, mas com seu p asso rápi"Seu vigário, encontrei Noss'e- herdada de Portugal, quantos fatos, do, o negro fugiu para sempre. nhor! Mas como sei que só Vosmecê como os acima narrados, são abafapode pegar nEle, não trouxe a Hós- dos no Brasil p o r uma verdade ira E de Nosso S nhor Jesus Cristo o tia. Vamos depressa, os carneiros conjuração do silêncio? que foi fe ito? Perguntavam os fiéis, ficara m botando sentido!" Geraldo Martins ardendo e m zelo eu carístico. A resNessa singeleza de linguagem , posta não se fez ta rdar. q ue exp rime tan ta fé, o p iedoso BIBLIOGRAFIA 1. Padre Dagmar Nobre de Almeida, Um milag re, Dias depo is, nu ma ensolarada pastor relatou o ocorrido, e o VigáSousa, 1990. manhã, um velho pasto r tangia suas rio, à testa de todo o povo, recolhe u ovelhas e ntre juazeiro frondosos a Hóstia numa custódia de o uro. Sob 2. Julieta Pordeus Gadelha, Antes que ninguém conte, A União Editora, 1986. qu ando notou, curioso, q ue estas se o pálio de seda e e ntre o dobrar dos

CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995 • 21


História

a tomar parte no festim. Passavam a noite precedente, num simulacro de vigília, a dançar, cantar e beber. Logo ao alvorecer, várias mulheres conduziam a vítima amarrada pela cintura até a praça da execução, no centro da aldeia, em meio a grande alvoroço. Aparecia então, no pátio, o carrasco dançando com um enorme tacape nas mãos, e, aproximando-se do prisioneiro, o brandia com toda força, quebrando-lhe a cabeça. Mal o mísero massacrado caísse morto, velhas índias precipitavam-se sobre ele para recolher em uma cuia o sangue e os miolos que eram engolidos ainda quentes. Em seguida, o cadáver era assado como se fosse um porco e depois esquartejado, levando-se então os pedaços às cabanas em meio a gritos de alegria. Os selvagens acreditavam que, comendo a carne do inimigo, apropriavam-se de suas qualidades e manifes tavam sua superioridade sobre ele.

A cat~quese dos índios na História do Brasil

T

Nessas pobres alm as predominava o instinto de vingança. Iniciadas as rixas que eram transmitidas de pais para filhos, não se poderia esperar nenhum sentimento de ab negação em favor do interesse com um e tampouco da posteridade. Ao contrário de certas visões idílicas que alguns autores indigenistas procuram dar à vida tribal, ela se caracteriza pela mais completa promiscuidade, causadora de todas as espécies de doenças e vícios morais. Vários cronistas da época relatam que os índios, antes da conversão, mo• • I • ravam em casas compridas - as ocas - cuja superfície era de trezentos ou os silvícolas a se mudarem de local. quatrocentos palmos por cinqüenta de Além de predadores da natureza, noslargura; suas paredes eram de palha e o sos índios, com seus costumes nômateto recoberto de folhas de palmeiras. des, jamais conheceram qualquer tipo Dentro delas viviam esparramados inde desenvolvimento. distintamente cerca de cem a duzentos Os laços sociais que os uniam eram selvícolas. Entrando na oca, via-se a de tal maneira frouxos que essas pequetodos e tudo quanto nela se encontrava. nas tribos se fracio navam cada dia Uns cantavam, outros riam, outros chomais. As constantes guerras de exterravam, alguns preparavam farinha, oumínio entre elas constituíam motivo tros o cau im etc. Havia pequenos fogos para que se debilitassem e dimi nuíssem por todos os lados dando um a aparênem número. cia de labirinto ou de um pequeno inr--=:-:--=------------------------- ferno.

ranscorria o ano de 1556. Dom Pero Fernandes Sard inha nosso primeiro bispo- tomava a nau Nossa Senhora da Ajuda, acompanhado de eclesiásticos, pessoas da sociedade e famílias inteiras rumo a Portugal. Um acidente fatal a fez soçobrar pouco depois de zarpar de Salvador. Os que escaparam ao naufrágio e foram muitos - acabaram capturados e devorados pelos ferozes índios caetés, na margem esquerda do rio São Miguel, ainda hoje indicada graças à crença popular. Eis um acontecimento característico do estado dos índios brasileiros por ocasião da chegada dos nossos primeiros colonizadores e missionários. Para darmos uma idéia da mudança ocasionada pelo influxo do Cristianismo e da civi lização, apresentaremos, neste primeiro artigo de uma série de três, um quadro geral da situação em que se encontravam os aborígenes na época do descobrimento do Brasil.

Nomadismo e promiscuidade

não os cobriam e toda a caça da redondeza estava exterminada. Se alguma tribo se dedicava precariamen te à agricu ltura, as terras cultiváveis estavam cansadas, o que obrigava

Eles eram antropófagos e sem Fé, sem lei e sem rei, antes da chegada dos m1ss1onar1os

Talvez a maior descoberta dos portugueses ao desembarcarem em nossas terras tenha sido os próprios índios, um tipo humano ainda não conhecido pelos lusos em nenhuma parte do mundo. A única ciência dos índígenas era a floresta. O objetivo de suas vidas era comer, beber, caçar, combater e matar... As aldeias que construíam - as tabas duravam no máximo quatro anos: as madeiras apodreciam, as palmas Morte de Dom Pero Fernandes Sardinha e sobreviventes da nau Nossa Senhora dos tetos de sua ocas já da Ajuda, que foram devorados pelos índ ios caetés (gravura de A.F. Lemaitre)

22- CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995

Essas tabas eram escuras, mal-cheirosas e esfumaçadas. À guisa de camas, os infelizes nativos usavam uma espécie de rede que exalava um odor horripilante , pois eles eram tão preguiçosos que nem se levantavam para satisfazer suas necessidades naturais.

indios canibais Eram seres humanos inteiramente rudimentares, ferozes, astutos, mentirosos e traiçoeiros. E, além do mais, eram canibais.

Antropofagia doméstica

Mem de Sá, o terceiro Governador-Geral, concedeu todo o apoio aos primeiros missionários jesuítas e favoreceu a fundação de aldeamentos dos silvícolas As cerimônias de matanças públicas serviam de pretexto para festas e ajuntamentos. Daí a denominação de "antropofagia ritual" que lhes deram. Os aborígenes comiam seus inimigos por vingança. Suas expedições guerreiras tinham também como fim proverem-se de carne humana. Durante os combates, os índios visavam sobretudo à captura de prisioneiros. Após uma luta preliminar, os guerreiros de ambos os lados precipitavam-se uns contra os outros, esforçando-se para desarmar o adversário e aprisioná-lo vivo. Os mortos e feridos no campo de batalha eram dizimados e devorados imediatamente, levando-se também diversas partes assadas para casa. A expedição vitoriosa fazia uma entrada triunfal em todas as tabas aliadas, ao longo do caminho. Ao chegar à aldeia de origem, a tropas obrigavam o prisioneiro a gritar: eu, vossa comida, cheguei! Nenhum deles podia escapar ao sacrifício ritual para o qual era destinado. Caso adoecesse, os indígenas levavamno mata adentro e partiam-lhe o crânio, deixando o cadáver insepulto. A duração do cativeiro variava muito, pois os

velhos eram mortos sempre no retorno da expedição, enquanto os jovens poderiam manter-se cativos por vários meses, até anos. Marcada a data da execução, todos os vizinhos e aliados eram convidados

Algumas tribos comiam por culto membros de sua fa mília que faleciam, dando-lhes, como pensavam, um digno sepultamento em seus próprios estômagos. Nas tribos que praticavam a antropofagia era freqüente encontrar esse canibalismo doméstico, mágico ou participativo. Ele procede da crença de que, pela ingestão das carnes de um indivíduo, dá-se a mais íntima união

Taba ou aldeia indígena encontrada pelos primeiros colonizadores e missionários (gravura de A. F. Lemaitre, Paris)


Brasil contaria com Geral do Brasil, Mem de Sá (15581572), concedeu todo apoio moral e cerca de cinco milhões de índios. O grande material aos primeiros missionários jemérito de Portugal foi suítas, comandados pelo padre Manoel transformar a cateque- da Nóbrega. Sob a influência da milícia de Santo se na base de sua obra colonizadora. "Contu- Inácio, os Governadores-Gerais deram do, o melhor que dela a tais aldeamentos regalias quase muse pode tirar parece-me nicipais. Com efeito, tinham eles uma que será salvar esta legislação especial que regulamentava gente. E esta deve ser a os bens dos índios, sua separação em principal semente que relação aos portugueses, o comércio Vossa Alteza em ela entre eles e o regime de trabalho, baseadeve lançar", escreveu do nas instituições portuguesas. Começou desse modo a grande obra Pero Vaz de Caminha a el-Rei de Portugal, de catequese junto aos silvícolas brasiiL-LAldeamento criado para catequizar e civi lizar os índios: origem de Dom Manuel, narrando leiros, cujo desenrolar trataremos no vários povoados, vilas e cidades de nosso País (cópia adaptada do a descoberta da Terra próximo artigo. desenho original de Alberto Eckoult, pintor holandês) de Vera Cruz. Carlos Sodré Lanna Os maiores entrapossível com ele, e por conseguinte, a ves para sua conversão foram: a antroparticipação em suas qualidades: corapofagia, a poligamia, as bebedeiras, o BJBLIOGRAFTA gem, vigor, destreza etc. Daí os banJ. Padre Serafim Leite, História da Companhia de nomadismo intermitente, as guerras Jesus no Brasil, Livraria Portugalia, Lisboa, quetes sagrados em que eram comidos, entre tribos vizinhas e a inconstância 1938. em festividades solenes, os personanos propósitos. 2. Francisco Adolfo de Varnhagen, História Geral gens tidos como superiores: o cacique, do Brasil, Edições Melhoramentos, São Paulo, Se os missionários se contentassem o pajé, os guerreiros ou heróis, freqüen1959. tão-só em percorrer as aldeias dos nati3. Alfred Metraux, A religião dos tupinambás, Cia. temente pessoas da própria tribo. vos, além de todos os tipos de riscos Editora Nacional, São Pau lo, 1979. Assim, a fim de se revestirem das .que enfrentariam, o resultado seria pre- 4. Alcionilio Bruzzi Alves da Silva, A Civilização qualidades desejadas de seus antepasIndígena do Uaupés, Libreria Ateneo Salesiano, cário. O que eles ensinassem em um sados, surgiu em várias tribos o costuRoma, 1977. mês, por falta de exemplo ou de exerme de ingerir-lhes, em rituais fúnebres, cício, perderiam no outro. Com o as cinzas com bebidas especiais. nomadismo intermitente dos ínUm mês após o funeral do familiar, dios, ao voltarem os missionários desenterravam seu cadáver, já em a uma tribo que haviam catequizaadiantadíssimo estado de putrefação, e do pouco antes, em vez dela eno colocavam em uma grande panela contrariam cinzas. sobre o fogo, até que lhe extinguissem Era necessário o mais depressa as partes moles. Os odores fétidos exapossível fixar os indígenas ao solo, lados durante o ato completavam aqueafastando os já batizados da inle ritual macabro. Quando os ossos fifluência dos que permaneciam pacavam carbonizados, eram triturados e gãos. De outra maneira, não sereduzidos a pó. Este, por sua vez, era riam extirpadas as indecisões nem colocado em grandes cuias de madeira a volta aos costumes antigos. cheias de bebidas. Todo o grupo preA catequese dos índios seria sente bebia então esta mistura até a última gota, crendo que as virtudes do uma quimera enquanto não se ormorto haviam se transmitido a todas as ganizassem os aldeamentos, com regime próprio e autoridade. As pessoas que a ingeriam. primeira tentativas de formação Fundação dos das aldeias indígenas ocorreram aldeamentos na Bahia. Elas foram a modalidade mais eficaz e original de colonizaFoi esse o sinistro panorama enconção aplicada no Brasil, primeira trado pelos primeiros missionários que para cá vieram, com a intenção de ini- semente das célebres reduções jeciar a catequese desses silvícolas e im- suítas. Para ser eficaz e completa, a plantar a Civilização Cristã em nossa atividade dos missionários preci- Cunham bebe, famoso cacique canibal, que se vang lopátria. Segundo estimativas geralmente sava ser apoiada pelas autoridades riava de ter devorado grande quantidade de inimigos aceitas, na época do Descobrimento, o públicas. O terceiro Governador- (desenho extraído da obra "Cosmographie Universel-

~ --.

le", de Thévet)

24 • CATOLICISMO, FEVEREIRO 1995

Os covardes não entrarão no reino dos Céus O reino dos Céus admite violência; só os violentos o arrebatam .... Oh! quão violento é esse combate: e é preciso sempre recomeçar. A vitória da véspera não garante a do dia seguinte. Hoje, vencedor, amanhã, vencido. Basta qualquer descanso para preparar a derrota: só saem vitoriosos dessa guerra aqueles que jamais cessam de lutar. · É preciso escalar o Céu, tomá-lo de assalto .... O fundo de nossa natureza é a covardia; todos os vícios nada mais são que covardia ( "La Divine Eucharistíe': Desclée de Brouwer, Paris, 1926, 16l! ed., pp. 293 e 295).

SÃO PEDRO JULIÃO EYMARD

ESCREVEM OS LEITORES

Relatório Extra "Grandezas e misérias marcam Medicina no Brasil" (CATOIJCISMO nQ 527, novembro/94) O relatório singulariza bem a questão e demonstra de forma clara e insofismável que a saúde pública, no nosso País, vai de mal a pior, desde que se deixaram levar, nossos legisladores constituintes, pelos belos olhos e cânticos esquerdistas, da estatização, com escamoteação da rede particular dos hospitais conveniados. Ao Estado deve caber apenas e tão-somente o papel fiscalizador e nunca intervencionista ou paternalista.

Geraldo Esteves dos Reis - Juiz de Fora - MG A principal falha é exatamente a excessiva centralização administrativa, principalmente depois da Constituição de 1988, que ignorou a ordem natural das coisas, esquecendo-se do princípio gerencial que diz "um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar". A estatização da Medicina foi um erro grosseiro e irresponsável da esquerda constituinte de 8&

Baltazar de Souza Li ma - Porto Franco - MA CATOLICISMO conseguiu o seu objetivo. Inforn1ou e conscientizou seus leitores sobre este grave problema que nos

atinge, mostrando possíveis soluções, as quais devem ser objeto de estudo pelas autoridades competentes. Lázaro Tadeu Bonfim - Passos - MG

Vandéia Li comprazido a revista CATOLICISMO do mês de dezembro último, em casa de um colega meu, em Montes Claros. Desejo receber a estampa de Santa Teresinhacomo, igualmente, gostaria muito de obter informações detalhadas sobre os heróis da Vandéia: La Rochejacquelin, Charrette Cathelineu que são mencionados na revista.

Denis Keus Fernandes Cruz - Jafba - MG Sabedoria e Fé Profundan1ente emocionado, desejo retribuir centuplicadamente os votos a mim formulados, almejando que conti-


nuem nessa brilhante trajetória de informar com sabedoria e fé através da importante revista CATOLICISMO.

Alexandre Menico - Brusque -

se

Substanciosos artigos

Catolicismo Preços durante o mês de Fevereiro de

Solicito por gentile'za o envio de um exemplar da estampa alusiva a Santa Teresinha de Lisieux, bem como os exemplares dessa célebre revista de número 197 (maio de 67) e 295 (julho de 75), relativas às aparições da Virgem Santíssima em Fátima. Sou assinante dessa magnífica revista e realizo trabalhos pastorais junto à Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento, da Catedral de Campinas, da qual sou vice-provedor, servindo-me imensamente para tais labores dos ricos e substanciosos artigos de CATOLICISMO.

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Paganismo hindu... e peste bubônica Na foto ao lado, catadorde ratos, em Bombain, acrescenta mais um deles à quota diária de roedores que conseguiu capturar. Mas qual a razão dessa campanha persecutória contra os repelentes animais? Recentemente, naquela cidade, em Surat e outras focalidades indianas, alastrou se uma epidem ia de peste bu bônica, terrível moléstia que se julgava definitivamente debelada. Na Índia, são considerados entes sagrados não apenas as vacas, que perambulam tranqüilamente pelas ruas da grandes cidades, perturbando O· trânsito. Em certas regiões do país, também são venerados os ratos, sendo cultuados até em templos e alimentad?s, às centenas, por fiéis devotos. A conaturalidade homem-rato na referida nação asiática, oriunda de absurda crença pagã, eis a

explicação última da recente epidemia. Enquanto em todo o resto do mundo a terrível doença praticamente tornou-se trágica recordação de épocas passadas - quando ainda não se descobrira que as pul gas dos roedores são as transmissoras da moléstia - , agora, ren asce ela, como fantasma ameaçador, na Índia contemporânea!

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No último dia 3 de dezembro, comemorou-sé solenemente em Goa, cidade fundada pelos portugueses na Índia, a festa de São Francisco Xavier, cujo corpo incorrputo foi carregado em procissão pelas ruas daquela localidade. Esse grande mi ss ionário jesuíta pregou o Evangelho no referido país, há mais de quatro séculos, lançando nas almas dos indianos a boa semente do Catolicismo. Que esta germine e deite raízes em toda a população, livrando-a quanto antes das trevas do paganismo e de suas práticas irracionais.


Brinquedo de outrora!

Á primeira vista, não será fácil ao leitor discernir o tema de nossa contracapa. A planta interna de uma casa? Não. Trata-se de um brinquedo de 356 anos atrás, oferecido pelo comerciante Stromer, deNuremberg, a seus filhos! Uma original casa de boneca: o corte transversal da própria residência dos Stromer, com todos os seus móveis e utensílios, confeccionado em 1639, e que se conserva no Museu Nacional Gennânico daquela cidade. A moradia dessa familia é uma típica casa burguesa alemã, de dois andares, da primeira metade do século XVII. Com mais de mil peças, ela dá uma idéia exata do teor de vida, na mencionada época, das famílias burguesas daquela região da Alemanha.

Eis uma descrição esquemática da original e pitoresca casa de boneca: Embaixo, no porão: cavalariça, adega, rouparia e lavanderia. No andar térreo: acomodações da criadagem e a despensa No primeiro andar: quarto de dormir, cozinha - onde brilham pratos de zinco e panelas de cobre -, caixa da escada que dá acesso ao andar superior. No segundo andar: quarto de dormir dos patrões - com quadros a óleo na parede, como, aliás, também nos demais quartos -, antecâmara e living ou sala de estar. As crianças da família Stromer brincavam assim. E as de hoje? ...



CATOLICISMO 44 anos de luta, na fidelidade doutrinária

Discernindo, distinguindo, classificando ...

Satarlismo requinta-se no Rock No palco: ritos satânicos; Jagger contracena com uma figura metade múlher, metade demônio; Rita Lee aparece blasfemamente com manto e coroa de Nossa Senhora Aparecida e em seguida entra uma mulher nua no palco. Um jornalista comenta: demônios estavam soltos no estádio. Tudo com apoio oficial e grande propaganda da niídia

O

ca ráte r satânico elo rock tem sido denunciado com certa freqü ê ncia po r estudiosos dos mais variados. Discos qu e, tocados e m se ntid o inverso, apresentam odes ao demônio, sons infernais acima ela ca pacidade auditiva humana, gestos não só obscenos ma s horrivelmente grosseiros, danças co nvulsivas, amb iente opressivo, delírios mórbidos. Numa apresentação de rock fica inteiramente exch.iído qualquer laivo de virtude, de delicadeza, de pureza, de ordem, mesmo de compostura e bom senso. Prevalece absolutamente a exaltação das paixões mais animalescas, mas de um modo tão carregado como não existe nem mesmo entre os próprios animais. Esse caráter sub-humano do rock evidencia bem a presença de uma depravação de es pírito que está abaixo das possibilidades humanas. Mesmo quando a natureza que nos foi legada por Adão desce às suas piores manifestações, ela não chega tão baixo como no rock. É preciso como que um auxílio e pec ial , vindo das profundezas do in ferno, para rolar até esse estágio. Fo i para tai s manifestações que a mídia brasileira convidou insistentemente os jovens (e não jovens) quando anunciou de todos os modos as apresentações, em São Paulo e Rio, do conjunto Rolling Stones, em janeiro e fevereiro últimos. E dedicou-se depois a fazer uma propaganda maciça delas. Como acontece em todos os processos de decadência, a regra é pi orar cada vez mai s. Assim os Stones - ou os qu e os diri gem - parecem ter requintado

seu satani smo, ainda mai s cio que os Beatles. Mick Jagger, chefe cios Stones, declarou: "os Beatles eram tão cínicos

com.o nós, mas foram preparados para aparecer arrumadinh os .... nós f omos f eitos para ser a versão perversa de les". No Pacacmbu , cm São Paulo, ao apresentar a mú ica Sympathy for the Devi.! (S impatia para co m o demônio) , de repente, lu zes vermelhas foram projetadas sobre o pal co e a platéia, e uma séri e ele bonecos infláveis começaram a surgir cio nada, com aparências diversas: um padre, um lobo, um E lvi s Presley etc. Tratava-se de "um verdadeiro ritual satânico, marcado pelo pulso hipnótico do ritmo", comentou um jornal. O que faz dentro di sso a figura ele um padre, senão acentuar a blasfêmia? Num outro número, o chefe da banda, Mick Jagger, contracenava com uma figura que aparecia num telão, metade mulher, metade di abo ! Cenas cleclaradamcntc pornográ fi cas não faltaram , por exemplo quando

uma cl '1s vocalistas "f ez gestos sexuais para o pianis1a ", o qual passou a tomar com ela atitudes abertamente indecentes. Jagger também apresentou , com a vocalista Lisa Fischer "um.a i sensual co reografia no palco" i Como introdução aos Sto: nes e seguindo a mesma trilha ~ deles, conjuntos nacionais se a. . i\l· apresentaram tamb é"'m. Assun, ~ acentuando a nota ele blasfê! mia, a cantora Rita Lee apareê ceu no palco envo lta num man§" to azul e portando coroa semelhantes aos ela im agem ele Nossa Senhora Aparecida. E logo clcp is, co mo parte do mes mo show, fez eles ri lar no palco uma mode lo inteiramente nua. Essa co natural idade co m a p rnogra fi a e, pior ainda, com a blasfêmia e o satanis mo, foi oficialmente promovida e abertamente propagandeada cm São Paulo e no Rio como se m " divertimento" para ajuventudc. Tal é o mundo cm que vivemos. Não se tenham ilu sões a respe ito! Além disso, no público, houve numerosas bri gas , nari zes sangrando, porte de drogas, bebedeira, incidentes de todo tipo que causa ram gra nde movimento nos postos policiais e ele saúde. E isso é " divertimento" .. . Um jornali sta comenta: " quem vai ver os Rolling Stones invoca uma certa simpatia pelo diabo, sempre ". O que é que tudo isso prepara? Co nvém pensar a respeito ... Uma nota curiosa. omo se uma maldi ção aco mpanhasse o rock, a chu va - co m rai os foi tão .ibundante qu e prejudicou scr iamcnt · as aprcsenlaçõ •s, d:inil'i ·ou i11 stru111L'lltos, além d • diminuir ·011 si dL'l'II VL' l111•nte o número • o rr ·11 es i do p1íhli ·o presente. O Paca ·mbu virou u111:i la •0:1.

N2 531 Março 1995

Assestando o Foco steja psicologicamente preparado, leitor, para mais uma triste eventualidade: a da aprovação pelo Poder Legislativo de um Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lamentavelmente de cunho fortemente intervencionista.

E

Trata-se de uma componente a mais de todo um torvelinho de leis e decretos que assola a Nação, por vezes conduzidos com superficialidade, na surdina e a "toque de caixa" : E, desta feita, inte1ferindo a fundo na vida particular dos cidadãos, das famílias e da sociedade em geral. E tudo como resultado da acentuada influência de conceitos socialistas surrados e ultrapassados, que têm condu-

zido ao mingüamento, à derrocada e à desdita tantas nações. Ninguém ignora que a Educação nacional e a instituição da famfüa passam nos dias de hoje por múltiplas e graves crises. Entretanto, todo mundo sabe que a intervenção nesses domínios de um Estado sem entranhas e hipertrofiado, o qual tem se manifestado sempre mais incapaz de responder pelas atribuições que lhe compete, redundará forçosamente no agravamento daquelas mesmas crises.

É o que explana, dentre muitas outras comsiderações, a Comissão ele Estudos Pedagógicos da TFP, na Mensagem de alerta que dirigiu aos Senhores Senadores a respeito dos aspectos mal sãos do Projeto de Lei de Diretrizes e

Índice

Bases da Educação Nacional. O leitor encontrará na presente edição de Catolicismo excertos da referida Mensagem. Desde 1989, a Comissão de Estudos Pedagógicos da TFP tem dado seu contributo positivo nesse debate, publicando análises críticas de vários Projetos que apresentavam falhas análogas às encontradas no Projeto ora em discussão no Senado Federal. Enfim, um tema que interessará vivamente àqueles que, dispondo de pouco tempo e não tendo estudos especializados, se preocupam com os rumos das futuras gerações,da familia, da liberdade individual e da iniciativa privada, e m nossa Nação.

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda.

Discernindo Satanismo requ inta-se no rock

2

A realidade concisamente Ontem ang licanos, hoje católicos

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Jornalista Responsável:

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Mariza Mazzilli Costa do Lago - Registrada na DRT-SP sob o Nº 23228

Destaque Recomeçaram as crucifixões

Educação A Educação Nacional em xeque

6

Medicina Uma curiosa medida sanitária: combater o preconceito contra o antinatural

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Caderno Especial Nossa Senhora de Longpont (França)

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TFPsemação Estandartes rubros abrem marcha Pro Life

Diretor:

Paulo Corrêa de Brito Filho

17

Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP - Tel: (011) 824-9411 Fotolitos:

Microformas Fotolitos Ltda. Rua Javaés, 681 - 01130010

São Paulo - SP

Comemoração religiosa XV Exposição Solene das relíquias de São Francisco Xavier

,Impressão:

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Hagiografia Venerável Maria Clotilde de Bourbon, Rainha da Sardenha

22 A correspondência relativa

Escrevem os leitores Relató rio Extra "Grandezas e misérias marcam Medicina no Brasi l"

à assinatura e venda avulsa

25

Em painel

27

Frases e imagens Nossa capa: Creche municipa l de São Paulo gem/Wilson Melo

Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. Rua Javaés, 681 - 01130. 01 O São Paulo - SP

Folha Ima-

pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Martim Francisco, 665 - CEP 01 226-001 - São Paulo - SP - Tel.: (011) 824-9411 ISSN - 0008-8528


Ontem anglicanos, hoje católicos • Em Arlington, cidade texana perto de Dallas, nos Estados Unidos, uma paróquia inteira da igreja Episcopal conve1teu-se ao Catolicismo. A nova paróquia católica chamar-se-á Santa Maria, a Virge m. Como se recorda, em 1979, ho uve a "consagração" episcopal de uma mulhe r. A partir de então, cresce nte número de episcopalianos (como são conhecidos os Anglicanos nos Estados Unidos) têm abandonado essa igreja protestante. Muitos pediram admi são na Igreja Católica não só naquel país, mas também no Canadá, na Inglat rra, Austrália e Nova Zelândia.

Na Etiópia, um passado de horrores Em 1991, ca iu o regime marxista cio coronel Megistu . Pouco a pouco começa a ser revelado o passado ele horrores que assolou a Etiópia desde a implantação cio regime comunista em 1974. Entre 1976 e 1978, cem mil suspei- · tos de atividades "contra-re volucionárias" foram presos, torturados e assassinados impiedosa me nte. Além disso, entre 1984 e 1985, mais de um milhão de etíopes morreram de fome em conseqüência ela política de despovoar áreas rurais in-

Adis-Abeba, junho de 1991: parte do farto arsenal de annas apreendidas na derrubada do regime marxista do ce1. Megistu.

teiras que haviam se insurgido contra a brutalidade do governo vermelho ele Adis-Abeba. O recente exe mplo da Etiópia .vem, mais uma vez, desmentir a grosseira mentira de que o Partido Comunista é amigo e protetor da classe operária e dos pobres!

Privatizações no Brasil: passo de tartaruga? Seminário há pouco realizado no Rio de Janeiro, promovido pela Bolsa

de Valores ca rioca, concluiu que o atual Governo não está se ndo cla ro e m suas posições a respe ito ela lentidão com que, nas primeiras semanas a nova administração em Brasília ve m tratando o processo de privatizações do País. O ministro do Planejamento José Serra recebe u as conclusões do Seminá rio que deseja que o progra ma de privatizações seja acelerado, a fim de reduzir o calamitoso déficit público federal.

A ••igreja do Silêncio" na China comunista Não se sabe bem por que a1ti- por ceita imprensa a situação do "Associação Patriótica de Católicos fício certo tipo de mídia persiste, de católicos chineses. Chineses~', cismática, pois seus (poumodo contumaz, em encobrir a perO regime de Pequim criou e co ) bispos e clero não reconhecem seguição ,re_!igiosa empreendida na tem mantido uma assim denominada a Santa Sé. China vermelha. Não obstante essa deO país costuma ser plorável situação, existe subapresentado como paradigterraneamente um clero fiel a ma de crescimento econôRoma que vive em regime de mico e de boas oportunidacatacumba como ao tempo elas des para grandes negócios perseguições dos Césares. das mpresas ocidentais. Recentemente, 71 semiProdutos Made in naristas submissos ao Papa foChina podem ser encontraram ordenados s·icerdolcs em dos, cm geral a preços irricerimônias secretas nas prosórios, mas cuja qualidade e víncias de Fujian, l lcbci e Jieidurabilidade deixam muito longjiang. a desejar. Os l'Sludantcs caLólicos Não se fala do trabarccdwm .Is l'Scondidas a ulas lho escravo que chineses dt· Filosofia t' Teologia, após encarcerados realizam sob :'1rduas jornadas de Lrabalho No mapa de China em destaque as três provlnciee onde foram realizada, as ordenações clandestinas condições de vida sub-hudurantt' o dia , como operários mana. Também é silenciado t'lll f.íhriras l'Sllllais. _ _ _ _ _ _...J

Vodka como Bússola? Yeltsin não esconde mais que abusa de vodka, ao se apresentar com voz pastosa e com dificuldade para ca minhar, diante el e 300 jornalistas russos e estrangeiros qu e assistiram rece nte reunião de cúpula ela Comunidade ele Estados Inde pende ntes (CEI), realizada em Alma-Ata , capital cio Casaquistão. A be bedeira elo manclatario cio Kremlin , alé m do vexame tem causado apreensão e m diplomatas e gove rnos ocide ntais que até agora vinham dando franco apoio ao pres ide nte ela Fede ração Russa. Combustão humana espontânea Pelo fenômeno CHE (Combustão Huma na Es po ntânea), pessoas ince ndeiam-se como palitos ele fósforos. Je nny Ranclles e Pete r Hough em seu livro Combustão humana espontânea:

estudo definitivo com f otos, compilam 111 casos registrados até agora. E Lany Arno ld, especia lista norte-america no e m CHE, declarou que os casos arquivados em seu computador já somam mais de 300 ... O e nigmático fenômeno em geral ocorre da seguinte forma: a pessoa , sem nenhum motivo natural, se incendeia numa estranha chama azul , que redu z o corpo a cinzas . O "Jornal elo Brasil", noticiando este assunto, acrescenta uma frase muito significativa: "Com o milênio chegando ao fim, isto tudo pode piorar consideravelmente , como um sinal cios te mpos"... Incra apavora proprietários rurais Setenta e cinco por ce nto el as pequenas, médias e gra ndes propriedades rurais ele Umuarama (PR) estão sendo conside radas improdutivas pelo INCRA. Desta forma, esses imóve is po-

clem vir a ser desapropriados, o que está causando verdadeiro pânico entre os proprietários. Razão tinha a TFP quando em 1992 rea lizou urna grande campanha na cional contra projeto de Reforma Agraria (já transformado e m lei sob número 8629/93) alertando que aquele projeto pe rmitia ao INCRA considerar como" improdutivos" qualquer propri edade rural. Queijos e bananas Dois anos de pois ela tentativa de proibir a vencia cios queijos Camembert e Roquefort por excesso ele bacté rias , os burocratas ela União Europeia cometeram novo disparate. Decretaram qu e desde 1995, somente serão comercializadas nos pa ises membros as bananas que tiveram no mínimo 14 cm. ele comprimento por 2,7 cm. ele diâmetro. Entretanto isso não se aplica às bananas vereies mas às maduras ...

DBSTAG!l_'iJ

Reco01eçara01 as crucifixões Com a disseminação de um estado dão, recentemente convertidos à Igreja Cruz. Morreram como seu Mestre Jesus, ele espírito falsamente otimista e prazenCatólica, viviam entre maometanos na no mais humilhante e doloroso sofrireiro dentro ela Igreja Católica, levado a aldeia de Nafi ". menta. Além destes, muitos outros criscabo pelo "progressismo", a luta pela "No dia 14 dejulho de 1994foram tãos têm sido p erseguidos e assassinaverclacle e pelo bem foi tida como incô- presos. Em castigo de terem deixado a dos ". moela e acabou sendo posta de lado em sua religião, receberam 80 vergastadas, Informa o Tbe Washington Times, 6 muitos círc ulos católicos. Com ~ - - - - - - - - - - - - - - ~ - - - - - - - ele dezembro ele 1994: "UmBisisso, o ca mpo sagrado da Igreja p o Católico do Sul do Sudão fi cou preparado para que nele se disse que quatro cristãos árabes plantasse um certo tipo de ecumeforam açoitados e cruc[ficados nismo, pronto a todas as concespelas f orças de segurança, ·por sões para não ter que defender a se recusarem à se perverter ao Fé. ~~~~--·~·~ Islã". O otimismo chegou a um tal "Em julho e agosto passados, ponto ele radicalidade, em certos quatro catequistas na Arábiafoespíritos, que muitos acred itara m ram açoitados e depois crucifi-caextinto o ód io cio Infe rno contra a r~llar'ti ~l dosporserecusaremaperverter-se Religiao Católica . A era elas perseaoislã, umafequeabandonaram guições religiosas clir-se-ia ultrahá 20 anos, disse o Bispo Mazzopassacla. lari na entrevista ". Os fatos vêm desmentindo cio*** Nossos irmãos na fé estão lorosa me nte essas vãs esperanças. sendo crucificados. E nós, conA persegu ição brutal que se faz contra os cristãos em países mu- Após serem açoitados, quatro-catequistas na Arábia saudita tinuaremos a nos abanar, sem foram crucificados por se recusarem a perverter-se à religião sequer pensar neles? Sem levançulmanos já tem sido noticiada muçulmana tar ao Céu uma prece pela perdiversas vezes por nossa revista . severa nça deles na fé? Sem ao Agora, o ód io mostra toda sua como manda a lei mulçumana. Na menos externar, ele todas as formas qu e virulência: recomeça ram as crucifixões prisão foram espancados, maltratados e nos for possível, e em todos os ambienele ca tólico . ameaçados de que, se não renegavam tes que freqü entamos, nosso protesto Informa a revista Mensagem de Fátia Cristo, seriam condenados à morte. veemente por tão feroz e diabólica perma, setembro/ 94: "Abdulabi Yosif e Mu"Assim aconteceu no passado dia J O seguição? bammed Medani, dois homens do Sude agosto, em que f ora m pregados na

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1


Educação

A Educação Nacional em xeque

N

a iminência de ser submetido ao plenário da Câm ara Alta do Congresso Nacio nal o Parecer nº 250 de 1994, da Comj ssão de Educação do Senado Federal, cuj o relator é o Senador C id Sabóia de Carvalho, sobre o projeto de Lei da Câmara nº 101 , de 1993, a Sociedade Brasileira de Defesa da T radição, Famí li a e Propriedade -TFP, através de sua Comissão de E1>tudos Pedagógicos, pede vêni a para apresentar aos preclaros membros do Senado Federal algumas ponderações que considera de cap ital importância. E ntre as diversas ati vidades sociais que mais devem atrair a atenção, o cuidado e o patriotismo cristão de nossos legisladores fig ura, sem dú vida, o magno tema da Educação. Com efeito, a preservação de nosso patrimônio moral e cul tural depende, em mui to larga medida, da formação daqueles q ue, ama nhã, terão em suas mãos os destinos do País e, portanto, o próprio fu turo do Brasil. A defesa e preservação de tal patrimô nio é que levou a Comissão de Estudos Pedagógicos da TFP a tomar a presente iniciativa, tal corno o fez em duas ocas iões anteriores, q uando apresentou trabalhos de análise críti ca aos membros das duas Casas do Congresso Nacional, du rante a tramitação do proj eto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1988, do então deputado Octávio E lísio. Assim , em novembro de 1989, foi di stribuído a todos os ilustres parlamentares o documento: "Monstro estatizante

co mo o Subs ti tutivo - proposto pela mes ma Comi ssão - ao P rojeto de Lei da Câmara nº 101 (Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Tal análi se revela-se de singul ar importância se considerarmos o caráter decisivo das próximas deliberações que o Senado Federal tomará em relação ao Projeto em di scussão. Com efeito, se esse órgão legislativo aprovar o citado Substitutivo, bastará que a Câmara dos Deputados se pro nuncie sobre as emendas do Senado e, a seguir, a sanção do Presidente da Repúbli ca, para que o Pa ís tenha urna nova Lei de D iretri zes e Bases e ivad a dos graves víc ios ad iante apontados. Nesse sentido, embora na introdução de seu parecer o senador C id Sabó ia procure destacar os aspectos que considera positivos no P roj eto ap rovado pela Câmara dos Deputados, acaba reconhecendo que este

"apresenta alguns excessos de regulamentação e certas impropriedades em sua redação", ass im como "alguns vícios centralizadores", de que dá exemplos. Desse modo, o senador reconhece o bom fundamento das múltiplas queixas que têm sido fo rm uladas contra o Projeto de Lei de Diretrizes e Bases, e entre elas as apo ntadas pela Comissão de Estudos Pedagógicos da TFP. Isso não impediu o senado r, entretanto, de declarar que "o Substitutivo man-

tém a concepção e a estrutura básicas do Proj eto Original" .

ameaça o ensino brasileiro - Alerta da TFP aos congressistas, educadores, pais e à opinião pública nacional sobre a nova lei de Diretrizes e Bases da Educação". E, em abril de 199 1, novo trabalho fo i distribuído aos Senhores congress istas e a educadores: "Estatismo ameaça

valores pedagógicos básicos de nossa Pátria". Tendo e m vista aq uele mesmo objetivo, os me mbros da Comissão de Estudos Pedagógicos da TFP examinaram ac uradamente o mencionado Parecer da Comissão de Educação do Senado, bem

O básico princípio de subsidiariedade, enunciado por Pio XI (foto) na Encíclica "Quad ra ges im o Ann o" ( 193 1), foi reproduzido por João XXIII em sua Encíclica "Mater et Magistra" (1 96 1)

Ora, é exatamente aí que residem as preocupações da Comjssão de Estudos Pedagógicos da TFP, pois as falhas por ela apontadas nas di versas versões do Projeto de LDB d iziam respeito à concepção e à estrutura do Proj eto. Ass im sendo, embora o senador Cid Sabóia estivesse animado d uma louvável intenção de redu zir o aráter estatizante, intervencio ni sta e cent ra li zador do Projeto, o S ubstituti vo q ue propõe, por manter a concepção ' a ·strutura origina is, padece a ind a d' mui tos do defeitos do Projeto de L •i nº 1O1.

Vários dispositivos do Substitutivo entram em choque com nossa tradição cristã, com a Doutrina Social católica, e mesmo com princípios do próprio direito natural, do qual a Igreja é Guardiã e Mestra.

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~ seus objetivos, e pela

i

complexidade de sua o i intervencionismo estatal ~ é nocivo de modo partig cular, e o princípio de -· subsidiariedade absolutamente vital, este campo é o da Educação. Segundo o referido princíImportância do pio, o papel do Estado princípio de deve ser apenas subsidiário, supletivo, quer seja subsidiariedade na política, quer na orgaConstitui um dos nização social ou ainda fundamentos da mencioem áreas específicas, nada Doutrina Social como a Saúde e a Educaconsignado em numeroção, por exemplo.' sos documentos pontifíAssim sendo, o Estacios, e ntre os quais as re- o art. 34 do Substitutivo Cid Sabóia estabelece para as fafllllias um dever de enviar recém-nascidos e crianças em idade tenra a creches e pré-escolas do deve estimular de tonomadas Encíclicas das as formas as instituiQuadragesimo Anno de ções privadas de ensino, Pio XI, e Mater et Ma Não menos significativo é o número em todos os níveis, apenas complemengistra de João XXIIl - o chamado prinde grandes empresas industriais e comertando com estabelecimentos oficiais as cípio de subsidiariedade. ciais modernas que chegaram à seguinte insuficiências eventuais da iniciativa priTal princípio pode ser, sinteticamenconclusão: para alcançar êxito em seus vada. te, assim enunciado: o Estado, seja enempreendimentos , c umpre que sejam quanto União Federal, seja enquanto EsTambém situa-se na área da atividade elas organizadas com base no princípio tado-membro da Federação, ou Municíestatal o exercer urna proporcionada e de subsidiariedade (2). pio, não deve chamar a si funções que justa vigilância da qualidade do ensino A ideologia socialista, inteiramente tanto grupos sociais intermediários quanparticular, tendo em vista o bom aprendidesacreditada junto aos espíritos mais lúto famílias possam exercer satisfatoriazado que todos os estabelecimentos de cidos e sensatos em nossos dias, baseiamente; e a ação estatal deve ter um caráter ensino devem oferecer a seus alunos. se precisamente no princípio oposto ao subsidiário (subsídio, do latim subsida subsidiariedade, ou seja, o do interdium, significa auxílio) em relação às As convicções que ora animam os vencionismo estatal. Não é sem razão que atividades de grupos sociais privados. componentes da Comissão de ·Estudos ~ realização concreta -

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Esse mesmo princípio aplica-se também no âmbito dos grupos sociais intermediários: as sociedades de direito privado maiores não devem interferir no campo das sociedades menores ou no das famílias, a menos que necessidade imperiosa o exija e na medida dessa necessi dade. E tal interferência deve igualmente se exercer em caráter subsidiário. Decorre desse princípio que o empenho do Estado - e daqueles que o representam junto à Nação - deve incidir diligentemente na preservação das autonomjas dos indivíduos, das famílias e dos corpos sociais intermediários. Tal estruturação é condição imprescindível para o verdadeiro progresso espiritual, cultural e mesmo econômico de uma nação.

É justamente por compreender tal realidade que publicações de grande prestígio no mundo moderno, como a conhecida Harvard Business Review, da renomada universidade norte-americana de Harvard, vêm apregoando o princípio de subsidiariedade ( 1).

.O sistema pedagógico Educação Infantil se afigura conw uma cumplicidade entre mães de coração duro e pais covardes incapazes de proteger a prole que geraram) de um lado; e) de outro) o Estado sem entranhas) hipertrofiado por estabelecimentos públicos de ensino e por funcionários ociosos tenha resultado da aplicação de tal princípio uma sucessão de desastres sociais e econômicos sem precedentes na História. A queda do Muro de Berlim tornou patente, de modo espetacular, tal fracasso. Se há um campo em que - por sua importância intrínseca, pela nobreza de

Pedagógicos da TFP são as mesmas que, há sete anos, e mais recentemente, em 1991, os levaram a se dirigir aos membros do Congresso Nacional, para defender os princípios básicos da Civilização Cristã, gravemente ameaçados por dispositivos malsãos, inseridos no Projeto de LDB da Educação. É com esse mesmo espírito que·agora a mencionada Comissão se volta aos Senhores Senadores, com o fito de alertálos para análogos dispositivos, contidos no Substitutivo Cid Sabóia. Nossa crítica incide primordialmente sobre dois tópicos, que constituem violações graves do princípio de subsidiariedade, e, portanto, da própria lei natural, a saber: extinção da justa autonomia do ensino privado e séria ameaça ao pátrio poder, mediante a educação generalizada e tendente a ser obrigatória em creches e pré-escolas para crianças de Oa 6 anos de idade.

***

O presente estudo tem a finalidade de mostrar aos Ilustres Senhores Senadores a necessidade de uma revisão muito mais


profunda no Projeto de Lei nº 101 da Câmara. Ou, melhor ainda, a pura e simples rejeição do mesmo, seja na forma em que foi aprovado na Câmara dos Deputados, seja na que ora é oferecida pelo senador Cid Sabóia em seu Substitutivo. Essa rejeição seria um ato de coragem, que permitiria a elaboração de um novo projeto, construído sobre princípios consen tâneos com nossa tradição cristã, incorporando As crianças, permanecendo parte do dia em pré-escolas obrigatórias, modernas expe- art. 34 do Substitutivo Cid Sabóia, nelas tomarão refeições riências pedagógianos, em creches e pré-escolas". Medida cas, muito mais adequadas para a obtenesta que faz lembrar fracassadas iniciatição do bem comum. vas do regime da ex-URSS. Enquanto tal não sucede, poder-se-ia Convém destacar, de passagem, que, emendar a atual Lei de Diretrizes e Bases embora a Educação Infantil não seja, a para adaptá-la ao texto constitucional, princípio, obrigatória, de modo a forçar aproveitando-se a ocasião para iniciar as familias a deixar seus filhos de zero ( !) também a modernização acima referida. a seis anos em tais "depósitos de crianO projeto de LDB da Educação, ças", isso não impede que inúmeras denatualmente em discussão no Senado Fetre elas o façam por preguiça e desintederal, parece adotar uma linha geral diaresse. Há mais: o art. 99-III do menciometralmente oposta àquela que inspira o nado Substitutivo fixa, como um de seus atual Plano Nacional de Desestatização. "objetivos prioritários" a" universalizaCom efeito, tal plano nunca teria sido ção e extensão da obrigatoriedade ao concebido se seus promotores não se tiensino médio e à educação infantil púvessem dado conta dos efeitos deleté1ios da hipertrofia do Estado brasileiro nos Nem mesmo o Governo campos em que, segundo o princípio de socialista de Mitterrand subsidiariedade, a primazia deveria caber à iniciativa privada. - cujo programa

A agonia do pátrio poder: a família em vias de extinção O Substitutivo do senador Cid Sabóia parece supor que a crise atual da instituição familiar no Brasil é insolúvel, e prepara as vias legais para a futura implementação de medidas piores que a pró- · pria crise: o estabelecimento de creches públicas e privadas, em amplitude muito maior que a atualmente existente, por todo o País. E sobretudo, a introdução, por via de lei - constante dos artigos 5º-1, "a", 24-1, "a", 33 a 36, 99-111 e 100-III do Projeto-de um novo sistema pedagógico, a Educação infantil," ofere-

cida a crianças de O (zero) a 6 (seis)

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igualmente previa absurda educação infantil, com ensino obrigatório a partir dos dois anos de idade ousou pô-la e1n prática

"A educa~ ção infantil será cg oferecida em creches, para cricLn ~-o ças de zero a , três º anos, e em pre-es~ colas, para as de g quatro a seis anos, . e constitui direito da criança e dos seus pais, e dever do Estado e da família" , acrescenQ'

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tando que isso está sendo feito "na

forma dos arts. 7º, XXV, 30, VI, 208, IV e 227 da Constituição Federal" (grifos nossos). Nota-se, aliás, segundo pretende o contradição entre o art. 24- I, "b" do Substitutivo, que estabelece a obrigatoriedade apenas para o Ensino Fundamental, a paitir dos 7 anos de idade, e o ait. 34 que diz ser a Educação Básica (desde zero anos) "dever do Estado e dafami1ia"(grifos nossos). Pretendendo resolver problemas sociais, por esquecer-se do princípio de subsidiariedade, o Substitutivo os acentua e cria ainda muitos outros.

Sistema pedagógico rejeitado além da ex-Cortina de Ferro Com tal medida o Estado passa a oferecer uma falsa solução que, na verdade, agravará incomensuravelmente a crise que abala as famílias brasileiras. Com efeito, além dos aspectos já apontados, deve-se ter em vista que muitos desentendimentos ocorridos entre os pais são, por vezes, superados pela perspectiva da amarga situação que a separação do casal trará pai·a seus filhos pequenos.

blicos". Se tal vier a ocorrer, tudo indica

Disseminados por toda a Nação tais "depósitos de crianças", é natural que venha aumentai· notavelmente o número dessas sepai·ações.

que o crime previsto no art. 146 do Código Penal (" abandono intelectual") será redefinido para abranger as familias que não queiram entregar seus filhos recémnascidos ao " depósito de crianças". E ainda o art. 34 do Substitutivo diz que a Educação Infantil é "de ver do Estado e da família" (grifos nossos):

O sistema de Educação Infantil se afigura, pois, como uma cumplicidade entre mães de coração duro e pais covardes incapazes de proteger a prole que geraram, de um lado; e, de outro, o Estado sem entranhas, hipertrofiado por estabelecimentos públicos de ensino e por funcionários ociosos.

Mais uma vez, o Brasil na contra-mão da História, vai imitar com atraso países socialistas! Mas, poderia alguém objetar: as crianças, pelo menos, seriam beneficiadas com o ingresso nas creches oferecidas pelo Estado. Ingênua esperança, que se desfaz com a leitura de elucidativo relato, publicado na edição de 10- L01990 do jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung", a respeito do seminário realizado pela Liga Alemã pela Criança. Pai·ticiparam de tal seminário educadores, psicólogos e pediatras da Rússia, da ex-Alemanha Oriental e de outros países do Leste Europeu. Os participantes foram unânimes em condenar como "psicofisiol ogicamente" prejudicial para a infância a educação infantil estatal, que agora se quer implantar no Brasil. Os apontados dispositivos do Substitutivo vão, portanto, conduzir nossa Pátria, em matéria de educação, a uma situação já abandonada até mesmo pela Rússia e por outras nações ex-comunistas. Estaremos, pois, seguindo a moda de ontem e nos alinhai·emos a regimes obstinadamente ditatoriais e marxistas como os de Cuba, China, Coréia do Norte e Vietnã?

Perseguição ao dinâmico ensino privado

do Projeto LO I na versão aprovada pela Câmara dos Deputados, dispositivos esses repetidos no art. L7, 1º, IV, e art. 18-III, do Substitutivo.

ção, como oportunamente observaram os aludidos senadores. Donde é de concluirse que essa di sposição legal seria inútil , ou teria em vista algum peculiar gênero de atuação associativa ou sindical. Entretanto, a formulação do mencionado inciso (art. J 7, l º, IV) é tão vaga que é quase impossível saber-se ao certo o que pretende. Segundo os referidos parlamentares, o objetivo da norma é que sindicatos e associações devam "atuar e funcionar na escola". O que viria" em prejuíza da

educação" (4). Destacaram ainda os referidos senadores que "o inciso pretende impor à

escola privada o que não é previsto para a escola pública, levando também o ensino privado ao não funcionamento e à deterioração" (5).

Diz o art. 17 que a iniciativa privada poderá atuar no ensino se, entre outras exigências legais, permitir" liberdade de organização sindical e associativa". Liberdade a quem? Professores, fun cionários e alunos, pais de alunos, ou a uma "comunidade" indefinida a que faz referência o adiante transcrito art. 19-1? O Substitutivo nada esclarece a respeito. Ora, o direito de associar-se e sindi calizai·-se é já garantido pela Constitui-

E o art. 18-III, ao definir instituições de ensino filantrópicas, exige que estas ofereçam "ensino gratuito a todos os seus alunos". Quanto a esta disposição, disse o senador Pai·ga que ela acabai·á prejudicando alunos carentes que, de outro modo, poderiam receber bolsas de estudos parciais e que "o Estado deve

facilitar a ampliação do antendimento a alunos menos dotados de recursos e não impedi-lo, através da inviabilização de escolas particulares" (6). Falamos acima da ineficácia do Estado dirigista hipertrofiado. Tal ineficácia vem sempre junta com suas filhas insepai·áveis: burocratização, desperdício de verbas, relaxamento disciplinar etc. Comprovaremos a afirmação indicando artigos do projeto que revelam tal tendência. Artigo 18 §2º

Desejamos aqui esclarecer que não é possível, na exigüidade de espaço de um trabalho desta natureza, consignai· o mérito de várias emendas e críticas apresentadas por ilustres membro·s do Senado Federal ao Projeto nº 1OI oriundo da ó' "No .c aso de Câmai·a dos Depui instituição de ensitados. Dentre elas, ~ no ou respectiva porém, pareceu-nos \ mantenedora, oroportuno aludir a 2 ganizada sob a intervenções dos se~forma de fundanadores Wilson ção, o recebimenMartins e BeJlo Parto de recursos púga, por sua objetiviblicos dependerá dade e pelo fato de de demonstração virem especificade que a entidade mente ao encontro instituidora deles de posições assuminão se beneficie" . das por esta ComisO que significa são de Estudos Peneste texto beneft· dagógicos . ciar-se? Urna fundação educacioAssim, afigunal , cujo patrimôram-se-nos inteiranio produtivo for mente procedentes bem administrado as críticas apresene que venha a dotadas pelos menciobrar de valor ao nados parlamentares ao art. 19, 1°, A Constituição Federal estabelece a obrigatoriedade da educação apenas para o Ensino longo, digamos, de um quinqüênio , IV, e ao art. 20-III, Fundamental ( 1° grau) (foto)

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estará se ·' beneficiando" dos recursos públicos que recebeu no período, ou não? A verba pública irá então exc lusivamente para as fundações cujo patrimônio esteja estagnado ou em processo de diminuição? Parece ser esta a perspectiva visada pelo dispositivo citado acima. Artigo 19 - "As instituições públicas de educação básica e as que recebem recursos públicos para sua manutenção observa-

ó' justiça, defendam os ~ direitos dos pais e dos j filhos. É tendo isto em J. vista que apelamos aos .,~ egrégios membros do â Senado Federal, no sentido de que rejeitem os dispositivos do Substitutivo em tela, que atentam sobretudo contra os direitos da família, vulnerados com a criação do Sistema pedagógico Educação Infantil. E que, ademais, rechacem a violação do princípio de subsidiariedade rão, em sua organiza- o Ensino Fundamental é bastante deficiente no País, sendo os cursos ministrados representada pela ingerência indébita do i,,ão e administração, muitas vezes em condições precárias as seJ;uintes diretriEstado no âmbito da i es. educação privada. ser, na prática, a relação entre ensino I - constituição de conselhos escolaA Nação brasileira ficar-lhes-á para público e privado. Tal posição contrasta ' e:;, com representação da comunidade; sempre agradecida por essa atitude de com a realidade: o dinamismo e expansão verdadeiro patriotismo, a qual preservai·á felizmente existente na rede privada de II · obrigatoriedade de prestação de as gerações futuras esperança da Nação. ensino de nosso País c.:ontas e divulgCl<,:ão de informações refeTambém elas serão imensamente gratas rentes ao uso de recursos e qualidade dos àq ueles que as tiverem preservado dos serviços prestados; Conc•uindo, um apelo malefícios do intervencionismo estatal Ili - uvaliação do desempenho insti- · Diante de tao sombria perspectiva, de cunho socialista, que lançou na desdita tucional; resta-nos uma grande esperança: adeque tantas nações. o ilustre Senado Federal poupe ao País IV - elaboração do planejamento NOTAS uma situação que aberra de suas tradições anual da escola, de forma participativa, 1. "Harvard Business Review", Ba/acing cristãs. Tal situação contrai·ia frontalvalorizando a experiência da comun.idaCorpora/e Power, novembro/dezemmente a índole da maioria do povo braside". bro/1992, apud Catolicismo, nº 527, noleiro - pai·a o qual a familia constitui a vembro/94. Estas quatro exigências, notada.mente pedra angular da sociedade não po2. O artigo acima citado, a respeito do assunos itens I e IV, transformarão praticamento, esclarece: "Companhias em todos os te as escolas particulares, "que recebem países estão se movendo na mesma direrecursos públicos para sua manutenção (isto é, aplicando o princípio de subção" em verdadeiras repaitições públisidiariedade): General Eletric, Johnson e cas. Disso decorrerá normalmente que as Johnson, Coca-Cola, British Petroleum, escolas particulares dinâmica - e que, Honda, Shell, Unilever etc". portanto, queiram salvaguardar a sua au3. Cfr. "Le programme commun de gouvertonomia - evitem quanto possível recenemenl de la gauche - Propositions sober recursos públicos, fluindo estes, em cialistes pour /'actualisalion "(Flammarion, Paris, 1978, p. 30) e " Projet socialisconseqüência, pai·a as escolas paiticula/e pour la France eles années 80" (Club res ineficientes. Símile simili gaudet Socialiste du Livre, Paris, 1981, p.287, in O semelhante se alegra com seu seme"O socialismo autogestionário: em vista lhante: a ineficiência estatal procura dar do comunismo, barreira ou cabeça-dea mão à inoperância não estatal. ponte ", do Professor Plínio Corrêa de Artigo 23 - Diz este artigo que o Oliveira ( Catolicismo, nº 373,jan./82, p. Fórum Nacional de Educação deverá 22). Este último estudo foi também publi cado em Frankfurter Allgemeine Zeitung "propor as diretrizes e prioridades para (9-12-81), Thc Ncw York Times ( 13- 12a .formulação da política nacional de 81 ), Folha de S. Paulo (8-1-82) e outros 47 educação, na perspectiva da valorização destacado órgãos da imprensa mundial. dendo ela, portanto, sofrer absurdas indo ensino público" (grifo nosso). 4. Cfr. publicação da omissão de Educação tervenções estatais. A frase final demonstra mais uma vez do Senado contendo o Projeto de Lei da que o Substitutivo atribui ao ensino priNuma época em que se concede atenCâmara nº 1OI e as emendas apresentadas vado um caráter secundário pai·a a formução, por vezes até excessiva, aos animais no Senado, sem data, pp. 143 e 180, edição lação da política nacional de educação. E e às pla11tas, é preciso que as pessoas do entro Gráfico do Senado. determina que o Poder Público envide imbuídas de espírito cristão, ou as que, 5. Op. cit. pp. 144 e 180. todos os esforços para que essa venha a pelo menos, se guiam pela virtude da 6. lde111, p. 145.

Medicina

1

Uma curiosa medida sanitária: combater o preconceito contra o antinatural Entidades que vão substituindo a atividade própria ao Estado - as ONGs exercem eficaz atuação para neutralizar a natural rejeição social à homossexualidade.

Q

Governo na prevenção e no combate à uem ouve falar em anarqu ia gevez mais presente no âmbito das decisões expansão da AIDS, em troca de financiade nível nacional e internacional. ralmente a relaciona com uma As ONGs tendem a interferir nas demento para os projetos que apresentam situação de desordem, agitaneste sentido. Sua relação aparece em cisões e atos dos poderes constituídos, ções, violências e toda sorte de fenômemais de uma publicação daquele Minisorientá-los e fiscalizá-los pela participanos li gados a um quadro de convulsão tério, incluindo a natureza da organização em conselhos e comissões de nível social, política e econômica. federal, estadual e municipal, impriminção, o tipo de população sobre o qual Porém esta é uma noção muito impredevem agir e o montante da ajuda finando a tais órgãos o rumo que desejam, no cisa do que seja o verdadeiro sentido do ceira que recebem para isso.(2) Em outra sentido de uma transformação do Estado termo anarquia. Segundo os estudiosos oportunidade trataremos desse assu nto e da sociedade. de filosofia política, o essencia l da anarcom mais detalhes. quia é a desorganização do Estado enColaboração das Entre as ONGs/AIDS mais propalaquanto autoridade, o que não coincide ONGs/AIDS com o das são Grupo pela Vidda (VIDDA: Vanecessariamente com a desorde·m. Esta lorização, Integração e Dignidade do pode existir sem anarquia e vice-versa. Governo para legitimar a Doente de AIDS), o GAPA (Grupo de Uma certa atmosfera de ordem, pelo mehomossexualidade Apoio e Prevenção de AIDS), a nos aparente, poderia assim coeABIA (Associação Brasileira Interxistir com uma rejeição do Estadisciplinai· de AIDS) e várias oudo organizado como autoridade tras. Alguns desses grupos, como o (l). Grupo Pela Vidda e o CAPA, estão Ora, dentro da crise em que presentes em vários estados da Fese debate a sociedade moderna, deração, possuindo secções estanota-se em todos os países certa duais, cada uma com suas publicatendência - mais em uns, meções próprias. nos em outros - a abdicar de As ONGs/AIDS não declaram sua ordem político-social em faabertamente que pretendem tomar vor de um sistema que, sem dio lugai· do Governo em tarefas que ficuldade, poder-se-ia qualificar seriam atribui ção deste. Mas recode anarquia. nhecem que surgiram "em oposiEste processo caracteriza-se ção ou em complementação ao Espela progressiva autodemolição tado ineficiente e insuficiente", e do Estado, dando lugar ao apa- São numerosos os boletins editados sobre as ONGs/AIDS que muitas delas já colaboram em recimento de pequenos grupos regime de parceria com organismos autônomos, supostamente consestatais. (3) tituídos pela iniciativa particular Entre os diversos tipos de ONGs ende seus componentes, e que se propõem, contram-se as chamadas ONGs/ AIDS, Esta parceria com o Estado, caractede início, não a derrubar o Estado e tomar que se propõem a trabalhar contra a difurística da primeira fase de sua superação, o seu lugar, mas simplesmente a ajudá-lo são da AIDS e a lutar pelos "direitos se manifesta tipicamente por meio da naquelas tarefas em que o Poder Público, humanos" dos aidéticos. Mas sua meta participação das ONGs em diversos nípor incapacidade ou insuficiência, não principal, claramente expli citada ou forveis do Poder Público. consegue exercer com eficácia sua ação temente insinuada em· suas publicações, Neste sentido, o boletim CAPA ln.forsobre amplos setores da população. é a instituição de uma sociedade onde o mativo, publicação do GAPA do Rio homossexualismo, a prostituição e a mais Grande cio Sul, informa que a entidade é completa promiscuidade sexual sejam inuma ONG sem fins lucrativos cuja preoEsses grupos, conhecidos como Orteiramente reconhecidas como formas cupação principal é acabar com os preg an i zaç ões Não-Governamentais normais e legítimas de comportamento. conceitos que envolvem a pandemia. In(ONGs), se cons ideram e são consideraExiste um grande número de forma ainda que sua direção tem um pados por muitos como a única solução para ONGs/AIDS registradas no Ministério pel em inentemente político, de articularesolver certos problemas de ordem políção com os governos Federal, Estadual e da Saúde que se propõem a auxiliar o tica e social. E sua atuação torna-se cada


\ Municipal, tendo conseguido vaga, voz e voto em Conselhos de Saúde de nível nacional, estadual e municipal, e reconhecendo que executa serv iço;, .que não são de responsabilidade de uma ONG, mas do Estado (4). Outro exemplo de participação em órgãos do Governo é o do Grupo Pela Vidda do Paraná, que, após um convênio com a Prefeitura de Curitiba conseguiu sede com telefone e secretária. Seu objetivo principal é a garantia dos direitos da pessoa portadora de HIV e AIDS. Participa da Comissão Estadual e Municipal de AIDS, é do Conselho Estadual e Municipal de Saúde, sendo considerado também de Utilidade Pública Estadual e Municipal. (5) Mas as ONGs/AIDS não se consideram apenas c·olaboradoras do Estado pela sua participação em conselhos e comissões. Elas desejam também modificar o Estado e a sociedde, atuando como informadoras e educadoras, transformando comportamentos e valores. E reconhecem que algumas já estão substituindo o Estado em sua funções (6).

Governo quer a transformação da sociedade pelas ONGs/AIDS

Estado em ações de saúde púbica - ações estas que sempre foram consideradas como pertencendo às atribuições do Poder Público - e, mais especialmente, transformar a mentalidade social para acabar com o preconceito contra a homossexualidade. Esta última atividade aparece quase sempre disfarçada em" defesa dos direitos humanos dos doentes de AIDS". O tópico abaixo é bem um exemplo do palavreado utilizado para designaressas duas tarefas: "As ações não-governamentais no país se constituem num dos componentes privilegiados de um programa nacional no controle e prevençc7o das DST/HIV/AIDS, notadamente em ações de prevenção junto a populações específicas, na criação e/ou implementação de formas alternativas de assistência à saúde e na defesa intransigente dos direitos

direitos. Tanto mais quanto tais "direitos", que pretendem continuar a usufruir, constituem comportamentos de alto risco para a transmissão da doença, além de serem totalmente condenáveis do ponto de vista moral, como as práticas homossexuais, a liberdade sexual e o uso de drogas injetáveis. E não há método eficaz de prevenir a difusão da doença enquanto tais "direitos" persistirem. Assim, mais do que a resolução do problema médico-sanitário, o que interessa às ONGs/ AIDS é que a homossexualidade, a prostituição e todas as formas de promiscuidade sexual sejam plenamente reconhecidas como comportamento legítimo, legal e normal, para o que recebem amplos recursos de origem internacional, como será explicado em outra ocasião. Murillo Galliez

aderno Especial Nº 43

Membro da Comissão de Estudos Médicos da TFP NOTAS 1. Cfr. André Lalande, Vocabulaire Technique et Critique de P/Jilosophie, Presscs Univcrsitaires de France, Paris, 7e. édition, 1956, p. 57. 2. Cfr. Catálogo de Organizações Não Govemamentais, Ministério da Saúde, Brasília, 1994, AIDS & DST: Experiências que funcionam, Ano 2, nº 1, Jan./Jun. 1994. 3. Regina Novaes, ONGs/AIDS - Mais perguntas que respostas in "Boletim Pela Vida", ano V, nº 18, Janeiro-Março 1994, Rio de Janeiro, p. 8. O boletim é uma publicação do Grupo pela Vidda do Rio de Janeiro. 4. Cfr. "GAPA Informativo", nº 1, junho 1994, Porto A legre, pp. 3,5,9. 5. Cfr. Albertina Volpato (Presidente do Grupo pela Vidda - PR) , inimigos da AIDS atuam cm Curitiba, in " Boletim

Essa transmutação lenta e contínua do Estado e da sociedade para a formação de uma nova mentalidade so- '----~~------------~------='----~ cial conta com a aprovação e O Hospital Emílio Ribas, na capital paulista, mantido pelo Governo o estímulo do Governo bra- do Estado de São Paulo, acolhe doentes de moléstias infecciosas, sileiro. dentre os quais figuram os aidéticos Assim, no setor específiPela Vida" , número citado, p. 11. co da saúde, o Governo condas pessoas vivendo com HIV/AIDS" (8). 6. Cfr. Nelson So lano Viana (Coordenador de sidera indispensável a ação das Na realidade, tais direitos são defenProjetos da ABIA), VI Encontro Nacional de ONGs/AIDS para eliminar "os velhos didos com tanta intransigência porque a ONGs/AIDS em Vitória - Avanço ou Retrocesmecanismos do preconceito, da opressão maioria dessas pessoas é constituída por so?, in " Boletim ABIA", nº 24, Maio/Junho e da segregação social". Isto porque, homossexuais ou bissexuais, e o mais 1994, Rio ele Janeiro, pp. 8, 1O. tanto o Governo como as ditas organizaimportante para elas é promover a" cida7. Cfr. Lair Guerra ele Macedo Rodrigues (Coorderções são de opinião que o principal fator n adora Gera l do Programa Na cional de dania" da homossexualidade. Fossem DST/AIDS), José Sta lin Pedrosa (Responsável que impede uma Juta eficaz contra a outras doenças e outras pessoas, e o intepela Articulação com as ONGs do Programa AIDS é a existência desse sadio repúdio resse pela defesa de seus direitos ficaria Nacional de DSTIAI DS), José Luciano de Mattos da sociedade à prática do homossexualismuito diminuído. Pois em questões de Dias (Consu ltor cio Programa Nacional de mo. É isto principalmente que se deveria saúde pública, especialmente em épocas DSTIAIDS), Estado, ONG/AIDS e a Recons1rueliminar. E como o Governo não consede epidemia, os transmissores da doença ção da Cidadania, in "Catálogo de Organizações gue realizá-lo sozinho, pois está "apriperdem parte de seus direitos normais, Não-Governamentais", Ministério da Saúde, sionado por uma visão conservadora do tendo em vista a defesa dos não atingidos Brasília, 1994, pp. 2,3,4. tema ou pela ineficiência administratipor ela e o bem comum da sociedade. É 8. José Stalin Pedrosa, ONGs e AIDS: Experiências va" seriam então as ONGs/ AIDS que, q11e f1111cio11a111, in " AIDS & DST: Experiências o caso típico do isolamento em hospitais que funcionam" , Ano 2, nº 1, Jan/Jun 1994, p. 3. como "formas alternativas de participaespecializados para evitar o contágio do ção política, de geração e difusão da restante da população. E não se pode P.S.: Devido a um lapso de revisão, na edição de informação, e de controle sobre a ação negar que esse isolamento representa outubro último ele Cato lic ismo (nº 526), o autor pública", estariam destinadas a trilhar os uma perda, pelo menos ·parcial, do direito do aitigo A tolert111cia suicida em face da AIDS, caminhos que levarão à metamorfose da de livre locomoção. publicado às pp. 22-23, foi erroneamente qualisociedade (7). No caso da AIDS, seus transmissores ficado como Presidente da Comissão de Estudos Duas tarefas, portanto, estão atribuítambém deveriam, sob a vigilância das Médicos da TFP, cargo inexistente na mencionadas às ONGs/AIDS: ir substituindo o autoridades médicas, perder parte de seus da Comissão.

Imagem de Nossa Senhora, inspirada na denominada "Virgem que dará à luz", cultuada pelos gauleses antes mesmo de serem evangelizados

~ossa ~cnqora àc Ifiongpont {3 de março -.Longpont-J'rança)


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Jflff.eusag.em ô.e ~ão Woiio ~atista a Wcsus (São Mateus, 11, 2-6) E como João, estando no cárcere, tivesse ouvido referência às obras de Jesus, enviou dois de seus discípulos para dizer-Lhe: És tu o que háde vir, ou devemos esperar outro? E respondendo, Jesus disse-lhes: Ide e contai a João o que ouvistes e vistes. Os cegos vêem,

os coxos andam, os leprosos são limpos, os -surdos ouvem, os mortos ressuscitam, os pobres são evangelizados. E bem-aventurado aquele que não encontrar em mim motivo de escândalo.

Q.Iomcntiirios compilaàos por ~auto 'ê!tomiis àc J\quino na "Q.Iatcna J\urca" Santo Hilário -É fora de dúvida que [São João Batista], como Precursor, anunciou que Jesus deveria vir; que, como Profeta, O conheceu enquanto vivo; que, como confessor, O honrou na sua vinda; e é certo que nele o erro não se mistura com a abundância de sua luz. E não se pode crer que lhe faltou no cárcere a graça do Espírito Santo, posto que o próprio Apóstolo [São Paulo] deu para os que o acompanharam na prisão a luz de sua virtude. Assim João considerou não sua ignorância, mas a de seus discípulos; e os envia para verem as obras e milagres [de Jesus], a fim de que compreendam que não era distinto dAquele de quem ele lhes havia pregado, e para que a autoridade de suas palavras fosse revelada com as obras de Cristo, bem como não.esperassem outro Cristo distinto dAquele de que dão testemunho suas obras.

São Jerônimo - São João, pois, não pergunta porque não o soubesse, da mesma maneira que Jesus depois perguntou aos circunstantes (Jo. 11): "Onde está Lázaro?", a fim de que lhe indicassem o lugar de sua sepultura, com o objetivo de prepará-los para a fé, e para que vissem ·a ressurreição de um morto.

Assim, João, no momento em que havia de morrer em mãos de Herodes, envia seus discípulos a Cristo com a finalidade de que eles, tendo ocasião de ver os milagres e·as virtudes de Cristo, cressem nEle e aprendessem, pelas perguntas que lhes fizesse. Que os discípulos de João haviam tido certa inveja de Cristo o demonstra a pergunta referida em outro lugar da Escritura: "Por que nós e os fariseus jejuamos com freqüência, e teus discípulos não jejurun?"(Mt. 9,14) São João Crisóstomo -Enquanto João esteve com seus discípulos, os persuadia continuamente a respeito de tudo o que se referia a Cristo, isto é, recomendava-lhes a fé em Cristo; e, quando se aproximou sua morte, cresceu seu zelo, porque temia deixálos no mais insignificante erro, e que estivessem separados de Cristo para quem procurou desde o princípio atrair. Que fez, pois? Espera ouvir deles mesmos a narração dos milagres realizados por Jesus; e não manda todos seus discípulos, mas apenas dois, a fim de convencer por meio deles os demais, para evitar toda suspeita e julgarem com os dados positivos a diferença imensa entre ele e Jesus. ·

Q.Iomcntiirios ào Jaàrc Ifiuis Q.Iliiuàio Jffillion Deixamos o Precursor em sua prisão de Maqueronte. Ali foram seus discípulos, aos quais se lhes permitia falar com ele para colocá-lo a par dos milagres incesSat).tes e dos êxitos d~ pregação de Jesus. Escolhendo então dois deles, enviou-os ao Salvador para apresentar-Lhe em seu nome esta questão: "És Tu o que há de vir, ou devemos esperar outro?" O que há de vir, O que vem: fónnulas significativas com que designavam o Messias, objeto de tais ânsias e anelos santos, cuja

vinda próxima se esperava de um momento para outro. Mas, como o Batista, havia tempo, tinha dado testemunhos tão brilhantes de Jesus, pôde fazer-Lhe hoje a pergunta se realmente é o Cristo. Será que, provado pelos sofrimentos do cárcere, a dúvida penetrou em seu espírito? Nada disso; porque nada mais firme que esta grande alma, como Jesus vai proclamá-lo aberta e decididamente. Não é, portanto, para si mesmo, mas pelo bem de seus discípulos, cuja oculta antipatia para

com Cristo lhe era muito conhecida, o motivo pelo qual emprega semelhante habilidade. Esperava que, depois de haver visto e ouvido Jesus, voltariam animados de melhores disposições. Chegaram os enviados em momento bem providencial, porque em sua presença curou Jesus muitos enfermos e possessos e concedeu a vista a numerosos cegos. Foi sua primeira resposta, a do exercício público de seu poder sobrenatural, ao qual nada era capaz de resistir. Mas acrescentou outra, verbal, curta, decisiva: "Ide contar a João o que haveis ouvido e visto. Os cegos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres; e bem-aventura-

do aquele que não encontrar em mim ocasião de escândalo". A mensagem de Jesus a João era de tanto maior força quanto ela está tomada quase ao pé da letra do quadro ideal, traçado séculos antes por Isaías, sobre as obras benfazejas do Messias. Quis, pois, dizer Jesus aos mensageiros: "Julgai vós mesmos ... " Sua última frase: "Feliz o que não se escandalizar a meu respeito", encerrava um aviso muito grave aos discípulos de João, que ainda não criam na missão de Jesus. Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Seifor Jesucristo según los Evangelios. Editorial Difusion, S. A., Tucumán, 1859, pp. 150-151.

~ossa ~cnqora àc Ifiongpont (Longpont - França, 3 de março) A observação do vôo de certos pássaros ou a existência de plantas flutuando sobre as *guas, ajudavam experientes marinheiros deduzir a proximidade da terra procurada. Assim , no meio do turbulento mar do paganismo, a Divina Providência foi permitindo a alguns povos discernir sinais de algo extraordinariamente bom que se aproximava. Desta forma, na história de povos pagãos, foram aparecendo indícios de que a terra firme da verdadeira Fé estava por ser alcançada. Um fato impressionante sucedeu com ancestrais dos católicos franceses. Mais de meio século antes do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, uma Virgem era venerada pelos gauleses. Nos bosques considerados sagrados - de Longpont e depois de Chartres - esses bárbaros cultuavam a Virginem Parituram (Virgem que dará à luz). Os druidas, sacerdotes celtas, não lhe conheciam o nome, mas sim um dos seus principais privilégios. Sabiam que existiria uma Donzela que, permanecendo Virgem, daria à luz um Filho, o Esperado das Nações. Daí o título de Virgem que dará à luz, com que A designavam. Desconhece-se como, no meio de aspectos sinistros do culto dos druidas, tenha-se esgueirado tão maravilhosa crença. Não há provas, por exemplo, de que pudessem ter conhecido a célebre profecia de Isaías: "Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho" (Is. 7, 14). Amostra expressiva de como a Providência preparava a conversão da França foi o que se seguiu à edificação do altar da Virgem no Bosque de Chartres. O régulo Prisco, tocado pelas palavras de um sacerdote druida, cheio de confianca, diante de seus súditos, consagrou seu reino Àquela que daria à luz o Desejado das Nações. Os assistentes, então, consagraram-se igualmente Àquela Virgem privilegiada. São Dionísio (séc. III), primeiro Bispo de Paris, colheu frutos dessa semeadura. Os gauleses logo acreditaram na boa nova: a Virgem que honravam já havia dado à luz o Salvador. Tendo continuado a

instruí-los na doutrina católica, eles logo aceitaram o batismo. São Dionísio deixou-lhes como apóstolo Santo Yon, que edificou em Longpont um santuário dedicado à Virgem. É significativo que a milenar família Capeto, que ocupou papel central na História da França, manteve sempre particular devocão a N ossà Senhora de Longpont. No século XI, ao tempo da famosa Ordem de Cluny, o segundo rei da família Capeto, Roberto o Piedoso, iniciou a construção de novo templo dedicado a Nossa Senhora, em agradecimento por sua coroação. Com efeito, seu direito ao trono havia sido contestado por senhores feudais . Nao houve outro meio de solucionar o impasse senão por meio de um combate a dois. Roberto o Piedoso foi representado pelo Conde de Anjou que venceu o embate, não tanto pela forca de seu braco, mas por uma maravilhosa arma que trazia: o cinto de Nossa Senhora. Essa preciosíssima relíquia estava de posse da Casa Real da França desde Carlos Magno, que a recebera da Imperatriz Irene de Constantinopla. Como se sabe, segundo piedosa tradição, o Apóstolo São Tomé recebeu o cinto de Nossa Senhora no exato momento de Sua gloriosa Assunção. . São Luís IX, rei de França, da mesma dinastia dos Capetos, foi também muito protegido por Nossa Senhora de Longpont. Pois sua mãe, Branca de Castela, então regente, com freqüência o conduzia àquele santuário pedindo à Virgem especial proteção ao jovem príncipe durante sua minoridade. O famoso São Bernardo de Claraval foi um dos muitos ilustres pereginos que visitou o santuário de Nossa Senhora de Longpont, que está localizado a 97 quilômetros a nordeste de Paris. FONTES DE REFEIIBNCIA 1. Marquês de la Franquerie, La Vierge Marie dans l 'Histoire deFrance,ImprimerieLussaudFreres,Auxis, 1939,pp. _3-12, 29-40, 66.


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História Sagrada (53) -

Cântico de Moisés Aproximando-se o dia em que o profeta Moisés deveria morrer, o Senhor disse-lhe: Escrevei um "cântico, e ensinai-o aos filhos ele Israel, para que eles o saibam de cor, e o cantem, e este cântico Me sirva ele testemunho entre os filhos ele Israel" (Deut. 31, 19).

Sublime e profético - "O cântico ele Moisés é uma elas páginas mais belas ela Sagrada •Escritura. Mesmo sob o ponto ele vista literário, não se encontra compos ição comparável em qualq uer literatura humana" (1). "Verdadeiro 'canto ele cisne' .... é uma das mais sublimes poesias elo Antigo Testamento. Além disso, é animado ele um sopro profético .... Moisés, por antecipação, contempla os hebreus instalados na Terra prometida, descobre e expõe sua negra ingratidão e, ao mesmo tempo, os castigos q ue essa lhes atrairá: toda sua história passada e futura é resumida nestas poucas páginas" (2). Eis alguns trechos desse magnífico cântico; que se encontra no livro cio Deuteronômio, 32, 1 a 44: "Povo lo uco e insensato Ouvi, ó céus, o que eu vou dizer, o uça a terra

as palavras ela minha boca. "As obras ele Deus são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos. Pecaram contra Ele os israelitas, os não seus filhos (3), com suas imunclícies: geração depravada e perversa. É este o agradecimento que dás ao Senhor, povo louco e in ensato? Fogo, feras, espada, terror - lO povo] "amacio abandonou a Deus seu criador. Sacrificaram aos demônios e não a Deus. O Senhor viu isto, e acende u-se em ira. E disse: "Um fogo se acendeu no meu furor e devorará a terra e abrasará os fundamentos elas montanhas. "E u acumularei os males sobre eles, e empregarei contra eles todas as minhas setas . Serão consumidos pela fome, e as aves os devorarão com as suas mais cruéis mordedu ras; mandarei contra eles os cientes elas feras, com o furor cios répteis que se revolvem e se arrastam sobre a terra. "Por fora os devastará a espada, e por dentro o terror. Perecerá o jovem a virgem, a criança e o homem feito.

em seu 1ar noções básicas

"Embriagarei ele sangue as minhas setas" - "A mim pertence a vingança, e Eu lhes darei a paga a seu tempo. "Se Eu afiar como o raio a minha espada, e a minha mão a tomar a justiça, Eu me vingarei cios meus inimigos. Embriagarei ele sangue as minhas setas, e a espada devorará a carne dos inimigos. "Louvai, ó gentes, o seu povo, porque ele vingará o sangue cios seus servos, e tomará vingança cios seus inimigos" Bênção profética ele Moisés "Foi, pois, Moisés, e proferiu todas as palavras deste cântico a se u servo, e com ele estava Josué". Como um pai prestes a deixar seus filhos, Moisés abençoou as tribos de Israel, dirigindo-lhes palavras proféticas. E terminou, dizendo: "Não há outro Deus, corno o Deus do povo retíssimo . Ele exp ulsará ela tua presença o inimigo, e dirá: Sê reduzido a pó. "Bem-aventurado sejas tu, ó Israel. Quem é semelhante a ti, que tens a tua salvação no Senhor? Ele é o es ucl o cio teu socorro, e a espada ela tua glória. Teus inimigos virão bajular-te mas, e ntão, tu lhes pisarás no dorso" (Deut. 33, 26 a 29).

"Por fora a espada os devastará, e por dentro o terror" (Deut. 32, 25).

NOTAS: 1. Padre Matos Soares, Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, São Paulo, 6ª ecl., 1953, p. 229. 2 . Pad re Luís C láud io Fillion, La Sainte Bible

Estandartes rubros abrem Marcha Pro-Life Washington - Superando as expectativas, mais de 100 mil pessoas participaram neste ano da Marcha Pro-Life, a maior manifestação contra o aborto que se realiza nos Estados Unidos. Mais uma vez, a multidão percorreu cerca de três quilômetros, da Casa Branca até a entrada do prédio da Suprema Corte. Os estandartes da TFP norte-americana foram o marco a partir do qual se formou o próprio desfile. De tal maneira eles sobressaíam nessa ocasião, que pareceu natural a todos uma determinação das forças da ordem. A voz oficial da polícia encarregada de organizar o cortejo foi clara: "Todos devem formar a partir da linha de estandartes vermelhos! Ninguém à frente!" Assim iniciou-se o desfile, com numerosa delegação de sócios, cooperado-

res e correspondentes da entidade conduzindo a bandeira dos Estados Unidos e estandartes rubros com oito metros de altura. Também a fanfarra da associação esteve presente, dando à manifestação uma nota de força jovem, dotada de potência. Ao contrário do que se passa em certos países, em que a mídia inexplicavelmente silencia sobre a atuação das TFPs locais, nos Estados Unidos a participação da entidade na menciona d a Marcha não foi censurada, e apareceu nor- A linha dos estandartes rubros da TFP norte-americana foi o malmente nos noticiários de marco a partir do qual se formou o próprio desfile televisão e de jornais.

"Sejamos coerentes!" Numa vigorosa mensagem intitulada "Sejamos coerentes!", largamente distribuída ao público, a TFP norte-americana convidou todos os participantes a levantar enérgico brado de protesto em defesa da vida humana, fazendo ecoar o gemido de milhões de americanos que são massacrados no ventre materno; eles "não têm voz como nós". "Advogamos - diz o documento a causa daqueles que são vítimas da tirania abortista, do cinismo médico e da hipocrisia do Estado. Entretanto, não tenhamos ilusões, as barreiras são enormes. Jamais ganharemos a batalha pela vida, a não ser que se ataque a Cultura

da Morte em suas raízes. Para ser verdadeiramente pro-vida, ·não basta se opor apenas ao aborto". Em seguida, citando recentes pronunciamentos dos Papas, o documento da TFP recomenda outros pontos a serem combatidos: - o permissivismo moral, o qual rompe os sagrados laços que orientam a sexual idade humana para a procriação e a família; - a contracepção, que logicamente conduz ao aborto, no caso de uma gravidez indesejada. De fato, a maioria dos contraceptivos modernos são abortivos, isto é, abortam o feto;

- a homossexualidade, união estéril, diametralmente oposta à fec undidade da vida; - eutanásia. Se não se defende a vida humana do inocente como sagrada e inviolável, nenhuma vida humana está garantida. E acrescenta o documento: "Uma vez que o holocausto do aborto inevitavelmente leva ao holocausto da eutanásia, para defender toda vida humana inocente, devemos nos opor ao aborto, ao infanticídi o e à eutanásia, sem nenhuma exceção" .

Setor operário desenvolve grupo teatral

commentée d'apres la Vulgate et les textes originaux, Librairie

Jovens que freqüentam a sede do Setor Operário da TFP, situado à rua dos Patriotas, bairro do Ipiranga, na capital paulista, vêm realizando representações teatrais, em suas reuniões para simpatizantes e familiares.

Letouzey et Ané, Paris, 1925, 7• ed., tomo I, p. 657. 3. Explica o Pe. Matos Soare : "Os não se us filho s. O israelitas não me r ec iam o nome de filhos de Deus, a quem tanto ultrajaram" (op. cit. p. 229) .

Essas peças, segundo o coordenador, Sr. Eduardo Zacarias de Paula, apresentam como temática geral a crise do mundo moderno, conforme os princípios dajá famosa obra Revolução e Contra-Revolução, de autoCena de uma apresentação do Grupo Teatral do Setor Operário ria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. da TFP

Em janeiro último, encerrando as comemorações natalinas, o setor teatral apresentou a peça Os ladrões e o menino do presépio. Nela, três bandidos, numa taberna, tramavam um violento assalto. Contudo, se comovem e desistem de seu crimi noso intento, ao depararem com uma inocente criança que se preparava para montar o seu presépio. Para maio próximo está prevista uma exposição de trabalhos profissionais executados por operários que freqüentam essa Sede, os quais estão vinculados a empresas industriais diversas. Alguns deles deverão discorrer sobre suas especialidades, como, por exemplo, a cunhagem de medalhas de Nossa Senhora das Graças e a confecção de imagens sacras em gesso.


[ Comemoração Religiosa

XV. Exposição Solene das Relíquias de São Francisco Xavier

O

No século XVIII, infelizmente, Goa nome Goa, para nós ocidentais , ressoa como o de uma Jª apresentava todos os sintomas de legendária terra onde um pudecomposição. Vieram ordens do Reino para que se construísse outra capital nhado de heróicos portugueses construíu um império. E realmente Goa, e se abandonasse a condenada cidade. Em 1759, o governador mudou sua reconquistada de um modo quase milagroso em 1510 pelo" Albuquerque tersidência para Pangim, sendo seu exemrível" (*), tornou-se em pouco tempo a plo seguido pelas pessoas de posição. capital do Império Português das ÍnEntusiástica veneração dias, a Rainha do Oriente, a Goa Doupopular rada, a Roma do Leste. Em breve, onde O amor e devotamento dos goeses estivera a principal mesquita dos mouao seu Goencho Saib, Senhor de Goa, ros, surgiria a imponente catedral orgulho dos goeses - inúmeras ou- r - - - - - - - - - ~ - - ~ tras igrejas e conventos, o Hospital Real, a Santa Casa de Misericórdia, o leprosário de São Lázaro, e o Colégio de São Paulo, primeira instituição universitária do leste asiático. Quem viu Goa, escusa-se de ver Lisboa tornou-se um provérbio corrente. Em Velha Goa - como é denominado hoje o que restou da antiga cidade - , entretanto, alguns edifícios testemunham sua glória passada. Um deles é a Sé Patriarcal. Outro a Basílica do Bom Jesus, casa professa da Companhia de Jesus, que guarda em seu seio o tesouro mais inestimável para todo católico goês: os restos mortais de São Francisco Xavier. A cada dez anos, entretanto, Velha Goa revive, rejuvenesce, e vê-se novamente cercada de alguns momentos de glória. Trata-se da exposição solene das relíquias do Apóstolo Estado atual da mão de São Francisco Xavier das Índias e do Japão.

artigos na imprensa o descreveram durante a mais recente exposição, que teve lugar de 20 de novembro a 7 de janeiro últimos. "Como explicá-lo?" - pergunta em editorial a revista oficial da Arquidiocese, se o Santo passou poucos meses na então imponente capital do Império luso do Oriente? E, esses mesmos, foram dedicados mais a reformar os portugueses. Ainda mais: os goeses não podem sequer gabar-se de terem sido alguma vez objetos da especial afeição do Santo. "Pelo contrário,

suas cartas contêm muitas observações críticas aos indianos, que tive~ ram pouca resposta ao Evangelho, enquanto que todo seu louvor e admiração são reservados aos japoneses, que ronquistaram seu coração". Então, "como aconteceu que um santo que, durante sua vida, não pareceu preocupar-se com os goeses, fosse subitamente promovido, após sua morte, quase que por popular consenso, a Senhor de Goa?" A resposta está em que "a singular relação entre os goeses e seu santo foi estabelecida não tanto com o Xavier vivo, mas por meio de seu corpo incorrupto. O privilégio de terem sido escolhidos como guardiães do precioso corpo ... parece ser a principal base desse duradouro e inquebrantável devotamento dos goeses ao seu Saib" (1).

Estavam presentes à solenidade o Governador do Estado, Goapala Ramunujam, hindu, o Primeiro Ministro Estadual, Wilfredo de Souza, católico, 140 sacerdotes e centenas de freiras de por seu porte e característico scmiso diferentes regiões do país, e uma mulgoês, mostravam -se ufanos, como tidão de mais de 1O mil fiéis. que "sócios" das grandes cerimôApós a Santa Missa iniciou-se a nias da Exposição. Não faz São procissão trasladando a urna, contendo Francisco Xavier parte da família? os restos mortais do Apóstolo, da Basílica para a Sé Catedral, a cerca de duNo dia 3 de dezembro, zentos metros de distância. O percurso veneração de 100 mil escolhido foi o de um quilômetro, perperegrinos corrido em meia hora. Neste ano eram esperados cerca O espírito de fé e piedade - como de 1 rnilhão e 500 mil peregrinos e foi ressaltado pela imprensa - podia turistas contra um total de 1 milhão ser sentido ao ver a multidão esperande visitantes em 1983. Para suprir do pacientemente sob um sol abrasaacomodação do excedente, o Go- dor, o privilégio de passar diante dos verno requisitou escolas e outros restos mortais de 442 anos do Goencho estabelecimentos de porte. Saib (Senhor de Goa), como afetuosaNo dia 20 de novembro, véspera mente os goeses chamam a São Franda abertura da Exposição, a urna de cisco Xavier. Nesse dia 6.689 pessoas prata, contendo os restos mortais de oscularam a urna. São Francisco Xavier, foi descida O ponto alto dos 48 dias de Exposido mausoléu da Basílica do Bom ção foi a festa do Santo, de 3 de dezem"Cada goês sente-se privilegiado e Jesus e levada para a sacristia. bro. Nesse dia, por ser feriado estadual, honrado em se considerar o custódio No enorme terreno lateral da Basímais de 100 mil peregrinos estiveram desse único tesouro". "Eles o prezam lica, foi montada gigantesca tenda-ca- na Velha Goa para venerar seu precioso mais do que suas propriedades pes- pela com 10 mil cadeiras, para as ceri- tesouro. soais, e cederiam antes algum bem fa - mônias da Exposição. Durante o tempo da Exposição, as miliar de valor sentimental a consideA abertura solene realizou-se na ruas de Panjim - cidade bem maior do rar a hipótese de serem privados dessa manhã seguinte com uma Missa Ponti- que Goa, situada a 16 quilômetros dessanta relíquia" (2). fical oficiada pelo Cardeal Arcebispo ta - regorgitaram de peregrinos de Já o fato de as autoridades eclesiásde Bombaim, Dom Simon Pimenta, todas as regiões da Índia. ticas terem previsto a Exposição para concelebrada por Dom Gonsalves, ArA maior parte era de outros Estados, durar até 7 de janeiro, foi em grande cebispo de Goa, Dom Felipe Nery Ferprincipalmente de Kerala, o de maior parte para permitir que o maior número rão, por Dom lgnatius Lobo, Arcebispo concentraçao de católicos no país, Tade goeses, trabalhando no Exterior, sode Belgaum, e o Vigário da Basílica. mil Nadu e Karnataka. Boa parte, não bretudo no Golfo Pérsico, tivesse oporpodendo arcar com as despesas de alotunidade de vir prestar jamento, numa solução homenagem a seu Patromuito familiar, acampano. vam nos enormes clausOs goeses nunca são tros do convento anexo à tão eloqüentes como Basílica. Ou mesmo, ao quando tratam desse ar livre, aproveitando-se tema. Esse mesmo entudo clima ameno e seco, siasmo podia ser sentido sobre esteiras de palha. nas ruas de Panjim e ad:l';J"o caminho para Goa, jacências, nos dias de era freqüente encontrar abertura ela Exposição. peregrinos preparando, De todos os lados, em enormes panelas, arpessoas vestindo seus roz com curries. Alguns, melhores trajes - em de localidades limítroautomóveis, as mais fes, faziam percurso de abastadas; de motociclevárias dezenas de quilôta ou lambreta, as de metros a pé, rezando o classe média; e a pé as Rosário e entoando cânmais pobres - diriticos. Chamava a ateogiam- e à Goa. E todos, Pés do grande missionário, que percorreram longas distâncias para pregar Ção, no dia 3 de dezemo Evangelho na Ásia Cabeça de São Francisco Xavier, sendo visíveis as lesões que a face sofreu quando seu corpo foi desenterrado em Málaca


Em Málaca, foi o corpo recebido com grande solenidade e depois enterrado na porta da sacristia da igreja de Nossa Senhora do Monte. No mesmo ano, atendendo aos desejos que o Santo ainda em vida manifestara, seus restos mortais foram conduzidos a Goa. Ocorreu em seguida, por imposição popular, a primeira exposição solene do precioso corpo: as cinco ou seis mil pessoas que lotavam a igreja dos Jesuítas," estavam determinadas a não sair

enquanto o corpo não lhes fosse mostrado". Isso feito, a reação foi tal que, "se não estivéssemos lá, cada pessoa do povo teria saído, levando um pedaço da carne do corpo para guardar como relíquia, tão grande era a devoção" (3). Depois de três dias de exposição, o A Ba~ílica do Bom Jesus, a mais expressiva das igrejas de Goa, edificada a partir de t 594, corpo foi novamente enterrado na igrecontem, numa capela lateral, a urna de prata com as relíquias de São I<rancisco xavier ja de São Paulo (4). Em 1560, quando essa igreja foi camadas de cal viva pelos portugueses bro, a presença de 50 peregrinos, de demolida, o precioso tesouro permanena praia de Sansião; como, três meses traços étnicos mongolóides. Eram catóceu certo tempo no quarto do Reitor, e depois, no momento de partirem para licos recém-convertidos, procedentes depois no do Mestre de noviços, até ser Málaca, exumaram-no e "encontrado distante Estado de Arunachal Prafinalmente levado para a Casa Professa ram-no intato, como se estivesse vivo". desh, em seus trajes típicos. Esse Estada Basílica do Bom Jesus, onde se endo fica situado no extremo Oeste da Para o comprovarem, fizeram um corte contra até hoje. no braço do cadáver: a carne estava Índia, na fronteira com a China e fresca e desprendia agradável odor. Myanmar (antiga Birmânia). Começam as mutilações Entre as numerosas comitivas de Em 1614, para atender ao deseperegrinos estrangeiros, destacavajo do Pe. Acquaviva, Superior Gese a dos católicos do Japão, da cidaral dos Jesuítas, foi-lhe enviado de de Kangoshima, que, segundo como relíquia o antebraço direito informaram, planejam celebrar em do corpo incorrupto. Cinco anos 1999, os 450 anos do desembarque mais tarde, a parte remanescente do de São Francisco Xavier naquele braço foi decepada, dividida em país. três partes e enviada aos Colégios O encerramento da XV Solene jesuítas de Málaca, Cochim e MaExposição das relíquias de São cau. Francisco Xavier começou com peNo ano seguinte, a pedido do quena cerimônia presidida pelo Carnovo Superior Geral dos Jesuítas, deal Patriarca, na Sé Catedral. Em Pe. Vetleschi, os órgãos internos do seguida, iniciou-se a procissão conSanto foram removidos e distribuíduzindo a urna de volta para a Basí-. dos por diversas partes do mundo, lica do Bom Jesus. inclusive no Japão. Em 1744, transcorridos 192 De "Corpo Incorrupto" a anos do falecimento do Apóstolo "Sagradas Relíquias" do Oriente, fez-se novo exame méEm maio de 1554, quase dois dico de seus restos mortais. "Consanos após a morte de São Francisco tatamos com nossos próprios olhos Xavier, o Pe. Melchior Nunes Bara continuação do milagre", diz em reto, Superior Provincial dos Jesuícarta o Pe. Provincial. tas do Oriente, escreveu carta a O corpo incorrupto de São Santo Inácio a respeito da conservaFrancisco Xavier foi novamente ção do corpo do Apóstolo até aquela examinado em 1859 (a cabeça, resdata. Imponente interior da Basílica do Bom Jesus, em secada e escurecida, estava ainda Nela, narra pormenorizadamen- estilo jesuítico coberta de pele e raros fios de cabete como o cadáver foi enterrada sob

los); em 1878 (apesar de ressecado e escurecido, foi julgado em boas condições); em 1910 (os médicos afirmaram que o corpo estava num estado que permitia expô-lo à veneração pública); em 1923 (corpo ressecado, ossos aparentes em algumas partes, as formas faciais estão preservadas); em 1932 (percebese ainda as formas da face, todo o corpo está ressecado, mas nada indica putrefação).

"Sagradas Relíquias": o que restou Em 23 qe junho de 1951 foi feito o último exame médico, tendo-se examinado o rosto, as mãos, como também as partes cobertas pelos paramentos. Os contornos faciais estavam ainda preservados, com rara barba, os tendões e veias da mão esquerda perceptíveis, os do pé esquerdo ainda rijos, mas a pele ressecada. No pé direito faltavam quatro artelhos; dois, do esquerdo tinham unhas e os outros três tinham se reduzido a pedaços. Quando os paramentos foram removidos, viu-se que a cabeça estava separada do corpo. Foram encontrados vários ossos soltos no centro da urna, o que indica que provavelmente esta teve uma queda em algum momento. Segundo constataram os médicos, as partes do corpo que permaneceram incorruptas foram sobretudo aquelas não cobertas, se bem que apresentem também sinais de lenta decomposição. No início de 1955, o médico italiano Brandizi Ettore esteve em Goa, para recolocar os ossos no lugar, mas não tocou na face, na mão e nos pés. O então Administrador Apostólico, Dom Raul Gonsalves, em declarações à imprensa, afirmou que "já não se

A urna, que encerra as relíquias do Santo, é conduzida processionalmente para a Basílica do Bom Jesus

andaram milhares de quilômetros, movidos pela sede de almas do Apóstolo, estão ressecados, mas visíveis. Falou-se em sepultar as santas relíquias. Entretanto, "o Patriarca, dando as

rando seriamente a possibilidade de dar à exposição um caráter permanente, de modo a permitir aos peregrinos a possi bilidade de venerarem as sagradas relíquias em qualquer ocasião.

boas vindas aos convidados, que vieram para a abertura da Exposição, reafirmou que o corpo permaneceria, e que não se punha o problema de ser enterrado ou não, mas sim exposto à veneração pública" (5). Esta XV Exposição solene pode ter sido a última. Na recepção que ofereceu ao Cardeal Dom Simon Pimenta, o Arcebispo Patriarca das Índias afirmou que de fato o Episcopado está conside-

Plinio Maria Solimeo Enviado especial

NOTA (*) Referênci a a Afon so de Albuquerque ( 1453- 1515), un1 dos mais heróicos conqui stadores portugueses, que recebeu do Rei de Portugal o título de Governador da Índia. BIBLIOGRAFIA (1) " Renovação", Panjim, Goa, nº 22, 16-30/ 11/94, pp. 419-20. (2) Anne Menezes, S1. Francis Xavier, Frontline Jesuit M issionary and Patron of Goa, in "Souvenir of the XV Solemn Exposi1 'li tion of th e re fies of St. Francis Xavier", Edition of the Committee, Old Goa, 1994, p. 23. (3) V. Perniola, S.J., The Catholic Church in Sri lanka - The Portuguese Period, I Yol , 1505-1565, Tisara Prakasakayo Ltda., Dehiwa la, Sri Lanka, 1989, pp. 339-41. (4) Os dados fornecidos a seg uir foram coletados em: Newman Fernandes, The Body of St. Francis Xavier, in " Renovação" , Panjim, Goa, nº22, l6/30I 1-04, pp. 422 e ss. (5) "Herald", 23-11-94, 1' Peregrinos, formando ~uas_ longas ~las, aguardam sua vez para venerar as relíquias p., The last Exposition.

pode falar presentemente de um corpo incorrupto, mas somente de sagradas relíquias de São Francisco Xavie". (5). Hoje os traços faciais do Santo desapareceram quase completamente. A mão esquerda está mumificada, e os pés que do Santo, expostas no mtenor da Se catedral de Goa, cttjo perfil observa-se ao fundo.


Hagiografia

Veneiâvel Maria Clotilde de Bourbon, Rainha da Sardenha

R

oma - Visitando recentemente uma igrej a moderna em Nápoles, chamou-me a atenção a homilia que o sacerdote fazia durante a Missa. Falava ele de uma rainha santa enterrada nessa cidade, figura histórica muito popular entre os napolitanos. Vivamente impressionado pela personagem, objeto de tanta devoção popular, dirigi-me à velha igreja de Santa Catarina a Chiaia para onde, em número cada vez maior, acorrem os fiéis a fim de venerar os restos mortais de Maria Clotilde de Bourbon, Rainha da Sardenha (17591802), hoje em processo de beatificação. É evidente que há um trabalho da Providência" , explica-me Quadro da venerável Maria Clotilde de Bourbon, o Pe. Antonino d' Chiara, jo- quando ainda jovem vem e dinâmico vigário de Santa - - - - - - - - - - - - - - - Catarina." A devoção à Venerável Cloria Clotilde não foi santa apesar de ser tilde de Bourbon estava praticamente rainha. Ela foi santa e rainha. Sua conmoribunda. Porém, de alguns anos para dição de rainha foi vivida com profuncá, assistimos a uma verdadeira expio- da Fé e espírito de sacrifício. Agora são de entusiasmo para com a Rainha esperamos vê-la elevada à honra dos altares". perseguida pela Revolução Francesa". Maria Clotilde Adelaide de Bour- " A que atribui o Sr. esta expiob d b d l759 on nasceu em 23 e setem ro e , são?", indago curioso. _ "Estamos numa hora histórica · em meio aos esplendores do Palácio de Versalhes. Neta do Rei Luís XV, filha muito especial" - responde o sacerdote - ; " uma série de preconceitos con- do Delfim Luís de França, irmã do futra a nobreza estão desaparecendo. turo Rei Luís XVI, Maria Clotilde esAgora começa-se a compreender que tava destinada a um porvir à altura pode haver, e de fato houve, muita sande sua condição de princesa real. tidade entre os nobres, mesmo de estirNa Corte, a princesinha era como pe real. Eu mesmo estou compreendenum raio de luz. Escrevendo a sua mãe do cada vez mais as inter-relações entre Imperatriz Maria Teresa, a fu tura Rainobreza e santidade. A Venerável Manha Maria Antonieta dizia: "A Clotilde

é a doçura personificada, composta, sensível e sempre com um sorriso de bondade à flor dos lábios" . Muito cedo deu mostras de elevada piedade. Aos três anos lia diariamente o Catecismo. Pouco depois, vendo uma tia - a Princesa Luíza, filha de Luís XV - abandonar a vida da Corte para tomar o hábito de carmelita, manifestou o desejo de imitá-la. A razão de Estado, porém, lhe reservara outro destino . Em 1775, com apenas 16 anos , uniu-se em casamento com Carlo Emanuele de Savóia, Príncipe do Piemonte, herdeiro do trono da Sardenha, trasladando-se para Turim, capital de seu novo reino. A Providência lhe foi benigna, pois seu real consorte era também fervoroso ~atólico.

Maria Clotilde logo cativou os corações de seus novos súditos, edificados em ver tanta piedade na jovem princesa vinda da França. As memórias da época são unânimes em ressaltar seu requinte e grandeza, como também sua extraordinária humildade e seu espírito de mortificação. Quando a família real saía à rua para dirigir-se à igreja ou a alguma função de protocolo, o povo se apinhava gritando: "V amos ver nossa santa passar! " O próprio Príncipe do Piemonte freqüentemente pedia que as pessoas se encomendassem à sua esposa, pois "ela é iluminada e mantida pelo Céu". " Tanta espiritualidade numa princesa e numa rainha não nos deve espantar", escreve um biógrafo da santa, o Pe. Giovanni Parisi. "A alta aristocracia e a Quadro da Venerável já na maturidade nobreza em geral conservavam - mesmo nos faustos indispensáveis Fortaleza diante do tufão da vida de corte - ainda íntegros os revolucionário princípios da moral, da retidão, da deA via crucis da Princesa iniciou-se voção à Igreja. Isto é largamente deem 1789. Nesse ano, eclodiu a Revolumonst:rado pela longa lista de santos e ção Francesa que logo começou a perbeatos entre as casas reais da Europa. seguir sua família e a trabalhar pela A Casa de Savóia não estava, neste ruína da monarquia estabelecida numa ponto, em último lugar" (1). nação cognominada" Filha PrimogêniCom apenas 24 anos, tendo perdido ta da Igreja", em nome da liberdade, da toda esperança de dar um herdeiro ao igualdade e da fraternidade. Profundatrono dos Savóia, de acordo com seu mente devotada aos princípios monárconsorte a Venerável fez voto de castiquicos e aristocráticos do Ancien Régidade e decidiu viver com seu esposo na me, Maria Clotilde sentiu em sua prómais perfeita continência. Os dois perpria pele, embora à distância, as devasseveraram em tal estado até a morte. tações revolucionárias. Em agosto de 1789, a Assembléia revolucionária votou a abolição dos direitos feudais . Em 1791 foi a vez do trono cair por terra. Sob a pressão de Robespierre, as prisões começam a encher-se de inocentes cujo único "delito" era ser aristocrata ou ter sido acusado de manifestar simpatias pela aristocracia. Começava o Terror, cujos ecos abalaram seriamente a saúde da Venerável. Em fins de janeiro de 1793, terrível notícia: seu irmão, o R-ei Luís XVI, fora gilhotinado! Com admirável resignação, Maria Clotilde se retirou a seus aposentos para chorar sozinha. Era o Missa em honra da Venerável na igreja de Santa Catarina a Chiaia, dos Padres da Ordem Terceira Regular de São Francisco (Nápoles), em 7 de março de 1993

fim de uma época. Meses mais tarde, chega a fatídica informação de que também sua cunhada, a Rainha Maria Antonieta, tinha sido vitimada pelo ódio satânico da Revolução. Maria Clotilde mal havia se refeito desses golpes, quando lhe é comunicado que sua irmã Mme. Elizabeth, da qual ela havia cuidado como mãe após a morte prematura dos pais, tinha sido condenada pelo Tribunal revolucionário de Paris e guilhotinada pelo simples "crime" de ser princesa de sangue real. O próprio Príncipe do Piemonte deu-lhe a notícia. Deixando cair a cabeça, ela apenas suspirou: "O sacrifício foi feito!", e caiu desmaiada por terra. Em 1796, a morte do Rei Vittorio Amadeo III eleva ao trono do Piemonte o piedoso casal. De natureza belicosa, Vittorio Amadeo III morreu em meio à dor de ver seu Reino se esfarelar por causa da Revolução Francesa, e a conseqüente política napoleônica de estender suas metástases revolucionárias por toda a Europa, abatendo velhos tronos e dinastias.

Imediatamente após seu falecimento, correu a voz pelas estreitas ruas de Napoles: "Morreu uma santa! Ditosa ela que se foi ao Paraíso!" O novo Rei, Carlo Emanuele IV, torna-se logo alvo de muitas conspirações, milagrosamente sobrevivendo a varios atentados. A isto se somava a constante pressão externa das tropas revolucionárias francesas.

Abdicação e exílio em Nápoles No dia 8 de dezembro de 1798, cedendo à dupla ameaça interna e externa, Carlo Emanuele IV é forçado a abdicar do trono por pressão direta da França. Após ter colocado o Santo Sudário - que fazia parte da herança da Casa de Savóia - em lugar seguro, a família real teve que fugir para o Sul, em meio aos rigores do inverno.


pelo infatigável Em Florença, Pe. Gabriele Andevido a uma trisdreozzi, Postulate coincidência, dor Geral das cauencontram-se os sas dos Terceiros soberanos sardos Franciscanos . com o Papa Pio Nesse ano, a Santa VI, também ele Sé promulgou o fugitivo das tropas decreto sobre a revolucionárias heroicidade das que tinham invavirtudes da Venedido Roma e prorável Maria Cloclamado uma estilde de Bourbon, púria República abrindo assim o Romana. Caindo caminho para sua aos pés do Pontífibeatificação. ce, o Rei exclamou: "Ah, Santo Apreço Padre. Be11ditas as atual pela nossas desgraças nobreza que nos conduziConfirmando ram aos pés do Vio clima de renovagário de Cristo!" Após desven- A Princesa Elisabeth, irmã da venerável, é conduzida para fora da prisão da Conciergerie, da veneração pela nobreza que se turas sem fim, que em Paris, a fim de ser guilhotinada, após iníqua condenação (Desenho da época) nota um pouco por muito abalaram a toda parte, o fluxo de fiéis à igreja de Papa Pio VII a declarou "Venerável" saúde da Rainha, o Santa Catarina não faz senão aumentar. casal instalou-se em Nápoles , capital já em 1808. Seu processo de beatificaUm Comitê de Honra, do qual fazem do Reino das Duas Sicílias, onde foram ção correu fácil e célere até 1844, ano parte, entre outros, destacados memem que foi bruscamente abandonado recebidos oficialmente pelo Rei Ferdibros da nobreza napolitana, tomou sopor razões políticas, ligadas ao papel nando, já então triunfante sobre as forbre si a tarefa de difundir o culto à que a Casa de Savóia teve na unificação ças revolucionárias que o tinham forçailustre Rainha. do a refugiar-se temporariamente na italiana. São realmente muitos os que, nesta Mas o tempo foi deitando sua ineSicília. belíssima cidade espraiada nas encosxorável poeira sobre os acontecimenEm Nápoles, Maria Clotilde afeitas do Vesúvio, desejariam ver elevada tos. A causa foi retomada em 1972, e çoou-se especialmente à igreja de Sanà honra dos altares a irmã de Luís XVI, levada a feliz termo dez anos mais tarde ta Catarina a Chiaia, dos padres da Oro Rei-mártir da Revolução Francedem Terceira de São Francisco, fasa. A estes se somam, em todo o zendo-se ela mesma Terceira Franmundo, as milhares de almas para ciscana. O povo napolitano, piedoquem a Venerável Maria Clotilde so e entusiasta, a venerava já em de Bourbon-Savóia representa uma vida como santa. Aos que iam visiexcelsa síntese da aristocracia protá-la, Carlo Emanuele dizia: "Veveniente de seu altíssimo berço e da nham, mostrar-lhes-ei meu Anjo". virtude cristã, fruto de uma piedade que atingiu os páramos da santidaMorte e glorificação de. Porém, chegava a hora do supreJulio Loredo mo sacrifício. Muito debilitada peCorrespondente las mortificações, golpeada no mais íntimo pelas más notícias que lhe chegavam de todas as partes sobre o avanço das idéias revolucionárias, a Rainha Maria Clotilde de Bourbon morreu no dia 7 de março de 1802, com apenas 42 anos de idade. Imediatamente, correu a voz pelas estreitas ruas da cidade: "Morreu

uma santa! Ditosa ela que se foi ao Paraíso!" (2). Enterrada na igreja de Santa Catarina a Chiaia, Maria Clotilde foi logo objeto de devoção popular. O

NOTAS 1. Pe. Giovanni Parisi , T.0.R., La Venerabile Maria Clo1ilde, Regina di Sardegna, Tipografia Samperi, Messina, 1992, p. 5.

capela da Divina Pastora, na igreja de Santa catarina a Chiaia, Nápoles, onde se encontra o túmulo da santa Rainha da Sardenha

2. O Rei Cario Emanuele IV posteriormente refugiou-se em Roma, onde viveu uma vida de recolhimento e oração no noviciado dos jesuítas, em Santo Andrea ai Quirinale. Teve uma morte edificante em 1819.

Calar-se face aos tnaus não é tnansidão A mansidão vai contra a ira e as fúrias, n ão para que o homem nunca se encolerize, mas para que o faça onde e quando deve. Por isso tem cara de homem e cara de leão. Algumas vezes se considera manso o homem que cala enquanto outro peca. Isso não é mansidão! Escuta: diz-se de Jesus que "conturbou-se e fez um chicote de cordas". Lê-se no Livro Primeiro dos Macabeus: "Infeliz de mim! Por que nasci para ver a ruína de minha pátria e de meus santos?" Por onde se vê que Cristo é cordeiro e leão (Comentários sobre o Hexaemeron Quinto Comentário, n º 8).

São Boaventura

ESCREVEM OS LEITORES

Relatório Extra "Grandezas e misérias marcam Medicina no Brasil" (CATOLICISMO nQ 527, novembro/94) Aí está um bom começo. Esse relatório tem que ser enviado aos Governadores, Prefeitos, diretores de hospitais, médicos, enfermeiras, homens da área. As indústrias precisam colaborar em todos os sentidos.

Rubens Gomes da Silva - Suzana - SP A atomização dos indivíduos na socieade decorrente do ideário jacobino, proporcionou uma ética estatizante a qual impediu que as comunidades resolvessem seus próprios problemas, bem como eliminou o espírito emulativo entre as pessoas, as quais ficam aguardando as benesses e o paternalismo estatal, o que acarretou o presente estado de anarquia nos serviços que a comunidade deveria prestar a ela mesma. Urge, portanto, que retornemos ao enfoque familiar de administração pública, para que possamos resolver o atual caos

existente, não somente na saúde mas também em outras áreas sob o controle do Estado.

Maria Prandini·Junior - São Paulo - SP O relatório representa um esforço válido no sentido de corrigir ou atenuar as irracionalidades impostas à Nação pelo intervencionismo estatal. O Estado deve aplicar-se com a máxima eficiência nas atividades essenciais, com o mínimo de interferência nos empreendimentos privados e o devido respeito à liberdade individual.

José da Si lva Chagas - Jacareí - SP É uma calamidade pública. Precisei do INAMPS para uma radiografia. A c;onsulta seria de graça. Radiografia, só


se pagasse. Este ano precisei de uma cirurgia, mas o SUS não estava internando, a não ser em caso de morte. Pago até hoje a prestação de minha cirurgia, feita em hospital particular. De que me valeu pagar,..I NSS ?

Maria Martha Reis - Varginha - MG Como não sou da área da saúde, parece-me um grande quebra-cabeça muito bem embrulhado. Talvez um começo sej a olhar para o surgimento dos hospitais na Idade Média, cuja base fo i a misericórdia e o respeito à dignidade humana.

Nelson da Silva FonsecaJunior - Piracicaba - SP O Dr. Lara Duca fala sobre o fundo de saúde pessoal. U ma brilhante idéia. Fico imaginando o esforço dos colegas para produzir esse belo trabalho nessas quatro folhas. Gostaria que todos os médicos do País pudessem receber essa obra. Estou disposto a contribuir para reprodução e distribuição em todos os hospitais.

Elimar Máximo Damasceno - Magé - RJ No di a a dia que passa estamos caminhando para o caos em matéria de saúde. Inclusive no SUS os pacientes são examinados visualmente, e muitas vezes toma-se medicamentos que nada se referem à doença.

Luiz Carlos Santos - Telêmaco Borba - PR Parece-me que não só no pl ano de . saúde o Brasil está falido, mas tam bém em q ualq uer área onde o sistema estatal intervém. Com a mentalidade de nossos" representantes" (só representam os seu~ próprios interesses) cada dia fica pior a situação do País. E necessário uma grande campanha de moralização. Na minha opinião a privatização seria a solução.

Eunice Rodrigues Cáspar - Belo Horizonte - MG Gostei muito do encarte com apreciações sobre a saúde e aitigo sobre a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. É um encarte precioso pai·a os le itores de CATOLICISMO, bem como pai·a os estudantes e pesquisadores. E nviei o encarte para o Provedor da Santa Casa local.

ram socializar a saúde (no papel) quando o País dava o grande arranque para o progresso; 2- todos os políticos encainparam o mando do sistema: a) dando respaldo aos governantes em troca de mani pulação de verbas; b) dando essas verbas em troca de votos; c) a submissão política dos próprios atendentes de todos os meios de distribuição de saúde, que para o atendimento ao solicitante priori za a sigla do partido; d) falta de amor e de solidariedade que aí alcança tanto o atendente como o solicitante, aliás o que graça nessa sociedade moderna, qual um castigo dos céus.

Maria de Fátima Peralba Oliveira- Guaçuí - ES Por 19 anos minha empresa representou o INPS em Mirandópolis. Assistimos ao grande genocídio perpetrado pelo carrasco governamental. E tudo devemos a duas grandes desgraças: 1- políticos comunistas (e a estes juntados grande porção de demagogos) que pregavam a igualdade sem nunca terem entendido sobre relação ou proporção, e que consegui-

Plinio Corrêa d e Oliveira

Emílio Colnago - Mirandópolis - SP Está excelente do ponto de vista da diagramação, conteúdo, fo tos e opiniões dos destacados profissionais. Ficaria encantada de conhecer a origem das Santas Casas de M isericórdia.

Deiia Maria Gondra- Buenos Ai res - Argentina

um amigo é alguém que gosta de você apesar de seu sucesso Murilo Felisberto

[O medíocre] vive cometendo pequenas infâmias que,

à força de serem pequenas, não têm aparência de serem infames. Ele se sente apoiado na multidão dos que lhe são parecidos Ernest Hc llo

Aind a o D ireito Alt ernativ o Recebi a revi sta CATOLICISMO, onde encontrei importante artigo de sua responsabilidade. Devo-lhe confessar que sempre pensei em escrever sobre o tema do Direito Alternativo, e minha opinião vai ao encontro de seu estudo manifes tado.

Marino Mendes - Varginha - MG

A

inveja é a conspiração de um só contra a grandeza de todos Marc Escl1o lier

o homem que diz não ser feliz poderia pelo menos tornar-se tal através da felicidade de seus amigos ou seus próximos. A inveja lhe tira este último recurso Jean de la Bruyere

S a n t o Sudário Aproveito a oportunidade para sugeri r-lhes: por que a TFP não edita em um único fascíc ulo toda a história do Santo Sudário, desde seus primórdios, suas tradições, itinerários, custódi as, acidentes, incidentes, descobertas, exames, ensaios e perícias por que passou a santa relíquia? Já imaginaram a repercussão de tal obra em nossos tempos de materialismo e imoralidade?

José Roberto Homsi - São José do Rio Preto - SP

Wilson José Caritá- Limeira - SP Sobre a saúde pública no Brasil, parece-me que o SUS funciona muito bem no papel. Porque na realidade não fu nciona. No meu m unicípio, antes do SUS, ti nhamas várias opções para uma consulta: Sindicato Rural, Sindicato Patronal, Posto de Saúde, Santa Casa. Hoje, para conseguir temos que ir para fila quatro horas da manhã. As vezes dormimos na fila. Foi ótimo, nós fomos esclarecidos de verdade. Quero agradecer o diretor Paulo Brito e a todos os jornalistas responsáveis por essa matéria.

