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Damos iníc io aqu i, conforme anunciamos em outubro p.p., a publicação de tópicos selecionados da obra Revolução e Contra-Revolu ção , de Plínio
Revolução e P Contra-Revolução
Corrêa de Oliveira. O leitor terá, assim, uma noção mais exata dos princípios e metas que orientam este mensário desde a sua fundação, em 7957. O trecho a seguir é da Introdução.
Plinio Corrêa de Oliveira têm como que um denominador comum, e que é e te o objetivo sempre vi ado por nossa publicação.
atolicismo é uma revista comque é esse denominador com um ? bativa. Como tal, deve ser julgada Uma doutrina? Uma força? Uma principalmente em função do fim que seu combate tem em vista. Ora, a quem , pre- · corrente de op ini ão? Bem se vê que cisamente, quer ela combater? A leitura uma elucidação a respeito aj uda a comde suas páginas produz a ete respeito preender até suas profundezas toda a uma impressão talvez pouco definida. É obra de formação doutrinário que Cafreqüente encontrar, nelas, refutações do tolicismo veio realizando ao longo de comunismo, do socialismo, do totalita- 45 anos de ex istência. rismo, do liberali smo, do liturgicismo e de outros tantos ' ismos'. estud o da Revolução e da ContraRevolução excede de muito, em ontudo, não se diria que temos tão proveito, este objetivo limitado. mai s em vista um deles , que por aí no pudéssemos definir. Por exemplo, ara demonstrá-lo, basta lançar os haveri a exagero em afirma r que Catoolhos sobre o panorama religioso licismo é um mensário especificamente de nosso País . Se todos os cató li cos antip rotestante ou anti-socialista. Diro que devemo er, o Bra. il fôsse mos se-ia , então, que a revista tem uma seria hoje um a das mai s admiráveis p pi uralidade de fin s. Entretanto, percecas nascidas ao long dos tências católi be-se que, na perspectiva em que ela se co loca, todos estes pontos de mira vinte sécu los de vida da Igreja .
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or que, então, estamos tão longe deste ideal? Quem poderia afirmar que a caua principal de nossa presente situação é o espiriti smo, o protestanti smo, o ateísmo, ou o comun ismo? Não. Ela é outra, impalpável, ubtil , penetrante como . e fo sse uma poderosa e temível radio-atividade. Todos lhe sentem os efeitos, mas poucos sa beriam di zer-lhe o nome e a esênci a. o fazer esta afirmação, nosso pensa mcnto se estende das fronteiras do A Bras il para as nações hispano-ameri canas, nossas tão caras irmãs, e daí para todas as naçõ s católicas. Em todas, exerce seu irnp ri o indefinido e avassalador o mesmo mal. rn toda produz sintomas de uma grand za trág ica.
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ra, que inimigo desferiu contra a Es posa de Cristo este go lp terrível? O Qual a causa comum a stc e a tantos
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outros males cone mitantcs e afi ns? Com que nome chamá-la? Quai s os meios por que ela a ? Qua l os grcdo de sua vitóri a? orno ·ombatê-la com êxito?
CATOLICISMO -
omo se vê, dificilmente um tema poderia ser ele mais flagrante atualidaC cl . Del e conti nuaremos a tratar em noss pr ximo número.
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Revolução e Contra-Revolução
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REALIDADE CONCISAMENTE
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RELIGIÃO
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ILI
Nº 541 - Janeiro de 1996
CAPA
Reforma Agrária: 17 o show do Movimento
dos Sem Terra
Lições do atentado contra imagem de Nª Sra Aparecida
HAGIOG RAFIA
DISCCRNINDO
Fugindo de impostos e carimbos [N rR EVISTA
Vigoroso alerta contra males da TV
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HISTÓRIA
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Há 900 anos, aurora radiosa das Cruzadas
D[STAQUE
Che Guevara: mito e rea lidade TFPS EM AÇÃO
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São Vicente, mártir: triunfante dos suplícios e de seus perseguidores
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Roma: missa de réquiem e homenagem ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
ff [ M[RIDES
25 anos de oração, pompa e trabalho
AMBI ENTES, COSTU MES, CIVILIZAÇÕES
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Dom Vital: valentia CAPA: Manifestação do MST. Foto Folha lmagem/P. Giandalia Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor:
Pau lo Corrêa de Brito FIiho Jo rn alis ta Respons6 vel: Mariza Mazzirn Cosi a do Lago Registrada na DRT-SP sob o Nº23228 Redação o Gerência: Rua Martim Francisco. 66 5 0 1226-001 São Pa ulo. SP • Tol:(011) 824-9411 Fotolllos: Bureau Bandeirant e de Pré-Impressão Lida. Rua Mairinque. 96 04037- São Paulo-SP
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Jan('iro 1996 CATOLICISMO
-Janeiro 1996
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A Realidade
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RELIGIÃO
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Lições para os brasileiros Brasil tem tristes mazelas que, por vezes conseguem toldar a vista de aspectos positivos muito importantes. Eis um deles: a capacidade de compreender como o afeto é fundamental na vida. Um dos mais conceituados historiadores da atualidade foi, sem dúvida, o francês Fernand Braudel, falecido em 1985. Viveu no Brasil de 1935 a 1938, lecionando na USPUniversidade de São Paulo. Quando voltou à França, sua esposa, Claude, afirmou que para eles representou "o fim do paraíso brasileiro". Uma das razões, segundo ela, foi poderem saborear aqui "os
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prazeres da amizade que os brasileiros sabem dar com tanta abundância".
Seu marido, foi mais longe ao confessar públicamente em outubro de 1985: "Torneime inteligente quando fui ao
Brasil. O espetáculo que tive sob os olhos foi um raro espetáculo de história, um raro espetáculo de gentileza social. A partir daí, passei a considerar a vida de outro modo. Os mais belos anos de minha vida passei no Brasil, o que provocou profundas consequências em mim e, de alguma forma , me expatriou. "
Esse grande intelectual europeu, de alguma forma, sentia-se fora de sua pátria, mesmo na França, a mais encantandora das pátrias, tal o encanto que havia sentido por certas qualidades da alma brasileira. Seremos capazes, nós, brasileiros , sem nacionalismos pretensiosos e ufanismos vazios, observar e apreciar o que o Brasil tem de realmente superior, como, pelo menos, em parte, conseguiu Fernand Braudel?
As manias ecológicas também cansam
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as florestas e nas águas, os animais se entredevoram continuamente. Sempre foi assim e irá continuar desse modo até o fim do mundo. O homem, numa proporção, aliás, menor do que a mortandade inter-animal,
atendendo legitimamente a seu desejo de perfeição natural utilizava animais e aves para alimentação e aproveitava peles e penas para vestimentas e ornato. Havia e ainda há - lindos modelos de sapatos, bolsas, cintos, casacos etc confeccionados com 4
Lições .do atentado contra in1.agen1. de Nossa Senhora Aparecida
couro de origem animal. Havia ainda penas utilizadas para ornatos de grande elegância. Os ecologistas lançaram campanhas virulentas contra essa utilização que, de si, é louvável por denotar um desejo de ascensão. Há certamente mui to mundanismo e exibição pretensiosa no caso, mas isto é outra questão. É indevida utilização de algo em si bom. Abusus non tollit usum, ou , seja, "o abuso não impede o uso". Uma pesquisa do Centro para Estudo dos Negócios
CATOLICISMO -
Túlio Rezende
Passeata dos Verdes na Espanha
Americanos da Universidade de Washington constatou que "depois de anos bombardeados por profecias catastróficas que não se realizaram, os
norte-americanos estão se tornando pouco sensíveis às questões ambientais".
Em resumo: proteção ambiental, sim; manias tolas, não.
Para eles não valem os direitos humanos? Hong Kong vai ser entregue pela Inglaterra à China comunista em 1997. Ninguém perguntou ao povo de Hong Kong se queria ficar como está, colônia inglesa, ou ser anexado ao regime marxista chinês. E nem houve protestos das organizações de direitos humanos contra a decisão dos governos de Londres e Pequim. Os habitantes de Hong Kong acabam de levar ou-
tra punhalada. O ministro do Interior britânico declarou que a Inglaterra não aceitará a imigração maciça dos chineses de Hong Kong que desejavam fugir de lá antes de o enclave se tran sformar em parte do "paraíso" comunista. Outra vez, o que se percebe é o silêncio dos profissionais dos direitos humanos. Chinês de Hong Kong não tem direitos humanos?
Manifestação anticomunista em Hong Kong
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Reação indignada da grande maioria da população indica o quanto ela aspira por uma pregação religiosa tradicional.
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atolicismo não poderia deixar de tratar do episódio religioso de maior repercussão nacional em 1995: o sacrílego atentado cometido a 12 de outubro, contra uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. A edição do número especial de novembro e dezembro, dedicado à memória do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, fez com que somente agora possamos fazê-lo. Três meses após o chocante episódio da agressão a uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, no próprio dia da festa da Santa Padroeira do Brasil, perpetrada por um autointitulado "bispo" da auto-denominada "Igreja Universal do Reino de Deus", é oportuna uma análise da sadia reação popular a esse sacn1ego atentado. Chocada por tal acontecimento, a opinião pública católica reagiu em uníssono, manifestando, de modo surpreendente para muitos, o quanto a devoção à Santíssima Virgem
está enraizada no sentimento religioso de nosso povo. Há tempos se vem dizendo que, com o progresso das seitas, a porcentagem de católicos no País estaria se re<luzindo consideravelmente. Houve até quem falasse que somente 60% da nossa população professa a religião católica. O que pensar disso, diante da quase unanimidade com que os brasileiros manifestaram sua repulsa nessa ocasião? E se a reação tomou este porte nacional, o problema estaria na falta da verda<leira Fé ou na falta de orientação da piedade popular? O que teria levado tal "pastor" a essa ignominiosa atitude? Terá sido um ato impensado? Não parece. O mais provável é que, por um erro de interpretação da opinião pública, a Igreja Universal tenhajulgado o momento propício para externar, pela TV, as agressões que internamente essa seita já faz a Nossa Senhora. O próprio noticiário da imprensa deixou claro que, inúmeras vezes, em $eitas de
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origem protestante se praticam ofensas brutais a imagens da Virgem Santíssima. Várias delas foram despedaçadas. Já existe o caso de Denilson Fonseca de Carvalho, presidente do Centro de Evangelismo Luz para o Mundo, que foi condenado a um mês e vinte dias de prisão por ter quebrado oito imagens da Padroeira do Brasil.
A Piedade Popular O que nos importa saber é o que se passou no seio da Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, a única lgreja Verdadeira do único Deus Verdadeiro. Em 1959, o saudoso Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escrevia em sua fundamental obra Revolução e Contra-Revolução: "Estatisticamente, a situação dos católicos é excelente: segundo os últimos dados oficiais, constituímos 94% da população. Se todos os católicos fôssemos o que devemos ser, o Brasil seria hoje uma das mais admiráveis potên-
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Milagrosa Imagem da Padroeira do Brasil, venerada no Santuário de Aparecida
cias católicas nascidas ao longo dos vinte séculos de vida da igreja" (Revolução e Contra-Revolução - 2ª edi-
ção, Diário das Leis Ltda., São Paulo, 1982, pg. 12). De então para cá a situação só piorou. Nas últimas décadas, o clero progressista foi abandonando cada vez mais a pregação religiosa, substituindo-a por um discurso político-social a favor da luta de classes. As imagens de Nossa Senhora e dos Santos foram, muitas vezes, retiradas dos altares, substituídas por faixas e cartazes de sabor marxista. As procissões, as associações religiosas, novenas solenes, as cerimônias de bênção do Santíssimo Sacramento e de comemoração dos meses de Maria e do Rosário, que tanto tocavam a piedade popular, deram lugar a "romarias da terra", às comunidades eclesiais de base, ao batuque, ao violão e à música profana. Infelizmente muitos sacerdotes piedosos, julgando ver 5
nisso uma orientação superisas constituirão uma inexor, se omitiram, adotando tampressiva minoria, deixando de bém tais mudanças. preocupar a CNBB. O povinho fiel, sem perder a antiga fé, deixou aos poucos de freqüentar as igrejas, e foi sendo enganosamente atraído "O Brasil, há mais de dois por seitas, em geral de orientaséculos, venera Nossa Senhoção pentecostalista. Proliferan~ ra como sua especial padrodo em todo o País, procuram 5~ eira. E essa veneração se disagazmente atender aos anseios rige a Ela sob a invocação de de religiosidade dessa populaf Imaculada Conceição Apação mais simples, vendendolhe curas e milagres. ~-------.l...-.:........::::;..a~:.....:~------' 1 recida. - Nossa Senhora ApaA imensa reação popular PM prende segurança de Von Helde por agredir jornalista recida! contrária à recente profanaA exclamação acode ção indicou - melhor do que Parece mesmo que a preofreqüentemente ao espírito qualquer pesquisa de opi- va ao ecumenismo. O presinião - o quanto o povo per- dente em exercício da CNBB, cupação de salvar o ecu- dos brasileiros. E sobretudo manece fiel a Maria Santíssi- D. Jayme Chemello, decla- menismo foi maior do que o nas grandes ocasiões. Pode ma, e como somente a pie- rou: "Lamentamos profunda- desejo de promover uma gran- ser o brado de uma alma aflita, que se dirige a Deus pela dade tradicional baseada na mente o fato ocorrido e ou- de reparação. intercessão da Medianeira devoção mariana o poderá tras atitudes que se colocam * * * que nada recusa aos homens, O povo brasileiro permaà convivêncomo obstáculo trazer de volta a freqüentar e à qual Deus, por sua vez, nece com um fundo de piecia respeitosa entre os povos as igrejas. dade católica muito acentua- nada recusa. Pode igualmene a vivência ecumênica entre Atos de desagravo do. Se o clero progressista re- te ser a exclamação de uma os cristãos .... Espero que o Essa reação popular foi completada por expressivos povo católico absorva essas tomar o ensino e a prática da alma que não se contém de atos de desagravo realizados agressões, dando testemunho piedade tradicional da Igreja alegria, e extravasa seu agrae abandonar a pregação da decimento aos pés da Mãe, de em todo o País. Em Recife, do amor a Cristo". A CNBB, em nota oficial, luta de classes, em pouco quem nos vêm todos os benepor ordem do Arcebispo D. José Cardoso Sobrinho, mi- lamenta o "ataque da Igreja tempo o Brasil voltará a ser fícios. A história da pequena lhares de católicos saíram às Uni versai", o qual prejudica o uma nação eminentemente as seitas de origens de terracota escura, imagem católica, e "diálogo entre as igrejas". ruas, ao som dos sinos das Outras declarações mani- e orientações as mais diver- com o seu grande manto azul igrejas próximas, em homefestavam o receio de que o innagem à Virgem Aparecida. Em Salvador, no encerra- cidente desse origem a uma A imagem que se partiu mento do Congresso do Cora- guerra religiosa. Apresentamos acima e na página seguinte, trecho de Ante o aumento do clação de Jesus, setenta mil pesum artigo ("Folha de S. Paulo", 29-5-78) no qual o Prof. soas lotaram um estádio de fu- mor popular contra o sacriPlínio Corrêa de Oliveira, se refere a um sacrílego atentebol. Após a celebração de so- légio cometido, começou-se tado realizado contra a Imagem da Padroeira do Brasil lene Missa, o cardeal D. Lucas a falar de um grande ato naem seu Santuário Nacional. No dia 16 de maio de 1978, Neves conduziu a imagem da cional de desagravo. A Coo herege Rogério Marcos de Oliveira quebrou o vidro Padroeira pelo gramado, com missão Pró-Santuário sugedo nicho onde se encontrava a verdadeira Imagem de riu uma grande romaria no manifestações da assistência. Nossa Senhora Aparecida, na Basílica velha e tentou Em todo o Brasil, centenas dia 19 de dezembro, data em levá-la consigo. Na fuga, caiu. Dessa forma, a Imagem que é comemorada a emande paróquias realizaram procispartiu-se em pedaços. No exato momento em que a Imasões e outros atos de desagravo. cipação do município de gem d~ Padroeira foi quebrada (20h10), a luz elétrica Aparecida. Por que esperar se apagou em todo o Vale do Paraíba! tanto tempo para fazer uma Reações do Clero Na tarde daquele dia, uma tempestade de pó varrera a As primeiras reações do manifestação que teria todas cidade. A ventania fora tão forte que o próprio comércio clero progressista manifesta- as condições de ter um granfechou as portas. vam preocupação com o pre- de sucesso nos dias seguinjuízo que o sacrilégio causa- tes ao atentado?
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sobre o qual resplandecem pedras preciosas, e cingindo à fronte a coroa de Rainha do Brasil - essa história encheria livros. Esses livros, se fossem concebidos como eu os imaginaria, deveriam conter não só os insignes fatos históricos que a Ela se prendem, mas também, em apêndice, as legendas que a piedade popular a respeito deles teceu. É do amálgama de uma coisa e outra- história séria e incontestável, e legenda graciosa que resulta a imagem da Aparecida como ela existe no coração de todos os brasileiros. * O escravo que rezava aos pés da Senhora concebida sem pecado original, ao mesmo tempo que dele se acercava o dono inclemente, as algemas que se rompem, o coração do amo que se comove etc. * O Príncipe Regente que saudava a imagem no decurso do trajeto que o levava do Rio a São Paulo, onde iria proclamar a Independência e fazer-se imperador: - o ato do novo monarca colocando oficialmente o Brasil sob a proteção da Virgem Imaculada Aparecida. * A coroação da imagem com a riquíssima coroa de ouro cravejada de brilhantes, oferecida anos antes pela princesa Isabel, coroação feita em 8 de dezembro de 1904 pelos bispos da Província Meridional do Brasil e de outros pontos do País, em razão do decreto do Cabido da Basílica Vaticana, aprovado por São Pio X. * O velho Venceslau Brás, ex-presidente da República, assistindo, piedoso, no jubileu de prata da coroação da
imagem, à missa hieraticamente celebrada por D. Duarte Leopoldo e Silva, reluzente daquela - como que majestade episcopal tão caracteristicamente dele; * A solene proclamação do decreto do Papa Pio XI, de 16 de julho de 1930, constituindo e declarando "a Beatíssima Virgem Maria, concebida sem mácula, sob o título de Aparecida, padroeira principal de todo o Brasil, diante de Deus"; * A apoteótica manifestação do dia 31 de maio de 1931, em que o episcopado nacional, diante da milagrosa imagem levada triunfalmente ao Rio de Janeiro em trem-santuário, na presença das maiores autoridades civis, militares, e em união com todo o povo - mais de um milhão de pessoas! - consagrou o País a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. E assim por diante, sem falar das curas, aos milhares. Quantos milhares? Cegos, aleijados, paralíticos, leprosos, cardíacos, que sei eu mais! Multidões e multidões sem conta de devotos, vindas do Brasil inteiro, com as mães contando às criancinhas, ao voltarem para os lares, alguma narração piedosa sobre a Santa, inventada na hora ou ouvida da avó ou da bisavó . Bem entendido, narração enriquecida, de geração a geração, com mais pormenores maravilhosos. Quem conta um conto ... Tudo isso levava o Brasil inteiro a emocionar-se- e com quanta razão- ante a pequena imagem de terracota escura, vendo nela o sinal palpável da proteção de Nossa Senhora."
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Perguntas e Respostas: Nossos leitores gostarão de saber com exatidão o que a Igreja Católica ensina sobre o culto às imagens, culto esse tão odiado pelos protestantes. O assunto é tratado, de forma didática por Gustavo Antônio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo numa obra divulgada pela TFP: Rainha do Brasil - A Maravilhosa História e os Milagres de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (p. p. 67-68). 1. Os católicos adoram as imagens? Não, os católicos não adoram imagens. As imagens são apenas representações de Nosso Senhor, de Nossa Senhora, dos Anjos ou dos Santos, que nos ajudam alembrar-nos deles, a amá-los e invocá-los. É o mesmo que acontece com as fotografias das pessoas que nos são caras: quando nós gostamos de olhar para as fotografias, é nas pessoas que elas representam que estamos pensando, e não nas fotografias enquanto um pedaço de papel. 2. Mas a Bíblia não diz que é proibido fazer imagens? Não. O que Deus proibiu foi adorar as imagens. No Antigo Testamento Deus proibiu aos judeus fazer imagens, não porque se tratasse de uma coisa má em si, mas por causa das circunstâncias. Os judeus viviam no meio de povos pagãos idólatras (quer dizer, que julgavam que as estátuas eram deuses ou tinham propriedades divinas, e por isso as adoravam) e tinham muita tendência em imitá-los. Para evitar que eles caíssem no erro dos pagãos, Deus proibiu a representação da divindade por meio de pinturas ou estátuas (Êxodo 20, 4-5; Deuteronômio 5, 6-10). Entretanto, o próprio Deus mandou várias vezes que os judeus fizessem estátuas ou representações simbólicas. 3. Em que parte da Bíblia estão essas ordens? Essas ordens estão em vários lugares da Bíblia Sagrada. No Livro Êxodo, Deus mandou que eles fizessem imagens representando os Anjos Querubins, para serem colocadas ao lado da tampa da Arca da Aliança (Êxodo 25, 17-22). Em outra ocasião, quando os judeus se revoltaram contra Moisés, no deserto, foram castigados por Deus. Arrependidos, pediram perdão. Deus então mandou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze como um sinal: todos aqueles que estivessem feridos, e olhassem para ela, seriam curados (Números 21,8). Essa serpente de bronze simbolizava Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme foi atestado pelo próprio Salvador: "E como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que o Filho do Homem seja levantado (na Cruz), a fim de que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna" (São João 3, 14-15). Enfim, por ordem expressa de Deus, também Salomão, ao construir o Templo de Jerusalém, colocou significativas imagens que serviam de adorno e de lição para o povo (Reis 6, 23-32; 7, 25-30; 1 Crônicas 28, 17-19, etc.).
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Discernindo, distinguindo, classificando ...
ENTREVISTA
Vigoroso alerta contra os males da TV
Fugindo de impostos e carimbos A proliferação da "economia informal", um dos sintomas mais frisantes da proverbial inteligência do povo brasileiro
Há
A revista, entre vários outros exemjá algumas décadas vem-se ten200 a 300 bilhões de dólares. E não pára de crescer. Por se tratar de um mercado plos significativos, cita o caso de Ecegel tando construir no Brasil um Estado-polvo, cujos tentáculos penetrem até a últiextra-oficial, o Brasil mostrado pelas es- Glasenapp, que seca penas de aves e as tatísticas é muito mais pobre do que o vende para fabricantes de travesseiros. ma vilazinha do mais longínquo rincão, Possui um carro para trabalhar e outro e lá colham informações detalhadas sopaís de fato existente. para passea~ casa espaçosa bre a vida corriqueira do mais onde mora com a esposa e dois esquecido dos indivíduos. filhos, além de um sítio. AgoEm seguida, o Estado altara quer construir uma estufa mente burocratizado deve veripara ampliar o trabalho, pois ficar se esse pobre coitado não tem uma ambição: "Vou virar está sujeito à lei qüinqüio rei da pena". lienésima, recentemente aproComenta a revista: "O rei vada em Brasília, que o obriga das penas de marreco é, nos a pagar cinco impostos e duas números do Governo, um detaxas, sob pena de multa, prisempregado, na vida real é um são e outras mais. empresário". Como é possível às pessoO Prof. Nelson Barrizzelli, as defenderem-se desse monsda USP, estima a economia intro, que invade sua privacidaCamelôs, crescente atividade da economia informal formal em 45% do Produto de, segura-as pela garganta e Interno Bruto brasileiro. É as obriga a dar o que não têm, Tomando em conta os números ma- muita coisa! em nome de um ideal socialista do qual Quando alguém passa da informalinuseados por demagogos, Betinhos e ounão compartilham? tros, para suas campanhas, o Brasil teria dade para a burocracia, perde 30 a 40% Enfrentá-lo? Mas como, se o Estado mais de 30 milhões de miseráveis, o que de seu faturamento. Além de levar pelo é todo-poderoso? Apelar para sentimena revista qualifica adequadamente de "de- menos 30 dias lutando para obter registos democráticos? O Estado lhe dirá que tros, alvarás e carimbos. quem dita as regras da democracia são os lírio estatístico". Não se trata aqui de aprovar a práSem falar nos tão alardeados "depolíticos em Brasília. Essa máquina produz um verdadeiro sempregados", cujo número teria au- tica de uma economia à margem da lei, mentado brutalmente, quando na reali- mas sim de mostrar como a iniciativa cerceamento da iniciativa e da propriedade privadas. Sobretudo entre os peque- dade "o que aconteceu foi que as pes- sadia é avessa ao super-Estado modersoas encontraram outras formas de no, gerado pela Revolução Francesa, nos. do qual cada um tenta escapar como O brasileiro, instintivamente, acabou ganhar dinheiro". As "sacoleiras", os vendedores am- pode. achando um "jeitinho", que foi o de esMuito apropriadamente comenta corregar, como um sabonete, de dentro do bulantes, as costureiras, o consertador de Pedro Paulo Martoni Branco, diretor exeassédio do polvo para a economia inforpanela, a preparadora de doces e quitutes, etc, etc, constituem uma população tra- cutivo da Fundação Sistema Estadual de mal. Em detalhada reportagem, a revista balhadora invisível, que não aparece nos Análise de Dados (Seade): "O que pucongressos de economistas nem nas con- xou o país para a frente foi a economia "Veja" (6-9-95) revela que o mercado informal brasileiro equivale a três econotas do Governo. Evidentemente não pa- informal". C.A. mias de Portugal e produz anualmente gam impostos, e por isso ganham bem. 8
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oibir os abusos na televisão brasileira, impedir que ela continue a corromper a infância e a juventude, a propagar a violência e a imoralidade tornouse hoje em dia uma necessidade. Apesar de quase ninguém aparentemente discordar dessa posição, as emissoras de TV prosseguem seu trabalho desagregador. Como se explica tal contradição? Infelizmente, mesmo as pessoas que criticam o descalabro produzido pela TV - certamente a maioria da população - já estão, em larga medida, viciadas em olhar a telinha mágica", e tendem a ir calejando o próprio senso moral. Explica-se, então, por que muito raras são as iniciativas como a de O Amanhã de Catolicismo - Como enNossos Filhos, que empreende campanha contra os carar o problema da imodesvarios da televisão. E compreende-se também ralidade na televisão? Queserem tão poucos os que se empenham efetivamente rer resolver isto é reivindiem solucionar o problema. car a censura? Dentre estes, merece especial menção o Deputado Severino deputado Severino Cavalcanti (PFL-PE), que, através Cavalcanti - Dizia o Bride incisivos discursos na Câmara Federal e outras gadeiro Eduardo Gomes iniciativas, vem atuando para debelar o mal. que "o preço da liberdaCatolicismo entrevistou-o em seu gabinete, na de é a eterna vigilância " . Câmara, e apresenta a seguir a convincente Sempre lutei pela demoargumentação do parlamentar pernambucano. • cracia, verberando a Mesmo que não se aprovasse o projeto de Lei opressão e o totalitarismo. 3252-A, que pede o fim da agressiva imoralidade Pois me coloquei ao lado na TV, em tramitação naquela Casa Legislativa, o dos valores democráticos enérgico deputado acentua o fato de que já se contra elementos subversidispõe, na legislação atual, de meios para resolver vos que pretendiam apua questão. Basta que as autoridades públicas os nhalar a democracia e a liapliquem. berdade. 11
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O que queremos, pois, combatendo a imoralidade na televisão, não é uma restrição à verdadeira liberdade, mas o que reclamamos do alto da tribuna legislativa são providências contra a licenciosidade e a libertinagem que campeiam, desenvoltas, sem quaisquer limites, no rádio e na televisão de nosso País.
Catolicismo - O senhor tem acompanhado os esforços de associações e movimentos de opinião pública que atuam contra a 9
imoralidade e violência na televisão ?
Deputado Severino Cavalcanti - De há muito tenho acompanhado o exce!lente trabalho da campanha O Amanhã de Nossos Filhos contra a imoralidade e violência na televisão e tenho me identificado com sua luta. Tanto que, em recente discurso na Câmara sobre o tema da imoralidade na televisão, citei vários trechos de seu livreto "TV uma escola, mas de quê?", excelente publicação que consubstancia em suas páginas todos os malefícios que a televisão pode trazer à formação moral e intelectual de nosso povo, especialmente dos jovens. Estive empenhado recentemente na entrega ao presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, de 47.512 assinaturas dando um "Voto de Apoio e Pedido de Tramitação Urgente" ao Projeto de Lei 3252-A/ 92. Essas assinaturas foram fruto de ação dos aderentes da campanha O Amanhã de Nossos Filhos e dos correspondentes da TFP. Creio que, uma vez aprovado esse Projeto de Lei, será facilitada a ação daqueles que verdadeiramente querem ver nas TV s uma programação mais conforme aos princípios cristãos. Contudo quero mostrar, como o farei adiante, que, com a legislação ordinária que já temos (Código Penal, Código Brasileiro de Telecomunicações e Estatuto da Criança e do Adolescente), podemos exigir dos todo-poderosos donos
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das TV s que façam uma programação conforme à moral familiar e aos bons 'costumes, como o exige a lei.
to. Males estes que acarretam efeitos diretamente sobre nossa juventude!
Catolicismo Quem, a seu ver, são os mais prejudicados por essa onda de imoralidade e violência levada ao ar pelas emissoras de televisão?
Deputado Severino Cavalcanti - As crianças e os jovens, sobretudo. Isto está bem claro, ou seja, provado por psiquiatras e psicólogos, com fartos argumentos mencionados no opúsculo "TV, uma escola, mas de quê?". Nele pode-se ler a seguinte afirmação do Prof. Samuel Pfromm Netto, professor de pós-graduação em Psicologia na USP: "As crianças tendem mais a pautar seu comportamento pelo que vêem em vídeos e programas de televisão, do que a seguir instruções verbais de uma pessoa real e fisicamente presente" . Mais. Ele considera que a televisão comercial "converteu-se numa espécie de escola de contracultura, no pior sentido deste último termo, ou seja, uma escola de superficialidade, cinismo, deboche, brutalidade, resolução violenta dos conflitos, desrespeito, exacerbação hedonista, excitação sexual precoce e desenfreada, mau gosto, mediocridade e erosão dos valores morais". Agora podemos perguntar se é possível verberar mais violentamente contra algo do que dizendo o que foi acima transcri-
• CATOLICISMO -
Catolicismo-O que fazer então para mudar essa situação? A Constituição de 88 não proíbe limitações à televisão?
Deputado Severino Cavalcanti- Só uma interpretação unilateral e facciosa da Constituição poderia levar o poder competente a cruzar os braços diante da insensatez que comanda a programação da maioria das emissoras de televisão do Brasil. Não é preciso ser advogado, muito menos jurista, para compreender o sentido e o alcance do texto constitucional, bem como da legislação ordinária que rege a radiodifusão no Brasil. Comecemos pela lei ma10r. Depois de estabelecer em seu artigo 220, parágrafo segundo, que "é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística", prossegue a Constituição no parágrafo terceiro, inciso segundo desse artigo: " Compete à lei f ederal:
Janeiro 1996
Estabelecer os meios legais que garantam à pe·s soa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no artigo 221 , etc. O que diz o artigo 221? Reza ele: "A produção e a programação das e-missaras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; IV - Respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família". Assim, é claro que nossa Constituição, que veda toda e qualquer forma de censura, também determina que compete à lei federal proteger a pessoa e a família contra a programação nociva do rádio e da televisão. E inclui, entre os princípios que deverão nortear a produção e a programação das referidas emissoras, " O respeito aos valores éticos e sociais da p essoa e dafamília" . Além disso, dispomos de legislação infraconstitucional que atende aos requisitos acima citados.
Catolicismo - Quais são os dispositivos infraconstitucionais, isto é, que não fa zem parte da Constituição, de que dispomos para dar um "basta" a essa onda de imoralidade e violência televisiva? Deputado Severino Cavalcanti - A legislação é clara. Primeiro o Código
Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117, de 27 de agosto de 1962), aplicável às emissoras de rádio e televisão, determina que os serviços de informação, divertimento, propaganda e publicidade das empresas de radiodifusão estão subordinados às finalidades educativas e culturais inerentes à radiodifusão, visando os superiores interesses do país (artigo 38,d).
ráter obsceno, ou qualquer ouDeputado Severino tam as normas e princípios tro espetáculo que tenha o Cavalcanti - Evidentemen- que visam proteger a crianmesmo caráter; te, a legislação aplica-se, ça e o adolescente da influIII - realiza em lugar pú- não só aos atos imorais, ência negativa de filmes, peblico ou acessível ao ças · teatrais público pelo rádio, ou de quaisaudição ou recitaquer repreção de caráter obssentações ou ceno". espetáculos Mas não é só. O llolctun informativo dtt &.\$<1CiaçAo Olonanh4 dt N<,J:101 Fllh4S-Ano VI - N'" 21 - Junho de !'>95 (artigos 252 a artigo 218 do CódiCensura na TV divide o Congresso 268). go Penal (Cor44% fa vo ráveis à censura é uma promissora noticia! ~c:1 bfoc. rupção de menores) Catolicispeiqub.:a J' cl· qut Jt pune quem: "Cor111:kit 11\'Cfno!l - ~ mah 1elc~iw.l. ICII ~•b pn)d1110, mo - Se teromper ou facilitar Deve haver censura na TV? -:;:,~~~~~~- ~"::; ~':': Jtriw• ouvir mos toda es,oct w, d -,.Ido tc boletim IMor44% nwivo • nlh e Pf"00:-'-11· O foro dos cottgrtssistos a corrupção de pes00.1~!U1<b~lt.otha"nuratcti1chesa legislação Poo<o~ ubt!m "u~ntlr"' bem rnukMk>. VcJ. itàrnm~. soa maior de 14 Cifra., já em vigor, a J~ anos e menor de 18 quem caberia 1Y TVI Oull'O!I 4SI> n-lu~m N.rion.l c111id~ anos, com ela praticm ttth.,. 1 ~--~kllde .se-~ cont1ok r l11•d1u~ ~•n primordial!0tiquc.chtpm1'611CK8Q!;llitt1cdd'Mn.:1m cando ato de libimente cobrar O que imp:,t,1/'n.l.,..,. •IIW Ooo1"C"la (SC). diJf-'M(lo c~ifi dinagem, ou induf'Olkko, .. "'°'' t sua efetiva uito à 111M1u111 '"csrcdcuto.:"' zindo-a a praticá-lo aplicação? A nào 1ranlitU1• ou presenciá-lo". nosso ver, é Note-se que grave omisA voz da Igreja além dos fatos tipisão a não Jnlo PaMltJ li: "Pode kr deva- da la,rj• edc e inc:luJhe camente caracteriaplicação rrosn,mu e pubHcaçõcs tiui:. do 111oralmcn1c ccn,urdvcl• e que zados como crime ~FIAM.~u~«dessas nore pll blkl C a un1idade. d• vldl problema dl pomoanifi• e vk)ltl'lcia ou contravenção, r,mlllar!~ ' " °"".>) ddka dlívndidu pe lot meios dll mas legais ac, ..wt ,-. • constituem igualSorio/1: ~os leif Jl.ldi-. por quem de UIIOl'IJMIIJ,o. tealsh1dorc:,, cnrarreaado1 da j, (I•.,•-• ""'',.,-i. .,., ~dotlnlp,,l20el11d&C011:1• ~_...,,,..,_..._,.__), fuUIJD mente infração ao direito. disposto no artigo Deputa53, alínea h, do Códo Severino Boletim do Amanhã de Nossos Filhos digo de TelecomuCavalcanti nicações, as ofensas à mo- como também aos atos de vi- - Caberia sobretudo à ral familiar e aos bons costu- olência, às lições de crime, Procuradoria Geral da mes. Isto significa que não é diariamente exibidas na te- República. Sua inércia é necessário que o fato pratica- levisão, que tanto têm incen- inteiramente injustificádo seja tão grave a ponto de tivado o aumento indiscrivel, posto que existe aleser definido como crime ou minado da imoralidade e ligislação federal , indicada contravenção. Basta que cenciosidade dos costumes, pela Constituição como a ofenda os bons costumes. bem como da violência e guardiã da pessoa e da Significa ainda que, mescriminalidade urbanas. Em família. Só está faltando mo não se podendo enquadrar conseqüência a isso, os ho- disposição e determinação o responsável como agente do micídios, roubos, lesões cor- da Procuradoria Geral da crime, por nuances da tipicidade penal, o fato é cla- porais, estupros, aids, gra- República, no sentido de ramente atentatório aos bons videz ilegítima, abortos. E lá exigir o cumprimento da · vai o Brasil descendo a la- lei. costumes e à moral. De nossa parte permaCatolicismo - Essa legis- deira ... É preciso acrescentar que neceremos vigilantes e lação poderia também ser Estatuto da Critambém o 'continuaremos exigindo aplicada aos atos de violências, verdadeiras "escolas do ança e do Adolescente que se cumpram os discrime ", que são transmitidos comina sanções, em vários positivos legais já exisartigos, aos que não respei- tentes . pelas televisões? A #'of}tu,J,, S. PW11lo ~ - t ' I J ~ 469 porlamclltll"t'I loOOft K deYf:l Oll nlo h.tl'tf ff!KUn Rlil TV CI 00 l'IC.O\L l'Cltlltldot.
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Catolicismo-Mas se não houver penalidades aos infratores, a lei se torna "letra morta". Quais são as penalidades estabelecidas pelo Código Brasileiro de Telecomunicações e pelo Código Penal Brasileiro a quem ofenda a moral familiar e os bons costumes? Deputado Severino Cavalcanti - Está estabelecido no artigo 52 do CBT que "a liberdade de radiodifusão não exclui a punição dos que praticarem abuso no seu exercício". E no artigo seguinte, 53, está definido o conceito de abuso, onde diz: "Constitui abuso, no exercício de liberdade da radiodifusão, o emprego desse meio de comunicação para a prática de crime ou contravenção prevista na legislação em vigor no país, inclusive: h) ofender a moral familiar ou os bons costumes ". Também o Código Penal Brasileiro no seu artigo 234, parágrafo único, estabelece: "Incorre na mesma pena (detenção de 6 meses a dois anos ou multa) quem: II - realiza em lugar público ou acessível ao público, representação teatral ou exibição cinematográfica de ca-
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EFEMÉRIDES
Em IlmP6 O aspecto igualitário do nudismo
A lata velha da Lada Com a abertura do mercado para veículos importados, um produto baratinho das fábricas russas tentou conquistar o consumidor brasileiro: o Lada,em duas versões: automóvel e utilitário, tipo Jeep . Competia com vantagens em relação aos carros das potências capitalistas, pois os salários pagos no antigo paraíso operário são baixíssimos. Embora apresentando a vantagem do preço, o Lada trazia consigo uma montanha de problemas mecânicos·. Com a majoração da alíquota para 70%, até o preço deixou de ser atraente. A importadora teve grande prejuízo e encerrou suas atividades. Restou mais uma lição para a esquerda tupiniquim, que, tudo indica, não será aproveitada.
Calcula-se que haja 70 mil pessoas que, no Brasil, praticam o naturismo, em sítios e praias onde o nudismo é oficial ou tolerado. Como fundamentação, eles afirmam que, ao desnudar-se, o indivíduo despe a falsa simbologia das posturas e o status da vida cotidiana. Argumentam ainda que, sem adornos, a mulher de um modesto escriturário se iguala socialmente à esposa de um rico empresário. E, para muitos, esse é justamente o aspecto mais atraente do nudismo. O pensamento igualitário subjacente nesse comportamento denuncia claramente que, além da imoralidade, os naturistas pecam sobretudo contra o primeiro mandamento da Lei de Deus, numa revolta declarada contra a ordem estabelecida pelo Criador.
Tragédia pungente: de super-homem a tetraplégico O ator norte-americano Christopher Reeve, que atuou em quatro filmes no papel de Super Man - Super-homem, teve uma queda de cavalo e ficou tetraplégico. Após muito treino, aprendeu a dirigir uma cadeira de rodas usando apenas a boca. Pensou em se suicidar, segundo ele mesmo afirmou à apresentadora de televisão norteamericana, Barbara Walters. Conhecendo esses fatos trágicos, que não acontecem apenas com celebridades, fica mais fácil "vivenciar" a importância da prática séria da Religião na vida quotidiana. Sem a resignação cristã, fruto da convicção de que este mundo é um vale de lágrimas e de que nossa Pátria é o Céu, como suportar com valentia e resignação tai s tragédias?
....
Che Guev.ara: tnito e realidade
A
caba de ser publicado no Brasil o livro O ano que vivemos em lugar nenhum. Compilado e composto por escritores de esquerda, a obra tem como base documental o diário de Che Guevara, que relata sua malograda experiência guerrilheira no Congo em 1965. Constitui um desmentido rombudo ao que dizia a propaganda revolucionária durante os anos 60. Abaixo, alguns mitos demolidos.
2º mito: Os rebeldes eram idealistas. A realidade: A cúpula
1° mito: O povo queria a revolução. A realidade: A dificul-
proibido de combater. Valia como mito e símbolo. Ficava na retaguarda, exercitando seus precários conhecimentos de médico. Aplicava injeções contra doenças venéreas na população. Ganhou fama de ser bom muganga, isto é, feiticeiro.
dade do povo congolês em entender a guerra era total. Carta de Che a Fidel: "Não podemos libertar sozinhos um país que não quer lutar".
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revolucionária era corrupta; os soldados arregimentados eram de religião animista, metidos no mundo tribal e não tinham noção do que supostamente estavam fazendo pela revolução social. Eram bobos-alegres utilizados friamente pelos líderes marxistas.
É tal a demolição dessa mitologia pacientemente criada pela propaganda socialista, sempre tão competente e avisada, que a mais elementar lógica impõe a pergunta: o efeito visado pelo livro é esse? Que vantagens o movimento revolucionário atual conseguiria agora com tal livro?" A revolução marxista e estatolatra de Che envelheceu.
3° mito:Che Guevara foi grande comapdante revolucionário na Africa. A realidade: Ele estava
Encontra-se de spre sti giada. Possui ainda uma espécie de dinossauro maléfico e renitente em Fidel Castro. A revolução, mentirosa sempre, serpente anti ga, deixou de lado uma casca velha e trocou de pele. Cria hoje novos mitos, fal sos como os anteriores. Até lhe é útil destruir as patotas anteriores, como as veiculadas pela mágica maléfica de Che, para assim apagar do espírito de multidões de seus adeptos algumas velheiras, que hoje atrapalham. Ela vai colocando no lugar delas, outros venenos hoje m ais tóxico s e destrutivos. São, entre outros, os slogans da revolução dos costumes e a propaganda do tribalismo ecologista.
25 anos de oração, pompa e trabalho Ojubileu de prata da Sede do Conselho Nacional da TFP brasileira o bairro pauli stano de Higienópolis, na co nfluência das ruas Maranhão e Itacolomi, situa-se a sede principal da TFP, inaugurada no di a de Natal de 1970. Convidamos o leitor a adentrar essa sede, muito freqüentada por todos os sócios, cooperadores, correspondentes e simpati zantes das TFPs dos cinco continentes. Vencendo um lance de escadas após o portão de entrada, o visitante é recepcionado já no pátio externo por escultura em tamanho quase natural , em níveo mármore, da padroeira da Venezuela, Nossa Senhora de Coromoto (à direita). Subindo alguns poucos degraus, chega-se ao hall, deno minado Sala dos Alardos, de cujas paredes revestidas de lambris e parqu ê de madeiras de lei bras i!eiras . O leão rompante reproduzido no soalho, por exemplo, é fe ito de pau- cetim, com aplicações de pau-brasil (a cruz) e jacarandá da Bahia. Na capela próxima (à direita , embaixo), um retábulo onde anj os barrocos reverenciam uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Hieráticas estalas e vitrais dão à capela um ar so lene, e convidam à oração séri a e refl etida.
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ontígua à Sala dos Alardos, a recolhi~a , Sala São Luís ,..Maria Grignion de Montfort (foto à
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direita), destinada a conversas e reuniões. Uma estante de mogno ostenta preciosas coleções de liv ros encardenados. Ao lado, separada por porta corrediça com cristais, encontra-se a Sala da Tradição ( embaixo). O revestimento das paredes em damasco ·dourado lhe dá um reluzimento ao mesmo tempo alegre e aristocratico. Uma imagem barroca de Nossa Senhora do Carmo rei na sobre pedestal em posição de destaque. Por seus móveis, quadros e objetos de adorno é um salão nobre no sentido próprio do termo, refletindo a gala esplendorosamente festiva.
a Sala dos Alardos, outra porta conduz o visitante à pequena Sala da Santa Cruz (acima, à direita), própria para conversas na intimidade, onde um crucifixo da época colonial abençoa o que ali dentro se passa.
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A partir da Sala dos Alardos, uma escadaria de madeira conduz ao segu ndo piso. As paredes que a circundam são decoradas com painel reproduzindo a procissão do Tosão de Ouro, a mais alta ordem honorífica européia (fotos abaixo).
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o alto da escadaria, no corredor central, o visitante é acolhido por irnpresionante crucifixo de estilo barroco brasi I iro, no qual as gotas de sangue são rubi s incrustados. À sua esqu erda, a ante-sala e escritório de trabalho do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Sobre urn a banqueta, um solidéu de uso do Papa São Pio X, protegido por moldura de cri stal. Com acesso pelo corredor central, o ponto alto da sede: a Sala do Reino de Maria. A variegada policromi a, a
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seri edade dos lambris de cerejeira trabalhados, o dourado dos vitrai s, a majestosa e maternal imagem de Nossa Senhora de Paris levam o visitante a admirar silencioso tal riqu eza de símbolos e deixa r-se embeber pela sacralidade e solenidade do ambiente. Bem ao centro, urna coroa de prata sobre almofada de veludo, a sirnboli zar a Realeza de Maria. Segundo o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, um dos maiores elogios da Sa la do Reino de Maria foi feito por uma modesta lavade ira, que ao visitá-la exc lamou encantada: "Ah, aqui não se
..ww..a Agrar.· a: o show ão MS Mais uma vez o ceder para não perder" enfraquece o · it de propriedade n!_} Brasil Plinio Vidigal Xavier da Silve_ira
tem medo de morrer!"
Folh!I lm&gemtM.Mayozo
Acima, a salà de trabalho do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e sua ante-sala. À esquerda e embaixo, aspectos da Sala do Reino ele Maria.
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nomeação para a presiciência do INCRA do Sr. Francisco Graziano Neto, ex-secretário particular do Presidente Fernando Henrique, muito conhecido por sua posição radicalrnente favorável à Reforma Agrária até mesmo em propriedades pequenas e médias, inclusive as "produtivas", foi aproveitada pelos agro-reformistas para dar início a um verdadeiro show, com grande recrudescimento das invasões de terras por todo o Brasil. A sua tumultuada renúneia, por ocasião do rumoroso caso da escuta telefônica de um funcionário do Palácio do Planalto, ocasionou veementes protestos de dirigentes do MST, CONTAG e congêneres. Fica criado um impasse. Res-
ta saber agora se o show continuará e como. Pontal do Paranapanema: palco principal do show A ação do Movimento dos Sem Terra (MST) assumiu particular importância no Pontal do Paranapanerna. A pretexto de uma decisão judicial de 1957, que considera devoluta uma grande área no município de Mirante do Paranapanema, os sem-terra invadiram, no vizinho município de Sandovalina, aFazenda São Domingos e uma área com galpões pertencente à CESP. Os proprietários conseguiram liminares de reintegração de posse de ambas as propri-
edades e os invasores as abanclonaram, sem resistência, tão logo apareceu a força policial. No entanto, cerca de 1200 famflias do MST voltaram a invadir a mesma área, por mais de urna vez, em outubro e novembro último. No dia 27 de outubro, quatro dentre os principais líderes dos sem-terra tiveram prisão preventiva decretada pelo juiz Darci Lopes Beraldo, da Vara Distrital de Pirapozinho, acusados de associação para a práti· ca de ilícitos penais. São eles: José Rainha, sua pseudo-mulher Diolinda Alves de Souza, Laércio Barbosa e Márcio Barreto Diolinda e Márcio foram presos, todavia Laércio Barbosa e Rainha se esconderam. O advogado dos sem-terra,
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Luiz Eduardo Greenhalgh, impetrou liminar de habeascorpus no Tribunal de Justiça de São Paulo, que foi negada pelo Desembargador Dirceu de Mello; antes do julgamento final do habeascorpus o próprio juiz de Pirapozinho levantou a ordem de prisão. E Diolinda e Barreto foram libertados.
O show continua O prato estava feito. Faltava agora o show político. Lula e outros líderes do PT e esquerdas de todo naipe visitaram Diolinda no pavilhão feminino da penitenciária do Carandiru. O Senador Eduardo Suplicy emprestou seu telefone c:elular para que Diolinda e Barreto dessem
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entrevista a uma rádio. A imprensa deu grande cobertura, e Diolinda, de invasora e fora da lei, passou a ser "heroína". '' · Todos já ouvimos falar da "dança da morte" a que Criado esse clima de ebüli ç ão, os espíritos mais se entregam certas tribos de índios. acomodatícios logo se predisLançando mão de alpõem a ceder um tanto, para ver se a fera, saciada com um gum prisioneiro, amarrambraço da vítima, desiste de inno num tronco e constituvestir-·sobre o resto do corpo. em-se em círculo em torno dele. Ato contínuo, dando Pelo contrário, sentindo o gosto da carne flácida e gorduroinício a um ritual macabro, sa, ela re-ataca com furor recomeçam a dançar e rodopiar em torno da vítima. dobrado. Esse vai-ecvem lembra a O prisioneiro, angustia"dança da morte", cuja desdo, ora vê o círculo dos adversários a se aproximarem crição o inesquecível Prof. Plínio Corrêa de Oliveira fez, ameaçadoramente dele, ora em circunstâncias bastante análogas a estas que estamos vivendo (Ver quadro ao lado). apenas parcial, atenuam os
DANÇA DA MORTE
Ceder para não perder Tudo isto junto criou condições para a aplicação da velha, surrada e desastrada tática do "ceder para não perder", assim descrita no livro Um Homem, Uma Obra, Uma Gesta, com que a TFP comemorou os sessenta anos de vida pública do seu Fundador, Prof. Plínio Corrêa de Oliveira (Edições Brasil de Amanhã, S.Paulo, 1988, p. 64): "As sucessivas jogadas intimidantes, das esquerdas, são de molde a produzir resultados quase fatais. O esquema de uma escalada de intimidações esquerdistas e de concessões centristas pode traçar-se assim: "a) A esquerda, através dos meios de publicidade, lança a propaganda da reforma agrária, noticia agitações, prognostica atos de violência etc. "b) O Centro, temeroso, faz concessões apenas parciais, as quais de modo também
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descontentamentos da minoria esquerdista. "c) A prazo médio, entretanto, essas concessões despertam nas esquerdas, sempre açuladas por dirigentes hábeis, a convicção de que, mediante ameaça de novas convulsões, poderão obter ainda maiores concessões. "d) Repete-se então o lance: surgem novas ameaças, o
nota, pelo contrário, que o mesmo círculo se alarga, e os adversários tomam distância dele. Mas o rodopio infernal se vai apertando. Parece à vítima que, a cada vez que o círculo da morte se abre em torno dele, abre-se menos. E sempre que se fecha, fechase mais. Momento virá em que a hora da morte terá chegado, quando os selvagens lhe vibrarem na cabeça a machadada fatal (Catolicismo - maio de 1987).
centro passa por novos pânicos e fa z, por fim, novas concessões."
Conforme explica o mesmo livro, "nessas condições é quase inevitável a vitória das esquerdas, pois, com tal jogada, largos setores do campo centrista ficam privados dos mais importantes fatores de vitória, ou seja: "a ) a iniciativa do ataque;
Assentamento ou favela rural?
"b ) a esperança de resistir com êxito; "c) e, conseqüentemente, a própria determinação de resistir".
Surpreendentes negociações com os fora da lei Já nesse ambiente de "ceder para não perder" acontece um fato inteiramente inusitado: negociações entre o Governador de São Paulo, o presidente do INCRA, líderes do MST e da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura). As autoridades e os proprietários, que representam a ordem legal e o direito, se rebaixam e se colocam em pé de igualdade com os líderes do MST, que são os invasores, os esbulhadores, os fora da lei! A ordem de prisão contra · os quatro sem-terra, em meio a essas negociações, tornou-as ainda mais surpreendentes. Autoridades fazem declarações criticando a ordem de prisão. Francisco Graziano afirma "Não é boa a prisão, assim como as invasões também não são boas" "Folha de S.Paulo", 31-10-95. O Governador de São Paulo, Mário Covas, afirma: "Não discuto a decisão da Justiça, mas o caminho da negociação seria bem melhor" ("Jornal do Brasil", 1-11-95).
E vêm as concessões. O governo de São Paulo determina a liberação de R$ 4, 1 milhões para investir em assentamentos estaduais. Mário Covas promete assentar 1.000 famílias até o fim de 1995 e mais 1.200 até março próximo - somando um total de 2.200 assentamentos, número exigido pelos sem-terra - para que se estabeleça
uma trégua entre os fazendeiros e os invasores. Clima tenso O Sr. Célio Romero de Souza, vice-presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, declarou: "Já que o velocípede do Estado não anda, é preciso defender as propriedades. Você imagina um ônibus cheio de gente armada? É claro que isso vai aumentar a tensão" ("Folha de S.Paulo", 28-10-95). Respondendo a essa tomada de posição de proprietári-
Marquezelli um dos líderes da bancada ruralista, declarou: "Nós vamos nos armar com segurança particular se este problema não tiver solução até jan eiro ... Nós vamos nos proteger como qualquer outra empresa. Só vai entrar nas fazendas quem a gente autorizar" ("Folha de S.Paulo", 2-
A solução Todos os personagens desse show agro-reformista governos federal e estaduais, INCRA, MST, CONTAG, não levam em consideração o fracasso dos as-
12-95).
Acima: Rainha vive como "rei"... ... enquanto assentada "plebéia" mora em barraco rural
os, Diolinda, uma das líderes dos invasores e que, segundo sua mãe, fez um estágio de um ano em Cuba, afirmou que "os sem-terra não se impressionam com as ameaças do fazendeiro Célia Romero, grileiro de terras devolutas em Mirante do Paranapanema, que anunciou a contratação de vigilantes armados para enfrentar as ocupações. Para cada ação dos fazendeiros haverá uma reação nossa" (" Jornal do Brasil",
29-10-95). Após a renúncia de Graziano (ameaça de Rainha ou da CONTAG de recomeçar as invasões), por outro lado o Dep utado Nelson
feito para averiguar o fracasso dos assentamentos. É mesmo pouco provável que eles sejam levados a cabo, pois tudo faz a crer que seu resultado seja muito desfavorável para os agro-reformistas ...
Essas declarações mostram a temperatura a que estão chegando as relações entre invasores e proprietários diante desse show agro-reformista. A quem aproveita o
show? Enquanto milhares de famílias de sem-terra invadem e reinvadem propriedades, enquanto fazendeiros pensam em se armar para defesa de seus direitos, enquanto um clima de tensão se estabelece entre uns e outros, ameaçando o surgimento de graves incidentes, quem é que se está beneficiando? São os agitadores do campo que desejam criar um clima de instabilidade no País.
CATOLICISMO -
sentamentos já existentes. Catolicismo publicou reportagens nunca desmentidas sobre esse fracasso, nas edições de março e setembro de 1988, setembro de 1989, maio e agosto de 1990. Em maio do ano passado, por iniciativa da TFP, um grupo de fazendeiros de diversos estados do Brasil levou ao Ministro da Agricultura, Dr. José Eduardo Andrade Vieira, 30.310 petições solicitando que o Governo não procedesse novas desapropriações até •que fosse feito um levantamento idôneo dos resultados obtidos nos assentamentos. Decorridos mais de seis meses, essas 30.000 petições ficaram sem resposta. Não há notícia de nenhum levantamento sério que esteja sendo
Janeiro 1996
O próprio Francisco Graziano Neto reconheceu que "não há números confiáveis sobre os resultados reais dos asssentamentos cfr. ("Folha de
S.Paulo", 9-12-95). Sem a publicação de dados idôneos sobre os resultados da Reforma Agrária já implantada no País, ela não pode ser levada a sério. O show das invasões, a fraqueza das repressões contra elas, o contínuo ceder para não perder, por parte das autoridades e dos proprietários, só podem levar a uma situação de convulsão social que, esperamos, Nossa Senhora Aparecida não permitirá que se instale no Brasil. As autoridades, os proprietários e os verdadeiros trabalhadores rurais desejam um clima de paz. Não podemos aceitar que um movimento ilegal de invasores de terra leve o Brasil para outro rumo.
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São Vicente, tnártir: triunfante dos suplícios e de seus perseguidores Paulo Corrêa de Brito Fº
O mártir romano, por sua assombrosa fortaleza nos tormentos, fé inabalável e altaneira atitude ante o magistrado pagão é um modelo para os católicos de hoje, imersos num pântano de relativismo religioso e neopaganismo. "Que rosto é este? Oh vergonha!' dizia enfurecido Daciano. O atormentado ri-se e provoca, mais forte que o verdugo".
Assim o poeta latino cristão Prudêncio descreve, em seu famoso "Peristephanon" ou Hino V, a desafiante posição assumida pelo jovem arcediácono Vicente diante de seu torturador, o juiz Daciano, grande perseguidor dos cristãos na Espanha. Esse belo hino constitui uma das fontes históricas mais antigas referentes ao glorioso mártir. Seu conteúdo coincide substancialmente com aPassio (Paixão), documento posterior às atas originais do processo de São Vicente, que não chegaram até nós. Apesar de a Passio ter incorporado algo de legendário, na essência ela merece fé. Segundo tais fontes, Vicente descendia de ilustre estirpe, sendo seus pais fervorosos cristãos. Embora se acredite ter ele nascido na cidade de Huesca, berço natal de sua mãe, recebeu em Saragoça formação eclesiástica. Valério, Bispo dessa localidade, nomeou-o arcediácono, o primeiro dos sete diáconos que, segundo a praxe, davam assistência aos Prelados, na Igreja dos primeiros tempos. Sendo Valério tartamudo, estando assim impossibilitado de pregar e instruir 20
Difusão universal do culto do mártir Certa viúva cristã chamada Jônica redizes, Daciano? Já me estou vingando cebeu em sonhos, algum tempo depois, de teus esbirros; tu mesmo me trazes a uma comunicação sobre o local onde se vingança ao castigá-los. " encontravam os restos mortais de São O pagão reconhece a Vicente. Acompaderrota nhada de muitos O arcediácono foi decristãos, dirigiu-se a pois submetido ao suplício virtuosa anciã para o do fogo, em um leito lugar indicado no incandescente - supresonho, encontrando mo grau de tortura, explilá a valiosa relíquia, ca Prudêncio. Suportou que foi conduzida a tudo com semblante alegre uma pequena igreja. e ânimo forte. Terminada a perse- "Ai, estamos venciguição religiosa, e dos!" -exclamou Daciano havendo crescido O magistrado mandou muito a devoção dos então lançá-lo num tipo de fiéis para com o adcalabouço estreito, conheciAbadia de Saint-Germain-des-Pres, Paris - Gravura de 1732 mirável mártir, seu do entre os romanos como corpo foi transladado para um altar fora Tullianum, assim descrito por Prudêncio, Vitória post-mortem que anos mais tarde o visitou: "Na zona - "Se não pude vencê-lo vivo, ao me- das muralhas de Valência. São Gregório de Tours, em sua Hismais baixa da prisão existe um lugar nos castigá-lo-ei morto" - exclamou mais negro que as próprias trevas, en- Daciano ao tomar conhecimento da mor- tória dos Francos (IIl,29), narra que o rei da Gália merovíngia, Childeberto 1, cerrado e estrangulado pelas estreitas te de seu supliciado. levou da Espanha para a França a túnica pedras de uma abóbada baixíssima. Ali Ordenou então que o cadáver veneráse esconde a eterna noite, sem que ja- vel do mártir fosse jogado em campo raso, do Santo, em 558, depositando-a no mosteiro que mandou edificar em sua honra, mais penetre um raio de luz" . a fim de ser devorado por feras e aves. posteriormente abadia de Saint-GermainDeus, porém, mais uma vez velou pela des-Pres, em Paris. A coroa do martírio Tanto a Passio quanto Prudêncio re- honra e glória de seu fiel servo. Um corEm Roma, a imagem do Santo foi pinlatam esplendoroso milagre ocorrido na- vo, pousado próximo aos despojos de tada no século V ou VI, no cemitério de quele Tullianum: De repente iluminou-se Vicente, afugentou aves e até mesmo um Ponciano. o calabouço; o chão, coberto de pedras lobo, que deles se aproximaram. A fama do mártir alcançou a África já ponteagudas, converteu-se num tapete de -"Penso que já nem morto pode- nos séculos N e V. O grande Doutor da Igreja flores, enquanto anjos deliciaram os ouvi- rei vencê-lo" - lamuriou-se o des- Santo Agostinho, dedicou a ele quatro dos de Vicente com suave melodia. pótico juiz, quando se inteirou do novo sermãos, entre os anos 410 e 413. No quaInformado sobre o acontecimento, e estupendo milagre. E determinou: dro da p. 22, encontram-se significativos tóDaciano deu ordens para que se curassem "Ao menos, que os mares cubram sua picos de um deles (Sermão 276). as chagas do mártir, tendo em vista tentar vitória" . • Ao que parece, o Papa São Leão Magobter sua apostasia; ou, caso contrário, no, no século V, também pronunciou um Assim, encerrado o cadáver dentro de submetê-lo a novos suplícios. sermão na festa do Santo, em Roma. NesO carcereiro, já convertido ao Cristia- um saco, foi conduzido até alto mar e lanta cidade, existiam na Idade Média três nismo, cumpriu com gáudio o ditame de çado às ondas. igrejas em sua honra. Novamente a Providência Divina não Daciano e, ao mesmo tempo, permitiu a Milão, Cremona e Bari, na Itália, e entrada dos cristãos no calabouço. Estes permitiu que aquela preciosa relíquia se Regimont, na França, também ergueram empenharam-se em curar as chagas do perdesse. O cadáver foi levado milagrosa- templos para cultuar São Vicente. mártir, recolhendo, como relíquias panos mente à praia, e as areias incumbiram-se Mosteiros foram a ele dedicados em embebidos em seu sangue. de proporcionar um túmulo para sepultar Mans, Metz e Conques, na França. Em meio a tais demonstrações de ca- o precioso corpo, encobrindo-o para A festa do mártir comemora-se a 22 rinho e veneração, Vicente exalou seu úl- resguardá-lo da cruel perseguição pagã. de janeiro.
E Vicente, irônico, dirigiu-se nessa ocasião ao endemoninhado juiz: "O que
HAGIOGRAFIA
os fiéis, incumbiu Vicente de exercer essa função. Durante a perseguição do imperador romano Diocleciano, provavelmente em 304, o juiz Daciano passou por Saragoça,
Em Valência, o cruel juiz, vendo-os saudáveis, perguntou irado aos carcereiros: "Por que lhes destes mais abundante comida e bebida?" Na verdade, sustentados pelo Céu, os dois heróis da Fé, após a terrível viagem, estavam mais fortalecidos do que antes. Destemor no suplício Estando o Bispo Valério impossibilitado, devido ao defeito de sua fala, deresponder as questões formuladas pelo tirânico magistrado, Vicente tomou a palavra. Como resultado desse primeiro interrogatório, foi o Bispo condenado ao desterro e o jovem arcediácono, submetido à tortura do cavalete, por meio da qual se desconjuntam os membros do corpo, após serem violentamente repuxados.
São Vicente -
Afresco do séc. VI
fazendo comparecer à sua presença o Bispo Valério e seu arcediácono. Precisando, porém, viajar para Valência, ordenou o magistrado que ambos fossem conduzidos àquela cidade, a fim de serem interrogados. Para quebrantar seus ânimos, Daciano ordenou que lhes fornecessem pouca alimentação, devendo eles carregar durante a viagem pesadas correntes, as quais pendiam de seus pescoços e mãos.
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"O que me dizes, Vicente? Onde já vês teu miserável corpo?" - indagou
Daciano durante o suplício. "Isto é o que justamente desejei; isto foi o objeto de meus mais ferventes desejos" -redargüiu-lhe o arcediácono. E acrescentou, desafiador: "Levanta-te pois, e com todo o teu espírito de malignidade entrega-te à orgia de tua crueldade. Ejá verás como eu, amparado pelaforça de Deus, posso mais em sustentar tormentos que tu em infligi-los."
Começou então Daciano a soltar gritos e enfurecer-se contra os verdugos, moendo-os com pauladas.
timo suspiro, o que causou redobrada fúria no magistrado perseguidor. Prudêncio, que nasceu cerca de 40 anos depois, sem duvida recolheu e registrou esse episódio com base na tradiçao oral.
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Atualidade de São Vicente No Brasil, recebeu o título de São Vicente a primeira vila fundada pelos portugueses, no litoral paulista) in 1532, tornando-se assim a mais "àntiga cidade do País. De mesmo nome foi também a capitania hereditária entregue a Martim Afonso de Souza, que engloba hoje mais ou menos os estados de São Paulo e litoral do Paraná. Vicente tem sido também usado no Brasil para nome de pessoas como de farru1ia. Qual a aplicação que o exemplo de um máitir romano - tendo vivido quase dezessete séculos atrás - poderá ter para o homem contemporâneo? Muito gran-
de, desde que se estabeleçam alguns paralelos. São Vicente enfrentou galhardamente uma perseguição cruenta durante o paganismo antigo, idólatra. Os católicos, no mundo atual, devem enfrentar uma perseguição mais velada e sutil: a do neopaganismo relativista, que procura dessorar a fé num Deus absoluto, desagregar os imutáveis princípios da moral revelada, poluir e eliminar as tradições da civilização cristã. E aqueles que se opõem a essa onda anticatólica são com freqüência objeto de uma perseguição do ambiente que os cerca, a qual se assemelha ao martírio, embora seja incruenta.
Que o vitorioso máitir nos conceda sua fé robusta, sua fortaleza granítica, para triunfarmos, como ele, sobre todos os fatores modernos de adulteração da Esposa de Cristo, a Santa Igreja, e de sua doutrina.
HISTÓRIA
Há 900 anos, aurora radiosa das Cruzadas
FONTES DE REFERÊNCIA l. Actas de los Mar/ires - B.A.C., Madrid, 1962, pp. 119/120, 995 a 1023. 2. Enciclopedia Cattolica, vol. XII, Cidade
do Vaticano, 1954, col. 1436, 1437, 1438. 3. Vies des Saints illustrées pour tous les jours de l'année, vol. I, Maison de la Bonne Presse, Paris.
Amóbio Glavam
Comemorou-se em novembro último o nono centenário da convocação da primeira Cruzada episódio inicial de uma série de eventos históricos cujo idealfoi sublime
N
Excertos do sermão 2 7 6 de Santo Agostinho, pronunciado na festa de São Vicente, mártir em 412. "E como está escrito, com toda a verdade, que o forno do oleiro prova os vasos, e ao homem justo a tentação da tribulação (Eccl. 27 ,6), Vicente foi provado e cozido por aquele fogo, mas quem ardeu e crepitou foi Daciano. Se, com efeito, não ardia, por que gritava? O que eram as palavras do irado, senão fumo do abrasado? Assim, pois, a nosso mártir que em seu coração sentia refrigério, aplicavam as chamas por fora; mas ele (Daciano ), incendiado pelos archotes do furor, ardia por dentro como um forno, e com ele se abrasava seu morador, o diabo. E, de fato, pelas furiosas palavras de Daciano, por seus olhos ferozes e feições ameaçadoras, pelos movimentos de todo o seu corpo, manifestava aquele seu habitante interno, e por esses sinais visíveis, como fendas do seu miserável vaso que arrebentava, e ele se enfurecia, se lhe via o diabo. Que região, que província das que compreende o Império Romano ou até onde se tenha difundido o nome cristão, não se alegra hoje em celebrar a festa de Vicente? E quem ouviria hoje o nome de Daciano, se não tivesse lido o martírio de Vicente? Vivo, Vicente venceu Daciano; venceu-o também morto. Vivo, pisoteou os tormentos; morto, flutuou através dos mares. Mas Aquele que dirigiu entre as ondas o cadáver, entre as pontas de ferro concedeu ânimo invicto. A chama dos atormentados não dobrou seu coração; a água do mar não submergiu seu corpo". Santo Agostinho, de Boticelli (Séc. XV)
aquele mês de novembro de 1095, uma multidão afluía, de diversas partes da Europa, para a cidade de ClermontFerrand, na França: centenas de arcebispos e bispos, cerca de quatro mil eclesiásticos e dezenas de milhares de leigos. O Bem-aventurado Papa Urbano II vinha de convocar um Concílio em que se iria decidir, entre outros assuntos, o destino da Terra Santa, de há muito em poder dos infiéis. Com efeito, os seguidores de Maomé, desde o fim do século IX, tomaram-se senhores do Egito, Síria e Palestina, e os peregrinos, que do mundo inteiro se dirigiam a Jerusalém, assistiam desolados ao triste espetáculo. Os Lugares Santos profanados e o estandarte do Crescente - substituindo-se à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo- flutuando sobre a cúpula da igreja da Ressurreição, transformada em mesquita. Aproximadamente dois séculos se passaram, no transcorrer dos quais o Ocidente cristão suportou pacientemente tão doloroso
estado de coisas. Foi então que hordas de bárbaros tártaros, extremamente belicosos e agressivos, iriam modificar inteiramente tal situação. Entre esses asiáticos destacaram-se os turcos, que tinham dominado a Pérsia e abraçado a religião de Maomé, chegando ao pináculo de seu poderio sob a dinastia dos seljúcidas. Incomparáveis na arte de cavalgar e no manejo das armas, passaram a espalhar o terror por toda a região. Tão logo ocuparam os Lugares Santos, moveram atroz perseguição aos cristãos do Oriente e aos peregrinos, estes últimos sistematicamente interceptados, saqueados e chacinados nos caminhos para
Krak dos Cavaleiros: fortaleza dos cruzados na Terra Santa
C ATOLICISMO -
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Cavaleiro medieval
diram de realizar tão acalentado intento. Coube ao Bem-aventurado Urbano II, sucessor de São Gregório VII e igualmente vinculado à reforma empreendida pela abadia de Cluny, a glória da convocação da Cruzada.
Nascimento de um grande ideal O Concílio de Clermont-Ferrand, aberto em 17 de novembro de 1095, ocupou-se antes de tudo em aprimorar a disciplina eclesiástica e combater os maus costumes, bem como as guerras entre particulares, então muito freqüentes. Para esse efeito o Concílio renovou a chamada trégua de Deus, que punha
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Jerusalém. Ao mesmo tempo buscavam conquistar o Império Bizantino, como meio para atirarem-se sobre a Europa ocidental. Continuamente chegavam ao Trono de São Pedro, então ocupado por São Gregório VII, insistentes pedidos de intervenção militar no Oriente. Condoído pela tragédia que se abatera sobre a Cristandade, o grande pontífice planejou ir, ele próprio, à frente de um exército cristão defender a liberdade dos peregrinos de venerar os Santos Lugares e tolher o passo à ofensiva islâmica sobre o Ocidente. Entretanto, dificuldades políticas com o Sacro Império Romano Alem.ão o impe-
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vigorosos limites às lutas privadas como também às guerras entre fanu1ias. Com isso Urbano II preparava aqueles corações ,., ainda rudes para neles fazer raiar a mais bela página da história da Cristandade: o ideal de cruzada. Isso teve lugar durante a décima sessão do Concílio na grande praça de Clermont, onde incontável multidão se reunia para ouvir a voz inspirada do Vigário de Cristo. Urbano II subiu a uma alta tribuna, e com voz potente conclamou os cristãos, especialmente os franceses, a abraçarem a causa da libertação dos lugares santos. "Ai de vós, meus filhos e meus irmãos - disse o Papa que vivemos nestes dias de calamidades! Viemos então a este século reprovado pelo Céu, para ver a desolação da cidade santa e para vivermos em paz, quando ela está en-
tregue nas mãos de seus inimigos?" Às palavras de fogo do intrépido Pontífice, a multidão, cheia de zelo e entusiasmo pela glória de Deus, bradava em uníssono: Deus vult, ou seja, Deus o quer. "Que as palavras 'Deus o quer' sejam o vosso brado de guerra" - respondeu Ur-
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bano II. Em seguida, de joelhos em terra, a multidão recebia - para aquela situação extraordinária- a absolvição geral, e algumas notáveis personalidades ali presentes fizeram prontamente o juramento de lutar na Terra Santa. Como símbolo de tal juramento, uma cruz vermelha de tecido era afixada sobre as próprias roupas. Daí terem tomado o nome de cruzados. O primeiro a receber a cruz, o fez das mãos de Urbano II, com pedaços de suas próptias vestes episcopais: foi o Bispo de Puy, Adernar de Monteuil, que dirigiu a primeira Cruzada, em nome do Papa, estando este impossibilitado de fazê-lo pessoalmente, como era anseio geral de toda a Cristandade. Nove Cruzadas se sucederam entre os séculos XI e XIII, das quais a primeira é a mais importante. Nela sobressai a figura de Godofredo de Bouillon, que logrou estabelecer no Oriente, ainda que efemeramente, o Reino Latino de Jerusalém, o principado de Antioquia e os condados de Edessa e de Trípoli. Aclamado rei de Jerusalém, Godofredo de Bouillon recusou a coroa que lhe era oferecida, ponderando que não podia cingir com ouro sua
Frota de cruzados tomando Constantinopla (quadro do séc. XV)
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sos reveses e infortúnios sofridos pelas Cruzadas. Mas se tal é verdade, também o é que, transcorrendo os séculos, aquilo que as Cruzadas tiveram de contingente e humano se eclipsou aos olhos da História para dar lugar à sua verdadeira visualização, isto é, o que elas tiveram de perene e de sobrenatu-
fronte na mesma cidade onde Nosso Senhor Jesus Cristo havia sido coroado de espinhos. À frente da sétima e oitava Cruzadas brilhou a personalidade ímpar de santidade,
po ela abriu a gloriosa era das Cruzadas, nas quais a Santa Igreja e a Cristandade lutaram em atitude corajosa e nobremente defensiva contra os inimigos da Fé, em três áreas distintas: contra os mouros sarracenos e outros seguidores de Maomé; contra hordas de bárbaros pagãos que ultrapassavam o Reno e o Danúbio; e contra os hereges albigenses, que ameaçavam internamente a Cristandade. Nessas santas lutas em defesa da Fé, os cruzados, filhos característicos da Igreja militante, salvaramna de perigos sem conta, e defenderam as terras da Europa ocidental contra muçulmanos, pagãos e hereges. Com o que ficaram defendidas as liberdades indispensáveis para que as nações pacíficas da Europa cristã e ocidental pudessem constituir as
prudência, coragem e simpli-
maravilhas de fé, arte e cultu-
Com efeito, o ideal de
do a Cristandade do domínio
cidade de São Luís IX, rei de França, que marcou a História como modelo de rei, de cruzado e de Santo.
ra que, até hoje, todos os povos da Terra afluem incessantemente para admirar. A palavra cruzada ficou assim incorporada para todo o sempre ao vocabulário católico, como expressão de sublime heroísmo religioso. É bem verdade, infelizmente, que as misérias humanas - presentes até mesmo em excelentes e até santas instituições - se fizeram notar, e por vezes de modo muito agudo, na história das Cruzadas. Paixões, ambições pessoais, rivalidades mesquinhas, invejas e até traições deixaram indelével cicatriz numa tão louvável instituição nascida sob o influxo da Santa Igreja. Foram tais misérias, com certeza, uma das mais atuantes e decisivas causas dos numero-
cruzado completou o perfil do cavaleiro e marcou a História com um padrão de perfeição cristã qÚe resistiu e vem resistindo a todas as investidas adversárias, a todos os vendavais morais e culturais dos séculos de demolição que se sucederam desde então. Ainda hoje, apesar do estado de vulgaridade e decadência moral em que vão caindo as sociedades modernas, qualificar alguém de um perfeito cruzado é fazerlhe um dos mais altos e honrosos elogios. Foi ainda o espírito de Cruzada que, três séculos após São Luí IX, moveu outro Papa, São Pio V, a convocar nova expedição militar, cujo milagroso desfecho se deu em 1571, na célebre
muçulmano. Semente do mesmo ideal das Cruzadas veio germinar em fins do século XVII, por iniciativa de um Papa- também este elevado às honras dos altares - o Bem-aventurado Inocêncio XI. Este Sumo Pontífice conclamou o heróico rei da Polônia, João Sobieski, a unir-se às tropas imperiais comandadas pelo Duque Carlos de Lorena, para a defesa de Viena ameaçada pelo Sultão de Constantinopla Maomé IV. Desta forma salvou Viena e o Império, e uma vez mais o Ocidente cristão, da investida islâmica. Foi justamente em ação de graças por tão memorável vitória que o Bem-aventurado Inocêncio XI instituiu a belíssima festa do Santo Nome de Ma.ria.
.....
• BEAuroar
•Damasco
Ac:at • • Motmorr
JERUSALÉM .
Cruzada: expressão de sublime heroísmo religioso O gesto heróico do Papa Urbano II, convocando a Cruzada, a 27 de novembro de 1095, foi um dos mais importantes, senão o mais importante de seu pontificado. Por certo terá sido um fator determinante na elevação desse grande Pontífice à honra dos altares, quando no ano de 1881 o Papa Leão XIII o proclamou Bem-aventurado. A primeira Cruzada teve as assinaladíssimas conseqüências que a historiografia insuspeita não tem deixado de exaltar. Mas ao mesmo tem-
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ral.
baía grega de Lepanto. A armada cristã, sob ocomando de Dom João D' Áustria, assistida por celeste proteção, derrotou a frota numericamente muito superior dos turcos otomanos, salvan-
Cavaleiros da Ordem do Templo em expedição
Em duzentos anos, nove cruzadas 1 l95- O Papa Urbano II convoca os barões da Cristandade para partir em direção a Jerusalém, a fim de libertar o Santo Sepulcro e livrar os cristãos do Oriente, que haviam tombado sob o jugo muçulmano. ll96-ll99-Primeira Cruzada: três anos são utilizados para cercar e tomar N icéia, Antioquia e, por fim, Jerusalém. 1147-1149 - Segunda Cruzada, a pedido do Papa Eugênio III (motivado pela queda de Edessa) e pregada na França por São Bernardo. Diante de Damasco, a derrota de Luís VII, rei da França, e Conrado III, imperador alemão. 1189-1192 - Terceira Cruzada, empreendida por causa da queda de Jerusalém em poder de Saladino. O rei da França Felipe Augusto, o imperador alemão Frederico Barba.roxa e o rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão tornam-se cruzados. Tomada da ilha de Chipre e de Acre, no litoral da Palestina. Acordo com Saladino, que concede livre acesso aos Lugares Santos. Criação do reino cristão da Pequena Armênia. 12l2-12l4-Quarta Cruzada, convocada pelo Papa Inocêncio III. Objetivo inicial: o Egito. Os cruzados terminaram tomando Constantinopla, onde Balduíno de Flandres instala o império latino, de curta duração. 1217-1221 - Cruzada das crianças: milhares de crianças e jovens morrem a caminho de Jerusalém. Quinta Cruzada, sob novo apelo de Inocêncio III: os cruzados tomam e depois perdem Damieta, no Egito. 1229 - Sexta Cruzada: o imperador alemão Frederico II negocia com o sultão do Egito o livre acesso a Jerusalém, Belém e Nazaré. 1248-1254 - Sétima Cruzada - Jerusalém cai em 1244, pela segunda vez, em mãos dos muçulmanos. São Luís IX empreende a conquista do Egito e conquista Damieta, que depois devolve, ao ser derrotado e tornado cativo. 127l - Oitava Cruzada- São Luís IX morre diante de Túnis, norte da África. 1291 - Nona e última Cruzada -Tenta infrutíferamente levantar o cerco de Acre. Com o abandono das duas últimas fortalezas da Ordem dos Templários na Palestina e ao norte de Beirute, os Estados latinos da Terra Santa são extintos.
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TFPSEMAÇÃO
Em Roma, Missa de réquiem . e homenagem ao
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira A
djacente à Basílica de São Pedro, no Largo 11debrando Gregori, ergue-se a Igreja do Espírito Santo in Sassia, c ujo patrono é São Felipe Neri. Trata-se de tradicional templo romano, decorado com magníficos mármores e afrescos relativos ao Divino Espírito Santo. Ali , numa manhã de novembro último, foi realizado solene pontifical por alma do Prof. Plinio Corrêa de O liveira. A Santa Missa, ce lebrada pelo cardeal salesiano A lfons Stickler e acolitada por sete sacerdotes, teve a participação do coro da Capela Juliana da Santa Sé, sob regência do maestro da capela da Basílica de São Pedro, o espanhol Monsenhor Collino. A igreja estava repleta com várias pessoas de pé. A todos foi oferecido um impresso a cores, com síntese biográfica do homenageado. A princesa Elvina Pallavicini destacava-se entre muitos outros membros da melhor nobreza de Roma presentes ao solene ato, que terminou com o Hino Pontifício ao som de órgão e trompetes. Em frente ao vetusto templo situa-se o Hotel Columbus, para onde os presentes se dirigiram a fim de participar de
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um cocktail em sala do séc ul o XIV, seguido de sessão de h omenagem ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.
Falou em primeiro lugar o diretor da Associação Lepanto, Barão Roberto de Mattei, a respeito das campanhas que o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira promoveu em defesa da Fé católica e da civilização c1istã. Em seguida usou da palavra Dr. Giovanni Cantoni, diretor de Alleanza Cattolica, comparando Pl ínio Corrêa de Oliveira a um novo Colombo, ao empreender viagem restauradora em sentido inverso: América-Europa . Depois , o Sr. Juan Miguel Montes, diretor do Bureau das TFPs em Roma, discorreu sobre a vida espiritual e intelectual do falecido . Ao concluir, leu as seguintes palavras de abertura dotestamento do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: "Decla-
ro que vivi e espero morrer na Santa Fé Católica, Apostólica e Romana, à qual adiro com toda minha alma. CATOLICISMO -
Não tenho palavras suficientes para agradecer a Nossa Senhora o favor de haver vivido desde meus primeiros dias e morrer como espero - na Santa Igrej a, à qual dediquei, dedico e espero dedicar, até o último suspiro de vida, todo meu amor. De tal modo que todas as pessoas, ins tituições ou doutrinas que amei durante minha vida, e que atualmente amo, somente as amo porqueforam ou são segundo a Santa Igreja. Do mesmo modo, nunca combati instituições, pessoas ou doutrinas, senão porque estavam - e na medida em que estavam - em oposição à Santa Igreja" . Por fim, falou o Cardeal Stickler: " ... (quero agradecer) de modo particular
àquele que estamos comemorando. É ele que falou e continua a falar por meio de sua doutrina, de seu exemplo, de suas instituições. E nós, creio que podemos agradecer-lhe imitando-o, acolhendo antes de tudo as suas doutrinas, empenhando -nos nas suas ações, mas sobretudo imitando o seu exemplo. "É o que ele quer. E por isso passou sua vida para levar, através de seu exemplo, à prática daquelas verJaneiro 1996
dades e daquelas ações que se pede a cada cristão convicto. "Penso que podemos concentrar-nos sobretudo nesses dois pontos, ou seja: a sua fé inabalável, a qual deve ser guardada por nós, pelo nosso exemplo, que recolhemos dele; e depois, por uma outra coisa que é talvez mais importante do que se crê, mas que para ele era verdadeiramente um dos centros de sua vida, da sua doutrina - a adesão àquele que é a pedra sobre a qual é edificada a Igreja que conserva a Fé, ou seja, ao Pontificado Romano, aos Papas. " Terminada a sessão de homenagem, o Marquês Luigi Coda N unziante ofereceu um almoço para pequeno grupo de convidados no exclusivo Circolo delta Cacc ia, úm dos melhores de Roma, situado no Palácio Borghese, célebre por sua riquíssima decoração de afrescos, móveis e preciosos objetos de arte. À tarde, membros das TFPs da Europa dirigiramse à Praça de São Pedro com estandartes, capas e o traje de gala da TFP. Ao final, visi taram o Arco de Constantino e o Coliseu Romano.
Acima à esquerda: entrada do cortejo na Igreja do Espírito Santo; Acima: Coro da Cape la Juliana do Vaticano; Ao lado: momento da elevação da solene missa pontifical; Embaixo, à esquerda: Cardeal Stickler fala na sessão de homenagem ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira; Embaixo: membros da TFPs da Europa na Praça de São Pedro.
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flom Vital: valentia Plinio Corrêa de Oliveira
Q Ç f valentia, quando se trata da defesa do bem e da verdade, não é hoje virtude muito apreciada pelas i:nassas. Se Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, Bispo de Olinda, fa lecido em 1878, fosse aprese nt ado em quadros e retratos aca ri ciando cri ancinhas, sorrindo para as multidões, abençoando, distribuindo esmolas - atitudes todas, aliás, muito próprias de um Bispo -, seria fácil constituir em torno dele um halo de popularidade. Mas o Dom Vital que o quadro acima (1) apresenta é um Bispo ainda jovem, de traços harmoniosos e fortes , fronte larga e audaciosa, olhar profundo, grave, cintilante de inteligência e energia, longa barba negra e viril, porte nobre e vigoroso. Sente-se nele a fibra do batalhador, do miles Christi. Tem-se a impressão de que ele fita o Visconde do Rio Branco, ou de que está sentado no banco dos réus cravando o olhar sereno e penetrante no semblante cqnfuso e indeciso de seus juízes, majestoso como se estivesse em seu sólio epis-
copal~
Bispo de rara valentia, Dom Vital é um nome nacional, uma glória do Brasil inteiro. Se é verdade
que christianus alter Christus, com mais razão é verdade que Episcopus alter Christus. Havia de tudo na adorável fisionomia moral de Nosso Senhor, desde a ternura inefável com que exclamava "deixai vir a mim os pequeninos " , ou "tenho pena desta multidão", até a terrível majestade com que prostrava por terra seus adversários, dizendo-lhes simplesmente "sou Eu Ego sum". Há de tudo na fisio-nomia moral do Bispo da Santa Igreja, desde a ternura até a severid ade pastoral. Mas Nosso Senhor concede a cada um a graça de ilustrar a Igreja pelo brilho de uma faceta espiritual particular. A uns, susc itou para que edificassem a Cristandade pelo esplendor de sua ternura; foi destes o grande São Francisco de Salles. A outros, suscitou para que a defendessem pela pugnacidade e pela energia; foi destes São Gregório VII, fo i destes o nosso grande Dom Vital. Seu nome é um símbolo, um estandarte, um programa.
N ota 1 - Qu adro a ó leo pert ncente à sede ela TFP, em Recife. A pintura baseou-se em fotografia muit o conhecida na época ele D. Vital e hflstante elivu lgaela du rante o processo a que foi submetido. Esse retrato fi gura na p. 11 8 cl11 obra Um. grande brasileiro, ele autori a el e F re i F é li x de O l fv o l11 , O.F.M. Cap . (Conv ento da Penha, 4" ed. , Reci fe, 1967).
Revolução e Contra-Revolução PLINIO CORRÊA DE ÜLIVEIRA
Em nossa edição de novembro publicamos as palavras introdutórias do Prof Plínio Corrêa de Oliveira em Revolução e Contra-Revolução, indagando sobre o fim último em fun ção do qual esta revista existe. Na sequência de seu pensamento, o ilustre pensador responde:
E
Cenas das revoluções protestante, francesa e comunista, em ilustrações da época. Na primeira gravura, Lutero, com o hábito de monge agostiniano, comanda a revolta. Na segunda, o terror revolucionário impõe-se pela força da guilhotina. Na terceira cena, a tomada do Palácio de Inverno de São Petersburgo pelos comunistas, em 1917.
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ste inimigo terrível te m um nome: ele se chama Revolução. Sua causa profunda é uma explosão de orgulho e sensualidade que inspi rou, não diríamos um sistema, ma toda uma cadéia desistemas ideológicos. Da larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes re vo luções da Históri a do Ocidente: a PseudoReform a, a Revolução Francesa e o comunismo (cfr. Leão XIII, Encíclica Parvenu à la Vingt-Cinquieme Année, de 19-3- 1902 - Bonne Presse, Paris, vol. VI, p . 279). O orgulho leva ao ódio a toda superioridade, e, po is, à afirm ação de que a desigualdade é em si mesma, em todos os plan , incl usive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal. É aspecto iguali tári o da Revolução. A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as ba rreiras. E la não aceita freios e le va à revolta contra toda autorid ade toda lei, sej a di vina ou humana, eclesiástica ou ci vil. É o asp cto libera l da Revolução. Ambos os aspectos, que têm em úl tima análi e um aráter metafísico, parecem contradi tórios em muitas ocas iõc , mas s concili am na utopia marxista de um paraíso anárqui co e m qu e urn a hum ani dade alta mente evoluída e "emancipada" de qualqu r re li gião vives e cm ordem profund a sem autoridade política, e em uma lib rdad t tal da qua l entretanto não decorresse qualquer desigualdade. A Pseudo-Reforma foi um a prim ira r volução. Ela implantou o espírito de dúvida, o libera li smo reli gi soe o iguali tarismo eclesiástico, em medida variável aliás, na vári a seitas a que deu origem. Seguiu -se- lhe a Revo luçã Francc a, que foi o triunfo do igualitari smo em dois ca mpo . No ca mpo reli g io o, sob a forma do ateísmo, especiosame nte rotul ado de laicismo. E na esfera política, pela falsa máxima de qu e toda des igualdade é uma injustiça, toda autoridade um peri go, e a liberdade o b m supremo. O comuni smo é a tran po ição destas máximas para o campo social e econômico. Estas três re voluções são e pisódios de uma só Revolu ção, dentro da qu al o sociali smo, o liturgicismo, a " politique de la main tendue" [política da mão es tendida aos adver ários] etc. são etapas de transição ou manifestações atenu adas.
CATOLICISMO -
]L Nº 542 - Fevereiro de 1996
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REVOLU ÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO
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REALIDADE CONCISAMENTE
HAGIOGRN IA
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Santa Escolástica Irmã gêmea de São Bento, fundadora das monjas beneditinas
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ENTREVISTA A situação atual na Albânia, na palavra do ex-diretor da seç.'io albanesa da Rádio Vatican.1
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HISTÓ RIA SAGRADA
A destruição de Jericó
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DISCERN IN DO
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DOCUMENTO
Brinquedos made in China: produto de trabalho escravo
Artigo do Cardeal Echeverria, do Equador, sobre Plinio Corrêa de Oliveira
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INT[RNACIONAL Análise de nosso correspondente em Paris sobre as recentes greves na França
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. ATUALIDADE Carta pastoral de Bispo norte-americano alerta contra seitas ocultistas
VERDADES ESQUECIDAS DESTAQUE IMAGENS EM PA INEL
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Dois modos de apresentar a figura de São Luís Gonzaga
CAPA
Revelações de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Quito, Equador, no século XVI
TFPS EM AÇÃO As TFPs no Brasil, Alemanha e Portugal
PALAVRAS DFVIDA ETERNA Comentários sobre os Evangelhos, compilados por Santo Tomás de Aquino
1h
AMBIENTES, COSTUMES, CIVILI ZAÇÕES
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e para as atividades estatutárias da TFP
Fevereiro de 1996 CATOLICISMO- Janeiro
1996
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A Realidade
concisamente
CUTpaga ., manifestantes com arroz de má qualidade
aos Animais do Brasil, Maurício Coca, talvez sirva como um choque para a sensatez de igualitários desavisados e românticos: "Evito carne de boi,
Em Brasília, para atrair gente para a Passeata dos Excluídos, a CUT distribuiu 1.700 quilos de arroz a moradores da favela FHC. São catadores de papel que moram a 250 metros da Praça dos Três Poderes. Comentou Gildete Rosa da Silva, de 33 anos: "Se eu sou-
porco, aves e peixes. Também não compro cintos, malas nem sapatos de couro animal. Eu protesto pelos crimes contra os animais. O ato de não comer outros seres vivos porrespeito a eles é algo divino. Todos os animais nascem iguais diante da vida e têm o mesmo direito a uma existência e a uma morte dignas" .
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besse que era este arroz, não teria ido para a rua. Ganharia mais se ficasse catando papel " .
Outro catador de papel, José Joaquim dos Santos, reclamou: "Recebemos 5 quilos do arroz mais ruim que existe no Brasil".
José Artur da Silva, decepcionado, disse que não vai na próxima passeata da CUT. Nas embalagens dos pacotes de 5 quilos, estava escrito Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. O produto veio do Projeto Grãos, da Embrapa, uma es-
tatal.
As imposições tirânicas e desumanas do igualitarismo O igualitarismo se apresenta como libertador de desigualdades penosas ao homem, mas raramente apresenta sua face tirânica e insana. Por imposição de princípio, um dia teria que advogar, entre outras medidas, a igualdade entre homens e animais, pois ambos são seres vivos. Uma declaração do presidente do Instituto de Proteção 4
Os igualitários românticos, queiram ou não, estão atados à cauda de extremistas como este.
Bichinhos de estimação
modernos Qual a razão de os homens terem animais de estimação? Um passatempo, ora apenas de entretenimento, ora fonnativo. A menina desenvolvia seu instinto materno cuidando de um cachotTinho ou de um gatinho. O adulto se encantava com as qualidades felinas de um bichano, que lembram a prudência, ou com a fidelidade de um cão. E quanto haveria para dizer dos movimentos e das cores dos pássaros. São uma pedagogia da beleza.
Desse convívio estavam excluídos os animais repugnantes ou que lembram vícios: lagartos, sapos, porcos, ratos, lesmas, aranhas, serpentes . Têm muitas utilidades, mas não eram adequados para bichinhos de estimação. A não ser de bruxas, feiticeiros e grandes criminosos, por uma certa conaturalidade ... Mas de há muito uma propaganda insistente vem lançando brinquedos que lembram esses animais repugnantes. E agora está entrando em moda possuir cobras, por enquanto não venenosas, como animais de estimação. Em São Paulo, custam entre 90 e 200 reais, e são consideradas mimosas(!) pelos seus donos. O comércio está próspero.
Horror versus encanto nos brinquedos infantis Eis algumas ofertas em lojas de presentes para crianças. Havia um boneco carnívoro Venom Spitter (cuspidor de veneno). Custava 25 reais. A linha dos bonecos carnívoro é composta de monstro emelhantes a insetos. Havia moldes para monstros como o lobisomen, além de cobras, baratas e escorpiões. Alguns
têm filhotes, que caem desajeitadamente do ventre. As crianças do passado, segundo pedagogia imemorial, educavam-se com brinquedos que lembravam o maravilhoso, o edificante ou o natural atraente. Era uma preparação para a limpeza, a decência, a correção, a virtude. Para o que preparam os bonecos monstruosos e repugnantes, ao acostumar a delicada psicologia infantil com o que ela naturalmente rejeita? Em direção oposta, fizeram sucesso em Paris os brinquedos tradicionais, como as bonecas Monika e Heloise, elegantes e com roupas antigas, os soldadinhos de chumbo e os bichinhos de pelúcia.
Ai de quem escandalizar um destes pequeninos O Divino Mestre afirmou que melhor fora não nascer do que e candalizar uma criança. Os contos, as músicas infantis eram delicados, formativos, levavam ao maravilhoso e à virtude. Rumos co ntrários agora dão o tom. No Brasil há urna música destinada a elas, própria a acostumá-las com o feio, o vulgar, o obsceno. Nesta marcha, o próximo passo
1994: 269 religiosos e
Seus novos consumidores Antropólogo são muito especialmente os renomado põe jovens de classe média, que freqüentam bares na moda, pingos nos 1s colégios bons, viajam com freO antropólogo norte-ameqüência e têm pais com boa ricano Napoleon Chagnon, formação profissional. Há muitas clínicas professor da Universidade da especializadas, em geral caras, onde as famílias escondem os filhos drogados, na tentativa de curá-los. Algumas vezes o conseguem, mas não é muito comum. Famílias desestruturadas, falta de boa formação moral em casa, distância da rel igião, permissivismo moral e doutrinário, formam o caldo de cu!- · tura favorável à disseminação
sacerdotes assassinados
docrack.
Ainda não estão prontas as estatísticas referentes ao ano passado, mas em 1994 foram ao todo assassinados 269 sacerdotes e religiosos em países de Missão. Só em Ruanda, morreram 248. A agência de notícias Fides, do Vaticano, que publicou esses números, se referiu a "um verdadeiro holocausto
As muitas terapias e práticas de prevenção têm sua utilidade, infelizmente bastante limitada, porque não se está procurando curar o .mal nas suas raízes. Parecem ser poucos os que querem seriamente evitar a efeito deletério de certa mentalidade hedonista imposta aos jovens pela propaganda, pela música, pelas novelas e filmes.
será a conaturalidade com o consumo de drogas e vários outros crimes. De momento, o conjunto mais importante dessa nova tendência, denominado Mamonas Assassinas, tem como público principal meninos e men inas entre 8 e 13 anos. Descontraidamente, cantam as maiores vulgaridades e obscenidades, em baixo calão. O disco de estréia da banda vendeu quase 400 mil cópias. Catolicismo não pode transcrever o que aí se oferece, com farta propaganda, às crianças brasileiras.
para a Igreja de Ruanda". Outros 21 ec lesiásticos
perderam a vida na Argélia, Índia, Jamaica, Haiti, Quênia, Serra Leoa e Uganda. Das vítimas, 15 provêm da Europa (seis franceses, três irlandeses, três espanhóis e três belgas), três da Ásia e três da América (um argentino, um canadense e um haitiano).
Alastra-se a epidemia do crack
Outrora, brin_quedos e animais de estimação eram formativos e maravilhosos. Hoje, são monstruosos.
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Fevereiro de 1996
A Grande São Paulo já. tem 5.000 pontos de crack, um derivado da cocaína. Com maior incidência em São Paulo, aparece entretanto no Brasil inteiro, com espantosa capacidade de atração.
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Califórnia em Santa Bárbara, é das maiores autoridades mundiais sobre os ianomâmis brasileiros, tendo publicado em 1968 o livro Yanomamo. Com freqüência, passa temporadas em grupos ianomâmis, para aprofundar conheci men-
"Sinto a morte me ·invadir" Nos últimos tempos o tema da morte o fascinava nas conversas com amigos: "sinto a morte me invadir". Ele sentia uma certa angústia diante do desconhecido: "o que me enerva é não conhecer o que vem depois".
Foi assim que um articulista de um periódico paulista descreveu os últimos dias de François Mitterrand. Presidente da França por mais de 14 anos, considerado grande aos olhos dos ~omens, Mitterrand sentiu-se pequeno diante da morte. Morte, diante da qual são grandes apenas aqueles que, para esse encontro, se prepararam durante a vida, sendo pequenos diante de Deus. E para o homem que tem fé, "o que vem depois" da morte é o juízo, a que se segue o inferno ou o paraíso.
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tos sobre a tribo. Algumas observações que fez desmitificam a hábil propaganda ecológico-esquerdista difundida a respeito desses índios, aliás dignos de toda compaixão, não apenas por estarem se ndo usados inescrupulosamente por correntes esquerdistas e ecológicas, mas por serem igualmente seres humanos, remidos pelo sangue de Cristo. Vejamos o que diz o Prof. Chagnon. O índio, instrumento de guerra ideológica - "Ninguém está inte ressado no índio real. As sociedades ocidentais necessitam de um índio imaginário ". Guerra, violência, selvageria - o quotidiano indígena - "As constantes disputas internas, na maioria das vezes por causa de mulheres, geram brigas colossais, que freqüentemente acabam ocasionando a cisão definitiva da tribo. Os índios reais se sujam, cheiram mal, tomam alucinógenos, roubam a mulher do próx imo, fornicam e fazem a guerra. " Práticas antipreservacionistas - "É fundamentalmente falsa a idéia de que os povos tribais não exaurem o solo. É um erro imaginar que eles têm uma alma mais nobre ou uma atitude superior de cuidado para com a natureza. A cupidez também entre os índios- "Os índios norte-americanos exploram cassinos em suas reservas e os índios da Amazônia exportam mogno para a Inglaterra. Quando, por e~emplo, obtêm armas de fogo, eles as usam exatamente como o □ branco". 5
ENTREVISTA . ~
E espantoso não ser capaz de distinguir o bem do mal! "'
O Príncipe Gjon Gjomarkaj traduziu para o albanês o livro Mãe do Bom Conselho, de autoria do sóc io da TFP brasileira João S. Clá Dias e prefaciado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (Artpress, São Paulo, 1992). Descendente de antiga estirpe albanesa, desde 1951 vive na llália. Alé há pouco era redator e dirigente da seção albanesa da Rádio Vati ca na. Recebeunos em sua casa em Palermo.
Catolicismo - Quais são os danos mais graves causados por 50 anos de dominação comunista na Albânia? Gjon Gjomarkaj - Os danos mais graves são aqueles produzidos sobretudo no campo humano. O povo albanês foi dizimado, e em particular os católicos praticantes. A Albânia não possuía sequer dois milhões de habitantes ao ser subjugada pelo comunismo em 1944. Não obstante, a ditadura vermelha matou mais de 70.000 pessoas, e deportou ou encarcerou
em campos de trabalho forçado mais de 160.000 entre homens, mulheres, velhos e meninos. O ditador Enver Hoxha e sua camarilha, depois de ter destruído ou destinado para estábulos de suínos ou ovinos igrejas, santuários e outros locais de culto, e depois de ter proclamado a Albânia "Estado ateu", assassinou todos os Bispos, 120 sacerdotes e muitas religiosas, condenando o resto do clero à prisão perpétua. Proclamar um Estado ateu pela Constituição Federal, sig-
Refugiados albaneses chegam à Itália: alegria pela libertação
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,CATOLICISMO -
Príncipe Gjon Gjomarkaj
nifica tirar o direito à Fé para os adultos que já a tinham. Mas também sign ifica e isto é ai nda pior - ed ucar as novas gerações sem nenhuma dimensão espiritual, sem Deu ou contra Deus! Quer dizer, formar seres humanos em consciência e sem humanidade. É espantoso não ser capaz de distinguir o bem do mal! Hoje nós temos muito o que fazer devido a essas pessoas, muitas das quais contam cerca de quarenta anos. É este o verdadeiro drama de meu povo! Catolicismo - Qual o fim dos responsáveis por esse desastre? Gjon Gjomarkaj - São cidadãos livres . Mas muitos deles, ou seus filhos, ocupam postos chaves na administração do país. Durante o regi me marxista, só aos comunistas era permitido freqüentar curso superior; e, portanto, quem tem hoje possibilidade Fevereiro de 1996
de tornar-se Presidente do Conselho ou chefe de uma repartição? Catolicismo - Apropriedade privada e a livre iniciativa são atualmente respeitadas? Gjon Gjomarkaj - Em três anos de democracia, a propriedade privada e a livre iniciativa são - na teoria - respeitadas, mas sempre voltamos ao ponto de partida. A maior e melhor parte das propriedades terminou nas mãos dos ex-comunistas, agora "socialistas", que dispõem de grande parte dos meios, pelos quais todas as iniciativas ficain em suas mãos. Catolicismo Os albaneses, especialmente aqueles obrigados a se exilar, recuperaram os bens dos quais haviam sido despojados? Gjon Gjomarkaj - A maioria não recebeu nada. Portanto as propriedades e todos os bens dos exilados estão ainda nas mãos dos ex-comunistas. Seria necessário primeiro estabelecer uma lei para regulamentar isso, e depois a firme vontade de a respeitar. Catolicismo-Existem alguns sinais de um ressurgir religioso na Albânia? Gjon Gjomarkaj - Sim, existem, graças à pronta intervenção da Santa Sé e do Papa João Paulo II. As igrejas antes destruídas ou utilizadas para auditórios ou até estábulos - estão em fase de reconstrução. O clero tem sido rein-
tegrado com os poucos fiéis nho confiança de que Ela não sobreviventes dos dramas pasnos abandonará nem sequer sados. Está já funcionando um desta vez. novo seminário, do qual sairá Catolicismo - O Sr. acredita que com a queda do muro logo uma nova geração desacerdotes. de Berlim e da cortina de ferA Albânia tem hoje um ro tenha desaparecido para sempre o comunismo? cardeal (que foi escolhido em 1994 pelo Santo Padre), um Gjon Gjomarkaj - Ocoarcebispo e quatro bispos. A munismo existe ainda na China vermelha, no Vietnã, na visita pastoral de João Paulo II, em abril de 93, colocou o Coréia do Norte, subjugando um bilhão e 300 povo albanês em comunhão com milhões de pessoDeus e com o próas. O muro de xi mo. Claro que Berlim e a cortina existem problemas, de ferro são apenas entre os quais o que uma parte, uma míé o mais sério: o gonima parte que caiu verno não tem concom a tolerância do seguido ainda restiKremlin. tuir ao clero os bens Catolicismo imóveis que foram Por que essa tolerância? confiscados pelo precedente regime Gjon Gjomarstalinista. Este fato kaj - O Kremlin, diminui muito aveconvencidíssimo locidade no camide que o rótulo coA estátua de punho cerrado: símbolo do jugo marxista sobre a população indefesa munista não era nho de uma retomada espiritual de mais digno de crénossa Fé. blema não se resolve en breve vemo democrático albanês em dito, decidiu mudar de tática. Catolicismo - Os auxíli- tempo. prosseguir o caminho de refor- Alterou imediatamente a paos do Ocidente têm sido sufiAjudar moralmente meu çar a liberdade conquistada, e lavra comunista, tão odiada, cientes? povo exige um trabalho capi- conduzir o país rumo a uma e a substituiu por outras, conGjon Gjomarkaj - Façalar e contínuo, porque se trata economia de mercado, são evi- forme a situação de cada país. mos uma distinção entre aju- de erguer uma população des- dentes e se necessita ainda tem- Na substância não mudou das materiais e morais. de os primeiros rudimentos . po. Esse trabalho deveria ser nada. As ajudas materiais são Conceitos como verdade, res- retomado plenamente, logo que Essa tática, bem programadifíceis de quantificar, porque peito aos direitos dos outros, seja afastada a atmosfera de da há vários anos, está dando vão desde a "Caritas" (alemã) lealdade, fidelidade e - por instabilidade balcânica devido seus p1imeiros resultados, que às subvenções de governos que não?- trabalho, não têm ao sanguinário conflito na são visíveis para todos: nas úlocidentais. Da primeira, pos- o valor que em geral se lhes Bósnia-Herzegovina, mas tam- timas eleições parlamentares so dizer que os envios, segui- atribui. São conceitos que bém por uma razão viva e na Polônia, na Hungria, nos dos passo a passo, chegam e existem como "palavras" par- preocupante: metade do terri- países bálticos, e recentemendão uma ajuda concreta. ticulares, sem uma significa- tório da Albânia, isto é, a re- te na Búlgária, têm vencido de Quanto à segunda, é notório ção profunda. gião de Kosovo, está sob ocu- novo os comunistas, disfarçaque agora as propinas, a E agora faço eu a pergun- -pação permanente e opressiva dos com outros nomes! corrupção, o roubo adminis- ta: é suficiente a ajuda moral dos sérvios-montenegrinos e Nesse ponto, se as demotrativo é um fenômeno tam- do Ocidente? Não, infelizmen- dos macedônios. Hoje, as nu- cracias ocidentais não abrirem bém albanês! vens sob o céu da Albânia são os olhos, repetirão erros semete não! A respeito das ajudas mocarregadas e negras, e só a in- lhantes aos da Conferência de Catolicismo - Que futuro tercessão da "Mãe do Bom Yalta, meio século atrás, e dos rais, devo dizer que são pro- o Sr. prevê para a Albânia? Conselho" - na qual creio fir- quais ainda hoje sofremos as venientes da parte de muitos. Gjon Gjomarkaj - As Mas o caso é difícil, e o pro- enormes dificuldades do go- memente- nos salvará. E te- amargas conseqüências. D CATOLICISMO -
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DOCUMENTO
Pliaio Corrêa de Oliveira: Apóstolo insigne, polemista fogoso e intrépido
A
inesperada notícia da morte de Plinio Corrêa de Oliveira nos levou a pensar em alguhs capítulos de sua vida e nos convidou a refletir que, quanto mais intensos são os mal~s de uma época, tanto mais notáveis são as figuras que a Divina Providência chama para enfrentálos, o que é um reflexo de seu desígnio de combater as crises suscitando almas de fogo. Contudo, também acontece que essas almas são objeto dos ataq ues mais apaixonados e infundados, com o que se pretende fazê-las calar. O que é uma amostra da obstinação que muitas vezes penetra no espírito de certas categorias humanas. Quando as figuras são verdadeiramente grandes, seus adversários não conseguem abatê-las, nem si lenciá-las, porque os ataques injustos terminam destacando, ainda que eles não o queiram, as qualidades dessas almas escolhidas. Foi o que aconteceu com o Divino Salvador: atacado, vilipendiado e martirizado por seus verdugos, mas sua lu z brilhará inextinguivelmente até o fim dos séculos em sua Igreja, apesar dos esforços de tantos para destruí-la. Christianus alter Christus - O cristão é um outro Cristo: algo análogo aconteceu com Plínio Corrêa de Oliveira, durante décadas, até seu recente e lamentável falecimento. De fato, era difíc il mencionar seu nome em nosso continente, e mesmo na maior parte do Ocidente, sem desatar simultaneamente aplausos e admiração, de um lado; e de outro verdadeiras tormentas verbais contra ele, sempre tão impreg8
CARDEAL BERNARDINO EcHEVERRíA
nadas de paixão, como carentes de fundamento. Ass im, era freq üente que a fúria dos ataques que ele sofria não viesse acompanhada de argumentos. Por isso, a sua exposição serena, invariavelmente cortês e incisivamente rica, clara e contundente, dissipava as objeções, punha as coisas em seu lugar. Apesar de merecer por isso a gratidão de seus contendores, pois elevava o tom da polêmica, com freqüência desatava ódios, ressentimentos e despeitos. Nos anos 40, quando o nazifascismo era urna moda ante a qual ta ntos claudicavam na Europa e América, a pena de Plínio Corrêa de Oliveira denunciou com valentia a impostura neopagã, socialista e gnóstica, que inspirava essa aberração, com o que preservou muitos ambientes católicos dessa nefasta influência. Agora, quando é lugar com um atacar o nazifascisrno - entre outras razões, porque é fáci l lançar diatribes contra erros que têm um número ínfimo de adeptos - não é raro encontrar entre seus pretensos inimigos de hoje seus cúmplices de ontem. Não obstante, estes se calam ou murmuram contra Plínio Corrêa de Oli veira, que criticou com lucidez e valentia essa impostura quando ela estava a ponto de dominar o mundo. Depois da II Guerra Mundial a História girou, e muitos dos antigos adeptos do nazifascisrno voltaram-se contra ele, e passaram a contemporizar com o marxismo. Este obteve assim, a partir de então, avanços gravíssimos em todo o mundo, à custa de dezenas de milhões de vítimas. CATOLICISMO -
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Ru1z, OFM
CARDEAL BERNARDINO ECHEVERRIA
Ru1z equatori ano, da Ordem dos Fraçles Menores franciscanos, doutorou-se em Filosofia pelo Pontifício Ateneu Antoniano, de Roma. Nomeado Bispo de Ambato em 1949, exerceu os cargos de secretário, vice-presidente e presidente da Conferência Episcopal do Equador. Atualmente é seu presidente honorário. Membro fundador do CELAM, é também Assistente ao Sólio Pontifício. Arcebispo d Guayaqui l de 1969 a 1989, desenvolveu intensa atividade apostólica de repercussão nacional. Tendo renunciado ao arcebispado ao atingir a idade canônica, S. S. João Paulo li designou-o Administrador Apostólico da diocese de !barra e nomeouo Cardeal no Consistório de novembro de 1994.
Urna vez mais, Plínio Corrêa de Oliveira se manteve intrépido na trincheira polêmica, agora contra o comunismo, o socialismo e seus colaboradores. E nesta luta permaneceu até o fim de seus dias, porque a Revolução foi pertinaz em impulsionar essa aberração em todas as nações. Infelizmente, os ambientes católicos, que não haviam sido imunes à infiltração nazifascista, também não escaparam à do marxismo, ~a vendo muitos exemplos de condescendências gravíssimas com esse erro, o que produzia uma inclemência enfurecida contra quem as atacasse. Obviamente, a atitude de Plínio Corrêa de Oliveira não era meramente antinazista ou anticomunista. Ambas eram resultantes de urn a posição dou trinária católica; inteiramente coerente e notavelmente fogosa, em defesa de todos os princípios da Igreja, especialmente daqueles que eram atacados pe1os inimigos mai s virulentos. No apostolado, sua preocupação primordial era apologética, pois queria que ele fosse servido pela lógica e pela doutrina em todo o seu vigor. Em 1943, publicou urna obra que até hoj e comove as consciências, Em Def esa da Ação Católica, a propósito da qual recebeu uma calorosa felicitação de Pio XII, enviada por Mons. Giovanni Baptista Montini , Substituto da Secretaria de Estado, elevado 20 anos depoi s ao Sólio pontifício com o nome de Paulo VI. A obra causou entusiasmo em uns e mal-estar em outros, pois denunciava erros que germinavam nos ambientes católicos, em relação aos quais alguns tinh am indulgência e outros indiferença, mas nos quais Plinio Corrêa de Oliveira via - como a História confirmou - germens de urna grande crise futura na Santa Igreja. Considerando a História recente de forma retrospectiva, ao recordar essa lúcida advertência e o verdadeiro cataclismo que sacudiu nas últimas décadas a Igreja, e que ainda não terminou, não podemos se não exclamar: "Ah, se essa vo z tivesse sido ouvida .. . !"
pode conformar-se com o século presente (Rom 12, 2), ou seja, não pode querer um modus vi vendi entre a Igreja e as tendências que dominam o mundo, mas deve querer para Ela e para a civilização cristã uma vigência plena e um brilho ainda maior do que nos seus melhores dias ao longo da Históna. Por isso, o católico deve aplicar cabalmente a sábia e severa sentença de Nosso Senhor, "ninguém pode servir a dois senhores". Plínio Corrêa de Oliveira consagrou todas as suas energias, em toda a sua longa e fecunda vida, ao combate intrépido contra esse processo, para recristianizar a ordem temporal rumo ao Reino de Cristo, ao Reino de Maria. Seu último livro Nobreza e elites Plínio Corrêa de Oliveira
Não se precisa ter muita sabedoria nem grande zelo para ver o perigo que provém dos males poderosos e conhecidos, mas ambas as qualidades são indispensáveis para se notar ó risco que os males já apresentam em seu nascimento. Pois bem, Plínio Corrêa de Oliveira sabia ver de longe os perigos e denunciá-los, esmerando-se especialmente em revelar os mais ocultos. Ainda quando isso lhe custasse amarguras, porque essas atitudes com freqüência frustravam os planos dos inimigos da Igreja. Seu desejo era que os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo impregnassem a fundo a sociedade contemporânea, segundo o lema de São Pio X, Omnia · instaurare in Christo (Restaurar todas as coisas em Cristo), que tanto comoveu o mundo católico nos albores deste século, e que desde então inspirou a ação dos melhores apóstolos. Sua obra Revolução e Contra-Revolução, publicada em i959, analisa a História dos últimos séculos e a situação do mundo contemporâneo, mostrando que um processo corroeu a Cristandade e procura destruir seus restos, para instaurar. um regime totalmente oposto à Lei de Deus. Diante desse processo o católico autêntico, corno assinala São. Paulo, não CATOLICISMO -
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tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana - que já tivemos ocasião de
elogiar - apareceu 35 anos após o último discurso do pranteado Pontífice, resgatando tais aloc uções do profundo esquecimento no qual haviam sido deixadas, e mostrando quanto bem teriam feito ao mundo contemporâneo se desde então se houvessem nelas inspirado os líderes religiosos e temporais. Sua obra se estendeu por 25 países - entre eles o nosso - onde o zelo combativo do mestre suscitou entusiasmo idealista nos discípulos, estimulando sua piedade, orientando seu estudo e sua ação, numa época em que os erros doutrinários, o indiferentismo religioso, as atitudes interesseiras e a obsessão por acomodar-se às piores situações se vão tornando cada dia mais freqüentes. Resta, pois, pedir à Virgem Santíssima que, tendo chamado junto a si quem a Ela dedicou sua vida, abençoe a continuidade de sua obra no futuro, tanto mais que os acontecimentos presentes anunciam mais crises e conflitos. Para contorná-los e vencê-los, é indispensável sua ajuda maternal, como mostra a vida de Plinio Corrêa de Oliveira. Quito, 8 de novembro de 1995 (*). (*) - O presente artigo foi publicado a 12- 11-95 em "EI Universal", de Guayaquil.
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INTERNACIONAL
Cá e lá mistificadores há NELSON RIBEIRO FRAGELLI Correspondente
No recente movimento grevista francês, é preciso fazer a distinção entre a realidade diretamente observada e a imagem difundida no mundo inteiro. Segundo grande parte das notícias , o movimento foi avassalador. Inúmeros jornais trouxeram ao público uma imagem cuidadosamente modelada, toda ela feita de reivindicações furiosas em uma França prestes a incendiar-se nas labaredas ateadas pelo operariado. É preciso retocar esta imagem. Assi sti a cenas de rua durante os desfiles grevistas, e consultei jornais franceses e europeus que me deram as tintas da real idade para fazer este retoque. Mas era preciso ler com cuidado, buscando informações precisas, esquivando todo sensacionalismo. Essas informações confirmavam: o que eu via nas ruas era um show. Foi em Paris, vendo diversas manifestações sindicais e operárias cercadas por forte contingente policial, que notei o desinteresse da maior parte dos manifestantes, a calma e a distensão do público de calçada. Em torno do cerne duro dos manifestantes - a presença policial incentivava-lhes a carranca - a maioria caminhava conversando, rindo, bem agasalhada. Meu olhar procurava o pretenso ódio das Paris -
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As recentes greves na França vistas sem retoques demagógicos
Paris: manifestação sensacionalista não convence
fisionomias, mas encontrava a insegurança de alguns, que procuravam sumir, desconfiado s, esgueirando-se entre magotes. O que eu via era sobretudo distensão. Certas cidades do su l da França, segundo o noticiário, pareciam desfazer-se em quebra-quebras e em choques com a polícia. Percorri algumas delas. Assisti a manifestações em Montpellier, uma das mais importantes cidades meridionais, e em Béziers. Mesmo fenômeno: nas passeatas, ao lado do cerne duro furibundo, sindica-
listas seguiam o movimento de corpo mole, brincando, fumando, descontraidamente, em clima de galhofa. Em uma dessas cidades, ao parar num sinal, meu carro foi cercado por grevistas. Urravam slogans agressivos edistribuíam folhetos incitando à paralisação dos trabalhos. Um operário barbudo me fez baixar o vidro do carro. Eu poderia ter pensado que minha hora final chegara ... Sorrindo, ele me agradece ter aceito seu folheto, e me pergunta: "Em que rua o Sr. deseja ir? Posso ser-lhe útil?"
'CATOLICISMO - Fevereiro de 1996
Ele me via com um mapa da cidade nas mãos, e queria ser simpático. Fitei-o nos olhos: era um pacífico pai de famí1ia; fazia greve certamente por espírito de camaradagem, e porque naqueles dias nada mais havia a fazer. Ao chegar dois dias mais tarde em Béziers, cidade histórica mas de porte menor, o quadro parecia terrível: uma negra coluna de fumaça elevava-se do prédio dos Correios e Telégrafos. Eu sabia que os empregados dos Correios eram os mais atuantes. Influenciado pelos noticiários da véspera, pensei ver, de longe, o quarteirão em cinzas. Qual nada! Cinco a dez empregados queimavam pneus cuidadosamente postos longe dos prédios, dos automóveis e de qualquer outra matéria combustível. Sem número para uma passeata, o cerne duro protegia-se do frio, aquecendo-se junto à borracha queimada. Ninguém lhes dava atenção, exceto repórteres, que na próxima edição noticiariam chamas na cidade. No dia seguinte viam-se ainda pneus no mesmo lugar, mas não havia quem os queimasse ... A greve contou com relativa simpatia popular apenas durante a primeira semana. Assim mesmo, neste primeiro período, 51 % dos franceses, embora sofrendo os graves incômodos da paralisação dos
transportes públicos e dos Correios, não queriam que o governo cedesse às reivindicações grevistas (Figaro, 412-95). Dos agitados empregados dos Correios, que lideraram a greve, apenas 5% aderiram ao movimento paredista (Figaro, 5-12-95). Eram precisamente estes que impediam a maioria de trabalhar, dando assim a ilusão de uma solidariedade maciça com as greves. A CGT francesa, também ela dominada por comunistas, multiplicava seus apelos. Seus piquetes bem treinados agiam febrilmente. Seus líderes pregavam a revolução social no velho estilo stalinista: a bandeira vermelha tremulava em frente de oficinas ferroviárias. "A Comuna de Paris (*) é bem francesa" declara um expoente da CGT. Na estação ferroviária do Norte, lia-se numa parede: "A Comuna não está morta" (Le Monde, 5-12-95).
Mas a adesão dos colegas não era obtida. Menos ainda a simpatia da população. "Segundo indicações fornecidas pelas empresas, apesar da au-
sência total dos transportes públicos, 75% dos trabalhadores da região parisiense [a mais afetada pela greve] não faltaram um só dia ao trabalho. Somente 8% se ausentaram mais do que cinco dias" (Le Monde, 18- 12-95). A estes trabalhadores, poderíamos muito bem chamar contra-manifestantes silenciosos, aos quais aquela ima-
gem publicitária, à qual me referi, não deu o merecido destaque. O soció logo Edgard Morin, que deixou o Partido Comunista em razão de suas idéias muito avançadas, reconheceu em entrevista ao "Figaro", de 7-12-95, que faltou ao movimento grevista o apoio de setores explosivos da sociedade francesa: imigrantes árabes e africanos, desempregados, movimento dos sem-teto, das periferias urbanas , etc. A contragosto , Morin reconhecia - mas sem confessar, obviamente - que a agitação não con- · vencia agitadores. Como explicar que passeatas tenham contado com milhares de participantes? É o es-
75 % dos franceses continuaram indo ao trabalho, apesar da falta de transporte público, do rigor do inverno e dos congestionamentos brutais causados pela greve. Muitos recorreram ao transporte fluvial (à direita)
quema de sempre: poucos ativistas bem treinados conseguem impedir que a maioria trabalhe; fechados os locais de trabalho, um grande número cede às pressões exercidas pe1os grevistas ... Certa imprensa, áv ida de temas quentes, mas nem sempre ciosa da verdade, apimentava seus comentários, inflando o número de paredistas. Bem feitas as contas, boa parte do movimento se reduzia a um efeito publicitário. Ternos no Brasil um fenômeno publicitário semelhante. Quem acompanha atentamente o movimento de invasões dos "se m-terra" sabe que se trata de magotes de agitadores , alardeados e multiplicados em número, peso e medida pela imprensa conivente, para assustar a opinião pública e criar clima favorável à reforma agrária socialista e confiscatória. Sem o apoio da imprensa,
nosso País, "sem-terras" esfomeados constituem hoje um exército invasor de quase um milhão de pessoas. E, em conseqüência, o Brasil estari a em chamas. Não sabem eles que obrasileiro é de índole pacífica e recusa violências. Exceto os grupos bem treinados de invasores, que constituem matéria para o show publicitácio ... Sem dispor de dados para uma avaliação criteriosa, não percebem esses amigos europeus a manipulação que sofrem. Um punhado de "semterras", que sem as tubas da publicidade nada seria, pode alarmar o leitor daqui, como lá o público fica alarmado a propósito das greves na França. É preciso estar atento à mistificação publicitária em favor dos movimentos reivindicatórios:. Cá e lá mistificadores l'lá ...
eles se reduziriam ao que realmente são: insignificantes. Freqüentemente, amigos europeus assustados me interpelam sobre a existência em nossa Pátria de hordas violentas de invasores de terras. Lendo jornais daqui , esses amigos ficam com a impressão de que, de Norte a Sul de
(*) Nota - Comuna de Paris: primeiro governo revo-
CATOLICISMO - Fevereiro de 1996
lucionário proletário de extrema esquerda, que tomou o poder após a derrota imposta . à França pelos prussianos em 1871. Célebre pela Semana Sangrenta de 22 a 28 de maio de 1871, com grande massaD cre em Paris.
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Sem. a oração, não há com.bate sério à crise social "A oração, ademais, extinguirá a própria causa das dificuldades da hora presente, que acima apontamos, isto é, a cobiça dos bens terrenos. O homem que ora tem suas vistas voltadas para o alto, ou seja, para os bens do Céu, que formam o objeto de suas meditações e desejos, todo ele se abisma na contemplação da ordem
admirável estabelecida por Deus, que desconhece a ânsia dos êxitos e não se detém em fúteis porfias de sempre maiores velocidades.
E assim, quase de per si, restabelecer-se-á o equilíbrio entre o trabalho e o descanso, de que a sociedade contemporânea está falha por completo, com grande prejuízo para a vida física, econômica e moral. "
PIO XI, Encíclica Caritate Christi Compulsi, 3-5-1932, parágrafo 13
DESTAG~_!\l
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Desinformação e confusão nas eleições russas Em dezembro passado, os russos votaram para eleger os deputados à Duma, uma espécie de Câmara Federal. Noti ciou-se que o Partido Comunista havia ganho as eleições. Era uma informação idônea? Vejamos. O PC recebeu 22,3% dos votos. Mas o comparecimento foi de apenas 63%,já que o voto não é obrigatório. Houve 37% de abstenções. Esse eleitorado que se absteve não é comunista. O eleitor marxista é ativo e comparece às eleições. 22,3% dos 63% que compareceram equivalem a 14,05% do corpo eleitoral: foi esta a votação do PC. 14% do total é uma grande votação? As razões de tais votos não foram sobretudo ideológicas. Boa parte dos sufrágios representa o chamado voto castigo. O eleitor, desagradado com o governo, escolhe o partido que lhe parece mais antigovernista. A formação desse contingente eleitoral foi muito ajudada pela maneira com que Yeltsin está conduzindo as reformas econômicas. 12
Rússia: confusão e reformas de Yeltsin (a esq.) favorecem o PC
· Há inúmeras denúncias de corrupção no processo das privatizações; a produção caiu nos três últimos anos; muitas fábricas foram fechadas, salários atrasados e grande desvalorização no poder de compra dos aposentados. Outro fator de caos é o aumento do crime organizado, aliás já muito presente no anterior regime comunista.
C,nouc1sMo - Fevereiro de 1996
Para facilitar o voto castigo ou o voto protesto, o PC defendeu não um retorno às coletivizações e à ditadura do proletariado, mas uma economia mista, proteção aos investimentos estrangeiros, aumento dos gastos sociais e a preservação da democracia política. As vitórias comunistas na Polônia e Hungria tiveram muito dos ingredientes do caso russo. Em resumo: o eleitorado na Europa Oriental não tem grandes fatias comunistas, tem até muito medo do retorno do PC ao poder, mas num ambiente de confusão e de privações seus rompantes impulsivos podem provocar vitórias comunistas, que serão habi lmente exploradas pelos estrategistas marxistas. Já foi assim em 1917. O partido{ie Lenin era fraco eleitoralmente, mas treinado para a intimidação e o golpe. Perdeu nas urnas, mas ganhou pela capacidade de esmagar a oposições, ag lutinadas por cúpulas moles, otimistas e imprevidentes. Está aqui ainda hoj e o grande perigo. D
A Imagem e as previsões de Nossa Senhora do Bom Sucesso D,ocoWAKt
inda pouco conhecida no Brasil, come mora-se a 2 de fevereiro uma invocação das mais insignes da mariologia. O homem moderno está acostumado a acreditar apenas naquilo que vê, e habituado a considerar as pessoas não pelo que são, mas por aquilo qu e fazem. Para ele talvez seja difícil entender a exaltação da vidá apagada de clausura, de sacrifícios e orações, na qual muitas vezes a Providência faz suas maiores revelações. Madre Mariana de Jesu s Torres, umá das fundadoras do Mo s teiro Real da Imaculada Conceição de Quito, foi uma grande mística que abraçou o estado de pe1feição evangélica conforme o ensinamento do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo e o levou a grau de heroicidade. Deus a escolheu para ser depositária de uma série de revelações a propósito do século em que vive:;u, e também dos futuros. Foi a ela que Nossa Senhora apareceu ordenando que mandasse esc ulpir uma imagem sob a invocação de Nossa Sen hora do Bom Sucesso. Nasc id a na Espanha, na Província de Viscaya, no ano do Senhor de 1563, Mariana bem cedo sentiu a vocação re1igiosa. Aos 13 anos de idade, com permisão do Rei Filipe II, abandonou se u país, juntamente com sua ti a, Ma-
A
povos pagãos. Assim, enquanto São Francisco Xavier atuava na Índia e no Japão, o Bem-aventurado Padre José de Anchieta evangelizava o Brasil etc. Foi movido por esse mesmo espírito que , em 1576, atendendo a pedidos insistentes de influentes famílias da cidade de Quito, o rei de Espanha enviou para o Equador um grupo de freiras da Ordem das Concepcion istas, fundada, algumas décadas antes, por uma religiosa portuguesa, Santa Beatriz da S ilv a.
A serpente infernal tenta esmagar a obra no seu nascedouro
Há mais de 400 anos, no Equador, a Virgem Santíssima anunciou: "Eu serei especialmente conhecida no século XX" dre Maria de Jesus Tal vada, e partiu para Quito, cidade situada em terras de colonização espanhola na América do Sul , a fim de ali estabelecer o primeiro mosteiro nas Américas em honra da Imaculada Conceição. A Europa estava conturbada por diversas questões político-religiosas e a Igreja Católica hav ia perdido influ ênCATOLICISMO -
eia em vários países. Em conseqüência, pessoas, grupos ou até mesmo nações inteiras abandonaram o se io bendito _da Santa Igreja. Para compensar a perda nas metrópoles, a Providência suscitou pessoas que, abandonando tudo em seus países de origem, se sentiam chamadas a conqui star almas para a Igreja nas co lônias, junto a
Fevereiro de 1996
Entre os atributos santís s im os de Nossa Senhora, um dos que mais provoca a indi gnação e o ódio de Lúcifer e seus sequazes é, certamente, a Imaculada Conceição. Nossa Senhora, escolhida para ser Mãe do Divino Salvador, concebida sem pecado original, co-redentora e medianeira universa l de todos os dons divênos, foi fiel a todas as graças desde o primeiro instante de sua concepção e, em ne nhum momento, foi escrava do demônio , tendo s ido e levada aos Céus e coroada como Rainha dos Céus e da Terra. As potestades infernais não poderiam ficar satisfeitas com a extensão da devo13
ção à Imaculada Conceição por toda a Terra. Não espanta, assim, que uma terrível tempestade tenha ameaçado naufragar a embarcação em que viajavam as religiosas espanholas. Em meio à tormenta, Madre Maria e a menina viram no mar uma serpente monstruosa de sete cabe' . ças, que movimentando as ondas ameaçava destroçar a frágil emMadre Mariana de Jesus e o belo claustro barcação. do mosteiro concepcionista de Quito A menina deu um grito e caiu desfalecida. Deus permitiria que fosse Sua tia, Madre Maria, pediu muito tentada pelo a Deus que as salvassem nademônio quele grande perigo. TermiÀs vezes ele se apresentanada esta oração, a tempes- va em forma de uma enorme tade milagrosamente cessou, serpente que a rondava de dia o dia clareou e ouviram o cla- e de noite; outras vezes, insumor de terrível voz, dizendo: flava o ódio de freiras "Não permitirei a fundainobservantes, vendo-a tão ção; não permitirei que pro- severa para consigo mesma e grida; não permitirei que se tão exigente no cumprimento conserve até o fim dos tem- da regra de São Francisco, nas pos e a todo momento a per- diversas vezes em que foi eleiseguirei". ta priora. Em conseqüência desse ódio, chegou a ser injusFundação do mosteiro tamente encarcerada na prisão No dia 13 de janeiro de do convento. 1577, na fundação do Real Mosteiro da Imaculada ConAparições de Nossa ceição, professaram as sete Senhora do Bom Sucesso religiosas fundadoras, nas A esta alma - esculpida mãos de um sacerdote por longos anos de penitêncifranciscano. Mariana de Je- as, orações e sacrifícios sus não pôde participar da ce- Nossa Senhora apareceu dirimônia por ter apenas treze versas vezes sob a invocação anos. do Bom Sucesso. É nesse local bendito que, O Mosteiro da Imaculada durante 59 anos, dar-se-á a lon- Conceição sempre estivera sob ga Via Crucis desta grande a assistência religiosa dos Framística, crescida à sombra da des Franciscanos. No entanto, Cruz e transformada em vítima algumas freiras relapsas quanexpiatória da justiça divina. to à Regra, não aceitando a in14
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fluência franciscana, urdiram uma conspiração e conseguiram de Roma que o Convento ficasse sob a tutela do Bispo local. Vendo o abandono em que ficaram as religiosas fiéis e o risco de extinção do Mosteiro, Nossa Senhora apareceu à Madre Mariana de Jesus Torres:
"É vontade de meu Filho Santíssimo que tu mesma mandes executar uma estátua minha, tal como me vês, e a coloques sobre a cátedra da Priora. Colocareis em minha mão direita o báculo e as chaves da clausura, em sinal de minha propriedade e autoridade. Colocarás em minha mão esquerda o meu Divino Filho. Eu mesma governarei este meu Convento". Mariana hesitou. Como levar a cabo aquela tão difícil tarefa? Em primeiro lu gar, como conseguir a autorização do Bispo? Depois, como conseguir os recursos, e qual escultor seria capaz de esc ulpir a imagem? - Senhora , insistiu areligiosa - como realizar tudo Fevereiro de 1996
isto, se nem mesmo sei qual a sua estatura exata? Dê-me o cordão franciscano que trazes na cintura - disse-lhe a Virgem. Neste momento os três Arcanjos, São Miguel, São Rafael e São Gabriel, que A assistiam, fizeram uma profunda reverência diante de Nossa Senhora, e com enorme respeito ergueram a coroa. Ela, então, tomou o cordão e colocou uma das extremidades sobre sua cabeça e ordenou que Madre Mariana tocasse com a outra nos seus pés. Ora, como o cordão era muito curto, houve um milagre e ele esticou-se até alcançar a altura exata da Virgem. "Aqui tens, minha filha, a medida de tua Mãe do Céu, entregaa a meu servo Francisco dei Castillo, explicando-lhe minhas feições e minha postura: ele trabalhará exteriormente minha imagem, porque tem consciência delicada e observa escrupulosamente os mandamentos de Deus e da Igreja. Nenhum outro será digno desta graça. Tu, de tua parte, ajuda-o com tuas orações e com teu humilde sofrimento". Cheia de encanto, a Madre tomou aquela preciosíssima relíquia, e durante toda a vida a levou consigo.
Nossa Senhora prevê o futuro do Equador e a morte do Bispo Nas aparições seguintes, Nossa Senhora do Bom Sucesso voltou a insistir para que a Madre mandasse executar, o
quanto antes, a imagem, repreendendo-a por sua demora. Para convencê-la, profetizou o futuro do Equador, do Bispo e outros acontecimentos já realizados, como as proclamações dos dogmas da infabilidade papal e da Imaculada Conceição. - "Minha Filha muito amada, por que és lenta e pesada de coração? Quantos crimes ocultos se cometem nesta população e nas vizinhas! Precisamente por esse motivo se fundou o Convento neste local, a fim de que Deus fosse desagravado no mesmo lugar em que Ele é ofendido e desconhecido; e por essa razão o demônio, inimigo de Deus e dos justos, tanto agora como nos séculos futuros porá em jogo toda a sua maliciosa astúcia para acabar com este Convento. Em seguida, Nossa Senhora revelou a Madre Mariana de Jesus que aquela Colônia tornar-se-ia independente sob o nome de Equador. Profetizou também que, "no século XIX, virá um presidente verdadeiramente cristão, varão de caráter a quem Deus Nosso Senhor dará a palma do martírio na praça onde está este meu Convento. Ele consagrará esta Pátria ao Divino Coração de Meu Filho Santíssimo, e esta consagração sustentará a Religião Católica nos anos posteriores, os quais serão terríveis para a Igreja". "Hoje mesmo, quando amanhecer, irás ter com o Bispo e lhe dirás que eu mandei esculpir minha Imagem para ser colocada à testa de minha Comunidade, a fim de tomar posse completa daquilo que, a tantos títulos, me pertence. E, como prova da veracidade do que lhe dirás, morrerá ele dentro de dois anos e dois me-
ses, devendo desde já preparar-se para o dia da eternidade, porque a sua morte será violenta". "Ele deverá consagrar minha Imagem com os Santos Óleos, e pôr-lhe-á o nome de Maria do Bom Sucesso da Purificação ou Candelária. Nessa ocasião solene, ele mesmo colocará na mão direita de minha Imagem, junto com o báculo, as chaves desta clausura, como prova de que entrega a mim o governo das esposas de meu Filho Santíssimo, transferindo todos os seus cuidados para minha maternal e amorosa proteção. "Então, nesse momento, Eu tomarei posse completa desta minha casa, e obrigarme-ei a guardá-la ilesa e livre de todo atropelo até o fim dos tempos, exigindo de minhas filhas contínuo espírito de caridade e sacrifício".
Como se realizou o desejo de Nossa Senhora Depois de muito hesitar, Madre Mariana acabou falando com Dom Salvador Ribera. O Bispo imediatamente concordou: - "Madre, por que Vossa Reverência não me chamou antes? É Deus quem assim dispõe, e não devemos ficar surdos à sua voz e aos seus apelos. Ele é livre para pedir às suas criaturas o que lhe aprouver".
Desta maneira foram feitas as chaves de prata. O Cabido encarregou-se da coroa de ouro, e o báculo ficou a cargo da Marquesa Maria de Iolanda, parenta do Rei de Espanha. Quando a marquesa soube que lhe era pedido oferecer o báculo de Nossa Senhora, respondeu agradecida: "Madre, teria ficado muito ressentida se Vossa A majestade caracteriza a imagem de Reverência não me Nossa Senhora do Bom Sucesso tivesse avisado primeiro. Agradeço a sua atenção que não cobraria nada, e que e carinho, e digo que não con- se dava por muito bem pago sentirei em absoluto que nin- por ter sido escolhido para tão guém mais contribua para o sublime missão. báculo da Imagem de minha Confessou-se, comungou, celeste Mãe e Senhora. Forne- e no dia 15 de setembro de cerei todo o material e a mão 1.6 lO iniciou a tão esperada de obra. Tenho o suficiente obra. Trabalhou longos dias a para isto, e ainda que não o fio, sempre sob a orientação tivesse, venderia meus have- de Madre Mariana de Jesus res para consegui-lo. Peço me Torres. Quando faltavam apeindique como quer que se faça, nas alguns retoques finais, e nada mais. Eu me encarre- viu-se que a imagem, ainda garei de todo o resto". que satisfatória, nem de longe Francisco dei Castillo, por representava o que a Madre sua vez, disse que se sentia in- havia presenciado. Francisco digno de ser o escultor de tão então saiu em viagem à proinsigne imagem, mas que o fa- cura de tintas para concluir o ria da melhor maneira possí- trabalho. vel. Perguntado em quanto sairia o trabalho, respondeu Como a Madre Mariana
descreve o milagre
Verso de autoria da Madre Mariana de Jesus Torres "Mira que te mira Dios Mira que te esta mirando Mira que deves morir Mira que no sabes quando".
CATOLICISMO -
Veja que Deus te olha Veja que Ele está te olhando Veja que deves morrer Veja que não sabes quando
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"Na oração da Comunidade da tarde do dia 15, Deus preveniu-me que, na madrugada do dia 16, eu presenciaria suas misericórdias em favor de nosso Convento e do povo em geral. Pediu que me preparasse para receber essas graças, com penitência e orações noturnas. 15
Assim o fiz. Os Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael dirigiram-se para o trono da Rainha dos Céus. São Miguel, saudando-A submisso, disse: .. - "Maria Santíssima, Filha de Deus Pai". E São Gabriel acrescentou: - "Maria Santíssima, Mãe de Deus Filho". E São Rafael concluiu: - "Maria Santíssima, Esposa Puríssima do Espírito Santo". "Em seguida chamaram a milícia celeste e cantaram todos juntos: Maria Santíssima, Templo Sacrário da Santíssima Trindade". "Nisto apareceu S. Francisco de Assis, acompanhado pelos três Arcanjos e seguidos da milícia celeste. Aproximaram-se então da Imagem semiconcluída e, num instante, a refizeram. "Entrementes, a Imagem estava totalmente iluminada como se estivesse no meio do sol. A Santíssima Trindade olhava comprazida e os anjos cantavam o Salve Sancta Parens.
"A Rainha dos Anjos, no meio de todas essas alegrias, aproximou-se da Imagem e nela penetrou, à maneira de raios do sol que incidem em formosos cristais. Naquele momento a Imagem ficou resplandescente, como se adquirisse vida, e cantou com celeste harmonia o "Magnificat" ! Isto aconteceu às três · horas da manhã". "Essa obra não é minha" No dia seguinte, como era esperado, Francisco, o escultor, chegou de viagem com 16
Modelo de estadista católico No dia 6 de agosto de ·1875, primeira sexta-feira do mês, depois de comungar na Igreja de São Domingos, e de dar, no gabinete de sua casa, os últimos retoques à Mensagem que deveria ler na abertura do Congresso no dia 1O, o recém- reeleito presidente do Equador, Gabri el Garc ia Moreno, dirige-se ao Palácio Presidencial. Antes de entrar, Garcia Moreno quis adora r o Santíssimo Sacramento, que estava exposto na Catedra l. Em plena ca lçada, o facão assass ino do traidor Rayo atingia a cabeça do mártir cristão, pois foi assassinado por ódio à Fé.
as tintas. Quando viu a imagem assim concluída, caiu de joelhos e exclamou: "Madre, que vejo? Esta primorosa Imagem não é obra minha! Não sei o que sente o meu coração: mas é obra angé lica, pois um trabalho desse gênero não se pode produzir na terra com mão de frági l barro. Oh não! Escultor algum, por hábil que seja, poderá jamais imitar sequer tanta perfeição e tão maravilhosa beleza". Levantando-se em seguida, pediu papel e tinta para lavrar um documento, jurando que aque la bendita Imagem não fora obra sua, mas de anjos, porque a encontrara acabada de
outra maneira, que não aquela deixada no coro superior do Mosteiro da Imaculada Conceição, seis dias antes. Fátima confirma Bom Sucesso O que impressiona nas revelações de Nossa Senhora do Bom Sucesso é a previsão de fatos que se cumpriram nos séculos seguintes, entre os quais cumpre destacar a descrição da crise e dos castigos previstos em Fátima para os nossos dias. Previsões: Infalibilidade papal e Imaculada Conceição "A infalibilidade Papal será declarada Dogma de Fé
pelo mesmo Papa escolhido para proclamar Dogma o Mistério de minha Imaculada Conceição. Ele será perseguido e encarcerado no Vaticano pela injusta usurpação dos Estados Pontifícios, pela maldade, inveja e avareza de um monarca terreno".
A vitória da Santa Igreja: embalada nos braços de um varão "E alegre e triunfante, qual frági I menina, ressurgirá a Igreja e adormecerá brandamente, embalada em mãos de hábil coração maternal do meu filho eleito muito querido daqueles tempos, ao qual, se dócil prestar ouv ido às inspirações da graça - sendo uma delas a leitura das grandes misericórdias que meu Filho Santíssimo e Eu temos usado contigo - enchêlo-emos de graças e dons muito particulares. Fá-lo-emos grande na terra e muito maior no Céu, onde lhe temos reservado um assento muito precioso, porque, sem temor dos homens, terá combatido pela verdade e defendido impertérrito os direitos de sua Igreja, pelo que bem o poderão chamar mártir". O
Fontes de referência
O coro do mosteiro: repleto de recordações das revelações de Nossa Senhora
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Fevereiro de 1996
( 1) Vida Admirable de la Revela. Madre Mariana de Jesus Torres, espaíiola y u11a de las Fundadoras dei Monasterio Real de la Limpia concepció11 de la Ciudad de San Francisco de Quito - Fray Manuel Souza Pereira, O.F.M, Quito, 1790. (2) Madera para Esculpir la lmagen de una Santa , Mons. Dr. Luis E. Cadena Y Almeida, The Foundation for a Christian Civilization, lnc. Bedford, NY, 1987.
Palavras de vida eterna A parábola do semeador "Naquele dia, saindo Jesus de casa, sentou-se junto ao mar. Em torno del e reuniu-se uma grande multidão. Por isso, entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão estava em pé na praia. E disse-lhes muitas co isas cm parábolas: Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte ca iu ao longo do caminho, e as aves a comeram. Outra parte ca iu em lugar pcdrc~ goso, onde não havia muita terra. Logo brotou, porque a terra era pouco profunda. Mas, ao surgir o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. Outra parte ca iu entre os espinhos. Os esp inhos cresceram e a abafaram. Ou tra parle, finalmente, ca iu em boa terra, e produziu fruto à razão de cem, sessenta e trinta por um. Q uem tem ouvidos, ouça!" (Mt, 13, -1-9)
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino, no livro Catena Aurea (São Jerônimo) É necessário não esquecer que o povo não podia entrar na casa onde se encontrava Jesus, nem estar onde os Apóstolos ouviam os mistérios. Por isso o Senhor, misericordioso, saiu da casa e sentou-se à beira do mar a fim de que o pudessem rodear as numerosas pessoas. E ouvissem, na margem, o que não mereciam escutar no interior da casa. (São
João
Crisóstomo)
O
Evangelista narrou tudo isso não sem uma intenção, pois quis fazer-nos ver, ao descrever esta cena, que o plano do Senhor era não deixar ninguém detrás de si, mas ter a todos diante de seus olhos . (Santo Hilário) O motivo pelo qual o Senhor se sentou numa barca e a multidão ficou fora se deduz facilmente do que segue: pois ia falar- lhes em parábolas. E, por esse modo de agir, dá a entender que os que estão fora da Igreja não podem compreender a palavra divina. (Santo Hilário) A barca representa a Igreja, na qual a palavra de vida está depositada e ensinada, e os que estão fora são semelhantes à areia estéril - não estão em condições de compreender.
