Catolicismo 2011, Números 721 a 732

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UMARI

■ PUNIO C O RRÊA 1 1 Ü UVEIRA

A Divina Providência destina o Brasil para grandes feitos

T

alvez não fosse ousado afirmar que Deus colocou os povos de sua eleição em panoramas adequados à realização dos grandes destinos a que os chama. E não há quem, viajando por nosso Brasil, não experimente a confusa impressão de que Deus destinou para teatro de grandes feitos este País, cujas montanhas trágicas e misteriosas penedias parecem convidar o homem às supremas afoitezas do heroísmo cristão; cujas verdejantes planícies parecem querer inspirar o surto de novas escolas artísticas e literárias, de novas forma e tipos de belezas; e na orla de cujo litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da Terra. • (Trecho de arti go publi cad o no j orn al " Legionári o", em 7-9- 1942).

,JANEIRO de 201 -1 Nº 72 '1

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Excmnos

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CARTA DO DIRETOR

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REM1N1sctNCJA

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Co1rn.l•~SPONDf~NCIA

Notre-Dame de Toute Aide

600 aniversário de Catolicismo

1O A

PA1.Av1~A DO SA<:1mnoT1•;

12 A

REALIDADE CoNc1sAM1w1·..:

Notre-Dame de Toute Aide

14

PÁGINA MARIANA

16

EN·in..:v1sTA

21

LmTURA EsP11uniA1,

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EP1SúDms I11sTó1m;os

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Po1t

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CAPA

38

VmAs DE SANTos

42

VA1mmAD1<:s

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SANTOS E FESTAS no M1~:s

46

AÇÃO CON'l'RA-R1,:VOU1(;10NÁRIA

52

AMBIENTES, COSTUMl•:s, CIVll,ll.AÇ(rns

QuE

ReJ'orma Agrária conlíscatória no Brasil O sacramento do Matrimônio - III Reconquista espanhola

NossA S1,;N1101u C1101u

2010 numa visão de conjunto Santa Marcela

Belezas da natLJreza reportam ao Criador

Dom Pelayo: o ínicio da Reconquista

São LuÍs Gonzaga: inocência e força de vontade

Nossa Capa: Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo

A natureza nos fala do Criador

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CATOLIC ISMO

JANEIRO 2011 -


Caro le itor,

Diretor:

Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

Rua Javaés, 707 Bom Retiro CEP 01130-010 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante;

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Prol Editora Gráfi ca Lida . E-mail: catolicismo @terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Janeiro de 2011;

Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:

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120,00 180,00 310 ,00 510,00 11 ,00

CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES L TDA.

Há muitos anos estabe leceu-se a prax.e de ap resenlarm s no primeiro número do ano um bal anço dos acontecimentos de maior rea l e no ano anterior. Partimos da constatação de que os leitores de Catolicismo desejam uma vi são de conjunto do panorama geral dos últimos 365 dias, não uma simpl es resenha dos fatos-chave sem se avaliar sua significação mais profunda. Vi são esta que é a lcançada somente à lu z da doutrina católica, a qual nos oferece elemento para aná li se objetiva e transcendente - numa palavra, contra-revolucionária - do que sucedeu em determinado período hi stórico. Após a morte, o ho mem comparece perante o Criador no Juízo Parti cular, sendo então suas ações esquadrinhadas, após o que recebem aprovação ou a sanção divina. Analogamente, pode-se ter como verdadeiro que Deus, em sua in finita sabedoria, forma um juízo da humanidade considerada em seu conjunto, durante o ano que se encerrou. E nós cató licos devemos perscrutar tal juízo, mediante uma reflexão séria amparada pela oração e súplica à Sede da Sabedora, isto é, à M ãe de Deus e no sa. Levando isso em consideração, ex.plica-se a idéia que fundam enta o lftu l da matéria de capa, no sentido de que na superfície do ocorrido em 20 1Otudo parece estar se desagregando ; poré m, no fundo da psicologia dos homens, ca madas de bom senso e tradição abalaram essa superfície aparente. A grande maiori a dos meios de comunicação socia l e muitos insli lulos de pesquisa de opinião pública em todo o mundo realçaram ou favor· ·eram a desagregação revolucionária, tendente ao caos. Dois exemplos paradi máli os dessa atuação: a publicação em grandes jornais de documentos s cr •tos da dipl omacia americana, divulgados na internet pela Wikileaks; e o erro estr pi toso I inslilutos de pesqui sa na Co lômbia, prevendo (e favorece ndo) a vit ri a d ·andi dato esquerdista, o qua l entretanto foi derrotado pelo candi lato ons rvador por larga margem de votos . Em sentido co ntrário, fatores característi cos fundam ·nl ais das ps ico logias humanas abalaram a superfície. Por exemp lo, o t.1·1,111,a 111i polític - rc li gi.o o nas últim as ele ições pres idenci ais do Bra. il , inc luincl ' d ·ba l •1 d te mas como o repúdio ao aborto e evidenciando mesmo a d ivi si o do ·pisco1ado nac ional; e nos Estados Unidos, o inesperado cresc imento cio mov im •nto ons rvador denominado Tea Party, que influenciou de modo po nd ráv •I as úllimas ·lcições. Essa precipitação de fatos e a po lariz.açílo 'I' s ·cnl c da humanidade atual pode m ser um indício da aproximaçã dos nn nos a· ntcc imcntos prev istos por Nossa Sen hora em Fátima e d sua pro f Li ·a prom ssa: "Por fim, meu Imaculado

Coração triunfará ". Tai s considerações a rcsp ito da grav idad · d,1 situação presente devem consti tuir um estímul o para aumcnl ar nossa oração confiante à Virgem Fiel, Medianeira ele todas as graças. Desejo '1 todos uma rruluosa leitura,

Em Jesus e Maria,

9:~7 DIRETOR

cato li c ismo@terra.com .br

Catolicismo: 60 anos do bom combate em defesa da civilização cristã

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m j aneiro de ] 95 1, Catolicismo explicitava na primeira página do seu primeiro número a Cruzada do Século XX, em artigo de autoria de Plin io Corrêa de O li veira, inspirador e principal colaborador da nossa publicação. No curso desses 60 anos de existência, sempre procuramos ser inteiramente fiéis ao programa delineado no memorável artigo, que se tornou o nosso ideário.* Ata laia em prol da Igreja e da civilização cristã e paladino das verdades esquecidas, é o que pretende Catolicismo ter como sua missão no conj un to de órgãos da imprensa católica. Sendo cató-

licos seus colaboradores, têm todos muito presente a orientação expressa pelo Papa Pio XI quando, em 26 de janeiro de 1923, si ntetizou na encíclica Rerum omnium o papel dos jornalistas católicos: "O exemplo do Santo Doutor [São Francisco de Sales] lhes traça claramen-

te sua linha de conduta: estudar com o maior cuidado a doutrina católica e possuí-la na medida das próprias forças; evi tar que seja alterada a verdade, atenuá-la ou dissimulá-la, sob pretexto de não ferir os adversários; cuidar da forma e da beleza do estilo, realçar e ornar as idéias com o brilho da linguagem, de modo a tornar a verdade atra-

ente ao leitor; quando um ataque se impõe, saber refutar os erros e se opor à malícia dos artifices do mal, de maneira a sempre mostrar que se está animado de intenções retas, e que se age antes de tudo em um sentimento de caridade". Cami nha esta posição em inteira coerência com o que determinou nosso D ivino Mestre: "Que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não" (Mt 5, 37). Como podem atestar nossos leitores, Catolicismo sempre procurou não atenuar a verdade a fim de ser bem aceito, ou de não melindrar eventuais adversários. Como pretendemos defender a doutrina católica, temos o dever de nos opor JAN EIRO 2011 -


MENSAGEM A CATOLICISMO

aos erros contrári os à lídima doutrina da Igreja, consubstanciada em suas verdades claras e cristalinas. Nisto agimos segundo o lema de São Pio X: Restaurar todas as coisas em Nosso Senhor Jesus Cristo - meta à qual nos dedicamos. Renovando este nosso propósito no 60º aniversário de nossa publicação, somos muito agradecidos à Santíssima Virgem por sua maternal e generosa proteção, que sempre tivemos e pedimos que E la continue a nos conceder. Para esta edição, de número 721 , oferecemos a transcrição de uma Mensagem a Catolicismo, que o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira enviou-nos por ocasião do lançamento do 400º exemplar da revista, em abril de 1984. (vide ao lado) .

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/lá meio-século: Co11gresso Latú10-america110 de Catolicismo Na presente edição, não poderíamos ~ deixar de mencionar ainda outra grande :E data de nossa hi stória, que é também um marco na irradiação do pensamento con- .g ~ tra-revoluc ionário nas Américas: 50 anos =1 :E do Congresso Latino-americano de Ca~

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tolicismo.

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Dez anos após o aparec ime nto de Catolicismo em janeiro de 1951 (ainda no formato de jornal), sua rápida difusão junto aos catól icos de pen samento tradicional - dentre os quais se destacavam , por todo o Brasil , congregados marianos e antigos leitores do semanário Legionário , que fora dirigido pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira - havia angariado e congregado muitos adm iradores e propagand istas, em trabalho que se dera ao longo dos ano . Uma primeira reuni ão desses colaboradores se realizara quando Catolicismo tinha apenas doi s anos de publicação, e a iniciativa foi repetida com êxito no ano imediato, con o lidando-se nos anos seguintes, sempre no mês de janeiro. E ram dias de estudos com a duração de uni'a semana, e com número cre cente de participantes. E m 1959, na VII Semana de Estudos , esse número chegara a 180. Pari passu foram se estabel ece ndo Agências de notícias que congregavam os propagand istas, criadas nas cidades mais importantes do País. C ircunstâncias de momento determinaram a não realização do encontro em 1960, entretanto

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-CATOLICISMO

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·e '-' Lud foi di sp slo para sua retomada no an seguinte, qu ando se rea li zar ia a VIII Sem ma de /:,'.1·1udos, Esse intervalo acarretou grande expectati va acerca do evento . A me mo tempo, os contatos estabel ecidos p r Catolicismo com pessoas de idéias afins na América Latina ocasionaram grande número de inscrições do exterior. Tudo isso determinou a realização do evento em local amplo e exclusivo, recaindo a escolha sobre o Grande Hotel Pavani, da cidade serrana de Serra Negra (SP), cujos porte e qualidade das instalaçõe s favoreciam notavelmente o

tônus elevado que se pretendia imprimir à reunião. Devido às novas dimensões com que ela se realizaria, transformou se no / Congresso Latino-americano de Cato licismo, que em fins de j aneiro de 1961 reuniu 360 pessoas provenientes da maioria dos estados brasileiros, além da Argentina, Chile, Peru, Colômbia e México. A Direção de Catolicismo * Esse arti go encontra-se à di sposição em nosso si/e, no seguinte link: h ttp ://cato I ici sino.com. br/i ndex .c fm/ mes/ J an ei ro200 I

PL1N10 C o RRÊA DE OuvEtRA Catolicismo, nº 400, abril/1 984

esde o início, constitui u meta essencial de Catolicismo acompanhar os acontecimentos da atualidade, proporcionar a seus leitores uma visão penetrante - solidamente articulada em seus vários aspectos, e clara - do curso dos acontecimentos no mundo contemporâneo. Levando em conta a confu são crescente que se ia alastrando no terreno das idéias como no dos fatos, rumo a uma crise que se delineava como de média ou longa duração, de modo a desfechar em uma das maiores catástrnfes da História, Catolicismo tinha bem presente que o caldo de cultura dessa cri se era, por toda parte, a confusão. Era à sombra dela que os planos mais inverossímeis do mal se realizavam, E as condições gerai s do mundo iam tomando sempre mais as características apontadas por Nossa Senhora em Fátima como causadoras da cólera de Deus. A fim de desfazer a confusão, nada mais necessá ri o do que um corpo de doutrina. E, obviamente, não uma doutrina qualquer, mas a doutrina da Santa Igreja Cató li ca. E co m base nessa doutrin a, fora da qual tudo não é senão erro e descaminho, Catolicismo iniciou, e ao longo de 400 números vem prosseguindo, sua obra de esclarecimento. O verdadeiro esclarecimento traz habitualmente consigo a luta. Estes foram qua.trocento números de luta, a qual comportou não só a difusão e a polêmica a respeito de altos temas doutrinários, mas ainda o corpo-a-corpo com os fatos. Em outros termos, Catolicismo esteve constantemente na estocada, ocupando-se de todos os fatos que, na sua missão especial, cabia a.bordar. Isto sem fugir uma só vez à polêmica,

muito mais ingrata do que a exposição meramente doutriná.ria., e que versou tantas vezes sobre crises sócio-econômicas dramáticas - de substrato, aliás, sempre doutrinário - tanto no plano nacional quanto internacional. "Missão especial", escrevíamos há pouco. Efetiva.mente, e sob vários aspectos. Antes de tudo, missão junto à opini ão pública. Muito longe estando de dispor dos recursos do macroca.pitalismo publicitá-

Assim, teria que esco lher para sua ação uma faixa da op inião pública. Sua preferência. inc idiu sobre a faixa mais oprimida e necess ita.da: a fa ix a que o poder das trevas ma.is amp lamente disper ara, caluniara e reduzira a um quase anonimato; a faixa dos que, nos vários escalões da sociedade, mantinham ainda nobremente o propósito de não dobrar o j oelho ante a Revolução gnóstica e igualitária. Conhecê-los, entabular com eles a interlocução jornal-leitor, articulálos e fazer deles um a força ponderável no cenário nacional, esta é a obra para a qual vem desde o início trabalhando Ca-

tolicismo.

Maria Santíssima, Gloriosa Medianeira sem a qual nada seríamos e nada teríamos conseguido fazer

rio, Catolicismo não poderia abranger, em seu raio de ação, as multidões urba.nas das ba.béis modernas, das quais no Brasil há várias. N em todas as populações rurais esparsas por nosso territóriocontinente.

Considerando com a consciência tranqüila esse longo passado, da.mos graças a Deus, por intermédio da gloriosa Medianeira sem a qual nada seríamos e na.da teríamos conseguido fazer, isto é, Maria Santíssima. Neste dia de reconhecimento, todos os que trabalhamos em nosso invicto mensário não esquecemos aqueles que, não pertencendo hoje aos nossos quaclros, entretanto colaboraram com brilho e dedicação para que Catolicismo chegasse ao que é hoje. Uns, levou-os a morte. Outros, a superven ie nte diversidade de ocupações. Outros, enfim, levaram-nos os desentendimentos ou os desacordos. A todos, lembramo-los a.gora com emoção, rendendo a eles também o preito de reconhecimento que a gratidão comanda. Por fim, estou certo de exprimir também os sentimentos do largo, seguro e impertérrito grupo dos que, desde os primeiros dias até hoj e, continuamos em nosso bom combate, sorrindo com acolhedora. e reiterada simpatia. aos novos que vieram a.o nosso encontro e continuam a afl uir de todo o Brasil , para junto continuarmos "auspice et ajflante Beata Maria Virgo ". JAN EIRO 2011 -


tinuar como estamos vendo as propaga ndas comerciais do Natal, nossos netos ou bisnetos somente saberão quem é Papai-noel , e muito confu samente terão idéia do que aconteceu em Belém. Com isso, que futuro terão as próximas gerações? Que futuro terão as tão bonitas canções de Natal? É um de gosto, mas lembro isso para despertar um sentimento de oposição e desejo das tradições! (G.F.K. -

PR)

ano . Quero continuar recebendo em 20 J 1. Se e u fosse rica, pagaria para fazerem uma di stribuição especial da revi ta para milhares de jovens. Não sendo isso possível, tenho feito propaganda para e les lere m no site, e acho que se deveri a fazer mais propaganda. Al ém disso, acho que deveriam disponibilizar as re vi stas nas banca , poi assim os j ovens terão pelo menos uma opção de comprar uma que não seja imoral. (G.D.W. -

RJ)

"Versatilidade e elevação"

Graças natalinas

B M ar a vilh a ! Senti muito d a luminosidade (espiritual) do Natal , fazendo a leitura do que a revi sta publicou a respeito do nascimento do Menino Jesus para salvação da humanidade pecadora, e sobre o amor da M ãe Santíssima manifestado a seu Divino Filho. E u não estava preparada para celebrar o Natal neste ano (no sentido de que estava muito agitada com as coisa da ca a, muita correria de fim de ano) , ma com essa leitura estou dando a de vida importância a cada coisa, e nada é mais importante que nossa preparação espiritual para recebermos e m nossas a lmas e em nossa casas o Divino Menino Jesu . . FELIZ NATAL!!! (N.D.- MG)

Cruzada pelo Natal

B Poderíamos faze r aqui no Brasil o que estão fazendo os alemães em seu país: uma organização para que as festividades do Natal sejam feitas em torno do Menino Jesus e de São Nicolau , e não e m torno do tal do Papai-noel. Este, para alegria dos vendedores, passa uma idé ia muito comercializada. Parabenizo a revi sta por não ter publicado nenhuma foto do "gorducho de barbas brancas" , mas muitas de presépios, todas fotos muito bonitas (das flores também, belíss imas fotos) . No Brasil, a con-

-CATOLICISMO

B F ico admirado com o talento de

Vampiras ou bonecas?

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira em escrever sobre temas tão diversos . Faz algum tempo li um artigo dele sobre o marxi smo, outro sobre o divórcio, um sobre a psicologia do brasileiro e outrn sobre Nossa Senhora. Recentemente li um texto dele sobre a catedral de Notre Dame, outro sobre Reforma Agrária, e agora leio sobre o Natal. Temas tão diferentes, mas desenvolvidos por ele com muita versatilidade e elevação, enfocando pontos de vista incomparáveis .

B Como as crianças de hoje vão brin-

(W.O.T. -

SP)

Que Deus 110s proteja

B Gostaria de desejar um Feliz Natal àqueles que trabalham na revista Catolicismo , levando ao lares de tantos brasileiros e brasileiras as coisas espirituais, que tanto bem nos fazem e fortalecem nossa fé na Santa Igreja católica. Muito obrigado. E desejo-lhes muitas bênçãos para o novo ano cheio de paz, apesar de que minhas suposições não são muito boas, devido ao novo governo. Que Deus nos proteja. (P. V.B. -

ES)

Valorns J'amiliares ~ Ajudou-me muito a entrevista com o Dr. Valdir Reginato para resolver algu n problemas de fa míli a. Depois de meu marido ler a.- respostas, vou emprestar a revi sta para outros parentes. Acho que vai ajudá-los também. Muito obrigado pelas revistas, mas tenho que di zer que uma, a de nove mbro, atrasou muito nes te

(L.A.F.Z. -

car com esses brinquedos? Elas [Bonecas que destroem a inocência, vide Catolicismo novembro/2010] parecem mais uns monstros do que bonecas. A infância vai acabar. Os pais têm que se conscientizar e dar brinquedos com transmissão de alegria e paz. (D.G.E. -

PR)

Saudades das cruzadas ...

B Os muçulmanos infiéis praticaram mais um atentado terrorista, a.gora na Suécia. Nós cristão não podemos mais ficar calados diante da ameaça islâmica, é necessário prote ta.rruos de forma veemente, não podemos ma.is tolerar isso. A Europa, outrora totalmente cristã, vê-se ameaçada. por esses infiéis. Pouco a pouco eles vão dominando a Europa quas sem resistência! É necessário barrar a revolução islâmica no mundo. Saudade das cruza.das ... (M.A.M. -

istas ... ) que procuram "ajeitar" Deus e mundo. Interessa muito a História de como ocorreram estes embates. Há continuidade nisso tudo: não pretenda o "progressismo" ser novo, original, natural, espontâneo! Que sucessivos artigos continuem a nos revelar a manha do inimigo antigo e renitente, como também o caminho reto, cristalino e perfeito da virtude, da ortoclmua e santidade cios heróis, sempre silenciados e desconhecidos nas "Histórias" facciosa.s que correm mundo a.fora. Parabéns. Espero novos capítulos.

SP)

Ampla divulgação Fo i emocionante e gratificante conhecer as matérias da revista de dezembro. Devemos divulgá-las ampla.mente, para conhecimento de todos. (J.D.T. - PA)

Brnsil trndicio1,al Revivescência católica. O Autor [Sergio Bertoli] puxou um fio da História do Brasil que merece atenção. Há uma linhagem de "santos" que levam as coisas de Deus adiante, como também homens do mal (liberais ... progres-

DF)

Deus Cl'Íador

B Ótima reportagem, mostrando o lado teológico de toda essa questão da cri ação do universo. A verdadeira ciência não pode desvincular-se do próprio conceito de criacionismo, para chegarmos à verdade baseada em fatos. Portanto, sem fa tos não há certezas, mas apenas explicação ou teorias. Assim cabe aplicar essa questão a outros campos, como o da fé, reconhecimento de nossa pequenez. O universo é pequeno diante da onipotência. de Deus. Também gostaria de comentar que o site d a revi sta Catolicismo está muito bom, e nele descubro uma Religião com argumentos. (M.F. -

SP)

lnlâ11cia em perigo ~ A criança no mundo pós-moderno é inserida. em uma série de "brincadeiras", que a.o invés de estimular uma vida digna, feliz, ética e cristã, a estimula a adentrar numa atmosfera de .i ndividu alismo e falta de Deus . As bonecas da primeira figura [vide Catolicismo novembro/2010, p. 25] mostram isto de forma cl ara. Mas nem semp re é assim, muitos brinquedos que aparentam ser inofensivos podem ter subjacente outra realidade. Bonecas e carros que estimulam a criança ao consumismo, ao capitalismo selvagem, que também podem destruir as famílias. Propagandas que não estão preocupa.das com o divertimento na

infância, mas estão preocupa.das em movimentar a economja., Ambientes de sofrimento são levados às crianças, e enquanto infelizmente Nossa Senhora chora, o demônio dá risada. (A.M. -

PE)

Falsos p1'ofetas 1B] Fico triste ao ver que muita gente lê a Bíblia "de cabo a rabo", vai a meia dúzia de cultos e acha que já conhece a Palavra. Sai fa lando mal da doutrina. católica e abre uma "igrejinha de fundo de quintal" (com todo respeito). O termo protesto quer dizer a não aceitação de algo, independente do que seja, por isso o nome protes tanti s mo, que é contradizer a.quilo que julga errado. Devemos tomar cuida.do com os falsos profetas, principalmente aqueles que pregam a prosperidade terrena e aqueles que tentam nos confundir. É observando a história. e o presente da Igreja católica, e o da chama.da evangélica, que hoje posso afirmar: SOU CATÓLICO, FILHO DA ÚNICA IGREJA DE JESUS. (J.B. - PR)

Santa Joana d'AJ'C

B Sou Nazaré, divulga.dora da palavra viva de Deus, tenho 16 a.nos de idade e gosto muito de Santa Joana d' Are, muito mesmo, e tenho uma devoção a ela. No século XV, uma menininha sente em sua alma uma voz divina e cheia de a.mor, e entrega a sua vida ao Redentor. Aos 17 anos ouve com clareza que o seu futuro seria uma surpresa, e cheia de a.mor ela entregou a sua vida a Ele. Enfrentou muitas batalhas e unificou sua pátria. Consagrou-se como uma flor que sacrificou a sua vida; durante uma batalha foi aprisiona.da.; e pelo próprio rei foi abandonada.; depois foi presa e enfrentou um julgamento, sendo condenada à fogueira. Hoje conhecemos: queimaram uma santa, mas o seu coração o fogo não destruiu. Foi salvo das chamas, porque Jesus a levou para o Céu. Ela foi um instrumento para a ação de Deus na Terra. (M.N. -

Rezar ou orar?

B Leio a revista Catolicismo e observo uma grande seriedade da equipe em produzir um material confiável, à luz da doutrina tradicional da Igreja católica, visando dar boa formação aos seus leitores. Na seção "A voz do sacerdote" a revista procura, com grande seriedade, responder as questões colocadas pelos leitores, o que certamente ajuda muita gente a entender melhor a doutrina da Igreja e sua interpretação das Sagradas Escrituras. A exemplo de muitos leitores, gostaria também de fazer uma pergunta para ser respondida pela revista, se possível. Embora não represente para mim um conflito de fé, gostaria de saber por que a Igreja católica adotou em suas liturgias o termo "rezar" e não "orar", já que em algumas versões das Sagradas Escrituras o segundo termo é o mais habitual. Para mim, os termos me parecem sinônimos. Para outros, porém, isso causa muitas dúvidas e incertezas sobre as verdades defendidas e ensinadas pela Igreja Católica. Por favor, se possível, explique o porquê dessa diferença.. Acho que vai ajudar muita gente a esclarecer suas dúvidas. (M.E.M. -

SP)

Nota da redação: Já respondemos pessoalmente ao missivista., mas corno tal questão, segundo ele, "causa muitas dúvidas e incertezas", deixamos aqui registrado para informação dos interessados que essa pergunta. foi respondida por Mons. José Luiz Villa.c em sua seção "A Palavra do Sacerdote", na edição de julho/2003. Aqueles que não tiverem em mãos a revista, poderão ler a resposta em nosso site, no seguinte link: h ttp :/ /www.catolici s mo.com. br/ ma.teria./rn ate ria.cfm ?idmat=S 17 &mes=julho2003

Canas, fax ou e"malls: enviar aos ende~os que figuram no página 4 desta edição.

BA)

JANEIRO 2011 -


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Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC

Pergunta - Quanto ao seu artigo sobre "pecados por pensamentos", me deixou com dúvidas: seriam pecados mortais pensamentos só por "fantasias" da mente? O consentimento está ligado ao que a pessoa iria fazer se fo sse possível? Qual a diferen ça entre atração sexual e cobiça? Cobiça seria o ato de decidir obter um prazer com tal pessoa, enquanto atração seria a "vontade"?

Resposta -As três conclições para caracterizar um pecado mortal são: matéria grave, pleno conhecimento e pleno consentimento. Quanto à natureza dos pecados, podem ser por pensamentos, palavras, obras e omi ssões. O leitor pede esclarecimentos sobre os pecados por pensamentos. As "fantasias" ela me nte podem assaltar qualquer um , mas só co nsti tue m pecad o mortal quando a pessoa consente nelas, isto é, demora-se deliberadamente nelas, bu scando o co mprazimento daí decorrente. Pode dar-se o caso, porém, de a pessoa não afastar com a energia devida tais fa ntasias ou devaneios: neste caso será pecado veni al, pode nd o e nt reta n to chegar a mortal, se a luta contra o mau pensamento fo r mui to fraca, equivalendo qu ase à inex istência. Neste caso, estabe lece-se na alma uma confu são interior a respeito do con enti mento/não-consenti mento. Co mo no rm a geral, e nquan to a alm a es tá lutando co ntra o ma u pe nsam e nto, pode-se supor que a debilidade com que a luta é conduzida não chegue a caracterizar um CATOLICISMO

pecado mortal. A pessoa deve neste caso expor a situação a um bom confesso r, conforme expusemos em nossa matéria do mês de dezemb ro último.

Auação 1wtural e cobiça O s de va ne ios qu e permeiam os maus pensamentos pode m indu zir ao desej o de consumar os atos pecaminosos. Se a pessoa dá guarida em seu coração a esse desejo, o conse ntim e nto é in equív oco e constitui de si um pecado mortal, segundo aqu e le dito de N osso Senh or Jes us C ri sto: "Ouvistes o que fo i dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher; cobiçando-a, já cometeu adultério com ela em seu coração" (Mt 5, 27-28). A atrnção do homem pela mulher (e vice-versa) faz parte da natureza humana. O mesmo vale para os animais irracionais, que Deus criou também aos pares de macho e fêmea,

co mo ass in a la a Escr itura. Acontece que os animais irracionais seguem de forma cega o impulso da natureza, ao contrário do homem, que deve submeter esse impulso aos ditames da razão, o que nem sempre é fác il , devido aos desregramentos introdu zidos pelo pecado original. Daí todas as leis divinas e humanas, que estabelecem como sendo o quadro próprio para a geração e educação da p role o casa mento monogâmico e indissolúvel entre um homem e uma mulher. Quadro esse sublimado por Nosso Senhor Jesus Cristo, que o elevou à esfera do sagrado incluindona categoria e dignidade sacramental. É o sacramento do matrimônio - monogâmico e incli ssolú vel. Assim, de um lado, é conforme à ordem natural e divina que a mulher procure atrai r o homem, inclusive usando adereços que realcem, com elegância e recato, a própria formosura. De outro lado, é mais do que oportuna a advertência de

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que esses adereços devem conformar-se às normas da modéstia cristã, que proíbem sub grave a ex pos ição das parte s pudendas do corpo humano. In fe li zmente, ao longo ele todas as épocas da históri a humana sempre houve a tendência de tra nspor esses limi tes, motivo de preocupação para os guardiães da Lei. Na era cri stã, vemos os pregadores, confesso res, di retores de consciência, e mesmo pais e mães, empe nhados e m qu e todos co nservem o pudor nas vestes e no comportamento. Dispensa mo-nos de ressa ltar o que ocorre em nossos dias, pois à vista de todos prevalece o despudorado slogan da Revo lução da Sorbo nne, ele 1968: É proibido proibir ... É claro q ue, nestas circunstânc ia , a prática da castidade ex ige um combate de todas as horas e minutos. Sobre isto, temos duas im portantes palav ras a d izer.

Não flcar ape11as 1w <lefensiva A pergunta do consulente descreve bem a situação em que se debatem as pessoas em geral, e não só os mais j ovens, diante do que se poderia classificar adequadamente como agressão sexual permanente. Muito me rito ri a me n te há que m lute co m fo rça contra ela, para não ceder à tentação e não deixar-se arrastar para o pecado. Mas uma consideração menos freqü ente, que ajudari a nesse combate à tentação, co ns iste e m pe nsa r quanto ofende a Deus o modo como se vestem tantas jovens, e por vezes até senhoras de mais idade, para não fa lar do desregramento da atual moda masc ulina, verdade ira mente indigna de um varão. Tendo esta consideração e m mente, podemos desagravar a Deus pelo pecado cometido por quem está assim des pud oradame nte ves tida, execrando interi ormente esse pecado e considerando que quem o prati ca faz o j ogo do demô ni o, o qual quer levar o maior número possível de almas para o inferno. M es mo que a pessoa q ue está agindo ass im não tenha plena consc iência di sso, acaba atuando como age nte do de mônio. A consideração da hedio ndez e malícia do demônio, que desse modo tra nsparece por detrás, pode ser um forte eleme nto para vencer a te ntação. Autores espirituais perspicazes faze m ta mbé m a seg uin te co mparação: se a lguém nos apresenta um cáli ce de licor fin íss imo, dentro do qual fo i in trod uzida uma go ta de ve ne no, bebermos desse licor é um suicídio. Que de ve mos pe nsa r ela pessoa

qu e nos ofe rece esse li cor para beber? Não pode ser considerada menos do que como criminosa consumada! Estas considerações deslocam nosso combate à tentação. De uma posição meramente defensiva, passa para uma pos ição vi gorosamente ofensiva. Isto favorece nossa luta contra a tentação, segundo o princípio bem conhec ido de que a melhor defesa é o ataque. Procure o leitor apli car esse princípi o na luta contra os maus pensamentos, inclusive avaliando se o esquec ime nto desta consideração não re ve la in ge nuid ade, e mes mo certa condescendê ncia com o mal ao qual combate tão molemente ... Esta observação fo i fe ita pelo Prof. Plini o Co rrêa de Olive ira numa de suas conferências, e j ul gamos útil tra nsmiti -la ao leitor.

O mu11do moden10 mernce castigo Na Mensagem de Fátima, Nossa Senhora apresenta um mundo pres tes a ser castigado severamente pe los descaminhos em que entrou. Catolicismo te m descrito esses descaminhos com riqueza de porme no res. Sem sere m as únicas, as transgressões contra a castidade constituem, de qu alqu e r modo, um la rgo fil ão dos pecados qu e ofendem a Deus e atrae m castigos para a humanidade de nossos di as. Punição mais do que justa. E, conforme as indicações de Nossa Senhora, necessári a para reconduzir a humanidade para as vias benditas da Sa nta Igreja e da c ivilização cristã. Não se trata de uma perspectiv a ilu sóri a, porqu anto anunc iada pela pró pri a Vir-

gem Santíss ima. Apesar dos sofrimentos que ela im pli ca para a humanidade, serve ele alento para todos os que lu tam neste va le de lágrim a. , a nel a ndo pe lo triun fo cio

Imac ulado Coração de M ari a, coidêntico ao triunfo do Sagrado Coração ele Jesus. • E-mail para o autor: calol icismo@Lerra.com.br

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A REALIDADE CONCISAMENTE

Chinês é condenado por alertar contra leite envenenado

Aborto no Ocidente supera abortos idolátricos pagãos

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111 2008, mais de 300 mil crianças chinesas foram intoxicadas por leite adulterado com melarnina. Seis cri anças morreram, e gul oseimas tóxicas foram vendidas no Oc idente sob etiquetas famosas. O escândalo foi mundial , e o governo prometeu tomar medidas adequadas. Agora saiu uma medida muito "adequada": Zhao Lianhai foi condenado a dois anos e meio de prisão, pelo "crime" de denunciar em seu site os perigos do leite envenenado. O advogado de Zhao, Li Fangpi ng, pediu à Ju tiça chinesa severidade em relação aos cu lpados e reparação às vítimas. Resultado "adequado": foi preso em novembro de 2009, acusado de "incitação à desordem social". As guloseimas chinesas continuam enchendo as prateleiras de mercados como os do Bras il , desbancando produtos não suspeitos de matérias tóxicas ... •

polícia da Tail ândia encontrou mais de doi s mil fetos humanos num templo budista na capital Bangcoc, supostamente provenie ntes de abortos ilegais. Os fetos enchiam os contêineres mortuários cio templo, e a polícia foi alertada pelo forte mau cheiro. A imol ação ou cremação de crianças para satisfazer ídolos é um dos piores e mais macabros vícios do paganismo. Porém, quando se considera os milhões de crianças abortadas "legalmente" no Ocidente ex-cri stão, o caso de Bangcoc parece diminuto. A recusa à Igreja católica e sua santa moral precipitou o Ocidente num neopaganismo, cujos abismos de crime e imoralidade estão supera ndo os do paga ni s mo a nti go, qu e e ram ex pli c it amente demoníacos. •

Lordes hereditários atuam melhor que políticos eleitos China poderia arrasar 8Q% das bases americanas na Asia

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e acordo com relatório do Congresso americano, os novos mísseis que a China está instalando podem destruir cinco das seis bases dos EUA na Ásia, ameaçando a liberdade de navegação no leste asiático. Num ataque, as bases aéreas america. ,;,nas na Coréia do Sul e no Japão seriam alvo fácil. A denúncia coincide com as crescentes provocações bélicas da Coréia do Norte, sub-repticiamente apoiada por Pequim, e qualificou de "assustador o aumento da capacidade chinesa para neutralizar as operações militares americanas na região"; e alerta: "Não só as bases americanas seriam atingíveis no caso de um conflito, mas também os porta-aviões". •

Na Rússia, espancados iornalistas que investigam o governo

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jornali sta russo Oleg Kachi ne, do diário "Kommersant", um dos maiores do país, foi espancado selvagemente, ao que tudo indica por agentes do governo em Moscou. Oleg teve os dedos, as mandíbul as e as pernas quebrados pelos agressores. Os promotores e colegas do jornalista acreditam tratar-se de uma tentativa intimidatória para que ele não prossiga a investigação das "organizações informais", que existem no coração do sistema restaurado pelos ex-agentes da KGB. Poucos di as depois, Anatoly Adamchuk, repórter do jornal "Zhukovskiye Vesti", foi espancado de modo análogo. O presidente Medvedev disse que os agressores seriam punidos, mas na Rússia os atentado contra jornali stas independentes são freqüentes, e sabe-se que a polícia e a Justiça, submissas ao regime, os deixam impunes. •

CATOLIC ISMO

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nomeação de 50 novos membros da Câmara dos Lordes da Inglaterra su c itou cóleras igualitárias. Os lordes equivalem aos senadores em outros países, atuando também em alguns casos como mini stros do Supremo Tribunal de Justiça. São vitalícios e não eleitos, assumindo às vezes em virtude de privil égios mediev ais hereditários. O j orn ali sta Timothy Garton Ash recon heceu que os 714 nobres são "um.a barreira contra as tendências populistas e autoritárias de um governo eleito", e sua decisões ão de "all f.s-sim.o nível". Concluiu afirmando: "A última coisa de que os britânicos precisam é uma versão piorada da Câmara dos Comuns, com homens fortes dos partidos sendo reciclados a partir de listas ". Uma lição de bom ens de genuína democracia, revel ando que os me lhores são o nobres independentes, nomeados em atenção a privi légios hereditários multi sseculares . •

Oposição católica obriga museu a retirar obra blasfema

UE pune Itália por não aprovar fraudes no chocolate

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Uni ão Européia (UE) havia baixado decreto favo recendo prod utos deturpados, pois admiti a outras gorduras vegetais em produtos com o rótulo de chocolate e julgava intolerável a lei ital.iana proibindo que as embalagens exibam o termo "chocolate" em produtos que não contenham 100% de derivados docacau. O Parlamento italiano, apoiado na Europa inte ira pelos amantes do chocolate genuíno, apelou contra a norma injusta, mas seu apelo foi recusado, sendo o país considerado réu di ante do Tribunal de Justiça da UE, que acabou condenando a lei italiana. A Itáli a deverá acatar essa decisão iníqua, sob pena de sofrer pesadas multas. Mai s um a comprovação de que entre os péssimos frutos do dirigismo totalitário da UE figura o rebaixame nto gradual e também radical da qualidade de vicia cios europeus. •

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National Portrait Ga llery, da g rande Smithsonian lnstitution de Wa hington , mantinha um vídeo blasfemo que apresentava Cri. to prostrado por terra e devorado por formigas gigantes, numa série de "obras de arte contemporâneas" obre temas sexuais. A Liga Católica ac usou a obra de inc itar ao ód io, e anunciou que conversaria arespeito com o provável futuro líder da Câmara cios Representantes, John A. Boehner (Ohi o). Devido à ascensão conservadora na política americana, o museu logo percebeu que poderi a perder verbas oficiais, habitualmente polpudas, e de istiu da exibição do vídeo por causa dos protestos católicos. A ex ibição blasfema era apoiada por fundações de lésbicas e homossexuais, mas a militância católica dinâm ica e inteligente frustrou a manobra. Face ao mal e à blasfêmia, o "diálogo" é inaceitável. •

Na Colômbia, recusado ''casamento" homossexual

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Corte Constitucional da Colômbi a recusou-se a modifi car a defin ição de casamento no Cód igo Civil , que só o reconhece entre "um homem e uma mulher". Um advogado do lobby sodomita soli citara o cancelamento dessa definição, para introduzir o "casamento" homossexual. O Procurador Geral da Nação, Alejanclro Ordóíiez Maldonado, demonstrou que a Corte Constitucional "não pode desconhecer os requisitos essenciais estabelecidos pela Constituição" para a fam ília. Temia-se o pior - que não aconteceu - pois essa Corte vinha agi ndo segundo critérios ideológicos, atropelando a própri a Constituição que deve defender, e já havia descriminalizado o aborto e a eutanásia. •

Rússia não devolve igrejas aos católicos

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governo russo prometera devolver as igrejas confiscadas pelo regime soviético, e a Igreja católica tem direito de recuperar algumas delas. Contudo, o regime de Putin promulgou uma lei qualificada de "iníqua" pelo arcebispo de Moscou, D. Paolo Pezzi . A igreja da Santa Família de Kõnigsberg (hoje Kaliningrado), outrora católica , será entregue à igreja cismática russa . O Kremlin deseja reforçar o domínio russo naquela região; e a igreja cismática, que serve a este desígnio, reagiu com ira às justas reclamações católicas, ameaçando: os católicos que se cuidem e cessem suas queixas, caso contrário virão mais retaliações!

Polônia consagm maior imagem de Cristo

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ilhares de fiéis e religiosos poloneses assistiram em Swiebodzin à consagração da maior estátua de Jesus Cristo em todo o mundo. Ultrapassa 52 metros , mais alta que o Cristo Redentor do Rio de Janeiro. Foi doada pelos 21 mil habitantes da cidade , e pode ser vista da rodovia Varsóvia-Berlim e a vários quilômetros de distância. A ofensiva laicista e progressista se mobilizou contra a ostentação pública de símbolos dos mais venerados pelo cristianismo . Gru pelhos católico-progressistas procura ram pretextos na "humildade evangélica " para sabotar a obra, mas a imensa maioria do povo polonês, sinceramente católica, apoiou a iniciativa.

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Nossa Senhora de Toda Ajuda B ela história da aparição da Santíssima Virgem a uma pastorinha francesa no século XVll, que transformou um pequeno vilarejo num centro de peregrinações n GABRIEL J.

para a procissão. Local da aparição · indicado por monumento com a cruz de pedra Capela do santuário de Querrien

W1LsoN

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ara locali zar a Bretanha no mapa da França, basta di stinguir a imensa península que mais avança para dentro do Oceano Atlântico. Essa penínsul a situa-se abaixo da Inglaterra, numa vizinhança geográfica que explica a relação da Bretanha com as ilhas britânicas, incluída a Irlanda, todas habitadas outrora por uma população celta. Isso explica igualmente os fiapos de uma linda hi stória que chega até nossos di as com a invocação de Notre-Dame de Toute Aide (Nossa Senhora de Toda Ajuda) e m Qu errien, peq ue na aldei a da Bretanha.

Grande milagrn: a foJJte de São Galo E m 574, o monge irl andês São Columbano desembarcou na Bretanha com 12 companheiros. Os monges eram os grandes apóstolo dessa época remota, e pen etraram penínsu la adentro evangeli zando os habitantes, erguendo ermidas e fundando mosteiros. Por volta de 61 0, São Ga lo co nstruiu um a ermida e m Montrel-en-Langast, anti ga Langal. De poi s seguiu para Querrien, onde fez brotar uma fo nte "para que as pessoas possam.fazer o pão" - a conhecida fo nte de São Galo. Mandou fazer também um pequeno oratório e esculpiu com as própri as mãos uma image m de Nossa Senhora com o Menino Jesus, para ser ali venerada. Mais tarde o oratório tornou-se capela, que infeli zmente desabou, desaparecendo a imagem. Este simples relato é tudo o que se sabe dos séculos VI e VIL Mais de 1000 anos se escoaram nas brumas do olvido, como ocorre às nuvens sopradas do oceano, que continuamente atravessam os céus da Bretanha.

Diálogo da Virgem com uma pastol'inha Quinta-feira, 15 de agosto de 1652 (Luís XIV tinha apenas 14 anos), por volta das 18 horas. Nessa tarde de verão, a uns -

CATO LICISMO

- Ela di z que é a Virgem Maria, e que é preciso construir uma capela para E la no meio da alde ia, para que os peregrinos possam vir em multidões para hon rá-la. - Se é verdade o que dizes, ped iremos ao bi spo que nos permita construir um santuário para Ela - respondeu o pai , visivelmente emocionado pelo mi lagre.

O prodigioso recncontl'O da imagem 20 metros da "Mare de Saint Gal/ " (pequeno lago de ág ua represada, ou tanque), onde as ovelha vão matar a sede, Jeanne Courtel, uma pastorinha de onze anos e meio, surda- muda de na sce nça, cuida d o reba nh o de se u pai no prad o dos Fontenelles. De repente lhe aparece uma jovem e bela dama vestida de cetim branco, e diz: - Encantadora menina, dá-me um dos teus carneiros! - Esses carneiros não são meus, são de meu pai - re poncleu a menina, que até então nunca hav ia pronunc iado uma pal avra. - Então vai procurar teus pais ... e pede um cordeiro para mim. - Mas ... quem guardará meu rebanho? - Eu mesma. Eu cuidare i dos teus carneiros. A menin a foi correndo para a casa dos pais, onde todos ficaram pasmos ao ouvi -la dizer: - Papai! Papai! Uma senhora veio me ver, e me pediu um cios corde iros do senhor. - Oh, minha filha ! Se essa senhora te restituiu a palav ra, daremos a ela todo o nosso rebanho ! - Ela disse também que é preciso remexer o lago, para encontrar a sua imagem enterrada e perdida há séculos. - E o que mais ela te pediu ?

O milagre ocorrido com a pequena Jeanne deixou e tupefa to o vi larejo, como fac ilmente se pode imaginar. O pároco de Prénessaye, O livier Audrian , a cuj a paróq ui a pe rtence Querrien, fo i avi sado e mandou pessoas de co nfiança verificarem o ocorrido. Tudo se passou rapidamente. Nossa Senhora apa receu uma segunda vez e insistiu: - Eu sou a Virgem M aria, escolhi e te lugar e que ro que se construa uma capela no centro do vi larejo. A pastora, seus pais e vizinhos fora m ao pároco confiar a mensagem da "belle Demoiselle". Messire Audrian, pe rpl exo e confuso, embora constatando a cura da surda-muda, continuava cépti co e pretendia fa lar com o bispo. Nova aparição, em que a pequena Joana contou à bela Senh o ra as ret icê nc ias do pároco. Para d a r um a prova da cred ibilidade do seu pedido, Ela ordenou que se vasculhasse a mare de São Ga lo, onde se encontraria a sua imagem que outrora ali foi venerada. Assim, mais de mi l anos depois de seu desaparecimento, no dia 20 de agosto de 1652 reencontrou-se a imagem escu lpida por São Galo, em perfeito estado, sem umidade nem estragos. A partir de então, milagres e curas começaram a rea li zar-se. A pastora voltou à carga: - É preciso construir a capela.

Mas o pároco resistia. Nossa Senhora apa receu ainda uma vez, e tran smitiu outra ordem: - Já que o pároco não qu er se ocupar ela construção, procure o bi spo, qu e dará ouvidos à mensagem e tomará as providênc ias necessárias.

Vilarejo toma-se centm de perngl'inações Efetivamente, Dom Denis ele la Barcle, Bispo de St. Brieuc, amigo de São Francisco de Sales, convenceu-se da veracidade das apa ri ções, após as devidas pesqui sas, e anunciou no dia 8 de setem bro daquele mesmo ano de 1652, festa da Natividade ele Nossa Senhora, que iri a a Querrien no dia 11 seguinte. A pedra fundamenta l foi co locada, e quatro anos mais tarde a capela foi entregue ao cul to. A invocação ele Nossa Senhora de Toda Aj uda provém da image m ele Nossa Senhora que São Francisco de Sa les, então bispo de Genebra, entroni zou em Pari s em janeiro de 161 8, sob a mesma invocação. Foi Monseign.eur de la Barde que, por veneração a São Francisco de Sales, qui atribuir essa invocação à Virgem de Querrien. A imagem esculpida por São Galo, entretanto, foi criminosamente destruída pelos partidá rios da Revolução Francesa! Hoje se venera em Querrien uma inocente e bela Virgem de princípi os do século XVIJI. Situado a cerca de 70 km a oeste ele Rennes, e a mais de 400 km de Paris, Querrien tornou-se um importante centro de peregrinação. Tem hoje em torno de l.700 habitantes . Na época das aparições, eram entre 200 e 300. E m ago to e setemb ro ocorrem os "pardons", uma fo rma tradicional de comemorar a fes ta de Nossa Senhora ou de algu m santo, com procissões, festejos e gra nde afluxo aos sacramentos. • E-mail para o autor: catolic ismo @tcrra.com.br

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Reforma Agrária Quest;ão de Consciência 50 anos depois N o cinqüentenário dessa importante obra, a edição comemorativa conta com uma introdução do Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança e uma atualização, do ponto de vista econômico, de Carlos Patricio dei Campo, agrônomo e Master of Sdence pela Universidade da Califórnia (EUA)

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uando se cogitou de uma reedição do livro Reforma Agrária - Questão de Consciência, comemorativa do cinqüentenário do seu lançamento , uma constatação tornou-se logo patente: essa obra que na década de 60 foi uma autêntica "bomba" contra o agro -reformismo socialista e confiscatório permanece importante elemento para desmascarar a Reforma Agrária comunistizante g em curso no Brasil atual. Por j exemplo, para denunciar os des- .2 ,f mandos do MST e as agressões patrimoniais que esse movimento de agitação rural pratica, violando a propriedade privada sem que se veja qualquer indício de providências punitivas por parte das autoridades. E já se nota nas cidades a atuação de movimentos análogos de igual inspiração, que investem agressivamente contra a propriedade urbana. A eles também se aplicam os argumentos do livro. A edição do cinqüentenário manteve na sua íntegra a parte doutrinária. Redigida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, tendo os bispos D. Geraldo de Proença Sigaud e D. Antonio de Castro Mayer como co-autores , ela continua -

CATOLICISMO

Dr. Carlos dei Campo :

"Não existem 110 setor agrícola Pl'Oblemas requerendo uma Reforma Agrária, que é portanto uma falsa solução para um prnblema inexistente"

atualíssima . Quanto à parte econômica, de autoria do economista Luiz Mendonça de Freitas, faziase necessária uma atualização relativa ao atual panorama econômico do Brasil. Coube ao Dr. Carlos Patrício dei Campo redigir esse estudo sobre a nova realidade brasileira. Ag rônomo formado pela Universidade Católica do Chile, com doutorado em Economia Agrária e o título de Master of Science em Economia Agrária pela Universidade da Califórnia (Berkley - EUA), é também autor do livro Is Brazil Sliding Toward the Extreme Left? (O Brasil resvalando para a extrema esquerda? - 1986) e das partes técnicas e econômicas de duas outras obras de Plinio Corrêa de Oliveira: Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária? (1981) e A propriedade privada e a livre iniciativa, no tufão agro-reformista (1985) . Para tratar desses novos aspectos econômicos e outros, correlacionados com o rel ançamento de RA-QC, entrevistamos o Dr. Carlos dei Campo na sede do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, por ocasião de sua passagem pela capital paulista no início de dezembro.

Dr. Carlos del Campo - Tal como fo i definida e é

Catolicismo - Como se inserem os assuntos econômicos na perspectiva do livro Reforma Agrária - Questão de Consciência? Dr. Carlos del Campo - É preciso o bservar que, j á no título escolhido pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, está expressa de forma sintética e brilhante a idéia de que a Refo rma Agrári a, muito mais que um assunto econô mico, é principalmente um proble ma mora l, e e m úl tima análise um proble ma religioso. Ao intervir diretamente na propriedade privada individual, a Reforma Ag rá ria envolve um d ireito derivado da própri a natureza humana, gravado para sempre em doi s M andame ntos da Lei de De us: "Não furtarás " e

"Não cobiçarás as coisas alheias". A ordem natural e o direito qu e dela de riva co nsti tue m o fund a me nto dos Ma nd ame ntos, base da orde m moral e da doutrina social da Ig reja, surgindo ass im o aspecto re ligioso da questão. C ri ada po r De us e resumida nos preceitos divinos, a ordem natural ex ige que as nações e os indivíduos respeitem e favoreçam os di reitos individuais, e ntre os quais a propriedade privada. Daí a importânc.ia, atualidade e acerto dos autores ao colocar esses aspectos doutrinários na primeira linha de análi se da Refo rma Ag rári a. RA -QC demonstra com c lareza e segurança que o respeito à propriedade privada e à livre iniciativa está solidame nte ali cerçado na doutrina social da Igrej a e é indispe nsável ao be m comum . Entretanto esses dire itos não são abso lutos. Ou sej a, podem surgir situações concretas em que o próprio bem comum e xij a limitar esses dire itos. Até mes mo o dire ito individual à vida pode ser limitado por imposição do bem comum, como é o caso, por exemplo, de um a nação que e ntra e m guerra para defende r sua soberania. E aqui e ntram as considerações econômicas no estudo da Reforma Agrária. O papel da Eco no mia é verifi car se as condições concretas e m que se e ncontra a agropecuári a respeitam o bem comum; e, caso negativo, ana li sar se um prog rama de Reform a Agrária, limita ndo o direito de propriedade privada e a livre ini ciativa individuais, representa um a verd adeira solução. O estudo econômico demonstrou há cinqüe nta anos que não ex istem no setor agríco la proble mas q ue justifique m um programa com a e nvergad ura e as característi cas de um a Reform a Agrária. Ficou e ntão demonstrado que a Reform a Agrária é um a fa lsa solução para um proble ma inex iste nte. Catolicismo - Por que o Sr. afirma em seu trabalho que a Reforma Agrária fracassou no Brasil?

