Carta Pastoral sobre a seita comunista, D. Geraldo de Proença Sigaud, S.V.D.

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EDITÔRA VERA CRUZ


D. GERALDO DE PROENÇA SIGAUD, S. V. D. Por mercê de Deus e da Santa Sé Apostolica Arcebispo Metropolitano de Diamantina

Ao Colendo Cabido Metropolitano, ao Revmo. Clero Secular e Regular, às Revdas. Religiosas, às venerandas Ordens Terceiras e Associações religiosas e de apostolado, e aos amados fiéis da Arquidiocese Saudação, Paz e Benção em Nosso

Senhor Jesus Cristo AMADOS SACERDOTES E DILETOS FILHOS

O tomarmos posse da veneranda Sé Metropolitana de Diamantina, entregue a Nossos humildes cuidados pela mercê de Sua Santidade o Papa João XXIll, era Nosso desejo enviar-vos uma Pa) toral de Saudação. No entanto, as condições de Nossa saude, naquela epoca, não permitiram que tal desejo se reali7asse. Sirva pois esta Carta Pastoral de veiculo de Nossa paternal Saudação e Benção a todos vós. Sirva ela também

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de porta-voz dos Nossos sentimentos de amor para os amados Filhos que deixamos na Diocese de Jacarezinho, cujas almas pastoreamos d urante quatorze anos, e cujos nomes, inscritos em Nosso coração, procuramos que fossem inscritos "in libro vitae". Em vez de uma simples Pastoral d e Saudação, amados Filhos, resolvemos aproveitar destas paginas para cumprir o dever imposto aos Nossos ombros por Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, ao dizer a Nossos Antecessores, aos Santos Apostolos, e neles a Nós todos, Bispos da Santa Igreja: "Ide, ensinai a todos os povos" (Mat. 28, 19).

TEMA: A SEITA COMUNISTA UAL o assunto que eacolhemos para esta Pastoral? Entre os inumeros temas sobre que vos poderíamos escrever, um avultou desde o principio, por sua atualidade, pela necessidade urgente, que sentimos, de instruir os Nossos amados Filhos para imunizá-los contra o seu veneno, e prepará-los para a luta contra seus erros e suas maquinações. Este tema é a seita comunista, e sua doutrina, o marxismo. Nossa resolução de vos e.-crever sobre esta seita perigosíssima amadureceu em Noasa alma por ocasião da

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crise que nossa Patria atravessou em agosto e setembro do ano passado. Notamos que inumeros catolicos se sentiam desorientados diante da ação dos comunistas e indefesos diante de suas manobras. Resolvemos pois vir em auxilio desses Nossos irmãos e filhos explicando-lhes o que é a seita comunista, o que ensina e o que intenta, na certeza de que, para grande numero de almas que correm perigo, bastará conhecerem de perto o comunismo, para o detestarem e o combaterem. Dá-se com o comunismo o mesmo que se dá com Satanás. No dia em que os homens vissem a sua face real, o abominariam. Nossa resolução de publicar uma Carta Pastoral sobre a seita comunista foi corroborada por ocasião da reunião dos Exmos. Srs. Arcebispos e Bispos das Províncias Eclesiasticas de Minas Gerais, quando, tendo feito uma exposição das doutrinas e maquinações da tenebrosa seita, pediram-Nos muitos Exmos. Srs. Bispos que a publicassemos, pois que pareceu poderia ser util a Sacerdotes e fiéis na luta contra os sequazes de Moscou. Atendendo agora a sugestão daqueles preclaros Nossos Irmãos, contamos com as valiosas bênçãos de SS. Excias. Revmas. para este trabalho, a fim de que faça bem às almas de Nossos Filhos, 5


imunize os que continuam fiéis a Nosso Rei, Jesus Cristo, e traga de volta aos braços do Divino Redentor aqueles que o veneno desta seita já afastou do seio da Santa Madre Igreja.

INVOCAÇÃO

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ROCURAREMOS levar Nossos amados Filhos pelos escuros subterraneos do pensamento marxista e da paixão revolucionaria. Ao iniciarmos esta caminhada, pedimos ao Espírito Santo que nos ilumine, para que consigamos guiar os Nossos Filhos com segurança e clareza através das trevas do erro, e suplicamos graças especiais, que de tal maneira armem os nossos corações com a couraça da fé, que as arremetidas do mal não nos prejudiquem. Virgem Maria, Imaculada Mãe do Senhor, na visão do Apocalipse Satanás faz surgir o dragão vermelho, contra V 6s e contra a Criança que Vós gerastes, que é Cristo Jesus e sua Igreja. O dragão faz correr um rio de aguas auassinas, para tragar a Mãe e os Filhos (cf. Apoc. 12). Protegei o vosso povo, Senhora, e obtende para ele da misericordia de vosso Filho a graça de repelir com energia os erros e a maldade da seita que V os detes-

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ta, e detesta tudo o que é de Deus (cf. 2 Tess. 2, 4).

PALAVRA ORIENTADORA ERVIR-NOS-A de roteiro a palavra do Santo Padre Pio XI, de santa me-moria, na Enciclica " Divini Redemptoris", sobre o "ateu comunismo". A primeira e segunda parte de Nossa P astoral será um desdobramento da sintese perfeita que Sua Santidade faz do marxismo, ao dizer: "A doutrina que o comunismo disfarça, sob aparencias por vezes tão sedutoras, baseia-se hoje em substancia sobre principios, já divulgados por Marx, do materialismo dialetico e historico, do qual os teoristas do bolchevismo pretendem possuir a unica, genuina interpretação. Tal doutrina ensina não existir senã o uma unica rea lidade, a materia, com suas forças cegas, a qual por evolução se torna p lanta, animal, homem. Também a sociedade humana não é senão aparencia e forma da materia, que por igual forma evolve, e por necessidade inevitavel tende, num p erpetuo conflito de forças, para a sintese final: uma sociedade sem classes. Nessa doutrina, como se vê claramente, não há lugar para a idéia de Deus, não há diferença entre o espírito e a materia, nem entre a alma e o corpo;

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não existe a sobrevivencia da alma depois da morte, nem há portanto esperança alguma em outra vida. Insistindo sobre o aspecto dialetico do seu materialismo, os comunistas pretendem que o conflito, que leva o mundo para a síntese final, pode ser acelerado pelos homens. Esforçam• se, assim, por tornar mais pungentes os antagonismos que surgem entre as diversas classes da sociedade; e a luta de classes, com seus odios e destruições, toma aspecto de cruzada em prol do progresso da humanidade. De outra parte, todas as forças, sejam elas quais forem, que resistam a estas violencias sistematicas, devem ser aniquiladas como inimigas do genero humano·· (Encíclica "Divini Redemptoris", Edit. Vozes, p. 7, n.~ 9) .

DIVI SÃO IVlDIREMOS pois Nossa exposição em quatro partes. Na primeira estudaremos as doutrinas que dão origem ao comunismo. Na segunda estudaremos esta nefasta seita e sua ação. Na terceira examinaremos a situação brasileira. Na quarta exporemos algumas medidas p raticas.

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1.ª

PARTE

Do Marxismo

Procuraremos desenvolver o comunismo desde os seus fundamentos doutrinarios, a fim de que possais ver o abismo que separa um catolico de um adepto desta seita. Devemos porém notar que nem todos os que pertencem à seita comunista conhecem toda a doutrina da mesma. Não falaremos do comunismo chamado "utopico". Falaremos do comunismo atual, materialista, historico, o comunismo marxista. Procuraremos expor toda a doutrina fundamental, preocupando-Nos de apresentar com clareza a maneira de pensar dos marxistas, comparando-a à maneira de pensar dos catolicos. t necessario conhecer o modo de pensar de nossos inimigos, para nos defendermos, e para poder argumentar com eles. Se as palavras que nós usamos têm para nós um significado e para eles têm outro, como poderemos discutir} Se ignoramos os fundamentos do p ensamento comunista, como poderemos convencer estes po-

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bres homens de que estão no erro} Se ignoramos a tecnica d e sua propaganda, como poderemos avaliar o significado real de suas iniciativas? Assim, pois, tanto para nos imunizar contra os erros do comunismo como para os combater, e para trazer ao seio da lgreja aqueles nossos pobres patricios que se deixaram enganar pela seita tenebrosa, convém que Nossos amados Filhos tenham uma noção clara das doutrinas desta seita.

CAPITULO I

As

TEORIAS FUNDAMENTAIS DO MARXISMO

A doutrina comunista denomina-se manwmo. Seu autor foi o judeu alemão Carlos Marx. nascido cm T reveres cm 1818, e falecido cm Londres em 1883. Sua doutrina foi continuada por Frederico Engels e por Lenine, e forma o sistema que hoje se denomina "marxismo-leninismo". e é como que a filosofia do comunismo. Desta seita dizia Leão XIII na Encíclica "Quod Apostolici Muneris": "Vós compreendereis facilmente que Nos referimos a essa seita de homens que, debaixo de nomes diversos e quase barbaros,

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se chamam socialistas, comunistas. . . e que, espalhados sobre toda a superfície da terra, e estreitamente ligados entre si por um pacto de iniquidade, já não procuram um abrigo nas trevas dos conciliabulos secretos, mas caminham ousadamente à luz do dia, e se esforçam por levar a cabo o designio, que têm formado de há muito. •~ a eles certamente que se referem as Sagradas Letras quando dizem: "Eles mancham a carne, despre-

zam o poder e blasfemam a majestade" (Jud. 8)" (Edit. Vozes, pp. 3-4).

1.

O EVOLUCIONISMO MATERIALISTA - TEORIA MARXISTA

A base de tod~ a concepção marxista é o evolucionismo materialista. Ensina o evolucionismo materialista: no universo só existe a materia. Ela é eterna, necessaria. Esta materia se encontra em um processo de desenvolvimento, partindo da forma mineral e anorganica em direção de formas mais perfeitas. Uma força cega e irresistivel impele a mate.r ia no sentido de aperfeiçoar-se. Cada dia que passa, este processo dá um imperceptivel passo à frente. Deús não existe, não existe espirita nem alma. Portanto,

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não foi Deus que criou a materia, não foi Ele que estabeleceu um plano de desenvolvimento da materia imperfeita à procura da maior perfeição. Não há uma inteligencia infinita que concebeu um grande plano, nem uma Providencia sabia e onipotente, que dirige o desenrolar das varias fases da historia do universo. O universo evolui para sua perfeição levado por dinamismo interno, do qual Deus está ausente. Há muitos bilhões de anos o processo começou. Lentamente a materia foi se organizando e se aperfeiçoando, por urna lei interna. Um dia ela chegou a um estado tão perfeito, que algumas particulas se uniram e deram origem ao primeiro ser vivo, a uma celula, ainda muito imperfeita, mas já viva. Foi o aparecimento da vida. Não foi Deus quem a criou. Ela foi produzida pela materia cega . Esta vida, porém, não ficou neste estado imperfeito. Algumas celulas, devido a condições especiais, se foram aperfeiçoando, e assim se originaram seres mais perfeitos, os vegetais. A mesma força cega foi aperfeiçoando os vegetais, e um dia surgiu um vegetal que sentia: era o primeiro animal. Os animais fo. ram se aperfeiçoando até chegarem a formas muito perfeitas. O animal chegou à forma de macaco, que é o ser mais 12


perfeito entre os antepassados do homem. Um dia uma serie de macacos chegou a uma perfeição extraordinaria - chegou a ser homem. Ergueu-se sobre as mãos posteriores, os braços correspondentes se transformaram em pernas, seu tronco modificou-se para que pudesse erguer a cabeça e o busto, seu cerebro aperfeiçoouse, e o macaco começou a pensar e a falar. Eis os primeiros homens, ainda imperfeitos, e primitivos. Estes homensmacacos foram se aperfeiçoando, e hoje se contam quase três bilhões de homens sobre o mundo. Ao passar de macaco a homem, não foi preciso receber uma alma espiritual e imortal. O marxismo exclui a interven• ção de Deus na origem do homem. Nem Deus dirigiu a evolução do corpo, nem criou e infundiu uma alma espiritual no corpo. A razão é simples: não existe Deus, nem existe alma. Se compararmos os varios estados da materia, veremos que a partir da forma anorganica, mineral, ela subiu à forma de vida vegetal, daí passou à vida animal, e por fim chegou à vida intelectual. O cerebro humano é o estado mais perfeito da materia, que se conhece. Toda a vida que os catolicos chamam de espiritual, os marxistas consideram simples secreções do cerebro: a vida in-

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telectual, afetiva, volitiva, religiosa, artistica. São variações de uma unica coisa: a materia. São secreções e reações da massa encefalica, e das glandulas do nosso organismo. O homem é um simples animal bem equipado, diferente dos outros, complicado, porém nada mais que um animal.

*

Doutrina catolica

Em oposição a tais erros, a Igreja ensina que Deus criou a materia do nada. Em seguida a Providencia Divina, dispondo as forças da natureza de acordo com um plano infinitamente sabia, promoveu a formação do mundo com ordem, medida e beleza. Chegada a materia anorganica a certo ponto de resfriamento, Deus criou os primeiros seres vivos, as plantas. Mais tarde Deus criou os animais, de uma maneira cujos pormenores nós não conhecemos. Se os corpos dos animais superiores provêm do desenvolvimento de especies inferiores, nós não sabemos. A alma sensitiva é criada por Deus no corpo animal; ela é imaterial, mas não é espiritual. Um dia Deus criou o homem. Quanto à maneira exata como Ele formou o corpo do primeiro homem, nós pouco sabemos. Sabemos que Deus aproveitou da materia já existente. 14


Ignoramos se formou o corpo humano diretamente da materia anorganica ou Se serviu do corpo de um animal já existente, o qual a onipotencia divina mqdificou o necessario para poder receber uma alma imortal. Em ambos os casos a alma do primeiro homem foi criada por Deus do nada, como substancia espiritual, e unida substancialmente ao corpo. Sendo dotado de uma alma ~piritual, o homem é um animal racional. Sua alma informa o corpo, dando-lhe vida vegetativa e sensitiva, pela qual o homem pertence ao reino animal. Mas, por ser um espírito, a alma dota o homem da vida intelectual, com todas as suas modalidades. O homem é pois essencialmente superior aos animais, é um ser racional, exerce atividades que são essencialmente superiores à mate.r ia. 0

2.

PRIMEIRAS CONBEQUENOIAB

A.

A verdade

*

Doutrina catolica

Deus criou o universo de acordo com suas Idéias, e assim as criaturas todas representam as Idéias divinas. As

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coisas têm sua natureza estabelecida pela lnteligencia de Deus. A alma humana é capaz de conhecer a natureza das coisas e enunciar Jwzos a seu respeito. Estes juizos são objetivamente verdadeÍJ'os e universais se estão conforme à natureza das coisas, ou são errados se estão em desacordo com esta. Assim, a afirmação ..o homem é composto de corpo material e alma espiritual" é uma afirmação verdadeira. Outra: "a alma humana é imortal.. , é igualmente verdadeira. Isto é: é verdade que toda alma humana é imortal. Esta verdade é universal e vale em qualquer hipotese. Tais verdades não dependem de nós. Quer pensemos nelas, quer não, quer elas nos agradem, quer nos desagradem, são verdades e continuam verdades. Não é minha inteligencia que as cria, mas elas são objetivas e minha inteligencia as contempla e as conhece. Nossa inteligencia se acomoda à realidade. O papel da inteligencia é, sob este aspecto, passivo.

a.

Principio de identidade

A inteligencia humana contempla o universo e descobre uma lei do ser, universal e evidente. A inteligencia é ferida pela luz interna que esta lei possui,

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e que subjuga o intelecto humano. Quer o homem queira, quer não, basta que ouça o enunciado desta lei, e nela medite, para que sua inteligencia se veja obrigada por urna necessidade irresistivel a reconhecer que esta lei é verdadeira. Esta lei, ou melhor, este principio ontologico é o principio de identidade: cada ser é identico a si mesmo. Este principio é a base de todo o pensamento humano, e não pode ser negado nem posto em duvida. A inteligencia não o cria, mas o reconhece como verdadeiro. Ele está subjacente em toda afirmação, em toda negação. Sua expressão é o verbo ser.

b.

Principio de contradição

Com identica evidencia a inteligencia vê a verdade de outro principio, ligado ao primeiro pelo laço do ser: o principio de contradição. Uma coisa não pode ser e não ser sob o mesmo ponto de vista. Basta a inteligencia refletir sobre este principio, para ver com irresistível perfeição a sua verdade. A inteligencia de novo não cria este principio. Ele existe independente de nós, ele preside o universo. Se uma coisa possui uma qualidade, não pode, sob o mesmo ponto de vista, não a possuir.

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c.

Valor doa conhecimentos marxista

Teoria

Neste ponto está a radical diferença entre a m etafisica catolica e o marxismo. Para o marxista não há verdades abstratas universais. Nós não conhecemos a natureza intima das coisas, e isto por dois motivos. Primeiro, porque nossa inteligencia é um fenomeno da materia, as idéias não passam de secreções da massa encefalica. Não têm valor objetivo, não reconhecem a essencia real e universal das coisas. As idéias são criadas pelo cerehro. Seu valor é pois relativo. Uma vez que o cerebro evolui, pode ser que aquilo que me parece hoje verdadeiro, amanhã pareça errado a um cerebro cuja massa encefalica é mais aperfeiçoada do que a minha. Segundo : porque nada há no mundo de estavel em sua essencia. Aqui entra a teoria marxista sobre o movimento.

d.

O movimento

*

Doutrina catolica

Com excepção de Deus, todo ser é limitado, portanto sujeito a mudanças. A filosofia chama estas mudanças de mo-

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vimento (em latim: motus), dando a este termo um sentido mais amplo do que o simples movimento local. Assim, a passagem da vontade do e.s tado de indecisão para a resolução é um "motus", um movimento. Todo ser criado se muda, move-se. No movimento porém nós distinguimos um elemento estavel, e outro que se muda. O sujeito do movimento é o mesmo no inicio, durante e no fim do movimento. Portanto, o movimento não o atinge em toda a extensão de seu ser, mas só sob um ou outro aspecto. Há um elemento estavel no qual se verifica a mudança. Se uma criança cresce, a mudança se opera no campo do peso, tamanho, orgãos, faculdades. Mas a essencia humana é a mesma, e a pessoa é a mesma.

*

Teoria marxista

O marxismo contradiz a doutrina catolica radicalmente. Diz ele: nada existe de estavel no universo. Só existe materia, mas a materia está em continua mudança, em continuo movimento. De modo especial o ser vivo, organico. Não há dois momentos em que ele seja identico a si mesmo. Se tomarmos espaços maiores, por exemplo, em relação com o corpo humano, de sete em sete anos ele

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se mudou completamente. Se falo hoje com um homem, e daqui a dez anos nós dois nos encontrarmos, serão dois corpos completamente novos ( com exceção de umas partes mortas dos ossos) que se encontrarão. Não seremos mais nem o "eu" nem o "ele" de hoje. "O descanso é relativo, o movimento é absoluto" (Politzer, "Principios Fundamentais da Filosofia", edição francesa, p. 24). O marxismo considera que nada "é", tudo está sob todos os pontos de vista num perpetuo "vir-a-ser".

e.

Principio de identidade e de contradição rejeitados - Teoria marxiata

Por conseguinte, os seres não são. Estão continuamente vindo-a-ser, devenindo. O ser não é identico a ai mesmo. O ser é o que ele não é, e não é o que ele é. Dentro de cada ser há uma contradição imanente. Em cada ser há ele e o contrario dele. Em cada qualidade há ela e o contrario dela. A existencia da contradição dentro do ser é a causa da continua mudança do ser. "A dialetica é a teoria que mostra como os contrarios podem ser e são habi-

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tualmente identicos, em que condições são identicos convertendo-se um no outro, porque o espírito humano não deve considerar estes contrarios como mortos, paralisados, senão como vivos, condjcionados, moveis, convertendo-se uns nos outros" (Lerune, apud Jean Ousset. "EI Marxismo-Leninismo", p. 9 3) . Em lugar de procurar conhecer a natureza intima das coisas e os desígnios de Deus a respeito dos homens, em lugar da filosofia, da metafisica e da teologia, o marxismo se interessa somente pela evolução do anima) chamado homem, e pelo estudo dos fatores economicos que provocaram o aparecimento dos outros fatores sociais, religiosos, culturais, políticos que determinaram o rumo que tomou a vida dos povos. A Historia materialista é a unica ciencia que interessa a respeito do homem. Tudo o que a filosofia e a teologia ensinam são quimeras. f.

*

A essencia das coisas: o ser

Doutrina catolica

A base, o fundamento de tudo é o Ser. Deus é o Ser. As criaturas participam do Ser de Deus. Elas têm uma natureza fixa. Apesar das mudanças aci21


dentais, a essencia das coisas é permanente.

*

Doutrina marxista

Nada existe de fixo, de permanente, tudo está em continua mudança. Não existem essencias fixas; existem apenas estados da materia. Não existe V erdade. Só existe a Historia materialista.

B.

*

A moral Doutrina catolica

Deus, o Criador do universo e do homem, é essencialmente Santo. Por isto, todas as coisas têm sua ordem, são destinadas a um fim, e por ultimo são destinadas à gloria de Deus. O homem existe para a gloria de Deus, e todas as suas ações devem estar de acordo com a ordem estabelecida por Ele. Deus estabeleceu assim na propria natureza das coisas sua Lei. O que está conforme com a Lei de Deus é bom. O que contradiz a Lei de Deus é mau. O homem deve conformar a sua conduta à santidade de Deus. H á virtudes e há vícios. Por exemplo: a gratidão é uma virtude, um bem moral; a ingratidão é um mal moral. A generosidade é uma virtude;

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a traição é um pecado, um mal moral. Respeitar os pais é uma ação boa; faltarlhes com o respeito é uma ação má. Existe uma moral objetiva, que obriga o homem, O que é bom não é mau, o que é mau não é bom. Não somos nós que criamos o bem e o mal. Nossa inteligencia contempla as coisas e vê que há ações boas, ações más. lndependente de nossa inteligencia e de nossa vontade, há coisas moralmente boas e coisas moralmente más.

*

Doutrina marxista

Não existe Deus nem espirito. Só existe a materia. Daí se segue uma consequencia muito grave: não existe moral. Em si, não há virtudes nem vicios. A verdade não é boa nem má. A mentira não é boa nem má. Ela pode ser util ou prejudicial. Mas não há uma ordem objetiva, uma moral universal que obrigue o homem. Tudo é fruto das secreções do cerebro. ~ o homem que cria o bem e o mal. Ele é o senhor do bem e do mal, como ele é senhor da verdade e do erro. Para o marxista não há bem nem mal em si. Bom é o que ajuda a Revolução, mau é o que a prejudica. Outra moral não há. Vêde o que escreve Lenine : "Há uma moral comunista?