(Rábano) Não só as palavras e as ações de Nosso Senhor, mas até os camjnhos e lugares que Ele percorreu estão repletos de divinos ensinamentos. Porque, depois do discurso que pronunciou na casa onde se proferiu a horrível blasfêmia de que estava possuído do demônio, saiu dali e ensinou na beira do mar para manifestar que, abandonando a Judéia à sua perfídia, passaria a outras nações para salvá-las. Porque os corações dos gentios, por muito tempo orgulhosos e incrédulos, assemelhavam-se às soberbas e amargas ondas do mar. Nas interpretações alegóricas, uma mesma coisa nem sempre tem o mesmo sentido. O caminho significa a alma cheia de zelo, pisoteada e golpeada pelo medo de maus pensamentos. A pedra, a dureza da alma insolente. A terra, a docilidade da alma obediente. E o sol, o ardor da perseguição ameaçadora. A profundidade da terra é a probidade da alma formada segundo os ensinamentos divinos. O entrar na barca e sentar-se significa que Cristo subiria, pela Fé, até às almas dos gentios, e que colocaria a Igreja no CATOLICISMO -
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mar, ou seja, no meio das nações perseguidoras. A multidão, que ficava na margem, e não estava nem na barca nem no mar, significa aqueles que recebem a palavra de Deus e estão, pela Fé, separados do mar, isto é, dos réprobos, mas que ainda não estão imbuídos dos celestiais mistérios. (São Jerônimo) Nosso Senhor Jesus Cristo está no meio das ondas, que dão golpes por toda parte. Mas, tranqüilo, Ele, na sua Majestade, aprox ima a barca da terra a fim de que o povo, não tendo de que temer e nem vendo-se rodeado de tentações que não pudesse vencer, esteja também tranqüilo na margem e ouça suas palavras. (São João Crisóstomo) Quando considerais as palavras "o semeador saiu a semear", não creiais que haja identidade nas palavras desta frase. Porque o semeador sai muitas vezes para outras coisas diferentes, como para arar a terra, arrancar as ervas, quebrar os espinhos ou para qualquer outra tarefa. Mas este saiu com o objetivo único de semear. E que resultou da semente? Perderam-se três partes e uma só se salvou. E isto não com igualdade, senão com certa diferença. Ensinou também o Senhor, por esta parábola, que os seus discípulos não devem abandonar sua missão por haver entre seus ouvintes alguns que não correspondem, posto que o Senhor, que tudo prevê, não deixou, por este motivo, de semear. (São Remígio) Os ouvidos para ouvir são os "ouvidos" da alma, que devem servir para compreender e praticar os mandamentos de Deus. O 17
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) Santa Escolástica: Fundadora das beneditinas Fundadora de Ordem religiosa com mais de 14 mil conventos, a irmã gêmea de São Bento foi exemplo de espírito hierárquico, voltado para as mais altas cogitações PAUW FRANCISCO MARTOS
m dos aspectos mais lamentáveis da profunda crise que se abateu sobre a Igreja em nossos dias é o que ocorre em certos conventos femininos: freiras igualitárias não aceitam superioridades e querem até se tornar sacerdotes. Bem ao contrário dessas freiras progressistas, Santa Escolástica - cuja festa celebra-se a 1O de fevereiro constitui magnífico exemplo de espírito hierárquico, amando as desigualdades queridas por Deus, voltada para as mais altas cogitações e praticando pureza ilibada.
U
De nobre estirpe Nascida em 480 na cidade de Núrsia, na Úmbria (região central da Itália), de família nobre, Santa Escolástica era irmã gêmea do grande Patriarca dos Monges do Ocidente, São Bento. Logo depois que seu santo irmão abandonou o mundo e foi para a gruta de Subiaco (próxima de Roma), imitou-o, guardando a virgindade, e levando vida de oração e recolhimento . E quando São Bento fundou a Abadia de Monte Cassino, Santa Escolástica, acompanhada de muitas outras virgens, foi procurar o irmão para pedir-lhe conselho. 18
Última conversa de S.10 Bento com Santa Escolástica
Rigor de São Bento Tal era a vigilância de São Bento, que não permitia a nenhuma mulher entrar no Mosteiro, nem mesmo sua irmã. Assim, atendeu-a do lado de fora, e indicou-lhe o fundo de um vale como local para ali se estabelecer com suas filhas espirituais. Com a maior humild ade, Santa Escolástica aceitou a orientação do írmão e, juntamente com as outras virgens, passou a viver num mosteiro construído no local escolhido por São Bento. Assim nasceu a Ordem segunda dos beneditinos, da qual Santa Escolástica é Fundadora. Tal Ordem difundiu-se de modo tão prodigioso que chegou a possuir 14 mil conventos em todo o Ocidente. • CATOLICISMO -
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Apesar de Santa Escolástica ser sua irmã, o Santo Patriarca permitia ser visitado por ela apenas uma vez por ano. A santa aceitava essa restrição com espírito humilde e submisso. Para tais conversas São Bento ia sempre acompanhado por monges, e Santa Escolástica por monjas. Exemplo de castidade ilibada, meticulosa e vigilante da parte de ambos os santos. Aplica-se-lhes literalmente o antigo e sábio adágio: "Entre santa e santo, muro de cal e canto ". Tempestade miraculosa A última conversação que Santa Escolástica manteve com seu irrrião é narrada por São Gregório Magno na esplêndida obra Vida e Milagres de São Bento.
"Um dia - escreve São Gregório Magno - veio ela como de costume, e seu venerável irmão desceu a vê-la acompanhado de alguns discípulos. Passaram todo o dia em louvores ao Senhor e em santas conversações, e ao anoitecer tomaram juntos uma refeição. "Estando ainda sentados à mesa, como cada vez mais se prolongasse a hora naquele santo colóquio, Santa Escolástica rogou a São Bento: "Suplico-te que não me deixes esta noite, para que possamos falar até amanhã das alegrias da vida eterna". Mas ele repondeu: "Que estás dizendo, irmã? De modo algum posso permanecer fora do mosteiro". "O céu estava tão sereno que nenhuma nuvem se avistava em todo o firmamento. A santa religiosa, ao ouvir a negativa do irmão, entrelaçando sobre a mesa os dedos das mãos, apoiou nelas a cabeça para orar a Deus todo-poderoso. Quando a levantou, era tal a violência de raios e trovões, e tal a enxurrada que a chuva produzia, que nem São Bento nem os irmãos que o haviam acompanhado podiam sequer transpor os umbrais do local em que estavam abrigados. "Efetivamente, a devota mulher, quando apoiou a cabeça sobre as mãos, havia derramado sobre a mesa uma torrente de lágrimas, as quais tiveram como efeito fazer com que a serenidade do céu se transmutasse em chuva copiosa. "Vendo então o homem de Deus que em meio a tantos relâmpagos e trovões, e com a chuva torrencial, não lhe era possível regressar ao mosteiro, entristecido começou a queixar-se: "Que Deus onipotente te perdoe, irmã. Que foste fazer?" E ela: "Ora, pedi a ti, e não me quiseste escutar; pedi então ao Meu Senhor e Ele me . " ... ouviu "E assim foi que passaram toda a noite acordados, nutrindo-se ambos na mútua conversação e em santos colóquios sobre a vida espiritual". No local onde ocorreu o milagre da tempestade, foi depois erigido um
Santa Escolástica
oratório que recebeu o nome de Capela do Colóquio. Conversas sérias, fruto de altas cogitações Não podemos deixar passar o fato sem um breve comentário. Os temas das conversas dos santos irmãos eram sublimes porque provinham de altíssimas cogitações. Que diferença com certas conversas de religiosos ou religiosas progressistas, em que se proferem tantas palavras ociosas! E o que dizer da introdução da TV dentro de tantos conventos? Lembremo-nos sempre de que no dia do Juízo Deus nos pedirá conta de toda palavra ociosa. Na Ladainha de todos os Santos há esta bela invocação: "Para que Vos digneis elevar as nossas almas às coisas do Céu, nós Vos rogamos, ouvi-nos".
No dia seguinte a venerável fundadora beneditina voltou à sua morada, retornou também à sua o servo de Deus. Três dias depois, estando São Bento no mosteiro, levantando os olhos ao céu viu a alma da irmã, desprendida de seu corpo, penetrar em forma de pomba nas regiões celestiais. Compartilhando com ela a alegria por tanta glória, deu graças a Deus onipotente com louvores e cânticos, anunciou a sua morte aos monges, e enviou-os logo para que trouxessem o corpo ao mosteiro, onde o depositaram na sepultura que ele havia preparado para si mesmo. Era 10 de fevereiro de 547. São Bento morreu 40 dias depois, em 21 de março. Em 1997, portanto, comemorar-se-ão 1.450 anos da morte de ambos os santos. Quase um milênio e meio do falecimento de dois grandes Fundadores, cujas Ordens masculina e feminina constituíram dois pilares religiosos na formação da Cristandade medieval. Que do alto do Céu Santa Escolástica reze por nós e nos obtenha da Santíssima Virgem o amor às justas desigualdades, à pureza, bem como a recusa completa ao igualitarismo e à sensualidade reinantes neste triste final de século. Peçamos-lhe também livrar-nos do espírito prosaico, e conseguir que nossas mentes estejam sempre voltadas para o desejo das coisas celestes. O
Fontes de referência:
Três dias depois, aos 6 7 anos, morte de Santa Escolástica Era esse desejo das coisas celestes que ardia nas almas de São Bento e Santa Escolástica e produzia conversas tão cheias de unção. CATOLICISMO -
São Bento e Santa Escolástica
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São Gregório Magno, Vida e Milagres de São Bento, Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda., São Paulo, 1995. - Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, Portugal, 1987. - Enciclopédia Cattolica, C idade do Vaticano, 1953, Vol. XI.
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Discernindo, distinguindo, classificando ...
História Sagrada
em seu lar
(58) noções básicas ne ira de desafio: És dos nossos, ou dos inimigos? "Ora, Jericó estava fechada e bem fortificada, por te mor aos filhos de Israel: ninguém ousava sair nem entrar. ',_ -
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A destruição de
A
Jericó
pós a espetacular passagem do rio Jordão, Josué prepara os judeus para tomar Jericó. Essa cidade, cercada de altas e fortes muralhas, era uma das mais impo rtantes da Palestina. "Estando Josué perto de Jericó, vi u diante de si um homem em pé, com uma espada desemba inhada na mão. Josué aprox imou-se dele e disse-lhe: Tu és dos nossos, ou dos nossos inimigos? "E e le respondeu: sou príncipe do exército do Senhor, e acabo de chegar. Josué prostrou-se com o rosto em terra e disse- lhe: Que tem a dizer o meu Senhor a seu servo? E ele respondeu: descalça as sandál ias dos teus pés, porque o lugar em que pisas é santo. E assim procedeu Josué" (Jos 5, 13- 16).
Deus dá instruções de guerra "O Senhor disse então a Josué: Eis que entrego nas tuas mãos Jericó, o seu rei e seus homens de guerra. Dai volta à cidade, vós todos os combatentes, uma vez por dia. Assim fareis durante seis dias, e sete sacerdotes levarão diante da Arca sete trombetas de chifre de carnei ro. No sétimo dia, rodeareis sete vezes a cidade, e os sacerdotes tocarão as trombetas. E, quando o som das trombetas se fizer ouvir com fragor, todo o povo prorromperá em fo1te grito de guerra, e cai rão as muralhas da cidade, e cada um entrará no lugar à sua frente" (Jos 6, 2-5). Após transmitir essas in struções, Josué ordenou aos guerreiros que fizessem as marchas em torno de Jericó no mais completo silêncio. E acrescentou que todos os habitantes de Jericó deveriam ser mortos, exceto Raab e sua famíl ia, porque aquela mulher protegera os mensageiros de Josué. O ouro, a prata e tecidos preciosos deveriam ser consagrados a Deus. E finali zou, com essa ordem pe-
Analogia com a sarça ardente Essa aparição faz lembrar o episódio da sarça ardente, ocorrido com Moi sés junto ao Mon te S ina i, quando Deus lhe ordenou que li bertasse o povo hebreu do cativeiro do Egito (Êxodo 3). E mostra a grande coragem de Josué, o qual, vendo um homem com a espada desembainhada, caminhou em sua direção e perguntou , à ma-
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remptória: Ninguém tome para si coisa algum a dos despojos.
A queda das muralhas Os combatentes, obedecendo a Josué, deram uma volta na cidade, durante seis dias consecutivos. Ao sétimo dia, efetuaram sete voltas, e por fim bradaram em alta voz, ao som das trombetas. Então, "caíram de repente as muralhas; e cada um subiu pelo lugar que lhe ficava defronte; e tomaram a cidade, e mataram tudo o que nela hav ia, homens e mulheres, crianças e velhos. Passaram também ao fio da espada os bois, ovelhas e jumentos" (Jos 6, 202 1). Por fim puseram fogo à cidade. A mane ira prodigiosa como caíram por terra os muros de Jericó, ao som das trombetas de Josué, é um testemunho visível com que o Senhor mostra a Israel que Ele é quem o introduz na posse da terra prometida; e deste modo convence seu povo de que só a fé é poderosa, e que sem o seu socorro não poderiam vencer seus inimi gos. Com mais razão dizemos nós que a força, a vida e vitória do cristão estão encerradas na sua fé. Com ela resistirá às tentações, por ela vencerá seus inimigos, dela viverá. Afirma o Apóstolo São Paulo: "Pela fé caíram os muros de Jericó" (Hb 11 , 30). Deus mandou que a cidade de Jericó fosse destruída com tudo que encerrava, e que os israelitas nada tomassem dos despojos, para testemunhar-lhes quanto eram odiosos os crimes de seus habitantes. Os israelitas deviam estar profundamente compenetrados, desde o começo dessa guerra, de que eram encarregados da execução da justiça de Deus, e de ter, por conseqüência, profundo horror aos pecados que haviam provocado tão tremendos castigos . D Fonte de referência: ( *) Cônego J. I. Roquete, História
Milagrosamente, ao som das trombetas, as muralhas de Jericó desabam num instante
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Sagrada do Antigo e Novo Testamento, Guillard Aill aud, Lisboa, 1896, 9' ed., tomo 1, pp. 278-279.
Conversando com Simprônio Produtos chineses inundam o mercado nacional a preços irrisórios, porque fruto do trabalho escravo
Ei
no lufa-lufa de um dia de semana, em plena rua da Quitanda, em São Paulo, que me encontrei com Simprônio. Havia muitos anos eu não o via, desde que freqüentáramos juntos os bancos escolares . Logo ao primeiro contato, percebi que ele não abandonara sua mentalidade otimista e folgazã. Sua preguiça de analisar a realidade o levara desde sempre a adotar como dogmas as opiniões da mídia, as quais ele sorvia com av idez, pois não exigiam dele que pensasse. Após os cumprimentos de praxe, mostrou-me um volumoso pacote que levava debaixo do braço: - São brinquedos que comprei para meus filhos. E baixando o tom de voz, quase colando seus lábios no meu ouvido: - São fabricados na Ch ina, baratinhos. - Mas Simprônio, são baratos porque na Ch ina há trabalho escravo, lá não há despesas com mão-de-obra. Ele enrubesceu, meio envergonhado por estar ajudando a manter um país comunista, mas não desistiu, e saiu-se com o seguinte: - O comunismo acabou, a China está caminhando para o capitalismo - É o contrário, Simprônio. É o capitalismo que está caminhando para a China. Os produtos chineses que invadem o mercado brasi leiro e mundial são fruto de economias capitalistas a.plicadas na China, com utilização de operários locais, obrigados a trabalhar praticamente de graça. - Mas desde que o comun ismo acabou na Rússia, tende a acabar no mundo todo. - As últimas eleições russas deram a.os comunistas 40% das cadeiras do Par-
Os dissidentes Wei (na foto) e Wu, denunciam trabalho escravo na China
lamento. Eles estão reassum indo na Polônia, na Hungria etc. Apertado e sem argumentos, Simprônio saiu-se como pôde: - Olha, não me amo le. Eu só quero levar alegria para minhas crianças. - Você já ouviu falar de Harry Wu? - perguntei-lhe à queima-roupa. - Sim, é claro. Vejo sempre o nome dele no jornal. É um dissidente chinês que vive em Londres. Mas o que tem isso a ver com a alegria que eu quero dar aos meus filhos? - Espere! Tenho aqui um recorte de jornal com uma entrevista do Wu . Olhe só! É do "Jornal do Brasil", de 3 de dezembro último: "Quem der brinquedos fabrica.dos na China, de presente, dará alegria a crianças às custas do sofrimento de milhões de chineses internados em ca.m pos de trabalhos força.dos". O mal-estar de Simprônio era evidente. Ficou pálido. Temi que desmaiasse em plena rua da Quitanda. Tive pena dele, mas achei que o que eu podia fazer de CATOLICISMO -
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C.A.
melhor àq uele meu antigo colega era dizer-lhe toda a verdade. Por isso convidei-o para entrarmos numa lanchonete vizinha. Ele sentou-se, tomou uma água tônica, comeu alguns salgadinhos, e quando estava mais bem disposto, continuei a fornecer-lhe os dados da entrevista: - O Wu diz a.inda que o regime ch inês mantém "seis a oito milhões de pessoas detidas em 1. 100 campos de trabalhos forçados". É aí, Simprônio, que "são produzidos hoje um terço do chá e dos brinquedos exportados pela China, além de sapatos e inúmeros outros produtos". - Bem, mas com todo o dinheiro que os capitalistas do Ocidente estão pondo na China, o regime comunista lá tende a acabar. - É o contrário, Simprôn io. O Wu mostra que o desenvolvimento econômico está sendo responsável "pela sobrevivência do regime". - Mas quem defendia isso era o falecido Plínio Corrêa. de Oliveira ... - Exatamente, Simprônio. Você vê por aí quanta razão tinha o Dr. Plínio em aleitar contra os "sapos". Você ce1tamente se lembra de que era assim que ele pitorescamente designava os super-capitalistas ocidentais que, com o próprio dinheiro, mantêm o comunismo no mundo, entregando aos comunistas a corda com que vão ser enforcados. Para Simprônio era demais. Admitir que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tivesse razão, ele não podia. A mídia nunca dissera isso ... Levantou-se bruscamente, fez-me um cumprimento rápido e saiu carregando seu pacote, que parecia ter-se tornado ainda mais pesa.do. De minha parte, paguei a conta e saí também. O 21
Espiritismo e seitas espíritas
ATUALIDADE
Voz ,de alerta nos Estados Unidôs: perceber e combater o demônio é dever do católico Dom Dona ld W. Montrose é, desde 1985, Bispo diocesano de Stockton, na Cali fórnia. De 1983 a 1985 foi Bispo Auxi liar de Los Angeles. Preocupado com o avanço da influência satâni ca nos Estados Un idos, escreveu uma Carta Pastoral, The occu/t has demonic influence ("O oculto tem influência satânica"), que um dia, certamente, será um dos marcos mais importantes da vida religiosa deste sécu lo na super-potência do Norte. Publi cada no Spiritua l Warfare, um resumo dela foi estampado, com autorização, na revista Tradition, Family and Property, da TFP norte-americana. Abaixo, alguns trechos do substancio?o resumo desse documento, para que o leitor brasil eiro possa conhecer o que de mais atua l há na pastora l nos Estados Un idos.
"Por oculto designamos aqui uma influência supra-humana ou pretematural que não vem de Deus. Normalmente associamos o oculto com aquilo que tem influência diabólica. O oculto hoje nos Estados Unidos é mais popular do que o era há vinte anos atrás. Música satânica popular, bandos de rua satânicos, aumento da adoração do demônio, uso mais generalizado de horóscopos, estudo dos signos do zodíaco, jogos satânicos que podem ser comprados, tudo isto o atesta. A influência do demônio é muito real e constitui uma ameaça perigosa para nosso bemestar espiritual.
O reino de Satanás "Como é o reino de Satanás? É uma mentira que procura imitar o reino de Deus. O 22
animais, lançando setas, conchas, pedras ou por qualquer outro meio supersticioso. A leitura diária do horóscopo, mesmo por entretenimento, pode faci lmente nos influenciar. É uma das maneiras pelas quais nos abrimos para o oculto.
Dom Donald W. Montrose
Conhecimento proibido e poder proibido
ticulares, podemos conjeturar o que provavelmente acontecerá. Isto é uma coisa. Mas procurar conhecimento do futuro ou conhecimento íntimo sobre outra pessoa, fora de Deus, e por meio da ajuda da clarividência ou dos espíritos, é tentar obter um conhecimento proibido. "O poder proibido é uma espécie de poder mágico que produz efeitos fora da influência divina e de uma maneira que está além dos meios humanos ordinários. "
"Quando dizemos conhecimento proibido, com isto
Astrologia e horóscopos
simplesmente queremos significar um conhecimento que é obtido fora da influência divina, ou fora da via normal pela qual os seres humanos conhecem. Nenhum de nós desvenda o futuro. De nosso conhecimento de circunstâncias par-
"Astrologia e horóscopo são usos pagãos. É proibido procurar conhecer o futuro através das cartas, do tarot, do Ouija, das bolas de cristal, pela leitura das mãos, pela interpretação do curso dos astros, examinando vísceras de
demônio nos oferece uma felicidade falsa e paz. Atrai-nos para um conhecimento e uma sabedoria sinistros. Foi desta forma que tentou Adão e Eva. São Paulo nos adverte para estarmos alertas: "Alguns homens abandonarão a fé nos últimos tempos. Obedecerão espíritos mentirosos e seguirão o ensinamento dos demônios "(), Tim 4;1) .
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Bruxaria "Bruxaria ou uma mágica supersticiosa são usadas para produzir efeitos que estão além do poder humano. Estes efeitos podem ser bons ou maus. Muitas vezes há uma invocação do demônio. Hoje, as bruxas podem ser encontradas em todos os lugares, e muitas vezes são apresentadas sob uma luz simpática. Não sej deixem enganar pela natureza aparentemente religiosa do que acontece.
Amuletos "O amuleto é uma forma de magia. Crê-se que um objeto tem certo poder para atrair o bem e afastar o mal. Boa parte das jóias usadas no pescoço em nossos dias, tantas vezes inocentemente, tem símbolos usados na bruxaria. Usar algo que representa o oculto, mesmo de forma inocente, é simbólico do poder satânico sobre nós. Não devemos hesitar em nos livrardeste tipo de jóias . .
"O espiritismo pretende a comunicação com os mortos ou com o mundo dos espíritos por alguma maneira psíquica ou por · meios ocultos. Algumas vezes, o espiritismo vem ligado com curas, bruxarias, adivinhações, bênçãos de casas. Eles também acreditam na reencarnação. Todos aqueles que estão envolvidos com o espiritismo devem renunciar a Satanás e às doutrinas espíritas, pedir o perdão a Deus, e confessar seus pecados a um sacerdote.
Reencarnação "A reincarnação é a crença de que a alma, após a morte, entra no corpo de outro ser humano, de um animal, numa planta ou mesmo numa coisa inanimada. Muitas religiões orientais e seitas acreditam nisto, assim como a teosofia, que buscou lá esta crença. A crença na reencarnação é contrária à Bíblia e a todo ensinamento cristão.
Curas superticiosas "Não importa que haj a image ns, água benta, cruc ifixos, orações para Jesus, para Maria ou para os santo s. Se há alguma prática superticiosa, é um ação má.
Algumas vezes curandeiros e santeiros prescrevem preces "católicas". Nenhuma destas orações pode ser rezada em tais circunstâncias.
Hipnotismo "Embora hoj e em dia o hipnotismo seja usado por médicos respeitáveis, dentista e terapeutas, foi ligado ao oculto e à superstição. Mesmo quando legítimo, há perigos que devem ser cuidadosamente pesados. No hipnoti smo, entrega-se por certo tempo a capacidade de raciocinar, há uma dependência à vontade do hipnotizador, e pode deixar seqüelas desagradáveis. Exceto por uma razão muito grave, não se deve ser hipnotizado. Nunca se pode ser hipnotizado apenas por divertimento. Música "Em nossos dias, o rock pesado, tocado por bandas satânicas, aprese nta certos problemas adic ionai s. Esta música muitas vezes glorifica satanás, desperta desejos de cometer suicídio, de usar drogas e de promiscuidade sexual. O inferno é proposto como um fim desejável para a vida. O mal se encontra na combi nação musical das palavras, no ritmo e no barulho.
Discos ou fitas deste tipo não devem ser guardados no lar. Devem ser destruídos, mesmo que tenham custado muito caro. Não é necessário dizer que rezar ao demônio, adorar satanás, ler a bíblia satânica, participar de missas negras, nas quais se zomba do Crucifixo e da Eucaristia, estão entre os piores pecados que se podem cometer.
paz é oferecida no pecado da embriaguez, no abuso da droga, na vida sexual fora do matrimônio e na homossexualidade. O perigo atual é que o pecado tornou-serespeitável em nossa sociedade. As relações sexuais fora do casamento, a embriaguez, o aborto e a homossexualidade conseguiram uma certa
O movimento New Age (Era Nova)
Eliminar o reino das trevas
"Na superfície, o movimento New Age parece um movimento da paz. Entretanto, é ocultista, mesmo quando satanás não é mencionado. O "deus" do New Age não é o Deus do Cristianismo. O deus do New Age é uma espécie de energia impessoal que abarca o universo inteiro. Esta é uma forma de panteísmo. Não se deixem enganar pelas suas palavras sobre ecologia, a beleza do mundo natural, e a fun damental bondade dos objetivos aparentes deste movimento. Não é um poder espiritual que vem de Deus, mas do reino da luz falsa e das trevas.
O reino das trevas
"Nossos lares devem ser locais sagrados, limpos. Eliminem de suas casas qualquer coisa que tenha relação com bruxaria, com espiritismo, com curandeiros, com médiuns espíritas, com seitas ou religiões orientais. Destruam este material ou providenciem sua destruição. Queimem toda revista e fotografia pornográfica. Livrem-se da literatura religiosa que não esteja de acordo com nossas verdades de Fé. Não permitam que a influência do mal entre através do aparelho de televisão. Os valores ensinados pela propaganda de TV não são os valores ensinados por Nosso Senhor Jesus Cristo.
"O reino das trevas oferece uma falsa paz e a felicidade no pecado. Esta falsa
No lar - a presença divina
respeitabilidade.
"Como católicos batizados, mesmo não sendo sacerdotes, nós temos um poder que não conhecemos bem. Podemos pedir a Deus que proteja e abençoe nossas casas. A consagração das famílias e do lar ao Sagrado Coração de Jesus é um lindo costume católico. Precisamos ter um Crucifixo e pinturas do Sagrado Coração e de Nossa Senhora em nossas casas. Queiramos que nossas casas sejam lugares sagrados. 23
New Age: mitos e símbolos estranhos à fé católica
Libertando-nos do poder das trevas "Por sua Paixão, Morte e Ressurreição, Nosso Senhor destruiu o poder do Maligno. Quando há influência do demônio na vida de alguém, normalmente veio ela pelo seu pecado. Em nossos dias, a confissão caiu em desuso. Há um poder neste sacramento, para destruir o domínio do Maligno e do pecado, que não é possível exercer de outra maneira. Nossa fé na Eucaristia está fraca. Neste sacramento está o poder de Cristo e Ele mesmo se encontra ali. A Confissão e a Eucaristia são armas especiais que Jesus deu à sua Igreja para vencer o reino do pecado e das trevas. Nossa Senhora foi destin ada por Deus para ser aquela que esmaga a cabeça da serpente. O Rosário é um poderoso meio de salvação e proteção. "Há a difi culdade de definir o que seja pecado em nossos dias. Temos que defi ni -lo segundo o Evangelho e o Magistério da Igreja. Não podemos defini-lo segundo o ponto de vista moderno, pois este está contaminado. Há muitas maneiras pelas quais o pecado e o mal têm sido apresentados a nós de uma maneira atraente. Esta Carta Pastoral apresentou algumas delas, nas quais muitos de nós raramente prestam atenção. Rezo para que ela possa ser uma fo nte de conhecimento e ajuda para aqueles que a leiam". O 24
João Paulo li: A doutrina do movimento New Age é contrária à Fé católica O movimento New Age vem ganhando atualidade em certos círculos no Brasil , mesmo entre os católicos. A propósito, Catolicismo julga oportuno oferecer a seus leitores uma severa advertência de João Paulo II a respeito, feita em maio de 1993 numa reunião co m Bispos norte-americanos de Iowa, Kansas, Missouri e Nebrasca, que foram a Roma para a visitaad limina. Nesta reuni ão, o Pontífice abordou vários outros assuntos de interesse especial também para o católico brasileiro. Estampamos também deles alguns textos abaixo. Afirmou João Paulo II: "Muitos dos que aqui estão escreveram Cartas Pastorais sobre problemas criados por movimentos pseudo-religiosos e seitas, incluindo o assim chamado New Age. As idéias do New Age algumas vezes encontram guarida nos sermões, no catecismo, em reuniões apostólicas, em retiros, e desta forma influenciam mesmo católicos praticantes, que talvez não se tenham dado conta da incompatibilidade dessas doutrinas com a fé da Igreja. Na sua perspectiva sincretista e imanentista, tais movimentos para-religiosos dão pouca atenção à Revelação e, em vez disso, procuram chegar a Deus por meio do conhecimento e da experiência baseados em elementos émprestados da espiritualidade oriental ou de técnicas psicológicas. Eles tendem a relativizar a doutrina religiosa em favor de uma vaga concepção do mundo expressa como um sistema de mitos e símbolos, ataviados em linguagem religiosa. Sobretudo, eles propõem muitas vezes uma concepção panteísta
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de Deus, a qual é incompatível com a Sagrada Escritura e a Tradição cristã. Substituem a responsabilidade pessoal por nossas ações, face a Deus, por um senso de dever em relação ao universo, destruindo desta forma o conceito verdadeiro de pecado e a necessidade de redenção por meio de Cristo. É um triste fato que alguns cristãos hoje estão sucumbindo à tentação de reduzir o Cristianismo a uma simples ciência humana, uma pseudo-ciência de bem-estar. É preciso uma pregação mais vigorosa e uma catequese sobre os temas escatológicos para eliminar a confusão entre a verdadeira natureza da vida cristã e a infalível esperança da Igreja em seu Senhor que é "a ressureição e a vida "(Jn 11,25). O Catecismo da Igreja Católica oferece um resumo das verdades sobre os novíssimos que Deus nos revelou em Cristo. A singularidade absoluta de cada ser humano e a finalidade da morte, o imediato julgamento da alma após a morte, a oração pelos mortos com necessidade de purificação precedendo a visão de Deus e a grave reflexão na existência e eternidade do inferno. Enquanto muitos preferem evitar essas questões últimas e alguns são tentados a pensar na salvação como um direito e como um objetivo já conseguido, a Igreja deve continuar a lembrar a todos a terrível realidade da liberdade humana, do preço da salvação e das riquezas da misericórdia " (cfr. "L'Osservatore Romano", 29 de maio de 1993.).
Representação autêntica e falsa da santidade
~ eJizmente a iconografia cat~lica não raro tem expressado de maneira distorcida a figura dos santos, pessoas que praticaram as virtudes - entre elas a da fortaleza - em grau heróico. Essa representação desfigurada contribui para certo desv irtuamento da piedade dos católicos. À di reita, reproduzimos um santinho com um rapaz numa atitude que reflete caracteristicamente essa iconografia edulcorada, melosa e sentimental. Não se vê aí um jovem com força de vontade, intrépido, disposto a todos os atos de coragem e sacrifíc io para se manter ínteg ro, fi el aos Mandamentos e à própria vocação. À esquerda, o mesmo personagem: São Luís de Gon zaga aos 17 anos (15 85), em pintura contemporânea
CATO LICISMO -
do Santo, de autor desconhecido, existente na capela de São Luís, do Colégio Romano, na Cidade Eterna. Sua fis ionomia decidida, na qual ressalta o olhar sobranceiro, calmo e penetrante, revela a fibra de um jovem que estava enfrentando a ferrenha oposição paterna ao seu ingresso na Companhia de Jesus. Fibra esta que se sublimou seis anos depois, quando foi atingido mortalmente pela peste ao cuidar dos infectados por essa terrível moléstia, em Roma. O qu adro e o sa ntinho constituem duas imagens diametralmente opostas de um Santo. O primeiro capta a realidade através da boa pintura. O outro fal sifica a representação da santidade, deformando o próprio co nceito de virtude.
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TFPsEMAÇÃO
Reforma Agrária e favelização rural à luz da Doutrina.Católica i noticiada a formação e um bloco católico o Congresso Nacional, para fazer uma reflexão com base nos princípios cristãos de temas como o aborto, a pena de morte e a Reforma Agrária. A TFP saúda esperançosa a formação desse bloco. Porém, a par de esperanças, manifesta também preocupações. Esses sentimentos estão expressos em carta recente que a entidade enviou aos senadores e deputados, na qual reafirma posições sempre defendidas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Assim, a TFP sustenta que qualquer Reforma Agrária que acarrete a violação do direito de propriedade - isto é, que seja socialista e confiscatória - se opõe à Doutrina Católica, infringe dois mandamentos
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da Lei de Deus, o 7° (não roubar) e o 10º (não cobiçar as coisas alheias), bem como contraria os ensinamentos sociais -dos Papas, inclusive os de João Paulo II. A par disso, uma Reforma Agrária nessas condições produz necessariamente a miséria, pois atenta contra a ordem natural das coisas, especial mente no que diz respeito à produção econômica. Tal é o ensinamento de Leão XIII na famosa Encíclica Rerum Novarum, e de seus sucessores. Na carta enviada aos Senadores e Deputados, a Comissão de Estudos Agrários da TFP afirma estar em condições de demonstrar que os assentamentos implantados pela Reforma Agrária desde 1964 se transformaram em autênticas fave las rurais.
TFP reúne simpatizantes Com a presença de 51 O participantes, procedentes do DF, RS, PR, se, SP, RJ, ES, MG e GO, realizou-se em São
Paulo, em fins de 1995, mai s um Encontro Regional de Correspondentes e Simpatizantes da TFP.
Nova vitória de O Amanhã de
Nossos Filhos Em votação tranqüila, realizada em dezembro do ano passado, a Comissão de Comunicação da Câmara Federal aprovou por unanimidade projeto de lei que visa proibir "cenas de sexo explícito e nudez indecorosa na TV". Pouco antes do início da votação, uma equipe da Cam26
panha O Amanhã de Nossos Filhos entregava a cada deputado que adentrava o plenário da Comissão, um veemente apelo para que "o brado de incontáveis país que perderam seus filhos nas saijetas do vício, da corrupção moral e da depravação dos costumes pelo mau exemplo da televisão, , CATOLI_CISMO -
ecoe nas suas consciências". Esse projeto de número 3252-A/92 já havia sido aprovado pela Comissão de Educação e segue agora para a Comissão de Constituiçãoa e Justiça. Caso também ali não encontre obstáculo e, se não for solicitada votação em plenário, segue automatica-
mente para o Senado, já que tramita pela Câmara com poder terminativo. A fim de sensibilizar os deputados federais, aderentes da Campanha "O Amanhã de Nossos Filhos" enviaram à Brasília 67 .000 "pedidos de tramitação urgente" e 18.000 "aerogramas-relâmpago".
TFP na Feira Internacional do Livro em Frankfurt A Feira Internacional de Livros de Frankfurt, na Alemanha, é certamente a maior e a mais famosa do mundo no gênero. A de 1995 teve 6.479 expositores de 97 países e recebeu mais de 300.000 visitantes. O Bureau da TFP na Alemanha montou um stand pela primeira vez na grande exposição. Com livros em alemão,
po1tuguês, espanhol e inglês, o stand atraiu considerável número de alemães e estrangeiros, especialmente poloneses, húngaros, filipinos e coreanos. Nessa ocasião fo i posta à venda a edição alemã do livro "As aparições e a mensagem de Fátima" de autoria de Antônio Augusto Borelli Machado, da TFP brasileira.
Aspecto do Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP, em S.Paulo (à direita). No centro, o stand da TFP na Feira Internacional de Livros de Frankfurt. Embaixo à esquerda, Conferência no Palácio da Bolsa, no Porto; à direita, sessão no auditório do Hotel Tivoli, em Coimbra.
Conferências em Portugal Exposições sobre a obra "Nobreza e elites tradicionais análogas", do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, foram realizadas no transcurso de 1995 em Coimbra e Porto. Fizeram uso da palavra o Marquês L. Coda Nunciante di San Ferdinando, Presidente da Associação Famiglia Domani, de Roma, o Conde de Proença-a-Velha, de P01tugal e Pedro
Paulo de Figueiredo. Pai·alelamente a uma rápida visão sobre o papel histórico dessas elites, foi considerada a sua indeclinável missão - no campo social, político, cultural, assistencial entre outros - em nosso século e no próximo; missão tanto mais importante quanto é profunda a crise do mundo contemporâneo.
Elogios a Catolicismo na Câmara O dep. Lael Varella, do PFLMG, em recente discurso no plenário da Câmara, em Brasília, parabenizou a Catolicismo, "que tem com freqüência chamado a atenção do público para a demagogia que se faz hoje em torno da questão indígena. Foram demarcados de Fevereiro de 1996
modo absurdo imensos territórios, para serem habitados exclusivamente por algumas tribos com pequeno contingente populacional, em estado selvagem ou semi-selvagem, devido à pressão de entidades ecológicas e indigenistas, tanto nacionais quanto do exterior." CATOLICISMO -
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A alegria do·bom combate Plinio Corrêa d Oliveira
Não é gqmdioso o elmo, esse claustro ambulante dentro do qual não se fala, mas sob o qual um coração pulsa forte? Sim, porque é o amor de Deus, de Nossa Senhora e da Santa Igreja que lateja no coração do cavaleiro, incendeia seu olhar, arma-lhe o braço, esporeia o cavalo e ... crava a lança no peito do infiel. Entretanto ... aquele elmo pode servir de mortalha. E, ao cingi-lo, o cavaleiro sabe que se reveste de dupla coragem: a de matar e a de morrer! Ambas por amor a Deus, a Nossa Sénhora e à Santa Igreja. Eis nessa coragem o fundamento de toda beleza do elmo. Elmo ... expressão sensível de uma deliberação: Lutarei por amor a Deus! E se for morto,
desde já aceito uma morte atroz, a fim de que os outros passem sobre meu cadáver, avancem e ganhem abatalha ! A morte para mim não é uma surpresa, não é um desastre, não é uma inimiga da qual devo fugir espavorido. Se a morte - conforme os desígnio da Providência - é o fim dos dias de todos os homens, que minha morte tenha este sentido sublime: que ela venha sobre mim provocada por meu amor a Deus, e impulsionada pelo ódio que Lhe votam os Seus adversários. Ó Morte, neste encontro eu te venço! Porque ainda que tu me arranques a vida terrena ... eu te arranco a Vida Eterna! N.da Redação: texto sem revisão do autor.
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Revolução e C tra-Revolução PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
JLI Nº 543 - Março de 1996
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REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOL UÇÃO
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A REALIDAD E CONCISAMENTE
I IAGIOG RN IA
HISTÓ RI A SAGRADA ENTREVISTA
6 Em seqüência à Introdução reproduzida cm números anteriores, damos início hoje à publicação dos principais apítul os da obra mestra de Plinio Corrêa de O liveira, Revolução e Contra-Revo lução.
O sol e a lua obedecem a Josué
Uma Chernobyl em Cuba?
NOBREZA EELITES TRADICIONAIS
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São Nicolau de Flüe, padroeiro da Suíça
Conceito de povo e massa em Pio XII
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Capítulo I
Crise do homem contemporâneo As muitas crises que abalam o mundo hodierno - do Estado, da família, da economia, da cultura, etc. - não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem. Em outros termos, essas crises têm sua raiz nos probiemas de alma mais profundos, de onde se estendem para todos os aspectos da personalidade do homem contemporâneo e todas as suas atividades.
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Confecção artesanal na Eslováquia
PÁG INA MARIANA
O anúncio feito a Maria
8RASI I Rl.i\L, BRASIi BRASILFIRO
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CAPA
O encanto da Bahia
Meditações sobre a Quaresma e a Paixão
11l'S I M AÇÃO PALAVRAS DE VIDA ETER NA
Capítulo II
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Livro-bomba: assentamentos torna m-se favelas rurais
Comentários sobre os Evangelhos
Crise do homem ocidental e cristão Essa crise é principalmente a do homem ocidental e cristão, isto é, do europeu e ele seus descendentes, o americano e o australiano. E é enqu anto tal que mais particularmente a estudaremos. Ela afeta também o outros povos, na medida em que a estes .se estende e neles cri ou raiz o mundo ocidental. Nesses povos tal crise se complica com os problemas próprios às respectivas culturas e civilizações e ao choque entre estas os elementos positivos ou negativos da cultura e ela civilização ocidentais.
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AMB l[N I LS, COS I LIMI-S, CIVIi 1/AÇÓ [ S
NA CAPA: Crucifixo da Sede do Conselho Nacional da TFP, em São Paulo. Foto: Diogo Waki
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A catedral de Colônia CArnuc1sMo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filh o Jornalís ta Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago Registrada na DRT-SP sob o n• 23228 Redação e Gerência: Rua General Jardim, 770, cj . 3 D CE P 01 223-0 10 São Paulo SP - Tel: (0 11 ) 257-1088 ISSN 0008-8528 Fotolitos: Bureau Bandeirante de Pré-impressão Lida. Rua Mairinque, 96 CEP 04037- São Paulo SP impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Lid a. Rua Javaés , 68 1 CEP 0 11 30-01 O São Paulo SP
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e para as ativicfades estatutiuias da TicJ'
Março de 1996 CATOLICISMO -
Março de 1996
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A REALIDADE
concisamente
ONGS SOB INVESTIGAÇÃO ,,
ju stifi cação jurídi ca . " Mu ita
Marcell o A lencar, gove ·nador do Ri o de Janeiro, criou por decreto publicado no Diário Oficial do Estado de 23 de j aneiro um grupo de trabalho destinado a investi gar a situ ação fiscal das ONCs e o desti no que está sendo dado aos vu ltosos donativos, envi ados espec ialmente de países ricos. Há denúncias de malversação de fundos, má utili zação, desv i os, etc . Rubem Césa r Fernandes, coo rd enador do movimento Viva Rio e diretorexecutivo do Instituto de Estudos da Religião (ISER), uma ONG , considerou "estranha" a suspe ita cio governador, mas reconheceu que no passado fo i comum a utilização cio caixa 2 pelas ONCs.
gente simplesmente transcreve o enunciado do problema proposto. Não consegue ela borar nem desenvolver um raciocínio de convencimento. E a tarefa do advogado é convencer" - afirma Fáb io ele
MENINO PRODÍGIO, MILIONÁRIO E DELINQÜENTE O ator M acaul ay Culkin tem hoj e 15 anos. Foi superastro aos sete, como protagonista do fil me Esqueceram de mim. A fama precoce, a feroz disputa entre os pa is pela sua guarda e a má ed ucação recebida perturbaram o garoto, que se transformou em um vândalo. Pintou o cabelo de azul e promove noitadas com os irmãos e amigos, em que fum am e bebem até ficarem embri agados. E é um péssimo aluno. Que futuro terá esse jovem a quem tudo parecia prometido?
USO INESCRUPULOSO DA CURIOSIDADE INFANTIL Difunde-se pelo Brasil o uso das ca mi se tas do B ig Johnson entre os pré-adolescentes, garotos de 9 a 11 anos. Estampam sempre um homenzinho fei o, rodeado de moças, e têm frases ele sentido dúbio, ente ndid as como alu siv as a atos imorais. As cami setas cu tam por volta de 30 rea is, e as cóp ias
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Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma
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NA ITALIA, PEREGRINAÇAO EM BAIXA, TURISMO CULTURAL EM ALTA A Itáli a possui 85% do patrimônio artístico e cultural uropeu. Anua lmente, esse país rec be 35 milhões de visitantes. Em Roma, mais de 50% dos turistas que visitam igrcjc1s e museus católi cos o fazem por int ressc meramente cuhurc1 I. Apenas 20% consideram-s peregrinos. Se os números são lamentáveis para a apitai da ri stc111 dade, ao con trário, somente a Basílica de Santo /\ntônio, q11c se encontra em Pádua, recebeu sete milhões de peregrinos rn
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piratas saem por mais ou menos I O reais. Muitas mães de famíl ia co mpram esse in stru mento de corrupção de seus fi lhos, e acham tudo muito di vertid o. Trata-se cio mesmo público-a l vo cio mal inad o conjunto Mamonas Assassi-
nas. Em tudo is o, onde está a preoc upação el e prese rvar a inocência, de fo rm ar perso nalidades de bom caráter? Parece que j á ninguém se lembra da terrível maldi ção de Nosso Sen hor sobre os que escandali zassem os pequeninos: "m.e-
1hor fora que atassem. uma pedra ao pescoço e se atirassem ao mar". PERMISSIVISMO E DESLEIXO NO ENSINO Cada ano, 6000 advogados inscrevem-se no exame da O rdem dos Advogados do B rasi l •
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(OAB), Secção de São Paulo, para obter a I ice nça para o exercício ela profissão. Cerca de 75 % são reprovados . É um tri ste sintoma cio nível baix íss imo em que foi precipitacl o nsin o cio Brasil , sobretudo por ca usa ele políti ca govcrn amentai desastradas, permissivi tas e condes cendentes. Fábio Ferreira de Ol i veira, pres id ente da Co mi ssão el e Estágio e Exame, ex põe a razão do fato desolador: " O aluno chega à universidade sem
base cultural e sem saber escrever". Em outras pa lavras, ens ino primário e secundário profundamente defici ent . A lém cio desconhec iment o da língua e do Direito, muitos in scrito s não sabem •x por o pensa mento de forma I igica. Numa elas qu stõ ·s do cxam ', o ca ncliclalo clcv · fa z ·r um a
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O li ve ira. Nas provas, há candidatos que em vez de habeas corpus utili zam Co rpus Christ i , acham que o pretório excel so fo i um ilu stre juri sta mineiro, usam Meretríssimo em vez de Meritíss imo, para se diri gir a um Jui z ele Direito, e estão certos ele que Fazenda Públi ca é uma propri edade rural a que todos têm li vre acesso e direito de uso !
ESTADOS UNIDOS: RADIOGRAFIA DOS ÚLTIMOS 50 ANOS Foram publicados algun s dados muito interessantes sobre a evo lução dos Estados Unidos nos últimos 50 anos. Em 1945, a cxpec tati va ele v icia era de 65 ,9 anos. Subiu para 75,7 em 1995. A renda per capita era ele US$ 6.367 em 1945 , e subiu para US$ 14.696 em 1995. O nível ele pobreza era de 39,7% cm 1945 , e desceu para 14,5% em 1995 . A té aí tudo bem , e poclerse- ia concluir que o país está num mar de rosas. Mas vej amos a outra face da medalha: as cri anças nasc idas fora do matrimônio, em 1945, constituíam 3,9 % do total ; ma em 1995 perfa zem nada menos que 31 % do total. Ou s ja, a moralidade pública ca iu assustadoramente. As folhas e frutos ainda 'st.ão aparentemente sa udáv •is, enq uanto o apodre·im ·nto avança nas raízes.
DESAFIO DAS GRANDES CIDADES Especialistas em combate à crim inalidade, procedentes de
Violência: problema atual das grandes cidades diversos países , reuniram -se na cap ita l carioca sob a coordenação ela Associação Comerc ial cio Rio de Janeiro, a fim ele encontrar soluções para a situação de grave in segura nça em que se debate a população. As conclu sões deram origem a documento sob o título
Carta do Rio de Jan eiro. Entre as medidas propostas, destacam-se: modificações na leg islação pena l, contro le do uso de arm as, combate às drogas e impl antação ele uma nova política penitenci ária. O Sr. Siclharta, representante ela Í ndi a, fo i o único a referir-se ao aspecto religioso do problema ela criminalidade. Diante el a ass ustadora c rimin alid ade no Ri o e em qualquer mega lópo li s hodi erna, como não considerar seu aspecto reli gioso? Evidentemente, à medida que os indi víd uos, as famíl ias e a soc iedade co loca ram em segundo plano o Decálogo e os preceitos da I greja, abriram caminho para a desagregação que agora sofrem. Distanciam ento da fé cató1ica, resultante de um processo que há séculos vem implan tando gradati vamente seu terrív el antidecálogo.
Pena que o documento fi nal não tenha posto em relevo que uma verdadeira conversão, em nível pessoal e também social, é req ui sito indi spensável para um eficaz co mbate à cri mi naliclacle.
O PERIGO DO DENUNCISMO IRRESPONSÁVEL Em J994, duas mães de aluno da Escola Base, local izada no bairro da Aclimação em São Paulo, procuraram o Delegado Edélc io Lemos, cio 6º Distrito Policial , e denunc iaram qu e seus filhos estavam sofrendo
abusos sex uai s naq uele estabelecimento. O delegado intimou os donos, o casal Sau lo e Mara Nunes, e deu declarações sensac ion ali sta s à imprensa. A mídia, por seu lado, montou um verdadeiro circo a respeito. A escola foi depredada por magotes enfurecidos e acabou fechando. Mai s de um ano depoi s, a Ju stiça in oce ntou os proprietários da Escola Base. Tudo havia sido invenção. Mas a esco la fechou , e os anti gos donos hoj e passam por séri as dificuldades financeiras, morais, psico lógicas . O casa l Saulo e Mara Nun es enviou carta ao Presidente Fern ando Henrique, na qual consta : " Na hora de
prender pessoas inocentes em nome da lei, tudo é f eito de forma rápida e inconseqüente, mas, na hora de reparar erros, a Justiça se onúte. Quem irá apagar de nossas cabeças as lembranças de termos ficado três dias presos ? Ti vemos nossas vidas devastadas, arruina das, desmoralizadas". NARCO-DEMOCRACIAS Na Colômbia, no México, na Argentina, na Bolívia, no Paraguai , há escândalos envolvendo a corrupção política causada pelo dinheiro da droga.
HINO NACIONAL EM RITMO DE SAMBA, ROCK, REGGAE O comercial de fim de ano da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) representou um passo a mais na quebra do respeito, da compostura, da gravidade - numa pal avra, da sacra lidade - que deve existir não apenas no meio religioso, mas perpassar a própria soc iedade temporal. O Hino Nacional, na música e na letra, expressa o sentimento que os brasileiros têm pela sua Pátria. Pátria vem de pater, pal avra latina para pai. O amor à Pátri a tem o seu equivalente no amor ao pa i. Em certos aspectos, é mais importante do que este. Assim como o amor aos pais não se pode manifestar dignamente num ambiente de pagodeira, também o amor à Pát.ri a deve expressa r-se sempre com elevação. Em sentido contrário, a publi citária que cri ou a propaganda da ECT acha que o Hino Naciona l deve ser um hit musica l. Para ela, cada intérprete deve entoar o Hino à sua maneira, em qualquer ritmo.
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Grandes traficantes finan ciam campa nhas políti cas, subornam altos funci onári os, há assass in atos mal esclarec idos que se adm ite estarem ligados com o tráfi co . A promi scuidade entre o mundo ela droga e os três poderes do Estado (Executivo, Leg islativo e Judici ári o) ameaça contaminar todo o aparelho estata l, lançando-o num descrédito junto ao públi co, peri gosíss imo para sua estabi I idade. No Bras il , as denúncias relativas ao j ogo do bicho, ao bingo, caminham no mes mo se ntid o. A so lução é difícil , poi s, co m a decadênc ia ela moralidade pública, o número potencial de infratores cresceu assustadoramente. E "a oca -
sião fa z o ladrão"! BRASIL: POBRES PAGAM PELO COLETIVISMO O [n stituto Bras il eiro ele Economia, da Fundação Getú1io Vargas, ca lcul ou que, se nas décadas de 80 e 90 o Bras i I tivesse mantido o cresc imento médio das três décadas anteri ore , em v z de um Prod uto lnterno Bruto de 360 bilh ões de dólares, teria alcançado um de 2 trilhões de dólares. A renda p e r capit a não se ri a de 2.770 dólares, mas ele 12.500. Quai s as causas dessa tragédia econômica que afeta todos os brasil eiros , m as espec ialmente os pobres? Uma, todos vêem: a irresponsab ilidade com que é gerida a coisa pú bli ca entre nós, o que ocas iona desperdício, corrupção, má apli cação de recursos etc. Irresponsab i I idade que está muito ligada à decadência ela seri edade, ele educação ex igente. Numa pal avra, que está li gada à diminuição da influência religiosa e à decadência ela moralidade familiar. A outra causa é o estatismo selvagem , que foi característico ele políticas econômicas governamentais, em graus diversos, desde a década ele 30. D
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ENTREVISTA
Ameé:lça de uma nova Chernobyl em Cuba Orlando Lyra, nosso enviado espec ial, entrev istou o Sr. Roger W. Robinson Jr., presidente da RWC lnc, firma de consultori a sed iada elll Washington, ex-conselheiro cio presidente Roriald Reagan para assuntos de segurança nacional e vice-presiclente cio Departamento lntern ac iorial do Chase Manhall<II 1 /3ani<. Com li vre entrada nos corredores cio Capi tólio, onde o Partido Republicano detém a lllaiori a, o Sr. Roger W. Robinson Jr. vem prestando assistência técn ica à ComissJo de Relações Intern acionais do Congresso sobre o controvertido projeto nuclear de I idel Castro. O entrevistado, com a segurança de um especia li sta na lllatéri a, revela dados alarmantes, desconhecidos do públi co brasil eiro.
R. Robinson Jr. - Francamente, tem sido um a políti ca dúbi a e imprecisa nas metas. Por um lado, o Departamento de Estado tem afirmado pu bli ca mente que está disposto até a contribuir para que o projeto nuclear cubano atenda a todas as garanti as internac ionais de segurança. Mas, por outro lado, Clinton tem se
Catolicismo - O que vem a ser o Projeto Juraguá? R. Robinson Jr. - Ainda nos anos 70, Cuba fec hou um negóc io co m a ex-Uni ão Sov iética para a construção ele uma cenlral nuclear perlo da reg ião de C ienfuegos, a qual atenderia parte da demanda de energia elétrica da ilha, vital para os setores de turismo e de mi neração. Até 199 1, russos e cubanos hav iam co nstruído 90% do primeiro reator, quando o projelo foi para li sado em conseqüê ncia do co lapso da URSS. No início de 1995, o M inistério de Energ ia Atômica da Rússia (Minatom) decid iu comp letar a obra, contando para isso com 330 mi lhões de dólares em créd ito do Governo russo, aos quais se somarão 200 mi lhões de Cuba e outros 200 mi lhões de um consórcio europeu- lati no-americano. Catolicismo - Qua l a parlicipação do Brasil no projeto nuclear cubano? R. Robinson Jr. - A participação dos brasil eiros nes se projeto ainda não é muito 6
Urna nova Chernobyl: projeto do velho governante cubano
clara. Pelo menos uma co mpanh ia estatal bras il e ir a, Furnas, tem sido citada pe la impre nsa americana como muilo interessada em partic ipar do projeto, na qualidade de fornecedora de material. Sabe-se que, em novembro do ano passado, o ministro-chefe ela Secretaria ele Assuntos Estratégicos do Brasil (SAE), embaixador Rona ldo Sardemberg, esteve em Havana, onde se reuniu com a diretoria da centra l nuclear cubana, que comprou do Brasil um aparelho para o combate ao câncer.
Catolicismo - Qual a podo governo C li nlon em relação a esse projeLo?
1ítica
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mostrado sensível às preocupações da população e dos po líticos da F lórida, que consideram o referido projeto uma nova Chernoby l construída a apenas 280 km ela costa americana.
Roger W. Robinson Jr.
Além disso, fi cou provado que 60% do materi al e nvi ado da ex-URSS para a construção dos reatores cubanos reve laram-se de qu alidade infe rior; partes centrais dos reatores fi cara m, no deco rre r de três anos, ex postas à ação corrosiva do tempo; as paredes de concreto da central nuc lea r fora m projetadas para suportar apenas 7 psi [libras por polegada qu adrada] de pressão, enquanto o mínimo exi gido para reatores norte-americanos é de 50 psi. Sabe-se também que o serviço secreto cubano destruiu chapas de Raios-X que mostravam fa lhas na soldagem de di versas tubulações dos reatores. Com isso, to rn ou-se prati camente impossíve l reparar os defeitos e ev itar uma catástrofe semelhante à de Chernobyl, caso esses reatores venham a entrar em operação.
Catolicismo - Por que os Estados Unidos co ns ideram Juraguá uma nova Chernoby l?
Catolicismo - O que o Sr. teria a dizer às empresas brasileiras interessadas nesse negócio?
R. Robinson Jr. - Basta analisar a pl anta cios reatores: são ela marca VVER 440, refr igerados a ág ua, extre mamente inseguros, os mesmos que foram colocados fora de operação pelo governo alemão logo após a reunifi cação alemã (hav ia quatro deles na exAlemanha Orie ntal).
R. Robinson Jr. - Uma mensagem si mples: Desistam de investir no projelo nuclear cubano. O Congresso americano - Lanto o Senado quanto a âmara do Deputados - está firmemente disposto a tornar sérias medidas contra qualquer empresa européia ou sul -americana que venha a participar
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nesse negócio. E las terão de escolher entre negociar com os Estados Unidos ou com Cuba. Penso que as firm as brasileiras, interessadas em ganhar algum dinheiro no proj eto nu clear cubano, cometem um séri o equívoco ao imagin ar que um e ve ntu al sinal ve rde do governo C linton será suficiente para protegê- las . C reio mesmo que muitos pensam com isso acele rar o processo de transição democrática e m Cuba. Mas enganam-se. Q ua isq ue r q ue sej a m as boas intenções, sa ibam que o Co ngresso a meri ca no será a força-mestra dos Estados Uni dos nos próx imos anos. E que ele está convencido de que essa não é apenas uma questão cubana, mas um ponto de interesse vital para a segurança de nosso país. Qualquer e mpresa brasileira ou européia deve saber que terá seu nome incl uído na lista negra dos Estados Unidos se contribuir de algum modo para a instalação dessa central nuclear, que ameaça a segurança do povo ameri cano. Por outro lado, se nossos esforços diplomáticos e comerciais fa lharem, e a ameaça persistir, não teremos outra escolha senão adotar med idas mi litares drásticas que ponham fora de operação a centra l nucl ear de F idel Castro. Espero , contudo, que não sejamos obrigados a lançar mão desse reD curso extremo. Nota da Redação: Segu ndo o entrev istado, a usina nuclear cubana foi co nstru ída de acordo co m o mes mo defe ituoso proj eto das usin as russas, uma das quai s fi cava em Chernoby l, na Ucrâni a. Como se sabe, ela apresentou vazamento de rad ioati vidade que, tendo co nt amin ado enorme área adj acente, ati ngiu países tão longínquos co mo a Holanda e a D inamarca. Fo i o maior desastre nuclear mund ial em tempo de paz, ocas i onando um número não d i v u !gado de mortes, e cer ta mente mi lhares de vítimas que têm morrido de câncer desde então. A red ução da atu al r adi oa ti vdade do so l o a ní veis supo rtáve i s ao se r hum ano l evará centenas dt! anos.
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Nas exéquias de Mitterrand, mais um golpe contra a família s cerimôni as fúnebres em home na- menos, disfarçar esta situação, tanto mais que gem ao Presidente fra ncês François o personagem gozava de alta posição oficial. M itterra nd es tiveram à altura do Esses hábitos vinham da convicção de que só e nterro do Pres ide nte C harl es de Gaulle, o bem tem direitos, só ele merece honras; e o apesar da grande di sparidade na relevância mal, causado pelo abuso por prute do homem, é histórica dos dois personagens. tolerado, porém nunca prestigiado. De outrn lado, Quase 1.500 personalidades comparece- esses costumes estavrun também baseados na conra m a Notre Dame, entre as quais vários Reis, vicção de que todos têm a obrigação do bom exemRainhas, Príncipes, além de mui tos Presi- plo, sobretudo os superiores, pelo efeito que suas de ntes e C hefes de Govern o. Os grandes ações provocam no povo em geral. Pelo fato de meios de di vul gação contribuíram largamen- quebrar costumes mi lenares e virtuosos, ainda muite para p rest igiar o legado po lít ico de to an·aigados, a atitude da família do socialista François M itterrand, que foi sua contri bui- Mittemmd, estadeando como nonnal a vergonhosa ção para a unidade européia. situação de adultério de seu chefe, chocou vastos Que forma de unidade? Obv iamente, não setores do público tanto europeu quanto de outrns era a sonhada pelos mais legítimos e ardo- continentes. rosos defensores do ideal de Cristandade. A Jorna listas americanos, alemães, suíços, União Européia que se quer impor tem por ingleses e japoneses disseram que isso seria base o relati vismo. Trará um a soc iedade inadm issível em seus países! l a ica, d e co nc epções evo lu c io ni stas, Como se tornou possível na França, a crescentemente amoral, igualitári a e atéia. Primogénita da Igreja, isso que é inadm iss íO revelador episódio da existência da ou- vel em povos pagãos ou de maioria protestantra "família" de Mitterrand é um sintoma ex- te? Como pôde isso acontecer, sem que houpressivo do novo mundo que está se ndo vesse um clamor geral cios católicos fra ncepropagandeado. Bastaria ver a enxurrada de ses? E quem garante que não se repetirá em elogios à participação das duas famílias nas outros países, uma vez que ali se rompeu esta exéquias, onde abundaram injustificadamente barreira do horror? palavras como classe, dignidade e tolerância. Se este ato não significou a vitória da Se tivesse hav ido uma diretri z, mandan- irreligião, pelo menos ind icou a vitória da do c hamar a ate nção sobre o ass unto e amora lidade. Ou seja, a aceitação tácita de presti giá- lo, o procedimento da mídia não que não existe nem bem nem ma l, ne m verteria sido outro. dade nem erro. Este foi , dentre os legados Qual era a situação apresentada como nor- de M itterrand, um dos que mais devemos mal, sem a merecida pecha da vergon ha? lamentar. D Mitterrand vi veu durante muitos anos com duas mulheres: a legítima, Danielle, e a concubina, An ne Pingeot. Da legítima, teve os filhos G il bert e Jean-C hristophe . Da união pecami nosa com A nn e Pi n geo t nasceu Mazarine, hoje com 21 anos. M itterrand era portanto adú ltero e ti nha descendência ilegítima. Vivia numa situação vergonhosa. Os hábitos de civ ilização cristã levaDiante do caixão de Mitterrand: sua esposa e a concubina riam nes ta ocasião a, pe lo
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séc ulo XIX e começos do atua l. Eles traziam costumes e hábitos das aldeias de onde vinh am. Era gente que tinha op ini ão. O chefe de família tinha um a opinião que os outros analisavam bem, mas que não era necessa riamente seguida. Com naturalidade, cada um formava sua convicção, e podia sair di sc ussão, muitas vezes sobre a política da terra natal , com base em cartas de lá recebidas. A discussão, em alguns casos, era um tanto teatral , mas a ninguém espantava, e apresentava um aspecto muito pitoresco. Tal vida orgânica que ainda havia na c idade pequena e entre os imi grantes era própria do povo. Esta é uma base sadia de vida social. A vida pró-
'J{p6reza e e[ites tradicionais '.' t próprio à nobreza e às elites tradicionais análogas formarem com o povo um todo orgânico, como cabeça e corpo" PLINfO CORRÊA DE OLIVEIRA
Povo, massa e a influência da mídia "Povo e rnullidão amorfa ou, como se cosluma diL<::'r, massa, são dois conceitos diversos. 11 0 povo vive e move-se por vicia própria; a massa é cm si 111csma inerte e não pode mover-se senão por 11111 e/cmenlO cxlrínseco. "O povo vive da plenilude ela vicia cios homens que o compõem, cada um cios quais - na sua própria siwaçào e cio modo que lhe é próprio - é uma pessoa cônscia ele suas próprias n:•sponsabilidacles e de suas próprias convicções. A massa, pelo conlr<írio, espera o impulso que lhe vem ele fora, (.kit jogue/e nas 111àos ele quem quer que lh e explore os inslinlos e as impressões, pron la a seguir, sucessivamenle, hoje esla, ama11/1<J aquela bandeira " (Pio XII, Radiomensagem de Natal de 1944).
s desi gualdades justas e proporcionadas partem de uma igualdade fundamental que existe entre todos os homens; negá- la é favorecer um a des ig ua ldade des proporcionada, ou seja, uma desi gualdade injusta. Uma mensagem encontrada nas pirâmides, e escrita provavelmente por algum agente comercial do antigo Egito ao Faraó, dizia: "Ó Faraó, sou indigno de beijar teus pés, de beijar as patas dos cavalos que montas, beijo apenas o pó onde pisaram as patas de teus cavalos". Um hom e m colocar-se abaixo de um cavalo, como indigno de be ij ar a pata do animal, porque fo i montado por outro homem, é um exagero, um delírio que nega uma igualdade fundamental que
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ex iste entre os homens, e a partir da qual surgem as desigualdades. Chegar a este ponto de loucura é promover uma desi gualdade injusta e desproporcionada, porque está fora da proporção que deve haver entre os homens em virtude dessa igualdade fundamental. Devemos afastar de de logo a idé ia ele que, porque somos a favor das desigualdades, somos a favor de toda e qu alquer des igua ldade, ig norando a igualdade decorrente ela própria condi ção humana, tão c la rame nte presente no Evange lho e em toda a doutrina cató lica. A massa é inimiga capital da
verdadeira democracia "Num povo digno de ta l nome, todas as desigua ldades decorrentes não do arbítrio, • CATOLICISMO -
Crianças envergando trajes tradicionais da Saxônia, Alemanha: costumes típicos de autêntico povo
mas da própria natureza das co isas - desigua ldades de cu ltura, de haveres, de posição soc ial, sem prejuízo, bem entendido, e/ajustiça e da mútua caridade - não são, de modo algum, um. obstáculo à existência e ao predom.ínio de um au têntico espírito de comunidade e fraternidade. Mais ainda, longe de fer ir de qualquer maneira a igualdade civ il, elas lh e conferem. seu legítimo significado; ou seja, que perante o Es tado cada qual tenha o direito de viver honradamente a própria vida pessoal, na posição e nas ·011 dições em que os desfg11ios e Março de 1996
disposições da Providência o colocaram.." "Em contraste com. este quadro do ideal democrático de liberdade e de igualdade de um povo governado por mãos honestas e previdentes, que espetáculo oferece um Estado democrático entregue ao arbítrio da massa! "A liberdade, enquanto dever moral da pessoa, transforma-se em pretensão tirânica de dar li vre curso aos i111pulsos e apetites humanos, e111 prejufza do próximo. "A igualdade degenera em nivelamento mecânico, em uni.for111idade monocromática; o
sentimento da ve,dadeira honra, a atividade pessoal, o respeito à tradição, à dignidade, numa pala vra a tudo quanto dá à vida seu valOJ; pouco a pouco se vai soterrando e desaparece. E sobrevivem apenas, de um lado as vítimas iludidas do .fascínio aparente da demo crac ia, ingenuam ent e confundido com o próprio espírito de democracia, com a liberdade e a igualdade; e de outro lado os aproveitadores mais ou menos numerosos que tenham sabido, por meio da força do dinheiro ou da organização, assegurar em relação aos outros uma condição privileg iada e o próprio podei:" (Pio XII, Radi omensage m do Natal de 1944)
Acima, abertura da Oktoberfestem Munique, Alemanha: a autenticidade do povo reflete-se na riqueza dos costumes. Embaixo, manifestação em Baku, Azerbaijão: as massas tornam-se presas fáceis do totalitarismo.
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Exemplos da vida do povo Houve tempo, e não estamos de le assim tão distantes, em que o processo de massificação havia ati ngido bem menos as cidades pequenas do nosso interior do que os centros popu losos. A grande imprensa, o rádio, e mais próx ima a nós, a telev isão, influíam menos nascidades pequenas cio interior do que nas grandes metrópoles .
Estas c id ades pequenas sobre aq uela popul ação. Tudo formavam s ua op ini ão, e m . isto produz ia como efeito uma parte, a inda co m base em prince rta res ul ta nte, qu e e ra o cípios he rdados da tradição modo de pe nsa r com um da maioria. cató li ca. Formavam-na também em fun ção dos acontec iO utro a mbiente e m qu e mentos qu e a li se passavam, muitas vezes se notavam as características de um povo eram das op iniões e das atitudes ele pessoas que, por uma ou out ra os me ios cios imigrantes que razão, tin ham mais influ ênci a c hegaram ao Brasi l em fin s do CATOLICISMO -
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pria à nobreza e às elites tradicionais é semelhante a ela, embora com uma nota de mai or e levação e co m cultura e educação mais aprimoradas. O co njun to harmônico da vida em todos estes grupos forma uma nação que tem expressão e seiva, e não é um mero aglomerado ele seres humanos. 9
Exemplos de vida massificada Quando se estabelecia numa cidade pequena o domí- ·~ nio dos grandes meios de di vulgação, isto costumava criar uma tal influência sobre o povo, que este ficava inibido em sua saudável capacidade de refletir e ter uma opinião própria e inconfundível. Tendia a ser massa. A massa não tem a iniciativa de pensar, fica esperando a publicidade escrita ou falada, e pensa de acordo com o que ela determina. Por aí se pode avaliar ·o prestígio que tiveram os grandes jornai s, hoje aliás decrescente por outros fatores que não a retração do processo de massificação, mas sobre os quais não é o caso de se estender aqui. Lembro-me do ambiente de massa existente décadas atrás numa repartição pública em dia de pagamento. A certa hora se via entrar uma fila de funcionárias, colocarem-se atrás dos guichês, e com um mesmo gesto - que não era comandado, mas era automático - abrirem ao mesmo tempo os guichês, fazendo o mesmo ruído. E m seguida apanhavam maços de dinheiro presos com elástico, tiravam os elásticos, molhavam os dedos numa esponja, e todas, com os mesmos gestos, começavam a pagar. Ali não se falava, quase não havia relacionamento humano, quem pagava e quem recebia tinha a mesma expressão de automatismo. Não se percebia o povo, era uma relação massificada. Sem a influ ê nci a da im prensa falada ou escrita, com pessoas acostumadas a refletir e formar convicção própria, a vida entraria até nesse relacionamento de guichês, porque entraria a propósito de tudo. Onde a vida é sugada por determinados instrumentos no caso que estamos considerando, o uso abu sivo da mídia
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A ação nefasta da mídia contribui para transformar o povo em massa
Contadíní dei/a Vai Sarentína, de F. Defregger (Museu Cívico de Bolzano), retrata as qualidades de alma destes simples camponeses do Tirol - o bem comum recebe um golpe do qual resulta uma fe rida que muito dificilmente tem cura.
A democracia de povo e a
democracia de massa Um dos pontos importantes da doutrina soc ial da Igreja é que as desigualdades justas, baseadas na virtude, na c ultura , na condição socia l, nos haveres, devem existir numa verdadeira democracia. Os revolucionários fizeram indevidamente do termo democracia uma espécie de palavra -talismã, cujo mero enunciado desperta uma constelação de conceitos aparentemente afins , como laicismo, igualdade total e compulsória e liberdade sem limites. Nesta democracia , a iguald ade irá coarctar o desenvolvimento do povo, e a liberdade degenerando em libertinagem, tornará quase compu lsório o recurso a violentas medidas de força. Esta seria a democracia de massas. CATOLICISMO -
Não é este o conceito de democracia constante na doutrina soc ial da Igreja. Ele leva em conta as diferenças natura is exis tentes entre os homens. Nesta democracia o povo tem as co ndi ções para desenvolver a riqueza ex uberante dos eus múltiplos e variados dotes. E la comporta a existê ncia da nobreza e das e lite. tradicionais, expres ão aperfeiçoada ela própria índole cio povo. Esta seria a democracia ele povo. Cumpre lembrar que a Providência Divina criou a natureza humana com uma riqueza incomensurável ele possibilidades e nela imprimiu uma lei, a le i natural. O desabrochar forte e legítimo dessas riquezas rumo à sua perfeição dá origem a sociedades e cond ições diversas, que não é lícito reprimir, sob pena ele inibir o progresso humano saudável. O respeito e a honra devidos a cada pessoa, me mo a mais modesta, relaciona-se c m a situação que e la tem neste
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imenso tecido social, em última análise, desejado por Deus. A sociedade de massas não leva em conta tais situações, nive la-as mecanicamente. Nela, a liberdade transformase, como diz Pio XII, na pretensão tirânica de dar li vre curso aos impulsos . A igualdade mecânica estiola o desabrochar legítimo das desigualdade acidentais entre os homens. É para onde caminham os Estados contemporâneos, cujo e leitorado já tem tantas características ele massa. Tal situação decor re da adoção de conceitos errados sobre democracia, liberdade, igualdade, fraternidade . Enquanto eles tiverem vigência, não é possível encontrar solução para os problemas sociais, políticos e econômicos de nossa Pátria. Nesses princípios de Pio XII sobre povo e massa, enunciados na Radiomensagem do Natal de 1944, fundam-se largamente os ensinamentos do Pontífice contidos nas alocuções ao Patriciado e à Nobreza romana. Com base neles, torna-se clara a alta missão que têm a nobreza e as elites tradicionais na vida dos Estados, mesmo em nosso dias, sejam eles monárqu icos, aristocráticos ou democráticos.D Nota da Redação Excertos de conferência pronunciada pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira para ócios e cooperadores da TFP, e m 9- 1J-92, comentando, a pedido destes, a obra de sua a utoria Nobre za e elites tradicionais análogas nas alo ·11 ções de Pio XII ao Parriciado e à Nobreza romana (Editora Civ ili zação, Porto, 1992). Sem revisão do conferencista.
PÁGINA MARIANA
Anunciação de Nossa Senhora Festa dia 25 de março PAULO FRANCISCO MARTOS
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uma pequena casa da cidade de Nazaré, ocorreu o acontecimento mais importante da História da humanidade: a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade no seio puríssimo de Maria. A Santa Igreja comemora esse transcendental acontecimento a 25 de março, precisamente nove meses antes do Natal. O evangelista São Lucas narra o fato com simples palavras. O valor da graça Inclinando-se respeitosamente diante da Santíssima Virgem, o Arcanjo São Gabriel disse-lhe: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo" (Lc 1, 28). Consideremos as palavras: Cheia de graça . A menor das graças vale mais que todo o universo material. Pois a graça é a participação da vida divina. Se tivéssemos que escolher entre a menor das graças e todos os tesouros do mundo, deveríamos, sem a menor hesitação, preferir a graça. Ora, desde o primeiro instante da concepção, que foi imaculada, a graça divina inundara a alma de Maria e essa graça não cessaria de crescer em proporções que desafiam os cálculos de nossas débeis inteligências. Por isso, São Gabriel A chamou: Cheia de graça. Humildade da Virgem Maria Santíssima compreendia perfeitamente a imensidade de Deus e o nada da criatura. Devido à sua prodigiosa humildade, Ela se espantou ao ouvir aqueles louvores. Vendo a mais pe1feita das criaturas ter sentimentos tão despretensiosos, o embaixador celeste acrescentou: "Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de
Anunciação - Fra Angélico (Séc. XV), Museu do Prado, Madrid
Deus; eis que conceberás e darás à luz um Filho, a Quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será o Filho do Altíssimo. Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e reinará eternamente e o seu reino não terá fim" (Lc 1, 30,33).
Espírito profundamente lógico de Nossa Senhora Logo após o primeiro elogio feito por São Gabriel, a Santíssima Virgem "meditava que saudação seria esta" (Lc 1, 29). E quando o anjo '1nunciou-lhe que Ela seria Mãe de Deus, a Virgem indagou: "Como se fará isso, pois Eu não conheço varão?" . E ele respondeu-lhe: "O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá. E, por isso mesmo, o Santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus" (Lc 1, 35-37). CATOLICISMO -
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União Hipostática Compreendendo ser essa a santíssima vontade de Deus, a Virgem disse ao Anjo: "Eis a escrava do Senhor.faça-se em mim segundo a vossa palavra" (Lc 1, 38). "Ó poderosa, ó eficaz, ó augustíssima palavra! - exclama São Tomás de Vilanova (1488-1555). Com um Fiat (faça-se) criou Deus a luz, o céu, a terra, mas com este Fiat de Maria um Deus se tornou homem como nós".
Então operou-se a maior de todas as maravilhas. Pela ação do Espírito Divino começou a formar-se no seio da Virgem puríssima o corpo do Menino Jesus. O mesmo Espírito Santo uniu a esse corpo urna alma humana e juntou corpo e alma à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Essas três partes de uma mesma operação foram simultâneas, e esse 11
sublime mistério é denominado pela Teologia de União Hipostática. Na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo - verdadeiro Deus e verdadeiro Ho1~el)1 - se unem as naturezas divina e humana .
CAPA
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Textos de meditação para a Quaresma e a Semana Santa
Quem apita, amigo não é!
Maria, Mãe de Deus A Virgem é Mãe de Deus porque gerou alguém que é Deus. Não é, porém, Mãe da Divindade ou da natureza divina; é Mãe duma Pessoa Divina enquanto produziu, no tempo, a natureza humana dessa Pessoa. Ora, Maria é mãe no sentido próprio. Pois o sujeito gerado é Deus ou uma Pessoa Divina, e não uma pessoa humana que depois foi feita Deus. O filho da Virgem é Deus no momento da concepção. No mesmo instante em que foi homem, foi Deus e homem, porque a natureza humana de Jesus estava destinada a subsistir, unida à natureza divina, na Segunda Pessoa divina. Esses pontos são doutrina de f é, explicitamente definida e de primeira importância no dogma da Encarnação, pois compreendem: 1. A declaração da natureza humana de Cristo, sem a qual não haveria a maternidade de Maria. 2. A declaração da natureza divina de Cristo; do contrário, o filho de Maria não poderia chamar-se Deus. 3. A declaraçã.o da união hipostática das duas naturezas na mesma pessoa, a divina; só assim pode ser um mesmo, o filho de Deus-Pai e o filho de Maria. 4. A declaração desta união desde o instante da concepção de Cristo; do contrário, a mãe de Cristo-Homem não se poderia chamar e ser Mãe de Deus. Maria é chamada verdadeiramente Mater Dei, em latim, ou Theotokos, em grego, confonne definiu solenemente o Concílio de Éfeso, no ano de 431. O
Um grupo de banhistas do Posto 9, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, consumidores habituai s ou ocaSLona is da maconha, combinaram apitar cada vez que a polícia se aproximava do local. Deste modo, os cigarros de maconha era m escondidos e os policiais não tinham a prova do ilícito penal. A campanh a ganhou os espaços dos meios de divul gação sob o nome de Quem apita, amigo é. Com a senha descoberta, trocaram os apitos pelos assobios. Cada vez que os policiais aproximavam-se do local eram recebidos sob vaias. Os banhistas viciados eram apresentados de maneira simpática, sob alegação de que usuário não é criminoso. Os policiais eram a prese ntados como tru c ul e nto s, extorquidores de propinas etc. Deputados do Partido Verde, como Fernando Gabeira e Carlos Mine, aproveitaram a ocas ião para fazer propagand a da sua campanha ele descriminalização do uso de drogas. Marcello Alencar, governador do Rio de Janeiro, num momento infa usto, afirmou que ainda poderia ex perimentar a erva: "Acabo fumando para ver o que é". Redunda em mais um passo para habituar a opini ão pública com o uso da droga. Foi mais uma sacudidela no muro de horror que sepa-
ra o vici ado da pessoa comum. Legalizado o consumo da maconha, droga leve, seus usuários tenderão ao consumo das drogas duras, como cocaína e heroína. Amigo de fato, do jovem, é quem denuncia e combate, poi s como revela o Jornal do Brasil, de 24-1-96, especialistas da área médica encaram o uso de drogas como importante questão de saúde. Eles alertam para os males da maconha, que dificulta o aprendizado, reduz a produtividade no trabalho, a motiv ação, além de causar fadiga e apatia. Sua fumaça é cancerígena. São necessários mais de 20 dias para que o organismo se livre dos efeitos de um único cigarro de maconha. As conseq üências do consumo da droga fora m descritas pela equipe do Conselh o Estad ual de Entorpecentes do Rio de Janeiro (Cone m), que a cada mês atende e m média 200 pessoas interessadas em se livrar da dependência de drogas. Embora tenha efeitos menos devastadores no organismo do que outros tipos de droga, a maconha também é perigosa, garante o psiquiatra Mário Biscaia, mem bro do Conem. Para o médico, ne nhum tipo de droga deveria ser liberado.
Fontes de referência: - Santo Afonso Maria de Ligório,Cl6rias de Maria Santíssima, Vozes, 1964. - Cônego Raymoncl Thomas de Sai nt-Laurent, La Vierge Marie, Aubanel Freres - Avignon, 1927. Frei J. Armindo Carvalho, O.P., Maria no plano de Deus, Cadernos Culturais, 1, Braga, 1958.
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Plantação de maconha
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ranscorrendo a Semana Santa logo no iníc io de abri l, pare~eu-nos mais apropri ado apresentar na presente ed ,çao o Lema da Q uaresma e da Sagrada Paixão do Redentor da humanidade. Para isso, escolhemos dois Lexlos parti cul annenle oporLunos, de autoria do Prof Plín io Corrêa de O li ve ira. Deste modo, prestamos ao sa udoso in spirador e suslenl ácu lo de Catolicismo mais uma merecida homenagem. O primeiro lexlo, sern revisão do aulor, conslilui excertos de urna exposição a sócios e cooperadores da TFP duranle a Sernana San la de março de 1988. No segundo, apresenta . mos os tópi co~ essenciais de urn arti go publicado no semanário " Legionári o", em 30 de março de 1947.
Agonia no Horto e previsão do sofrimento D iz o Evange lho que a natureza humana de Nosso Senhor Jesus Cristo "entrou em agonia" (Lc 22,43). O que é co mpree ns ível, porque a natureza humana de Jesus, sendo perfe itíss ima , era dotada, do modo mai s perfeito, de todos os in stintos do homem. E, portanto, possuía do modo mai s perfeito também o instinto de conservação. E le senti a o instinto de conservação gravemente contundido pela ameaça que se aproximava. Então, o que Ele fez? Para se preparar, Nosso Se nh or considerou aquil o tudo de frente. Para que não tivesse, alé m do mai s, o peso da s urpresa em sua natureza humana. E com o peso ela surpresa, os sustos, os medos etc. Ele tomaria a dor inte ira e a aceitaria. Por ass im dizer, colocari a sua alm a na altura da dor qu e vinha , co mo um guerreiro que, antes de entrar no campo de batalha, mede todos os ri scos, reso lv e enfrentá-los e entra no cam-
pode batalh a co m isso no interior de sua alma. Tal atitude é propriamente a do varão católico que se prepa ra para o sofrim e nto. Evi ta fec ha r os olhos para o que ve m, ev ita se r co lhido pe la surpresa. Tanto qua nto possível, prevê, e prevê coi sas desagradáveis. E is aí o esquema da preparação perfeita, e que e ncerra o desfecho da preparação. Jesus no Horto das Oliveiras (detalhe)- O Veronês (séc. XVI), Pinacoteca Previsão: forma de coragem de Brera, Milão (Itália). Um Anjo consolou-O, isto é, deu-lhe forças. Muitas pessoas não tê m coragem de prever e se deixam conta da sua alma. E o sofriAssim, o sofrimento do Hoafu ndar nos acontecimentos, mento fo i tal que chegou a suar mem-Deus foi como uma espéque as vão tragando na medisa ngue! cie de turbilhão. E durante esse da em que se apresentam. Segundo a Medicina, período já começaram as dores Muitas vezes, a pessoa diz: quando a pessoa está suj eita morais. Porquanto os Apóstolos, "Eu não quero prever, porque a pressões terríve is, certos vasem levar em consideração a eu não tenho coragem. Se eu sos capil ares se rompem e o tristeza que O tomava, foram vi,; eufuj o" . sa ngue perpassa pela pele. É dormir... E Aquele que era o Rei Nosso Redentor chegou ao propriamente um suor mistudeles, o Divino Salvador deles, ponto de não ag üentar o que rado com sangue. E no auge que sofresse como quisesse, eles estava diante de le. Mas não • da dor, o Redentor praticou não se incomodavam. agüentar, e m que termos? E le um ato de humildade ao expedi u que não se rea li zasse clamar: "Pai, se for possível, Auge do tormento: aquilo, mas se Deus-Pa i o deafastai de mim este cálice" . abandono dos Apóstolos sejasse, então se cumprisse sua Como quem diz: " Vós vedes Duas vezes o Divino Mesvontade. E à medida que fo i que Eu estou no ponto de não tre fo i ped ir socorro a se us pensando nos acontecimentos agüentar: .. masfaça-se a Vos - Apóstolos. E nas duas vezes, futuros, a agon ia fo i tomando sa vontade!" eles aco rdaram, olharam ... O
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na e, portanto, também deve despertar e estim ular a emoção. Mas a piedade não é só emoção, e nem mesmo é principalmente emoção.
Crucifixo venerado no altar-mor da igreja de São Francisco, em São João dei Rei
Messias diri g iu-lhes palavras tocantes, e não se importaram. E Nosso Senhor sentiu-se abandonado até por seus íntimos. Era uma dor medonha' Os mais próximos que Ele ia remir, ia salvar, aqu e les! ... O Chefe da Ig rej a, São Pedro , estava ali deitado, não o aten deu! São Pedro, a_quem E le disse: "Pedro, tu és pedra, e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" ! Como é isso?
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E São João, o discípulo bemamado, que durante a última Ceia tinha repousado a cabeça sobre seu peito .. . O padecimento então atingiu seu ápice. Começou Ele a sentir, com o abandono dos Apóstolos , algo do tormento da agonia. Consolação divina Apareceu nesse momento um Anjo do Céu e deu-Lhe de • CATOLICISMO -
beber um cálice, que Lhe trouxe consolação. O que quer dizer consolação? Significa força. É o sentido da palavra. Ficou, pois, consolado e pronto para a luta. E foi o que sucedeu. Desde o momento em que se aproximaram os algozes para prendêLo, até o "consumatum est",jamais teve um desfalecimento! A verdadeira piedade deve impregnar toda a alma hurna-
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A verdadeira piedade A piedade brota da inteligê nc ia, se riamente formada por um estudo catequético cuidadoso, por um conhecimento exato de nossa Fé, e, portanto, das verdades que devem reger nossa vida interior. A piedade reside ai nda na vontade. Devemos querer se riamente o bem que conhecemos. Não nos basta, por exemplo, saber que Deus é perfeito. Precisamos amar a perfeição de Deus e, portanto, devemos desejar para nós algo dessa perfeição: é o anseio para a santidade. "Desejar" não significa apenas sentir veleidades vagas e estéreis. Só queremos seriame nte algo, quando estamos dispostos a todos os sacrifícios para conseguir o que queremos. Assim, só queremos seriamente nossa santificação e o amor de Deus, quando estamos dispostos a todos os sacrifícios para alcançar esta meta suprema. Sem esta disposição, todo o "querer" não é senão ilusão e mentira. Podemos ter a maior ternura na contemplação das verdades e mistérios da Relig ião, mas se daí não tirarmos resoluções sérias, eficazes, de nada valerá nossa piedade. É o que se deve dizer especialmente nos dias da Paixão de Nosso Senhor. Não nos ad ianta apenas o acompanhar com ternura os vários episódios da Paixão: isto seria excelente, não porém suficiente. Devemos dar a Nosso Senhor, nestes dias, provas sinceras de nossa devoção e amor. Estas provas, nós as damos pelo propósito de emendar nossa vida, e de lutar com todas as forças pela Santa Igreja Católica. A Igreja é o Corpo Místico de Cristo. Quando Nosso Se-
nhor interpelou São Paulo, no caminho de Damasco, perguntou-lhe: "Saulo, Saulo, por que me persegues?". Saulo perseguia a Igreja, e Nosso Senhor lhe disse que era a E le mesmo que Saulo perseguia. Se perseguir a Igreja é perseguir a Jesus Cristo, e se hoje também a Igreja é perseguida, hoj e Cristo é perseguido. A Paixão de Cristo se repete de algum modo também em nossos dias. Como se persegue a Igreja? Atentando contra os seus direitos ou trabalhando para dela afastar as almas. Todo ato pelo qual se afasta da Igreja uma alma, é um a.to de perseguição a Cristo. Toda alma é, na Igreja, um membro vivo. Arrancar urna alma à Igreja é arrancar um membro ao Corpo Místico de Cristo. Arrancar uma alma à Igreja é fazer a Nosso Senhor, em certo sentido, o mesmo que a nós nos fariam se nos arrancassem os olhos. Se queremos, pois, condoer-nos com a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, meditemos sobre o que Ele sofreu na mão dos judeus, mas não nos esqueça.mos de tudo quanto ainda hoje se faz para ferir o Divino Coração. E isto tanto mais quanto Nosso Senhor, durante s ua Paixão, previu tudo quanto se passa.ria. depois. Previ u, pois, todos os pecados de todos os tempos, e também os pecados de nossos dias. Ele previu os nossos peca.dos, e por eles sofreu antec ipa.da.mente. Estivemos presentes no Horto como algozes, e corno algozes seguimos passo a passo a Paixão até o alto do Gólgota. Arrependamo-nos, pois, e choremos. A Igreja está diante de nós como Cristo ante a Verônica A Igreja, sofredora., perseguida., vilipendiada, aí está a nossos olhos indiferentes ou cruéis. Ela está diante de nós como
Jesus do Grande Poder, célebre escultura sevilhana
Cristo diante de Verônica. . Condoamo-nos com os padecimentos dela. Com nosso carinho, consolemos a Santa Igreja de tudo quanto ela sofre. Podemos estar certos de que, com isto, estaremos dando ao próprio Cristo uma consolação idêntica. à que lhe deu Verônica. O avanço da incredulidade Comecemos pela Fé. Certas verdades referentes a Deus e a nosso destino eterno, podemos conhecê-las pela simples razão. Outras, conhecemo-las porque Deus no-las ensinou. Em sua infinita bondade, Deus se revelou aos homens no Antigo e Novo Testamento, ensinando-nos não apenas o que nossa razão não poderia desvendar, mas ainda muitas verdades que poderíamos conhecer racionalmente , mas que por culpa própria. a huma. nidade já não conhecia de fato. CATOLICISMO -
ou hostis, pensam, sentem e vivem como pagãos. São nossos parentes, nossos próximos, quiçá nossos amigos! Sua desgraça. é imensa. Indelével, está neles o sinal do Batismo. Estão marcados para o Céu, e caminham para o inferno. Em sua alma redimida., a aspersão do Sangue de Cristo está marca.da.. Ninguém a a.pagará. É, de certo modo, o próprio Sangue de Cristo que eles profanam, quando nesta alma resgata.da acolhem princípios, máximas, normas contrárias à doutrina da Igreja. O católico apóstata. tem qualquer coisa de análogo ao sacerdote apóstata. Arrasta consigo os restos de sua grandeza, profana-os, degrada-os e se degrada com eles. Mas não os perde. E nós? Importamo-nos com isto? Sofremos com isto? Rezamos para que estas almas se convertam? Fazemos penitências? Fazemos apostolado? Onde nosso conselho? Onde nossa argumentação? Onde nos sa caridade? Onde nossa altiva e enérgica defesa das verdades que eles negam ou injuriam? O Sagrado Coração sangra com isto. Sangra pela apostasia
A virtude pela qual cremos na Revelação é a Fé. Ninguém pode praticar um ato de Fé sem o auxílio sobrenatural da graça de Deus. Essa graça, Deus a dá a todas as criaturas e, em abu ndância torrencial, aos membros da Igreja Católi ca. Esta graça é a condição da salv ação deles. Nenhum chegará à eterna bem-aventurança., se rejeitar a Fé. Pela Fé, o Espírito Santo habita em nossos corações. Rejeitar a Fé é rejeitar o Espírito Santo, é expulsar de sua alma a Jesus Cristo. Vejamos, em torno de nós, quantos católicos rejeitam a Fé. Foram batizados, mas no curso do tempo perderam a Fé. Perderam-na. por culpa própria, porque ninguém perde a Fé sem A Verônica e a Sagrada Face- Miniatura culpa, e culpa mortal. do Livro de Horas elaborado por Luís de Ei-los que, indiferentes Lavai (1480), Biblioteca Nacional, Paris
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deles, e por nossa indiferença. Indiferença duplamente censurável, porque é indiferença para com nosso próximo, e sobretu~ do indiferença para com Deus '. ' '
,.,
Tibieza dos que têm Fé E entre nós? Esta Fé que tantos combatem , perseguem, atraiçoam, graças a Deus nós a possuímos. Que uso fazemos dela? Amamo-la? Compreendemos que nossa maior ventura na vida consiste em sermos membros da Santa Igreja, que nossa maior glória é o título de cristão? Em caso afirmativo - e quão raros são os que poderiam, em sã consciência, responder afirmativamente estamos dispostos a todos os sacrifícios para conservar a Fé? Não digamos, num assomo de romantismo, que sim. Sejamos positivos. Vejamos friamente os fatos. Não está junto de nós o algoz que nos vai co locar na alternativa da cruz ou da apostasia, mas todos _os dias a conservação da Fé exige de nós sacrifícios. Fazemo-los?
Crucifixo existente na sede do Conselho Nacional da TFP, em São Paulo
A coragem da fidelidade Será bem exato que, para conservar a Fé, evitamos tudo que a pode pôr em risco? Evitamos as leituras que a podem ofender? Evitamos as companhias nas quais ela está exposta a risco? Procuramos os ambientes nos quais a Fé floresce e cria raízes? Ou, em troca de prazeres mundanos e passageiros, vivemos em ambientes em que a Fé se estiola e ameça cair em ruínas? Todo homem, pelo próprio fato do instinto de sociabilidade, tende a aceitar as opiniões dos outros. Em geral, hoje em dia, as opiniões dominantes são anticristãs. Pensa-se contrariamente à Igreja em matéria de Filosofia, de Sociologia, de História, de Ci ências, de Arte, de tudo enfim.
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Cristo Rei (séc. XI-XII) da fachada das Platerias, catedral de Santiago de Compostela - Cristo é o centro de nossa vida intelectual, moral e afetiva CATOLI CISMO -
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Os nossos amigos seguem a corrente. Temos nós a corage m de divergir? Resg uardamos nosso espírito de qual quer infil tração de idéias erradas? Pensamos com a Igreja em tudo e por tudo? Ou co ntentamo- nos negligentemente em ir vivendo, ace itando tudo quanto o espírito do sécu lo nos in cu lca, e simpl es me nte porque ele no-lo inculca? É possível que não tenhamos enxotado Nosso Senhor de nossa ai ma. Mas como tratamos este Divino Hóspede? É E le o objeto de todas as atenções, o centro de nossa vida intelectual, moral e afetiva? É Ele o Rei? Ou, simplesmente, há para Ele um pequeno espaço onde se O tolera, como hóspede secundário, desinteressante, algum tanto importuno? Quando o Divino Mestre gemeu , chorou, suou sangue durante a Paixão, não O atormentavam apenas as dores físicas e os sofrimentos ocasionados pelo ódio dos que no momento O perseguiam. Atormentava-O ainda tudo quanto contra Ele e a Igreja faríamos nos séc ulo s vindouros. Ele chorou pelo ódio de todos os maus, de todos os Arios, Nestórios, Luteros, mas chorou também porque via diante de si o cortejo interminável das almas tíbias, das almas indiferentes que, sem O perseguir, não O amavam como deviam. É a falange incontável dos que passaram a vida sem ódio e sem amor. Segundo Dante, estes ficavam de fora do inferno, porque nem no inferno havia para eles lugar adequado. Estamos nós neste cortejo? Eis a grande pergunta a que, com a graça de Deus, devemos dar resposta nos dias de recolhimento, de piedade e de expiação que a nossa Semana Santa deve ser.
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Palavras de vida eterna A parábola do joio "Propôs- lhes outra parábola: o reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto Lodos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e fo i-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio. Os servos do proprietário fo ram procu rá-lo e lhe disseram: Sen hor, não semeaste boa semente no teu campo? Como então eslá cheio de joio? Ao que este respondeu: um inimigo é que fez isto. Os servos pergunta ram-lhe: Queres, então, que vamos arrancá-lo? Ele respondeu: Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e ala i-o em fe ixes para ser queimado; em seguida, recolhei o trigo no meu celeiro" (Mt, 13, 24-30).
"Quando os hereges têm mais liberdade, então soltam o veneno" Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino no livro Catena Áurea 1 São João Crisóstomo - Na parábola anterior, o Senhor falou daqueles que não recebem os ensinamentos de Deus, e agora fala daqueles que os recebem de modo alterado, porque é próprio do demônio misturar o erro com a verdade. Apresenta-nos as ciladas do demônio, dizendo: "E, enquanto dormiam os homens, veio seu inimigo e semeou joio no meio do trigo, e se foi". Com estas palavras nos faz ver que o erro vem depois da verdade, coisa demonstrada pela experiência. Assim, depois dos profetas vieram os falsos profetas; depois dos apóstolos, os falsos apóstolos, e depois de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Anticristo. Porque o diabo não se esforça em tentar, se não vê o que imitar e a quem estender os seus laços. Haja vista, pois, que a semente frutifica, às vezes a cem por um, outras vezes sessenta, e outras trinta, e que ele não pode aJTebatar nem sufocar aquela que tem boas raízes. Por isso ele se vale de outro estratagema, confundindo sua própria semente. Ou seja, revestindo suas obras com cores e semelhanças que surpreendem os que se deixam enganar com faci !idade. Por
isso não disse Nosso Senhor que "um inimigo" semeou uma semente qualquer, mas o joio, que é muito parecida, ao menos na aparência, com a semente do semeador. Tal é a malícia do demônio: semeia quando já nasceu a semente, para desta maneira causar mais danos aos interesses do agricu ltor. Nas seguintes linhas descreve, pe1feitamente, a marcha dos hereges: "E depois que cresceu a erva e deu fruto, apareceu então o joio". No princípio os hereges não aparecem às claras. Mas quando têm mais liberdade e outros participam de seu erro, então soltam o veneno. São Jerônimo - Parece que Nosso Senhor contradiz aquele preceito (1 Cor 5): "Tirai do meio de vós o mau". Porque, efetivamente, se se proíbe arrancar o joio e se manda conservá-lo até a colheita, de que modo se há de tirar do meio de nós certos homens? Mas não há, ou é muito pouca, a diferença entre o trigo e o joio, que, quando ainda está em estado de erva e seu talo não contém espigas, é muito parecido com o trigo. Por estarazão Nosso Senhor nos adverte para, sem um exame minucioso, não darmos crédito a coisas duvidosas; devemos deixá-las, a fim de que o Senhor lance fora dos sanCATOLICISMO -
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tos no dia do juízo, não os suspeitos de crimes, mas os que, então, serão bem manifestos. Rábano - É de se notar que, quando disse "semeou boa semente", significa a boa vontade dos eleitos. E nas palavras "veio o inimigo", quis intimar-nos à cautela que devemos ter. E quando acrescentou "um inimigo fez isto", recomendounos a paciência. Nas palavras "para não acontecer que... " nos deu um exemplo de discrição. E quando acrescentou "deixaios crescer juntos até a colheita", recomendou-nos a magnanimidade. E, por último, a justiça, quando disse: "atai-o em feixes para queimar". Comentários do Pe. Luís Cláudio Fillion 2 Antes de madurar, o joio não se distingue do trigo. A cizânia, também conhecida como joio, que se encontra com freqüência nos trigais da Palestina, produz grãos muito parecidos com os do trigo, mas menores, e em geral de cor marrom. Misturados com o pão em certa quantidade, produz vertigens e convulsões, circunstância que aumenta o crime do "inimigo". Num primeiro período de crescimento, não difere do trigo, de modo que até os mais experimentados mal a distinguem. Mas, quando aparece a espiga, saindo do talo, até as crianças distinguiriam facilmente as duas plantas. Razão pela qual a separação se pode fazer com mais facilidade no tempo da colheita. Notas 1- Santo Tomás de Aqu ino, Carena Aurea, Cursos de Cultura Catolica, Yol. l, Buenos Aires, 1948. 2- Pe. Luiz Claudio Fillion,Nuestro SeíiorJesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, p. 166, Buenos Aires, 1962.
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se confessar e pedir alguns conselhos de que tinha necessidade. Sua fama começou a crescer. E os habitantes da região chegavam cada dia em maior número até a gruta, a fim de recomendarem-se às suas orações. Consentiu em estabelecer sua cela no vale, junto à qual sua família fez edificar uma capela, onde um sacerdote todos os meses vinha celebrar Missa, ocasião em que São Nicolau comungava. O Santo viveu nessas condições cerca de vinte anos, não tendo outro al imento senão a Sagrada Eucaristia.
HAGIOGRAFIA
São Nieolau de Flüe, Padroeiro da Suíça Na Suíça de língua alemã do século XV, um santo aliou as virtudes de audaz guerreiro e hábil diplomata com extraordinário espírito eremítico Luís CARLOS AZEVEDO
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sagrada liturgia celebra a 21 de março a festa de São Nicolau de Flüe. Nasceu em 1417, em Flüeli, no cantão suíço de Unterwalden, de uma farru1ia de agricultores. Era por natureza obediente, veraz e afável no trato com todos, mas especialmente amoroso da solidão. Sempre procurava lugares ermos em bosques e vales, para melhor recolher-se em oração. Tinha dezesseis anos quando, atravessando o formoso vale do rio Melch, viu uma torre de singular estrutura, que se erguia da terra perdendo-se no céu. Considerou simbolicamente o fato: aquela torre isolada significava o edifício de sua vida espiritual e o que lhe convinha fazer para elevar-se até o seio de Deus. Entendeu que deveria, em algum lugar, entregar-se à vida solitária. Numa outra ocasião, enquanto guardava seu rebanho, viu uma flor-de-lis magnífica, que saindo de sua boca se elevava até às nuvens, e depois, caindo na terra, era devorada por um cavalo. E compreendeu novamente, por essa visão, que a contemplação das coisas celestes nele era absorvida pelas preocupações desta terra. E novamente acalentou o desejo de levar vida solitária. Guerreiro destemido e misericordioso Ainda não havia completado vinte e três anos quando, a pedido de magistra18
dos, brandiu armas em uma campanha empreendida contra o cantão de Zurique, que desejava separar-se da Liga Helvética. E novamente o fez quatorze anos mais tarde, comandando pessoalmente uma companhia de cem homens. Combateu com tamanha bravura que recebeu uma condecoração de ouro. Nessa ocasião, foi graças às suas exortações que os suíços desistiram de incendiar o mosteiro feminino de Katharinenthal, onde os inimigos se haviam refugiado. Razão pela qual até hoje sua memória é reverenciada naquele mosteiro como o libertador. Na guerra, São Nicolau levava numa das mãos a espada e na outra o terço. Refulgia nele o esplendor do guerreiro destemido e misericordioso: protegia as viúvas e os órfãos, e jamais permitia que os vencedores se entregassem a atos de vandalismo em relação aos vencidos. Foi eleito juiz e conselheiro em sua terra natal, ocupando durante dezenove anos essas funções, em meio à satisfação geral de seus concidadãos. Demitiu-se desses cargos para poder retornar à vida de oração. São Nicolau, anacoreta São Nicolau foi um autêntico asceta. Jejuava quatro dias por semana, e durante a Quaresma não comia nada quente, contentando-se com pão e frutas secas. Esse regime, longe de enfraquecê-lo, fortalecia-o. •
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São Nicolau de Flüe-Pintura (1492) na igreja de Sachseln
Por insistência dos pais, casou-se e teve dez filhos, os quais, seguindo suas pegadas, chegaram às mais altas dignidades do país. Embora casado, seguia o mesmo regime de vida: levantava-se de madrugada para rezar durante duas horas, e recitava todos os dias os salmos em honra de Nossa Senhora. No outono de 1467, com o consentimento da esposa, aos cinqüenta anos de idade, revestiu-se do traje de peregrino e chegou à cidade de Lichstall, no cantão de Basiléia. Dali dirigiu-se novamente para o vale do rio Melch e recolheu-se a uma gruta. Certa manhã, ao despertar, sentiu uma dor agudíssima varar-lhe o coração. A partir desse dia, nunca mais sentiu necessidade de beber nem de comer. Algum tempo depois de sua reclusão, alguns caçadores o encontraram, manifestando-lhe a tristeza de seus familiares, advertindo-o de que morreria de fome e de frio, ou mesmo atacado por animais selvagens. Ao que ele respondeu: "Irmãos, não morrerei de fome, pois há onze dias não tenho comido nem bebido nada, e, entretanto, não sinto fome nem sede. Não temo também o frio nem os animais ferozes" .
Aproveitou a oportunidade para pedir que lhe enviassem um padre, a fim de
Prova As autoridades civis e eclesiásticas mobilizaram-se para certificar-se de que não havia fraude no que dizia respeito à sua alimentação. O Bispo de Constança enviou o Bispo de Ascalon para fazer essa averiguação. Este último chegou a Saxlen, abençoou a capela e entrou na cela de São Nicolau, perguntando-lhe qual era a primeira virtude do cristão. O Santo respondeu: "É a obediência ". "Pois bem, ordeno-te em nome da obediência que comas em minha presença este pedaço de pão e bebas esta taça de vinho" , disse-lhe o Prelado. Nicolau obedeceu. Sobreveio-lhe então dor de estômago tão intensa que o Bispo julgou que iria morrer. Crendo no milagre, o Bispo lavrou um documento, no qual se lia, entre outras coisas, que "Nicolau retirou-se para um lugar ermo chamado Ranft, no qual se conservou com a ajuda de Deus sem tomar qualquer alimento, vivendo ainda ali e desfrutando, até a data em que este documento é escrito, de todas as suas fa culdades, levando uma vida bastante santa, do que nós garantimos e afirmamos em toda verdade, por termos sido nós mesmo testemunha. " Crescia dessa forma cada vez mais o número daqueles que acorriam para pedir orações e conselhos ao Santo. Deus o favoreceu com o dom da profecia . Repetidas vezes adverti u o povo para que se premunisse contra a sedução
de futuras novidades religiosas. Com efeito, dezenas de anos depois os erros de Lutero e Zwinglio lamentavelmente devastaram diversos cantões suíços. São Nicolau, diplomata Em 1477, com a derrota do duque francês de Borgonha, as tropas confederadas dos cantões suíços reuniram-se para deliberar sobre a divisão do espólio de guerra e a admissão das cidades de Solero e Friburgo na Confederação Helvética. Sucedeu que a discussão e a divergência foram tão grandes que se receou a eclosão de uma guerra civil. O pároco de Stanz, amigo de São Nicolau, fez-lhe um relato do que acontecia naquela assem-
Pio XII canonizou São Nicolau de Flüe em 1947
bléia, pedindo-lhe que a ela acorresse a fim de serenar os ânimos. Ao entrar na sala, no momento da mais violenta disputa, todos se levantaram, abaixando a cabeça e mantendo silêncio para ouvi-lo. O Santo saudou-os em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo ter sido chamado pelo comum amigo, o pároco de Stanz, "para vos falar a propósito de vossas discórdias, que podem desfechar na ruína da pátria. Sou um homem pobre e sem letras, mas quero vos aconselhar na sinceridade de meu coração, e vos falo como Deus me inspira. Desejovos enorme bem, e se eu fosse capaz de vo-lo dar um pouco, quereria que minhas palavras vos conduzissem à paz" .
Prosseguiu com palavras de tal modo eloqüentes e eficazes, que nomesmo momento as pesadas nuvens das desavenças se dissiparam. Após o que, se-
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renamente, voltou para a placidez de sua ermida. Relatos daquela assembléia registraram que "todos os enviados devem, em primeiro lugar; fa zer que todos conheçam a fidelidade, a solicitude e o devotamento manifestados pelo piedoso irmão Nicolau em toda essa questão. É a ele que se devem render graças por tudo quanto foi feito".
A morte de um homem de Deus Antes de morrer, Deus lhe enviou uma doença aguda, cujas dores penetravam-lhe até à medula dos ossos. Foram oito dias de agonia de intenso sofrimento. A tudo isso suportou com católica resignação, exortando ainda os circunstantes a sempre se portar nesta vida de maneira a poder deixá-la com a consciência tranqüila: "a morte é terrível, mas ainda é mais terrível cair nas mãos do Deus vivo". Pressentindo a morte que chegava, o Santo, com grande ardor e piedade, pediu a Santa Comunhão e o Sacramento dos Enfermos. Junto de seu leito estavam todos os familiares e alguns amigos, que o viram entregar sua alma a Deus no próprio dia de seu aniversário natalício: 21 de março de 1487, aos setenta anos de idade. Todo o povo enlutou-se com sua morte. As lojas fecharam, e em cada casa se chorava como se houvesse perdido o pai da família. E logo o Santo tornou-se célebre não apenas na Suíça, mas também na Alemanha, França e Países Baixos. Vários Papas aprovaram o seu culto. Seu processo de canonização iniciouse em 1590, sendo interrompido diversas vezes. Foi canonizado por Pio XII em 1947. Pedindo sua intercessão, rezemos sempre a pequena oração que São Nicolau de Flüe ensinava àqueles que o vinham procurar na gruta do vale de Melch: "Senhor; dai-me tudo o que me una a Vós e afastai O tudo que me separe de Vós". Fontes de referência: Abbé Profillet, Les Saints Militaires, Retaux-Bray, Paris, 1890, t.11. Enciclopedia Catto/ica, Cidade do Vaticano, vol. VITI , 1952.
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História Sagrada
em seu lar
(59) noções básicas
Pio XI: Todos têm obrigação de aceitar a realeza de Nosso Senhor
O sol e a lua obedecem a Josué
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"Josué, fi el à palavra dada, pôs-se logo em marcha com toda sua gente de guerra; andou toda a noite e, ao amanh ecer, deu de improvi so sobre o s sitiadores, pô- los em grande confu são, fez neles grande extermíni o e os di spersou pelos montes. "Quando iam fu gindo, veio do céu uma chuva de grandes pedras, que fez neles ainda mai s estrago" (2). E morreram muitos inimigos dos hebreus, "mais pelas pedras do que pelos golpes de espada dos filhos de Israel" (Jos 10, J I ). Josué, vendo que o sol ia se esconder no ocaso, e que não teria tempo para consumar a vitória, invocou o Senhor, e di sse di ante de todo o povo: "Sol, não te movas de sobre Gabaão, e tu , lua, não · te movas de sobre o vale de Aj alão". "E o so l e a lua pararam até que o povo se vingou de seus inimi gos. Parou poi s o sol durante o espaço de um di a. Não houve, nem antes nem depois, um dia tão longo, obedecendo o Senhor à voz ele um homem, e pelejando por Israe l" (Jos J0, 12- 14). Ora, os cinco reis fu giram e se esconderam numa ca vern a da cidade de Maceda. Avi sado, Josué mandou que colocassem pedras na entrada da caverna, e fi cassem homens ele guarda. E, vo ltando-se aos que o acompanhavam,
ivulgadas as notícias das vitóri as de Josué contra Jericó e Haí , os re is das cidadelas circunvizinhas, aterrori zados, uniramse para combater contra os israelitas. Porém, os habitantes de Gabaão importante cidade situada próximo de Jerusal ém - não qui seram entrar na li ga, e utili zaram "um engenhoso di sfarce para escaparem ao extermínio". "Fingindo virem de muito longe, com vestes e sapatos estragados, odres e sacos descosidos e pães secos, todos cobertos de pó, como quem tivesse feito lon ga vi age m, a prese ntaram- se a Josué di zendo querer ter com ele paz e aliança. "Josué prestou fé às suas palavras. Pensando que este povo não estava entre os que Deus mandara exterminar, jurou poupá- lo. Mas, sabendo três dias depoi s que a terra deles situava-se muito perto, e não querendo faltar ao seu juramento , poupoulhes a vida; entretanto, em castigo da fraude, condenou-os a transportar água e lenha, segundo a necessidade dos hebreus"( l ). "Não agradou aos povos vi zinh os es te p rocedim e nto do s gabaonitas; e o rei de Jeru salém uniu -se co m qu atro re is d os amorreus, e vieram siti ar Gabaão. Mandaram logo os gabaonitas pedir socorro a Josué, que estava enJosué ordena ao sol que não se mova, para poder tão acampado em Gálgala. concluir a derrota dos inimigos de Israel
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di sse: Vós, porém, não estejai s parados, mas persegui os inimi gos e matai os fu gitivos. Depoi s de destroçar os inimi gos, se m que tivesse morrido um só cios israe litas, Josué foi até à cavern a de Macecla, e ordenou que lhes trouxessem os cinco reis. E, tendo sido conduzidos perante ele, Josué di sse aos príncipes do exército: "Ide e ponde os pés sobre os pescoços destes reis". E, tendo eles ido e posto os pés sobre os pescoços dos reis subjugados, di sse- lhes de novo: "Não temais nem vos acovardeis, tende âni mo e sede fortes; porque assim fará o Senhor a todos os vossos inimi gos". Depois disto, Josué matou-os e mandouos pendurar em cinco forcas. E, ao pôr cio sol , Josué ordenou que seu s cadáveres fo ssem desc idos e lançados na caverna em que tinham se escondido (cfr. Jos 10, 16 e 27). "Grande foi aquele di a em que o sol parou por ordem de Josué; grande na duração, grande na vitória, grande no impéri o cio genera l, e mais que grande na obedi ência cio mes mo Deus à voz dum homem. "M as po r qu e co ncede u Deus a Josué um tal dia? "Porque Josué dava a Deus as noites [as quais passava freqüentemente em oração ou marchando para o combate]. "Quem dá as noites ao demônio [pecando], como pode esperar que Deus lhe dê di as grandes e venturosos?" (3) O
Notas : 1. São João Bosc o, Hi stória Sag rada , Livrari a Editora Salcsiana, São Paulo, 1965, 14" ed ., p. 9 1. 2. Cônego J. 1. Roq uete, História Sag rada do Antigo e Novo Testa mento, G uill ard Aillaud , Lisboa, 1896, 9" ed ., tomo 1, p. 282. 3. Idem, ibidem, pp. 283 e 284.
"A realeza de nosso Redentor abraça a totalidade dos homens. Neste particular, não cabe fazer distinção entre os indivíduos, as famílias e os Estados; pois os homens não estão menos sujeitos à autoridade de Cristo em sua vida coletiv a do que na vida individual. Não podem, pois, os homens de governo recusar à soberania de Cristo, em seu nome pessoal e no de seus povos, públicas homenagens de respeito e submissão".
PIO XI, Encíclica Quas Primas, 11-12-1925, parágrafo 14
DESTA.O.}J_IJ
Fanatismo ecológico ou os amigos da onça
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que diri giu a pesquisa: "Há uma mudan-
Sra. Iris Kenna, educadora nore-ameri cana, considerava sua
ça na maneira como as pessoas consideram a vida selvagem, nota-se uma grande boa-vontade em se aceitar os pumas nas cercanias das cidades, mesmo que eles matem pessoas.
azenda -o Rancho Cuyamaca,
perto de San Diego, na Califó rni a - um segundo lar. Gostava de passear pelos prados durante o di a, observando os pássaros; à noite, naquel e c lima agradável, por vezes dormi a sob as estre las. Até que ... até que ... Um di a, enquanto descansava ao ar livre, foi atacada por um leão das montanhas (a nossa onça suçuarana, também chamada puma). O macho, de 70 quilos, trucidou-a instantaneamente e escondeu o corpo no mato. Estas onças têm atacado animai domésticos e crianças, e passaram a constituir perigo na super-civili zada Califó rni a. A razão, não é difíc il de descobrir. As leis de proteção do meio-ambiente, ao im pedir a caça, provocaram um aumento dos felinos : de 2.400, pul aram para 6.000 hoje. O alimento para elas rareou nas florestas, e começaram a procurá-lo nas imediações das fazendas, das casas suburbanas, e algumas se arri scam ainda mais, quando a fome aperta.
O perigoso puma da Califórnia, protegido por um ecologismo fanático
E m l 994, outra suç uarana matou a Sra. Barbara Schoene r. Mais tarde, a polícia matou a onça que, como se veri ficou, criava um fil hote. Houve coleta para evitar q ue a oncinha morresse. Rendeu 24.000 dólares. E ho uve també m co leta para os dois órfãos da Sra. Schoener. Rendeu ... 9.000 dólares. D ir-se- ia que esses habi tantes merecem as o nças que têm ... Uma pesqui sa de opini ão fe ita no Estado de Co lorado revelou que 80% acham q ue é preciso estabelecer limites ao crescimento urbano em terri tórios destinados aos pu mas. Comenta M ichael Manfredo, CATOLICISMO -
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C umpre ainda notar que o Estado de Ari zon a tornou il egais as armadilhas co ntra os pumas, e o s Es tados de Colorado e Oregon não permitem que os caçadores usem cachorros ou iscas para caçá- los. Os Estados de Oregon, Arizona e Co lorado modificaram recente mente suas le is de caça para proteger animai s predadores, como ursos, lobos e coiotes. O N ovo Méx ico reintroduziu artificialmente os lobos e m seu território, e assim também fez o Estado de Idaho com o urso pardo. Neste mês de março um plebi scito na Califórnia testará se os eleitores querem ou não alguma mudança das le is sobre a caça aos pumas . Observa o senador estadu al Tim Leslie, ardoroso pro pu gnador da caça às onças: "As
pessoas estão receosas de ir a um piquenique sem levar armas de fo go." O 21
Tanto as toucas como os vestidos exibem delicados desenhos florais adequados ao sexo feminino . Já a veste do homem fotografado de costas e sua boina enfeitada estão mais em consonância com as características mascu linas. A forma do ornamento superior da boina lembra certos elmos antigos, e sóbrios são os desenhos do pequeno tecido estampado, na parte de trás do colete.
ARTE POPULAR
Os. tecidos numa pujante arte popular PAULO CORRÊA DE BRITO
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Uma das regiões européias mais ricas quanto à arte e às tradições populares é certamente a Eslováquia
*** urria civilização como a atual, na qual a técnica mai_s so~isticad_a vai abatendo, barreiras regionais e nac1ona1s, muito poucos pa1ses conservaram os gêneros tradicionais de autêntica arte popular em dimensões tão grandes quanto a Eslováquia. Diversos ramos da produção popular tradicional não só sobreviveram, mas até se desenvolveram consideravelmente naquela nação. Seus produtos são confeccionados manualmente, os instrumentos de transformação continuam a ser os mesmos que serviram aos mestres das gerações anteriores, há muitos séculos. A arte popular se caracteriza particularmente pela elaboração final do produto. As pequenas diferenças na confecção e mesmo as inexatidões dos modelos atraem os verdadeiros conhecedores desse tipo de arte, pois elas são sinais da alegria da criação artística e de originalidade. Em suma, tais imprecisões, que são únicas em cada produto, revelam a presença do artista com sua inspiração também única. É o que distingue o artesanato do produto industrial, elaborado sem tais falhas, com uma perfeição mecânica e padronizada. Além de uma rica produção artesanal em madeira, argila, couro e de pitorescos instrumentos musicais, a Eslováquia tornou-se conhecida pela fabricação de tecidos populares.
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Outrora, as populações camponesas eslovacas fabricavam tudo o que lhes era necessário para a vida. Elas construíam suas próprias casas, os móveis e os objetos domésticos, como também os instrumentos para o trabalho no campo. Na fotografia acima, destaca-se a riqueza dos vestidos e toucas femininos. A produção doméstica fundamental era a do tecido de linho para o traje camponês e as necessidades da casa. Em várias regiões da Eslováquia ainda floresce a produção ma-
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nual do linho, utilizando-se o fio grosso para uma tessitura que ostenta belos desenhos, que ornamentam as vestes tradicionais masculinas e femininas. E igualmente no interior das casas camponesas, artesãs tecem em seus teares originais tapetes, com motivos geométricos ou da natureza, que embelezam não só as habitações populares. Eles estão sendo cada vez mais requisitados para decorar recintos diversos em nossos dias. A foto de baixo da página anterior mostra uma camponesa tecendo um tapete em seu tear. Ao lado dela, exemplo de outro tecido artesanal. "Atravessa -se uma colina e encontra-se outro vestuário" - é uma frase que reflete a realidade desse país que, geograficamente, consiste numa sucessão de vales e colinas, interceptados, às vezes, por picos nevados. Imagine-se o leitor percorrendo essas terras de Europa Central. Chega ele a uma dessas colinas, com um belo panorama nevado, ao fundo. E depara a encantadora cena da foto superior desta página: um grupo de camponeses envergando trajes típicos de sua pequena região.
Para concluir, a lguém poderia perguntar: E as produções artesenais doshippies não seriam tão elogiáveis quanto a arte popular eslovaca? A resposta é negativa, mas supõe uma distinção de esclarecimento. Embora a produção de ambos seja manual , a dos eslovacos constitui verdadeira arte, nascida da civilização cristã medieval, e exprime autênticas formas de beleza. As obras dos hippies são contra-arte, oriundas do espírito de contestação contra Deus e suas criaturas, e só poderiam tender para O a antibeleza, em última análise, o horrível infernal! À es<pJerda, /Jippie de S.io Francisco (EUA) vende publicações esotéricas. Embaixo, Grão do espírno: produto artesanal hippie de Nova York, confuccion.idocom metal, p."VIOe papel masc<ido.-A revolt1 infernal refletida nesse artefato opõe-se diametralmente à autêntica arte popular.
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O encanto da Bahia Brasil ~l Brasil Brijsileiro
TFPSEMAÇÃO
Reportagem da Comissão de Estudos Agrários da TFP: assentamentos levam à miséria e à desolação PAULO HENRIQUE CHAVES
GERALDO MARTINS
Ei
só quando desejou se alimentar das bolotas dos porcos que o filho pródigo teve saudades da casa paterna (cfr. Lc 15, 16-19). É neste triste fim de civilização que incontáveis almas se voltam para os valores da Tradição cristã, em busca de solução para seus problemas. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou que em poucos lugares a tradição pode ser tão sentida quanto na "Bahia vivaz e indolente, gulosa e musical" (1 ). Com efeito, não há brasileiro que, ao ouvir falar da Bahia, não tenha a sensação de ouvir algo como um instrumento musical, tocando no fundo da alma uma suave e acolhedora melodia. É a Bahia do passado, a encantar seus irmãos mais novos com aquele atrativo próprio à casa do filho primogênito. Essa impressão firmou-se em meu espírito quando, numa das viagens, cheguei a Salvador ao entardecer e me coloquei imediatamente junto ao Farol da Barra. As águas da Baía de Todos os Santos eram de uma tonalidade que variava ora esmeralda, ora prateada, ora de um azul-celeste pontilhado de rubis - conforme variavam os coloridos do crepúsculo. E enquanto o astro-rei concluía seu cerimonial de despedida, sumindo na fímbria do horizonte, como que envolto pela imensa safira líquida, meus olhos depararam com outro panorama de rara beleza: as silhuetas de torres das seculares igrejas, as ameias dos fortes e os antigos palácios e mansões senhoriais, que em bons tempos de outrora arrancaram
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de um francês esta exclamação: "Parecem uns principados!" (2) Às 18 horas, os velhos carrilhões da Basílica da Senhora da Conceição da Praia anunciaram oAngelus. Uma atmosfera de bênção descida do Céu fazia-me lembrar a célebre lenda da Cathedral Engloutie (catedral submersa), contada entre os marinheiros da Bretanha, na França. Por causa dos pecados dos homens, Deus permitiu que a catedral de certa cidade fosse submersa pelas águas. Mas, de quando em vez, ao sopro de uma graça, os homens se arrependiam de suas iniqüidades, e seus corações se elevavam aos Céus, com indizíveis saudades da antiga igreja e das harmonias sacrais de seus sinos. As águas então se abriam, as torres da catedral emergiam e os cani lhões começavam a tocar. Neste espírito de fé, comecei a percorrer as ladeiras pitorescas da velha Bahia, sentindo o delicioso odor de quitutes e iguarias exóticas. O colorido do casario, o sorriso vivaz estampado nos rostos de várias tonalidades, tudo, enfim, produzia uma deliciosa sensação. Era
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como se tivesse entrado num monumental caleidoscópio, onde uma imaginação e uma linguagem cheia de verve pareciam mostrar todos os seus encantos, como um pavão quando abre a cauda. As famosas baianas com seus trajes de rendas, turbantes orientais com madrepérolas e grandes saias-balão, ofereciam apetitosas iguarias. Mas para temperar tanta intemperança, Salvador possui cerca de 360 igrejas, quase uma para cada dia do ano, com seus austeros e ao mesmo tempo aprazíveis interiores, a nos lembrar que felicidade mesmo é só no Céu! Dissertar, ainda que sumariamente, sobre as igrejas da Bahia - banhadas de ouro, como a de São Francisco; com forte tom aristocrático, como a CatedralBasíl ica; ou cheias de uma atmosfera mística de penitência, como a do Senhor do Bonfim - extrapolaria os limites de um simples artigo. Quem quiser saber por que o Brasil nasceu na Bahia, venha rezar em suas igrejas, esca lar essas mesmas ladeiras, contemplar seus monumentos e casarios. Pois, como a cul inária baiana em geral, é preciso prová-los para os conhecer. Não é nada fácil descrevê- los. O Notas (1) Plínio Corrêa de Oliveira, Tradição, in " Folha ele S. Paulo", 12/3/69. (2) Gal. Labatut , apucl Plínio Corrêa de Oliveira,
Nobreza e elites 1radicio11ais análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Ro111a11a , Ecl. C ivili zação, Porto, 1993, p. 178.
afirmou, exaltando também os - S,: Ministro, os assenkibutzin (fazendas coletivas tamentos no Brasil vêm fraem Israel, altamente sociali cassando. Radiografia da viagem pelos zadas). - Alguns ... - respondeu assentamentos Falou-nos com exuberâno Ministro Andrade Vieira. cia dos quase mil assentamen- Peço vênia para dizer Assentamentos visitados: 44 tos, cujos assentados recebi que são todos, S,: Ministro. Localização: em todas as cinco grandes regiões do am, em média, três e meio, * * * Brasil quatro ou cinco salários míeste rápido diálogo , Quilômetros percorridos: 21.850 nimos. Com J6.000 dólares, ocorrido em 17 de Duração: 49 dias segundo ele, assenta-se uma maio de 1995, numa Entrevistas efetuadas: 369, gravadas em 67 horas família na terra, esta, por sua sala do Congresso Nacional, de fitas magnéticas vez, gera três a quatro empreo Ministro da Agricultura me Documentário fotográfico: mais de 1.200 fotos gos na cidade. Já são 20 misurpreendi a com sua opinião: lhões de hectares desaproprialguns assentamentos vêm fraados ... cassa ndo ... O otimismo e as informa- sas autoridades, mas ao públi- los nossos olhos e os depoimenEle recebia naquele motos que nossos ouvidos e grações do Ministro e do diretor co em geral. mento 40 rep resenta ntes da vadores colheram indicam exaJá em anos anteriores, por do INCRA não coincidiam classe rural , que lhe entregasugestão do Prof. Plinio Corrêa tamente o contrário. Eles comcom o que havíamos visto nos vam 30.3 JOpetições solicitande Oliveira, visitamos muitos põem um quadro completaassentame ntos. do a suspensão das desapropriassentamentos, a fim de consmente diverso daquele que nos Nossa convicção de que a ações de terras enquanto não tatar seus resultados. Nossas fora apresentado pelo Sr. MiRefo rma Agrária soc iali sta se procedesse a um levantaobservações, com a respectiva nistro da Agricultura e pelo dinão é urna solução, mas repremento do resu ltado dos assendocumentação fotográfica, fo- retor do INCRA, e contradizem sentará a miséria para o Bratamentos já feitos. sil, prej udicando sobretudo o ram publicadas em larga me- frontalmente o que a propaganNa ocasião, comentei com pequeno produtor de baixa dida por Catolicismo. o Dr. Plínio Vidi gal Xavier da da agro-reformista costuma diTraçamos nosso roteiro de vulgar. renda, levou-nos a aceitar um Silveira, chefe de nossa delevisitas. No encontro com o Didesafio: percorrer o Brasil de gação: "Vejo que o Ministro Os brasileiros precisam coretor de Assentamentos do Norte a Su l, conversando com não conhece a realidade dos nhecer o caminho inóspito e assentados, e assim dispor de INCRA, anotamos os que o ór- perigoso em que estaria entranassentamentos". Eu já havia um teste munho que mostras- gão considera bem sucedidos. do o País, se aplicada intensavisitado vários deles, só enconAssinalamos no mapa a posição se a rea lidade de modo trando miséria e desolação, que mente a Reforma Agrária. de cada um, pois estes deveriirrefutável, não apenas às nosse podem resumir em duas paNada melhor, para isso, do que am obrigatoriamente lavras: favelas rurai s. saber o que está acontecendo ser visitados. E acresDias depois, encontrei o nas terras onde já se aplicou a centamos ainda outros, Diretor de Assentamentos perfazendo ao todo 44 Reforma Agrária desde J964. do INCRA - hoje seu preE para saber qual seria o resulassentamentos. side nte inte rino - , Dr. tado em nível nacional, basta O contínuo bomRaul do Valle, pessoa que, projetar o que se vê nesses cabardeio a que somos pelo seu cargo, seria a mais sos concretos. submetidos pela camcredenciada para informar A publicação da reportapanha a favor da Resobre a verdadeira situação gem intitulada Reforma Agráforma Agrária prepados assentamentos de Reria semeia assentamentos - Asra o espírito de muitas forma Agrária. sentados colhem miséria e depessoas para aceitar Ele foi além do Minisque a Comissão de solação, que ela resolveria totro, ao tecer loas à Reforma Estudos Agrários da TFP acados os problemas da Agrária: "O sistema coletiagricu ltura. As ima- ba de lançar, tem em vista esse Raul do Valle, do INCRA: "O sistema coletivo de vo de produção é o ideal gens que entraram pe- objetivo. produção é o ideal para os assentamentos" para os assentamentos" -
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Nesse traba lho, chegamos a algumas co nc lusões : 1) A Reforma Agrária não resolve o problema econôm ico: a) Se a fazenda expropriada ·~ era produtiva, o assentamento a devasta ; se os asse ntados se estabe lecem em campo não cu ltivado , co nsomem o q ue podem e nada prod uzem; b) Na tentativa de resgatar o plano de Reforma Agrária, seus responsáveis vêm substitu indo a agricul tura pela pecuária; c) Os e rros técn icos são flagra ntes , causando grande desperdíc io do di nheiro público; d) Os asse ntados não conseguem saldar seus comprom issos apesar de se us c réd itos ultrafaci li tados . 2) A Reforma Agrária não reso lve o probl e1ml soc ia l:
eco nômico, por que tanta in sistênc ia e m fazê- la? Por uma razão ideológica 1 Qua l ideo logia? ' O soc ia lis mo. E sobre o soc ialismo a doutrina da Igreja é clara e ex p lic itam e nte contrária: ni nguém pode ser ao mesmo tempo bom cató li co e autêntico socialista. Mas o prese nte doc umentário, ex traído do livro a ser pub licado, não nos fa la através da voz superi or da dou trina e dos princípios, ne m da ling uage m fria dos números. Fa la através dos fatos. É uma co laboração qu e lea lmente oferecemos às autoridades do País e à op inião púb lica. Àque las, para uma at uação soc ia l e eco nômi ca em favor dos a utê nti cos trabalha-
Renda mensal: Freira contesta estudo da FAO Irmã Tereza Schiave nato pertence a uma comunidade re ligiosa dentro do asse ntamento São Pedro, em Eldorado do Su l - RS. Com ela mantivemos o seguin te diálogo: Reportagem - O estudo da FAO que temos em mãos, a respeito deste assentamento, afirma q ue cada assentado tira R$1 .200,00 por mês. O documento é datado de dezembro de 92, e na época a Sra. já deveria estar aq ui .
Irmã Tereza - Isto deve ter sido erro de imprensa, ou alguém que aumentou, porque eu me lembro bem de que eles só fizeram entrevista com um cara da cooperativa aqui embaixo, e ele não falou isso. Reportagem - A Sra. viu a publicação, os dados? Irmã Tereza - (Constestando os dados) Não, não, não é verdade! .. .
Pecuária substitui agricultura: tentativa de resgatar a situação
Nem mamona • Gerc ina N asc ime nto da S ilv a, Funcio ná ri a do Posto ele Saúde, assentada na Gle ba XV, Po nta l do Para na pane ma, S P
DEPOIMENTOS Foice em vez de maquinário • Homero Gonçalo Batista, da Fazenda Annoni , RS, corta ndo pasto para as duas reses que
,.. João Santino Torres, de Caxias (MA): vítima da desapropriação
a) Os assentamentos vê m se transformando e m favelas ru rais; b) Os sem -terra continuam sem terras; a escritura da terra é- lhes sempre negada ; c) A imp lantação de assentamentos causa pesado ôn us aos municípios; d) Os asse ntados passam a viver sob um regime de ditadura e escrav idão; e) Triste futuro aguarda as fa mílias assentadas . Se essa Reforma não resol ve o probl e ma social nem o
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dores ru ra is. A esta , para melhor julgar o que vem sendo feito de experiênc ia ag rorero rm ista e m nossa Pátria. E os fatos cla mam : a Reforma· Agrária, como vem sendo feita no Brasi l, acaba rá levando a fome ao campo e à c idade, conforme denuncia o Prof. Plinio Corrêa de Olive ira há 37 anos, desde 1959.
constitue m todo seu re ban ho. Sua pequena foice é a única que vimos em toda a nossa viagem por 44 assentamentos. Os assenta d os prefe re m ag uardar o maq uinário prometido pelo INCRA, e não se preocupam em adquirir sequer uma foice. As que ex istem ficam reservadas para as manifestações o rqu es tradas pe lo MST. ..
Duas vacas magras • Luiz José de Sena, 55 anos, Paje ú, BA - Ave Ma -
Homero Batista, da Fazenda Annoni (RS): a única foice
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ria! Eu estou vivendo com os trocos de 50, 100 reais que meusfilhos me mandam de São Paulo. Da roça aqui, es to u lascado, não tiro nada! Planto palma (cactus) para o gado, pois tenho duas cabeças .financiadas pelo INCRA.
- Nem mamona está dando mais...
Assentado não pode querer progredir
No assentamento "Libertação Camponesa", a figura de C/,e Guevara ao lado da cruz no salão comunitário indica a influência ideológica
Urubu Preto • Ca rl os ela S il va, 23 anos, Faze ndas Re uni das , Pro mi ssão, S P - O urubu está preto
para todos. Há gente que não tem dinheiro para carna .. Te nho um vizinho ali que éfraco, coitado. Deve no banco, não fa z [o sufic iente] para com.e,: O Ademir da Silva [outro assentado] disse que o dinheiro que sobrou [lucro?l este ano não dá pa ra comprar sequer urna galinha. Aqui, trabalha1nos cinco pessoas, e o traba-
lho este ano não rendeu nem um salário.
Falsificações • S hirl e y d e L o urd es Ferreira, Fazend as Re unidas, Promi ssão, SP - Todos que
saírnos da Cooperativa Pe. Josimo Tavares .freamos sem nada . E ela tem patrimôn io: tra to,; va ca, tanta co isa fá dentro. Fa fs(/1ca ram nosso contrato, debitararn -nos uma coisa que não devíarnos. Fomos tocados como cachorros.
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~ Ca rl os Robe rto Ferre ira de Fre itas, 30 anos, pres ide n- · te el a assoc iação dos asse ntad os, Asse nta me nto Al eg re, Arag uaína, TO - O assenta-
mento do Ca ju está m.ais .fi·aco do que o nosso. E o do Muriciza/ está numa situação m.uito problemática. Se a pessoa tem capacidade para progredi,; não é para ser assentado de Refo rma Agrária. □ À direita: Carlos Roberto, do Assentamento Alegre (Araguaína)
ADQUIRA O LIVRO DA TFP Os assinantes de Catolicismo podem pedir seus exemplares (R$ 1O) através do telefone (011) 824-9411 ou escrevendo à Rua Martim Francisco, 665 - CEP: 01226-001 - S.Paulo-SP_
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empre que vejo a fachada da Catedral de Colônia, percebo no mais fundo de minha alma o encontro de duas impressões aparentemente contraditóri as. De um lado, é um a realidade tão bela que, se eu não a conhecesse, não seria capaz de sonhá- la. Mas, de outro lado, algo di z em meu interi or: essa catedral deveria mesmo existir! E essa fachada inimaginável é para mim , ao mesmo tempo, paradoxalmente, uma velha conhecida... É como se eu toda a vida ti vesse sonhado com ela. O inimag inável e o sonhado se encontram nessa contradição. Contradição aparente, pois al go no mais profundo de nós mesmos deseja coisas que não somos capazes de imaginar; algo delineia, sem o percebermos, uma figura de maravilh as. E quando encontramos a maravilha anelada e esboçada, nasc ida das apetências de nossa alma, esse algo parece nos dizer: Ah! Aqui está a catedral esperada! Eu não poderi a morrer sem ter visto essa fachada! A minha vida não seria completa, e eu não seri a inteiramente eu mesmo, se cu não a ti vesse visto! Ó catedral bendita! Ó estilo bendito! Ela faz com que eu venha à tona de mim mes mo, e, por ass im di zer, me conheça a mim mes mo. E conheça algo para o qu al fui fe ito, algo que se exprime nesse monumento gótico. Algo de misterioso, que ped toda a minha dedi cação, pede todo o meu entusiasmo, pede à minha alma que ela seja inteiramente confo rme às marav ilhas da Igreja católica! É uma escola de pensamento, de vontade e de sensibilidade. É um modo de ser que dali se evola, e para o qual eu sinto que nasci. É algo muito maior do que eu, muito anteri or a mim . Algo que vem de sécul os nos qu ais eu era nada. Vem da mentalidade católi ca de homens que me anteecd ram e que também tinham, no fundo da alma, esse mesmo desejo do inimag inável. E eles até conceberam o que eu não concebi e fi zeram o que eu não fi z. Mas é um desejo l5o alto, tão universal, tão correspond ' llt l! aos anelos profundos de tantos e tantos homens, que o monumento fi cou para todo os · 111pre: a Catedral de Colônia!
S O inimaginável e ~
o sonhado P LINIO CORR ÊA DE ÜLI VElRA
Nota da Redução: Tcx 10 sem rcvi sao do aulor. Grav ura lc Karl ,corg l lascnpílug (séc. X IX) . M u, cu ela Cidade ele Colôniu .
Revolução e Contra-Revolução
Nº 544 - Abril de 1996
NESTA EDIÇÃO:
PLINIO CORRÊA DE ÜLIVEfRA
Em continuação aos primeiros capítulos da obra mestra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Catolicismo reprodjlZ a seguir o início do capítulo Ili. ~
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1. É universal Essa crise é universal. Não há hoje povo que não esteja atingido por ela, em grau maior ou menor.
2. É una Essa crise é una. Isto é, não se trata de um conjunto de crises que se desenvolvem paralela e autonomamente em cada país , ligadas entre si por algumas analogias mais ou menos relevantes. Quando ocorre um incêndio numa floresta, não é possível considerar o fenômeno como se fossem mil incêndi-
A Revolução é como um grande incêndio que devora todos os povos, todas as culturas, todos os restos da Cristandade
os autônomos e paralelos de mil árvores vizinhas umas das outras. A unidade do fenômeno "combustão", exercendo-se sobre a unidade viva que é a floresta, e a circunstância de que a grande força de expansão das chamas resulta de um calor no qual se fundem e se multiplicam as incontáveis chamas das diversas árvores, tudo, enfim, contribui para que o incêndio da floresta seja um fato único, englobando numa realidade total os mil incêndi os parciai s, por mai s diferente, aliás , que cada um de tes seja em seus acidentes. A Cris tandade ocidental constituiu um só todo, que transcendia os vários países cri stãos, sem os absorver. Nessa unidade viva se operou urna crise que acabou por atingi-la toda inteira, pelo calor somado e, mais do que isto, fundi do, das sempre mais numerosas crises locais que há séculos se vêm interpenetrando e entreajudando ininterrupta mente. Em conseqüência, a Cristandade, enquanto família de Estados oficialmente ca tólicos, de há muito cessou d existir. Dela re. tam 01110 vestígios os povos oc ide ntai s cristãos. E tod s se ncontram presentemente cm agonia sob a ação deste mesmo mal.
RFVOLUÇÃO 1CO NTRA-RL VOLUÇÃ
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A R[ALIDADL CONCISAMIH IT
3. É total Considerada em um dado país, essa c1ise se desenvolve numa zona de problemas tão profunda, que ela se prolonga ou se desdobra, pela própria ordem das coisas, em todas as potências da alma, em todos os campos da cultura, em todos os domínios, enfim, da ação do homem.
4. É dominante Encarados superficialmente, os acontecimentos de nossos dias parecem um emaranhado caótico e inextricável, e de fato o são de muitos pontos de vista. Entretanto, podem-se discernir resultantes, profundamente coerentes e vigorosas, da conjunção de tantas forças desvairadas, desde que estas sejam consideradas do ângulo da grande crise de que tratamos. Com efeito, ao impulso dessas forças em de lírio, as nações ocidentais vão sendo gradualmente impelidas para um estado de coisas que se vai delineando igual em todas elas, e di ametralmente op sto à civili zação cristã. De onde se vê que essa cri se é como uma rainha a que todas as forças do caos servem como instrumentos efi cientes e dóceis.
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1N I REVISrA
CATOU ISMO
Tópicos da atualidade brasil eira
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O im pério das drogas ameaça juventude
PA I AVRAS Dr VIDA r rrnNA
Comentá ri os sobre os Evangelhos
Presídios sob administração particular
PÁGINA MARIANA
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BRAS Ii RI AI , BRASIi BRASIi LI RO
Nossa Senhora do Bom Conselho
São francisco, o rio da unidade nacional
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DISCERNINDO, DISTINGU INDO, CLASS IFICANDO ...
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1RAN ÇA
AIDS: desconcertante comunicado de bispos franceses
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HAGIOGRN IA
Eleitorado repudia o socia lismo
NA CAP A: Jovens drogam-se no centro de São Paulo. Foto: 1 o lha
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SETOR DE ASSINATURAS Para fazer ou renovar assinaturas , alterar endereço, pedir números atrasados etc. Rua Martim Francisco, 665 CEP 01126-001 São Paulo SP
São Jorge, patrono da Cavalaria
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li PS [MAÇÃO
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Marcha pela Vida em Washington
Nové1es
Telefone: (011) 824-9411 2
NA IONAL
CAPA
Caracteres dessa crise or mais profundos que sejam os fatores de diversificação dessa crise nos vários países hodiernos, ela conserva, sempre, cinco caracteres capitais:
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CArnuc1sMo é uma pulllicação mensal da
Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Cosia do Lago Regislrada na DRT-SP sob o n• 23228 Redação e Gerência: Rua General Jardim , 770, cj. 3 D CEP 01223-0 10 São Paulo SP- Tel: (011) 257- 1088
ISSN 0008-8528 Fotolitos: Bureau Bandeirante de Pré-impressão Lida. Rua Mairinque. 96 CEP 04037- São Paulo SP impressão: Artpress Indústria Gráfi ca e Editora Ltda. Rua Javaés, 681 CEP 01130-0 10 São Paulo SP
-Abril de 1996 CATOLICISMO -
Abril de 1996
Preços da assinatura anual para o mês de ABRIL de 1996: Comum : A$ 40,00 Cooperador: A$ 60,00 Benfeitor: A$ 120,00 Grande Benfe itor: A$ 200,00 Exe mplares avu lsos: A$ 4,00 N. B.- O que exceder ao valor da assinatura comum considera-se um dona1ivo para a difusão de Catolicismo
e para as atividades cstatntáiias ela Tf'P
A REALIDADE
concisamente
·\ · No cumprimento da lei, o O URSO EO DRAGÃO SE Diário Oficial de 18- 1-96 APROXIMAM. CONTRA publicou a li sta de 22 novos QUEM? A Rúss ia firmou com a analistas de informação da China um pacto de assistência Secretaria de Assuntos Estratégicos - SAE, ou seja, dos militar no valor de 2 bi lhões de dólares. Vai entregar ao gonovos espiões contratados por verno de Pequim 72 caçasSV- concurso público. Só fa lta agora cada um 27 e dar assistência técnica à deles ter um crachá no peito, Força Aérea chinesa. Nunca foi tão intenso orecom os dizeres SAE/Espião. lac io nam ento Moscou-Pe- Mas a Constituição ainda não · chegou a esses detalhes ... quim. DISPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL PARECE ANEDOTA A Co nstituição de 1988 - cognom in ada "Constitui ção cidadã" - estabeleceu regras de publicidade para a contratação de servidores públicos.
TELEVISÃO EM EXCESSO PREJUDICA A CRIANÇA Pesqui sas divulgadas na Inglaterra afirmam que muita te lev isão atrapalha o desenvolvimento da linguagem em crianças entre 9 meses e 3 anos. A fo noaudi óloga ingle-
Na China: orfanatos, ou campos de extermínio?
MATANÇA DE INOCENTES NA CHINA COMUNISTA A organização Human Rights Watch/Asia acusa o governo comunista chinês de exterminar órfãos em orfanatos. A China tem a maior taxa mundial de mortalidade de órfãos em orfanatos: 90%. Os beneméritos denunciadores deste crime hediondo esqueceram-se de acrescentar que o aborto legalizado causa no Ocidente ex-cristão um número incontavelmente maior de homicídios de inocentes.
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Dep. Erasmo Dias defende privatização de presídios O perigoso fascínio da televisão sobre as mentes infantis
sa Sally Ward concluiu que a televisão é um dos principais fatores de atraso no desenvol vimento da linguagem. Rubens Wajnsztein, médi co neuropedi atra, concorda: "O bebê que passa muitas horas diante da TV se acostuma a só receber estímulos, e não se esforça para se comunicar" . A BAGUNÇA DAS ESTATAIS FRANCESAS A Air France só continua voando por causa do dinheiro do contribuinte, aplicado em doses maciças; o Crédit Lyonnais tornou-se exemp lo de gestão ruinosa; a Giat, empresa de material bélico, afundou-se em dívidas de 2,5 bilhões de dólares; as ferrovias estatais francesas são um pesadelo financeiro . Tudo indica que administração pública ruinosa não é privilégio do Brasil. Tanto mais que, também lá, a mentalidade soc ial ista esteve muito tempo no poder. CRESCE O MAOMETANISMO NA ANTIGA URSS Na região do antigo Kanato de Kazan havia , an tes de l 9 17, 1.400 mesquitas. Em 1988 restavam 30. Hoje já há 630 cm co nstru ção. 1nsAbril de 1996
trutores muçulmanos de países árabes estão chegando às dezenas, à região. Na anti ga Federação R ussa há hoje ent:re l Oe 20 milhões de muçulmanos. Têm os católicos igual zelo missionário, ou estão em boa parte parlapatando a respeito de um mal entendido ecumeni smo? CRIME DIMI NUI EM NOVA YORK Em dois anos, baixou em 27% o número de crimes em Nova York. O Comissário de Polícia, William Bratton, tem como uma de suas normas básicas de ação a Teoria das janelas quebradas. Onde há pequenas infrações, como janelas quebradas, latas vazias ele cerveja na rua, grafiteiros, etc, a polícia deve agir com rigor, verificar as identidades, porque dai i irão sair crimes sérios . Janelas quebradas atraem comércio e consumo de drogas. UNIÃO CUT-MST EM PROL DA AGITAÇÃO AGRÁRIA Há pouca massa de manobra para o Movimento dos Se111 -Terra ? A CUT ajuda. Ela vai cadastrar desempregados que estejam dispostos a morar em acampamentos rurai s. Espera co nseguir uns cem mil num ano.
Poucas pessoas no Brasil tiveram contato mais intenso com a questão da segurança pública do que o deputado Erasmo Dias. Coronel do Exército, Secretário da Segurança num período difícil, deputado federal por São Paulo, e agora deputado estadual, o parlamentar sempre teve atuação destacada neste campo. Afirma o dep. Erasmo Dias que"para a grande maioria dos apenados, é exeqüível um sistema prisional de baixo custo, grande capacidade, segurança compatíve l, semi-aberto e com laborterapia ocupacional. Para apenados de grande periculosidade, impõe-se o regime fechado". Segundo este especialista no tema, "a mola mestra do sistema prisional privado deve ser a ressocialização do apenado". Catolicismo entrevistou-o em seu gab in ete na Assembléia Legislativa de São Paulo. Catolicismo - Ouve-se das mais diversas fontes que o sistema prisional brasileiro está falido . O que o Sr. di z a respeito ? Deputado Erasmo Dias - É uma verdade. Há muito que o nosso sistema penitenciário está falido. As nossas cadeias são depósitos de presos onde, em poucos meses de prisão, o primário e o sec und á rio viram terciários, quaternários. Há um a superpopulação que não tem sido enfrentada como devia. Tenho feito algumas propostas já de longo tempo. Entre e las, sistemas prisionais sem iabertos, laborterap ia ocupacional, com segurança, com certos tipos de condições de vida que humanizassem um pouco nossos presídios . São sistemas semi-abertos. O ponto capital é este: há apenados perigosos, autores de crimes hediondos, que devem ficar em
regime fechado . Eu defendo até a pena de morte para certos casos. Há também os criminosos qu e não deviam ir para a prisão. Em alguns casos, outros tipos de pena poderiam ser mai s interessantes para a soc iedade : pe na pecuniária, pena de trabalho. Para uma grande maioria de apenados, o sistema semi -aberto seria o indi cado.