"O que está sen<lo Jeito é cl'Íar pequenos produtores, dependentes quase totalme11te de 11111 novo /Jatrão, o Esta<lo. Uma vcrdadcirn 'terrabrás"'

apresentada à opin ião pública, a Reforma Agrária consiste na ex propri ação de terras partic ul ares im1>rodutivas, a fim de dividi- las e di stribuí-las entre traba lhadores sem terra. Assim, fi ca no público a impressão de que o objetiv o é torn á- los pequenos pro prietários produtivos, qu e passariam a oferecer alimentação farta para a po pul ação, além de ge rar re nda para manute nção e progresso deles próprios e de suas fa míli as. Porém, na prát ica e na realidade nu a e cru a, as coisas não funcionaram e não estão funcionando confo rme a teoria agro- refor mista apregoava. Em prime iro luga r, a Reforma Agrári a não te m c riad o verdadeiros proprietári os agrícolas. Até fin s de 2008, o INC RA incorporou cerca de 80 milhões de hectares e assentou aproximadamente J, 1 milhão de fa míli as. Mas d iversas fontes indica m q ue até 1996 ape nas 5,6% dos assentados tinham recebido o títu lo de propriedade das res pectivas glebas, o u seja, não se tornaram de fato proprie tári os. Entre 1996 e 2008, conqua nto o número de asse ntados tivesse aumentado de J63.000 para 1.1 18.000, prati came nte não ho uve novas e ntregas de títulos de propriedade. Segundo dados mais recentes, ex traídos de estatísticas do própri o INCRA, some nte 2,54% dos assentados receberam título de propriedade; com outros 2,8 1%, celebro u-se ape nas um contrato de concessão ele uso. A partir desses dad os, não se pode deixar de concluir que a tão propalada meta de cri ar milhares de pequenos proprietá ri os está longe de ser cumprid a. O que de fato está ocorrendo é a criação de pequenos produto res, quase to ta lme nte depende ntes de um novo patrão - o Estado. Ou seja, um a ve rd ade ira "terrabrás", que e m pouco o u qu ase nada di fe re dos famigerados e fracassados kolkhozes. Em segund o luga r, estudos rea li zados ou encomendados pelo próprio govern o dão base para se afirmar que o va lor da rend a líquida mensa l gerada pelo assentado em seu lote alcança, e m médi a, um mo nta nte da orde m de 1,5 salá ri o mínimo (SM). Com base nos mes mos dados, é possível afi rm ar qu e e m torno de 40% retiram do lote até I SM de renda líquida; cerca de 70% conseg uem até 2 SMs. Ora, especia li stas na matéria afirma m qu e quem ganh a até 2 SM s mensai e ntra na class ificação de pobre. Pode-se dizer, portanto, que 70% das fa míli as assentadas como produ tores rurais são pobres. Res ultado esse que obri ga os asse ntados a procurar serviços fora do asse nta me nto, para comple me ntar a renda obtida no lote.

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Bastam es tas duas considerações para concluir que a Reforma Agrári a, tal como a propaganda a apresenta à op inião pública, tem sido um fracasso. Catolicismo - Diante do fracasso da Reforma Agrária, como o Sr. explica a insistência dos agro-reformistas em continuar com esse programa? Dr. Carlos dei Campo - A única ex plicação que me parece lógica é uma mudança de finalidade da Refo rma Agrá ria. Pode-se pensar numa mudança que simples mente "vem ocorrendo", mas vários indíc ios fazem suspeitar que essa mesma mudança, só agora evidente, era desde o início a verdadeira intenção dos agro-reformistas. Passemos a analisar algumas características da atu al situação. É notório que a Reforma Agrária não pretende criar pequenos proprietários familiares. Está cada dia mais em evidência a falta de interesse das autoridades em emancipar os assentamentos mediante a concessão de títulos de propriedade individuais. As unidades familiares de produção transformaram-se em meras concessões de uso, que no entanto é prevista na legis lação como situação temporária até a consolidação do assentado como produtor rural. De temporári a, esta forma legal de uso ela terra está se transformando e m situação definitiva . Desde o início do Programa Nacional ele Refo rma Agrária (PNRA) do governo Sarney, essa te ndê ncia já predominava. Autoridades da época defendiam abertamente a ex ploração coletiva da terra (é difícil não se pe nsar nos kolkhozes) por meio ela formação de associações ele produtores e cooperativas. Parece cada vez mais claro também que está sendo deixada de lado a idéia de que os assentados devem ter como objetivo central a max imização dos lucros individuais, produzindo com eficiência e alta produtividade de acordo com o que se espera de ntro de um reg ime de economia competitiva . Os conceitos ele e fici ê ncia, produtividade, lucro e concorrê nc ia parecem es tar mudando, quando se trata dos assentamentos. Este processo de mudança ressalta claramente quando se analisa o novo sistema de assistênci a técnica e extensão rural em execução. Catolicismo - O Sr. tem elementos para avalíar se essa tendência é espontânea, ou se é movida por alguma base doutrinária conhecida? Dr. Carlos dei Campo - Tudo indica que se trata de impor aos assentados um ocialismo camuflado,

CATOLIC ISMO

"Pobreza Jimita<la ao apenas suficiente e perda da iniciativa individual, é o que está no l10l'izo11te do agro-reformismo. Essa meta coincide com a dos ecologistas radicais"

chamado eufemisticamente ele economia solidária. Em sua essênc ia, economia solidária não é outra coisa senão uma reprodução do projeto ele sociali smo autogestionário, que nos anos 80 o governo sociali sta ele François Mitterrand quis impor na França. A autogestão é uma forma de organização econômica em que os mercados são determinados por conselhos comunitários, que reúnem produtores, fornecedores, consumidores e dirigentes locais; em que a concorrência é substituída pela solidariedade; em que o lucro é definido como "o suficiente me basta"; e m que o patrão individual desaparece, sendo substituído por uma direção autogestionária constituída pelo conjunto de prod utores reunidos em associações. É excluída portanto a propriedade privada individual da terra e dos me ios de produção. Nessa economia, a di stribuição dos excedentes é determin ada por um conselho administrativo dos entes produtivos comunitários, te ndo e m vista ele modo es pec ial os interesses coletivos. Parece ser este o objetivo cios propul sores ela economia solidária: uma sociedade organizada sob "a presença de certa ascese, uma ruptura com o ethos capitali sta produtivista e consumista, que a coloca alinhada com uma eco nomi a da simplicidade". Em resumo, o que está no ho ri zonte do agro-reformismo é pobreza, produção apenas suficie nte e perda ela ini ciativa individual. Essa meta co incide com a dos ecologistas radica is, segundo os quais os pad rões ele consumo cio mundo terão que muda r, e ntre eles o padrão alimentar. Caso contrári o, o mundo entraria em colapso. Os recursos natu ra is da Terra, segundo eles, não suportam o desenv o lvime nto do mundo provocado pelo cap itali smo. Assim , seri a necessário mudar de paradigma para preservar a natureza. Mudar do máximo para o mínimo necessário, do crescime nto econômico para o crescimento zero. É a economi a cio sufi ciente. Catolicismo - Qual a avaliação que o Sr. faz da pequena propriedade agrícola? Dr. Carlos dei Campo - Parece que o Bras il cam inha na contra mão da História qu anto ao assunto da pequena propriedade agríco la. Praticamente e m todas as partes do mundo ela constitui um problema pela sua ineficiência produtiva, que leva os governos a prati car reservas de mercado e fin anciame ntos altamente subsid iados para protegê- la da concorrência. Essa proteção, injustificável do ponto de vista econômico, termina sendo paga por tod a a sociedade. Trata-se de um c usto destinado a manter

uma organização ele baixa produtividade, desejada por razões políticas e até, em muitos casos, por razões hi stóricas e turísticas. No Brasi l a ra zão é o utra, pois a pequ e na propriedade familiar é defendida em contrapos ição à média e grande propriedade. Nesse sentido, continuame nte surgem comentários defendendo a necessidade ele uma Refo rma Agrár ia que transforme méd ias e gra ndes propriedades em pequ e nas propriedade fa miliares, alegando serem estas mai s produtivas. E ntre tanto, seg undo as pesquisas citadas, e ncomendadas pelo próprio governo, cerca de 70% cios estabelec imentos familiares obtêm uma renda total mensa l inferior a do is salários mínimos (valor da linha ele pobreza), chegando a 80% no Nordeste. Porta nto, em princípio, a criação de peque nos estabelec imentos como estratégia para diminuir a pobreza é de si inefic ie nte. No momento, se a maioria cios es tabelec ime ntos fossem criados assim, isto geraria provave lmente uma renda familiar total inferior à linha de pobreza, como está ocorrendo no caso dos assentame ntos da Reforma Agrária. Da aná lise cios dados fornecidos pelas pesquisas deco rrem pelo menos três conclusões importantes so bre a peque na propriedade familiar e sua im portância na produção de alimentos: 1 - A maioria dos pequenos produtores familiares não oferece contribuição importante na produção de alimentos. Só 30% de les participam ativamente, e na ma ioria restante a partic ipação é marginal. 2 - A criação de peque nos produtores fa miliares não gara nte aumento sig nifi cativo na oferta ele alime ntos. Esta rea lidade é comprovada pe los pífios res ultados alcançados até agora pela Reforma Agrária. 3 - Para que o pequeno produtor familiar consiga prog red ir, uma condi ção necessári a (ma não s uficiente) é ter níve l ele conhecime nto e aptidão psicológ ica que o levem a trabalhar como e mpree ndedor. Sem isso, de pouco ad iantam a ass istência técnica e fin a nce ira. Reserva de me rcados e outras vantagens governamentai s não terão efeito duradouro. Estas conside rações nos perm item concluir que a pequena propriedade fami li ar, como se encontra hoje no Brasil, é mais um problema cio que uma so lução. Antes ele se pensar e m aumentar seu número por meio ela Reforma Agrária, seria ele bom senso resolver antes os problemas do setor. Catolicismo - O Sr. julga necessário o governo alterar os índices de produtividade mínimos,

"O setor agropecuál'Ío tem siclo uma âncora 110 co11trole da inflação e estabilização da eco110mia, um modelo 110 cwnp1'ime11to de sua l'tmção social"

exigidos para que o proprietário rural não seja expropriado? Dr. Carlos dei Campo -A Constituição brasileira incluiu a ex igência de índices mínimos de produção ru ra l, com base no conceito de função social da propriedade, e ultimamente o governo tem manifestado a intenção ele mudar os atuais índices, em vigor desde 1980. Mas de fato não existe nenhuma justifi cação econômico-social para que o Estado imponha índices de produtividade ao proprietário rural sob pena de expropriação, pois o mercado brasileiro ele produtos agropecuários é altamente competitivo e abastece a população em abundância, gera ndo ademais um significativo volume de divisas indispensáveis para o desenvolvimento do País. Mais ainda, o setor agropecuário tem sido uma verdadeira â ncora no controle da inflação e na estabilização da economia. Assi m, pode-se afirmar com segurança que o setor agropecuário brasileiro tem sido mode lo no cumprimento de sua função social no conjunto ela atividade econômica. Nada tem de errado o fato de produtores não atingirem eventualmente os índices mínimos . S ituações de mercado, di sponibilidade de financiamentos, restrições climáticas, aspectos técnicos, e muitos outros - são fatores que podem levar um produtor a não aproveitar toda sua "capacidade instalada". Este é um fato corriqueiro, aliás, em qualquer atividade produtiva, e proceder dessa forma é ser eficie nte. Ou seja, o produtor está assim beneficiando tanto a si próprio como à sociedade como um todo. Exigir produção maior, passando por cima destas considerações, conduz ao desperdício de recursos produtivos, causando prejuízo à sociedade em geral. Independe nte mente de atingir os índices de produtividade - uns produzindo mais, outros produzindo me nos - o conjunto dos proprietários rurais cumpre sua função social , contribuindo de forma possante para o bem estar da Nação. Destas considerações conclui-se que a imposição de índices de produtividade e outros do gênero ao proprietário rural, sob pena de exp ropriação, é um a exigência legal arbitrária sem fundame nto na realidade econô mica e agrícola do País. Catolicismo - Em sua opinião, quais deveriam ser os pontos essenciais de uma sã política econômica para o setor agropecuário brasileiro? Dr. Carlos dei Campo - A primeira medida indispe nsáve l é cessar a ve rd adeira perseguição que se

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exerce atualmente sobre o produtor rural. A magnitude dessa perseguição é o ponto central do livro Agropecuária, Atividade de Alto Risco, cuja leitura recomendamos. Como a Reforma Agrária em curso é uma fonte permanente de intranqüilidade, afetando os investimentos e o emprego no campo, outra medida indispensável consiste em freá-la, dando um tempo para se avaliar os seus resultados práticos bem como esses prejuízos que ela vem causando. Na mesma linha, devem ser revistas as políticas indigeni stas, quilombolas e ambientais. Tal como hoje estão sendo implementadas, elas só têm atropelado direitos adquiridos de longa data, gerando graves injustiças ao proprietário rural. Outro ponto que precisa ser reestudado são as exigências trabalhistas impostas aos produtores agropecuários, que repetem com pequenas variantes o que se exige para trabalhadores urbanos. As relações patrãoempregado devem ser condizentes com a natureza e características próprias ao campo. Impor no setor rural um teor de relações trabalhistas sim ilar ao existente no setor de serviços e industrial prejudica especialmente o trabalhador rural e pode inviabilizar a atividade. Foi a paitir de tais exigências que começou a proliferai· o operai·iado tipo "bóia fria", desestimulando a residência na própria fazenda e o emprego rural permanente, gerando conflitos desnecessários e acum ulando problemas nas periferias das cidades. De modo geral, o que o campo precisa é de menor interferência do Estado em suas atividades - norma válida, aliás, pai·a toda economia sadia. Cabe sim ao Estado fiscalizai· a execução dos empreendimentos econômicos, mas não é aceitável o proprietário 111ral ser tratado como um criminoso, sujeito permanentemente a punições de toda ordem por infringir normas e po1tarias, na maioria das vezes arbitrárias e fora de propósito. Nesse sentido, a legislação trabalhista e ainbiental tem que ser revista em profundidade. Nessa mesma linha de raciocínio, uma economia com suas finanças públicas realmente equilibradas (e não pseudo-equilibradas contabilmente) é condição necessária para que o setor rural alcance dese nvolvimento econômico-social permanente. Sem necessidade de apelar a privilégios governamentais, o setor rural merece e deveria esperar do setor financeiro um leque de opções de financiamento e de seguro agrícola compatível com a atividade. É ainda elemento fundamental para um bom programa de política agrária a promoção da pesquisa e educação rural , para melhorar a capacitação do homem do campo. Capacitação não só técnica, mas CATOLICISMO

também de administração, comercialização e de técnicas mercadológicas, mais do que nunca cruciais para conseguir êxito.

O sacramento do Matrimônio - III

Catolicismo - Que espera o Sr. da reedição de Reforma Agrária - Questão de Consciência, meio século depois?

Dr. Carlos dei Campo - A reedição dessa obra é uma iniciativa muito oportuna. O Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, principal idealizador e autor do livro RA-QC, afirmava que a América Latina rumaria pai·a onde caminhasse o Brasil. Referindo-se às tentativas de avanço da Revolução, concluía ser indispensável bai-rar a Reforma Agrária socialista e confiscatória para evitar a queda do Brasil no comunismo. A luta contra a Reforma Agrári a, portanto, ultrapassa de muito o âmbito rural e as fronteiras do Brasil, é fundamental pai·a evitar o triunfo da Revolução gnóstica e igualitária e preservar os restos de civilização cristã que ainda sobrevivem. De atualidade indiscutível, essa reedição representa ainda uma homenagem e um ato de gratidão para com Plínio Corrêa de Oliveira, lutador exím io e fundador de uma nova corrente de pensamento católica contra-revolucionária, que se tem destacado de forma possante por sua eficácia e capacidade de ação em defesa dos valores perenes da civi li zação cristã.

"Não é possível que o proprietário rural seja tratado como um criminoso, sujeito permanentemente a punições de toda ordem por infringir normas e portarias"

Catolicismo - O que se pode esperar, em concreto, desse relançamento?

Dr. Carlos dei Campo - Primeiramente podemos augurar uma mudança de atitude dos que sofrem as conseqüências danosas da Reforma Agrária, como também dos que a combatem. Não devem pensar que estão sozinhos e apenas debatendo-se em defesa de interesses pessoais, por mais legítimos que estes sejam. Devem convencer-se de que estão em jogo princípios de ordem moral, e estes são a base da ordem social desejada por Deus. Os argumentos meramente econômicos, aventados quando se trata do assunto, devem ser enriquecidos com razões doutrinárias e morais, cuja superioridade e primazia é indiscutível. Dessa forma, o combate ideológico irradiaria do setor rural para todas as atividades do País, engajando amplos setores da sociedade e constituindo reforço proveitoso a fim de evitai· atitudes derrotistas do tipo "ceder para não perder". Com a graça obtida de Deus pelos rogos da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, resultados enormes poderão ser alcançados, e cabe a nós empreender esforços para obtê-los. •

E ncerramos com este texto a série a respeito do matrimônio. O autor* conclui indicando o verdadeiro amor que deve sustentar e fortaJecer os cônjuges amor que une os dois cônjuges pode ser tríplice: sensual, natural e sobrenatural. Também o amor sensual é incutido por Deus e o Espírito Santo nos homens, com a constituição das qualidades físicas e naturais, a fim de conduzi-los ao matrimônio. Sem esse amor sensual, os homens todos já teriam desaparecido da face da Terra, por motivos de comodidade. O Criador pôs nos homens o instinto sexual, que podemos chamar amor sensual. Mas este só merece o título de amor se for dirigido, como o amor de Deus, para a doação da vida a serviço do Criador. Por meio desse instinto o homem tornar-se-á um instrumento do "Espírito Criador", do qual vem toda a vida. Então os cônjuges, por esse amor, entrarão em íntima relação com o divino Espírito Santo. Entretanto, se tal amor sensual não cooperar na obra criadora do Espírito Santo, se o homem tão-somente desejar gozar os prazeres sensuais, não merece ele o nome de amor: é egoísmo sensual, que contradiz diretamente a essência do divino Espírito Santo. A segunda espécie de amor é o amor natural, que faz com que os cônjuges se comprazam mutuamente em virtude de seus dotes naturais. Assim, por exemplo, o marido ama a esposa por causa de sua graça, mansidão, modéstia, espírito ativo e econômico e outras virtudes naturais. Todos estes predicados bons são também dádivas do divino Espírito Santo, com as quais condecorou o homem, estimulou e fortaleceu a sua vontade, para aperfeiçoá-las. Entretanto, o amor próprio desempenha um papel muito grande. Um cônjuge ama o outro, digamos, por causa de seus bons predicados, porque deles tira grandes vantagens para si mesmo. Portanto a dádiva preciosíssima e por excelência do Espírito Santo é o amor sobrenatural. Ele existe quando os esposos se amam reciprocamente como criaturas de Deus, como portadores de uma alma imortal, como templos vivos do divino Espírito Santo, para cujo adorno se esforçam mutuamente. Este amor é de igual modo amor de sacrifício, que sempre quer be-

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neficiar o outro, sempre cultivá-lo, mesmo com prejuízo dos próprios interesses. Se uma moça dá sua mão a um rapaz só para tirar daí bom proveito, o que os une é o amor próprio, o egoísmo, e portanto é lançado desde já o germe de um casamento infeliz, privado de todo amor sobrenatural. E quando um rapaz contrai núpcias só para tornar mais fáci l e agradável a existência terrena, esse motivo para o casamento não pode proceder do Espírito Santo. O amor sobrenatural não indaga "o que tenho eu a receber da outra parte ?"; mas sim "o que sou eu para a outra parte?" . Não procura o que é seu. Seu fito é fazer felizes os outros, e não tornar-se feliz à custa dos outros. Esse amor desinteressado, abnegado, que só por último pensa em si, é que vem do Espírito Santo, cuja natureza toda é comunicação, doação, bênção e enriquecimento. O amor sobrenatural é, outrossim, o regulador do amor sensual, que faci lmente ultrapassa os limites postos por Deus. O amor sensual será dominado, refreado, contribuindo assim para o amor à virtude. Embora o amor sensual entre os cônjuges seja consentido por Deus, embora o amor natural possa ser bom, são entretanto ambos inconstantes e sujeitos à languidez, e por isso não podem formar o vínculo seguro e indestrutível que prende dois corações até a morte. Além disso, ambas as espécies de amor extinguem-se, seja pelo desaparecimento da mocidade ou por uma enfermidade grande. Também as boas qualidades naturais são obscurecidas pelos defeitos que cada homem possui . Portanto, é mal colocado um casamento que se baseia unicamente sobre estas espécies de amor. Inquebrantável é tão somente o vínculo do amor sobrenatural, que procede do coração do divino Espírito Santo. Por meio dele os dois cônjuges tornam-se não somente "uma só carne", mas "um só coração e uma só alma". • • Pe. Agostinho Kinscher, Ao Deus Desconhecido, Editora Mensageiro da Fé, Salvador, 1943, pp. 134 e ss.

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O Golias muçulmano e

o Davi cristão da Reconquista D AN IEL

Avós a inglória

submissão do reino visigótico ao invasor muçulmano, a Providência Divina suscita D. Pelayo, o herói cristão que inicia a Reconquista

ARTIN

m go.v ernante perve rso e um c lero devasso podem destruir um país inte iro? A hi stória da Espanha visigótica prova que sim . Viti za, rei dos visigodos, estendia seu domínio a toda a Penínsul a Ibérica, território hoj e ocupado por Espanha e Portu gal. Assumiu o trono no ano 704 e mostrava-se ele início reto e prudente, chegando até a convocar uma reunião cios bispos e senhore ele todo o reino para pôr ordem nas in titui ções e costumes - o 18º e último concílio ele Toledo. Com o tempo, e ntretanto, deixou-se arrastar pela luxúri a, contraiu re lações espúri as com dive rsas mulheres e passou a oprimir viole ntame nte seus rivais e opositores. Os grandes do reino, e logo depoi s o povo, começaram infeliz mente a seguir-lhe o exemplo.

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A devassidão atinge o clero D o m Gonclerico - arcebispo ele Toledo, ilustre por sua santidade e até por seus mil ag res - seria a pessoa certa para se opor aos desatinos cio re i. N o entanto morreu precisamente nessa ocasião, e sucedeu-lhe o bi spo Sinclerecle, que começou a tratar rude me nte os cônegos e padres mais virtuosos. O monarca te mia a virtude desses personagens , que lhe res isti am em face e reprovavam seus crimes, por isso encorajou o novo arcebi spo nas uas atitudes. A trág ica situação da Es panha ele então é descrita nestes termos por um conceituado hi storiador ecles iástico:

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CATOLICISMO

O hi stori ador Rohrbache r ass im descreve a invasão dos mao metanos e suas trág icas conseqüê nci as :

"Os principais habitantes são mortos. Sevilha é tomada de assalto, Mérida se rende após longa resistência. O condado ele Portugal e a Galícia se submetem igualmente. No espaço de 15 meses, toda a Espanha é subjugada. Musa incendia va as cidades, ordenava serem pregados em cruzes os cidadãos mais importantes, enforcava os j ovens e as crianças, expandia o te rror por toda parte. Grande número de habitantes fii giu para as rnontanhas, muitos aí pereceram defome e de miséria. Assim terminou o reino dos visigodos, após ter durado cerca de três séculos. ,

especia l atra íra m sobre o sobe rano o ódi o cios gra ndes do reino: Viti za assass ino u Favi la, duque ela Cantábri a, e mandou matar Teoclofreclo, governador de Córdoba . N aq ue le tempo a mo narqui a he reditári a ai nda não estava conso lidada no reino vi sigótico. Quando morreu Viti za, o duque ela Bética, Rodri go, ap roveitou a insatisfação gera l e foi alçado ao Lr no, sendo ac lamado re i em 7 1l. Os filhos e seguido res de Viti za te ntaram manter o trono, mas preci sariam de reforços para faze r face ao re i Rodri go. Quais seri am esses reforços? O grande inimigo dos cristãos - o I lã!

Os cató li cos traidores foram " pre miados" pelos muçulmanos, que lhes permitiram mante r suas propriedades e posses. O judeus, que secundara m os esforços dos muç ulmanos durante toda a invasão, receberam como paga a administração de muitas c idades e a lde ias. 4 Mas esses prêm ios aos católicos traidores não haviam de durar, corno escla rece o abali zado hi storiador J.B. We iss :

Carta com trágicas co11scqiiê11eias Maomé fa lecera em 632, e menos ele 70 a nos depoi s os seus seguido res já hav iam conqui stado grande parte do Oriente Médio, o nde e ncontraram os cri stãos divididos pelas he res ias, sobretudo o a ri an ismo, o nestori a ni smo e o mo nofi s iti smo.2 Os católicos que a inda resistiam re uniram-se na fortal eza de Al exandria, mas logo foram forçados à rendição. Após do minarem Alexandri a, os muç ulmanos in vestiram contra o norte da África. Lá e ncontraram certa res istênc ia cios bérbe res, povos nativos do Mag re b. D epoi s ele a lg umas batalhas, e ele vencer certas dificu ldades, consegui ram impo r uma a li ança com aq ue le povo,

O rei Rodrigo

DomÍJ1io total <lo lCl'l'ÍlÓJ'ÍO CSJ}aJJhOI

" Vendo-se assim maltratados por seu bispo, esses venerandos sacerdotes apelaram ao Papa. Mas Vitiza, temendo que a autoridade 1r10ral lclesses padres] impedisse a obediência do povo aos seus desmandos, 11ão somente permitiu, mas ordenou a todos os clérigos que tivessem mulheres e concubinas publicamente - várias até, se quisessem - e não obedecessem às constituições romanas [que previam o ce libato]. Essa ordem do rei produ ziu uma corrupção extrema ". Como era de esperar, a violê nci a sucedeu à imo ra li lacle. Do is crimes e m 1

Vitiza, rei dos visigodos, estendia seu domínio a toda a Península Ibérica, território hoje ocupado por Espanha e Portugal

que abraçou o maometa nismo. As vistas dos muçu lmanos voltaram-se e ntão para a católica mas convul sio nada Espanha. Grande fo i a a legri a do califa Mu sa Ben Nusayr, governador ára be cio norte ela África, quando recebe u uma carta e m que os filh os de Viti za descreviam a situação de seu país e incredibile dictu - pedi am seu auxílio para derrotar o re i Rodrigo. Eram- lhe indicados os caminhos por onde poderiam fac ilmente e ntrar, e os pontos fracos cio li tora l sul da Espanha que facilmente conquistariam. Sem perder tempo, Ben Nusayr enviou o g uerre iro bérbere Tarik Ben Ziyacl com sete mil ho mens para ajudar os sequazes de Viti za. E m 28 ele abri l de 711 , Tarik apossou-se do Monte Cal pé, na reg ião qu e depoi s foi chamada Gebel-al-Tarik (Montanha de Tarik), por corruptela Gibraltar. Com ajuda de outro traidor - o Conde Oli án, governador da Andaluzia - Tarik venceu sucess ivas bata lhas durante aquele ano, encontrando pouca resistê ncia. O re i Rodrigo reuniu 100 mil homen e m Guada lete. Contingente gra nde, poré m mal preparado, di ante ele um invasor menos nume roso, mas dec idido e di sciplinado. Os católicos espanhó is estavam amolecidos por longo período de calmaria e havi a m desapre ndido a arte da guerra. Pior, estava m divididos pela inveja e luxúria, e g rande parte de les bandeou-se para o lado do in va or. No auge da batalha, os católi cos traidores se voltaram contra o exército ele Rodri go, ataca ndo-o pela retagua rda e di zimando-o. O re i foi morto e seu corpo desapareceu, some nte sendo encontrada sua tumba sécul.os depo is, em Portugal. Muitas c idades, e nLTe as quais Córdoba, rende ram-se o u foram conqui stadas. Invejando os s ucessos de Tarik, o próprio cali fa e ntrou na Espanha no ano 71 2, à testa de 20 mil ho mens. Avançou contra Toledo, que lhe foi vergonhosamente entregue pelo bispo impostor Oppas, irmão do fa lec ido Vitiza.

"No princípio da conquista muçulmana, a população cristã que permanecera nos países submetidos gozou de muita independência, parte pelos tratados mais ou menos vantajosos que .faziam, parte pela política dos invasores, que com essa brandura fa cilitavam sua conquista. Mas à medida que cresceu a população m.uçulm.ana, [. .. } os tributos que exigiam aumentavam de tal maneira que, segundo disse Santo Eulógio, 'a morte parecia ,nais tolerável do que a vida a que se viam redu zidos'". 5

O Davi <la Reco11quista esJ}anhola

Tarik Ben Ziyad venceu as débeis forças visigóticas

Tudo parecia chancelado e definitivo. Soara co ntudo a hora da Providê ncia Divina. E m momentos cruciais como esses, De us costuma susc itar homens qu e, od iando o mal de seu tempo e a mando sua vocação ao extremo, inic iam a reação com um punhado de bravos e

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empreendem a reconquista. O herói suscitado por Deus naquela ocasião foi Pelayo, jovem de régia estirpe, filho do duque da Cantábria. Participara da batalha de Guadalete, e foi um dos pouco que escapou à morte. A astúcia dos invasores haveria de bater em breve à sua porta. Não se restringindo à conquista militar, os mouros começaram a casar-se com as nobres católicas, para tornar inexorável seu domínio. Munuza, por exemplo, governador da cidade de Gijón, desejava ter como uma de suas mulheres a irmã de Pelayo. Para ev itar a resistência do irmão, Munuza decretou sua prisão, mas ele foi avisado por seus am igos e conseguiu se desvencilhar. Resistindo ao casamento da irmã com o mouro, foi perseguido e procurou refúgio nos montes Congas de Onis, na região da Cantábria. Não se contentou em fugir: jurou resistir ao novo regime dos infiéis, acérrimos inimigos do cristianismo. Sua condição de príncipe de régia linhagem, sua fama de guerreiro indômito e sua liderança natural foram elementos aglutinadores para inúmeros católicos que desejavam combater o invasor. À sua volta reuniu-se uma força de aproximadamente mil homens, que a uma voz proclamaram-no seu rei em 718.6 Os mouros pouco lhes deram atenção, pois consideravam a partida já ganha na Península Ibérica e chegada a hora de conquistar a Gália (atual França) para Maomé. Porém , enquanto os exércitos muçulmanos preparavam-se para sitiar o sul da França, os católicos espanhóis começaram a contra-ofensiva: "Nas mon-

Dom Pelayo, com seus homens, antes da batalha de Guadalete

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e

erca de 18 mil cópias do livro Os

Cem Melhores Contos Brasileiros do Século foram compradas no m1c10 de 2010 pelo governo paulista, para serem distribuídas aos alunos da 6ª à 9ª série do ensino fundamental e do ensino médio, em aplicação ao programa Apoio ao Saber. Foi necessária uma liminar judicial para que cessasse adistribuição aos jovens dessa publicação imoral, da qual faz parte, entre outros, um conto intitulado Obscenidades para

tanhas das Astúrias, os cristãos se levantaram então sob o comando de D. Pelayo, conservaram sua independência e pouco a pouco avançaram em sua reconquista ". 1

uma dona de casa. O desembargador Maia da Cunha, do Tribunal de São Paulo, qualificou esse e outros textos como de "elevado conteúdo sexual" e "inapropriados". Mandou recolher os livros e cessar a distribuição. Quanto aos que já haviam sido distribuídos, disse que "o eventual desrespeito à dignidade das crianças e adolescent(!s

Com alguns de seus companheiros, o jovem nobre realizou várias incursões contra guarnições mouras, alcançando os católicos sucessivas vitórias nessas escaramuças. Enfurecidos ao extremo, os muçulmanos juraram vingança, mas "de mil soldados não teme a espada quem pugna à sombra da Imaculada" , e à sombra de Nossa Senhora de Covadonga esse Davi da Reconquista espanhola combateu vitoriosamente o Golias muçulmano. Qual foi o resultado? É o que veremos em próximo artigo. •

já teria se consolidado" . A liminar do Tribunal de Justiça foi concedida contra o Secretário Estadual de Educação, Paulo Renato de Souza, que poderá recorrer. Diz a Secretaria que a distribuição foi feita apenas para estudantes cio ensino médio. O pedido de re-

E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br

Bibliografia: 1. ROHRBAC HER. Histoire de l 'Ég lise, Vol. X, Gaume Freres, Pari s, 1845 , p. 477. 2. As três heresias mencionadas foram disseminadas nos primeiros sécu los do cristiani smo, tentando deturpar a verd ade sobre a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, com conseqüênci as muito funestas para a fé católica. O ariani smo negava tanto a divindade quanto a humanidade de Jesus Cristo, defendendo a tese de que Ele era um a espécie de emi-deus. Esta heresia foi refutada e condenada pelo Concílio de Nicé ia (325) . O nestori ani smo afirmava que Nosso Senhor não era uma só Pessoa com duas naturezas, humana e divina , e sim duas pessoas separadas, uma humana e ouu·a divina, o que acarretava também a heréti ca conclu são de que Nossa Senhora não era a Mãe de Deus. Tal heres ia foi refutada e condenado pelo Concílio de Éfeso (43 1). E o monofi siti smo, ou monofisismo, propalava a heresia de que Nosso Senhor só possuía a natureza divina , e não a humana , tendo sido condenado pelo Concílio de Calcedônia (45 1). As três heresias produ ziram imensa confu são entre os católicos, abrindo flanco para o ataque dos muçulmanos. 3. ROHRBACHER. ld. lb. p. 478. 4. WELLS , Jerem ias. History of Westem Civilization, Edição privada, p. 175. 5. WEISS , J.B ., Historia Universal, Vol. V, p. 720. 6. Cfr. BARANDIARÁN, Felipe, D. Pelayo a11d the Reconq ui sta of Spai11 , Crusade M agazi ne, julho/agosto 2007 , p. 10. 7. WE ISS, J.B ., ld. lb., p. 706.

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CATOLIC ISMO

Governos difundem erotismo entre estudantes colhimento dos exemplares e cancelamento da distribuição foi apresentado em outubro pelo Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (lnadec), presidido pelo deputado federal Celso Russomano. O mais espantoso é que, segundo o advogado do Inadec, Renato Menezello, a própria Vara da Infância e da Juventude havia acatado um parecer favorável a esse livro. A respeito da circulação de um texto erótico em salas de aula, a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, observou que

"são muitos alunos por sala, com perfis e aspectos morais diversos. A maior parte dos professores não está preparada para dar conta disso". O caso não é único. Em maio de 2009, em São Paulo, teve de ser recolhido o livro Dez na Ârea, Um na Banheira e Ninguém no Gol, que continha "palavrões, expressões sexuais e referências à facção criminosa Primeiro Comando da Capital". Em Santa Catarina, o livro Aventuras Provisórias teve de ser interditado nas escolas para alunos de 15 a 18 anos. Em Curitiba, um cartum com conteúdo erótico foi aprese ntado para

crianças com idade média de 6 anos, numa prova de geografia em mais de 170 escolas do l º ano do ensino fundamental. Só após a reclamação de alguns professores a Secretaria Municipal de Educação, responsável pela prova, instaurou procedimento administrativo. O desenho era de um cartunista que trabalha para revista pornográfica. * Que há gente incentivando a corrupção moral das crianças e adolescentes, é fato público e notório. Mas é particularmente grave que governos propiciem a difusão de livros desse teor, pois a erotização precoce da juventude adqui.re assim o caráter de oficialmente induzida. Esta sentença grave e profética do Divino Salvador estava certamente dirigida também para nossos dias: "Todo

o que escandalizar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem. ao mar" (Me 9,42). Também por isso No sa Senhora chora! • * Cfr. "O Es tado de S. Paulo", 19 e 20- 11 - 1O.

Nossa Senhora de Covadonga na gruta onde começou a reconquista da Espanha

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N a superfície, Ludo pareceu se desfazer em 2010. Mas no fundo psicológico da humanidade, velhas e novas camadas de bom senso e tradição moveram-se, abalando a face do mundo. .;,

111 Lu1s DuFAUR

ão raramente, o início do ano prefig ura o que ne le tra nscorrerá ao longo de seus 365 dias . No início de 20 10, um tremendo abalo: em 12 de j aneiro, um terremoto no Haiti causou mais de 220.000 mortes, de ixou 300.000 fe ridos, inúmeros desaparec idos e mais de um milhão de pessoas desabrigadas. Foram destruídas todas as 320 paróqui as e capelas da capi tal, Port-au-Prince, e quase 90% do clero morreu ou sofreu ferimentos, ceifa ndo a vida incl usive do arcebispo D. Joseph Serge Miot. Foi a mais letal calamidade das Améri cas em todos os tempos, e um dos piores terremotos do mundo nos últimos cem anos. Vieram abaixo o palácio pres iden-

N

eia], as dependências públicas e de organismos internacionais, hospitais, escolas, quartéis e delegacias. A lista das vítimas indiretas cresceu durante o ano, devido a diversas epidemias causadas pelas precaríssimas condições de vida em que fi caram os sobreviventes. O Brasil teve também vítimas a deplorar: 1 L militares da força de paz presente no país; Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da ONU no Haiti; e Da. Zilda Arns, irmã de D. Paulo Evaristo Arns, que ministrava um curso para 150 religiosos e agentes de pastoral, quando o teto desabou sobre os presentes. Corpos empilhados, ar empestado, populações desesperadas sem teto e sem

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água, pilhagens descontroladas, força pública e da ONU desarticul adas. Port-auPrince transformou-se numa imagem do apocalipse.

Rachaduras ideológicas do mundo O cataclismo também revelou frinchas religiosas e ideológicas do mundo. O envio de auxílio internacional chegava precariamente, devido à destruição da infraestrutura, sobretudo aeroportuária. As nações européias propunham reuniões para discutir o futw·o dos direitos humanos no Haiti, e os latino-americanos não possuíam equipamentos. Nesse caos, os EUA enviaram uma frota já aparelhada para lidar com desastres do gênero, a qual instalou uma torre de controle militar no aeropmto e assumiu o grosso da assistência e da ordem no Haiti em ruínas. Surpresa para o mais elementar senso humanitário: a mídia e os governos de esquerda concentraram suas energias em condenar o salvador! Funambulescos planos de "ocupação" americana eram denunciados em jornais, na internet e em chancelarias, que bem pouco faziam pelos infelizes haitianos. Ao mesmo tempo, a cada vítima salva dos escombros pelos americanos, nas ruas de Port-au-Prince o povo exclamava: "USA! USA!"; e também comemorava a chegada dos marines ao palácio presidencial totalmente achatado sob o peso de seu imenso teto.

A rachadura mais profunda: face a Deus e sua Providência Enquanto a população haitiana improvisava orações em comum nas ruas - por vezes em frente a igrejas arru inadas, implorando perdão e a miseri córdi a divina - na capital do país vizinho, Santo Domingo, o Cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez negava rotundamente que a tragédia pudesse ser um "castigo de Deus" ... O cônsul geral do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine - que pronunc iou a frase incomp leta "de tanto mexer com macumba ... ", referindo-se ao satânico vodu praticado largamente na ilha, sobretudo e m sincreti smo com o catolicismo - fo i constrangido a sedesdizer, devido à pressão de jornais e meios diplomáticos . CATOLICISMO

No Brasil, foi também aduzida a afirmação de muitos haitianos, geralmente da população modesta, de que Deus pode permitir abalo naturai s para corrigir os homens e atraí-los para a Casa Paterna, pois na virada do ano os prédios hi stóricos de São Luiz do Paraitinga (SP) haviam sido arrasados pelas águas das chuvas. Moradores da cidade comentaram que Deus quis puní-la pelo seu imoralíssimo carnaval, que evocava Sodoma e Gomorra. O engenheiro Jairo Borriello membro da equipe de reconstrução, que não partilhava essa opini ão - reco nheceu "que as imagens de santo estão sendo encontradas de pé, isso é fato, e ajuda a aumentar esse sentimento ". 1

Revelador desabamento no Chile A terra voltou a tremer em fevereiro, desta vez no Ch ile. Um terremoto de 8,8 graus na escala Richter causou 52 1 mortes; 2 milhões de pessoas ofreram prejuízos diversos e 700 igrejas da região atingida foram destruídas ou inutili zadas. Também foi notável a resistência, sobretudo no clero, à idéia de uma advertência divina. E m sentido contrário, na cidade argentina de Salta, do outro lado dos Andes, o povo lotou as igrejas para pedir a proteção do miraculoso Senhor dos Milagres. Ainda no Chile, em 5 de agosto, um desabamento na mina São José isolou 33

mineiros a 700 metros de profundidade. Durante 17 dias não se teve notícia deles, até uma sonda trazer a mensagem de que estavam todos vivos. Durante os preparativos para o resgate, houve uma expansão da religiosidade do povo chileno. Capelas fora m montadas no fundo da mina pelos mineiros aprisionados, na superfície pelos parentes, e um pouco por toda parte do país. Até o presidente Pifíera instalou no escritório presidencial uma imagem de São Lourenço, padroeiro dos mineiros. A operação de resgate realizada em 13 de outubro foi aco mpanhada por cerca de um bilhão de pessoas do mundo inteiro através da TV e da Internet. Diante da inesperada manifestação re li giosa popular, o ci neas ta Germ án Becker Ureta discerniu que nas almas de inúmeros chilenos "o profundo conceito moral de Deus, pátria e família não estava extinto. Quando éramos crianças, ele era como um rio largo que atravessava nossas vidas; os 33 mineiros informaram-nos saber que essas águas seguem fluindo pelo fundo da terra". O perspicaz comentário do cineasta acenou para uma realidade que se patenteou um pouco por toda parte em 2010.

O PNDJJ-3 do governo Lula alaJ'mou o Brasil O ano foi pródigo em movime ntos telúri cos profundos na vida pública, abalando co nstruções hum anas das mais

no seio da mãe!" 2 No Rio, 67 prelados - cardeais, arcebi spos e bi spos - assinaram manifesto contra o PNDH-3 qualificando-o de "ameaça à própria paz social ", notadamente pela promoção do aborto. 3 Eles se pronunciaram num sentido que prejudicava o PT, partido nascido ela esquerda cató lica e por ela acalentado. As pregações reli giosas contra esse plano e seus autores atingiram milhões de visualizações nos sites tipo YouTube.

Influência religiosa na eleição política

O Plano Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3) suscitou justificado alarme em largos setores, habitualmente mal representados em nível politico

conso lidadas . No Brasil , um exe mpl o prototípico. O presidente Lul a felic itara-se pe lo fato de não haver, entre os candidatos à presidênci a, nenhum de direita. Os e leitores só tinham portanto a escolher entre candidatos esquerdi stas, favoráveis em graus e formas diversas ao aborto, opostos à famíl ia, à propriedade e à liberdade. As exterior idad es, an co radas e m muitas pesquisas de opini ão, sugeriam que se e legeria no 1° turno a candidata do PT, D ilma Rou sseff, cava lgand o a " imensa popul aridade" atribuída ao presidente L ul a devido ao peso sedutor ele planos populi stas tipo "Bolsa Famíli a"; e não era divi sada como obstáculo a bai xa capacidade eleitoral e de arti cul ação dos antagonistas. Eram porém fe nômenos ele superfície. No rico subsolo psicológico do Brasil aco nteciam movimento animadores, porém inquietantes para as hostes esquerdistas . Desde o in íc io cio ano, a difusão

d o Plan o Nac iona l d os Dire itos Humanos (PNDH-3) susc itou justifica do alarme em largos setores, hab itualmente ma l representados e m níve l políti co. Assinado pe lo pres idente Lu la e a quase totali dade dos seus mini stros no apagar de luzes ele 2009, o PNDH-3 escancarou o vulto total da tran sformação rad ical do País, vi sada pelo PT, e teve ass im o mérito ele abandonar a táti ca da di spersão ele obj etivos e de ambigüidade de fo rmul ações. Mas essa exposição cio vul to total da revo lução em curso pôs as fi bras sad ias do Bras il di ante ele uma a ltern ativa inevitáve l: reagir ou res ignarse a uma comuni stização, análoga à ele Cuba e às iniciativas ditatoriais do presidente ela Venezuela. E m janeiro, a Comi ssão Regional em De fesa ela Vida, da Regional Sul I da CNBB, qualificou o preside nte Lu la de " novo He rodes", qu e co m o PNDH-3 "per111.i1irá o massacre de centenas de milhares ou a/é de milhões de crianças

Na proximidade do 1° turno presidencial, o Brasil profundo ficara sem opções representativas, angustiado por essa marcha que o levava a um rumo que não desejava, e acabou por mover-se. E todo o tabuleiro político tremeu, gerando um resultado que exigia o " indesejável" 2° turno. A candidata petista e seu mais próximo antagonista viram-se ass im subitamente atingidos por um tsunami religioso e conservador, que avançava para um campo locali zado nos antípodas da direção por eles desejada. O Pe. José Augusto Souza Moreira, da rede de TV Canção Nova, pronun ciou-se em sermão de repercussão nacional. Esclareceu que não pretendia manifes tar-se, mas não estava tendo repouso devido à quantidade de e-mails de fiéis pedindo um pronunciamento contra as ameaças trazidas pelo PT contra a Re1igião. Assim, foi impossível segurar a pressão do Brasil profundo. "A borto e internet superaram o 'bolso' na hora da decisão", comentou um diário paulista, 4 acrescentando que os jovens foram atrás da religião e da vida, e não das propostas dos blocos partidários. Para o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), a fr ustração ela petista no l º turno foi "o efeito do púlpito nas igrejas ", de bispos conservadores e moderados.

CNBB e a divisão entre prelaclos Os fiéis que distribuíam o Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras, da Regional Sul l da CNBB, não tiveram mão suficientes para difundi-lo nas igrejas. Longa é a lista das atitudes de prelados como o arcebispo da Paraíba, D. Aldo Pagotto, o bi spo de Guarulhos, D. BerJANEIRO 2011

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Cardeal Raymond L. Burke, presidente da Signatura Apostólica, sublinhou que os bispos devem falar com clareza contra o aborto

gonzini , e diversos sacerdotes alerta ndo contra o plano do PT. Em sentido oposto, o bispo de fa les, D. Luiz Demétrio Valentini, saiu de lança em riste favorecendo a candidata petista; e a Comi ssão Brasileira Justiça e Paz, da CNBB , deplorou o peso do voto religioso conservador no pleito eleitoral. O mesmo fi zeram pouco depois seis bispos e um grupelho de "teólogos e teólogas", tardiamente adeptos da Teologia da Libertação, liderados por D. Tomás Balduíno, D. Pedro Casaldáliga e Frei Betto. Diante da di sparidade de orientações epi scopais, o secretário-geral da CNBB, D . Dimas Lara Barbosa, optou por não tomar posição: "Na sua diocese, os bispos {. .. } são li vres para faze r o que acharem que seja melhor" .5 A lembra nça deste princípio fundamental, duran te décadas esquec ido, selo u o fim do pode r como que absoluto da cúpula da CNBB sobre o epi scopado nacional. O susto diante da onda reli giosa levou os candidatos a iniciar uma "c ruzada pelo voto conservador". 6 Ironi camente, o professo r da USP Vladimir Safatle registrou um nasc imento da República Fundamentalista Cristã do Brasil, em· substitui ção à República Federativa do Bras il. De fato, os dois candi datos logo passaram a invocar a Deus e ap resenta rse como sinceramente religiosos. No horário eleito ral, o programa da cand idata Dilma passou a enaltecê-l a como "mulher honesta, que respeita a vida e as religiões". O do opositor José Serra ap resentava "o homem que sempre fo i conCATOLICISMO

tra o aborto e defendeu a vida" ,7 aspecto até então desconhec ido pela propaganda e leitoral e pelo ele itorado nac ional. A "estrada de Damasco" e ncheu-se de novos convertidos, na apreciação do jornalista Carlos Heitor Cony: "Vi as fotos de Se rra beijando um terço e de Dilma fazendo o sinal da cruz du rante a missa na Basílica de Aparecida, que ambos visitaram para homenagear a padroeira do Brasil ". Em seguida registrou o passado marxista de uma, e indife rente do outro. 8 E m Belo Hori zonte, Dilma Rousseff fez declarações aos pés de um C ri sto crucificado e ao lado de uma im age m de Nossa Senhora de Fátima . Mui to denunciada sua pos ição abo rtista, seu comitê de propaganda julgou oportuno ressalta r o fato de ela ser "ex-aluna de colégio religioso, dirigido por f reiras de Sion" na capital mineira, e rea lçar sua "sólida fo rmação moral e religiosa", pouco observável anteriormente.

Pol êmica brnsileim estende-se ao extc1·io1· Nes e c li ma, obteve co mpreensíve l eco o d iscurso de D. Raymond L. Burke (hoje cardeal), pres ide nte da Signatura Apostólica (supremo tribunal j udiciário da Igreja), proferido no Congresso Mundi al de Oração de Vida H umana Internacional, em Roma. Nele D . Burke ublinhou que os bispos devem fa lar com c lareza contra o aborto, por fide lidade à sua missão e ao Magistéri o da Igreja: "Se o pastor não é obedienle, facilmen /e se intra-

Dilma se adapta à tendência conservadora do eleitorado, e visita Aparecida na festa da Padroeira

fo i a manchete do "Corriere della Sera", prestig ioso diári o itali ano. A peti sta acabou sendo eleita num pl eito que a senadora M arta Supli cy (PT-SP) qualificou de horrível: "Nunca mais queremos uma eleição como esta". Com efeito, difícil ambiente apresenta-se para a nova presidente: um B rasil polarizado, com uma ma iori a anti -esquerdi sta prevenida contra gestos de viés comunistizante do governo, e agora consciente de sua enorme importância em matérias morais e reli g iosas. Intensa tarefa se impôs Dilma Rousseff, tendo em vista desmobili zar a onda conservadora: a presidente eleita escreve u a Be nto X VI ace nando com uma "trégua com a Igreja", pedindo a bênção do pontífice e pro metendo "diálogo". O portador da carta foi o chefe de gabinete do presidente L ula, que comento u: " Pôr no centro da disputa a questão religiosa não fo i bom para o Brasil. Isso fo i dose pra mamute na campanha, viu!". 1º

Grande e embamçosa questão para 2011 Em deze mb ro, pesqui sa rea li zada pelo institu to Vox Populi de tectou que para 82% dos bras il eiros o aborto não deveri a deixar de ser crime no País, e este índice de rejeição não va ri a signi ficati vamente entre sexo, idade e re nda, sendo ta mbém o mes mo entre eleitores de Dilma e Serra. Para 72%, o governo Dilma não deveri a sequer propor um a lei que descriminalize o aborto. Para 60%, a uni ão c ivil entre homossex uais não deveria ser perm itida, e 87% são contra a descriminali zação da droga (93% no Nordeste). Esses são sinais do que pensa e quer o Bras il profu ndo. Pondera ndo no entanto o fa natismo ideológico da esquerda católica, são de se temer novas investidas desagregadoras. O que fará o novo governo para tocar seu pl ano, contido no PNDH-3? Como reagirá então esse Brasil profundo? "Quem viver verá" ...