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Certamente, sim. Imaginam que não temos nossa moral, e a burguesia nos acusa de negar toda moral . . . Em que sentido negamos a moral, a etica) No sentido pregado pela burguesia, que deduz a moral dos mandamentos de Deus ... Repudiamos toda moralidade inspirada fora da humanidade, estranha às classes soc1a1s. São só mentiras, velhacarias. Dizemos que nossa moral está inteiramente subordinada aos interesses da luta de classes do proletariado. " . .. Nosso dever é subordinar (à luta de classes) todos os interesses. Nós lhe subordinamos nossa moral comunista. Dizemos: é moral o que contribui para a destruição da antiga sociedade de exploradores" (Lenine, "Obras Completas" tomo XXV, pp. 465-466 - apud Leon de Poncins, "L'Enygme Communiste", p. 56).

O. a.

Processo historico Teoria marxista Materialismo bistorico

Não havendo senão materia em mudança continua, não há verdade nem moral. Os catolicos e os pagãos se ocupavam com a filosofia, e de modo especial

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com a metafisica, para conhecerem a natureza intima e ultima dos seres. O marxismo despreza a filosofia e mais ainda a metafisica. Em lugar de ambas interessa-se pela Historia da materia que alcançou aquele estagio onde ela se chama "homem". A Historia é a ciencia fundamental, mas não a Historia que parte da filosofia catolica. e sim a que se chama Historia materialista. Mas como ela é a essencia do materialismo aplicado ao homem, os marxistas, invertendo os termos, chamam a sua filosofia de materia-

lismo biatorico. A Historia é um movimento continuo da materia-homem, resultante dos conflitos nascidos constantemente das forças da materia em oposição umas às outras.

b.

Materialismo dialetico

As coisas não têm natureza fixa, estavel, mas, como ondas tangidas pelo vento para a praia, estão em um continuo fluxo e refluxo causado por aquela força misteriosa que impele o universo a uma p erfeição sempre maior. Por isto em cada coisa há uma contradição. A coisa é e não é ao mesmo tempo. Isto vale para todos os seres do universo. Em lugar de identidade dos seres con-

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sigo mesmo, o que existe é a contradição do ser em si mesmo. Em lugar da har• monia do universo, do "kosmos", o que há é a perpetua luta. Esta luta é a essencia do universo. Para compreender a materia é necessario encará-la debaixo da luz desta perpetua luta. O materia• lismo historico não é um materialismo es• tatico, que considera a materia parada, mas um materialismo dialetico. Ao fa• tarem de dialetica, os marxistas não en• tendem este termo no sentido classico, de arte de argumentar e discutir. Eles o entendem como a "ciencia das leis gerais da mudança, da contradição, tanto no mundo exterior como no mundo do pensamento humano". Não se trata pois de um materiali~ mo "contemplativo", mas de uma manei• ra de conceber o universo como uma ma• teria em um imenso processo de mudan• ças. O que interessa são as formidaveis forças, as energias irresistíveis que impe• lem o universo para a frente. O que inte.r essa é conhecer os perpetuos e tremendos conflitos que geram o progresso, a fim de saber agir sobre o processo. c.

Hegelianismo

Assim, o marxismo adota a manei• ra de conceber o universo que o filosofo

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alemão Hegel ensinou. Tudo se faz em três etapas. Na primeira, o ser parece em repouso. t. a tese. Mas aos poucos a contradição que nele existe começa a aparecer, e põe em choque a tese. Eis a antitese. Depois de um período de luta, tese e antitese desaparecem, e surge um novo estado, que parece definitivo. t. a aintese. Mas este estado, que vem a ser uma nova tese, traz em si também sua propria negação, isto é, sua antitese, e assim surge novo conflito, e daí nova sintese. Esta serie de conflitos leva o universo para uma perfeição sempre maior, mas sempre relativa e instavel.

3.

CONCLUSÃO

Com esta exposição terminamos o primeiro capitulo, que trata do fundamento do marxismo. Vimos que ele parte do mais crasso materialismo, e que considera a verdade uma quimera. Em lugar de nós conhecermos a verdade, nós a criamos. O que existe realmente é a contradição, o contrario da verdade. Nós devemos conhecer as leis que regem esta contradição, que são as forças que agem no universo, para podermos dominar o universo.

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CAPITULO li OUTRAS CONSEQUENCIAS

1.

O DIREITO

O marxista consequentemente desconhece o Direito. Realmente, se não há Deus que estabeleça uma ordem que a criatura deve respeitar, e se o homem não tem alma, o Direito não existe.

*

Doutrina catolica

Direito é uma prerrogativa sagrada que liga certos bens a certa pessoa, de mane.i ra que ela d eles pode dispor, os pode gozar, os pode atribuir a terceiros, e de modo que d eles terceiros não a podem privar. A existencia de tal prerrogativa provém do fato d e Deus, o Senhor das criaturas, ter destinado assim uma criatura para o bem da outra. Por isto, quem não respeita tal prerrogativa viola a ordem estabelecida por Deus.

*

Doutrina marxista

Não existe tal prerrogativa. O Direito é uma quimera que os homens in-

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ventaram, e não precisa ser respeitado. O que realmente existe e é respeitado é a Força.

Observação - O marxismo é o materialismo levado a todas as suas consequencias. Se o homem não tem alma e é apenas um animal mais evoluído, não se distingue essencialmente de um bruto. t. diferente dos outros animais, porque anda ereto, tem certas quaüdades como a reflexão, o raciocinio, a tecnica, a arte, mas tudo isto não passa de coisas maten8ls. Ora, os animais não têm direito. O direito é uma prerrogativa do ser espiritual. Assim, se o dono dá um osso a seu cão, não se estabelece entre o cão e o osso a relação sagrada do direito. O patrão pode retomar o osso sem violar direito algum. Nem um terceiro pode impedir que o patrão tire o osso ao cão, sob pretexto de que o osso passou a ser propriedade do cão. E se um cão mais forte vier a tomar o osso ao primeiro, não violará o seu direito. O mesmo vale para o homem. Não há direito.

2.

ALIENAÇÕES MARXISTA

TEORIA

Em epocas passadas os homens não compreenderam sua soberana posição, e

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se privaram desta posição de independencia. Alienaram assim a sua propria liberdade. Muitos povos hoje se sentem atados por coisas do passado. Entre elas avultam: as tradições, a vida social, as Forças armadas, a propriedade, as c1encias, a familia e a Religião, Vejamos as principais. A. A maior de todas estas alienações é a Religião. O homem imagina um Deus, um Céu, um inferno, uma moral intangível, que não existem, e diante destas quimeras perde a sua soberana liberdade. Em lugar de ele agir com absoluta desenvoltura, põe limites à vontade, faz isto e deixa de fazer aquilo, pensando que assim deve ser. Outra grande alienação é a proO homem pensa que o direito de propriedade é sagrado, e quer que outros respeitem a sua propriedade. Mas ele mesmo, por sua vez, abstém-se de apoderar-se do que pensa que é dos outros. Assim os movimentos da paixão humana da cobiça são tolhidos. B.

pnedade.

C . Uma terceira grande alienação é a familia. A autoridade paterna, que o homem considera vinda de Deus e sa.g rada, tolhe a liberdade dos filhos. A santidade do lar obriga o homem a res-

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peitar a mulher do proximo, e a castidade o obriga a refrear as proprias paixões. Ele é escravo da idéia da familia. "O homem nasce livre, e no entanto, por todas as partes está acorrentado"', dizia o pai da Revolução, Rousseau. Assim, o homem criou numerosas cordas com que ligou a si mesmo. O marxismo pretende libertá-lo, e prepará-lo para reger soberanamente os seus proprios destinos.

CAPITULO Ili DA PRIMAZIA DO EOONOMICO À REVOLUÇÃO

1.

O TRABALHO NA TEORIA MARXISTA

Não há espirito, não há verdade. O homem não está diante de um ser que ele deve conhecer e reconhecer. Não existe um universo criado de acordo com uma Idéia, um Logos. Existe um mu.n do em continua mudança. O homem intervém neste mundo e o transforma. Esta é a nota característica do homem: o animal que intervém no mundo por sua ação. O homem é "homem" porque age. Enquanto ele age, é homem. 31


Cessando de agir, deixa de ser homem. Quanto mais ele age sobre o meio que o cerca, mais ho~em é. Quanto mais poderosa é a sua ação material, mais homem ele é. Pela ação o homem faz a Historia. A historia humana é a historia da ação produtora do homem. Cada epoca da Historia se define pela luta entre os homens tangidos pelas forças de produção em choque. Ser trabalhador é a essencia do homem: "homo faber", oposto ao "homo sapiens". O trabalho não existe para o homem, mas o homem para o trabalho. Pelo trabalho o homem transforma o mundo. Pelo trabalho o homem transforma a si mesmo. O essencial é pois o trabalho, a produção de bens economicos pela transformação da natureza. Pelo trabalho o homem é criador da humanidade.

*

Doutrina catolica

O homem tem uma natureza estavel O homem trabalha para adquirir certos bens que lhe são uteis ou necessarios. O trabalho existe para o homem. Não é o homem que existe para o trabalho.

e definitiva.

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*

Doutrina marxista

Dentro do quadro do evolucionismo, o homem é um estagio da materia, mas não é um estagio definitivo. Pelo trabalho ele pode modificar a sua propria natureza. As condições de trabalho têm influencia sobre a propria natureza do homem. Por isto os trabalhadores do seculo XVI eram homens diferentes dos trabalhadores do seculo XIX. Será possivel, assim, organizar o trabalho humano de tal maneira que surjam homens diferentes dos homens de h oje, mais perfeitos, mais felizes. Uma Nova Humanidade será criada pelo comunismo, tão diferente da humanidade de hoje como esta é diferente dos homens das cavernas, e o homem primitivo era diferente dos macacos. Será o Homem Novo 1 O comunismo é o limia r da Idade Nova 1

*

Consequencia: primado da industria sobre a agricultura

Dai vem a tendencia dos marxistas para a industrialização, e sua pouca simpatia para com a agricultura. Dai vem a mania da ação, do trabalho, a divinização do trabalhador manual e o odio contra a vida contemplativa e contra os que procuram trabalhar o suficiente para vi-

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ver, buscando gozar das coisas belas que D eus colocou no mundo.

2.

PRIMAZIA DO ECONOMIOO TEORIA MARXISTA

Uma vez que a essencia do homem é o trabalho de produção, o que há de mais importante na vida humana é a transformação das coisas em bens uteis ao homem. O econorruco é o fundamental.

*

Infra-estruturas -

Superestruturas

Nos varios aspectos da vida humana há umas coisas fundamentais e decisivas, outras secundarias e relativas. As coisas fundamentais são aquelas que estão diretamente ligadas à materia. Tais: a geografia, os transporte.s, a economia, o clima, a saude. Podemos resumi-las denominando-as "aspectos economicos·•. Elas são a base de tudo. Sobre estas infra-estruturas elevam-se as superestruturas: a vida social, o direito, a religião, as artes, a filosofia, a moral. Estas superestruturas dependem das infra-estruturas, e são consequencia das mesmas. A certo tipo de economia corresponde ce~-

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to tipo de sociedade, de moral, de religião e de arte. Não é o direito, a moral, a religião que determinam a econo• mia, mas o contra.r io. Mudando-se a economia, cria-se uma crise. As superestruturas vão ficando desajustadas, e aos poucos trava-se o conflito entre as estruturas novas que surgem, e as antigas que querem se perpe• tuar. Por fim, privadas de suas bases, as antigas ruem por terra. Assim, mudando-se a economia de um povo, automaticamente também a religião, a moral, o direito serão mudados. Não há religião objetiva, moral absoluta. Tudo isto é relativo, sem valor real, embora tenha grande influencia sobre o comportamento de muitas classes sociais "alienadas".

3.

*

PRIMAZIA DA AÇÃO Doutrina catolica

De acordo com a doutrina catolica, o fundamental a tudo é o ser. Do ser provém a natureza da coisa, da natureza provém a ação: "agere sequitur esse.. , "a ação segue o ser". Daí se deduz que é importante o conhecimento da natureza das coisas. Quem conhece a natureza das coisas sabe agir. Eis a razão porque

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nós meditamos. Pela meditação conhecemos a verdade. Do conhecimento da verdade nasce a ação.

*

Teoria marxista

Ao marxista não interessa o conhecimento teorico da essencia das coisas, pois que as coisas não têm ser fixo. Não lhe interessa o valor do ser e da verdade, e sim o valor da eficiencia e ação. Este ponto é fundamental para compreender o marxismo. O marxismo não procura organizar urna sociedade conforme à natureza humana. Ele não admite a natureza humana como algo de fixo, que sirva de norma absoluta, que tenha que ser assim e não de outro modo. Como o homem pode ser modificado em sua essencia pelo trabalho, pela ação, o papel que na sociologia e na teologia tem o ser, a natureza, é abandonado definitivamente. Para a concepção marxista o fator decisivo é a ação. Para o catolico, a experiencia, a ação devem realizar aquilo que a inteligencia conhece como verdadeiro e bom. A vontade segue a inteligencia, a consciencia. No marxismo dá-se o contrario. Ouvi o que diz Lenine: "A concepção da pratica da vida é que deve determinar a concepção fundamental da

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teoria do conhecimento" ("Matérialisme et Empiricocriticisme", Edit. Sociales, Paris, p. 123). Para o catolico a palavra de ordem é: "Vive como pensas!" Para o marxista é: "Pensa como vives!" "Uma das particularidades do materialismo dialetico é seu carater pratico, sublinhando-se o fato de que a teoria depende da pratica, o fato de que o fundamento da teoria é a pratica, e que, por sua vez, a teo1ia é a pratica. • . O criterio da verdade não pode ser senão a pratica sociaJ. O ponto de vista da pratica é o ponto de vista primordial, fun• damental da teoria marxista dialetica do conhecimento" (Mao Tse-tung, "Oeuvres Choisies", Edit. Sociales, Paris, tomo 1, pp. 349-350). Não há, portanto, "doutrina" propriamente dita. "Resulta pois que no marxismo não existe a filosofia, e sim a ação, que a filosofia se confunde com a ação mesma, uma vez que ela só afirma o que a ação a obriga a afirmar, de tal sorte que não há filosofia sem ação marxista, que a ação revolucionaria é da propria essencia da filosofia, porque a missão da filosofia é realizar a mais eficaz ação material. Para um comunista consciente do seu marxismo, o comunismo não é uma ver37


d ade ... , o marxismo é uma ação" (J can Daujat, "Connaitre le Communisme", p. 25 ). A pratica é a unica regra da pratica, a ação é a unica regra de ação. O ideal absoluto é obter a ação material levada ao maximo, ao paroxismo de eficiencia e vigor.

4. FORMAÇÃO IDEOLOGIOA No entanto os comunistas, como os catolicos, têm uma grande preocupação da formação ideologica, e combatem ferozmente em suas fileiras os desvios ideologicos.

*

Doutrina catolica

Nós, catolicos, nos preocupamos com a formação doutrinaria e combatemos os desvios doutrinarios porque temos o culto da verdade. "A verdade vos libertará", disse-nos o Senhor (Jo. 8 , 3 2). E "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo. 14, 16) . A verdade é para nós um bem absoluto. Em consequencia da verdade nasce a ação. Mas não é a ação que determina a doutrina, e sim a doutrina, a verdade que rege a ação.

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*

Teoria marxista

Uma teoria tem valor para o marxista não pelo fato de ser verdadeira. O marxista não tem o culto da verdade. Para ele a teoria tem valor enquanto é capaz de desencadear e orientar a ação material vigorosa no sentido da Revolução. Dizia Marx, com Engels : "Nossa doutrina não é dogma, e sim uma guia para a ação" (cf. Lenine, " Karl Marx et sa Doctrine", Edit. Sociales, Paris, p. 79). Lenine comenta esta observação de Marx, dizendo: "Esta formula classica sublinha com força e de maneira surpreendente este aspecto do marxismo que ae esquece constantemente. Em consequencia fazemos do marxismo uma coisa unilateral, disforme, morta. Nós o esvaziamos de sua medula, minamos suas bases teoricas fundamentais, a dialetica, a doutrina da evolução historica, multiforme e cheia de contradições" (Lenfoe, ibid.). Para os marxistas não há "doutrinas". Há o fenomeno de idéias que existem no cerebro de alguns. Eles preferem falar de "teorias", "ideologia" , "mentalidade", " dialetica". Mas não se deve agir de qualquer modo. Deve-se agir de acordo com a teoria marxista, de

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acordo com aquilo que a Historia, considerada como a evol~o da materia, nos revela. Agir com disciplina de ferro, para acelerar o movimento material que leva a humanidade à Revolução. Existe uma ciencia da ação marxista. Em Moscou há uma Universidade da Revolução, que estuda cientificamente todos os aspectos que deve ter a ação marxista nos varios estagios da sociedade. 1:. a "Ciência da Revolução".

5.

O/ENOJA DA REVOLUÇÃO

1:. uma ciencia que estuda o passado, e que dele tira conclusões praticas para a ação. Estuda a psicologia humana, a economia, a situação politica e economica, as forças sociais, as que dificultam, as que favorecem a Revolução. Com seriedade, objetividade, procura o meio mais eficiente de impelir a Revolução para a frente.

6.

REVOLUÇÃO ESPONTANEA E ORGANIZADA

Com a mudança das infra-estruturas, dos aspectos economicos da vida, acabam ruindo as superestruturas. Mas

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o procCSl!o natural de mudança da infraestrutura e a demolição natural das superestruturas são processos lentos. Aquela força formidavel que preside a evolução do universo age lentamente, embora inexoravelmente no sentido da R evolução. O papel do comunismo é acelerar este processo, modificando energicamente as infra-estruturas, e d estruindo violentamente as superestruturas que querem impedir ou retardar o p rocesso. O marxismo procura intervir nesta evolução cientificamente, à maneira como os homens de hoje estudam e procuram conhecer os segredos da meteorologia, para controlarem o sol e a chuva.

7.

ATEISMO PRATICO

O marxismo não se preocupa em negar teoricamente que Deus existe. Isto seria, dizem seus adeptos, uma negação dogmatica, abstrata, que supõe que haja verdade. Não se deve negar a existencia de Deus apenas teoricamente, deve-se apagar o seu conceito nas memorias, nas inteligencias. O melhor metodo para demolir a lembrança e o conceito de Deus é a ação intensa em que Deus está ausente das cogitações. Se durante algumas gerações os homens de um país agirem in41


...... tensamente sem pensar em Deus, no fim Deus será um conceito cujo sentido se procurará nos dicionarios, e cuja idéia pertencerá à Historia, como hoje o conceito do deus Saturno. Não se nega apenas teoricamente que Deus existe. O marxismo é mais radical que o ateismo teorico, ele desencadeia a luta contra tudo o que lembra a Deus, contra todos os apoios sociais da Religião: a verdade, a moral, o direito, a Igreja, a familia, as tradições, de maneira que no fim já nada lembra o homem de que possa existir Alguém que o criou, que tem direitos sobre ele. Por isto a Liga que é encarregada de lutar contra a Religião chama-se "dos Sem-Deus Militantes": é a luta pela ação mais do que pela teoria. "A religião é um aspecto da opressão espiritual que pesa sobre as massas populares oprimidas pelo trabalho perpetuo em proveito alheio, pela miseria e pela solidão. A religião é uma especie de aguardente e$piritual na qual 011 escravos do capital afogam seu ser humano e suas reivindicações em favor de uma existencia um pouco digna do homem" (Lenine, "Oeuvres Completes", t. Vlll. p.

520).

"Não olvidaremos nunca o ensinamento de nosso querido Lenine: a religião e o comunismo são incompatíveis tanto

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teorica como praticamente. Nossa tarefa é destruir toda especie de religião e de moral, pois para nós só é moral o que é util ao bolchevismo" (Stalin).

8.

REVOLUÇÃO

No marxismo o homem rejeita tudo o que significa alguma dependencia. Senhor absoluto de si mesmo, ele cria a sua propria natureza pela a ção, e por ela transforma a natureza das coisas. Nenhuma lei ou direito o sujeita. Nenhuma ordem o obriga. Ele leva o mundo para onde quer, ele se torna o senhor do mundo. Ele é deus de si mesmo.

*

Doutrina catolica

O mundo foi feito para a gloria de Deus. Enviando-nos seu Filho, Jesus Cristo, Deus O constituiu Rei do mundo, e assim sujeitou a vida humana à doutrina e aos preceitos de Jesus Cristo. A humanidade deve pois marchar para a aceitação da realeza de Cristo, e nessa aceitação está a sua felicidade. A repercussão da realeza de Cristo na sociedade, ou a sociedade baseada, orientada e constituída de acordo com Jesus Cristo e para a sua gloria, é o que 43


chamamos de Cristandade, a "Cidade de Deus".

*

Teoria marxista

O homem não admite nem os direitos d e Jesus, nem Jesus Cristo. Nem aceita suas doutrinas, nem acata seus m andamentos. O homem não se interessa por uma vida eterna em que seria infinitamente feliz, nem tem medo do inferno, onde seria eternamente desgraçado. Em lugar de instaurar a Cristandade, o homem quer derrubar tudo o que provém de Deus e de Cristo: direito natural, metafisica, Igreja, Cristandade, autoridade. Esta derrubada total se chama a Revolução. E sobre si mesmo o homem procurará construir sua vida, orientado por suas luzes, satisfazendo as suas mais profundas paixões. A socied a de humana assim organizada será a "Cidade do Homem" .

9.

*

FIM ULTIMO: A REVOLUÇÃO PERMANENTE Doutrina cafolica

Para o catolico, na fé e na vida pratica, o fim ultimo do homem é a vida eterna. Para ela dirigimos nosso amor,

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nossa esperança, ela nos orienta, nos dá força e animo. A ela se dirigem nossas ações, e nós lhes damos valor enquanto nos levam à vida eterna, e de acordo com o prejuízo que ela possa sofrer consideramos uma ação má e a evitamos. A vida eterna é nosso anelo, nosso estimulo, é a estrela que nos guia e norteia.

t

*

o fim ultimo.