Catolicismo - O Sr. te m um projeto prevendo a privatização dos presídios no Estado de São Paulo. Qual é o fundamento dessa proposta e qual a sua viabilidade no atual contexto?
Deputado Erasmo Dias-Sou um modesto estudioso do assunto. Nos Estados Unidos, há em alguns Estados, particularmente no Texas, j á em execução, um sistema prisional da iniciativa privada, em que o apenado, nos dois últimos anos da pena, em função
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inclusive da pena que está cu mprindo, iria para este presídio particu lar, que representa menos custo e prepararia o apenado para o retorno à vida li vre.
Catolicismo - O Brasi l já tem alguma experiê ncia aná loga? Deputado Erasmo Dias - Tem uma experiência meio-termo. Já existe um arremedo disso em São José dos Ca mpos e em Bragança Paulista. E u so u favoráve l à casa do albergado, sou favoráve l a esse tipo de privatização através do município, em convênio. Ac ho que muitas soluções poderão ser aventadas. Catolicismo - O criminali sta Dr. Flávio d'Urso cita vários países que adotara m essa privatização, como os Estados U nidos, Portugal, Itáli a, França e, mais recentemente, a Austrá li a. O Sr. conhece esses sistemas?
Deputado Erasmo Dias - Esta nossa proposta ela iniciativa privada no sistema prisional foi fruto da experiênc ia de uma empresa norte-americana. Nos Estados Unidos, essas empresas de vi gilância, de segurança, têm uma estrutura que facilita a implantação de tal sistema prisionário. Elas têm um sistema psicológico, têm assistentes sociais, têm uma infra-estrutura de formação. Sai num custo mais barato. A fuga de presos aqui em São Paulo já se tornou uma indústria, compromete
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o Poder Judiciário, compromete o Poder Legislativo. Eu conheço bem a experiência dos Estados Unidos, e lá tem sido aprovada. No Estados Unidos, os Estados têm prisão federal, mas nós, aq ui em São Paulo, não temos prisão federal. Em matéria de sistema poli cial, penitenciário, carcerário, a nossa nação é falida. Por culpa do legislador inoperante, acomodado, e por certo tipo de postura da própria sociedade, que aceita essas coisas com tranqüilidade.
Catolicismo - Em São Paulo, e no Brasil em geral, haveria empresas capazes de assum ir a administração das prisões de modo eficaz?
Deputado Erasmo Dias - As empresas de segurança, pelo menos algumas delas, quando eu lancei a idéia, estiveram interessadas. Não foi para a frente por falta de apoio do Governo.
Catolicismo - E no âmbito federal, o Sr. tem conhecimento de algum projeto? Deputado Erasmo Dias - Não. Nenhum . O âmbito federal é mais amo1fo do que o próprio estadual. O nosso sistema penitenciário não copia o que há de melhor nos outros países. Finalmente, Catolicismo indagou sobre a recuperação de delinqüentes em nosso sistema penitenciário. O deputado Erasmo Dias respondeu que, infelizmente, nossas cadeias "seio fabri cantes de bandidos". E que "a reincidência é da ordem de 70 ou 80%". □ 6
IISTA.q® Brasil Real Brasil Brasileiro
O que mais ajuda os alunos: orçamento educacional alto ou bons métodos pedagógicos?
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m J 99 1, dois estudos internacionais ava liaram a capacidade ele leitura e a hab iI idade para matem át ica em ado lescentes ele 13 e 14 anos. Os alunos fran ceses ficaram em segundo lugar em leitura (depois ela Finlândi a) e em terceiro em matemática (depois ela Suíça e ela Hungria). Os norte-americanos ficaram em sexto I ugar em leitura e déc imo em matemática. Entretanto, os Estados Unidos gastam mais por aluno cio que qualquer outro país. A reporta gem ela conceituada revi sta norte-americana Forbes procurou observar o fenômeno ele perto. Visitou duas escolas, uma norte-americana e uma francesa. O estabelecimento norte-americano escolhido foi a Clarkstown High School Souih, nos arredores ele Nova York. Possui uma centena ele computadores e um estúdio ele TV, e as salas ele aula têm equipamentos ele vídeo. Nessa escola, a metade cio tempo é utilizada em aulas que se baseiam em sensações: tocar e sentir, por exemplo. As paredes, nas aulas ele saúde, estão forradas ele cartazes sobre os distúrbios ela alimentação, doenças sexualmente tran smissíveis e causas ela depressão. O assunto cio dia são os preservativos. Na aula sobre Educação Cívica, os alunos di sc utem com o professor temas como tabagismo, estresse e alcoo li smo. A alardeada liberclacle ele pensamento elas esco las norte-ame ri ca na s re s ulta
freqüentemente apenas em raciocínio preguiçoso e impreciso. Os professores são criticados quando não dão muitos A, a nota máxima. Os repórteres ela Forbes foram também a um a escola francesa, o Liceu Jean de La Fontaine, na Grande Paris, considerado ele bom nível escolar, com 1750 alunos. O liceu não usa computadores, tem um currículo rígido e critérios inflexíveis. Não fazes fo rços para tornar o currícu lo "acessível". A reportagem assistiu a uma au la ele Francês, dada por Maclame Thomazeau. Ao entrar numa classe ele alunos com 12 anos, em média, todos se levantaram. O trabalho era uma análise ele uma fábu la medieval. A professora os submeteu a um interrogatório implacável: "Como o texto é organizado? Em que ponto termina a introdução? Onde está a moral ? Que palavras o autor usou para causar simpatia por um ou outro personagem? Fctle! Exponha seus argumentos! Não parqfi'aseie o texto! Sintetize-o!" Quando a resposta tardava, a professora comentava: "Um semestre, e vocês não aprenderam nada!" O sistema ele ava li ação francês vai ele zero a vinte. Tirar 14 ou 15 já é considerado muito satisfatório. Resu ltado: o sistema francês ensina mu ito mais cio que o norte-ameri cano. Ex ige mais, por isso este método é mais útil aos alunos. No Brasi l, há uma tendência para se tentar resolver a questão educacional com base em verba. : 12% cio orçamento federal e 25 % cio municipal precisam ser utilizados no setor educacional. Sem dúvida, a ap li cação ele dinhei ro na educação tem muito peso. Mas seria o mais importante? E o papel do método pedagógico uti li zado? A pesquisa da Forbes ressalta a importância indiscutíve l do sistema de ensino. o Liceu francês: método de ensino superior ao norte-americano
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arece um paradoxo que alguém, estando em seu País, sinta saudades dele. Mas fo i o que me aco ntece u, visitando rece ntemente Pirapora-MG. Revendo o Rio São Francisco, vieram-me à memória as recordações de um Brasil que as gerações mais novas não conheceram. É aque le Brasil da calma, da bondade, da estabi lidade, do andar de vagar para chegar mais depressa, no qual as palavras corrupção e banditismo eram raramente usadas, assim como estresse e AIDS ainda nem sequer existiam. Em 1958, vi pela primeira vez o São Francisco, justamente em· Pirapora, de onde um pequeno barco a vapor, des li zando sobre as tranqüilas águas, conduziu-me até o Santuário do Bom Jesus da Lapa, onde fui cumprir promessa. Ali estava eu novamente, sentado à sombra de uma frondosa árvore. Enquanto distraía-me com o murmúrio das águas chocando-se com aquele trecho pedregoso do rio chamado pirapora (em língua tupi; lugar onde o peixe salta) , abri o livro do Padre Medeiros Neto, História do Süo Francisco. Meio ao acaso, no capítulo IV - Aspecto civilizador do São Francisco - deparei com a expressão Brasil brasileiro, de há mu ito usada no título desta seção. Transcrevo para os leitores alguns comentários muito pertinentes do Autor: "O São Francisco é o grande caminho da civilização brasileira. É nas suas cabeceiras que pairam as grandes bandeiras, e daí se expande e ondula o impu lso das minas; é no seu curso méd io e inferior que se expande e propaga o impulso da criação - os dois máximos fatores do povoamento. As suas ondu lações extremas, desde São Paulo, ligado a Minas, até o Piauí, li gado a Pernambuco, abra-
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çam o que hoje se poderia chamar o Bra- ínv ios, descem, sedentos de expansão e si l bras ileiro. cansados de expand ir, às margens do São "O seu papel junto aos destinos da Francisco. terra é o de fator preponderante no co"Jornadas de esperança se fizeram , nhec imento das nossas fontes de vida, nesta trajetória verde dos sertões. Recohumanas, econômicas e políticas. nhecendo, conquistando ou ocupando os "Os pioneiros da penetração no Oes- nossos sertões, estas expedições foram o te, com arrojo de perfeitos idea listas, se movimento mais feliz da história coloniutili zaram desta artéria marav ilhosa para al. Elas encheram o sécu lo dezessete e alcançar o coração da terra. Avançadas garantiram a ex istência do Brasil, em toform idáveis eram formadas, sob um so- dos os séculos". nho ideal ista fora do comum, demandanEnq uanto lia esta página, vinham-me do regiões banhadas por este "mediterrâ- à mente as pa lavras de Pero Vaz de Caneo brasi leiro". Internações corajosas e minha, informando ao Rei de Po1tugal que afoitas fizeram portugueses e brasileiros, "esta terra é toda chã e formosa; as tangidos pela vibração de peitos seden- águas são muitas, infinitas". E pensava tos de conhecerem e de apalparem esse nas fulig inosas e esburacadas rodovias Brasil imenso pela terra, incomensurável que rasgam o Brasil por todos os lados, pela opu lência subterrânea, infinito pela com suas imensas jamantas, ônibus e auvisão do seu cruzeiro. tomóveis, provocando desastres, neuro"O São Francisco é a estrada andante ses e dependência de um petróleo imporde um Brasil, que se move dentro do seu tado, quando governos mais previdentes próprio organismo. Ele se agiganta como dever iam ter impla ntado hidrovias urna artéria que estua no coração da Pá- complementadas por ferrovias , onerando tria. Do mov imento do li toral para o cen- muito menos o orçamento púb li co e nos tro tornou-se ele das;nelhores vias expan- _ proporcionando transporte mais conforsivas. Do Sul para o Norte se fez a estra- me à índole do Brasil brasileiro. da mais franca. As entradas vão vê-lo A quem objetar que estou advogando como o maravilhoso tesouro de esmeral- o atraso, respondo que no continente eudas, joalheria nativa de um Brasil encan- ropeu esse sistema fu nciona, sem que se tado e fabuloso. Os bandeirantes, após- ouse qualificá-lo de pouco moderno. Por tolos do corpo integral da Nação, em meio que não há de func ionar também neste às agruras da mata inóspita e dos sertões "continente" chamado Brasil? O
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FRANÇA
DocumeQto episcopal choca e desconcerta os católicos franceses J.
e. CAsTÉ
Enviado especial Paris - As rajadas inclementes de vento e neve aço ita va m a ve nerável fac hada de Sai nt Sul pice. Protegendo-se da tempestade, Pierre, estudante no Institui Catholique de Pa ris, sub iu ap ressadame nte as escadas e entro u na antiga igreja, testem unha silenc iosa de tanta história ela Igreja na França. - "Tsto não pode ser, Padre! Os bispos fi caram lo ucos?! Como é possível a ap rovação cio preservativo? - "Mas, você leu o clocumento? 1 Os bispos não declaram isso. - "Contudo, acabo ele ler no jornal e ... - "Po is aqui está o problema. Os bi . pos dizem uma coisa e a imprensa interpreta como quer. Fique tranqüilo. No ·sos pastores apenas aplicaram o caso cio 'mal menor '. - " Digo-lhe francamente, isso não tem a clareza cio 'sim, sim, não, não ' do Evangelho, e logo num tema dessa importância! O velho sacerdote, sacudindo a cabeça, tranqüilizou o jovem seminarista a duras penas , dizendo- lhe que era um escândalo ela mídia, sem maior importância. Pierre despediu -se, para não chegar atrasado à au la ela tarde, mas sua cabeça fervia com o problema: " Isto não está correto! As pessoas somente lerão o que diz a imprensa. Quantos são os que co111prarão esse documento ? E quantos são os que entenderão essa linguagem repleta de termos obscuros para o co111um dos fiéis, 8
11a qual aparecem testemunhos e opiniões que vão desde o diretor da mesquita de Paris, até uma enfermeira, passando por un pastor protestante, um teólogo e um homossexua I?"
*** Estimado leitor, não cre ia que se trate de um devaneio ele quem escreve essa correspondê ncia. É a pura reali dade.
ele aidéticos. Inc lui igualmente as opin iões e experi ênc ias de "a lguns m.ov im ent os de Igreja", e ntre os quais um centro ele aco lhi da de prosti tutas, os escoteiros da França, etc. Para q ue nada lhe fa ltasse, esse doc umento "democrático" e pouco magisteria l traz também as op iniões ele Da li! Boubakeur, diretor ela mesqu ita ele Paris, do pastor protes-
Documento do Episcopado francês semeia confusão e o relativismo nas fileiras católicas e dá margem à exploração da mídia favorável ao uso do preservativo O recente documento ela Comissão Soc ial cio Episcopado Francês, presid ida po r Dom Rouet, apresentado em entrevista à imprensa a 12 de fevereiro, intitulado "AIDS: a sociedade em questão", produziu um verdadeiro choque e desco ncerto nos fiéis cató licos. Sem falar na grande algazarra da imprensa parisiense. Em lugar de esclarecer os conceitos, o documento é confuso, ambíguo, e não apresenta uma visão sobrenatural dessa deli cada questão. A lém disso, algumas pa lavras e expressões não mereceria.m figurar cm um documento episcopal, mas sim em um informe médico. "A sociedade em questão" é o produto não somente da op inião cios bispos, mas recorre a testemun hos de um homossexual, pais ele aidéticos, uma enfermeira, um médico, um capelão protestante de hospita l e um centro de am paro • CATOLICISMO -
tante François Roc hat, cio Dr. Marc Gentilin i, Pres idente cio Com itê Cató li co de Médicos franceses, e ele A. Baclran, diretor gera l adjunto ela muito laica UNESCO. A fim de tranqü ili zar o le itor cató lico, traz também a op inião ele Xavier Lacroix, teó logo, e, po r fim, o documento propriamente oficial cios Bispos: "Diante da AIDS, relançar a esperança: Declaração da Co111issüo Social dos Bispos da França". De um total de 235 pág inas, o estudo cios prelados ocupa apenas 12. O docume nto prim a po r uma li nguagem impregnada de socio logia, de psicologia soc ial, ele um huma ni smo interconfess ional e laico, pouco acessível ao comum das pessoas, habituadas a conformar- ·e com o que comentam os jornais, com o que vêem na televisão ou escutam nas rád io .
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La mentave lm e nte, e ngana-se que m pretenda e ncontrar ne le um ensin amento baseado no Magistéri o da Igrej a, po is no docume nto não há um a úni ca referênc ia às sábi as palavras ci os Pa pas. Engana-se também que m prete nda e nco ntrar um a referê nc ia ao pecado ind ividual, à fo rma pecami nosa como se tra nsmite na maiori a dos casos essa e nfe rmidade . Não há uma-,ún ica condenação ao pecado infa me ela homossex ualiclacle, ne m ao pecado vil do consumo ele drogas. Pelo contrári o, pede-se tolerânc ia para com os homossex uais, os drogados e as prostitutas. É verdade que para o pecador sempre estão abertas as portas ela mi sericórdi a e cio perdão, mas para o pecado em si, não pode haver to lerânc ia. Tal te m sido o que a Santa Igrej a Católi ca sempre ensinou. Tampouco e nco nt ra mos nele uma referênc ia ao im portantíss imo papel ela vicia sobrenatura l, da ação ela g raça na alma e cio recurso aos sacrame ntos, à med iação onipotente de Maria Sa ntíss ima pa ra ve ncer as más in c li nações e aba ndo nar o estado ele pecado. Sob o ponto de vista da fé e da moral católi cas, trala-se de um d cumento verdadeira mente lamentável, que semeia nas fi leiras católicas a confusão, o caos e o relativismo moral. Eis, a títul o ele exemplo, a lguns trechos: " Compree nde-se o [u so do / preservativo para os casos nos quais, corri uma ati vidade sexual j á integ rada à
Episcopado francês: desconcertante comunicado sobre a AI OS
personalidade, há necessidade de ev itar um risco gra ve."( p. 194) "Quem encontra um aidético nüo deve perg untar como adquiriu a enferm idade, porque essa pe,gunta está geralment e mu it o ca rregada de juízos imp lícitos. "(p. 24) O doe u me nto reco nh ece que " mais de 80% dos casos de transmissüo têm origem sexual", mas "a AIDS abre-nos a cada dia um pouco mais os olhos sobre os a111 bientes da toxicoman ia e da homossexualidade."(pp. 26 e 27) "Se certas pessoas vivem por.força ou por opção segundo critérios diversos dos nossos, o respeito devido a todo homem, a tolerância requer que nüo os condenemos em nome de nossa própria moral. (p. 35) "O direito à moradia transfo rma-se, diante da enfermidade, em direito fundamenta l e inalienável de todo cidadão .... A doença, a morte do titular de uma moradia pode lançar à rua a campanheira ou o companhe iro igualm ente enfermos". (p. 36) "Dos mitos que permanecem com tenacidade em muitas mentalidades, o do "bom sofi-i,nento" e o de um "Deus que castiga" têm sido mantidos pelos cristãos por muito
tempo. É preciso dizer uma palavra, extraída das fo ntes dos Evangelhos, de um Deus que cura, que ali via e que salva, .... de um Deus que não j ulga, nüo condena, mas que liberta do 111a/ e do pecado .... A resposta de Jesus é um chamado a nüo j ulga r e nüo buscar as causas do mal de que alguém é vítima. Os cristüos têm sido vistos geralmente, a propósito dessa epidem ia, do lado daq ueles que j ulgam. (p. 5 1) "A Igreja recebeu em de pósito um Evangelho que é a Boa Nova anunciada a todos os homens, começando pelos pobres. Agora, pobre é aque1e q u e es tá a t ing ido pe la AIDS. É ta111bé111 pobre, igualmente, a sociedade que não tem nada a propor senc7o premunir-se contra os riscos. Pobreza de saúde, de esperança e do sentido da vida. (p. 204) "Como fa lar hoje, a respe ito da AIDS, de maneira libertadora que qjude a con.1·/ru ir o sentido da existência, que devolva a esperança e as for ças aos enfermos, gera lmente jovens? (p. 205) "Façamos um apelo para exorcizar os temores, o sentimen to d(f'uso de um castigo. Façamos uma convo cação para fa zer tudo a .fim de vencer o isolamento dos enfermos CATOLICISMO -
de AIDS, para manter sua esperança desgastada po r hosp ita lizações repe tidas , para sustentar a coragem e a devoção de todos os enfermeiros. (p. 2 1O) "Façamos um chamado à reflexüo sobre o ca ráter humano da sexualidade e para pro.1·seguir os e.~f'orços com. vistas a uma educaçüo afetiva e sexual que.faça descobrir a bele-;,a e a dignidade de toda relaçc7o humana. "Façamos um apelo para acompanhar fi-"ctterna /m.en te aqueles e aquelas cuja vida sexual e qf'et iva é para eles fo nte de cor(flitos e de sofi"i111entos. " (p. 2 11) Enfi m, paremos por aq ui, a fim ele não sob recarrega r as citações. As que fo ram transcritas são suficie ntes para dar uma idéia ela confusão q ue este doc ume nto c ria, para somente d izer confusão. À fa lta de clareza ela mensagem ep iscopa l francesa soma-se o alarido da mídia a favo r elas pos ições ma is extre• mas e perm issivas. Os limites deste artigo im pedem faze r uma aná li se ma is exte nsa, mas vejamos algumas manchetes ela imp rensa ele Paris, a fim de termos uma idéia cio bombardeio jornalístico que caiu sobre as a lmas dos cató li cos franceses: Abril de 1996
"Le Monde": "Os bispos franceses julgam necessário o uso do preservativo contra a AIDS" "Liberatio n": "França: o preservativo não está mais no Index" "Le Ca nard E ncha in ée": "Terminou o dogma do preservativo" "Le Figaro": "AIDS: os bispos levantam um tabu" Dom Gai ll o t, B ispo el e Evreux, suspenso pelo Vaticano, comentou que com este documento os bispos ela França "davam um passo em direçüo a Cristo". É de lodos con hec ido o espíri to crítico dos fra nceses, do qua l fazem largo uso. Esse espírito fez-se presente em abu ndâ ncia nas cartas ele lei tores aos jornais, censurando a pos ição de seus pastores. A ta l ponto fo i a expressão ele malestar cios fié is, que o próprio Dom Rouet viu-se obrigado a dar algumas exp licações, tentando de monstrar que o documento episcopa l não estava em contrad ição com o que sempre havia ensinado a Igreja. Muitos esperam agora uma pa lavra ele Roma. "Roma locuta ca usa .finita". Far-se-á ouvir sua voz nesses dias ele terrível confusão? O futuro dirá .. .
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ESPANHA
A Espanha depois do 3 de março Os socialistas perdem as eleições após 14 anos no poder Madri-A fim de analisar oresu I tado das recentes eleições legislativas espanholas, é indispensável ter em conta as características desta nação. Muitas vezes ouvi o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira dizer que considerava ter sido a Espanha chamada por Deus para expressar o "sim, sim. Não, não" do Evangelho. Certamente pode-se afirmar que a Espanha é o país do princípio de contradição: algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Daí nasceu o espírito reativo e combativo que brilha em toda a história espanhola. A própria catolicidade da Espanha está impregnada dele. Mas esse espírito reativo entrou em lento eclipse, através de um processo de anestesia e emudecimento, levado a cabo por um artifício psicológico de grande envergadura, o qual foi, aliás, denunciado por esclarecedor estudo de TFP-Covadonga. Contudo, em determinados momentos a Espanha sai de sua sonolência e volta a afirmar com convicção: "sim, sim. Não, não". As recentes eleições foram um exemplo disso. Este país, depois da guerra civil de 1936, está dividido de alto a baixo em duas concepções: de um lado, a Espanha católica, tradicionalista, ciosa de seus regionalismos e franquias medievais, costumes e devoções. De outro lado, uma Espanha atéia, republicana, laica, internacionali sta, igualitária, anárquica e sensual. Na guerra civil de 1936-39, saiu vitoriosa a prime ira Espanha. Não obstante, sucessivos governos tentaram desde então reduzir essa divisão, soterrá-la com o progresso, o turismo, meios de comunicação de massa etc. Quando menos se esperava, urna Espanha despertou e a outra se assustou ...
Primeiro-ministro eleito Aznar: sérios problemas para a formação do governo
As pesquisas prognosticavam um avassalador triunfo do Partido Popular (PP), liderado pelo político centrista José Maria Aznar. O PP aglutinava, de fato, o público conservador e anticomunista. Mas para obter mais votos, seus dirigentes aceitaram uma série de pontos - sobretudo morais - que aproximavam o PP da esquerda. Por exemplo: aborto, di vórcio, homossexualidade, liberalização dos costumes etc. Centrismo dessorado Ao mesmo tempo, o Sr. Aznar procurou depurar seu partido de tudo que tivesse sabor anticomunista e católico militante, afirmando-se um "partido de centro", a fim de afastar os "demônios do passado" com suas divisões, polêmicas etc, e procurando agora o consenso, o diálogo e a tolerância. Ao identificar-se com grande número de indecisos, o PP esqueceu-se de quedescontentava o público anticomunista, o qual começou a se distanciar do Sr. Aznar. Mas, pelas pesquisas de opinião pública, o PP parecia assegurar urna grande vitória "centrista" e de consenso. Enquanto isso, Felipe González mobilizou seu Partido Socialista Operário CATOLICISMO
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Tópicos da atualidade brasileira PUNIO VIOIGAL XAVIER DA SILVEIRA
J.C.C.
Espanhol (PSOE), enaltecendo a fibra combativa, apelando para sua identidade de esquerda revolucionária e radical. Despertou vivamente os "demônios do passado", relembrando canções e slogans da guerra civil de J936, atacando resolutamente a Igreja católica. Apesar do desgaste de 14 anos no poder, com escânda lo s de corrupção política e financeira, a esquerda, sempre mais disciplinada que a direita, votou em massa em candidatos do PSOE, identificados com o socialismo revoluc;onário. Resultado: a vitória de Aznar foi muito estreita, ou seja, apenas 340.000 votos a mais que Felipe González. O que equ ivale apenas a 16 deputados de diferença, que não concedem ao PP a desejada maioria abso luta. Futuro incerto Qual o caminho que se abre agora para a Espanha? Trata-se de uma via muito estreita e difíci 1. O PP, para governar, deverá pactuar com os deputados regionalistas e nacionalistas, coisa nada fác i1, dadas as ex igências desses, além de ter como adversário um PSOE que já prometeu uma séria oposição. Os socialistas, aliás, sentem-se fortes pelo fato de não haverem sofrido a derrota "histórica" indicada pelas pesquisas eleitorais. Alguns comentadores políticos afirmam que a situação espanhola cam inha para uma "italianização" (a Itália teve mais de 55 governos nos últimos 50 anos!), com a desvantagem de os espanhóis não terem facilidade de chegar ao "compromisso italiano". Em Madri, o clima não é de alegria. Muitos espanhóis aguardam um futuro pouco tranqüilo, com muitas tensões políticas e sociais. D
Frases que falam Dª Ruth Cardoso: "Eu sou a favor da descriminalização da maconha" ("Jornal do Brasil", 9-2-96). Dom Paulo Evaristo Arns: "Cada vez que houver problemas com a Reforma Agrária, vou me interessar e intervir" ("O Estado de S. Paulo", 22-2-96).
"Tudo como dantes ... " Após 15 meses de governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, continuam os debates no Congresso Nacional sobre as reformas constitucionais, consideradas necessárias para resolver a situação econômjca do País. A imprensa dá farta cobertura ao assunto. O que devemos pensar a repeito dessas reformas? Em setembro de 1995, numa entrevista a Catolicismo, o vereador Marcos Cintra, professor da Fundação Getúlio Vargas, afirmava: "A minha grande preocupação é saber até que ponto o Governo vai ter a agilidade e a rapidez suficientes para fazer a reforma tributária, a reforma administrativa do setor público e o ajuste fiscal. Sem estas três medidas, não adianta. Vamos voltar a ter um processo inflacionário crônico que sempre tivemos, pois a inflação brota destas três causas fundamentais". Pouco parece ter-se alterado esse quadro. A lentidão na votação das reformas constitucionais e as concessões que o Governo tem sido levado a fazer em cada uma delas, para atender a injunções políticas, não dão esperanças de que tenhamos ainda este ano qualquer alteração substancial na situação. Manifestamos o temor de que a crise do País se agrave cada vez mais. Corno se dizia antigamente, continua "tudo como dantes no quartel de Abrantes" ...
com uma inesperada oportunidade de sair da obscuridade em que se achavam enterrados . .. . Nem em sonhos Vicente Paulo da Silva, o Vicenlinho, poderia imaginar tamanha dádiva: dois ministros de Estado negociam freneticamente em sucessivas e intermináveis reuniões uma 'não-reforma'. Aprelexto de melhor discutir a questão, empurra-se cada vez mais para frente a votação do tímido conjunto de medidas propostas".
Que o texto em votação é tímido e não resolve o estado de falência da Previdência Social no País, é admitido por todos os observ adores. A única solução viável - o término da contribuição obrigatória para a Previdência Social estatal em favor de uma previdência privada - parece completamente ausente no panorama.
Vicentinho (à esquerda, com ministros): nos galarins de efêmera glória
"Quem viver verá"
No encontro nacional do clero, realizado recentemente em Itaici , o Pe. Edson Damian, assessor da CNBB para Vocações e Mini stério, anunciou que seria feita uma auto-crítica para saber Vicentinho: realidade ou show? se "a opção preferencial pelos pobres" não está prejudicando a Nas negociações para a aprovação da Reforma da Previdên- evangelização de outras camadas da sociedade. Já em novembro do ano passado, o Cardeal Primaz do Brasil, cia, a grande vedete foi Vicente Pau lo da Silva, presidente da CUT. Governo e imprensa deram grande destaque à sua partici- D. Lucas Moreira Neves, presidente da CNBB, "num mea culpa inusitado, admitiu que a Igreja Católica, que decidiu priorizar as pação nos entendimentos. Um interessante artigo, "O presente a Vicentinho", publica- populações mais carentes, esqueceu-se de zelar pela educação do na imprensa paulista por Francisco Ed uardo Barreto de Oli- . moral e religiosa de suas elites" ("O Globo", 26-J 1-95). veira, diretor do IPEA (Instituto de Pesquisa Especial AplicaNo seu extraordinário livro "Nobreza e Elites Tradicionais da) e coordenador do Comitê de Previdência e Saúde do Institu- Análogas" (Ed. Civilização, Porto, 1992), o Prof. Plinjo Con-êa to Atlântico, traz considerações que podem servir para nossa de Oliveira mostra claramente que a Igreja, além da "opção prereflexão: "É realmente de causar espanlo a atual discussão ferencia l pelos pobres", tem uma "opção preferencial pelos nobres": "Não é só o pobre de recursos materiais que merece sobre a reforma da Previdência Social no Brasil. Antes de mais nada, a suposta reforma brindou o Partido dos Traba lhadores (PT) e a Central Única dos Traba lhadores (CUT)
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opção preferencial. Também o são aqueles que, pelas circunstân cias da sua vida, têm deveres particularmente árduos a Abril de 1996
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cumpri,; e aos quais incumbe maior responsabilidade no cumprim en to desses deveres pela edif1caçüo que daí pode resultar para o corpq social, como, em sentido oposto, pelo escânda lo que a transgressüo de tais deveres pode trazer ao mesmo corpo social".
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Estará a CNBB rea lmente mudando sua orientação, passando a atender também os fiéis de todas as classes sociais? Se isso se confirmar, terá sido uma notícia muito alvissareira. Quem viver verá.
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Punhos cerrados e foices ameaçadoras na assembléia dos sem-terra em Sandovalina (SP)
Em sentido contrário, nesse mesmo encontro de Itaici, 428 sacerdotes aprovaram moção de solidariedade aos sem-terra, em espec ial aos coordenadores do MST presos por promoverem invasões ilegais no Pontal do Paranapanema: "Repudiamos toda violência e injustiça no campo e reafirmamos nosso compromisso de apoio à luta justa pela reforma agrária". É incompreensível defender os agitadores presos por promoverem invasões violentas, e ao mesmo tempo repudiar "toda violência e injustiça no campo". Estranha contradição.
"Só vamos parar quando o problema da terra tiver sido resolvido, e não adianta fazer ameaças".
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A deci são do Presidente Fernando Henrique de não negociar com o MST foi recebida com entusiasmo pelos líderes ruralistas, que decidiram intensificar o esforço para isolar o que chamam de "esquerdinhas do governo". Os ruralistas consideram que o INCRA e o Exec utivo Federal foram transformados em reféns dos sem-terra. "Os produtores rurais chegaram ao seu limite de tolerância, e nüo irüo mais assistir passivamente suas propriedades serem invadidas, as cercas destruídas e o gado morto pelos seguidores do Sr: Rainha", disse o presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo ("O Globo", 3-2-96). De outro lado, Gilberto de Oli veira, um dos líderes do MST, afirmou: 12
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Oitenta sem-terra acampados na Fazenda Sul Bonito, em ltaquiraí (SP), saquearam um caminhão carregado com 13 toneladas de arroz, feijão e farinha de tri go. O MST confirmou o saque, afirmando que 420 famílias estão passando fome. Quem é que deve alimentá- las? Aqueles que patrocinaram mais esse acampamento de sem-terra, e não os donos de caminhões que transitam pela região.
A tensão no campo
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O carnaval e a impopularidade A escandalosa imoralidade exibida no carnaval, alardeada pela mídia, até que ponto atrai o povo? Será eq uilibrado dizer que o carnaval é uma festa popular no Brasil, e conta com a adesão entusiástica, ou pelo menos simpática, da grande ma ioria da população? A pergunta poderia parecer ingênua, se não até disparatada, diante da aparente popularidade dessa festa. Uma análise sensata e desapaixonada do assunto, a que conclusões levaria? As capitais, bem como as grandes cidades do interior, se esvaziam, as praias se enchem, muitos aproveitam os feriados para tirar alguns dias de repouso, visitar parentes, fazer turismo, tal qua l fazem nos fins de semana e demais feriados prolongados que ocorrem no calendário. Que porcentagem da população participa, realmente, dos deploráveis desfiles e bailes carnavalescos que as tubas da mídia noticiam com tanto destaque? Será que chega a 1%, a 5%? A fa lta de pesquisas de opinião que respondam a essa questão faz desconfiar que os resultados não agradariam a todo um setor que se empenha em promover a decadência ele costumes morais, e que gostaria ele ver comprovada a tese da popularidade do carnaval. É claro que o lamentável nudismo que as TVs ex ibem é assistido por centenas de milhares de telespectadores, que buscam preencher o tempo nesses feriados tantas vezes monótonos . Mas se não houvesse carnaval , seriam menos indecentes as cenas que estariam sendo exibidas nas novelas e demais programas aos quais eles teriam acesso? Não há dados para. e responder, ele maneira segura, a todas estas questões. Mas é evidente que não se pode ter como inconteste a propalada ade. ão do brasileiros ao carnaval e aos seus desregramentos. D
Opção preferencial pelos pobres, ou violência?
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NELSON
lgumas tragadas num cigarro de maconha, com colegas de colégio, pode ser para não poucos o começo da sinistra se nda da droga. Depois de certo tempo, a busca de sensações mais fo1tes leva-os a "cheirar o pó" (cocaína). Ou a injetar a heroína nas veias. Ultrapassa-se então a "barreira cio horror": a droga "branda" leva para o tóxico "pesado". A partir desse ponto, a dependência da droga é praticamente inelutável. Chegará o momento em que, numa festa, numa discoteca, ou mesmo através de traficante de rua, aceita-se fumar ocachimbo cio crack. A queda no abismo é então bem mais funda, e as conseqüências ela nova droga são devastadoras para o organismo e para a mente da vítima. Diante desse quadro, qual a situação atual de nossa Pátria, especialmente de sua juventude? Pesquisa efetuadas sobre o consumo eventual ou constante de entorpecentes por crianças em idade escolar indicam números impressionantes. E também revelam que o vício está se tomando cada vez mais precoce. Um Núcleo de Pesqu isas ela Un iversidade do Rio de Janeiro chegou à con-
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clusão, por amostragem, de que aproximadamente 10 mi l dos 3,5 milhões ele alunos, cujas idades variam de 11 a 18 anos, podem estar consumindo drogas injetáveis. E outra pesquisa realizada pela Escola Paulista de Medicina demonstrou que nas esco las de 1° e 2° graus do Rio 33% dos jovens de classe A reconhecem que usam drogas com freqüência. A situação não é menos preocupante em São Paulo, onde o terrível crack chegou à periferia da cidade em 1988. Mais recentemente, as pedras docrack vêm circulando até em bairros de classes mais abastadas e em certas danceterias da cidade. Mais de cinco mil formigas (pequenos traficantes) vendem a pedra de preço mais elevado, sendo que alguns deles a entregam a domicílio, mediante pe.dido por bip ou telefone. Segundo informações do relatório anual de 1995, preparado pela Divisão de Inteligência e Apoio Policial do Departamento Estadual de Narcóticos de São Paulo (DENARC), quatro milhões de pessoas usam drogas eventualmente na região metropolitana da capital paulista. E outras 1,6 milhão fumam
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crack, maconha e/ou cheiram cocaína di-
ariamente. O crack tem 6 1,8% de preferência entre os homens e 52,9% entre as mulheres. Essa lamentável situação do Rio e São Paulo infeli zmente não é excecional em nosso País. Além de contin uar como rota de tóxicos, ele tornou-se hoje consumidor.
Projeto de lei danoso intensificará o vício A atua l legislação brasileira prevê pena de 3 a 15 anos de prisão e pagamento de 50 a 360 dias-multa para o traficante; e pena de seis meses a dois anos de prisão e pagamento de 20 a 50 diasmulta para o consumidor. Um novo projeto - o substitutivo do dep. Ursicino Queiroz ao Projeto de Lei 4591/94-A,já aprovado na Comissão Especial ela Câmara, e que irá logo à votação do plenário - abranda insensatamente a atual legislação: quem for apanhado com pequena quantidade de narcóticos não poderá ser preso. O tóxico será apreendido e a pessoa responderá ao processo em li berdade.
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Tal legislação redundará numa vitória dos grandes traficantes (que nunca aparecem), pois eles dominam uma rede de pequenos distribuidores de drogas,Qs quais, pelo projeto, serão classificados como consumidores e não corno traficantes. Nessa condição, não poderão ser presos. O delegado Mário Antonio Novaes de Paula Santos, diretor da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes do DENARC, em entrevista concedida à imprensa paulista, revelou que dos mil t:raficantes presos no ano passado em São Pau lo, 90% eram rnicrotraficantes, isto é, consumidores que também vendem drogas. E acre~centou: "Esse tipo de tra-
"É proibido proibir"
As causas psicológicas que levam os jovens às drogas são várias. E são as que determinam o flagelo da toxicomania. Naquele artigo, de autoria de R. Mansur Guérios, Catolicismo analisava a concepção errada da religião, da moral e da educação, imposta ao homem contemporâneo em nome da "liberalização". Hoje se vê que aquela concepção vem demolindo
O que leva o jovem à droga?
Quando um ou mais fenômenos se verificam ao mesmo tempo, é prudente indagar que relação têm entre si. Que relação têm, com o divórcio, a depressão, os ritmos musicais alucinantes, o suicídio, o satanismo? Catolicismo, em março de 1987, citava Mary Kenny, do "Sunday Telegraph": "Talvez seja um escândalo que sejamos flagelados pelas drogas, mas trata-se de uma conseqüência lógica do modo pelo qual modelamos nossa civilização". Sem
dúvida nossa civilização, com sua nova moral e seus costumes, cria a apetência das drogas.
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Falta de ideais, isolamento, busca 'religiosa' da droga
Diz o psicólogo francês T. Anatrella, em seu livro "A sociedade depressiva" (Flammarion, Paris, J 993), que a pedagogia moderna, contestatária de tradições religiosas e morais, propugnadora da liberdade total das crianças, "entrega-as às próprias inclinações. Sem formação religiosa e moral, os jovens não encontram padrões elevados que lhes sirvam de modelo para estruturar sua vida interior. Entregues à própria insuficiência, isolam-se. Isolados, deprimem-se ou tornam-se agressivos. A revo lução contestatária da Sorbonne, em 1968, tentou consagrar essa pedagogia libertária, ao mesmo tempo que valorizou a droga num ambiente de sentimentalismo 'místico', contestatário da sociedade, imergindo os jovens em devaneios de justiça e paz".
ficante anda sempre com pequena quantidade, mas é o maior.fornecedor".
Dessa forma, o projeto, sob o pretexto de procurar distinguir o usuário do traficante, na prática irá favorecer o tráfico. A base de distribuição da droga, constituída por microtraficantes, será consolidada. É mister que essa proposta legislativa malsã e suicida seja denunciada e combatida por todos os brasileiros lúcidos. Os pais de família, juntamente com os educadores e todas as instituições vinculadas ao ensino, deveriam fazer chegar aos deputados seu veemente repúdio ao infausto projeto, antes que ele seja votado no plenário da Câmara. E igualmente quando a referida proposta for apreciada no Senado Federal.
Essa busca de prazeres intensos prepara os espíritos para encontrar apenas na droga a ilusão de urna satisfação completa.
A heroína é extraída do bulbo da papoula
psicologicamente a juventude, que crê encontrar nas drogas um sentido da vida. A felicidade, segundo os adeptos dessa "l iberali zação", consiste em não coibir instintos desordenados e em correr desenfreadan1ente em busca de toda espécie de gozos lícitos ou ilícitos. É "proibido proibir" qualquer prazer. . As novas condições da sociedade fazem com que a criança, quando começa a refletir, coloque para si mesma a pergunta: "Não haveria um meio de levar urna vida só de coisas agradáveis? Se é possível gozar, quero chegar ao extremo do gozo atingido pelos meus pais, e quero já! Quando tiver atingido a idade deles, terei chegado a outros deleites".
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Hoje não são apenas prazeres que a droga oferece. Ela vem aliciando cada vez mais pela sensação de completar, de modo mágico ou religioso, as enormes carências espirituais de homens, cuja personalidade não foi ed ucada, não formularam uma finalidade clara para a vida nem conceberam um ideal aservircomdedicação. Não há melhor formação psíquica do que a religiosa, segundo o sábio ensinamento da Igreja Católica. A Religião sempre deu ao homem a noção de um ideal superior ao qual se dedicar. Com a atual laicização, pouco a pouco morreu essa noção, e os homens se voltaram cada vez mais para si mesmos. A droga vem comp letar essa introspecção. Ela traz uma satisfação interna e pessoal que freqüentemente assume um caráter "místico". Até alguns anos atrás, o modelos do santo ou do herói, marcados pela generosidade, pela cora-
gemou pela perseverança a serviço de um ideal superior, eram um ponto de atração para os que se sentiam chamados a um ideal sublime. Arevolução li bertária da Sorbonne proclamou a independência em relação à tradição social e ~t Religião: "Nem Deus, nem senhor", bradou. O que os contestatários de 1968 não tiveram coragem de afirmar é que, proclamada aquela independência, forçosamente o movimento da Sorbonne lançava a juventude numa via de frustrações, que hoje tem corno termo a dependência das drogas. A "v iagem in terior" realizada pela droga, freqüentemente apoiada pelo rock' n roll, assume ares de "êxtase" rei igioso. A nova drogaecstasy (ver quadro nesta página) conjuga-se com ritmos alucinantes. Catisa incontrolável excitação, impele à dança por horas a fio, embalada por sensualidade "mística". O toxicômano, entrando em consonância com o ritmo frenético, acentua o delírio interno, fazendo dessa sensação paroxística seu único pólo de interesse. A droga passa a dominar-lhe a vida. A televisão e a propagação das drogas
A televisão tem sido o mais poderoso veículo da nova moral, libertadora dos "antigos tabus", e daquela pedagogia do "deixa-estar". A nocividade de muitos programas já foi focalizada por Catolicismo em vários artigos. Eles tendem a apresentar como normais as críticas à Religião e o menosprezo da moral familiar. Divórcio? União livre? O que há de mais comum? É o que dão a entender incontáveis programas, de grosseira manipulação da sexualidade juvenil com caráter erótico. Irreligião e erotismo, "libertação de tabus" e decomposição familiar preparam a psique juvenil para mais tarde recorrer às drogas, segundo o que ac ima foi dito. O trauma causado pelo divórcio dos pais é freqüentemente a mola propulsora do vício, na vida dos filhos. Deus deseja que eles vejam nos progenitores uma
Processamento de cocaína na Colômbia
união íntima formando "uma só carne", como diz a Sagrada Escritu ra. A separação é sempre incompreensível para os fi lhos. Perdem a confiança nos pais. Privam-se de seu exemplo e procuram outros modelos. Assim, passam quase sempre para a órbita de influência de outros orientadores. Como a televisão, o mais das vezes, que passa a dominá-los praticamente como único modelo.
A tox icodependência nasce muims vezes cio "desencaixe" social e de estados depressivos dos que não praticam a Religião, ou dos que não encontram no lar bem constituído o aconchego necessitado pela inocência. Menoscabo da Religião, da família, cio ideal, somado à debilidade psíquica de jovens cada vez mais "agredidos pela realidade" social, são freqüentemente prenúncios da toxicodependência. Pesquisas feitas com drogados revelam que,já antes de caírem no vício, eles não entendem o que se passa em seu interior e menos ainda no mundo onde vivem; desconfiam dos pais e superiores, das instituições sociais- Igreja, escola, governo - que não souberam estruturar suas almas. O que fazer? O que foi feito?
Em 1969, quando a epidemia cios tóxicos já ameaçava uma juventude em via de perder o ideal, a TFP, difundindo em
Ecstasy: a nova "moda" A busca de novidades faz parte da produção e distribuição dos tóxicos. Os viciados ficam atendidos, assim, em sua sede insaciável de sensações sempre mais fortes. A cocaína, a heroína, o crack, etc, para alguns já estão fanados. A "indústria" da droga lançou recentemente no Brasil o seu último produto: ecstasy Mistura de um alucinógeno e anfetamina, tal droga provoca dependência, por vezes a morte. Difunde-se entre jovens das classes média e alta. O psiquiatra Arthur Guerra afirma que cerca de 35% dos pacientes que atende já experimentaram esse tóxico. Muitas vezes é consumido misturado com heroína ou cocaína. Chegou ao Brasil em 1991. Normalmente vem da Inglaterra, Alemanha e Holanda, disfarçado como
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Pílula ecstasy
vitaminas. As apreensões são mínimas em relação ao volume que consegue entrar no País. A nova droga, utilizada com freqüência em clubes, danceterias e discotecas, causa tal euforia no viciado, que o induz a dançar uma noite inteira sem necessidade de descansar. O corpo esquenta demasiadamente, sendo os órgãos internos, às vezes, literalmente "cozidos" pelo calor.
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Decaiu a prática religiosa. todo o País número especial Aumentou o número de famíl ide Catolicismo, punha a nu as desfeitas. E com isso houve uma vasta trama instalada na um acréscimo da violência e do Igreja para levar todos os caconsumo das drogas. O que ditólicos ao ateísmo. A campªzem agora os sapos? Continunha denunciava a conjuração am otimistas, fingindo não ver, dos "grupos proféticos" . por exemplo, que as drogas deEm arti go publicado na vastam a juventude. "Folha de S. Paulo" (9-7-69), Como esta, inúmeras foram descrevia o Prof. Plinio as campanhas desenvolvidas Corrêa de Oliveira ricos burpela TFP, visando a preservação gueses otimistas - os sapos de nossa herança cristã e da - que já se irri tavam co m indissolubilidade do vínculo macampanhas da TFP, tachantrimon ial. Elas marcaram a hisdo-a de inflexível, extremisCachimbo com pedras de crack: devastação irreversível da juventude tória mais recente do Brasil cata, antiquada .."Em relação à tólico. Dando a milhares de jovens um ideirreli gião instalada na Igreja, era preciO ateísmo prático se impôs a largos al c,istão, a TFP fazia desde então, por acrésso sobretudo não combater, mas sorrir; setores católicos, sobretudo aos mai s cimo, o mais eficaz trabalho de prevenção não denunciar, mas dialogar. A juventu- abastados. O progressismo, acentuando de drogas, como o atestam modernos estude? O trabalho e o desenvolvimento eco- durante anos a gravidade inexistente de dos de psicologia. Essa eficácia aumentou nômico a manteriam nos eixos", jacta- problemas sociais e econômicos, "esquequando, mais tarde, mediante a campanha ceu" de levantar barreiras à vaga de imovam-se. "O Amanhã dos nossos Filhos", a TFP iniQuase trinta anos depois, constatada ralidade que, utili zando-se do enfraq ueciou eficiente combate à degradação moral a degringolada geral, o que pensarão cimento da piedade, logo depois inundaD e cultural promovida pela TV. aqueles burgueses acomodatícios? ria a sociedade.
O verdadeiro aIDor de Deus leva a Ulll zelo universal "Ser tua esposa, oh Jesus, ser carmelita, ser por minha união contigo a mãe das almas, isto deveria me bastar. Não é assim. Sem dúvida, estes três privilégios constituem minha vocação: carmelita, esposa e mãe. Entretanto, sinto em mim outras vocações. Sinto a vocação do guerreiro, do sacerdote, do apóstolo, do doutor, do mártir. Enfzm, sinto a necessidade de fazer por ti, oh Jesus, as mais heróicas obras. Sinto em minha alma a coragem dum cruzado, dum zuavo pont~fício, gostaria de morrer num campo de batalha na defesa da Igreja. Apesar de minha pequenez, gostaria de esclarecer as almas corno os profetas, os doutores, tenho a vocação de ser apóstolo. Gostaria de percorrer a terra, pregar teu nome e plantar em solo infiel tua Cruz gloriosa" (Manuscrits Autobiographiques, Carmel de Lisieux, 1957, pp. 226-227) .
Santa Teresinha do Menino Jesus 16
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Palavras de vida eterna O grão de mostarda e o fermento 11
Naquele tempo, propôs-lhes jesus esta parábola: O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou em seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é maior do que qualquer hortaliça e torna-se árvore, de maneira que as aves do céu se abrigam nos seus ramos. Contou-lhes ainda outra parábola: O Reino dos Céus é semelhante ao ferm ento que uma mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado. Todas estas coisas disse jesus ao povo em parábolas; e não lhes fa lava senão em parábolas, para que se cumprisse o que estava escrito pelo Profeta (Sa lmo 78, 2): Abrirei minha boca em parábolas, proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo (Mt 73, 3 7-35). 11
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino no livro Catena Aurea ( 1) São João Crisóstomo- Nosso Senhor havia dito que se perdem três partes das sementes e só uma se conserva. E há, ainda, muita perda desta última por causa da cizânia que se espalhou sobre ela. Assim, para que seus discípu los não fizessem a si mesmos a pergunta "quem e quantos serão, pois, os fiéis?", propôs!hes a parábola do grão de mostarda para tirar deles esse temor. São Jerônimo - Por Reino dos Céus entende-se a pregação do Evangelho e o conhecimento das Escrituras, que conduz à vida eterna, conforme está dito aos judeus (Mt21 ): "Ser-vos-á tirado o reino de Deus". Santo Agostinho - O grão de mostarda representa o fervor da Fé, porque se diz que ela expulsa os venenos, ou seja, os ensinamentos iníquos. E por galhos da árvore evangélica, que cresceram do grão de mo_starda, deve entender-se avariedade de dogmas, sobre os quais descansa a multidão elas aves do céu, isto é, as almas cio fi éis ou as virtudes dos que combatem pelo serviço de Deus.
São Gregório - Sobre esses galhos descansam as almas dos justos, que se elevam dos pensamentos mundanos com as asas das virtudes e respiram longe dessas fadigas, recebendo as palavras e consolos sobrenaturais. Santo Agostinho-O fermento significa a caridade, porque a caridade estimula e excita o fervor. A mulher figura a sabedoria; as três medidas são os três graus de caridade, manifestados nestas palavras: "Com todo o coração, com toda a alma e com toda a inteli gência". São Remígio - A palavra grega "parábola" sign ifica comparação, a qual serve para demonstrar a verdade. Porque, com a comparação, Ele manifesta certas verdades por meio ele fi guras e imagens. São João Crisóstomo - Para que ninguém pensasse que Nosso Senhor introduzia nov idades, o Evangelista alega o Profeta, que hav ia profetizado até esta maneira de pregação. São Jerônimo - Com relação ao que se disse da pessoa ele Cristo - "abrirei minha boca em parábolas" - é preciso considerar com muita atenção. Nelas veremos descrita a saída de Israel do Egito e a referência a milagres narrados no CATOLICISMO -
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Êxodo. De onde podemos concluir que tudo o que se refere neste livro divino deve-se entender em sentido parabólico, em que se manifestam coisas misteriosas. Estas verdades misteriosas são as que promete o Senhor revelar, quando disse: "Abrirei minha boca em parábolas". Glosa - Como se dissesse: posto que primeiramente lhes falei pelos profetas, agora em minha própria pessoa abrirei minha boca, em parábolas, e farei sair do tesouro de meu coração os mi stérios que estavam oc ultos desde o princípio do mundo.
Comentários do Pe. Luís Cláudio Fillion (2) "Na Terra Santa, o pé da mostarda alcança proporções consideráveis, e as aves, ávidas de sua semente, vêm, satisfeitas e graciosas, pousar nos seus galhos. A ap licação é fác il : como a mostarda, o Reino dos Céus, pequeno no começo, em pouco tempo deveria adqu irir colossais proporções e se espalhar pelo mundo inteiro. A quinta parábola, qu e é a do fermento, descreve também, embora de outra maneira, o desabrochar progressivo e extraordinário que pode produzir uma causa mínima na aparência: o Evangelho exerce no mundo um influxo e uma ação íntima, penetrando-o e transformando-o". Notas 1 · Sa nto Tomás ele Aquino, Cate11a Aurea. Cursos ele Cultura Catolica, Vol. 1, Buenos Ai res, 1948. 2- Pe. Lui z Claudio Fi 11 ion, Nuestm Se,,or Jes11cris10 seg1í11 los Eva11gelios, Eel. Difusión, p. 167, Buenos Ai res. 1962.
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Ensina- nos o Catecismo quei entre as Obras de Misericórdia espirituais, a primeira é "dar bom conselho". Em meio ao terrível caos mental da sociedade contemporânea, o que o homem mais precisa é dessa Obra de Misericórdia. Ass im, a devoção a Nossa Senhora do Bom Conselho reveste-se de importância capital: Catolicismo já publicou várias matérias sobre o milagroso afresco de Nossa Senhora do Bom Co nselho, venerado na cidade itali ana de Genazzano. Apresentamos a segu ir, resumidamente, a história de uma cópia desse afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho, que a própria Mãe de Deus qui s enviar ao Brasil.
Maravilhosa história do quadro venerado há várias décadas na igreja de São Luís, na capital paulista
Dois irmãos da cidade de ltu tornam-se jesuítas Em meados do século XVIII, na tradicional cidade pa uli sta de Itu, os irmãos Miguel e José, da família Campos Lara, uma das mais distintas da localidade, eram noviços da Companhia de Jesus. A combativa Ordem fundada pelo grande Santo Inácio de Loyola era então mu ito perseguida. Em 1760, o Rei de Portugal D. José I - influenciado por seu ímpio ministro Marquês de Pombal - expulsou de Portugal, Brasi l e outras colôni as a Companhia de Jesus. Jovens de verdadeira têmpera, os irmãos Campos Lara acompanharam os jesuítas em sua viagem de exílio a Roma. Na Itália, tendo concluído os estudos, receberam a ordenação sacerdotal. Pouco tempo depois, fa leceu o Padre Migue l. Quanto ao Padre José, fo i enviado por seus superiores a vários lugares. Porém, os governos ímpios de vários países vinham exercendo fortes pressões para que o Papa extingu isse a Companhia de Jesus. As coisas chegaram a tal ponto que, em 1773, Clemente XIV fechou-a. 18
Nossa Senhora
do Bom Conselho PAUL,0 FRANCISCO MARTOS
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Por mai s terrível e inex plicável que fosse aquela dificuldade, o Padre José de Campos Lara não desanimou. Confiou em Nossa Senhora, e a Virgem env iou-lhe um embaixador celeste para ajudá-lo.
Encontro com um Anjo nas areias da praia Corria o ano de 1785, e fazia 25 anos que o Padre José deixara o Brasi l. Quando passeava pensativo por uma praia deserta, deparou com um jovem, o qual lhe oferece u um quadro a óleo represe ntando a Mãe do Bom Conse1ho, e dizendo- lhe que o levasse para o Brasil. E, ao mesmo tempo, lhe anunciou que no lugar onde Ela fosse venerada erguer-se-ia um grande colégio jesuíta. Respondeu- lhe o sacerdote não di spor de recursos para a viagem. Mas o jovem desconhecido garantiu-lhe que o comandante de um navio prestes a partir o ad mitiria gratuitamente. Consolado, quis o Padre Campos Lara despedir-se de seu interlocutor, mas eis que este havia desaparecido. Persuad ido de que se tratava de um Anjo, dirigiu-se ao cais e encontrou o navio indicado. Seu capitão concordou em aceitálo como passageiro gratuito. Regresso a ltu Depois de longa viagem, o navio chegou finalmente a Santos, de onde o Padre José dirigiu-se com o quadro para a sua cidade natal, Itu . Seus pais, já fa lecidos, haviam-lhe deixado de herança uma chácara, na qual ergueu uma capela para venerar a imagem do Bom Conselho. A primeira parte da profecia do Anjo estava cumprida. O Padre Campos Lara agradeceu à Mãe do Bom Conselho, e contin uou a rezar e a confi ar. Agora fal-
tava a restauração da Companhia de Jesus, para que pudesse ser erguido o colégio jesuíta. Ao completar 35 anos de seu retorno ao Brasil , cerro u para sempre os olhos o Padre José de Campos Lara.
Ergue-se o Colégio Jesuíta, após 87 anos Anos depois, a chácara do Padre Campos La ra foi doada à Co mpanhia de Jesus, cujas atividades no Brasil haviam se reiniciado. Nesse local, em 1868, os fi-
lhos de Santo Inácio ergueram um grande colégio. Em 1872, o quadro da Mãe do Bom Conselho fo i entronizado no altar- mor da nova igreja, anexa ao colégio. E quando o colégio fo i transferido para a cidade de São Paulo, em 1918, com ele foi também o quadro. Hoje ele se encontra numa capela interna no ed ifício atual do Colégio São Lui z, ao lado da igreja de mesmo nome. Quando estudante do Colégio São Luís, o Prof. Plini o Corrêa de Oli veira
A seguir, tópicos de algumas das cartas recebidas a respeito da edição especial de Catolicismo (nov.-dez./ 95) sobre a vida e obra de Plínio Corrêa de Oliveira:
rezou muitas vezes diante do milagroso quadro. Durante toda sua heróica ex istência, sempre teve ardentíss ima devoção a Nossa Senhora, particularmente sob a invocação de Mãe do Bom Conselho de Genazzano.
Fontes de referência: 1. João Clá Dias, Mãe do Bom Cu11selho, Artpress, São Paulo, 1995. 2. Segundo Catecismo da D011tri11a Cristã, Vozes, Petrópolis, 1993.
nais aná logas nas aloc uções ele Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana", pois ao meu ver parece ser uma das grandes obras deste gra nde e inesquecível ilustre pensador. (E. E. A. - Monte Azul-MG)
Sem dúvida, o trabalho desen , 'o pelo inesquecível e saudoso Prof. Dr. Plínio Corrêa de U 11 . eira marcou não só o ·écul o XX, mas a própria história da Civili zação Cristã. A sua co mbatividade em defesa das verdades eternas é a prova incontestável de que, apesar da imensa crise religiosa que atravessamos, a Igreja continu a crescendo em grau de santi dade. Por isso, não ten ho nenhum a dúv ida de que, com a chegada do Re ino de Maria, que não há de tardar, um dos primeiros sinais de triun fo cio ímaCLdado Coração ele Maria será o reconhecimento oficial da heroicidade católi ca cio Sr. Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, com a conseqüente elevação de sua pessoa à glóri a dos altares.
Podemos considerá-lo como um grande santo ele nossa época, coisa difíci l de acontecer em nossos di as. Co mo o Céu eleve estar aleg re co m a chegada deste grande líder. Guardarei esta rev ista como uma grande jóia. Todos os que lêem esta revi sta ficam emocionados e admirados, e dizem: o Cé u ga nhou mai s um grande ·santo. Em agradeci mento mand arei celebrar um a missa na igreja de Nossa Senhora Aparecida, aqui do meu bairro, por in tenção desta gra ndi osa alma, para que lá do Céu ele possa rogar pelo bom desempen ho das emi ssoras de TV, para que levem bons exemplos para todas as famílias e para os filhos. (R. C. E. - Belo Horizonte-MG)
(C. A. B. M. - João Pessoa-PB)
Na atual situação crítica ela História ela Pátria, ela Igreja e da Hu man idade, necessitamos de homens corno o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: homem de cultura, de oração, de doação total à causa de Deus, como outro Elias! (A. M. C. - Diamantina- MG)
Pena é que fiq uei conhece ndo esse homem extraordi nário só depois da sua morte. Congratul o- me com os senhores pela graça de terem tido como líder e orientador no campo da moral e da reli gião uma pessoa rara como o foi o Prof. Plínio. [A morte cio Prof. Plínio] foi um ganho para a Igreja Triunfante, mas um a grande perda para a Igreja Mi litante. (L. G. - Mafra-SC)
Gostaria ainda, como um simples jovem e grande admirador do Prof. Plínio, ler o livro "Nobreza e elites traclicioCATOLICISMO -
Seu conteúdo me emocionou profundamente, Tenho certeza que junto de Deus este grande líder autêntico goza do Prêm io Eterno. (E. R. I. - Santa Maria-RS) Gostari a de acrescentar sobre o aborto: na última edi ção da rev ista "Catolicismo", tive a oportunidade ele ler as palavras ela Mãe de Plínio Corrêa de Oli veira, quando o seu médico a convi • dou a abortar o nenê, pois ambos corriam ri sco ele vicia; ao que ela sabiamente e cristãmente disse ao médico: "Doutor, esta não é uma pergunta que se faça a uma mãe! O senhor não dev ia seq uer tê- la cogitado !" Imagine só se Dona Lucilia tivesse aceitado faze r o aborto. Hoje a Igreja Católica Romana não teria "belas páginas hi stóri cas", dentro do contexto de toda a humanidade, através do grande servo de Deus: Plínio. (1. G. L. - Jacarezinho-PR)
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~~~~~~~ DISCERNINDO, DISTINGUINDO, CLASSIFICANDO ... ~~~~~~~
História Sagrada
em seu lar
(60) noções básicas
Partilha da Terra Prometida cidades, que se chamaram por isso levíticas. Elevou-se o tabernácu lo do Senhor em Silo, na porção que coube à tribo de Efraim ." (2)
,1
1
Após ter matado à espada o rei de Jeru salém e outros quatro reis amorreus, Jos ué co ntinu ou a heróica guerra de extermínio co ntra os povos idólatras, que habitavam a Terra de Ca naã.
31 reinos conquistados "Em cinco ou seis anos, Josué derrotou 3 1 reis e conquistou 3 1 reinos, desde os confins do Egito até o Líbano. Com exceção dos heveus, que habitavam em Gabaão, nenhuma cidade fa lou de paz com os filho s de Israe l; e estes tomaram-nas todas combatendo" ( 1).
Josué abençoa as tribos de Rubem, Gad e a meia tribo de Manassés "Josué chamou os rubenitas e os gaditas, e a meia tribo de Manassés, e disse-lhes : Vós fizestes tudo o que Moisés, servo do Senhor, vos ordenou; e também a mim me tendes obedecido em tudo. "Agora, visto que o Senhor deu repouso e paz ao vossos irmãos, como tinha prometido, voltai para a terra que Moisés vos deu da outra banda do Jordão. Só vos imponho a condição de que guardeis e cumprais exatamente os mandamentos e a lei de Moisés, (isto é) que ameis o Senhor vosso Deus, e andeis em todos os seus caminhos, e observeis os seus mandamentos, e esteja.is unidos a Ele,
Divisão do país, conforme as tribos "Conquistada a Terra Prometida, Josué repartiua aos filho s de Israel, dei tando sortes sobre as por- ~~---::=ini~"l çõe que haviam de pertencera cada uma das tribos, exceto a de Levi, a qual não ~ teve terras porque o Senhor ' ~ lhe tinha dado o dízimo e . ~~• as primícias de tudo o que ,.,, a terra produz. "Foram destinadas para Tendo ao lado o Sumo-Sacerdote Eleazar, Josué distribui a Terra de Canaã aos chefes das tribos de Israel res idências dos lev itas 48
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e O sirvais de todo o coração, e de toda a vossa alma. Depois deu-lhes a bênção, e os despediu." (Jos. 22, 1 a 6)
Não estabelecer amizades com povos idólatras Estando Josué em idade muito avançada, reuniu ele todo o Israel e disse-lhes: "Vede o que o Senhor fez a todas as nações circunvizinhas, e corno Ele mesmo combateu por vós. E, posto que restem ainda muitas nações para vencer, o Senhor as exterminará, e vós possui.reis o país, como Ele vos prometeu . "Somente é preciso que sejais fortes e solícitos em observar todas as coisas que estão escritas no livro da lei. E então o Senhor extermin ará à vo ssa vista nações grandes e fortíss imas, e ninguém vos poderá resistir. "Um só de vós porá em fu ga mil homens dos inimigos. Somente ten de cuidado em amar o Senhor vosso Deus. Mas, se quiserd es seguir os erros destes povos, que habitam entre vós, e co ntrair co m eles matrimônios, e estabelecer amizades, sabei desde já que o Senhor não os exterminará, mas serão para vós uma cova e um laço. (Jos. 23, l a 13) Notas: 1 - Pe . Rohrba c he r, Hi sto ire
Universelle de l'Église Catholiq11e, Gaume Frcres, Pari s, 1842, tomo 1, p. 534 2 - Cônego J. L Roq uete, História
Sagrada do Antigo e Novo Testa 111 e11to, G uillard Ai ll aud, Li s boa, 1896, 9" ed., tomo 1, pp. 284, 285
Empresas propulsionam esoterismo C.A.
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"Gazeta Mercantil " de 3 1 de posição de consultas sobre janeiro, em seu caderno de negó- ass untos místicos. Outras cios, publica extensa propagan- três livrarias já foram aberda do novo e rendoso negócio místico. tas para propaga r obras Centenas de religiões exóticas, com u- esotéricas. E mes mo as tranidades altern ativas, seitas e outras de- dicionais costumam dedicar nominações, que se beneficiam de um um setor ao tema. comércio ligado a tais cultos esotéricos, O Departamento de Tuali vão sendo implantadas. ri smo de Brasília colocou Fala-se até numa "explosão de cria- em seu calendário turístico ção de novas empresas". a "Feira Mística", anualA empresária Cristina Costa é repre- me nte o rgan izada por sentante, em Brasília, de "A lém da len- Condé. Este dará cursos parda", de São Paulo, uma fabrica de produ- ticulares para a formação de Brasília: capital do misticismo esotérico? tos utili zados por adeptos ou simpatizan- empresá rios que qu eiram tes de tai s ·ci tas. Ela abriu em 1992 sua atuar nesse ramo. Pretende empresa comercial - "Lua Mística" também construir um parque exclusivaKátia e Leila, as duas irmãs proprieque hoje possui 20 empregados e quatro mente vo ltado para o mi stici smo, algo tárias do shopping, dizem que sua conunidades espalh adas pelo Distrito Fede- como uma Disneylândia do esoterismo. cepção é a de um centro irradiador de coral. Vend e gnomos, Uma espéc ie de nhecimento esotérico, e a preocupação coduendes, pedras enermídia altern ativa vai mercial é secundária. Trata-se, portanto, Os arredores de géticas, velas perfumase co nstituindo no de uma empresa declaradamente voltada das e incenso. Pretende Brasz?ia ramo. Já ex istem três para a propaganda do esoterismo. Na parabrir neste ano uma fapublicações com a te referente a atendimentos e cursos, "as estão infestados por brica própri a. falsos misticismos. Não preocupação de pro- empresárias buscam, no mercado, proO li vreiro Osvaldo pagar o mi sticismo. fissionais capacitados para prestar seré de hoje! Agora, Condé Filho, dono da Um deles, o "Lotus viços à empresa". Thot, a primeira livraria porém, um enorme Guia Alternativo", Num mundo do qual a Religião Catóbrasiliense especiali zatem tiragem de I O mi 1 1 ica Apostólica Romana vai sendo esquema comercial da em esoteri smo, apaexemplares. Trata-se gradativamente expulsa, não estranha que está sendo montado rece como um cios prinde "um veícu lo de supersti ções e enganos de todo tipo separa a expansão de cipais responsáveis pela produtos, idéias e ser- jam propagados de maneira empresari al. propagação empresarial viços alternativos". estranhos cultos Até que ponto, em meio a isso tudo, é de se misticismo. O " magicamen- possível perceber a presença e o poder daCondé j á fa la do te", co nhecido como quele a quem a Sagrada Escritura chama o "potencial econômico" representado por o shopping center esotérico, desenvol - "antigo inimigo dos homens", a serpente e milhões de pessoas, com alto poder aqu i- ve gra nde número de atividades: venda Satanás? É muito oportuna e elucidativa, sitivo, in teressadas em cinema, teatro, de produtos de caráter esotérico, consul - a este respeito, a leitura da excelente carta música, vídeo e roupas com motivos mís- tas de tarô, numerológ ia, leitura de bú- pastoral do Bispo de Stockton (EUA), ticos. zios e outras formas de adivinhação, cur- Dom Donald W. Montrose, cujo resumo Sua li vraria tem cerca de 5 mi l títulos sos de quiromancia e "arte da sed ução Catolicismo publicou em fevereiro últiligado · ao assunto. Ele já está propagan- da dança do ventre". Vendem IO mi 1 mo (nº 542). O Prelado esclarece que a do tamb 111 art sanato de temas místicos, varetas de incenso por mês . Também influênc ia demoníaca está presente em tojóias e c r ·a de 200 títulos ele CDs de estão em voga as essências voltadas para das essas correntes e práticas esotéricas, música 11 e 1\I age . É clono ainda de um a aromaterapia e figuras representativas devendo por isso ser condenadas e rejeita"Disque 7{,r{}", s rviço telefônico à di s- de anjos (decaídos?!). das pelos católicos. O CATOLICISMO -
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São Jorge, modelo do • guerreiro cr1stao
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Patrono da Cavalaria, veneradíssimo na Inglaterra, o destemido mártir tornou-se um dos santos mais populares da História da Igreja
Luís CARLOS AZEVEDO
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forrna popul~r·pela qu~l é r~presentado Sao Jorge, isto e, 11atando um dragão, corno na gravura ao lado, não encontra fundamento real em sua vida. Os gregos começaram a representá- lo assim, de maneira alegóri ca. O dragão simboliza a idolatria que ele enfrentou com as armas da Fé, e a donzela que o Santo defende representa a província da qual ele ex tirpou as heresias . *** A ata laudatória dos feitos dos mártires (Pass io), que narra a vida de São Jorge, é bem antiga e contém elementos legendários. Segundo sua primeira redação, Jorge era originário da Capadócia (região da atual Turquia), tendo vivido durante o século m na Palestina, onde era tribuno militar. Na referida Passio consta urna narração da vida do Santo, atribuída a um certo Pasicrate, seu contemporâneo e testemunha ocular de eus feitos. Conduzido diante do Imperador romano Diocleciano, foi instado a queimar incenso aos ídolos. Tendo-se recusado energicamente a isso, foi to1turado e recolhido a um cárcere. Foi constrangido nessa prisão a passar a noite com urna pesada pedra sobre o ventre. Foi favorecido ali com uma visão, em que Deus lhe anunciou urna longa éri e de torturas, que durariam sete anos. No decurso desse período, seria morto e ressuscitaria três vezes. Jorge sofreu terríveis martírios, dos qu ais saiu ileso. Por fim, fo i decapitado. Em torno desse núcleo de fatos relatados na Passio originária, constituiu-se
uma rica legenda, na qual fi guram declarações e atitudes do glorioso mártir em face de seus perseguidores. Passamos a relatar algumas dessas tradições, pois elas revelam como a devoção dos fi éis, através dos sécu los, foi modelando a figura magnífica de um dos santos mai s populares da hagiografia, tanto da Igreja do Oriente quanto do Ocidente. ão Jorge, cuja festa litú rgica comemora-se a 23 de abri l, era ainda criança quando perdeu seu pai, oficial do exército imperial , morto em combate. Sua mãe levou-o então para a Palestina, de onde era originária, e onde possuía muito bens, educando-o com todo o esmero requerido pela sua condição. Ao atingir a adolescência, Jorge entrou para a carreira das armas, por ser a que mai s sati s fa zia à sua natural índole combativa. Em pouco tempo sua personalidade, sua coragem, seu porte, foram notados pelo lmp raclor Diocleciano (284305), que o nomeou mestre de campo. Ignoran lo ser aq uele bravo um cristão, o Imperador romano pensava eleválo rapidamente aos primeiros cargos cio exército, atraído pelas suas qu alidades invulgares.
- Quem te deu tal ousadia - disse Magnêncio - para te dirigires assim ao nosso Imperador, augusto defensor dos deuses do Império? - A verdade, respondeu o Santo. - O que é a verdade? - É Jesus Cristo, meu Senhor, a quem perseguis. - Então és cristão? - Eu o sou, e é apoiado em Nosso Senhor Jesus Cristo que não terno entrar em vosso meio para dar testemunho da verdade. A estas palavras - à semelhança do que ocorrera séculos antes no Sinédrio, quando Nosso Senhor afirmou sua divindade - um tumulto estabeleceu-se no recinto do Senado, onde muitos, em altos brados, exigiam a morte do Santo.
S
Testemunho público da Fé católica Dioclec iano era, entretanto, pagão e inimigo ferrenho dos cri stãos, e ele há muito pretendia extinguir o número crescente deles em seu Império. Com esse intuito convocou o Senado em Nicomédia, fazendo com que dele também participascm representantes seus do Oriente e alguns oficiais ele seu exército, fi gurando entre estes São Jorge. O corajoso oficial sentiu que a hora tanto d s jada de dar testemunho público ele sua I ◄ e derramar o sangue por Nosso cnhor Jc. us Cristo chegara. Preparou-s para ela, com orações e penitênéias, ·01110 um soldado que se arma para o comhal • mais decisivo de sua vicia. Herdeiro d· ri ·o patrimônio pela morte de sua ma '. ve nd ' LI tudo o que tinha, di s-
São Jorge como oficial romano - estátua de Donatello (1415), Museu de Florença
tribuinclo o dinheiro obtido co rno esmolas, e também entre seus escravos, aos quais concedeu liberdade. Ass im despojado de tudo, diri giu-se para a arena do combate: a sala onde estava reunida a assem bléia se natorial. Diocleciano apresentou durante a reunião seu plano ímpio e cruel de extermínio dos cristãos, sendo aplaudido por todos. No meio dos aplausos, urna voz levantase, jovem, vigorosa, resoluta, pedindo a palavra. Surpresos e adm irados, todos voltaram-se para o ilustre oficial, que com desembaraço e galhardi a dirigiu-se à tribuna, de onde exclamou ardorosamente: - Imperador, e vós, senadores, até quando voltareis vosso cego furor contra os cristãos? Habituados a elaborar as leis que dirigem os povos, dareis um tal exemplo de injustiça, fazendo-as tão iníquas co ntra inocentes? Forçá- los-eis a seguir uma religião da qti'al vós mes mo s duvidais? Estas palavras contundentes deixaram atônita a assemb léia. O Imperador, mais espantado e contrafeito do que o outros, ordenou ao Cônsul Magnêncio que respondesse ao Santo: CATOLICISMO - Abril
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Coragem e fortaleza nos suplícios Diocleciano, reconhecendo no intrépido militar a mesma têmpera na qual depositara tantas espera nças e cumulara de favores , tinha também conhecimento de que o Santo era estimado, de maneira espec ial no exército, devido ao grande valor que demonstrara com tão pouca idade. Em vista disso, temeu que seu exemplo arrastasse outros a segui-lo. Dissimulando então sua ira, tentou convencer São Jorge com promessas e ameaças, para que sacrificasse aos deuses. O Santo não se deixou seduzir pelas palavras do Imperador. Pelo contrário, incitou-o a abandonar seus ídolos e a cultuar o Deus verdadeiro. Jorge acrescentou ai nda que os deuses do Imperador eram demônios habitando matéria vil , os quai s ele não temia. Enfurecido, Diocleciano ordenou que conduzissem o jovem oficial para a prisão e o torturassem até que mudasse de opinião. Durante toda a noite o Santo foi torturado com requintes de crueldade. No dia seguinte, o Imperador mandou que o levassem à sua presença. Vendo-o tão desfigurado e tão débil , procurou convencê-lo a sacrificar aos ídolos. Tornado de indignação, São Jorge exclamou: 23
- Imperador, não sou tão tíbio que, em virtude de uns tormentos infanti s, repudie ao Senhor da vida e da morte. - Eu saberei encontrar suplícios de crianças que te arranquern.a vida, redargüiu Diocleciano, dando ordens para que o herói cristão voltasse à pri são. Na manhã seguinte, mandou atar o resoluto combatente em uma roda toda coberta de pontas de aço, com correias tão apertadas que penetravam na carne. Essa roda foi suspensa ao ar, e debaixo dela foram colocadas pranchas eri çadas de ferros ponteagudos. A cada volta que a roda dava, o corpo do Santo ia sendo dilacerad9 ao passar pelas pranchas, pois os ferros penetravam em sua carne, arrancando-lhe pedaços.
- O Deus dos cri stãos é o único e verdadeiro Deus. O Imperador mandou qu e os prendessem imedi atamente e que, sem o menor julgamento, fo ssem degolados fora da cidade. A fes ta destes dois mártires comemora-se juntamente com a de São Jorge. Muitas outras conversões ocorreram diante da evidência do milagre.
Glorificação póstuma Segundo a tradi ção, se rv os de São Jorge le va ram se u co rp o pa ra Di ós poli s, ond e, algun s anos depois, em virtude da liberdade da Igreja concedida em 313 por Constantin o, pelo edito ele Mil ão, foi edifi cado um san tu ário em sua honra. Seu culto espalhou-se imediatamente por todo o Oriente. Só no Egito construíram-se qu atro igrejas e qu arenta co nventos dedi cados ao mártir, nos primeiros sécul os após sua morte. Não se sabe como se originou seu cul to no Ocidente. Já no século V, nas Gálias, o rei Clóvi s dedicou-lhe um mosteiro, e sua es posa, Santa Clotilde, eri giu várias igrejas e conventos em sua honra.
Terror dos demônios Ao ver tantas conversões, Diocleciano, em desespero de causa, quis a todo custo que São Jorge sacrificasse aos deuses. Redobrou as promessas, suplicou , ameaçou. O Santo pediu então ao Imperador que lhe mostrasse os ídolos que ele tanto prezava. Satisfeito, Diocleciano conduziu o Santo para o in- Celeste cruzado "Não temas, A devoção a São Jorge como o patrono teri or do templo, dianJorge, estou te de uma estátua de da Cavalari a, durante a Idade Médi a, fo i contigo" Apolo. Logo ao apro- propagada pelos cruzados, por ter São Quando Jorge não deu ximar-se dela, Jorge Jorge aparecido inúmeras vezes ao lado mais sinais de vida, o Iminterpelou-a com voz dos soldados da Cru z, durante as bataperador, satisfeito, mandou lhas. enérgica: que o deixassem caído ao Estando os cru zados a caminho de Di game: és solo, no meio do próprio Jerusalém, e passando por Lydda (anti ga Deu ? sangue, e que fossem todos - Não, respondeu Diós polis - onde o Santo foi sepultarender graças aos deuses a estátua co m voz hor- do), durante a primeira cruzada empreenpor essa vitória. dida em 1096, lá deixaram um Bispo e rível. Mal Dioc leciano se - Espíri tos mali g- padres para rezarem, no altar do Santo afastou, formou -se no Diocleciano, perseguidor de S. Jorge nos, anj os rebeldes, mártir, segundo a in tenção de que eles céu, sobre o corpo do mártir, urna enorme e brilhante nuvem, condenados pelo verdadeiro Deus ao fogo conqui stassem a Cidade Santa. E, por que desprendia raios e ri bombos terríveis. eterno, como tendes o atrevimento de es- ocasião do cerco desta, estando a batalha A maioria dos que permaneceram no lo- tar em rninha presença, sendo eu servo de praticamente perdida para os cristãos, São Jorge apareceu a cavalo no Monte das cal do suplício ouviu sair de dentro da Jesus Cristo? E dizendo isso, fez o sinal da Cruz. Oli veiras. A visão celeste agitava um esnuvem uma voz que dizia: - Não temas, Jorge, estou contigo. No mesmo instante as estátuas caíram de cudo e fazia um sinal, incitando os cri sNo mesmo instante o Santo levantou-se, seus pedestais, espati fa ndo-se no chão, tãos a entrarem na cidade, o que os levou completamente são. Os soldados, surpre- entre os gritos dos sacerdotes e da multi- à vitória. A Inglaterra fo i o país ocidental onde, sos e assustados, correram para o tem- dão que lotava o templ o, tomados de pâplo, a fim de comunicar ao Imperador o ni co. Os sacerdotes, então, excitaram o na Idade Médi a, a devoção ao Santo teve sucedido. São Jorge foi então levado à sua povo à sedição, suplicando ao Imperador papel mais saliente. O monarca Eduardo .que os li vra se, o quanto antes, daq uele III colocou sob a proteção de São Jorge a presença. O ímpio Diocleciano não quis acredi - terrível mago. Diocleciano mandou que Ordem de Cavalari a da Jarreteira, fundaD levassem Jorge para fo ra da cidade e o da por ele em l 330. tar no que via: iatamente. dego lassem imed - Não é Jorge, disse ele, é alguém De acordo com a Passio, porém, an- Fontes de referência que se lhe parece, ou um fantas ma. 1. Abbé Profi lct,L.es Sai,11s Militaires. Rétaux-Bray, Paris, Entre os presentes estavam dois mem- tes ele ser exec utado, o corajoso ofi cial 1890. bros do Con elho Imperi al, Anató lio e fo i submetido a um a série de tormentos, 2. D. Guérangcr, E/ Alio Liturgico. Ed icioncs Aldccoa, Burgos, 1956. Protoleão, que já tinham certa noção da durante anos. Duas vezes ainda seri a 3. J. F. Michaud, História das Cmzadas, Ed itora das doutrina cri stã. Ao verem o milagre, não morto, retornando à vida. Finalmente, foi Américas, São Paulo, 1956. 4. Enciclopedia Carwlica, Citti1clcl VaLicano, Vol.VI, 195 1. degolado. se contiveram, exclamando: 24
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TFPS EM AÇÃO
Marcha Pro_,Lífe protesta contra o aborto nos EU A ORLANDO L YRA JR.
Enviado especial Washington - No último . do uma ca ve ira como máscara representava a mo rte, que nos dia 22 de ja ne iro, a capital dos Estados Unidos amanheceu esEstados Unidos ceifa todos os pecialmente movi mentada. anos a vida de 1,6 milh ão de Apesar do frio intenso, mais c rian ças não nasc id as. Ma is de cem 111 i I pessoas se reuniram adiante, um perso nagem vesno Ellips' 1 ark, bem próx imo tido de médi co passeava tra nà Ca a Branca , para protestar qüil o pe la multidão, carregancontra a 1·i do aborto. do um saco pl ás tico co m fe tos E quando se trata de proabo rtados. Natura lme nte, totes tar, os am ·ricanos têm uma dos de pl ás ti co. imag in ação ·oreográfica mui A " M a rc h a Pe la Vid a" to férti 1. Um homem vestid o con sistiu em du as partes. Até com um manto negro e usa nao meio-di a, líde res po líticos
No rigor do inverno, 100 mil desfilaram contra o aborto em Washington
e re i igiosos a ltern aram-se ao mi crofone para dizer que o ano e leitora l de 1996 será deci sivo na luta contra o aborto. Depo is dos di scursos, ve io a hora da ação, com o desfil e dos mani fes tantes pela Aveni da da Co nstitui ção, a princ ipal de Washingto n, passando ao lado do Capitó li o e termi nando e m fre nte ao prédi o da
Suprema Corte. Neste local , os ma nifes ta ntes depo s itaram vinte e três pequenos caixões mortu ários, simboli zando os vinte e três anos de vi gência da le i do aborto nos Estados Unidos. Desde a dec isão judici a l " Roe x Wade", de 1973, o país fi cou dividido por um fos so que muitas vezes separa pais
Obra da TFP repercute em Brasília Em recente discurso na Câmara Federal , o deputado Lael Varella (PFL- MG, foto abaixo) ressaltou a importância da obra "Reforma Agrária semeia assentamentos - Assentados colhem miséria e desolação". "Eis um documento que serve de motivo de reflexão para nossas autoridades. Que elas não digam mais tarde, ao se verificar em grande escala o desastre ainda hoje limitado caso a Reforma Agrária seja amplamente aplicada, como
desejam os sem-terra - que nossas autoridades não digam que foram iludidas pelas circunstâncias, mas que estariam de boa-fé ao infligir à nossa Pátria o regime agrário dos assentamentos. "Delenda Reforma Agrária! É preciso acabar esta Reforma Agrária e começar uma política agrícola verdadeira no Brasil", declarou o deputado mineiro.
TF P reúne simpatizantes Como já se tornou tradicional, a TFP reuniu por ocasião dos feriados de carnaval alguns dos seus correspondentes e simpatizantes, em dois grupos, sendo um para os homens e o outro para as mulheres. Provenientes do norte do Paraná, norte fluminense, Minas Gerais e de Avaré (SP) e São Carlos ~SP), os 81 homens participantes fizeram bem aproveitado recolhimento na sede de campo da TFP localizada em Amparo (SP). Cerca de uma centena de senhoras vindas da capital paulista e de Campinas compareceram a um recolhimento em São Bernardo do Campo, município da Grande São Paulo. Foram realizadas ainda reuniões especiais em Belo Horizonte, Campos (RJ) e São Carlos.
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e fi lhos, marido e mulher, políticos de um mesmo partido e até membros de um a mesma confissão relig iosa. '\ De um lado da barricada, os Pro-Lifers (pela vida) dizem um crime está sendo cometido contra o mais inocente e indefeso dos se res hum a nos: o nasc ituro. No campo oposto, os Pro-Choicers (pelo aborto) gritam que tornar o aborto il egal seria faze r violência a um direito constitucional: o direito à privacidade. P recisam ente para contestar esse ponto da argumentação abortisra, a Sociedade Ameri cana de Defesa da Tradi ção, Família e Propriedade distribui u durante a Marc ha mi lhares de cóp ias do vo lante intitul ado: "Aborto: um crime público, não uma decisão pri vada". No documento, A TFP norte-americana des mascara a nova tática dos abortistas, q ue se aproveitam da onda geral de desco ntentamento com o intervencionismo estatal para tentar j ustificar a matança de inocentes como um direito privado da mu lher. Tornar il egal o aborto seria, segundo esse ri-
que
dícu lo sofisma, pedir a intervenção do Estado em ass untos íntimos das pessoas. Afirma o manifesto: , "Contudo uma decisão é particu lar un icamente quando se refere aos exclu sivos in teresses e direitos da pessoa que dec ide. Quando a decisão envolve os interesses e direitos de outros, ela não ma is é particu lar, mas de legada. N ing uém pode delegar um direito que não é seu. Portanto, ninguém pode delegar o direito à sua própria vida, tanto mais à de outrem. Conceder ou tirar a vida só ao Criador pertence." Neste ano , o movimento Pro-Li:f'e quer e leger um presidente comprometido com a causa antiabortista. Seus membros estão fartos de promessas, e parecem ter aprendido a li ção dos anos anteriores, quando os candidatos se diziam pro-lif'e nas prévias e leitorais, mas agiam como pro- choice na eleição final. Com isso, qualquer candi dato republi cano pensará duas vezes antes de acender uma vela a Deus e outra ao demônio.
CUBA~~~~~~~
Mão estendida a Fidel Castro prolonga ditadura em Cuba
A
respeito da brutal agressão castrista contra aviões civis no estreito da Flórida, a organização Cubanos Desterrados de Miami, Estados Unidos, manifestou que se trata de " reflexo palpável" do "fracasso da política de mão estendida a Fidel Castro", levada a cabo por governos latino-americanos. Estes alegavam que - pela via da contemporização - obteriam a democratização da ilha do Caribe. Essa política, ao contrário, somente tem conseguido favorecer a continuidade do regime comunista e o prolongamento do sofrimento do povo cubano escravizado. O comunicado de Cubanos Desterrados insta os governos latino-americanos a dar um giro de 180 graus e m sua política de aprox imação com Castro, e lhes solicita que passem a tomar atitudes enérgicas, nos campos diplomático e econômico, contra o regime marxista cubano.
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CATOLICISMO -
A palavra dos Cardeais Durante a Marcha Pela-Vida, em Washington, nosso enviado especial entrevistou três dos mais importantes Cardeais dos Estados Unidos. São eles os Cardeais Bernard Law (1 ), de Boston, John O 'Connor (2), de Nova York, e Anthony Bevilacqua (3), de Filadélfia. Abaixo publicamos excertos das entrevistas:
Cardeal Bernard Law: impossível qualquer acordo sobre o aborto Catolicismo - Qual a posição da Igreja a respeito do aborto? Cardeal Law - No que diz respeito à Igreja, o Santo Padre em sua encíc lica Evangelium Vitae ens ina absolutamente que devemos ter um compromisso total e em todos os meios com a vida. E não há justificativa para se tirar a vida de um ser humano inocente através do aborto. Estes têm que ser nosso procedimento e nossa posição. Catolicismo - V. Emcia. crê que possa haver a lg uma base para um diálogo entre pessoas contra o aborto e as próaborto? Cardeal Law - Real mente não há base para qualquer acordo, um acordo fundamental,
entre aqueles que de um lado pensam que o abo rto e li mi na uma vida humana, e os que pensam que é um assunto de menos importância. Não obstante, creio que possa haver debate, porque acred ito que sem um diálogo ser-nosá impossíve l convencê-los. Penso que os dados da bio logia falam por si mesmos. Nós deveríamos ser aptos a nos engajar num debate. Você deve saber que uma das dificuldades neste país é que nunca rea lmente nos engajamos no debate. Tem havido uma exclusão sistemática daqueles que defendem a vida: tendemos a ser estereótipos. E nossa mensagem realmente não é ouvida. Penso que devemos pressionar para obter resultados.
Cardeal Anthony Bevilacqua: mais do que as leis, é preciso mudar as convicções Catolicismo - Que planos a Igreja tem para influenciar a próxima e leição presidencial? Cardeal Bevilacqua Não penso que haja qualquer estratégia especial por parte
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da Igreja para as eleições. Não nos envolvemos em política, mas de fato apoiamos pessoas, os líderes políticos que o merecem. Não se podem separar as convições pessoais das declarações feitas publi-
s1:mdartes da TFP norte-americana em destaque no protesto contra a morte de 1,6 milhão de inocentes abortados anualmente nos EUA
ca m nt ·. n ssa é uma co ntradi ção qu , u pessoa lme nte nã a provo . Esta é a le i, mas a le i inju sta. Mesmo um líde r po l Ii ·o te m que admitir iss . M uit os líderes po líticos tra ba lh um p la preservação d a vid11 humana po r um a qu 'S Ito d ' ·onsc iê nc ia. r •io rirmemente q ue as p ss )ti s d ·v 111 tentar e ncontra r :1 s ·a usas do abor to e limin á- las. P •nso que os cató li os 111 parti cul ar e todos aq ue les q ue são pro-lij'e devem, po r seu exemplo, p r seu teste munho, por s ua p rs uasão, m udar essa cultu ra. E les tAm que mudar as ati tude. e ·onvi cç ões d as pessoas a horti stas. i'1 ·laro que os pro-lif'e dev · 111 l'a1. ' r aprova r a lei q ue prol '/'l' os inocentes, mas le is si o inl'lk nzcs, a me nos que as 1H•sso11 s l'S I ·jam e las mesn111 Nrn11v i ·t11 s. l lá le is contra ho 111 1l·1 dios, 111us tê m-se conwt ido m uitíss imos assass i-
natos . Ex iste m le is contra assaltos, m as esses crimes continuam ocorre ndo. A me nos q ue te nha mos as co nsciê ncias, as co nv icções e as atitudes d as pessoas a fa-
vo r da vida, ne nhuma le i protege nd o os nasc itu ros será efi caz. O ma is impo rta nte é a muda nça de convi cções, de a titud es e de idé ias d as pessoas.
Cardeal John O'Connor: "Políticos são muito mutáveis" C atolici s mo V. E m c ia . c rê a causa d os de-
fe nso res d a vicia [co ntrá ri os ao a bo rto ] te nh a sido be m
Cardeal O'Connor sendo entrevistado pelo nosso enviado especial
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s ucedid a desde o a no passado?
Card eal O 'Connor Tem havido certo ganho, ponto por ponto. Mas não podemos ficar dependendo dos políticos, porque eles são muito mutáveis, e as pessoas que são eleitas num ano podem não ser ele itas no pleito seguinte. Contudo, há uma melhor representação no Congresso Nacional agora do que havi a até alguns anos atrás. D Notas: ( 1) Cardea l Law: nasc ido em 193 1, Arcebispo de Boston desde 1984. Membro das congregações vati canas: para Igrejas Orientais; Culto Divino e Sacra mentos; 1nstitulos de vida consagrada e Sociedades de vida apostólica; Evangeli zação dos Povos. (2) Cardeal O'Connor: nasc ido em 1920, Arceb ispo de Nova York desde 1984. Me mbro, entre outras, das seg uintes co ngregações da Santa Sé: Sec retari a de Estado; dos Bispos; Igrejas Orientais; Família; Comunicações Sociais; Migrantes e povos itinerantes. (3)Cardeal Bev ilacqua: nascido em 1923, Arceb ispo de Fil adé lfi a desde 1983. Pa rti cipa, ent re outras, das segui ntes congregações da Santa Sé: do Clero; Causa dos Santos.
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Caracteres dessa crise
umeraÓ, 111 de .,.Con1raProf. de
efeitos que, tendo nascido, em momento dado, com grande intensidade, nas zonas mai s profundas da alma e da cultu ra do homem ocidental, vem produzindo, desde o século XV até nossos dias, sucess ivas convulsões. A este processo bem se podem aplicar as palavras de Pio XH a respeito de um subti I e misterioso "i11i111.igo" da Igreja: "Ele se encontra em todo lugar e no meio de todos: "Ele sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem afé; a liberdade sem a autoridade; às vezes a autoridade sem a liberdade. É um "inimigo" que se torn ou ca da vez mais concreto, com
de: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito (mpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, aiora, a tentativa de edificar a estrutura do inundo sobre bases que não hesitamos em indicar corno principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: wna economia sem Deus, um Direito sem Deus, um.a política sem Deus" (A locução à União dos Homens da A. C. Italiana, de l 2-X1952 - "Discorsi e Radiomessaggi", vol. XIV, p.359). Esse processo não deve ser visto como uma seqüência toda fortu ita de causas e efeitos, que se foram sucedendo ele modo inesperado. Já em seu início possuía esta crise as energias necessárias para reduzir a atos todas as suas potencialid ades, que e m nossos dias coserva bastante vivas para causar por meio ele supremas convulsões as destruições últimas que são seu termo lógico. Influenciada e condicionada em sentidos diversos, por fatores extrínsecos de toda ordem - culturais, sociais, econômicos, étnicos, geográficos e outros e seguindo por vezes cami1ihos bem sinuosos, vai ela no entantq progrecl indo incessa nteménte para seu tr~gico fim. .
AfOLICIS Nº 545 - Maio de 1996
NESTA EDIÇÃO:
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R[VOLUÇÃO 1CON I RA-R[VOI LJÇÃO
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LN r1ffv1 s·1A
CAPA
A milenar cultura da Índia PALAVRAS DE VIDA E"I ERNA
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A RLALIDADI CONCISAM[Nl [
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IN ITRNACIONA I
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D15 1-AQLJ[
Comentários sobre os Evangelhos
HAGIOG RAF IA
Em Paris, simpósio sobre o futuro das nações
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HI STÓRIA S/\GR/\D/\
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DISCCRN INDO, DISíl NGU INDO, CL/\SSIFIC/\N DO ..
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BRASIL R[AL, BRASIL BRASILEIRO
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Cadaverbrás
1O
NOBREZA [ [LI rES 1RAD ICIONA IS ANÁLOGAS
A participação do clero, nobreza e povo no governo de uma nação
Benquerença VFRDADES LSQUECID/\S [SCREVEM OS L[ I I OR[S
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IMAGl:NS [M PA IN[L IN MLMORI /\M
Tesouros da arquitetura popular
O falecimento de Milton Luiz de Salles Mourão
□ '
1FPS EM AÇÃO
SETOR DEASSINATURAS Para fazer ou renovar assinaturas, alterar endereços, pedir números atrasados etc. Rua Martim Francisco, 665
CEP 01126-001 São Paulo SP
Telefone: (011) 824-9411 CATOLI 'ISMO
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São João Bosco descreve São Domingos Sávio
NA CAPA: Quadro de Nossa Senhora da Confiança, venerado na capela do Pontificio,Seminário Romano
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O desabrochar da devoção mariana ao longo da História da Igreja
/\MBl[N 1[S, COSl UM[S, CIVILI Z/\ÇÕ[S
CATOLICISMO é uma ,publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago Registrada na DRT-SP sob o n• 23228 Redação e Gerência: Rua General Jardim, 770, cj. 3 D CEP 01223-010 São Paulo SP - Tel: (011) 257-1088 ISSN 0008-8528 Fotolitos: Bureau Bandeirante de Pré- impressão Ltda. Rua Mairinque, 96 CEP 04037- São Paulo SP impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. Rua Javaés, 681 CEP 01130-010 São Paulo SP
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- Maio de 1996 CATOLICISMO -
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Atrativos da milenar cultura indiana O entrevistado em festa de casamento na Índia
Recebemos em nossa redação o Sr. Plínio Solimeo, colaborador de Catolicismo há muitos anos, que voltou de recente viq.gem à Índia . Certos do interesse dos nossos leitores em conhecer esse país asiático cheio de mistérios e surpresas, pedimos a nosso colaborador uma entrevista sobre aspectos da cultura indiana, observados e vividos por ele durante meses, especialmente no Estado de Kerala. O leitor poderá, assim, ter um contato proveitoso com essa civilização milenar que, embora pagã, apresenta valores culturais e sociais dignos de análise.
Catolicismo - O que o levou a visitar um país tão distante?
P. Solimeo - Como todos sabem, a Índia é a terra dasespeciarias. E elas foram um dos principais motivos que impeliram Vasco da Gama a descobrir sua rota em 1498. Para os portugueses, povo fervorosamente católico, descobrir terras e evangelizá-las era uma só coisa. A epopéia lusa da época das grandes navegações deixou marcas indeléveis naquele país, e um dos motivos de minha viagem foi a procura de restos dessa presença portuguesa. Foi nas costas do atual Estado de Kerala - hoje o que concentra o maior número de católicos na Índia - que os portugueses aportaram. Como o Samorim (rajá local ; "rajá" significa rei, e "maha-rajá", grande rei ou imperador) de Calicute era aliado dos muçulmanos, Va co da Gama desceu atéCochim. 4
Sendo o rajá local inimi go do Samoi-im de Calicute e mais fraco que seu rival , recebeu os lusos de braços abertos. Permitiu-lhes mesmo construir uma fortaleza e feitoria comercial em Cochim. Esse rajá foi assim o primeiro e mais fiel aliado dos portugueses no Oriente. Coch im passou a ser, até a conqu ista de Goa uma década mais tarde, a principal base lusa de além-África. Por isso, ponto de apoio não só para mercadores, mas sobretudo para os missionários que começaram a evangelizar a fai xa litorânea da região com grande fruto.
Catolicismo - Já havia cristãos na Índia quando os portugueses lá chegaram?
P. Solimeo - Realmente os portugueses alegraram- e muito ao encontrar no local cri tãos que remontavam sua origem nada menos que a São Tomé, um dos doze Apóstolos. CATOL I C ISMO -
Cachemira
I
,
lndia
Antioquia. Como o Patriarca que estabeleceu e impulsionou a heresia monofisita (que admite uma só natureza em Cristo Nosso Senhor) em Antioquia chamava-se Jacobus, seus seguidores passaram a ser conhec ido s como "jacobitas". O Papa da época, sabendo que o motivo alegado para a cisão fora a prepotência dos portugueses, mandou frades carmelitas italianos tentar reconduzir essas ovelhas rebeldes ao aprisco. Indo de paróqui a em paróquia, esses religiosos já haviam reconquistado 84 delas quando os holandeses, derrotando os portugueses, expulsaram todos os missionários estrangeiros da região. As 32 paróq uias remanescentes permaneceram "jacobitas".
imoralidade tão com uns aq ui entre jovens não ocorrem. A li ás, dirigir-se a uma senhora ou moça na rua, a não ser no caso de parente muito íntimo, não só é considerado . falta de educação, mas pode constituir ofensa. Até nas filas de ônibus e no interior dos transportes coletivos há a separação entre os sexos. Embarcando, por exemplo, num avião de Trivandrum, capital de Kerala, para Colombo, em Sri Lanka, entrei pela porta traseira com os homens, enquanto as mulheres o faziam pela dianteira, juntando-se aos maridos só no interior da aeronave.
Catolicismo A vida de famíli a na Índia é mais preservada que no Brasil?
P. Solimeo -
Keral Aos poucos, porém, começaram a perceber que, isolados do resto da Cristandade e cercados por uma esmagadora maioria hindu, esses cristãos haviam adotado muitos costumes pagãos. Por outro lado, eles recebiam Bispos tanto do Patriarca herético nestoriano de Babilônia quanto da Pérsia, e prestavam-lhes obediência. Evid ntemcnlc, os mission{u·i os procuraram de todos os modos extirpar esses costumes e trazer d' volta ao redil da Igre-
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ja aquelas ovelhas, desgarradas sem o saber. Esse trabalho durou quase um século, só alcançando êxito pelo sen o diplomático e energia do Arcebispo de Goa, D. Aleixo de Menezes, uma das mais extraordinárias figuras da presença portuguesa no Oriente. Infeli zmente essa união não foi duradoura, e em meados do século XVII houve nova ruptura. Os "cristãos de São Tomé", rompendo com Roma, aderiram ao Patriarca monofisita de
Sim. Em linhas gerais, a sociedade indi ana é ainda uma sociedade patriarcal. Na maioria dos casos (e excetuando-se grandes cidades como Bombaim, Calcutá e Nova De lhi ) são ainda os pais que escolhem as esposas para os filho s. E o casamento é tomado muito a sério . Por isso as cerimônias de matrimônio são bastante solenes e concorridas, como o eram aqui no Brasil décadas atrás. Impressionou-me o tratamento digno e respeitoso que joven s esposos mantinham entre si quando em público, sem o excessos de familiaridade que infelizmente se vêem no Ocidente. Não havendo namoro , as cenas de
Noiva siro-malabar recebendo guirlanda da avó
Catolicismo- Os vínculos entre os membros das famílias são muito fortes?
P. Solimeo - A instituição da famíl ia na Índia é ainda bastante sólida e coesa. A autoridade paterna se exerce não só durante a minoridade dos filhos, mas enquanto estes permanecerem sob o teto paterno, estejam eles formados, tenham ou não emprego. Como o casamento dos homens se dá por volta dos 30 anos, até esta CATOLICISMO -
idade e les obedecem aos pais com uma exatidão e respeito já de há muito desconhecidos entre nós.
Catolicismo - E como é a vida religiosa das famílias cató licas? P. Solimeo - Até há pouco eram correntes entTe as famílias cató licas dos três ritos existentes no país - o Latino, o Siro-Malabar e o SiroMalankar - as orações da noite em com um . Algumas mais longas, outras mais curtas, todas supunham pelo menos a recitação do terço, ladainha e oração pelos falecidos. No final delas, os jovens e crianças dirigiam-se aos seus maiores com as mãos postas, para lhes pedir a bênção. Isso, mesmo já sendo barbados e, por exemplo, advogados no fórum. Infelizmente, com a propagação da televisão nos lares indianos, as famílias, principalmente citadinas, estão aos poucos abandonando esse magnífico costume. Hospedei-me na casa da família George, de cató1icos siro-maJabares que emigraram da região de Kottayam - um reduto cristão no sul de Kerala - para o norte do Estado , no município de Cananore, ao pé da cadeia de montanhas que divide o Estado com o de Karnataka. Lá de-
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Sacerdote abençoa peregrinos em igreja de Cochim
dicaram-se eles com sucesso à plantação de seringue iras, formando um enclave cató li co siro-malabar em área predominantemente hinduísta e muçulmana. Num dos ângu los do hali de entrada da casa muito bem construída e com técnicas modernas - havia um oratório com um crucifixo de tamanho natural na parede, um quadro de Nossa Senhora das G raças, um do Beato Kuriakose Chavara (do rito Siro-Malabar, beatificado há pouco), as Sagradas Escrituras em malayalam (língua local na qual eram também feitas todas as orações), um estojo com terços e dois castiçais. Convidado a pruticiparda oração da noite, feita em comum por toda a família, princip iava esta com c inco PaiNossos, Aves e Glórias pelas almas dos falecidos; em seguida vinham o Credo cantado, o terço e a Ladainha a Nossa Senhora. Depois, duas novenas e uma série de orações e cânticos, com um trinado lembrando o árabe. Isso era feito segundo o costume loca l, isto 5
é, todos sentados em frente ao
A REALIDADE
oratório, sobre esteiras de palha. Só se ajoelharam para a Ladainha de Nossa Senhora, ainda assim copiando os cat -
ITAMARATY PISA EM FALSO
licos latinos, pois nos ritos católicos orientais não se ajoelha.
O Ministério das Relações Exteriores excluiu este ano dos exames para o Instituto Rio Branco as provas de francês. O domínio do francês abre os horizontes para um mundo cu ltural onde reinam a lógica, a síntese brilhante, a capacidade de perceber e expressar os mati zes, a elegância, precisão e leveza da expressão, enfim, tudo aquilo que fez da França uma nação incomparável, a "segunda pátria ele todo homem civi lizado". O Itamaraty, afastando-se das tradições cujo emblema foi a grande figura cio Barão do Rio Branco, parece julgar que a mera eficiência técnica é suficiente. Esperemos que seja apenas um modismo passageiro, e que se volte ao bom senso anterior, esclarecido e à altura de nossa diplomacia, ele renome merecido no mundo inteiro.
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O Sr. en-
controu ainda restos da influência po1tuguesa nessa região?
P. Solimeo -
É incrível,
mas apesar de os portugueses terem sido expulsos de Kerala pelos hereges holandeses em meados do século XVII, ainda encontrei diversos traços do antigo predomínio luso na região. Há muitas famílias de católicos ao lon go da costa do Malabar, ao norte do Estado, e mesmo na costa do Travancore, mais ao sul, que conservam em seu vocabulário inúmeras palavras po1tuguesas. Certo dia, um advogado amigo, do rito latino, contoume que sua avó utilizava um vocabulário diferente, que ha-
DESABROCHA O GOSTO PELAS FLORES
via aprendido em casa, sem saber determinar sua origem. Repetiu-me algumas das palavras: camisa, sapato, calça, saia, va-
No Brasil, há cinco anos, o consumo ele flores vem crescendo a uma taxa anual de 35%. Das dez mil floriculturas, a metade foi aberta nos últimos anos. O brasileiro gasta cm média 5 reais por ano com flores, ainda bem longe cios 140 da Noruega. Mas o gosto de ter flores ornando as casas, embe lezando mesas ele restaurantes ou como presente está aumentando. A engenharia genética ajuda esta tendência saudável. As espécies à disposição cio público são hoje mais numerosas, mais bonitas e mais duráveis. Em 1989, a Holambra, maior produtora brasileira, oferecia cinqüenta produtos. Hoje, põe 800 nos seus leil ões. A ro a, a grande preferida, tem hoje 30 mil variedades. "Anti-
silha, sa l a, etc. A língua
malayalam contém muitos vocábulos portugueses, às vezes pronunciados com uma pequena modificação sofrida ao longo dos tempos, como: armário, janela, mesa, cozinha, padrinho, madrinha, padre, novena, romaria, etc. Sem falar do
konkani, língua da região de Goa, que incorporou mais de mil vocábulos portugueses. Mesmo no hindi, língua da região centro-norte, e que setornou a oficial do país (na Índia há 16 linguas regionais e cerca de 1.600 dialetos), encontramse vários vocábulos portugueses. O "quintal", por exemplo, que já não e usa mais aqui como medida, está naquele país em pleno vigor. D
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No alto, esposas de pescadores rezam por seus m.iridos, em Vizhinjam, extremo sul de Kernl.i, o Estado indi.ino com maior ní1mero de católicos. Acima, a família George, mencionada na entrevista
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gamente usávamos apenasflores singelas, simples, sem gran-
concisamente deve estar atento para não atuar CIENTISTA NORTEcomo robô. Nos anos 80, as granAMERICANO DESCOBRE: des companhias do mundo demi"A RODA É REDONDA" ... tiam principalmente empregados de macacão. Os anos 90 vêm senJeffrey Levin, epidedo marcados pela demissão dos miólogo ela Faculdade de Meengravatados". dicina da Virgínia Ocidental PROGRESSOS NA CULINÁRIA BRASILEIRA
des sofisticações. Era um produto bruto. Hoje temos flores mais vistosas, com uma gama muito diferente de cores", comenta Alfredo Klein, presidente de uma associação ele floricultores gaúchos.
PASSOS NA DIREÇÃO CERTA Pressionados pela opinião pública, cujas vozes se faziam ouvir cada vez mais angustiadas no Congresso, os donos elas TVs cios Estados Unidos criaram um sistema de classificação ele seus programas por idades. Fala-se também na construção de microprocessador, a ser posto nas televisões, que pertmitirá aos pais controlar programas violentos ou imorais. O Presidente Clinton comentou que o instrumento iria devolver o controle remoto da TV aos pais.
O HÁBITO DE REFLETIR AJUDA NA VIDA PROFISSIONAL Simon Franco é o mais antigo caçador de profissionais no Brasil. Há 32 anos ajuda as empresas a encontrar bons executivos. Observa Franco: "Fuja
dos empregos mecânicos. O mercado vem absorvendo tãosomente as pessoas que exercem funções pensantes. O jovem CATOLICISMO -
Na E uropa, há muitos sécu los, a carne de caça é muito apreciada. Sua presença é pequena nas mesas dos brasileiros, mas pouco a pouco, começando por alguns restaurantes, vários pratos preparados com carnes ele caças vão sendo criados, que podem servir para aumentar a variedade, qualidade e volume dos alim entos à disposição da população. Já há fazendas de criação de jacarés, capivaras, javalis, escargots e avestruzes, que abastecem um público crescente.
(EUA), em recente conferência pronunciada na Associação Americana para o Avanço da Ciência, afirmo u que a reli g i ão faz bem à saúde, e que, estudando mais de 200 artigos sobre o assunto, chegou à conclusão de que os religiosos v i vem mai s. Para este mundo materia1izado em que vivemos, é clifícil adm itir que a prática da virtude, dos Mandamentos, a freqüência aos Sacramentos, entre outras atividades rei igiosas, favorecem também a saúde, e fazem parte do cêntup lo que Deus prometeu, já nesta terra, àqueles que O seguem. D
Alerta dos fazendeiros de Campos contra sem-terras O Movimento dos Sem-Terra tem o Rio de Janeiro como o mais recente alvo para a distribuição de áreas consideradas improdutivas pelos invasores. Para que os fazendeiros da região não se sintam ameaçados, o Sindicato Rural do município de Campos dos Goytacazes tem buscado respaldo na Federação da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro e na Confederação Nacional da Agricultura. O presidente do Sindicato Rural campista, José do Amaral Ribeiro, explicou que a orientação da entidade é que "os pro-
prietários estejam sempre atentos ao movimento de comboios, procurando evitar a chegada do pessoal a seu destino. Procurar pará-los em seus caminhos, e daí partir para uma situação de caráter jurídico". Para ele, não custa nada ficar de olho vivo. Como ciganos, os sem-terra vão se acomodando às margens das propriedades, e aos poucos se expandindo pelas terras. O Sr. José do Amaral Ribeiro acredita que o movimento é fruto de um insuflamento político. E quando manifesta sua opinião a respeito da reforma agrária, exemplifica com a Usina Novo Horizonte: "A reforma agrária ali não deu certo.
Pergunto o que os lavradores gostariam que acontecesse, e eles vão responder que querem trabalho, que haja empresários que dêem meios de sustento".
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NAL
Colóquio internacional em Paris J.
e. CAsTÉ
Enviado especial Paris -
Realizou-se e m lo XXI se caracteri zará pe la Paris, em dezembro ele 1995, deseuropeização cio mund o, um importante co lóquio a resou sej a, no ano 2030 a popupeito dos próximos anos, sob lação mundia l de origem euum títu lo a mbici oso: Guerra e ropéia representará apenas paz no século XXI. 10%. No plano econômico, a Patrocinado pela UNESCO, dominação será as iát ica, eso evento foi p_romovido por se nc ialm e nte neo-co nfu c ioimporta ntes in stitui ções, ta is nista. No campo religioso, a como Fundação ele Estudos ela islam ização da Europa se aceDefesa, Instituto de Altos Eslerará. tudos de Defesa, Centro InterO Islã está e mergindo ponac ional de Estudos e Reflederoso e avassalado r, apresenxão e Futuríve is (s ic !). tando uma nova fratern idade, Teve por sede o chamado autoproclamando-se obra de Palácio da Unesco, uma fria Deus diante de um Ocidente construção de estilo moderno materiali sta, decadente e com (por isso mesmo desprov ida de pequena população jo ve m. qualquer beleza), contrastando com a tradicional e bela arTerrorismo quitetura parisi e nse. Tnclementes e fe ias foram as previOutro ponto estudado nessões cio colóquio, como se verá. te co lóq uio internacional fo i o Entre os co nferencistas, terrorismo, bem como o peri encontravam-se figo de que em um lósofos, po líticos, próximo futuro militares e especise us agentes tea li stas em vários Especialistas nham acesso a arramos(*). mas atômicas, quíanalisam o E m geral, os micas e bacteriolóexpos itores afirfuturo das gicas. mavam a decadênA ex-URSS nações cia do Oc idente diperdeu o co ntro le ante de um Islã que sobre seus antigos se expa nd e e de saté li tes, que couma Ásia que se fortalece ecomerciam todo tipo de armas e nomicamente. No Oc idente, o podem fazê-las chegar a gruprincípio de autorid ade nas pos terroristas, especialmente instituições re ligiosas e na sono Oriente Próximo, no Norte ciedade tempora l se está diluda África e no Golfo Pérsico. indo . O Estado perde suas funNão somente o terrorismo ções e as próprias forças arma"clássico" preocupou os partidas manifestam sintomas de cipa ntes. Há o perigo de degenerescência. maffias, narcotraficantes e vá-
Deseuropeização Para o demógrafo Prof. Jean Claude Chesnais, o sécu-
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rios tipos de gangs se articularem e colocarem em cheq ue as polícias cio mundo civili zado. Podem fazê-lo faci lmente mediante meios e letrôn icos
"
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Matança de civis na guerra da Bósnia
mais avançados, entre os quais a Internet. E tais grupos já possuem um armamento estarrecedor. Circuitos fec hados de TV, detectores de meta is e máquinas ele raio X podem fazer pouco contra isso. Há a ind a os chamados ciber-terroristas, elementos criminosos que, por meio da informática, procuram entrar nos sistemas de computadores cios ministérios ele defesa, das grandes empresas e mesmo de parti culares, causando da nos difíceis ele ser avaliados . E para isto bastam um computador, um modem e uma linha telefônica. Um dos expos itores, André Glucks mann , chamou atenção para um novo tipo de terrorista: o jovem fa nático, o louco de Deus. Pode ser movido por razões religiosas ou nacionalistas. É encontrado no mundo árabe e nos Bá lcãs. É obraço armado ele um país, ele um povo ou de um grupo. Julgase heró i de um poder destruidor, co nferindo à organi zação que os possui um grande po-
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der de intimidação sobre os oponentes.
Guerras Já não são muito prováveis guerras como as do século XIX ou a I e II Guerras Mundiais, a da Coréia ou a do Vietnã. As guerras agora aconteceriam dentro do tecido socia l das nações. São as chamadas guerras sociais. Os futuros conflitos serão confusos, os exércitos deverão c uidar ma is dos problemas internos do que dos externos. Hoje devemos ter em vista o que tem ocorrido na Iugoslávia. Neste tipo de conflitos, surge uma nova forma de forças armadas , que são bandos armados mesclados com grupos terroristas e gangs. Não se trata mai s ele uma guerra ele militares contra militares, mas de militares contra civi s e de civis contra civis. Nas guerras de o utrora as perdas humanas eram sobretudo militares . Na I Guerra Mund ial, 80% dos mortos fo-
ram soldados. Já na IC Guerra, a proporção baixou para 50%. Nas guerras futuras , as perdas civis serão bem maiores do que as mi li tares.
Fragmentação social, Governo Mundial Há uma tendência geral à di luição cio tec ido social, que é ajudada pelo enfraquec imento do Estado. Os escând alos co ntínuos, e nvolv e ndo e lementos dos poderes públicos, contribue m para a pe rda ele força e desmorali zação das nações. Não é im possível que uma estru tura mundi al venha a preencher o vácuo deixado pelos países atuais. Outro expositor, Samuel Huntington, julga que e ntramos ele maneira decidida e sem retorno numa era de confusão, anarq uia e caos.
Olhar de Fé Esperanças e otimi smo? Não as houve nesse simpós io. As esperanças estão no utro horizonte. Estão nos olhos dos home ns de Fé, que não julgam a realidade apenas co m os dados tangíveis, mas nela consideram a ação da Divina Providência, que, mesmo nas pi ores situações, guia os homens, conforta-os, ilumina-os. Entre essas esperanças sobrenaturais, brilham diante de nós as mi sericord iosas promessas de Nossa Sen hora de Fátima. Nota: (*) Na lista de expositores, alguns dos quais
ci tados neste artigo, fi guravam: Sam uel Huntington, ex-assessor de segurança da Casa Branca, autor de vários li vros sobre defesa e segurança, Diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da Uni versidade de Harvard; Sir Michael Howard, professorem Yale e Oxford ; Jean Claude Ches nais, Diretor de In vestigação no ln stituto Nac ional de Estudos Demográfi cos, de Paris; Robert Gates, ex-di retor da CIA. Políticos po loneses co mo Tad e usz Mazowiecki e Lech Walesa faziam também prute do elenco.
DESTAG!l,!J
'Cadaverbrás': o confisco de nossos corpos
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leitor imagine esta cena: parentes e amigos choram a recente perda de um ente querido, num quarto de hospital. De repente , dois funcionários do Estado pedem licença aos presentes e levam os olhos do falecido para um transplante de córnea . Logo em seguida, outra equipe de médicos do Governo entra na sala e diz que estão precisando dos rins do falecido, para uma pessoa que sofreu um desastre de automóvel. O leitor dirá que estamos imaginando coisas macabras, dignas de um filme de terror, e que isto é impossível acontecer. Não é imaginação! É o que nos aguarda para o futuro, se um projeto de lei já foi aprovado no Senado também o for na Câmara, sendo sancionado depois pelo Presidente da República. No dia 29 de fevereiro último, os senadores aprovaram um projeto de lei mediante o qual órgãos e partes do corpo humano, após a morte, poderão ser confiscados pelo Governo. Para a sua aprovação no Senado, foi montado um "show'' grotesco. Um doente renal crônico , diante do edifício do Congresso, declarouse "em greve": suspenderia a hemodiálise a que se submetia habitualmente, até que os senadores aprovassem o projeto de lei do confisco dos órgãos. O Senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), relator do projeto, "sensibilizado" por aquele "apelo", pediu ao Senado que votasse, em regime de urgência, a proposta de autoria do Senador Darcy Ribeiro. A votação foi a mais simples possível : "votação simbólica", na qual, sem se verificar o número de presentes, o presidente da Mesa ordenou: aqueles que estiverem de acordo permaneçam sentados, e os que estiverem em desacordo se levantem. Como ninguém se levantou (o plenário poderia até estar vazio ...), a proposta foi aprovada por "unanimidade".
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O mais curioso é que os jornais, normalmente ávidos de fazer sensacionalismo, deram pouco destaque à notícia. Um dos dois grandes quotidianos paulistas publicou uma nota apenas na última página do terceiro caderno, sem maior destaque, sem informar quantos eram os presentes no plenário. O outro jornal , dois dias depois , publicou nota minúscula e sem alarde - como quem fala baixinho, a fim de não despertar a atenção dos leitores - sobre a aprovação desse projeto que decide o destino dos corpos de todos os brasileiros após a morte. E 150 milhões de brasileiros poderão ter seus órgãos confiscados após a morte, só porque um cidadão decidiu fazer uma greve de hemodiálise em frente ao Congresso. Há uma ressalva na lei: quem não quiser que seus órgãos sejam confiscados, deverá declará-lo em cartório. Ora, dos 150 milhões de brasileiros, quantos tomarão conhecimento do texto dessa futura lei e da necessidade dessa declaração passada em cartório? Quantos terão sequer tempo para providenciá-la? Ai daqueles que não carregarem permanentemente uma cópia do documento em questão. Se morrerem subitamente, correrão o risco de ter seus corpos esquartejados, a pretexto de "cumprimento da lei". Este é mais um duro golpe desfechado contra o Direito de Família. O corpo de um falecido, até então tratado com o máximo respe ito por seus familiares _:_ que a ele sempre tiveram direito - passa a ser considerado como se fosse o corpo de um vil animal sem dono, de que o Estado pode dispor como desejar. Quando alguns poucos legisladores decidem desta forma o destino de um País, tudo deve-se temer!
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<J{p6reza e elites tradicionais anáfogas ipróprio à 1106reza e à., efile., a11dfogasformarem com o povo 11111 todo orgânico, como ca6eça e co,po' PLINIO CORRÊA DE ÜLIVEIRA
Como o clero, a nobreza e o povo participavam do governo Revol.ução Francesa, procurando desprestigiar os regimes que a precederam, espalhou uma idéia errônea a respeito dos governos existentes na Idade Média e no Antigo Regime, como se neles só o Rei mandasse e ninguém mais participasse do governo, em qualquer sentido. Nada mais falso. O que houve nos países da Europa antes daquela revolução, na maior paite dos casos, foram formas paiticipadas de governo, mesmo no chamado absolutismo real. Santo Tomás de Aquino recomendava a monarquia paiticipada, isto é, na qual o clero, a nobreza e povo tenham parte no governo. Seria cabível perguntai· em que sentido poderia o clero participar do governo na ordem temporal. No regime de separação entre a Igreja e o Estado, em que vivemos, causa surpresa ver o clero mencionado como força política. Entretanto, o clero constitui uma classe social nitidamente definida e distinta das demais. Um sacerdote, enquanto cidadão de um país, temo direito de externar sua opinião a respeito dos problemas desse país. Naqueles tempos, o clero era a primeira classe social. Não só pelo seu cai·áter sagrado, mas também porque fornecia ao país o próprio fundamento da civilização. Realmente, um país sem moral nada vale; e quem tem os recursos naturais e sobrenaturais para inoculai- a verdadeira moral num país é precisamente o clero. Esta é a sua missão específica; e como é a mais impo,tante, a mais fundamental, é natural que a classe encaiTegada dessa missão seja considerada a primeira classe da sociedade. Nas reuniões, nos encontros sociais, nas cerimônias oficiais do
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Estado, era lógico que o clero ocupasse o primeiro lugar, com primazia sobre a nobreza e o povo. Era natural que não se tomasse em consideração a condição social em que o clérigo tinha nascido, mas sim sua situação nas fileiras do clero. A primazia era para aquele que detinha o mais alto cargo ou função. Uma atribuição impo1tante do clero era a organização e manutenção dos serviços de educação e saúde pública, sem qualquer ônus para o Estado. A caridade pública era fonte
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A nobreza deve lutai· para permanecer de pé e continuar como um dos elementos dirigentes da nova ordem de coisas. As t:ransformações sociais, sendo legítimas, podem entrai· em harmonia com as tradições da nobreza. Esta deve atuai· em favor do país, embora sem ocupar cargos oficiais, colaborando com as outras categorias na direção cios acontecimentos. Ainda hoje restam deveres e uma grande influência reservados à nobreza, que ela deve assumir. Mas antes de tudo a nobreza deveria primar por sua fidelidade à Igreja Católica, aos seus princípios e às suas normas, atestando-a pelo exemplo de uma vida ilibada e pela palavra. O Nota da Redação: Exce,tos de conferência pronunciada pelo Prof. Pli nio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP, cm 11 - 11 -92, comentando, a pedido destes, a obra de sua autoria Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado eà Nobreza mmww (Editora Civi lização, Porto, 1992). Sem rev isão do conferencista.
Governo feudal exercido por eclesiásticos
A Praça do Mercado de Siena, Itália, com a esguia torre do Palácio Público, casas aristocráticas e populares, constitui um exemplo do que era a harmonia entre as classes sociais outrora
contínua de dinheiro para tais despesas. O afeto filial e a confiança que ligavain os fiéis ao clero faziain com que aqueles dessem dinheiro a este com muito mais boa vontade e abundância do que se fosse para órgãos estatais. Pois quando um bom clérigo batia à po1ta, era quase como se Deus estivesse batendo, tal o orvalho de bênçãos que trazia em torno de si.
Os nobres, dentro da quase exclusivamente de noO bem comum vida civi 1, embora não exerbres. Era freqüente, porém, da nação era cendo mais a militância feuum plebeu, por heroísmo na dal, devem entretanto contiluta, ser promovido a nobre e alcançado pelo nuai· combativos. Eles têm passar à condição de oficial. esforço conjunto obrigação ele fazer ouvir sua O poder da nobreza endas três classes voz, pois sua palavra e seus quanto classe militar, embosociais, atuando atos repercutem intensainenra não muito sensível nos tempos de tranqüilidade pú- cada uma delas em te. Por exemplo, um rapaz nobre, aluno de um colégio, blica, tomava-se decisivo nos sua esfera própria, tem muito mais a obrigação tempos de guerra e convulmas em harmonia de lutai· contra o respeito husões sociais. mano, de enfrentai· a perseO clero e a nobreza paiticom as demais guição tai1tas vezes cruel que cipavam do governo do país de várias maneiras. Tanto uma classe como a se move contra os que são puros, do que um outra possuíam numerosos feudos, nos quais rapaz que não é nobre. O nobre traz consigo a exerciam muita influência e autoridade. Ti- História, e seus atos impressionam mais cio nham também direitos de governo sobre al- que os de uma outra pessoa. As novas condições não suprimem as gumas áreas. O povo paiticipava do governo através ele obrigações da nobreza, mas lhe dão novos suas corporações, que tinham autonomia, leis encargos, que são a adaptação dos deveres e tribunais próprios, livres da intervenção de antigos para os dias atuais. funcionáJios do rei ou de qualquer órgão de poder central ou municipal. Tais corporações constituíam, dentro ela realeza, como que pequenas repúblicas burguesas com governo próprio. A harmonia dessas autonom ias constituía a harmonia da nação, dentro do governo paiticipado. Tal regime é muitas vezes acusado ele ser injusto pelo fato de que o clero e a nobreza Um aspecto da legítima participação do clero na vida pública nacinão pagavam impostos, os quais recaíam soonal foi, ao tempo do feudalismo, a bre a classe aparentemente mais pobre, que existência de dioceses e abadias era o povo. Mas a ela pertencia a burguesia, cujos titulares eram, ipso facto e ao uma classe em geral rica. mesmo tempo, os titu lares das resPorém, como vimos, tai1to o clero como a pectivas circunscrições feudais. nobreza arcavain com despesas vultosas em beAssim, por exemplo, os Bisposnefício do bem comum. O clero com o sustento Príncipes de Colônia ou de Genebra, da educação e da sáude, e a nobreza com a mapelo próprio fato de serem bispos, nutenção de trnpas. Ou seja, ai11bas as classes se independentemente de sua origem nobre ou plebéia, eram Príncipes de cledicavain principalmente ao bem comum, enColônia ou de Genebra. Um destes quanto o povo trabalhava a11tes de tudo para si, e últimos fo i o du lcíssimo São Francissó secundai·iainente pai·a o bem da nação. co de Sales, insigne Doutor da IgreVemos assim como, em linhas gerais, era ja. razoável a isenção de impostos ele que gozaA par de Bispos-Príncipes havia vam o clero e a nobreza. dign itários eclesi~sticos de graduação menos eminente na nobreza. Em O dever da nobreza Portugal, por exemplo, os Arcebisnos dias atuais pos de Braga, que eram ao mesmo tempo senhores daquela cidade, e Atualmente, mesmo vivendo em países ele os Bispos de Coimbra que, ipso facto, eram Condes de Arganil (desde regime democrático e republicano, em que a o 36º Bispo de Coimbra, D. João nobreza foi abolida como classe social, ela tem um papel a cumprir na direção da sociedade.
A nobreza, apesai-de freqüentemente pintada como uma classe cheia de vaidade e ébria de sua grandeza, que nada permitia acima de si, era considerada a segunda classe social e se reconhecia como tal. Tinha muito peso e prestígio no Estado e na sociedade, pois o poder militar estava em suas mãos c a oficial idade era constituída
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Galvão, agraciado com esse título pelo rei Dom Afonso V, em 1472), de onde usarem correntemente o título de Bispos-Condes de Coimbra.
São Francisco de Sales, Bispo-Príncipe de Genebra
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PAULO CORRÊA DE BRITO FILHO
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O estilo ficou conhecido como barroco checo rústico.
Um exemplo bem típico dele aparece na fotografia ao lado. Apresenta-nos ela visão parcial de célebre aldeia rural boêmia que congrega o maior número dessas encantadoras habitações. Conservando uma unidade de estilo, quanta diversidade nessa meia dúzia ele fachadas! Algumas possuem frontão triangular, outras frontão com extremidades onduladas, enquanto uma delas é desprovida inteiramente de frontão.
Outro exemplo saliente de arquitetura popular é o estilo denominado camponês, existente na Eslováquia, vizinha da República Checa. Predomina nele a madeira, ostentada com uma força rude - quase se poderia dizer bárbara - em todas as partes do •
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Maria: da obscuridade inicial a uma crescente glorificação através da História
Tesouros da Arquitetura Popular arquitetura é considerada a mais completa das artes plásticas. Por ser um tipo de arte destinada a satisfazer uma das necessidades concretas mais essenciais do homem - a de ter uma habitação - a arquitetura reflete com certa fidelidade o espírito de seus usuários e da r~gião em que eles se congregam. Tais considerações aplicam-se de modo eminente ao estilo arquitetônico denominado popular. Os materiais utilizados comumente nesse gênero arquitetônico são os mais abundantes na região onde ele se estabelece: sobretudo a madeira, a pedra, o barro, os vergéis e a palha. Dois exemplos cios mais característicos desse estilo facilitarão a compreensão do tema: a arquitetura popular do sul da Boêmia (região da República Checa) e a arquitetura camponesa da Eslováquia. Os admiradores da arquitetura popular sempre se deliciaram com as casas de pedra construídas em harmônicos conjuntos, nas aldeias rurais da Boêmia. Elas são renomadas universalmente entre os entendidos. Embora a pedra, abundante na região, seja o material mais importante utilizado em tais edificações, o senso artístico daquelas populações camponesas aprimorou a fachada de suas habitações. Para torná-la mais atraente e amenizar a simplicidade e a du(eza da pedra, sobre ela aplica-se um reboco rico em desenhos e cores vivas.
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS
Nossa Senhora da Conceição da Praia, Salvador
edifício, inclusive nos telhados e nos ornamentos em forma de cones e esferas, que coroam as coberturas. A fotografia ao lado exibe uma original - e quão artisticamente vigorosa! -casa desse estilo, circundada por um telhado mais baixo e constituída por três corpos distintos. No primeiro, dois telhados quadrados superpostos, sobre os quais repousa gracioso cone encimado tanto por pequena esfera quanto por outro cone. No segundo corpo, repete-se essa mesma seqüência, em dimensões maiores. Finalmente, no terceiro corpo, menor, apenas uma cobertura sobre a qual repousam os mesmos ornamentos: a esfera e o cone. Qual a impressão causada pelo conjunto? Talvez a da força camponesa e rude, com uma nota mifüar e heróica que evoca um castelo feudal. "Castelo" idealizado e edificado desde muitos séculos por componeses eslovacos, ao qual não faltam nem mesmo as "torres" em formas cônica e esférica. O
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o dia 25 de março ele 1646, há 350 anos, Portugal foi solenemente consagrado a Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, pelo Rei Dom João IV, acompanhado pelas Cortes Gerais do Reino. Desde então o Brasil, parte integrante do império luso, viu-se colocado sob o especial patrocínio da Imaculada Conceição. Esse patrocínio de certa forma prossegue até hoje, pois após a emancipação política de nossa terra, em 1822, foi também à Virgem Imaculada, com o título de Aparecida, que o Brasil quis se consagrar. Neste mês de maio, tradicionalmente dedicado a Maria, julgamos oportuno publicar o presente artigo. Quando Portugal se consagrou em 1646 a Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, Rainha e Padroeira daquela Nação, ainda estava longe de ser aceito em toda a Igreja o ensinamento de que a Santíssima Virgem fora concebida sem pecado original, o que em 1854 Pio IX definiria como dogma de Fé. Na realidade, a explicitação do dogma da Imaculada Conceição foi fruto de um lento e gradativo processo do qual participaram, cada qual a seu
A Santíssima Virgem, por humildade, procurou durante a sua vida a obscuridade, sendo esta necessária também para velar sua excelsa beleza e seu esplendor.
modo, Papas, Santos, Doutores e até os Nossa Senhora tinha uma distinção simples fiéis. extraordinária. Princesa da Casa Real Diz São Luís Maria Grignion de de David, foi nobilíssima. Possuía, adeMontfort (1673-1716), o grande Dou- rnais, um corpo perfeitíssimo e uma betor marial dos tempos modernos, que leza física deslumbrante. O maravilhoNossa Senhora obteve de Deus a graça so, observa São Boaventura (2), é que de permanecer oculta ao longo de toda a tendo Ela uma beleza tão deslumbransua vida terrena, e tão oculta que nem te, nunca foi desejada por homem alsequer os Evangelhos falaram muito gum. O porquê dessa maravilha é exdEla (1). plicado por Dionísio Cartuxo ao coIsso correspondia, mentar a expressão da sem dúvida, a um desejo Escritura "como lírio endo humílimo Coração de A devoção a Nossa tre espinhos": "Ainda Maria, que Deus se Senhora foi sendo que tenham existido comprouve em atender. progressivamente muitas virgens santas, Mas correspondia tamsem embargo em relação explicitada pelos bém a uma necessidade. à Virgem é como se fosteólogos e pelo Pois naqueles tempos resem espinhos, já que timotos, muitos espíritos povo fiel ao longo nham em si algo de culembrutecidos pelo polipa; e ainda que fossem dos séculos. teísmo geralmente domipessoalmente puras, a nante, se vissem Nossa concupiscência, entreSenhora em todo o seu esplendor, facil- tanto, não estava completamente exmente seriam tentados a fazer dEla urna tinta nelas, e foram também espinhos deusa, afastando-se a sim da verdadeira para outros, que ao vê-las se sentiam crença num só Deus Uno e Trino, Todo- excitados pelo desejo. Mas a Virgem Poderoso, criador de todas as coisas. Mãe de Deus.foi completamente livre E não era pequeno esse risco, pois de toda a culpa; a concupiscência foi na ordem da graça, mas também na or- inteiramente extinta nEla; e viveu tão dem da natureza, Maria foi a obra prima plena de intensa castidade, e de tal do Criador, apenas superada pelo Ho- maneira penetrou com essa sua incommem-Deus. parável virtude os corações dos que a CATOLICISMO -
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um singul ar brilho, no senti do próprio do termo. Narra a Esc ritura que Moisés, depois de ter co nversado com o Senhor, adquiriu no rosto um tal fulgor que os hebreus não conseguiam olhá-lo de frente, e para falar com ele preci saram cobrir-lhe o rosto com um véu (6). Privilégio semelhante tiveram muitos sar.tos, cujos rostos, depois de terem tido algum contato es pecial co m o so brenatural , brilhavam e resplandeciam . Um privilégio desses não poderia deixar de ser concedido a Nossa Senhora, que não apenas teve co ntatos fu gazes com Deus, mas era a própria Mãe de Deus, que levara em seu se io , durante nove meses, o próprio Verbo encarnado, e com Ele co nvi vera intimamente durante 30 anos. Mais um a vez, cabe citar Dionísio Cartuxo:
Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, séc. XIV, Padroeira de Portugal
olhavam, que não pôde ser desejada por nenhum; an/es pelo contrário extinguia imediatamente neles todo desej o carnal" (3).
O mesmo ensinou Santo Tomás de Aquino: "A graça da santificação não só reprimiu na Virgem os movimentos ilícitos, mas também nos outros obrou com plena efteácia, de modo que mesmo sendo formosa de corpo, ninguém a desejasse" (4). 14
"Virgem pura, e única Imaculada-
escreveu São Tomás de Vilanova-em quem a virgindade teve a nota distintiva de tornar virgens os que a olhavam, pois a sua virgindade era tal que engendrava virgens" (5).
Brilho singular na face
A par da extraord inária beleza física, Nossa Senhora deve ter tido no rosto •
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"Quan to ma is a amabilíssima e gloriosíssima Virgem Maria, ainda menina e ado lescente, foi obj eto das mais abundantes infitsões de todos os carismas, tanto mais essa mesma exuberância resplandecia em seu rosto e em seu olhar; e quanto i-s mais abundantemente e me~ lhor aproveitava a cada dia .9~ ern toda a graça e virtude, '5! .s: em toda a luz da contemplaE ~ ção, na claridade da teologia mística, na pureza interna e na santidade angélica, tanto mais aquela luminosa sinceridade interior celestial e divina aparecia claramente na face da sacratíssima Maria, e, como dizem também grandes doutores, visivelmente se irradiava. Parece-me, entretanto, que essa radiação foi temperada pela moderação divina, para que fosse suportável no trato com os homens, e para que sua excelência não se man(festasse demasiado antes do tempo oportuno" (7).
Esplendor velado
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Vemos assim que, segundo Dionísio Cartuxo, o próprio Deus parece ter querido fazer, em relação a Nossa Senhora, o qu e fizeram os hebreus em relação a Moisés: pôr um véu que velasse tanto resplendor. Não, porém, a ponto de ocultálo inteiramente. Quem tratava com Nossa Senhora devia ficar literalmente fascinado pela sua personalidade ímpar. Ora, naq ueles tempos os pagãos embrutecidos fac ilmente concediam honras e culto de deuses a simp les homens carregados de defeitos morais, como tantos imperadores romanos, e até mes mo a animais e a coisas indi gnas. Basta lembrar que em Roma era cultu ada como deusa a cloaca máxima, ou seja, o grande esgoto qu e despejava no Tibre todas as imundícies da·cidade ! Era, pois, muito gra nde o ri sco de que, se vissem Nossa Senhora em todo o seu esplendor, tomassem- na por um a deusa (8). Daí o ter querido o próprio Deus velá-la cuidadosamente nas Escrituras, como escondida foi Ela em sua vida terrena. Segundo o célebre Fr. Tomé de Jesus, Maria Santíssi ma "até no exterior mostrava uma tão soberana perfeição, que São Dionísio Areopagita diz que, se a Fé não lhe tivera ensinado que havia um só Deus, quando viu a Virgem Nossa Senhora cuidara julgado que nEla estava acabada a divindade" (8).
"Revelação progressiva" de Maria
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Nossa Senhora de Fátima
Deus oc ul tou a Santíssima Virgem soda ciência teo lógica. É razoável supor durante sua vida terrena, mas reservou que no fim dos tempos, quando Nosso Separa Ela uma forma muito peculiar de nhor voltar com glória à Terra para julgar glorificação posterior. Ele quis que, ao os vivos e os mortos, a essa altura tenha a longo dos sécu los, a Igreja fosse pouco [greja co ncluído - tanto quanto neste a pouco explicitando as glórias e as gran- mundo é possível concluir - o imenso dezas de Maria, mais ou menos implici- trabalho de muitos séculos de explicitação tamente contidas nas Escrituras, mais ou das glórias mariais. menos explicitamente formu ladas pela Alguém poderia objetar que essa "reTradição. velação progressiva" de Maria parece choEssa como que "revelação progres- car-se com o fato- que é de Fé - que a siva" ele Maria diante de toda a Igreja é Revelação oficial se encerrou com a morum dos mais belos aspectos cio progres- te do último Apóstolo.
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Na realidade, o progresso da Mariologia, como o progresso da Teologia em geral, não se trata de uma revelação nova, mas trata-se de um desenvolvimento, de uma elabo ração do intelecto humano, ajudado pela graça, a partir de verdades que já estavam contidas, embora menos explicitamente, na Revelação ofic ial encerrada no sécul o I. Duas vertentes de explicitação Esse esforço multissecular ele explicitação das grandezas mariais te m
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duas vertentes que, embora pe la qual prog ride a na aparência se con tradoutrina rnari ológica. ponham entre si, na realidaMas além dessa há tamde se comp letam harmo ni obém outra, uma via samente: de um lado, a elit acessível a todos, até intelectual da Igreja, de oumesmo às almas simtro, o bom povinho de Deus. ples: é a via ela beleza, Co mpete aos teólogos, para a qual conduz, afiaos doutores, aos estudiosos nal, a doutrina misterida ciência mari ológica, seosa, maravilhosa e esguindo metodologia científitupenda que constitui o ca, aplicar se u esforço intetema do congresso lectual e procurar, a partir da mariano: Maria e o EsRevelação, da Tradição, do pírito Santo. Com efeiMagistério da Igreja, deduto, Maria é a criatura zir verdades, de modo a tota pulchra; é o co nst ituir todo um arcaspeculum sine macula; é bouço doutrinário lógico e o ideal supremo de percoerente. feição que em todos os Como é próprio do cientempos os artistas protista questionar, a priori e curaram reproduzir em por método, tudo quanto suas obras; é a mulher aparece de novo na área de vestida de sol (Ap. 12, seus estudos, muitas vezes 1 ), na qual os raios puesses estudiosos da ciênc ia ríssimos da beleza humamariológica examinam com na se encontram com os espírito crítico certas manisobre -humanos, mas festações populares espontâacessíveis, da beleza soneas de amor e devoção para Nossa Senhora da Esperança(Triana)- Sevilha(Espanha) □ brenatural"(9) com Nossa Senhora. O que para um católico fervoroso comum, sem lidade colaboraram intimamente entre grandes luzes intelectuais, pode pare- si. Numa como noutra trabalhava a graNotas cer evidentemente verdadeiro, nem sem- ça de Deus. E o resultado dessa colapre é suficiente para contentar o exigen- boração só se pôde admirar convenien( 1) Cfr. Traité de la Vra ie Dévotion à la Sainte Vie,ge, temente quando se pronunciou, definite intelectual. Librai ric Monfo11aine, 11 ' ed. canadense, Québec, 1946, pp. 1-2. Ao bom povinho de Deus, que mui- tiva e infalivelmente, o Supremo Matas vezes intui certas realidades de or- gistério da Igreja. (2) Cônego Grcgorio Alastrucy, li-atado de la Virgen Essa fe li z colaboração das duas verSa11tísi111a, BAC, 3"ed., Maclricl, 1952, p. 442. dem sobrenatural sem entretanto saber explicá- las (e, mesmo, sem sentir qua l- tentes aparentemente opostas e (3) 111 Ccmtic. 2, apud Alaslruey, op. cil., p. 44 1. quer necessidade de explicá-las), a ati- conflitantes, soube apanhá-la com feli(4) ln 3 Sent. , d. 2, q. 1, a. 2. tude reservada do teó logo pode parecer cidade o Papa Paulo VI, quando, fala n(5) Senno 2 De A11111111t., apud Alastruey, pp. 442-443. do em 16 de maio de J 975 aos particifria, pouco fervorosa, até suspeita. Ambas as vertentes podem sem dú- pantes do VII Congresso Mariológico (6) Cfr. Ex 34, 29-35. vida pecar por excesso: de um lado, cair- Internac ional e do XIV Congresso (7) De laud. g/01: Vi1g. Mariae, 1, 30,apud Alastruey, p. se na credu lid ade infantil e pouco Mariano Internacional, expl icava-lhes 44 1. esclarecida; de outro, no espírito ácido como se deve apresentar Nossa Senho(8) Trabalhos de Jesus, 1, Lisboa, 1666, 82b apud Pe. ra aos homens de nosso tempo: e hiper-crítico. João Ferreira, O.F.M .,A Teologia Mariana Portuguesa "Duas vias podem ser seguidas. A - o contributo nacional português para a evolução da Curio amente, se observarmos ao Mariologia, inA Virgem e Portugal, Edições Ouro, Po110, longo da História da Igreja o processo via da verdade, antes de tudo, ou seja, 1967, vol. l, p.4 19. de explicitação de certos dogmas - e a da especulação bíblico-histórico-te(9) Discurso de encerramento do Vil Congresso especificamente o da Imaculada Concei- ológica, que concerne à exata colocaMariológicoe início do XIV Congresso Mariano, Roma, ção - veremos que ambas as verten - ção de Maria no mistério de Cristo e 16-5- 1975, apud Stefano De Fiares e Salvatore Meo, tes, a popu lar e a douta, embora tenham da Igreja: é a via dos doutos, aquela Nuovo Dizionario di Mariologia, Ed izioni Paoline, Torino, 1985, pp. 224e 230. até certo ponto se entrechocado, na rea- que vós seguis, certamente necessária, 16
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PAIAVRM DE VIDA ETERNA
Explicação da parábola da cizânia
'Então,
Jesus, tendo despedido o povo, entrou em casa. E os discípulos chegaram-se a ele, pedindo-lhe: 'Explica-nos a parábola da cizânia'. Ele respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. E a cizânia são os filhos do Maligno. O inimigo que semeou é o demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. Da m esma forma que se junta a cizânia e se queima no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos e eles tirarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade e os lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai. O que tem ouvidos, ouça" (Evangelho de São Mateus, cap. X/li, vs. 36-43).
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino no livro Catena Aurea (*) São João Crisóstomo - Nosso Senhor hav ia falado às gentes em parábolas, com o objetivo de excitá-las a que lhe fizessem perguntas sobre elas. E, embora tenha dito muitas coisas, ninguém lhe dirigiu perguntas. Por isso, despediu o povo. E não o seguiu nenhum dos escribas; donde fi ca claro que, quando O segui am, não tinham outra intenção senão tentar colhêlo em fl agrante nos seus discursos. Rábano -Em sentido místico: despedidos os judeus que se aglomeravam, entra na Igreja e expõe nela os mistérios celestiai s aos fiéis. São Remígio - Jesus chama a si mes mo de Filho do Homem, para nos dar um exemplo de humildade; também porque sabia que os hereges haveriam de negar que Ele fosse homem; e para que, mediante a fé em sua natureza humana, pudéssemos chegar ao conhecimento da divindade. Santo Agostinho -O Senhor entende por cizâni a não alguns erros introduzidos nas verdadeiras Escrituras (segun-
do interpretam os maniqueus), mas todos os filhos perversos, ou seja, os imitadores dos erros do diabo, termos estes que emprega para designar todos os ímpios e os perversos. Dessa forma, todo aquele que é impuro ~,a messe é cizân ia. Acaso, onde não há escândalos? Os escândalos serão tirados de seu reino aqui, ou seja, da Igreja. Glosa - Pela palavra escânda lo pode-se entender os que dão ao próximo ocasião para pecar ou para perder-se; por iníquos, os que pecam. CATOLICISMO -
Maio de 1996
Rábano - Observai o que diz: aq ueles que cometem iniqüidades, e não os que cometeram, porque não serão entregues aos tormentos etern os os que se converteram e fizeram pen itência, mas os que continuam no pecado. São João Crisóstomo- Veja o amor inefável de Deus para com os homens: Ele está pronto para conceder graças, e é tardio para castigar. Quando semeia, fálo por si mes mo; e quando castiga, o faz por outros, pelos anjos que Ele manda para esse efeito. São Remígio - Nas palavras "ali haverá choro e ranger de dentes" está demonstrada a veracidade da ressurreição cios corpos. E também mostra, ass im , duas classes de castigos que sofrerão os condenados ao inferno: um calor excessivoe um fri o intensíssimo. Por outro lado, ass im corno os escândalos se referem à cizânia, os filhos cio reino são aqueles de quem disse o Senhor: "Então os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai". Porque nesta vida resplandece a luz dos santos diante dos homens, mas após a consumação do mundo brilharão como sol no reino de seu Pai. Aqui resplandecem para exemplo dos outros, no Céu brilharão como o sol para louvar a Deus. Rábano - "O que tem ouvidos, ouça", isto é, o que tenha entendimento, entenda, porque todas essas palavras têm um sentido místico. Nota: (*) - Santo Tomás ele Aqu ino, Ca1e11a Aurea, Cursos ele
Cull urn Ca1ol ica, Vol. 1, Buenos Aires, 1948.