EUA: a direita da direita dá o tom Terrnmoto ideológico:

o Tca Party Os movime ntos telúricos só são imprevisíveis para os alegres imprevidentes. O estudo sério da evolução das camadas mais internas da Terra permite aos cienti stas prudentes prever futuros ajustes, que depois altera m a crosta terrestre onde se agitam os a legres desprevenidos. Desprevenido parece ter sido o catapultamento de Barack Hussein Obama à presidência dos EUA. Um ano após sua posse e m jane iro de 2009, a aprovação a seu governo encontrava-se já em acentuada degringol ada. Obama iniciou 2010 despejando medidas de controle finan-

duz a co11fil.são e o erro no rebanho", acrescentou. Ta mbém acentuou que os políticos e líderes católicos que escandalizarem os fiéis, defende ndo o aborto, têm obrigação de fazer pública peni tência. E o Papa Bento XVI, recebendo os bispos da Regio nal Nordeste 5 (Maranhão) pouco antes do segundo turno da eleição, relembrou a vigência de documentos anteriores do Magistério, segundo os quais "ao defende r a vida 'não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo '". Mais tarde, em aud iênc ia para os bispos da Regional Centro-Oes te, reafirm ou que a C NBB de ve "evita r colocar-se como uma realidade paralela ou substitutiva do ministério de cada um dos bispos[. .. ], nem constituindo um intermediário entre o bispo e a Sé de Pedro". 9

Eleições com uma vitól'ia de Pirl'O O triunfa li smo esq uerd ista foi denunciado no exteri or, e m 3 1 de outubro: "No Brasil Dilma vence, mas não triur,/a" -

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Obama com o " marxismo latino" de Castro, Chávez, da Teologia da Libertação e até de Lula fo i denunciado ante platéias entusiastas. O Tea Party promoveu enormes manifestações na capita l americana. A ma is simbó lica ocorreu no mesmo local e data

sição. Não se tratou apenas de mudança numérica. Nas suas e leições primárias, o opositor Partido Republicano teve de reali zar uma adaptação interna a fim de apoiar os novos candidatos mais direitistas, e com isso muitos dos pré-candidatos moderados perderam para seguidores do Tea Party a chance de se candidatar. Entre os novos e leitos destacaram-se figuras do Tea Party que encarnavam posições mais conservadoras, e pelo menos J4 dos 23 governado res republi canos eleitos têm relações ideo lógicas com o Tea Party. Alguns pleb isc itos sobre questões de fundo ideológico patentearam ainda mais a queda das esq uerdas no esp írito público. A Cali fó rni a, fe udo do " liberalismo" (sociali smo americano), recusou a liberação cio co nsum o ele maco nha . Iowa cassou três juízes ela Suprema Corte que vinham se destacando como " legisladores ele toga", impondo ou vetando por via judiciária normas democraticamente aprovadas. A deci são s ig nifi cou um a duch a ele água fria para a manobra que visa infiltrar o Judiciário para, por meio de le, implantar reformas esq uerdi stas que são recu adas pelo Legislativo ou por

obtida por um candidato opositor independente. O resultado pressagiou um ano péssimo para Obama e complicado para o establishment republicano moderado. Por pior que venha a ser o novo e leito, o fato significativo foi a " depos ição" dos Kennedy . No di a 27, o ex-presidente Manue l Zelaya abandonava fru trado a embaixada brasileira em Honduras, rumo ao exílio na República Dominicana. Foi o melancólico fim de uma espal hafatosa tentativa de golpe (atribuído falsamente aos adversários), excogitada em Caracas por Hugo Chávez. A OEA, a ONU, a União Ew·opéia, os EUA, os governos populi stas lati noamericanos tentaram forçar a imposição do "socialismo bolivariano" professado por Zelaya. Mas nada conseguiram, e Zelaya sumiu no vazio. Se um dos menores países do continente conseguiu repelir uma ofensiva geral das esquerdas apoiadas por poderosas forças do mundo, então a marcha da América Latina para o socialismo (ou comunismo) "do século XXI" está longe de ser inelutável. Apesar dessa impressionante mani festação popular de firmeza contra a via esquerdista que rejeitam, o governo brasileiro reluta ainda em reconhe-

onde o pregador Martin Luther King pro-

plebiscitos populares.

cer o governo estabelecido em Hondura

A direita nor1eamerlcana critica o paralelismo de Obama com o "marxismo , latino"

OBAMA ceiro, mal recebidas até nos altos ambientes capitalistas que financiaram sua campanha. Para a opinião pública americana, o estati smo e a coerção por meio de controles abusivos não eram a solução para os desequilíbrios que puseram em risco a finança mundial. Essas medi das do novo governo constituíram a gota d 'água que fez transbordar o copo, e o movimento anti-imposto e anti -diri gismo estatal conhecido como Tea Party alcançou inusitado impulso. Durante um grande congresso realizado em Nashville, o Tea Party passou a pregar a contra-revolução nos EUA, de acordo com a visão da imprensa. A polarização entre esquerda e direita tornouse cada vez mais aguda, perigosa e inflamada. Embora a linguage m libertária dos líderes do Tea Party contra toda "eli te" de Washington não fizesse as necessárias distinções, a base do movimento encheu-se de um público conservador, irritado pelo rumo dirig ista impresso ao país. No meio do ano o Tea Party j á ti nha assumido as causas da fa míli a e da vida e as bandeiras morais e religiosas conservadoras, que no início lhe eram estranhas. A opinião pública americana acentuou sua virada à direita, a ponto de se poder afirmar que em 20 mese Obama dilapidou as conquistas de seu partido nos últimos 20 anos. O parale li smo de CATOLICISMO

nunciou, diante de uma multidão fasc inada por um futuro sempre mai s à esquerda, ardoroso di sc urso a favor de uma igualdade rad ical. 47 anos depois, os pregadores do Tea Party foram aclamados quando prometiam "reviver os valores americanos": Deus, famí li a, liberdade e propriedade. Pe lo lado oposto, um grupelho de discípu los de Martin Luther King realizou no mesmo di a manifestação saudosista, cuja pri nc ipa l característica fo i o esq uálido número, o reduzido ardor e a baixa representatividade cios seus militantes. A inversão das propensões popu lares tornou-se patente.

Desaba o govel'lJO Bamcl< ll11ssein Obama No recente 2 de novembro, a espetacul ar queda de popularidade do governo Obama foi confirmada pel as urnas. O partido do presidente perdeu por larga margem o controle da Câmara de Representantes; ficou com exígua ma iori a no Senado; e a maior parte dos governos estaduais em di sputa passou para a opo-

soas. [. .. ] Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve deforne e pedissem libertação ". 12 Parlamentares e jornali stas bras il e iro s apo ntaram "cinismo atroz", "viés ideológico", "delírio autoritário", "completa ignomínia " e "coleçcio de absurdos" nessas palavras. 13 A cooperação petista com a ditadura cubana intensificou-se ao longo do ano, prometendo pesados investimentos para segurar o calamitoso naufrágio da economi a cubana. A ditadura dos Castros cancelou o almoço gratuito para os funcionários públi cos e "tran sferiu" 500.000 del es para o "setor privado", inexistente na ilha comunista ...

Viés de pesq11isas não impede movimentos profundos A idoneidade das pesqui sas de opinião ficou se nsivelmente abalada em 201 O como medidoras da opinião pública. O paroxismo dessa parcialidade ocorreu nas eleições presidenciais da Colômbia. O levantamento do instituto Datexco Company chegou a atribuir ao candidato opositor, Antanas Mockus, 38,7% das intenções de voto, e ao governista Juan Manuel Santos 26,7% . 14 No cômputo dos votos, o candidato do presidente Uribe obteve 46,56%, mais que o dobro do esquerdista Mockus (21,5%). No segundo turno, 69, l % contra apenas

por vias democráticas e aceito por países não "bolivarianos".

América Latina: desmanche do populismo S11cessivas perdas em nosso Continei1te Janeiro trouxe más notícias para as esquerdas elas Américas. No d ia 17, Sebastián P iíiera foi e leito pre idente no Ch ile, o primeiro di reitista - ou não esquerd ista ostensivo eleito em 50 anos de eleições chilena . A Conce rtaci6n (coa lizão ele esquerdas e centro-esq uerda) , sem idéias atraentes nem novos personagens, sofreu rejeição por parte do povo. Logo no di a seguinte, algo de inac red itável aco ntec ia nos EUA. A cadeira de senador por Massachusetts, ocupada durante 57 anos pe la famí li a Ken nedy, de destacada militânc ia esque rd ista , foi

Lula compam dissidentes cubanos a criminosos Em março o presidente Lula fez mais urna viagem a Cuba, marcada pela cálida amizade com os ditadores com unistas Fidel e Raúl Castro. Enquanto estava na ilha, fa leceu o disside nte Orlando Zapata Tamayo, que fazia greve de fo me. Essa morte causou profu nda impressão em nível internacional. Os diss identes cubanos haviam enviado carta ao presi dente Lula (o Itamaraty negou tê-la recebido) implorando a in tercessão brasileira a favor do grevista de fo me ainda vivo . Oswaldo Payá , o ut ro diss idente cubano, declarou ao "Globo": "O governo Lula não teve uma palavra de solidariedade com os direitos humanos em Cuba, tem sido um verdadeiro cúmplice" . 11 Em resposta aos dissidentes, o presidente Lula declaro u: "Greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para libertar pes-

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EUROPA: "extrema direita" vence em bastiões socialistas "Extrema dil'eita " - peça chave na Holanda

Após as forças armadas colombianas eliminarem Jorge Bricefio (Mono Jojoy), recuperam material eletrônico com importantes dados sigilosos da guerrilha

27 ,5% do candidato protegido pelas sondagens.

Na Colômbia, as FARC decapitadas A imagem do novo presidente colombiano tornou-se reforçada em setembro, após as forças armadas liquidarem Jorge Bricefio (Mono Jojoy) , o chefe mi li tar das FARC. A Operação Sodoma (uma alusão à cidade de todas as sevícias e crimes) dominou o quartel-geral da guerrilha narco-marxista - um bunker de concreto na selva defendido por mais de mil subversivos - abatendo muitos deles, inclusive líderes de segundo e calão. O golpe foi desmoralizador para a esquerdas, "amigas" da organização terrorista. No bunker foi encontrada verdadeira mina de dados sobre a rede de cumplicidades nacionai s e internac ionai das FARC: 15 computadores, 94 pendrives e 14 discos rígidos externos com os ai·quivos e e-mails do movimento guerrilheiro. Nos mesmos dias a senadora Piedad Córdoba foi destituída pela Procuradoria Geral de Bogotá, acusada de colaboração com as FARC. A Justiça determinou também sua inelegibilidade por 18 anos. O presidente Santo , sucessor de Uribe, exibe hoje níveis muito altos de popularidade. CATOLICISMO

Chavismo, matreil'Íce e morte-smp1'esa Longo seria enumerar a sucessão de descabeladas medidas comunistizantes do presidente venezuelano Hugo Chávez. Na superfície, poucos governos podem comparar seu prestígio ao do seu "sociali smo bolivariano". Mas como anda ali a situação nos e tratos profundos da opinião pública? As e leições legis lativas de setembro computaram 51 % dos eleitores votando em candidatos da oposição, enquanto os candidatos chavistas obtiveram só 46,4%. Mas resultados assim, que em países democráticos sérios trariam graves problemas para o governante, podem ser ali resolvido por uma matreirice política: foi redese nhado o mapa eleitoral, para que o caudi lho venezuelano ficasse com 98 deputados contra 67 da oposição! Chávez ludibriou assim a manifestação da vontade do eleitorado, mas pouco adianta tapear para que não se perceba o que ocorre na profundidade, pois um dia a realidade acaba aflorando. Como se os movimentos profu ndos de opin ião não trouxessem já suficientes más notíci as para o esquerdismo continental , em outubro fa leceu subitamente o ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Seu desaparecimento criou um vazio no cerne da máquina política, que conduzia o país vizinho pelas sendas do populismo esquerd ista.

Enquanto o Tea Party cresc ia nos EUA, na Europa os partidos rotulados de "extrema-direita" obtiveram resultados não menos espetacul ares . Na li beral Holanda, o Partido Pela Liberdade - PVV, do deputado Geert Wilders (foto embaixo) , obteve resultados históricos nas eleições municipais, transformando-se numa força sem a qual a Holanda não é governável. Após meses sem governo, o PVV foi aceito num arranjo peculiar. Não lhe foram concedidos ministérios, mas em troca de apoio parl amentar o governo de centro-direita assumiu algumas de suas reivi ndicações anti-islâmicas e anti- li beralização da maconha. O PVV virou modelo para outras agrupações análogas no norte da Europa e na Alemanha.

também considerada "extrema direita", arra ncaram das esquerdas o controle de quatro regiões nevrálgicas da Itália, incluindo o Lácio, o Piemonte e o Vêneto. Em abril, na Hungria, o prutido de centro-direita Fidesz obteve mais de dois terços das cadeiras do Parlamento, e 47 cadeiras a extrema-direita anti-UE. O Partido Socialista (maquiagem do antigo Partido Comunista), até agora no poder, conseguiu eleger só 59 deputados. Para o diário parisiense "Le Monde", trata-se de uma "revolução conservadora de uma amplidão inédita na Europa Oriental". Em junho, na Eslováquia, os partidos de centro-d ireita conquistaram maioria parlamentar. O e leitorado sueco pedia valores, família, moral, menos totalitarismo da UE, menos impostos, limites à "invasão islâmica" e liberdade de expressão. Em setembro, o partido Democratas da Suécia (SD), outro rotu lado de "extrema-direita", fez rumorosa entrada no Parla-

mento com 20 deputados. Repetiu-se a solução política da Holanda: o SD fez um acordo com a direita que governa o país. O Partido Social Democrata, que encarnou o mito do "sociali smo sueco" durante o sécu lo XX, sofreu assim sua pior derrota em qua e 100 anos, afigurando-se como um grupo "em ruínas". Em outubro, o Partido da Liberdade da Áustria, também dito de "extrema direita", conseguiu 27% dos votos nas eleições regionais e se transformou no segundo maior partido de Viena, duplicando sua votação. O Partido Soc ialista, atualmente no poder, obteve o segu ndo pior resultado de sua história. Mais um plebiscito na Suíça aprovou a expulsão dos imigrantes condenados por crimes graves. A consulta popular fo i promovida pelo maior partido nacional , a UCD, também etiquetado como "extrema direita", e que anteriormente havia promovido o plebiscito que baniu a construção de minaretes no país.

Em abril, as gigantescas colunas de cinza e fumaça expelidas pelo Eyjafjallajokull atingiram 11 km de altura, provocaram

o fechamento do espaço aéreo europeu e deixaram milhões de passageiros longe de seus lares.

Mundo: descompassos e rachaduras universais Natureza esvazia prete11sões ecologistas A pregação ambientali ta visando um governo mundial que controle o clima contin uou durante o ano inteiro, embora baseada numa estultice anticientífica segu ndo a qual o homem e sua civili zação determinariam o clima. Momento re levante dessa ofensiva foi a conferência da ONU sobre mud a nças c lim áticas (COP L6), que reuniu delegações de 200 países em Cancún, Méx ico, no mês de dezembro. O encontro produzi u acordos de fac hada, vazios e inconclus ivos, enquanto uma onda de frio incomum varria a Europa e pre iclentes dos países mais importantes . e ausentavam da reu ni ão. Em 201O, a pequenez das obras humanas face às forças incomensurávei

Da Itália até a Suécia, o socialismo despe11Ca Em março, malgrado sucessivos escândalos atribuídos ao premier italiano Sílv io Berl usconi , seus ali ados da Liga do Norte, JAN EIRO 20 11

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No Rio de Janeiro, no final do ano, os episódios da retomada dos morros de Vila Cruzeiro e do Alemão pelas forças policiais, do Exército e da Marinha evi denciaram a evolução do narcotráfico para uma organização com dimensões de guerrilha, como as FARC. O Exército deverá manter a ocupação dos morros, sob pena de imediato retorno dos narco-guerrilheiros, e o Brasil ficou assim num estado de pré-guerrilha urbana.

No plano moral, acontecimellto surp1·eendente

que Deus comunicou à natureza patenteouse durante as explosões de um vulcão pouco conhecido da Islândia. Em abril, as gigantescas colunas de cinza e fumaça expelidas pelo Eyjafjallajokull atingiram 11 km de altura, provocaram o fechamento do espaço aéreo europeu e deixaram milhões de passageiros longe de seus lares. Os demai meios de transporte do continente, dos mais desenvolvidos tecnologicamente, entraram em colapso pelo excesso de viajantes angustiados, que desejavam voltar para casa. Essa situação da Europa afetou o movimento aéreo nos recantos mais longínquos do planeta.

Furor islâmico multiplica mártires O avanço fundamentalista islâmico intensificou-se especialmente contra os cristãos no Oriente, animado pelos sinais de afroux amento e ecumenismo vindos do Ocidente. Em junho, o bispo D. Luigi Padovese, presidente da Conferência Episcopal da Turquia, morreu degolado pelo seu motorista. O assassino comemorou o crime do alto do telhado da casa, bradando: "Matei o grande satanás. Alá é grande". As autoridades turcas e vaticanas preferiram ignorar a natureza do delito, e o corpo do prelado foi enviado de volta para a Itália como carga simples, não estando presente nenhum re•

CATOLICISMO

presentante diplomático vaticano para recebê-lo no aeroporto de Milão. Em novembro, fanáticos islâmicos martirizaram mais de 40 fiéis na catedral sírio-católica de Bagdá, em meio a uma onde de outros atentados mortai s contra cristãos. Segundo os fundamentalistas, isso foi feito em obediência ao Alcorão.

Crescimento da violência universal Enquanto nas profundezas da opinião pública crescia o clamor por ordem, moralidade e segurança, o mundo ficou ainda menos pacífico, segundo o Índice Global da Paz (IGP). As guerras diminuíram em número, mas as taxas de homicídio e crimes violentos aumentaram de modo vertiginoso, parti cularmente na América Latina. Os índices de violência mortal no Brasil, por exemplo, superaram largamente os de Bagdá, cidade que vive em estado de guerra. O recorde de público alcançado pelo filme "Tropa de Elite 2", como também o entusiasmo suscitado por essa película quando eram exibidos os episódios mais violentos de combate ao crime, serviu como manifestação do anseio popular por uma ação pública que reprima o crime organizado e puna suas cumplicidades políticas, muitas vezes dis imutadas sob um falaz manto de "direitos humanos".

Em novembro, em livro-entrevista publicado pela Editora Vaticana, Bento XVI afirmou : "Pode haver casos justifi cados singulares, por exemplo, quando um prostituto [foi esclarecido que o termo vale para os dois sexos] utiliza um preservativo, e este pode ser o primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver de novo a consciência sobre o fato de que nem tudo está permitido e de que não se pode fazer tudo o que se quer. No entanto, este não é o verdadeiro modo para vencer a infecção do HIV É verdadeiramente necessária uma humanização da sexualidade". Essa fímbria de possibilidade de uso do preservativo serviu de pretexto para um estardalhaço publicitário, procurando dar a idéia de uma ruptura no ensinamento moral tradicional da Igreja. A Santa Sé, entretanto, reafirmou que Bento XVI não falou como Papa, mas como doutor particular. Portanto, suas palavras não envolvem em nenhum grau o Magistério pontifício e não pedem a adesão dos fiéis. As mais dive rsas, contraditórias e reprováveis interpretações foram veiculadas por órgãos de imprensa e expoentes do progressismo católico, que há décadas contestam o ensinamento da encíclica Humana! Vitce (1968) de Paulo VI - este sim magisterial , e que condena todos os métodos e instrumentos anticonceptivos como "intrinsecamente imorais e perversos". O "pecado de Onã", que na época atual é praticado com o preservativo, era defendido em confessionários e em institutos de ensino eclesiástico infiltrados pelo progressismo. Esses ambientes pretenderam que a exceção apontada a título pessoal por Bento XVI abria

ca minho para uma libe rali zação, que concluiri a numa ruptura fo rmal com 2.000 anos de ensinamento do Magistério da Igreja, objetivo que eles há tempo preconizavam.

Wikileaks: "11 de sctcmbl'o da diplomacia intemacional" Em novembro, cinco dos mai ores ó rgãos da imprensa mundial - "The New York Times", "Le Monde", "The Guardian", "Der Spiegel" e "El País" iniciaram o que o mini stro das Rel ações Exteriores itali ano Franco Frattini qualificou de " lJ de setembro da diplomacia internacional". 15 Esses jornais deram espetac ular cobertura à publicação feita pelo mjlitante anarqui sta Juli an Assange, de 251.287 documentos secretos da diplomacia americana . Estes envolvem os paí es ali ado. dos EUA , ou com os quai Washington manté m algum tipo de re lac io na me nto. A publicação no site Wikileaks foi de molde a intox icar o relacionamento internacional e reduzir as po sibilidades de se reso lver diplomatica mente problemas candentes. Em maio, Julian Assange explicou no "Oslo Freedom Forum" o objetivo que visou: provocar no Ocidente um abalo semelhante ao da perestroika, que motivou a queda do regime sov iético. Para ele, tratar-se-ia agora de provocar uma queda análoga da ordem capitali sta ocidental . O qu e perma neceri a de pé e ntão? E mbora Assange guarde sil êncio a respe ito, não é difícil intuir que ficariam postas as condi ções para instalar um estado de co isas anárqui co e tribal, marcado por reli giosidades do gênero oculti sta tipo Nova Era, no qual Assange milita desde a ua primeira juventude.

mundo revolucionári o que e agita na esfera pública e as tendênci as que correm em sentido inverso em camadas profundas da humanidade. Que abalos, que crises, que tragédias ainda poderão acontecer? É uma aventura descrevê-los, mas não é imprudente supor que acontecerão. Nesse caso, qu al o caminho para o católico? É o caminho da confiança, pois a Igreja funda- se na promessa divina de que as forças do mal jamais prevalecerão contra Ela. É irrac ional supor que essa promessa não terá valor em 201 J. Qu anto mai s o católico fortalece a . ua confiança, tanto mai s a Providênci a inclina-se clemente em favor dele. Tais atos nos fazem sentir muito mais a misericórdia de Nossa Senhora, que prometeu em Fátima a vitória de seu [maculado Coração, e não deixará de conceder nova graças que encaminhem os fiéis para esse triunfo, ainda que se devam atra-

vessar borrascas e crises até agora inimaginadas. Assim , com a confiança posta na promessa divina e na Mãe de Deus, os católicos entramo em 20LJ. • E- mail para o autor: catol icismo@terra co m

Notas: 1. " Folha de S. Paul o", 17- 1- 1O. 2. UOL Notícias, 22- 1- 1O. 3. "O Estado de S. Paulo", 3-2- 1O. 4. Idem, 4- 10- 1O. 5. Idem, 9- 10- 1O. 6. "O Globo", Rio , 5- 10- 1O. 7. "O Estado de S. Paulo" , 9- 10- 10. 8. "Fo lh a de S. Paul o", 14- 10- 10. 9. Zeni t, 15- 11- 1O, http://www.zenit. org/artic1e26537 ?1= portugucse 1O. "O Estado de S. Paulo", 19- 11 - 10. 11 . "O G lobo", 24-2- 10. 12. "O Estado de S. Paulo", 10-3- 10. 13. Idem, 1O e 11 -3- 1O; "Fo lh a de S. Paulo", 11 3- 10. 14. Idem , 1-5- 10. 15. Idem , 29- 11 - 1O.

2011: hora da confiança em Nossa Senhora A marcha esqui zofrênica dos acontecime ntos não parece desti nada a se deter em 20 11 , nem mesmo em vi rtude de conve ni ências razoáve is. Por isso, para o ano que começa não é difícil supor que cresça o abi mo aberto entre o

br

Nossa Senhora da Confiança

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Este imperador, ao falecer em 337 - quando Marcela tinha aproximadamente 12 anos - dividiu o Império Romano entre seus filh os Constantino II, Constante e Constâncio. Com a morte dos dois primeiros (340 e 350) e de Magnêncio (353) - que toma ra o lu gar de Constante - tornou-se Constâncio. Embora tenha determi nado que se fechassem todos os templos pagão e seus cultos, foi o único imperador a aderir à here ia ariana. Santo Hil ário de Poitiers odescreve como "uma pessoa ím-

Santa Marcela Digna discípula de São Jerônimo G rande dama romana do século IV, viúva aos 22 anos, dedicou-se ao estudo das Sagradas Escrituras e consagrou a Deus sua viuvez 11 PLINIO MARIA SOLIMEO

O

Imperador Constantino

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CATOLICISMO

principal historiador de Santa Marcela foi seu diretor espiritual, São Jerôn imo, grande Doutor da Igreja e mestre das Sagradas Escrituras, que após o faleci mento del a, escreveu a Principia, pupila da Santa, a Carta 127, com sua biografia. Baseiam-se nessa fonte privilegiada todas as hagiografias sobre Santa Marcela, como também o relato que faremos. 1

Da mais alta socie<ladc romana Marcela nasceu por volta do ano 325 em Roma, tendo como ancestrais cônsules e governadores de províncias. Cresceu em meio ao luxo, numa família ilustre, freqüentando os mais altos ambientes de Roma. A presença pagã ainda era forte no Império quando M arcela nasceu. Havia decorrido pouco mais de uma década do Edito de Milão (ano 313), pelo qual Constantino tirou a Igreja das catacumbas, dando-lhe liberdade e permitindo sua expansão.

no trono. Foi uma medida temporári a, pois o mesmo Alarico retornou dois anos depois, invadindo e saqueando a c idade a ferro e fogo.

Co11sagra a Deus sua viuvez /Jrecocc Com a ed ucação qu e recebe u, Marcela tornou-se uma donzela muito culta, capaz de manter conversação em qualquer campo do saber. Per-

pia, que não sabe o que é sagrado; que afasta os bons das dioceses, para dá-las aos maus; que, por intrigas, encoraja a discórdia; que odeia, mas quer evitar suspeitas; que mente, mas quer que ninguém descubra; que é amigável na aparência, mas a quem falta toda bondade de coração; que, em realidade, fa z somente o que quer, mas esconde de todo mundo seu obj etivo". 2 Constâncio faleceu de ráp ida doença em 361, enclo batizado em seu leito de morte por um bispo ariano. Santa Marcela viveu parte de sua vida durante o reinado desse imperador. Roma j á não era mais a o rgu lho a cidade que causava inveja a todos os povos. Com a divi ão do Império e a importância que adq uiriu Bizâncio ao se tornar Co n tantinopla, perdera muito de sua grandeza. Os imperadores posteriores a Constantino pouco permaneceram em Roma, escolhendo outras cidades do Impéri para capital , como Mil ão e Ravena. Durante a vicia de Santa Marcela, a Cidade Eterna tornou -se cobiçada como pos ível presa por vário povos bárbaros. Alarico, rei cios visi godos , a sitiou duas vezes em 408. O Senado, pressionado por uma minoria ele pagãos, tratou com o invasor, depôs o imperador Honório e instalou Atalus

deu o pai após a ado lescência, e o marido sete meses depois ele casada. Jovem, bela, de alta estirpe, logo apareceram vários pretendentes à sua mão, mas ela tinha clecicliclo consagrar-se inte iramente a Jesus Cristo. Até essa época, nenhuma grande clama da C idade Eterna tin ha fe ito profissão de vida monástica, e era mesmo degradante aos o lhos das classes mai s elevadas pensar em tal possibilid ade. Teve portanto que desafiar o ambiente mundano que a cercava, ao tornar- e a primeira gra nde clama romana a professar abertamente a vida ele devoção. E ntreta nto,

"bela, rica, de alta linhagem, muito culta, perfeitamen/.e ao nível de ludo o que Roma encerrava de mais refinado e erudito, ninguém se atrevia a desconsiderá-la". 3 As e lites, quando dão o bom exempl o, ar rasta m para Deus. Marcela entrou em contacto com alguns sacerdotes de Alexandria que se haviam refugiado e m Roma, devido à persegui ção ariana. De les ouviu o re lato ela vida de Santo Antão, ainda vivo, e de como func io nava m os moste iro s d a Tebaida fundados por São Pacô mi o para virgens e viúvas. Resolveu pautar sua vida pela dessas virgens ela solidão. Vestiu -se co m uma pobre túnica, passou a jejuar moderadamente por causa ele sua frág il saúd e, e a dedicar lon go tempo à oração e ao estudo das Sagradas Escrituras. Aos poucos algumas virgens e viúvas, seguindo seu exemplo, uni ramse a ela e passaram a ded icarse também à vida ele piedade e ao estudo. Entre estas destacamos Santa Paula, de tão alta estirpe quanto a sua, que também tinha consagrado a Deus sua viuvez. São Jerônimo afi rma que "foi na cela de Marcela que Eust6quia [filha de Paula, ainda criança], esse paradig-

ma de virgens,foi gradualmente formada". Mais tarde Santa E ustóquia mudou -se com s ua mãe para a Terra Santa, a fim de traba lharem com São Jerônimo.

Sob a <lircção cspil'iWal de São ,lel'ônimo No ano 382 o imperador Teodósio (com razão chamado "o Magno") e o Papa São Dâmaso resolveram convocar um sínodo em Roma para combater as heresias, que pululavam principalmente no Oriente. Entre os q ue compareceram figuravam Santo Ep ifânio, bispo de Salamina (Chipre), e São Paulino, bispo de Antioquia. Com

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eles veio a Roma o monge Jerônimo, já então com fama de grande exegeta. Adoecendo Santo Ambrósio, que deveria ser o secretário do sínodo, São Dâmaso nomeou São Jerônimo para substituí-lo. Esse futuro Doutor da Igreja assinalou-se tanto por sua erudição e segurança de doutrina que, terminado o sínodo, São Dâmaso escolheu-o para seu secretário particular. O próprio São Jerônimo a isso · se refere em carta de 409 à viúva Aguerruquia, nobre dama gaulesa:

"Há muitos anos, quando eu estava ajudando Dâmaso, bispo de Roma, em sua correspondência eclesiástica, e escrevendo suas respostas a questões a ele dirigidas pelos concílios do Ocidente e do Oriente ... " (Carta 123, 10). Santa Marcela, estudiosa erudita das Escrituras, tudo fez para que o santo a dirigisse, com suas discípulas, nos estudos e na vida de piedade. Conta São Jerônimo: "Em

minha modéstia, evitava os olhos das damas de alta categoria. Contudo ela pleiteou tão pressurosamente - 'opo rtuna e importunamente' (2 Tm 4, 2), como diz o Apóstolo - que por fim sua perseverança superou minha relutância. E, como nesses dias meu nome tinha alguma fama como estudante das Escrituras, ela nunca veio me ver sem que me perguntasse alguma questão relativa a elas; nem aquiescia logo às minhas explicações, pelo contrário, as debatia. Não era entretanto para discutir, mas para aprender as respostas às obj eções que poderiam ser f eitas aos meus pronunciamentos". Com admiração, acrescenta: "Quanta virtude e habilidade, quanta santidade e pureza encontrei nela, espanto-me em dizer.[. .. ] E o que em mim era o fruto de longo estudo e, como tal, feito pela constante meditação que se tornou parte de minha natureza, isso ela saboreou e

em outra Jerusalém. Os estabelecimentos monásticos para virgens tornaram-se numerosos, e os eremitas lá eram em número incontável" (id. nº 8).

Alarico, quando invadiu Roma, mandou flagelar Morcela poucos dias antes de sua morte

f ez como próprio dela" (Carta J27, 7). Quando São Jerônimo retirouse para Belém, Santa Marcela ficou como árbitra em matéria de Sagrada Escritura para os di scípu los que o santo deixara em Roma, inclusive alguns sacerdotes.

Zelosa pela pureza da fé, resistente à heresia Santa Marcela tinha uma irmã mais nova, Santa Asélia, que fora consagrada a Deu s desde o seio materno, e da qual diz o Martirológio Romano a 6 de dezembro :

"Virgem que era abençoada desde o seio de sua mãe, como escreve o bem-aventurado Jerônimo. Até sua velhice passou toda a vida em j ejum e orações". Embora vivessem sob o mesmo teto, as duas irmãs pouco se viam e pouco se falavam, cada uma entregue às suas próprias orações e mortificações. Falando ainda à virgem Principia na carta citada, diz São Jerônimo: "Vós duas moráveis na mesma

casa e ocupáveis o mesmo quarto, de maneira que todo mundo na cidade soube com certeza que encontrastes nela uma mãe, e ela em vós uma filha. Vós duas encontrastes nos subúrbios uma reclusão monástica, e escolhestes o campo em vez da cidade para vossa solidão. Por longo tempo morastes juntas, e como outras senhoras pautaram sua conduta pelos vossos exemplos, tive a alegria de ver Roma transformada

São Jerônimo diz que Santa Marcela estava atenta à pureza da fé. E quando surgiram em Roma, ou nela se tornaram conhecidas algumas heresias como a dos pelagianos, ela pôs-se em guarda: "Cons-

ciente de que afé de Roma - louvada por um apóstolo (Rm J, 8)estava agora em perigo, e de que essa nova heresia estava levando consigo não somente padres e monges, mas também muitos leigos, [. .. ] ela resistiu a seus mestres, escolhendo agradar antes a Deus que aos homens " (ld. nº 9). Em 41 O, quando Alarico e os seus bárbaros invadiram Roma, encontraram no prestigioso bairro do Aventino a casa de Santa Marcela. Apesar dos seus 85 anos de idade, ela os recebeu sem nenhum temor. Quando perguntaram por ouro, mostrou-lhes seu pobre hábito como prova de que vivia na pobreza. Mas eles não acreditaram, e flagelaram-na impiedosamente. Esquecida de si mesma, ela só pedia que poupassem Principia, então ainda nova, pois sabia que a ela, octogenária, eles não ultrajariam, o mesmo não se dando com a jovem virgem. Afinal os bárbaros levaram as duas para a basílica de São Paulo Apóstolo, e lá as abandonaram. Poucos dias depois, Santa Marcela entregava sua alma a Deus (ld. nº 13). A fes ta de Santa Marcela comemora-se a 31 de janeiro. •

Cristandade não é de nenhum modo a sociedade idealmente bem organizada, em que tudo funciona bem, mas é muito mais. É a ordem de coisas em que o espírito humano subiu tão alto que ele se exprime em símbolos nos quais o homem julga superada toda a beleza contenível nesta Terra e se lembra do Paraíso - julga superada qualitativamente a própria beleza do Paraíso e se lembra do Céu. Plinio Corrêa de Oliveira

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Notas: 1. C fr. Saint Jerome, Letters , New Advent, CO-Rom. 2. Kl e me ns Uiffler, Constan. tiu s, The Ca th o li c E ncyc lo ped ia, CD - Ro m editi on. 3. Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993, tomo I, p. 152.

Petrus Editora Ltda. Rua Javaés, 707 - Bairro Bom Retiro - São Paulo-SP- CEP 01130-010 Fone (11) 3331-4522 -Fax (11) 3331-5631 E-mail: petrus@livrariapetrus.com.br Visite nosso site na internet: www.livrariapetrus.com.br

CATOLICISMO


Belezas criadas remetem para a Beleza suprema PI GREGORIO VIVANCO LOPES

ua ndo o ecologistas criticam os males da revo lução in d ustri a l - fum aça, ruídos de moto res, odo res pestilenciais, sujeira de graxa, etc - pode-se até cone com eles. Não é possível acompanhá- los, poré m, na doutrina mi serabilista e anticivilizatóri a que elaboraram, e para cujo fi ns trabalham. Seus ini ciados mais recônditos chegam mesmo a di vini zar a natureza e a revoltar-se contra o Cri ador. O te ma fica apenas e nun ciado, não é aqui o lu ga r de exp laná-lo. Queremos somente atrair a atenção do leitor para o fato de que essa doutrina anticatólica le va a uma péssima conseq üência prática, aceita pela generalidade dos ecologistas : ao referirem-se à natureza, o mitem o fato r beleza, portam-se como cegos em relação às maravilhas que Deus criou. Não e tamos falando equer das artes, frutos da cri ati vidade do homem. A pura natureza é considerada por eles tão-somente como algo em si mesmo ex istente, independente do que ela pode simboli zar. Tanto faz ser um de licado be ij a-flor como um rato repugnante, uma esplêndida rosa perfu mada ou achamada fl or-cadáver, que exala um cheiro insuportável. Tudo é natureza, para eles. O ab urdo de tal tendência pode ser avaliado conte mplando-se a beleza nas cinco fo tos que aqui reproduzimos: J - Um caminho fl orido, protegido por árvores centenárias, mais parece uma imagem do paraíso; 2 - O sol poente, como um foco de luzes e cores, visto por detrás do tênue véu da galhari a de uma árvore comu m; 3 - Um nobre e belo exemplar da Íflmosa raça de cava los lip izzaner ; 4 - U m céu de tempestade no deserto; 5 - Colôni a de corais no Havaí. Belezas como estas remetem o espírito humano para a ex istência de uma Beleza suprema, fo nte e inspi ração de todas as belezas cri adas - o próprio Deus Nosso Senhor. Isto os ecologistas radicais rejeitam. •

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E- mail para o autàr: ca1olicismo@ terra.com br

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CATOLI C ISMO


[Antigamente, Ci rcun cisão do Menino Jes us] Primeiro Sábado do mês

2 São Basílio Magno, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Cesaréia, 379. B ispo considerado o "Colosso da Igreja orienlal", mereceu o título de "Pai dos monges do Oriente", porque suas regras deram forma definitiva à vida monástica.

3 Santa Genoveva, Virgem

+ Paris, 512. Consagrando a Deus

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1:J

EPIFANIA DO SENHOR, OU SANTOS REJS

Santo Hilário de Poiticrs, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

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+ França, séc. IV. O Atanásio do

São Raimunclo de Penhaforte, Confessor

Ocidente lutou ac irraclamente contra os arianos, que o submeteram a rude perseguição e longo desterro, durante o qual escreveu 12 Livros sobre a Santíss.ima Trindade, que lhe valeram o títu lo ele Doutor da Igreja.

+ Espanha, 1275. Dominicano, Príncipe dos canonistas e grande confesso r, fo i igualmente célebre por seus milagres. Com São Pedro Nolasco fundou a Ordem das Mercês, para a redenção dos cativos que eram ap ri sionados pelos muçulmanos. Pl"imeira Sexta-feira do mês

8 São Pedro Tomás, Bispo e Confessot'

+ Ch ipre, 1366. Carmeli ta, encarregado pontifício de delicadas mi ssões diplomáticas, depois Bispo e Legado uni versa l para todo o Oriente.

Santo l ligino, Papa e Mártir

des abades de Cluny, cuj o papel fo i primordia l na formação ela Idade M édia. A e le devemse a in trodução da Festa de F inados e, para controlar o es pírito extremamente belicoso do tempo, a Trégua de Deus, que proibia ações bélicas ou pilhagem ela quarta-feira à tarde à segunda-feira de manhã.

5 São Simão Eslilita , Confessor

+ Síria, 459. Construiu uma coluna para isolar-se em seu topo. Desse púlpi to improvisado falou a imperadores, reis, rebgiosos, e converteu muitos pagãos.

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+ No la (Itália), 256. Sacerdo-

São Sebastião, Mál'Lir

te, passo u por vários suplícios nas perseguições dos imperadores roma nos Décio e Valeria no, saindo in cólum e. Após ed ifica r a todos com sua santa vida, fa leceu no Senh or.

l5 + Subíaco, 584. F ilho de um

4 Santo Odilon, Abade + Cluny, 1048. Um dos gran-

14

H

São Guilherme de Bourges, Bispo e Confessor + 1209. Gra nde amante da solidão, entro u na Ordem ele Cister, de onde a obed iência o tirou para que ocupasse a Sé arquiepi scopa l ele Bo urges, no centro da França.

11 + Roma, 142. Grego ele orige m, por sua virtude e corage m foi esco lhi do para suceder a São Telésfo ro, que sofrera o martírio. L utou contra vários heresiarcas, animou os cristãos perseguidos pelos pagãos e acabou e le mesmo dando sua vida por Cristo.

l2 São Bento Bispo, conl'essor + Inglaterra, 690. Abade de Weannouth e ele Jarrow, na Inglaterra, buscou em Roma arquitetos, vidreiros, pintores e músicos pm·a instru.ir o · ingleses, trnbalho continuado por seu discípulo São Beda, o Venerável.

+ Roma, 270. M ário, a esposa

São Félix de Nola , Confessor

Batismo de Nosso Senhor

sua virgindade aos 14 anos, vivia na casa de wna tia, levava vida de extrema penitência e contínua oração. Quando os hunos ameaçavam invadir Paris, Genoveva saiu às mas exo1tando os parisienses à penitência; inesperadamente, e sem razão aparente, Átila afastou-se de Paris com seus bárbm·os.

1H Santos Mário e Companheiros, Má rt ires M arta e dois filhos viajaram da Pérsia a Roma para ve nerar os sepulcros de São Pedro e São Paulo. Ao visitar depois os cristãos nos cárceres, foram também detidos e martirizados.

Santo Amaro ou Mauro, Confessor

lO

aos 13 anos, foi mmt.irizacla pouco depois, por ter-se recusado a queimar incenso aos deuses.

senador romano, aos 12 anos foi entregue a São Bento de Núrcia para ser ed ucado. São Gregório Magno o exalta pelo seu amor à oração e ao silêncio. Avançado na virtude, apesar de sua pouca idade, foj por São Bento incumbido de dirigir mon ges e mosteiros.

16 São Marcelo 1. Papa e Mártir + Roma, 309 . Reorganizou a Hierarqu ia eclesiástica. Sob Maxênc io, foi ex ilado e obrigado a viver num estáb ulo , onde morreu em con eqüência dos maus tratos.

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+ Roma, 288. Centurião da guarda pretoriana de Diocleciano, sustentava com zelo apostó lico os confessores da fé e os mártires. Denunciado, fo i trespassado com flechas. Curado milagrosamente, foi açoitado até a morte. Tornou-se um dos santos ma.is populares em toda a Igreja.

21 Santa Inês, \lit•g ' lll e Mártir + Roma, 304. A forta leza desta menina de 13 anos assombrou seus verdugos, que no entanto a mataram cruelmente. São Dâmaso e Santo Ambrósio cantaram entusiasmados seus louvores.

22 Santos Vicente e i\ 1111st{1cio, Már•tir•cs + 304 e + 628. São Vicente foi um valoroso diácono ele Zaragoza, que para provar sua fidelidade a Cristo enfrenlou loda sorte de tormentos, célebres na Históri a da Igreja. Anastá ·io foi um monge persa decapitado com outros 70 cristãos pelo rei osr s.

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Santo Antão Abade, Conl'essor

Santo llclcfonso, Bispo e Conl'cssor·

+ Egito, 356. Viveu longos anos

+ Toledo, 667. Discípul o de Santo Isidoro, foi Arcebispo de Toledo e zelosíssimo dcf ns r da virgindade de Maria conlra os hereges, escrevendo um livro para refutá-los.

ele pen itência no deserto, onde resistiu como herói católico a violentas tentações cio demôn.i o.

18 Santa Prisca ou Priscila, Virgem e Mát'Lir + Roma, séc. 1. É considerada por muitos a primeira mártir do Ocidente. Batizada por São Pedro

24 São Francisco de Soles. Bispo, Conl'cssol' e Doutor da lgr-eja

+ Annecy, 1622. Bispo de Genebra, animado de profundo amor de Deus e das almas, era dotado de bondade e suavidade excepcionais no trato, sólida cultura e ortodox ia. É um mestre da vida espiritual, sendo também patrono dos jornali stas e publicistas católicos. Foi muito odiado pelos protestantes calvini stas, que não lhe permitiram tomar posse da sua diocese de Genebra.

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teólogo da Igreja foi, aos ci nco anos, confiado aos monges beneditinos de Monte Cassino, entrando depo is para a Ordem Dominicana, da qual é a maior glória. Com razão foi cognominado Doutor Angélico, por sua pureza de vida e e levação de doutrina, que transcende a pura inte ligê ncia humana. É o patrono das escolas católicas. Sua doutrina filosófica e teológica recebeu e logios de vários Papas, por sua sapiencialidade e penetração.

Conversão de São Paulo Apóstolo Ao cair do cavalo, o perseguidor dos cristãos tornou-se Apóstolo. Instruído pelo próprio Cristo Jes us, foi um dos mais ardorosos proclamadores do cristianismo . Submisso ao Papado, soube entretanto resistir a São Pedro, com respeito e firmeza, na questão dos judaizantes. São Pedro, demonstrando grande e levação de alma, acabou por dar-lhe razão.

26 São TimóLeo, MárLir, e Sã o Tito, Confessor + Ásia Menor, séc. I. Foram dois discípulos de São Paulo. A Timóteo, seu preferido e fie l companheiro, São Paulo escreveu duas epístolas cheias de conselhos. Foi Bispo de Éfeso e mo"rreu apedrejado pelos pagãos. São Tito também acompanhou o Apóstolo em algumas viagens, tornando-se depoi s Bispo de Creta, onde morreu.

27 SanLa Ângela de Merici, Virgem + Bréscia, 1540. Consciente de que as desordens da sociedade originam-se em grande parte da corrupção da fam ília, fundou o instituto religioso das Ursulinas, para a educação da juvenlude fe minina e formação de mães cristãs.

28 Santo Tomás ele Aq uino, Co nl'csso r e Doutor da Igreja + Fossa Nuova, 1274. O maior

2H São Sulpício Severo , Bispo e Confessor + França, 591. São Gregório de Tours refere-se a ele com muito respeito, elogiando suas virtudes. Foi nomeado para a Sé de Bourges em lugar de candidatos simoníacos.

30 Sa nta JacinLa Mat'ÍSCOLti, Virgem

+ Viterbo, 1640. Se bem que educada cri stãmente, levou vida frívola e mundana mesmo no convento, onde entrara por ordem do pai. Adoecendo gravemente, o confessor da casa não a quis atender, dizendo que o Céu não era feito para pessoas vãs e soberbas. Um terror sa lutar levo u- a ao arrependimento e remorso, e depois à reparação, transformando sua vida e condu zindo-a à ho nra dos altares.

31 São ,João Bosco, Confessor

+ Turim, 1888 . Exerceu enorme influência no campo religi oso e social, tendo fundado a Sociedade Salesiana e o Institu to das Filhas de Maria Auxiliadora. São Pio X afirmou: "O êxito dessa obra só pode explicar-se pela vida sobrena/ural e santidade de seu fundador". De alma simples, a legre e ardente, não havia obstácul o que o detivesse na senda do bem.

Santa Mal'cela (Vide p. 36)

Intenções para a Santa Missa em janeiro Será ce lebrada pelo Re vmo . Padre David Franc isqu ini, na s seguintes intenções : • Pela união e sa ntifi cação de todas as famílias católicas em to rno da Sagrada Família. Suplica ndo à Sa nta Mãe de Deus (festividade comemorada no dia 1º), pelos méritos da Epifa nia do Senhor (dia 6), cop iosas gra ças para tod os os leitores. Que sejam eles provide ncialmente amparados, a fim de enfrentarem com energ ia e coragem as dificuldades que possa m suceder ao longo de 2011, de modo parti cu lar as que provêm de perseguições religiosa s e aos bons costumes, fomentadas por governos socia listas.

Intenções para a Santa Missa em fevereiro • Em homenag e m às apari ções d e No ssa Sen h ora d e Lourde s (1858). Su plicare mos a Ela sua maternal proteção para a grande família de a lmas de Catolicismo {leitores, ass inantes, co laboradores e amigos), preservan do -a do pecado e de qualque r tipo de imoralidade. Com menção específica às crianças e ado lescentes de nossas família s, qu e se e ncontram ma is vu lneráve is à corrup ção moral qu e reina nos ambientes modernos.


Recentes atividades da '11FP austríaca 113 CARLOS EDUARDO SCHAFFER Correspondente - Áustria

Viena - Nesta última década a Europa vem sendo varrida por uma onda crescente de ataques à Igreja e aos valores da civilização cristã. Muitos deles provêm da União Eu ropéia e do Conselho da Europa, dois organi smos que promovem sistematica mente a age nda dos gru pos pró-aborto e fa voráveis ao "casa mento" homossexual, além de apoiar políticas de imi gração indi sc riminad a, de modo espec ial a muçulmana, sendo que muitos de seus principai s líderes têm o desejo explícito de tornar a E uropa um continente islâmi co. As co munidades muçulmanas vêm sofrendo crescente rej e ição na Áustria , e a Fundam.ental Rights Agency (Agênc ia para Dire itos Fundamentais , d a U ni ão E urop é ia), sediada em Viena, tem como um de seus princ ipai s objetivos protegê-las.

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CATOLICISMO

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10. Dezembcr - Tag der Meruchenrechte -

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Na última assemblé ia geral do Conselho da E uropa, e m 22 de o utub ro, Christine McCafferty, deputada ociali sta pela Inglaterra, apresentou proposta visando limitar o dire ito à objeção de consciência por parte de pessoas e enti dades prestadoras de serv iços de saúde (médicos, enfe rmeiras, etc). Argumentou que a crescente opos ição ao aborto estava tornando difícil encontrar na Europa hospitais, médicos e enfe rmeiras dispostos a praticá-lo. A proposta abrangia não · só o aborto, mas também outras práticas proibidas pela moral cató lica, como eutanásia, operações visando a limitação da natalidade, etc. Ante esse projeto recusável sob todos os pontos de vi sta, a Sociedade Austríaca de Defesa da Tradição, Fam.ília e Propriedade (TFP) organi zou através da internet uma campanha pela qual se pe-

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.. R!ChUlchen Schulz dtt ~-ftlrOvtnen

dia aos deputados dos diversos paísesmembros que votassem contra a proposta da deputada sociali sta. Correspondentes e aderentes da TFP enviara m mais de 63.000 e-ma il s. Outras organizações Aliance pour Le Droil de La Vie, da França, e HazteOir, da Espa nha - agiram no mesmo sentido. O efeito fo i perceptível: alguns deputados conservadores propuseram diversas modifi cações, que acabaram tran sfo rmando o texto origin a l num a defesa do direito à objeção de consciência. A própria McCafferty teve de votar contra a resolução da qual era a relatora .. .

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Chrlsten lm Nahen Orten

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et1eben Mord. Vergewalllgung. Enllllhrung und lwangslcllnllofslon. Z<ntõruog 11,.,, IOrchcn und Hdme sowte <ymmall~ Vertrdbung.

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Ober 200 Mlllonffl Chrtsttn werden -w.,g,ntvesGlaubenl dlsla1mlnlett. laut Wet-mf01gungsindex fwww.- - . a g/ gcscl1ldltdles1101' .......... -.s-iwtedemlral<.