Teoria marxista

O que para o catolico é a vida eterna, é para o marxista a Revolução. "A Revolução representa o papel que representou a vida eterna" (Malraux). Seu grande ideal é este: acabar com tudo o que lembre a Deus, Jesus Cristo, Igreja, tudo o que limite o homem, limite a sua liberdade, tudo o que o faça esperar a felicidade no outro mundo, tudo o que tolha as suas paixões. Revolução! Destruição do Direito, da autoridade, da moral, da beleza. Para a criação de um homem novo, de um mundo novo. Não se deve pensar que os marxi.s tas encaram este ideal de maneira tradicional. Muitos poderiam pensar: os marxistas desejam tal ou tal tipo de sociedade, de vida humana, e trabalham para reali-

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zá-lo. Quem pensasse assim não teria entendido o marxismo. Não havendo Deus nem uma natureza humana fixa, não há um ideal detalhado que deva ser realizado. A grande tarefa é destruir todas as amarras que ligam o homem e tolhem a sua ação livre e soberana. Uma vez solto o homem, ninguém pode imaginar como será a nova humanidade. O que São Paulo diz do Céu: "Olho humano jamais viu, ouvido humano jamais ouviu, coração humano jamais sentiu o que Deus prepara aos que O amam" ( 1 Cor. 2, 9) , pensam os marxistas da humanidade "remida" pela Revolução. O marxista diz da Revolução: ninguém pode imaginar como será feliz a humanidade quando se libertar completamente de Deus e de tudo quanto a liga ao passado e ao presente. Jean de F abregues comenta, "A noção do reino temporal da Fé, que Marx recebe da Religião de Israel, vai ser por ele desviada e invertida (melhor, subvertida) . . . A Revolução é explicação do mundo, de seu movimento, de seu ritmo. Ela lhe dá sentido, lhe dá objetivo. Ela é a esperança e será o final da obra . . . A Revolução é redentora, é também criação, a Nova Criação do mundo . . . a Revolução gera também um Homem Novo" ( "La Révolution ou la Foi", p. 65).

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A Revolução não tem um programa prefixado a atingir. Realizado o programa negativo de destruição das alienações, está aberto diante dos homens o infinito. A natureza humana não repre.s enta um limite. Ela será continuamente modificada pela ação revolucionaria, pelo trabalho, e ao homem novo se abrirão possibilidade inauditas. Man dizia: "A Historia não é outra coisa que uma modificação constante da natureza humana" {"Miseria da Filosofia"). Com uma firmeza infalivel, dizem os comunistas, o seu Partido guiará a humanidade para o Progresso. Amados Filhos, será util ouvirdes o que Adolf Hitler pensava do futuro da humanidade, guiada pelo marxismo. Herman Rauschning, em seu livro "Hitler m'a dit" (Paris, 1939, p. 312), conta uma entrevista que teve com o "Fuehrer": "(Hitler) - O Sr. é vitima de um velho sofisma, de que deve libertar-se. O essencial do marxismo é a vontade de construção revolucionaria, que já não necessita apoiar-se sobre muletas ideologicas, que forja para si um instrumento de poder implacavel, para se impor às massas populares e ao mundo inteiro. De uma teleologia de base cientifica surge assim um verdadeiro movimento revolu-

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cionario, provido de todos os meios necessarios para a conquista do poder. " ( Rauschning) - E qual é a meta desta vontade revolucionaria} "(Hitler) Não tem meta precisa. Nada de fixo, de uma vez por todas. Custa-lhe ta n t o compreender isto} "Respondi-lhe que realmente estava um pouco desconcertado por estas insolitas perspectivas. "(Hitler) - Somos um movimento. Esta é a palavra que diz tudo . . . Sabemos que não há estado definitivo, que não há nada duravel, que somente há uma evolução perpetua. O que não se transforma é o que está morto. O presente já é passado. Mas o porvir é a corrente inesgotavel das possibilidades infinitas de uma criação sempre nova". Uma coisa, apenas, é certa. Esta nova civilização será a Civilização do Trabalho. Nesta civilização o trabalho será o valor supremo, o supremo criterio da humanidade. A alma, a criadora desta civilização será a Ação.

REFLEXÃO A Cristandade nasce da Verdade. A Revolução nasce da Ação.

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Para o cristão: no principio era o Verbo (Jo. 1, 1). Para o marxista: no principio era a Ação (Goethe).

* Diz o marxismo que, liberto de Deus, de Cristo, da Igreja e de tudo o que lembra a Deus, o homem iniciará uma nova etapa em sua vida e construirá o Paraito na terra. Amados Filhos, estais penetrando no misterio da iniquidade. Parece que temos diante dos olhos o retrato daquilo de que fala São Paulo : para que o Anticristo venha, é necessario que "venha primeiro a apostasia, e seja revelado o homem do pecado, filho da perdição, que se opõe e se eleva contra tudo o que se chama Deus, ou que recebe culto, de tal sorte que se sente no templo de Deus, ostentando-se como Deus" (2 Tess. 2,

3-4). O marxismo é o paroxismo da impiedade, a tentativa de destruir radicalmente Deus e sua Igreja. Tudo quanto ele ensina é o opo;to mais radical do que Jesus Cristo ensinou. Ele afirma que só existe a materia, mas nós sabemos que "no principio era o Verbo, e o Verbo existia em Deus, e o

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Verbo era Deus. Tudo foi feito por Ele, e nada do que existe foi feito sem Ele" {Jo. 1, 1-3). O marxismo afirma que não há verdade, mas nós sabemos que "Cristo é a Verdade" ( 1 Jo. 5, 6), que Jesus Cristo de Si mesmo afirmou : "Eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida" (Jo. 14, 6). O marxismo afirma que não há bondade nem moral, mas nós sabemos que há o Bem substancial : "Porque Me chamas de bom} Um só é bom: Deus" (Marc. 1O, 18). Para ele o homem é um animal a que só interessa o econornico, e nós sabemos que não "adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma" (Mat. 16, 26).

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2.ª

A

PARTE

Seita Comun is t a ou o Marxismo e m A ção

CAPITULO I

0 PROLETARIADO A SERVIÇO DA REVOLUÇÃO A ação maTXista é fundamcntalmcn• te revolucionaria. Mas a sua maneira de ser revolucionaria difere daquilo que o homem comum entende ao falar de revo• lução. Para o homem comum a revolução é o meio violento de conseguir uma sociedade melhor e estavel. Isto quer dizer que, conseguida a mudança, o ho• mem quer que ela se estabilize, e pensa em lutar para que o fruto de seu esforço não seja destruído por outras forças. Para o marxista, não há um programa positivo a se realizar. À Revolução não pretende realizar novas reformas positivas e depois parar. A Revolução não intenta obter um bem, ela que.r somente ação, movimento. A Revolução é em si

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mesma o grande ideal. A ação revolucionaria não é um meio, ela é o fim. Ela é permanente, é a obra gigantesca de uma humanidade em movimento, em que o Homem Novo se cria a si mesmo continuamente, se modifica perpetuamente. A Revolução não é meio para se conseguir uma nova "Ordem", ela é a nova "Ordem". Nós devemos pois modificar o nosso conceito de Revolução, quando estudamos o marxismo, e lembrar que a Revolução é o estagio definitivo da humanidade progressista. Para chegar à Revolução é porém preciso demolir um universo. O marxismo iniciou esta demolição. Qual foi o instrumento de que ele lançou mão'?

1.

O PROLETARIADO

Em consequencia da Revolução Francesa e da laicização da vida, apareceu na Europa, no seculo XIX, a classe dos proletarios. Eram trabalhadores da industria explorados criminosamente por capitalistas überais, que consideravam o trabalho uma mercadoria e não o meio dado por Deus para o sustento digno do individuo e da familia. Desta concepção liberal resultou uma miseria tetrica, desarraigamento crescente, ruptura com a Religião e a Patria, miseria moral e 52


espiritual. O trabalho das mulheres e das crianças tornava ainda mais triste a sorte dos lares operarios. O Santo Padre Leão XIII analisa as causas desta situação na monumental Encíclica "Rerum Novarum": "O seculo passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para eles ( os homens das classes inferiores) uma proteção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das institui9Ões publicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça de uma concorrencia desenfreada. A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens avidos de ganancia. e de insaciavcl ambição. A tudo isto deve acrescentar-se o monopolio do trabalho e dos papeis de credito, que se tomaram o quinhão d e um pequeno numero de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase servil à imensa multidão dos proletarios" (Encíclica "Rerum Novarum", Edit. Vozes, p . 4, n.9 6). Procurando uma classe capaz de servir de instrumento para a Revolução, Marx encontrou este proletariado. ~

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muito importante conhecer o angulo sob que o marxismo se interessou pelo proletariado. Haverá talvez entre vós, amados Filhos, quem pense que os comunistas desejavam melhorar a sorte dos operarios. Estará enganado. Ouvi o que os proprios mestres do marxismo ensinam a esse respeito. Rosenberg dá a 1 seguinte explicação: "Marx não partiu do proletariado, da sua miseria e da sua a ngustia, e da necessidade de libertar esta classe, para em seguida desembocar na Revolução. Ele percorreu o caminho justamente oposto ... Buscando os meios CM1 Tt que lhe possibilitariam realizar a Revo-/ _,,. b IS. lução, Marx descobriu o proletariado" v 1•• (apud Jea n Ousset. "El Marxismo-Leni• nismo", p. 116) . E Henri Lefêvre co~ ~ 00 m enta em "Le Marxisme": "O mandamo não traz um humanismo sentimental Ô e choramingas. Marx não se inclinou sobre o proletariado porque este fosse oprimido. nem o fez para se lamentar de sua opressão . . . O marxismo não se interessa pelo proletariado enquanto é debil ( como é o caso da gente caritativa, de certos utopistas, de paternalistas, sinceros ou não), mas enquanto o proletariado é uma força" (apud Jean Ousset,

t

o . c., p. 116) .

Se Marx tivesse vivido cem, duzentos anos antes, não teria encontrado este

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instrumento. Na Idade Media e no "Ancicn Régimc", o opcrario, o artesão estava enquadrado cm suas corporações, guildas, ligas, irmandades. Era alguém, tinha raizcs, tinha tradições, uma situação economica estave) e uma situação social definida. Tinha suas festas, suas igrejas, seu prestigio. A corporação cuidava de sua formação tecnica, do exercício de sua profissão, de sua vida religiosa, de sua saudc e de sua famiüa, em caso de doença ou de morte. Dentro da paroquia ele tinha seu lugar; dentro do município, tinha sua profissão. Tudo isto, a Revolução Francesa e a impiedade destruíram. Atemorizado, isolado, o operario se viu diante da era da maquina de vapor e das grandes fa. bricas. No entanto, na Europa ainda havia muita raiz, e muito trabalho se fazia para reerguer a classe operaria; por isto, apesar das tentativas, lá o marxismo não conseguiu a vitoria. Mas, na Russia o operariado estava ainda mais abandonado, porque a igreja cismatica, privada da fecundidade e da vitalidade da Igreja Catolica, não conseguia enfrentar a onda destruidora do liberalismo economico. Quando o marxismo caiu sobre o proletariado russo, conseguiu, pela primeira vez, conquistar o poder e, firmando-se sobre esta base, empreender a conquista

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do mundo. Perguntareis: por que o proletariado russo era a classe ideal para servir de instrumento da Revolução) Eis a resposta de um comunista russo, dos fins do seculo passado: "Nós, proletários russos, carecemos de todas as riquezas do Ocidente, de toda herança. Em nossas recordações nada há de romano, nada de antigo, nada de catolico, nada de feudal, nada de cavalheiresco, quase nada de burguês. Assim, pois, nenhum remorso, nenhuma consideração, nenhuma reliquia do passado poderia frear-nos". Marx via duas coisas no proletariado. Primeiro, que sua miseria, bem açulada, b e m explorada, era capaz de lançar a classe dos operarios contra a classe dos patrões, com uma violencia esmagadora. Segundo, que aquela classe não tinha raizes e tradições que a impedissem de agir. Sem propriedade, sem familia bem constituída, sem Religião, sem patria, nada freava os seus membros. Estavam em quase perfeita disponibilidade. Aqueles homens eram capazes de uma ação revolucionaria de violencia inaudita. Ora, o marxismo quer ser a ação revolucionaria mais potente. Era logico que ele procurasse conquistar o proletariado, identificar-se com ele, desencadear sua ação demolidora, orientá-la, enquadrá-la,

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e assim destruir por meio dela todas aa amarras, todas as ligações com Deus, Igreja. patria, familia, propriedade e passado. Ao mesmo tempo que demolidora, a classe operaria, uma vez no poder, criaria o maia gigantesco organismo induabi.al, que faria de todos os homens, opcrarios, e faria das na9Ões um imenso exercito de trabalhadores, que transformariam o mundo. Para conseguir a Revolução, o marxi.s mo empreendeu a conquista e a mobilização do operariado. Mas agora não vamos tecer a historia do comunismo. Podeis encontrá-la cm livros especializados. Vamos mostrar-vos, amados Filhos, os passos metodicos que a seita segue.

2.

TOMADA DE OONS0/ENOIA

A tarefa que o marxismo tinha diante de si era iniciar uma violenta reação doa operarios contra os patrões. Não lhe interessava melhorar a situação dos operarioa, como a Igreja estava fazendo. Ao contrario, interessava-lhe que esta situação ficasse ainda pior, que aumentassem a riqueza e o lucro de uns, e a miseria de outros. Mas toda a diferença de situações, por si mesma, ainda não poria os operarios em movimento, enquanto

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eles não se dessem conta da sua condição miseravel. Para isto era preciso sacudir o operariado com uma ação revolucionaria para que ele "tomasse consciencia" da injustiça de sua situação e da propria força. Note-se que para o marxista, como não existe a verdade e o direito, não é pela comparação da situação de uma classe com normas da justiça que se tem conhecimento da injustiça de uma situação. T ai modo de proceder é pro• prio da inteligencia comum. O marxista só crê na ação. E, por isto, é pela ação que ele leva o operario à idéia de que é explorado. Reivindicações de salarios, congressos, greves, revoltas foram os meios usados para fazer o proletariado tomar consciencia de que "era roubado". Elaborando uma doutrina estranha, nova e artificial de Economia Politica, o marxismo: a) procurou convencer os operarios de que todo o fruto do seu trabalho lhes pertenceria, e de que o lucro que os patrões e os capitalistas tinham era roubado deles; b) estabeleceu o principio d e que os meios de produção devem ser da coletividade e não dos particulares; c) procurou provar que no proces• so economico existente, o capitalista fica

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cada vez mais rico, e o operario cada vez mais pobre. Pregando estas doutrinas aos operarios, o marxismo os punha em franca revolta contra a classe dos patrões.

3.

LUTA. DE CLASSES

Esta luta dos operarios contra os patrões representa para o marxismo o instrumento infalível para a demolição da sociedade cristã. Aquela força misteriosa que preside à evolução da materia é reforçada pela luta de classes, e o processo que duraria seculos se acelera, e se faz em poucos anos. Esta luta deve ser feita de maneira completamente materialista. Nenhum dogma, nenhum decalogo, nenhum motivo religioso, nenhum fim tradicional deve ser tolerado. Luta em torno do pão, cm torno do dinheiro, e para tal, luta cm torno do poder politico. Desde que se deixem envolver nesta luta materialista, os proprios operarios catolicos se transformarão cm materialistas e marxistas. Se não houvesse a questão operaria, o marxismo procuraria outro pretexto para lançar os mais fracos contra os mais fortes, os de baixo contra os de cima, os do Sul contra os do Norte, os pretos contra os brancos, a fim de, pelo desen59


cadeamento da inveja, da cobiça e do orgulho, lançar os homens à destruição dos valores espirituais.

4.

CLASSE PROLETARIA

A luta de classes seria desfavoravel para os operarios, que são mais pobres, menos cultos, se eles não procurassem o ponto onde são os mais fortes: o numero. Por isto o marxismo vê no surgimento da consciencia de que todos os proletarios do mundo formam uma só classe, a grande força da Revolução. ~ este o grito de guerra do Manifesto comunista de 184 7: "Proletarios de todos os países, uni-vos J" A unica coletividade que o proletario deve reconhecer é a coletividade da classe. Nenhuma outra lhe interessa: nem a Igreja, nem a Patria, nem o Exercito, nem a familia. Da união total dos prole tarios nasce a Classe Proletaria. Tudo entre os proletarios é comum. Por isto o marxismo se chama comuniamo. Aquela potencia material maxima, capaz de criar um mundo novo, destruindo tudo o que se opõe à Revolução, é a Coletividade Proletaria, o Estado comunista.

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5.

OOLETIVIZAÇAO

Para ele ser a Grande Força Revolucionaria, é preciso que todos os meios de produção estejam nas mãos do proletariado, não com os individuos que o compõem, mas com a classe como tal. Como cupula da classe, o Estado comunista representa o proletariado. Por isto todos os meios de produção e todas as alavancas do poder devem estar nas mãos do Estado comunista. Enfeixando todos os recursos materiais do mundo, todos os meios de produção, transporte, guerra, etc., a classe operaria representa o maximo do poder humano, é como que a Divindade do Trabalho. Dentro deste grande organismo de produção, o individuo é uma rodinha minuscula na gigantesca engrenagem. Deverá se sujeitar a uma disciplina de ferro, e os interesses da Revolução serão o criterio supremo de suas ações. Vistes, amados Filhos, que o marxismo considera o homem um animal trabalhador. Ele é pois consequente quando entrega ao trabalhador, ao operario, os destinos da humanidade, a criação da humanidade nova. Para o marxismo, o proletario é o homem mais puro, mais legitimo, mais autentico. Somente ele é capaz de criar uma humanidade autenti-

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ca. Para isto basta-lhe libertar-se de qualquer ligação com o passado, de qualquer elemento que lhe tolha a liberdade de ação, unir-se, e destruir tudo o que se opõe à Revolução Permanente.

6.

DITADURA DO PROLETAR/ADO

Uma vez unidos em organismos locais, regionais, nacionais, internacionais, os operarios empreendem a conquista do poder, e esmagam todas as outras classes.

7.

MORAL - VERDADE PROPAGANDA

Nesta luta pelo poder, todos os meios são licitos: o importante é realizar a Revolução. Porque o unico criterio da moral e da verdade é a Revolução. ~ verdade o que concorre para ela; é mentira o que se opõe a ela ou a dificulta. ~ bom e licito tudo o que concorre para o seu triunfo; é mau e proibido tudo o que a ela prejudica. A propaganda tem um grande papel nesta luta. Sua finalidade não é difundir a verdade. Seu fim é pôr em movimento as massas revolucionarias. Por isto a propaganda se serve de todos os meios,

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mesmo de calunias e mentiras, para "forrar o cerebro" de idéias que provocam a a ção revolucionaria. De outro lado, é preciso tirar da cabeça do povo as idéias que podem paralisar a ação revolucionaria. Não se trata de convencer por razões logicas, por argumentos e pela apresentação da verdade. O que é preciso é "lavar o cerebro",

8.

ID~IAS

As idéias interessam muito o marxismo. De novo, interessam não pelo fato de serem verdadeiras ou falsas. Como o marxismo não reconhece a verdade, não lhe interessam as idéias sob este ponto de vista. Mas o ma.r xista sabe que o animal chamado homem possui idéias na cabeça, e que estaa idéias provocam ações. ~ sob este ponto de vista que as idéias lhe interessam, e o comunismo desenvolve estudos de psicologia para ensinar a seus tecnicos a maneira de se servirem das idéias para provocar, orientar ou impedir as ações. Estas idéias costumam vir envoltas em um clima de emoção irracional, de tal sorte que não é a inteligencia do homem que dirige sua ação, mas antes é a parte animal que dirige a parte intelectual. O comunis-

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mo chama a tais idéias irracionais "idéiasforça". Exemplo de tais idéiàs tendes, amados Filhos, na parola comuno-nacionalista "o petroleo é nosso".

APENDIOE: O CAPITAL E O TRABALHO Dentro deste contexto, é importante vermos o que pensa o Catolicismo da origem do capital, e o que pensa o marxismo.

*

Doutrina catolica

De acordo com o ensinamento da Igreja, somente é propriedade do homem aquilo que foi honestamente ganho. O que é ganho desonestamente ou adquirido injustamente não é propriedade do homem, e deve ser restituido a seu dono. Portanto, dinheiro e bens roubados ou desonestamente adquiridos não são propriedade no sentido catolico. Posto isto, perguntamos: qual é a origem do capital'? A origem do capital é muito nobre. Mons. Delassus diz que o capital é um príncipe, filho de um casal muito nobre. Seu pai é o trabalho, sua mãe é a economia. O nascimento do capital se faz assim: o homem trabalha mais do que

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precisa e gasta menos do que pode. Assim sobra-lhe o dinheiro. Este dinheiro ganho e poupado é seu "trabalho cristalizado". Com este dinheiro ele compra uma fonte de renda, um campo, por exemplo, e passa a explorá-lo. Realmente este campo representa o fruto do seu trabalho. Ao explorá-lo, o homem faz o fruto do trabalho trabalhar para ele. Um outro compra uma casa e a aluga. ~ o "trabalho cristalizado" que por sua vez trabalha. Assim o homem melhora a sua situação. Continuando fiel ao principio "trabalha mais do que precisas e gasta menos do que podes", e " faze o teu trabalho trabalhar para ti", o homem se toma capitalista. O capitalismo é um sistema em si legitimo. f. conforme à natureza humana. Ele põe ao serviço da sociedade humana aqueles dois motores admiraveis de que Deus dotou o homem, que são o amor de si mesmo e a vontade de possuir e de se enriquecer. Esta vontade é legitima e, ficando nos limites da razão, da justiça e da caridade, é louvavel e virtuosa. Naturalmente o capitalismo pode levar a abusos, e tem levado. Os Papas e Bispos têm denunciado tais abusos. Mas o sistema do capital. da iniciativa privada, da posse privada dos meios de produção, tem sido defendido energicamente pelos

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Sumos Pontifices contra a tese socialista de que o capitalismo é essencialmente mau. Ao invés, os Santos Padres afirmam que o comunismo é intrinsecamente mau. O capitalismo pode ser mau acidentalmente, mas é intrinsecamente licito. O comunismo é intrinsecamente mau, e sua ação é sempre má e deleteria.

*

Teoria marxista -

Refutação

O marxismo ensina que o particular que possui m eios de produção rouba ao operario o que lhe pertence. Marx procurou estabelecer uma esdruxula teoria economica. Diz ele que todo o lucro de uma empresa pertence aos operarios, e nada aos donos da empresa. A base de sua argumentação é que só o trabalho manual dá direito a remuneração. Não é dificil refutar estas asserções. Vimos que o capital é "trabalho cristalizado". No capital o trabalho trabalha. Uma vez pago um salario que permita ao operario viver dignamente com sua familia, educar seus filhos e fazer uma reserva para o futuro, a justiça está satisfeita. O empresario pode ser generoso e pagar mais, conforme a natureza do trabalho realizado e os rendimentos da empresa. Mas aí não fala mais a justiça, e sim a caridade.