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HA
FIA
Como sua saúde ia debilitando-se, Dom Bosco o fez examinar por vários médicos. Inquirindo sobre o remédio mais útil para aplicar, um médico, que se encantara com o pequeno Domingos, disse que "melhor seria deixá-lo ir ao paraíso,
São Qomingos Sávio, descrito por São João Bosco
para o que parece muito preparado".
Atacado por tosse obstinada, a conselho médico é obrigado a ir para a casa dos pais, o que aceitou corno penitência, mas demonstrando pouca disposição, pois queria acabar seus dias na Escola Salesiana, e sabia que se fosse para casa não voltaria mais, como ele mesmo afirmou. Ao sair, chamou Dom Bosco, dizendo-lhe: "Posto que o senhor não quer
RonERTO ALVES LEITE
- O senhor é o autor da "Vida de Domingos Sáv io"? -Para servi-lo, Sr. Comendador. - É um livro cheio de fanatismo. Meu filho o leu, e de tal maneira se enlouqueceu, que a todo momento pede-me que o leve para conhecer Dom Bosco. E temo que se lhe transtorne o cérebro. O que estaria escrito naquele livrinho, que preocupava tanto o Ministro de Instrução Pública do Reino do Piemonte, na Itália? Catolicismo apresenta alguns aspectos daquela edificante obra.
Era um pouco débil e del icado de compleição, de aspecto grave e ar doce, com um não sei quê de agradável seriedade e de humor sempre igual. Percorria diariamente uma distância de 16 quilômetros para ir à escola, onde obtinha, quase sempre, as melhores notas em todas as matérias.
Para se compenetrar cada vez mais da resolução que tomara, lia de preferência a vida dos santos que trabalharam especialmente pela salvação das almas, e se encantava com a vocação dos missionários, em cuja intenção, pelo menos uma vez por semana, oferecia a comunhão. Muitas vezes exclamou: "Quantas almas
O presente que lhe peço é que me ajude a ser santo
esperam na Inglaterra nossos auxílios! Oh! Se tivesse forças e virtude, queria ir agora mesmo, e com sermões e bom exemplo convertê-las todas para Deus".
Não deixava de rezar antes das refeições
que sinto um desejo e uma necessidade de fa zer-me santo. Nunca havia imaginado que se poderia sê-lo com tanta facilidade, e agora, que vi, quero absolutamente e tenho absoluta necessidade de ser santo".
Já aos quatro anos, não era necessário lembrá-lo de que rezasse as orações da manhã e da noite, oAngelus e as orações de antes e depois das refeições. Sempre que os pais se esqueciam, ele tomava a iniciativa de recitá-las. Em uma ocasião, uma visita sentou-se à mesa sem praticar nenhum ato de religião. Não ousando chamar a atenção, Domingos retirou-se tristonho. Interrogado depois por seus pais, sobre o motivo daquela estranha atitude, respondeu: "Não me atrevo a sentar-me à mesa com uma pessoa que inicia a refeição como os animais". Aos sete anos já sabia de cor o catecismo, e ardia em desejos de fazer a Primeira Comunhão. Não foi sem dificuldade que conseguiu a autorização, pois só se costumava admitir a este Sacramento meninos com 11 anos de idade. Ao recebê-la, a alegria inundou seu coração. Parecia que sua alma já habitava com os anjos do Céu. Após a cerimônia, escreveu alguns propósitos, como: "Meus amigos serão Jesus e Maria; antes morrer do que pecar". 18
Um dia, ao ouvir uma pregação sobre a facilidade de santificar-se, seu coração inflamou-se no amor de Deus, e mais tarde declarou a Dom Bosco: "Quero dizer
Dom Bosco, algum tempo depois, queria dar-Lhe um presente e perguntou-Lhe o que gostaria de receber. Domingos disse: "O presente que lhe peço é que me ajude a ser santo. Quero dar-me todo ao Senhor, ao Senhor para sempre. Sinto verdadeira necessidade de fa zer-me santo, e se não me fizer, não faço nada. Deus quer que eu seja santo, e tal há de acontecer".
A primeira coisa que se lhe aconselhou para chegar a esse fim, foi que trabalhasse para ganhar almas para Deus, posto que não há coisa mais santa nesta vida do que cooperar com Ele na obra da salvação. · Seguindo a recomendação, não perdia oportunidade para dar bons conselhos e advertir a quem dissesse ou fizesse coisas contrárias à santa lei de Deus. Tinha um verdadeiro horror às blasfêmias, e quando as ouvia, se não tinha condições de advertir o responsável, tirava o chapéu e dizia "Louvado seja Jesus Cristo!", para reparar a falta. • CATOLICISMO -
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O pensamento de ganhar almas o acompanhava em todos os lugares. Seu semblante alegre, sua índole vivaz, o faziam querido por todos, e era a alma das recreações. Não perdia ocasião para levar um menino ao confessionário, e empregava diversos meios para consegui-lo, como passeios, jogos, etc. Com a mesma finalidade, considerava como seus amigos especialmente os meninos que ficam esquecidos nos colégios, quer pelo seu temperamento ou pela sua ignorância. Alegrava-os com interessantes conversas e dava-Lhes bons conselhos. Por esta razão, os doentes o queriam como enfermeiro, e os que estavam tristes e desiludidos contavam-lhe suas dificuldades.
Dominou os olhos vivazes, mantendo-os sempre recolhidos Deus o havia enriquecido, entre outros dons, com o fervor na oração. Seu espírito estava tão habituado a conversar com Deus em todos os lugares, que, mesmo no meio das mais ruidosas algazarras, recolhia seu pensamento, e com piedosos afetos elevava o coração a Deus. Quando rezava em conjunto, parecia verdadeiramente um anjo: imóvel e bem composto, ele joelhos, sem apoiar-se, a cabeça levemente inclinada para frente e os
esta minha carcassa, me vejo obrigado a levá-la a Mondonio (residência dos pais). Ver-nos-emos no paraíso" . Domingos Sávio é apresentado por seu pai a Dom Rosco. Não existem fotos do santo menino.
olhos baixos, com suave sorri so no ros~ to. Bastava vê-lo para se ficar edificado. A compostura exterior dele tinha tanta naturalidade que se poderia pensar que a havia recebido assim elas mãos de Deus. Mas quem o conheceu de perto pode afirmar que tudo era resultado de grande esforço humano, coadjuvado pela graça divina. Seus olhos eram vivacíssimos, e tinha que fazer-se não peq uena violência para tê-los recolhidos. Ele mesmo contou a um am igo que, quando decidi u dominar o olhar, teve mui to trabalho, e até padeceu de grandes dores de cabeça. Além da modéstia do olhar, era muito comedido em suas palavras . Nunca seus lábios proferiram palavras de queixa pelos calores do verão nem pelos ri gores do inverno. Sempre se demonstrava satisfeito com tudo o que lhe serviam. Quando a comida estava mui to cozida ou mui to crua, quando tinha muito ou pouco sal, dizia que era assim que gostava, aproveitando a ocasião para mortificar-se.
Quando passava próximo de espetácul os públicos, não os olhava, o que levou um companheiro pouco piedoso a dizer-lhe: "Para que tens olhos, se não
Intensa devoção a Nossa Senhora
Sua atitude impressionava tanto, que um colega lhe perguntou: "Se fa zes tudo
Sua devoção a Nossa Senhora era enorme, e fazia cada dia mortificações em sua honra. Pode-se dizer que toda sua vida fo i um exercício de devoção à Santíssima Virgem.
este ano, o quejarás no ano que vem?" .
te se rves deles para olhar essas coisas?". A resposta veio pronta: "Quero que me sirvam para contemplar o rosto de nossa celestial mãe Maria, quando, com a graça de Deus, seja digno de ir vê- la no paraíso".
No mês dedicado à Mãe de Deus, preparava urna série de exemplos edificantes, e pouco a pouco os ia narrando com muita disposição, para animar outros a serem devotos dEla. Em 1856, Domingos demonstrou tanto fervor no mês de maio, que parecia, mais do que nunca, um anj o vestido de carne humana. Se escrevia, era de Maria; se estudava, cantava ou ia à aula, tudo faz ia em honra de Maria.
Desejo ardente de falecer na Escola Salesiana
E recebeu uma resposta através da qual se nota que pressentia chegar seu fim: "Isto corre por minha conta. Se ainda viver, contar-te-ei o que hei de fa zer" .
CATOLICISMO -
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Perguntou-lhe se era certo que seus pecados estavam perdoados, o que deveria responder ao demônio se viesse tentálo, etc. Ao final, pediu as indulgências plem'írias que o Papa concedera a Dom Basco "in articulo mortis" . Ao sentir que se aproximava a morte, pediu que o pai lesse a Ladainha das Rogações, e algum tempo depois, com voz clara e alegre, disse: "Adeus, papai, adeus. Oh! que coisas tão belas vejo!"
E sorrindo com celestial semblante, expirou com as mãos cruzadas sobre o peito e sem fazer o menor movimento. Tão logo se tomou conhecimento de sua morte, seus companheiros começaram a aclamá-lo como santo; nas ladainhas dos defuntos, em vez de responderem 'rogai por ele', diziam 'rogai por nós ' . Quase a cada di a chegavam notícias de graças recebidas pelos fi éis por sua intercessão. *** Domingos Sávio nasceu a 2 de abril de 1842, em Riva, a duas milhas de Chieri. Faleceu a 9 de março de 1857. Foi declarado Venerável por Pio XI, em 1933. Foi beatificado por Pio XII em 1950, que o canonizou a 13 de junho de 1954, centenário de sua entrada no Colégio de Dom Bosco em Turim. O Fonte de referência: "Biografia y escriro.,· de Sem Jua11 Bosco", BAC, Madrid, 1955, pp. 769 a 857.
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DISCERNINDO, DISTI
História Sagrada
em seu lar
Os sapos, ainda os sapos
(61) noções básicas
Morte de Josué ....::-- .
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Homem de fé inquebrantável e coragem intrépida, Josué, após conquistar a Terra Prometida, partilhou-a entre as tribos de Israel. Sua missão estava cumprida.
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Os restos mortais de José, trazidos do Egito, foram sepultados em Siquém (Jos 24, 32)
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Rnovação da aliança - Josué renovou em Siquém, diante da Arca, a aliança entre Deus e os fi Ihos de Israel, e escreveu todas as promessas do povo no livro da Lei. E tomou uma grande pedra, e colocou-a debaixo dum carvalho para servir de testemunho. E despediu o povo , cada um para a sua possessão. Cento e dez anos de idade, 25 anos de governo - Depois disto morreu Josué aos cento e dez anos de idade. Segundo o historiador Flávio Josefo, ele governo u durante 25 anos, pois entrou na Terra Prometida - atravessa ndo milagrosamente o rio Jordão e tomando Jericó - aos 85 anos de idade. Morreu ao mesmo tempo o sumo-sacerdote Eleázaro, filho de Aarão, e ambos foram sepu ltados no monte de Efraim.
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Josué, pré-figura de Nosso Senhor Jesus Cristo - "Seu nome tem a mesma raiz etimológica que o de Jesus, e significa Salvador. Introdu-
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ziu o povo de Deus na Terra Santa, como Jesus Cristo introduzirá a humanidade na hera nça celeste. "Ao mando de Josué, o sol interrompe sua marcha, para permitir que se complete a vitória contra os inimigos. À voz de Jesus Cristo, a verdadeira religião, mais fulgurante que o sol, há de alumiar sem crepóscu lo as nações e anunc iar a derrota de satanás. "Os sábios conselhos de Josué compendiaram a hi stória da nação judaica, amaldiçoada ou abençoada por Deus conforme a sua fidelidade. Assim, a lei cristã, promulgada por Jesus Cristo, será para todos os povos um penhor de prosperidade ou de decadência, conforme sejam os seus preceitos observados ou recusados"(*) .
·-,.,, \ SIMEÃO
São Josué - Esse indomável batalhador, que exterminou tantos inimigos do povo eleito, foi colocado entre o nómero dos santos, constando do "Martirológio Romano". Sua festa celebra-se a 1º de setembro. Nota: (*) Mons. Cauly, Curso de Instrução
Divisão do território de Canaã entre as tribos de Israel
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Religiosa - História da l?eligião e da Igreja, Livraria Francisco Alves, São Paulo, 1913, p.9 1
O, CLASSIFICANDO...
C. A.
Q
uantas vezes, ao longo de sua meritória vida, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira denunciou a existência dos sapos. Quer em conferências, quer em artigos para a imprensa diária, ele estigmatizava certo gênero de ricos, freqüentemente ricaços, os quais, por meio de suas prósperas empresas, mantinham o comunismo no mundo. Eram os sapos. E os sapos mostravam-se tanto mais generosos com o. credo vermelho quanto mais este se manifestava débil e sem apoio popular. Até o fim os sapos tentaram salvar o comunismo na Róssia. E hoje em dia não medem esforços para manter o marxismo na China, onde instalaram poderosas empresas ocidentais, que fortalecem o antinatural regime com unista.
Na própria Cuba, onde a duras penas subsiste uma população sofrida e quase desesperada sob um regime que a aprisiona e maltrata, os sapos investem rios de dinheiro, que ajudam a manter no poder o vacilante Fidel Castro.
Agora urna notícia que nos chega mero, ao menos não diminuísse. O que da França (cfr. "Gazeta Mercantil", S. se deu foi o contrário. Paulo, 7-2-96) é sintomática. A fim de M uitos dos franceses que, num pri melhor compreendê- la, ten hamos e m meiro momento, se haviam impressiovista a famosa revonado pela propalução anarquista da ganda anarq ui sta, Sorbonne, em Paris, com o passar do A história se repete. de maio de 1968, tempo e a reflexão Capitalistas tentam cujas bandeiras neforam deixando um gras exigiam um cosalvar jornal vazio em torno de munismo radical. "Libération". comuno-anarquista Entre outras muiEm 1981 o jortas manifestações de nal cessou de circuseu espírito, essa relar. E já estava no volução levou Serge July, professor estaleiro havia três meses quando suuniversitário simpatizante do maoísmo, biu na França um presidente socialisa fundar, juntamente com o conhecido ta, François Mitterrand. Com os nofilósofo comuno-existencialista Jean vos ares de esquerda, o jornal se rePaul Sartre, uma agência "alternativa" compôs,já agora adm itindo publicidade notícias. de de empresas capitalistas, que se proEles a chamaram "Libération" , punham ajudar o diário anarquista. como símbolo da libertação que deseAdemais, para manter "Libération", javam promover em relação à socieda- ricos investidores compraram suas de conservadora e burguesa. ações. Porém, à medida que os comunoA maior parte dos jornais franceanarquistas de J 968 iam envelhecendo, ses passou a assinar essa agência, dan- as gerações mais jovens não queriam sado assim um poderoso auxílio ao mober de "Libération". vimento anarquista que procurava exO jornal passou por várias crises pandir-se. financeiras. O ónico meio de salvá-lo O desenvolvimento da agência le- foi um plano oferecido pelo capitalista vou seus organizadores a lançar, cinco Jérôrne Seydoux, presidente do podeanos depois, um jornal diário que de- roso grupo Chargeurs, que atua nos veria ser uma bande ira de suas cren- setores têxtil e de entretenimentos. O ças político-sociais. O nome foi con- plano comporta uma injeção de 70 miservado: "Libération". lhões de francos, e conta com apoio do A organização interna do novo veíveterano maoísta Serge July. culo de imprensa marxista refletia sua Evidentemente o diário terá de faideologia: todos receberiam o mesmo zer concessões para sobreviver. Os jorsalário, a administração seria feita co- nalistas comunistas espernearam, mas letivamente e não haveria publicidade não tiveram opção, e acabaram por capitalista. aceitar a polpuda esmola capitalista Entretanto, parece que os promoto- como ónica tábua de salvação. res de "Libération" não calcularam Mais uma vez o capitalismo salva bem que seu jornal deveria viver de um um jornal com uno-anarquista. Os sapóblico que, se não crescesse em nó- pos, mais uma vez os sapos!
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Brasil Real , Brasil Brasileiro
Benquerença PAULO HENRIQUE CHAVES
um sábado de manhã, muito frio e com um chuvisco persistente, batemos à porta de Trajano. Tanto o nome quanto o coração, como veremos, nada têm a ver com o Imperador romano pagão do século II. Fortemente gripado, "o último dos peões da região" estava acamado. Mas como se tratava de "gente que vinha de Longe", segundo ele, vestiu-se a rigor e veio nos atender com afabilidade e galhardia. Com a voz forte de quem, anos a fio, gritou para boiadas e enfrentou o soprar de minuanos, falou-nos das suas habilidades: - Sei fazer tudo quanto é serviço relativo à pecuária, cercas e alambrados. Toso na máquina, toso no martelo. Arame não tem tipo, faço qualquer espécie de casa. Dizem por aí que sou um dos melhores laçadores da região. Bah! Já ganhei muitos concursos de laço de sete metros e meio. Nenhum aqui dentro do assentamento sabe mais do que eu sobre a vida do campo. Sabem dirigir trator, caminhão, mas isso não é do meu tempo! Tanto que não aprendi a ler nem escrever, mas não morri de fome! Mas o Trajano é muito mais do que isso. Ele é um exemplo de lealdade, de benquerença, daquela forma de afeto que já foi a regra entre patrões e empregados, e da qual hoje só restam os poucos resquícios que a Revolução igualitária não conseguiu ainda destruir. Trajano Oliveira, 68 anos, natural de Bagé (RS), há 25 anos na região de Guaíba, declara-nos ter trabalhado sempre como capataz, desde seus 18 anos. Não havia completado 10 anos quando perdeu os pais. Com a ufania
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própria de um gaúcho da fronteira, Trajano vai contando o que aconteceu com ele: - Trabalhei apenas para três patrões. E nesses últimos 25 anos, apenas para os Krebs, o pai e depois o filho. Cheguei a ter mais de 200 reses entre bovinos e ovinos, além de possuir uma casa na cidade de Rio Pardo. Só agora, com esta história de reforma agrária, fiquei sem patrão. - Como era a sua situação antes da reforma agrária, e como ficou depois dela? -Eu, para te falar bem a verdade, tive muito dinheiro. Eu tirei muito dinheiro, isso é verdade. Hoje estou aposentado, e minha aposentadoria é de 142,00 reais. - Com a reforma agrária a sua situação melhorou ou piorou? - Eu nunca ouvi ninguém dizer que tenha melhorado. Para mim isso piorou. Recebi também um pedacinho de terra, não sei se são cinco ou dez hectares, ainda não está definido pelo INCRA. Sou capaz de criar gado, porco, todo bicho que der... - ... Mas nesse pedacinho de terra? - Ah, não dá! Aí só dá para colocar duas vacas de leite e um cavalo para andar. - O negócio não foi tão vantajoso assim? -Qual nada! Mas que esperança!!! E, com voz pausada, repetiu: -Mas que es-pe-ran-ça! ! ! A situação do Sr. Trajano, como assentado desiludido, não é a única, como ele mesmo o diz: "Nunca ouvi ninguém dizer que tenha melhorado". No entanto, a reforma agrária é feita e propagandeada como tendo o objetivo CATOLICISMO -
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de resolver o problema dos pobres, que não têm terra para trabalhar. Resolve? "Mas que esperança!!. .. " Nos laboratórios de elaboração da propaganda igualitária, com marxismo ou sem ele, parecem ignorar que uns homens foram criados para mandar e outros para serem mandados, uns para possuir muitos bens e outros para possuir apenas o necessário, ou até para depender da caridade alheia. Muitos há que, sem dispor de um superior que lhes dê ordens e diretrizes necessárias, não conseguem dar um passo depois do outro. Parece ser o que está acontecendo no assentamento onde Trajano se encontra. - Sr. Trajano, poderia falar-nos sobre suas relações com o antigo patrão? - Boas. E continuam boas, graças a Deus. -Ele pagava direitinho? - Direitinho. - Quem é seu patrão agora? -Estamos esperando pelo patrão; não tem mais ninguém. -No tempo em que havia patrão era melhor? - Bah! Bem melhor! Praticamente, depois que perdemos o patrão, não temos mais recursos para trabalhar. - O que é que os assentados têm produzido aqui? - Aqui nunca tiraram nada. Chegaram a fazer grupos para trabalhar, mas nunca ninguém tirou nada. - Nem mesmo em grupo conseguiram produzir? - Bahhh ! Uns vão trabalhar e outros vão passear.. . - O INCRA não dá recursos para os assentados?
- Dá uma ajudazinha do PROCERA (*) por ano. - Quais são as condições para se pagar esse financi amento? -Na verdade, a gente não paga. - É fundo perdido? Quer dizer, o Sr. nunca pagou o PROCERA? - Não. Nem eu pago e nem ninguém aqui. Vai completar dez anos que a terra foi desapropriada, e todo ano sai o
recebemos. Ficou pobre. A terra que recebemos não dá para trabalhar de jeito nenhum, pois é muito pequena, e muitos já venderam seus lotes. - Mas por que tamanha injustiça? -Coitado! Eis o que os artífices da Revolução igualitária não conseguem entender. Há e ntre superiores e inferiores certos vínculos de respeito e confiança, de ajuda mútua, de gratidão, de lePROCERA. aldade, de benquerença, que não Na condição de "assentase podem medir nem compredos", sem o direito de proprieender com os parâmetros de quem tem a mentalidade igualidade, pois não podem sequer vender a outros as terras que tária e sociali sta. Ao promover ocupam, e nem têm mesmo a o nivelamento, a reforma agrácerteza de que no futuro as terria expulsou da condição de ras lhes pe1tencerão de fato, falmando aquele que tinha aptidão ta-lhes o mais elementar estípara isso. Tentou nivelar, e mulo para progredir, para procriou uma nova condição de deduzir, para melhorar as condisigualdade com os sinais inverções do terreno. Trajano, destidos. confiado, ainda mantém alguSó vínculos estáveis e duraTrajano Oliveira, "o último dos peões" do Rio Grande do Sul ma esperança, apesar dos seus douros, inspirados por senti68 anos: mentos nobres de gratidão, con- Agora, o Governo está medindo fiança, lealdade, podem gerar esse tipo para o levantamento que fazíamos, mas as terras e dando os títulos provisórios, que na verdade apenas confirmavam o de sacrifício desinteressado que enconcada um com seu pedaço. Deveremos que já exaustivamente havíamos constramos no Sr. Trajano. pagar imposto, etc. tatado, não só na região, mas nos prinEra esse tipo de vínculo que unia as - Mas vai dar mesmo? cipais assentamentos de Norte a Sul do pessoas no antigo ambiente rural brasi- Dizem que vai dar, mas entre diPaís: fracasso generalizado, desilusão leiro, hoje infelizmente quase inte irazer que vai dar e dar de fato tem muita completa. mente extinto. Extinto por quem? Por distância. De qualquer modo, o título Mas tínhamos algo muito mais imquê? Para quê? A resposta a estas perdefinitivo, segundo e les, só sai daqui a portante para perguntar ao Sr. Trajano: guntas nos levaria muito longe. Mas dez anos. - O seu ex-patrão está em situação este, e não outro, deveria ser o teor das relações num Brasil que fosse realmen-Porque vocês estão sem luz aqui? difícil? -Simplesmente porque o transfor- Bah! Sempre foi difícil. Mas o te brasileiro. mador queimou, e não temos dinheiro que o governo fez com ele, praticamenO chimarrão não podia faltar, sobretudo naquela fria manhã. Convidou-nos para mandar consertar. Isso vai custar te ... Precisava ver quando esse pessoal uns mil e quinhentos reais, mais ou meo Sr. Trajano para urna rodada, apesar assentado entrou aí, Deus o livre! Tinos. Eu não vou vender uma vaca mide não estarmos habituados. Ao nos desnha pistoleiro e tudo mais. pedirmos, aconselhou-nos a visitar o asnha para pagar isso aí. Vou deixá-la para - Ouvi falar que, quando o Sr. resentamento. Mas, sobretudo, que não um dia em que eu estiver doente, por cebe dinheiro de sua aposentadoria e do exemplo. INCRA, o Sr. o divide com o ex-pa- deixássemos de falar com o Sr. Carlos Ao entrevistar o Sr. Trajano, estáFrederico Krebs, seu antigo patrão. trão. vamos interessados em conhecer todos -Uhh! Chih!! Bah!!! Poisseele Nota: esses dados sobre o assentamento, que não tem o que comer!!! Ele ficou apeele de bom grado e espontaneamente nos nas com uma gleba, como nós, mas ele (*) Programa de créd ito especia l para a Reforma forneceu. Dados valiosos e muito úteis não recebe as ajudas do INCRA que nós Agrária CATOLICISMO -
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ÍÍD.r. Milton morreu de pé!"" O lllundo llloderno illlpede o recolhilllento interior "Parece que tudo se tenha coligado para tornar difícil e até impossível ao homem e ao cristão salvaguardar a dignidade de sua pessoa. A técnica, os métodos de anúncio e propaganda, do rádio e do cinema não dão mais descanso algum aos sentidos, e impedem desse modo todo acesso ao recolhimento interior. Cria~se um tipo de homem que não suporta mais permanecer, uma hora que seja, só consigo e com Deus. A vida em sociedade é caracterizada por múltiplas interdependências do indivíduo e da família em relação ao poder público, os controles técnicos, econômicos e sociais, os centros e os organismos. A vida nas grandes cidades determina de urna maneira cada vez mais indiscreta a forma de existência humana; o indivíduo é continuamente reabsorvido pela massa".
Pio XII, carta à presidente da União das Mulheres Católicas Alemãs, de 17-7-1952
Continuam chegando à Redação de Catolicismo expressivas cartas a propósito da edição especial (novdez/95) sobre a vida e obra do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Transcrevemos a seguir tópicos de algumas dessas cartas. Como é bom a gente ter em mãos uma leitura tão agradável para nossa vida quotidiana. Apesar de tantos atropelos, ainda existem pessoas estimáveis como o Sr. Plinio. (F. G. M. - Itabira-MG) Agora falo do saudoso Dr. Plinio Corrêa de Oliveira. Estou lendo e admirando a revista que fizeram em sua memória, uma bonita homenagem a quem tanto fez pelo catolicismo. Deus o tenha a seu lado, e a Virgem Maria o cubra com seu manto, para que ele goze de todas as alegrias no Céu. Deus deve ter guardado um lindo lugar para ele. Dr. Plinio, descanse em paz! (M. N. C. - Rio de Janeiro-RJ) Gostaria também de fa ze r parte dessa maravilhosa e poderosa organização, depois de ler a revista "Catolicismo"
e ver(ftcar a passagem desta vida do vosso mui Eminente Sr. Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP Estou deveras muito ansioso para me engajar nesta trajetória do ilustre e saudoso líder católico brasileiro, que muito nos orgulha. Obrigado, Pai do Céu, por nos ter dado esse leigo católico como exemplo de viela a seguir. (E. M. - Bento Gonçalves-RS) Nós brasileiros perdemos um grande amigo, que foi o Exmo. Sr. Plínio Corrêa de Oliveira. É imensa a falta que ele vai nos fazer. Mas acredito que, lá do Céu, ele continuará fazendo todo o bem que lhe for possível para o bem de nosso querido Brasil. Se todos os brasileiros pensassem como o nosso saudoso e inesquecível Sr. Plínio, seria ótimo! Lembreime de sua santa alma e celebrei pelo seu eterno descanso, e não me esquecerei de sempre celebrar o Santo Sacrifício em troca dos bens operados por ele, durante sua existênci a no mundo de Deus. Espero que o Sr. Plínio, lá do Reino da Glória, vai rogar ao boníssimo Deus pela nossa vitória em favor das crianças brasileiras e de todos os países. (M. S. -Sabinópolis-MG)
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O DIA 18 de março último, vigília da Festa de São José, Padroeiro da Boa Motte, faleceu em São Paulo Dr. Mi lton Luiz de Salles Mourão, vogal da Diretoria Administrativa e Financeira Nacional da TFP. Dedicação exemplar
Nascido em Belo Horizonte em 1926, desde muito jovem pertenceu à Congregação Mariana da Catedral da Boa Viagem. Engenheiro construtor pela Faculdade de Engenharia da UFMG, teve seu primeiro contato com Catolicismo em 1954, ocasião em que conheceu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Sua vida tomou outro alento. Se antes já era devoto de Nossa Senhora, a exemplo de Dr. Plínio consagrou-se a Ela como escravo, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort descrito no "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem". Quis a Providência que Dr. Milton não fosse vítima da voragem que atingira a Igreja Católica, provocando devastações incalculáveis. Como leigo, decidiu consagrar toda sua vida à luta em defesa da Santa Igreja, e trabalhou intensa mente para a expansão da TFP. Em 15 de agosto de 1965, dia da Assunção de Nossa Senhora, o Prof. Plínio Corrêa de OI iveira fundou a Seção Mineira da TFP, e Dr. Milton foi indicado para a Diretoria Seccional, cargo que exerceu com dedicação durante mais de uma década. Tendo em vista os esmerados serviços prestados à TFP brasileira, foi convidado a colaborar na nascente TFP Francesa, e lá permaneceu de l982 a 1985. No país de Santa Joana d' Are, descobriu que um câncer lhe atingira as cordas vocais. O agravamento desta enfermidade o levaria à m01te, doze anos mais tarde. Em 1984, submeteu-se à primeira de uma lon-
Dr. Milton em sua juventude
ga série de cirurgias, e em 1985 fixou-se definitivamente em São Paulo. Além de continuar colaborando ativamente com o Secretariado Nacional de Correspondentes, passou em 1988 a ocupar o cargo de vogal da Diretoria Administrativa e Financeira Nacional. Foram oito anos de preciosa colaboração, não tendo faltado neste período a uma só reunião plenária da Diretoria. Os 70 profícuos anos da existência de Dr. Milton Luiz de Salles Mourão foram pontilhados por atos de generosidade, dedicação e entranhado amor à causa à qual se entregou. Longo Calvário
"Dr. Milton moJTeu de pé". Esta é a opinião coJTente entre os membros da TFP. Os dois últimos anos constituíram para ele um calvário, que soube enfrentar com varoniliCATOLICISMO -
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dade cristã. Tomou a sua cruz, osculou-a e a carregou até o último momento, sem dar um gemido sequer. Doente como estava, com o câncer que havia tomado boa prute do seu pescoço, não faltou a nenhuma reuni ão, a nenhum compromisso. Se era dia de reunião, impressionava vê-lo chegar, apoiado nos braços de um sobri nho. Assistir ao Santo Sacrifício da Missa era para ele um dever sagrado, não importando a dimensão dos tormentos físicos que isso lhe custasse. A doença atingi u toda a parte superior do aparelho digestivo e, em conseqüência, no último mês de vida, estava impedido de se alimentai· por via oral. Maior do que as dores físicas, essa situação lhe exigiu um outro sacrifício, que era abster-se da sagrada comunhão diária, hábito ao qual sempre se mantivera fiel desde jovem. Se ele edificara os membros da TFP por sua dedicação dmante a vida, os seus últimos momentos mru·carrun indelevelmente a vida da TFP. Edificou a todos, desde os mais veteranos até os mais novatos. A reza e a meditação dos quinze mistérios do rosário, a comunhão espiritual e a solicitude de sacerdotes amigos foram seus últimos consolos espirituais. Varonilidade
Exemplo admirável no enfrentar as adversidades da vida, não se deixou abater nem desanimar, o que levou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, certa vez, em reunião para cooperadores mais jovens, a afirmar: "Homem, é o Milton!". Em outra ocasião, assim o elogiou: "Consola-me ver o Milton enfrentando a vida e as adversidades como um 'galo ele briga', ao contrário ele outros que aparecem com asfisionomias abatidas e com cara de quem tem pena ele si mesmo". Dr. Milton, que "nos precedeu com o sinal da fé e dorme o sono da paz", reze pornós. 25
TFP em Feiras de Livros
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TFP reúne correspondentes e simpatizantes
1- Na 5ª Avenida de Nova York Com atraentes e vi sitadíssimossta nc/s, a TFP norte-a meri ca na esteve presente na Feira do Livro de Nova York , oferecendo várias de suas obras. Tal fe ira reúne grande públi co em torno da be la e famosa catedral Saint Patrick, em plena 5ª Avenida. A presença da TFP norte-a meri cana na fe ira faz parte de uma grande ca mpanha daqu e la e ntidade para a difu são de suas publicações e m todo o território dos Estados Unidos.
Em dois fins-de-semana consecutivos de abril, a TFP reuniu em São Pau lo cerca de mil correspondentes e simpatizantes. Provenientes desde a Bahia até o Rio Grande do Sul, além de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal, eles participaram entusiasticamente de todas as palestras e audiovisuais, assistindo também com especial agrado a duas apresentações teatrais. À direita, participantes examinam obras lançadas pela TFP.
li - Em Santiago do Chile A TFP chil ena parti c ipou recenteme nte da Feira Internac ional do Livro de Mapoc ho, e m Santiago do Chil e. A tradicional reira teve 130 ex pos itores, com a presença de mais de 200 mil pessoas . O stand da TFP andina fo i muito visitado.
Ato de gala no Peru A 560 quilômetros ao norte de Lim a- em Trujillo, aristocrática cidade peruana famosa por suas mansões -, realizo u-se concorrida reunião, na qual o Núcleo Peruano Tradição, Família e Propriedade apresentou a seus simpatizantes o Iivro "Nobreza e elites tradicionais análogas", do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. A reuni ão, realizada na Casa de la Emancipación, cujo auditório estava repleto, foi aberta pelo Sr. Pablo Fandino, diretor da entidade. Sobre a repercussão internacional e importânc ia daquela obra fa lou o Sr. Arturo Hlebniki an, diretor do Bu reau das TFPs e organizações afins em Washington. Como convidado especial esteve presente o
Acima, obras da TFP despertam a atenção do píiblico na 5·'Avenida, em Nova York. Ao lado, stand da TFP chilena na 15ª Feira Internacional do Livro, em Santiago.
Cônego Rufino Benítez, que declarou no ato: "Tradição, Família, Propriedade são três estrelas, três pedras magnificamente incrustadas. O Prof Plinio, com este livro, fa z como o bom semeador do Evangelho, que lança a semente em terrafértil, e de cujo fruto a sociedade inteira se beneficiará".
A reunião foi concluída com a apresentação da fanfarra da entidade e com um cocktail. À esquerda, um aspecto da sessão ·solene.
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TFP chilena comemora Semana Santa Durant a última Semana Santa, o coro da TPP chilena cantou, em gregoriano, a Paixão de Nosso Senhor na Paróquia lo Santíssimo Sacramento, dos pach s sacramentinos, em Santiago. O mesmo conjunto musical recitou depois a Via Sacra de autoria do Prof. Plinio Corrêade Oliveira. O público (foto ao lado) acompanhou atenta e devotamente essa iniciativa de s ios e cooperadores da TFP chilena. CATOLICISMO -
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O leão leão da TFP alia, de modo muito agradável, três qualidades: muita força, movimento e muita leveza. Não se-tem idéia de um leão pesadão, nem carnívoro, nem feroz. Ao contrário, ele lembra elegância, fidalguia, fortaleza. Um leão que sabe ser cruzado. É esse conjunto um dos elementos do charme do leão. Outro elemento é a impostação da cabeça. Ele a tem alta, de modo altaneiro. Olha o inimigo de frente, e as garras vão avançando para o assalto. A cauda forma uma espécie de laçarote de vitória, como quem diz: "depois do ataque, vem a vitória". O fundo de um vermelho muito vivo fala de plenitude de vida, de vitória. Outro elemento está na cintura. O leão vai se afinando. Em vez de sei: uma figura abdominal , o busto sai de dentro da cintura quase como um chafariz. As pernas se abrem, simétricas e muito elegantes. Aquilo que encanta e entusiasma tem um charme grandioso. É esse o charme grandioso do leão rompante da TFP.
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(Texto sem revisão do autor)
AfOJLXCliSMO
Revolução e Contra-R'evolução
Nº 546-Junho de 1996
NESTA EDIÇÃO:
PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
Acima, cena típica da decadência medieval. Ao lado, Godofredo ele Bouillon, o vencedor ela li Cruzada.
A. Decadência da Idade Média o sécul o X I V co meça a observar-s:: na Eu ropa c ri sta, um a tra nsfo rm ação de mentalidade qu e ao l o ngo do séc ul o XVcresce cada vez mai s em nitidez. O apetite dos prazere s terrenos se vai tra nsfo rmando em ânsi a. As diver ões se vão tornando mais freqüen tes e mai s suntu osas. Os homen s se preocupam sc mpr • mais com elas. Nos traj 'S, nn s maneiras, na lin 1ua, ·111 , nu l iteratura na arte o an ' IO ·r ·scente I or um a vidu ·h · in d ' deleites da f'anta sia ' cios s ·n li clos vai produ:t.intlo pro •rcs sivas lllHnil' •stuço ·s d ' s 'nsuali dad ' ' 11101 '1/.a. 11 6 um pau-
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CATOLI 1SM0 - Junho
latin o dep rec imento da seri edade e ela austeridade cios anti gos tempos . Tudo tende ao ri sonho, ao grac ioso, ao fe sti vo. O s corações se desp rendem gradua lmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à C ru z, e das asp irações de sa ntidade e vida etern a. A Cava lari a, outrora uma elas mai s altas expressões da austeri dade cri stã, se torna amorosa e se ntim ental , a liter atura de amor in vade todos os países, os excessos cio lu xo e a co nseqüente av idez de lucros se estend em por todas as classes socia is. Ta l cli ma moral , penetran do nas esferas in telectua is, produziu claras manifestações de orgulh o, como o gosto pelas d isputas aparatosas e va zias, pelas argúcias inconsistentes, pelas ex ibições fátuas ele eru dição, e li sonj eou velhas tendências filosófi cas, elas quais triunfara a Escolástica, e que j á agora, relaxado o antigo z lo pela in tegrid ade da F6, renasciam cm asp ctos ·novos. O abso luti smo dos 1,, islas, que se n •,danavam ·om um conhe·in, ·nt o va idoso do D ireito Romano, ·nconlrou em Príncipes umbi ciosos um eco favo rável. li pori-passu fo i-se exti nguindo nos gra ndes e nos peq uenos a f'ibra ele outrora para conter o poder rea l nos legítimos I imites vigentes nos dias de São L uís de França e ele ão Fernando de Castela. D
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REVOLU ÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO
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A REALI DADE CONCISAMENTE
PALAVRAS DE VIDA [TERNA
Comentá rios sobre os Evangelhos
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I IAGIOG RAF IA
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Santa Te resa dos Andes
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ENTREVISTA
Liberação das drogas expõe sociedade ao crime
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HISTÓRIA SAGRADA
EFEM[ RIDE
BRASIL REAL, BRASIL BRASILEIRO
Pe. Gervásio Gobato: 25 anos de sacerdócio
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João Paulo li: o brasileiro ama os sinais exteriores da fé
HISTÓRIA
Desmitificação de preconceitos contra a Idade Média
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VCRDAD[S ESQUECIDAS DESTAQUE
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TFPs EM AÇÃO
NACIONAL
Livro
A face oculta do Movimento dos Sem-Terra
da TF P repercute
no Congresso
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TFP manda celebrar Missa NA CAPA: Com rifle e capuz , semem terra vigia acampamento Curionópoli s, Pará. Foto : Edimar Farias/O Liberal, Belém.
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A REALIDA
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Drogas: as raízes verdadeiras da prevenção e a repressão legal
Estranha construção nos Urais A Rússia está construindo um imenso complexo militar nos Montes Urais. Ela não tem dinheiro para pagar salários e pensões, mas gasta sem limites para concluir tal complexo. E não explica o motivo. Milhares de pessoas trabalham ali. Um alto funcionário do Governo noite-americano observou: "Não podemos dizer com certeza o objetivo, e os russos não estão muito interessados em nossa ida lá". Este não é o único fato. É um sintoma de uma realidade bem mais ampla: o otimismo superficial causado pelo suposto fim da Guerra Fri a vai minguando.
Alegrià dos brasileiros pobres surpreende europeus Diretores do Adveniat um programa de ajuda dos católicos alemães para a América latina - visitaram o Nordeste bras ileiro. Tinham eles ouvido muito a respeito da mi sé ri a no Bras il e da inco nfo rmid ade dos setores mais modestos da popul ação. Julgavam encontrar ressentimento e revo lta nas ca madas menos favorecidas, mas observaram outra coisa bem diferente. Os alemães ficaram ad mirados com a hospitalidade dos brasi-
leiros pobres. "Parece irracional. Não entendo com.o essas pessoas são tão alegres, quando deviam chorar", comentou Dom Dieter, um dos membro da comi ssão, Ele não entende, mas nós entendemos: a luta de classes não pegou aqui. Ela é artificial, fruto de custosas e ingentes técnicas de agitação social, e só consegue sobreviver em ambiente de estufa. A bondade e a bonomia brasileiras são uma barreira contra estas estufas do ódio.
Ligações do comunismo com o narcotráfico Na Colômbia, são contínuas as denúncias de ligação do narcotráfico com a guerril ha comunista. Também no Peru ninguém de conhecia as vinculações do Sendero Luminoso com o tráfico das drogas. Difu nde-se agora denúncia publicada no Los Angeles Times de 20-2-96: o Governo ucrani ano vendeu ou alugou uma frota de aviões de transporte AN-328 aos cartéis sul-americanos da droga. Nos aviões Antonov, produzidos numa fábrica estata l de Kiev, transportar-se- ia 4
cocaína da Colômbia e do Peru para o Panamá e o Méx ico, de onde seria levada para os E tados Unidos. O Antonov seri am conduzidos por pilotos mi li tare experi entes da Ucrânia e da Rússia, que conseguiriam evitar os radares e lançar com pontaria os pacotes da droga. Os arquivos aeronáuticos colombianos indicam que nos últimos anos foram registrados noveAntonov-328 no país, mas a polícia afirma que ex istem pelo menos doze av iões desse tipo. '
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Mesquita de alabastro do Cairo: símbolo do islamismo no Egito
Perseguição incruenta aos católicos no Egito No Egito, entre a população copta-católica, o maometanismo faz devastações. Há ali uma espécie de islamização forçada. A religião de Maomé é propagada pela rádio e televisão continuamente. Aqueles que querem obter um emprego público terão as portas abertas se abjurarem o Catolicismo. E, finalmente, alguns aderem ao maometanismo por querer abandonar a esposa e viver com outra mulher, pois a Igreja Católica não permite o divórcio. Constru ir uma capela católica é muito problemático.Além de uma autorização presidencial, ela precisa distar pelo menos 1.500 metros da mesquita mais próxima. Quando se inicia a construção, os muçulmanos começam a edificação de uma mesquita dentro dos 1.500 metros, e a construção precisa ser suspensa. Além disso, é necessário que o número de cristãos seja elevado no bairro, e que a população muçulmana das imediações não ponha obstáculos. Há outras exigências: longe de escolas, para não atrapalhar o trabalho dos alunos; afastada das vias férreas, porque o som dos sinos poderia perturbar o tráfego; distante do Nilo, para não comprometer seu curso, etc. Sobre tudo isto paira um silêncio cúmplice dos defensores dos direitos humanos no Ocidente!
A respeito do preocupante e tão comentado tema drogas, Catolicismo entrevistou duas importantes autoridades policiais de São Paulo , ligadas ao Departamento de Investigações sobre Narcóticos (DENARC) da Polícia Civil estadual: Dr. Marco Antonio Paula Santos, Diretor da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes, e Dr. Edemur Ercilio Luchiari, da Divisão de Prevenção e Educação. Dr. Marco Antonio é responsável pela repressão ao tráfico, enquanto Dr. Edemur se dedica a atividades relacionadas com a saúde pública, por ele mesmo qualificadas de "não típicas da polícia, mas necessárias por força das circunstâncias'. Ambos vêem com reservas a possibilidade de liberação do uso de certas drogas, como a maconha, ou mesmo a eliminação da punição penal para o simples uso de entorpecentes. Consideram que a atual lei possui qualidades, embora necessite de alterações, mas destacam que o Poder Público não adotou medidas para implementá-la, de modo que alguns dos seus aspectos fundamentais jamais foram aplicados.
Entrevista com o Dr. Edemur Ercílio Luchiari
Quando nas f amz1ias existe religiosidade, a presença da droga é seguramente . menor
Carismáticos católicos descambam para o protestantismo Pesq uisa do Centro de Estatística Reli giosa e In vestigaçõ s Sociais - CERIS -constata que muitos seguidores da Re11011arao Carismática estã a ! •rindo a seitas pentecostais prolcstantcs. "Os grupos de oraç<7o da Renovação Carismática seio 11111ito Junho de 1996
parecidos com alguns cullos evw1gélicos", observa And réa I amascena, pesqui sadora do ERIS. A falta de formação doutrinária e a decadência do senso de ortodoxia levam mui tos a ver em manifestações emocionais um sinto ma da ação de Deus. D
Dr. Edemur Ercíl io Luchiari CATOLIC ISMO -
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Catolicismo -O Sr. poderi a expl icar resumidamente o trabalho da Divisão de Prevenção? Dr. Edemur - Parte importante de nosso trabalho consiste em despertar nas pessoas, no público em geral, a idéia da necessidade da prevenção. Nesse senti do, reali zamos cursos, palestras, reuni ões abertas. Temos cursos de 30 horas, na Capital ou no interi or, para capac itar recursos humanos em prevenção. Temos cursos agendados até dezembro. Outro setor é o de encaminhamento de dependentes, o qual visa pôr em contato quem tem um problema relacionado com drogas, com quem pode oferecer uma solução: é uma equipe form ada por assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, que analisa o caso e proc ura encaminhar as pessoas para alguma entidade que possa cuidar do tratamento e dar ori entação. O elevado número de pessoas que nos procuram - no ano passado fora m 4.500 - tem levado o servi ço a ultrapassar sua capac idade. Catolicismo - Os Srs., portanto, não traba lham na área de repressão? Dr. Edemur - Não. Jamais utilizamos a intimidação, a ameaça da puni ção. Aliás, ex iste outro aspecto da prevenção, como efeito da atuação policial. É a prevenção resultante da repressão: o criminoso evita freqüentar ce1tos locais, evita a prática de certas condutas, por receio da presença da Polícia. Nossa atuação é na área de saúde pública,j unto a pessoas que se apresentam espontaneamente, e se divide em três fases : na prevenção primária, trabalhamos para que as pessoas não faça m uso de substâncias que causem dano à saú5
de; na secundária, procura-se ev itar que pessoas, já iniciadas no uso de drogas, cheguem a situações dramáticas; na terciária, tenta-se evitar que usuários crôn icos e dependentes de drogas cheguem a situações ainda mais graves e à morte.
Catolicismo -Então, ao contrário do que muitos pensam e do que diz certa mídia mal-informada, a polícia não se li mita à repressão. Dr. Edemur-A atividade policial é principalmente repressiva. E la está calcada em uma legislação que determina que se procure o criminoso, aq uele que cometeu um cúme. E que não se limite a ir buscá-lo com flores e com tapinhas nas costas, mas com a energia necessária. Agora, é preciso convir que as pessoas que estão envo lvidas com o problema drogas geralmente ficam mais angustiadas à noite. Nesse horário, só há dois caminhos à disposição na rede pública: os pronto-socorros e a polícia. De modo que deságuam na Polícia muitos problemas que não são próprios à atividade policial. Às vezes é um pai que vem pedir a um de legado que dê "um susto" em um filho. Isso é um absurdo, não é próprio à Polícia desenvolver tais atividades. É um absurdo do ponto de vista terapêutico e um abs urdo do ponto de vista jurídico. O fato de alguém ter um problema de saúde não leva à necessidade de atuação repressiva. Esse cidadão está necessitando de t:ratamento, não de p1isão. Mas o fato é que pessoas envolvidas com o problema vêm pedir ajuda à Polícia. Foram circunstâncias dessas que levaram à criação desta D ivisão, para suprir uma deficiência da sociedade, em razão da qual essas pessoas não tinham a quem procurar. Catolicismo - O Sr. se referiu às famílias que vêm pedir ajuda à Polícia. Não está oco1Tendo uma migração de responsabilidades, no sentido de que a famfüa deixa de zelar pela educação dos filhos e, quando o problema já se torna muito grave, recorre à Polícia? 6
A engrenagem do narcotráfico no Brasil, em particular em São Paulo, baseia-se no que denomino o microtraficante. Esse é também um usuário, e porta sempre pequenas quantidades de droga. Vamos encontrar, na maioria das vezes, microtraficantes que se confun dem com o simples usuário, entregando a droga diretamente ao consumidor. Tudo isso está baseado em uma estrutura forte, violenta. A e liminação de pena criminal para o porte de pequenas quantidades iria praticamente liberar o tráfico, porque não teríamos como repr imir o microtraficante.
Dr. Edemur - Não só a família, mas a escola e a comun idade. Se a família e a comunidade fizessem sua parte, a Polícia talvez não precisasse dar um pedaço de si para essa atividade. Catolicismo- E as tentativas de resolver o problema das drogas por mudança na legislação? Dr. Edemur - É muito fác il dizer onde está a so lução, procurandoª fora de si. É fácil dizer que a solução é mudar a lei, pois se com a atual lei não solucionamos determinado problema, aparentemente qualquer lei nova será melhor que a atual. Mas é necessário fazer certa análise: na verdade a lei atual não foi aplicada, a não ser nos aspectos jurídico-penais e processuais-penais. As determinações legais relacionadas com a família, a escola e a comunidade ficaram no papel. As relacionadas com a área da saúde, do tratamento de dependentes, ficaram restritas a pequenos avanços em alguns setores. Houve também grandes avanços nas clínicas particulares. A lei deve ser aprimorada, mas usar a desculpa de que é necessário mudar a lei para mudar as coisas, isso não é assim. Catolicismo - O que leva alguém a procurar as drogas? E las atingem mais os pobres ou os ricos? Dr. Edemur - Infelizmente adroga é a substância mais democrática que existe no mundo. Ricos e pobres a utilizam. O rico usa droga cara, o pobre usa droga barata, mas todos os que vão a elas, vão por motivos íntimos, pessoais, em gera l decorrentes de redução de seus valores, de problemas fa mili ares , problemas pessoais. O indiv íd uo busca em substâncias externas a so lução de problemas internos. Enquanto o cidadão ficar restrito a valores materiai , externos, dificilmente vai defender sua saúde. Nesse sentido, verifica-se que, quando nas famílias existe religi sidad , a presença da droga é seguramente menor. D •
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Dr. Marco Antonio de Paula Santos
Entrevista com o Dr. Marco Antonio Pau la Santos
Catolicismo - O Sr. tem dito que a eliminação da pena criminal para o porte de pequenas quantidades de drogas vai favorecer o tráfico. O Sr. poderia explicar por quê? Dr. Marco Antonio - Primeiramente, é preciso ver qual a razão de se proibir o uso de drogas. Não se proíbe pelo simples d sejo de proibir. Proíbe-se o uso de maconha e de outras drogas porque elas são nocivas para a saúde pública. A ciência demonstrou que o uso de qualquer substância entorpecente faz mal para o organismo. As drogas têm ainda uma agravante: tendem a produzir dependência. Assim, seu uso vai se estendendo a setore cada vez mais amplos da sociedade. Por isso, é um problema de saúde públi a.
Catolicismo - Mas dizem que é nociva a ap licação de pena de prisão ao simples usuário. Ainda mais com nosso sistema prisional totalmente falido. Dr. Marco Antonio - O nosso problema pen itenciário é de fato grave. Porém, não ati nge o simples usuári o de drogas. E u não con heço um caso de usuário de maconha, o u outro tipo de droga, que tenha cumprid o pena. É diferente se a pessoa tem um crime anterior, ainda que de outra natureza, seja contra o patrimônio - furto, por exemplo- , seja contra a vida. Nesse caso, a pessoa pode ficar recolhida à prisão até a decisão judicial, porque a lei proíbe a concessão de fiança. Do contrário, o delegado estabelece uma fiança - que, em geral, varia de R$ 11 ,00 a R$ 110,00 - e ele sai da delegacia para aguardar o julgamento. Além disso , a atual lei prevê que o juiz pode determinar que o dependente de drogas, em Iugar de receber pena, seja submetido a tratamento. Mesmo as penas leves são normalmente cumpridas em liberdade. O simples usuário não será misturado com outros criminosos. O que não podemos admitir é que, ao se eliminar a incriminação do usuário, se libere, em conseqüência, o tráfico. A atual lei antitóxicos (lei 6368/76) é um a lei boa, moderna, que precisa de alguns reparos.
A eliminação de pena criminal para o porte de pequenas quantidades de drogas iria praticamente liberar o tráfico
"É preciso que os ,,ais clesenvolvam nos filhos uma barreira moral contra a droga"
Por exemplo: trata da mesma forma o traficante que vende uma porção de maconha, na esquina, e o que traz duas ou três toneladas do Nordeste. Devemos criar uma figura intermediária entre a do artigo 16 (que trata dos dependentes) e a do 12 (que pune o tráfico).
Catolicismo - O Sr. não julga que a discussão em torno do assu nto tem se cingido muito ao aspecto técnico, ao âmbito das ações governamentais, esquecendo os aspectos morais e o problema da família? Dr. Marco Antonio - De fato, países muito mais adiantados que o nosso já chegaram à conclusão de que o problema das drogas não se resolve à base de repressão. Alguns deles até fazem uma repressão séria, mas sabem que a CATOLICISMO-
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solução está sobretudo na prevenção, na conscientização da sociedade de que a droga é um mal. Por outro lado, quem procura as drogas, em geral o faz por vontade própria, por curi os idade. Aquela história de que o traficante fica na porta da escola, com um carrinho de pipoca, aliciando jovens para torná-los usuários de drogas, é fo lclore! Pode acontecer como exceção, não como regra. A única forma de se imped ir o jovem de procurar a droga é pela orientação, pela educação. E o ambiente ideal para esse trabalho é a fa mília. Os pais precisam ser orientados e precisam ficar atentos, porque, em geral, eles são os últimos a saber que seu filho está envolvido com drogas. Há mudanças de comportamento que é preciso observar. Mas, sobretudo, é preciso que e les desenvolvam nos filhos uma barreira moral contra a droga. Veja, por exemplo, estes dados: em 1994 ti vemos 2,3 toneladas de maconha apreend ida; em 1995, apenas uma tonelada e meia. Isso se deve ao fato de que algu ns expoentes de nossa sociedade estão defendendo a liberação da maconha. Com isso, diminuem as denúncias contra este tipo de droga, que passa a ser vista com naturalidade pela sociedade em gera l.
Catolicismo - O Sr. vê relação entre a desestruturação fam iliar (decorrente de divórcio e amor livre) e o aumento na utilização de drogas? Dr. Marco Antonio - Na medida em que o jovem perde o vínculo fami liar, perde aque la noção de que existe o pai, a mãe, ele perde os parâmetros, fica solto no mundo. Não tem mais a quem seguir, de quem receber apoio, perde o modelo ideal. Essa é a porta: depois que ele perde esses parâmetros, a tendência é procurar o prazer. E as drogas, de forma enganosa, trazem prazeres. Alia-se a isto o fato de que, na medida em que o jovem se afasta da famíl ia, mais ele fica sujeito a se aproximar das pessoas que têm interesse na O propagação do uso da droga. 7
PÁGI
A estandardização é nociva ao valor espiritual do trabalho Desde o século passado a sociedade moderna vê aparecer uma verdadeira floração de novas profissões. As aplicações da mecânica e da eletricidade, cada vez mais surpreendentes e variadas, trouxeram consigo uma radical modificação nos antigos métodos de trabalho; transformaram e renqvaram muitos setores da economia. Porém, esta evolução respeitou, em parte ao menos, um pequeno número de atividades, em particular as que atendem às necessidades mais fundamentais do homem: a alimentação e o vestuário. Vós vos achais entre estes privilegiados; pois merecem por muitos títulos o qualificativo de privilegiados aqueles cujo ofício se livra da servidão da produção em massa, da estandardização do trabalho, tão nociva a seu valor espiritual.
Pio XII, aos Congressistas da Federação Internacional de Mestres Alfaiates, em 10-11-1954
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Guerrilha zapatista: mistificação propagandística adeu Reis, paulista ele 29 anos, era pelista. Mas queria mais. Queria participar do que considerava uma luta heróica pela justiça social. Deixou emprego, namorada, família, e embarcou para o México. Resolvera aderir ao EZLN - Exército Zapatista deLibe1tação Nacional - que age na província ele Chiapas. Chegando lá, o que viu? Os índios ele La Realidad receberam o ingênuo Tadeu com desconfiança. Não e ntenderam muito por que estava al i. Enquanto esperava ser receb ido pelo Comandante Tacho , ia consumindo as bolachas e en latados que levara. Finalmente chegou o tal comandante e lhe di sse que não poderia participar da guerrilha, poi s esta era um movimento indígena. Mas pôde estar presente a algumas reuniões. E relata: "À noite eles.faziam reuniões para discutir os comunicados do Exército Zapatista. Os índios não debatem
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Marx ou Lenine. A guerrilha tem uma faceta mística muito.forte, ligada às tradições indígenas. Os mais velhos contam histórias, às vezes depois defumar maconha ou tomar peyote, um alucinógeno. Essas narrativas falam em deuses, mas terminam explicando aos mais jovens a história das comunidades". Um problema na guerrilha, segundo Tadeu, é que os índios espancam muito as mulheres. É preciso combater este mau hábito. Os índios não percebem a articulação revolucionária que os empurra para a contestação. "Eles acreditam. que tudo já estava definido pelo destino". O financiamento da guerrilha vem d velho método ela extorsã pela chantagem. "Os zapatistas cobram u111a espécie de imposto de guerra. Existe uma tabela, pela qual fa ze nde iros e co m e rciant es de Chiapas pagam mais ." •
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Certo dia Tadeu se encontrou com o c hefe visível ela guerri lha, o subcomandante Marcos. Tiveram uma conversa. Mas poucos dias depoi s Marcos mandou-lhe um recado, dizendo que ele preci sava irse embora. Tadeu já está de volta à sua casa em São Paulo. Pelo jeito, vai ter que se contentar com Erundina, Lula e Zé Dirceu . A receita da guerrilha zapatista é antiga: expl raros índios, criando a impressão, por meio de uma certa imprensa simpática, de que ex iste uma indignação popular. Para os líderes da guerrilha, a propaganda va le muito mais do que a realidade. A versão publicitária mentirosa, favorecedora do igualitarismo revolucionário, leva setores do público a acred itar que há uma crescente e irresistível insati sfação popul ar. E que então é melhor ceder aos poucos a essa onda do que procurar resistir. O
IANA
Refúgio dos pecadores PAULO FRANCISCO MARTOS
n~ _co nferências, ou reun1o es para soc ,os e cooperadores ela TFP, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira várias vezes afirmou que rezava freqüentemente as jaculatórias "Auxílio dos Cristãos, Refúgio dos Pec adores, Conso ladora dos A.flitos rogai por nós" . E recomendava que se fi zesse o mesmo com essas belas invocações a Maria Santíss ima, que constam da Laclai nha Lauretana. Neste artigo, desejamos comentar um belíssimo exemplo que co nfirma a jaculatória Refugio dos Pecadores.
E
Duas categorias de pecadores - Primeiramente convém distinguir duas categorias de pecadores, uma distin ção fundamental nos dias ele hoje. Há pecadores que detestam o pecado e admiram as a lmas virtuosas; quando têm a infeli c idade de cair, logo procuram reerguer-se e fazer penitência. Ex istem também - e hoje constituem uma legião - os que pretendem justificar o pecado, odeiam ou desprezam os que praticam a virtude. Assim, têm "obstinação no pecado" ou "negam a verdade conhecida como tal" , atitudes que constituem pecados contra o Espírito Santo. Os que procuram justificar seus pecados não recorrem a Nossa Senhora. E esse é como ensina São Luís Maria Gri gnion de Montfort - um sinal infalível de condenação eterna.
Os pecadores que reconhecem e lastimam seus erros devem sempre pedir a proteção ele Nossa Senhora. A Santíssima Virgem os aco lherá invari ave lmente com mi seri córd ia, pois Ela é o Refúgio dos Pecadores. E quanto mais nos se ntirmos pecadores, mais E la será nosso refúgio.
Santa Maria Egipcíaca recorre a Nossa Senhora - Entre os inum eráveis exemp los de misericórdia S,,nt,1 M1ria Egipáaca recebe a Úlmlm10 de Nossa Senhora para com e ntão a Nossa Senhora: "Ó os piores pecadores arreMãe de Deus, tende piedade pendidos , o de Santa Maria desta pobre pecadora. Bem Eg ipcíaca é dos mais impresvejo que pelos meus pecados sionantes. não mereço que olheis para Com apenas doze anos de mim; mas sois o Refúgio dos idade, fugiu da casa paterna e Pecadores; por amor de Jesus, foi para Alexandria (norte da vosso Filho, ajudai-me. Fa zei África), onde se prostituiu. Deque eu possa entrar na igreja, pois de passar I 6 anos em pepois quero mudar de vida e facados infames, tomou um nazer penitência onde Vós me vio que ia para a Terra Santa. ordenardes". Quando c hegou a Jerusalém, Ouvi u então uma voz intercelebrava-se a festa da Exaltana, como se a Santíssima Virção da Santa Cruz. Movida pela gem lhe respondesse: "Já que curiosidade, quis a pecadora a mim recorreste e queres muentrar numa igreja. Mas no li dar de vida, entra na igreja, miar ela porta sentiu uma força que já sua porta não se fechaque a repelia para trás. Tentou rá para ti." Entrou a pecadora, por mais três vezes entrar, mas adoro u a Santa Cruz e chorou. sempre era repelida. Tornou à imagem e disse à RaE ntão, encostando-se num inha dos Céus: "Senhora, escanto do pórtico da igreja, re• tou pronta. frei aonde Vós cebeu a graça para conhecer quiserdes que eu vá para viver que, por sua má vida, Deus a retirada e fa zer penitência." tocava para fora do templo . 57 anos de penitência no Levantando depois os o lhos, deserto - "Vai para o Rio viu uma imagem de Maria Jordão e acharás o lugar do Santíssima, pintada no pórtiteu repouso", respondeu- lhe a co. Com o coração contrito e Virgem. humilhado, a pecadora disse
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A pecadora confessou-se, com ungou, atravessou o rio, chegou ao deserto e entendeu que ali era o lugar de sua penitência. Nos primeiros 17 anos, enfrentou grandes combates com os demônios, desejosos de vêla recair. Mas e la sempre recorria a Maria Santíssima, que lhe deu forças para resistir nas batalhas co ntra os anjos decaídos e as paixões desordenadas. F in almente, depoi s de ter vivido 57 anos naquele deserto, achando-se na idade de 87 anos, perm itiu a Divina Providência que fosse encontrada pelo abade São Zózimo. A penitente contou ao santo toda a sua vida, e pediu-lhe que a li voltasse no ano segu inte e lhe trouxesse a sagrada comunhão. Voltou, com efeito, o santo abade, e deu-lhe a co munhao. Depois, a egipcíaca pediu-lhe que viesse o utra vez visitá- la. Retornou novamente São Zóz imo e encontrou-a morta, com o corpo cercado de luzes, e junto à cabeça escritas as palavras: Sepulta neste lugar o corpo desta miserável pecadora, e roga a Deus por mim. Neste momento apareceu um leão, que ab riu uma cova na qual São Zózimo sepu ltou a admirável Santa Maria Egipcíaca. O
Fonte ele referência: Santo Afonso Maria de Ligóri o, Glórias de Maria San tíssima, Ed itora Vozes, Petrópolis (RJ), 1964.
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A
Desmitificação de preconceitos antimedievais Guv
UITO se tem fa lado sobre a Idade Média, e gera lm ente com críticas a esse período histórico. Na ma ior parte das vezes as críti cas não são fundamentadas. Trata-se de um realejo repetido até o enfadon ho, pela maior parte das pessoas, a lgumas até de boa fé. E como era pequeno o traba lho sério de pesq ui sa histórica sobre o período, o único esforço que os detratores do med ieva li smo tiveram era ir repetindo "o que se contava outrora". Mas convém ressal tar que, de uns tempos para cá, pesquisadores e hi stori adores dignos destes nomes , a lgun s de grande importância, têm realçado tudo o que de bom , de belo , de útil caracterizou a Idade Média. Basta lembrar neste sentido a renomada hi storiadora francesa Ré g ine Perno ud. ( l ) Muito recentemente um medievali sta de projeção, autor de várias obras sobre sua espec ia lidade, galgou um mira nte superior entre os historiadores sérios ao publicar uma obra que, sem insistir especialmente sobre os lados benéficos da Idade Méd ia, procura refutar os principais mitos anti-med ieva is.
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Pesquisas sérias de consagrado historiador restabelecem a verdade sobre uma época histórica, de longa data distorcida e caluniada Castelo de Pierrefonds (séc. XV), restaurado por Viollet-le-Duc. Preconceitos antimedievais visaram também o feudalismo.
contra a visão da Idade Média divulgada pelos historia-
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partir do século XVl/l e sabiam.ente orquestrada pelos revolucionários franceses de 1789, pelos banzas da História e sobretudo pelos mestres do ensino público". É justamente essa legenda neg ra que o auto r combate empenhadamente. Seu livro (2) mostra "os erros, o ridículo,
mais ainda as desonestidades desta visão pejorativa, ao mesmo tempo que procura tornar públicas as últimas pesquisas de história social, as quais, indo em sentido oposto à correnteza dos slogans modernos, vêem-se vitimadas por uma espécie de lei do silêncio".
Legenda Negra Jacques Heers, atual diretor do Departamento de Estudos Medievais da Universidade de Paris-Sorbonne, pub li cou "um.a vigorosa diatribe
DE RIDDER
dores e escritores de dois séculos para cá. Medieval, feudal, senhorial constituem, ain• CATOLICISMO -
da 111esmo em nossos dias, insultos ou injúrias, como resultado de uma legenda urdida a
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Descreve e le como fo i adotada a pa lavra m.édia para designar o referido período histórico. E lembra , a esse propósito, o pape l dos humani stas ita li anos e dos historiadores protestantes na cunhagem da infeli z expressão Idade Média . O hom em re nascentista pretendia que entre a Antiguidade clássica - na qua l ele se inspirava voluptuosamente e sua época, nada de muito precioso tinha ex istido: "Pareceria que nossa civi lização, a da E uropa e m seu sentido amplo, viveu duas épocas marcadas pelas li berdades e pelas criações originais: primeiramente, a Antigu idade; muito tempo depois de um sono pesado e uma in terminável espera, a "Renascença", na qual os homens finalmente acordaram, mudaram completamente de atitude ante a vida e tomaram a cargo seu destino. Entre estas duas épocas fortes,
a no ite dos tempos obscuros da Idade Média, aos qua is é de bom tom não dar nenhum c réd ito, exceção feita, lá e aco lá, para a lgum as manifestações marg in ais. Tomada em bloco, esta Idade Média é ape nas constituída de mediocridade". Também os protestantes, "fu riosos contra a Igreja medieval e tudo aquilo que e la ti nha produzido, carregaram de conteúdo novo esta época intermediária". Estava ass im criada a expressão, que ate ndia a interesses ideológicos e de conve ni ênc ia. O termo medieval passa a designar não somente uma época e a 'defi nir' tão bem quanto mal um contexto cronológico, mas é tomado resolutamente corno qualificativo de uma escala de valores, a ser julgada e condenada: sinal de arcaisrno, de obscurantismo, de menosprezo ou de indignação virtuosa. Tornou-se uma espécie de injúria. A palavra medieval fo i eri gida em insulto comum.
Fantasmas: fruto de obsessão ideológica Propõe-se o autor a efetuar uma análi se "de alguns aspectos da sociedade ou civilização que a legenda negra ainda apresenta sob uma visão espantosa, mas sobre os quais numerosos trabalhos recentes trazem interessantes e surpreendentes correções. Lembremo-nos, pois, dos trabalhos que têm o mérito de basear-se em algo mais sólido do que fa ntasmas de autores movidos por uma obsessão ideológica". (3) Mostra ele também as incoerências de uma "Nova H istória", surgida nos anos sessenta (a lusão evidente ao movi mento que irrompeu na Revolução da Sorbonne, em maio de 1968), que pretendia re-analisar todas as aquisições da História tradicional ou clássica, acusada de rotina, sem para
tanto defin ir seus métodos e seus objetivos. Para e le, "a expressão Idade Média não pode, em caso algum, conceber-se corno urn a rea li dade. E é preciso sobretudo que se ev ite o adjetivo medieval, que é indefensável, pois não qu e r di ze r estritame nte nada". Interessante discurso desenvolve o escritor a respeito do va lor das palavras no decorrer dos tempos: "As palavras não nascem do simpl es acaso ; estão sempre carregadas de intenções. Imaginamos que sempre se soube, em todos os tempos, escolher os vocábu los portadores de imagens, de mensagens expressas de modo mais o u menos claro. No caso, as palavras se carregaram de cores, mas não corresponde m a nada. Tratava-se ape nas de opor uma era de grandes progressos e de li bertação do homem de uma quantidade de interditos, a um longo período de esclerose, de obscurantismos e de tabus. Para a palavb renascimento, a intenção era ainda mais viva . Fo rçoso é constatar que esta idéia de ele pertar de um sono em relação ao passado fo i causa de erros grosseiros, dos quais não nos desembaraçamos ainda. E isto, pela simples magia, pelo grave peso das palavras". A esse propósito importa lembrar que tal expressão carregada de subentendidos é um exemp lo das palavras-talismãs, cujo conce.ito foi desenvolvido pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu substanc ioso ensaio "Baldea-
ção Ideológica lnadvb·tida e Diálogo" (4), o qual recomendamos vivamente ao leitor. Demonstra a seguir Jacques Heers que "a Idade Média propriamente dita nunca existiu. A d ivisão dos tempos anteriores em diferentes períodos cronológicos é apenas uma convenção que acabou impondo-se como lei, mas que não corresponde a nenhuma espéCATOLICISMO -
c ie de realidade. É apenas uma abstração". Numa referência favorável ao Brasil, o hi storiador dec lara que o descobrimento e a coloni zação de nosso País elevem ser tomados como exemplo ele empresa bem suced ida, corno fruto "ele conqui stas fe itas debaixo do cont ro le senho ri al, isto é, de uma estrutura social medieval. Os pioneiros acomodaram-se muito bem com ela. E m vista dos resultados obtidos, como " in vocar uma sociedade de oprimidos, dada ao fracasso ou à revo lta"? Muito interessante ainda a contestação feita por Heers ao mito de um pretenso renascimento, que ele rejeita totalmente. Demonstra que a idé ia de
ricamente eliminado por influênc ia da Igreja: a escravidão. "To mando -como exe mplo a Antiguidade, a moda acabou por imbuir os espíritos e tornar aceitável o que até então tinha sido recusado. Em vários países, os vencidos são redu zidos pe los vencedores a escravos. A história dos conflitos entre partidos oferece numerosos exemplos de atrocidades indignas, na Itáli a ela Renascença: Co là cli Rienzo, gra nde ad mirador da Roma repub li cana, glori ava-se, em 1354, após sua vitória contra os Colonna e outros barões romanos, de ter trazido dois mi 1 homens a Roma, para vendêlos como escravos". Sumame nte oportunos são estudos deste gê nero de
Gravura do séc. XVI representando o Concílio de Vienne (1311-12) retrata o esplendor austero da Igreja medieval
uma renascença, isto é, de um progresso em relação aos tempos anteriores, "foi imposta por um cenácul o de bons p"ubli cistas a soldo ele um certo príncipe". Ou seja, já era o poder da mídia publicitária da época, que procurava moldar a opinião . pública.
Renascença restaura escravidão Tal foi o entusias mo despertado por estes cenáculos para com o mundo antigo, que não se hesitou em restabelecer um mau costume que fora já pra-
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desmitificação histórica, levados a cabo por personalidades sérias e professas em seus domínios. O
Notas: 1- Principai s obras de Rég ine Pernoucl:
L11111ieresduMoye11Âge e Pour e11fi11ir avec te Moyen Âge. 2 - Jacq ues Heers, Le Moyen Âge, une Imposture - Vérirés et Légendes, Ed. Perrin, Paris, 1993. 3 - Grifo nosso. 4 - Plínio Corrêa de Ol iveira, Ba/dea-
çc7o Ideológica /11adverrida e Diálogo, Ecl. Vera Cruz, São Paulo, 5' ecl. 1974.
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A face oculta do MST e o "massacre" de Eldorado de Carajás PUNIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA
Com o objetivo explícito de aliança com os camponeses para a tomada do poder, o MST promove a luta de ·classes e procura criar um clima psicológico favorável à ação revolucionária Marionetes à espreita Desde a tumultuada renúncia do Sr. Francisco Graziano à presidência do Incra, as marionetes da Reforma Agrária pareciam querer provocar um acontecimento que possibilitasse às tubas da publicidade exigir a execução rápida da Reforma Agrária, esse in strumento de favelização rural. Shows de invasões de terra , man dado s judiciais de reintegração de posse com a sub seqü e nte expulsão dos sem-terras das propriedades ocupadas, marchas sobre as capita is organizadas pe lo MST, ocupações de sedes regionais do INCRA. .. Era de se esperar que essa atuação desfechasse em um grave incidente. O que era quase inevitável, de fato aconteceu: o " massacre" de Carajás. Era o qu e as esq uerdas precisavam e queriam.
Belém, bloqueando a Rodovia PA-150, a fim de pressionar as autoridades. O Governo estadual mandou 150 policiais para liberar a estrada, no cumprimento do dever de manter a ordem pública.
Os fatos e o clima emocional Centenas de in vasores da FazendaMacaxeira, no sul do Pará, que exigiam a sua desapropri ação, iniciaram uma marcha de 600 quilômetros a 12
Passeata de sem-terras •
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E fo i aí que ocorreu a tragédia, amplamente divulgada pela mídia e habil mente instrumentali zada para cri ar um clima emocional a favor de uma aplicação urgente da Reforma Agrária. Um repórter a registrou num film e exibido em rede naciona l de TV. De ixava ev idente que a iniciativa da agressão partira dos sem-terras. Porém o noticiário da mídia procurava dar a impressão de que, mais um a vez, a polícia cometera uma arbitrari edade contra os inocentes que lutavam por seus direitos. O Ministro da Ju sti ça Nelson Jobim e o utras autoridades federais viajaram para o loca l. No Congresso Nacional fora m pronunciados veementes discursos, e uma com itiva de deputados 1 foi verificar in loco o grave aco ntecime nto. A CNBB, reunida em assembl é ia e m Itaic i, e nviou bispos para avali ar o ocorrido. Manifestações "populares" começaram a se dar em várias partes do País. Estava montado o clima emocional. A imprensa e orga ni zações inte rn aciona is de esquerda entraram na orq uestração. Danielle M itte rrand - viúva do ex-preside nte sociali sta da França - tomou a dores das vít imas, e toda a máquina mundial de dcfcsa dos direitos humanos começo u a se pronunc iar.
RS l,SO
'MõBILizÂÇõES CONTRA ----AS MENTIRAS DE FHC
Os verdadeiros objetivos do MST Urna análise profunda dos propósitos e métodos utilizados pelo Movimentos dos Trabalhadores Sem-terra MST é necessário para um completo entendimento da real situação da Reforma Agrária no Brasil.
A doutrina socialista do MST
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NÚMEROS DESMENTEM
~EUlGAOO,JUIZ E ROMOTOR l'AZEM
O GO_JERNO SOBRE
,
REFORMA AGIWUA
ilNDECENTE AO MST
PROPOSTA
AS MOlllllZAÇÕES DOS PEQUENOS I
MINISTRO DA J USTIÇA AJIIEAÇA
PRODlffORF.S
DIUEITOS
00 SU.
INDÍGENAS
No caos, uma palavra da TFP
à qual a opinião pública vai se sen-
Dentro desse clima de efe rv escência, c inco dias depois do lame ntável acontecimento, a TFP lançou um co muni cado na grande impre nsa: "Em face da tragédia de Eldorado de Carajás, A TFP apresenta reflexões serenas e ponderadas". Nesse pronunciamento, a e ntid ade declarava partilhar da consternação e perplexidade "com que o povo brasileiro reagira diante do ocorrido ". Mas manifestava, ao mesmo tempo, que "não é de boa lei, num clima altamente aquecido e mesmo apaixonado, tomar medidas de suma gravidade, como seria um apressamento e radicalização da Reforma Agrária socialista e co,~fLScatória, em relação
tindo cada vez mais distante e desconfiada ". Após analisar co m profundidade a ação do MST e o ep isódio d e E ldorado de Carajás, mostrava que o movimento ilegal de invasão de terras não pode ser apoiado pela Igrej a. E terminava fazendo um apelo a que fosse a bandonado o atual programa de Reforma Agrária, e que se adotasse cm seu lu gar urn a política agrícola adeq uad a. O documento, publicado em 14 jornais de cinco Estados, foi largamente difundido em campanhas de ru a e mala direta pela entidade, repercutindo em todo o Brasi l. Colocado assim o assunto nos seus devidos termos, o c lima e mocional começou a se desfazer. CATOLICISMO -
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No VI Encontro Nacional do MST, realizado em Piracicaba (SP) em fevereiro de 199 J, foi aprovado o Documento Básico do MST, que se di z "o documento mais importante da vida interna do MST". Em sua apresentação aparecem claramente os verdade iros objetivos. Basta a leitura de alguns de seus ponto s para se verificar qu e o MST vis a algo muito di ferente do que resolver o problema dos inocentes-úteis usados corno massa de manobra, os auto-denomin ados sem-terra: • "Também aos operários interessa a realização da Reforma Agrária ... pelo caráter político da aliança com os camponeses para a tomada do poder" (p. 20). • "É necessário que todas as lutas especificas dos trabalhadores rurais e dos operários avancem enquanto organização, articulação e enquanto luta de classe" (p. 24). • "As ocupações e outras formas massivas de luta pela terra vão educando as massas para a necessidade da tomada do poder e da implantação de um novo sistema econômico: o socialismo" (p. 20). 13
Concentração de posseiros no Paraná
• "As Lutas por terra, isoladas e espec(fzcas, que visam apenas resolver pequenos conflitos sociais de grupos de famílias, precisam ser melhor articuladas, de forma a se tornarem massivas e adquirirem um caráter social mais abrangente e um significado político transformador, superando a natureza de conflito localizado e corporativo .... Cabe-nos a tarefa de ampliar o controle dos trabalhadores sobre as áreas férteis, sobre a produção, sobre a comercialização de nossos produtos e, também, o controle na agro-indústria" (p. 23). • "Avançar na conquista das terras produtivas .... garantir que os trabalhadores conquistem as melhores terras" (p. 25).
Método e disciplina na luta de classes Em um documento intitulado Disciplina, encontra-se um Regulamento aprovado pela Coordenação Nacional do MST, em janeiro de 1992, onde se lê: • "A disciplina se fundamenta na consciência política e na educação socialista dos militantes, para compreensão do seu dever revolucionário" (p . 7). • "A disciplina se obtém educando os militantes no estudo ela 14
ciência e ela dialética, da economia política e ela Luta de classes" (p. 9).
Os trechos acima, por nós destacados em negrito, denunciam a verdadeira face do MST.
Uma agenda de bolso ... ideológica Como se não bastassem esses pontos, em 1993 o MST distribuiu uma agenda de bolso na qual algumas datas são comemoradas, de maneira a não restarem dúvidas sobre as verdadeiras preferências do movimento: • l º de janeiro: Revolução Popular em Cuba. • 22 de abril: "Invasão do Brasil pelos portugueses". • 5 de maio: Nascimento de Karl Marx. • 17 de setembro : morte do capitão terrorista Carlos Lamarca. • 17 de outubro: Revolução [comunista] russa. • 4 de novembro: mo1te de Carlos Marighella, fundador da maior organização terrorista do Brasil (cfr. "Veja", São Paulo, 1-6-94).
1993 do acampamento da Fazenda Formiga, em Ibema, oeste do Paraná, afirmam que os líderes do MST ordenam aos sem-terras que ataquem os policiais e fazendeiros que tentem impedir a invasão. Informam ainda à polícia que existe um arsenal em poder dos líderes: pistola automática, revólveres de diferentes calibres, carabina com luneta de precisão, escopeta calibre 12 e farta munição. Há ainda veículos e combustíveis estocados para percorrer o Estado e fazer levantamentos estratégicos de áreas visadas (cfr. "O Paraná", Cascavel, 20-8-93). Trinta e cinco sem-terras abandonaram, sob a liderança de Raimundo Nonato Gomes de Almeida, o "Geléia", o acampamento na Fazenda Macaxeira, no sul do Pará. Geléia declarou: " ... nossos companheiros na PA-150 ... foram jogados pelas lideranças ele encontro à morte ... " E acrescentou: "Esse negócio de ocupar, resistir e produzir é uma mentira só. Lá funciona uma política muito suja. Eles usam as pessoas para se manter no poder. Eles são que nem uma gangue, ou até pior que isso. As lideranças nunca vão ser atingidas por balas, porque ficam escondidas nessas horas. O escudo deles são os sem-terra. Se não fosse a teimosia deles, não tinha acontecido aquilo na PA-150. Foram as Lideran ças que deram ordens para que ninuém saísse ela pista e enfrentasse a $olícia a foice, paus e pedras. Tenho amigos elo acampamento que provam que os policiais foram agredidos ao chegar, e que os líderes deram ordens para continuar o ataque, enquanto eles ficaram escondidos no mato. Eles usam as crianças para chantagear o governo e o povo das cidades por onde o movimento passa. Põem as crianças na frente, até para enfrentar a polícia" ("O Liberal ", Belém, 2-5-96).
O MST recorre à violência Dissidentes acusam o MST Estácio e Nadir dos Santos e seus dois filhos, tendo fugido em agosto de •
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Declarações de dissidentes poderiam ser suspeitas, e o enunciado de objetivos poderia ser mera retórica não con-
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Odio, luta de classes, revolução Essencialmente, o movimento comunista é e se considera uma revolução nascida do ódio de classes. Aviolência é o método mais coerente com ela. É o método direto e fu lminante, do qual os mentores do comunismo esperavam, com o mínimo de riscos, o máximo de resultados, no mínimo de tempo. O pressuposto deste método é a capacidade de liderança dos vários PCs, pela qual lhes era dado: • Criar descontentamentos, • Transformar estes descontentamentos em ódios, • Articular estes ódios numa imensa conjuração, • E levar assim a cabo, com a força atômica do ímpeto desses ódios, a demolição da ordem atual e a implantação do comunismo. (Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução,Artpress, São Paulo, 1982, p. 64)
firmada pela realidade. Mas os fatos mostram atos de violência que dão veracidade às denúncias e aos propósitos: • Em Xavantina (MT), os sem-terras interditaram o trânsito na ponte sobre o Rio das Mortes; 28 patrulheiros enviados ao local foram recebidos a bala; um policial e dois sem-terras foram feridos; foram apreendidos três revólveres, duas carabinas, dez coquetéis molotov, foices, machados e facões ("O Estado de Mato Grosso", "O Globo", "Jornal do Brasil","Folha de S. Paulo", 13 a 159-95); • Em Guarantã do Norte (MT), oficiais de justiça, um policial e oito empregados da Fazenda Triângulo foram presos por ocasião da entrega de uma ordem judicial de reintegração de posse aos invasores da propriedade; os oficiais de justiça e o policial foram libertados, enquanto os oito empregados permaneceram amarrados em árvores e sob ameaça de morte, com exigência deresgate ("O Globo", 15-9-95); • José Rainha defende a possibilidade de levar os sem-terras para a clandestinidade ("Folha de S. Paulo", 24-995); • Ao desocupar a Fazenda Santa Elina, em Corumbiara (RO), um contingente da Polícia Militar, em cumprimento
a urna ordem judicial de reintegração de posse, é recebido a bala. No grave incidente, em que os policiais foram obrigados a empregar a força, morreram dois policiais e nove sem-terras, e 50 pessoas ficaram feridas ("Informativo Rural", São Paulo, nº 30, setembro/95); • 500 sem-terras saqueiam um caminhão, que transportava 13 toneladas
de carne em Itaquiraí (MS) ("Folha de São Paulo", - 22-6-95). • Um pelotão de elite dos semterras formado por 25 cavaleiros, alguns visivelmente embriagados, invade a sede da Fazenda Anhumas, em Andradina (SP), portando armas de fogo. O líder, o ex-seminarista Sílvio Tomaz, declara: "É um treinamento; a gente sabe que essa invasão não eleve ter resistência armada, mas nem todas vão ser assim, temos mais 17 na região e por isso o grupo precisa estar preparado" (cfr. "Jornal do Comércio", Rio de Janeiro , 9-1-95); • O superintendente do INCRA no Pará, Walter Cardoso, ao cadastrar 2.000 famílias de invasores em Curionópolis (PA), verifica que apenas 350 eram de
Acampamento de sem-terras no Pará: gente simples serve de massa de manobra CATOLICISMO -
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sem-terras, as demais moravam em cidades próximas; dezenas de invasores posaram para um repórter, usando máscaras nos rostos e portando revólveres e carabinas ("Informativo Rura " nº 35, março-abril/96). • Um grupo de sem-terras invade o Palácio do Governo em João Pessoa (PB), enfrenta a PM, quebra vidraças e agride os militares, rasgando suas fardas; entre os feridos de ambos os lados, inclui-se uma mulher gráv ida, apresentada como vítima da violência policial (cfr. "O Norte", João Pessoa, 6-7-93). • Três soldados da PM são friamente assass inados e,_11 Cascavel (PR); o Secretário de Segurança Pública, José Favetti , declara: "Foi um ato bárbaro, co varde, as vítimas atacadas com tiros à queima-roupa na cabeça, por trás, quando estavam com as mc7.os para cima e as armas na cintura" ("Gazeta do Povo",
Curitiba, 6-3-93) . • Raul Ortelhado, ex-empregado da Fazenda Jangada, surpreendido ao visi-
tar parentes por ocasião da segunda invasão dessa propriedade, em Getulina (SP), é morto por sem-terras numa emboscada;
Frases que falam
• " Numa ve rdadeira operaçc7.o de gue rra, com padres ligados à esque rda e sindicatos filiados à CUT, cam inh ões, armam e ntos e at é câme ra s de TV, foi organizada a invasão da Fazenda Carra patinh o (SC). O fa zendeiro Marco Antonio Stédil e f o i morto" . ("A Notícia ",
Joinville, 31 -12-93); General Alberto Cardoso, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República (a propósito do episódio de Eldorado de Carajás): "É uma situação desagradável, mas pode significar a hora da virada pela reforma agrária" ("O Estado de S. Paulo", 204-96) Diolinda (líder do MST): "... os sem-terra só ocupam uma área para pressionar o governo a cumprir suas promessas" ("Folha de S. Paulo", 28-4-96)
Atrás da máscara, o lobo O leitor terá, a esta altura, tirado suas conclusões. A máscara sorridente e simpática que encobre a verdadeira face do MST tem atrás de si um movimento em que imperam a ideologia, o ódio e a violência. O Prof. Plinio Co rrêa de Oliveira, em Revo lu çc7.o e Contra-Revo lução, enumera os passos mai s marca ntes da ação comunista violenta (vide quadro na p.15 ). A se melh ança co m a at uação do MST não deixa margem a dú D vid as .
Edimar Farias/O Libera l. Belém
Sem-terras em Curionópolis: encapuçados armados evocam guerrilheiros mexicanos. Preparando o Brasil para a guerrilha rural?
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PALAVRAS DE VIDA ETERNA
Explicação da parábola da cizânia E aconteceu depois, que Jesus caminhava pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando o Reino de Deus; e andavam com Ele os doze, e algumas mulheres que tinham sido livradas de espíiitos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuzá, procurador de Herodes; Susana, e outras muitas que os assistiam com suas posses (São Lucas, 8, 1-3). E foram para casa de Pedro, e concorreu de novo tanta gente que nem mesmo podiam tomar alimento. E, quando os seus parentes ouviram isto, foram para o prender; porque diziam: "Ele está louco" (São Marcos, 3, 20-21)
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino no livro Catena Aurea (i l São Gregório Nazianzeno - Vai Jesus de um lugar para outro, não só para converter muitos, mas também para santificar muitos lugares. Dorme e trabalha, para santificar o trabalho e o sono; chora para dar valor às lágrimas; prega o reino dos céus, para elevar os que O ouvem. Tito Bostrense - Aq uele que desceu do Céu à terra explica para os que hab itam a terra a respeito do reino celestial, com o fim de converter a terra ao céu. Quem pode pregar arespeito do Reino dos Céus senão unicamente o Filho de Deus, a quem pertence este Reino? São Beda - Assim como a águia excita seus filhotes a voar, o Senhor eleva suavemente seus discípulos para as coisas sublimes. Pois em primeiro lugar ensinou nas sinagogas e fez milagres; em seguida escolheu os doze, que chamou de Apóstolos. Depois levou consigo a eles somente, pregando pelas cidades e aldeias; por isso diz o Evangelista: "E os doze iam com Ele". Teofilato - Eles não ensinavam nem pregavam, mas apenas eram instruídos por Ele. Não impedi a tampouco que as mulheres O seguissem, e por isso acrescenta o Evangeli sta: "E também algumas mulheres que Ele havia curado de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, que se chama Madalena, da qual haviam saído sete demônios. São Beda - Maria Madalena é aquela mesma mulher a respeito da qual se disse anteriormente, ocultando o seu nome, que havia feito penitência. Muito opo1tunamente o Evangelista a dá a conhecer com este nome agora, quando
diz que seguia a Jesus; quando a descreve como pecadora, a chama apenas de mulher. São Gregório Magno - Que se entende por sete demônios, senão todos os vícios? Pois o número sete na Escritura representa a universalidade. Maria teve sete demônios, porque havia cometido toda sorte de pecados.
Comentários do Pe. Luís Cláudio Fillion (2> Jesus caminha em meio aos doze, que O escoltam e rodeiam com um afeto igual à sua veneração. Alguns ad iante, outros de ambos os lados, alguns atrás, e todos o mai s perto possível dEle, a fim de não perder nenhum detalhe de suas preciosas lições. O mais das vezes fa la Jesus; mas permite com agrado que seus apóstolos lhe façam perguntas familiarmente. A certa distância caminham piedosas mulheres com seu véu. Levam as provisões e conversam entre si modesta mente. Sua presença pode surpreender-nos, pois constitui um fato inteiramente novo. Porque se as mulheres judias estavam autorizadas a prover aos rabinos do necessário para sua subsistência, não se sabe se elas os acompanhavam em suas viagens. Nisto, pois, introduzia Jesus uma inovação, e só Ele poderia fazê- lo em ponto tão delicado. Rompe Ele o círculo estreito em que o Oriente havia encerrado a mulher, e abre para esta o CATOLICISMO -
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largo campo de suas boas obras, que ela cultivará na Igreja cri stã até o fim dos sécu los. Mas os evangelistas não nos deixam muito tempo sob a impressão de cena tão aprazível. A incred ulidade de muitos parentes de Jesus e o ódio fa nático cios fari seus vão produzir, um depoi s de outro, dolorosos incidentes. Com efeito, para falar de um deles, estamos no período dos grandes êx itos de Jesus, e as multidões, cada vez mai s afeiçoadas e ligadas à sua Pessoa, continuam buscando-O e O importunam e rodeiam por todas as partes onde prega, não lhe dando um momento de repouso. Assim, um di a fo i tal a concorrência que o divino Mestre e os Apóstolos nem ti veram tempo para co mer. Parece que isto sucedeu a pouca distância de Nazaré, porque São Marcos, a quem devemos estes pormenores, acrescenta que os parentes de Jesus acorreram para se apoderarem dEle ou prendê-lo e obrigá- lo a renunciar a missões tão penosas e perigosas. Eles se atreveram até a dizer, para justificar sua atitude, que Ele havia perdido o juízo: "Seu entusiasmo religioso O tornou demente". Linguagem esta mais od iosa ainda que a atitude em si. Mas uma e outra coisa se explicam com a grave declaração que fará mais tarde o evangelista São João: "Os parentes de Jesus não criam nEle". Nesta ocasião começou a se manifestar sua falta de fé. Não acreditavam nem em sua natureza superior nem em sua celeste missão. A grande poeira levantada em redor de seu nome os alarmava, e crescia muito mais sua inquietude e pe1t urbação, pensando nos muitos inimigos que de todos os lados surgiam contra Ele, o que poderia prejudicar toda a família. O Notas 1 - Santo Tomás de Aquino, Cate11a A11rec1, Cursos de Cultura Catolica, Yol. l, Buenos Aires, 1948. 2- Pe. Luiz Claudio Fillion,N11est,v Selior Jesucristo segú11 los Evcmgelios, Ed. Dif'usión, p. 167, Buenos Aires, 1962.
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Jovem chilena de f amz1ia aristocrática, que se -tornou religiosa carmelita, iluminou com suas extraordinárias virtudes e fenômenos místicos o firmamento da Igreja há sete décadas
OANA Fernandes Solar, que mais tarde seria Santa Teresa dos Aneles, nasceu em Santiago, Ch il e, e m 13 de julho de 1900. Era a quarta filha de uma piedosa e aristocrática família. Desde os três anos era incansáve l em fazer perguntas sobre assuntos religiosos: Deus, o céu, a Virgem Maria etc. Um relato do Pe. Fernando Castel, que participou de mi ssões na fazenda da família da Santa, resume bem a sua infânc ia: "Por volta do ano 1904 ou 1905, conheci a menina Joana Fernades Solar; quando tinha mais ou menos quatro anos. Logo me chamou a atenção a precocidade do seu espírito, admirando eu corno raciocinava sobre as coisas divinas e como manifestava, j á nessa idade tão tenra, amor e culto para com elas. Co11fesso que então compreendi como pôde a Santíssima Virgem, aos quatro anos somente, consagrarse a Deus no Templo".([) Eelucaela no Co légio do Sag rado Coração, preparou -se sucessivamente para a Confissão, Crisma e Primeira Comunh ão. A recepção da Sagrada Eucaristia marcou a fundo a vida de Juanita: "Não é possível descrever o que se passou em minha alma ao receber Jesus. Pedi-lhe mil vezes que me levasse, e ouvi sua voz querida pela primeira vez. Desde que fiz minha Primeira Comunhão, Nosso Senhor me falava depois de eu comungar".(2) A partir de então, é patente uma acentuada ânsia em buscar as co isas divinas e em praticar a caridade para com o próximo.
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Devoção a Nossa Senhora
Santa Teresa dos Andes no dia de sua Primeira Comunhão
"Todos os dias comungava efalava com Jesus longamente. Mas minha devoção especial era à Virg em; contava -lhe tudo".(3)
Santa Teresa dos Andes com hábito carmelita
Como fruto dessa devoção, de que já dava mostras desde a primeira infância, aos sete anos aprende a rezar o Rosário e promete rezá-lo todos os dias. Promessa que cumpriu fielmente até a morte. No co légio se empenho u em difundir a devoção a Nossa Senhora, e se tornou re li g iosa na ordem espec ialmente dedicada à Santíssima Virgem. Sua alegria e sua união à Mãe de Deus chegam ao auge poucos meses antes da morte, ao descobrir entre os livros do convento o Tratado da verdadeira de voção à Santíssima Virgem", de São L uís Maria CATOLICISMO-
Grign ion de Montfort, o grande doutor marial. Ler o Tratado e consagrarse Àquela que tanto amava fo i uma só coisa. Leva outra noviça a consagrar-se igualmente.
No colégio Aos 15 anos passa a estudar como interna no mesmo colégio. .o que parecia a Juai1ita uma coisa inaceitável - ser interna - torna-se ocasião ele progressos espirituais acentuados, e, como diz ela, prepai·ava-a pai·a a grande sepai·ação da família, quai1do entrasse para o Carmelo. A piedade e o zelo apostó1ico de Juanita chamam a aten-
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ção das alunas e mestras. Reza ou medita longamente na capela. Com despretensão e habi lidacle, procura ajudai· ascolegas, quer nas vias da virtude, quer nos estudos. Nos finais ele semana, exerce essa ação especial mente junto às internas pobres, acolhidas gratuitamente no colég io. Chega a formar um grupo de aproximadamente 15 moças elas melhores famílias de Santiago, oito elas quais vieram a ser religiosas . Uma das religiosas do colégio, encarregada de velar pelo aprimoramento espidtual das a lun as, lo go percebeu que Juanita não era uma alma qualquer, e a aux ilia. Por essa época, le u a vida d e Santa Teresinha - falecida não fazia muito - e compreende que devia ser carmelita. Numa visão, Nosso Senhor lhe disse que a queria carmelita. Pouco depois de entrai· no internato, faz voto de virgindade: "Hoje, oito de dezembro de J9 15, com a idade de quinze anos, faço voto diante da Santíssima Trindade, em presença da Virgem Maria e de todos os santos do Céu, de não admitir outro Esposo senão meu Senhor Jesus Cristo, a quem amo de todo coração e a quem quero servir até o último momento de minha vida".(4)
Nas férias, missões As férias ocupam um lugar à parte e não menos elevado: sua fam íli a possui um a das maiores fazendas do C hile, e durante as férias promove missões para as centenas de empregados. Há preparação para Prime ira Comunhão, Crisma, realização de batizados, casamentos, etc. Juanita participa at iva mente, dando aulas de catecismo, cu idando da orname ntação da capela ou tocando o harmônio nas cerimôn ias. O número de sacerdotes nessas
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missões às vezes chega a quatro, tal era o número de pessoas para atender. O bem-estar material dos ·~ colonos não é esq uecido; a mãe . . de Juan,ta, muitas vezes acompanhada por ela, percorre as casas e anota providências a tomar. Com freqüência cuida pessoalmente dos doentes. Passadas as missões, Juanita aproveita parte do dia para passear longamente a cavalo ou jogar tênis. Uma coisa porém todos notavam: quer estivesse rezando na capela, quer dando aul a de catecismo ou visitando os doentes, quer nas diversões, ela sempre tem a alma entretida com "algo". Na leitura de seu diário vê-se claramente que, além das vi sões mística s freqüente s, Juanita se entretém continuamente com Nosso Senhor. E, às vezes, de modo extraordinário. A esse propósito, escreve o Santa Teresa dos Andes morta: fisionomia serena banhada de sobrenatural Pe. Feli x Henlé, que participaNos processos de beatificara de uma missão na fazenda giosas devido a más influências: "Na véspera de entrar no ção e canonização, três dos da famíl ia de Juanita: "Um dia principais confessores de TeCa rmelo, a família foi despeentrei silenc iosa m ente no dir-se dela na Igreja da Gratiresa de Jesus sustentaram sob oratório, sem suspeitar que ela dão Nacional. Co nversamos juramento que ela jamais coestava lá. Mas, que vejo? A semetera pecado mortal nem velongamente e disse-lhe: 'Levas nhorita Joana elevada no ar, tudo, e eu nem sequer tenho a nial deliberado. Seu confessor mais ou menos trinta centímeno Carmelo assevera que, no Deus'. Ela me abraçou e se tros, sem que seus joelhos nem apoiou em meu ombro, dizen- convento, ela jamais cometeu seus braços se apoiassem no imperfeição deliberada. genuflexório, as mãos postas, do-me: 'Não sentes Deus quemNa Sexta-feira Santa de do estás comigo?" .(6) adorando o Santíssimo".(5) 1920, após o Ofício que relemEm maio de 19 19, quando bra a morte do Divino Salvaingressa no Carmelo de Lo No Carmelo Andes, é vi sível a sua alegri a dor, a Superiora percebeu que Em 1918, deixou o colégio e em meio aos prantos da famí- Irmã Teresa estava pálida e co m dificu ldade de seguir as li a, que fora despedir-se dela: passou a cuidar da casa, continuando a exercer seu apostolado "Não imagina a felicidade de cerimônias. Quando lhe apalque desfruto. Encontrei, por pou a fronte, viu que estava arcom as colegas, e agora também dendo de febre, e mandou -a fim, o céu na terra. Se é vercom as primas e am igas. Já firm emente reso lvida a dade que me separei dos meus recolher-se ao leito. Dele não se levantaria mais. com o coração desf eito, hoje seguir a voz de Jesus, trocou Nesse período, faz a profiscorrespondência com a Madre goza de unia pa z inalte rá são religiosa e recebe os últivel" .(7) Superiora do Carmelo de Los Sua vida no Carmelo deixa mos sacramentos. Andes. Esta aconse lh ou-a a Ao entardecer de 12 de ler a vida de Santa Teresa de uma lembrança que chama as abril de 1920, conta ndo vinte Ávi la, pois não há fonte mai s demai s religiosas à perfe ição. pura da vocação, por ser ela a A Priora sustenta junto a ou- anos incompletos e apenas 11 meses no Carmelo, fechou os D·as religiosas experientes e ferreformadora do Carmelo feminino . vorosas que Irmã Teresa de Je- olhos para esta vida, indo enConta seu irmão Lúcio, que sus - esse o seu nome em re- contrar Aquele que pouco anligião - "já era uma santa". tes ela chamara "Meu Esposo". havia ficado com dúvidas reli-
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Longe da li, em Santiago, ne sta mes ma hora , a irmã Mercedes do Coração de Maria teve uma visão: "Subitamente(. .. ) me encontrei na cela de uma carmelita moribunda; vi que era bem jovem e, apesar da palidez de seu rosto, tudo nela refletia uma lu z suavíssima e celestial. Ao lado esquerdo da sua cama havia um anjo com um dardo que lhe traspassava o coração, e logo ouvi: morre de am.or" .(8)
História Sagrada em seu lar (61) noções básicas
Governo dos Juízes
"Seria injúria rezar pelo sufrágio de sua alma" "Eu não duvido de que está muito elevada no Céu, e creria fa zer-lhe injúria rezar pelo sufrágio de sua alma. Entretanto, isto sim, tenho rezado encomendando-me a ela todos os dias, como o farei sempre, pois estou persuadido de que tive a dita de conhece r uma santa viva".(9)
Assim se ex pressa, em carta de pêsames à mãe da carmelita, o Pe. Julián Cea, que a diri gi u esp iritualmente durante anos. A Superiora do Sagrado Coração escreve à mãe da Santa: "Felicito-a por ser mãe de um anjo do céu, de uma verdadeira santa que, diante do trono de Deus, será para a Sra. e para nós, advogada, protetora, força e consolo".(10) □
Notas: 1 - Madre Gabriela dei Nino Jes us, Un lírio dei Cannelo - Soror Teresa de Jesus'', Sa nti ago, 1929, p. 28. 2- Santa Teresa de los Andes,Diario y Carras, Ed ições Carmelo Teres iano, Santiago, 1993, p. 33. 3 - Idem, p. 33. 4 - Idem, p. 46. 5 - Ana Mari a Risopatrón, Teresa de los Andes - Teresa de Chile, Sa ntiago, 1988, p. 89. 6- Pe.Marino Purnoy, OCO, Teresa de los Andes vi sra por su hermano Lucho, Edi ções Carmelo Teres iano, Santi ago, 1990, p. 34. 7 - Ana Maria Ri sopatrón, idem, p. 26 1. 8 - Ana Mari a Risopatrón, idem, p. 178 (transcrito do Processo de Beatificação). 9 - Un lirio ... ", p. 470. 10 - Idem, p. 477.
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heró ico Josué não de ixo u sucessor. Após sua morte, os israelitas ficaram sem um comand ante supremo e, aos poucos, foram esfriando no zelo pelo serviço de Deus. Apesar das ordens tantas vezes repetidas pelo Senhor, os hebreus, em vez de continuarem a destruir os cananeus, fizeram amizades com eles, casaram-se com suas ti lhas e, por fim , chegaram até a im itá-los na iclolab"ia. Deus, santamente encolerizado, entregou-os às mãos dos inimigos, que os reduziram à escravidão. Contudo, o Senhor lhes suscitava vez por outra Juízes para libertá-los.
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função. Sua mi ssão era mi litar e consistia em libertar o povo da opressão de seus inimigos quando, punidos por seus pecados, ele fazia pen.itência e obtinha de Deus o perdão. Quando Israel se convertia, o Senhor susc itava um Juiz, isto é, ' um libertador e um sa lvador' que se punha à testa, não de todas as tribos, mas daquelas que estavam oprimidas, e as libertava da servidão".())
Governo mais suave que o dos reis Os Juízes "eram os protetores das leis, os defensores da reli gião, os vingadores dos crimes e das desordens, sobretudo da idolatria. Seu governo era, sem comparação, mais suave do que foi depois
o dos reis de Israel. Eram, geralmente, homens eminentes em piedade". (2)
"Que sua memória seja abençoada" O livro do Eclesiástico assim elogia os Juízes de Israel: Depois de Josué "v ieram os Juízes, cujo coração não foi pervertido, e que não se apartaram do Senhor, para que a sua memória seja abençoada, e os seus ossos reverdeçam nos seus sepulcros, e dure perpetuamente o seu nome, passando os seus filhos com a glória daqueles santos varões". (Eclo. 46, 13 a l 5) Houve 14 Juízes em Israel, durante um períclo de aproximadamente 400 anos. Os principais foram: Aod, Débora, Gedeão, Jefté, Sansão, Heli e Samuel.
O que eram os Juízes de Israel "Os personagens que chamamos de Juízes não eram magisb·ados políticos, colocados à testa cio governo e encarregados de dirigir as 12 tribos ; eles não eram nem mesmo ordinariamente destinados, antes de Heli e Samuel, a admini strar ajustiça., embora o nome pareça indicar essa
Aod liberta os hebreus dos madianitas Por terem feito o mal diante cio Senhor, os ti lhos de Israel foram subjugados por Eglon , rei de Moab, durante 18 anos. E depois disto clamaram ao Senhor, que lhes suscitou um salvador chamado Aocl, que se servia de ambas as mãos corno da direita. E Aod mandou fazer para si um punhal de dois gumes, que tinha os copos da la.rgw·a da palma da mão. E ofereceu os presentes a Eglon, que era em exb·emo gordo. "Aod aprox imou-se do rei, que estava sentado só no seu quarto de verão, tirou o punhal e cravou-lhe no ventre com tanta força que os copos entraram com a lâmina pela ferida. "Aod fugiu e chegou a Seirat, e logo tocou a trombeta sobre o monte de Efraim, e di sse aos filhos de Israel: Segui -me, porque o Senhor entrego u em nossas mãos os moabitas, nossos inimigos. "E desceram atrás dele, e mataram cerca de dez mil rnoabitas, todos homens robustos e esforça.cios. E o país f icou em paz durante 80 D anos". (Jz. 3, 12 a 30). Notas:
Gedeão recebe a vocaçã_o de Juiz
1- Padre F. Yigouroux, Ma1111el Biblique ou Cours d'Ecrirure Sainre - A11cie11 Tesramenr, A. Roger et F. Chernoviz, Editeurs, Paris, 190 1, torno rr, p. 63 2- Padre Rohrbacher, Hisroire U11iverselle de l' Eglise Carholique, Gmune Frercs, Paris, 1842, torno TI , p. 22.
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O povo quer ouvir com Brasil Reál Brasil Brastleiro
Em
discurso aos Bispos da Regional Nordeste I e li, em recente visita ad limina, S.S. João Paulo li fez oportunas considerações sobre o espírito religioso do povo de nosso País. Além de recomendar uma substancial mudança nos métodos adotados pela Igreja no Brasil, João Paulo li demonstra um profundo conhecimento das aspirações religiosas do brasileiro. Eis alguns trechos de seu discurso, de acordo com o "Osservatore Romano" de 6-9-95:
"Numa das minhas viagens à vossa terra, lembro-me ainda de que qui s agradecer ao Todo Poderoso ter enrai zado tão profundamente no coração do povo de Deus desse País a Cruz, a Eucaristia e a Aparecida. "Compreende-se então como o brasileiro gosta dos sinais exteriores da fé! Ele quer ver as igrejas com as suas características religiosas, com as expressões autênticas da arte sacra quedespertam a piedade e levam à oração, ao recolhimento e à contemplação do mistério de Deus. Ele quer ouvir com alegri a bater os sinos de vossas igrejas, convoca nd o-o para as ce leb rações li túrgicas ou convidando-o para as orações do dia ou da tarde em louvor da Virgem Maria! Um sino que toca - e tantos o emudeceram - leva a muitos ouvidos um sinal ele vitalidade ec les ial. Ele quer sent ir nas músicas ele vossas igrejas o apelo ao louvor de Deus, a ação de gracas, a prece humilde e confiante, e se sente incomodado quando esses cantos, em sua letra, envolvem uma mensagem política ou puramente terrena, e em sua expressão musical não apresentam as carac-
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alegria bater os sinos de , , vossas 1gre1as
terísticas de m{i sica religiosa, mas são marcadamente profanas no ritmo, na linha melódica e nos instrumentos musicais de acompanhamento. Clima de piedade "Procurai dar um clima de piedade e dignidade às celebrações litúrgicas, sabendo fazê- las alegres nos momentos dev idos e sempre espiritualmente confortadoras. "É certo que há tanta gente que não possui o sufi ciente para acalmar a própri a fome, mas ordinariamente o povo tem mais fome ele Deus que cio pão material , pois entende que não só ele pão vive o homem, mas de toda palavra que sa i ela boca de Deus (Mt 4,4). Ver a Igreja como Igreja, e não simpl es promotora ela reforma social. Este é um dever que promana da Fé, e não prévia ex igência para uma posterior pregação cio Evangelho. "Vosso povo quer ver os padres como verdadeiros Ministros ele Deus, inclusive na sua veste e no seu modo externo de proceder. Ele quer ver o homem ele
Deu s nos mini stros ele sua Igreja, uma presença que lhes inspira amor, respeito, confi ança. O povo tem direito a isso, e pode ex igi-lo de seus pastores. "O que os homens querem, o que esperam, é que o sacerdote, com o seu testemunho de vida e com sua palavra, lhes fa le ele Deus. O caráter conferido pelo sacramento da Ordem permite que o sacerdote atue "em nome de Cri sto cabeça", parti cipando da autoridade com que Cristo governa a sua Igreja. Por outro lado, o mini stro sagrado é chamado a exercer o poder da Ordem para oferecer o Sacrifício, perdoar os pecados e exercer publicamente o ofíc io sacerdotal em nome de Cristo a favo r cios homens. "Por isso co nv é m que ambas as notas cio sacerdócio mini steri al co nservem sempre seu justo apreço, tendo em vista que num a sociedade seculari zada e ele tendência materiali sta se nte-se particu larmente a necess idade ele que o presbítero - homem ele Deus dispensador cios seus mini stéri os - seja recon hecíve l pela comunid ade, também pelo há-
bito que traz, como sinal inequívoco da sua dedicação e da sua identidade ele detentor ele um mini stério público. Povo cordial "O qu e val e para todos os povos tem um a importânci a fundamental para vosso povo. Ele é antes de tudo cordi a l. Ele, na sua carência afetiva, necess ita sentir-se querido e aco lhido. O povo é muito sensível ao ambi ente em que se encontra. Ele espera ver alegria, simplicidade e ca lor hu mano . Importa dar atenção pessoa l a qu e m procura a Igreja, manter-se di sponíveis, co mo sin ais ele consideração, escuta e abri go a necess itados de amparo espiritual. "Confio à Virgem Mãe, Nossa Senhora Aparecida, os projetos, as esperanças e as dificuldades da hora atual da Nação. Nesta pers pectiva, in voco a bênção do Se nhor sobre vós, sob re os sacerdotes, as re li giosas e os leigos desta Terra de Santa C ru z que me é muito querida" O
Por que o chimpanzé sumiu
do outdoore da TV? PAULO CoRRÊA DE BRITO F1LHO
foto abaixo, à esquerda, não chamou de modo especial a atenção os transeuntes que, meses atrás, passaram diante de um outdoor, na capital paulista. Há coisa mai s banal do que um chimpanzé segurando a garrafa de certo refri gerante, para simular bebê-lo? Também não espanta, hoje em dia, que uma empresa comercial tenha se utili zado desse recurso para vender mais o seu produto. O úni co reparo que em sã lógica se poderia fazer, é que essa propaganda representa um incentivo a que as pessoas procedam como o animal , pois são convidadas a seguir o seu exemplo e consumir o mesmo refrigerante. Algum Comitê de Defesa da Boa Educação poderia protestar, e não sem razão ... Entretanto, como vivemos numa época em que o ecologismo está na crista da onda, e a supervalori zação dos animais gera arbitrariedades inconcebíveis em cond ições normais ele sanidade mental, o fato não é assim tão banal. Pode até cons-
tituir delito: infração do artigo 225 § l, item VII da Constituição vi gente, o qual proíbe práticas que "submetam os animais à crueldade". Invocando tal arti go e o Códi go da Fauna Nativa, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e cios Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) entrou com uma ação pública pedindo a retirada do anúncio, bem como de comerciais na TV, em que o mesmo chimpanzé simula beber refri gerante, além de dirigir carro e falar em telefone celular. Mas se o leitor pensa que a coisa ficou por aí, engana-se! Dias depois da entrada da ação pública proposta pelo IBAMA, o simpático chimpanzé sumiu do outdoor, conforme se vê na foto menor, em que foi todo recoberto por papel branco. Não adiantou o treinador do prendado símio-artista esclarecer que tanto aquele como outros chimpanzés-propaganda são bem tratados. E também foi inútil declarar que se tomou o cuidado ele não o
forçar a beber guaraná durante a gravação na TV, mas sim - ó delícia para os símios! - água de coco. Uma decisão judicial ele primeira instância acolheu a ação pública e mandou suspender a propaga nda. É pena que o chimpanzé tão carinhosamente tratado pelo desvelado treinador não possa opinar. Se pudesse, concordari a com o IBAMA e com o Juiz? Ou exaltaria as qual idades ele seu treinador e comprazer-se-ia - como, aliás, tantos e tantos animais racionais - em ver sua cara em cartazes e comerciais de TV ?
Uma vez que já se começo u, em boa hora, a reform ar a chamada Co nstituição cidadã ele 1988, não seri a má idéia pelo menos eliminar do artigo 225 a referência à crueldade contra animais. Nossa atual Carta Magna é uma das mais extensas e prolixas ele todo o mundo. Os constituintes, entre outras trapalhadas, confundiram Direito Constitucional com códi gos como o ela Fauna Nativa e o de contravenções... D
Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima recebida em Campos dos Goytacazes (RJ). "O brasileiro gosta dos sinais exteriores da fé", disse João Pau lo li
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. ·,P e. Gervásio Gobato: 25 anos de sacerdócio
proximadamente 1.500 pessoas paiticiparam das significativas solenidades e m hom ena ge m a um sai·cedote modelar, o Revmo. Pe. Gervásio Gobato, que consagrou seus 25 anos de sacerdócio à cura das almas e a um profícuo traba1ho apos tóli co, qu e in c lui dedi cada ass istência a sócios, cooperadores e correspondentes da TFP. Paranaense de Bela Vi sta do Paraíso, cursou o Semin ário Di ocesa no da Ass unção, em Jacarezinho (PR). Tendo prosseguido os estudos inicialmente no Seminário Maior de Curitiba, por determinação de seus superiores transferiu-se para o Seminári o Maior de Diamantina (MG), completando o curso em cinco anos. Em 11 de abril de 1971 , foi ordenado sacerdote em Campos (RJ). Seu apostolado se exerceu em algumas cidades do Norte flumin ense, e em 1973 iniciou sua frutuosa atividade em Laje do Muriaé, a qual perdura até nossos di as .
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Missa solene A espaçosa capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, ainda
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em construção, não pôde conter no seu interior o express ivo número de amigos do Revmo. Pe. Gervás io, não só daquela cidade, mas também provenientes ele todo o Norte fluminense e de outros Estados. Em vista disso, foi necessário montar fora cio recinto do templo um tel ão, através do qual muitas centenas de pessoas puderam acompanhai-, durante mais de sete horas, o desenrolai· das cerimôni as, que contai·am com assinaladas bênçãos ele Maria Santíssima. A Santa Mi ssa so lene teve início às 17:45 h, oficiada pelo homenageado e acolitada pelos Revmos. Padres Olavo Pires Trindade e Antonio ele Paula. O Coral São Gregório Magno, ela TFP, entoou cânti cos gregorianos e poli fô nicos durante a cerimôni a litúrgica. No serm ão, o Rev mo. Pe. Olavo Pires Trindade ressaltou que a intensidade da união que vinculava os presentes naquela homenagem ao Revmo. Pe. Ge1vásio devia-se ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP e falecido em outubro passado. Enalteceu então, dentre as assinaladas virtudes desse insigne líder católico, seu acendraclo ai11or à Igreja e ao sacerdócio. Esse apreço estimulou em todos que o conheceram o reconhecimento ela excelsitude do estado sacerdotal.
Discursos Após a Missa, no próprio recinto do templo, teve início a sessão de homenagem pelo jubileu de prata do Rev mo. Pe. Gobato. De início, saudou-o em nome dos fi éis o Dr. Júlio Césai· Paraguassu, Juiz cio Tri'
CATOLI CISMO -
bunal ele Alçada Civil e Crimi nal do Rio ele Janeiro. Em nome do Exmo. Sr. Prefeito de Laje cio Muriaé, falou sua esposa, Da. Ol ga ele Almeida Rezende. Em seguida, uma devota de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Da. Elza Ligiero, diri giu ao homenageado pal avras de saudação. Representando a TFP, usou ela pal avra o secretári o do Conselho Nacional da entidade, Dr. Paulo Corrêa de Brito Filho. Em di scurso de agradecimento, o homenageado realçou a benéfi ca influência que exerceu sobre ele o saudoso fundador da TFP, Prof. Plínio Corrêa ele Oliveira.Invocando-o, exclamou: "Sois vós, D,: Plínio, o campanário que toca no escuro, na conji1são, trazendo o som da tradição, do passado católico, nessa missão tão bela concedida a cada um de nós".
O homenageado discursa
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Por fim , o Sr. João Clá Di as, sócio ela TFP e regente do Coral São Gregó rio Mag no e ela Fanfarra dos Santos Anjos, que abrilhantaram as homen agens, ofereceu ao homenageado a esplêndida coleção "D on.a Lucília ", de sua autoria, composta de três artísticos álbun s que abordam, com extraordinária riqueza documentári a e muita propriedade, a vida de Dona Lucília Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, mãe do fundador da TFP.
Concerto do Coral São Gregório Magno e da Fanfarra dos Santos Anjos Teve início depois o concerto, que se dividiu em duas partes: na primeira, o Coral São Gregó rio Magno aprese ntou câ nti cos g rego riano s e poli fô nicos, estes últimos especialmente ele compositores das épocas medieval , renascentista e barroca. Após um ln.tennezzo, durante o qual se apresentou um conjunto instrumental de câmara, da mesma entidade, iniciou-se a segunda parte do concerto. A Fanfarra dos Santos Anjos executou então peças de consagrados autores co mo Lully, de Lalande, Mouret, Charp enti er e Handel. Fogos de artifício e banquete Terminada a sessão musical, os presentes puderam assistir a um a des lumbrante queima de fogos de artifício, que se prolongou até as 24 hs. Um banquete ele centenas de talheres concluiu as festi vidades. D
Livro da TFP sobre a Reforma Agrária alcança ampla repercussão no Senado e Câmara Federal Escritório da TFP em Brasília fez larga di stribuição a depu tados e senadores do estudo A
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Ref orma ag rária semeia assentamentos- Assentados colhem miséria e desolação, de autori a da Comjssão de Estudos Agrários da entidade. Foram inúmeros os comentários favoráveis à tese do livro da TFP, como o de um deputado do Maranhão, que afirmou "não conhecer nenhum assentamento que tenha dado ce rto" . Um deputado do Ceará constatou que "a esquerda está inteiramente f ora da realidade". A respe ito do clima de luta de classes insufl ado pelos invasores do MST, um parl amentar do Maranhão declarou que "se trata de uma política suicida que o Governo está f azendo, e que pode conduzir a uma guerra civil" . Um deputado do Espírito Santo dec larou ainda q ue, q uando fo i prefe ito, di stribuíra terras e casas para fa míli as de pou cas posses . Contudo, poucos anos depoi s, "some1Jte restaram (no local) 10% dessas pessoas".
Catolicismo elogiado na Câmara Federal O Deputado Lae l Varell a (PFLMG), em di sc urso no plenári o da Câmara Federal, e logiou o alerta de Catolicismo contra um comercial da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), no qual o Hino Nacio nal era apresentado em ritmos populares. O Deputado Lael Varella observou: " O Hino Nac ional, na música e na le-
tra, expressa o sentimento que os brasileiros têm pela sua Pátria, não podendo ser tocado em ritmo de samba □ ou rock".
Deputado Benito Gama (PFL-BA) recebe livro da TFP sobre fracasso dos assentamentos
Continuam a nos chegar cartas a respeito do número especial de Catolicismo (nov-dez/95) , dedicado à vida e obra do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Eis trechos de mais algumas: "Um ho mem profu ndamente assistido pela graça de Deus, verdade irame nte um profeta para os nossos di as". I.B.T.B. - Salvador (BA) "Batalhador tenaz e coerente, de fé inquebrantável, com capacidade espantosa de trabalho e uma confi ança transmissível a todos qu e de le se aprox imavam, quer pessoalmente, quer através de sua obra doutrin ári a. E m sum a, um professor emérito e líder inconteste, que nos fará mu ita fa lta doravante". G.B.F. - Belo Horizonte (MG) "Tenho grande ad mi ração pe lo vosso trabalho em favo r da restauração da c ivili zação cristã em nossa Pátria, hoje mergulh ada no caos da imorali dade, do materi alismo, da corrupção. Rezo se mpre à Sa ntíss ima Virge m Maria para que continu e lhes dando a graça de proclamar valores e ideais tão nob res". L.P.S.G. - Rio de Ja neiro (RJ) CATOLICISMO -
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Ao lado e abaixo, aspectos da campanha da TFP uruguaia em Montevidéu
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Mais de
7,o·o livros registram atuação da TFP
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Fa1ília e Propriedade TFP conta já com um acervo de mais de 700 livros, tanto nacionais qu anto estrange iros, que atestam a atuação da entidade, segundo info rmou o Sr. Go nza lo Larrain ·ca mpbell , responsável pela pesquisa dessa documentação. Desde 1960, quando foi fundada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fa lecido em outubro do ano passado, a TFP tem marcado presença nos grandes momentos da vida bra-
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sileira, saindo às ruas, com vistas à divulgação de livros e manifestos, bem como para obter adesões a abaixo-assinados de âmbito nac ional e intern ac ional. Além disso, para contato permanente co m o público, mantém há mais de 25 anos um sistema de caravanas de propagandistas que, em kombis e outros veícu los, percorrem o País, ati ngindo até mesmo as suas mais remotas loca lidades. O alcance dessa ressonância junto ao grande público é um fe nômeno que tem atraído a atenção dos estudiosos, mui -
tos dos quais publi ca m suas análi ses em livros, já largamente presentes nas estantes de livrarias e bib liotecas. Assim, pub licações que tratam da hi stória recente da Igreja no Brasil , do debate agro-reformi sta, da oposição ao comun ismo ou ao socialismo, freqüentemente contêm referências e comentários sobre a TFP. São igualmente colecionados na TFP li vros que se referem à pré-história da entidade, isto é, ao período iniciado em 1928, no qual o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira destacou-
se como jorn ali sta, deputado constituinte e líder católico nas fileiras das Co ngregações Marianas. Uma das obras que ressalta a notori edade do Fundador da TFP é a dissertação de mestrado apresentada em 1984, na Universidade de São Paulo, pelo Prof. L izâ neas Souza Lima, sob o título Plínio Corrêa de Oli veira, um Cruzado do século XX. Pela pri-
meira vez, nessa universidade, fo i defendida uma tese sobre o pensamento e a obra de uma personalidade ainda viva.
Protesto contra a derrubada de dois aviões civis por Fidel Castro Sociedade Uruguaia de Defesa da Tradição, Faúlia e Propriedade publicou enérgico manifesto contra a derrubada de dois pequenos av iões civi s indefesos pelo Governo castri sta. O mani festo, divulgado nas ruas do país vizinho, observava que nada justifi cava ta manh a monstruosidade, nem seq uer havia um clima de tensão e nervosismo que pudesse explicar tamanho desatino; O documento, com base em fatos, mostrava a insensatez da política de abrandamento com Fidel Castro, que, lastreado nela, está podendo aumentar o rigor com que trata o povo cubano. Mais ainda, Cuba pode voltar a ser um foco de irradiação do comunismo nas Américas. Porém, o entreguismo e indiferença de certos meios diplomáticos, políticos e empresariais continua favo recendo a escrav ização do
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povo cubano e as possibilidades de expansão do castrismo. Daí, o brado de alerta: "a TFP indigna-
Livro relata a ação da TFP uruguaia
da eleva seu mais categórico protesto por este novo crime da tirania castro-comunista e pede às autoridades e à opinici.o públicc1 que não se deixem contagiar pela passividade geral ".
Está para ser publicado o li vro Formas de micropolítica en el Uruguai de fi n de milenio,
de N. Arga naraz e Macarena Carroc io. Parte deste trabalho foi publicada pelo diário La Re-
pública de 15 de abril último.
Os autores, que não são simpáticos à TFP, mostram entretanto que a entidade tem uma nota de indiscutível atualidade, por conhecer bem as mutações ideológicas e culturai s de nosso tempo e planejar sua ação em função delas.
Abaixo, cm primeiro plano, o Revmo. Pe. Olavo Pires Trindade entre pelos Príncipes Dom Luiz (à direita) e Dom Bertrand de Orleans e Bragança
TFP celebra aniversário de morte de Dona Lucilia omo já se tem tornado costumeiro, a TFP de São Paulo celebrou a data de falecimento (21 de abril) e de nascimento (22 de abril) da Sra. Lucília Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, mãe do Fundador da TFP brasileira, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Como parte das comemorações deste ano, foi realizado esplêndido concerto do Coral São Gregório Magno e da Fanfarra dos Santos Anjos, ambos da entidade, na igreja de Nossa Senhora da Consolação, inteiramente tomada por sócios, cooperadores, correspondentes e simpatizantes da TFP. A igreja de Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Sumaré, estava também repleta de pessoas que compareceram para assistir à Missa solene, celebrada pelo Revmo.Con. José Luiz Marinho Villac, abrilhantada com cânticos gregorianos e polifôn icos entoados pelo Coral São Gregório Magno.
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Acima, o momento da Sagrada Comunhão na Missa por Dona Lucilia, celebrada pelo Revmo. Cônego José Luiz Villac
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A cidade inedieval e a cidade moderna PLJNIO CORRÊA DE ÜUVEIRA
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uando nas iluminuras medievais consideramos uma cidade vista de longe, e la se apresenta de modo inteiramente diferente da cidade moderna. idade moderna é de contornos imprecisos, irreg ulares, é como um tumor que se vai estendendo de l,'í para cá e para aco lá, de maneira tal que numa certa direção e la cresceu muito, e noutra existem a ind a parques que vão quase até o se u centro. A cidade medieval nos dá impressão de uma moeda be m cu nh ada. E la está re pleta de casas, num recinto de limitado por um muro e realçado por torres. O limi te é defi nido e claro: para além do muro , campo; para dentro do muro , c id ade. O muro é o resplendor da cidade, que tem e m torno de s i uma coroa fe ita de muralhas, assegurando- lhe a poss ibilidade de se defender por s i própria e d~ mante r sua autonomia.
Acima: iluminura da Paris medieval (/,es trc\s riches he11rC's d11 I )uc ele• Bcrry, s0c. XI;). Ao lado, a moderna Johanesburg (África do Sul)
Vi sta ass im e m se u co njunto, a cid ade dá a impressão de uma ca ixa ele tesouros. Porque o que e merge de dentro d ' lu são co isas preciosas: as torres das igrejas, as pontas d.i s cated rais com as rosáceas e os vitrais, as torres d um ou outro pal,'ício, etc. Dir-se-ia qu e e ntre suas torres havia u111:1 espéc ie de co mpetição para atin g ir o céu. As ruas não correspond iam muito às idé ias do urbani s mo moderno. Eram sinuosas, caprichosas, ines perada s, ·0111 peculiaridades singul ares. As casas não tinham numcnu;ao . Nada de anún c ios imorai s, ou de algo qu e pud 'Ss · ir contra os bons cos tum es. Essas ruelas estão para os quarte irões de nossos dia s, qu adrados e cortados em ângulo reto, mais ou menos ·0 111 0 a caligrafia está para a datilografia: a letra cl atil og rá l'ica l' irrep reensív e l; a letra manuscrita muitas vezes é irre 'lil:tr, e até feia, mas tem a expressão de uma alma. Ess ·s q11:i dril áteros urbanos, o que exprim em? As a lm as dos li o me ns se m alma ... N. da Redação: Texto sem revisfio cio autor.
JLXCilยง . .
Revolução e Contra-Revolução
Nº 547 - Julho de 1996
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NESTA ED IÇÃO:
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REVOLU ÇÃO E CONTRA-REVOLU ÇÃO
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A REALIDAD E CONCISAMENTE
PALAVRAS DE VIDA ETERNA
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Comentários sobre os Evangelhos
PLINCO CORRÊA DE ÜLlVEIRA
Pseudo-Reforllla e Renascença Vimos publicando nos números anteriores os primeiros capítulos de Revolução e Contra-Revolução, do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Tratando da imensa crise que envolve o mundo atual, o ilustre Autor analisa o processo revolucionário que pôs fim à Idade Média (cap. Ili, 5, A) e gerou um novo estado de espírito, um novo tipo humano. A seguir (item 8), expõe os traços essenciais da primeira grande Revolução, levada a efeito pelo Humanismo e pelo Protestantismo.
Exemplo típico de homem da Revolução humanista e protestante foi o orgulhoso e sensual Henrique VIII, Rei da Inglaterra, que fundou o anglicanismo e na prática introduziu o divórcio
ste novo estado de alma continha um desej o possante, se bem que mai s ou menos inconfessado, de uma ordem de coi sas fundamentalmente diversa da que chegara a seu apogeu nos séculos XU e Xlll. A admiração exagerada, e não raro deli rante, pelo mundo antigo, serviu como meio de expressão a esse desej o. Procura ndo muitas vez s não co lidir de frente com a velha tradição medieval, o Humanismo e a Renascença tenderam a relegar a Igrej a, o sobrenatu ra l, os valores morais da Religião, a um segundo pl ano. O tipo humano, inspi rado nos morali stas pagãos, que aqueles movimentos introduziram como ideal na Europa, bem como a cultura e a civilização coerentes com este tipo humano, j á eram os legítimos precursores do homem ganancioso, sensual, laico e pragmáti co de nossos dias, da cultura e da civilização materi alistas em que cada vez mais vamos imergindo. Os esforços por uma Renascença cri stã não lograram esmagar em seu germ e os fa tores de que res ul to u o triunfo paul atin o do neopaganismo. Em algumas partes da Europa, es te se desenvolveu sem levar à apostasia formal. Importantes resistências se lhe opu seram. E mesmo quando ele se instalava nas almas, não lhes ousava pedir - de início pelo menos - um a form al ruptu ra co m a Fé. Mas m outros países ele in vestiu às escâncaras contra a 1 reja. O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protes tanti smo. or ulho d u ori ,em ao espírit o d dúv ida, ao li vre exa me, à interpr lação naturali sla da ns ·rilu r-1. Produzi u le a insurr ição conlr-i a aul orid ad ' ' ·I 'siásti ·a, 'xpr 'ssa ' 111 todas as s itas pela negação do ·a rút ·r 111011 :'.írqu i ·o da l 1 r ·ja ató l ica , isto é, p la r vo lla conl ra o Papado. AI 1 u111as, mais radicai s, negaram tamb 111 o qu ' s' pod ' ria ·hamar a alta ari stocrac ia da Igrej a, ou s j a, os Bispos, s ' us Príncip ·s. Outras ainda negaram o própri o sacerdócio hi ·rárq ui ·o, reduzindo-o a mera delegação do povo, úni co d tent or v 'rdadciro do poder sacerdotal. No plano moral, o triunfo da sensualidade no protestanti smo se afirmou p la supressão do celibato eclesiásti co e pela introdução do divórcio.
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1-1 15 íÓRIA SAGRADA
ENTREVISTA
Rússia continua representando ameaça comunista
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HAGIOG RAFIA
Santa Maria Goretti, mártir da pu reza
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BRASIL REAL, BRASIL BRASILEIRO
INTERN ACIONAL
Kerenskismo atuou
Cancioneiros e repentistas
na África do Sul
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IMAGENS EM PAIN EL
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PÁGINA MARIANA
A lição de um relógio
As belezas de uma oração: o Memorare DESTAQUE
Eleições na Itália
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Deus pune os pais que não educam os filhos
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VERDA DES ESQ UECIDAS DISCERN INDO, DISII NGUINDO, CLASS IFICANDO ...
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LITERATURA
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RELI GIÃO
Passado, presente e futuro do catolicismo
Julio Verne TFPS EM AÇÃO
NA CAPA: Cristo Redentor, Rio de Janeiro - um símbolo do Brasil católico. Renata Mello, Ag. Tyba
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AMBI ENT ES, COSTUM ES, CIVILIZAÇÕES
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CATOLICISMO é uma p.lJblicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda.
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A REALIDA O fracasso estrepitoso do estatismo Mass imo D' Alema é o líder do Partido Democrático de Esquerda (PDS), a nova denominação do antigo Partido Comunista Italiano, força principal do Bloco da Oliveira, que venceu as recentes eleições parlamentares italianas. Arespeito do programa do Bloco da Oliveira, afirmou Massimo D' Alema: "As privatizações constituem a "grande ocasião para distanciar os partidos políticos da condução das empresas, criar novos mercados, injetar uma f orte dose de competitividade nas indústrias e nos bancos e expandir o mercado privado de capitais".
-~ zes da Comunidade Européia impõem a terra de descanso aos camponeses. O conjunto do mundo desenvolvido entrou na era da desnatalização. A Europa, a América do Norte e o mundo asiático têm uma taxa de natalidade ú1ferior à necessária para a simples substituição de gerações".
China vermelha ameaça indústria têxtil brasileira A China com uni sta domina 85% do comércio mundial dos têxteis. Prepara-se para fazer o mesmo no ramo dos calçados e já avançou largamente no de brinquedos. Seu segredo? Repressão política
ISAMENTE impi edosa, nada de greves, salários baixíss imos. Um trabalhador chinês ganha um décimo do coreano e um vigésimo do japonês . Aliás, bem mais do que ganhava no paraíso do maoísmo puro. É o tratamento especial que ocomunismo reserva aos operários de lá. Aqui, as esquerdas, que sempre foram priminhas afetuosas do maoísmo, estão de bico calado. O que é ruim aq ui fica bom na Chin a. Aqui vai uma sugestão construtiva para o PT e a esquerda católica: campanha braba contra a utili zação da mão-de-obra escrava na Ch ina, que está provocando um desemprego brutal no Brasil.
Opinião do conhecido demógrafo francês Pierre Chau-
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Santa Sé condena veto de Clinton
Pesada herança do coletivismo marxista O Ocidente gasta anualmente cerca de um bilhão de dólares para a manutenção dos antigos reatores soviéticos (foto). Uma solução definitiva ficaria em 24 bilhões. Solução definitiva é o fechamento das unidades mais perigosas e total reequipamento das outras. Porém, estes reatores inseguros garantem grande parte da energia elétrica nos países da antiga Cortina de Ferro. Não podem ser desativados. Por exemplo, dois· reatores RBMK, similares aos de Chernobil, de altíssimo risco, fornecem 80% da energia consumida na Lituânia. "O pior é que eles precisariam ser fechados imediatamente", afirmou o pesquisador austríaco Alfred Birkhofer durante uma conferência em Viena em começos de abril. Esta dinheirama poderia estar sendo usada para ajudar os pobres, mas precisa ser enterrada na Europa Oriental, para tentar evitar as trágicas conseqüências da irresponsabilidade, incompetência, atraso e desleixo, próprios aos regimes comunistas.
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A Rússia continua a <<espalhar seus erros pelo mundo ►►
A Santa Sé condenou de forma enérgica o veto do Presidente Bill Clinton a um projeto de lei aprovado pelo Congresso norte-americano que proibia o aborto entre 3 e 6 meses de gravidez. "A decisão presidencial contra a posição do Congresso é um veto vergonhoso, que equivale a um ato incrivelmente brutal contra uma vida humana inocente e contra os direitos humanos inalienáveis de quem ainda não nasceu", afirmou o
Vaticano em declaração divulgada pelo seu porta-voz , Joaquin Navarro Valls.
Realidade indígena versus propaganda
Superpopulação, mais um mito jornalístico
n u: "Nu nca houve superpopulação em escala planetária. O risco atual não é de explosão, mas de implosão. Se não houver mudança de tendência, por extrapolação estatística, a humanidade desaparecerá no ano 2400. O que há de novo é a transformação do problema da superpopulação num problema mítico, num fenômeno da imprensa. Houve reações de pânico, particularmente nos Estados Unidos, onde o 'Population Council' desde meados da década de 50 inundou a Terra com informações catastróficas baseadas muitas vezes em estatísticas que a ONU começa a reconhecer que eram manipuladas. Este conjunto de fantasmas entrou nos meios de difusão. Se houve um período em que se esteve longe do ponto de saturação, é o nosso. Os celeiros estão cheios. As diretri-
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A propaganda esquerdista ora apresenta os índios de forma idílica, ora os manipula com o intuito de criar focos de contestação à ordem atual e à soberania do Brasil na Amazônia. Entretanto, não trabalha para resolver os problemas reais que infelicitam os pobres habitantes da selva. A realidade nua e crua aparece por vezes. Equipe da Universidade Federal Fluminense visitou 12 alde ias indíge nas do Rio Solimões. O drama ali é o alcoolismo e a desnutrição infantil. "Todas as tribos têm suas vendinhas para o comércio de bebidas alcoólicas, sobretudo a cachaça. Todos bebem, das crianças aos velhos. O controle é muito difícil ", ad-
verte o Prof. Paravidino. "O álcool cria nas aldeias urna cadeia de problemas, como a diminuição da capacidade de trabalho, o acirramento dos conflitos internos e a prática do suicídio", diz a
Profa. Fátima Guedes.
WASH INGTON - Em junho último, quando o Ocidente prendia a respiração e esperava o resultado das eleições na Rússia, J. Michael Waller (foto), vice-presidente do American Foreign Policy Council, organização privada que fornece informações para a Comissão de Política Exterior do Senado dos Estados Unidos, afirmava: "Qualquer que seja o vencedor do pleito eleitoral na Rússia, a ameaça comunista persistirá. O Ocidente continuará na mira da KGB".
A afirmação parecia insólita para o leitor da imprensa diária norteamericana, acostumado a ver em Boris Yeltsin o campeão do anticomunismo e em Gennadi Zyuganov a encarnação de um pesadelo: o retorno à Guerra Fria. Autor do best-seller Secret Empire: The KGB in Russia Today (Westview Press, 1994, 390 pp.), que em breve será lançado no Brasil, Waller conhece como ninguém os bastidores do poder na ex-URSS. Todos os dias recebe informações diretamente de organizações especializadas em acompanhar o vai-e-vem da intrincada política russa. Em outubro de 1993, quando o Parlamento se rebelou contra Ye ltsin, ele estava em plena Praça Vermelha, em meio ao fogo cruzado dos tanques e da polícia secreta. O vice-presidente do American Foreign Policy recebeu em seu escritório, na 16th Street, no centro da capital norte-americana, o correspondente de Catolicismo, Orlando Lyra Jr., para uma entrevista exclusiva.
Catolicismo -Após a queda do Muro de Berlim, dizem. que o com.unismo morreu. Concorda com. tal afirmação?
Michael Waller- As teorias rnarxistas-leninistas perderam muito de sua atração desde o colapso da URSS, mas a mentalidade criada e institucionalizada pelo comunismo no Leste europeu continua mais forte do que nunca. Os 70 anos de regime comunista criaram no povo russo urn a mentalidade que penetrou profundamente não só nas estruturas de poder, mas também na sociedade em geral. Nada escapou. Nem a religião. Todos sabemos, através dos documentos secretos que vieram à tona em 1991 , que a assi m chamada Igreja Ortodoxa russa tornou-se um departamento da KGB, a polícia secreta comunista. Veja, por exemplo, o caso de Gleb Yakounin, um padre ortodoxo que nos anos 60 escreveu uma carta a Nikita Kruchev pedindo liberdade religiosa. Em conseqüência de tal carta, este pobre ho-
Os 70 anos de regime comunista criaram no povo russo uma mentalidade que penetrou profundamente não só nas estruturas de poder, mas também na sociedade em geral. Nada escapou. Nem a religião. CATOLICISMO -
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rnem foi preso e enviado ao Gulag, os te1riveis campos de concentração soviéticos. Sabe quem foi a testemunha de acusação cliante do tribunal comunista? O Patriarca de Moscou ... O povo russo não tem onde se refugiar. Até aqueles que deveriam ser seus pastores, com raras exceções, são lobos vestidos de ovelhas. Catolicismo - Bem., m.as o povo russo, em. si, não é comunista... Michael Waller-Precisamos matizar tal afirmação. Talvez não seja comunista em teoria, mas seus hábitos mentais são comunistas. Repito: os russos foram educados durante 70 anos no regime comunista. Isso é trágico. Por exemplo, desde seus primeiros anos, a criança russa aprendeu a ter co rno mode lo o pequeno Pav ili k Morosov, aquele menino que denunciou os próprios pais à KGB, que os executou sem clemência. Morosov é a criança mais conhecida na Rússia. Ainda hoje é o modelo para muitas escolas primárias. Milhares de jovens continuam a usar, na camisa, um distintivo representando a silhueta de Morosov. O que esperar de um povo educado assim? Que modelos de comportamento humano eles possuem? Recentemente, o povo russo aclamou Boris Yeltsin quando, literalmente, ele ex termino u cidades inteiras na Chechênia. Creio que isso ainda é conseqüência da "mentalidade Morosov". Catolicismo - O que se deve pensar da autenticidade democrática de Boris Yelts in ? 5
M. Waller- Yeltsin se desligou do Politburo por questões pessoais. Ele brigou com Gorbachev e achou que era conveniente tomar certas atitudes contra a burocracia comunista. Daí ter-se tornado, aos olhos da mídia ocidental, um grande anticomunista. No Ocidente, tal fato serve de prova insofismável de que Boris Ye ltsin é um autêntico democrata. Mas ele não é nem nunca foi democrata. Propriamente, ele é um oportunista. Catolicismo Como ficará a situação na Rússia após as eleições? M. Waller - Nos últimos anos, Boris Yeltsin tornou-se mais reacionário do que os próprios comunistas. Não faz muito tempo, promoveu uma verdadeira limpeza dos elementos pró-ocidentais que trabalhavam em seu ministério. Além disso, conservou escrupulosamente todo o aparato comunista da KGB e do Exército. Qualquer que seja o vencedor do pleito eleitoral, a ameaça comunista persistirá. O Ocidente continua na mira da KGB.
cer um papel decisivo no cenário político russo?
J. Michael Waller
Os russos continuam a construir complexos militares gigantescos, sobretudo bunkers de defesa antinuclear escavados nas rochas dos Urais. Os Estados Unidos estão proibidos de construir tais defesas.
M. Waller - Provavelmente, presenciaremos uma reunificação da Rússia com a Bielorrússia e com alguns outros membros da ex-URSS, como o Cazaquistão e a Quirguízia. Acredito num estreitamento de laços, mais fortes do que os existentes atualmente, com a Ucrânia e com os países bálticos. Isso dará origem a uma nova URSS? Só o tempo dirá.
M. Waller - A Rússia é a única a deter o controle operacional das armas nucleares, mesmo daquelas estacionadas fora de seu território. O Governo dos Estados Unidos não sabe com precisão quantas ogivas nucleares a Rússia possui, e o que está fazendo com elas. Só tem conhecimento de que não há controle civil sobre o Exército russo, e que em 1991, durante a tentativa de golpe de Estado, e em 1993, durante cerco ao Parlamento, as autoridades civis perderam completamente o controle sobre tais armamentos.
Catolicismo - Quem controla as armas nucleares da ex- URSS ?
Catolicismo - Isso significa que as Forças Armadas continuam a exer-
Catolicismo volta da URSS?
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O Sr. acredita na
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M. Waller- Sem dúvida. O Exército Vermelho, desde sua criação pelos bolcheviques, após a Revolução de 1917, sempre foi o exército do Partido Comunista, jamais um exército do Governo ou da nação russa. Trata-se de uma instituição eminentemente política, que ainda utiliza a foice e o martelo como símbolo, embora sua designação não seja mais Exército Vermelho. Os comunistas trocaram-lhe o nome durante a Segunda Guerra Mundial, para não assustar muito os ocidentais, que estavam prontos a injetar, na URSS , bilhões de dólares de auxílio na guerra contra os nazistas. Catolicismo - O Exército russo ainda representa alguma ameaça à segurança ocidental? M. Waller - Sim, e uma grande ameaça. É verdade que o ex-Exército Vermelho perdeu muito de sua garra, devido à indisciplina interna e à corrupção de seus oficiais. Recentemente, teve um péssimo desempenho na Chechênia. Mas isso não invalida a afirmação de que seu enorme aparato militar, tanto convencional quanto nuclear, ainda seja uma ameaça real à Europa ocidental. Os russos continuam a construir complexos militares gigantescos, sobretudo bunkers de defesa antinuclearescavados nas rochas dos Urais. Só os russos possuem essa defe a. Por força de um tratado internacional, os Estados Unidos estão proibidos de construir tais defesas. Mas eles podem. E já são mais de 1600 instaladas ao longo do imenso território russo. Por outro lado, se é verdade que a marinha de guerra russa está sucateada no que diz i"espeito à frota de supetfí-
cie, isto é, os navios e porta-aviões, é também verdade que os russos estão investindo maciçamente na frota estratégica de submarinos nucleares. Estão por lançar novos modelos de submarinos atômicos muito superiores a qualquer coisa existente no Ocidente. Esses submarinos são indetectáveis e autônomos em caso de conflito nuclear. Em outras palavras, cabe ao comandante da unidade decidir se deve apertar o botão e destruir dez cidades dos Estados Unidos de uma só vez. Daí o nome pelo qual são designados: doomsday patrol (patrulha do apocalipse). Além disso, os russos estão concentrando forças convencionais ao longo da Estônia, Letônia e Bielorrússia, sem nenhuma razão. Qual a ameaça que tais países representam para a Rússia? Ocorre que esse país sempre sedestacou na História como uma nação imperialista e agressora. E a idéia ele que é preciso restaurar o status de grande potência militar tem reunido atrás de si comunistas e nacionalistas de todos os matizes. Para eles, não importa que o país esteja afundando na miséria e no caos econômico. Desde que restaure esse mito, os russos estão satisfeitos.