A inveja coloca no coração do homem uma corda, cuja outra ponta está no fundo dos infernos

Catolicismo Preços durante o mês de Março de 1995:

ASSINATURA ANUAL COMUM: R$ 30,00 CO OPERADOR: R$ 40,00 BEN FEITOR: R$ 90,00 GRAN DE BENFEITOR: R$ 150,00 EXEMPLAR AVULSO: R$ 3,00

Lá é cá ... "soldados" da droga - " Aberrações em povos asiáticos pagãos ", Cabeça ras pada, uniforme militar, pos ição de dirá talvez algum leitor. sentido e perfil ados. Quem serão os meninos que fi gura m na fo to ao lado, cuja idade, em médi a, é de JOanos? O leitor talvez tenha pensado em algum a Por certo, o pagani smo não é estranho à absurda guarda-mirim, sem excluir a - - - - - - - - - - - , pos ição moral assumida pelos hipótese de esco la preparatócamponeses da reg ião de Ho ri a militar ou po li cial de país Monge seus filhos, em consias iáti co. E nganou-se. Trataderar " normal" aquela ativise dos mais jovens compodade. Tal aberração, porém, nentes de um exército de 20 não é exclusiva do paganismo mil homens, que defendem o oriental. Ela ex iste, em grau Es ta d o cl a nd es tin o d o menor e circunstâncias distin" Tri ângul o de Ouro", cuj o tas, também no Ocidente exchefe é o fami gerado senhor cristão. Os chefes do narcomundial do ópi o, Khum Sa. tráfi co nas fav elas cariocas, Situada em territóri o birm aem Medelin ou Cali , na Conês, e próx ima das divi sas lô mbia , e mbo ra não sej am com a Tail ândi a, o Laos e a Khum Sa, mantém igualmente China, Ho Mong - a cidadecomo que " ten'. itóri os livres", zinha de Khum Sa, com 5 mil dentro dos quais exercem até habitantes - control a 60% da produção de ópi o da " poderes poli ciais" . E, muitas vezes, utili zam-se Mia nm á e abri ga um centro de treinamento mili de crianças para o tráfi co, as quais faze m lembrar tar. Os camponeses pobres da região entregam seus os so ldadinhos do " Triân gul o de Ou ro". filh os a Khum Sa, pois con sideram a participação Lá e cá, " soldados" da droga. Frutos do pagano "exército do ópi o" e o aprendi zado na esco la nismo as iático e do neopaga ni smo ocidental! do centro para-militar uma" promoção social" ...


Se adentrarmos na área da his- das religiosas contemplativa.v c:011 até algumas décadas atrás. E foram estrangeiros, como Gennain tória religiosa nacional, há um fei- cepcionistas, fandada no sdc. X Bazin, ex-conservador do Museu to que mereceria ser registrado por Santa Beatriz da Silva. do Louvre, em Paris, que as valo- com destaque: o das três irmãs da Em virtude da devoçlJo àquele rizaram devidamente, tornando-as familia Costa que de sua cidade dogma mariano, pode-se admirar universalmente divulgadas e admi- natal de Penedo, Alagoas, estabe- no teto da capela de Macaúbas exradas. · leceram-se no sítio de Macaúbas, pressiva pintura da Imaculada. li E no âmbito da História ... perto do rio das Velhas. Iniciaram no altar-mor, artística imagem de ali ''vida religiosa "já em 1710. Nossa Senhora da Concelçílo. quantos "silêncios"! Em 1743, concluída a construNo altar lateral da dln•lt,11 há Quais os leitores que já conheMas também em outros campos ciam a graciosa capela aqui repro- ção do atual convento, para ali uma imagem de No.v.w Sl'lllwra é necessário apontar valores es- duzida, verdadeirajóia do barroco transferiu-se o Recolhimento femi- Menina, de pé /111110 ,~ Sua 111 1•1 condidos e quebrar silêncios iruiu- brasileiro? Como pedra preciosa, nino que havia sido fandado em San/ 'Ana, sentada •m po.vlç/10 mazidos. Por exemplo, no campo da ela estáencrustada no Convento de 1716, cujas religiosas portavam jestosa,, matl'mal. Â 1•.vq111•rclu, ,ir arte - mais próprio às matérias Macaúbas, que dista cerca de 50 hábito franciscano. As innãs Costa 1101111•11/al.1· Jwwlm xnult'lulm da e algumas primas constituíram o c/w1.wra 1•vocm11 o .n1hllmltl111/i•ela desta seção - e na esfera da His- quilômetros de Belo Horizonte. núcleo inicial desse Recolhimento, vida co11tn11platlva. tóri(J. Por que esse mais que bi-cen- que historicamente foi a primeira Ntlo valeu "p1•11a, ,w·o lt•ltor, Desta maneira, pode-se dizer tenário Convento não é mais foca- comunidade religiosa feminina es- exumar esMi1· rlq111•zrtv da ur/1• braque as obras geniais do Aleijadi- lizado, Já não dizemos pela mídia, tabelecida em Minas Gerais. Em e de nossa história rt•ll •Jonho eram insuficientemente conhe- mas por publicações católicas e 1926.foi ela incorporada à Ordem sileira Jloto: Tomh lltlli da Imaculada ConceiçlJo, isto é, sa? cidas pela maioria dos brasileiros livros artísticos especializados? llApcoial para C:011/// mo

Catolicismo, desde seus primórdios, sempre procurou realçar virtudes e verdades que, de modo especial, se opõem a vícios e erros de nossa época. Dai as seções Virtudes esquecidas, e, posteriormente, Verdades esquecidas que nossa revista há anos e com tanto provei- · to espiritual, vem oferecendo a seus leitores.



CATOLICISMO 44 anos de luta, na fidelidade doutrinária

Discernindo, distinguindo, classificando .. .N2 532 Abril 1995

Betinho, ideologia, Religião e

Números

Você sabia que o Betinho, tão propagandeado pela núdia, tem wna posição radicalmente esquerdista, emite conceitos religiosos que lembram o velho panteísmo gnóstico e gosta de lançar números bombásticos?

H

O mes mo cartão volta à care rbe rt de Souza , ga co ntra a propri edade privavulgo Betinho, ·anda dizendo por aí da: " a terra é be m planetário, não .pode ser pri v il égio de nin que em vez de R efo rma g ué m, é bem soc ia l e não privaAgrária ele prefere falar em do, é palrim ô ni o el a hum anida"democratização da terra" de". para tirar ao tema seu cunho O movim nLo pretende exideológico. pandir s ua ár a de propaganda, Acontece que o próprio co m um programa semanal ele_ Betinho se exprime prolixaTV, se mpre mui Lo bem acolhido mente em termos da ideo lop la 11ddia . gia radical de esquerda, que Parec' s ' rum vezo adotado é a s ua. Assim , para e le, a por B ' linh o, o lançar números propriedade privada da terra bornhás ti ' OS . /\ss im, informa a se enquadraria e ntre os" mi " Folha de S .Pa ulo" (9-2-95) "o tos", "absurdos" e " prenúrn ·ro-cha v para a atuação de co nceitos" , e a terra deveria A mesma obsessão de Betinho contra as cercas já se notava B 'Linho •111 95 : 4,8 milhões de er co nsiderada um " be m nos versos de D. Casaldáliga da década de 70 traba lhad o res sem-lerra no Braplanetário". Beti nho se " SOS Fazendeiro" , Beti nho prod uziu s il ". mostra preoc upado també m em " romum cartão que pretende que s ja assi per cercas" . Lembramos qu e, na campanha nado por muita gente e nviado ao PreÉ, sem tirar nem pôr, o vel ho comu" -ontra a fome", o núm 'J'O sensac ional sidente da Re públi ca, r ivindi ando ni mo dos soc ialistas utóp icos do sécude BeLinho era 2 milhões de fami ntos. Reforma Agrária . lo passado, como Fourier, Saint-S iDei o is, nume rosos 'special istas mosmon , Proudhon e caterva, sobre o qual Lraram que s tratava ele um abs urdo O cartão, cham ado " arta da TerM arx passou um verniz chamad o slatísti co, e BeLinho teve que amargar ra", faz le mbrar um a visão pant eísta cio "científico" . o vexame ele declarar "Es te é um Pa ís mundo , na qu a l a Lerra seria u111 a 'spéPara que não se creia que estamos o nd · as estatísticas sociais são terrivelcie ele divindade: "U m dia a vida s urexagerando, eis trecho do artigo de Be111 '111' pred ri as" ("Veja", 13-7-94). E g iu na terra . A Lerra tinha ·0111 a vida tinho publicado no Santuário de Apao " Jornal da Impren sa" , ele Goiânia um cord ão um bi li ca l. A vida ' a l '1-ra". recida" (21 a 27/1/95). (.5 7 (),1), puhlirnu a propósito matéria ("Fo lha de S . Pa ul o", 19-2 95). /\ li {is, "Em 1995, a Ação da C id ada ni a va i rn 111 o 111ulo : " I) •srnberta a fa rsa cios como e le pr pri cl c larou , h{ij{i a i •uni propor a "democratização da terra" .L 111ilho ·s d · 1'11111intos". tempo Betinho abandonou a R li •iao ... Os com itês estão desde j á desafiados cató li ca . /\1•on1 , lk ti111to 11111\'l'l' ter s 'esquca pensar como chegar à terra, "como l'ido (Jlll' .. IIS l'S IUIÍSI il'llS S() ·iui s S, o romper cercas e preconceitos", ve lhos Desse panteís mo s ur, · a visto ·o1 ·1riVl'l111 ·11l l' 1m·drias" e se dispõe a " mitos e absurdos" modernos que a in munitária (com uni sla !) nu q11 ul s · ba hrnndir q11l' lta •l,8 milhões ele trabalhada tran sformam a terra em um bem seia a Reforma A r{i riu dl' netinho : dores Sl' rll lt·n·a no Brasi l. priv ado ele uns poucos que se recusa m "Cercada, a terra viro11 ·oi su de a la reconhecê-la co mo be m planetário". Mas, p ·nsemos um pouco. E se fosgué m, não de todos, nao rn11111111. A Num E ncontro rea li zado em Vitóri a s ·'? Nuo · natural que muito trabalhaterra e a cerca". Essa ohscssao co ntra dor rwo tenha Lerra e viva ho nestamen(ES), e m fin s de fevere iro, o movimena cerca é a mesma qu ' ' ll<.:ont rnmos nos Lo de BeLinho lançou uma ação de grant • d· seu trabalho? A não ser nos arversos ele D. Casald :'i li ga, q11e o Pror. raiai s comu nistas, sempre se entendeu de envergadura. Pl ínio Corrêa ele Oli v ·ira tao hem refuque o reg ime de salariado perfeitatou em seu livro " A 1 •reja ant e a E caUtili zando um método que lemb ra mente justo e cristão. Não • assim ta mlada da Ameaça omu11i s1u". (Editora muito proximamente (com o sin al mebém no comércio e na indú stri a? Vera Cru z Ltda. São Pa ulo , 1976) nos na frente) os lances da campanha

Assestando o Foco

e

orno já se tornou tradição em nossa revista, apresentamos como artigo de capa matéria sobre a Semana Santa. Sempre repetida e nunca exaurida, sempre renovada e nunca tediosa, a liturgia da Igreja Católica, tanto de rito latino quanto oriental, traz incansavelmente todos os anos à consideração de seus fiéis os acontecimentos da Semana Maior, como é conhecida em terras de Espanha os últimos dias da vida terrena do Santíssimo Redentor. Nas cercanias de Jerusalém, numa lúgubre colina, lugar de muitas execuções, foram erguidas três cru zes. A soldadesca romana, com total conivência do Sinédrio do Templo, executava a pena de morte contra três condenados. Contudo, a cruz do meio trazia suspensa de seu madeiro a salvação de toda a humanidade. Desde os primeiros até os últimos seres humanos que vierem a nascer neste mundo, todos, sem exceção, poderão benefici ar-se - se o qui serem - do preço daquela morte.

Santo Agostinho, o genial Doutor da Igreja, escreveu uma sentença lapidar: "Deus que nos criou sem a nossa ajuda, não nos salva sem a nossa ajuda" . Que as graças abundantíssimas decorrentes da Vida, Paixão, Morte e Ressureição do Homem-Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, não sejam desperdiçadas pelas maquinações de homens ímpios. Dos que seguem "o pai da mentira". Que o sangue derramado no Gólgota seja penhor de vida eterna. Com estes sentimentos é que Catolicismo remete seus leitores para o artigo sobre a Via Dolorosa, no Caderno Especial.

*** Este comentário, contudo, não seri a completo se deixássemos de focalizar a relação existente entre os padecimentos de Nosso Senhor e a atual crise que se abate inclemente sobre a Santa Igreja, Corpo Místico de Cri sto. Pois a atitude normal ele um católico, vendo a Igreja, sua Mãe, pas-

sar por tal crise, deve ser antes de tudo de profu nda tristeza. E, se Nosso Senhor está sofrendo, todo o vereia-· cieiro católico desejará padecer aquilo que O atormenta. E sofrerá isso meditando as dores dEle. Pode-se ter a certeza ele que, quando Nosso Senhor, do alto da cru z, considerou todos os pecados que seriam cometidos contra a obra da Redenção - a qual consumava de modo tão profundamente doloroso - Ele sofreu enormemente, em vista de tal gênero de pecados cometidos em nossos dias. Mas, em meio às trevas e às provações desta época de crise, o autêntico católico mantém-se firme, amparado pela graça divina, enquanto sua alma anseia para breve o cumprimento da grandiosa promessa de Nossa Senhora em Fátima: "Por fim, meu !maculado Co ração triunfará".

Índice Discernindo 2

Betinho, ideologia, Religião e números

A Realidade Concisamente 4

Comunismo maquiado

Destaque 5

BBC desfaz calúnias sobre a Inquisição

Nacional Brasil na encruzilhada: Governo conseguirá promover necessárias reformas desestatizantes? 6

TFPs em ação - I O Cavaleiro andante Hagiografia

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Irmã Teresa de Jesus de los Andes , primeira Santa chilena

12

Capa - Caderno Especial Semana Santa -

Via dolorosa

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Entrevista A voz dos índios discriminados ... Devoção Mariana

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Nossa Senhora de Montserrat

20

Denúncias Históricas 1939: o Pacto Ribbentrop-Molotov confirmou as denúncias do "Legionário"

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TFPs em ação - li Nos feriados de Carnaval cursos de formação 25

Em Painel Frases e Imagens

Nossa capa: Nossa Senhora da Piedade (detalhe) (sec. XV) , Museu de São Marcos, Florença (Itália)

Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago - Registrada na DRT-SP sob o Nº 23228 Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP - Tel: (011) 824-9411

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Internacional Cúpula Sociat. solução ou agravamento dos problemas mundiais?

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida.

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Fra Angélico

Fotolitos: Microformas Fotolitos Ltda. Ru a Javaés, 681 01130-01 O São Paulo - SP Impressão: 'Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. Rua Javaés, 681 01130-010 São Paulo-SP

A correspondência relativa

à assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Martim Francisco, 665 - CEP 01226-001 - São Paulo - SP - Tel. : (011) 824-9411 ISSN - 0008-8528


lado sua farda verde-oliva e ostentou um fino terno azul-marinho com elegante gravata. Dessa maneira, participou das várias cerimônias e recepções que Mitterand lhe prodigalizou.

Comunismo maquiàdo Um número crescente de ingênuos em quase todos os quadrantes da geografia e do pensamento imagina que o comunismo morreu com a queda, aliás espetacular, do Muro de Berlim . Esta não é a ocasião de analisarmos o quadro real dos países do Leste europeu onde o comunismo subsiste sob maquiagem de má qualidade. Para não irmos muito longe, nem atravessarmos oceanos e terras, é suficiente, poi: ora, constatarmos recentes declarações de Oscar Niemeyer, marxista convicto. Em artigo de sua autoria publicado pelo "Jornal do Brasil ", ao referir-se à visita a ele feita por representantes do PC do B e da UNE, declarou que: "são (eles) fiéis às idéias do socialismo, aceitando, como eu, que o fracasso soviético foi um acidente de percurso, que as idéias de Marx não morreram, que delas vai surgir o mundo melhor que pretendemos" e que "respeitam a bravura da revolução cubana ".

Controle da natalidade através de mutilações No Rio Grande do Sul, algumas prefeituras já aprovaram enquanto outras estudam leis autorizando pagamento de esterilizações. Mas São Leopoldo é a primeira a aplicá-la. Conforme informa o

Pe quisa em agências de emprego revela que o candidato fica em melhor condição de ser escolhido apresentando-se barbeado, de cabelo curto e bem trajado, de gravata e terno escuro, por exemplo. Estaria Castro à procura de novo emprego, após 34 anos ininterruptos no poder? ... De qualquer forma, terminada a fase de recepções, em seu giro por Paris, ele tornou a usar seu uniforme militar.

Natal com selos laicos! Terminada a fase das recepções parisienses, Castro retornou a sua farda habitual

"Jornal do Brasil", quatro mulheres serão submetidas à laqueadura e um homem à vasectomia. De acordo com projeto de lei apresentado por vereador do PMDB, a prefeitura gaúcha de São Leopoldo arcará oficialmente com todas as despesas dessas operações mutiladoras e irreversíveis.

Castro à procura de emprego? Em sua recente visita a Paris, Fidel Castro surpreendemente deixou de

Como toda república contemporânea, laica e agnóstica, os Estados Unidos vão se tornando passo a passo um país materialista, vale dizer, ateu! A mais recente medida neste meticuloso trajeto foi tomada pelos Correios norte-americanos: a partir de 1995 os selos da época natalina não mais registrarão "referências religiosas específicas". Nos últimos 30 anos, já havia se tornado tradição na época natalina, de os selos norte-americanos trazerem reproduções artísticas de Nossa Senhora com o Menino Jesus. Em 1995, ao contrário, os selos de Fim de Ano ostentarão figuras como a atriz de cinema Marilyn Monroe e o ex-presidente Richard Nixon.

França, uma 11 república de bananas''? Chirac

Balladur

Jospin

Quando esta edição estiver chegando às maos de nossos leitores, certamente já serão conhecidos os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais francesas. A disputa de momen-

to define-se entre Balladur, Chirac e Jospin, mas há 17 outros candidatos para os mais variados paladares. O número de indecisos chega a 50% e todas as semanas as pesquisas de opinião registram um deslocamento constante na intenção de votos. Golpes baixos, altas traições , pesados xingamentos, sórdidas manobras

de bastidores, denúncias de corrupção etc., tudo vale na presente campanha eleitoral que está sendo considerada como a de mais baixo nível em toda a História da França. François Mitterrand após mais de 10 anos de "reinado" , vai entregar para quem o país ora transformado numa verdadeira "república de bananas"?

Maior mesquita da Alemanha

Foi inaugurada, na cidade de Mannheim - o segundo porto fluvial mais importante da Europa - a maior mesquita da Alemanha. O edifício tem capacidade para 2.500 pessoas e, parecendo um acinte à Religião Católica, foi erigido a 100 metros de uma igreja dedicada à Nossa Senhora. Nas escolas de Mannheim, as crianças maometanas representam 80% do total de alunos, e em dois estabelecimentos de ensino serão ministradas aulas de religião muçulmana ... Astrologia tarô Dom Donald Montrose, Bispo de Stockton, Califórnia (EUA), escreve oportuna Carta Pastoral, advertindo os fiéis contra práticas demoníacas ocultistas, tais como: astrologia - o horóscopo é

difundido por astrólogos - tarô etc. Acrescenta que devem ser destruídos livros e propaganda de Yoga, Nova Era (seita esotérica muito em voga nos Estados Unidos), e outros. E recomenda que os cató licos tenham em seus lares água benta, imagens do Sagrado Coração de Jesus, da Virgem Maria e dos santos.

Carne humana servida em restaurantes

Na China, durante a Revolução Cultural (1966-1976), restaurantes do governo comunista serviram carne humana das "classes dirigentes" . É o que informa o livro China Wakes (A China desperta), publicado nos Estados Unidos por Nicholas Kristof e Sheryl Wu Dum, ambos correspondentes do jornal "The New York Times" em Pequim, entre 1983 e 1993.

Os autores afirmam também que nos restaurantes estatais, onde se serviu carne humana, chegaram a exibir cadáveres presos em ganchos. E acrescentam: "Em alguns estabelecimentos de ensino, os estudantes esquartejaram e assaram seus professores e diretores no pátio interno e celebraram seu triunfo sobre os contra-revolucionários, com um banquete de carne humana". A "hipnose" dos videogames Segundo a psicóloga espanhola Bianca Hernández, através dos videogames as crianças entram num mundo imaginárib povoado de seres fantásticos e monstruosos. É um estado "quase hipnótico", no qual as crianças ficam psico-deformadas e literalmente se esquecem de seus pais, dos amigos, das refeições e, obviamente, das tarefas escolares.

BBC desfaz calúnias sobre a Inquisição Talvez nenhuma instituição tenha sido tão denegrida, e Galán, intitulado" A falsa história da Inquisição espanhola". com tanta fúria, ao longo dos tempos, quanto a Inquisição, Diz ela: sobretudo a Inquisição espanhola. "As sinistras salas de tortura dotadas de rodas dentadas, Contra ela falou-se cobras e lagartos. As criancinhas, nos engrenagens quebra-ossos, grilhões e demais mecanismos primeiros anos de vida escolar, já eram assustadas com aterradores só existiram na imaginação de seus detratores. fogueiras onde se queimavam vítimas inocentes, ___....._._ O Santo Ofício (nome do Tribunal da Inquisição) torturas em fim, sentenças sem julgamento e por viu-se frente a uma gigantesca máquina propaaí a fora. E as acusações se repetiam continuagandística. mente nos cursos superiores, na midia, de "Domingo, num programa noturno de boca em boca etc. maior audiência - Time Watch - a O próprio leitor deve ter ouvido BBC mostrou o verdadeiro rosto do muitos ataques contra a Inquisição, tribunal criado pelos Reis Católicos sempre agitada como um espantalho. contra a heresia. Peritos do porte de De uns tempos para cá, porém, o Henry Kemen, Stephen Haliczer ou os desejo de realizar estudos sérios por professores los/ Alvares Junco e Jaiparte de muitos historiadores de me Contreras reconstituíram a verpeso, levou-os a debruçar-se sobre os dadeira fisionomia de uma instituidocumentos relativos à Inquisição. E ção intencionalmente desvirtuada. a verdade brilhou. A Inquisição era "Em cerca.de 7 mil casos, aplicainocente dos crimes que a acusavam. se apenas em 2% algo parecido com Livros passaram a ser publicados, a tortura. Em 350 anos de história, desfazendo a" legenda negra", e mosenquanto a lenda fala de milhões de trando como os castigos aplicados pela assassinatos, a cifra real de vítimas siInquisição não só foram moderados, mas tua-se, entre 5 a 7 mil pessoas. muito reduzidos em número; e mediante "E paradoxal que tenha sido a prestiprovas obtidas em processos escrupulosagiosa BBC, a televisão estatal britânica, a mente regulares. encarregada de reconstituir a imagem de uma Agora, também a insuspeita emissora instituição esP,anhola". BBC de Londres vem refutar o E curioso notar que muitos dos mito da Inquisição como paradigdetratores de Inquisição diziam-se ma de terror. A notícia nos vem admiradores da Revolução Franceatravés do diário madrilenho "El sa, a qual comprovadamente comePais" (8-11-94 ), em artigo de Lola teu crimes horrendos.


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NACIONAL

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BRASIL NA ENCRUZILHADA: GOVERNO CONSEGUIRÁ PROMOVER NECESSÁRIAS REFORMAS DESESTATIZANTES? m novo Presidente deve discernir o que fazer para orientar esta vontade popular, de forma a levá-la a querer o que ela realmente deve querer e a fazer o que ela realmente deve fazer para o bem do País. Ele deve ter a coragem e a força suficientes para, quando necessário, contrariar a maioria e exigir sacrifícios para o bem da nação. Isto faz parte da arte de governar.

nem sempre será manifestação de aprovação mas muitas vezes de protesto? Antigamente se dizia que o "silêncio dos povos é lição para os reis".

U

"Maioria silenciosa", sim. Pois as últimas eleições demonstraram este fato significa.,.... .,~., ...:,. .,_.,. ..._,,,........- tivo. Fernanm: Jll' ' 'i'•'''~ do Henrique l obteve apenas 36,25% e Lula 18,06% do eleitorado Todo o mundo brasileiro. sonha de olhos fe17,75% se chados e, às vezes, absteve e até de olhos aber15,43% dos tos. Assim, é de suvotos foram por que o Presidenbrancos ou te Fernando Henrinulos. Ou que tenha sonhado seja, um total um Brasil ideal, um de 33,18% Brasil dos seus sopreferiu manhos. Como terá nifestar assim sido esse sonho? sua inconforPois, se conseguirmidade. E se mos definir os seus considerarm contornos podere- No dia 21-2-95, realizou-se a eleição da mesa da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Na os ainda que para a direita: dep.Miro Teixeira, mos, quiçá, enten- sessão de instalação da referida mesa, da esquerda 12,44% predep.lnocêncio de Oliveira, dep.Nestor Duarte, 12 vice-presidente da CCJ, dep.Roberto der as atitudes que Magalhães, presidente da CCJ, Sr.Nelson Jobim, ministro da Justiça e dep.Zulaiê Cobra, 3º feriu candidatomará o seu gover- vice-presidente da CCJ tos sabidano. mente inviámento e por fim declara que "a socieveis, teremos que 45.62% não aceitou o No discurso de despedida do Senadade tem direito de ser dura, implacável dilema Fernando Henrique x Lula. do o então Presidente eleito Fernando mesmo, na cobrança de decência e Henrique, depois de lamentar que as O leitor de Catolicismo deve acomtransparência de seus representantes". coisas no Brasil tardam a chegar, aplaupanhar os acontecimentos brasileiros. de o advento da era da quebra das barA execução deste plan estará de Não ficar alheio ao que se passa em reiras ideológicas e do diálogo entre as acordo com os anseios de uma grande no o País, mas sim estar atento para, a várias tendências, anuncia uma agenda maioria silenciosa brasil e ira ? Saberá o qualquer momento, saber interpretar os para um novo modelo de desenvolviPresidente interpretar este silêncio, que fatos. omo o próprio Pre. idente afir~

mou no mesmo discurso, "a remoção das barricadas do passado abre caminho para um outro tipo de recorte partidário, que não bloqueie o diálogo e que, em vez do imobilismo, instaure a dinâmica da competição entre diferentes alternativas de construção do amanhã". Trata-se, portanto, de não cruzar os braços, mas estar atentos para, num determinado momento, apresentarmos, também nós, "uma alternativa de construção do amanhã" e estarmos continuamente cobrando os nossos políticos. É neste espírito que procuraremos apresentar a todos os leitores de Catolicismo o caminhar dos acontecimentos políticos, analisados sempre à luz dos princípios da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana e dos direitos da Civilização Cristã. Hoje faremos apenas um simples relato a respeito das reformas constitucionais que o Governo pretende promover, uma vez que nos parece ainda prematuro levantar hipóteses ou ensaiar uma tomada de posição.

tinção entre empresas nacionais de capital nacional e de capital estrangeiro, ao monopólio da extração de minérios e da navegação de cabotagem por empresas nacionais, à reforma da Previdência e à Reforma Tributária. O Presidente parece contar, para estas reformas, com o apoio dessa grande maioria silenciosa. Mas, haverá uma férrea resistência de organizações da esquerda católica e sindical e dos setores que promovem agitações, ou com interesses , corporativos lesados. Será certamente grande a dificuldade política em conseguir a sua aprovação no Congresso, conforme já se verifica no início da tramitação legis1ativa das primeiras emendas. O que pensar das reformas cujos textos já são conhecidos?

***

A este respeito o eminente constitucionalista Que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, conceda a nosso Celso Bastos afirmou em povo luzes para discenir o rumo dos acontecimentos recente artigo publicado na imprensa paulista: dispensáveis para levar adiante seus "Desde 1930, o Brasil encontra pretexEm 1988 a TFP se empenhou enorplanos de modernização do Brasil. tos para, gradativamente, ir alargando a memente na divulgação da obra do Uma vez que, segundo ele próprio represença do Estado na economia nacioProf. Plínio Corrêa de Oliveira, "Projeconhece, foi o sucesso do Plano Real nal, fechando o País ao investimento to de Constitu ição Angustia o País", a que despertou no povo uma esperança internacional. O conjunto das emendas qual propunha que se votasse apenas os de estabilidade, de progresso econômiconstitucionais propostas pelo governo ítens em que havia consenso, ou seja os co, trata-se, agora, de viabilizar este representa uma profunda reversão desassuntos políticos. E que, as partes em plano custe o que custar. sa tendência. Tais medidas não podem que não havia esse consenso - ensino, ser consideradas suficientes para modireito de propriedade, etc - fossem Sendo o deficit estatal a principal dernização imediata do País". deixadas para uma segunda etapa da causa da inflação, o presidente pretende Constituinte precedida de uma preparacombatê-lo com uma série de alteraSerá este o pensamento da maioria ção prévia da opinião públi ca, que seria ções constitucionais e outras medidas silenciosa? convidada a referendar a Constituição. legislativas que visem reduzir o "custo Rogamos, pois à Nossa Senhora Esta idéia não foi aceita. Resultado: o Brasil" e tornar nossa economia comAparecida, Padroeira do Brasil que nos Brasil ficou ingovernável, como recopeti tiva internacionalmente. dê luzes para bem ver e bem discernir o nhecem eminentes políticos e juristas rumo dos acontecimentos. As principais emendas constituciode todo o Brasil. nais que o governo já apresentou ou O principal alvo que o Presidente está preparando para encaminhar ao Plínio Vidigal Xavier da Silveira Congresso Nacional, dizem respeito ao Fernando Henrique Cardoso achou por bem promover foi a reforma constitumonopólio estatal para a exploração do petróleo e das te lecomunicações, à discional em pontos que ele considera in-


TFPS EM A ÃO - 1

Principais atividades das caravanas da TFP em 1194

Câvaleiro andante "Vejo neles cavaleiros de nosso tempo! Também eles, cheios de f é, cheios de altaneria, carregam um estandarte que mostra bem presente aquilo que são: gente como nós, mas que são dedicados e destemidos! Andam de norte a sul, pregando o amor à Igreja e a Maria Santíssima!" Moderno cavaleiro andante, o propagandista da TFP percorre as vastidões do País igualmente para fazer o bem, não só às gerações atuais, mas também às futuras, O cavaleiro empunhando o estandarte da TFP causa impacto na população da tranqüila Jaru procurando preservar os valores morais, cíO que é isto, moço? Estamos em Jaru, na zona central vicos e religiosos que recebemos de de Rondônia. nossos maiores. É a pergunta do povo que dá enseOs habitantes da cidade, desbra- jo a uma sucinta explicação sobre a Os dados que figuram na página vadores que qilatam a fronteira agrí- campanha da TFP em curso. O jovem ao lado resumem as atividades das cola do País, dedicam-se à labuta diá- entrega ao transeunte um folheto ou caravanas de propagandistas da TFP ria. Cessa a chuva. A rua enche-se de oferece uma publicação. Ao final do em 1994. Desde que foram instituímovimento e de vida. dia, num rincão de nosso imenso ter- das, há três décadas, tais caravanas já ritório, milhares de pessoas ficaram percorreram 4.917.270 quilômetros, No horizonte, surge um cavaleiro conhecendo melhor a TFP, suas me- o equivalente a 13 vezes a distância empunhando um estandarte rubro tas, seus ideais. E foram alertadas entre a Terra e a Lua. Cartas de precom um leão rompante dourado. Vipara resistir aos embustes que os ini- feitos e delegados do Interior, num gorosos jovens com inconfundíveis migos da Civilização Cristã a todo total de 7 .121 atestam o caráter ordeicapas vermelhas esvoaçando ao veninstante urdem em nossa Pátria. ro e pacífico das campanhas da TFP. to saltam de uma kombi e erguem outro estandarte, ainda maior. Ouvese um brado: "Pelo Brasil: Tradição! Família! Propriedade!" É a caravana da TFP que chega à cidade. As crianças, a dona de casa, o vendedor, o transeunte ... todos param.

Naquela primavera da Fé, que foi a Idade Média, o cavaleiro andante percorria o reino em defesa dos necessitados. O ideal da cavalaria revive na figura do propagandista da TFP, conforme palavras de um jovem sacerdote de certa paróquia do sul do Brasil:

Atuação - 4.230 horas de atuação, em 1.069 campanhas, em 503 localidades brasileiras. Vendas - Venda de 51.595 exemplares de obras publicadas pela TFP. Calollclsmo - Obtenção de 1.078 assinaturas da revista Catolicismo. Medalhas Milagrosas - Distribuição gratuita de 62.500 "Medalhas Milagrosas" de Nossa Senhora das Graças.

N.Sra.Fálima - Difusão de 480.000 cupons da campanha "Vinde Senhora de Fátima, não tardeis". Projeções - 329 projeções de audiovisuais sobre Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora Aparecida.

*** Catolicismo pretende informar com freqüência seu leitores a respeito de outros aspecto dessa importante atividade de esclarecimento da opinião pública promovida pela maior associação cívico-cultural anticomunista de nossos dias.

Na capital do Amapá, Macapá: no topo do monumento sobre a linha do Equador e perfilados embaixo, caravanistas da TFP


canais através dos quais Deus derrama as graças sobre as almas estão envenenados!

HAGIOGRAFIA

Santo Inácio se levanta como um guerreiro

Irmã Teresa de Jesus de Los Andes, primeira santa chilena Alma delicada sem fraqueza e forte sem brutalidade) considerada a Santa Teresinha da América Latina m março de 1993, João Paulo II elevou à honra dos altares a carmelita descalça mais jovem a receber da Igreja o reconhecimento de sua santidade e aquela que viveu menos tempo na vida carmelitana: morreu onze meses depois de ter entrado no Convento do Espí-. rito Santo das Carmelitas Descalças, em Rinconada de Los Andes, Chile.

E

Juanita Fernandez Solar, ou Juana Enriqueta Josefina dos Sagrados Corações (seu nome de Batismo), nasceu a 13 . de julho de 1900 em Santiago do Chile. Desde cedo, sempre gostou de ouvir falar de Deus e sua terna devoção à Santíssima Virgem levou-a, aos sete anos de idade, a fazer a promessa de rezar diariamente e durante toda a vida o Santo Rosário: promessa fielmente cumprida até o dia de sua morte ( 12 de abril de 1920) ! Até 1918, recebeu esmerada formação no Colégio do Sagrado Coração, quer como externa, quer posteriormente como interna. Juanita era notável por sua preocupação pelos anciãos e necessitados chegando certa ocasião a rifar seu relógio para socorrer um menino pobre. Suas empregadas, quer na cidade, quer na fazenda da família no interior do Chile, ela as tratava com carinho, delas cuidando pessoalmente quando enfermas. No dia 8 de dezembro de 1915, com 15 anos de idade, fez voto de castidade que depois irá renovando periodicamente. · Promete " não admitir outro esposo senão a Jesus Cristo". Em abril do ano seguinte, revela à sua irmã Rebeca: "Serei carmelita. Em 8 de dezembro eu me comprometi" . Como interna no Colégio das Mestras do Sagrado Coração, recebeu em 27 de junho de 1917 o prêmio como melhor aluna de História daquele estabelecimento de ensino.

Em agosto do mesmo ano, tendo feito uma confissão geral ao término de um retiro espiritual, seu confessor lhe assegurou que, pela graça de Deus, ela nunca cometera em sua vid~ um pecado mortal. Corria o ano de 1918. A jovem Juanita apresenta três composições literárias que lhe valerão obter o primeiro prêmio da Academia patrocinadora de um concurso.

Foto de Juanita Fernandes Solar aos 18 anos, alguns meses após a redação das três composiçoes literárias premiadas

Sombra e Luz na Idade Moderna - Demolidores e Criadores, foi o expressivo título da primeira dessas composições. Seu conteúdo revela traços admiráveis e pouco conhecidos do pensamento e da personalidade da primeira Santa chilena. Sua visão de conjunto sobre os decisivos acontecimentos históricos dos últimos séculos demonstra até que ponto Santa Teresa dos Andes estava compenetrada da crise que em nossos dias vem destruindo a Civilização Cristã. Com 18 anos de idade, a Santa previa o rumo que os acontecimentos atuais iriam tomar e compreendia ao mesmo tempo que a condição de católico fiel supõe grandes batalhas. Embora seja verdade que a Santa soube pregar o amor com palavras e exemplos de admirável doçura, é verdade também, entretanto, que soube pregar com magnífica e não menos admirável firmeza o dever da vigilância, ela argúcia, ela luta aberta e intransigente contra os inimi gos da Santa Igreja (*). 11

Demolidores e Criadores"

"Há um poder sempre reinante, uma dinastia que não conhece ocaso, uma luz que nunca se extingue, e este poder tem sido sempre combatido, esta dinastia sempre perseguida, esta luz !em estado continuamente circundada de trevas.

"Eis a eterna história do poder da Igreja; dinaslia do Papado; da luz, da verdade. Enquanto tudo passa efenece a seus pés, a Igreja mantém-se erguida, porque está sustentada pelo poder do alto. Descortinemos o cenário dos povos modernos e veremos que, em cada século, os filhos da Igreja têm que levar em seus lábios o clarin guerreiro. "Essa luta não terminará porque é eterno o antagonismo entre a sombra e a luz. Enquanto os filhos da sombra demolem, os filhos da luz regeneram. Daí o título que adotei: Demolidores e Criadores.

Lutero brada contra a autoridade da Igreja "Que sucede no século XVI? Os países da Europa se abrasam no fogo de uma guerrafratricida. Na Alemanha, um astro sinistro se interpõe entre as almas e o sol da verdade. Lu!ero e seus sequazes dão o brado de guerra, o alvo de seus ataques é a auloridade da Igreja .... Qual o fruto dessa rebelião ? A destruição da comunhão de idéias. As nações se afogam no sangue, as almas se vêem envolvidas nas trevas do erro, e a heresia, como rio que transborda, arrasta as massas populares, a nobreza, os tronos e até os ministros do altar. Portanto, os

"Mas, será possível que o mundo pereça? Não. Um novo astro surge no horizonte: é o ferido de Pamplona, Inácio de Loiola, que cai como soldado de um rei terreno e se levanta como guerreiro do Rei do Céu. Vede-o alistar uma companhia que não manejará o canhão, nem empunhará a espada. Quereis conhecer suas armas? O crucifixo! Sua divisa? A maior glória divina! Seus soldados se espalharão por toda parte e, portadores da luz da verdade, deixarão após si um rastro luminoso; luz espargem eles na Europa, na controvérsia, na pregação, no ensino, luz espargem nas Índias com Francisco Xavier que regenera nas águas do Batismo milhões de almas; luz espargem os soldados da nova milícia em todos os lugares onde passam.

"A legião jansenista brada: Fugi! Fugi! .... A voz de Paray-Le-Monial clama: Vinde! Vinde! .... A bandeira negra do terror cederá diante do formoso estandarte do amor. Será tudo? Não. Ali está o grande apóstolo da caridade, São Vicente de Paula que, a imitação do Mes-

Deus, arrancam Cristo do coração de nobres e plebeus, e ainda se atrevem a arrancá-lo do coração do menino. Detende-vos, infames] Está cheia vossa medida, esse santuário de inocência não pode ser transpassado, esses meninos pertencem a Jesus Cristo! Um apóstolo se levanta em nome do Deus da infância: João Batista La Salle, funda as Escolas Cristãs, colocando no coração dos meninos des validos a chama da Fé que se extingue por todos os lados.

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A Revolução Francesa: obra de ímpia demolição "Guerra ao Papa! É o brado da falange mortífera, e em seu frenético entusiasmo diz que já não haverá quem suceda ao mártir da impiedade, a Pio VI. Mas, não bradeis tão alto, Deus disse que as portas do inferno não prevalecerão, e se rirá de vossos desígnios. Vede sentado e estabelecido no trono um novo Papa ...

As sombras cobrem novamente o mundo

Jansênio lança gelo e sombra

"Ó Igreja, teu poder jamais será destruído! As trevas cobriram "Passemos a página do século a face do universo na aurora do XVI e veremos no século seguinte o Tempo e ao Fiat Luxfogem vencimesmo espetáculo de sombra e luz das. Mais tarde, as sombras da ele demolidores e criadores. Após 11 meses de vida religiosa carmelitana, a Irmã idolatria cobriram o mundo anti"No século XVII vemos desta- Teresa de Jesus de Los Andes veio a falecer, tendo go, veio o Verbo e dissipou as trecar-se entre as sombras uma figura alcançado a heroicidade de virtudes vas, porque o Verbo era a Luz. de aspecto rígido e severo: Jansênio Hoje as sombras cobrem novatre divino, chama o pobre, o doente, o que lança o gelo e a sombra por onde menino. Para todos há guarida em seu mente o orbe cristão; mas ali está a papassa. a chama do amor vacila e acaba coração. Sua bela legião ele Filhas da lavra de Cristo, Verdade Eterna: 'Aquele por se extinguir com seu brado impio: que Me segue e cumpre minha palavra Caridade arranca do inferno milhares de 'Cristo não morreu por todos!' Já não não anda nas trevas'. almas no instante supremo. O amor desapresenta o Crucifixo com os braços terrado reanima as almas, a luz tira os "Ó palavra de vida! A Ti amor eterabertos para receber a todos sem exceespíritos das sombras. O Coração divino no, a Ti eternafidelidade!". ção, mas sim com os braços entreabertos de Jesus e o coração deificado de São para receber a uns quantos e rechaçar Vicente de Paula, falam do amor, do aos demais .... amor infinito um e da compaixão até o Luís Carlos Azevedo "Fugi! Fugi! .... clamam os demoliheroísmo outro. dores do século XVII e as almas aterra(*) Os intertítulos nos excertos da composidas fogem .... regelam-se e se perdem! Os iluministas, novos

Um sol esplendoroso e vivificante se levanta "Deus estavaferido no mais delicado de seu amor .... o Verbo pronuncia uma vez mais a palavra criadora que fará brilhar a luz no meio das trevas: em Paray-Le-Monial se levanta um sol esplendoroso e vivificante. Jesus Cristo mostra a uma humilde visitandina seu Coração aberto, abrasado em chamas de amor, queixa-se do esquecimento dos homens e os chama a todos com insistência.

demolidores "A luta não terminou: o inimigo acoça sempre a Igreja. A tempestade é mais terrfvel que nunca no século XVIII. Os corifeus da maldade, Voltaire e Rousseau se mostram, o primeiro com o sorriso burlesco nos lábios e a blasfemia na pena, o segundo com o sofisma e a confusão nas idéias, e ambos com a corrupção no coração. Os pretensos .filósofos querem explicar tudo racionalmente e proclamam diante do mundo que não há

ção da Santa são nossos.

OBRAS DE REFERÊNCIA

l. Um lirio dei Carmelo: Sor Teresa de Jésus - Juanita Fernandez S. - 1900-1920, Imprenta de San José, Santiago do Chile, 1929. 2. Santa Teresa de Los Andes, Deus, alegria infi.nita, Edições Loyola, São Paulo, 1993. 3. Santa Teresinha da América Latina - Pensamentos, Edições Loyola, São Paulo, 1993.


INTERNACIONAL

Caderno especial nº44

Cúpula Social: solução ou agravamento dos problemas mundiais?

A

denominada Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social realizou-se em Copenhague, Dinamarca, em março último, reunindo um heterogêneo grupo de 121 chefes de Estado e de Governo. Os objetivos da Cúpula foram estudar mecanismos para combater a desintegração social, a pobreza e o desemprego no mundo, e preparar um Programa de Ação.( 1)

Caos

o chamado "Grupo dos 77", integrado por 132 governos, defendeu " receitas" econômicas que de uma ou outra maneira inspiram-se em caducas formas de socialismo. (5) E esse "boicote" contra a livre iniciativa acabou pesando no lamentável resultado da conferência. A primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, ativa dirigente da " Internacional Socialista" , aproveitou para criticar "o papel do capital privado nos países em desenvolvimento" (6). Numa corajosa atitude, a deputada Maria Angélica Cristi, integrante

Na verdade, segundo observadores perspicazes, a conferência foi uma caótica exibição de opiniões contraditórias, uma "torre de Babel" na qual não se chegou a soluçõRecente reunião de chefes de es efetivas para os graves problemas anal isados. (2) Esse Estado e de Governo revela pífio resultado sem dúvida chagas no atual panorama contribui para acentuar achamada nova desordem internainternacional: a confusão e a cional (3) que vai tomando conta do cenário mundial. influência crescente de forças Essa desordem, à medida que socialistas "recicladas" cresce, infelizmente vai afetando diretamente a vida de cada um de nós, pois o Brasil da delegação chilena, criticou o presinão se encontra isolado do resto do dente do Chile, o democrata-cristão mundo. E, portanto, não estamos imu- Eduardo Frei, por não ter ele destacado nes à contaminação do" virus" do caos em seu discurso a valiosa colaboração político, social e econômico. do setor privado no combate à extrema pobreza. (7)

dirigentes governamentais partidários da livre iniciativa. Segundo observadores, na Cúpula Social manifestou-se de forma "inédita" "a presença e a força de pressão das ONGs".(9) Uma rede de ONGs chegou a propor a criação de um "corpo parlamentar mundial" que teria poderes sobre os próprios Estados nacionais para impor medidas estatistas no campo social.(10) Ao que parece, na Cúpula Social de Copenhague, os "vilões" da História (participantes pró-socialistas) em certa medida conseguiram inverter os papéis, colocando-se como os " defensores dos pobres". Nesse sentido foi signficativa a presença de Fidel Castro, chefe do fracassado regime comunista de Cuba, sendo ele bajulado ... por certos governantes e órgãos da mídia. E se conseguiu evitar que a propriedade privada e a livre iniciativa fossem reconhecidas como os verdadeiros instrumentos de desenvolvimento econômico e de prosperidade material. Vamos ficar atentos. Há no mundo ainda (e também no Brasil) forças socialistas que não morreram e até gozam de boa saúde. E de muita influência! G. Guimarães

Socialismo

Na Cúpula Social houve outros aspectos preocupantes. Segundo um correspondente brasileiro, a "grande questão" que "dividiu" a reunião "desde o início" foi o tema da livre iniciativa e do mercado (4) enquanto instrumentos de desenvolvimento econômico e de prosperidade material. Depois do estrondoso fracasso do comunismo e do soc ialismo seria natural que houvesse pelo menos um consenso, se não uma unanimidade, em torno da necessidade fundamental de incentivar a propriedade privada como meio eficaz para resol ver os problemas da pobreza no mundo. Infelizmente, não foi isso o que se deu:

Omissão Aliás, nos dez "compromissos" finais assinados pelos delegados presentes não há nenhuma referência à propriedade privada e à livre iniciativa. (7)

Misteriosas ONGs Também se fez sentir com força na Cúpula Social o papel e a influência das misteriosas ONGs (organizações nãogovernamentais), que alcançaram notori edade mundial na E 0-92, efetuada cm Rio de Janeiro. Elas são conhecidas por suas posições revolucionárias em materia econôm ico-social. (8) Em Copenhague, as ONGs prc sionaram os

NOTAS 1. Cfr. "EearthAction", Assessoria Edi torial sobre a "Cúpula Social", Londres, 1995. 2. Cfr. "O Estado de S.Paulo" 9-3-95 e "EI Sur" , Santiago cio hilc, 12-3-95; "EI Mercurio" , Santiago do hile, 13-3-95. 3. Cfr. "The Ncw York Times Book Review", 9- 10-94. 4. Cfr. "O Estado ele S1 o Paulo", 9-3-95. 5. Idem 9-3-95." 6. "EI Sur". 12-3-95. 7. Cfr. "Gmnma Intcrnucional", l lavana, Cuba, 22-3-95. 8. Cfr. Lt, 111eta111mfosis dei co1111111is1110: reflejos de la EC0-92, Informe Exclusivo, TFP, Buenos Aires, Julho ele 1992, Metc1111mfose das esq11erdas brasi-

leiras para ,l"{)breviverem ao colapso soviético e As esquerdo.,· brasileiras se infiltram nas ONGs, Catolicismo, dczembro/92. 9. Cfr. " Jornal do Brasil", 14-3-95. 1O. Cfr. "EarthAction" , idem , nota 1.

2(f,nova-se a cada instante a Pa~ão de Cristo

emseu Corpo Afístko, a Igreja consideração frequente da Paixão de Cristo é recomendada pelos Santos não só como exercício de piedade especialmente agradável a Nosso Senhor, como também meio eficacíssimo de santificação.

quer judaicas. Pois tão logo findou o simulacro de julgamento "imparcial" , Pilatos apressouse em entregar a vítima aos príncipes dos sacerdotes do Templo que, por sua vez, conduziram Jesus ao local da execução da pena de morte por crucifixão. Talvez o Sinédrio temesse que Nosso Senhor fizesse diante da turba excitada alguns dos seus muitos e espetaculares milagres: um cego a quem devolvesse a vista ou um paraplégico que passasse a caminhar. .. Decidiram, então, não correr nenhum risco.

A

Entretanto, tal meditação corre grave risco de se tornar estéril se quem a fizer não se colocar bem na perspectiva da luta entre os filhos da luz e os filhos das trevas que se desenvolve , continuamente, em nossos dias, em torno de nós, na vida cotidiana de cada um.

***

As reflexões e perguntas, no texto a seguir, tem o intuito de favorecer um melhor aproveitamento desta meditação.

Dentre a multidão, quantos não haviam aplaudido com entusiasmo o Divino Mestre havia poucos dias, no Domingo de Ramos? No entanto, os agitadores do Sinédrio conseguiram sublevar aquela massa de almas superficiais e indolentes, ao _ponto de fazê-la bradar com eles: "Crucifica-O! Crucifica-O!"

O julgamento iníquo Em todas as nações civilizadas deixa-se decorrer certo tempo entre o julgamento e a execução dos condenados à morte. Os Romanos concediam até dez dias de prazo. Mas a respeito de Jesus, seriam violadas todas as leis penais, quer romanas

Cristo com a Cruz às costas . (1653 ) - Francisco de Zurbararán, Catedral de Orleans (França..;.)_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Do tribunal romano, foi Jesus conduzido ao pátio do Pretório onde


quatro verdugos devolveram-Lhe os trajes ordinários. Mas mantiveram a coroa de espinhos a fim de que fosse, com esta alusão à realeza, mais facilmente insultado. Assim retribuía o populacho os benefícios recebidos do Divino Rei.

rião a cavalo, que refreava um grupo de escravos, trabalhadores manuais e homens da ralé do povo, todos ávidos de ver correr sangue.

Supremo encontro: a Mãe dolorosa O triste c01tejo foi palmilhando devagar ruas e vielas até alcançar a grande rua de Efraim. Ali a Mãe de Jesus, rodeada por santas mulheres, esperava-O.

Não conheço também eu Pilatos hodiernos, modernos agitaQuis Maria vê-Lo dores de multidõe dizer-Lhe um sues igualmente inpremo adeus. O engratas? Não é contro foi para ela verdade que O A crucifixão- Fra Angélico (séc. XV), Museu de São Marcos, Florença (Itália) um momento de agoBrasil está cheio nia. Viu então entre de demagogos e dois ladrões Seu Fide gente disposta a vender- ladrões, os assassinos. A tabuleta que devia encimar cruz que acabaria se translho bem amado, com o rosa cruz principal. Atrás se por umas tantas moedas? fonnando no troféu da mais to entumescido pelas panavançavam os dois ladrões Não é verdade que a sociebrilhante das vitórias, seria cadas, olhos injetados de e por fim Jesus, descalço, dade, as leis, os costumes, colocada sobre a coroa de sangue, lábios lívidos e resrecoberto de suor sanguios meios de comunicação ... todos os reis da Cristandanolento, devorado pela sequidos. tudo, enfim, conspira conde bem como no alto das sede, inclinado sob o peso tra os ensinamentos de O primeiro movimento mais elevadas montanhas. da cruz, e cambaleando a Nosso Senhor Jesus Crisela Mãe dolorosa foi precito? Terminados os prepara- cada passo. Os cabelos em pitar-se para Jesus, com os desalinho sob espinhos E eu diante disso, tam- tivos, foram os três conde- ponteagudos, a face e a bar- braços estendidos. Mas os bém irei me portar como nados postos em cortejo. ba, manchadas de sangue, verdugos afastaram-na Recebeu-os uma pequena com violência! É incalculáPilatos? multidão, proferindo bra- desfiguravam de tal modo vel o ódio dos filhos das dos de morte, e apontava o semblante que o Divino trevas contra os filhos da A Via dolorosa com o dedo, no meio de Redentor estava quase irre- luz ... Dois vulgares ladrões sarcasmos inomináveis, o conheci vel. Os verdugos ladearam Nosso Senhor em puxavam-no por cordas a rei coroado de espinhos. Parou Jesus por um insSua caminhada ao monte fim de que apressasse o tante: por uma tão momenCalvário. Ensanguentado, passo. Como cordeiro ino*** tânea troca de olhares, o exausto, vergado pelo socente, Jesus sofria todos À frente ia um arauto · Messias fez compreender a frimento, sobretudo após a aqueles ultrajes sem um apregoando quase continuaSua Mãe o quanto Ele sabia cruel flagelação, Jesus senúnico murmúrio e em seu mente os nomes e crimes o que se passava no coratia-se esmagado pelo peso rosto atribulado vislumbrados sentenciados. Seguiamção da Imaculada e quanto da cruz. va-se a mais sublime exno um grupo de soldados rose compadecia de seu sofripre ão de amor e resignaCom amor Jesus rece- manos, incumbidos de manmento. Sufocada pela emoção. beu aquele madeiro, sim- ter a ordem e abrir passação, Maria Santíssima senFechava o cortejo um tiu-se desfalecer e caiu nos bolo até então de infâmia, gem. Em seguida, vinham onde eram supliciados os alguns homens com cordas, destacamento de soldados braços das santas mulheescravos, os desonrados, os e caclas, cravos, martelos e a sob as ordens de um centu- res.

t

'

Devo imaginar - o quanto minha piedade permita as dores de Nossa Senhora. Pois Ela amou o Filho mais do que Ele é amado e adorado por todos os anjos e santos do Céu. E essas considerações serão de utilíssimo remédio durante as horas de tentação, que podem me assaltar a qualquer momento.

do e desfeito, cujo olhar moribundo parecia implorar assistência. Soergueu, pois, pelo meio o pesado madeiro de modo que pesasse o menos possível sobre os ombros do Salvador. E Jesus não esqueceu aquele ato de caridade: traansformou Cirineu em um discípulo fervoroso e seus dois filhos, Alexandre e Rufo, em missionários da verdadeira Fé.

Devo considerar que todas essas dores de Maria Santíssima e de seu Divino Filho têm um motivo: o pecado. São causa dessas dores as blasfêmias, os debiques da verdadeira Religião, o culto aos ídolos da sociedade pagã de nossos dias. Igualitarismo, sensualidade, revolta, impureza, homicídio, roubo, adultério ... Qual dos Mandamentos da Lei de Deus não é violado em nossos dias?

Verônica: gesto amoroso e destemido O cortejo havia andado uns duzentos passos quando de uma casa grande e formosa saiu uma intrépida mulher, de aspecto cheio de dignidade. Sem se importar com os soldados que lhe procuraram tolher a sua passagem, ela se aproximou do Divino Mestre. Contemplou por um momento aquele rosto desfigurado, coberto de pó e de ferimentos a escorrer sangue.Num instante, tomou o véu que trazia em sua fronte e com extremo cuidado e carinho enxugou a divina face.

E eu, que atitude tomo perante essa situação? Diante de meus pecados, da insuficiência de minha reparação, é o caso de me ajoelhar, bater no peito e formar o propósito de nunca pecar, pedindo o socorro de Maria Santíssima.

Simão, o Cirineu: convertido pela compaixão Mal havia Jesus dado mais alguns passos, ao entrar numa nova rua muito escarpada, uma palidez mortal espelhou-se em Seu semblante divino e seus joelhos dobraram-se por terra, sendo-Lhe impossível, não obstante seus esforços, arrastar a cruz que parecia duplicar de peso. Os fariseus, temerosos de que Jesus viesse a mor-

A deposição daCruz -

Fra Angélico (séc. XV), Museu de São Marcos Florença (Itália)

rer na via pública, antes mesmo de chegar a ser crucificado, pediram ao centurião romano que fosse requisitado alguém para ajudar o condenado a levar a cruz. E, à ordem do oficial, os soldados detiveram

um transeunte chamado Simão de Cirene. Este não opôs nenhuma resistência porque em caso de recusa expunha-se a sofrer maus tratos. Mas, sobretudo, Simão se condoeu à vista daquele condenado alquebra-

Agradeceu-lhe Jesus com inesquecível olhar e continuou trôpego Seu caminho. A mulher que se chamava Serafia ao adentrar a casa ficou estupefata e ch~ia de emoção deparando com a face de Jesus impressa no véu. Em memória deste fato, passou ela a ser conhecida como Verónica de Vera lcon , verdadeira imagem. Perseguindo Saulo a Igreja nascente,narra a tradição que Santa Verónica deixou a Terra Santa, levando consigo o precioso tesouro que hoje está ex-


ENTREVISTA

posto na Basílica de São Pedro, em Roma. 11

Chorai por vós e por vossos filhos",.. Não faltavam mais que uns cem passos para chegar à Porta Judiciária, assim denominada pelo fato de passarem por ela os condenados em direção ao Gól~ gota. Ali, sobre uma coluna de pedra, estava afixado o texto da condenação. O Salvador pôde ler que fora condenad9 à morte por ter

fo, historiador judeu, narra detalhadamente os terríveis sofrimentos que os habitantes da cidade então sofreram, havendo casos de mães que, sob extrema fome, mataram e comeram os próprios filhos em tenra idade!

ria. E quem é esmagado com a cruz, vence. Quem é vencedor sem a cruz, é um derrotado. Seis dias antes, do alto do monte da Oliveiras, vertia Jesus lágrimas sobre Jerusalém e profetizava sua ruína. Agora anunciava so-

Jesus encontra-se agora ao pé do monte Calvário. Um grupo de mulheres, algumas com filhos nos braços, puseram-se a chorar e a se lamentar em alta voz. Sustou Jesus seus passos e disse-lhes: "Filhas de

Com isso Nosso Senhor predizia o pavoroso castigo divino infligido por mãos do general Tito, quando Jerusalém foi sitiada pelos exércitos romanos e, por fim, destruída no ano 70 A.D. A taça da cólera divina estaria repleta e começaria a transbordar. Flávio Jose-

Levantaram-no quase sem vida e à força de O arrastar chegou enfim ao lugar do suplício. Naquele momento, a multidão que afluía de todas as partes tornava-se densa à volta do monte, para saborear os derradeiros padecimentos dos condenados e aplaudir a morte do Messias. Vai soar o meio-dia. O momento é solene como nenhum outro na História da humanidade: a grande tragédia, à qual assistem anjos, homens e demônios - a tragédia do Homem-Deus - chegou ao seu desenlace final.

"sublevado o povo contra Cesar e usurpado o título de Messias."

Jerusalem, não choreis por mim, mas por vós e por vossos filhos. Dias virão em que se há de dizer: f elizes as estéreis, as entranhas que não conceberam e os seios que não amamentaram. E então começarão a dizer às montanhas: caí sobre nós! e às colinas: cobri-nos! Porque se fa zem assim com o lenho verde, o que acontecerá com o seco?"

santa. E os verdugos, por eles instigados, redobraram os golpes com que O feriam, de tal modo que, exausto de forças, caiu pela terceira vez nas pedras do caminho, antes de chegar ao cume da colina.

A destruição do Templo de Jerusalém (detalhe) (1638) Poussin, Museu do Louvre (Paris)

Quem carrega a cruz é o verdadeiro vencedor! Que contraste: Ele, o condenado, era o Juíz daquele castigo rigorosíssimo. Jesus, na aparência o derrotado, é na verdade o vencedor. A cruz é o lenho da derrota, da infâmia e da dor. Mas é o lenho da gló-

Nicolas

Ienemente a reprovação e a espantosa catástrofe que cerca de 40 anos depois poria fim à capital dos judeus. Os escribas, ao ouvir aquela profecia, deveriam ter tremido de assombro. Porém, cegos e endurecidos como demônios, irritaramse com as ameaças que aquele condenado ousava profe rir contra a cidade

Jesus padeceu tudo isso e morreu pela salvação dos homens. Pela minha salvação, pela tua salvação, leitor, leitora. Que fazemos para retribuir a esse imenso benefício e não nos alinharmos aos que crucificaram o Filho de Deus?

Avoz dos índios discriminados... Catolicismo com freqüência tem chamado a atenção do público para a demagogia que se faz hoje em torno da questão indígena. Foram demarcados, de modo absurdo, imensos te1Titórios para serem habitados exclusivamente por algumas tribos, com pequeno contigente populacional, em estado selvagem ou semi-selvagem, devido à pressão de entidades ecologistas e indigenistas, tanto nacionais quanto do Exterior. Mas existe - assim como as verdades e as virtudes - os" índios esquecidos". São os indígenas, vivendo ou não em estilo tribal, que estão em processo de assimilação - algumas vezes, de longa data - à sociedade ' civilizada e que já se converteram à verdadeira Fé - a católica.

estão abandonados pelo Poder Público, pelas Organizações não-governamen tais(ONGs ), pelas entidades indigenistas oficiais como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), ou as religiosas, como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Uma cabal comprovação dessa situação o leitor encontrará na interessante entrevista que a reportagem de Catolicismo colheu no Escritório da TFP em Brasília, localizado no Edifício Gilberto Salomão, em 7 de fevereiro último. O entrevistado - índio Cícero Bango -,.juntamente com seus companheiros de tribo Odir Darca e Jaime Fulni-ô, foi a Brasília para assistir ao I Simpó-

sio de Lideranças Indígenas

promovido por várias (ONGs), Diante do Edifício Gilberto Salomão, que abriga o como o Instituto de Estudos SóEscritório da TFP em Brasília, da esquerda para a direita: índios Odir Darca, Cícero Bango e Jaime Esses índios não aparecem cio-econômicos (INESC), com Fulni-ô nos órgãos da mídia nacional e o apoio do PT, da Secretaria de internacional como, por exemCultura do Distrito Federal, da plo, o cacique Paulinho Paiacã ... Em seu benefício, não Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Unise demarcam nem se concedem grandes territórios. Eles versidade de Brasília.

>Catolicismo - A que tribo e associações os Srs. pertencem? Em que local sua tribo se encontra?

>Catolicismo - De que forma sua tribo obteve apropriedade da terra? Foi comprada ou doada?

FONTES DE REFERÊNCIA:

Co nferência pronunciada pelo Proí.Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TPP, na capital pauli sta, em 11 de abri I de 1992 (Sábado Santo) . Pc.Bcrthc, SR, Jesus Cristo, Sua vida, Sua paixão, Seu triunfo, Esta be le c imentos

Benzingcr, editores e impressores da Santa Sé Apostólica, 1925 , Einsied.eln, Suíça, pp.386 a 393 .

Índio Cícero Bango - Somos índios de Águas Belas, localidade situada no sertão semi-árido pernambucano. São 4 mil índios. Para governá-los melhor, foram constituídas associações de 50, de 100 índios, e assim sucessivamente.

Índio CB - Vivíamos à margem do rio Ipanema, em Pernambuco. Poucos índios. Nossas choupanas situam-se à margem desse rio. Então, na época imperial, houve a guerra do Paraguai. Nessa ocasião levaram nossos índios para lutar. Terminada a guerra, na volta para casa, mais ou menos uns seis índios passaram pelo Rio de Janeiro para receber da Princesa Isabel o certificado de Herói de Guerra . Então, D. Pedro II perguntou à Princesa: "Filha, o que

>Catolicismo - Mas o Sr. pertence certamente a uma entidade através da qual foi convidado a participar desse seminário que está havendo na UnB sobre lideranças indígenas. Qual o seu nome?

faremos com esses índios?"

Índio CB - Ela se denomina Associação Indígena Comunitária Fowha Pypny-So. O final da denominação significa pedra brilhante em nosso idioma.

Ela respondeu: "Vamos dar-lhes um presente que se transmita aos filhos, netos, bisnetos, tataranetos". O Imperador então perguntou: "Ouro, muito ouro, dinheiro


para eles se enriquecerem?" "Não - redarguiu a Princesa - vamos dar terra, mas demarcar a terra em lotes, cada lote de trinta hectares".

>Catolicismo- O que o St. acha da idéia de invadir terras para aumentar a produtividade? E a questão da Reforma Agrária? Índio CB - Isso é o caos. Isso é horrível! Invadir... e ver meu irmão invadindo uma terra, derramando seu próprio sangue no solo da Pátria! Apesar de o outro lado ser branco, ele não deixa de ser nosso irmão, nós somos da mesma terra! Então isso é horrível, porque nós queremos é uma amizade, amizade profunda, respeito de um para com o outro, respeito da vida humana.

>Catolicismo - Existem certos antropólogos, estudiosos, universitários, que acham que o índio deve permanecer na selva sem nenhum contato com o branco. Eles também propõem que o homem branco volte ao estado selvagem. Isso é o que os antropólogos querem. O que os índios querem? Desejam voltar para o estado selvagem ou querem aproveitar os avanços que a civilização proporciona? Índio CB -

>Catolicismo - E como os Srs. pretendem adquirir novas terras, então?

>Catolicismo -

Índio CB - Minha luta é aumentar nossa terra, porque hoje nós somos muitos índios e a terra não está sendo suficiente para a gente. Enquanto várias tribos têm pouco índio para muita terra, nós não temos terra. Como aumentar nosso território? Falando com os fazendeiros, com os vizinhos ... Todos os vizinhos da nossa área são amigos dos índios. Então vamos à casa deles conversamos com eles, perguntamos se eles querem vender. aí medem a terra e nós a compramos pelo preço justo.

>Catolicismo - Ele não incentiva a invasão de terra, a violência? Índio CB - Nunca incentivou ... aliás nenhum padre lá na nossa tribo incentivou invasões. Eles defendem a causa indígena, mas sem atingir os vizinhos .

Todos índios?

Índio CB - Sim. Nós queremos uma vida melhor. E na Polícia Militar ternos desde tenente, sargento, cabo, soldado, até guarda de trânsito ... Nós queremos progredir sem deixarmos de ser índios e sem esquecermos nossa cultura. Então, somente posso ser índio se eu andar com uma estaca enfiada na orelha para me identificar? O que me identifica como índio: minha língua, minha cultura ... e minha casa. Mesmo quando estou na cidade, não deixo de ser índio.

>Catolicismo - E como é a atuação do clero, ou seja, do padre na sua tribo? É boa? Índio CB - O Padre ... o nome dele, lá da Paróquia de Águas Belas, é o Padre José Luís. Ele é ótimo padre, não manda nenhum índio fazer nada de mal, só reza... e preserva a nossa cultura. É o melhor padre que já entro u na tribo.

Já se foi o tempo em que nós queríamos só comer raiz, só viver de pesca e viver do artesanato ... nem do artesanato, porque ... do jeito que os antropólogos falam, eles querem escravizar os índios. Nós queremos progredir. Inclusive na minha tribo já existe um menino se formando para Padre. Nós temos dentistas, formados em administração e advogados.

Enquanto várias tribos têm pouco índio para muita terra, nós não temos terra

>Catolicismo - O Sr. acha interessante que um povo tenha uma boa educação, uma boa conversa, boas maneiras, bons vinhos e boas comidas? E como foi que despertou no sr. o interesse e o gosto pela civilização do "homem branco"? Índio CB - Olha, o homem branco tem muito a ver com o índio civilizado. Porque há pouca coisa que o homem branco faz que o índio civi lizado não faz. Hoje, estamos todos misturados em termos de civilização.

>Catolicismo - O que o Sr. acha destes três valores: Tradição, Família e Propriedade? Eles são essenciais à sociedade? O que seria do mundo se eles não existissem?

Índio CB - Para os coitados que não têm esses valores, existe massacre ... Isto é o principal, o essencial. Todos brasileiros, todos da terra, precisamos ter isso. Agora, como? Com dignidade e respeito ao próximo.

>Catolicismo - A doutrina católica defende esses três valores. Parece-lhe que, se certos padres pregassem mais a favor da Tradição, da Família e da Propriedade ao invés de pregar a invasão de terras e a violência, os índios se abririam mais para a Igreja Católica? Índio CB -Sem dúvida. Quem não quer hoje uma vida digna? Embora atualmente, pouca gente que diz" sou católico", segue o Catolicismo. Hoje há muitos católicos que matam, roubam. Mas, esses que se dizem católicos, não o são. Os verdadeiros católicos são respeitadores, querem uma vida digna para todo mundo, querem o bem. Não querem nada de mal. Os padres deveriam também seguir o Catolicismo. Muitos padres não o seguem.

>Catolicismo- Quando ele morreu? Índio CB -

Não lembro bem, acho que foi em 1966.

>Catolicismo região?

Índio CB - Não! Na minha região não existe questão indígena. Porque as tribos lá são todas demarcadas.

>Catolicismo- O que o Sr. achaque deveria serf eito para melhorar a situação dos índios?

Já se foi o tempo em que nós queríamos só comer raíz, só viver de pesca e de artesanato.

>Catolicismo - Quando os espanhóis chegaram ao México, havia povos indígenas, os maias e os astecas. Os maias construíram pirâmides sobre corpos de crianças sacrificadas em rituais. Isso é historicamente provado. E foi a Igreja Católica que ensinou-lhes que isso era crueldade. Qual sua opinião a respeito do papel da Igreja, no sentido de ensinar que tais superstições e sacrifícios, que são ruins, devem ser evitados? Índio CB - Se o Catolicismo fosse seguido, todos nós católicos viveríamos no país das maravilhas. Eu hoje não vejo as freiras, o padres subirem morros nas grandes cidades, ensinarem o caminho do Catolicisn~o .... Quanto à sua pergunta sobre os maias, os padres daquela época agiram da melhor forma. Do meu ponto de vista, os padres deviam continuar como eram os sacerdotes naqueles tempos. Há padres que traem a Igreja e padres que são bons, ótimos, são ministros de Deus mesmo. Lá em nossa tribo, quem nos civilizou foi um padre, Padre Alfredo Dâmaso. No meio de nossa aldeia há uma estátua dele. Entendeu? Mas ele só nos ensinou a rezar, trabalhar e respeitar... e é isso que a gente segue.

Existe uma "questão indígena" na sua

Índio CB - Muita coisa! Hoje o índio é esquecido. Somos um povo esquecido. Temos nosso órgão, a FUNAI, que hoje não existe, só existe de nome. A FUNAI é um cabide de funcionários, só existe para funcionários. Deveria se chamar Fundação Nacional dos Funcionários ...

>Catolicismo - O Sr. não teria algo a dizer àqueles que são ligados à terra ou têm um interesse particular pela restauração dos valores da Tradição, Família e Propriedade? Índio CB - É um recado. O meu recado é o seguinte: os políticos se empenhem mais na causa indígena, tenham maior sensibilidade. Estamos abandonados, sem assistência médica, educação. Não temos uma vida digna, de cidadão. Nós votamos. Porque, então, não temos direito a uma vida digna? Todos os povos têm: os poloneses, holandeses, portugueses etc., todos têm lugar aqui, em Brasília, e apenas nós não temos um palmo de terra aqui para discutir nossos problemas!

>Catolicismo - Mas existem m~itas entidades, muitas ONGs que recebem dinheiro estrangeiro, diversos índios que aparecem nas revistas, viajam pelo mundo todo .... O Sr. não acha que eles contribuem para a causa indígena ? Índio CB - Não! Na realidade, sou contra essas entidades falsas. Elas só ganham dinheiro em nome do índio, mas não fazem nada para o índio. Mesmo esses índios que ganham cargos na FUNAI, lutam só para ter nome. Depois que fazem nome, eles esquecem dos seus irmãos.


gelização da América, Fernando, o Católico, Carlos V e Felipe II, rezaram diante da Imagem escurecida da Virgem.

DEVOÇÃO MARIANA

Nossa Senhora de Montserrat

Incontáveis são os tesouros com que os devotos foram, ao longo dos séculos, agradecendo os benefícios à Nossa Senhora de Montserrat. Exemplo eloqüente são as quatro coroas da imagem.

(Catalunha, Espanha.:_ 27 de abril)

Invocação mariana das mais antigas e veneráveis, Nossa Senhora de Monteserrat, em Barcelona, é comemorada a 27 de abril; diante dela mantém-se sempre acesa lâmpada de ouro. eus, na Sua justiça, não permitiu que como descendentes de Adão, morássemos no Paraíso terrestre. Mas, na Sua misericórdia, franqueou-nos eterna morada no Paraíso celeste. Não podemos colher os frutos naturais das árvores do Éden. Em compensação, podemos saborear os frutos sobrenaturais de incontáveis árvores que Deus fez crescer um pouco por toda a parte nesta terra de exílio . Entre essas árvores, das mais frutíferas são os santuários de Nossa Senhora. E já que pelos frutos se conhece a árvore, degustemos os de Monteserrat, para depois observar a semente e as raízes milagrosas.

D

O lugar onde se encontra essa árvore é grandioso. Trata-se de conj unto de escarpados rochedos que atingem 1.235 metros de altura, formando uma cordilheira de dez quilômetros de extensão por cinco quilômetros de largura. E para contorná-lo, faz-se necessário um giro de mais de 25 quilômetros.

De cima, pode-se contemplar o Mediterrâneo, os Pirineus, as ilhas Baleares e toda a Catalunha. A silhueta singularmente abrupta dos penedos valeu-lhes o nome de Mont-Serrat: um monte cujas rochas parecerem ter sido recortadas por uma serra. Em locais escolhidos da montanha, erguem-se a Basílica da · Virgem, um mosteiro beneditino, várias ermidas e capelas, uma Via Sacra e um Rosário, com os quinze mistérios representados por grandes esculturas. Certos frutos da Virgem de Montserrat fortaleceram insígnes guerreiros da Fé na luta contra o paganismo e a heresia. Em 1571, Dom João d' Áustria, voltando da decisiva batalha naval de Lepanto, deixou aos pés de Nossa Senhora algumas bandeiras arrebatadas aos muçulmanos e a grande lanterna da nau capitânia de Ali Pashá. Santo Inácio de Loyola, antes de fundar a Companhia de Jesus, fez, em

Esplendor do culto em Montserrat antes da Revolução Francesa Os seguintes são apenas alguns dos numerosos itens do louvor que se tritutava à Nossa Senhora de Montserrat. O altar-mor, onde ficava a sagrada imagem, foi obra do célebre escultor Estevão Jordán, por encomenda do rei Felipe II. Esse escultor trabalhou em Valladolid durante nove anos nessa obra estupenda. Dessa longínqua cidade, situada na província de Castela, o altar foi transportado em 65 carretas até Montserrat, onde recebeu uma cobertura de ouro. E Felipe III, na com-

Sacrilegamente, entretanto, grande parte desse tesouro foi pilhado, danificado ou destruído pela "Revolução Francesa de botas" , isto é, pela invasão napoleônica.(vide quadro)

panhia de Grandes da Espanha e de outros altos dignatários da corte, assistiu à solene entronização da imagem no magnífico altar. O sacrário que posteriormente foi instalado pesava 210 quilos de prata. Para o celebrante poder acercar-se do altar-mor para celebrar a Santa Missa devia subir 5 degraus, todos também de prata maciça. A milagrosa imagem estava sobre um belo trono todo de prata, oferta do duq ue de Cardona, que

A Virgem de Montserrat, imagem românica em madeira, de fins do século XI. Reverente respeito proíbe que ela seja tocada.

Montserrat, uma noite de vigília de armas e urna confissão geral. Jaime I, o Conquistador, que libertou muitas terras do jugo mouro, favoreceu o santuário com múltiplos benefícios. Os três monarcas espanhóis da época da evanincluía dois anjos sustentando dois lampadários do mesmo metal precioso. Ardiam dia e noite 4 cirios de cera e 74 lâmpadas de prata. Os reis Felipe II e Felipe IV acrescentaram cada um outro lampadário colossal. O maior de todos, no entanto, proveio do grão-duque de Toscana, com l 20 quilos de prata. Das quatro coroas com jóias de Nossa Senhora, uma demorou 27 anos para ser montada por um monge beneditino do próprio Santuário. Reunia 1.124 brilhantes, 1.800 pérolas, 38 esmeraldas, 26 rubis de grandes tamanho e um número não especificado de muitas outras pedras.

prio Bispo de Vic, o piedoso Gundemaro. Juntamente com parte do clero e multi dão de fiéis de Olesa, o Pre1ado pôde atestar que ao anoitecer ocorriam as referidas maravilhas em Montserrat. O Bispo humildemente adorou a Deus naquele portento. No dia seguinte, domingo, ordenou uma solene procissão desde Olesa até o lugar do fulgor. Por entre penhascos e precipícios, árdua foi a esca lada. Num ponto bem alto , afinal, em uma gruta acharam a imagem da Virgem com seu Divino Filho.

Depois de jubilosa veneA semente de tanta históração, o Bispo decidiu levária e g raças está envolta na la para ser cultuada na cidalegenda. A imagem data de de. Mas, em certo trecho da tempos imemoriais e seu esmontanha , uma força prodicultor é desconhecido. Se giosa impediu-lhes de prosnão há dados históricos preseguir. Depois , a imagem cisos, sabe-se que por ocaf' ~ ~ -.;'/t~· tornou-se inamovível. Sinsião da invasão muçulmana, O sinuoso caminho entre as penedias que conduz multidões de gu larmente, o local era basno início do século VIII, a peregrinos ao Santuário de Montserrat tante plano, o que veio a faimagem foi escondida entre vorecer a construção do os rochedos de Montserrat. Mosteiro e do Santuário de Ali passou mais de Montserrat. Aliás o um século e um tanto hino " Virolai", de basílica de Nossa Senhora foi pilhada esquecida em meio à A resistência autoria do Pe.Jacine por fim incendiada. A imagem, preconturbada Histór ia to Verdaguer alude à antinapoleônica videntemente, já tinha sido oculta enda época. essa inusitada platatre os numerosos despenhadeiros de em Montserrat forma: "com serra Montserrat. Depois de três meses, os Em 880, três pasde ouro, os anjos do invasores foram escorraça.cios da tores, às margens do A "Revolução Francesa de boCéu serraram as montanha. Porém, voltaram com rerio Llobregat, que tas", isto é a soldadesca napoleônica, montanhas para faforços em 1812 e derrotaram mais passa ao pé da montainvadiu a Espanha em 1808. O centro zer um trono à Mãe uma vez a guarnição local. Nessa senha, apascentavam da resistência na Catalunha foi Montde Deus". gunda agressão, colocaram barris de seus rebanhos . Ao serrat, por causa de sua configuração pólvora para arrasar o santuário. As anoitecer, durante geográfica e posição estratégica. DuRodrigo Sanchez detonações foram ouvidas até a 30 km cinco sábados conserante três anos, e obtendo algumas de distância. Com isso, não restou cutivos , foram survitórias, ali funcionou a base de openada da igreja antiga; grande parte da prendidos por urna rações. Mas em 1811, um numeroso nova, do tempo de Felipe II, foi tam- , FONTES DE maravilhosa harmoe bem armado contingente de soldaREFERÊNCIA: bém reduzida a escombros, e o mosnia e um forte resdos franceses, sob comando de Suteiro inteiramente incendiado. plendor , que provichet, vencendo árdua oposição dos Conde Fabrequer, lmánham da montanha. catalães, acabou dominando a imporgenes de la Virgen en tante posição de resistência. O mosNapoleão foi definitivamente exAos poucos, havendo füpaiia, Madrid, teiro já havia sido evacuado, mas pulso da Espanha em 1814. A glorififalado do portento, 1861, t.I, pp.65-112 numa das ermidas dispersas pelos rocação de Nossa Senhora de Montsersomaram-se-lhes ouchedos haviam ficado dois monges rat foi parcialmente restaurada. Mas Enciclopedia Universal tras testemunhas, inidosos, que foram impiedosa e sacrios devotos de Virgem Negra ainda clusive o Vigário de Ilustrada Euro peolega.mente assassinados. hoje labutam para que a restauração Americana, Hijos EsOlesa. seja não apenas total, mas aumentada pasa Editores; BarceOutros nefandos atentados, sob em relação ao que existia apos tantos 1o na, t. XXXVI, No sexto sábado, pretexto militar foram A_ _ séculos de_ devoção. pp.777-805 _perpetrados. ____ __ ____:_ _ _ _ _ __J compareceu o pró-


DENÚNCIAS HISTÓRICAS

1939: OPACTO RIBBENTROP-MOLOTOV , CONFIRMOU AS DENUNCIAS , DO "LEGIONARIO" Desmentindo todas as notícias que a midia internacional difundia antes da II Guerra Mundial a respeito da visceral incompatibilidade entre nazismo e comunismo, a analogia ideológica e política entre ambos regimes foi sistematicamente denunciada pelas páginas do "Legionário" e confirmada pela assinatura do Pacto Ribbentrop-Molotov ontinuando o propósito, exposto em artigo de fevereiro passado, de levar ao conhecimento dos leitores algumas previsões que o Professor Plínio Corrêa de Oliveira apresentou no " Legionário", por ocasião da Segunda Guerra Mundial, focalizamos a seguir um dos prognósticos mais sensacionais do fundador da TFP. Isto é, a antecipada denúncia do pacto Ribbentrop-Molotov entre a Alemanha nazista e a Rússia comunista.

se devia, e m boa medida, ao fato de ser propagandeado pela mídia como o grande adversário do com unismo.

C

Co locava-se assim para a op in ião pública mundial e para a católica, especialmente, uma alternativa: optar pelo comuni smo (o que era inaceitável para os católicos numa época fe li z, na qual não ex istia ai nda a Ostpolitik vaticana) ou aderir de algum modo ao nazismo e seus congêneres.

Falso dilema: comunismo ou nazismo Para se compreender melhor o alcance da referida previsão, convém que o leitor considere, ainda que de maneira sucinta, alguns aspectos do quatro político-religioso rei nante na

Molotov·assina o acordo. Atrás, Ribbentrop à direita de Stalin

época. As democracias vigentes no início da década de 30, em países da E uropa e de outros continentes, estavam corroídas por seu próprio liberalismo, que as conduzia a crescente desagregação social. Nesse contexto, começaram a aparecer no quadro internacional os totali -

tarismos chamados de ordem, apresentando-se como panacéia cm face da anarquia e, ao mes mo tempo, como os únicos bastiões que se opunham à expansão do com uni sm soviético. Sua máxima expressão foi o nazismo. O prestígio qu e Hitler alcançava tanto na Alemanha quanto no Exterior

Nessa hora de extrema gravidade para a Igreja e a Civi lização Cristã, não fa ltou clarividência, argúcia e coragem ao futuro fundado r da TFP para denunciar energicamente, baseado na firmíss ima so lidez de sua fé e em sua coerente adesão à doutrina ca-

tólica, que a solução para co njurar a ameaça com uni sta não consistia em "salvadores" totalitários. Tal so lução - sempre insisti u e le - cifrava-se no único Salvador verdadeiro, Nosso Senhor Jesus Cristo, e nos ensinamentos de sua Santa Igreja. Não é nossa intenção mostrar aq ui a oposição sistemática que o emi ne nte

pensador católico desenvolveu contra o nazi-fascismo, denu nciando desde o começo dos anos 30 as analogias doutrinárias e de métodos de ação existentes entre este e o comunismo (1).

O inverossímel do pacto teuto-russo Intressa-nos , para efeito deste artigo, mostrar, a título de exemplo, algumas das principais denúncias que odestacado líder católico fizera sobre o itinerário convergente nazi-comunista que parecia na é poca absolutamente inverossímel até para os espíritos tidos por mais lúcidos.

Sacrifício da Missa e à comunhão dos fiéis, o Prof. Plínio Corrêa de O liveira lançava as primeiras suspeitas que o conduziriam a conjecturar o pacto teuto-russo. Assim se expressava ele:" En-

quanto se fa z economia com o culto divino economias insignificantes e miseráveis que rebaixam quem as fa z, o governo hitlerista abria largos créditos .. . para o governo russo ( 1 ), emprestando-lhe dinheiro .. . "O dinh eiro que se nega ao culto de Deus se gasta com um simples mortal

regulares e que se tornaram normais. Moscou tem hoje seu embaixador ariano, assim como Berlim o seu embaixador russo ... "Porque a verdade é esta: se bem que Hitler pregue contra o comunismo e se apresente como defensor da civilização européia contra esse mal, sua atüude em relação ao governo soviético difere fundam entalmente dessa propaganda e, apesar de todos os seus dis cursos inflamados, ele tem f eito muitas ofertas interessadas e amistosas a Moscou" (4) .

1939 assistiu a espantosa previsão ...

São m uito s intomáticas ness e sentido as seguintes linhas publi cadas na revista francesa " Historiama" , em 1975 :

"Quando foi conhecida na Fran ça e na Grã-Bretanha, no mês de agosto de 1939 a assinatura do pacto de aliança germano-soviéti ca, triunfo da diplomacia de Berlim, a opinião pública .foi traumatizada ... O pacto germano-soviéti co surpreendeu a diplomacia ocidental em 1939 "

Em 1° de janeiro de 1939, o de stacado líder católico vaticinava de um modo que poderíamos qu alificar de profético:

~

"Ef etivamen te, enquanto todos os campos se definem, um movimento cada vez mais nítido se processa. É a fusão doutrinária do nazismo com o comunismo. A nosso ver, 1939 assistirá a consumação dessa fusão " (5). Os

.

(2). Stalin cumprimenta Ribbentrop, ministro alemão de Relações Exteriores

Se a opinião pública francesa e inglesa foram traumati zadas e a diplomacia ocidental surpreend ida, nem uma coisa nem outra aconteceu com o Prof. Plínio Corrêa de Olive ira nem com o "Legionário", órgão de imprensa do qual era então diretor. Senão vejamos.

Auxílio econômico de Hitler a Stalin Em o utrubro de 1937, comentando a restrição imposta pelo Governo alemão à Ig reja, mediante a qual este baixava instruções para que se economizasse o mai s possível o vinho e o trigo essenciai s para a celebração do Santo

e, mais ainda, se fornece aos próprios inimigos da civilização" (3).

Reatadas relações diplomáticas entre Alemanha e Rússia Em agosto de 1938, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira agrega a desconfiança dos leitores a respeito do entendimento germano-sovi ético: "Simulta-

fatos confirmaram de modo espantoso a previ são acima.

De outro lado, as relações comerciais entre a Alemanha nazista e o México nitidamente esquerdista se desenvolviam cada vez mai s, fortificando assim as razões da desco nfiança levantada pelo insigne pensador católico.

Afinidade ideológica dos totalitarismos

neamente com o tumulto causado pela tensão ge rmano-tcheca, produziramse dois fatos importantes ...

Em maio de 1939, o ilu stre diretor do "Legionário" afi rmava : "a nota

"O primeiro foi o reatamento das relações diplomáticas entre a Alemanha e a Rússia, que vinham sendo muito

mais curiosa do noticiário da semana passada foi fornecido, sem dúvida pelos rumores insistentes sob re uma aproximação /euto-russa.


"À primeira vista esta versão tem contra si fortes possibilidades ... Dada a campanha espetacular que o nazismo e o comunismo dirigem urn contra o outro, seria deveras surpree'ridente que cunbos se reconciliassem.

"Um aperto de mão histórico" "A assinatura do pacto entre o nazismo e o comunismo espantou grande número de pessoas. Daí a surpresa de muitos leitores ante a cordialidade ri-

"Os observadores menos superficiais entretanto, não consideram tão inverossímil essa hipótese.

esquerda. Segundo as previsões desta folha, dia viria em que os fatos demonstrariam esta tese, e o mundo ainda assistiria à aliança de uma e outra ideologia. Veio finalmente o pacto Ribbentrop-Stalin e de lá para cá nosso ponto de vista tem recebido da realidade a sua mais plena confirmação"

(8) Mestre e guia da Contra-Revolução

"Em primeiro lugar nenhuma pessoa medianamente culta poderá negar a inteira afinidade ideológica existente entre o totalitarismo e o comunismo" .... Após fundamentar com numerosos fatos a referida identidade,_ concluía: "A Alemanha é nacional -socialista. A Rússia estáfteando nacionalista sem deixar de ser comunista."

Várias vezes em conversas e reuniões, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tem aludido às polêmicas denúncias por ele feitas através das páginas do "Legionário". Entre as que se referem à ordem temporal, a relatada no presente artigo é uma das que ele mais destaca, pelo inverossímil que ela aparentava aos homens de pouca fé.

Pesem-se bem as palavras: entre uma "nacionalismo-socialista" e um "nacionalismocomunista" que diferença há?

É pois com especial alegria que redigimos estas linhas para os leitores de Catolicismo continuador do "Legionário" - sobre o glorioso passado do Fundador da TFP, colocando uma vez mais em relevo o discernimento político providencial com que a Santíssima Virgem o dotou desde sua juventude. O que faz dele, entre muitas outras qualidades e dons, o Mestre e Guia incontestável, como já tem sido observado, da Contra-Revolução em nossos dias.

(6) A confirmação Três meses depois, a 23 de agosto de 1939, era assinado o pacto Ribbentrop-Molotov, que confirmou de modo retumbante as previsões que, a esse respeito, fizera o diretor do "Legionário". Pouco dias depois Hitler invadia a católica Polônia, com aval russo, dando início à Segunda Guerra Mundial.

Juan Gonzalo Larrain Campbell

Plínio Corrêa de Olíveira, Diretor do "Legionário", à época do prognóstico a respeito do Pacto Ribbentrop-Molotov

A ufania de ser contra-revolucionário O ódio dos revolucionários de todos os matizes, a incompreensão e o silêncio acanhado dos moderados se desataram de modo especial naquela época contra o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira por causa de sua destemida denúncia da união nazicomunista. É muito explicável pois, que o "Legionário", ufano pela posição assumida por seu diretor desafiasse, sempre com espírito cavalheiresco, seus irredutíveis adversários, destacando de modo particular o acerto de suas previsões, precisamente num dos pontos que mais ódio suscitara. Assim, na edição de 14 de janeiro de 1940, sob uma fotografia, figura a seguinte legenda:

sonha e afetuosa do aperto de mão trocado, com.o acima se vê, entre Ribben trop e Stalin logo depois de assinado o acordo. O "Legionário" , entretanto previu o acontecimento com um.a longa antecedência". (7)

NOTAS 1. Quem deseje informar-se a respeito, pode consultar os artigos por ele publicados sobre o assunto em "Legionário" , e posteriormente, em Catolicismo e "Folha de S. Paulo".

E o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escrevia em junho de 1940:

2. "Historama", Paris, nº 280, p. 97.

"Entrando na guerra do lado da Alemanha, a Itália confirmou todas as previsões desta folha ... ". Referindo-se a seguir à propaganda que o Governo italiano um ano antes fazia contra as democracias, devido às li gações que esta mantinham com os soviéticos, prossegue: "Nessa ocasião, o "Legio nário" já sustentava a in consistência da luta entre o totalitarismo de direita e de

4. Plínio Con:êa de Oliveira, Alemanha e Rússia trocam carícias, "Legionário" , 28-8-38.

3. Plínio Corrêa de Oliveira, À Margem do hitlerismo, "Legionário", 24-10-37.

5. Plinio Corrêa de Oliveira, Entre o passado e o futuro, "Legionário", 1- 1-39. 6. Plínio Corrêa de Oliveira, seção 7 dias em revista, "Legionário", 14-5-39. 7. "Legionário" , 14-5-40 8. Plínio Corrêa de Oliveira, seção 7 dias em revista, "Legionário", 16-6-40.

A inveja vent do berço "A debilidade dos membros infantis é inocente, mas não a alma das crianças. Vi e observei uma, cheia de inveja, que ainda não falava e já olhava, pálida, para o irmãozinho de leite. Quem não é testemunha do que afirmo? Diz-se até que as mães procuram exconjurar esse defeito, não sei com que práticas supersticiosas. Será inocente a criança quando não tolera junto de si, na mesma fonte fecunda do leite, o companheiro destituído de auxílio e só com esse alimento para sustentar a vida?" ( Confissões, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1966, pg.36).

Santo Agostinho

TFPS EM AÇÃO -

II

Nos feriados de Carnaval, cursos de formação Com a presença de 200 jovens procedentes de oito Estados da Federação, realizou-se em São Paulo, em fevereiro passado, mais um Encontro de Neocooperadores da TFP. Numa das conferências, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira evocou seu ingresso no movimento das Congregações Marianas, por ocasião do Congresso da Mocidade Católica, promovido em São Paulo, em 1928. Devotado desde jovem à defesa dos princípios básicos da CiviliParticipantes do Congresso de Neo-cooperadores zação Cristã, mostrou como, confiante Também na Sede Campestre da TFP, situada em Amparo na Santíssima Virgem, foi possível vencer os obstáculos, atrair (SP), 120 correspondentes reuniram-se para formação cultural, outros jovens para a defesa dos mesmos ideais, fundar a TFP enquanto em Joinville (SC) realizou-se um acampamento, com brasileira e inspirar a formação de entidades afins em 25 outros a participação de 40 jovens da região. países, até o momento.


Novo Cardeal elogia obra divulgada pela TFP A mais recente edição da obra Fátima: Profecias para a América e o mundo, tragédiá'ou esperança?, de autoria do sócio da TFP Antonio Augusro Borelli Machado, que apresenta uma síntese das revelações de Nossa Senhora em Fátima, conta com uma especial aprovação do Cardeal eq uatoriano D.Bernardino Echeveria Ruiz, OFM. Recentemente elevado ao Cardinalato por S. S. João Paulo II, o Prelado assinala: "Depois de examinar o livreto sobre Nossa Senhora de Fátima, constatei que tudo está de acordo com a doutrina da Igreja. A publicação do livreto fará muito bem ao povo de Deus, pelo que o aprovamos plenamente". A obra de Borelli Machado, prefaciada pelo Prof.Plínio Corrêa de Oli veira, foi inicialmente publicada nas páginas de Catolicismo, em 1967, por ocasião do cinqüentenário das aparições de Fátima. Anos depois, substancialmente ampliada, a

obra passou a ter edições em diversos países e idiomas. Entre as mais recentes figuram as edições em russo e lituano, tendo merecido cartas elogiosas do Cardeal Sílvio Oddi, da Cúria romana, do Cardeal Vicentas Sladkevicius, de Kaunas, Lituânia, como também de numerosos Arcebispos e Bispos de diversos países da América Latina. No Brasil, atualmente a obra vem sendo divulgada pelas Caravanas da TFP e pela campan ha "Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis!", que consiste na distribuição de cupons, com os quais os interessados podem solicitar sua remessa por via postal. Até o momento, suas 123 edições em nove línguas totalizam 2.082.000 exemplares, o que, em termos editoriais, representa um verdadeiro sucesso.

Petição de SOS Fazendeiro ao Ministro da Agricultura e Reforma Agrária Logo que foi eleito o novo Governo, milhares de ruralistas manifestaram-lhe seu desejo de que fossem divulgados os dados necessários a uma avaliação objetiva do que vem sendo feito em matéria de Reforma Agrária no Brasil. Pois, agir e legislar sem dados efetivos sobre a realidade seria afundar no caos. Contudo, se constata que os elementos _favoráveis à Reforma Agrária não se sentem entusiasmados com o desejo dos ruralistas de sair do caos. É preciso que se tenha dados informativos sobre o que foi feito em matéria de Reforma Agrária, como sobre os resultados obtidos com as desapropriações e com os assentamentos. Assim, pedem ao Ministro José Eduardo Andrade Vieira um "diálogo aberto e democrático" com os ruralistas, à maneira do que ele prometeu para os Sem-Terra e a CONTAG.

Grande campanha de cartas A TFP enviou milhares de cartas a ruralistas de todo o País, sugerindo-lhes que ass inem uma Petição ao Ministro Andrade Vieira, pedindo um "diálogo aberto e democrático" a respeito da Reforma Agrária. Essas petiçõess serão posteriormente entregues pela TFP em Brasília.

A petição ao Ministro Andrade Vieira Seguem trechos da carta da TFP aos rurali stas, sugerindo que assinem a Petição.

"Já na primeira quinzena de governo, o Presidente Fernando Henrique desapropriou 74.622 hectares de terras. "A CONTAG (Confederação dos Trabalhadores da Agricultura) e os Sem-Terra pressionam o governo e têm em vista obter uma ilimitada desapropriação de terras em todo nosso Brasil continente. "Queremos saber se já existe um cadastramento dos tão propalados Sem-Terra. Quantos são eles? Quais os critérios para serem classifteados como Sem-Terra. "Queremos saber o que foi feito dos 6.392. 748 hectares de terra desapropriados desde 1985. Uma área equivalente a uma vez e meia à do Estado do Rio de Janeiro. "Dado que o governo acha que a Reforma Agrária resolve o problema, ele terá o maior empenho na divulgação desses dados, pois sem eles parece impossível persuadir das vantagens da Reforma Agrária qualquer brasileiro sensato. "Nós temos direito ao diálogo. Diálogo ·esse que, não duvidamos, está nos propósitos do Ministro Andrade Vieira realizar, pois o diálogo com os Sem-Terra não seria "aberto" nem "democrático" se, ao decidir sobre esta importantíssima matéria, não fossem ouvidas ambas as partes, mas apenas uma. "Sejam ou vidas ambas as partes" é um princípio fundamental do Direito Romano. "Aliás, acreditamos que tal publicação não pode deixar de ser encarada com acolhedora expectativa também pelos SemTerra que estejam verdadeiramente persuadidos dos bons resultados da Reforma Agrária que com tanto ardor pleiteiam."

~~if@lLO~O~[M]@ Preços durante o mês de Abril de 1995: ASSINATURA ANUAL

COMUM: R$ 30,00 COOPERADOR: R$ 40,00 BENFEITOR: R$ 90,00 GRANDE BENFEITOR: R$ 150,00 EXEMPLAR AVULSO: R$ 3,00

De algum modo, imagino que cada um de nós é o sósia espiritual, psicológico, do próprio anjo da guarda. Como é legítimo que um pai tenha preferência por um filho que lhe é mais parecido, assim tambem se compreende que um anjo tenha preferência por um mortal que com ele seja mais assemelhado e que haja um intercâmbio que depois continuará no Céu. Plínio Corrêa de Oliveira Como podem os anjos estar longe, se nos foram dados por Deus para ajudar-nos? Santo Agos tinho o anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem, e os liberta Salrno 33, 8 Todas as coisas corporais são governadas pelos anjos São Tomás de Aqu ino E' claro que as galaxias do céu, assim como as feras das florestas e os pássaros que cantam para nós, e o trigo de nossos campos, os minerais e os gases, os prótons e os nêutrons sofrem a ação dos anjos Mons. L . Cris tiani

Ruínas altamente simbólicas A guerra na Bósnia - um dos conflitos mais sangrentos da época contemporânea - já sacrificou milhares de vítimas, a maioria delas c ivi s, entre as qu ais inúm eros idosos e crianças. A san ha destruídora dos em bates naquela reg ião dos Balcãs não ating iu somente vidas hum anas, mas alcançou te ouro de arte, monumento s e vene ráve is ccl i fício acros. A foto é uma eloqüente co mprov ação disso. Na cidade bósni a ele Vukovar - sete vezes secular e hoje quase arrasada - restaram ruínas de uma igreja católi ca. O cru zeiro diante do templo reli gioso e a fachad a ostentam as marcas ocas ionadas pe los obuses ela artilharia sérv ia. A imagem do Divino rucifi cado, que se

conservou intacta, parece ainda arrostar os proj éte is com a mesma sobranceria co m que o Redentor enfrentou os indizívei s padec imentos de Sua Paixão e Morte. A consideração dessas ruínas, por ocasião da Semana Santa, leva no sso es pírito a co nfrontá-las co m a crise que se abateu sobre a Igreja Católica, em virtude do furacão progressista. Que alto significado s imbólico ga nh a m então este cruzeiro e esta fac hada! E sobretudo o Crucificado, imune aos ataques a dver sá rio s, constitue comovente comprovação da promessa di vina: "E as portas do inferno não prevalecerüo contra Ela" (a Santa Igreja, Corpo Místico de Cristo) (Mt. L6,18) .


A atenção do leitor, ao examinar a foto desta contracapa, certamente é atraída para o telhado dourado do balcão que · ornamenta essa pitoresca moradia. O estilo gracioso do ediflcio - que se reflete sobretudo nas esculturas e relevos em pedra da sacada, bem como nas seis janelas com vidro de fando Jie garrafa - combina com a renomada leveza de espírito e charme de seus proprietários: os Habsburgos. Simbolo de Innsbruck, a capital do Tirol, o Telhadinho dourado (Goldenes Dachl)-

como ficou conhecida a famo sa casa - foi durante muitos anos residência dos Habsburgos, a insuperável dinastia que encarnou os valores do Sacro Império Romano Alemão, e depois, do Império Austro-Húngaro. Esta graciosa residência com um balcão foi mandada construir pelo Imperador Frederico III em 1420. Seu filho M aximiliano I, que era conhecido cÓmo o último cavaleiro, após seu casamento com Bianca Sforza, de Milão, começou a utilizar a sacada como loggia imperial - uma espécie de tribuna da corte, de

onde os imperadores passaram a receber as homenagens de seus súditos. Mas, em vez das tradicionais ardósias coloridas, freqüentes em construções góticas do fim da Idade Média, por que essa coberluraa apresenta placas de cobre folheadas a ouro? Cognominado Frederico de bolsos vazios, devido a seus constantes apuros financeiro s, Frederico III quis desmentir essa alcunha jocosa. E para fazê-lo, de modo igualmente espirituoso, mandou cobrir de ouro o telhado da loggia...


N• 533 - Malo 1995 -Ano XLV


CATOLICISMO

Discernindo, distinguindo, classificando ...

4 4 anos de luta, na fidelidade doutrinária N2 533 Maio

Você Sabia? O Brasil é, por efeito do regime de propriedade privada: ~

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o maior produtor de algodão da América do Sul (52% da produção do Continente) e oitavo do mundo. Predomina o tipo herbáceo (CentroSul) mas produz também o tipo arbóreo (Norte-Nordeste); o maior produtor de cacau da América do Sul (67,8%) e o segundo do mundo (14,3% da produção mundial); o maior produtor de cana de açúcar do mundo e o segundo maior produtor de açúcar; o maior produtor e exportador mundial de café; o maior produtor mundial de laranja (produz o dobro dos EUA, detém 85% da produção sulamericana e quase 1/3 da mundial) ; o segundo produtor mundial de soja e um dos maiores exportadores de soja e derivados. Posição alcançada em apenas duas décadas, pois a soja é relativamente recente no Brasil. Em 1993 a produtividade média nacional foi de 2,1 toneladas por hectare, semelhante à dos Estados Unidos que é o primeiro produtor mundial; o oitavo maior produtor de arroz, mas não exporta o produto. Em alguma regiões alcança uma produtividade média de 5,1 toneladas por hectare, comparável às melhores médias mundiais, como as do Japão; o segundo maior produtor mundial de fe ijão, para total consumo interno ; o terceiro maior produtor mundial de milho, mas apenas para o mercado nacional; o terceiro maior produtor de carne bovina do mundo e um dos maiores

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ex portadores. Conta aprox im adamente 145/150 milhões de cabeças; o maior produtor de leite de vaca da América do Sul e o sétimo do mundo. (Dados extraídos do livro Perfil da Economia Brasileira, de Eli Roberto

Peline Paulo de Tarso A. de André, publicado em outubro/94 pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM); tais dados referem-se a 1993); Depois disso, ainda há quem propugne por uma Reforma Agrária drástica para o Brasil! É sabido que o Incra órgão federa l encarregado de fazer a Reforma Agrária no Brasil serve de abrigo a um núcleo ideológico da esq uerda mais radical. Por exemplo, o jorna li sta lgnacio de Aragão afirma: "O INCRA sempre esteve enl regue as esquerdas mais à esquerda " (" O Popular" , Goiânia, 12-2-95). Agora, um documento gerado nas entranhas do Incra torna ainda mai s clara a ideo log ia que ali tem livre curso. Os autores, info rma a imprensa, são "técn icos do Incra" .

Trata-se de um Relatório sobre a situação da Reforma Agrária no Brasil, publicado pela Confederação Nacional das Associaçõ s dos crv idores do Incra (CNASI). ão 32 páginas, das quais goteja abundante doutrina com uni sta. Elogiam o Govcrn Itamar p r ter nomeado para o Incra " dirigente s progr ssistas" (p.6). O Relatório alca nçou repercussão cm pratica men Le Loda a imprensa. Jn l itul a-se: " Incra ntrc o onereLo e o onho da Reforma Agrária". • Os I cni cos do fncra são gratos à esquerda " cal I ica" pelo papel que la vem re presentando para impu ls io nar a Reforma Agrária . Assim é que ag radec m " todo o ap io" r e bid o do ONSEA ele D. Mauro Morelli " para dotar o In ·ra e o Progra ma de Reforma ele recursos su ri ' i nLes" (p.8), e falam d s "re presen lanl s r li giosos" qu' 1-riam sido perseguidos na " disputa p •la posse da terra" (p.4) . O R lalório, 1 or m, l n um m ri lo, o da clareza . Não I ixa dúvida quanto aos obj ti vos id oi i ·os qu ' movem seus autores. s mais batidos slo ans da esquerda radical p 'rpassam o documento. Dizem , por 'xemp lo, qu a Refo rma Agrária visa " ·ombal ·r ·ssa siLuação de INOI , ÍtN IA •m qu se nc nlra A QUA E TOTALIDADE do pov brasil eiro" (p. 26). , ncralizam ainda mai s ao fa lar no " bSTAOO DE FOME E MISÉRIA a que c.: he ou o povo brasi lcir " (p. 13). Todo exagero insi gnificante, dizia Talleyra nd, dip lomata francês do século X IX! E a afirmação co ntinu a válida no sécul o XX! Mas o pior é que exageros eles. e tipo é que estão erv indo de base ao Incra para fazer ua Reforma Agrária.

1995

Assestando o Foco

A

ssaltos nas ruas, roubos à mão armada, seqüestros, enfim o quadro trágico da violência urbana, é o que mais preocupa o cidadão comum, mais ainda do que o fantasma do desemprego . Nesta edição, Catolicismo reafirma sua antiga política de pôr em relevo sobretudo as verdades mais silenciadas, mais esquecidas e mais desprezadas, ou os fatos empurrados para a sombra. Embora se trate continuamente da violência urbana, fala-se muito pouco de seu ponto mais importante: suas causas morais. Campeia uma televisão destruidora dos mais comezinhos princípios da moral familiar, e são minoria os valentes que ousam reagir contra ela; no cinema, nos teatros, nas salas de aulas, até no interior dos lares vão rareando os bons

exemplos, o ens ino dos princípios formadores do caráter, o cu lto do dever. A própria campanha contra a disseminação da AIDS tem por fundamento a propaganda da mais crua imoralidade. Há ainda o receio de afirmar que na base da desagregação moral no Brasil está uma terrível e dolorosa crise religiosa. Mas, para uma compreensão completa do problema e para uma terapêutica acertada, é preciso ter a coragem de conhecê-los por inteiro, e então é preciso agir téndo-os em vista. Sem que esses fatores sejam atacados, pode s urpreeender que a criminalidade aumente, que nada consiga deter a escalada das drogas, que o próprio convívio domestico, de moralizado , ameno e reconfortante que era, vá se transformando em ríspido, desgastante e penoso?

Houve no passado numerosos estudos sobre a cordialidade brasileira, tanto esta nota estava presente entre nós. Vinha de um fundo de benquerença, de um olhar sossegado em considerar a vida e também da sensação difusa de que, pelo nosso jeitinho, consegui ríamos afastar de nosso País as tragédias. Desapareceram tais estudos ... E estão sendo substituídos por maçudos ensaios sobre a violência, no lar, nas ruas, nos locais de trabalho. Um modo de ser vai se apagando, vai se afirmando outro, que lhe é oposto. O que está mudando? Estão mudando os hábitos morais. Sobre isto versa o artigo de capa na pena de nosso antigo colaborador P. Ferreira e Melo.

Índice Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida.

Discernindo Voce sabia?

2

A Realidade concisamente Álcool produz estragos

4

Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho

Destaque A Sociedade do sanduíche, ou, como vencer sem armas atômicas

5

Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago - Registrada na DRT-SP sob o NQ23228

Capa Violência urbana no Brasil: as raízes ocultadas

6

Heroísmo católico "Viva Cristo Rei!"

9

Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP - Tel: (011) 824-9411

Medicina ONGs/AIDS: paravento favorecedor da homossexualidade e desagregação moral

10

Caderno Especial Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa

13

Entrevista Depois das eleições nos Estados Unidos, os conservadores de olho no futuro

PUSUC1'ÇAO 00 Cl\tJPO fl[l" VIOOAIR) - ANO V -

17

Hagiografia Rita de Cássia, a santa dos impossíveis

20

História A epopéia missionária na formação da Cristandade luso-brasileira 22

Atualidade Religiosa Igreja reabre causa de beatificação de Dom Vital

24

TFPsemação Para os registros da História

25

Em Painel Frases e Imagens

27

Contracapa O relógio da História retrocedeu ...

28

Nossa capa: Soldados do Exé rcito coope ram na repressão ao crime no Ri o. Foto Michel Filho, 1994, Agência Jornal do Brasil

fOIT0,1A1.

N• 18 - JANl:IROIMA'\ÇO 197-4

Fotolitos: Microformas Fotolitos Lida. Rua Javaés, 681 01130-010 São Paulo - SP Impressão: , Artpress Indústria Gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 681 01130-010 São Paulo-SP A correspondência relativa à assinatu ra e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua M arti m Fra n c isc o, 665 - CE P 01226-001 - São Paulo - SP - Tel.: (011) 824--9411 ISSN - 0008-8528


CONCISAMENT-E~ ~ ~ - ~ _ _ . Álcool produz estragos Cerca de 5% dos operários de todo o mundo são dependentes de alguma bebida alcoó li ca, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (0/T).

Somente nos Estados Unidos, o alcoolismo produz acidentes de trabalho, queda da produtividade e fa ltas ao serviço num montante de 200 bilhões de dólares anuais de prejuízo.

No mundo de hoje, o Brasil é um dos poucos países com enorme reserva de elefantes brancos, em que pretensos defensores do progresso do operariado cont inuam a defender essa velheira.

O templos católicos estão ficando vazios. Na Semana Santa, o que vemos são procissões cada vez mais minguadas.

Se a moda pega ... presidiários pagam por estadia na prisã9

Mas não é só. A CUT encontrou como aliada a Rede Católica de Rádios, que conta com nada menos de 180

Fica aqui um apelo aos dirigentes da Rede Católica: Vamos mudar, senhores! Se não por razões mais altas, pelo menos para não ficar na contramão da História! Por favor !

Marion Barry, ex-prefeito de Washington, desembolsou 10 mil dólares pelos seis meses que ficou na cadeia devido a porte de cocaína.Ele teve que pagar pelos custos de tempo passado na pri são, uma prática cada vez mais comum nos Estados U nidos.

Miguel Arraes, amigo do peito de Castro

No Brasil, uma única marca de aguardente vendeu mais de 200 milhões de litros apenas em 1994. O que lhe valeu o "diploma" de destilado de maior consumo no mundo. O que é isso em termos de perdas no mercado de trabalho, não se consegue calcular! Sem falar, é claro, no principal: adestruição de incontáveis lares e a miséria moral (pior do que a material) para os viciados da cachaça.

Fundamentalistas da estatização A CUT está organizando um lobby ou grupo de pressão para lutar contra a quebra dos monopólios e a abertura da economia ao capita l estrangeiro. A central sindical quer, portanto, que continuemos escravizados à competência ou ao atraso de dinossauros como a Rede Ferroviária Federal, bancos estatais, diversas brás etc.

Enquanto os políticos discutem... o Brasil cresce O consumo de energia elétrica aumentou. Nos dois primeiros meses de 1995, o mercado consumidor de energia elétrica cresceu 11,3% sobre igual período do ano passado. As indústrias, que têm peso de 47,5% no total, consumiram mais 9,7%, na comparação de fevereiro de 95 com fevereiro de 94. Nas residências, cuja participação é de 24,8%, houve um salto de 11 %. E o comércio, que consome

emissoras disseminadas por todo o território nacional.

Quando era líder do PSB (Partido Socialista Brasileiro) na Câmara Federal, Miguel Arraes socorria com material de expediente a embaixada de Cuba em Brasília. Agora, governador de Pernambuco, o inveterado amigo de Fidel enviou para a ex-Pérola das Antilhas dois de eus secretários estaduais em viagem de e tudo nas áreas de agricu ltura, saúde, agropecuária e produção de medicamentos ... Se os soc iali stas, mesmo em seu new look, de fato se interessassem em resolver o problema da miséria, então seria compreensível que Arraes enviasse seus dois secretários apenas para analisar o índice assustador de pobreza da população cubana, recentemente evidenciado no maciço êxodo de fugitivos - os "balseros" para a Flórida.

12,7% do total, registrou expansão de 10%. Na indústria, esse aumento foi ocasionado pelo ritmo da atividade fabril. Por exemplo, as montadoras de veículos e as produtoras de eletrodomésticos trabalham no limite máximo de sua capacidade. E o aumento no consumo residencial e comercial foi influenciado pelo ca lor do último verão. Esses número ev idenciam a necess idade de cumprimento rigoroso do cronograma de novas usinas ele geração de eletricidade, prato cheio para o ainda tímido projeto de privatizações do Governo federal.

Até agora seis estados norte-americanos já aprovaram leis obrigando o ressarcimento pe los detentos dos custos de estadia e alimentação. Cada estado estabeleceu valores diferentes para os encarcerados. Mas nas prisões federais há uma taxa única de 21 mil dólares referentes ao período inteiro de prisão. A medida não inclui sentenciados que estejam abaixo da linh a de pobreza e prevê algumas outras exceções.

Conto da Carochinha

se para, num futuro não muito remoto, lançar-se contra o Ocidente.

O governo russo rejeitou os apelos dos Estados Unidos para cancelar uma venda bilionária de reatores nucleares ao Irã. Washington teme que os reatores possibilitem a Teerã a obtenção de armas nucleares.

Qualquer outra desculpa que os russos e iran ianos apresentem não passa de conto da carochinha.

A esse respeito , declarou o secretário

norte-americano da Defesa, William Perry, que o Irã está inundado de petróleo e que , portanto, é tota lmetne claro, mesmo para um observador comum, que os iranianos não precisam de reatores nucleares para gerar eletricidade. O que se conclui daí? S impl esmente que a Rússia, sob pretexto de transações comerciais, continua ajudando o Irã - um dos países muçulmanos mais radicais e mais inimigos da Re li gião católica - a armar-

Novas beatificações à vista Segundo a Agência de Notícias Católica Croata, IKA, o processo de beatificação cio Cardeal Stepinac está perto de sua conclusão. Heróico paladino da li berdade da Igreja contra o regime comunista, o Cardea l Stepinac foi cruelmente perseguido pelo ditador vermeho Broz Tito, da l ugos lavia, e morreu em prisão domiciliar em 1960. Por outro lado, o Superior Geral dos Salesianos pediu oficialmente ao Arcebispo de Turim, Cardeal Saldarini, a abertura do processo de beatificação de "Mama Margarita", a venerável mãe de São João Bosco.

A sociedade do sanduíche, ou, co010 vencer se01 ar01as atô01icas Após dez anos em território italiano, a cadeia internacional de refeições rápidas McDonald's ainda não conquistou a Itália, conhecida por suas saborosas massas, queijos e vinhos. Toda a península abriga apenas 26 McDonald's - muito pouco em comparação com 560 lanchonetes na Alemanha, 350 na França e 580 na Inglaterra. Autoridades municipais italianas proíbem exp li citamente restaurantes desse tipo em centros históricos, bem como lojas de jeans. Bom gosto dos italianos? Decadência dos outros? Sem dúvida. Mas a batalha ainda não terminou e a rede norte-americana de fast food não se dá por vencida. Acaba de organizar um "grupo de pressão", a fim de obter permissão de prefeitos de cidades históricas - Veneza não está excluída - para instalar "restaurantes mo. demos" nos centros hi stóri cos, em novos shopping centers e até postos de gaso lina. Resistirá Veneza A briga entre a pizza e o hamburguer na Itália levanta uma questão de interesse maior: o que é melhor para conquistar um país: o sanduíche ou a bomba atômica? Pode parecer brincadeira, mas a questão é séria. Os Estados Unidos ganharam a II Guerra Mundial com a bomba atômica. Naquele tempo o que valia eram as armas. Hoje os americanos ganham o mundo com redes de restaurantes de sanduíches, existentes em mais de cem países. No Brasil, a McDonald's já instalou 204 restaurantes em 39 cidades de 12 Estados. E tem planos para chegar a 750 até o ano

2.000, abrindo 100 novas casas por ano. Sem falar em outras cadeias defast-food ,já que tomamos apenas uma como exemp lo mais saliente desse gênero de invasão cu ltural. Encerrado o período - pelo menos por ora - em que a Rússia representou o papel fictício de super-potência soviética, a maioria dos países - sobretudo no Ocidente - é conq ui stada não mais por uma agressão externa, mas por dentro, através de profunda transformação dos costumes, por uma verdadeira revolução cu ltural. Mas, voltemos aos restaurantes tipo fastfood. O leitor já reparou como ali se cria um ambiente de perpétua juventude, de espontaneidade, de irreflexão? Sentar-se e mastigar sem qualquer cerimôn ia um sand uíche junto com um refrigerante toma ares de um ritual em que o jovem (mas não somente ele) se sente transportado a um mundo a la Hollywood. ao McDona/d's? Em São Paulo, Los Angeles, Paris, Tó_quio, Moscou ou Bombaim, o mesmo sanduíche, o mesmo sabor, o mesmo estado de espírito, com vistas a formar o mesmo padrão universal de homem despreocupado, informal,vulgar, sem problemas metafísicos, alheio às coisas esp irituais, voltado unicamente para coisas banais e necessidades imediatistas. Saibamos opor a essa revolução cu ltural uma resistência de alma, cheia de fé e coragem, para que o Brasil não deixe de ser Brasi l.


~ determinante nos 80% restan-

CAPA

~ tes? Vejamos. A pobreza em muitos casos [ dificulta um ambiente favorál vel à boa educação, a qual, bem entendido, não se reduz à mera ~ in stru ção, sobretudo quando [ vem acompanhada de corrup;e_ ção moral, de desajuste social ou fam iliar: filhos fora do casamento, bebedeira, vida sex ual promíscua, vagabundagem, más companhias, abandono injusto do lar. Certas situações de pobreza, caso houvesse maior moralidade, poderiam influir menos negativamente sobre a in fâ ncia e a juventude. O pecado, frequentemente, torna trágica e anti -social uma situação que a virtude faria suportável e condizente com o bem co mum. Se m o combate a essas taras morais, adiantará muito a generalização ela prosperidade? Os Estados Unidos são um país próspero; são também o maior mercado mundial de maconha e cocaína.