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auc:h ln lr.0mmlNsllsche I.Andem. Nonll<oma. l<uba. Vlelnam und China. Nlchtru....,.,Gewaltgegen c:h1sUlche -SUllschwelgendlcler1efl

sondem sogar staatllc:h untefltOlzL

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No âmbito da União Européia, a TFP austríaca liderou o protesto lançado por seus corresponde ntes da Áustria e da

Alemanha, em l º de dezembro. Dirig ido ao presidente da Comissão Européia , José Manuel Durão Barroso, ao comissá rio da Áustria, Johannes Hahn, e a diversos outros membros da mencionada comissão, o alvo do protesto foram as dec larações da comi ssá ri a do Luxemburgo, Vivi ane Red ing, res ponsável pelo setor Justi ça, CHRISTENOH Direitos Fundamentais e CidadaFreira NE MENSCHENRECHTEI ni a, que afirmara em debate no flnterr.,{J;,"'~e?r.P! zember 2070 g er Mensctienrectite/ plenário do Parlamento Europeu, , 2.00 _ n.oo Uhr lnfOfma Mn SrO(k.l,n.= = em 7 de setembro de 2010: " O que Ch1fnffl~:,:,..~eute\W1 lllm Thmi.1 não queremos [na Uni ão Euro~ 1 IS.()() llhr l~M bcrictuc'fl péia] são populações que se opõem ao casamento homossexual. [ ... ] bc1rolrmtn Olriscto 17. IS Uhr ~Chef:rug Temos que avançar passo a passo. "°"J:r's:~ Devemos sobretudo, com base em r e.ao Utw \l;,lo,-rgou~,t'flt1 lms,~nsaom nossas diretrizes, levar os EstadosSE. Weitóisehoto,l 't::~: membros a aceitar estas regras. [... J Se não houver entendimento, medidas mais duras devem ser aplicadas" . Em poucos di as foram enviados mais de 7 .000 e- mails de protesto, dando assim à Comissão Européia um sinal bem claro de que a Áustria e a Alemanha rejeitam o chamado "casamento" homossexual, como também a maneira ditatorial com que a comissão quer conduzir a E uropa. A reação não se fez esperar. No dia seguinte ao início d a campanha, Benno Hofschu lte, preside nte da TFP austríaca, recebe u do ga bin ete de Viviane Reding uma carta nos segui ntes termos: "Permita-nos esclarecer de maneira inequívoca o seguinte: a Comissão Européia não tem a intenção de propor regras em nível europeu que, em matéria de direito da família, agridam os Estados-membros ou que venham a modijtcar neles a definição de família em vi.ÃGYP1'EN gor". Mlt ch<UtJIChen Madcllen, dlc entJl)lvt. zwangmlamlslen und ,wangM'fhe!ratrt Isto mostra que, quando os eleitores werden, 1st efn efgefler mwllm~cher exprimem seu desconte ntamento em re.Gescnannwetg· enl>tilnden Flehentllche Bltten um Schutt und lação a certas atitudes dos políticos, esHUfle werden von 0 11enmcnen Stefien WI~ etwa von der Polllef lgn<ll1ett tes pode m ver-se obrigados a tomar posições até mesmo contrária às suas inclinações. Mas se debilitarmos nossa vig ilância, eles voltarão a promover suas posições anti-católicas. ~ ~ fCSl>- ~ckrNdtflfll9"9ffl°'1Sl'fin -

a--~c1tr~.SoldlfUtmt'fll1blgecnO'IMtn~,_,,..IO~aw.t,~

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Outra atividade também importante fo i o protesto contra uma expos ição blasfema e ignóbil , que o "arti sta" australi ano Mark Rossel organi zou entre os di as 3 e 25 de novembro no palác io do governo da Baixa Áustria, em Sankt Polten. A principal peça exposta era abominável: uma imagem em tamanho natural representando a Santíssima Virgem coberta por um plástico com a forma de um preservativo gigante, lambuzado por um líquido viscoso. O autor explicou que a o br a re prese ntava s uas fantasia pubertárias. Mais de 700 e- mail s de protesto foram enviados ao Dr. Erwin Proll, governador da Baixa Áustria, pedindo o fec hamento da exposição, tão ofensiva a Nossa Senhora e aos sentimentos religiosos do povo austríaco. O caso teve grande repercus ão na imprensa. Dois partidos políticos conservadores - o Partido da Liberdade Austríaco (FPÕ) e o Partido Cristão da Áustria (CPÕ) - iniciaram processo contra o governador, baseados em um artigo da Constituição que proíbe difamação das religiões reconhecidas pelo Estado. Embora tenha permanecido aberta até o término previsto, o governador se viu obrigado a afirmar, em carta diri gida aos promotores do protesto, que não estava de acordo com a exposição daquele objeto, mas que o departamento cultural do governo tinha autonomia. Essa desculpa esfarrapada foi fortemente criticada. *

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No dia 10 de dezembro, quando se comemora a Declaração Uni versal dos Direitos Humanos promul ga da pela ONU em 1948, a TFP au tríaca colaborou na organização de uma mani festação pública no centro de Viena para lembrar a perseguição contra os cristãos, em curso no mundo inteiro, tanto nos países comunista como de modo especial nos muçulmanos. São 200 milhões de cristãos que vivem constantemente em ri sco. A man ifes tação vi sava uma mobilização geral contra a persegui ção reli giosa. •

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E-mail para o autor: catolicismo@ terra.com.br

JAN EIRO2011

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IJJ PAULO ROBERTO CAMPOS

N

o dia 13 dezembro último, data do centésimo segundo aniversário de nascimento do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, discípulos e amigos deste imbatível líder católico e anticomunista reuniram-se na capital paulista para prestar-lhe homenagens . O ato mais importante foi a celebração de uma Santa Missa na Catedral Melquita de Nossa Senhora do Paraíso, pelo Revmo. Pe. David Francisquini, segundo o rito tradicional de São Pio V. Outro ato de caráter religioso consistiu na recitação de um terço junto à sepultura do Prof. Plínio no cemitério da Consolação, onde também se encontram os restos mortais de seus pais, João Paulo Corrêa de Oliveira e Lucília Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira. Ao ato compareceram diretores e colaboradores do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, ocasião em que hastearam seus estandartes. [foto ao lado] *

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OLIVlt

CATOLICISMO

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Um tributo de homenagem foi uma sessão que lotou o auditório do Hotel Lev Residencial, à rua Marquês de Itu, para o lançamento oficial da primorosa edição comemorativa dos 50 anos de Reforma Agrária - Questão de Consciência. (A respeito dessa obra de importância ímpar, vide entrevista à p. 16).

JANEIRO 2011

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Polônia: Encontro da Juventude

Contra-Revolucionária ■ LEONARDO PRZYBYSZ

De início, o Sr. Hélio Brambilla expôs o êx ito alcançado pela difu ·ão da edição comemorativa e o Sr. Nelson Barretto, autor de algumas obras relac ionadas com questões agrári as, ressaltou a transcedência do relançamento da obra-brado-dealerta contra a Reforma sociali sta do campo brasil eiro. Em seguida, fizeram uso da palavra o Príncipe Imperial do Brasil Dom Bertrand de Orl eans e Bragança, autor de uma introdução à nova edição, e Carlos Patrício dei Campo, ag rônomo, mestre pela Universidade da Ca li fórn ia, responsável pela atualização da parte econômica do liv ro. O Dr. dei Campo salientou como continua atual a denúnc ia contida na obra em face das tentativas de se impl antar em todo o território nacional a Reforma Agrária sociali sta. Apresentou dados e argumentos que demonstram o fracas o de tal reforma e afirmou que não há no setor agropecuário razão que possa justificar o programa ag ro-reformi sta, e que este "é uma falsa solução para um problema inexistente". No encerramento da sessão, Dom Bertrand expô um breve histórico da luta empreendida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira contra a Reforma Agrária de cunho socialista e confiscatório. Sem essa importante atuação, a Reforma Agrári a poderia ter CATOLICISMO

impelido o Brasil para um regime comuni sta. Comentou ele que no início da década de 60 - quando o País atravessou período de muita agitação quanto ao problema agrário - , o Prof. Plinio publicou o livro Reforma Agrária - Questão de Consciência, difundido por seus discípulos de norte a sul do Brasil, o que marcou profundamente a opinião pública, devido às suas teses que fundamentam o direito de propriedade e a livre iniciativa. O livro tornou-se um best-seller e contribuiu possantemente para evitar em nossa Pátria uma revolução análoga à que ocorreu em Cuba em 1959.

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As comemorações do di a 13 de dezembro encerraram- e com solene j antar, em que animadas conversas re lembravam o passado de glória deste homem de fé e coragem, de pensamento e ação, fa lecido e m 3 de outubro de 1995, cuja luta em defesa do Brasil e da civili zação cristã continua insp irando o mesmo combate, levado a cabo por seus discípulos e admiradores. •

or inic iativ a ela Associação pela Cultura Cristã Podre Piotr Skarga e da Cruzada - Jovens 11a Vida Pública, no dia 6 de novembro últim o rea li zou-se em Varsóv ia o Primeiro E11co111ro da Juventude Contra- Revolucioná ria . Reunicl s no belo pal ác io dos primazes pol oneses, 1arli ciparam cerca ele 60 estudantes univ rsit ários para d iscutir os métodos e me ios d atuação cios leigos católicos na esfera pública. Abriu n ·onlro Presidente da Associação Piott· Skarga , lc1womir_Olejniczak. Baseado no liv ro l\ evoluçcio e Cor!lra- Revolução, apresentou o conceito le ordem c ristã, e de outro lado o processo r volucionário que visa destruí-la. A eficácia de um a ação decidida, baseada em convicções sólidas, foi bjelo da análi se de José Antonio Ureta, pesq ui sador da TFP fra ncesa. Fundamentou amplarn nle a lese de que o sucesso de uma ação contra-revo lucionária não consi ste em fazer concessões aos que defe ndem urna posição centri . ta, na ilusão de co nqui star-lhes a simpatia . Os parti cipantes tiveram ocasião de relatar suas atividades públicas e m suas respectivas c idades - Varsóv ia, Cracóv ia e Wroc law. E caus u viva impressão o relato cio jovem universitári o americano Kenneth Murphy, convidado para o eve nto. Acompanh ado de farto document ári o audiovisual, deixou patente aos presenl s o 'xito da seção universitária da TFP norle-am · ri ·ana na sua ação contra a lega li zação da homossexua lidade e nas marcha · anti aborto . Num ·li 111a de muita consonânc ia, e j á na per p ·ti Vil da atuação que cada um poderá narrar no pn ximo encontro, foi encerrad o o evento ·om solene jantar, precedido por um concerto dos 111c111hros do Clube São Luís, que execu1un1111 ·t11Hi<l ' S da época das cruzadas. •

JAN EIRO 2011

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-Giiiilbé■iiii■é-Ji,iii♦Mi~'-----------------

São Luís de Gonzaga Resolução inabalável ■ PuN10 CoRRÊA DE OuvEIRA

W 'primeiro quadro é de um menino de doze anos. Notase nele um organismo ainda débil, mas começando a adquirir força. Urna inocência impregna profundamente sua pessoa, conferindo-lhe resolução e força de vontade. A atitude é a de quem sabe o que deseja. Toda uma vida de confrontos já está anunciada no modo de ser desse menino. Tendo consciência inquebrantável do dever, fará tudo para que a vontade de Deus seja cumprida. Ele representa a continuidade de espírito do guerreiro da Idade Média. Se fosse convocado para a Cruzada, não faria outra coisa senão tomar uma espada e inve stir contra os mouros.

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No segundo quadro ele já é moço, certamente um pouco antes da sua entrada na ordem religiosa. Está cingindo uma espada, encorpou muito, o rosto não é de uma pessoa magra, mas tem a carnatura adequada. Chama a atenção sua postura de extrema tranqüilidade e de quem caminha firmemente para o Céu.

O olhar é plácido, afetuoso e pacífico, de uma pessoa que gosta de viver bem com os outros. Ao mes mo tempo, de uma fixidez e limpidez de quem diz: "O que eu vi, vi; o que é, é; e o que tem de ser, tem de ser. Ninguém me abala em nada!" Ele não se deixa atemori zar por nad a. Olharia um dragão com essa mes ma naturalid ade estampada no quadro: confiante em Deus e em Nossa Senhora, resolvido a enfrentar qualquer batalha ou dificuldade. As sobrancelhas são delica damente arqueadas, mas de um traçado niuito coerente, bem cl ' · senhado e lógico. O nari z lembra algo de bico de ave de rapi na. A força de vontade mais uniu vez está presente. Personalida de doce e forte, um ho mem d · Deus. O conjunto do ro to su 'r' a idéia de resolução inabalável , d · um homem que tem certeza da quilo que pensa. Ele combal •r(i calma, fria e impl acavc lm ' 11I • em defesa do verum, bo1111111 · pulchrum, segundo os dcsí ,ni os de Deus. E m s um a, rosto de um d ·idido batalhador! É a impressão que me causa est l J"all tk santo, São Luís de Gonzaga. •

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 18 de abril de 1990. Sem revisão do autor.



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n PuN10

Os defeitos do Brasil podem ser curados m escritor apresentou a seus leitores a figura de um cego interrogando pelas ruas a todos que passavam: "Ó tu que tens a luz, o que fazes dela?". A mesma pergunta se poderia fazer a nós católicos: O que fazemos nós, que temos dentro da Igreja não apenas a luz, mas a luz meridiana de uma verdade plena? Por que não compreendemos plenamente e não gritamos em alta voz que o Brasil, se tem às vezes parecido um deserto de homens e de verdade, é exclusivamente porque não se entregou inteiramente ao domínio do Homem-Deus e da Verdade que Ele veio trazer ao mundo? Lemos nos santos Evangelhos que o Salvador curava os cegos, os aleijados, os paralíticos, os loucos, e que essas curas afirmavam implicitamente seu poder para curar todas as misérias morais do homem. Por que então não acreditamos realmente, seriamente, ardentemente, entusiasticamente, que na Sagrada Eucaristia todos os defeitos do Brasil poderão ser curados, e que o brasileiro ainda poderá ser um homem à altura das grandezas materiais dentro das quais nasceu? "Enviai o vosso Espírito, e todas as coisas serão criadas, e será renovada a face da Terra" - exclama a Sagrada Liturgia. Não quererá ou não ppderá esse Espírito que criou o mundo, e que pode também renová-lo, renovar este Brasil que Ele próprio criou? ·• ,

U

Excertos do artigo Patriotismo autêntico, publicado no jornal "Legionário" em 29- 1- 1939

CATOLICISMO

SUMÁRI

C oRRÊA DE OuvE 1RA

FEVEREIRO de 2011

Nº 722

2

Exc:rm:ros

4

CART/\ DO DIRETO!?

5

V AR11mADES Promessa de castidade entre jovens

7

LmTl!R/\ EsP1R1TuA1.

8

CormESPONDf:NCI/\

Considerações sobre o Pai-Nosso

1O A

PALAVRA Do SAcmmoT..:

12 A

REAi ,iDADE CONCISAMENTE

Insensatez: Limitação da propriedade rural

14

NACIONAL

18

IN'l'ERNACIONAI,

21

EN·1·mw1sTA

24

INFORMATIVO RURAi,

26

CAPA

38

VmAs m: SANTOS

42

SANTOS E Ft-:STAs no

44

DOCUl\1ENTO

52

AMBll-:N'l'ES , COSTllMES, CIVll,17.AÇÜES

Projeto chavista de autogestão

Prática abortiva e ação diabólica

Wsão panorâmica de atributos marianos São Gregório II

Mt1.:s

Vôo do falcão: reflexo de qualidades morais do homem e da beleza de Deus

Nossa Capa: A sua Senhora - Toby Edward Rosenthal (1848-1917)

FEVEREIRO 2011


Jovens furam o cerco da imoralidade

Caro leitor, Na incessante batalha contra-revolucionária que empreende em seus 60 anos de existência, Catolicismo tem atuado também na divulgação e defesa das excelsas qualidades de Maria Santíssima e propagado sua devoção. Uma de suas seções, a Página Mariana , dedica-se especialmente a manifestações e aparições da Mãe de Deus em todo o mundo. Na presente edição, como matéria de capa, publicamos uma visão de conjunto dos privilégios da Virgem Santís i ma e do culto de hiperdulia que lhe é devido. Lê-se no Livro Eclesiástico (24, 5): "Eu saí da boca do Altíss imo,

Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho

Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116

Administração: Rua Javaés, 707 Bom Retiro CEP 01130-01 O São Paulo · SP

Serviço de Atendimento ao Assinante: Tel (Oxx11) 3333-6716 Fax (Oxx11) 3331-6851

Correspond~ncla: Caixa Postal 1422 CEP 01031 -970 São Paulo· SP

Impressão: Prol Editora Gráfica Lida.

E-mail: catolicismo@terra .com .br Home Page: www.catolicismo .com.br

a primogênita antes de toda criatura". É claro que esta frase - aplicada a Nossa Senhora, como explica o artigo em referência - não significa que Ela "estava em Deus com seu ser natural, mas sim com seu ser ideal, pelo amor que Deus tinha a Ela, pelo desej o que tinha de formá-la, pela escolha que fa zia dela para Mãe de seu Filho. Ela não estava viva em si mesma, mas estava viva em Deus, por Jesus Cristo, do qual seria a Mãe" . Para considerar Maria na visão da Sagrada Escritura, é nece sário analisar a realidade de sua escolha por Deus em toda a sua extensão: nos séculos que precederam o nascimento da Virgem Santís ima, em sua vida terrena, na devoção dos fiéis, em suas aparições na História e, além disso, como Medianeira de todas as graças e Co-redentora do gênero humano. Sendo esta devoção considerada por vários santos como sinal dos predestinados, pedimos a Nossa Senhora que este artigo seja proveitoso a nossos caros leitores, como um auxílio para que acresça em todos a devoção a essa obra-prima da Criação que é Nossa Senhora.

ISSN 0102-8502

Desejo a todos uma boa leitura,

Preços da assinatura anual para o /llf1B de Fevereiro de 2011: Comum : Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:

R$ R$ R$ R$ R$

120,00 180,00 310,00 510,00 11 ,00

CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES L TDA.

Em Jesus e Maria,

9:~7 DIRETOR

catol icismo@terra.com.br

N os Estados Unidos, Guatemala e Equador, alguns exemplos da guarda da castidade pelos jovens, dignos de serem admirados e imitados fflíl G REGÓRIO VIVANCO LOPES

E

m nossa época de propaganda e marketing, talvez nenhum "produto" seja tão promovido e exaltado quanto a imoralidade. Cinema, novelas na TV, anúncios, reportagens nos jornais e revistas, a abundante miscelânea da Internet. Outros itens como modas, patrocínio oficial, atividades a favor dos "direitos humanos", educação sexual nas escolas, legislação permissiva - tudo colabora no mesmo sentido. Nunca é demais lembrar, infelizmente, a conivência - ou pelo menos a omissão - de não poucos membros do clero "progressista". Para ninguém escapar a essa pressão onímoda que se exerce especialmente sobre os jovens, alvo preferencial da onda corruptora, ergueu-se em torno deles um fenomenal muro psicológico, mais danoso para as almas do que os muros e muralhas que se constroem para cercear a liberdade de povos e nações. Trata-se de um muro alicerçado em brincadeiras maliciosas, zombarias, insinuações, visando colocar no ridículo e menosprezar o jovem que ouse sair dos trilhos da corrupção moral. Somente a sólida convicção em torno de princípios muito claros, apoiada por uma coragem a toda prova, pode habilitar o jovem a não se dobrar a tão granCATOLICISMO

de pressão e furar o cerco. Não se trata portanto de tarefa para tolos tipo mariavai-com-as-outras, nem para covardes. Segundo o escritor católico francês Paul Claudel, a juventude não fo i feita para o prazer, mas para o heroísmo. Um heroísmo que se obtém mediante a oração e a devoção a Nossa Senhora. O educador e escritor húngaro Mons. Tihamer Toth (1889-193 1), em seu livro "O Brilho da Mocidade", tem este belo pensamento: "Se eu tivesse que da r uma medalha de ouro, escolhendo entre um general que ganhou uma guerra ou um j ovem que vive a castidade, eu a daria para este último". Por tudo isso, alegra-nos constatar o surgimento, aqui e acolá, de grupos de rapazes e moças que fu ram o cerco e se unem para enfre ntar a onda de imoralidade, guardando a castidade. Lírios nascidos no lodo e banhados pelo sol da

pureza, eles merecem todo nosso apoio e incentivo, para que perseverem. Seguem alguns exemplos.

Guatemala: Ato diante do Santíssimo Sacramento Durante o Prime iro Congresso da Juventude Católica da Guatemala, realizado nos dias 13 e 14 de março último, mais de sete mil jovens lotaram o Coliseu Domo na Cidade da Guatemala. Começaram o evento com uma procissão, seguida por um a consagração mariana (foto na p. 6). Em seguida os milhares de jovens passaram algum tempo em adoração eucarística. Estando todos ajoelhados diante do Santíssimo Sacramento, o ator mexicano convertido Eduardo Verástegui rezou com eles a oração de promessa de castidade. Todos prometeram "lutar pela virtude da pureza" e "levar uma

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FEVEREIRO 2011 -


Dia da Pureza é um dia em que os jovens podem fa zer uma demonstração pública do seu compromisso em manterem-se sexualmente puros, em pensamentos e ações.[. ..] Oferece aos que lutam pela pureza sexual uma oportunidade de estar juntos, em oposição a uma cultura moral decadente ". Para Larry Jacobs, diretor do Con gresso Mundial das Famílias, "é revigorante ter um dia especialmente dedicado a promover a abstinência antes do casamento" .

Adolescentes virgens, porrazões rnligiosas e morais

vida casta". Depois Verástegui narrou como se deu sua conversão, e desafiou os rapazes e moças a "seguir os mandamentos de Deus e ser santos do terceiro milênio". Da mesma forma, a ex-atriz mexicana de telenovelas, Karyme Lozano, compartilhou sua experiência de conversão: "Abandonou sua bem sucedida carreira para viver uma vida cristã consistente, de acordo com os ensinamentos da Igreja". 1

Equador: Promessa de castidade e lldelldade matrimonial Em 25 de março último, dez mil jovens equatorianos de ambos os sexos, das cidades de Quito e Cuenca, prometeram publicamente manter-se castos até o matrimônio, e depois de casados serem fiéis a seu cônjuge até a morte. Amparo Medina, membro de Ação Pró-Vida, instituição organizadora do ato, disse que os milhares de jovens ouviram "testemunhos sobre a indústria da morte, os anticoncepcionais, o aborto, a mentira dos preservativos, as conseqüências da anticoncepção ". 2

Estados Unidos: Oposição à "cultura moral decadente" Conceituado site americano-canadense3 noticia a realização do "Dia da Pureza", comemorado em 12 de fevereiro, em que os participantes celebram a castidade. Um rol de instruções para a

-CATOLICISMO

celebração termina com a exortação de São Paulo: "Ninguém te despreze por seres jovem. Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis, no modo de falar e de viver, na caridade, nafé, na castidade" (1 Tim. 4,12). A notícia informa ainda: "Milhares de jovens estão se preparando para celebrar o verdadeiro significado do amor, através da participação no sétimo dia anual da Pureza. Mais de 300 escolas em 44 estados [americanos], assim como centenas de igrejas e outras organizações em toda a América, se inscreveram para participar do Dia da Pureza, que é patrocinado pelo Conselho da Liberdade". O site-base da iniciativa explica: "O

Iniciativa isolada, minoritária, fadada ao fracasso? O mais surpreendente é que a resposta é simplesmente NÃO! E esta resposta tem caráter oficial, pois um estudo do governo dos EUA constatou que a maioria dos adolescentes americanos são virgens. O relatório, com data de junho de 2010, fo i elaborado pelos Centros de Controle de Doenças e Prevenção, ob o título "Os adolescentes nos Estados Unidos: Atividade Sexual, Uso de Anticoncepcionais e Gravidez". No período de 2006 a 2008, 58% dos rapazes e 57% das moças entre 15 e 19 anos relataram que nunca haviam tido relações sexuais. Os números confirmam os de outro estudo realizado em 2002. Razão mais alegada pelos adolescentes, para não terem relações sexuais: "É contra a religião ou a moral". Segundo Judie Brown, presidente da American Life League (ALL), "este estudo tem uma importância enorme para as nossas escolas públicas e privadas, em muitas das quais regurgitam perigosamente currfculos com programas imprecisos de educação sexual". O número de adolescentes com experiências sexuais teve seu pico em 1988 (51 % ). A partir daí a abstinência veio ganhando terreno nos Estados Unidos. 4 • E-mai l para o autor: catol jcjsmo@terra

com.b.r

Notas:

1. Catholique News Agency (CNA), 18-3- 1O. 2. Ag ência Info rmativa. Ca tó li ca A,·111•11 1/11 11 (AICA}, 1°-4- 10. 3. LifeSiteNews, 10-2- 1O. 4. EWTN News, 11 -7- 10.

Considerações sobre o Pai-Nosso A importância do Pai-Nosso é indiscutível, pois trata-se da oração por excelência, que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou, por isso devemos tê-la constantemente em nossos lábios e nosso coração. O texto que passamos a transcrever sobre o Pai-Nosso era atribuído à grande Santa Teresa de Jesus, e para seu elogio basta esta informação. Foi publicado no volume V das Obras de Santa Teresa de Jesus, traduzidas pelas Carmelitas Descalças do Convento de Santa Teresa do Rio de Janeiro (Editora Vozes, Petrópolis, 1951), no qual nos baseamos fazendo algumas adaptações.

vino, parece conforme à razão, a fim de evitar que da freqüente repetição dela resulte o entibiamento da vontade, procurar algum modo de, repetindo-a diariamente, reavivar nosso entendimento com uma nova consideração, capaz de sustentar também o fogo e o calor na vontade. Isto se fará comodamente repartindo pelos sete dias da semana as sete petições contidas no Pai-Nosso. Para cada dia da semana toma-se uma petição vinculada a um título ou nome de Deus que lhe seja correspondente. A esse nome ou título referiremos tudo o que naquela petição pretendemos, e também tudo o que

há em Deus que desejamos alcançar. As petições já são conhecidas, e os títulos e nomes de Deus são estes: Pai, Rei, Esposo, Pastor, Redentor, Médico e Juiz. Assim sendo, faremos a seguinte distribuição: Na segunda-feira se diz: Pai nosso que estais nos Céus, santificado seja o VOSSO Nome. Na terça-feira: Rei nosso, venha a nós o vosso reino. Na quarta-feira: Esposo de minha alma, faça-se a vossa vontade . Na quinta-feira: Pastor nosso, o pão nosso de cada dia nos dai hoje. Na sex ta- feira: Redentor nosso, perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. No sábado: Médico nosso, não nos deixeis cair em tentação. No domingo: Juiz nosso, livrai-nos do mal. •

* * * l11trndução O nosso Criador conhece a sua criatura e sabe que nossa alma, tendo sede do infinito, pede cada dia novas coisas e não se aq uieta com receber uma somente. Por isso, no capítulo VI do Levítico mandava o Criador que, para não se extinguir o fogo do altar, o sacerdote o cevasse todos os dias com nova lenha, significando figuradamente que, para que o calor da devoção não se esfrie e acabe, devemos cevá-lo todos os dias com vivas e novas considerações. Ainda que isto possa parecer imperfeição, é providência divina para que, segui ndo a alma sua condição, ande sempre investigando as infinitas perfeições de Deus e não se contente com menos, pois só Ele pode encher a sua capacidade. Uma coisa, pois, é a que se pretende sustentar, que é o fogo do Amor de Deus. É necessária porém muita lenha, e deve-se renová-la todos os dias, porque o calor e eficácia da nossa vontade tudo consome; e tudo lhe parece pouco, até chegar a cevarse no mesmo fogo, bem infinito, único que satisfaz e enche a nossa capacidade. Sendo pois a oração do Pai-Nosso a mais adequada para sustentar este fogo diFEVEREIRO 2011 -


Cesare Battisti não é bandido, mas herói! INDIGNANTE!!! Uma completa inversão de valores, um ato próprio a uma diplomacia demente. (W.T. -

DF)

PNDH-3 1:8] O Programa Nacional de Direitos Humanos não é outra coisa que um plano, camuflado de programa governamental, para se tentar justificar todo tipo de perseguição - religiosa, política e ideológica - contra todos os cidadãos que insistirem em manter a lealdade aos ensinamentos e às tradições cristãs. Ainda bem que, como a revista mostra, tal programa "alarmou o Brasil". Este não é o Brasil modelado pelos regulamentos do programa, mas o Brasil destinado por Deus para grandes fei tos, como bem escreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

120 anos... Parabéns pela condensação dos acontecimentos do ano concluído, dando-nos (aos privilegiados leitores desta revista que tem uma glória ímpar: 60 anos de luta pelo catolicismo) uma lúcida apreciação do conjunto dos fatos. Há oito anos acompanho a revista, mas não tinha a noção de seu passado congregando pessoas de outros países, como no congresso referido na matéria "Reminiscência" . Propriamente, esta revista tem uma missão muito especial. Que Deus abençoe amplamente todos seus colaboradores, para outros 60 anos de jornali smo sério iluminado pela boa doutrina católica.

(A.D.D. -

1:8]

(L.Z. -

SP)

Santa indignação Fazendo a leitura do artigo-análise de 2010, o que mais me indignou foi o que se comenta à página 33, ilustrada pela foto de duas pessoas sem o menor senso da realidade: Fidel e Lula, com as palavras deste último comparando um herói que lutava contra a ditadura comunista (o dissidente cubano Zapata) a um bandido comum . INDIGNANTE!!! Para o expresidente brasileiro, o terrorista 1:8]

-C~TOLICISMO

PE)

Bem espiritual Participo a V. Sa. que renovei por mais um ano a assinatura da excelente revista Catolicismo. Desde já me congratu lo pelos artigos maravilhosos publicados no Catolicismo, que fazem muito bem à minha alma de católico. (J.A.A.F. - RJ) 1:8]

dos, mas honestos atletas que pediram asilo no Brasil), nosso governo não atendeu o justo pedido deles, mas devolveu-os imediatamente para Fidel Castro? Isto sim, foi um atentado aos direitos humanos mais fundamentais. (J.C.G. -

SP)

Fonte de sabedoria Quero agradecer aos senhores pela fonte de sabedoria que é a revista Catolicismo , a qual tem me ajudado muito no esclarecimento e conhecimento de várias matérias. Também quero desejar aos senhores um Ano Novo repleto de graças e bênçãos! Que esta preciosa revista continue fazendo o bem e trazendo informações sérias e de suma importân cia, como sempre trouxe, e a cada ano com mais êxito. 1:8]

(E.A. -

SP)

Estado-patrão 1:8] Solicito-lhes o obséquio de enviar-me o e-mai l do Dr. Cario Patríci o dei Campo, pois quero dar-lhe meus parabéns pela entrevista publicada na edição deste mês [janeiro] . Gostei muito de sua colocação sobre as dificuldades impostas à agricultura no Brasil pelo "patrão-estado".

(J.1.0. -

PR)

Flagrante contradição

Consonância de pensamento

1:8] Se o italiano Battisti continuar preso, terá mordomias e custará mais de quatro mil e quinhentos reais mensais aos brasileiros pagadores de impostos; mas se for devolvido ao seu país, o bandido deixará de ser um peso aos cofres públicos, além de se fazer justiça, e não haverá mais embaraço nas relações Brasil-Itália! Pois, se não há verbas nem para as necessidades básicas, como educação, saúde e segurança, que a Itália cuide do bandido e resolva os problemas lá deles. Não é mesmo? Por que então o governo brasileiro faz tanta questão de manter aqui esse criminoso? Por que, no caso dos dois boxeadores cubanos (que não eram bandi-

1:8] Amei a explanação da revista sobre "fé e razão" , que retrata exatamente o que penso. Obrigada pela lucidez dos texto . Já enviei e postei a amigos.

(L.R.M. -

SP)

Religiosos brilhantes 1:8] Sou assinante da revista Catolicismo há cerca de um ano, e quero elogiar a excelente matéria escrita pelo Sr. Sergio Bértoli na última edição da revista, com o título Revivescência Católica em São Paulo no século XIX, onde conta a história de brilhantes sacerdotes e religiosas que, embora ainda não estejam canonizados, tiveram uma vida de santidade notória. Nesta

senda, sugiro que a revista dê especial atenção a este tipo de matéria, de cunho informativo, mas sem deixar de focar a roti na, as circunstâncias e os grandes feitos realizados pelos sacerdotes no Brasil, desde a chegada da Caravela Anunciação - onde estava Frei Henrique de Coimbra, que rezou a primeira missa no Brasil - até os tempos atuais em que, infelizmente, não posso fazer referência sobre grandes sacerdotes, embora existam! Podemos citar também o Beato Pe. Anchieta, o Pe. Manoel da Nóbrega, o Pe. Belchior de Pontes, o Pe. João Batista Reus, além de outros padres, frades e freiras . As matérias podem ter impacto regional, mas acredito que seja providencial, uma vez que atualmente os sacerdotes no Brasil têm se distinguido por uma vida de mídia e apresentações, que não combinam com o verdadeiro objetivo dos sacerdotes . Acredito também que muitos leitores se sentirão à vontade para enviar fotos e notícias de muitos padres que fizeram parte do passado, nas capitais e no interior do Brasil. (C.M.O. - RJ)

tos católicos não conhecem a riqueza da Igreja, da Eucaristia, da Santa Missa e outros sacramentos. Acredito que a conversão de muitos protestantes será através da Igreja Católica, mas vão ter que se render ao amor de nossa mãe Maria. Foi Ela que gerou o Salvador, mas muitos protestantes ainda não aceitam Maria. Os evangélicos, nossos irmãos separados, estão desnorteados, não sabem para onde caminham. (H.T.G. -

1:8] Foi emocionante e gratificante conhecer esses fatos ("Página Mariana", dezembro/2010). Devemos divulgálos amplamente, para conhecimento de todos. Obrigado! (J.D.T. - PA)

(T.C. -

SP)

Conversão Realmente tudo o que foi exposto (edição de dezembro/201 O) é pura verdade. A Igreja Católica Apostólica Romana é a única fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, mas mui1:8]

fanna de tradução áo pensamento" "O povo 9osta de ~Quem 9osta de miséria

é intdectua!,,

Simplicidade 1:8] Creio no que meu pai dizia, que Deus se revela aos simples e resiste aos soberbos. O milagre é para mim um testemunho da presença da Virgem, que vela por nós e pede o nosso reconhecimento e humildade.

Ensino deturpador Achei muito interessante o artigo Revivescência católica em São Paulo no século XIX. Sou mãe de seis crianças e me preocupo bastante com a formação delas, mas infelizmente hoje em dia o ensino católico verdadeiro já não existe mais, e praticamente tudo o que se ensi na nos colégios vai contra a moral e os bons costumes, ou seja, as crianças chegam em casa e temos que ensinar corretamente tudo o que aprenderam deturpado na escola. Gostaria, se fosse possível, que publicassem mais artigos sobre este assunto.

"A roupa é uma

('B-ctlz cic)

Devoção mariana

(P.G.O. -

1:8]

MG)

FRASES SELECIONADAS

SP)

Exorcismo 1:8] Infelizmente vejo que há muitos preconceitos e idéias insanas naqueles que se dizem evangélicos e alegam que encontraram Jesus saindo da Igreja Católica ... Creio que eles precisariam de um sacerdote para expulsar seus demônios. Por outro lado, vemos muitos casais que se dizem católicos, que comungam todos os domingos, mas que usam preservativos e pílulas anticoncepcionais, abortam, separam-se, abandonam os filhos . Também estes precisariam rezar, pedindo a expulsão de seus demônios. Vejo que realmente estamos perdendo o foco do verdadeiro casamento abençoado por Deus, em que o casal é levado pelo Espírito Santo a se entregar a Deus, em uma vida de santidade e castidade, educando seus filhos no caminho do Senhor.

"Moáa é uma coisa que aca6a saináo de nwáa" (coco Cl-tciv.el)

"A pior coisa que têm

os maus costumes é serem costumes. Aináa é pior que serem maus,,. ('Pe. A111,to111,Lo vLeLrci)

Cartas, fax ou e-mails: enviar aos enderec;os que figuram na página 4 desta edic;ão.

(M.J. -MG)

FEVEREIRO 2011 -


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1.

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Pergunta - Sou católico apostólico romano. Nas escolas há cartazes incentivando o uso do preservativo, mas na Missa os padres não manifestam a indignação de nós cristãos quanto a isso. Vou acrescentar um fato que aconteceu aqui em casa, agora no Ano Novo. Informaram-me que minha sobrinha e seu namorado viriam pousar aqui em casa naquela noite, e eu disse: "Será um imenso prazer recebê-los, mas é claro que eles vão dormir em camas separadas, não é?" Responderam: "Não, eles vão dormir juntos, o que é que tem?" Eu expliquei: "Eles ainda não são casados, e sob o meu teto não permitirei isso. Avise-os para que não venham". Minha mulher ficou furiosa comigo, e disse: "Você está querendo dar uma de santo agora! ... Isso é coisa de antigamente, hoje em dia não tem nada a ver''. Respondi: "Não sou santo, mas que é pecado é, e devemos evitar cometê-los. Principalmente temos obrigação de deixar isso bem claro aos mais jovens!" Resultado: Eles não vieram, e tive que aguardar uns dias para minha mulher deixar de ficar zangada comigo... (mas que não dormiram juntos em minha casa, não dormiram!). Os padres é que teriam que falar, falar e falar isso nas Missas. Eu sei que não falam, porque vou à Missa todos os domingos, raramente falto, e sei que nada dizem. Então é preciso gritar. Por que a Igreja se cala? De que tem medo? Tem medo de perder fiéis?

CATOLICISMO

• 1

Resposta - "Isso é coisa de antigamente ... ". Eis aí uma censura que induz ao pânico grande número de nossos contemporâneos. Com base nesse slogan, que abala as resistências amolecidas, os costumes de "antigamente" vão sendo combatidos, abandonados e substituídos por outros, mais "modernos". O slogan é expresso de maneira curiosamente incompleta: "Isso é coisa de antigamente, hoje em dia não tem nada a ver". Falta dizer: Não tem nada a ver com quê? Com os costumes e a moral de "hoje em dia", certamente! Portanto, "nada a ver" com o ordenamento social vigente em nossos dias. Bem entendido, esse novo "ordenamento" não constitui uma verdadeira ordem, e sim uma desordem total. Muitos de nossos contemporâneos recebem a graça de perceber que o desconcerto do mundo moderno é de tal monta, que não se resolverá sem uma intervenção extraordinária da Providência. Felizmente Nossa Senhora veio anunciar em Fátima, em 1917, que essa intervenção da Providência se dará em nossa época: será o triunfo do seu Imaculado Coração. E a verdadeira ordem, baseada na Lei natural, na Lei divina e nas leis da Igreja, será restabelecida em todo o mundo. Na lógica da Mensagem de Fátima, essa intervenção extraordinária da Providência comporta não só castigos nunca vistos - quiçá de ordem cósmica, como fogo caindo do céu - mas também um entrechoque dos homens entre si: uns maus lançando-se contra outros, mas unindo-se na perseguição aos bons. E o sangue

□ Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC

dos mártires será mais uma vez semente de novos ctistãos, de acordo com a frase de Tertuliano. Com isto a civilização cristã será restaurada em toda a Terra, segundo o lema que São Pio X tomou como diretriz para o seu pontificado: Omnia instaurare in Christo. Viveremos o bastante para assistir o triunfo da Santa Igreja anunciado por Nossa Senhora em Fátima, nós que estamos avançados em idade? Pergunta análoga foi formulada a Santa Catarina Labouré, vidente da Medalha Milagrosa. Seu confessor demonstrava-se preocupado com seu destino pessoal, e ela esclareceu: "Outros lá estarão, se nós não estivermos!". O dia e a hora, só Deus conhece. Cumpramos cada um o próprio dever - como fez o autor da pergunta que estamos respondendo - e abandonemo-nos confiadamente à misericórdia de Deus.

Família tradicional X amor livre O fato pessoal relatado pelo consulente é, portanto, mais amplo e profundo do que

parece. Configura uma mudança total da instituição da família tradicional rumo ao amor livre, preconizado há séculos pelos revolucionários de diversas escolas. Marx e Freud, dois proeminentes "profetas" do mundo moderno, defenderam o amor livre em suas doutrinas apresentadas autonomamente, mas que desfecharam amalgamadas na revolução da Sorbonne de 1968. Aparentemente derrotada, na verdade essa revolução contaminou todo o mundo, da mesma forma que a fumaça dos cigarros impregna o salão onde houve uma festa, permanecendo mesmo depois que os convidados saíram. Isto explica que uma mãe de família, que provavelmente não abandonou de todo a prática de seus deveres religiosos, considere natural em sua própria casa - como relatou o missivista - um comportamento que constitui manifestação inequívoca do amor livre. O que é o amor livre senão uma vida conjugal sem compromissos, que se inicia já no período do namoro e evolui para um convívio

O abandono das sábias normas e costumes que regulavam a constituição de uma familia tradicional leva à infelicidade, ao tormento e ao desespero.

O rebanho esperava que seus bispos e sacerdotes pregassem as verdades transcendentais da Fé, ensinassem a moral tradicional, mas eles estavam empenhados no engajamento político e social dos fiéis. Em pé, na foto, o bispo francês Jacques Galllot.

permanente na casa dos pais ou em imóvel separado? Às vezes é formalizado por um casamento civil, ou até religioso, mas destinado a durar poucos anos ou até poucos meses. Onde foi parar o "até que a morte nos separe"? A maior ilusão é acreditar que o amor livre gera a felicidade dos pseudo-cônjuges. A infelicidade desponta em qualquer perspectiva que se vislumbre a partir do amor livre. O abandono das sábias normas e costumes que regulavam a constituição de uma família tradicional leva à infelicidade, ao tormento e ao desespero. Os maiores prejudicados são os filhos que nasçam nessas circunstâncias. Quem se regozija com isso é o demônio, que deseja a perdição das almas, e sobretudo injuriar a Deus que o expulsou do Céu em castigo de seu non serviam (não servirei), brado sacrílego com que se levantou contra Deus.

Portanto os que se dedicam à pregação ou prática do amor livre estão, consciente ou inconscientemente, fazendo o jogo do demônio e participando de sua rebelião contra Deus. Como seria bom que os sacerdotes lembrassem estas verdades nos sermões dominicais!

O que a Igreja perde com Isso? Omitindo pontos fundamentais da doutrina e moral católicas, os pregadores perdem as almas. No Brasil, quem o reconheceu foi o bispo D. Pedro Luiz Stringhini, então auxiliar de São Paulo: "Fizemos a opção pelos pobres, e eles fizeram a opção pelos pentecostais ". O bispo pondera que a Igreja talvez tenha sido muito politizada e sofisticada: "O povo não entendia expressões como 'compromisso social da f é', 'engajamento pastoral'. As pessoas não gostaram de

nosso jeito". Reconhece que a Igreja Católica deixou, dessa maneira, de atender as aspirações transcendentais do rebanho (cfr. "Folha de S. Paulo", 13-12-03). O rebanho esperava que seus bispos e sacerdotes pregassem as verdades transcendentais da Fé, ensinassem a moral tradicional, mas eles estavam empenhados no engajamento político e social dos fiéis. O resultado é que muitos católicos pouco esclarecidos fizeram a "opção preferencial pelos protestantes" ... Assim, a Igreja perdeu os que tinha e não atraiu aqueles para os quais fora feita a "abertura para o mundo", preconizada - segundo a voz corrente - pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II. O próprio Pontífice reinante, S.S. Bento XVI, afirma: "Nos decênios sucessivos ao Conci1io Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não

como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. Assistiu-se assim a intervenções de alguns responsáveis eclesiais em debates éticos, correspondendo às expectativas da opinião pública, mas deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos. Insensivelmente caiu-se na auto-secularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham: os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver aquilo que não vêem em parte alguma, ou seja, a alegria e a esperança que brotam do fato de estarmos com o Senhor ressuscitado" (Discurso aos Bispos da Conferência Episcopal do Brasil dos Regionais Oeste l e 2 em visita Ad Limina Apostolo rum, 7-9-2009). Nosso missivista está certo, portanto, ao pleitear que os sacerdotes preguem nas Missas dominicais a Moral tradicional. Pois, como diz Bento XVI, "os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver [e ouvir] aquilo que não vêem [nem ouvem] em parte alguma". Assim fazendo, a Igreja nada tem a perder. Pelo contrário, ganha aquilo que deve ganhar, isto é, as almas. • E-mail para o autor:

catolicismo@terra.com.br FEVEREIRO 2011 -


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A REALIDADE CONCISAMENTE Cruz Vermelha retirou símbolos natalinos

A

Cruz Vermelha proibiu a exibição da cruz du rante o Natal em seus 430 postos de coleta de donativos na Inglaterra, com o pretexto de não ofender os maometanos. Christine Banks, voluntária da associação em Kent, observou: "Montamos um presépio na janela, edisseram-nos para tirá-lo. Parece que não podemos ter nada que simbolize o Natal. Se enviamos cartões com votos, não podemos relacioná-los com o Natal. Quando perguntamos a razão disso, explicaram-nos que era para não ofende r os muçulmanos. Nenhuma pessoa razaável pode objetar que os cristãos comemorem o Natal, mas somos proibidos de exibir qualquer símbolo do cristianismo". Lord Ahmed, um dos políticos islâmicos mais proeminentes, afirmou ser "estúpido julgar que os muçulmanos ficariam ofendidos". O laicismo é militante só contra a Igreja Católica, sendo para os muçulmanos um coadjuvante ativo e simpático. •

Tribunal austríaco pune 11 iodler", alegando burla criminosa m tribunal de Graz, Áustria, condenou Helmut Griese, de 63 anos, a pagar multa de 825 euros por "ridicularizar" crenças maometanas. Griese cantava em sua casa tradicionais músicas alpinas conhec idas como "jodl", e uma família islâmica vizinha alegou que as canções "imitavam" o muezim que convoca os mu çulm anos para as orações nas torres das mesquitas. Griese di ss e ao j orn al "Kronen" que não tinha essa intenção. Contudo foi ele condenado por "menospreza de símbolos religiosos", crime em que habitualmente são enquadradas as profanações neonazistas de cemitérios judaicos. Quando as tradições de um país são condenadas em favor de costumes de religiões que trabalham para destruir esse mesmo país, há todas as razões para se temer o pior. •

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EUA: bancos voltam a exibir símbolos cristãos Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) aprovou uma proibição de exibir símbolos cristãos e afixar versículos da Bíblia nos bancos de Oklahoma. O senador Jim Inhofe e o deputado Frank Lucas criticaram a proibição em carta a Ben S. Bernanke, presidente nacional do Fed: "Isso é um assalto total contra afé, os valores e os direitos do banco, de seus empregados e do povo que ele serve". Como conseqüência, os chefes do Fed em Kansas City receberam luz verde do Fed em Washington; e Thomas Hoenig, presidente do Fed em Kansas City, aprovou que os empregados ostentem símbolos religiosos. Quando há firmeza na defesa dos símbolos cristãos ostentados em locais públicos, a ofensiva laicista recua. •

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Hábito tradicional e disciplina atraem vocaCjÕes s conventos de reli giosas que se modernizaram segundo o figurino da "Igreja nova" estão vazios, devido às desistências, apostasias e falta de vocações. Porém, conventos como o das dominicanas de Santa Cecília em Nashville (EUA) vivem repletos de noviças. Elas usam hábitos tradicionais e obedecem a uma estrita disciplina de oração, ensino e silêncio. O hábito antigo "i maravilhoso, é uma lembrança contínua de sermos esposas de Cristo; e aos outros ele diz que existe uma realidade além deste mundo - o Céu. Nós todas estamos voltadas para o Céu" - diz a irmã Mara Rose McDonnell. A irmã Anna Joseph Van Acker explica: "Nossa geração está sedenta de ortodoxia". A rádio NPR afir ma q ue esses co nve ntos estão faze ndo do conservadorismo o novo pólo de radicalidade na Igreja Católica. •

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CATOLICISMO

Excesso digital torna homens "ratos de laboratório" assédio de estímulos digitais transformou-nos em "ratos de laboratório", que ansiosamente apertam teclas ou telas de computadores e telefones para obter informações incessantes. Nicholas Carr, ex-editor executivo da Harvard Business Review, afirma que isto produz um "engarrafamento" mental, bloqueando raciocínios profundos e com rn mo definidos, além de gerar dependência à tecnologia: "Quando recebemos dados demais e rápidos demais, sofremos o que os neurocientistas chamam de 'sobrecarga cognitiva'. Isto resulta em que só retemos pouquíssima info rmação e fracassamos na tentativa de relacioná-la com as lembranças de experiências passadas. Ou seja, nossos pensamentos ficam inconsistentes e dispersivos" . •

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Meteorologista 11cético" é hoie considerado "profeta"

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meteorologista e astrofísico Piers Corbyn (foto), fa moso pelo acerto de suas predições climáticas, previa um resfriamento global, contrariamente ao midiático "aquecimento global antropogênico ". Foi tachado de "cético" radical e "absolutista", porque defendeu que "o C0 2 nunca determinou, nem determina e nunca determinará o clima ou a temperatura da Terra. O aquecimento global está fora de cogitação e nunca teve nada a ver com o C0 2 , que continua aumentando, mas o mundo está arrefecendo e continuará a f azê-lo". Hoje em dia, diante dos sucessivos anos frios que penalizam o hemisfério norte, ele é procurado como um "profeta". •

Polícia chinesa acusada pela morte de líder

enten~s de residentes da aldeia de Puqi e~frentaram a polícia no dia 1 de Jane1ro, em protesto contra o assassmato de Qian Yunhui, líder na luta contra o confisco de propriedades. Qian morreu decapitado por um caminhão sem placa, e a polícia alega que foi acidental, mas a população sustenta que policiais encapuzados colocaram Qian sob o pneu do veículo que o esmagou. A China é vasculhada por videocârneras da polícia comunista, mas esta alega que a única câmera do local naquela hora não funcionou por "problemas técnicos". O povo quis evitar que os policiais levassem o cadáver, e tirou fotos que circulam no Ocidente. A estranha morte de Qian suscitou comoção na Internet, e logo a polícia convocou para "depoimentos" Wang Xiaoshan e Liu Shasha, defensores dos direitos humanos na web, e os encarcerou por tempo indeterminado. •

Alemães reieitam o euro e pedem o retorno do marco 49% dos alemães não desejam mais o euro e querem a volta do marco, revelou pesquisa do jornal "Bild". O mais significativo é que a insatisfação foi constatada após intensa campanha do governo alemão procurando convencer o público de que o euro é bom. Só 41 % dos alemães estão satisfeitos com a moeda paneuropéia. A pesquisa acrescentou que, se os alemães fossem consultados hoje para ingressar na euro-zona, 60% votariam contra e 30% a favor. Em Londres, Douglas McWilliams, chefe executivo do Center for Economics and Business Research (CEBR, think tank líder em estudos econômicos) declarou : "Só vemos uma chance entre cinco de o euro sobreviver nos próximos 10 anos". •

Onda de conversões preocupa regime comunista do Vietnã

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s numerosas conversões ao catolicismo, ocorridas no grupo étnico vietnamita dos Montanheses, causam pânico ao governo da província de Kontum . Por ocasião do Natal, dirigentes socialistas locais, amparados por policiais e milicianos, impediram a celebração da Missa do bispo diocesano D. Michael Hoang Duc Oanh na cidade de Son Lang, embora houvesse aprovação oficial para a cerimônia: "Se você quer a Missa, pode celebrá-la sozinho, mas nenhum desses aí [os fiéis] pode participar dela, e o ato não pode durar mais de uma hora!" - disseram ao bispo os comunistas. 30.000 Montanheses converteram-se ao catolicismo em 2008, e mais de 20.000 em 2009. As autoridades vietnamitas querem frear essa tendência, que representa séria ameaça para o comunismo.

Três ex-bispos anglicanos favorecem conversões rJ"\ês prelados anglicanos renunciaram 1 à sua falsa igreja e ingressaram na Igreja Católica na catedral de Lond res. Foram acompanhados na conversão ao catolicismo por membros de 20 paróquias anglicanas, entre os quais três freiras do santuário da padroeira do país, Nossa Senhora de Walsingham, expulsas quando anunciaram sua conversão. Esse acontecimento representa uma abertura simbólica do processo de conversão que , de início , deverá conduzir ao catolicismo aproximadamente 1 .000 bispos e sacerdotes anglicanos, além de incontáveis fiéis chocados com a ordenação de mulheres e a sagração de bispos homossexuais no anglicanismo. Na Páscoa serão ordenados, segundo a liturgia católica, cerca de 50 sacerdotes que abandonaram a denominação herética da Inglaterra. Há disputas pela propriedade e pelo uso de ant igas igrejas anglicanas, que ficaram desertas de clero e fiéis . Essas conversões para a verdadeira Igreja de Jesus Cristo desagrada os ecumenistas.

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Limitação da propriedade rural, Reforma Agrária e estupidez N o Brasil, o contraste entre o pujante êxito do agronegócio e o fracasso da Reforma Agrária socialista torna-se cada vez mais clmnoroso li HÉLIO BRAMBILLA

"Sozinho, produw comida para cem mil pessoas!" - Soam como boa música essas palavras de um desbravador que se ufana de alimentar tanta gente. Ele não fala com vão orgulho, mas com altivez. Secundado pela fanu1ia e por seus empregados, atinge índices impressionantes de produtividade. Um amigo me informara que uns mega-carninhões - 18 de uma só vez haviam carregado cerca de mil toneladas de feijão numa fazenda. Os motoristas, que tinham almoçado com os 1.300 funcionários do local, comentaram ter-se alimentado muito bem, pois a excelente qualidade das refeições é garantida pela supervisão de nutricionistas. Emigrado do sul com diploma de agronomia e a roupa do corpo, freqüentemente o produtor alimenta cem mil pessoas com o que colhe, almoça com os seus fu ncionários, assiste com eles às Missas que marcam o início da safra, e participa com as respectivas fanu1ias das quadrilhas de São João . Numa recente safra de feijão, o produtor acima referido colheu um verdadeiro recorde nacional, provavelmente mundial: seus 19 pivôs de irrigação foram responsáveis por uma média de 64,8 sacas/hectare. Assim, de 125 hectares plantados ele retirou 1.539.000 sacas, suficientes para carregar 231 mega-caminhões bitrens. Enfileirados, esses caCATO LIC I SMO

minhões perfariam uma extensão de 10 quilômetros! Em outras fazendas ele ainda produz café, soja, algodão, milho, trigo, bois em confinamento e um dos maiores plantéis suínos do Brasil.