Catolicismo -A dívida externa da Rússia chega a 140 bilhões de dólares. Com que dinheiro os russos pretendem
A Rússia continua a espalhar seus erros pelo mundo. Os comunistas e a KGB estão lá, como outrora. financiar esse gigantesco aparato militar?
suástica continuasse a tremular em suas bandeiras, e que os hábitos mentais nazistas permanecessem vivos no povo alemão. O que teria acontecido com o mundo? Ora, após a queda do Muro de Berlim, não presenciamos nenhum mea culpa dos líderes comunistas nem do povo russo. Não houve Tribunal de Nurenberg para julgar e apurar ares-
M. Waller -Com o dinheiro que o Ocidente tem injetado em suas finanças . Os bilhões de dólares recebidos dos ocidentais são aplicados na construção e aperfeiçoamento de novos armamentos nucleares. Para o povo não morrer de fome, os comunistas agora estão empregando soldados nas plantações de batatas, como Fidel Castro faz em Cuba para manter a produção de açúcar. Catolicismo - O que o Sr. teria a di zer àqueles católicos que ainda acreditam que a Rússia se converteu após o colapso da URSS? M. Waller-A Rússia continua a espalhar seus erros pelo mundo. Os comunistas e a KGB estão lá, como outrora. Imagine se, após a Segunda Guerra Mundial , os aliados tivessem consentido em deixar a Gestapo (polícia secreta) e a Wehrmacht (exército) intactos na Alemanha; que a
Não há fiscalização sobre os armamentos da Rússia, que controla o poderio atômico da ex-URSSS CATOLICISMO -
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Livro de Waller será lançado no Brasil
ponsabilidade dos facínoras e de seus herdeiros, que só na Rússia mataram 20 milhões de pessoas. Onde está o arrependimento? Basta comparar o colapso da URSS com o colapso do Terceiro Reich: naquela época, em 1945, houve em todo o mundo uma verdadeira onda de desnazificação, que executou os líderes nazistas sobreviventes e limpou a máquina oficial alemã de qualquer vestígio do antigo regime. Isso a ponto de criar uma verdadeira paranóia de nazismo nunca mais. O que de parecido houve em relação ao comunismo? Nada! Aí está a KGB mais atuante do que nunca, com ex-agentes na presidência da Lituânia, Polônia, Bielorrússia, Ucrânia e Azerbaijão. Longe de estar morto, o comunismo está mais vivo do que nunca! O 7
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Africa do Sul: processo desagregador em marcha JUAN CARLOS CASTÉ
imprensa ocidental diminuiu consideravelmente o espaço do noticiário que dedicava à África do Sul, após a ascensão do presidente Nelson Mandela ao poder. Pelo que antes se divulgava, a situação naquele país iria se normalizar, com o fim do censurável regime doapartheida separação artificial e forçada de raças - e com o início de uma democracia em que brancos e negros tivessem os mesmos direitos. Infelizmente, nada disso está acontecendo. Aquela riquíssima nação está resvalando para a desordem generalizada. Pois, como se sabe, apesar de suas mazelas anteriores e da perseguição movida pela comunidade internacional, a África do Sul era um país próspero e bem administrado sob o governo da minoria branca, e atingiu altos níveis de vida, atraindo, inclusive, maciça imigração negra proveniente dos países vizinhos. Havia ali, nessa época, três milhões de negros imigrantes.
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A esquerdização da África do Sul: fruto do entreguismo de políticos kerenskianos Pornografia A revistale Monde Diplomatique, de março de 1996, informa que amaior cidade sul-africana, Johannesburg,
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Violência urbana Há 53 mortes violentas por ano para cada grupo de 100.000 habitantes, enquanto na França o índice é de quatro por 100.000. Quem pode - e são muito poucos - já contratou g uardas privados, que são chamados por meio de um botão elétrico (conhecido como panic boton) a qualquer hora do dia ou da noite, quando o risco aumenta. A população tende a viver em espécies de guettos, para se proteger melhor, abandonando as áreas mais inseguras. Isto, quando pode ...
Matança entre tribos rivais Um dos flagelos da África negra é o ódio entre as tribos. O Governo Mandela não tem conseguido apaziguar os conflitos tribais, e a selvageria assassina está se tornando comum. Desentendimentos corriqueiros degeneram em matanças e vinganças sem fim. Já são dezenas de milhares os negros sacrificados nesses choques macabros, em que se mesclam disputas ideológicas, velhos ódios étnicos e tribais, rancores e ambições não atendidas.
está em via de se transformar numa Bangkok - a capital da Tailândia, onde campeia a mais abjeta imoralidade. No Governo anterior, as revistas pornográficas eram proibidas. Hoje suas tiragens oscilam entre 30.000 e 200.000. Os motéis proliferam nas grandes cidades do país.
Crise econômica
De Klerk (esq.) e seu sucessor, Mandela. Analogias com Kerensky, que preparou a ascensão do comunismo na RÍlssia • CATOLICISMO -
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O rand, antes uma moeda forte, foi desvalorizado e há uma retração nos investimentos externos, devido à insegurança generalizada . Quem mai sofre com a nova situação são os pobres, supostamente objetos do desvelo de Mandela e do grupo que o circunda.
Africano (CNA), movimento político dirigido por Nelson Mandela. Um político de passado capitulacionista não disporia de influência para forçar o eleitorado branco sul-africano a aceitar um processo tão cheio de riscos e ameaças. E tão danoso para o futuro da África do Sul, muito especialmente para os setores mais pobres da maioria negra, como O esquema Kerensky, se está observando. modelo para a África do Sul Dois dos pontos mais cenDe Klerk (centro) e seu gabinete, empossado em 1989 suráveis da política de De Alexandre Feodorov itch Klerk foram o desprestígio a Kerensky (1881-1970) foi um político russo que, com base em seu viável e sensato para sair de um deter- que conduziu os zulus, etnia negra que deseja trabalhar em uníssono com os passado não comunista, levou adiante minado impasse; d - Há reações de espanto, receio e brancos; e a política para favorecer o uma política concessiva na Rússia, que culminou com a tomada do po- rejeição nos setores conservadores, mas prestígio artificial do CNA, agrupader pelos comunistas - os bolche- que são muito menores do que as que mento composto por anti gos terrorisviques - em 1917, chefiados por seriam provocadas se um dirigente es- tas, com uni stas, aproveitadores e esLenine. Kerensky fugiu de sua pátria querdista fizesse as mesmas propostas. querdistas de todos os matizes. Até hoje e terminou sua vida tranqüilamente O passado conservador do líder em não foi possível acalmar o descontenno coração do mundo capitalista, questão é sempre um fator de apazi- tamento dos zulus, que querem seus Nova York. Transformou-se, porém, guamento e confiança. Logo ele, um direitos respeitados e se recusam a ser num homem-símbolo, na História, de batalhador em prol das posições tiranizados pela clique instalada no político entreguista face ao comunis- anticomunistas, tornar-se-ia um poder. Apesar da temeridade do caminho empreendido, De Klerk tornou-se mo, e que prepara o terreno para a entreguista? Não era possível... e - A política entreguista é levada a uma celebridade mundial exatamente ascensão de um regime marxista. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, cabo e as posições são entregues aos por causa de sua política entregui sta, entre as características marcantes de esquerdistas, que muitas vezes disfar- apregoada entretanto pelas tubas da pusua atuação pública, soube denunciar çam seus propósitos. O kerensky co- blicidade como um caminho de redencom penetração e destemor o papel in- meça então a denunciar os excessos ção para o conjunto do país. Quando recentemente foi promulsidioso e demolidor dos vários tipos de praticados pelos novos donos da situakerenskys na política contemporânea. ção e se lança na oposição. Mas já é gada a nova constituição, De Klerk Ressaltava que o esquema era sempre tarde, a batalha está quase inteiramen- abandonou o ministério - no qual seu partido mantinha uma coligação com o mesmo, não importando as diversi- te perdida ou já o foi por inteiro. o CNA - e passou a denunciar os pedades de circunstâncias em que a ação De Klerk, um kerensky sul-africano rigos imensos que ameaçam sua pátria. dos kerenskys se exercia: Perigos que ele próprio ajudou a tora - De início, certo dirigente polítiVoltemos à África do Sul. De Klerk nar iminentes. co torna-se uma espécie de símbolo de Infelizmente, esta foi a trajetória de uma política prudente, vigilante e con- ainda hoje dirige o Partido Nacional. servadora. Adquire prestígio, e forma Tornou-se conhecido nos tempos do De Klerk, análoga à de Kerensky e à apartheid, entre seus eleitores, como de imitadores seus através da História. uma ampla base eleitoral; b - Surpreendentemente, em certo um direitista hábil, ·enérgico e cauto. Haverá na opinião pública sul-africamomento passa a ser porta-voz de ou- Com base no prestígio de que gozava e na de todas as raças ânimo para cotra política, que é um meio-termo en- na tranqüilidade que suas atitudes enér- nhecer e defender seus verdadeiros intre suas posições iniciais e as posições gicas haviam criado no seio da mino- teresses? Empreenderá ela uma maropostas, de seus adversários, em geral ria branca, De Klerk conseguiu para si cha que leve o país a um destino de as condições de comandar um proces- autêntica grandeza cristã, que supõe esquerdistas radicais; c - Essa nova política começa a ser so político que culminou com a entre- uma enérgica rejeição às posições esD propagandeada como o único caminho ga do poder ao Congresso Nacional querdistas?
O governo sul-africano anunciou recentemente que contratará méd icos cubanos para melhor atendimento das regiões agrícolas. Esses preocupantes fatos da atualidade política, social e econômica do país indicam que um processo semelhante ao entreguismo de Kerensky está em curso.
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O Memorare: contrição e confiança ilimitada PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA(*}
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Memorare é talvez a oração mais cheia de esperança que se conhece na Igreja Católica, porque a afirmação que está nessa prece é a mais categó rica que pode haver:
Se nunca se ouviu dizer que alguém fosse desamparado, eu sou alguém e, portanto, pedindo a proteção dEla, não serei desamparado. Assim, ten ho o direito, mas também a obrigação, de não desanimar nunca. Por mais que a minha situação seja difícil, por mais que eu esteja aborrecido comigo e me faça censuras justas, se eu pedir que Ela me ajude, Ela me ajudará. Pode demorar mais tempo ou menos tempo, mas a ajuda dEla vem. Nós estamos muito habituados aos recursos modernos, por exemplo com a luz. Eu preciso de lu z, aperto um botão, inundo a sala de luz; se quero trevas para descansar, aperto o botão, a sala toda fica nas trevas. Há assim uma espécie de automatismo, por onde a vontade de cada um se faz inteiramente. Então ficamos com a idéia de que uma oração é assim também: eu aperto o botão, peço a Nossa Senhora para me ajudar, ela imediatamente fica obrigada a me ajudar na hora em que eu pedi, ou em que estou esperando socorro dEla. Se não ajudar nessa hora, está tudo perdido, eu desanimo. É errado. Nossa Senhora é Rain ha, é Senhora. Não tratemos uma senhora como se trata uma empregada. A uma empregada podemos dizer: "Sirva-me um café", e ela tem de ir à cozinha, preparar 10
pelos pecados que cometeu . Põe-se ajoelhado diante dos pés dEla. " ...não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado ... "
Quer dizer, não desprezeis as súplicas deste miserável pecador.
O sentido das palavras do Memorare Acho indispensável encorajar a todos, de todo modo e a todo preço, a não desanimarem nunca, nunca, nunca! Peçam a Nossa Senhora que ajude, que ajude, que aj ude, e rezem oMemorare, que é tão bonito. Não se deve rezar apressadamente, mas dizer a oração palavra por palavra.
"Lembrai- Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que alguém, tendo recorrido à vossa proteção, fosse por Vós desamparado" .
Mãe. Sede paciente para comigo, porque Vossa Mãe o é". " ... e gemendo sob o peso dos meus pecados, me pros!ro a Vossos pés ... " É um pecador tão pecador, que geme
"Lembrai- Vos, ó piíssima Virgem Maria ... "
" ... mas dignai-Vos de as ouvir propícia e alcançar o que Vos rogo. Assim seja". É uma oração lindíssima.
(*)Nota da Redação:
Texto adaptado, sem revisão do autor, de palestrado Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP brasileira, bem como de outros países em visita ao Brasil, em 22-4-1992.
Histórico do Memorare LEMBRAI-VOS, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que alguém que tenha recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho; e, gemendo sob o peso de meus pecados, prostro-me a vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. Assim seja.
Chama, logo de uma vez, de misericordiosíssima Virgem Maria.
Nossa Senhora dos Desamparados, séc. XV, Valência, Espanha
o café e trazê-lo. É o papel dela, de fazer a vontade do patrão. Mas Nossa Senhora, não. Nós é que esperamos a honra de vir a ser servos dEla. É muito diferente; é profundamente diferente.
" ... que nunca se ouviu dizer que alguém tenha recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança ... "
Quer dizer, com a confiança daqueles que estavam no extremo do comprometimento com o pecado, mas que rezaram a Ela, que foram atendidos. " ... a Vós, Virgem singular. .. "
Quanto maior a demora, maior será a graça Ela pode, para o bem de nossa alma, tardar em conceder-nos a graça que estamos esperando. Mas, quanto maior for a demora, maior será a graça. Portanto, a pessoa nunca pode fazer um raciocínio assim: "Nossa Senhora está demorando muito a atender o meu desejo. Isto quer dizer que Ela não está com vontade de atender, então eu vou desanimar". É o contrário, isso quer dizer que Ela
está querendo me provar, para dar uma graça muito grande. CATOLICISMO -
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Atribuída erroneamente a São Bernardo (sécu lo XII ) - o qual, porém, num de seus sermões escreveu uma paráfrase de tópico do Memorare -esta oração, na versão atual, não é anterior ao século XV. De início, o Memorarefazia parte de uma prece mais longa, que começava com as palavras "Aos pés de tua santidade, dulcíssima Virgem Maria, ... lembra que nunca se ouviu dizer... ". Dessa versão, o mais antigo testemunho até ag ora co nhecido é o Anthidotarius animae de Nicola Saliceto, frade cisterciense de Estrasburgo, publicado em 1468. Uma década depois o Memorare apareceu já autônomo, no Pequeno jardim da alma, coleção de orações editada por J. Wehinger. Essa prece, devido ao zelo do Servo de Deus Claude Bernard (1588-1644), tornouse um instrumento providencial que obteve numerosos prodígios e conversões. No sécu lo XIX, o Geral da Companhia de Jesus, Pe. Felipe Roothan, propagou-a com empenho incansável, obtendo do Papa Pio IX, em 1846, indulgências para aqueles que a rezassem.
Virgem como ninguém foi virgem, Ela é a Santa Virgem das Virgens. É a alusão ao pecado contra a pureza, Ela é a Virgem das Virgens. " ... a Vós recorro e de Vós me valho ... "
Recorrer é pedir com instância: ajudai-me. Mas me valho de Vós, quer dizer o seguinte: eu alego perante Deus a Vós, dizendo a Ele: "Vós sois meu Pai, tendes o direito de estar zangado comigo, eu bato no peito. Mas Vossa Mãe é minha mãe, e Ela tem para comigo as inclinações, as bondades, as paciências que todas as verdadeiras mães têm para com os seus filhos. Eu espero, portanto, na paciência de Vossa
Os pais que não cuidam bem da educação dos filhos são mais cruéis do que os .parricidas BUS pune os filhos, nesta vida, por causa da negligência dos pais em educá-los. Pune os pais na outra vida, por causa dos crimes de seus filhos. Nenhuma arte pode ser comparada à arte de educar as crianças. Para triunfar aí é preciso que uma pessoa tenha virtudes raras e qualidades extraordinárias. Os pais devem não apenas amar seus filhos, mas devem amá-los sobre todas as coisas, e apenas a Deus estão obrigados a dar a preferência do amor. Os pais que não cuidam bem da educação dos filhos são mais cruéis do que os parricidas. Estes separam apenas a alma do corpo; aqueles entre-
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gam uma e outro ao demônio. Há mães que cuidam muito bem da honra das filhas, mas muito pouco da consciência delas. As leituras vãs e lascivas, os adornos mundanos, os bailes, as comédias, as conversas demasiadamente livres, ao invés de proibi-las, elas as estimulam, por vezes chegam a forçá-las. Que fazeis na vossa farru1ia, se vós não trabalhais na educação dos filhos? Esta é a única coisa que tendes obrigação de fazer. É nisto que Deus quer ser servido. É para isto que estabeleceu o casamento cristão, é disto que vos pedirá contas. (Écrits Spirituels, Desclée de Brouwer, Paris, 1962, pp. 317-321).
São Cláudio de La Colombiere CATOLICISMO -
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O catolicismo no Brasil, ontem e hoje. E amanhã? ARNÓBIO GLAVAM
OMINGO, fim de tarde, numa cidade média brasileira. De um outrora minúsculo templo protestante, agora consideravelmente acrescido, descem, por uma rampa que lhe dá acesso, centenas de pessoas. Na praça em frente, enquanto a Santa Missa é celebrada em espaçosa igreja católica, o total dos fiéis presentes não preenche os bancos do templo, que em épocas passadas costumava ficar repleto. Um instante basta para que a dolorida realidade nos assalte o espírito: a evasão dos filhos da Santa Igreja de Deus e o crescimento de falsas religiões.
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A alarmante realidade atual do rebanho católico não impede a expectativa de grandioso futuro
*** Oh, o Brasil católico! Tempo houve em que esta exclamação brotava, com santa ufania e em uníssono, do coração brasileiro. Dizemos do coração brasileiro, porque os que neste País não eram católicos constituíam pequena minoria, e de tal modo desacreditada, que não era para ser levada em consideração no que diz respeito à unidade católica da Nação. Extraviados do verdadeiro redil de Nosso Senhor Jesus Cristo, os não católicos -protestantes de diversas denominações, espíritas e uns poucos adeptos de seitas orientais - eram objeto de diferenciação, mas também da compaixão dos católicos, e do desejo de que entrassem no bom caminho. Brasil Católico! Assim o podíamos proclamar de pleno direito. A Fé católica apostólica romana, herdada de nossos maiores, deitou profundas raízes nesta Terra de Santa Cruz. A graça de Deus nela trabalhou, comunican12
adoração cheia de doçura e bondade, com a qual Cristo Jesus Sacramentado se dignava estabelecer um momento de indizível convívio sobrenatural com aquela alma. A catolicidade, a universalidade da Santa Igreja, refulgiam na beleza da sua Liturgia Sagrada, na solenidade do latim, sua lín gua universal, e na uni ão de todos em torno do Papa. Os brasileiros podiam assim discernir na Igreja a admirável continuidade de uma só autoridade, a pregação de uma só doutrina, a presença de um só espírito. Eram a autoridade, a doutrina e o espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo, confiados à guarda de Pedro e transmitidos pelos Apóstolos e seus sucessores até nossos dias. Tudo isso constituía o mais precioso patrimônio desta Nação. Patrimônio cultural, moral e sobrenatural. "A Igreja é o ideal de minha vida"
Filhas de Maria enchem a Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, durante o Congresso Eucarístico Nacional de 1922: pujança que o Brasil perdeu
do em muitos uma vivacidade, profundidade e perspicácia católica admiráveis. Com um feitio de espírito em geral intuitivo, nós brasileiros víamos com providencial facilidade na Santa Igreja orefulgir de sua santidade. A unidade da Igreja, nós a víamos em sua doutrina, na notável coesão dos cató1icos em torno da Sagrada Hierarquia, à testa da qual estava o Papa, Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo. A santidade dEla transparecia nos exemplos de virtude presentes no Clero e nos fiéis, e sua sacral idade no esplendor das cerimônias religiosas, nas harmonias do órgão assim como na gravidade compassada do canto sacro, na luminosidade matizada dos vitrais, do mesmo modo que na dignidade e respeitabilidade das figu•
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ras eclesiásticas e nas expressões das santas imagens. Tudo isto convidava os fiéis à consideração das realidades celestes. Tal santidade se sentia sobretudo na suave e maternal presença de Nossa Senhora, através das expressões de suas imagens e também nas homenagens tão freqüentes que, à uma, os fiéis católicos lhe tributavam por ocasião de suas principais festas. O que dizer da inefável presença do Santíssimo Sacramento nas igrejas, atraindo continuamente a adoração dos fiéis? Por vezes, no silêncio cheio de recolhimento e unção da capela do Santíssimo, ou num simples rebrilhar inopinado da lâmpada de azeite, a graça de nosso Divino Redentor encontrava ocasião para despertar no fiel que a Ele rezava uma
Por um favor especial da Providência Divina, o brasileiro via tal realidade logo nos seus primeiros contactos com a Igreja, ainda que implicitamente. Em uma de suas conferências, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira descreveu essa realidade, como ele a viu e amou desde a mais remota infância, tornando-se-lhe depois um ideal pelo qual viria a lutar durante toda a vida. Ilustra bem, pela riqueza de detalhes e felicidade de exposição, como se dão comumente entre nós, mesmo postas todas as diferenças necessárias, estes primeiros contactos com a Igreja. Ei-la: "Eu conheci a Igreja Católica já como filho dEla e batizado. Quase se poderia dizer que, como eu ia gradualmente conhecendo mamãe, assim
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo
também em certo momento abri os olhos para a Igreja. "Eu me vejo assim pequenino três, quatro ou cinco anos - saindo fortuitamente da sacristia da igreja do Coração de Jesus (1), entrando pela nave central e olhando para uns vidros que existem dos dois lados da capela-mor. "Eu olhava para aquilo e tinha, tanto quanto uma criança pode ter, a seguinte impressão: como eu vou bem com aquilo; como aquilo diz alguma coisa à minha alma, que eu sinto até o fundo sob forma de uma harmonia. "Há certa coisa no fundo de mim que canta, que se distende e se alegra em consonância com aquilo, como eu não sei explicar. No contato com ninguém, nem mesmo com mamãe, eu sinto o que sinto aqui. "Passo diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus. Nobre, com um sorriso ligeiramente triste mas imensamente convidativo, tocando com a mão o coração e olhando para quem está embaixo, como quem diz: ' Você não quer um·lugar aqui dentro para si? Você não me aceita? Olhe que tesouro, este Sagrado Coração. Isto é para você'. "Eu olhava e pensava: sei que é apenas uma imagem, e não um homem. Sei bem! Mas quem montou esta igreja quis que Deus fosse visto CATOLICISMO -
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assim. Ora, como é verdade que Deus deve ser visto assim! "Eu.ficava estupefato. Vagava um pouco pela igreja, passava diante da imagem de Nossa Senhora e pensava: A mãe dEle tinha que ser assim. Aquele, a ter uma mãe, poderia ser outra? "De repente, soava o órgão.Eu tinha a impressão de que eram outras cordas de minha alma que tocavam intensamente. "Eu pensava: isto é assim e deve ser assim. " Vendo todas essas coisas da Igreja, vem-me uma impressão curiosa: a Igreja não parece apenas uma instituição, mas uma 'alma' imensa que se exprime através de mil coisas. Tem movimentos, grandezas, santidades e perfeições, como se fosse uma só 'alma' que se exprimisse através de todas as imagens, de todas as liturgias, de todos os toques de órgão e de todos os dobrares de sinos". Desta forma o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira explicava como, ainda em menino, discernia pela ação da graça a presença do Divino Espírito Santo, alma da Igreja. E assim finaliza o Fundador da TFP:
"Essa 'alma ' - a Igreja, ou o Divino Espírito Santo vivendo nEla - é o ideal de minha vida. Para Ela quero viver, e como Ela eu quero ser. "Eu Jazia assim atos de amor, de adesão e de entusiasmo à Igreja Católica, como Corpo Místico de Cristo, cuja santidade me era dado discernir por uma graça especial". Esta ação da graça nos conduziu à condição de nação católica mais populosa da Terra, esperança da Igreja nos séculos futuros e, se for fiel, um dos vindouros baluartes da civilização cristã. 13
Sombras malfazejas toldam o panorama Entretanto, esse sol de es~erança que refulgia em certas oca iões foi-se pouco a pouco empalidecendo. A evidência da verdadeira Fé se foi obnubilando em muitos espúi.tos, por efeito de um ambiente cada vez mais laico, dessacralizado, voltado quase exclusivamente para as preocupações terrenas. Com semelhante estado de espírito, os trágicos acontecimentos internos na Igreja, infelizmente, colaboraram de modo possantemente eficaz. Com efeit~, o próprio Papa Paulo VI, em alocução aos alunos do Seminário Lombardo, em 7 de dezembro de 1968, advertiu que a Igreja passava por "um momento de inquietude, dir-seia até [de] autodemolição". (2) O mesmo Pontífice voltou a tratar do tema na alocução "Resistite fortes in jzde ", de 29 de junho de 1972. Pelo resumo da Tipografia Poliglotta Vaticana, Paulo VI afirmava "ter a sensação de que 'por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no Templo de Deus '". Continua o Pontífice: "Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para a História da Igreja. Veio pelo contrário um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza". (3) João Paulo II foi ainda mais preciso na descrição da situação reinante na Igreja: "É necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos: foram divulgadas prodigamente idéias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no 'relativismo' intelectual e moral, e por conseguinte no permissivismo, os cristãos são ten14
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tantos emudeceram - leva a muitos ouvidos um sinal de vitalidade eclesial. Ele quer sentir nas músicas de vossas igrejas o apelo ao louvor de Deus, a ação de graças, a prece humilde e conjzante, e se sente incomodado quando esses cantos, em sua letra, envolvem uma mensagem política ou puramente terrena, e em sua expressão musical não apresentam as características de música religiosa, mas são marcadamente profanos no ritmo, na linha melódica e nos instrumentos musicais de acompanhamento. "É certo que há tanta gente que não possui o suficiente para acalmar a própriafome, mas ordinariamente o povo tem
mais fome de Deus que do pão material, pois entende que 'não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da bocadeDeus'(MT4,4). ¼raigrejacomo Igreja, e não simples promotora da reforma social. Este é um dever que promana da Fé, e não prévia exigência para uma posterior pregação do Evangelho. "Vosso povo quer ver os padres como verdadeiros Ministros de Deus, inclusive na sua veste e no seu modo externo de proceder. Ele quer ver o homem de Deus nos ministros de sua Igreja, [quer ver] uma presença que lhes inspira amor, respeito, confiança. O povo tem direito a isso, e pode exigi-lo de seus pastores". (5)
O Brasil católico vai deixando de ser católico? Para desgraça nossa, o contrário das aspirações do Papa vem ganhando corpo há muito tempo. Não é de se estranhar, pois, que semelhante situação venha ocasionando uma calamitosa apostasia de católicos para seitas de natureza protestante ou de origem oriental, que vão se multiplicando em nosso território. Em 1960 os católicos eram 93,07% da população, segundo relatório preliminar do censo de 1991, realizado pelo IBGE. O mesmo relatório informa que os católicos, em 1991, não passavam de 80% (*) (vide quadro abaixo).
As religiões nos últimos quatro censos do Brasil
Procissão tradicional em Ribeirão Preto, nos anos 50 (foto superior), contrasta com manifestação carismática em São Paulo, nos anos 90. Mudança radical de rumos no catolicismo brasileiro.
tados pelo ateísmo, pelo agnosticismo; pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva". (4) Instalou-se na Igreja uma tremenda crise. Crise de Fé, da moral, de identidade. Tal quadro dramático, que atinge os mais diversos países em graus e modalidades diferentes, avassalou nosso querido Brasil. Infelizmente-e este é apenas um dos aspectos, embora doloroso em extremointroduziu-se na maior prute das igrejas um clirna de vulgaridade, irreverência, falta de verdadeira piedade. Domina uma preocupação quase obsessiva com reformas sociais em detrimento dos temas relacionados com os bens eternos, quando •
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não uma falsa piedade, feita toda ela de emotividade desordenada. Toda razão tinha João Paulo II ao alertar os Bispos brasileiros do Nordeste, reunidos em Roma para a visita ad limina, em 5 de setembro do ano passado: "Compreende-se então como obrasileiro gosta dos sinais exteriores da fé! Ele quer ver as igrejas com as suas características religiosas, com as expressões autênticas da arte sacra que despertam a piedade e levam à oração, ao recolhimento e à contemplação do mistério de Deus. Ele quer ouvir com alegria bater os sinos de vossas igrejas, convocando-o para as celebrações litúrgicas ou convidando-o para as orações do dia ou da tarde em louvor da Virgem Maria! Um sino que toca - e
TOTAL E% DE RELIG IÕES
1960 NÚMEROS
1960 %
1970 NÚMEROS
1970 %
1980 NÚMEROS
1980 %
1991 NÚMEROS
1991 %
CATÓLICA
65.329.520
93.07%
85.472.022
91.76%
105.861.1 13
88.95%
117.460.380
80%(*)
EVANGÉLICA
2.824.775
4.02%
4.814.728
5.17%
7.885.846
6.62%
-
-
ESPÍRITA
977.561
1.39%
1.178.293
1.26%
1.538.230
1.29%
-
-
OUTRAS
671.388
0.96%
954.747
1.02%
1.473.081
1.23%
-
-
SEM RELIGIÃO ESEM DECLARAÇÃO
388.126
0.55%
715.056
0.76%
2.252.782
1.89%
-
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POPULA~ÃO DOPAS
70.191 .370
-
93.139.037
-
119.002.706
-
146.825.475
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(*) N. da Redação: Esta porcentagem (80%) consta de um relatório preliminar do Censo efetuado pelo IBGE, em 1991 (cfr. 'Folha de S. Paulo', 21/4/1996). Até o momento aquele instituto não apresentou oficialmente , desse Censo, dados referentes à Religião Católica e às outras religiões. Merece destaque no quadro acima o significativo aumenCATOLICISMO -
to proporcional do item sem religião e sem declaração, do Censo de 1970 para o de 1980: de 0,76% para 1,89%, isto é, mais que duplicou. Dados extraídos de Estatísticas populacionais -Anuário Estatístico do Brasil -1994, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)-Av. Franklin Roosevelt, 168, 9° andar. Rio de Janeiro - RJ.
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de reencaminhar as ovelhas desgarraO referido relatório registra , nesse A verdadeira solução das ao verdadeiro redil do Bom Pasperíodo ( 1960- 199 1), um cresc imento das seitas, que passava m de 6,3% para O povo brasileiro tem f ome de Deus, tor. Para isto não é possível esperar su20% . De l 980 a 1991 surgiran,1 no País disse o Papa. Sim, fome de Deus, e não cesso de estratégias meramente humanas. mais 4 mil novas seitas. ) de técnicas de propaganda ou de estra- Só há esperanças de triunfo autêntico com O fenômeno, entretanto, é muito mais tégias concessivas ao espírito moderno. uma estratégia que estivesse toda baseaOnde então poderia estar a verdadeira da nos recursos sobrenaturais, ainda que profundo . Se é gra nde o núm ero de desertores da Igreja Católica para as sei- solução, o remédio adequado para tão gra- não desprezasse nenhum meio humano tas, muito maior é o número de católicos ves males? com o qual pudesse contar. que o são apenas de nome, sem qualquer Tal solução encontra-se na pregação vinculação com a vida reli giosa. autêntica e ufa na de todas as verdades da Conclusão Um es tudo apresentado na aber- Fé, principalmente as que mais se opõem Ao considerar a sensação de asfixia tura da 34ª Assemb lé ia Geral da aos erros modernos. Por exemplo, as verCNBB aponta que apenas 20% do s dades salvíficas relativas aos novíssimos espiritual nos ambientes catól icos imque se dizem católi cos freqüe ntam as do homem: Morte, Juízo, Céu e Inferno. pregnados do laicismo e do naturalisigrej as e participam da s suas ativi- Outro exemplo: na pregação da modéstia, mo moderno - e que levam tantos caela humildade, do amor à obediência, da tólicos desconcertados a buscar falsa dades . (7) da pureza de costumes para todos, em solução em outras religiões - pode-se Outro fato. Um sintoma a larmancontraposição à revolta, ao orgulho, à itno- conj ecturar que tal asfixia seja um efeito te do dessora mento da vida cató li ca ralidade e ao igualitarismo de nossos dias. da graça convidando os fiéis para uma no Brasil é o estudo do adesão profunda à Igreja, IBGE so bre a situ ação às suas doutrina e tradições do s católicos no Estado autênticas. do Rio de Janeiro . Se nós, católicos, não Com base no último soubermos criar os ambienCenso realizado no País em tes de ar puro que possam 1991, o IBGE conclui que o destruir tal asfixia, a pavoRio é o Estado que tem merosa crise religiosa e monor porcentagem de católiral que presenciamos irá se cos, que em 199ljanãoeram agravar ainda mais. mais do que 67% da popuNum momento tão decilação. sivo e de tamanha gravidaSegundo a mesma fo nde para o futuro católico de te, a Igreja Católica perde nossa Pátria, voltemos nosfi éis não apenas para as seisos olhos para o trono da tas protestantes. O Censo excelsa Padroeira do Brasi 1, Comunidade eclesial de base no Ceará: face do progressismo dessacralizante constatou que 11 % da poNossa Senhora Aparecida. pulação feminina e 16% da Por que não repovoar as igrejas com E a Ela supliquemos que salve este País masculina do Rio de Janeiro se dizem sem as piedosas imagens dos santos, em espe- por Ela tão amado, e que a Ela tanto amou, religião. (8) cial as da Santíssima Virgem e do Sagra- e nele realize, sem mais tardar, seus subliDiante dessa situação terrível , com do Coração de Jesus? Por que não devol- mes e maternais desígnios. 0 certa freqüência vozes representativas na ver aos ambientes católicos a seriedade, o Igreja vêm se pronunciando. respeito e o decoro, tão propícios a que o Notas 1) Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em São Pau lo. E o que temos verificado é que mui- sobrenatural envolva e conquiste os cora2) l11.l'eg11a111e111i di Pao lo VI, Tipografia Poli glolla tas vezes parecem buscar a solução exa- ções? Vati cana, vo l. VI, p. 11 88. tamente onde ela não se encontra. Por que não pregar, em toda a sua ple- 3) l 11seg11a111e111i di Paolo VI, Tipog raíia Poli glo tta Ou sej a, desvalori zando a vida de nitude e sem deformações, a preocupação Vaticana, vo l. X, p. 707-709. 4) Alocução de 6 de fevereiro de 198 1 aos re li giosos e piedade, a pregação das verdades da Fé primordial com a santificação pessoal? Isto sacerdotes partic ipantes do I Cong resso Nac iona l it ae co locand o uma ênfase excess iva na acarretaria, à medida que se estendesse por li ano sobre o tema M issões ao povo para os anos 80, "L'Osservatore Romano", 7-2-81. modernização dos meios de eva n- todos os ambientes, como efeito necessá- 5) Discurso de João Pau lo II aos bispos brasi leiros das ge li zação, no recurso às mais avança- rio, a sacralização da ordem temporal, o regio nais Nordeste I e 2, em vis ita "ad /i111i11 a", "L'Osservatore Romano", 6-9-95. das téc nicas da mídia ou na in tensifi- tri unfo dos ideais de Cristandade. 6) Cfr. "Folha de S. Paul o", 2 1-4-96. cação do assim chamado marketing reTrata-se então de reconquistar o ter- 7) Cfr. "Folha de S. Paulo", 18-4-96. reno perdido e ir além; é um trabalho 8) Cfr. "Jorna l do Bras i1", 3 1-5-96. li gioso. 16
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PALAVRA/ DE VIDA ETERNA
O tesouro escondido, a pérola, a rede O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, o qual, quando um homem o acha, esconde-o, e, pelo gosto que sente de o achar, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo. O reino dos céus é tan1bém semelhante a um homem negociante, que busca boas pérolas. E, tendo encontrado urna de grande preço, vai, vende tudo o que tem, e a compra. O reino dos céus é ai nda semelhante a uma rede lançada ao mar, que colhe toda a casta de peixes. Quando está cheia, (os pescadores) tiram-na para fora, e, sentados na praia, escolhem os bons para vasos, e deitam fora os maus. Será assim no fim dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus do meio dos justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Compreendestes tudo isto? Eles responderan1: Sim. E ele disse-lhes: Por isso todo o escriba instruído no reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas. (São Marcos, 13,44-52) .
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino no livro Catena Aurea cil São Gregório - O tesouro escondido significa o desejo do céu, e o campo no qual se esconde o tesouro é o estudo e ensinamento das coisas divinas. "Esle tesouro, quando o homem o encontra, o esconde" a fim de conservá-lo, porque aquele que não o esconde aos louvores humanos, não pode defender dos espíritos malignos o desejo das coisas celestes. Esta vida é como o cantinho que nos conduz à nossa Pátria; e os espíritos malignos, à maneira de certos ladrões, estão, no nosso caminho, contin uamente à espreita, e desejam despojar aos que publicamente levam esse tesouro. Isto eu digo, não com a fi nalidade de ocultarmos aos nossos próximos nossas boas obras, mas a fim de, nelas, não procurarmos louvores exteriores. O reino dos céus se compara às coisas da terra para que a alma se eleve das coisas conhecidas às desconhecidas, e do amor pelas coisas visíveis ao amor das coisas in visíveis. E "pelo gosto de o achar" compra, sem dúvida, o campo depois de ter vendido tudo o que possui , aquele que, renunciando aos prazeres da carne, põe debaixo de seus pés todos seus desejos terrenos para assim guardar as leis divinas. São João Crisóstomo- O ensinamento divino não só desperta um grande desejo como tesouro, mas também é precioso como uma pérola! Por esta razão o Senhor põe, como continuação da parábola do tesouro
escondido, a parábola da pérola, dizendo: "O reino dos céus também é sem.elhanle a um homem que busca boas pérolas", etc .. Por-
que para o aposto lado deve haver duas coisas: estar separado dos negócios da terra, e estar sempre vigilante. Aquele que possui a pérola compreende que é rico, enquanto os outros não se dão conta, porque ele tem escondida na mão a pérola, que é pequena. Da mesma forma acontece na pregação do Evangelho: os que possuem a Fé sabem que são ricos; mas os infiéis, que não possuem este tesouro, ignoram nossas riquezas. São João Cristóstomo - Depois de ter o Senhor recomendado a pregação do Evangelho, a fim de que não nos confiemos somente nesta pregação, e de que não pensemos que para nos salvarmos basta a fé, acrescenta outra parábola, di zendo: "Também o reino dos céus é semelhante a uma rede". São Gregório - O Senhor compara a
Igreja Santa a uma rede, porque foi entregue a uns pescadores, e todoJ, mediante ela, são arrastados das ondas da vida presente ao reino eterno, a fim de que não pereçam submersos no abismo da morte eterna. Esta Igreja reúne toda classe de peixes, porque chama para perdoar todos os homens, os sábios e os ignorantes, os livres e os escravos, os ricos e os pobres, os fortes e os fracos. Esta rede, isto é, a Igreja, estará completa quando, CATOLICISMO
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no fim dos tempos, esteja terminado o desti no do gênero humano. Assim como o marrepresenta o mundo, a margem do mar fi gura o fim do mundo; e neste fim é quando os bons serão escolhidos e guardados em vasos, e os maus serão lançados fora. Quer dizer, os eleitos serão recebidos nos tabernáculos eternos, e os maus, depois de ter perdido a luz que iluminava o interior do reino, serão levados para as trevas exteriores, porque agora a rede da fé contém igualmente, como a peixes misturados, a todos os maus e bons; mas logo na margem se verá os que estavamdentro da rede da Igreja. Rábano - Quando chegar o fim do mundo, então aparecerá com toda clareza a separação dos "peixes": os bons, como em um tranqüilíssimo porto, serão levados aos aposentos das mansões celestes, e a chama do inferno receberá os maus para tostá-los e despedaçá-los.
Comentários do Pe. Luís Cláudio Filliori( 2) As parábolas do tesouro escondido e da pedra preciosa estão intimamente relacionadas. Expressam uma mesma idéia: o va lor inapreciável do reino dos céus. A oitava e última dessas belas parábolas - a da rede lançada ao mar - nos mostra a coexistência do bem e do mal , de maus e bons, dentro do reino messiânico, enquanto perdura nesta terra. Mas, nela se trata em especial da consumação deste reino no fim dos tempos, e a separação radical e definitiva dos ímpios. D Notas 1 - Santo Tomás de Aquino, Carena Aurea, Cursos de Cultura Catolica, Vol. 1, Buenos Aires, 1948. 2- Pe. Luís Claudio Filli on,N11es11v SeiíorJesucristo segú11 los Eva11gelios, Ed. Dif'u sión, p. 168, Buenos Aires, 1962.
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FIA
HA
História Sagrada em seu lar (63) noções básicasm
Débora e Jael vencem Sísara
Santa Maria Goretti: o direito de ser virgem
Depois da morte de Aod, os israelitas tornaram a fazer o mal. Por isso foram subjugados, durante 20 anos, por Jabin, rei de Asor (na Galiléia), cujo exército tinha como general Sísara.
ROBERTO ALVES LEITE
"É preciso, antes de tudo, ensinar
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1
Barac chamado para chefiar os hebreus
tentes com ele. E o Senhor aterrou Sísara e toda sua gente, que caíram ao fio da espada, logo que Barac se deixou ver; de tal sorte que Sísara, saltando da sua carroça, fugiu a pé.
"Juntando o sono com a morte"
"Entretanto, Sísara fugindo chegou à Naquele tempo vivia Débora, profetisa, tenda de Jael, mulher de Haber Cineu. Jael, a qual julgava o povo. E sentava-se debaipois, saindo ao encontro de Sísara, dissexo duma palmeira, sobre o monte de lhe: Entra, não temas. Ele entrou e disseEfraim; e os filhos de Israel iam ter com . lhe: Peço-te que me dês um pouco de água, ela em todos os seus litígios. porque tenho muita sede. Ela deu-lhe leite "E ela mandou chamar Barac, e disse- para beber, cobriu-o e Sísara entrou em lhe: O Senhor Deus de Israel ordena-te: profundo sono. Vai e conduze o exército ao Monte Tabor, "Jael, pois, tomou um prego da tenda e tomarás contigo dez mil combatentes dos e um martelo; e, entrando sem ser vista filhos de Neftali e de Zabulon; e, estando nem ouvida, aplicou o prego à cabeça de tu na torrente de Cison, eu farei que veSísara e, dando com o martelo, cravou-o nham a tua presença Sísara e toda sua gente, e tos entregarei nas mãos. Barac disse-lhe: se vieres comigo, irei ; e se não quiseres vir comigo, não irei. Ela respondeu-lhe: Está bem, eu irei contigo, mas desta vez não te será atribuída a vitória, porque Sísara será entregue nas mãos duma mulher.
Terror causado nos inimigos "E ele, chamando os de Zabulon e Neftali, marchou com dez mil combatentes, tendo Débora em sua companhia. "E foi anunciado a Sísara que Barac tinha avançado até o Monte Tabor; e Sísara fez marchar todo o exército até a torrente de Cison. "Débora disse a Barac: Levanta-te, porque este é o dia em que o Senhor entregou Sísara nas tuas mãos; eis que Ele mesmo é o teu guia. Desceu Barac do Monte Tabor, e os dez mil comba-
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no cérebro até entrar pela terra; e ele, juntando o sono com a morte, desfaleceu e morreu".
Cântico de Débora Depois dessa magnífica vitória, Débora compôs um belíssimo cântico, proclamando em alta voz por si, Barac e os israelitas. Eis alguns trechos dessa maravilhosa obra literária composta cinco séculos antes de Homero: "Ó Vós filhos de Israel, que expusestes voluntariamente vossas vidas ao perigo, bendizei ao Senhor. "A torrente de Cison arrastou os cadáveres [dos inimigos]; calca, ó minha alma, estes valentes. "Bendita seja entre as mulheres Jael, e bendita seja na sua tenda. Estendeu a mão esquerda a um prego, e a direita a um martelo; e deu o golpe em Sísara, trespassando-lhe com força as têmporas. "Assim pereçam, Senhor, todos os teus inimigos; os que, porém, te amam, brilhem como o sol quando nasce". (Jz. 4, 1 a 32). Após essa vitóri a, os israelitas tiveram paz durante 40 anos.
Pré-figura de Nossa Senhora Débora e Jael, por terem libertado o povo de Israel da mão de seus inimigos, são prefiguras da Virgem SanO tíssima. <2J Notas
Débora, com o dedo em riste, anima os israelitas na terrível batalha contra Sísara.
1) Em nossa edição anterior Uunho), o número correto desta série era 62 e não 61, como apareceu. 2) Cfr. Padre Z. C. Jourdain, Sommedes Grandeurs de Marie -ses mysteres, ses exce/lences, son culte, Hippolyte Wal zer, Editeur, Paris, 1900, tomo !, pp. SI0-51 1.
à juventude masculina que a castida-
de e a continência não somente não são prejudiciais, mas, pelo contrário, são estas as mais recomendáveis virtudes sob o ângulo de visão puramente médico e higiênico".
E
sta afirmação, assinada por 260 médicos participantes da Conferê nci a Internacional de Profilaxia Sexual, reunida em Bruxelas, despertou vivo interesse em um leitor, que nos pediu que apresentássemos os traços essenciais da vida da mártir da inocência, pois, segundo ele, estimularia os adolescentes de ambos os sexos a praticarem a castidade.
Sua vontade identificava-se à dos pais Maria Goretti nasceu perto de Corinaldo, em 16 de outubro de 1890, na costa italiana do Mar Adriático, em um casebre com dois cô modos e uma cozinha, onde viviam o casal e seus quatro filhos. Era uma família pobre e honrada. O chefe era daqueles que, se visse a pequena plantação se perder por alguma intempérie, exclamaria "bendito seja Deus! ", e, virando-se para a esposa, co mpletaria: "Deus nos quer muito, quando assim nos prova". Ato contínuo, correria ao campo para disputar os grãos que pudessem ter sobrado, com
Numa época como a atual, em que os costumes neopagãos e a sensualidade atingem um auge, a Providência Divina suscita, para exemplo da juventude, admirável Santa mártir da pureza o mesmo ânimo de sempre. Se nesse ínterim ouvisse as badaladas do sino da igreja, ele se ajoelharia e rezaria piedosamente oAngelus. Marietina, como era co nhecida Maria Goretti, absorveu tudo quando de bom havia nesse ambiente cheio de fé, e já aos sete anos chamava a atenção pela sua dis-
Não há fotos de Maria Goretti. Desenhos como este são falhos em reproduzir sua fisionomia
crição, laboriosidade, e sobretudo pela obediência, da qual nos dá uma amostra viva quando o pai resolve abandonar as inférteis terras que possuía. À mãe que perguntara se lhe agradaria a mudança, deu a seguinte resposta: "Por que não? Se meu pai e a senhora querem, também é agradável a mim ". Assim, levando a alegria de serem amados por Deus, partiram, em outubro de l 897, em direção a Roma. Primeiro para Colle Gianturco (próximo de Genazzano), onde se associaram à família Serenelli, e fi nalmente para o Agro-romano, "país da morte", assim chamado porque era um a região alagad iça e co m suas doenças próprias, embora férti l. Seus novos vi zinhos - uma dúz ia de casas - eram gente simples, e em geral ignorantes, mas re-
Casa onde morreu Santa Maria Goretti
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ligiosos. A fé e a esperanAfinal, na festa de Corpus Christi de 1902 ça do Céu os sustentava ela consegue realizar seu em sua pobreza. João Serenelli e seu filho Alesonho: receber Nosso Senhor. Naquele dia ela foi xandre, que os acampa- ,. nharam, passaram a coma rainha da aldeia. Todos partilhar o mesmo teto a admiravam, felicitavam e abençoavam. dos Goretti. Nem sequer teriam casa própria. Na localidade havia Luta para preservar a pureza apenas uma capela, geralmente sem padre, e para ir à Missa eram necessáAlexandre Serenelli, rias duas horas de camicom 20 anos, um dos monhada. Não havia incleradores da casa, ao invés mência do te mpo que fide dar graças a Deus pelo zesse os Gorefti retrair-se ambiente cristão que ganhara, tomou -se de paino cumprimento do preceito domini ca l. Maria xão por Marietina. Recoera a primeira a entrar na nheceu depoi s que uma igreja e a última a sair; das causas foi seu gosto via-se que era uma menipela literatura violenta e na inclinada às coisas do sensual. Forçou um primeiro encontro no campo. Céu e de Nosso Senhor. Nos novos domínios a Maria, ao ver o seu olhar, percebeu uma luz sinistra pobreza se tornou mai s tolerável, apesar de a fae perguntou por que ele a mília ter recebido mai s olhava assim. dois membros. Entretan- Porque te queroto, em 1900 a malária foi a resposta. veio ceifar a vida do pai . - Minha mãe tamDiante desse inesperado, bém me ama, mas nunca a menina viverá serena e me olhou com esses olhos. conformada, ma s se u 400 mil pessoas acorreram à Praça de São Pedro por OC."l'lião da canonizaç,io de Santa Apesar de Alexandre se mbl ante atraente terá M.viaGoretti. Na foto superior, um detalhe da cerimônia na Basílica Vaticana. ter usado a força, ela consempre a marca da serieseguiu defender-se com dade e da preocupação. Nessa oportu- zar, sempre de joelhos. Preparava as coragem e fugir, mas recebeu a ameaça nidade fez o propósito de agüentar a refeições, lavava a louça, limpava a de que seria morta caso contasse algo. vida com todas as suas amarguras, e casa, costurava. Quando, no final do A isto se juntaram os maus tratos j amais se queixar. dia, adormecia de um sono profundo e inescrupulosos do rapaz, que junto com Assumpta, a mãe, todos os dias após casto, a mãe deitava-se em urn a cama seu pai mandava na casa dos Goretti, o jantar contava - e também cantava! ao lado, e lhe parecia dormir em com- pois eram os únicos homens. - aos filhos, para formá-los e fazê- los panhia de um anjo. A segunda tentativa não tardou muiEm uma das idas à igreja, pergun- to; foi quando sua mãe a enviou a fafelizes, coisas boas e, também, lendas populares ou vidas de Santos, que eram tou quando faria a Primeira Comunhão, zer compras na cidade. Novamente, luacrescentando que queria "receber Je- tando com valentia, conseguiu desvennarradas de forma seriada. sus" . Ouvindo a explicação de que a cilhar-se do inimigo e partir correndo Não podia viver sem Jesus pobreza não lhe deixava tempo para para casa, onde recebeu severa repreaprender a ler e estudar a doutrina, ensão da mãe por não ter trazido as A nova vida que Marietina levava, comentou com muita mansidão : encomendas que fizera. Diante de tal agora sem o pai e com apenas 1Oanos, "Mãezinha, mas a este passo não situação, ajoelha-se e suplica: "Castigai-me, não farei isso mais; vou poder comungar nunca. E eu não era a de uma governanta da casa: levantava-se com a aurora, rezava, acor- quero estar sem Jesus. Não posso vi- mas não me façais ir agora. Não posdava e lavava os irmãos e os fazia rever sem Ele!" so. Crede-me, mãe". 20
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Essa segunda derrota levou Alexandre a decidir-se pelo crime: "Sua presença desde enteio me humilhava, e meditei o modo de vingar-me". O silê ncio de Maria esco ndi a a terrível luta que estava desencadeada em seu interior: o medo de perder a fe licidade da inocência ou a vida, ou as duas coisas, sem nada poder dizer. Em sua candura, para proteger seu corpo, encomendo u à costureira da cidade um colete longo e grosso com muitos reforços, para ser entregue dentro de uma semana, sem falta, o que levo u a costureira a comentar que ela deveria mandar fazer, de um a vez, uma couraça. Mas o crime se daria no sábado , véspera do prazo.
trancou a porta. Ela resistiu, defendeuse com ponta-pés, mordidas, e arranhões, gritando: - Não, não, não! Não me toques .. . É pecado. Leva ao inferno. Deus não quer. .. É pecado. Para abafar os gritos, Alexandre tapou-lhe a boca com um lenço e ameaçou-a com o punhal: - Consente ou te mato. - Não, não, não! É pecado. Deus não quer. Foi a resposta firme, e que era a sentença de morte. Ao ver que os golpes abriram suas vestes e aparecia seu corpo virginal, deixou de defender-se para proteger as partes ex postas. As punhal adas de tal maneira atin giram- lhe o corpo que, quando os médicos tiraram a roupa para os primeiros curativos, saíam gru dados nela pedaços de carne e de intestinos. Ela suportava heroica mente tudo, sem se queixar. O exame cadavérico posterior constatou 14 perfurações, uma contusão e três equimoses. Maria Goretti foi um modelo de jovem católica. Em seus fun erais, a multidão que desejava vê-la era tanta, que desfilava sem poder parar, e à vista da
três primeiros incomunicável, transformado-se no simples número 3142 do cárcere. Trinta e cinco anos depois, voltou a Corinaldo para pedir perd ão a Assurnpta. Fê-lo de joelhos e ela o perdoou dizendo que, como Maria j á o havia perdoado, não poderia agir de outra maneira, e reco mendou que todos da família o atendessem bem. Era Natal de 1937; comungaram juntos. Alexandre confessa que naquele dia compreendeu toda a secreta beleza da Noite de Natal.
A glorificação
Maria Goretti foi beatificada em 27 de abril de 1947. Três milagres comprovados ensejaram sua sole ne cano"Consente ou te mato" nização, em 24 de junho de 1950. Durante a cerimônia, feita pela primeira Era o 5 de julho ele 1902. Todos vez na praça de São Pedro, a multicomeçam a voltar ao trabalho, depois dão, estimada em 400 mil pessoas, cio descanso do meio-dia. Aflita, Maria tomou o braço da mãe, suplicando aclamou a nova santa de uma maneira incontenível. Quando apareceu o estanque não a deixasse só, e recebeu um darte com uma pintura de M a ria e mpurrão, porque es ta imaginara se r Goretti, as excl amações atingiram um ape nas um capricho. Vendo que nin guém a compreendia, pegou a camisa clímax. Estavam presentes 13 Cardeais, 122 que o seu perseguidor deixara e coArcebispos e Bispos, todo o meçou a remendá-la, se nCorpo Diplomático e autori tada no alto da escada, na dades civi s. entrada da casa, em um luDurante a homilia, o Papa gar que a mãe pudesse ver Pio XII perguntou se todos os de longe. Alexandre esperou tojovens estavam di spostos a defender sua pureza. Um ensurdos saírem; teve a frieza de fazer com que Assumpta se decedor "sim" fo i a resposta. afastasse mais ela casa, emAssumpta assistiu à cerimôniajunto a uma janela, num prestando-lhe a carroça ele prédio próxi mo à praça de São bois sob o pretexto de que precisava fazer algo, e se Pedro. dirigiu à moradia para exeAlexandre, como penitente, estava em seu retiro de cutar seus pérfidos planos. Os restos mortais da mártir da pureza repousam em uma urna Ascoli. Tocado por tudo o que No cam inho, encontrou seu meni na, quase já rodeada de uma au- se passava, entendeu que deveria aupai estirado sobre a palh a, com febre, e alegrou-se, porque ele "estava fora réola sobrenatural, prorrompia em lá- mentar ainda mais suas penitências e grimas e seguia silenciosamente seu ca- sua vida de oração . O de combate". Ao entrar na casa, Maria estava minho. costurando sua camisa no alto da esFonte de referência: cada, e pôde ver o terço enrolado em Misericórdia de mãe Tomás de L. Pujadas, C.M .F. - Yo maté a Maria sua mão. Ato contínuo se dirigiu ao seu Gore/li • l?elació11 de Alejandro Serene/li, contrasAlexandre recebe u em 1902 a tada con las declaracio11e.1· de la madre de la santa quarto e chamou por ela. Como não foi atend ido, arrastou-a para dentro e pena máxima de 30 anos, sendo nos - Graficas Claret, Barce lona, 1951, 2' edi ção. CATOLICISMO -
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PÁGI
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Cancioneiros e • repentistas Meu Deus, dai-me inspiração Para o caso que vou contar Me ajud i com a inteligência Para eu lílao me atrapalhar E sem fugir · verdade Tudo em n a colocar.. . Acred it qu iser Resolvi m versos Com m tade e fé Inventar ão i ventei O que não era prec;iso Devo aqui deixar bem claro A todos qu fui conciso Não gosto , e brincadeiras Tampouco ~e confusão Assino aqu· os meus versos Só quero co preensão.
Os
canc ioneiros são cantores populares muito comuns nos estados do Nordeste, um pouco menos freqüentes no Leste e no centro do País. Dizem eles pelo canto, improvisado ou de memória, a história dos acontec imentos da região, seus personagens mais famosos, as aventuras de desbravamentos e caçadas. Hoje em dia são cerca de quatro mil cancioneiros vivendo sobretudo na região Nordeste. Entretanto, eles podem ser encontrados em qualquer recanto do Brasil, principalmente nas praças públicas das grandes capitais, fazendo suas exibições. Na batalha do desafio entre os cancioneiros sertanejos, o repente é aresposta vivaz e inesperada, aturdindo a improvisação do adversário. Daí a denominação de repentista atribuída a quem desempenha esse papel. O desafio é uma disputa entre os cantores, em forma de poesia, improvisada ou decorada.
Origens e costumes Os desafios nasceram entre os pastores, na Grécia antiga, como canto e duelo de improviso e alternado, obrigando respostas às perguntas dos contendores. Na Idade Média, reapareceram eles na Europa , com os trovadores e menestréis na França, Alemanha e Flandres, e com os cancioneiros da Espanha e de Portugal. Os árabes conheciam o desafio. Sua influência é 22
Início de uma trova
marcante em suas músicas campestres, notando-se também na África um influxo árabe em canções populares. Hoj e os cancioneiros e repentistas estão espalhados por toda a América Latina, do México à Argentina. A pé ou de caminhão, em ônibus ou em viaturas próprias, eles estão por todas as partes. Analfabetos ou semiletrados, despertam a admiração do povo que assiste às suas apresentações e os incentiva. Às vezes pobres, semifamintos, errantes, deixam suas roças, suas casinhas, e lá se vão palmilhando o sertão e as cidades, em busca de aventuras, sempre cantando, vendendo seus folhetos, fazendo desafios e rodeados de público por onde passam. Em suas apresentações, ninguém os interrompe. Não há insultos, pilhérias ou debiques, mas ouvidos atentos e silêncio admirativo. Os cantores não têm preocupação com a beleza das músicas, pois elas são às vezes monótonas, ,
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CARLOS SODRÉ LANNA
ingênuas, primitivas e uniformes. A única obrigação consiste em respeitar o ritmo dos versos, a cadência do conjunto - case-se esta com qualquer música - e tudo o mais estará bem. Os cancioneiros não se importam com o desafinado das melodias, mas com os ritmos.
Atualidade em versos Os repentistas comentam a atualidade em versos, e nada lhes escapa. Os grandes acontecimentos internacionais e nacionais, as crises políticas e econômicas, as guerras, as eleições e a reforma agrária. Tudo é cuidadosamente incluído, cantado e retransmitido a urna populaçao muitas vezes mal informada e iletrada, sem possibilidades de comprar seq uer um jornal. Fatos diversos, locais ou regionais, os acidentes nas estradas, um casamento famoso, a construção de uma barragem, as propagandas políticas, conselhos religiosos ou filosóficos, tudo é colocado em cena, formando urna espécie de jornalismo paralelo autêntico. Seus instrumentos de acompanhamento são a viola e a rebeca ao norte do País, a sanfona e o violão no sul, além do pandeiro, sem que se possam fixar preferências. Suas canções são muitas vezes publicadas em folhetos de poucas páginas, vendidos nas suas andanças ao público assistente, e mesmo nas livrari as. O Fontes de referência 1) Véronique Mo1taigne. Poeles-reporlers e/ menleurs professionnels "Le Monde", Paris 30/ 12/95. 2) L uís da Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro, Editora Itatiaia, Be lo Horizonte, 1988.
A cândida lição de um relógio PAULO CORRÊA DE BRITO FILHO
Á se afirmou que as catedrais góticas eram evan-
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gelhos de pedra. A par de serem obras primas
nigualáveis de arquitetura e escultura, elas exerceram importante função didática popular: e nsinar a doutrina católica mediante imagens de pedra. Outra criação semelhante, característica da Idade Média, foi a dos pitorescos relógios com figuras móveis, cujas evoluções constituíam um deleite constante para a população. Exemplo famoso de um deles é o relógio da Cidade Velha, em Praga, capital da atual República Tcheca. A foto 1 apresenta a parte superior, a mais importante, do engenhoso aparelho. Ele foi instalado na torre de pedra de um velho edifício em 1410, tendo sido complementado nos séculos XVIII e XIX. Na passagem de cada hora, o espetáculo é inaugurado pela morte, representada pela imagem de um esqueleto, que se vê à direita do mostrador. A figura toca um sino, levanta uma ampulheta e faz sinais com o crâneo para o personagem à sua esquerda: um turco que repele a morte virando a cabeça, em sinal de desacordo. (Figuras em detalhe na foto 2). Do lado oposto do mostrador, duas outras figuras , representando dois vícios: a da esquerda, com CATOLICISMO -
um espelho na mão, é a vaidade; a da direita, carregando um saco com dinheiro, é a avareza. (Figuras em detalhe na foto 3). Acima do mostrador, um anjo, que representa o governo sobre a cidade, ladeado por duas aberturas. Ao soar de cada hora, nelas aparecem dois Apóstolos. Por ocasião da foto, apresentaram-se São João, à esquerda, e São Simão Cananeu, à direita. De seis em seis horas, desfilam pelas duas j anelas todos os membros do Colégio Apostólico. Método prático de ir ensinando o catecismo às crianças ... Após todas as evoluções, o último papel é desempenhado pelo galo dourado, situado acima, que encerra o espetáculo com seu canto. Há seis séculos, várias gerações se deliciam com o
relógio da Cidade Velha. Inclusive nossos contemporâneos, que se congregam em grande número diante dele para comprazer-se com a candura de outrora. D Julho de 1996
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DISCERNINDO, DISTI
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Eleições italianas: pingos em alguns Is mas perdeu decisivamente no número de votos. Esquer<fa comemora vitória na ltília. Voto católico?
Análise dos resultados Itália foi às urnas no dia 19 de abri l -último, para e leger seu novo Parlamento. Como resu ltado, pela primeira vez desde 1947, o Governo constituiu-se com uma maioria parlamentar, da qual fazem parte antigos políticos do Partido Comunista Italiano (PCI), qualificados na imp rensa como ex-comunistas, hoje pertencentes ao Partido Democrático de Esquerda (PDS). Como se sabe, o antigo PCI, para diminuir a rejeição popular e conquistar novos adeptos, mudou de doutrina, programa e nome . Remoçou-se, proclamando o abandono de velhas teses marxistas. O PCI, agora PDS, voltou a fazer parte do Governo depois de permanecr 49 anos fora dele. O novo Governo, que vem sendo chamado de "rosso soft" (vermelho suave), tomou posse no dia 18 de ma io e tem como chefe Romano Prodi, um antigo democrata-cristão. A Refundação Comunista - outra agremiação composta por antigos membros do PCI, mas menos modernizada do que o PDS - não participará do ministério, mas promete apoio nas votações. As maiorias parlamentares são instáveis e passageiras. Por isso, a questão que mais interessa no momento é saber se a Itália caminhou de fato para a esquerda . Em outras palavras, se a maioria parlamentar de centro-esquerda das últimas eleições corresponde a uma maioria eleitoral da mesma orientação. Embora possa parecer surpreendente, a resposta é um não . Por causa das divisões geográficas da Itália e de características de sua recente lei eleitoral, o centro-esquerda ganhou em número de cadeiras no Parlamento,
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Senado. O Bloco da Oliveira (coligação de centro-esquerda vencedora) que escolheu para tranqüilizar a opinião pública um símbolo da paz, a oliveira - , elegeu 157 senadores e teve 13.448.392 votos. Os progressistas isto é, a Refundação Comunista - elegeram 10 senadores e tiveram 935.298 votos. Nas eleições para a Câmara Alta, a esquerda obteve um tota l de 14.383.690 votos. O Pólo da Liberdade, de centro-direita, elegeu 116 senadores e alcançou 12.187.498 votos. Outras formações de eleitorado não esquerdista, como a regionalista e federalista Liga do Norte, a Pannella-Sgardi e a Fiam ma, elegeram 29 senadores e obtiveram, no total, 4.654.975 votos. O voto não-esquerdista representou, pois, um total de 16.842.473. Assim, a desvantagem eleitoral do centro-esquerda é de mais de dois milhões de votos. Câmara dos Deputados. O Bloco da Oliveira elegeu 284 deputados, sendo 246 na lista mononominal e 40 na lista proporcional. A Refundação Comunista elegeu 15 deputados na lista mononominal e 20 na lista proporcional. Conseguiram juntos 319 deputados. O Pólo da Liberdade elegeu 169 deputados na lista mononominal e 76 na proporcional , somando 245 deputados. A regionalista Liga do Norte conseguiu uma bancada de 59 deputados; a Fiamma não elegeu representantes. Na Itália, para a Câmara Baixa cada eleitor deposita doi s votos. Muito resumidamente, na lista mononominal vale mais o candidato, enquanto na lista proporcional pesa mais o partido. Embora eleja menos candidatos, a lista proporci onal tem mais expressão ideológica, pois CATOLICISMO -
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nela valem menos as preferênc ias pessoais, locais, etc. Na lista proporcional, o voto não-esquerdista somou 20.698.292, enquanto o voto esquerdista não fo i além de 14.643.744. Portanto, seis milhões de diferença. Nesta análise foram desconsiderados os votos brancos e nulos, além de J .410.438 votos para o Senado dados a candidatos de difícil qua lificação ideológica e 625 .738 votos para a Câmara, do mesmo gênero indicado acima para aquela outra Casa legislativa.
Características preocupantes do voto católico Preocupa, consterna e até escandaliza que, enquanto em 1994 - época das últimas eleições parlamentares - apenas 7,5 % dos católicos praticantes haviam votado no PDS (o partido do comunismo renovado) agora a porcentagem bateu nos 17,2%. A Refundação Comunista abocanhou 15,5 % dos votos dos católicos praticantes.
*** Em resumo: Houve um certo sucesso da grande encenação publicitária das esquerdas, com sua imagem moderada e tranqi.iilizadora. Elas chegaram ao poder e podem nele permanecer cinco anos. A situação preocupa, porque a opinião pública da Itália, antes receosa de governos de esquerda em que figurassem os comunistas, talvez agora irá se acostumando a esta eventualidade. Tanto mais que o Governo não pensa mexer muito na vida privada dos italianos. É de se temer um efeito anestesiante e demomolidor das resistências face ao igualitarismo totalitário das esquerdas. Por outro lado, de momento, não ocorreu uma mudança de orientação no eleitorado italiano. Continua recusando a esquerda, como mostram os números. Há ainda condições para se reverter o quadro. O
E preciso "não ir na onda" C.A.
Deixar passar a febricitação de uma campanha publicitária é condição importante para conservar a objetividade
e
ertas campanhas de imprensa parecem destinadas a criar con fusão. Felizmente a opinião pública já percebeu o artificialismo dessas campanhas, e não se preocupa muito com elas. Deixa passar a onda e depois analisa a realidade. A última onda publicitária a respeito dos trágicos acontecimentos no município de Eldorado de Carajás, no sul do Pará, foi impressionante. Nos dias subseqüentes ao confronto, quem acompanhasse a "torcida" da mídia em torno do assunto diria que a Reforma Agrária era a solução para todas as tragédias no campo, e que ela passaria a ser aplicada com uma radicalidade de fazer tremer. Analisemos um pequeno mas significativo exemplo. Dentro do noticiário sobre Eldorado de Carajás, o jornal paulista de maior circulação nacional publicava, em 25 de abril, um título chamativo: Papa condena massacre dos sem-terra no Pará. Ao deparar com tal título, o leitor normalmente esperaria encontrar alguma matéria vinda de Roma, contendo declarações de João Paulo II. Não! Para grande estranheza, a matéria vinha de um enviado especial do jornal em ... Indaiatuba. Como é que dessa pequena localidade do interior paulista poderia vir uma notícia sobre a atitude do Papa? É que lá estavam reunidos os Bispos brasileiros, e eles haviam recebido uma carta. De quem? Do Papa? Também não. A carta era de um Cardeal francês, Roger Etchegaray, que atual-
mente preside o Conselho Pontifício de Justiça e Paz. A notícia se esforça por fazer crer que é o Papa quem fala por meio desse Conselho, mas os dados objetivos da própria notícia deixam claro que o pronunciamento é do Cardeal Etchegaray. É mais ou menos como se, no Brasil, a fala de qualquer Ministro fosse tomada como sendo diretamente o pronunciamento do Presidente da República. É forçar por demais a nota. Ademais, na citada carta, o Cardeal francês diz que seu Conselho Pontifício - ele não fala do Papa - se "une ao pedido feito pela CNBB para todo o país". Ou seja, parece insinuar que seu pronunciamento foi feito a pedido dos Bispos brasileiros. Um outro jornal, do Rio Grande do Sul, noticiando a mesma matéria, procurou ser mais comedido, mas nem por isso deixou de envolver o Papa no assunto. Apenas teve o cuidado de lançar a eventual responsabilidade do Papa para o futuro. O título com que publicou sua notícia é: "Papa vai divulgar apoio aos sem-terra". E introduz o assunto dizendo que João Paulo II "deverá publicar dentro de pouco tempo um documento em defesa dos trabalhadores sem terra do Brasil". Atribui a informação ao Cardeal Etchegaray, em sua carta à CNBB. Um terceiro jornal de circulação nacional, este do Rio de Janeiro, amenizou ainda mais a notícia. Além de lançar o assunto para o futuro, seu título já não fala diretamente do Papa. Diz apenas: "Vaticano vai protestar CATOLICISMO-
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Cardeal Roger Etchegaray
contra chacina dos sem-terra no Pará". Por fim, temos em mão o jornal italiano "Avvenire", do Episcopado italiano, de 25 de abril, o qual - é de se supor - está melhor informado sobre o assunto do que os brasileiros. Segundo esse diário, o que o Cardeal Etchegaray informou à CNBB é que haverá "proximamente a publicação de um documento deste Dicastério sobre o tema". Ou seja, o documento, segundo o jornal do episcopado italiano, não será do Papa mas sim do Conselho Pontifício de Justiça e Paz. O que já é bem diferente do que a mídia brasileira procura fazer crer.
***
Cessada a onda publicitária, alguma lição se pode tirar do que ela deixou? A nosso ver, a principal lição é que nunca devemos embarcar nessas ondas criadas pela imprensa. Se imprudentemente embarcarmos, poderemos de repente nos encontrar no alto mar dos desvarios publicitários, sem saber como voltar a pôr os pés na terra firme da realidade. D 25
egrina de Fátima r Um Júlio Verne .. nao tao inocente NELSON RIBEIRO FRAGELLI
Hetzel, o editor do famoso romancista Júlio Verne, tinha em vista eliminar a influência da Igreja Católica sobre a juventude
Caricatura de Júlio Verne no jornal l'ec/ipse(l 87 4)
ARIS - Outro dia, no aeroporto de Roissy, em Paris, fui quas~ atropelado por um pedestre. E isso mesmo: por um pedestre, que se locomovia com patins in tine, em louca e desabalada velocidade. Mal consegui desviar-me. Refazer-me do susto, e em seguida encaminhar meu pensamento para o inesgotável assunto dos malefícios também inesgotáveis da era da velocidade, foi coisa de um instante. Tanto quanto me lembre, tal engenhoca não figurava nas obras de Júlio Verne, que no fim do século passado e primeiras décadas deste fizeram enorme sucesso entre os jovens. Seus livros, recheados de informações científicas, apresentavam o fantástico mundo do futuro a uma sociedade ávida de inovações. Motores, balões, velocidades, possibilidade de viajar por mundos desconhecidos; os mistérios do fundo do mar e do centro da Terra, tudo isso era lido e absorvido em quase todo o mundo. Muitas das narrativas foram adaptadas para o cinema, e ainda deixam multidões boquiabertas. As fantasias científicas de Júlio Verne descreviam um futuro de sensações despertadas pela técnica. Muitos dos engenhos que ele descreveu tornaram-se realidade, estendendo sua fama de profeta por todo o mundo, sobretudo a França, sua terra natal.
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Outrora a juventude francesa católica nutria sua imaginação com os contos épicos da história do povo, intimamente ligada à da Igreja. A milagrosa conversão dos francos, a gesta de Carlos Magno e seus pares, a epopéia das Cruzadas, a narração dos feitos de seus grandes reis e santos, como São Luís e Santa Joana d' Are, davam à juventude o verdadeiro senso da realidade histórica, pois traziam ao presente o passado glorioso. Bayard Presse, editora oficial da Igreja Católica na França, revela em sua revista para jovens - Okapi, março de 1995 - que Jú lio Verne tinha um astucioso editor, Pierre-Jules Hetzel, cujo objetivo era bem preciso: "tirar da Igreja o monopó-
Uma ilustração de Okapi
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tio da literatura para a juventude. Os romances de Júlio Verne chegavam em boa hora". Hetzel tudo fez para que a paixão
pelas conquistas científicas, dada por Yerne, substituísse a admiração equilibrada por um passado heróico. O editor, cioso de suas metas - isto é, ter livre trânsito nos meios católicos - , às vezes, segundo a revista Okapi, "freava a imaginação e o estilo de Verne. Estrito sobre a moral, o editor censurava toda alusão erótica . ... Hetzel, sem dúvida, assim desnaturou um pouco o estilo que seria mais vivo, picante e arroubado. Mas é também graças a ele que Júlio Verne se tornou um grande autor, universalmente aceito". Além desse "picante e arroubado ", surpreendentemente atribuído ao erótico pela editora do Episcopado francês, Bayard Presse diz que os livros de Verne davam aos jovens o gosto da liberdade, deixavam os costumes, até então inspirados pela Igreja, ultrapassados e enfadonhos, do mesmo modo que ultrapassadas e enfadonhas se tornavam as majestosas caravelas em relação ao submarino ultramoderno Nautilus, que penetrava nos mistérios dos oceanos. Com o recuo do tempo, não seria exagerado ver nesse anseio libertário alguns dos germens de contestação que marcaram este conturbado século XX. Uma juventude progressivamente apaixonada pela ciência passou a amar cada vez mais a velocidade e os prazeres, afastando-se da Igreja. O
A Imagem Peregrina é recebida no Santuário Nacional de Shiluva, na Lituânia
Os iiéis recebem com avidez a Meclalha Milagrosa numa igreja de Lvov, Ucrânia
Caravanas de férias Nos períodos ele férias, a TFP organi za habitualmente caravana, ele jovens que se di spõe m a difundir seus ideais no Interior cio País . Nas férias passadas, participaram dessa atividade cooperadores elas Sedes de Barbacena, Cui abá, Londrina, Mon- . tes Claros, Rio de Janeiro e Campos (Setor Operário). A títul o de exemplo, a caravana que partiu de Cui abá (foto) fez um roteiro até Manaus, de lá seguiu rum o a São Paul o, onde participou cio Encontro de Neo-cooperaclores ela TFP e regressou à apitai matogrossense pelo Norte cio Paraná, tendo vi sitado 20 ·ida lcs cios estados de Mato Grosso, Rondôni a, Amazonas, Mato Grosso cio Sul , São Paulo e Paraná. CATO LI CISMO -
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A virgindade: dedicação, pe~fume de grandeza PuN10 CoRRÊA DE OuvEIRA
virgindade não á louvor que não se pos sa fazer. Ela é por excelência uma dedicação, porque o homem inteiramente casto renuncia às comodidades e aos atrativos da vida de família para servir um ideal mai s aJto. Um ideal que não lhe dá recompensa na Terra, mas oferece reco mpensas no Céu. Auge da dedicação voltada propriame nte para Deus, a castidade perfeita só tem sentido quando o homem resolveu viver para um ideal superior ao próprio ideal de famíli a. Trata-se de ideal católico, evide ntemente, pois nenhum outro ideal pode ser considerado autêntico e verdadeiro. A virgindade é então uma dedicação. A virgindade é uma grandeza? É a grandeza por ex celência. Co nsidere mos um rei sa nto. Rei puríssimo, São L uís IX tinha a missão de .perpetuar a dinastia francesa. E le casou-se, teve fithos e guardou plenamente a fidelidade co nju gal. É uni a maravilha. Entretanto, quando ouvimos falar do Infante Dom Sebastião, o rei casto, puro, virginal , imo lado numa batalha co ntra os mouros nas vastidões de Alcácer-Quibir, sentimos exalar-·se um co njunto de ideais e grandezas, que adquire seu melhor fui-
O Rei D. Sebastião de Portugal, por Cristóforo Morales. Mosteiro das Descalças Reais, Madrid
gor no fato de Dom Seba ti ão ser virginalmente casto. Resplandece nele aquela auréola da castidade perfe ita, não a respeitável castidade do matrimônio, mas a casti dade da inteira abstenção de qualquer contato carnal. Um varão régio e virginal , sob uma couraça ruti lante, poli da e luzidia, brilhando ao sol da África, com uma lança na mão e uma coroa ele Rei Fidel(ssimo na fronte. O trono ela França ra mais elevado que o trono d Portugal. São Luís foi um santo autêntico, canoni zado pela Igreja. A Igreja não canonizou o ·rei Dom Sebastião, e talvez até houvesse c rta temeridade em sua ousadias guerreiras, razão I ara não canonizá-lo. Entretanto, a fi gura dele é cercada d' uma auréola, de uma po sia, de um perfume típico d ' grandeza que nem o gran 1' rei São Luís nem o grand ' rei São Fernando de as t la tiveram. Nem mesmo o grande Carlos Magno o t v '. É a aliança e ntre a maj stade rég ia e a castidade p ·rfeita, entre a virg inclad ' • a coroa. u Nota da Redação Ex traído de co nferência pro 111111L"im l11 pelo Prof. Plínio orr' a dd)li vl'irn r I11 2-3- 1973 , o tex to !'oi liµl"ÍI llllll' lltlº adaptado à lin •ua • ' 111 l'S -ritu, se I11 l'l' visão do au tor, qu • sen1pr • i111provi s11 va seus inumerávei s discursos • p11I ·s tra s.
Senhor dos Milagres atrai multidĂľes na ColĂ´mbia
Revolução e Contra~Revolução
AfOJLXCliS Nº 548 - Agosto de 1996
NESTA EDI ÇÃO:
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R[VOLU ÇÃO [ CONTl~A-REVOLU ÇÃO
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A R[ALI DAD[ CONCISAM[N 1[
PA LAVRAS D[ VIDA [ 1[RNA
Comentários sobre os Evangelhos
PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
Revolução Francesa No item anterior desta seção o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tratou da primeira Revolução - o Renascimento e o Protestantismo. Neste item 5 C do Cap. Ili de Revolução e ContraRevolução, discorre sobre a segunda Revolução e suas correlações com a primeira.
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ação profunda do Humanismo e da Renascença entre os católicos não cessou de se dilatar numa crescente cadeia de conseqüências, em toda a França. Favorecida pelo enfraquecimento da piedade dos fié is ocasionado pelo jansenismo e pelos outros fermentos que o protestantismo do século XVI desgraçadamente deixara no
5 Reino Cristianíssimo - tal ação teve por efeito no século XVID uma dissolução quase geral dos costumes, um modo frívo lo e brilhante de considerar as coisas, um endeusamento da vida terrena, que preparou o campo para a vitória gradual da irreligião. Dúvidas em relação à Igreja, negação da divindade Cristo, dcí ·mo, ateísmo incipiente
Atomada da Bastilha: lance simbólico da derrubada do Ancien Régime 2
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foram as etapas dessa apostasia. Profundamente aíim com o protestantismo, herdeira dele e do ncopagani smo renascentista, a Revolução Francesa rcaliwu uma obra de todo cm todo sim étri ca à da Pseudo-Reforma. A Igreja on stitucional que ela, antes de nauCragar no deísmo e no ai •ísmo, tentou fundar, era uma adaptação da lgr~ja da Frarn.;a ao espírito do protestantismo. E a obra pol ítica da Rcvo1ução Francesa nao foi senão a transposição, para o âmbito do Estado, da "reforma" que as seitas protestant ·s mais radicais adotaram cm matéria de organização eclesiástica: ♦ Revolta contra o Rei , simétri ca à revolta contra o Papa; ♦ Revolta da plebe contra os nobres, simétrica à revolta da "plebe" eclesiástica, isto é, dos fiéis, contra a "aristocracia" da Igreja, isto é, o Clero; ♦ Afirmação da sohe rania popular, simétril'a ao governo de certas sei la s, l'll1 medida maior ou m ·not , pelos fi éis.
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I II SI ÓRI A SAG RADA
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1IAGIOG RA I IA
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PÁG INA MARIANA
Nossa Senhora Rainha dos Corações
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Santo Afonso de Ligório
[N í REVISTA
A coerência de Plinio Corrêa de Ol iveira
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VI IWADLS LSQUl:CI DAS
NACIONAL
D[V ÇÕ I SPOPU LARLS
Novos atos de violência das esquerdas
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O Senhor dos Milagres de Buga
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IMAGLNS I M PAIN[L
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DISCLRN INDO, DISI INGU INDO, CLASS lrl CANDO
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11 Ps LM AÇÃO
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IN 1[RNACIONAL
Eleições na Rússia
CAPA
Aborto pode atrai r castigos para o Brasil
AMB IEN llS, COSTUMES, CIVILILAÇÕ[S
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Preços da assinatura anual para o mês de AGOSTO de 1996: Com um: A$ 40, 00 Cooperador: A$ 60,00 Benfeitor: A$ 120,00 Grande Benfeitor: A$ 200,00 Exemplares avulsos: A$ 4,00 N.B.- O quccxccdcr ao valor da assi natura comum considera-se um donativo para a diíusão dcCatolicismo
e para as at ividadcs estatutárias da TFP
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A REALIDA
Desmoral ização~do marxismo em Cuba Na Universidade de Havana, ninguém vai se formar este ano em Filosofia Marxista. Acabaram os seminários sobre Comunismo Científico. Ninguém se interessa por eles. Estudantes e professores rotularam esses cursos de "ficção científica" . Cinco estudantes se inscreveram para o curso sobre a Revolução Cubana, enquanto vinte estão inscritos para o curso sobre História Contemporânea dos Estados Unidos e 75 enchem a lista do curso sobre a Lei de Propriedade. Jorge Luiz Acanda, diretor do Departamento de Filosofia, se lembra dos cursos sobre Comunismo Científico com mais de 200 alunos. Nas livrarias ninguém compra os livros sobre Marx e Lenine. Teria acabado a credulidade do povo, que agora vê os perigos que o espreitam? Nada disso. Morto o interesse pelo marxismo, um novo problema está surgindo: os livros mais vendidos são sobre o ocultismo e falsos misticismos.
Acostumando-se com o horrendo e o repugnante A nova moda dos bichinhos de estimação (cf. Catolicismo, fev./96), que não são nem maravilhosos nem engraçadinhos, vai ganhando adeptos no Brasil. Cobras, lagartos, escorpiões, aranhas caranguejeiras , estão entre os mais cotados. Exigem cuidados especiais, há lojas que atendem os adeptos, e já há especialistas no ramo. "Já cheguei a ter mais de cem escorpiões. Parei porque, para alimentá/os, é preciso ter uma criação de baratas e grilos", declara um paulista de 19 anos, que é dono de 35 aranhas caranguejeiras. 4
ISAMENTE
Grave alerta do exorcista da Diocese de Roma O Pe. Gabriele Amorth, exorcista da diocese de Roma e conhecido especialista em satanismo, lançou um brado de alarma contra a crescente difusão do culto a satanás e o proselitismo do espiritismo. Para o sacerdote, estes dois trágicos fenômenos são favorecidos por uma escandalosa conivência dentro das fileiras do clero: "Infelizmente, uma teologia sedutora difundiu também
"A pior manha do demônio é fazer crer que ele não mais existe", dizia um escritor francês ...
no interior da Igreja esta concepção abstrata do demônio, que está em clara oposição ao ensinamento do Evangelho, ao Magistério Eclesiástico e ao sentimento comum do povo cristão; também muitos bispos não acreditam mais na existência do demônio". ''Além da tentação, explicou o Pe. Amorth, "são duas as ações do demônio: a infestação e a possessão. A primeira ocorre quando, externamente, o demônio agride a pessoa, provocando distúrbios físicos ou psíquicos não curáveis pela Medicina. Quanto à possessão, é raríssima; mas mesmo ela está aumentando e preocupa muito. Hoje há uma explosão de ocasiões que expõem as pessoas aos malefícios e até à possessão". Nas sessões espíritas, "que se tornaram quase uma moda, na realidade, se intervém alguém, é o demônio, porque as almas dos defuntos estão no Céu, no Purgatório ou no Inferno", lembrou o Pe. Amorth.
Venda de estatais ajuda trabalhadores A compra de ações pelos empregado de empresas privatizadas, no Brasil, já está rendendo bons lucros para eles. Saneadas, as empresas começaram a dar lucros e distribuir dividendos, além de terem seus preços aumentados nas bolsas. Alguns exemplos: Na Copesul, privatizada em maio de 1992, com os dividendos uma funcionária que adquiriu 695 mil ações CATOLICISMO - Agosto de 1996
consegue ajudar no orçamento doméstico, na construção de uma casa e na compra de um terreno. Na Companhia Siderúrgica Nacional, o lote de J000 ações custou 3 dólares aos empregados, e está valendo 28. Uma funcionária da USlMINAS, privatizada em outubro de 1991 , vendeu suas ações, que e valorizaram muito, e quitou a prestações da casa própria. D
grande missionário contra-revo luc ionário, mariólogo e fundador de congregação relig iosa, São Luís Ma ria Gr ignion de Montfort ( 1673- 17 16), em sua inspirada obra "Tratado da Verdadeira Devoção à Sanlíssima Virgem", afirma: "Maria é Rainha do Céu e da Terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista. "Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principafmen/e o coração ou o interior do homem, conforme a palavra "o reino de Deus está 110 meio de vós" (Lc.17,21), o reino da Santíssima Virgem eslá principalmente no interior do homem, isto é, em sua alma, e é principalmente nasalmas que Ela é mais glorificada, com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la com os sanlos a Rai-
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radicada no solo jr'Clncês, corneçou a ser debelada.
Uma das mais belas invocações a Nossa Senhora
nha dos corações". A palavra "coração", nesse caso, significa a alma e, mais propriamente, a mentalidade do homem, isto é, a maneira de ser, pensar e agir que o caracterizam. Como a opinião pública de um país é expressão da mentalidade dos seus habitantes, Nossa Senhora Rainha dos Corações pode ser entend ida também como Soberana da opinião pública.
"As Congregações Marianas liveram um florescimento enorme no Brasil, devido precisamenle ao cul!o a Nossa Senhora. Toda a vida ca!ólica no Brasil foiflorescentíssima no tempo em que não havia esse ma/dilo combate à devoção a Nossa Senhora. É só minguar de qualquer forma a devoção a Ela, que i111ediata111 ente todas as coisas começam a decaÍI: "Onde há devoção a Maria, tudo .floresce; exlinla essa devoção, tudo míngua; restaurada novamente, ludo volta a.floresce,-: "A razão disso é projimda e teológica. São Luís Grignion mostra que, se Nossa Senhora /em uma grande influência na geração dos membros do Corpo Místico, Ela impficitamenle tem um grande poder sobre as almas, porque Ela não poderia obter a geração do Corpo Místico, se não tivesse esse pode,: "A devoção a Maria Santíssima age sobre as almas, e o fa z deforma imensamente poderosa; por isso, as conversões mais profúndas, as mudanças de espírilo mais su1preende111es, as graças espiriluais mais assinaladas são produzidas por essa devoção. "Em conseqüência, Nossa Senhora deve ser chamada a Rainha dos Corações. É uma das mais belas invocações a Ela dirigidas". Coerentemente com esses belíssimos comentários, o Prof. Pl ínio Corrêa de Oliveira, antes e depois de reuniões para sócios e cooperadores da TFP, rezava a invocação "Regina Cordium, ora pro nobis " - Rainha dos Corações, rogai por nós. O
Nossa Senhora Rainha dos Corações
Colocar todas as obras sob a égide de Nossa Senhora Na década de 50, comentando essa obra de São Luís Grignion em reuniões para o Grupo de Catolicismo - que em 1960 deu origem à TFP -, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira asseverou: "Há uma verdade que, a bem dizei; é experimental dentro da Santa Igreja: quando um.a associação religiosa vai mal, ou o andamento de uma iniciativa de aposlofado está difícil, quando qualquer empree11di111en10 santo não eslá despe riando o i111eresse desejado nem criando raízes no povo, o meio que se tem para resolver as dificuldades, o
PAULO FRANCISCO MARTOS
caminho a seguir para ludo resolvei; é colocar essas obras sob a égide de Nossa Senhora. "O mais insigne desses exemplos é a Cruzada pregada contra os albigenses. Como sabemos, esses heregç_s viviam na região de Albi, no sul da França, e eram tão perlinazes que não havia meio de os domina,: "Nossa Senhora revelou então a São Domingos de Gusmão uma devoção a Ela, mediante a qual os hereges seriam subjugados. E, de fato, depois de difimdida a recilação do Santo Rosário, a heresia dos albigenses, que era tremenda e estava profúndame111e CATOLICISMO - Agosto de 1996
Fonte ele referência: São Luís Maria Grignion ele Montf"ort, 7i-c11adoda Verdadeira Dew1ção à Sa111í.1·.1·i111a Vi1ge111, Vozes. 6" ecl., 1961.
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A coerência plena do Fundador da TFP Tese de mestrado na USP evidenciou fidelidade indômita do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira à doutrina tradicional católica Prof. Lizâneas Souza Lima fala a Catolicismo
umerosos pesquisadores voltados para o estudo da realidade religiosa, política e social do País têm publicado obras nas quais são citados lances do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, desde os remotos anos 30, e da associação por ele fundada em 1960, a TFP. O Serviço de Documentação da entidade já conta com mais de 700 livros com tais referências, muitos deles editados no exterior. Além disso, em diversas universidades brasileiras - Universidade de Brasília, Universidade Católica de Minas Gerais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Universidade de São Paulo - já foram apresentadas dissertações de mestrado versando parcial ou integralmente sobre a TFP e seu Fundador. Entre essas dissertações, cabe destacar a que foi defendida na Universidade de São Paulo, em 1985, pelo Prof. Lizâneas Souza Lima, sob o título "Plinio Corrêa de Oliveira: um cruzado do século XX". Julgamos oportuno solicitar ao Prof. Lizâneas uma entrevista sobre o assunto, que ganhou nova importância após o falecimento do insigne líder e pensador católico, pois o recuo histórico veio destacar sua figura e a gesta que empreendeu. Embora ideologicamente a tese apresente um cunho esquerdista moderado, teve ela o grande mérito da realçar parte da excepcional obra que o Prof. Plínio
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Corrêa de Oliveira realizou ao longo de várias décadas. Mesmo confundindo às vezes a Igreja Católica com o "progressismo" que nEla se infiltrou, a dissertação tem a c/ari vidência de apontar a fidelidade impertérrita do Fundador da TFP aos ensinamentos tradicionais da Igreja. Sem tomar posição favorável ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira - e mesmo discordando dele em vários pontos, por situar-se em outro quadrante ideológico - o trabalho do Prof. Lizâneas deixa claro o papel ímpar que ele desempenhou. Pequenas confusões de interpretação, como por exemplo concluir que o
Prof. Plínio teria apoiado o getulismo, também não empanam o conjunto da pesquisa, que é realmente impressionante.
Catolicismo - O que levou o Sr. a fa zer sua dissertação de mestrado sobre a obra do Prof Plinio Corrêa de Oliveira? Prof. Lizâneas - Em meu curso de História na Universidade de São Paulo, estudando a atua li dade brasileira, tive a atenção voltada para a intensa religiosidade do nosso povo, apesar de uma laicização crescente das elites.
Mais de 700 livros, no Brasil e no Exterior, tratam da TFP e de seu Fundador CATOLICISMO -
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Assim, quando em 1981 devia escolher o tema da dissertação de mestrado, pensei inicialmente em focalizar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), enquanto força política e ideológica. Entretanto, ao examinar as origens da CNBB, defronteime com outra corrente católica, ou seja, o catolicismo tradicional, bem menos estudada nos ambientes universitários. Minha escolha recaiu, pois, sobre esse tema. Logo nos primeiros passos da pesquisa, não foi então difícil identificar o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira como o mais notável pensador e Líder dessa corrente. Destacava-se ele pelo longo período de sua atuação, desde o remoto ano de 1928, como também pela profundidade de suas obras e repercussão de suas campanhas à frente da TFP.
Foi nesse contexto que o jovem Plinio Corrêa de Oliveira tornou-se o líder católico e homem de confiança, sucessivamente, de dois Arcebispos de São Paulo, chegando a ser
Diante dessa divergência, urna pergunta crucial se apresenta: mudou o Prof. Plinio ou mudou a CNBB? Ao longo de três anos examinei todos os livros e o considerável volume de artigos publicados pelo Prof. Plinio. Minha conclusão é de que ele não mudou. Permaneceu fiel aos mesmos princípios e mesmas idéias defendidos desde 1928. Houve, de fato , uma guinada na orientação da CNBB, que embarcou na Teo logia da Libertação, enquanto o fundador da TFP firmou-se como símbolo da oposição a essas mudanças. Catolicismo - Por que o Sr. qualifica o Prof Plinio "Cruzado do Século XX", no título da dissertação?
Prof. Lizâneas - Alguém já comentou que fui mais feliz no título do que na própria disCatolicismo - Em síntesertação. se, o que o Sr. sustenta em sua Considero o Prof. Plinio um dissertação ? autêntico cruzado ela nossa época, sempre atento e capaz de anaPlinio Corrêa de Oliveira aos 24 anos, eleito deputado constituinte Prof. Lizâneas-Iniciallisar os acontecimentos com mente, procuro descrever a situação eleito deputado constituinte em discernimento fora do comum. da Igreja no início deste século, quan1934. Suas batalhas não foram batalhas do o Prof. Plinio ingressou no moviEsta situação modificou-se em da Idade Média, embora ele tivesse todo mento católico. 1943, quando o Prof. Plínio, depois de um referencial em pensadores como A Igreja então se revigorava, após ter lançado o livro "Em defesa da Ação Santo Agostinho e São Tomás de a penosa situação enfrentada sob o Católica", denunciando o progressismo Aquino, além das encíclicas dos Papas. Império, que de vários modos opôs nascente, foi afastado dos cargos que Os escritos do Prof. P linio reveentraves à plena atividade dos Bispos lam uma lúcida visão dos acontecilhe haviam sido confiados pela autorie Ordens religiosas. mentos contemporâneos. Um dos dade eclesiástica. Para tal revigoramento contribuiu, Após alguns anos em que perma- exemp los mais elucidativos, a meu evidentemente, a crescente irradiação neceu no isolamento, retomou o Prof. ver, deu-se na década de 30. Percedo poder do Pontífice romano, desde a Plinio sua atuação pública através do beu ele no nazismo e no fascismo a publicação do Syllabus pelo Papa Pio mensário " Catolicismo", e, posterior- serpente no ovo, e atacou vigorosaIX, como também o movimento mente, com a fundação da TFP. A parmente esses movimentos. ultramontano, que a partir da França tir de então, encontramos vários artiSeus artigos, no semanário "Legiatuou em favor da maior adesão dos gos e livros nos quais ele se opõe a onário" , são os mais contundentes pucatólicos a Roma. posições chamadas progressistas da blicados no Brasil contra o nazi-fasAqui no Brasil essa tendência tra- CNBB. Portanto, o homem que outro- cismo. Exatamente na época em que duziu-se na ampliação do número de ra havia sido da extrema confiança das tais movimentos alcançavam várias dioceses, na melhor formação de sa- autoridades eclesiásticas, tornou-se vitórias retumbantes, enquanto muitos cerdotes e na expansão das Congregauma voz discordante da CNBB, semintelectuais deixaram-se seduzir por ções Marianas entre a juventude. pre num estilo respeitoso, mas firme. essas ideologias. D CATOLI CISMO -
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TÓPICOS DA A Frases que falam
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Luiza Erundina: "Foi um erro transf ormar aquilo (o tombamento da mansão da família Matara zzo ) num embate ideológico, pensando em estimular a luta de classes" ("Fo lh a de S. Paulo", 15-6-96). Sérgio Amaral, porta-voz da Pres idência da República: "O Presidente tem a reafirmar que é preciso pôr fim à violência no campo, de onde quer que ela venha" ("Jornal do Brasil", 14-6-96).
Greve gera!: fracasso das esquerdas A g reve gera l, inte ntada no dia 21 de junho, constituiu um fracasso para as centrais s indi cais. Graças à pronta ação da Polícia Militar e m a lg un s estados, para imped ir a ação dos piquetes , os transportes urba nos se no rmali zaram ao longo do dia. G rev istas, que invocam o princípio de libe rdade para rea li zar uma paral isação il ega l como essa, apedrejaram cerca de 180 ô nibu s e m todo o País, tentando imped ir o comparecimento ao trabalho dos que não quisessem aderir à g reve . Pergu nta-se: esses grev istas desconhecem a liberdade dos o utros, de não pensarem nem agirem co mo e les querem? Q ue autenticidade teria um a paralisação "geral" obtida dessa forma, se a tivessem conseguido? O m ais in c rí ve l é que, apesar de todas essas violências, o líder s indi ca l L uís Antonio de Medeiros, da CGT, não teve dúvi d as em declarar:
Na rea lidade, apesa r da e norme propaga nda fe ita a favor da greve, verifico use mai s uma vez o caráter ordeiro e pacífico do povo brasi le iro, be m como a peque na penetração que as c ha madas reivindicações sociais têm na nossa população. As cinco bandeiras dos pro motores da greve foram: política de emprego, salário, a posentadoria d ig na, mais d ire itos para os trabalhadores e - como não podia faltar e m uma g reve promov ida pela esq uerda - o apressamento da Reforma Agrária, coringa que é e nxertado como se fosse uma ex igência popular, sempre que há alg uma brecha para isso. Até quando as esq uerdas teimarão e m defender o velho jargão da luta de classes, essa bandeira tão retrógrada? Até quando certos empresários se de ixarão in timidar pela ameaça de um operariado revoltado, que praticamente não ex iste no Brasil ? Quando se conve ncerão e les de que a maioria do operari ado é simpática ao patrão, e de que ele cumpre com a "fun ção social" da propriedade ao criar empregos? D
Violência no campo Num grave conflito na Fazenda Cikel, em Buriticupu (MA), três empregados foram barbaramente assassinados. O delegado Rubens Sérgio, en-
carregado do inquérito, mandou ex umar os corpos, constatando que um dos e mpregados fo i morto pelos sem-terras com pauladas por todo o corpo. O utros do is levaram tiros na cabeça ("O Estado de S. Paul o", 22-6-96). Com requinte de crueldade, os assassinos queimaram os corpos das vítimas. O Incra disse estranhar a atitude dos sem-terras que invadiram novamente a fazenda, pois apenas no município de Santa Luzia, ao q ua l pertence o povoado de Buriticupu, há 25 fazendas e m processo de desapropriação. A oferta de terras para assenta mentos seria maior que o necessário para aco modar todas as famílias acampadas na região ("Jornal do Brasil" , 14-6-96). Um bando de invasores entrou na Faze nda Ta ina-Rekã, mais conhecida como Fazenda Bradesco, no sul do Pará, baleou o capataz e seq üestrou outros três e mpregados. O MST nega a autori a da invasão, afir mando que se trata de um bando de pistoleiros e jag unços desocupados ("O Estado de S. Paulo", 22-6-96). A inda que não fosse, é bom lembrar q ue "quem semeia
ventos colhe tempestades" . O Governo tem feito declarações no sentido de que não da rá assentamento a invasores. Mas o Incra continua a desapropriar terras invadidas, para nelas assentar os in vasores. Não se vê também co mo concili ar essa política do Incra com a declaração do porta- voz da Pres idência da Repúb li ca, Sérgio Amaral, que afirma: " O
País não pode convi_...;;,,-:::>--~- ver com invasões, co m violência , com mortes". □
Maior do que a Bélgica e três vezes o Líbano
"Respeitamos quem quis parar e quem quis traba lhar". {j Autoridades e i < industriais conci- t fi ado res s uspenderam as a ul as nas esco las e o & i trabalho nas in dústrias, m ostra nd o-se coniventes com os grevist?s, para evitar
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Grevistas obrigam lojas a fechar as portas em São Bernardo do Campo (SP): desrespeito a quem queria trabalhar • CATOLICISMO -
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Nos primeiros 45 dias após a criação do M ini stério da Política Fundiária, o Mi ni stro Raul Jungmann desapropriou 425 mil hectares. Já somam l ,73 milhões de hectares as ex propri ações no at ual Govern o. Além di sso, das terras que o Exérc ito co locou à di s-
ção sexual , mas está e ncontrando grande difi c uldade por parte dos pró prios beneficiados pe lo proj eto, que se tê m recusado a ace itar o conv ite pa ra depor e m Brasíl ia. Um de les declarou: " Isso refle-
te urna grande alienação. A auto-repressão é tão grande que eles têm medo de aparecer até em ambientes já reconhecidos". Uma ca ntora, també m co11v idada por Marta S uplicy, esc reveu: " Não irei, por uma única razão: não tenho vocação para mártir " ("Fo lha de S. Pau~ ~
__._,,..'"""'..._--""e:.....::""' Sem-terras na Fazenda Cikel, no Maranhão: mais violência orquestrada
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pos ição para a Reforma Agrária, 1,8 mi lhões de hectares são cons iderados aptos para asse ntame nto. O Incra ass inou acordo com o Banco do Bras il para utilizar o utros 120 mil hectares de terras que o banco recebeu em pagamento de dívida de 364 proprietários espalh ados pelo País. A soma dessas três áreas corresponde a 36.000 km 2 . Maior que a de alg uns importantes países do mundo, com agric ul tura bastante desenvo lvida, e comparável à de vários estados brasileiros co m alg uns mi lh ões de habitantes (ver quadro ao lado). D
lo", 23-6-96). Ainda be m que os própri os homossexuais têm vergonha de se manifes tar co mo tais, e qu e a opinião púb li ca ainda
Ainda faltam terras para fazer a Reforma Agrária? Comparação entre a área que o Governo FHC obteve para RA e área de alguns países e estados
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A empresa familiar em agonia Foi-se o tempo e m que as pessoas se orgulhavam de trabalhar na mesma empresa o u no mesmo ramo de atividades de se us ancestra is, e pre parava m os filhos para continuá-la. O mesmo negócio era transmitido de pai a filho através de várias gerações, às vezes durante séculos . A campan ha soc iali sta pela demo lição da fa míli a ating iu também essa continuidade tradicional e o rgânica. Tornou-se bonito a empresa ser dirigida por profissiona is competentes, e não pelos seus leg ítimos do nos. A expressão dessa mentalidade consta de um artigo publicado pela "Gazeta Mercanti I" ( 17-6-96), de a utori a de Li dia Golde nstein, assessora do Presidente do BNDES, e José Ro berto Mendo nça de Barros, Secretário de Po lítica Econôm ica do Ministério da Fazenda: "Os novos
parâmetros que surgem ... impõem uma nova dinâmica que reduz muito, se é que não elimina, o espaço para a tradicional empresa familiar. A gestão mais eficiente ... , que decorre do atual processo, é
■ Áreas desapropriadas e cedidas para a Reforma Ágraria no
Govern o FHC
~ Áreas Palses/Estados
incompatível com a velha estrutura .fámiliar que, entretanto, em alguns casos, continua lutando para sobreviver". □
rej e ita esse horroroso pecado co ntra a natureza. D
Mais um golpe no instituto da família
Controle da natalidade e castigo divino
A Câmara dos Deputados começou a debater um projeto da deputada Marta S uplicy (PT-SP), que "disciplina a união civil entre pessoas do mesmo sexo". A possibilidade de estender d ireitos civis do casamento a casais homossexuais compreende o direito de.herança, a concessão de benefícios previdenciários, a possibilidade de seguro-saúde em com um , a dec laração conjunta de imposto de re nda e o direito de mudança de nacionali dade do compan heiro, quando de o utro país. A deputada gostaria que homossexuais fa mosos comparecessem ao Congresso para falar abe rtamente de sua orie nta-
O programa das Nações Unidas para o Desenvolv imento (PNUD) e o Instituto de Pesquisa Econô mica Aplicada (IPEA) publicaram o "Relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil ", mostrando que a taxa de fert ilidade era de 5,8 filh os por mulhe r até 1970, e caiu para 2,9 em 199 1. Essa redução do índice de fertilidade se o bte ve, ev identeme nte, à c usta de contro le da nata l idade po r d iversos me ios, mu itos dos quais conde nados pela Doutrina Cató lica, como o aborto, o uso de contraceptivos orais, etc. Corres po nde, portanto, a um número e no rme de pecados, que faz temer um castigo da Pro vi dência Divina sobre o Bras il. D
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INTE
NAL
Pata onde vai a Rússia? Após setenta anos de ditadura comunista, a Rússia mais uma vez rejeitou nas urnas o comunismo. Porém, representará Yeltsin uma solução tranqüilizadora? As preocupações continuam, pois estamos diante de uma potência atômica, cuja situação é obscura e caótica J.C.
CASTÉ
Enviado especial
Lebed será o novo
aris - O jornal mais
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lido de Moscou , o "Moskovski Komsomolets ", expressou de maneira jocosa a derrota comunista: "Até os mon-
homem forte?
Por artes de maciça e astuta publicidade, o General Lebed conquistou o prestigiosíssimo (para ele, até então um candidato fraco) terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais. Logo a seguir, apareceu no Kremlin, nomeado Chefe do Conselho de Segurança, como o novo homem forte do governo, trocando sorrisos com Yeltsin. O que virá daí? Qual é a ideo logia do general? Qual seu programa de governo? A bem dizer, ninguém sabe. E m dezembro de J 995 , num artigo para "Le Monde", o Gal. Lebed afirmou que "a
góis recusaram o comunismo".
De fato, os russos votaram no mal menor. Quiseram a continuidade de Yeltsin, apesar do caótico e anárquico estado do governo. Recusaram as promessas de ordem e disciplina do candidato comunista, que de fato os ameaçava com o totalitarismo da antiga URSS. A vitória de Yeltsin confirma o que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sempre afirmou com desassombro, mesmo nas épocas de aparente força eleitoral comunista: "O comunismo não é popular. O povo não é comunista. O comunismo, em mais de cem anos, não ganhou nenhuma eleição verdadeiramente livre".
O presidente Boris Yeltsin venceu o segundo turno alcançando 53,7% dos votos. O candidato comunista Guennadi Zyuganov obteve apenas 40,4 %
Sombras no panorama
O "Le Figaro" de 4 de junho comentou que a Rússia, em seis anos, passou de um Estado totalitário a um não-Estado. De outro lado, Yeltsin tem se mostrado imprevisível. Uma confiança incondicional no Chefe de Estado russo se10
ria ingenuidade ou inconsc iência. A sua saúde é precária, e o país entrou num clima de instab ilidade e turbulência que permite as mais sombrias suposições. E surgiu repentinamente no panorama um general esquivo, ambíguo, por vezes conciliador, por vezes agressivo, ameaçador e prepotente. •
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Rússia tem a OTAN como seu primeiro adversário potencial". No mesmo
texto, dizia que a OTAN
"demonstrou mais uma vez na Bósnia seu apego a uma política de força. Se a OTAN escolher aprox imar suas forças da fronteira russa, esta se verá obrigada a tomar medidas de retenção. Formará uma nova aliança de defesa, denunciará os acordos recentes e voltará à tática da dissuasão nuclear".
O candidato comunista tentou em vão ressuscitar na alma do povo russo a foice e o martelo - símbolo da tirania soviética
Com relação à agricultura, afirmou que "o problema da propriedade privada da terra deve ser submetido a um referendo".
Sua posição não é tranqi.iilizadora quanto ao contacto da população russa com o Exterior: "É necessário endurecer o regime de vistos e de passaportes para todos sem exceção" . Aproveitou a ocasião para criticar "os estrangeiros que querem nos ensinar como viver".
Em matéria econômica, suas afirmações foram inconclusivas: "O Estado russo deve se apoiar no capital russo, mas sobretudo, nos próximos anos, no capital estrangeiro. A luta pela economia russa deve se desenvolver no Estado Maior do FMI. A Rússia tem necessidade da sua própria via histórica realista, de bom senso e pragmática". Perspectivas do novo governo
O primeiro-ministro Viktor Chernomyrdin, confirmado no cargo, convidou a oposição comunista a colaborar com o governo, porque "o essencial é encontrar as pessoas que saibam trabalhar". Afirma-se que Chernomyrdin abrirá seu gabinete às forças de esquerda, porque suas prioridades são "sociais". De outro lado, a situação financeira, bancária e econômica na Rússia, a curto
Era uma forma de mostrar a Washington que conservava suas mãos livres. A Rússia assinou também com a China comunista um acordo de "confiança militar", em Shangai. Ao mesmo tempo, prosseguem a construção da gigantesca base militar nos Urais e o apoio político e militar a países de virulenta militância anti-ocidental, como Irã, Iraque e Líbia, inclusive com venda de material nuclear e de mísseis. Os Estados Unidos, para não prejudicar as possibilidades eleitorais de Yeltsin, silenciaram a respeito de tais assuntos nos últimos oito meses, assim como sobre a ampliação política da OTAN e a ratificação do tratado anti-balístico Start II, mas é claro que voltarão a ser tratados proximamente. Em resumo, a situação russa é confusa, caótica, enigmática, preocupante.
prazo, é explosiva. O Gal. Lebed chegou a advertir que há "uma crise financeira e bancária muito séria à vista ". Também o conselheiro presidencial Mikhail Deliaguine expressou a mesma opinião: "Deveremos fa zer fi'ente a um choque maio,; devido ao agravamento da situação econômica e à crise financ eira aguda". Chegou ainsinuarum papel ainda maior para Lebed: "Talvez a situação da economia seja mais delicada do que se diz, e talvez seja o General Lebed quem possa evitar as convulsões sociais potenciais do outono". Outro motivo de tensão: a política exterior russa A política exterior russa, mutável e imprev isível, vem sendo observada com preocupação nos círculos responsáveis do Ocidente. Passaram os tempos de euforia e de confiança. Aliás, bastante ingênua, para dizer o mínimo. Em dezembro de 1995, a Rússia e a China assinaram um acordo de cooperação militar. No momento em que a tensão entre a China continental (comunista) e Taiwan estavam no auge, a Rússia vendeu 72 aviões militares a Pequim. Em plena campanha eleitoral, Yeltsin viajou até Pequim para assinar um acordo de "colaboração estratégica para o século XXI". CATOLICISMO -
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O Gal. Alexander Lebed classificou-se em terceiro lugar no primeiro turno, obtendo 11 milhões de sufrágios
Tem, contudo, aspectos luminosos, como a recusa popular em votar pelo comunismo, apesar das decepções e amarguras causadas pelos anos de Yeltsin. Paira também sobre ela uma outra luz, ainda mai s intensa: a promessa de Nossa Senhora em Fátima, de que a Rússia finalmente voltaria ao único redil verdadeiro, do único Pastor autêntico, a Igreja Católica. D 11
criminoso" por "aborto", pos-
Nova ofensiva abortista ameaça o Brasil cristão MURILLO M. GALLIEZ
e
resce o e mpe nho com que os abortistas brasile iros procuram facilitar o assass inato, e m g rande esca la e lega li zado, de crianças no ventre materno. É indispensáve l o-leitor ter conhec ime nto do que se faz no Cong resso Nacional neste sentido. Se aprovados e tran sfo rmados e m lei os projetos em andamento, o Brasil terá uma legis lação ex tre mame nte pe rmissiva e m relação à prática do aborto e contrári a aos princípios da moral católica: 1 - O aborto não mais será considerado crime. 2 - Sua realização será totalmente liberad a, por mera soli citação da gesta nte, nos três prime iros meses da grav idez. 3 - Nos primeiros seis meses sua rea li zação será permitida, caso o ser humano concebido seja "portador de gra-
Projetos de lei em andamento no Congresso Nacional ampliam bastante os casos - admitidos na legislação vigente de autorização do aborto, que é crime condenado pela lei natural e pelo Magistério da Igreja soropositividade só se transmi te ao concepto e m 30% dos casos, nas gestantes não tratadas, proporção esta que diminui ainda mais naquelas que se subme-
te m à terapia anti-HIV, segundo as autoridades sanitári as. (Sobre os projetos de le i aborti stas em tramitação no Congresso Nacional, ver quadro na p. 13).
Abortistas avançam Além de tais proj etos ainda em di scussão, outro projeto também de caráter nitid amente abortista já foi aprovado e transform ado e m le i. Trata-se do Projeto de Lei 1.104/ l 99 J, do Deputado Edu a rd o Jorge (PT-SP), que d á nova redação ao in ciso TI do a rtigo l 3 1 da Consolidação das Leis do Traba lho (CLT), substituindo a expressão "abo rto não
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Atualmente encontram-se em tramitação na Câmara dos Deputados os seguintes projetos de lei, de caráter nitidamente abortista: • Projeto de Lei 20/1991, do Deputado Eduardo Jorge (PT-SP) , dispondo sobre a obrigatoriedade de atendimento, pelo Sistema Único de Saúde, dos casos de aborto previstos no Código Penal. Este projeto foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família, em 27-9-95, por 21 votos a favor e 17 contra, encontrando-se atualmente na Comissão de Constituição e Justiça e Redação, onde o relator, Deputado Hélio Bicudo (PT-SP), apresentou um substitutivo. • Projeto de Lei 1.135/1991, do Deputado Eduardo Jorge (PT-SP), suprimindo o artigo 124 do Código Penal Brasileiro, que caracteriza como crime o aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento. Encontra-se em discussão na Comissão de Seguridade Social e Família, tendo como relatora a Deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ). A ele foram anexados os Projetos de Lei 1.174/1991 e 176/1995. • Projeto de Lei 1.174/1991, do Deputado Eduardo Jorge (PT-SP), que dá nova redação ao artigo 128 do Código Penal, autorizando o aborto quando a gravidez representar risco de vida e de saúde física ou psíquica da gestante. A ele foi anexado o Projeto de Lei 2.023/1991. Por solicitação da Comissão de Seguridade Social e Família, foi ele anexado ao Projeto de Lei 1.135/1991.
ves e irreversíveis anomalias .ftSicas ou mentais". 4 - Também continuaria sua permissão quando a grav idez resultar de estupro, e seria bastante ampliada a permissão por motivo de saúde da gestante. De fato, ,.o aborto seria permitido não apenas nos casos e m que não houver outro meio de salvar a vida da gestante - como é atu·aJme nte - , mas também em todos os casos em que a gravidez afetar a "saúde física ou psíquica da gestante", o que dá pretexto para toda espécie de indicações para o aborto. 5 - Além disso o aborto seria permitido a qualquer gestante soropositiva para o HIV, mesmo qu a nd o se sabe que tal
Propostas abortistas no Congresso Nacional
• Projeto de Lei 2.023/1991, do Deputado Eduardo Jorge (PT-SP), permitindo a prática do aborto nos termos do artigo 128, inciso 1, do Código Penal, caso se comprove que a mulher está contaminada pelo vírus HIV. Foi anexado ao anterior por indicação da Mesa Diretora. • Projeto de Lei 3.280/1992 , do Deputado Luiz Moreira (PTB-BA) , autorizando a interrupção da gravidez até a vigésima quarta semana, quando o produto da concepção for portador de graves e irreversíveis anomalias físicas ou mentais, e precedida de indicação médica. Anexado ao Projeto de Lei 1.135/1991 por indicação da Mesa Diretora. • Projeto de Lei 176/1995, do Deputado José Genoíno (PT-SP), autorizando a interrupção da gravidez de até noventa dias, por solicitação da gestante. A rede hospitalar pública ficaria obrigada a realizar o aborto nesses casos. Anexado ao Projeto de Lei 1.135/1991 por indicação da Mesa Diretora. Católicos manifestam-se contra o aborto no Senado Federal, em Brasília, durante simpósio sobre o assunto CATOLICISMO -
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CATOLICISMO -
sibilitando assim a concessão de li cença à e mpregada nos casos de aborto criminoso. Este proj eto foi transformado na Lei 8.921, de 25 de julho de 1994, equiparando o aborto criminoso ao parto , para efeito de licença por motivo de mate rnidade. ( l)
Arrogância dos abortistas Se são muitos os projetos que prete nde m lega lizar e facilita r, de um modo ou de outro , a mata nça de inoce ntes,
Assim, o Artigo 5º da Constitui ção Federal seria alterado para in c luir aquela c lá usula, passando a te r a seguinte redação: "Todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a invi olabilidade do direito à vida, desde a sua concepção, ... ." Infeli z m e nte , a emenda nº25 foi reje itada no pl e nário da Câmara Federal, e m abril último .
A posição constante e imutável da TFP
Temo s a registrar que a proposta do Deputado Severino Ca va lcanti e m relação ao a bo rto , reje itada pe la Câmara , es tá e m perfeita consonância com a pos ição j á assumida public a m e nt e pe la TFP, por di versas vezes, soManifestação pelo aborto nos Estados Unidos bre o mesmo ass unto, por meio bem mais raros são aq ue les que de matéria publicada e m Caprocuram defender a vida da tolicismo. (2) c riança indefesa no ventre materno. E tais propostas susc itam Os dois casos previstos no logo a oposição organizada de Código Penal grupos de pressão fe mini stas e pró-aborto, de parlame ntares A TFP continua fi el a tal abortistas, da mídia em geral e posição, de acordo com a mode autoridades do governo fara l tradicional da Igreja Catóvo ráveis ao aborto de modo 1ica, co ntrá ri a à prática d o c laro o u velado. abo rto direto e provocado sob Fo i o que aco nteceu com a qu a lqu er pretexto, inc lu s ive Proposta de E me nda à Consnos dois casos permitidos pe lo tituição nº 25, de 1995, apreatual Códi go Penal em seu arsentada pelo Deputado Seveti go 128, segundo o qual de irino Cavalcanti (PFL-PE) em xam de ser punidos como cri2 J de março de 1995, e que me contra a pessoa os abortos recebeu a ass inatura de mais nos casos e m que a grav idez 175 deputados. resulte de estu pro, ou naq ueTal proposta tinha a fi nales em que o abo rto seja o únilidade de faze r figurar no texco recurso para salvar a vida to de nossa Carta Magna a ela mãe. A TFP sempre mosga ra nti a do direito à vida destrou a iniqüidade dessas du as de a concepção. c lá usulas , que pune m o ino-
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cente com a morte por um cri me que não co meteu. No caso d e es tupro o nasc ituro não tem culpa pe lo crime de que fo i vítima a mãe. ", Quem deve ser punido é o autor do crime, ou seja, o estuprador, e não aquele que representa a conseq üênc ia indesej ada daque le crime. E a víti ma do crime, ou seja, a mulher, também não tem direito de e limin ar uma nova vida que se desenvo lve e m suas entranhas, a pretexto de preservar sua ho nra o u sua reputação. Pois o fim não justifi ca os meios, e não há fim , por ma is razoável que pareça, que justifi qu e o me io intrin seca mente mau do aborto. Quanto ao segundo caso o aborto como o único meio de Manifestação de católicos em Manila, Filipinas, contra medidas pró-aborto da Conferência do Cairo sa lvar a vida da mãe - sua ficar o Cód igo Penal no senti O aborto "eugênico" ca, do ponto de vista méd ico, ili ce idade mora l decorre do mes mo princípio de que o fim, do de amp li ar as indicações nem em relação à mãe ne m e m legais para a prática do aborO mesmo a rgumento de por mais legítimo e comprerelação à criança. que um fim presumivelmente ensível, como o de sa lvar uma to. Vê-se portanto que há mais Em relação à mãe, a realivida, não justifica o emprego de 20 anos a TFP tem posição bom poderia justificar o meio zação do abo rto não iria li vráfirmada na luta para abo lir dela do HIV ne m protegê-la conde um meio mau para sua co nintrinsecamente mau do abortra futuras manifestações da finitivamente de nossa legissec ução. to é util izado por aq ue les defensores do a bo rto dito lação toda e qualquer autoridoença. Q uanto à cri ança, apeAlém disso, do ponto de "eugêni co", ou seja, a e limi vista médico, tal situ ação exzação do aborto direto e pronas cerca de 30% dos filhos ele nação do concepto quando este trema j á não ex iste, pois os vocado. mãe portadora do HIV nascem co m teste positivo. Esta recursos atuais da Med ic ina de é portado r de graves e irrepaO aborto "terapêutico" pos itividade, detectada pelo mane ira alguma justifi cam o ráveis ma lform ações que torass im chamado "aborto teramétodo habitualmente utili zanariam impossível ou muito Se o aborto direto e provodo, não indi ca diretamente a pêutico", como meio de ev itar penosa e difícil a vida extrapre e nça cio HIV, mas a de a morte da mãe. uterin a. A prev isão de q ue a cado não é lícito seq uer para É sempre bom le mbrar que morte natural ocorrerá em breanticorpos contra e le, os qua is salvar a vida da mãe - situaa rea li zação do aborto em tais ve prazo não justifica, porém , podem ser os anticorpos ex isção de neces idade praticamenque e la possa ser antecipada casos está expli citamente proite inexistente na Medicina atutentes no sangue da mãe e que al - afortiori não o será quanpor um a intervenção direta bida pela mora l cató li ca: "Não passaram ao fi lho, desaparecom a fina lidade específica de é lícito ja,nais provocar o cendo a lgum tempo após o do a gravidez trouxer apenas provocá-la. Seri a uma autê nnascimento. aborto, ainda que sej a para um distúrbio de maior ou mesalvar a vida da mãe ou a retica eutanás ia pré-natal. Diante de tantas interroganor intens idade à saúde física ções e incertezas, por que maputação de wna j ovem vítima ou psíquica da mulher. A solutar "preventivamente" ta ntas de es tupro" (Cfr. Denz ige r ção está em tratar o distúrbio Os casos de contaminação 11 84, 2243-2244). (3) pelo HIV crianças que poderiam vir a ser ou reso lver o problema, e não Por isso a TFP vem apelanem eliminar o concepto como pessoas perfeitamente sadi as Q uanto à lega li zação do após o nascimento? A legali do reiteradamente às autoridase este fos e um mero animal. aborto nos casos em que ageszação do aborto nestes casos é des para que sejam retiradas O chamado aborto " teratante seja portadora do HIV, pêutico" também é exp lic itaa união perfeita da impiedade da legislação estas duas cláu com a ignorânc ia. mente condenado pela moral isto sign ificaria a matança de sul as permissivas para a práincontáveis seres humanos na tica do aborto. Já e m 22-7católica: "O chamado aborto Os abortos clandestinos 'terapêu ti co' é tão ilícito 1972 fo i enviado um Memopresunção de que eles teriam ri a l ao Ministro da Justiça rede vir a sofrer a possibilidade como o aborto criminoso, já Não vamos perder te mpo que o fim nunca justifica os de uma doença grave. O aborpudiando as tentativas rea lizaem refutar aqueles que a lega m meios". (4) das naq ue la époéa para modito em tais casos não se justifi-
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ser necessária a legali zação do aborto porque a mulher te m dire ito sobre seu próprio corpo. Recomendamos a esses o retorno aos bancos escolares, para que aprendam os rudi mentos da biologia. Quanto aos argumentos de que a legalização do aborto vai diminuir o número de abortos clandestinos e tornar ma is segura para a mulher a rea li zação dessa interve nção, j á mostramos e m artigos anteriores (2) que nenhum a dessas duas esperanças se co ncreti za. Nos pa íses e m que o aborto foi lega li zado, os abortos clandestinos continuam a exi stir e m g ra nde núm ero, pois muitas mulh e res preferem manter o anonimato a se submeterem à burocrac ia dos serviços de sáude. Por outro lado,
a rea li zação do abo rto e m serviços es pec ia li zados perte ncentes à rede ofi c ia l não e li mina os ri scos e as comp licações inerentes a esse tipo de intervenção. Porém, mesmo que os abortos clandestinos desaparecessem completamente e sua reali zação na rede pública e privada fosse totalmente segura cio ponto de vista médico, tal prática seria igualmente execrancla, poi s o crime contra a le i natural não deixa de sê-lo por tornar-se aceitável pela lei positiva, uma vez qu e esta eleve conform ar-se àquela. Além di sso, no aborto o que está em jogo não é a saúde ela mãe, mas a vida do nascituro; e esta não pode ser e liminada, mesmo que em conseqüência de tal e liminação a mulher nada venha a sofrer. O
saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas estas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente". (7) E mais adiante analisa outro pretexto: "A lguns tentam justificar o aborto, defendendo que o fruto da concepção, pelo menos até certo número de dias, não pode ainda ser considera do uma vida humana pessoal. Na realidade, porém, a partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a do
para realizar o aborto , João Paulo li continua: "Responsáveis são também os médicos e restantes profissionais da saúde, sempre que põem ao serviço da morte a competência adquirida para promover a vida.= "Mas a responsabilidade cai ainda sobre os legisladores que promoveram e aprovaram leis abortistas, e sobre os administradores das estruturas clínicas onde se praticam os abortos, na medida em que a sua execução deles dependa. Uma responsabilidade geral, mas não menos grave, cabe a todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de permissivismo sexual e de menosprezo pela maternidade, como também aqueles que deveriam ter assegurado - e não
A palavra do Magistério Pontifício
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o refutar todos esses pretextos para a legali zação do aborto, Pio XII afirmou: "Nenhum homem, nenhuma autoridade humana, nenhuma ciência, nenhuma 'indicação' médica, eugênica, social, econômica, moral pode exibir ou dar título jurídico válido para uma disposição deliberada direta sobre a vida humana inocente, isto é, para uma disposição que vise a sua destruição, quer como fim, quer como meio para obter outro fim que talvez não seja em si mesmo absolutamente ilícito.Assim, por exemplo, salvar a vida da mãe é um fim nobilíssimo; porém, a morte diretamente provocada da criança, como meio para este fim, não é lícita. A destruição direta da chamada 'vida sem valor', nascida ou ainda por nascer, praticada em grande número nos últimos anos, não se pode de modo algum justificar'. (5)
Se Pio XII assim falava em 1951, a posição do Magistério da Igreja, 44 anos depois, continua a mesma em sua condenação ao aborto direto e provocado. Outro aspecto da manifestação anti-abortista dos católicos filipinos Com efeito , em sua Encíclica Evangelium Vitae, de 1995, João Paulo li ensina: "O pai nem a da mãe, mas sim a o fizeram - válidas políticas faaborto provocado é a morte dede um novo ser humano que se miliares e sociais de apoio às liberada e direta, independendesenvolve por conta própria. famílias, especialmente as mais temente da forma como seja re.... Aliás, o valor em jogo é tal numerosas ou com particulares alizada, de um ser humano na que, sob o perfil moral, basta- dificuldades econômicas e fase inicial de sua existência, ria a simples probabilidade de educativas. Não se pode suque vai da concepção ao nasencontrar-se em presença de bestimar, enfim, a vasta rede de cimento". (6) uma pessoa para se justificar a cumplicidades, nela incluindo Após definir o crime, o Pon- mais categórica proibição de instituições internacionais, funtífice vai analisar os motivos qualquer intervenção tendente dações e associações, que se alegados para cometê- lo e a a eliminar o embrião humano. batem sistematicamente pela responsabilidade dos autores: • .... O ser humano deve serres- legalização e difusão do abor"Muitas vezes .... a decisão de peitado e tratado como uma to no mundo". (9) se desfazer do fruto concebido pessoa desde a sua concepNo texto acima está claranão é tomada por razões pura- ção". (8) mente definida a culpabilidade mente egoístas ou de comodiE após referir-se à respon- não só dos legisladores, como dade, mas porque se quereri- sabilidade da mãe, do pai e de ainda dos governos, da mídia am salvaguardar alguns bens familiares e amigos que exere dos grupos de pressão - ofiimportantes como a própria cem pressão sobre a gestante ciais e particulares - na formaCATOLICISMO -
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ção de uma situação, de uma mentalidade e de um clima moral que levam ao crime. E denuncia a cumplicidade de todos nessa matança de inocentes. '\ E João Paulo li fech â a questão, fazendo valer o peso de sua autoridade pontifícia: "Portanto, com a auto ridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus Sucessores, em comunhão com os Bispos ... . declaro que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal. Nenhuma circunstância, nenhum fim, nenhuma lei no mundo poderá jamais tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito, porque contrário à lei de Deus, inscrita no coração de cada homem, reconhecível pela própria ra zão e proclamada pela Igreja". (1 O) Mais adiante o Papa vai discorrer sobre o fato de que a lei civil deve conformar-se à lei moral, para ter autêntica validade como lei. Afirma ele: "Também está em continuidade com toda a Tradição da Igreja a doutrina da necessidade de a lei civil se conformar com a lei mo-
ral". E cita Santo Tomás de Aquino que ensina: "Toda a lei constituída pelos homens tem força de lei só na medida em ' que deriva da lei natural. Se, ao contrário, em alguma coisa está em contraste com a lei natural, então não é lei, mas sim corrupção da lei". (11) E continua: "O aborto e a eutanásia são, portanto, crimes que nenhuma lei humana pode pretender legitimar. Leis desse tipo não só não criam obrigação alguma para a consciência, como, ao contrário, geram uma grave e precisa obrigação de opor-se a elas através da objeção de consciência. .... No caso de uma lei intrinsecamente injusta, como aquela que admite o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito conformar-se com ela, nem participar numa campanha de opinião a favor de uma lei de tal natureza, nem dar-lhe a aprovação do próprio voto". (12) Portanto, os católicos que trabalham em serviços de saúde que venham a realizar abortos por força de uma lei iníqua e inválida, têm o direito e o dever de opor-se a tal prática e de não colaborar com ela, por objeção de consciência. E as autoridades não podem obrigálos a ag ir de outra maneira, sendo elas mesmas culpadas de incontáveis crimes que se cometerão pe la ap licação de tais leis. D
Notas: 1 - C fr. Bole1i111 lnformari vo , Assoc iação Nac ional Pró-Vida e Pró- Famíli a, nº 08, Jul/ Ago/94 e nº 09 , Set/Out/94. 2 - C fr. Lin,iração da na/a/idade: a111e-
aça a princípios básicos da Civilização Crislã e à própria nacionalidade brasileira, nº 525, Set-1994 ; Ma11ipu lC1ção lingüísrica próprill à aprovação do abono, nº 504, Dez- 1992; Aborro eugénico: ress1.11ge o nazismo ?, nº 493, Jan- 1992; A TFP denuncia a renrariva de inrroduzir 110 Brasil a 111a1ança de i11ocen1es, nº 467, Nov- 1989 ; Abono e co111racepção: nova ameaça às .famílias brasileiras, nº 389, Ma io-1983 ; Legalização do abono: .farisaísmo e cai6srrofe social, nº 353, Maio- 1980. 3- Fr. Anton io Ro yo Ma rin , O .P., Teologia Moral para Seglares, Tomo T,
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B.A.C., Madrid , 1957 , p. 433 . 4 - Fr. Anton io Royo Marin , O.P., op. c it. , p. 43 3. 5 - Di sc urso às con g ress istas da Un ião C atóli ca Itali ana de Obstetríc ia, sobre o apostolado das parteiras, e m 29- 10195 1, in Lui s A lon so Munoye rro , Mo-
ral Medica en. los Sacramenros de la lglesia , Ed. Fax, Madrid, J95 5, p. 370 . 6 - Ca rta Encíclica Evangelium Virae sobre o valore a inviola bilidade da vida humana, Ed ições Loyo la, São Paulo , 1995 , nº 58. 7 - Idem. 8 - Idem, nº 60. 9 - Idem nº 59. 1O - Idem, nº 62. 11 - Idem, nº 72. 12- lde m. CATOLICISMO -
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Manifesto analisa a fundo as eleições italianas ções cató li cos. Do lorosos? Sim, porque do texto se infere claramente que foi o apoio decisivo de setores do clero que permitiu a ascensão dos comunistas ao poder na Itál ia. O manifesto transcreve afirmação de Ricardo Berti em "La Nazione" de 23 de abril: "Uma importante parte da Conferência Episcopal havia jurado guerra a Berlusconi [o chefe da co li gação de centrodireita]. O resultado foi um .fluxo maciço de votos a favor do Bloco da Oliveira!". E pergunta: "Como desmentir nos fatos os exemplos de Bispos como os de Alba, Verona, Fano, Foggia, Pisa, Fermo, Macerata e lvrea, que convidaram, pelo menos implicitamente, a votar a favor do Bloco da Oli veira?". Em Ga llip oli, Prof. Roberto de Mattei, do Centro Cultural Lepanto por exemp lo , o Voltamos ao assunto para secretário-geral do PDS (exconfirmar e complementar aque- PCI), D' Alema, fo i encontrarla matéria com dados novos, ex- se com os párocos que votaram e traba lh aram pelo Bloco traídos de um substancioso documento que nos chegou poste- da Oliveira, dec lara ndo então riormente, publicado pelo Cen- que eles tinham "um culto da tro Cultural Lepanto, ativa e be- família próximo ao que nós nemérita associação italiana de pregamos" ("L'Unità", 214-96). leigos católicos. Também organizações coTrata-se de um manifesto rno a Ação Católica tiveram selúcido, sereno e bem fundatores seus trabalhando ativamentado, de autoria do seu mente pelo Bloco da Oliveira. presidente, o Prof. Roberto De O presidente da AC, Giuseppe Mattei . Destacamos de le alg un s Gervas io, declarou que "a prodados espec ialmente elucidatiposta do Bloco da Oliveira tivos e dolorosos para os cora- nha mais credibilidade". □
a edição de julho, Catolicismo publicou na seção Destaque um comentário sobre o resultado do recente pleito eleitoral para o parlamento italiano, que deu a vitória ao Bloco da Oliveira, coligação de centro-esq uerda cujo elemento dominante é o PDS (Partido Democrático de Esq uerda), nova denominação do PCI (Partido Comunista Ita li ano).
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PALAVRA/ DE VIDA ETERNA
Jesus desprezado em ,, . sua patr1a E, depois que Jesus acabou de dizer estas parábolas, partiu dali. E, indo para a sua pátria, ensinava nas suas sinagogas, de modo que se admiravam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes milagres? Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago e José e Simão e Judas? E suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde vêm, pois, a este, todas estas coisas? E escandalizavam-se dEle. Mas Jesus disselhes: Não há profeta sem honra, senão na sua pátria e na sua casa. E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles (São Mateus, 13, 53-58).
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino no livro Catena Aurea Ol São Jerônimo-O Senhor, depois de ter falado ao povo, em parábolas, que só os Apóstolos compreenderam, foi para sua pátria a fim de falar com mais clareza. Isto é o que se quis dar a entender nas palavras: "E depois que Jesus acabou de dizer estas parábolas", etc. São João Crisóstomo - Nazaré é o lugar ao qual Jesus chama sua pátria. Não fez nela muitos milagres, posto que Cafarnaum é onde os fez, mas nela é onde expôs sua doutrina, que causou não menos admiração que os milagres. São Remígio - Nosso Senhor ensinava nas sinagogas, onde se reunia muita gente, porque E le baixou do Céu à Terra para salvar a muitos. Segue: "De modo que se admiravam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes nlilagres ?". A sabedoria se refere à doutrina, e o poder se refere aos milagres. São Jerônimo - Espantosa ingenuidade dos nazarenos! Admiram-se de que a Sabedoria possua sabedoria e o Poder, poder. E vem, em seguida, o erro, porque olham eles a Jesus como o filho de um carpinteiro. Por isso dizem: "Porventura não é este o filho do carpinteiro?" São João Crisóstomo - Em tudo eles foram insensatos, rebaixando-O
pelo ofício que tinha aquele a quem julgavam fosse seu pai, embora soubessem, pela história antiga, de muitos exemplo de homens nobres cujos pais foram de baixa esfera social. Davi foi filho de um lavrador; Jessé e Amós, de um pastor. Precisamente por isso tinha mais mérito, porque, apesar da humildade de seu pai, falava coisas tão sublimes, o que dá a entender com toda clareza o que era Ele, não era resultado da educação humana, senão da graça de Deus. São Jerônimo - Não é de se estranhar que, errando eles em relação ao pai, se equivocassem também em relação aos irmãos! Por isso, acrescenta: "Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago e José?", etc. Chamam de irmãos do Senhor aos filhos de Maria Cleofas, mulher de Alfeo e mãe de São Tiago, o Menor. Santo Agostinho - Nada tem de estranho que os que.consideravam José pai do Senhor chamassem de irmãos deste a todos os da parentela de José e Maria. São Jerônimo - Este erro dos judeus é causa de nossa salvação e também causa de condenação dos hereges. Porque, considerando Nosso Senhor CATOLICISMO -
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Jesus Cristo apenas como homem, julgaram- no fi lho de um artesão. São João Crisóstomo - Não operou ali muitos milagres porq ue Ele os fazia não por pura ostentação, mas somente para utilidade dos outros. Assim , não resultando nenhuma utilidade, desprezou o que era pessoal a fim de não aumentar a culpab ilidade deles. E por que, então, fez a lgu ns? Para que não dissessem: "Indubitavelmente teríamos crido se tivesse feito milagres".
Comentários do Pe. Luís Cláudio Fillion (2l Após os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo na sinagoga de Nazaré, todos os assistentes se associaram a um projeto sanguinário contra o Salvador. Furiosos, precipitaram-se sobre Ele, conduziram -no até um monte fora da cidade a fim de lançá-lo do alto de uma pedra. Mas Jesus, soltando-se de suas mãos, passou no meio deles, sereno e majestoso, sem que ninguém se atrevesse a segurá-lo de novo. Realizando, por sua vontade on ipotente, como quando expulsou os vendilhões do átrio do Templo, um estupendo triunfo moral sobre seus inimigos . D Notas 1 - Sarno Tomás de Aqu ino, Carena Aurea, Cu rsos de Cultura Catolica, Vo l. I, Buenos Ai res, 1948. 2- Pe. Luis Claud io Fillion.Nueslm Seiíorlesucristo segú11 los Eva11gelios, Ed. Dirusión, Buenos Aires, 1962, p. 117.
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FIA
HA
História Sagrada
em seu lar
(64) noções básicas
Santo Afonso de Ligório
O Velo de Gedeão
Doutor da Igreja, Fundador, Bispo zeloso, grande moralista
Gedeão, o qual , tocando a trombeta, convocou israelitas de vári as tribos.
Milagre do velo de lã E, tendo-se reunido muitos hebreus, Gedeão disse a Deus: "Se queres salvar Israel por meio da minha mão, porei na terra batida este velo de lã; se o orvalho cair só no velo, e toda a terra ficar seca, reconhecerei nisso que salvarás Israel pela minha mão, como prometeste". E ass im sucedeu. Gedeão falou novamente a Deus: "Não se acenda contra mim o teu furor, se eu ainda pedir outro sinal no velo. Rogo que o velo esteja seco, e toda a terra molhada de orvalho". E naquela noite o Senhor fez como Gedeão lhe tinha pedido; e só o velo ficou enx uto, e o orvalho caiu por toda a terra. (Jz. 6, 1 a 40)
ortos Débora e Barac, novamente os hebreus ca íram na vida de pecados e, como casti go, fora m terrivelmente oprimidos pelos madianitas, durante sete anos. Esse povo nômade insta lou-se com suas tendas junto aos israelitas e, "à maneira de gafanhotos, cobria todas as coisas, destruindo tudo o que tocava".
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Anjo aparece a Gedeão Arrependidos, os hebreus clamaram ao Senhor, que envi ou um anjo a Gedeão para convocá-lo a libertar Israel. Estava Gedeão limpando o tri go para escondê- lo dos madianitas, quando o anjo apareceu-lhe e di sse: "O Senhor é contigo, ó mai s valente dos homens. Vai com essa tua fo rça, e livrarás Israel do poder dos madianitas. Sabe que sou eu quem te manda". E ele pergunto u ao mensage iro de Deus: "Dize-me, meu Senhor: como poderei eu livrarlsrael? Pois minha famíli a é a última da tribo de Manassés, e eu sou o menor da casa de meu pai". Respondeulhe o anjo: "Eu serei contigo, e tu derrotarás os madian itas, como se fossem um só homem".
Fogo milagroso consome cabrito e pães ázimos Gedeão pede ao anjo um sinal, di zendo-lhe: "Não te vás daqui , antes que eu 18
Pré-figura de Nossa Senhora O anjo estendeu o cajado e saiu fogo da pedra, consumindo a carne e os pães
volte trazendo um sacrifício". Foi à sua casa, cozeu um cabrito e pães ázimos, e levou tudo ao lugar onde o anjo estava. E o anjo do Senhor disse- lhe: "To ma a carne e os pães ázimos, e coloca-os sobre aquela pedra, e derrama-lhe por cima o caldo" . Tendo isto sido fe ito, o anjo estendeu a ponta da vara, que tinha na mão, tocou a carne e os pães ázimos, e saiu fogo da pedra, consumi ndo a carne e os pães. E o anjo desapareceu.
"Destruirás o altar de Baal" Gedeão edificou um altar ao Senhor, o qual lhe di sse: "Destruirás o altar de Baal, que é de teu pai, e construirás um altar ao Senhor teu Deus em cima desta pedra". Tendo tom ado dez de seus servos , Gedeão fez tudo como Deus lhe ordenara. E o espírito do Senhor apoderou-se de
Carreira brilhante, o melhor partido do reino de Nápoles, Santo Afonso abandona tudo para se dedicar à salvação das almas, tornando-se um luzeiro da Igreja Os de Liguori existiam e m Nápoles antes mesmo de ali haver reis. José de L iguori aliava a piedade à bravura, e Ana Cavali ere era, por ass im dizer, a próp ria paciência e douçura. Da união do casal, no dia 27 de setembro de 1696, nascia Afo nso-Mari a Cosme Damião M iguel de L iguori. Com nove anos, foi admitido na Congregação de Jovens Nobres do Oratório; aos 12, era um santo e m miniatura, tal como foi formado por sua mãe: piedoso, reco-
lhid o, amigo das orações e inimigo obstinado do erro. Aos 13, tocava cravo com perfeição; aos 14, empreendeu viagem rumo ao doutorado, através da flore s ta inextric áve l das leis napo litanas, co mpostas de códigos herdados de dez povos diferen tes . Prestou exame aos J 6 anos (a idade mínima era 20), e foi aprovado por unanimidade. Aos 18, passa para a Congregação dos Doutores, e na década que se seguiu não perdeu nenhuma causa.
A lã de cordei ro sobre a qual operouse esse mila gre simb o li za a Virge m Santíssima, poi s: " 1º - Maria ficou cheia de graça no meio da hum anidade decaída, e é deste velo imacul ado, isto é, de sua carne virginal, que fo i plasmada a carne de Jesus Cri sto, que é como o revestimento do Verbo; 2º - Do mesmo modo que o velo ficou seco, ao passo que o chão se orvalhou, Maria permaneceu sem pecado no meio de todos os homens culpados"_(*) Tal simbolismo é também lembrado no Pequeno Ofício da Imaculada Conceição, na hora terceira, quando se canta: "Vós sois a vara fl orida O velo de Gedeão Porta fechada da divindade E favo de Sansão".
Pintura de Santo Afonso- Fausto Conti, Casa dos Padres Redentoristas, Roma
Não havia partido nem carreira mais bri lhantes. O pai co locou duas princesas em seu caminho: um a, Deus encaminh ou ao Carmelo, e a outra se afastou por não ser correspo ndida. Resistências enormes, uso de influ ê ncias, nada queb ra o apelo que a voz interior lhe fez: "Deixe o mundo e entregue-se todo a Mim". Aos 27 anos, o primogênito dos L iguo ri troca o hábito sec ular pela Libré de Nosso Senhor.
Uma elite de santos decididos Como diácono-catequista e pregador, arrastava as pessoas e infl amava nas almas o amor de Deus e o ód io ao pecado. Como sacerdote, tinha o dom de fazer as almas compreenderem a excelência da virgindade e do estado relig ioso. Após uma pregação, 15 jovens se decidiram pelo c laustro. Sua pa lavra ti nha tal poder q ue abatia os pecadores mais obstinados. A primeira tentativa para fundar a Congregação do Santíssimo Redentor claudica. Recomeça, com a conv icção de que Deus o queria como fundador. Novas esperanças, novos tropeços. Afonso entendeu que não deveria ter
(*) Cfr. "Nossa Senhora - Curso Médio de Caiecismo Mariano" -Coleção FTD, Livnu-il1Francisco Alves, São Paulo, 1937, pg. 14.
Basílica e Casa-Mãe dos Padres Redentoristas em Pagani, Itália CATOLICISMO -
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uma congregação com muitos membros, mas com "uma elite de santos decididos, como os apóstolos, a dar suas vidas para pregar o reino, de Deus e salvar as almas". De f, to, em J 764, ainda durante a vida do fundador, a congregação já contava com sete membros mortos em odo r de santidade! Confessaria, mais tarde, q ue freqüentemente conversava com a Mãe de Deus, e que Ela lhe dava muitos conselhos concernentes a assuntos da congregação e lhe dizia muitas e belas coisas. O reino de Nápoles inteiro viu as maravilhas dos novos missionários e também os desastres. Uma revolução de calúnias obriga-os a fugir, em 1737. Fato curioso, todos os cabeças dessa perseguição tiveram mortes que chamaram a atenção: pavorosos gritos, atrozes convulsões, e membro que seca ou que é devorado pelos vermes.
poeta e artista, pois ainda hoje, através dos vales e montanhas italianos, seus cânticos populares ecoam e conservam o frescor da juventude. Quando Afonso leu a carta do Papa nomeando-o Bispo, ficou mudo, aterrado como um homem atingido por um ra io. Grossas lágrimas saíam de seus olhos. Sem perder tempo, arrolou todos os argumentos que imagi nava seriam suficientes para o Papa aceitar a renúncia: 66 anos, doente, surdo, coxo, quase cego, asmático. Além do mais o escândalo que daria aos seus irmãos, vendo-o levar a cruz e o báculo! De nada valeu. O Papa tinha suas razões.
Sua paixão: salvar almas Aos 54 anos, o povo de Nápoles tinha sob seus olhos um verdadeiro santo, poderoso em obras e em palavras, humilde e doce como o Mestre. Apesar de suas ocupações e preocupações, passava um tempo considerável aos pés do Santíssimo Sacramento, onde preparava os discursos e hauria forças para subir ao púlpito, mesmo quando seu corpo quebrado pela fadiga ou pelo sofrimento parecia se recusar. Apósto lo ele um reino e fundador, tinha uma paixão, que era de salvar as almas, e que não lhe permitia tomar um instante de repouso. Sob a ação do fogo que o devorava, aumentava sempre seu campo de trabalho e de combate. O amor ele Deus, ali ado ao voto heróico ele nunca perder uma parcela de tempo , a não ser para o aposto lado , centuplicava suas forças. "Glórias de Maria" , escrito em homenagem a Nossa Senhora, inaugurava sua luta antijansenista e antivoltairiana (Voltaire, o ímpio escritor francês - 1694-1778). Fundador, Bispo, orador, moralista, apologista, místico, era também 20
Nossa Senhora pintada por Santo Afonso, quando jovem
Como Bispo de Santa Ágata, perseguiu implacavelmente o erro onde ele se encontrava, até nos últimos refúgios. Era doce e paciente quando se tratava ele injúrias pessoais, mas sentia em si vivamente a afronta a Deus e o dano causado às almas, e agia em conseqüência. Em do is anos a diocese sofreu uma transformação completa. A piedade reentrava nos santuários, a palavra apostólica nas cátedras e a ciência nos confessionários.
Até os vulcões lhe obedecem Em 1768 é atacado por uma febre misteriosa, e dores fortíssimas se propagam pelas arti culações, obrigandoCATouc1sMo - Agosto de 1996
o a curvar a cabeça até encostar o que ixo no peito. Como Deus lhe co nservava a inteligência e a mão, escreve: "A verdade da fé", "História das heresias e sua refutação", "Triu nfo da Igreja", "Cons iderações sobre a Paixão", "Vitória dos Mártires", etc. Nesse corpo desfeito ardia sempre o coração do apóstolo. O fogo do zelo se tornava dia a dia mais ardente. Um pedido seu fez chover; um sinal da Cruz repôs as lavas do Vesúvio dentro ela cratera. Os últimos anos seriam de grandes dores e horripilantes tempestades. Se a lguma vez De us o conduz ia ao Thabor, seria apenas para ajudá- lo a subir o Calvário. Em 1770, o Papa, baseado em falsos relatórios e fatos adulterados, assinou um decreto que significava sua exclusão da Congregação. Recebeu a notícia sereno, mas depois sofreu uma terrível tentação de desespero, pensando que foi por culpa de seus pecados. Isolado do mundo pelo enfraquecimento do corpo e dos sentidos, extenuado pelos longos sofr im entos e macerações, coberto de enfermidades, surdo, quase cego, incapaz de se mover sem ajuda, não sobrava a este ancião, pregado a uma cadeira de rodas, senão a chama sempre ardente do divi no amor.