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"Erram, certamente, os que não receiam enunciar este principio, que tanto vale o trabalho e tanto deve ser a paga quanto é o valor do que se produz; e que, por isto, na valoração do proprio trabalho tem o operario direito de exigir para ele tudo o que produzir" (Pio XI, Encíclica "Quadragesimo Anno", Edit. Vozes, p. 27) . Assim, pois, do produto do trabalho de um operario que opera as maquinas de uma empresa, isto é, do produto desta conjugação "trabalho + capital", justamente se pode destinar uma parte à remuneração do trabalho e uma parte à remuneração do capital (trabalho cristalizado) . Além de impugnar a legitimidade do lucro do capital ( que acusa de roubo, quando em mãos de um particular, mas que considera justo, quando nas mãos do Estado), Marx afirmava que, no processo capitalista, os operarios ficarão cada vez mais miseraveis e os ricos cada vez mais ricos. Isto não é verdade, e os fatos desmentiram o falso profeta. Na Europa e na America do Norte os operarios hoje têm um nivel de vida alto, incomparavelmente mais folgado do que cem anos atrás. O Santo Padre João XXIII o verifica na Encíclica "Ad Petri Cathedram", de 29 de junho de 1959.

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CAPITULO li

A

DIALETICA EM AÇÃO

A TESE

Muitas vezes, amados Filhos, ficais perplexos diante das mentiras e contradições dos comunistas. Se vos lembrardes de que o criterio supremo da verdade e da moral é o interesse do Partido Comunista, isto é, da Revolução, compreendereis como o comunista pode afirmar hoje uma coisa e negá-la amanhã, louvar hoje uma ação e condená-la depois. A razão é que no processo da Revolução as coisas e os interesses vão mudando conforme as etapas do processo. ~ a aplicação da lei hegeliana da tese e da antitese. Para julgar da atitude do comunismo diante de alguma instituição, deveis considerar em que etapa se encontra o processo revolucionario em determinado país.

1.

A SEITA COMUNISTA

No seculo passado, num movimento de apostasia total do Cristianismo ou do Catolicismo, grandes massas de operarios, burgueses e intelectuais se uniram numa organização mundial: a .. Associação Internacional dos Trabalhadores", a chamada .. Primeira Internacional" (Genebra,

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1866) . Tendo-se ela dissolvido por dificuldades internas, os marxistas se constituiram em partidos comunistas, e se or• ganizaram em urna nova "Internacional", denominada de 'Terceira" ( 19 2 1 ) , que nos anos seguintes passou por varias transformações. Sob outro nome ela é a cabeça de uma imensa seita comunista. ~ uma seita que tem sequazes fanaticos, tem organização centralizada nacional e internacional, e luta ..pelo poder politico e pelo domínio do mundo.

2.

O PARTIDO COMUNISTA

Durante a fase de luta pelo poder em dado pais, os comunistas se organizam em partido político, a que pe.r tence apenas a elite. Seu quadro eleitoral costuma ser dez, vinte vezes maior do que o quadro partidario. O partido é como a Hierarquia, o eleitorado é como o laicato na Igreja Catolica.

3.

A TESE

A oposição total e a destruição do estado d e coisas existente, em tudo o que lembra Deus, lei natural, Cristo e sua Igreja, civilização cristã e tradição, é a lese marxista. Ê o período da demoli-

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ção. Para chegar à Revolução é necessario demolir, e para isto é preciso desenraizar o homem e lançá-lo violentamente contra a sociedade cristã.

A.

A propriedade

O primeiro a lvo da furia comunista Ela nega todo o direito de propriedade, negando a existencia mesma do Direito. Mas não é só este o aspecto da propriedade que a seita abomina. Nesta fase da Revolução, o comunismo ataca toda propriedade, mesmo "de facto". Ele abomina a propriedade particular. Por que? Tem boas razões para abominá-la. Eis algumas: é a propriedade.

a . A propriedade defende a liberdade do individuo diante da coletividade, e o comunismo quer que todo individuo esteja nas mãos do Partido, sem vontade propria, como uma rodinha de engrenagem. b. A propriedade cria laços que prendem o homem à terra, à natureza, ao passado, a si mesmo, à familia, e a Revolução quer quebrar todos estes laços. c. A propriedade faz o homem pensar em si, em seus interesses, e a Re-

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volução quer absorver todo o interesse do individuo. d . A propriedade acaba gerando a desigualdade das classes sociais, e a Revolução excita no coração humano a paixão da inveja, que não quer que um seja mais do que o outro. Por isto, n esta fase, a Revolução confisca toda propriedade, dizendo que tudo é de todos.

B.

Igualitarismo

Para levar os proletarios e muitos intelectuais e burgueses às suas fileiras, os comunistas, nesta fase de tese, pregam o igualitarismo. Apregoam: 'To dos serão iguais, não haverá ricos nem pobres, não haverá classes sociais. Todos serão operarios, e nada mais, e assim todos serão irmãos". E conseguem que inumeros burgueses se comovam até as lagrimas ante a perspectiva de uma sociedade sem propriedades. Este episodio hodierno lembra os nobres da Revolução Francesa que, entre lagrimas de alegria, renunciaram a seus privileg ios feudais, para pouco depois serem decapitados pelos seus "'irmãos". Este igualitarismo, amados Filhos, não só é uma utopia, mas é uma revolta

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contra os planos de Deus. No entanto, as paixões que ele desencadeia são tão violentas, que são capazes de levar até catolicos ao delirio, chegando tais pessoas a ajudar o comunismo a destruir a sociedade cristã para preparar o advento de uma "sociedade sem classes".

O.

Proletarização

O caminho da Revolução é a destruição da propriedade privada, da iniciativa particular, e uma crescente coletivização e proletarização. Quanto mais o capitalismo mal orientado concentrar a riqueza nas mãos de uns poucos, e espalhar a miseria nas multidões, ou quanto mais o comunismo conseguir, por meio de greves, disturbios, transtornos, empobrecer um povo, tanto mais facil será a tarefa da Revolução de conquistar o poder. Quanto maior o numero dos proprietarios, pequenos, medios e grandes, quanto maior o apego à propriedade, ao passado, tanto mais difícil o caminho da Revolução. Em contra-partida, a concentração excessiva da terra em mãos de um pequeno numero de proprietarios, bem como o hipercapitalismo facilitam o advento da Revolução, porque já realizam a concentração da fortuna nas mãos de uns poucos. Bastará suprimir estes

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poucos, e estará transferida a fortuna nacional para o Partido.

D.

.,Reforma Agraria"

a. No mundo: Nos países onde há uma grande população agrícola o comunismo vê na "Reforma Agraria" um elemento e99encial na luta pelo poder. O homem do campo, seja o grande proprietario, seja o medio ou o pequeno, é um enorme obstaculo para a Revolução. Seu sen::so agudo de dono da terra, seu espírito religioso, seu aferro às tradições, fazem dele um inimir,o tenaz da Revolução. Mas ao lado do obstacu!o, o comunismo vê as possibilidades que o campo oferece. No campo existe nece99ariamente o assalariado. Existe o minifundiario e o pequeno proprietario. A tatica comunista da luta de classes procura lançar os assalariados contra os patrões, e os sem-terra, ou donos de pequenas çlebas, contra os medios e grandes proprietarios. Grita-se até cansa.r os pulmões: "Latifundio I Latifundio I Reforma agraria I Reforma agraria 1" Cria-se um clima emotivo, irracional, açulam-se os assalariados, prometem-se-lhes terras e prosperidade, envolvem-se os legisladores numa gritaria nacional. Não se define o que é a tal "Reforma Agraria", não se

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• estudam as condiQães que tornam indispensavel a grande e media propriedade, e numa ação revolucionaria conjunta atiram-se os lavradores contra os lavradores, e procura-se escamotear leis que sancionem o avanço sobre as terras alheias. Desta ação o comunismo obtém triplo proveito: lança à ação revolucionaria a classe mais tradicional, destrói o carater sagrado do direito de propriedade, e atira a nação no caos e na miseria. Nenhuma nação do mundo fez tal tipo de "Reforma Agraria" sem cair no comunismo ou chegar à beira do abismo. Em nenhuma nação tal "Reforma Agraria" deixou de trazer a miseria e a fome. Porém isto entra justamente nos planos da Revolução. b. No Brasil : Também em nossa Patria, amados Filhos, os comunistas agitam histericamente o chavão da ..Reforma Agraria". Fechai-vos a esta campanha. Ela não tenciona melhorar a vossa situação; pelo contrario. Os fautores desta "Reforma Agraria", que a preconizam "na lei ou na marra .. , "reforma agraria ou Revolução", querem a vossa desgraça. Ouvi o que diz um dos grandes mestres do comunismo: "A reforma agraria é uma luta si.s tematica e selvagem contra o feudalismo . . . Sua meta

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não é dar terra aos camponeses pobres, nem aliviar a sua miseria. lsto é ideal de filantropos e não de marxistas. . . O verdadeiro objetivo da reforma agraria é a libertação das forças do país" (LinChao-Tchi, Secretario Geral do Partido Comunista Chinês - mensagem de 1 4 de julho de 1950). c• "Reforma agraria conosco, sem nós, 011 contra nós": No Brasil houve epoca em que a propaganda da "Reforma A graria" foi feita obedecendo ao slogan: "reforma agraria conosco, sem nós, ou contra nós". Procurava-se alarmar os catolicos e fazê-los crer que a "Reforma Agraria" viria inevitavelmente, e seria melhor que nós a fizessemos, antes que outros a fizessem contra nós. Tratando-se da "Reforma Agraria" socialista, que é confiscatoria, que fere o direito de propriedade, este slogan é mentiroso. A verdade é a seguinte: "Reforma Agraria sempre contra nós ( os catolicos). Resta saber se será feita conosco ou sem nós". Na dinamica da ação marxista, a "Reforma Agraria" socialista é um passo indispensavel. Mas é preciso conseguir que a Igreja se deixe enganar, e Ela mesma, pensando impedir a Revolução, coopere para a propria destruição. Ouvi, amados Filhos, com que

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cinismo diabolico o marxismo segue esta tatica: "Devemos basear-nos no principio ferreo que ensina: esmagar o inimigo servindo-se do proprio inimigo . .. •• ( ordem secreta do Partido Comunista Chinês, de 12 de fevereiro de 19 5 7). Vêde, amados Filhos dos campos e das cidades, a diabolica maldade com que os comunistas brandem a bandeira da "Reforma Agraria". Tencionam eles apenas o desencadear das forças revolucionarias do País. Uma vez em marcha a Revolução, todos os lavradores perderão as suas terras, tanto os grandes, como os pequenos, e todos, antigos e novos fazendeiros, antigos e novos sitiantes, a ntigos empregados ou arrendatarios, todos serão meros escravos, se não forem fuzilados ou enforcados, como está acontecendo na desgraçada ilha de Cuba, e aconteceu na Russia, na Hungria e na China.

E.

Reformas urbana, industrial, comercial e bancaria

Não só as propriedades rurais são atacadas pelo Partido Comunista e, uma vez ele no poder, são confiscadas. Todos os meios de produção e toda a pro-

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priedade imovel e movel deve pertencer ao Estado comun.i sta. Reduzida à miseria, dependendo do Estado em tudo, não podendo trabalhar, viajar, comer, vestirse, estudar, ou tratar a saude sem a intervenção dos funcionarios do Partido, a população inteira do país será escrava na mão dos mais cruéis senhores que o mundo já viu, os tiranos comunistas. Vêde Cubai

F.

Religião

Não precisamos vos dizer, amados Filhos, que o maior inimigo que a Religião Catolica jamais teve é o comunismo. Em comparação com estes perseguidores, os mais cruéis carrascos romanos, os mais sanguinarios algozes da China antiga eram crianças furiosas. O comuni.s mo qu~r a total destruição do Catolicismo. Enquanto luta para conseguir o poder, ele às vezes aplica a tatica da '"mão estendida"' . Procura atrair os catolicos para, enganando-os, com seu apoio conquistar o poder. Chega a afirmar, blasfemando, que Jesus Cristo foi um revolucionario, foi comunista, e que o marxismo realiza a doutrina do Evangelho. Vistes, amados Irmãos, como ele nega a Deus, a alma, o Céu, a verdade, a moral, o direito, a Igreja, tudo enfim que constitui

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nossa fé. E no momento que admitisse uma ou outra destas verdades deixaria de ser comunismo marxista. Mas nem assim poderia ser aceito por um catolico. Disto, porém, fa.laremos mais tarde. Para Lenine "toda idéia r eligiosa é uma abominação". "A Religião é opio do povo".

G.

Exercito -Patria

Quando está no período da tese, da conquista do poder e da demolição da sociedade cristã, o comunismo tem interesse de enfraquecer a resistencia da sociedade, e de destruir os laços que ligam o homem às tradições cristãs. Ora, as Forças armadas são um grande obstaculo à Revolução, tanto por se oporem a ela pelas armas, como por criarem um respeito ao direito, à hierarquia, à moral, que é incompativel com a Revolução. Igualmente o amor da patria suscita energias magnificas que se opõem à entrega dela à Russia. Por isto, o comunismo leva o cidadão a desprezar seu país e ver na Russia a sua unica patria. ~ isto o que explica que um de seus chefes, exoficial do nosso Exercito, tenha declarado na Camara dos Deputados que, em caso de guerra entre o Brasil e a Russia, ele tomaria armas contra o Brasil. 78


H.

Familia

O comunismo destrói pela base a familia. E eis a razão. Não havendo Deus, nem moral, nem direito, o contrato indissoluvel não existe. Mas, além disso, o comunismo tem dois motivos de lutar contra a familia e procurar dissolvê-la pelo divorcio e pela imoralidade. A familia se opõe à imoralidade. Ora. uma das paixões mais uteis à Revolução para criar homens sem raizes, sem escrupulos, é a sensualidade desenfreada. De outro lado, a familia é o foco das tradiç.õ es, do amor dos pais, do culto dos a ntepassados, das virtudes cristãs, do amor de Deus. Pois bem, estas vantagens da familia são, aos olhos do comunismo, abominaveis. Ele destesta a familia, e a procura destruir pela base, abolindo a sua indissolubilidade, separando os conjuges pelo trabalho, afastando os filhos do lar, e injetando no coração dos filhos o odio aos pais não revolucionarios.

CAPITULO III

A

ANTITESE

Depois de tomar o poder, continua o comunismo sua luta implacavel contra seus inimigos.

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1.

A DITADURA DO PROLETARIADO

Conquistado o poder, o Exercito revolucionario destrói pela violencia toda resistencia que não pode ser vencida pela astucia. Em nome do proletariado organiza-se um partido unico, comunista, que esmaga ou absorve todos os demais partidos. Confiscam-se todas as propriedades, todos os meios de produção, transporte, credito. Abole-se a iniciativa particular, a liberdade de imprensa e de locomoção, a justiça é transformada em arma de opressão revolucionaria. Usando habilmente de duas armas, astucia e violencia, o Partido constrói o Estado totalitario. A ditadura do proleta• riado, amados Filhos, é um eufemismo que esconde a tremenda realidade. Não são os proletarios que governam livremente. Uma quadrilha de malfeitores - o Partido Comunista - domina toda a maquina do Estado, dizendo-se representante e porta-voz do proletariado. Os operarios, porém, são escravos. Não têm direito algum. São obrigados a tra• balhar exageradamente, recebem um salario miseravel, não podem escolher o local de trabalho, moram em condições precarissirnas, não podem reclamar. O perigo de serem denunciados e sumana-

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mente fuzilados ou deportados paira continuamente sobre eles.

2.

A NOVA CLASSE

Em oposição ao proletariado e a todos os remanescentes das antigas classes da sociedade, os membros do Partido, que são funcionarios, policiais, tecnicos ou militares, gozam do maior conforto e de uma riqueza nababesca. Têm otimas casas, ordenados astronomicos, casas de campo, vilas à beira-mar, com todo o luxo e conforto. São a Nova Classe, baseada no crime e na violencia. São a quadrilha dos bandidos que mandam. O resto da nação tem de sujeitar-se ao seu domínio, sob pena de morte. Mas, analisando-se o que se passa nesta classe aparentemente tão poderosa, vê-se que ela mesma nada é. Seus membros vivem sujeitos continuamente à incerteza do dia de amanhã. Uma luta de grupos internos, um expurgo pode a todo momento precipitar a qualquer deles no abismo do maior infortunio, na prisão e até na morte. Não é dificil vislumbrar por detrás desta confusão a onipotencia despotica de um poder invisível e supremo, perante o qual valem tão pouco como qualquer mujique os gigantes de ontem, um Stalin, um Be-

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ria, um Malenkov, um Molotov, exatamente como um Kruchev.

3.

POLICIA

Um serviço imenso de policia ostensiva e secreta domina toda a nação. A espionagem penetra as fabricas, os escritorios, os lares, os campos, e o individuo e a familia podem, a cada momento, ser colhidos nas malhas desta maquina infernal.

4.

"ABUNDAVIT INIQUITAB"

Nosso Senhor emprega no Evangelho (Mat. 24, 1 2) relativamente aos ultimos tempos esta expressão. Podemos aplicá-la em uma medida sem precedentes na Historia ao poderio tecnico, militar, cientifico e político que a "ditadura do proletariado" realizou no mundo em quarenta anos de tirania e de sangue. 1:. difícil dar o balanço exato do numero de pe.s soas que o comunismo assassinou. A ele não interessa saber sobre quantos cadaveres passou o carro da Revolução. Os homens são reses. Que interessa saber quantas reses morrem no mundo">

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Mas a nós, amados Filhos, interessa saber, ainda que aproximadamente., o numero de irmãos nossos, pela fé ou pela natureza, que a Besta vermelha matou. Na Russia foram assassinados ou mortos de fome mais de vinte milhões de cristãos, no período de conquista do poder. No periodo de destruição da resistencia, calcula-se que Stalin matou cerca de dezesseis milhões de cristãos nos campos de concentração e nos trabalhos forçados. Dizem muitos conhecedores que foram realmente 46 milhões os cristãos assim assassinados. No momento devem estar gemendo nos trabalhos forçados mais de doze milhões de cristãos na Russia. Os comunistas chineses fuzilaram talvez quinze milhões de homens, ao tomarem o poder. Hoje, na China, os escravos que trabalham nas obras publicas chegam a quarenta ou cinquenta milhões. Quando conquistaram o poder na Espanha, os comunistas lá estabeleceram o "Governo Republicano". Pois bem, amados Filhos, aqueles sequazes de Satanás martirizaram e assassinaram onze Bispos, 16.852 Sacerdotes e Religiosos, e muitos milhares de pais de familia catolicos. O poderio dos países comunistas é realmente ..abundantia iniquitatis".

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5.

RECONSTRUÇÃO DO MUNDO DEPOIS DA DESTRUIÇÃO DA CRISTANDADE CAMINHO INVERSO

Uma vez completamente senhora da situação, quebradas todas as resistencias, a seita comunista se dedica a fortificar-se, fortificando o país dominado. 1:: este o periodo da antitese, em que se encontram a Russia e a China. Então vemos, amados Filhos, como certas instituições que antes eram combatidas voltam a ser prestigiadas, mas em bases completamente arbitrarias.

A.

Forças armadas

As Forças armadas passam a ser g lorificadas, os militares são proclamados heróis. O Estado comunista precisa ser forte, e para isto precisa de tropas numerosas, disciplinadas. A autoridade dentro do Exercito, antes combalida, é restaurada. Uma disciplina de ferro caracteriza as Forças armadas comunistas. A hierarquia militar é reconstituida, são restabelecidos os graus e as condecorações, a separação entre oficiais e soldados e o acatamento às patentes militares

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voltam a existir. Mas o fundamento não é o mesmo que na sociedade catolica. Na sociedade catolica a missão das Forças armadas e a autoridade da hierarquia militar vêm de Deus. Na seita comunista, tanto a função como a autoridade têm sua origem na necessidade e utilidade da Revolução.

B.

Religião a serviço da Revolução - A tecnica: matar pela colaboração

No período de consolidação do poder comunista a luta contra a Religião Catolica tem um andamento bem estabelecido. No período revolucionario de conquista do governo, a seita comunista procura o apoio dos catolicos para logmr seu objetivo. Uma vez instalada no poder, procura primeiro estabelecer seu regime coletivista, dominando toda a vida economica da nação. Nesta luta, o comunismo normalmente liquida a Hierarquia, expulsando os Bispos e Sacerdotes e.s trangeiros, e encarcerando os nacionais. Mas, às vezes, não tem força para encarcerar todo o Clero, como é o caso da Polonia. Então procura liquidar os lideres leigos em que o Clero se apoia. Destrói

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as Ordens Religiosas, priva a Igreja da imprensa, e aniquila seus meios economicos de ação. Mas, se as condições o permitem, a seita comunista, em geral, liquida toda a Hierarquia catolica, e os Padres mais influentes. Depois começa a conquista do povo. Obriga o Clero e o povo a tomarem parte nos movimentos "patrioticos", sociais, politicos, e, se encontra lideres que resistam, liquida-os sob a acusação de antipatriotas. Privados dos Sacerdotes mais firmes e dos lideres leigos, o povo e o Clero menos capaz são obrigados a participar das atividades do Partido, que devem ser intensas. Em nome do patriotismo levam-se os catolicos e seus Padres a proclamar os supremos direitos da patria. Daí passa-se a considerar o Vaticano como potencia estrangeira e aliada ~o irnperiaJismo norteamericano e europeu. Em nome da patria, quando razões demagogicas o pedem, rompe-se com o Vaticano. Proclama-se a igreja nacional. E a apostasia se consuma quando a seita consegue que Sacerdotes catolicos abracem o comunismo e sejam em seguida sagrados bispos da igreja nacional. Foi este o caminho seguido na China e é o caminho preconizado para Cuba agora. A igreja separada russa se encontra nas mãos dos soviets.