Agl'Oneg6cio e agricultura integrada Estes dados desmerecem outros produtores menores? Absolutamente não! O Prof. Marcos Fava Neves (FEA/USP - Campus Ribeirão Preto), em artigo para a "Folha de S. Paulo" (25-9-10), desmente com maestria os que desejam contrapor o produtor dito "familiar" ao empresarial, sobretudo no "vale-tudo" dos programas eleitorais. E comenta: "É importante que essas lideranças que criticam o agronegócio entendam que esse conceito foi criado em 1957 nos Estados Unidos (apenas em 1990 no Brasil) para dar o caráter de integ ração à agricultura. Agricultura integrada com o comércio, com a indústria, com os serviços, com as pesquisas, com os insumos e com os produtores. Na definição, não existe a palavra 'tamanho'. É preciso entender que agronegócio não significa algo grande, e sim algo integrado" . É voz corrente que, com a posse de 20 hectares, um produtor no Paraná, Santa Catarina ou Rio Grande do Sul ganha mais com a avicultura ou suinocultura, quando integrada a uma cooperativa ou às grandes processadoras de carne. Ele possui um padrão de vida bem melhor que o dos pequenos e médios fazendeiros do centro-oeste.

Assentados sobrevivem com ,;1/uda estatal em "favelas rurais" Falando recentemente para um seleto auditório em São Paulo, a senadora Kátia Abreu, presidente da CNA, apresentou estatísticas mostrando que, dos cinco milhões de proprietários rurais bra-

sileiros, 1.500.000 produzem 70% , 2.500.000 produzem 6%, e 1.000.000 produzem os restantes 24%. Os primeiros não são apenas proprietários de grandes extensões de terras, mas pequenos e médios produtores integrados ao agronegócio. Proporcionalmente eles produzem mais que os grandes proprietários. Os 2.500.000 seguintes são os que mantêm apenas uma chácara de lazer ou um pequeno sítio com um casal de aposentados. Somam-se a estes mais de 1 milhão de assentados da Reforma Agrária, vivendo à custa dos programas sociais do governo federal nas suas "favelas rurais", onde apenas alguns poucos prosperam. Os terceiros são os produtores "marcha lenta", que trabalham sem pretensões maiores do que ter uma vida digna, tranqüila, produzindo em menor escala.

Regimes marxistas: produção decai e a miséria generaliza-se Ao analisar em 1981 o projeto autogestionário do Partido Socialista francês, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira condena o igualitarismo socialista, que pretende uniformizar as dimensões das propriedades e socializar o sistema de produção. E o conceitos que ele discute aplicam-se inteiramente ao caso brasileiro:

"Os princípios econômicos vigentes no Ocidente, mesmo quando tenham dado ocasião a abusos, emanam da própria natureza humana. Eles podem caracterizar-se, resumidamente, pela afirmação de legitimidade da propriedade individual, bem como da iniciativa e do lucro privados. "Os socialistas se propõem, no entanto, implantar outro sistema econômico, orientado para outras finalidades e FEVERE IRO 2011

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a partir de outros incentivos. A idéia do que eles qualificam de lucro só para alguns deve substituir-se progressivamente pelo critério da utilidade social, determinada pela vontade soberana do povo. Ou seja, os socialistas, como os comunistas, afirmam que o indivíduo existe para a sociedade, e deve produzir diretamente, não para seu próprio bem, mas para o da coletividade a que pertence. "Com isto, o melhor estímulo do trabalho cessa, a produção decai forçosamente, a indolência e a miséria se generalizam por_toda a sociedade. Com efeito, cada homem procura pela luz da razão, como também por um movimento instintivo contínuo, possante e fecundo, prover antes de tudo as suas necessidades pessoais e às de sua família".

O igualital'ismo instlla o desâ11imo

nacional se torna baixo, fraco, insuficiente, como acontece de modo tão evidente na Rússia e nos países satélites". [... ]

O igualitarismo é depressivo, produzindo falta de estímulos "Importa acentuar aqui a força do estímulo da desigualdade e o efeito depressivo da igualdade geral, bem como das desigualdades microscópicas. Numa sociedade igualitária, é inevitável que o ganho do trabalhador tenha um teto, igual para todos, ou tetos muito pouco desiguais. Quanto nela seja pequena essa desigualdade, torna-se patente se a compararmos às desigualdades de tetos do regime socioeconômico em vigor no Ocidente. "Convém ponderar que, pela própria natureza das coisas, a capacidade de tra-

Prossegue Plínio Corrêa de Oliveira:

os supercapazes efetuam um trabalho menor do que suas forças, os capazes são, por sua vez, desestimulados, e todo o nível de produção baixa. "O igualitarismo conduz assim, e necessariamente, a uma produção inferior à soma das capacidades de trabalho de um país. E tanto menor quanto esse igualitarismo for mais radical" ("O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte?": http:/ /www. pliniocorreadeoliveira.info/livros/1981 %20-%20O%20socialismo%20autogestionario%20frances.pdf)

As potencialidades excepcionais do Brasil Relatório recente divulgado por Jacques Diouf, diretor da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), afirma: "O Brasil é o produ-

tor agrícola com crescimen"Quando se trata da próto mais rápido e um aumento Cédula de votação pria conservação, a inteliprevisto de 40% até 2019". O gência humana mais facilrelatório lembra ainda que 1. Você concorda que as grandes nos países desenvolvidos basmente luta contra suas limipropriedades de terra no Brasil devem ter tações, e cresce tanto em aguta o trabalho de 2% da popuum limite máximo de tamanho? Não Sim deza como em agilidade. A lação para produzir a quantivontade vence com mais fadade necessária de alimentos, 2. Você concorda que o limite das grandes cilidade a preguiça e enfrenenquanto nos países pobres propriedades de terra no Brasil possibilita ta com maior vigor os obstáesse percentual é de 60% a aumentar a produção de alimentos Sim Não citlos e as lutas. Em suma, o 80%. saudáveis e melhorar as condições de vida no campo e na cidade? trabalhador atinge o nível de Na maior feira mundial do produtividade quantitativa e setor sucroalcooleiro - a qualitativamente corresponFEICANA/FENASUCRO, Modelo de cédula para "votar" pela limitação da prodente às reais necessidades e realizada no início de setempriedade, distribuído num santuário católico do Brasil conveniências sociais. bro/2010 - o cônsul geral da "É a partir desse impulÍndia, Dr. J. K. Tribathi , em balho varia imensamente de homem para palestra sobre as potencialidades da proso inicial - túmido de legítimo amor de homem, e que a produtividade global do dução de açúcar/álcool no Brasil, mossi e dos seus - que o homem projeta as trabalho de uma nação supõe o pleno ondulações mais largas do amor ao prótrou a impossibilidade de a Índia aumenximo, as quais devem abarcar, em últiestímulo de todas as capacidades, tar a sua, por falta de terras disponíveis, pois seus 50 milhões de produtores de ma etapa, todo o corpo social. E assim notadamente a dos supercapazes. cana impedem a produção em grande sua atividade, longe de beneficiar ape"No regime socioeconômico em vigor no Ocidente, os horizantes para as escala. nas o seu pequeno grupo familiar, toma Uma lei socialista em vigor na Índia amplitude proporcionada à sociedade. legítimas ambições dos supercapazes são obriga as usinas a comprar até a mais irindefinidos. Postos eles a caminho, esti"O socialismo, abolindo este primeiro risória quantidade de cana - por exemmulam de proche en proche toda a hieestímulo natural e poderoso do trabalho, e instaurando pelo contrário um regime rarquia das capacidades necessariamenplo, um feixe levado pelo produtor na sua bicicleta. Por isso, enquanto o 50 mi salarial cada vez mais igualitário, no qual te menores, as quais têm também, dianos mais capazes não vêem compensado te de si, possibilidades de êxito proporlhões de produtores indianos marcam proporcionalmente seu maior serviço, cionadas. Limitando o surto dos superpasso nos 25 milhões de tonelada de instila o desânimo em todo trabalhador. capazes ou dos capazes, o ímpeto de proaçúcar e 1 bilhão de litros de álcool, com Assim, todo o jorro da força de trabalho dução do trabalho diminui. Aliás, onde 72 mil produtores o Brasil deverá atinCATOLICISMO

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gir 37 milhões de toneladas de açúcar e 30 bilhões de litros de álcool. O ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, afirmou que "o Brasil só uti-

liza 5,4% dos seus 851 milhões de hectares para produzir J50 milhões de toneladas em culturas anuais de grãos, e dos 220 milhões de hectares de pastagens naturais e cultivadas a pecuária só utiliza 170 milhões. [. .. ] A tendência é o aumento da integração lavoura/pecuária e o uso de semi-confinamentos para terminação dos animais para abate. Dispomos hoje de 90 milhões de hectares para as novas lavouras, o dobro do que plantamos na atual safra" (Revista "Opiniões", setembro de 2010, pág. 96).

Esquerda brasileira, refém do modelo cubano Sempre tenho sustentado que a esquerda brasileira é muito limitada e atrasada, pois segue à risca o charlatão Marx, velho de quase 200 anos. Teima também em seguir os paradigmas da Cuba dos irmãos Castro,

onde o próprio Fidel foi obrigado a reconhecer que o modelo cubano se esgotou. Outros países, como México, China e Chile, acabaram com a Reforma Agrária para poderem produzir excedentes para alimentação da população urbana, e não apenas para subsistência. Mas a esquerda brasileira parece ter perdido o carro da História. Se considerarmos que a área destinada aos minifúndios improdutivos da Reforma Agrária já ultrapassou toda a área destinada à produção de grãos, laranja, cana, florestas para celulose, madeira e carvão, podemos concluir que a solução não é dividir ainda mais a propriedade, e sim promover o contrário da Reforma Agrária. Com isso se poderá colocar no ciclo produtivo mais de 80 milhões de hectares, para que o Brasil duplique ou até triplique a sua produção. Seria, inclusive, o melhor modo de ajudar e promover os pobres que queiram trabalhar, e que hoje permanecem dependurados no Estado, vivendo em assentamentos que não produzem e nada prometem.

Enorme gárgula, surda à voz do bom senso Certa corrente ambientalista gosta de atacar os 15 a 20 milhões de hectares de pastagens que estariam "degradadas", mas nunca dizem que há 80 milhões de hectares aplicados na Reforma Agrária, estes sim realmente degradados. Numa catedral gótica, entre umas gárgulas em forma de monstros, destinadas ao escoamento da água pluvial, uma representava um dragão disforme, com um dos ouvidos colado ao piso e o outro tampado com a ponta de sua própria cauda. De acordo com a alegoria medieval, tal monstro simboliza o pecador empedernido, obstinado em não querer ouvir o bom conselho que provém de lábios sensatos. A esquerda brasileira se assemelha a uma enorme gárgula como essa, que não quer ouvir a voz da realidade, da Lei natural e dos ensinamentos contidos na doutrina social da Igreja. • E-mail para o autor: ca1olicismo@1erra.com.br

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INTERNACIONAL

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Assembléia, embora os votos populares tenham sido em maior parte para a oposição. Resultado mirabolante, que nem a cartola de um mágico conseguiria. Chávez não detém hoje maioria absoluta, e a vantagem que conseguiu nem de longe se compara à da Assembléia anterior. A situação foi por ele encarada como empecilho à execução de suas vontades, mas não lhe falta matreirice, somada à sua índole totalitária, para resolver o impasse. Assim, antes que se extinguisse o mandato da dócil assembléia eleita em 2005, fez votar leis que lhe permitem governar por decreto durante 18 meses, ao mesmo tempo que restringem brutalmente as atribuições da nova Assembléia Nacional. Para que deseja ele tantos poderes? Já seria muito ruim se resultasse apenas de um desenfreado desejo megalomaníaco de domínio. Mas o extremamente grave é que esse poder vem sendo exercido, e continuará a sê-lo, na linha do socialismo do século XXI. Apesar da propagandística conotação de modernidade, nada mais é do que o requentado comunismo velho de guerra, sob sua forma mais perigosa e nefasta: a autogestão socialista (ver quadro ao lado).

Autogestão socialista na Venezuela C hávez não é simplesmente um histrião, como alguns pensam. Seu projeto de autogestão comunitária é um plano-piloto, tendo em vista preparar a América Latina para um comunismo metamorfoseado. (li

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enezuela, eleições parlamentares de 2005: os políticos de oposição ao governo Chávez decidem aconselhar os eleitores a que se abstenham de votar, e tornam esta recomendação ponto central de sua campanha. CATOLICISMO

Ingenuidade? Difícil imaginá-la em políticos experientes. Bobeira? Os venezuelanos não são tolos. Cumplicidade com o governo? Eis uma hipótese mais plausível. O fato concreto é que a esmagadora maioria dos eleitores da oposição aceitou esse "conselho" - tão estranho! -

e não votou em ninguém. Como resultado, Chávez obteve verdadeira hegemonia parlamentar. Daí em diante veio governando com uma Assembléia Nacional inteiramente submissa a suas iniciativas, seus desejos e seus caprichos. Saudoso da União Soviética, ele vem empurrando a Venezuela para o socialismo, tanto quanto lhe é possível.

Matrnirices de um caudill10 Nas eleições de 2010, não mais foi possível manter a desastrosa orientação de 2005, e a maioria dos venezuelanos votou contra Chávez. Mas o caudilho fizera preceder a eleição de manobras tais, que conseguiu manter maioria na nova

As "comunas" de CJ1ávez A imprensa tem publicado dados esclarecedores .* Antes de encerrar o seu mandato, a Assembléia chavista aprovou "um con-

junto de normas que criam e regulam as comunas. O objetivo é fazer delas a unidade básica do Estado venezuelano. [. .. ] Serão um território com autogestão comunitária. Receberão verba pública de forma direta". As comunas serão ligadas diretamente ao Executivo e constituirão o "Estado comunal ", prescindindo de municípios e Estados. Uma comuna poderá abranger áreas de municípios diferentes, e mesmo de Estados diferentes . Terá carta comunal, parlamento comunal e até moeda. Será baseada na propriedade social, "orientada em direção à eliminação da divisão do trabalho ". Ou seja, o trabalho coletivo deverá substituir o trabalho individual (como também os lucros e todos os bens serão coletivos). Para o prefeito de Chacao, Emilio Graterón, as comunas são o "protótipo

O que é a autogestão socialista A propósito de uma tentativa do Partido Socialista Francês de impor a autogestão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou em 1981 o brilhante estudo "O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte?". Publicado em 69 países, com a impressionante tiragem de 33,5 milhões de exemplares, contribuiu decisivamente para impedir a execução desse plano de caráter marxista na França. O texto abaixo foi extraído desse importante documento. Os princípios econômicos vigentes no Ocidente, mesmo quando tenham dado ocasião a abusos, emanam da própria natureza humana. Eles podem caracterizar-se, resumidamente, pela afirmação da legitimidade da propriedade individual, bem como da iniciativa e do lucro privados. Os socialistas se propõem, no entanto, implantar outro sistema econômico, orientado para outras finalidades e a partir de outros incentivos. À idéia do que eles qualificam de lucro só para alguns, deve substituir-se progressivamente o critério da utilidade social, determinada pela vontade soberana do povo. Ou seja, os socialistas, como os comunistas, afirmam que o indivíduo existe para a sociedade, e deve produzir não diretamente para seu próprio bem, mas para o da coletividade a que pertence. Com isto, o melhor estímulo do trabalho cessa, a produção decai forçosamente, a indolência e a miséria se generalizam por toda a sociedade. O Partido Socialista estimula assim a criação de associações de bairro e similares, das quais parece esperar uma ação decisiva na distribuição das moradias, como também na redistribuição não-segregativa dos bairros existentes ou a serem construídos. Os comunistas têm como meta final a autogestão da sociedade. Lê-se no preâmbulo da Constituição russa que "o objetivo supremo do Estado soviéti-

co é edificar a sociedade comunista sem classes, na qual se desenvolverá a autogestão social comunista" (Constitución - Ley Fundamental - de la Unión de Repúblicas Socialistas Soviéticas, de 7 de outubro de 1977, Editorial Progresso, Moscou, 1980, p . 5). Nesse ponto não há, pois, divergência doutrinária entre comunistas e socialistas. O Instituto de Filosofia da Academia de Ciências da Rússia soviética assim define o papel do Estado no período de transição rumo à sociedade autogestionária: O problema da extinção do Estado, concebido dialeticamente, é o problema da transformação do Estado socialista em autogestão comunista da sociedade. (http://www. pli niocorreadcoliveira .i nfo/ 1ivros/ 198 1%20-%20O%20soc ia!ismo%20autogestionario%20frances. pd f)

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A Igreja militante contra o aborto e o demônio E sclarecedora entrevista do Pe. Thomas J. Euteneuer relaciona a prática abortiva com a ação diabólica; e aponta certos livros, filmes, jogos, etc, que podem influenciar as almas, deixando-as vulneráveis ao preternatural

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Membros da recém-formada milícia do presidente venezuelano Hugo Chávez

do comunismo" . Cada comuna é "conformada pela reunião de vários conselhos comunitários de uma zana" (espécie de "comitês de vizinhos"). Diversos bairros ou parte de um bairro serão organizados em conselhos comunitários, tipo sovietes. A Rádio Comunitária Arsenal (que vem sendo denunciada por apoiar as FARC e outros movimentos guerri lheiros) vê as comunas "como a esperança de construir uma sociedade pós-capitalista". 3,2 bilhões de dólares foram destinados pelo governo a 30 mil projetos de conselhos, a serem dirigidos por 41.211 pessoas que fizeram curso de participação política.

Coletivos armados Mais de 200 comunas estão "em construção", e a mais adiantada é a Comuna Panal 2021 , no bairro 23 de Enero. Esse bairro "funciona sob a coordeCATOLICISMO

nação do coletivo Alexis Vive, formado por disciplinados jovens que se dizem inspirados em Che Guevara e no teórico marxista lstvan Meszaros, entre outros" . A comuna é vigiada por câmeras espalhadas pelos blocos. "O Alexis Vive é um dos mais jovens grupos radicais chavistas do 23 de Enero, controversos por se envolver em episódios de violência e porque, para os críticos do presidente, são coletivos armados paraestatais, espécie de 'milícias' de Chávez".

Autogestão na Amél'ica Latina Movimentação análoga, embora menos adiantada, vem ocorrendo em outros países sul-americanos, corno o Equador e a Bolívia, e Chá vez goza de grande simpatia entre governantes da Argentina e do Paraguai. No Brasil, os "conselhos" de tipo soviético, aprovados por Lula no malfadado Programa de Direitos Huma-

nos (PNDH-3), permanecem como uma ameaça. Tudo isso junto nos diz que presenciamos uma tentativa de comunizar a América do Sul, talvez toda a América Latina. A autogestão que se impõe à Venezuela é apenas um plano-piloto. É o comunismo soviético que, depois de uma prolongada metamorfose, renasce entre nós maquiado e camuflado - uma planta daninha cujas sementes envenenadas são trazidas pelo pernicioso vento da demagogia, para medrar em novo terreno. Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas, atenda aos nossos pedidos de dar aos governantes e ao povo a clarividência de verdadeiros católicos, para oporem-se eficazmente a esse nefando plano. •

Pe. Thomas J . Euteneuer é presidente de Human Life lnternational, a primeira e maior organização pró-vida em dimensão internacional. É também exorcista ativo, autorizado a efetuar o antigo rito de exorcismo em várias dioceses dos Estados Unidos. Seu livro O Exorcismo e a Igreja Militante foi publicado em maio de 201 O. O Pe. Euteneuer concedeu esta entrevista ao Sr. Elias Bartel - de Crusade Magazine, órgão oficial da TFP norte-americana -, com autorização para reproduzi-la nas páginas de Catolicismo. *

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E-mail para o autor: cato li cismo @terracom.br

Crusade - É muito interessante e adequado que o presidente de Human Life lnternational seja também exorcista. O Sr. poderia nos dizer como o fato de ser exorcista ajudou-o na luta contra o aborto?

Nota: * Cfr. especialmente "Folha de S. Paulo", 19-12- JO

Pe. Euteneuer - Eu realmente tornei-me exorcista através de meu trabalho contra o aborto. É claro que há uma inteligência demoníaca "inspirando", pode-

Pe. Elltene11e1·: "Tornei-me exorcista através de meu trabalho na l11ta contra o aborto. É claro q11e há 11ma inteligência demoníaca 'inspirando' a promoção do aborto"

se dizer, a poderosa e abrangente promoção do aborto. Ninguém poderia levar avante tal modo de destruição maciça com tão perversa eficiência. Do mesmo modo, dei-me conta do seguinte: quem pratica o aborto abre-se de certo modo para o demoníaco. Com efeito, tenho rezado preces exorcísticas e, conforme o caso, realizado o exorcismo em muitas mulheres afligidas pelo demônio, devido ao contacto direto com o aborto ou com seus promotores . Esse é um dos crescentes modos pelos quais as pessoas se abrem diariamente para o mal, e em nosso trabalho exorcístico constatamos muito essa realidade, infelizmente. Ao confrontar o demônio pelo ministério exorcístico, temos uma percepção de que sua inteligência está "inspirando" a cultura da morte . Crusade - O Sr. diz que as oportunidades para as pessoas "abrirem-se ao mal" estão crescendo. Há mais possessos hoje do que no passado?

Pe. Euteneuer - Não há dúvida de que os casos de autênticas atividades demoníacas nas pessoas estão crescendo, e por isso há também a necessidade crescente de exorcistas experientes. Fui autorizado a realizar exorcismos em várias dioceses do país, e não FEVEREIRO 2011

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existem meios e tempo disponíveis para atender o grande número de pedidos. Há muitas razões para isso, mas a principal é que o oculto está sendo considerado "normal" pela sociedade ocidental, e as pessoas não se dão conta do dano que lhes pode advir seguindo tais fascinações. Por exemplo, os livros e filmes sobre Hany Potter talvez não abram a pessoa para a possessão, mas certamente as farão encarar como normal a "magia", e levarão muitos jovens a interessar-se pelo ocultismo. Considere que a autora J.K. Rowling vendeu por volta de 400 milhões de livros! O mesmo se dá com os filmes e videogames sobre demonismo, que freqüentemente ajudam a criar uma obsessão nas pessoas de pouca formação, ou emocionalmente vulneráveis. E contra isso não prevalece a catequese católica, que se acha em deficiente estado, além da falta de alerta sobre o mal. Os cristãos parecem ter se esquecido de que devemos, por causa de nossa fé, rejeitar sempre e categoricamente o demônio e suas obras. Crusade - Como o Sr. mencionou antes, constata-se o demoníaco entrando na indústria do entretenimento - por exemplo, através de iniciativas como a série sobre Harry Potter, os tabuleiros Ouija e outras - e infelizmente elas são encontradas em redes de lojas de brinquedos como Toys "R" Us. O Sr. não acha isso muito perigoso?

CATOLICISMO

Elias Bartel, de Crusade Magazine (esq.), entrevista o Pe. Euteneuer

"Casos de atividades demoníacas estão crescendo. A necessidade de exorcistas aumenta, e os que a isto se dedicam não têm tempo para atender os pedidos"

Pe. Euteneuer - Nós, católicos em geral, tornamo-nos cegos para a idéia de sermos seduzidos pelo mal, o que sempre sucede por estágios, começando pelas coisas mais inocentes e sadias até chegar à escolha do mal mais explícito. É difícil culpai· as crianças pela sua fascinação pelo oculto, quando seus pais compram essas coisas! Os pais pensam: "Bem, finalmente ela está lendo!" - como se não importasse o que a criança lê! Eles se defendem , dizendo que ninguém jamais se tornou possesso lendo um livro ou vendo um filme. Talvez isso seja verdade, mas tenho exatamente trabalhado com muitos que se abriram espiritualmente para o oculto através de livros e filmes . Pelo menos em um caso, trabalhei com um jovem que realmente tornou-se possesso por se viciar em videogames satânicos. Carece de objetividade essa defesa dos livros, alegando que não se ouviu dizer que alguém tenha ficado possesso como resultado de os ler, pois os pais falham na educação dos filhos ao não formálos na fé e não ensinar-lhes claramente a diferença entre o bem e o mal. Faltando uma boa formação cristã, deixa-se livre o campo para uma abertura ao ocultismo. Todas as sociedades pagãs nos mostram isso. O cristianismo sempre foi um antídoto para o paganismo na sociedade. A despeito do que o povo diz, as crianças ouvem seus pais; e se eles apóiam uma coisa má, a criança torna-se vulnerável a ela. O

uso muito difundido dos tabuleiros de Ouija é assustador. Muito pouca gente vê que seu real perigo é ser demoníaco, uma dinamite espiritual com a qual nenhuma criança deveria brincar. Crusade - Em suas palestras, o Sr. insiste na idéia da Igreja Militante. Poderia explicar as razões disso? Pe. Euteneuer - Foram-se os dias em que a cultura cristã podia manter-nos junto aos sacramentos, auxiliando-nos a reconhecer a diferença entre o bem e o mal, etc. Em nossos dias, o zeitgeist [espírito da época] lança constantemente em nosso caminho novos ventos, aos quais temos que nos opor, e não é suficiente pru·a isso a nossa fé básica, mesmo que ela seja considerada "boa". Uma apatia em relação a isso transforma-se em morte espiritual, numa cultura agressivamente atraída pelo oculto. Precisamos agora de uma devoção radical e militante à nossa fé, e de habilidade para defender nossas famílias com o zelo de soldados que estão apaixonados por Cristo. Não é mais possível crer nas intenções de nossos professores, líderes políticos, protótipos - e, infelizmente, até de muitos do nosso clero. Necessitamos de uma postura mais batalhadora nesta época de secularismo militante. Necessitamos de mais oração, jejum, sacramentos, formação sólida na fé. Necess itamos de um engajamento para defender-nos e a todos os que

Entrada da sede de Human Life lnternational dirigida pelo Pe. Euteneuer

"Os pais fa/1,am com ,•e/ação aos 11/llos por 11ão formá-los na fé e não ensinar-lhes claramente a dilernnça entrn o bem e o mal. Falta uma boa formação"

são vulneráveis ao mal, que invade a sociedade como um veneno. O termo Igreja Militante nunca foi mais apropriado para designar como devemos ver nosso papel como católicos na sociedade. Crusade - Última pergunta, não porém a menos importante: há algo que os ativistas próvida devam entender melhor ou focalizar melhor, com relação a este problema? Pe. Euteneuer - Ressalto este último ponto: apenas uma devoção mais radical à nossa fé nos proporcionará as ferramentas para opor-nos à cultura da morte e a nos tornarmos vitoriosos na batalha pela vida. Nós, sacerdotes, devemos rezar para que os padres e bispos entendam e tomem sobre si um papel mais sério para conduzir a Igreja Militante na batalha. Deus ouvirá e responderá às nossas preces. A Igreja Católica tem recursos espirituais para opor ao ataque do mal disseminado em nossa sociedade, e a Igreja Militante tem que empreender seriamente sua luta pela salvação das almas. Está estabelecida a linha entre os verdadeiros e os falsos católicos, e muitos cristãos sérios estão se dando conta de que a única verdadeira Igreja é a única opção existente para opor-se energicamente aos males de nossa época. É um tempo difícil da História para se viver, mas é um grande tempo para manter-se verdadeiramente católico! •

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INFORMATIVO RURAL CPT quer que a presJdente avance na Reforma Agrária Catolicismo tem denunciado os perigos que rondam os agricultores: verdadeiras "espadas de Dâmocles" pairam sobre suas cabeças. A esquerda - governamental ou não tudo tem feito para implantar um sistema de tipo comunista no campo brasileiro. Sinal dos tempos: a CPT, órgão ligado à CNBB, também defende programas marxistas e força a sua implantação, como informa a repórter Renata Giraldi, da "Agência Brasil" (111-2011), no texto que segue. "A Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, divulgou documento em que pede a atenção do governo da presidente Dilma Roussejf para os desafios na reforma agrária e agricultura familiar: 'Diante das demandas da reforma agrária e da agricultura familiar e camponesa, é imensa a missão da presidente da República recentemente eleita. Com o apoio da maioria do Congresso Nacional, a presidente efetivamente terá, nesses campos estratégicos, a missão de fa zer a reforma agrária que nunca foi feita no Brasil', conclui a entidade". Para a CPT, "o governo Dilma deve elencar a reforma agrária como prioridade, com base em pelo menos sete pilares, entre eles adotar ações efetivas para o estímulo à agricultura familiar, garantir um orçamento adequado para o setor, propor um modelo de produção alimentar baseado na agricultura familiar e limitar o tamanho da propriedade da terra". A CPT sugere ainda que o governo assegure a aprovação da proposta - que está no Congresso - determinando o confisco de terras onde há exploração de mão-de-obra escrava; além de garantias de demarcação das terras indígenas e quilombolas (descendentes de escravos) e da atualização dos índices de produtividade. Apela ao governo para que dê prioridade à situação das comunidades dos quilombolas, pois na visão revolucionária da CPT essa população seria vítima de um trabalho "de escravidão". A CPT lembra que há uma "histórica disputa" no Brasil entre os defensores da reforma agrária e os contrários à proposta, constatando um desequilíbrio entre .as forças adversárias. Nesse documento parcial e de caráter ideológico, a CPT volta decididamente as costas à realidade brasileira, confirmando advertência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em Catolicismo (fevereiro/1993): "A Reforma Agrária surpreende por ser toda concebida e redigida com as costas voltadas para a realidade histórica mais recente e ao mesmo tempo mais flagrante. Conf ere ao Estado atribuições com amplidão típica de uma ditadura stalinista, ou mais ou menos tanto, tornando-se o detentor de poderes absolutos para pôr e dispor, segundo o arbítrio de CATOLICISMO

seus mais altos órgãos, dos bens e da situação pessoal de todos os agricultores e pecuaristas do País".

Ibama, campeão de multas O trio constituído por lbama, FUNAI e INCRA é conhecido pelos ruralistas como "tridente do diabo". Recorre ao expediente de aplicar multas astronômicas para punir, em vez de efetivamente buscar soluções para os problemas ambientais que eventualmente haja. Às vezes impõe multas tão altas que, ainda que o proprietário venda todos os seus bens, não conseguirá pagá-las. E acaba sendo a sua propriedade confiscada para a Reforma Agrária - um confisco camuflado. De acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União, 16 órgãos federais de arrecadação e fiscalização aplicaram 518.721 multas entre 2005 e 2009 - média de 284 por dia. O lbama, que tanto persegue os agropecuaristas, é ao mesmo tempo o que mais aplica multas e o que menos arrecada: aplicou multas no valor de R$ 14,68 bilhões, dos quais só recebeu R$ 84,88 milhões (http :// portal 2. tcu .gov .br/portal/page/portal/ TCU/comunidades/contas/contas_-governo/contas_09/Textos/Ficha %204%20% 20Arrec adacao %-20de % 20Multas.pdf).

Trabalho escravo: muito barulho para pouco escravo! A ONU esbraveja e impõe ao Brasil multas pela existência de "trabalho escravo" (expressão empregada de maneira injusta e generalizada) no campo. As esquerdas, inclusive a "esquerda católica", fazem coro. E todos ficam perplexos. Como é isso possível nos dias de hoje? Diante de tanto barulho, qual é a realidade? A revista "Direitos Humanos", da Secretaria de Direitos Humanos [da Presidência da República], dá algumas pistas. O artigo intitulado Combate ao Trabalho Escravo: como plantar uma floresta de Direitos Humanos, escrito pelo jornalista Leonardo Sakamoto e o juiz federal do Trabalho Marcos Menezes Barberino Mendes, esclarece: "O número de trabalhadores envolvidos na forma mais tosca de trabalho escravo contemporâneo é relativamente pequeno, mas não desprezível. De 1995, quando o sistema de combate ao trabalho escravo contemporâneo foi criado pelo governo federal, até dezembro de 2008, mais de 30.000 pessoas foram encontradas nessa situação, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, que junto com o Ministério Público do Trabalho e as Polícias Federal e estaduais é o principal órgão responsável pela apuração de denúncias e pela libertação de trabalhadores".

O que os autores não analisam é que o número de ruralistas incluídos na "lista suja" do trabalho - ou seja, a lista daqueles que teriam "trabalho escravo" em suas fazendas - é de menos de 200 num universo de 5,5 milhões de propriedades rurais. Vale dizer: "trabalho escravo" no campo existe, sim. Onde? Nos assentamentos da Reforma Agrária, transformados em autênticas favelas rurais. O resto é barulho de esquerda festiva.

Bons resultados

do campo

Avanço e competência na agl'icultura Numa lista de cerca de 120 países pobres e em desenvolvimento, o Brasil foi o que registrou o maior aumento de produtividade do trabalho agrícola entre 1988 e 2008. De acordo com um estudo sobre o papel da agricultura na redução da pobreza no mundo - realizado pelo Fida (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola), organismo ligado à ONU - o desempenho do Brasil é muito superior ao dos principais concorrentes nos mercados regional e mundial. No ano 2009, ultrapassou o Canadá como terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo. Estes resultados se tornaram possíveis graças às pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, sobretudo no desenvolvimento de sementes geneticamente modificadas, além de seu trabalho de campo junto aos agricultores. A abundância de recursos naturais, o aumento da demanda internacional e esse aumento da produtividade estão entre os fatores que têm impulsionado de maneira decisiva a atividade rural no Brasil nos últimos anos. Essas conclusões resultam de estudos da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas) e da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre as perspectivas de produção e preços das principais commodities agrícolas nos próximos dez anos. Prevê um ritmo invejável de crescimento para a agricultura brasileira, que pode atingir a posição de celeiro do mundo (Cfr. "O Estado de S. Paulo", 13-12-10 e 17-6-10).

As vendas de produtos brasileiros para o exterior somam mais de US$ 198 bilhões em 2010 e superam o recorde histórico de 2008. O agronegócio sustentou em 2010 o superávit da balança comercial brasileira, pelo décimo ano consecutivo, de acordo com relatório

do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo previsão da Assessoria de Gestão Estratégica desse Ministério, o valor do faturamento bruto, obtido com a produção e venda de produtos agropecuários brasileiros, pode ser recorde em 2011.

Escritório da Embrapa na África

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V isão panorâmica dos privilégios da Santa Mãe de Deus, de suas prefiguras no Antigo Testamento e de seu culto no Novo Testamento n

PuN10 MARIA SouMEO

N

este mês de fevereiro comemoramos duas importantes festividades da Santíssima Virgem: no dia 2 a sua Purificação, ou dia "das Candeias", e no dia 11 Nossa Senhora de Lourdes. A festa da Purificação celebra simultaneamente a Apresentação do Menino Jesus no Templo e a Purificação de Nossa Senhora, 40 dias após o nascimento do Salvador. Enquadrava-se no ciclo do Natal, e correspondia à data de seu fechamento. Nesse dia se benzem as velas para o culto litúrgico, provindo daí também o nome de Nossa Senhora das Candeias, ou Candelária, e a procissão das candeias. A vela representa Jesus, luz do mundo, e o acolhimento que lhe fez o velho Simeão como "luz para esclarecer os povos, e glória de Israel". Esta é uma das festas marianas mais antigas, talvez a primeira de todas, e já se tem notícia de sua celebração em Jerusalém no século IV, de onde passou para Constantinopla, chegando a Roma no século VII. A partir de 16 de julho de 1858 - precisamente quatro anos depois de o Bemaventurado Papa Pio IX ter definido o dogma da Imaculada Conceição - a Virgem Santíssima apareceu 18 vezes a Santa Bernadette Soubirous numa gruta em Massabielle, nas cercanias de Lourdes. Na aparição do dia 25 de março Ela disse à vidente "Eu sou a Imaculada Conceição", confirmando assim o dogma pouco antes proclamado. O humilde e esquecido burgo de Lourdes tornou-se o mais célebre santuário mariano do mundo, ao qual multidões acorrem para testemunhar à Santíssima Virgem sua devoção. Os inúmeros milagres e as muitas conversões ali obtidas transformaram-no em um lugar bendito de graças e de oração. Apresentamos neste número algumas considerações sobre o papel da Virgmn Santíssima na piedade católica, visando torná-la mais conhecida, segundo o desejo expresso pelo Pe. William Faber em sua tradução do Tratado da Verdadeira Devoção, de São Luís Maria Grignion de Montfort: " Ó, se Maria fosse ao menos conhecida, não haveria frieza para Jesus! Ó, se Maria fosse ao menos conhecida, quão mais admirável seria nossa f é, como seriam diferentes nossas comunhões! Ó, se Maria fosse ao menos conhecida, quanto mais feli zes, mais santos, menos mundanos seríamos, como nos tornaríamos imagens vivas de Nosso Senhor e Salvador, seu dite tíssimo e diviníssimo Filho! " 1

Maternidade Divina, 01'igem de todos os privilégios marianos Nossa Senhora é a obra-prima de Deus. Ela é "o paraíso terrestre do novo Adão, no qual este se encarnou por obra do Espírito Santo, para operar maravilhas incompreensíveis. É o grande, o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência de Deus, em que Ele escondeu, como em seu seio, seu Filho único, e nele tudo que há de mais excelente e mais precioso ". 2 Maria foi cumulada com uma plenitude de natureza e de graças, na previsão de sua maternidade divina. Por isso Ela esteve mais unida e mais próxima de seu Filho e de sua obra redentora do que todos os outros seres· criados. Esta é a razão pela qual se deve a Ela um culto especial na piedade católica, ou hiperdulia (veneração excelente), que a Igreja lhe tributa desde tempos imemoriais. Esse culto é superior ao de dulia (veneração), que se rende aos anjos e aos santos, e inferior ao culto de latria FEVEREIRO 2011

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(adoração), que devemos somente a Deus. Os Santos Padres sempre consideraram a eminente dignidade de Mãe de Deus corno sendo a fonte, a medida e o fim de todas as perfeições de Maria. Quando querem falar da plenitude de sua graça e da imensidade de sua glória, recorrem a esse título corno a urna regra infalível, a partir da qual se deve julgar a abundância de santidade e felicidade que lhe foi dada. Maria possui todas as qualidades que são possíveis a urna mera criatura, e que convinham a seu papel de Mãe de Deus e mediadora universal, tal corno aprouve a Deus realizar. Desse modo, devemos crer que todo privilégio conferido alguma vez a qualquer criatura, desde que conveniente ao papel de Mãe de Deus, foi também conferido a Maria, conforme ensina São Bernardo, o grande paladino da devoção a Nossa Senhora, apoiado em Padres da Igreja e outros autores antigos, entre os quais São Pedro Crisólogo e Sofrônio, patriarca de Constantinopla.3 "Maria teve, desde a Anunciação, conhecimento da divindade do Filho que dela nasceria e da missão que a Ela correspondia pessoalmente; e um conhecimento de tipo verdadeiro e real, muito superior a todos os conhecimentos escolásticos de todos os teólogos. Esse conhecimento inicial, obviam.ente, não impedia um progresso no entendimento do mistério, nada contrário ao progresso de suafé viva; mas fa z ver que não é um progresso no sentido de passar do desconhecido ao conhecido, mas de ir conhecendo cada vez melhor o que desde o princípio Deus lhe havia revelado". 4

Mal'ia e a Encamação do Verbo Quando o Padre Eterno, desde toda a eternidade, decretou a Encarnação do Verbo, estabeleceu que o Verbo tornaria um corpo mortal e viria ao mundo por via de geração, nascendo de urna mãe. Portanto, não seria dado ao mundo por via de simples criação - isto é, pela formação milagrosa de um corpo e urna alma a que se unisse a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, sem qualquer intervenção de urna mãe. Quanto ao aspecto materno, deterrniCATOLICISMO

nou o Padre Eterno que o Filho se tornaria homem corno os demais pela natureza, encarnando no seio de urna mãe e tornando urna carne passível e mortal, para resgatar o gênero humano: teria assim um Pai divino e urna mãe humana. É fácil constatar então que o decreto da Encarnação encerrou sempre o da Maternidade Divina; e que a predestinação de Jesus Cristo é, desde toda a eternidade, estreitamente ligada à de Maria. Corno Ela só foi predestinada para Jesus Cristo, Ele foi também predestinado em função d'Ela. "No próprio começo da história da salvação, quando a sabedoria de Deus planejava todas as coisas, como diz a Sagrada Escritura (Ecl. 24, 9-11), Maria estava já presente na mente divina como a Mãe d'Aquele que ia ser o Salvador, o autor e o princípio da Nova Criação. Em seu conhecer eterno, Deus via Adão rebelar-se contra Ele e condenar-se à escravidão do pecado, ao acolher o convite de Eva; e via também Cristo, nascido de Maria, refazendo com sua perfeita obediência a harmonia do criado e levando-a à plenitude da consumação a que a liberalidade divina a destinava". 5 Conseqüentemente eles não podem ser jamais separados, estão juntos no tempo, na eternidade, na consumação dos séculos. Por isso, é por Maria que sempre se vai e sempre se volta a Jesus. Ela é o caminho mais curto e mais seguro para chegar a Cristo, e por Cristo a Deus Pai. Um jesuíta (que escreve sob o pseudônimo de A.M.D.G.) 6 faz notar muito bem que a própria Mãe de Deus foi submetida, corno os anjos, a urna escolha espiritual radical. Ao convite do Arcanjo Gabriel, Ela poderia responder corno os anjos maus: Non serviam - Não servirei!. Pelo contrário, abrasada do amor de Deus, Ela respondeu com um Fiat (faça-se) amoroso e total. Ensinam grandes Doutores que, no instante em que os anjos foram convidados a participar da vida divina, Deus lhes teria revelado sua futura dependência em relação ao Verbo Encarnado, bem como em relação a Maria Santíssima, "cheia de graça" (Lc 1,28). Embora simples criatura humana, por sua excelsa digni-

dade de Mãe de Deus Ela ocuparia junto a seu divino Filho urna posição acima de todos eles, e eles teriam de servi-la. Muitos dos espíritos angélicos - um terço deles, segundo se deduz do Apocalipse7 - são os demônios, que preferiram o non serviam. A reação dos anjos rebeldes é bem descrita por Frei Bernard-Marie, O.F.S: "Para seu puro espírito, isso constituía certamente uma prova, porque equivalia a pedir-lhes que deixassem uma ordem bela e boa em si, para se submeter a uma outra paradoxal, que não podia ter sua coerência senão no Amor divino, indo além de todas as exigências de uma natureza criada. Para aderir a tal plano, era necessário que eles abandonassem seu julgamento de criatura e aceitassem de se colocar, com toda confiança, no que lhes propunha seu Criador. Esse ato de amor sobrenatural era para eles, ao mesmo tempo, ocasião de mérito e de cooperar livremente com seu destino de eterna beatitude. Certos místicos sustentaram que os anjos, no ato que praticaram de abandono à vontade de Deus nesse instante de escolha, foram confortados pelo que perceberam do ser imaculado de sua futura Rainha, ao mesmo tempo tão humilde e tão próxima do Altíssimo. Ao invés da ordem sobrenatural da caridade comunicante, [os anjos maus] preferiram permanecer pequenos 'deuses ' solitários diante do grande Deus trinitário, mas definitivamente fora de sua vista. 'De modo que, conclui São Tomás, o anjo pecou voltando-se contra seu próprio bem, pelo seu livre arbítrio, sem o ordenar à regra superior, que é a vontade divina' (Summa Teológica, Ia, q. 63, art. 1, ad 4)". 8 Em vez de formarem o cortejo daquela que seria a Rainha dos Anjos e dos Santos, passaram os anjos maus a armar insídias contra os filhos e devotos de Maria, conforme assinala São Luís Maria Grignion de Montfort em seu famoso Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.

Maria, superior· pela graça aos quembi11s e seran11s Santo Tomás de Aquino, em seu comentário da Ave-Maria, faz notar que não se tinha jamais ouvido dizer, antes FEVEREIRO 2011

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da Anunciação, que um anjo se tivesse inclinado diante de uma criatura humana. São Gabriel, entretanto, o fez diante da Santíssima Virgem. Por quê? Se ele o fez ao saudá-la, é porque Maria, embora mera criatura humana, era-lhe superior por sua plenitude de graça e familiaridade com Deus, sobretudo por sua dignidade de futura Mãe de Deus. Ela havia sido destinada a reinar no Céu, acima dos anjos e santos. Essa passagem do Doutor Angélico é assim desenvolvida pelo conhecido teólogo francês Pe. Reginald Garrigou-Lagrange O.P.: "A graça habitual que recebeu a Bem-aventurada Virgem Maria no próprio instante da criação de sua santa alma foi uma plenitude, na qual já se verificava aquilo que viria dizer o anjo no dia da Anunciação: 'Ave Maria, cheia de graça'. É o que afirma Pio IX, com a Tradição, ao definir o dogma da Imaculada Conceição. Ele diz mesmo que Deus fê-la alvo de tanto amor desde o primeiro instante, 'de preferência a qualquer outra criatura (prre creaturis universis), a ponto de se comprazer nela com singularíssima benevolência. Por isto cumulou-a admiravelmente, mais do que a todos os anjos e a todos os santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade ' (Pio IX, Bula lneffabilis Deus - 1854). "Enfim, ela ultrapassava os anjos por sua pureza, mesmo sendo estes últimos puros espíritos, pois não somente era puríssima em si mesma, mas já transmitia pureza aos outros. Não somente estava isenta do pecado original e de todo pecado, quer mortal, quer venial, mas também da maldição devida ao pecado: 'Darás à luz com dor[ ... ] e retornarás ao pó' (Gn 3, 16, 19). Ela conceberá o Filho de Deus sem perder a virgindade, carregá-lo-á em seu seio num santo recolhimento, dará à luz na alegria, será preservada da corrupção do sepulcro e associada pela Assunção à Ascensão do Salvador. "Um pouco mais adiante, na mesma bula, diz o Papa que, segundo os Padres da Igreja, Maria é superior pela graça aos querubins, aos serafins e a toda a milícia angélica (omni exercitu angelorum), ou seja, a todos os anjos juntos". 9 É o que afirma São Germano, diri-

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CATOLICISMO

gindo-se a Maria: "A tua honra e dignidade colocam-te acima de toda a criação: a tua sublimidade faz-te superior aos anjos". 1º

Mediação Junto ao único Mediador de todas as graças São Bernardo ensina ser lei geral da Divina Providência que, no que concerne à salvação dos cristãos, todas as graças passem pelas mãos de Maria (Serm. Ili in vigilia Nativitatis Domini); e que Deus pôs em Maria a plenitude de todo bem, de tal forma que tudo o que há em nós de esperança, graça e salvação, nós soubéssemos que d'Ela provém (Serm. in nativitati B. V.M. , de aqur,eductu, 6 se., col. 441). 11 Assim, mesmo as graças conferidas pelos Sacramentos são obtidas pela intercessão de Maria, no sentido de que vêm por meio dela as disposições com que os recebemos, e das quais depende a produção sacramental da graça. 12 Sua mediação é no entanto de intercessão, recebendo toda a sua eficácia dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o único e verdadeiro Mediador, e Ela a Mediadora junto ao Mediador, segundo as palavras de Leão XIII: "Pelo seu admirável consentimento dado para todo o gênero humano, Maria obteve para os homens seu Salvador. Por essa causa Ela é uma muito digna e muito aceita Mediadora junto ao Mediador" (Encíclica Fidentem piumque, de 20 de dezembro de 1896). Na encíclica Quamquam pluries, de 15 de agosto de 1889, o mesmo Pontífice a denomina "Mãe de todos os cristãos ", os quais Ela engendrou no Calvário em meio aos sofrimentos extremos de seu Filho. Na encíclica Magna Dei matris, de 1º de setembro de 1892, celebra Maria como mãe de misericórdia, de tal modo disposta em relação a nós, que em todas as nossas necessidades, sobretudo no que diz respeito à aquisição da vida eterna, Ela vem sempre prontamente em nosso socorro, mesmo sem ser solicitada. São Pio X, na encíclica Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904), afirma que as graças das quais Maria Santíssima foi estabelecida dispensadora nos foram adquiridas pela morte e pelo sangue de Je-

sus Cristo. E acrescenta que Jesus, por direito, é delas o dispensador, uma vez que são o fruto exclusivo de sua morte. Só Ele é o Mediador principal entre Deus e os homens. Ele é a fonte, e é de sua plenitude que nós recebemos tudo em abundância. Nossa Senhora é apenas o aqueduto (ou o pescoço), pelo qual Cristo, a cabeça, comunica a todo o Corpo Místico os dons espirituais. O Santo Pontífice pergunta: "Não é Maria a Mãe de Deus? Ela é, pois, também nossa mãe; porque é um princípio bem seguro que Jesus, Verbo feito carne, é ao mesmo tempo o Salvador do gênero humano". E conclui que todos nós - que estamos unidos a Nosso Senhor, e que somos membros de seu corpo, sua carne e seus ossos, como diz São Paulo em sua epístola aos Efésios (5, 30)- saímos do seio de Maria como um corpo espiritual ligado a Jesus, nossa cabeça. 13

"Bela como a lua, brllllante como o sol" Eis por que a Santa Igreja, conduzida pelo divino Espírito Santo, não tem dificuldade em aplicar a Maria textos de diversos livros da Escritura. Assim, no Cântico dos Cânticos pergunta admirado o escritor sacro: "Quem é esta que sobe do deserto como uma coluna de fumo, composta de aromas de mirra e de incenso, e de toda sorte de aromas ?" (3, 6). Pelo que Deus Pai, enlevado com a obra-prima de sua criação, exclama: "Toda bela és, ó minha amiga, e não há mancha em ti" (4, 7). Aplicando a Maria as palavras dos judeus agradecidos a Judite, pode-se dizer com toda convicção: "Tu és a glória de Jerusalém, tu és a afegria de Israel, tu és a honra de nosso povo" (15 , 10). Várias das prerrogativas de Maria Santíssima encontram-se profeticamente previstas no livro do Eclesiástico, conforme a Igreja ensina: "Estendi meus galhos como um terebinto, meus ramos são de honra e de graça. Cresci como a vinha de frutos de agradável odo,; e minhas flores são frutos de glória e abundância. Sou a mãe do puro amor, do temor ( de Deus), da ciência e da santa esperança, em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude. FEVEREIRO 2011

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Vinde a mim todos os ·que me desejais com ardor, e enchei-vos de meus frutos; pois meu espírito é mais doce do que o mel, e minha posse mais suave que o favo de mel. A memória de meu nome durará por toda a série dos séculos. Aqueles que me comem terão ainda fome, e aqueles que me bebem terão ainda sede. Aquele que me ouve não será humilhado, e os que agem por mim não pecarão. Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna" (24, 26 a 31). Nesse mesmo capítulo do Eclesiástico, o autor sacro põe profeticamente nos lábios da Santíssima Virgem: "Saí da

boca do Altíssimo; nasci antes de toda criatura. Habitei nos lugares mais altos: meu trono está numa coluna de nuvens, e percorri toda a Terra. Imperei sobre todos os povos e sobre todas as nações. Tive sob os meus pés, com meu poder, os corações de todos os homens, grandes e pequenos" (24, 5,7,9,11). Isso tudo supõe que a concepção de Nossa Senhora estava na mente cio Altíssimo desde toda a eternidade. Por isso o livro dos Provérbios põe também profeticamente em seus lábios: "O Senhor

me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da Terra. Desde a eternidade fui formada [na mente divina], antes de suas obras dos tempos antigos. Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado. Antes que assentados fossem os montes, antes dos outeiros, fui dada à luz; antes que fossem feitos a terra e os campos e os primeiros elementos da poeira do mundo. Quando Ele preparava os céus, ali estava eu; quando traçou o horizonte na superfície do abismo, quando firmou as nuvens no alto, quando dominou as fontes do abismo, quando impôs regras ao mar, para que suas águas não transpusessem os limites, quando assentou os fundamentos da terra, junto a ele estava eu. [... ] E agora, meus filhos, escutai-me: Felizes aqueles que guardam os meus caminhos. Ouvi minha instrução para serdes sábios, não a rejeiteis. Feliz o homem que me ouve e que vela todos os dias à minha porta e guarda os umbrais de minha casa! Pois quem me acha encontra a vida e alcança o favor do Senhor" (8, 22 a 35). CATOLICISMO

Segundo o livro do Gênesis, no quarto dia da criação do mundo Deus formou dois grandes luminares no céu: um, maior, para presidir o dia, que é o sol; outro menor, a lua, para presidir a noite. Isso é uma figura do que Ele devia realizar no plano da Redenção, dando Jesus e Maria ao mundo: Jesus, como o soberano sol da Igreja, a primeira e mais fulgurante luz de nossas almas e o verdadeiro sol de justiça, do qual toda luz deriva. E Maria, a bela lua, porém incapaz de mudança ou de eclipse, isenta de toda mancha, benfazeja luz que reflete de uma maneira feliz sobre as almas os raios do sol divino. Por isso, admirado com oreflexo dessa alma cristalina, pergunta outra vez o escritor sacro: "Quem é esta

que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha?" (Gn 6, 10). Foi também uma mulher vestida de sol que São João viu no Apocalipse:

"Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés, e na cabeça uma coroa de doze estrelas" (12, 1). Ainda nessa mesma ordem de idéias, no livro dos Provérbios (8, 22 ss), lemos estas palavras sobre a divina sabedoria, que a Igreja aplica também à Virgem Maria: "O Senhor me possuiu no princí-

pio de seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui constituída, e desde o princípio, antes que a terra fosse criada. Ainda não havia os abismos, e eu estava já concebida; ainda as fontes das águas não tinham brotado; ainda se não tinham assentado os montes sobre sua pesada massa; antes de haver outeiros, eujá tinha nascido". O livro do Eclesiástico (24, 5) reafirma essa idéia: "Eu saí da boca do Altís-

simo, a primogénita antes de toda criatura". Evidentemente Maria Santíssima não estava em Deus com seu ser natural, mas com seu ser ideal, pelo amor que Deus tinha a Ela, pelo desejo que tinha de formá-la, pela escolha que fazia dela para Mãe de seu Filho. Ela não tinha vida em si mesma, mas estava viva em Deus, por Jesus Cristo, da qual seria a Mãe. Para considerar Maria Santíssima vista na Escritura Santa, é preciso ver essa

luz em toda a sua extensão, considerando-a na seqüência dos séculos que a precederam, nos quais Ela teve suas figuras e esboços; e a procurar mesmo na imutável eternidade, onde por sua eleição e predestinação Ela já estava nos planos de Deus, e assim vivia na mente de Deus antes de receber uma vida mortal na Terra. 14

Prefiguras de Maria no Antigo Testamento Maria Santíssima foi prometida aos Patriarcas, predita pelos Profetas, figurada pelos mais belos símbolos e mais ilustres pessoas da Antiga Lei. Já no Gênesis (cap. 3, 15) Ela é predita quando Deus amaldiçoa a serpente: "Porei

inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás insídias ao seu calcanhar". Foi Ela que Deus prometeu a Abraão, a Isaac, a Jacó e a Davi quando lhes assegurou que viria um Salvador "que seria de sua própria semente", isto é, que nasceria de uma de suas filhas. Ou seja, de Nossa Senhora. Foi Ela também que Isaías predisse quando afirmou que "sairá uma vara do

tronco de Jessé, e uma flor brotará da sua raiz" (11, 1). E que "uma virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel" (7, 14). Os santos Padres e os bons teólogos, tanto antigos quanto modernos, aplicam a Maria Santíssima tudo o que há de mais honrado e mais notável no Antigo Testamento. Assim eles a chamam o Éden e o Jardim das Delícias no qual o novo Adão escolheu sua morada; a Árvore da vida, plantada no meio do paraíso, e só ela é digna de portar o fruto da salvação; à Fonte claríssima que nasceu na Terra para regar sua superfície; a Arca de Noé, na qual o mundo é salvo do dilúvio do pecado. E assim se poderia estender indefinidamente a aplicação, à Mãe de Deus, de inúmeras figuras simbólicas do Antigo Testamento. Ela é comparada também à sábia Rebeca; à bela Raquel; à piedosa Maria, irmã de Moisés; a Débora, que marchava à frente dos exércitos de Deus; à virtuosa Ana, mãe de Samuel; à prudente Abigail, que preservou sua casa do furor FEVEREIRO 2011

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de Davi; à casta Judite, que cortou a cabeça de Holofernes; à santa rainha Ester, que fez morrer o soberbo Amam e aplacou a cólera de Assuero contra seu povo.