Seu corpo, apesar do calor e da gangrena ocorrida na ferida que o queixo criara sobre o peito, e que precipitou sua morte, não exalava nenhum mau odor e se manteve flexível. A multidão se aproximava com terços, escapu lários, medalhas e flores, para os transformar em relíquias. Desaparecia nas vésperas da Revolução Fra ncesa, que se abateu sobre os altares e os tronos e votou ao desprezo Jesus Cristo, sua Igreja, seus sacerdotes e seus religiosos. Mas os santos não morrem: seus os-
sos, suas vestimentas, suas menores relíquias operam efeitos que ultrapassam o poder dos reis. Mais de 50 pessoas foram curadas, instantaneamente, pelo simples conta- . to com alguma relíquia sua , nos anos que se seguiram. Na madrugada de 26 de maio de 1839, 101 tiros de canhão anunciavam sua solene canonização pelo Papa Gregório XVI. Pio IX o proclamaria como Doutor excelente, O luz da Santa Igreja.
Fonte de referência: Pe . Berthe, CSSR - Sai/li Alphonse de liguori, tomos I e 11 - Librairi e de la Sainte-Fam i Ile, Pa-
À direita: na Basílica de Santo Afonso, em Pagani, a capela onde repousa seu corpo
ri s, 1906.
Em que consiste o verdadeiro zelo sacerdotal
Todos queriam uma relíquia Na noite da alma não faltaram as tentações assustadoras contra a fé, a pureza, a humildade e a esperança. Dizia que se sentia como um homem moído sob os golpes da justiça de Deus. Seus últimos dias foram cheios de êxtases, de dons sobrenaturais, de visão das coisas ocu ltas, de discernimento dos espíritos, de profecias e milagres. Quando se soube de sua doença mortal , as orações foram incessantes, e também a procura de qualquer coisa que lhe pertencia, para ser tida corno relíquia. No dia l º de agosto de l 787, no momento em que os sinos tocavam o Angelus, entregava sua alma a Deus.
Eis aqui algumas obras às quais se deve consagrar um sacerdote zeloso: 1. Corrigir os pecadores. Os sacerdotes que vêem as ofensas a Deus e se calam merecem ser chamados, como os chama Isa.ias, cães mudos incapazes de ladrar. A estes cães mudos serão imputados todos os pecados que puderam impedir e não impediram. 2. O sacerdote zeloso deve se dedicar à pregação. Os sacerdotes que não se sintam capazes de pregar procurem, pelo menos, sempre que seja possível, em suas conversas com familiares e amigos, comentar algo edificante. 3. O sacerdote deve assistir os moribundos, pois esta é a obra de caridade mais agradável a Deus e mais útil para a salvação das almas. 4. Finalmente, tenhamos a persuasão de qu_e o principal exercício para o bem das almas é ouvi-las em confissão. Dizia o Ven. Luís Forillo, dominicano, que pregar é lançar redes, confessar é trazer a bordo a captura da pesca" (Obras Ascéticas, vol. II, BAC, Madri, 1954, pp. 160163).
Santo Afonso Maria de Ligório CATouc1sMo - Agosto de 1996
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DEVO
Na Colômbia Católica: o Senhor dos Milagres de Buga EuGENIO TtWJILLO
A piedade cândida de uma índia do século XVI está na origem de uma das maiores devoções populares colombianas e de um grande santuário que atrai contínuas peregrinações
Aexpressiva fisionomia do Senhor dos Milagres
Bogotá -
Oitenta quilômetros ao norte de Cali, encontram-se a simpática e acolhedora cidade de Buga e o santuário colombiano de maior afluência de peregrinos. É o santuário do Senhor dos Milagres de Buga. Nele se venera uma imagem, em tamanho natural, de Nosso Senhor Crucificado, cujos milagres freqüentes , desde o século XVI, marcaram profundamente os habitantes da região. Sua história remonta ao início do desbravamento, pouco mais de "!leio século depois da chegada de Colombo ao Novo Mundo. Entre as famílias co1o ni zad oras , destacaram-se os Fuenmayor como os verdadeiros fundadores de Buga. Como todos os colonos , por causa das orde nações reais rece ntemente promulgadas, eles també m estavam obrigados a trabalhar pela evan geli zação dos índios. 22
Santuário do Senhor dos Milagres de Ruga, Colômbia
Havia em sua casa uma índia ignorante, cuja função era lavar roupa. Tinha um espírito nobre e escutava atentamente as aulas de religião. Concebeu um desejo profundo de ter um crucifixo bonito, e economizou por muito tempo, do pouco dinheiro que ganhava, uma quantia para poder encomendar •
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um em Quito, já então famosa pelos belos e piedosos crucifixos que ali se faziam. Tendo conseguido o dinheiro necessário, soma considerável para a época, dirigiu -se à casa do vigário a fim de fazer a encomenda. No caminho, deparou com urna cena dilacerante. Um
sível expô-lo à veneração dos fiéis , pois faltaria decoro à devoção. Portanto deveria ser queimado. Um sacerdote aragonês foi encarregado do trabalho. Seguindo as boas praxes e as prescrições para o caso, o religioso mandou fazer num lugar apropriado uma grande fogueira, na qual lançou Recompensada a a imagem para ser consumida pelo fogo. Enb·egenerosidade da índia tanto, mi lagrosamente as chamas nada puderam conRetornou tranqüila para casa e reassumiu as tra ela. suas ocupações habituais, Durante dois dias a foconvencida de haver feito gueira ardeu. O crucifixo não só era incólume ao u ma obra de caridade mais agradável a Deus do fogo , mas foi aumentando que aquele seu piedoso de tamanho, até atingir o desígnio de ter um belo porte de um adulto normal. crucifixo. Mas como junAlém disso, desapareceram tar outra vez aquela as deformações causadas soma? Não o sabia. pelos fiéis. Parecia uma Certo dia, enquanto obra de arte recentemente lavava roupa nas margens acabada. Diante do prodígio, o do rio Guadalajara, que sacerdote mandou apagar o banha a cidade, viu um objeto que flutuava, afunfogo e retirar das cinzas o dava, reaparecia por inscrucifixo. Patenteando aintantes e sumia de novo. da mais a ação do Céu, a Entrou na água, agarrou imagem começou a suar o objeto e levou-o até a copiosamente uma espécie de óleo, que foi recolhido margem do rio. Emocioem algodões. nada, verificou ser um peA impressionante imagem do Senhor dos Milagres, penhor da misericórdia Este fenômeno repetiuqueno crucifixo, que lhe vinha às mãos como um se várias vezes. O óleo ti presente do Céu. ao crucifixo miraculoso. Peregrinos nha propriedades curativas extraordiSem comunicar a ninguém o fato, vinham continuamente visitá-lo, e os nárias , e muitos doentes foram levou o precioso achado para sua hu- favores celestes manavam em abunmiraculados ali . Alguns paralíticos e milde moradia, improvisou ali um al- dância. cegos foram curados quando neles era ap licado o óleo. tar com flores silvestres e o venerou por vários meses. Desfiguramento e novo milagre Certa noite, un s ruídos estranhos Vasto santuário recebe multidões despertaram e encheram de temor a Com o passar dos anos, a piedade piedosa índia. El a olhou para seu cruindiscreta de muitos peregrinos - que Até hoje, o Santo Cristo conserva a cifixo, que era pequeno anteriormente, cortavam do cnrcifixo pequenas cor da madeira queimada, muito escumas estava maior. Havia crescido. O lasquinhas para levá-las consigo ra, quase negra. A devoção que o povo lhe tributa na Colômbia e nas nações crescimento milagroso prosseguiu por desfigurou-o totalmente. Um século depois , por determinavizinhas tornou necessária a construvários dias, atingindo o tamanho de um ção do Bispo de Popayán , uma comis- ção de um imenso santuário, continuamenino de uns 10 anos. Aterrada com tal prodígio, a índia são do Santo Ofício examinou o Santo mente visitado por milhares de pereprocurou seus patrões, que lhe acon- Cristo e concluiu que, por causa de sua grinos em busca de favores para suas selharam consultar o vigário, e eles aparência deformada, já não era pos- almas e corpos necessitados. O
índio conhecido seu, acorrentado, estava sendo levado preso, porque não conseguira pagar uma dív ida a um agiota. Comovida pelas lágrimas do prisioneiro, que iria deixar a família sem possibilidades de sustento, a índia comprou- lhe a liberdade, sem reservar nada para si.
próprios o informaram. A notícia espalhou-se logo pela reg ião. Assim, ainda no século XVI, começou uma grande devoção popu lar
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DISCERNINDO, DIST
IMAG
iajávarnos num lindo dia de outono pelas montanhas da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, próximo à reg ião de Aslwille, umas seis horas ao sul da capital federal, quando de repente, numa curva da estrada, deparamos com uma cena extasiante. · Em meio às cores flamejantes de um jardim paradisíaco, alteava-se, banhado pela discreta luminosidade outonal, um palácio de sonhos, igualzinho aos fabulosos castelos do Vale do Loire, na doce França. Mas não seria uma miragem? Paramos o automóvel e o admiramos por uns instantes. Ali estava ele, gracioso e altaneiro, a refletir- e no lago encantado. -Ai, meu Deus! - pensei. No país da Disneylandia, do MacDonald's, não será este castelo mais uma imitação feita de matéria plástica? As luzes internas começavam a acender-se, quando penetramos no jardim, um impecável tapete vegetal adornado com fontes e flores cintilantes. Tudo parecia primorosamente cuidado, como se uma nobre família ainda lá morasse. - Por favor, que palácio é esse? - pergutamos a um dos guardas da entrada principal. - Biltmore Estate, a maior e mais bela mansão privada das Américas - respondeu-nos amavelmente. Construído no final do século passado por George Vanderbilt, um rnilionário norte-americano que admirava o passado glorioso da civilização cristã, Biltrnore Estate é uma réplica all;têntica dos castelos de Francisco I, rei de França,
Feminista ou feminina?
V
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O, CLASSIFICANDO
O que pensam as mulheres sobre o feminismo C.A. Manifestação feminista nos Estados Unidos
temática do feminismo, tão propagandeada pelas esquer das e por certa mídia, no fundo põe em jogo até problemas filosóficos. É urna questão séria. A mulher é igual ao homem, ou ambos são diferentes entre si? Há na mulher urna propensão inata a desenvolver qualidades como o carinho, a delicadeza, a sensibilidade? Ou ela deve ser a versão número dois da brutalidade mascul ina e transformar-se numa virago? Veja só, caro leitor, a seguinte questão: a mulher deve renunciar à sua missão própria, que a torna inigualável em seu papel de mãe, de irmã, de esposa, e passar a competir no mercado de trabalho com os mecânicos, os carvoeiros e os estivadores? Há gente que acha que sim. É verdade que é um pequeno grupo, mas um grupo que faz muito barulho e consegue muita entrada na rnidia. Mas o pior é que há muito ingênuo por aí que acha que toda mulher é feminista. São un tolos, não há dúvida. Lembrem-se entretanto do ditado popular cheio de sabedoria: o bobo é cavalo do demônio. Realmente, é cavalgando a multidão dos tolos que muita tolice conseguiu se afirmar no mundo. Não é à toa que a Sagrada Escritura afirma
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construídos nas primeiras décadas do sécu lo XVI. Um verdadeiro batalhão de artistas e escultores, comandados pelo arquiteto Richard Morris Hunt, passou cinco anos modelando pedra por pedra desse magnífico edifício, que nada tem a ver com as espúrias irnüações de gesso ou matéria plástica, tão freqüentes nos Estados Unidos. Para decorar à altu ra os 255 quartos e salas, Vanderbilt percorreu o mundo coletando obras de arte originais, como quadros de Albrecht Di.irer, John Singer Sargent e Pierre Auguste Renoir, além das inestimáveis tapeçarias flamengas do século CATOLICISMO -
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XVII e das belas porcelanas chinesas. Escudos, brasões e armaduras medievais ornamentam os salões ogivais, cujos tetos se elevam a 24 metros de altura. Em cada recanto do Biltmore Estate respira-se a atmosfera diáfana de urna civi li zação que legou à posteridade o próprio conceito de civilização, requinte e bom gosto. Por isso, incontáveis norteamericanos, fartos das monótonas e poluídas megalópoles modernas, vão em número crescente visitar esse pedaço da Europa cristã, para sonhar com o mundo maravilhoso de seus D ancestrais.
que o número dos tolos é infinito. Mas às vezes alguém resolve tocar com uma agulha o balão inflado pelo vento da tolice .. . e ele murcha. Não estou dizendo isto só pelo gosto de dizer algo. Tenho um fato a lhe contar, leitor. Você conhece Catherine Halcirn? Provavelmente, não. Eu também nunca tinha ouvido fa lar dela antes de ler um in teressante artigo do Financial Times, de Londres, que a Gazeta Mercantil reproduziu em 9 de maio último. Ela é urna pesquisadora da London School of Economics. Não é pouca coisa. Na Inglaterra, pesquisa é coisa séria. Não é corno aqu i em nosso Brasil, em que a gente sempre fica com um pé atrás a respeito dessas pesquisas que se divulgam, de Betinhos e outros. Isso é chutometria. Mas voltemos à corajosa Hakim. Corajosa, sim, pois e la pesquisou e disse a verdade, enfrentando o mito do feminismo. Para não me esquecer, acrescento desde já-que, nos meios acadêmicos, ela tem notoriedade, não é uma debutante. Catherine provou que as mulheres preferem ter corno chefes de serviço os homens, pois confiam mais neles para essa atividade. Não é o contrário do que faz crer a propaganda CATOLICISMO -
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feminista? Mas continue lendo, leitor, o que diz a pesquisadora. A maioria das mulheres maioria, note - acha que cabe às esposas a principal responsabilidade pelo trabalho doméstico, e que aos homens cabe a principal parcela na busca de suste nto para a família. Isso surpreende? Entretanto, é do mais eleme ntar bom senso. Se surpreende é porque estamos habituados a um a propaganda que falseia a realidade. Que as mulheres prefiram ser femininas, e não feministas, é o que há de mais natural. Mas Catherine não baseou suas conclusões apenas na opinião das mulheres. E la é uma pessoa bastante objetiva, e foi também aos fatos. Sabe o que ela enco ntrou ? Mulheres que trabalham fora do lar em tempo integral, são urna minoria. Desse contingente,já reduzido, a metade deixa o trabalho quando tem um filho. Além disso, muitas mulheres abandonam suas carreiras, mesmo quando estão próximas de galgar cargos de alto escalão. Interessante, não acha o prezado leitor? Por mim, eu gostaria de continuar conversando sobre o terna, mas o espaço terminou. Há ainda coisas interessantes para a nossa D próxima conversa. 25
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À direita, aspecto da sessão de lançamento do livro «Nobreza e elites
Apresentada em Gênova obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira o decurso de um encontro promovido pelo Ufficio Tradizione, Famiglia, Proprietà, fo i apresentado em Gênova, no Hotel Novo Astoria, a obra do Prof. Pl ínio Corrêa de Oliveira Nobreza e elites tradicionais análogas. Na abertura da sessão, o Sr. Raimondo Gatto sintetizou o signifi cado do livro no pensamento contrarevolucionário, explicando que, além do liberalismo, o que define a Revolução é o igualitarismo. O fundo do pensamento da ContraRevo lução, portanto, não pode ser senão exatamente o oposto, ou seja, uma visão hierárquica e sacra! do universo. No campo social, essa visão se traduz
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numa sociedade hierarquicamente constituída. Em seguida, o Prof. G iuseppe Parod i Domenichi fez uma erudita exposição sobre o contributo da nobreza da Ligúria (cuja capital é Gênova), atestando não só a grande re ligiosidade da aristocracia daquela região, mas oferecendo também um belo exemplo daquilo que Leão XIII chamava de "feliz concórdia entre o Sacerdócio e o Império". O Sr. Juan Miguel Montes, diretor do Ufficio Tradizione, Famiglia, Proprietà, traçou a fisionomia do Prof. . Plínio Corrêa de Oliveira: grande figura do catolicismo contemporâneo, ardente polemista em defesa dos direitos da Igreja e da civilização cristã,
mestre cio pensamento contra-revolucionário, ele será recordado sobretudo por sua obra, que são as associações de defesa da Tradição, Famíl ia e Propriedade - TFPs - hoje existentes em todo o mundo. Finalmente, o Sr. Guido Yignelli, do Centro Cultural Lepanto, fa lou em lugar do Prof. Massirno de Leonarclis, impossibilitado por causa de um acidente. Sintetizando as teses cio livro Nobreza e elites tradicionais análogas, recordou corno as elites podem rnan ifestar-se não somente entre os nobres ou aristocratas, mas em todas as camadas sociais. Com efeito, é próprio de uma sociedade orgânica constituiJ· elites em todos os níveis e O em todas as classes.
tradicionais análogas», de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, no Hotel Novo Astoria de Gênova, no momento em que faz uso da palavra o Sr. Cuido Vignelli, do Centro Cultural Lepanto
TFP leva jovens às Cataratas do Iguaçu Por iniciativa do Curso São João Bosco, da TFP, uma centena de jovens visitaram as Cataratas do Rio Iguaçu, na fronteira com aArgentina (foto abaixo).Aexcursão faz parte das atividades de férias que a entidade promove habitualmente, no sentido de proporcionar um lazer sadio à juventude, especialmente no período de descanso das atividades escolares
No Brasil, primeira edição esgota-se em 15 dias ropagandistas da TFP já estão divulgando a segunda edição para o Brasil de "Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana", do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. A primeira edição, de 3.000 exemplares, esgotou-se em apenas 15 dias. A segunda edição é de 5.000 exemplares. Sócios e cooperadores da TFP vêm fazendo ampla divulgação da obra nas capitais e cidades do interior dos seguintes Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Espú·ito Santo, Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso dó Sul, Amazonas e Distri-
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to Federal. 380 cidades já foram visitadas, com excelente receptividade por parte do público. Já se escoou a maior paite dessa segunda edição. A última obra do fundador da TFP, confeccionada em excelente papel, fartamente ilustrada a cores e de primorosa apresentação gráfica, foi publicada in icia lmente na Europa (Portuga l, Espanha, França, Itália) e Estados Unidos, nos idiomas locais. Encontra-se em prepai·ação urna edição alemã. Ainda antes de falecer, o Autor recebeu - a propósito desse livro cartas de louvor de várias personalidades eclesiásticas e leigas, entre as quais se destacam os Cardeais Stickler, Ciappi, Oclcli e Echeverria. O CATOLICISMO -
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Os séculos do casamento estável PUNJO CoRRi1:A DE OLIVEIRA
Os séculos da verdadeira amizade, do casamento estável, constante, sério, levado até o fim da vida, foram os da Idade Média cristã. A era histórica da Fé Católica Apostólica Romana atuante e clara, sem medo de ostentar ~uas verdades, sem ocultá-las, sem diminuí-las e sem exagerá-las, foi a Idade Média. Como esses homens eram amigos entre si? Como o esposo e a esposa se queriam entre si? Impressionam as sepulturas medievais. Enquanto os cadáveres, em baixo, estavam entregues à
corrupção dos corpos, sobre o tampo do sepulcro os gisantes representavam marido e mulher deitados. Se haviam sido nobres, com freqüência ambos portavam a coroa correspondente ao grau de nobreza que possuíam. E o homem, se tinha sido guerreiro ou sobretudo cruzado, revestia-se de armadura e trazia ao lado sua espada. Tão grande era a união desses casais, que até na representação fria do mármore se notava. É edificante vê-los deitados, como quem dorme à espera da ressurreição dos mortos.
Cisante de Don Juan D'avila e Dona Juana Velazquez de la Torre séc.XVI - Mosteiro de Santo Tomás, Ávila (Espanha)
Nº 549 - Setembro 1996-Ano XLVI
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Quem A consola e luta por Ela? Conheça 9 alca11ce e a atualidade desta . invocação
Régine Pernoud fala sobre o batismo de Clóvis
Revolução e Contra:Revolução
AfOJLliCX Nº 549 - Setembro de 1996
NESTA EDIÇÃO:
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R[VOI UÇÃO E CON I RA-RL VOLUÇÃO
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A RI AI IOADL CONCISAM[NTL
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0 ISCI RN IN0O, OISI INGU IN0O, CI ASS IIXAN0O ...
[)AI AVRAS O[ VIDA ETERNA
Comentários sobre os Evangelhos
PLINlO CORRÊA DE ÜLJVEIRA
I IAG IOG RAI IA
Con1.unisn10 Neste Cap. Ili, 5, D da Parte I de Revolução e Contra-Revolução o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira mostra como as revoluções protestante e francesa logicamente haveriam de dar origem à terceira revolução: o comunismo.
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o protestantismo na_sceram algumas seitas que, transpondo diretamente suas tendências religiosas para o campo político, prepararam o advento do espírito republicano. São Francisco de Sales, no século XVII, premuniu contra estas tendências republicanas o Duque de Sabóia (cfr. Sainte-Beuve, "Études des lundis - XVII eme siecle - Saint François de Sales" - Librairie Garnier, Pari s: 1928, p. 364). Outras, indo mais longe, adotaram princípios que, se não se chamarem comunistas em todo o sentido hodierno do termo, são pelo menos précomunistas. 2
Desfile do Partido Comunista em Moscou: por trás cio pseudo-ideal igualitário esconde-se a brutalidade ele um regime que escravizou dezenas de nações durante sete décadas
• CATOLI CISMO -
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Da Revolução Francesa nasceu o movimento comuni sta de Babeuf. E mais tarde, do espírito cada vez mais vivaz da Revolução, irromperam as escolas do comuni smo utópico do século XIX e o comuni smo dito científico de Marx. o que de mais lógico? O deísmo tem como fru l normal o ateísmo. A s nsuali dade, revoltada contra os frágeis obstáculos d divórcio, tende por si 111 sma ao amor livre. O oriu lho, inimigo de toda superioridade, haveria de inv slir c ntra a última desigualdade, isto é, a de fo rlunas. E as im, ébrio de sonhos de República Univ rsa l, ele , upressão ele toda aut riclade eclesiástica ou civi l, ele aboli ção de qualquer Igreja e, depois ele uma ditadura operária de transição, também do próprio Estado, aí está o neobárbaro do século XX, produto mais recente e mais extremado do processo revolucionário. D
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São Vicente de Paulo, protetor dos pobres e dos nobres
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1.500 anos do batismo de Clóvis
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VLRDAD IS I SQU[CIDAS
INl I RN ACIONAI
N I RI-VISIA
Contradições do laicismo fra ncês
Régine Pernoud fala a Catolicismo: lições atuais da conversão de Clóvis
NOl3 Rr7A r FLI T[S 1RAD ICIONAIS ANÁLOGAS
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li Psi MAÇÃO
Congresso de novos cooperadores
I IISIÓRIASAG RADA
NA CAPA: Virgem das Dores obra do Aleijadinho em madeira policromada (séc. XVIII }, Muse u de Arte Sacra, São Paulo
SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA AO ASSINANTE Telefone: (011) 223-4233 São Paulo - SP
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O perfil do nobre católico
CAP/\
Nossa Senhora das Dores e os Servitas
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AMB ll:N I LS, COS I UMES, CIV Ii lZAÇÕ[S
CATOLICISMO é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brilo Filho Jornalista Responsável: Mari za Mazzilli Costa do Lago Registrada na DRT-SP sob o n• 23228 Reda ção e Gerência: Rua General Jardim, 770, cj. 3 D CEP 0 1223-0 10 São Paulo SP - Tel: (0 11 ) 257- 1088 ISSN 0008-8528 Fotolitos: Bureau Bandeirante de Pré-impressão Lida. Rua Mairi nque. 96 CEP 04037- 020 São Paulo SP Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Ed ito ra Lida. Rua Javaés, 68 1 CE P 011 30-0 10 São Pa ulo SP
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Preços da assinatura anual para o mês de SETEMBRO de 1996: Comum: A$ 50 ,00 Cooperador: A$ 75,00 Benfeitor: A$ 150,00 Grande Benfeitor: A$ 250,00 Exemplares avulsos: A$ 5,00
N.8.- O que exceder ao valor ela assinatura comum considera-se um donati vo para a difusão de Catolicismo e parn as atividades estatutárias da TFP
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A REALIDA
ISAMENTE
Debilidade da democracia norte-americana
, do orçamento]. Ou seja, o vício perigoso. Já se pensa na eleitorado desinteressou-se criação de programas semelhantes aos usados para trados assuntos políticos. Sem conhecer, comovotamento dos alcoó latras. Setar? O voto do ignorante é a riam os internetosos anôniOs Estados Un idos são porta para todo tipo de aven- mos? Bob Matano, diretor do considerados o país democrátura. Centro de Tratamento de Áltico por excelência, onde os cool e Drogas da Universieleitores amplamente infordade de Stanford, recomenmados, decidindo com co- Viciados em Internet da a visita a um terapeuta se nhecimento de causa, colocaNavegar pela Internet alguém sentir que está perriam no poder os melhores pode se transformar em um dendo o controle sobre o uso candidatos. A realidade parece ser outra. A Universidade de Harvard, a Kaiser Family Foundation e o jornal The Washington Post patroci naram um estudo sobre o grau de conhecimento dos norte-americanos sobre a vida pública de seu país. Constataram uma espantosa ignorância. Dois terços das pessoas ouvidas não sabiam o nome do deputado que representa seu distrito em Washington. A metade não sabia se o deAntenas parabólicas em favela da periferia de São Paulo: ao lado de putado em quem votara pobres, remediados e até ricos era republicano ou democrata. Quatro entre dez desconheciam o nome do Vice-Presidente. 40% não sabiam que os republicaEle tem um Chevette, antena parabólica, água, luz, telenos controlam a Câmara fone, quatro televisores, rua asfaltada na frente. Com 21 dos Representantes e o Seanos, é instalador de antenas, mora com a mulher, sogra e nado. três cunhados na favela Nossa Senhora Aparecida, em São O "homem do ano" da Paulo. Não reclama da vida e nem espera ajuda de órgãos revista Time foi Newt públicos. Situações como a deste favelado não são excepGingrich, presidente da cionais. Câmara, um dos políticos A Profª Alba Zaluar, da UFRJ, que estuda favelas desde mais em evidência no país. 1980, diz que é preciso acabar com o mito, "comum nas 46 % dos eleitores não administrações municipais", de ajudar indiscriminadamente conseguiram identificá-lo. todos os favelados. A ajuda deve ser dada sobretudo aos 70% não sabiam quem é pobres, pois na favela há também classe média e ricos. A Robert Dole, candidato reFundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) verifipublicano à Presidência. cou que 34,6% das famílias dos favelados de São Paulo têm renda acima de cinco salários mínimos, e que 74,2% 60% acham que o Goverdos barracos são de alvenaria. Comenta a Profª Sílvia Mano gasta mais com assisria Schor, da USP: "As favelas são opções de moradia pertência econômica e militar manente, e investir na infra-estrutura é mais econômico e externa [2% do orçameninteligente". to] do que com o seguro de saúde para idosos [ 13 %
Na favela: classe pobre, média e rica
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DISCERNINDO, DISTI da Internet. Os primeiros sintomas da compulsão são a queixa da família, tiques no dedo que aciona o mouse, visão turva, isolamento social. Há pessoas que passam 40 horas por semana navegando na Internet e não conseguem se livrar da mania.
Profanações satanistas na França Em Toulon, sul da França, um grupo juvenil proveniente de famí lias normais profanou a tumba de uma católica, Yvonne Foin, falecida em J 977. Escolheram-na porque a campa estava ornada com uma cruz. Cravaram nos restos cadavéricos uma cruz invertida. Esse grupo - dois homens e duas mulheres - , que se declara anticristão, reconheceu que já profanou túmulos em outros cemitérios, e que escreveu também inscrições satânicas numa praia da região. Estamos diante de mais um sintoma macabro da volta do satanismo. Num mundo obrigado a conviver com a propaganda homossexual , o consumo de drogas e a devassidão mai s repugnante, os satani stas vão saindo dos antros nauseabundos onde se escondiam, e reclamam para si o reconhecimento público que só deve ser dadoaoshomensdebem. Querem sentar-se na sala de visitas e ser tidos por pessoas normais. Numa segunda etapa, começarão a perseguir os que não os aceitam, não são como eles. D
O
que significa ser "sem" alguma coi sa? O prefixo sem indica uma carência, algo que falta. Neste mundo em que vivemos, quem de nós não está sujeito a carências de toda espécie? Eu, por exemplo, não tenho um caminhão. O leitor talvez também não tenha. Seríamos então classificados na turma dos sem-caminhão. Maior ainda é o contingente dos sem-avião. E toda a humanidade está sujeita a entrar na fila dos sem-satélite. Tal visualização das coisas, que em outros tempos poderia ter ares de brincadeira, hoje em dia tornou-se coisa séria, e até bem séria. Por quê? Simplesmente porque certa esquerda - aí incluída com preponderância a chamada esquerda católica - resolveu utilizar o prefixo sem como slogan para pôr lenha no fogo da revolução social, que quer promover a qualquer custo. Então aparecem os semterra, os sem-teto, etc., a propósito dos quais se levanta o fantasma de uma carência tão fundamental, que justificaria da parte deles qualquer agressão, qualquer ilegalidade, qualquer crime, qualquer pecado. Longe de nós negar que se deva ajudar os necessitados de todas as formas possíveis, estendendo-lhes a mão, criando condições pro-
O, CLASSIFICANDO...
Os sem-Igreja C.A.
Enquanto a esquerda católica se aplica em açular os sem-terra e os sem-teto, vai crescendo o número dos sem-Igreja
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A esperança é a última que morre" ...
pícias para que supram suas carências, elevando-os na escala social e econômica do País. É um dever agir assim, é também um ato insigne de caridade. Mas isso não significa de nenhum modo que se deva instigá-los contra quem tem alguma propriedade, atiçando neles o ódio, a inveja, a revolta, a transgressão dos Mandamentos da Lei de Deus e dos preceitos legítimos das leis humanas. Aquele mesmo Jesus que nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmos, a ajudar especialmente os pobres, a tratá-los com carinho e dedicação, advertiu também: "Pobres, sempre os CATOLICISMO -
tereis entre vós" (Jo, 12,8). Como a dizer-nos que as carências humanas podem e devem ser amparadas, minoradas, mas não podem ser extintas pela procura quimérica e absurda de uma igualdade a qualquer preço, seja ela de fortuna ou de posição social. Igualdade, aliás, contrária à própria natureza humana e aos ensinamentos do Evangelho. Não obstante tudo isso, é certo que há alguns direitos absolutamente fundamentais, que não podem ser retirados de ninguém. Um deles, talvez o mais essencial de todos, é o direito de conhecer a verdade, de seguila, de servi -la.
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Ora, a verdade, entendi-
da na sua plenitude e abarcada tanto quanto é possível nesta Terra, nós a encontramos na Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Seus ensinamentos conduzem o homem ao cumprimento de sua finalidade essencial, que é amar e servir a Deus nesta Terra, para depois gozá-lo eternamente no Céu. E seguir esses ensinamentos significa criar nesta Terra uma sociedade cheia de ordem, de harmonia, de bem-estar, de verdadeira paz. Pelo contrário, a malfadada esquerda católica, ao se aplicar com tanto afinco à subversão da ordem social, à instigação e organização dos sem-terra, dos sem-teto e ainda de outros sem, vai progressivamente pondo na sombra o ensino da verdadeira Religião. Os Mandamentos da Lei ele Deus de ixam de ter importância, pois passa a ser legítimo cobiçar as coisas alheias, roubar, etc. Os dogmas sagrados da Igreja são postos no esquecimento, quando não abertamente negados, como a existência de um Céu a ganhar e de um Inferno a evitar, pois tudo se resume a uma luta social nesta Terra. Com isso, uma carência terrível, de um bem absolutamente fundamental, vai ampliando um setor cada vez mais desamparado da popu1ação brasileira: os semIgreja. O
s
EF
sonalidade e santidade o rei franco admira e respeita. A ele coube ensinar a doutrina católica a Clóvis. O outro foi o Bispo de Vienne, Santo Avito. Sobretudo, na obra de sua conversão se deve realçar o papel de sua esposa Santa Clotilde, filha de Chilperico, rei de Genebra. Sua mãe, Charitina, era católica e educou sua filha na sua santa religião. Órfã aos quatro anos, Clotilde era inteligente, virtuosa e bela. Rodeado de régulos arianos, Clóvis julgou ser vantajoso ter corno esposa urna princesa católica, sobrinha do poderoso Gundebauldo, rei dos burgúndios. Santa Clotilde foi incansável no apostolado junto a seu marido.
França católica, Filha primogênita da Igreja: fruto de batismo e sagração providenciais ANTONIO ÜLIVEIRA QUEIROZ
Há 1500 anos, uma pomba branca trazia no bico, milagrosamente, o santo óleo para a sagração de Clóvis, primeiro rei católico dos Francos
A
esa discussão crepitou na França, nos últimos meses, por enejo dos 1.500 anos do batismo deClóvis. Escritores encharcados do espírito da Revolução Francesa ousam sustentar que Clóvis seria uma pequena realidade e um grande mito foijado pela Igreja e pela dinastia dos Capelos. Em contrapartida, há historiadores que vêem em Clóvis, antes de tudo, uma grande realidade, bem viva ainda no fundo da mentalidade francesa. Por sua ação, Clóvis tornou-se o símbolo da civilização cristã, da aliança entre oTrono e Altar, entre a Monarquia e a Igreja. E ainda hoje constitui um obstáculo possante aos que querem tornar a mentalidade francesa completamente revolucionária. O público francês divide-se nessas duas posições . A fundamentação doutrinária da posição católica está consubstanciada na lüminosa obra do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas, nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana.
Sem pretender entrar na discussão, Catolicismo tem a alegria de participar da comemoração de evento tão marcante, recordando alguns fatos a ele relativos. 6
O casamento de Clóvis com Santa Clotilde
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Apesar de toda a força de convicção que Clotilde punha nos seus argumentos, sabia ela que seu marido precisava de uma demonstração mais poderosa. Para levar Clóvis a uma adesão profunda e decisiva
Em 493, após os desponsórios celebrados pelo santo bispo Remígio, Cio ti Ide pôde exclamar: "Onipotente
O batismo de Clóvis
quase todos aqueles povos bárbaros-, voltava suas esperanças para os francos sáJicos, ainda pagãos. Nesse contexto, Clóvis, neto de Meroveu, vive em casa de seu pai ChiJderico. Com 11 anos em 476, já compreende muita coisa sobre os acontecimentos que subvertem a Gália. Aos 15 anos subiu ao trono. Até os 30 anos, quando se converteu, esse bárbaro concebera um plano de governo e de Estado de grande envergadura. Dois bispos de grande talento e santidade tiveram notável importância na vida de Clóvis. Um, no campo espiritual, o Arcebispo de Reims, São Remígio, cuja per-
"Venci cem batalhas. Porém, fui vencido por Clotilde!".
Aliás, é a informação que transmite São Gregório de Tours: "A Rainha não cessava de doutrinar Clóvis, para que conhecesse o verdadeiro Deus e abandonasse os ídolos, mas foi absolutamen-
Mal pronunciara esta prece em desespero de causa, começa a derrocada do inimigo. E no final , vendo morto seu rei, os adversários se rendem a Clóvis, dizendo: "Nós te pertencemos de agora em diante ". Clóvis contou à rainha o acontecido.
Eu, não temais nada. Permanecei em meu amor". Era "o Deus de Clotilde"
Deus, graças te dou; finalmente chegou o tempo de vingar a morte de meus pais e irmãos". Ou seja, de bem
acertar as contas com o arianismo. De fato, pela obrigação que contraíra de vingar os parentes de sua esposa, Clóvis começou sem tardança a luta contra os arianos, pensando também, e naturalmente, em dilatar com isto seus domínios. Mal sabia ele que estava fazendo muito mais, isto é, criando condições para o nascimento da primeira nação católica entre os bárbaros. Como esposa fiel, a rainha doravante seguirá o chefe franco em suas empresas guerreiras, numa vida nômade, de acampamento em acampamento, durante uma dezena de anos. E será esta fidelidade, somada ao seu zelo apostólico, que vai dispor o coração de Clóvis para o milagre da conversão. Clóvis disse mais de urna vez aos seus:
meus deuses e vi que são impotentes para ajudar-me".
E, conseqüente consigo, mandou pedir o batismo. Clotilde havia realmente vencido o vencedor de cem batalhas! Fez ela então vir São Rernígio, para transmitir ao espírito do rei a palavra de salvação. Um dia, enquanto o santo, na capela do palácio, rodeado de notabilidades, ministrava ao rei verdades católicas que lhe incutiam no coração salutares movimentos, urna luz mais esplendorosa que a do sol encheu de repente a capela, e ouviram-se estas palavras: "A paz esteja convosco. Sou
"Venci cem batalhas. Fui vencido por Clotilde!"
Clóvis, fundador de um Estado católico Sob os golpes dos bárbaros, o outrora majestoso Império Romano do Ocidente cai em 476, fragmenta-se na Gália em vários reinos. Daí resultam pequenas nações à deriva, que guerreiam entre si . Em meio à confusão geral, os bispos tinham grande ascendência moral e assumiram-na. Dentre estes, vários santos. A Igreja, Ela mesma às voltas com o arianismo- heresia que desviara da Religião católica
te impossível convencê-lo, até o dia em que se desencadeou a guerra contra os alamanos".
Clóvis - escultura na igreja de Nossa Senhora em Corbeil (França) (séc. XII)
ao cristianismo, era necess;ú-io que um milagre o tocasse num momento patético e decisivo. O novo reino, fundado sobre milagres De fato, a Providência dispunha que Nosso Senhor dobraria o franco em Tolbiac. Segundo narra São Gregório de Tours, foi nessa batalha que, quando o exército franco já "começava a ser talhado em pedaços" , Clóvis elevou os olhos ao Céu e clarriou: - "Jesus Cristo, que Clotilde proclama filho do Deus vivo, tu que te dignas conceder vitória aos que confiam em ti, se tu me concederes a vitória e eu experim enta r o teu poder miraculoso, então crerei em ti e me farei batizar em teu nome, pois invoquei CATOLICISMO -
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que se dignava confirmar visivelmente a pregação do Prelado santo. Ademais, ao desaparecer essa luz, um perfume de incrível suavidade inundou o palácio. Mas só o Bispo pôde ver Jesus Cristo, o autor da luz. Os demai s, maravilhados pelo esplendor que penetrava o Santo, viram todo o palácio iluminado pela luz que dele irradiava. Tais milagres impressionaram sobremaneira os bárbaros. Conta-se que noutra ocasião, quando o santo Bispo instruía o rei, este apaixonou-se tanto com a narração dos tormentos sofridos por Nosso Divino Salvador, que, levantando-se, todo inflamado, batia com a lança no chão, bradando: "A h! Se eu estivesse lá com meus francos!"
Batismo e sagração Finalmente, a cerimônia do batismo foi fixada para o Natal de 496. Mas na véspera do grande ato o rei ainda hesitava, temendo que seus guerreiros não o acompanhassem nesse passo tão decisivo. São Rernígio passou a noite em prece aos pés da Santíssima Virgem, e Santa Clotilde aos pés de São Pedro, determi 7
nados a arrancar do Céu, por suas orações, a salvação do rei e de seu povo. E foram atendidos! Na datfü , marcada, a rainha fez ornar a igreja de Reims. O Bispo Remígio estava postado junto à pia batismal. O rei, ao entrar, sente tal imponderável sobrenatural no ambiente, que não se furta em perguntar: "É este o reino dos Céus, ó santo Padre?". E São Remígio responde: "Não, é o ca minho que conduz ao Céu!".
Clóvis e~a da tribo dos Sicambros. Por isto , São Remígio, ao derramar-lhe na fronte a água batismal, profere estas célebres palavras: "Curva tua cabeça, sicambro; queima o que adoraste, e adora o que queimaste!"
São Remígio, Bispo de Reims -
A exemplo do rei, três mil dos seus guerreiros quiseram ser batizados com ele. "Deixamos os deuses mortais e queremos adorar o Deus imortal do Bispo Remígio ", proclamam.
Basílica de Lourdes
Por ocasião da sagração, aconteceu um milagre digno dos tempos apostólicos. Devido a um incidente, o óleo ia faltar. São Remígio pôs-se em oração, e de
CONQUISTAS DE CLOVIS EDE SEUS FILHOS (481 a 537)
repente uma pomba branca apareceu, trazendo no bico urna ampola cheia de um óleo sagrado, que ao ser despejado na fonte batismal espargiu o mais suave perfume que até então se conhecia. A ampola foi conservada, e o óleo usado para a sagração de todos os reis da França. Uma vez batizado, e depois sagrado com esta celestial unção, nada mais faltava para investir Clóvis de autoridade e legitimidade de Rei Católico. Por essa forma, surgiu a primeira Nação católica da História, a Nação dos Francos, honrada por isto com o título de filha primogênita da Igreja. Este privilégio único, a Revolução Francesa de 1789 quis rejeitar, e a santa ampola foi quebrada em 1793. Tal gesto não é, porém, um reconhecimento a mais? Sem embargo, algumas gotas do santo óleo foram recolhidas, guardadas, e Carlos X, mais de 1300 anos depois de Clóvis, foi o último rei da França a ser sagrado com ele.
Um fim que é uma coroa da obra Em 508 a família real fixa-se em Paris. Em fins de 511, Clóvis exala seu último suspiro nos braços de Clotilde, assistido por seus amigos São Severino e o velho bispo São Remígio. Desde então, Clotilde retirou-se definitivamente para uma vida de oração e penitência e, em 5 de junho de 545, aos 70 anos, entregou sua bela alma a Deus. Contam-se mais de 40 santos descendentes do casal real. Magnífica auréola, que coroa gloriosamente essa obra de conversão! D
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Régine Pernoud: batismo de Clóvis é marco histórico No 15º centenário da conversão de Clóvis, a famosa historiadora Régine Pernoud é entrevistada por CATOLICISMO sobre esse esplendoroso acontecimento
R:
gine Per~oud, historiadora francesa mundialmene con hecida como especialista tanto em estudos obre a Idade Média quanto em documentos antigos. É doutora honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre muitas outras; fundadora do Centro de Estudos sobre Santa Joana d'Arc (em Orléans, França); diretora de .inúmeros museus franceses; conferencista muito solicitada em seu país e no exterior; detentora de numerosos prêmios e condecorações concedidos por seus estudos. Com mais de trinta livros publicados, suas obras tiveram o mérito de dissipar a legenda negra propositalmente difundida contra a Idade Média e o esplendor da Ig reja naqueles séculos de fé. Suas pesquisas sobre o papel de Nossa Senhora no início da Cristandade, sobre Santa Joana d'Arc, São Luís IX e os santos medievais, bem como sua notável obra A Luz da Idade Média, conquistam o leitor por seu rigor científico e o encanto de suas descrições. Em uma entrevista exclusiva para Catolicismo, a grande historiadora se dirige ao público brasileiro a propósito da comemoração, no presente mês, do 15º centenário do batismo de Clóvis, rei dos francos. Ela recebeu nosso enviado especial, Sr. Nelson Fragelli, em seu apartamento, em Paris, revelando grande simpatia pelos ideais de Catolicismo.
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A Sra., enquanto historiadora, como considera o batismo de Clóvis?
Régine Pernoud- Evidentemente, é urna data muito importante. Não apenas para a história da França, mas para a história da Europa. A Igreja adquire a liberdade, o que põe fim às dificuldades que algumas heres ias suscitaram. O poder temporal se abre à Igreja, tendo sido Clóv is considerado um novo Constantino. E é preciso realçar que depois de sua conversão se espalharam tantas heresias, que sem uma intervenção da Providência hoje tal vez não fôssemos católicos. A conversão de Clóvis e a liberdade concedida à Igreja são indubitavelmente um si na! dessa intervenção. A Igreja pôde, assim, travar mais comodamente seu combate contra as heresias .
São Remígio ensma o catecismo ao rei Clóvis, sob o olhar de Santa Clotildeilustração de 1933
Fontes de refe1·ência 1- Ferdinand Lol, EI Fi11delM1111doAntig110 y Com.ie11zos de la Edad Media, Unión Tip. Hisp. Americana, Méx ico, 1983. 2- Réginc Pcrnoud,A Mulher 110 Tempo das Catedrais, Gradiva Publicações, Lisboa, 1984. 3- J. B. Wciss, História Universal, Torno IV, Tipografia La Eclucación , Barcelona, 1927. 4 - Mário Curti s Giordani ,Açcio Social da Igreja 110 Mundo Antigo, Vozes, 1959, p. 143. 5 - Mons. Henri Delassus, L'füprit Familia/ dam la Maiso11, da11s la Cité et da11s I'État, Desclée, Lille, 191O, pp. 196a 199.
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Catolicismo -
CATOLICISMO -
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O único pagão da Histó-
ria, que vem de fora para dentro da Igreja, é Clóvis. Os visigodos, os godos e os vândalos são cristãos, mas são arianos. O arianismo teve tanta importância quanto o protestantismo na Europa, e durou também muito tempo: quatro séculos. Os arianos negam a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, o que é capital. O fato de que Clóvis -que realmente quis se converter- tenha escolhido a fé católica verdadeira, teve evidentemente uma importância enorme em todo o destino da Europa cristã. Entretanto, quando se diz batismo de Clóvis, eu gostaria muito que se falasse também um pouco de Cloti lde. Pois a quem devemos o batismo de Clóvis, senão a Clotilde? Quando se estuda a história da Antiguidade, de Creta, da Grécia, de Roma, etc ., a mulher não existe. Quando se estuda a história do Cristianismo, somos obrigados a começar pelas mulheres: por Clotilde, Radegunda, a Rainha Branca de Castela, e outras ainda. A Idade Média está povoada de mulheres que têm deveres administrativos. A primeira de todas é Clotilde. Por ocasião do batismo de Clóvis, falemos da ação de Clotilde, uma vez que à fé de Clotilde se deveu o batismo de Clóvis. Ela consegue fazer batizar seu primeiro filho, que morre 9
quinze dias depois. Bem se pode imaginar a fé que essa mulher precisou ter, para vencer uma tal prova. Clóvis é pagão, e é preciso não esquecer que ele se dirige a Wotan, o deus da Germânia. Pois bem, que o primeiro efeito de um batismo cristão seja que esta criança morra ao cabo de quinze dias, isto teria podido arrui11ar inteiramente o caminho da conversão de Clóvis. Meu Deus! Até para Santa Clotilde teve papel fundamental a própria Clotilde! O conversão de seu marido extraordinário é que trata ele nacionalismo, mas da essa mulher responde: "Sou conversão de toda ª Europa. feli z em saber que ele se enUm artigo publicado no "Le contra na beatitude celesMonde", em fevereiro último, te". É adrnirável como esforprocura desnaturar esta coço interior! memoração, revestida ele um O segundo filho que nasalto simbolismo para todos ce é também batizado, e nós. Posso afirmar urna coiquinze dias depois cai doensa com certeza: esse articute. Portanto, nova prova lista não cursou a Escola de cruciante. Porém, desta feiChartes. [universidade onde ta, a criança é curada. É prese estudam documentos anciso considerar qual deva ter tigos.] O que parece entrar sido a fé de Clotilde para em linha de conta para ele, vencer estas provas, que preem História, são as ideologicederam o batismo de Clóas, em seus vários matizes. vis. É um artigo desprovido de Catolicismo - Talve z solidez, que não tem qualquer seja então por causa desses fundamento. São especulasofrimentos que Santa Cloções abstratas e ideológicas. tilde obteve do Céu as graÉ preciso, pois, prepararmoças necessárias para a connos para ouvir um certo núversão de seu marido. mero de tolices, doutamente Como a Sra. considera as professadas no "Le Monde" críticas que muitos estão e alhures. fa zendo à comemoração elo Catolicismo - A Sra. batismo de Clóvis? poderia nos contar algum ouRégine Pernoud - Há tro episódio relativo ao bapessoas que não querem outismo de Clóvis, e que pudesvir falar da comemoração do se levar nossos leitores a se batismo de Clóvis, sob preinteressarem pela História, texto de que é nacionalismo. Eu considero isto uma bobasobretudo por este acontecigem pura e simples. Não se mento?
Régine Pernoud - Há vários. Ele partiu para a guerra contra os godos após haver feito uma aliança com eles, a qual não caminhou bem. Clóv is sai vencedor da batalha de Tolbiac, em 493, e o cronista do tempo afirma: "Os godos são derrotados, como sempre". Existe ainda o episód io de Clóvis indo ao túmulo de São Martinho de Tours, antes de cona meçar a batalha. Porém, pede ele a seus companheiros que entrem na basílica construída em cima do túmulo. Ele mesmo não
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entra, pois ainda não é cristão. Quando seus companheiros entram, ouvem os monges cantarem a passagem ele um salm o: "Tu terás a vitó-
ria ... ". Eles retornaram di zendo a Clóvis: "Tudo vai bem, podes partir para a guerra". Contam-lhe o que ouviram, e isto o encorajou efetivamente. Aliás, mencionei o túmulo de São Martinho de Tours. Pediram-me um trabalhosobre ele, e eu jamais teria acreditado que São Martinho fosse um personagem tão cativante. Acabo de concluir o trabalho, e em breve será entregue ao editor. Catolicismo - Para alguns detratores, a conversão de Clóvis era mais uma manobra política do que o resultado da ação da graça. Régine Pernoud Creio que não se tratava de uma manobra de alta política, pois a metade cio paísestava, pelo contrário, voltada à heresia ariana. Se cálculo político houvesse, em todo caso não seria ela alta diplomacia.
Catedral de Reims, onde eram coroados os reis da França - Gravura de 1625
Gizante de Clóvis na Basílica de Saint Denis (Paris), do séc. XII
Com efeito, Clóvis sabia muito bem que congregaria mais facilmente os povos da antiga Gália, como os godos ou os borguinhões, se ele abraçasse não a fé católica, mas o arianismo, posto que os outros povos eram arianos. Diz-me muito, também, considerar que Clóvis morreu após o Concílio de 511. Ora, o que se discutiu e se estabeleceu nesse concílio? Foi o direito de asi lo. É esse direito de asi lo que vai caracterizar
toda a Idade Média, e que de- ainda se pudesse penetrar em saparecerá apenas sob o gol- um mosteiro -considero que pe dos tribunais burgueses, isto é para nós algo desconno século XVI. A burguesia certante. jamais quis suportar o direiCatolicismo - Por que to ele asilo, mas este era qual- a Sra. fala elo direito de asiquer coisa de magnífico, ele lo, quando lhe perguntamos transcendente. Que o pior dos · se a conversão de Clóvis era criminosos pudesse ainda ter um ato político? uma oportunidade se ele se Régine Pernoud - O di postasse à porta de uma igre- reito de asilo foi posto em ja, ou se chegasse até o cemi- ap licação graças ao Concíl io tério, ou se se dependurasse de 51 L. E Clóvis ass isti u a em uma cruz colocada em um este Concílio. Tal direito de entro ncamento de vias, ou asilo ass im estabelecido foi, CATOLICISMO-
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conseqüentemente, muito importante, e desempenhou um grande papel na vida de toda a Europa, durante todo o período medieval. Este direito de asilo era uma espécie de primazia da caridade sobre a justiça, uma vez que ele dava oportunidade até ao pior dos criminosos. E o próprio Ricardo Coração de Leão, rei, foi vítima de um movimento de cólera, e foi perseguido pelos tribunais eclesiásticos por haver lesado o direito de asilo ele um homem culpado. Catolicismo - Por que a burguesia não tolerava o direito de asilo? Régine Pernoud - Porque isto não era conforme ao direito dos legistas de então. É muito significativo ver na História o retorno cio direito romano nos costumes, a partir do século XIV, um pouco no século XV, e sobretudo depois do século XVI. Os magistrados só escrevem sobre o direito romano, e este ignorava a misericórdia. Catolicismo - Que conselho a Sra. poderia dar aos brasileiros de nossos dias? Régine Pernoud- É que eles vivam de modo semelhante ao ele Clóvis e Clotilde, os quais souberam ultrapassar seu simples amor de esposos, em vista de um progresso espiritual. E que este progresso espiritual seja capaz de animálos - sobretudo os jovens a elevar suas vistas a um ideal sublime, para o bem da família, da sociedade e do povo. Pela conversão de seu marido, Clotilde deu à luz a Filha primogênita da Igreja. Por um senso da dedicação e de um ideal elevado, nós poderemos dar novamente a nossas pátrias suas características cristãs. D 11
Caçada dos gibelinos de Florença Miniatura da Crônica de Villanni, Biblioteca Vaticana (fins do séc. XIV)
Nossa Senhora das Dores e seus arautos, os Servos de Maria
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A confraria florentina dos Laudesi se propunha homenagear de modo especial a Santíssima Virgem. Na festa da Assunção de 1233, sete fervorosos laudesi encontravam-se reunidos numa igreja, quando lhes apareceu a Mãe de Deus e
PAULO CoRRÊA DE BRITO F1LHO
is os servos de Maria!" -
exclanaram miraculosamente, nos braços de suas mães, várias crianças de poucos m~ses, ao verem passar os sete jovens que viriam a ser os fundadores da Ordem dos Servos de Maria ou Servitas. Esse prodígio ocorreu em 1235, quando os jovens cami nhavam pelas ruas de Florença, atraindo a curiosidade e a admiração do povo. Eles pertenciam a estirpes locais das mais notáveis, e haviam se retirado dois anos antes a Cafaggio, fora dos muros de Florença, a fim de começar um cenóbio, com intensa vida de penitência e oração. Nossa Senhora os escolhera para uma vocação sublime: praticar a pobreza e uma renúncia radical ao mundo, além de severa penitência e especial devoção a Ela, vinculada às dores que sofreu durante sua existência terrena. Não se conhece a data precisa do nascimento de cada um deles . Seus nomes constam na história da Ordem dos Servitas, escrita por Paulo Attavanti em l 468: Bonfiglio Monaldi (Bonusfilius), Giovanni di Buonagiunta (Bartholomaeus), Manetto deli' Antellla (Johannes), Amedeo degli Amedei (Benedictus), Ugo di Uguccione (Gerardinus), Sostegno de'Sostegni (Ricoverus) , Alessio Falconieri (Alexius). Somente nos séculos XVI e XVII foi possível estabelecer a relação entre os nomes latinos - apresentados entre parênteses, e que, segundo a tradição, lhes foi atribuído por Nossa Senhora na aparição de 1233 - e seus nomes de família. 12
Convocação e luminosa trajetória
A Ordem dos Servitas, cujos sete fundadores a Mãe de Deus convidou conjuntamente, dedica-se sobretudo a difundir a devoção às principais dores que Maria padeceu durante sua vida Florença na primeira metade do século XIII A capital da Toscana, cuja população passou de 40 para 80 mil habitantes naqueles 50 anos, gozava de uma prosperidade digna de nota, com acentuado desenvolvimento de suas "artes" e ricas corporações de ofício, , as quais já ultrapassavam o número de vinte. O bem estar material desfrutado pela população da cidade predispunha muitos espíritos à ganância, ao apego às riquezas, à vanglória e à conseqüente rejeição de uma vida virtuosa. Além de instigar tanto indivíduos quanto instituições ao vício e ao pecado, o demônio também cria condições para o aparecimento de heresiarcas e heresias, que por vezes constituem caricaturas de movimentos de sadia reação católica contra os vícios característicos de urna fase histórica. E Deus costuma suscitar fundadores, ordens e congregações religiosas em função das necessidades de cada época. Em l 206, pouco antes de surgir a Ordem dos Servos de Maria, São Domingos de Gusmão, grande difusor da devoção mariana e da recitação do rosário, pregou no sul da França contra os hereges • CATOLICISMO -
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Os 7 Fundadores dos Servitas - Pintura de G. M. Crespi, cognominado o Espan/10/(séc. XVII), Igreja de Santa Maria dos Servos, Bolonlia
albigenses, propugnadores de urna falsa virtude da pobreza. São Francisco de Assis começou sua pregação itinerante em 1209, desposando a "dama pobreza". A missão desses dois poitentosos fundadores era de grande alcance para combater tanto o vício da ganância quanto a caricatura herética da virtude da pobreza, bem como para incrementar a tão necessária devoção mariana. Aproximadamente duas décadas depois, sete jovens florentinos são diretamente convocados pela Mãe de Deus para complementar e reforçar a obra providencial realizada por São Domingos e São Francisco. De fato, esta é a verdadeira perspectiva na qual deve ser compreendida a espiritual idade e atu-
ação dos sete fundadores e de sua família espiritual. Já na época da aparição da Virgem Santíssima aos fundadores da Ordem dos Servi tas , os hereges pátaros e albigenses haviam estendido seu nefasto e pestilencial proselitismo por toda a Itália central. Difundiam eles seu menosprezo ao verdadeiro lugar que ocupam a humanidade de Jesus Cristo e a maternidade divina de Maria na obra da salvação. O que determinou o aparecimento de grupos de leigos em Florença, que sustentavam publicamente as mencionadas verdades de fé , para contrarrestar a influência rnalsã dos hereges. A um desses grupos, o dos Laudesi, pertenciam os sete jovens escolhidos por Nossa Senhora para a fundação da sua Ordem.
A luta entre guelfos e gibelinos Florença e outras cidades italianas sofreram nessa época a influência da contenda que se estabelecera na Alemanha, desde 1212, entre os dois pretendentes ao trono do Sacro Império Romano Alemão: Otto IV (Guelfo), e Frederico II (Gibelino ). O primeiro documento histórico em que aparecem esses dois termos data de 1230, e é originário precisamente de Florença. O partido dosguelfos tornou posição contra Frederico II, e o partido dos gibelinos era favorável ao Imperador. A partir de 1247, porém, durante o conflito entre Frederico II e o Papa Inocêncio IV, que o excomungou, verificou-se uma transformação no significado
Convento do Monte Senário (desenho de 1760)
dos dois termos: gibelinos já não eram apenas partidários de Frederico II, mas também do Império; egue(f'os não eram somente os inimigos de Frederico II, mas também partidários de seu novo inimigo, o Papado. Após 1250 os dois partidos já estavam solidamente organizados na cidade, abarcando suas famílias mais ilustres, e tal divisão começou a se espraiar pelas cidades vizinhas. Era natural, pois, que os católicos mais fervorosos se alinhassem com os guelfos, e não com osgibelinos, os quais defendiam a posição de um imperador excomungado e se inclinavam a favor de um império cuja suprema cabeça se insurgia contra o Papa. Compreende-se, pois, que os primeiros servitas tivessem encontrado boa aceitação por parte dos cardeais legados de Inocêncio IV na luta contra Frederico II. Estes não só apreciavam a perfeita ortodoxia dos novos rei igiosos, mas constatavam que a primeira comunidade dos Servos de Maria, por sua situação social e política, alinhava-se com os guelfos. E a bula Deo grata de Alexandre IV, de 23 de março de 1256, aprovando a nova Ordem, veio confirmar de forma definitiva a anterior benevolência da Santa Sé. CATOLICISMO -
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os chamou para seu serviço. A própria Virgem indicou os nomes que deveriam adotar na Ordem dos Servos de Maria, mostrou o hábito negro que usariam e prescreveu-lhes a regra de Santo Agostinho corno norma de vida. Estabe leceu como objetivo da nova Ordem a santificação de seus membros mediante fiel servidão para com Ela. Os sete fundadores ace itaram incontinenti o honroso e sobrenatural convite. Tendo colocado o Bispo da cidade, Ardingo, a par do ocorrido, os sete jovens retiraram-se, a seu conselho, para urna pequena casa em Cafaggio,junto aos muros de Florença, onde se dedicaram a uma intensa vida de oração e penitência. Após dois anos, voltaram os Servos de Maria à cidade, a fim de relatar ao Prelado sua experiência cenobítica. O milagre das exclamações proferidas pelas crianças nos braços de suas mães, referido no início do presente artigo, fez crescer a reputação de santidade que os sete fundadores já desfrutavam. Com o apo io do Bispo Ardingo, os jovens decidiram deixar Cafaggio para se retirar a um local mais ermo: o Monte Senário, de 800 metros de altu ra, a 13
As Sete Dores.,, . de Maria Santíssima Tais dores são as seguintes: 1ª) Aflição diante da profecia do velho Simeão; 2ª) Angústias por ocasião da fuga e permanência no Egito; 3ª) Agonia pela perda do Menino Jesus, quando este discutia no Templo com os doutores da Lei; 4ª) Consternação quandó deparou seu divino Filho carregando a Cruz; 5ª) Martírio ao assistir à agonia do Redentor da humanidade; 6ª) Ferida que seu Imaculado Coração sofreu no momento em que a lança transpassou o Sagrado Coração de Jesus; 7ª) Amargura em face do sepultamento do Deus humanado. A iconografia dessa invocação mariana, que foi se estabelecendo no decorrer dos séculos, nos mostra a Mãe de Deus com sete punhais cravados em seu peito, os quais representam essas sete dores. Um artístico e precioso exemplo de tal iconografia, largamente difundida na Igreja, constitui a imagem de nossa capa, obra-prima do genial Aleijadinho.
18 quilômetros de Florença. Em Cafaggio foram construídos, a partir de 1.250, os célebres convento e igreja da Santíssima Anunciada, no início da expansão da Ordem dos Servitas pela Itália. O convento edificado no Monte Senário é considerado até hoje pelos servitas como o principal marco de referência de sua Ordem e o símbolo material de suas origens. Ali se conservam os preciosos restos mortais dos sete fundadores. Em 1249 o Cardeal legado do Papa Inocêncio IV, Raniero Capocci, tomou sob a proteção da Sé Apostólica a comunidade dos Servos de Santa Maria, como era popularmente conhecida; confirmou a concessão já feita pelo Bispo Ardingo, de se observar a regra de Santo Agostinho, permitindo-lhe receber como novos membros pessoas livres provenientes da vida secular. No ano seguinte o Cardeal Pedro, que sucedera o 14
legado papal anterior, autorizou o Prior do convento de Monte Senário, Frei Bonfiglio, a absolver da excomunhão os leigos que haviam apoiado o imperador alemão Frederico II e desejassem professar no convento. Seis anos mais tarde, em 1256, a Ordem dos Servos de Maria foi aprovada por Alexandre IV mediante a bula Deo grata.
í Busto de São Felipe Benizi - Igreja da Santíssima Anunciada, Florença
A glorificação dos fundadores Os santos fundadores viveram e morreram no convento do Monte Senário, com exceção de Alessio Falconieri, que faleceu em Florença com a avançada idade de 11 O anos. O Papa Clemente XI aprovou seu culto em 1717, enquanto os dos seis outros foi permitido por Bento XIII em 1725. Em 1728 foram aprovados o ofício e a rn:issa própria dos sete fundadores, cuja festa está fixada para o dia 12 de fevereiro. Em 1884 Leão XIII reabriu a causa de canonização dos fundadores, interrompida havia cerca de 150 anos. Por decreto de 27 de novembro de 1887, o Pontífice aceitou como suficientes para a canonização, pela primeira vez na História da Igreja, quatro milagres obtidos pela invocação coletiva dos sete fundadores. E a 15 de janeiro de 1888 foram canonizados conjuntamente por aquele Papa. As urnas funerárias dos sete santos conservam-se na Capela das Relíquias, da Igreja do Monte Senário.
Dificuldades iniciais e expansão dos servitas Santuário e convento da Santíssima Anunciada (desenho no códice Rustici de 1425) 'CATOLICISMO -
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A partir do II Concílio de Lião, realizado em 1274, a Or-
dem ficou ameaçada de extinção, por ter sido vedado às ordens mendicantes receber novos membros. A Santíssima Virgem, porém, que havia suscitado miracu losamente aquela família religiosa e guiado seus passos até então, não desamparou seus fiéis servos. E a Ordem foi salva especialmente pela providencial atuação de um santo bem mais jovem que os sete fundadores. Ele era uma das crianças que em 1235, no co lo de sua mãe, chamou-os "servos de Maria". Trata-se de São Felipe Benizi, que ingressou na Ordem em 1254 e fo i eleito seu Prior Geral em 1267. Para impedir a extinção de sua famíl ia religiosa - o que já sucedera com algumas ordens mendicantes - o novo Prior Geral desenvolveu um ingente trabalho a fim de comprovar que não se enquadrava entre as mendicantes, que vivem exclusi-
vamente de esmolas. De fato, a partir de 1257 e a ped ido do capítulo geral da Ordem, haviam sido feitas consideráveis ex.ceções ao Ato de Pobreza, com as devidas autorizações. Ressaltou igualmente São Felipe Benizi que, desde o início, os servitas haviam adotado a regra de Santo Agostin ho; e que, talvez após acurada e rápida revisão da legislação própria da Ordem cios Servos de Maria, nada se oporia à posse de bens por parte dela. O esforço desenvolvido pelo zeloso Prior Geral produziu frutos decisivos logo após sua morte, ocorrida em 1285. Já no ano seguinte começaram a vir a público pareceres da Cúria romana favoráveis à manutenção da Ordem, permitindo que recebesse novos membros. Isto preparava o caminho para a definitiva aprovação papal, concedida por Bento XI em 1304, estando ainda vivo um dos sete fundadores,
AOrdem dos Servos de Maria e
as Sete Dores de Nossa Senhora
I
Vários Papas ressaltaram a cooperação imediata de Maria Santíssima na Redenção efetuada por seu divino Filho. Bento XV, em sua Encíclica Inter sodalicia, de 1918, ensina que a Virgem "de tal maneira sofreu e quase morreu com seu Filho que padecia e morria .... , que se poderia dizer, com justiça, que Ela redimiu com Cristo o gênero humand'. Assim como o divino Redentor padeceu para remir os pecados cometidos em toda a História, e, portanto, os da nossa época, Nossa Senhora, como Corredentora, suportou, em sua condição de criatura, dores indizíveis , associando-se à Paixão do Verbo encarnado. Quando Nossa Senhora , em 1233, convocou para seu serviço os sete fundadores da Ordem dos Servos de Maria, indicou-lhes o hábito negro que deveriam usar, em lembrança e como manifestação das hu-
milhações e sofrimentos por Ela suportados no decorrer de sua existência, especialmente durante a Paixão de seu divino Filho. É compreensível que a devoção às Sete Dores de Maria já se estabelecesse na Ordem desde seus primórdios, no século XIII. A Santa Sé lhe concedeu a faculdade de comemorar tal festa segundo rito litúrgico próprio, em 1668. O Papa Clemente XI, em 1704, ou torgou indulgência plenária a todos os que, cumpridas certas condições, visitassem uma ig reja da Ordem no terceiro domingo de setembro. E em 1814 Pio VII estendeu aquela solenidade para toda a Igreja, bem como a Missa e o ofício compostos pelo Pe. Prospero Bernardino, religioso servita natural de Florença. Na reforma litúrgica efetuada por São Pio X, a comemoração foi fixada para o dia 15 de setembro.
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Frei Alessio Falcon ieri, que entregou sua alma a Deus seis anos depois. A Ordem dos Servitas difundiu-se nos primeiros séculos de sua história para vários países europeus. E alcançou, a paitir do século XIX, significativa expansão nas Américas, África, Índia, Filipinas e Austrália. Os servitas estabeleceram-se no Brasil em 1919. A Província brasileira da Ordem contava, no fim da década de 80, Casa Provincial em São Paulo e conventos em São José dos Campos (SP), Rio de Janeiro, Curitiba, Turvo (SC), Rio Branco e Sena Madureira (AC).
Atualidade da devoção às dores de Maria A suma conveniência de se praticar a devoção a Nossa Senhora das Dores não se restringe a fases anteriores da H istória da Igreja, desde a época da fundação da Ordem dos Servos de Maria, em que os hereges pátaros e albigenses investiam contra a Igreja em várias regiões da Europa. A devoção à Mãe dolorosa é altamente recomendável também nos dias atuais, em que uma imensa crise assola a Esposa de Cristo. Crise que levou Paul o VI a reconhecer, em 7 de dezembro de 1968, que a Igreja passava por "um momento de inquietude , dir-se-ia até [de] autodemol ição" (*). Assim, o cu lto a Nossa Senhora das Dores é um poderoso antídoto ao naturali smo e ao tufão progressista que se abateram hodiernamente sobre a Santa Igreja, procurando banir do horizonte católico a cruz e o sofrimento. O (*) /11seg11a111enti di Paolo VI, Tipograíia Poliglota Vaticana, vol. V I, p. 1188.
Fontes de referência: 1) Vicenzo Bcrassi, Od ir J. Dias, Faustino M. Faustini, Breve História da Onle111 dos Servos de Maria , tradução cio original it aliano por Frei José M. Milanez O.S.M., Secretariado Geral das Missões O.S.M., Roma, 1990. 2) Pe. Gabriel M. Roschin i O.S.M.,Mariologia- Tomo li , Summa Mariologiae, Angelus Bernarcle11i Editor, Roma, 1948. 3) Enciclopédia Ca110/ica, vol. VI : col. 1222, 1223, 1224, 195 1; vol. XI: col. 4 10, 411 , 444,445, Cidade do Vaticano, 1953. 4) Pe. Rohrbacher, /-listoire universelle de l'Ég lise ca1'10/iq11e, tomo XV III, Gaume Frcres, Paris, 1845. 5) Vies de Saints il/11strées pour tous lesjo11rsde /'m111ée, Mai son ele la Bonne Prcssc, Pari s.
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PALAVRA/ DE VIDA ETERNA
História Sagrada
em seu lar
(65) noções básicas
Gedeão e 300 israelitas derrotam 135 mil madianitas A espada de Gedeão
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pós o duplo milagre do velo de lã, Gedeão reuniu 32 mil homens para lutar contra os madianitas. Levouos até o alto de um monte de onde se podia contemp lar o enorme acampamento dos madianitas, cujo número era 135 mil.
A
Deus não quer soldados medrosos e tímidos E o Senhor disse a Gedeão: "Ten contigo gente demais. Madian não será entregue nas suas mãos, para que Israel não se glorie contra Mim, dizendo: Por minhas forças me libertei. Fala ao povo: Aquele que é medroso e tímido, volte para trás". Voltaram 22 mil homens, e só ficaram 10 mil.
Entre 10 mil, Deus escolhe os 300 mais corajosos Deus falou a Gedeão: "A inda é muita gente. Leva-os às águas, e lá os provarei". Tendo os combatentes descido às águas, o Senhor disse a Gedeão: "Porás a um lado os que lamberem a água com a língua, como os cães costumam lamber; e os que beberem de joelhos, coloca-os noutra parte". Ora, o número dos que tomaram a água na concavidade da mão e a levaram à boca fo i de apenas 300. E o Senhor disse a Gedeão: "Com esses 300, entregarei nas tuas mãos os madianitas". 16
Naquela mesma noite, o Senhor disselhe: "Desce ao acampamento (dos inimigos), porque Eu os entregarei às tuas mãos, e terás maior segurança para atacá- los". Desceu, pois, ele com um criado, à parte do acampamento onde estavam os sentinelas do exército inimigo. Os madianitas estavam deitados no vale, como um bando de gafanhotos. E Gedeão ouviu um deles contar a outro um · sonho que tivera: "Parecia-me ver como que um pão que rolava da montanha e caía sobre o acampamento dos rnadianitas; e, tendo chocado com uma tenda, lançou-a por terra". Outro, a quem ele falava, respondeu: "Isto não é outra coisa senão a espada de Gedeão; porque o Senhor lhe entregou nas mãos os madianitas, e todo seu acampamento".
se-lhes: "Levantai-vos, porque o Senhor nos entregou os madianitas". Div idiu os 300 homens em três batalhões, e pôs nas mãos de cada guerreiro uma trombeta e urna ânfora dentro da qual havia uma tocha acesa. E disse-lhes: "Quando eu soar a trombeta, tocai também as vossas ao redor do acampamento dos madianitas, e gritai todos à uma: A espada do Senhor e de Gedeão". Gedeão, como os 300 homens, chegou ao acampamento por volta de meia-noite, e todos começaram a tocar as trombetas e quebrar as ânforas. E gritaram juntos: "A espada do Senhor e de Gedeão", conservando-se cada um no seu posto ao redor do acampamento inimigo. Com isto, os madianitas entraram em desordem, dando grandes gritos e urros, e se degolavam uns aos outros. Morreram J20 mil madianitas, e J5 mil deles consegu iram fugir (Cfr. Jz. 7, 1-22).
A vitória: 120 mil madianitas mortos Gedeão, tendo ouvido a narração deste sonho e sua interpretação, adorou a Deus e voltou para junto de seus soldados, edis-
O que importa não é o número, mas a ajuda de Deus
Gedeão escolhe seus soldados dentre os 1Omil mais corajosos • CATOLICISMO-
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Devemos notar que o Senhor ordenou a Gedeão ficar apenas com 300 soldados para lutar contra os madianitas. Humanamente falando, era insuficiente para triunfar; mas Deus quis nos ensinar que, sem Ele, os meios mais eficazes são impotentes, e com Ele os recursos mais insignificantes produzem excelentes resultados. Devemos estar profundamente convencidos disso, para nossos empreendimentos na ordem da natureza e da graça. (*) D (*) - L'A11cie11 et /e Nouvea11 Testament disposés sous forme de récits s11ivis, 1. Lethielleux Éd iteur, Paris, 1930, p. 74.
Pela cruz, à glória e à salvação eterna "Então disse Jesus aos seus discípulos: Se algum quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua alma perdê-la-á; e o que perder a sua alma por amor de mim achá-laá. Pois, que aproveita ao homem ganhar todo o mundo se vier a perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma?" (Mt, 16, 24-25)
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino no livro Catena Aurea (ll São João Crisóstomo- Três coisas Nosso Senhor disse que devem ser feitas: negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-Lo. São Gregório- Nega-se a si mesmo aquele que se emenda de sua má vida, começa a ser o que não era e a deixar de ser o que era. Orígines - Nega-se a si mesmo aquele que transforma sua vida, passada em malícia, num regime de bons costumes ou em uma vida de oração; aquele que viveu no pecado nega-se a si mesmo quando se torna casto; e do mesmo modo se chama negar-se a si mesmo abster-se de qualquer classe de pecado. Eu sou de opinião que aquele que não se nega a si mesmo ganha o mundo, quanto aos prazeres carnais, mas perde sua alma para sempre. Entre estas duas coisas, devemos preferir perder o mundo para, desta forma, ganhar nossas almas, porque a alma, quando peca, morre. São Gregório - De duas maneiras podemos tomar a cruz: castigando nosso corpo por meio da abstinência ou afligindo nosso espírito com a compaixão que nos inspira a consideração das misérias do próximo. Mas, como muitas vezes alguns vícios se misturam com a virtude, devemos tomar em conta que, com freqüência, a vanglória
acompanha a mortificação da carne, sobretudo quando a virtude se faz visível e digna de elogios; e que, quase sempre, à compaixão da alma se une a condescendência com os vícios . Por essa razão o Senhor, a fim de evitar tudo isso, disse: "E siga-me". São João Crisóstomo - Como os ladrões também sofrem muito, o Senhor, a fim de que ninguém tenha por suficiente essa classe de sofrimentos dos maus, expõe o motivo do verdadeiro sofrimento, quando disse "e siga.me". O seguir a Cristo consiste em ser zeloso pela virtude e sofrer tudo por Ele. São Gregório- A Igreja santa tem duas épocas: a da perseguição e a da paz. E o Redentor deixou preceitos distintos para estas duas épocas. Em temCATOLICISMO -
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po de perseguição, devemos oferecer nossas almas. E em tempo de paz devemos recusar tudo o que nos podem querer nossos desejos terrenos. Por isto é que se diz: "Que aproveita ao homem ganhar todo o mundo se vier a perder sua alma?". São Cirilo- Quando alguém, considerando os prazeres e os bens presentes, recusa sofrer e prefere viver de maneira desregrada, de que lhe aproveita tudo isto, se se perde sua alma? As grandezas e delícias desta vida passam, como passa urna sombra. Não se aproveita, pois, dos tesouros da impiedade, mas só a virtude liberta da morte.
Comentários do Pe. Luís Cláudio Fillion (2l Pela primeira vez ouvimos o nome bendito da Cruz. Em breve será ela, para Jesus, instrumento de uma morte ignominiosa e cruel. Jesus a apresenta aqui a todos os católicos como símbolo da mortificação e do sacrifício obrigatórios. Mas, tanto em nós como nEle, se cumprirá o dito: "Per crucem ad lucem", pela cruz à luz, à glória e à O salvação eterna. Notas 1) Santo To1mís de Aquino, Catena Aurca, C ursos de Cultura Católica, volume 11, Buenos Aires, 1946. 2) Pe . Luís C láudio Fi lli o n, Nucstro Scnor Jesucristo según los Evangclios, Ed. Di fusión, Buenos A ires, p. 180.
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HA
FIA
São Vicente de Paulo, coluna da Igreja e do Estado ROBERTO ALVES LEITE
São Vicente de Paulo
- Quanto tens em caixa? - O necessário para alimentar a comunidade durante um dia. - Isto quer dizer quanto ? - Cinqüenta escudos. - Ah, bem! Dê-me, pois estou precisando.
E lá se foram os cinqüenta últimos escudos, para os nobres da Lorena. O elitista francês que desta maneira raspou a caixa da Instituição para dar o dinheiro aos nobres empobrecidos da Lorena, nasceu em Dax, próximo da Espanha, em 24 de abril de 1581. Sabese que São Vicente de Paulo era de família humilde, e que trilhou descalço os caminhos, cuidando dos seus animais. Sua infância é praticamente desconhecida. Ordenado sacerdote com J9 anos, desempenhou um papel importantíssimo na História da Igreja na França. Em J 610, a Rainha Margarida de Valois aceitou-o entre seus conselheiros e capelães esmoleres. Nessa época fez o propósito de dedicar o resto da vida aos necessitados, entretendo seu amor ao próximo no Coração de Jesus Cristo e em uma profunda devoção a Nossa Senhora, que honrava de mil maneiras por numerosas preces e peregrinações. Em 1615 foi atingido por uma doença que afetou seus joelhos até o final da vida. 18
Amparou pobres e nobres empobrecidos, foi conselheiro do rei e defendeu a Igreja contra as heresias da época Filipe Emanuel de Gondi, TenenteGeneral do Rei nos mares do Levante, o teve como preceptor do primogênito. Sua esposa, Françoise-Marguerite de Silly, era mulher virtuosa embora cheia de escrúpulos. Quando o zeloso sacerdote sedeslocava pelas numerosas terras do Genera l Filipe de Gondi, dava assistência às suas populações e às da vizinhança, trocando a magnificência dos salões pela rudeza dos campos. Nelas instituía, invariavelmente, a Confraria da Caridade. Sustentáculo da Igreja Serviu o Santo durante um ano na paróquia de Châtillon. Ao sair, um ano mais tarde, deixou-a enlutada, o que, aliás, ocorreu em todas as paróquias em que esteve. Todos queriam uma lembrança sua, tendo seu chapéu sido arduamente disputado; deixou para os paroquianos súas roupas. Só os heréticos ficaram contentes , dizendo que os habitantes de Châtillon haviam perdido o sustentáculo e a melhor pedra da Religião católica. Em 1633, funda as Filhas da Caridade, constituída de mulheres unidas por votos, mas sem vida de clausura. Luísa de Marillac foi a primeira. Era o começo ele uma obra que proporcionou so• CATOLICISMO -
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São Vicente vivia entre nobres, entre pobres e entre santos. Conheceu Santa Luísa de Mari llac como esposa do secretário das Ordens ela Rainha regente, Maria de Méclicis. São Francisco de Sales, segundo ele, era o homem que melhor espelhava o Filho de Deus vivendo sobre a Terra. Reformador do clero Poderia parecer que a preocupação com os pobres absorvia todo o seu tempo, mas São Vicente trabalhava também para reformar a Igreja na França. "A Igreja - dizia ele - vai à ruína em muitos lugares por causa da má vida dos padres; são eles que a perdem e a destroem". Os resultados cios retiros espiritu-
ais para os novos sacerdotes foram fundamentais para reconduzir a classe sacerdotal ao lugar que merece na sociedade. Os mosteiros também receberam seu valioso auxílio, pois era amigo, ajudante e conselheiro de reformadores de ordens monásticas. Não havia, praticamente, reunião sobre assuntos de piedade a que não estivesse presente. Mesmo altos personagens-Núncios, Bispos, Magistradosvinham lhe submeter suas dúvidas. Nomeado membro do Conselho de Consciência de Luís XIII, contribuiu decisivamente para que houvesse boas escolhas para as sedes episcopais, pois cabia-lhe, por causa do cargo, ser consultado pelo Rei nas indicações dos candicla-
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Santa Luísa de Marillac, primeira Filha ela Cariclacle
corro a milhões de necessitados pelo mundo inteiro. No ano seguinte, nascia a instituição Damas da Caridade, em Paris. Em poucos meses tinha mais de cem afiliadas, um bom número delas portando grandes nomes, como a Princesa Luísa Maria de Gon zaga (depois Rainha ela Polônia), a Princesa de Condé, as duqu esas de Nemours, d' Aiguillon, de Ventaclour, de Verneuil , etc.
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Ricos paramentos que pertenceram a São Vicente de Paulo
tos. Após a escolha, conversava com o indicado sobre seus deveres e não o perdia de vista, procurando ser seu guia e advogado. Não foi somente reformador, mas um inovador e um criador, instituindo ousadamente as Irmãs de Caridade, sem véu , para atuar entre os doentes e mesmo entre os soldados; e também os missionários, que não são religiosos mas têm votos. Protetor dos nobres empobrecidos A maior parte dos nobres da Lorena havia emigrado, para não morrer de fome; sua miséria era a pior, porque não ousavam estender a mão. Ninguém os socorria, porque não eram São Vicente de Paulo, São Francisco de Salles e vistos como necessitados. São Santa Joana de Chantal ante Ana d' Áustria Vicente tomou conhecimento dessa situação, e os socorreu. Comentou canonização, demonstram como foram que sentia muito contentamento nisso, profundas as feridas que receberam os porque era de justiça assistir e aliviar hereges. Dispensado do Conselho, poi s aquela pobre nobreza, para honrar Nosso Senhor, que era muito nobre e muito Mazarino não simpatizava com São pobre ao mesmo tempo. Chegou a dar- Vicente, dedicou-se ele especialmente a lhes o dinheiro que havia recebido para a defender sua obra contra as influências compra de um novo cavalo, porque o seu jansenistas, e o fez com extremo sucesso. Sua fidelidade à Igreja era ex ímia. morria de velho. Seguindo esse belo Para ele, bastava que a Igreja tivesse faexemplo, essa nobreza fez o mesmo, durante mais de 20 anos, com os nobres que lado. Apoiado sobre essa autoridade, difugiram da Inglaterra e da Escócia, per- zia: "Eu tenho a verdade. Para que procurar?". A fé penetrava-o por inteiro. seguidos por Cromwell. Tudo nele indicava um amor intenso a Deus: o calor com que falava da majestaEscravo da verdade de e da santidade dEle, seu fervor duranCom a morte de Luís XIII, em 1643, te os exercícios de piedade, e até suas voltou ao Conselho de Consciência a pe- genuflexões, bem como sua atitude diandido da Rainha regente, Ana d' Áustria. te do Santíssimo Sacramento. Pode-se dizer que a Igreja da França saiu regenerada e rejuvenescida, pois ele não Perfeito homem de ação negligenciou nada para salvaguardar ou Ninguém serviu o Rei com mais fiderestaurar o dogma, a moral e a disc iplina. É lícito afirmar que nada de impor- lidade, e a Hierarquia eclesiástica com tante foi feito contra o jansenismo e ou- mai s respeito , do que o simples Pe. tras heresias na França sem sua inter- Vicente. Possuía todas as qualidades que venção. Os ataques violentos, sobretu- caracterizam um homem de ação: iniciado depois de sua morte, e os obstáculos tiva, ousadia, gênio organizativo, prudênque colocaram no processo de sua cia, bom senso, desinteresse, paciência e CATOLICISMO -
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obstinação. Seu espírito prático e minucioso pesava bem os prós e os contras, tanto em seu conjunto como nos detalhes. Quando entrava por uma via, não parava, não olhava para trás; não destruía num dia o que havia construído na véspera; nada o fazia recuar. Incansável, vemo-lo estimular a limpeza do Mediterrâneo dos piratas que o infestavam e multiplicar as negociações para realizar uma expedição afim de bombardear Argel.
que as pessoas procuravam o menor pretexto para servi-lo. Seu temperamento naturalmente bilioso e melancólico havia cedido lugar à bondade, que lembrava o doce São Francisco de Sall es. Faleceu no dia 27 de setembro de 1660. Em 1737, 27 Cardeais, centenas de Bispos e outros dignitários eclesiáticos, o Cavaleiro de São Jorge, rei banido da Inglaterra, embaixadores e a nobreza romana assistiram à solene canonização de São Vicente de Paulo, no pontificado de Clemente XII. O
Temperamento ordenado pela virtude
Sua mortificação igualaSão Vicente de Paulo fundou as congregações das Filhas da Caridade va a piedade. Mostrava-se e das Damas da Caridade Fonte de referência: agradecido por qualquer míPierre Coste, Padre da Missão - Mo11sie11r Vi11cenl, le nimo favor: uma vela que se acendia, um lhe abria recebia de sua parte um agra- gra11d .win1 du grcmdsiecle-Descléede Brouweret Cie., Paris, 1932. livro que se lhe dava, uma porta que se decimento. E com tanta graça o fazia,
Quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por Pai Assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, há, na geração sobrenatural, um pai que é Deus e uma mãe, Maria Santíssima. Todos os verdadeiros filhos de Deus e os predestinados têm Deus por pai, e Maria por mãe; e quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por pai. Por isso, os réprobos, os hereges, os cismáticos, etc., que odeiam ou olham com desprezo ou indiferença a Santíssima Virgem, não têm Deus por pai, ainda que disto se gloriem, pois não têm Maria por mãe. Se eles a tivessem por Mãe, haviam de amá-la e honrá-la, como um bom e verdadeiro filho ama e honra naturalmente sua mãe que lhe deu a vida (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 1987, pp. 35 e 36).
São Luís Maria Grignion de Montfort 20
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INT
NAL
Em Paris, congresso indigenista revolucionário JUAN CARLOS CASTÉ
Enviado especial
Paris -
Tendo como presidente Menchú, que recebeuo Prêmio Nobel da Paz por sua participação na guerrilha marxista na Guatemala, 150 delegados da América reuniram-se na Assembléia Nacional da capital francesa de 19 a 21 de junho, para um congresso ameríndio. · A iniciativa partiu do deputado pela Guiana francesa, Leon Bertrand, e recebeu o patrocínio do presidente Chirac, do presidente da Assembléia Legislativa, Philippe Seguin, e do Diretor Geral da UNESCO, Feclerico Mayor Zaragoza. Destacaram-se entre os participantes o vice-presidente boliviano Victor Hugo Cárdenas, conhecido por seu esq uerdismo revolucionário e autogestionário; o dirigente indígena mexicano Marcelino Diaz de Jesús, que apóia o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN); o dirigente Frecli Rojas, de Pacarí (Equador), que não descarta soluções mediante a luta armada, para alcançar suas metas.
Início com "orações e bênçãos" de feiticeiros Convém registrar, desde logo, uma flagrante contradição. A Assembléia Francesa, que proíbe em sua sala de reuniões um Crucifixo- por "respeito" à laicidade-, permitiu que nesse mesmo local o congresso ameríndio fosse aberto com orações e bênçãos concedidas por bruxos e feiticeiros . E nos jardins do palácio legislativo, durante um ritual animista, e levou-se um totem de quatro metros de altura, es-
Recebidos efusivamente pelo presidente Chirac, participantes do bizarro congresso indigenista propõem a absurda criação de nações americanas pluriculturais, multi-étnicas e multilíngües. Em outros termos, nações indígenas autônomas
Índios da América em clima parisiense: grande promoção publicitária para europeu ver ...
culpido "segundo as referências próprias da cosmogonia ameríndia" e orientado em direção ao sol. Após as boas-vindas apresentadas por Madame Catalá, vice-presidente da Assembléia Nacional francesa, que manifestou admiração pela vida tribal e arrependimento pelo esquecimento e desprezo ela Europa pelas culturas milenares da América, tomou a palavra a já mencionada Rigoberta Menchú. Assim se exprim iu ela: "Este combate para nós é expor-
se, é ir adiante, é às vezes correr os CATOLICISMO -
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riscos, correr riscos porque não são combates fáceis . ... , são lutas que levamos dia a dia, em nossos campos, em nossas grandes cidades e nós sabemos lutar ao mesmo tempo nas grandes cidades, em nossos campos e em nossas montanhas . ... Os desqfios de nossos povos, de nossos países, é de criar nações pluriculturais, nações multi-étnicas, é o desqfto de criar nações multilíngües . ... Eu quisera concluir dizendo que o 'coração do céu, nos dê a força, que o coração da terra nos esclareça, que o pai sol e a 21
avozinha Lua nos ajudem afim de que transmitamos esta mensagem de esperança a nossas comunidades quando voltemos ... " ·~
Proposta de reconhecimento da "especificidade indígena" Em di scurso proferido em tom semelhante ao de sua corre li g ioná ri a guatemalteca, o vice-presidente boliviano instou os índios a "serem Lutadores por uma democracia que transcenda seu conteúdo meramente eleitoral e avance rumo a uma democracia social, econômica, cultural, étnica, lingüística, religiosa e de gênero ... uma democracia multi-étnica com menos iniqüidades e injustiças". E pediu aos países americanos que implementem "mudanças jurídicas necessárias para o reconhecimento social, cultural e político dos direitos dos povos indígenas. Este processo deve incluir as modificações constitucionais que reco nheçam a espec(ficidade indígena . ... Sabemos, desde nossos antepassados, que Deus perdoa; a natureza, nunca! Que nossos deuses e a memória de nossos antepassados iluminem os debates deste encontro!"
Como pode rão interpreta r essa fraseologia os pobres índios pertencentes a tribos que eventualmente não tenham sido devidamente cateq ui zadas, e nas quais se praticavam a antropofagia, o infanticídio, o incesto e a ociosidade? tais práticas devem ser entendidas como elementos da "espec(ficidade indígena"? Não nos consta que o Sr. Cárdenas tenha entrado em tais "po rmenores".
culturas que rechaçamos desde há muito ou que tentamos destruir? [Temos] nossa dívida moral. ... Não poderemos compor com estas civilizações a paisagem cultural de amanhã, integ rando a diversidade de nossos patrimônios '! ... "O encontro entre a Europa e a América se inscreve na Longa Lista das
Calorosa recepção oferecida por Chirac A mídia moveu-se em concerto para dar toda a ressonância ao congresso ameríndio
O presidente francês recebeu os participantes do co ngresso "a m eríndi o" no Palácio do Eliseu com calorosas manifestações de simpatia: "É com muita alegria, e creiam-me que esta palavra não é mera fórmula diplomática mas corresponde ao que sinto em meu co ração . ... Lamentavelmente, o europeocentrismo, que nos tem caracterizado durante tanto tempo, devia ignorar ou desprezar as culturas que se difundiram longe da Europa. .. . Uma interrogação permanece atual: como podemos integrar
A Assembléia Francesa proíbe a presença de qualquer crucifixo em suas dependências «por respeito à laicidade". Entretanto, para prestigiar o congresso ameríndio, permitiu que um totem fosse erigido em frente à sua sede
tragédias da História. A conquista fe z sofrer às sociedades da América um traumatism o sem precedentes: traumatismo político, econômico, cultural e humano . ... Sim, a Europa tem muitas vezes encarnado a desgraça e a desolação, na América como na Europa . ... Sim, os europeus têm o dever de inclinar-se diante da memória dos escravos negros olhando por última vez a África, como diante dos combatentes dos impérios ameríndios lançando um apelo por última vez ao sol". Ao final de suas palavras, Chirac co nd eco ro u Rigoberta Mench(1 e o vice-presidente boliviano Cárde nas co m o grau de Co mendador da Legião de Honra (cfr. "Le Figaro", 21/6/96 e Serviço de Imprensa da Presidência da República). A respeito desse congresso, a TFP francesa enviou substanciosa missiva ao presidente da Assembléia Nacional, Sr. Philippe Seguin. Dela tratamos, nesta edição, na seção "TFPs em ação".
A única civilização verdadeira é a católica
Ao lado, a "bênção" do totem por índias peruanas
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Ante as afi rmações aqui reproduzidas, tanto de representantes do governo francês quanto de participantes do congresso ameríndio, parece-nos oportuno tran sccrever o fulgurante ensinamento do Sumo Pontífice de imortal memória que foi São Pio X, em sua
Carta Apostólica Notre Charge Apostolique, de 25-8-191 O: "Não, Veneráveis Irmãos - e é preciso Lembrá-Lo energicamente nes-
tes tempos de anarquia social e intelectual, em que todos se erigem em doutores e Legisladores - a cidade não será construída de outra forma senão aquela pela qual Deus a construiu; a sociedade não será edifi cada se a Igreja não Lhe lançar as bases e não dirigir os trabalhos; não, a civilização não mais está para ser inventada nem a cidade nova para ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe; é a civilização cristã, é a cidade católi ca. Trata-se apenas de instauráLa e restaurá-la sem cessar sobre os seus fundam entos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: 'omnia instaurare in Christo '" . D
Resoluções do congresso ameríndio aprovadas por unanimidade Se forem aplicadas nas três Américas as resoluções do Congresso ameríndio, isto implicará uma das maiores revoluções estruturais da História. Eis algumas dessas resoluções: • instar aos governos e centros públicos e privados que investiguem e sistematizem o modo de operar do "Direito" indígena; • reconhecer a existência e o direito à igualdade entre o "Direito" indígena e o Direito positivo existente nos países da América. Deve ser conferido caráter de legalidade e de positividade às normas indígenas; • solicitar ao governo francês a atualização de sua legislação no campo do "Direito" indígena, tanto no plano do Direito Internacional como no Direito interno, e atuar no seio da comunidade internacional em favor de ações semelhantes que favoreçam o reconhecimento e a vigência de dito "Direito"; • solicitar aos países da América a implementação de leis, programas que respeitem , reconheçam e fortaleçam a organização social dos povos indígenas; • que os países devem implementar programas que fortaleçam o conhecimento por parte de todos os povos da ordem social dos povos indígenas; • • que os princípios de respeito à mãe natureza devem reger os programas e projetos implementados pelos países para garantir o desenvolvimento integral e a ordem social indígena adequada e pertinente; • que os programas e projetos implementados pelos países devem considerar o respeito à comunidade e à natureza como princípios para a reconstrução e reconfiguração da ordem social daqueles Estados com base em um modelo de democracia multicultural e participativa.
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'l\[p6reza e dites tratÍic:ionais anáfogas •~ '
t próprio à no6reza e às efítes aná[ogas fonnarem com o povo um toáo orgânico, como ca6eça e co1po' PUNJO CORRÊA DE ÜLIVEIRA
Aspectos fundamentais da nobreza numa civilização eris tã
A
São Luis IX, rei de França: modelo de monarca, nobre, cavaleiro e cruzado
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função mais importante da nobreza era participar no poder do rei. Os nobres exerciam em ponto pequeno, no lugar onde possuíam suas terras, urna missão parecida com a do rei em seu reino. Os grandes nobres eram conselheiros do monarca. Quando este julgasse necessário, tinha o direito de exig ir o comparecimento daqueles à capital do reino para a reunião do Conselho. Ali eles eram obrigados em consciência - o que na Idade Média tinha o valor de um compromisso formal - a dar honestamente sua opinião sobre os assuntos arespeito dos quais o rei os consultava. Também tinham que atender às convocações do soberano para as guerras. O monarca convocava os grandes nobres, estes mobilizavam os médios, os quais, por sua vez, chamavam os menores. Na guerra o grande nobre tinha a obrigação de arriscar-se mais e destacarse mais que um nobre médio ou pequeno. •
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Dentro da nobreza, as funções variavam segundo o caso concreto de cada nobre. Os grandes nobres participavam em larga medida do poder real, representando o rei não só junto ao povo de seu próprio feudo, mas també m junto aos nobres intermediários, até o mais baixo escalão da nobreza. O nobre que era senhor de um pequeno feudo, naturalmente participava em grau menor do poder real. Na Fra nça os grandes nobres eram os duques e os pares do reino. O soberano costumava co nsid erá-los como os florões de sua coroa. E também os tratava de "primos", mesmo quando não fossem seus parentes. Isto indicava um relacionamento íntimo e bondoso do rei com a cúpula da nobreza de seu país. Este modo bondoso de conceber o poder e a realeza não era exclusivo do rei no da França, mas se verificava em todas as nações européias. Com símbolos e modos de representar diversos, elas exprimiam o mesmo es-
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tado de espírito, eminentemente católico.
O tipo humano do nobre católico O que distinguia mais a nobreza não era o fato de ter posses, poder, um belo nome ou uma história. O próprio do nobre era representar um certo tipo humano, ter um certo modo excelente de fazer as coisas. Antes de tudo, era um certo gênero de coragem. Isto porque, sendo por excelência a classe militar, a nobreza devia viver para o combate, para o risco, para a aventura. A verdadeira aventura não é o lance despropositado, estúpido, irrefletido, mas sim o risco calculado, grave, que tem mais possibilidades de ser mal sucedido, mas ao qual o nobre recorria porque estava engajado o bem para o qual vivia. Este bem era a vida de imolação por algo de imensamente maior que ele mesmo, algo que admirava e de cuja gra ndeza participava
por admiração. Isto porque a nobreza vivia para a Fé, e vivendo para a Fé vivia para a Igreja, para o bem comum da sociedade. O que faz compreender o perfil moral do nobre: lançar-se e ir até o fim, até o inimaginável. Era um gênero de gente para quem o risco extremo, o sofrimento pungente , aquilo de que todos fogem , era algo que se podia e devia enfrentar, desde que houvesse uma razão de virtude, de honra e, sobretudo, de Fé. Essa tendência contínua para o mais alto caracteriza, na sociedade espi:ri tual, os re1igiosos e os sacerdotes; por isso eles são o sal da terra e a luz do mundo. Na ordem temporal católica essa tendência caracteriza o nobre, que nela tem a mesma posição do sacerdote e do religioso na ordem espiritual . Em épocas passadas, os nobres não primogênitos -fidalgos geralmente sem títulos - tinham belas maneiras, eram elegantes, sabiam conversar, apresentavam-se com um porte muito digno, mas tinham sobretudo a idéia de que o sentido de sua vida era correr riscos, inclusive o da própria vida, pela causa da Igreja, da Cristandade e do rei , e de se tornarem independentes de seu morgado (primogênito), para formar um outro ramo da família, com patrimônio e título próprios, concedidos pelo rei como prêmio. Era um outro galho que florescia, que se abria no velho tronco familiar. Em qualquer país onde exista, a nobreza
deve criar a atmosfera para o florescimento de tipos humanos assim.
Conseqüências da perda desse tipo humano
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Imperatriz Maria Teresa d' Áustria, a maior governante de seu tempo
Na dama nobre, capacidade para o heroísmo feminino á s ituações de infortúnio, de crise, de dificu ldas , em que uma mãe de famí lia, uma viúva, p de ser chamada a desenvolver uma energia extraordinária que não é própria de seu sexo, mas que deve existir potencialmente na mu lher bem formada. Deve haver nela uma raiz que se desenvolve no embate dos acontecimentos, desabrochando então a flor do heroísmo feminino, análogo ao heroísmo do homem, mas com suas características próprias. Existe na história da nobreza - e também da realeza, que é o ápice da nobreza - numerosos casos de rainhas, princesas e grandes damas feudais que receberam, pela morte do marido ou por herança dinástica, um feudo para dirigir, ou mesmo um reino para governar, às vezes em condições muito difíceis do ponto de vista político e adm inistrativo. E que se mostraram inteiramente à altura da missão. Mulheres assim são propriamente a glória do sexo feminino na ordem temporal. Assim o foram, por exemplo, Isabel a Católica, Rainha de Castela; Branca de Castela, mãe de São Luís IX, Rainha de França e depois Regente do reino pelo falecimento de Luís VIII; Ana d'Áustria, mãe de Luís XIV e Regente pelo falecimento de Luís XIII ; Maria Teresa, Rainha da Áustria-Hungria e Imperatriz do Sacro Império. Em todas elas, apesar de mulheres, bril haram as mais autênticas qualidades de um homem de Estado.
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O roubo, a senvergonhice, o ordinarismo geral em que o mundo de hoje está imerso, explicam-se porque nele não são mais encontrados homens como esses. Mesmo entre os nobres, raramente persiste um clima que favoreça tal espírito heróico. Gangrenados pela mentalidade revolucionária e igualitária, muitos nobres de hoje vão procurar emprego em banco, casam-se com burguesas ricas e praticam outras ações do gênero. Não compreendem que o sentido da vida deles não é o securitarismo, mas o risco. E que deveriam arriscar-se e brilhar na sociedade, fazendo o brilho desse risco refulgir sobre os homens como fogo de artifício. Assim, a vida dele se terá justificado, como a de um tipo humano que se arrisca e está disposto a morrer por algo que é mais do que ele. Muito especialmente se arrisca e vem a morrer pela Fé católica apostólica romana. O
Nota da Redação: Excertos de conferência pronunciada pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira para sóc ios e cooperadores da TFP, em 13-1 1-92, comentando, a pedido destes, a obra de sua autoria Nobreza e elites tradicionais andlogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana (Ed itora Civili zação, Porto, 1992). Sem rev isão do conferencista.
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TFP francesa aponta incongruências da neutralidade laicista
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m carta-aberta ao presidente da Assembléia ~ aci onal, Sr. Philippe Seguin, a TFP francesa pediu-lhe coerência e mani festou seu pasmo, bem como o de mi lhões de católicos franceses, ante os atos que marcaram o Congresso Indigeni sta reali zado em Pari s. O comunicado da TFP afirm a que a laicidade, na França, está tendo aplicação apenas contra a Religião Católica. O Estado subvenciona a construção de templos de outros cultos, mas quando se trata da recepção a João Paulo II, por ocas ião de sua próx i ma vi age m às terras da Filha Primogênita da Igreja, os laicistas se opõem alegando a neutralidade religiosa do Estado. O documento atrai a atenção do Sr. Seguin para o fato de que, ao lado de certos valores morai s que têrn os povos indígenas, há outros aspectos da conduta deles - historicamente demonstrados - que não podem ser aceitos. A ss im, por exemplo, a prática da antropofagia, do infanticídio, do incesto e da poligami a. E cita o estudo do Prof. Plínio Corrêa de Oli veira, Revolução e Contra-Revolução, onde se refere ao estruturalismo, que "vê na vida tribal uma síntese ilusória entre o
auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por devo rar a liberdade. Segundo tal coleti vismo, os vários 'eus ' ou as pessoas individuais, com sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade, e conseqüentemente seus modos de ser, característicos e co11flitantes, se fundem e se dissolvem na personalidade coletiva da tribo geradora de um pensar, de um querer, de um estilo de ser densamente comuns" (op. cit., Parte III, Cap. III). U m motivo de preocupação para a TFP francesa: apresidência de honra do co ngresso indi geni sta haver sido conferida a Rigoberta M enchú, que participou na guerri lha marxista na Guatemala. Ta l gesto favorece, ainda que indi retamente, as guerrilhas que Fidel Castro se empenha em alimentar na A mérica. O documento conclui pedindo ao presidente da Assembl éia Nacional que empregue a grande influência francesa no sentido de evitar a manipulação da causa dos povos ameríndios em favor das utopias marxistas. E exprime seu desej o de que a França se comprometa com tais povos para favorecer a verdadeira influência ocidental, ou sej a, a influ ência da ci vili zação cri stã. D
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"Arquivados os ideais socialistas" pela juventude
À direita, dois aspectos do congresso em que a TFP recebeu novos cooperadores: "Jantar medieval" com personagens vestidos a caráter, e cena da peça teatral, com música instrumental daquela época
TFP realiza congresso de neocooperadores
A
"Folha de S. Paulo"
de 28 de julho último publicou os resultados de pesquisa inédita feita em 41 países, com mais de 25 mil adolescentes entre 15 e 18 anos: "Foram ar-
quivados os ideais socialistas, a rebeldia contra tudo e todos dos punks ". O último Congresso de neocooperadores da TFP, que se realizou de 25 a 28 de julho último, foi uma amostra express iva dos ideais que têm poder de atrair a juventude atual. As conferências, que versaram sobre temas da obra-mestra do Prof. Plinio
Corrêa de Oliveira , Revolução e Contra-Revolução, foram acompanhadas com atenção e vivacidade. Ilustradas com peças teatrais , projeções de slides e vídeo-cassetes, aguçaram o senso de análise da atual idade contemporânea. Também foram organizadas v isitas a santuários, bem como a locais históricos e artísticos da capital paulista. Por exemplo, o Museu de Arte Sacra, na Av. Tiradentes, que conta com variado acervo de peças preciosas. Mais de 400 participan tes , constituindo delegações do Pará, Ceará, Per-
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nambuco, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso , Mato Grosso do Sul, Minas Gerais , Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina , emulav am entre si no desejo de aprimorar os conhecimentos necessários para a luta ideológica contra-revolucionária. A coesão de uma mocidade agitada e inquieta , como esta do século XX, não seria possív el sem afeto , sem respeito , sem lógica. E sobretudo sem profundo espírito de Fé . Estes os principais fatores que atraem e produzem a adesão entusiástica dos jovens à TFP. O Congresso proporcionou aos neocooperadores o ensejo de conhecer mais de perto o estilo de atuação da TFP, "ver-
Primeira Comunhão de alunos do Curso São João Bosco R ecentemente, jovens do C urso São João Bo co da T FP fi zera m a Pri meira Comunhão e receberam o Sacramento cio C ri ma na igrej a de N ossa Senhora do Paraíso, em São Paul o. Após esses at s de piedade, seguiu-se uma recepção aos j ovens, seus fa mi li ares e padrinhos na sede do mencionado C urso. N as fotos menores, os jovens du ra nt e após a M issa na referida igrej a.
são em termos contemporâneos do espírito do cavaleiro cristão de outrora : no idealismo, ardor; no trato , cortes ia; na ação, devotamento sem limites; na presença do adversário, circunspecção; na luta, altaneria e coragem; e, pela cora gem, vitória!". (*) D (*) Plinio Con ·êa de Oliveira , A Réplica da A111e111icidade, Edito ra Vera C ruz, 1985.
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o mar, reflexos da unida e ariedade di
O sorriso dos céticos jamais conseguiu deter a marcha vitoriosa dos que têm Fé
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mo. Na ed ição especial de novembro-dezembro/95 deste mensá ri o, inteiram ente dedi cada à memória do insigne pensador e líder católico - que marcou não só a Históri a do Brasil atual, mas também a Hi stória da Igreja de nossos dias - foi ressaltado o papel transcendente que ele desempenhou em nossa revista. Recordou-se então que, no decorrer dos 44 anos de luta doutrinária empreendida por Catolicismo, eram os artigos de Plínio Corrêa de Oliveira que davam a clave à publicação, a qual se tornou portavoz da TFP e o órgão das "verdades esq uecid as" numa época de cri se, pecado e apostasia. Após rememorar tais fatos, estampamos na mencionada edição os principais excertos do artigo A Cruzada do século XX, no qual o idea li zador e orientador de Catolicismo apresentava um programa, que consistia e permanecerá sendo a meta visada por esta rev ista. Transcorrido um ano do passamento de nosso inesq uecível inspirador, prossegue
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A
PLINIO CORREA DE OLIVEIRA
S
Plinio Corrêa de Oliveira
3 de outubro de 1995, entregava ua admirável alma a Deus o Prof. linio Corrêa de Oliveira, homem de Fé, de pensamento e de ação, Fundador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFP e inspirador da grande família de almas das TFPs, organizações congêneres e autônomas afins e Bureaux-TFP, estabelecidos em 26 países dos ci nco continentes. Foi ele também o idealizador, orientador, sustentáculo e colaborador mais destacado de Catolicis-
Auto-retrato filosófico de
Catolicismo sua trajetória reli Iínca, fiel àq uele artigo-programa e ao objetivo nele condensado mediante uma frase: "O Reino
de Cristo é o ideal supremo dos ca16/icos e, pois, meta conslan/e desta folha".
* * * Não é fácil homenagear uma figura realmente ímpar, do porte de Plinio Corrêa de Oliveira. Pois qualquer preito condigno deve estar à altura do homenageado. A direção desta revista enfrentou a dita dificuldade, procurando encontrar uma forma adequada de homenagem. E a Virgem Santíssima nos favoreceu, pois foi encontrada a solução ideal. Com efeito, seria difícil alguém retratar, de modo tão fidc ligno e conciso, 1 linio Corrêa ele Oli veira - seu possante pcnsumcnto, sua ri ca, multi forme 'cri ·a ·fssima atuação - 01110 lc 111 smo. Pois b ·m, tal documento, inédito, cx ist ' . 'alolicismo tem a honra insigne d ' apresent á-lo, '111 primeira mão, a seus l ·itorcs na pr ·scnt' edição. Trata-sedo " Auto-, ' trato li los61i ·o" qu ' Plinio Corrêa de Oli veira pr 'parou, numa versão inicial cm 1976, a p ·dido do P '. Stanislas Ladusãns S.J . Tal drn.:umento foi elaborado p·ira ser incluído na En ·i ·lopédia do Pensamento Filosófico Brasil ·iro, cm vários volumes, que esse saccrdotejcsufta pr tendia publicar. Em 1989, o mesmo Pc. Ladusãns solicitou a Plínio Corrêa de Oli vei ra atua lizar seu auto-retrato filo ófico, pois o primeiro volume da enciclopédiaj á se encontrava no prelo quando ele recebera a pri rnei ra versão. , ' CATOLICISMO - ÜUTUURO DE
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Absorvido I or numerosos outros trabalhos, o Funclaclor da TFP brasileira não pôde fazer a dita atualização em vida do referido sacerdote, que fa leceu cm 1993. Entretanto, estando cm preparação, desde J994, a coletânea de todos os escritos do ilustre pensador católico, em vista da publicação de sua Opera 011111ia, os responsáveis pela ed ição solicit,m1111 ao autor que procedesse à desejada atuali zação de seu retrato fil osófi co, o que f'cli zmentc ocorreu em fins daquele ano. Assim, o texto deste auto-retrato, com a m ncionada atual ização, foi extraído das páginas iniciais do primeiro tomo da aludida Opem 0 1111,io. •stc volume, que j á está cm f'as' final d' preparação, será brevement • 'd it ado. Finaliz,ando, rendemos graças a Nossa S ·nhorn que desde os primórdios tem cone ·tlitlo prol ·çüo especial aCatolicismo por nos t ·rperrnitido scro primeiro difusor d ' um t ·soum de valor incalculável , como é o auto-r ·trato li losólico de quem, ajusto título, pod 's ·r ·ognominado "o cruzado do sérnln XX ". E :ilm ·jarnos que nossos leitor ·s tir · 111 d ·sse tesouro o maior proveito para sua vida espiritLtal, cultural e de ação contrarevolucionária cm í~wor da Santa fgrej a Católica, Apostólica e Romana.
A Direção, Redação e Administração
ou tomista convicto('). O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função desta encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. Esta última, eu a tenho exercido num campo mui to definido: a difusão doutrinária, feita ora com ocaráter de diálogo, ora - por mais que a noção e a palavra pareçam anacrônicas, sinto todo o desembaraço ao fazer o presente depoimento - também ele polêmica. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revoluçc7o e Contra-Revoluçc7o.
As grandes transformações históricas resultam da atitude do espírito humano perante a Religião e a Filosofia Um dos pressupostos desse ensaio é que, ao contrário do que pretendem tantos filósofos e sociólogos, o curso da História não é traçado exclusiva ou prepon-
1) Nota da redação - E' compreensível que o insigne pensador e líder católico comece se u auto- retrato filo sófico dec larando-se convi cto seguidor de Santo Tomás de Aquino. Na esteira dos elogios que vários antecessores seus no Sólio pontifício teceram àquele lu zeiro da Teologia e Fi losofia, São Pio V proc lamou -o Doutor da Igreja Universal, afirmando que sua doutrina é "reg ra cer1íssi111a
de nossa f é". No Concílio de Trento, a Suma Teológ ica do Doclor Commu11is ( Doutor C omum) " m e rece u a
honra sin g ularíssima d e se r colocada sobre o aliar jw110 com a Bíblia ". Le ão XIII co g nomin o u-o "Príncipe dos Fi/6sof os" e São Pio X dec larou qu e a doutrina lomista "é í111egra, i11corrup1a,
fanf e i11 esgo !6 ve l em to d o o gênero de ciência".
derantemente pelas injunções da matéria sobre o homem. Estas influem, sem dúvida, no agir humano. Mas a direção da História pertence ao homem, dotado que é de uma alma racional e livre. Em outros termos, é ele que, atuando ora mais profundamente, ora menos, sobre as circunstâncias em que se encontra, e recebendo também, em medida variável, as influências destas, comunica aos acontecimentos o seu curso. Ora, o agir do homem se faz normalmente em função de suas concepções sobre o universo, sobre si mesmo e sobre a vicia. Isto importa em dizer que as doutrinas religiosas e filosóficas dominam a História, e que o núcleo mais dinâmico dos fatores de que resultam as grandes transformações históricas está nas sucessivas atitudes doespírito humano perante a Religião e a Fi losofia.
Civilização cristã: em inteira consonância com os princípios básicos e perenes da lei natural e da Lei de Deus
Acima: Apoteose de Santo Tomás de Aquino (detalhe), do pintor espanhol Francisco de Zurbarán (séc. XVII - Museu de Belas Artes, Sevilha)
Passo a outro pressuposto de Revoluçc7o e Contra-Revoluçc7o. Uma concepção católica da História deve levar em toda conta o fato de que a Lei Antiga e a Lei Nova contêm em si não só os preceitos se-
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Acima: cidade medieval da Borgonha (França) -jóia da civilização cristã conservada até nossos dias
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gundo os quais o homem deve modelar sua alma na imitação de Cristo, preparando-se desse modo para a visão beatífica, como também as normas fundamentais do procedimento humano, conformes à ordem natural das coisas. Assim, ao mesmo tempo que o homem se eleva na vida da graça, vai, pela prática da virtude, elaborando uma cultura, uma ordem política, econômica e social, em inteira consonância com os princípios básicos e perenes da lei natural e da Lei de Deus. É o que se chama a civilização cristã. É óbvio que a boa di sposição das coisas terrenas não se cifra exclu ivamente a es es princípi os bás icos e perenes, e comporta muito de contingente, transitório e li vre. A civil ização cri stã abrange uma incalculável variedade de aspectos e mati zes. É isto tão verdadeiro que, de certo ponto de vista, se pode até falar em civilizações cristãs, e não apenas em civilização cristã. Não obstante, dada a identidade dos princípios fundamentai s inerentes a todas as civilizações cristãs, a grande realidade que paira por cima de todas elas é uma po·ssante unidade que merece o nome de civilização cristã por antonomásia. A uni dade na variedade, e a variedade na unidade, são elementos de perfeição. A civilização cristã continua una em toda a variedade de suas realizações, de maneira a poder-se di zer que, no sentido mais profundo da palavra, há uma só civilização cristã. Mas ela é tão prodigiosamente vária em sua unidade que, com uma legítima liberdade de expressão, se pode afirmar, sob
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certo ponto de vista, existirem várias civili zações cristãs. Dado este esclarecimento que aiiás vale analogamente para o conceito de cultura católica observo que empregarei as expressões civilização cristã e cultura cristã no seu entido maior, que é o da unidade. Dispenso-me de fundamentar as asserções ac ima em textos de Santo Tomás ou do Magistério da Igreja, pois são eles tão numerosos e tão do conhecimento dos que com seriedade estudam esses assuntos, que o trabalho resultaria ao mesmo tempo fastidioso e supérfluo. Esta observação vale também para mais algumas considerações que se seguirão nesta primeira parte da presente exposição. Em função destes pressupostos é fácil definir o papel da Igreja e da civilização cristã na História.
As nações só podem alcançar a civilização perfeita mediante a correspondência à graça e à Fé Écerto que, embora o homem possa conhecer com firme certeza e sem eiva de erro aquilo que nas coisas di vinas não é de p r si inacess ível à razão humana(2), dado o pecado ori ginal é impossível ao homem praticar du ravelment a L i ele Deus. É só por meio da graça que tal se lhe t ma p ssível. Ainda assim, para acautelar o homem contra sua própria maldade e sua própria fraqu eza, Jesus ri sto dotou a Igreja de um Magistério in fa lível, que lhe ensi11asse sem erro, não só as verdades reli giosas, com também as verdades morais necessári as à salvação. A adesão do homem ao Magistério da Igreja é fruto da Fé. Sem a Pé não pode o homem praticar durável e integralmente os Mandamentos. Daí res ulta que as nações só podem alcançar a civili zação perfe ita, que é a civilização cri stã, medi ante a correspondência à graça e à Fé, o que inclui um firme reconhec imento da Igreja Católica como
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2) Cfr. De11zi11J:e r-Schoenmetzer, 33" ed., nº 3005.
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única verdadeira, e do Magistério eclesiástico como infalível. Assim, o ponto chave mais profundo e mais central da História consiste em que os homens conheçam, professem e pratiquem a Fé católica. Dizendo-o, não nego evidentemente que tenha havido civilizações não cristãs ele alto teor. Todas elas, entretanto, foram desfiguradas por estes ou aqueles traços que destoaram chocantemente da própria elevação que sob outros aspectos apresentavam. Basta recordar a enorme extensão da escravatura e a condição vil imposta à mulher antes de Jesus Cristo. E nenhuma civilização houve que apresentasse a perfeição excelsa inerente à civilização cristã. Igualmente não contesto que, em países de população prevalentemente cismática ou herética, a civilização possa conter importantes traços de tradição cristã. Entretanto, a plenitude da civilização cristã, só da Igreja Católica pode florescer e só em povos católicos pode conservar-se cabalmente.
"Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados... " Mas - perguntará alguém - quando existiu historicamente essa civilização cristã perfeita? Será a perfeição realizável nesta vida? A resposta a estas perguntas chocará e irritará muitos leitores. Sem embargo, devo afirmar que houve tempo no qual uma larga parte da humanidade conheceu esse ideal de perfeição e para ele tendeu com fervor e sinceridade. Em conseqüência dessa tendência das almas, os traços fundamentais da civilização se tornaram tão cristãos quanto o permitiram as circunstâncias de um mundo que se ia soerguendo da barbárie. Refiro-me à Idade Média, da qual, a despeito desta ou daquela falha, Leão XIII escreveu com eloqüência: "Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao fa vor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sacie-
dade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer"(3) . Este modo de ver a amplitude da influência da Igreja na Idade Média, nós o encontramos também no seguinte texto de Paulo VI, referente ao papel do Papado na Itália medieval: "Não esquecemos os séculos durante os quais o Papado viveu sua História [da Itália}, defendeu suas.fronteiras, guardou seu patrimônio cultural e espiritual, educou as suas gerações para a civilização, para a polidez, para a virtude moral e social, e associou sua consciência romana e seus melhores filhos à própria missão universal [do Papado]"(4). Assim, a civilização cristã não é uma utopia. É algo de realizável, e que em determinada época se realizou efetivamente. Algo, enfim, que durou de certo modo mesmo depois da Idade Média, a tal ponto que o Papa São Pio X pôde escrever: "A óvilização não mais está para ser inventada, nem a cidade nova para ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe: é a civilização cristã, é a cidade católica. Trata-se apenas Tempo houve em que "o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios"
3) Encícli ca lmmortale Dei de I º de novembro de 1885, Bonne Presse, Paris, vol. li, p. 39. 4) Alocução ao Presidente da República Italiana de 11 de janeiro de 1964, lnseg11a111e111i di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana , vol. ll, p. 69.
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Orgulho e sensualidade: importância culminante no processo de revolta contra a Igreja
de instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundam entos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade" (5). Portanto, a civilização cri stã tem largos vestígios ainda vivos em nossos dias.
As crises nascem, não da mente de algum pensador, mas das paixões desordenadas, atiçadas pelo Poder das Trevas
O Tentador (catedral de Estrasburgo, século XIII) explora as paixões humanas como causas motoras da Revolução
Há quem imagine todas as crises da cultura e da civilização como nascidas necessariamente de algum pensador, de cuja mente possante partiria sempre a centelha esclarecedora - ou destruidora - que se comunicaria primeiramente aos ambientes de alta cultura e ganharia depois todo o corpo social. É claro que, por vezes, as crises nasceram desse modo. Mas a História não confirma que assim tenham nascido todas elas. E em particular não nasceu assim a crise que pôs em declínio a Idade Média e suscitou o Humanismo, a Renascença e a Pseudo-Reforma protestante. Pelo próprio fato de pedir ao hom em um a austeridade de costumes penosa para a natureza humana decaída, a influência da Igreja sobre cada alma, cada povo, cada cultura e cada civilização está continuamente ameaçada. As paixões desordenad as, atiçadas pela ação preternatural do Poder das Trevas, solicitam continuamente homens e povos para o mal. A debilidade da inteligência humana é explorável por essas tendências. O homem fac ilmente engendra sofismas para justificar as más ações que deseja praticar ou já praticou, os maus·costumes que contraiu ou está contraindo. Disse-o Paul Bourget: "Cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu "(6).
5) Carta Apostólica Notre Charge Aposto/iq11e de 25 de agosto de 19 1O, Acta Apostolicae Sedis, vo l. 11 , p. 612. 6) Le Dé111 011 du Midi , Plon , Paris, 19 14 , vo l. 11 , p. 375.
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Especia lmente duas paixões podem suscit,u arevolta do homem contra a Moral e contra a Fé cristãs: o orgulho e a sensualidade. O orgulho leva-o a rejeitar qualquer superioridade ex istente em outrem, e gera nele um apetite de preeminência e de mando que fac ilmente chega ao paroxismo. Pois o paroxismo é o ponto fin al para o qu al tend em todas as deso rdens. Em seu estado paroxístico, o orgulho assume coloridos metafísicos: já não se contenta em sacudi r em concreto esta ou aque la superior id ade, esta ou aq uela estrutu ra hi erárquica, mas deseja a abo li ção de toda e qualquer superioridade, em qualquer campo em que ex ista . A igua ld ade onímoda e completa se lhe afigura então a única situação suportáve l e, por isso mesmo, a suprema regra da justiça. Assim , o orgu lho acaba por engendrar uma moral própria. E no âmago dessa moral orgulhosa está um princípio metafísico : a ordem do ser postula a igualdade, e tudo quanto é desigual é ontolog ica mente mau. A igualdade absoluta é, para o que chamaríamos de orgulhoso integ ral, o va lor supremo ao qual tudo tem de se conformar. A lu xúria é outra paixão desordenada, de importância culminante no processo de revolta contra a [greja. De si, ela induz ao desbragamento, e convida assim o homem a calca r aos pés toda lei, a reje itar como insuportável todo freio. Seus efe itos se somam aos do orgu lho, para suscitar na mente humana toda espécie de sofismas capazes de minar no seu âmago o próprio princípio de autoridade. Por isso, a tendência que o orgulho e a sensuali dade despertam orienta-se para a abo lição de toda desigualdade, de toda autoridade e de toda hierarquia.
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Plínio Corrêa de Oliveira oscula a estátua de bronze de São Pedro, em Roma: a Igreja é Mestra, Guia e Fonte de Vida dos povos
Processos opostos: a Fé convida ao amor à hierarquia; a corrupção, ao igualitarismo anárquico Claro está que essas paixões desordenadas, ainda quando o home m capitula diante delas, podem encontrar em uma alma- ou no espírito de um povo - contrapesos representados por co nvicções, tradições , etc. Nesse caso, a alma- ou a mentalidade do povo - fica dividida em doi s pó los opostos: de um lado a Fé, que conv ida à austeridade, à humil dade, ao amor de todas as hierarqu ias legítimas; e de outro lado a corrupção, que conv ida ao igua litari smo completo, an-árquico no sentido etimológico da palavra. Como pouco adiante se verá, a corrupção acaba por induzir à dúvida religiosa e à negação completa da Fé. O mais das vezes, a opção entre esses pólos não se faz de um momento para o outro, mas aos poucos. Por meio de sucessivos atos de amor à verdade e ao bem, uma pessoa ou uma nação pode ir progredindo gradualmente na virtude, até se converter por completo. Foi o que sucedeu com o Império Romano sob a influência das comun idades cristãs, das preces dos fiéis nas catacumbas e nos ermos, do heroísmo que revelavam na arena e dos exemplos de virtude que davam na vida cotid iana. É um processo de ascensão. O processo também pode ser de decadência. Ao embate das paixões desordenadas, as boas conv icções vão se ndo abaladas, as boas trad ições vão perdendo sua seiva, os bons costumes vão sendo substituídos por costumes picantes, que degeneram para o francamente censurável, e chegam por fim ao escandaloso.
Principais elementos doutrinários de Revolução eContra-Revolução Tudo isto dito, ficam aqui resumidos os principais elementos doutrinários em que baseei Revolução e Contra-Revolução: a) a missão da Igreja como única Mestra, Guia e Fonte de Vida dos povos rumo à civilização perfeita; b) a contínua oposição das paixões desordenadas, particularmente do orgu lho e da luxúria, à influência da Igreja;
c) a existência, para o espírito hum ano, de dois pólos opostos, para um dos quais necessariamente ruma: de um lado a Fé católi ca, que indu z ao amor da ordem, da austeridade e da hierarquia; e de outro lado as paixões desordenadas , que indu zem ao desbragamento, à revo lta contra a lei, contra a hi erarquia, contra qualquer forma de desigualdade, e que levam por fim à dúvida e à inteira negação da Fé; d) a noção de um processo - entend ida a expressão sem prejuízo do Iivre arbítrio - pelo qual gradualmente os indivíduos ou os povos, sofrendo a atração dos dois pólos opostos, se vão aproximando de um deles e distanciando do outro; e) a influência desse processo moral sobre a elaboração das doutrinas. As más tendências inclinam ao erro. As boas tendências inclinam à verdade. As grandes modificações no espírito dos povos não são um mero resultado de do~trinas elaboradas por pequenos cenáculos de intelectuais que elucubram serenamente à margem da vida. Para que uma doutrina encontre ressonância num povo, é mister o mais das vezes que as tendências desse povo tenham afinidade com tal doutrina. E não é raro que a própria reflexão feita pelos doutos, nos gabinetes, seja mais influenciada do que se pensa por essas apetências do ambiente no qual eles mesmos vivem.
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Algumas definições fundamentais: Ordem, Revolução, Contra-Revolução
Embaixo: detalhe do Juízo Universal de Fra Angélico ·(Museu de São Marcos, Florença, séc. XV): até a noção de prêmio ou castigo após a morte irrita o igualit.írio
Tendo tudo isto em mira, é fácil definir os conceitos de: · l . Ordem, que não é apenas a disposição metódica e prática das coisas materiais, mas, conforme o conceito tomista, a reta disposição das coisas segundo o seu fim próximo e remoto, físico e metafísico, natural e sobrenatural; 2. Revolução, que não é essencialmente uma agitação de rua, um tiroteio ou uma guerra civil, mas todo esforço que visa dispor os seres contra a Ordem; 3. Contra-Revolução, todo esforço que vise circunscrever e eliminar a Revolução.
Revolução A, tendenciosa e sofística; Revolução B, nas leis, estruturas, instituições e costumes Como se vê, tanto a Ordem como a Revolução e a Contra-Revolução podem existir: a) nas tendências; b) nas idéias; e c) nas leis, nas estruturas, nas instituições, nos costumes. Assim, chamo de tendenciosa a Revolução enquanto existente nas tendências. E de sofística enquanto se desenvolve no terreno das doutrinas, ao sopro das tendências. Estas duas modalidades de Revolução constituem um fenômeno eminentemente espiritual, isto é, têm como campo de operação a alma humana e a mentalidade das sociedades. Elas formam portanto um todo, que denomino Revolução A. Quando a Revolução passa do interior das almas para os atos, produzindo conv ul sões históricas, desordenando as leis, estruturas, instituições, etc., ela constitui o que chamo de Revolução B. Claro está que estas noções, apresentadas assim com o máximo de brevidade, pedem uma série deressalvas e de conformes, que exponho em Revolução e Contra-Revolução, e que não caberia aqui explanar. Limito-me a esclarecer que, delineando nesses traços o que há de mais essencial na História, não pretendo que ela se reduza a isto. A observação mais elementar indica que um sem-número de fatores, entre os quais os étnicos, geográficos e econômicos, condicionam possantemente o curso da História.
Quem for igualitário terá forçosamente objeções contra a Fé Resta-me dizer uma palavra sobre o nexo ex istente entre o igualitari smo absoluto e metafísico, e a Fé. Quem for radicalmente igualitário terá forçosamente um sem-número de objeções à doutrina católica. Os conceitos de um Deus pessoal, perfeito e eterno, que paira infinitamente acima de suas criaturas imperfeitas e contingentes; da ordem sobrenatural, que transcende a ordem natural; da Lei promulgada por Deus, à qual cumpre obedecer; da Revelação, que comunica à mente humana verdades superiores à sua capacidade natural de conhecimento; do Magistério infalível da Igreja; das notas monárquica e aristocrática da estrutura desta; tudo,
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enfim, e até a noção de um Juízo em que os bons vão ser premiados e os maus castigados, irrita o igualitário e o convida à negação. A contrario sensu, o católico aprende em Santo Tomás (Summa Theologica, I, q. 47, a. 2) que a desigualdade é uma condição necessária para a perfeição da ordem criada. E, em conseqüência, as desigualdades de poder, ciência, categoria soc ial e fortuna são intrinsecamente legítimas e indispensáveis à boa ordem, desde que não se acentuem a ponto de negar a cada homem a dignidade, a suficiência e a estabilidade de vida a que tenha direito por sua condição de homem, por seu trabalho, etc.
Ao realçar a importância do fator liberal e igualitário no Humanismo, na Renascença e no Protestantismo, não pretendo negar, é claro, que outras causas tenham concorrido para a gênese e expansão desses mov imentos. Digo apenas que, na origem, na psico-
Primeira Revolução: Humanismo, Renascença, Protestantismo Isto posto, descobre-se o sentido profundo da Revolução A sofística e da Revolução B ocorridas na Europa, no século XV, em conseqüência da anterior Revolução A tendenciosa, acima descrita. O declínio da Idade Média foi marcado por uma explosão de orgulho e sensualidade. Essa explosão gerou tendências igualitárias e liberais, que não fizeram senão progredir nos séculos seguintes. No Humani smo e na Renascença revela-se a hostilidade ao sobrenatural , ao Magistério da Igreja, bem como à austeridade dos costumes. No Protestantismo se encontram o livre-exame, o minimalisrno em face do sob renatura l, o favorecimento do divórcio , a abo li ção do estado religioso, das austeridades e sujeições expressas nos votos de pobreza, castidade e obediência, e a eliminação virtual da hi erarquia eclesiástica. Com efeito, em quase todas as seitas. protestantes há o es tado eclesiástico. Mas a diferença nítida e profunda entre o eclesiástico e o leigo, existente na Igreja Catól ica, ficou nelas debilitada em virtude do modo pelo qual entendem o sacerdócio. Ademais, a estrutura hi erárqui ca do estado ec lesiástico, corno é instituída na Igreja, também foi profundamente mutilada, nas seitas protestantes, pela negação do elemento monárquico, que é o Papado. Se entre os anglicanos a tendência igua litária não chego u a supri rnir a dignidade ep iscopa l, já entre os presbiterianos não há dignitários intitulados bispos, mas apenas presbíteros. Em outras seitas o sopro do igualitari smo chegou a ponto de abo lir mesmo a condição de sacerdote.
logia, nas doutrinas, no que hoje se chamaria de êx ito propagandístico e nas reali zações desses movimentos, a Revolução A tendenciosa, de sentido radicalmente anárquico e igualitário, representou o papel de força mestra. Também não pretendo afirmar que essa força mestra tenha atuado apenas nas nações que se separaram da Igreja. A Renascença e o Humanismo sopraram com toda a intens idade mesmo nos países que continuaram nominalmente católicos. E ainda que a Revolução A tendenciosa não tenha chegado a provocar urna ruptura explícita deles com a Igreja, despertou entretanto formas larvadas de protestantismo, das quai s a principal foi o jansenismo. Este produziu um progressivo esfriamento religioso, que culmi nou no ceticismo. Um estudo atento do absolutismo real, que em nenhum país protestante assumiu formas mais radicai s do que na França católica, mostra que a política dos mpnarcas absolutos, em tudo quanto não dizia respeito à sua própria autoridade, era marcada por certo espírito igualitário. A redução dos privilégios do clero e da nobreza, feita progressivamente pelos reis abso lutos, rumava para uma eq uiparação política de todos os cidadãos sob o poder do monarca. O favorecimento contínuo, pelos reis, da parte mais atuante e desenvolvida da plebe, isto é, da bur-
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A Guarda Nobre presta homenagem a Pio XII: o homem defé ama as desigualdades
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Na festa do Ser Supremode 1794, pintida por David, a evocação do paganismo clássico mostra o efeito do Humanismo e da Renascença na Revoluç.io Francesa
guesia, contribuiu ainda mais para a igualdade política.
Segunda Revolução: Enciclopedismo, absolutismo, Revolução Francesa A corrupção dos costumes, que vinha crescendo
desde o fim da Idade Média, ating ira no sécu lo XVIII um grau que espantava até alguns de seus corifeus. A sociedade francesa, túmida dos fatores que nos países nórdicos hav iam produzido o Protestantismo, se preparava, através do enciclopedismo e do absolutismo, para uma convulsão profunda, que outra coisa não seria senão a projeção, na esfera política, social e econômica, com novos desdobramentos no campo religioso e filosófico, daquilo que fora a essência do Protestantismo. Assim, quando este último, em fins do século XVIII, já cansado e envelhecido, se mostrava falho de força de expansão, minado por dentro pelos progressos crescentes da dúvida e do ceticismo, e conservando uns restos de vida graças principalmente ao apoio do Estado, na França as tendências liberais e igualitárias atingiam um ápice. O Humanismo e a Renascença estavam mortos havia muito tempo. No Protestantismo, como acaba de ser dito, tudo estava gasto. Mas o que esses três movimentos tinham de mais dinâmico e fundamental - o espírito que os suscitara - a eles
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sobrevivera e estava mais forte do que nunca. Esse espírito haveria de lançar a França, e depois a Europa intei ra, num cataclismo liberal e igualitário. A Revolução Francesa de tal maneira era marcada pelo espírito protestante, que a Igreja constitucional por ela organizada não era senão um mal velado instrumento para implantar na França um verdadeiro Protestantismo. O sentido igualitário, antimonárqu ico e antiaristocrático da Revolução Francesa é a projeção, na esfera civil , da tendência igualitária que levou o Protestantismo a rejeitar os elementos aristocrático e monárquico da hierarquia eclesiástica. O fermento comunista, que trabalhava a extrema esquerda da Revolução, e que acabou por se explicitar em movimentos como o de Babeuf, não era senão o sím ile laico dos movimentos comunistas, como o dos irmãos Morávio, que brotaram daqui lo que se poderia chamar a extrema-esquerda protestante. A completa laicização do Estado, a mascarada greco-romana, a contínua evocação das repúblicas do paganismo clássico, mostravam na Revolução Francesa o efeito do Humanismo, da Renascença e do Enciclopedismo. Cumpre insistir. O Protestantismo, o Humanismo, a Renascença não foram senão aspectos que o espírito anárqu ico e igualitário tomou em sua longa trajetória hi stórica. Esses aspectos se extinguiram, em parte porque o espírito que os suscitara, destruidor por excelência, os aniqui lara no seu próprio foco. A Revolução Francesa não foi senão um aspecto novo e ainda mais enérgico desse mesmo espírito.
foram um conjunto de convul sões ao longo das quais toda a Europa se metamorfoseou segundo o espírito da Revolução Francesa. Os resultados da ll Guerra Mundial não fizeram senão acentuar ainda mais essa metamorfose. Hoje, das antigas monarquias européias só resta uma meia dúzia, todas tão tímidas em se afirmarem e tão dóceis em se deixarem modelar cada vez mais pelo espírito republicano, que se tem a impressão de que a todo momento estão a pedir desculpas por ainda viverem ... Ao fazer estas observações, de modo nenhum quero negar que houvesse, nas estruturas assim destruídas, reais abusos que estavam a pedir corretivo. Nem quero dizer que a adoção de uma forma de governo eletiva e popular só possa resultar do espírito igualitário e li beral que venho analisando. Isto não seria verdade em doutrina, nem se justificaria em vista da História. A Idade Média conheceu várias estruturas políticas aristocráticas, se bem que não monárquicas, como a República de Veneza, e várias estruturas sem caráter monárquico nem aristocrático, como certos cantões helvéticos e cidades livres alemãs. Todas essas formas de governo conviviam pacificamente entre si. Pois se compreendia a legítima diversidade de formas de governo segundo os tempos, os lugares e as demais circunstâncias. A Revolução que eclodiu em fins da Idade Média era animada de um espírito completamente di verso do que levara à formação dos Estados aristocráticos ou burgueses da Europa medieval. Esse espírito importava na afirmação da liberdade abso luta e anárq ui ca, e da igualdade completa, como únicas regras de ordem e justiça, válidas para todos os tempos e todos os lugares.
Por sua vez, esse espírito minou a sociedade burguesa, politicamente igualitária, a que dera origem. E passou por fim a se manifestar na mais audaciosa de suas afirmações, na terceira grande Revolução do Ocidente, que é o comunismo.
Os princípios de 1789: tendência para a liberdade e igualdade completas A tese igualitária exprimiu-se na Declaração dos
ARevolução Francesa propagou-se por toda a Europa nas mochilas das tropas de Napoleão Através de vicissitudes históricas bem conhecidas, a Revolução Francesa, aparentemente encerr_ada com a instauração do Império, propagou-se na mochila das tropas de Napoleão por toda a Europa. As guerras e revoluções que marcaram o período de 1814 a 191 8, isto é, da queda de Napoleão até a queda dos Habsburg, dos Romanov e dos Hohenzollern,
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A Idade Média não produziu só mornarquias. Veneza lembra até hoje suas tradições de república aristocrática
Direitos do Homem - magna carta da Revolução Francesa e da era histórica por esta inaugurada em toda a sua nudez: "Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos" . É claro que e~te princípio é suscetível de uma boa interpretação. Fundamentalmente, isto é, considerados em sua natureza, os homens realmente são iguais. É apenas pelos acidentes que são desiguais. Por outro lado, sendo dotados de uma alma esp iritual, e portanto de inteligência e vontade, são eles fundamentalmente livres. Os limites dessa liberdade estão apenas na lei natural e divina e no poder das diversas autoridades es-
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Napoleão e seus soldados (à esquerda) propagaram por toda a Europa os princípios da Revolução Francesa
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À direita, Lutero, Danton e Marx: três sinistros símbolos das revoluções que implantaram o igualitarismo nas ordens religiosa, social e econômica
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pirituais e temporais às quai s os homens devem sujeitar-se. Que em todos os tempos tenha hav ido autorid ades que violaram a fundamental igualdade e a fund amental liberdade do homem, ninguém o pode negar. Qu e ao lon go da Hi stória se nota ram, em contrapartida, sucessivos movimentos de defesa em face dos excessos da autoridade, procurando contêla em seus justos limites, é evidente. Que tais movimentos, enquanto circun scritos a esse objetivo, só merecem aplauso, também é inquestion ável. A igualdade e a liberdade -retamente entendidas - podiam ser lembradas utilmente no século XVIU, como em qualquer outra época. É bem certo que em J789, entre os revolucionários das primeiras horas, havia pessoas que não desejavam senão uma justa contenção do Poder Público, e entendjam a igualdade e a liberdade promulgadas pela Declaração dos Direitos do Homem no seu sentido mru s favorável. Mas o texto da famosa Declaração era por demais genérico: afirmava a igualdade e a liberdade sem lhes mencionar qualquer restrição. Isso propiciava uma interpretação lata e desfavorável: uma igualdade e uma liberdade absolutas e onímodas. Bem entendido, esta interpretação é a que correspondi a ao espírito da Revolução nascente. Ao longo do seu curso, foi ela alijando todos aq ueles de seus partidários que não comungavam nesse espírito. A caça aos nobres e aos clérigos foi seguida pela caça aos burgueses. Só o trabalhador manual devia subsistir. Caído o Terror, a burguesia, desejosa de eliminar por toda a Europa as anLigas classes privilegiadas, continuou a afi rmar os imortais princípios de 1789. Ela o fazia de modo ambíguo e imprudente, não duvidando em suscitar nas massas populares a tendência para a igualdade e a liberdade completas, a fim de obter o apoio delas na Iuta contra a realeza, a ari stocrac ia e o clero.
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Esta imprudência faci litou em larga medida a ec losão do próprio movimento que haveri a de pôr em xeque o poder da burguesia. Se todos os homens são li vres e iguais, com que direito existem os ricos? Com que direito os filhos herdam, sem trabalhar, os bens de seus pais?
O comunismo utópico proclamou que, desacompanhada da igualdade social e econômica, a igualdade política burguesa seria uma burla Já antes de que a industrialização form asse as grandes concentrações de proletários subnu tridos, o com uni smo utópico denunciava como uma burla a mera iguald ade política institu ída pela burguesia e exigia a igualdade social e econômica absolutas. O anarqui smo, que sonhava com uma soc iedade sem autoridade, se propagava. Esses princípios radicais, que na fase do comunismo utópico tiveram um número restrito de militantes, não obsta nte alcançaram mais tarde, no Ocidente, uma prodigiosa difusão. Eles minaram aos poucos a menta li dade de numerosos monarcas, como também de potentados e notabilidades civis e eclesiásticas. E instilaram ass im, em larguíss im as ca madas ele beneficiários ela ordem então vigente, certa simpatia pela generosidade cios ideais libertários e igualitários, bem como uma má consciência quanto à legitimidade dos poderes de que se encontravam investidos. A grande realização de Karl Marx não foi, a meu ver, a elaboração cio com uni smo dito científico, doutrina confusa e indigesta que poucos conhecem. O marxismo é tão ignorado pelas bases comunistas e pela opinião pública de no ssos dias qua nto as e lu cubr ações ele
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Platino ou Averróis. Marx conseguiu, isto sim , dese ncadear a ofensiva comu ni sta mundia l co ligando os adeptos ele uma tendênc ia rad ica lmente igualitária e anárqui ca, toda ela inspirada no co muni smo utópico. Em outros termos, se os líderes marxistas, em medida maior ou menor, estão imbuídos ele Marx, os soldados rasos que eles comandam são em gera l incapazes ele lhe conhecer a doutrina. O que os move a se aglutinarem em torno dos seus chefes são vagas idéias de igualdade e justiça, inspiradas no socialismo utópico. E se os quadros marxistas encontram fora de si mesmos, em certas zonas da opinião pública, uma aura ele simpatia, devem-no ainda à irrad iação quase un iversal dos princípios igualitários da Revolução Francesa e do sentimentalismo romântico inerente ao socialismo utópico.
Um substrato igualitário e anárquico continua a influenciar a fundo a opinião pública De todas estas considerações ressalta com clareza o principal fator do caos em que o Ocidente vai afun dando, e para o qual vai levando o resto do mundo. Esse fator é a aceitação muito generali zada das tendências e doutrinas de substrato igualitário e anárquico, as quais, inteiramentedémodées nos círculos propriamente intelectuai s, continuam no entanto a influenciar a fundo a opinião públi ca. E assim servem ele isca aos comuni stas para arrastarem atrás de si, em determinadas conjunturas políticas passadas e presentes, as turbas com que pretendem arrasar os últimos resquícios de sacralidade e hierarquia da civi lização cristã ainda ex istentes. Tudo isso não importa em afirmar que o pensamento de Proudhon e de seus co ngêneres constitua a gra nde alavanca ideológica cios acontecimentos contemporâneos. Os utopistas estão mortos, e quase ninguém deles cogita em nossos dias. Eles não foram senão uma etapa na grande trajetória aberta com os movimentos ideológicos e culturais do século XVI. Eles contribuíram para dar universalidade às asp irações de ni velamento econômico-social que a Revolução Francesa continha apenas em germe. Tais asp irações ele total igualdade eco nômico-social, de que os utopi stas foram apenas os porta-vozes, alcançaram um eco difu so por todo o mundo. Esse eco con-
tinua ao longo da História, muito depoi s de terem eles e suas obras caído no olvido. Se queremos pois deter os passos à nova catástrofe que nos espreita, cumpre principalmente desfazer o trágico erro doutrin ário que identifica a igualdade absoluta com a justiça absoluta, e a liberdade verdadeira - à qual a Verdade e o Bem fazem jus - com o Iivre curso e até com o favorecimento de todos os erros e de todos os desregramentos. Isto nos leva a pensar na Co ntra-Revolução.
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: é muita ingenuidade pensar que se pode combatera Revolução tirandolhe os pretextos a propósito dos abusos que ela denuncia.A História provou a falência dessa tática
AContra-Revolução deve apontar os erros metafísicos fundamentais da Revolução Ao longo dos últimos séculos, mu itos mov imentos se têm erguido contra o processo revo lucionário. Mas o êx ito concreto por eles alcançado foi transitório, e às vezes nul o. Não que a esses movimentos faltasse o apoio de talentos brilhantes, de pessoas altamente colocadas e até de largos setores populares. Mas esses movimentos o mais das vezes se limi taram a combater a Revolução em uma ou outra de suas expressões religiosas, políticas, sociais ou econômicas. Se bem que, ele qu ando em quando, fizessem aceno aos erros revolucionários mais profundos e ele porte metafísico, eles não insistiam suficientemente neste ponto. Daí o fato de a Revolução conti nuar incól1.11ne o seu curso. Outros julgaram mais hábil, para detê-la, usar a sua linguagem e as suas técnicas, e investir contra alguns dos ab usos inegáveis que a própria Revo lução denunciava. Procuraram assim tirar-lhe os pretextos. Ora, combater abusos é sempre meritóri o; mas quanta ingenuidade hav ia em imag inar que a força
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PL/NIO CORRÊA DE OLIVEIRA
AUTO-RET RATO FILOSÓFICO
No terreno da ação
Pio XII destaca a contribuição da Igreja para a solução da questão operária. Não obstante, a Revolução continua a rugir mais ameaçadora do que nunca
da Revolução estava sobretudo na indignação causada por certos abusos contra os quais ela bradava! A História provou a fa lência dessa tática. Certos abusos existentes ainda há algu mas décadas foram de tal modo corrigidos na Europa, que Pio XII pôde dizer ao "Katholikentag" de Viena: "Diante do olhar da Igreja se apresenta iioje em dia a primeira época das lutas sociais contemporâneas. Em seu âmago dominava a questão operária: a miséria do proletariado e o dever de elevar esta classe de homens, entregue sem defesa às incertezas da conjuntura econômica, até a dignidade das outras classes da cidade, dotadas de direitos precisos. Este problema pode ser hoje em dia considerado como resolvido, ao menos nas suas partes essenciais, e o mundo católico contribuiu para esta solução de modo leal e eficaz "(7). Entretanto, a Revo lução continua a rugir, mais ameaçadora do que nunca. Ass im, sem negar o caráter meritório de tantos movimentos de sentido contra- revolucionário no passado ou no presente, sem negar também o que há de benemérito na luta contra injustiças que a atual ordem de coisas apresenta, parece-me que a grande necessidade de nossos dias é assinalar os erros metafísicos fundamentais da Revolução e a coesão íntima ex istente entre esses três vagalhões que se jogaram sucess ivamente contra a Cristandade ocidental: numa primeira etapa, o Humani smo, a Renascença e a Pseudo-Reforma protestante (primeira Revolução); mais tarde, a Revolução Francesa (segunda Revolução); e, por fim, o Comunismo (terceira Revolução). 7) Pio X II , Radiomcnsagem de 14 de setembro de 1952, Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, T ipografiu Poli glotla Vaticana, vol. XIV, p. 313.