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Ouvi, amados Filhos, como a seita comunista pretende aniquilar na Russia, com a colaboração da igreja local, qualquer vestígio de religião. Aparentemente a seita tolera a religião. Na realidade, ela está empenhada em aproveitar desta aparente tolerancia para conseguir destruí-la totalmente. Vêde o que diz Nikita Kruchev a respeito da conduta que os comunistas devem manter para com os russos que ainda são cristãos: "O Partido tem exigido sempre {o que não é verdade), e exigirá daqui por diante, uma atitude compreensiva para com tais cidadãos. ~ tanto mais estupido e nocivo abrigar suspeitas políticas sobre tais cidadãos sovieticos por causa de suas convicções r eligiosas, quanto é certo que uma propaganda cientifica e atéia a fundo, com a devida paciencia, conduzida com circunspecção entre os crentes, os ajudaria a &e livrarem de &eus extravios religiosos. Pelo contrario, toda classe de medidas administrativas e de ataques ultrajantes contra o clero e os crentes somente poderá causar prejuizo e levá-los à consolidação e aumentos dos seus preconceitos religiosos" {decreto de 10 de novembro de 1954). Assim, pois, passada a luta sangrenta de destruição dos lideres que se opunham ao Partido, a seita procura "lavar 87


o cerebro" dos catolicos e dos cristãos, e desse modo levá-los à apostasia do total esquecimento de Deus. E Galderine dá a norma a seguir: ..O P a rtido não deve apresentar-se ante a juventude cristã com proposições de luta anti-religiosa. Seria um erro psicologico. Mas é facil arrastá-la por qualquer coisa, pela conquista do pão quotidiano, pela liberdade, pela paz, pela sociedade ideal . . . Na med ida em que atrairmos os jovens cristãos a esta luta por objetivos precisos, arrancá-los-emos da Igreja". Tanto no periodo da tese, quando procura conquistar o poder, como no periodo da antitese, o comunismo destrói a fé não tanto pela argumentação teorica, como antes pela ação materialista conjunta. De maneira que ele não deseja nada mais ardentemente do que ver os catolicos, principalmente os jovens, colaborarem com ele, em campos aparentemente neutros. O resultado é sempre o mesmo: a apostasia lenta mas real dos catolicos. Podemos estabelecer o principio: "colaborou? apostatou I" Os comunistas sabem muito bem que o melhor meio para destruir a fé de um cristão é envolvê-lo em seus movimentos e bombardeá-lo com afirmações cuidadosamente dosadas. A Instrução secreta de 12 de fevereiro de 195 7, dada aos

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comunistas chineses relativamente à luta contra o Cristianismo, diz: "Todo camarada que ocupa um posto de comando deve ter compreendido que a Igreja Catolica, a serviço do imperialismo, deve ser destruida desde a cupula até o alicerce. Quanto ao protestantismo (chinês), que comete o erro de seguir uma política de coexistencia, é necessario impedi-lo de fazer novas conquistas; mas, entrementes, podemos deixá-lo morrer de morte natural". A tecnica mais segura de combate à Religião é esvaziar o homem de todo sentimento, de toda preocupação religiosa. Isto leva a Religião à morte total. A razão profunda é a seguinte: "Não tem nenhum sentido alguém dizer que colabora ou se alia à ação marxista rejeitando ao mesmo tempo a doutrina marxista. Uma vez que o marxismo se identifica com a ação marxista, colaborar ou se aliar à ação marxista é colaborar ou se aliar ao proprio marxismo" (Jean Daujat, "Connaitre le Communisme", p. 25 ). "Os asseclas de Marx jamais trabalham senão para favorecer a sua causa. Se há um movimento totalitario no mundo no qual não se desperdiça força alguma, no qual tudo, absolutamente tudo, é calculado em função do fim colimado, é

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o dos comunistas. Assim, onde quer que haja ação destes, há aí um interesse do comunismo, e é infantil pretender desviar-lhes a atividade, uma vez que o comunista, enquanto permanece tal, não abandona seu ponto de mira, habitualmente não se engana nos seus calculos. Não por outro motivo condenou Pio XJ qualquer colaboração com 0 3 marxistas" (D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, "Carta Pastoral prevenindo os diocesanos contra os ardis da seita comunista", Edit. Vera Cruz, 2.ª edição, p. 8, cuja leitura e estudo recomendamos vivamente a Nossos Sacerdotes e fiéis).

O.

A patria

Em seu período de tese, o comunismo combate todo sentimento de patria. Com todos os meios procura enfraquecer o patriotismo das classes armadas e do povo que pretende conquistar e subjugar. Mas, ~ma vez consolidada a sua posição no governo de um país, como é o caso da Russia e da China - isto é , no período da antitese - havendo necessidade de entusiasmar o povo para a guerra ou para grandes empreendimentos que requerem grandes sacrifícios, o Partido Comunista prega o mais acendrado

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patriotismo, e apela para todos os motivos que antes condenava como "burgueses", para excitar o amor da patria. Vemo-lo então enaltecer os heróis dopassado, exaltar capitulos gloriosos do "fa. migerado período capitalista", descobrir ou inventar genios nncionais, que acabam tendo sido autores das mais sensacionais descobertas cientificas. Cria-se uma imensa onda irracional de amor à "grande patria socialista". Por que? Porque é do interesse da Revolução que assim seja, Mas, se amanhã fôr interesse desta mesma Revolução que este patriotismo desapareça, os mesmos cidadãos que hoje enaltecem a patria combaterão amanhã o patriotismo como um fenomeno "burguês e divisionista", oposto ao autentico tipo revolucionario.

D.

A familia

Coisa analoga acontece com a familia. Quando a familia era fundada sobre a Religião ou ao menos sobre o direito natural, representava um entrave para a marcha da Revolução. O Partido resolveu demoli-la. Neste estagio encontramo-nos no Brasil e nos países ocidentais. Mas os comunistas sabem que para um povo ser forte, precisa de familias nume-

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rosas e sadias. Por isto pode acontecer que o supremo interesse da Revolução indique como necessaria uma politica de volta ao tipo de familia tradicional, naturalmente sem o cunho de sociedade baseada no direito natural ou divino. Assistimos assim hoje a dois espetaculos. Na China o comunismo está demolindo a vida de familia, obrigando os conjuges a longas separações, a trabalhar em locais distantes um do outro. Mas na Russia passou o período dos divorcios por qualquer motivo, das uniões passageiras. O interesse da Revolução exige o fortalecimento do país, e por isto se protege a união estavel dos casais, e se combate a imoralidade publica.

E.

A propriedade

Até a propriedade, que durante o período da tese foi execrada pelo comunismo, pode passar a ser tolerada, por razões de estrategia revolucionaria, no período da antitese. Estamos assistindo a um espetaculo que poderia desnortear-vos, amados Filhos, relativamente à permanencia da teoria comunista da coletivização dos bens de produção, enfim do comunismo. Lemos nos jornais que na Russia foram permitidas as pequenas propriedades dentro

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das fazendas coletivas, e que até o maquinario passou à propriedade dos grupos de camponeses. Qual a razão? r. a seguinte: vendo o fracasso catastrofico da agricultura coletivizada, e necessitando de aumentar a produção de alimentos, o Partido não trepidou em permitir a pequena propriedade no campo. Mas não reconhece o direito de propriedade do camponês, e vê apenas a conveniencia da Revolução. No dia em que o Partido julgar que não convém mais tolerar ou permitir tais propriedades, ele as tomará sem a menor contemplação. Não por razões morais, mas simplesmente por razões tatica.s ou estrategicas, e no interesse da Revolução, permite-se a propriedade "de facto", mas nunca "de jure··.

F.

Conclusão

Da leitura de noticias da Russia que falam da existencia de uma igreja separada que chamam de "ortodoxa", da existencia de granjas particulares, ou eventualmente de pequenas oficinas particulares, da luta contra o divorcio, a imoralidade ou as danças modernas, não deveis concluir, amados Filhos, que o comunismo abrandou seus rigores, ou mudou de doutrina. Todas estas aparentes contradições são realmente a execução de

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um plano revolucionario implacavelmente realizado, e que tem por fim imutavel e indiscutivel a criação de uma imensa ditadura mundial, totalitaria, anticatolica, contra Deus e a ordem por Ele estabelecida, e que pretende o esmagamento completo da Igreja Catolica e a destruição total da Cristandade.

CAPITULO IV SOCIALISMO: CAVALO DE TROIA A SERVIÇO DO COMUNISMO

1.

SOCIALISMO E COMUNISMO

O socialismo ensina a mesma doutrina marxista que o comunismo. Tem o mesmo objetivo, a Revolução, e quer a mesma organização economica da sociedade. ~ materialista, rejeita a Religião, a moral, o direito, Deus, a Igreja, os direitos da familia, do individuo. Quer que todos os meios de produção estejam nas mãos do Estado, e igualmente toda a educação, todos os transportes, as finanças, e que o Estado seja o soberano senhor de todas as forças da nação. Deseja a supressão da diferença entre as classes sociais. Também para o socia-

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lismo, a pessoa existe para o E.stado, não o Estado para a pessoa {cf. Leão XIU, Enciclica "Rerum Novarum", Edit. Vozes, pp. 5 e 6). A diferença que há entre os socialistas e os comunistas é uma diferença de metve!o. Os comunistas desejam a implantação imediata da ditadura do proletariado para realizar a Revolução. Os socialistas recorrem a meios "legais" para obter o mesmo objetivo. Recorrem às eleições, às greves legais, às agitações sem derramamento de sangue, para conseguir leis de nacionalização, de ensino laico, Vão fazendo a nação deslizar para o comunismo em geral sem convulsões violentas. O socialismo é uma rampa pela qual as nações vão resvalando para o comunismo quase sem perceberem.

2.

SOCIALISMO E SEUS MATIZES

A vantagem tatica do socialismo, para os que dirigem a seita comunista, é que o socialismo pode tomar coloridos mais suaves. O comunismo é vermelhosangue. O socialismo pode ir do rubro ao côr-de-rosa. O comunismo tem dificuldade de se fazer passar por cristão. O socialismo arranja modos de se dizer

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cristão, e assim realizar a Revolução paulatinamente e por etapas.

3.

SOCIALISMO CRISTÃO

Os fautores da Revolução realizaram esta proeza de enfeitarem o socialismo com o rotulo de cristão. Com um semblante comovido tais socialistas cristãos condenam o capitalismo como intrinsecamente mau, pior do que o comunismo. E com comoção dizem que no comunismo há muita coisa boa. Seu odio à America do Norte é violento. Suas simpatias pela Russia são difíceis de esconder. Consideram o capital uma abominação quando nas mãos daquele que o amealhou com seu suor, mas o acham admiravel quando nas mãos do Estado. Têm uma confiança cega no Estado, e uma desconfiança irremediavel da iniciativa particular. Têm antipatia à ordem desigual e hierarquica de uma sociedade de classes, e têm prazer de se proletarizar. Mas confessam-se e comungam, e se dizem catolicos progressistas. ~ possível um socialismo cristão~ Sua Santidade o Papa Pio XI já respondeu a esta questão na Encíclica "Quadragesimo Anno": "Se este erro, como todos os mais, encerra algo de verdade, o que os Sumos Pontífices nunca negaram,

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funda-se contudo numa concepção da sociedade humana diametralmente oposta à verdadeira doutrina catolica. Socialismo religioso, socialismo catolico são termos contraditorios: ninguém pode ser ao mesmo tempo bom catolico e verdadeiro socialista" (Edit. Vozes, p. 44, n .0 119). E se o socialismo fôr muito moderado? Mesmo neste caso continua incompativel com o Catolicismo. Pio XI é explicito também neste ponto. Ouçamo-lo: "E se o socialismo estiver tão moderado no tocante à luta de classes e à propriedade particular, que não mereça nisto a minima censura? Terá por isto renunciado à sua natureza essencialmente anticristã? Eis uma duvida que a muitos traz suspensos. Muitissimos catolicos, convencidos de que os princípios cristãos não podem abandonar-se nem jamais obliterarse, volvem os olhos para esta Santa Sé e miplicam instantemente que definamos se este socialismo repudiou de tal maneira as suas falsas doutrinas, que já se possa abraçar e quase batizar, sem prejuízo de nenhum principio cristão. Para lhes respondermos, como pede a Nossa paterna solicitude, declaramos: o socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como "ação", se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça nos

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pontos sobreditos, nã o pode concilinr-sc com a doutrina catolica, pois concebe a socied ade de um modo completamente avesso à verdade cristã" (Encíclica "Quadragesimo Anno", Edit. Vozes, p. 43, n. 0 117). Realmente, Deus estabeleceu uma o rdem natural, que não é licito ao homem violar, e a esta ordem per tencem dois pontos que todo socialismo viola. São os seguintes: a) O papel subsidiario do Estado. O Estado não existe para absorver ou substituir os indivíduos, as familias e as associações, mas para realizar as tarefas que estes elementos não podem realizar por si mesmos. Assim João XXIII, na Encíclica "Mater et Magistra": "Essa ação do Estado, que protege, estimula, coord ena, supre e complementa, apoia-se no

"principio de subsidiaridade" (A. A. S., XX111, 1931. p. 203), assim formulado por Pio XI na Encíclica "Quadragesimo Anno": "Permnnecet contudot firme e constante na filosofia social aquele importantissimo principio que é inamovível e imutavel: assim como não é licito subtrair aos indivíduos o que eles podem realizar com as proprias forças e industria para confiá-lo à coletividadet do mesmo modo passar para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades menores

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e inferiores poderiam conseguir, é uma injustiça 20 mesmo tempo que um grave dano e perturbação da boa ordem. O fim natural da sociedade e de sua ação é coadjuvar os seus membros e não destruílos nem absorvê-los" (ibid., p. 203)" (apud "Catolicismo.. , n .0 129, de setembro de 196 1 ) . b) O individuo, as familias, as associações têm direito de possuir bens de raiz, bens moveis e bens produtivos. O Estado não pode açambarcar estes bens para si. Os homens têm o direito e o dever de proverem às suas necessidades, e o Estado não pode se arvorar em Providencia e suprimir este direito ou substituir-se a este dever. Por isto tudo, o socialismo é condenado pelo direito na tural, e não pode haver socialismo cristão.

4.

A IGREJA PRIMITIVA FOI COMUNISTA? AS ORDENS RELIGIOSAS SÃO COMUNISTAS?

Amados Filhos, provavelmente já tereis ouvido ou lido afirmarem que a Igreja primitiva foi comunista e que as atuais Ordens Religiosas o são.

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Depois do que dissemos a respeito do marxismo, compreendereis que somente um ignorante ou uma pessoa de má fé pode afirmar uma monstruosidade tal. Mas, mesmo se abstrairmos do marxi.s mo, nem a Igreja primitiva praticou, nem as Ordens Religiosas praticam o comunismo. Vêde bem que o essencial do comunismo é a negação do direito de propriedade. Ora, examinemos sob este aspecto a Igreja primitiva. Levadas da vontade de seguir de perto o exemplo do Divino Mestre e realizar os conselhos evangelicos, varias familias cristãs de Jerusalém resolveram viver no voto de pobreza. Para isto venderam tudo o q1.:e tinham e entregaram o dinheiro aos Apostolos para que com ele fosse mantida a comunidade. Notai bem: os indivíduos desta comunidade renunciavam a seus bens porque queriam. Quem não quisesse viver na pobreza, não precisava. Assim disse São Pedro a Ananias: "Conservando o campo, ele não ficava teu? e vendendo-o, não dependia de ti o que farias com o dinheiro?" (At. 5, 4). A Igreja permitia que os que quisessem viver sem possuir nada pessoalmente, o fizessem. Mas, de um lado, isto era livre; de outro, o imovel ou o dinheiro apurado passava a ser propriedade da 100


comunidade. Ficava pois de pé o direito de propriedade da comunidade; não era negado nem transferido ao Estado. Para desiludir os comunistas utopicos, devemos dizer que a primeira tentativa de realizar o ideal da pobreza não foi bem sucedida. Consumidos os capitais apurados na venda dos imoveis, criou-se em Jerusalém uma situação dificil, e foi preciso as outras comunidades cristãs enviarem periodicamente esmolas para Jerusalém a fim de sustentarem os irmãos que tinham renunciado a seus bens. Verificou-se que o voto de pobreza só é possivel junto do voto de castidade, e que o estado de pobreza evangelica não é possivel quando há familia, mulher e filhos. Para pessoas casadas o caminho da santidade está no trabalho e na reta administração das riquezas temporais. Mais tarde a Igreja retomou a experiencia, primeiro com individuos isolados, os anacoretas, depois com pequenas comunidades de eremitas, os cenobitas; só depois que raiou a liberdade para o Cristianismo é que dois gTandes Santos organizaram a vida de pobreza evangelica aliada à obediencia e à castidade: no Oriente, São Basilio; no Ocidente, São Bento. Mas, se o monge renuncia a toda propried a de pessoal, o mosteiro passa a ser o proprietario. Verifica-se o que se dá

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muitas vezes na familia: se os indivíduos não são d'onos, a familia é a proprietnria. Vejamos agora o valor que tem a afirmação de que as Ordens Religiosas são comunistas ou socialistas. Ninguém afirmará que as doutrinas filosoficas, sociologicas, teologicas do comunismo se encontram realizadas nas Ordens Religiosas. T ai afirmação é tão absurda, que ninguém a tomaria a serio. Restaria então o tipo de vida economica das Ordens Religiosas. Perguntamos: o tipo de vida economica que o comunismo pretende implantar é aquele que as Ordens Religiosas realizam há tantos seculos} Para respondermos com clareza a este absurdo, que no entanto se repete com enfadonha monotonia, vamos analisar um pouco mais de perto o tipo de vida cconomica das Ordens Mendicantes. 1:: sabido que são elas que realizam o ideal de pobreza evangelica mais absoluto entre as comunidades religiosas. Verificado que nelas não há sombra do tipo economico comunista, fica provado que as outras Ordens e Congregações, em que o tipo de pobreza é mais suave, a fortiori não podem ser tachadas de comunistas. Nas Ordens Mendicantes mais rigorosas, não só os Religiosos individualmente nada possuem de proprio, mas

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nem mesmo a Ordem, as Provincias ou conventos são os titulares das propriedades. Em lugar deles a Santa Sé ou a Diocese são os proprietarios formais. A administração dos bens destinados à Ordem, à Provincia ou ao convento é realizada por pessoas nomeadas pela Santa Sé ou pela Diocese. Mas, se a propriedade não é nominalme nte da Ordem, etc., os frutos do patrimonio que existir, ou as esmolas dadas pelos fiéis, se aplicam formalmente à m a nutenção daquele convento e daquela comunidade para que são destinados. Assim, os Religiosos não têm os onus da propriedade e de sua admm1stração, caridosamente suportados pela Autoridade Eclesiastica, mas têm as rendas necessarias para se manterem. ~ a realização da pobreza de Cristo e da fé na Providência. 1:: o "nihil habentes, et omnia possidentes" de São Paulo (2 Cor. 6, l O). Assim, as Ordens Mendicantes são a mais formal refutação do comunismo. Porque: a) A renuncia às propriedades é uma afirmação clara da existencia do direito de propriedade, pois ninguém renuncia seriamente ao que não existe. b) Cada comunidade e cada Religioso tem o direito de viver dos frutos do patrimonio e das esmolas que tocam ao convento, e que são administrados pela

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Autoridade Eclesiastica em favor da comunidade, e não arbitrariamente. c) O Religioso renuncia ao direito de propriedade voluntariamente. O comunismo nega este direito e confisca as propriedades violentamente. d) O Religioso abraça a pobreza voluntaria para melhor seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo e santificar melhor sua alma na esperança da vida eterna. O comunismo diz que destrói a propriedade particular para proporcionar a todos os homens a maior soma de prazeres nesta terra, uma vez que não existe a vida eterna. e) Na realidade, a pobreza voluntaria dos Religiosos os leva a maior liberdade no serviço de Deus. O comunismo, prometendo a maior soma de prazeres, realmente tem por fim escraviza.r os homens, e depois, por meio da fome, obrigá-los à total apostasia de Deus. f) A pobreza voluntaria das Ordens Religiosas serve a Deus. O comunismo se.r ve a Satanás. Concluindo, devemos pois dizer que a afirmação de que as Ordens Religiosas realizam o tipo economico do comunismo é uma verdadeira blasfemia.

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3.ª A

1.

PARTE

Situação do Brasil

O PERIGO DE UM " PUTBCH" COMUNISTA

Ao estudarmos a situação do Brasil, amados Filhos, temos de considerar de inicio um perigo imediato: o perigo de um movimento armado comunista, com o fim de apoderar-se do governo. Em 1935, tivemos um tal movimento, que custou a vida a muitos militares, covardemente assassinados por seus colegas de farda, a soldo de Moscou. O perigo é hoje muito maior do que naquela ocasião. Realmente, há pouco, quando o Sr. Janio Quadros renunciou à Presidencia da Republica, todos nós sentimos que os comunistas queriam se valer da de licada circunstancia para tentar escalar o poder. O Rio Grande do Sul assistiu a terrado a invasão das plagas gauchas por agentes vermelhos nacionais e estrangeiros, que procuraram transformar aquele Estado numa nova Cuba. E agora, superada a fase aguda de crise, a palavra autorizada

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do Exmo. Revmo. Sr. Arcebispo de Porto Aleg re nos informa que os abutres continuam pousados nos palacios, repartições publicas, pontos estrategidos do Rio Grande {cf. "Catolicismo", n. 0 133, de janeiro de 1962, p. 4) . E no resto do Brasil} Não sentiríamos nenhuma surpresa se a nossa policia ou as nossas Forças armadas um dia informassem a Nação da descoberta de algum plano de insurreição e de grandes depositos de armas e munições, preparados pelos comunistas para um levante militar ou uma serie de guerrilhas. Não nos causaria surpresa, amados Filhos, se em certas regiões de nossa Patria estes homens vendidos a Satanás e a Moscou ( o que é o mesmo) começassem a assassinar Sacerdotes, incendiar igrejas, arrasar conventos, violentar Religiosas, fuzilar lideres catolicos e políticos, atacar vossas familias, confiscar vossos sitios, martirizar a vós e vossos filhos, erguer o seu sinistro "paredón" para tentar aniquilar a resi.s tencia do nosso povo. Esperamos que as Autoridades constituidas estejam alerta, e que, sem descanso, inve~tiguem as maquinações da tenebrosa seita, e estejam preparadas para esmagar no nascedouro qualquer tentativa de "putsch" ou de g uerrilha.

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2.

A CONQUISTA LENTA

A.

Socialização legal

Mas não é só o "putsch" comunista que nos ameaça, e por isto estariamos traindo o Nosso munus pastoral se não alertassemos os Nossos Filhos e os nossos homens publicos para outro perigo real e gravissimo que nossa Patria corre, que é o de sermos empurrados para o comunismo por um processo lento e insidioso. Em consequencia da presença de legisladores comunistas em nossas Camaras, pela infecção de idéias socialistas que pululam na cabeça .de tantos homens publicos, existe o -grande risco de o Congresso e as Assembléias Legislativas nos levarem ao comuni3mo. A recente votação da lei de remessa de lucros para o Exterior é um flagrante exemplo deste perigo. Uma minoria fanatica de comunistas que figuram nas bancadas de varios partidos, ajudnda por varios filo-comunistas, levou a Camara a votar uma lei que prejudica mortalmente o Brasil e assim corresponde otimamente aos interesses da Russia. Esta minoria está empenhada em continuar sua nefasta obra de bolchevização legislativa do Brasil.

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B.

Comunismo virtual nas leis de alto alcance social

Mas há um outro resvalar. Vêde alguns exemplos. A perpetua renovaçã'! da iniqua "Lei do Inquilinato" está se tomando uma virtual negação do direito de propriedade, e uma como "Reforma Urbana" precaria. A tentativa de introduzir a dissolução do casamento por motivo de erro sobre as qualidades morais do conjuge, e a instituição de um casamento condicional, são outros passos para a implantação lenta do comunismo. Enfim, a "Reforma Agraria" que, em varios projetos, fere o direito de propriedade, declarando que a terra improdutiva não é mais do seu dono; ou que o Estado tem direito de desapropriar o latifundio improdutivo, pelo simples fato de ser improdutivo; ou que quem trabalha a terra tem por isso mesmo direito à propriedade desta. Todos estes projetos de lei procuram introduzir no Brasil o regime comunista, de uma forma branda e insensível. Nosso livro "Reforma Agraria - Questão de Consciencia" focaliza com precisão este aspecto de nossa vida nacional (D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D . , Bispo de Jacarezinho, Plinio Corrêa de Oliveira e Luiz Mendonça de

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Freitas - "Reforma Agraria - Questão de Consciencia", Edit. Vera Cruz, São Paulo, 3.ª edição).