A Santíssima Virgem no Novo Testamento As referências bíblicas diretas à Santíssima Virgem, embora não muito numerosas, são muito significativas. No Novo Testamento São Lucas apresenta Nossa Senhora como a figura central do Evangelho, quando trata da infância. Ele a menciona também nos Atos dos Apóstolos, ao narrar a vida nascente da Igreja. São João fala de seu papel primordial nas bodas de Caná, e a venera ao pé da Cruz no momento ápice da vida de seu divino Filho. Os Evangelistas, que poderiam terse estendido longamente sobre os méritos e louvores dessa augusta Rainha, julgaram que isso não era necessário; pois, dizendo que nasceu em seu seio virginal Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que a reconheceu e amou como mãe, dizem abreviadamente tudo que se poderia dizer.

"Não há em tua Mãe mancha alguma" Diz o Pequeno Ofício de Nossa Senhora: "Por decoro do Filho não podia o labéu de Eva macular Maria"; e que

"não podia uma Mãe assim eleita, por um momento à culpa estar sujeita". É o sentir da Igreja que desde o momento de sua Conceição, e em previsão dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus interveio preservando Nossa Senhora de toda mancha da culpa original. É o que afirma o Bem-aventurado Pio IX na já citada Bula lneffabilis Deus. Santo Efrén, no século V, exclamava: "Tu [Cristo] e tua Mãe, só vós certa-

mente sois completa e integralmente formosos. Não há em ti, ó Senhor, e tampouco em tua Mãe, mancha alguma".'5 "A idéia da Imaculada Conceição de Maria implica em vários elementos, entre os quais devem-se destacar como essenciais: a) a consideração da humanidade inteira como submetida ao pecado original; b) uma imunidade do mesmo e de todas as suas conseqüências em MaCATOLICISMO

ria, por uma singular graça divina; c) essa imunidade se realiza no primeiro instante do ser de Maria; e se realiza por modo de preservação de algo que não se contrai, e não de mera liberação de algo já contraído". 16 Por outro lado, "os privilégios que Deus outorgou a Maria constituem outros tantos dons que Deus nos outorga a todos os cristãos, já que Ela é nossa Mãe: Imaculada Conceição, Plenitude de graça, Santidade excelsa, Virgindade, Assunção aos céus, Maternidade espiritual, Co-redenção, Mediação e intercessão universais, Realeza. O sentido preciso desses diversos privilégios é a relação da missão de Maria com a de Cristo, da qual deriva, depende e participa. [. .. ] Todos eles configuram Maria como a criatura mais pe,feita saída das mãos de Deus e vivificada pela graça de Cristo, o tipo, símbolo e prenda acabada de nossa esperança". 17 Pelo que, explicando a saudação Ave, cheia de graça (Lc 1, 28), diz Pio IX: "Com esta singular e solene saudação, nunca antes ouvida, quer-se significar que a Mãe de Deus foi sede de todas as graças divinas, adornada com todos os carismas do Espírito Santo, e mesmo tesouro quase infinito e abismo inexaurível delas, de maneira que nunca esteve sujeita a maldição ". 18

A devoção à Mãe de Deus na História Já nos primeiros apócrifos ditos "marianos", da primeira metade do século II, Nossa Senhora é apresentada como dotada de eminente e singular santidade, reconhecida e confessada pelo povo cristão. Santo Inácio de Antioquia, que morreu no ano 107, já falava da virgindade de Maria de modo claro: "Ao príncipe

deste mundo se ocultou a virgindade de Maria e seu parto, bem como também a morte do Senhor. Três mistérios portentosos operados no silêncio de Deus" (Ad Ephesios, 19, 1). 19 O concílio de Éfeso, em 431, definiu o dogma da maternidade divina de Maria. Como conseqüência, difundiu-se e se dilatou o culto a Maria Santíssima por todo o Oriente e Ocidente cristãos, sendo-lhe dedicadas as primeiras basílicas e igrejas.

A piedade cristã da época gostava de contemplar Maria antes de tudo na glória de sua maternidade divina, e em seu triunfo: Theotokos (Mãe de Deus), cantava o povo alegremente pelas ruas de Éfeso quando da proclamação do dogma, e essa invocação tornou-se a predileta dos fiéis. Daí a difusão das imagens de Maria Rainha que nos apresenta a Cristo, e a importância que adquire a festa da Assunção. Passando para a Idade Média (a doce primavera da fé, na bela expressão do Conde de Montalembert), os cristãos gostavam de fixar o olhar, com encantamento e admiração, nos aspectos humanos e maternais de Maria Santíssima, em sua intercessão e em seu sorriso de mãe. E também na Mãe das Dores, em sua compaixão por nós no alto do Calvário:

"Stabat Mater Dolorosa juxta crucem lacrimosa ... ".

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Clímax da devoção mariana Há um auge de culto mariano nessa época de fé. Por toda parte erguem-se as imponentes catedrais, verdadeiras rendas de pedra consagradas à Mãe de Deus. Também por toda parte se encontram santuários a Ela dedicados, que se tornam centros de peregrinação; multiplicam-se as imagens e invocações marianas; prega-se sobre sua excelência e seu poder de intercessão. Foi nessa época que, por influência da sociedade feudal e cavalheiresca, surgiu a invocação - hoje para nós tão familiar - de "Nossa Senhora" (como também "Nosso Senhor"). Os vassalos honravam e serviam o seu senhor e sua senhora, e com muito mais empenho honravam e serviam seu supremo Senhor, Jesus Cristo, e sua Mãe Santíssima, a Senhora por excelência. A partir da época medieval, quando se fala de Maria como Mãe dos homens e da Igreja, ou de sua maternidade espiritual, não se faz mais que expressar, com outras palavras, o que indicam já as poucas mas enormemente significativas referências que lhe fazem os livros sagrados e os ensinamentos da Tradição. Na época da pseudo-reforma protestante, a teologia e a piedade católicas acentuaram de modo particular a cooperação de·Maria na Redenção, em resposta aos ataques dos protestantes. 20 FEVEREIRO 2011

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') Devoção a Maria Santíssima na época barroca

Bento XV chega a dizer que Maria Santíssima "de tal modo sofreu e quase

No período barroco, voltou-se a acentuar a Virgem dolorosa. Para opor-se ao rigorismo frio e implacável dos jansenistas, a Providência suscitou o culto do Sagrado Coração de Jesus, e ao seu lado a devoção ao Imaculado Coração Maria, que teve em São João Eudes um paladino. Quase ao mesmo tempo, São Luís Maria Grignion de Montfort sistematizou e popularizou a sagrada escravidão de amor à Santíssima Virgem, em seu célebre e sempre atual Tratado da Verdadeira Devoção, talvez a obra mais perfeita de devoção mariana. A teologia e a piedade meditaram sobre a Imaculada Conceição, surgindo seus ardentes defensores.

morreu com o Filho padecente e moribundo; de tal modo abdicou seus direitos ao Filho pela salvação dos homens; e O imolou para aplacar a justiça de Deus pelo que a Ela se referia, que se pode dizer justamente que Ela, com Cristo, redimiu o gênero humano". 22

Culto mariano na época contemporânea

Por isso a análise dos testemunhos da Tradição e do Magistério leva a concluir que Maria Santíssima é nossa Mãe na ordem da graça, nossa intercessora, que não cessa de ocupar-se dos pecadores corno Medianeira de todos os dons divinos , e finalmente corno Co-redentora. Concluamos com as belas palavras do grande doutor mari al, São Luís M aria Grignion de Montfort: "A exemplo de um

No chamado "século das luzes" (nome forjado para esconder a impiedade da época), o grande Doutor da Igreja Santo Afonso Maria de Ligório pregou As Glórias de Maria, aplicando este título a um de seus livros mais populares. Os séculos posteriores viram consolidar-se todas essas devoções; multiplicaram-se as festividades litúrgicas em honra de Maria Santíssima, crescendo a literatura mariana. Desenvolveu-se a teologia mariológica, ou Mariologia, que culminou com as grandes definições dogmáticas da Imaculada Conceição (1854) e da Assunção da Virgem aos céus (1950).

"Ao largo destes séculos de história [... ] a devoção e o culto mariano não só em seu conjunto, mas também em seus detalhes, não têm sido mais que a expressão das exigências dafé, [... ] sublinhando mais um ou outro aspecto, mas mantendo sempre o tom central que harmoniza e reduz à unidade as diversas vozes". 21

Medianeira de todas as graças e Co-redentora A Tradição e o Magi stério são unânimes em descrever o exercício da realeza de Maria Santíssima, e em afirmar a eficácia de suas petições corno Mãe e Co-redentora, o que fazem dela a onipo-

tência suplicante. -

CATOLICISMO

Pio XII chama Nossa Senhora de

"generosa associada do divino Redentor" (Const. Munificentissimus Deus); na encíclica Haurietis aquas, escreve: "Pela vontade de Deus, a Santíssima Virgem esteve inseparavelmente unida com Cristo na realização da redenção humana, de modo que da caridade de Jesus Cristo e de seus tormentos, intimamente unidos com o amor e as dores de sua Mãe, procedeu nossa salvação". 23

bom servo e escravo, é preciso que não fiquemos ociosos, e sim que, apoiados por sua proteção, empreendamos e realizemos grandes coisas para tão augusta Soberana. É preciso defender seus privilégios quando alguém lhos disputar; sustentar sua glória quando alguém a atacar; atrair todo o mundo, se for possível, ao seu serviço e a esta verdadeira e sólida devoção [da sagrada escravidão à Santíssima Virgem]. Falar, clamar contra todos os que abusem de sua devoção para ultrajar seu Filho. E, ao mesmo tempo, estabelecer esta verdadeira devoção. E como recompensa destes pequenos serviços, não devemos pretender mais que a honra de pertencer a uma Princesa tão amável, e a felicidade de, por meio dela, ficarmos unidos a Jesus Cristo, seu Filho, com um liame indissolúvel no tempo e na eternidade" . 24 •

Notas:

1. Pe. F.W. Faber, Introdução ao Tratado da Verdadeira Devoção à Santfssima Virgem, Editora Vozes, Petrópolis, 196 1, p. 15. 2. São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Sant(ssima Virgem", Introdu ção, nº 6. Editora Vozes, Petrópolis, 1961 , p. 19. 3. Cfr. Pe. Joaquin M. Alonso C.M.F., Maternidad espiritual, mediación y corredención, in Gran Enciclopédia Rialp, Ediciones Rialp, Madri , 1973, tomo XV, p. 93 . 4. Pe. Joaquin M. Alonso C.M.F., María y la obra de la redención, in Gran Enciclopédia Ri alp, Madri , 1973, tomo XV, p. 79. 5. J. L. Illanes Maestre, Marfa en la doctrina y en la vida de La lglesia, in Gran Enciclopédia Rialp, Madri , 1973, tomo XV , p. 74. 6. A.M.D.G., Les Anges de Dieu Amis des hommes, cap . 8, disponível na Intern et em htpp:// WWW .s piri tual i te-chret ien ne .com/a nges/ ange-gardien/ref-09.html . 7. "O dragüo varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do Céu, e as atirou à Terra" (12, 4). 8. ln "Bulletin de L'Oeuvre des Ca mpagnes" , nº 205 - Jan. -Fev.- Mar. 2003. Disponível na Intern et em Http://www .sp ir itu a litec h re ti e n n e.com / a n g es/ an g e- g ardi e n/ re f 14.html. 9. Pe. Reg. Garrigou-Lagrange, O.P., A plenitude inicial de graças em Mari a, in La Vie Spirituelle nº 253, maio de 1941. Tradução portuguesa disponível na Internet em http:// www .per man enc ia.org .br/revista/teologia/ garrigou21 htm . 10. São Germano, Horn. II in Dormitionem Beata, Maria, Virginis: PG 98, 354B, apud Pio IX , Bula lneffabilis Deus. 11. Cfr . E . Dublanchy, Marie Médiatri c e: ob ten tion de la Gra ce , verbete Marie, in Dictionnaire de Théologie Catholique, Letouzey et Ané, Paris, 1903, tomo IX, co l. 2399. 12. Cfr. Dublanchy, op. cit. , col. 2403. 13. Cfr. Dublanchy, op. cit. , col. 2405-2406. 14. Cfr. Les Petits Bollandistes, Vie de la tres sainte Vierge Marie, in Vies des Sain.ts, Bloud et Barrai, Paris, 1882, tomo XVI, p. 84. 15. Pe. Joaquin M. Alonso, C.M.F., Concepción lnmaculada, in Gran Enc icl opédia Rialp, Madri, 1973, tomo XV , p. 8 1. 16. Alonso, María y la obra ... , op. cit., p. 80. 17. Maestre, María en la doctrina ... , op. cit., p. 75. 18. Apud Alonso, Concepción lnmaculada , op. cit., p. 8 1. 19. Apud M. Alonso, C.M.F., Vi, gin.idad, in Gran Enciclopédia Rialp, Madri, 1973, tomo XV, p. 87 . 20. Cfr. Dublanchy, op. cil. , co l. 2393 . 21. Maestre, María en la doctrina ... , p. 75. 22. Apud Alonso, Maternidad espiritual... , op. cit. , p. 95. 23. Denz. Se. 3926, apud Alonso, Matemidad espiritual... , op. cit. , p. 95. 24. Tratado da Verdadeira Devoçüo à Santíssima Virgem, pp. 249-250.

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logia, e afirmam os biógrafos que, "por suas admiráveis respostas ", Gregório resolveu todas as dificuldades levantadas; e explicou-lhe ainda as irregularidades havidas durante o mencionado concílio. Terminava com essa missão diplomática delicada o seu tempo de formação, e estava pronto para a grande missão de sua vida. No dia 19 de março de 715, subiu ao trono pontifício em meio às aclamações do povo e do clero, que já o estimavam e dele esperavam grandes coisas.

Empenllo na evangelização da Germânia

São Gregório II O maior entre os grandes papas do século VIII D efendeu o culto às imagens e aos santos, contra o imperador bizantino iconoclasta Leão Isáurico. Promoveu a evangelização da Germânia. a

CATOLICISMO

MARIA

SouMEo

ilho de Marcelo e Honesta, do patriciado romano, Gregório foi iniciado desde cedo na prática dos negócios eclesiásticos. Tendo entrado na Ordem beneditina, foi sucessivamente subdiácono, capelão do palácio pontifício, bibliotecário e esmoler da igreja romana. A Santa Igreja passava por um período de provação. De 687 a 701 , o papado fora perturbado pelo duplo cisma dos antipapas Pascal (de 687 a

F

Miniatura do séc. IX com cena iconoclasta

PuN10

692) e Teodoro (687). Teria de enfrentar ainda a grande investida iconoclasta do imperador do Oriente, e para isso a barca de Pedro precisava ter no seu timão um homem enérgico e destemido. Esse homem foi Gregório II. Com firmeza de caráter e superior inteligência, foi escolhido pelo Papa Constantino para acompanhá-lo a Constantinopla, quando ainda era apenas diácono, a fim de discutir com o imperador Justiniano II os cânones do concílio de Trullo, de 692. O imperador quis pôr à prova o jovem di ácono, com perguntas capciosas de teo-

Uma das grandes determinações do novo pontífice foi dar continuação ao apostolado inaugurado por São Gregório Magno para a conversão dos povos bárbaros, ainda pagãos. Ele queria, aplicando uma disciplina cristã, dar formação àqueles povos errantes e sempre perigosos para o mundo latino. Outra de suas grandes preocupações eram a relações entre a Santa Sé e o império de Bizâncio, onde habitualmente a heresia encontrava abrigo. A escolha do Papa era então dependente em parte do imperador bizantino, que confirmava a eleição pontifícia. São Gregório tinha ainda que prover materialmente Roma, mui: to provada pelos ataques dos bárbaros e dos lombardos. Providência muito premente era fortificar a cidade contra um possível ataque dos sarracenos, com domínio

crescente sobre o Mediterrâneo. Iniciou esta medida com sucesso, mas quando as muralhas da cidade estavam sendo reforçadas, vários fatores o impediram de concluí-la, inclusive uma inundação do Tibre. Trabalhando simultaneamente em várias frentes, planejou implantar a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo além das fronteiras do Danúbio, aonde jamais tinham chegado as águias romanas. Enviou para a Baviera São Corbivian; para as florestas do Hesse e da Turíngia, o monge inglês Winfrid, que se tomou o evangelizador da Alemanha, mais conhecido como São Bonifácio. Bonifácio voltou em 722 a Roma, para ser sagrado bispo. O Papa solicitou então o auxílio de Carlos Martel, rei dos francos, para secundar o seu trabalho, e assim foi legitimamente posta a força a serviço da Religião. A epístola 27, que São Gregório enviou a São Bonifácio em 22 de novembro de 726, contém diretrizes detalhadas de como agir em relação aos neo-convertidos; e orienta de maneira firme sobre os problemas de moral, doutrina, liturgia e pastoral. Sobre os padres indignos, que por falta de preparação mais acurada e de vida espiritual séria se haviam deixado contaminar pelo paganismo reinante, ele determina: "Quando eles não forem formalmente hereges, é-vos permitido comer ou falar com eles. Mas deveis, usando a autoridade apostólica, adverti-los, repreendê-los; e, se possível, trazê-los de volta à pureza

São Gregório envia São Bonifácio para evangelizar a Alemanha

da disciplina eclesiástica. [... ] Observareis a mesma regra em relação aos grandes que vos prestam auxílio".'

O combate contra os iconoclastas O imperador do Oriente, Leão III Isáurico, era oriundo de uma família muito humilde, mas fora galgando posições importantes devido à sua bravura e habilidade, chegando ao cobiçado trono de Bizâncio. Esse imperador-soldado salvou a Cristandade por duas vezes, ao derrotar os muçulmanos em 718 e 740. Entretanto, quis legislar também em matéria eclesiástica. Em dois editos - um de 726, outro de 728 - proibiu o culto das imagens religiosas, a veneração das relíquias dos santos, e mesmo que a eles se rezasse. Isso provocou uma onda de revoltas em todo o império. Medidas financeiras de 725 já tinham provocado resistência, principalmente nas províncias italianas do império, que nisto secundaram a oposição do Pontífice romano ao imperador. Quando foi publicado o edito sobre as imagens, a insurreição foi geral. O imperador quis ganhar para sua causa o Patriarca de Constantinopla, São Germano, mas este resistiu a todas as tentativas, inclusive advertindo-o: "Lembrai-vos de que, em vossa coroação, jurastes nada modificar na tradição da Igreja". O Patriarca foi deposto e mandado para o exílio em 730, e em seu lugar foi colocado o bispo iconoclasta Anastácio. No exílio, onde faleceu em 733 aos 95 anos de idade, o Santo repetia freqüentemente conforme São João Crisóstomo: "Ainda que eu devesse morrer mil vezes por dia, e mesmo sofrer o inferno durante algum tempo, eu olharia isso tudo como nada, contanto que eu veja a Jesus Cristo em sua glória". 2 O Papa protestou energicamente contra a deposição de São Germano e excomungou Anastácio, sublinhando a ignorância imperial. Intransigente na doutrina, soube manter na obediência o exarcado de Ravena (uma espécie

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de vice-reinado do império Bizantino) e as populações de Roma, revoltadas contra o imperador. Com relação ao culto dos santos, distinguia entre o de adoração, que só se presta a Deus, e o de conveniência, que se aplica aos santos. Começou então em todo o império a guerra contra as imagens. Como uma horda de vândalos, os iconoclastas invadiram igrejas, conventos e até casas particulares, destruindo as imagens religiosas e massacrando quem as quisesse defender. O próprio imperador confiscou em seu proveito grande número de estátuas de ouro e prata, vasos preciosos que serviam ao culto dos santos, pedrarias que ornavam os mantos de várias imagens da Virgem, chegando a destruir um grande crucifixo de bronze que Constantino, o Grande, havia colocado no pórtico do palácio imperial.

Oriente e o Ocidente, e não temem vossas ameaças. A uma milha de Roma, na Campanha, estamos em segurança. Todos os povos do Ocidente olham com crescente reverência para aquele cuja imagem ameaçais derrubar. Quereis jactanciosamente destruir São Pedro, ao qual todos os reinos do Ocidente consideram como Vigário de Deus na Terra. Enviai vossa gente. Somos inocentes do sangue que se derramará, o qual recairá sobre vossa cabeça " .4 Aludindo a uma

Resistência à investida do imperador iconoclasta Gregório II escreveu várias cartas enérgicas ao imperador iconoclasta, numa das quais diz: "O que são nossas igrejas senão obras das mãos dos homens, senão pedras, madeira, cal e estuque? O que nelas há de ornamento são as pinturas que nos representam as histórias de Jesus Cristo e dos Santos . Dizeis que adoramos as paredes, pedras e tábuas. Só a ignorância pode induzir-vos a crer em semelhantes coisas, pois formamos as imagens somente para recordar aqueles cujos nomes tais objetos levam, e cujas figuras representam para nós, a fim de levantar para o alto nosso ânimo grosseiro e pesado" .3 Leão Isáurico ameaçou enviar homens a Roma para fazer em pedaços a imagem de São Pedro e levar o Papa encadeado para Constantinopla. O Pontífice contestou: "Sabei que os Papas são os medianeiros e pacificadores entre o

Leão lsáurico, imperador iconoclasta

seu domínio na Itália central. Dominou Ravena, as cidades da Pentápole, e avançou até Sutri, ameaçando o ducado de Roma. Mas as preces do Pontífice o fizeram parar. Como novo São Leão Magno, o Papa fez ver ao conquistador que a queda de Roma seria a queda da Cristandade; e que os sarracenos rejubilar-se-iam com esse desastre, ainda mais que o imperador de Bizâncio. Liutprando entrou então na basílica do Vaticano, despojou-se dos trajes reais e os depositou sobre os túmulos dos Apóstolos, com sua coroa e sua espada; e fez a doação aos Apóstolos Pedro e Paulo, na pessoa do Papa, das possessões por ele tomadas. Era o início dos Estados Pontifícios, resolvendo uma necessidade de então, pois o Pai comum da Cristandade não podia, para defender a realização de sua missão, confiar inteiramente nos azares e inconstâncias de uma proteção alheia. São Gregório II faleceu em 10 de fevereiro de 731 e foi sepultado na basílica vaticana. Comemoramos sua festa a 13 de fevereiro. • E-mail para o autor:

frase contida na carta que o imperador lhe enviara - "Eu sou imperador e sacerdote" - o Papa insiste na clássica distinção entre os dois campos de atuação: "Os dogmas não dizem respeito aos imperadores, mas aos Pontífices, porque temos o espírito de Jesus Cristo. Uma é a constituição da Igreja, outra a do século" .5 Apesar dos atentados de oficiais gregos contra sua vida, o Papa continuou opondo-se às taxas ilegais e à interferência imperial no domínio eclesiástico.

catolici smo @terra.com.br

Notas: 1. Apud P. Moncelle , Dictionnaire de Théologie Catholique, Librairie Letou zey et Ané, Paris, 1924, tomo 6, cols. 1782- 1783. 2. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barrai, Paris, 1882, tomo II, p. 493 . 3. ld. , ib., pp. 492-493. 4. João Baptista Weiss, Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelo na, 1927, tomo IV, p. 613. 5. Les Petits Bollandistes, op. cit. p. 493 .

Outras obras consultadas: - Horace K. Mann, Pape St. Gregoire, The

Início dos Estados Pontifícios

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Presenciando essas desavenças entre o poder papal e o imperial, Liutprando, rei dos lombardos, creu ser o momento oportuno para estender

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Catholic Encyclopedia, CD-Rom edition. Charles Diehl, Léon, le lsaurique, La Grande Encyclopédie, Société Anonyme de la Grande Encyclopédie, Paris, tomo XXII, pp. 28-29. J .P. Kirsch, Saint Germanus ! , The Catholic Encyclopedia, CD-Rom edition.

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Santo Avito

Nossa Senhora de Lourdes

morados juntos depois de sua morte.

+ Vienne (França), por volta de

Aparições a Santa Bernadette Soubirous em Lourdes (França), 1858. No local, os milagres se multiplicam sem cessar até hoje.

São f<'laviano , Patriarca

525. Descendente da nobreza romana, sucedeu a Isíquio como Bispo de Vienne. Graças a ele, Sigismundo, Rei dos Borguinhões, abjurou a heresia ariana. Sua influência estendeu-se até Roma, onde ajudou o Papa Sírnaco a afastar o antipapa Lourenço. Primeiro Sábado do mês

1 Santa Veridiana , Penitente + Toscana (Itália), 1242. Murada numa cela, viveu 34 anos na sua cidadezinha. Cumulada de favores celestiais, obteve de Nosso Senhor compartilhar as perseguições sofridas outrora por Santo Antão, da parte dos demônios. São Francisco de Assis foi visitá-la por volta de 1221.

2 Apresentação do Menino Jesus no Templo e Purificação de Nossa Senhora [Festa também chamada das Candeias ou Candelária]

3 São Brás, Bispo e Mártir + Sebaste (Armênia), 316. Padroeiro contra as doenças da garganta. Há uma bênção especial de São Brás, que é dada pela Igreja neste dia.

12 Santo Antonio Cauleas, Patriarca + Constantinopla, entre 895 e

+ Cesaréia (Turquia), 303. Pre-

901. Patriarca de Constantinopla, empreendeu os maiores esforços para restabelecer na Ígreja do Oriente a paz abala~ da pelo cisma de Fócio.

sa durante a perseguição de Diocleciano (284-305), preferiu morrer a renegar sua fé.

São Gregório li

6 Santa Dorotéia , Virgem e Mártir

7 Santa Juliana de Bolonha + Itália, cerca de 430. O grande Santo Ambrósio compôs magnífico panegírico das virtudes desta Santa, que compara com a mulher prudente da Sagrada Escritura.

8 São Jerônimo Emiliani + Veneza, 1537. Fundador da Congregação de Somasca para atender órfãos, mulheres perdidas e crianças abandonadas. Famoso por milagres que operou em vida, morreu ·d a peste que contraiu cuidando de empestados .

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13 (Vide p. 38)

14 São Marão, Solitário + Síria, cerca de 423. Monge que viveu perto da cidade de Cir, na Síria. Favorecido com o dom dos milagres, atraiu grande número de discípulos.

15 Santos Faustino e Jovita, Mártires + Bréscia (Itália), cerca de 120. Dois irmãos - o primeiro sacerdote, e o segundo diácono - foram interrogados pessoalmente pelo imperador romano pagão Adriano. Após serem submetidos a torturas, foram decapitados.

São Nicéforo, Mártir

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+ Antioquia, 260. Era leigo e

São José de Leonissa, Confessor

teve uma desavença com o sacerdote Sabrício, do qual várias vezes procurou obter o perdão, que lhe foi recusado. Na hora do martírio, isto fez com que Sabrício fraquejasse, e depois apostatasse apesar das admoestações de Nicéforo, que então declarou-se cristão e morreu em seu lugar.

Santo Onésimo, Bispo e Mártit'

+ Nápoles, 1612. Recebeu no batismo o nome de Eufrásio. Tomou o hábito capuchinho antes dos 17 anos, mudando o nome para José. Em 1687 foi nomeado, a seu pedido, missionário em Constantinopla, a fim de conceder alívio e instrução aos cristãos que se encontravam escravizados pelos maometanos. Tendo sido acusado de assassinato, foi supliciado e milagrosamente salvo por um anjo, que lhe ordenou voltar à Itália. Primeira Sexta-Feira do mês

10 Santa Escolástica, Virgem + Úmbria (Itália), 543 . Irmã de São Bento, fundou uma Ordem que chegou a ter 14.000 conventos espalhados por todo o Ocidente.

+ Roma, cerca de 95. Escravo de um cristão de Colossos chamado Filemon, praticou um roubo e fugiu para não ser castigado. Em Roma, onde se escondeu, encontrou São Paulo, que o converteu.

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas, confessores + Florença, séc. XIII. Estes comerciantes florentinos tudo deixaram para seguir a Cristo, fundando para isso a Ordem dos Servos de Maria. Foram tão unidos em vida, que são come-

'18 + Turquia, 449. Patriarca de Constantinopla (446-449), tomou parte no Concílio que o imperador Teodósio II convocara, o qual se realizou numa igreja de Éfeso (1\Jrquia) a 8 de agosto de 449. Quando se deliberava a respeito de Utiques e de sua heresia monofisita (segundo a qual em Nosso Senhor Jesus Cristo não haveria as duas naturezas, divina e humana, mas somente uma), uma multidão composta por monges heréticos, soldados e marinheiros exaltados invadiu a igreja e espancou os padres conciliares que se opunham a Utiques. As iras voltaram-se principalmente contra Flaviano, que foi levado preso. Morreu devido aos maus tratos recebidos durante aquele tumulto, que foi denominado a pilhagem de Éfeso.

19 São Quodvultdeus, Bispo + Itália, aproximadamente 444. Seu nome significa O que Deus quer. Bispo de Cartago no século V, governava pacificamente o seu rebanho quand~enserico, rei dos vândalos, apoderou -se da cidade em 438. Este príncipe ariano atormentou-o por ódio à fé católica . Mas não conseguindo fazê- lo apostatar, colocou-o junto com outros fiéis em barcos avariados, com a esperança de que perecessem nas águas. Milagrosamente preservados, chegaram sãos e salvos a Campânia, na Itália do Sul.

20 Santo Euquério, Bispo + Hasbain, 738. Na juventude o santo já era tido como prodígio de ciência, e sobretudo de santidade. Foi devotíssimo da Santíssima Virgem , a qu em chamava constantemente sua querida Mãe. Foi bispo de Orleans durante mais de 15 anos, até que, caluniado, foi de terrado para Hasbain.

21 São Pedro Damião, Bispo, Confessor e Doutor ela Igreja + Ravena, 1072 . Entrou na Ordem dos Camaldulenses. Nomeado cardeal-bispo de Óstia, teve de aceitar a contragosto essa nomeação, sob pena de excomunhão. Deixou mais de 158 cartas, 60 opúsculos, várias vidas de santos e admiráveis sermões.

22 Cátedra de São Pedro Anteriormente comemorava-se neste dia a Cátedra (ou Cadeira) de São Pedro em Antioquia; em 18 de janeiro, a Cátedra de São Pedro em Roma. Chamamse Catedrais as igrejas onde se encontra a cadeira ou cátedra do Magistério episcopal. A igreja de São Pedro em Roma poder-se-ia chamar a catedral das catedrais.

23 São Policarpo, Bispo e Mártir + Cesaréia (Turquia), 104. Foi discípulo de São João Evangelista. No Tratado das Heresias, Santo Irineu afirma que "Policarpo não só foi ensinado pelos Apóstolos e conversou com muitos que tinham conhecido em vida Jesus Cristo, mas deveu aos mesmos Apóstolos a sua eleição para bispo de Esmirna, na Ásia". Por increpar corajosamente sacerdotes pagãos, teve sua cabeça decepada.

24 São Lázaro, monge + Entre 856 e 867. Pintava ícones ou imagens em Constantinopla quando lá reinava Teófilo, iconoclasta furioso . Este mandou lançá-lo numa cloaca, de onde conseguiu escapa~ voltando depois a pintar. O imperador mandou que lhe queimassem as palma s das mãos, mas a imperatriz Teodora escondeu-o numa igreja, tratou-o e conseguiu restabelecêlo. Lázaro foi encarregado de levar a Roma a notícia de que

a imperatriz Teodora liquidara a discussão sobre as imagens. Diz-se que ele morreu num naufrágio.

25 Santo Avertano e Beato Romeu, Confessores + Lucca (Itália), 1386. Avertano, devendo escolher seu estado de vida, teve a inspiração de entrar na Ordem dos Carmelitas, na qual efetivamente ingressou. Tendo manifestado grande desejo de fazer uma peregrinação a Roma, os superiores deram-lhe por companheiro Romeu, irmão leigo do convento. Contagiados pela peste negra, detiveram-se na cidade de Lucca, onde morreram no intervalo de uma semana.

26 São Nestot~ Bispo e mártir + 250. Quando se desencadeou a perseguição do imperador romano pagão Décio, ocupava Nestor a sé episcopal de Magidos, na Panfília. Preso, o oficial romano mostrou-se inicialmente benévolo para com ele, mas se tornou violento durante o interrogatório. Após novos interrogatórios, Nestor foi condenado a morrer numa cruz.

Intenções para a Santa Missa em fevereiro Seró celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Em homenagem às aparições de Nossa Senhora de Lourdes (1858). Suplicaremos a Ela sua maternal proteção para a grande família de almas de Catolicismo (leitores, assinantes, colaboradores e amigos}, preservando-a do pecado e de qualquer tipo de imoralidade. Com menção específica às crianças e adolescentes de nossas famílias, que se encontram mais vu lneróveis à corrupção moral que reina nos ambientes modernos.

27 São Leandro, Bispo

+ Sevilha (Espanha), aproximadamente 600. Irmão de Santo Isidoro, abraçou muito cedo o monacato e foi eleito bispo de Sevilha em 579. Desempenhou papel importantíssimo na história religiosa da península ibérica, salvando-a do arianismo. O Papa São Gregório Magno dirigiu-lhe algumas cartas, nas quais externa a grande afeição que lhe votava.

28 São Torquato, Bispo e confessor + Cadiz (Espanha), séc. I ou II. Tido como o primeiro dos "Varões Apostólicos" -- bispos enviados de Roma à península ibérica no I século - foi bispo de Cadiz, que edificou com sua ciência e virtude.

Intenções para a Santa Missa em março • Especia lmente pelas famílias que mais sofrem em razão da tragédia que se abateu sobre a região serrana do Rio de Janeiro, bem como por aqueles que, em outras regiões do Brasil, também foram atingidos pelos desastres causados pelas fortes chuvas.

FEVE


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INSTITUTO LJINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Carlos Simón, em declarações a um jornal madrilenho: "Uma pessoa pode fazer uso do preservativo de forma responsável para não contagiar nem produzir um mal que prejudique a vida. ( ... ) O preservativo é, portanto, um mal menor que evita um possível contágio" 2• 2 Cfr. entrevista con Darío Menor, La Razón, Madri, 21-10-2010.

Provavelmente inspirado em princípios similares, o pároco da catedral de Goiás Velho (GO) promoveu, no interior do recinto sagrado, a exposição de cartazes imorais, a projeção de vídeos e a difusão de kits contendo preservativos, junto com um folheto explicativo de como usá-lo, numa parceria da paróquia com a Secretaria Municipal da Saúde daquela cidade. Apesar de ter assumido plena responsabilidade pelo sucedido, até hoje o referido pároco não foi objeto - que se saiba - de nenhuma sanção por parte da Diocese. Obviamente, tais declarações e atitudes são injustificáveis do ponto de vista da Moral natural e da doutrina católica. Nas semanas transcorridas desde o dia 20 de novembro - quando L'Osservatore Romano divulgou as declarações do Papa3 - pôde observar-se o júbilo de católicos progressistas, bem como a surpresa e perplexidade de muitos católicos engajados na luta pela vida e pela fanu1ia. Em particular, daqueles que visitam no o site Internet e acompanham nossas atividades . Nas últimas semanas, a mídia deu grande destaque a repercussões das palavras de Bento XVI, em seu livro-entrevista Luz do Mundo, sobre o uso de preservativos em determinadas circunstâncias. A interpretação geral da mídia foi de que a lgrej a mudou sua posição e agora permite o uso desses pseudo-profiláticos, em certos casos. Alguns teólogos e dignitários eclesiásticos de alto nível adotaram a mesma posição, causando confusão entre os católicos. O pronunciamento mais significativo em tal sentido veio do Cardeal Georges Cottier, que foi teólogo '

CATOLICISMO

da Casa Pontifícia sob o Papa João Paulo II. Segundo o purpurado suíço, as palavras do Papa significam que "é legítimo, em certos casos, utilizar o preservativo para não transmitir a Aids" e as pessoas que se encontram diante desse problema "pelo menos sentir-se-ão aliviadas em consciência ao saber que, adotando esse meio, não fazem o mal" 1• l. Cfr. Questions à ... Cardinal Ceorges Cottier, ancien théologien du Pape, propos recueilli s par Jean-Marie Guénois, Le Figa ro, 22 de novembro de 20 10.

No mesmo sentido pronunciou-se o Subsecretário do Conselho Pontifício para a Família, Mons.

3. O portavoz da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi S.J., esclareceu que, na sua entrevista, o Papa falou "numa forma coloquial e não magisterial" (cfr. Salla Stampa della Santa Sede, 22- 11 -2010).

0 INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA IPCO é uma entidade de caráter cívico, que cuida de assuntos temporais, notadamente da defesa dos valores básicos da civilização cristã, aos quais consagrou a vida o ilustre líder católico brasileiro que lhe dá o nome. Portanto, o IPCO não é chamado, ordinariamente, a pronunciar-se sobre assuntos teológi-

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cos, morais e pastorais que, por sua própria natureza, encontram-se fora dos seus fins. Porém, na atual emergência, caso as idéias e os comportamentos errôneos acima mencionados continuem a se disseminar, vacilará no espírito dos brasileiros toda a doutrina moral que serve de fundamento à nossa ação, inspirada na doutrina social da Igreja. O IPCO vê-se assim obrigado a tratar excepcionalmente de tais assuntos, reconhecendo que seus membros não tem as qualificações acadêmicas nem a graça de estado para resolver todas as complexíssimas questões teológicas, morais e pastorais envolvidas no caso. Porém, como é notório, bom número de discípulos de Plínio Corrêa de Oliveira são católicos cultos e instruídos e, como tantos outros católicos perplexos, têm procurado acompanhar os debates que surgem na esfera eclesiástica a respeito dessas questões. E sabem discernir, nos velhos manuais e nos escritos recentes, os ecos do magistério tradicional da Igreja Católica.

É baseados nesses princípios tradicionais da Moral católica e da Lei natural que formulamos a seguir algumas considerações a respeito das implicações morais do uso do preservativo, levando previamente em conta o que dizem a ciência e a experiência quanto aos resultados de tal uso.

1. Preconceitos ideológicos desconsideram o que a ciência e a experiência demonstram quanto ao suposto combate à Aids pelo uso de "preservativos" A. As relações sexuais promíscuas são a principal causa da epidemia da Aids

É conhecido que a principal causa da epidemia da Aids é a infecção com o vírus HIV, o qual se propaga especialmente através de relações sexuais promíscuas ou sodomíticas. Secundariamente, difundese pelo uso compartilhado de seringas entre drogados ou pelo contato com sangue contaminado em transfusões, cirurgias, etc., além da transmissão vertical aos bebês pelas mães contaminadas4 • 4. Cfr. Centers for Disease Control and Prevention, How is H!Voassed from one oerson to another?. FEVEREIRO 2011

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Apesar do grande progresso obtido no aumento da expectativa de vida das pessoas contaminadas, mediante o uso adequado de drogas anti-retrovirais, ainda não há nenhuma vacina ou droga para prevenir o contágio em caso de contato com sangue, sêmen ou outros fluidos orgânicos infectados. B. O uso de preservativos pode diminuir, porém não elimina o risco de contágio

O uso de "profiláticos" pode diminuir o risco de transmissão por via sexual do vírus HIV, porém não o elimina. O tão propalado "sexo seguro", em relações promíscuas ou antinaturais, é portanto um mito. Mesmo as agências estatais norte-americanas que recomendam o uso de preservativos reconhecem que a abstinência sexual, ou a fidelidade a um parceiro único e estável não contaminado, são as únicas vias eficazes para evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, incluído o vírus do HIV 5 . 5. Cfr. Centers for Disease Control and Prevention, Condoms and STDs: Fact Sheet for Public Health Personnel.

P01tanto, a única via eficaz para eliminar a epidemia da Aids é promover a moralização dos costumes. C. Campanhas de prevenção que não visam a raiz do problema

As campanhas anti-Aids geralmente não visam denunciar a principal causa da disseminação da doença - a promiscuidade sexual - e oferecem um mero paliativo: o uso de "profiláticos". Muitas dessas campanhas até exploram o medo da Aids para promover um desvirtuamento da sexualidade, legitimando a promiscuidade sexual e as práticas aberrantes contrárias à natureza, desde que se use o preservativo. Passa-se, assim, de um juízo moral das ações humanas - no caso, da sexualidade - para uma avaliação pragmático-científica das mesmas: bom é aquilo que "funciona" do ponto de vista científico. Entretanto, até essa visualização é contraditada pela CATOLICISMO

ciência e pelos dados empíricos, visto que os preservativos não "funcionam" cem por cento. D. Preconceitos ideológicos desvirtuam o comportamento sexual de adolescentes e jovens

Tais campanhas, fundadas em preconceitos ideológicos, conduziram a uma quebra do padrão moral da população e facilitaram a disseminação da pandemia, prometendo a falsa garantia de um sexo promíscuo, mas "seguro". E apesar das relações sexuais promíscuas serem indiscutivelmente o maior vetor de difusão da Aids, tais campanhas espalham o mito do "sexo seguro" em lugar de pregar a moralização dos costumes 6• 6. A respeito do aspecto ideológico de tai s campanhas, ver o excelente estudo de Mons . Michel Schooyans e Anne-Marie Libert, Le terrorisme à visage humain (Paris: Éd. de Guibert, 2008).

Uma comparação entre essas iniciativas e as campanhas contra o tabagismo é esclarecedora. A partir do momento em que as autoridades de numerosos países concluíram que o uso do cigarro é perigoso para a saúde, os governos começaram a adotar todo tipo de medidas, inclusive legais, como a proibição de fumar em lugares públicos , para desencorajar tal hábito. Não há, porém, nenhuma campanha, nacional ou internacional, para promover o "cigarro seguro" e encorajar o uso de filtros para reduzir o risco de câncer das vias respiratórias, insuficiência cardíaca ou outras doenças ligadas ao uso do tabaco. Ninguém organiza a distribuição maciça de filtros nas escolas, nas prisões, etc., como é feito no caso dos preservativos. A razão é simples: a maioria dos promotores das campanhas antitabagistas estão convictos de que a abstinência do fumo é a maneira mais eficaz para reduzir os problemas de saúde ligados ao tabagismo 8• 8. Cfr. Tara Parker-Pope, "Safer" Cigarettes: A History.

Na perspectiva errônea dessas campanhas, dá-se por certo que, sendo o ser humano dotado do instinto sexual, é lícito ao homem fazer uso dele sem nenhuma barreira moral; mais ainda, não dar livre curso a essa apetência natural produziria distúrbios físicos e psíquicos. O que não passa de um preconceito ideológico, porque o homem deve regular-se em tudo pela razão, o que o distingue dos animais irracionais. E a razão leva justamente os homens à constituição da fanúlia, única instituição em que o instinto sexual pode ser exercido em conformidade com o seu fim natural que é a propagação da espécie humana. A negação desta verdade e a adoção do preconceito ideológico que acaba de ser mencionado desvirtua o comp01tamento sexual de adolescentes e de jovens, um grupo demográfico com crescente número de pessoas infectadas com HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis 7 • 7. Cfr. Centers for Disease Control and Prevention, Sexual and Reproductive Health of Persons Aged 10- 24 Years - United States, 2002- 2007; Study: Half ofYoung Americans to Get Sex Diseases, Maggie Fox, Health and Science Correspondent; Nastasya Tay , UN says AIDS epidemie slows, infections dropping.

Por que, então, no caso da Aids, insiste-se tanto em promover o "sexo seguro", em lugar de advogar a abstinência e a fidelidade conjugal, desencorajando toda promiscuidade? E. A cultura erótica rejeita a castidade como solução e sustenta que o prazer sexual é um "direito humano"

Convém insistir sobre este ponto fundamental. A castidade dentro e fora do casamento está de acordo com a Lei natural e a Revelação cristã e eleva o padrão moral da sociedade. Além de trazer benefícios para a saúde, ela é o meio mais eficaz de combater a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Porém, devido ao referido preconceito ideológico, a prática da castidade é simplesmente rejeitada em favor do mito do "sexo seguro"9• 9. Serve de contraste o fato de que, em lugares como Uganda, onde a castidade é promovida como meio de combater a Aids, os re ultados tenham sido excelentes. Nas suas campanhas de prevenção da Aids, os responsáveis uganden es enfatizam evitar o risco, e não ape-

nas reduzir o risco. Em outras palavras, o foco central das campanhas é a abstinência sexual e a fidelidade conjugal, e não a distribuição e o uso de preservativos. Os resultados obtidos têm sido altamente alvissareiros e vantajosos, sobretudo entre os jovens (cfr. Edward C. Green, Moving Toward Evidence-Based AIDS Prevention, in Thickstun and Hendricks, eds., Evidence that Demands Action, p. 18).

O ambiente cultural erotizado de nossos dias apresenta a prática da castidade como impossível ou até como antinatural, ao passo que defende como "normais" as relações homossexuais. Mais ainda, o prazer sexual é considerado um "direito humano" que cada pessoa pode exercer, quaisquer que sejam o objeto, as circunstâncias ou os meios de satisfazêlo, sem levar em nenhuma conta os riscos de propagar doenças venéreas, particularmente a Aids IO_ 10. Cfr. Declaração dos Direitos Sexuais do XIII Congresso Mundial de Sexologia, Valência, 1997, emendados no recente congresso de Hong Kong, Educação Sexual: Múltiplos Temas, Compromissos Comuns, Mary Neide Damico Figueiró (org.), Universidade Estadual de Londrina, Ministério da Educação, Londrina, 2009, pp. 22-24; Em Campanha por uma Convenção dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos, Entrevista com Susana Chiarotti, in Jornal da RedeSaúde, nº 24, dezembro de 2001; e Jennifer Oriela (University of Melbourne), Sexual pleasure as a human right: Harmful or helpful to women in the context of HIV/AIDS ..

Estamos, portanto, diante de uma verdadeira Revolução sexual de efeitos catastróficos.

2. A Moral católica e a Lei natural condenam o uso do preservativo como "intrinsecamente mau" No contexto dessa Revolução sexual, a afirmação constante do Magistério da Igreja de que o uso de preservativo nas relações sexuais é contrário à natureza das mesmas e, por isso, "intrínsecamente mau" 11 , começa a ser vista como um absurdo que 11. Cfr. Resposta do Santo Ofício de 6 de Abril de 1853: Questão 1 : "É lícito o uso imperfeito do matrimônio, praticado, conforme o caso, de modo onanístico ou FEVEREIRO 2011

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condomístico (mediante o uso daquele instrumento abominável vulgarmente chamado «preservativo»? [... ] Resposta (decr. 6., publ. 19 abril): A 1) Negativa; porque é intrínsecamente mau". Resp. S. Officii (sob Pio IX): Apr. 6 (19), 1853: De usu onanistico matrimonii (Denzinger 2795, Enchiridion Symbolorum).

deve ser combatido por todos os meios, inclusive mediante campanhas contra a Igreja Católica através da mídia e outros meios de comunicação social. A Igreja não pode, porém, mudar o seu ensinamento a respeito da finalidade própria da sexualidade humana '2, uma vez que o seu Magistério é baseado na Lei natural, na Revelação e nos ensinamentos constante dos Papas e dos moralistas ao longo da história 13 • 12. A propósito, afirma João Paulo II: "De tal norma [moral] a Igreja não é, certamente, nem a autora nem o juiz. ( ... ) A Igreja interpreta a norma moral e propõena a todos os homens de boa vontade, sem esconder as suas exigências de radicalidade e de perfeição" (Exortação Apostólica Familiaris Consortio; cfr. Paulo VI, encíclica Humanae Vitae, nºs 4 e 11). 13. No que concerne, específicamente, à condenação das práticas contraceptivas artificiais, ela "data dos primeiros séculos. São insofismáveis os textos de Clemente de Alexandria, de Santo Epifânio, de São Jerônimo, de Santo Agostinho, de São Cesário de Arles, de São Martinho de Braga, de São Gregório Magno, dos Penitenciais, do antigo Direito Canônico, de São Tomás de Aquino e dos demais Doutores medievais, do Catecismo Romano, de Sixto V, de Gregório XIV, de Santo Afonso de Ligório. No século XIX e na primeira metade do século XX, a doutrina condenatória da contracepção artificial é também firme e incontestado entre os teólogos, e, sobretudo, é sancionada por cerca de vinte documentos do Santo Ofício e da Sagrada Penitenciaria, bem como por graves pronunciamentos de Pio XI e Pio XII. Em vista de tal clareza da Tradição, já no tempo de Pio XII os teólogos eram unânimes em sustentar que a questão estava fechada por uma definição dogmática do Magistério ordinário" (A.V. Xavier da Silveira, Pode um católico rejeitar a 'Humanae Vitae'?, in Catolicismo, n 212/214, agostooutubro 1968, p. 20).