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Este empenho deu sentido à minha atuação como parlamentar, professor, escritor e jornalista. Refiro-me aq ui apenas de passagem à minha atuação como deputado pela Liga Eleitoral Católica na Assembléia Constituinte Federal de 1934. Ela não interessa diretamente à Enciclopédia para a qual me foi pedido escrever. Em minha longa atuação no magistério - quer como professor de História da Civilização no Colégio Universitário, seção anexa à Faculdade de Direito da Uni versidade de São Paulo; quer como professor da mesma disciplina no Colégio Roosevelt de São Paulo; quer como Catedrático de História Moderna e Contemporânea na Facu ldade de Filosofia de São Bento e na Faculdade de Filosofia Sedes Sapientiae, ambas da Pontifícia Univers idade Católica de São Paulo - as considerações que acabo de fazer nunca estiveram ausentes de meu espírito. Atuando como diretor do conhecido semanário católico "Legionário", órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo; como um dos fundadores e secretário da Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica do Estado de São Paulo; como Presidente da Junta Arquidioce ana da Ação Católica; e também como secretário da Federação das Congregações Marianas de São Paulo, marquei meu apostolado pela preocupação de lutar sempre contra a Revolução. Revolução que eu não via apenas encarnada em movimentos de esquerda, mas também em tendências incubadas freqüentemente em movimentos do centro, e mesmo em outros que se rotulavam de extrema-direita. Contra estes últimos, especialmente, conduzi campanhas enérgicas, revidadas aliás com violência. As páginas do "Legionário" estão cheias da polêmica que mantive contra as várias formas de fascismo e nazismo( 8), ao tempo em que esses movimentos pareciam atingir o zênite. A Contra-Revolução é também o que dá sentido a minha atividade como escritor.
8) Nota da redação - Fora m pub licados no "Legionário" ( 1929 a 1947) 2.936 arti gos contra o nazismo e o fa sc ismo, sendo 447 de autori a do Prof. Plíni o Corrêa de O liveira, redatorchef'e e diretor do dito órgão de 12- 10-29 a 8- 12-29 e de 6-8-33 a 28- 12-47 . Foram pub licados 55 artigos sob re o mesmo te rna em Catolicismo ( 195 1 a 1982), 6 dos quai s são do Prof. Plínio Corrêa lc Oli veira. Ainda sobre esse terna, publicou ele também 24 a11igos na "Folha de S. Pa ul o" ( 1968 a 1982) (cfr. Um Homem, uma
obra, 1.111,a gesta - flo111 e11age111 das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira, Edições Brasil de Amanhã, p. 39).
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Em defesa da Ação Católica: brado de alarma
contra germes de laicismo, liberalismo e igualitarismo nos meios católicos Meu primeiro liv ro fo i pu- - - -blicado em 1943, e se intitula ,_,..,.... :..~= .. - Em defesa da Ação Católica (Editora Ave Maria, São Paul'.'I Dl:H~ \ li\ lo). Era ele um brado de alarma contra germes de laicismo, liberalismo e igualitarismo que L.,-." ~•começavam a invadir a Ação Católica(9). Na qualidade de Presidente do ramo pauli sta dessa entidade, cabia-me abrir a luta contra aqueles erros. O livro despertou controvérsias apaixonadas. Estas não cessaram sequer quando, em 1949, recebi a propósito do livro uma carta de louvor calorosa, enviada, em nome do Papa Pio XII, por Mons. João Batista Montini, então substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, e depois Papa Paulo VI. Em defesa da Ação Católica foi aplaud ido em boa parte dos setores católicos. Entretanto, em alguns ambientes continuaram a se expandir os germes de progressismo, culminando na onda de erros que hoje notoriamente se estende por todo o País. Os que de pt,ltllO CôRl\tA l)f. OI.IVtlRA
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O. WO'CI ,U OOI M.Ull.A
9) Nota da redação - A obra teve duas edições. A primeira, de 2.500 exemp lares, esgotou-se totalme nte. Em 1983 foi pub licada urna seg unda ed ição de 2. 000 exemplares, co me morativ a do 40° an iversário do seu lançamento.
futuro escreverem com imparcialidade a História da Igreja no Brasil do século XX reconhecerão, creio eu, que a considerável resistência que o progressismo vem enfrentando entre nós se deve, em larga medida, ao brado de alarma de Em defesa da Ação Católica. Po is esse li vro alerto u, contra o víru s incipiente do progressismo brasileiro, muitas mentalidades que não tinham começado ainda a sofrer a ação sed utora das idéias novas. Como se vê, meu primeiro livro, embora de caráter doutrinário, foi escrito em função de um importante problema concreto,já muito atual naqueles tempos.
O mais destacado efeito de Revolução e ContraRevolução: TFPs e entidades afins em 26 países, nos cinco continentes Não se pode dizer o mesmo de Revolução e Contra-Revolução. Pelo resumo que dele fiz ac ima, é fácil perceber que seu tema não se relacionava de perto com qualquer assu nto brasileiro de atualidade em 1959, ano no qual foi publicado. O pri ncipal objetivo da nova obra fo i explicitar, aos olhos do público, o sentido doutrinário profundo do prestigioso mensário de cultura Catolicismo, naquela época editado em Campos (RJ) sob os auspícios do então Bispo daquela Diocese, Dom Antonio de Castro Mayer .Cn. 2016/ 1904, +25/4/1991) Cº).
1O) Nota da redação - Convém esclarecer que Dom Antonio de Castro Mayer, e m deze mbro de 1982, dec larou cortadas as relações que mantinha com o Prof. Plíni o Corrêa de O li veira e co m a TFP. O mensário Catolicismo tornou-se então o órgão porta-voz da TFP. Em 22 de ju nh o de 1988, Dom Mayer part icipo u, juntamente com o A rceb ispo francês Dom Marcel Lefebv re, da ce rim ô ni a de sagração de
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PUNJO CORRÊA DE OLIVE IR A
Revolução e Contra-Revolução é o livro de cabeceira da grande família de organizações sob o lema Tradição, Família e Propriedade
No Brasil, Revolução e Contra-Revolução teve quatro edições. A pu blicação in icial (1959) fo i feita no número 100 de Catolicismo (duas tiragens). As edições se sucederam no mundo hi spâni co, nos Estados Uni dos, no Canadá e na Itáli a(1 1) . O mais destacado efeito de Revolução e Contra-Revolução fo i ter inspirado, no Brasil, a consti tui ção da Soc iedade Brasileira de Defesa da Trad ição, Família e Propri edade - TFP, e fora do País, a fu ndação de organi zações congêneres e autônomas, que hoje vicejam em quase todas as grandes nações do Ocidente e estendem se us ramos pelos outros continentes .
Bureaux de representação das TFPs também existem em vári os países, projetando desse modo os princípios doutrin ários e os ideais de Revolução e Contra-Revolução por 26 países dos cinco conti nentes(1 2) . Essas entidades constituem uma grande fam íli a de almas formada em torno de Revolução e Contra-Revolução .
qua t ro bi spos em Ecô ne (S uíça) sem auto ri zação de Ro m a. Logo no d ia 1° de ju lho seg uin te, o Cardea l Ga nt in, Prefe ito da Sagrada Co ngre gação para os B i spos, publica va um decreto, pelo qual con firm ava a exco m unhão dos do i s prelad os . A ss i m, o romp imento do ex-bi spo ele Ca mpos co m o Pro f'. Plíni o Corrêa ele O li veira, com a T FP e com Catolicismo oco rreu cinco anos antes ele sua excomunhão.
Em 1976, acrescentei a Revolução e Contra-Revolução uma terceira parte. Trata-se de umamise au point do panorama internacional transformado pela Revolução nos cerca de vinte anos decorridos desde o lançamento da obra, com vistas a que o leitor relacionasse facilmente o seu conteúdo com a nova realidade de então.
l l ) Nota da redação - Além elas edições cm portu guês pu blicadas no Brasi l (duas cm 1959, uma em 1982 e outsa em 1993), Revolução e Co111raRevolução teve ainda doze edições em espanhol: A rgentina (2 ed ições em 1970 e uma cm 1992), Chil e ( 1964 e 1992) , Co lômbia ( 1992), Equador ( 1992), Espanha ( 1959, 1965 , 1978, 1992) e Peru ( 1994); du as em francês: Brasi l ( 1960) e Canadá ( 1978); três em ing lês: Estados U nidos ( 1972, 1980, 1993); três em ita liano ( 1964, 1972, 1977); e uma cm rumeno ( 1995), per fazendo um total ele 25 edi ções . Foi outross im transcri to em j orn ai s ou revistas cio Bra si l, ele A ngola, ela A rgenti na, Colômbia, Espan ha, Fran ça, Itáli a e Venezuela, alca nçando uma t iragem tota l (exc lu ídas as transcrições parcia is) de 123 .700 exemplares. Encontra-se também em preparação uma edição il ustrada em alemão, a ser publicada em breve.
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O domíni o da III Revolução - a com uni sta- chegara a um estado paradoxal de apogeu e cri se. Apogeu pela extensa área que o co munismo efetivamente veio a domin ar, e pela infl uência que exerceu no Ocidente através da imensa coligação de partidos comunistas, criptocomuni stas, paracomunistas, além do magma ilimi tado dos inocentes-úteis. A par de apogeu, crise. Com efe ito, o com unismo entrara pari passu em dec línio, junto à opinião pública. O poder persuasório dele e sua capacidade de liderança revolucionária minguavam dentro e fora dos limites da União Soviética. Comprometido assim o avanço do comuni smo pelo insucesso dos seus costumeiros métodos de ação e proselitismo, optaria este, daí em dian te, pela aventu ra? O fato é que, no auge de seu poder, a III Revolução deixou de ameaçar e agredir, e passou a sorrir e pedir. Ela abandonou o caminho reto - sempre o mais curto - e escolheu um ziguezague, no decurso do qual não faltavam as incertezas. Colocou ela então o melhor de suas esperanças na guerra psicológica revolucionári a, que usa o sorri so tão-somente como arma de agressão e de guerra, e transfere seu impacto conqu istador, de violência (isto é, do físico e palpável), para o campo das atuações psicológicas (isto é, para o campo impalpável). Seu objeti vo: alcançar, no interior das almas, por etapas e in visivelmente, a vitó-
Ficava assim delineada a situação da III Revolução, como ela se apresentava pouco antes do 20º aniversário da publicação de Revolução e Contra-Revolução. Entretanto, esse panorama não seria completo se se negli genciasse uma transformação interna na III Revolução: é a IV Revolução que dela vai nascendo. Como é bem sabido, nem Marx nem a generalidade de seus mais notórios sequazes viram na ditadura do pro letariado a etapa termina l do processo revolucionário. Na mi tologia evolucionista inerente ao pensamento de Marx e de seus seguidores, assim como a evolução se desenvolverá ao infi nito no suceder dos séculos, ass im também a Revolução não terá termo. Da / Revolução já
Uma transformação interna anunciada pelos próprios teóricos marxistas: a derrocada do Estado e o surgimento da sociedade cooperativista
12) Nota da redação - TrPs e entidades arin s ou 8 11 rea11x-TFP ex istem hoj e no Brasi l, Á fri ca cio Sul, A lemanha, A rgentina, A ustrália, Bolívia, Canadá, Chil e, c _olômb ia, Costa Rica, Eq uador, Espanha, Estados Unidos, Fi lipi nas, França, l nclia, Itál ia, Nova Zel ândia, Paragua i, Peru , Po lônia, Portugal, Reino U nido ( Ing laterra e scócia), U ruguai e Venezuela. A T FP ela Venezuela foi arbitrariamente encerrada em 1984, por um decreto i níquo cio govern o daquele país. Seus membros conti nu aram a serviço cios mesmos idea is, em TFPs de outros pa íses . A i nocência ela TFP venezuelana ficou amplamente comprovada co m a pub li cação da sentença judi cial defi nit i va ele 15 ele maio ele 1986, na qual se declaravam sem f uncla mento as acusações leva ntadas contra a entidade.
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ria que certas circunstâncias lhe estavam impedindo conqu istar de modo drástico e visível, segundo os métodos clássicos. Bem entendido, esses métodos nada têm de comum com a mera novela jornalística correntemente denominada de conquistas das mentes, lavagem cerebral, etc. Não se tratava de efetuar, no ca mpo do intelecto, algumas operações esparsas e esporádi cas.Tratava-se, pelo contrári o, de uma verdadeira guerra de conquista- psicológica, sim, mas total - vi sando o homem todo, e todos os homens em todos os países. Não seria possível descrever esta guerra psicológica revolucionária sem tratar acuradamente do seu desenrolar naqui lo que é a própria alma do Ocidente, ou seja, o Cri stianismo, e mais precisamente a Reiigião Católica, que é o Cri stianismo em sua plenitude absoluta e em sua autenticidade úni ca. Dentro da perspectiva de Revolução e Contra-Revolução, o êx ito dos êx itos alcançado pelo comuni smo pós-staliniano sorridente fo i o silêncio enigmático, desconcertante e espantoso, apocalípticamente trágico, do Concíl io Vaticano 11 a respeito do comuni smo. A evidência dos fatos aponta, pois, o Concílio Vaticano II como uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja. Depois dele penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a "fuma ça de Satanás "(1 3), que se vai dilatando dia a di a, com a terrível força da expansão dos gases. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Cristo entrou no sinistro processo de "au!odemoliçcio" , do qual fa lou Paul o Vl(1 4) .
13) C fr. aloc ução ele Paulo V I ele 29 ele j unho de 1972. 14) C fr. alocução ele 7 ele dezembro ele 1968 .
Nota da redação - Também João Paulo rr, em di versas ocasiões, tem-se
Brejnev e Nixon: o sorriso comunista visando a conquista do Ocidente
referido aos problemas cio m undo modern o e a sua relação com a tempestade q ue se abate sobre a Santa Igrej a. M uitos destes prob lemas, afirma o Papa, incluem a d i fu são ele " verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dú vidas, co11ji1sões e rebeliões" (A loc ução ele 6 ele fevereiro ele 198 1, i n /11 seg11a,ne11ti di Giovanni Paolo li, L i breria Editri ce Vat icana, 198 1, vol. I V, 1, p. 23 5).
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nasceram duas outras. A terceira, por sua vez, gerará mais uma. E daí por diante... Não é impossível prever, por ora, dentro da perspectiva marxista, como será a /V Revolução. Ela deverá consistir, segundo os próprios teóricos marxistas, na derrocada da ditadura do proletariado em conseqüência de uma nova crise, por força da qual o Estado hipertrofiado será vítima de sua própria hipertrofi a. E desaparecerá, dando origem a um estado de coisas cientificista e cooperati vista, no qual dizem os cqmunistas - o homem terá alcançado um Reagan e Gorbachev, com as respectivas esposas: o Ocidente deixa-se embair grau de liberdade, igualdade e fraternidade até aqui pela sedução de uma convergência entre capitalismo e comunismo insuspeitável. Como? - É impossível não perguntar se a sociedade tribal do capitalismo-e estará encontrada uma solução definitiva para sonhada pelas correntes estruturalistas não dá uma resposta a esta a paz mundi al. indagação. O estruturalismo vê na vida tribal uma síntese ilusória Quantos no Ocidente não se têm deixado seduzir por esta persentre o auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, pectiva! Quantos não são propensos a dizer: é melhor aceitarmos na qual este último acaba por devorar a li berdade. Em tal coleti - um regime mais igualitário, com menos liberdade civil e econôvismo, os vários eus ou as pessoas individuais, com o seu pensa- mica, a fim de ev itarmos que a situação na Rússia retroceda, os mento, sua vontade e seus modos de ser, característicos e comunistas retomem o poder e volte a nos importunar o terrível conflitantes, se fundem e se dissolvem - segundo eles - na espectro do holocausto nuclear, do qual milagrosamente nos lipersonalidade coletiva da tribo geradora de um pensar, de um vramos! querer, de um estilo de ser densamente comuns. A essa ponderação cabe responder que as guerras são castigos A Parte III de Revolução e Contra-Revolução termina com pelos pecados dos homens. A aceitação de um regime antinatural cons iderações sobre essa IV Revolução nascente. e contrário à Lei de Deus, como é o com unismo, ainda que algum tanto mitigado, constitui enorme pecado que, desdobrando inevitavelmente seus efeitos maléficos, só pode acarretar a ruína e a Metamorfose do comunismo infelicidade dos homens. rumo à sociedade autogestionária Ass im, face ao esfacelamento do império sov iético, no Ocidente os espíritos mais argutos se perguntam o que isso tudo tem A década seguinte, dos anos 80, não se encerrari a sem que os de autêntico, ele consistente, de irrefragável, que autori ze espeprognósticos fe itos na Parte III de Revolução e Contra-Revoluranças solidamente fundadas. E embora não fa ltem otimistas presção recebessem uma extraordinária confirmação nos fatos. surosos de abrir os braços de par em par para tais perspectivas Não conseguindo esconder mais seu estronclejante fracasso enganadoramente alvissareiras, a prudência recomenda muita econômico, bem como o desumano cerceamento de li berdades circunspecção diante da enigmática retração do comunismo, que legítimas, a Rússia soviética optou por admit ir o fato muito bem pode não ser mais do que uma metamorfose para atindesin ibidamente diante do mundo. E ass im, depois das conv ul gi r a meta última deste, que é a sociedade autogestionária. sões geopolíticas espetacul ares que se seguiram aos programas Advertiu-o honestamente o próprio Gorbachev, em seu enliberali zantes da glasnost (1985) e da perestroika (] 986) desensaio propagandístico Perestroika - Novas idéias para o meu país cadeados por Gorbachev, o regime sov iético se esboroou ( 1989e o mundo(1 5) : "Afina/idade desta reforma é garantir .... a tran199 1) e parece desde então evol uir para um modelo menos dissição de um sistema de direção excessivamente centralizado e tante do que vigora no Ocidente. dependente de ordens superiores para um sistema democrático Essa transformação coloca um problema estratégico novo para baseado na combinação de centralismo democrá lico e os não com unistas, pois parece conter um apelo: ass im como se autogeslão". Autogestão esta que, de mais a mais, era "o objetidissolveu a estrutura granítica do comunismo, torne-se também o vo supremo do Estado soviético", segundo estabelecia a própria Ocidente menos rígido em sua aplicação dos princípios da propriConstituição da ex-URSS em seu Preâmbul o. edade privada e da livre iniciativa, aceitando dar passos decisivos na direção do socialismo. Desse modo, Ocidente e Oriente convergirão para um ponto intermédio - não necessariamente a meio caminho, e po sivelmente bem mais próximo do comun ismo que 15) Ed. Best Se iler, São Paulo, 1987 , p. 35.
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Todas estas considerações encontram-se mais ampl amente explanadas na edição atualizada ele Revolução e Contra- Revolução publicada em 1992 (1 6).
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Se o Brasil não conheceu a desgraça da pulverização agrária, deve-o a
Reforma Agrária -Questão de Consciência É o momento de mencionar algumas realizações contra-revolucionárias de envergadura, levadas a cabo pelas TFPs nos respectivos países. Em 1960, fervilhava no Brasi l uma agitação agrária ... quase toda ela urbana! Uma propaganda sabiamente orq uestrada nas grandes cidades procurava fazer crer que todo o nosso mundo rural estava a.ponto de explodir em virtude do descontentamento da classe dos trabalhadores manuai s. Segundo se dizia, para desarmar a efervescência das massas rurai s - prevenindo assim uma hecatombe-impunha-se fazer uma Reforma Agrári a. Esta consistiria fund amentalmente em que o Poder Público expropriasse a preço vil os latifúndios improdutivos, em vista ele di stribuir terra aos pe""''º"''° or """ '"° ..,.e..... co•"·· ou,,,,,.. •• ..... quenos agri cu ltores. O próprio dinamismo do esp írito igualitário que animava os agro-reformistas levá- los-ia entretanto a eliminar progressivamente todas as grandes e médias propriedades, transformando nossa estrutura ru ral num a imensa contextura de pequenas propriedades de dimensão familiar. Foi quando ve io a lu me o livro Reforma Agrária - Questão de Consciência. Obra de grande porte, ex igia um trabalho de equipe. Foi assim que redigi a primeira parte do livro, submetendoª depois à consideração de dois ilustres prelados, Dom Antoni o de Castro Mayer, então Bispo de Campos, e Dom Geraldo de Proença Sigaud , então Bispo de Jacarezinho, depois Arceb ispo de Diamantina, para que fi zessem a revisão do texto, sob o ponDO M Clllt-".00 0 1 P l l ~ S :A~ ~ -
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16) A Parte Ili de Revoluçcio e Co11.1ra -Revoluçcio, acresc ida pe lo Auto r de alguns co mentári os, fo i pub licada no Catolicismo nº 500, de agosto de 1992. Edições atualizadas da obra se sucederam na Argentin a, Chil e, Colômbia, Equador e Espanha (todas em 1992), nos Estados Un idos ( 1993) , no Brasil ( 1993), no Peru ( 1994) e na Romênia ( 1995).
to de vista es pec ificamente teológico. A segu nda parte, de natureza técnica, ficou a cargo do economi sta Lui z Mendonça ele Freitas 1(1 7). A obra teve um a aco lhi da muito favoráve l nos meios rurais e foi objeto de manifestações de ap lauso da parte de governadores, deputados estad uais e federais, senadores, centenas de prefeitos, câmaras municipais e entidades de classe. Os mesmos autores publicamos em 1964 a Declaração do Morro A/10, programa positivo de Reforma Agrári a(1 8). No seu conjunto, essas obras constituíram ao mesmo tempo uma franca e enérgica defesa do princípio da propriedade privada, negado mais ou menos ve ladamente pelo agroreformismo socialista e expropriatóri o, bem como uma afirmação da função social do referido princípio, para a correção de abusos e fa lhas existentes em nossa situação ru ral. Reforma Agrária - Queslão de Consciência deu ori gem a polêmicas que alertaram a opinião pública para os verdadeiros objetivos das reformas de estrutura então preconizadas pelas correntes de esquerda, e desse modo contribui u para a formação do clima ideo lógico e psicológ ico que cortou o passo à instalação da repúbli ca sindi cali sta então desejada pelo Presidente João Goulart. Inegavelmente, se nosso País não conheceu a desgraça da pul veri zação de sua estrutu ra agrári a num número incontável de minifúndi os de baixa produção, deve-o em muito larga medida a esse liv ro.
Reforma Agrária - Questão de Consciência: obstáculo à agitação no campo
17) Reforma Agrária - Q11esrcio de Consciência leve dez edições, nus seguintes países: Brasi l (2 ed ições em 1960, um a e m 196 1 e outra em 1962), Argentina ( 1963) , Espanha ( 1969) e Colômb ia (3 cd. em 197 1e uma em 1985), num total de ma is de4 1 mil exemp lares. 18) A Dec/araçcio do Morro Afro leve duas edições em português. Com a transcri ção c m Catolicismo, sua tiragem totali zou 32.500 exemplares.
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Acordo com o regime comunista: para a Igreja, esperança ou autodemolição? - Carta de louvor de Congregação da Santa Sé Entretanto, de minhas obras, a que teve maior di vulgação fo i incontestavelmenteA liberdade da Igreja no Estado comunista, que, nas últimas edições, saiu com o título deAcordo com.o regime comunista: para a Igreja, esperança ou autodemolição?(' 9) A obra foi prestigiada por um a ca rta de louvor da Sagrada Congregação dos Seminári os e Universidades da Santa Sé, em data de 2 de dezembro ele 1964, ass inada pelos Cardeais Pizzarclo e Staffa. Repercutiu , este estudo, para além da cortina de ferro. O semanári o católico-esquerdi sta "Ki erunki" e o mensário "Zycie i Mysl", ambos poloneses, o atacaram violentamente. Zbigniew Czajkowski , colaborador destes dois peri ódicos, publicou extensos e indignados arti gos contra meu ensaio. Respondi através das pág inas de Catolicismo. Daí se seguiu um a polêmi ca, na qual interveio em apo io à minha obra o peri ódi co "L'Homme Nouveau", ele Pari s, pela pena de se u co laborador Henri Ca rto n, enquant o "Témoignage Chrétien" - turbul ento órgão comun o-progressista francês - se colocava ao lado de Czajkowsk i. Assim como Reforma Agrária - Questão de Consciência, também A liberdade da Igreja no Estado comunista fo i escrita em função de um problema concreto. Já então se ia generalizando entre os católicos - astutamente propagada - a idéia de que o único obstáculo que os impede de aderir ao regime comuni sta é que este costuma tolher o exercício do culto. A partir dessa noção 19) Este ensaio, publicado pela pri meira vez cm 1963 , teve dez edições em português: Brasil ( 1963, 7 ed. cm 1965 , 1967 e 1974); onze cm espa nhol: Brasil ( 1963 e 2 cd. cm 1964), Chil e ( 1964), Espanha (2 ed. em 1970, 2 cd. cm 197 1, e ou tras 2 cd. cm 1973) e M éx ico ( 1965); cinco cm francês: B rasi l ( 1963 , 1964, 1965) e França ( 1975, 1977); urn a cm alem ão ( 1965); urna cm húngaro ( 1967); quatro cm inglês ( 1963 e 3 ed . ern 1964); duas em italiano ( 1963 e 1964); e duas cm po lonês. As ed ições nestes últimos cin co id iomas fo ram todas publ icadas no Bras il. Essas sucessi vas ed ições at ingiram o tota l de ma is de 163 .500 exemp lares. A lém disso, o traba lho foi transcrito na ín tegra crn 40 jornais ou rev istas do Brasi l, A lemanha, A ngola, A rgentina, Bolív ia, Chil e, Co lômb ia, Espan ha, Estados Unidos, Fra nça, Itália, M éx ico e Po rtugal.
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gravemente incompleta, fo i fác il aos marxistas, simu lando respeito à liberdade da Igreja, obter decidido apoio de certos católi cos para um hipotético comuni smo que deixasse inteira liberdade aos diversos cultos. Essa manobra propagand ística poderi a render - e rendeu - ao comuni smo incalculáveis benefícios. Pois, na medida em que influenciasse as massas católi cas, enfraqueceri a ou anul ari a a opos ição que os 800 mi lhões de católicos ex istentes no mundo haveriam ele fazer ao comunismo. Em meu ensaio, procurei frustrar essa manobra já em 1963, mostrando que é intrínseco ao regime comuni sta eliminar ou mutilar muito gravemente o instituto ela propriedade pri vada, o que, por sua vez, é contrário à doutrina ela Igreja. Para ser fi el à sua mi ssão, a ígreja não poderia deixar de combater tal reg ime, ainda que este lhe reconhecesse inteira liberdade ele culto. Tal combate criaria um inevitável conflito entre os católicos e qualquer Estado comun ista.
Baldeação ideológica inadvertida e diálogo denuncia manobra para debilitar a resistênciaideológica dos católicos Também Baldeação ideológica inadvertida e diálogo alcançou ampla repercussão( 20). Este ensaio mostra por que forma os comunistas se va lem do diá logo para debilitar sub-repticiamente a resistênc ia ideológica de seus adversários, e especialmente a dos católicos. O assunto aí versado é por demais sutil e extenso para seq uer ser resum ido aqu i. Uma elas observações mais importa ntes - ele ordem prática - contidas nesse estudo é que, por meio do fa lso diá logo, os com uni stas não vi am tanto alcança r dos ca-
20) Publicado pela primeira vez cm 1965, teve treze edições, sendo cinco cm português (4 cd. cm 1966 e urna cm 1974), uma cm alemão (no Brasil , cm 1967), seis crn espanho l (uma na Argenti na cm 1966, duas na Espanha cm 1966 e 1971 , uma no M éx ico e duas no Ch ile cm 1985) e uma cm italiano ( 1970). Foi transcrito cm nove jornai s ou revistas do Brasi l, Argenti na, Chi le, Co lômb ia, Espanha, Estados Unidos e Portugal, atingindo o total de 136.500 exemp lares.
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tóli cos qu e renunci em explicitamente à Fé, mas que aceitem um a interpretação relati vista e evolucioni sta da doutrina católi ca. Assim , co rro mpe-se a Fé, que por sua natureza ex ige uma certeza inco mpatível com o estado de dú vid a inerente ao relati vismo e ao evo lucioni smo. E, alcançado esse resuItado, não é di fíc il à propaga nda comuni sta indu zir os católi cos a esperar cio di álogo co m o comun is mo o encontro de um a síntese .. . a qu al bem pode ri a ser, em último termo, o mes mo comuni smo com outra roupagem.
A Igreja ante a escalada da ameaça comunista Apelo aos Bispos silenciosos Em 1976 publiquei o livro intitu lado A Igreja ante a escalada da arnea~·a comunista - Apelo aos Bispos silenciosos(2 1). Consti tui esse meu trabalho uma análise marcadamente doutrinária elas posições então assumi das pela Hierarqui a eclesiásti ca no Brasil , em favo r do comunismo. A pregação claramente pró-comuni sta de D. Pedro Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia, por exemplo. No liv ro, mostro a imensa transformação que se operou no seio do Ep iscopado nacional, adversário ferrenho do marx ismo até os idos de 1948. Precisamente por essa época, começou uma rotação para a esquerda do Episcopado. A nova orientação recebeu grande impul so quando, em 1952, co m a for mação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), D. Helder Câ mara fo i eleito o primeiro secretário-geral desse orga nis-
2 1) Dado a lume em j unho de 1976, o livro alcançou quatro ed ições (duas cm 1976 e outras duas em 1977), num total de 5 1 mi l exemp lares, vend idos por sóc ios e cooperadores da TFP ern 1.700 cidades de 24 U ni dades da nossa Federação.
mo. Os frutos dessa rotação foram os padres de passeata , as ji-eiras de mini-saia e os líderes católico-esquerd istas, que apoi aram as ag itações comuno-janguistas . Após 1964, deu-se um expurgo ele comuni stas em numerosas institui ções brasil eiras. Os meios católicos, entretanto, perm anecera m in cólumes. Co m isso, as te nd ências esqu erdistas se refu giaram neles. E, ass im proteg id as, medraram de modo impressionante, a ponto de mais de um a fi gura do Epi scopado nac ional se ter transfo rm ado - por ação ou por omi ssão - em valioso es teio cios qu e se es força m para co muni sti za r o Brasil. Formulei no li vro um apelo veemente aos "B ispos silenciosos" para que fa lassem. Eram eles numerosos e dispunham de prestígio sufi ciente para salvar o Brasil se simp lesmente dessem ampla difusão entre os fiéis dos numerosos documentos pontifícios sobre o assunto. Paralelamente a essa tri ste evolução do Episcopado, mostrei a luta - toda ela legal e doutrinária- que, em prol da Igreja e da civilização cristã, vem sendo travada por um grupo de cató licos fi éis que se reuniu inicialmente em torno do "Legionári o", depois de Catolicismo, e hoje, já mu ito avolumado, constitui a Sociedade Brasil eira de Defesa ela Tradi ção, Famíl ia e Propriedade - TFP. Esse traba lho eu o qui s publi ca r co mo es tudo introdu tóri o a um a co ndensação de La Iglesia de i Silencio en Chile - La TFP proclama la verdad entera, brilhante best-seller pu bli cado em janeiro de 1976 pela TFP chilena. Po is ex iste entre ambos os traba lhos íntima afini dade. Ta l afinid ade res ul ta da se melh ança de situações entre o Bras il e o Chil e no que co nce rne à atuação da Hierarqui a ec les iástica. Lá, ainda mais cla ramente do que aqui , a maior parte do Ep isco pado (e não ape nas se tores dele, co mo no Bras il) trab alhou pe la co muni stização do país, co mo pro va com abundância de documentos o referido li vro chileno. E isto ta nto pela preparação da ascensão de Frei, o Kerensky chil eno(2 2), e posteri orme nte de All ende à pres idência da Repúb lica, quanto pelo apo io que os Bispos deram a este últi mo durante seu nefasto governo, como ainda pelo esforço que desenvo lvera m após sua queda, no se ntido de faze r retroceder o país irm ão para as malhas cio comuni smo.
22) Sobre o sentido com unisti zantc da atuação do ex-presidente do Chi le, Eduardo Frei , e da Democraci a-Cri stã chil ena, veja-se Frei, o Ke re11sky chile110, de Fábio V idigal Xav ier da Sil ve ira. Publi cado pel a primeira vez cm 1967 por Catolicismo (nº 178/1 79), teve dez edições, sendo duas cm po rt uguês, sete em espanhol (três na A rgentin a, uma na Co lômb ia, uma no Equador e três na Venezue la) e uma em ita li ano. Teve, também, duas tiragens cm Catolicismo (Brasi l) e três em "Cruzada" (Argen tina) . O diári o " La Vc rdad ", de Ca racas, o transcreveu na ín tegra , e exce rtos apareceram cm outros três jorn ais da mes ma c idade. O total dessas ed ições é de 128 .800 exemplares .
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É bem de ver que, com a ascensão de João Paulo II ao só li o pontifício, em 1978, todo este processo passou por importantes transformações, as quais imp licam em ajustes não pequenos nesse quadro, para se descrever co mo ele atualmente se apresenta.
Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI Para o estruturalismo, cuj o expoente máximo fo i o filósofo Lévy Straus·s, a sociedade indígena, por ter "resistido à História" , é a que mais se aprox ima do ideal humano. E é para essa forma de vida préneolítica que - segundo essa corrente filosófica - devemos retornar. Se causa espanto que filósofos ateus defendam teses tão absurdas, mais ainda deve estarrecer que missionários católi cos propugnem como padrão perfeito de homem o índio selvático, e como modelo ideal de vida humana a vida na taba. Não obstante, é bem isto o que aco ntece. Uma nova corrente missiológica, co m li vre trânsito nos meios eclesiásticos, sustenta que a civili zação atual deve desaparecer, para dar lugar ao sistema de vida tribal. Jnstitutos como a propriedade privada, a fa míli a monogâmica e o casamento indi sso lú ve l devem ser eliminados. A figura clássica dos missionários evangelizadores e civi lizadores -, como o foram os Padres José de Anch ieta e Manoel da Nóbrega, deve ser abandonada. A nova corrente missiológica, porque não quer civilizar, não quer catequizar. E porque não quer catequizar, também não quer civili zar. Insinua-se nessa conduta uma questão tática. Se a missiologia atualizada elogiasse a comunidade de bens implantada nos países com uni stas, ex por-se- ia inevitavelmente a críticas e refutações incômodas. Esquivando o perigoso assunto, os novos missionários fazem a apologia do sistema de vida tribal: exalçam nele a comunidade de bens, a inexistência de lucro, de capital, de salários, de patrões e empregados, de "privilegiados" e "marginalizados", de "opressores" e "oprimidos", como dizem . E assim aproveitam a ocasião para invectivar a propriedade privada, em vigor nas nações civilizadas do Ocidente.
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O efeito concreto dessa tática é que o elogio torrencial da nova miss iol ogia à propriedade comum, vigente nas tribos indígenas, nem de longe levantou entre nós a celeuma que a apologia direta das sociedades comuni stas de além cortina de ferro certamente despertaria. Não cabe entretanto a menor dúvida. É bem uma sociedade de tipo comuni sta que transparece nessa visão idílica do índio seivático, apresentada pela neomissiologia como ideal para o homem do século XXI. O maior problema suscitado por esses delírios não está nos próprios missionários nem nos índios, cumpre repetir. Está em saber como, na Santa Igreja Católi ca, pôde esgueirar-se impunemente essa filosofia, intoxicando seminários, deformando mi ss ionários, desnaturando missões. E tudo com tão forte apoio de certa retaguarda eclesiástica. Tribalismo indígena, ideal comuna-missionário para o Brasil no século XXI foi o li vro que publiquei no final de 1977, para dar a conhecer aos brasileiros essa faceta inesperada da crise na Igreja. Catolicismo o publicou em primeira mão (nº 323/324, de novembro-dezembro de 1977). Ainda em dezembro de 1977, a Editora Vera Cruz lançou a primeira edição em forma de livro, e depois mais seis edições, totalizando 76 mil exemplares.
O católico pode e deve ser contra a Reforma Agrária A CNBB constitui um órgão oficial do Episcopado brasileiro. Assim sendo, seus pronunciamentos devem ser recebidos normalmente pelos católicos como representando o pensamento da Igreja. Não podia portanto deixar de causar a maior perplexidade entre os fiéis a pub licação, ao final da reunião plenária do provecto organismo eclesiástico, em 1980, na habitual faze nda de Itaici, do documento Igreja e problemas da terra (IPT). Verdadeiro manifesto agro-reformista, o documento da CNBB procurava suscitar a ofensiva geral do País contra as propriedades rurais grandes e médias. Ademais, sugeria às autoridades governamentais medidas concretas para a imediata efetivação da partilha rural. Este fato criava gravíssima questão de consciência, não apenas para os fazendeiros, mas também para todos os católicos for-
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macios segundo a doutrina tradicional da [greja, bem como para os homens de pensamento e de ação ex istentes no País. Essas três amp las e pond eráve is ca tego ri as de brasileiros muit o ex pl icavelmente poderiam se perguntar qual a efeti va validade magisterial de tantas afirmações, novas e singu lares, contidas no IPT. E qual a autoridade dos argumentos doutrinários do IPT para lançar tão hirsutas e explosivas asseverações. Estava no papel da TFP romper o silêncio e dar a resposta a essas perguntas. Ela o fez por meio do Iivro Sou católico: posso ser con tra a Reforma Agrária? ( 198 1, 360 pp., 4 ed ições, 29 mil exempl ares), de minha autoria, em colaboração com oMaster o.f Science em Economia Agrária (pela Univers idade da Califórnia, Berkeley, EUA), Prof. Carlos Patrício dei Campo. O livro demonstra que o católico deve ser fiel, ac ima de tudo, aos ensi namentos trad icionais do Supremo Magistério da Igreja. Ora, um exame detido do !PT leva à conclusão de que não há consonância entre aqueles ensi namentos e a Reforma Agrária preconizada pelo documento da CNBB . Em conseqüência, o católico anti-agro-reformista tem não só o direito, como também o dever de continuar contrário à Reforma Agrária. A parte econômica da obra prova que o documento da CNBB apresenta graves lacunas, ao traçar o panorama da situação econômica da lavoura brasil eira e ao apontar para a "solução": a Reforma Agrária que pleiteia. Assim, ainda que o pronunciamento episcopal não fosse objetável do estrito ponto de vista da doutrina católi ca, seria inaceitável do ângu lo econômico.
O socialismo autogestionário em vista do comunismo: barreira ou cabeça de ponte?
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O título em epígrafe co nstitui ampl a expos ição e análi se críti ca do programa autogestionári o de Mitterrand, então recém-eleito Presidente da República Fra ncesa. Esse trabalho, redigido por mim - endossado e divu lgado em nome próprio pelas treze TFPs então existentes - , foi estampado a partir de dezembro de 1981 na íntegra em 45 diários de maior circu lação de 19 países da Amér ica, Europa e Oceania. Um substancioso resumo do mesmo foi pub li cado em 49 países dos cinco al'""""''.....,, ,.......,._ .......... .............. pw, _ , em treze idiocontinentes, ._..,...,. . .. ", _ ...-... ........ . .... mas. Assim, a difusão do documento atingiu uma tiragem tota l de 33,5 milhões de exemplares. /\t, OcU1n1 r
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Para aq ui !atar o alcance do mencionado estudo, é preciso ter em conta que, no período que precedeu a primeira eleição do Presidente François Mitterrand, a expressão socialismo autogestionário correspondeu a uma espéc ie de primavera propaga ndística mundial, de maneira a tornar-se moda nos ambi entes da esq uerda.
Mitterrand e seu gabinete socialista: fracasso da autogestão
Todo intelectual que se quisesse mostrar aggiomato, isto é, em dia, dizia-se socialista autogeslionário. Ta l se dev ia ao fato de que as palavras "socialismo" e "socialista" estavam em franco processo de envelhec imento, o qual se tratava de sustar mediante um disfarce qualquer. Algo à maneira de uma senhora cujos cabelos estão branqueando, e que por isso procura tingi- los. Assim, o sociali smo, velho de tantas e tantas décadas, e já com o prateado de sua velhice estampado nos cabelos, refazia seu semb lante chamando-se autoges tionário. Era o modo de revitalizar-se e rejuvenescer. A denúncia mundial contra o socialismo autogestionári o fo i de ta l porte que as palavras a1t1oges1ão e au toges1io11ário saíram de moda. E o socialismo não pôde, em seu processo de envelhec imento, continuar a recorrer à tintura que entretanto lhe estava proporcionando tão bons resu ltados propagandísticos. De lá para cá, só obteve escassos sucessos ... Pior, o fato concreto é que o processo de envelhecimento chegou ao ponto em que, hoje em dia, o socialismo é declarado decrépito pelos seus próprios dirigentes e partidários. Uma sumária crônica cios fatos posteriores à publicação da referida análise, de minha autoria, atesta o que dissemos. 1. Com efeito, em 12 ele dezembro ele 1981 (ou seja, três dias após a pub li cação cio mencionado documento), um prestigioso quot idiano de língua ing lesa ed itado em Paris pelo "New
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York Times" e pelo "Washington Post", o "International Herald Tribune", difundido no mundo inteiro, assim descreveu a reação cio governo socialista francês face à aludida aná lise arespeito do Projeto Socialista para a França dos anos 80: "Em Paris, fontes governamenlais autorizadas disseram que não eslavam preparadas para reagir a esta publicação, mas que a estavam estudando. 'Absolutam.ente não há pânico, e eslamos bem mais interessados em saber quem ou o que se enconlra por detrás desta publicação', declarou quinla-feira um portavoz do Eliseu, acrescentando que 'mais tare/e' poderia haver alguma reaç_ão ". Reação esta que em vão se esperaria, pois qu e não houve. 2. Convém recordar o que afirmava o referido Projeto Social is ta para a França cios anos 80: "Não pode haver um Projeto Socialista só para a França. O dilema 'liberdade ou servidão', 'socialismo ou barbárie' ultrapassa asfi·onteiras de nosso País .... O socialismo é internacional, por natureza e por vocação .... A França ou é uma aspiração coleliva, ou ela simplesmente não é .... Imensas possibilidades existem para um país como o nosso .... de levar alto e longe, na Europa e no mundo, a mensagem universal do socialismo" (cfr. Projet socialiste pour la France eles années 80, Club Socialiste clu Livre, Paris, maio de 1981 , pp. 18, 108, 126, 164). Igualmente é oportuno lembrar que os socialistas ela velha guarda se ufanavam de sua filiação marxista. Assim, escrevia em 1980 o ex-Primeiro-Ministro Pierre Mauroy: "Permanecemosfiéis ao espírito do marxismo" (cfr. Documentation Socia/iste, suplemento nº 2). 3. Em dezembro de 1991 - ou seja, depois de IO anos de fracassadas tentativas do governo socialista de aplicar seu Projet - em congresso extraordinário realizado pelo PSF no Arco ela Defesa, o radical programa de 1981 foi substituído pelo anóclino Novos Horizontes. Com efeito, pode-se ler nesse novo projeto: "Na verdade, o empobrecimento das classes operárias, previsto por certa análise marxisla, não se produziu. O nível de vida, na França, foi quadruplicado entre 1950 e 1990 .... Já não se traia, como ocorria no que concerne à antiquada au1oges1ão (sic!), de eliminar os emp resários para substiluí-los por dirigentes designados pelo Estado ou eleitos pela base .... Os represen/antes dos assalariados não devem substituir os chefes na direção da empresa .... A força do mercado está em ser insubstituível ... . Todas as tentati vas de substituí-lo acabaram porfracassar ... . O socialismo reivindica e quer outra organização do Plane/a, mas esta deverá desenvolver-se no contexto de um capitalismo mundializado" (cfr. Michel Charzat, Un nouvel horizon , pp. 94, 96 e 97). 4. Em outubro de 1992, a ministra da Habitação francesa , Marie-Noelle Lienemann declarou: "O Partido Socialista aca-
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bou. Nós lemos que criar uma nova estrutura, um novo partido" (cfr. "Folha de S. Paulo", 22-10-92). Tais declarações equivalem a um verdadeiro atestado de óbito do sonho autogestionário dos socialistas franceses(2 3).
CEBs: instrumento da esquerda católica para reformar o Brasil num sentido socializante Uma corrente teológica dita "da libertação", explicitada pelos teólogos Gustavo Gutiérrez e Hugo Assmann e impulsionada pela Conferência do Episcopado Latino-americano de Meclellin, em 1968, se expandiu larga mente em círculos teológicos de todo o mundo. Ela procura fundamento na Sagrada Escritura para erros veiculados por duas correntes doutrinárias distintas, mas intimamente conjugadas entre si: uma constituída pelo progressismo no campo ela Teologia, da Filosofia e da Moral, com os conseqüentes reflexos entre os estudiosos do Direito Canônico, da História Eclesiástica, etc. E a outra pelo esquerdismo no campo ela sociologia católica, também com reflexos conseq üentes nos estudos de Economia e de Política promovidos sob a influência católica, bem como na vida, no pensamento e na ação elas correntes políticas denominadas democratas-cristãs, socialistas cristãs, socialistas católicas, etc. A doutrina da Teologia da Libertação foi condenada em vários ele seus aspectos por João Paulo II, em sua Alocução de Puebla ( 1979). Não obstante, ela continu ou a se expandir tranqüi lamente por todo o Brasil. As potencialidades ele ação susc itadas ou estimuladas pelo progressismo pedem, por sua própria natureza, uma organização que dê, no plano concreto, unidade ele metas e de métodos aos clérigos e fiéis engajados no empreendimento ele reformar o Brasil num sentido socializante. Esta organização é constituída pelas CEBs. Para alertar o Brasi l contra essa ameaça, os irmãos Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo, e eu escrevemos o livro intitulado As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve corno são. 23 ) Nota da redação - O leitor desejoso de conhecer mais pormenores sobre mai s este eficaz e salutar documento do Prof. Plínio Corrêa ele Oliveira - e isto em nível internacional - , se verú plenamente atend ido consultando o li vro U111 //0111e111, 1111,a obra, 11111a ge.1·1a (pp . 286 a 297).
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Na primeira parte, mostro como as CEBs são o instrumento ela esquerda católica para se mear o descontentamento na popu lação (especialmente entre os trabalhadores manuais), transformar em seguida o descontentamento em agitação e, através dessa agitação, impor aos Poderes Públicos a tríplice Reforma: Agrária, Urbana e Empresaria l. Tudo isso, muito provavelmente, com vistas a instituir no Brasil um regime socialista autogestionário. A Parte [[ da obra informa o público brasileiro sobre a realidade elas CEBs - a doutrina disseminada por estas, sua organização, seus métodos para recrutamento de aderentes, e para a ação cios mesmos aderentes sobre o conjunto do corpo social. Para este efeito, os autores dessa parte ela obra foram colher os dados, por assim dizer, cios próprios lábios daquelas organizações, isto é, cios escritos em que elas se autodefi nem para seus aderentes e para o público. Completam as informações assim coligidas, outras notícias de jornais e revistas inteiramente insuspeitos de distorcer os fatos em detrimento elas CEBs . A partir de agosto ele 1982, sócios e cooperadores da TFP encarregaram-se da difusão da obra por todo o Brasi 1- 151 O cidades foram visitadas pelas beneméritas caravanas de propagandistas da TFP - tendo-se escoado 6 edições do livro, num total de 72 mi l exemplares.
A propriedade privada e a livre iniciativa,
no tufão agro-reformista Com a inesperada doença e em segu ida a morte do presidente eleito, Tancredo Neves, e a ascensão à Presidência ela República cio Sr. José Sarney, em 15 de março ele 1985 inaugurou-se no Brasi Ia Nova República. Veio ela disposta a levar avante a Reforma Agrária, encalhada desde o Estatuto da Terra, promulgado em novembro de 1964 pelo Governo Castelo Branco. Concom itanteme nte, o País estava sendo tumultuado por invasores ele propriedades individuais, os quais procuravam justificar suas investidas tomando por base um a fundamentação doutrinária de aparência católica. Nesse momento em que o País ia entrando numa fase de grandes controvérsias sobre matérias doutrinárias, técnicas e outras, que marcavam a fundo o desempenho da Nova República, publiquei o livro A propriedade privada e a livre iniciativa, no tufão agro-reformisla. Nele anali so, item por item , o Plano Nacional ele Reforma Agrária (PNRA), então lançado pelo Governo fede-
ra l. Como sempre, tomo como base doutrinária os ens inamentos cio Supremo Magistério da Igreja, na defesa da propriedade privada e da livre iniciativa - e elas respectivas funções sociais gravemente feridas pelo PNRA. Em ampla campanha de esclarecimento ela opinião pública acerca da Reforma Agrária, 52 duplas de propagandistas da TFP e quatro caravanas ele sócios e cooperadores da entidade percorreram 694 cidades em 19 Unidades ela Federação, fazendo escoar duas edições do livro, num total ele 16 mil exemplares, e mais 30 mil exemplares ele uma edição especial ele Catolicismo (nº 415-416, ele julho-agosto de 1985), com excertos cio livro. Nessa verdade ira epopéia anti-agro-reformista, os propagandi stas ela TFP contactaram então mais de dez mil faze ndeiros ele norte a sul do Brasil.
Guerreiros da Virgem: a réplica da autenticidade -A TFP sem segredos Toda a luta que venho desenvolvendo contra a Revolução não fi caria adequadamente descrita se não mencionasse a contra-ofensiva cios adversários, que se segue a cada lance maior desse combate. Enveredar pela narração pormenorizada de tal contra-investida seri a alongar em demas ia este auto-rei rato fi losó.fico. Restrinjome a um exem plo típ ico. Apenas oito dias após seu primeiro lance na batalha anti-agroreformista que acaba ele ser descrita, a TFP era objeto de uma investida publicitária em matéria alheia à controvérsia agrária: urna reportagem pub licada em "O Estado de S. Paulo", ocupando página inteira, sob o título Guerreiros da Virgem., escravos da TFP. Tal reportagem fora precedida por vistosa propaganda publ icacla durante todos os dias da semana anterior. Fazendo eco à publicidade ele "O Estado ele S. Paulo", 29 outros jornais e revistas de todo o País divulgaram matérias de variadas ex tensões, com esse mesmo conteúdo. O eixo ele toda a celeuma era o livro Guerreiros da Virgem - A vida secrela da TFP, pouco depoi s colocado à venda nas livrarias ele São Pau lo e ele outras cidades cio Brasil. Seu autor, o Sr. José Antonio Pedriali, fora cooperador da entidade, e agora integrava o quadro ele jornal istas ele "O Estado ele S. Paulo". Para condensar numa única frase todo o extenso corpo de acusações cio Sr. J.A.P., pode-se dizer que, segundo ele, a TFP seria urna seita ele caráter iniciático que, por meio da lavagem cerebral, produz efeitos altamente danosos sob re seus sóc ios e cooperadores. Tão pesadas acusações eram feitas em tom de uma aparente naturalidade, quase sorridente. Ao mesmo tempo, o livro inclui
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descrições tão cruamente imorais, e até tão obscenas, de lances da conduta do autor em seu processo ele afastamento da TFP, que poderiam figurar na farta literatura pornográfica atualmente em curso no País. Tudo isto vinha à tona, como foi dito, no preciso momento em que a TFP se erguia mais uma vez contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória. Procurava-se inculcar no público uma nova imagem da entidade: a TFP não seria ... anticomunista! Não seria o que todo o povo brasileiro sabe que, desde sua fundação, ela é ele modo ininterrupto, notório e heróico. Seria, pelo contrário, uma seita obscura, e todo o gigantesco esforço anticomunista ele seus sócios·e cooperadores não passaria ele uma miragem, de um embuste. Apesar da propaganda estrondejante que precedeu e acompanhou o lançamento desse livro, ele nem de longe causou o efeito que seu autor e a lançadora pareciam esperar. "Tudo quanto é exagerado é insignificante" - afirmou Talleyrancl. O desmesurado, o evidentemente inverossímil da acusação do Sr. J. A. Pedriali reduziu-a liminarmente à merecida insignificância. A resposta ela TFP a essas acusações constou do livro que escrev i, Guerreiros da Virgem: a réplica da autenticidade - A TFP sem segredos (Ed itora Vera Cru z, São Paulo, 1985, 333 pp.). Nele aponto as manipulações que se têm fei to ela palavra seita, com vistas a denegrir as entidades que, como a TFP, levantem obstácu los ao processo revolucionário. Ali mostro, também, que lavagem cerebral é uma expressão jornalística que os cientistas ele bom quilate não levam a sério. Como de hábito, à réplica ela TFP seguiu-se o silêncio dos adversários, que nada encontraram para treplicar. Na verdade, as batalhas da TFP, nas quais, como é óbv io, me encontro pessoalmente envolv ido, caracterizam-se por um ritomello: 1º) a uma campanha nossa segue-se uma contra-ofensiva dos adversários sobre um ponto extrínseco ao tema da campanha; 2º) a TFP refuta as acusações cios adversários e estes se calam; 3º) tempos depois (às vezes anos), os adversários (os mesmos ou outros) voltam às acusações iniciais, como se nada houvesse sido refutado! ...
25 anos de luta contra o agro-socialismo confiscatório A Nova República prosseguia no seu esforço inglório de implantar no Brasil o agro-socialismo confiscatório. A TFP, sempre atenta, acompanhava ele perto cada lance. Em 1986, a meu pedido, o conhecicloMaster of Science em economia agrária, Carlos Patrício dei Campo, sócio efetivo da TFP brasileira, escreveu o livro Is Brazi/ Sliding Toward the
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Extreme Left? - Notes on the Land Reform Progrcun in South Ame rica 's Largest anel Most Populous Country, que a TFP norteamericana lançou em Washington, em outubro ele 1986. Receberam o livro os principais centros de decisão norte-americanos: todos os membros ele primeiCarlos Patricio dei Campo ro e segundo escalão cio Governo dos Estados Unidos; todos os senadores e deputados, embaixadores norte-americanos; bancos internacionais com sede nos Estados Unidos, centenas de intelectuais conservadores, brazilianists e l. l 00 jornali stas. A obra apresenta penetrante análise da realidade sócio-econômica brasileira, solidamente baseada em estatísticas insuspeitas. Os prestidigitadores da fome e da miséria, os quais, sob esse pretexto, queriam impingir ao País uma Reforma Agrária socialista e confiscatória, ficavam, assim, privados de sua insustentável argumentação. No prefácio do livro descrevo, em rápidas pinceladas, o Brasil real, em confronto com o quadro profundamente pessimista e tendencioso apresentado pela propaganda esquerdista no Exterior. Entrementes, a TFP se preparava para entrar em nova campanha, desta vez para divulgar o livro de minha autoria, No Brasil, a Reforma Agrária leva a miséria ao campo e à cidade A TFP informa, analisa, alerta (Editora Vera Cruz, São Paulo, 64 pp.), no qual faço um balanço de 25 anos de luta contra o agro-socialismo confiscatório, e incito os fazendeiros e produtores rurais a não se deixarem embair pelo velho slogan agroreformista ceder para não perder, alertando-os para o fato de que a irresolução deles era a primeira condição de êxito da investida agro-reformista. Da obra foram feitas quatro edições, num total de 55 mil exemplares, vendidos diretamente ao público em campanhas de rua, pelos propagandistas da TFP.
Rumo à socialização integral do País: uma Constituição que a maioria da população não quer Dado que o modelo de democracia-direta - que vigiu, por exemplo, nos Estados de dimensões municipais da Antigüidade helênica - é impraticável nos Estados contemporâneos, devido à amplitude de sua população e de seu território, a democracia se exerce neles de modo indireto, ou seja, representativo.
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Assim, os cidadãos elegem representantes, que votam as leis e dirigem o Estado segundo as intenções do eleitorado. É democracia representativa. A relação entre o eleitor e o candidato por ele sufragado é, em essência, a de uma procuração. O eleitor confere ao candidato a deputado ou senador de sua preferência um mandato, para que exerça o Poder Legislativo segundo o programa que este deve expor normalmente ao conhecimento da opinião pública durante a campanha eleitoral. Análogas afirmações cabem quanto às eleições para o preenchimento de vagas no Poder Executivo. Em conseqüência de quanto fica aq ui exposto, a autenticidade do regime democrático repousa por inteiro sobre a autenticidade da representação. É isto óbvio. Pois, se a democracia é o governo do povo, ela só será autêntica se os detentores do Poder Público (tanto o Executivo como o Legislativo) forem escolhidos e atuarem segundo os métodos e tendo em vista as metas desejados pelo povo. Se tal não se dá, o regime democrático não passa de uma vã aparência, quiçá de uma fraude. Tal problema se colocava de modo agudo para os brasileiros que tinham sido chamados a eleger, em 15 de novembro de 1986, parlamentares que formariam a futura Assembléia Nacional Constituinte. Realizado o pleito eleitoral, impunha-se fazer um estudo que versasse ao mesmo tempo sobre a representatividade da Constituinte então elei ta e sobre o Projeto de Constituição que ela estava elaborando. O resultado desse estudo foi o livro Projeto de Constituição angustia o País, que concluí em outubro de J987, e que foi oferecido a todos os Constituintes como contribuição para evitar o funesto desfecho que se podia vislumbrar ante o eventual divórcio do novo texto constitucional em relação ao pensamento majoritário da Nação. Na Parte I desse trabalho analiso os requisitos para a representatividade de uma eleição. Faço aí a distinção entre políticos-profissionais e profissionais-políticos, e mostro como o ingresso destes últimos na vida pública, como representantes autênticos das mais variadas profissões ou campos de atividade, enriqueceria o quadro político do País. Nisso estaria, a meu ver, o meio para desfazer o alheamento do eleitorado (manifestado pela surpreendente porcentagem de abstenções, votos brancos e nulos) e sanar a carência de representatividade ela Constituinte, melancólico resultado da eleição-sem-idéias de 1986 (Parte II). A essa carência de representatividade congênita veio somarse outra, decorrente do funcionamento tumultuado e anômalo da
própria Constituinte, em que as inautenticidades se sucediam em cadeia: 1º) o Plenário da Constituinte era menos conservador do que o eleitorado; 2º) as Comissões temáticas eram mais esquerdistas que o Plenário; 3º) a Comissão de Sistematização (q ue coordenava o trabalho preparado pelas Comissões temáticas) apresentava a maior dose de concentração esquerdista da Constituinte. Assim, uma minoria esquerdi sta ativa, articulada, audac iosa, ameaçava arrastar o País por rumos não desejados pela maioria da população (Parte III). Na Parte IV analiso o Projeto ele Constituição que então subia para debate em Plenário, e mostro como se estava dando um grande passo rumo à socialização integral do Brasil, notadamente no que concerne à desagregação da família e ao minguamento da propriedade parti cular. O livro termina com uma proposta concreta: em primeiro lugar, votar-se-ia uma Constituição sobre a organização política, a respeito da qual faci lmente se pode chegar a um consenso nas condições atuais da opini ão pública brasileira. Aprovada essa parte pelos constitu intes, seri a submetida a um referendum. popular. Numa segu nda etapa, após amp lo trabalho de esclarec imento da população sobre as matérias de natureza sócio-econômica, arespeito das quais há uma profunda divisão, elaborar-se-ia um complemento, o qual também seria submetido a referendum. Isto importaria em dar à população a maior largueza possível de expressão, e a Constitu inte, em pontos tão delicados, elevar-se-ia ao nobre papel ele interrogar o povo para conhecer sua vontade. Sócios e cooperadores ela TFP consagraram-se, durante cinco meses, a difundir a obra por mais de 240 cidades de 18 Unidades ela Federação, fazendo escoar os 73 mil exemplares ed itados. Ressalte-se a média-recorde de 1.083 exemplares di{u·ios vendidos durante os dezenove dias ele difusão intensiva na Grande São Paulo. Finalmente, esboçou-se uma certa reação cios elementos mais conservadores no seio da Constituinte; porém faltavam-lhes o ímpeto e a determinação necessários para reverter o processo descrito no livro. E o Brasil foi presenteado com uma Constituição que criaria em seguida toda espécie de embaraços para a governabi lidade do País.
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Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana
Um dos aspectos mais graves da presente crise brasileira tem como causa profunda o processo de deperec imento gradual de nossas elites.
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Desde fins do século XIX, esse fenômeno se vem produzindo com crescente intensidade, sem que nosso otimismo brasileiro, despreocupado e bonacheirão, tenha dado ao fato a devida atenção. E isto nos conduziu a este terrível fim de século: Em qualquer campo de atividade onde se queiram reintroduzir a honradez, a competência e a ordem, não faltam sugestões inteligentes a pôr em prática. Mas a grande questão qu~ surge desde logo é a da constituição, para cada plano, de uma equipe moral e intelectualmente capaz. Inteligências - muitas das quais até insignes - não nos faltam. Infelizmente nossa maior carência é no campo moral, e a todo momento nos encontramos diante desta embaraçosa constatação. E por que não temos tais equipes? Porque não ternos as necessárias elites. Onde há elites moral e intelectualmente capazes, os homens idôneos por sua competênci a e por sua moralidade não faltam. Onde não há elites, os homens de real valor são raros, pouco conhecidos e condenados a vegetar anônimos na multidão dos medíocres ou dos gatunos. O memorável Pontífice Pio XIl (1939-1958) previu provavelmente que, mais cedo ou mais tarde, as condições morais do mundo moderno levariam a essa situação quase todos os países. O que lançaria a humanidade em uma crise onímoda de imprevisíveis conseqüências. Assim é que ele pronunciou, em seu pontificado, catorze importantíssimas alocuções, as quais contêm um apelo a que fossem preservados cuidadosamente, nos países com tradição nobiliárquica, as aristocracias respectivas. E que, ao mesmo tempo, as elites novas, originadas do trabalho exercido no campo da cultura, como no da produção, encontrassem condições propícias para constituírem elites autênticas·, congêneres com a nobreza por sua formação moral e cultural, como por sua capacidade de mando. Caber-lhes-ia formar, à maneira da nobreza, verdadeiras elites capazes de originar homens de escol nos mais variados campos. No Brasil, o apelo de Pio XII quase não teve repercussão. Teve-a escassa em outros países. E, assim, a fa lta de elites, que para nós era um problema trágico, para outras nações constitu i problema sério a que cumpre dar remédio urgente. Visando contribuir para a solução desse magno problema, escrevi o livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, que analisa as condições do mundo contemporâneo à luz das catorze alocuções de Pio XII. A primeira edição desta obra em idioma português foi confiada à notável Editora Civilização, de Portugal, e veio a lume em abril de 1993.
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Traduzida para o castelhano, a obra foi divulgada na Espanh a pela Editora Fernando III EI Santo. Essa edi ção cobriu não só o território espanhol, como o das nações hispano-americanas. Nos Estados Unidos, a obra foi publicada pela importante editora Hamilton Press, e teve seu lançamento ofi cial no prestigioso Mayflower Hotel de Washington, em setembro de 1993. Na ocasião, diante de um público de 850 convidados, entre os quais a Arquiduquesa Mônica da Áustria e o Duque de Maqueda, Grande de Espanha, discursaram personalidades de alto relevo na vida pública norteamericana. Na França, publicado pela Ed itora Albatros, o livro vem encontrando larga aceitação em amplos setores daquele país. Na Itáli a, a obra foi publicada pela Edi tora Marzorati, e apresentada no Congresso da Nobreza Européia, realizado em Milão em outubro de 1993, como também numa concorrida sessão de lançamento oficial no Ci rcolo della Stampa, Palácio Seberlloni , daquela cidade. O lançamento em Roma ocorreu no histórico palácio da Princesa Elvina Pallavicini, com a presença do Cardeal Alfons Stickler, de Mons. Cândido Alvim Pereira, Arcebi spo emérito de Lourenço Marq ues, do Arqu iduque Martin da Áustria, de príncipes, princesas e inúmeros outros membros da mais al ta aristocracia italiana. Nesses diversos atos, a obra fo i, além de acuradamente analisada, também vivamente elogiada pelos di stintos conferencistas que se sucederam no decurso das sessões então realizadas. Na imprensa romana, a repercus ão desse lançamento foi das mais vivas. Os principais quotidianos noticiaram com grande destaque o evento, o qual chegou a ser apresentado ("II Tempo", 3 l-10-93) como "os estados gerais da aristocracia negra" (assim é designada a parte mais tradicional da nobreza romana, a qual , solidária com a Santa Sé, se recusou a reconhecer a anexação forçada dos Estados Pontifícios à ltáJja). Importa consignar aqu i essas excelentes repercussões da obra, para mostrar a atualidade do tema nela tratado. Pois o mero enunciado do título dela poderia parecer, a várias pessoas, como de interesse unicamente histórico. De sua pe1feita consonância com o ensinamento pontifício dão testemunho calorosas cartas de apoio dos Em mos. Cardeais Sílvio Oddi, Luigi Ciappi, Alfons M. Stickler e Bernardino Echeverría, e de teólogos de fama mundial, como os padres Raimondo Spiazzi OP, Victorino Rodríguez OP, e Anastasio Gutiérrez CMF.
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Estudos, análises e pronunciamentos públicos Minha atuação doutrinária desenvolve-se também por meio de pronunciamentos publicados pela imprensa, TV e rádio, sobre as questões mais candentes, ou pelo envio às autoridades, de estudos e análises sobre temas de atualidade. Essa ação, exerço-a por vezes em nome pessoal, porém mais freqüentemente em nome do Conselho Nacional da TFP, que tenho a honra de presidir. Cito alguns exemplos. • Em dezembro de 1970 publiquei na imprensa diária um longo documento, essencialmente doutrinário, intitulado Análise, defesa e pedido de diálogo, defendendo a TFP dos ataques que lhe fazia o então Primaz do Bra~il e Arcebispo de Salvador, Cardeal D. Eugênio Sales, e ressaltando as afinidades ideológicas deste com o Arcebispo emérito de Recife, D. Helder Câmara, no que se refere ao esquerdismo. • Em 1972 enviei ao então Ministro da Justiça, Prof. Alfredo Buzaid, uma análise sobre o anteprojeto de Código Civil, no qual apontava uma tendência genérica ao relaxamento dos vínculos constitutivos da família e um injustificável preconceito contra a condição de proprietário, em benefício de uma concepção coletivista da sociedade humana. • Em abril de 1974, tendo chegado a seu auge a Ostpolitik vaticana, trazendo como conseqüência enorme perturbação de consciência para a maioria anticomunista de católicos, vi-me levado pelas circunstâncias a elaborar um documento - vasado na linguagem mais reverente - em que demonstro, com base na doutrina católica, a liceidade da resistência à détente com o comunismo, então promovida pelo Vaticano. Esse documento, intitulado A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas - Para a TFP: omitir-se? ou resistir?, foi largamente difundido pela imprensa nacional e internacional(24). 24 ) O documento verdadeiro manifesto - fo i publi cado em 57 diários de onze países: no Brasi l, em 36 jornais dos mais diversos pontos do País; na A1·gentina em "La Nación", de Buenos Aires, e "La Voz dei Interior", de Córdoba; no Chile em "La Tercera", de Santiago, "El Sur", de Concepción, "El Diario Austral", de Temuco, " La Prensa", de Osorno; no Uruguai e m "EI País", de Montevidéu; na Bolívia em "El Diario", de La Paz; no Eq uador em "El Comercio", de Qui to; na Colômbia em "EI Tiempo" e "El Espectador", de Bogotá; na Venezuela em "El Universal", "El Nacional", "Ultimas Noticias", "EI Mundo" e "200 I ", de Caracas; nos Estados Unidos em "The Nat ional Educator", de Fu llerton , Ca lifornia; no Canadá e m "Speek Up", de Toronto; na Espanha em "Hoja de i Lunes" e "Fuerza Nueva", de Madrid e "Región", de Ov iedo. Divulgaram-na, também, além
• Em fevereiro de 1990, diante da espetacular derrubada do muro de Berlim e da cortina de ferro, e dos abalos políticos que se sucedi am nos diversos países do bloco comunista, redigi o manifesto intitulado Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio, em que anali so o Descontentamento (assim grafado com inicial maiúscula) que lavrava naquelas nações e que logo depois teria como resultado o esfacelamento do império sov iético. O manifesto foi publicado pelas diversas TFPs em 21 jornais de oito países da América e da Europa.
Queda do Muro de Berlim,em novembro de 1989: ocasião para vigoroso manifesto sobre o grande descontentamento que sempre existiu atrás da Cortina de Ferro
O verdadeiro pensador deve ser também um observador da realidade palpável de todos os dias Como jornalista, comecei minha carreira no "Legionário", então expressão do pensamento da Congregação Mariana da paróquia de Santa Cecília, e mais tarde órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. Algo já disse sobre minha atuação à frente desse periódico, do qual fui diretor de 1933 a 1947. Em 1951 , com a maior parte dos antigos colaboradores do "Legionário", comecei a escrever no mensário Catolicismo, que então se fundava, e o qual continua a ser publicado com crescente pujança. Catolicismo tem uma tiragem média que atinge 15 mil exemplares, além de edições especiais de várias dezenas de milhares. Foi também em Catolicismo que criei e mantive, durante vários anos, a seção Ambientes, Costumes, Civilizações, por muitos apontada como a ex pressão rica e original de uma escola de produção intelectual. Essa seção constava da análise comparativa de
de Catolicismo, os jornais e revistas das diversas TFPs e entidades a lins: "Trad ición, Familia, Pro pi edad", da Argentina; "Fiducia" , do Chile; "Cristiandad", ela Bo lívia; " Reconquista", do Eq uador; "Cruzada", da Co lômbia; "Covadonga", da Venezuela e "Crusade fo r a Christian C ivi lization", dos Estados Unidos.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira com membros do Conselho Nacional da TFP (exceto o militar) após Missa pelas vítimas do comumsmona catedral de São Paulo, em 1967
aspectos do presente e dopassado, tendo por objeto monumentos históricos, fisionomias características, obras de aite ou de artesanato, apresentados ao leitor através de fotos. Tal análise, feita à luz dos princípios que ex plicitei emRevolução e Contra-Revolução, tinha por meta mostrar que a vida de todos os dias, em seus aspectosápices ou triviais, é suscetível de ser penetrada pelos mais altos princípios da Filosofia e da Religião. E não só penetrada, mas também utilizada como meio adequado pai·a afamar ou então negai·- de modo implícito, é verdade, mas insinuante e atuante - tais princípios. De ta l forma que, freqüentemente, as almas são modeladas muito mais pelos princípios vivos que pervadem e embebem os amb ientes, os costumes e as civ ili zações, do que pelas teorias por vezes estereotipadas e até mumificadas, produzidas à revelia da realidade, em algum isolado gabinete de trabalho ou postas em letargo em alguma biblioteca empoeirada. De onde a tese de Ambientes, Costumes, Civilizações consistir em que o verdadeiro pensador também deve ser normalmente um observador analista da realidade concreta e palpável de todos os dias. Se católico, esse pensador tem ademais o dever de procurar modificar essa mesma realidade, nos pontos em que ela contradiga a doutrina católica. De 1968 a 1990 colaborei como articu lista assíduo na "Folha de S. Paulo", analisando problemas da atualidade brasileira e mundial sob o ângu lo doutrinário. Com freqüência que se tornou habitual, meus artigos são reproduzidos em jornais norte-americanos e latino-americanos.
e, conseqüentemente, a necessidade em que ele se encontrou, para dar curso à Revolução encalhada e de recorrer com efici ência aos ai·dis da guerra psicológica revolucionária. Acontecimentos posteriores patentearam tragicamente, diante do mundo estupefato, a procedência de minhas afi rmações sobre o impressionante desgaste do chamado comuni smo ortodoxo. Acentuo o fato para mostrar que o caráter tradicionalista de uma corrente de pensamento não lhe tira a visão da realidade. Pelo contrário, nenhuma análise lúcida do presente pode prescindir da trad ição que o impregna, e em função da qual - a favo r ou contra - se estrutura o porvir. Empreguei intencionalmente a expressão corrente de pensamento. Creio que, mais ainda do que em meus livros e na minha atuação como professor univers itário e jornalista, encontro a imagem de meu pensamento e o fruto de meu trabalho doutrinário em um grupo de estudos e de ação, que se constituiu inicialmente em torno do "Legionário", e em segu ida de Catolicismo. Fosse este grupo socialista ou comuni sta, e as tubas da propaganda já teri am levado seu nome ao conhecimento do mais largo público, tal a inteligência, a cultura, a lucidez de observação que distinguem meus nobres companheiros. Preferiram eles, entretanto, aceitar des interessadamente as conseq üências da campanha de si lêncio que tenta abafar implacave lmente, em nossos dias de pretensa li berdade, a voz de quantos cantam fora do coro da Revolução universal. Destaco aqui o nome daqueles que a Providência já chamou a si: pelo brilho de sua colaboração no "Legionário" e em Catolicismo, o vigoroso polemista que foi o engenheiro José de Azeredo Santos; o professor universitário Fernando Furquim de Almeida, autor de estudos históricos de alto mérito; o advogado, escritor e redator exímio, José Cai-los Casti lho de Andrade, sob cujas mãos os artigos e textos de Catolicismo alcançavam um brilho e uma correção inexcedíveis. Foi ainda uma emanação dessa corrente de pensamento o livro penetrante, ao qual já me referi, de Fábio Vidigal Xavier da Silveira, Frei, o Kerensky chileno, qualificado de "profético" por observadores políticos chilenos.
O caráter tradicionalista de uma corrente de pensamento não lhe tira a visão da realidade Em meus livros e artigos, denunciei amplamente o grande desgaste do comunismo marxista e sua incapacidade de empolgar as multidões e conquistar o poder,
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TFP: os valores essenciais da civilização cristã despertam entusiasmo e dedicação incontáveis O mencionado núcleo de homens de estudo e de ação constituiu o pugilo inicial da Sociedade Brasilei-
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ra de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. Essa Sociedade é não só um precioso instrumento de difusão de todas as obras aqu i referidas, mas também uma pública afirmação de que na juventude de hoje a tradi ção, a fam íl ia e a propriedade, valores essenciais da civil ização cristã, são capazes de despertar entusiasmo e ded icação sem li mites. Nos cursos, nas pensões, nas sedes que a TFP mantém em cerca de trinta cidades dos mais diversos Estados da Federação, a grand e maior ia dos freqüentadores são jovens que se transformam em cooperadores abnegados e fervorosos. Ultrapassam eles, em nosso País, a cifra de 1.200. Os jovens cooperadores da TFP são provenientes de-famílias das mais variadas classes sociais, desde representantes da antiga nobreza imperial, da velha aristocracia rural da I República e dos novos capitalistas do mundo industrial e bancário da II República, até famíli as de trabalhadores manuai s, passando por toda a gama dos estratos sociais intermediários. A TFP conta também com a colaboração de correspondentes-esclarecedores, isto é, pessoas que, permanecendo extrínsecas ao quadro social, dão so lidariedade irrestrita aos princípios e aos métodos desta Sociedade, e empregam o tempo que lhes deixe livres o cumprimento de seus deveres fam iliares e profissionais, na propaganda da TFP, de suas doutrinas e ideais. Graças ao trabalho desinteressado e elevadamente idealista dos cooperadores da TFP e, na med ida de suas possibi lidades, dos correspondentes da mesma, a entidade tem podido empreender uma série de campanhas, cuja narração entra a propósito aqu i, porque são reflexo do pensamento a que dediquei minha vida: • Em 1966, o Governo Castelo Branco apresentou um projeto de Código Civil divorcista. Mantendo na rua, durante cinqüenta dias, uma média de quatrocentos coletores de assinaturas, fo i possível à TFP reunir l .042.359 firmas contrárias ao divórcio. O Governo retirou o projeto. • Em 1968, a TFP realizou em todo o BrasiI uma campanha de coleta de assinaturas, desta vez pedindo a Paulo VI medidas contra a infiltração esq uerd ista em meios católicos. O fato detonador da campanha foi o tristemente célebre documento Comblin, no qual o sacerdote belga Joseph Comblin, acobe1tado em Recife por D. Helder Câmara, pregava reformas escandalosamente subversivas. Nessa ocasião, 1.600.368 brasileiros subscreveram, em apenas 58 dias, o abaixo-assinado. As TFPs da Argentina, Chil e e Uruguai resolveram fazer análoga campanha face a problemas surgidos nos
seus respectivos países, o que resultou no envio a Paulo VI de um total de 2.025.201 assinaturas. • Já no ano seguinte tratou-se da difusão de um número especial de Catolicismo, denunciando os chamados "grupos proféticos" e o IDO-C, organismos enquistados na Igreja p,u-a corroê-la internamente, e levála depois ajogar-se na subversão. Nessa ocasião, dezenove cai·avanas de jovens propagandistas percorreram, em 70 dias, 514 cidades (em vinte Estados) de nosso território. Foram então vendidos 165 - ., 'I'"- Ol:ul· e mil exemplai·es de Catolicisl11íi11rucr10G11nm1í$lt1 mo. Foi nessa campanha que, O Povo brusilc11 Pnd,.,. •~1li-r.lcncul pela primeira vez, por iniciativa minha, a TFP lançou, para uso dos seus cooperadores, a capa rubra ostentando o leão áureo, hoje tão conhecida. Juntamente com o estandrute, as capas têm marcado, de lá pai·a cá, não só a fisionomia da TFP, mas por ocasião das crunpanhas da entidade - a própria paisagem das cidades brasileiras. Campanha de coleta • Cinqüenta cidades de nosso País assistiram, em de assinaturas 1970, à campanha de divu lgação, feita pela TFP, de denunciando a um artigo-man ifesto que redigi, intitulado Toda a ver- infiltração comunista em meios dade sobre as eleições no Chile. Contribuiu ele sensi- católicos: dois velmente para anular o mau efeito que a propaganda milhões de sulcomuni sta procurava produzir no Brasil, quando da amencanos eleição do socialo-comun ista Allende para Presidente apelaram a Paulo VI da Repúb lica andina. Foram distribuídos na ocasião 550 mil exemplares desse manifesto, além da venda, em larga escala, de Frei, o Kerensky chileno. • Em dezembro do mesmo ano, a TFP arrecadou , em campanha pública reali zada em quatro das principais capitais do País, grande quantidade de dinheiro, roupas, bri nquedos e gêneros alimentícios, para o Natal dos pobres. O prod uto da coleta foi entregue a associações de caridade, para que o distribuíssem. • Em fins de 1972 e início de 1973, a TFP promoveu uma campanha de porte nac ional para a difu são da corajoss1 e oportuníssima Carta Pastoral sobre Cursilhos de Cristandade, de D. Antonio de Castro Mayer (2 5). Nela, o então Bispo de Campos alertava os católicos de sua Diocese sobre perigosos erros doutrin
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2') Nota da redação - O referido documento fo i rccl igiclo, porta nto, 1Oanos antes cio afastamento cio Prel ado cm rel ação à
TFP.
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Representantes das Tf Ps na Praça
Vermelha, em Moscou, após entregar a Gorbachev o maior abaixo-assinado da História, pela libertação da Lituânia
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nários, inclusive abertura para o marxismo, que afetavam numerosos setores desse movimento. Em quatro meses, treze caravanas com 120 propagandistas percorreram 1328 cidades de norte a sul do Brasil , vendendo 93 mil exemplares da Pastoral. • Em 1974, sócios e cooperadores da TFP empenham-se em ajudar o Exército Azul de Nossa Senhora de Fátima a promover a peregrinação da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, que chorara mi lagrosamente em Nova Orleans, Estados Unidos. O bem que essa Imagem Peregrina tem feito às almas, no Brasil e no Exterior, é literalmente incalculável. Mais de 500 mil pessoas acorreram para venerá-la em seu percurso pela América do Sul. • Em 1975 o divorcismo voltou à carga, através de duas emendas constitucionais. A TFP também retornou às ruas, desta vez para difundir a Carta Pastoral Pelo casamento indissolúvel, do Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer. Em pouco mais de um mês venderam-se cem mil exemplares da Carta Pastoral. As emendas divorcistas foram rejeitadas. • A partir de maio de 1977, a TFP do Brasil , bem como as demais TFPs do continente americano, divulgaram em seus respectivos órgãos de imprensa e em dezenas de milhares de folhetos um importante estudo entregue pela TFP norte-americana aos membros de ambas as Casas do Congresso, ao Departamento de Estado e a influentes personalidades da vida pública dos Estados Unidos. Intitulado Direitos humanos na América Latina - o utopismo democrático de Carter favo rece a expansão comunista, o estudo da TFP norte-americana observa que a administração Carter "se outorgou o direito de definir, dogmaticamente, e com validade absoluta para todos os povos, grande número de pontos controvertidos, como se fosse uma espécie de Vaticano infalível, determinando a natureza elas liberdades civis que todàs as nações têm que aceitar". • Ex poentes da Teologia da Libertação reuniramse em fin s de fevereiro de 1980 em Taboão da Serra, em São Paul o. À noite, entretanto, eram realizadas pelas CEBs sessões de animação dos participantes da jornada de Taboão da Serra, no Teatro da Pontifícia Uni versidade Católica de São Paulo (TUCA). A noite de 28 d~ fevereiro foi especialmente consagrada à Revolução Sandinista da Nicarágua, e constituiu um for-
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te incitamento à guerri feito pelos 1ha, sandinistas à esquerda católica brasileira e de toda América Lati na. Catolicismo obteve a gravação da sessão (facultada, aliás, a qualquer pessoa presente) e a publicou, com comentários meus, no número de julho-agosto de 1980. As caravanas de propagandistas da TFP divulgaram a reportagem de Catolicismo por todo o território nacional (36.500 exemplares). As TFPs da Argentina, Colômbia, Equador, Uruguai e Espanha reproduziram meu estudo sobre a Noite Sandinista em seus respectivos países, totalizando, com a edição do Brasil, 80.500 exempl ares. • Consultados por proprietários rurai s, os professores Sílvio Rodri gues, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, e Orlando Gomes, da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, afirm am, em bem fund amentados pareceres, que toca aos fazendeiros, desassistidos do Poder Público, o direito de defender-se à mão armada contra bandos de desordeiros que tentam invadir suas propriedades, com a intenção de ocupá-las ilegalmente. A partir de janeiro de 1986, a TFP deu a mais ampla divul gação aos pareceres dos doi s emin entes jurisconsultos, fazendo-os publicar em 87 jornais de 76 cidades de 2 l Estados. • Durante 130 di as, de 31 de maio a princípios de outubro de 1990, as TFPs e Bureaux-TFP reuni ram 5.2 18.020 ass inatu ras em 26 países, para um abaixo-ass inado hipotecando solidariedade à declaração de independência da Lituânia do jugo soviéti co. Uma delegação das TFPs, de onze membros, entregou o abaixo-assinado ao Pres idente da Lituâni a, Vytautas Landsbergis, no dia 4 de dezembro de 1990. No di a 6, já em Moscou, a delegação se fez foto gra fa r em pl ena Praça Vermelh a, desfraldando um estandarte da entidade, com todos os seus integrantes portando a capa vermelha característica das TFPs. E no dia 11 do mes mo mês a comitiva entrego u, nos próprios escritórios do Kremlin, uma carta coleti va dos presidentes de todas as TFPs ao Preside nte da URSS , Mikhail Gorbachev, solicitando-lhe formalmente que, diante dessa categórica mani fes tação do mundo livre, removesse todos os obstáculos qu e impedi am a Lituânia de alcançar sua plena independência.
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AUTO-R ET RATO FILO SÓFI CO
• Entre as memoráveis campanhas da TFP, incluem-se também as de difusão dos liv ros que escrevi, bem como das demais obras editadas sob os auspícios da entidade. Dentre estas, cabe destacar, pela sua ori ginalidade, a coleção intitulada Diálogos Sociais. Consiste ela em vá rios opúsc ulos que tratam de di versos temas ligados à problemática comunismoanticomunismo, no diapasão em que são habitualmente sentidos e comentados pelo homem comum em conversas caseiras e enco ntros de rua. Os Diálogos Sociais colocam ao alcance do grande público, de modo resumido e substa ncioso, argumentos para qu e ele possa premunir-se contra as artimanhas da propaganda do sociali smo e do comunismo. Os três opúscul os da coleção edi tados no Bras il intitulam-se: Nº 1 - A propriedade privada é um roubo ?; Nº 2 - Devemos trabalhar só para o Estado ?; Nº 3 - É antisocial economizar para os fi lhos? Em edi ções sucessiva fora m vendidos, no Bras il , 100 mil exemplares de cada opúsc ul o. • Outras atuações da TFP: publicação de mani festos pelos jornais e estudos enviados às autoridades mo strand o os as pectos sociali za ntes da lei do inquilinato; carta ao Presidente Castelo Branco em prol de uma lei de imprensa que conciliasse a repressão dos abusos com uma justa e adequada liberdade; mi ssas anuais realizadas: l) pelas almas das vítimas que o comunismo vem fazendo , desde l 917, em todo o mundo, em particular no Brasil, através de atos de terrori smo, e 2) pela libertação dos povos escravizados pela seita vermelha; campanhas rea li zadas pelos estudantes da entidade a fim de alertar a juventude universitári a sobre a origem e objetivos esquerdi stas de certas fermentações estudantis; memori al ao Ministro da Justiça contra o aborto; visitas sistemáticas a hospitais, a fim de levar o conforto de uma palavra cristã e de uma dádiva material aos doentes, principalmente os mais pobres e abandonados; recolhimento de roupas e alimentos de pessoas abastadas e posterior di stribuição nos bairros pobres.
SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA AO ASSINANTE Telefone: (011) 223-4233 São Paulo - SP
Se qui sesse hi stori ar aqui tudo o qu e a TFP tem feito na linha da difusão doutrinária e do combate ideológico, seri a um não mais acabar. Citei , portanto, apenas as grandes campanhas levadas a cabo pela organi zação que fundei, e cujo Conselho Nacional tenho a honra de pres idir. Elas têm cabida aqui porque compl etam, mais ainda do que meu retrato filosófi co, a fi sionomi a dos princípios que defendo .
No campo das idéias, não existe apenas o antigo e o novo, mas sobretudo o verdadeiro e o perene Com efeito, ao ler este retrato filosófico, muitos terão tido em mente, de começo a fim , uma objeção: tudo isto é anacrônico e incapaz de deitar· raízes no mundo em que vivemos. A linguagem dos fatos é outra. No campo das idéias, não existe apenas o antigo e o novo, como quereriam os evolucionistas. Ex istem também, e sobretudo, o verdadeiro, o bom,.º belo e o perene. Em contraposição irreconciliável com o erro, o mal e o disforme. E ao verum, bonum e pulchrum, significativos setores da juventude hodierna não só permanecem sensíveis, mas engajaram uma marcha de resoluta expansão. A trad ição do perene não é morte, mas vida vida de hoje e vida de amanhã. De outra maneira não se explicari a este fato patente, que é a repercussão das vári as TFPs na mais nova juventude deste nosso novíssimo continente. Não pretendo ser apenas um defensor do passado, mas um colaborador - com outras forças vivas - para in fl uir no presente e preparar o futuro . Estou certo de que os princípios a que consagrei minha vida são hoje mais atuais do que nunca e apontam o cami nho que o mu ndo seguirá nos próximos séculos. Os céticos poderão sorrir. Mas o sorri so dos céticos jamais conseguiu deter a marcha vitori osa dos que têm Fé. O
CATOLICISMO é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Fi lho Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago Registrada na DRT-SP sob o n• 23228 Redação e Gerência: Rua General Jardim , 770, cj. 3 D CEP 01 223·010 São Paulo SP - Tel: (011 ) 257-1088 ISSN 0008-8528 Fotolitos: Bureau Bandeirante de Pré-impressão Lida. Ru a Malrinque, 96 CEP 04037- 020 São Paulo SP 1mpressi!o: Arlpress Indústri a Gráfica e Editora Lida. Ru a Javaés, 681 CEP 0 11 30-010 São Paulo SP
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Preços da assinatura anual para o mês de OUTUBRO de 1996: Comum: R$ 50 ,00 Cooperador: R$ 75,00 Benfeitor: R$ 150,00 Grande Benfeitor: R$ 250,00 Exemplares avulsos: R$ 5,00 N.B.- 0 que exceder ao valor da assinatu ra comum considera-se um donativo para a difusão de Catolicismo e para as atividades estatutárias da TFP
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N~ssa Senhora foi sempre a Luz de minha vida O testamento do cruzado do século XX m nome da Santíss ima e Indivídua Trindade, Padre, Fi lho e Espírito Santo. E da Bem-aventurada Virgem Maria, minha Mãe e Senhora. Amém. Eu, Plínio Corrêa de Oliveira, filho legítimo do Dr. João Paulo Corrêa de Oliveira e de Dona Lucíli a Ribeiro Corrêa de Oliveira, ambos já fal ecidos, brasileiro, natural desta Capital do Estado de São Paulo, onde nasci em treze ele dezembro de mil novecentos e oito, solteiro, advogado e professor uni versitário, residente e domiciliado nesta mesma cidade, estando . em meu perfeito juízo, resolvo, li vre e espontaneamente, fazer este meu testamento, a fim de dispor ele meus bens, para depois de minha morte, e estabelecer outras determinações ele última vontade, na forma que passo a ex por: Declaro que vivi e espero morrer na Santa Fé Católica Apostóli ca e Romana, à qual ad iro com todas as veras de minha alma. Não encontro palavras suficientes para agradecer a Nossa Senhora o favor de haver vivido desde os meus primeiros dias, e de morrer, como espero, na Santa Igreja, à qual votei, voto e espero votar até o último alento, abso lutamente todo meu amor. De tal sorte que todas as pessoas, instituições e doutrinas que amei durante minha vida, e atualmente amo, só as amei ou amo porque eram ou são segundo a Santa Igreja, e na medida em que eram ou são segundo a Santa Igreja. Igualmente, jamais combati instituições, pessoas ou doutrinas senão porque e na medida em que eram opostas à Santa Igreja Católi ca. Agradeço ela mesma forma a Nossa Senhora - sem que me seja possível encontrar palavras sufi cientes para fazê- loa graça de haver lido e difundido o "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem" , ele São Luís Maria Gri gnion de
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Dona Lucilia Ribeiro Corrêa de Oliveira
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Montfort, e de me haver consagrado a Ela como escravo perpétuo. Nossa Senhora foi sempre a Luz de minha vida, e de sua clemência espero que seja Ela minha Luz e meu Auxílio até o último instante da existência. Agradeço ainda a Nossa Senhora - e quão comoviclamente- haver-me feito nascer de Dona Lucília. Eu a venerei e a amei em todo o limite do que me era possível, e, depois de sua morte, não houve dia em que não a recordasse com saudades indizíveis. Também à alma dela peço que me assista até o último momento com sua bondade inefável. Espero encontrá-la no Céu, na coorte luminosa das almas que amaram mais especialmente Nossa Senhora. Tenho a consciência do dever cumpri do, pelo fato de ter fundado e dirigido mi nha gloriosa e querida TFP. Osculo em espírito o estandarte desta que se encontra na Sala do Reino de Maria. São tais os vínculos de alma que tenho com cada um dos sócios e cooperadores da TFP brasileira, como das demai s TFPs, que me é impossível mencionar aqu i especialmente alguém para lhe ex primir meu afeto. Peço que Nossa Sen hora os abençoe a todos e a cada um. Depois da morte, espero junto a Ela rezar por todos, ajudando-os ass im de modo mais eficaz do que na vida terrena. Aos que me deram motivos de queixa, perclôo de toda a alma. Faço votos de que minha mo1te seja para todos ocasião da graça que chamamos do Granel Retour ('). Não tenho diretrizes a dar para essa eventualidade, pois melhor do que eu o fará Nossa Senhora. Em qualquer caso, a todos e a cada um peço entranhadamente e de joelhos que sejam sumamente devotos de Nossa Senhora durante toda a vida.( ...) São Paulo, 1Ode janeiro de 1978. (a)
Plinio Corrêa de Oliveira
Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que verteu lágrimas milagrosamente em Nova Orleans (EUA), em 1972 (') Nol.a da Redação - A ex pressão Gra11d !?eto11 r ( rand c Retorno) surgi u e111 1942, na França. Neste ano, in ic iara 111- se pereg rin ações de quatro cópias da anti ga e ralllosa i magelll de N ossa Se nh ora de 13oul og ne, qu e v isit ara111 durant e c in co ano s dezesse is lll il paróqu ias, aproxi 111 acla111e nte a 111 e tade do núm ero d e paróquias daquele país. Tai s peregrin ações ocas ionara111 um ca udal de g ra ças, qu e deter111 inou imp ress i onante 111ov i111ento de renovação es piritu al no seio ci o povo. Este, desde o iníc io, cha111 ou espontânea e apropriad alllente esse 111ov i 111ent o de Gra11d !? e10 11r, i sto é Grande Reto rn o da Fran ça à devoção lll arial.
E' opo rtun o 111enc ionar aq ui u111 exce rto do di sc urso do Papa Pio X 11 , por ocasião da audi ênc ia co ncedida a u111 grup o de peregrin os do Gra 11d !?eto11r, e111 22 de nove111bro de 1946:
"Sede .fiéis Àq11e/a q11e vo11s g11io11 aré aq11i. ( ... ) A co 11dição i11di spe11 s6ve l para a perseve ran ça 11 esra co11sllg raçcio (ao /111 acu lado Co ra çcio de Maria ) co11sisr e e111 caplar se 11 ve rdadei ro se 111ida, de 10111 â- /a e111 lodo .reu alca nce. de ass umir /ea /111 e111 e todas as obrigaçr1es a ela i11ere11tes. "N6s 11iio podemos aq11i se11cio recordar o que dissemos a este respeito e 111 11111 ani versário muito ca ro a Nosso coraçcio: 'A con rngraçcio à Miie de De11s... é 1111,a e111rega /Ola/ de si, para ioda a vida
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e para a elernidade; 11(10 uma e111rega de mera forma ou de meros se111h11e111os, 11,as uma entrega efeli va, realizada 11a i111e11sidade da vida crislci e 111aria/ " (Di sc urso el e 2 1 de janei ro de 1945 aos co11gréga11is1es el e Nossa Se nho ra) ( D i sco rsi e Racl iomessaggi di Sua Santità Pio X II , Tipog raria Pol iglott a Vati ca na , vo L V II I, pp. 323-324). O Prof. Pl íni o Co rr êa el e O li ve ira e os membros da TFP, utili za ndo-se da signiri ca ti va
ex pressão francesa, passaram a chamar a graça do Gra11 d l? e10 11r , u111 a profunda res taura ção es piritual - à maneira ele conversão - que Nossa Senhora co ncederá àqu eles rilh os seus fi éis, tendo em v i sta os dra m á ti cos e g randi osos aconteci mentos prev i stos por Ela em Fátima.
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Desfile da TFP no centro da capital paulista, por ocasião do V centenário da Descoberta da América, em 1992
Os que recusam qualquer pacto com a heresia Plinio Corrêa de Oliveira Quem somos nós? Os que não dobram os dois joelhos, e nem sequer um joelho só, diante de Baal ( 1). Os que temos a vossa Lei escrita no bronze de nossa alma, e não permitimos que as doutrinas deste século gravem seus erros sobre este bronze, que sagrado vossa Redenção tornou. Os que amamos como o mais precioso dos tesouros apureza imaculada da ortodoxia, e que recusamos qualquer pacto com a heresia, suas obras e infiltrações ... Não poupamos a impiedade insolente e orgulhosa de si mesma, o vício que se estadeia com ufania e e·scarnece a virtude.
Quem somos nós? Na tormenta, na aparente desordem, na aparente aflição, na quebra aparente de tudo aq uilo que para nós seria a vitória, somos aqueles que coníiaram, que jamais duvidaram, mesmo quando o mal parecera ter vencido para sempre. Quem somos nós? Somos filhos e seremos heróis da confiança, os paladinos desta virtude! Quanto mais o, acontecimentos parecerem desmentir a voz da graça que nos diz - "vencereis"-, tanto mais acreditaremos na vitória de Maria! (2).
N. da R. - 1. Ídolo do povo ca naneu, que fo i cultuado com freqüência, segundo o Antigo Testamento, pelos israelitas, quando estes abandonavam o culto verdadeiro de Jeová e se entregavam à idolatri a. Em v i sta disso, "dobrar os j oe lh os diante de Baal " si gnifi ca hodiernamente a apostasia da verdadeira Religião, a cató lica, apostólica, romana, e o resvalamento no neopagani smo contemporâneo.
N. da R - 2. O prim ei ro parágrafo ac ima c itado foi extraído de "O Legionário " , de 22 de dezembro de 1946 . O segundo, d· um a co nferênci a proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de O li veira para sóc ios e coo pera dores da TFP em 9 de agos to de 1995 . E o terceiro, de um a pales tra ao mes mo auditóri o, em 20 de dezembro de 199 1.
AfOLICI Nº 551- Novembro de 1996
NESTA EDIÇÃO: PuNro CoRRÊA DE OuvmRA
2 Após enunciar as características do processo revolucionário e descrever sua ação na História do Ocidente, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira expõe, neste item 5 E da Parte I de Revolução e Contra-Revolução, qual seja, a este propósito, o pensamento da Igreja em matéria de regimes de governo.
são rebaixadas, por esse modo, à categoria de governos impotentes, aceitáveis à fa lta de rnelhor? ( A . A. S., Vo l. II, p. 6 18).
- Bonne Presse, Paris, vol. III, p. 11 6) deixou cl aro, ao fa lar das diversas formas de governo, que
pelo Papa Pio VI como sendo em tese a melhor fo rm a ele govern o
A
"cada uma delas é boa, desde que saiba caminhar retamente para seu.fim, a saber, o bem comum, para o qual a auto ridade social é constituída".
Ora, sem este erro, in v i sceraclo no processo de que fa lamos, não se explica inteira mente que a monarq ui a, q ual ificada
- "praestantioris monarchici reginúnis f orma " - (A locução ao Consistóri o, ele 17- Vl - 1793 "Les Enseignements Pon-
tificaux - La Paix lntérieure eles Nations - par les m.oines de Solesmes" - Desc lée & C ie., p. 8), tenha sido obj eto, nos séculos XIX e XX, ele um mov imento mund ial de hostili dade que deu por terra com os tronos e as dinastias ma is veneráveis. A produção em série ele repúblicas para o mundo inteiro é, a nosso ver, um fruto típ ico ela Revo lução, e um aspecto capi ta l dela. Não pode ser taxado ele revo1ucionári o quem para sua Pátri a,
por razões concretas e locais, ressalvados sempre os direitos ela autoridade legítima, prefere a democracia à aristocra-
Taxamos de revolucionári a, isto sim , a hostilidade professada, por prin cíp io, contra a monarqui a e a ari stocracia, como sendo fo rm as essencial mente incompatíveis com a dignidade humana e a ordem normal das coisas. É o erro
cia ou à monarqui a. M as sim quem, levado pelo espíri to iguali tári o da Revolução, odeia em princípio, e qualifica ele inj usta ou inumana por essência, a aristocracia ou a monarquia. D esse ódio an ti monárqui co · anti -ari sto Táti co, nas · '111 as democrac ias demagóg icas , que combatem a tradi ção, perseguem as
condenado por São Pio X na Carta Apostó li ca
"Notre Charge Apostolique ", de 25 ele agosto de 19 1O. Nela censura o grande e santo Pontífice a tese do "Sillon ", ele que "só a democra-
cia inaugurará o reino da perfe ita j ustiça", e exclama: "Não é isto uma injúria às outras fo rmas de governo, que 2
Exemplo de instituição de cunho aristocrático nascida num país democrático é a célebre Guarda Suíça
• CATOLICISMO
e lites , de g radam o to1w.1· geral ela vida, e criam um ambiente ele vu lgaridade que constitui como que a nota dominante ela cu ltura e ela civi l ização, ... se é que
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A PALAVRA DO SACERDOTE
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condições. Como diverge desta democracia revolucionária a democracia descrita por Pio XII: "Segundo
o testemunho da História, onde reina uma verdadeira democracia a vida do povo está como que impregnada de sãs tradições, que é ilícito abate,: Representcmtes dessas tradições são, antes de tudo, as classes dirigentes, ou seja, os grupos de homens e mulheres ou as associações, que dão, como se costuma dize r, o tom na aldeia e na cidade, na região e no país inteim. "Daqui, em todos os povos civilizados, a existência e o inf luxo de instituições eminentemente aristocráticas, no senlido mais elevado da palavra, como são algumas academias de larga e bern merecidafama. Pertence a este número também. a nobreza" (A locução ao Patri ciado e
à
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PÁGINA MARIANA
Nossa Senhora da Consolação, protetora dos aflitos
PALAVRAS DE VIDA ETERNA
O que vale mais: 19 Doutrina ou milagres?
HISTÓRIA SAGRADA
6 Cuba é a vergonha do
Gedeão vence os madianitas
Continente!
INTERNACIONAL
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MEC quer "iniciação sexual" nas escolas
NACIONAL
O vazio das eleições munic1pa1s
VIDAS DE SANTOS
DECADÊNCIA MORAL
BRASIL REAL, BRASIL BRASILEIRO
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Santa Isabel da Hungria, princesa e santa
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Rodeios e vaquejadas
IMAGENS EM PAINEL
VERDADES ESQUECIDAS
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DISCERN INDO, DISTINGUINDO, CLASSIFICANDO...
Ataques à Religião católica na França
"Casamento" homossexual no Brasil
1946 - "D isco rs i e Radio111essaggi", vol. VII , p. 340).
Na seqüência deste tema, veremos no próximo número o que diz o ilustre Autor de Revolução e Contra-Revolução sobre as ditaduras.
DEPOIMENTO
Padre aponta intuição profética de Plinio 18 Corrêa de Oliveira
ENTREVISTA
Nob reza Romana, ele 16- 1-
Como se vê, o espíri to da democracia revo lucionári a é bem diverso daq uele que eleve animar uma democracia conforme a cloutri na ela Igrej a. O
A REALI DADE CONCISAMENTE
O custo social da droga
os conceitos de civ i li zação e de cu ltura se podem reali zar em tais
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Marido ou mulher separados podem casarse de novo?
Monarquia, república, Religião
Monarquia, república e Religião fim, de ev itar ~u alquer equivoco, convem acentu ar que esta exposição não contém a afirm ação de que a república é um regime político necessari amente revolucionári o. Leão XIII (Encícli ca "Au Milieu eles solliciludes ", de l 6-TI- l 892
REVOLU ÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO
Japão moderno x Japão tradicional
Homossexuais pereceram no Natal
TFPs EM AÇÃO
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Lançada na Itália biografia do fundador da TFP
CAPA: A fuga de Lot - Gravura de Gustave Dorée, séc. XIX. CATOLICISMO -
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Indiferença ante assassinato de Arcebispo católico Dom Pierre Claverie, Arcebispo de Oran, na Argélia, foi assassinado por militantes do GJS (Grupo Islâmico Armado) no começo de agosto. E já foi esquecido. E' uma víti ma a mais da violência que assola tantas partes do mundo contemporâneo. Porém, com uma diferença em relação às outras: são poucas as lágrimas derramadas em favor de vítimas cató licas. Por quê? Os adeptos do ecumenismo tal:vez possam dar alguma explicação ...
Bom exemplo, dado por bebês Custos sociais da droga Os bebês são sensíveis à música e reagem à cacofoni a. É o que descobriram psi cólogos da Universidade de Harvard. 32 bebês de apenas quatro meses, para os quais foi posta música desafinada e estridente, choravam e manifestavam irritação. Quando a música era harmônica, ouviam calmamente, e a lguns chegavam até a balbuciar sons. Essas tenras criaturas proporcionam valiosa lição para os adolescentes e adu ltos, que tanto sofrem com as estridências e cacofon ias tipo heavy metal, por se dobrarem à tirania da "moda".
Direitos humanos made in China A China comunista é campeã mundial em execuções de criminosos. Nos últimos três meses, mais de mil foram ali executados, sempre com um tiro na nuca e, para cúmulo de inclemência, com a conta da bala sendo remetida para a família. Lá se pode deter urna pessoa por três meses, sem nenhuma acusação. Os réus só têm direito a advogado poucos dias antes do julgamento, e a defesa não pode apresentar contestação, mas deve se limitar a um pedido de clemência. É claro que os erros judiciais prolife-
ram, muito especialmente as vinganças de policiais inescrupulosos e a denúncias falsas. Dos crimes previ tos no Código Penal, um quruto são punidos com a morte. Os empresários do mundo ocidental que fazem negócios com a China comunista têm presente que estão favorecendo a manutenção de um tal regime? Ou só lhes interessa a satisfação de sua própria ganânc ia? E o caro leitor, acha justo comprar objetos e roupas importados daquele imenso cárcere?
"Justiça" sumária na China comunista: os "paladinos" dos direitos humanos, o que fazem de concreto por tantas vítimas? 4
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O abuso e a dependência de drogas custaram à cidade de Nova York, em 1994, 20 bilhões de dólares. Deste total, 5, 1 bilhões foram gastos em serviços de saúde e 4, l bilhões em policiamento, julgamentos, prisões e no sistema judiciário de maneira geral. Isso apenas numa cidade. Quanto custará no mundo? Que riquezas e prospetidade esse dinheiro poderia proporcionar a todos? O abuso de drogas afeta ainda a produtividade, gera desemprego, violência, abandono de crianças e desestruturação de farru1ias. Um combate sério às causas mais profundas do consumo de drogas não existe sem coerção à propaganda das mais degradantes e abjetas formas de imoralidade, que con-e solta no mundo atual. Tal combate e o fottalecimento da instituição familiai.· serão meios dos mais eficientes para ir extinguindo o consumo dos entorpecentes.
Alerta contra a abertura de cassinos Ricardo Gazel, mineiro radicado nos Estados Unidos, é doutor em Economia e diretor do Centro de Pesquisas Econômicas da Universidade de Nevada. Especializou-se em estudar os reflexos da indústria do jogo em economias regionais, e adverte contra a campanha pela reabertura de cassinos no Brasil: "Os cassinos provocam mudanças profundas no comportamento das pessoas e, muitas vezes, geram problemas sociais que não compensam os ganhos econômicos. Os problemas gerados pelos cassinos costumam ser infinitamente maiores do que os benefícios. Cada jogador viciado custa para a sociedade entre dez mil e trinta mil dólares por ano. É dinheiro pe rdido com tratamentos, internações, sistema judiciário e penitenciário".
Nossa Senhora da Consolação A todos os que estejam aflitos, recomenda-se rezar a jaculatória "Consoladora dos aflitos, rogai por nós" PAULO FRANCISCO MARTOS
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e_vid~ aos terrív~is flagelo~ espintuais e matena1s que açoitam o mundo, atingindo não raramente a vida quotidia,na de muitos, inúmeras pessoas ficam aflitas. Algumas , infelizmente, chegam a cair no desespero. Para vencer as dificuldades que a Providência permite que se abatam - merecidamente ou não - sobre nós, suportai.· com paciência os sofrimentos e enfrentar as lutas e advers idades da vida com ânimo, ênfase e resolução, nada melhor do que recorrer a Nossa Senhora da Consolação.
Nossa Senhora e os Apóstolos Os Apóstolos tiveram a insigne graça de acompanhar de perto o Divino Mestre. Ao vê-lo afastar-se, para subir ao Céu gloriosamente, poderia tê-los invadido uma sensação de desamparo, de desolação . Mas com e les ficara Nossa Senhora. E Maria Santíssima, corno verdadeira Mãe dos discípulos de Nosso Senhor, conso lou-os e os encorajou na árdua e nobre missão de levar a Fé ao mundo imerso no paganismo, que lhes fora dada claramente pelo Redentor: "Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer será condenado" (Me. 16, 15-16). Malgrado o que dizem certos membros da corrente progressista "católica" favoráve l a urna neornissiologia, este mandado divino continua e continuará imutável, não só para os sucessores dos Apóstolos, mas para todos os cristãos. E Mru·ia Santíssima continua sendo, neste vale de lágrimas, a conso ladora de todos os filhos que a E la recorrem.
Agostinianos difundem devoção a Nossa Senhora da Consolação A devoção a Nossa Senhora da Consolação - ou Consoladora dos aflitos, como está inserida na Ladainha Lauretana - difundiu-se em todo o mundo por intermédio dos agostinianos. Santo Agostinho e Santa Mônica, sua mãe, foram grandes devotos de Nossa Senhora da Sagrada Correia, pois a e la se deve a conversão do Bispo de Hipona. No século XVI, o Papa Gregório XIII reuniu a arquiconfraria Cinturados de Santo Agostinho e de Santa Mônica e a confraria Nossa Senhora da Consolação numa só ru·quiconfrruia chamada Cinturados de Nossa Senhora da Consolação ou Correia. A prutir daí os agostiniru10s tomru-am-se os grandes propugnadores da devoção a Nossa Senhora da Consolação também chru11ada Nossa Senhora da Correia. A festa de Nossa Senhora da Consolação é celebrada no primeiro domingo após o dia de Santo Agostinho (28 de agosto). Dessa forma, a festa é móvel.
Maria consola seus devotos no purgatório Nossa Senhora socorre seus devotos não apenas neste mundo, mas também no purgatório, onde tem· pleno poder, tanto para aliviá-los como também para livrálos completamente. Sobretudo em suas festas, Nossa Senhora vai até o purgatório e liberta grande número de almas. Eis o que conta Santo Afonso Maria de Ligório, em sua magnífica obra "Glórias de Maria Santíssima": CATOLICISMO -
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Nossa Senhora da Consolação, na igreja do mesmo nome, em São Paulo
"Refere São Pedro Damião [Doutor da Igreja falecido em 1072] que certa mulher, chamada Marózia, apareceu depois de morta a uma sua comadre, e lhe disse que no dia da Assunção de Maria havia sido libertada do purgatório. Que, juntamente com ela, saíra um tão considerável número de almas, que excediam o da população de Roma" .
Igreja e cemitério da Consolação, em São Paulo Desde o séc ulo XVIII, havia na capital paulista um cemitério, situado naquela época bem distante do centro da cidade. Exprim indo o consolo que a Mãe de Deus concedia àqueles que iam visitar os restos mottais de seus entes queridos, foi erigida não distante do cemitério uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Consolação. Em 1907, aquele templo foi demolido, dando lugar ao que hoje ai i se encontra, com sua torre de 75 metros de altura e ornamentado interiormente por expressivas pinturas de autoria de Oscru· Pereira da Silva e Benedito Calixto. O cemitério e a rua que o Liga à igreja receberam também o nome de Consolação. □
Fontes de referência: •santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria Santíssima, Vozes, Petrópolis, 1964, 6' ed., p. 154. •Pe. Laurentino Gutiérrcz OSA,Manual da A1quico11.fraria da Sagrada Correia, Editora Ave Maria, São Paulo, 1960. • Nilza Botelho Megale, Cento e doze invocações da Virgem Maria no Brasil, Vozes, 1986, 2" ed.
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· Cuba comunista: vergonha de nosso continente Terror, controle psicológico, miséria e desagregação moral afligem a população da ilha-prisão há mais de 30 anos Ao longo da última década, Gonzalo Guimaraens espec ializou-se em assuntos político-sociais latino-americanos, com ênfase quanto à questão da Cuba castrista, bem como ao estudo da influência da mídia nos acontecimentos mundiais. Nosso entrevistado, que é membro do diretório da TFP uruguaia, ressalta que teve a incomparáv el oportunidade de se aprofundar nesses temas sob adireta orientação do Prof Plinio Corrêa de Oliveira, em numerosas reuniões de análise, durante anos. Pesquisador em um dos centros de estudos que a TFP brasileira mantém em São Paulo, Guimaraens é autor de substanciosos trabalhos, relatórios e artigos de imprensa sobre o regime comunista de Cuba. É ainda consultor de diversas TFPs e da organização Cubanos Desterrados, de Miami, sobre matérias de sua especialidade. A convite de entidades de cubanos no exílio, dos Estados Unidos, esteve recentemente em Washington e Miami, proferindo conferências e concedendo entrevistas à imprensa. Catolicismo convidou-o para falar sobre a questão cubana, possivelmente tema da VI Conferência Iberoamericana que se realizará no presente mês, em Santiago do Chile.
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Gonzalo Guimaraens
Catolicismo - Qual é o principal ponto a ser focalizado no tema da Cuba castrista? G. Guimaraens - Penso que é a própria e escandalosa continuidade do regime comunista de Cuba, no seio de nosso continente, que já se prolonga por 37 anos. Quase quatro décadas! É um fato intolerável, que se passa diante da indiferença, quando não da cumplicidade, de tantos dirigentes do Ocidente. Neste mesmo instante em que falamos, J 1 milhões de cubanos, que são nossos irmãos, geniem sob o jugo de uma das mais cruéis tiranias comunistas deste século.
A vida do povo cubano é marcada pela radical negação dos princípios cristãos CATOLICISMO -
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Catolicismo - Pode definir, numa frase, o regime comunista de Cuba? G. Guimaraens - Por analogia com a definição que o Cardeal Ratzinger aplicou ao comunismo, qualificando-o como a vergonha de nosso tempo, defin.iria Cuba comunista como a vergonha de nosso continente. Catolicismo - Como é a vida na ilha-prisão hoje? G. Guimaraens - É uma vida - mais precisamente, uma agonia - marcada pelo terror, pela miséria total e pela negação radical dos princípios da moral cristã. Catolicismo - Pode dar exemplos? G. Guimaraens -Comecemos pelo clima de terror. Para esmagar qualquer manifestação de dissidência, o regime comunista combina habilmente a violência física da polícia política e de grupos paramilitares, com sofisticados métodos de controle e pressão psicológica. Conceituados especialistas têm mostrado que em Cuba existe a maior máquina repressiva do mundo. Catolicismo -É fácil perceber como o regime comunista aplica a violência física; mas como exerce o controle psicológico? G. Guimaraens - Entre os muitos instrumentos para exercer o que os sociólogos chamam de controle social, estão os tristemente célebres Comitês de Defesa da Revolução (CDRs). Eles controlam os movimentos e condutas dos habitan-
tes das cidades, quarteirão por quarteirão, prédio de apartamento por prédio de apartamento, etc. Uma denúncia provinda desses comitês, ainda que seja por simples vingança pessoal e não por razões ideológicas, pode selar a sorte de uma pessoa. O Sr. já imaginou o que é viver nessas condições? Não é sem razão que os CDRs foram qualificados de engenho satânico. Catolicismo -Esse controle se exerce também sobre as crianças? G. Guimaraens -Também, e muito especialmente! Pois nessa tenra idade as técnicas de condicionamento e controle social são mais fáceis de aplicar, e mais rapidamente assimiladas. Foi feito um estudo analítico em 15.000 crianças cubanas, que em 1980 fugiram para os Estados Unidos junto com seus pais. Oresultado foi pavo'roso. Essas crianças já tinham adquirido os reflexos do que os psicólogos denominaram disciplina do terror. Catolicismo - O Sr. mencionou a miséria ... G. Guimaraens - Sim, como a História recente demonstrou, a miséria é fruto necessário de todo regime comunista; e Cuba não é uma exceção. Essa miséria não é culpa do embargo comercial norteamericano, e sim do regime comunista vigente na ilha do Caribe, que desperdiçou a fabulosa soma de 50 bilhões de dólares de ajuda soviética. É o que denunciou Mons. Alfredo Petit, Bispo auxiliar de Havana, em declarações reproduzidas pelo jornal Eco Católico, da Costa Rica.
Permissivismo sexual comunista em Cuba favorece a prostituição, inclusive infanti[ Catolicismo - E sobre a desagregação moral de Cuba, à qual também o Sr. se referiu? G. Guimaraens - Quase quarenta anos de comunismo tiveram conseqüências deploráveis no campo moral. O ate-
Cortiços infectos em Havana: símbolo da miséria reinante em Cuba
ísmo militante e o permissivismo sexual da chamada moral comunista têm sido os dois pivôs da destruição moral de Cuba. Na ilha-prisão, os elevados índices de prostituição, inclusive infantil, não têm sua raiz na miséria, mas nesse permissivismo sexual que o comunismo fomenta. Recentemente, conversei com uma senhora chilena que acabava de visitar Cuba com sua família. Ela me contou , horrorizada, que na sua presença umas adolescentes quase meninas, que exerciam a prostituição, abordaram seu esposo - um senhor de avançada idade - para fazer-lhe propostas desonestas.
mito, uma grande fraude, trombeteada persistentemente por·certos meios de comunicação. Pesquisadores imparciais têm demonstrado como o regime castrista é insuperável na manipulação das estatísticas, obviamente com fins propagandísticos. O certo é que a famosa educação cubana não é senão um eficaz instrumento de doutrinação comunista; e os cha-
mados médicos da família, como se pode verificar nos manuais de medicina cubana, estão ao serviço do Partido Comunista e do controle da população. Catolicismo - Que diria aos empresários que fazem negócios com o regime de Havana? G. Guimaraens - Lembrem-se eles de que todos os campos da atividade humana devem estar norteados por princípios morais, inclusive a tão importante atividade econômica. E que é imoral obter vantagens econômicas à custa de 11 milhões de irmãos escravizados. Catolicismo - Como o Sr. sintetizaria a atitude do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em relação a Cuba? G. Guimaraens - A de um intelectual e homem de ação que desde o primeiro momento da revolução casttista, em 1959, denunciou clarividentemente seu caráter marxista, diante das ilusões e cegueiras de muitos líderes mundiais. O Dr. Plinio foi , sem dúvida, o intelectual católico do Ocidente que mais se empenhou, através de pronunciamentos e escritos, na luta pela libertação da outrora Pérola das Antilhas. Tenho certeza de que a História lhe reconhecerá esse mérito, entre tantos outros de sua frutífera vida. Nunca Dr. Plinio deixou passar uma oportunidade para denunciar a tirania castrista. Por isso é amplamente conhecido e respeitado entre os exi liados cubanos de Miami, tendo sido colaborador do conceituado Diario Las Américas durante décadas, até seu falecimento. D
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Lembrem-se os empresários de que é imoral obter vantagens à custa de 11 milhões de escravos Catolicismo -Mas fala-se muito das conquistas sociais do regime em matéria de educação e saúde. G. Guimaraens - Esse é um grande
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VISIT~ ·DE JOÃO PAULO II À FRANÇA:
Extremismo da esquerda não contamina suas próprias bases Fracassou a grande montagem esquerdista naquele país, que visava denegrir a Igreja Católica e o significado do batismo de Clóvis JUAN CARLOS CASTÉ ENVIADO ESPECIAL
República em perigo", "Complô contra a França", "O clericalismo, eis aí o inimigo" - estes gritos se escutaram novamente nas hostes laicistas, que assim pareciam despertar de um sono letárgico. Nas fileiras socialistas e republicanas ressoava o brado tão em voga durante a Revolução Francesa: "Às armas, cidadãos!" A esquerda se uniu, desde a "gauche caviar" (saborosa expressão utilizada na França para designar os esquerdistas da alta burguesia), representada por Lionel Jospin, líder do PSF (Partido Socialista Francês), até os vermelhos e negros anarquistas. Essa frente única das esquerdas era composta também por punks, verdes, etc. Qual o inimigo terrível que fazia estremecer a esquerda? Não era apenas a visita de João Paulo II. Era sobretudo o temor de uma mobilização dos católicos franceses por ocasião do 1500º aniversário do batismo de ClóvisC*l.
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O diretor do "Comitê Voltaire" (nome escolhido em homenagem ao conhecido escritor anticatólico do século XVIII), Thierry Meysan, exlíder católico de Bordeaux e hoje homossexual declarado, àssim se exprimiu: "Esta viagem pontifícia compreenderá várias etapas. João Paulo II se recolherá junto ao túmulo de São Luís Maria Grignion de Montfort, o qual, nos dizem, considera como seu modelo. Belo exemplo, com efeito, de um fanático especializado nos autos da Fé [queima] de livros libertinos" ("Le Monde", 10/9/96)
Manifestantes vestidos como bispos e freiras tentam ridicularizar a Igreja Católica, na capital francesa, mas não encontram ressonância na opinião pública
Até o Partido Comunista Francês recua, temendo a opinião pública
Em Paris, frente única de "católicos" progressistas, republicanos radicais, socialistas, anarquistas, ecologistas, homossexuais: revive ódio anticatólico do início deste século
Dos insultos para as dinamites...
Uma verdadeira nebulosa de grupos e grupúsculos desencadeou ferrenha campanha anticatólica, como não se via desde as polêmicas relativas à separação entre a Igreja e o Estado, no começo deste século.
Como se não bastasse o que era publicado nos jornais e revistas, as autoridades francesas temeram que se chegasse às vias de fato . E com toda razão! Pois conhecem muito bem a capacidade do ódio revolucionário, que tantas vezes marcou a história da França. Assim, a polícia e os serviços de inteligência receavam atentados ou intervenções violentas de grupos extremistas, como "Ras l'Front", que se mobilizaram "em defesa da laicidade" e viam na recepção oficial a João Paulo II uma con-
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Um batismo reacende polêmicas e o ódio anticatólico
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cessão às proposições de uma "ordem moral". Na Basílica de Saint-Laurent-surSevres descobriu -se uma bomba artesanal, composta de vários bastões de dinamite reunidos, aos pés de uma imagem de São Luís Maria Grignion de Montfort ("Le Figaro", 4/9/96). Em Nantes, uma missa na catedral foi interrompida por um grupo de agitadores que, aos ben-os, com vivas aos preservativos e jogando bolos de creme sobre os concelebrantes, anunciaram que continuariam a sabotar missas até que João Paulo II suspendesse sua viagem à França.
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O comitê de "antimitras" , como se autodenominavam os opositores à viagem de João Paulo II, estava composto, além dos grupos acima mencionados, pelo Partido Comunista Francês, pelo Partido Social ista Francês, por sindicatos de professores e estudantes, pelas centrais sindicais Força Operária e CGT, pelo Partido Radical Socialista e por várias importantes lojas maçônicas ("Valeurs Actuelles", 7/9/96). Dois dias antes da manifestação se produziram sintomáticas deserções. Com efeito, o PCF, no último momento, decidiu não convocar as suas hostes, por temor de chocar o eleitorado católico.
Manifestação "antimitras": sobrou ódio, faltou gente ... A Praça da República era o ponto de encontro dos "antimitras". O dia estava cinzento, triste e feio, parecendo com isto significar que os céus não aprovavam esse ato de ódio a Deus. O cortejo de blasfemos se pôs em marcha rumo à Praça da Bastilha, pouco depois das 13 hs. Quantos? "Le Monde" os calcula em 7 .000, os organizadores afirmam que fo-
ram 15.000, a polícia sustenta que foram 5.200. Em qualquer hipótese, um verdadeiro fiasco ante os 200.000 católicos ou mais, que se encontravam em Reims. Em um caminhão negro estavam urnas mulheres vestidas de religiosas, fazendo a paródia do sinal da Cruz, e outros, fantasiados de sacerdotes, de bispos e de cardeais . Um, fantasiado de Papa, distribuía "bênçãos" da maneira mais grotesca possível.
O que causou mais alvoroço foi um representando o demônio. Desse caminhão também se escutava urna gravação com a famosa música da Revolução Francesa "ça ira, ça ira, os aristocratas para a forca". Fechava a marcha um esquálido grupo de "verdes". Por todos os lados se viam homossexuais e lésbicas. Altofalantes a todo volume reproduziam canções com letras impublicáveis contra a Santíssima Virgem. Slogans compassados, treinados momentos antes, começaram a se fazer ouvir. Por exemplo: - "Nem Deus nem Senhor. O Papa fora de nossas vidas." - "Nem Deus nem patrão." - "2000 anos já bastam. Cabe às mulheres decidir". - "A família tradicional é a escravidão". - "Mulheres pelo direito ao aborto e à contracepção". O
Nota: (*) Vide a este respeito, em Catolicismo ele setembro ú ltimo, nº 549, o artigo Fran ça católica, Filha primogênila da Igreja: fruto de batismo e sagração providenciais e a entrevi sta exclusiva que a hi storiadora mundialmente conhecida Régine Pernoud concedeu ao nosso env iado especia l.
TFP francesa conclama ' ,.,,,, a reparaçao Face a esta situação, a TFP da Filha primogênita da Igreja não podia se omitir. A entidade lançou um Apelo aos católicos franceses, por meio de mala direta, fazendo ouvir sua inconformidade com os desmandos acima relatados. Depois de enumerar os atos descritos no presente artigo e citar trechos em def.esa da civilização cristã, de São Pio X e de Pio XI, a TFP francesa conclama à reparação, pedindo "à Santíssima Virgem, Medianeira universal de todas as graças, que escute as palavras de ressonâncias proféticas do grande Pontífice São Pio X', segundo as quais dia virá em que a "Filha primogênita da Igreja, nação predestinada", levará, como outrora, o nome de Deus "diante dos povos e diante dos reis da terra".
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PLINIO VIOIGAL XAVlliR DA SILVEIRA
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arodiando Ruy Barbosa, poderíamos dizer que o noticiário político dos últimos dois meses constituiu um verdadeiro deserto de homens e de idéias. A campanha eleitoral e a apuração dos votos atraía a atenção dos grandes interessados: a imprensa, os políticos e uma pequena parcela da população que acompanha com avidez a realização das eleições. Enquanto isso a maior parte do eleitorado bocejava, pouco convencida de que realmente "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente ... " (art. 1° da Constituição). Vazio ... As votações de reformas constitucionais, a criação de novos impostos, etc., eram seguidas também com sonolência, pois somente mínima parcela do povo tem condições de acompanhar o que se passa no Congresso Nacional. E mesmo se as tivesse, é de se perguntar se teria interesse em fazê-lo. Vazio ... Outros assuntos também enchiam de vazio os noticiários da mídia escrita e eletrônica: invasões de terra, acordos e desentendimentos entre fazendeiros e o MST, nomeações e demissões de superintendentes regionais do Incra, tudo parecia dar à Reforma Agrária uma temperatura elevada. Na realidade, apenas uma coisa é evidente: a impunidade 10
dos sem-terra. Também o vazio ... Enquanto isso, a novela o Rei do Gado, que procura apresentar uma visão simpática dos invasores de terra e uma imagem desfavorável dos proprietários, vai sendo acompanhada com avidez pela opinião pública. É o trabalho ideológico subliminar e constante de determinados meios de comunicação social que continua. Ainda o vazio ... Um fato da vida real, que está sendo noticiado como se fosse uma 11ovela, tem como personagem principal um menino amazonense. Os pais de um outro, que sumiu sequestrado há quatro anos, no Paraná, pensavam ter encontrado o filho perdido. Verificado o engano e descoberta sua verdadeira família, cabia à Justiça decidir com
quem ficaria a guarda do menino: com o pai, com a mãe ou com o tio. A população acompanhou o fato, que tanto toca à sua sensibilidade, dando a ele mais importância do que às pouco interessantes eleições municipais. Vazio ... mais uma vez o vazio ...
Vazio ... também nas eleições Não cabe a uma revista mensal, como é Catolicismo, fazer uma análise pormenorizada do resultado das eleições municipais de 3 de outubro último, mas cumpre destacar algumas conclusões evidentes, embora pouco comentadas pela grande imprensa. l. Confirmando a completa aversão dos brasileiros aos partidos declaradamente comunistas, o PPS (ex-
ARMAS EM FUNERAL A chocante aprovação do pagamento de indenização a parentes dos terroristas Lamarca e Marighela, inadimissível para a mentalidade de um povo pouco afeito à violência, como o brasileiro, provocou uma interessante repercussão. Os clubes Naval, Militar e da Aeronáutica publicaram no "G lobo" de 30-9-96 um anúncio fúnebre intitulado Armas em funeral reverenciando a memória de 15 vítimas assassinadas por terroristas somente nos meses de setembro de 1968 a 1972. Os mi litares da reserva, assim como boa parte da população brasileira, não conseguiram assimilar esse emprego de dinheiro público em benefício das famílias de ladrões e assassinos.
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PCB) e o PC do B - pelo menos nas capitais de Estado - não elegeram nenhum candidato em primeiro turno nem obtiveram qualquer participação no segundo. A principal figura nacional do PPS, o Senador pernambucano Roberto Freire, foi o quinto colocado, obtendo apenas 3,76% dos votos em Recife. 2. Muitos eleitores dos partidos que se dizem de esquerda não votam por convicção ideológica, mas somente por preferências pessoais. Os candidatos, por sua vez, escolhem essas legendas por mero oportunismo e também não têm posições declaradamente socialistas. O vazio das campanhas não permite concluir, pois, que a votação desses partidos tenha especialmente um sentido ideológico. De qualquer forma, é triste constatar que o povo brasileiro, paulatinamente, vai perdendo sua restrição a partidos ditos de esquerda. Dentre as capitais de estado, o PT, o PDT, o PSDB e o PSB , ganharam em Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre e Vitória, no primeiro turno, e terão 17 candidatos disputando o segundo.
Em São Paulo: desinteresse foi o segundo colocado... 3. A imprensa não trata do tema, mas o desinteresse da população foi clara-
mente expresso pelo elevado índice de abstenções, de votos nulos e em branco. Em São Paulo, cidade particularmente expressiva por possuir a terceira arrecadação do País, o número de abstenções foi de 1.110.069, que somados a 300.333 votos nulos e 87 .078 votos em branco alcançam um total de 1.497.480, ui trapassando folgadamente os 1.291.120 votos da segunda colocada, a petista Erundina. Isso não indicaria que o segundo colocado foi o desinteresse e não a candidata do PT?
lação - muitas vezes até dividindo de modo radical as opiniões, como o aborto e a imoralidade na televisão - quase não são abor-
dados pelos candidatos. Conseqüentemente, é compreensível que um eleitorado impregnado de tradições cristãs, impedido
de formar uma idéia verdadeira sobre as pos ições ideológicas dos diversos candidatos, se sinta desinteressado pelas eleições.
FRASE QUE FALA Neco Martins, produtor rural, 90 anos:
"...as leis trabalhistas desmoronaram aquela felicidade que havia entre patrões e empregados" ("Jornal de Notícias", Montes Claros - MG, 13-9-96)
Fenômeno Pitta Taniguchi: vitória de técnicos desconhecidos 4. O povo brasileiro é pacífico, ordeiro e conservador. Por esses motivos, ele não vê cqm simpatia as agitações reivindicatórias das esquerdas, preferindo muitas vezes a continuidade das administrações que se mostraram eficientes. Isso se verificou caracteristicamente em São Paulo e Curitiba, onde candidatos técnicos, apolíticos e desconhecidos, que jamais disputaram qualquer eleição, se destacaram com enorme votação, derrotando velhos e conhecidos políticos profissionais. 5. Mais uma vez, a análise dos resultados eleitorais indica o completo vazio em que se realizam as eleições no Brasil: predominam projetos e ambições pessoais e faltam argumentos ideológicos nas campanhas (tudo se passa como se fosse proibido levantar problemas ideológicos nos debates). Acrescente-se a isso que temas morais que atraem enormemente o interesse da popu-
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"Formação de liderança: Em sala de aula ao ar livre (sic!), decorada com cartazes de Karl Marx e Che Guevara o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, João Pedro Stédile, ministra curso a 20 jovens militantes na região do Pontal do Paranapanema" "Folha de S. Paulo", 29-9-96.
A QUEM INTERESSA? Curiosamente, no mesmo dia, 29-9-96, os três maiores jornais do País publicaram, como foto principal de primeira página, uma aula de formação de líderes ministrada pelo coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile. O local estava decorado com cartazes de Karl Marx e de Che Guevara (vide foto). Até recentemente, vários órgãos da imprensa procuravam esconder o caráter subversivo e comunista do MST, que a TFP vem denunciando há vários anos. O que terá acontecido? Terá cessado o patrulhamento ideológico? Ou terá sido mera coincidência? Julgue o leitor! CATOLICISMO -
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Está O Brasil à beira de um castigo divino? Se aprovado Projeto que legaliza o "casamento homossexual", nosso País atrairá a cólera de Deus como Sodoma e Gomorra. O que deve pensar o católico sobre isso? MURILLO M. GALLIBZ
tentati~a de dar foros de idadania no Brasil à nião homossexual está sendo reali zada através do Projeto de Lei nº U51/95 , da deputada Marta Suplicy (PT-SP), o qual "disciplina a união civil entre pessoas do mesmo sexo e dá outras providências", <1> Uma Comissão Especial de deputados - constituída de parlamentares, em sua quase totalidade pertencentes à mesma corrente de opinião <2> - quer aprovar esse Projeto de lei , que favorece a prática do homossexualismo, um pecado que contraria a ordem posta por Deus na natureza, Não só contraria frontalmente essa ordem, mas contraria também a opinião do povo brasileiro, Segundo pesquisa Datafolha <3> realizada em 12 capitais do País, verificou-se que a maioria dos brasileiros é contra esse tipo de união, Qual foi o processo psicológico utilizado para que tal Projeto de lei viesse à luz do dia, uma vez que, até algum tempo atrás, uma proposta desse gênero era impensável no Brasil? Sempre que os mentores do processo revolucionário, com vistas à destrui ção da civilização cristã, pretendem levar adiante sua obra no terreno das idéias ou dos fatos - ou seja, por meio da transformação das doutrinas, das instituições, das leis ou dos costumes -, realizam uma ação preliminar, Consiste ela na prepara-
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cessidades, vão incutindo na opinião pública uma predisposição para aceitar, com naturalidade, aquela nova idéia ou novo fato que di screpam, total ou parcialmente, dos princípios e das idéias professados tradicionalmente por aquela população, Tal manobra é descrita pelo Prof Plínio Corrêa de Oliveira como sendo a revolução nas tendências, à qual se segue a revolução nas idéias e nos fatos <4>_ Não queremos dizer com isto que todos os envolvidos no referido Projeto de lei tenham essas metas claras para si mesmos, Em qualquer hipótese, suas atitudes só favorecem essa manobra revolucionária,
Objetivo claro: reconhecer e dar foros de cidadania à união homossexual
Deus destrói Sodoma e Comorra. Lot foge com duas filhas. Sua mulher é transformada em coluna de sal como castigo por olhar para trás
ção da opinião pública no sentido de operar uma mudança de mentalidade da mesma, indispensável para que o novo fato revolucionário, ou mesmo a nova doutrina revolucionária, seja convenientemente aceito ou difundido, Isto porque, caso não tenha havido essa mudança de mentalidade, o novo fato ou a nova doutrina poderia chocar a opinião púCATOLICISMO -
blica e suscitar reações que prejudicariam a marcha do processo revolucionário, Tal mudança de mentalidade quase sempre tem como principais agentes certos meios de comunicação social (órgãos de imprensa, rádio, televisão), além do ci nema, teatro, etc, Todos eles, através de uma campanha mais longa ou menos, conforme as ne-
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Em seus artigos ini ciais o Projeto estabelece: "Art. l º, É assegurado a duas pessoas do mesmo sexo o reconhecimento de sua· uni ão civil, visando a proteção dos direitos à propriedade, à sucessão e dos demais regulados nesta Lei, "Art, 2º, A união civil entre pessoas do mesmo sexo constitui-se mediante registro em li vro próprio, nos Cartórios de Registro Civil de Pessoas Naturais,,,,, Parágrafo lº. Os interessados e interessadas comparecerão perante os oficiais de Registro Civil exibindo:
I - prova de serem solteiros ou solteiras, viúvos ou viúvas, divorciados ou divorciadas; II - prova de capacidade civil plena; UI - instrumento público de contrato de uni ão civil. Parágrafo 2º. O estado civil dos contratantes não poderá ser alterado na vi gência do contrato de união civil. "Art. 3°. O contrato de união civil será lavrado em Ofício de Notas, sendo livremente pactuado. Deverá versar sobre disposições patrimoniais, deveres, impedimentos e obrigações mútuas". Embora não faça referência expressa à homossexualidade, torna-se evidente que é uma espécie de contrato para que os homossexuais, homens e mulheres, tenham suas práticas execráveis reconhecidas como legítimas e registradas pelo Poder Judiciário. O contrato não altera o estado civil dos contratantes e pode ser extinto por solicitação de uma das partes (arts. 4º e ss.). Em certos aspectos jurídicos deve ser comparado ao casamento ou ao concubinato, mediante alterações de artigos das leis 6.015 (3 1-121973), 8.213 (24-7- 199 1), 8. l1 2 ( 11-1 2- 1990) e 6.815 (l9-8l980). (cfr. arts. 9º, ll , 12, 16).
Os "direitos" dos homossexuais Em sua Justificação, a autora do Projeto declara explicitamente que o mesmo tem por finalidade reconhecer como legítima e dar direitos oficiais à prática da homossexualidade entre duas pessoas. Para isso ela recorre aos mesmos argumentos relativistas utili zados para justificar o reconhecimento de outras leis imorais: - a homossexualidade é uma prática já bastante difundida na sociedade; - ass im, os que a praticam devem ser respeitados e amparados; - sendo legítima, tem o direito de ser exercida livremen-
Condenações da homossexualidade na Sagrada Escritura São abundantes as categóricas condenações existentes na Sagrada Escritura, no ensinamento dos Padres e Doutores da Igreja, de Santos e de Papas das mais diversas épocas. Assim, o que transcrevemos neste quadro e no das páginas seguintes é apenas uma pequena amostra da doutrina da Igreja Católica sobre o assunto.
Antigo Testamento * Pecado execrando - "Aquele que pecar com um homem, como se ele fosse uma mulher, ambos cometeram uma coisa execranda, sejam punidos de morte; o seu sangue caia sobre eles" (Lev. 20, l3) * O castigo divino sobre Sodoma e Gomorra - "Fez, pois, o Senhor da parte do Senhor chover sobre Sodoma e Camorra enxofre e fogo (vindo) do céu; e destruiu estas cidades, e todo o pais em roda, todos os habitantes das cidades, e toda a verdura da terra. E a mulher de Lot, tendo olhado para trás, ficou convertida numa estátua de sal. (Gen. 19, 24-26)
te, sem preconceitos ou discri minações contra ela; - uma vez que é um fato, deve ser reconhecido pelo direito. Com efeito, diz ela: "O presente Projeto de Lei visa o reconhecimento das relações entre pessoas do mesmo sexo, relacionamentos estes que cada vez mais vêm se impondo em nossa sociedade". Dá a entender claramente que o tipo de relac ionamento é o sexual, como confirma logo em seguida: "A ninguém. é dado ignorar que a heterossexualidade não é a única forma de expressão da sexualidade da pessoa humana" . Pottanto, sendo a homossexualidade uma expressão da sexual id ade hum ana "que vem cada vez mais se impondo em nossa sociedade", deve ser oficialmente reconhecida e respeitada, como declara em seguida: "A sociedade atual vive uma lacunafrente às pessoas que não são heterossexuais. Elas não têm como regulamentar a relação entre si e perante a sociedade . .... CATOLICISMO -
"Este Projeto pretende fazer valer o direito à orientação sexual, hetero, bi ou homossexual, enquanto expressão dos direitos inerentes à pessoa humana. Se os indivíduos têm direito à busca da felicidade, por uma norma imposta pelo direito natural (s ic) a todas as civilizações, não há porque continuar negando ou querendo desconhecer que muitas pessoas só são felizes se ligadas a outra domesmo sexo. .. .. Essas pessoas só buscam o respeito às suas uniões enquanto parceiros, respeito e consideração que lhes é devida pela sociedade e pelo Estado". A autora parece professar uma moral relativista levada aos seus extremos mai s perigosos. • Não deseja saber se a prática homossexual, mesmo limitada a parceiros fixos , é em si mesma um bem ou um mal moral; o problema moral não se põe para ela. Uma vez que tal prática existe e se difunde, deve ser oficialmente reconhecida e res peitada. O si_m ples existir já lhe confere fo-
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ros de cidadania. Além disso, a autora erige a busca da felicidade como um fim absoluto, um bem absoluto, de direito natural, ao qual todos devem ter acesso, não importando o meio utilizado para levar a esse fim. Mai s adiante a autora confirma sua argumentação de que uma situação de fato, pela sua mera existência, deve ser reconhecida pelo direito: "O Projeto de lei que disciplina a união civil entre pessoas do mesmo sexo vem regulamentar, através do direito, uma situação que, há muito, já existe de fato. E, o que de f ato existe, de direito não pode ser negado". A frase é ambígua, pois joga com doi s sentidos da palavra direito, podendo ser interpretada de maneira diversa. Com efeito, o que existe, por pior que seja, não pode ser negado que exista, mas isto não lhe confere automaticamente um direito a essa existência. O fato de ex istir o crime não lhe outorga direito de existência. Assim, uma situação que ex iste de fato não pode passar, por esta
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simples razão, a uma situação de direito. Este só lhe é conferido em razão de atributos próprios que se conformem com a lei na- .., tural e a lei positiva.
Condenações da homossexualidade na Sagrada Escritura
Apresentação da homossexualidade como "normal" Em sua Justificação do Projeto, a autora ainda confessa que o mesmo tem como uma de suas finalidades confirmar os homossexuai s em suas práticas, proporcionando-lhes maior segurança para aparecer enquanto tais perante a sociedade, sem receio de serein rejeitados ou perseguidos por ela. A homossexualidade deixaria de ser praticada na cl andestinidade, com vergonha e medo, para ter seu lugar ao sol como uma das formas legítimas de "orientação sexual". Afirma ela: "A aceitação lega l da união civil entre pessoas do mesmo sexo encorajará mais gays e lésbicas a assumirem sua orientação sexual. Longe de "criar" mais homossexuais, essa realidade somente tornará mais f ácil a vida das pessoas que j á vivem esta orientação sexual de forma clandestina. A possibilidade de assumir o que se é, tem como conseqüência a diminuição da angústia . .... O que é proibido ge ra vergonha, dissimulação e, muitas vezes, medo. A possibilidade da união estável, mesmo que não exercida, reduzirá problemas criados pela necessidade de esconder a própria natureza, de não ser reconhecido( a) socialmente, viver em isolamento ou na mentira". O Projeto quer elimin ar assim uma certa vergonha, um salutar sentimento de culpa, que poderia levar a uma mudança de vida, a uma continência sexual sustentada pela graça divina, mesmo conservando a tendência desviada. Pois Deus nunca falta àqueles que sinceramente desejam cumprir sua Lei e pedem o seu auxílio. 14
Novo Testamento D Apóstolo São Paulo -
" Não vos enganeis: nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, .... possuirão o reino de Deus". (I Cor. 6, 9-10) "A lei não foi feita para o justo, mas para os injustos e desobedientes, para os ímpios e pecadores, para os irreligiosos e profanos, para os parricidas, matricidas e homicidas, para os fornicadores, sodomitas, .... e para tudo o que é contra a sã doutrina". (I Tim. 1, 9-10) D Apóstolo São Pedro- "E se [Deus] condenou a uma total ruína as cidades de Sodoma e de Gomorra, reduzindo-as a cinzas, para servir de exemplo àqueles que
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venham a viver impiamente; se, enfim, livrou o justo Lot oprimido pelas injúrias e pelo viver luxurioso desses infames, (esse justo que habitava entre eles sentia, diariamente, a sua alma atormentada, vendo e ouvindo as suas obras iníquas), (é porque) o Senhor sabe livrar os justos da tentação e reservar os maus para o dia do juízo, a fim de serem atormentados" . (II Petr. 2, 6-9) D São Judas Tadeu - "Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas que fornicaram com elas, e se abandonaram ao prazer infame, foram postas por escarmento, sofrendo a pena do fogo eterno". (Jud. 1, 7)
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Mais uma "barreira de horror" cairá? Se por um lado o Projeto procura dar segurança aos homossexuais na prática de sua homos-
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midade que pessoas com orientação heterossexual, e devem ter direito ao mesmo apoio nas relações permanentes". E mais adiante a autora volta a acentuar que a sociedade deve aceitar a união entre homossex uais, para o benefício e segurança destes: "A atitude preconceituosa da sociedade resulta em isolamento para homossexuais e frequentemente dificulta suas vidas e até seus relacionamentos pessoais e estabilidade em.acional. A possibilidade de regularizar uma situação de união já existenle tornará estes relacionamentos mais estáveis . .... A vida social dos casais homossexuais também será afetada, fa zendo com que
sejam melhor aceitos pela sociedade e até pelas própriasfamílias . .... Todas as provisões aplicáveis aos casais casados também devem ser direito das parcerias homossexuais permanentes. A possibilidade para casais de gays e lésbicas registrarem suas parcerias implicará na aceitação por parte da sociedade de duas pessoas do mesmo sexo viverem juntas numa relação emocional permanenJe".
Tríplice atentado contra a lei moral natural Vemos assim que, do ponto de vista moral , este Projeto se apresenta como triplamente abominável e nefasto:
Homossexualidade fulminada por Doutores da Igreja
São Pedro (esq.) e São Paulo
O Projeto, pelo contrário , leva os culpados a uma certa tranqüilidade dentro do pecado, eliminando assim, quase completamente, a possibilidade de conversão.
pecado contra a natureza. Estes teriam direito a um clima de solidariedade em torno deles. Assim, afirma a autora ainda em sua Justificação: "A possibilidade de oficializar a união civil entre pessoas do mesmo sexo, permitirá, como nas uniões heterossexuais, que em períodos de crise os casais possam ser ajudados . .... Uma parceria legalizada será sinal de que o casal, gay ou lésbica, para suasfamílias, amigos e sociedade, desejam manter uma relaçüo de compromisso . .... A maioria dos homossexuais sozinhos nüo são reconhecidos pelas famílias. As pessoas com orientação homossexual possuem a mesma necessidade de segurança e proxi-
sexualidade, por outro procura fazer com que esta seja aceita com toda a natw-alidade pela sociedade em geral, mais especialmente pelos parentes e pessoas mais relacionadas com os praticantes do
dade na mesma faixa de pecados torpíssimos como o de canibalismo (Suma Teológica, IIII, q. 142, a. 4). E ensina que, "como no vício contra a natureza o homem viola as leis naturais, .... dito pecado é gravíssimo". E faz sua a doutrina de Santo Agostinho acima reproduzida. (Suma Teológica, TI-II, q. 154, a. 12). Santo Agostinho
* Santo Agostinho (354-430): "As devassidões contrárias à natureza devem ser condenadas em todas as partes e sempre, como aforam os pecados de Sodoma. Ainda que todos os povos os cometessem, cairiam na mesma culpabilidade de pecado, segundo a lei de Deus que não fez os homens para assim usarem dele". (Confissões, C. III, p. 8).
* Santo Tomás de Aquino (1224- l274): o Doutor Angélico coloca a homossexuali-
Santo Tomás de Aquino
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l- No campo individual, estimula o pecador a manter-se em seu pecado - pecado este muito grave, que, segundo ensinamento tradicional cató li co, clama a Deus por vingança (v ide quadro à página 16) - ao proporcionarlhe segurança psicológica, social e econômica para a prática do mesmo. 2 - No campo social , induz a sociedade a encarar com naturalidade e simpatia tal pecado, incutindo- lhe um espírito de completa amora lid ade e radical relativismo. Portanto é contrário também ao bem comum. 3 - No campo institucional , propõe ao Poder Público o reconhecimento oficial dessa forma de vida. Caso o Projeto venha a ser aprovado e sancionado, isto será mai s uma afronta feita a Deus pelo Estado brasileiro, a ser acrescentada a várias outras, com a agravante de ser ainda pior que as anteriores.