J i·

O

medo de ~er assaltado figu~·a catequista. O que leva tais análises a como a pnmeua preocupaçao parcialismos rombudos, a propostas dos brasileiros, seg uida de que não resolvem nada. perto pelo desemprego, de acordo com Este biombo precisa ser derrubado. pesqui as recentes. Ao se analisar a problemática da vioO transeunte pode facilmente ser lência urbana é necessário incluir cerassaltado por um trombadinha na ca ltas causas fundamentais . Assim, não çada, o motorista roubado nas paradas vou me ocupar de causas das quais todo de semáforos, o funcionário trancafiamundo fa la: baixos sa lários; oferta in do no banheiro pelos bandidos que fasuficiente de empregos; migração caózem o rapa da firma e, à noite, a família tica para as grandes cidades que destrói atacada em sua própria casa, quando famílias e rompe laços sociais benéfidorme ou se distrai após o jantar. Escacos entre as várias classes sociais. O choam no noticiário informações de que desejo oferecer ao leitor é a comcrimes gratuitos e hediondos. plementação dos quadros habitualmenO contraste entre a atual e dilacerante sensação de insegurança e o rela- . Costuma-se apresentar tivo sossego no qual se vivia até há como causas desse alguns anos exaspera o públi co; em muitos a irritação vai ao paroxismo. preocupante problema Entre estes últimos estão e m gera l os fatores superficiais partidários das soluções imediatas, exclusivamente de ordem drásticas e, no entender deles, definitisócio-econômica, quando, vas. Esses setores têm presença muito expressiva nas camadas modestas da na verdade, suas razões população, normalmente mais exposmais profundas repousam tas à sanha dos facínoras. na área religioso-moral, Nas periferias pobres das grandes que comanda o agir tanto cidades e em certas áreas rurais , o linchamento começa a se generalizar, visdos indivíduos quanto das to como método efic iente e prático para f ami1ias e da coletividade extirpar o crime. No mesmo caso está o preocupante fenômeno dos "justiceiros", indivíduos pagos para matar te descritos e deste modo obter uma bandidos locais, por comerciantes e visão mais abarcativa desta trágica pais de família desesperados pela asquestão. sustadora ousadia dos criminosos.

Pontapé no biombo

Crise fundamentalmente moral

Há um estranho respeito humano ao se tratar da violência urbana. U 111 como que biombo esconde certos aspectos da realidade. A bem dizer nunca aparecem nas descrições do fenômeno - por vezes muito eruditas e bastante longas certos dados que, e ntretanto, estão presentes, ainda que nem sempre inteiramente claros, no espírito da dona de casa, do vendeiro da esquina ou da

Há um primeiro e principal pressuposto a ser expresso: a mais importante causa da violência urbana é de natureza moral. Não fo i a pobreza, não foi a falta de empregos, não foi a educação insufi ciente, que causaram a escalada espantosa do crime. Todos estes fatores, sem dúvida, contribuíram para ela, mas não são os principais.

Jovens de classe média

/

Dos crimes ocorridos no Estado de São Pau lo em 1992, 15 a 20% foram praticados por ado lescentes da classe média, de acordo com Rosmary Corrêa, então titular da Secretaria Estadual da C ri ança, Família e Bem-Estar Social. "Pes-

soas dessa camada social raramente apareciam. em estatísticas anteriores" observou eia ( 1 ). Dos 4. 000 menores registrados nessa secretaria "cerca de 800 foram considerados de família abastadas" constata con hec ida rev ista semanal (2).

Da droga para o crime A rota mais comum para a delinquência juveni l na classe média é o consumo de drogas. A mesada recebida não é suficiente para a compra das drogas. Já meio viciado, o jovem começa então a praticar pequenos furtos domésticos, para conseguir o dinheiro; desse modo , destrói o hábito da honestidade e embota a própria sensibi lidade moral. O passo seguinte é procurar o dinheiro fora de casa; passa a assaltar estra nhos. Não foi a pobreza que o levou ao crime; fo i o vício. Lembra Rosmary Con-êa: "Os pais estão deixando

de educar e orientar seus filhos" .

Educação permissiva As más companh ia. estão entre as causas principais do desv io de jovens de todas as classes soc iai s para práticas delituosas. O permi ss ivismo moral e o desleixo na vigilância ele incontáveis pais deixam os j ven indefesos diante do abismo do cri me e à mercê ele aproveitad r s inescrupulosos. Quando os pais, assustados, querem agir, muitas

Bandos de jovens pertencentes à classe média tornam-se propensos a ingressar na criminalidade porque "os pais estão deixando de educar e orientar seus filhos"

vezes já é tarde. A anterior forma de educar, vigilante, precavida e austera, ficou "fora de moda pelos critérios "modernos" de educação. Foi substituída pela educação permissiva, que supostamente não criaria" recalques". De passagem, cabe lembrar que os problemas nervosos hoje são mais generalizados do que outrora. Por não combater as más tendências como a preguiça, o capricho e a revolta, essa educação permissiva sufoca no broto valores como o senso da honra, a noção do dever, o pudor; em uma palavra, a capacidade de dominar as más inclinações. Tal pennissivismo pedagógico q ue, por relaxamento ou concepções doutrinárias libertárias, ren unciou à formação do caráter - cria seres humanos entregues às suas reações mais primárias e incapazes de suj eição a normas morais e sociais, quando elas se chocam com o que apetecem intensamente no momento. As paixões humanas são de si insaciáveis e camin ham de paroxismo em paroxismo. Q uem rouba um pouco hoje, amanhã vai querer roubar mais. Contra essa força destrutiva, a educação cristã criava hábitos de temperan-

ça, de autodomínio, de respeito ao próximo, que reprimiam o egoísmo, impediam a esca lada do vício e construíam assim o fundamento da vida civi li zada. Destruída essa influência, benéfica e civilizadora, como vem aco ntecendo, a sociedade estará, mais dias, menos dias , posta irremediavelme nte diante de um trágico dilema: tirania ou desagregação. Os fatores desagregadores ficarão tão ativos que só uma ditadura minuciosa impediria - assim mesmo ele maneira temporári a - a comp leta dissolução social. Ou seja, uma sociedade moralmente sadia é cond ição indispensável para a perenidade do Estado de Direito. Em outros termos, os lídi mos defensores dos direitos humanos estão entre os que lutam pela vigência das leis morais. A atitude contrária dos que tagarelam por aí a respeito desses direitos, mas silenciam sobre a crise moral que presenciamos, não parece un1a grande hipocri. ? srn.

Pobreza e criminalidade Se 15 a 20% dos crimes, em São Paulo, são praticados por jovens da classe média, será a pobreza a causa

Algué m poderia observar que estas situações imorais sempre ex istiram. E sempre foram um ca ldo de cu ltura para a crimina lidade. O que haveria de novo? De novo, há o exacerbamento e a generalização desses mesmos fatores de criminaliclacle. Daí vem e m grande parte o aumento ela violência urbana.

O favelado tinha razão Outras causas há que se relacionam com defeitos na organização do Estado moderno e inadequação de muitas de nossas leis à realidade. Não é raro que nossos legisladores, movidos por uma mal entendida generosidade, criem monstrengos lega is que na prática são focos ele ruína. Vejamos um exemplo, entre outros. Um morador da favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, fez a seguinte afirmação, publicada na tese univers itária intitulada Condomínio do Diabo de autoria ele Aida Zaluar: "A

responsabilidade pela criminalidade no Brasil é a lei trabalhista para o menor". Segundo ele, o jovem "só vai aprender a trabalhar depois que servir o Exército" . Essa co nvicção do favelado soou-me sensata, porquanto levanta um aspecto novo da questão. Qu is ouvir a opini ão de um empresário


2::

F inalmente, o Estado, co mo auxi-

HEROÍSMO CATÓLICO

~ liar da Igreja e da família, poderia tam-

bé111 fazer n1uito para resolver a questão o _ã em campos que a ação eclesiástica e iii familiar não atinge nas presentes c ir~· cunstâncias como, por exemplo, a legislação trabalhista e penal, a criação ele empregos e a preparação profissional. E m resumo, a única solução de envergadura é tentar curar a sociedade das doenças que lhe ameaçam a vida. Este é ideal, por ora infelizmente inexequível. Mas quem não conhece a solução idea l, erra habitualmente quando propõe med idas que de momento seriam as única viáveis. Pois estas, para serem de fato eficazes, precisam estar na mesma direção das medidas ideais em tese. Contudo, há muito a fazer, mesmo A indispensável repressão à criminalidade não atinge as raízes de caráter limitadamente. Por exemplo, no círcumoral da delinqüência lo de seus conhec idos, as pessoas de bem podem agir contra os fatores deexperiente, e dirigi-me ao economista cida. Se as causas mais graves são de molidores da moralidade como, entre Dominique Pierre Faga, diretor do Diánatureza moral, os remédios mais efioutros, numerosíssimos programas de rio das Leis, boletim jurídico- imobiliá- cazes devem ser de natureza moral. TV e procurar reconstruir no espírito de rio de São Paulo(SP): "É muito geneNeste campo, quando se fala de moralizante, disse Faga, mas, em certo ral, lembra-se de religião. Só a Igreja seus am igos os saudáveis muros de sentido, está bem observado. A Consti- Católica, livre cio veneno progressista - horror que hav ia contra a desonestidatuição proíbe o trabalho de menores de .que infelizmente desvirtua sua ação - de, o consumo de drogas e a promiscuidade sex ual. Já não é alguma coisa 14 anos. Milhares de.Jovens, que podedispõe dos meios eficazes para resolver muito útil? riam estar aprendendo um ofício,ficam duravelmente a presente questão. P. Ferreira e Melo vadios porque nenhuma.firma os conEm harmonia com Ela e sob seu trata. Tornam-se aprendizes do crime. NOTAS : Isto precisaria ser equacionado de ou- influxo, caberia uma ação importantísI ." Jornal da Tarde", S.Paulo, 22.9.93 sima no interior elas famílias e das instra maneira, protegendo-se os direitos 2.J anete Leão Ferraz e Ronald Nicolau, Banditituições de ensino. Então haveria enerdos com 111esada in "Veja", S.Pau lo, 12. 1.94 do jovem não só no papel, rn.a s também 3.A /ba 'Za /uar, Condomínio do Diabo, UFRJ na vida real. Outro ponto: os direito gias para restaurar a moralidade desEditora, Rio de Janeiro, 1994, p.177 trabalhistas do menor são iguais aos truída e até aperfeiçoá-la. do maior de idade, o que leva o empregador, quando há igualdade de condições, a preferir contratar um adulto. Em terceiro lugar, por causa de convenções de trabalho, habitualmente nenhum menor pode ser dispensado a partir do alistamento militar. Muitas firmas dispensam-nos um dia antes de se alistarem. Incontáveis j ovens ficam desempregados por volta dos 18 anos e é nesta fase difícil que muitos despencam no crime. Há um desemprego artificial entre os menores, prejudicial para eles, para suas famílias e para a sociedade, que uma legislação sensata, maisflexfvel, poderia evitar" . ~1

Solução Existe solução para tão intricados problemas? Qual seria? Ela está implícita nas linhas acima: a sociedade moderna está doente, moralmente apodre-

Policiais cariocas observam o corpo de abastado comerciante, baleado no túnel Rebouças

''Viva Cristo, Rei!" Jovem mexicano, mártir do comunismo, autêntico modelo de herói católico Plinio Corrêa de Oliveira

"V iva Cristo, Rei! ". Tal era o brado que, nos anos 20, abria as portas cio Céu e ela glória etern a para muitos cios mártires durante a res istência católica no México. Os mártires cristeros, que parti c iparam hero icamente de tal res istência , bradavam-no ao serem fu zilados pelo regime comu ni sta contra o qu al lu tavam: um regime tirânico, que fechou as igrejas, perseguiu a Religião cató li ca e semeou a desgraça sob re a Nação amada por Nossa Senhora de Guadalupe. Luís Segura Vilchi - o jovem que aparece nas duas fotografias desta página - não foi subm etido a um jul gamento . Sem qualquer aviso prévio, foi ele retirado do cárcere para enfrentar o pelotão de fuzilam ento . Esse jovem também deu aquele g lorioso brado , quando foi alvejado pe los tiros de seus executores. Contra ele fora lançada a ac usação de conspirar contra a vida do ímpio ditador Obregón .

de uma igrej a após receber a Santa Com unh ão, que lh e proporcionava o íntimo convívi o euca rístico co m o Deus, pelo qual, dentro ele algun s in sta ntes, e le haveria de morrer. Puro, varonil, nobremente senh or de si, bem vestido, distin to, Tranqüilo caminha para a morte o jovem Luís e visivelmente dotado ele boa Segura Vilchi. O domínio de si impressionou as ed ucação, este herói pode leg iti- testemunhas e chegou mesmo a comover o comandante e os soldados do pelotão de mamente ser considerado um fuzilamento. modelo ele jovem cató li co: sério, Luís Vilchi se vincu lara ao mov igeneroso, cheio de fé e de coragem. mento Cristero e, graças à sua vigorosa Como ter-lhe-ia sido fáci l empregar personalidade, a se u fervor e inteligêns uas muitas qualidades de forma egoíscia, logo se tornou um dos seus propulta, co nstruindo para si um est il o de vicia so res. co nfo rtável, mediante um a bela carreiTestemunhas afirmaram q ue o jora. Bastava-lhe co laborar com o regime vem mártir só foi informado de sua ateu , igualitário e marxista que jugulaiminente execução quando estava senva então sua pátria, o u, ao menos, a ele do retirado da s ua ce la. Prontamente não se opor. Contudo sua consc iênc ia respondeu ele que seus assassinos o de cató li co recusava-se energ icamente enviariam para o Céu. a isso. Até mesmo o comandante e os so ldados cio pelotão de fuzi lamento comoveram-se ao presenciarem suas disposições de espírito.

Na fotografia de cima, vemo s o pri s ioneir o caminhando para o lo ca l de s ua execução, acompanhado por um sini stro funcionário cio regime mex icano . Está sereno c omo se atravessasse a nave

Em posição ereta e olhando para o céu, a 23-11-1927, Vilchi enfrentou com fé e confiança de mártir as balas assassinas


Vilchi teve que passar perto docadáver ainda quente do célebre Padre Pró. Na mencionada fotografia, ele está o lh ando para um ponto à sua direita, onde jazia o corpo do famoso sacerdote jesuíta, exec utado minu os a ntes. '\

Porém, de um modo gera l, pode-se dizer que todas elas estão voltadas para os chamados direitos humanos, incluindo em tais direitos a homossex ualidade, a prostituição e a promiscuidade sex ual.

MEDICINA

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Enfrentando Vilchi essa situação, não se nota em suas feições nem mesmo a menor crispação. Ele não dá o menor indício de pânico ou desalento. Sua expressão fisio nômi ca permanece imutável enq uanto contemp la a dura realidade tão c ruelmente aprese ntada a seus olhos. Ele será a próxima vítima da revo lução comunista; e comentaristas da época confirmam que não se observou nen hum a alteração e m seu pl ácido semb lante. Ta l domínio de si só pode res ultar de uma graça extraordinária para enfrentar o martírio e de uma especia l força esp iritual. Sua alma era forte, porqu e se preparou medi a nte longos sofrime ntos anteriores. Através de árdua reflexão e meditação, ele encarou o mais trágico que lhe poderia suceder. Em nossos dias, o homem detesta preparar-se para o pior. Prefere semp re sonhar com o melhor, im ag inar uma idílica situação para si mes mo, na qual lhe suceda tudo de bom, sem a interferência de qualquer mal. Ele assim age para não ser obrigado a recon hecer a importância do sofrimento no tocante à própria santificação. Q u al a conseqüênc ia? Quando ocorre o pior, o ânimo da pessoa que foge do sofrimento entra em colapso. Com o jovem Vilchi não sucedeu isso. E le estava preparado para a realidade mais c ru el. "Senhores, esto u pronto!", disse Vilchi diante de seus executores, com sobranceria, olhando para o céu. Este momento exato ficou registrado na foto da página anterior. Segundos depois - e com que segurança! - ele entrava em outro Céu , do qual o nosso é apenas um símbolo. Que glória a sua, ao ser levado pelos Anjos ante o Trono excelso de Deus para o verdadeiro encontro com Cristo Rei - por quem ele acabava de oferecer a vida terrena-, e com Maria Santíssima, que sorriu docemente para es e heróico filho!

Direito novo, cidadania e discriminação

Como já vimos em artigo anterior (1), tudo leva a crer que a meta principal das ONGS/AIDS não é a e limin ação da AIDS e nqu anto doença, mas a defesa do aidético enquanto homossex ual, ou seja, que e le tenha prete nsos direitos a ver esse comportamento plenamente reconhecido como leg ítimo e normal , e a prosseguir nele mesmo após ter s ido contaminado pe lo HIV.

ONGs/ AIDS, apenas 22 têm diri gentes de formação méd ica, ou seja, 16% do tota l (2). A importânci a sec undária conferida ao aspecto méd ico do problema se manifesta também pelo fato de que, de 92 ONGs/ AIDS, apenas 29, ou seja 31 %, fizeram constar qu e oferecem algum tipo de assistência méclica(3) .

Somente algumas das ONGs/ AIDS dec laram ser constituídas principalmente por homos sex uai s de ambos os sexos, que se propõem a lu tar por seus Não somente as pretensos direitos. ONGs/AIDS, mas as Outras dizem ser forONGs em geral, madas em sua maiobafejadas pela ONU ri a por portadores de HIV, ou a partir de e por outros um nú c leo inicial organismos desses portadores. internacionais, além Outras aind a são en tidade formadas por do apoio que prostitutas que procuconcedem à ram prevenir-se conhomossexualidade a tra a AIDS permanecendo como "trabapretexto do combate lhadoras do sexo".

A questão médica em plano secundário Assim, a não preponderância elas atividades de ca racter médi co ou para-médico e ntre as ONGS/AIDS fica sali e ntado no Catálogo de Organizações Não Governamentais, ao comentar as respostas a um questionário enviado pelo Ministério da Saúde àq uelas entidades nele registradas.

Segundo a publicação, as ONGs/AIDS no Brasi I são, "em sua à AIDS, prestam-se a Ai nela de acordo maioria, organizações outras campanhas joven s, sediadas em com o Catálogo de grand es centro s urbaOrgani zações Nãoatentatórias da nos do Sudeste e NorGovernamentais, das moral, dentre as 139 ONGs/AIDS que deste, e afinadas com quais merecem uma visão do problema responderam ao questionário do Ministério . da AIDS como uma menção a limitação da Saúde, 26 se identi questão de direitos hu da natalidade e o manos. Esta caracterificam como Movização geral reflete-se me nto Re li g ioso, 14 aborto como Movimento de também na formação ele Mulheres, 9 como Movimento de Hoseus dirigentes. As organizações aqui mossexuais, 4 como Movimentos Soco nsideradas apresentam um perfi l de ciais, 69 como defensoras dos direitos gere ntes bem diversificado, desempehumanos e apenas 4 como Movimento nhando as profissões médicas um papel de Profissionais da Saúde (4). menos destacado do que . e imaginaria à primeira vista" . De fato, dentre 140

Dir-se- ia que a questão médica para as aludidas ONGs, não é a mais importante porquanto elas conferem prioridade à questão social, à transformação revolucionária da sociedade, que deveria criar uma nova mentalidade, um novo direito, um novo conceito de fam ília e, muito especialmente, uma "cidadania " plena da homossexualidade, da prostituição e da promiscuidade sexual. Nesta perspectiva, a epidemia do HIV/AIDS pode ser motivo para a introdução de um direito novo, independente das leis vigentes. Segundo a publicação Direitos das pessoas vivendo com HN e AIDS, do Grupo Pela Vidda/RJ, tal epidemia se constitui em um dos "problemas estruturais da cultura política brasileira " . E ataca nossas leis asseverando que "são produzidas por um sistema opressor resultante de uma estrutura social autoritária verticalizada: as relações sociais operam a partir de grandes desigualdades, refletidas igualmente no Poder Judiciário, intencionalmente não funcional e inacessível, impedindo que a população o utilize na defesa e garantia de seus direitos fundamentais , inseridos ou não na legislação vigente"

te, exercessem contra e les uma compreensível rejeição em virtude de seu comportamento antinatural e escanda loso, que clama pela vinga nça de Deus. Por outro lado, a expressão "lula pela cidadania" é gera lmente utilizada nos ambientes dessas ONGs para indi car a intenção de eli minar a discriminação e o preconceito contra a prática da homossexuali dade, co mo pode ser deduzido destas palavras de Herbert de Souza, (o" Betinho") pres idente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS(ABIA): "Den/ro da luta pelo exercício da cidadania, as pessoas que vivem ou que trabalham com quem vive com HIV/AIDS têm que ter seu direi/o à dignidade assegurado, porque a discriminação e o pre-

antes de ludo , um combate à discrimin ação, como afirmam seus mentores: ''A idéia central resultante de uma década de trabalho árduo contra a AIDS é que a discriminação social é a raiz da vulnerabilidade individual e comunitária à AIDS - e aos oulros grandes problemas de saúde do mundo moderno. Isto relaciona o trabalho conlra o HIV/AIDS a um movimento global ,naior pela saúde " (9).

conceito são, apesar de todo o esforço, ainda muito grandes". E afirma que se deve "conslruir uma sociedade maisjusta, mais solidária e onde a AIDS possa ser sempre encarada pela ótica da cidadania, enfrentando a segregação e odescaso" (8).

ção e Emancipação Homossexual em suas diversas publicações. Sed iado em Curitiba (PR), é membro da lnternational Lesbian and Gay Association, participa das Comissões Estadual e Municipal de Prevenção e Contro le da AIDS e foi declarado de Utilidade Pública pe lo estado do Paraná e pela prefeitura de Curitiba.

A meta exposta com clareza O que a maiori a das ONGs/ AIDS certamente defende, mas nem sempre expressa com tanta clareza, está afirmado pelo Grupo Dignidade - Conscientiza-

(5).

Os adeptos desse direito novo afirmam que existem certos direitos fundamentais que não encontram amparo nas leis. Para fazê-los respeitar, deveria então ser instituído esse direito novo, independente das leis vigentes e utilizado como "instrumento de mudança". Seria necessário "buscar soluções a partir da realidade concreta do processo social, descobrindo a necessidade de construir um direito novo, emergente dessa mesma realidade social, inserido ou não nas leis vigentes "(6). Esse direito novo (7) certamente reconheceria aos homossexuais plena legitimidade de suas práticas e penalizaria todos aqueles que, muito explicavelmen-

Outro aspecto da prioridade conferida pelas ONGs/AIE>S à questão socia l na luta contra a difusão da doença reside na sua crença, afirmada sem demonstração, de que tal difusão é mais facilitada pela discriminação contra os sodom itas do que pela disseminação das práticas homossexuais. Assim, um trabalho eficaz de prevenção contra a doença exig iri a,

Em recente folheto de propaganda o grupo afirma querer "eliminar a discriminaçüu, precon ceilo e obscuranlismo fa ce à homossexualidade" . E acrescenta: "O Grupo Dignidade /em por objetivo, o qual cunsla no seu Estaluto de Pessoa Jurídica, a conscienlização dos homos-


sexuais e da sociedade e111 geral de que os homossexuais têm o direito de ser o que são" . Numa carti lha destin ada a ensinar os homossexuais a se defenderen,~de eventuais agressores, o grupo r~pete que seu principal objetivo é "organizar o maior

número de pessoas .... interessadas em def ender a liberdade de orientação sexual e, espec(ficamente, defender o direito à liberdade de orientação homossexual e combater a AIDS e seus efeitos. O grupo é aberto a qualquer um, seja gay ou lésbica ou qualquer outra pessoa que se interesse na realização dos o~jetivos do grupo"(IO ).

Direitos para os homossexuais mas não para os nascituros Se o e mpenho das ONGs/ AIDS é muito grande em defender os direitos humanos dos homossex uais, parece não ser tão grande e m defender os mesmos direitos dos nascituros, especialmente o maior de les, o u sej a, o di re ito à vida. Pois, ao que tudo indi ca, acolhem com simpatia e comp lacência depo imentos favoráveis à legalização do aborto nos casos de ser a mãe soropositiva para o HIV , e nos casos em que houver perigo ou presença de mal-formações feta is. C umpre notar que nos casos de mãe soropositiva, somente cerca de 30% dos filhos são contaminados na primeira gestação. A legali zação do aborto nestes casos poderia vir· a matar 70% sem motivo algum ( l l). E como a moral nos ens ina, não há fi m, por mais razoável q ue possa parecer, que j usti fiq ue o meio intrinsecamente mau do aborto. Por outro lado, um pron unciamento abertamente hostil à Igreja Cató lica, em virtude de sua posição contrária ao uso dos preservativos, é encontrado na mesma publicação (12). O u sej a: para o homicídio, simpatia; para a lei de Deus, hostil idade.

Milhões de dólares para promover a homossex ualidade no Brasil Os recursos que as ONGs/ AIDS recebem para a reali zação de suas atividades provêm de financiadores d iversos. Conforme explica o Catálogo de Or-

ganizações Não -Governamentais: "Os recursos geridos pelas 67 ONGs/AIDS que responderam a este tópico do questionário montam a quase 14 milhões de dólares. Mesmo excluindo deste total

oito milhões perte11ce11 tes a apenas duas gra11des organizações, que ncio eslão exclusivamenle envolvidas com AI DS, ohlemos uma média de quase cem mil dólares por organização, entre recursos públicos e privados"( 13). Nas pági nas 103- 11 7 da mesma publ icação encontra-se uma li sta das entidades que possuem projetos co nveni ados com o Programa Nac ional de DST/AIDS do M ini stério da Saúde em 1993 e 1994, com a quantia receb ida para cada projeto. Nas pág inas 1 18- 124 acha-se relação dos projetos que aguardam atend ime nto. Tais planos são submetidos a um exame de seleção e para os ap rovados é destinada verba julgada suficiente. Uma explicação mais detalhada do fin anciamento de projetos co m recursos do Banco M und ia l d istribuídos pelo M inistério da Saúde pode ser encontrada na pub licação "AIDS & DST: Experiências que funcionam ". Conforme está ali relatado, em 1993 o Programa Naciona l de DST/AIDS deu início ao financiamento de projetos de ONGs e outras entidades da sociedade civ il. Foram aprovados 75 projetos nas duas concorrênc ias de 1993. No fina l do mesmo ano, estando já em sua fase fina l o acordo com o Banco Mundial, foi estabelecido que cada entidade deveria ter um fina nciamento máximo de até LOO mil dólares por ano , podendo ter até três projetos aprovados no mes mo período, desde que o total não excedesse aquela quantia ( l 4). Também esta publicação tráz li sta de entidades que poss uem projetos conveniados com o Programa Naciona l de DST/AIDS e a respectiva, verba recebida ( 15). Por sua vez, as diversas ONGs/AIDS costumam declarar, em suas publicações , a origem dos recursos que recebem para tais publicações e para seus projetos ( 16). As atividades das ONG s e m geral , e entre e la a ONG /AlDS , tê m uma orige m e um impul so de ordem supra-nacional , que advé m da ONU e de organismos internacionais conexos, como a Organização Mundia l da Saúde (OMS), o Banco Mundial , etc. E não se limitam à alegada luta contra a AIDS, mas se prestam à difusão de outras campanhas subversivas da moral , em escala mundia l, como, por exemplo, a limitação da natalidade ( 17).

Querem mesmo acabar com a AIDS? Co mo sali entamos no início do artigo anterior c itado, parece não haver dúv ida sobre o papel das ONGs enquanto instru-

mento da anarqui a em nível mundial, tanto do po nto de vista político como socia l. Po liti camente vão elas to mando o lugar dos governos e os de molindo gradualmente . Socialmente vão realizando a revolução cultu ral, pela propagação de práticas imorais e amorais, e de uma nova me ntalidade que as reconheça como legítimas e aceitáve is.

Caáe17W especia[ n-º 45

E a luta contra a AIDS? Diante desse quadro é fácil constatar como ela constitui um excelente pretexto para d ifu ndir essa imoralidade pelo mundo inteiro. Se a AIDS fosse curável por med icamentos eficazes e de rápido efei - , to, ou seguramente prevenida por meio de vacinas distribuídas em larga escala, esse pretexto desaparece ria imediatamente. Haveria então interesse, para os difusores da imoralidade, em eliminar logo a AIDS? Não seria melhor eliminar a discriminação e o preconceito, em vez de e li min ar a doença? São perguntas que fica m no ar, tanto mais qu anto são conhec idas muitas críticas sérias à maneira como está sendo conduzida a prevenção à doença, em nível nacional e internacional.

Murillo Galliez Membro da Comissão de Estudos Médicos da TFP NOTAS I .Murillo Gall ici_ Uma curio:m metlida Sllllitária : combater o pre· conceito colllra o c111ti11llt11ral. Ca tolicismo, 11u11ro de 1995.

2.Cfr. Catálogo de Orgwzi't.ações N<10-Govenwme111ais, Minisrério du Sallclc, Brasíli a, A no 2. nº 1, 1994.

3. fr. op. c it .. p.87. 4.Cfr. op.ci t.. p.83. 5.Cfr. op.cit .. Rio ele Janeiro. 1994. p.9. 6.ldc1n , ibide m.

7.Para uma e,cplic;:1çiio mui s dcUt lhadtt a respeito da teoria pela qual se rege esse .. dircilo novo" vide Direito AltemCltivo, Projeto l11ce11diário. in Ca tolicismo, n.5 14. outubro 1993. 8. 1lcrbcrt de Souza. CoflfmaA IDSe pela Vida , in "Bolctim AB IA",

n.24, maio/j un ho 1994. p.3.

9.José Stalin Pedrosa, ONGs e A IDS: Experiê11âtu q11e fimcio11am, in ·· A IDS & DST: Experiências que fu ncionmn", Ano 2, n. l , jan/jun 1994, Brasília, p.7. 10.Cfr.Guia Gay Preve11frlo - Violência &A IDS, Grupo D ignidade,

Curitiba , 1994. p.4 . 11.cfr. Aborto - Por que sim? Por que mio '!, in .. Prev ina-se". n. 16.

jun/ju l/ago 1994. pp.4 -5, publicação do GA l'A-!il'.

Imagem áe 'J\[pssa Senhora áa Conceição áe '1/úa 'Viçosa

12.lde m. Ed ilorial . p.2.

(Vila Viçosa, Portugal 31 áe maio)

13.0p.cit.. nota 2 supra , p.89. 14.José Stalin Pedrosa, idem nota 8 supra. p.4. 15.Cfr.ldcm. ibidem . p.8. 16.Assirn. por exemp lo, o " Boletim pe la Vidda", órgi'lo do Grupo pela Vidda -RJ , iu fonna que a pub ti c:.1ção íoi fi nunciadu com rec ursos dns lnstillliçõcs ICCO e Misereor. O" Bolet im AB IA", 6rgâo da ABIA . íoi public:1do com rec ursos du Ewmgelisd,e Ze111ml.\'telle E,111vickhmgshilfe (E'lE). O boletim "G APA In formati vo". do GAPA-RS: o li vreto DireílQ das pessoas vive11do t.·0111 HIV e A IDS. do Grupo pela Villdo -RJ. e o proj eto Art.·a de Not - l·l omosse.nwlidodt1 ., AIDS, do Grupo Dignidade. de

,.,

Curitiba. foram fi nanciado!<> com rcc ul'sos do Programa NacionaJ de DST/AIDS. cio Ministéri o dn Suúde. " Prev ina-se", publicaç<1o do GAJ>A -SP, recebeu rec ursos du Mac-Ar1/111r Fo1mdatio11. E Saber ouvir, soht•r falar, umu pub licuçflo ela IJemfam. foi financiudu 1>el11 USA I/),

17 . fr.Cntolicism u. n.527, novembro 1994, A Cmiferb1cia do Ctliro propl'Jt' a i111oralitlade tmtifamiliar torai.

Coroa áos :f?g.is [usitanos


'Entre os ,nascúfos áe mu[her, nao fuí outro maior áo que Sao Joao 'Batista Ao partire m e les (os di sc ípulos de São João Batista), começou Jesus a fa lar a respeito de João às mu ltidões: " Qu e fostes ver no deserto ? um ca ni ço ag itad o pelo ve nto ? M as, qu e fostes ver? Um ho mem vestido de roupas f inas? Mas os qu e vestem roupas finas vivem nos pa lácios dos rei s. E ntão, que fos tes ver? Um profeta? E u vos afirmo qu e s im , e ainda mais do qu e profe ta. É de le

qu e está esc rito: eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. (MI, 3,1) Na verdade vos di go qu e, entre os nascidos de mul her, não apareceu nenhum maior do que João, o Batista . E, se quereis aceitá- lo, e le mes mo é o Elias que há de vir. O que te m o uvidos, ouça! (São Mateus , 11 , 7- 11 e 14-15).

9{{Jssa Senhora áa Conceiçao áe 'Vila 'Viçosa ('1/ila '1/içosa, Portugal 31 áe maio)

l

Jíome,m mais farte áo que uma rocha Comentários compilaáos por Santo 'Tomás áe .9Lquúw na "Catena Jl.urea" São João Crisóstomo - Diz (Nosso Senhor): Que fostes ver no deserto? Como se di ssesse: Por que vos reuni stes no deserto abandon ando as c idades? Porque não se teri a reunido com tão grande desejo no deserto um povo tão numeroso se não tivesse julgado que iri a ver de fato um homem gra nde, marav ilhoso e mais fo rte do que uma rocha. São João Crisóstomo - Mas João não era vo lú vel por natureza; por isto di z o Senhor: Porventura fostes ver uma cana ag itada pe lo vento? Nem tampouco perdeu sua dignidade entregando-se às paixões; e por não ter sido escravo das paixões o demonstram sua soli dão e seu encarceiramento, porque se ele tivesse querido vestir-se delicadamente não teria habitado no deserto mas nos palácios dos re is. Tomando por base o lugar, as vestes, os notáve is costumes ele João e o afl uxo ele homens junto a ele, conclu i apresentando-o como Profeta, quando diz:

Mas, que fostes ver? U m Profeta? Sim, e eu vos digo que mais que um Profeta. São Jerônimo - Porventura saístes para o deserto a fim de ver um home m parecido a uma cana que é levada por todos os ventos e que pela li geireza de espírito duvidaria do que antes pregava? (Jes us) alega o testemunho de Malaquias que havia sido profetizado como anjo, para exprimir a grandeza dos merecimentos de João; e se chama João-de anjo, não para que creiamo seja e le anj o pela comunhão de natureza dos anjos, mas por causa da dignidade de seu ministério: anjo significa mensageiro e ele an unciou a vinda do Senhor. Ele o chama de Elias, não como o entendem os filósofos néscios e alguns hereges, que sustentam a volta das almas, mas que João veio, no espírito e virtude de Elias (Lc. I) e teve a mesma graça e a mesma medida do Espírito Santo.

Que fostes ver? Mais áo que um Projeta Comentários áo Pe.Luís Clâuáio :fiííion Tendo partido os di scípulos de João, o Senhor faz um e log io magnífico do mestre de les. A mul tidão que hav ia presenciado a cena, mas ignorav a os motivos ocu ltos da questão proposta cm nome do Precursor, tinha talvez co nservado disto um a impressão desfavorável, e cons ide rado João co mo um hom em vo lú ve l e movedi ço. A homenagem pública que a ele presta Cristo desvanece todas as suspeitas. A história cio Batista está resumida toda inteira no panegírico feito por Jesus, agradável tanto por seu tom vivo, rítmico, como pela elevação de seus pensamentos. Que saístes para ver no deserto? Alguma cana que se move com qualquer vento? Mas o que saístes para ver? Um homem vestido com vestes delicadas? Sabeis que os que se vestem com roupas delicadas estão nos palácios dos reis. Enfim , o que saístes para ver? Al gum profeta? Sim, eu vos di go, e mai s que profeta. Pois é ele ele quem está escrito: Eis que e u envio meu anj o a tua frente, o qua l irá diante de ti preparando-te

o caminho. Em verdade vos digo que não veio à luz entre os filho s ele mulher algum maior do que João Batista, se bem que o menor no reino dos céus é superi or a ele. E desde o tempo ele João Bati ta até o presente, o reino dos céus se alcança pela viva força; e os que fazem essa força são os que o arrebata m. Porque todos os Profetas e a Lei até João anunciaram o porvir. E se quereis compreendê- lo, e le mesmo é aq ue le E lias que devia vir(*) . NOTA:

(*) Segundo Malaquias, IV , 5, Elias eleve vir à Terra antes cio fim cio mundo, e os contemporâneos de Jes us supunham que o Batista pQcleria ser mu ito bem esse reformador. Na rea liclacle, o Precursor desempenhava um papei análogo ao ele Elias. Era um Elias místico e fi gurati vo. Pc. Luís Cláudio Fil li on , N11 es trn Se11or Jes ucristo según los Eva11ge lio.1· .\'eg1í11 los Eva ngelios, Ed itor ial D i fusión, Tuc umán.Argentina, 1859. pp. 140 e 141.

l

Entre os muitos títulos pelos quais Nossa Senhora é nossa Rainha, há um que nos toca mais de perto. Com ele, foi e continua sendo Padroeira oficial e Rainha de nossa pátria: Nossa Senhora da Conceição. Muito tempo antes de a pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição ter sido encontrada nas águas do rio Paraíba, Dom João IV , restaurador cio trono português em 1640, já havia colocado todos os seu domínios ob o patrocício dessa invocação mari ana. Daí a famosa irman dade de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, em Portugal. O ato de Dom João IV foi confirmado pelo Papa Clemente X, que aprovou a solene declaração régia ele 25 de março de 1646. Esta fora rezada ele j oelhos e em voz alta pelo monarca, na Capela dos Paços da Ribeira, nos seguintes termos: "Dom João, por graça ele Deus Rei de Portugal e cios Algarves, ele aquém e ele além mar em África, Senhor de Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópi a, Arábia, Pérsia, e ela Índi a etc. faço saber aos que esta minha provisão virem, que sendo ora restituído por mercê muito particular de Deus nosso Senhor à Coroa destes meus Reinos e senhorios de Portuga l. Considerando que o Senhor Rei Dom Afonso Henriques meu progenitor e primeiro Rei deste Reino, sendo aclamado e levantado por Rei , em reconhecimento de tão grande mercê, de consentimento de seus vassalos, tomou por especial advogada sua a Virgem Mãe de Deus Senhora nossa, e debaixo de sua sagrada proteção e amparo Lhe ofereceu todos seus sucessores, Reino e vassalos com particular tributo em sinal de feudo e vassalagem. Desejando eu imitar seu santo zelo, e a singular pi edade dos Senhores Reis meus predecessores, reconhecendo ainda em mim avantajadas e co ntínu as mercês e benefícios ela liberal e poderosa Mãe de Deus nosso Senhor, e por intercessão da Virgem Nossa Senhora da Conceição. Estando ora juntos em Cortes com os três Estados do Reino, lhes fiz propor a obrigação que tínhamos de renovar e continu ar esta promessa, e venerar com muito particular afeto e so lenidade a festa de sua Imaculada Conceição. E nelas, com parecer de todos, assentamos de tomar por Padroeira de nossos Reinos e senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição, na forma dos Breves cio Santo Padre U rbano VIII, obrigando-me a haver confirmação da Santa Sé Apostólica, e Lhe ofereço ... . à sua Santa Casa da Conceição sita em Vila Viçosa, por ser a primeira. que houve em Espanha desta invocação, cincoenta cruzados de ouro em cada ano, em sinal de tributo e vassa lagem. E da mesma maneira prometemos e juramos com o Príncipe e Estados, de confessar e defender sempre (até dar a vida sendo necessário) que a Virgem Maria Mãe de Deus foi concebida sem pecado original ... . esperando com grande confi ança .... que por meio desta

Senhora .... (Deus) nos ampare e defenda de nossos inimigos .. .. para glória ele Cristo nosso Deus, exaltação ela nossa Santa Fé Católica Romana, conversão das gentes e redução dos hereges. E se alguma pessoa intentar coisa aJguma contra esta nossa promessa .... queremos que seja logo lançado fora do Reino; e se for Rei (o que Deus não perrrúta) haj a a sua e nossa maldição, e não se conte entre nossos descendentes .... e esta minha provi são se guarde no Cartório da Casa de Nossa Senhora da Conceição ele Vi la Viçosa, e na nossa Torre do Tombo. Dada nesta nossa cidade de Lisboa, a 25 de março de J 646 - E I-Rei" . * * *

Em coerência com esse ato, os Reis de Portugal tendo-se declarados vassalos da Rainha concebida sem pecado original, não mais colocaram a coroa sobre a cabeça. Natura lmente, tal ato foi ao mesmo tempo causa e efeito de muitos outros ele fervorosa devoção dos povos de origem lu sa a Nossa Senhora. É digno de realce a proclamação do privilégio marial que nega o mito da " iguald ade no ponto de partida", afirmando superiorid ade ímpar, desde a concepção, da Santíssima Virgem. Tanto mais que essa verdade, embora crida na Santa Igreja desde tempos imemoriais, tenha sido proclamada como dogma somente em 1854, pelo Papa Pio IX. O dog ma da Imaculada Conceição supõe, pois, uma ordem hierárquica, profundamente antiiguaJitária na Criação e na sociedade humana. Coroando essa ordem criada, encontramos no seu cume a mais perfeita das criaturas, que é Maria Santíssima. Acima dela, só seu Filho, o Homem-Deus. Compreende-se então faci lmente o título de Nossa Senhora Rainha e Medianeira, celebrado a 31 de maio. Rainha, porque suprema. Rainha porque filha bem-amada do Deus-Pai, mãe adrrúrável de Deus-Filho e esposa fidelíssima de Deus-Espírito Santo. Mas não é uma rainha distante ele seus súditos. Ela os quer como filhos , porque os gerou para a vida da graça. Maria é nossa Mãe, é nossa Medianeira e por isso elevemos n,correr a Ela com uma co nfi ança inabalável. Neste momento em que resvalamos para os abismos da corrupção moral e da impiedade atéia, peçamos a Nossa Sen hora, sob o título ele Conceição Aparecida, proclamada Rainha e Padroeira do Brasil pelo Papa São Pio X, que proteja a nação ela ruína moral para a qual a arrastam os inimi gos de Deus e da civilização cri stã. FONTE DE REFERÊNC IA:

Pe. Mig uel de Oliveira, Pe. Moreira das Neves, A Padroeira de ·Portugal, Ed ições Letras e Artes, Lisboa, 1940, p p. 7-43.


ENTREVISTA

História Sagrada (55) -

Morte de Moisés: suas palavras eram como oráculos Após ter proclamado o magnífico Cântico que todos hebreus deveriam saber de cor, Moisés abençoou as tribos de Israel. Soou, então, a hora em que deveria morrer.

Monte Nebo - Obedecendo à ordem de Deus, o Profeta subiu ao monte Nebo, situado defronte da cidade de Jericó. Ali , o Criador apareceu e mostrou-lhe a Terra Prometida. "E o Senhor disse-lhe: Esta é a terra que sob juramento prometi a Abrãao, Isaac e Jacó, dizendo:Eu a darei a tua posteridade. Tu a vi ste com teus olhos, mas não entrarás nela. "E Moisés, servo do Senhor, morreu ali na terra de Moab, e Deus o sepu ltou no vale da terra de Moab; e até hoje ninguém sabe onde está a sua sepultura". Com 120 anos, visão e dentes perfeitos - " Moisés tinha cento e vinte anos, quando morreu; sua vista

em seu 1ar

noções básicas

não havia enfraquecido, nem os dentes estavam abalados. E os filhos de Israel o choraram durante trinta dias. E não surgiu mais em Israel profeta como Moisés" (Deut. 34, 4 a 10).

primórdios". "Escreveu o Pentateuco sob inspiração divina, sendo assim como todos os escritores sagrados, um autêntico secretário do Espírito Santo".

Sepultura de Moisés - Diz o Apóstolo São Judas Tadeu, em sua epístola (versículo 9), que São Miguel Arcanjo discutiu com o demônio arespeito do corpo de Moisés. Sobre essa discussão, comenta o Padre Matos Soares:" São Miguel, por di sposição de Deus, queria que o sepulcro de Moi sés permanecesse oculto; o demônio, porém , procurava manifestá-lo, para dar aos judeus ocasião de idolatria" ( 1).

Ciência da guerra - "Jamais algum homem, diz o célebre historiador Flávio Josefo, teve sabedoria igual a este ilustre leg islador. Ninguém so ube como ele tomar sempre as melhores resoluções e executá-las tão exím iamente. Ninguém se lhe compara na maneira de tratar com um povo, governá-lo, persuadi-lo pelo vigor de seus argumentos. " Sua ciência da guerra coloca-o entre os grandes comandantes; e ninguém teve o dom de profecia em tão alto grau, pois suas palavras eram como oráculos e Deus falava por sua boca" (3).

Pentateuco: fundamento da História Sagrada e profana " Moisés escreveu a História Sagrada, desde a criação do mundo até a sua morte. Esta História, dividida em cinco livros, tem o nome de Pentateuco, palavra grega que significa exatamente obra em cinco volumes. " Moisés é o mais antigo escritor cujas obras se tenham conservado, de modo que os autores da História Sagrada ou profana devem recorrer a ele, para saber a verdade das coisas que sucederam desde a criação do mundo até aquele tempo" (2).

Secretário do Espírito Santo "Tendo vivido com os descendentes dos últimos Patriarcas, Moisés pôde aprender, da própria boca deles, a narração dos acontecimentos ocorr idos desde os

NOTAS : 1, - Padre Matos Soares, Bíblia Sagrada, Edições Pauli nas, São Pau lo, 6 ed., 1933, p. 1473. 2 - São João Bosco, /-li.1·16ria Sag rada , Livraria Editora Sales iana, São Paulo, 1965, 14" ed., p. 88. 3 - L Ancien el /e Nouveau Testa111e111 disposés sous forme de récils suivis. Ilustrações de J. Schnorr, P. Lethielleux Libraire-Editeur Pari s 1930, p. 62. ' ' '

São Moisés - O "Martirológio Romano" consigna sua festa a 4 de setembro, nos seguintes termos: "No monte Nebo, na terra de Moab, São Moisés, legislador e profeta".

Outra prova de santidade de Moisés foi sua aparição, juntamente com o Profeta Eli as, durante a Transfiguração de Nosso Senhor, no monte Tabor.

No alto do monte Nebo, Deus mostra a Moisés o magnífico panorama da Terra Prometida

Depois das eleições nos Estados Unidos, conservadores de olho no futuro Catolicismo, através de seu correspondente em Washington, Mário Navarro da Costa, analisa o atual quadro político norte-americano, que sofreu drástica reviravolta com a supreendente derrota do Partido Democrata, do Presidente Bill Clinton, nas últimas eleições legislativas. Essa análise é feita mediante entrevista concedida pelo influente líder conservador norte-americano Sr.Morton C. Blackwell ao nosso correspondente, na sede central do Conselho para Política Nacional em Arlington, Virgínia.

>Catolicismo -

Gostaria de começar por pedir-lhe uma análise da vitória do Partido Republicano nas últimas eleições.

Morton Blackwell: Nestas eleições o povo não estava apenas descontente. Ele estava organizado em grande número de grupos atuantes e pôde aprender com os meios de comunicação social que não fazem parte da mídia liberal [esquerdista] organizada.

Ele é o fundador do Leadership Institute ( Instituto de Liderança), que desde 1979 treina jovens de ambos os sexos para cargos de responsabilidades na adminstração pública dos Estados Unidos. O Sr.Blackwell foi secretário de li gação entre a Casa Branca (presidência de R~agan) e grupos conservadores, religiosos e cívicos. E representante do estado de Virgínia no Comitê Nacional do Partido Republicano. Ocupa presentemente o cargo de diretor-executivo do Conse lho para Política Nacional, influente fundação educacional composta de 500 líderes das mais importantes associações conservadoras norte-americanas. ção. A imprensa liberal não pode mais filtrar as notícias para o público americano, como ela fazia no passado. É possível agora ao público norte-americano saber o que está acontecendo através de fontes conservadoras. Essa infraestrutura de comunicações independente aumentou o número de ativistas conservadores. A vasta maioria do povo, em qualquer país, de um modo geral, não atua na política. É o número e a efetividade dos ativistas de cada lado que determina, que vence os pré. lios políticos.

Algumas pessoas atuaram primeiramente em organizações antiabortistas. Outras agiram contra o sindicalismo obrigatório. Outras ainda participaram através de grupos a favor da limitação dos impostos ou a favor do reforço de nossa defesa nacional. Por mais importantes que sejam os partidos políticos, há organizações muito mais importantes do que eles. Seja por rádio, televisão , boletin s, revistas , mala direta , grupos interessados em temas espec ificamente co nservadores têm desenvolvido meios alternativos de comunica-

Em essênc ia, o que aconteceu é que os conservadores co locaram em ação uma grande parte de suas bases, sobrepujando consequentemente os liberais. Isso mudou o resultado das eleições nos Estados Unidos.

>Catolicismo -

Uma palavra sobre o Contract With Am.erica ( Pacto com a nação).(*) Na sua opinião, quais


são os itens mais importantes e que estratégia deveria ser empregada para conseguir sua aprovação? Morton Blackwell - Pela segurança de nosso país em relação a perigos facilrrierite visíveis, acho que o item relativo aos mísseis de defesa estratégica é o mais importante do Pacto. Porque, quebrando os hábitos de despesas descontroladas do Congresso, a capacidade do Presidente de vetar as despesas do Congresso pode, quando houver um Presidente conservador, provar ser eficaz para equiilibrar o orçamento. Em política, o melhor é organizar-se a partir dos pontos fortes e depois dos fracos. Deve-se organizar primeiro o que há de melhor, depois o que vem em segundo lugar, depois o que vem em terceiro e assim por diante. Isso é o bom senso em matéria de eleições. No Legislativo, a liderança republicana devia começar com os aspectos do Pacto mais fáceis de passar. E criar a ocasião para obter a aprovação do resto.

>Catolicismo - Não há menção à questão do aborto no Contrato com a América. O Sr. não acha que os conservadores sociais vão jzcar frustrados se nada for feito a esse respeito? Morton Blackwell - Absolutamente. É verdade que a questão do aborto não está no Contrato. Mas seria muito chocante se não se promovessem ações específicas a respeito este ano. Há certas coisas que podem ser feitas contra o aborto e que são re lativamente fáceis de fazer. Há uma maioria republicana atualmente no Congresso. Assim, é possível anular em boa medida o envolvimento do governo federal na promoção do aborto neste país e no Exterior. Isso poderia ser feito através de processo de apropriação de fundos (destinação de verbas) . O Presidente não pode gastar dinheiro em iniciativas para as quais o Congresso não aprovou verbas. Espero progressos definidos nesse sentido. O que pode ser feito deveria ser feito e, creio eu, provavelmente será feito.

Os republicanos deveriam não apenas honrar os compromissos feitos, mas também fazer o povo entender que os compromissos foram honrados. Os republicanos deveriam tornar claro como um cristal que esforços de boa fé estão sendo feitos para aprovar todos aqueles itens. Em todas as exposições sobre o Pacto, os candidatos republicanos prometeram levar à votação todos os itens do Contrato. Não havi a garantia explícita ou implícita de que todos os itens do Contrato iriam ser aprovados.

Nem todos os itens do Contrato com a América serão aprovados. Mas eles deviam ser apresentados, debatidos e votados , de maneira que ficassem claras as diferenças entre liberais e conservadores. Nas próximas eleições os eleitores poderão fazer seu próprio julgamento. Em política, não é necessário vencer todas as batalhas. Em geral é possível vencer a lon go prazo por meio de derrotas a curto prazo. Pode-se, portanto, em eleições futuras, cobrar ós políticos que votaram mal.

Não acredito que hoje em dia haja maioria de dois terços dos votos em cada uma das casas do Congresso para que uma emenda constitucional reverta a decisão Roe x Wade [nome com que ficou conhecida a decisão da Suprema Corte], que derrubou todas as leis contra o aborto neste país. Mas isso não é razão para não votar tal emenda no atual Congresso.

>Catolicismo - Uma palavrinha sobre a política exterior. Apesar da extinção da União Soviética e do império comunista na Europa Oriental, ainda vivemos num mundo muito perigoso. Morton Blackwell-A morte da União Soviética não significa a morte da ideo log ia esquerdista. Esta ainda está com a cabeça de fora e atuante . Há muita gente interessada em fazer crer que no próximo sécu lo os EUA já não serão capazes de desempenhar

o papel de combate às atividades internacionais da esqueda que teve no passado. As esquerdas norte-americanas, entretanto, encontram-se em considerável desorganização . Elas não têm um porta-voz autorizado; estão descontentes com as dificuldades de seus líderes políticos. Agora elas estão focalizando assuntos globais . A esquerda neste país está pondo ênfase em entidades internacionais e tratados que poderiam minar a soberania nacional. Acho que a intenção da esquerda aqui é continuar sua política de longo prazo pela consolidação e centralização do poder, através de entidades internacionais como a ONU.

É claro que o Sr. usa a palavra elite no seu verdadeiro significado, como Dr. Plínio a emprega em seu livro Nobreza e elites tradicionais análogas. Nesse sentido, ele fala de liderança. Toda sociedade tem líderes. Eles podem ser bons ou maus líderes. Precisamos aumentar o número e a efetividade de pessoas votadas a fazer coisas boas. É para o que venho trabalhando, ao proporcionar programas de forma ção nas mais diferentes áreas da atividade pública. A cada ano formamos no Instituto mais estudantes do que no ano anterior. No ano passado treinamos 1.609 pessoas e m nossas escolas. Expandimos nossos serviços colocando mais de 600 em cargos públicos de responsabilidade.

A esfera internacional, entretanto, é uma área onde os conservadores geralmente não fazem muita coisa. Eles ten dem a limitar suas preocupações aos assuntos nacionais. Nunca houve cooperação internacional satisfatória entre os conservadores. É um erro terrível que precisa ser corrigido. Discuti isso há mais de uma década em São Paulo com o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.

Também expandimos nossas bases de sustentação. No fim do ano passado compramos um prédio de cinco andares para acomodar nossa equipe, escolas e estudantes. Agora estou levantando fundos para reform á- lo.

Uma das grandes alegrias que tive ao conhecer a TFP em outros países foi precisamente o espírito de cooperação. Tive o prazer de estar com gente da TFP nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Espanha, África do Sul, Chile, Argentina e Brasil. Os membros da TFP são sempre uma força bela e entusiasmada a trabalhar pela melhoria dos países onde vivem.

Nossa receita foi de mais de 4 milhões de dólares no ano passado. Meu maravilhoso staff trabalha duro. Eu precisava de um a muito boa equipe porque vivi muitos anos na intersecção de supply and demand no jovem mercado de empregos conservador. Se não esco lhesse bom pessoal, eu não passaria de um pobre observador do que vejo diante de mim todo dia.

>Catolicismo - Um último ponto. O Sr. esteve trabalhando durante anos como presidente do Instituto Liderança. Este tem-se destacado naformação de verdadeiras elites conservadoras.O Sr. poderia dizer uma palavra sobre isso?

>Catolicismo -

Morton Blackwell - Infelizmente a palavra elite tem . sido muito estimagtizada pela esquerda.

NOTA:

Quando me propus a tarefa de formar a juventude conservadora, não pensei que fosse criar elites. O termo liderança é precisamente o que me veio à mente e assim empreguei-o para nomear minha organização.

Muito obrigado.

Morton Blackwell -

Pacto com a Nação -

Foi unJ prazer.

Plataforma política co nservadora cio vitorioso Partido Republicano, que visa, entre outros pontos, a diminuição cio papel cio Estado na sociedade norte-ameri cana, com redução el e impostos e menos ingerência estata l no modo ele vicia cio cidadão comum.


HAGIOGRAFIA

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Rita tle Cássia, a santa dos impossíveis O exemplo de sua vida mostra que, quando uma alma se assemelha a

Nosso Senhor Jesus Cristo no sacrifício heróico, as multidões correm até ela, movidas por irrestível atração Nasceu Santa Rita (1377-1457) no povoado de Rocca Porena, região de Cássia, Província de Perúgia, nos Montes Apeninos, na Itália.

Aspirações contrariadas Desde sua infâ ncia, Santa Rita anelava urna vida consagrada a Deus. O mosteiro das agostini anas em Cássia a atraía especialmente. Porém, aos 18 anos de idade, seus pais a destinaram ao matrimônio. Casaram-na com um tal Ferdinando, jovem violento e de mau gênio, de quem Rita teve gêmeos: Tiago Antonio e Paulo Maria. O marido da Santa fez muitos inimigos na região, por causa de seu caráter impulsivo. Ao se sentir ofendido, procurava vingar-se. Quando não podia alcançar seus objetivos, desabava seu furor sobre a esposa. Aos poucos, entretanto, Ferdinando começou a refletir e a admirar a incomparável paciência de Santa Rita e teve vergonha de si próprio. Quando sentia que lhe sobrevi nha a cólera, saía de casa e só retornava após recobrar a calma. Afinal, certo dia, ajoelhou-se diante da esposa e cobrindo suas mãos de ósculos e lágrimas, disse compungido: "Perdoa-me, Rita, fui indigno de ti , mas tudo terminou. Tua imensa bondade conquistou-me". A conversão do próprio marido foi o primeiro grande impossível obtido pela Santa.

Novas angústias Toda a povoação, aliviada, percebeu a pacificação daquele desordeiro . Contudo, nem todos haviam esq uecido as violentas rixas causadas por Ferdinando: houve quem qu isesse agora vingar-se. Assim , voltando uma noite de Cássia, ele foi impiedosamente assassinado por inimi gos. Os gêmeos possuíam a natureza orgulhosa e iracunda do pai e foram provavelmente excitados à vingança. A Santa percebeu que ambos os fi lhos não mais a escutavam e que a voz do sangue os haveria de arrastar ao mal. E então pediu a Deus que os levasse inocentes, se fosse humanamente impossível evitar que se tornassem criminosos. Não levou tempo, os garotos caíram doentes e morreram, com pequeno intervalo de tempo, um após o outro. Havendo perdido pais, esposo e fi lhos, Santa Rita, aos 30 ano de idade, estava sem entraves para rea lizar a grande vocação que acalentara desde a infância: tornar-se Sponsa Christi. Mais um impossível que se realiza ...

Aparições dos protetores celestes Sob motivos vários, as religiosas recusaram a admissão ele Santa Rita que teve que esperar dez longos anos ... tenclo recorrido a preces, mortificações e boas obras. Quando Deus a viu perfeitamente resignada, teve compaixão e uma noite

em que rezava, ouvi u uma voz: "Rita! Rita!" Ao abrir a porta deparou-se co m tres homens de venerável aspecto. Santa Rita logo os reconheceu: São João

Co m a ma ior simp li cidade, Rita narrou-lhes o que sucedera e, diante deste inegável milagre, fo i adm itida no convento. Mais um impossível reali zado ...

Os estigmas Santa Rita sempre teve espec ial devoção em meditar sobre a Paixão de Nosso Senhor. Em certa oportunidade veio pregar a Quaresma em Cás ia São Tiago della Marca, íntimo amigo de São Bernardino de Siena e de São João Cap istrano. (Que tempos aq ue les ... que abundância de santos !) O sermão que fizera a respeito da Paixão foi particularmente eficaz na a lma de Santa Rita. Prostrou-se diante de um Cruc ifixo e suplicou ardentemente que lhe fosse conced ida a graça de participar de Suas dores em exp ia-

ce la afastada, onde recebia o estritame nte necessário para viver.

Últimos anos de vida O passar dos anos, as dores, os jejuns e as penitências, não tardaram a consumir as forças da Santa, que passou no le ito os quatro últimos anos de sua ex istê ncia. Em pleno inverno, um a parente ve io visitá-la. A ntes ele partir, perguntou-lhe se desejava alguma coisa. Sim respondeu a Santa - queria que me trouxesse uma magn(fica rosa que está no meu antigo jardim (em Rocca Porena). A parente pensou que Rita j á deli rasse, mas, concordou para não a entristecer. E qual não foi sua surpresa quando, entrando no antigo j ardim da Santa, viu resplandecente rosa no arbusto de folhagem contraída pela geada. Colheu-a e logo retornou ao convento. Santa Rita disse- lhe entao: "Já que fostes tão amável em me trazer a rosa, queria que colhesse agora os figos frescos que estão na figueira do meu jardim ... " Desta vez ela não duvidou e tendo encontrado os figos, levou-os à Santa dos impossíveis.

"Em três dias estarás comigo no Céu"

Urna decorada na qual foi deposto o corpo ......... ...... de Santa Rita logo após sua morte, em 1457

Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino, que se puseram a caminho. Em êxtase, acompanhou-os e em instantes pararam diante da vetusta porta cio convento de Santa Maria Madalena, em Cás. ia. O tres santos fizeram-na atraves ar incólume as grossas paredes de pedra cio mosteiro ... Ao alvorecer, a monjas desceram para se reunir na capela: estupefatas ali encontraram aquela viúva tão insi stentemente recu ada!

ção pelos pecados cio mundo. Eis que um espinho, destacado ela coroa do Crucificado, penetrou tão profundamente em sua fronte que a fez cair desmaiada e quase agonizante. Enquanto estigmas de outros santos, como São Francisco de Assis tinham a cor do sangue puro e não eram repugnantes, o de Santa Rita converteu-se numa ferida repelente e fétida sobre aguai nenhum remédio fazia efeito. Desta maneira, ela se viu obrigada a permanecer, durante quinze anos, em

N um dos últimos dias de vicia, e is que brilhante luz iluminou sua ce la e Nosso Senhor e Nossa Sen hora lhe apareceram. Santa Rita,arrebatada em êxtase, exclamou: "Quando enfim, 6 Jesus, poderei possuir-Vos para sempre? Quando poderei estar na Vossa presença?"" Em breve - respondeu o Redentormas não ainda". "Quando? " repli cou a Santa. "Em três dias estarás comigo no Céu". A 22 ele maio de 1457 sua bela alma voava para o Paraíso celeste. Apenas a Santa exalara o último suspiro, o sino do mosteiro, soou três vezes por mãos de anjos, pois ninguém os tocara, anuncianclq sua morte. Tomadas de espanto todas monjas acorreram imediatamente à sua ce la. Estavam decididas a suportar o repugnante odor do ferimento . Mas qual não foi a admiração gera l quando perceberam que do corpo de Santa Rita se

desprendia inefável perfume. A ferida encontrava-se inteiramente cicatrizada e sua face resplandecente apresentava sorri so indescritível. A irmã Catarina Manei ni, parai ítica de um braço, ficou tão impressionada que quis abraçá-Ia, e o fez sem dificuldade, pois acabava de ser curada pela Santa .. . O corpo fo i logo transladado para um oratório público, a fim de ser venerado pelo povo de Cáss ia e arredores que acorreu em número e fervor crescentes.

Situação do corpo Santa Rita, por singular privilégio, nunca foi sepultada, e até hoje não se consumou para ela a sentença que toca a todos os filhos de Adão:" Tu és p6 e em p6 te hás de tornar" ... Seu corpo in corrupto , revestido com o hábito monástico da ordem de Santo Agostinho, não se mumificou e ne m enegreceu, mas está como o de uma pessoa que acaba de falecer. Mais ainda, a carne é branca, sem corrupção e toda a face muito bem disposta. Da mesma maneira estão alvas e intactas as mãos , com dedos e unhas. Igualmente não se pode explicar o suave perfume que, de tempos em tempos, se exala de seu corpo. O fato mais maravilhoso que sucede com o corpo da Santa é que, de vez em quando, e le se move. O que foi constatado repetidas vezes desde 1629 até 1899. Ora ela abre os olhos, ora volta a cabeça para o povo, move os pés, as mãos etc. As graças concedidas por Deus pela intercessão de Santa Rita de Cássia, canonizada pelo Papa Leão XIII, em 1900, são inumeráveis e contínuas. A Santa dos impossíveis obtém conversões estupendas e curas prodigiosas. Antes ruesmo dos decretos da Igreja, Rita de Cassia foi canonizada pela voz do povo fiel! Luís Carlos Azevedo OBRAS DE REFERÊNC LA

J. L. de Marchi , Santa Rita de Cássia, Edições Pauli nas, São Paulo, 1979, 15" ed ição. 2. Agostinho Trape, Santa Rita e sua mensagem, Paul inas, São Pau lo, 1993.


clad es e m razão de nem sequer procurarem alimentos ... Percebiam as coisas prontame nte, mas se m profundidad e. Tais características ex igiam dos mi ss ionários suavidade e firmeza, paciência e presença constante. Mui tos índios foram bons Do Descobrimento até nossos dias a grande obra realizada pelos missionários g uerre iros contra os invasores estrangeiros visando cristianizar e civilizar os silvícolas brasileiros e outros se lvagens revoltosos. coordenada entre governo e missionários Nas aldeias havia Não fossem os a ldea mentos, a cateNo trato com os jesuítas, sob a orientação dos padres José se mpre uma igreja , quese dos índios não passaria de uma indí ge na s, o amor de Anchieta e Manoel da Nóbrega. Mai s um co lég io, um hosquimera. Com regime e autoridade prónunca pod e ria deprios, foram eles a modalidade eficaz e tarde chegaram outras ordens e congrepital e casas para os monstrai· fraqueza. Os gações reli giosas como as cios fran ciscaindígenas. Alguns aloriginal ela colonização indígena no Braíndios, por índole nanos, beneditinos, carmelitas etc.O Bemdeamentos chegaram sil , talvez a prime ira semente das céletural, não eram tenaventurado José ele Anchieta fi cou coa abrigar cinco mil bres reduções jesuítas. dentes à mansidão . A habitantes, o que ex inhecido como o Apóstolo do Brasil. Dispersos, os nativos nunca teriam crueldade e costumes gia além de terra para abandonado seus vícios e costumes nôsanguinários estavam as lavouras, toda uma Os primeiros aldeamentos mades, nem de ixariam ele se guerrear muprofundamente arrai ordem administratituamente e ele praticar o canibali smo. As prime iras aldeias foram fundadas va. Os silvícol as se Fundação de São . .... ... Paulo, em 1554 gados no espírito deA atividade dos primeros mi ss ion ána Bahia, em 1558, e o próprio Mem ele submetiam a um regi- (detalhe)- Osc~r .......... ....Pereira da Silva, séc. les. Prova-o o martírio ri os contou com todo apoio das autoridaSá esteve presente à sua instalação . Nesdos dois irmãos coadme humano ele traba- XIX, Museu Paulista- .. ...... São Paulo des públicas. A chegada de Me m de Sá ses aldeamentos, os índios aprendi am a j utores jesuítas Pero lhos, com prazos deao Brasil , e m 1558, deu novo impul so ao . religião, eram persuadidos a abandonar a Corre ia e João de Souza, mortos pelos terminados , a fim ele não caírem na tentrabalho ele conversão dos índios, pela antropofagia e as bebedeiras. Cuidavam carij ós e m 1555. tação ela preguiça. Recebiam salários, ajuda prestada pe lo terceiro Governadorainda da própria alimentação, do vestuároupas e alimentos, de acordo com as geral à obra das mi ssões, e de modo parri o, da sa úde etc., e iam ass umindo pouco O papel dos índios atividades exercidas. ticular aos aldeamentos. Havia uma ação a pouco hábitos civilizados. Os mission ámeninos ou curumins rios procuravam instalar as aldeias nos A catequese dos Depois desse apostolado individual, próprios locais onde os indígenas eram indígenas os mi ssionários iniciaram a catequese encontrados. cios nativos, O meio que usaram foi a Inicialmente, o apostolado caracteri in strução. O Padre Manoel da Nóbrega Sob a influência dos j es uítas, esses zou-se por ser quase individual, dirigido escrev ia, em 1549, que começaram a vialdeamentos gozavam ele regalias quase a cada índio. Para a conversão dos nati sitar as casas dos indígenas, nas aldeias, muni cipais, com leg islação especial que vos não se faziam necessárias pregações convidando os meninos a aprender a ler regulamentava os bens dos silvícolas, a doutrinárias, como por exemplo na Índia separação deles em relação aos portuguee escrever. Eles iam ele boa vontade. ou no Japão daquele tempo. Muito intuises, o comércio entre uns e outros, o Penetrando na população dos aborítivos, aos silvíco las bastava ensinar a lei regime de trabalho e a hierarquia admigenes, os missionários procuravam capmoral e preservar este ensino. A doutrina ni strativa baseada na estrutura juríd ica tai· a simpatia dos mais influe ntes, ense imporia com o tempo. Exceção feita elas instituições municipais portuguesas. quanto os meninos órfãos, trazidos ele dos naturais obstácul os psicológicos de Neste primeiro ensaio de aldeamento, o Lisboa, juntamente com os dos co légios seus costumes selvagens, nossos índios trabalho dos mi ssio nários consistia em atraíam os meninos índios chamados cunão ofereciam res istência em aceitar a rumins. Combinavam com os dirigentes longas missões junto às tribos nativas que Religião católica. Muitos chegaram a peiam se cristianizando lentamente. das tribos o procedimento que deveriam dir para ser instruídos nela. Os missionáter nas visitas e o que pretendiam, ou seja, rios, ao longo de cinco séculos, estudaHavia um fun cion ário civil , o meiri pregar-lhes a lei de Deus. Após a estabiram a fundo o caráter e a psicologia dos nho, no meado pelo Governador-Gera l, li zação das aldeias, os missionários pasíndios. Visando sobretudo a salvação elas que se fazia respeitar muito pelos índios. savam a ali fixar residência. almas, os missionários desejavam tamNo início, os delitos mai s comuns eram a Assim, através dos filhos, os mi ssiobém que os indígenas fossem bem aliantro pofag ia e brigas decorre ntes das benários chegava m até os pais arredios e mentados a fim ele gozarem de boa saúde; bedeiras, bem como adultérios, roubos , preg ui çosos. Os men inos logo se transo oposto da posição ass umida pelos fe itifaltas ao trabalho, à esco la e aos atos fo rmaram em mestres e apóstolos. E m ceiros ou pajés, que prometiam benefíreligiosos. Cometido e comprovado o deIrmãos coajutores jesuítas Pero 1550, os meninos portugueses dos colécios materiais , embora deixassem os ínlito, o meirinho aplicava a pena corresCorreia e João de Souza, martirizados gios juntavam-se aos curumins e entradios vivendo na oc iosidade. pondente. Os miss ionários procuravam pelos índios carijós, em 1555 vam pelas a ldeias pagãs, pregando, ensiIndolentes, difíceis ele se mover, os defender os índios contra eventuai s abuGravura de Mathia Tanner nando, atra indo as almas pai·a Deus. E les sos praticados pela autoridade civil. silvíco las às vezes passavam por dificul-

HISTÓRIA

A ep~péia missionária na formação da Cristandade luso-brasileira

e os mi ss ionários percorriam as alde ias com uma cruz à frente cantando, e os nativos maravilhados sempre os recebiam bem. Os filhos dos silvícolas aprendiam a ler e escrever português, cantar e a acolitar as mi ssas. O ensino musical foi sempre intenso, desempenh ando um grande papel no mini stério com os indígenas. Os índios interessa vam -se por tudo. Corriam para a igrej a quando o sino tocava convidando-os para a assistência à Mi ssa. Sentiam atração pelas músi cas sacras, seguiam contentes as procissões reli giosas. Prestavam muita atenção nos sermões traduzidos pelos intérpretes.

Os índios sempre apreciaram os missionários Em todos os tempos da catequese, os nativos sempre apreciaram os mi ss ionários. Entrando nas aldeias, os religiosos acarici avam as crianças, eram muito solícitos pai·a com os adultos, socorri am os enfermos, demonstrando assim afeto e lealdade pai·a com todos. Eram tidos como homens bondosos, que se esforçavam em se exprimir na pró pria líng ua indígena. Censuravam qualquer branco que qui sesse fazer-lhes mal. E nunca lhes pediam presentes, como o faziam seus feiticeiros.

cada por mi ss ionários fi éis à tradi ção g loriosa do trabalho desenvolvido por Anchi eta, o Apóstolo do Brasil. Infeli zmente, porém, formou-se e m nossos dias uma corrente composta de mi ss ion ários neotribali stas, os quais propu gnam a manutenção do índio em seu estágio primitivo de cultura. Em próx imo arti go, anali saremos essa nova mi ssiologia e os danos que vem causando aos pobres silvícolas e à nação brasile ira. Carlos Sodré Lanna BIBLIOGRAFIA 1. Padre Serafim Le ite, História da Co,npanhia de Jesus no Brasil, Ed itora Po rtuga lia, - rnim-r,-i-~ . 2. Rocha Pombo, Hist ória do Brasil, W . M. Jackson Inc. Editores, Ri o de Janeiro, 1942. 3. Francisco Adolfo de Yarnh agen, História Geral do Brasil, Ed ições M e lhorame ntos, São Paulo, 1959. 4. Padre Alcionilio Bruzzi Alves da Si lva, A Civilização Indígena do Uaup és, Libreria Ateneo Salesiano, Roma, 1977.

Quanto aos traj es, foram surgindo aos poucos. Os miss ionários iam di stribuindo vestidos às mulheres e calças aos homens. Ao mesmo te mpo, fomentavam a rudimentar indústria da tecelagem. Era preciso criar o hábito rotineiro do vestuário. O me io mai s eficaz para atingir esse objetivo foi o de se ex igir que estivessem vestidos na igreja. Deveriam reservar o indispensável dos seus ga nhos para adquirir a " roupa de ver Deus", sob pena de não serem admitidos às cerimôni as religiosas. Assim, foi mediante a assistência aos atos de culto que este uso entrou paulatinamente nos costumes dos nativos . A grande dificuldade enco ntrada pelos missionários - e ela continua até o presente - foi a ação exercida pelos pajés ou feiticeiros das tribos. Eles sempre odiaram os religiosos, considerandoos seus rivais nas pn\ticas da profecia e da medicina. U m pajé dificilmente se convertia à Re ligião de Nosso Senhor Jes us Cristo. Tal modalidade de catequese de nossos nativos foi tão bem sucedida desde o Descobrimento que se mantém e la em sua essênci a ainda nos dias atuais, apli -

Índio militarizado, aliado dos portugueses contra invasores estrangeiros e selvagens revoltosos - Desenho segundo um códice do século XVIII existente no Museu Histórico Nacional - Rio


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ATUALIDADE RELIGIOSA

IGREJA REABRE CAUSA DE BEATIFICAÇÃO DE DOM VITAL A Santa Sé concedeu nada obsta para que o processo de canonização do ex-Bispo de Olinda tenha prosseguimento A causa de beatificação e canonização de Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, Bispo de Olinda, nomeado em 1871 , recebeu novo impulso com a declaração oficial do Vaticano de que " nada obsta" de sua parte para que o processo tenha continuidade na Arquidiocese de Olinda e Recife. Isto significa que a Santa Sé concedeu sua aprovação ao prosseguimento dos trabalhos e ao registro oficial do processo na Congregação das Causas dos Santos.

Pesquisas começaram em 1935

O Pastor defende suas ovelhas Ao ser empossado na Sé de O linda, o Bispo capuchinho ali encontrou amb iente hostil. Publicou então Carta Pastoral, prevenindo o Clero e os fiéis contra a maçonaria, e ordenou às irmandades religiosas, em carta circular, que afastassem os elementos maçônicos. Dom Vital teve como aliado nessa luta o Bispo do Pará, Dom Macedo Costa. A ação desses dois Prelados em 1873 deu origem à chamada Questão Religiosa. Dev ido a essa atuação, grande perseguição fo i movida contra Dom Vital, por

Os primeiros estudos sobre a vida e obra de Dom Vital foram realizados pelo frei italiano Félix de Olívola nos anos 30. Este capuchinho, da mesma Ordem religiosa de Dom Vital, pretendia levar a farta documentação que preparou para Roma, pedindo a abertura do processo de sua canonização. No entanto, veio a falecer subitamente no navio, em alto mar, tendo sido "sep ultado" no Oceano Atlântico.

Finalmente, em 14-1-1992, após trinta e dois anos, o atual Arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho, decretou opottunamente a reabertura do processo e constituiu comissão especial para cuidar do andamento dos trabalhos.

"O último benefício a considerar na nobreza é que, assim como uma pedra preciosa refulge mais quando engastada em ouro elo que em ferro, assim as mesmas virtudes são mais esplendorosas no nobre do que no plebeu; e à virtude junta-se a nobreza, como o maior ornamento clela .... Tal como no nobre é muito mais esplêndida a virtude, também nele o vício é ele longe muito mais vergonhoso. Assim como mais facilmente se nota a sujeira num lugar claro e batido pelos raios elo sol elo que num canto obscuro, e as manchas numa veste de ouro do que numa veste comum e andrajosa, ou, por fim, marcas e cicatrizes no rosto do que em outra parte oculta elo corpo, assim também os vícios são mais notáveis e chamam muito mais a atenção, e mais vergonhosamente desfiguram o espírito dos culpados, nos nobres elo que nos homens ele condição vulgar" (Homiliae CXXII, apucl Plínio Corrêa ele Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, Livraria Editora Civilização, Porto, Portugal, 1993, p.290).

São Carlos Borromeu

Cerimônia em Recife

Em 1953, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Antonio de Almeida Morais Junior, nomeou uma comissão para início do processo de beatificação de Dom Vital, mas os trabalhos da mencionada comissão não chegaram ao seu termo. Em 1960, a Arq uidiocese formou nova comissão e instaurou-se a causa da beatificação de Dom Vital. Desde essa época vem sendo reunido vasto material em quase dois mil registros sobre o heróico Prelado, entre recortes de jornais, correspondências e livros de graças alcançadas, guardados na Fundação Joaquim Nabuco, de Recife.

Após cursar o seminário de Olinda, transfe riu-se para o noviciado dos padres capuchinhos, na França, onde foi ordenado sacerdote em J 868. Apenas três anos depois, em 1871 , aos 27 nos de idade, foi nomeado Bispo de Olinda (um dos Prelados mais jovens da História eclesiástica brasileira). Em 1874, fo i preso no Arsenal da Marinh a, no Rio de Janeiro. No ano seguinte viajou a Roma para advogar sua causa. Veio a fa lecer em Paris em 1879, vítima de misteriosa enfermidade. Seus restos mortais chegaram a Recife em 1881 onde foram depositados na Basílica da Penha, dos Padres Capuchinhos.

Virtude e vício destacam-se no nobre

Túmulo com imagem de Dom Vital, em trajes episcopais. Ali, a 17 de março último, foram exaltadas as excelsas virtudes do santo Prelado brasileiro

sua fideli dade a Deus, à Igreja e ao rebanho que lhe foi confiado, tendo padec ido um martírio incruento pelos sofrimentos morais a que foi submetido. Dom Vital nasceu a 21-11-1844, no município de Pedras de Fogo, na Paraíba.

Solene Missa na Basílica de Nossa Senhora da Penha, concelebrada pelo Arceb ispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, por Mons.Francisco de Assis, da Diocese de Natal (postu lador da causa) e por mais 15 sacerdotes, no dia 17 de março p.p., marcou a reabertura do processo de beatificação e canonização de Dom Vital. Dom José Cardoso Sobrinho, mediante essa cerimônia, realçou a importância da reabertura do processo canônico. Fato au picioso não somente para a Arquidiocese de Ol inda e Rec ife, mas para toda a Igreja. Contando com a presença de grande número de fiéis que lotou as dependências do templo, a Santa Missa foi celebrada por três intenções: em agradecimento pela reabertura do processo de canonização de Dom Vital, em comemoração pelos 150 anos de seu nascimento e em ação de graças pelos 123 anos de sua sagração como Bispo de Olinda. No fina l da Missa, realizou-se uma procissão até o túmu lo de Dom Vital, localizado dentro da igreja. Mons.Francisco de Assis, em panegírico, enalteceu várias passagens da vida do valoroso Antístite. Raul Soeiro

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Para os registros da História ... termínio na Sibéria. Apos três anos de vexatória ocupação nazista, a Lituania retornou ao jugo comuni sta. De agosto de 1944 até 1953 (morte de Stalin), estima-se que 600.000 lituanos (20% da população) foram deportados para a Sibéria. A maioria jamais retornou. O Prof.Plínio Corrêa de Oliveira, com sua profunda visão da realidade internacional, decidiu promover um abaixo-assinado popular, de nível mundial, endereçado ao então presidente li tuano, Vytautas Landsbergis, a f im de demonstrar o quanto aq uele país báltico, de maioria católica, merecia ser apo iado em seu justíssimo anseio de apartarse do jugo dos comuni stas russos.

Nossos leitores certamente estão lembrados de que em junho de 1990, a TFP brasileira e associações congêneres em 26 países organizou um mon umental abaixo-assinado de apoio à frágil e recém-declarada independência da Lituânia. Esta havia sido a primeira nação báltica a desli gar-se da cortina de ferro ao tempo em que Gorbachev tentava, de todos os modos, manter coesa a mal fadada Uni ão Soviética. Como se recorda essa anexação foi mantida sob botas e baionetas desde 1940. A Hierarquia católica inteira foi supressa, os bispos mortos ou exilados. Em julho de 1941, os sov iéticos comprim iram 35.000 homens, mulheres e crianças em vagões de transporte ele gado e os enviaram para campos de ex-

Campanha da TFP norte-americana em Nova York

Em cerca de quatro meses, a petição alcançou a extraordi ná-


P lí nio Corrêa de Oli veira Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradi ção, Fanú lia e Propriedade Rua Maranhão, 341 01240 - São Paulo - SP Bras il Viln ius, 30 de j aneiro de 1995

Comissão lnteaTFPs entrega ao Presidente Landsbergis em VilniÜsass.518.520 assinaturas em microfilme.

ria cifra de mais de 5.000.000 de assinaturas de pessoas de todas as classes sociais de 26 países nos cinco continentes. O montante final de 5.218 .520 firmas foi reconhecido como o ma ior abaixo-assinado jamais feito na História da human idade e entrou assim no famoso Livro Guinness de Recordes. Estran hamente, contudo, a nota descritiva de tal recorde não trouxe o nome da entidade que hav ia promov ido o abaixo-assinado! Mais singular ainda: o dip loma certificando o recorde não foi endereçado à TFP, promotora da petição, mas ao beneficiário desta. Não é o caso de levantarmos aqui qualquer hipótese para tal proced imento . Entretanto, a carta (original em ing lês) que transcrevemos, assinada pelo ex-presidente lituano Landsbergis, vem, por justiça, esclarecer precisamente esse ponto. Fica a sim consignado nas páginas de Catolicismo para conhecimento dos leitores e registro na H istoria ...

Caro Sr. P residente Um mês atrás me fo i dado de presente o certificado do G uinness Book of Records que atesta que o maior abaixo-assinado do mundo, com 5.2 18.520 firmas, em apoio à independência da Lituâni a, foi coletado pela sua Organ ização durante o verão de 1990. Sua Delegação, chefiada pelo D r. Caio Xavier da Silveira, Pres idente da Com issão Jnter-TFPs, e acompanhada pelo meu representa nte, o dep utado Sr. Anta nas Racas, levou a petição a Moscou e a entregou ao pres idente sov iético Michail Gor-

bachev.

Francis Bacon

A arte dos subentendidos é a esgrima à francesa H. C ha nta vo ine Onde falta o sal, de pouco ajudam os outros temperos Sabe do ri a po pul a r

Não basta ter espírito, é preciso ainda ter bastante para evitar tê-lo demais André M auro is

Aceitando este certificado do G uinnes Book of Records, a L ituânia lembra com gratidão a atuação do Sr., a qual fez que a determinação da Lituân ia, de recuperar a sua independência, fosse conhecida em todo o mundo. As visitas de sua Organ ização à Lituân ia dão-nos esperança e confiança em nosso futuro e na proteção de nossa Santa Mãe a Quem confiamos nosso país em Si luva, em passado remoto, e mais especialmente no D ia de Ação de Graças, em 8 de setembro de 199 l , com a presença de milhares de pessoas do povo e mui tos representantes de Estados estrangeiros.

Nada mais perigoso do que a burrice quando manuseia a lógica Plínio Corrêa d e Olive ira

o pior que pode acontecer a uma boa causa é ser defendida com maus argumentos M áx im a jurídica

Agradecendo ao Sr. pelo seu apoio à ress urreição espiri tual de nossa Pátria, no reviver das trad ições e va lores morais, fico Sinceramente seu, Vytautas Landsbergis

Documento da TFP repercurte na Câmara Federal Catolicismo, em sua ed ição de março último, reproduziu excertos de um documento da Comissão de Estudos Pedagógicos da TFP a respeito de novo Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em curso no Senado Federal. O doc umento fo i entreg ue a todos os senadores, tendo a lcançado repercussão em discurso proferido pelo Deputado

Aquele que não sabe fazer distinções jamais entrará nos assuntos, mas aquele que as faz com exagero jamais sairá bem deles

Lael Varell a. Este, no plenário da Câmara, em Brasília, concordou com a análise da TFP, no sentido de que o novo projeto seja modificado, a fim de preservar as gerações fut uras dos malefícios cio intervencionismo estatal ele cun ho sociali sta, o qual lançou na mi éria tantas nações, particul armente Cuba e o Leste europeu.

~~IJ@[Líl(Çíl~~©) Preços durante o mês de Maio de 1995: ASSINATURA ANUAL COMUM: R$ 30,00 COOPERADOR: R$ 40,00 BENFEITOR: R$ 90,00 GRANDE BENFELTOR: R$ 150,00 EXEMPLAR AVULSO: R$ 3,00

A foto faz le mbrar ce n a e m d e legac ia: a d o lesce ntes se nd o r e vi s ta d os po r po li c ia is. A s u pos ição, co ntudo, é fa lsa. T rata-se de ins peção e m a lunos para ingresso na q uadra de espo rtes do Jefferson High School, escola do bairro de Brooklin e m No va Y o rk ... As a ul as n essa esco la j a m ais co m eça m a n te s das I O horas, isto é, co m du as horas d e at raso. Q ua l a r azão? Dez p o li c ia is gastam todos os di a esse te m po n um a b o r ve n te traba lh o: vi s t or iar 3.000 a lu nos e seus perte nces pe los d etectadores de metais. E m c resce n te número de esco Ias p ú bli cas no rte-a m e r ica nas a v io lê nc ia c h ego u a tal po nto, que se to rn aram necessá ri as

m e did as ríg id as d e vi g il â nc ia e preca u ção . E is a í um s into m a d o neo paga ni s m o co n te mp o râ neo, re fl e tirá al g um le ito r. E ta lvez jul g ue qu e a me did a prá ti ca to m a da pe las a u to rid a d es te nh a s id o eficaz. Ledo e ngano ... Apesar d a insta lação dos me nc io nados apare lhos e m 25% dos 85.000 estabe lec ime ntos públicos de e nsino s ec und á ri o da qu e le pa ís, 35 a lun os fo ra m mo rtos e 93 fe ridos à bala ou po r arma bra nca, e m 1994. E a Asso-

Ílll!!ll•••P-r

ciação de Ed ucação Nacional dos Estad os U nidos ac rescenta o utra c ifra es pa ntosa: 16.000 c rimes o u de litos graves - um a cada se is segundos oco rrem tod os os anos na red e de esco las prim á ri as e secundá ri as !

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Imagine o leitor que os ponteiros do relógio do tempo tivessem retrocedido 211 anos, lançando-o, de repente, na rua acima. Que diferença quanto às avenidas, às vias expressas, aos viadutos, à trepidação dos veículos e à agitação dos circunstantes de tantas cidades modernas! Mas, sobretudo, um aspecto deve ter impressionado o espírito do leitor, transportado inesperadamente para um ambiente urbano, característico do Brasil colonial: a tranqüilidade noturna. A rua estreita encontra-se deserta, iluminada por dois lampiões. A luz suave reflete-se

no seu pitorescocalçamen to irregular,nas vastas pedras que revestem acalçada e na vidraça da esbelta janela do prédio, à direita. O prezado leitor certamente dar-se-á conta da beleza e da harmonia que caracterizam as linhas barrocas do ediflcio. Sobre cada janela, bem como acima da imponente porta central e das demais -guarnecidas por sacadas de ferro no segundo andar - sua atenção admirativa será atraída pelos graciosos ornamentos esculpidos em pedra sabão, como, aliás, também todos os batentes.

Sua v1sao, depois , voltar-se-á para a frente, curiosa em descobrir o epílogo daquele lance de um urbanismo do século XVI!!. Agradável surpresa: aparece no fundo um típico sobrado colonial, cuja fachada dobrase elegantemente para a esquerda, acompanhando a curva da rna. Após essa imersão no passado, é natural que o leitor, tendo retornado a este sombrio fim de milênio, se pergunte: que aprazível cidade é esta, com tão harmonioso ediflcio? A cidade: Vila Rica, antiga capital da Província de Minas Gerais, hoje Ouro Preto,

um dos maiores conjuntos arquitetônicos barrocos do mundo. O ediflcio: a famosa Casa dos Contos, concluída há 211 anos, considerada a mais bela construção civil da cidade. Cinco anos depois, nesse majestoso solar seriam encarcerados Cláudio Manoel da Costa e outros conjurados da Inconfidência Mineira. Foto: Tomás Belli Especial para Catolicismo



CATOLICISMO 44 anos de luta, na fidelidade doutrinária

Discernindo, distinguindo, classificando ...

Nº 534 Junho 1995

Mais um número demagógico é desmascarado

Assestando o Foco Ao leitor desavisado, talvez parecerá exagero Catolicismo des tinar vá rias páginas com o artigo de capa, a um comentário sobre as recentes eleições presidenciais fra ncesas, q ue p useram um termo ao " reinado" de 14 anos in in terruptos do Partido Socialista.

Depois dos "32 milhões" de famintos , da "catastrój zca " mortandade infantil no Nordeste, do "meio milhão" de crianças de rua em São Paulo, do "meio 1nilhão" de adolescentes prostituídas no País, agora mais uma estatística "sensac ional " é desmitijzcada: o número dos sem-teto deradas " se m-teto". Po r exempl o, se ria um do m icíli o care nte a casa e m que moram o co rreto r de seguros N ilo Godo l1 hi n a mu lhe r, El isubcth, c m I o rl o A legre. " Te111 piscina, onze ,. 111odos, ci11 t·o /){/ nh eiros, 011 t1•11r1 parabó/i('(I 11 tlo/.1' ca rros 11(1 g (l/'/1 1'4 ge111. Mo s, 1•11 1 I'<' ,, de ág 110 tio n •r/1 • púb /it'((, (, (1 /)(( ,\' /l cicla por 11111 11or11 a rtesio11 0. No /11 ,ar do l'<'ri l' t•/11 t ri ·o, 1<'111 ,1.1<' 1'<1 Quem vive em "casa de cômodos" tem teto. Sob viaduto, de fato, a pessoa está sem-teto. Em inflacionadas estatísticas governamentais, do r 11r1í11r/11 "

O núm ero dos se m-teto não é de 15 mi lhões, co mo se propaga ndeava, mas redu z-se a me nos da te rça parte . O u sej a, não chega a c inco mi lhões . É c laro qu e se trata de um núm ero e levado, entretanto não te m as dime nsões catastróficas di vulgadas . Po ré m há ma-is. O co nce ito de "se m-teto", nas es tatísti cas , é basta nte amp lo .

Ass im , desses qu ase c inco mi por que lhões, a Fundação João Pinheiro, de Be lo Hori zo nte, qu e fez a estatística a ped ido do Go vern o Federa l, apuro u qu e 3_.150. 000 são considerados se m-teto porque " d iv idem uma mes ma casa co m o utras famí li as" : são as c hamadas "famílias co nviventes" . O ut ros 1 .660.000 " moram em abrigos rú sti cos , co m teto de zinco e chão de te rra" : são os de no min ados " rú sticos urbanos" . E 30.000 mora m e m loca is de tra balh o, barcos , tra il ers, o u embaixo de pontes , viad utos etc: são os " im provisados urba nos". Diante de uma c lass ifi cação tão larga, mui ta ge nte q ue ac red itava es ta r mora ndo e m cond ições razoá ve is desco briu q ue era um " se m-te to" .

" Quinze milhões é um núme ro de ag itação, que nós usamos pa ra f aze r /obby" , ad mi tiu V lad im ir Da ntas , pres ide nte da Co nfederação Na -

cional das Associações de Moradores, ligada ao PC do B.

Tratar de política, eleições, q ue proveito traz quando, no fu ndo, o importante é a salvação de' nossa alma? Salvação essa, a maioria das vezes, problem ática e cheia de riscos.

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Não seria melhor empregar nosso esforço em afervorar os leitores no amor a Deus, na devoção à Santíssima Virgem, numa palavra: a fidelidade aos Dez Mandamentos? Qua nto tempo um católico devoto (uma espécie em extinção, diga-se de passagem!) passa dentro de uma igreja

( l'r." V •j11 ",~'I 3-95 ).

T ud o isso faz lembrar a pesqui sa enco me nd ad a pe lo Centro Brasileiro pa ra a Infância e a Adolescência (CB IA) , a qu a l re ve lo u qu e o número de me ninos e me nin as de ru a em São Paulo era me nos de um centés imo do q ue se di z ia. Ha vi a 4.520 c ri a nças nessa situação - e não me io milh ão - e, dessas, ape nas 895 perno itava m nas ruas. Nas estatísticas qu e propalavam 15 milhões de se m-teto , a Fundação João Pinheiro e ncontro u todo tipo de fra udes, co mo po r exemp lo tratar casas perfe ita mente habitáve is co mo parte do défi c it habi tac io na l, simples mente po rqu e não poss ue m redes púb li cas de ág ua, esgoto o u energ ia e létri ca. Fam ílias e m q ue a re nda supera c inco sa lári o s mínimos eram co nsi-

De ou tro lado, as demais horas do ·seu dia-a-dia, como e onde ele as passa? Em casa, no trabalho, no vai-e-vem do transporte, nas compras, em vis itas etc, etc, quanto tempo ele emprega? Ora, em contato com a sociedade tal qual é, haveria inegável vantagem se o nosso católico devoto pudesse encontrar um incentivo para praticar os Dez Mandamentos, pois ele passa muitíssimo mais tempo nesse meio do que quando se recolhe para sua vida espiritual. Assim, se a sabedoria do Evan gelho pervadisse a sociedade em que vivemos , e na qual estivesse v iva a noção do bem e do mal, não de maneira subj etiva, mas objetivamente, nosso católico devoto

Índice

1

ambos residentes são consideradas "sem-teto"?

ou emprega em orações, em suas devoções particulares? Quinze, trin ta min utos? Uma hora?

cação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida.

2

A Realidade concisamente Imposto e trabalho escravo

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Destaque TV sensacionalista

Depo is di sso , co mo 11t10 dl·sr w1 fia r dos 4,8 mi lhões ti l' tl'llh11 lh adores sem-te rra q ue s ' 11 nd11 11p n· goando po r aí?

1

Enqu anto não são d ·s t1l l' lll id 11 s, serve m à esq uerd a para li ,i t11 1· l111 11 de iras de magóg icas, qu • so l't1Vlll'l' ce m a re vo lução soc ia l. /\ k111 dl• ,k· neg rir o Bras il no Ex t •ri o1·. ( './\ .

6

TFPs em ação - I Petições entreg ues em Brasíli a

11

Caderno Especial Nossa Senhora da Grade

C uri osa me nte , c mpr · (l\ll' 1111 111 " estat ística" des as é d •s 111 v11t id 11 , e m luga r de produ zir s11 1is l'111_:1 o , oco rre o co ntrári o. Ba ixa 11111 silt 11 c io co ntrafeito sobr o ass un to , q11 • antes oc upava as manc h ' I •s . Poi s :1 a mpl a di vulgação d · ·s l11t s1ic11 s des mitifi cadas prova ri a q ul' 110s, bras il e iros, es ta mos c m s i Iu1l!; 110 111v lhor do qu e se hav ia di vul 11 do .

5

Capa O melancólico fi m de Mitterrand

13

Nacional Quais os resultadosda Reforma Ag rária até agora?17

Hagiografia O glorioso Santo Antonio

20

Comunismo ~ões não ap roveitadas

22

Brasll real O "por acaso" em nossa História TFPs em ação - li

24

Encontros regionais de correspondentes e simpatizantes

25

27

Contracapa Funcional aliado ao gracioso Nossa capa: Fachada da catedral de Notre Dam e, Paris. Foto Gamma/E.Sander

Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago - Registrada na DRT-SP sob o Nº 23228 Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01 226-001 - São Paulo, SP - Tel: (011) 824-9411 Fotolitos: Microformas Fotolitos Lida. Rua Javaés, 681 011 30-010 São Paulo - SP Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 681 011 30-010 São Paulo-SP

A correspondência relativa

à assinatura e venda avulsa

Em Painel Frases e imagens

Isso posto, nosso leitor compreenderá a oportunidade de Melancólico f im do 'reinado' socialista na França, reportagem de auto ri a do enviado especial de Catolicismo em Paris, Benoí't Bemelmans , a res peito das recentes eleições presidenciais fra ncesas .

Catolicismo é uma publi-

Discernindo Desmascarada outra estatística demagóg ica

teria melhores co ndições de levar avante a batalha da salvação neste vale de lágrimas. A França - nação paradigma a vários títulos - esteve sob a tira ni a (não é o utro o termo) de um grupo de pessoas , arautos de um progra ma de mud ança da sociedade, baseado em idéias materialistas. O que, de si, constitui um obstácul o bas tante ponderável para o cabal c umprimento do ma is importante dos Dez Mandamentos : o primeiro.

28

pode ser enviada ao Setor de Propu lsão de Assinaturas. Endereço: Rua Martim Franc isc o. 665 - CEP 01226-001 - São Paulo - SP - Tel.: (011) 824-9411 ISSN - 0008-8528 1

1


EHJTEHJP Imposto e trabalho escravo

centro de lavagem do dinheiro das drogas na América Latina.

Segundo a Consultoria Arthur Andersen, as empresas do Brasil trabalham seis meses e 22 dias por ano só para pagar impostos. E também os assalariados da classe média têm que trabalhar de graça durante 71 dias por ano para pagar o imposto de renda na fonte. E tem mais. O Brasil, com 48,18% de alíquota de IR para pessoa jurídica, só perde para o Japão (57,9%) e para a Itália (52,2%).

A constatação é dolorosa: a cidade fundada pelo Bem-Aventurado José de

Fala-se ainda hoje em trabalho escravo que subsiste em algumas áreas do mundo. Seria então o caso de perguntar: esses impostos extorsivos não configuram uma escravidão mais sutil, embora muito real, de pessoas e empresas em relação ao Estado moderno?

Salário ... arquimínimo russo Em maio, o salário mínimo nacional aumentou para R$100,00 . Enquanto isso, na Rússia, depoi s de um aumento de mais de 100%, o minguado salário mínimo pas ou apenas para o equivalente a aproximadamente dez reais. Só! Ou seja, 10 vezes menor que o nosso salário mínimo, que ainda é de "Terceiro Mundo".

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São Paulo atrai narcotraficantes

Apesar de a União Soviética ter falido oficialmente, são os mesmos dirigentes comunistas que continuam dominando a Rússia e outras repúblicas ex-soviéticas. A miséria e o caos lá reinantes são frutos do mesmo socialismo, que recebeu novos rótulos. Enquanto isso, porta-vozes da deslavada esquerda nacional continuam a glorificar o regim cubano, reminiscência do fra ·assad regime soviético.

Relatório apresentado em reunião da lnterpol informa que o narcotráfico lava o dinheiro obtido com a venda de drogas em São Pau - Se Anchieta ressuscitasse, o que diria da São Paulo de hoje? É para essa mis ria , fruto do lo, no mercado clandestino do dósocialismo, que os ·squ ·rdislas lar, no sistema bancário, na Bolsa Anchieta, e que foi, décadas atrás, cendesejam levar o Brasil ? 1~m v ·z d· dede Valores e com empresas de importatro do pujante movimento mariano namagógicas campanhas ·o ntru u fome, ção e exportação. Agentes da Drug Encional, transformou-se hoje em imporpor que não ajudam ·1 ·s u ex tirpar, de forcement Agency, organismo de comtante entreposto da atividade narcotrauma vez por todas , as l •isso ·iu li zanles bate às drogas nos Estados Unidos, reficante. velaram que São Paulo já é o maior que continuam a p ·su ,· so br • o Pafs?O

Pornografia limitada & ilimitada · O prefeito e a Câmara Municipal de Nova York estipularam que todo comércio relacionado com pornografia ficará proibido de funcio nar a menos de 170 metros de resi dências, escolas e igrejas e a menos de 170 metros um do outro. Trata-se de uma débil medida coercitiva, um mero paliativo con-

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4 · CATOLICISMO JUNHO 1995 -~~ .... ,_............... ~

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tru um inf'ume com reio alilts b ·m lucrativo ligado, incvita v •lm •nte, a todo tipo de criminali dadc, desde tráfico de drogas até prostituição. No Brasil, nem isso . A pomo grafia fica ao alcanc d todos, nas bancas e quiosques.

Drogas não, deputados! Os deputados federais Marta Suplicy (PT-SP) e Fernando Gabeira (PV-RJ) e os estaduais Carlos Mine (PT-RJ) e Lúcia Souto (PPS-RJ), entre outros, lançaram na Assembléia Legislativa do Rio uma campanha de emenda à Constituição, visando descriminalizar o uso de drogas. Enquanto isso, o governo da Suíça, país geralmente considerado como modelo de democracia, resolveu fechar a toxicolândia de Letten, estação ferroviária abandonada de Zurique. E isso com aprovação dos setores mais liberais da cidade. Também pudera: o supermercado de drogas de Letten, onde havia liberdade para comercialização e consumo de entorpecentes, inclusive pesados, havia se transformado em centro de prostituição, delinqüência e vio-

lência que se espalharam por todo o bairro.

Amoralidade de ex(?)-comunistas De acordo o diário milanês Corriere della Sera, na Ásia Central ex-soviética existe umafábrica de abortos destinada à obtenção de tecidos embrionários a serem utilizados na indústria farmacêutica e de cosméticos. Tal escândalo encontra precedentes na Rússia. No ano passado, imagens perturbadoras de hospitais de Moscou revelavam ao mundo estarrecido a existência de fetos humanos destinados à re-utilização para fins medicinais. Detalhe indignante: na Ásia Central, mulheres seriam induzidas a engravidar-se com o único fim de interromper a gestação numa certa fase para obter o tecido embrionário.

Eis aí mais um sintoma do grau de brutalização e amoralidade a que pode atingir uma sociedade moldada por sete décadas de comunismo. E isso ocorre mais de seis anos após a queda do Muro de Berlim! ·

Vandalismo em Ávila Vândalos em Ávila, na Espanha, puseram abaixo no domingo de Páscoa, um monumento de quatro séculos: a cruz de pedra dos Quatro Postes. Nesse local, Santa Teresa de Ávila, ainda menina, foi encontrada pelo tio ao tentar fugir de casa à procura de martírio em "terras de mouros". Pelas dimensões do estrago, pode-se supor que foi um grupo de vândalos e não uma única pessoa que destruiu esse marco de Ávila.

DESTAG'!J!J

Sensacionalisillo seill escrúpulos Estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e dade veio a lume, a mentira já circulara por todas as manchePlanejamento (CEBRAP) aponta a prepotência como das tes de jornais e de programas de rádio ou televisão. falhas mais graves dos profissionais de imprensa em nosso Outro exemplo brutal é o caso de uma jovem de 17 anos, País. cujo suicídio foi gravado "ao vivo" pelo programa Aqui e Segundo essa pesquisa, publicada na edição de janeiro de Agora, da rede SBT. 1955 da revista Imprensa, de São Paulo, 43% deles não Assim que a morte da moça foi gravada, uma outra equipe sentem nenhum constrangimento em utilizar documentos de reportagem do mesmo programa foi à casa dos pais da pessoais sem autorização do interessado. jovem, informando que a filha, Daniele LoGrande parte dos jornalistas brasileiros pes, ameaçava suicidar-se e que só os pais também não tem escrúpulos de pagar para poderiam dissuadi-la, relata o Jornal do conseguir informações confidenciais. Nem Advogado. de apresentar-se como outra pessoa para Afirmou-se que Daniele se drogava e obter o que desejam. era vítima de maus-tratos por parte de seus Quanto à religião, apenas 13,3% dos pais. "A idéia era acusá-los em público ao jornalistas declaram-se católicos. Diante mesmo tempo em que seriam informados da dos crimes de violação de correspondênmorte dafilha". cia, de suborno, de falsidade ideológica, Durante dois dias a morte de Daniele foi não costumam recuar, pois se consideram explorada pelo Aqui e Agora. Até o velório acima da lei e dos princípios morais. serviu de objeto para nova reportagem. O Talvez isso explique comentário do resultado foi a marginalização da famíJornal do Advogado (nº 202, de 1995) a Programas sensacionalistas de TV lia." A mãe e a irmã são submetidas a traviciar os telespectadores, respeito de um conjunto de casos judiciais costumam tamento psicológico há um ano e meio e o à maneira das drogas, tornando-os envolvendo acusações criminais a órgãos sedentos de sensações sempre mais pai, a partir de então, não conseguiu emde comunicação social. prego" , informa a mesma fonte. fortes • O juiz Ernani Coutinho Dantas conde"Na fórmula do novo terror, a câmera e o microfone podem tornar-se uma guilhotina" diz o artigo, nou a SBT a pagar 15 mil salários mínimos à família de que lembra o caso de uma escola cujos proprietários e pro- Daniele, destacando que" tudo se fez no sentido de aumentar fessores, com as respectivas famílias, foram execrados publi- a audiência de um programa de televisão às custas do sofricamente, durante semanas a fio, sob a acusação de abuso mento e angústia dos pais de uma jovem desesperada". Até onde setores inescrupulosos dos meios de comunicasexual contra menores. Ao final, descobriu-se que tudo não passara de fruto da ção levarão seus desatinos? Até quando os brasileiros assisimaginação de algumas pessoas. Entretanto, o mal estava tirão inermes a essas cenas de terror, nas quais qualquer um D feito e certamente jamais será reparado, pois, quando a ver- pode ser protagonista como próxima vítima?


Ch irac de u certo tônus ideológ ico à s ua campanha ao acenar para o que chamou de "o perigo Jospin"

CAPA

Melan·c ólico fim do ''reinado'' socialista na França

meiro-ministro o gau llista Jacques Chi rac . Mas em 1988 , nas e leições presidencia is, M itte r rand derrotou Chirac . Disso lvida a Câmara ele Deputados e med iante novas eleições legislativas, os social is tas obtiveram uma vitória po r estreita margem de votos . Iniciou-se um período ele novo "rei nado" de M itterrand, marcado por grandes crises po1íti c as , e s cânda los, protestos contra a integração européia da França, que foi apro-

As TFPs contribuíram para a derrota do socialismo na França, ao desacreditar, em âmbito internacional, a auto gestão proposta por Mitterrand, mediante incisiva mensagem difundida em 187 publicações de 53 países, perfazendo 34. 767.900 exemplares em 14 idiomas

D

esignada pelos Papas como Filha Primogêni t a da Igreja, a França foi a primeira nação européia a abraça r a Fé católica, com o batismo de C lóvis, rei dos francos, em 497 . Na conversão desse rei bárbaro, como se sabe, tiveram papel fundamental sua esposa, Santa C loti lde, e São Remígio, Bispo de Reims, que o batizou. Apesar da rudeza de costumes, os francos tinham a alma aberta para as

maravilhas do plano sobrenatura l e da civilização, que lhes oferecia a pregação ela Relig ião verdadeira. Desta forma, esse povo germano tornou -se paladino da causa de Cri sto. E , em conseqüê nc ia, na douce France floresceu o que havia de melhor. Sua influência exerceu-se de modo marcante na formação ela Civilização Cristã ocidental. Os frutos espirituais fo ram estupendos . A santidade desabrochou em personagens de alto relevo: San-

to Odon, Santo Odilon, abades do movimento reformista de Cluny ; monarcas como São Luís IX, o Rei cruzado, Santa Joana, princesa ele Valois; fundadores de congregações, como São Vicente de Paulo, São Luís Grignion de Montfort, Santa Joana ele Chantal, São Pedro Julião Eymard; ou em figuras do porte ele Santa Joana d' Are e Santa Teresinhaclo Menino Jesus .

É à luz desse passado glorioso que devemos cons iderar o s ignificado da der-

rota do socialismo François Mitterrand França , por ocasião eleição presidencial maio último.

ele na da de

Ascensão e queda do PS Francês Ao derrotar em J 98 1 Giscard D'Estaing, Mitterancl, em aliança com os comunistas, aplicou um plano de grandes estatizações e reformas sociais. m 1984 o PC de Marchais abandonou a coalizão, e o presi -

Resposta das TFPs ao socialismo "missionário" de Mitterrand: a Mensagem doProf. Plinio Corrêa de Oliveira O apoio declarado aos movimentos guerrilheiros da América Central - bafejados em grande medida pela esquerda católica - e, de modo especial, a provocante proteção diplomática e militar aos sandinistas da Nicarágua, bem atestaram que as pretensões imperalistas do PSF não eram figura de retórica. Com isso, os partidos socialistas ou correntes socialistas de toda a América Latina, antes de 1981 tão desprestigiados, levantaram a cabeça. A auto gestão .de Mitterrand começava a encontrar ressonância em certos setores da opi nião pública. Em face de tal onda internacional, era pois necessário reagir! Tanto mais que permaneciam em silêncio aqueles cujo cargo, cuja situação, cuja in fluência os obrigava a encetar a reação. Assim, no dia 9 de dezembro de 1981, em seção livre inserida no The

Washington Post dos Estados Unidos e no Frankfurter !\ll!{<'IIIC'i11e da Ale-

manha, um artigo ocupava seis páginas inteiras de jornal , e vibrava monu mental golpe no so ·ialismo autogestionário propugnndo pelo P.irticlo Socialista Franc"ls. Com o líltdo "O Socialismo autogestionário: ·111 visla do <.:omunismo, barreira ou cabe~·a de porll •?" , o documento, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliv ·ira, foi logo publicado no 'f'l,<' New York 'f'i11ll'.I', / ,os !\11Reles 7'i111e.1·, '/'/,e O/J,1·crv,•r, dl' l ,ondres,ll 'f'e111po, de Roma, ll<!i" d,• l,1111e,1· de Madrid, Oiârio d<· No1tl'i<1s, de Li sboa, The Glo/Je "'"' tll<' Mui/, de Toronto, /,a Pres.1·,,, de Monln•al, /,a Na ciâ11, de Buenos /\ires, U11iversal, de Caracas, H/ Oiorio, dl' La Paz, El Merrnrio, de Sanlia •o do Chile, El Pais, de Montevidl'u, W 'J'i,•1111w, de Bogotá, E/ Co111<'rcio, ck (.)uilo, El Comercio, de Lima, S1111dm1 'f'i111es , de

m

dente francês priorizou o combate à inflação. Em 1986, fartos da política socia lista, os e le itores começaram a dar meia-vo lta: os anti-socialistas venceram as eleições legis lativas. Em conseqüência, Mitterrand · teve que aceitar como pri-

vada mediente plebiscito apenas por 50,9 % dos voto . Entre os escânda los, causou gra nde celeuma o da distribuição, por negligência e fraude, pela rede hospitalar pública, de sa ngue contaminado com o vírus

Johannesburg , The Australian, de Sydney, Folha de São Paulo, além de 30 outros jornais líderes em tiragem e influência na imprensa do Ocidente. Um substancioso Resumo da Mensagem foi pub licado em dezenas de outros órgãos do Brasil, África do ~ui, Alemanha, Argentina, Austrália, Austria, Canadá, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Inglaterra, Irlanda, Nepal, Nova Caledônia, Nova Zelândia, Paraguai, Suíça e Venezuela. Posteriormente, um resumo da Mensagem foi publicado na revistaReader's Digest (no Brasil Seleções), em 33 edições naciona is das Américas e da Europa, além de diversos países árabes do Oriente Médio e Norte da África, da Índia, Oceania e várias nações do Extremo Oriente. Ao todo foram 187 publicações em 53 países, somando 34.767.900 exemplares em 14 línguas, com repercussão em 124 nações. Muito mais do que por sua amplitude de divulgação, o estudo do Prof.

HIV, que infeccionou mais de mil hemofílicos, dos qua is 400 já morreram de AIDS. O desemprego atingiu então a casa dos 10% . Im igração mac iça de árabes do norte da África co m suas fam íli as provocou mal-estar ge ral entre a popu lação.

causa da cultura e da moral ..... Tudo aquilo que na cenografia coletiva tende a fa zer passar o i11fonne pelo expressivo, o feio pelo sedutor, o grosseiro pelo norma / , n repuls i vo pelo atraente, tudo aquilo que, sob pretexto de cu ltura aberta, fe z c ircu lar uma imagem de decadência genera lizada, ....fo i ident(/1 Em 93, razões cado com a esquerda. E é morais e culturais por isso, em especial, que a para a pior derrota esquerda foi maciçamente socialista rejeitada " . Nas eleições parlamenEstava tudo, por ass im tares ele março ele L993, a d izer, preparado para a viesquerda teve o p io r desemtória presidencial de C hi pen ho em toda sua hi stória: . rac, q ue se de u em maio úl15,4% cios votos, contra timo. 83,2 % dos anti-soc iali stas. Havia 39.618.000 e le iEdouarcl Ba ll aclur tornoutores inscritos (na Fra nça o se primeiro-m inistro. voto não é obr igatório , Os partidários de Chirac como o é no Brasi l). passaram a controlar 80 % do Parlamento, 20 cios 22 conse lhos regionais e 4/5 Números do primeiro dos 96 departamentos do turno: país ... Jospin (do PS) obteve O Figaro -Magazine de 23,24% 6.994.758 vo12-4-93 assevera que a estos; q uerda sofreu essa estronChirac, 20,64% ou dosa derrota motivada não 6.213.917 votos; ~ pela "economia, mas por

Plínio Corrêa de Oliveira impressionava por seu conteúdo, sua análise meticulosa da documentação do PS, sua lógica irretorquível ao dissecar as proposições socialistas e levá-las até seus últimos desdobramentos, para grande desaponto daq ueles que até então tentavam camuflar essa doutrina. E a França? Triste constatação. Apesar de todos os esforços empreendidos pela TFP daquele país, a Mensagem teve. recusada sua publicação em todos os jornais parisienses com tiragem superior a cem mil exemplares. Restou apenas fazer a sua difusão através de 350 mil cópias, enviadas pelo correio. Não aceitou publicar esta matéria a edição francesa do Reader's Digest. Um prestigioso diário editado em Paris, mas em língua inglesa, o lnternationàl Herald Tribune, na edição de 12-12-8 l assim descreve a reação do governo socialista francês em face da Mensagem: "Em Paris, autoriza-

ou

das fontes governamentais disseram que não estavam preparadas para reagir à matéria publicada, mas a estavam estudando. 'Não estamos absolutamente em pânico!, acrescentando que 'mais tarde' poderia haver alguma reação". Esse "mais tarde", contudo, mmca ocorreu ... Embora a difusão da Mensagem tenha sido restrita na França, sua significativa repercussão internacional torno u impossível ao governo socialista francês aP,licar a autogestão como uma panacéia quase mágica em níve l universal. E o papel cultural desempen hado pela França seria vital para a aceitação no plano mundial. Fracassada a manobra "missionária" de Mitterrand, a aplicação da autogestão estava irremediavelmente comprometida também na França. Foi o começo de um processo desagregador, cujo último episódio constituiu a votação do segundo turno, em 7 de maio passado.


Balladur, 18,54% ou 5.580 .861 votos. Abstenção: 20,8 1%, a mais elevada no país desde 1969. Portanto, para o segun,. do turno apenas concorreriam Jospin e Chirac.

ternas principalmente econôm icos. E mesmo por parte da esquerda, com a candidatura Jospin, a nota tônica foi igualmente um grande vazio ideológico e de muita superficia lidade. A foto dos candidatos foi muito mais importante na cámpan ha do que suas palavras e programa (algo que faz lembrar certo país que os leitores conhecem muito bem ... )

Números do segundo turno: Chirac obteve 52,59% ou 15.654.234 votos;

Jospin,

4 7 ,41 % 14.114.715 votos.

ou

Abstenção: 20%; Votos brancos e nulos:

A grande imprensa ressa ltou o fato de que os socialistas, juntamente com os demais partidos de esquerda (Comunista, Luta Operária, ecologistas etc.), estão muito desgastados após tantos anos no exercício do poder, no decorrer

quase 6%. Convém esclarecer que no primeiro turno dois dos principais contendores (Chirac e Balladur) pertenc i a rn ao mesmo partido. Houve, desta forma, um duelo a-ideológico, sobre

dos quais piorou a situação socia l da França. Em editoria l de 25-4-95, o conhecido diário parisiense Le Monde, a propósito, comenta: "O retorno

da arrogância socialista não é desejado, aqueles cujos pecados não foram re dimidos ainda. " Para o segundo turno , a campanha tornou-se um tanto mais ideológica, apesar de não ter sido essa a nota dominante. Chirac fez um apelo aos conservadores e começou a acenar para o que chamou o "danger Jospin " (perigo Jospin). Este havia admitido que , em caso de vitória, colocaria comunistas no ministério.

Temas como desemprego, insegurança, vio lência urbana, imi gração (com destaque para o grande nú mero de árabes e negros das ex-co lô nias africanas) tomaram conta dos debates. Votando e m Chirac sobressaiu, talvez pela primeira vez, grande número de e leitores com menos de 35 anos, vindo dos operários e assalariados. Em e leições anteriores o e le itorado de esquerda era jovem e operário, contra o dos conservadores, de um a idade mais avançada e ocup~ndo boa posição econômica. Esse quadro está portanto, bastante alte rado em 95. Ao ser e leito, Chirac prometeu um "governo de

Meta socialista para a França * Confirmação da laicidade estatal - o casamento equiparado à união livre - plena liberdade sexual " reabilitação" da homossexualidade - livre acesso e gratuidade dos anticoncepcionais - liberdade de aborto - agonia e morte do ensino privado - educação estatal a partir dos dois anos de idade.

micro-comunidades - enquanto houver empresários, a monarquia não terá acabado ele ser derrubada na França. * A autogestão socialista, meta internacional através do governo, riquezas, prestígio e alcance mundial ela França.

* * *

* Nacionalização das grandes e médias empresas urbanas - socialização progressiva da vida rural - a via autogestionária - a assembléia operária: poder supremo em cada empresa - a função obediencial dos dirigentes e dos técnicos nas empresas sem empresário individual - a luta de classes - a participação dos consumidores na direção da empresa.

O programa do PS, do qual apresentamos acima urna súmula, constitui, na realidade, um elenco de e rros , que se consubstanciam num programa efetivo de expansão cultural, com o fim ele construir uma situação de coisas diametralmente oposta à ivilização Cristã, da qual a França fora, ao longo dos sécu los, brilhante paradigma.

* O modelo autoge tionário na família: função autogestionária dos filhos; luta de classes com os pais na escola: função autogestionária dos alunos; luta de classes com os professores. * A sociedade autogestionária modela um novo tipo de homem: agnóstico, sob uma moral oposta à cristã, com teto de progresso indivi-

No fim de seu mandato, Mitterrand denota abatimento e cansaço

dual muito limitado; planificação do lazer, diversão e arranjo doméstico.

*Liberté, Egalité, Fraternité radicais: o achatamento das classes sociais - desagregação do Estado em

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A fim d melhor" vend •r" seu produto, o Partido Socia li sta adotou como símbo lo um punho cerrado·que segura uma rosa. Por manobras ele opinião pública, Mitterrand conseguiu a aceitaçao de suas idéias, que são as da Internaciona l Socialista: material is tas e

igualitárias cm sua substfincia fi losófica, como também nas reformas sócio-econômicas que promovem. Desta forma, o objetivo do PS era o contrário de tudo quanto a rosa simbo liza.