A. O uso do preservativo é "intrinsecamente desonesto" Santo Tomás de Aquino ensina que "em matéria de luxúria diz-se que um ato é contra a natureza CATOLICISMO

quando dele não pode resultar a geração, conforme sua comum espécie" 14 • 14. Cfr. Santo Tomás de Aquino, De Maio, XV, a.2 ad 14.

Ora, o uso do preservativo impede o ato conjugal de chegar a seu fim natural, e por isso é mecanicamente contraceptivo. Portanto, seu uso é contrário à natureza e intrinsecamente desonesto 15 • 15. É o que ensina Pio XI: "Nenhum motivo, ainda que gravíssimo, pode fazer com que o que é intrinsecamente contrário à natureza possa tornar-se honesto e conforme à mesma natureza. E como o ato conjugal, por sua própria natureza, é destinado à geração da prole, aqueles que intencionalmente o privam de sua força e eficácia agem contra a natureza e cometem uma ação torpe e intrinsecamente desonesta" (Encíclica Casti Connubii, nº 20). O mesmo afirma João Paulo II: "Paulo VI quis ensinar, ao descrever o ato anticonceptivo como intrinsecamente ilícito, que a norma moral é tal que não admite exceções. Nenhuma circunstância pessoal ou social pôde, pode ou poderá jamais fazer que tal ato seja lícito" (cfr. Alocução de João Paulo II de 12 de novembro de 1988 ao II Congresso Internacional de Teología Moral reunido em Roma para celebrar o XX aniversário da publicação da Humanae Vitae, nº 5).

Quando usado em relações heterosexuais, o preservativo é contraceptivo; por isso não pode ser usado entre marido e mulher mesmo nos períodos inférteis dela ou quando um dos cônjuges ficou estéril por causa da idade ou de doença 16 • A intenção da pessoa que utiliza o preservativo não modifica a natureza deste, que é impedir o curso natural do ato conjugal, e por isso o seu uso é moralmente ilícito. 16 . Tal é o ensinamento de Paulo VI na encíclica Humanae Vitae (nº 11): "Estes atos, com os quais os esposos se unem em casta intimidade e através dos quais se transmite a vida humana, são, como recordou o recente Concílio, 'honestos e dignos' (cfr. Const. Past. Gaudium et Spes, nº 49) ; e não deixam de ser legítimos se, por causas independentes da vontade dos cônjuges, se prevê que vão ser infecundos, pois que permanecem destinados a exprimir e a consolidar a sua união. De fato, como o atesta a experiência, não se segue sempre uma nova vida a cada um dos atos conjugais. Deus dispôs com sabedoria leis e ritmos naturais

de fecundidade, que já por si mesmos distanciam o suceder-se dos nascimentos. Mas, chamando a ate nção dos homens para a observância das normas da lei natural, interpretada pela sua doutrina constante, a Igreja ensina que qualquer ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão da vida (cfr. Pio XI, E nc. Casti Connubii, 31 de dezembro de 1930, em AAS 22 [ l930], p. 560; Pio XII, em AAS 43 [1951], p. 853)".

Os preservativos podem diminuir o risco de contágio de doenças sexualmente transmissíveis; mas tal efeito é obtido unicamente através da distorção da natureza reprodutiva do ato conjugal; em outras palavras, mediante um ato contrário à natureza. Daí não poderem ser usados como profiláticos. O que dizer do uso de preservativos em relações sodomíticas, contrárias à natureza, como as relações homosexuais? Seria legítimo empregá-los nessas relações incapazes, por si, de ser fecundas? Aquilo que é mau numa relação heterosexual, por desnaturar o ato conjugal, não pode transformarse em bom quando usado numa relação homossexual. Caso contrário cair-se-ia no absurdo de admitir que aquilo que é antinatural e intrinsecamente mau (a sodomia) poderia transformar em bom outro ato igualmente antin atural e intrinsecamente mau (o uso do preservativo) 17 • Na realidade, o bem sempre provém de uma cau a íntegra 18, pelo que o bem e o mal opõem-se mutuamente 19 • 17. Cfr. Antoni Lan za-Pietro Palazzin i, Principias de Teologia Moral, JL, Las Virtudes: "De fato , é inconcebível que uma ação il ícita em si mesma possa ficar acidentalmente líc ita p r causa de circunstâncias particulares" (Madrid: di · iones Rialp , 1958, p. 195) . 18. Cfr. Santo Tom ás de Aquino, Summa 1-11, q. 20 a. 2. 19. Cfr. Santo Tom ás de Aqui no, De Maio, Questão I, ad 2 arg 3.

Portanto, o uso de preservativos nas relações homosexuais também é il egítimo. O fato que elas sejam irremissivelment stéreis não muda a característica intrínseca do prc crvativo que é de alterar o curso natural do ato sexual , pelo que seu uso permanece ilícito 20 • 20. "O uso do pres rvati v cm relações sodo míticas participa da espécie dos atos desordenados maus e não

é moralmente bom, mas moralmente mau - não porque introduza uma nova espécie [de pecado] , posto que não há contracepção, mas porque o uso do preservativo é inteira e formalmente incluído na vontade do ato mau e está portanto contido na espécie de tal ato" (Steven A. Long, Remarks of Benedict XVI Regarding Condoms).

Mesmo que intrin seca mente os pecados de sodomia, com ou sem preservativo, sejam moralmente equivalentes, do ponto de vi ta extrínseco, o uso de preservativo acrescenta um novo mal: obter e possuir preservativos causa escândalo, alimenta a indústria da perversão e incita a cometer novos pecados (cfr. Moos. Vincent Foym, A response to Fr. Michael Prieur's defence of the Winnipeg Statemen, C.I., setembro de 2005, p. 37).

Do ponto de vista subjetivo, o uso do preservativo em relações homosexuais, no intento frustro de impedir a difusão do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, revela um endurecimento no mal, pois manifesta a determinação de dar vazão à paixão pecaminosa apesar do perigo de contrair uma doença mortal. E como tal uso não elimina o risco de contágio, sua utilização em relações homossexuais constitui, ademais, um pecado contra a justiça em relação a terceiros (risco de contaminá-los) e um pecado contra a prudência em relação a si mesmo (risco de contaminar-se). Finalmente, do ponto de vista objetivo, o uso de preservativos alimenta uma perniciosa indústria e favorece a difusão do mito do "sexo seguro", assim como da cultura hedonística que promove uma falsa doutrina sobre a finalidade das relações sexuais, as quais passam a ser vistas como um mero prazer egoísta e irresponsável, em vez de uma participação humana na obra divina de perpetuação da espécie no estado matrimonial21. 21. Cfr. Pio XI, encíclica Casti Connubii, nº 6; João Paulo II, Familiaris Consortio, nº 14.

B. Falsa aplicação dos princípios do "duplo efeito" e do "mal menor"

Os moralistas apresentam uma série de condições que justificam o emprego desses dois princípios, mas a regra básica é que jamais é permitido desejar o mal ou FEVEREIRO 2011

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usar de um meio imoral para conseguir um bem22 . Aplicados ao uso do preservativo, no primeiro caso escolher-se-ia o mal pelo mal e, no segundo, aceitar-se-ia maquiavelicamente que "o fim justifica os meios". 22. Cfr. São Paulo, epístola aos Romanos 3,8.

Em ambos os casos, estar-se-ia violando o primeiro princípio da Lei natural, que é o fundamento de toda moralidade: "deve-se fazer e buscar o bem e evitar o mal" 23 . 23. São Tomás de Aquino, Summa Theologica , 1-11, q. 94, a. 2 . Cfr. também Mons. Giuseppe Graneris, verbete Effect, Double, p. 448 ; Fr. Ludovico Bender, O.P. , verbete Lesser Evil, Choice of, p. 705; e Mons. Pietro Palazzini, verbete Tolerance, pp . 1236-1238, todos em Francesco Card. Roberti e Mons . Pietro Pala zzini , Dictionary of Moral Theology (Westminster, Md.: The Newman Press, 1962); Antonio Lanza e Pietro Palazzini , Principias de Teologia Moral (Madrid: Ediciones Rialp, S.A., 1958, vol. I, pp. 152-153).

Mons. Michel Schooyans, membro da Academia Pontifica pela Vida e professor emérito da PUC de São Paulo, explica de modo cristalino porque o princípio do "mal menor" não se aplica ao uso do preservativo: "Em Moral, o princípio do mal menor é muito simples. Consiste em dizer que se alguém vê-se confrontado a dois males inevitáveis 24 deve escolher o menor deles. É quase uma questão de bom senso. Por exemplo, voltemos ao caso dos preservativos. Ter relações com um soropositivo, tentando proteger-se com um preservativo, não é algo inevitável. A pessoa tem sempre a liberdade de não ter esse tipo de relações" 25 .

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24. "A escolha do mal menor não é lícita senão quando nenhuma outra alternativa é possível e quando os males produzidos são inevitáveis; só então é permitido escolher entre eles o mal menor" (cfr. Conseil pontifical pour la familie, Lexicon de termes ambigus et controversés sur la familie, la vie et les questions éthiques, p. 871). 25. Rome et le préservatif: Un cas d'intoxication médiatique ?, Interview de Michel Schooyans par Arianne Rollier, Apic, Rome, 18 mai 2006.

CATOLICISMO

O princípio do "duplo efeito" 26 , ou "voluntário indireto", tampouco é aplicável ao caso do preservativo. Porque ele pressupõe, de um lado, que a ação seja, em si mesma, boa ou neutra e, de outro lado, que não exista urna alternativa isenta de efeitos negativos. Ora, como já foi assinalado, o uso do preservativo é intrínsecamente mau em si mesmo e existe sempre a alternativa, para evitar o contágio, de abster-se de relações sexuais. 26. Trata-se de uma ação voluntária que tem dois efeitos, um bom e outro mau (do ponto de vista moral). Às vezes, sem se desejar o efeito mau, pode-se tolerá-lo; como no caso de sedativos que são usados para aliviar doentes terminais (efeito bom), ainda que diminuam a consciência e acelerem a morte (efeito mau). Quatro condições são exigidas pela Moral para que uma ação de duplo efeito seja lícita: a) a intenção deve ser reta; b) a ação deve ser, em si mesma, boa ou neutra; c) o efeito bom não pode ser uma consequencia do efeito mau ; d) não deve haver outra solução alternativa que não produza o efeito mau e, em qualquer caso, o efeito bom deve ser de tal monta que justifique dever-se tolerar o efeito mau (cfr. Santo Tomás, Summa 11-11 q.64 a. 7; Pio XII, Discurso de 24 de fevereiro de 1957; Conseil pontifical pour la familie, Lexicon de termes ambigus et controversés sur la familie, la vie et les questions éthiques, p. 99).

C. Nota da Congregação para a Doutrina da Fé confirma o ensino tradicional

Tudo que precede foi, felizmente, reafirmado numa Nota aclaratória difundida, no dia 21 de dezembro p.p., pela Congregação para a Doutrina da Fé. Ela visava retificar "interpretações não corretas, que geraram confusão"27 por ocasião da publicação do livro-entrevista de Bento XVI, ocasião na qual o Papa falou apenas como doutor privado e não como Sumo Pontífice28 . 27. O caráter coloquial do livro-entrevista prestou-se, em certa medida, para dita confusão, ao não usar a linguagem técnica dos manuais de teologia moral, fato esse que foi posto em relevo pelo porta-voz do Vaticano durante a apresentação de Luz do mundo à imprensa: "A contribuição que o Papa quis dar não é aquela de uma discussão técnica, com linguagem científica de problemas de moral. Não é esse o objetivo de um livro desse gênero : não quer obstaculizar o trabalho da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso, não empregou 'mal menor' , 'duplo efeito' ou outras fórmulas clássicas específicas, mas quis empregar uma linguagem muito coloquial e que todos pudessem compreender" (Rádio Vaticana, 23-11-2010).

28. É clássica na Teologia a distinção do Papa quando fala como Soberano Pontífice e quando o faz enquanto teólogo particular. É somente na primeira condição que o Papa é protegido por vários formas de assistência di vina, enquanto na segunda ele não se di sti ngue de outros teólogos e é, tanto quanto eles, sujeito a erros (cfr. Cardeal Charles Journet, The Church of the Inca m ate Word, vol. l, pp. 438-439).

Segundo a Nota , tais interpretações errôneas "apresentaram as palavras do Papa como afirmações em contraste com a tradição moral da Igreja" e "como se se tratasse de uma ruptura com a doutrina sobre a contracepção e com a atit11de eclesial na luta contra o

HIV-SIDA". Pelo contrário, segundo a Nota, o uso do preservativo é sempre ilícito, tanto se é usado como meio contraceptivo q ua nto se é empregado corn o me io profilático. Quanto ao uso do preservativo como contraceptivo, diz a Nota: "A ideia de que se possa deduzir das palavras de Bento XV[ que seja lícito, em alguns casos, recorrer ao uso do preservativo para evitar uma gravidez não desejada é L talmente arbitTária e não coITesponde às suas palavras nem ao seu pensamento". Quanto ao rnprego do preserv ativo como profilático, o principal parágrafo da Nota reafirma o ensino tradicional , nos s guintes termos : "Alguns interpretaram as palavras d Bento XVI, recorrendo à teoria do chamado " mal 111 nor". Todavia esta teoria é susceptí vel de interpretaçõ s desorie ntado ras de matriz proporcionalista (cfr. João Paulo Il, Encíclica Veritatis splendor, nºs 75-77). Toda ação que pelo seu objeto

seja um mal, ainda que um mal menor, não pode ser licitamente querida. anto Padre não disse que a prostituição, valendo-se cio pr ·servativo, pode ser licitamente escolhida como mal m nor, como alguém sustentou" 29. 29. Lame nta mos qu ' a Nota tenha perdido a exce lente o portunidade de r-al"irmar mais clarame nte que : a) inclu sive num cont xto d ' pecado (adu ltério, fo rnicação ou prostitui ção h ' I •ross 'X uais), o preservativo ac rescenta uma nova esp ·i ' d ' pecado (onani smo) ao pecado de luxúri a; e b) no ·aso das relações sodo míticas, de si antinaturais, o uso do preservativo acrescenta uma malícia extríns ca ·o lat •ral (escândalo, enriquec ime nto da indú stri a la ·01-rupção, favo recimento de novos pecados, etc.) .

3 . Pedido filial a S.S. Bento XVI Em vista de tudo que precede, pedimos filial mente ao Papa que, ao ensejo da Nota aclaratória da Congregação para a Doutrina da Fé, tome medidas eficazes para evitar que, no futuro, altos prela dos voltem a confundir os fi éis afirm ando ser lícito, ou até obrigatório, o uso de preservativo em alguns casos, e notadamente no caso de pessoas soropositivas. També m pedimos que orde ne uma investigação para apurar as responsabilidades no escândalo - um verdadeiro sacrilégio - qu e teve lugar na catedral de Goiás Velho, tomando medidas severas contra todos os responsáveis. E que reitere, do modo mais categórico, a proibição de toda e qualque r partic ipação de e ntidades cató licas e m program as e eventos, públicos ou privados, nos qu ais se faça pubJi cidade e/ou di stribuição de preservativos e de manuais de como utili zá-lo. *

* *

Ao fin alizar este pro nunc iame nto, manifestamos nosso pleno acatamento ao Papa e à Sagrada H ierarqui a e m matéria de Fé e Moral e repetimos aquilo que P línio Corrêa de Oliveira afi rmava ao tratar de ass untos teológicos: Se qu alquer princípi o apresentado na análi se ac ima se opõe e m algo ao Magistério tradicional da Igreja, desde j á o rejeitamos, porq ue a Fé católica é a luz de nossos olhos. Em meio à invasão galopante da imoralidade e à crescente confusão dos espfritos, que não tem poupado sequer setores da Santa Igreja, continuaremos nossa luta em defesa da castidade, como fundamento da família cristã, e dos demais valores da civilização cristã, pondo toda nossa confiança em Nossa Senhora que, nas suas aparições de Fátima, em 19 17, garantiu a vitória fi nal da virtude sobre a corrupção ao prometer: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará". São Paulo, 28 de dezembro de 201 O, festa dos Santos Inocentes

Adolpho Lindenberg Pres ide nte INSTITUTO P U NIO CORR ÊA DE ÜLIV EIR A

FEVEREIRO 2011

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O vôo do falcão Nobre e divinamente belo ■ PUNIO C ORRÊA DE OLIVEIRA

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falcão tem uma capacidade de vôo que parece desproporcionada para seu tamanho: vôo retilíneo, indicando total ausência de medo. Ele ataca e agarra com toda segurança sua presa. Sua larga visão precede a ação, por isso ele não hesita. Isto nos dá uma idéia de qualidades morais próprias do homem. É belo considerar um homem que discerne de longe o adversário. É bela a alma do homem que, tendo visto o inimigo da Igreja, investe sobre ele .sem nenhuma vacilação e no momento oportuno, com uma proeza semelhante à do falcão cortando os espaços. É metafisicamente bela a causa que desfecha na ação, e também a ação precedida do jogo da inteligência. No caso do falcão, sua vista é o símbolo da inteligência aguda que perscruta ao longe. O falcão só possui instinto animal, mas sua ação de atacar e conquistar a vitória, depois voltar fiel e pacífico para junto de seu dono, é uma imagem da vontade humana

que realiza o que a inteligência mostrou, e depois repousa. É nobre e metafisicamente bela a tranqüilidade do homem que cumpriu o que deveria ser feito, empr gando todas as suas qualidades, poi s é belo a causa produzir o efeito st desenrolar-se segundo as leis de sua própria natureza, at seu último extremo. É também bela esta forma de t mp rança que leva a causa a produzir todo o efeito desejado, · encontrar seu repouso ao terminar a ação. Tudo isto é metafisicamente belo, e podcr-s -ia diz ·r que é divinamente belo. Quando nos referimos à aç, o qu • obedece à inteligência, não se trata de uma idéia abslrala, mas constitui imagens de Deus. São realidad s cuja h I zu não é senão um espelho da beleza divina, a qual vamos contemplar por todos os séculos dos século na glória d ' El , se até lá nos levar, como esperamos, a mão miscri ·ordiosu de Nossa Senhora. •

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 1O de agosto de 1973. Sem revisão do autor.



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UMARI

PuN1Q CoRRÊA DE OuvE1RA

O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós! E sse magno aconlccinw111.o, cclcl>raclo pela lgt'cja no dia 25 deste rnrs, foi terna (I(' di\ ersas <'ollf<'n1 ncias do Prof. Plinio. Transn'cvcmos um trecho (l(' uma ddas, em 21 d<' março de 1BH 1.

N

um li vro de leitu ra es piritu al, li qu e a Sa ntíss ima Virge m desej ava ard entemente a vinda do M ess ias ü T erra, e pedia in stantemente pelo seu nasc imento. Com base nas Escrituras, constantemente razia conj eturas sobre a fi gura d'Ele, imaginand o como Ele seria quando viesse habitar entre nós. Na paz da sua meditação, co m sua sabedori a, virtu de e amor de Deus, Ela ia conccbcn lo a fi gura do M ess ias, e quando acabou de incluir o {iltimo traço nessa image m que seri a a de Nosso Senhor Jes us Cri sto, num in stante houve um a ilumin ação no j ardim da casa onde se encontrava, apareceu um anj o e lhe disse: "Ave Maria , cheia de g ra ça, o Senhor é convosco, bendila sois Vós en/re as mulheres". Ela se perturbou, pois não sabi a o porqu ê de tal sa udação. Então o anj o ex plicou-lhe que seri a Ela M ãe ci o filh o de Deus, pois o M ess ias nasceri a cl 'E la. Em sua humi Id ade, Ela se jul gava indi gna de ser a escra va da própri a mãe do M ess ias, e pedi a que Deus lhe desse a graça de co nhecê- la e servi- la. M as de repente recebe este anúncio: Serás T u a M ãe cio M ess ias ! O Espírito Santo engend rará cm ti , di vina e espiritualmente, o fi lho que va i nascer. Daí sua humílima resposta, como que dizendo qu e com Deus não se di scute: "Eis aqui a escrava do Senhor: Faça-se em 111i111 segundo a vossa palavra". Nesse instante operou-se um mi stéri o di vino: O V erbo de Deus se fez carne e habitou entre nós ! •

CATO LICI SM O

2

Ex(:i-:1nos

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CARTA

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DnmToR

Deus Padre em nosso dia-dia

Aparição de Nossa Senhora nos EUA

5

PÁGINA MA1UANA

7

[,m·1·uRA EsP11un1A1,

8

CoaumSPONDf.:NCIA

Considerações sobre o Pai-Nosso - II

1O A

PALAVRA no SA<:1mn0Ti-:

12 A

REAl ,IDADE CON<;ISAMENTE

Papel da intercessão dos santos

O ensino no lar

14

D1sc;m~N1Noo

16

REM1N1s<;f.:Nc1A

18

CAPA

28

ENTimv1sTA

36

VmAs DE SANTOS

A mulher na sociedade cristã

Congresso analisa o Concílio Vaticano II História do Condlio Vaticano II São Zacarias Os pais e a educação dos filhos

39 V ArmmA1)1~s Propaganda articulada da homossexualidade?

40

ESPI.ENDorms DA CmSTANOADE

42

SANTOS 1,: FESTAS no Mf.:s

44 AçAo CoNTRA-RJ•:vor.ticmNAmA

52

AMBIENTES, COS'l'LIMES , CIVll,IZAÇÜES

Em Luís XIV: confluência da elegância francesa com a grandeza espanhola

Nossa Capa: Congregação geral do Concílio Vaticano li

MARÇO2011

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Mais uma aparição de Nossa Senhora aprovada pela Igreja

Caro leitor,

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Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catolicismo@terra.com .br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Março de 2011:

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CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES L TDA.

Catolicismo publica nesta edição matéria de capa e entrevista sobre tema muito especial. Com efeito, aproximando-se o cinqüentenário do início do Concílio Vaticano II, que ocorreu em outubro de 1962, estão surgindo em ambientes católicos, especialmente europeus, publicações e eventos alusivos a essa assembléia conciliar. Publicando tal matéria, nossa revista segue a diretriz a que se propôs desde sua fundação há 60 anos: ser um órgão de imprensa de "verdades esquecidas" e de "notícias não veiculadas" por outros meios de comunicação social. De fato, não temos conhecimento de nenhum órgão da mídia brasileira que tenha noticiado duas recentes iniciativas nesse sentido: o lançamento do importante livro O Vaticano II: Uma história jamais escrita, de autoria do historiador italiano Prof. Roberto de Mattei, editado no mês de novembro do 2010 em Turim, e cuja primeira edição já se esgotou. A obra tem alcançado expressiva repercussão, com traduções projetadas em outros idiomas. E ademais, o Congresso promovido em Roma, entre 16 e 18 de dezembro último, pelo Seminário Teológico Immacolata Mediatrice do Instituto dos Franciscanos da Imaculada, que contou com a presença de cardeais, bispos, como também de destacados eclesiá ticos e renomados intelectuais. O autor da obra acima mencionada concedeu a Catolicismo esclarecedora entrevista, na qual expllca a verdadeira função d historiador em analisar objetivamente fatos históricos, como o C n fli o Vaticano II e o pós-Concílio, de acordo com a lapidar expre ão do Papa Leão XIII: "A Igreja não deve temer a verdade". Mere m ser mencionados também os termos elogiosos referentes à obra d hL toriador italiano pelo Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congr•gação para os Clérigos em recente carta a ele dirigida: "corajosa pesquisa". Auguramos que a leitura desse material seja de proveito e pi ri tual e intelectual para nossos leitores.

Por decreLo de Mons. Ricken, bispo de Grecn Bay (EUA), são consideradas dignas de crédito as aparições da Santíssima Virgem à irmã Adele Brise em 1859 r, V AL0 1s GR1NsrE1Ns

9:~7 DIRETOR

catolici smo @terra.com.br

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ui tos identificam os Estados Unidos c<li11 a tecnologia

mais avançada do pl aneta. Palavras co rno internet, fa x, raio laser, fog uetes espaciais ou avi ões invi síve is são normalmente relacionadas com aque le imenso país. T udo quanto indique velocidade, rapidez, automatização, tra nsmissão instantânea costuma estar associado à nação norte-americana. E foi justamente Já, onde a veloc idade pareceri a não ter limites, que em 8 de dezembro de 201 O se reconheceu corno autêntica a primeira aparição mari ana nos Estados Unidos ... 151 anos depois do acontecimento. Não será contraditóri o com o caráter da Igreja a morosidade dessa aprovação? Não é estranho que, logo no país onde tudo se faz rapidamente, a Igreja leve tanto te mpo para determinar se fo i autêntica ou não uma aparição? Não seria melhor não se pronunciar, devido ao ri sco de adversári os da Igrej a a qualificarem de arcaica, in stituição de outros tempos, incapaz de se adaptar às velocidades contemporâneas? Para horror dos adoradores da ve loc idade, podemos afirmar que a Igreja não tem pressa, porque ela possui a eternidade. E se todas as outras in stitui ções morrem nesta Terra, a Santa Igrej a continua no Céu. A um governo que dura c inco anos, ou a um homem que vive 80, cabe muito bem ap ressarse em fazer o que deve. Mas a Igreja, co m sua sabedori a de 2.000 anos, entende que cada obra tem seu tempo ideal para ser reali zada, ou que chegou o momento de aprovar esta ou aquela aparição, trazendo à tona temas muito necessários aos dias atuais.

Voltas que dá uma m cação Em Jesus e Maria,

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Soror Ad le Brlse

Quando jovem , Adele Bri se viveu na Bélgica, ori gem de sua fa míli a. Pertenceu a um grupo de fe rvorosas ami gas, que tinham fe ito promessa de se tornarem re ligiosas. M as em meados do século XIX seus pais decid iram emigrar da Bélgica rumo aos Estados U nidos, um país novo e meio desconhec ido. Pior ainda, não iri am para uma cidade ou região já civilizada, mas se estabeleceri am no Wi sconsin , então um local na fronteira entre a civilização e o desconhec ido. Nem indícios

de conventos havi a por lá. Enquanto as amigas cumpriam a promessa, aos 24 anos ela obedeceu aos pais e partiu com seus fa miliares para o outro lado do mundo. Na região os imigrantes tendiam a fi car em fa zendas muito di stantes entre si; e devido à fal ta de igrej as, capelas ou escolas, iam perdendo a fé por falta de práti cas re ligiosas. E m outubro de 1859, Adele ia ao moinho levando um saco de grãos na cabeça, quando viu entre duas árvores uma Senhora vestida de branco. Assustada, não se moveu. A Senhora nada disse, e lentamente desapareceu, deixando uma nuvem bra nca no local. AdeJe terminou sua tarefa e retornou para

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casa, onde comentou com os pais o sucedido. Estes julgaram que talvez se tratasse de uma alma do Purgatório que necessitava de orações. No domingo seguinte ela saiu para ir à missa, acompanhada de sua irmã e uma vizinha. A igreja ficava a 17 qui lômetros de distância, e para lá chegar era necessário passar pelo mesmo local da aparição. Novamente Adele viu a Senhora de branco. Suas companheiras nada viram, mas ficaram impressionadas com o temor que notavam em Adele. Depois de algum tempo ela disse que a Senhora tinha desaparecido . Conversando sobre o assunto, concluíram novamente que seria uma alma do Purgatório.

i

P rimeira petição - Paj nosso que estaÍs nos Céus, sanUJicado seja o vosso Nome - que Santa Teresa recomenda para as segundas-feiras*

e

Conselho do conl'essor Após a missa, Adele se confessou com o Pe. Verhoef e narrou-lhe os dois episódios. O sacerdote disse-lhe para não ter medo, e que perguntasse à Senhora de branco o que desejava; se fosse uma mensageira de Deus, não lhe faria qualquer dano. No caminho de volta, nomesmo local, Adele viu novamente a Senhora, e desta vez notou que tinha uma fita amarela na cintura. Seguindo as indicações do confessor, perguntou: "Em nome

de Deus, quem sois e o que desejais?". E a Senhora lhe respondeu: "Sou a Rainha do Céu, que reza pela conversão dos pecadores, e desejo que faças o mesmo. Recebeste a Sagrada Comunhão hoje de manhã, e isso é bom. Mas tens que fazer mais ainda. Deves fazer uma confissão geral e oferecer a comunhão pela conversão dos pecadores. Se eles não se converterem e não fizerem penitência, meu Filho será obrigado a puni-los". Nesse momento as duas companheiras perguntaram a Adele com quem ela falava, pois não viam nada. Ela simplesmente lhes disse: "Ajoelhem-se, pois Ela diz ser a Rainha do Céu". E as duas companheiras assim fizeram obed ientemente, o que alegrou a Santíssima Virgem, pois disse: "Bem-aventurados os que acreditam sem ver". E voltando-se para Adele, acrescentou: "Que fa zes aqui

parada, enquanto tuas companheiras trabalham na vinha de meu Filho?". Era uma alusão direta ao fato de suas companheiras belgas terem cumprido a promessa de se tornarem religiosas, mas ela

Considerações sobre o Pai-Nosso - II

Soror Adele (círculo) com seus alunos

ainda permaneci a como leiga. Ouvindo a reprovação de Nossa Senhora, ela se comoveu e perguntou: - O que mais posso fazer, querida Senhora? - Reúne as crianças deste país e mostra-lhes o que deveriam saber para se salvarem. - Mas como lhes ensinarei, se eu mesma sei tão pouco? - Ensina-lhes o catecismo, corno fazer o sinal da cruz e como se aproximarem dos sacramentos; isso é o que desejo que faças. Vai e não tenhas medo . Eu te ajudarei. Após este breve diálogo a Senhora levantou as mãos, como implorando uma bênção sobre aquelas que estavam a seus pés, e desapareceu lentamente. Estimulada pela aparição, Adele começou a reunir as crianças e ensinar-lhes os princípios da fé católica. Em meio a numerosas provações, conseguiu construir urna escola para a finalidade, assim como congregou outras joven s para ajudá-la. Realizou também muitas peregrinações apostólicas para conclamar os pecadores à conversão. Nessa missão, ela chegava a caminhar mais de 80 quilômetros no meio de florestas, passando por todo tipo de perigos. Finalmente em 1896, com a idade de 66 anos, Adele fa leceu no cumprimento de sua vocação e foi enterrada na capela construída no local das aparições.

Relembrar verdades eternas Voltamos aqui à questão de estarmos num momento adequado para se aprovar essas aparições e chamar a atenção sobre verdad es e le mentares, qu e o progressismo e a atual decadência moral desejariam ver silenciadas. No fundo, o que recomendou a Santíssima Virgem? O mesmo que a Igreja sempre ensinou: Que Deus desej a a conversão dos pecadores; que devemos trabalhar por isto; que devemos rezar e oferecer comunhões e sacrifícios nestas intenções; que se eles não se converterem, serão punidos; e que, se nos esforçarmos e perdermos o medo de atuar, conseguiremos muitíssimo em fav r de nossos irmãos, com a confiança I que sempre Nossa Senhora nos ajudará . Numa época em que as pe s as se esquecem da salvação da própri a alma e vivem em função do dinheiro e dos prazeres, ternos o dever de lembrar a t dos que o verdadeiramente important é a vida eterna, e que os sacramentos n s são indispensáveis para lá chegarmos. Pode haver melhor momento para a lertar as almas sobre isso? Relembrando a propósito do reconhecimento de sa apari çã o que nos dias de hoje é tão esquecid , mas que Ela sempre ensinou, a Igreja c ntinua a exercer majesto amente sua obra providencial. •

onsidere que seu pai é Deus, trino em pessoa e um na essência, princípio e autor de todas as coisas, um ser sem princípio, que é causa e autor de todos os seres, por quem nos movemos, em quem vivemos, e por quem existimos, e que tudo sustenta e mantém. Considere-se a si como filho deste Pai tão poderoso que pode criar infinitos mundos. E tão sábio, que saberá reger a todos, sem faltar a sua providência a criatura alguma, desde o mais alto Serafim, até um simples bichinho da Terra. Tão bom, que graciosamente está se comunicando sempre a todas as criaturas, conforme a sua capacidade. Especialmente considere o homem e diga: 'Que bom é este Pai para mim, pois

resplandece a santidade de seu Pai, entristecendo-se a cada pecado e mau exemplo que vir; alegrando-se juntamente com ~ueles a cada virtude em que as vir e ouvir; e dando graças a Deus porque criou os santos mártires, confessores e virgens, que claramente testemunharam ser filhos de tal Pai.

Logo depois disso, segue-se a confusão de O haver particularmente ofendido; de não ter agradecido os seus benefícios; e de ter tão indignamente o nome de filho de Deus, que deve gerar corações reais e generosos; considerando aqui as condições dos pais que amam a seus filhos ainda que sejam feios; que os mantêm ainda que sejam ingratos; como os sofrem ainda que sejam viciosos; que os perdoam quando voltam à sua casa e obediência; que, vivendo descuidados de tudo, os pais lhes acrescentam os seus morgados e fazendas. E, lembrando-se de que todas estas condições estão em Deus com infinitas vantagens. Isso é causa para a alma se enternecer e cobrar, de novo, confiança e perdão para si e para todos; e para não desprezar ninguém, vendo que possui tal Pai, comum aos homens e aos anjos. •

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Obras de Santa Teresa , Editora Vozes , Petrópolis, 1951, tomo V. pp. 21 1 e 212.

quis que eu tivesse ser e gozasse desta dignidade de filho seu, deixando de criar a outros homens que seriam melhores do que eu', ponderando aqui o quanto merece ser amado e servido este Pai, que só por sua bondade criou para mim todas as coisas, e a mim para que o servisse e gozasse d'Ele. Nessa ocasião pedirá para todos os homens luz a fim de que O conheçam, amor para que O amem e agradeçam tantos benefícios; para que todos sejam tão virtuosos e santos, que neles resplandeça a imagem de Deus, seu Pai, e que em todos seja glorificado e santificado o seu nome paternal, como nome de Pai, que tem tais filhos que se parecem ao Pai, que os criou. Atrás disto segue-se logo (trazendo à memória os muitos pecados dos homens) uma grave dor de ver ofendido tão bom Pai por seus ingratos filhos; e alegrar-se em ver que há servos de Deus nos quais

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Santíssima. Tenho em minha cabeceira, há muitos e muitos anos, uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Invoco-a todas as horas. Amém. (A.B. -

SP)

Defe11sor da Santa I grnja

A 11erdadeira devoção t8] Estou muito agradecida a esta revista pela minha devoção a Nossa Senhora, pois estava com a cabeça confusa, devido às impertinências de al.guns parentes que infelizmente passaram para religiões evangélicas. Eles não me deixavam em paz, constantemente azucrin and o meus ouvidos com um palavreado fa lso. Mas graças a Deus e a esta publicação (por exe mplo , com o tema de capa do exemplar número 722, "A obra-prima da criação") agarrei-me a Maria, a mais maravilhosa obra-prima de Deus, nossa tão bondosa Mãe e Mãe de Deus, e passei pelas turbulências dos evangélicos. Estes queriam sacudir minha cabeça e minhas devoções, sobretudo minha devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imacu lado Coração de Maria. Hoje ambos reinam em paz em minha casa e em mi nha alma, e espero j amais deles me di stanciar. ·

(S.J.S. -

PR)

Invocação de todas as horas t8] Vocês não sabem o quanto dentro de mim entram as glórias de Deus, quando contemplo a minha Virgem

-CATOLICISMO

t8] Parabéns a Catolicismo pela beleza da apresentação e pela bela leitura que me proporciona mensalmente. A revi sta traz em foco notíc ias que os bastidores escondem, ap resentadas com a seri edade que devem ter as infor mações. Devo agradecer ao maior jornali sta e professor de todos os tempos, Plínio Corrêa de Oliveira, o varão do século XX que continua nos alimentando e nos convencendo de como é importante defender a Santa Igreja, Mestra da verdade e a luz que ele nos apontou com muita sabedoria. Um me tre co rno ele jamais se encontrou nesta Terra, com tal amor incondicional às devoções marianas, como ouvi em suas palestras.

(V.C.S. -

SP)

Ser Oll não ser católico t8] Há gente que pensa que o uso de

preservativos não tem nada a ver com o fato de ser ou não ser católi co. Mas a maioria concorda que ta l uso é contra a moral da Igreja Católica, os Ma nda me ntos e os e nsinam e nto s e vangé li cos, quando lhes exp li co. Alguns me disseram que o que vale é a inte nção de não co nt ag iar ou engravidar. .. Mas, se esta é rea lmente a intenção, por que não fazer o que recomenda o documento publi cado por Catolicismo? Ou seja, a fide lidade no casamento e a castidade antes de se casar, como olução para esses problemas. Muito mai s simples, não é? Já ouvi também a objeção de que a Igreja não é M ini stério da Saúde, para recomendar isto ou aq uilo que afeta a saúde. Mas, como agir no caso de algum Ministério propagar uma so lução que é fa lsa? Seguimos o Mini stério da Saúde ou o Mi nistério de Deus? Seremos ju lgados por não se-

guir um órgão governamental? Sim, seremos julgados , mas pelo Divino Jui z. Ademais, o uso dos preservativos não é mera questão de saúde corporal , mas sobretudo de saúde espiritual e moral. Fora da moral , nada é solução, ainda que à vezes se propaguem coisas com uma aparência de so lu ção, mas que só trazem como conseq üê nc ia maiores prob lemas. Termino dizendo que seria muito bom que voltasse aq uele tempo bendito em que as moças e os rapazes casavamse virgens. A noiva fazia jus a seu ve tido branco. Hoje, acho que muitas e muitos deveriam casar-se vestidos de preto ... (J.G.J. -

ES)

Conselho inaciano Recebi de um arni go, ex-aluno jesuíta como eu, um e- mail que lhes encaminho para aproveitamento na revista, que neste mês publicou um artigo mostrando que "Os defeitos do Brasil podem ser cu rado s". Um modo de os brasi le iros serem curados de seus defeitos (sobretucl os bra ile iros que ocupam cargo públicos ou políticos ... ) seria seguir os conse lh os de Santo In ác io de L yol a (1491 - 1556), pregados em u livro "Exe rcícios Es piritu a is". Ah , como eles se tornariam melhores! O Brasil já há muito tempo seri a uma grande potência, tanto do p nt de vista materi al quanto espiritual. Mas, para isso, Brasília precisari a ser "fechada" para fazer um " retiro espi ritual". Transcrevo o referiei e-mail, ao qual se seguem dois trechos do final da primeira parte do livro cio santo fundador dos j esuítas : E m 1520, com 29 anos, ln á ' io de Loyola escreveu os "Exercíc ios Espi ritua is" com instruções para qu ·m os mini stra e quem os recebe. 6 m 1534 fundaria em Paris a Companh ia de Jes us, recon hecida como uma nova Ordem Religiosa em 1540 pcl Papa Pau lo III, publicando para is a bu la de confirmação, Regimini mili1w11is

ecclesice. A Primeira Parte dos "Exercícios Espirituais" d e Inácio de Loyo la trata das " Anotaçõe s Orientadoras". A décima nona anotação orientadora é dirigida a quem estiver ocupando cargos pú bli cos. Seria bom que todos os que assumem funções agora, no governo federal e nos governos estaduais, fizessem essa breve leitura. Especialmente aq ueles que em governo pecam ou possam pecar, atentando contra o sétimo (não roubar) e oitavo (não mentir) mandamentos .

19 - "Quem estiver ocupado em cargos públicos ou negócios de que convém ocupar-se, se é instruído ou inteligente, tome uma hora e meia para se exe rcita,; exponha-se- lhe para que é criado o hom em. Pode dar-se-lhe também, por espaço de meia hora, o exame particular e depois o exame geral e o modo de se confessar e de receber o sacramento ( da euca ristia). Faça durante três dias, em cada manhã, por espaço de uma hora, a meditação do primeiro, segundo e terceiro pecados [45-53]; depois, durante outros três dias, à mesma hora, a meditação do processo dos pecados [55-61]; depois, outros três dias, à mesma hora, fa ça a das penas que correspondem aos pecados [65 -72] . Dêem-se-lhe, em to-· das as três meditações, as dez adições [73-90); para os mistérios de Cristo nosso Senhor, siga-se o mesmo processo que mais adiante e amplamente nos próprios exercícios se declara". 20 - "A quem está mais desembaraçado e deseja aproveitar em tudo o possível, dêem-se-lhe todos os exercícios espirituais, pela mesma ordem que seguem; neles, por via de regra, tanto mais se aproveita rá quanto mais se apartar de todos os amigos e conhecidos, e de qualquer preocupação terrena, mudando-se, por exemplo, da casa onde morava e tomando outra casa ou quarto, para aí habitar o mais secretamente que puder;

de maneira que esteja em sua mão ir cada dia à missa e a vésperas, sem temor de que os seus conhecidos lhe sejam causa de impedimento. Desta separação seguem-se, além de outros muitos, três proveitos principais: O primeiro é que, ao apartar-se uma pessoa de muitos amigos e conhecidos, assim como de muitos negócios não bem ordenados, para servir e louvar a Deus nosso Senhor, não pouco merece diante de sua divina majestade; o segundo é que, estando assim apartado, e não tendo o espírito repartido por muitas coisas, mas pondo todo o cuidado numa só coisa, a saber, em servir a seu Criador e aproveitar à sua própria alma, usa das suas potências naturais mais li vremente, para buscar com diligência o que tanto deseja; o terceiro é que, quanto mais a nossa alma se acha só e apartada, tanto mais apta se torna para se aproximar e unir a seu Criado r e Senhor. E quanto mais assim se une, mais se dispõe para receber graças e dons da sua divina e suma bondade". (M.A.-DF)

FRASES SELECIONADAS "A terra.,

quanáo não é

Cavraáa., produz a6roffi.os e espinfws, muito embora. seja. ferti[; assim sucede com a. inteligênda áo homem.,, (st?ntt? rerest? de_Jesus)

"A inteligência é quase

inútil para. quem não tem outras qua[iáacfes.,, (ALe.xís Ct? rret)

"A razão é uma fuz

que Deus acendeu em rwssa. aúna.,,

Retificação

(ArístóteLes)

À Redação de Catolicismo:

Após a publicação de meu artigo intitulado "Limitação da propriedade rural, Reforma Agrária e estupidez", na edição de Catolicismo deste mês [fevereiro], notei um equívoco de minh a parte e apresso-me a esclarecê- lo: no 3° parágrafo, por engano, afirmei que "de 125 hectares plantados ele (o produtor mencionado no artigo) retirou 1.539.000 sacas"; na realidade, o correto teria sido dizer: "de 19 pivôs, com 125 hectares cada um, ele colheu 153.900 sacas". Lamentando a confusão que meu lapso poderá ter causado aos leitores, conto com a compreensão de todos e agradeço antecipadamente a eventual publicação desta retificação. (Hélio Brambilla -

"O vinfw e a. música afegram o coração; mas o amor áa sa6eáo-

ria excecfe am6as

estas coisas.,, (6oLtsitisttco, +0-20)

Cartas, fax ou e-mails: enviar aos endereços que figuram na página 4 desta edição.

PR)

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,, !!ili Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC

Pergunta - Gostaria de receber algumas explicações sobre os dogmas e fundamentos da doutrina da Igreja a respeito dos santos: como eles intercedem por nós e nos ajudam a chegar à graça, e como são santos, sendo que só DEUS é santo? Por favor, me ajudem a responder a esta pergunta que me fizeram e não consegui responder.

Resposta - Se somente Deus é santo, como é que atribuímos a alguns homens o quaIificati vo de santos? Este é o sentido central da dúvida do leitor. Vê-se, desde logo, que a pergunta dirigida ao nosso missivista é provavelmente de origem protestante, pois é comum entre estes negar que algum homem possa ser santo. Mas pode também provir de algum católico contaminado pelas idéias protestantes, como infelizmente não é raro encontrar-se hoje em dia. Assim, o esclarecimento desta questão pode ser útil para muitos que se sintam embaraçados pela pregação protestante. Tanto mais que a própria Igreja nos ensina que todo homem é pecador, a ponto de rezarmos na Ave-Maria pedindo: rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Essa oração é posta nos lábios de todos os fiéis, sem exceção, inclusive daqueles que ocupam os mais altos postos na Hierarquia da Igreja. Ao celebrar o Santo Sacrifício da Missa, todo sacerdote começa por pedir a

ÇATOLICISMO

Deus perdão por seus pecados: porque pequei muitas vezes, por pensamentos, palavras e obras. Que sentido tem, na doutrina católica, atribuir santidade a algum homem sobre a face da Terra?

Deus criou o homem num estado de santidade Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, participando portanto da santidade do próprio Deus. No Paraíso, Adão e Eva tinham sido elevados à ordem sobrenatural por meio da graça, o que caracterizava um estado de inocência, de justiça e de santidade. Ademais, gratuitamente Deus lhes comunicara o dom da imortalidade corporal (a alma, por sua própria natureza, é imortal), ou seja, seriam levados ao Céu sem conhecer a morte, após passar pela prova desta vida. Pelo pecado, perderam tudo isso: a graça, a inocência, a justiça e a santidade; perderam o direito ao Céu; foram expulsos do Paraíso terrestre; ficaram expostos a muitas misérias no corpo e na alma; e, por fim, condenados a morrer. Antes, segundo comentadores abalizados da Sagrada Escritura, bastava-lhes comer o fruto da árvore da vida existente no Paraíso, para conservarem a vida imortal. O pecado de Adão foi um pecado pessoal. Porém, sendo ele _a cabeça e o tronco do gênero humano, esse pecado se transmitiu, por via de geração natural, a todos os seus descendentes. Por isso todo homem nasce contaminado por tal pecado, que consiste na privação da inocência e da graça. Chama-se pecado original. É fácil entender: se um

homem abastado faz maus negócios, perdendo sua casa e todos os bens, não tem mais o que transmitir a seus filhos em vida, ou por herança após a morte. Do mesmo modo a natureza humana, que havia sido elevada em Adão à ordem sobrenatural por meio da graça, perdeu-a por tê-la perdido Adão pelo pecado, pois este perdeu-a para si e para todos os seus descendentes.

A obm da Redenção por Jesus Cristo Por si mesmo, o homem não tinha condições de sair desse estado de pecado. Agravidade de uma ofensa se mede, de um lado, pela natureza da ofensa; e de outro lado, pela dignidade do ofendido. Sendo Deus infinito, o pecado de Adão tinha, de certo modo, uma gravidade infinita. Para ser reparada, seria preciso uma ação de valor infinito, o que nenhum homem poderia praticar. Por outro lado, a reparação devia ser oferecida pelo homem , que era o ofensor. A humanidade se encontrava, portanto, numa situação de impasse. Deus compadeceu-se da situação dos homens e resolveu divinamente o problema, que humanamente era insolúvel: a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade - o Filho de Deus - se faria homem e ofereceria à Santíssima Trindade um sacrifício condigno, em nome dos homens. Assim, encarnando-se no seio virginal de Maria Santíssima, por obra do Espírito Santo, o Verbo de Deus feito homem , Jesus Cristo, pôde oferecer no alto da Cruz um Sacrifício que remiu toda a humanidade, restaurando nos-

sa amizade com Deus e nossa filiação divina.

A restauração da santidade pelo Batismo Os méritos da Redenção se aplicam a nós, primeiramente, pelo sacramento do Batismo, que apaga em nós o pecado original. O Batismo nos comunica pela primeira vez a graça santificante, que nos eleva à ordem sobrenatural, nos torna filhos de Deus por adoção e herdeiros do Céu. Ademais, o Batismo nos introduz na verdadeira Igreja de Jesus Cristo, isto é, a Igreja Católica, tornando-nos membros vivos dela e aptos a receber os demais sacramentos. Embora nos obtenha a remissão do pecado original, o Batismo não restaura a natureza humana no estado de integridade em que se encontravam Adão e Eva no Paraíso. Muitos dos efeitos do pecado original permanecem no homem: continuamos sujeitos ao tra balho com o suor do nosso ro to, e a muitas outras misérias; somos atingidos pelas doença , e afinal pela morte. Pior do que tudo, a inclinação ao pecado permanece em nós, e conlra ela devemos lutar até o último dia de nossa existência terrena, com a indispensável ajuda da graça de Deus. Mas se temos a infeli idade de pecar gravemente, e assim perder novamente a graça santificante, podem s arrepender-nos e recuperá-la no sacramento da Confi ss ão, confessando nossos pecados a um sacerdote, que no- los perdoa em nome e pelo poder de Jesus Cristo. É sobretudo importante o Santíssimo Sacramento da u-

caristia - o maior de todos os sacramentos - que é o próprio Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Recebendo-o em estado de graça, isto é, depois de termos obtido o perdão de nossos pecados mortais no sacramento da Confissão, a graça santificante aumenta grandemente em nós. Conseqüentemente, aumenta a santidade da nossa vida.

Intercessão dos santos, nesta e na outra vida E assim vamos carninhando em nossa existência terrena, com avanços e recuos, novos recuos e novos avanços. Se prevalecem os avanços, avançamos em santidade. Se os recuos prevalecem, aproximamo-

nos perigosamente da condenação eterna. Algumas almas generosas e privilegiadas tomam resolutamente o caminho da santidade, movidas pela graça de Deus. Nelas permanecem defeitos menores, que vão sendo vencidos pouco a pouco. E o odor da santidade se comunica aos que têm proximidade com elas. Porém, não nos iludamos: nem todos o percebem. São muitos os casos de pessoas que conviveram com santos e nada perceberam, pois seus olhos estavam fêcbados à santidade alheia! Mas isto pouco importa. O que importa é que Deus as conhece e as ama, e comunica-lhes cada vez maior participação em sua própria san-

tidade. São os amados e privilegiados de Deus. É compreensível que Deus atenda com maior benevolência a súplica destes que estão mais próximos d'Ele do que a de outros que estão mais longe, pois o mesmo acontece conosco quando atendemos prontamente os pedidos dos amigos. Aqui está a explicação da intercessão dos santos, ainda nesta vida: Deus atende com maior presteza as orações dos mais avançados em santidade, que são seus melhores amigos. Não se trata nestes de uma santidade absoluta, que só Deus tem, e por isso mesmo se diz que só DEUS é santo! Mas é uma participação finita na santidade infinita de Deus.

É claro que, se Deus já ateode nesta vida as orações dos santos por nós, com muito maior razão atenderá os pedidos que eles fizerem por nós quando já estiverem no Céu. Assim se entende o que disse São Domingos de Gusmão, moribundo, aos seus irmãos da Ordem Dorninicana, por ele fundada: "Não choreis, que eu vos serei mais útil depois da morte e vos ajudarei mais eficazmente que durante a vida" (cfr. Jordão de Saxe, Lib. 93). E Santa Teresinha do Menino Jesus tinha uma aspiração: "Hei de passar meu Céu fazendo o bem sobre a Terra "(Novíssima Verba , 17 de julho de 1897, Derniers entretiens, Paris, 1971, p. 270). • E-mai l para o autor: cªtQliçismQ !l!>tmll,QQlll,br

São Paulo da Cruz: na glória éeleste t"

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Senado francês rechaça proieto de eutanásia

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m votação apertada, mas definitiva, o Senado fra ncês recusou projeto de lei que legalizava uma hipócrita "as-

sistência médica para morrer, que permite por meio de um ato deliberado uma morte rápida e sem dor". Na véspera, o primeiro mini stro Fra nçois Fill on se pronunciou contra. O mini stro da Saúde, Xav ier Bertrand, disse que a proposta era verdade ira "eutanásia", e portanto "contradiz nossos fundamentos jurídicos". Segundo o mini stro, os doentes de A lzheimer não poderia m exprimir sua vontade, e acabariam sendo mortos sem sere m consultados. A associação de inspiração católica "Droit de Na'itre" fez ativa e vitoriosa campanha para os senadores recusare m o desumano e anticristão projeto. •

FARC perde mais um chefe, líder da Frente 21 guerrilheiro "Didier", líder da Frente 2 1 das Forças A rmadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), res-

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ponsável por extorsões no departamento de Tolima, m orreu com outros rebeldes em combate com militares. O conflito ocorreu na região de "El Cafíón de las Hermosas", onde se esconde Guillermo León Sáenz, o "Alfonso Cano", chefe máximo do grupo narcoterrorista. A guerrilha encontra-se em franco retrocesso militar, e sua esperança agora é obter cumplicidades salvadoras em nível político ou eclesiástico. •

Culto à múmia de Lenine atrapalha manobra comunista

40.000 marcham em Paris contra o aborto Popularidade da monarquia manifesta-se até na China

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casamento do príncipe William e Kate Middleton será realizado em 29 de abril, e das le mbra nças do evento já se venderam 30 vezes mais que o esperado. Para as porcelanas, o prazo de e ntrega pode ultrapassar três semanas, segundo o site da Coleção Real. Na China, dezenas de fábricas em Yiwu (província de Zhejiang) exportam a ritmo acelerado cópias do anel de compromisso do casal, por preços que vão de R$ 0,75 a R $ 13,00. As fábricas chinesas também imitam lembranças de casamento como xícaras, pratos e chaveiro~. São -~tomas q~e revelam a popular~dade da monarquia inglesa, mllltO maior do que md1cam certas pesqmsas de o pinião, suspeitas de sere m pré-fabr icadas para agrada r o governante do mome nto. •

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cadáver embalsamado do ditador Vladimir Lenine, exposto na Praça Vermelha e m M oscou, poderá acabar num cemitério comum. O culto comunista à múmia de Lenine atrapalha a ficção de que o comunismo morreu, o que levou Vladimir Medinsky - deputado pelo partido Rússia Unida , do todo-poderoso primeiro ministro e ex-agente da KGB , Vladimi r Putin - a propor que esse cadáver sej a afi nal depositado num túmulo comum. Putin não desejaria tirar o corpo do mausoléu, mas vantagens revolucionárias o forçam a pro mover o traslado divulgado pelo deputado M edinsky. O revolucio nário Le nine talvez aconselhasse a mesma saída, e m favor do mesmo culto à Revolução igualitária universal! •

Serviço Meteorológico silenciou o frio 11anti-ideológico"

FAO promove consumo de insetos para ''salvar o planeta" ...