Cólera divina será atraída sobre o Brasil Escrevemos em uma revista que se norteia pelos princípios católicos, e cuja maioria dos leitores é católica, acredita em Deus e espera a manifestação de sua justiça. Se um país ofende muito gravemente a Justiça Divina at:ravés da multiplicação de pecados que são praticados com desfaçatez e arrogância por indivíduos, pela sociedade e pelo Estado, o que esse país deve esperar de Deus? Misericórd ia? A miseri córdia de Deus é para aqueles que a pedem, e não para aqueles que a desprezam. Este tríplice pecado não é um pedido de mi sericórdia, mas um desprezo da mesma. Resta então ajustiça. E a História tem mostrado que Deus castiga os povos e as nações que prevaricam (5>, embora algumas vezes tal castigo tarde em chegar, parecendo até que não virá. Aprovando o Projeto de lei comentado acima, o Brasil secolocaria entre as nações que po15
dem recear, com boa margem de µooobilicb:le,ode~nca:burentodaimdivina.Esravirá sobre todos, e não apenas sobre os governantes e legisladores que reconhece1,11 e legalizam o pecado. Sobre todos o que o praticam, e também sobre aqueles que, embora sem o praticarem, encaram-no com naturalidade, indiferença ou simpatia. E principalmente sobre aq ueles que, por sua própria condição, têm a obrigação e os meios necessários para combatê-lo e, por omi ssão ou por ação, não o D combatem e até o favorece m.
A palavra severa do Magistério da Igreja * São Pio V, Papa (1504-1572): "Aquele horrendo crime, por culpa do qual as cidades corrompidas e obscenasforam queimadas pela condenação divina, marca com intensíssima dor e golpeia fortemente nossa alma, levando-Nos a reprimir tal crime com o máximo zelo possível". (Constituição Horrendum illud scelus). * São Pio X, Papa (1835-1914): Em seu Catecismo, o "pecado impuro contra a natureza" é class ificado em segundo lugar por sua gravidade, após o homicídio voluntário, entre os pecados que "clamam por
Notas: 1 - As citações do texto do Projeto e de sua justificação foram retiradas do "Diário da Câmara dos Deputados", 2111 -1995, pp. 5827-8. 2 - O "Diário do Grande ABC", de 30-6-96, nessa mesma Linha, info1111a: "A deputada Marta Suplicy (PT-SP), autora do Projeto, conseguiu montar a comi ssão com uma composição totalmente favorável à sua aprovação. Lá estão, por exemplo, o verde Fernando Gabeira (PV-RJ), que já declarou ter vivido experiências homossexuai s, o exgumilheiro José Genoíno (PT-SP), o ex-presidente da CUT, Jair Mencguelli (PT-SP), o ex-presidente da UNE (Un ião Nacional dos Estudantes), Lindberg Farias (PC do B-RJ), e pelo menos seis deputadas afinadas com as causas femini stas
vingança ante o conspecto de Deus" ( Catecismo maior, n. 966). "Diz-se - explica o Catecismo que estes pecados clamam por vingança ante o conspecto de Deus, porque o di z o Espírito Santo e porque a sua iniqüidade é tão grave e manifesta que provoca Deus em puni-lo com os mais severos castigos" (n . 967) .
e das minorias".
3 - "Folha de S. Pau lo", 6-9-96 4 - Revolução e Contra-Revolução, parte 1, cap. V, 3' edição, Chcvalerie Attes Gráficas e Ed itora Llda., 1993). 5 - Cfr. Castigos coletivos: puniçüo divina pelos pecados cometidos por nações e povos, in Catolicismo nº 537, Setembro 1995, pp. 6- 1O.
São Pio X
Na noite de Natai, pereceram todos os homossexuais No Sermão XXI, ln Nativitate Domini, pronunciado na igreja de Santa Maria de Porciúncula, na Itália, o franciscano São Boaventura, Doutor da Igreja e honrado com o título de Doctor Seraphicus, ilustrando alguns fatos miraculosos ocorridos no momento do Santo Natal, afirma: "Todos os sodomitas, homens e mulheres, morreram sobre a face da terra, como recordou São
jerônimo comentando o salmo 'Nasceu uma luz para o justo', para evidenciar que Quem estava nascendo vinha restaurar a natureza e promover a castidade" (Opera Omnia, vol. IX, p. 123).
São Boaventura
2?._esposta Como Sacerdote, tenho empenho em levar aos caros leitores de Catolicismo algumas palavras que sirvam de orientação a respeito de um tema tão impo1ta.nte como é o casamento, fundamento da instituição familiar. Não vou entrar na análise de casos pessoais . Há assuntos delicados, que só em confessionário ou em conversa particular seria adequado tratar. Apenas exporei, em rápidas palavras, o que a Igreja Católica ensina e obriga, em matéria de matrimônio. O casamento foi instituído por Deus, não como sacramento, mas como união, natural ao criar Adão e Eva. Mas uma união monogâmica e indissolúvel. Um só Adão e uma só Eva. Indissolúvel quer dizer: não pode ser dissolvido. Nosso Sen hor Jesus Cri sto elevou essa união natural ao plano sobrenatural, instituindo o sacramento do matrimônio, para enobrecer e santificar essa união natural. Por esse sacramento, os esposos recebem graças especiais, chamadas graças sacramentais, para que realizem sua vocação, isto é, para que sejam bons esposos, sempre fiéis um ao outro, e assim cumpram a finalidade primária do matrimônio, que é a procriação e educação dos filhos , para povoar a Terra de pessoas boas e o Céu de santos. É por isso que Deus abençoa prodigiosamente a prole numerosa. Uma vez que uma mulher e um homem disseram "sim" dian-
Pergu n
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Ouve-se tanta coisa sobre o casamento, que já não se sabe o que pensar. O sr. poderia explicar o que a doutrina católica ensina a respeito? Por que os católicos só podem se casar uma vez? Por exemplo, quando o convívio entre os esposos fica impossível, não podem se separar? O casamento civil é válido? A Igreja pode anular casamentos ?
te do Altar, nem ela nem ele, enquanto os dois estiverem vivos, poderão casar-se com outra pessoa. Ainda há mais: nem ela nem ele poderão manter relações carnais fora do matrimônio, pois devem fidelidade um ao outro. O relacionamento fora do matrimônio é sempre um pecado contra o 6º e o 9º Mandamentos da Lei de Deus, ainda que praticado por pessoa desquitada ou divorciada, pois tanto o desquite como o divórcio não dissolvem o víncu lo sacramental do matrimônio. Foi o próprio Deus quem disse: "Serão dois numa só carne". Na Bíblia, o Apóstolo São Paulo é taxativo: "Aos casados mando, não eu., mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido. E se ela estiver separada, que fique sem casar, ou que se reconcilie com seu marido. Igualmente o marido não deixe sua esposa " ( l ª Epístola aos Coríntios, cap. 7, 10-1 1). Portanto, é pecaminoso aos olhos de Deus juntar-se, ela • com "outro", ou ele com "outra". Esta violação da Lei de Deus atrai o castigo divino. Tal união trará certamente infelicidade, dor de consciência, agitação de alma e escândalo. Mas alguém poderá perguntar: e se o marido trair a esposa?
Ou abandoná-la? Ou então se o convívio entre os dois ficar de tal maneira insuportável que se torne impossível viverem juntos? Aí a Igreja permite que se separem fisicamente, pelo desquite. Mas, perante Deus, os dois permanecem li gados pelo sacramento até à morte de um dos esposos. Hoje as leis do Estado aceitam o divórcio, contra a Lei de Deus. Mas o homem deve obedecer antes a Deus que a.o Estado. Todos os batizados devem casar no religioso. Se casam apenas no civi l, sendo ambos solteiros anteriormente à união, não tendo havido, portanto o matrimônio religioso, aos olhos de Deus eles são solteiros. Pecaram e con-
Cônego José Luiz Marinho Villac
tinuam pecando gravemente. O casamento meramente civil não tem valor nenhum perante a Santa Igreja. Nesse caso não há impedimento para que se casem no religioso com outras pessoas. Mas a Igreja não recomenda, apenas tolera o casamento religioso de alguém casado no civil com um outro cônjuge. Isto para evitar que as pessoas procurem casar apenas no civil, para depois estar li vres para abandonar o primeiro cônjuge e se unir com outro pelo casamento religioso. A Igreja, então, sempre preferiu que as pessoas legitimassem sua uni ão civil ilícita, casando no religioso, sobretudo se dela houvesse filhos . Outro ponto muito impottante a esclarecer é que não existe anu lação de casamento. O que existe é uma declaração de nulidade, ou seja, o reconheci mento pela autoridade eclesiástica competente de que o casamento não se deu, foi nulo, em razão de algum impedimento canôn ico. Tudo isso posto, o que de melhor posso recomendar a todos
Deus abençoa prodigiosamente as famíl ias com prole numerosa
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é a fidelidade a esses princípios da doutrina católica. Muitas vezes, quando dois esposos se separam, é porque pelo menos um deles,Joi atrás da ilusão tonta de achar que Íít encontrar o homem (ou a mulher) com quem sempre sonhou. Sonhou de olhos abertos, é claro. Quando se depara com a realidade, "acorda" e vê que "daquela vez" errou. E se põe a sonhar de novo com "outro", que "desta vez" corresponderá aos seus anseios. Como neste mundo não existe nem príncipe nem princesa encantados, a pessoa vai rolando de fantasia em fantasia, de ilusão em ilusão. E cada vez tem uma decepção maior. O resultado disso são os lares desfeitos, os filhos traumatizados, as vidas infernizadas, a dor de consciência e, na outra vida, o inferno eterno! Não queiram entrar nesta roldana, meus caros leitores. E, para encerrar, cito as estimulantes palavras do saudoso Papa Pio XII em sua alocução de 28 de novembro de 1951, dirigida aos participantes da Frente da Família e da Federação das Associações de Familias Numerosas: ".... para vencer as múltiplas provações da vida conjugal valem sobretudo a fé viva e a freqüência dos Sacramentos, de onde jorram torrentes de força de cuja eficácia dificilmente podem fazer clara idéia os que vivem fora da Igreja. E com este apelo aos superiores auxílios desejamos concluir a Nossa jàla. A vós também, diletos .filhos e filhas, poderia, um dia ou outro, suceder sentirdes a vossa coragem vacilar sob a violência do vendaval desencadeado em torno de vós, e, ainda mais perigosamente, no interior da família, pelas doutrinas subversivas da séi e normal concepção das núpcias cristãs. Tende confiança! As energias da natureza, e sobretudo as da graça, com que o Senhor enriqueceu as vossas almas no sacramento do matrimônio, são como que uma rocha firme contra a qual se quebram impotentes as ondas de um mar em praceia. E, se os dramas da guerra e do apósguerra têm ferido o matrimônio e a família com feridas ainda sangrentas, todavia, mesmo nesses anos, a constante fidelidade e afirme perseverança dos esposos, e o amor materno pronto a indizíveis sacrifícios, têm alcançado em inúmeros casos verdadeiros e esplêndidos triunfos.
"Prossegui, pois, estrenuamente o vosso labot; confiantes no auxílio divino, em auspício do qual concedemos, com efusão de coração, a vós e a vossas jàmílias, a Nossa paternal Bênção Apostólica". □ 18
PALAVRA/ DE VIDA ETERNA
Padre progressista reconhece intuição profética de Plinio Corrêa de Oliveira JUAN GONZALO LARRAIN CAMPBELL
m longa entrevista sobre a atual si- tais. Receamos, entretanto, que sua crescente influência eleve conseqüentemente tuação religiosa no mundo, o Pe. jesuíta João B. Libânio, um dos ex- a influência do Islã. " Comentando declarações do Primeiro poentes mais destacados da Teologia da Ministro do Egito sobre os estágios neLibertação, fez interessante depoimento. À pergunta "qual o futuro da Igreja Cató- cessários para a união árabe, concluía:(... ) "Neste dia [o da Reunião do Congresso lica?", respondeu: Árabe], reformar-se-á às portas da Eu"Plínio Corrêa de Oliveira (fundaropa debilitada e dor da TFP - Sociesemi-descristianizada dade Brasileira de Deum "perigo árabe" fesa da Tradição, FaTeólogo da libertaigual ou maior do que mília e Propriedade) o dos tempos de S. Pio ção lembra declarafez uma palestra para V e da batalha de os j esuítas em 1940, ção do Fundador da Lepanto.m permeada de uma TFP feita há mais Que as profecias idéia toda messiânica do Prof. Plínio Corrêa (sic! ), di zendo que o de 50 anos para de Oliveira sobre a grande problema do apontar o islamismo ressurreição muçulcris tianismo era o mana se estão cumcomo o grande islamismo. Há 50 prindo, o próprio Pe. anos, foi profético, ou problema para o Libânio o confirma. a História foi, por oufuturo da Igreja Seria interessante outras ra zões, camivirmos uma palavra nhando nesse sentido. do Sacerdote sobre O fato é que se confiroutra profecia - bem mais grave que a ma o que ele intuiu."' O jesuíta, colocado hoje ante a evidên- anterior, mas também já cumprida cia do avanço maometano, reconhece de enunciada na mesma época pelo Fundador da TFP: a infiltração esq uerdista na modo categórico que se confirmaram as previsões do fundador da TFP. Falamos Igreja através da ressurreição do moderD nismo. de previsões, no plural, pois o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, na época, cerca de 25 artigos alertando os católicos sobre a futura ressurreição do perigo muçulmano. Assim, por exemplo, afirmava: (... ) "Seja como for, o mundo muçulmano está na iminência de uma grande Notas: 1 - Jornal Indústria & Comércio , Curitiba, 26 e 27 ressurreição religiosa ... "2 de agosto de 1996, pp. B-4 e B-2. E mais tarde escrevia: (... ) "Insistin2 - A triste decadência espiritual dos descendentes do fortem ente sobre a importância da dos Cruzados, in "Legionário", 4/ 12/38. "questão árabe", para o mundo de ama- 3 - 7 dias em revista, "Legionário", 1/10/44. Sobre outras previ sões do Prof. Plíni o Corrêa de Oliveira a nhã, o Legionário (... ) não é movido se- respeito do mesmo assunto, confira e m Catolicismo: não pelo zelo dafé. (... ) Não temos a me- Uma coisa é ler visla, outra é visão (Out/90); Vinte nor hostilidade para com os árabes, como milhões de maometanos invadem a Europa (Ago/94).
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O que merece mais apreço: os milagres ou a grandeza da doutrina? ''Passou Jesus à outra banda do mar da Galiléia, que é o de Tiberíades. Seguia-O grande multidão de gente, porque viam os milagres que fazia sobre os que se achavam enfermos. Subiu, pois, Jesus a um monte e ali se assentou com seus discípulos. E estava próxima a Páscoa, dia da festa dos judeus. Jesus, levantando os olhos e vendo a grandíssima multidão de povo que O seguia, disse a Felipe: onde compraremos pão afim de que estes tenham de que comer? Mas Ele assim falava para o experimentar, porque sabia o que havia de fazer. Respondeu-lhe Felipe: duzentos dinheiros de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pequeno bocado. Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-Lhe: Aqui está um jovem que tem cinco pães de cevada e dois peixes; mas que é isto para repartir entre tanta gente? Então, disse Jesus: Fazei assentar essa gente. E havia muito feno naquele lugar. E se sentaram, para comer, cerca de cinco mil homens. Tomou, pois, Jesus os pães, e tendo dado graças, distribuiu-os aos que estavam sentados. E assim também com os peixes, dando-lhes quanto quiseram". (S. João, 6, 1-11)
Comentários extraídos da Catena Aurea, 1 de Santo Tomás de Aquino Este mar (da Galiléia) toma diferentes nomes conforme os diversos lugares pelos quais se estende. E quanto ao lugar presente, chama-se mar da Galiléia, pela província, e de Tiberíades, pela cidade. Diz-se mar, não porque a água seja salgada, mas acomodando-se ao costume hebreu, que denominava mar todas as grandes reuniões de água. Este mar, Nosso Senhor Jesus Cri sto o transpôs várias vezes para difundir sua doutrina entre todos os povos que habitavam junto a ele.
Milagres corporais e regeneração do espírito Passou de povoado a povoado, a fim de provar a vontade dos homens e para torná-los mais áv idos e solícitos na Fé. Dava vista aos cegos e fazia outras coisas semelhantes. Mas há de ter-se em conta que, a todos os que sarava quanto ao corpo, os regenerava no espírito. Contudo, degustando tão alta doutrina, só retinham na memória os milagres, porque seus entendimentos estavam obscurecidos, pois, como diz São Paulo, os milagres não foram operados em favor dos fiéis, mas dos infiéis. Eram, então, mais sábios aqueles que, segu ndo São Mateus, admiravam sobretudo a grandeza de sua doutrina. Subiu ao monte por causa do milagre que pretendi a reali zar. Mas também para nos en-
sinar a aquietar o ânimo, fugindo do tumulto e da agitação das coisas mundanas; porque a solidão vem muito a propósito para a contemplação (ou para o conhecimento das verdades sublimes e a meditação das coisas divinas). Prossegue: "E tendo Jesus levantado os olhos", para que conheçamos que não estava simpl esmente sentado com seus discípulos; falava-lhes alguma co isa com cu idado e os atraía para si. Depois, olhando longe, viu a multidão que se acercava.
Nos milagres operados pelo Redentor, poder criador ilimitado Com que fim perguntou a Felipe onde comprar pão? Nosso Senhor sabia que os discípulos, na verdade, necessitavam de mais amplos conhecimentos, como suced ia com Felipe, o qual logo depois iria dizer "dá-nos a conhecer ao Pai, e com isto teremos bastante". Por esta razão o instrui antes da multiplicação dos pães, e, antes do acontecimento, o obriga a confessar a carência de pão, para que conheça melhor a magnitude do milagre. Porque, se tivesse conhec ido claramente que Aquele era o Criador, não teria duvidado da extensão de seu poder. E Nosso Senhor viu que André era parecido a Felipe, embora seu pensamento se elevasse um pouco mais. HaCATOLICISMO -
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via ouvido falar do milagre que Eliseu fez: alimentou cem homens com vinte pães de cevada. Elevou-se mentalmente a algo mais alto, mas não pôde chegar ao auge, como manifesta sua conclusão: "mas que é isto para tanta gente?" Acreditava, portanto, que de poucos havia de fazer poucos e de muitos, muitos, Aquele que faz ia milagres. Mas isto não era verdade. Do mesmo modo lhe era fácil alimentar a multidão, fosse de pouco ou de muito, porque Ele não necessitava de uma matéria limitada. Utili zava as coisas criadas nos milagres, para que não viessem a julgar que as criaturas lhe eram estranhas.
Antes das refeições: oração e ação de graças Por que não ora quando vai curar oparalítico, nem quando ressuscita os mortos ou quando acalma a tempestade do mar, e aqu i ora e dá graças? Para manifestar que aqueles que começam a comer devem dar graças a Deus. E também por outra razão: ora nas coisas pequenas para que se veja que o faz não por necessidade. Se necessitasse orar, faria isto com muito mais razão nos milagres de maior importância. Mas, como os fazia com autoridade própria, dá a entender que aqu i ora para acomodar-se ao nosso modo de ser, e ademais, como hav ia muita gente, convin ha ensinar-lhes que isto sucedia por vontade de Deus, e para que não cressem, como alguns o acusavam, que era inimigo de Deus. D Nota: 1) Santo Tomá s de Aqu in o - Cate11a A11rec1, exposici611 de los cuatro eva11g elios - vo l. V: San Juan - C ursos de cu ltura católi ca, Buenos A ires, 1946. Os intertítulos são da redação.
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História Sagrada em seu lar (66) noções básicas
Confiança em Deus explica vitórias miraculosas de Gedeão ,/
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G
edeão, com apenas 300 homens, havia provocado - utilizando tão so mente trombetas e archotes - a morte de 120 mil madianitas. Apavorados, no meio da desordem geral, eles se degolavam uns aos outros, mas 15 mil lograram fugir.
Gedeão persegue e destroça os 15 mil fugitivos Gedeão foi ao encalço deles. E, tendo chegado ao rio Jordão, atravesso u-o com os 300 homen s que levava consigo; mas, cansados, não podiam continuar a perseguir os fugi tivos. Chegando a Socot, pediu alimento, mas os príncipes da localidade negaram-lho de modo acintoso. Gedeão disse- lhes:
Punição de Socot e Fanuel
Então, os chefes madianitas disseram a Gedeão: " Vem tu mesmo e lança-
E, voltando da batalha, Gedeão tomou um jovem de Socot e perguntoulhe os nomes dos príncipes e anciãos da cidade; eram 77. Mandou chamálos, increpou-os, e tomou espinhos e abrolhos do deserto, e com e les lacerou e despedaçou aqueles homens de Socot. Destruiu também a torre de Fanuel, depois de ter morto os habitantes do lugar.
te sobre nós, porque a força é proporcionada à idade". Gedeão levantou-se
Filho primogênito de Gedeão tem medo Na batalha final , Gedeão havia aprisionado dois chefes madianitas, os quais haviam matado os irmãos do destemido juiz sobre o Monte Tabor. Depois de ter punido severamente Socot e Fanuel, Gedeão pede a seu fi lho primogênito que mate os dois prisioneiros. Porém, seu filho, sendo ainda muito moço, não puxou pela espada, pois tinha medo.
"Quando o Senhor me tiver entregue os madianitas fugitivos, eu vos moerei as carnes com os espinhos e abrolhos do deserto".
e os matou.
Gedeão recusa ser eleito rei E os homens de Israel disseram a Gedeão: "Sê nosso príncipe, tu e teu
filho, porque nos livraste da mão de Madian" . E e le lhes respondeu: "Eu não vos governarei, nem meu filho: o Senhor deve ser aquele que vos governa". Gedeão pediu apenas os brincos e outros ornamentos de ouro que os madianitas costumavam usar. E, com tais objetos , mandou fazer um efod (vestimenta usada pelo sumo-sacerdote), como lembrança da vitória contra os inimigos de Israel. Tal era a tendência dos hebreus para o paganismo, que infelizmente tal efod foi depois objeto de idolatria, ocasionando a ruína da família de Gedeão e de todo Israel. Mas durante os 40 anos em que Gedeão governou, o país ficou em paz (cfr. Jz. 8, 4-28). O Martirológio Romano consigna a 1º de setembro a festa de Gedeão, dia em que secomemora também Josué, sucesO sor de Moi sés.
E, saindo dali, foi a Fanue l, onde havia uma torre. Pediu pão, que também lhe foi negado. Gedeão di sse aos homens daquele lugar:
No próximo número, narraremos a magnífica epopéia do juiz Jefté, que libertou os hebreus do jugo dos amonitas.
"Quando eu voltar vitorioso, destruirei esta torre". Continuando sua marcha, Gedeão atacou de surpresa os madianitas e os destroçou .
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Com 300 homens e empregando apenas trombetas e archotes, Gedeão derrota 120.000 madianitas • CATOLICISMO -
(*) - L'A11cie11 et /e No1111ea11 Testa111e111 dispo.\'és sous forme de récits suivis, 1. Lethic l leux Éd itcur, Pari s, 1930, p. 74.
Uma ameaça para todas as crianças e adolescentes brasileiros Ministério da Educação e Cultura quer ensino sobre sexualidade desde o 1 º grau, nas escolas públicas e particulares C.A.
O
leitor sab ia que parte dos impostos que paga ao Estado poderá ser destinada para "escan-
dalizar os pequeninos"? Desde que surgi u, o espectro da AIDS vem sendo usado para disseminar todo tipo de aberração sexual. A pretexto de evitar a propagação da epidem ia, são tratados (melhor se diria , ens inado s) detalhadamente os modos de praticar "com segurança" atos dos mais condenados pela moral católica. Mesmo aspectos delicados referentes à prática sexual normal, própria à sagrada instituição do matrimônio, vêm sendo despudoradamente escancarados a todo mundo. Assim, é através de certos meios de comunicação social que crianças, jovens e adultos são induzidos à prática de taras sexuais das quais poucos teriam seq uer conhecimento, se não fosse a propaganda massiva. Tornam-se vítimas praticamente indefesas dela. Agora o Ministério da Educação e Cultura (MEC) pretende atrelar-se decididamente a essa onda, ao propor novo cu1Tículo em substituição às aulas de moral e civismo, e o uso de uma cartilha visando a extensão da chamada "educação sexual" para todas as crianças em idade escolar. Sim, para todas, da l ª à 8ª série, tanto no ensino público quanto no privado, em todo o País. De acordo com o novo currícu lo projetado pelo MEC, poderão ser tratados com as crianças temas como: iniciação sexual, transformação do corpo na puberdade, métodos contraceptivos, etc. Segundo o ministro Paulo Renato, os motivos urgentes para implantação desse currículo são o aumento de partos indesejados entre adolescentes e a proliferação da AIDs.
Pode-se esperar alguma eficácia do plano proposto pelo MEC? No momento em que se desenvolve intensa campanha co ntra o fumo , para ev itar determinadas doenças, a campanha do MEC eq uiv a leria , no campo da moralidade sexual, à de alguém que decidisse ensinar as pessoas a fumar. Já o slogan "educação sexual", sobretudo quando se dirige a crianças, soa de modo desagradável. Bem ao contrário, "educação para a pureza" é o que se deveria promover, conforme dizia o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Se as crianças fossem desde cedo educadas para a pureza, a imensa maioria dos problemas morais, além de muitas doenças que afetam o mundo de hoje, estariam re olv idos na sua raiz. A prática milenar da Santa Igreja, propugnando a castidade e a fidelidade conjugal, é a única adequada para resolvêlos, mas parece ser também a única que não se quer adotar. É legítimo procurar combater a prostituição infantil, a gravidez precoce, as doenças sexualmente transmissíveis. Mas tal "combate" é ineficaz e até um contra-senso, quando certos meios de comunicação social e o próprio Governo se unem para ensinar desde cedo aos inocentes como entregar-se ao "prazer", "sem riscos". Curiosamente, o mesmo currículo visa também combater o chamado "espírito consumista" da socie1:lade, tese cara às esquerdas radicais. O ministro Paulo Renato qualifica sua iniciativa de "m uito moderna", como se a palavra "moderna" fosse uma varinha mágica que justificasse qualquer coisa. Convém, a esse propósito, ter presente que a Lei de Deus é mai s do que moderna: é eterna.
Novembro de 1996 CATOLICISMO -
Novembro de 1996
Ai do que escandalizar um destes pequeninos!
O Ministério não parte de princípios cristãos professados pela maioria do povo brasileiro, mas sim de uma estranha filosofia que visa o exercício da sexualidade "de forma responsável e prazerosa". Essa busca do prazer em matéria sexual, como "filosofia de vida", só pode desembocar em catástrofes individuais, fami liares e sociais, com vícios e desregramentos de toda ordem. E também com as conseqüentes doenças. O instinto sexual foi dado ao homem para a propagação do gênero humano, e se for incentivado seu uso fora dessa fi nalidade primordial, a conseqüência é o desregramento das paixões. Diante de mais essa ameaça às crianças, já tão expostas ao que há de pior, desde sua mais tenra infância, cabe lembrar aqui a advertênc ia de Nosso Senhor no Evangelho: "O qu e escandalizar um destes
pequeninos que crêem em Mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço a mó que um asno fa z girar, e que o lançassemnofundomar" (Mt. 18,6). O
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A
vida de um santo é uma cruzada épica, em que ele põe todas as suas forças físicas e espirituais em ação. Quer se tenha convertido na maturidade, quer tenha sido .aquinhoado desde pequeno com grandes dons, a partir do momento em que decidiu aprimorar-se nas virtudes e combater seus defeitos para alcançar a santidade o aspecto heróico passará a ser uma característica predominante em sua vida. Tal aspecto pode manifestar-se, às vezes, de forma surpreendente. Quando Santa Isabel da Hungria nasceu, em 1207, cessaram todas as guerras em seu país natal. Seu pai, o Rei André II, da dinastia dos Arpades, e sua mãe, Gertrudes de Meran, descendente direta de Carlos Magno, tinham motivos para se alegrar por esta feliz coincidência. Quatro anos depois , o Duque Herman, da Turíngia, enviou magnífica embaixada à Hungria para solicitar ao Rei a mão de Isabel para seu filho Luís, de onze anos. Isabel passou a viver então na corte da Turíngia, onde, à medida que crescia, ia manifestando sua profunda piedade, que caracterizava todos os seus atos. Quando atingiu a adolescência, foi alvo de críticas da parte de nobres da corte, que a acusaram de ser muito religiosa, reservada, sem os traços mundanos que eles julgavam necessários para uma duquesa. Também diziam que ela iria arruinar o reino com as esmolas que dava. Aos 13 anos, casou-se com Luís. Este tinha todas as qualidades de um autêntico cruzado, um verdadeiro defensor da Igreja. Em 1227 partiu para a Terra Santa como cruzado, com a elite de sua cavalaria, viagem da qual não haveria de voltar, pois morreu na mesma.
que jurara protegê-la, expulsou-a dopalácio com seus filhos e duas damas de honra, que lhe permaneceram fiéis. E proibiu à população recebê-la em suas casas . Assim, em pleno inverno, Isabel viu-se obrigada a andar pelas ruas e bater de porta em porta, na esperança de que alguma alma caridosa se dispusesse a recebê-la. Só conseguiu entrar numa estalagem, onde o dono lhe destinou o lugar onde estavam os porcos, que foram removidos para ali ficar com seus filhos uma duquesa e princesa real.
Virtude heróica: exagero para alguns ...
Em sua vida de miséria e desamparo , Isabel sofreu muitas humilhações, tantas vezes vindas daquelas mesmas pessoas a quem muito tinha ajudado quando estavam necessitadas. Mas
Nesta situação, entretinha-se fiando a lã para dá-la aos pobres. Sua paciência e caridade não tinham limites. Nada a irritava ou descontentava. No atendimento aos doentes, nunca se viu tão maravilhoso triunfo sobre as repugnâncias dos sentidos. Era de espantar ver corno a filha de um rei e viúva de um duque tratava os indigentes mais miseráveis. Até pessoas piedosas julgavam que ela exagerava em seus cuidados. Seu pai, ao saber corno vivia, envioulhe mensageiros para tentar retirá-la desse "estado miserável". Ela lhes respondeu que, vivendo assim, era mais feliz que seu pai em sua pompa real. E retomou serenamente seu trabalho de tecer a lã. Ela sabia unir, com rara felicidade, a vida ativa à contemplativa. Apesar das fatigantes obras de misericórdia a que se dedicava, sempre encontrava tempo para passar longas horas na oração e na meditação. Era incansável na distribuição de benefícios materiais e espirituais. A um surdo-mudo ordenou, em nome de Nos-
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Santa Isabel, conforme pintura de 1367
No dia seguinte vagueou desamparada pela mesma cidade onde tantas pessoas se tinham beneficiado dasesmolas que distribuíra com a prodigalidade que lhe era peculiar. Finalmente um padre, pobre também, resolve acolhê-la e dar-lhe certa proteção. Para que os filhos não morressem de fome, é obrigada a aceitar o conselho de deixá-los em mãos de outras pessoas.
. Aparições do Redentor, de Nossa Senhora e de São João Batista
Hospedada no lugar dos porcos ... Viúva aos 20 anos, Isabel viu então a perseguição abater-se sobre ela e seus quatro filhos, um dos quais recém-nasci do. O Duque Henrique, seu cunhado,
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Nosso Senhor Jesus Cristo, que a ninguém esquece, aparecia para consolála em suas aflições. São João Batista vinha confessá-la, e Nossa Senhora muitas vezes a visitava para a instruir, esclarecer e fortificar. Foi nessa ocasião que decidiu viver apenas para Deus. Tendo chegado aos ouvidos de seus parentes, na Hungria, as provações por que passava, recebeu ela de seu tio, o Bispo-Príncipe de Bamberg, um castelo à altura de sua posição. Além disso, os vassalos de seu finado marido, o Príncipe Luís, ao voltarem da Cruzada, dirigiram palavras duras ao usurpador, acusando-o de ter ofendido a Deus e desonrado o Ducado da Turíngia. Isabel foi então reconduzida aos seus domínios, onde passou a exercer a caridade como desejava; e para melhor fazê- lo, decidiu recolher-se corno terceira franciscana.
CATOLICISMO -
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so Senhor Jesus Cristo, que dissesse de onde vinha; ao que ele imediatamente obedeceu, contando sua história. Do mesmo modo, cegos ; ~possessos e estropiados eram cu ados.
Brasil Real Brasil Brasileiro
Milagres atestam santidade antes e depois da morte Tinha apenas 24 anos quando Nosso Senhor chamou-a a Si para premiá-la com a glória celestial. Na véspera da moite, sua fisionomia transformou-se. Seu olhar tornou-se resplandecente, manifestando uma alegria e felicidade que cresciam a cada instante. Quando exalou seu último suspiro, um delicioso perfume se espalhou pelo ar, ao mesmo tempo que um coro de vozes do Céu se fez ouvir em cânticos de júbilo. Era dia 19 de novembro de 1231. A notícia de sua morte atraiu verdadeira multidão que desejava contemplála pela última vez antes de seu sepultamento. Eram pessoas de todas as cond ições sociais, que não se constrangiam em arrancar-lhe pedaços das vestes, mechas de cabelo, fragmentos de unhas, etc, guardando-os piedosamente como relíquias. Para atender a todos foi necessário prolongar a exposição do corpo por quatro dias, durante os quais seu rosto se conservava como o de uma pessoa viva. Na noite que precedeu o enterro, o teto da Igreja se encheu de pássaros desconhecidos, que cantavam melodias inefáveis. Após sua morte verificaram-se muitos milagres at:ri buídos à sua intercessão, como a cura de cegos, surdos, leprosos, coxos, paralíticos, etc. Isto suscitou um grande movimento popular pela sua canonização, o que muito contribuiu para que o Papa Gregório IX a elevasse sem demora à honra dos altares, fato ocorrido em tocante cerimônia no dia de Pentecostes, 26 de maio de 1235, decorridos apenas três anos e meio de seu falecimento. Poucos dias depois, em l º de junho do mesmo ano, o Papa publicou a bula de canonização, que foi logo enviada aos Príncipes e aos Bispos de toda a Igreja. D Fonte de referência: Conde de Montalcmbert, Histoire de Sainte Élisabe!li de Hong rie, Duchesse de Thuringe, Pi erre Téqui , Paris, 1930.
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Rodeios e vaquejadas CARLOS
TIGAMENTE o gado e outros animais eram criados em campos e pastagens ão divides. O rodeio e a vaquejada anunciavam a separação e a entrega das reses aos seus respectivos donos. Daí o termo "apartação" ou "aparte", reunião dos animais para contagem , tratamento de feridas e doenças, marcação, beneficiamento e transferência para outras partes. Com o aparecimento dos campos cercados esses métodos foram desaparecendo, e o que era trabalho foi virando festa e competição, como sucede nos rodeios e vaquejadas em nossos dias.
Os rodeios De norte a sul do Brasil existem as exposições ou feiras agropecuárias, nas quais são promovidos grandes e famosos rodeios, além de leilões de animais, desfiles e outras atrações. Mas nem todos os rodeios são realizados nas feiras de gado, muitos são promovidos em locais exclusivamente dedicados às competições. O rodeio é uma demonstração pública de bravura e domínio do animal. Os cavalos, e muitas vezes touros bravios, tentam derrubar o cavaleiro, dando pinotes para frente e para trás e jogando-se bruscamente para todos os lados. O cavaleiro tem que permanecer no dorso do animal pelo menos durante 1Osegundos. As principais competições de um rodeio são: cavalgar cavalos bravios com selas ou em pêlo, cavalgar touros, laçar bezerros em plena corrida e derrubar bezerros
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pelos chifres. Os competidores têm que cumprir um rigoroso regulamento e concorrem a valiosos prêmios. Existem provas de tempo e de habilidade. Nas de tempo, julga-se a rapidez do cavaleiro em realizar manobras como laçar um novilho ou um touro, derrubá-lo e amarrar suas patas, ou pular de seu cavalo para o lombo de um touro e derrubá-lo. Nas de habilidade, são realizadas provas como cavalgar cavalo ou touro bravios. Alguns rodeios atraem cavaleiros famosos que vêm de longe, assim como seus cavalos e mesmo os touros. É a ocasião em que os repentistas, sempre presentes, improvisam a descrição da festa, num clima propício para os desafios entre eles. As vestimentas usadas são típicas das zonas rurais: botas altas, calças rancheiras, camisas coloridas e chapéus de aba larga.
As vaquejadas A vaquejada consiste em demonstrações de perícia dos vaqueiros , à semelhança do rodeio, mas com característica própria, que é a derrubada do touro pela cauda. Festa tradicional no nordeste brasileiro, reúne grande número de curiosos, atraindo igualmente vaqueiros famosos e animais bravios e conhecidos. O boi ou novilho corre em velocidade e dois vaqueiros o perseguem. Um procura mantê-lo na direção desejada, e o outro segura sua cauda e dá um forte puxão, afastando o cavalo para o lado. Desequilibrado, o boi cai de patas para o ar. Banda de música e foguetes comemoram o feito; mas se o vaqueiro não consegue derrubar o animal, recebe uma sonora vaia. Esse costume de derrubar o touro pela cauda é de origem espanhola. Há sempre uma nota de religiosidade nos rodeios e vaquejadas em todo o Brasil. Nos rodeios, as orações dos cavaleiros antes das provas e o desfile de bandeiras dos padroeiros nas cerimônias de abertura são sempre as mais aplaudidas pelo público. D
Japão: confronto entre o neopaganismo moderno e as tradições DIOGO WAKI ENVIADO ESPECIAL
pesar de os meios de comunicação teem encu1tado enormemente as distânias que separam os países, o Oriente - para quem nunca lá esteve - parece ainda um mundo exótico ou, pelo menos, com características trad icionais, como são apresentados nos folhetos turísticos. Assim, as primeiras imagens que afluem ao espírito, ao falarmos do Japão, são as graciosas senhoras de kirnono e sombrinhas de seda e bambu, as cerejeiras em flor e o Monte Fuj i. Um povo que soube aliar a pertinác ia no trabalho ao respeito às trad ições, transformando o Japão numa das primeiras potências econômicas do globo. Essa era a vi são que eu levava, ao embarcar rumo ao País do sol nascente. Vinte e quatro horas depoi s, tais impressões começaram a se desfazer corno por encanto. Desembarquei no Aeropotto de Nagoya, umadas
principais metrópoles do Japão. Cidade moderna e sem graça, como o são as cidades atuais: arranha-céus em quantidade, vias elevadas, trânsito congestionado ... Pensei com os meus botões: certamente isto é assim nesta megalópole, capital da grande província industrial que é Aich i-Ken, mas em outras regiões as coisas seriam diferentes. Ledo engano. Por todo o país, a mesma coisa. Os mesmosMcDonalds, os mesmosshoppingcenters, os mesmossnackbarsquese vêem em São Paulo, Nova Iorque ou Pari s. O espetacular progresso técnico fez com que este povo procurasse automatizar tudo quanto fosse possível, substituindo o atendimento humano pela máquina fria e inexorável. Assim, o pitoresco garçon foi substituído por máquinas automáticas distribuidoras de bebidas, que se encontram em qualquer esquina. E "mal educadas", inclusive, pois não
Os belos quimonos - símbolos do Japão tradicional - tornam-se cada vez mais raros .... enquanto as bermudas e outros trajes cosmopolitas se generalizam na vida quotidiana CATOL ICISMO -
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Castelo de Osaka (séc. XV I): um dos exemplos típicos da arquitetura tradicional japonesa perguntam ao freguês se ele quer a bebida em temperatura normal ou gelada ... Talvez sem se dar conta, o Japão passa assim por uma transformação, possivelmente a maior de sua história. Os kimonos? Praticamentej á não maisexistem. Tudo tende para o rock and rol/, para o chiclete, o hamburger e a Coca-cola. Em todos os ambientes, o que se ouve é a música moderna ou moderni zante; nas ruas, a bermuda, os bermudões, a minisa ia, as calças blue j eans. Os brincos começam a aparecer nas orelhas dos rapazes. Despontando de cá e de lá, os punks com argolas no nari z, os cabelos pintados em várias cores e penteados de maneira extravagante, indicando o futuro neotribal rumo ao qual parece caminhar irreversivelmente a sociedade moderna, inclusive ajaponesa, caso a Providência não intervenha mi sericordiosa e justiceiramente, como prometeu Nossa Senhora em Fátima. Certos templos, símbolos do pagani smo antigo, algumas casas em esti lo tradicional e alguns castelos medievais ainda teimam em resistir à voragem do neopaganismo revolucionário. As construções antigas, todas ou praticamente todas, tran sformadas em museus para lembrar um passado quej á não maisexiste, uma trad ição que há muito foi tragada pelo igualitarismo moderno. Mas neste quadro sombrio vis lumbra-se uma réstea de luz. O solo desta nação foi regado pelo sangue de numerosos e admiráveis mártires na perseguição religiosa do século XVIT. E corno "o sangue dos mártires é semente de cristãos", para empregarmos a célebre expressão de Tertuliano, não é impossível que a vigorosa semente apostólica plantada no século XVI por São Francisco Xavier ainda venha a desabrochar plenamente e expulsar as trevas do pagani smo antigo e do neopaganismo. O
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Em RÔma, publicado livro sobre Plinio Corrêa de Oliveira rande sucesso italiano na recente Feira do Livro de Frankfurt (A le manha) , seg undo o jornal " II Tempo" de Roma, ll crociato dei seco/o XX [O cruzado do século XX] é a primei ra biografia do Prof. Plinio Corrêa de Oli veira a vir a lu me na E uropa. Seu autor é titular da cátedra de História Moderna na Universidade de Cass ino (Itália), fundador e pre s id e nte do Ce ntro Cultural Lepanto, conce ituada associação italiana de lei gos católicos . Farta me nte docume ntado e escrito com espírito obj etivo e científi co, o livro de Roberto de Matte i oferece ao leitor uma análi se do pensamento e da obra do Prof. Plin io Corrêa de Olive ira, bem como uma
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o é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago
Registrada na DRT-SP sob o n' 23228 Redação e Gerência: Rua General Jardim. 770, cj. 3 D CEP 01223-010 São Paulo SP - Tel: (011) 257-1088 ISSN 0008-8528 Fotolitos: Bureau Bandeirante de Pré-impressão Lida. Rua Mairinque, 96 CEP 04037- 020 São Paulo SP impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 681 CEP 011 30-010 São Paulo SP
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O professor universitário Roberto de Mattei acaba de lançar obra biográfica sobre o fundador da TFP brasileira, prefaciada pelo Cardeal Alfons Maria Stickler SDB vi são particul armente penetrante da Hi stória religiosa e política do Bras il deste sécu lo. Lan çad o pe la pres ti g ios a e ditora "Pie m me", ll crociato dei se colo XX conta com o prefác io do ilu stre p urpurado salesiano Cardea l Alfons Maria Stickler, o qua l assim escreve:
"Nos períodos de crises e de confusões que a História.freqüentemente conhece, as biogrqfias dos homens significativos podem, às vezes, indicar mais o carninho reto do que abstratos volumes de moral ou de filosofia. Com ef eito, os princípios são concretamente vividos, e quanto mais a intempérie dos tempos é hostil à encarnação histórica dos valores, tanto mais se torna necessário conhecer a vida de quem colocou tais valores no centro da própria existência. Isto é o que sucedeu, em nosso século, com Plínio Co rrêa de Oliveira, o grande pensador e homem de ação brasileiro, cuja primeira biog rafia na Europa o prof R,oberto de Mattei tomou a iniciativa de redigir, um ano após o f alecimento, ocorrido em São Paulo (Brasil), a 3 de outubro de 1995. Com a coerência da sua vida de autêntico católico, Plinio Corrêa de Oliveira nos of e rece uma co,~firma ção da f ecundidade da Igreja. As dificuldades dos tempos são, com efeito, para os verdadeiros católicos, ocasiões de medir fo rças na História, para ciftrmar a perenidade dos C ATOLI C IS MO -
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Cardeal Stickler princípios cristãos. Foi o que f ez o eminente pensador brasileiro, mantendo alta, na era dos totalitarismos de todas as cores e expressões, a sua fidelidade inamovível ao Magistério e às instituições da Igreja. Junto à.fidelidade ao Papado, um traço característico da sua espiritualidade, que me compraz recorda,; manifestou-se na devoção a Maria Auxiliadora, a Nossa Senh o ra do Rosário e da vitó ria de Lepanto, qu e ele vene rou na ig reja salesiana do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo. Recordo-me ainda com satisfa ção de ter estado entre os apresentadores, na Itália, da obra magistral de Plinio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII, que constitui, ao meu ver, junto com Revolução e Contra-Revolução, um dos produtos mais altos do engenho do pensador brasileiro. Comprazo-me, por fim, com o autor desta obra, o prof Roberto de Mattei, ao qual me unem sentimentos de amizade e de consonância de ideais, pela maestria com que logrou apresentar a figura e a obra de Plinio Corrêa de Oliveira, de quem ele aparece corno digno discípulo na Europa. Todos os .fundadores e as personalidades de relevo na história da Igreja sofreram incompreensões e calúnias. Não é de espantar, pois, que também Plinio Corrêa de Oliveira tenha sido objeto, e possa continuar a sê-lo no futuro, de campanhas difámatórias, alimentadas pela arte de
quem se opõe ao seu idea l de recris tianização da sociedade. Tais campanhas difámatórias têm atingido, ern nosso século, também várias outras associações católicas, querendo apresentá-las como demoníacas sob o rótulo de "seitas". É interessante notar que estas carnpanhas se tornam tanto rnais agressivas quanto maior é a .fidelidade católica da associação visada. Isto demonstra que o verdadeiro alvo das acusações é a Igreja, à qual se quer negar o papel de "mestra da verdade", recentemente reqfirmado pelo Santo Padre João Paulo li na Encíclica Veritatis Splendo,: É larnentável que a estas campanhas difamatórias promovidas pelos inimigos da Igreja às vezes se prestem católicos que se pretendem ortodoxos. Faço votos que esta biografia de Plinio Corrêa de Oliveira possa dissipar críticas e incompreensões e constituir um ponto de referência ideal para todos que, com generosidade, queiram dedicar as próprias energias a serviço da Igreja e da Civilização cristã. Esta obra de serviço à Igreja não exige apenas retidão doutrinária, mas também vida interior e especial espírito de penitência e de sacr(fício, proporcionado à gravidade do momento presente. Plinio Corrêa de Oliveira nos oferece, com. a sua vida e co111 a sua obra, urn claro exemplo. Asseguro mi11l1as orações e a minha bênção a todos que, com este espírito e com esta visão do 11n111do autenticarnente católica, se.fizerem i111itadores e propagandistas. Rorna, 2 de julho de 1996 - Festa da Visitação. O
TFP ' {f.
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Acima: Visão do público que compareceu à Missa comemorativa do primeiro aniversário de falecimento do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, na igreja do Espírito Santo in Sassia, adjacente à Basílica de São Pedro em Roma, em 4 de outubro último
Aspecto da Missa celebrada pelo Cônego José Luís Marinho Villac, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima em São Paulo, por ocasião do aniversário do falecimento do inesquecível Fundador da TFP brasileira CATOLI C ISMO -
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cA~(ffWj({J ~e~~ PLINI0 CORRÊA DE OLIVEIRA MA ave qu e sempre me e ncantou , e ao mes mo tempo me deixo u me io desconcertado: é a garça. Em primeiro lugar, por causa daquela cor branca nívea, que me agrada muito. Depois, a construção - se assim se pode dizer - da garça, pela qual ela tem aq uele corpo branco, de onde sai um pescoço delicado e elegantemente torneado, com urna cabecinha e um bico muito grande, dando a impressão de um símbolo da capacidade de captar, de prever e agir à distância. E tudo sobre duas perninhas muito fininhas. Só se percebe que ela se move na ocasião em que, num passo elegante, com aquelas pernas compridas, abre a pata de palmípede e cam inha. É uma elegância no ir para a frente, com distinção, como quem comanda um império: ela
manda com tanta finura e autoridade no minúsculo território onde ela é rainha, que dá gosto, a quem aprecia o princípio da autoridade, ver a garça mover-se. Na realidade, ao observar-se bem, vêse o que ela está fazendo. Se ela fosse capaz de pensar, faria um raciocínio assi m: - Que vida eu levo! Tenho pernas tão frágeis, que qualquer coisa me quebra. Tenho que andar com tanto cuidado. Sou feita para viver nos rios, lagos e pântanos e para encontrar minha comida nos vermes que todo mundo reputa sujeira. Eu sou, na minha brancura nívea, uma co.letora de insetos que repugnam a todo mundo, e cios quais tenho que fazer a minha delícia. Meu bico tão comprido, tão seletivo, tão exigente, é um captador de coisinhas e vermículos que todo mundo rejeitaria. Que vida eu levo !
A garça poderia pensar que está condenada ao império dos pantanais e a banqu etes tão duvidosos e repugnantes. Como ela deveria achar triste a sua vida ... Em determinado momento, algum in stinto se move ne la. Ela ab re suas asas e voa: Adeus, pântanos! Adeus , in setos! Ela também tem o ar. Alé m de tudo , e la tem as vastidões , o so l qu e bate nas suas asas e a Lo rn a rutilante como se fosse fe ita de neve, as suas pernas parece m fi lame nlos qu e prolonga m elega ntemente sua estatura . E la corta o ar com um vôo muito mais e lega nte cio qu e a e legâ ncia de seus passos. A ga rça vive os se us grandes dias . O Nota da redação: Ex traído de conferência pron unciada pelo I rol". Plíni o Co rrêa d e O li ve ir a para co rres p o nd ent es e esclarecedores ela TFP, em 3 de agosto de 1990, na capital pau li sta . Sem rev isão cio conferencista .
Amplia-se a ação das TFPs nos 5 continentes
AfOJLXCISM ,, _e±,_ - - - - - - - - w- - - - - -- -
Nº 552 - Dezembro de 1996
NESTA EDIÇÃO:
4 PROXIMANDO-SE A DATA mais importante da Cristandade, Catolicismo dirige aos seus leitores e amigos uma mensagem de gratidão jJelo apoio e jJelas indispensáveis orações com que nos favoreceram ao longo deste ano. Quando nossos caros leitores estiverem comemorando este Natal, é possível que alguns deles lamentem o ambiente comercial e neoJJagão que vem marcando tal festividade. Quão diferente dos Natais de outrora, quando louçania e alegria sobrenaturais imJJregnavam todos os ambientes! Assim, um ou outro pode ser tentado a cai1· em uma melancolia sem esperanças e,portanto, no desâ11,imo. A.fim de proporcionar um apoio espiritual e um revigommento da convicção de que as promessas feitas por Nossa Senhora em Fátima efetivamente cumprir-se-ão, JJedimos ao Sr. Cônego José Luiz Villac - cuja preciosa colaboração em nossa revista, mediante nova seção, muito nos honra oferecer nas intenções de todos aqueles que constituem a vasta família espiritual de Catolicismo a Santa Missa que celebrará no dia 24 de dezembrn, vésjJera do Natal. Portanto, nessa ocasião o Santo Saaifk io da Missa estará subindo aos Céus, como prece por V. Sa. e por todos que lhe são caros. Não poderíamos ofertarpresente mais valioso e mais necessário a tantos que combatem o bom combate em nossos dias. É assim que, com o espírito já predisposto por tais dons sobrenaturais,formulamos votos de um abençoado Natal a todos os leitores desta revista e suas exmas. famílias. E rogn,mos ao Divino Infante que os fortaleça cada vez mais em sua fé e lhes proporcione um ano repleto de graçaswara enfrentar, com ânimo ( esol to, s adversidades ante as quais possamos nos rlefrontar neste 'll,ótico fim de milênio. Mas para além 'do qual no aguarda radia ite triutlo do Imaculado e Sapiencial Corar de Marial
A REALIDADE CONCISAMENTE
NATAL
Excesso de informações enlouquece os homens
PÁGINA MARIANA
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Nossa Senhora de Guadalupe, Patrona da América
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Carlos Magno, Patriarca da Europa
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Uma peregrinação à Gruta onde Jesus nasceu
PALAVRAS DE VIDA ETERNA
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Os maus são perversos, mesmo quando dizem a verdade
DESTAQUE
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HISTÓRIA SAGRADA
Jefté sacrifica a própria filha para cumprir o voto 18
ENTREVISTA
Lei do Concubinato atenta contra a Família VIDAS DE SANTOS
São Francisco Xavier, 19 o apóstolo do Oriente
INTERNACIONAL
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União Européia: a utopia esbarra no fracasso
BRASI L REAL, BRASI L BRAS ILEIRO
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Na Bahia barroca, restos de um Brasil autêntico
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PALAVRA DO SACERDOTE
O que fazer contra feitiços e bruxedos? DISCERN INDO, DISTI NGU INDO, CLASSIFICANDO ...
As esquerdas perdem 23 a garra
VERDADES ESQUECIDAS
O homem recusa a Deus 12 o que deseja para si TFPs EM AÇÃO
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Atividades das TFPs em 1996
CAPA: Adoração dos Reis Magos,
de Konrad von Soest (Bad Wildungen, Westfália, por volta de 1400) CATOLICISMO -
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o
.Síndrome do excesso de informação
O excesso de informações que agride o homem contemporâneo está lhe causando estresse.
Dados indicam melhoras no Brasil A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicíli o) do lBGE indica melhoria das condições de vida no Brasil em vários aspectos, entre 1993 e 1995 . 90% das crianças entre 7 e 14 anos vão à esco la. Isto representa um aumento de 450 mil alunos no período. O valor médio dos rendimentos das pessoas com 1O anos ou mais aumentou 28%. As residências com iluminação elétrica passaram de 91,3% para 9 1,7%. As residências com acesso à rede de água aumentaram de 75,4% para 76,2%. As casas sem esgoto sanitário caíram de l 2,4% para l l ,4%. A proporção de domicílios com geladeira subiu de 7 l ,70% para 74,80%. Se, apesar de todos os problemas com os quais se defronta o País - de ordem moral , econômica, etc. - , ainda se registram tais progressos, que potência não será o Brasil quando se der "a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"?
Pesquisadores da Britain 's Benchmark Research analisaram dados de 1.300 executivos dos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Cingapura e Hong Kong, e constataram que metade deles reclamam da sobrecarga de informação e sofrem de estresse associado ao excesso de dados. Como se vê, a tecnologia facilitou as comunicações, porém o progresso material não foi acompanhado de um progresso moral nas mesmas proporções. Esqueceu-se que o homem - à diferença dos animais - é composto de corpo e alma. O resultado aí está.
Funestas conseqüências da destruição do casamento Em gera l, as maiores vítimas do divórcio são os filhos, segundo pormenorizadas investigações levadas a cabo por universidades norte-americanas. As pesquisas indicaram que a liqüefação dos lares é causa do baixo rendimento escolar e estímu lo para o crime. Psicólogos norte-americanos constataram que o motivo do aumento dos suicídios entre os jovens do país encontra-se igualmente na separação dos pais. Este é um dos resultados da "filosofia" do "gosto, logo faço". Ou seja, da rejeição dos Mandamentos da Lei de Deus. Infelizmente, tais desgraças não constituem "privilégio" dos norte-americanos.
Tratamento para cães e gatos Empresa que vende planos de assistência médica para animais de estimação atende 1,5 milhão de cães e gatos da Grande São Paulo e do litoral paulista. A informação é de uma sócia-proprietária de companhia dedicada ao ramo. Além dos serv iços convencionais, é prestado "atendimento psicológico" aos animais. Enquanto isto se dá, cresce o empenho com que os abortistas brasileiros procuram facilitar o assassinato, em grande escala e legalizado, de crianças no ventre materno!
"Globalização" também na alimentação O órgão de sondagem de opinião francês lpsos-Sial, em conjunto com a revista L'Express, em junho e julho, conc luiu que o que se acabará comendo por todas as partes será a mesma coisa. Dominique Simonnet, em artigo para L'Exp ress, afirma: "Aí está a verdadeira revolução alimentar; não somente na inovação mas na mundialização . Entramos tranqüilamente na era da world food, na alimentação g/obaf'. Jean-Louis Flandrin, professor na Un iversidade Paris VII I e diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), mostra-se apreensivo quanto a esta "revolução alimentai": até que ponto a world food pode matar o bom pa ladar francês? Sobretudo, como proteger a ident idade (de cada povo) QATOLIC ISMO -
em um mundo em plena globalização? "Aqui fica a grande pergunta. Mas é verdade que tal questão não se põe apenas para a alimen-
tação", registra Dominique Simonnet. Diante das dificuldades para se chegar à República Universal pela persuasão ideológica, este não seria um meio eficaz para realizá-la "t ranqüilamente", sem despertar reações?
saotuário ma,;,oo m,;s visitado do mundo não é o de Lourdes (França), ne m Fátima (Portugal) ou Aparecida, mas sim o de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México, que recebe anual mente 20 m.i!hões de pessoas. Nossa Senhora de Guadalupe é a padroeira de todo o continente americano, e sua festa é celebrada em 12 de dezembro. Embora Catolicismo já tenha tratado do tema em suas edições de dezembro de 1974 e dezembro de 1981, voltamos a ele devido ao seu alto sign ificado para os americanos de todas as latitudes; e também porque a riqueza do assunto permite novas abordagens. Adoradores da serpente
Antes da conquista do México pelo espan hol Hernán Cortés,em 1521,osíndiosmaias e astecas adoravam um ídolo em forma de serpente, em honra do qual ofereciam horrívei s sacrifícios humanos. No cimo de pirâmides, estendiam a vítima sobre uma pedra, de costas, atada pelos pés e pelas mãos, ficando assim com o peito muito teso. Com enorme navalha, os feiticeiros abriam o peito da desventurada vítima e arrancavam-lhe o coração, o qual, ainda palpitando, era oferecido ao ídolo. Somente na inauguração do templo principal de Tenochtitlan (hoje Cidade do México), foram massacrados 80.000 indígenas, cujos corpos eram servidos depois em refeições canibalescas. Com a ação evangelizadora dos espanhóis, tais abominações foram sendo eliminadas. Aparições ao índio Juan Diego
Em 1531 , Nossa Senhora apareceu quatro vezes ao índio Juan Diego, pedindo-lhe que fosse construída uma igreja naquele local, hoje situado na capital mexicana. O humi lde e ardoroso de-
Com a globalização da culinária, tcnd •r, o a d •s.lparcccr os pratos regionais - important v, lor ·ultural
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no inverno, e o monte só produzia esp inhos ... O vidente não hesitou. Correu para o local indicado e encontrou muitas rosas. Colheu-as e levou-as à Mãe de Deus, que as ajeitou bem no manto do índio, e mandou que as enb·egasse ao Bispo. Ju an Diego obedeceu incontinenti e, diante do Prelado, abriu seu manto, deixando cair as belas rosas. No lugar onde estiveram as flores, no manto do índio, ficou estampada uma imagem de Nossa Senhora, de 1,30 m de altura. A Virgem está coberta por um manto verde claro, tem os olhos voltados para baixo, as mãos postas, e pisa uma meia-lua (a qual, aliás, é símbolo cio islamismo). A ciência comprova o milagre ...
NOSSA SENHORA DE GUADALUPE Padroeira das Américas No México, corações de vítimas ainda palpitando eram oferecidos ao ídolo asteca. Maria Santíssima aparece, esmagando a serpente voto nativo transm itiu o pedido da Virgem Santíssima ao Bispo do México, mas este pediu um sinal que o confi rmasse. Na quarta aparição, Nossa Senhora realizou um estupendo CATOLICISMO -
O caráter milagroso da pintura de Nossa Senhora de Guadalupe foi comprovado pela ciência. O cientista austríaco Richard Kuhn, Prêmio Nobel de Química de 1938, declarou que os pigmentos corantes da imagem não pertencem nem ao reino vegetal, nem ao animal, nem ao mineral. Logo, sua origem é sobrenatural e, portanto, milagrosa. Um técnico submeteu a pintu ra ao processo ele digita Iização, que co nsiste em dividi- la por meio de computador, em microscópicos quadradinhos, de maneira a caberem 27.778 em cada milímetro quadrado. Cada um deles foi depois ampliado 2.000 vezes, dando então a possibilidade de serem vistos pormenores imperceptíveis a olho nu.
PAULO FRANCISCO MARTOS
Nos olhos da Virgem ... o índio Juan Diego!
milagre, para que todos nela acreditassem. Nossa Senhora ordenou a Juan Diego que subisse ao alto de um morro, e recolhesse as flores que ali encontrasse. Era pie-
Pôde-se então verificar, representada nos olhos da Virgem, a mesma cena que se passou em 1531, no palácio episcopal da Cidade cio México: um índ io no ato de desdobrar seu manto diante de
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um franciscano (Dom Zumárraga, primeiro Bispo do Méx ico, pertencia à Ordem de São Francisco de Assis), em cuja face se vê rolar uma lágrima; além dos dois, aparecem um jovem emoc ionado, com a mão seg~,r~ndo a barba, uma mulher com cabelo encaracolados, um índio com o dorso nu , em atitude orante, um homem, uma mulher e vários meninos de cabeça raspada; e, finalmente, outros religiosos franciscanos.
Carlos Magno, Patriarca da Europa (7 41-814)
Lei do Concubinato: duro golpe na instituição
da Família
Um milagre estupendo: na pupila de Nossa Senhora, a figura do índio Juan Diego!
A que esmaga a serpente É muito simbólico o significado do nome Guadalupe. Helen Behrens, uma das maiores especialistas no assunto, analisando textos originais dos índios, que datam da época das aparições, concl uiu que a Mãe de Deus se apresentou com as palavras "Te Quatla Lupe", que significa "A quela que esmaga a serpente de pedra". A propósito disso, cabe lembrar a passagem da Sagrada Escritura em que Deus, dirigi ndo-se à serpente infernal, increpa: "Ela (Nossa Senhora) te esmaga rá a cabeça" (Gen. 3, 15). Assim, nos primórdios da história do Novo Mundo cumpriu-se literalmente a profecia divina: Nossa Senhora de Guadalupe esmaga a serpente de pedra, o horrível ídolo D diabólico sedento de sangue humano!
Fontes de referência: 1.
Gottfried Hi erzenbcrger e Otto Nedornansky -
Tutte le Appa rizioni dei/a Madonna in 2000 anni di Storia - Ed izioni Piemme, Itália, 1996. 2. Co rni ssão inter -TFPs de Estudos Hi spa no americanos - O V Centenário.fàce ao Século XXI:
Cristandade Autêntica a11 Revolução co11111110 tribalis1a, a grande altemativa de nossa época Artpress, São Paulo, 1993. 3. Estanis lau do Carrn o, O.,· milagres de Guadalupe, "Fo lha da Tarde" (São Pau lo), 16- 12- 1974 4. Estani slau do Carm o, Há 450 anos, aparecia 110 México N. Senhora de Guadalupe, "Fol ha da Tarde" (São Paul o) , 14- 12- 198 1.
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guns leitores poderão se pergunar por que a tradução alemã de evolução e Contra-Revolução, do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, apresenta em sua capa o busto-relicário de Carlos Magno (vide fotografia à p. 27). Que relação ex iste entre o grande Imperador cristão e a Alemanha atual? O papel de Carlos Magno como autêntico edificador da Europa católica é ímpar, tendo ele lançado os fundamentos das nações européias mediante a criação de um Império que veio a se tornar o Sacro Império Romano Alemão. Assim sendo, é compreensível que a edição em Iíngua alemã da renomada obra do Fundador da TFP brasileira ponha em relevo este patriarca da civilização européia e, mais especialmente, dos povos de língua germânica. No ano 800, o Papa Leão III recebeu Carlos Magno em Roma, e o proclamou Imperador Romano do Ocidente. Com o Sacro Império de Carlos Magno nasceu a Europa como unidade de civilização, a Europa católica. Seu poder, sua grandeza e sua glória eram reconhecidos além de suas fronteiras. Ele foi o árbitro supremo e o sustentácu lo de toda a Europa cristã, o açoite dos idólatras e o amparo dos povos tementes a Deus. . O Papa era o Senhor de Roma, e Carlos Magno seu protetor. A Cristandade tinha duas cabeças: uma espiritual, o Papa; e outra temporal, o Imperador. Este administrou seus domínios através de enviados especiais, os missi dominici (enviados do senhor), um eclesiástico e um secular para cada condado. Ele recebi am os impostos e aplicavam as decisões de arbitragem. CATOLICISMO -
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Nesse período imperial, verificou-se um florescimento cultural em numerosas áreas: a literatura, a música, a filosofia, a teologia, as ciências, a arte decorativa, a arquitetura e a indústria têxtil. Isso a par de uma grande pujança econômica em todos os níveis e setores do Império carolíngio. Carlos Magno pode ser considerado um homem providencial, promotor dos princípios cristãos e cuja atuação constituiu um marco na História da civilização ocidental. Faleceu em 814, no 46º ano de seu reinado. D
AÍOJLJCISMO Publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Mariza Mazzilli Costa do Lago Registrada na DRT- SP sob o n' 23228 Redação e Gerencia: Rua General Jardim. 770, cj. 3 D CEP 01223·010 São Paulo SP - Tel: (011) 257- 1088 ISSN 0008·8528 Fotolitos: Bureau Bandeirante de Pré- impressão Lida. Rua Mairinque. 96 CEP 04037- 020 São Paulo SP impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Lida. Rua Javaés, 681 CEP 01130-0 10 São Paulo SP
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meio ao cipoal de leis que vão sendo aprovadas no Brasil, encontra-se discutida "Lei do Concubinato", que representa mais uma violenta vestida contra a Família. A fim de elucidar pontos controvertidos e propiciar uma análise objetiva do referido diploma legal, Catolicismo pediu ao Dr. Júlio César Paraguassu um aba lizado esclarecimento de certos aspectos mais importantes do tema. O entrevistado é ex-Promotor de Justiça de Minas Gerais (1956- 7977 ), Ma gistrado do extinto Estado da Guanaba ra e, com a fusão, do novo Estado do Rio de Janeiro, durante mais de quinze anos esteve em exercício em varas de Família da ex-capital do País (na 7ª, na 2ª, na 5ª, na 6ª e, por treze anos, na 9i1, atual 75ª). Atualmente é Juiz do Tribunal de Alçada Cível, Conselheiro do Centro de Estudos e Debates do Tribunal e Membro da União de Juristas Católicos, da Arquidiocese do Rio de Janeiro. O ilustre Magistrado atendeu amavelmente a reportagem de Catolicismo em seu gabinete, no Tribunal de Alçada Cível, no Rio de Janeiro. Catolicismo-A Lei 9.278, de 10/5/ 96, conhecida por Lei do Concubinato, Legalizou a convivência que não resulta de casamento. Na opinião de V Exa., que conseqüências isto acarretará para a instituição da Família? Dr. Paraguassu Antes da mal sinada introdução (através da Emenda Constitucional 9, de 28/6/77) do instituto do divórcio no D ireito Brasileiro, talvez ainda pudesse adm itir-se que certos diplomas legais e determinada jurisprudência causassem danos indiretos à Famíli a, mas o fizessem sob a capa de atenuação de desigualdades, de amenização de situações tidas por constrangedoras, de ap li cação de um humanitarismo mai s ou menos duvidoso. Seria o caso (apenas para exemplo) do já longínquo Decreto-Lei 4.737, de 24/ 9/42, art. lº, que, há 54 anos, facultava ao "filho havido ... fora do matrimônio ser, depois do desquite, reconhecido ou demandar que se declare a sua filiação".
Dr. Júlio César Paraguassu
De lá para cá, porém, um muito antigo e generalizado processo de decadência moral cresceu demais, e acelerou-se de tal modo que, em nosso país, leis como a 8.971 /94 e a 9.278/96 (quiçá mais um caso de emenda pior do que o soneto) constituem dolorosos exemplos não só de queda do nível intelectual geral, e dos padrões legislativos em particular, mas sobretudo de um assaz mal disfarçado intuito, mais ou menos deliberado, de anarquia, de nivelamento, de oposição sistemática a qualquer ordenação (tal como o direito posto), de destruição de instituições, mormente da multimilenar e evidentemente natural instituição da Fam íli a. Mas, agora, chegou-se a um ponto em que, menos de um mês após a pub li cação da Lei 9.278/96, o clamor dos entendidos já obrigava o Governo a nomear uma Comissão de Juristas, para revê-la. Três meses depois da v1gencia, o Desembargador Corregedor Geral de Jus-
tiça do Estado do Rio de Janeiro já se via na contingência de ter de convocar os Juízes Cíveis, de Família e de Órfãos e Sucessões, os quais, então, "para fins de possível uniformização de entendimentos" (relativos estes a um diploma que mais parece feito para não ser entendido), aprovaram 11 enunciados (6 deles por unanimid<tde), destinados a res ponder, sem uma discrepância até desmoralizante para o Poder Judiciário, aos que estavam batendo às portas dele, com base em tais leis. A melhor das respostas para a pergunta ora feita foi dada, 42 anos atrás, em 1954, pelo então Juiz do Tribunal de Alçada (havia só um) de São Paulo, Professor Washington de Barros Monteiro: "De concessão em concessão, chegar-se-á ao aniquilamento da.família legítima; nada a separará da ilegítima. De lembrar-se aqui a prudente advertência de Plínio Barreto: 'Há uma luta contínua entre as duas instituições, a lega l e a ilegal, ensaiando es ta ( o concubinato) os mais variados meios de ação para reduzir o domínio daquela (o matrimônio) . Ora, quanto mais o concubinato puxa a coberta para si, mais desnudado .ftca o 'matrimônio "' (Curso de Direito Civil - Direito de Família, 2ª ed., Saraiva, São Paulo, 1955, pág. 24).
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CATOLICISMO -
Catolicismo - Que efeitos essa alteração do Direito de Família poderá produzir na sociedade brasileira? Dr. Paraguassu -O princiílal efeito deverá ser uma preferênci ainda maior pelo concubinato, em prejuízo docasamento. A inversão dos respectivos valores é tamanha que as leis em questão tornaram (em pelo menos dois pontos) maiores os direitos dos concubinos do que os dos cônjuges. Assim é que a Lei 8.971/94, art. 2º, III, estabeleceu que, "na falta de descendentes e de ascendentes, o (a) companheiro (a) sobrevivente terá direito à totalidade da herança". Da mesma ·maneira desigual, a Lei 9.278/96, art. 7°, § único, em caso de dissolução de mancebia por morte, instituiu o direito real de habitação na residência do par, em favor do supérstite, enquanto não case ou não constitua outro concubinato. A respeito dessas duas leis, tal como a propósito das leis de divórcio, é indispensável lembrar sempre a lição de Santo Tomás de Aquino: "A lei humana só tem a qualidade de Lei enquanto é conforme à razão e, conseqüentemente, é manifesto que ela deriva da Lei Eterna. Enquanto, porém, ela se afasta da razão, chama-se, por isto mesmo, injusta e, igualmente, não tem qualidade de lei, mas sim é uma espécie de opressão" (Suma Teológica, III, q. XIII, a. 3). Catolicismo - Uma vez que o art. l° da Lei do Concubinato não reproduziu a expressão " ... convivência não adulterina nem incestuosa ... ", que constava do respectivo Projeto, aprovado pelo Senado, pretendem alguns que a citada Lei protege também o concubinato adulterino e o incestuoso. Que pensa V. Exa. a este respeito? Dr. Paraguassu - Ao responder à primeira pergunta, já apontamos falhas, quiçá intencionais, na Lei. Ela está dando azo a uma distinção perigosíssima e antes impossível, em nosso Direito, no qual o concubinato ou união livre sempre foi, como na definição de Ruggiero e na tradição romano-cristã, a união, sem casamento, entre um homem e uma mu8
lher livres para casar, vale dizer, a união ex soluto et soluta, isto é, de um casal não impedido de se consorciar. A este respeito, penso o mesmo que o muito ilustr e Jurista Doutor Carlos Alberto Bittar, Juiz do !ºTribunal de Alçada Civ il de São Paulo e Professor titular da Faculdade de Direito da U .S.P.: "Não é de concubinato o relacionamento entre pessoas de sexo diverso no qual haja impedimento matrimonial (alguns autores usam o termo 'concubinato impuro' para essa modalidade). Mas, a rigor, não há a figura jurídica em questão, mesmo se a convivência for pública e duradoura" (O sistema Constitucional da Família, "Notícias Forenses", agosto de 1996, págs. 4-6). A pretensa distinção entre concubinato puro e impuro não passa de um expediente escuso, com vistas a ap li car as leis em foco a uniões entre pessoas impedidas. Far-se-á tabula rasa da teoria dos impedimentos, para "legalizar" até o incesto; e isto com o mesmo descaramento com que se vem empenhadamente procurando impingir a nosso povo o próprio homosse xualismo. Catolicismo - Posto o veto presidencial a três artigos do Projeto que deu origem à Lei do Concubinato, o Ministro da Justiça nomeou uma Comissão de Juristas para promover mais alterações no Direito de Família. Teria V. Exa. algo para dizer sobre a expectativa dessas novas modificações? Dr. Paraguassu - Sem prejuízo do grande apreço pelos muito ilustres membros da Comissão, é necessário lembrar que ela foi nomeada pelo mesmo governo que, ao invés de vetar na totalidade, , CATOLICISMO -
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sancionou a Lei nº 9.278/96, em causa, e que conta com a maioria dos parlamentares que a votou. Ademais, vivemos todos mergulhado s numa atmosfera moralmente muito poluída, de tal maneira que talvez não fosse atrevi do demais lembrar à douta Comissão que as leis não são feitas para coonestar os erros do povo, mas sim para, na medida do possível, propor-lhe um ideal mais elevado do que o estágio em que ele se ache. É preciso nivelar por cima, e não por baixo. Afigura-se evidente que eventual Projeto da Comissão tenha de solucionar as seguintes questões, pelo menos: 1) A Lei 9.278/96 abrogou a 8.971/ 94? Se não, o que ainda vige desta? 2) É a coabitação requisito indispensável ao reconhecimento da "união estável"? 3) A esta se aplicam os impedimentos legais ao casamento, particularmente o impedimento constituído pelo fato de um dos dois ser casado, ou ambos? 4) Para efeito de alimentos, qual o termo inicial do tempo de convivência: o início da união ou a vigência da lei? 5) E para os efeitos patrimoniais? 6) Quais as normas do processo de conversão da união em casamento? 7) Qual a forma do ridículo "contrato de mancebia"? 8) A Carta Magna determina que as normas de organização judiciária cabem aos Estados. Não serão, pois, inconstitucionais os dispositivos referentes à competência? 9) Como se resolverão impasses tais como o da fiança prestada por solteiro, o qual, de um momento para outro, poderá ter muito reduzido o seu patrimônio pela aparição de uma "união estável" atual ou já passada? O
União Européia: fracasso de uma utopia? JUAN CARLOS CASTÉ -
ENVIADO ESPECIAL
Chefes de Estado e de Governo inauguram a Conferência Intergovernamental da União Européia em Turim, em 29-3-1996: muitos problemas
ARIS - "L'Europe ne rêve plus" (A Europa não so-nha mais). Com tal constatação, Claude Julien, antigo diretor de "Le Monde Diplomatique", começa seu artigo de abril último. A União Européia parece sofrer um misterioso AIDS que ataca simultaneamente diversos setores desse Moloch burocrático. O sonJ10 - para muitos, pesadelo - socialista e ateu de uma E uro pa unida, uma prefigura de República Universa l, está enfrentando os dias mais amargos de sua curta existência. Há cinqüenta anos, sobre as cinzas ainda quentes daquele continente, começou a se tornar realidade. Lentamente foram se dando algumas transformações, que possibilitaram iniciar a criação dos Estados Unidos da Europa. E efetivamente, em 1957, o Tratado de Roma cr iou a Comunidade Econôm ica Européia, lançando as bases para o arbitrário, desastroso, antipopular - em uma palavra, sociali sta -Tratado de Maastricht. A respeito do engodo que envolveu os plebiscitos realiza-
Depois de anos de otimismo, ambições e esperanças, a realidade golpeia rijamente o projeto de união das nações européias. * " Informou -se mal sobre a Europa" (deputada centrista Nicole Fontaine) . * "A construção européia não começou enunciando claramente o que deverá ser, nojim de seu processo deformação, a repartição dos poderes" (Jacques Delors, então presidente do mais alto órgão executivo da Comunidade Européia).
dos na Europa para ratificação desse tratado, basta recordar algumas declarações da época, provenientes de fontes que Jhe eram favoráve is. Assim, por exemplo: * "Por muito tempo construímos a Europa em surdina, às escondidas" (E li sabet h Guigou, ministra delegada dos negócios europeus).
'''}JJflóJl!J?E , .!OENTIT/115-
(Diagnóstico: perda de identidade ... )
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* "Longe de construir a Europa dos povos, construiremos a Europa sem o povo" (Jean-Pierre Chevenement, socialista, que até se mostrou incomodado com o caráter totalitário ela Comunidade Européia (cfr. A TFP diz NÃO a Maastricht - Um tratado ininteligível: pode-se aprová/o?, Catolicismo nº 503, novembro de 1992).
Depois de um sonho, amargo despertar A faraô nica co nstrução dessa torre de Babel européia - entre tensões, sobressaltos, dúvidas, discussões, numerosos regulamentos e diretrizes - continua, mas com estru turas frágeis. Tal situação nos faz recordar a parábola de Nosso Senhor, quando adverte sobre o que sucede a uma casa cujos fundamentos se encontram em cima da areia. Basta abrir algum órgão de imprensa europeu, de qualquer tendência, para constatar os graves obstáculos e a crescente oposição da opinião pública à União Européia. Quase diariamente a mídia nos informa 9
Qual a solução?
O Parlamento europeu, em Estrasburgo
do descontentamento popular contra os chamados "critérios de Maastricht". Um dia são os pescadores de· Saint Maio (França), outro os da Andaluzia ou da Galícia (Espanha) , na semana seg uinte são os agricultores franceses ou os funcionários alemães, depois é a vez dos criadores de gado no Reino Unido, depois são os estudantes belgas ... Um significativo grupo de cidadãos dinamarqu eses argüiu de inconstitucionalidade o ato do Primeiro Ministro social-democrata Poul Nyrup Rasmussen , de ass inar o Tratado de Maastricht. Segundo as pesquisas, mais de 46% dos dinamarqueses são contrários à União Europé ia. Resultado de pesquisa rea li zada na Áustria indi co u que 84% dos se us habitan tes ignoram o que seja o Parlam e nto e uropeu. E não só isto, mas que a maioria cios austríacos está cética em rei ação aos benefício s da integração e uropéia. Há doi s anos, e les aprovaram em plebiscito o ingresso de seu país na União E urop éia. Acreditando no canto da sereia, pensaram que isso lh es trari a resultados positivos im ed iatos. Mas, a fim de atingi r os critérios ex igidos pelo Tratado de Maastricht para a união monetária européia, prevista para 1999, o governo teve de ap li car um a política de austeridade eco nô mi ca.
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Mesmo a representatividade do Parlamento europeu é contestada por figuras importantes. Com efeito, Giscard d'Estaing recentemente assinalou: "A obrigação de ter uma mesma lei eleitoral para a eleição ao Parlamento europeu foi posta de lado. O Parlnmento europeu será a única instituição parlamentar no mundo cujos membros serão eleitos segundo mais de uma dezena de leis diferentes. O qu e não reforça sua representatividade". (cfr. "Europe: l 'échec et l'échéance", "L'Express", lüa l6cleoutubro de 1996). Há outro fator em cena. Nota -se na Europa uma contínua erosão das estruturas cláss icas cio Estado e um ressurgir - às vezes com ex trema violência - dos nacionali smos e regionalismos. Estes movimentos são dirigidos por pol íLicos de todas as tendên c ias, tanto da extrema esquerda quanto da extre ma direita. Assim, poderemos assisLi r à formação de um a "Europa das reg iões", ou seja, o desmembramento do s aluais Estados nacionai s e urope us em uma g ig aritesca confederação de micro - nações aulogestionárias sem estrutu ra de finida . Seria uma Repú blica Universal de novo estilo ? "Quem viver, verá", é a me lhor respos ta a essa questão , empregando um adág io muito usado por aqui.D
Pode ser agradável a Deus a construção de uma "República Européia", máxime a que exige dos países que nela ingressem a implantação do aborto em suas constituições, estimula o "casamento homossexual", impõe o divórcio e o laicismo às nações? Nossa resposta só pode ser um categórico não. Então, como deslindar esse dédalo de problemas? Em sua obra Revolução e Contra-Revolução - qualificada a justo título de "profética" pelo eminente canonista Pe. Anastasio Gutiérrez CMF -, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira nos mostra o caminho que evitaria o caos em que essa Pan-Europa vai submergindo cada vez mais:
Cristandade e República Universal A Contra-Revolução, inimiga da República Universal , também não é favorável à situação instável e anorgânica criada pela cisão da Cristandade e pela secularização da vida internacional nos tempos modernos. A plena soberania de cada nação não se opõe a que os povos que vivem na Igreja, formando uma vasta família espiritual, constituam, para resolver suas questões no plano internacional, órgãos profundamente impregnados de espírito cristão e possivelmente presididos por representantes da Santa Sé. Tais órgãos poderiam também favorecer a cooperação dos povos católicos para o bem comum em todos os seus aspectos, especialmente no que diz respeito à defesa da Igreja contra os infiéis, e à proteção da liberdade dos missionários em terras gentílicas ou dominadas pelo comunismo. Poderiam tais órgãos, por fim, entrar em contato com povos não católicos para a manutenção da boa ordem nas relações internacionais. Sem negar os importantes serviços que em várias ocasiões possam ter prestado neste sentido organismos leigos, a Contra-Revolução deve fazer ver sempre a terrível lacuna que é a laicidade destes, bem como alertar os espíritos contra o risco de que esses organismos se transformem num germe de República Universal.
Contra-Revolução e nacionalismo Nesta ordem de idéias, a Contra-Revolução deverá favorecer a manutenção de todas as sadias características locais, em qualquer terreno, na cultura, nos costumes, etc. Mas seu nacionalismo não tem o caráter de depreciação sistemática do que é de outros, nem de adoração dos valores pátrios como se fossem desligados do grande acervo da civilização cristã. A grandeza que a Contra-Revolução deseja para todos os países só é e só pode ser uma: a grandeza cristã, que implica na preservação dos valores peculiares a cada um, e no convívio fraterno entre todos (Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Diário das Leis, SP, 1982, Parte li, cap. XI, 2 e 3). D
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Respost~ Com vivo interesse pelos meus caros leitores de Catolicismo, dou uma breve orientação sobre esse ass unto preocupante. Tanto mais que, como é público e notório, a macumba, a um banda, o candomblé, e tam bém o espiritismo qual mortífera lepra - estão disseminados por todo Brasil. A Terra de Santa Cruz! ... Em primeiro lugar exporei resumidamente o que a Santa Igreja ensina sobre a ação dos demônios, e depois darei alguns conselhos práticos sobre como agir.
Às vezes se vêem na rua, e até junto às portas de casas, oferendas de centros de macumbas - velas, charutos, pinga, galinhas mortas, etc. O Sr. poderia explicar o que a Igreja Católica ensina sobre feitiços, bruxedos, etc, e também o que se deve fazer diante de tais coisas?
CôNEGO JOSÉ Luiz MARINHO V1LLAC
mônio que assalta em pleno dia. Porque a seus anjos Ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos ... "
• Macumbeiros e congêneres fazem pacto com satamis
No entanto, existem casos em que a pessoa que recorre ao diabo faz um pacto com ele, por isso foi punido, sendo lanvações. Em segundo lugar, torna-se instrumento do maligçado no inferno. Portanto, é para castigá-lo por causa de no em benefício próprio ou de um anjo decaído, que mantém, seus pecados. terceiros. É o caso de Simão entretanto, os poderes e as liMas devemos ter confianMago, narrado nos Atos dos mitações da sua natureza ça em Deus, e a absoluta cerApóstolos (8, 9-25). É o que leangélica. Sendo criatura, seu teza de que Ele jamais permimos na história de São poder é limitado, e por isso é tirá que as tentações sejam suCipriano, feiticeiro convertido fa lso dizer que ele pode tudo. periores às nossas forças . É o que mereceu a auréola do marNão pode! que nos assegura o Espírito tírio, e de Santa Justina. O deSomente com a permissão Santo no salmo 90: "Porque mônio, que está sempre à prode Deus, é que satanás pode puseste o Altíssimo por teu cura de uma oportunidade para preOs demônios judicai· os homens, m nossa última edição, surgiu, com o favor de Nossa Senhora, mais existem? aproveita imediatauma seção em Catolicismo: ' ..4 palavra do Sacerdote". mente tal situação. Em boa hora o Revmo. Côn. José Luiz Vi/fac nos honrou com sua A respe ito da Assim, desde que preciosa e oportuna colaboração, a qual já alcançou entre os leitores reexistência dos deDeus o permita, o percussão das mais favoráveis. mônios , há dois espírito do mal pasAssim, a cada mês todos poderão se beneficiar com a palavra de orimodos opostos, sa a atender às soentação segura de um zeloso sacerdote sobre as mais variadas questões ambos errados, de 1ici tações que lhe que se colocam na vida quotidiana dos católicos, nos conturbados dias de ver o problema. são feitas e a obter, hoje. Alguns acham que para os que a ele reAproveite a ocasião, caro leitor, e escreva ao ilustre autor desta seção. o diabo não ex iscorrem, bens mateNão deixe de expor-lhe suas dúvidas, suas preocupações, e mesmo suas riais, prestígio, rete, e é perda de perplexidades em meio ao crescente neopaganismo em que vivemos. Ele tempo preocuparlações sentimeno atenderá com a sabedoria e abnegação que o caracterizam. se com ele; seguntais, etc, e inclusiAs cartas poderão ser remetidas para o endereço desta revista: Rua do estes, o que se ve prejuízo para General Jardim, 770, cj. 3 D/ CEP 01223-01 O São Paulo - SP. deve fazer é ig nooutras pessoas. rar o assunto. OuEm todas essas tros, pelo contráformas de falsa rerio, acham que o demônio re- macumba , li g io s idade refúgio, o mal não virá sobre fazer mal às criaturas. Agora almente existe, mas exageram umbanda, candomblé, espiriuma pergunta: por que permi ti nem o flagelo se aproximaseu poder. tismo - a invocação do dete Deus que o demônio atorrá de tua casa. Não temerás os Na realidade, a Igreja enmônio é constante. Portanto, mente o homem? Por duas rasustos noturnos nem a seta que sina que o demônio é um anjo as pessoas que recorrem a eszões: primeiramente, para voa em plena luz, ou o inimi que se revoltou contra Deus, e sas práticas abjetas podem ter santificá-lo por meio de progo que ronda nas trevas e o de-
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certeza de que é ao próprio diproteção do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coabo que estão recorrendo, emração de Maria. Recomendo bora o façam sob outras detambém , in sistemente, in tronominações, muitas vezes ilu"1duzir nos hábitos fam iliares a didas. Assim, podemos conclu1r reza do terço, pois esta é das que macumbeiros, pais de sandevoções que mais agradam à to e congêneres realmente têm Mãe de Deus e que mais depacto com o maligno e podem sarticul am a ação dos demôni os. Outras práticas piedosas fazer-nos grande mal. muito recomendáveis são areComo evitar a ação citação de jaculatórias a Nossa Senhora, a São Miguel Ardo demônio canjo e aos Santos Anjos da Guarda, e o uso constante da [sto posto, passo a dar alMeda lha Milagrosa de Nossa guns conselhos de ordem prática. Senhora das Graças. A primeira p,reocupação que Somando-se à oração e à devemos nutrir, para evitar a vigilância, é fundamental a ação do demônio, é estarmos freqüência aos sacramentos, sempre na graça de Deus. Para sobretudo a Confissão e a Coisso, devemos a qualquer preço munhão. Nosso Senhor Jesus banir de nossa vida o pecado Cristo é o EXORCISTA invenmo1taJ, sendo constantes na oracível! Outro costume muito recoção e fo1tes na vigilância. mendável - eu diria até inAss im sendo, recomendo a todos que se confiem, juntadispensável - é ter sempre em mente com suas famíl ias, à casa um recipiente digno abas-
tecido de água benta. Então, diariamente aspergir algumas gotas em todos os cômodos da casa, inclu sive no quintal, e discretamente nos terrenos vizinhos, aproveitando a ocas ião para fazer o sinal da cruz com a água benta, passando-a devotamente na fronte. O que fazer contra feitiço
Além disso, reafirmo, atilada vigil ância! Havia um sacerdote exorcista em Cotia, próximo a São Paulo (Deus o chamou a Si recentemente), que recomendava muito cuidado com feitiços em travesseiros, pois macumbeiros costumam fazer introduzi- los sem que a pessoa visada perceba, valendo-se de domésticas, fax ineiras ou até mesmo de algum parente malévolo ou ignorante. Caso apareça feitiço ou algo semelhante em casa, a recomendação é não tocar nem fi -
ca r olhando despreocupadamente. Antes de tudo, é preciso calma e confiança na proteção de Nossa Senhora, pois o gênio do mal nada pode diante dEla, que sempre lhe esmaga a cabeça. Conforme já recomendamos, repetir jaculatórias a Nossa Senhora, a São Miguel Arcanjo e ao Santo Anjo da Guarda. Jogar água benta em cima, e em seguida pôr fogo, com o auxilio de gasolina ou álcool. Mas cuidado para não pôr fogo na casa! Por fim, deve-se energicamente repelir toda e qualquer forma de superstição, toda curiosidade tendenciosa em relação ao "mundo do além", e jamais cair na tentação de entrar num centro espfrita, num terreiro de umbanda, de macumba, etc, para consu ltar um pai de santo, ou seja, o demônio. "Ab insidiis diaboli, libera nos Domine"! Das ciladas do diabo, livrai-nos, Senhor! D
A vida do Divino Salvador co01eçou ent 01eio às afrontas Jesus Cristo em Sua Encarnação, em sua Natividade e em toda sua vida aceitou voluntariamente humilharse e ser desprezado por outros. Pode-se fazer maior afronta a um homem do que ser ele desprezado por seus próprios concidadãos, e que não se encontre nem um só em sua própria região que lhe conceda um albergue, nem mesmo por uma única noite? Pois isto efetivamente sucedeu a Jesus Cristo em Belém: para todos os demais-velhos e jovens, homens e mulheres, nobres e plebeus- houve alojamento. Só Jesus, com Sua Mãe, se viu desprezado de todos e se achou na contingência de nascer em um estábulo. O que manifesta mais claramente meu orgulho aos meus olhos é que eu me vejo honrado muito mais do que Vós o fostes, e ainda assim não estou contente. Eu quero ser estimado mais do que o foi meu Redentor. Muito radicado está em mim este desejo, que vos é tão odioso. Esta é uma chaga que só Vós podeis curar, ó Jesus meu! (Ejercicios Espirituales de San lgnacio explicados por San Antonio Maria Claret, Editorial Coculsa, Madrid, 1955, 11 ª ed., pp. 265, 268 e 269)
Santo Antonio Maria Claret 12
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Gruta de Belém: vinte séculos de História Uma viagem ao longo do tempo. Conheça as sucessivas transformações do lugar onde Jesus nasceu
PAULO FRANCISCO MARTOS
Em 2 de julho de 1995, três meses antes de entregar sua alma a Deus, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em conversa com cooperadores da TFP, teceu magníficas cons iderações sobre a união sacrossanta entre o Menino Jesus e Nossa Senhora, desde o momento da Encarnação. Entre outras palavras inspiradas, disse o Fundador da TFP:
"À medida que, na Gruta de Belém, a geração de Nosso Senhor vai se tornando completa, tudo anuncia em torno dEle que o Salvador vai nascer, e a Gruta vai tornar-se augusta como nenhum palácio jamais o foi. "Os anjos enchem aquele ambiente; há uma respeitabilidade e, ao mesmo tempo, uma doçura, um amor, uma conjtança inexprimíveis. Som.ente no Céu se terá idéia exata do que foi a Gruta de Belém". Um breve relato histórico poderá nos ajudar a ter alguma noção da santa Gruta.
Chegando em Belém Trata-se de pequena cidade que dista 1Oquilômetros ao sul de Jerusalém. Possui atualmente 30 mil habitantes. Mil anos antes de Cristo, ali nasceu o Profeta e Rei Davi, do qual descendiam Nossa Senhora e São José. Maria Santíssima e seu castíss imo esposo São José, partindo de Nazaré na Galiléia, tiveram que caminhar 130 quilômetros até chegarem a Belém, onde se inscreveram para o re-
Gruta da Natividade - Belém
censeamento ordenado pelo Imperador Augusto. Cada um devia apresentar-se, não no lugar do seu domicílio, mas na cidade donde fosse originária sua família, porque lá se conservavam os títulos genealógicos que estabeleciam, com a ordem de descendência, o direito de herança. Naquela ocasião, Belém era uma cidade pastoril, rodeada de campos férteis e cultivados, com abundantes pastos, vinhedos, amendoeiras, figueiras e oliveiras. t Foi nas proximidades de 6 Belém, numa pequena Gruta, que o Rei dos reis e Senhor dos senhores nasceu de Maria, Virgem antes, durante e depois do parto.
Imperador pagão profana a Gruta
A cidade de Belém CATOLICISMO -
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Quando a Santa Igreja começou a se expandir, após Pentecostes, a Gruta onde Nosso Senhor nasceu passou a ser muito venerada pelos cristãos. 13
Davi um Salvador, que é Cristo Senhor. E eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura"
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(Lc 2, 11 - 12) .
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Os Cruzados chegam a Belém
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Os maometanos, entretanto, invadiram a Palestina no século VIII e / conspurcaram os Lugares Santos. Mas o □ [) □ não ousaram destruir a Basílica da Natividade. □ [J □ Essa dolorosa situação durou vários séculos, e somente cessou pela espada justiceira dos cruzados. Em 7 de julho de 1099, por ocasião 1. Entrada 2. Pórtico 3. Poço 4. Batistério 5. Altar-mor 6. Entradas da Gruta 7. Convento grego 8. da Primeira Cruzada, o aguerrido Convento franciscano 9. Igreja de Santa Catarina 1O. Entrada das grutas secundárias 11. Antigo claustro Tancredo, a pedido dos católicos de 12. Capela de São Jerônimo 13. Gruta da Natividade 14. Altar da Natividade 15. Altar da Manjedoura Belém, entrou na Basílica da Nativida16. Capela dos Santos Inocentes de, ali depositando seu glorioso estanEntretanto, para impedir tal devoção, o Imperador pagão darte, sob grande aclamação. Poucos dias depois, em 15 de julho, os cruzados, lideraAdriano, em 137, mandou erigir no local da Gruta uma estátua de Adonis, cultuado pelos romanos como deus da beleza. dos pelo heróico Godofredo de Bulhões, tomaram de assalto Jerusalém. Era sexta-feira, às três horas da tarde, o momento exato em que Nosso Senhor havia expirado na Cruz, para a No local do Nascimento, surge uma Basílica Redenção do gênero humano. Na noite de Natal de 1101, Balduíno I, irmão do admirável Graças ao ardente zelo de Santa Helena, no início do século TV o seu filho, Imperador Constantino, mandou destruir a está- Godofredo, foi coroado Rei de Jerusalém na Basílica da Nati vitua de Adonis e construiu a Basílica da Natividade, sobre a dade. Gruta de Belém. O templo passou a ser muito visitado por peregrinos que vi- A Gruta escolhida por Deus nham sobretudo do Ocidente. O grande São Jerônimo tinha tal Sob o domínio cios cruzados, floresceu em Belém a vicia veneração pelo lugar onde Jesus nasceu, que resolveu sair de Roma e residir em Belém. Próximo à Basílica da Natividade, fundou religiosa. Durante séculos, era costume de muitos peregrinos dois mosteiros, coajuvado por Santa Paula e pela filha desta, Santa passar a noite de Natal na Basílica da Natividade, o que aconteEustáq uia, que assumiram suces ivamente o governo do mostei- ce até hoje. Originariamente a Gruta era de pedra calcárea, com acesso ro das mulheres, enquanto ele dirigiu o masculino. São Jerônimo viveu 35 anos em Belém, onde continuou a ao nível cio solo. Ao construir-se a Basílica, ficou ela numa tradução da Sagrada Escritura para o latim, iniciada em Roma cripta, sob o altar-mor, e para a qual dão acesso duas escadas por ordem do Papa São Dâmaso, de quem era secretário. Essa de pedra. É um retângulo irregular de doze metros de compritradução foi tomada pela Igreja Católica como texto oficial da mento por quatro metros de altu ra. Bíblia, sob a designação de Vulgata. Ao fundo, entre as duas escadas, vê-se um nicho semicircular São Jerônimo morreu junto à Santa Gruta de Belém em 420, de dois metros e meio de altura e um e meio de largura. Ali foi erguido o altar da natividade, sob o qual há uma estrela de prata aos 90 anos de idade. Por ocasião de uma revolta em 530, a Basílica da Nativida- e a inscrição "Hic de Virgine Maria Jesus Christus natus est!' de foi totalmente destruída pelo fogo. E alguns anos depois o (Aqui nasceu Jesus Cristo ele Maria Virgem). Imperador bizantino Justiniano a reconstruiu. Tal igreja permaAs paredes da Gruta não mais estão como antigamente, decoradas com artísticos mosaicos. nece até nossos dias. Um pouco atrás da santa Gruta, noutra escavação, encontraPróximo à Basílica da Natividade encontra-se o santuário "Gloria in excelsis" (Glória a Deus nas alturas), tam- se o altar dos Santos Reis Magos. A Gruta, um pouco escura, é iluminada por algumas lâmpabém conhecido como a Capela dos Pastores, em memória daqueles homens simples aos quais o Anjo anunciou o nas- das elétricas e por mais de 50 lamparinas de azeite. O solo é cimento do Redentor, dizendo: "Nasceu-vos na cidade de recoberto de mármore. 2
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Relíquias da manjedoura onde foi reclinado o Menino Jesus encontram-se na Basílica de Santa Maria Maggiore, cm Roma
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Capela de São José
Relíquia do Presépio em Roma
Na extremidade da Gruta há uma porla, cujas chaves estão em poder dos franciscanos, e que ~opduz a um corredor escavado na rocha. Nesse corredor há várias capelas, sendo a primeira ... em honra de São José, em memória da mensagem que o Santo Patriarca recebeu quando um Anjo apareceu-lhe em sonho e disse-lhe: "Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe, e foge para
Na majestosa Basílica de Santa Maria Maggiore, na Cidade Eterna, são veneradas preciosas relíquias do Presépio. Tem ela esse nome porque é a maior igreja dedicada a Nossa Senhora existente em Roma. Possui três amplas naves, separadas por duas fileiras de 44 colunas de mármore, e o teto é ricamente forrado com o primeiro ouro que veio da América. Sua torre, em estilo românico, é a mais alta da Cidade Eterna. Sob o altar-mor, coberto por um esplêndido baldaquino, sustentado por quatro preciosas colunas de mármore branco, encontra-se a cripta. Nela estão guardadas as relíquias do Santo Presépio, que se compõem de cinco pedaços da manjedoura encerrados em artística urna de prata. O leitor desejoso de conhecer mais pormenores dessa esplendorosa basílica poderá consultar o artigo Em Roma, tesouro da Gruta de Belém, na edição de Catolicismo de dezembro de 1993.
o Egito, e fica lá até que eu te avise; porque Herodes vai procurar o Menino para o matar" (Mt 2, 13).
Capela dos Santos Inocentes e de São Jerônimo Logo depois há a capela em honra dos Santos Inocentes, isto é, todos os meninos de até dois anos de idade que o ímpio rei Herodes mandou assassinar, movido por ódio e temor ao Divino Infante. Derramaram seu sangue em holocausto ao Redentor, sendo considerados santos pela Igreja. Sua festa celebra-se a 28 de dezembro. Mais além, encontra-se a capela de São Jerônimo.
Reparação Considerando que a Gruta de Belém e a Basílica da Natividade apenas em parte encontram-se sob a guarda da verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, ofereçamos neste Natal de 1996 um ato de reparação, através de uma
Igreja de Santa Catarina
Esse corredor de capelas conduz à igreja de Santa Catarina, paróquia dos católicos de Belém. O temInterior da Basílica da Natividade plo foi construído pelos prece. franciscanos em 1882, em substituição a uma pequena igreja Roguemos ao Divino Infante, por meio de sua Mãe medieval. Santíssima, Medianeira de todas as graças, que nos conceda o Diante dessa igreja há um belíssimo claustro gótico, restauespírito de destemor e abnegação dos cruzados. rado em meados deste século. Que Jesus Menino derrame uma torrente super-abundante de graças, a fim de extirpar a modorra e a con ivência com Desolação, frieza e abandono o mal, presentes na mentalidade de tantos católicos, e torne nossas almas tochas ardentes de zelo pela glória de Deus. Como dissemos, a paróquia dos católicos é igreja de SanE que todos os Lugares Santos possam retornar o quanto ta Catarina, e não a Basílica da Natividade. antes à Santa Igreja. O Em razão de vicissitudes históricas, que seria longo aqui
a
descrever, na Basílica da Natividade os frades franciscanos, em nome da Igreja Católica, detêm a posse apenas do altar do Presépio, a estrela de prata acima referida e alguns tecidos das paredes da Gruta. Todas as demais dependências estão em poder dos cismáticos, sejam eles gregos ou armênios.
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Fontes de referência: 1. Enciclopedia Ca11olica, Casa Editrice G. C. Sansoni, Florença, 1949. 2. Cardeal Angel Herrera Oria, u, Pa/abra de Cristo, Biblioteca de Autores Cristi anos, Madrid, 1957,tomolX, pp.76e77. 3. Pe. Donato Baldi, Guida di Terra Santa, Edizioni Custodia di Terra Santa, Jerusalém, 1973. 4. E. Venturini,ui Vil/e Etemelle, Lozzi Editeur, Roma, 1962, 12a. ed.
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PALAVRA/ DE VIDA ETERNA
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Os maus são perversos, mesmo quando dizem a verdade ''E, de tarde, sendo já sol posto, traziam-lhe todos os enfermos e possessos: e toda a cidade se tinha juntado diante da porta (da casa da sogra de São Pedro). E curou muitos que se achavam oprimidos com várias doenças, e expeliu muitos demônios, e não lhes permitia (aos demônios) dizer que O conheciam. E levantando-se muito de madrugada, saiu e foi a um lugar solitário, e lá fazia oração. Simão e os que estavam com Ele/oram procurálo. E tendo-O encontrado, disseram-lhe: Todos te procuram. E Ele disse-lhes: Vamos para as aldeias e cidades vizinhas, a fim de que eu também lá pregue, pois para isso é que vim. E andava pregando nas sinagogas deles e por toda a Galiléia, e expelia os demônios" (São Marcos, 1, 32-39).
Comentários extraídos da Catena Aurea, 1 de Santo Tomás de Aquino Curados só os que tinham fé Segundo a lei antiga, as pessoas consideravam que não era permitido operar curas no sábado, e esperaram o sol se pôr para levar a Nosso Senhor Jesus Cristo os enfermos e possessos. Nosso Senhor curou muitos e expeliu inúmeros demônios. Aqueles, dentre os presentes, que tinham fé, curou a todos! Alguns não foram curados por causa de sua incredulidade. Místicamente, o pôr-do-sol sign ifica a paixão e morte dAquele que disse: "Eu sou a luz do mundo". Foi, então, no ocaso do sol quando curou a maior parte dos enfermos e possessos do demônio, porque durante sua permanência neste mundo, sobretudo ensinou e transmitiu a todos os povos da terra os dons da fé e da salvação. Por outra parte, moralmente, o "pôrdo-sol'' signifi ca que a porta do Reino dos Céus é a penitência, com fé , a qual cura as diversas enfermidades, ou seja, os vários vícios deste mundo.
Morte do Redentor: derrota do demônio O demônio compreendeu - ou melhor, suspeitou pelos si nais tão portentosos - que aquele homem era o que havia
visto no deserto, durante o jejum de quarenta dias, o que não lhe permitiu convencer-se, nem mesmo por meio da recusa às suas tentações , de que Aquele era o Filho de Deus. Por isso, induziu aos judeus que O crucificassem, não porque julgara que não fosse o Filho de Deus, mas porque não previu que, com sua morte, ele mesmo, o próprio demônio , haveria de ser o condenado. Nosso Senhor não permitia que os demônios falassem para nos ensinar não crer neles, mesmo quando dizem a verdade, porque misturarão a mentira logo que encontrarem quem lhes dê crédito. Depois que curou muitos enfermos, Nosso Senhor se retirou a um lugar isolado, para nos ensinar a não fazer nada por ostentação, e nem propaganda de nós mesmos pelo bem que façamos.
Oração divina, modelo para os homens E lá fazia oração: não porque tivesse necessidade de orar, posto que Ele mesmo era quem recebia as orações dos homens, mas porque, procedendo dessa forma, se nos oferecia verdadeiramente como modelo, o qual devíamos imitar em nossas boas obras. Mostra também que é a Deus que devemos atribuir todo bem que façamos. CATOLICISMO -
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Nosso Senhor permitiu que a multidão se juntasse a Ele. E, embora a recebesse com satisfação, quis despedi-la para que os Apóstolos fossem , de modo todo especial, partícipes de sua doutrina, pois não deveria permanecer por muito tempo neste mundo. Mas, depois, fo i àqueles que mais necessitavam, porque não convinha circunscrever sua doutrina a um só lugar, e sim estendê-la por todas as partes, "pois para isto é que vim". No que manifesta a sua Encarnação e o domínio de sua divindade, confirmando que hav ia vindo ao mundo por sua vontade. Ademais, juntou a obra à palavra, porque, depois de pregar, afugentou os demônios. Se Nosso Senhor Jesus Cristo não tivesse feito milagres, não se teria acreditado em suas palavras.
Ocaso e aurora: símbolos da morte e ressurreição do Salvador Assim como, místicamente, o pôr-dosol sign ifica a mo1te de nosso Salvador, da mesma forma a aurora expressa a sua ressurreição. Foi, pois, "ao raiar da aurora", ao dese1to das gentes, e orava por seus fiéis , porque excitava seus corações à vi1tude da oração pela graça do Espírito Santo". D
Nota: 1) Santo Tomás de Aquino - Carena Aurea Exposici611 de los cuar,v evangelios - vol. lll: San Juan - Cursos de Cultura Católica, Buenos Aires, 1946. Os interlítul os são da redação.
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História Sagrada m seu lar
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SAO FRANCISCO XAVIER
(67) noções bás1ras
Jefté, varão fartíssimo e guerreiro
Em número anterior, concluímos a epopéia do valoroso Gedeão. Narraremos a seguir a prodigiosa história de Jefté, juiz de Israel.
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ai s uma vez, "os filhos de Israel,juntando novos pecados aos velhos, fi zeram o mal na presença do Senhor", e caíram na abominável idolatria de Baal. Irado, Deus entregou-os nas mãos dos amonitas, pelos quais foram oprimidos durante 18 anos. Arrependimento e perdão do povo hebreu
Voto de Jefté
42.000 efrateus são mortos
"O espírito do Senhor fo i, pois, sobre Jefté e ele fez um voto ao Senhor, dizendo: Se entregardes nas minhas mãos os filhos de Amon [amonitas], a primeira pessoa, seja ela qual for, que sair das portas de minha casa, e vier ao meu encontro quando eu voltar vitorioso dos fi lhos de Amon, eu a oferecerei ao Senhor em holocausto".
Movida pela inveja, a tribo de Efraim - que hav ia anteriormente ameaçado agredir Gedeão - revoltou-se contra o heróico Jefté. Os efrateus tiveram a petu lância de dizer a Jefté: "Por que, indo tu combater contra os filhos de Amon, não quiseste chamar-nos para irmos contigo? Por isso queimaremos a tua casa". Jefté reuniu os varões de Galaad para com baterem contra os efrateus iníquos. Como resultado, 42.000 homens ela tribo de Efraim foram mortos. Jefté governou Israel durante seis anos e morreu; fo i sepultado na sua cidade de Ga laad (cfr. Jz. 10, 6 a 12, 7).
Vitória sobre os amonitas E Jefté atacou os amonitas, derrotouos e "fez uma grande mortandade em 20 cidades, e foram humilhados os filhos ele Amon". Voltando o valoroso guerreiro para sua casa em Masfa, sua filha única saiu-lhe ao encontro, tocando tímpanos e dançando de alegria. Mas Jefté, quando a viu, ficou tomado pela dor. Falou-lhe sobre seu voto, e a filha - numa atitude de heróica obediência - respondeu-lhe: "Meu pai, faze de mim o que prometeste, pois que [o Senhor] te concedeu a vingança e a vitória sobre teus inimigos". E acrescentou: "Deixa- me que vá pelos montes durante dois meses, e que chore a minha virgindade. E ele respondeu: Pois vá. E, passados os dois meses, voltou para seu pai, e ele cumpriu o voto".
Sacrifício da filha de Jefté Comenta o Padre Matos Soares: Jefté "talvez ignorasse que a lei proibia os sacrifícios humanos, e somente tivesse conhecimento do que acontece u com Abraão, esperando na sua simplicidade que Deus, contentando-se com a sua boa intenção, impediria, por meio de qualquer prodígio, a morte da vítima, como tinha f eito com Isaac, filho de Abraão" .1 "A Bíblia não contém nenhuma palavra de censura a Je.fié'' 2. Pelo contrário,
Estando em ex tre ma aflição , os israelitas pediram perdão ao Criador, "lançaram fora de suas terras os ídolos, e serviram ao Senhor Deus, que se compadeSão Paulo elogia-o na epístola aos hebreus: ceu de suas misérias". "E o que mais direi ainda ? Fa ltar-meHavia na terra de Galaad um hoia o tempo, se eu quisesse falar de mem chamado Jefté, "fortíss imo e Gedeão, de Barac, de Sansão, de Je.fté, guerreiro", o qual fo i expulso ele casa os quais pela Fé conquistaram reinos, por seus irmãos, por ser filho de mu exerceram a justiça, tornaram-se forlher de má vida. Passou Jefté a habites na guerra, puseram em.fit ga exértar na terra de Tob, onde alguns bancitos estrangeiros" (cfr. Hebr. 11, 32didos reuniram- se a ele, e seguiram3~. O no como seu cap itão nas lutas contra os inimi gos de Israel. Os prín cipes de Galaad foram, Notas: então, procurar Jefté para pedir-lhe 1. Pad re Matos Soares, Bíblia Sagrada, Edições Paul inas, São Paulo, 1993, 9" ecl., p. 282. que chefiasse os hebreu s na luta con2. Padre F. Vi gourou x, Ma111.1el Bibliq11e 011 Cours tra os amonitas. Jefté ace itou comand'Écrit11 re Sa inte - A11cie11 Testam ent - A . dar a guerra, e todo o povo elege u-o A filha única de Jefté vai ao seu encontro e torna-se Roger et F. Chernoviz Éditeurs, Paris, 190 1, tomo assim a vítima que ele em voto prometeu sacrificar co mo jui z. li, p. 68.
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Fogo devorador de um coração . . m1ss1onar10 ~
Imagem de São Francisco Xavier venerada na Basílica do Bom Jesus, em Goa, índia
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fortaleza medieval de Javier nAun~a teve destacada importancia, nem na paz nem na guerra; Mas não há quem não tenha ouvido falar o se u nome, devido ao grande missionário jusuíta São Francisco Xavier, que a li nasceu. Em 1S20, quando Francisco tinha 14 anos - nascera em J 506 - seus irmãos participaram do cerco de Pamplona, entre cujos defensores se encontrava lnigo de Loyola, depois Santo Inácio. Alguns anos mais tarde, em 152S, afastou-se de casa para estudar em Paris, onde sua residênc ia era o colégio Santa Bárbara, ao que parece uma instituição destinada à hospedagem de estud antes espan hóis e portugueses. Em 15 29, Jnigo, que tinha ido a Paris estudar humanidades e procurar compan heiros para a obra que pretendia fundar, também se tornou hóspede do Santa Bárbara. Francisco, como estudante mais antigo, foi indicado para orientar o novo hóspede nos passos iniciais de seus estudos. Po rém, como nutri a grande antipatia por lfíigo, Francisco passou essa tarefa a Pedro Fabro, que a aceitou com muito gosto e dela tirou grande proveito para sua alma. Francisco procurava de todos os mo-
A paixão que sentia pela salvação das almas o levava a exigir punição exemplar para quem merecia
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RouERTO ALVES LEITE
sem deixar ele ser um dos mais generosos. No fundo de seu coração era ainda um homem da Idade Média, que não media esforços para obedecer a Deus. Em certa ocasião, um vaso sangüíneo do Santo estourou, devido à energia com que rechaçou uma tentação.
dos afastar-se de Inácio, a quem considerava ridículo, zombando com sarcasmos de seus esforços para trazer as almas a Deus. Inácio já havia percebido grandes qualidades em Francisco, e procurou exercer alguma influência sobre e le. Por ma is de dois anos seus esforços não obtiveram qualquer resultado. A submi ssão completa de Francisco à direção de Inácio só se deu em setembro de 1534, mês que Francisco dedicou a um retiro segundo os Exercícios Esp irituais que Inácio havi a escrito. Nunca tal obra mostrou com maior eficácia seu poder de transformar um homem, corno durante aquele mês em que Francisco lutava na solidão, entre anjos e demônios. Nem o pJóprio Inácio, que o visitou e aconselhou durante todo o tempo, era capaz ele dominar por completo o fogo devorador que a meditação havia acendido em seu coração ardente de espanhol. Foi, até o fim ele sua vida, um homem apaixonado, capaz ele iras santas
Apesar de demonstrar muito desejo de ir para o Oriente, só empreendeu a viagem porque um dos dois escolhidos adoeceu. Certo dia Santo Inácio o chamou e comunicou- lh e que, por ordem do Papa, dois religiosos da Companhia de Jesus deveriam ir à India. Como um não podia ir por estar enfermo, acrescentou sem rodeios, como é corrente entre dois espanhóis: "Esta é vossa empresa!". "Pois eis-me aqui!", respondeu Francisco. E calmamente começou a remendar uma velha calça e uma miserável batin a. Duas mil léguas de viagem o esperavam . Na primeira parte do trajeto, foi até Lisboa, cidade que palmilhou de um extremo a outro, praticando a caridade. A pedido do Infante D . Henrique, visitava e assistia os presos da Inquisição. Esta Inquisição portuguesa foi estabelecida no país pelo Rei
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Rumo ao Oriente
D. João III, sendo seu Grande Inquisidor o Infante D. Henrique. A respeito dessas visitas, Francisco escreveu a Inácio, em 22 ele, outubro de 1540: ,., "O infante D. Henrique, Grande
Inquisidor deste reino, irmão do rei, nos recomendou várias vezes que déssemos assistência aos presos da Inquisição. Assim, nós os visitamos todos os dias e os ajudamos a conhecer a mercê que Nosso Senhor lhes faz ao detêlos lá. Fazemos pregações todos os dias .... muitos nos dizem que Deus Nosso Senhor lhes fe z grande mercê ao fazê-los conhecer muitas coisas necessárias para a salvação de suas almas".
em vila na Indonésia. No verão, era como caminhar sobre brasas, e na época das chuvas, no meio da Iama; quando o vento do Índico soprava, enchia tudo de areia e pó; respirava-se pó, comia-se pó; o pó mnvadia tudo . Apesar de ser conhecida a quantidade de
faina apostólica. Muitas vezes, quase não podia mover o braço, devido ao grande número de batismos que conferia, e faltava-lhe a voz de tanto repetir o Credo e os Mandamentos. Em um mês batizou mais de 10.000 pessoas. Para isso, juntava todos os homens e meninos; depois, mandava-os embora e chamava as mulheres e filhas. Após os batismos, determinava que se derrubassem as casas onde havia ídolos, quebrando-os em muitíssimos pedaços. Causava-lhe grande consolação ver os ídolos serem destruídos pelas mãos dos que foram idólatras. Xavier andava de lugar em lugai·, transformando idólatras em cristãos.
Apesar de seu terno coração, e "Majestade, enviai a de sua compaixão para com seus semelhantes, Francisco consideraInquisição" va justas as sentenças da Inquisição e admitia a pena da fogueira como A sua extrema bondade tipunição de heresia. O fato de que nha como auxiliar urna grande homens como ele e Santo Ináciovigilância, e por isso recomeno qual já fora vítima da Inquisição dava que se vigiasse muito os - não vissem injustiça no procePadres do rito católico oriental dimento dos tribunais é um argumalabar, pai·a que não se conmento que não pode ser desprezadenassem e nem levassem oudo pelos que buscam a verdade histros à perdição. E se fossem vistórica, e não a lenda. tos fazendo o mal , recomendava que se os repreendesse e casTrês oceanos e um ano de viaOs restos mortais de São Francisco Xavier encontram-se na gem - durante a qual todos o titigasse, pois é um grande pecaBasílica do Bom Jesus, em Goa, onde são expostos à veneração nham já por santo - ainda faltado não dar castigo a quem mepública de dez em dez anos vam para chegar ao destino! rece, especialmente aos que com Como votava pouca simpatia pelos insetos que infestavam a Indonésia, não sua vida escandalizam a muitos. mouros, e tendo visto a grande cruz coaparece em nenhuma carta sua o zumSugeriu ao Rei de Portugal, para o locada pelos portugueses em Melinde, bido deles! Seu travesseiro era uma bem espiritual dos cristãos da Índia: "É comentou em uma caita: "Deus Nosso pedra, e só em Deus esperava. [necessário] que mande Vossa Alteza Senhor sabe quanta consolação recebeFrancisco Xavier era um homem a Santa Inquisição, porque há muitos mos, conhecendo quão grande é a vir- que não conhecia o medo. Caminhava .[cristãos] que vivem a lei mosaica e a tude da Cruz, vendo-a assim. só e com dezenas de milhas pai·a um lado, cen- seita mourisca sem nenhum temor de tanta vitória entre tanta mouraria". Era tenas para outro, no meio de animais e Deus nem vergonha do mundo. Como um homem capaz de todas as temeridasão muitos e espalhados pelas fortalehomens selvagens, bem como de enferdes pai·a salvar um cristão, mas quando midades. Ele mesmo relata que achava zas, é necessário a Santa Inquisição e se tratava de um empedernido infiel, pamuitos pregadores. Provenha Vossa bárbara aquela gente ainda sujeita ao recia outro. canibalismo. Havia ilha onde um de Alteza a seus leais e fiéis vassalos da seus habitantes, quando queria dar uma Índia de coisas tão necessárias". Isto porque, no seu entender, a heresia é a A voz lhe faltava, de tanto repetir grande festa, pedia a um vizinho seu o o Credo mais espantosa das calamidades, porpai para ser comido, prometendo entregar-lhe o seu quando envelhecesse! que leva à ruína das almas. Nunca se mostrou mais heróico do Único homem branco naquele mar Para evitai· escândalos, dava conque nas peregrinações efetuadas de vila de areia e sol, era incansável em sua selhos preciosos aos jesuítas que ia
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deixando pelo caminho: "Deveis
estar de sobreaviso em relação a todas as pessoas com que conversais espiritualmente, tanto com os muito amigos como com os pouco e com os outros, como se eles, algum dia, se tornassem seus inimigos. Usai dessa prudência sobre este mundo mau, e sempre andareis senhores de si e alegrareis mais a Deus".
para o calor da Índia. Sua memória, apesar de ser excelente, levou 40 dias para decorar os Mandamentos na nova língua ensinada por Anjiró. A caminho da China, sua última missão, precisou acalmar uma tempestade para seguir adiante. Mas antes de chegar ao destino a tempestade da vida o levou deste mundo.
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No caixão, seu olhar parecia vivo
Contemplando seu rosto, enchia-me de alegria
a viagem e nós não lhe pudemos ser bons, pois morreu em sua infidelidade; nem depois da morte podemos sê-lo, encomendando-o a Deus, por estar sua alma no inferno".
O amor que resplandecia em seus olhos negros, cheios de fogo, e queimava seus lábios, o levou deste mundo aos 46 anos. Foi urna morte pobre e humilde, corno correspondia a um homem que imaginava que ninguém ia selembrar dele. Doloroso paradoxo: graças a ele milhares de pessoas receberam, em sua última hora, os consolos da Igreja, o que não aconteceu com ele. Era 3 de dezembro de 1552. A chegada do corpo incorrupto em Goa, um ano mais tarde, foi sob o toque festivo de todos os sinos, corno se fazia com um grande príncipe ou conquistador. Durante quatro dias a multidão enchia a igreja pai·a beijai· seus pés imóveis, que tanto haviam ali caminhado. Seus olhos negros se mantinham como se estivessem vivos, com um olhar penetrante. Era uma tão grande mai·avilha, que o comissário da Companhia holandesa se converteu instantanearnente. Foi canonizado em 12 de março de J 622, junto com Santo Inácio, Santa Teresa de Jesus, São Felipe Neri e Santo Isidoro de Madri. Um cortejo digno de sua epopéia missionária. O
Lá estava o missionário, nos ventos gelados de Kagoshima, no Japão, com uma batina de algodão, feita
Fonte de referência: James Brodrick , SJ: San Fran cisco .!avier ( 1506-1552) - Espasa-Ca lpc, Madrid, 1960.
Em 1547, escutou pela primeira vez notícias concretas do Japão quando conheceu os primeiros hornen s daquelas terras. "Fiquei
completamente subjugado por ele", disse o japonês Anjiró. "Eu sentia fortalecer-se minha alma cada vez que o olhava, e bastava contemplar seu rosto para me encher de consolo e alegria".
São Francisco Xavier pregando o Evangelho diante do templo de Fukushoji, em Kagoshima (Japão)
Afinal chegou o dia de percorrer as três mil milhas para chegar ao Japão. O comandante do único bai·co que aceitou levá-lo era um pirata idólatra, apelidado Ladrão. Evidentemente não faltou o diaa-dia daqueles mares: uma tormenta que durou três dias e três noites, como nunca se viu, fazendo muitos chorai·em em vida suas mortes. Seu sentido dos direitos supremos de Deus era tão agudo que nunca demonstrou a menor tolerância em relação à idolatria. Quando Ladrão morreu, comentou em uma carta: "Foi-nos bom em toda
A Basílica do Bom Jesus é uma das mais belas igrejas da Índia CATOLICISMO -
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Na Bahia barroca, Brasil Real~ Brasil Brasil iro um Brasil autêntico que se foi ...
I M<J"irernrn bm·roca nos oferece um aspecto do Brasil de outrora, autêntico porque refletia a alma de nosso povo. Para tornar mais fácil a compreensão do assunto 1 daremos doi s exemplos que bem caracterizam esse estilo: o convento e a igreja da Ordem Terceira do Carmo em Cachoeira, cidade do Recôncavo baiano, que aparecem na foto. Os materiais usados nesse estilo arquitetônico são os mais facilmente encontrados na região onde se situam; na ornamentação, ouro em abundância, prataria, pedras preciosas e azulejos finos com motivos bíblicos. O Convento do Carmo
O Convento do Carmo foi fundado em 14 de março de 1688, destinado a ser mai s tarde riquíssima obra de arte e monumento histórico de destaque, mas sua construção estendeu-se pelo século XVIII. As principais finalidades dos carmelitas lá estabelec idos foram a evangeli zação dos índios e o atendimento espiritual dos colonos da região. Ele foi construído em torno a um claustro interno, formado por quatro galerias e dividido em nove celas, dois sa lões amplos e outras dependências. Além desse ed ifício ex iste ainda a igreja do Convento, ricamente decorada. Devido às restrições impostas pelo Marquês de Pombal - pérfido ministro português do século XVIII - que muito prejudicaram a vida religiosa na metrópole e nas colôn ias, o Convento do Carmo foi utilizado pelo governo para diver-
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A esquerda perde a garra Quando o PT - que representa, em certo sentido, a ponta de lança da revolução social no Brasil - reconhece a própria decadência, é porque a coisa de fato vai mal para ele.
CARLOS SODRÉ LANNA
sas finalidades , como quartel, Câmara Municipal, Tribunal do Júri e Casa da Moeda, que o deterioraram enormemente, mas sem alterar seu estilo. Igreja da Ordem Terceira
A igreja da Ordem Terceira cio Carmo, que se observa do lado direito da foto, foi construída no início do século XVIII, sendo um dos mais belos templos barrocos cio Brasil. A parte interna da nave principal é toda ornamenta.da com jacarandá entalhado, revestido de ouro e pintado com impressionante riqueza cromática, além ele ostentar azulejos finíssimos nas paredes laterais. No altar princi pal, uma imagem de Nosso Senhor do Bonfim, quase em tamanho natural , entre resplendores de ouro, faz desse nicho uma jóia sem par em nossa escu ltura reli giosa barroca. A fachada externa compõese de três partes, de épocas e estilos diferentes. Apesar disso,
nada quebra a harmonia das severas linhas do edifício, onde o vazado das arcadas dá uma plácida sensação de leveza, equilibrando de maneira singela a densa fachada ela igreja. Impressão causada pelo conjunto: estilo simples mas elegante, unindo Convento e Igreja em perfeita harmonia; riqueza interna de arte em ouro, prataria e talha em madeira; uma nota de religiosidade e tradição barroca que evoca um passado glorioso. Deus e as pompas
Fala-se muito, hoje em dia, de um "triunfalismo" da Igreja, que se trata de mudar para achamada Igreja "dos pobres". Não há dúvida de que o barroco é um estilo triunfal , com seus altares e paredes ricamente ornamentados e refulgentes de ouro e de prata. Mas estariam nossos antepassados errados ao honrar deste modo a Deu s, seus anjos e seus santos? Vejamos os ensinamentos da Sagrada Escritura.
No Monte Sinai Deus dá diretamente a Moisés instruções sobre a maneira de constru ir os santuários em que ele queria ser adorado. Os fi lhos de Israel deveriam trazer para isso as primícias. "E estas são as coisas que deveis receber: o ouro, e a prata, e cobre, jacinto e púrpura, escarlate tinto duas vezes e linho fino ... e pau de cetim, ... pedras de ônix, e pedras preciosas, para adornar o efod e o racional. E far-me-ão um santuário, e Eu habita.rei no meio deles" (Ex. 25,3-8). Católicos do sécu lo XVIJl, em meio à abundância da descoberta de ouro e pedras preciosas em terras americanas, ofereciam a Deus o que de melhor possuíam, para O honrar e servir. E o fizeram através do estilo barroco, característico desse brilhante período ele nossa história, no qual se encontra uma luz que ainda nos pode indicar o caminho a retomar, com vistas ao futuro, ou seja, a restauração da civ ili zação cristã. D
Convento do Carmo e igreja da Ordem Terceira, em Cachoeira, Bahia
C. A.
lgo de muito profundo e mui to importante aconteceu na História do Ocidente neste fim de milênio. A ponto de encontrarmos, numa revista do PT, a seguinte afirmação: "Os jovens de hoje não se interessam por qualquer tipo de manifestação social" ("Teoria e Debate", junho/96). A autora do estudo publicado no referido órgão é a socióloga Ann Mische, e a frase acima citada, ela a tira de uma pesquisa. Até há pouco, para estar na moda era preciso ser revolucionário: nas artes, na política, na sociedade, nos costumes, até na religião. O leitor interessado encontrará em "Revolução e Contra-Revolução", do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, uma descrição a um tempo genial e concisa desse processo. Dentro dessa perspectiva, a esquerda - e mai s do que ela, a extrema esquerda - passou a representar o que há de mais moderno, mais "no vento" no panorama mundial. De certo tempo para cá, porém, a esquerda começou a ver diminuída a atração que exercia. Seu rosto, outrora vermelho de ódio, começou a empalidecer, e suas feições conheceram as rugas e a velhice. O que se passou? Para falar só do PT, a hemorragia de membros que ele tem sofrido é impressionante. Mas não é só perda de contingente. Na tentativa de sobreviver, o PT vai cada vez mais tomando os ares contrafeitos de um burguês centrista. Sua principal vedete, Lula, há muito tempo está desgastado. Nem ganha uma eleição, nem mais se apresenta como presidente do Partido. Está desempregado.
A
lhante à do movimento estudantil". Os jovens são "massivamente" atraídos por "projetos sociais geralmente conservadores". Ora, a juventude sempre foi o prato preferencial sobre o qual se lançava gulosamente a revolução social. Para esta, é questão de vida e de m01te aparecer encarnada na juventude. De fato, dado que os jovens por definição representam o futuro, pôr nas mãos deles a bandeira negra do anarquismo era o melhor modo de arrastar toda a sociedade na rampa da revolução social. Mas a partir do momento em que os jovens desprezam essa bandeira, ou simplesmente babam em cima dela, a máscara de modernidade da Revolução se derrete. E nós vemos A esquálida passeata dos sem-terra é um símbolo do que essa megera odienta e dessoramento da esquerda no Brasil avassaladora, que parecia levar Mas o PT é apenas um exemplo. O tudo de roldão, se transforma numa velha estudo de Ann Mische vai mais longe. decrépita por seus vícios e sem dentes. Isso não significa, evidentemente, que Ela declara que "a participação política da juventude se encontra em cri- a Revolução tenha hoje em dia perdido se no mundo todo .... movimentos or- toda sua força. O que ela ganhou em mais gani zados pelos jovens, se não de 500 anos de guerras, de traições, de inexistentes, são irrelevantes no cená- audácias, de mentiras, ela não o perde de rio político atual". um momento para outro. Um elefantão A própria "esquerda católica", cuja ferido ainda pode fazer muito estrago! A grande notícia é que a Revoluespecialidade era transferir para a esfera da revolução social os jovens ca- ção perdeu sua capacidade de atração, tólicos, está em decadência. Explica a ela não tem mais aqueles ares de últisocióloga que "a Pastoral da Juventu- ma moda. E com isso, sua força de de, que forneceu uma via importante empuxe está fundamentalmente quepara participação política nos anos 70 brada. O resto é questão de tempo. e 80, se encontra numa crise semeA História nos dirá! CATOLICISMO -
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1996: TFPs ampliam suas atividades • • nos cinco continentes
S
eria impossíve l transcrevermos em apenas algumas páginas todas as importantes ativi dades desenvolvidas pelas TFPs , por entidades que lhe são coirmãs e autônomas, bem corno pelos Bureaux-TFP, ao longo do ano que ora se finda. Urna edição espec ial - e volumosa de Catolicismo não bastaria para abordarmos pormenorizadamente tais atividades. Ass im, nos vemos na cont ingência de aqui publ icar tão-somente alguns f/ashs ilustrativos da sua atuação . Por esta mesma raz ão , não faremos referênc ia a notícias já divu lgadas por nossa revista no decorrer do presente ano.
♦ Rea li za m-se e m São Paulo o XXIV e XXV E ncontros Regio nais de Correspondentes e Simpatizantes . O pri meiro, com delegações do Norte F luminense, Estado de São Paulo e Norte cio Paraná, e o seg und o, rea li za d o po uco após, abra ngendo as de mais cidades e Estados. ♦ Com a 2ª edição brasileira de Nobreza e elites tra-
D BRASIL
d icionais aná logas nas alocuções de P io XII ao Patriciado e à Nobreza Romana, de autoria cio fun dador da TFP, o li vro ati nge 14 mil
♦ Ascende a mais de 500 mil o número de pais ele familia aleitados sobre os malefícios da televisão, por iniciativa pa-
triótica ela campanha O Amanhã de Nossos Filhos. U ma petição assinada pelos aderentes da campanha propõe ao Ministro da Justiça medidas lega is que tolham tais abusos.
exempl ares e m líng ua portu guesa. ♦ A o bra Ref orma Agrá-
ria semeia assentamentos; Assentados colhem miséria e desolação, que de monstra o estrondoso fracasso dos assenta me nto s, tem sua pr imeira edi ção de 13 mil exempl ares esgotada e m apenas 45 di as . O utra, de 1O mil , j á está sendo divul gada. ♦ Catolicismo - revista porta- voz da TFP- publicou em sua edi ção de novembro/ 96 o artigo "Está o Brasil à
beira de um castigo divino?". Nele é criticado um projeto de lei que favorece o homossexualismo. Separata desse artigo foi re me tid a a o s m e mb ros cio Congresso Nacional. ♦ O Amanhã de Nossos Filhos mobiliza 30 mil aderentes de todo o País em protesto contra as imoralidades difundidas por emissoras ele TV no último carnaval. ♦ Coro São G regó ri o Magno e Fanfarra dos Santos Anjos, ambos da TFP, reali zam apresentação pública na tradicional igreja pauli stana de Santa Cecíli a. No repertório, canto gregoriano e polifô nico, bem como sinfonias e marchas de consagrados autores, especialmente cios séculos XVII e
XVIII. ♦
Até o mês de o u tu b ro, as ab negadas caravanas da TFP b ras il e ira perco rreram d ura nte este a no 227 .915 km s e fize ra m 437 v isitas a c idades d iversas. Pe rfaze m e las ass im o tota l de 5.477.355 kms e 24.204 v isitas a c id ades, te ndo difundi do 1.839.363 obras p u b lica d as pe la e ntid ade . A quil o metrage m desses pe rc ursos d as ca rava nas da TFP eq ui va le a m a is de 130 v iage ns e m to rn o d a Te rra.
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O Amanhã de Nossos Filhos lança um Apelo em defesa da vida inocente . Por meio de abarcativa campanha de mala direta, a TFP pede a seus aderentes que manifeste m aos dep utad os de s ua conscri ção total e categórica
rej eição aos proj etos de le is fa vorá ve is ao aborto, q ue tramitam a tualm e nte no Congresso Nacional. ♦ E m carta ao Preside nte da Câmara de Deputados, publi cada ta mbé m na imprensa diária, a TFP so li c ita sej a reti rado ela pauta de votação o proj eto ele novo rito s um ári o de reforma agrá ri a. Lembra q ue tal d ispositi vo vi olaria a moral cató lica, in sti tui nclo procedime nto rápido para a ap li cação d e le is co nfiscató ri as c Ia ra m e nt e opostas ao 7º e 1Oº Mandame ntos da Lei de Deus: Não
largamente d ivul gado no país, co m edi ção simultânea e m in g lês e africâner. Também está prevista a publicação da obra e m zu lu , 1ín gua ela maior tri bo negra sul -africa na. M últi p las repercussões prove ni entes daque la e tni a - e m sua g randíssima maio ri a co ntrári a ao aborto - têm chegado ao conhec imento da TFP.
roubar e Não cobiçar as coisas alheias. ♦ O Amanhã de Nossos Filhos lança a 4ª ed ição do ex-
se u diretor Mat hi as vo n Gersdo rff. O estudo anali sa, com base e m abundante doc umentação da doutrina católica, a questão de consc iênc ia surg ida a propós ito da recuperação de propriedades outro ra confi scadas pelos comuni stas na Ale manha do Leste.
celente e e lu c idati vo opúsc ulo TV: uma "escola", mas de que?, o nde os malefíc ios da televi são na fo rm ação das crianças são discutidos com base em depoimentos de intelectuais e c ientistas reno mados de vários países.
D ÁFRICA DO SUL ♦ Os Jovens Sul-afri canos pela vida pro move m
signifi cativa campanha co ntra projeto de lei favo ráve l ao abo rto. Opúscu lo intitu lad o
50 perguntas e respostas sobre o aborto, que todo sulafricano precisa conhecer é
50
Questions & Answers on
D ALEMANHA ♦
Lançado pelo BureauTFP a obraA Propriedade Pri-
vada: direito sagrado ou privilégio odioso?, ele autoria de
D BOLÍVIA
contra essa inic iati va gove rnamenta l. A lgun s dias mais tarde, o Mini stério do Desenvolvime nto H umano e a Secretari a Nac io na l de Saúde anunciara m a supressão da campanha pelos preservativos .
♦ E nérgico protesto da TFP contra a Campanha de saúde reprodutiva, inic iativa nac io na l do Governo, que prete nde incrementar o uso de anticoncepc io na is e ampliar as concessões lega is ex istentes a respe ito do aborto . E m página inte ira cios princ ipa is jo rn ais do país, a TFP lança o seguinte ape lo: Boliviano, não se
D CHILE ♦ E m carta aberta ao Presidente Frei, ante o anúnc io da ex ibi ção da pelíc ula blasfema
"La Ultima Tentación de Cristo", també m nesse país a TFP
deixe enganar por mitos envenenados; Def enda sua honra de cristão; Exija das autoridades responsabilidade, pudor e respeito.
toma posição sobre o ass unto. Na in terpe lação, pede ao supremo mandatári o do país tido como defensor dos d ireitos humanos - que não permita sej a consumada tal ofensa a Nosso Senhor, à Fé católi -
A convite cio Arcebispo de Cochaba mba, a TFP partic ipa el e g igantesca m a ni fes tação
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D ARGENTINA ♦ U rgente in terpe lação ela TFP porten ha às autoridades ec lesiásticas e civis, para q ue não se co meta blasfê mia pú b li ca com a apresentação da pe lícul a sacrílega A última tentação de
Cristo. Viva polêm ica, com am pla re pe rc ussão na imp rensa, é encetada com o ca na l de te levisão TV Space, que pretendia le var ao ar o fi lme. A n te rec uo parc ia l da e mi ssora d e televisão, q ue pre te nd ia passar a pe lícu la tão-somente e m tele visão a cabo, a TFP completa seu apelo para que todos os católicos faça m o uv ir sua voz, e que se suspenda, de forma definitiva, a projeção desse fi Ime ele indubitáve l conteúdo sacrílego e blasfemo, de aco rdo com inú meras dec larações de autoridades ec les iásticas, publi cadas nos meios de comunicação. A proj eção foi vetada.
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9-18 Uhr 7.10., 9-14 Uhr
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Ap resentado na Fe ira do Li vro de Frankfurt, no iníc io de outubro úl timo, o ma is novo la nça me nto do Bureau alemão das TFPs: Revolução e Contra-Revolução, de autor ia do Prof. Plínio Corrêa de O live ira. A edi ção alemã, no fo rmato 21x28 cm, contém 268 págin as, das qu ais 60 com ilu strações sobre o te ma, a ma io r pa rte em cores. Despertou notáve l interesse do público qu e visito u o sta nd das TFPs, insta lado na seção Religião da Fe ira.
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ca e aos sentimentos mai s sagrados da maioria dos chilenos. A projeção da pelícu la não fo i autorizada.
D ESCÓCIA
♦ Tem início a 3ª caravana de difusão da campa nh a 'V inde, Nossa Senho ra de FáD COLÔMBIA tima, não tardeis', durante a qual 100 mil folhetos-cupons ♦ TFP rejeita a reso lução deverão ser distribuídos. da OEA sobre a lei Helms-B urton, adotada em reuni ão no Pa- D ESPANHA namá. A entidade acusa os paí♦ Reinicia-se o ciclo de ses integra ntes da Organização de apoiar Fidel Castro - há reuniões e conferênc ias para correspondentes e simpatiza nmais de 30 anos no poder "por ação ou omissão", e de "in- tes ele TFP-Covadonga. A prifa me publicidade", apesar do meira fase ele conferências ver"tráfico de trabalho semi-escra- sa sobre o tema A descristivo" praticado na ilha-prisão. anização da Espanha . ♦ TFP é conv idada a parti♦ Com vistas a divulgar cipar do simpós io sobre "a sub- seus ideais por todo o país, versão, uma ameaça para a TFP-Covadonga organi za sete democracia colombiana". O caravanas ele cooperadores que Sr. Eugen io Trujillo, Vice-Pre- percorrem co ntinu ame nte o sidente ela entidade, proferiu território espanhol. conferênc ias em Popayan, Cali e Man izales. A principal fina- D ESTADOS UNIDOS lidade do simpósio fo i tomar ♦ Duplas ele sóc ios e at itude ante a pretensão, por parte da subversão, de conso li - cooperadores ela TFP percordar seu domínio e exercer ab- reram o extenso território norsoluto contro le do Estado, por te -americano, de Oceano a Oceano, clifunclinclo os idea is meio cio terrorismo. ♦ Com o país à beira do ela Trad ição, Família e Propriabismo, a TFP lança apelo aos edade através de publicações indolentes. A entidade apela aos lançadas pela entidade, dentre líderes do país para que reajam as quais merece destaque a ed iface à eventualidade do domí- ção norte-americana da obra nio da guerrilha. No documen- cio Prof. Plínio Corrêa de Oli to, a TFP lembra o seu passado veira Nobre za e elites Tradide denúncia ela ascensão desen- cionais análogas nas alocufreada do caos e ela desordem, ções de Pio XII ao Patriciado bem corno da conivênc ia ante a e à Nobreza romana. espúria ali ança entre o narcoD FRANÇA tráfico e a guerrilha.
D COSTA RICA ♦ Imensas e esperançosas repercussões se ori gin am com a peregrinação da imagem de No sa Sen hora de Fátima em todo o país, atra indo mi lhares de pessoas a rezar ante Nossa Senhora. Segundo o testemunho ele persona lidade ec lesiástica, uma verdadeira sacudida em favor da Fé tem sido fe ita pela TFP com este trabalho apostólico.
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peu, no contex to da campanha Lumieres sur l 'Est, para distribuir l 0.000 posters ele Nossa Sen hora de Fátima e 5.000 terços, a pedido de vários bispos, sacerdotes e leigos daquela região. Entre os países percorridos estão Lituânia, Bielorússia, Ucrâ ni a, Le tônia , Estô nia , Rússia e Polônia. ♦ Com profunda acolhida do público, continua a difusão cio li vro cio Prof. Plínio Corrêa ele Oli veira Nobreza e elites tradiciona is análogas nas alocuções de Pio XII. As últimas regiões visitadas pelos membros da TFP são Lorra ine, Languedoc, Auvergne, Champagne, Bourgogne, Fra ncheComté, Lyonnais, Guyenne e Limousin .
A TFP alemã acaba de lança r uma li nda edição - a primeira na língua de Goethe - de
D POLÔNIA ♦ TFP participa ele encontro sobre o papel ela nobreza, realizado pela recém-fun dada Confederação da Coroa Polonesa, presidida pelo príncipe Krzysztof Raclziwill. Na ocas ião, o rep resentante da TFP, Sr. José Antôn io Ureta, destacado membro da TFP chilena e do Bureau TFP para a Europa, sed iado em Paris, pronunciou confe rência para cerca ele 300 convidados na cidade ele Gdansk.
Revolução e Contral?evolução, de autori a
do Prof. Plín io Corrêa de Oliveira. Com pri morosa apresentação gráfi ca e belas il ustrações a cores, a obra tem na ca pa a figura de Ca rl os Magno, em magnífico busto-relicá rio de ouro (feito no ano 1350) com as águias e fl oresde-1is, símbolos da Alemanha e da França, as duas princ ipa is fil has do Império ca rolíngio. A peça encontra-se no Tesouro da Catedra l de Aix-la-Chapelle ou Aachen. Sobre Carlos Magno, ver matéria na p. 6 deste número.
D URUGUAI ♦
D ITÁLIA ♦ Campan ha Luc i sul/ ' Est, a cargo da TFP, alcança a edificante cifra de I mi lhão de exemplares ele livros reli giosos divu lgados nos países do Leste Europeu. ♦ Campanha l'ltalia ha bisogno di Fatima lança a meta dos Centomila per la Madonna, isto é, que sejam divulgados, até 13 de maio, 100 mil exemplares do folheto de difusão de Nossa Senhora de Fátima. O objetivo é alcançado e até
D PERU
♦ Avenir de la Culture desencadeia corajosa ca mpanha visando impedir o reconhecimento jurídico da união de casa is homossexuais. A entidade, cri ada sob in spiração da TFP, lembra - por meio ele só lida argumentação - que, acima de tudo, trata-se de uma ofensiva, não para favorecer as pessoas nestas condições, mas sim para perverter a soc iedade. ♦ Caravana de férias de jovens dirige-se ao Leste euro-
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ultrapassado, em vista da larga receptividade cio público.
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TFP pub lica, com grande repercussão, declaração arespeito da inexplicável visita de Fidel Castro ao país. O documento ressalta as possíveis razões dessa visita, a qual resultou tão ingrata quanto humi lhante e ilícita, sobretudo se se levar cm conta ter sido o referido governante comunista o sustentáculo ela subversão armada dos tupamaros naquela nação. ♦ TFP publica enérgico manifesto contra a derrubada ele dois pequenos aviões civis indefesos pelo Governo castrista.
D GRÃ-BRETANHA Caravanas d jovens coope radores pe rco rre m c ida des co mo M n hester, Live rpoo l e Oxford na d ifusão dos idea is da TFP, e nco ntra ndo aco lhida fra nca, dec isiva e profund a. À d ire ita e e mba ixo, fl agra ntes dessa atuação.
♦ Como contribuição à urgente tarefa de neutralizar o avanço das seitas e defender a devoção a Nossa Senhora, a TFP ed ita e divulga, em grande escala em todo o país, o opúsculo EI culto a la Santísima Virgen - Su legitimidad y excelencia - Refutación de errares antimarianas. Além ela difusão a partir de seus quatro principais centros - Lima, Arequipa, Cuzco e Trujillo - , o li vro também será oferecido às paróquias, centros de ensino e entidades ele utilidade pública, entre outros.
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A CATEDRAL DE AACHEN: reflexo da grandeza carolíngea PLINIO CORRÊA DE ÜLIVEIRA
Catedr al de Aix-la Chapelle, a capital do Império de Carlos Magno, assim cham ada em francês , ou Aachen, segundo a designação alemã - é mostrada na foto à extrema direita iluminada, à noite. Ela é toda de pedra, e distinguem-se três elementos arquitetônicos: o Dom propriamente dito, que é a cúpula central encimada por outra pequena cúpula, no alto da qual está implantada uma cruz; à direita, uma alta torre; à esquerda, o corpo do prédio, que contém a continuação da igreja. Tudo isso comunica-se por dentro e constitui um só edifício. A cor da pedra é realmente a que se vê na ilustração, embora um pouco acentuada pela iluminação noturna. Há no templo religioso uma fusão de esti los. A cúpula é românica, portanto com influência romana, mas notam-se nela tri-
ângulos com inspiração ogival, ornando-a do lado de fora. Nesses triângu los há qualquer coisa que já prenuncia o estilo gótico. As outras partes do edifício foram construídas em época posterior, na Idade Média. Assim, a torre, o corpo arquitetqnico à esquerda e as ogivas nas outras partes são nitidamente góticas, bem como, mais abaixo, as rosáceas de cristal. *** Na foto à esquerda, uma visão interna da cúpula, apa recendo o lu stre. Ela é riquíssima, levando-se em consideração os recursos que havia naquele tempo.
aí imagens externas da Catedral, qu' são muito bonitas (foto centra l). hama a atenção nessas estátuas, como nas incontáveis figuras que existem do lado de fora ou de dentro das igrejas m di vais, a paz e a serenidade extraordinárias. São homens grandes, fortes, muito másculos, em que transparece certo ar d' ter um bisavô ou avô bárbaro. Um d 1' S parece suster na mão uma miniatura d' casa, que talvez seja Noé com sua arca . Nota-se o patriarca venerável, de barba pos ·ante, um homem forte, um gucrr iro, mas com serenidade e doçura. Também nas figuras laterais, s br tu do a que se segue imedi atamente, isso · bem visível. A serenidade é uma nota componente da Idade Média, da qual o mundo hodierno perdeu a fórmu la: é a Iigação har moniosa entre a força e a doçura. s 111 · dievais são fortíssimos, herança da natu reza pujante dos povos germânicos; -, d· outro lado, são dulcíssimos. " SS amhi · 11 te de doçura é proveniente d um passado cheio de lutas, mas também mar ·ado p ·lu oração, pela piedade, por obras d · ·a rida de e de misericórdia. U
.As altas arcadas, com dois andares de colunas, e por detrás os lindos vitrais, podem ser igualmente admirados. Os vitrais autênticos, famosos em todo o mundo, foram destrnídos na II Guerra Mundial, sendo substituídos por estes que s~ vêem na foto, menos belos que os anteriores, mas perfeitamente dignos.
Nota da Redação:
*** A escultura foi uma das artes que a Idade Média mais desenvolveu . Têm-se
Excertos ele conferência prol' •rid:i pelo l'rnl'. Pli11l0 CorrêadcO li vciraparasó ·ios • ·oopnmhHl'S d11 '1'1 •1' em 9 de dezembro ele 1988 . S · 111 r •vi sno do 11u101 ,