Nos medíocres, a chave da ascensão de Milterand O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira responsabilizou os "E se fosse só isso! O ecumenismo, com a infatigável medíocres pela vitória dos socialistas de Mitterrand, em e vã tagarelagem de seu diálogo, é bem a religião dos 1981. Eis alguns trechos ,-- - - - - - -- -- - - - - - - - -- - ~ mediocratas. Uma espécie de seu penetrante comende seguro, ou de resseguro, tário, publicado por Capara a vida e para a morte, tolicismo em junho damediante o qual todas as reguei e ano: ligiões são solicitadas a di-

"A mediocridade é o mal dos que, inteiramente absorvidos nas delícias da preguiça e pela exclusiva deleitação do que está ao alcance da mão, pelo inteiro confinamento no imediato, fazem da estagnação a condição normal de suas existências.

zerem coro que indiferentemente com qualquer delas, os homens podem alcançar para sua saúde, seus negocinhos e sua segurança, e mesmo depois da morte, um bom convívio com Deus. "Nesta perspectiva, parece que a Deus é indiferente que se siga qualquer reliO Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, seis meses após seu gião. Pode-se até blasfemar penetrante comentário sobre a mediocridade e as eleições de "Não olham para 1981, redigiu o vigoroso manifesto contra o socialismo contra Ele e persegui-Lo. trás: falta-lhes o senso autogestionário francês Pode-se até negá-Lo. Ele é histórico. Nem olham indiferente a todos os atos para frente, ou para dos homens. Olimpicamente ind(ferente. Ecumenicacima: não analisam nem prevêem. Sua vida mental se mente indiferente. Como aliás os medíocres, por sua vez, cifra na sensação do imediato. A abastança do dia, a tenham eles ou não algum Crucifixo, algum Buda de poltrona cômoda, os chinelos e a televisão: não vai além louça ou metal, ou algum amuleto, nos locais em que o seu pequeno paraíso. dormem ou em que trabalham, são olímpicamente indi"Paraíso precário, que procuram proteger com toda ferentes a Deus. espécie de seguros. E tanto mais feliz o medíocre se "Ora, esse indiferentismo não é senão uma forma de sente, quanto mais nota que todas as portas estão soliateísmo. O ateísmo daqueles que, mais radicais (em damenle cerradas. Portas que podem se abrir para a certo sentido) do que os próprios ateus, não tomam Deus aventura, para o risco, para o esplendoroso, e portanto, a sério. Ao passo que o ateu, se tivesse a evidência de também, para os céus da Fé, para os largos horizontes que Deus existe, O odiaria ... ou, talvez, O serviria... Mas, da abstração, para os imensos vôos da lógica e da arte, em todo o caso, O tomaria a sério. para a grandeza de alma, para o heroísmo. "Por meio do sufrágio universal, os medíocres fizeram tantas leis, tantos regulamentos, instituíram tantas repartições públicas, que nenhuma fuga é possível. Eles impõem às almas de largos horizontes a ditadura da mediocridade. "Como todas as ditaduras, também esta só se prolonga quando chega a monopolizar os meios de comunicação social. "Cada vez mais as mediocracias vão penetrando nos jornais, na revista, no rádio e na televisão.

união" -

"la France pour

tous".

Herança dramática no plano moral A França tem diante de si o pesado legado dos 14 anos do " reinado" de Mitterrand.

"Foi especialmente o governo de Giscard o paraíso de todas estas formas de mediocracia apoiada em uma fração do eleitorado que não queria outra coisa. "Chegou, com o período pré-eleitoral, a pugna. Os medíocres se defenderam à maneira deles. Mediocremente. O que podia acontecer-lhes senão perder? "A lição aproveitará pelos menos aos medíocres de outros países? Temo que não. Pois se há coisa que o medíocre não faz, é aproveitar a lição do vizinho. Por definição, ele só vê perto. E só enxerga o dia de hoje".

No campo social, um em juntos, sem qualquer perscada três casamentos termi- - pectiva ele legitimarem essa na em divórcio. Os matrisituação. mônios religiosos , que nos Nascem cada vez mais ano s 70 totalizavam crianças fora de um lar legal 416.000, caíram para ou religiosamente consti270.000 ao ano, em 1990. É tuído. Em 1960 esse índice cada vez mais comum a era de 6% do total dos naspraxe de "uniões livres": cimentos; em 1990 saltou jovens que decidem morar para 30% !

A educação sexual nas escolas, ultimamente acelerada pelo programa de contenção da AIDS, está liqui dando com o que ainda restava de pudor entre os estudantes. Estes são assaltados por uma televisão estatal pornográfica em nível estarrecedor. Amour en Fran-

~


ce foi , durante muito te mpo, um programa d e T V gro t esco e acintoso, qu e provocou muito escândalo . E m maio de 1994 , 45% d os fr a nceses di sseram não praticar ma is ne nhum a re li gião. O homem q ue o utro ra di ssera " a Euro -

pa OU SPrá <·nrw fista, ou não será nada" talvez fi q ue mais conhec ido po r o utra razão: sua he ran ça a rquite tô nica de d ispe ndi osas con s tru ções, que es pa lho u po r toda Pari s. Mitte rra nd gasto u um to ta l de 30 bi lhões de fra ncos (R$6 O Grande Arco, uma das monstruosas e faraônicas construções de Mitterrand bilh ões) na refo rm a são de São P io X, proferid a prin c ip a lm e n te, n a Tres do Museu do Louvre, o nde e m 19 11 : Grande Bibliorheque , co m edifi co u uma grande e esseus quatro prédi os. França, como Sa ulo no tra nh a pirâ mide d e v id ro A pesar ele ta ntos perca lcaminho de Damasco, será (alg uma pre te nsão faraô ni ços, ag ua rde mos co m in aenvolta por uma lu z celeste ca?); no Grande Arco (inbalável tra nqüilidade a reae ouvirá uma vo z que lhe vej a d e Na p o leão?); n a nova Ópera da Bastilha; e, lização da grandi osa pre vi dirá novamente:

Minh a f ilha, por que me perseg ues?' Quem és t u, Senhor?' 'So u Jesus, a Quem persegues . .... Porque em tua obstinação te arruínas a ti mesma'. 'Senhor, que queres que eu f aça?' ' Levanta-te, lava as manchas que te desfiguraram, desperta em teu seio os sentimentos adormecidos e o pacto da nossa aliança e vai, ftlha primogénita da Igreja, nação predestinada, vaso de eleição, vai levar, como no passado, meu nome diante de todos os povos e de todos os reis da terra"

afri ca nos de mai. ; 45%, neg ros demais; e 94% preoc upa m-se com o fato de o rac ismo es tar fica ndo in controláve l. Agora associam a pa lavra árabe

Co ntudo, hoj e e m dia essa liberalid ade de ixo u de exi stir. Especialme nte dev id o aos três mi lh ões de africa nos árabes, berberes e negros, com se us descende ntes . Raro é o mês e m qu e di stúrbios rac iais não to mam co nta elas manchetes. Ass im , noticio u-se que uma escola em M arselh a ex pulso u du as a lun as mu çulma nas por usarem véu no rosto . E m Lyon , ce ntenas de rapazes ára bes fi zeram passeata contra a políc ia, qu e termin ou e m quebra-que bra. Sold ados e m fo lga esfaquearam cin co marroquinos e m Carcasso ne. Refu giados turcos e curdos ini ciara m g re ve de fom e, pedindo perm anência no p aís. Crescente número de africanos árabes e Pesquisa revela qu e 7 1% dos franceses acham q ue sua pátria tem no rte-

negros em Paris

TFP entrega 30.31 opetições ao Ministro da Reforma Agrária Afirm ou que o INCRA tem comet ido mu itos abu sos, escondi do dados , não dando voz ao pro pri etári os co mo maneia a lei. Asseverou ele que, e m co nseqi.i ência, tem e nfrentado mui tos proble mas. Concluiu , contudo, afirm ando que a le i ele Reforma Agrári a é boa, bastando aplicá-la. Um dos sacerdotes presentes, o Cônego José Lui s M. Yi ll ac, pro prietário ru ra l no norte do Paraná, pediu vênia ao M ini stro para discordar, e com argumentos convin centes mostrou ser im possível cumprir com os índices ele utili zação e apro veitame nto da terra, estabelec idos pelo INCRA.

BenoH Bemelmans Enviado especial de Catolicismo

oproblema dos imigrantes A F rança sempre fo i conhec ida in tern ac ionalme nte como a rerre d 'asile. Abri gava g rande núm ero de ex il ados e perseg uidos po líti cos ele qu alquer nac io nalidade. O PS proc uro u cri ar a idé ia de uma soc iedade multicultural fra ncesa.

TFPs EM AÇÃO - I

ao Islã, o Islã aosfundamenralistas, e estes aos terroristas. U m pa i argelino, qu e poss ua q uatro esposas e 20 filh os, o btém 50 mil fra ncos (R$ I 0.000) e m seg uros sociais, sem trabalhar. Tal vez M arse lh a possa ser tomada como a loca lid ade proto tfpi ca, q ue co ncentra todos esses pro bl e mas. A movim entada cidade po rtu ií ri a do Mediterrâ neo tem cerca de 80 mil árabes, 70 mil judeus, 60 mil a rm ê ni os, 65 mil imigrantes el a Có rsega, 18 mil da Ál"ri ca negra, 8 mil vie tn a mit as ' tr'ls mil ci ga n os, pa ra um a po pul a<,:ao de 878. 000 habitantes. Há 40.000 j ove ns se m e mp rego e sem qu alifi cação de trabalho . As d rogas campe iam li vre me nte. U111 de seus s ubúrbi os ab ri ga 100 mil p •ssoas, 70% das qu a is no rl e- afri cunas, vivendo no qu e os fra nc ·ses c humum de cages à lápi11s, isto é, ga io la s de coelhos .

Da esquerda para a direita : Dr.Plínio Vidigal Xavier da Silveira, Diretor da TFP; João Duarte de Aquino, representante dos trabalhadores rurais de Primavera do Leste (MT}; Cônego José Luís Villac e Padre Gervásio Gobatto

No di a 17 ele maio uma comi ssão, compos ta por dois sacerdotes, faze nde iros e trabalh adores rura is, 1iderada pela TFP, e ntregou ao Mi nistro Andrade Vie ira 30.3 1O petições ele bras ile iros inconfoimes co m a Refo rm a Agrária como vem sendo apli cada no Pa ís.

cional da TFP, vem travand o desde 1960 contra a Refo rm a Agrári a e reitero u o ape lo contido na petição. O Sr. M ini stro respo ndeu que tem sido vítima de pressões de vários lados.

O dep utado federa l Lae l Ya re ll a (PFL- MG), po r sua vez, insistiu com o Mini stro na necess idade de ouvir o apelo daqueles 30.000 bras ile iros, para que não se repita o mes mo fracasso da Reforma Agrári a efetuada alé m da antiga Cortina ele Ferro . Um dos faze nde iros acrescento u que os assentamentos de se u conhec imento redundaram em fracasso e converteram-se em fave las ru rais.. ~

A audiência para as ·cerca de 40 pessoas da comissão rea lizou-se no salão ela li sec retari a do Co ngresso Nacional, às 10,00 hs da man hã. As petições, ap resentadas em 152 vo lumes encadernados, pesavam 1 15 quil os. A principa l soli citação é q ue o governo suspenda as desapropriações e aprese nte um levanta me nto deta lhado ele quais os resultados efetivos obtidos, até o presente momento, JlOS mais de 7 milhões de hectares de terra q ue já foram desa propriados desde a ap licação do Estatuto da Terra, em 1964. O Dr. Plinio Yidigal Xav ier da Si lveira, Diretor ela TFP, porta-voz da de legação e coordenador do SOS Fazendeiro, ena lteceu a luta que o Prof. Plin io Corrêa de O li ve ira, Pres idente do Conse lho Na- Ministro And rade Viei ra (centro) com proprietários rurais da região de Montes Claros (MG)


O Sr. Mi guel Coimbra Rinaldi, de São José do Rio Preto (SP) , em l 988 teve sua fazenda invad ida, depois desapropriada e até agora não recebeu ''h6n hum centavo de indenização. EI apelou , então, ao Sr. Andrade Vieira para que con siderasse sua triste situação e a de tantos outros também inju stamente desapropriados. O Presidente do Sind icato de Miracema e um dos Vice-Presidentes da Federação da Agricu ltu ra do Estado do Rio de Janeiro, engenheiro agrônomo José Antonio Moreira Pinto, reiterou que a lei de Reforma Agrária precisa ser reformulada especialmente no tocante ao GUT (Grau de Utili zação da Terra) e ao GEE (Grau de Eficiência e Exploração). O Ministro ouv iu , sorriu , mas foi pouco sensível ao pedido de publicação dos resultados da Reforma Agrária até

IN MEMORIAM

Ca erno especia n~ 46

Dr.Plínio Vidigal Xavier da Silveira em entrevista à imprensa em Brasília: "suspensão de novas desapr(?priações até que sejam conhecidos os resultados da RA nas terras em já foi aplicada". A direita o deputado federal Lael Varella (PFL-MG) e alguns dos integrantes da comissão SOS Fazendeiro

hoje, bem como à argumentação apresentada pelos delegados de SOS Fazendeiro.

J

Falece no Brasil destacado membro da TFP argentina Trágico ac idente de estrada no mu nicípio de Medianeira (PR) no dia 24 ele maio último, ceifou, aos 45 anos de idade, a vida de Horácio E.B lack, destacado membro da TFP argentina.

Ex ímio na piedade e de fino trato, tinh a o caráter de um verdade iro gen.tleman. Seu trágico e inesperado fa lec imento causou grande comoção nas fil eiras da TFP platina e brasileira. Membros da famí li a, vindos espec ia lme nte de Buenos Aires, assoc iaram-se a todas as manifestações de pesar por parte cios seus numeros íssimos ami gos.

De tradicional família de Buenos Aires, Horácio Black distinguiu-se sempre por sua grande capacidade e dedicação. Pela amenidade de seu trato e sobretudo por suas altas virtudes cristãs, tornou-se excepcionalmente benquisto não só entre os sócios e cooperadores da TFP argentina, corno também da TFP bras ileira. Ainda jovem estudante, empenhouse na difusão cios ideais da TFP nos meios estudantis da capital portenha. Anos mais tarde, como caravanista da entidade percorreu muitas províncias de seu país, em contato direto com o púb lico. Prestou também valiosa co la-

Horácio E. Black

boração às TFPs do Chile e do Uruguai . Desde 1980, dedicou-se a amplas e lúc idas pesq uisas de caráter histórico e sociológico, tendo manifestado marcante interesse pela História brasileira.

O velório realizou-se na Sede Social da TFP na capital pau li stana, seguido ele sepulta.mente no j azigo ela entidade no Cemitério ela Consolação. O féretro fo i acompanhado a pé por várias centenas de sóc ios e cooperadores ela TFP, com suas capas rubras. No gra nde cortejo fi gurou também d zcnas de estandartes e a fa nfarra el a TFP que executou rnarchas e toques fúnebres. O

'l\[p centro a imagem de 'l\[pssa Senhora da (jrade como dístico: ''O fia6itante de Liífe dirá: 'Eia é nossa esperança"; no canto superior esquerdo, o tosão de Ouro, à direita, a visão da princesa Jlermengarda. 'Em6ai~_o1 a Catedral e Liífe, a ciáade da Virgem

.91. céfe6re comenda cío Tosão cíe Ouro


9-{ão será este o fi[fw de 'Davi?"

11

Então trouxeram a Jesu s um endemoninhado cego e mudo. E Ele o curou , de modo que o mud o podia falar e ver. Toda a multidão fi co u espantada e pôs-se a dizer: " Não será este o F ilho ele Davi?" Mas os farise us, o uvindo isto, di sseram : "Ele não expul sa demôni os se não por Belzeb u, príncipe dos demônios". Conhecendo seus pensamentos , Jes us lhes di sse: "Todo re ino dividido contra si mesmo acaba em ruína, e nenhuma c idade o u casa dividida contra si mes ma pode-

rá s ubs istir. Ora , se Satanás exp ul sa a Satanás, está dividido co ntra si mes mo. Co mo poderá subsistir, e ntão o seu reinado? Se e u expul so os demônios por Belzebu , por que m os expul sa m os vossos filho s? Por isso, eles mes mos serão os vos sos juízes. Q ue m não está a meu favor, está co ntra mim , e que m não recolhe co mi go, dispersa. (S ão Mateu s 12,

22, 24-27 , 30)

'E[e via até o fundo dos corações Comentários compi[aáos por Santo Tomá.s áe .521..quino na ((Catena .521..urea" São Jerônimo - Atribuíam os fa ri seus ao prín cipe dos demônios as obras de Deus: o Senh or não respo nde às palavras , mas aos pensa mentos de les, para fazer- lhes crer desta maneira em seu poder e ensinar-lhes que E le via até o fundo de seus corações. O Senho r arg umenta co ntra os fa ri seus co m um dil e ma irres istível. Porque se C ri sto lança o demô ni o para fora, E le o faz pelo poder de Deus o u pelo poder do príncipe dos demônios (como dizem caluni osame nte os fa ri se us). Se o faz pe lo poder de Deus, não há motivo para O ca luni are m. Se o fi zesse pelo poder do prínc ipe dos de mô nios, se u re in o esta ri a dividido , e não poderia manter-se de pé .

O Senhor, por me io de um a resposta adeq uada, obri ga os jude us a co nfessarem que seme lh a nte o bra é própria do Es pírito Sa nto. E di z Jes us: Se a ex pul são cios demôn ios em vos sos filhos é obra ele Deus e não cios demôn ios, por qu e e m mim não se há ele reconhecer a mes ma causa? E les, portanto , se rão vossos juízes, não por um poder que lhes fo i dado para isso, mas po rque e les reconhecem a Deus como autor ela ex pul são cios demônios, e vós, farise us, reco nh ece is ao prínc ipe dos de mô nios. E se estas pa lavras se referi ssem aos Apósto los, e les serão seus juízes, também porqu e se sentarão sobre doze tronos para julga re m as do ze tribo s de Israe l (como dirá o Evange li sta mais ad iante).

'Em refação a Jesus, a neutra[iáade é impossíve[ Comentários áo Pe . .Luís C[áuáio :Ji[[ion Após o ep isód io co m os parentes ele Jes us, aprese ntaram a E le um possesso cego e mudo . E le ex pul so u o demôn io, e o e nfer mo recobrou no mes mo in stante a fa la e a vi sta, pois a ceg ue ira e a mudez e ram neste caso efe ito el a possessão. O asso mbro ela num erosa multidão c hego u a seu auge: "N ão será es te o F ilh o el e Dav i?" (ou seja, o M ess ias) - perguntavam-se un s aos outros. A multidão ficava s uspe nsa e perplexa, na a lternativa ele afi rmá- lo ou negá- lo , contudo in clina ndo-se mai s à afirmação. Ve mos e m meio à mul tidão fa ri seus e escri bas , mui tos vindos ele Jerusalém co m a úni ca fin a li dade ele espion are m a Jes us e ele contradi zê-Lo. Se apenas um de les levantasse a voz, di zendo que Jes us era e m verdade o Mess ias, como seus mil ag res o prov ava m , no mes mo i·nstante tod o o povo teria ac reditado nE le. Mas e les farão o contrári o. O divino Mestre, cuja pac iência ig ua lava a s ua misericórd ia, nem se mpre costumava res ponder às injúrias lançadas contra E le por seus inimi gos. Mas, desta vez, a ca lúni a era muito grave para E le fic ar e m sil ê ncio. E le vai , porta nto, refutá- lo e m reg ra , com uma defesa c uj a se renid ade e lu cidez, cuja força e sabedoria os séculos jamai s cessa rão ele admirar. Sua réplica te m du as partes. Na prime ira Jes us se põe na defensi va, derrubando a monstru osa hipótese ele se us adver-

sári os com arg ume ntos irrefutáve is tirados ela razão e ela experiê ncia : "Todo re in o dividido co nt ra s i mes mo será destruído, e uma casa clivicl icla cam in ha para s ua ruín a. Se , poi s, Satanás es tá também clivicliclo co ntra si mes mo, co mo poderá fi car el e pé o seu reino? Já que d ize is q ue c u exp ul so os demônios por obra de Be lzebu , po r força ele qu em os exp ul sam vossos f ilh os? Portanto e les mes mos serão vossos juízes. Mas se e u lanço fora os demônios pelo Es pírito de Deus , é ev ide nte que chegou até vós o re in o de Deus". A segunda parte ela ré pli ca co ntém um a advertê nc ia e um av iso be m séri o: "Q ue m não está co mi go, está co ntra mim. Quem não reco lhe co mi go, dispersa". Hav ia e m vo lta muitas pessoas vac il antes, vo lúve is, indec isas, q ue movid as pe los milagres de Jesu , de um lado se admirava m, impress io nand o-se ao mesmo te mpo com os arg ume ntos dos fa ri se us, e não sabiam a que ate r-se. Jesus lhes diz q ue e m re lação a E le a neutralidade é impossível. Não há posi ção de me io termo q uando se trata exatamente de princípios , pois e m tal caso a indi fere nça é oposição. Pe. Lui s Cláudio Fi llion , Nuestro Sefíor Jesucristo según los evangelios, Ed itorial Difusión, Tucum án, 1859, pp. 158-9.

1\[pssa Senhora da {jrade, Padroeira de Li[[e (L i[[e - ~rança1 14 de junfw) A França é o país el as belas catedrais, qu e bem exprimem a Fé, o a mor ele De us, o desejo de perfe ição, a es perança do céu ela Filha primogênita da Igreja. A maj es tade el a catedra l ele Notre- Dame e o espl endor da Santa Ca pe la, em Pa ri s, são paradigmas el a arte góti ca e m seu a poge u. As catedrais el e C hartres e Bourges arrebatam o es pírito sobretudo pe la mag nifi cênci a ele seus vitrai s . Re im s, o nd e eram sagrados os re is, sobressai por sua grandi os idade sacra!. Não menos famosa é a catedral ele Nossa Senhora ela Grade, ela cidade ele Lill e, s ituada junto à fronteira co m a Bé lg ica. Essa ig rej a é ele co nstru ção recente, poi s fo i concluíd a em fin s cio século passado. O grande arq uiteto Violl et- le-Duc afirmou que essa catedra l seria "a

obra-prima do século XIX".

Aparição de Nossa Senhora - As o ri gens ela devoção à Virgem el a Grade remontam ao séc ul o VI. Perseg uida pe lo Co nd e F in aert, a princesa Herme ngarcla, qu e estava ges tante, refu g iou-se num fron doso bosque, onde jun to a urn a fonte apareceu - lh e a Sa ntíssima Virge m, promete ndo proteção. Não muito te mpo a pós, nasceu-lhe um robusto e be lo menino, o qua l, infe li zme nte, teve que ser aba ndonado no loca l, e nquanto a princesa e mpreendia arriscada fu ga ao se r descoberta pe los esb irros de se u perseg uidor. Mas a Virge m velav a pela c ri a nça. O menino fo i reco lhid o por um e re mita, que lhe de u só li da fo rm ação cristã. Liclerico, como foi bati zado , cresceu co m a a lm a ele um verdade iro cava le iro. Co nta a legend a que, anos depoi s, L iderico due lo u e mato u o ímp io Finaert. Em agradec im ento por ta l heró ico feito de arm as, o re i presenteou-o com um castelo e um feudo na reg ião onde nascera. Seus des cencle ntes tornaram-se os Condes ele Fla ndres.

nicl ade os pedidos de seus de votos, para os apresentar ao Sen ho r cios Se nhores e Re i cios Re is. No ano de 1254, ocorreram muitas c uras mil ag rosas, o que ex pandiu na França a devoção a esse nov o título da Rainha ci o Cé u e ela terra. São Luís IX , o Re i cruzado, a i i esteve a fim ele oferecer s ua coroa ele ouro à Jmage m milag rosa, e m 1255.

Instituição da Ordem do Tosão de Ouro - No séc ulo XV, o santu ári o foi mag nifi came nte res taurado e e ng randec ido pelo Duque el e Borgonh a, Fe lipe UI, o Bo m. Este nobre era proprietário de vas tos domíni os , que co mpree ndi a m o Fra nco-Co nd ado, Flandres, Artoi s e várias províncias ela Bé lg ica atua l. Sem dúvida, podia ser considerado como um cios mai s pode rosos senho res feudai s da Europa de então. O ra, fo i exatamente sob os a us pícios el e Nossa Senh o ra da Grade que esse Duque ele Bo rgo nh a, em 1429, dec idiu in stituir a Ordem de Cava laria do To são de Ouro, qu e s ubs iste até nossos dias e ab ri go u, desde seus primórdios, a fina fl o r da nobreza e uropéia. A Ordem passo u à Casa d' Áustri a e de pois à Espanha. Seu símbo lo é a lanugem e m ouro de um pequ e no corde iro. Atualm e nte é um a ho nrosa condecoração, com col a r de ouro o u fita vermelha, ela qual pende um corde iro. Na prim eira pág ina deste Cade rn o Especial reproduzimos a im age m ele Nossa Senh ora ela Grade, que se venera na c id ade france sa el e L i l le. T udo aí tem a lto valor s imbó li co: a co roa sig nifi ca a real eza; o cetro, o pode r; o g lobo, o mundo e a flor ele lis, a pureza. Co mo era muito comum e m tod a a Idade Médi a, a escul tura é ele autor desco nhec ido . Esse esp írito ele humi ldade e a non imato desaparece u comp letamente co m a Renasce nça, quando os artistas primavam por deixar c laro a auto ri a ele suas obras.

A imagem não pode ser consid e rada uma ob ra-p ri E m ra zão ele muitas vici ss itudes, o caste lo de Lidema ele esc ultu ra. Não obsta nte, a face ela Virge m fo i ri co desfez-se e m ruínas. Mas quatro séc ulos de pois , esculpida com muita g raça e leveza, e está delicadajunto ao qu e so brara desse castelo, foi erg uid a a c idame nte voltada para o M e nino .l es L;s. de ele Li l le. E m 1066 o co nde Ba ld u ín o, o P iedoso, Protetora em todas as nossas dificuldades - Sofez construir as muralhas e uma mag níf ica igrej a, na fre mos hoje as in s ídias de uma soc iedade neo pagã na qual dedicou uma cape la es pec ial a Nossa Senhora, qua l se co mete m as mais o usadas ofensas à maj estade sendo a li e ntroni zada a nti ga e be la imagem da Mãe ele · divi na: A fim de pe rm anecermos fi éis aos Dez Man Deus, qu e tomou o títul o de Nossa Senhora da Grade. damentos, necess itamos de proteção es pec ialíss im a, O nome pode soar estra nho aos ouv id os bras i leiPara isso nos va lha Nossa Se nhora el a Grade, ela c idaros . Ocorre qu e, naqueles tempos, o g uardi ão de um de ele L ill e, que tão mate rn alme nte protegeu a princecaste lo rece bia, através de uma grade, os pedidos ci o sa e se u filho L iclerico. povo ao senhor fe udal. Ora, diante ela veneráve l im aFo nte de referência: gem sentada de Nos sa Senhora foi co locada ig ua lme nVit' des Saint,\' illus1rées 1w11r 1011s fl,s jours de l 'a1111 é , Maison de la Bo1111c Prcssr.:, te uma g rade, a s imbo li zar que E la aco lhi a com be ni gP.i ri :-.. s/d. pp.850 e 85 1.


/ NACIONAL /

História Sagrada

em seu lar (56) - noções básicas

dores, o mais subi ime dos filósofos e o mais sábio dos legisladores" (2). E le morre u " sem nenhuma recompensa na terra, numa época em que Deus as concedia tão liberalmente. Aarão tem o sacerdócio para si e sua posteridade; Ca leb e sua família são providos magn!/1camente; outras pessoas recebem dons; Moisés, nada. Não se sabe o que sucedeu com sua família. É um. personagem público nascido para o bem do mundo" (3).

,r

Moisés: depois de Jesus Cristo, o maior homem que a História já conheceu

Moisés foi uma imagem viva do Salvador, perseguido e entregue a todas as ignomínias

O mais extraord in ário em MoiMoisés fo i um homem tão ex- · sés é a grande analogia entre sua traordinário, que a Sagrada Escripessoa e Nosso Senhor Jesus Cristura e renomados historiadores e to. Com muita propriedade, escreescritores lhe teceram os e logios ve Mons. Cau ly : mais enaltecedores. Moi sés "e ra o mais manso dos hom ens que havia na terra" (Números 12,3). Ele possuia a perfeita mansidão , em oposição harmônica à virtude da có lera santa, de que deu também magníficas demonstrações .

"Moisés foi amado por Deus e pelos homens; a sua memória é abençoada. O Senhor .fê- lo semelhante em glória aos santos, engrandeceu-o e tornou-o terrível aos seus inimigos. Pela sua fé e mansidão o santificou, e o escolheu dentre todos os homens" (Eclesiástico. 45, 1-4).

"Moisés libertou o povo de Is rael da servidão do Egito; Jesus Cristo libertará todos os homens da escravidão do pecado. Ambos

Suspensão de novas desapropriações até que sejam publicados os resultados obtidos pela Reforma Agrária, já aplicada no Brasil, é o pedido do SOS Fazendeiro e de 30.310 brasileiros apresentado em audiência com o Ministro da Agricultura e da Reforma Agrária.

"Mo isés deu aos israelitas as prescrições do Sinai. Nosso Senhor deu ao gênero humano a lei evangélica; a primeira, imperfeita ain da, e figurativa , só teria uma existência limitada; a segunda, perfeita e definitiva, há de durar até a consumação dos séculos. Mas a religião judaica vaticina a Religião cristã e a traz por assim di zer no seio. "E,~fim, Moisés pôde levar a efe ito sua missão só a custo de muitos sofrimentos . .. .. Sua fu ga de improviso, as revoltas do povo ju daico, sua vida sempre f eita de imolação e sacrU'ício o tornaram u.111a imag em viva do Salvador perseguido e entregue a todas as ignomínias. Moisés soube quanto custa sa lvar os jtlhos de Deus, e ensinou assim, de longe, quanto havia de custar um dia ao Salvador do mundo uma libertação muito mais importante" (4). O Notas : (1) São João Bosco, História _Sagrada, Livraria Editora Sales,ana, Sao Paulo, 1965, 14@ed ., p. 87. (2) Jacques-Bénigne Bossuet, ~ispo de Meaux (França), Oiscours sur I H1sto1re Universelle, Garnier-Flammarion, Pari s,

São João Bosco considera-o "homem extraordinário,

1966, p. 47.

(3) Idem, apud Pe. Rohrbacher , Histoire Universelle de l'Eglise Cathoilque, Gaume Frs ., Paris, 1842, tomo 1, p.

grande santo, sumo profeta, leg islador insígne, taumaturgo prodigioso" ( 1).

500.

Bossuet o descreve como

"o mais antigo dos historia-

Nuvem de incógnitas paira sobre a Reforma Agrária no Brasil

passaram no Egito os primeiros anos de sua vida. Quarenta anos de exílio foram o preparo do Salvador de Isra el para o cabal desempenho de sua missão, e quarenta dias de retiro e de penitência serão o preparo de Jesus para a sua missão de Salvador do mundo.

Agonia no Horto das Oliveiras. Há grande ~nalogia entre Moisés e Nosso Senhor Jesus Cristo

(4) Mons . Cauly, [!urso de . ln~ trução Religiosa - Históna da Rellg,ao e ~a Igreja, Livraria Francisco Alves, Sao Paulo, 1913, pp. 86-88.

Diante do edifício do Congresso Nacional, parte da delegação de SOS Fazendeiro

A

campanha SOS Fazendeiro, coo rd e-

nada pela TFP, orga ni zo u em dezembro úlLi mo uma cole ta de assinaturas, pedindo ao então Presi dente e le ito, Prof. Fernando Henrique Cardoso, que suspendesse as desapropriações de novas áreas para a Reforma Agrár ia enquanto não fosse reali zado um est ud o sér io sobre o que foi feito

com tanta terra desapropriada e quais os resultados obtidos pelos assentamentos. Pediase também que, após tal estudo, fossepromov idou mde bale nacional co m todas as entidades interessadas, quer de proprietários quer de lrabalh adoresmanua is. Em resposta a esse pedido, a coordenação da campanha recebeu do Gab inete Pessoal

do Presidente da República a informação de que o ass unto fora encaminhado ao Ministério da Agricultura,do Abastecimento e da Reforma Agrária. SOS Fazendeiro deu, então, início a outra co leta de assinat uras, pedindo ao Sr. Ministro José Eduard o Andrade Vieira as mesm as provid ências. Ma is de 30.000 ass in at uras foram prontamente co lhid as.

Algum tempo depois o Governo decretou a desapropriaçãode 885.2 1 1,2369 hecta res, em 2 1 Estados da Federação (ver D.0.U., de 25 e 28-3-95), a lé m dos 74.622 ,3975 hectares que havia desapropriado logo na primeira quinzena de janeiro (D.0.U., 13-1-95).


Mais de 7 milhões de hectares desapropriados sinais de fracassQ evidentes

,

Desde a promul gação cio Estatuto da Terra pelo gove rn o Caste lo Branco e m 1964, até o fim cio go verno ci o Pres idente Itamar Franco, fo r a m d esa propri a d os 6.392.748 hectares ele terra. So mando-se a esse número a área desapropri ada pelo gove rn o el e Fern and o He nri que, ac ima referida, atin gese um total' ele 7 .352.58 1 hectares, o qu e equival e a um a vez e meia o Estado cio Ri o el e Janeiro.

A Co,ifederação Na cional das Assoc iações dos Servidores do IN CRA (C NAS I) reco nh ece, no se u estudo INCRA - Enlre o Co ncre/o e o So nho da Ref o rma Ag rária , o caos e a falta ele dados com que vêm sendo tom adas as ini ciativas agro-reformi stas e a imposs ibilid ade ele se fa zer com a atu al estrutu ra cio órgão uma Reform a Agrári a ordenada. Nesse contex to, fracassada ou fo rtemente co mprometida pelos seus maus frutos a apli cação ela Reforma Agrária (durante 30 anos !), o tema co ntinua a ser polêmi co em todo o Bras il.

As leis que impulsionam a Reforma Agrária são de constitucionalidade duvidosa

Assentamentos espalharam-se pelo Brasil, a maioria deles apontados como tendo-se transformado em favelas rurais. Ho rd as ele se m - te rr a , re unid as pe lo Movimenlo dos Sem -Te rra (M ST) , vêm inv adindo propri edades em qu ase todos os estados. A Ju sti ça tem co ncedido inú meras· reintegrações ele posse, para liberar as terras in vadid as. Mas, muitas áreas es bulhaclas fo ram desapropri adas e entregues aos inv asores, sob a fo rma ele assentamentos.

--

A Constitui ção ele 1988 esta be lece u o co nce ito el e " te rra produti va". A le i agrári a ele fevereiro el e 1993 deixou ao arb ítri o cios fun cionári os cio IN CRA a fi xação cios índi ces para que a terra seja co nsiderada " produti va." Os pr o pri etá ri os pareciam co mpl etamente des proteg idos. Mas, por ocas ião ela inv asão, seg uid a ele des pejo cios invasores e reinv asões el a Fa zenda Jangada, em Getu lin a (S P), em fin s ele 1993 , a Ju stiça Federal acabou anu -

!anel o o dec reto ex propri atóri u. Fora m co nstatad as na perícia judicial a id oneid ade cio laudo apresentado pelo proprietári o e a falta ele valor cios dados co m qu e o IN CRA havia in struído o processo ele desapropri ação. Ou sej a, o laudo cio IN CRA não correspondia à rea lidade ci o que se enco ntrav a naquela propri edade rural. No di a 29 ele março o Mi ni stro Maurício Corrêa, cio Supremo Tribun al Federal, co ncedeu limin ar em mandado ele segurança susta ndo os efeitos ele uma desapropri ação, cio pacote cio Sr. Fern ando Henrique Ca rdoso, el a Fazenda Santo Antonio , no mu nicípi o ele Pauli céia (S P). E no di a 25 ele abril o Mini s tro Ma rco A ur é li o Mello, também cio STF, co ncedeu lim inar sustand o os e feitos ele outra desa pro pri ação, ela Fa zenda Monte Azul, em Querência ci o Norlc (PR) - cio mes mo pacote - co m base cm razões que co loca m em dú vida a própri a constitu cionalid ade da Lei Agrária. Até que essa pendência judicial es teja reso lvida pela Suprema Co rte, esta é outra razão para que os co nfi scos sej am sustados.

Ministro da Agricultura recebe 30.31 O petições Em audi ência de aprox imadamente 30 minuto , conced ida em 17 de ma io últim o pelo Mini stro da Agri cul tura e Refo rm a Agrári a, um a de legação organi zada pela T FP, inc luin do também sacerdotes , representantes ele sindi catos , produtores e trabal hacl o res Parte da comissão de SOS Fazendeiro, na audiência com o Ministro da Agricultura e da Reforma Agrária , exibe faixa alusiva à campanha de 30.310 petições

O Revmo.Cônego José Luís Villac tendo à esquerda o Revmo.Padr~ Gervásio Gobatto, apresenta razões par~ se evitar desapropriações de carater confiscatório

rurai s, efetuou a entrega das 30.3 1O peti ções obtidas pelo SOS Fazendeiro. Vári os produtores apresentaram as reivindi cações ela classe, com ca lor. Esta fo i a primeira reação cios agropecuari stas co ntra o pacote lc desaprop ri ações ele quase um milhão de hecta res , decretado pelo Pres idente Fernando Henrique Cardoso em seus primeiros 90 di as de governo. Afirm ando que o homem cio campo vive sob a ameaça co ntínu a el e um a desa propri ação confiscatóri a, suj eito ao arbítri o ele um simpl es laudo do IN CRA, o pedido e nca minh ado ao Mini stro não pode deixa r ele ser atendido. Aco mp anh ada pelo deputado Lae l Vare ila, a comi ssão fo i recebida pe'I~ Mi ni stro em um cios gabinetes ela Câmara cios Deputados. Fazendo sentir ao Sr. Andrade Vi eira a in segurança cm que vi ve o produtor ru ra l, a delegação ex primiu sua in confo rmid ade di ante el a ação co nfi scatóri a cio lN CRA e pediu a tran sparência cios dados sobre a exec ução el a Refo rma Agrári a nas terras já desapropri adas como condi ção prév ia para que novos dec re tos cl esapro pri ató ri os sejam edi tados .

Sem a tran sparência que a pub licação desses dados proporcionari a - argumentou um ci os prese ntes - pa rece po uco lóg ico co ntinu a r a confi scar e a atend er à pressão ci o MST, qu ando são inúmeras as ac usações ele qu e os assentam entos só tem prod uzido verd adeiras fave las ru rai s. Apesa r ele ter prometid o leva r o ass unto aos órgãos co mpetentes cio seu Mini stéri o, o Sr. And rade Vi eira se mos tro u po uco sensível ao apelo ele 30.000 brasil eiros, que pedem a publi cação cios res ul tados obtid os até agora pela Refo rm a Agrári a, co mo co ndi ção prév ia para se con tinu ar as desapro pri ações. Agradeceu a vi sita ela de legação e dec larou que a lei o obri ga a fazer novas desapropri ações; todav ia, reafirm ou o propós ito, j á anteri ormente anunciado, ele não ex propri ar terras invadidas pelo MST.

Ministro conseguirá realizar nova política agrária? Di ante dessas clifi culcl acles, o Governo parece estar alterando sua posição. Em 12 ele mai o último foi exonerado o pres idente cio INCRA , Sr. Marcos Lins, que

fora indi cado pelo PPS (exPCB), sendo substituído por um fazendeiro cio Paraná, o Sr. Brasílio ele Araúj o. Nesse mes mo dia, o Sr. Mini stro Andrade Vi eira pu blicou arti go em alguns órgãos ele imprensa, apresentando um novo es til o ele Reform a Agrári a jamai s preconi zado pelos govern os anteri ores : a utili zação ele terras públi cas para os assentamentos e a ass istência técni ca aos pequenos propri etário s até hoj e pouco atendid os pe la po líti ca ag ríco la go ve rnamental. Reafirmou, também, o seu propós ito ele não confis car mai s áreas invadid as pelos sern-terra. Uma po líti ca agrári a nesses moldes - sem co nfi sco e não atentatória ao direito ele pro pri edade - co mo a TFP ve m defendendo há 35 anos, poderi a co nstituir um plano ele elevado alcance social. Conseguirá o Sr. Mini stro efeti vá-lo?

É preciso desfazer a nuvem de mistério que paira sobre a Reforma Agrária Nes ta época ele cri se, em que vári os produtos agrícolas são venci idos a preços i n, . feri a res ao custo ele produ ção, não é justo qu e o Governo ainda mantenha sobre o ·etor rural a ameaça de um a Refo rm a Ag rária confi scatóri a. Morm ente se não se co-

o Ministro Andrade Vieira dirige-se à delegação de SOS Fazendeiro, tendo em frente as 30.31 O petições encadernadas. A sua direita, o dep.federal Lael Varella (PFL-MG) e o Eng.Agr.José Antonio Moreira Pinto, Presidente do Sindicato Rural de Miracema e Vice-Presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro

nh ece m dados qu e ju stifi qu em essa Reforma Agrári a. Ela é má para os produtores, qu e já trabalham tendo uma espada de Dâmocles cio co nfi sco pendente so bre a cabeça. É má para os trabalbaclores, qu e têm e_mprego e poderão perdê-lo. E má para os sem -terra, que se vêe m enga nad os e ficam perambulando ele in vasão em invasão, el e assentamento e m assentamento, à bu sca ele uma propri edade que talv ez nunca será s ua. Só é boa para os ag it a dores profi ss ionai s, para o c lero ele esquerda e para quem, com outras intenções, está por trás cio MST. Espera mos qu e o Sr. Mi ni stro Andrade Vieira aco lh a e atenda a so licitação desses milh ares ele bras il eiros, que a ele reco rrem com tão justo pedido. Suspendendo novas desapropriações - até que sej am pub licados os dados so-

bre o qu e foi feito com as terra s desa propri adas para Reforma Agrári a e os res u1taclos a que chegaram os asse ntamentos já real izaclos - o Governo mos trará sua real intenção ele empree nder as re form as neces sárias para qu e a eco nomia bra sileira vo lte a prosperar nas mãos ela ini ciati va privad a. Foi esta que manteve o Brasil viável enqu anto a burocracia soc iali sta produ zia desastres no mundo inte iro. É prec iso des fazer essa nuvem ele mi stério qu e paira so bre a Re forma Agrária no Brasil. Se e la é e fica z, qu e se publiquem os dados . Se não o é, por qu e continuar confi sca ndo? O qu e não se pode conceber é qu e a ameaça permaneça sobre a cabeça ci os produtores enquanto os res u ltacl os o btid os não são aprese ntados. Plínio V. Xavier da Silveira


santa oração, nem leu espírito de piedade".

HAGIOGRAFIA

Santo Antonio, glória e ornato da Ordem Franciscana Por ocasião das celebrações dos 800 anos do nascimento de Santo Antonio de Pádua) alguns traços da vida e obra daquele que é conhecido como ((martelo dos hereges ((Arca da Aliança (cescrínio das Sagradas Escrituras ) ((Chave de Ouro ) ((Of'icina de Milagres ((Doutor do 'J Evangelho ((Doutor e Lume da Igreja 11 )

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"servo inútil ", fu g indo de todos os ca rgos e di g nidades, procurando sempre realizar as funções infe ri o res e reco lhe r-se na bemave nturada so lidão. Em marav ilhoso contraste co m tais di s pos ições de a lma, quando as c irc un stâ nc ias o ex ig iam, sabia dar mostras de uma força e coragem ad miráveis. Desde os prim e iros anos de vida re li g iosa e m Coimbra, teve Santo Antonio no tíc ia dos feitos ex traordin á ri os dos c inco primeiros mártires fran ciscanos que, levando a R e li g ião cató li ca aos muç ulm a nos cio Norte da Áfri ca, a li verteram o sang ue por Nosso Senhor Jesus Cristo. Infl a mado no desejo de ser apósto lo e má rtir, so lic ito u ins tantemente a pe rmi ssão para partic ipar dessas mi ssões, a fim de expa ndir o re ino de Santo Antonio - Escola de Giotto (Sec. XIV), Basílica de Cristo pela pregação e, se necesSanto Antonio, Pádua sário, pelo martíri o . Realmente, o Santo a lcançou o a O rde m Seráfica de São Francisco arrebatadora qu e inflamava as multi litoral da África. Acometido pouco deo ca minho da c ultura e dos es tudos teodões, Santo Antonio é, a justo títu lo , pois por grave doença, foi o bri gado, a lóg icos, particularmente voltados ao glória e ornato da Ordem F ranciscana, retornar a Po rtu ga l. N o pe rc urso, desencombate às heres ias cátara e albigense · apesar de s ua breve ex istê nc ia de apenas cadeou-se fo rte tempestade e a nau , por (*). 36 a nos. disposição da Providência Divina, foi Desenvolveu inte nso re laciona menEnergia e coragem impe lida para a Itália. to com as Universidades de Bo lonha, M algrado a superabundâ ncia dos Tolosa, Montpelliere, Pádua; colaborou dons da natureza que ornavam sua alma, estre itamente com os re li g iosos be nedi Ali c hegando, reso lve u ir até Ass is, Santo Antonio c ultivou sempre a humil tinos e dominicanos ; censurou energ io nde e ncontrou -se com São Fra nc isco. dade e a renúncia , fundam entos de todas ca me nte Bispos e padres que esca ndali Nessa ocas ião o seráfico Patriarca conas virtudes c ristãs. zavam o povo. cedeu a Santo Antonio o múnu s de e n-

e modo gera l, o co nceito e m que é tido e ntre o povo fiel o glorioso Santo Antonio ( 11 95-1231) não vai muito a lé m de cons iderá- lo como "o sa nto casa mente iro" e aque le que "enco ntra objetos pe rdidos" . Ta l vi são s upe rfic ial , descuidada e, em certo sentido, prejudicial para um a autêntica piedade, revela quanto a verdadeira fisionomia moral desse santo é desconhecida. Fernando, co mo foi bati zado, procedi a de nobre linhagem portu g uesa. Recebe u formação agost ini a na e, j ovem ainda tornou-se fran ciscano co m o nome de Fre i Antoni o de Sa nta C ru z. É conhecido como Santo Antonio de Lisboa, pelo loca l de seu nasc im e nto, e como de Pádua, c idade onde veio a falecer . E m contras te harmô ni co co m o esp írito inc utido pe lo seu Pai e Fund ado r, Santo Antonio abre para

Contemplativo, místico, inte lectual vigoroso, mestre e escritor procurado pe los e ruditos, pregador de e loqüênci a

E mbora São Francisco de Assis lhe desse o título honorífi co de " me u Bispo", Santo Antonio cons iderava-se um

s in a r aos frades: "é de meu agrado que

ensines Teologia aos irmãos, desde que, em !ai tarefa não se apague leu zelo pela

que as aves haviam desaparec ido. Após e ncontra- lo , reza ndo devotamente, te ve c lara ex p li cação do oco rri clo ao ab1·1·,. a porta da capela, quando um banclo de pas sa rinhos voo u para longe. Dive rsas crôn icas da é poca relatam ~orno Santo Antonio li vrou seu pai da forca, a que havia s ido condenado por supoSto crime de homicídio. Simplesme nte ress usc itou O morto, para que revelasse quem rea lm ente o havia matado.

Em o utra cidade da França, Montpe llr er, de u-se uma bilocação, is to é, 0 Eloqu·· ente Preg a d or m1·1agre d e se estar em doi s Iuga res ao · prego u em p ortugal, ,Santo . A n torno mes mo tempo. N um a igreja, como de na A fnc a, na Jtál ia e na França. Se u zelo costume re pleta de fi é is, enq uanto prele vava-o a inte ressar-se por qu a lque r gava do púlpito Santo Antonio se deu um que estivesse na indi gência da ve rconta de que es tava incumb ido de acodade cató li ca. litar a Mi ssa no convento, e que se esDe tal man eira cativava as multidõqu ecera comp le tame nte de providen es com s ua e loqü ê ncia, que se us ouv in c iar s ubstituto. Com toda naturalidad e tes, vindos de todas as partes, esquefez o serm ão e ao mesmo te mpo aco li c 1am-se d o te mpo e de suas ocupações tou a Mi ssa ... e, tocados profundame nte, punham -se E m certa cidade, os hereges recusaSanto Antonio faleceu em Pádua a 13 co m decisão a odiar os seus pecados. ram-seaouv i-lo. Santo Antonio dirigiu seu de junho de 1231, tendo sido canoni zado sermão aos peixes, os quais deram mostra , p· Martelo dos hereges 'apenas o ,1ze meses apos. XJJ , e m Na acalo1·acla co11t1·ove'1·s,·a sob1·e tL1 de escutá-lo com atenção. Tal milagre oca1946, proclamou-o Doutor da Igreja. . . sionou inúmeras conversões. D d , e uma pureza angélica , esse teó loo com os cata ros e a lbi genses, o campo A tradi ção nos conta qu e, estando O , 1 ela s di sputas foi com frego notave poss uía uma de voção ternísqü ê nci a O elas Sagradas Es- , -/~ - - - - - - - - - - - - - - -1 - :--J.-------~ s ima à Nossa Senhora e nc ri turas, que os heré ti cos ci,, quanto Assunla aos céus , tavam amplamente e ele cor. doutrina que seria declarada Aí sobressaiu -se el e modo dog ma a pe nas e m 1950. Eis ass in alado Santo Antônio de uma das muitas invocações Pádua, c ujos célebres Serque e le diri g ia à Medi ane ira mões se originaram por elesunive rsal de todas as g raças: sa necess idade po lêm ica. " Nós /e suplicamos, ó No s ul da França, os a lbiSenhora nossa, a.firn de que genses eram tão fortes que, lu, estrela do mar,faças rescom suas denúncias conseplandecer a lua lu z sobre g uiram fazer expul sar alguns nós aço itados pelas tempesBi spos corruptos. Ademais, tades, e nos conduzas ao faziam pressões sobre os fiéis porto, confortando com a no sentido de induzi - los a não tua presença a nossa última pagar impostos, e atacavam hora, para que possamos os ec les iásticos proprietários sair em paz eles/e luga r e de terras. Alg umas autoriclachega r aleg res à inefável eles apoiavam os rebeldes não bem-aventurança do Céu. tanto por s impatias heréticas, Assim seja". quanto pelo motivo ele que as Luís Carlos Azevedo di sputas dava m-lhes oportu(*) Cátaros (p uros, em grego) ou nielade de assenhorear-se dos albi genses: des igna movimcnben s ela Ig reja. to herético na Europa do séc ulo XII. Seus seguidores repudiaMilagres vamo matrimônio, a autoriclaSão inco ntáveis os "s iele ec les iás tica, os Sacramennai s e prodíg ios" que Deus tos, a ve neração elas imagens mani fes to u alravés ele Sa nto etc. Acreditavam na reencarnaAntonio . Apenas para cxemção. Foram condenados repetiplificar, citamos alg un s. S elas vezes, e finalmente repria nto reco lhido no co nve nto, e m oração rniclos através ele ex pedi ções Martinho, pai cio Sa nto, e ra senhor e e ntreg ue ao estudo das Sagradas Esmilitares. de vastas terras. Certa vez incumbiu O crituras, o Me nino Jesus lhe apareceu , FONTES DE REFERÊ NCIA fi.lho de espa ntar os pássa ros que csvoaestrc1tanclo-o co m seus braços , entre ós1. Pio XI , Ca rta Aposlólica A11to11ia11a solçavam sobre uma plantação el e trigo . c u los e car íc ias. lemnia , de 1° ele Março ele 193 1. rapaz, no e nta nto, sentindo-se a traíd o

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para uma ca pe la viz inh a, excog ito u um me io ele conci li a r: sua piedade com a obediênc ia à o rdem do pai. Desta forma, mandou que as a ves e ntrassem co m ele na capela . Martinho, ao voltar, irritou-se muito por não ter e ncontrado o filho no local. Pôs-se e ntão a procurá- lo, sem notar

Na c idade fra ncesa de Arles, e nquanto e le pregava co ntra os he reo-es a . b respeito de C ri sto Redentor, São Franc isco de Assis, que se e nco ntrav a na Itália, aparece u pairando no a r com os braços e m forma de cru z, como qu e a co nfirmar o e ns in a me nto de Santo Antonio .

2. Pio Xlf, Carta Apostólica Ad pe,petua,11 , ele 16 de Janeiro de 1946. 3. Dom Prospcr Guéranger, L 'A 1111ée Liturg ique - le te111ps apres la Pentecôle, to rno li[, Maison Alfred Mame cl Fil s, Tours , 1922.

4. Pao lo Scanclalctti , Antonio de Pádua, Ed itora Vozes, Petrópolis (RJ), 1993 .


Assi m se exp rim e a ind a Fre i Betto: "As mudanças no Leste euro-

Comunismo

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Lições inaproveitadas da História Apesar de agredidos pela realidade do estrepitoso fracasso ~omunista nos países situados atrás da antiga Cortina de Ferro alguns inveterados ma~:t~tas procuram salvar a fa ce sinistra do socialismo, mediante subterjugws baratos m 1989 ruía es trepitosamente o Muro de Berlim e subseq üentemente a Cortina de Ferro. O mun do então, na aton ia, ass istiu ao des file de horrores e misérias nos quai s jaziam, há décadas, as infeli zes nações submetidas ao jugo com uni sta. Com efeito, a mídia, na época, não poupou espaço às descrições patéticas dos padec imentos fís icos e psicológ icos causados pelos reg imes marxistas do Leste europeu , às suas infelizes popu lações. Mas tal não fo i suficiente para despertar de sua letargia a opini ão pública oc idental. Espantoso sobretudo fo i o fato - ali ás pouco comentado - ele esta mesma mídia, com natura li dade, ostentar sub itamente uma rea li dade que há décadas vinha sistematicamente escondendo. Ocul tando, sim, pois a muitos de seus profi ss iona is tal realidade não poderia ser desconhec ida, uma vez que gozava m ela sim patia cios dirigentes comunistas ele então, e tin ham li vre trânsito nos países ele além Cortina

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ou passivamente - por tão imensa catástrofe? Como foi possíve l manter, por tanto tempo , um tão grande número ele pessoas, na ig norância do que se passava por trás ela Cortina de Ferro?

Comun ismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio ( I ). Sob o títu lo ac im a, o Prof. Plini o Corrêa ele O live ira anal isava o signi ficado profundo dos acontec imentos de e ntão e apontava as incoerênc ias e lacunas com que a opinião púb li ca oc identa l - trabalh ada pe la grande mídia - cons iderava tais acontecimentos. Seria normal q ue de milhões de corações um clamor se levantasse: Q uem fo ram os respo nsáve is - at iva

de lá para cá, mudado de opinião ou, pelo menos, atenuado s ua de lirante ad miração por C uba? Podemos assegurar, a esse respe ito, que, e mbora "agredido pe la reali dade" ,o frade dominicano continua res istindo tenazmente à ela ... Prova-o o artigo Cuba, publicado a 5-4-95 em matutino paulistano, no qual tece loas entu siast icas à atual situação reina nte na desditosa ilha. C uriosame nte, e le não diz uma palavra seque r sobre os milhares ele "balseros", que, aproximadame nte seis meses a ntes dessa visita à C uba, lançaram-se ao mar, com sério risco de vicia, para se evadi rem do " paraíso castrista" . E também passa sob si lênc io um fa to bruto e muito atual: 16.000 cubanos, capturados pela g uard a coste ira nortea mer icana e conduz idos à base nava l ele Guantánamo , loca li zada na própria ilh a, sendo que a maioria deles a ind a lá se enco ntra.

" Resta urar a esperança dos pobres". "A brir um novo horizonte utópico à luta da classe trabalhadora". Exp ressões que indicam o desejo de encontrar uma saída hábil para reintroduzir, com roupagens novas, o velho mito socialista. Por outro lado, como falar em "conNo início da demolição do Muro de Berlim, em quistas sociais" quando o resultado novembro de 1989, foram utilizados até martelos do socialismo foi o que se viu? por pessoas comuns do povo. Tal fato tem sido inteiramente escamoteado pela esquerda

Maquiagem ideológica do comunismo

Atonia, repetimos, foi o e tado de espírito com que o Ocidente presenciou a reve lação de um cios maiores dramas ela História.

Fo i nesta ocas ião que um brado de a lerta lúc ido e cr ista lin amente lógico, ecoou pelos quatro cantos da te rra:

O tempo fo i passando ... Em vão intelectuais de esquerda, se puseram a campo na árd ua tentativa de justificar o inju stifi cável , ou seja de sa lvar as apa rê ncias cio estro ndoso fracasso cio soc ia li smo marx ista. Em não poucos arraia is ela esquerda, predo min ou um silêncio envergo nh ado e confuso a respeito daqu e les aco ntecimentos. S ig nifi cativ a manifestação cio desconcerto e da frustra tentativa ele exp li car o in exp li cáve l é o livro cio dominicano Car los A lberto Li bâ ni o C hri sto - o Frei Betto - inti tul ado " O Paraíso Perdido - nos bastidores cio Socialismo" (2).

de Ferro.

Clarividente brado de alerta

ra, a opi ni ão pública oc ide nt a l respondeu com a mesma ato ni a e indiferen ça com que presenciara a tragéd ia das vítimas cio com uni s mo .

peu obrigam a esquerda brasileira, inclusive a teologia da libertação, a revisar sua concepção de socialismo e os .fundamentos do marxismo. Não se trata apenas de um esforço teórico para separar o j oio do trigo mas sobretudo de restaurar a esperança dos pobres e de abrir um novo horizante utópico à luta da classe trabalhadora. Ignorar a pro.fundidade das atuais mudanças é querer tapar o sol com a peneira e pretender vende r gato por lebre. Admitir o .fracasso completo do socialismo real é desconhecer suas conquistas sociais - sobretudo quando consideradas do ponto de vista do Terceiro Mundo - e aceitar a hegemonia perene do capitalismo, que reserva a vastas regiões do planeta, como a América Latina, opressão e miséria " (3).

Na med id a em que o o lvido ia caindo sobre aque.le passado - e ntretanto tão próximo - e em que a triste herança ele mi sé ri as e sofrime ntos, deixada pelo soc ia lismo àq ueles nossos infort unados irmãos do Leste ia sendo também esquecida, a in sens ibilid ade do povo brasileiro para co m o perigo com uni sta foi paulatinamente

Nos Bastidores do Socialismo O que dizer dos pa rtidos comunistas cio Ocidente que, com con hecimento de ca usa, trabalhavam para levar seus re pectivos países à se melhante ru _ína? E cios homen s públicos das mais · d iversas profissões, me ios soc iais e co loridos id eo lóg icos que, abendo ou podendo fac ilm ente conhecer tais realidades, mant inh am sobre e las o mai s completo si lêncio e ele tais informações privavam seus compatriotas, permitindo que a ação organizada cios movime ntos ele esquerda pusesse em contínuo risco sua pátria? A esse brado ele coerência, patriotis mo e Fé ele Plín io Corrêa ele O li ve i-

Uma séri e ele" indi gestas" c rônicas ele suas num erosas viagens à então A lemanha Oriental, Rússia e China e nc hem as páginas ela refe rida obra . Nelas se entrevê d iscreto desejo ele chama r a atenção cios le itores para a lgun s aspectos - que e le quer aprese ntar ele modo simpáti co e até mesmo când ido - da vicia ele um a sociedade sem c lasses, ig ualitária e pobre. Ta lvez tenha querido, com isso, ame ni zar em seus leitores o impacto da aparatosa revelação ela mi séria moral e física, verdadeiramente inu mana , na qu a l afundara, po uco a ntes, os reg imes soc iali stas ela E uropa Oriental. Seg uindo-se a tal ruína , mu itos partidos comu ni stas cio Ocidente apressaram-se a mudar el e rótu lo, disfarçando suas convicções, fazendo assim sua maquiage m id eo lógica. O Bras il não ficou fora dessa onda ...

E mais ad iante F rei Betto espe- brasileira cifica onde julga encontrar as espedominando quase todo o nosso panoranças para o soc ia li smo na América rama psico lógico. Latina.

"O socialismo real europeu não conseguiu despertar em seus povos a consciência revolucionária. Sem dúvida, na esquerda latino-americana há mais trabalho de politização através de escolas sindicais e educação popular - do que na maioria dos países socialistas" (4). Estaria Fre i Belto com isso quere nd o dizer que na América Lat ina o sociali s mo conta com a" esquerda cató lica", o que não aco ntecia nos regimes do Leste? Em qualq uer caso, seja apresen ta ndo exp li cações incon istentes, seja promovendo s il êncio sobre a rea li dade cio desastre socia li sta no Leste europeu, a esquerd a brasi leira foi dei xando" baixar a poe ira". E o tempo contin uou a passar. ..

Insensibilidade dizemos , e não simpatia. Com efeito, uma aná lise lú c ida cio quadro político-ps icológico brasileiro faz ver uma rea li dade um tanto d iversa da que se procura propalar nos arra ia is ela esquerda . Na oposição e leitoral Lu la x Fernando Henrique Cardoso não há como negar que a simpatia da opinião pública pendeu para o lado que considerava mai s à direita (vicie Catolicismo, nº 528, dez/ 1994 ). Entretanto, o próprio efe ito anestésico de um perigo que parece se ter distanciado pode agravar ainda mai s nossa insens ibilid ade face a este.

"Balseros" não quebraram mito ... O Paraíso pe rdido foi lançado em outubro ele 1993. Não teria Frei Betto,

Por que Fre i Betto não quis abo rdar esse ass unto, entretanto, na ordem cio dia para os cubanos? Por um a razão muito s impl es: se fos sem entrev istados parentes dos "ba lseros", certamente s uas op iniões quebrariam estrepitosa me nte a visão idílica cio regime castri sta que o religioso mos tro u ...

Neste grave momento de nossa História, ergamos os o lhos a Nossa Se nhora Aparec id a, rogando-Lhe que não nos permita esq uecer as li ções da História, e que preserve o Brasil Terra ele Santa C ru z - de um flagelo se melhante ao que se abteu sobre a infeliz nação c ubana. Arnóbio Glavam NOTAS 1. Publicado em 83 jornais de 2 1 países: Brasil, África do S ul , Alemanha, Bolívia, Canadá, C hil e, Colômbia, Costa Rica, Equador, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, G uatema la, Itáli a, M éx ico, Nicarag ua, Peru , Polônia, Portuga l, Uru gua i e Venezue la

2. Fre i Betto, O Paraúo Perdido - Nos bastidores do socialismo, Geração Ed itori al, São Paulo 1993. 3. Op . cit. p. 367. 4. Op. c it. p. 367.


,,O fenômeno do "por acaso" em nossa História Brasil Real Brasil Brasileiro ~

Jacques Cousteau na Amazônia, Record, Rio, 1984, pg. 131). O leitor, por certo, já estará se indagando qual o "acaso" que devorou esses "criminosos" importadores de cultura européia! Sementes de seringueira f?ram "contrabandeadas" para a Malásia Que o Brasil foi descoberto" por acaso" onde foram plantadas ordenadamente, Os ''barões da borracha", de é um "dogma" banal, mas "sagrado". suplantando em dez anos a produção Também foi "por acaso" que os Reis de Manaus amazônica. E adeus " barões da borraPortugal mai1daram para cá uns Missiocha", adeus cultura européia, "salnários e uns Governadores Gerais de ------------------:;;;.;;;---::;;. ve a cultura indígena" que em algugrande valor, cultura e virtude, como mas tribos amazônicas, segundo Anchieta e Mem de Sá, os quais" por Cousteau, está próxima da pedra acaso", deram início a uma verdalascada! deira epopéia evangelizadora e civiResultado: somos exportadores de lizadora. matéria primas, porque faltandoDo modo como a História chega ao nos a cultura, não sabemos o que conhecimento do comum das pesfazer delas. Hoje, nosso cacau é exsoas, fica subentendido que foi" por portado, bruto, para o estrangeiro, _e acaso" que D. Pedro I, ao passar depois retorna sob a forma de dehpelas margens do Ipiranga, resolveu ciosos chocolates. proclamar "independência ou morFalta-nos o quê? Elite cultural. Por te", nascendo daí essa nova Nação que? Porque nos foi" proibido" imchamada Brasil. portar cultura européia. Proibid_o Estamos, pois, no País dos por quem? Pelos mesmos pregoei11 ros da" luta de classes" entre países por acaso"! exportadores de matérias primas e Os senhores de engenho de Pernampaíses beneficiadores. buco, quando começaram a increEntretanto, esses mesmos xenófomentar a cultura européia no Nor- No luxuoso teatro em estilo florentino de Manaus bos da cultura européia autêntica deste, viram-se empobrecidos como apresentaram-se celebridades, em princípio do século, importaram, ad nauseam, a revoluque da noite para o dia pelo" acaso" como Caruso e Sarah Bernhardt ção cultural de Holly111ood, _com do açúcar alemão, extraído da beterseus xerifes, "mocinhos" e bandidos, raba, que derrocou irreversivelment~ a Dos "barões da borracha" de Manaus, os arranha-céus de Nova York, a revocreio que poucos ouviram falar. Eis o florescente indústria açucareira da região. lução anti-cultural da Sorbonne de que deles escreve um francês: "Na pasEm 1889, o Marechal Deodoro, num só 1968, com suas maneiras descabeladas, golpe, extinguiu do solo brasileiro_ to- sagem do século, transformaram um e~as barbas de Fidel Castro e o mito da dos os barões e congêneres. Mas fica- treposto comercial sonolento, em me10 igualdade social soviética. ram seus "parentes", que na república à se lva, numa cidade ao estilo europeu. As im como o europeu sabe" europeiDe Paris, Alexandre Eiffel veio a Mavelha adotaram o nome de "coronéis". naus projetar um elegante conjunto de zar" nossa manteiga de cacau, nós saEstes' continuaram, a seu modo, a perbemos "ab rasileirar" a cultura europetrar o "crime" dos "barões", consti- prédios. foi construído um ~un_tuoso teatro de ópera, com pedras italianas, péia, sem perder nossa "individualidatuindo uma elite importadora de cultura em estilo florentino , lustres de Veneza, de nacional", como bem o entendeu européia. Clemenceau. Mas o "acaso" não dorme, não descan- colunas de mármore de Carrara, vasos · de porcelana de Sevres. . Por fim, um fenômeno tão singular que sa, não transige, é meticuloso e implamerece se fazer um apelo aos criminacável Um "cientista louco" por volta "A elite da cidade contratava Ennco listas: aqueles que "por acaso" conhede 1910 importou da África - para Caruso Sarah Bernhardt e a 'Comédie estudos, naturalmente - um inseto co- Française' para subir o Amazonas e se cerem o porquê dessa "pena capital" , aplicada contra os importadores de culnhecido por " broca-do-café" . E "por apresentarem em seu luxuoso teatro, para audiências vestidas na última tura européia, escrevam-nos para alívio acaso" esqueceu abertos os recipientes moda européia ... dos potenciais "criminoso", que ~econtendo os devastadores carunchos nham inadvertidamente violar esse m1safricanos, que escaparam e espalharam- Em Manaus havia eletricidade, telefone, bondes e lojas elegantes. O jornal se pelos cafezais. No zunido do vento teriosos "decreto". parisiense Le Matin era vendido nas carregado de carunchos africanos se poRafael Menezes bancas das esquinas" (A Expedição de deria ouvir os versos de Vinícius de

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screvo de Manaus, tendo diante de mim o imponente Teatro Amazanas, símbolo de uma cultura que começava nascer, e que "por acaso" foi truncada.

Morais: "Senhores barões da terra, preparai vossa mortalha, que é chegada a hora da guerra, não há santo que vos valha" ! E" por acaso" a república nova de Getúlio não tardou a varrer do nosso mapa os "coronéis" .

Santificar a mão, golpeando "Se na rua ou na praça ouves alguém que blasfema contra Deus, vai a ele, increpa-o; e se é necessário, não duvides em golpeá-lo. Dá-lhe uma bofetada no rosto, fere-lhe a boca, santifica tua mão com tal pancada ... ; e se com isto arrostas a morte, feliz é a tua sorte" (palavras para os homens do século V, época do Doutor da Igreja abaixo indicado - apud Pe. Eduardo F. Regatillo, S.J., em" Un marqués modelo - el siervo de Dias Claudio Lopez Bru, segundo marqués de Comillas", Ed. Sal Terrae, Santander, Espanha, 1950 - p. 130).

São João Crisóstomo

TFPs EM AÇÃO - II

Encontros de Correspondentes Se de um lado, os Encontros estreitaram ainda mais antigos laços de amizade entre os próprios correspondentes e membros da TFP, de outro lado, foram para eles ocasião de grande proveito pela maneira atenta com que foi acompanhado o programa, que se estendeu por dois fins de semana. Os dois Encontros c ulminaram com conferência proferida pelo Prof.Plínio Corrêa de Oliveira a respeito da posição de cada um dos presentes diante da maré neopagã que invade a sociedade brasileira.

A TFP realizou, na capital paulista, em maio último, seus 21 º e 22º Encontros regionais dq Correspondentes e simpatizantes. Eram mais de mil os participantes, provenientes do DF e de onze estados da Federação, além de delegações da Argentina, Uruguai e Canadá. Em ambiente marcado por duas notas bem brasileiras - cordialidade e entusiasmo - eles assistiram a reuniões, peças de teatro, audio-visuais etc.


Lançado na Romênia, livro do Presidente da TfP '\'

Acaba de ser lançada~a ed ição em romeno de Revolução e Contra-Revolução, a consagrada obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador e Presidente do Conselho Nacional da TFP.

também entus iasmada com Re volução e Contra-Revolução, muito se empenhou em levar avante a publicação em sua pátria. Entre as personalidades

O ato realizou-se em Bucarest, na sede do PNTCD, partido que reúne defensores da livre iniciativa na agricultura.A Romênia viveu até há pouco sob o jugo do mais ríg ido comunismo.

Quatro Revoluções Em sua obra, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira demonstra como as numero sas crises que abalam o mundo moderno têm sua gênese nas várias revoluções que se vêm sucedendo desde a pseudo-Reforma Protes tante . Esta foi a primeira investida revolucionária visando destruir a civilização cri stã, e abriu caminho para a Revolu ção Francesa, a Revolução Comunista, e, mais recentemente, a Revolução da Sorbonne, em 1968, bem como os movimentos hippie e punk.

A versão para o idioma romeno , de 15.000 exemplares, é de autoria da escritora Eugenia Adams Muresanu, atualmente residente nos Estados Uni dos. Ela esteve três anos enca rc erada pelos comunistas e seu esposo foi preso, torturado e morreu na prisão na Rom ê nia. A Sra.Adams-Muresanu foi tomada de tal entusiasmo ao ler a obra, que decidiu traduzí-la a partir da versão norte-americana. No prefácio da edição romena, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira as inala: "Ainda que do ponto de vista geográfico a Romênia se encontre distante, do ponto de vista psicológico ela está perto de minha pátria, porque todos pertencemos à grande e gloriosa família que descende dos povos latinos".

Em Bucarest A obra é o primeiro lançamento da Editura Traditie, recém-fundada pela jornalista Vera Maria Neagu , a qual ,

sanu, em nota na contra-capa da edição, repete a apreciação do ed itor espanhol Fernando Serrano Mi sas de que "Revolução e Contra-Revolução é um livro .... do calibre de uma encíclica".

presentes ao lançamento, destacou-se o senador Corneli u Coposu, o qual se referiu ao Presidente da TFP brasileira como "líder mariano que se consagrou a um apostolado de luta em def esa da civilização cristã ". Analisando o denso conteúdo doutrinário de Revolução e Contra -Revolução, o escritor Pascal Virgil publi cou artigos no diário "Cotidianul", de Bucarest, num dos quai s, reprodu z apreciação do escritor norte-americano John Steinbacher, que considera a obra "o mais importante livro, depois da Bíblia". Já a Sra. E. Adms-Mure-

Publicado inicialmente no Brasil, em 1959, Re volução e Contra-Revolução, tornou-se o livro de cabeceira dos sócios, cooperadores e correspondentes de todas as TFPs. No Exterior, a obra, já traduzida em sete idiomas, inspirou a formação de TFPs e e ntidades afins, em 26 países, nos cinco continentes. Leitores interessados em possuir Revolução e Contra-Revolução, e m portu guês, podem e nviar seus pedidos ao Diário das Leis, Rua Bocaina, 54 05013-90 1 - São Paulo - SP; fone (011) 263-3155, preço R$ 15 ,00, tratar com Ronaldo. O

Preços durante o mês de junho de 1995: COMUM: R$ 35,00 - COOPERADOR: R$ 45,00 - BENFEITOR: R$ 100,00 GRANDE BENFEITOR R$ 180,00 EXEMPLAR AVULSO: R$ 3,50

Há um tempo para a guerra, e um tempo para a paz Eclesiastes

O cavaleiro de Cristo quando mata um malfeitor [numa guerra justa] não é homicida mas, por assim dizer, malicida São Bernardo

Uma espada faz com que a outra permaneça em sua bainha Provérbio -

vários países

O católico ama a paz e detesta o pacifismo, odeia a guerra injusta e ama o militarismo Plínio Corrêa de Oliveira

Se a trombeta der um som confuso, quem se preparará para a batalha? São Paulo Apóstolo ~ ~~ ~~.ç:::::==::"',{>~ ~.

~ ~<:,.,~:~ <:{1/ ~ ' = " ' ó ~ ~ ~,:,~ A foto reproduz, de modo impress ionante, autêntica " ousadia" da natureza: a esg uia ponta nevada e rgue-se co ntra o céu , com a desafiar os e lementos e as próprias leis da física. Nas proximidades de Teresópoli s (RJ) , há o utro pi co com analog ias ao que o le itor tem diante dos o lh os: o Dedo de Deus. Esta abrupta ag u1ha el e pedra rea l mente evoca a nipotê ncia e a maj estade divinas. Como gan haria e m força o Dedo de Deus se fosse ele co be rto de neve, a exemp lo do c um e aq ui apresentado! A este caberia um nome semelhante: a Farpa de Deus. Urna ponta el e lança branca que se des taca da famosa cadeia le montanhas cios Alpes, co mo a furar o firmam ento diáfano das gra nd es a ltitudes.

' "~~-----

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A soberba paisage m é enriquec ida pe la presença cio rei ela c ri ação: o home m. Ele, aq ui , é bem um símbolo da força de vontade, gui ada pela inte li gê nc ia. Árdua é a esca lada da Farpa de Deus. Não obstante, o alpini sta, j á próximo do cimo, e mpenha todas as suas fo rças para atin g ir a ponta da lan ça. Crava ndo vigorosa mente os gram pos na neve, ele vai ascend end o aos poucos, mas inexo ravelm ente, até atingir o topo .

*** A vicia esp iritual de todo ser hum ano não co nsiste também numa escalada ? Ce rta me nte. Mas para essa exce lsa asce nsão concorrem não só as potências ela alm a hum ana, mas também a graça divin a.


O homem contemporâneo habituou-se a considerar as pontes como mero recurso funcional para ligar duas margens de uma superficie líquida, seja ela sobre o majestoso mar, simples riachos, rios ou lagos. O concreto armado, com sua frieza e vulgaridade, contribui para acentuar esse caráter exclusivamente pragmático da quase totalidade das pontes dos dias atuais. A única preocupação - ou quase tanto - dos arquitetos e engenheiros modernos restringe-se à resistência dos materiais ao contacto com a

água, a fim de que o liame entre duas margens permita o maior fluxo possível de todos os tiPQS de transportes. Houve épocas, porém, em que o funcional não estava divorciado da estética, mesmo quando se tratava de construir um recurso arquitetônico comezinho como é a ponte. O leitor ou a leitora tem alguma dúvida? Então examine a foto acima. A pontezinha de madeira que atravessa o riacho de águas límpidas é um verdadeiro primor no seu gênero. Apresenta uma simplicidade dir-se-ia

camponesa. Não obstante, ostenta graça e leveza perceptíveis em pitorescos detalhes: a linha duplamente angulosa dos suportes, abaixo do corrimão; as inesperadas Jardineiras com gerâneos vermelhos;-o original telhado de ardósia clara. Á direita, seria dificil conceber um panorama que melhor se coadunasse à imaginosa ponte: uma aldeia com casas típicas de camponeses da Europa central, realçada pela igrejinha, com sua esbelta cúpula, denotando o estilo barroco germânico.

A Panzendorfer Brücke, ou a ponte da aldeia Panzen acima, constitui um dos exemplos mais antigos de ponte coberta, construída em 1781 numpaísfamosoporseucharme, a Áustria. Pouco faltou para que essa pequena jóia arquitetônica fosse destruída em 1797, afim de impedir o avanço das tropas revolucionárias francesas. O exército invasor estava sob comando do então general Bonaparte, o mesmo que em curto prazo seria o tirano e flagelo de toda a Europa.



CATOLICISMO

Discernindo, distinguindo, classificando ...

NQ 535

Julho 1995

Churchill, a mídia e a lalta de lideranças

ÍNDICE Discernindo Churchi/1, a mídia e falta de líderes

Faltam líderes expressivos, em nossos dias. Grandes homens, como Churchill, já caem no esquecimento

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A Realidade concisamente 4

íderes fracos, mal equilibrados sobre governos inseguros, escravos de problemas domésticos - tal é o quadro pintado por especialistas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, em sua análise referente aos quinze meses decorri. dos de 1° de janeiro de 1994 a 31 de março de 1995 . Numa análise aguda e inteligente da situação, o relatório do Instituto londrino mostra que a humanidade navegou sem rumo nesse período, e que o "consenso", atualmente em voga entre as nações, é na realidade uma capa para esconder a falta de ação concreta dos líderes.

L

A atual mediocridade das li deranças, em medida ponderável se deve à propagação ele mitos como a liberdade completa e o igualitarismo, que levam, em muitos cas0s, ao desprezo e até a uma verdadeira perseguição à virtude e às mais diversas formas de superioridade. Como consequência, assistimos à decadência das instituições, da cultura, das artes etc., rumo ao ocaso da civilização. ·

Nessa derrocada, é inegável o papel - não exclus ivo, mas decisivo - que vêm desempenhando os meios de comunicação social, especialmente a televisão, que continuamente _e stão glorificando o que é v1cwso, prosaico e inferior, abrindo desta forma a cova na qu·a1 se afu nda o mundo contemporâneo. Muitas vezes, basta uma mulher expor despudoradamente o próprio corpo, para enriquecer-se e ser exaltada na TV e nas primeiras páginas dos grandes jornais e revistas. Qualquer extravagância no vestir, no falar, no modo de compor-

2

Destaque "Presidência real" -

tar-se, é também premiada pela publicidade.

li

A conseqüência necessária dessa exaltação publicitária da in fâmia vem sendo um pesado silêncio que se abate sobre tudo quanto de grande o mundo tem produzido. A ponto de as novas gerações nem conhecerem mais aq uil o que pa ra seus pais, foi motivo de grande ad miração. Exemplo que chega a ser chocante, de tão característico, nos é revelado por um a pesquisa realizada pelo jornal Sunday Times, de Londres. Grande parte da juventude inglesa nem tem idéia de quem fo i Winston Ch urchill, alma da vitória da Inglaterra sobre a Alemanha nazista na Segund a Guerra Mundial (1939-45) . Em 1951, o jornal inglês The Observer proclamava: "Daqui a mil anos seu nome [de Churchill] ainda será conhecido entre o povo, evocando uma época de brilho e de glória " . Churchill faleceu em 1965 . Passaram-se apenas 30 anos, e muitos jovens, conterrâneos seus, já não conhecem tal herói nacional, famoso no mundo inteiro. Provavelmente essas pobres mentes juven is estão povoadas por antiheróis, como são os cantores de rock e congêneres, não sobrando espaço para grandes figuras , como Churchill. De outro lado, vemos freqüente. mente que a inteira liberdade para os meios de comunicação é tid a como vantajosa conq ui sta. Neste sentido, a Freedom House, organi zação norte-americana que ana li sa direitos políticos e civis, cm recente publicação, class ificou o Brasil entre os países que contam presentemente com imprensa livre. O fato, al iás, é evidente. Os jornais, CATOLIC ISMO, JULHO 1995

novo estilo na França

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As 12om12as antigas na 12osse de Chirac

Entrevista Fracasso mundial do 19 de Maio: sintoma do declínio do socialismo 6

A 12alavra abalisada do Prof. Plínio Corrêa de O live ira

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Internacional Inferno cubano: a trágica realidade que o mundo ignora 9

"Balseros" im edidos de fu ir; a elo a João Paulo li

Comunismo No Chile, um Kerensky li? Manifesto da TFP chilena re12udia reatamento com Cuba

Win ston Churchill

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a

o rádio , a televi são, co m toda liberdade, tratam de tudo aqui lo que os seus respectivos donos querem.

Essa siste,m'ítica destru ição de valores c lama por providências de quantos se preocupam com o futuro. Face a ela, não é de estranhar a decadência das lideranças, cabendo aq ui a lição de um velho provérbio: "Quem semeia ventos colhe tempestades"! C.A.

Devoç ão maria na gue remonta ao Profeta Elias

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Nacional A vitória sobre as greves criou clima propício para Fernando Henrique O atu al 12rocesso de e mendas constitucionais

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Hagiografia São Boaventura, Doutor Seráfico A fecundidade de obras de um santo franciscano

No entanto , a Freedom Hous e não investigou , se os meios de comu ni cação usam corretamente essa liberdade. Neste sentido, cabe perguntar: se não é líc ito às pessoas in c itarem outras à prática de crimes, o que explicaria que a mídia , principalmente a te levisão, possa induzir o públi co a praticar violências, inccslos e todo tipo de perversões sexuais? Enquanto isso, co ntraditoriamente, os rcpresentant s do macrocap itali smo publicitário quase sempre fecham as portas aos que pretendem divul gar os ex mplos edificantes, os bons costumes e os preceitos da moral católi ca.

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Caderno Especial-Capa Nossa Senhora do Carmo

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TFPsemação Manifesto da TFP colombiana contra narcotráfico guerrilheiro Desagregação social ameaç a a Colômbia

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História Tribalismo indígena, ideal da neomissiologia O último de uma série de três artigos

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m 1

Bras~I real, Brasil brasileiro Alfinete envenenado no dedo mínimo lm12ressões de vi agens através do Brasil real

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Escrevem os leitores

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Em Painel Frases e imag_ens Ambientes, Costumes e Civilizações Muitos? Ou e_oucos?

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Nossa capa: Nossa Senhora do Carmo. Imagem espanhola de autor desconhecido. Foto: C. Nunes Pires

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Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor:

Impressão:

Paulo Corrêa de Brito Filho

Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. Rua Javaés, 681 01130-01 O São Paulo-SP

Jornalista Responsável:

Mariza Mazzilli Costa do Lago - Registrada na DRT-SP sob o N2 23228 Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01 226-001 São Paulo, SP - Tel: (011) 824-9411 Fotolitos:

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A correspondência relativa à assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Martim Francisco, 665 CE P 01226-001 - São Paulo - SP ISSN - 0008-8528 Tel. : (011) 824-9411

CATOLI CISMO, JULHO 1995

ASSINATURA PARA O MÊS DE JULHO DE 1995:

COMUM: R$ 35,00 COOPERADOR: R$ 45,00 BENFEITOR: R$ 100,00 GRANDE BENFEITOR: R$180,00 EXEMPLARES AVULSOS: R$ 3,50

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,, Jogo de xadrez no currículo escolar

(

...

Movimento dos Sem-terra, que notoriamente defende uma Reforma Agrária confiscatória e soc ialista.

São Carlos e Bebedouro, duas laboriosas e bem sucedidas cidades do Estado de São Paulo, incorporaram o xadrez ao seu currículo· escolar. O colégio São Carlos promove todos os anos a "Quinzena do Xadrez", visando promover o curso. O objetivo é o desenvolvimento doraciocínio lógico do aluno, barreira fundamental contra a deteriorante "civilização da imagem", na qual o papel da razão desaparece para dar lugar à sensibilidade exacerbada e à fantasia.

Produtividade por hectare aumenta no país Desde 1974 a área plantada no Brasil vem diminuindo paulatinamente. Em 1988, houve plantio de grãos em 44 milhões de hectares. Na safra 94/95 essa área caiu para 38 milhões de hectares, mas a produtividade, de 1988 para cá, tem subido 5% ao ano. De acordo com informações do Ministério da Agricultura, espera-se colher 90 milhões de toneladas de grãos na próxima safra 95/96.

Mais da metade do Estado de Roraima pertence aos índios Parece incríve l, mas é a pura verdade. Foi o que denunciou o deputado Francisco Rodrigues (PTBRR). Eis suas palavras: Em Roraima , cerca de 60% do Estado serão reservados aos índ ios, que não chegam a 20 mil pessoas. Como se sabe, Rora ima possui 240 mil habitantes . Além disso, os parlamentares da região Norte que estiveram presentes

Territórios do maior latifundiário improdutivo do País - o índio brasileiro - ainda não sofrem invasões dos sem terra ...

à sessão da Comissão de Defesa Nacional da Câmara acusaram a FUNA I de demarcar terras sem ouvir proprietários e arrendatários que vivem nas áreas cons ideradas indígenas por antropólogos.Esses latifúndios improdutivos não tem sido alvo - até agora, pelo menos - de invasões do MST -

Conclui-se, portanto, que a única política agrária razoável e sensata para o País é deixar que a iniciativa particular siga o seu curso natural de expansão, como vem se dando até aqui. Tanto mais que é patente que os assentamentos - ou melhor, as favelas rurais disseminados pelos propugnadores da Reforma Agrária em todo o território nacional não atingem nem de longe e ·sa produtividade.

Bomba: punição para lura-greve

Em Minas, municipíos demais?

Casamentos na Disnev World

Uma bomba de fabricação caseira explodiu no dia l º de junho passado, na garagem da residência de um casa l em São Vicente (SP). Marido e esposa trabalham no Terminal de Armazenamento da Petrobrás em São Caetano, município da Grande São Paulo, e atrib uíram a agressão ao seu recuo em relação à greve dos petroleiros. O casal havia exposto publicamente essa decisão durante assembléias da categoria. Logo depois receberam telefonemas anônimos ameaçadores.

Minas Gerais poderá ter novecentos municípios se todos os pedidos de emancipação de distritos forem aprovados pela Assembléia Legislativa. Po suinclo atua lmente 756 prefeituras, para um a população de J 6 milhões de habitantes, é o estado com o maior número de c idades do País. São Paulo vem em segundo lu gar, com 625 municípios. Tem-se como certo essa emancipação. Desta forma, o total de cidades mineiras passará para 900. Em muitos casos, a elevação de um simples distrito à condição ele cidade corre por conta de interesses políticos estritamente locais. Infelizmente isso pode acarretar inviabilização econômica de municípios novos e o co nseqüente aumento do ônus na exageradamente acresc ida máquina estatal.

Vai ser inaugurada capela para casamentos na Disney World da Flórida. Razão: atrair mais ad ultos para seus parques. Casamento é co isa muito séri a. Aliás a palavra católica apropriada é matrimônio. Vocábu lo em cuja raíz etmológica está a palavra mãe, o que conduz conseqüentemente ao aparecimento de prole, algo que vai ficando "fora de moda" no mundo neo-pagão contemporâneo. Realizada a cerimônia em ambiente sério, digno e sacra], como é uma igreja construída segundo arquitetura religiosa tradicional, muitos casamentos, ainda assim, acabam em desun ião. O que se poderá conjecturar de um casamento contraído no mundo da fantasia criado pelos parques da Disn.ey?

A julgar pela truculência criminosa dessa retaliação, é de se perguntar de que liberdade desfrutariam os trabalhadores, se os baderneiros de esquerda ficassem responsáveis pelos rumos do Brasil.

DESTAO.!J_IJ "Presidência real" - novo estilo na França

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Para os que acreditam na morte do comunismo Tem-se por certo na Rússia que a reestruturação promovida por Yeltsin nos órgãos de informação não é senão uma tentativa de ressuscitar a KGB.

O emblema da sinistra KGB ressuscitada

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_Trata-se agora do Serviço Federal de Segurança, organismo de in formação e contra-espionagem com categoria de ministério, a ser comandado por um general de Exército. Um jornal russo chega mesmo adizer que esse novo serviço, com amplos poderes, pode perfeitamente despertar. de seu sono a velha KGB.

CATOLIC ISMO, JULHO 1995

Tal serviço de segurança poderá dispor de urna força policial própria, e até de celas especiais para recolher e interrogar suspeitos antes da abertura formal de processos, recurso próprio de governos tirânicos e ditatoriais.

É o velho lobo vermelho que reaparece no palco, dessa vez sem dar-se sequer ao trabalho de fantasiar-se de ovelha. Acreditar que um tal lobo é ovelha, não se compagina nem mesmo com a ingenuidade da ovelhinha da famosa fábula .

O bom gosto francês ressurgindo da vulgaridade socialista

O

tão almejado fim ela era M itterrand foi marcado, em Paris, por algumas notas significativas, tanto da parte do público como cio presidente que saiu e do que entrou. François Mitterrand escolheu o Panthéon - o temp lo dos deuses para despedir-se dos catorze anos

como presidente da República, enquanto Jacques Ch irac, preferiu marcar sua ascensão ao cargo com um grandioso desfile pela famosa avenida Champs Ely sées até o Arco do Triunfo. O público pôde ass istir a uma brilhante exibição de pompa, oferecida por três pelotões de cavalarianos da Guarda Republicana, com seu vistoso uniforme; os acordes marciais da fa nfarra, a cavalo; duas enormes farpas de motocicletas; e finalmente o novo presidente, em carro aberto . - É preciso dizer que ele tem elasse, ao contrário do outro - comentou uma senhora num grupo de amigas . - Pois é, quando a gente diz que vota no charme, na classe, na maneira grandiosa de falar cio candidato, as pessoas brincam. Mas nós somos assim respondeu outra. Era o bom gosto francês ressurgindo das cinzas da vulgaridade socialista dominante durante o longo período presidencial de Mitterrand . Tudo parecia feito para agradar a um público sedento ele cerimonia l, sau-

CATOLIC ISMO, JULHO 1995

doso de reviver algo elas glóri as do rico passado francês. . A tal ponto que um comentarista do comedido "Le Monde", para caracterizar o novo est ilo· em vigor no palácio presidencial do Eli seu, emprega a expressão" presidência real". Como vivemos numa época de vulgaridade ge neralizada, é de se desejar que Ch irac não venha desfazer a impressão favorável decorrente das auspiciosas cerimônias de sua posse. É reconfortante, contudo , ver a França começar a reerguer-se da revolu ção cultu ral qu,e estava minando os próprios fundamentos dessa grande nação, chamada pelos Papas de "Filha primogênita da Igreja". Tiranizados por chefetes ele sindicatos que, entre outros abusos, nos obrigam a enfrentar irritantes filas, não passamos também nós, brasileiros, por algo seme lh ante ao que ocorreu na França? Trata-se de matéria importante, vasta e complexa, que deixamos à reflexão do leitor. 5


ENTREVISTA

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FracasSO mundial do 1!! de Maio: sintoma do declínio do socialismo Em épocas anteriores, as comemorações do Dia do Trabalho - l º.de Maio - constituíam manifestação de força das esquerdas, em âmbito mundial. E hoje em dia? As esquálidas manifestações promovidas em maio último por sindicatos e organizações revolucionárias em todo o mundo indicam acentuada decadência do antigo poderio marxista. Para analisar esse fenômeno e comentar o último Dia do Trabalho em vários países, inclusive no Brasil, Catolicismo

entrevistou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP. Com acuidade e penetração que lhe são características, o insigne pensador católico apresentou uma visão bastante elucidativa da questão. Nossa reportagem e ntrevistou-o na Sede do Conselho Nacional da TFP, locali zada à Rua Maranhão, nº 341, no bairro paulistano de Higienópolis.

Poder- se- ia interpelá-lo: mas então você, que du rante tantos anos tem estado à testa do movimento operário de esquerda no Brasil, com o apoio compacto e ininterrupto da mídia, não traz para essa festa senão o pranto? É o choro que assinala sua direção nesse movimento? A verdade é que Lula não tem realmente o que comemorar, porque o pouco que conseguiu, não veio do meio operário, mas de capitalistas de esquerda e progressistas da Igreja Católica. Tais setores têm concedido toda espécie de auxílios para entidades e movimentos de esquerda, como o PT, a CUT etc. Assim, o pequeno resultado que as forças esquerdistas obtiveram no Brasil não representa propriamente urna conquista dos operários, mas se deve a uma liberalidade suicida de classes e instituições que os esquerdistas proclamam combater. Lula tem consciência disso. Por essa razão, ele não ousa apresentar algo que o operariado conseguiu corno fruto do próprio movimento esquerdista.

Catolicismo - Em Florianópolis, o Dia do Trabalho foi comemorado com um show, aberto pelo pianista clássico Arthur Moreira Lima. Pode-se considerar esse fato como mais um indício de fracasso?

Capitalistas de esquerda e católicos progressistas, o principal apoio de L.ula

Catolicismo - O Senhor teria mais algum comentário afazer a respeito do discurso de Lula? quer forma de trabalho, por oposição a dias de descan so daqueles que labutam. No sécu lo passado, época em que se introduziu a comemoração, esse dia celebrava-se intensamente, com acentuada conotação revolucionária. Aos poucos, porém, a festividade foi perdendo sua importância. E especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, ela entrou em processo nítido de decadência. As comemorações, que anteriormente eram marcadas pelo espírito da luta de classes, tornaram -se cada vez mais insignificantes e inexpressivas.

Catolicismo - O que o Senhor di z do Dia do Trabalho no Brasil ? Prof. Plinio - Em nossa Pátria, o desalento das esquerdas foi marcante. Lula chegou a afirmar, em Diadema (SP), que o trabalhador brasileiro não tinha o que comemorar no Dia do Trabalho, e só tinha o que chorar. Além disso, o comparecimento de apenas 20.000 pessoas na comemoração representou outro insucesso, tendose em vista a elevada população de um importante município da Grande São Paulo, como é Diadema.

Catolicismo - Qual o histórico e o sign(f"icado do Dia do Trabalho ?

As comemorações de qualquer movimento ou enti dade, por ocasião de sua festividade prin c ipal , focalizam em primeiro lugar as vitórias alcançadas; alguma coisa positiva quanto ao objetivo visado pelo movimento. E, em segundo lu gar, faz-se a afirmação pública das próximas metas a serem atingidas, e que correspo ndem a uma intensificação do desejo de co nqui star mais, a manifestação de um clã para novas co nqui stas.

Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: O Dia do Trabalho é uma festa que tem certo caráter socialista. Por trabalho entende- e aqui labor manual. Não, portanto, toda e qual -

Ora, o que disse Lula? Precisamente o contrário di sso. Admitiu que os trab a lhad ores só têm o que chorar. Portanto , não têm nada a comemorar ou a esperar.

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CATOLI C ISMO , JULI 10 1 95

Prof. Plinio - Chama a atenção sua brevi dade: apenas cinco minutos! Lula ainda afirmou qu e, apesar de o PT ter perdido as eleições, vai continuar lutando para que a "população tenha maior consciência política para eleger um governo efetivamente trabalhador". Por que a população não possui suficiente consciência política para vencer as eleições? De duas, uma: ou porque Lula e os esquerdistas não têm sabido comunicar suas idéias ao povo, ou porque a população, que é sensata, julga demagógico o discurso deles. Ele não esclareceu se foi por uma ou outra dessas razões mas o que Lula reconheceu équeo eleitorado não se deixou mover pela argumentação esquerdista.

Catolicismo - Noticia um diário carioca que a festa contou com a presença de nove artistas, tendo sido o ponto alto da comemoração a presença de Lula no palco, ao lado de um deles, ensaiando uns passos de dança. O que dizer disso? Prof. Plinio - Já o fato da presença de nove artistas revela que os organizadores da comemoração não confiavam no entusiasmo ideológico do público, e menos ainda na capacidade de Lula sozinho galvanizar os presentes com seu discurso. Convém relembrar que este não ultrapassou cinco minutos ... Assim, é inteiramente compreensível que a maior atração do ato tenha sido a presença dos nove artistas e o show. E que Lula, fracassando em seu fugaz discurso, tentasse esquentar um pouco a assembléia dando un s passos de dança, junto a um dos artistas. É um final de festa constrangedor. ..

Prof. Plinio - Não há coisa mais anti-socialista e contrária ao movimento esquerdista dos trabalhadores manuais do que a música clássica. Esta, por sua natureza, ·é uma música seleta, de salão, que revela finura, tendências de alma que os movimentos operários nem suscitam, nem animam, nem sequer parecem entender. Um concerto de mú sica clássica para comemorar o Dia do Trabalho indica que a luta entre o trabalho material e o trabalho intelectual não entusiasma o operariado brasileiro.

CATOLICISMO, JULHO 1995

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Catolicismo: E é curioso que para com, •norar o 1º de Maio, em Maceió, tenha sido promovida a Corrida do Trabalhador, com a participaçqo de 200 atletas de quatro estados nordestinos... Prof. Plinio - Eis aí mai s um sintoma palpável do fraca so das comemorações. Para realizá-las , foi preciso convocar atletas de quatro estados. E e las não tiveram caráter trabalhista, mas se reduziram a uma competição

Ridículo o número de manifestantes marxistas no

Prof. Plinio - Na Rússia, até algum tempo atrás, o regime era compacta e maciçamente comunista, apoiado pela mídia soviét ica, inteirame nte controlada pe lo Partido Com unista. Qualquer pessoa que dissesse uma palavra esclarecedora sobre os descalabros do regime ou criticasse o comunismo era processada e condenada à prisão no Gulag soviético ou à morte. Pois bem, nesse país de população colossal, no presente em estado de atonia, após mais de sete décadas de dominação comunista, na vigência do atual regime (cuja natureza ambígua não se sabe ao certo em que consiste, se acentuada ou vagamente comunista), o número de adeptos do marxi smo que se manifestaram em 1º de Maio passado é insignificante, é ridículo.

Catolicismo- Na Itália, os principais sindicatos reuniramse na cidade de Brindisi, para debater o tema Trabalho e dignidade e tratar da questão do desemprego. Isso revela fraque za dos esquerdistas dentro do sindicalismo italiano?

1 ~ de Maio em Moscou

Prof. Plinio - As temáticas escolhidas pelos sindicatos peninsulares não foram as prediletas dos marxistas, ou seja, as relacionadas de um ou de outro modo com a luta de classes. Eis aí mais um si ntoma do declínio da influência marxista no movimento sindical e nas comemorações do Dia do Trabalho .

Catolicismo - Em Berlim, houve um choque entre 2.000 extremistas de esquerda e 600 policiais. Resultado do co11flito: 72 policiais f eridos e 36 pessoas presas. Tal fato não constitui um recrudescimento da efervescência marxista na Alemanha? Prof. Plinio - Berlim é uma das mais populosas cidades da Europa, com 3.400.000 habitantes. Quantos extremistas de esquerda entraram cm choque com a polícia? Apenas 2.000, númer absolutamente insignificante em face da população berlin n e.

Catolicismo - Na Espanha, os representantes de sindicatos alertaram no Dia do Trabalho os eleitores, quanto ao perigo de uma vitória da direita nas eleições municipais (que se realizariam no dia 28 de maio), o que de fato ocorreu. Essa atitude dos lfderes sindicais representou um recuo do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), atualmente no poder?

atlética. Apenas apelando para o esporte; co nsegue-se atrair um pouco de público para presenciar uma comemoração que simplesmente usa rótulo de trabalhista. Vibração ideológica esquerdista ... absolutamente nenhuma!

Catolicismo - Em Moscou, 4.500 stalinistas solicitaram um processo contra Yeltsin, por traição. E 15.000 outros man~festantes pediram o fim da Guerra dos Banqueiros, e reclamaram contra o alto custo de vida. Como devem ser vistas tais reivindicações? 8

Prof. Plinio - Certamente. É sab ido que o PSOE domina inteiramente o movimento sindica l espanhol. Assim, o medo manifestado pelos sindicalistas refletia a preocupação do PSOE em relação às eleições municipais, que teriam lugar na Espanha poucos dias após o 1º de Maio. Tal atitude representou um recuo do PSOE, hoj e ainda no poder. Com efeito, os líderes sindicais, vinculados ao PSOE, em vez de pregar a luta de classes e seus dogmas igualitários, como faziam em anos anteriores, aproveitaram as comemorações do Dia do Trabalho no sentido de influenciar o eleitorado, tentando diminuir a margem da derrota prevista no futuro pleito. Ao que parece, a tentativa teve pouco efeito, pois o insucesso eleitoral foi estrondo o. O

CATOLICISMO, JULHO 1995

N

a América Latina ex iste um sinistro campo de concentração com quase onze milhões de prisioneiros, que vivem nas cond ições mais precárias. Trata-se de Cuba. Um regime comunista tomou o poder em 1959, e transformou o país numa ilha-prisão.

Cortina de silêncio Não obstante, uma verdadeira cortina de silêncio, feita por importantes meios de comunicação, protege misteriosamente o fracassado regime marxista. E evita assim que se produza uma natural indignação anticomunista nos habitantes das três Américas.

Verdadeiro culpado Depois de tantos desastres, o velho chefe comunista Fidel Castro ensaia desculpas para o seu fracassado regime de miséria, jogando a culpa no " bloqueio econômico" norte-

americano. Contudo, em declarações ao jornal "Eco Católico", da Costa Rica, o Bispo Auxiliar de Havana, Dom Alfredo Petit, desmente essa versão, afirmando que "a pobreza e as limitações que se vivem em Cubçi sãd culpa da administração pública, que não tem tido êxito, sobretudo desde que se cortou a ajuda da União Soviética, que chegou a ser de milhões de dólares ao dia" (1).

Certa mídia, grande responsável É grande a benevolência de certa mídia em relação ao regime comunista de Cuba. Ela tem feito verdadeiros estardalhaços contra outros governos acusados de lesar direitos humanos e restringir liberdades políticas. Mas mantém enigmático manto de proteção publicitário em torno da desditosa ilha, o qual produz um clima de desmobilização psicológica em relação ao regime de Havana. O

CATOLICISMO , JULHO 1995

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Fidel Castro congratulou-se até com a mudança de atitude qu anto à revolução cubana "de muitos meios de comunicação de massa" dos Estados U nidos. Esses poderosos órgãos da mídia vêm apresentando com freqüência - através de im agens habilmente selec ionadas - uma suposta metamorfose de Castro e de seu regime. Não obstante, em recente di scurso em Havana Fidel Castro ratificou sua adesão " à obra sagrada da revolução", e desafio u: "Socialismo ou Morte! ". Declarou também que "antes apodrecerão os imperialistas [do s Estados Unidos) do que a revolução cubana" (2).

" Nós, que humildemente aprese ntamos es ta carta a Vossa Santidade, som os cubanos desterrados, diri gentes de orga ni zações represe ntativ as de mais de um milhão de exilados . "Estamos consc ientes da enorme responsabilidade inerente a quem, por mandado divino , dirige a Ba rca de Pedro , em meio às agitadas águas do mundo contemporâneo. " Sabe mos quanto cada gemido de uma ovelh a repercute dolorosamente no coração daquele que é, nesta terra, o Vigário do Bo m Pastor.

Trinta e seis anos de ditadura! Cinismo do regime Convém recordar também dec larações de Ricardo Al arcón, Pres idente da Assembl éia Nacional de Cuba e um dos principais diri gentes do regime marxista de Havana: " Pode haver algum idiota que creia que caminhamos para o capitalismo. Entretanto, tudo o que .fazemos é salvar as conquistas do socialismo" (3).

Até Clinton! Os pronunciamentos dos exilados cubanos têm-se torn ado cada vez mais veementes, à medida que o tempo passa e se agrav a a situ ação de seus irmãos na ilha- pri são. Quando o presidente norte-americano B ill Clinton anun ciou um pacto com Fidel Cas tro para devolver a Cuba os infelizes cubanos que, fu gindo de seu país, fossem interceptados em alto mar, os exilados publicaram em Washington (4) e em Mi ami (5) categórico manifes to, onde advertem que "Deus não f echará seus olhos diante do trágico abandono das vítimas perseg uidas pelo comunismo castrista ". E acusam o governo norte-a meri cano de ter-se transformado assim na longa manus da polícia do regime de Havana. Os exil ados destacam também o "paradoxo de que o Presidente Clinton chegue a um acordo no terreno diplomáli ·o com Fidel Castro, o maior terrorista das Américas .... no exato momento em que o país aplaude as medidas governamentais contra o terrorismo internacional".

Sadia reação Nos Estados Unidos, os exil ados não estão sós. Para esse manifes to, obtiveram a adesão do Senador Jesse Helms, Presidente do importante Comitê de Relações Exteriores do Senado. Aderiram também vários deputados federais, além de mais de cem líderes de importantes movimentos de cubanos no ex ílio, destacando-se o ex-preso político cubano e conhecido escritor Armando Vall adares.

M ere c ido reconhecim e nt o Dentro da maré publicitária que tenta inocentar Fidel Castro, os ex ilados reconhecem publi camente tudo o que as TFPs vêm faze ndo pela li bertação cu bana. Em entrevi sta ao "Diario Las Améri cas", de M iam i, que é o maior jornal em língua espanhola dos Estados Unidos, a organi zação Cubanos Desterrados externa seu reconhec imento ao Prof. Plínio Corrêa de Oli veira," um paladino e advogado da causa da liberdade de Cuba, pelo grande apoio concedido para romper o vazio da mídia em torno do drama cubano" (6).

Dramático apelo ao Papa É grande a angústi a dos exilados após décadas de sofrimento, que não apresenta sinais de cessar u diminuir. Desta forma, a associação Cubanos Desterrados iniciou uma coleta de assinaturas de apoio a uma ·úpli ca a ser enviada a João Paul o II. Seguem trechos desse apelo: 10

CATOLICISMO, JULHO 1995

" O drama de C uba, qu e jaz sob um a implacáve l ditadura marxi sta-lenini sta, estende-se por trinta e seis intermin áveis anos. "São notóri os a benevolência e apoios obtidos por Cas tro na ONU, na Uni ão Euro péia, no Grupo do Rio (integrado pelos principais governos da Améri ca Latina) e na Conferê ncia de Desenvolvimento Social, reali zada na Din amarca em março pp. O recente pacto Clinton-Castro é, sem dúvida, o mais chocante e terrível desses exemplos. " Não menos perplexidade causo u um documento de há pouco do Comitê Perm anente do E pi scopado cubano, que evita qualquer referência clara ao regime sócio-po lítico comu ni sta, que promove uma sistemáti ca violação institucional dos direitos de Deus e dos homens. E sugere um " projeto comum", com a " participação de todos".

Cruzada de orações e denúncias " Imploramos especialmente a intercessão de Vossa Santidade para que essas autori dades passem a denunciar ao mundo o drama de nossos irm ãos escravi zados, mos trando aos fiéis católicos a necessidade de uma cru zada de orações, sacrifícios e enérgicas denúnc ias para a pronta libertação do povo cubano das garras desse reg ime ateu e neo-pagão. "Comoveram-nos profund amente vossas recentes palavras dirigidas ao Cardea l Lubatchivsky , da Ucrânia, evocando os" inumeráveis mártires e co nfesso res da Fé" suscitados pela Providência di ante da " persegui ção co muni sta" ("L'Osservatore Romano", 20-5-95).

Incontáveis mártires " Vossas palavras, Santid ade, cala\ am fun do em nossos corações, entre outros motiv os porque Cuba também tem incontáve is mártires - mui tos de les jovens - que ca íram assass in ados no "paredón" castri sta enquanto p roclamavam sua Fé, exc lamando: Viva Cristo Re i - abaixo o comuni smo ! "Estamos seguros de que o martíri o desses irmãos não possui menos valor que o das vítimas do comunismo na Ucrâni a, Polôni a, Lituâni a, Hungria, Espanha e ta ntas outras nações castigadas no século XX pelo fl agelo vermelho. "Temos a certeza de que, levando adiante essa verdadeira cru zada espiritual, a hi stóri a de vosso pontificado ver-se-á indelevelmente marcada - do modo mais glorioso poss ível - por vossa decisiva atuação para extinguir defi nitivamente a ameaça comunista na América Lati na, neste fi m de século e de milêni o". G. Guimarães NOTAS: 1." Eco Católico", São José da Costa Rica, 16-4-95. 2." Granm a Jnternac ional", Hava na, Cuba, 12-4-95. 3."EI Siglo", Santiago do Chile, 13-5-95. 4. "Was hington Ti mes" , 24-5-95. 5. "Diari o las Améri cas", Mi ami , 25-5-95. 6."D iari o las Améri cas", Mi ami , 28-5-95.

Após arriscada viagem, "balseros"são socorridos pela guarda costeira norte-americana

CATOLI CISMO, JULHO 1995

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COMUNISMO

l=REI,

:, ,No Chile, um Kerenskv li?

OKERENSKY CHILENO

Q

uem foi .., Kerensky? Soc ialista militante, Alexandre Feodorovitch Kerensky participou ativamente da revol ução russa de março de 1917, que depôs o Czar Nicolau II. Em julho ascendeu a primeiro-ministro, com poderes ditadoriais. A personalidade e a vida de Kerensky poder-se-iam resumir assim: um sofisma a encobrir uma traição. O sofisma: o melhor meio de desarmar o adversário é destru ir-l he a agressividade; e o melhor meio para tal consiste em lhe atender indefinidamente as exigências.

Essas personalidades expõem seus respectivos países ao risco de rolar pelo mesmo abismo no fundo do qual Kerensky atirou a Rússia. Entre elas a História colocará por certo o falecido presidente do Chile, Eduardo Frei. Como se sabe, ele e seu partido democrata-cristão estabeleceram, no Chile, nos anos 60, uma política em tudo muito semelhante à de Kerensky na Rússia. Frei tentou transformar a grande nação andina em uma república socialista de estilo fidelcastrista.

Como qualificar a atitude de Kerensky? Fingindo querer desarmar os comunistas com a política do ceder para não perder, ele quis, na realidade, trair sua pátria. Sua figura, entretanto, continua inspirando simpatia, no mundo de hoje, a numerosas personalidades, das quais muitas parecem deixar-se embair pelo sofisma do ceder para não perder, sem atinar com o que este tem de traiçoeiro. 12

Contudo, em abril último, inopinadamente, sai publicada notícia oficial do restabelecimento de relações plenas com Havana ...

O espectro de Kerensky aparece novamente sobre o país e compromete seu futuro - é o título do manifesto publicado pela TFP chilena nos principais jornais da nação andina. Eis alguns de seus principais trechos: "Para dar esse passo [o reatamento com Cuba] - que não duvidamos em qualificar como um dos maiores escândalos políticos da história chilena recente não se tiveram em vista os interesses do país, nem sua honra como nação agredida por C uba castrista, nem mesmo a liceidade moral de tal ato. Não foi consultado o povo, nem se promoveu nenhum debate.

Kornilov, o chefe das Forças Armadas, dispôs-se então a liquidar com o bolchevismo, através de um plano de ação enérgico. Mas Kerensky, o "socialista" moderado, repudia essa proposta. Acaba indispondo-se com Kornilov e o manda prender, mais ou menos ao mesmo tempo em que liberta Stalin e Trotsky.

Em novembro de 1917, os bolchevistas derrubam o governo e se instalam no poder . Kerensky refugia-se a bordo de um navio inglês, e chega são e salvo a Londres, e depois à França. Ele vive uma velhice despreocupada e bem instalada no coração do mundo capitalista - Nova York - onde veio a falecer em 1970.

Desde janeiro passado, começaram a correr rumores de um reatamento ChileCuba. Frei saiu a púb lico, manifestando que" na agenda de seu governo não constava o reatamento com Cuba".

TFP chilena lança manifesto

Assim, chefe do Governo russo logo após a queda da monarquia, Kerensky desenvolve frente ao comunismo uma política de sucessivas concessões. Nessa ocasião, os bolchevistas, que em março pareciam uma grande força, davam mostras de debilidade. Seus principais líderes estavam fora de ação: Lenine vivia foragido; Trotsky e Stalin encontravam-se presos.

Logo depois Lenine regressa à Rússia, e sua facção começa a crescer em força e influência.

qual a DC (Democracia Cristã) se juntou aos partidos de esquerda.

Alexandre Kerensky: homem-símbolo da política de entreguismo em prol do comunismo

Com vistas a denunciar esse perigo, foi publicado em 1967 o livro "Frei, o Kerensky chileno", de autoria de Fábio Vidigal Xavier da Silveira, sócio da TFP brasileira. Não obstante as várias edições do livro, transformado em best-seller latinoamericano, Frei preparou a vitória de Salvador Allende, o qual conduziu o Chile a uma ditadura socialo-comunista de tri ste memória, levando o país àquela mesma miséria que a recente queda do Muro de Berlim apenas evidenciou em outros países comunistas.

Um Kerensky Jr. O Chile tem a dirigi-lo, no momento, um presidente que é o próprio filho de Eduardo Frei, o Kerensky chi leno. Subiu ao poder apoiado por uma coalizão na CATOLIC ISMO, JULHO 1995

"Menos ainda foram tomadas em consideração as mais elementares obrigações morais de solidariedade cristã com as inumerávei s vítimas do comunismo cubano, que gemem sob o jugo da opressão e da miséria nessa infeliz ilha-prisão, sob o mais iníquo sistema de violação dos direitos de Deus e dos homens que já houve sobre a Terra. Um sistema intrinsecamente mau, segundo a expressão do Papa Pio XI, e qualificado pelo Cardeal Ratzinger como a vergonha_de nosso tempo. "Esse episódio revela ao país a face oculta permanente da Democracia Cristã chilena. E esta corresponde ao espírito de Alexandre Kerensky, um espírito sempre pronto a dar, no momento decisivo, a vitória à esquerda socialo-comunista. "Os dirigentes que dominam a DC, com o emb lemáti co Kerensky I na mente e, hoje em dia, com um Kerensky II no poder, entregar-nos-ão também às novas investidas do comuni mo?"

Caderno 'Especia[ nº 47 'J\(pssa Senfwra do Monte Carme[o -16 de ju[fw flJevoção mariana que remonta ao Profeta 'E[ias cenário onde nasceu a Ordem da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo instituição profética - é rico em simbolismo. Nos confins da Galiléia e da Samaria, as encostas do Carme lo tocam no mar Mediterrâneo. No horizonte, em direção ao rio Jordão, emerge o Tabor e, em toda a redondeza, outras grandes testemunhas dos mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo: Nazaré, Caná, Tiberíades, Corozaim.

O

Acab e anunciou-lhe terrível castigo: "Viva o Senhor de Israel,

em cuja presença estou, que nestes anos não cairá nem orvalho nem chuva, senão conforme as palavras de minha boca." Sendo a escassez já muito grande em todo o país, o varão de Deus retirou-se para Sarepta e pediu a li mento a uma pobre e honesta viúva. Esta respondeu lhe que possuía apenas um pouco de farinha e de azeite, para ela e seu pequeno filho; consumidos esses restos morreriam de fome.

Carmelo, monte santo do Antigo Testamento! Nas florestas que outrora o cobriam, o Profeta E lias e seu discípulo Eliseu foram procurar a solidão e o recolhimento, para melhor compreenderem os desígnios de Deus e indicarem a rota que, depois, foi seguida por milhares de continuadores .

Elias disse à viúva: "Não temas, mas vai, e fa ze primeiro para mim um pãozinho; e depois o farás para ti e para teu filho. Pois assim fala o Senhor Deus de Isra el: a vasilha de farinha não se es vaziará e a jarra de azeite não acabará, até o dia em o Senhor Deus enviar a chuva sobre a fa ce da terra".

Para compreender e adquirir verdadeira devoção a Nossa Senhora do Carmo ou do Monte Carmelo - é de toda conveniência admirar o protótipo de varão apostólico, combativo e indomável , que disse ao próprio Cri.ador: "Zelo zelatus sum pro Domino Deo exercituum" "Eu me consumo

A mulher fez como E lias lhe havia dito e, como recompensa de sua fé , deu-se o milagre da multiplicação da farinha e do azeite, os quais não diminuiam nos recipientes em que estavam . colocados.

de ardente zelo pelo Senhor Deus dos exércitos" (III Reis

É próprio dos Santos e Profetas passarem por grandes sofrimentos. Deus exige que tenham fé e confiança heróicas.

19, 14). Este foi Elias, o Fundador da Ordem do Carmo.

Elias ressuscita o filho da viúva de Sarepta

Depois da humilhação de ter que pedir alimento a urna pobre viúva, maior provação aguarda-

Devido aos pecados cometidos em Israel, o Profeta Elias compareceu diante do ímpio rei

Francisco de Zurbarán - Santo Elias (1658) - Convento das Capuchinhas, Castellón de la Plana Es anha

Flávio Braga CATOLI CISMO, JULHO 1995

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va Elias.O único filho da viúva morreu e, aflita, a pobre mulher disse ,ao Profeta: "Que te fi z ·~~' ó homem de Deus? Porventu a vieste a minha casa para excitares em mim a memória dos meus pecados, e matares o meufilho?" Confiante, Elias clamou a Deus . E o Senhor atendeu sua oração e "a alma do menino voltou a ele; e ele recuperou a vida " . Essa foi a primeira ressurreição de um morto realizada no Antigo Testamento.

O Profeta Elias, diante do povo de Israel congregado no Monte Carmelo, (foto abaixo), lançou um repto vitorioso aos 450 sacerdotes de Baal

um homem", a qual, em pouco tempo, deu origem a uma grande chuva (III Reis, 18, 44). Essa nuvenzinha é o símbolo de Nossa Senhora e de sua Imaculada Conceição. Porque, assim como a leve e alígera nuvem surgiu do mar salgado, sem conter seu amargor, a Virgem Maria surgiu da humanidade culpada, sem a culpa.

Depois de muito sofrerem durante as perseguições movidas pelos Imperadores romanos, . e na época da invasão da Terra Santa pelos maometanos, os carmelitas foram libertados pela espada dos cruzados.

Elias compreendeu esse simbolismo e foi o primeiro a cultuar Nossa Senhora. E a doutrina da Imaculada Conceição - que em 1854 foi proclamada como dogma por Pio IX - foi sempre defendida pela Ordem do Carmo.

Combatividade invencível O Fundador da Ordem do Carmo foi magnífico exemplo, não só de fé e confiança, mas também de combatividade.

Numa manifestação de santa ousadia, o Profeta respondeu ao rei: "Não sou eu que perturbei Isra el, mas és tu e a casa de teu pai, por terdes deixado os mandamentos do Senhor, e por terdes seguido Baal ". Depois de increpar o rei, Elias increpou o povo: "Até quando claudicareis para dois lados, inclinando-vos umas vezes para o Senhor e outras para o ídolo de Baal ? Se o Senhor é Deus, segui-O; se é Baal, segui-o. E o povo não lhe pôde dar resposta ". Elias, então, realizou no Monte Carmelo prodigioso milagre, fazendo vir fogo do céu para consumir o holocausto, a lenha e as pedras do altar por ele edificado. E, quanto aos 450 falsos profetas de Baal, principais responsáveis pelos pecados do povo, "Elias levou-os até a torrente de Cison, e lá os matou" (III Reis, 18,40).

Nuvenzinha, símbolo da Imaculada Conceição Depois dessa extirpação salutar e admirável, Elias pôs-se a rezar no alto do monte Carmelo, implorando a Deus que cessasse a terrível seca. Eis, então, que se levantou do mar uma "pequena nuvem, como a pegada de

Segundo abalizados intérpretes da Sagrada Escritura, Elias virá no fim do mundo - juntamente com Henoc, que também não morreu - para combater o Anticristo.

Esta apareceu-lhe e comunicou-lhe: "É vontade de Meu Filho e minha que a Ordem do Carmo não seja somente uma luz para a Palestina e a Síria, mas que ilumine o mundo inteiro. É por este motivo ·que Eu lhe atrai e lhe atrairei de todos os pafses numerosos filhos".

A primeira igreja em honra de Nossa Senhora na era cristã De acordo com piedosa tradição, atestada pela Liturgia da Igreja, no dia de Pentecostes um grupo de homens, devotos dos santos Profetas Elias e Eliseu, abraçaram o Cristianismo. Tinham sido discípulos de São João Batista, que os preparara tendo em vista o advento do Salvador. Partiram de Jerusalém e no Monte Carmelo erigiram um santuário votado à Santíssima Virgem, no mesmo lugar onde Elias vira aparecer aquela nuvenzinha anunciadora da fecundidade e, ao mesmo tempo, símbolo da Imaculada Conceição da Mãe de Deus . Adotaram eles o nome de Irmãos da Bem-aventurada Mari a do Monte Carmelo.

CATOLIC ISMO , JULHO 1995

Na noite de 16 de julho de 1251, no auge de sua dor, São Simão Stock rezava e sua ardorosa prece transformou-se num cântico maravilhoso:

Com a queda do Reino católico de Jerusalém, os carmelitas da Palestina foram novamente perseguidos pelos muçulmanos e muitos foram martirizados. São Cirilo, que se tornara Geral da Ordem, recorreu a Nossa Senhora.

Embora se tenham passado mais de 2.800 anos, o Profeta Elias não morreu. Quando foi arrebatado desta Terra por um carro de fogo, lançou seu manto para o discípulo e também profeta Eliseu . Este, tendo pedido e recebido em dobro o espírito de Elias, passou a dirigir a Ordem do Carmo, a qual nunca se extinguiu, apesar de todas as tragédias ocorridas na Palestina.