3.

REATAMENTO DAS RELAÇÕES DIPLOMATIOAS COM A RUSSIA

Neste contexto toma vulto singular o reatamento das relações diplomaticas com a Russia. O nosso governo reatouas, deixando o Brasil chocado com o fato em si e com o modo como ele se verificou. E para acalmar a apreensão do povo brasileiro, declarou-se que o Governo cercará de mil cautelas a presença de diplomatas russos no Brasil. Nada disto convenceu ou tranquilizou o País. Ficamos sabendo pois que teremos um ativo centro de espionagem no Brasil, acobertado pelas imunidades diplomaticas. Ao trabalho de espionagem se aliará a conspiração, a preparação da conquista do poder pela violencia. A esta conspiração se juntará o trabalho de propaganda do comunismo entre os intelectuais e estudantes e operarios, pois que atrás das relações diplomaticas virão as relações culturais. Teremos numerosos Centros de Cultura Russa espalhados pelas cidades principais do Brasil.

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4.

INFILTRAÇÃO NAS UNIVERSIDA.DEB E NA.8 ORGANIZAÇõEB ESTUDANTIS

Não devemos exagerar, e atribuir ao marxismo um papel dominante em nossas universidades e entre os nossos estudantes. Não é verdade que a maior parte dos professores e dos alunos seja comunista. Realmente, quando, por exemplo, os estudantes catolicos resolveram reagir contra a tirania dos marxistas e manifestar sua repulsa a Fide) Castro, em sua grande maioria os estudantes de Minas Gerais declararam-se contrarios ao carrasco de Cuba, e o mesmo se deu em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. No entanto, é inegavel o fato gravíssimo de varios professores universitarios porem sua catedra a serviço do marxismo, e o fato doloroso de que varias organizações estudantis, de nível secundario e universitario, de ambito municipal, estadual ou nacional, são dominadas por uma minoria audaz, e por "estudantes" profissionais comunistas.

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5.

INFILTRAÇÃO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Causa-Nos apreensão a presença de comunistas notorios e a provavel presença de outros muitos cripto-comunistas nos nossos meios de transporte e comunicação, como os portos, os correios e telegrafos, as estradas de ferro, a imprensa, Estes traidores poderiam paralisar os meios de comunicação em caso de uma cnse ou um golpe comunista em nosso

País.

6.

INFILTRAÇÃO NOS SINDICATOS

Causa-Nos igualmente grande apreensão, amados Filhos, a penetração dos comunistas em nossas organizações operarias. Não nos pode surpreender que os marxistas, a soldo da Russia, procurem dominar e controlar as nossas organizações sindicais. Nem nos pode estranhar a investida dos marxistas para a conquista dos orgãos de cupula, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Industria, que detém o controle do imposto sindical e de outros fundos que montam, pelo que estamos informado, à soma

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fabuJosa de um bilhão e duzentos milhões de cruzeiros, e que está em perigo de cair nas mãos dos comunistas. Mas o que Nos causa maior apreensão é presenciarmos a obscura e enigmatica atuação do Sr. Ministro do Trabalho, que, conforme noticiou a imprensa, propiciou a vitoria de uma chapa dominada por comunistas nas eleições feitas há pouco, para a escolha da diretoria daquela importantíssima Confederação. Igual apreensão sentimos diante da atuação do Sr. Ministro do Trabalho durante a ultima tentativa de greve geral em São Pa ulo. Estes gravíssimos fatos nos dão direito de perguntar: aonde nos conduz todo esse conjunto de circunstancias}

1.

INFILTRAÇÃO NAS ASSOCIAÇõES OATOLICAS A PALAVRA DE ORDEM

Não seriam inteligentes os mentores da seita comunista se não tentassem paralisar a resistencia da Igreja, infiltrandose nas nossas Associa9Ões, e procurando servir-se delas para golpear a Igreja com suas proprias armas, de acordo com o 112


princ1p10: "esmagar o inimigo servindo-se do proprio inimigo". 1:. por demais interessante que conheçais as instruções dadas a seus sequazes pelo orgão central do Partido Comunista Chinês, relativamente à luta contra a Igreja e as diversas seitas protestantes 0 na America Latina: "Ordem secreta n. 106 do Partido Comunista da China continental, de 12 de fevereiro de 19S 7, enviada aos comunist~s da America Latina". Eis o seu texto: "O catolicismo e o protestantismo são organizações a serviço da espionagem e do imperialismo capitalista. Tais or• ganizações esforçam-se em penetrar no nosso País, para explorar e oprimir o povo. As igrejas, estabelecidas em todas as cidades do mundo, espalham o veneno das suas doutrinas, visando combater o socialismo comunista. Por isto, em obediencia às diretrizes dos chefes do nosso Partido, todos os camaradas devem procurar um meio de penetrar no proprio coração da Igreja, a senriço da nossa policia secreta, para o fim de desenvolver grande atividade no seio mesmo de todas as atividades eclesiasticas, desencadeando ataques de g rande envergadura, apelando inclusive para a ajuda de Deus para facilitar o exito. Para conseguir uma frente umca devem servir-se da força sedutora

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do sexo feminino. E devem cumprir as nove seguintes determinações do nosso Partido, com o objetivo de provocar divisões internas nas igrejas e atirar organizações religiosas umas contra as outras: "I. Introduzir-se nas escolas mantidas pela Igreja Catolica e envenenadas pelas suas doutrinas; espionar os reacionarios e relatar suas atividades; misturar-se aos estudantes, adaptar-se aos seus sentimentos; insinuar-se metodicamente em todos os setores da ação eclesiastica. "2. Cada camarada deve encontrar meios de fazer-se, pelo batismo, membro da Igreja. Inscrever-se na "Legião de Maria" ou, tratando-se de protestantismo, unir-se à organização dos "cruzados". Uma vez dentro, desenvolver intensa atividade, servindo-se de belas frases para comover e atrair os fiéis; deve ir além, ainda, tentando dividir radicalmente as diversas categorias de fiéis, mesmo com o emprego do amor a Deus e à causa da paz. "3. Assistir os serviços religiosos e, afavel e cortezmente, unir-se ao clero e espionar suas ações. "4. As escolas fundadas e dirigidas pelas igrejas constituem um campo ideal para nossa penetração. Simulando benevolencia, aplicar no entanto a regra 114


de "agarrar-se ao inimigo para supnm1r o inimigo". Mesclar-se a legrem ente com os diretores, professores e estudantes, para d ominá-los, d e acordo com o prin cipio que m anda " dividir para governar". "5, Tomar a iniciativa em todas as atividades, penetrar em todas as instituições d a Igreja, infiltrar -se mesmo na propria direção d a Igreja. "6. Secund and o as d ir etrizes d o P ar tido, as celulas conseguirão o objetivo fixado, a sab er : penetrar em tod as as organizações eclesiasticas, promover ações em favor d a paz ( "coexistencia pacifica") e influenciar tod os os setores. "7. Baseado n o principio ferreo que ensina : "esmagar o inimigo servindo-se do p1·o prio inimigo", persuadir membros eminentes da Igreja a v irem à China, facilitando-lhes documen tos e autorizações necessarias. T a i atitude falsa e secreta nos ajudará no nosso p rop osito, permitindo-nos, através d os visitantes, conhecer a verdadeira situação da Igreja. "8. Os camara das ativistas d evem exercer espirito de iniciativa, descobrir os pontos fracos da organização eclesiastica, explora r as divergencias, e neutralizar o veneno religioso com a injeção d o nosso proprio contraveneno.

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"9. Todo camarada que ocupar posto de mando deve compreender a fundo que a Igreja Catolica está a serviço do imperialismo e que precisa, portanto, ser abatida e destruida pela raiz. Quanto ao protestantismo, que vem cometendo o erro de seguir uma politica de "coexistencia", é necessa.r io impedir que ele faça novas conquistas, mas, entrementes, podemos deixá-lo morre.r de morte natural".

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4.ª

PARTE

A Nossa Ação

Ao programarmos nossa ação contra o avanço da seita comunista, devemos proceder com muita calma, tendo em vista a natureza toda especial da dinamica do marxismo. f: conveniente dividirmos nosso estudo em três aspectos: 1. Modalidades da ação anticomunista; 2. Algumas normas para uma ação anticomunista eficiente; 3. Meios de ação. CAPITULO I

MODALIDADES DA AÇÃO ANTICOMUNISTA Há duas formas de ação anticomunista. Uma é mais superficial, baseia-se mais no sentimento, e não atinge a essencia da coisa. Ela pode ser usada como complemento da segunda, tem sua força

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de propaganda, mas não deve ser a forma principal.

1.

AÇÃO BUPERFIOIAL E SECUNDARIA

Esta ação superficial apresenta o comunismo como algo de nefando, d e execrando. E nisto ela tem razão. Mas não indica os motivos mais profundos e objetivos da maldade do comunismo. Limita seus argumentos, em geral, aos seguintes: -. -

o comunismo é sanguinario, é anticlerical, quer sujeitar o Brasil à Russia, cria a miseria moral e material, implanta a tirania.

Tudo isto é verdade. E é muito grave. E no entanto não é a razão mais importante por que rejeitamos o comunismo. Esta propaganda não ataca nem a filosofia, nem o sistema político, social e economico adotado pela seita comunista. Esta propaganda pode ser completamente ineficiente, pois, como vimos, nem sempre o comunismo é o mesmo em seus metodos. Há metodos proprios para o período da conquista do poder, da tese, há metodos completamente dife118


rentes para a construção do Estado comunista. Estudando esta segunda fase muita gente diria : o comunismo não é mais sanguinario, pois na Russia foi abolida a pena de morte sem julgamento; não é mais anticlerical, pois em Moscou vive o patriarca .. ortodoxo .. , que é um dos com.issarios do povo, mantido pelo governo. Hoje fala-se até de descentralização do comunismo, de uma autonorma dos varios paÍ!:es da cortina de ferro. E o comunismo se preocupa em salvar certas aparencias "democraticas". Ao ouvirem alguém combater o co• munismo só por estes a rgumentos, muitas pessoas dizem: se nós criarmos uma forma de comunismo brando, delicado, aemocratico, religioso, patriotico, o Brasil não poderia abraçá-la? O fato de ficar aberta esta hipotese, na refutação do comunismo, cria uma consequencia de importancia capital: muitas pessoas esperam que, evitando qualquer atrito com os comunistas, se possa chegar a um "modus vivendi", a uma "coexistencia" razoavel com eles. Esta esperança debilita muito a oposição ao comunismo. Usai, pois, amados Filhos, todos estes argumentos, aplicando-os ao comunismo que se encontra na fase de conquista e consolidação, e fazei-o com energia e indignação. Sabei, porém, o

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seguinte: mais do que tudo, é grave no

comunismo o desprezo do direito, da Religião, da patria, e o fato de combater ou apoiar tais instituições cinicamente de acordo com as momentaneas conveniencias da seita. Completai, portanto, esta luta que se serve de argumentos secundarios, pela luta que vibra argumentos essenc1a1s.

2.

AÇÃO ANTICOMUNISTA PRECISA EM SEUS OBJETIVOS DOUTRINARIOS E EFICIENTE EM SEUS OBJETIVOS CONCRETOS

A.

Luta precisa

a.

Doutrinas opostas

O ponto nevralgico desta ação precisa e eficiente, amados Filhos, é mostrar aos catolicos que o comunismo constitui uma seita, que possui uma filosofia, um regime politico, social e economico, uma ..cultura.. , inteira e diametralmente opostos à Religião Catolica e à cultura cristã. Mostrai que o comunísmo é o oposto do Cristianismo, aínda mais, que é um cristianismo às avessas. Vossa principal luta. 120


contra o comunismo deve consistir em mostrar a doutrina marxista, como vô-la expusemos, e mostrar a sua oposição frontal à doutrina catolica. A nossa luta contra o comunismo não deve ser envolvente: deve ser frontal Foi para vos dar um instrumento de luta que escrevemos esta Pastoral, que vos capacita a compreender o que o ma.r xismo ensina, e a sentir que ele nega e despreza radicalmente tudo quanto nós cremos.

b.

Propriedade privada

De modo especial proclamai que a propriedade privada é um principio basico da moral catolica e da civilização cristã. do qual a Jgreja jamais abrirá mão. Mostrai que no direito sagrado de propriedade se baseia a liberdade humana, e que jamais a Igreja admitirá uma doutrina que prive o homem do direito de proprieda d e ou viole este direito. Ouvi o que diz Sua Santidade o Papa Joã o XXII! a este respeito, na Encíclica "Mater et Magistra": "!:., pois, de admirar que seja contestado por alguns o carater natural do direito de propriedade, deste direito que haure sempre na fecundidade do trabalho sua força e seu vigor; que contribui de modo tão efi121


caz para a proteção da dignidade da pes- · soa humana, e para o Üvre desempenho dos deveres de cada um em todos os campos de atividade; que, finalmente, fortalece a união e a tranquilidade do lar e traz um aumento de paz e prosperidade ao Estado" (apud "Catolicismo", n.0 129, de setembro de 196 1, p. 4). Esclarecei que se enganam gravemente aqueles que pensam que a propriedade privada é um privilégio pessoal, que o Estado dá ou tira, e que por ela a Igreja não está disposta a se bater. Nas escobs, ginasios e seminarios os mestres exponham aos nossos estudantes, em seus aspectos profundos e repulsivos, a heresia marxista e lhes ensinem a refutar os pontos fundamentais desta heresia, a mais feroz e avassaladora da era presente.

B.

Luta eficiente na ordem pratica - O comunismo difuso

Para que nossa luta seja eficiente, é preciso que distingamos as especies de comunismo que devemos combater. Na 3.ª Parte, vimos que há duas especies de comunismo. O primeiro é aquele que professa explicitamente a doutrina marxista; o segundo é aquele que, sem professar explicitamente a doutrina marxista, significa um resvalar lento da opinião

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publica, dos costumes, das instituições e das leis para o comunismo. ~ o que chamamos de comunismo difuso. O primeiro é dirigido pela seita e pelo Partido Comunista, segundo as diretrizes de Moscou. 1:. extremamente perigoso, deve ser combatido, e nós já o estudamos. Estudemos agora o comunismo difuso. a.

O que é o comunismo difuso

Este comunismo difuso é de longe um perigo maior do que o comunismo direto, por mais perigoso que este seja, e é sobretudo contra ele que se deve voltar uma ação anticomunista desejosa de ter o maximo de eficiencia. Consiste ele na expansão lenta de uma mentalidade comunista difusa·. Descrevamos antes a situação concreta à qual queremos aludir, para depois analisá-la. Cumpre lembrar antes de tudo que o comunismo tem a si proprio muito acidentalmente na conta de um sistema filosofico concebido em abstrato, e segundo o qual se devem amoldar os fatos, mas quer ser sobretudo uma expressão da vida, isto é, um sistema que se realiza mais do que se pensa. Assim, a preparação de uma sociedade comunista deve dar-se menos pela

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pregação do marxismo doutrinario, do que pela eclosão paulatina de formas de trabalho, de economia, de estilos de vida, de modos de ser, de formas de arte, de cultura, de ação politica, inspirados por uma tendencia profunda e vital para o marxismo. Essa tendencia, subconsciente de inicio, na mesma medida em que se vai realizando "conscientiza" os princípios marxistas. A isto chamamos comunismo difuso. ~ comunismo "in fieri". ~ difuso, porque não aflora desde logo explicito, consciente e integral, mas se conserva por largo tempo em todo o corpo social, em estado diluído e ainda inconfessado. Tornado em si mesmo, cada individuo, vitima desse fenomeno, não terá senão alguns pontos de afinidade ou identidade com o marxismo. Mas, considerados em seu conjunto os indivíduos afetados por esse processo, vê-se que todo o marxismo neles está imanente. Isto é, somando-se as varias manifestações fragmentarias do comunismo que se notam disseminadas aqui e acolá no corpo social, pode-se com elas reconstituir, como se fossem pedras de um mosaico, a figura bem completa do comunismo. Individualmente, muitas pessoas ou grupos sociais podem até reputar-se anticomunistas. Mas, na realidade participam, em medida por ve2.es não pequena, do pro-

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prio sistema que combatem. Para argumentar com exemplos fora do Brasil, basta lembrar os povos escandinavos, que se consideram nitidamente anticomunistas, que conservam até a s formas e as pompas da monarquia, mas que estão modelados por um socialismo cada v ez mais proximo do comunismo.

b.

Alguns exemplos

Dêmos alguns exemplos do que é esse comunismo difuso. Para compreendê-los é preciso lembrar mais uma ve.z que ele consiste sobretudo em tendencias defeituosas, ao cabo de cuja expansão se manifesta o principio doutrinario errado.

Sensualidade - .1:. um lugar comum dizer que ela invadiu toda a vida brasileira. Um de seus efeitos principais é minar a veneração e a adesão afetiva à familia, e especialmente à indissolubilidade do vinculo conjugal. A sensualidade conduz à impressão de que a familia é um entrave aos prazeres da vida, e daí leva à aceitação do principio de que a familia d eve ser abolida. A jovem, rica e de posição elevada, que se apresenta em trajes imodestos pode imaginar-se anticomunista, mas ela caminha para a aceitação de um principio-chave 125


do comunismo. E, na medida em que seu exemplo frutifica, ela espalha as sementes comunistas em torno de si.

Materialismo - A sensualidade cria uma inapetencia de tudo qua.n to é sobrenatural ou simplesmente espiritual. Ela forma o "animalis homo" que facilmente abstrai das coisas do espirito, e tende a só pensar sobre as coisas da materia, que afetam imediatamente os sentidos. Daí o esquecimento de Deus, o menospre.z o do espirito, que facilmente se convertem no desejo inconfessado de que Deus e a alma não existam. Daí por sua vez, até a negação de Deus e da alma há apenas um passo que facilmente se transpõe. J::. outro principio basico do comunismo que se afirma, não em consequencia da pregação especificamente comunista, mas como fruto espontaneo e normal dos erros que a sociedade moderna traz em suas entranhas. Negação da propriedade privada A negação da propriedade privada é outro erro comunista que se vai desenvolvendo como que por geração espontanea na sociedade moderna. Se não há Deus nem alma, a bem dizer não há direitos. A ordem moral repousa toda sobre a existencia de Deus. Quanto à espiritua126


!idade da alma, se ela não existe, o homem é um conglomerado instavel de celulas que se renovam ao longo de sua vida. De sorte que quando ele morre já não é o mesmo que quando nasceu. Em consequencia, a propria idéia de um direito pessoal não tem sentido. Só existe a massa humana, titular de todo o domínio. Este resultado do materialismo se nota na tendencia crescente · de resolver todos os problemas considerando só o interesse do Estado, e usando só os meios de ação do Estado: leis, decretos, regulamentos, etc. Certos defeitos da atual estrutura economica servem de ocasião para que, sob o pretexto de louvavel justiça social, a ação do Estado vá absorvendo toda a esfera propria dos grupos sociais e das pessoas. A onipotencia estatal, tão oposta ao principio catolico de subsidiariedade, é uma decorrencia natural das proprias tendencias materialistas da civilização moderna.

Igualitarismo - O principio revolucionario de que, sendo os homens todos iguais por natureza, devem ter iguais direitos e deveres em todos os domínios da vida, vai generalizando aos poucos a idéia de que a sociedade não deve ter

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classes desiguais, constituidas não só por pessoas, como por familias. Este ideal da sociedade sem classes, visado pelos comunistas como afirma Pio XI (Enciclica "Divini Redemptoris", Edit. Vozes, pp. 8 e 9), se vai difundindo tanto, que se nota até em escritores catolicos conhecidos como anticomunistas. Assim, em recente artigo na imprensa brasileira, um escritor catolico reivindicava como ideal da sociedade catolica a existencia de uma só classe, cujo nível corresponderia à pequena burguesia. Esta posição tipicamente comunista, na maior parte dos casos, não decorre, entre nós, de uma influencia exercida pelos comunistas declarados. Ela é uma consequencia logica dos princípios da Revolução Francesa tão profundamente enraizados entre nós. c.

A marcha por etapas

Este é o comunismo difuso, isto é, uma tendencia onimoda e generalizada para chegar, por etapas, até a sociedade comunista; um conjunto de costumes, instituições, etc.. etc.. marcados em maior ou menor medida por esta tendencia; apresentando tudo um aspecto de transição entre a civilização cristã e a "civilização" comunista.

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"Por etapas" - a expressão pede uma explicação. Trata-se de uma tendencia dinamica, cuja expansão é constante, mas lenta. Raras vezes ela conduz diretamente ao comunismo. Ela caminha habitualmente pé ante pé e, corno já dissemos, opera em geral no terreno subconsciente. A trajetoria para o comunismo, o mais das vezes, não é percorrida por uma nação no espaço de uma ou duas gerações só. Cada geração que passa retorna o caminho da anterior no ponto em que o encontra, e percorre mais algumas tantas etapas. No momento presente, já nos achamos tão longe, que Bulganin pôde dizer que a sociedade comunista está nos países ocidentais como o pinto na casca do ovo, pronto a rompê-la. Como este assunto é de imensa importancia e grande atualidade, amados Filhos, recomendamos-vos o seu estudo aprofundado. Para este fim encontrareis uma exposição solida, profunda e clara do processo revolucionario, de suas varias velocidades, e suas marchas e contramarchas no ensaio "Revolução e Contra-Revolução", do grande líder catolico e mariano, Prof. Plínio Corrêa de Oliveira ( "Revolução e Contra-Revolução", in "Catolicismo", n .0 100, de abril de 1959; "Revolução e Contra-Revolução", Boa 129


Imprensa Ltda., Campos, 195 9; "Revolución y Contra.rrevolución" - Ediciones "Cristiandad", Barcelona, 1959; "Révolution et Contre-Révolution", Editions "Catolicismo", Campos, 1960).

d.

Socialismo cristão

Voltamos, amados Filhos, ao tema do socialismo cristão. O socialismo representa neste processo o papel de rampa. O que é o socialismo} Um ente ideologico fluido, que vai desde insignificantes incursões do Estado até o marxismo integral. Quem começa por dizer-se socialista moderado, ou até moderadissimo, aceita uma certa tendencia que o mais das vezes desabrochará gradualmente, através de varias etapas, no socialismo total. E isto sem que se tenha de mudar o rotulo de socialista que se escolheu no inicio da trajetoria. O socialismo cristão exprime a ilusão de fazer essa trajetoria sem romper com os principios catolicos. ~ a rampa especializada para levar ao comunismo, não os filhos das trevas, mas os filhos da luz.