Gravura de Gustavo Doré (sec. XIX)

De fato, a Ordem do Carmo floresceu em várias nações. Porém, no século XIII, muitas incompreensões surgiram contra ela no Ocidente. ,•

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Em 1251, São Simão Stock, alquebrado pela idade e pelas austeridades - vivera durante vinte anos no tronco oco de uma árvore, como penitência - , foi a Cambridge, Inglaterra, para inaugurar novo convento carmelita Mas sua alma muito sofria devido às oposições de que a Ordem do Carmo era objeto sobretudo em seu país.

Muitos peregrinos do Ocidente entraram então na Ordem do Carmo, permanecendo na Terra Santa ou voltando para seus países de origem. Entre os novos carmelitas, destacaram-se São Cirilo, Santo Ângelo e São Simão Stock.

Eliseu e o manto de Elias

Depois de três anos em que não caiu "nem orvalho nem chuva ", Elias apre entou -se diante do rei Acab, o qual lhe di sse: " Porventura és tu que trazes perturbado Israel?"

Recepção do escapulário das mãos de Nossa Senhora

Libertados pela espada dos cruzados

Fios Carmcli Vitis florigcra Splcndor cacli Virgo puerpera, Singularis. Matcr mitis Scd viri nescia Carmclitis Da privilegia Stella maris.

Flor do Carmelo Vide florida Esplendor do Céu Virgem Mãe Admirável. Mãe cheia de doçura Sem conhecer varão Aos carmelitas Dai privilégios Ó estrela do mar. São Simão Stock rezou e cantou durante toda aquela noite de 16 de julho. Aos primeiros sinais da aurora, Nossa Senhora apareceu-lhe rodeada de anjos, vestida com o hábito do Carmo. Ela sorria e trazia nas suas virginais mãos o escapulário da Ordem, com o qual revestiu o varão de Deus, dizendo-


NACIONAL lhe: "Este é um privilégio para ti e para todos os ca rmelitas. Quem morrer portando este escc!,:pulário não cairá no inferno ". ,..

Neste fim de milênio e m que a avalanche neopagã entroni za modernos Baals, se mpre ma is cultuados, recorramos de modo especial a Nossa Senhora do Carmo e a Santo E li as .

Não podemos, entretanto, deixar-nos levar pela falsa idéia de que a simp les posse e uso do escapulário é suficiente para nos obter o Céu. Para isso, é necessário levar vida cristã, cumprindo os Man damentos.

Assim como o F undador da Ordem carmelitana exterminou os profetas de Baal, conceda-nos ele a in sig ne graça de se rmos implacáveis com nossos defeitos. E que te nhamo s a co mb at ividad e sagrada para travarmos um a luta se m tréguas contra os erros e víc ios de nossa época, com a mesma radicalidade e zelo qu e animaram o Profeta do Monte Ca rm elo.

Privilégio sabatino Nossa Senhora é supremamente misericordiosa e nos consegue muito mais do que Lhe pedimos. Assim, para quem porta dignamente o escapulário, co ncedeu a Mãe de Deus o privilégio sabatino.

Pintura de Alessandro Franchi

Em 1316, a Virgem apareceu ao Cardeal Tiago d 'Euze, que, no dia seg uinte à visão , foi eleito Papa com o nome de João XXII. Na bula que João XXII escreveu para teste munh ar essa aparição, o Papa declara que Nossa Senhora prometeu libertar do purgatório, no primeiro sábado após a morte, aq ueles que morrerem com o escapulário, Daí o no me de privilégio sabatino. Mas para receber essa graça é necessário rezar diariamente o Pequeno Ofício da Virgem Maria, fazer abstinência .de carne nas quartas-feiras e sábado s, e g uardar a castidade segundo seu estado. As duas primeiras práticas podem ser comutadas pelo sacerdote autorizado a impor o escapulário.

deis! Fazei cessar essa situação ominosa e que venha com urgência o Reino de Vosso Imaculado e Sapiencial Coração, profetizado por Vós em Fátima! José M. Moraes Obras co nsultadas - Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, São Paulo , 1933, livros Il i e IV dos Reis. - Plínio Corrêa de Olive ira, O Escapulário, a Profissão e a Consa gração Interior - Conferência pronunciada no Ili Congresso Nacional da Ord em Carmelitana, em 15-11 -1958 , publicada no "Mensage iro do Carmelo" , n2 especial , 1959. -

Vinde Mãe, não tardeis! A Ordem do Carmo forneceu à Santa Igreja um número incontável de Santos. E ntre eles, destacamos São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila, que promov eram, no séc ulo XVI, a Reforma da Ordem, na qual se haviam introduzido muitos abusos. E no século passado, um florão desabrochou na Ordem Carmelitana: Santa Teresinha do Menino Jesus, que representou um marco na espiritu alidade católica.

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E, considerando que a abominação es tá atingindo os lugares mais insuspeitados, peçamos com ardor a Nossa Senhora: Vinde Mãe, não tar-

M. M. Vaussard , Le Carmel, Bernard Grassei , 1929.

Dom ~rosper Guéranger, L'Année Liturgique, Maison Alfred Mame et Fil s Editeu rs Pontificaux, Tours, 1922 , tomo IV. - Jean Le Solitaire, Aux Sources de la Tradition du Carme/, Beau chesne, Paris, 1953. - Padre Gabri el de Sain te Marie Madeleine , Mater Carmeli - La Vie Maria /e Carmélitaine, College lntern ational de Ste. Thérése, Roma, 193 1. - Padre João Batista Lehmann , Na Luz Perpétua, Livraria Editora Lar Católico , Juiz de Fora, 1950, vo l. li. - Vies des Saints illustrées pour tous les jours de l'année, Maison de la Bonne Presse, Paris, s/d, festa de 16 de julho.

CATOLI CISMO , JULH O 1995

Avitória sobre as greves criou clima propício para Fernando Henrique Fortalecido, o Governo começa a vencer a batalha pelas emendas à Constituição. Conseguirá levá-la a bom termo? restes a completar o seu primeiro semestre de governo, o Presidente Ferna ndo Henrique Cardoso parece ter sabido aproveitar as circunstâncias propícias que o panorama político lhe apresentou, com a fracassada greve dos petroleiros. "O Presidente Fernando Henrique

P

está diante da grande oportunidade que a História lhe ofereceu: aceitar no quadro da legalidade constitucional o desafio insurrecional que a CUT e os petroleiros acabam de lhe lançar", escreveu um matutino paulista.

"Se o governo tivesse combinado fa zer tudo tão bem articulado, não tetia conseguido que os Três Poderes da República fechassem o cerco ao império das empresas estatais, exatamente quando se espalha pelo País uma onda de greves contra as reformas econômicas e por aumentos de salários .... Se não é apenas coincidência, não é de todo sem sentido ", afirmou Marcelo Pontes na Coluna do Castelo.

Reformas da Constituição: primeiro passo Prestigiado com o êxito alcançado por ocasião da recente greve dos petroleiros, o Presidente parece estar obtendo uma grande vitória na aprovação das reformas constitucionais. Em suas linhas gerais, as cinco primeiras reformas econômicas (vide quadro na p.18) vêm andando bem, aprovadas com folgada maioria nas diversas etapas já votadas na Câmara e no Senado.

A atitude dos grevistas indica o caráter comunista do movimento paredista

Na realidade, tomando-se em consideração o elevado déficit público produzido pelo fracasso da intervenç~o estatal na eco nomi a, um governo be m intenc ion ado não poderia deixar de promover reformas desse gê nero. Resta saber se elas serão suficientes para o saneamento da s finanças públicas. Mas, também não se podem deixar de levar em conta as dificuldades que o Governo teria que enfrentar para conseguir mais do que está conseguindo. O custo político e as concessões feitas, para obter esse resultado, já foram consideráveis.

Tudo pelo Plano Real Por outro lado, o Governo continua a jogar todo o seu prestígio em cima do sucesso do Plano Re.ctl. Até agora aparentemente bem sucedido, o combate à inflação enfre nta a sua fase mais difícil: o artificialismo da defasagem cambial, os juros aÍtos e a crise da agricu lturaprovocada pelos baixos preços de seus produtos - ameaçam j ogar o País numa crise de recessão e desemprego das mais graves de sua história. Forro uCATO LICISMO, JU LHO 1995

lemos votos para que as autoridades saibam corrigir o plano no que ele deve ser corrigido, e salvar o real com o mínimo de prejuízos para a Nação.

A incongruência da Reforma Agrária Cumpre notar que a liberalização da economia em todos os outros campos deveria levar também a urna diminuição da intervenção do Estado na agricultura. Parece uma evidente contradição reconhecer por um lado o fracasso da economia estatal, combatê-la em todos os campos. e por outro aumentar essa intervenção na agricultura, indiscutivelmente a atividade básica que vi abilizou e pagou a indu strialização no Brasil. É difícil compreender, neste quadro, a persistência do Governo em realizar a Reforma Agrária. Em especial é incompreensível a pouca sensibilidade manifestada pelo Sr. Andrade Vieira, Ministro da Reforma Agrária, ao receber de uma comissão do SOS Fazendeiro - campanha promovida pela TFP 17


a preocupação é ainda maior. Numa economia já conhecida como suportando uma das maiores cargas fiscais do mundo Enquanto se fazem greves políticas, o povo sofre nas filas livre , não se compreende que - o pedido de suspender as desaproessa questão seja adiada para o próxipriações até que fossem publicados os mo ano e também que em 1995 elemendados sobre o que foi ogtido até agora tos do Governo venham a propugnar a pela Reforma Agrária. E tão patente o criação de mais um imposto, como fracasso dos assentamentos efetuados aliás já está acontecendo. até hoje, que se torna difícil compreenAs privatizações, tão lentamente leder a resposta do Sr. Ministro, de que vadas a cabo nos governos anteriores, continuará a desapropriar. Por que será não parecem ainda ter mudado de ritmo que o Sr. Ministro não quer apresentar no atual. Só pode causar preocupação esses dados? que as privatizações não sejam tocadas com todo o vigor. As reformas que estão Esboçado esse panorama, o que paradas pensar a respeito? Voltando às reformas na área econômica, duas emendas constitucionais Um princípio básico estão emperradas: a da Previdência Soesquecido: o da cial e a fiscal. subsidiariedade A Reforma da Previdência vai se A diminuição da intervenção do Esmostrando muito difícil de ser obtida, tado na economia, a privatização urface aos interesses que ela envolverá. Já se fala que só será possível votá-la gente das estatais, a liberali zação do em 1996. O custo desse adiamento e a co mércio exterior, são em si coisas não insuficiência das medidas propostas fa- somente boas, mas até mesmo imprescindíveis para mudar os rumos da Hiszem temer que, na melhor das hipóteses, essa reforma só venha a apresentar tória do Brasil. O fracasso do comunis-

mo nos países de além Cortina de Ferro e o insucesso do socialismo nos países da Europa Ocidental não deixam senão esta alternativa para um governo moderno e que queira ser bem sucedido. Até que ponto o Brasil está adotando tal caminho? As medidas em andamento parecem constituir apenas um passo pioneiro. Terão nossos homens públicos o discernimento e a coragem para dar os demais passos necessários para que caminhemos neste sentido? Consegui rão e les chegar a bom termo? Há um ponto básico da doutrina católica a respeito do papel do Estado, que não pode ser esquecido e que está ausente em todo o debate sobre essas questões: o princípio de subsidiariedade. O Prof. Plínio Corrêa de Oliveira assim o descreveu em sua monumental obra Revolução e Contra-Revolução: "cada família deve fa zer tudo aquilo de que por sua natureza é capaz, sendo apoiada apenas subsidiariamente por grupos sociais superiores naquilo que ultrapasse o seu âmbito. Esses grupos, por sua vez, só devem receber o apoio do município no que excede à normal capacidade deles, e assim por diante nas relações entre o município e a região, ou entre esta e o país" (cfr. Revolução e Contra-Revolução, Artpress, 2ª edição, S.Paulo, 1982, p.22).

Uma interrogação paira no ar Uma questão final deve ser lembrada. No clima de decompo ição moral em que vive a sociedade moderna, com a família e os bons costumes em franca dissolução, um a reforma econômica será capaz de co locar o País nas sendas para as quais a Providência o chamou? Plinio Vidigal Xavier da Silveira

Cinco reformas econômicas em andamento Já aprovadas pelo plenário da Câmara de Deputados, as emendas seguiram para o Senado, a fim de serem apreciadas. Se não houver mudança no texto, estarão aprovadas. Em caso de qualquer alteração, voltarão à Câmara para duas novas votações. • Petróleo - Permite a entrada de empresas particulares,

nacionais ou estrangeiras, inclusive estatais, na exploração de qualquer fase da indústria petrolífera. • Telecomunicações - Abole reserva de mercado para

empresas estatais. O setor fica aberto a empresas particulares, nacionais e estrangeiras.

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• Gás canalizado

- Governos estaduais perdem exclusividade na exploração. Distribuição de gás é franqueada a empresas particulares. • Empresa nacional

- Elimina distinção entre empresas brasileiras de capital nacional e de capital estrangeiro. Extingue privilégio de empresas de capital nacional na prestação de serviços públicos.

HAGIOGRAFIA Bagnoregio, a cidade natal de São Boaventura

Profundidade de pensamentofilosqfico e fecundidade das obras na vida de um devotíssimo Doutor da Igreja

N

o dia 15 de julho de 1274, aos 53 anos de idade, após receber a Extrema Unção das mãos do Papa Gregório X, falecia em Lyon (França) São Boaventura, íntimo amigo de São Luís IX, Rei de França, de Santo Anselmo e de Santo Tomás de Aquino. Nasceu ele em 1221, em Bagnoregio, cidade da Toscana que pertencia então aos Estados Pontifícios. Aos quatro anos de idade, ca·indo gravemente enfermo, sua mãe, Ritella, levou-o a São Francisco de Assis, implorando sua intercessão. O Poverello tomou o menino nos braços e o abençoou. Tendo-o curado milagrosamente, devolveu-o à mãe , dizendo: "ó buona ventura". Assim passou a ser chamado, não obstante ter sido João seu nome de bati smo. A mãe, em reconhecimento, consagrou-o a Deus pelo voto de fazê-lo ingressar na Ordem Franciscana.

"Nele, Adão não pecou" Efetivamente, aos 21 anos ingressou na Ordem de São Francisco, demonstrando desde logo grande fervor. Dois anos depois era enviado à Uni. versidade de Paris, para completar seus estudos sob a orientação do grande mestre Alexandre de Bales. Este, vendo como, em meio à multid ão de estudantes, o novo aluno conservava a alma tão pura, dizia com admiração: "Nele, parece que Adão não pecou".

• Navegação de cabotagem

Teologia do Amor

- Acaba com reserva de mercado das embarcações brasileiras no transporte de passageiros e carga na costa e no interior.

No campo da produção intelectual deixou vasta obra teológica, bíblica e ascética. Costuma-se dizer que enquanto Santo Tomás cultivou o amor da teo-

CATOLIC ISMO, JULHO 1995

São Boaventura, Doutor Serálico

logia, São Boaventura cultivou a teologia do amor. São Luís IX, o Rei cruzado, tinha particular estima por São Boaventura. A seu ped ido, o Santo compôs um ofício da Paixão de Jesus Cristo. Redigiu também uma regra para um convento, fundado por Santa Isabel, irmã do rei. Em 1257, co m apenas 36 anos de idade, foi e leito Mestre Geral da Ordem de São Francisco, que contava mai s de 20 mil membros, em cerca de mil conventos por toda a Europa. Ocupou este importante cargo durante 17 anos.

Devoção à Virgem São Boaventura discorreu magistralmente sobre a Mediação Universal de Maria. Co locou os franciscanos sob a proteção especial da Mãe de Deus, traçando um plano de devoções regulares em sua honra, e compôs o famoso "Espelho da Virgem", onde se estende sobre as graças, as virtudes e os privilégios de Nossa Senhora. Determinou que os frades rezassem o Angelus todas as manh ãs, às seis horas, para honrar o mistério da Encarnação.

Nomeado Cardeal e dirigente de um Concílio Quando morreu o.Papa Clemente IV, em 1272, São Boaventura foi procurado pelos cardeais para que indicasse o sucessor. Foi eleito, assim, Tebaldo Visconti, sob o nome de Gregório X, o qual logo depois nomeou São Boaventura Cardeal e Bispo de Albano. O Papa encarregou-o da preparação e direção do Concílio Ecumênico de CATOLICISMO. JULHO 1995

Lyon, que devia reaproximar de Roma, embora temporariamente, a igreja cismática do Oriente. Após a terceira sessão conciliar, ca iu enfermo e mal pôde assistir à segu inte, na qual o chanceler de Constantinopla abjurou o cisma, com a aprovação de todo o alto clero greco-b izanti no (50 metropolitas e mais de 500 bispos). No dia 24 de junho, o Papa celebrou so lene missa , na qual a Epístola, o Evangelho e o Credo foram cantados em latim e em grego.Os delegados gregos repetiram três vezes em sua própria língua: "Qui ex Patre Filioque procedit". Ou seja, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, que era um dos pontos chaves do cisma. Em seguida São Boaventura pronunciou inflamado sermão. Seu estado gera l, contudo, agravouse, e veio a fa lecer na passagem de 14 para 15 de julho de 1274. Foi sepultado no convento dos franciscanos em Lyon. Canonizado em 1482, teve seu nome inscrito, em 1588, entre os Doutores Maiores da Igreja, ou seja, ao lado de São Gregório Magno, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e Santo Tomás de Aquino. Infelizmente, protestantes huguenotes profanaram seu túmulo no século XVI. Os ossos foram incinerados e as cinzas jogadas ao rio . Com muito custo, somente seu crâneo foi salvo.

Um fato pitoresco A Crônica dos Gerais franciscanos conta que um frei de nome Egídio propôs o seguinte problema a São Boaven19


tura: Quando se pensa nas luzes que os doutores de tua categoria recebem do céu, como pretender que os ignorantes como eu venham a conseguir ai salvação? O essencial para a 51lv ação respondeu o Doutor Seráfico - é amar a Deus. Apesar disso - insistiu Frei Egídio - poderá um inculto amar a Deus tanto como um sábio ? E São Boaventura confirm o u: N ão só O pode amar tanto, mas ultrapassar nesse amor até mesmo os maiores teólogos. Passava justamente na estrada, junto ao convento, uma pobre carregando um fe ixe de lenha. F rei Egídio não se conteve e grito u-lhe : Alegra-te, boa velhinha ! Acabo de saber que depende só de ti amares a Deus ai nda mais do que F re i Boave ntura . Logo depois, F re i Egídio cai u em êxtase, q ue durou três dias.

Reflexões finais Santo Tomás de Aquino , visitando-

º um dia, perguntou-lhe em que livros aprendera sua ciência sagrada. "Eis respondeu, apontando para o crucifixo - a fonte de meus conhecimentos. Estudo Jesus, e Jesus crucificado!" Temi a o Doutor Seráfico com un gar com freq üência, por humildade , co nsiderando-se o mais vil dos pecadores. Após ter passado vários dias sem se aproximar da Sagrada Mesa, ao assistir à Missa a Hóstia que o padre consagrara partiu-se e, pelas mãos de um A nj o, foi levada a São Boaventura. Este milagre

levou-o a comungar mais freqüentemente, e cada uma ele suas co munh ões era aco mpan hada de indizíveis consolações. A exemplo de São Boaventura, poderíamos fazer quanto esteja ao nosso alcance (vide quadro) para receber Nosso Senhor Sacramentado de modo recolhido e digno, re movendo absolutamente de nossas alm as tudo quanto possa desagradar o divino hóspede. Com o intuito de incitar os leitores a esse ardor na devoção eucarística, reproduzimos uma oração composta pelo Doutor Seráfico, cuja festa celebramos a 15 de julho.

Oração de São Boaventura para a Santa Comunhão Feri, ó dulcíssimo Senho r Jesus, o mais íntimo e profundo de meu ser com o dardo suavíssimo e salutar do Vosso amor, com aq ue la verdadeira, in alterável, santíssima e apostóli ca caridade, a fim de que a minha alma se e nl anguesça com o único desejo de sempre crescer em vosso amor. Q ue eu vos ame intensamente, que desfaleça nos vossos átrios e deseje dissolver-me em vós e ser um convosco. Q ue min ha alma tenha fome de Vós , ó Pão dos Anjos, alimento das alm as santas, Pão nosso de cada dia, supersubstancial, que tem toda doçura e sabor, e todo deleite de suavidade. Ó Vós

a Quem os Anjos desejam contemplar! Que o meu coração sempre tenh a fome e se alime nte de Vós , e que as e ntra nh as cio meu ser sej am rep letas com a doçura de vosso sabor. Que só de Vós tenha sede, ó fonte da vida e da sabedoria e da ciência e da lu z eterna, torrente de delícias, riqueza ela casa de Deus.

2.Guardar jejum de uma hora antes da comunhão 3.Saber o que se vai receber e aproximar-se da sagrada comunhão com devoção.

Explicações sumárias:

Somente em Vós minha alma e meu coração estejam radicados de modo fixo, firme e in amovível. Assim sej a. Luís Carlos Azevedo FONTES DE REFERÊNC IA:

Enciclopedia Cattolica, Cidade do Vaticano, 1949, p. 1838 e ss. Catechismo Maggiore p romulgato da San Pio X,

Edizioni Ares, Milão, 1979, p.144 e ss.

d) Ação de graças depois da com'1lllhão: oonsenrar-sé recolhido, a honrar a presença de Nosso Sitnhor dentro de mós, renovando com atos de fé, de esperança, de carJdade, de adoração, de agradecimento, de oferecimento e de smpiiica, pedindo sobretudo aquelas graças que são mais neoessánias para nós e para aqueles por quem somos obdgados a rerna:r. e) Como consequência, o dia da comunhão, máxime se for diária, deve transcorrer no recolhimento, bem como cu~prir com grande esmero os deveres de estado.

b)Saber o que vai receber, conhecer e acreditar firmemen-

Santa Teresa de Ávila dividia o dia em duas pairtes: a preparação, antes da comunhão, e as restantes 12 horas em agradecimento pela comunhão.

e) Com devoção: aproximar-se com humildade e modéstia, tanto na própria pessoa como no modo de vestir. Fazer preparação antes e, por cerca de 1Ominutos, a ação de graças depois da comunhão . 20

f) Permanência de Jesus em nós: com sua presença !Feai, enquanto não são consumidas as espécies eucarísticas, e com sua graça, enquanto não pecamos mortalmente. Redu:runos essa graça pelo pecado venial deliberado, e a aumentam.os através de atos de virtude.

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Omissão de autoridades religiosas De outro lado, as autoridades eclesiásticas raras vezes têm advertido os fiéis, com a ênfase necessária, contra os perigos morais da crescente influ,ência desses grupos junto à população. E desco ncertante, nesse sentido, a posição assumida por dois Bispos colombianos, que propugnam a legali zação do plantio de coca. A ousad ia dos grupos narcotraficantes e guerrilheiros chego u a tal ponto que tanto a polícia quanto soldados não podem ul trapassar o limite urbano de Bogotá e das capitais provinciais sem correr grave risco de vida.

Exemplo peruano

Sede, Senhor, minha única esperan ça, toda minha confiança, minhas riquezas, meu deleite, meu encanto, minha alegria, minha quietude e tranqüi li dade, minha paz, minha suavidade, meu perfume, minha doçura, meu pão, meu alimento, meu refúgio, meu auxílio, minha sabedoria, minha partilha, meus bens, meu tesouro.

a) Estado de graça quer dizer: ter a consciência limpa de todo pecado mortal. Comete sacrilégio e incorre na sentença de condenação quem recebe a comunhão em estado de pecado mortal. te o que a Doutrina católica ensina sobre este Sacramento. Ou seja, Jesus Cristo está real, verdadeira e substancialmente presente na Comunhão.

Denúncia da TFP: narcotrálico-guerrilheiro está desagregando a Colômbia 0

Só por Vós anseie, só a Vós procure, só a Vós encontre, só para Vós tenda e vos alcance. Só medite em Vós, só de Vós fale, e tudo o que fizer seja para louvor e glória do vosso nome, com humildade e discrição, com amor e deleite, com bondade e afeto, com perseverança até o fim.

Coisas necessárias para se fazer uma boa comunhão l .Estar em estado de graça

TFPSEMAÇÃO

Nos últimos três anos, o Peru iniciou um combate sério co ntra movimentos g uerrilheiros, neutralizando seus líderes, e recuperando ass im relativa tranqüilidade. Ao contrário da Co lombia, que se vê a braços com crescente deterioração da segurança pública. O índice de seqüestros é um dos mais altos do mundo: quase 1.400 por ano! Helicóptero derrubado pela guerrilha

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caba de ser lançado nos jornais mais importantes de Bogotá e das prin cipais cidades da Colômbia um veemente apelo às autoridades civis, militares e religiosas para que, num esforço unido e concentrado, ponham termo a uma situação de pré-liquidação do Estado de Direito vigente na nação vizi nha. Desse extenso documento, sintetizamos a seguir os tóp icos essenc iais. O vigoroso manifesto relembra enfaticamente o desastroso resultado da recente política de abrandamento e negociações com narcotraficantes , levada a cabo pelo Governo colomb iano. D isso resultaram grandes abusos, transações temerári as e efeitos desastrosos. Desses, o pior consistiu e m que o Estado acabou se submetendo ao crime organizado e não o contrário.

Tal situ ação acarretou o aumento da criminalidade a níveis nunca alcançados pela Co lô mbi a: mais de 35.000 mortes violentas por ano ! Essa crise começou há mais de uma década, q uando o Governo passou a tolerar a ação de grupos guerrilheiros e narcotraficantes, os quais adq uiri ram grande impunidade.

A contin uar essa situação, a Colômbia será totalmente arrasada pelos age ntes do caos, com ameaças a todos os países vizinhos. Co nclui o manifesto da TFP apelando a Nossa Sen hora para que proteja, ilumine e forta leça as fibras católicas do país e derrote os agentes da desordem, restaurando a grandeza cristã da nação colombiana. O

Debilidade Governamental Desta forma , muitos narcotraficantes foram condenados a pena ínfimas e mai s de um terço deles não sofreu sequer um dia ele pri são. Dir-se- ia que as autoridades do país esqueceram-se de que muitos narcotraficantes têm como aliados grupos guerrilheiros e terroristas , que recebem apoio de Cuba.

Veículo destruído por guerrilheiros

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HISTÓRIA

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Trib·alismo indígena, ideal da neomissiologia ~

Uma nova ordem para a sociedade, baseada na organização tribal, porque o índio vive em comunidade de bens, numa ausência completa de salários, patrões etc. Somente a tribo prevalece, absorvendo quase todas as liberdades individuais. o contrário da concepção católi ca tradicional das missões, uma recente e ativa corrente ideológica de neomi ssionários, indigen istas, ecologistas, antropólogos e pseudohistoriadores prega o desmantel am ento da sociedade atual e a volta à taba. Dela participam teólogos da libertação, centros pastorais e com unidades de base além das Organizações N ão-Governamentais - ONGs. Tal corrente conta ainda com o apoio de grandes universidades, prin ci pai me nte européias, e também de poderosos grupos internacionai s que promovem o financiamento de suas atividades. Apresentando-se como ultra-avançados, na verdade pregam um retrocesso de vários séculos na História, ao fazer a apologia da tribo primitiva e pagã como modelo de vida comunitária e social. Já na década de 70, alguns neornissionários, Bispos e organismos eclesiásticos de vanguarda como o Conselho Indi ge ni sta Missio nário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) - exerciam atividades que ru mavam em direção ao comuno-tribalismo. Denunciou-o na época, co m lúcida antevisão, o Professor Plinio Corrêa de Oliveira, em sua obra " Tribalismo Indígena, Idea l comuna-missionário para o Brasil no século XXI" , de onde

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nomes da Teo logia da Libertação, têm condenado a conq ui sta e evange li zação da América. Procuram denegrir a grandiosa obra civilizadora e ele cristian izaPorta-vozes da ção cio nosso continente por Portuga l e neomissiologia Es panha, afirmando que isso constituiu o maior genocfd io físico e cu ltura l ela O leitor, por certo, desejará tomar Históri a. E les fa lam ele uma " res istênconhec imento de textos em que instic ia ele 500 anos", reivindicam indeni tuições , perso nalidades e órgãos da zações pelo meio milê ni o de "ocupaneomi ssiologia ex primem d iretamente seu pensamento. Do vasto materi a l ção" européia, e chegam até a propor a ex istência de territórios com governos compil ado foram selec ionados alguns, oberanos e autônomos para neles resque apresentare mos sem comentários taurar o co letivi smo tribal cios índios. como faz o Prof.Plin io Corrêa ele O li veira em seu livro - devido à ex igüi Assim, para o Bispo de Crateús, dacle de espaço nos estreitos limites ele Dom Antôn io Fragoso, o descobrimento da América deve ser entendium artigo. do como "uma invasão desrespeitadoEntre as conclusões ela Primeira Asra, que causou o genocídio de quase semblé ia Nacional da Pastoral Incli getodos os 70 milhões de indígenas aqui ni sta consta a seguinte: "Os índios j á existentes. Queremos a Igreja pedindo vivem as bem-aventuranças: não coperdão em público e ten tando recupe; nhecem a propriedade privada, o luraras culturas queforam destruídas. E cro, a competição". preciso a Igreja Católica admitir que Do documento "Y-Juca -Pirarna, o índio: aquele que deve morrer", assi- foi cúmplice na destru ição da América Latina, numa aliança do proj eto colonado por Bispos e mi ss ion ários: " Um paraíso tribal, onde é coletiva a pro- nizador com o evangelizador" (O Globo, 6-5-92 - CNBB propõe pen itênc ia priedade dos ,neios de produção e não pela " invasão da América" ). existe autoridade .... A missiologia Já o B ispo de Xingue presidente cio 'aggiornata' inspira uma transformaCIMI, Dom Erwin Krautler, afi rmou : ção radical de nossa sociedade". "A IgrejadevefazerumexamedeconsDo plano pastora l dos Bi pos ela c iên c ia e não celebrar um descoAmazônia: "A principal missão da brimento, pois na América havia 90 Igreja não é con verter os índios à Remilhões de indígenas e 70 milhões foligião de Jesus Cristo, mas conservarram exterminados. A Igreja tem, em lhes o estado tribal " tudo isso, culpa hislórica. Os indígenas Do Seg undo E ncontro Regional perderam sua identidade quando se .fiNorte de Mato Grosso do CIMI: zeram cristãos, e a inda não existe na "Evangelização é secundária para América Latina uma Igreja com rosto missionários que menosprezam o trabaindígena " (EI Pais, Madrid , 29-4-92). lho de Anchieta". Depoimento de Dom Tomás Balcluino, Bispo de Goiás Ve lho: "Os po- A verdadeira doutrina vos indígenas são os verdadeiros evansobre evangelização gelizadores do mundo .... Vivendo em Em face elas novidades pregadas regime comunitário, os índios não prepor tais neomissionários, cumpre cocisam. da Igreja" nhecer a verdadeira doutrina católica a Do livro Cartas da Prisão, de Fre i respeito. Numa conti nuidade impresBetto: "O preço de cada passo de nossionante, os Romanos Pontífices, desso progresso é a ruína de mais uma de Alexandre VI até João Paulo II, tribo". pronunciaram-se sobre o tema à marDeclaração cio Conselho lndigen ista gem das controvérsias históricas, de Missionário: "O índio americano é o modo a não deixar dúvidas. único e verdadeiro senhor das terras". Quem percorrer os documentos paDa Com issão Pastoral da Terra: pais desde o primeiro-século ele coloni"Índios e posseiros devem empenharzação, constatará o elogio feito à magse em promover uma agitação agrária na obra civ ili zadora. E também o mi no País". nucioso cuidado da Igreja na correção dos abusos cometidos, pelo respeito Contra a conquista e aos direitos naturais cios índios e ao seu índ io do "contágio" da civ ili zação, que lhe fo i imposto pelos co lonizadores e mi ssionários de outrora.

retiramos os fundam entos doutrin ários deste artigo. Baseada em vasta documentação, a

moral nele. O homem tem um fim imediato em si mesmo, e outro transcendente em Deus. A solução para o egoísmo não consiste, como quer a neomis-

Igreja de Nossa Senhora da Assunção - Reritiba (ES), construída pelo Bem-aventurado José de Anchieta, em 1564-Afresco de Giuseppe lrlandini, Palácio Anchieta, Vitória (ES). Edifício religioso, símbolo arquitetônico da autêntica missiologia, que foi empreendida pelo Apóstolo do Brasil e abnegados religiosos nos primórdios de nossa História

obra traça a fisionomi a ideológica da corrente comuno-tribali sta, que hoj e pretende adquirir foros de cidadani a.

Concepção progressista das missões Bem diferente do conceito católico tradicional de mi ssões, o obj etivo principal da missiologia " aggiornata" não é a evangelização dos infiéis e a salvação das almas, mas a criação de uma nova ordem para a sociedade. Ela aponta co mo seu adversário capital o egoísmo, que opera uma completa inversão de valores entre o indivíduo e a sociedade. Tal inversão, sempre segundo a neomi ssiologia, dá-se na medida em que o homem, rompendo sua inteira vinculação com a coletividade, toma por meta criar para si uma situação frui tiva, apropriati va e competitiva. O egoísmo geraria assim uma estrutura injusta, com privilégios, desig ualdades, ali e nações, m arginali zações etc, que seria necessário então de mantelar. Ora, segundo a doutrina católica tradicional, o homem tem uma tendência para o egoísmo, porém ele não é todo egoís mo, que é um a deformidade CATOLICISMO, JULHO 1995

siologia, em cair no extremo oposto, isto é, a comunidade absorvendo todas as liberdades individuais do homem. Muitos missionários sob a influênc ia de tendências e opiniões marcadas pelo progressismo e pelo esq uerdismo, fo1j aram uma idéia falsa a respeito das condições de vida dos indígenas, onde o primitivismo e a e tagnação constituem a nota dominante. O índio lhes pareceu um sábio, e sua organização tribal o modelo a ser seguido pelos civilizados. Razão? As analogias entre a vida tribal e a vida da utópica sociedade comunista: comunidade de bens, ausência completa de lucro, de capital, de salários, de patrões, de empregados e de instituições de qualquer espécie. Só a tribo prevalece, ab orvendo todas as liberdades individuais não fr uitivas, com os homens vivendo satisfeitos e sem problemas, porq ue se despojaram de seu "eu", de seu "egoísmo". Segundo essa neomi ssiologia, o Evangelho já impregna completamente a esfera tribal, não sendo pois necessári o anunciá-lo aos indígenas. A meta do neomi ssionário "atualizado" é livrar o

evangelização da América Os defensores do neotriba li smo mi ssionário e incligenista, principais

modo de vida, no que este tivesse de legítimo ou resgatável. João Paul o U, ao encerrar o Simpósio Inte rnacional so bre H istór ia da América, no Vaticano, em l4-3-92, reafirmo u os ensinamentos de seus predecessores e recapitul ou os ''.f'uncla mentos ele uma colonização cristã " desenvolvidos por Frei Franci sco Vitória ( 1480-1546), dom inicano espanhol da famosa Esco la de Salamanca. O Pontífice destaca que, "co11/orme a doutrina exposta por Vitória, em virtude do direito de sociedade e de comunicação natural os homens e povos mais bem dotados tinham o dever de ajuda r os mais atrasados e subdesenvolvidos". Assim justificava Vitória a intervenção ele Portugal e Espan ha na América. Nada ele mai s contrário, po is, à pos ição dos neomi ss ionários. Carlos Sodré Lanna

N.da R. Último de um a série de três artigos. Os anteriores foram publicados e m Catolicismo nº 530, fevereiro ele 1995: A ca tequese dos índios na Hislória do Brasil e nº 533, ele maio de 1.995: A epopéia missionária na .formação da Cristandade luso-brasileira. Fontes: I ) Plínio Corrêa de O li veira, "Triba/i.1·1110 i11dí-

ge11a, ideal cm1111110-111issio11ário para o Brasil 110 Séc11lo XXI" , Editora Vera Cru z, São Pau lo, 1979. 2) Gustavo Gutierrez e outros, " /492- / 992. i\ Voz das Ví1i11ws ", Conci lium, nº 232, Vozes, Petrópoli s, 1990. 3) Culturas oprimidas e a evangelização na A mérica Latina, 8º Encontro ln tercc lesial de CEBs, Santa Maria (RS), 1992.

Dom Tomás Balduíno: "Vivendo em regime comunitário, os índios não precisam da Igreja"

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·~Brasil Real Brasil Brasileiro

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1~ minha itinerânci a por este Brasil, estou recolhendo inúm eros sintomas, às vezes pequenos, do que chamamos nesta coluna "B rasil rea l, Brasil brasileiro" .

Numa das nossas fronteiras graceja-se de dois letreiros. De um lado há uma placa com a inscrição: "É proibido por lei danificar as árvores". Do outro lado lê-se em outra placa: "As árvores são como nós, gostam de carinho" ! Deixo por conta do leitor adivinhar qual das duas é a brasileira. Numa cidade gaúcha há uma doceria com o nome: "Doces De-Leite". Noutra cidade, no Paraná, contei pelo menos cinco casas comerciais com nomes assim : "Rei das chaves"; "Rei do café"; "Rei dos móveis" etc. Noutro Estado há uma casa de peças para carros com o nome "Só Peças"; e a propaganda que faz é "Peça qualqu er peça, que só peças tem". Aqui também deixo por conta do leitor descobrir a psicologia da região brasileira que se revela aí. Em Belém do Pará participei da monumental proc issão do Círi o de

Alfinete envenenado no dedo mínimo Naza ré, ocasião e m qu e reg istre i uma forma tipicame nte brasileira de reagir do "povão", face ao que gosta ou não gosta. Quando entoavam os cânticos mariais da piedade tradicional, ou o Santo Rosário, todos, em uníssono, acompanhavam com devoção e visível contentamento. Nos momentos em que eram introduzidas canções com sabor progressista, e "cheiro de luta de classes", a multidão não protestava, mas se divi di a: uns segui am em silêncio, rezando o Terço, outros davam vivas a Nossa Senhora de Nazaré, outros cantavam músicas antigas. De mim para comigo pensei: Esta gente até parece saber distinguir "a piedade falsa da sincera", como diz Camões! Em Mato Grosso fui visitar o Forte Coi mbra, pouco abaixo de Corumbá, onde Nossa Senhora do Ca rmo "combateu ao lado dos brasileiros, na Guerra do Paraguai". O oficial que me mostrou a construção arranjou brasile iramente uma fórmula de di zer que sab ia o que estava fazendo ali : - No passado nossos companhe iros de armas

Engenho de açu · - ~ Nordeste, à época da invasão holandes·a Desenho de F. Post séc. XVII

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tiveram que lutar contra os intuitos revolucionários de Solano Lopes. Hoje temos que lutar contra as injunções da "guerra revolucionária", movida contra nossa Pátria por um inimigo mais peri goso. Daí nossa caravana passou para Goiás, percorrendo aquelas vastidões im ensas e despovoadas, algum tanto melancólicas, parecendo gemer sob o peso da espera da oportunidade para desempenhar seu papel histórico, que o futuro guarda incógnito. Próximo à antiga capital de Goiás está Trindade, onde pude venerar uma imagem, talvez úni ca no Brasil. É um co njunto esc ultura l barroco representando a Santíssima Trindade, em que, logo abaixo das Três Pessoas Divinas, fazendo parte da mes ma peça escultural , está Nossa Senhora. E nquanto eu rezava à Santíssima Trindade, por meio de Maria, aprox imou-se, quase nas pontas dos pés, um grupinho de romeiros, gente visivelmente "da roça". Uma senhora mais desinibida interrompeu-me, pedindo mil desculpas, e perguntou:

- O Sr. pode nos explicar por que Nossa Senhora faz parte deste conjunto? Todo mundo sabe que Ela não é deusa, mas está tão "coladi nha" na Santíssima Trindade que até parece fazer parte da "família de Deus! - Sim , senhora, a Santíssima Virgem é filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e esposa de Deus Espírito Santo, e por ser "cheia de Graça", mesmo sem ficar "deusa", Ela faz parte da família de Deus. Além disso, o que esta imagem expressa, mais do que mil sermões, é a altura a que a maternidade divina e levou Mari a. Acima dEla só Deus, uno e trino. - Ah! Muito obrigada, estávamos conversando sobre isto, mas não sabíamos a ex plicação ! Muito obrigada, hein! Deus lhe ajude. Em Recife, ao fim do dia rumamos para o histórico Monte dos Guara.rapes (que significa "rufar de tambores") , onde se ergue o sa ntuári o de Nossa Senhora dos Prazeres, mandado construir por Fernandes Vi e ira, em comemoração da vitória sobre os invasores holandeses. Não é preciso ser muito sensível às di sc re ta s m a nife stações do sobrenatural para perceber que a "atmosfera" daque le lugar é diferente de outras atmosferas. Há ali alguma co isa indefinível, mas perceptível, que parece impregnar o ar, a igreja e at6 o arvoredo, tangido pela suave brisa do anoitecer. De tudo se irradia uma paz e um bem estar tão ordenativos, que dá vontade de "armar tendas" e ficar. Uma pessoa que me acompanhava comentou que algum Anjo de Deu pareci a zelar por aquele local, a fim de manter acesa a chama heróica que ali ful gurou outrora. Conjectura que a todo pareceu verossímil , sobretudo depois de se ter recordado o ensinamento de Santo Tomás de Aquino a respeito dos Anjos da guarda de nações, lugares, monumentos etc. Alguém lembrou ainda que, muitos anos depois das duas célebres batalhas, fo ram enco ntrados

Um anjo parece guardar a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, no Parque Nacional de Guararapes, local de decisiva e vitoriosa batalha contra o herege holandês invasor

esqueletos de católicos, "entrincheirados" em troncos de árvores ocas, com o santo Rosário no pescoço. A conversa ia animada e grave, em torno de um pernambucano que conhecia em detalhes a hi stória daque la epopéia, quando interveio afirmativo um paulista descendente de Raposo Tavares, o fa moso bande irante que, à testa de 150 homens de armas, hav ia se juntado aos cruzados pernambucanos: - Todos esses "cristãos atrevimentos" do nosso passado são admiráveis, mas precisam ser entendidos como um prefácio magnífico de um a canção de gesta que ainda está por ser escrita. Pois hoje o Brasil está " invadido" por um inimigo muitas vezes mai s perigoso, disfarçado sob mil véus, que é o neocomunismo, o qual , através da guerra psico lógica revolucionária, vai gangrenando as entranhas de nossa Pátria. - Daí a necessidade de mantermos uma cruzada ideológica sem quartel, que exige de nossos contemporâneos um heroísmo de alma em nada inferior ao que tiveram aqueles nossos antepassados, que tanto admiramos. U m guarda do santuário, que ouvi a a conversa, não se contendo, disse: - Qual nada! Teria sido mais ecumênico ceder aos hol andeses esta nesga de terra chamada Pernambuco, ao invés de

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empreender todas aquelas lutas sangrentas entre cristãos. O Brasil é tão imenso ! Que falta nos teria feito isto aqui ? O tal guarda até parecia um calvini sta, descendente dos holandeses. O nosso colega pernambucano não esperou que o paulista retrucasse, e exclamou:

- Ó "chente" ! Esta é pra mim! Vou lhe propor um a solução "ecumênica" para o caso. Seu dedo mínimo, em comparação com seu volumoso corpo, é como Pernambuco para o tamanhão do Brasil. Deixe-me espetar ne le um alfinete e nvenenado, e depois de três dias, se você não tiver mudado de idéia, então lhe mostrarei a peçonha que há no seu "ecumenismo" ! Sem ter o que dizer, o guarda se retirou, chamando-nos de radicais, intran sigentes e outros chavões cunhados para uso de quem não tem argumentos. Minha itine;·ância continua. Estou em Sergipe D'EI Rey . Mas há tanto Brasil rea l, e tão brasileiro, que cem páginas semelhantes a estas não seri am suficie ntes para conter tudo. Prometo ir oferecendo aos leitores de Catolicismo este licor, tipicamente nac ional, em pequenos tragos, e preparado com carinho. Rafael Menezes

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Os Santos se encolerizam "(Sobre Igreja e Sumo Pontífice) não posso transigir por nada nem com ninguém, e estou pronto a derramar meu sangue, como disse em pleno Concílio. Ao ouvir os disparates, blasfêmias e heresias que se diziam, fui tomado por uma indignação e zelo tão grandes, que o sangue me subiu à cabeça. A boca não podia conter a saliva que involuntariamente escorria por um lado, singularmente onde tenho a cicatriz de um ferimento que recebi em Cuba. Além disso, senti a língua entorpecida" (Santo Antonio Maria Claret, Escritos Autobiográficos y Espirituales, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1959, p. 924). N. da R. -

Santo Antonio Maria Claret, como Arcebispo de Havana, Cuba, participou do Concílio Vaticano 1, convocado

A m ais r quintada as túcia do diabo consiste em cons guir nos convencer de que não existe Baudelaire

Há uma conexão ntre o positivism o e a mais grosseira das superstiçõ s Max Horkheimer

A fumaça de atanás entrou no T m plo de

us

O dem ônio nada pode sobre a vontad , muito pouco sobre a inteligência tudo sobre a imag inação

pelo Papa Pio IX em 1869, e que teve suas sessões brutalmente suspensas em 1870 com a invasão de Roma por tropas

Joris-Karl Huysmans

revolucion árias de Garibaldi.

-

o

Paulo VI

O caos é propriamente máscara diáfana , atrás da qual se esconde a cara do demônio

'

Santo Antonio Maria Claret

Plinio Corrêa de Oliveira

Nossa luta não é contra a carn e e o sangue, m as sim con tra os I rincipados, c ntra as Potes tades, ontra os dominadores deste mun lo de tr v as con tra os espíritos m alígnos espalhados p los ar s ' São Paulo Apóstolo

ESCREVEM OS LEITORES McDonald 's & "revolução cultural" Sr.Diretor, Gos ta ri a el e fa ze r a lg un s re paros qu anto ao arti go ele Destaque (Catolicismo nº 533, ele maio) sobre o McDona/d's. Os propri etários são brasil e iros .. .. o grau de li mpeza .. .. sanduíches mais nutritivos .... não fo rnecem bebidas alcoó licas, se compararmo com bares trad icionai s, que dão péss ima impressão ele suje ira, oferecem sanduíches menos nutritivos e servem bebidas alcoó li cas, o que prova o valor dessas empresa multinac ionais americana .

B.M. - S. Paulo (SP) N.da R. - C remos que do is aspectos pos itivos das redes cle fa stfood - - hig iene e ausênc ia de bebidas a lcoó li cas desviaram a atenção do nosso leitor do ponto central: " Destaque" não compara as lancho netes bras ile iras com as ameri canas; muito menos defende o lamentáve l ambiente de tantos bares e lanchonetes " macle in Brazil". Re lendo a matéri a, o prezado mi ssivi sta verá que vi samos pre26

munir os leitores (sem ni sso co locar qualquer xenofobi a) contra a invasão cultural através de certos ambientes, que expressam - e portanto difundem - uma mentalidade infensa a cog itações mais a ltas, vo ltada para co isas banai s e necess idades imedi atistas . Que m sabe se em arti go maior poderemos esclarecer mais detalh adamente o ass unto.

Melhora Ao folhear nossa querida revi sta Catolicismo, ela qua l tenho a grata sati sfação ele ser ass inante e clivulgaclora, constato que e lá tem me lhorado mui lo. A parte que trata ele " Bras il real, B ras il brasileiro" realça a pulcritucle, a grandi os idade e a vocação ele nossa nação. A entrevi sta com Laurent Suaucleau mostra que a alma cató lica pode e deve apreci ar uma boa culinária. Procurar sempre em tudo o aprimora me nto e a perfeição.

M.S.- Miracema - RJ N.da R. - A mi ss ivi sta gostaria de sugerir algum a nova secção, a fim ele me lhorarmos a inda mai s Catolicismo? CATOLICISMO, JULHO 1995

Do marxismo ao delírio artístico ocidental

Indignação justa Pe la prese nte ve nho diri g ir-me a esta conce ituada re vista para e xpo r mi nh a indi g nação, c reio que ta mbé m ele outros cató li cos, a res pe ito cio qu e se passo u no pe ríodo cios sho ws ci o grupo Rolling Stones, no Brasil. Como se não bas tasse m os absurdos de les, o que mais me espanto u fo i a atitude da patrícia Rita Lee, que te ve a audácia de se vestir como a excelsa Rainha cio Brasil , Nossa Senhora Aparecida, denegrindo a im agem daq uela que amamos e vene ramos co mo padroeira . Peço que Catolicismo ded ique um espaço nos próx imos números para alertar a juve ntude cri stã contra grupos ele roc k, verdade iros temp los cio mal, ali enadores ele corações.

S.L.C. - Santa Terezinha de Goiás - GO N.da R. - Não obstante j á termos anali sado os malefícios ela música rock e asse melhados, voltaremos a apresentar arti gos sobre a maté ri a, confo rme muito oportuname nte solic ita a mi ss ivi sta. O

cena que figura na foto ao lado , ao menos à primeira vista, não parece cli fíc i I ele ser descrita: um ed ifíc io semiclestruído ao fundo , e, no prime iro pl ano, a ca rcaça el e um ô nibu ., parc ialmente soterrada. O le itor poderá notar que e m sua carroceria aparecem desenhos herméti cos , incompreensíve is para o co mum dos mo rtais ... Por ma is esforço que se faça, é im possíve l cli cernir ne les qu alquer ig nificaclo . Al é m di sso , o le ito r talvez já tenh a observado que, e m cim a ela capota cio veícul o , encon tram-se du as c ri ança . Ao que parece, elas transformaram o teto da ve lh a carcaça em escorregaclor. .. Todavia , o qu e, ele fato , o leitor es tá vendo não é um depós ito el e co isas aba ndo nadas .. . mas

A

um Centro Alternativo de Arte, situado na anti ga Berlim Co muni sta - o Kunstwerke - e estabe lec ido numa fáb ri ca abandonada ele marga rin a ... . Os jove ns arti stas cio li Í ~Kunstwerke, como o escultor da "obra prima" qu e aparece no prime iro pl ano, após a queda ela Co rtina de Ferro , in spira m-se na pse udo-arte moderna cio Oc ide nte. No caso concreto, do ônibu s abandonado, na chamada pop ~rte, a saber, a pretensa arte qu e consiste em tomar as coisas do quotidiano e tran sform álas em obras artísticas! Fenômenos aná logos a esse Centro Alternati vo vê m se verifi cando e m todos os pa íses do Leste europeu , os qu ais, após se libertare m cios padrões artísticos marxistas, estão se filiand o, com atraso , às absurd as e desacreditadas esco las de arte moderna cio Oc idente.

.


Muitos? Ou poucos?

E

sta fotografia e o presente comentário terão muitos ou poucos leitores? É o que Catolicismo se pergunta, entregando à apreciação do público o quadro do pintor alemão Joseph Euzenberger, exposto na Pinacoteca de Munique. Die Dorfpolitiker (Os políticos de aldeia) é o título da pintura que apresenta o conciliábulo entre notáveis de uma aldeia alemã no início deste século. Como se vê, a conversa em que estão engajados começou de há muito. No instante em que o pintor surpreendeu o grupo, havia um silêncio meio feito de reflexão e meio de cansaço. Todos se calam. Não de um silêncio amuado, nem de um silêncio que exprime o desejo de dar por terminado o conciliábulo. Muito pelo contrário, eles estão aí sentados compreendendo que, com intervalos destes, a reunião ainda

pode demorar muito tempo dentro da tranqüilidade geral da aldeia. Eles estão de,batendo temas locais, e a opiníão comum a que chegarem será aceita por todos os habitantes da cidadezinha. Pois esta gente sabe discordar para concordar. Sendo de um primitivismo cultural que confina com o analfabetismo, talvez alguns deles não saibam escrever e nem sequer ler, mas todos sabem - cada qual a seu modo .:__ observar, refletir, discordar e por fim concordar. Pela tranqüilidade do ambiente, percebe-se que sairá um acordo sólido, estável, produzindo contentamento geral na aldeia. Opinião pública? Sim, porque começa por ser opinião. Basta examÍnar cada fisionomia para se ver que cada um tem, a seu modo, opinião formada e, muito mais do que isso,

Plinio Corrêa de Oliveira

um hábito de formar opiniões. Essa opinião não é pré-fabricada por um jornal com tiragem de milhares de exemplares cotidianos, mas cada um tem dentro de si um linotipo interior em que acaba compondo as suas próprias frases que não serão escritas, que serão depois dadas na reunião. Um lê, os outros olham, todos refletem. Bastaria haver distribuição de um pouco de cerveja entre os presentes para que o colóquio se animasse, e desabrochasse em pouco tempo Q acordo·. Pergunta para o leitor brasileiro: Entretém-se ele em fazer uma interpretação como esta, de personagens, atitudes, idéias e resoluções? Deseja ele que Catolicismo, de quando em quando, publique alguma outra matéria deste gênero? Ou prefere que ela desapareça de nossas páginas?



Discernindo, distinguindo, classificando ...

Nº 536 Agosto de 1995

Concubinato num crescendo

Neste número

A família vai chegando ao fim: diminuem os casamentos e aumentam QS divórcios. Discernindo embro-m e aind a, qu ando nos

alucinada e as cri anças são perverti-

banc~s escol ares, da fo rte im -

das desde sua mais tenra infâ nci a.

pressao que m e ca usav a ou-

fossem os índios que os nav ega ntes

O Anuário Estatístico do Brasil, publi cado em 1993, aprese nta dados fo rn ecidos pel o IBGE. E m 1986, foram realizados no B ra sil 1.007.474 casam entos. Em 1990, apesa r do au-

espanhói s e portu gueses aqui encon-

mento popul aci o nal , esse núm ero

trara m , fosse m ainda, mais rem ota-

ca iu para 777.460.

L

vir a narração, nas aul as de Históri a, da vid a dos pov os pagãos. Fosse m el es da R om a ou da Gréci a antigas,

4

6

Efemérides

mento do co ncubin ato em grande esca la e freqü entemente à prestação, ou

Caravanas da TFP comemoram 25 anos de atuação

sej a, o hom em vai mu da ndo de mu -

Atualidade Caos: o que é? Como afeta nossas vidas? Como resisti r à sua atuação?

ral e de uma verd adei ra elevação de

lheres co mo de roupa, e a mulh er, de

alm a mantinh am entre os pagão um

homens. O amor li v re mais descara-

quotidi ano cheiq de prosa ísmos e in -

do tende a inco rporar-se aos hábitos

8

10

Capa Anticonsum ismo: glorificação do ócio e da indigência

ociais. Esse

5

Nobreza e Elites tradicionais análogas Função social e sustentação religiosa da nobreza

é difícil ele ca lcul ar.

m en te , dos te mp os de So do m a e

decências, que os l evav am depois a

A Realidade concisamente Destaque

rações não registradas, cuj o núm ero

Gomorra.

pecados monstruosos.

2

O grande equívoco

Fal ando portu guês claro, é o au-

A ausê nci a de um reto senso mo-

istc ma ele parceria casual

13

A pregação do Eva ngelho, a apli -

ext ra-co nju ga l vai se to rn ando um

Estética

cação dos méritos infinitos de Jes us

modo de er na sociedade brasil eira,

São Boaventura, Doutor para o Rei no de Maria 17

C ri to atrav és dos Sacra m entos da Sa nta Igrej a Cató li ca, a doce inter-

a exempl o de outros "povos mais evoluídos", pro paganclcado sem escrú -

São Roq ue, modelo de renúncia e ab negação

19

cessão de M aria, a compreensão de

pul os pela te lev isão, a vi cera! ini -

qu e se m a C ru z não há vid a moral

mi ga da fa m íli a.

Caderno Especial

21

Verdades Esquecidas

25

nem a civilização se m antém , mudou

pocri sia d

Surgi ra m as gra ndes nações cri stãs, co m seu exe m plo de pureza, de

Que futuro aguarda a prole provinda de concubinatos?

sa ntidade, de perfeição . As cri anças era m edu cadas para a in ocê ncia. E as fa m íli as, fo rta l eci das na prá ti ca

Tom ando com o exemplo o Esta-

o r iani smos intern acio-

nais co m o a ONU , qu e não perde

TFPs em ação

oca ião cm propagar i(léias estranh as

Em terras de EI Ci d

25

à tradi ção cri stã. 1994 fo i procl amado pe la NU o /\11 0 da Família.

Frases e Imagens

27

d o de São Paul o, te m os qu e, em

das ·li >um as provid ências para coi -

perm aneci am estáv eis e co muni ca-

bir ao menos ai >un s dos fa tores de-

ad miráv el. D esenvolveu-se a cultu-

1990 , num a p o pul ação d e 30.783.108 pessoas, houve 192.573 casamentos. Já em 1993 a pop ul a-

o m undo ? I , 'do ' ngano! G r upos ho-

ra, progrediu reta mente a civ ili zação .

ção

pa r a

moss ' ·uai s, ap rov eita ndo o ensej o, soli ·it aram qu ' a "união está vel de

r ar a, as alm as j á não são m ai s

32.669.104 e os casa mentos diminu íra m : 187.772.

educa das pa ra leva r sua C ru z, não se

M as há pi or. Esses mes mos ca-

Hoje, a pregação cri stã torn ou-se

lhes aponta o idea l de perfe ição. Co mo co nseq üência; a fa míli a se es b o r oa, a soc i e d ad e se to rn a

do

Es t ad o

c r escera

sam entos, cuj o número va i se ndo re duzido ano a ano, v ão se ndo pro , ressiv amente corroídos pelo di vó r ·io.

CATOLI CISMO , AG OSl O 1

Ambientes, Costumes, Civilizações

Pensará o leitor qu e foram toma-

dos M andamentos da Lei de D eus, va m a toda a soci edade um a puj ança

Hagiografia

A l ém d isso, é claro, existe a hi-

ra dica lm ente tal situ ação.

2

D ado fo rn ec ido pe la Funda ção Si tema Estadual de Análise de Dados (SEAD E) mostram que, no Estado de São Paul o, houv e 10.429 di v órci os em 1984, 13.290 em 1988 e 28.987 em 1991. Sem fal ar elas sepa-

Co ncubinato num crescendo

"Jerusalém, Jerusalém ..." Nossa capa : Mercado Municipal de São Paulo. Foto: C. Nunes Pires

let ·ri os qu · erod em a família em todo

dois /10111c•11s" l'<'S "

e a "de duas mulhe-

fo ss · 111 reco nh ecid as como "fa-

111 ílir1 " , poi so qu e os "une é o amor" . S ' 111 com ' nt {i ri os!

C.A.

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Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belch ior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito FIiho Jornalis ta Respons6 vol: Mariza Mazzilli Costa do Lago Registrada na DRT-SP sob o No23228 Redação o Gerência: Ru a Ma rtim Francisco, 665 0 1226-00 1 São Paulo, SP - Tel:(0 11 ) 824-9411 Fotolitos: Microlormas Fol olitos Lida. Rua Javaés , 681

o 11 30-0 1O São Paulo-S P

lmprossão : Arlpress Indústria gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 681 01 130-0 10 S o Paulo-SP A correspondência rela tiva a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao Setor de Propu lsão de Assinaturas. Endereço: rua Martim Francisco, 665CEP : 0 1226-001 - São Paulo-S P ISS N • 0008-8528 Tel: (011) 824-9411

CATO LI CISMO, AG OSTO 1995

ASSINATURA PARA O MÊS DE AGOSTO DE 1995: COMUM: R$ 35,00 COOPERADOR: R$ 45,00 BENFEITOR: R$100,00 GRANDE BENFEITOR: R$180,00 EXEMPLARES AVULSOS. R$ 3,50

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E~querda incorru_pta: ., , m1fo desmascarado A União Na cional dos Estudantes (UNE), e ntidade tradicionalme nte domi nada pela esq ue rda, uso u dinheiro público para rea liza r seu 44º Cong resso, que teve luga r no lu xuoso hote l da conhecida Acade mi a de Tê ni s de Brasíli a. O próprio Gove rno do Dist1·ito Federal aloco u, com a devida ap rovação da Câ mara Distrital de Brasília, a generosa ve rba de R$ 195.000,00 pa ra s ua realização . Co nta ndo co m cerca de 6.500 participantes, que.tiveram hospedagem g ratuita em escolas públicas do DF, é o caso de se perg unta r o nde teria ido parar tan to dinheiro, po r mais cara que te nh a sido a utilização do luxuoso hote l. Outra indagação pertinente: se ri a legalme nte permitido aos pode res Executivo e Legis lativo de um a unidade da Federação, no caso o Distrito Fede ra l, promov er um evento com n ít ida s conotações políticas, já qu e de há muito a UNE deixou de representar os leg íti mos interesses da cl asse estuda ntil ? Não seria o caso de convocar um plebi scito e ntre os estudantes bras il eiros, para ver ificar se eles realme nte se sentem re presentados por esses quase 6.500 "co legas", q ue mais parecem alegres integra ntes de um a excursão de fé rias do que futuro s profissionais cô nscios da seriedade da vida?

Êxito da iniciativa privada até nas penitenciárias! "O mal que o Estado faz é bem feito, e o bem que ele faz é mal feito". Trata-se de um dito um tanto exagerado, é verdade, dos liberais do passado, já

absorvidos pelo torvelinho da História. E m termos de doutrina católi ca, tal idéia co rresponde ao fundamental princípio de s ubs idi a ri edade, segundo o qual o qu e pode ser fe ito por um a sociedade me no r não deve ser fe ito pela maior qu e esteja im ediatame nte acim a. Ass im , por exemplo, tudo o qu e pode ser rea lizado pe la iniciativa particular não o deve ser pelo Estado (seja de nível muni cipal, estadual ou fede ra l) . Esse princípio básico da soc io logia cató lica e ncontrou be m sucedida aplicação també m na terceirização das pri ões. Trata-se de e mpresas privadas q ue c uida m da seguran ça, educação, a úclc, esportes, laze r, alime ntação, labo rterap ia, ass istê ncia jurídica, es piritua l e fa mili ar dos presos. Já está dando ce rto nos Estados U ni dos, F ra nça, Ing la terra e A ustráli a. No Brasi l, essa experiê ncia també m está sendo bem s ucedida em São José cios Campos (SP). A disciplina e a limpeza são exemplares. Nunca houve um só motim . Os detentos que saem para visitar a fa mília voltam com pontualidade. E os qu e saem após ter c umprido a pena, nunca mais retornam - estão recuperados.

1975!", publicado nos a nos 70, tornou as previ sões ma lthusianas um best-seller. At ualm e nte se pergunta se alg ué m ainda deveria acred ita r em seme lhantes teses catastróficas, que j á no passado se co mprovaram co mo e rrô neas. De fato , a população mundial dobrou e ntre 1950 e 1988, mas a oferta ele alime ntos aco mpan ho u o ritmo da de ma nda . A s im , na Ásia a produtividade de trigo quintupli cou entre J 96 1 e 1991. Na Amé rica Latin a os c ientistas conceberam c ultu ras aclcqu aclas aos so lo ácidos cio imcn o cerrado, uma va ta pla nície anterio rm ente in fé rtil que cobre 200 milhões ele hecta res. E m alg uns países a produção é tão grande que os governos paga m aos produtores para não produz irem. Tudo isso para comprovar a possibilidade do cumprimento do mandato divino "Enchei a terra" (Gen. 9, 1), cuja viabilidade é negada por agro-reformistas, ecologistas e verdes ele dive rsos matizes.

Em 1994 foi criada um a sociedade de economia mista, ela qual fa zem pari · 4

CATOLIC ISMO, AGO STO t

5

dromos. O "pai que ama seu filho, castigao". O que a Divina Providê ncia poderá reservar pa ra a cidade maravilhosa, que

ainda conta com a bênção do Cristo Redentor, colocado num pedestal feito pelo próprio Deus? Não seria agora uma ocasião idea l pa ra que líderes e associações ca tólicas a presentem firme protesto junto às autoridades locais, a fim de suspender tã o lastimá vel projeto?

E

stamos qu ase e ntrando no últi mo lustro do século XX. U m olhar retrospectivo sobre o Brasil revela transformações ime nsas, não só quanto ao crescime nto populacional e econôm ico, mas també m quanto ao · perfil humano nacional. "Nela em se plantando, tudo dá ... "

Restauração de Lourdes, a cidade-santuário Desde 1858, quando ocorreram as fa mosa s aparições de Nossa Senhora n a G ruta ele Lourd es, as relações entre as a utoridades re li giosas locais e as d a municipalidade nunca fora m cordiais. A m e ntalid ade anticatól ica, instalad a nos postos ele governo após a Revolu ção Fra ncesa, se mpre proc urou c ri a r obstácu los ao reconhecime nto do aspecto milag roso do que se passo u com a nta Bernadete, e ao ca udal de c uras qu e não fo i interrompido a partir el e e nt ão.

Césa r Ma ia, prefeito do Rio de Janeiro, pretende insta lar locais destinados à reali zação de macumbas, e m diversos pontos da cidade. Foi um pai de santo (cabo eleitorà l?) que, alegando a necessida de de maior segura nça para os umba ndistas cariocas, s ugeriu ao prefeito a cri ação de sses despachódromos ou macumbó-

Canto Gregoriano é sucesso de vendas Os monges do mosteiro beneditino ele Santo Domingo ele S i los, fundado no ano 1000, na Es panha, gravaram uma rica co leção ele música gregori ana. Só a co letânea O melhor do Ca nto Gregoriano vendeu cerca de 6 milhões de CDs, principalmente nos Estados Unidos, a partir de 1993. O mosteiro benedi ti no fez juz ao cobiçado Disco de Ouro, mas o abade recusou-se a fazer novas gra vações . Pe na que o canto gregori ano não di sponha ele maior difu são entre todos aq ueles que devi am ser seus maiores cu ltores. Com isso manter-se-ia uma continuid ade muito bené fi ca para o nosso te mpo. Época na qual fa lsamente se pres ume que a sati sfação cios pendores mu sica is se encontre nas fre néti cas estridê ncias do rock.

Casarões em São Luís sob ameaça Quem visita a capital ma ra nhense pode a precia r os belíssimos azulejos portugueses que e nfeita m as fachadas de casas no centro da cidade . Tra ta-se do ma ior e ma is importa nte conjunto arq uitetônico colonial de origem portuguesa das Amé ricas. Contudo, o descaso já está ca usando o desaba me nto de vá rios casa rões, que assim deixam lacunas em importa ntes fac hadas de alto valor his tórico. Há 77 casa rôes colonia is, que pode m desaba r a qualquer mome nto, em razão de recentes e intensas chuvas que ca íra m em São Luís. A advertência partiu do CREA - Conselho Regional de Engenha ria e Arqui tetura do Ma ra nhão, que a pela em favor da preservação de um retrato vivo e a lta mente representativo da memória his tórica da colonização lusa no Brasil.

O grande equívoco

Malthus, o profeta fracassado ... Malthus, o insp irado r da co rrente que to m o u o se u nom e o u sej a, o malthu sia nis mo dizia, há duze ntos a nos at rás, ser ine vitáve l que o crescime nto po pulac ional fosse maior do que o da produção de alimentos. E m 1968, o sueco G unn ar Myrda l, la ureado com o prêmio Nobel, decl aro u que a Índ ia teria prob le mas para alim e ntar mais de 500 milhões ele pessoas . O livro "Fome

Pista preferencial... para a macumba

o Bispado de Ta rbes-Lo urdcs, a Prefe itura loca l e um co njunto de bancos, visa ndo rea lizar um a total re novação ela c idad e-sa ntu ár io. Co mo se sabe, Lo urd es recebe todos os anos se is milhões de peregrinos (note-se que não são turistas!). Mai s do que qualquer o utro santuári o do mundo. Desses, 70 mil são do·nl ·s que anualmente fazem a pere•ri11a çao ao lu gar onde a Virgem Mãe el e Deus declarou ser a Imacu lada Co n ·eição.

1995 ve mos uma juve ntude sem rumo, vici ada e m drogas, sem qualquer id ea l, preoc upada exc lu s iv a me nte e m fr uir as se nsações elo momento .

Ao mes mo te mpo sedu zidas pelo mito do progresso e pe la mi rage m dos prazeres, entre o utras razões, populações inteiras aba ndo naram o ca mpo, determ inando o inchaço das cidades.

Por quê? Porq ue a fa míli a bem constituída, que pudesse ed ucar a prole co m princípios só lidos , praticamente desapareceu. O número de filhos ilegítimos e ele casais separados é hoj e in calcu lá ve l. Sem fa l~r dos bandos que aterrorizam bairros e c idades, ou das gang ues ele trafi cantes e assa ltantes, qu e mata m e se matam po r "dá cá aquela palha". Desde o a no passado, os hom icídios cresceram 16,4% e m São Paulo.

Um cios e le m e nto s de sedução eram certos slogans, pronunciados "de boca cheia" e e m tom professoral, c ujo timbre incubava a promessa ela redenção do homem pelo progresso. E progresso laico, contrári o à tradi ção, de sabor acen tuada me nte soc ia li sta.

Por outro lado, professo res mal fo rmados, mal remune_raclos, ma l selec ionados .. . o que podem fazer para educar crianças de lares tantas vezes despedaçados? O que vale uma boa professora contra essa escola de vícios tão mais efic ien te que é a telev isão?

Dentre as mai s sonoras dessas frases de efeito, uma era: ''.Abrir escolas é f echar prisões". E ntre ta nto, e m

Por isso m es mo as cad e ias regurg itam, abri gando um número de presos que freq üentemente é o dobro

Mas uma a nálise ma is c uidadosa revela que nosso povo fo i conduzido a um grande equívoco, e não poucos experimentam hoje o travo da desi lusão.

CATOLIC ISMO , AGOSTO 1995

de s ua ca pac id ade. As defici ê nc ias nesse seto r são ta is que muitas pe ni tenciárias, onde se deveri a punir o crime, tornam -se refú g io para a o rganização dos c riminosos . Mas isto j á é tema pa ra o utro artigo.

Cocaína: a dependência da fruição

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e e[i-tes -tradicionais aná[ogas "É próprio à nobreza e às elites tradicionais análogas formarem com o povo um todo orgânico, como cabeça e corpo " _

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Em cartão postal da Viena contemporânea, além do palácio deSchõnbrunn e da coroa imperial, figura o Imperador Francisco José (1830-1916) - homem-símbolo do Império Austrohúngaro, e cujas memória e influência cultural são marcantes, mesmo na Áustria de hoje

Nobreza: função social e sustentação religiosa (*)

eia da religião. E a decadência da religião aniqu il a o país. Pelo contrário, se a direção social for boa, tudo fica em seu lugar próprio, e o país se mantém e progride.

Classe social modeladora do tipo humano, e cu10 substrato reside na Fé católica

Nobreza e Fé católica

E

m s uas a lo c uç ões, Pio XII empen ha-se em acentuar que a nobreza - mesmo em nossos dias - não é uma classe que agoniza. Pe lo contrário, ela deve permanecer, como tudo que tem seu fundamento na ordem natural das coisas. Se os tempos estão mudados, a nobreza tem novos encargos, ainda maiores e mais diferenciados. E se tem mais encargos, é porque tem maior atua lidade. Cumpre notar que as alocuções não eram meros discursos de gentileza, mas sim diretrizes dadas pelo Papa depois de muita reflexão, com toda a responsabilidade de seu cargo, e tendo em vista as circunstâncias concretas da atualidade.

A função social da nobreza É preciso distinguir a atmosfera política da atmosfera socia l. Após a instauração de repúb licas nos diversos países do Ocidente, a nobreza, onde ela existia, ficou excluída de sua função política. Restou-lhe porém a função social. Esta função social consistia em que, sendo a nobreza reconhecida como a mais alta classe social, todo o restante da sociedade tinha suas atenções volt[º das para ela no que diz respeito à moralidade, aos costumes, ao porte, às 6

modas, enfim a tudo quanto é vida soei.a[ e tipo humano. Pois o tipo humano do nobre era aquele que todos julgavam dever imitar, na medida em que subiam na escala social até às camadas mais altas da burguesia, próximas à condição nobiliárquica. Quanto mai s um burguês ia e nriquecendo, mais se aproximava da nobreza, e sentia necessidade de ir assumindo o tipo humano do nobre, tanto masculino quanto feminino. Esta influência da nobreza é de grande importância, no que diz respeito à moralidade pública e à mentalidade social. Uma nobreza consciente de tal influência pode modelar a mentalidade de toda uma classe de pessoas. Assim , por exemp lo, se nas reuniões sociais da c lasse nobre não se dança o rock, isto representa um freio para deter sua difusão na sociedade, e iinpedir assim que ela caminhe ainda mais no sentido revolucionário. Num ambiente de pessoas respeitadas e acatadas, onde não se dança o rock porque se cons idera que a mentalidade que ele exprime e acentua é uma mentalidade má , essa rejeição cria em todo o corpo soc ial uma resistência não pequena à marcha rumo à deCATOLIC ISMO, AGOSTO 1995

Num país catól ico, quando um nobre perde a Fé ou passa a viver e m concubinato, por exemp lo, deveria ser destituído de sua alta condição.

cionárias. E exercer tal influência é muito mai importante que ser deputado ou senador. A função social da nobreza também se deve fazer notar no campo da moda, muito especialmente quanto aos trajes femininos. Preservando sempre a modéstia e o pudor, eles devem ter um ar de elegância e de leveza, que acentue o caráter femin ino e dê a entender que não deve haver confusão entre os sexos. Pois à mulher convém uma delicadeza que não é própria ao homem. A leveza da conversa, da educação e dos sentimentos de uma senhora devem marcar sua agradável presen ça em qualquer ambiente. O senso cavalheiresco do ho mem levou-o a tratar o sexo feminino quase como se fosse uma classe mais alta, dando às mulheres a precedência habitual no trato diário: nas entradas e saídas, cm ocupar assentos, em serem servidas primeiro etc. E mil pequenas cir ·unstâncias da vida respeitavam essa sin ular superioridade da senhora, fruto da elegantíssima atitude do mais for-

te que se inclinava diante da graça do mais frágil. Nesse sentido, o sexo feminino era tratado como uma verdadeira nobreza. A influência da nobreza nas modas obrigava a uma atitude de linha, de correção e de cuidado, que o temperamento femin ino habitualmente exige. O movimento feminista desenvolveu contra o sexo feminino toda a revolução igualitária, à semelhança do movimento igualitário revolucionário contra a nobreza, trazendo como resu ltado um rebaixamento progressivo da mulher. Foi prec iso uma longa evo lu ção, um a longa decadência nas desigualdades proporcionadas, para levar a mulher à situação em que ela se encontra hoje. Assim , embora seja relevante o comando político de um país, a direção social é muito mais importante. Porque a má direção social faz decair a moralidade, o que acarreta a decadên-

Pois os que possuem a verdadeira Fé cató lica sabem que a principal nobreza do homem - no sentido mais profundo - é ser católico, é ser batizado. De maneira que, ao abandonar a Igreja, o nobre perde o caráter de nobreza nessa acepção plena. Ele e também seus descendentes , pois ninguém transmite o que não tem. A nobreza decorre de um caráter que o nobre possui. Pode, entretanto, um não católico possuir traços de nobreza, às vezes consideráveis , mas jamais enfeixará a plenitude da nobreza, a qual supõe a Fé católica. Há incontáveis modos de ser nobre. O universo é uma verdadeira corte repleta de elementos desiguai s, porque uns têm mais nobreza no seu ser e outros a têm menos, compreendidos até

PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA _ ____J

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os seres animais e vegetais. Neste sentido pode-se fa lar até de "nobreza" de um pavão ou de um cisne. Não se pode dizer que Deus possui qualidades ou perfeições , mas teologicamente se diz que Ele é toda e qualquer qualidade ou perfei ção. Os seres nobres receberam essa qualidade do Criador, porque ninguém tem algo no seu próprio ser que não tenha rece bido dEle. Deus não é o nobre por excelência, mas é a própria Nobreza. (*) Excertos da co nferê ncia pronuncia-

da pelo Prof. Plíni o Co rrêa de Oliveira para sóc ios e cooperadores ela TFP, cm 6- 11- 1992, comentando, a pedido destes, a ob ra de sua a utoria Nobreza e elites tradicionais a116/ogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobre za ro111a11a (Editora Civilização,

Porto, 1992). Se m rev isão do confe re nc ista.

Nova Hofburg: parte mais recente do palácio imperial, em Viena, cuja construção se iniciou no século XIV, sendo concluída no século XX, durante o reinado do Imperador Francisco José

CATOLIC ISMO, AGOSTO 1995

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Efemérides regulamento e, ao lado de sua principal atividade, que é a de difundir as obras da TFP, dedicam parte do tempo à oração e ao estudo. :•Nos fins de semana, reservam um período para o lazer.

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Caravanas da TFP: 25 anos de atuação, cinco milhões de km percorridos

Periodicamente reúnem-se ora na sede da TFP em São Paulo, ora em alguma sede de outros estados, a fim de se colocarem em dia com notícias, estudos e atividades da associação. É também a ocasi ão em que se abastecem de material para novas campanhas. Ao partir, uma caravana pode diri g ir-se,por exemplo,ao Sul do País, em pleno mês de julho, o que sig-

Pedro Amarante a madrugada de 20 de junho de 1969, uma bomba terroris ta explodia na sede do Secretariado Nacional da TFP, em São Paulo, à rua Martim Francisco, 669, bairro de Santa Cecília, destruindo parcialmente o prédio. Danificou também uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, a qual, desde então, passou a ser venerada no oratório erigido no local, em seu desagravo. Três dias depois, a TFP saía às ruas em uma de suas mais célebres campanhas, envergando pela primeira vez suas capas vermelhas, ao lado dos já conhecidos estandartes rubros com o leão dourado. Tratava-se da difusão de edição especial de Catolicismo, a qual, com base em documentos divulgados inicialmente pelas revistas "Approaches", da Inglaterra, "Ecclesia", da Espanha, denunciava a ação de grupos proféticos ocultos, que tramavam a subversão na Igreja. Desenvolvida a sua atuação nas grandes cidades, a TFP organizou então caravanas de sócios e cooperadores que, no meses seguintes, percorreram algumas regiões do interior brasileiro. O resulta lo da atividade dessas caravanas d voluntários sobre a opini ão pública foi tão extraordinário, que a xperi -i. ncia não podia ser rei gada ao squ c imento. Um desses

N

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CATOLIC ISMO, AGOSTO 1995

nifica enfrentar gélidos ventos e, conforme a região, até neve. Mas pode ser também o contrário: enfrentar os calores do Nordeste ou os mormaços da Amazônia. Contudo, "vencer sem perigo é triunfar sem glória". Desta forma , enfrentar as adversidades de clima, más estradas, falta de alojamento, dificuldade de conseguir refeições gratuitas (pois em geral a simples venda de publicações nem sempre cobre as despesas), tudo isso constitui para o caravanista a sua maior galhardia. Respirando o vento do heroísmo, ele vê nas adversidades que enfrenta uma ocasião a mais para defender com bravura os valores básicos da civilização cristã no Brasil. E prosseguir destemidamente nessa verdadeira epopéia. Os números falam por si: a partir de 1970, mais de cinco milhões de quilômetros percorridos, o equivalente a 13 viagens de ida e volta à Lua. Ao longo desses 25 anos, divulgaram l.767 .908 livros e exemplares de Catolicismo. Visitaram praticamente todos os municípios do Brasil além de um número incontável de vilas e povoados de nos so país-continente.

voluntários, então jovem de 20 anos, recorda que em São Borja (RS), por exemplo, num só dia sua caravana chegou a vender quase 1.000 exemplares do número especial de Catolicismo. É de notar que a caravana compunha-se de apenas nove elementos, dos quais um ficava ao volante do veículo. Era o primeiro passo para a constituição de novas caravanas, que tiveram caráter esporádico até que, em agosto de 1970, firmaram-se como instituição permanente na TFP. Os caravanistas da TFP exercem uma ação especial dentro do amplo conjunto de atividades da entidade. A par de uma intensa ação externa, procuram manter sempre o espírito de oração e recolhimento interior. Em razão do tamanho do veículo, eles se constituem em grupos de até nove pessoas. Observam a um certo CATO LICI SMO , AGOSTO 1995

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INTERNACIONAL

Vulcão Santa Helena, nos Estados Unidos: as erupções vulcânicas são bem um símbolo do caos reinante na vida contemporânea

G.Guimarães

Crises súbitas

S

erá o caos inteiramente espontâneo, como tantas vezes se diz? Vejamos ...

No plano ela política e da economi a internacional, a inesperada crise no México ilustra co mo é frágil e precário o equilíbrio nesse campo. O México vinha sendo apresentado co mo um país mode lo para o Brasil e para o resto da América Lat ina. De repente, tudo começou a desabar. E, pi or ainda, a crise mex icana afetou - e continua afeta ndo - a estabilidade de nações latinoamericanas como o Brasil, a Argentina etc. Nada garante que novas crises não possam retornar.

Chama a atenção a existência na desordem ·c o nte mporânea de um a "lóg ica" implacável: el a contribui para ir demolindo o mundo civ ili zado até seus fund amentos. Daí ser natural colocar-se a pergunta: não haverá, na ocorrência do caos, a lgo de intenci o nal? Limitamo-nos a apontá-lo como um dos piores, mais traiçoeiros e mais atuantes inimi gos da civi li zação cristã. Ter uma noção clara do caos que nos rodeia, conhecer suas tá! ticas e saber como combatê-lo é urna questão de sobrevivência para todos nós.

De outro lado, a quebra não menos

O problema na própria pele A pa lavra caos provém do grego, e descreve uma situação, idéia ou qualquer circunstância na qual há grande confusão ou desordem ( l). O termo também está associado à idéia de "escuridão" e até às "trevas do Inferno" (2). Tempestade magnética: símbolo natural bastante expressivo do caos

Infelizmente, estamos completamente imersos no caos social, político, mo-

ral e até religioso. Para muitos de nós isso é uma constatação experimental, ou seja, um fenômeno que se sente na própria pele, na vida cotid iana.

Aberração inimaginável Não fa ltam manifestações cada vez mais trágicas e lamentáveis de profunda desordem na sociedade civil. É notória, por exemplo, a investida de grupos homossexuais em todo o mundo. A realização é m junho passado, no Rio, de Congresso Internacional de Homossexuais e Lésbicas foi mais um passo nessa direção. A arrogância desses movimentos vai tão longe, que muitos têm como meta declarada impor a toda a sociedade seus costumes contrários à natureza e à Lei de Deus!

Agitação na Bolsa de Valores da capital mexicana: o efeito Tequilamal começava

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CATOLIC ISMO , AGOSTO 1995

Michael Swift, líder homossexual norte-americano, lançou urn a "agenda homossexua l" com as seg uintes metas:

* Abolição do casa mento heterossexual ;

* Isolamento daqueles que se opõem a eles; * Extinção ela unidade da familia;

inesperada do tradicional Banco Barings, de Londres, símbolo da estabilidade e da seriedade financeira onde a própria Rainha Eli zabeth II mantinha depositada boa parte de seus bens - é outro fato ilustrativo da confusão contemporânea. É mais um triste exemplo de como vão caindo os padrões de estabi]jdade no campo da economia mundial.

"Nova desordem internacional" Os casos anteriorme nte citados não são os únicos em matéri a de desordem

e instabilidade internacional. Basta ver os inesperados conflitos bélicos que vão ocorrendo na face da Terra, corno a recente guerra entre o Peru e o Equador, para compreender por que os especiali stas estão falando de "no va desordem. internacional" (5), e da "artrite estratégica" que toma conta dos principais governos mundi ais (6).

Apologia da loucura Nesse processo ele desagregação social e mental, há vozes que chegam a defender como a única saída para a crise conte mporânea a imersão na própria loucura. Ora, a in sanidade mental significa a perda do que o ser humano possui de mais nobre - a inteligência: farol que ilumina e orienta a vontade e a sensibilidade. Ao invés de so lução, a demência poderia ser comparada a um a bi smo , atraído por outro abi smo - o caos. O pior é que aqueles que defendem esses verdadeiros disparates são professores de importa ntes unive rsidades, como é o caso de Norman Brown , da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, intelectual de muito prestígio em círculos de esque rda cio mundo inte iro : "Resistir à loucura pode ser o meio mais aloucado de se ser doido". E acrescenta: "A bra os olhos e veja

* Colocação de crianças aos cuidados de homossexuais; * Fechar todas as igrejas que os condena m. E ousa afirmar que essa "agenda" tem por finalidade a implantação de uma "ordem homoerótica" (3). Sw ift já tin ha l a nçado

uma

gravíss im a ameaça aos pais de família: "Sodomizaremos seus filhos. Nós os seduziremos nas escolas, dormitó-

rios, clubes de esportes, seminários, grupos de j ovens, nos banheiros de cinemas, nas câmaras municipais ou de deputados ou senadores, enfim em qualquer lugar onde homens estiverem juntos. Todos virão ansiosos e acabarão nos adorando" (4).

Desalento de funcionário do Baríngsface ao colapso do sólido banco inglês

CATO LI CISMO , AGOSTO 1995

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CAPA em torno que a loucura está de alguma maneira numa posição de controle" (7) .

Palavra de moda

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O Prof. Plinio Corrêa de Olive ira, Pres ide nte do Co nse lho Nac io nal da TFP, há mui tos anos vem mostrando em artigos e confe rências públicas qu e nada de bom para a civili zação cri stã pode surgir dos "dedos trêmulos, suj os e poluídos do caos".

" Há não muito tempo, quem dissesse que o mundo vai ime,gindo no caos seria ouvido com displicência: como dar crédito a tal previsão, à vista da prosperidade e da boa ordem que pareciam reinar no Ocidente?" - pergunta o pensador católico. E ad verte que a palavra caos, "ainda há pouco um espantalho de tanta gente tida por sensata, passou a ser uma palavra de moda nos círculos intelectuais de vanguarda, que se gabam de pós-modernos" (8).

Fanáticos do caos Sim, o caos está na moda, e há inc lus iv e se us fa náti cos, aqu e les q ue acham que a partir de um a gigantesca desorde m virão so luções a lvadoras para a hum anid ade. Após os reveses sofr idos pelo comuni smo in tern ac ional, setores da esq uerda passaram a ver no caos um fato r capaz de gerar uma nova ordem revo luc ionária. O teó logo da libertação e frade apóstata Leonardo Boff mani festo u sua co nvicção de que "o

caos é o patamar da nova ordem" , à qu al se c hega rá "e stimulando elementos positi vos da deso rdem." (9). Nos Estados Un idos existem numerosos centros universitários que estud am os efe itos supostamente "benéfi cos" do caos enquanto instrumento de tran sform ações soc iais. Ta is centros ed itam publicações e realizam congressos a respeito do tema ( JO).

Plinio Corrêa de Oliveira

Na superfíc ie da desord em soc ial qu e domina a soc iedade c iv il , não se di scerne m e lementos de lóg ica e coerênc ia. Mas nas suas profund ezas pode-se notar uma co nsta nte qu e fun c io na, es ta s im , co m uma lógica impl acáve l: tud o, a bso1u ta me nte tud o no caos favo rece o des mante lamento da c ivili zação cri stã. Então, tem cabimento a pe rgunta qu e faz íamos no co meço: se rá es e caos inte irame nte es pontâ neo?

Confiança em Nossa Senhora

CATO LI CISMO, AGO STO 1995

NDOLÊNCIA própria de muitas das populações q~e ivcram 50 anos ou mais ob a tirania comunista era acentuada pelo fa to de que, nesse regime, todos tinham de trabalhar m ais ou menos gratuitamente para o Estado. Em compensação, exigi a-se-lhes pouco trabalho, o qual aliás era realizado sem m aior preocupação, porque ning uém - salvo os privil egiados da nomenklatura - tinha direito de assegurar para si uma melhoria de condições de vida, obtida s istematicamente em função do aumento quali tativo e quantitativo de seu trabalho.

A

Lógica implacável

Empreendemo. juntos um a incursão através do mundo do caos , apa lpa ndo os horrores cada vez maiores que brotam dele e que ameaça m asfi xiar os últimos restos da civilização c ristã. Se o le itor teve um choq ue psicológico em relação à desorde m co n te mp o r â nea, que o aj udou a toma r um a sa lut a r distâ ncia e repu l a Tropas peruanas de partida para o inesperado enfrentamento em re lação a esse fronteiriço com o Equador caos, te re mos a i-

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Anticonsumismo, ,, • glorificação do OClO e da indigência

Nossa Senhora de Guadalupe

cançado a nossa fin alidade. Peça mos a Nos a Se nhora de G uadalupe, padroe ira das Améri cas , fo rça, ânimo e resolução para enfrentarmos os obstáculos deste árdu o ca mi nh o. N tas : 1 - Au réli o Buarque ele Ho landa Ferreira, Novo Dicio116rio da U11g 11a Por111g11esa, 2a. ed. , 1994, Edi tora Nova Fronteira. 2 - A. Ba ill y, Dicticio111w ire Grec Fra11 çais, 1-lac heue, Pa ris, 1950. 3 - " Social Justi ce Rev iew", vo l. 85, St. Loui s, USA, 2-94. 4 - " T he Gay Co rn rn unity News", Estados Un idos, 15-2-87. 5 - " T he New York T imes Book Rev iew", Nova York, 9- 10-94. 6 - Instituto Intern acional ele Estudos Estratégi cos, " Pesqu isa Estra tég ica 1993 - 1994", Lond res , 1994 . 7 - Norman O. Brow n, Apoca lypse, University of Ca lif'orn ia Press, Berkeley, 199 1.

8 - Os dedos rio caos e os dedos de Deus, Catolicismo, Julho-92. 9 - Entr vista a L . Bofl; EI cao.\" es la base dei 1111evo ordem, " Qué Pasu", Sant iago de Chile, 13-7-93 . 10 - " T hc Fou rt h A nnua l Chaos Ne t wo rk onfcrcncc" , J)rornov iclo pela Reg i s Uni ver sity School d· Denver, Estados Uni dos, em 28-9-94, or•ani zauo por " P opie Technolog ies" (que ed it a a puhli c11ç1 o " T he haos Netwo rk" ).

Assim, o modo de viver era vegetar. M as vegetar, sob certo ponto de vista, é descansar. E o mero descanso, aind a que na indigênc ia, para muitos indivíduos ou até para muitos povos, é um estilo de gozar a v ida próprio aos fracassados. Introduziu-se assim, nessas populações, a idé ia de que trabalhar muito para produzir muito não compensa a fadiga de trabalhar, a preocupação de estar excogitando negócios e o temor do preju ízo geralmente acarretado por negócios mal fe itos. Todo este fardo de esforços e apreensões pesa sobre o hom em, e não compensa - segund esses apologistas da preguiç o esforço que exige. Mais v ale a pena trabalhar o menos possível, comer

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Indigência em Moscou: numa sociedade na qual ninguém tem vantagem em trabalhar mais do que os outros... ninguém trabalha

igualmente o menos possível, descansar muito, embriagar-se muito ... do qu e trabalhar muito, c onsumir com fa rtura e melhorar constantemente o próprio nível de v ida.

CATOLI CISMO, AGOSTO 1995

O indispensável, o conveniente e o supérfluo O que vem a ser aí consumir? A primeir~ idéia que salta ao espírito é a de comer, o que certamente está incluído no conceito de consumo. Porém, consumir s ignifica também ter na vida ainda outros regalos, não nec essari am e nt e os do m a gn a ta d e f"1amon, (a quem estão abertas as portas do alto consumo), mas regalos que proporcionam bem-estar ao homem, uma proporção maior ou m enor, confor13


desde logo um cunho socialista característico:

rural, campo de pouso para helicóptero no jardim da casa etc.

Dado que uns têm muito e outros têm pouco, é preciso que os que têm muito fiquem só com o indispensável para viver e dêem todo o supérfluo aos demais. Porque se eles reúnem em torno de si objetos de luxo, de conforto,

Ora, segund o os anticonsumistas, aquilo que não é indispensável para viver, o homem não o deve ter. Assim, ninguém tem direito de gastar com helicópteros, nem com viagens, nem com bibelôs: todos devem gastar para vantagem de todos. Quem for trabalhad or, aquele a quem Deus dotou com maior capacidade de trabalho, se ele der para os outros o fruto de seu trabalho, esse procede bem. Mas se ele acumu la, para depois consumir consigo ou com os seus, é um egoistarrão. Resultado: numa sociedade na qual ninguém tem vantagem em trabalhar mais do que os outros ... ninguém trabalha mais do que os outros! É uma sociedade organizada em vantagem dos preguiçosos, com prejuízo dos trabalhadores autênticos, dos diversos níveis sociais.

Prateleiras vazias em supermercado moscovita

me as apetências de sua natureza. A palavra consumir abrange portanto o conjunto daquilo que apetece às justas temperanças da natureza humana.

Nessa sociedade, praticamente desaparece a abund ância.

No âmb ito do consumo de um a cidade podem estar bens que de modo algum são necessários para matar a fome, e nem são, em rigor, indispensáveis para viver, como, por exemplo, três ou quatro grandes teatros, nos quais haja permanentemente exibições artísticas de grande valor, a que uma parcela da população, afeita a esses espe- . táculos, vai assistir.

Voltaire, homem péssimo, ateu desprezível, mas que tinha certo espírito - com o qual, aliás, fez grandíssimo mal à tradição européia, difusor encarniçado que foi dos princípios da Revolução :-Voltaire, entretanto, lançou uma frase ao mesmo tempo espirituosa e não desprovida de profundidade: "O supérfluo, essa coisa tão indispensável... "

Na mesma ordem de idéias estariam um ótimo museu, uma galeria de arte, um excelente metrô.

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Nações ricas e pobres: dicotomia especiosa Segundo um a concepção muito difundida - e que, por exemplo, encontrou guarida em não poucos participantes da Conferência do Cairo ----:- o mundo se divide em duas partes: as nações ricas e as nações pobres. As nações ricas consomem: são os Estados Unidos, o Canadá, os países da Europa ocidental, a Austrália, a Nova Zelândia, o Japão. De outro lado estão as nações da América Latina, da África, da Ásia, que não têm o nível econôm ico das anteriores. Então seg und o os propugnadores do anticonsumismo - a América do Norte, a Europa ocidental, o Japão etc., nações consumistas, oprimem as nações pobres, defraudando-as em toda espécie de negócios. Conseqüentemente, as nações espoli-

adas, não-consumistas, devem fazer uma contra-ofensiva ao mundo consumista, obrigando-o a reduzir o seu nível de consumo, e nivelando-o por baixo com o mundo pobre. Com isso, todos cairão numa situação parecida àquela a que a ditadura comunista arrastou a Rússia e as nações satélites do antigo império soviético. E, também, análoga à em que o velho governante de Cuba mantém seus infelizes compatriotas.

A favor de um consumismo criterioso e proporcionado Em face desse anticonsumismo retrógrado, devemos propugnar um consumismo criterioso, proporcionado, em que as nações mais ricas, longe de imporem às mais pobres condições de vida quase insustentáveis, procurem, pelo contrário, estimular a produção desses irmãos pobres, proporcionando-lhes salários e níveis de existência alentadores, os quais dêem a estes o gosto de um consumo saboroso e aprazível, que os estimule a trabalhar sempre mais.

É o contrário do que inculca o anticonsumismo.

O conceito de consumo inclui, pois, tudo aqui lo que é indispensável para o homem viver; mas inclui também o conveniente, e no conveniente, até o supérfluo, que torna a vida agradável. Uma mãe de família entra numa loja e vê um bibelô de porcelana representando uma pastora conduzindo um cordeirinho; julga ela que seria agradável tê-lo no centro da mesa de sua sala de estar: ela compra, ela consumiu. Ela não vai comer aquele objeto de porcelana; adquiriu-o apenas

e cai no não-consumismo. E daí resvala para um estado de pobreza crônica, preguiçosa, mofada, que tende, em última análise, para a barbárie.

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Abundância de alimentos no Mercado Municipal de São Paulo

para que todos o olhem. Entretanto, é um verdadeiro consumo.

Tese tipicamente socialista Vai nascendo agora uma tese. E, se se lhe der toda a atenção, notar-se-á CATOLIC ISMO, AGOSTO 1995

e le s com isso conso mem muito. rrelativamente comem muito, bebem muito, gozam de férias faustosas, quando viajam é de avião, preferivelmcnte com avião próprio, possuem campo de aviação na sua propriedade

Para que haja estímulo a que se trabalhe, é preci o dar a quem trabalha a devida compensação.Afim de aproveitar em benefício da sociedade os mais capazes, os mais eficientes, os mais produtivos numa palavra, os melhores - é preciso que ganhem mais. Se tal não ocorrer, a sociedade amolece Na vida rural da China vermelha, as condições de trabalho são rudimentares, prevalencendo a noção minimalista e retrógada de consumo CATOLIC ISMO, AGOSTO 1995

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ESTÉTICA

São Boaventura, Doutor para oReino de Maria A contemplação da beleza da ordem criada constitui condição de progresso na civilização cristã. A doutrina do Doutor Seráfico é um sustentáculo primordial dessa percepção estética Migue l Beccar Vare lla Interior do luxuoso Teatro Amazonas de Manaus

" Dinh e iro -

dev e ri a m di z er os

povos m a is ri cos -

po d e re is ob te r

d e nós, d es d e q ue traba lh e is. Sed e

sa a tend e r v osso ju s to p e did o, d e

é in ace it á v e l.

m o d o q ue re nun c ia re m os de bom grad o ao qu e nos é s u pé rfl uo, p ara

A g lo rificação d a vadiagem é próp ri a do socia lism o e do comunism o, não d a c iv ilização c ris tã e d a d outri na ca tó lica.

sob re v ós, à fo rça de traba lh o, to d o

assim v os proporc io na r o q ue v os é necessá ri o".

o be m q ue d eseja rd es. Só se ba ld a-

Faze r d o co nvívi o m undi a l um a

dos, se m c ulp a v ossa, esses m e ritó-

li ga em qu e os pov os m a is capazes

r ios esfo rços, es te nd e i-n os a m 3o

traba lh e m inutil me n te, sem va nt a -

ho m e ns p ro dutiv os, p roc urai a tra ir

p a ra p e d ir ajud a . R eco nh ece m os, cm ta l caso, qu e se rá ob ri gação nos -

ge m p ró pri a, em be nefício d os in cap azes , pregui çosos, vadi os ... isso

É, e nt re ta nto, p ara o nd e co nduz o a n t ico n s umi smo, ocioso e beberrão , inimi go ela c iv il ização, cio bem -estar e cio bem v ive r de todos os ho m ens.

Veneza: a excelência do bom gosto criterioso e proporcionado

D

iziam os medievais: "É na con-

Nas criaturas sensíveis é ne-

templação da beleza que a alma se eleva mais facilmente a Deus; sobretudo a beleza espiritual". "A mais evidente imagem de Deus é a beleza das criaturas" (1).

cessár io sa ber observar sua grandeza, mul tiplic idade , beleza, p len itude , harmon ia etc. Afirma o Do u tor Se ráfico:

Toda a teologia e a fi losofia de São Boaventura, o Doutor Seráfico, estão rep letas do ensinamento medieval sobre a verdadeira beleza. Na edição anterior de Catolicismo (2) , foi apresentada uma síntese b iográfica do g rande santo frat1ciscano , cuja festa se comemora a 14 . de julho. No presente artigo, complementando aquela colaboração, ressa ltamos o aspecto mais sali ente da do utri na de São Boaventura - a visão do universo sob o ângulo estético. Dessa forma, os le itores poderão avaliar mais profundamente o importante pape l desempenhado pelo Doutor Ser{ifico na História da Igreja, mormente no campo teo lógico e filosófico. Grande amigo de Santo Tomás de Aquino , os dois e nsinaram na U niversidade de Paris, durante o reinado de São Luís IX. Para São Boaventura, as pal avras de São Paulo - "As perfeições invisíveis

de Deus .... se fa zem visíveis depois da criação do mundo, pelo conhecimento que delas nos dão suas criaturas ... " (Rom. 1,20) - se aplicam espec ialmente enq uanto tais criaturas são belas. 16

CATOLIC ISMO, AGOSTO 1995

"Aquele que, diante dos esplendo res das coisas criadas, não os vê, está cego; aquele que, com tantos clamores, não desperta, está surdo; aquele que, por todas essas evidências, não louva a Deus, está mudo; aquele que, com tantos indícios, não percebe o primeiro Princípio, é São Boaventura, quadro de Morando de Paolo néscio. Abre, pois, os olhos, afi(séc.XVI), Museu Cívico, Verona, ltálía. na os ouvidos espirituais, des prega os lábios e aplica o coração para, Dois Santos e a nova em todas as coisas, ver, ouvir, falar; plenitude da História ama,; reverenciar, louvar e honrar a teu da Igreja Deus" (3). Cai na cegueira e no pecado quem, A a lma do homem contemp lativo,

ao se deter na contemp lacão da verda-

diz São Boaventura, é como um espelho onde se refletem o mundo, os anjos e

de, do bem e d~ be leza puramente naturais, não term ina num ato de fé e de amor

Deus. Portanto, há nela "maravilhosas

a Deus.

luzes e maravilhosa beleza, admirável harmonia, total beleza e altíssima ordem" (4). E a alma, assim, dispõe-se a elevar-se à contemplação de Deus: "Por isso nossa mente, irradiada e ban/iada de tantos esplendores, por não estar cega, pode ser conduzida pela consideração e/e si mesma à contemplação daquela luz eterna" (5). CATOLIC ISMO , AGOSTO 1995

São Boaventura não aceitava a pura racional idade sem o entus iasmo pela verdade, pelo bem e pela beleza.

Há em todo o e nsi namento de São Boaventura um maravi lhoso equil íb rio entre a razão e o enlevo, q ue deve ri a ter aberto um novo rumo para a filosofia escolástica. Mas, por um misterioso desígni o de Deus, ta nto São Boaventura 17


música,já não eram uma via para a alma buscar a Deus. Esse estado de espírito e sua causa profunda são descritos pelo Prof. Plínio Corrêa de O liveira, em sua conhecida obra Revolução e Contra-Revolução:

A pitoresca cidade de Bagnoregio, onde São Boaventura viveu até os 21 anos

quanto Santo Tomás morreram quase ao mesmo tempo, com 52 e 48 anos respectivamente, quando a Igreja se empenhava num combate decisivo contra as idéias que ameaçavam a nova plenitude que as luminosas doutrinas desses santos Doutores prometiam alcançar. Com efeito, ao mesmo tempo em que floresciam a santidade e o gênio de Santo Tomás e de São Boaventura, começavam a surgir, na própria Universidade da Sorbonne onde ensinavam , os germes das idéias que depois passaram a inspirar a Revolução multissecular, desagregadora da civilização cristã. Por um lado, o racionalismo iniciava sua oposição à razão iluminada pela fé. Por outro, começava a surgir dentro da Igreja um pseudo-misticismo, uma espécie de hippismo religioso, que constituía o movimento dos chamados "espirituais", o qual foi condenado pela Igreja como heresia.

Nas almas, a destruição do senso de beleza Faleceram os dois campeões da doutrina católica e o inimigo tornou-se praticamente dono do terreno. Em conseqüência, os primeiros frutos das idéias malsãs começaram a surgir sob a forma de uma insidiosa concepção pagã da beleza , que se desenvolveu com o Humanismo e o Renascimento. As novas idéias que triunfavam vinham ao encontro de um estado de alma que começava a dominar, no qual o amor egoísta e sensual predominava sobre o amor de Deus. As formas belas, a doce 18

"O apetite de prazeres terrenos se vai transformando em ânsia . .... Há um paulatino perecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao f estivo. Os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de santidade e vida eterna" (6). Um precursor dessa tendência nova foi Dante Alighieri, que chamava sua poesia de "il dolce stil nuovo ", por meio da qual pretendia "libertar os homens,

mediante o del eite po ético, de sua mísera situação, e conduzi-los à bemaventurança eterna" (7). O Renascimento dava assim, à visão da beleza da ordem do universo, um sentido inteiramente contrário aos ensinamentos de São Boaventura, porque ele já não era um caminho que levava a Deus, mas que afastava os homens do Criador. Dado esse primeiro passo, não restava a esse processo senão encontrar, no fim do caminho, o próprio demônio. O Renascimento e o Humanismo movimento precursor do Protestantismo, o qual constitui a primeira Revolução - foi propriamente uma revolta contra a estética sapiencial da Idade Média, que não encontrou praticamente nenhuma oposição. A segunda Revolução foi republicana; e, como dizia Anatole France autor muito censurável por sua impiedade, mas, nessa matéria, com fina percepção - cada vez que se implantava uma república, era um triunfo da feiúra. A Revolução Francesa é a expressão arquetípica dessa etapa. A terceira Revolução foi também um passo a mais no mesmo sentido. A meta voluntariamente buscada pelo comunismo, de criar um estado de miséria generalizado, é um triunfo da feiúra em todos os níveis da vida. Tal estado prepara os homens para a anarquia e o satanismo. CATO LI CISMO, AGOSTO 1995

Na análise das Escrituras, previsão histórica Esse triste processo de destruição da Cristandade medieval parece ter sido previsto por São Boaventura, quando estudou as Sagradas Escrituras. Entre o Velho e o Novo Testamento - ensinava ele - há um paralelismo que nos permite entrever qual é o futuro da Igreja. Dividindo em sete épocas a História da humanidade antes e depois da Redenção, e mostrando o paralelismo entre essas duas fases históricas, concluía ele: a sexta época, a Idade Média, terminaria em meio a uma "obscuridade das tribulações". Com efeito, a época medieval afundou nas trevas da Revolução. Mas o Santo Doutor, de modo análogo, previu , na sétima época da História, o triunfo da Igreja: "No sétimo tempo, ocorreram duas coisas (no Antigo Testamento): a reedificação do Templo e a restauração da cidade (de Jerusalém) e de modo parecido, no futuro

sétimo tempo, terão lugar a restauração do culto divino e a reediftcação da cidade. Então, cumprir-se-á a profecia de Ezequiel, quando descerá do céu a cidade (a Igreja), não certamente a que está acima, mas a daqui de baixo, a militante; quando es ta for conforme à (Igreja) triunfante, enquanto seja possível neste mundo. Então terão lugar a edificação da cidade e seu restabelecimento, como no princípio; e nesta ocasião haverá paz. Mas quanto tempo durará essa paz, só Deus o sabe" (8). Trata-se, sem dúvida, da época histórica na qual a Igreja gozará a plenitude dos frutos da Redenção, isto é, o Reino de Maria, anunciado por Nossa Senhora em Fátima, no ano de ] 917. Notas: l) De Bruyne, L'Estéthique au MoyenÂge, Ed. de l'lnstitut Superieurde Philosophie, Louvain, Bélgica, 1947. 2) Catolicismo, nº5 35, julho de 1995. 3) ltinerarium , BAC, tomo I, Madri , p. 575. 4) Hexameron, BAC, Madri, 1972, p. 501. 5) ltinerarium , BAC, tomo I, Madri , p. 601. 6) Revolução e Contra -Revoluçcio, I Parte, Cap. III, Diário das Leis, São Paulo, 1982, p.19. 7) De Bruyne, Historia de la Estética, ed. BAC, Mad ri , 1963, p. 675 e 685. 8) Hexameron, BAC, p.491.

HAGIOGRAFIA

São Roque, modelo de renúncia e abnegação Luiz Carlos Azevedo

uitos santos medievais , pertencentes à nobreza, renunci-

E, para acréscimo de sofrimento, a peste negra afugenta-

aram inteiramente à sua con-

va as populações das cidades e

dição soc ial - e este é bem o caso de São Roque - para praticarem a perfeição da virtude cristã no despojamento

dizimava com morte dolorosa.

M

completo dos bens deste mundo. E isto o Santo realizou como peregrino, que faz lembrar o Bom Samaritano, socorrendo as vítimas da peste negra (1) que então grassava em várias regiões da Itália e também da França, sua terra natal.

Conjuntura histórica Pode-se dizer que , à época de São Roque ( 1295- 13 27), o mundo cristão vivia uma s ituação duplamente pestilencial: no sentido espiritu al, e também no material. Pesava sobre a Igreja Católica a luta entre o Papado, o Império e o Reino da França. As divisões daí decorrentes influe nciaram o Sacro Colégio dos Cardeais. Em conseqüência, os Papas de ixaram a Cidade Eterna e se e tabeleceram em Avinhão (sudeste da França, próximo de Montpellier, cidade natal de São Roque). Em 1304, morria o bem-aventurado Bento XI, e no a no seguinte, num conclave trabalhoso foi eleito na França, como Papa, o Arcebispo de Bordéus, Dom Bertrand de Got, com o nome de Clemente V (1305 a 1314). O novo Papa estabeleceu-se em Avinhão, onde levantou palácios, corte e fortalezas . Durante

70 anos os Papas ali residiram. Entre os católicos, as heresias faziam suas vítimas, afastando o povo da verdadeira doutrina de Nosso Senhor Jesu s Cristo: valdenses, cátaros e albigenses, patarinos, os beguardos (2).

Síntese biográfica São Roque nasceu em 1295 no sudeste da França, em Montpellier, cidade rica de hi stória religiosa, cultural e artística. Sua família, profundamente católica, pertencia à nobreza e fazia parte do governo da cidade. O pai chamava-se João Rog (de onde vem o nome Roque) e a mãe, Líbera. O Santo, .com toda certeza, cursou as escolas de s ua cidade, especialmente a célebre Faculdade de Medicina. E este estudo não foi inútil para seu futuro apostolado entre os doentes e empestados, em favor dos quais operou incontáveis milagres . Ele fi-

São Roque. Afresco de B. Luini (Sec. XVI), Saranno (Itália)

cou órfão ainda jove m, e quando atingiu os 20 anos de idade, devia ass umir a direção do palácio familiar e a administração de vastas terras. Lembrou-se da passagem do Evangelho sobre o

interrompê- lo repetidas vezes para socorrer os acometidos pela peste negra em torno de Roma e em diversas localidades da Província da Romanha (Cesena, Rimini e Forli).

moço rico, e do ape lo que fizera Nosso

Na própria Cidade Eterna, quando ali

Senhor quando lhe respondeu como deveria fazer para ser perfeito. Então, Ro-

chegou, São Roque encontrou o povo da

que renunciou à sua nobreza e di stribuiu aos pobres o s~u rico patrimônio.

que ai i grassava.

Saiu ocultamente de sua cidade, diri gindo-se, como peregrino, a Roma, onde haveria de permanecer três anos, e à

dos enfermos, também e le contraiu a peste negra . Para não molestar nin-

Terra

peregrinação

retirou-se para um bosque, habitando

Seu percurso, entretanto, foi enorme-

nascente. C urado milagrosamente por um anjo, passou a ser alimentado por

Santa,

em

pen_itencial. me nte tumultuado , poi s teve de CATOLI CISMO, AGOSTO 1995

cidade sobressaltado por causa da peste, Ao passar por Piacenza cuidando

g ué m e poder tratar-se por si próprio, um a cabana s ituada à beira de uma

19


um cachorro qu e todos os dias lhe trazia um pedaço de pão.

.,

Assim, dura nte oito anos ,, a Itália tornar-se-á sua pátria de adoção, como • santo protetor contra as epidemias. E le chegou à sua cidade natal e m trajes de peregrino, sem revelar sua identidade, e foi tomado por vagabundo e espi ão, poi s Montpellier vivia momentos de grande agitação política. Por ordem do própri o tio, Bartolome u Rog, foi e ncarcerado, sofrendo durante cinco anos os vexames da prisão, sua solidão e incô modos. E morreu no cárcere, no di a 16 de agosto de 1327, com 32 anos de idade. Só então é que se soube quem era ele, pois deixara sob sua cabeça uma tabuinha com o seu nome escrito. A notícia despertou entre os habitantes da cidade uma emoção profunda. Clero, nobreza e povo, também das cidades vizinhas, acorreram para venerar seus despojos expostos à visitação pública, primeiro no palácio da fa mília, e depois na igreja de Nossa Senhora des Tables. Para reparar a inju s ti ça, se u tio Bartolomeu mandou erigi r, na cidade vizinha de Miguelone, artístico mausoléu em forma de capela. E o povo procl a mou-o Santo Padroeiro contra epidemi as e doenças graves. Em 1485, a maior parte de suas veneráveis relíqui as fora m transferidas para Veneza, onde a Irmandade, in stituída sob seu patrocínio, construir-lhe- ia a mais célebre igreja. A Sereníssima República, rainha dos mares, haveria de ser o foco de irradiação da devoção e de seu culto para o mundo inteiro.

Conforme à tradição ... Após a morte de Gregório XI, em 1378, um Papa e dois anti -papas disputavam a Cátedra de São Pedro: o CÚdeal Pedro de Luna (Bento XII), Baltasar Cossa (João XXIII) e o Papa verdadei ro, Cardeal Ângelo Corai, que tomou o nome de Gregório XII. Era o cis ma instalado uma vez mais na Igreja! Para dirimir a questão, reuniu-se um Concíl io na cidade suíça de Consta nça, de 1414 a 14 18. Cardeais, Arcebispos, 20

Bispos, Teólogos, doutores, c hefes de Estado e o próprio Imperador, e ntretanto, foram acometidos pela peste negra. Foi proposto que se fizesse um a procissão penitencial, invoca ndo a proteção de São Roque.

}!)rtrua luttouiruo D}lalbu ra jJn t:1ítam íanttí lfiod}t ..ConCN ·(:>cf!a11.€p1d1míc 21pud 111i111 16Tlllfi

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Assim fo i fe ito, e antes de terminado aq uele ato pú blico de penitência, obtevese a erradi cação da peste pel a g lori osa inte rcessão do Santo.

A devoção a São Roque no Brasil E m nosso País, o maior núm ero de paróquias dedicadas a São Roque loca liza-se nos Estados onde os imigrantes italianos tiveram bastante influ ê nc ia Um anjo cura São Roque. Capa de livro (1495). Biblioteca Vaticana para a esco lh a do patrono das c id ades. Na c id ade paulista de São Roque, ex iste a igreja ser dado aos animais, a fim de que São mais antiga do Brasil em sua honra: fo i Roque os proteja contra doenças e pestes. fundad a em 1733. Existem em todo o País 33 paróquias consagradas ao padroeiro contra peste: 12 no Estado de São Paulo, sete no Rio Grande do S ul , c inco no Paraná, três em Santa Catarina, duas na Bahia, duas em Minas Gerais e uma nos Estados de Mato Grosso, Rio de Janeiro e Espír ito Sa nto. A ma is nova c id ade dedicada ao Santo é São Roque de Minas. Em muitas partes é costume, no dia da festa que transcorre a 16 de agosto, dar-se a bênção aos animais domésticos e de criação. E também, doa-se cabeças de gado para um lei lão, a fim de obter proteção e saúde para o rebanho; doa-se ainda galos ve lhos à festa, são os "galos de São Roque" . Há devotos que vestem manto de peregrino para acompanhar a proci ssão, como ato de penitência. Vestem-se as crianças de Anjo, para lembrar os contínuos co lóq ui os de São Roque com os protetores celestiais, que lhe indicavam o modo de curar os doentes. No dia da festa, benze-se també m . ai para CATO LI CISMO , AGOSTO 1995

Notas 1. A peste negra, o u pes te bubôn ica, é ca usada por um baci lo desco berto e m 1894 por Alexa ndre Yersin , microbiolog ista francês de origem s uíça. F icou célebre pe la deva. tação que produ z iu na Itá lia ao lo ngo cio séc ulo XIV, onde e la c hegou a re in c idir c inco vezes, ceifando 10 milhões de vidas' Sobretudo a c idade de Veneza esteve particula rm e nte expos ta ao contágio, em razão cio g rande intercâ mbi o comercia l co m o Oriente, de o nde veio a mol éstia. 2. O s "Beguarclos" pretendiam a perfeição cristã nas forças espo ntâ neas ela na tureza. Seriam os "eco log istas" ela época, que faziam cio respeito à natureza um dever e uma reli g ião. Os cátaros e os a lbi genses negavam prati ca me nte todos os pontos ela doutrina católi ca.

9{ç}ssa Senhora ·de ilrcupinha Paároeira áe Cocfrabamba ('Bofívia)-15 áe agosto

FONTE OE REFERÊNC IA Pc. Júlio J. Brustoloni . C.SS.R, Vida de Seio Roque: pereg rino rle Deus e herói da caridade, Edi tora Sa ntuário, Aparecida (SI'), 1992.

CATOLIC ISMO , AGO STO 1995

21


Ylqui está alguém mais do que Jonas eSafontM

Então alg uns escribas e fariseus interpelaram-no, dizendo: "Mestre, queremos ver um sinal fe.ito por ti". E le repli-

co u: "Uma geração má e adú ltera busca um sinal , mas nenh um s inal lhe será dado a não ser o cio profeta Jonas. Pois, como Jonas esteve no ventre ela baleia três dias e trê noites, assim ficará o Filho cio home m três dias e três noites no seio ela terra. Os hab ita ntes ele Nínive se leva ntarão no dia cio Julgamento, juntamente com esta geração, e a condenarão, por-

que e les se converteram ante a pregação ele Jonas. E aq ui há alguém mai s cio que Jonas". A rainha cio Sul se leva ntará em juízo contra esta ge ração e a condenará, porque veio cios confins ela terra para ouvir a sabedoria ele Salomão , e aqui há alg ué m mais cio que Sa lomão" (São Mateus , 12, 38-42).

g{as pafavras dos fariseus, adufação e ironia Comentários compiíaáos por Santo 'Tomás áe .91.quvw na ((Catena .91.urea" São João Crisóstomo - Como o Senhor pe las s uas respostas havia feito ca la r-se j á muitas vezes a líng ua impertinente cios fa ri seus, não desistem eles ele sua malícia e apelam agora para as obras, porque dizem: " Queremos ver ele ti um s ina l". Antes injuriavam a Jesu s, chamando-O endemoninhado ; agora O ad ulam chamando-O de mestre. Por isso res-

ponde com e nergia e lhes diz: "Geração má e ad últera" .

São Jerônimo -

Ex igem um prodíg io como se não fosse m s inais as obras que havia m visto. Fazia m referência a sina is como o fogo que E lias fez baixar cio céu (4 Reis 1), ou um mil ag re como o ele Sa mue l que, apesar do bom c lima, fez trovejar, relampag uear e chover (1 Reis 7-12).

Santo Agostinho - A própria Esc ritura nos asseg ura que não foram co mpl etos estes três di as, mas que o res to de tarde cio primeiro dia se conta como um dia inte iro , como també m a manhã cio te rce iro. Entre e les se in te rpõe todo o sábado com s uas vinte e quatro horas. A no ite que te rmin a na a urora, pertence ao terce iro di a.