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e.

Correlações entre comunismo explicito e difuso

Claro está que as duas formas de progresso do comunismo, isto é, a emanada de Moscou, através do Partido Comunista Brasileiro, em clandestinidade, e a que surge das "raizes de iniquidade" existentes no seio da sociedade atual, têm entre si estreitas correlações. Cada uma corrobora a outra. E, precisamente porque Moscou conhece e avalia, na justa medida, o proveito que pode tirar das referidas "raizes de iniquidade", daí decorre que as explora ao maximo. Como é muito natural, o Kremlin pretende precipitar por uma ação violenta o processo interno de bolchevização das nações do Ocidente, quando julgar que o momento haja chegado. Já chegou ele para o Brasil} A esta pergunta só os conhecedores doa arcanoa de Moscou poderiam dar reaposta cabal. Varias indícios tendem a sugerir uma resposta afirmativa.

3.

A IMPORTANOIA DA LUTA DE OARATER DOUTRINAR/O

Em conaequencia, impõe-se com urgencia o emprego maciço e inteligente de 131


todos os meios de ação, quer contra o comunismo importado, quer contra o que nasce do proprio dinamismo interno das paixões desregradas e erros em que nos encontramos imersos. Numa observação preliminar, convém, entretanto, ressaltar que todas as medidas que abaixo proporemos, uteis umas, indispensaveis outras, não eximem de dar o primado de importancia à luta de carater doutrinario, pela pregação da verdade catolica e refutação do erro. Nem se deve colocar o melhor de nossas esperanças nas medidas de força, nem nas soluções economicas. Umaa e outra.s não são capazes de representar no equilibrio social o papel supremo e inalienavel de Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Igreja. CAPITULO II

MEDIDAS PRATICAS CONTRA A AÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA Estudemos as providencias a serem tomadas para reprimir a influencia russa e a ação do "clandestino" Partido Comunista Brasileiro.

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1.

LEGISLAÇÃO DE REPRESSÃO DO COMUNISMO

A seita comunista, que viola todos os direitos divinos e humanos, deve ser considerada uma imensa quadrilha de malfeitores e uma conspiração contra o povo catolico brasileiro. Sua aç.ã o deve ser reprimida pelo Governo federal e estadual com energia, sagacidade e conatancia. Mas esta repressão deve estar baseada em leia sabias, pa ra não degenerar em arbitrariedades. ~ urgente que os parlamentares que não são comunistas, nem estão a serviço da Russia, votem, enquanto é tempo, uma legislação que permita ao Executivo uma repressão eficaz das tramas criminosas da seita. Nossa legislação atual é baseada na Constituição de 1946, e por isto peca por um liberalismo que, defronte à conspiração comunista, raia pelo auicidio. 0a acontecimentos de agosto e setembro de 1961 mostraram à Nação que os vermelhos estão à espreita de uma ocasião propicia para tentarem um golpe armado, e é necessario criar leia que permitam que o ,B rasil seja defendido.

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2.

RUPTURA DAS RELA· ÇôES DIPLOMATICAS E COMERCIAIS COM A RUBBIA

Já tocamos neste ponto, que é tão importante nas condições concretas do Brasil e da America do Sul. Nosso organismo nacional está debilitado. A presença de agitadores profissionais acobeT• tados pela imunidade diplomatica é perigos1SS1ma. A propaganda a ser feita pelos futuros Centros de Cultura Russa será uma arma tremenda nas mãos do mar.xismo. Depois do reatamento por parte do Brasil, os paises da America Latina que não têm relações com o Kremlin, e são a quase totalidade, se vêem desarmados diante da pressão feita pela Russia e pelos comunistas domesticos no sentido de também eles terem relações diplomaticas com o centro da conspiração rubra. Quem não vê as gTaves consequencias de tal pressão} Mesmo se as relações comerciais nos trouxessem muitos milhões de dolares, seria interesse nosso abrir mão dos dolares em beneficio da civilização cristã. Ora, os dotares que nos virão do comercio com a Russia serão, na melhor das hipoteses, umas poucas dezenas de milhões. 134


A troco deste miseravel prato de lentilhas nós introduzimos o cavalo de T roía de uma embaixada sov ietica no seio do

País.

3.

PROIBIÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

Um povo nunca perde sendo fiel aos verdadeiros principios. Quem nega todo o direito, quem nega a moral, quem nega a patria, quem nega a Deus, quem tudo faz para implantar a ditadura feroz de uma minoria sanguinaria e destruir a liberdade do povo, não pode ser admitido como legislador de um povo catolico. Estas são as razões fundamentais que nos devem levar a nunca concedermos legalidade ao Partido Comunista. Concedê-la significa a entrega a este Partido de uma parcela do Poder Legislativo e , no regime parlamentar, a participação eventual dele no Poder Executivo. Nenhum país do mundo lucrou com a legalidade do Partido Comunista. A mesma insistencia e teimosia com que os vermelhos trabalham para voltar à legalidade é prova de que a ilegalidade lhes causa grandes prejuízos. Pensam alguns, amados Filhos, que a volta à legalidade

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teria a vantagem de tornar conhecidos os comunistas e terminar com suas maquinações secretas. Isto é uma ingenua ilusão. Mesmo na legalidade, continuaria a existir um vasto exercito de comunistas secretos, e as conspirações e traições, as sabotagens e espionagens, em lugar de desaparecer, seriam ainda mais intensas. Evidentemente a ilegalidade do Partido, só, não basta. ~ necessario que o go• vemo seja consequente, e além de manter o PCB na ilegalidade, reprima suas atividades abertas e subterraneas, desmantele seus orgãos de propaganda e subversão, e faça uma guerra sem quartel a estes elementos que traem o Brasil e traem a Religião.

4.

EXPURGO DOS PROPAGANDIST AS E AGENTES COMUNISTAS NOS MEIOS MILITARES, ESTUDANTIS, SINDICAIS, ETC.

Se queremos afastar do Brasil o terror da bolchevização, amados Filhos, não podemos dormir nem brincar. Um liberalismo cego, tolo e criminoso permite que se espalhem à vontade as teorias marxistas no meio dos militares, es136


tudantes secundarios e universitarios, operarios, lavradores. Há pouco Belo Horizonte assistiu estarrecida a um congresso de "lavradores" onde se pregou abertamente a revolução, a guerra civil. Bradavam: "Reforma agraria na lei ou .na marrai" - "Reforma agraria ou guerra!" "Terra ou morte!" Nos quarteis, agentes comunistas procuram disseminar suas idéias entre os sargentos, privando os oficiais de autoridade sobre os subalternos. Nos sindicatos, os vermelhos espalham seus erros. Jornais e revistas estudantis e operarias pregam abertamente o marxismo. Professores universitarios, regiamente pagos pelo povo, trabalham para conquistar nossos moços para as idéias do materialismo revolucionario. Nossas organizações universitarias e estudantis estão em parte dominadas pelos vermelhos. Nossos sindicatos são palco de agitação em favor da Russia. E nossas autoridades) Muitas vezes prestigiam os vermelhos, subvencionam seus periodicos e congressos, e não apoiam os patriotas que lutam contra os traidores. t:: preciso, amados Filhos, que saibais estas coisas e que, no momento oportuno, exijais dos nossos homens publicos atitude energica contra tais absurdos criminosos.

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5.

EXPURGO NAS EMPRESAS PR/VADAS

Mas o governo não deve se limitar a expurgar o exercito, o funcionalismo publico, as universidades, as escolas, os sindicatos. Deve conseguir das empresas particulares que se dedicam à difusão de idéias, como a imprensa, o radio, a televisão, e das que produzem materiais estrategicos e se encarregam das comunicações, como as companhias de transportes e as telefonicas, que de seus quadros sejam afastados os elementos comunistas e favoraveis ao comunismo, e que nem a peso de ouro elas se prestem à propaganda marxista. Um dever fundamental, religioso e patriotico, a isto as obriga. Um instinto rudimentar de sobrevivencia a isto as d eve impelir, pois, uma vez no p0der, os comunistas darão cabo de toda a iniciativa particular, e os burgueses que hoje os subvencionam, amanhã serão enforcados.

6.

ANALOGA AÇÃO NAS REPARTIÇôES PUBLICAS E ORGANISMOS PARAESTATAIS

A mais rudimentar prudencia e o mais simples bom senso dizem que estes

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agentes de Moscou não podem ser tolerados nas repartições publicas e organismos paraeatatais. A execração publica 01 deve estigmatizar, como traidores, apostatas, coveiros da Religião, da familia, da propriedade e da Patria. Em qualquer posição eles trabalharão para os inimigos de Deus e da Patria, e por isto devem ser implacavelmente reduzidos à impotencia.

7.

ELEIÇÃO DE DEPUTADOS E SENADORES ANTICOMUNISTAS E ANTI-SOCIALISTAS

E evidente a necessidade de termos no Congresso e nas Assembléias Legislativas homens imbuídos dos princípios da sociologia catolica, dispostos a impedir leis comunistas ou comunistizantes e a dotar o País de leis inspiradas nos principios catolicos, ao mesmo tempo que decididos a levar a cabo a luta de vida ou morte contra a penetração comunista no Brasil. Para isto não bastará que sejam anticomunistas. Será necessario que vejam, detestem e combatam as tendencias socialistas, que, como uma rampa, fazem o País deslizar insensivelmente para o campo comunista.

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Neste ano de 1962 teremos eleições para o Congre1110 Nacional. Estas eleições são de uma importancia transcendental. Desde já reservai vossa completa liberdade diante dos partidos e dos candidatos, para poderdes escolher, na hora oportuna, o vosso candidato, não segundo o criterio do partido, apenas, nem dos favores pessoais, mas segundo a posição que ele tomará diante dos problemas da familia. da propriedade, da reforma agrana e do comunismo em nosso País. CAPITULO III

MEDIDAS DE COMBATE AO COMUNISMO DIFUSO 1. Dirigimo-Nos agora de modo especial a vós, amados Sacerdotes, a vós, Religiosas, a vós, mestres, catequistas, profe111ores. Aproveitai de todas as ocasiões para explicar ao povo o que é o comunismo. Mostrai sua oposição total ao Catolicismo, e a impossibilidade de sobrevivencia da Igreja Catolica num país comunista. 2. Mas não fiqueis nisto. Mostrai a doutrina catolica oposta aos erros comunistas, de modo que os nossos fiéis conheçam os ensinarr.entos da Igreja, e 140


saibam como deve ser a sociedade de acordo com os planos de Deus. 3. Moatrai aos fiéis que as pessoaa que cultuam a sensualidade, o materialismo pratico, que sentem antipatia pelas diferenças sociais, que cultivam o igualitariamo, que favorecem os coatumes imodestos nas praias e piscinas, que andam imodestamente vestidas, que atacam a propriedade privada, que tais pessoas estão colaborando com o comunismo, preparando-lhe o caminho. E que são principalmente os pecados da carne que atraem sobre os povos cristãos o flagelo deste banho de sangue que é o comunismo. 4. Especial cuidado tereis, amados Filhos, de salientar o papel impreacindivel da propriedade privada, de acordo com o que, em sua memoravel Encíclica "Mater et Magistra", Sua Santidade o Papa João XX.III recentemente afirmava, e Nós citamos no Capitulo I da 4.ª Parte desta Pastoral. Ao vos referirdes à função social da propriedade, explicai ao povo que esta função não consiste em que o fruto da propriedade deva ser do Estado, da comunidade. Explicai que a propriedade cumpre sua missão social exatamente porque põe ordem no uso dos bens criados por Deus. t justa-

J41


mente porque cada coisa tem seu dono e a propriedade é respeitada, que o uso dos bens se faz com ordem. Se não houvesse o direito de propriedade, o uso dos bens se faria com desordem, geraria brigas, rixas, desavenças e até mortes. Entre os animais não há direito de propriedade. Vêde, por isto, como entre eles só vale o direito da força. 5. Educai o povo, e de modo especial a juventude, no espírito de pureza, de mortificação e de piedade. "A piedade é util para tudo, tendo a promessa das coisas deste mundo e das eternas" (Tim. 4, 8). 6. Educai os fiéis no amor da ordem desigual que Deus quer. Em lugar de alimentarem antipatia da desigualdade, ensinai-os a terem amor da desigualdade. Mostrai que está segundo a ordem da Providencia que, dentro de certos limites, haja alguns miaeraveis, para os quais se exerça a caridade individual e a organizada; muitos que lutem pelo pão quotidiano; muitos remediados que tenham sobras; alguns ricos, que possam exercer em maior escala funções de caridade, de zelo, cultura, arte, progresso e apostolado; e até alguns poucos muitisaimo ricos, aos quais além das mesmas funções de zelo e caridade toque cultivar as virtudes

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da magnificencia e da munificencia. No corpo da sociedade todas estas escalas de riqueza são uteis e necessarias. 7. Na educação da infancia e juventude procurai imunizar os corações contra o veneno do socialismo, impregnando as almas das cria nças e dos jovens do eapirito hierarquico. Sua Santidade o Papa Pio XII recomendou expressamente o cultivo do espírito hierarquico aos educadores catolicos, na Radiomensagem de 6 de outubro de 1948 ao Congresso lnteramericano de Educação Catolica, de La Paz ( .. Discorsi e Radiomessaggi", vol. X, p. 247) . Este espírito de hierarquia não ficará apenas em teoria. O ambiente e os costumes das nossas escolas e colegios devem estar impregnados deste espírito, e devem impregnar dele nossos meninos e jovens. Assim os levaremos a amar com entusiasmo a ordem catolica, a Cristandade, e a odiar do fundo da alma a Revolução e os ideais satanicos.

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CAPITULO IV PROGRAMA DE AÇÃO POSITIVA

1.

A LUTA CONTRA A MIBERIA

A.

Ação anticomunista e ação social

O desejo de lutar contra o comunismo e, muito mais que isto, o amor dos pobres ensinado pelo Evangelho devem nos conduzir a melhorar a situação das classes sociais que os comunistas agitam . no intuito de levá-las à Revolução. Vistes, amados Filhos, que, procurando o instrumento que implantaria a Revolução, Marx encontrou o proletariado. Por isto é necessario ter bem claro diante dos olhos esta perspectiva. A Revolução não tem na miseria sua causa principal. A Revolução serve-se da miseria, açulando-a, para derrubar a sociedade cristã. Se lhe tirarmos da mão a miseria, ela procurará outro meio. Esta consideração deve estar presente nas nossas cogitações, para que mantenhamos nossa cabeça muito fria diante dos problemas soc1a1s. Não vejamos a solução do problema comunista principalmente na me-

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lhoria material da situação dos operarios. Na ltalia as zonas mais infestadas de comunismo são as mais ricas: Emilia, Toscana e Umbria. No Brasil muitos comunistas são ricos e intelectuais, até professores de universidade. E não se pode dizer que são pobres os estivadores do porto do Rio de Janeiro ou de Santos.

B.

Serenidade e caridade

Ao tratar dos angustiantes problemas sociais, facilmente o coração fala mais alto que o bom senso, e acaba estragando mais do que conserta. Pio XII, de santa memoria, aconselhava muita clareza e muita calma, quando sobre estes assuntos se dirigia aos catoücos austriacos que celebravam seu CongTesso Catolico para tratar de problemas sociais candentes, que a guerra tinha deixado em sua esteira de miserias. Dizia o grande Pontífice: "Nós timbramos em vos exortar, a vós e a todos os catolicos, a seguir fielmente a linha nítida da doutrina social catolica, desde o começo das novas lutas, sem desviar nem à direita, nem à esquerda. Um desvio de apenas uns graus poderia a principio parecer sem importancia. Mas, à medida que se prolongasse, este desvio provocaria um afastamento perigoso do caminho reto. Pemamento 145


sereno, dominio de ai, firmeza em face das seduções doa extremo•: eia aa exigenciaa da hora presente neste terreno" (Radio-mensagem ao "Katholikentag" de Viena, de 14-9- 1952 "Oiscorsi e Radiomessaggi", vol. XIV, p. 3 14) . Todo esforço para melhorar a situação economica, social, familiar, sanitaria, religiosa dos operarios é digno de louvor. A Encidica "Mater et Magistra", continuando a linha da "Rerum Novarum" e "Quadragesimo Anno", traça longo programa de iniciativas destinadas a melhorar as condições do operario, bem como sugere e aconselha medidas que atenuem o regime do puro salariado, para criar relações de maior entrelaçamento de interesses e de esforços entre operarios e patrões.

O.

Importancia da melhoria das condições materiais

Embora não se possa vencer o comunismo somente melhorando a situação aflitiva de certas classes operarias que o marxismo explora, é certo que a melhoria das condições sociais e econornicas destas classes prejudica enormemente a propaganda marxista. Se o marxismo trabalha por piorar tais condições para

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levar os operarios ao desespero e assim à Revolução, a melhoria delas frustra em parte este plano sinistro.

D.

Não pregar a luta de classes

Mas, ao favorecerdes os pobres e desamparados, amados Filhos, e ao combaterdes os abusos do capitalismo, sêde cautdosos, para não implantardes o odio contra os ricos e serdes agentes inconscientes da luta de classes. Falai aos pobres dos seus direitos e deveres, falai aos ricos dos seus deveres e direitos, sêde representantes de Deus tanto diante de uns como de outros. Pregai a justiça, a caridade, a humildade, o amor da pobreza. Será a mensagem inteira de Jesus Cristo que resolverá a questão social, na medida em que ela pode se.r resolvida. Porque o convívio humano sempre será recheado de sofrimento, e a justiça sozinha jamais resolverá todos os conflitos. 1:. mister que a caridade complete o trabalho da justiça, e o amor da pobreza e o desapego dos bens da terra criem o clima necessario para que ..um carregue o fardo do outro, e assim realizeis a lei de Cristo" (Gal. 6, 2). Em seu Motu Proprio sobre a Ação Popular Catolica, de 18 de dezembro de 1903, São Pio X recomenda : " ... os

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escritores catolicos, ao defender a causa dos proletarios e dos pobres, devem abster-se de palavras e frases que poderiam inspirar ao povo a aversão pelas classes superiores da sociedade. Não se fale, pois, de reivindicação e de justiça, quando se trate de simples caridade, . . . Recordem que Jesus Cristo quis reunir todos os homens pelos laços do amor mutuo, que é a perfeição da justiça e inclui a obrigação de trabalhar para o bem reciproco·· (Ed. Vozes, item XIX).

E.

Classe media

Mas ao cuidardes dos pobres e desamparados, amados Filhos, não vos esqueçais da classe media, cuja situação é muitas vezes mais angustiosa que a dos operarios. Fomentai obras especiais para esta classe, e lembrai-vos de estender a mão para a pobreza envergonhada que curte dias amargos sem que quase ninguém dela se lembre.

F.

O apostolado

Ao preparardes pessoas para as funções sociais, incuti-lhes sobretudo a preocupação de apostolado, para que armem as almas com as virtudes basicas da vida

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social, e as imunizem contra os venenos do materialismo pelo amor do Reino de Deus. "Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado de acrescimo" (Luc. 12, 31) .

2.

UM PROGRAMA DE REFORMA AGRARIA

A Igreja, atenta aos problemas do operariado urbano, está vigilante e ativa também em relação aos problemas de nosso homem do campo. Por isto, depois de vos termos falado no Capitulo II da 2.ª Parte sobre o criminoso abuso que a seita comunista faz da reforma agraria, procurando enforcar o lavrador na corda com que promete tirá-lo do poço, vamos expor-vos o programa de uma reforma a g raria cristã, que deverá ser adaptado às varias regiões do País. Um exame consciencioso da situação dos nossos irmãos que labutam no campo mostra que o problema no Brasil não é tanto de dar terra aos lavradores, e sim, muito mais, de ajudar os que já têm terra. Assim, pois, pensamos que as seguintes medidas, entre outras, melhorariam enormemente a situação de nosso homem do campo:

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A.

Principios de ação para o governo, relativamente ao acesso à terra

a. Não tolerar nenhuma lei que fira o principio da propriedade particular. b . Apelar à desapropriação somente quando o bem comum exigir, não houver outra solução, fôr pago o justo valor, de acordo com a Constituição: em moeda corrente e previamente. c . Promover a colonização das terras devolutas da União, Estados e MumC1p1os. O Poder Publico é dono ainda de cerca de seiscentos milhões de hectares no Brasil. Os particulares possuem duzentos e cinquenta milhões. Há portanto ainda muita terra do Governo. d . Adquirir por via legal, para fina de colonização, as terras que os proprietarioa desejem vender. e. Tornar certas medidas que fo. mentem a colonização das terras de particulares, a saber: movimentar no Banco do Bra• ail, e fundar e movimentar nos outros Bancos oficiais, a Carteira de Colonização, que financiará o loteamento das glebas de particulares que as queiram colo-

nizar; 150


fundar e movimentar no Banco do Brasil e nos demais Bancos oficiais uma Carteira de Acesso à Terra, que fi. nancie aos pequenos e medios lavradores e aos trabalhadores do campo a compra de propriedade rural, com prazo muito longo e juros muito baixos, e inclusive financie a instalação de sitio, chacara ou pequena e media fazenda e a construção de boas casas para o proprietario e os assalariados.

B.

Relativamente à assistencia

a . Facilitar ao lavrador auistencia tecnica, multiplicar os postos de fomento agropecuario, e dinamizá-los, dotando os respectivos agronomos de recursos materiais, e criando nestes postos uma mentalidade de entusiasmo, de dedicação, e de elevação do homem do campo. b. Levar ao homem do campo credito facil, barato e criterioso. c. Dar-lhe auistencia medica, social, escolar e religiosa. d. Continuar o trabalho de eletri• ficação do interior, e continuar a aber• tura e melhoramento das vias de trans• porte. e. Continuar o trabalho de criar centros de armazenamento e de forneci• mento de material agrícola.

151


f. Promover os estudos de geologia e topografia do Estado, para estabelecer um certo planejamento, flexivel e humano, do destino agropecuario das suas varias zonas.

C.

Colaboração do Episcopado e do Clero

Enfim, amados Filhos, os Bispos do Estado de Minas Gerais estamos unidos cooperando com os Governos estadual e federal e com as organizações particulares e paraestatais, no esforço de melhorar as condições de vida do homem do campo. A memoravel reunião dos Bispos do Vale do Rio Doce e, em Nossa Arquidiocese, as reuniões do Clero dos Vales do Rio Doce, do São Francisco e do Jequitinhonha, e os documentos que destas reuniões tiveram origem, têm servido de pratico roteiro para trabalhos de grande interesse.

3.

ORGANIZAÇÃO DO HOMEM DO CAMPO

Não podeis, amados Sacerdotes, deixa.r de acompanhar com atenção o trabalho de organização dos nossos trabalhadores rurais.