O sina[de Jonas: sím6ofo da ressurreição de Jesus Após ter Jesus respondido durame nte a se us inimigos, falando cio pecado contra o Espírito Santo, a lg un fariseus qu e não hav iam tomado parte naq ue la ca lúni a, diri g iram-Lhe e ntão a pa lavra: "M es tre, quiséramos ver-Te faze r a lg um mi !ag re" . Para esses homen s, os a nte ri o res milagres ele Nosso Senhor, e e m parti c ul ar o qu e de u lugar à blasfêmi a de qu e Ele exp ul sava os de mô ni os por virtude de Belzebu , eram insuficientes para demonstrar que estavam diante cio Messias. Necessitavam, para convencer-se, que Jesus aceitasse em realizar, ao belprazer e a pedido deles, alg uma a lteração súbita no firm a me nto, um eclipse, uma tempestade e m céu sereno. Observa São Lucas qu e fi zera m este atrev ido pedid o para te ntá-Lo . Mas Jesus e nc he-os ele co nfusão e vergonha com palavras breves, mas e né rg icas:

22

Esta geração má e ad últera pede um sina l, mas não lhe será dado senão o sina l ele Jonas profeta. Desta mane ira, não conseg uirão o s inal qu e com insol ê ncia reclamam; mas, e m s ua infinita bondade, Jesus lhes concederá, alé m de seus milag res fre qü e ntes, que não cessarão até o fim ele s ua vida, o milag re exce pcional , indi cado sob o sina l cio profeta Jonas, e que re presenta clara e puramente sua glo. riosa ress urreição. É a seg und a vez que a lude a es te milag re cios milag res . Esta pregação pe rmanecerá obscura para os seus o uvintes até qu e os aconteci me ntos futuros possam esclarecê- la . Continuando seu ensinamento àquela geração perversa e adú ltera, o Sa lvador toma ela hi stória de Israel doi s fatos céle bres para da r gra nde realce à cu lpabiliclacle ele muitos ele seus co nte mporâ neos: " Os habitantes ele Nínive se le-

CATOLIC ISMO , AGOSTO 1995

vantarão no dia cio Juízo co ntra esta geração e a co nde narão, pois e les fi zera m pe nitê ncia com a pregação ele Jonas. Ora, aqui es tá qu e m é ma is cio que Jonas. A rai nh a ele Sabá torna r-se-á, no dia cio Juízo, acusado ra contra esses homens e o co ncle na- las-á, porque e la veio cios co nfins ela te rra para esc utar a sabedoria ele Salomão, e e is qu e aq ui te ndes quem é m ais cio que Sa lomão. Essas alusões e contrastes humilhantes traze m à memó ri a o utro di sc urso que J es u s pronun c io u na S in agoga el e Na za ré, as im como as condenações fulmin adas conti·a as três c icl acles cio lago. Mas a menção qu e o Salvador faz aqui à s ua própria Pessoa ma nifesta um a fo rça extrao rdin á ria: Aq ui está que m é mais cio que Jonas e Sa lomão! Pc. Lui z Cláudi o Fillion, Nuestro Seltor Je.m cristo seg1í11 los Evangelios, Ed itorial Difusion, Tucum án,

1859, pp. 16 1- 162 .

g{pssa Senhora de 'llrcupinfza {Qµilfaco{fo, rJ3o{ívia -15 de agosto)

E

ntre os países irmanado s conosco pela Fé católica, a Bolívia ocupa um lugar especial no mapa sul-americano.

O vale de Cochabamba, onde fica a cidade de Quillacollo, encontra-se numa e ncruzilhada central no país vizinho. Não somente por isto, mas principalmente pela abundância de graças concedidas aos devotos, o santuário de Nossa Senhora de Urcupinha tornou-se o mais concorrido da Bolívia. Sem possuir o título oficial de Rainha e Padroe ira,_como o é no Brasil Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a veneração que recebe é como se o tivesse, tal o afl uxo de peregrinos que atrai , especialmente durante o mês de agosto. A hi stória dessa devoção é mui to simples. Constitui mais uma manifestação da maternal ternura de Nossa Senhora para com as popul ações indígenas da América.

nobre Senhora. Ela trazia nos braços um Menino, cujos olhos eram expressivos descreveu a pastorinha - como duas estrelas tiradas do céu. A formosa Senhora amavelmente lhe dirigiu a palavra e começaram a conversar. Às vezes o Menino se entretinha, brincando com a água cristalina que manava dos rochedos, no que era acompanhado pe la pastorinha. Durante alguns dias, a Dama e seu Filho repetiram a visita. E ntretanto os pais da menina perceberam que o horário costumeiro de seu retorno com o rebanho estava um tanto alterado. Ao ser inquirida, explicou o que acontecia. Eles não lhe deram crédito, mas reso lveram aco mpan há-la. Próximo do local, a filha apontou para a colina , exclamando com alegria: "Urkupinha! Urkupinha!" , que no dialeto quíchua sign ifica "j á está no cerro!"

Em fin s de 1700, uma fam ília de índios quíchuas vivia de mod esta criação de ovelhas, nos arredores da vila de Quillaco llo. A filha mais nova, de cerca de 1O anos, todos os dias levava o peq ueno rebanho até as encostas das s uaves colinas dos arredores, onde havia água e pasto em abundância.

Os pais conseguiram ver à distância a Senhora e o Menino. Impressionados , foram imediatamente avisar o pároco e vizinhos em Quillacollo. Quando chegaram todos ao lugar, ainda conseguiram di visar a Virgem e o Menino, que logo desapareceram da vista, enqua nto subiam ao céu.

Em certo dia de agosto, de sol esplendoroso, a me nin a teve sua atenção chamada para um pássaro que cantava de maneira inusitada. A menina ouviu, então, passos de algué m se aprox imando. Ao voltar-se, deparou - e, cheia de espanto, com

N aturalme nte quiseram todos ir até o exato lu ga r onde a pastorinha costum ava receber a celeste visitante . Admirados, e ncontraram uma pequena e formosa imagem de Ma-

CATOLI CISMO , AGOSTO 1995

ria Santíssima com seu Divino Filho. A imagem foi transferida para a cape la da vila de Quillacollo, onde passou a ser venerada pelas populações indígenas, e já há muito mereceu ser chamada de milagrosa, em razão das muitíss imas graças concedidas pela Virgem Mãe de Deus. Restaurada por artista boliviano e revestida de trajes de seda, com coroa, jóias e enfeites de acordo com gosto hispân ico, a imagem, de cerca de 70 cm de altura, e ncontra-se hoj e no altar-mor da igreja de Santo Ildefonso de Quillacollo. Durante o mês de agosto, milhares de devotos acorrem ao santu ário. Há um costume peculiar de irem ao local da aparição, onde existe uma gruta na qual se encontra cópia da imagem de Nossa Senhora. Ali os devotos retiram com talhadeiras pedaços de rocha e fazem um pedido à Virgem, levando de volta para casa essas pedras, como uma espécie de penhor. Em gera l, essa pedra é mantida em lu gar de destaque na casa. No ano seguinte, em agosto, retornam e depositam a pedra junto à gruta, no caso de as graças terem sido alcançadas. Quando, há 'cerca de quatrocentos anos, aquelas paragens foram chamadas de Quillacullu - Colina da Lua - ninguém podia imaginar quão adequada era essa denominação. Sobre uma de suas colinas apareceria Aquela que é chamada pela Igreja "bela como a lua". Fonte de referência: Rafael Pcrcdo Antezana, E/ Mi/agro de Urc11pi11a Ed itorial Cucto, Cochaba mba, Bo lívia, 1990, 3" cd. 1

23


História Sagrada

No céu, a alegria peculiar .daqueles que são virgens

em seu lar (56) - noções básicas

sumo sacerdote Eleazar, e Josué só conservou o poder temporal" (2).

Sê firme e corajoso

Josué sucede a Moisés Tendo morrido Moisés no monte Nebo, Josué ass umiu o comando cio povo hebreu a fim de cond uzi-lo à Terra Prometida.

Guerreiro destemido e fiel Jo s ué era da tribo el e Efra im. Intrép id o g ue rreiro , foi ele quem derrotou os a malec itas, e nquanto Moisés rezava sobre um monte, com os braços em cruz. E ntre os doze exp lorado res enviados por Moisés para observar a terra de Canaã, apenas Josué e Ca leb foram fiéis. "Essa fidelidade mereceulh es o favo r de e ntrar na Terra Prometida, o que foi recusado, sem exceção, a todos os outros israelitas que tinham deixado o Egito na idade de vinte anos para cima" (l).

"O Senhor fa lou a Josué, filho de Nun, mini stro de Moi sés: Meu servo Moisés morre u; ago ra, leva nta-te! Atravessa este Jordão, tu e todo este povo para a terra que dou aos filhos ele Israel. Todo lugar que a planta de vossos pés pi sar, eu vo-lo dou , como disse a Moisés. Ninguém te poderá res istir durante toda tua vida; assim como est ive co m Moi sés, es tarei co ntigo: jamais te abandonarei e te desam pararei. "Sê de fato firme e corajoso .... para teres o cuidado de ag ir segundo toda a Lei que te ordeno u Moi sés, me u servo. Não te aparte de la nem para a dire ita nem para a esquerda, para qu e triunfes em todas as tuas rea lizações. Q ue o liv ro desta Lei esteja sempre nos teus lábios: medita nele dia e noite" (Jos. l, 1 a 8).

Raab salva os espias de Jericó " Mandou Josué doi s esp ias a Jericó, para reconhecimento cio país e da cidade. Entrara m os espias em Jericó, e pernoitaram em casa de uma

24

"E m reco nh ec im ento deste benefício, eles prometeram a Raab, so b juram e nto , qu e quando os israe litas entrassem em Jericó, seriam respe itados sua casa, sua fam íli a, e tudo qu e lh e pertenc ia, e qu e para sinal pendurasse à janela um cordão verm e lh o, a fim de qu e fo sse reconhec ida. Assim fi cou aj ustado, e os espias retornaram e co ntaram a Josué o que tinham visto e ouvido, e o que com eles havia acontec ido" (3).

Antepassada de Nosso Senhor Jesus Cristo Quando da destrui ção de Jericó , Raab e sua família foram poupadas pelos he breu s, como hav ia s ido prometido. E la depois casou-se com Salmon, príncipe da tribo de Judá, de onde procede a casa real de Davi, pelo que entrou ela na genealogia de Cristo. De fa to, narra o Evangelho de São Mateus ( 1,5): "Salmon gero u Booz de Raab . Booz gero u Obed de Rute. O bed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Dav i".

Poderes espiritual e temporal " Todavia, ao s ucede r a Moi sés, Josué não herdou o mesmo poder. O legislador dos hebreus tinha reunido em suas mãos o pode r re li g io so e o poder civ il. Hav ia un g ido Aarão junto ao Si nai; e e le própri o exercera as fun ções sace rdota is. Ao morrer, o pod er re li g ioso passou ao

mulher chamada Raab; e como o rei tivesse notícia da vinda dos espias, e as rondas dos cananeus lhes andavam ao enca lço, a mulher escondeu-os entre as canas de linho que tinha em casa, e de noite os fez descer por uma corda pela janela para fora da cidade, porque a sua morad a es tav a construída na muralha.

Notas: ( 1) Padre F. Vi go uro ux, Ma1111 el

Biblique

0 11

Cours d'Esc rilure Saillle

- An c ic n Testament, A Roger e F. Chcrn oviz, Ecl iteurs, Pari s, 1901 , tomo ll , p. 11 . . (2) Mon s. Ca ul y, Hislória da Religião e da Igreja, Liv raria Franc isco Alves, São Paul o, 19 13, p. 88. (3) Cô nego J. l. Roque te, Hi.1·1ória

Sagrada do Anligo e Novo Tes1wnenEm Jericó, a corajosa Raab favorece a fuga dos espias de Josué

CATOLICISMO , AGOSTO 1995

Guill arcl Ai ll aucl , Li sboa, 1896, 9.a ecl. , torno 1, p. 270. 10,

"Caminhai, pois, santos de Deus, jovens e virge ns, homen s e mulheres, celibatários e solteiras, prossegui constantes até o fim . Vós vos apresentareis às núpci as do Corde iro com um cântico novo (S l. 95,1). (Al i) tereis alegrias próprias dos virgens de Cristo. Gáudio que não é igual àquele que terão os demais bem-aventurados ; outros terão outras alegri as, mas ninguém as possui como os qu e são virgens" (Sobre a santa virgindade", B.A.C., Madrid, 1949, p.893).

Santo Agostinho TFPs

EM AÇÃO

Em terras de EI Cid, TFP laz campanha contra oaborto Es panha da Reconqui sta co ntra o invasor mouro , terra de E l C id , São Ferna ndo e Isabel, a Católica: nessa nação privilegiada, a TFP lançou-se às ruas contra o aborto. Sob as ardências do o i deste verão (no hemisfério norte), membros da TFP espan hol a, em vistosa campan ha de rua, ini ciaram pe las principais cidades do país, uma campanha co ntra proj e to de Le i qu e p e rmi te tota l despenalização do aborto.

e leitor se dirij a ao deputado no qual votou nas últimas e le ições, rogandolhe que se levante co ntra a a mpli ação da lei do aborto . Como toda campanha de rua da TFP e m qualquer país (e a Espanha não é exceção), é sempre possível deparar-se com os eternos indolentes , apáticos que pouco se i ncomodam que o mundo pi ore ai nd a ma is rumo à imundíc ie, vileza e vul garidade.

Te ndo-se ini ciado pela Puerta dei Sol, a praça central de Madri , a campanha já se estendeu, até agora, às c idades de Barcelona, Saragoça e Valê nc ia.

Entretanto, não fora m poucas as reações de pessoa que se entusiasmaram com a força, o donaire e garbo com que os jovens da TFP espanhola desenvolviam o contato com o púb li co.

Através de documento distribuído ao públic o, co m a rg um e nto s irrefutávei s apoiados por autoridades de grande peso, a TFP sugere que cada

Vocês são os únicos valentes na Espan ha! Que De us os abençoe! dizia em Madri uma distinta senhora, com voz emoc io nada. CATOLIC ISMO, AGOSTO 1995

No centro de Valência, a campanha da TFP contra o aborto

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E nqu a nto a fa nfarra tocava, o utra se nh ora aprox im o use, dizendo:

re tirare m seu apo io aos sociali stas, estes terão que ·e unir forçosamente à esq uerd a rad ica l para aprovar a le i. Assim, existe um a pol arização mai-

Posso oscular o c rucifixo de seu Ro-

or, pois as posições do público estão muito mai definid as.

sá ri o? E o fez com muita devoção.

E m outras pa la vras, os maus são cada vez piores, e os bo ns, de certo modo, ta mbé m ma is categó ri cos. Desta forma, a campanh a não poderia ter s ido la nçada num momento mais propício.

Ao fi na l de um dia de campa nh a, um a senhora exclamava: - Isso, isso! Todos os dias na ru a a fazer isto ! Vamos ver se afund amos com os social is tas ! Em Barcelona, capita l da Catalunha, as circunstânc ias são pec uli ares. Nessa região estão os partidos que poderão decidir a questão da despena1i zação do aborto, pelo fa to de que, se

Numa repercussão característica, um senhor pertencente a boa categori a soc ia l disse a um cooperador da TFP que os felic ita va pelo fato de serem o único grupo a nti comuni sta não decrépito que ele con heceu e m toda sua vida. Igualmente s in tomático foi um jornalista afi rm ar que "nunca havia vis-

to anteriormente manifestação anticomunista que tivesse a ga rra (da TFP), na qual via algo de especial que não sentia nas outras".

TFP argentina repudia exposição erótica em Buenos Aires

· A TFP argentina publicou um comunicado do qual extraímos os principais tópicos: " O mau gosto, a amoral idade, a sordidez, a perversão e a loucura se unem nesta mostra degradante, patrocinada pela Secretaria de Cu ltura da Prefeitura ele Bue nos Aires . Isso representa uma mal dissimulada proclamação de anarquia moral e agride os va26

Provérbio espanhol

A morte persegue mesmo a quem foge Horácio Alegraram-se com teu nascimento e tu ch oravas. Vive de maneira a que possas , no momento ela morte, ver cl1orar os ou tros Provérbio persa Se viver é es tar juntos, olhar-se e querer-se bem, depois da mort e, para aqueles que fi caram cm relação aos que se foram, viver é lemb rar-se, mais uma vez lembrar-se, reza r e esperar o Céu Plinio Corrêa de Oliveira Os hom ns clesi-e mundo são felizes de modo infeliz; ao contrário, os m ártires eram infelizes de modo feliz Santo Agostinho

Do primitivo ... ao telefone celular

Em Valência, o donaire da fanfarra da TFP

Patrocinada pela Secretaria de Cultura de Buenos Aires, realizou-se num ponto central da capital platina urna mostra sob o título de Erotizarte li. O local , conhecido como Recoleta, encontra-se vinculado à história, à origem católica e a ilustres tradições familiares da Argentina.

Os v ivos fecham os o lhos dos mortos, os mortos abrem os o lhos dos vivo~

!ores fam iliares e cató licos da imensa maioria dos portenhos. "De fato, a expos ição mais parece um concurso de infâmi as, no qual todos se afanam para ver quem realiza a torpeza mais vil, mais mórbida, mais alucinada. Por exemplo, um manequim mascu lino vestido ele noiva traz pormenores pornográficos que o respeito impede-nos descrever. "O extremo de obscen idade atra i o paroxismo da blasfêmia. Assim, há um quadro denominado "Cruz s uspensa", que mostra o adorável símbo lo da Fé católica, a Cruz de Cristo, sobre um corpo desnudo. "Eventos como Erotizarte li constituem uma autêntica ex pres são da CATOLICISMO , AGOSTO 1995

anarq ui a no campo moral, de onde se estende ao campo soc ia l. Pois ao in centivar a abdicação da razão e à entrega aos mais torpes instintos, se açu la a tran sgressão a toda moral, toda lei e toda ordem.

"A TFP expressa seu mais categórico repúdio a e sa expos ição degradante, anarqui zante e blasfema, e convida a todos quantos compartilham seu sentim en to a expressá-lo de viva voz, para fazer sentir às autoridades municipais e aos patrocinadores dessa expo ição iníqua, o descontentamento da ime n a maioria cios argentinos, in variavelmente fiéis aos valores católi cos e fami liares, que são o fundamento de nossa Nação e a única gara nti a de sua sobrev ivê ncia. "

Parece ba nal, à primeira v ista, a cena qu e o leitor te m diante dos olhos : um guerreiro, empunh ando um a lança . A nat ureza ressequida , qu e co mpõe o panorama, é típica de cer tas reg iões do co ntin e nte afr ica no. Se o leitor, porém, deitar mais atenção na atitude cio personagem, poderá ficar surpreso. Como pode ele estar utiliza nd o um dos mai s recentes inventos da técni ca moderna? É in crível, mas é verdade: numa remota e deso lada região do nordeste do Qu ê ni a, um memb ro da tribo Sa mburu serve-se do telefone ce lul ar - o qual rep rese nt a, e m países como o Bras il , pri vil ég io ain da restrito a poucos ... Se ava nços de a lt a tecnologia vêm ca usa ndo di stúrbi os na alm a do hom em ci-

v iliza do, o que não pode rão provoca r no espír ito de um memb ro de tribos da Áfri ca ou da Amazô ni a? O Papa Pio X II , e m s ua Rad iomensagem de Natal de 1953, adverti a judiciosamente que "a técnica .... parece inegável que se transforma, por ci rcunstâncias de fato, em grave perigo esp iritua l". E atri buiuse a ela - acrescentava o Pontífice - " uma autonomi a im possível que, por sua vez, se transforma em errada concepção da vida e do mundo". Se entre os c ivili zados a privacid ade e o sossego estão se ndo se ri amente perturbados pelo telefone ce lul ar, o que pensar da s conseqüências danosas - a intemperança, sobretudo - qu e pode ele aca rretar na a lm a de um inc iviliza do?


'1erusalém, Jerusalém ... " Plinio Corrêa de Oliveira

U

ma concepção anti-igualitária do universo nos mostra como este é uma verdadeira corte cheia de nobres desiguais: uns são mais nobres porque têm mais nobreza no seu ser e outros são menos nobres porque têm menos nobreza no

seu ser. Alguém me dirá: "Mas dê um exemplo." E eu dou um exemplo fácil: o pavão e a galinha Há no pavão uma nobreza evidentíssima: na roda que ele faz, na beleza admirável de suas plumas, na formosura das penas furta-cor azul-verde de seu pescoço ... No pavão tudo é grande menos a cabeça, mas esta forma o centro pequeno e vivo que dá movimentação a todo o resto, enquanto cabe a um ser sem razão. Seu modo de se mover, é o modo de uma rainha. Ele anda com um jeito nobre, calmo, não se assusta com nada; quando corre, corre com certa dignidade; quando pára, não pára ofegante. Agora, a galinha é uma miséria como falta de nobreza. Ridícula sua forma de correr, ridículo seu modo de cacarejar, ela corre de maneira espavorida, os vermes nojentos que encontra pela terra, ela os devora com gula; seu contentamento é um contentamento glutão. A galinha só tem um lado nobre - é o amor matemo com que defende, até com risco de vida, qualquer. de seus pintainhos. Sob esse aspecto o próprio Homem-Deus dignou-se em comparar-se a ela quando disse: Jerusalém, Jerusalém .... quantas vezes Eu quis reunir os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste!" (Lc. 13, 34)

* * *

É verdade que a galinha e o pavão são seres irracionais, não têm inteligência, não têm, portanto, nobreza no verdadeiro sentido da palavra, mas no sentido analógico.



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Discernindo, distinguindo, classificando...

· vestindo-sede lixo

NQ 537 Setembro de 1995

Nesta edição:

Estranha modal Para satisfazer os "ambientalistas", roupas vão ser fabricadas com lixo reciclado, especialmente utilizando garrafas velhas. E mesmo dando prejuízo! Discernindo

H

uve tempo em que os grandes centros da moda competim para lançar no mercado roupas bonitas e de categoria. Agora, a competição consiste em tornar o ser humaqo cada vez mais degradado . Roupas feitas de lixo passam a ser moda. Uma jaqueta fabricada a partir da reutilização de um plás tico usado nas garrafas de refrigerantes - tereftalato de polietileno (PET) - foi apresentada numa mostra para a imprensa, em Londres, pela Brasher Boot. Seu portavoz, Chris Brasher, afirma que os materiais reciclados estão-se constituindo numa parte cada vez maior da produção da empresa. "Não são apenas razões comerciais que nos movem diz ele - mas também ambientais". Na França, a Rhovyl, especializada em produtos têxteis, começou a fabricar fios com 70% de material vindo de garrafas plásticas de água mineral recuperadas, e apenas 30% de lã. De fato, as razões comerciais parecem nada ter a ver com o caso, pois o material reciclado fica mais caro. Para que esse material retirado do lixo po a ser reaproveitado, ele precisa passar por um processo bastante complexo. "Com isso - diz Alain Regad , principal acionista da Rhovyl france a - os custos de produção de material reciclado são maiores do que os gastos com plástico virgem".

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Afirmação semelhante é feita por representante da fábrica de malhas norte-americanaDyersburg, a primeira firma a trabalhar com material reciclado.

do o problema do lixo eslC/va s , tornando mais aguda enquanto a onsciência ambiental atingia novos picos". Em ag st d 1994 a Dyersburg a Wellman anunciavam , m grande aparat , aparecimento do prim iro fi o tecido com 1 00 ¾ de PET re ic lado.

Segundo ele "os tecidos para for ro, reciclados; são 7 a 10% mais caros que a fibra de poliéster normal" . Mas é tal o desejo de pôr em circulação esse lixo reciclado, que ele próprio admite que "essa diferença [de preço] não é necessariamente passada para o cliente". Quem já ouviu falar em empresários que trabalhem para ter prejuízo, ou ao menos um lucro bem menor? O que há por detrás disso? Uma doutrina? Um desejo de achincalhar o ser humano? De fato, informa a Gazeta Mercan til de 2-5-95 que "a nova fibra prov ,_ niente do lixo foi recebida com êxtase pelos ambientalistas". Judith Langan, diretora de c rnu nicações da Wellman, grande pr du tora de fibras de poli é ter, exp li a que a decisão da sua empre a de trabalhar com material reciclado data de 1992, quando "a constante crise envolven-

CATOLI CISMO , SETEMBRO 1995

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A Realidade concisamente

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Destaque

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Capa Castigos coletivos: punição divina pelos pecados cometidos por nações e povos 6 TFPs em ação Congresso de neo-cooperadores da TFP

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Brasil real, Brasil brasileiro

produt saído do lix vui · hcgando ao c nsurnid r. A malharia hc, r/ ,.1· Du bou rg , da Fran ·a, apre entou sua série de roupas d malh a em novembro do an passado . ada uéter é feito com 27 arral'as d PVC retiradas do lixo.

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Vestindo-se de lixo

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* "O trt(je 11{/o é op •nas um agasalho .... ele d l'Vl' 10111!, ,n prestar serviço ao esplrito", ·s ·r veu o Prof. Plínio ira d· O li v ·ira cm Catolicismo , d a iosto d • 1( 52.

O triunfo eucarístico em Min as Gerais

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Caderno Especial

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Entrevista O Plano Real analisado pelo Prof. Marcos Cintra

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História Invasão e expulsão dos calvinistas holandeses na Bahia

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Hagiografia

São Wenceslau , duque e mártir

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Verdades Esquecidas

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Frases e Imagens em painel

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Contracapa

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D· fato , ass im como a compostura a d • · ·n ·ia no traj ar ajudam a elevar ·spíri to human o convidam a uma atitud · mai s di gna, as im também o hom ' 11\ ou a mulher que se vestem de pro lut os vi nd ) S d lixo, queiram ou não, a ·abam por r rtalecer em si a tend"n ·ia pHra tu I quanto é baixo, vil e imund . E pensar que e sa tendência é alimentada p r enormes empresas que n m eq uer têm em vista o lucro ...

C.A.

Nossa capa: Jesus expulsa os vendilhões do templo (detalhe) (1305) - Giotto, Capela degli Scrovegni,

Pádua, Itália

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corréa de Brito Fi lho Jornolls to Rosponsá vef: Mariza Mazzilti Costa do Lago · Registrada na DAT -SP sob o N1123228 Redação e Gorõncln: Rua Martim Francisco, 665 01226·00 1 São Paulo. SP. Tel:(0 11) 824-94 11 Fotolitos: Microlormas Fotolitos Lida . Rua Javaós, 681 O11 30-0 1O São Pau lo-SP

Impressão : Arl press Indústria gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 681 0 11 30-010 São Paulo-SP A correspondência relativa a assi natura e venda avu lsa pode ser enviada ao Selar de Propulsão de Assinaturas. Endereço: Rua Marl im Francisco, 665CEP: 01226·001 • São Paulo·SP ISS N - 0008·8528 To l: (0 11 ) 824 -94 11

CATOLI CISMO , SETEMBRO 1995

ASSINATURA PARA O MÊS DE SETEMBRO DE 1995:

COMUM: R$ 40,00 COOPERADOR: R$ 60,00 BENFEITOR: R$120,00 GRANDE BENFEITOR: R$ 200,00 EXEMPLARES AVULSOS: R$ 4,00

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fund aram numerosas a lde ias, hoj e vi las e c idades .

cursos anarquistas e usar drogas .

Dessa maneira os indígenas fi caram soc ialmente adaptados e se transformaram e m fié is aliados dos po rtu gue, e ·.

No ano passado mai s de mil punks foram pres os, e ho uve fo rte reação e m toda a A le manh a contra a complacênc ia e o mi ssão das autoridades ( oc ia l i tas) estaduais di a nt e el as ho rd as d e desordeiro , que to maram a ruas de Hannover, quebrando v idraças e vitrines e incendia ndo automóveis.

"Dias de Caos", em Hannover A polícia e jovens anarqui stas travaram , durante uma noi te inteira, verdade ira batalha de g arrafad as e pedrad as e m Hannover, na Ale manha, que deixo u 94 polic iais fe ridos. A vi o lência fa z parte dos

Museu do lpiranga completa 100 anos Projetado duran te o Império, e m 1882, concluído e m 1890 e aberto ao público em 1895 , o Museu cio Ipiranga, em São Paulo, está comemorando seu cente nári o neste mês de setembro. Situado em posição privil egiad a num a colin a, o prédio foi restaurado, recebendo pintura nova e reparos gerais. Novas áreas foram abertas à vi sitação pública. Junto ao munume nto da independênc ia, com parque e j ardins que lhe rea lçam a beleza, o Museu do Ipiranga atrai anualmente centenas de milhares de visitantes. É o seg undo mais vi sitado do Pa ís, perdendo apenas para o Museu Imperial, de Petrópo li s. C are nte de rec ursos pú bli cos, a direção do Mu se u ape lo u para a ini c iativ a pri vada a fim de co ncluir as restaurações . Ass im , a Funda-

ção de Amparo à Pesquisa va i investir uma som a destinada a inform ati zar a d oc ume ntação ele dez mil peças do acervo. E vocativo d as me lh o res trad ições de nosso po vo , o Mu seu do lpiranga merece ser prese rvado co m todo carinho , poi s ali se conservam intactos os aromas de um Brasil sereno e grandi oso.

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Grandezas de um País católico Eleonora Rooseve lt, v1 s1tando as cataratas cio Iguaç u, exc la mou qu e e las ''.faziam

Niagara parecer-se a uma torneira de dentista". A lé m d essa d á div a d e De us, o Bt·as il poss ui o utro tesouro, cujos porme nores só ago ra se tornam conhec idos.

Dias de Caos - uma reuni ão de verão de hippies e punks, cuj o obj etivo consiste simpl esmente e m causar di stúrbios e destrui ção. Esse ajunta me nto j á es tá fi cando rotine iro . Jove ns prove ni e ntes da E uro pa inte ira re úne m-se po r trê s di as nas cercani as ele H ann ovcr, 1 ara tocar mú ica roe/. , o uv ir cli s-

(INPE) , ele São José dos Ca mpo s (SP) , co mprov a m qu e , a lé m de recorcli , ta e m vo lume de ág ua, o ri o Amazo nas é 'ta mbém o ma is exten ·o cio mundo.

Devemos a posse dessa ri queza à oportuna e clarividente ex pedi ção po rtu g uesa el e Pedro Te ixeira, que, em 1637, to mou posse ele grande parte cio ri o Amazo nas . Saindo ele Cametá, perto de Be lé m, alca nço u Q u.ito, ca pit a l ci o Equador. Igualme nte dec isiva para ta l alargame nto do te rritó ri o nac io na l fo i a evangeli zação elas tribos indígenas, ao lo ngo de vári os ri os, prom o vid a pe las prin c ipa is o rd e ns re li g iosas mi s s iona n as . Ass im , j es uí tas, car me litas , fr a nc isca nos e mercedári os, no séc ul o XVII,

st é ma i um exe mplo de caos , confor me artigo que publi ca mos no úl timo número de Catolicismo (agosto) .

A notíc ia parece inverossí mil , mas de fato oco rre u: pi ca-pa us fi ze ram co m qu e a nave Discovery tivesse se u lançamento atrasad o por mais de um mês . Dois pica- paus, através de bicadas, fi zeram cente nas de peri gosas pe rfurações, danifi ca nd o o reves tim ento ex terno do ta nqu e de combu stíve l, qu e depo i ca i ao mar. Reali zado o con se rto , os e nge nh e iros da NASA dec idira m la nça r mão de um rec urso tão ve lho qu anto a agri cul tura: es panta lhos co ntra aves daninh as ... Ao retornar à pl ataform a de lançame nto em Cabo Ca navera l, na Flórid a, a nave espac ia l Discovery es tava co m seu giga ntesco Ianqu e rodeado de ba lões de co r laranja , com lo ngas franja s, à g ui sa de es pa nta lhos contra os irrequi etos pi ca- paus.

Campos de escravos na China

Estudos do Instituto Na cional de Pesquisas Espaciais

Na bac ia a mazô ni ca nasce m a ind a os ri os Ta paj ó s , X in gu e Tocantin s, todos ele águas cri sta linas .

Neste ano a políc ia, melhor equipada, mobili zou canhões ele água e tanques de assalto para u Itra passa r barri cad as e rguidas no setor universitário da c idade. Os baderne iros estavam ta mbé m me lhor armados: enfrentaram a po lícia com barras de fer ro e bo mbas incendi ári as .

·

E m dec laração redig ida em 199 1, para ser divul gada apenas quando e le fosse preso, Harry Wu acusa a C hina de ter "o maior sistema de

" Na China, os campos de trabalho dos tempos de Mao Tsé 7lmg continuaram c resce ndo com De ng Xiaoping" - escreveu Wu.

campos de concentração da história humana" - revela a revi sta The New Yorker em

Ele fo i preso no vamente qu ando te ntou entrar na C hina, recente me nte, e acusad de portar docume ntos fa lsos e ele obter ilegalmente seg re d os de Es t a do .

sua última edição. H arry Wu , nascido na China e natu ralizado norteam eri c a no, d es creve um qu adro sombr io dos campos de trabalho forçado da C hi na co muni sta, que conheceu perfe itam ente e m seus 19 anos como preso po líti co , e que denunciou após sua libertação, e m 19 85. A produção desses ca mpos de c o nce ntração (d e esc ravo , e m bo m Por tu g uês) é um dos molivos que raz co m que produtos made in China sej am tão baratos no Ocidente.

CATOLI CISMO , SETEMRO 1995

Campo de trabalhos forçados na China vermelha

ONGs desviam alimentos dos pobres

Os pica-paus e a NASA

As Organizações Não Governamentais (ONG s) co meçaram a ganhar certa notoriedade no Brasi I por ocas ião da EC0 -92, rea li zada no Rio d e Jan e iro co m g ra nd e cobe rtura j orn alísti ca internac iona l. De las talvez se pudesse di zer que

"são inclinadas ao mal desde a sua mocidade" (G n 8,2 1). Co m efeito, a po lícia fede ral está in vesti gando denúncias, segundo as qua is algumas ONGs estari am vendendo a bom preço, em vári os estados, a limentos que recebem gráti s do ex teri or, para destribui ção a carentes . O d inhe iro te ri a s id o des vi ado para co mpra de auto móveis e computadores, a serem utili zados pe las me nc ionadas o rgani zações . lsso , se não co nstitui roubo, é pe lo menos fraude.

Sua alma, sua palma Faleceu recentemente em São Paul o o Pro f. Florestan Fernandes . Marxista, exdeputado federal pe lo PT, foi por muitos anos professo r de Socio log ia na USP Universidade de São Pau lo. Antes de ser c re mado, os presentes ca ntara m a lnternacio11a /, hin o dos comuni stas, levantando os punhos cerrados. Bande iras do PT e do Movimento dos Sem-terra (MST) deco ravam a sala . Fre i Betto fo i um dos qu e di sc urso u di a nte do ca ixão, junto ao qu a l não havi a nenhum c ru c ifi xo, po is F lo res ta n Fe rnandes era ate u. Para os po líti cos, e ra co ns id erad o "um homem de coerência política e ideolóiica" . Ou sej a, não mud ou nem mesmo ve nd o, co m a qu e da do Muro de Berlim , a mi séri a que o marx ismo acarretou para a Rú ss ia e o Les te europe u, após ma is de 50 anos de ig ualitari smo soc ial, políti co e eco nômi co.

A primeira e única "Viagem" Faleceu há pouco em São Paul o, aos 79 anos, Iv ani Ribeiro, escritora qu e se to rn ou ma is conh ec ida co mo autora de algum as novelas de certo sucesso. E ntre e lasA Viagem, tran smi tida pe la Rede

Globo. Como muitas de s uas produções, A poss uía c laro o bj e ti vo proseli tista a fa vo r de teses espíritas, princ ipalme nte a reencarn ação.

a alma dá vida ao corpo à semelhança de um anj o que entrasse num manequim e o fi zesse anda r, fal ar etc. Desta fo rm a, para os kardec istas, o corpo é sempre encarado como pri são, um cá rcere para a a lma. Esta an se ia por libe rtar-se da vida corporal , a fim de partir para "austrais" ma is

Vi age m

É interessante faze r notar aos nossos le ito res o atrativ o que a ree ncarnação te m represe ntado e m te mpos ma is recentes. An ali sada sob o po nto de vi sta psico lógico, pode-se afirm ar qu e é uma escapatóri a para probl ema que nem todos desej am tomar com a devida seriedade: a existência humana é um dom

Quão diversa é a doutrina cató lica, que ensina que o corpo é di gno de todo respe ito, prime iro por ser criatura de Deus, mas sobretudo porque vai ressuscitar no di a do Juízo Final. A uni ão entre alm a e corpo é tão fund amental que as almas que estão na gló ri a celeste ansei am por se ver unidas novamente ao mes mo corpo que tiveram na úil ica - e quantas vezes curta - v ida terrena. A fim de não alonga rmos este Destaque, lembremos que a ex istê nc ia de várias dezenas de corpos incorruptos de santos atesta esta ve rdade da reve lação cristã: estão eles à espera do retorno da alma para a ressurreição fin a l!

único e vivida uma vez somente! E a cri atura humana como Deus a concebeu é um a uni ão de corpo e alma. Por ser racioc inante, esta é propriamente deno min ada alma espiritu al. Precisamente essa fund amenta l uni dade corpo-alma é negada pe la doutri na espírita. Po is, segundo A lan Karclec,

etéreos. Não admira que lvani Ribe iro qui sesse que se u corpo fosse c remado, poi s que importânc ia tem um sapato ve lho ou um vestido roto?

É c laro que todos os corpos voltarão à vida nova mente, mes mo aque les qu e te nh a m s id o co mpl e tam e nte des truídos. Santa Rafaela Maria , morta em 1925, cujo corpo milagrosamente incorrupto está exposto na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Roma

CATO LI CISMO , SETEMBRO 1995

Não há reencarnação, mas sim ressurre ição.

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Três flagrantes do devastador terremoto de Kobe, Japão, a 17 de janeiro de 1995

CAPA

Castigos coletivos: punição divina pelos pecados cometidos por nações e povos Júlio de Albuquerque

D

es de s ua criação o homem vem se rebelando constantemente contra as ordens, os preceitos e os mandamentos divi nos.

Em todas as eras históricas abrangidas pelo texto da Sagrada Escritura figuram sanções do Criador contra coletividades pecadoras. É compreensível, em vista disso, a escalada de catástrofes naturais e epidemias que se verifica em nossa época neopagã e apóstata.

Nossos primeiros pais desobedeceram à ordem de Deus e comeram do fruto da árvore da ciência do be m e do mal , cometendo ass im o Pecado Ori g inal , pelo qual foram severamynte punidos com a perda do s don s so bre naturai s e preternaturai s e o ex ílio neste va le de lágrimas (cfr. Gn 3).

Daí por diante, com o assass inato de Abel por Caim, uma grande parte da humanidade - talvez a maior parte del a - esteve sempre caminhando nas vias do mal, da perdição, da desobediência e da revolta contra Deus. Tendo em vista esse co mportamento do homem, fruto do pecado orig inal e do mau uso do livre arbítrio, Deus passou a usar de sua justiça infinitamente santa para punir o pecador com penas temporai s nesta Terra ou, nos casos de impenitê nc ia fi nal , com a co ndenação às penas eternas do inferno. Mas Deus não se limita a casti gar individualmente os homens por sua prevaricação. Quando esta se torna de tal manei ra generalizada, a ponto de ser praticada pela maioria maciça da humanidade - OU. mesmo de um povo OU dos habitantes de certa região ou país - com requintes de malíc ia e de impenitência, o Criador pune ta is pecadores com grandes castigos co letivos. Ou então ameaça puni-los, caso não se convertam . Na Sagrada Escritura são inco ntáveis as ocasiões em que Deus manifesta sua intenção ele puni r o povo por seus maus costumes e/ou pe las fa lsas doutrinas que abraçaram.

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Não foi outro o motivo pe lo qual castigou a humanidade co m o dilúvio e, mais tarde, com a confusão das línguas e adi spersão (cfr. Gn 6 e 11 ). Em outras ocasiões a puni ção divina não se desencadeou sobre toda a humani dade, mas apen as sobre certos povos, regiões ou cidades. Fo i o caso ele Sodoma e Gomorra , atin g ida s pe lo fogo d o céu como castigo devido ao pecado de ho mossex ua l idade (cfr. Gn 18 e l 9). O pecado co letivo de um povo, mesmo que sej a o povo e leito, s uscita a cólera divin a. E m diversas ocasiões Deus ameaçou e puniu o povo judeu por sua apostasia . E isto aconteceu não só durante o traj eto no deserto, do Eg ito rumo à Terra Prometida, com o principalmente no período de decadê ncia e divi são do reino. Nessa época Deus e nviou ao povo judeu os seus pro~etas, por cuj a voz ameaçava com casti gos, caso não se arrependesse ele seus pecados e não fizesse penitênc ia. Como o povo persistisse em sua prevaricação, tais castigos muitas vezes se realizaram , como no caso da seca prevista pelo Profeta Elias (cfr. 3 Re is, 17 e 18), cu lmin a ndo co m o ca tiv e iro na Assíria e e m Babilô nia (cfr. 4 Reis 18, 912; 24, 10-16; 25). Poder-se-ia talvez pensar que a puni ção da apostasia e da impi edade por meio de castigos coletivos sobre povos e nações fosse uma peculiaridade do Antigo Testa-

CATO LI CI SMO , SETEMBRO 1995

mento, qu ando a justiça de Deus se fazia notar com mui to mais evidência e a grande mi ser icórdi a da R ede nção ai nda não se realizara.

Ta l idé ia, poré m, é falsa. A mi sericórdia não veio abolir a ju sti ça, po is e m Deus ambas são infinitas. Nosso Senhor Je us C ri sto , ao red imir o gênero humano co m Sua morte na cru z, não afastou a possibilidade de castigos sobre povos e nações que recusassem sua pa lavra e se entregas. em ao pecado. N ão só nos Eva ng lh os , como e m outros livros do Novo Testamento, são be m c laras as advertências nesse sentido. Ass im , Nosso Senhor prevê a punição ele cidades que ouvi ra m sua pregação, viram seus milagres e não se converteram (cfr. Mt ll , 20-24; Lc 10, 13-15). Co mo também anuncia o castigo que se abateria sobre o povo judeu pelo deicíclio, a destrui ção de Jeru salé m e, muito espec ia lmente, os castigos que virão próximo ao fim dos tempos, e m conseq üê nc ia ela prevari cação genera lizada, da apos tas ia, da impiedade e do e mpedernime nto no pecado (cfr. Mt 23 , 37-39; 24, 1-35; M e 13, 1-3 1; Lc 2 1, 5-33). Tais casti go importam e m guerras, fome, doença s e catac lismos, apenas como prenúncio de outros ma iores (cfr. Mt 24, 6-8; Me 13, 7-8; Lc 2 1, 9- 11 ). São Pau lo, por sua vez, mostra como Deus castigou os pagãos que se recusaram a aceita r Sua palavra, abandonandoos à imundíc ie e à torpeza das práticas homossexuais (cfr. Rm 1, 18-32). F ina lmente, no Apocalipse São João descreve diversas vezes os g randes castigos co letivos sobre a humanidade, através da ri ca simbol ogia das figuras e das cenas qu e se dese nrol am aos o lh os ci o Apóstolo. Espec ia lm ente sig nifi cativos

são os casti gos anunc iados ou descritos nos capítul os 8, 7- 13; 9, 1-20; 14, 15-20; 16, 1-2 1; 18 , 1-24. Vemos ass im que a ameaça, a previ são e a rea li zação de castigos co letivos, como puni ção de um povo pre varicado r, idó latra e apóstata, estão presentes ao longo de toda a Sagrada Escritura, sem exclusão ele épocas hi stóricas. Pode-se ainda ad uzir um ponto tirado da Teologia da História. Com efeito, nações e povos co letividades c uj a ex istência não transcende a vid a terrena - não podendo ser recompensadas nem castigadas na etern idade, recebe m neste mundo mesmo o prêmio ou o castigo por s uas ações .

. É c laro que a maior parte dos castigos mencionados na Sagrada Escritu ra j á se reali zou. Porém aq u.el~s relacionados ao fim dos tempos e às épocas que o antecedem - anunciados e descritos m ais espec ialm e nte nos Eva nge lh os e no Apoca lipse - ainda estão por se realizar. Seu re lato inclui, entre outras calamidades, a ocorrência de cataclismos, fe nômenos meteoro lógicos inusitados, guerras generali zadas, fomes, epidemi as etc.

Escalada atual de calamidades As notícias que transcreveremos a seguir dizem respeito exatamente a esse tipo de ocorrências. É inegável que os fatos narrados têm uma acentuada semelhança

* Cataclismos

- Em 18 de j aneiro de 1994, 'Los Angeles, a segunda cidade em importância dos Estados Unidos, sofreu o pior terremoto observado no país nos últimos 20 anos. Como conseqüência de 30 segundos ele tremor de terra morreram 55 pessoas, nove vias e levadas se partiram como varas, um conduto de óle,o e 250 de gás se romperam, provocando incontável número de incêndios. Três milhões de pessoas ficaram sem luz, devido à ruptura dos fios elétricos; e faltou ág ua para 40 mil.

- Jornais e revistas noticiaram que, de janeiro de 1994 a janeiro de 1995, centenas de terremotos e outrós tre mores menores abalaram o mundo.

- Em outubro de 1994, no Ch ile, foram registrados diariamente cerca de 100 tremores, tidos como indício de terremotos ele maiores proporções, que podem

cotn pré-figuras de outros piores que ainda estão por acontecer. Isto porque a punição coletiva pela iniqüidade e impenitência dos homens continua em vigor nos planos de Deus: E como é público e notório que· a humanidade não caminha pela via dos mandamentos divinos, nada mai.s natural que Deus lhe imponha castigos que sirvam, ao mesmo tempo, como alerta e punição.

CATOLIC ISMO. SETEMBRO 1995

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Casas semi-soterradas por lama em conseqüência da erupção do vulcão Armero na Colômbia

As pequenas guerras vinham matando anualmente 500 mil pessoas, segundo estimativas de 1992. Em 1994 esse total foi superado por uma única guerra: de abril a julho um milhão de pessoas foram mortas em Ruanda. Do final da Segunda Guerra Mundial até abril de 1994, mais de 24 milhões de pe~soas morreram em cerca de 150 confrontos. Mas há um outro tipo de extermínio, ~ ainda mais mortífero: a violência urbana.

- Nos Estados Unidos, por exemplo, ~ a cada 14 minutos uma pessoa é baleada.

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ocorrer a qualquer momento. - Em novembro um ciclone, cujos ventos chegaram a 190 km por hora, devastou durante vários dias a região do Caribe, matando mais de 950 pessoas. - No início de 1995, em menos de um mês a Colômbia sofreu dois fortes terremotos, tendo sido atingidas 32 cidades, causando a morte de 40 pessoas e ferimentos em 230. Os acidentados apre-· sentavam membros amputados, por terem . ficado presos entre os escombros. - Também no início de 1995 a Euro-. pa foi devastada por inundações. O fenômeno, classificado como a maior enchente do século, castigou sobretudo a Holanda, a Bélgica, a Alemanha e a França. As chuvas foram responsáveis pelo maior êxodo civil desde a Segunda Guerra Mundial. - Em fevereiro de 1994 um terremoto arrasou completamente uma cidade na Indonésia. Em setembro o Pinatubo, um dos vulcões em atividade nas Filipinas, cobriu de lama e cinzas uma cidade inteira e várias vilas. Na mesma ocasião deuse tragédia similar na Nova GJJiné, ficando sepultada a cidade de Rabaul.

Porém nenhuma dessas tragédias pode se comparar à que sofreu o Japão. - De janeiro a dezembro de 1994 aquele país foi devastado por seis terremotos, aos quais se soma um número incalculável de abalos menores. - O ano de 1995, porém, veio aumentar ainda mais o pessimismo dos cientistas japoneses em relação à segurança do país. - No dia 17 de janeiro, às cinco e trinta da manhã, apenas 20 segundos de terremoto foram suficientes para arrasar a cidade de Kobe, um dos maiores portos do Japão, e devastar inúmeros outros lugares. Como conseqüência da catástrofe houve mais de seis mil mortos, 25 mil feridos e 300 'mil desabrigados, cujo sofrimento foi agravado por um frio rigoroso.

* Guerras e violência urbana A tantos flagelos ainda um outro veio juntar-se, e de proporções desmesuradas: as guerras. Por todos os rincões do planeta vão se avolumando os casos de conflitos armados e guerras declaradas.

- O Vietnã, que ainda cambaleia sob a tirania comun·ista, foi atingido em outuNo ano passado as notícias diziam que bro por uma inundação que resultou na . pelo menos em 25 regiões do mundo as morte de mais de 300 pessoas e em 500 guerras prosseguiam. mil desabrigados. Especial menção merece a caótica - Quanto ao continente africano, a guerra civil que desde 1991 se abateu soilha de Madagascar, no Oceano Índico, bre o antigo território da Iugoslávia. Pofoi devastada no início de 1994 pelo mais pulações de origem eslava, mas divididas violento ciclone do século, que fustigou religiosamente (católicos, muçulmanos e a região com ventos de 350 km por hora. greco-cismáticos), vêm sendo dilaceradas Em agosto a Argélia foi sacudida por por um dos conflitos mais bárbaros do u_m terremoto que matou 147 pessoas. século XX.

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Somente no ano passado houve 24 mil assassinatos. A possibilidade de uma criança ser morta a tiros é 15 vezes maior que na Irlanda do Norte, ein guerra civil há mais de três décadas. - Na Alemanha a violência atingiu tais níveis que até a polícia está alarmada

Declarações de sobreviventes do terremoto de Kobe: - Quando o terremoto começou, a terra se movia para cima e para baixo, e eu não podia fazer nada. Estava estático, assustado com a intensidade do tremor. - o / ogo estalava por toda a parte, ém meio a uma massa de fumaça que parecia alcatrão fervendo; tudo virou um inferno.

e desnorteada, tendo um delegado afirmado: "Trata-se de uma onda inédita de violência. Nunca ocorreram tantos assassinatos, nunca tantas pessoas foram feridas e nunca os crimesforam tão brutais". No Brasi l a violência urbana atingiu tais proporções que uma pesquisa chegou a demonstrar que no Rio de Janeiro ocorreram mais de 70 mil assassinatos nos últimos sete anos .

*

Epidemias e novas doenças contagiosas; os super-vírus Segundo os cienti stas, os anos 90 marcaram a entrada do mundo na era dos super-víru s. Na lista das preocupações, as doenças provocadas por esses novo s micro -orga nismos letais, quase indestrutíveis,já tomaram o lugar do câncer e das doenças do coração. O diretor do principal centro de investigação de novos agentes patológicos, localizado nos Estados Unidos, afirma não haver garantia de que a humanidade ganhará a guerra contra as doenças. Em conseqüência, a população mundial poderá ser di zimada. A única forma de vencer essa guerra biológica consiste em criar novos medicamentos capazes de combater os Na ilha francesa A Reunião no Índico, rios de lavas do vulcão La Fournaise (à direita) invadem abruptamente o leito de rodovia {abaixo)

super-vírus. Mas há consenso entre os cientistas de que isso não ocorrerá antes do seu alastramento . O número dos micro-organismos que surgiram ultimamente, ou que se tornaram mais resistentes, chega a 25. Entre eles há, por exemplo, uma bactéria estreptococo do tipo A . variação de uma bactéria comum na natureza - que provocou pânico sobretudo na Inglaterra, onde foi denominada bactéria assassina. Os pacientes por ela atingidos morrem em menos de 24 horas . Outra recente descoberta dos cientistas é o Ebola, que se transmite pelo sangue contaminado ou - o que é pior · pelo ar. Sua origem é desconhecida, e não há como combatê-lo. Ataca as cé1ul as do sistema imunoló gico, de modo muito rápido e intenso. Dez dias são suficientes para levar a vítima à sepultura. O caso da AIDS já foi tratado por

R. GAILLARDE / GAMA

Catolicismo, em artigos que apresentaram dados sobre a alarmante difusão no Brasil e no mundo inteiro dessa incurável doença.

* * * Que o conjunto dessas notícias nos leve a avaliar com a devida seriedade a trágica situação a que chegou a humanidade, em conseqüência do não cumprimento dos mandamentos de Deus.

- Eu nunca havia sentido algo parecido; pensei que o mundo fosse acabar. - O prédio inteiro foi abalado por um estrondo enorme. Tremia tantQ que as camas se moviam de um lado para o outro; vimos que se tinha ·rachado em dois pedaç·os .... No caminho vimos muitos incêndios, prédios desabados, cadáveres estendidos no chão, mas tentamos não olhar, para não sermos dominados pelo pavor...

Fontes d~s notícias: · "Time", Nova York, 3 1/1/94. . "Newsweek", Nova York, 23-1-95 e 13-2-95 . - "Le Nouvel Observateur", Paris, 9- 15/2/95. · "Veja", São Paulo, 25- 1-95. · "Isto É", São Pau lo, 25- 1-95; 8-2-95. - "Folha de S. Paulo"; 1-6-94; 19 e 29- 1-95; 19-295. . "O Estado de S. Paulo"; 5 e 17-2-94; 27-5-94; 30· 12-94; 1-3 -95 .. · "Jornal do Brasil", Rio, 3-2-95. . "O Globo", Rio, 16-2-94. · "Jornal da Tarde", São Paulo, 3·2-95.

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MA ÃO

castigos: expressão da cólera divina Eis alguns e xe mpl os, entre muitos, da pa lavra de Deus enquanto exprimindo sua có lera, ao anunciar os casti gos com que puniu e ainda punirá a humanidade pecadora:

Apostasia e idolatria: " .... E acontecerá, naquele tempo, que Eu esquadrinharei Jerusalém com lanternas e castigarei os homens que, mergulhados em suas fezes, dizem em seu co ração: O Sen hor não pode fazer nem o bem nem o mal. Sua riqueza será saq ueada, suas casas devastadas; eles edificarão casas mas não as habitarão, plantarão vinh as e não beberão de seu vinho.

O dilúvio: "Deus viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, ·e que era continuamente mau todo desígnio de seu coração. Deus arrependeu-se de; ter feito o homem sobre a terra, e, tocado de .íntima dor de coração, disse: exterminarei da face da terra o homem que criei - e com os homens os animais, os répteis e as aves do céu - , porque me arrependo de os ter fe ito" (Gn 6, 5-7).

"O dia grande do Senhor está próximo .... Esse dia será um dia de ira, um dia de tribul ação e angústia, um dia de devastação e de destruição, dia de trevas e esc uridão, um dia de nuvens, um dia Torre de Babel: da trombeta e do grito de guerra contra as cidades "E ass im o Se nh or os fort ifi cadas e co ntra as di spersou daquele lu gar por torres elevadas. Aflig irei todos os países da terra, e A torre de Bab~I ~ gravur~ de Gustavo Doré ~séc.XI~) os homens e eles caminhacessaram de ed ificar a cidaConfusão das línguas e dispersão dos povos: castigo devido ao rão como cegos, porque pede. E, por isso, lhe fo i posto orgulho dos homens caram contra o Senhor; e o o nome de Babel, porque aí seu sangue será derramado como o pó, foi confundida a lin guagem de toda a O povo judeu: e s uas entranhas como o esterco terra, e daí os espalhou o Senhor por "E o Sen hor falou a Moisés, dizen(Sofonias 1, 12- 18). todas as regiões" (Gn l l , 8-9). do: Vai, desce; o teu povo, que tiraste da terra do Eg ito, perverteu-se .... Vejo que Sobre os castigos do Sodoma e Gomorra: este povo é de cerviz dura; deixa-me, a fim dos tempos: "Disse pois o Senhor: O clamor de fim de que a minha ira se acenda contra Sodoma e de Go morra aumentou , e o eles e os consuma" (Ex 32, 7, 9-10) . ".Jesus respondeu: Atenção para que nin guém vos engane. Porque virão seu pecado agravou-se extraordinaria"S ucedeu, pois, que tendo os filhos muitos em meu nome, dizendo: Eu sou mente. Descerei e verei se suas obras de Israel pecado contra o Sen hor se u o Cristo; e sed uzirão a muitos. Porque corres pondem ao clamor que chegou De us .... prestaram cu lto aos ídolos . ouvireis fa lar de guerras e de rumores até mim, então ficare i sabendo" (Gn l 8, Praticaram adivinhação e a feiti ça ria de guerra s. Olh ai, não vos alarme is; 20-2 1). .... E o Sen hor· irritou-se sobremanei porque importa que estas coisás acon"Fez, pois, o Senhor chover sobre ra contra Israe l e arrojou-o para longe teçam , mas não é ainda o fim. Po is se Sodoma e Gomorra enxofre e fogo do de sua face .... Por isso o Senhor releva ntará nação contra nação e rein o céu; e destrui u e tas cidades, e todo o jeitou toda a raça de Tsrac l, humilhou contra reino, e haverá pestilências, e país ein roda, todos os habitantes das ª e a e ntregou aos saqueadores, e enfomes e terremotos em todos os lugacidades, e toda a vegetação do solo" fim bani u-a para longe de sua face" res. E tudo isso será o princípio elas do(Gn l 9, 24-25). res" (Mt 24, 4-8). (4 Re is 17, 7-20).

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TFP reúne novos cooperadores

D

om Diego era um nobre empobrecido. Seu caste lo, o ut rora esplendoroso, caía em ruínas. Um misterioso vizinho incita- lhe a ambi ção: se Dom Diego renun ciasse a fazer o sin al da Cru z e retirasse de seu castelo todos os c ru c if ixos, rec uperaria seus bens e seu nome. O pobre castelão aceita a proposta. O pacto é se lado. O velho nobre fi ca à mercê dos ímpios capri chos assinados. O sino do ve lho moste iro vizinho faz ia latejar, com se us toques, a consc iênc ia de Dom Diego. Vendo próxima a morte e a fu gac id ade dos be ns que ac umul ara, o nobre reco rre, arrepe ndi do , ao Sa nto Abade do moste iro. Vende tudo que tem , repara seus roubos e crimes e parte, pen ite nte, para as C ru zadas. Torno u-se ass im muito mais cé lebre do que poderia ter sido como rico castelão: portando no pe ito a Cruz que renu nciara, sua bondade tornou-se legendária, e até hoje

dele se fa la como Dom Diego Pen itente.

* * * Essa história faz parte de uma coletânea ele contos medi evais. Sua ence nação constituiu um a das peças de teatro represe ntadas para os neocooperaclores da TFP reunidos em cong resso no passado mês de ju lho. A seriedade da vida, a beleza ela virtude, a dedicação a um ideal, são apresentadas de modo atraente a jovens vindos ele uma soc iedade na qua l se acu mul am, de modo crescente, manifestações ele desordem: desagregação ela fa míli a, uso das drogas, suicídios, perversões etc. D ia nt e desse quad ro desalentado r da c ivili zação contem porânea, os co ngressos rea lizados pe la TFP para seus jovens coo peradores têm a finalidad e ele faze r lu zir o ideal, ilum in ado pela fé, em me io à confusão rein ante em

nossos dias . Esq uec idos de seus in teresses imed iatos, rej eitando as exc itações e desvarios em tor-

no de si, desejosos ele adqu irir c ultura e co nh ec imentos históricos, os jovens se relacionam num clima de co nfi ança e abnegação.

As co nferências, inte nsamente participadas pelos ouvintes, tratam ele temas h istóricos e soc iológ icos, elas re-

gras cio pensamento e ela beleza do raciocínio, procuran do desper tar o gos to pe la aná lise da rea lidade e pe la refl exão. Acontecimentos ela História Sagrada são evocados mediante pequenas encenações, que ilustra m el e modo vivo o tema ex posto. Para o es tudo e a vicia de pe nsa mento - é mister ressa ltar - a gra ça div in a desem pe nh a um pape l, cuj o me nos prezo é um a das causas de estagnação inte l'e ctua l. Desme ntindo a c re nça que se difunde at ualm e nte, de que toda a juve ntude despreza a seri edade e se lan ça eufó ri ca na trepida nte vida ele pseudo-heróis, os d ias el e estudo e refl exão vividos pelos neo -coo peraclores d a TFP mostram que a mocidade , hoj e co mo a ntes, é feita sob ret udo para o he roís mo , e não para o prazer.

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Brasil Real Brasil Brasileiro

O triunfo eucarístico em Minas Gerais

Caáerno 'Especia[9f 49

Carlos Sodré Lanna

o dia 24 de maio de 1733 realizou -se a solene transladação do Santíssimo Sacramento da Igreja de Nossa Senhora do Rosário para a nova Matriz de Nossa Senhora do Pilar, na antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto.

N

Nenhum outro aco ntecimento celebrado em Minas Gerais teve tal esplendor, requinte ele lu xo e pompa, em plena opu lênc ia do ouro. Ele representou sign ifi cativa demonstração do profundo espírito religioso, conjugado a festividades populares , que se observava no Brasil do século XVIII.

Antecedentes A comemoração preliminar começou vários dias antes. Desde o final ele abril dois grupos ele pessoas ricamente vestidas, com bandeiras de Nossa Senhora do Rosário e de Nossa Senhora cio Pi~ar, tendo na outra face a custódia do Santíssimo Sacramento , percorriam as ruas da cidade e arredores, anunciando ao povo a rutura solenidade. No dia marcado para a procissão, a cidade amanheceu enga lanada. No percurso entre as duas igrejas, as ruas foram atapetadas com flores e folhagens. Como homenagem cios moradores, nas janelas foram colocadas sedas e damascos , em meio a adornos de ouro e prata. Nas ruas , cinco arcos ornamentais, um deles de cera, e um a ltar para descanso do Santíssimo. Antes da saída do cortejo foi cc-

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sedas, ouro, prata e pedrarias. Fechando a proc issão, o Santíssimo Sacramento era conduzido pelo vigário da Matriz do Pilar, debaixo ele um pálio de tela carmes im com ramos e franjas ele ouro, sustentado por seis vara de prata. Logo atrás o Conde ele Gal vêas, Governador ele Minas, co m autoridades civis e militares da Província e do município.

Apoteose

lebrada uma missa, durante a. qual o Divino Sacramento esteve colocado em um braço de Nossa Senhora, e m lugar cio Menino Jesus. Deram iníc io à procissão trinta e dois cavaleiros vesti dos militarmente como cristãos e mouros , com dois carros de músicos instrumenti stas e vocali stas. Logo c m seguida, romeiros ri ca me nte trajados, além de músi cos com alegorias diversas. Seguiam-se quatro figuras a cavalo, represcntand os ventos dos quatro ponto s cardea is. Todas profusamente revestidas com diamantes, ouro, rendas, sedas e plumas.

Ouro Preto Seguia-se urn personagem representando Ouro Preto, bairro de Vila Rica onde estava situada a nova Matriz do Pilar, para onde se dirigia o cortejo. Ele trajava vestes de tecidos finos , ornamentados com ouro e diamantes. O cavalo que montava era igualmente ajaezaclo com ouro, prata, es-

meraldas e veludo. Vinham depois as esplendorosas figuras represen tando os corpos celestes: Lua, Marte, Mercúrio, Sol, Júpiter, Vênu s e Saturno, todas com deslumbrantes indumentárias e fartamente esco ltados.

Matriz do Pilar A segu ir aparecia a figura que representava a Igreja Matriz cio Pi lar, com extraordinários ornamentos, portando um estandarte no qua l estava, de um lado, a inscrição "Nossa Senhora do Pilar" , e do outro a custódia eucarística. Após essas figuras, sum ariamente descritas, vinham as irmandades, co nduzind o andores com seus santos padroeiros e c ru zes de prata. Entre essas co nfrarias estavam as do Santíssimo Sacramento, da Senhora do Rosário, de Santo Antonio, de Nossa Senhora da Co nceição e de Nossa Senhora do Pilar. Todos os participantes portavam trajes esplendorosos com acabamento em veludo e

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Enfim, com toda a população de Ouro Preto e arredores presente, foi uma grande apoteose de sinos tocando, bandas musicais , fogos e câ nti cos em homen agem ao Divino Sacramento. Os festejos prolongaram-se por três dias, com mis sas solenes, cavalhadas, corrida de touros e fogos ele artifício. Na Minas Gerais barroca, um Brasil â'utê nti co que se foi ... Mas nessas fulgurações ela nacionalidade encontra-se a lu z que ainda pode nos indi car o caminho a retomar, com vistas ao futuro. Luz que brilha na co nstelação do Cruzeiro do Sul. Luz que se chama civi lização cristã.

Fontes de referência: 1)Joaqui 111 Furtado de M enezes, Igre-

jas e Irmandades de Ouro Preto , Instituto Estadual do Patrimônio Hi stórico e Artísti co de Minas Gerai s, Belo Hori zo nte,

1962. 2)Eponina Rua s, Ouro Preto -

Sua

Histó ria, Templos e Monumentos , Depar-

9\[gssa Senhora da Perifia de !Jrança {Padroeira de São Pau[o - 8 de setembro)

tamento de I mprcnsa Nacional, Rio ele Ja-

Imagem Milagrosa do Séc. Xo/1 I

neiro, 1950. 3) Paulo KrU gcr

orrêa Mourão, As

Igrejas sete ce11tisws de Minas , Edi tora It at iaia, Belo Hori zonte, 1964.

CATOLI CISMO , SETEMBRO 1995


Qµem é minlia mae e quem são meus írma,os? Es tand o (.Jesus) ainda a fa lar ao povo, eis que sua M ãe e seus irm ãos se achavam fora, desejando fa lar- lhe. E alguém di sse- lhe: Tua mãe e teus irmãos estão ali fora e procuram-te. Ele, porém, res pondeu: Quem é minha mãe e

Os sentúfos de (( irmã,o

1 ',

em hebraico São Jerônimo: É necessá ri o ter presente qu e na s Sagradas Escrituras o vocá bul o irm ãos se toma em quatro sentidos: há irmãos por natureza, ele nacional icl acle, ele parentesco e ele ca ri nho. Por natureza é como Esaú e Jacó (Gn. 25); por nac ionali dade, como todos os judeus se chamam entre si (Dt. 17): " Não poderás constituir sob re ti um homem estrangei ro que não sej a teu irm ão". Ademais se chama ele irm ãos os que são el e uma mes ma ramí li a: " Di sse Abraão a Lot: não haj a disputa entre ti e mim , porqu e somos irm ãos" (G n. 13). Os irm ãos ele ca rinh o o são ele um a maneira geral ou ele um a maneira individu al. Desta, porqu e todos os católi cos se chamam irmãos, co mo di z o Salvador (.lo. 20): " Vai e diz a meus irmãos''. E, ele um a maneira geral , porque todos os· homens reconhecem um só pai e estão unidos entre si por um parentesco co mum: "Dize i aos que os molestara m: so is nossos irmãos" (Is. 66). Agora, pergun to: ele que maneira são irmãos cio Senhor os que assim são chamad os no Evangelh o? Por natureza? N ão, porque a Escritura nun ca o di z nem os chama fi lhos ele M ari a nem ele José. Por nacionalidade? Não, porque se ri a um abs urd o cha mar el e irmãos un s tantos judeus e não os demai , se nd o que todos os jud eus ali presentes teri am direito à mesma denomin ação. Seri a segundo o afeto, natural ou sob renatu ra l ? Neste se ntido,

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qu em me lh or que os Apósto los, a qu em o Senhor clava in stru ções ínti mas, mereceri am ser chamados ele irmãos? Res ulta pois qu e a palavra irmão eleve ser tomada, não no se ntid o ela natureza, nem ele nacio nalid ade, nem ele afeto, mas sim no sentido ele

parentesco. Compreendemos, ass im, que a palav ra irmão refere-se a primos cio Sa lvador, filhos ele um a tia materna, que é chamada mãe ele Tiago, o menor, ele José e ele Jud as, os quais cm Me. 6,3 e G I. 1 são chamados de irm ãos cio Senhor. Toda a Escritura nos dá testemunho ele qu e o nome ele irmãos se estende até os primos ( 1).

Para Afaria, nem menosprezo nem diminuição Esta visita, segundo diz ex pressamente São Marcos, nada tem ele comum com a outra que fizeram a Jes us alguns vizin hos qu e não criam nEle. Tendo ouvido dizer que a situação ele seu divino Fi lho era arri scada, pelo conflito que hav ia surgido entre Jesus e as autoridades judi as, Maria acorreu co m denodo e valentia para perto clEle, co mo mais tarde O seguirá até o Ca lvári o. À quele que lhe hav ia dito: "Eis que tua mãe e teus irmãos te buscam" , respondeu Jes us, após lançar aos ouvin tes um olhar afetuoso: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E estendendo em seguida a mão para seus discípu los, acrescentou: " Eis aq ui a minha

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9\[pssa Senhora da Penha de![rança {São Paufo -

qu em são os meus irm ãos? E, estendendo a mão para seus discípu los, di sse: Eis minha mãe e meus irm ãos. Porque todo aqu ele que fi zer a vontade de meu Pa i, que está nos cé us, esse é meu irm ão e irm ã e mãe (Mt. 12, 46-50) .

M

uitos leitores gostariam ele conh ecer a história el a devo ção a No ssa Senhora mais es pecífica ela capita l pauli sta.

Na Bul a ele 7 ele jan eiro ele 1985, em que João Paulo II elevou o santu ári o ela Pe nha à cli gniclacle ele Basíli ca M enor, di z: " •••• Nossa Senhora da

mãe e os meus irm ãos: porqu e todo aquele qu e faz a vontade ele meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irm ã e minha mãe" (2).

Penha, já anteriormente esco lhida para Padroeira de São Paulo e como tal sempre honrada piedosamente e fielmente venerada pelos habitantes da cidade".

Pa lav ras cuja profundidade recorda aq uelas que pronunciou Jes us em circun stâ ncias anteriores: no templo ele Jeru . além, sen do menino ainda, e nas bodas ele Cam1, quando fez seu primeiro milagre. Também agora suas palavras não tinh am nada ele humilhante para Maria, j á que, além ele não serem dirigidas diretamente a Ela, não eram menosprezo nem diminui ção alguma de seus privilégios matern ais.

M as, por qu e Penha ele França? Existe uma Sierra de Francia na província espanhola de Salamanca, próximo à fronteira de Portuga l. Na época da Reco nqui sta teri am por lá se estabelecido franceses vi nclo s para a árdua luta contra os sa rrace nos .

Só qu e também aqui co nsid era Jesus suas relações el e f ilh o a mãe sob o ponto ele v ista ci o dever, antes ele co nsid erá- las seg und o a natureza . E el e sua parte, qu ão dulcíssima benigni dade e co nclesce ncl ênc ia para co m todos se us discípulos , os ele então e os qu e hav eri am ele vir! O cumpri mento ela vontade ele Deus un e estrei ta mente com C ri sto, à man eira dos vínculos maternais e fratern os (3).

No sécul o XV, um peregrino fran cês, de nome Simão de Paris, recebeu av iso cio Céu para procurar um a ima ge m esco ndid a na Pena de Francia. A in:iage m passo u a se r invocada co mo da Penha ele França. Sob esse títul o foi eleita Padroeira el a província el e Salamanca . A devoção passou então para o vizi nho Portugal.

N otas : 1) om e ntário s co mpil ados por Sa nto Tomás de Aq uin o na "Cate na A urea " .

(2) N. ela Redação: É el e se nota r que, tendo Nossa Se nh ora cumprid o fi elmente " a vo ntade cio Pai", ao se dec l ara r na An unciação "escrava cio Senh or" , o Messias fa z aq ui rea lm ente gra nde elogio de Sua mãe. 3)Pe . Luiz C laudi o Filli on , Nues tro Se ,io r J e.rn c ris to s egú 11 los Eva 11 ge /i os, Ed itori al D i rusión , Tucuman , 1859 , pp .

162-3 .

1

Um esc ultor ele nome Antônio Simões, quando lu tava em plena batalha ele Alcácer-Quibir ( 1578), fez voto de esc ulpir sete im agens ele Nossa Senhora. Voltando a Portuga l, e após esc ulpir se is im agens, hes itou sobre o modo co mo faria a sétima. Um jesuíta aconselhou -lhe o model o ela Penha ele França. O artista ed ificou também uma ermida própria para a nova imagem. Sessenta anos mai s tarde, essa de-

8 de setembro)

voção se implantava em so lo paulista, começando com um mil agre . Um viajante que ia ao Rio ele Janeiro parou para descansa r no então con hecido morro de Ari cancluva, no bairro ela Penha. Co rtinuanclo viagem , ao chegar ao prim ei ro pouso notou a fa lta da image m de Nossa Senhora ela Penha ele França que consigo levava. Afl ito, vo ltou ao lu gar onde tinh a parado, e lá a encontrou. O sumi ço ela imagem ocorreu ainda du as vezes. Somente na terce ira vez e l e se deu conta cio des íg nio ela Santíssima Virgem , e assim fez ali const ruir um a pequena capela. Por documentos colon iais, vê-se que em 1667 a capelinha j á ex istia. Tanto pe lo mil agre inicial co mo por se r ponto ele passage m entre São Paulo e Rio ele Janeiro, foi-se clifunclinclo a veneração a Nossa Senhora da Penha de França. Devido aos milagre s e graças individuai s alcançados pela interce ssão ela Virgem da Penha, em várias calamidades púb li cas ocorreu às auto ri dades ecl esiásti cas e civi s ele São Paulo e ao povo a inic iativa ele impetrar

espec ial auxílio d Ela. Durante secas ou epidemi as devaríola recorri a-se a E la em term os mui to fili ais. Em fevereiro ele 18 19, diante da es tiagem ass ustadora que então se verificava, resolv eu

à Câ mara Munici-

pa l apelar para o Bispo: "A triste si-

tuação ameaçante de maior ruína, da presente seca, nos move a recorrer ao sempre indefectível auxílio da Mãe Santíssima Senhora da Penha, nossa

CATOLIC ISMO , SETEMBRO 1995

particular Patrona e advogada em ocasiões semelhantes. Portanto rogamos a Vo ssa Excelência Re verendíssima dar as ordens necessárias para que a sagrada imagem de Nossa Senhora seja removida daquela paróquia para a Santa Sé Catedral, para nela dirigirmos as preces ao seu Altíssimo e Soberano Filho, por CL(ja mediação não duvidam.os alcançar o remédio às nossas necessidades". Dom M ateu s de Abreu Rodri gues logo respondeu: "Lou vamos muito o

piedoso zelo que Vossas Senhorias têm pelo bem público. Mandarei pessoas hábeis para armar o andor competente, para qu e conduzam com a devida decência a referida imagem, que deve estar na nova Matri z do Brás, a fim de Nós, com o nosso ilustríssimo Cabido, Clero, Comunidades, Religiosas e Confrarias, a conduzirmos à nossa Catedral em solene p roeissão ". O Santuário ela Penha foi vi sitado também por Dom Pedro T. Duas semanas antes el e proclamar a I ncl epenclênci a, ele pernoitou na Penha, e na manhã seg uinte assistiu à Mi ssa no santu ário . Hoje, na cid ade e no Es tado, como em todos os países e co ntinentes, poderá alguém dí zer que diminuíram os motivos para recorrer a Nossa Senhora? Para os pau] istanos, paulistas, brasil eiros el e qualquer latitude, o sec ular valimento el e Nossa Senhora da Penha ele França incentiva a nEla depositar estáve l confiança . Fo nte ele referência : Hcdc111ir Linguiuc, Sa ntuário de Nossa Senhora da Penha. A rt Manha, S.Paul o, 1969.

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ENTREVISTA

História Sagrada

em seu lar (57) - noções básicas

"E J os u é d isse ao povo: Sa ntifi ca i- vo s, porque aman h ã o Senhor fará e ntre vós m a ravilhas. E disse aos sace rd otes : Tomai a arca da al iança, e ide ad iante do povo . E e les, exec uta nd o s ua ordem , tomara m a a rca e cam inhara m adi a nte do povo.

Início da glorificação de Josué

Miraculosa passagem do rio Jordão

"E o Senhor di sse a Jos ué: Hoj e co meçare i a exaltar-te diante ele todo o Israel, para que sa ibam que, ass im co mo fui com Mo isés, ass im so u conti go. E tu , manda aos sacerdotes que levem a arca da a liança, e dize1hes : Quando tiv e rd es e ntrado em parte ela água cio Jordão, pa rai a í.

Josué anuncia ao povo o milagre

Tendo os dois es pias de Je ri có . "E Josué di sse aos filhos ele Israel: voltado ao acampamento d os he bre us, Conhecerei s que o Deus vivo está no di sseram a Josué: " O Senhor entregou me io ele vós e exte rminará à vossa vista todo es te país nas no ssas mãos , e lo s pov os inimi gos]. Logo qu e o todos os se u s habit a ntes estão sacerdotes, que le vam a arca do Senhor consternados ele medo" (Jos. 2, 24). Deus d e to d a a terra, pu se re m as Este m edo devia -se aos mil agres plantas de seus pé. nas ág ua s do o pe rados e m favor dos israe li tas e às Jordão, a águas ele baixo seguirão a s uas mag nífi cas vitórias co ntra os sua corre nte e ming ua rão; e as que vêm inimigos. de cima pararão, a mo ntoando-se. Outro retumba nte milagre estava As águas se separam pres tes a rea li za r-se, por me io d e Josué. "Sa iu pois o povo elas s uas te ndas,

Arca da aliança precede a marcha "Jos ué, levanta nd o-se d e no ite, move u o aca mpam e nto , e, saindo de Setim, chegara m ao Jordão, e aí se cleti veram por três di as. Transcorrido. esses dias , pregoeiros atravessaram o acampamento, di ze ndo em a lta voz: Logo que virdes a a rca da a li a nça do Se nh or e os sace rdot es leva nd o-a, e rg ue i-vos e id e atrás deles. E haj a e ntre vós e a arca o espaço de dois mil côvados 11. 320 metros'!; e não vos a proximeis da arca.

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para pa ss ar o Jordão. E, logo que e ntraram no Jordão, a á g ua lh es começou a molhar os pés. As águas, que vinham de c ima, pararam num só luga r, le vantando-se à maneira dum monte; e as que desciam contin uara m a correr para o mar Morto, até que fa lta ram ele todo. " Entretanto o povo cam inhava

Plano Real

analisado pelo Prof. Marcos Cintra

para Jericó, e o s s acerdotes, que le vavam a arca , conse rv avam-se quietos ele pé sobre a terra seca, no me io cio Jordão , e todo o povo ia passa ndo pe lo leito cio rio a pé e nxuto.

Cessa de cair o maná E o lu ga r e m que ficaram acampados rece be u o nome de Gál gala . "Este loca l tornou-se célebre no futuro ; vinha ali o povo e m romaria, e faziam festas e m me mória daquele gra nde sucesso" ( 1). Celebraram a Páscoa e comeram cios frutos da terra, e o maná - com o qual haviam se alimentado durante 40 anos - cessou ele cair cio céu.

Simbolismo "Esta es tadia cio s hebreu s no d ese rto é a figura d e no ss a pereg rin ação pe lo mundo. A terra prometida le mbra-nos o Céu, onde, na a bundânci a d e todos os bens , gozar e mos e louvare mos e te rnamente a De us. "A cessação cio maná significa que no Céu, com a plenitude dos be ns, goza remos da presença corporal de Jesus, não mais sob as es péc ies de pão e vinho, simbolizadas no maná, mas real e mate rialmente como, quando mortal, Ele vivia na te rra" (2). Notas 1) Cô nego J. 1. Roquet e, Hi stória Sagrada do A nti go e Novo Testam ento, Guillard Aillaud , Li sboa, 1896, 9' ccl ., tomo 1, p. 274.

Todo o povo de Israel atravessou milagrosamente o rio Jordão a pé enxuto

CATOLIC ISMO , SETEMBRO 1995

o

2) São João Bosco, História

agracia,

Livraria Editora Sa lcs ian a, São Pnulo. 1965, 14' ccl. , p. 90.

T

ranscorrido o primeiro aniversário do Plano Real; conhecidas algumas das medidas econômicas a serem adotadas pelo Governo no segundo ano e com as atividades no Congresso Nacional já reiniciadas, os leitores de Catolicismo certamente estarão interessados no andamento do referido plano e nas perspectivas para o futuro. Procuramos uma personalidade do mundo econômico brasileiro a fim de tratar do assunto. Entrevistamos o Prof. Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, Doutor em Economia e Mestre em Planejamento Regional pela Harvard University, dos Estados Unidos, vereador na Câmara Municipal de São Paulo e professor titular de Macroeconomia, Economia Internacional, Desenvolvimento Econômico, Economia Agrícola e Finanças Públicas na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas. Sua condição de professor laureado, economista de renome e político competente habilitamno plenamente para uma abalizada análise da atual conjuntura sócio-econômica de nosso País. Ele foi entrevistado em seu gabinete na Câmara Municipal de São Paulo.

Prof. Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque

Catolicismo - Qual a sua opinião sobre o andamento do Plano Real após o primeiro ano de lançamento ? Prof. Marcos Cintra - Fernando Henrique era ainda ministro ela Fazenda quando apresentou o esboço de um plano muito bem e laborado, no qual a estabili zação da econom ia er ia rea li zada basicamente em três es tág ios: No primeiro , estavam prev istas refo rmas estrutura is de base, o u seja, tudo o que envolvesse um arranjo institucional do País. E isto far-se-ia por ocasião da Revisão Co nstitucional, que começou em outubro ele 1993. O segundo estágio seria o contro le ela inflação ine rcia l. O terceiro e último seria a troca da moe da . P ara fazer uma aná li se cio que fo i o Pla no Real, é prec iso tomar em cons ideração esse pa no de fundo. Ora, o que aconteceu? Âs reformas estruturai s não foram feitas. Esta é a primeira nota baixa que dou quanto à execuçã_o do Plano· Real. A segunda parte, o controle da inflação inerc ial, foi feita ele forma mag istral co m a introdução d a URV - Unidade Refe re ncia l de Valor. O governo supe rindexou a econom ia, s imulou uma hipe r- infl ação e fez todos os preços se indexare m à URV.

CATO LI C ISMO , SETEMBRO 1995

A terce ira parte, a troca da moeda, que era uma operação difícil , també m foi muito bem fe ita . Com isto a inflação ele 40% ao mês passo u para 2 ou 2,5%, que é a infl ação res idua l que temos hoje.

Catolicismo - Esta avaliação do Pla no Real é negativa ou posiliva ? Prof. Marcos Cintra - Do ponto ele vista ela estabi lidade é positiva. Mesmo porque de u-se um passo importa nte : reduziu-se dra maticame nte a inflação. Mas a ausênc ia das reformas estruturai s acabou deixando um ge rme inflacionário muito peri goso. Na medida e m que a infl ação não fi co u ig ua l a zero ou próx ima a ze ro, a soc iedade va i que re r se reindexar. Ostrabalhadores vão que re r um reajuste sa larial eq ui va le nte à inflação me nsa l de 2 a 3 % ao mês, o qu e para e les, em seis meses, s ig nifi ca quase 20 % de pe rdas sa lariai s . Que soc ie dade cio mundo aceita uma ta l pe rda sa la rial impun e me nte? Nenhuma! O Governo hoj e es tá deses perado. Que r acabar co m a infl ação de qualque r je ito, e para isso te nta segurar um pouco mais o ine vitá ve l re torno do processo inclexatório . Mas sabe que isso é ape nas um paliativo.

Catolicismo - Então, qual seria asaícla para este impasse? Prof. Marcos Cintra - Para e le con-

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til tirpar por co mpl eto o

~ processo infl ac io m'írio . 2

A sa íd a a lo ngo ,,, prazo são as re formas es tru turai s. Ma s a í vêm a grande dúvida e o grande conflito. Será que a economi a ag üenta do is, três, quatro anos, qu e serão necessári os para que as reform as in stituc ionai s e pro fund as sej a m fe itas, reg ulam e ntada s, impl e me ntadas e venh a m e fet iva me nte c umprir o se u pape l? Se rá qu e a inflaç ão , nesse ínterim , não e xplode no vam ente? 7-!

r seguir rea lme nte conter o processo infl acion ári o e não permitir a re index ação, é prec iso atacar os focos estruturais da

inflação. A minha g rande preoc upação é saber até que po nto o Governo vai te r a ag ilidade e a rapidez sufi c ie ntes para fa zer: 1° - a reforma tributári a; 2º - a reform a admini strati va do setor públi co; e 3º - o ajuste fisca l. Sem essas três medid as, não adi anta. Vamos vo ltar a te r um processo infl ac ionári o crôni co que sempre ti ve mos, 1 o is a infl ação brota dessas três ca usas fun cl a m e n ta is. Va i-se j oga ndo um a se me ntinh a, a cada mês, no processo in fl ac io nári o . O Plano Rea l, hoje, está nes. a situação. O resultado obtido até agora é muito bom. Mas o risco de que isto possa se perder é muito pre mente. É muito intenso. Na medida em qu e o Gove rno consiga levar a bom termo a reform a tributári a, a re form a admini strativ a e o ajuste do setor públi co, ele estará conso lid ando o pl ano. Na medid a e m que fracassa r nestas reformas instituc ionais, e le va i ta mbé m fracassar no Pl ano Rea l. Cre io que o Governo caminhou mui to, ca minho u bem e ele fo rm a im portante, mas a estabilidade aind a não é um a rea lidade. E le não co nseg uiu a inda ex-

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Dentro desse quadro, o Go vern o só te m do is in strum e ntos ele qu e pode lança r mão . Um é a âncora cambi al , que é um in strume nto muito efeti vo para se segurar uma infl ação . Só qu e é üm in strumento ele curto prazo. Contudo, esse in strume nto não es tá mai s sendo capaz ele segurar a infl ação, co m o ri sco ele gerar um a cri se ca mbi a l muito profund a. Da í o recurso ao segun do in strume nto: a recessão. Então , resumindo tudo, cre io que o pl ano caminhou be m, mas ele só vai se co nso lid a r de po is d as refo rma s in stituc io nais. Se e las fore m fe itas, o plano se conso lid a, mas até que sej am efeti vame nte viabili zadas vamos ter que amargar um processo recessivo profundo , com a ltas taxas de juros, co m dese mprego, co m po ucos inv estime ntos produtivos. Quanto mais rapidamente o Governo fi zer estas refo rmas, menor será o pe ríodo de recessão e de sacrifíc io que te remos que passa r.

Catolicismo - Dado que o processo longo é muito arriscado, não haveria uma nianeira de acelerá-lo? Prof. Ma1·cos Cintra - O Gove rno ainda teria condições, hoj e, de vi abili zar um processo de reform as de mane ira acelerada. Mas e le não está mostra ndo vontade, apeti te para tanto ... está fa ltando coerênc ia e coordenação ... está fa ltando um a liderança mais forte. Po liti ca me nte o c lima ainda está mui -

CATOLI C ISMO, SETEMBRO 1995

to bom e favoráve l ao Governo . O que está faltando é coordenação e competê ncia para impl e mentar as re formas que são ma is po lê mi cas . O Gove rn o es tá ind o pe lo caminh o mais simpl es. Mas até agora não adentrou num campo muito po lêmico. A c ab a r c om o monopólio da Petro brás... Eles ape nas deram aos governos estaduai s a poss ibilidade - se desej are m - de co ntratar e mpres as privadas para co ncorrer com a Petrobrás . Mas o mo nopó li o, e m si, de fa to, não acabou. Apenas deram condi ções aos estados de acabar co m o monopó li o. Mas ago ra resta sabe r se os estad os rea l me nte desej am acabar...

"Se as reformas institucionais forem feitas, o Plano se consolida. Mas até que sejam efetivamente viabilizadas, vamos ter que amargar um processo recessivo profundo, com altas taxas de juros, com desemprego, com poucos investimentos produtivos" A pressão da Petrobrás fo i tão fo rte que o pró pri o pres id ente ela Repúbli ca dec larou: " Não ! A Petro brás precisa ser preservada. " E deu um passo para trás. Que r di zer, a Petrobrá. continua se ndo uma máquin a extre mame nte poderosa e que, e mbora po r le i não possa ter o mono pó li o, va i continu ar exercendo o pode r monopo lísti co dura nte muito tempo, pe la mera fo rça ele seu peso po líti co; e o Governo não fo i capaz de des monta r isto. Todas as re fo rm as qu e foram fe itas até hoj e, ou fo ram re form as que não entrara m no â mago da qu estão o u fo ram refo rma s co ns e nsuais, ra zoa ve lm e nte simples . As ma is pol ê mi cas a inda não fora m rea li zadas, e não temos sequer propostas conc retas para di scutir. O Governo está sendo muito ino perante na consec ução destas re form as .

Catolicismo - O Sr. descreveu uni quadro que parece muito perplexitante: ou o Governo toma j á as medidas correti vo s, ou entüo o Plano Reol estorú foda -

do ao ji·acasso. Isto é bem assim ?

Prof. Marcos Cintra - É exatame nte ass im que eu vejo. Não te nho a menor dúvid a. O Governo sabe que c umpriu apenas al g umas etapas do processo ele es tabili zação . Mas falta m o utras para sere m cumpridas . Se não fore m c um pridas, o plano todo vai "água abaixo" .

"O Governo hoje só segura uma inflação razoavelmente baixa através de forte contração econômica" Nos pl anos anteriores, não se con seg uiu a esta bilid ade da econo mi a porque não se c hego u ao fin a l do processo. Ass im , penso que o Go ve rn o hoj e só segura um a infl ação razoa ve lm e nte ba ixa através el e fo rte co nt ração eco nô mi ca. Não se pode arrochar por muito tempo uma econo mi a c uj a taxa de crescimento po pulac iona l é de ma is ele 2% ao ano. Co m os probl e mas qu e a econo mia brasil e ira te m, não dá para segurá- la consta nte me nte so b um a pressão contrac io ni sta. Chega uma ho ra em que isto tudo ex pl ode. Acho que o Go verno está muito c ie nte dessa difi culd ade. Há um prazo, um fô lego qu e não du ra mais do qu e um ano a partir de ago ra, para qu e as reforma s sej am fe itas. Caso contrári o, vamos ter um a re versão co mpl eta. E te re mos novame nte o processo in flac ionári o.

de, atrair investime ntos, e , - 7 il'.:::;:;:::::::::::::;:;;;;:.::::-:irutlj d a, e qu e ge rou fort e e ntão haverá um a ume nto ~ in adimpl ê nc ia cio produ da produção. ~ tor rural.

Catolicismo - Qual é a '-' Pode-se te r uma sa fra relação que o S1: vê entre o muito me nor no an o que Plano Real e os planos do ve m, e um a das ânco ra s México e da A rgentina ? qu e seg urou a infla ç ão Prof. Marcos Cintra _ nes te ano poderá não estar presente em l 996. Por A Arge ntin a c a minhou muito mais rapidame nte do o utro lado, a importação que nós e co m muito mai s L__a;-.Jjl,l:::i,L_,!__-L~-'--_:,._.:!.A_J ag ríco la é muito fác il. Na coragem, de fo rma muito mai s inc isiva medida em que o Governo tenha divi sas, na privati zação, na abertura da econo mia, o u estoques regul adores, a importação na contenção dos ga. tos do setor públi pode perfe itame nte evitar que essa queco. Mas O mode lo é bas ica mente O mesbra ela safra repercuta na elevação de premo . O Méx ico també m. Em linhas gerai s, é um mode lo se me lhante ao que estamos que rendo fa zer aqui . O provide ncial para o Brasi I foi qu e a cri se ci o bal a nço de pagame ntos - o caminh o que o Méx ico vinha seguindo, há mais te mpo que o Bras il mostrou seu esgota mento lá. O que nos permitiu to mar medidas e nos precaver antes que isso acontecesse aqui. Agora, o qu e nos dife re nc ia desses outros pl anos são as c irc un stânc ias nas quai s a estabili zação est,1 ocorrendo. Ain da possuímos um Estado forte, altame nte intervenc io ni sta, e um a cultura muito inte rve nc io ni sta.

Catolicismo - E o protesto da agricultura em Brasília? Como o se11h or o explica, dentro do Plano Rea l'! Prof. Marcos Cintra - Jul go que o setor ag rícola fo i - e u não ac redito que te nh a sido propos itadame nte utili zada, mas involuntari ame nte - uma das gran -

Se essas re form as fore m fe itas rapi dam e nte, e se se co nseg uir e nxu gar o Estado, de limitar c laramente as atividades que e le deve exec utar liberar a economi a, equ ac ionar a questão do défic it públi co, que é estru tural - e se fo r fe ita uma re form a tribu tá ri a, que desate toda essa burocrac ia q ue hoje está am arrando a produção, parece- me que o processo pode ocorre r sem ma io res sacri fícios. A recessão é necessá ri a na pro porção e m que essas medid as estrutura is não fore m adotadas.

"Uma condição natural e importante para se desenvolver os meios de produção é ter o direito de propriedade para se poder usufruir o fruto do próprio trabalho"

E nqu a1i to se bu sca m ta is refo rm as, está-se o bri gado a segurar a econo mi a com f"rc io de mão. Mas , na medid a e m que essas reform as fore m feitas, aí sim , o Gove rn o po le rá baixar as taxas ele juros , criar um c lim a de confiança muito gran -

eles ânco ras do processo de estabili zação, porq ue a safra fo i razoave lme nte boa este ano . Os preços ag ríco las ti ve ra m uma evolução muito fa vo ráve l ao co nsumidor e muito des fav oráve l ao produtor, co m uma taxa de juros ex tre mamente e leva-

CATOLICISMO, SETE MBRO 1995

"A safrajoi razoavelmente boa este ano. Os preços agrícolas tiveram uma evolução muito desfavorável ao produtor, com uma taxa de juros extremamente elevada, e que gerou forte inadimplência do produtor rural" ços. Isso representari a um sacrifíci o muito grande do setor agrícola e uma conseqü ente descapitali zação desse setor, que depois cobrará o seu preço.

É o seto r que hoj e está se ndo ma is pena li zado e m todo esse imbroglio da estabili zação . É o que mais te m contri buído e o que me nos te m recebido e m termos de apo io, de supo rte.

Catolicismo - O Sr. não acha que a opinião pública está perplexa sobre o que pode acontecer daqui pa ra frente? Prof. Marcos Cintra - A população vi ve u um soríh o, d urante esse prime iro a no, achand o que a estabilid ade podi a se r atin g id a se m g rand es sac rifíc io s, mais o u me nos co mo aco nteceu no Pl ano C ru zado. Some nte ago ra e la está começand o a sentir o efe ito de uma po líti ca recess iv a m a is ace ntu a d a. Qu e m sabe, mai s para a fre nte, a co isa se reverta um P?UCO . Catolicismo -A privatização mal começou, e nada indica que será .feita com a mesma velocidade da Argentina.

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Prof. Marcos Cintra - Nem velocidad e nem in tensidade. O caso da Petrobrás é um exen-1p lo típi co: foi urna privati zação e nv e rgo nh ada . f i~eram, mas ... meio se m querer fazer. No fundo mostram que não vão cheg, r às últimas conseq üências, que cons istem em acabar co m o monopólio da Petrobrás. Mais do que acabar com o monopólio da Petrobrás, eu defendo sua privati zação.

"Há um prazo, que não dura mais do que um ano a partir de agora, para que as reformas sejam feitas. Caso contrário, vamos ter uma reversão completa, e novamente o processo inflacionário" Faço um a distinção entre a gestão o controle de determinadas atividades que o setor público tem obrigação de faze r e a atividade produtiva em si. Eu não vejo ne nhuma razão para o Governo ter um a empresa de exp loração e de distribuição de petró leo. Ele tem que fazer a política de distribui ção de petról eo, gerir a políti ca do petróleo. Tem que estabelecer as regras, exercer o poder de fisca lização, estabelecer as metas e os caminhos a serem seguidos em termos de definição e desenvolv imento desse setor estratégico. Mas o Governo exec utar, exercer o processo de produção, ju lgo que está e rrado. O Governo tem que privatizar a Petrobrás. A privatização está lenta e não está sendo feita com a profund idade que eu acredito que deveria ser adotada.

Catolicismo - Dentro da doutrina liberal que o S1: defende, qual é o papel da propriedade privada na constituição da sociedade? Prof. Marcos Cintra - Dentro do que o li beralismo defende - que é a capacidade, a maior efic iência, a maior produtividade do indivíduo , buscando o seu próprio bem estar, e com isso gera ndo o bem estar da com unidade co mo um todo - a propriedade é fundamenta l, porque e la está necessariamente atrelada ao bemestar do indivíduo. Uma condição natural e importante para se desenvolver os meios de produção é ter

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HISTORIA

o direito ele propriedade, para se po- ~ der usufruir o fruto cio próprio traba- :'.; lho, do próprio esforço. Então julgo que é fundamental que a proprieda- '-' de privada esteja atrelada à doutrina liberal.

1

Invasão e expulsão dos calvinistas holandeses na Bahia

Catolicismo - O ajuste .fiscal e a reforma tributária são viáveis com a introdução do Imposto Único, como o S1: propôs há alguns anos?

Juraci Josino Cavalcante

Prof. Marcos Cintra - Dentro desse quadro de reformas , é fundamental o aj uste fi sca l. Uma vez definidos o papel e as ativ id ades cio Estado, ele preci sa arrecadar o necessário para seu próprio custe io, e não fina nciar suas ativ idades ele fo rm a infl ac ionária. Vejo co m muita preoc upação que o Governo não tenha uma proposta tribu tár ia efetiva. E le está lançando vários balões de erisaio. Não tem ainda uma idé ia muito clara do que propor. Mas tudo indi ca que a reforma tributária - se é que será feita - será extremamente tí_micla e muito convencional. Vai ser apenas um aj uste do atual sistema tributário, e não um a renovação cio sistema, como havíamos defendido.

"Pode-se ter uma safra muito menor no ano que vem, e uma das âncoras que segurou a inflação neste ano poderá não estar presente em 1996" A estrutura cios impostos ex istentes está muito desgastada, desac reditada, cara e burocratizada, e a cul tura tributári a que se desenvolveu em torno desse sistema, hoje práticamente o in viabiliza corno um método sólido ele arrecadação dos impostos. Então o Imposto Ún ico é uma alternativa. E u tenho defendido o Imposto Único como um s iste ma moderno, que se aj usta muito às características atuai da economia brasi leira e cio sistema bancário altamente desenvolvido e altamente informatizado. Esse sistema permitiria uma arrecadação permanente, de forma muito sól ida, barata, e principa lmente

CATOLIC ISMO , SETEMBRO 1995

atolicismo publicou

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aume ntando o uni verso de contribuintes. A utili zação cio sistema bancár io como meio de arrecadação ele impostos praticamente atinge o uni verso ela pop ulação brasil e ira. Praticamente todo mundo hoje uti I iza a moeda escriturai , e não mai s a moeda manual , e m dinheiro. Todos usam o siste ma bancário para fazer seus pagamentos. Portanto, uni versalizase o sistema tributário, todos pagam, atinge-se a econom ia informa l, que hoj e está completamente exc lu ída da arrecadação, e co m isso pode-se ter um sistema ma is justo, com uma inc idênci a mais eq uili brada de impostos. A idéia do Imposto Ún ico tem uma penetração e aceitação muito profun das na soc iedade. Mas é um desses casos curiosos, no qual a sociedade e a e lite dirigente estão muito distantes entre si , j á que no Congresso os lobbys contrários são muito atuantes. Te nh o impressão de que hoje uma parte s ignificativa cio cha mado custo Brasil é o custo de nosso siste ma tributário. São a chamadas obrigações acessórias tributárias, o custo do s iste ma e m si, a administração tributária, a complexidade, a burocracia. Hoje fala-se muito na necessidade de desonerar a produção. Ju lgo que o fundamental é desonerar o setor formal ela economia, constituído por aq ueles que não conseguem sonegar. Ou porque são grandes demais e têm uma fiscaljzação muito intensa, ou simplesmente porque, em virtude de concepções éticas e morais, não entram nos esquemas de evasão tributária.

são defin itiva dos holandeA invasão de 1624 e demais investidas dos ses ele Pernamb uco, em três estudos Uulho/ holandeses, expulsos do território baiano por 1654, cognom inada Insur86, j aneiro e fevereição Pernambucana . re iro/8 7) sobre as in vasões aguerridos defensores da Fé católica Entendendo que a toma-. holandesas ocorridas no Brada ela cidade fora castigo cio si! no sécul o XVII. Durante 30 anos tendor de Pernamb uco, Matias de Céu, devido aos vícios e pecados de seus Albuquerque, em conseqüência do sistetaram os hereges criar um e nclave, usanhabitantes, Dom Marcos passou a fazer ma ele sucessão adotado na época, pasdo então Pernambuco como cabeça-derigorosas penitências, com vigíli as e j esou a ser a maior autoridade encarregada ponte para implantar a reli gião "reformajuns, ele modo a se tornar exemplo para de coo rdenar a res istênc ia a rmada. Conda" protestante. todas as c lasses soc iais de seu bispado. tudo, devido à gra nde distânc ia e difíc il No presente artigo poremos ein realce comunicação com Recife, o · povo O milagre da cruz apenas as investidas calvinistas contra a bahiano aclamou capitão-mor o B ispo cidade de São Salvador da Bahia de ToCerta ocasião, os hereges atacaram a Dom Marcos Teixeira, posteriormente dos os Santos, sede do Governo-Geral cio Ilha de ltaparica em busca de ma ntime ndenominado Bispo Guerreiro. Brasi l e importante ponto estratégico. Imedi atame n te Dom Será preciso lembrar que, desde 1580, Marco s tran sfo rmou a a lPortugal havia sid o anexado ao reino da de ia cio Espírito Santo e m Espanha. Desta forma, o território brasiacampamento ele retirantes le iro e demais co lôn ia lu sas ficaram sob e Quarte l Genera l ela resisdomínio da coroa espan hola até 1640, tê nc ia a nticalvini sta. Não quando Portuga l recobrou sua indepenobstante ser o local muito dência. acanhado, e rgueram-se uma cape la e algumas fortificaA resistência contra a ções. tomada de Salvador Uma armada inva sora holand esa, composta de 26 naus grandes e 13 merca ntes, po sto u-se d iante da capital bahiana em abri l de 1624. S ubjugada a cidade, os invasores entregaram-se a saques, profanações e sacrilégios. Os deste rrados, que constituíam a maioria da população, calcul andose dez mil só de portugueses, refugiaramse pelas cercanias . Os fazendeiros e donos de engenhos acolhiam a todos com cari dade, não faltando comida e abrigo aos que os procuravam.

As táticas denominadas de assaltos, sob o comando do B ispo, serviram de mode lo para a formação do que ma is tarde se denominou companhias de emboscadas (guerri I has, em termos atu ais), por ocas ião da expul r· 1 l',J; IL l.JI /'. ,;:, \ l'v I C ON •· ' O\ iJOLl/\N>F. ,l ', fJ>C\l\ ~[ N<;ll SITIO V/V'v\ [Jt\l Lí,' '"

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Di spersos pelos matos, reso lveram os luso-brasileiros assentar arraial na aldeia indígena cio Espírito Santo. Diogo de Mendonça Furtado, Governador-Geral cio Brasi l, havia sido preso e envi ado à Ho landa. Assim, o govern a-

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Na Igreja de Nossa Senhora da Palma, em Salvador, placa comemorativa da vitória contra os holandeses

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di sse min adas pe la c id ade, a lgum as das quais muito bem fortificadas . Na praia fora m erguidos sete baluartes, alguns capazes ele conter 100 mosqueteiros. Além cio mais, possuíam os batavos 22 nav ios ele guerra bem eq uipados.

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Ante ri ormente à chegada da a rm ada, os ca tó li cos mantinh a m os ho la ndeses sob intenso cerco, não os de ixa ndo sa ir ela c id ade "nem para pegar um limão". A 29 de março ele 1625 , d ia ela fund ação da c idade, vés pera cio Do min go da Res-

bahiano, entravam os católicos triunfa ntes na cidade de São Salvador. Arri ada a bande ira dos holandeses, hm, tearam as de Portuga l e Espanha. A rendi ção dos hol andeses fi co u para se mpre ma rcada na memória de nosso povo. Até hoje se con serv a a mesa onde foi assinada a rendi ção, no me smo lu gar, que é a mag nífica sacri stia do Conve nto cio Carmo, em Salvador. Na cç,ntra-capa ela prese nte edição, apresenta\mos foto desse local , ora tra nsformado e , Mu seu.

SM1 63& AQY I O COt'-lDE D E BAC t~VOLO

OP O Z A MA\OR; RES ISTEl'-IC\A A

INYAS AO l-\OLLÃ..N CE ZA D MAYR\

Acima e à direita : Forte Montserrat, palco da luta contra os invasores batavos

tos, dese mba rca ndo num e nge nh o em cuj a e ntrada hav ia um cru ze iro de made ira. Ve ndo a cruz, odi ada por todo herege, os in vasores ne la apli cara m a lgumas cuti lacl as. A cru z mil agrosa me nte se to rceu, virando-se para um lado, parecendo indi ca r o ca minh o a seg uir pe los batavos. Estes de parara m-se então com um dos nossos co ma ndantes, cha mado Afonso Rodrigues ela Cachoe ira, o q ual, com a ajuda de alguns índi os, matou o ito dos hereges. O fato mil agroso ocas io nou tanta veneração votada àque la cruz, que de la fi zera m-se re líqui as respo nsáve is por muitas c uras . A bra va res istê nc ia aos in vaso res cri ou co nd ições propíc ias para o enfraquec imento cio inimi go e a grand iosa vitóri a da armada espanho la- lu sitana, q ue veio liberta r a Bahi a no ano seguin te.

A resposta da nobreza Ao chegar a Portuga l e Espanh a, a notíc ia ela in vasão ho landesa causou profund a co moção. Pa recendo sa ir de um letargo, po rtug ueses e espanhó is apresta ram-se logo a o rga ni za r uma ex pedi ção para libertar a Bahi a. Determino u o re i de Espanha a todos os sacerdotes que ce le brasse m mi ssas, rezasse m urn a novena e lada inh as nessa in te nção. Em Li sboa, o Santíss imo Sacrame nto fi cou ex posto à adoração públi ca, e m súpli ca pe la concretização ela exped ição.

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C IO DE NA SIS.:./ REP ELLll'OO <DM

D irig iu o re i ela Espanha, com data ele 7 ele agosto ele 1624, carta a seu.- governa.dores espalhados pe lo vasto impéri o, convoca ndo todas as naus li spo níve is para

ENODO 05 -~ATA QVES II 2 t IE Ab\1\l )oli lô DE MA\O)o 1- 9 l c;+H 1.) 38

dirig ir-se ao Brasil , j á a 20 do mesmo mês, para ex pul sar os invaso res. A campanh a pe la li bertação ela Bahi a e mpo lgou nobres e plebeus, lusos e espa nh ó is. Dom Afonso ele Noro nha, do Co nselho do Estado e antigo Vi ce-Re i ela Índi a, fo i o prime iro a se ali star. Em segui da, in screve ram -se ma is de 100 fid a lgos.

A reconquista da cidade do Salvador As notíc ias sob re a vinda da armada para libe rtar a Bahi a j á tinha m chegado aos o uvid os dos ho land eses, q ue co m mui to afã Se preparara m para o confro nto. Ta mbé m e les ag uarelavam a chegada de um a arm ada ele socorro mandada por Amste rd ã. Ao contrári o da invasão ele 1624, a reconqui sta ela Bahi a, um ano depois, deparo u com uma praça bem fo rtificada pelos holandeses e d isposta a tudo para não se entregar. Foi construído um forte novo com uma fo rnalha de três bocas, onde se esquentavam pelouros e se faz iam outro fogos para o combate; fora m assestadas 92 peças de artilharia, e aind a di versas trincheiras

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surre ição, c hegou a ex pedição espa nhola- lusa a' Salvado r, sendo o dese mbarque efetuado im edi atame nte.

Já e m te rra, os combate ntes di stri buíra m-se co m suas co mpa nhias pe los mo ntes pr in c ipa is que ci rcu ndava m a c id ade, reco lh endo-se e m casas o u barracos ele pa lh a. Nobres e so ldados, todos tra ba lh avam na preparação do assédi o à c idade . Os capi tães elas ma is nobres estirpes lu so-espa nh o las es tava m a li prese ntes, po rque o idea l ela nobreza ex ige um a vicia inte ira mente ded icada ao sacrifíc io pe la Fé ca tó li ca e pe lo Re i.

Rendi ção holandesa e desagravo pelas profa nações No iníc io de ma io ele 1625 , um ano a pós a inv asão bata va e m te rritó ri o

H avi am sido profa nados vári os lugares dedi cados à prá ti ca da Re li gião : o Col égio d os j es uítas tra nsformad o e m mercado, a ig reja co ntígua, em adega, e outras ig rejas utili zadas como arm azéns ele pó lv o ras etc. Havi a m também sido enterrados nas igrej as, principa lmente na Catedra l, os corpos dos com andantes hola nd eses mo rtos e m combate. Após o desfil e de vitó ri a, esses restos mortais fo ram da li re movidos, sendo as igrej as re-consagracl as ao culto divin o.

Resolvem os holandeses invadir a Bahia novamente D c po i · dessa prime ira inv asão da B ahi a, te rm inada em 1625, voltaram os calvini . tas a atacá- la, em março de 1627, qu ando a lmirante Piet Heyn , prati cando pira1 ari a na costa e burlando-se dos canhon aços d i parados da c idade, co nseg uiu ataca r urn a fro ta el e 26 nav ios

mercantes e roubar g rande parte da me rcado ri a, principa lme nte açúcar. Os ho landeses havi am se apoderado de Olinda e Rec ife desde 1630. Ao saber das desave nças ex iste ntes e ntre o Conde de Bagnu olo e o nov o Gove rn ador-Geral, Pedro da Silva, M auríc io ele Nassa u decidiu ata car Salv.aclor. O co nd e de Bagnuolo era um nobre napo litano que havi a tornado parte na ex pedi ção co ntra os holandeses, em J625.

Mais uma tentativa frustra de tomar a Bahia Ass im , vindo de Pe rn ambu co com 35 navi os bem arm ados e sei · mil homens, em abril de 1638 chegava Nassau a Sal vador. Poré m, foi el e sucess iv amente repe lido, pois as forças lu so-bras il e iras da Ba hi a estavam não só me lho r preparadas, co mo ta mbé m co m es píri to mais aguerrido . Os combates du ra ra m aproxim adamente um mês, e j á no dia 25 de maio, após sucessivas derrotas, resolveu Nassau fu gir vergonhosam e nte, se m te r obtido urna vitória sequer. Pela firm eza ela resistência, o governardor Pedro da Silva recebeu o título ele o "Duro".

A esses va lo rosos deve o Brasil have r-se mantido fi e l à Re lig ião verdade ira e forjad o sua nac iona lidade, como també m preservado sua unidade territorial , sem as divi sões ocorridas em tantos o utros países. É no sso de ve r ag radece r tai s dádivas providenc iai s e pedir a De i.i s e à Padroe ira nac ion a l, Nossa Se nhora da Con ce ição Aparecid a, que nossa Pátri a con tinu e a se mante r fi e l àque les princípios pelos qua is lutaram tantos heró is dopassado, cuj a firm eza na luta e fo rtaleza na Fé torn aram pos íve l pe rpetu ar no Brasil o verd ade iro es pírito católi co. FONTES D E REFERÊNCIA: 1 . Fra ncisco Adolpho Yarnh age n, Hist ória Geral do Brasil, Ed. e & L ac 111111ert, Ri o, 1874. 2. Robert So ulhcy, História do Brasil, Ed. Ga rni er, Ri o, 1862. 3. Gas par Barl eus, História dosfeitos (de M aurício de Nassa u) praticados d11ra11te oito a11os 110 Brasil. Ecl . Fundação de Cultura Cid ade do Reci fe, 1980.

Te nd o pe rdid o boa parte de seu exérc ito nessa ex pedição, ficou o c hefe ho landês com seu prestígio i rre rn edi avel me nte co mprometido. 1

aís dividido e

E ass im , m a is um a v z, o te rritó ri o bras il e iro fo i salvo da do min ad os he reges. P rime io es pec ial da D ivi rovidê ncia . Depo is,

ram ca ra c e rís ti co da m a i s obr eza: n ob res pe lo sa 1g ue e nobres po r

Igreja de Santo Antonio Além Carmo: outro marco da resistência aos hereges invasores

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si, prometendo conced r-lhe tudo quanto pedisse. O duque contentou se e m pedir- lhe as relíquias de São Vítor e São Sigismunclo (rei da Borgonha), e foram depositadas numa igrej a de/ _Praga que ele fez edifi car para esse efeito. Alguns hi stori adores dizem que, lq uela ocasião, Oto n outorgou- lhe o títu o de Rei, autorizando-o a ostentar a á ~u ia imperial em seu estandarte. Wence] lau dec lin ou o títu lo, mas se mpre foi ti atado co mo tal pelo imperador e pie's prínc ipes do Sacro Império Romano Jemão, como se vê na correspondência 1ue mantinham com ele.

qy

São Wenceslau, duque e mártir Luiz Carlos Azevedo

O

antigo Ducado da Esteio da expansão do Catolicismo na Boêmi Religião. Sua força e virtuBoêmia constituíde provinh am do amor à Sacoroou com seu sangue uma existência de ra-se pela agluti grada Eucaristia e à Virgem nação de vários povos bárbaMaria, em c uj a ho nra fez autêntico príncipe cristão ros na região, com predomi voto de castidade pe rpétua. nâ nci a dos eslavos. A partir do séc ul o E mbora o duque tivesse deixado a Sã Wences lau resgatava os cativos, VII, começou a evangeli zação dessa naregência à sua mãe Ludmil a, a nora, au- visita a os prisioneiros, co nsolando-os ção, mas so mente com a organ ização de xili ada por sectários e à c usta de su bor- com s seus conse lhos. A temperança e um Estado e, depois, com a ascensão ao nos, tomou as rédeas do governo. Não a m rtifi cação eram os este ios de sua trono ducal de Borivar, o primeiro Dutendo mai s o marido para contê- la, casf dade, nunca des me ntida du rante toda que cristão da Boêm ia, é que o Catoli Drao mi ra deu livre cu rso a seu ódio concismo firmou-se e co meçou a alcançar tra a Rel igião, decretando o fec hamento progressos co nsideráveis. das igrejas, proibindo o culto divino e a evange li zação. Nas esco las houve proiO duque Bor iv a r caso u-se com bi ção absoluta de se fa lar de Deus. Os Ludmila, princesa piedosa, sagaz e arFreqüe nte me nte ass ist ia ao Ofício professores cató licos foram substituídos de nte propul sionad ora da Fé cató li ca. D vino. E muitas vezes, durante os rigopelos pagãos. Sacerdotes e monjes foram Não obstante, o duque não impediu seu r s do inverno, ia descalço às igrej as. Os proscritos. Ao mesmo tempo, Draomira filho Wratislau de contrair matrimôni o ue o acompanhava m só tinham um meio concedeu amplos privilégios aos pagãos. com Draomira, princesa pagã, de má íne não enregelarem: colocar os pés soA desolação e a im piedade reinavam na dol e e totalmente en tregue ao culto dos re as pegadas deixadas pelo santo na corte dessa nova Jezabel. ídolos. eve. Fazendo ass im , senti am um calor Porém, Santa Ludmi la vigiava. Com benfazejo penetrar em se us corpos. Com a morte do pai, Wratis lau contimui ta diplomacia foi preparando terreno nuou o trabalho apostóli co de Boriv ar O duque tinha ime nso respeito pela para que Wences lau fosse aclamado duque com grande empenho. E mbora Draom ira hi erarqúia ecles iástica. Honrava os B isaos dezoito anos. Nessa ocasião, então, a simulasse ter-se convertido, não escapapos e os padres como o próprio Nosso combativa princesa obteve de todas as reva à sagacidade da duquesa L udmil a a Senhor. Q ua ndo tinha algo a tratar com giões uma completa e irrestrita adesão a falsidade da nora. Por isto, ao nascer- lhe eles, faz ia-o com profundo respeito. Wenceslau, cuj os predicados constituíam os fi lh os We nceslau (907-935) e Fazia questão de e le próprio semear a homa e o orgu lho da Boêm ia. Boles lau, pediu a du quesa-mãe li cença o trigo e pisar as uva , destinados à ce leao seu filh o para ed ucar os doi s netos. Autêntico príncipe bração do Santo Sacrifício. E ficava tranDraomira, contudo, consentiu na sepasido de alegria e m acolitar à Missa. cristão ração do primogênito, co nservando conEssa admirável devoção fortalec iaWences lau ascendeu ao poder, ex il u sigo Boles lau. lhe a grande coragem e a indomável insua mãe e irmão numa província afas aNo palácio da avó, em Praga, trepidez. da e iniciou o trabalho de resta eWenceslau recebeu sóli da formação relecimento da ordem tumu ltu ada p,e os Vivendo sempre na presença de Deus, ligiosa e cultural , bem como o apre ncfoco anos de despotismo da sangu · náe tendo tão pouco apego às coisas da terdizado na carreira das armas, alcançanria Draom ira. Alcançou tanto êxito esra, deliberou ingressar na Ordem de São do tal progresso , seja na virtude, seja sa tarefa, por sua sabedoria e prudé1 eia, Bento. Chegou mesmo a pedir ao Papa nas ciê ncias, que chegou a ser reputaque em pouco tempo transformo u-, e na que autor izasse o estabe lec ime nto dos do um dos melhores príncipes de seu expressão mais pura da majestade eal e beneditinos em seus domínios. Mas não tempo. cristã, que iria ter em São L uís, tr !S séteve tempo para executar tal projeto. Renasce o paganismo cu los mais tarde, um exemplo pe1 fe ito. Em uma reunião de di gnitários realiContava Wences lau apenas treze anos de idade, quando seu pai pereceu numa batalha co ntra os hún garos.

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Este príncipe tornou-se o pa i bres, o protetor dos órfãos e o g ela justiça; mas, sobretudo, o pa la

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zada em Worms, na Ale man ha, o im perador Oton recebeu Wenceslau com espec ial deferência. Fê- lo sentar-se junto a

mes. Certo dia e m que ela passava próximo de um local onde havia mandado executar inúmeros cató li cos, o so lo se abriu e ela foi engolida viva. Sabendo do assassi nato do duque, o Imperador Otão enviou um exército para a Boêmia. Após vários anos de lu ta Otão

Proteção 1ngélica

Morto pelo próprio irmão ~ imulando grande desejo de reconcili açao co m o fi lho, Draomira conv idoupJ ra ser padrinho do primeiro filho de Boleslau, anunciando grandes festas. São Wenceslau, e mbora duvidasse da sinceridade da mãe, não pôde dei xar de aceita/ o convite, visto por todos como o epíl?go feli z de uma longa dil aceração no <;l ucado.

º •

Depois da solene festividade do batismo c do banq uete oferec ido ao Santo no caste lo de Stará (Boles lávia), retirouse este para rezar o Ofício da Virge m / Mari a, numa igreja. Lá Bo les lau e seu, sectários o assa ·sinaram, e m 28 de setembro de 935 . A pérl"i la Draomira, co ntudo, recebeu o cas l igo que merecia pelos seus cri-

Certo dia, o jove m duqu e da Boêmia, Boriv ar, vei o e nco ntrar- se co m Z ve ntib aldo, que s ucedera Ratislau no tro no moráv io, e de quem ele depe ndia. O rei recebe u-o co m ho nra , mas durante a refeição fê- lo sentar-se no chão, pois Bori var era pagão e não podia ser admitido à mesa co m senhores cri stãos . São Metódio aproveitouse dessa circunstânc ia para conversar sobre a Relig ião de Nos so Senhor co m o jove m duque. Borivar, após tê- lo escutado e refletido, pediu obati smo juntame nte co m trinta de seus condes. São Metódio, após muitas pregações, batizou-o e indi cou um sacerdote para forta lecê-lo nas verdades da Fé.

Do seu ex ílii , Draomira tentava destruir a obra do f ilho. Convencida de que sua sogra, Sa"lta Ludmila, era a grande incentivadora , o neto, mandou assassinála, crime que seus sectários executaram estrangulandc:,-a, e nqua nto rezava em seu oratório. Vendo qt/1e o filho não só não arrefecera em seul zelo, mas redobrava os esfo rços pari converter seus súditos à Fé cató lica, D ·aomira pediu a um príncipe pagão, Ra lis lau, para in vadir a Boêmi a, destronar /"eu filho e restituir a ela o poder. São Fences lau desafi ou o in vasor para um combate pessoal, a fim de poupar a ml rte de se us súd itos , e quando Raclisla1f estava para arremessar- lhe a la nça, v iu doi s anjos que protegi a m o Duque. O príncipe pagão lanço u-se aos pés do Santo, aceitando todas as suas condi ções/ de paz.

Metódio , C irilo co nv e rte u o bú lgaro Bogoris. Na Morávia traduziram para o idioma es la vo os livros sagra dos e li túrg icos, criando um novo alfabeto que · se torno u célebre.

Borivar casou-se com uma j ove m es lava de nom e Estátua de São Wenceslau, de P. Parler (1373), Ludmi la, que haveri a de torcatedral de São Vítor, Praga nar-se avó de São Wences lau e a prime ira sa nta da Boêmia. Uma parte venceu, mas contentou-se co m a humilhada nação seguiu o exempl o destes prínção de Boles lau. Obrigou-o a chamar os cipes, e outra continuou imersa no pagasacerdotes cató li cos ele volta e a restabeni smo. lecer a verdadeira relig ião na Boêm ia. Em fins do século IX, São Metódio esBoleslau, espantado com o número de teve pessoalmente pregando o Evangelho milagres operados junto ao túmu lo do na Boêmi a. E no ano 916 São Wenceslau irmão , mandou sec retamente que levasfez edificar a igreja de Boleslávi a, em honra sem o corpo de Wencesla u para a igreja dos célebres apósto los dos eslavos, São de São Vítor, em Praga, a fim ele que os Metódio e São Ciril o. milagres fossem atribuídos à intercessão São Wenceslau não morre u inutildeste santo, e não ao santo mártir. mente, um a vez que, por pressão do ImSão Wenceslau (ou São Vaclav em perador alemão Otão I, se u irmão ímpio tcheco) fo i canonizado a 16 de ju lho ele Bo les la u voltou a favorecer o Cristia1670 pe lo Papa Clemente X, a rogos do nismo . A filha deste último, casada com Imperador Leopoldo. o re i da Po lôn ia, fo i grand e propagadora Uma grande estátua fo i ergu ida e m do catoli cismo e m seu reino, e um filho sua honra num a praça central de Praga. de Bo les lau se fez monge. O utro filho se u fo i Bo leslau II (967-999), cogUm pouco de História nominado o Piedoso e co nsi derado por Quando no ano 863 o rei Ratislau, da um histori ador contemporâ neo como "o Morávia, ped iu mi ssionários a Miguel, o príncipe cristão, justo e vitorioso" . Gago, impe rador do Orie nte, este lh e e nviou um sacerdote de Tessalonica chaFo ntes de refe rência: mado Ciri lo, que conhecia bem a língua Encic lopcd ia Ca t1oli ca, vo l. X II , p. 11 79. eslavônica. Desde Jogo, com seu irmão But1lcr. Vida dos Sanros, Ed. Vozes, Petrópoli s, 1992, p. 259.

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"Fazer o contrário do que lazem os protestantes" \

"Tin ha e u lido em certo livro que é imperfeição ter imagens primorosas, e andava querend ~ desfazer-me de uma que tinha na cela.

A única maneira de fazer amigos é de ser um

"Foi-me dito (por Nosso Senhor): "Não era boa essa mortificação. Que coisa é melhor: p ?breza ou caridade? Se melhor é o amot; tudo o que a ele me movesse não deixasse eu de lado, pois ~ livro se referia a molduras ricas e ornamentos custosos, e não propriamente às imagens.

Ralph Waldo Emerson

É maior loucura estar desejoso de violar a amizade de Deus do que infringir a amizade humana

"O que o demônio fazia entre os luteranos, era tirar-lhes todos os meios de se afervoranm, e ass im os ia perdendo.

Santa Teresa de Ávila

A verdadeira amizade não gela no inverno

"Meus cristãos, filha, agora mais do que nunca, hão de fa zer o contrário do que eles fa z m ".

Provérbio alemão

(Santa Teresa de Ávi la, Opúsculos, Editora Vozes Ltda, Petrópolis, 1951, p.114).

É santo sobre a Terra aquele que soube fazer amizade com santos

Santa Teresa de Ávila

Adam Mickiewicz

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1

11\1 '\1EMORIAM

Ser amigo e fazer apostolado é uma coisa só

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Plinio Corrêa de Oliveira

O_amigo ama sempre, e na adversidade transforma-se num irmão Sagrada Escritura (Provérbios)

Falece em Portugal jornalista admirador da TFff No último di a 13 de junho faleceu em Lisboa F ra nc isco José Maga lh ães Monteiro. "Sua grande figura fa z-me lembra r sempre os valentes guerreiros da primeira cruzada, tais eram o cavalh eirism.o, o garbo, e sobretudo o espírilo de f é com que Magalhães Monteiro se houve nas lides em que tanto se destacou". Com estas palavras o Prof. Plínio Corrêa de Oli veira enalteceu a memóri a desse português, nascido em Ango la, que tanta amizade e adm iração devotava ao fundador da TFP brasi leira. Magalhães Monteiro fo i co rrespondente de guerra em Ango la e Moçambique. Fo i surpreendido em Lisboa pela chamada Revolução dos Cravos . Opôs-se de fre nte ao reg ime de ca ráter nitid amente comuni sta que então se impl antou em Portuga l, o que o ob ri gou a ex il ar-se co m a famíl ia no Bras il. Ao vo ltar a Portugal, anos mai s tarde, não abandonou seu combate nem as denún c ias qu e se mpre fez ao processo de desco loni zação da África portuguesa, que considerava desastroso e até crimin oso.

tendo sido por is o obri gado a retirar-se para o interior de Portuga l, onde foi viver co m a família . Devido a suas posições fiéis e destemidas, como bem disse alguém, "os j ornais e as revis/as que envaidecem os medíocres" fec hara m-lhe as portas. Viu -se assim reduz ido a escrever para um único jornal Iisboeta, "O Dia" . Foi nessa tribuna que, com garbo, defendeu o Prof. Plínio

Sua fide li dade aos princípios católi cos e anticomunistas acarretou-lhe muitas di fi culdades profiss ionais e até econômi cas,

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CATOLIC ISMO , SETEMBRO 1995

Corrêa de Oliveira e o Centro Cuilural Reconquisla-TFP Lusa - dos infundados e fanát icos ataques partidos de um jornali sta com uni sta. Nesse mesmo jornal foi publi cada sua última crônica dedi cada à Homenagem Nacional aos Combatentes do Ultramar, reali zada a tq de junho, dia de Ca mões. Apesar de um a grave mol ésti a de coração, que o afetava hav ia anos, ele des locou-se a Lisboa, a fim de participar d.e tal homenagem. Segundo "O Di a", "seu coração, já muito abalado por lutas, desgo stos e desilusões", não res isti u, sendo vítima de um fulminante ataq ue três dias depois. Às cerimôni as fúnebres, no cemitér.io do Alto de São João, em Lisboa , co mpareceram fa miliares, antigos combatentes de U ltramar, ex- res identes das co lô nias lu sas em Áfri ca, sobretudo de sua Angola natal. A missa de corpo presente fo i ass inalada por cânticos sacros entoados por jovens do Centro Cultural Reconquista-TFP. A Nossa Senhora da Conce ição, Rai nha e Padroeira de Portugal, Catolicismo ergue suas preces pela alma do valoroso e inesquecível ami go Franc isco José Magalhães Monte iro.

Importância do dromedário... na época do helicóptero ~

E

grande o co ntraste apresentado na foto: um helicóptero militar sobrevoa grupo de dromedários em deserto ela Arábia Saudita. A cena é bem simbólica de um confronto de duas civilizações. O dromed ário e o camelo evocam fatos históricos mile nare e bíblicos. Há mais de três milê nios, por exemplo, Gedeão com se us 300 israelitas pu seram e m fuga vários milhares de madianitas - ancestrais dos árabes sauditas contemporâ neos - que havi am pe netrado na Palestina com seu camelos (cfr. Jz 7,12-23). Até dia s recentes , dromedários e camelo constituíam o principal meio de transporte nas reg iõe · d e é rticas da Arábia, e aqueles ruminantes eram ade trados para as batalhas n deserto, como verdacl ira e insubstituíveis armas de g uerra. ln s ub, tituíve is até o aclv 'nto d transportes m tori zado ; e, no plano

bélico, até o aparecimento dos blindados, dos aviões e helicópteros de combate. * * * A guerra moderna, com sua técnica sofisticada, eliminou do panorama militar dromedários, camelos e cavalos. Exemplo frisante disso foi a recente guerra do Golfo Pérsico. Mas assim como o elefante compõe o quadro cultural da Índia milenar, dromedários e camelos, fiéis companheiros do beduíno do deserto, estão associados ao universo das popul ações árabes. Entraram para seu patrimônio cultural e simbólico, a exemplo do turbaote, do oásis com palmeiras, das dunas de areia iluminadas pelo luar... E se um dia desaparecessem aqueles animais , tragados p e la técnica despersonalizante da época hodierna, o árabe certamente perderia impor.tante fator de sua própria identidade.

..


Cená histórica emsacristia barroca O

leitor tem diante dos olhos uma obra- pri ma do barroco brasileiro: a sacristia do convento do Carmo de Salvador. A Providência Divina, em sua infinita sabedoria, dispôs as coisas para que neste magnífico ambiente tivesse lugar um dos fatos-ápice de nossa História: a rendição do invasor holandês,· após um ano de domínio calvinista sobre a católica capital baiana.

das mãos de Dom Fadrique de Toledo Osório, comandante-em-chefe das forças combinadas hispanolusitanas. Assinado o documento, retira- se o coman dante holandês com seu pequeno séquito d e ofici ais . Como testemunhas silenciosas do ato, p e rmanecem até hoje o artístico crucifixo de bronze , as

Imaginemos a cena, de alta carga simbólica, que representou importante marco nos rumos históricos do Brasil. Pelo ato então realizado , em t 625, nosso País permaneceu fiel às suas raízes lusas e à Fé

imponentes imagens dos Papas São Te lésforo e São Dionísio, bem como dos Bispos São Pe dro Tomás e Santo André Corsini , e a rica talha dou rad a em torno das pinturas - atribuídas ao céle bre carmelita daquela época, Frei Eusébio d e M atos - que re-

católica, cuja semente fora lançada na primeira Missa celebrada em terras baianas de Porto Seguro, logo após o descobrimento. Entram na vasta sacristia os chefes dos católicos vitoriosos e dos hereges rendidos ;

produzem a vida do Profeta Eli as. À esquerda, as estátuas dos dois Sumos Pontífi ces, ostentando a tiara com a tríplice coroa . A riqueza barroca daquele recinto, com suas volutas douradas, mármores trabalhados, en-

no piso de mármore quadriculado ressoam as batidas dos saltos de suas botas altas. O coronel holándês coloca seu chapéu sobre a mesa trabalhada de jacarandá escuro. Senta-se numa cadeira de espaldar alto e recebe o pergaminho, que contém as condições de rendição ,

talhes de madeira que enriquecem portas , janelas, cômoda e armários - enfim, todo o fausto artístico de uma portentosa sacristia assistiu à derrota das armas dos hereges e à restauração da civilização cristã no Brasil setecentista.


Revive a música colonial

Nº 538 - Outubro 1995 - Ano XLV

Olhe fundo neste olhar, e deixe que estes olhos vejaID você!


AÍOJLIC

Revolução e Contra--Revolução

NQ 538 Outubro de 1995

Nesta edição: Revolução e Contra-Revolução

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Nacional

"Seu conteúdo deveria ser ensinado nos centros superiores da Igreja"

As esquerdas estão sem rumo

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A Realidade concisamente

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Brasil real, Brasil brasileiro Brasilidade, essa nota indefinível

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Discernindo

"Revolução e Contra-Revolução é uma obra magistral, cujos ensinamentos deveriam ser difundidos até fa zê-los penetrar na consciência de todos os que se sintam verdadeiramente católicos - eu diria mais, de todos os homens de boa vontade. Nela, estes últimos aprenderiam que a única salvação está em Jesus Cristo e na sua Igreja, e os primeiros se sentiriam confirmados e robustecidos em sua f é, e prevenidos e imunizados psicológica e espiritualmente contra um processo astuto que se serve de muitos deles como inocentes úteis companheiros de viagem ".

T

al iniciativa ju stifica-se inteiram e nte pe la atu alidade de Revolução e Contra-Revolução em nossos dias. Poi s, como be m afirma o conceituado Pe. Gutiérrez, "é uma obra profética no melhor sentido da palavra; mais ainda, seu conteúdo deveria ser ensinado nos centros superiores da Igreja, para que ao menos as classes de elite tomem consciência clara de uma realidade esmagadora, da qual - acredito - não se tem clara consciência". niciando neste número esta nova seção, Catolicismo deseja oferecer a seus leitores mai s recentes um meio para que conheçam essa obra de capital importância e, de outro lado, proporcionar aos leitores mais antigos a ocasião de recordar e fazer novas aplicações ele princípios perenes da sabedoria cristã.

I

(*) O Rcv mo. Pe. An astasio G uti érrez, C.M.F. , um dos mai s renomados canoni stas da I rej a at.óli ca, reside em Roma há 50 anos. D outourou-se em Direito anônico pela Pontifícia Universidade L atera nense, onde fo i professor po r muitos anos. Pun cl ador ci o Instituto Jurídico Clareti ano ele Roma, presentemente 6 onsult or d ' qua tro import antes licast ri os ci o Vati ca no.

2

CATOLI C ISMO, OU I UU l lO i<0'

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Frases e Imagens

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Entrevista O Cônego José Luiz Villac fala sobre a Campanha de Fátima 10

Caderno Especial - Capa Vinde, N.Sra.de Fátima, não tardeis!

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Reportagem Música colonial : Minas na vanguarda

E

ssas palavra s do e min e nte c anoni s ta P e . Ana ta io Gutiérrez (*), e m parecer be m mai longo, ele 8 ele sete mbro de 1993, sobre Revolução e Contra-Re vo lução, de autori a cio Prof. Plinio Corrêa de Olive ira, serviram ele incentivo a que e abri s. e cm Catolicismo um espaço para reprodu z ir trec hos dessa obra in signe, publicada pela prime ira vez na pág in as deste me nsá ri o, e m abril de 1959 .

"Cultura" que tende para o demoníaco

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Comportamento

PuNIO Co1rnftA OE OuvEIRA escreveu Revolução e ContraRevolução em 1959. D esde então, essa obra teve três edições em português, nove em espanhol, três em italiano, três em ingl ês, duas em francês e uma em romeno, num total de mai s de l 00 mil exemplares. E stamp ada originalmente em Catolicismo, foi transcrita na íntegra ou parci almente em revi s t as d a França, Itá I i a, E spanha , Argentin a, C hil e e Angola. É o livro de cabeceira dos s >cios, cooperadores · coi-rt·spon dent es da TFP hrasikira, h l' II I como dos llll' lllhrns das <H II Ias TFPs l' t'lll idadt·s 11 1'i11s 110s 1"i11 l'O \"0 111 i ll\' 111 \'S,

A arte de conversar

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Em Tempo e Destaque

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Hagiografia São Benedito, patrono da raça negra

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Verdades Esquecidas

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Escrevem os leitores

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TFPs em ação

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Ambientes, Costumes, Civilizações Si vis pacem, para bel/um

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Nossa capa: reprodução da face da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Direto r: Pa ulo Corrêa de Brilo Fi lho Jornnlls tn Responsá vel : Mariza Mazz illi Costa do Lago • Registrada na ORT-SP sob o Nº23228 Redação e Gerén cla: Rua Martim Fra ncisco, 665 01 226-00 1 São Paulo, SP - Te l:(0·11) 824-941 1 Foto litos: Mic roformas Fol olitos Ltda. Rua Javaés, 681 01130-010 São Paulo-SP

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CATO LI C ISMO , OUTUBRO 1995

ASSINATURA PARA O MÊS DE OUTUBRO DE 1995: COMUM: R$ 40,00 COOPERADOR: R$ 60,00 BENFEITOR: R$ 120,00 GRANDE BENFEITOR: R$200,00 EXEMPLARES AVULSOS: R$ 4,00 N.B.- O que exceder ao valor da assinatura comum é um donalivo para a difusão de Catolicismo e para as atividades eslatutárias da TFP

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..--~ NA. C íONAL ._r,.,._ ~

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As esqUerdas estão sem rumo Líderes da esquerda reconhecem que perderam o rumo. Pode-se concluir que o comunismo morreu?

A

queda do Muro de Berlim deixou patente para o mundo inteiro o fracasso do socialismo nos países de além Cortina de Ferro. Na E uropa, a repercussão sobre as esquerdas foi imed iata. Mitterrand governava a França pela segunda vez, mas a rosa que empu nh ara com tanta euforia na sua primeira ascensão ao poder estava murcha, e o soc ialismo autogestionário estava na câmara mortuária. Fracassando na França e derrotado na Itália, o efeito dominó se fez sentir em todos os países europeus que adotaram o socia li smo "democrático". E em Portugal e na Espan ha o caminho parece ser o mesmo.

Fracassa no Brasil a luta de classes No Brasil a pregação da luta de classes encontrou uma população pacífica e ordeira, um operariado amante do trabalho , e uma classe de lavradores fiel a seus patrões. Em conseqüê ncia, os agitadores profi ss ionais não encontraram eco para a disseminação de suas idéias, e o socialismo fracassou aqui também . As greves urb anas, sempre dirigidas por um grupo minoritário , que se valia de piquetes para impedir seus colegas de trabalhar, atingiram o auge do fracasso no recente episódio do desastrado movimento paredista dos petroleiros. No campo, a falta de adesão do verdadeiro trabalhador ao Movimento dos Sem-terra (MST) fez também fracas sar a agitação. Não se conhece sequer um único caso de trabalhador rural que, aderindo às invasões, tenha querido roubar terras de seu patrão. E o lame ntáve l estado dos assentamentos de Reforma Agrária já implantados, todos reduzidos a verdadeiras favelas rurai s, comprova que somente uma população meio- urbana e meio- rural,

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Plinio Vidigal Xavier da Silveira pouco afeita ao trabalho, se deixou iludir pela promessa govcrn a me nlal ele dar terra a quem não a tem.

As esquerdas reconhecem perda de rumo Tudo isso levou as esq uerd as radicais ao fracasso nas últimas eleições. Nas comemorações cio 15º aniversário do PT, no Rio ele Janeiro, o próprio Lula se lamentou, dizendo: " ... eu era Presidente da República em maio de 94, e terminamos as eleições sem ter o segundo turno". De fato , naquela oc·as ião, as pesquisas ele opinião pública davam a ele 40% elas preferências, e acabou com minguados 18 % nas e le ições. Num ev idente desabafo, Lula declarou: "se eu fosse falar do passado das pessoas que estão aqui neste plenário, possivelmente nós termi návamos o ato como lá em São Paulo , numa choradeira coletiva. Eu acho que nós estamos num momento difícil, qu e vem se arraslando desde 1989". Em outra parte eles ·e mesmo di scurso e le falou cm uma cr ise ele "desmotivação", que parece não ter atingido somente o se u partido. Ele afirma que a igreja progressista, o movimento estudanti l, o popular, o sindical , o de mulheres e o da Saúde já foram muito mais atuantes (vide quadro ao lado). E conclui acenando para a necessidade de se encontrar uma nova utopia: "Eu acho que estamos vivendo o desafio de construir uma nova utopia. E não é apenas o PT. É importante que a gente tenha muita clareza de que o que estamos vivendo hoje, que para alguns parece uma baixa (sic), que parece que estamos retrocedendo, estamos desmotivados, não é apenas o PT'.

CATOLI CISMO, OUTUBRO 1995

O Bispo Dom Casaldáliga reveste-se de jaqueta de guerrilheiro da Nicaragua

Lula não é o único que manifesta perplexidade com a falta de rumos. Perseu Abramo, membro do Diretório Nacional cio partido, reconhece que "o PT chega a um ponto de sua existência em que é legílimo indagar sejá não terá cumprido o seu papel na história .... Hoje o PT perdeu muito do charme e do carisma iniciais" (l). Na realidade nota-se uma perda de rumos das lideranças esquerdistas, que e las mesmas reconhecem.

Também a esquerda católica Nos meios católico-progress istas o mesmo problema se manifesta de modo acentuado. Frei Betto, que sempre foi um ardoroso pregador da luta d' c lasses, abandona este velho jargão · al'irma em artigo: "Nenh11111di,1·c11r,1·011olf1ico lerá ressonân ·ia se, o~om, 11,10 passar por seguran(·a e q11ulidorf,, r/1• 11ida, defesa do 111eio a111/Jit•1111•, 1•lirn 1• .rnbjetividade, 111 f.l'lico ,, 1•.1·11iril11olidorle".

O desalento da esquerda intelectual

que estão realmente desmotivadas e sem rumos no Brasil. No resto do mundo a situação cio soc iali smo não parece meNos meios intelectuais nota-se o nos crítica. mesmo desalento. O recém-falecido Conseguirão elas encontrar um novo Prof. F loresta n Fernandes reconheceu caminho que lhes reacenda o entusiasque os partidos de esq uerda ga lgam pomo e dê novo alento às s uas bases, les ições no Legislativo e no Executivo e, vando-as até a meta final? "acomodados às normas dos partidos Não o sabemos. Uma coisa, no enft.éis à dinâmica da eslabilidade polítitanto, é certa: o ateísmo outrora era vica, dão as costas à siluação da classe vido apenas por uma minoria; hoje, quados trabalhadores .... Não há dúvida se todos vivem como se Deus não ex isde que os partidos de esquerda devem tisse. A religião vai sendo abolida das compelir pelas posições chaves dopoesco las ; e, pior do que a falta ele relider institucional .... Mas restringir-se gião, há uma espécie de pan-religião que a isto implica desislir da socialização domina as mentes. Já se perdeu a noção ideológica e política dos de baixo, e, de verdade e erro, de bem e mal. Vive-se simultaneamente, abrir mão de refora amoralidade completa. çar as facilidades do acesso do povo à O que dizer da família? Não seria cidadania mili1ante" (4). exagero afirmar que ela enfrenta seus Por sua vez, Márcio Moreira Alves piores dias. Fatores de desagregação a reconhece que "ninguém mais sabe o agridem de todos os lados. De patriarcal que é ser de esquerda hoje em dia" (5). e la passou a nuclear, e hoje está quase Essa série de declarações ele elemenreduzida a uniões efêmeras e instáveis. tos marcantes nas esq uerdas brasileiras E a propriedade privada? Diluiu-se. indica que a voragem cios acontecimenPior do que os roubos e assaltos, é o falo tos em nosso País e no mundo as deixou de o senso do direito de apropriação estar sem rumo. Para onde e las andarão? desaparecendo. Já não se condena com tanta veemência a agressão a uma proSe a esquerda está sem priedade. Em alguns casos, ser honesto e rumos, o comunismo correto é tido por muitos como tolice. morreu? Isto leva a uma conclusão que é necessário ressaltar e repisar: apesar da Em suma, as esquerdas reconhecem perda de rumos das esquerdas, o comunismo não morreu. "Comunismo" é apenas um rótulo. O seu conteúdo, que é o mais importante, é o "É UM PROBLEMA HISTÓRICO QUE ESTAMOS VIVENDO". que está hoje batendo em nossas parlas. Portanto, não nos "Afinal de contas a igreja progressista já , - - - e , iludamos. Não podemos acrefoi muito mai s atuante do que hoj e. Afinal de ditar na sinceridade ela "concontas o movimento popu lar já foi muito mais versão" cios ex-comunistas, atuante do que hoje. Afina l o movimento sincomo não podemos admitir dical já foi muito mais atuante do que hoje. O que a Rússia se converteu. movimento estudantil já foi muito mais atuE porque os homens não ante do que hoje, o movimento das mulheres m4daram de vida, não abanjá foi muito mai s atuante do que hoje, o modonaram seus maus costumes, vimento pela saúde já foi muito mais atuante não se voltaram para Deus, o do que hoje. Então, não é um problema apeanúncio do castigo para a hunas do PT. É um problem a histórico que manidade, previsto por Nosestamos vivendo. Possivelmente de defasasa Senhora em Fátima, contigem, de falta de reciclagem, de todos nós que nua mais atual do que nunca. participamos da igreja progress ista, dos sindicatos, dos movimentos populares e dos mai s Notas: diferentes grupos soc iais que existem hoje I. Cfr. "Folha de S. Paulo", 10.2.95. 2.Cfr. "Folha de S.Paul o", 20. 1.95 . nesle país" (Discurso de Luís Inácio Lu la da 3.Cfr. "O São Pau lo", 2.2.95. Silva, no Rio de Jane iro, por ocas ião do 15º L..:,._ _-..1..._ __ . _ . _ 4.Cfr. "Folha de S.Paulo", 7.8.95. Lula chora em encontro do PT no Rio aniversário do PT). 5.Cfr. "O Globo", 12.03.95.

Reconhece igualmente o fracasso dos petistas que galgaram postos políticos e se deixaram levar pelos mimos ela complacência: " Lideranças populares trocaram a fav ela p elo gab in ete, as pixações pelas inaugurações, o ônibus pelo carro oft.cial, a reivindicação pela racionalização. Uma coisa é ser pedra; outra, vidraça. Algumas lideranças.ficaram de salto alto, abandonaram o trabalho de base e de organização dos núcleos partidários, mantendo relações de cliente/ismo com a população". Frei Betto lame nta a inda a falência do socia li smo e a conseqüente falta ele rumos em que ficam seus adeptos: "Com o andar da carroça as abóboras se ajeitam: bastava defender o socialismo. Porém o socialismo.faliu no Lesle Europeu, a polílica exige alianças e nada indica que a via instilucional ruma na direção do socialismo" (2). Nesse conjunto se destaca uma voz que, dos escombros de uma ev idente derrota, parece cont inuar aferrado às antigas idéias, e convencido de que o seu sonho socialista ainda irá se realizar. É Dom Pedro Casalcláli ga, Bispo de São Félix do Araguaia (MT), que no passado se fez fotografar em trajes de guerrilheiro, e hoje declara que "somos soldados d e rrotados de uma causa invencível" (3) .

LULA:

LlJIL._

CATOLIC ISMO, OUTUBRO 1995

__,__ _ _ __ _ J

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A Realidade

... J

-- ... · ~,...• --- ..... -- 1• .....

O MST aderiu à\ informática! O Movimento dos Sem terra (MST), através de um de se us líderes (esco lhi do por aclamação ou e leições diretas e secretas, ninguém sabe), acaba de reve lar que no Ponta l de Paranapanema, Estado de São Pau lo, cerca de 5.000 la vradores estão preparados para invad ir uma extensa área. O MST garante que não corre o risco de beneficiar pessoas estranhas, pois encon-

Brasil Real Brasil Brasileiro

tra-se informatizado, a fim de evitar penetras. Um computador tem o cadastro de todas as famílias , com dados sócio-econômicos sobre cada uma delas ...

Geraldo Martins

Quem deu dinheiro para comprar computadores , pagar programadores de informática e di g itadores, o MST não in forma. Mas tudo indi ca que sem- terra não sig nifi ca necessariamente sem-dinheiro.

Linguagem que encobre a realidade Contra a bomba atômica da China, uma reação atenuada O mundo quase caiu em cima da França quando o presidente Chirac anunciou o reinício de testes atômicos no atol de Murnroa, no Oceano Pacífico. Houve manifestações em cadeia contra a França, desde as vizinhas Austrália, Nova Zelândia, Fiji e Japão, até os países europeus. E sanções comerciais já foram efetivadas contra o governo de Paris. Chirac manteve sua decisão e passou a ser o "vilão atômico". Não obstante, nos últimos dois meses, a Chi-

na comunista detonou três bombas atômicas numa longínqua região do interior, e já anunciou mais quatro testes nucleares até o final de 1996. Houve uma série de protestos do mesmos países que hav iam reclamado contra a França. Contudo, estranhamente, nenhum deles ameaçou qualquer boicote contra produtos made in China . Quem pode e ntend e r essa política de dois pesos e duas medidas?

Revista c io nal , em ge m, trata vivendo no

de circulação narece nte reportasob re brasileiros exterior.

Relata o caso de um de les, que deixou no Brasil mulher e filhos e passou a trabalhar com o um mouro, env iandolhes metade dos suados 4.000 dólares de seu sa lário men sa l. A esperança era poder construir casa própria. As suspe itas de que a esposa não punh a o dinheiro na poupança foram a um e ntando, até que um dia um conhecido de sua própria c idade confirmou que e la hav ia arrumado um namorado com o qual esbanjava o dinheiro. Revoltado, o brasile iro mudou -se para o utra c idade, não mais deu notícias e cessou as remessas para a mulher infi e l. Mas na nova

cidade arrumou e le também uma namorada. A revi sta, ao noti c iar esse triste caso de infidelidade conjuga l recíproca (com evidente agravante para a esposa), utili za um vocabulário de mo lde a não chocar os leitores: desde quando adultério pode ser encoberto pela palavra namoro? O compromisso da mídia com a verdade não fica assim comprometido? O noticiário não deve ser mascarado por eufem ismos, os quais - quem duvida? têm segundas inte nções. Assim, cham ar de namoro um adultério e de namorada a adúltera ou concubina não é serviço honesto ...

Latim, língua popular na Finlândia O mundo moderno tem coisas espantosas. Enquanto países de línguas neolatina (como o Brasil) baniram estran hamente o ensino do Latim nas escolas, cortando uma ligação hi stórica de grande e inconteste valor cultural , a Finlândia dá exemplo contrário. A Rádio Nacional finlandesa tem produzido e transmitido um noticiário semanal intitulado "Nun tii Latini" (Notíc ias em Latim). O prog rama possui admiradores que se manifestam através de

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Brasilidade, essa nota indefinível

CATOLIC ISMO , OUTUBRO 1995

muitas cartas - freqüentemente escritas em Latim! - provenientes de mais de 50 países, desde a Argentina até a Argé1ia . Nesse programa noti cioso, ne m sempre o Latim c lá sico se encaixa à linguagem atual. Por exemplo, nocaule transformou-se em ic /11 ullimo co,~/ eclus, ou seja, derrubado com o 1ílli1110 soco; exame ullra-,1·0111 passou a ser exp lorali o 11l1rasonica; e for11111 Ot"Ml'11/ari111n substitu iu lll l'/"COrfO dt' fl{'()eS.

Conheço brasileiros de todas as latitudes e long itudes, e sempre me maravilhe i com um fato que todo mundo toma co mo trivial. Em nossos 8,5 mi hões de quilômetros quadrados temos recebido imigrantes de todas as partes do mundo. Não obstante a heterogene idade racia l, que inc lui desde o índio nativo, o português co loni zador, o negro africano, a lém das várias correntes imi gratórias, acaba sendo que os filho s da imigração, chega ndo ao Brasil, não têm vontade de deixá- lo. Em pouco tempo se ntem-se de ta l modo brasileiros, que ficam magoados se alguém lhes nega esse tratamento. Até ni sto se mostram abrasil eirados, pois ficar sen1ido é carac terística nac ional , que percorre o país de ponta a ponta. De mane ira que so ma, subtrai , mi stura - sem nunca contundir ninguém - o que sai é uma prodigiosa sí ntese chamada brasi I idade.

A bonomia nacional Nisto nosso País revela uma força aglutinadora incessantemente at iva e invencíve l. Esta coesão é tão forte que, ao se conversar co m alguém do Amazonas, de Santa Catarina, de Minas ou do Nordeste, quase não se percebem as difere nça .. E o mais notável desse fenômeno é que o tom predominante de tal síntese é dado pela bonomia portuguesa: o Bras il ama os que aqui aportam e sabe faze r-se amado por e les. A brasilidade é uma nota indefinível: no fundo dela há algo que vai penetrando, penetrando, penetrando como o aze ite derramado sob re uma folha de papel, s il enc iosa mas irres istivelmente!. .. Esta bonomia resiste incólume, apesar da enigmát ica e art ifi cia l pressão do caos moderno, que a tudo convulsiona. Não há entre nós o receio de que os imi grantes façam fortu na aqui e vo ltem para suas terras de origem . Se os pais voltarem, os filhos sentirão saudades -

sentimento e 111 i nenteme nte brasileiro - e retornarão. Isto é a tal ponto verdadeiro que co nti nua atual , depois de mai s de me io século, a arguta observação do escritor a lemão Stefan Zwe ig: "Como se poderá co ns eg uir no mundo viverem os en/es humanos pacijtcaEm gravura de Debret, do Rio de Janeiro (séc.XIX), transparece a menle uns ao bonomia, uma das características da brasilidade lado dos outros, não obstante a diferença de ra ças, clasvou magis tralmente o Prof. Plinio Corrêa ses, etc.? É o problema que se apresenta de Oliveira, em grandioso discurso proa toda nação. A nenhum país esse proferido diante de mai s de um milhão de blema se apresenlava mais perigoso que pes soas, por ocasião do Congresso ao Brasil, e nenhum o resolveu de uma E ucarístico Naciona l de 1942, transmitimaneira mais feliz e mais exemplar, que do pe lo rádio para todo o Bras il: requer não só a atenção, mas /amb ém a "Produto da cultura latina valorizaadmiração do mundo. O Brasil, pela sua da e como que transubslanciada pela inestrutura etnológica, se ti vesse aceito o fluência sobrenalural da Igreja, a a lrna delírio europeu de nacionalismos e rabrasile ira resulta da /ransp lantação, ças, seria o país mais desunido, menos para novos climas e novos quadros, dos pac(fico e mais in/ranqiiilo do mundo" ( 1). valores definitivos e elernos, que preciMas não tenhamos ilusão com expli samente porque definitivos e eternos, cações naturali stas, por mais brilhantes podem ajustar-se a todas as circunslânque sejam. Essa admirável nota de união cias contingentes, sem perderem a idendada pela brasilidade é fruto da ação da lidade substancial consigo mesmos. Temgraça divina, obtida por intercessão da po houve em que a História se pôde Virgem ]maculada, com vistas à vocação intitular "Ge~ta Dei per Francos": dia providencial que Deus reserva ao nosso virá em que se escreverá "Gesta Dei per País. Brasilienses "(2). É co m o coração e os olhos postos na "Gesta Dei per celestial Rainha da Terra de Santa Cruz, Brasilienses" que rumamos decididamente em direção Atuando à maneira do verniz sobre a à reali zação desse precônio de tão insigmadeira, que põe em relevo as peculiarine brasi le iro. dades desta, os efe itos do batismo agiram Notas 1) Stef"a n Zwei g, Brasil. Paí.,· do Futuro, Ed.Nova Fronteisobre as qualidades nativas de no sso ra. 1978, S. Paulo, p.13. povo, harmon izando-as maravilhosamen2) Cfr. ··o Lcgion,\rio··. Siio Paulo. 7-9-42. te com as notas psicológicas próprias de N.da Redação: ''Gesta Dei per Franco.,·", '·As ações de cada corrente imi grató ria. É o que obserDeus rea lizadas através dos francos".

CATOLICISMO , OUTUBRO 1995

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f~e~

Discernindo, distinguindo, classificando...

em painef

"Cultura" que tende para odemoníaco

Face aos grandes perigos, só há salvação na grandeza Charles De Gaulle

Certo

Já alcançaram ampla cidadania setores da sociedade atual engajados

O medíocre entende por bom senso a negação de tudo o que é grande

em um processo de "monstrificação"

Ernest Hello

escritor francês, do século

passado, descreve um estranho personagem. Trata-se de um homem que, Lendo experimentado todos os prazeres que a vida oferece, mesmCi os antinaturais, farto de todos eles, procurava a felicidade no masoquismo. Fazia-se amarrar e chicotear até verter sangue e prorromper em gemidos. E pagava para isso.

fernais". Vejamos o texto. * * * "A loucura começa. Preso em carreias, p endurado a meia altura, estamos à mercê de espíritos tentadores que surgem da escuridão. Música

Esse extremo de horror a que pode chegar uma pessoa é menos raro do que se imagina . Cada prazer intemperante pede um outro ainda mais aliciante, mai s vibrante, mai s frenético, até atingir o paroxismo do desejo da tortura. Uma situação que tem óbeletrônica fantasmagórica, perfumes vias semelhanças com os sofrimentos do inebriantes, narrações sussurradas de próprio inferno. Indivíduos assim os houve em todas fantasias eróticas e suaves carícias assaltam os sentidos. Repentinamente as épocas. Constituem um sintoma vivo uma criatura satânica aparece, meio da degradação a que pode chegar a nahomem, meio figura de vídeo. Uma voz tureza humana, quando se afasta dos ensurdecedora adverte dos perigos que caminhos da moral católica tradicional. O que nossa época tem de peculiar é · nos aguardam durante a jornada que começa. que agora não se trata de tarados ou "Trata -se da 'Grande viagem de " monstros" isolados aqui ou ali. Mas é Merlin', um mergulho de cinco horas numeroso o filão de pessoas que caminum mundo de magia, com um investinham nessa direção, ou seja, na direção mento de um milhão de dólares em trada " monstrificação". E ele já alcançou j es, palco e efeitos especiais. As apreampla cidadania. sentações começaram em junho passaA tal propósito, e apenas como exemdo, num subúrbio em S. Paulo. plo, convém ter em vista o que acontece em "O show tem início numa área de peça de "teatro interativo" no Brasil, conconstrução abandonada, onde os esforme attigo da revista "Time", de 7-8-95, não mais que 30 por com o significativo títuJo de "Delícias ln- pectadores -

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CATOLI C ISMO , OUTUBRO1995

vez, e pagando 50 reais de entrada colocam botas de borracha antes de ocupar o 'vagão multimídia', suspenso no teto, para um percurso de meia hora de tormento e prazer. Quando as portas se abrem, somos lan çados nas profundezas do inferno. O palco para o nascimento de Merlin é um depósito de lixo, do qual se desprende cheiro nauseabundo, rodeado por dezenas de tochas. "Zu mbis conduzemnos a tenebroso cemitério, onde, de ce rto ca ixão aberto, provém arrepiante convite. Outro espectador é preso em jaula com estranho anima l sensual e selvagem. Outros unem-se à tétrica procissão religiosa carregando um saco, dentro do qual apavorante demônio esguicha veneno. Dois atores, unidos estreitamente, se transformam num ente hermafrodita." *

* *

Dirá algum otimista inveterado, desses para os quais o mundo pode cair que não se incomodam, contanto que não afete sua vidinha: "Não dramatizemos,

trata-se de um mero show". Na verdade, toda expressão cultural reflete a alma daqueles que a produzem ou a ela se associam. E uma sociedade, da qual um veio numeroso de pessoas tende para o monstruoso e o demo níaco, está a um passo de fazer desta Terra uma imagem do próprio inferno.

O privilégio dos grandes homens é de dar trancos em seu século Luís XVIII

Cem anos depois da morte , a maior felicidade que possa acontecer a um grande homem é de ter inimigos Stendhal

Não há coisa que se pague com preço mais caro do que a grandeza. Ela não seria grandeza, se fosse possível ter grandeza sem ser um crucificado Plinio Corrêa de Oliveira

A verdadeira glória e grandeza não nascem senão da dor Pio XII

,

A

...

Futebol e neopaganismo homicida

primeira vista, a cena que o leitor tem diante de si poderia ser a de uma briga entre duas gangues de marginais. Se o fosse, certamente não seria muito diferente a san ha dos contendores.

16 pessoas foram assassinadas em brigas travadas entre torcedores de diversos times ...

Nota-se que muitos deles enverga m cam isas futebolísticas, travando-se a "batalha" num gramado.

Dessa fúria assassina, a décima sét ima vítima - que pode ser entrevista na foto, estendida no campo entre dois grupos rivai s - é um jovem de apenas 16 anos.

Teria o espetáculo esportivo cedido lugar a outro tipo de "esporte", em que a bola foi substituída por paus e pedras? Teriam sido restauradas em nossos estád ios as cenas dos anfiteatros romanos, de g lad iadores di sputando com lanças e espadas? Não. Trata-se "apenas" de manifestação violenta de duas torcidas de clubes de futebol.

Sofreu ele traumatismo craniano ao ser atingido por pauladas, ao final de jogo realizado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, em agosto último. Não reverteu de um coma profundo, vindo a falecer oito dias depois da violenta agressão. O principal acusado, de 20 anos, declarou a um repórter, após a briga, que não se importava com a morte de outros torcedores.

Embora os combates de g ladiadore s tenham s ido s upres sos no séc ulo IV, quando o Império Romano foi cristianizado, os mesmos instintos sanguinários parecem renascer hoje nessas torcidas organizadas. Nos últimos quatro anos, só nas cidades de São Paulo e Rio,

Qual a lição a ser tirada dessa trágica ocorrência, e cujo bal anço totalizou um ' ã; "E o morto e oitenta populares fe'-' o ridos? ~ i Nossa sociedade revive o paganismo antigo, do qual ~ essas disputas violentas e fúteis de torcidas são mai s um exemplo flagrante.

i

C.A.

CATOLIC ISMO, OUTUBRO 199


ENTREVISTA

CônegO José Luiz Villac fala sobre a Campanha de Fátima res, que não obrigam de modo absoluto a fé cios fiéis, são no entanto numerosíssimas as aprovações que receberam da Igreja, inclusive dos Pontífices Romanos. O atua l Papa João Paulo II tem -se mostrado assinalado devoto de Nossa Senhora ele Fátima.

Acampanha de difusão da mensagem de Fátima, que tem por lema

"Vinde, Nossa Senhora de Fátima, não tardeis", promovida pela TFP e fe ita através de técnica de comuni cação, conhecida por mala direta, conta com a va.liosa colaboração do Revmo. Cônego José Luiz Marinho Villac. E le foi entrevistado no Secretari ado gera l da campan ha, à Rua Dr. Martinico Prado, 27 1, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo.

Catolicismo - Como surgiu a idéia de difundir a mensagem de Nossa Senhora de Fátima através de m.a/a direta ? Cônego José Luiz - Quando ele minha ordenação sacerdota l a 1º de

* * * Catolicismo - V. Revma. sempre se interessou pela mensagem de Fátima? Cônego José Luiz - Desde minha

dezembro ele 1957, receb i do meu padrinho de ordenação, o Prof. Plinio ; Corrêa de Oliveira, um conselho que ; jamais esq ueci. Disse-me e le: "Pa-

primeira juventude, tomei conhecimento da mensagem e das profecias de Nossa Senhora de Fátima. Elas sempre me chamaram muito a atenção, pela relação direta com toda a crise pela qual passa nossa tão sofrida Cristandade. Já no Co légio São Luiz, dos padres jesuítas de São Paulo, onde eu participava da Congregação Mariana, fazíamos estudos dessa mensagem e tínhamos grande devoção à Virgem ele Fátima. Ajudaram-me principalmente a compreendê- la mais profundamente as esc larecedoras e ardorosas conferências pronunciadas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, de quem tenho a honra de ser um admirador caloroso, e le itor assíduo de seus escritos desde aquela época. E le sempre nos mostrou - corno o faz, por exemplo, em sua grande obra

Revolução e Contra-Revolução -

a

profunda relação da decadência moral , fami li ar etc., pela qual passa o mundo contemporâneo, com a crise religiosa. Estou firmemente convencido de que só Nossa Senhora poderá tirar o Brasil e o mundo da profunda e caótica crise religiosa e mora l em que estamos envo l-

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vidos. As demais crises são todas conseqüência dessa. A razão pela qual insisto em que se conheçam a mensagem e as profecias da Virgem de Fátima é que elas constituem a explicação mais cabal da crise pela qual passam a Santa Igreja, o Brasil e o mundo. A mensagem contém uma grave ameaça: Se os homens não atenderem os pedidos da Mãe de Deus ... várias nações serão aniquiladas. E também uma grande e confortadora promessa: " Por ftm o

meu Imaculado Coração triunfará" .

"Vimos o grande enlevo que têm os brasileiros pela Virgem de Fátima. Constatamos que muitos tinham um conhecimento apenas superficial da mensagem" Embora as aparições ele Fátima estejam no rol elas revelações partícula-

CATO LI C ISMO , OUTUBRO 1995

dre José Luiz, seja um apóstolo de Fátima!"

Em 1992 recebi um convite da TFP, que muito me honrou , para ser o coordenador da presente Campan ha. Vi nisso um sinal da Providência, que colocou em minhas mãos os meios necessários para fazer bem a tantas almas. Aceite i o convite e pusemo-nos a trabalhar para g lorifi car a Santíssima Virgem e defender o Brasil contra os malefícios morai s que a cada dia lançam mais almas no abismo da in credulid ade, da devassidão, das drogas etc. Logo no início da Campanha vimos o grande enlevo que têm os brasileiros pela Virgem de Fátima, como també m constatamos que muitos tinham um conhecimento apenas superficial ela men sagem da Mãe de Deus. A melhor maneira de sanar essa falha nos pareceu ser a difusão em grande escala, através de mala direta, da excelente obra do Dr. Antonio Augusto Borelli Machado, que contém o essencial da mensagem, apresentada com simplicidade e meticulosa exatidão histórica. Para tal foi elaborado um folheto

com a foto da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que verteu lágrimas milagrosamente em Nova Orleans (Estados Unidos), no qual se oferece o livro. Esse folheto tem alcançado grande sucesso, pois são vários milhões distribuídos em todo o Brasil. De centenas de cidades do Brasi l, pessoas nos escreveram pedindo o livro ou uma estampa da milagrosa Imagem. [sso já é um grande êxito, graças a Deus.

Catolicismo - Esse êxito já just(fica a campanha ? Cônego José Luiz - Sim. Mas é apenas o começo. Gostaríamos de levar Nossa Senhora de Fátima a todos os lares do Brasil. Amigos ele outros países também se entusiasmaram, e querem propagar a devoção a Nossa Senhora de Fátima entre seus compatriotas. Catolicismo - V. Revma. tem encon-

trado apoio no Clero? Cônego José Luiz - Recebemos expressiva carta do Emmo. Cardeal Silvio Oddi, que ocupou altos postos no Vaticano, e que é atualmente legado apostólico para o santuário de São Francisco de Assis, e m Roma. Ele louvou nossa Campanha nos seguintes termos:

Cônego José Luiz - Além da divulgação do livro, para que nossos irmãos tomem conhecimento dos pedidos e admoestações de Nossa Senhora, queremos levar os fiéis a co locarem paulatinamente em prática as palavras da Virgem Santíssima.

"Estou firmemente convencido de que só Nossa Senhora poderá tirar o Brasil e o mundo da presente crise religiosa e moral" .Desejamos ver Nossa Senhora reinando em todos os lares cio Brasil. Um primeiro passo para isso consiste na distribuição de uma estampa ela Santíssima Virgem , tamanho 20x30 centímetros, com os dizeres: "Nossa Senhora de Fá-

tima, protegei nossa Pátria e abençoai nosso lar". Nós a envi amos gratuitamente àqueles que desejam ter Nossa Senhora como Rainha de seus lares. Essa imagem eleve ser entronizada na sa la principal da casa.

"Causou-me grande contentamento saber da importante campanha 'Vinde, Nossa Senhora de Fátima, não tardeis', orientada pelo sr. e promovida pela TFP brasileira, bem como do êxito que a Providência vai lhe proporcionando. "Peço- lhe que faça chegar aos coordenadores da mesma, e a todos os que dela participam a qualquer título, a minha bênção e o meu empenhado desejo de que esta campanha possa se desenvolver ao máximo, pois os seus obj etivos são altamente proveitosos para as almas católicas".

No dia 13 de cada mês, celebro o Santo Sacrifício da Missa por todos os participantes desta benemérita campanha . Também nesse dia os coordenadores da campanha promovem uma singela cerimônia diante de uma imagem de Nossa Senhora ele Fátima. É recitado um terço e realizada a queima dos pedidos feitos à Virgem de Fátima pelos participantes ela campanha, provenientes das mai s diversas regiões do Brasil. Catolicismo - V. Revma. pode nos

falar um pouco mais da expansão da campanha? Cônego José Luiz - Iniciada em 1992 a divulgação da mensagem de Fátima por mala direta no Brasil, hoje ela j á se expandiu por vários outros países. O folheto já é distribuído pelas TFPs da Espanha, Portugal, França, Itália, Estados Unidos, Argentina e Equador. Essa grande divulgação da mensagem de Nossa Senhora de Fátima, em nível internacional, corresponde a um anseio do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, movido por sua grande devoção mariana.

Catolicismo - O Sr. Cônego poderia detalhar um pouco a campanha de difu são da Mensagem de Fátima através de mala direta? Cônego José Luiz - O primeiro passo é fazer com que as pessoas tomem contato com a substância da mensagem de Nossa Senhora,, através da distribuição ele um folheto, do qual já foram feitas várias edições. Inúmeras graças têm sido recebidas a propósito dele. Uma senhora nos esc reveu :

Além disso, no Brasil, muitos re li g iosos, graças a Deus, têm -se empenhado em difundir a mensagem de Fátima através de nossa campa nha.

Catolicismo - A campanha consiste apenas na divulgação do livro ?

Se os devotos da Virgem de Fátima que assinam Catolicismo quiserem ter a esta mpa e m suas casas, podem pediJa. Com muito gosto os atenderemos.

Queima de pedidos todo dia 13 de cada mês

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"Só a frase contida neste folheto 'Olhe fundo nesse olhar e deixe que esses olhos vejam você', só esta .fi·ase livrou minha família de uma catástrofe" .

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Depois, os parti cipantes da campanha recebem uma bela estampa da face da Imagem de Nossa Senhora de Fátima '\ ,. para ser entron izada nas casas. E a "Campanha Nossa Senhora em cada lar ". M ilhares de lares no Brasil j á a entronizaram. Prov idenc iamos também o envio de um be lo li vreto conte ndo um método para se recitar o Santo Rosário. Há grande interesse do públi co pelos métodos trad icionais de oração, ao mes mo tempo que se nota certa falta de objetos de piedade, tão necessários para atender a um dos pedidos de Nossa Sen hora, que é a recitação di ária do terço. Aliás , a carnpanha tem se sustentado graças a contribuições vo lu ntárias de seus partic ipantes. Isso nos tem poss ibilitado fazer o e nvio gratuito de todo o materi a l de ma la direta, além de manter os necessários serviços de atendimento . Catolicismo - Com que olhos de vemos ver a crise de proporções apocalípticas que estamos vivendo? Cônego José Luiz - Podemos dizer com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que "para além da tristeza e das punições suprernamente prováveis para as quais caminhamos, temos diante de nós os clarões sacrais da aurora do Reino de Maria: 'Po r jtm o meu Imaculado Coração triunfará'. É uma perspectiva grandiosa de universal vitória do Coração regw e mate rnal da Santíssima Virgem. É uma promessa apaziguadora, atraente, e sobretudo majestosa e empolgante" . É essa certeza da vitória da Virgem Santíssima que queremos levar a todos os brasileiros através da campanha "Vinde, Nossa Senhora de Fátima, não tardeis". ~

"A perspectiva grandiosa de universal vitória do Coração régio e maternal da Santíssima Virgem é uma promessa apàziguadora, atraente, e sobretudo majestosa e empolgante" Catolicismo - E quanto a cartas, o que V. Re vma. poderia dizer para nossos leitores?

Cônego José Luiz - A campanha tem recebido cartas de nossos benemér itos partic ipantes, as quais atesta m, de modo impressionante, as inúmeras graças que a Santíssima Virgem vem distribuindo. À guisa de amostra, eis trechos de algumas delas: Amazonas "Li com muita atenção a sua carta que muito me comoveu. Gostaríamos de ajudar na distribui ção dos livrinhos, por isso pedimos que nos mande 10 exemplares. Envie também folh etos que dizem: 'Olhe fun do neste olhar. .. ' Rogamos a Deus para que seu trabalho possa progredir para o bem dos nossos irmãos e das.farnílias em geral". Minas Gerais "S,: Cônego, as suas cartas são maravilhosas. Elas transmitem grande entusiasmo, grande .firmeza e esperança. O Senhor tem o poder de empolgar a todos que têm a honra de receber a sua palavra sobre a Virgem de Fáti,na". Paraná "O Sr. não imagina o quanto este livrinho me ajudou a resgatar aquela fé que aprendi a ter desde criança e já estava a ponto de abandonar. Agora a leitura desse livrinho serviu para completar tudo o que .faltava para que eu entendesse a devoção a Maria". Rio de Janeiro "Fico satisfeita ao ver pessoas que querem ver o mundo do jeito que Deus criou. Vejo que nem tudo está perdido, como eu pensava ao ver meus amigos de 13, 14 anos se prostituindo, se drogando ... Obrigada, muito obrigada mesmo, parece que uma luz acaba de surgir. Que Deus abençoe a todos os teus amigos. Agradeço por despertar em mim um pouco de esperança, que tanto peço a Deus antes de dormir e ao me

levantar. Peço isto com muita fé, e por estas lágrimas que do meu rosto escorrem, espero que minhas preces sejam atendidas". "Quero aproveitar esta para di ze r que, através de um dos livros que pedi, assisti a uma conversão. Que a Virgem Maria continue me qjudando neste sentido, fa zendo desta pequena serva uma pescadora de almas".

Santa Catarina "Quero fa zer parte dos propagandistas de Fátima. Eu me senti tão honrada em ser convidada pelo Senhor a participar deste ato tão lindo e de tão grande importância para toda a humanidade. Prometo dar o máximo de mim, para divulgar cada vez mais as mensagens de Fátima no meu bairro".

Nossa Senhora de Fátima conquista as almas dos brasileiros Marcos Garcia

Durante o verão de 19 16, em Fátima, Portu gal, co meça m a dar-se fenô menos sobrenaturai s de um grand e s ignificado. Numa g ruta do outeiro do Cabeço, perto da a ld eia de Alju stre l, fregues ia de Fátim a, o Anj o de Po rtu gal a parece pe la prime ira vez a três pastorinhos que brin cam in oce ntemente. O co ntraste não poderi a se r ma ior nem a cena mais poéti ca. De um lado, a lvíss imo e cri sta lin o, de um brilho in ex istente na Terra, co m um se mblante ex traordin ari amente belo, o porta- voz do Cé u se torn a, de repe nte, vi sív e l. De outro lado, as três crianças pobres, a nalfa betas, descal ças, em traj es comun s, te ndo co mo úni ca riqu eza a Fé Cató li ca qu e lh es ado rna a a lma. Cheias de espanto e admiração, co meça m elas a tes te munhar as primeiras ma ni festa ções da impress ionante me nsage m de Nossa Senh ora co muni cada aos ho mens. A Virgem Santíssim a co meça, ass im , a desdo brar um plano que seu des velo materno enco ntro u pa ra advertir o gê nero hum ano e te ntar ev ita r-lhe um a qu eda se m precedentes.

A gravida de da advertência

São Paulo "Por bondade de Maria, foi o meu lar pre111,iado pela introdução da estampa de Nossa Senhora em cada lar. Senti corno se fosse a própria Virgem de Fátima que naquele momento entrava e abençoava toda minha família" . "O meu muito obrigado por o senhor ter colocado o meu nome como 'Participante Benemérito' na divulgação nacional da mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Sinto-me tão.feliz, é como que meu nome esteja escrito no livro da vida".

Co mo términ o de s uas mani fes tações, para que os ho mens c re iam no que co nta m os pas torinhos so bre as aparições , E la faz uso do seu poder de Rainh a do Univ erso, e ordena que o sol se des loqu e em zigue-zag ue no céu - o soI "dança va", di ze m as testemunhas - e ameace prec ipi ta r- se so bre as 70 mil pessoas qu e presénciam tal es petáculo . Conh ecedora da fraqu eza hum ana como nin guém, a Sa ntíss im a Virge m, anos depois, vin ca aind a mais a verac id ade das apari ções e de s ua me nsage m produ zindo outro mil agre: ao se r exum ado o corpo de um a das vi de ntes , Jacinta, co nstata-se qu e seu rosto es tá incorrupto.

Es ta prese rv ação , que coroa a vid a de muitos santes, é um s in al a mais de qu e a vide nte não era um a visionária, e de qu e pratico u as vi rtud es em grau heró ico. A seqü ê ncia el e fa tos sobrenaturais oco rridos a partir da prim e ira apari ção do Anj o fo i o meio qu e Nossa Se nhora escolh eu para faze r sua grave ad ve rtência e indi ca r o remédi o para se evi ta r um grand e mal.

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Adesões entusiasmadas Para qu e o le ito r possa med ir um po uco os efeitos da ação dessa fi io nom ia, vamos narra r a lg un s fa tos. Quem to ma co nhec im e nto de les, fac ilme nte se dá co nta de qu e o Bras il pod e e eleve es pe rar muito de M a ri a Im ac ula da . Pod e mos di ze r co m co nfi a nça qu e No ssa Senhora el e Fát im a pre pa ra um porvir g ra ndi oso para nossa Nação. A foto dessa be ndita im age m, re prod uz id a na ca pa el a prese nte edição ele Catolicismo, começo u a ser distribuída , ele mão e m mão, em nume rosos logradouros ci o Bras il , através ele folheto , oferecendo um livro intitul ado

As Aparições e a Mensagem de Fátima conforme os rnanuscritos da Irmã Lúcia. Cen te nas de milh ares ele bra s il e iros tê m respo ndido a este folheto, e nco me ndand o o livro o u pe dind o um a estam pa da Image m Pe reg rin a qu e ver te u lág rim as em Nova Orl ea ns e m 1972.

Campanha "Vinde, Nossa Senhora de Fátima, não tardeis!"

Capa da mais recente edição brasileira do livro sobre Fátima, cuja tiragem já alcançou 2.400 .000 exemplares em nível mundial

JACINTA

A advertência não é ouvida

Ora , a rea lid ade nos mostra que os homen s não de ram ouvid os à m e nsage m de Nos sa Se nh o ra em Fát im a. Abra mos os j o rn a is, saiamo s às ru as, e ntre mos nas esco las, vejamos as vitrin es, li g uemos a tel ev isão etc. O qu e co nstata mos? N a fi s io no mi a das pess oas , predomin a m a a ng ústi a, a in ce rteza, a desilu são. Embora cercado po r toda so rte de de le ites mate ri a is, por um a lto dese nvo lv im e nto tec no lóg ico e c ientífico , por um acesso fác il a tudo qu anto lh e ev ite o sofr im ento, o ser hum ano não encontra a fe li cidade. N a bu sca desenfreada do prazer, as pessoas não leva m e m co nta se ta l pra ze r é permitido o u não pe la Le i de Deus. A s im , cada vez ma is a fe li c id a de lh es foge , as abando na. Isso é in ev itáve l! Nada pode sa ti sfaze r pl e namente a c ri a tu ra hum a na, a não se r o C ri ador. MARTO Co mo E le reve lo u a Ab raão:

"Sere i Eu mesmo a vossa re-

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com p ensa demasiadamente g r ande"(G n 15 , 1). A ma io r fe li c idade consiste em esta r in te irame nte unid o a D e us, se r um filho a mado por E le, se ntir- se ag radáve l a E le. C rimin a lid ade a la rm a nte, promi sc uid ade sex ual ge ne ra li z ada , abo rtos e m núm ero in co ntáve l, di s túrbio s mentai s em esca la nun ca vista , a prát ica da re li g ião cada vez mais rara: e is sintomas, apenas exemplificativos, da crise que asso la o mundo atua l. Um a oportunid ade de o uro a ntes doca sti go? Poré m , e m meio ao den so negrum e desta s ituação, se m que nin g uém o pud esse im ag in a r, um a lu z de espera nça brilh a no cé u pa ra todo s os bra il e iros. À med id a que se aprox ima , não só o se u brilho au me nta, co mo podemos di sce rnir o q ue é.

Tendo e m vis ta o gra nde inte resse do pú blico pe lo ass unto e a grande va ntagem que ta l ação traz , no ca mpo tempora l, para nosso País, a presente ca m pa nh a tem co mo meta rea li za r vários o utros e nvio s, id ea li zados para esse público es pecífico. Nossa Senhora em cada Lar, é o no me dado ao traba lh o ele divul gação el e um a be la es tampa el a Virgem Pe reg rin a, a se r co loca-

ela e m loca l de destaque nas casas. Já foram e nviad as para milh a res de famílias. Também está se nd o divu lgado o li v re to

Atendendo aos apelos de Nossa Se nhora de Fátim.a, um método prático para reza r o Rosá ri o, co lorid o e de formato peque no. Além di sso, o bol e tim Ecos de Fá tim a é re me tid o trimestra lm e nte para g ra nde núm ero de pessoas.

Preciosa adesão à campanha É es pec ia lm e nte a le ntado r co nstatar qu e muitos re li g io sos de ram sua adesão a essa ca mpa nh a. Em face ela g ra nd e rece ptivid ade po r parte d o público , dir-se- ia que as pessoas at in g id as pe la ca mpanh a pa rece m ve r nessa ini c iat iva um a so lu ção. Solu ção qu e fo i durante muito tempo rel ega da ao s il ê nc io, e que, le mbrad a , mostra toda sua eficác ia. E m suas apari ções na Cova ela Iri a - e ta mbé m nas posteri o res, a Jac inta N ossa S e nh ora de Fát im a adve r-

Bo letim Ecos de Fátima noticia re percussões da campanha

Cupons são recebidos com avidez pelo público , em todos os Estados

Uma fisionom ia, a ma is bondosa queim agi nar se possa , a ma is maternal que se te nh a v isto , tra ze ndo co ns igo um convite e um a g ra nd e espe ran ça . Q uem é? É E la mesma, Nossa Sen ho ra de Fá tima qu e, at ravés de sua Im age m Pe reg rin a, mil agrosa, es tend e s ua mão mi se ri co rdi osa so bre o Bras il.

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O Milagre do Sol "Eu vi e assisti!" Gilberto de Oliveira

No

dia 14 de maio último, na cidade de Lisboa, tivemos a oportunidade de nos encontrar com uma distinta senhora, que depois de narrar o prodigioso portento do milagre do sol em Fátima, por ela assistido no dia 13 ele outubro de 1917, pôde nos dizer:

"Eu vi e assisti".

tiu o gênero humano para que se emendasse. Caso contrário, Deus o castigaria. Porém, em seguida à merecida punição viria um a era histórica à qual Ela se referiu através destas s ignifi cativas palavras: "Por fim o Me u

Ima cu lado Coração triunfará".

Os dias previstos por Nossa Senhora de Fátima estarão por realizar-se? Imagine o leitor ou a leitora o profundo comprazimento dos devotos de Nossa Senhora de Fátima, ao tomarem conhecimento do verdadeiro sentido da sua mensagem , e portanto do autêntico sentido da devoção a Ela. Em outras palavras, após uma expectativa de décadas, as almas desses devotos exultam ao verem avolumar-se de tal ma neira esta onda pró Fátima, que bem pode ser o indício do cumprimento dessas benditas profecias . Una-se a nós e inscreva-se hoje mesmo em nossas fileiras . Basta preencher o cupom do folheto encartado neste número de Catolicismo. Envie o quanto antes o seu cupom preenchido.

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Lúcida, despretensiosa ao narrar o fato, com muita piedade, ela já contou o milagre ao próprio Papa, quando este esteve em Portugal visitando Fátima. De origem aristocrática, pois descende da ilustre família portuguesa dos Belmonte, Dona Ana Cabral C. Ribeiro Ferreira reside em Lisboa. Verdadeira matriarca, tem mais de cem descendentes diretos, entre filhos, neto.s e bisnetos. Tinha ela 14 anos quando, juntamente com seu pai, mãe, irmãs e alguns parentes, foi pela primeira vez a Fátima naquele remoto 13 de outubro de 1917. Desde então o prodigioso acontecimento jamais saiu de sua memória .

- Da. Ana, a Sra. foi a Fátima por ocasião de qual das aparições? Dona Ana - Fui à última aparição,

nhora. Começaram a rezar o terço conosco, e a certa altura a Lúcia, que era a mais velha, interrompeu o terço, virou-se para o povo e disse:

- Olhem para o sol! Naquela altura j á tinha aparecido o sol. Nós olhamos para ele, e o vimos andar à roda e a fazer faíscas e a descer. Apanhamos um susto enorme! Quando parecia que o sol nos ia esborrachar, caímos todos de joelhos na lama e começamos a rezar, espavoridos com a idéia que o sol... mas aquilo foi pouco tempo, e depois o sol parou . E a gente respirou fundo . Então a gente se levantou e começou a rezar, e respiramos fundo ... Vimos ele fato que era um milagre, que era o tal sinal, e acreditamos todos. Há uma outra coisa que só nós vimos. À nossa frente estava uma camponesa, com uma sombrinha enorme. Quando a gente estava a rezar, ela estava a rezar também, e tão concentrada que não prestou atenção no sol, não prestou atenção em nada. E contümou a rezar sob a sombrinha, sem se dar conta de nada, e a certa altura ela vira-se para cima sem tirar a sombrinha, e diz assim: "Ai minha Nossa

a 13 de outubro, na qual Nossa Se. nhora dizia que acreditássemos nos pastorinhos. Nossa Senhora tinha já . Senhora, meu São José, meu Menino dito, e nós já sabíamos, que na última Jesus"! E o meu pai disse: "Coitada, a muaparição Ela haveria de dar um sinal para que todos cressem que era Ela lher está tão nervosa que já vê a Saque aparecia aos pastorinhos na tal grada Família através da sombrinha". Nós respeitamos e a deixamos azinheira. E assim foi . Nós fomos para lá, e quietinha. Simplesmente Lúcia contou, posaquilo era só azinhal, não havia lá nada. Tinha lama, pois chovia, cho- teriormente, que depois de Nossa Sevia, e a certa altura abrimos alas para nhora desaparecer lhe apareceu a Sapassar os três pastorinhos, que foram grada Família. Portanto aquela campara perto da azinheira onde aparecia ponesa, com celteza, com sua devoção, Nossa Senhora , onde é hoje a não tendo visto o milagre do Sol, porque rezava recolhida, Nossa Senhora capelinha. Vimos os pastorinhos passarem premiou a devoção dela fazendo com por nós, e foram-se ajoelhar próximo que ela visse a Sagrada Família. à azinheira onde aparecia Nossa SeIsso é o que eu vi e o que eu assisti!

REPORTAGEM

Música colonial: Minas na vanguarda Cristóvão Nunes Pires

Numa

cidade tipica me nte moderna, o público acorre a ig rej as e auditórios para aprec iar obras de gra ndes composi tores bras il e iros, do período coloni al. Como vive mos numa época saturada de música rock, punk e congê neres, aiguém pode o bj etar: ex iste um a cidade com ta l público? O Brasil colonial teve grandes compositores? Obras sile nciadas por tanto tempo podem ser aprec iadas e executadas por músicos j ovens? A essas perguntas, muitas pessoas tal vez respondam: Não! Os fatos, entretanto, confirmam: Sim!

* * * Mais uma vez Jui z de Fora evocou os tempos das M in as Gerais dos amplos casarões, das belas igrejas barrocas e suas irmanclades, cujas festividades religiosas eram abrilhantadas por obras musicais de alto nível, prod uzidas por seus próprios compositores. Seus nomes começa m a ser conhec idos tanto no B ras il qua nto no Exterior, e entre e les destacam-se: José Joaq uim Emerico Lobo de Mesquita, Manoel Dias de Oliveira, In ác io Parrei ras e Pe. José Maurício Nunes Garcia. Este sacerdote foi Mestre de Cape la da corte de Dom João VI, no Rio de Janeiro, e suas composições - das quais apenas um número ínfimo é disponíve l e m gravações enquadram-se nesse estil o. Tais autores, por sua vez, receberam , através de Lisboa, intensa influê ncia da mú sica italiana. O mu s icó logo Harry Crowl, que se tem dedicado a pesquisas sobre a música colonial brasileira, ressa lta que o Rei Dom João V mandou estud ar em Roma um certo número de rnúsicos portugueses, assim como levou para Lisboa vários mús icos italianos, entre eles o cé lebre Domenico Scarl atti.

Festival De 16 a 30 de julho último, Juiz de Fora foi sede do V/ Festival Internacio-

nal de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, realçando um a fase áurea ele nossa produção artística . Essa iniciativa úni ca em seu gênero, no Bras il , apresentou vários concertos not urn os em igrej as e auditóri os - sempre com entrada franqueada ao público - ao longo de duas semanas . No período diurno sucederamse ·ex ibi ções de menor porte, algumas de las a ca rgo de a lu nos, e realizadas ao ar livre. Desta vez o Festiva l teve co mo ponto alto a exec ução das obras

Crianças têm acesso aos cursos mantidos pela Pró Música e podem participar de concertos

Matinas de Nossa Senhora da Conceição, do Pe. José Maurício Nu nes Garcia, e Missa em Fá, de José Joaquim Emerico Lobo de Mesq uita, graças aos trabalhos de pesquisa e restauração de partituras levado a cabo pelo maestro Sérgio Dias. Essas obras fora m também gravadas na capela do antigo seminário da c idade, e prevê-se para novembro a distribuição de três mil compact disks aos patrocinadores do evento e às institu ições de ensino. E também serão- postos à venda no Bras il e no Exterior.

Participação jovem Mais de quinhentos jovens músi cos, de Jui z de Fora ou de outras cidades brasil eiras, participara m do Festival, abrindo novas possibilidades para a ma ior difusão da música clássica e barroca.

A lém disso , a presença de de stacados mús icos brasileiros, a lg un s deles res identes no Exte ri or, permitiu a rea li zação de pale st ras , nas quais a nova geração podia apr im orar se us conhecimentos. Assim, aos alunos foram oferec idos cursos de apeí-feiçoamento, em ma is de trinta modalidades, incluindo espec ia li dades menos comuns, como alaúde, viola da gamba, violino barroco, ou ainda canto gregoriano e técnicas de restauração de partituras. Atua lmente o Fest ival teve am pli ado cons ideravelmente seu raio de ação, com a introd ução de compos ições de outras épocas e países, como também ex pos ições, apresentações de teses e lançamento de publicações.

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Música, a mais social das artes

Ensino O franco crescimento do número de jovens alunos de violino, violon.c.,elo, cravo, flautas e outros instrumentos ,.. deve-se tanto à qualidade quanto à gratuidade do e ns ino oferecido pela Fundação Pró Música, mantida com doações de estatais, como a Petrobrás, empresas privadas e instituições de ensino. Alguns de seus atuais conjuntos são: Orquestra de Câmara, Musica Antiqua, Cora l etc. Ao longo do ano, os vários conjuntos de música erudita apresentam concertos habitualmente em igrejas, ou ainda em fest ividades de bairros não apenas em Juiz de Fora, mas em diversas cidades mineiras e de outros Estados. A F undação também publica um jornal mensal de distribuição gratu ita, com artigos culturais e notícias sobre suas atividades (Pró Música , Av. Rio Branco 2329, CEP 36016-04 l Juiz de Fora MG).

Vasta programação O VI Festival de Música Co lonial Brasileira contou com vasta programação, que abrangeu inclusive o canto gregoriano - a música litúrgica que remonta aos primeiros séculos da Igreja, e que foi codificada, no século VI, pelo Papa São Gregório Magno - e melodi as de trovadores medievai s. Uma das apresentações de gregoriano realizou-se no rec into de uma agência bancária, durante o expediente, enquanto outra teve lugar no Mosteiro de Santa Cruz, a cargo do Pe. Piotr Nawrot, missionário do Verbo Divino, natural da Polônia e atualmente residente na Bolív ia. O Conjunto de Câmara de Porto Alegre , especializado em música medieval , surgiu a partir das au las ministradas, ainda na década de 50, na Faculdade de Filosofia da Univers idade Federa l do Rio Grande elo Sul, pe la professora Renée Lecloux sobre História ela França no século XI. Para ilustrar suas aulas, contratou e la a regente Madeleine Ruffier, que ensinou aos alunos canções daquela época. O sucesso da experiência permitiu sua divulgação extra-classe, sendo o coral posteriormente oficializado pela Reitoria ela Universidade. A partir ele 1978, o Conjunto passou a adquiri r o atual acervo ele instrumentos confeccionados fielmente segundo os modelos ela época.

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maestro Nelson Nilo Hack é professor da Universidade Federal elo Rio de Janeiro. Diplomou-se em violino e oboé pe la Escola Nacional de Música ela Uni versidade do Brasil. Regeu a Orquestra Sinfônica Brasileira e Orquestra Juvenil do Teatro Municipal elo Rio de Janeiro, e atualmente presta sua co laboração à Fundação Pró Música de Juiz de Fora.

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Catolicismo - Como o Sr. vê a crescente participação de jovens de Juiz de Fora no presente Festival ? Maestro Nelson Hack - O auspici oso a um ento deve-se, em grande parte, à existênc ia elo Centro Pró Música, c ujos diretores - o Prof. Hermínio Souza Santos e sua esposa, professora Maria Isabel ao longo dos últimos 20 anos vêm se empenhando in cansavelmente nesse trabalho . Alguns de nossos ex-a lunos têm hoje posição destacada nos amb ientes musica is europeus, o que para nós é gratificante. Além disso, há que ressaltar um aspecto a ltame nte alentador: o jovem que se dedica à música clássica, seja como músico profissional , seja como amador - isso já fo i comprovado em pesquisa feita nos Estados Unidos - não se envolve com drogas.

Concerto na Rua Halfeld, em Juiz de Fora

C. Nun es Pires

Toda a organização elo Festiva l, bem como a coordenação para que tudo funci one harmonicamente, exige um intenso trabalho de eq uipes várias . E qual é o resultado que almejamos com todo este imenso movimento artístico? Só o futuro elos jovens músicos, que aqui vê m usufruir ela orientação dos mestres, o dirá. Seja qual for o resultado, resta-nos a consciência ele son har com um Brasil melhor. Afinal é a cultura que define a qualidade

O desenvolvimento musical nas Missões dos jesuítas na Bolívia, no século XVII Em palestra na qual comunicou suas pesquisas sobre a música nas missões jesuíticas bolivianas, o Pe. Piotr Nawrot salientou que "os indígenas tinham grande habilidade para a arte musical, e que os missionários se utilizaram deste expediente para o processo de evangelização: em cada Missão havia, ao menos, 40 índios encarregados da música na igreja. Além de peças européias, acredita-se

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que os nativos tenham também executado composições próprias. "A música nas Reduções prosseguiu - era de tal qualidade que visitantes procedentes da Europa, ao escutarem-na, mostravam-se surpresos e diziam parecer estar sonhando, pois concluíam que os índios estavam no mesmo nível e, em alguns casos, eram até superiores aos músicos europeus".

de vida de uma pessoa. Cultivar a beleza é procurar a verdade, pois "a beleza é o reflexo da Verdade", conforme nos ens ina Santo Agostinho. Catolicismo - Como o S,: considera

o papel educativo e social da música? Maestro Nelson Hack - A orquestra ou o coral atendem plenamente à necessidade, que tem o ser humano, de soc iabilidade. De fato, a música é a mai s soc ial das artes. E m prime iro lugar, ela necess ita do compositor. Depois, precisa elo maestro, do inté rprete, e na hora ela apresentação precisa do público. Como hipótese, imag inemos um músico que vivesse e estudasse isoladamente, sem jamais se aprese ntar. Na realidade, e le teria uma grave lacuna, porque entre aquele que canta ou exec uta um instrumento e os seus ouvintes há uma efetiva permuta de influênc ias . Se o músico executa sua arte com perfeição , e le está entregando uma esmola ao públi co. Uma esmola, digamos assim, invi síve l, que não se toma com as mãos . Ana logamente, o artista també m recebe a sua esmola, e m retribuição: é aquela que lhe é doada pelo público, e que é para e le muito importante.

Catolicismo Sobre o canto gregoriano - que neste ano também se fa z presenle no Feslival - o que o S,: tem a di zer"!

Maestro Nelson Hack- Eu conside-

ro uma grande falha da Igreja Católica

respeito dessa capac id ade do grego ri ano ele ating ir a fundo a a lm a humana. Ministrando um c urso ele História ela Música na Escola Naval , no Rio ele Janeiro, ao preparar uma aula, gravava em minha residência algumas melodias gregori anas, para ilu strá-la. A certa a ltura, bateu a lguém à porta. Era um sen hor, meu vi zin ho, que pedia para entrar e ouv ir aque la música. Como é natural , atendi com prazer aquela solic itação. Depois ele certo tempo, ao levantar-se para sair, e le agradeceu-me e comentou: "Eu tive

hoje uma manhã muito dijTcil, mas muito diffcil mesmo. Quando passei aqui, ao ouvir esta música, meu pensamento logo se elevou a Deus. E ago ra estou com a pa z de alma recuperada ". Posso afirmar que, apesar de ter recebido uma educação luterana no Rio Grande elo S ul , onde nasci, estudei bem a fundo a Igreja Cató li ca. E u acho a Igreja Católi ca lin da. Costumo ir à Missa , mas não suporto essas músicas acompanhadas com violões etc, por serem muito vulgares. O

neg ligenciar o canto gregoriano. Que força tem o canto gregoriano! Um conjunto que canta, numa só a lm a, numa única voz! O canto polifôn ico, que surg iu após o florescimento do gregoriano, a meu ver não conseg ue o mesmo efeito. O canto gregoriano é superior ao polifônico, não obstante este ter desenvolvido a harmonia, que é tão agradáve l ao ouvido. A li ás, parece - me que um a modalidade não exclui a outra. Ou sej a, mesmo com o surgimento elo canto polifônico, não havia razões pa-ra se abandonar o gregori ano. Há a lg umas se manas , tive um a ex periência impress ionante a Concerto na Igreja Nossa Senhora do Rosário

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COMPORTAMENTO

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Haja espiões!

A arte de conversar

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título acima talvez surpreenda algun s leitores. Pode a atividade de conversar intitular-se arte? Estamos conversando a toda hora, a respeito de tudo, e algué m pretende haver nisso arte?! Não se confunda co nv e rsa com falatório. Outrora, as relações soc iai s chegaram a atingir um alto grau de requinte, de finura, e - por que não di zê- lo? - de nobreza. Aquilo que constitui um dos atributos mai s próprios do ser racional, que é a interlocução inteli gível entre indivídu os, adquiriu as características de uma arte, no seu sentido mais elevado. Como é sabido, o período cio Ancien Régime (que terminou em 1789), na França sobretudo, mas também em várias outras nações ela Europa, alcançou este alto patamar da interlocução humana, transformando-o em arte consumada. Foi no século chamado das luzes que essa arte expandiu-se por inteiro, atingindo então seu apogeu com o aparecimento cios salões de conversa , que constituíram um dos fenômenos mais fascinantes da cu ltura européia. As pessoas se reuniam cm salões tãosó para conversar, com dia e hora marcados. C laro está que não se contentavam com uma simples troca de idé ias ou, menos ainda, com uma banal permuta de palavras ou ele opiniões repetitivas, tão a gosto atualmente. Os sa lões ele conversa exi-

Guy de Ridder giam de seus freqüentadores , além de e levada cultura gera l, uma forma de apresentação do discurso que deixava transparecer ju s tamente todo o seu charme. Conversar era apresentar um assunto de modo e legante, atraente, inédito às vezes, além de profundamente li gado à realidade, podendo até mesmo ter sua nota de inesperado. Não raro, lamenta-se ter acabado o tempo em que as pessoas tinham a superioridade de se reunir para conversar sobre temas e levado s. Hoje em di a, malgrado a boa vontade de a lguns, as condições concretas da vida tornam esse tipo de arte quase impraticáve l. Justamente a tal propósito , tomei conhecimento de obra escrita por Verena von der Heyden Rynsch (Salons Européens, Ed. Gallimard , Luçon , França, 1993), que traça a hi stória dos salões de conversa e urope us, ele suas préorigens até seu desaparec ime nto no séc ul o atual, após certa agoni a.

A conversa favorecedora da cultura

Tran crevo, · e m tradução um pouco livre, trechos do capítulo final , intitul ado Último adeus a um paraíso perdido. "A vida de salão, enquan to fenôm eno cultural único, acabou no conjunto do espaço europeu. "Como encontrar, por um golpe de varinha mágica, o tempo e o local para fundar um laboratório de conversa altamente espirituosa ? A tranqüilidade necessária para usufruir isto encontra-se estrangulada pela rapidez da vida moderna. Manter um local, com freqüentadores habituais, não corresponde mais às tendências do homem de hoje, o qual, na maior parte das ve zes, atribui mais importância ao esporte e às viagens do que a dedicar-se à arte da conversa. "A conversa favorecedora da cultura, que se desenrola sem limites de tempo e sem obrigação de chegar-se a um termo de entendimento, cedeu lugar à forma A cultura através da conversa, um bem que deve ção da opinião pela mídia. A conser preservado versa recreativa deslocou-se,

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cada vez mais nitidamente, rumo a um. estilo pergunta-e- resposta. "A comunicação escrita triunfou sobre as relações que se estabelecem através da conversa. As discussões culturais são levadas a cabo, na maioria das vezes, pelas redações de jornais ou das emissoras de televisão, muito mais do que nos lares. "Acrescente-se a isso a tendência à especialização - golpe mortal para o homem comum - , que leva aqueles que estão fartos da mídia rumo a associações literárias e sessões de leituras, que têm quase um caráter de sociedades secretas. "O mundanismo, em vez da sociabilidade, é que constitui presentemente o veículo da informação. A conversa de tônus espirituoso.foi substituída pelo jargão de determinado meio. "A televisão também se apresenta, hoje em dia, como prática literária. Entretanto, tal ação permanece limitada ao entrevistador e a seus convidados; o telespectador permite passivamente que lhe sirvam a conversação até em sua própria sala de visita".

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* * Tais observações são suficientemente cogentes e explícitas, dispensando comentários. Não obstante, aproveito o ensejo para levantar uma questão. Tem-se falado, e com muito acerto, a respeito de malefícios causados pela TV, nota-damente no campo da deformação moral. Aqui a parece mais um dano, do qual se tem discorrido insuficientemente: o lento homi cíd io da formação cultural individual , qua e diria perso nalizada, pe rpetrado pela mídia ele massas. Ainda mai . do que a produção de uma cultura enlatada, como tem s ido apelidada por certos críticos, é a incapacid ade de elaborar cu ltura que nos tem s ido servida, quase impin g ida , a pr etexto de modernidade. Será que o confisco do tempo neces·ário à conversa pode ser considerado um benefício? Estou certo de que os espíritos lú cidos, que percebem as conseqüências nefastas da mass ificação cultural e m voga nos dias atuais, não terão a mínima dúvida em condenar o conjlsco do tempo destinado à conversa.

Onze milhões de pessoas eram encarregadas de vigiar e del atar seus compatriotas durante a ditadura de Josef Stalin. O número de espiões um para cada 18 habitantes - fo i revelado por um general reformado e historiador, que fez uma pesquisa em arquivos do Kreml in e da KGB. Como se sabe, 21.000.000 de habitantes da ex-URSS foram vítimas de repressão política - mortos ou enviados para campos de trabalhos forçados na Sibéria, os s inistros Gulags - entre J 929 e 1953, ano em que Stalin fo i chamado a prestar contas diante de Deus. O genera l diri giu o Departamento ele Propaganda do Exército sov iético, mas se transformou num anticomunista quando teve acesso a documentos sobre os horrores da di tadura marxista.

Euro Disney está mal das pernas

Na Alemanha, crucifixos proibidos nas escolas

As duas Disney dos Estados Unidos atraem mu ltidões todos os anos. É compreensível, num país sem tradi ções de porte como as elas nações européias. Curiosamente, o Grupo Disney dec idiu montar uma Disneylândia na França (logo onde!), repleta de castelos, palácios e atrações sem conta. Desde a inauguração há três anos, não houve um dólar de lucro. É fácil de se entender que um europeu não queira pagar para visitar um parque com um caste lo de fadas, imitação barata ele um famoso caste lo da Alemanha. Diante desse fracasso, a Eu ro Disney decidiu fazer uma grande redução no preço de entrada do parque. E então, pela primeira vez, houve um pequeno lucro.

Alegando neutralidade religiosa, a Suprema Corte Federal alemã decidiu pro ibir a existência de cruc ifixos nas salas de aulas de escolas públicas da Baviera. Ora, trata-se do estado de maior concentração católica da Alemanha. Não adm ira que o próprio governador da Baviera, e le mesmo católico, tenha dec idido ignorar a estranha dec isão judicial , sendo seguido por muitas outras pessoas colocadas em diversos níveis de autoridade. Pesqu isa recente reve la que a grande maioria da popu lação bávara é contrária à proibição. "Eu tive a experiênc ia , quando menino, de como os nazistas reri raram o crucifixo de minha sala de aula", le mbra Theo Wa igel, m inistro federa l da s Finanças.

João Paulo li: castidade, único meio de evitar a AIDS Multip licam -se, no Brasil, campanhas ele fundo laico com vistas a resolver este ou aquele problema soc ial. Tais campanhas limitam-se a explorar certos se ntim e nto s do povo brasil eiro. Muitas vezes, não só deixam de resol ver o problema que pretendem minorar, ma até o agravam. É o caso ele campa nhas contra a AIDS, que, a pretexto de evitar o contágio da mortal doença, servem para acentuar ainda mai s a dissolução dos costumes. Difundindo o uso de métodos condenados pela moral católica, no fundo insinua-se que, tomados certos cuidados, pode-se fazer o que se quiser. Ignora-se, assim, a única solução verdadeira, que é a prática da castidade e da fidelidade co njugal. Nesse sentido, convém lembrar as palavras do Papa aos jov e ns e m Kampala, capita l da Uganda: "A pureza de costumes, disciplinadora da atividade sexual, é o único modo seguro e virtuoso para pôr fim à trágica praga da Aids, que tem ceifado

tantos jovens" (cfr. Osservatore Romano, 8/9-2-1993). Não foi por acaso que João Paulo II fez essa dec laração em Uganda. Esse país africano ocupava, na ocasião, o segundo luga r no mundo em número de aidéticos declarados, sendo superado apenas pe-

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los Estados Unidos. Com estas palavras, bem se vê que o Santo Padre ensina ser a castidade uma preciosa virtude, cuja prática é acessível a todos. Segundo ele, longe de produzir qua lquer deformação espiritua l ou física nos que a cu ltivam , a pureza lhes aca rreta inestimávei s vantagens. Do contrário, o Pontífice não poderia aco nse lhá- la a toda uma nação com cerca ele 17 milhões ele habitantes. Esse ensinamento pontifício é bem exatamente o oposto do que se vêm tantos meios de comunicação de massa. Através de nç)Ve las, espetáculos etc, quando não da pornografia declarada, eles freqüentemente favorecem o inci tamento às paixões mais baixas. Assim, os lares que se deixam influenciar pel a propaganda contra a pureza ou a favor da impureza vão se afastando cada vez mais do sublime modelo de todas as famílias verdadeiramente cristãs: a Sagrada Família, composta pelo Divino Menino Jesus , por Maria Santíssima, a Virgem das virgens, e por São José, seu castíssimo esposo.

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HAGIOGRAFIA

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São Benedito, patrono da raça negra Luiz Carlos Azevedo

Mais de um século antes de ser canonizado, no Brasil ele já tinha muitos devotos

Corre

o ano de J 589. Em uma pobre cela no · convento franciscano de Santa Maria de Jesus, a três quilômetros de Palermo, sul da Itá lia, o enfermeiro observa o irm ão lei go, iletrado, que faz alguns movimentos no le ito de dores em que se encontra há dois meses. Seu rosto, alquebrado pela fadiga de 63 anos transcorridos em meio a intensas atividades apostólicas, em dado mo-

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mento ilumina-se. Sua boca se abre e os olhos tornam-se fixos e extáticos. "É o fim, o irmão está cruzando o limiar da eternidade" - pensou o e nfermeiro. E sai correndo a fim ele chamar outros frades para as derradeiras orações que se fazem pe los agonizantes. O doente, entretanto, terminado o êxtase e após o retorno do e nfermeiro , dizlhe: "Fique tranqüilo. Eu o avisarei do ----------,.,...,...----.----=-------- ~ dia e hora da minha morte. Vou.falecer no dia 4 de abril". Ao que o enfermeiro retruca: " Ima g in e, Frei, como esta casa ficará cheia!" Pois e le bem conhecia a extraord inária fama de santidade daquele frade, a qual foi tão grande por toda parte, quando ainda vivo, que rarame nte se enco ntra algo semelhante na História da lgreja. - "Pode f icar sossegado, não virá ninguém", garanti ulhe o Santo. As duas profecias cumpr iram-se ao pé ela letra. Com efeito, no dia da morte e do sepultamento houv e um grande afluxo de gente para a festa do Divino, numa igreja do Espírito Santo, nos arredores de

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Palermo, e por isso ninguém foi ao convento. No dia aprazado, o Santo recebeu o consolo dos Sacramentos ela Igreja: con fissão, comunhão, extrema-unção, inclusive a bênção papal. O enfermo senta-se na ca ma e, olhando para o céu, reza e contempla. Invoca seus santos padroeiros: São Francisco ele Assis, São Miguel Arcanjo, os Apóstolos São Pedro e São Paulo. Em determinado momento elas orações , e depois de um a visão ele Santa Úrsula, Benedito - é esse o nome do moribundo - pronuncia em alta voz: "Em. vossas mãos, Senho1; entrego o meu espírito". Em seguida, eleita-se, fecha os olhos e dá o último susp iro. Naquele exato momento, não lon ge dali, Benedita Na tasi , de I Oanos ele idade e sobrinha do Santo, observando uma pombinha que entrara dentro de casa, ouviu a voz do tio: - " Benedita, queres alguma coisa de lá ?" - "De lá, onde, meu tio?" - indaga a menina. - "Lá do Céu, minha filha" - completa a conhecida voz. E a pombinha desaparece ... *** Nosso tão popular São Benedito, o Negro, chamava-se Benedito de São Filaclelfo, pois tal era o nome ela localiclacle (hoje San Fratello) perto de Messina (Sicília) onde e le nasceu, em 1526. Era filho de escravos etíopes, comprados pe la família Manasseri. Sabe-se que o Santo foi pastor, tornando-se depois erem ita. Para obedecer a uma orde m do Papa , ingressou posteri-

ormente como irm ão le igo na Ordem F ranciscana, no co nve nto de Sa nta Maria ele Jesus, nas imediações ele Palermo. Ali notabili zou-se como coz inhe iro mi lagroso, po is, com freqüência, os Anj os do Céu desciam para ajudá- lo na preparação das refeições. Apesar ele il etrado e de ser apenas irmão leigo, eram tai s os dons e cari smas com os qua is a Divi na Prov idê nci a ornou sua alma, q ue foi eleito Superior e Mestre ele Noviços do co nvento. A exemplo cio Seráfico Pa i São Francisco, seu Fundador, o sem número ele milagres e prodígios operados já em vicia por São Bened ito constituem também verdadeirosfioretti. Impossível referi-los todos. Resta-nos mencionar ao menos alg un s.

Cura de cancerosa Antes de fixar-se no convento de Santa Maria, Bened ito levou vida eremítica em Nazana, durante oito anos, e em Mancusa, na região de Palermo. Então, sua fama de santidade já ia alta. Certo dia em que atravessava Mancusa, chamaram-no para ver uma doente num casebre. "Não posso fazer muita coisa por ela, pois não sou sacerdote. Mas posso fa zer-lhe uma visita e re zar por ela", respondeu. "Me acode, Frei", gritava a pobre mu lher, roída por um câncer no seio, que se alastrava terrivelmente. "Me dá uma bênção, por amor de Deus!" Condoído pelas dores da enferma e pela aflição de seus familiares, o Santo aproximou-se cio le ito, rezou com todos os presentes, animou a enferma a ter Fé em Deus, e clepo"is, a ped ido dela, traçou o sina l ela cruz sobre a chaga do se io. Instantaneamente foi curada, restando-lhe uma cicatriz apenas I Logo em seguida, Benedito bateu em retirada, para fugir ele qualquer agradecimento ou louvor.

Ressurreição de mortos Certa vez, quatro senhoras ele Pa lermo E ul á lia , L ucrécia, Francesca e Eleonora, esta última com o fi lho ele cinco meses nos braços vieram visitar o Santo no convento de Santa Maria. De regresso à cidade, ainda perto cio convento, a carroça virou e

prensou a criança, que teve morte instantânea . Os frades vieram socorrê- las, e Benedito deparou-se com a patética cena da mãe abraçada ao corp inho disforme. Benedito aproximou-se e disse: "Pare de chorar. A criança não está morta; pode dar-lhe de mamar" . Os circunstantes pensavam que o Santo delirava. Entretanto, mal a mãe lhe obedecera, a criança começo u a sorri r, deixando a todos atô nitos. Fato análogo sucedeu com o filho de João Jorge Russo. Quando visitava o convento com sua esposa e alguns parentes, a carroça em que viajavam ca iu de uma ponte e a criança ficou esmagada. "Tenham muita confiança em Nossa Senhora. Vamos rezar". Esse recurso à med iação da Santíssima Virgem , a li ás, era uma constante em todas as intervenções de São Benedito. Todos se ajoelharam e começaram a rezar; ato contínuo, a cr iança abriu os olhos, despertando do sono da morte.

Condoído, o Santo tomou aq ue le corpo inanimado em seu braço esquerdo, e com a mão direita fez o sinal ela cruz sobre a pequena fronte enregelada. Após os presentes rezarem o Pai Nosso e a Ave Maria, o mi !agre ela ressurreição se realizou!

Milagre das flores São Benedito tin ha o costume ele reco lher os restos de comida do convento em seu avental de cozinh a, para distri buí-los depois aos pobres. Certa vez o Santo encontrou-se com vice-rei da S icí li a, Dom Marca ntonio Colonna, que, atraído pela fama ele sua santidade, veio visitá-lo. Curioso, o ilustre visitante perguntou a Benedito o que levava com tanto cuidado. Ele simplesmente abriu o avental e mostTou ... flores, tão frescas e aromáticas, que o vice-rei levou-as para o altar ele sua capela particular.

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Peixes que aparecem e pães que se multiplicam

Em certa ocasião acabaram as provisões do convento. Era in verno e chovia torrenc ialmente. E os re li giosos não tinham sequer cond ições ele sair para pedir esmolas. Benedito pediu a um frade, que o aux ili ava na cozinha, que abrisse os Santos Evangelhos em qualquer lugar e lesse o que estava escrito. A seguinte passagem foi lida: "Não vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo, quanto ao que haveis de vesti,: Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta" (Mt 6, 25-26). Iluminado por essas pa lavras e movido pela sua heróica confiança na Prov idência, o Santo pôs-se a agir. Ench,eu com água todas as panelas, tachos e latas grandes que havia no convento. Na manhã segu inte, estavam che ios de peixes frescos, muitos deles vivos. Imagem de Nossa Senhora da Neve, na Catedral Em outra ocas ião em que Benede Palermo, diante da qual certamente São dito, então superior cio convento, Benedito orou muitas vezes de u ordem ao irmão porteiro, Vito da Girgenti, ele d istribuir pão aos pobres, Antes mesmo de fazer-se eremita - e o religioso, vendo que a fila era enortalvez este tenha si do o primeiro milagre me, reservou no fundo cio cesto alguns operado por São Benedito - , trouxeram pães para os frades. O fato chegou ao à sua presença uma crianc inha morta. conhecimento de Benedito, que in timou CATOLIC ISMO , OUTUBRO 1995

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operados junto à sepul tura. Co meçaram a impl orar relíquias do Santo. Suas vestes e as roupas da carna onde fa leceu foram transformadas em tiras. Até mesmo sua cama e colchão foram reduzidos a pedacinhos, avidamente di sputados pelos vi sitantes. "O Santo, o Santo" ... A 7 de maio de 1592, três anos após A cada mil agre que acontec ia, o povo sua morte, seu corpo, incorrupto e exaaco rria à portaria cio convento, aclaman- lando suave perfume, fo i colocado numa Os frades relapsos do e louv ando o Santo. Sua popularida- urna instalada em cav idade aberta em paCerta vez, três novi ços resolvem fu de e veneração se tornaram tai s que ele rede da sacristia da igreja de Santa Magir do convento e voltar para casa. De aca bou , certa vez, transtorna ndo uma ria de Jesus. Entretanto, a sacri stia logo madru ga da ga lga m o muro , e na rua, proc issão ele "Co rpus Christi". Ness a transformou-se em cape la, com o povo quando cantam vitória pela pseudo-faocas ião, os frades tomaram parte na pro- cantando, rezando, pagando promessas. çanha, divisam um vulto que vinha ao seu cissão ela Catedral de Pa lermo . E São Be- Isso durante dezenove anos a fio. encon tro. Era F rei Benedito, qu e os innedito foi des ignado para portar a cru z No dia 3 de outubro ele 16 11 , com a terpe la: "Que fa zem aqui a estas horas? process ional, à frente cio cortejo. Ao fi- prese nça do Cardeal Dória, o corpo de Voltem já para o convento!" E os aconxar os olh os no Crucificado, se ntiu-se ar- São Benedito fo i tran sladado novamente se lhou a rezar muito pela perseverança rebatado pelo amor a Nosso Sen hor e en- para magnífica urna de cri sta l numa catrou em êx tase. Seu corpo passou a des- pela lateral da próp ri a igreja de Santa na vocação. Meses depois, eles caem de novo na li zar suav amente, sem que ele movesse Maria de Jes us, no a nti go co nv e nto tentação de fu gir, e tomam o maior cui os pés. franc i sca no, a três q ui I ôrnet ros de dado para que nin guém sa iba de nada. Ao ver aquil o, o povo irrompeu em Pa lermo, cidad e que, antes mesmo do Quando novamente ganham a ru a, dão gritos ele ad miração: "Olhem o San.to, o reconhec im ento ofic ial ela Igreja, tornou- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - , Santo!" As fila s da o por Padroeiro, em 1652. procissão se desorgaSão Benedito fo i declarado bem-avenni zara m comp leta- turado em 1763, por Clemente XIJI, e camente. Os encarrega- nonizado pelo Papa Pio VII em 25 de dos da ordem grita- maio de 1807. vam para que as pessoas se enfileirasse m. Culto no Brasil O Estado da Bahia fo i o pioneiro na Mas não houve jeito, e a procissão retornou devoção a São Benedito em terras brasilogo para a Catedral... leiras. Já antes mes mo de sua canoni zação havi a lá urna irmandade em sua honra. O corpo Simultaneamente, a devoção ao Santo incorrupto deitou profundas raízes no Maranhão. Quando, após as Sabe-se da existência de im agens de São co memorações do Di- Benedito pe lo menos desde 1680, em vino Espírito Sa nto, o Olinda, Recife, Igaraçu (PE), Belém do povo ficou abencl o Pará e Rio de Janeiro. O mes mo suced ia em São Paulo. Um qu e Benedito hav ia séc ul o antes de ele ser declarado sa nto falecido e já estava sepela Igreja, j á era venerado como tal pultado, todos se dirigiram para Santa Ma- nas igrej as freqüentadas pelos membros ria de Jesus. O túmulo da Venerável Irmand ade de Nossa Seestava em local de di- nhora do Rosário dos Homens Pretos fícil acesso, e o gran- (1707) . E hoj e a devoç ão ao Santo já é de aflu xo de peregri- um fe nômeno naciona l. Não fa ltam pe lo nos perturbava a vida Brasi l afora paróquias , cape las, ou ao dos frades. E o seu me no s um altar com a imagem do Sannúmero crescia a cada to Negro . dia, na proporção em OBRA DE REFERÊNC IA Igreja e torre do castelo de Palermo, conservada como era na que se difundia a noPe. A loísio Te i xe ira de Souza, Vida de Seio Beépoca de São Benedito tíc ia dos mil agres nedit o, Ed itora Santu ári o, Aparec ida (SP), 1992.

o porteiro a chamar ele volta todos os pobres qu e fi cara m sem pão: "Dê aos pobres tudo o que estiver na cesta mandou Bened ito - , pois a P'Jro'vidência nos socorrerá". ,., Ao obedecer, o irmão Vito notou marav ilhaclo que o pão ela cesta não se acabava mais; qu anto mai s ele tirava, mais aparecia!

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de frente com Frei Bened ito, que abre os braços, di zendo: "A lto lá, onde pensam que vão?" Os três reconhecem um sin al de Deus a fim de perseverarem, pedem perdão ao Sa nto, prometendo não mai s reincidir na fa lta.

CATO LI C ISMO , OUTUBRO 1995

Pecado mortal de omissão também leva ao inferno "Cristo ensina no Evangelho que sofrerão eterno castigo não somente os que fazem o mal, mas igualmente aqueles que omitem o bem que estavam obrigados a fazer" (cfr. Obras de São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja, coligidas por Dom Mackey, OSB , Annecy, França, 1892).

São Francisco de Sales

ESCREVEM OS LEITORES Parabéns aos que fazem Catolicismo em sua vibrante e constante batalha em defesa dos princípios e ternos da doutri na católica. Seus artigos estão mai s sucintos . Votos de sempre cresce nte difusão.

J.C .S.S. - Salvador (BA) *** Tenho gostado bastante de todas as matérias, especia lmente sobre Nossa Senhora. A edição de julho está ótima. Sou co ntra a "teo logia da libe rtação" qu e só pensa e m lutas , gre ves e desorden s, c hegan do a dizer que Jesus Cristo foi o primeiro e maior político qu e j á existiu. Continu em com artigos sobre comunismo e os esquerdistas, p a ra a lertar os católicos. Gostaria que fo sem fei tas cópias d a Oração para a Comunhão, de São Boaventura".

A.T.B. - Joinville(SC) *** Fiquei fa cinada com a história de Santa Rita de Cássia e gostaria de saber onde se poderi a visitar o corpo dela, que está incorrupto .

R.M.H.P. - Maringá (SP)

Nota da Redação:o corpo incorrupto de Santa Rita e ncontra-se em urna exposta à visitação pública no novo Santuário de Santa Rita, na c idade de Cássia, Umbria, Itália.

*** Gostaria de saber que autoridades eclesiásticas tê m dado aprovação ao livro sobre a mensagem de Fátima, difundido pela campanha "Vinde Nossa

Senhora de Fátima, não tardeis!".

A.O .e- Jundiaí(SP) Nota da Redação: E mbora o atual Código de Direito Canônico não exij a aprovação eclesiástica para obras do gênero, o livro As aparições e a Mensa-

gem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia recebe u Imprimatur em Portugal, do Arcebispado de Braga (5-2-90); nas Filipinas, do Cardeal Ricardo J. Vidal, Arcebispo de Cebu (244-92 ); na Lituânia, do Bispo Auxiliar de Kaunas, D. Sigitas Tamkevicius (21-1292); na Espanha, do Pro vigário Geral de Madrid, Mons. Joaquín Irüesta (17-394); e na Ucrânia, do Cardeal Myroslav Ivan Lubachivsky, Arceb ispo-Mor de Lviv (27-3-95). De outro lado, Cartas de apoio e declarações elogiosas foram e nviadas por D . Pacífico M. L uigi

CATO LI C ISMO, OUTUBRO 1995

Perantoni O.F.M., Arcebispo E mérito de Lanciano, ltália (15-6-76); D. Philip M. Hannan, Arcebispo de Nova Orleans, Estados Unidos (18-1 l-85);D. Bernardino Echeverría Ruiz O .F.M., Arcebispo de Guayaquil, Equador (22-2-86); D. Germán Villa Gaviria, Arcebispo de Barranquilla, Colômbia (1 -7 -86); D. Alejandro Mestre S_J. , Arcebispo Coadjutor de La Paz (13-11-86); D. Polidoro Van Vlierberghe O.F.M., Bispo-Prelado Emérito de Ulapel, Chile (30-1 -87); D. Oscar Alzamora Revoredo, Bispo de Tacna, Peru (12-4-89); D. Vasile Louis Puscas, Exarca Apostólico para os católicos romenos dos . Estados Unidos (maio-89); D. Charbel Merhi, Bispo dos Maronitas na Argentina (4-10-92); D. Manoel Salazar Espinosa, Bispo Emérito de León, Nicarágua (24-5-94 ); D. Antonio Iroyo Calderón, Bispo A uxiliar de São José, Costa Rica (16-6-94). Ademais, o Cardeal Sílvio Oddi, ex-prefeito da Congregação para o Clero, da Santa Sé, enviou expressiva carta de louvor e apoio à campanha Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis!, de difusão desse livro (17-3-94).

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TFPsEMAÇÃO

Excursão a Foz do Iguaçu

Como

parte de suas atividades de formação cívica e cultural da juventude, o Curso São João Bosco, do setor juvenil da TFP de São Paulo, promoveu.recente excursão às Cataratas do Iguaçu, no Paraná, que lotou um ônibus e vários carros. A viagem compreendeu também visita às pitorescas

formações rochosas de Vila Velha, à cidade de Ponta Grossa e à gigantesca Usina Hidrelétrica de Itaipu. Chegados por fim ao Parque Nacional de Iguaçu, os rapazes ficaram maravilhados com a exuberância das quedas d'água e com a grandeza da paisagem, que são reflexos da majestade de Deus

na natureza. De regresso, conheceram também Maringá, onde espaireceram em aprazível chácara. Em seguida, visitaram Rolândia e Londrina. Não faltou a parada numa Churrascaria Gaúcha, para suculenta refeição de tipo rodízio. Por onde passavam, irradiavam alegria e entusiasmo,

frutos de quem procura levar com seriedade o verdadeiro espírito católico, que anima o esforço formativo da TFP em prol da mocidade. Característico foi o comentário de um dos rapazes na viagem: "assim como as águas caíam naquelas cataratas, as graças de Nossa Senhora caíam sobre nós!"

Em Genebra, lançamento de livro do Prof. Plinio Corrê a de Oliveira

Na

cidade suíça de Genebra, nos salões do Palácio do Ateneu, foi realizado um en-

de amanhã", por iniciativa do

contro sobre o tema "Famílias e elites: seu papel na Europa

sa da Tradição, Família e Pro-

Durante essa reunião foi exibida a edição francesa do livro do Prof. Plinio CmTêa de Oli-

Centro Cultural Lepanto e da Sociedade Francesa de Defe-

veira "Nobreza e elites tradicionais aruílogas nas alocuções

priedade (TFP).

TFP da Costa Rica alerta sobre eleitos deletérios da TV

i,Una escuela paralela? ·

Em São José, capital da Costa Rica, a TFP local lançou um livreto sob o título "TV: uma escola parale-

la?- efeitos nocivos da TV no rendimento escolar. "

e/ rt'ndimtento escolar

O opúsculo visa esclarecer o públi- _ co a respeito dos efeitos comprovadamente negativos da TV sobre a mente das crianças, especialmente em idade escolar. Esgotou-se rapidamente a primeira edição de 5.000 exemplares, que teve muito boa receptividade naquela nação da América Central.

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... foi seguida de animada refeição numa churrascaria gaúcha

de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana".

Apresentados por Mário Navarro da Costa, diretor do Bureau da TFP em Washington, usaram da palavra, entre outros, o Marquês Luigi Coda Nunziante, presidente da Associazione Famiglia Domani, Benoit Bemelmans, representante da TFP francesa, e o Prof. Roberto de Mattei, presidente do Centro Cultural Lepanto. Dentre o seleto público que lotou a sala destacavamse membros da nobreza fran cesa, italiana e suíça, além de figuras de relevo da sociedade de Genebra. Ao final, foi servido um cocktail aos presentes, que

se entretiveram longamente sobre os temas das palestras.

CATOLIC ISMO , OUTUBR01995

A visita de alunos do Curso São João Bosco às Cataratas do Iguaçu ...

Embaixo: palestra do Prof. Roberto de Mattei no Palácio do Ateneu,em Genebra




fl M N° 539-54l - Novembro/Dez mbro d 1995

3

A homenagem de Catolicismo a Plínio Corrêa de Oliveira·

Uma tr dicional de me p uli ta () po1p< 1 ('Xlr,10rdi11(11 io dl' 1)< 11,, 1 11 'ili,, Ril x~iro ·01r ,, d<' liveira " " lorrn açao de seu filho

Ninguém poderá deter a marcha vitoriosa 4 d_os que têm Fé

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Imponente produ ção intelectual

Um homem de Fé, pensamento, luta e aç;' o Vid,1 (' ol>r,, ele i11sig11t

Com ·17 li vros<' 111,11 s de' 2.500 títulos, Plínio orr ,,, d< ' ( )l1 wir<1 foi um a 1110 1 d< ' l.11 11.i intem ac io11,1 I

líclt'r e ,,1 >li co q11(', ,10 \ d(' ( Ili Ili )10 1

f, l 1( (( ' I l' l 11

dt'Í X,l ll OS C Íll( O

36

Tributo de Catolicismo a seu insigne

( lllÍIH'lll('S ,1 gr,llld('

7

l,1111íli,1 d,,s 111 se ,1ssoci,,ç< cs congên 'r s

inspirador, orientador e sustentáculo,

Os último <li,,s de Plínio orr( ., ele Oliv •ir,,

37

d<·rr,ul<·iro c1deus

O reconhecimento de eclesiásticos de renome

40

l l,1g1 ,11111 °, cio•,

25

1111 ll'l oll', cl1 •

Ca rtas de louvor de autoridades ecl esiásti cas ao grande líder ca tóli co

d< ' Oliveira

1'1111 111 ( 11111

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U.c•tH'l't'll

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,·01ulolc nd.1s

42

AINDANISTA EDIÇÃO: l)c, ·,tgravo da TFP ,1 Nossa Senhora Aparecida

Fotos : Arquivo , ( ', Nt111 ·s l'in•s, l)io •o W11ki , i." l'1'1111 11 do M1111l l1 10, M1i1 lo Sli l11od11 1• S1•1110 Mly11111ki.

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Olrntm 1'11 1110 Lut, u dt1 1l1lh 1 l ltllu ,/111111,11.,,. Mt11l111 M1111UU t.rn,1111!0 1IIUII ll1111INlllltll1 /UI 11111 " 11111 li N J i 111 IUt lllf (JltO • U1t,lft1UIN 111111 M111thn I UIIH hit H, llti~ OH1~1tl 001 o !11111111, I' 1111 (011) 11,1~ IHII

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Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. lmprouA o: Arlpross lndúslria gráfica e Editora Lida . Ruo Jovnés, 681 0 11 30-010 SIio Paulo-SP A corrospondência relativa a assinatura o vondo avulsa pode ser enviada ao S01or do Propulsão de Assina turas. ndoroço: Rua Marlim Francisco, 665 CEP: 01226-001 - São Paulo-SP ISS N - 0008-8528 Tel: (011) 824 -94 11

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ASSINATURA PARA 1>' MI ,1 S DE NOVEMBRO E DEZEMBRO D

1995:

COMUM: R$ 40,00 COOPERADOR: R$ 60,00 BENFEITOR: R$120,00 GRANDE BENFEITOR: R$P<Xl,(XI EXEMPLARESAVULSO ; //$•/,(XI

Plinio Corrê a de Oliveira grande figura do laicato católico neste século, ardoroso defensor dos direitos da Igreja e da civilização cristã, homem de fé, de pensamento e de ação, professor universitário, advogado, escritor e jornalista, grã~cruz da Ordem Constantiniana de São Jorge, do Reino das Duas Sicílias, deputado à Assembléia Nacional Constituinte de 1934 , presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFP, da qual é fundador, inspirador da grande família das TFPs estabelecidadas em 25 países de todos os continentes, no ensejo de seu passamento à vida eterna, ocorrido em seu 87° ano de vida, a 3 de outubro de 1995, em São Paulo, tendo recebido os sacramentos e a bênção papal. Celebrada a Missa de corpo presente na igreja de Nossa Senhora da Consolação, o sepultamento realizou-se no cemitério da Consolação, a 5 de outubro.

N I!. O que exceder ao valor da o hu,1111,11 0111um é um 1k~ 1,11ivo para a difusão de Catollcl1mo 11 1k11,1 1 nlivldades estatutárias do TJ I'

CATOLICISMO -

Novembro-Dezembro EJY5

3


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Ninguém poderá deter a marcha vitoriosa dos que têm Fé A homenagem de Catolicismo

lução de enfrentar e vencer todos os obstáculos, com que os cruzados marcharam para Jerusalém. Porque, se nossos maiores souberam morrer para reconquistar o sepulcro de Cristo, como não querermos nós - filhos da Igreja como eles - lutar e morrer para restaurar algo que vale infinitamente mais do que o preciosíssimo sepulcro do Salvador, isto é, seu reinado sobre as almas e as sociedades, que Ele criou e salvou para O amarem eternamente?"

t·:.rf~t,r·, f ,,

Plínio Corrêa de Oliveira sempre teve atua-

ção relevante em nossa revi sta, como nossos leitores não ignora m. Além de ideali zador e inspirador de Catolicismo, era seu orientador e col aborador mais destacado. Ao longo dos 44 anos de nossa existência, eram os arti gos de Plinio Corrêa de Oliveira que davam a clave a Catolicismo. Nossa meta consistia e continuará sendo a de realizar o programa exposto por esse insigne líder católico em seu artigo A Cruzada do Século XX, publicado em nosso número inaugural (janeiro de 1951). Com efeito, afirmava ele naquela ocasião: " O Reino de Cristo é o ideal supremo dos católicos e, pois, meta constante desta folha. "Há nos desígnios da Providência uma relação íntima entre a vida terrena e a vida eterna. A vida terrena é o caminho, a vida eterna é o fim. O Reino de Cristo não é deste mundo, mas é neste mundo que está o caminho pelo qual chegaremos até ele. "Pode-se dizer que o Reino de Cristo se torna ef etivo na terra, em seu sentido individual e social, quando os homens no íntimo de sua alma como em suas ações, e as sociedades em suas instituições, leis, costumes, manifestações culturais e artísticas, se conformam com a Lei de Cristo. "Se Jesus Cristo é o verdadeiro ideal de perfeição de todos os homens, uma sociedade que aplique todas as suas leis tem de ser uma

4

.

C ATOLICIS MO -

sociedade perfeita, a cultura e a civilização nascidas da Igreja de Cristo têm de ser.forçosamente, não só a melhor civilização, mas a única verdadeira. Di-lo o Santo Pont(/i ·, Pio X: "Não há verdadeira civilização sem civilização moral, e não há verdadeira ·ivilizaçüo moral senão com a religião verdadeira " ( arta ao Episcopado Francês, de 28-8- 191O, sobre "Le Sillon "). De onde decorre ·om evid Oncia cristalina que não há verdadeira civilização senão como decorrência e fruto da verdadeira Religião. "A cultura e a civilização são.f<,rtfasimos meios para agir sobre as almas. Agir para a sua ruína, quando a cultura e a ·ivilização são pagãs. Para a sua edifi ·ação e sua salvação, quando são católicas. "O próprio da Igrej a , de produzir uma cultura e uma civilização ·ristã. É de produzir todos os seusfrutos numa at1110.~j'era social plenamente católica como o homem encarcerado num subterrâneo des •ja o ar Livre, e o pássaro aprisionado anseia por recuperar os espaços infinitos do Céu. "E é esta nossa finalidade, nosso grande ideal. Caminhamos para a civilização católica que poderá nascer dos escombros do mundo de hoje, como dos escombros do mundo romano nasceu a civilização medieval. "Caminhamos para a conquista deste ideal, com a coragem, a perseverança, a re:w-

Novembro-Dezembro 1995

il

Foi também a Plinio Corrêa de Oliveira que Catolicismo deveu um desdobramento muito mais amplo desse programa, publicado em primeira mão em nosso número 100, em abril de 1959, sob o título Revolução e Contra-Revolução, posteriormente acrescido de novos e luminosos trechos (nº 313, janeiro de 1977, e nº 500, agosto de 1992). Essa obra-prima de lucidez, profundidade e concisão logo se transformou no livro de cabeceira dos sócios, cooperadores e correspondentes das TFPs e entidades afins, hoje disseminadas pelos cinco continentes. Entre a vasta e prestigiosa colaboração de Plínio Corrêa de Oliveira que tivemos o privilégio

(

de publicar, destacamos a seção Ambientes, Costumes, Civilizações. Por meio da análise de quadros, pinturas, fotografias, desenhos, trajes, esculturas, etc., punha em relevo os valores da civilização cristã e fustigava por via de contraste os desatinos da civilização neopagã dos dias atuais. Essa seção marcava de tal modo Catolicismo, que muitos leitores, ao recebê-lo, iam direto à página de Ambientes, Costumes, Civilizações. Voltou a fazer alguns comentários, que foram publicados nas edições de julho e agosto p.p. Contudo, deixou vários outros já prontos, os quais serão publicados proximamente. Catolicismo teve a honra de publicar várias obras de Plinio Corrêa de Oliveira, que marcaram a história do pensamento contra-revolucionário em nosso século, tais como A Liberdade da Igreja no Estado comunista (1963), Baldeação Ideológica inadvertida e Diálogo (l 965), Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI (1977), O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte ? (1981), No Brasil, a Reforma Agrária Leva a miséria ao campo e à cidade (l 986), Projeto de Constituição angustia o país (1987), Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio (1991).

Assim, é para nós particularmente imperioso dedicar este número especial à memória do grande paladino da Contra-Revolução, cuja existência toda consistiu em "combater o bom combate", de que fala o Apóstolo São Paulo.

~ ~ ~ ~ : 7 - -.'

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CATOLICIS MO -

Novembro-Deze mbro 1995

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UM HOMEM DE Em setemb ·o último, Plínio Corrêa de Oliveira completou 67 anos de ininterrupta militância católica, pois foi no Congresso da Mocidade Católica, realizado em São Paulo de 9 a 16 de setembro de 1928, que o futuro fundador da TFP, então jovem universitário, tomou o primeiro contato com o movimento mariano, dando início à sua sublime epopéia. Para aqueles que ao longo das conturbadas décadas deste século acompanharam sua coerente trajetória, uma pergunta se impõe: qual a razão mais profunda desse enorme esforço de uma vida inteira? A resposta, encontramo-la nas páginas de sua magistral obra Revolução e Contra-Revolução, qualificada de profética por eminente figura do mundo eclesiástico (vide carta do Pe. Anastasio Gutiérrez, CMF, à p. 26). Partindo do pressuposto de que os rumos da História dependem fundamentalmente da correspondência dada pelo homem à graça di v.ina, Pli nio Confa de Oliveira denu ncia a existência de um processo cinco vezes secular ao qual ele chama Revolução, cuj a origem se encontra nas camadas mais profundas da alma, sendo suas molas propulsaras o orgulho e a sen ua iidade. O primeiro leva ao ódio a toda superioridad , gerando o igualitari mo. O segundo conduz à aboli ão d t do freio moral, originando o liberali smo. Igualclacl abs luta, liberdade total, os anseios anárquicos mais profu ndos cio homem contemporâneo, vão pr cipilando mun lo no a s mais completo, sobre cuja ampli tucl onscqU"ncias desnecessário estendermo-nos. Em vista desse panorama, a aluação d Plinio Corrêa de Oliveira teve empre como obj tivo, a) combater este ou aquele mal que mais imecl iat·1m nt procurava debelar, denunciar os erro 111 taffsi s fundamentais da Revolução- o orgulho e a ensualidade-e a coesão íntima entre os quatro vagalhõe · que se lançaram contra a Cristandade: o Protestantismo, a Revolução Francesa, o Comunismo e a Revolução libe1tária e autogestionária. Além disso tinha ele a convicção profunda de que o lodaçal de pecado no qual se afundou o mundo hodierno não só o levaria à própria ruína,

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como laria azo a uma intervenção extraordinári a de D us n s a ontcc imentos, jáprevista porNos·a enhora 111 Fátinn ~a lou -s há pouco no pape l da graça divina na Hi sl ri a. m ss pr ssuposto, toda a atuação de Plinio rr"a I liv ira p rei ria seu entido, poi s hoj 111 di a o mal tão pod ros - quase e diria oni pot nte - qu qualqu ração para o combater, por maior que seja, toma pr por õ s insignificantes diante de ta l magnitude. Porém, endo homem de Fé profu nda, Plíni o Corrêa de Oliveira depositava toda a confi ança, não em si mesmo, mas na Providência Divina. Essa confiança absoluta confe riu verdadeiro sentido a toda a sua ex istência, dando-lhe a certeza inabalável da vitória final da Igrej a sobre a Revolução, conforme Nossa Senhora prometeu em Fátima: Porf1m o meu Imaculado Coração triunfará. Ao homenagear seu saudoso e inesquecível mestre, Catolicismo, igualmente confiante nesta vitória, deseja exprimir sua firme resolução de continuar a empunhar bem alto o estandarte da causa pela qual Plinio Corrêa de Oliveira batalhou denodadamente, recordando as belíssimas palavras por ele escritas em seu Auto-retrato filosófico:

"Estou certo de que os princípios a que consagrei minha vida são hoje mais atuais do que nunca e apontam o caminho que o mundo seguirá nos pr6ximos séculos. Os céticos poderão sorrir. Mas o sorriso dos céticos jamais conseguiu deter a marcha vitoriosa dos que têm Fé." A Direção, Redação e Administração

FÉ,

PENSAMENTO, LuT A E AçÃo

"

PLINIO CORREA DE OLIVEIRA 87 anos de vida, 67 de militância católica

A

luminosa trajetória de Plínio Corrêa ele Oliveira atravessou quase ele ponta a ponta nosso sécu lo de incertezas, de catástrofes e de confusão, imprimindo-lhe marca indelével pelo exemplo de sua vida il ibada, pela coerência e vitalidade de seu pensamento, por sua Fé inabalável de católico, apostólico, romano, por sua intrepidez e destemor na defesa dos princípios que professava e por sua devoção entranhada à Santíssima Virgem, a quem, desde a juventude, se consagrou como escravo, conforme o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, nEla depositando todas as suas esperanças.