152


Forças revolucionarias procuram se apoderar das organizações futuras e já se movimentam. Tais são as Ligas Camponesas, de triste fama, que misturam seus "slogans" revolucionarios com seus gritos de guerra e de sangue. Denodadamente lutai, amados Filhos Sacerdotes e lavradores, para que o marxismo não se instale em nossas futuras organizações rurais. Oportunamente vos daremos diretrizes mais pormenorizadas sobre este importantissimo setor. CAPITULO V

ÜS MEIOS DE AÇÃO Não podemos aqui desenvolver um tratado de pastoral e de estrategia. Indicaremos apenas alguns pontos fundamentais.

1.

O PULPITO E O OONFEBSION ARIO

Como o comunismo é uma seita, com doutrinas que dão origem à ação política revolucionaria, a grande arma contra ele é e fica sendo a pregação: será pois no pulpito e no confessionario que a

153


grande bata1ha será travada. Na medida em que vós, amados Sacerdotes, mantiverdes a batalha no campo religioso, a vitoria do comunismo sem o recurso das armas será impossivel. Sem duvida, a imprensa, o radio e a televisão representam um pape) importante; mas o mais importante é o Magiaterio Edesiutico. Fazei os fiéis estudarem as grandes Enciclicas sociais e, de modo especial, propagai e estudai com o povo a fundamental Enciclica "Divini Redemptoris" de Pio XI, de santa memoria, "sobre o ateu comunismo".

2.

MOBILIZAÇÃO DE TODOS 08 REOUR808

Lançai mão, numa mobilização geral, de todos os meios de difusão da doutrina catolica oposta não só aos erros sociais do comunismo, mas às suas bases metafisicas e teologicas. Mobilizai as escolas, os ginasios e colegios, nossas Faculdades superiores, as associações e obras catoücas, numa ofensiva geral, vasta e profunda, de combate à heresia total e de imunização dos nossos irmãos na fé.

154


3.

DENUNCIAR AS PAIXôES QUE ALIMENTAM O COMUNISMO

Mostrai bem aos fiéis as três paixões que alimentam o comunismo: - pela soberba o homem rejeita a Deus, a ordem sobrenatural, e quer ser seu proprio criador; - pela 1emualidade o homem re• jeita a vida eterna, procura sua felicidade na carne, no materialismo ; - pelo orgulho o homem não tolera ninguém acima de si, nem melhor, nem mais nobre, nem mais rico; quer o nivelamento, o igualitarismo.

4.

CULTIVAR AS VIRTUDES OPOSTAS

Cultivai, amados Filhos, com entu• aia.amo consciente, as três virtudes opos• ta.a:

- pela fé o homem se curva diante de Deus e abraça a ordem sobrenatural, a justiça e o Reino de Deus ; - pela castidade o homem rejeita procurar sua felicidade nos prazeres da carne, e em pu.r eza e mortificação pro• cura a vida eterna;

155


- pela bwnildade o homem ama a ordem que Deus estabeleceu no mundo: ama a ordem desigual, hierarquica, e vê nela uma prova da bondade divina. O homem quer ser livre, e na sua liberdade ocupar o lugar que Deus lhe destinou: se fôr alto, sem orgulho; se fôr baixo, sem revolta.

5.

QUANTO A ASCENSÃO ECONOMICA E SOCIAL

Ensinai que o catolico pode e deve procurar melhorar a sua situação social, sem revoltas e sem ambição desordenada. Ensinai que na sociedade deve haver classes, mas não castas; que a ascensão de classe dos melhores deve se efetuar organicamente; e que o pecado e a falta de correspondencia habitual aos deveres de estado deve levar o homem a descer da sua classe.

6.

NOSSAS ORGANIZAÇÕES

Para termos nas nossas associações os instrumentos necessarios para a g rande luta anticomunista, amados Filhos, antes de pensarmos em fundar associações novas, seguiremos o seguinte programa:

156


A . Expurgar implacavelmente nossas associações de apostolado e nossas organizações sociais, de elementos comunistas ou filo-comunistas, e de tais que têm simpatia pela Russia ou idéias socialistas ou socializantes. 8. Vitalizar as nossas associações existentes, em parte decadentes, dandolhes uma formação intelectual adequada à hora presente, exigindo muito dos seus membros na vida religiosa e ascetica, e designando um campo de ação bem definido para cada associação.

7.

O CRIME DA TERCEIRA-FORÇA

No caso de um confüto armado mundial, a sorte do mundo cristão, a sobrevivencia de um clima de liberdade, está atualmente ligada à vitoria dos Estados Unidos. Ninguém de bom senso poderá pen• aar que, no caso de a Russia vencer a America do Norte, os países neutros poderão escapar da escravidão vermelha. Todo o mundo livre está portanto jogando no mome.n to a sua sorte. Ficar neutro, formar uma terceira- força, ou é traição, ou é suicidio. Se os Estados Unidos vencerem, ainda a Igreja poderá viver e

157


parlamentar. Se a Ruasia vencer, será a escravidão mundial. Na luta do uno ruaao com a aguia norte-americana, se o urso vencer, os cordeiros da terceiraforça, lndia, Africa, etc., nem sequer poderão escolher o molho com que serão comidos. t. pois de vital interesse para a causa catolica, nas circunstancias atuais, que, em caso de conflito armado, os Estados Unidos saiam vencedores. I:'.. pois de vital interesse da Igreja que o Brasil e os paises catolicos apoiem os Estados Unidos, agora, na guerra fria, e o que Deus não permita - se a agressão russa não puder ser repelida senão pelas armas, que os paises catolicos também derramem seu sangue por Cristo e pela Igreja, ao lado dos norte-americanos. Não desconhecemos os lados negativos da influencia norte-americana em nossa Patria. Menos desconhecemos o trabalho nefasto de proselitismo realizado por pastores protestantes norte-americanos, apoiados no dolar, e que destroem a união entre os brasileiros, enfraquecendo o País e assim ajudando a causa de Moscou. Sabemos, de dolorosa experiencia, que os brasileiros que se fazem protestantes, em geral, detestam tanto a Igreja Catolica que desejam a vitoria da Russia no Brasil. Assim, os Estados Uni158


dos, mandando-nos pastores, acabam nos mandando agentes, talvez inconscientes, que trabalham pa.r a o seu mortal inimigo. Sabemos que a imoralidade de costumes, a falta de amor à tradição, o desprezo das formas de civilidade, o crasso materialismo, que vêm da America do Norte, representam uma tremenda contribuição para o comunismo difuso. Em parte a cega politica dos Estados Unidos é responsavel pelo enorme avanço do comunismo depois da segunda guerra mundial. Mas, mesmo assim, é de interesse da civilização cristã que o povo brasileiro forme ao lado do norte-americano, na manutenção da solidariedade continental contra o comunismo. Por isto, amados Filhos, rezai pelo povo norte-americano. Vós, Sacerdotes, ao distribuirdes os viveres que tão generosamente nos envia o Governo dos Estados Unidos, falai aos pobres da origem deste donativo e fazei com que o nosso povo alimente uma grande gratidão para com os nossos irmãos da America do Norte. Em 1962 o Governo de Washington enviará aos Bispos do Brasil, para distribuírem aos pobres, trinta milhões de quilos de leite em pó, fubá, farinha de trigo, etc.

159


Sejamos gratos a esse povo que, em lugar d e queimar as sobras de sua produção, lembra-se de nossos irmãos que curtem neceHidade. E rezemos por nossos benfeitores norte-americanos: "Recompensai com a vossa graça e a vida eterna, Senhor, por amor de voHo nome, a todos os que nos fazem bem. Assim seja".

160


Epilogo

Amados Filhos, são estes os ensinamentos que ardiam em Nosso coração, que desejavamos fazer chegar ao vosso. Ouvi-os, lede-os, estudai-os e, como novos cruzados, iniciai pelos meios que vos indicamos a dupla ofensiva em vossas proprias inteligenciatt e vossa propria vida, bem como em redor de vós: a batalha contra o comunismo difuso e o combate contra as hordas capitaneadas pelo Partido Comunista do Brasil. Mais que tudo, porém, segui o ensinamento de nossa Mãe, a Virgem Santíssima, em Fatima: oração, penitencia, consagração, eis as três armas que são terríveis a Satanás e à sua côrte na terra. Que Ela esmague a cabeça a Satanás: "lpsa conteret" (Gen. 3, 15) . Que Ela desbarate mais esta heresia, a grande heresia, a heresia total: "Quae cunctas haereses sola interemisti in universo mundo". "Que, sozinha, desbaratastes todas as heresias em todo o mundo!"

161


t nos braços de nossa amorosa Mãe de Deus que depositamos nossas vidas e o futuro de nossa Arquidiocese e de nossa Patria. De nosso lado prometemos a Ela envidar todos os esforços para correspondermos àquele apelo que seu maternal Coração nos dirigiu na Cova da Iria. Colocamo-nos, amados Filhos, nas mãos de Jesus Cristo, o Filho de Deus Vivo, nosso Rei. A Revolução quer a destruição total de seu Reino no mundo.

.

.

Colocamo-nos debaixo da bandeira de Cristo Rei, e pelejaremos sob seu comando para vencer as hostes da Revolução, para construir, em nossa Patria e no mundo inteiro, o seu Reino, a Cristandade, Reino da Verdade e da Vida, Reino da Santidade e da Graça, Reino da Justiça, do Amor e da Paz. Encerramos Nossas palavras com o brado do Príncipe dos Apostolos, dirigido aos cristãos do tempo de Nero: Irmãos, "sêde sobrios e vigilantes! Porque o vosso inimigo, Satanás, como um leão a rugir, anda ao vosso redor, buscando a quem devorar. Resisti-lhe, fortes na fél" (1 Pedr. 5, 8-9). E que a benção de Deus Onipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós, e permaneça eternamente.

162


Dada e passada nesta Nossa Arquiepiscopal Cidade de Diamantina, aos 6 de janeiro de 1962, Festa da Epifania do Senhor, sob Nosso Sinal e Selo de Nossas Armas.

t

ÜERALDO, ARCEBISPO METROPOLITANO

OONBELHOB Aconselhamos os Nossos amados Sacerdotes, Religiosas e Fiéis, a se apro• fundarem no estudo dos problemas da Revolução, pela leitura dos seguintes documentos, de grande atualidade: Leão XIII Encíclica Novarum" (Editora Vozes);

" Rerum

Pio XI - Encíclica "Quadragesimo Anno" (Editora Vozes); Pio XI Encíclica "Divini Redemptoris" (Editora Vozes); João X.Xlll Encíclica "Mater et Magistra" ("Catolicismo", n.0 129, de setembro de 196 1 ) . No jornal "Catolicismo", cujo pro• vecto corpo de colaboradores aborda com tanta competencia os problemas contemporaneos, se podem encontrar valio•

163


sos estudos sobre os assuntos especificos desta Pastoral. Alguns elementos de "Catolicismo" publicaram trabalhos que recomendamos especialmente, a saber: "Reforma Agraria Questão de Consciencia" D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e economista Luiz Mendonça de Freitas (Editora Vera Cruz - São Paulo) ; "Revolução e Contra-Revolução" Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (Boa Imprensa Ltda. - Campos, RJ) ; "Carta Pastoral sobre problemas do apostolado moderno, contendo um catecismo de verdades oportunas que se opõem a erros contemporaneos" D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos (Boa Imprensa Ltda. Campos, RJ); "Carta Pastoral prevenindo os diocesanos contra os ardis da seita comunista" D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos ( Boa Imprensa Ltda. Campos, RJ). Em breve aparecerá Nosso "Cate-

164


cismo Anticomunista", que desde já vos recomendamos. São de grande atualidade neste assunto os seguintes livros: Pe. F. Dufay - "L'Etoile contre la Croix" (Hong-Kong e Paris) traduzido para o português: "A Estrela contra a Cruz na China" (Editora Vozes); Jean Ousset - "Le Marxisme-Leninisme" (La Cité Catholique - França); Jean Daujat - "Connaitre le Communisme" (La Colombe - França).

165


Mandamento Nomine Domini invocato, Mandamos que esta Nossa Carta Pastoral seja lida e explicada na estação da Santa Missa nos domingos e dias santos de guarda, seu recebimento seja registrado no livro de tombo da Paroquia, e um exemplar guardado no arquivo paroquial. Mandamos que, nas reuniões das Associa9Ões, seja o seu conteudo estudado e comentado. Nas Santas Missas, Comunhões Gerais, e nos terços, os Sacerdotes frequentemente rezem com o povo pedindo a Deus que guarde nossa Patria das maquinações da seita comunista, e rezem pelos milhões de catolicos que, com seus Bispos e seu Clero, gemem oprimidos pela mais feroz e diabolica perseguição, nos paises dominados pelo comunismo. Dado e passado nesta Nossa Arquiepiscopal Cidade de Diamantina, aos 6 de janeiro de 1962, Festa da Epifania do Senhor, sob Nosso Sinal e Selo de Nossas Armas.

t

GERALDO, ARCEBISPO METROPOLITANO

166


INDICE TE:\IA:

A SEITA COMUNISTA . . . . . . . . . .

4

INVOOACAO . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A

PA.IAVRA ORIENTADORA . . . . . . . . • . . . . . .

7

DIVIS&O

8

t .• Parte -

DO l'\IAB."llSMO

..... .. .. .. .

9

AS TEORIAS FUNDAMEN'TAIS DO MARXISMO . . .. . . . .. .. . . . . .. .

10

CAPITULO I -

1. 2.

O etiolucionlamo materlGllata TsoriG mGra:lata . • • • • . . . • • • . . • • • • • • • • . . Pnmelraa c o11aequenclGa • . • . • • . • . • . . .

15

A.

A verdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

15

Principio de ldcnUdade . . . . . Principio de contradição . . . Valor dos conhecimentos Teoria marxista . . . . . . . . . . . . O movimento . . . . . . . . . . . . . . Principio de Identidade e de contradJtão rejeitados - Teoria marxista . . . . . . . . . . . . . . . A essencta das coisas: o ser

16 17

a. b. c.

d. e.

t. B. C.

U

18 18 20 21

A moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Processo hlstorlco - Teoria mar-

22

xista

24

.. .. . .. • .... .. ... .. .• .. ...

167


a. b. e. S.

Materlallamo hlst orlco Materialismo dlaletlco HegellanJsmo . . . . . . . . . . . . . . .

Conc lua4o

CAPJTULO ll 1.

2.

24 25 26

. . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . •. .

27

OUTRAS CONSEQlIENCIAS

28

O d ireito Alle na('õea -

28 Teoria mar a:lata

29

CAPITULO m - DA PRIMAZIA D O ECONOMICO A REVOLUCAO . . . . . . . . . . . . . .

31

no teoria mara:lata . . . . . .

81

1. 2.

O t r abalho

Primazia do economloo -

Teoria mar-

a:iato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

34

S . P rlmcizlo do <1olfo . . . . . . . . . . . . . . . . . • 4 . P'ormao4o ldeologico . . . . . . . . . . . . . • . . 5 . Clenolo da Revoluodo . . . . . . . . . . . . . • 6. Revoluo4o eapontanea e organl:<ido • 7 . A tefamo prntlco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8. R evoluo<'io . . . . . . . .. . . . . . • . . . • . . . . • • • 9 . Fim ultimo: a Revoluclfo permanente Re/le:r;4o • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

33 38 40 40 41 43 44 48

z.•

A SEITA C0l[U'11STA ou O lllARXIS)IO EM ACAO . . . . . .

51

CAPITULO I O PROLETARIADO A SERVICO DA REVOLUCAO • . . . . . . . . . . . . . . .

51

l'arto -

1.

2. S. 4. 5.

O proletariado . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . T omada de conaciencla . . . . • . . . . . . . Luta de claue11 . . . • . • • • . . . . . . . . . . . . Olaa11e proletarla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Ooletlvi:ac4o

..... .. . ...............

}68

52 57 59 60 61


&.

7. 8.

D i tadura do proletariado . . . . . . • . . . • Moral Verdade Propaganda . . ld611M . . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . .

Apendlce: O capital e o trabalho

A DIALETICA EM AÇÃO A TESE ........................... .

62 62 63 64

CAPITULO II -

1. 2. 3.

Á

aelta comunista . . . . . . . . . . . . . . . . .

O Partido Oomunlata . . . . . . . . . . . . . . A teae . . . • . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . .

A. B. C. D. E.

A propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . Igualitarismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Proletarlzacão . . . . . . . . . . . . . . . . . . "Reforma Agrarla" . . . . . . . . . . . . Reformas urbana, industrial, comerclal e bancaria . . . . . . . . . . . . F . Religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . G. Exercito - Patrla . . . . . . . . . . . . . H. Familia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

CAPITULO III -

1. 2. 3. 4. 15 .

68 68 69 69

70 71 72 73 76 77 78 79

A ANTITESE . . • • • . • • • • •

79

ditadura do proletariado . . . . . . . .

•Abunda111t lniqultar'

80 81 82 82

Inverso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

84

A. B.

84

A

A

"º"ª

Cl1Mae • .. . . . . .. .. . .. • . . . . . •

Policio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .. .. . . . . . •. Beconatruc4o do mundo depola da deatruiçclo da Cr'3tandade Caminho

Forcas armadas . . . . . . . . . . . . . . . Religião a service da Revolucão A tecnJca: matar pela colaboracão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

169

815


C. D. E.

F.

A patrla ............ , . . . . . . . . . • A familia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A propriedade . . . . . . . . . . . . . . . • . . COnclualo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . •

CAPITULO IV - SOCIALISMO: CAVAL0 DE TROIA A SERVICO DO COMUNISMO .

1. 2. S. 4.

Bociall,mo • oomu.-lffllo • . . • . • . . . • . • Boclallamo • aeu, matue, . . . . . . . . . . Bociallnno crütllo . • • . . . . • . . . . . . • • . • À JgreJG s,rlmUltiG foi comunl,tat A,

Orde111 Relfgloaa, 11lo comu.-fata,f

s.•

Parte -

1. 2.

4.

5. 6. 7.

91 92

93 94 94 95 96

99

A SITUA.O.AO DO BRASIL • •

105

O pmgo de um • s,ut,cll• comunuta 105 conq14úta z.,.ta . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

À

A. B. S.

90

SOclallzacl.o legal . . . . . . . . . . . . . . 107 Comunismo virtual nas leia de alto alcance social . . . . . . . . . . . . 108

Reatamento da, relaç6e, dlplomatlca"' com G Ruaeio . • . . • . • . . • . . . . • . . . . • . . Jn/l?traç4o na, u,llveraldadea e na, organlsaç6ea e,tudantla . . . . . . . . . . . . .

"º' "°'

Jn/lltraçllo meloa de comut1fcoç4o 1#/lltraçllo llndicatoa . . . • . . • . . • 111/lltrtM)llo a,aoci4';6ea catollca, A palGvra de ordem . . . . . . . . . . . .

109 110 111 111

"°'

,.. Pane -

A N088A AOAO

112 117

CAPrruLo I MODALIDADES DA Ac,\O ANTICOMUNISTA . . • . • • • • . . • . • • . • • • . • . .

117

Aç4o 814J)er/lcial e aecundarla . . . • • •

118

1.

170


1'

2.

Aç4o

otsticomutslato preciso em aeua

objetivo, doutrltsorios e e/icletsttt em ae,u objetivo, co,scretoa . . . . • . . . . . . . A.

B.

Luta precisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a . Doutrinas opostas . . . . . . . . . b . Propriedade privada

120 120 121

Luta eficiente na ordem pratica O comunismo difuso 122 a . O que é o comunismo difuso 123 b.

e. d. e. S.

120

Alguns exemplos . . . . . . . . . . . A marcha por etapas . . . . . .

125 128 130

SOclaJlsmo cristão . . . . . . . . . Correlacões entre comunismo explicito e difuso . . . . . . . . . . 181

A lmporta,scla da luta de carater doutrltlarfo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181

CAPITULO II - MEDIDAS PRATICAS CONTRA A ACÃO DO PARTIDO COMUNISTA 1S2

1.

Leglaloçt'lo de 1'81)T8Ut'lo do COfflUflilfflO

1SS

2.

Ruptura da, relaç6ea di plomatlcaa e comercial, com a Rmala . • . . . . . . • .

1M

S.

Proibfçllo do Partido Oomutslato Bra-ailelro . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ii1:purgo doa propaga1uHata, e age,ste, comu,-lata, meloa mmtare,, e,tvda,-tla, aitsdlcala, eto. . . . • . . . . . . . • . . . Ii1:purgo ,sa, empreaaa privada, . . . . • A tsaloga aot'lo "a, r81)artlo6e, publica. e orga,sl,moa parae,tatal• . . • . . . Elefot'lo de deputado, e aetsadore, a,stlcomvnf,taa e atstl-aoclallataa . . . . . .

4.

15.

6. 7.

"º'

171

135

136

1S8 138 139


CAPITULO ill MEDIDAS DE COMBATE AO COMUNISMO DU"USO . . . . . . . . . . • . . . 140

CAPITULO IV PROGRAMA DE ACÃO POSITIVA . • • . . . . . • . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144

1.

2.

A luto cot1tro o mlaerlo . . . . . . . . . . . .

144

A. Acão anticomunista e acão social B. Serenidade e caridade . . . . . . . . . . C. Jmportancla da melhoria das condlcões materiais .... . ..... . ... . D. Não pregar a luta de classes . . E . Classe media . . . . . . . . . . . . . . . . . . . F . O apostolado . . . . . . . . . . . . . . . . . .

144 145

Um progromo de reformo ogrorío . .

149

A.

B. C.

Prlnclplos de acão para o goververno, relatlvamente ao acesso à terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 Relativamente à aaslstencla . . . . 151 Colaboracão do Episcopado e do Clero •. , . • . . . . . • . . . • . • . • . . • . . . .

3.

Orgot1i11oç4o do homem do campo

CAPJTULO V 1. 2. 3.

4.

148 147 148 148

OS MEIOS DE ACÃO . . . . .

152 152

153

O pulplto e o con/eaalonorío . . . . . . . 153 Jfoblllllaçllo de todos oa rscuraoa . . . 154 Denut1oior a, polzões que ollmsntom o comut1lamo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 Cultl11ar a, virtudes opoatoa . . . . . . . . 155

172


S. 6. 7.

Quanto ~ aacen,ão econômica e iroclal No,aa, orgaftlzacõea . . . . . . . . . . . . . . . . O crime da terceira-forca • . . . . • . . . . .

156 156 1S7

EPILOGO . . . . . • • • . • . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . • .

161

CONSELHOS

• . . . . . . • . . . . . . . . • • • . • . • . •. • . .

168

MA..N D ~ O • . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • .

166

173


•


EDITORA VERA CRUZ LTDA. Rua Alagoas, 344 • Caixa Postal 3586 SÃO

PAULO

1963


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