C,nouc rsMo - Novembro-Dezembro 1995 Ct\TouctsMo -

Nesta ocasião dolorosa, se bem que iluminada pe la esperança que a Fé traz consigo, Catolicismo quer manifestar filial gratidão a seu inspirador, o qual, em nossa conturbada época, conduziu e impulsionou com seus conse lhos, orientações e, sobretudo, com seu exemplo, o combate ideológico em prol da civilização cristã. Apresentamos nesta edição os lances mais significativos da vida e obra, bem como os predicados mais relevantes dessa personalidade inteiramente ímpar, cujos méritos e valor a História haverá de registrar e homenagear.

Novembro-Dezembro 19%

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À esquerda, seus pais João Paulo Corrêa de Oliveira e Lucilia Ribeiro dos Santos. Embaixo, frases poéticas de próprio punho exprimem os ideais que ele abraçou desde os tempos de colégio.

Na página anterior, Plinio Corrêa de Oliveira à frente de membros da TFP e autoridades, a caminho do"' Pátio do Colégio, após Missa pelas vítimas do comunismo na catedral de São Paulo

De ilustre estirpe Plínio Corrêa de Oliveira nasceu em São Paulo a 13 de dezembro de L908 , filho do Doutor João Paulo Corrêa de Oliveira e de Dona Lucilia Ribeiro dos Sàntos Corrêa de Oliveira, membros de duas ilustres estirpes brasileiras. Os Corrêa de Oliveira eram senhores de e ngenho em Pernambuco, descendentes de heróis da guerra contra os holandeses, e que contaram entre se us membros homens de destacada participação na vida pública, como o Conselheiro João Alfredo Corrêade Oliveira, Senador do Império e membro vitalício do Conselho de Estado. Enquanto Presidente do Co nselho, João Alfredo conduziu a aprovação e referendou a Lei Áurea, de libertação dos escravos, a 13 de maio de 1888. Este célebre homem de Estado era irmão do proprietário do engenho de Uruaé, Leodegário Corrêa de Oliveira, do qual foi neto Plínio Corrêa de Oliveira. Sua mãe, Dona Lucilia, pertencia à tradicional classe dos paulistas de quatrocentos anos - isto é, provenientes dos fundadores ou primeiros moradores da cidade de São Paulo - e contava entre seus ascendentes vários bandeirantes famosos. Dentre os antepassados maternos de Plinio Corrêa de Oliveira destacouse, durante o reinado do Imperador D. Pedro II, o ilustre 8

Professor Gabriel José Rodrigues dos Santos, catedrático da famosa Faculdade de Direito de São Paulo, advogado, orador de grandes dotes, deputado provincial e mais tarde nacional. Incomparável educadora, Dona Lucília soube inculcar na alma do filho , de forma indelével, mas com a suavidade que sempre a caracterizou, a Fé católica apostólica romana, pela qual ele bata lharia durante toda a vida. Ao entregar a alma a Deus, essa tradicional dama paulista mereceu o maior elogio que um filho pode fazer a sua mãe: "Mamãe me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus

Cristo, ensinou-me a amar a Santa Igreja Católica".

"Quando ainda muito jovem ... " Após os primeiros anos de formação sob o olhar e os desvelos de seus pais, Plinio Corrêa de Oliveira ingressou no Colégio São Luís, dos Padres Jesuítas, em São Paulo. De feitio muito lógico já na infância, entusiasmou-se pelos princípios da formação inaciana, e a esta devotou viva admiração até o fim de seus dias. Infelizmente encontrou também, entre ponderável número de seus colegas, manifestações de desregramento moral, vulgaridade e igualitarismo.

Posto diante do contraste entre esse modo de ser e o am biente casto e tradicional de sua família, formou a resolução de dedicar sua ex istência inteira à defesa da Igreja e à restauração da civilização cristã. Atitude admirável de quem tinha diante de si um futuro sorridente, mas preferiu uma vida consagrada a defender princípios que muitos começavam a impugnar com belicosa ênfase. Com efeito, a Plinio Corrêa de Oliveira não faltavam dotes para obter êxito invejável na vida intelectual, política ou profissional. Berço e qualidades pessoais se abraçavam em

À esquerda, Plinio Corrêa de Oliveira por ocasião de sua formatura em Direito. Embaixo, com a bancada paulista: o deputado mais jovem e o mais votado para a Assembléia Nacional Constituinte de 1934.

um harmon ioso conjunto dos melhores dons da inteligência e do espírito. Caso ele se conformasse co m as brisas mornas da acomodação moral e do indiferentismo religioso que sopravam , todas as portas lhe estariam abertas para uma brilhante carreira. Mas, animado de Fé e de coragem, deliberou dar outro rumo a sua vida. Ta l decisão, resumiu -a ele mes mo em palavras de grande ressonância: "Quando ainda muito j overn, Considerei enlevado as ruínas da Cristandade, A elas entreguei meu coração, Voltei as costas ao /Ileu .fúturo E ft z daquele passado ca rregado de hênçãos O meu Porvir .. " Início da atuação pública no movimento católico Em setembro de 1928, aos 19 anos, Plíni o Corrêa de Oliveira, então universitário, participa do Congresso da Mocidade Católica, onde torna o

CATOLICISMO -

Novembro-Dezembro 1995

primeiro contato com as Con- laicismo - coordenou alguns gregações Marianas , no s co ngregados marianos e fun primórdios de sua ex pansão. dou aAção Universitária CaNelas encontraria ambiente tólica (AUC). Esta se tornou receptivo para os ideais que em breve uma realidade vitodesde menino se vinham for- riosa da vida acadêmica de mando em se u esp írito. Ali então, estendendo-se rapidateve início a nobre gesta de sua mente para as demais escolas vida pública. superi ores ele São Paulo. Desde logo fez-se not.:U' pelos dons com que a Providên- O mais jovem e mais cia o favorecera, despontan- votado Deputado do corno orador e homem de Constituinte ação. Em pouco tempo se torNo fina l de 1932, a convonou um dos principai s líde- • cação de eleições para a forres do movimento católico no mação de uma Assembléia Brasil. Nacional Constituinte levo uEm 1929, ainda quartanista o a ideali zar a Liga Eleitoral na renomada Faculdad e de Católica (LEC) e a participar Direito cio Largo de São Fran- ativamente em sua organizacisco, em São Paulo - tida na ção, tendo sido eleito como o época co mo ba luarte cio deputado mai s jovem e mais CATOLIClSMO -

Novcrnbro-1kzembro 1~%

votado de todo o País. Na Co nstituinte atuou como um elos maiores líderes do grupo parlamentar católico. O testemunho insuspe ito de algumas persona li dades nos dá id é ia do papel marcante ele Plínio Corrêa de Oliveira nessa encruzi lhada da vicia nacional. Osvaldo Aranha - que no governo de Getúlio Vargas l'oi mini stro da Justiça, da Fazenda e das Relações Ex teriores, e em 1947 presidiu a Assembléia Gera l da ONU - afirmou: "Se os cotâlicos nc7o se tivesse111 congregodo poro i11 te1.ferir nos eleições de l<JJJ, o Brosil estaria hoje de.fi11itiva111 ente desviodo porn a esquel'(IC/" ( 1). ~)


SEGRETfR111

Plínio Corrêa de Oliveira com o Arcebispo de São Paulo, D. Duarte, e os colegas de redação do

O primeiro livro de Plínio Corrêa de Oliveira recebeu carta de louvor de M ons. J. B. Montini, escrita em nome do Papa Pio XII (à direita).

Legionário . Embaixo, como professor universitário.

Também Paulo Brossard, exministrodaJu t:içae ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, declarou: ';\ LECfoi a organização extrapartidária que na história do Brasil exerceu a maior influência política eleitoral" (2).

Professor catedrático e diretor do

,.,z egionJrío"

Dedicou-se ao magistério uni vers itário, após o seu mandato de deputado. Ass umiu a cátedra de História da Civilização no Colégio Universitário da Facu ldade de Direito da Universidade de São Paulo, e mais tarde a de História Moderna e Contemporânea nas Facu ldades de Filosofia, Ciências e Letras São Bento e Sede s Sapi entiae, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ao mesmo tempo, dedicou-se à aná lise filosófica e re ligiosa da 10

crise co ntemporânea. As páginas do "Legionário", que sob sua direção passo u ele sim ples fo lha paroqui al a órgão oficioso ela Arquidi ocese de São Paulo, registram mui tos desses pe netra ntes comentários . A clari vidê ncia com que interp retava a marcha cios acontecimentos levou-

o em diversas ocasiões a prever, com impressionante acerto, os fatos futuros. Assim, numa hora em que até os opositores do nazismo julgavam que este era adversário do com uni smo, P líni o Corrêa de Oliveira, no "Legionário" de 1º de janeiro de 1939, prognosticava a uni ão do nazismo com o comunismo: "A nosso vet; 1939 assistirá à consumação dessa f usão". Mui tos leitores do "Legionário" certamente se lembraram destas palavras quando, apenas oito meses depois, em agosto de 1939, a Alemanha e a Rússia assinaram o pacto de não agressão co nh ecido co mo R ibbentropMolotov, bem como protocolos secretos sobre o limite das esferas ele infl uência alemã e soviética na Europa do Leste. Entretanto, enquanto se estreitava ainda mais essa colaboração entre

CNfouc1sMo - Novembro-Dezembro 1995

nazismo e comunismo, Plínio Corrêa ele Oli veira comentava ( 17 de setembro de 1939): "Foi uma inabilidade o pacto teutorusso lpois desmascara o nazismo]. É possível que, dentro em breve, Hitler e Stalin brinquem novamente de inimigos, 'pour épater les bourgeois' e despistar o público" . E em 8 de dezembro de 1940, mui to antes da espetacul ar e surpreendente in vasão da Rúss ia pela Aleman ha naz ista, ins istia: "O 'Legionário' j á tem afirmado re iteradamente que a mascarada nazi-soviética pode de um momento para outro recomeçar e que, hoje ou amanhã, bem pode ser que Moscou e Berlim reencetem a comédia de seu recíproco antagonismo, com. o qual tão sensíveis vantagens auferiram há já algum. tempo". A propósito, é interessante notar que Plínio Corrêa de Oliveira manteve o "Legionário" numa posição visceralmente contrária ao nazi-fascismo, numa época em que este contava simpatias numerosas e influentes no Brasi 1. De fato , aque le órgão pu blicou 2.489 artigos co ntra o naz ismo e o fasc ismo (447 de autoria do próprio Plínio Corrêa de Olive ira).

Em defesa da A ção Católica Em 1943 , como Presidente da Jun ta Arquidiocesana da

º' sr,n o

su" s"" NT1rA

Ação Católica de São Paul o, Pli nio Corrêa de Oliveira escreveu seu pri me iro li vro, Em defesa da Ação Ca tóli ca, prefac iado pelo então Núncio Apostólico no Bras il , D. Bento Aloisi Masela, mais tarde Ca rdeal Camerl engo da Santa Igreja. Ao a na li sa r el e modo persp icaz e pe netra nte os prim órdi os ela infil tração prog ress ista e esq uerdi sta na Ação Católi ca, o Autor denun cia a ex istência de um mov imento, no in te ri or do laicato, te ndente a solapar o prin cípi o de autorid ade na Ig reja. No campo soc ial esse mes mo mov imento caracterizava-se pe la negação das ju stas e harmô ni cas des igualdades entre as classes soc iais e pelo favorec imento ela lu ta de classes. Não fo i necessá ri o o transc urso ele mui tos anos para que as teses do liv ro fossem confirmadas pela eviclê n c ia dos fatos . Basta relembra r as propo rções giga ntescas que tomou no Brasil a infi ltração esq uerdista em meios cató li cos. A calorosa carta ele louvor, escrita em nome ele Pio XII por Mo ns. J. B. Mo ntini , então Substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, futuro Papa Paulo VI, constitui u uma eloqü ente confi rm ação das denúnc ias contidas no li vro, co mo ates tam as seg uin tes passagens:

"Sua San/idade regozija-se contigo porque explanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica. "O Augusto Pont(fice de todo o coração faz votos que des te teu traba lho resultem ricos e sa zonados .fi'utos, e colhas não pequenas nem poucas consola-

não obstante vinte membros do Episcopado nacional te rem enviado expressivas cartas ele aprovação ao li vro. Embora as aparências pudesse m indu zir a uma co nclu são em se ntido co ntrário, o o bj e ti vo ci o liv ro fo i pl e na mente a lca nçado: o

Sem argumentos para refutar o livro, os elementos progressistas mais ati vos do clero passaram a cercear os meios de atuação de Plinio Corrêa de Oliveira. Primeiramente, através ele uma insidiosa campanha de calúni as; depois, tirando- lhe das mãos todos os cargos de liderança no laicato católico; e, por fim , afastando-o ela direção do "Legionário", um de seus principais meios de apostolado. Não sabiam que, dessa forma, estabeleciam as condições para a formação ela futura TFP.

Fundação da TFP brasileira

ções. E como penhor de que prog ressismo estava des masassim seja te concede a Bên- .carado no Bras il , e nunca ção Apostólicà." mais poderia cami nh ar sob a Paradoxa lmente, foi de en- · camuflagem de uma pretensa tre os membros da Hierarqui a piedade. A pa rtir de então, Eclesiástica, cujos direitos e essa corrente passou a ser autori dade o Autor defend ia, vista com desconfiança por que partiram as ma is contun - ampl os seto res da op inião dentes at itudes de oposição, católica. CNrou c1sMo - Novembro-Dezembro 1995

Com os poucos membros cio "grupo cio Plinio" - como era conhecido ocoetus congregado em torno dele - Plinio Corrêa de Oli veira fez do mensário de cul tura Catolicismo urri dos pólos de pensan1ento ela imprensa c~tólica cio Brasil, e cio qual permaneceu até seus úl timos dias o principal colaborador. Da expansão do nú c leo remanesce nte do "Leg ionári o" nasceu, em 1960, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFP. Neste mundo materialista, que tinha voltado as costas ao passado, leva ntar um estan11


Escritor brilhante, Plínio Corrêa de Oliveira sempre colocou sua pena a serviço da causa católica. Ei-lo na biblioteca da primeira sede social da TFP em São Paulo

dartc cm torno da Trad ição, da Famíl ia e da Propriedade era tal ousadia que muitos a cons ideravam até um a de mência, votada fatalmente ao fracasso . Hoje essa trilogia constitui um ponto de referência, um farol orientador cm meio às trevas do caos moderno. A TFP recorda continuamente que só na fidelidade aos princípios perenes da Verdade revelada, ensinados pela Igreja Católica, é possível co nstruir uma autênt ica civ ili zação cristã.

"Uma obra profética": Revolução e Contia-Revolução A obra mestra de Plíni o Corrêa de Oliveira é Nevol1112

ção e Co ntra -R evo lu ção.

Publicada em 1959, acrescida de nova parte em 1976, de comentário e po. tíác io cm 1992, conta com sucessivas ed ições na Europa e nas Améri cas, sendo o li vro de cabeceira dos sócios, cooperadores e correspondentes de todas as TFPs, 811rea11x-TFP e associações afins. Foi inspirando-se ne.. a magistral obra e segu indo o exemplo de vida de seu Autor que fl oresceram as diversas TFPs ex istentes no mundo. Revolução e Con tra-Revo1ução oferece uma análi se histórica, filosófica e sociológica da cri se do Ocidente, abalado desde o fim da Idade Média por sucessivas revoluções: o Humanismo, a Renascença e o Protestantismo; a Revolução C 1ti·ouc1sMo -

Fra ncesa de 1789; a Revolu- trai, cujos ensinamentos deção Russa de 1917; e a revolta veriam ser d!fitndidos at é es tudanti I da Sorbonne cm fa zê-los penetrar na consci1968, profundamente liberti - ência de todos os que se sinna em seus aspectos morais e tam verdadeiramente católiautogestionária na sua concep- cos. Em suma, atrever-me-ia ção sócio-política e econômi- a dizer que é uma obra prof ética no melhor sen tido da ca. Tais revoluções não cons- pala vra; mais ainda, que seu titu em senão etapas de uma conteúdo deveria ensinar-se t'.ini ca Revolução, de cunho nos ce ntros sup eriores da gnóstico e igualitário, qu e há Igreja. "Não me resta senão concinco séculos vem desfi gurando e demolindo a civilizaçJo gratular-me com a In stituição TFP por ter um Funda cristã. À Revolução, Plínio Corrêa dor da altura e qualidade do de Oliveira opõe a ontra- Pmf Plinio. Prevejo para a Revolu ção, nob re idea l que Instituição, e desejo com toda conclama o homem contempo- a minha alma, um vasto derâneo a recusar em bloco as senvo lvim ento e um porvir poli módicas características da cheio de êxitos contra -revaRevolução e a restaurar em iucioná rios. "Concluo di zendo que im todo o seu esplendor a ordem pressiona fort emente o espítemporal segundo os princípios do Evange lho de Nosso rito com que a obra está escrita : um espírito profundaSenhor Jesus Cristo. Personalidades do mundo mente cristão e amante apaiec les iástico, bem como inte- xonado da Igreja. A obra é lectuais e outras pessoas de um produto au tênti co da 'sapientia chri stiana '. Emocidestaque, enviaram ao autor ona também ver em um leigo de Revolução e Contra-Revolu ção ca rtas em qu e lhe ou pessoa secular uma devomanifestavam caloroso apoio. ção tão sincera à Mãe de JeCitamos apenas algun s tre- sus e nossa: sinal claro de chos de uma das mais rece n- predestinação." As doutrinas expostas em tes, esc rita pelo ilu stre canonista de renome internaci- Revolução e Contra-Revoluonal, cofundador dofnstitutum ção exprimem fi elmente o ideJuridicum Claretianum, cm al de vida que Plínio Corrêa de Roma, e consultor de diversos Oliveira se propôs alcançar ao longo de sua dil atada e fecundicastérios do Vaticano, o Pe. da ex istência. Em suas páginas Anastasio G~1tiérrez, C.M.F.: podemos encontrar as palavras "Revolução e Contra-Reque melhoro defin em co mo o volução é 111110 obra rnal{is-

Novcmbro-lkzcmbro rn%

No Viaduto do Chá, a presença do fundador da TFP entusiasma militantes em campanha.

contra-revolucionário por excelência: "O que é um contra-revolucionário ?" É aquele que "conhece a Revolução, a ordem e a Contra-Revolução em seu espírito, suas doutrinas, seus métodos respectivos. Ama a ContraRevolução e a ordem cristã, odeia a Revo lu ção e a 'anti-ordem'. Fa z desse amor e desse ódio o eixo em torno do qual gravitam todos os seus ideais, preferências e atividades."

Papel decisivo na história contemporânea do Brasil Concretizando esse ideal de vida, Plínio Corrêa de Oliveira desempenhou inegavelmente, à testa da TFP brasileira, um papel decisivo na história contemporânea de no ssa Pátria , alertando e orientando a opinião pt'.iblica nos momentos cruciais da vida nacional. Suas numerosas intervenções pt'.iblicas co ntra o agroreformismo soc iali sta e confiscatório, iniciadas em 1960 com o "best-seller" Reforma Agrária - Questão de Consciência , foram de ca-

pital importância na preser-

vação da estrutura fundiária brasileira e para o despertar das forças vivas da Nação. Contribuiu assim para evitar que o Brasil rolasse para o abismo comunista, livrandoº dos horrores que se patentearam aos olhos do mundo

Somadas às que foram coletadas pelas TFPs então existentes na América do Sul, chegou-se ao total de 2.025 .20 l assinaturas. Em 1976, em vista da atividade crescente do comunismo em nosso País, e sobretu-

inteiro com a queda da cor- do da magnitude de sua infiltina de ferro (1989). tração nos meios católicos, De igual modo, suas opor- Plínio Corrêa de Oliveira tunas dent'.incias contra a infil- lanço u o livro A Igreja ante tração comunista na Igreja a escalada da ameaça copuseram de sobreaviso a opi- munista -Apelo aos Bispos nião pública católica, reduzin- silenciosos, o qual, divulgado as possibilidades de êxito do amplamente, despertou da esquerda. em importantes setores da Uma des sas campanhas • opinião pública o sentimenfoi o portentoso abaixo-assi- to anticomunista, que na connado pedindo a Paulo VI juntura de então estava senmedidas contra a infiltração do adormecido. Conforme inesquerdista nos meios cató- formou de Roma o jornalista licos, no ano de 1968 , que Rocco Morabito, "em várialcançou no Brasil o nt'.ime- as épocas era possível enro de 1.600.368 assinaturas. contrar, em mesas de trabaCATOLICISMO -

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lho do Vati cano, algumas cópias do livro d e Plinio Corrêa de Oliveira - 'A Igreja ante a escalada da ameaça comunista' -, editado em São Paulo ". (3)

Merece ainda especial menção a obra Tribalismo indíg ena, ideal comuna-miss ionário para o Brasil no século XXI ( 1977), que denuncia uma nova investida do progress ismo: a neomissiologi a comuno-estmturalista, que propugna u111 regime ainda mais radical qu e o fracassado capitalismo de Estado do tipo soviético. Nesta obra, Plínio Corrêa de Oliveira previu , com 15 anos de antecedência, as principais doutrinas e ten dências com uno-ecologistas manifestadas na ECO-92 do Rio de Janeiro. Ainda entre as atividades que, sob o impulso e orientação de Plínio Corrêa de Oliveira, a TFP realizou, permanecem na memória do pt'.iblico as grandes campanh as em defesa da família brasileira , ameaçada pela chaga do divórcio. Neste sentido, destaca-se o imponente abaixo-assinado de 1966, que em 50 dias recebeu a adesão de mais de um milhão de pessoas. 13


Embaixo: na praça vermelha, em Moscou, a delegação da TFP que entregou 5,2 milhões de assinaturas pela li bertação da Lituânia

Contra o socialismo: 34,5 milhões de exemplares e m 14 línguas, divulgados em 178 publicações de 53 países

Golpe certeiro no socialismo autogestionário O escrito de autoria de Pli nio Corrêa de Oli veira com maior impacto publicitário foi O socialismo aulogestionário em vista do comunisnw: barreira o u cab eça-de- po nl e ?

( 198 1), uma ampla exposição e análise crítica do programa de François Mitterrand, eleito Presidente da França naquela ocasião. O doc um e nto, aprese ntado co mo Mensa gem da s 13 TF Ps então ex iste ntes, teve ao todo 178 pub licações em 53 países, so mando 34.500.000 exe mplares em 14 línguas, com repercussão em 124 nações . Para aq ui !atar o alca nce dessa Mensagem , tenh a-se em conta que, no período que precedeu a primeira eleição de Mi tte rra nd, a ex pressão "sociali smo autogcstionári o" se to rn ara moda em certos amb ientes da esquerda . O Pa rtido Soc iali sta fra ncês te ncionava pôr o prestíg io e a irradi ação cultu ra l ela França no mund o a se rviço da meta autogesti onári a. O im pacto causado pela

Nobreza romana ( 1993) , no

O maior abaixo-assinado da História Em 1965, num discurso pronunciado em São Paulo du rante o 111 Co ngresso Litu ano lnteramericano, Pli nio Corrêa de Oliveira propusera a realização de um abaixo-assinado de âmbito intern ac ional, diri gido ao Presidente norte-a meri cano Lyndon Johnson , soli citando que colocasse co mo cond ição para o di álogo co m a Rússia soviética a independência das nações bálticas. Na ocasião essa idéia não vingou.

soc iações afin s. Ta l campanha, estend ida ass im a todos os co ntinentes, res ul tou no monumental aba ixo-ass inado em favor ela independência da Lituâni a. Tendo atingido 5.2 12. 580 ass inatu ras, co nsti tuiu -se no maior aba ixo-ass in ado el a História, fa to reco nh ec ido pelo G uinn ess Book of Reco reis . E exerce u inegável influência no proc sso ele libertação cio países bálticos cio jugo sov iético, co nforme testemunhou na época o Governo lituano.

M ensage m d as 13 TFPs

constitu iu um fato r relevante para que o soc iali smo autogestionário dito de "face humana" entrasse em dec línio, o qu e obri go u o Pres ide nte Mitterrand a deixar de lado suas fa lac iosas metas ele 198 1. 14

Em 1990, num mo mento particul arme nte dec isivo da cri se da URSS , lançou ele a TFP bras il eira na campanh a Prá Lituânia li vre, recebendo a adesão ca lorosa elas várias TFPs, Bureaux-TFP e asC 1\Touc1sMo -

Nobreza e elites tradicionais análogas O mais rece nte li vro ele Plini o Corrêa ele Olive ira é Nobreza e elites tradicionais análogas nas a/ocuç()es de Pio X II ao Pa triciado e à

Novemb ro-Dezemb ro rn%

qual comenta as catorze aloc uções diri gidas pelo pranteado Po ntífice ao Patr iciado e à Nobreza rom ana. Estas co ntêm um apelo a qu e sejam preservados cuidadosamente, nos pa íses co m trad ição nobi Iiárqu ica, as aristoc racias respecti vas. Plí ni o Co rrêa de Oliveira salienta o importa nte pape l das di ve rsas elites, realça ndo o va lor reiigio o e cul tural das tradições ele que são portadoras, e a árdua mi ssão que lhes cabe a serv iço do bem co mum es piri tua l e te mpora l no co nturb ado mundo de hoje. Inicialmente lançado em Portuga l, seguiram-se- lhe edi ções na Itália, Fra nça, Es panh a, Es tados Unidos, Chi le e Arge ntina. Enco ntra-se no pre lo um a edi ção alemã. Entre as di versas mani fes tações ele apo io e de fe licitações que o Autor rece beu, destacam-se as cartas dos Ca rdea is Alfo ns Sti ckler, Bernard ino Echeverría Rui z, Mar io Lui gi Ciappi e Silvio Ocld i; ci o Pe . An as tas io Guti érrez, CMF, bem co mo dos renomados teó logos Pe. Ra imondo Spi azz i, OP e Pe. Victo rin o Rodrí g uez y Rodríguez, OP. Eis co mo encerra seu últi mo livro: "No momento em que escrevemos, estão desagregadas

Acima, a TFP em campanha. À esquerda: Plinio Corrêa de Oliveira em Roma, com diretores da TFP. Nas demais fotos: após a missa pelas vítimas do comunismo, em frente à catedral de São Paulo; com o presidente Castello Branco e recebendo o Cardeal Slipyj, Arcebispo-mor dos ucranianos.

C 1\TOLJCI SMO -

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:,, A última obra de Plinio Corrêa de Oliveira, sobre a nobreza e elites análogas, rece beu e logios de grandes intelectuais eclesiásticos e leigos.

as nações que outrora consti tuíram a URSS . As fricções entre elas vão-se acentuando, agravadas notavelmente pelo fato de que algumas dessas nações poss uem meios de deflagrar uma guerra atômj ca. "Não é improvável que, uma vez desencadeada uma situação bélica no interior da ex-URSS, ela venha a envolver nações do Ocidente, das mais importantes, o que por sua vez poderia acarretar conseq üências de porte apocalíptico. "Uma dessas conseqüências poderia faci lmente ser a rrugração, para a Europa Central e Ocidental, de populações intei.J·as acossadas pelo medo dos riscos de guerra e pela fome já tão premente na atualidade. Esta migração poderia revestirse, então, de um caráter crítico imprevisivelmente grave. "Para completar este quadro, seria preciso ter em conta a imensa onda fundamentali sta que percorre os povos do Islã. "O que resultará para o mundo senão a exalação de uma confusão geral que promete a todo o momento catástrofes iminentes, contraditórias entre si, que se desfazem no ar antes de se prec ipitarem sobre os mortais, e ao fazê-lo geram a perspectiva de novas catástrofes, ainda mais iminentes, ainda mais contraditórias? As quais quiçá se evanesçam, por sua vez, para dar origem 16

a novos monstros, ou quiçá se co nv ertam em realidades atrozes. "Quem o sabe? Quem sabe se será isso? Se será só ( !)

isso? Se será ainda mai s e pior do que isso? "Tal quadro seria desalentador para todos os homens que não têm Fé. Pelo contrário, para os que têm Fé, do fund o deste hor izo nte sujamente confuso e torvo, uma voz, capaz de despertar a mais alentadora confiança, faz-se ouvir: 'Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!' (4) "Há, portanto, razões para esperar. Esperar o quê? A aj u-

No Santuário do Sagrado Coração de Jesus, que freqíientou desde a infância.

da da Prov idência a qualquer trabalho executado com clarividência, rigor e método, para afastar do mundo as ameaças que, como outras tantas espa-

das de Dâmocles, estão suspensas sobre os homens. "Importa, pois, orar, confiar na Providência, e agir." //Eco fidelíssimo do supremo Magistério da Igreja" Tão numerosos são os empreendimentos de Plinio Confa de Oliveira, que o reduzido espaço destas páginas não comporta sequer sua enumeração. Sua vida, entretanto, não se caracterizou apenas por uma

CATOLICISMO -

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fec unda operosidade. Foi ele, sobretudo, homem de fé. Não uma fé com um, mas uma fé profunda, reverente e entusiasmada na única Igreja verda-

deira, do único Deus verdadeiro, a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Exemplo dessa fé e desse amor entranhado e ardoroso à Santa Igreja é o seguinte trecho de uma Via-Sacra, por ele composta e publi cada em Catolicismo, em março de l 95 l: "No Véu [de Verônica], a representação da Face divina foi feita como num quadro. Na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana ela é feita como num espelho.

"Ern. suas instituições, em sua doutrina, em. suas leis, em sua unidade, em sua universa lidade, em sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo . .... "Pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua. Devemos pensar como a Ig rej a pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igrej a quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica e completa, uma piedade projúnda e sincera. Em outros termos, supõe o sacrifício de uma existência inteira." Como corolário de seu profundo amor à Santa Igreja, Plinio Corrêa de Oliveira nu tria grande devotamento ao Sumo Pontífice. A tal ponto que em uma de suas últimas palestras, para um grupo de jovens da TFP, afirmou que, ao chegar ao termo desta vida, seu último alento seria um ato de amor, de veneração e de fidelidade ao Papado. Não era outro o espírito que o animava ao escrever a conclusão de seu livro Revolução e Contra-Revo lu ção . Não quis encerrá-lo "sem um preito de filial devotamento e obediência irrestrita ao 'doce Cristo na te rra ', co luna e

fundam ento i11f'alível da VerEssa submissão incondi cidade ... . onal ao Supremo Magistério '"Ubi Ecclesia ibi Christus, da Igreja, que se refletia em toubi Petrus ibi Ecclesia' .É pois dos os seu atos, palavras e espara o Santo Padre que se critos, foi merecidamente revolta todo o nosso amor, todo conhecida pela Sagrada Cono nosso entusiasmo, toda a gregação dos Seminários e nossa dedicação .... Universidades, em carta de "Sobre cada uma das teses elogio ao livro Acordo com o que o constituem [o livro Reregime comunista: para a vo lução e Contra-Revo luIgrej a, espera nça ou ção] não temos em nosso co- autodemolição?, assinada ra ção a menor dúvida. pe lo Ca rd eal Giuseppe Sujeitamo-las todas, porém, Pizzardo, então Prefeito da irrestritamente ao juízo do mencionada Congregação. Vigário de Jesus Cristo, dis- . Afirmava o ilustre Purpurado postos a renunciar de pronnessa missiva: to a qualquer delas, desde "Congratu lamo- nos .... que se distancie, ainda que com o eg régio autor, merede leve, do ensinamento da cidamente célebre por sua Santa Igrej a, nossa Mãe, ciência filosófica, histórica Arca da Salvação e Porta do e sociológica, e auguramos Céu. " a mais ampla difusão do CATOLICISMO -

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denso opúsculo, que é um eco fidelíssimo de todos os Documen tos do supremo Magistério da Igreja, inclusive as luminosas Encíclicas 'Mater et Magistra ', de João XXII!, e 'Ecclesiam Suam' de Paulo VI. " Esta obra correu o mundo, traduzida em dez idiomas. Repercutiu atrás da cortina de ferro, dando origem a polêmica entre o autor e um jornalista polonês, com repercussões na imprensa francesa. Seguiu-se-lhe outra obra de vulto, Baldeação ideológica inadvertida e diálogo, a qua l igualmente varou acortina de ferro. Denunciava um ardiloso processo de persuasão, adotado pela propaganda comunista, mediante a utilização de palavras-talismãs como "diálogo", "coexistência pacífica" e "paz".

Amor entranhado à Santíssima Virgem e à Sagrada Eucaristia Plinio Corrêa de Oliveira fo i, em grau eminente, um paladino da devoção a Nossa Senhora. Pertencia à Ordem Terceira do Carmo sob o nome de Irmão Isaías de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Seu exemplo edificante, seus livros e artigos, seus discursos, estavam sempre imbuídos do espírito de uni ão que o católico deve ter com Aquela que é a Mãe de Deus e a Medianeira de todas as graças.

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A devoção a Maria Santíssima, à Sagrada Eucaristia e ao Papado três notas distintivas da espiritualidade de Plinio Corrêa de Oliveira. Embaixo, discurso para centenas de milhares de pessoas no IV Congresso Eucarístico Nacional, em 1942, em São Paulo.

Incansável em recomendar o recurso a Maria, nunca perdia uma oportunidade de conseguir para Ela um novo devoto, de exaltar seu nome, de colocar em al gum local adequ ado uma imagem dEla, de sugerir um ato de piedade marial. Quantas e quantas vezes algum jovem cooperador da TFP, ao lhe pedir um conselho, ouvia de seus lábios: "Tenha mais de voção a Nossa Senhora".

A recitação do Rosário, da Ladainha Lauretana, do Pequeno Ofício da Santíssima Virgem, a renovação diári a de sua consagração como escravo de Maria- segundo o método de São Luís Mari a Grignion de Montfort - , o uso da Medalha Mil agrosa e do escapul ári o do Carmo, a visita aos santuários marianos ou a simples imagens piedosas, eram algum as de suas devoções ass íduas. Se é verdade que, para desdita do Brasi l, o movimento das Congregações Marianas, outrora tão fl orescente, defi nhou nos últimos 50 anos, também é verdade que dentro cio coração de PI inio Corrêa de Oliveira aquele manancial de 18

amor à Mãe de Deus, que caracterizava o movimento mari ano, cresceu incessantemente. A par da devoção a Maria, não era menos ardente, na alma desse batalhador i mpertérrito, à piedade eucarística, Desde seu ingresso no movimento católico, em 1928, foi grande incentivaclor da comunhão diária, prática qu e ele mesmo cultivou , fonte de graças onde retemperava as forças para levar adiante a árdua luta ideológica contra-revolucionária.

cristã - era de fato a personificação das melhores qualidades do povo brasileiro. Amava de forma particular sua Pátria, convencido de que para ela, para além da terrível crise em que se debate atualmente - crise muito mais religiosa e moral do que política, social e econômica - está reservado um futuro grandioso . Futuro nas vias da civilização cristã, e sob o signo da Cruz que a

Brasileiro prototípico "Exe mplo vivo da cordialidade brasileira " ,

Plínio Corrêa de Oliveira por sua inigualável bondade e afabilidade de trato, que cativava todos quantos o conheceram; por sua inteligência ágil e intuitiva; por seu espírito universal e abarcativo, sempre pronto a reconhecer e admirar as qualidades das outras nações, especialmente daquelas onde com maior esplendor floresceu outrora a civilização

Divina Providência gravou de modo admirável em nosso firmamento, como que a nos recordar continuamente nossa vocação. Em memorável di scurso proferido em São Paulo em 1942, por ocasião do IV Congresso Eucarístico Na cional, Plinio Corrêa ele

Oliveira, ovacionado entu-

CAtou c1sMo - Novembro-Dezembro 1995

siasticamente por centenas ele milhares de católicos que lotavam o Vale do Anhangabaú, afirmava: "Tempo houve em que a História do mundo se pôde intitular 'gesta Dei per francos'. Dia virá em que se escre ve rá ' gesta Dei per

brasilienses' . "A missão providen cial do Brasil consiste em cresce r dentro de suas própri as front e iras, em d e sdo brar aqui os es plendores d e uma civilização genui namente católica, apostólica e romana, e em iluminar amorosam ente todo o mundo com o fa cho desta grand e lu z, qu e s e rá ve rdade i reun ente o ' Lumen Christi ' qu e a Igreja irradia. .... Se alg um dia o Brasil f o r g rande, sê- lo á para bem do mundo inteiro : 'Sejam entre vós os qu e governam c om o os qu e ob ed ece m' , di z o R ed entor. O Bra s il não será grande pela conquista, mas pela Fé; não se rá ri c o p e lo dinh e iro tanto quanto pela gene ros idade. Realm ente, se soube rmos s e r fi é is à Roma dos Papas , poderá nossa c idade ser uma nova Je rusalém, de be le za pe rfeita, honra, g lória e gáudio do mundo int eiro . " (5)

Como pétalas em torno da corola, reuniram-se à TFP milhares de correspondentes e simpatizantes. Nesta foto, Plinio Corrêa de Oliveira fala aos participantes do VIII Encontro.

Fundador da TFP brasileira e inspirador das demais TFPs Uma das principais credenciais de urna associação, de um movimento, de uma escola de pensamento, é a personalidade de seu fundador ou inspirador. As TFPs não são exceção a esta regra. Embora associação civil, a TFP brasileira não deixa de ter certos traços de analogia com uma Ordem ou Congregação religiosa. Em conseqüência, estabeleceu-se entre Plinio Corrêa de Oliveira e os membros da TFP uma relação análoga à existente entre o Fundador de uma instituição religiosa e seus discípulos. Seu exemplo de vida, sua Fé inabalável, sua piedade intensa foram e continuam a ser, agora que Deus o chamou a si, sustentáculo espiritual de todos os componentes da TFP brasileira, bem como das demais TFPs autônomas e coirmãs, em meio à borrasca contemporânea. Não poucos lhe devem a graça imensa da perseverança na Fé; muitos outros, que andavam transviados pelos caminhos tortuosos do mundo, devem às suas palavras, à sua dedicação e aos seus sacrifícios o retorno ao bom caminho. Sua solicitude por todos e cada um dos que integram as fileiras da TFP era irrestrita, podendo-se dizer que não há

sócio ou cooperador que não o tenha como um verdadeiro pai. Seu desvelo paternal atingia o auge quando se tratava do bem espiritual daqueles que a Providência tinha posto, de alguma forma, sob seus cuidados, nunca perdendo ocasião de dar um bom conselho, ter algum gesto de atenção ou uma palavra de estímulo. Sobretudo nesses momentos, tornava-se patente um dom sobrenatural .com que a Providência o tinha favorecido de forma inteiramente extraordinária: o de perscrutar as intenções e os segredos dos corações. O acerto impressionante ele seus conselhos, o discernimento agudo da psicologia do interlocutor, e até de cogitações inconfessadas dele,

não deixavam lugar a qualquer dúvida sobre a origem sobrenatural de tal dom . 1nesquecíveis conferências Plínio Corrêa de Oliveira foi , indiscutivelmente, homem de ação . Até seus últimos dias manteve uma atividade incansável. Realizava quatro conferências semanais para o conjunto dos membros da TFP que residiam em São Paulo ou que ali se encontravam de passagem, além de atender diariamente membros das mais diversas comissões ele trabalho ou de estudo existentes na entidade, a tal ponto que sua jornada se prolongava, de modo habitual, noite adentro, até as três horas da manhã.

Se o número ele livros e ensaios (dezessete), bem como de artigos, manifestos e outros escritos publicados (mais ele 2.500), reflete bem seu intenso dinamismo, mai s impressionante ainda é o total de conferências e palestras de formação por ele feitas na TFP, que ultrapassa 20 mil ao longo destes últimos 35 anos. As inesquecíveis conferências semanais denomin adas R euniões de Reco rtes constituíam momentos cios mais solenes na vida intern a da TFP. Tiveram elas sua ori gem nos remotos tempos cio grupo do Leg ionário , quando o ainda jovem congregado mariano Plinio Corrêa de Oliveira, reunindo se us pri meiro s companh eiro s de

CATOLICISMO - Novembro-Dezembro 1995 19


Gravemente fe rido em 1975 (foto abaixo), Plinio Corrêa de Oliveira sempre se manteve confiante no auxílio de Maria Santíssima.

Plinio Corrêa de Oliveira foi não só um grande pensador, mas deixou fundada uma escola de pensamento e ação

luta, instruía-o s com análi ses penetrantes dos acontecimentos da época, à luz da doutrina católica. O nome Reunião de Reco rtes se deve ao fato de qu e era com base eli1 recorte s de jornai s da imprensa nacional e internacion al, por ele próprio selecionados, qu e tecia seus clarividentes comentários. Ao longo dos anos e das décadas, foi diversificando os temas e os tipos de exposição, segundo o interesse manifestado por seus ouvintes. Aos olhos destes reluzia sua lógica irrepreensível, bem como a clareza cristalina de seu pensamento, pois sabi a embelezar de modo a tornar extremamente atraente e leve tudo qu anto di zia. Escola de pensamento e de ação Plínio Corrêa de Oliveira deixa fundada uma escola de pensamento e de ação. Ela é caracterizada, antes de tudo, por uma adesão total e entusiasmada à doutrina tradicional e infa lível da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Ou seja, às definições impostas a todos os fi éis pelo Supremo Magistério, bem como ao ensinamento uniforme do seu Magistério ordinário e universal no decurso dos séculos.

com a qual iniciava se u Auto-retrato filos ófico (ain-

da inédito). A partir da análise direta da realidade, à luz da Fé, deduziu uma série de princípios,

O Cruzado do século XX Relatam as crônicas medievais que o Duque da Baixa Lorena, Godofredo de Boui Uon, chefe da primeira Cruzada, era homem de força extraordinária. Em vista de suas proezas, indagavam-lhe qual a origem de tal força, ao que respondia resolutamente: "Souforte porque sou casto".

A cruzada ideológ ica de Plínio Corrêa de Oliveira ex igia uma força de alma em muitos aspectos superior à do intrépido guerreiro medieval. Teve a coragem de, sem temor servil nem respeito humano, rumar sozinho contra a maré daquilo que outrora se qua li ficava de modernidade, e enfrentai· de viseira erguida todo tipo de perseguições que os adversários lhe moveram, fosem absurdas cam panhas ele calúni as ou o implacável silêncio. Se é verdade que a fo rtaleza de alma para levar ad iante essa luta encontrou-a sobretudo no auxílio maternal da Santíssima Virgem, poderia ele afirmar também , tal como Godofredo de Bouillon, "sou muitos dos quais se encontram expostos de forma metódica e sintética no magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução, e de modo geral em to-

dos os seus escritos. Uma de suas preocupações · primordiais era a explicitação "Sou tomista convicto", era a afirmação a um tempo dos princípios que devem simple , clara e categórica nortear a construção de uma

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sociedade plenamente inspirada na doutrina católica. Encontramos, em Revolução e Contra-Revolução, suas conclusões condensadas nestas palavras:

CA'l'OLICISMO -

"Se a Revolução é a de sordem, a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou sej a, a ci vi li zação cristã, austera e lúerárquica, fundamentalmente sac ra [, a ntii g ua litária e antiliberal".

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cipais qu alidades que, segundo Pio XII, devem se r apanág io da Nobreza: fortaleza de ânimo, prontidão para a ação, generosa adesão aos princípios da doutrina e da vida cristã, cavalheirosidade aristocrática, humildade cheia de grandeza. A estas se acrescentava m um notável senso de honra, de lealdade, de veracidade, a distinção de um gentil -homem, o tino e arg úcia de um diplomata, a perspicácia de um estrateg ista. Um dos aspectos mais originais da batalha incru enta condu zida por Plínio Corrêa de Oliveira é o método de atuação por ele ideali zado, e posto em prática por todas as TFPs: campanh as de rua em contato direto com o público, nas quais os propagandistas da entidade arvora m altaneiros estandartes rubros, marcados com o leão heráldico, e envergam capas vermelhas,

evocando a simbologia da cavalaria cristã medieval. São algumas das ocasiões em que reluz de modo es pecial o "charme grandioso da TFP", como se expres-

sou um jornalista. Pode-se afirmar que Plínio Corrêa de Olivei ra, batalhador clarividente e in cansável co ntra todos os fato res de degradação que corroem nossa sociedade, foi, a justo título, o Cruzado do século XX.

Vítima expiatória "A Santa Igreja Católica é a luz de meus olhos", afirmava

Plinio Con-êade Oliveira. A crise que nos últimos 30 anos se abateu sobre a Esposa Mística de Jesus Cristo doía-lhe profundamente. Crise tão grave que Paulo VI chegou a compai·á-la a uma "autodemolição" (6). João Paulo II, também aludin-

forte porque sou casto".

Castidade combativa, castidade destemida, idea l de vicia que transmitiu a seus discípulos da Contra-Revolução. Aristocrata pelo sangue, e ainda mais pelo espírito, em Plínio Corrêa de Oliveira brilhara m em alto grau as prinCATOLICISMO -

do a ela, denunciou a difusão de "verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, que criam dúvidas, confu sões e rebeliões" (7).

Essa triste situação da Santa Igreja - que se reflete na sociedade do Ocidente, aguçando seus já tão graves problemas -, a Plínio Corrêade Oliveira se afigurava insolúvel sem um especial auxílio do Céu. A fim de apressar o triunfo do Imaculado CoraçãodeMaria-comoa Virgem prometera em Fátima- parecia-lhe necessário haver almas que se oferecessem como vítimas expiatórias, conforme tradição duas vezes milenar da Igreja. Nanoitede lºdefevereirode 1975, durante uma reunião na TFP, ele se ofereceu explicitamente nessa intenção. Apenas 36 horas depois, era gravemente ferido em acidente, numa estrada deJundiaí. As seqüelas desse acidente perdw-aram até o fim de sua vida. Foram vinte anos de múltiplas cruzessuportadascomânimoadmiravelmente resoluto, que culminaram com sua internação, no

dia l º de setembro último, no H ospital Oswaldo Cru z , e m São Paulo, acometido de grave enfermidade. Após mais de um mês de indizíveis sofrimentos, aceitos com resignação cristã e na mais absoluta paz de alma, a mão de Deus veio colhêlo para o conduzir à glória celeste.

"Ad te levavi oculos meos ... " Desde os lon g ínquo s anos da infâ ncia de Plinio Corrêa de Oliveira até os presentes dias, mud ara m, num hu-bilhão confuso, não apenas os cenários, os atores e as ituações, mas a própria concepção do que se entende por viver. Ele, entretanto, manteve-se fiel a seus ideais primevos. E é precisamente por essa coerência que o respeitai·am até mesmo muitos de seus adversários. Vencendo ou experimentando reveses, voltando à carga ou recuando, nunca se vergando ao embate das mais furiosas tempestades, mas, em qualquer caso, mantendo bem alto o estandarte de suas convicções e proclan1ando-as com galhardia, continuou sempre idêntico a si mesmo. Diante dos 87 anos de vida e 67 de luta de Plínio Corrêa de Oliveira, Catolicismo deseja exprimir nesta hora de dor, en-

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Plinio Corrêa de Oliveira foi a personificação do ideal do batalhador católico, cujo perfil moral ele traçou para os integrantes das TFPs: no idealismo, ardor; no trato, cortesia; na ação, devotamento sem limites; na presença do adversário, circunspecção; na luta, altaneria e coragem e, pela coragem, alcançar a vitória!


O reconhecimento de eclesiásticos de renome

• Com pequenas adaptações, o documento ac ima íoi divulgado em vá ri os países, subscrito pelas seguintes assoc iações ela grande íamília ele almas que Linha cm Plini o Corrêa de Oli veira seu mestre, modelo e gui a: volta em imorredouras saudades, toda a sua admiração e gratidão. Em unísso no com o qu e havi a de mais profundo na alm a de sse varão ímpar, voltamo-no·s a Mari a Santíssima, a quem cabe, em mais alta instância, esta admi ração e esta gratidão. Pois Ela- que é a Estrela do Mar, a Estrela da Manhã - foi a estrela que lhe iluminou a vida e lhe deu força de herói. E, no desejo de continuar a palmilhar a trilha indicada por seu incomparável e inesqu ecível insp irador, Catolicismo faz suas as mag níficas palavras co m as qu ais Plínio Corrêa de Oliveira encerrava a edição de 1993 de se u li vro Revo lução e Contra- Revolução: "Em meio a esse caos [no qu al vai afundando o mundo hodierno], só algo não variará. É, em meu coração e em meus lábios, como no de todos os que vêem e pensam comigo, a oração transcrita um pouco acima: ' Ad te leva vi oculos meos, qui habitas in Caelis . Ecce sicut oculi servorum in manibu s dominorum suorum , sicut oculi ancillae in manibus dominae suae; ita oculi nostri ad Dominam Matrem nostram donec misereatur nostri' .(8) É a afirmação da invariável confiança da alma católica, genuflexa, mas firme, em meio à convulsão geral. 24

"Firme com toda a firme za dos que, em meio à borrasca, e com uma força de alma maior do que esta, continuarem a afirmar do mais fimdo do coração: 'Credo in Unam, Sanctam, Catho li cam et Apostolicam Ecclesiam', ou seja, creio na Igreja Católica, Apostólica, Romana, contra a qual, segundo a promessa feita a Pedro, as portas do inferno não prevalecerão".

Notas: 1. "Legionário", 20- 12-36. 2. "Jorna l de Minas", Belo Hori zo nte, 3-7-86. 3. "O Estado de S.Pau lo", 8-4-77. 4. Cfr. Anton io Augusto Borell i Mac hado, "As aparições e a mensagem ele Fátima conforme os manu scritos da Irmã Lúcia", Vera Cru z, São Paulo, 1980, p. 45. 5. "Legionári o", 7-9-42 . 6. Aloc ução de 7- 12-68. 7. Alocução de 6-2-8 1. 8. "Levanto meus o lh os para vós, q ue hab itais nos Céus. Assim como os olhos dos servos estão fixos nas mãos de se us senhores, como os olhos da escrava nas mãos de sua senh ora , assim nossos olhos estão fixos na Senhora, Mãe nossa, até qu e Ela ten h a mi se ri córdia d e nós" (adaptação do Sa lmo l 22, 1-2).

CATOLICISMO -

Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade American Society for the Defense of Tradition, Family and Property Canadian Society for the Defence of Tradition, Family and Property/ Société Canadienne pour la Défense de Ia Tradition, de la Familie et de la Propriété Sociedad Argentina de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Sociedad Colombiana de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Sociedad Ecuatoriana de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Sociedad Espafiola de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad - TFP Covadonga Sociedad Paraguaya de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Sociedad Uruguaya de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Société Française pour la Défense de la Tradition, Familie et Propriété Núcleo Peruano Tradición, Familia, Propiedad Centro Cultural Reconquista - TFP Lusa (Portugal) TFP venezuelana no exílio TFP Büro Deutschland (Alemanha) The Australian TFP Centre Tradición Familia Propiedad - Costa Rica Tradition Family Property - Bureau for the United Kingdom (Inglaterra e Escócia) Tradition Family Property - New Zealand Ufficio Tradizione, Famiglia, Proprietà (Itália) Aeterni Patris Cultural Centre (Índia) Fundacja Polska dia Kultury Chrzescijanskiej (Polônia) Jóvenes Bolivianos pro Civilización Cristiana Saint Thomas Aquinas Youth Association (Filipinas) Young South Africans for a Christian Civilization (África do Sul)

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Ao longo de sua labori osa ex istência, Plini o Corrêa de O li veira recebeu signifi cati vo apo io de personalidades da Igreja, reco nh ecend o a ortodoxia e a opo rtunidade de sua profícua obra literári a. Destacamos trechos das cartas mais importantes.

de Curitiba); D. Ernesto de Paula, Bispo de Jacarezinho (depois Bispo-Auxi liar de São Paulo) ; D. Otávio Chagas de Miranda, Bispo de Pouso Alegre; D. Frei Daniel Hostin, Bispo de Lajes; D . Ju vencio de Brito, Bispo de Caetité; D. Franci sco de Assis Pires, Bispo de Crato; D. Florencio Sisino Vi eira, Bispo de Amargosa; D. Severino Vi eira, Bispo do Pi auí; D. Frei Germano Vega Campón, Bispo-Prelado de Jataí."

Em defesa da Ação Católica

O primeiro livro de Pl inio Corrêa de Oliveira, Em defesa da Ação Católica, saiu a lume com uma carta-prefácio de D. Bento Aloisi Masela, Núncio Apostólico no Brasil (mais ta rd e Cardeal Camerlengo), onde se lê: " ...inculcar e aprofu ndar os genuínos e tradicionais princípios da Ação Católica contidos na mina prec iosa dos documentos pontifíc ios, como precisamente se propôs o Dr. Plínio Corrêa de Olive ira, di g no Pres id ente da Junta Arquidi ocesana da Ação Católica de São Pau lo, na obra intitulada 'Em defesa da Ação Católica'. "Sendo sempre úti I e proveitoso estudar e med itar essas verdades, estamos certos de que este liv ro, escrito por um homem que sempre viveu na Ação Cató lica e cuj a pena está inteiramente ao servi ço da Santa Igreja, fará muito bem às almas e promoverá a causa da Ação Católica nesta terra abençoada de Santa Cruz." A mes ma obra valeu a Plinio Corrêa de Oliveira carta de louvor assinada por Mons. J. B. Montini, posteriormente Papa Paulo VI, então substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, escrita em nome do Papa Pio XII, em 26-2- 1949: "Levado por tua dedicação e piedade filial , ofereceste ao Santo Padre o li vro 'Em defesa da Ação Católica', em cuj o trabalho revelaste aprimorado cuidado e incansável di ligência.

Revolução e Contra-Revolução

S. S. Pio XII

"Sua Santidade regozij a-se co nti go porq ue exp lanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica. "O Augusto Pontífice de todo o coração faz votos que deste teu trabalho resul tem ricos e sazonados frutos, e colhas não pequenas nem poucas consolações". Plinio Corrêa de Oli ve ira recebeu ainda cartas de apo io a Em defesa da Ação Católica dos seg uintes prelados: D . Helvecio Gomes de Oli ve ira, Arcebi spo de Mariana; D. At ico Eusebio da Rocha, Arcebispo de Curitiba; D. João Becker, Arcebispo de Porto Alegre; D. Joaquim Domingues de Oliveira, Arcebispo de Florianópo lis; D. Antonio Augusto de Assis, Arcebispo-Bispo de Jabuticaba!; D. Otaviano Pereira de Albuquerque, Arcebispo-B ispo de Campos; D. Alberto José Gonçalves, Arcebispo-Bispo de Ribeirão Preto; D. JoséMaurício da Rocha, Bispo de Bragança Pau lista; D. Henrique Cesar Fernandes Mourão, Bispo de Cafelândia (hoje diocese de Lins); D. Anton io dos Santos, Bispo de Ass is; D. Frei Luís de Santana, Bispo de Botucatu; D. Manuel da Silveira d'Elboux, Auxiliar de Ribeirão Preto (depois Arcebispo CATOLICISMO -

Novembro-Dezembro 1!195

Mons. Romulo Carboni , então Núncio Apostólico no Peru, mais tarde representante da Santa Sé junto ao governo italiano, em carta de 24-7- 1961 ass im elogia uma das principais obras de Plinio Corrêa de Oli veira: "A leitura de seu li vro Revolução e Contra-Revolução causou-me magnífica impressão, tanto pela justeza e acerto com que analisa o processo da Revolução e desenvolve as verdadeiras origens da quebra dos valores morais que desorientam as consciências em nossos di as, como pelo vigor com qu e assinala a tática e os métodos de luta para superá- la. "Particul armente me agrada a segun da parte de seu livro, consagrada a ressaltar a eficácia da doutrina católica e dos recursos espirituais com que conta a Igreja para opor-se a e debelar os erros da Revolução. "Estou certo de que com seu douto livro o Sr. prestou um singular serviço à causa católica e contribuirá para concentrar as fo rças do bem na rápida solução do grande problema contemporâneo." Em parecer de 8 de setembro de 1993 sob re o mesmo livro, o Pe. Anastasio Gutiérrez, CMF, grande canonista, é categórico: "Revolução e Co ntra-Revo lução é uma obra magistral, cujos ensinamentos

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deveriam ser difundidos até fazê- los penetrar na consciência de todos os que se sintam verdadeiramente católicos ·,..... "Não me resta senão congratul ar-me com a Instituição TFP por ter um Fundador da altura e qualidade do Prof. Plinio. Prevejo para a Instituição, e desejo com toda a minha alma, um vasto desenvolvimento e um porvir cheio de êxitos contra-revolucionários. "Concluo dizendo que impressiona fortemente o espírito com que a Obra está escrita: um espírito profundamente cristão e amante apaixonado da Igreja. A Obra é um produto autêntico da sapientia christiana. Emociona também ver em um leigo ou pessoa sec ul ar um a devoção tão sincera à Mãe de Jesus e nossa: sinal claro de predestinação."

nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana" . ....

"Através dos comentários e da documentação com os quais V. Exª propicia uma mais completa compreensão de todo o alcance do magistério de Pio XII, pa-

A liberdade da Igreja no Estado comunista Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades, da Santa Sé, em carta assinada pelo Cardeal Giuseppe Pizzardo (Prefeito da Congregação) e pelo Arcebispo Dino Staffa (Secretário, depois também Cardeal), em 2-12-1964 tece ao Autor um dos maiores elogios que um leigo católico pode receber: "Somente agora pudemos ler o amplo e profundo estudo do ilustre Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sobre o importante tema "A liberdade da Igreja no Estado comunista". "Congratulamo-nos .... com o egrégio Autor, merecidamente célebre pela sua ciência filosófica, histórica e sociológica, e auguramos a mais larga difusão do denso opúsculo, que é um eco fidelíssimo de todos os Documentos do supremo Magistério da Igreja."

Nobreza e elites tradicionais análogas O Cardeal Silvio Oddi, em carta ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, de I 0-21993, escreve: "Li com vivo interesse a sua obra "Nobreza e elites tradicionais análogas

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Senhor, pela vida exemplar e pela sua liderança de verdadeiro católico". Pe. Victorino Rodríguez, O.P. , um dos mais conceituados teólogos contemporâneos, em carta a Plinio Corrêa de Oliveira, de 25-1-1993 , declara: "Li com toda a atenção o original da sua magnífica obra "Nobreza e elites tradicionais aná logas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana" . .... Admiro o seu ardente desejo de acertar ao querer levar avante esta causa tão

Cardeal Mario Ciappi

Cardeal Alfons Stickler

compreendidas tanto a opção preferencial pelos nobres - inspirada em Pio XII, e que V. Exª traz à luz - quanto a opção preferencial pelos pobres, à qual o atual Pontífice dedica o seu profundo amor."

apresentar o livro "Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobre za ro mana" afirma: "Cremos que a publicação do livro de P líni o Corrêa de Oliveira é um brado profético que conc lama a soc iedade contemporânea a fazer um exame de consciência so bre a verdadeira nob reza que distinguiu os homen s do passado e sob re as autênticas virtudes com que se deve contribuir para formar uma sociedade mai s hum ana e mais cristã".

Cardeal Silvio Oddi

tenteiam-se uma grande erudição e segurança de pensamento, postas justamente em relevo pelo conhecido historiador francês Georges Bordonove no seu prefácio a esta obra." O Cardeal Mario Luigi Ciappi, em carta ao Autor, de J 8-2-1993, ass im se exprime: "O seu ilustre renome e as palavras de aplauso e estímulo à sua obra proferidas pelo insigne Pe. Victorino Rodríguez O.P., geralmente considerado como uma das glórias da teologia contemporânea, levaram-me a ler com vivo interesse o livro "Nobre za e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana ". "Faço votos, pois, de que seja bem recebido este livro, ao qual V. Exª dedicou os amplos recursos da sua inteligência e da sua erudição, além do seu ilimitado amor à Igreja. Queira a Divina Providência favo recer uma ampla difusão dele, para que possam ser sempre mais CATOLICISMO -

Novembro-Dezembro 1995

O Cardeal Alfons M. Stickler, em 193-1993, escreve a Plinio Corrêa de Oliveira sobre o mesmo li vro: "Agradeço-lhe de coração o gentil presente da sua obra "Nobreza e elites tradicionais análogas nas a.locuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Ro mana" "Alegro-me por este livro e desejo-lhe uma larga difusão a fim de suscitar, sustentar e construir uma profunda e vasta sensibi lidade em relação a esse excelente instrumento de restauração de uma sã ética natural e de uma moralidade reli giosa rediviva , que levem toda a Humanidade àquela paz, prosperidade e felicidade que somente os autênticos e genuínos valores podem realizar e garantir. "A estes meus votos acrescento ardentes orações ao Senhor e à Mãe da Igreja, para que o sustentem na obra tão benéfica quanto angustiosamente atual no tempo em que vivemos." O Cardeal Bernardino Echeverria Ruiz, em arti go publicado no Boletim "TFP Informa", da TFP equatoriana, ao

Em carta de março de 1994, o Arcebispo emé rito de Aparecida, D. Geraldo Maria de Morais Penido, atesta: "Sou muito grato ao Sr. pela gentil oferta de seu importante livro so bre . Pio XII, o nobilíssimo e saudoso, santo e sá bio pastor universal da Igreja de Cristo. "Peço à qu erida Padroeira do Brasil, ao serviço da Qual es tou e vivo cada minuto, que abençoe seu esforço e sua altíssima competência, como cristão, como lei go e sobretudo pelo se u conhecido saber teológico ..... "Vão-lhe minh a pobre Bênção e a promessa de minhas orações pelo

Cardeal Bernardino Echeverria

nobre, e ao mesmo tempo a sua humi Idade ao pedir o parecer de quem sabe muitíssimo menos do que o Sr. sobre este tema ..... "Devo dizer-lhe que não encontrei absol utamente nada censurável, nem sequer melhorável no seu empreend imento. Desejo, isso sim, sublinhar aqui lo que considero como grandes acertos". Outro eminente teólogo dominicano, Pe. Raimondo Spiazzi, em carta ao Prof. Plínio Corrêa de Oliyeira, de 15-3-1993, assim se pronuncia: "Sua longa experiência como professor, deputado e homem púb lico torna os seus comentários inteligentes e didáticos, de modo a facilitar agradavelmente a leitura de Documentos Pontifícios de tão alto e tão apreciável valor. CATOLICISMO -

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"Não enco ntrei no cu rso das suas páginas nenhum erro teológico ou de o utro gênero, co nce rn ente aos ensinamentos da Igreja. Só me resta fazer votos de que a sua excelente obra receba plena acolhida de parte da opini ão pública". O sacerdote espanhol Frei Antonio Royo Marin, O.P. , uma das maiores autoridades em matéria de espi ritualidade, em carta ao presidente de TFPCovadonga, datada de 20-7- 1995, dá se u testemunho sobre Plínio Corrêa de Oliveira e a TFP: "Mú ltiplas circunstâncias me proporcionaram a oportunidade de conhecer a fundo a TFP, bem como vários de seus principais colaboradores internacionais, como também sua organização, funcionamento, lutas, expansão e vitórias. "Todos eles são cató licos praticantes em gra u superlativo. "Com sua Missa, Comunhão diária, reza integral dos 15 Mistérios do Rosário e outras práticas de piedade, todas elas t:radicionais e de uso habitual na Santa Igreja Católica. Não fazem nenhuma cerimôni a estranha ou obsoleta; todas coincidem com o mais autêntico espírito católico, apostólico, romano. Têm uma grande veneração pelo Romano Pontífice, a quem consideram como Vigário de Cristo e seu supremo representante no mundo. É entranhada a devoção à Virgem Maria e estão convencidos de que há de triunfar, por fim, no mundo inteiro, o seu Coração Imaculado como Ela prometeu em Fátima. "Assinalo também com particular alegria que tive ocasião de conhecer pessoalmente o grande fundador e mentor da mais antiga das TFPs, isto é, a do Brasi l'. O Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, notável como pensador, escritor e homem de ação, justifica inteiramente no contato pessoal a impressão que causa o estudo atento de sua vida e de suas obras . Sua simp les presença como figura de relevo da vasta famí li a das 25 TFPs que existem nos cinco continentes é uma garantia insuperável de fidelidade à Santa Igreja e à Santa Sé, das quais é um ardente devoto ."

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~ p arável da f igura de Plínio Corrêa

UMA TRADICIONAL DAMA PAULISTA

esta ocasião em que homenageamos nosso querido e saudoso inspirador e colaborador, os leitores certamente desejam conhecer alguns traços da vida e da personalidade da tradicional dama pauli sta que o formou e o conduzi u nas vias da virtude desde os primeiros anos de vida.

de Oliveira, sua bondosa, serena e aco lhedora mãe, Dona Lucili a, perfum ou de carinho extremoso, dura nte seis décadas, as vias desse varão cató li co, além de afagar-lhe e iluminarlhe a ex istência. A bondade e pac iência, res ignação e reso luto ân imo, em síntese a retidão ele Dona Lucilia serv iu a se u fil ho de seg uro apoio, de arrebatador exemplo e providencial auxílio. Do na Lucília exerceu profunda influência sobre a formação do caráter de Plini o Corrêa de Oli veira, que a ela se ligou com os mais estreitos víncul os de veneração fi li al. Além cios depoi mentos de muitas pessoas que com ela conviveram, nosso relato baseia-se em conversas do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira com membros das TFPs. Ali ás, ele não tomava a iniciativa ele fa lar de sua mãe. Porém, ao ser in stado a isto, seus comentários eram pervadidos da profunda veneração que ele votava a Dona Lucí lia. A razão última do grande afeto que os uni a era a Fé católica apostólica romana. Referindo-se certa vez a sua querida mãe, afirmou ele: "Ela era verdadeiramente uma senhora católica. Ninguém pode imaginar o bem _que ela me fez. Estudei sua bela alma com uma atenção contínua [para o comprovar}, e era por isso mesmo que eu gostava de la. A tal ponto que, se ela não fosse minha mãe, mas a mãe de um outro, eu gostaria dela da mesma maneira, e daria um jeito de ir morar junto a ela. Mamãe me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo, ensinou-me a amar a Santa Igreja Católica." A grande obra de Dona Lucil ia j unto a seu filho foi ter sabido transmitir- lhe a verda-

A grande obra de Dona Lucilia junto a seu filho foi ter sabido transmitir-lhe a verdadeira Fé

deira Fé. Não se limitou a conduzi-lo à pi a bati smal ou ao genufl exório ela Primeira Comunh ão, mas o -aco mp anh ou atentamente desde os primeiros passos, dando- lhe um a só lid a fo rmação reli giosa, fundam ento de toda a atuação posteri or cio gran de líder católico. E mes mo muito mais tarde, qu ando Plini o Corrêa de Oli veira, já experiente batalhador, encontrava-se engajado nas árduas pugnas em defesa ela Igreja e da Civili zação Cri stã, a prese nça de Dona Lucíli a continu ava a ser pa ra ele um bálsamo de suavidade reco nfo rtante.

Uma pergunta que não se faz a uma mãe

Plinio, recém-nascido, nos braços de sua mãe

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Pouco antes do nasc imento de Plini o - seu seg undo filh o- a Pro vid ê ncia s ubm e te u Do na Lucíli a a um a não pequ ena prova de confia nça, por ela enfre ntada com verdadeiro hero ísmo. Ao exa min á-l a, o médi co constatou que o parto seri a arri scado. Havi a grande perigo tanto para a mãe qu anto para a criança. Assi m, perg untou-lhe se não prefe riri a fazer um aborto, a fi m de sa lvar a própri a vida. Ante essa absurda inquirição, Dona Lucília, mui to desagradada, respondeu: - Douto r, esta não é um a pergun ta que se faça a uma mãe ! O senh or não deveria sequer tê-la cogitado ! Assi m, antes mesmo do nasci mento de Plín io, a maternalidade de Dona Lucília se exercia, em re lação a ele, com todo seu desvelo. O menino nasceu nu m domingo de manhã, no momento em que tocava m os sin os da igreja de Santa Cecília.

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O recém-nascido era tão franzino que o berço, caprichosamente preparado pela mãe, ficou grande demais. Contm11 pessoas da família que ela, conversando um dia com seu pai, Dr. Antônio Ribeiro dos Santos, respeitado advogado, manifestou aflição pelo fato de Plinio não apa rentar muita saúde. Dr. Antônio tomou-o nos braços, procurou a claridade junto a uma janela e, olhando bem o neto, tranqüilizou-a com estas palavras: -Este menino viverá muitos anos! Confiados a Deus antes de nascer Na missão educadora de Dona Lucília transpareceu com grande clareza o fundo cristalino de sua bela alma. Logo de início, empenhou-se no sentido de que seus filhos (Plini o e Rosée) aplicassem os primeiros lampejos de razão em distinguir duas imagens de sua devoção, uma do Sagrado Coração de Jesus, outra, de Nossa Senhora das Graças . À simp les pergunta: "onde está Jesus?", ou "onde está Maria ?", as crianças de imediato apontavam para a imagem correspondente. E, um pouco mais tarde, as primeiras palavras que lhes passariam pelos lábios seriam também os santíssimos nomes de Jesus e de Maria. Talvez por isso, anos depois, numa carta de 1925, enviada do Rio de Janeiro a seu filho , já moço, lembrará ela: " ... pois, como sabes, você e Rosée são confiados a Deus antes de nascer, e portanto, com fé e amor a Deus, vocês não poderão deixar de ser feli zes, tanto mais que, por vocês, eu rezo noite e dia, e é natural que as preces de uma mãe católica, mesmo de tão pouco mérito, sejam atendidas por Nossa Senhora, que também é mãe, e Nosso Senhor Jesus Cristo."

A bondade, o afeto e a doçura não excluíam a severidade e a intransigência quando se tratava do cumprimento do dever ou da rejei,ção ao mal

Plínio com sua irmã Rosée

Preparando os filhos para trilhar o caminho do dever Quem analisar de modo superficial asolicitude manifestada por Dona Lucilia na educação de seus filhos, poderá julgar erroneamen-

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te que a bondade, o afeto e a doçura, nela superabundantes, exc luíam as virtudes opostas a estas: a severidade, a intransigência em relação ao mal e o senso de justiça. Quando se tratava do cumprimento do dever, por mais difíci l que fosse, ou da rejeição ao mal, ela não cedia um milímetro, conservando embora toda a suavidade de trato. Nos horários, por exemplo, não permitia nenhuma mudança. Ex igia as orações da manhã e da noite, de antes e depois das refeições, como também hora exata para deitar, levantar e fazer sesta. Assim, numerosas obrigações diár ias, observadas fielmente, iam preparando seus filhos para escolherem o caminho cio dever, até mesmo nas grandes dificuldades da vicia. Foi em razão do desejo ele assim os ed ucar que ela, ao vis itar a Europa em 191 2, procurou uma governante capaz de formá-los segundo esses princípios. Durante sua estada na Alemanha, para onde viajara a fim de ser submetida a uma delicada intervenção cirúrgica, Dona Lucilia pôde aprec iar de perto algumas das qua li dades do povo germ ânico, dignas de admiração . Ao observar o senso ele ordem e disciplina cios alemães, a profunda noção que possuem cio cumpri mento do dever - aliada a uma certa candura, mui to ev idente na música e em outros tipos de arte-, bem como seu alto nível cultural, Dona Lucil ia logo avaliou todo o proveito que seus filhos teriam se fossem educados por uma governante dessa nacionalidade. "Um dos maiores benefícios que mamãe nos fez foi contratar a Fréiulein Mathilde Heldman ", comentaria mais tarde Dr. Plinio. De fato, coube a essa governanta estimular e formar, com maestria, a arte ele saber aproveitar todas as energias naturais com que Deus dota cada homem , qualidade que faz cios alemães povo tão labor ioso. Como servira em várias casas nobres, fa lava freqüentemente dos pupilos que tivera e contava suas recordações da Europa, o que aju-

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dava a reforçar a atmosfera tradicional da educação em casa cios Ribeiro dos Santos. "Enquanto ela m.e vestia ou me arranjava - lembrava Dr. Plini o - ia expli cando: - Essa gente da nobreza é que sabe como se vive, como se pensa, como se veste. Viver como se deve é viver como eles. "Como professora, e ra estup enda. Aprimorou nosso francês, ensinou-nos inglês e, como é natural, também alemão, que falávamos fluentemente. Aliás, conve rsava conosco sempre nessa língua. "O que de mais útil Rosée e eu recebemos delafoi o método alemão".

"Mamãe era excelente como consoladora ''

"Eu também rezo tanto por ti ... " Não era apenas por razões naturais que Dona Luci lia ded icava a seus filhos intenso afeto. A raiz mai s profunda deste era sua elevada devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a Quem tanto orava, como relataria numa carta a Dr. PI inio, com pal avras cheias ele unção: "Agraciou-me imenso saber que, quando te ns saudades minhas, rezas diante do meu oratório. Eu também rezo tanto por ti . O Sagrado Coração de Jesus, nosso amor, será teu sa lvaguarda e protetor, filho querido do meu coração !" Tal devoção, aliada à atmosfera ele reco lhimento que Dona Luci li a mantinha no lar, to rnava-o propício à prece e à contemp lação. Dr. Plini o recordava que, muitas vezes, ao voltar ele algum passeio ou festa infanti l, encontrava a casa imersa num ambiente que lhe evocava o som grave, nobre e ave ludado cio carrilhão ela Igreja cio Coração de Jesus. Isso contrastava com a superficialidade e a dissipação que, já nos remotos anos 20, vinham marcando cada dia mais a sociedade, fazendo-lhe entender melhor o modo ele ser, invariável e profundo, ele Dona Luci li a. "Foi por esse motivo que tomei uma resolução: de minha parte, também vou viver assim!" - contava Dr. Plínio. No fundo , ela ia ens inando os filhos a viverem de maneira virtuosa, pois era o que mais arde ntemente desejava. Daí seu grande empenho em lhes dar um a esmerada formação lembrança religiosa. inesquecível: a primeira Comunhão Dr. Plinio se lembrava dos idos tempos de seus seis ou sete anos ele idade, época em que aprofundou suas considerações sobre Nos-

Ci\TOLICISMO -

so Senhor Jesus Cri sto, ao contemp lar as image ns do Redentor em casa e em igrejas, ou lendo livros para crianças: "Já nos meus primeiros anos, tinha a convicção de que Ele era o Homem-Deus, porque mamãe o tornava claríssimo nas suas narrações da História Sagrada". Tão ri ca e penetrante foi a influência dela sobre os filhos , que Plinio chego u a dar aul as de catecismo aos criados da casa, com ape nas quatro anos, de pé sobre uma mesa, transmitindo-lhes o que ouvira cios piedosos láb ios maternos. De outro lado, impressionava vivamente as crianças ver em Dona Luci I ia a completa rejeição ao demônio, o adversá rio do gê nero humano. Tinha repugnância até ao nome dele, que não pronunciava senão quando indispensável, e ass im mesmo com expressão discretamente desagradada. Reputava ela, com toda arazão, que o simpl es fato ele mencionar tão abjeto ente, sem absoluta necessidade, podia ser interpretado como uma invocação dele. Um convívio que conduziu ao amor à Santa Igreja Católica Aos domingos, Dona Lucilia levava os meninos à Missa no Santuário cio Sagrado Coração ele Jesus, o qual, decorado com bom gosto, continha verdadeiras obras de arte. Certa vez, quando Plinio ass isti a à Missa ao lado da mãe, formo u-se natura lmente em seu espírito, por uma compreensível associação de imagens, uma impressão de conj unto ela igreja: o convite à piedade, que as imagens dos santos produziam em sua alma; os vitrais ele nobres e matizadas cores, fazendo pendant cromático com as melodias ao mesmo tempo majestosas e afáveis do órgão; os paramentos so lenes do celebrante-e os esplendores sacrais ela liturgia. Plín io discerniu nesse magnífico conjunto o quanto de religioso e de sobrenatura l pairava no ambiente. Suas vistas se voltaram fi nalmente para a imagem cio Sagrado Coração de Jesus, o arquétipo divino ele seus melhores anseios, e compreendeu ser aq uela atmosfera um fiel e rico reflexo cio próprio Deus. Em sua alma brotou o ato ele Fé e de amor: "A Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana! Ela é

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tudo e vale tudo; e nada se equipara às mil perf eições dEla! " Enquanto nisso cogitava, voltou o olhar ··, para sua mãe e percebeu como a alma dela era afim com todo aquele aml:í iente. Nela viu um refl exo ela Santa Igreja, o que o levou a compreender e amar ainda mais essa divina institui ção. \

//Prestando atenção na Salve Regina, entendi mamJe por inteiro" Christianus alter Christus ... Guardadas as infinita pro porções que separam a criatura do Cri ador, e as imensas distâncias de qualquer homem em relação à Santíssima Virgem, podi a-se ver em Dona Lucília marcante semelhança com o Sagrado Coração ele Jesus e com Nossa Senhora. Esta foi a melhor contribui ção dela para a formação do fi lhos. Contribui ção, aliás, subconsc iente, porqu anto sua humildade lhe vedari a faze r considerações desse gênero. Reco rd ava-se Dr. Plínio , com enorme e carinhoso reconhecimento: "Mamãe era exce le nte como consoladora. Quando dela me aprox imava devido a alguma afli ção ou a uma situação sem saída, bastava ouvi-la di zer 'meu filh o, o que é?' e metade do pro bl ema já se desfa zia. Freqüentemente, eu já hav ia batalhado para encontrar uma so lução. "Fitava-a e aguardava: 'Quero ver como ela se sai desta ...' "Ela me olhava pensativa, sem nada de carranca, com uma enorme calma. Dizia- me, então: - Bem, va mos arranj ar isto ass im... "Antes mesmo de saber o que ela fa ria, estava certo de que o caso seri a resolvido. Era um ato de bondade aqui , um ato de mi seri córdia ali, um perdão acolá, um conselho mais adiante e uma fina e completa solução, natura lmente com sacrifício para ela. Eu saía muito enlevado! "O afeto de mamãe era envolvente e estável. Às vezes eu despertava à noite e notava sua presença ao lado de minha cabeceira, acari ciando- me e fazendo sinais-da-cruz em mi-

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Ainda quando outros pais fingissem não perceber o valor dos filhos de Dona Lucilia, constantemente ela ressaltava os dons concedidos por Deus a outras crianças.

nha testa, antes de ela ir-se recolher. Era como um bálsamo perfum ado e suavi zante, que me fa zia um grande bem. Nunca dimi nuía, qu aisquer que fo ssem o di a, a hora, as circun stâncias, as condições de saúde. Eu senti a poder contar com ela até o fim , fi zesse o que fi zesse. "Ela dava muito valor ao fato de as pessoas lhe quererem bem, mas, se não lhe quisessem, sua atitude era a mesma. Nunca guard ava ressentimento de al guém. "Eu percebi a qu e a fonte ele seu modo de ser estava em sua devoção ao Sagrad o Coração de Jesus, por meio ele Nossa Senhora. "Quando Nossa Senhora me concedeu a graça de, pela primeira vez, prestar atenção na Sal ve Regina, entendi mamãe por inteiro, poi s abri os olhos para aquela Mãe toda celeste e indi zivelmente mais alta e mais perfe ita do que ela. Assim nasce u minha devoção a Nossa Senhora."

Suavidade, intransigência, admiração

O fi lho via Dona Luc ilia como um refl exo da Santa Igreja

No enta rd ecer da vid a de Dona Lucília, as características da mãe ideal haveri am de brilhar como nunca, em seu semblante e em seu modo de ser. Por meio de longa fo rmação, que consti tuiu a obra de sua ex istênc ia terrena, ela havi a pre parado se us filho s para corresponde rem com ge neros idade à ação santificante da Igreja de Deus. Ela lhes ensinara a compreender e amar a fund amental importância da suav idade e da doçura no convívio humano. Quando duas ou mais pessoas têm afi nidade entre si, sentem-se mutuamente atra ídas por um movimento cheio ele benevolência. Esta é a substância da amizade, que não será real e autêntica se estiverem ausentes o amor de Deus, a ternura, a afabilidade, a pac iência e a compaixão. É preciso ter conhecido Dona Lucília para avali ar o quanto sua alma estava distante de qualquer ressentimento ou desejo de vingança. Sua bela alma nunca fo i ti snada pelo mais leve mov imento de alegri a pelo mal ocorrido a alguém. Sua ami zade,

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um a vez concedid a, jamais era ro mpida, e a compaixão para com os sofredores tinh a toda a amplitude aco nselhada pelo Divino Salvador nos Evangelhos. Ass im , fo i a suav idade uma das primeiras virtudes que Dona Lucili a, de fo rma modelar, procurou tra nsmitir a quem dela se aprox imava. Outro exempl o perfeito, a se destacar no belo j ardim de suas qu alid ades, era o da intra ns igê nc ia face ao mal, que se manifes tava so b as mais va riadas fo rmas segund o as circunstâncias. Assim , ao corrigir os filh os por alguma fa lta, empenh ava-se em lhes mostrar a grav idade do ato praticado, salientando o qu anto aquilo ofend ia a Deus, de modo a incutirlhes um profundo horror ao pecado. De outro lado, por sua fid elidade aos princípios católicos, rejeitava o es píri to de tolerância que se ia introduzindo na mentalidade de seus contempo râ neos . Razão pe la qu a l, es ta ndo Dona L uc ili a prese nte numa conversa, nunca deixava passar sem reparos alguma crítica à Santa Igreja ou à Reli gião. Es te não trans igir face ao mal foi outro tesouro por ela legado a seus tão queridos filh os. Além disso, Do na Lucíli a tinha o gra nde mérito de saber ad mi rar os pred icados do próximo, sugerindo a Rosée e a Plinio, pelo inconfun dível e atraente exempl o que dava, procederem desse modo. Com freq üência, o dinamismo ele seu contentamento se voltava todo para a exa ltação dos ta lentos alh e ios. Em contrapartida, não se comparava com ninguém , nunca se referia a algum elogio que tivesse recebido, nem procurava chamar a ate nção, mesmo que ind iretamente, para alguma qu alidade própria ou de seus fi lhos.

Sua alma estava distante de qualquer ressentimento

Essa atitude de alma, rara em nossos di as, ela a preserv ava ciosamente. Ressaltar os dons por Deus concedidos a outras crianças era uma constante em Dona Lucília, ainda qu ando os outros pais fin gissem não perceber o valor de Rosée e de Plinio. Se uma criança, por exemplo, di zia algo que revelasse brilho de inteligê ncia ou , sobretudo, bom caráter, ela se tomava de alegria e não deixava de realçar, di ante dos adultos, tais dotes.

O papel dos ante passa dos

Dona Luc ilia pouco antes de sua morte: serenidade, resignação, dignidade

Um dos traços mai s característicos da educação dada por Dona Lu c il ia con s istia e m transmitir li ções morai s através de contos ou hi stórias. Método cheio de sabedori a, utili zado pelo pró pri o Ho mem-Deus e m s uas pregações, constituindo as parábolas algumas das pág inas mais belas e ricas dos Evangelhos, por seus di vinos ensinamentos envoltos em poes ia sem igual. Dona Lucília não era grande leitora de li vros de Hi stória. Tinha noções gerai s, como habitualmente as senhoras do seu tempo. Entretanto, possuía privilegiada memóri a, além de um do m extraordin ári o para transmitir seus sentimentos a respeito dos fatos, dando a ente nder, através de pormenores matizados, qu al o fund o de seu pensamento. Usando vocab ul ári o de dona-de-casa, com muita clareza, harmoni a e correção, e sem se ater a precisões de caráter filosófico ou teológico - não era uma doutrinadora- considerava os acontecimentos com aquele espírito cató lico que rece bera pela trad ição e enriquecera por sua piedade. Pela reco rdação do passado ilu strava o presente, enun ciando co m sutileza o qu e este últi mo tinha de rej eitáve l e o que o pri -

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em vista ensinar o desapego dos bens terrenos. Se fosse necessá ri o sac rifi car a pos ição soc ial ou a fortuna , a fim de inteiramente cumprir o dever, ela o faria , e salientava ser esta a única atitude cabível nessa circuns tância. A vida não é fe ita para o prazer, mas para carrega r aos ombros, ele bom grado, a Cruz ele Nosso Senh or Jesus Cri sto. Este era um princípio amaci o e posto em prática por ela em sua ex istência diária , não só por sua resignação, co mo também por sua postura decidid a face às adversidades. Ao contar algum fato aco ntec id o com outrem, participava da alegri a ou elas dores elas pessoas envo lvidas, o que alimentava seu gosto em descrever pequ enos episód ios ela vicia real. Estimul ava sempre os filhos a alm ejare m a honra e adq ui rirem respeitabi lidade através de suas virtudes pessoais , sem se to rn arem ambiciosos nem ávidos ele dinheiro . Ela fa lava quase exclu sivamente cio bem , da verdade e do belo; clir-se-ia que não via a realidade senão através desses pri smas. Entreta nto, quando lhe cumpria cens urar algo ele mau , era difícil enco ntrar alguém que a excedesse no desempenho dessa obrigação. Por se u senso ele justiça, a par do louv or aos mérilos alheios , também a reprovação ao mal nunca lh e fal tava nos lábios.

meiro tinha de louvável. Contava inúmeros fatos da vida de seu pai , no qual via um modelo de perfeição, bem como da vida de parentes ou de pessoas da soc iedade de São Paulo que ela conhecera mais de perto. Ao longo das narrati vas, acentuava certos pontos que se rviam de li ção para os filhos, e depoi s acrescentava: - Você s pre ste m atenção em como se deve ser. Uma pessoa deve agir assim. Olhem o que sucedeu com tio tal, ou co m a prima tal. Ela insisti a em especia l so bre determinado s procedimentos, como por exemp lo o de se empenhar em ser uma pessoa muito res peitável. Dona Lu cili a fazia uma alta idéia do papel que tinham, na vida de uma pessoa, os antepassados e o nome da família. Achava que este últim o devia se r usado como um estandarte, tal como um so ldado porta sua bandeira em combate. É uma honra carregá- la e seri a um a desonra deix á- la cair, por pregui ça ou por medo, nas mãos do adversário. Ass im , para quem descende de ancestrai s di gnos de nota, constituiri a um desdouro não estar à mesma altu ra moral dos mais destacados dentre eles.

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Dr. Plinio em seu apartamento, junto ao retrato de sua mãe: saudades

A fim ele incutir em seus filhos horror ao vício, descrevia o ocorrido com pessoas conhecidas ele outrora, ressaltand o as tri stes conseqüências elas paixões desen freadas, ele modo a fazer transparecer o quanto havia nestas de cens urável.

Falando quase só do bem, incutia aversão ao mal Em suas narrativas, Dona Lucilia tinha muito

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Dona Lucilia estimulava sempre os filhos a almejarem a honra e a adquirirem respeitabilidade por suas virtudes incutindo neles o horror aos vícios

Preferia vê-lo morto a vê-lo extraviado Os temores de Dona Luci lia se manifestavam sobretudo no tocante aos rumos que, fazendo bom ou mau uso do li vre ar-

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bítrio , se us filho s tomariam na vici a. Opapel dela cada vez mai s se limitava, à medi da que eles cresciam, a es timular os lados bon s ela perso nalid ade el e cada um, assim como susc itar neles ódio ao mal. Por isso, algumas vezes repet ia a Plínio: - Meu filho , os tempos são muito ruin s e você aind a é muito moço . Nin guém pode ter idéia cio qu e é capaz uma pessoa quando se ex travia. É bom qu e você sa ib a qu e eu preferiria vê-lo morto a vê- lo ex traviado. Pal avras carregadas de gravidade, que demonstram como os ex tremos de bondade e afeto pelos filho s, e m Dona Lucilia, eram inteiramente movidos pelo amor de Deus, a ponto de ela preferir o sacrifício da vida terrena deles a vê- los perder a ete rna.

CATOLICISMO -

Chegado o mom ento em qu e os filho s haviam se tornado adultos, cessava a ação estritamente formadora exe rcid a por Don a Luci li a. Mas , por suas virtudes, por sua bondade, por sua determinação el e se mpre procurar a perfeição, por sua abnegação por eles e por lhes querer todo o bem, a meiga e afetuosa so li citude ele Dona Lucilia continuaria a fluir so bre se us filho s co mo as ág uas límpid as de um caudal oso rio. O que seri a um exce lente apoio 1 especialmente para Dr. Plini o, pois es te have ri a de se lançar numa série ele renhidas batalhas ideo lógicas em defesa cios interesses da Igreja Cató li ca e da civ ili zação cristã. As pugnas ele Dr. Plini o trariam não só alegri as e triunfos, mas também muitas dificuldades e provações , às quais, por se u ze lo materno, Dona Lucilia se mpre permanece ria vincu lada.

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Imponente produção intelectual

Ultimos dias de Plinio Corrêa de Oliveira

. A obra publi cada de Plinio Co rrêa de O li ve ir;:i co rnpoe um c1cc rvo de mais ele 2.:i OO lílulos, c~11lre li vros e arli gos ele jorn ais e rcv islas. Co11 siclera11clo-sc a liragc m li abi lu al, 110 Bras il , de obras de cunh o icleológrco, muitos ele se us li vros co 11 slilu em aul ê11li cos ÍJCS l-scllcrs. A maior parl e clessc1s obras 1ra11 spôs as fro111e iras 11 ac io11 ais, le11elo sido editada em di versos idi omas. A seguir; um elenco dessas ed i<;ocs 110 Brasil e 110 [xlcrior: 1. Em def esa da Ação Católica, Ave Mari a, São Paul o, 1943, 384 pp. Duas edi ções, 4.500 exe mpl ares. 2. Via Sacra , Boa Imprensa, Cam pos, 1959, 32 pp . Publi cada ori ginari amente em Catolicismo (nº 3, março de 195 1). Três edi ções em português (no Brasil), cinco em espanhol (urn a na Bo lív ia, urn a no Chil e, du as na Colômbi a e uma no Equ ador), duas em fra ncês (na França), duas em inglês (nos Estados Unidos) e urn a em itali ano (na Itália). Transcrita em quin ze jornais ou revistas de nove países. Tota l: 28 edi ções, 290 mil exemplares. 3. Revolução e Contra-Revolução, Boa Imprensa, Campos, 1959 , Suplemento ao nº 100 de Catolicismo, 64 pp . Três edi ções em portug uês (no Bras il ), dez edi ções e m es pa nh o l (três na Espan ha, três na Arge ntina, duas no Chi le, um a na Co lômbi a e uma no Equ ado r), duas ed ições em fra ncês (um a no Bras il e uma no Ca nadá) , três ed ições em in glês (nos Estados Unidos), três ed ições em ita li ano (na Itá li a) e um a em romeno (na Romê ni a). Tra nsc ri to na ínteg ra ou parc ialme nte em rev istas da França, Itáli a, Espa nh a, Arge ntin a, Chil e e Angola. Tota l: 26 ed ições na íntegra, 123.700 exe mplares. Acresc ido de uma nova parte em 1977 (Catolicismo , nº 3 13), e de comentários de atua li zação em 1992 (Catoli cismo, nº 500). 4. Reforma Agrária - Questão de Co nsciência, em co-auto ria co m D. Geraldo de Proença Sigaud S.V.D., D. Antôni o de Castro Mayer e Luiz Mendo nça de

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Freitas, Ed. Vera Cru z, São Paul o, 1960, 11. O socialismo autogestionário: em 520 pp. Quatro edi ções em portu guês e vista do comunismo, barreira ou cabese is em espanh ol (urna na Es panha, um a ça-de-ponte?, Mensage m das TFPs de 13 na Argentina e qu atro na Colômbi a) . To- países, 198 1. 34,5 milh ões de exempl ares tal: I0ed ições, 4 1 mil exempl ares. (na íntegra ou em resumo) em 178 publica5. Acordo com o regime comunista: ções de 53 países. Brochuras em português para a Igreja , esp eran ça ou e em francês, es ta últim a sob o títul o autodemolição? (pu bli cado ori gin ari a- Autogestion socialiste: /es têtes to111be111 mente em Catolicismo, nº 152, sob o títu- à / 'entreprise, à la maison, à / 'éco le lo A Liberdade da Igreja no Estado comuU11 e dénonciation qui a f ail /e tour du nista), Ed. Vera Cru z, São Paul o, 1963, monde, TFP frança ise, As ni eres, 1983, 128 pp . Dez ed ições em português, onze 2 13 pp., 5 mil exemplares. em es panhol, cinco em francês, qu atro em 12. As CEBs... das quais muito se in glês, três em ita li ano, du as em po lonês, f ala, pouco se conhece -A TFP as desurna em alemão, uma em hún ga ro e urn a creve co mo são, em co-a uto ri a com em vietnamita. Transcrito na íntegra em 39 Gustavo Antôni o Solimeo e Lui z Sérgio jorn ais ou revistas de 13 diferen tes países . Solimeo, Ed. Vera Cru z, São Paul o, 1982, Total: 77 edi ções, 339.300 exemp lares. 256 pp. Seis ed ições, 72 mil exe mplares. 6. Declaração do Morro Alto, em co13. A propriedade privada e a livre autoria com D. Geraldo de Proença Sigaud , iniciativa, no tufão agro-reformista, Ed. D. Antô ni o de Castro Mayer e Lui z Men- Vera Cru z, São Pa ul o, 1985 , 174 pp. Condonça de Freitas, Ed. Vera Cruz, São Paulo, siderações eco nômi cas ele auto ri a de 1964, 32 pp. Duas edições em brochura, Carl os Patri cio dei Ca mpo. Duas ed ições, 22.500 exemplares, ma is uma edi ção de IO 16 mi I exemplares. mil exemplares em Catolicismo (nº 167). 14. Guerreiros da Virgem -A répli7. Baldeação ideológica inadvertida ca da autenticidade / A TFP sem segree diálogo, Ed. Vera Cru z, São Paul o, J965, dos , Ed. Vera Cru z, São Pau lo, 1985, 349 128 pp. Cinco ed ições em po rtuguês, seis pp., 2 mil exemplares. em es panhol, um a em ita li ano e um a em 15. No Brasil, a Reforma Agrária alemão. Transcrição na íntegra em sete jor- leva a miséria ao campo e à cidade - A nais e rev istas de quatro países . Total: 20 TFP informa, analisa, alerta, Ed. Vera ed ições, 136.500 exemp lares. ruz, 1986, 64 PI . Transcrito na íntegra 8. A Igreja ante a escalada da amecm Catolicismo (nº 431/432). Cinco ed iaça comunista - Apelo aos bispos si- ções, 55 mi l exe mpl ares. lenciosos, Ed. Ve ra Cruz, São Pau lo, 16. Projeto de Constituição angustia 1976, 224 pp. Quatro edições, 5 1 mi 1 o país , edição extra de Catolicismo, 1987, exemplares. 2 12 pp. Editad o tam bém pela Vera Cruz, 9. Tribal ismo indígena, ideal São Pau lo. Total: quatro ed ições, 73 mil comuno-missionário para o Brasil no excm1 lares. século XXI, Ed . Vera Cru z, São Pa ul o, 17. Nobreza e elites tradicionais 1977, 128 pp. Transcrito em Catolicis- análogas 11.as alocuções de Pio XII ao mo (nº 323/324). Publi cado em inglês na Patriciado e à Nobreza romana, Livrarev ista "C ru sade for a C hr isti a n ria Civilização-Ed itora, Po rto, 1993 , Civili zation". Tota l: 9 ed ições, 87.500 328 pp. Duas ed ições em po rtuguês exe mpl ares. (uma para Portuga l, outra pa ra o Bras il ), 1O. Sou católico: posso ser contra cinco em es pa nhol (três na Espa nha, uma a Reforma Agrária? , Ed. Ve ra Cru z, na Argentina e uma no Chile), duas em São Pa ul o, 198 1, 360 pp. Co nsiderações francês (na França), um a em inglês (nos econôm icas de autori a de Ca rl os Patri cio Estados Uni dos) e um a em ita li ano (na de i Campo . Quatro ed ições, 29 mil ltá li a) . Total: onze ed ições, 56 mi l exemexemp lares. pl ares. CATOLICISMO -

Novcmbrn-Dezcrnbro 19%

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de! - exclamava um

ce are nse c hegado de se u lo ng ínqu o Estado. "A impressão é qu e ele está d escan sando, daqui a p o u co va i ab rir o s o lh os e começa r a fa lar:"

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dizia ainda um terceiro. Co me ntári os como estes eram ouvidos co ntinu ament nas salas da Sede do Co nselho Nac ional ela TFP, repletas de sócios, coopera tores e corres pond entes das TFPs, acorridos a São Paul o dos cinco co ntin entes para velar o corpo de Plínio Corrêa ele Oli ve ira. Na face de to dos os q u en travam na Sa la São Luís Grignion de Mo ntfort, onde j az ia o co rpo cio sa ud oso F und ador da TFP brasil e ira, esta mpava-se a dor causada pela brusca separação de q ue m ta nto e tanto es tim avam. Poré m, ao se aproximarem do ataúde e co nte mpl arem aq uela fis ionom ia inundada de serenidade e de paz, na qual se es boçava um di scre to sorriso de triun fo , um como que tênu e ra io de lu z iluminava- lhes a alma, transmitindo algo da fe licidade da bem -avent ura nça da qual provavelmente o ilustre exti nto j á participava. Entrelaçado em seus dedos estava o terço cuj as contas tantas vezes

desfi ara em vida. To mava agora um se ntido rea l o ped ido qu e ele, na seg un da pa rte da Ave- Maria, faz ia à Santíss ima Virge m: "Roga i po r nós, pecado res, ago ra e na hora da nossa mo rte". Seu se mblante era bem um a prova de qu e Nossa Se nh ora hav ia atend ido essa prece repetida milhares e milhares de vezes ao longo de sua exis tênc ia. Mas, no espírito de muitos dos presentes, a par da gra nde serenidade que lhes in undava a alma, pairava urn a ponta de perplexidade: "Como foi possível que tão rap idamente se exti nguisse ·1 vida cio Dr. Plínio, pois ainda há po uco fazia ele norma lmente suas co nferência se manais no Audi tório de Nossa Senhora Auxiliadora?"

ntretanto, se a todos colheu de surpresa a notícia da morta l doença que em um mês o arrebatou de nosso co nvív io, tal não aconteceu com ele. De fato, havia já algun meses que presse ntia o fim de seus dias, havendo-o manifestado , discreta e ve ladamente, a este ou àquele de seus mais próx i-

CATOLICISMO -

mos co la boradores. Porém, era tal sua vitalidade, tão in tensa a ati vidade qu e co ntinu a va a desenvolver na di reção da TFP bras il e ira, qu e nin guém fo i capaz de pe net rar o ve rd adei ro se nt ido de suas in sinu ações, to mando-as co mo simpl es e des pretensiosas fi guras ele linguagem. Numa carta enviada ainda neste ano a um cooperado r da TFP, qu e padec ia ele grave enfe rmidade, Plínio Corrêa de Oli ve ira, além ele lhe dirigir palavras de estímul o, afirmava ser tal mi ss iva, dada a avançada idade que alcançara seu subscritor, a de um moribundo a outro moribundo. E a um dos qu e mais de perto privavam com ele, di sse há pouco tempo, nu m to m leve mente jocoso, que em breve este o iri a visitar no ce mitério da Consolação. Apesar desses presse ntimentos, em nada alterou a rotin a de suas atividades, continuando a desenvolver inca nsave lm ente se us tra balh os de a posto lado, com pe rfe ição se mpre cresce nte. Num só ponto fo i notada uma alteração sensível: o tempo dedicado às suas orações diárias fo i notoriamente acrescido. Para quem não teve a oportuni dade ele acompan har ele perto o di a-adia de Plínio Corrêa de Oli veira, talvez lhe seja difíc il acred itar como alguém

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de idade tão avançada era capaz de suportar tal carga de atividade. ;\ ' Fazia inv ar iave lm e nte quatro conferências por semana no Auditório de Nossa Senhora Auxiliadora, com uma média de duração de uma hora e meia, às quais ass istiam todos os membros das diversas TFPs que se enco ntrasse m em São Paulo. Para círcu los menores, faz ia seis outras reuniões. Com o passar dos anos e o consta nte cresci mento da TFP, seu tempo livre foi-se tornand o progressivamente mais exíg uo. Decidiu então sacrificar alguns períodos de desca nso que ainda lhe sobravam durante o dia. Assim, para atender alg un s dos elementos mais jovens das TFPs, que do mundo inteiro acorriam a São Paulo para o conhecer, fazia uma curta palestra enquanto tomava o chá da tarde nalguma das sedes da entidade, pedindo que o tema fosse proposto pelos presentes. Institucional izaram-se assim, de forma natural, na TFP, os saudosos Chás com Dr. Plínio. Em seguida atendia as pessoas que tivessem assuntos a tratar com ele, até a hora do jantar, que não raras vezes se realizava quase à meia-noite, dado o acúmu lo de trabalho. Mas não terminava aí a sua jornada. Finda a refeição, e após breve descanso, entre uma e três da manhã punha em dia sua abundante correspondência. De todo o Brasi l e do mundo inteiro, escrev iam-l he pedindo orientação sobre os mais variados assuntos, não havendo carta que ele deixasse sem resposta. Nos últimos anos, até mesmo os almoços e jantares eram por ele aproveitado s para tratar de assuntos concernentes à TFP. Dada sua total dedicação à causa a que se entregara, não permitia a si próprio o repouso que em certas circunstâncias qualquer pessoa, mesmo 38

jovem, se julga na obrigação de ter. Assim, por exemplo, se uma gripe o acometia, ou algum outro ligeiro incômodo, não guardava o leito, mes mo que tivesse febre, limi tando-se a permanecer em casa, onde mantinha a mesma rotina de trabalho. Apesar de a fata l doença já lhe consumir as forças, conseguiu manter esse ritmo ele ativ idade até meados ele agosto, dado seu modo enérgico ele proceder, procurando evitar que alguém percebesse seu já combalido estado de saúde. Sentindo-se extremamente cansado, dec idiu passar alguns dias na Fa zenda

exaustivos. Porém , os fatos se precipitaram , tornando imperiosa sua urge nte in ternação no Hospital Oswaldo Cruz, na noi te ele sexta-fe ira, dia I º de setembro. Os primeiros exames logo revelaram ele forma indubitável a causa cio mal : câncer hepático em estado avançado. O fígado encontrava-se quase todo tomado, tendo sido ass inaladas algumas metástases nos pulmões. A Medicina nada podia fazer. Só restava aba ndon ar-se nas mãos ela Providência, e fo i o que Plínio Corrêa ele Oli veira fez, mes mo antes de ter recebido a fata l notícia. Esta foi- lhe transmitida pelo Revmo. Cônego José Luís Marinho Vi llac. Ouviu-a com amesma serenidade que sempre teve ao longo ela vida e ainda se tornou mai s patente em se us derradeiros momentos. De seus l.füios não se ouviu uma palavra ele inconformidade, nem de lamentação, nem de qu eixa pelos incontáveis sofrimentos que teve de suportar. Pelo contrário, apesar ele fa lar com muita difi cu Idade, devido à extrema clebi Iidade em que se encontrava, se mpre que se dirigia aos circunstantes era para alentá- los e estimul á- los à confiança inabalável em Nossa Senhora, cuja

Nossa Senhora do Morro Alto , perto ela cidade de

Amparo, no interior de São Pau lo, a fim de retemperar as forças. Na última se mana de agosto , o médico que lhe prestava habitualmente assistência notou algumas alterações preoc upantes em seu es tado, tendo-lhe proposto fazer exames clínicos GATOLICISMO -

Nesta página, dois instantâneos das últimas Reuniões ele Recortes

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imagem dominava o ambiente ele seu quarto de hospital. Tratava-se ela bela estampa de Nossa Sen hora do Bom Conselho ele Genazzano, que lhe fora oferecida em dezembro de 1967, durante a convalescença de uma grave doença que o deixara em risco de vida. Desde então, em reconhecimento por um a insigne graça recebida, co nse rv ara-a sempre consigo em se us apose ntos. Agora ela o ass istia em seus últimos dias. A rapidez com que os fatos se sucederam não lh e permitiu despedir-se de seus incontáveis filho espirituais . No entanto, seu testamento espiritual, se o tivesse escrito, poderia res umir- se num único termo: CONFIANÇA. Com efeito, foi esse o tema de sua últim a reuni ão no Au-

bém, em certo sentido, a nossa história individual. "Por piores que sejam as circunstâncias em que estejamos, ainda que pareçamos perdidos, ainda que pareçamos relegados aos últimos rincões da Terra, só não cometamos um erro: não cessemos de confiar. Eu ouso quase dizer o seguinte: o essencial é não

ditório de Nossa Senhora Auxiliadora, para os me mbros da

TFP. Suas palavras, cheias de fogo e de un ção , ressoam ainda, como um a har monia, quase d irí amos celestial, nas almas de se us filhos e segu idores: "A época em que as coisas trágicas não aco nteciam terminou, os dramas são o norma l de nossa época e se trata de enfre ntar o drama com ânimo de herói. De herói católi co, que confia, confia, co nfia , e quando não há mais nada para confiar e esperar senão a co nfi ança em eco em Deus, a confiança co ntinua de pé, tal como era a confiança de Jó . " A hora dos acontecimentos previstos em Fátima vem chegando , a hora das grandes dores , dos gra ndes perigos , das grandes incertezas, das gra ndes confianças, dos fenome nais atos de confiança. Vencerá quem confiar. "Jó confiou, e porq ue confio u, não se revoltou; porque não se revol to u, adorou a Deus . Quando Deus empu nh ava o açoite que o fustigava, ele dizia: 'Senhor, sou vosso, fazei de mim o que quiserdes. Adoro o açoite que me flage la'. "Essa é a história da TFP, em vários de seus aspectos. Mas é tam-

Uma das últimas fotos, em Amparo

duvidar, é confiar; o resto vem por si mesmo. "Mas, seja como for e de que maneira for, have nd o a proteção de Nossa Senhora, não desesperemos, não tenhamos receio de se r abandonados. Pelo contrári o, quanto mais sofrermos, tanto mais nos glorificaremos. E no dia em que o sofrimento tenha ating ido o insondável, nesse dia devemos cantar o Magnificat: a hora de Deus está próxima. "Portanto, daqui para a frente, aconteçam as coisas que acontecerem, devemos confiar, confiar, confiar; Nossa Senhora dará o resto." No dia seguinte ao seu ingresso no hospital, tendo manifestado o desejo de receber a Extre ma-Unção, foi-lhe ministrado este Sacramento pelo Revmo. Cônego Vi llac. O sacerdote o assistiu com zelo até os últimos momentos, leva ndo-lhe diariamente a CATOLICISMO -

Sagrada Comu nh ão, a té que o agravamento da doença o imped iu de receber as Sagradas Espécies. Na manh ã do dia 3 de outubro, dia de Santa Teresinha do Menino Jesus , começou a dar sin ais in eq uívocos de que em breve entrari a em agonia. De fato, esta se iniciou cerca das 16 horas. O Revmo. Cônego Villac começo u a rezar as orações apropriadas, acompa nh ado de alguns dos membros mais anti gos da TFP. Terminadas estas, passou ele a ler, pausada mente, o Evangelh o da Paixão. O ritmo da respiração do moribundo tornou-se cada vez mais lento, prenunciando o fim próximo. Em suas mãos seg urava um relicário em forma de cruz, com um fragmento do Santo Lenho em que morreu Nosso Senhor Jesus Cristo. Segundo o costume da Igreja, foi-lhe posta nas mãos uma vela acesa, símbolo da Fé que lhe foi infundid a no Batismo. Alguns instantes depois, às l 8h23m, quase imperceptivelmente e sem qualquer conv ul são, adormece u no Senhor. Sua fisionomia , marcada a fundo pelo sofrimento, distendeu-se, esboçand ose em seus láb ios um discreto so rriso, ao mesmo tempo que transparecia em seu rosto um quê de suavidade e júbilo que impressionou muito a todos quantos tiveram a dita de venera r se us restos mortais. A e le bem se podem ap li car as palavras da Sagrada Escritura: "Beati mortui qui in Domino moriuntur "- "Bemaventuraclos os mortos que morrem no Senhor" (Ap 14, 13). Hoje, transcorrido mais de um mês da sua morte, a dor de tão grande perda ainda nos dilacera o coração. Mas, por outro lado , anima-nos a jubilosa esperança de termos no Céu um poderoso intercessor, que, ante os Sagrados Corações de Jesus e de Maria, não deixará de advogar nossa causa - a causa pela qual ele viveu e morreu - nestes conturbados dias em que vive a Santa Igreja Cató lica e o mundo.

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O derradeiro adeus Q uem se aprox;mava da esqu;na da ru a Itacolomi com a ru a Mara nh ão, em São Paulo, tinha a atenção voltada para a ta1ja negra sobre o leão rompante do grande estand arte habitua lmente hasteado no alto de imponente torreão na sede do Con se lh o Nacional da TFP. O luto era visível em toda a mansão. Nos jardins, cerca de 60 coroas de flore s ex primi am a homenage m se ntida das TFPs do mun do in leiro, além de outras assoc iações, famíli as ou particulares . O movimento no p rtão de entrada era ince ·sa nle. enlenas de sócios, cooperad r s e correspo nd entes da TFP co m tern os esc uros, as se nhoras trajando cores discretas, di rigiam-se em passo silencioso rumo à porta principal, junlo à qua l ass in avam na li sta de co nd olências. Atrave sa neio uma sa la onde doi s toc he iros ilumin avam um estandarte de ve ludo verd com leão em fios de ouro, ta1j ado de n gro, chegava-se à Sa la São Lu ís Maria Grign ion de Montfort, transfo rm ada em câ mara ardente. Três granel s círi os e um crucifi xo co mpunh am o ambiente. No ataúde, o corpo d Plí nio Corrêa de Oli ve ira estava v stido com o háb ito de gala da TFP, d lã marrom, tendo ao pe ito um escap ul ário marcado pe la cru z de Sanli ag , dividida ao me io por um fio dourado : de um lado , a cor rubra do san gue, do outro, a bra nca da pureza. obr os ombros, que em vid a arcaram com tantos trabalhos e res pon sa bili clad s, uma capa mag na de cor p rola. Aos pés, dobrad o, um estandarte cujas co res es maecidas testemu nhavam os fo rtes só is e muitos ventos À esquerda, aspectos do ortejo fúnebre: sua chegada ao cemitério da Consolação e a bênção da sepultura.

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enfrentados, ao tremular em inúmeras ca mpanh as de um a carava na de jovens da TFP pelo Brasil afora. As mãos postas, entrelaçadas, traziam um rosário de co ntas esc uras. Com respeito e intimidade, acercavamse os presentes daquelas mãos, que conheceram não enregeladas, mas am,1veis e fortes. Ósculos seguidos do sinal da cru z iam se sucedend o, à medida qu e a intermináve l fil a se alongava pelo segund o di a consec utivo. No dia 5 de outubro, o esq ui fe fo i trans lad ado às 1Oh para a Igreja de Nossa Senhora da Co nso lação, onde seria celebrada a solene Mi ssa de corpo prese nte. Um co rtejo de carros, em meio ao trânsito caótico daqu ela manhã encoberta, aproximou-se com certa dificul dade do imponente templ o, dedi cado Àquel a da qu al nos vem toda a co nsolação e virtude. Na igreja, totalmente tomada por pessoas provindas das mais distantes e di versas regiões cio Brasi l e do Exterior, ressoavam os acordes a um tempo solenes e tri stes do órgão. Dispostos pelos altares laterais, mai s de 40 grandes estandartes da TFP acentuavam a solenidade do momento. Levada aos ombros de membros mais antigos da TFP, a urn a fun erária atravesso u a grande nave ao so m de marcha fúnebre, que ecoava pela abóbada central. É impossível, até mesmo para um li te rato, descrever toda a riqu eza da liturgia que o rito latino da Igreja Católica indi ca para a solene Missa de Réquiem. Enq uanto o incenso em densas fumaradas se e olava do turíbul o de prata, o cerimonial ia se dese nrolando com pompa ao mesmo tempo maj estosa e dolorida, enriquecido pelos cânti cos do Co ro São Gregório Ma gno, da TFP. À hora da Co nsagração, o toq ue das várias sinetas se juntou ao ressoar Ci\TOLICISMO -

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compassado do carrilhão da igreja. O número de co munh ões ultrapassou duas mil , todas elas oferecidas em sufrágio ela ai ma do grande batalhador. Findo o ato, o ataúde retornou à sede principal ela TFP. Era grande aind a o número de pessoas qu e, mal chegadas a São Paul o, desejava m a todo custo abe irar-se daquele rosto tão sereno e dignificado pela morte. Por fim , ao ap rox im ar-se a hora do sepultamento, um cortejo numeroso foi tomando aos poucos a rua Itacolomi , em direção ao cemitéri o da Consolação, di stante cerca de um quilômetro. O longo séquito era aberto por um a form ação de ce nte nas de j ove ns cooperadores ela TFP com a fanfarra da entidade exec utand o marchas fúnebre s e hinos religiosos, aco mpanhados a plenos pulmões por todos os participantes. Dezenas e de ze nas de grandes estandartes co m o leão dourado, ta1jados de luto, ondeavam à bri sa daquela tarde ainda sem sol. As fileiras de coroas de flores impressionavam pelo número, como também pelo garbo co m que eram tran sladadas. Recoberto com estandarte de veludo vermelho, o esq uife era levado aos ombros por mem bros das TFPs, seguido do estandarte- insígni a com tarja negra. Logo após, estavam familiares do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. O séq uito prossegui a ainda com mais filas de cooperadores das TFPs e entidades afi ns de t~dos os quadrantes do mundo e, ao final , centenas de correspondentes da TFP com suas fa mílias. Na capela do cem itério fora m entoadas as últimas preces e incensado o féretro. Por fim , diante do túmulo, na última e emocionante saudação, três cooperadores da TFP enalteceram, em tom de proclamação, o perfil luminoso do filho fiel da Santa Igrej a, devo tíss imo de Maria Imaculada, valoroso fundador e mentor da TFP, Plinio Corrêa de Oliveira. 41


rês deputados discursaram na Câmara Federal, enaltecendo a fi gura ímpar de Plínio Corrêa de Oliveira. No dia 4 de outubro, dia seguinte ao do fa lecimento, o deputado Lael Varella (PFL-MG) afirmou, em se u pronunciamento, que homenageava "esse ilustre pensador católico, que tamb ém honrou com sua prese nça esta Casa, como deputado co nstituinte em I 934, eleito como o mais· jovem e mais votado em todo o País. Durant e se u mand ato, aqui atuou como um dos mai ores dirigentes do grupo parl amentar cató li co. Varão católico e todo apostó lico, Plínio Co rrêa de Oli veira ao fim de seus dias bem poderia exc lamar como o grande São Paulo: "Combati o bom combate, perco rri todo o percurso, dai-me, Senhor, o prêm io de vossa glóri a!" No mesmo dia, fa lando em nome do bloco PFL/PTB , o deputado Severino Cavalcanti (PFL-PE) exaltou a atuação de Plínio Corrêa de Oliveira nos seguintes termos: "Esteve ele à frente de lutas memoráveis emdefesa da Tradição, Família e Propriedade. "Em alguns momentos da vida brasileira, so bret ud o quando se ensaiava em nosso País a guerra revo lucionária, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira foi um divisor de águas. Ele e a entidade que fundou era m as referências mais nítidas do combate ao marxi smo- lenin ismo. "Em suas jornadas ininterruptas, aleitou a Nação e o mundo contra a infiltração das teses ditas progressistas, a serviço do ateísmo militante, na

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Perda irreparável: repercussoes e condolências própria Igreja, o que, em ce1to sentido, a desfi gurava." No di a 24 de outubro, o deputado Ricardo Izar (PPBSP) sa li entou a importânci a

tratura fi zeram-se representar pe lo Jui z-d e-Al çada Júli o César Paraguassu, que viajou para São Paulo es pec ialmente para assistir aos fun erais.

Cerca de duas mil pessoas lotaram a igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Sumaré, para a Missa de 7° dia

cio livro Revolução e Con1ra -Revolução, ressa itanclo : "co mbativo e combatido, o Prof. Plíni o Corrêa de Oli veira deixou um a obra admi ráve l. "

Condolências do Brasil inteiro Milhares de mensagens de pesar foram recebidas das mais longínquas regiões do País, inclusive de deputados e vereadores, além de moções de Câmaras Municipais dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Cumpre destacar manifestações de pesar dos Tri bunais de Justiça, de Alçada Civil e Criminal do Rio de Janeiro, bem como da Associação dos Magistrados do mes mo estado. Esses órgãos da Magis-

Do Exterior As TFPs e entidades afi ns do Exterior receberam em seus respectivos países grande número de mensagens de pesar pelo fa lecimento cio Presidente da TFP brasileira. Dentre as centenas de pessoas, em sua maioria membros de TFPs e organizações coirmãs e afin s existentes em 25 países, que viajaram a São Paulo para assistir ao sepultamento, merecem especial menção o Marquês Luigi Cada Nunziante di San Fe rn ando e sua fi lh a Virgíni a, de antiga nobreza da Ca lábri a. O Marquês Cada Nunziante, que é Presidente da atuante assoc iação Famiglia Domani, da Itália, foi um dos principais orga ni zadores de prestigiosos lançamentos da

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obra de Plínio Corrêa de Oli veira Nobreza e elites /radicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Pa!riciado e à Nobreza Romana, em várias cidades italianas, especialmente Milão, Roma e Nápoles. Destaca-se também o comparecimento do Prof. Roberto De Mattei, Presidente do Centro Cultural Lepanto, enti dade que, com base na doutri na social da Igreja, vem atuando de forma vigorosa na ltá1ia, em defesa dos princípios da civili zação cri stã. Juntamente com o Marquês Cada Nunziante, o Prof. De Mattei também desempenhou importante papel na difusão em sua pátria, da mencionada obra de Plínio Corrêa de Oliveira. Em sua viagem ao Brasi l, aco mpanhara m o Prof. De Mattei três membros do Centro Cultural Lepanto, cujo estandarte, ostentando um imponente cava le iro medi eva l, fo i desfraldado nas cerim ôni as dos funerais. No cortejo fúnebre e junto ao túmulo, du rante o sep ul tamento, notava-se ainda o pendão da assoc iação Cubanos Desterrados, no qual fi gura a image m da Virge m da Caridade do Cobre, Padroeira de Cuba. Representada por seu diretor, Sr. Sérgio F. de Paz, essa entidade, fund ada em 1987 , co m sede e m Miami , tem dese nv olvido enérgica atu ação, no sentido de denunciar a ignomini osa situação rein ante em Cuba, bem como de orientar a opi nião de milhões de cubanos no ex ílio. Ressalta-se ainda a presença de Dona Francisca Benjumea de Wemer, Condessa de San Isidro, dedicada correspondente da TFP espanhola, acompanhada de sua filhaMônica.

Desagravo da TFP a NossA SENHORA APARECIDA Em desagravo pela ofensa sac ríl ega à imagem de Nossa Senhora Aparecida, transmitida por emissora de televisão no di a 12 de outubro, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradi ção. ,Família e Propriedade - TFP promoveu ato. de reparação à Padroeira do Brasil em São Paulo e várias outras cidades . brasileiras, onde a entidade mantém sedes. Na capital paulista, foram rea li zadas cerimônias nas sedes de Itaquera e Sa ntan a. Nesta últi ma, a imagem da Virgem Aparecida fo i co ndu zida num andor por cooperadores da associ ação em traje de ga la, acompa nhada por cente nas de sóc ios e cooperadores da entidade. Durante o trajeto, os parti cipantes do cortejo bradaram : "Nossa Senhora Aparec ida, Padroe ira do Brasi1: reparação, reparação, reparação!"

A fanfarra da TFP exec utou o hino da Padroeira - Viva a Mãe de Deus e nossa - , bem co mo o hino das Congregações Marianas - Do Prata ao Ama zonas - , qu e foram acompanhados por todos os prese ntes . Nas demais cidades, foi rezado um terço do Rosário intercalado por músicas em louvor a Nossa Senhora. Ao final de cada mistéri o, proclamava-se: "Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil: reparação, reparação, reparação !" Atos se me lh antes rea li zaram-se na s seguintes cidades: Brasília, Belo Horizonte, Campo Grande, Cui abá, Fortaleza, Rec ife, Rio de Janeiro, Salvador, Campos cios Goytacazes, Maringá, Joinvill e, Londrina, Piracicaba , Ponta Grossa e São Ca rl os.

Atode desagravo no oratório de N~, Senhora Ap.1tecid.1, emfrenteà sededaTFP no distrito

paulistano de lt,cpua.



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