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studo encomendado pela FAO (órgão da ONU encarregado de supervisar a alimentação mundial), assi nado pelo Prof. Arnold van R ui s da Universidade Wageningen (Holanda), promove a ingestão de in setos. Sob o pretexto de "salvar o planeta" e evitar o "aquecimento global", Van R uis recomenda "pratos" como quiche de minhoca, larva de besouro ou rolinha de grilo para uma "dieta saudável, barata e ecológica", e ataca a pecuária e a avicultu ra pelo "crime" de emitir CO 2 demais. Repete o "dogma" verde, segundo o qual .a Terra não pode rá mais alimentar os homens se estes continuare m tendo filhos e consumindo nos pad rões atuais. Comer insetos é próprio do paganismo e de tribos degradadas, e também envolve superstições sobre poderes divino-mágicos atribuídos a animais perniciosos, como escorpiões e cobras. É para esses abi smos que aponta o ecologismo radical. •

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Serviço de M eteorologia ~o governo inglês sa~ia que a Grã-Bretanha passaria um mverno excepcionalmente frio, porém escondeu essa informação. O Met Office se havia engajado na campanha para convencer a opinião pública do "aquecimento global de origem humana", e com isso acabou envolvido no escândalo do "Climagate": em 2009, predisse um "verão-churrasco", que não houve; a seguir prenunciou um "inverno moderado" porém dezembro de 2010 foi o mais frio no país desde que se começou a fazer medições. Os profe tas apocalípticos do "aquecimento global " sofrem agora uma te mpestade de críticas porque, para não prejudicar a utopia ecologista, mantiveram na ignorância os cidadãos, tornando-os vítimas. •

CATO LICISMO

um sucesso sem precedentes, aproximadamente 40.000 pessoas participaram da Sétima Marcha pela Vida, em Paris, com a pre sença de quatro bispos. A passeata foi da Place de la République até a Place de l'Opéra . Os católicos constituíam de modo notório o conjunto mais numeroso, dinâmico e em clara posição de liderança. Como na grande passeata contra o aborto, realizadas simultaneamente nos EUA, a grande maioria dos manifestantes eram jovens, que bradavam: "Queremos leis pela vida hoje, não amanhã!". Participaram delegações da Alemanha , Espanha, Holanda , Bélgica, Romênia, República Checa e outros países europeus.

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Omissão astuta de Obama sobre 1 ' aquecimento global"

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pós sua cat~strófica derrota el~itoral .~e no_ve1~ bro, o preside nte Obama ensaia uma nova maqmagem centrista , abandonando na aparência seu acentuado esquerdismo. M as a manobra está custando caro. N o discurso anual sobre o E stado da U nião, Obam a sile nciou um "dogma" sagrado do esquerdismo - o "aquecimento global de origem humana" - e nem sequer menciono u as mí ticas "mudanças climáticas". O golpe foi sentido, e a "czarina" da Casa B ranca para o "aquecime nto global", Cai·ol Browner, renunciou no mesmo dia. Ela liderava o esforço oficial para estabelecer um controle socialista mundi al que engessasse o progresso no mundo não-socialista, a pretexto de afastar perspectivas clim áticas terrifica ntes. A re núncia sinali zou a frustração das esquerdas americanas diante da impopulai·idade do falso ambientalismo. •

Proibição do "casamento" homossexual na França Conselho Constitucional da França julgou que a proibição do "casamento" homossexual, contida no Código Civil francês, está de acordo com a Lei Fundamental. Estabeleceu também que a lei definindo o matrimônio como "união de um homem e uma mulher" não constitui discriminação. Percebendo a manobra do lobby homossexual, que utiliza o Judiciário para driblar o Legislativo, o supremo órgão para a interpretação da Constituição negara poucos meses atrás, com base no mesmo argumento, a adoção de crianças por "casais" homossexuais; e reafirmou que os cidadãos podem fazer sentir sua voz e pressionar os deputados a favor da família tradicional. Sem apoio na opinião pública, e agora sem conseguir iludir o Judiciário, o lobby homossexual vem perdendo suas chances de impor sua agenda antinatural.

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DISCERNINDO

Tiram dos pais o direito de educar os filhos N os EUA, os pais têm o direito de educar seus filhos em casa. No Brasil, são obrigados a colocá-Jos em escolas onde, com muita freqüência, recebem como "educação" todo tipo de imoralidades e perversões. □

CID

ALENCASTRO

As irmãs Vitória, de 11 anos, e Hannah, de 9, terão uma longa batalha pela frente para provar à Justiça de Serra Negra, no interior de São Paulo, que podem continuar estudando em casa, apenas com a ajuda dos pais. Os pais são alvo do Conselho Tutelar e do Ministério Público Estadual da cidade, que pretendem obrigá-los a cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), matriculando as meninas em uma escola regular. O casal foi denunciado ao Conselho Tutelar, pelo delito qualificado como "evasão esco lar", solicitando que o Ministério Público tome providências. "Esses pais estão descumprindo o estatuto e precisam rematricular essas crianças na escola" - afirmou uma conselheira que não quis se identificar. No final do ano passado, o juiz Carlos Eduardo Ci los de Araújo, da Infância e Juventude , instaurou um procedimento para analisar o caso e determinou que uma assistente social visitasse a família. O casal tem apoio da Aliança Nacional ele Proteção à Liberdade ele Instruir e Aprender (Anpli a), entidade criada pelo mineiro Cleber Nunes, que também tirou os filhos da escola e foi condenado pelo crime de abandono intelectual. Nunes contesta: "O Estado é que tem de provar que a escola é segura e o ensino é bom, não o contrário". Leila, a mãe, endossa: "Minhas filhas estudam quatro horas por dia no período da tarde. São bilíngües em português e inglês. Nossa luta é para que as famílias brasileiras tenham liberdade para escolher CATOLICISMO

como preferem educar seus filhos . Nós ncio vamos colocá-las de volta na escola". 1

Psicóloga erra ao criticai' os pais Sílvia Colello, professora de psicologia da educação da USP, critica a decisão dos pais: "A educaçcio é muito mais

que assimilar conteúdo e conhecimento. É conviver com pessoas, lidar com as diferenças, defender pontos de vista, ouvir opiniões contrárias. São coisas que ncio dá para aprender em um ambiente privado, particularizado".

1 A visualização da professora da USP é falsa. Uma criança bem formada por seus pais , dentro de um sistema coerente e harmonioso, está muito mais apta a "conviver com pessoas, lidar com as diferenças, defender pontos ele vista, ouvir opiniões contrárias" do que outra (de)formada por uma babel de conceitos ora mais esdrúxulos ora menos, obrigada freqüentemente a conviver com colegas desregrados ou drogados, e por vezes sofrer a pressão de professore imorais ou incompetentes, como tantas vezes acontece nas escolas de hoje. A situação da educação no Brasil é gravíssima. As crianças são obrigadas a freqüentar as escolas, mas o governo permite, e às vezes até constrange as crianças a submeterem-se a todo tipo de ensino imoral. Por exemplo, o Ministério da Educação elaborou recentemente um kit com

material audiovisual a ser passado nas escolas, no qual, a pretexto de combater a homofobia, estimula o homossexualismo. Nada mais natural do que os pais defenderem seus filhos contra tais aberrações. Nos Estados Unidos, o ensino domiciliar tem mais de um milhão de adeptos. Os filhos educados pelos pais são obrigados a prestar exames em escola reconhecida pelo governo, após a conclusão do curso. E uma constatação surpreende, mas tornou-se uma constante: os resultados são melhores que os dos educados em escolas públicas.

Uma exceção começa a abrir as portas Em Maringá (PR), uma exceção: uma família retirou os filhos da escola e os educa em casa, com aval da Justiça. Apoiados pelo Ministério Público, os pais consegu iram convencer o juiz da Vara da Infância e Juventude de que a educação domiciliar é possível e não traz prejuízos. 2 É apenas um primeiro caso de reconhecimento, mas outros poderão surgir, abrindo caminho para essa prática salutar no Brasil. • E-mail para o auto r:

catolicismo@ terra.com.br

1. Os dados foram ex tra ídos da reportagem Pais enfrentam a Justiça pelo direito de editcar fi lhas em casa. como nos EUA, in "Agência Estado", 28 - 1- 11. 2. "O Estado de S. Paulo", 29- 1-1 1

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O papel da mulher na sociedade cristã l'I SERGIO BÉRTOLI

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roclarnada a República no Brasil , muitos esperavam novos hábitos, novos costumes, novos procedimentos; enfim, nova mentalidade. Em certo sentido foi o que aconteceu; mas em outro sentido, não. A chamada República velha manteve na sociedade brasil eira, de algum modo até acrescido, um ambiente aristocrático e nobre, muito influenciado pela cultura francesa. Na vida de família, apesar de defeitos notórios, prezava-se uma fo rmação moral autênti ca, influenciada por urna elite católica de escol. Em especial, tinha-se cuidado com a formação e preservação das filh as, adorno indispensável das fa míli as dignas deste nome. Corno tratamos em artigo anterior, esta elite vinha sendo impul sionada por pessoas do porte de um D . Antonio Joaquim de Melo, fiel seguidor das orientações do Papa bem-aventurado Pio IX; de um D. Vital, bispo de Olinda; ou de uma Madre Teodora de Yoiron , semeadora de grande obra apostólica. Muitas outras figuras de destaque faz iam parte desse rol admirável de católicos autênticos e ze losos.

''A. mu/1,er forte, •rJrll, isenta cio femi1úsmo moderno" O dia 13 de dezembro de 1916 foi espec ialmente fes tivo. Era a data da formatura de uma turma de moças do Colégio Nossa Senhora do Patrocínio em ltu, cidade do interior pauli sta. Comoveu o público presente o discurso de uma das privilegiadas formandas, que depois dos habituais cumprimentos às autoridades, aos pais e ao público em geral, narrou um episódio da Roma antiga, do qual tirou urna nobre lição. Transcrevemos alguns trechos desse di scurso: "Ao redor de Roma, um sábio arqueólogo ouve ansioso os golpes da picareta. De súbito, no meio da terra úmida encontra uma pedra tumular. O túmulo é de uma senhora. De quem seria? De Clélia, Túlia, Vetúria, Cornélia, célebres mulheres da Roma antiga, cada uma tendo se destacando por uma atitude que deixou marcas na História? O sábio procura, procura sempre alguma inscrição. A noite já se projetava em largas sombras, quando consegue decifrar este epitáfio: 'Ela fiou a lã e velou sobre a casa'. A Rainha do Universo, na invocação de Mater Admirabilis, é representada como uma humilde fiadeira

CATOLICISMO

Resumo de uma vida toda. Que geração de heróis saiu, talvez, dessa obscura matrona, cuj o nome a posteridade devia ignorar? Ó mulher, dize-nos o segredo de tua existência! Ensina-nos onde se acha a sabedoria: a quem devemos dar razão? À antiga matrona fiando em sua casa, ou à Eva moderna, ávida de ostentação, de glória, de emancipação, de direitos iguais aos do homem? A primeira impressão foi de um sentimento de revolta contra a obscuridade a que fora condenada aquela existência. Fiou a lã e velou sobre a casa. Aparenta-se não haver nisto nem muito mérito, nem muita virtude. Reflexões mais profundas revelam coisa diversa. Esta mulher cumpriu verdadeiramente o seu destino, legando à posteridade o exemplo da mais alta sabedoria. O lar é o lugar que mais convém à mulher. Não é ela a alma da família, o centro ao redor do qual gravitam todas as afeições? Esposo e filhos querem vê-la ali no meio deles, a toda hora, como um farol luminoso, com uma misericordiosa providência, para indicar-lhes o deve,; ensinar-lhes a virtude, consolá- los nas tristezas, compartilhar as alegrias. Sim, mais que da matrona pagã, o lar é o lugar da cristã. Este foi o lugar de Maria. E Maria, Mãe de Deus, não é a mais augusta, a mais gloriosa, a mais santa de todas as mulheres? Pais, vossas filhas serão no porvir a vossa glória, o vosso conforto, compendiando em toda a sua vida as imortais palavras descobertas pelo arqueólogo, resumindo essas virtudes que farão a niulher forte, viril, isenta do feminismo moderno, fiel, dedicada até o heroísmo no cumprimento do deve,: Nossas educadoras nos fazem cotidianamente haurir, na fonte da ciência literário-artística, a verdadeira e sólida educação cristã. Ufanome em dizê-lo, é um laboratório aq__uecido ao lume dafé robusta, onde se formaram nossas diletas rniies e essas legiões de senhoras que na família, na sociedade cristã, brilham quais jóias preciosas, preparadas com o m.esmo carinho e esmero com que nos preparam hoj e para tesouro do futuro;,_*

go em mentalidades imbuídas do ambiente mundano, tão condenado pelo Apóstolo das Gentes? Fúrias, indignações, iro nias? Cansamo-nos de ouvir expressões como estas: "Isto é machismo"; "a mulher tem que desfrutar sua independência"; "não sirvo para ser doméstica", e quantas coisas mais ... Como se costuma dizer, o demônio não dá o que promete. Quantas lamentações ouvem-se hoje em di a de mães que, além de cumprir todas as tarefas do lar, têm que executar algum trabalho profi sional que decidiram assumir, ou a isso viramse obrigadas! Quantos lares desfeitos! Como di z um provérbio: "Expul sai o que é natural , e ele voltará a galope". Se é certo, como di zem numerosas profec ias particulares, que este mundo não se libertará de sua situação anticristã e neopagã, a não ser por meio de uma intervenção espec ial da Providência Divina, peçamos essa pronta interfe rênci a para que seja restaurado o papel fundamental, e quão grandi oso, da mulher na sociedade, a exemplo da Santíssima Virgem, Mãe de todas as mães. • E-mail para o autor: catolic ismo@ terra.co m.br

Nota: * Ivan A. Manoel , A Igreja e a educação fem inina ( 1859- 19 19), Editora da Uni versidade Estadua l Paulista (UNESP), São Paulo, 1996, pp. 13 e 14

Feminismo: o que demônio promete mas 11ão dá Outros tempos, outros costumes, outra vida. A doutrina católica tradicional estava na dianteira da formação dessa mentalidade. Nenhuma instituição dignificou mais a mulher do que a Igreja. A situação do sexo feminino no mundo antigo era inteiramente di ver a da atitude que se passou a tomar em relação à mulher na civilização cristã: no paganismo, ela era quase urna escrava; a santa Igreja esculpiu na prática o que Deus Nosso Senhor traçou como modelo da mulher ideal . Inúmeras são as mulheres que a Igreja apresenta como exemplos ao longo da História, formadas segundo seus veneráveis princípios: Santa Helena, Santa Clotilde, Santa Isabel da Hungria, Isabel a Católica, Branca de Castela, Santa Teresa de Ávila, mai s rece nteme nte Santa Teresinha, e quantas outras. Que reações provocará este artiMARÇO2011

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CAPA

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Na antevéspera do cinqüentenário de sua abertura Uma oportuna reavaliação do Concílio Vaticano II A vocação do jornalismo católico é informar, fa. zendo um julgamento dos acontecimentos à luz da fé, e iluminar e interpelar a consciência dos leitores a propósito de tais acontecimentos. O que, nos dias que correm, significa muitas vezes remar contra a corrente e adotar posições "politicamente incorretas", na medida em que não correspondem às opiniões que estão na moda. Fiel a essa vocação, nos seus 60 anos de existência, Catolicismo tem procurado ser um observador atento de tudo que tem ocorrido na Igreja católica, bem como no que resta da antiga Cristandade, comentando essa temática para seus leitores. Mais ainda, a revista tem participado ativamente de certos debates de atualidade e, não raras vezes, suas tomadas de posição têm influenciado o rumo que vem assumindo vasta corrente de católicos brasileiros empenhados em permanecer fiéis ao Magistério tradicional da Igreja. Nessa medida, o conjunto de trabalho jornalístico ao longo de seis décadas tem pesado nas posições adotadas pela massa dos católicos e, portanto, pela própria Igreja Católica no Brasil. Basta lembrar, por exemplo, o combate de Catolicismo contra os erros dos corifeus nacionais da Teologia da Libertação, muito enfraquecida no presente, e contra sua difusão mediante as Comunidades Eclesiais de Base, para se ter uma idéia da extensão da influência de nossa revista. É próprio do bom jornalismo católico informar sobre assuntos controvertidos, abertamente discutidos na Europa ou nos Estados Unidos, mas que no Brasil são, por vezes, mantidos na surdina. Em parte, porque nosso povo é afeito à concórdia, mas em alguma medida, para não alertar consciências adormecidas, que prefeririam relegar tais questões ao con-

fortável depósito dos assuntos ignorados ou voluntariamente esquecidos. Um desses temas evitados entre nós é o controvertido assunto da avaliação do Concílio Vaticano II e das reformas que ele inspirou na vida da Igreja, o que inclui similar balanço dos resultados visíveis na Igreja e na sociedade, com a nova atitude de abertura face ao mundo moderno, laico e distanciado de Deus, quando não ostensivamente oposto a Deus. Catolicismo não se tem eximido, ao longo dos anos, de suas obrigações jornalísticas em relação ao último Concílio e suas conseqüências: • Quando, por ocasião da magna assembléia conciliar, Catolicismo enviou repórteres a Roma, durante a primeira sessão. E, nas três sessões seguintes, informou a respeito de iniciativas visando influir nos debates conciliares, tais como a petição de Padres conciliares para que se efetivasse uma condenação do comunismo; merece especial menção a difusão aos bispo do mundo inteiro do estudo A liberdade da Igreja no Estado comunista, de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira. • Catolicismo também noticiou com destaque a iniciativa de 51 OPadres Conciliare para que o Papa fizesse a consagração da Rússia e do mundo ao Imaculado Coração de Maria, em união com os bispos de todo o orbe ali presentes, conforme o pedido de Nossa Senh ra em Fátima. Esse pedido foi parcialmente at ndido no encerramento da III Sessão do Concílio, no dia 21 de novembro de 1964, quando Paulo VI "confiou o gênero humano" ao Imaculacl Coração de Maria. (

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• Encerrado o Concílio, e diante da "dogmatização", por parte de muitos, da interpretação dada por eles a certas novidades conciliares, um dos redatores de Catolicismo, Dr. Arnaldo V. Xavier da Silveira, publicou, entre 1967 e 1969, uma série de artigos a respeito do Magistério da Igreja e do grau de assentimento que os documentos conciliares requerem dos fiéis, artigos estes depois reproduzidos em importantes órgãos de imprensa católica da Europa. • Em janeiro de 1977, Catolicismo abriu suas páginas para o estudo Revolução e ContraRevolução 20 anos depois, uma atualização da obra-magna de Plínio Corrêa de Oliveira, na qual o insigne líder católico analisa "o silêncio enigmâtico, desconcertante, espantoso e apocalipticamente trágico do Concílio Vaticano II a respeito do comunismo" e o descreve como "uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja". (Parte III, cap. II, 4, A). • A partir dessa década, Catolicismo abriu uma seção especial, originariamente intitulada A fumaça de Satanás no templo de Deus, sob a responsabilidade de nosso redator Gregorio Vivanco Lopes, destinada a comentar a crise da Igreja no pós-Concílio e a denunciar os avanços da heterodoxia nos meios eclesiásticos. Ao aproximar-se o cinqüenteriário da abertura do Concílio Vaticano II (l l de outubro de 1962) e fiel a seu passado de seriedade jornalística, Catolicismo visa, com a matéria de capa desta edição, informar o público católico brasileiro a respeito do debate em curso na Europa, e principalmente na Itália, acerca dos textos conciliares e dos resultados que o Concílio produziu na vida da Igreja católica em suas relações com o mundo secularizado de nossos dias. Em vista da extraordinária riqueza desse debate, é impossível abarcar, numa edição de nossa revista, tudo que está sendo publicado e feito acerca desse cinqüentenário. Limitar-nos-emos a dar a conhecer com mais detalhes três fatos ainda pouco conhecidos no Brasil. No plano dos eventos, a realização de

um congresso científico de alto nível intitulado O

Concílio Vaticano fl e sua verdadeira hermenêutica à la luz da Tradição da Igreja, organizado em Roma, de 16 a 18 de dezembro p.p., pelo Instituto dos Frades Franciscanos da Imaculada. E no plano editorial, o lançamento de dois livros que, por seu indiscutível valor científico, são chamados a ter um papel crescente nos futuros debates: O Concilio Vaticano II: Um debate a ser aberto?, de Mons. Brunem Gherardini, que foi por muitos anos o decano da Faculdade de Teologia da Universidade Lateranense; e O Vaticano II: Uma história jamais escrita, do Prof. Roberto de Mattei, vice-presidente do Centro Nacional de Pesquisas da Itália e catedrático da Universidade Européia de Roma. Esse professor universitário concedeu uma entrevista exclusiva a Catolicismo publicada na presente edição. Ditas iniciativas - o congresso e o lançamento dos mencionados livros - alcançaram, na Itália e na Europa, uma repercussão muito superior àquela que imaginavam seus empreendedores. A aproximação do cinqüentenário não parece uma explicação suficiente para esse interesse. Talvez se possa alegar, visando explicar tal interesse, o fato de que seus mais benévolos analistas hoje admitem que o Vaticano II não trouxe a esperada abertura do mundo para a mensagem da Igreja e, em alguma medida, essa mesma abertura é responsável pelos males que Ela hoje padece e que os Papas deploram: em síntese, a diluição da fé, adiminuição da prática religiosa, o desrespeito dos Mandamentos, a rarefação das vocações sacerdotais e religiosas, a apostasia rumo a outras religiões, etc. De onde a pergunta: essa crise resultou de má recepção do Concílio Vaticano II por parte dos fiéis e do mundo secularizado ou, pelo contrário, foi conseqüência das próprias novidades teológicas, litúrgicas, disciplinares e pastorais impostas em nome do Concílio e a toda a Igreja? O atual debate, relatado nesta edição de Catolicismo, procura dar um início de resposta a tal pergunta. O acerto no diagnóstico é a condição primeira para se encontrar o remédio apropriado, sobretudo para as grandes crises espirituais.

A Direção de Catolicismo

CATOLICISMO

MARÇO 2011

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Padres conciliares entrando na Basílica de São Pedro no dia da abertura do Concílio Vaticano li

caráter disciplinar, enquanto juízes e legisladores supremos. O Concílio Vaticano II, contudo, não deliberou nem propôs, de modo solene e definitivo, nenhuma verdade de fé ou moral. Isso favoreceu a discussão sobre a natureza magisterial de seus documentos, o modo como eles foram postos em prática no pós-Concílio, e a relação entre o Concílio e o pós-Concílio. Tal discussão está no cerne do atual debate sobre a verdadeira interpretação ("hermenêutica", na linguagem especializada) do Vaticano II. O Papa Bento XVI pavimentou o caminho para esse debate de alto nível ao afirmar, no Natal de 2005, a necessidade de uma "hermenêutica da continuidade" dos documentos conciliares. O que equivalia a admitir, implicitamente, que no texto deles há passagens menos claras ou quiçá ambíguas, que devem ser interpretadas conforme à Tradição bimilenar do Magistério da Igreja. Até há pouco prevalecia, em numerosos meios eclesiásticos, a tendência a hipervalorizar o aggiornamento conci liar, promovendo a idéia de que o Vaticano II foi um novo começo que fazia tábula rasa do passado da Igreja e exigia ainda mais novidades. Erigido em "superdogma", o Concílio passava a ser um evento intocável e aquele que exprimisse a menor reserva a respeito do seu alcance corria o risco de ser considerado "reacionário", rebelde às orientações da Hierarquia. De um tempo a esta parte, o descrédito das correntes progressistas promotoras dessa "ruptura" com o passado - no

Congresso em Roma analisa cientificamente o Concílio Vaticano II rn JosÉ

A razão de ser <lo congrnsso

Trecho de discurso de Bento XVI

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a História da Igreja Catól ica, houve 21 concílios ecumênicos, ou seja, reuniões gerais de todos os bispos sob a direção do Papa ou de um representante seu. Diferentemente dos conc.ílios anteriores, o Concílio Vaticano II ( 1962-1965) coloca para os analistas (teólogos, historiadores, etc.) um problema novo. É que todos os concílios anteriores exerceram, com e sob o Papa, um Magistério solene, definindo verdades de fé e moral e tomando medidas de CATO LI C ISMO

estilo da Teologia da Libertação que grassou na América Latina - favoreceu a emergência de um juízo mais sereno e objetivo a respeito do Concílio Vaticano II. Esse progresso da objetividade foi patenteado, entre 16 e 18 de dezembro p.p., no significativo Congresso de estudos sobre a Magna assembléia "para uma justa hermenêutica à luz da Tradição da Igreja", organizado, em Roma, pelo Seminário Teológico Immacolata Mediatrice do Instituto dos Franciscanos da Imaculada. A iniciativa, com o título Concílio Vaticano II. Um Concílio pastoral - Análise histórico-filosófico-teológica, contou com a participação de destacados representantes da Cúria Romana, da Hierarquia e do mundo acadêmico: o Cardeal Velasio de Paolis (Presidente da Prefeitura dos Assuntos econômicos da Santa Sé), D. Luigi Negri (bispo de Marino-Montefeltro), D. Atanasio Schneider (bispo auxiliar de Astana no Kazakistão), Pe. Nicola Bux (consultor do Bureau de Celebrações do Sumo Pontífice e Professor no Instituto ecumênico de Bari), Mons. Brunero Gherardini, ex-decano da Facu ldade de Teologia da Pontifícia Universidade Lateranense e professor emérito dessa universidade, o Pe. lgnacio Andereggen (professor na Universidade Pontifícia Gregoriana), o Pe. Florian Kolfhaus (funcionário diplomático da Secretaria de Estado), os padres Rosário M . Sammarco, Paolo M. Siano, Serafino M. Lanzetta e Giuseppe Fontanella (professores no Seminário Teológico lmmacolata Mediatrice ), o Prof. Roberto de Mattei da Universidade Européia de Roma. Ademais, estiveram presentes em algumas sessões o Cardeal Walter Brandmüller (presidente emérito do Conselho Pontifício das Ciências Históricas) e o Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, Mons. Gu ido Pozzo, e ainda outros membros da Cúria Romana.

"Por que a recepção do Concílio, em muitos círculos da Igreja, até agora ocorreu de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa interpretação do Concílio ou como diríamos hoje, de sua correta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. Os problemas da recepção derivaram do fato de que duas hermenêuticas contrárias se combateram e disputaram entre si. [ .. .) "Por um lado, existe uma interpretação que eu gostaria de definir 'hermenêutica da descontinuidade e da ruptura'; não raro, ela pôde valer-se da simpatia dos mass media e também de uma parte da teologia moderna. Por outro lado, há a 'hermenêutica da reforma', da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho". (Discurso do Papa Bento XVI à Cória Romana, 22 de dezembro de 2005)

Dois dias antes do evento, um dos representantes do Instituto organizador do congresso, o Pe. Serafino Lanzetta, explicou, numa declaração à agência Zenit, a razão de ser do Congresso: "Há mais de 40 anos que estamos diante de um fato inegável: a ruptura e o espírito do Concílio, ou aquele modo de separá-lo da Tradição bimi lenar, tem prevalecido. E a Igreja tem-se secularizado, lenta e progressivamente. O mundo, em certo sentido, venceu a Igreja; precisamente aquele mundo do qual a Igreja queria a todo custo aproximar-se . O Vaticano II é um problema? Sim, no sentido de que as raízes da crise pós-conciliar não estão apenas no pós-Concílio. O pós-Concílio não se exp lica por si mesmo. Logo, é preciso, por amor à Igreja e pelo futuro da fé no mundo, dar-se o trabalho de ir examinar as raízes do problema". Com notável rigor intelectual, sem fugir das dificuldades e ambigüidades que apresentam certos textos conciliares, os expositores que usaram da palavra no congresso fizeram, de fato , um diagnóstico reali sta do Vaticano II e de sua aplicação. A principal dificuldade de uma avaliação objetiva MARÇO20 11 -


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Exposições de mu historiado,; um lilósofo, <le dois bispos, um cardeal e um teólogo O Prof. Roberto de Mattei ressaltou como o "método pastoral por excelência" adotado pelo Vaticano II, constitui uma "Revolução da linguagem". Um novo "gênero literário" que um estudioso do Concílio, o jes uíta americano John W . O ' Malley , chama de "epidíptico" e que, segundo ele, "repre-

sentou uma ruptura definiLiva com os Concílios precedentes". De fato, mai s ainda que as idé ias, é o estilo da expressão que revela as tendências profundas do ânimo de quem se exprime. "O estilo - sublinha O'Malley - é a expressão última do

significado, é significado e não mero ornamento, e é também o instrumento hermenêutico por excelência". O modo mediDa esq. para a dir.: Mons. Brunero Gherardini, Pe. Alessandro Apollonio (moderador) e Mons. Luigi Negri, bispo de San Marino-Montefeltro

ante o qual a doutrina é formulada transforma-se, ele próprio em doutrina, mai s importante até do que aquela que, objetivamente, é veiculada nos textos. "Sob este aspecto, é inegável

novo Syllabus, que denuncie todos os erros que têm circulado na Igreja desde o encerramento da magna assembléia conciliar. O cardeal Velasio De Paolis, canonista de renome, fez uma vibrante defesa do Direito eclesiástico, considerado antievangélico nos anos do pós-Concílio, augurando que ele volte a reinar entre os eclesiásticos para que a atual confusão generalizada possa ser atenuada, abrindo uma nova fase para a Igreja. Os trabalho foram concluídos por Mons. Brunero Gherardini, famoso teólogo romano, o qual insistiu, mais uma vez, na tese de que o Vaticano II não constitui um "bloco dogmático", mas foi um Concílio pastoral. "E que é, portanto, nesse

identidade cristã, absorvida pela cultura secular, no contexto da modernidade ocidental, e mostrou que o Vaticano II perdeu uma oportunidade de ouro para recentrar a cultura católica na Tradição. Somente um retorno à identidade católica, disse o expositor D. Luigi Negri , é que poderá eliminar a atual e profunda crise da fé. D. Atanásio Schneider, que morou vários anos no Brasil e fala fluentemente o português, desmentiu que a interpretação do Concílio deva ser confiada a uma escola particular, como a progressista de Bolonha, propugnadora de uma hermenêutica ele ruptura com a Tradição. A interpretação autêntica, disse o prelado, cabe ao Magi stério pontifício e episcopal. Por tal motivo, o bispo auxiliar de Astana evocou a necessidade de um

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plano que ele deve ser julgado, sem interpretações forçadas que imponham a sua dogmatização".

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U01a história ja01ais escrita

foi abordada por Mons . Brunero Gherardini, em sua intervenção:

"Havia certa vez a ave Fénix. Todos falavam dela, mas ninguém a tinha visto. Existe dela, hoje, uma versão aggiornata, da qual todos falam, mas ninguém sabe dizer o que é: chama-se Pastoral[. .. ] Nos documentos do Concílio, a pastoral volta dezenas e dezenas de vezes, sem que uma só vez seja dada uma definição dela, nem sequer um começo de explicação", afirmou.

"É inútil esconder-se atrás do dedo: todos estamos passando de mão em mão a última obra de Roberto de Mattei". Com essa confissão, o site mariano italiano totustuus.org começa sua recensão cio livro O Concílio Vaticano li: uma história jamais escrita, recentemente lançada em Turim, pela editora Lindau.

A novidade das novidades de todo o Concílio, segundo o expositor, foi a combinação dos termos "Constituição Pastoral" no próprio título do documento sobre a Igreja no mundo moderno, a conhecida Gaudium et Spes. É dessa irresolução que resultaram as duas hermenêuticas que se chocam há meio século, disse o renomado professor emérito da universidade do Papa. O tema foi aprofundado pelo Pe. Florian Kolfhaus, funcionário da Secretaria de Estado, o qual ressaltou que o principal empecilho para o teólogo é esse caráter "pastoral" e não dogmático que o Concílio deu-se a si própri o. Seu ensinamento, por isso mesmo, é prático, voltado para as necessidades de seu tempo, promulgando textos de uma categoria teológica diferente daquela dos 20 concílios precedentes, que expunham solenemente uma doutrina, condenavam os erros opostos a ela e impunham uma disciplina. O Vaticano II supera tais categorias, exercendo um vago munus predicandi, pelo qual expõem-se doutrinas em matéria de fé e de moral, que pedem o assentimento dos fiéis, mas sem dar definições precisas de tais doutrinas. Esse tipo de munus é muito limitado se comparado ao munus determinandi dos concílio precedentes. "Na teologia - deplorou o expositor - falta uma qualificação para este magistério pastoral". Além do mais, apontou ele,

"provavelmente estamos diante da pesquisa mais importante que tenha sido jamais escrita por um historiador católico a respeito dos anos que precederam. e sucederam o Concílio", e seu trabalho "é de fato a primeira e única resposta 'científica' àfacciosa História do Concílio, da assim chamada Escola de Bolonha, o instituto de história eclesiástica de inspiração neomodernista, fundado por Giuseppe Alberigo".

"a pastoral apóia-se sobre a doutrina, a praxis pressupõe a reta doutrina. A inversão desta ordem leva muito facilmente a fazer com que, por causa de 'uma nova realidade pastoral', se desenvolva uma 'nova doutrina '. Exemplos disso há em abundância na vida quotidiana das comunidades". CATOLICISMO

Segundo o autor ela recensão, Frei Luigi Maria Grignion,

que o Concílio constitui uma Revolução", concluiu o acadêmico romano. Coube ao Revdo. Prof. Pe. lgnacio Andereggen, de tacado filósofo da Universidade Gregoriana, mostrar a influência exercida sobre o Concílio pela filosofia moderna - De cartes, Kant, Hegel e Freud - , toda ela baseada nu ~a rccu a da escolástica e da metafísica. Ora, explicou o expos itor, sem uma reta filosofia é impossível pensar em teolog ia ; e, sem uma teologia correta, corrompe-se a fé. O alheamento do aspecto metafísico da realidade ela fé e da moral foi também o cerne da apresentação do Pe. Lanzella. Esse alheamento resultou num modo descritivo e, muitas vcze , só alusivo, de o Concílio exprimir-se; favorecendo conclusões teológicas aberrantes por parte dos inovadores, que aproveitaram a pouca clareza e pouca precisão terminológica cios lcxt s. O bi spo de San Marino-Montefeltro, D. Luigi Negri , teólogo e apologeta, explicou, por sua vez, a causas da perda de

Trata-se, de fato , de uma obra em 660 páginas e com mais de 2.300 notas de referência, abarcando o essencial do que aconteceu antes, durante e depois do Vaticano II. Isso, com base numa séria pesquisa hi storiográfica e de arquivos que fornece documentação jamais publicada, entre as quais merece destaque a oferecida, em São Paulo, pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, a respeito da participação do ilustre líder católico e de seus companheiros de luta no evento conciliar. Finalmente, o estudo do hi storiador romano não se ex ime de abordar temas candentes, como o grau de adesão que se deve ter aos textos conciliares, sua continuidade ou descontinuidade com o Mag istério tradicional e as re lações entre o Concílio e o "pós-Concílio". O livro documenta como o programa moderni sta de radical transformação da Igreja e de sua doutrina conseguiu sobrev iver à conden ação de São Pi o X, no início do século XX, e propagou-se nos meios católicos, depois da Primeira Guerra Mundial , através cio "movimento bíblico", "mov imento litúrg ico", " mov imento ecu mênico" e a assim chamada Nouvelle théologie, apesar das advertências dos Papas Pio XI e Pio XII. A respeito da oportunidade, nesse clima, da convocação

de um Concílio ecumênico, o Prof. de Mattei transcreve uma resposta profética do Cardeal Billot a Pio XI, em 1923: "A retomada do Concílio [Vaticano I, suspenso no meio de seus trabalhos, em 1870, por causa da guerra franco-prussiana] é

desejada pelos piores inimigos da igreja, quer dizer os modernistas, que já se aprontam - como patenteiam os indícios mais evidentes - para aproveitar-se dos Estados Gerais da Igreja para fa ze r a Revolução, o novo 1789 [ano do início da Revolução francesa], objeto de seus sonhos e de suas esperanças [. .. ] Seria o aniquilamento dos felizes frutos da encíclica Pascendi [de São Pio X contra o modernismo] que os reduziu ao silêncio". O autor observa que, 40 anos após o comentário do Cardeal Billot, a situação estava ainda pior. E apresenta como confirmação o comentário feito por Plínio Corrêa de Oliveira, ao tomar conhecimento da convocação do Vaticano II, graças a uma confidência otimista do então bispo de Jacarezinho: "En-

gana-se, Dom Sigaud, são os Estados Gerais da igreja ! É o início da Revolução na Igreja!". Pmposta dos bispos relativas ao futu1·0 Concílio Os movimentos de verdadeira reforma na História da Igreja, afirma o hi storiador, "foram caracterizados, de um lado,

pela recuperação do papel do Papado e da autoridade da Igreja e, de outro lado, de um heróico élan pela ascese e um profundo espírito de penitência e de oração". Mas o ambiente, no imediato pré-Concílio, era diverso. Para patenteá-lo, o autor transcreve uma troca de carta entre São Giovanni Calábria

- "Depois de anos e com crescente insistência, sinto repercuti,; no fundo de meu coração, a lamentação de Jesus : A minha Igreja ! " - e do Beato Ildefonso Schuster : "A té a Santíssima Virgem chora pelos males da Igreja e pelo castigo que paira sobre o mundo". O Prof. de Mattei destaca que, consideradas em seu conjunto, as propostas de reforma que o Papa João XXII[ recebeu MARÇO2011

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Elogio de Cardeais Cal V11,úciit1.o, 21 genno.io 201'

"Uma @bra tão erudita quanto atual. Estou certo de que, graças ao seu rigoroso método histórico-crítico, convencerá um vasto público de leitores". (Cardeal Walter Brandmüller, presidente emévito do Comitê Pontif{cio de Ciências Históricas, a respeito do ljvro do P, of. de Mattei)

Atuação de Plinio Corrêa de Ollveira e seu parecer sobre o Concílio

Tradu«jão da carta (fac slmile ao lado)

O historiador romano destaca o papel desenvolvido pelo Prof. Plínio Correa de Oliveira e seus discípulos brasileiros na constituição do que depois veio a ser conhecido como o Coetus Jnternationalis Patrum (Grupo internacional de Padres conciliares), o conjunto de bispos que, com suas intervenções corajosas, obtiveram não poucas vezes que os textos definitivos fossem melhorados, mas que, no conjunto, foram os grandes derrotados. Como ressaltou o vaticanista Andrea Tornielli em sua recensão da obra para o quotidiano milanês "II Giornale", "há uma história toda ela brasileira do Concílio, que viu enfrentar-se, de uma parte, dois bispos tradicionalistas como Castro Mayer e Proença Sigaud e, de outra parte, Helder Câmara, um dos inspiradores do grupo reformista ". A constituição Gaudium et Spes foi o último documento oficialmente promulgado pelo Concílio Vaticano II, o qual pretendia ser uma redefinição inteiramente nova das relações entre a Igreja e o mundo moderno. Na constituição, porém, faltou qualquer forma de condenação do comunismo. O fato era de molde a "dar crédito aos rumores de um explícito acordo entre o patriarcado de Moscou e a Santa Sé", como destacou historiador progressista e fundador da Comunidade Santo Egídio, Andrea Riccardi. Referindo-se a este silêncio, D. Heider Câmara escrevia em novembro de 1965: "O Concílio Ecumênico Vaticano II tem dito muitíssimo, com suas palavras e os seus silêncios". Plínio Corrêa de Oliveira, que se tinha batido na ala oposta, observou: "Dentro da perspectiva de Revolução e Contra-Revolução, o êxito dos êxitos alcançado pelo comunismo pós-staliniano sorridente foi o silêncio enigmático, desconcertante, espantoso e apocalípticamente trágico do Concílio Vaticano II a respeito do comunismo. Este Concílio se quis pastoral e não dogmático. Alcance dogmático ele realmente não o teve. Além disto, sua omissão sobre o comunismo pode fazê-lo passar para a História como o Concílio apastoral. [... ] Com táticas aggiornate - das quais, aliás, o mínimo que se pode dizer é que são contestáveis no plano teórico e se vêm mostrando ruinosas na prática - o Concílio Vaticano II tentou afugentar, digamos, abelhas, vespas e aves de rapina. Seu silêncio sobre o comunismo deixou aos lobos toda a liberdade. A obra desse Concílio não pode estar inscrita, enquanto efetivamente pastoral, nem na História, nem no Livro da Vida. É penoso dizê-lo. Mas a evidência dos fatos aponta, neste sentido, o Concílio Vaticano II como uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja " (Revolução e Contra Revolução - Parte Ili - RCR vinte anos depois, cap. II pp. 166, 167, 168, Artpress, São Paulo, 1998).

Congregação para os Clérigos

Vaticano, 21 de janeiro 2011

Prot. N. 201 ~00007 Caro Professor Chegou a nossas mãos sua prezada carta de 29 de novembro passado, apresentando o livro: "O Concílio Vaticano 'lil. Uma história jamais escrita", publicado pela editora Lindau, com o qual, situando-se no âmbito estritamente histórico, propõe-se uma leitura alternativa às escolas de pensamento boje dominantes. Agradecendo tão cortês enviÍO, é-me grato exprimir o meu mais vivo comprazimento pela co,ajosa pesquisa. Certamente a ob,a do historiador se desenvolve com métodos e finalidades ll)rofundamente diferentes do ,Pastor; porém este último não poderia compreender adequadamente a realidade na q,ual vive e é chamado a anunciar o Evangelho sem a obra vital daquele que, a serviço da verdade, lê os documentos da histói;ia. Considero outrossim de vital importância, para a correta hermenêutica dos Textos do Concílio Vaticano II, que sejam desenvolvidos todos os esforços para fazer emergir, em cada nível, a verdade dos fatos, evitando todo monopólio interpretativo inoportuno, na convicção de que só a Verdade nos tornará livres, permitind0 a adequada recepção daquilo que o Espírito suscita na Igreja, nas diversas épocas, e disoemindo, com solicitude pastoral, tudo que não provêm do Espírito. Assegurando-lhe uma grata recordação nas minhas orações, a fim de que o novo Ano que acaba de começar Lhe reserve toda forma de bem verdadeiro e uma sempre larga fecundidade na pesquisa científica, aproveito o ensejo para manifestar-lhe meus sentimentos de distinta consideração,

da parte do episcopado mundial, em resposta a uma consulta do Vaticano, "não exprimem o desejo de uma mudança radical, e menos ainda de uma 'Revolução' dentro da Igreja. Se as tendências anti-romanas de alguns episcopados afloram claramente em algumas respostas [. .. ] a maioria dos vota pediam uma condenação dos males modernos, internos e externos à igreja, sobretudo do comunismo, assim como novas definições doutrinárias, em particular a respeito da Santíssima Virgem Maria " [e, notadamente, a proclamação do dogma da Mediação Universal de Maria] . Em quatro densos capítulos, um para cada sessão concili ar, ocupando 330 páginas impossíveis de resumir, o acadêmico italiano documenta as maquinações da corrente· progressista, que dispunha de uma possante máquina propagandística, dentro e fora da au la conciliar.

Esquemas prévios eliminados pelos progressistas Em cada fase da discussão dos textos conciliares, o "partido dos teólogos" conseguiu eliminar os esquemas prévios, preparados por uma Comissão Teológica selecionada por João XXIII. Tais esquemas foram substituídos por novos esqueCATOLICISMO

O front fiel à Tradição, pelo contrário, começou a reagir tarde, dominado como estava, no começo, por uma predisposição psicológica de otimismo e, mais tarde, pelo temor de parecer desobediente ao Papa Paulo VI, que apoiava claramente o programa de aggiornamento da Igreja.

de sua Senhoria Mauro Card. Piacenza Rrefeito

mas redigidos por teólogos progressistas (Karl Rahner, Hans Kung, Edward Schillebeckx, Yves Congar, o jovem Joseph Ratzinger e ainda outros) alguns dos quais tinham sido censurados pelo Vaticano em tempos de Pio XII. Ditos teólogos participaram do Concílio como "peritos" de bispos alemães, holandeses, belgas e franceses. Foi a excessiva influência dessa "Aliança européia" que motivou o título do livro O Reno se lança no Tibre, escrito pelo sacerdote verbita Ralph Wiltgen , que cobriu o Concílio como representante de uma agência católica de notícias.

A "Revolução conciliar" O último capítulo do livro do Prof. De Mattei é consagrado à "Revolução conciliar". Depois de assinalar que o evento con-

ciliar e seus documentos representaram uma "Revolução cultural" na vida da Igreja - a expressão também é de Plínio Corrêa de Oliveira-, o autor passa em revista as crises que ela provocou: o catecismo herético do episcopado holandês, a contestação da encíclica Humanae Vitae, a revolução litúrgica, a Ostpolitik vaticana, o nascimento da Teologia da Libertação, etc. As facetas dessa crise foram sintetizadas pelo historiador Mons. Hubert Jedin, numa conferência ao episcopado alemão, mais tarde publicada pelo "Osservatore Romano" em setembro de 1968, sob o título História e crise da Igreja: "1. Insegurança na fé cada vez mais desenfreada, suscitada pela livre difusão de erros teológicos nas cátedras, em livros e ensaios; 2. A tentativa de transferir para a Igreja as formas da democracia parlamentar ... na igreja universal, na diocese e na paróquia; 3. A dessacralização do sacerdócio; 4. A 'estruturação' livre das celebrações litúrgicas; 5. Ecumenismo como protestantização ".

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Plinio Corrêa de Oliveira (círculo) em Roma durante o Concílio com assessores brasileiros

MARÇO 2011

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filialmente ao Vigário de Cristo na Terra promover um exame profundo do Concílio Vaticano li, em toda a sua complexidade e extensão, para verificar sua continuidade com os 20 Concílios precedentes e para dissipar as sombras e as dúvidas que já há quase meio século fa zem sofrer a Igreja, com a certeza, porém, de que as portas do Inferno jamais prevalecerão contra Ela (Mt 16, 18) ".

D iante desse quadro, não causa surpresa o fato de que o próprio Paulo VI tenha se queixado que a Igreja parecia sofrer um "misterioso processo de autodemolição" e que a "fumaça de Satanás" houvesse penetrado no templo .. . Na concl usão de sua obra, o Prof. Roberto de Mattei agradece a Sua Santidade Bento XVI "por ter aberto as portas a um debate sério sobre o Concílio Vaticano li " e, por tal razão, une-se "às súplicas daqueles teólogos que pedem respeitosa e

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mente fundamentado: a verdade à qual devo meu assentimento é aquela que consigo fa zer minha ". A partir de ta l subjetivismo, há uma mudança no ensino tradicional dos Papas: "Enquanto [o conceito tradicional da] tolerância tende de per si a evitar males maiores e abre a porta pro bono pac is a uma convivência (que de outra maneira tornar-se-ia impossível) entre a verdade e o erro, a liberdade religiosa da declaração conciliar vê aquela coexistência não como um mal a ser tolerado, ou um simples expediente para evitar um mal ainda pior, mas como um bem a afirmar, tutelar e defende,; para a salvaguarda do direito intersubjetivo à autodeterminação". Um direito que, por sinal, "abarca toda a atividade individual e pública, enquanto livre de qualquer condicionamento político e religioso". Nesse sentido, di z Mons. Gherardini, a dec laração Dignitatis Humanae "tem muito pouco em comum, por exemplo, com a M irari vos de Gregório XVI, com a Quanta Cura e seu anexo, o Sy ll abus, do beato Pio IX, com a lmmortale Dei de Leão XIII (sobretudo no que concerne as relações entre a autoridade civil e o governo da Igreja), com a Pascendi domin ici gregis de São Pio X, precedida de pouco pelo decreto Lamentabi li do San.to Ofício, e com a Humani generis de Pio XII. Não se trata, de fato, de uma linguagem diversa; a diferença é substancial, e, portanto, irredutível. Donde se segue que os respectivos en.sincunentos são diferentes. Os do Magistério precedente não encontram nem continuidade nem desenvolvimento no da Dignitatis Humanae ", afi rma o autor. Sobre o ecumeni smo, o autor sublin ha que dessa absolutização da pesq ui sa pessoal como fundame nto da liberdade religiosa resultou "a renúncia ao proselitismo, à missão evangelicamente ativa, à conversão". Pelo contrário, a Igreja passou a ter como obj etivo prioritário "ajudar todos os homens do nosso tempo, quer acreditem em Deus, quer não O conheçam explicitamente, a que, conhecendo mais claramente a sua vocação integ ral, tornem o mundo mais conforme à sublime

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U01 debate a ser aberto Publicado inicialmente em italiano, em abril de 2009, o Ora, diz Mons. Gherard ini , uma hermenêutica da contilivro O Concílio Vaticano li: Um debate a ser aberto?, de nuidade deve ser teológica e responder à questão : " O VaticaMons. Brunero Gherard in i, alcançou significativa repercusno li inscreve-se ou não na Tradição ininterrupta da Igreja, são especialmente nos meios católi desde seus começos até hoje?" Porcos italianos. que não basta afirmar querer aplicar A primeira razão desse fato é a ao Vaticano II tal interpretação: "O estatura intelectual do autor. Mons. ConsideraCjáO de problema é, e permanece, o de deGherardini é professor emérito de monstrar que o Concílio não se coloprelado italiano ecles iologia e ecumenismo na Uni cou fora do sulco da Tradição. E, para versidade Lateranense, de cuja Facu l"Posta a natureza do Concílio e a natuefetuar tal demonstração, não é perreza diversificada de seus Documendade de Teologia foi decano por muitinente apoiar-se sobre o próprio Vatos, penso que se possa sustentar que, tos anos. Publicou uma centena de traticano li, e unicamente sobre ele, se de uma hermenêutica teológica cabalhos e é diretor de "Divinitas", recomo é feito constantemente, com a tólica emergisse que alguns trechos, putada revista internacional de teoloconseqüência de uma colossal tauou algumas passagens e afirmações do gia. Em reconhecimento a seus lontologia: o problema é resolvido com Concílio, não dizem apenas 'nove' gos e meritórios serviços acadêmicos, o problema; um absurdo". [novas formulaç ões] mas também Bento XVI nomeou-o cônego da BaEm relação à autoridade magis'nova' [novos conteúdos} a respeito da síl ica de São Pedro. terial do Concílio Vaticano II, Mons. Tradição perene da Igreja, não se esOutra causa da repercussão constiGherardini põe em relevo seu carátaria mais diante de um desenvolvimentuía o fato de a menc ionada obra ter ter voluntária e essencialmente pasto homogêneo do Magistério: haveria aí um ensinamento não irreformável, como prefaciadores o hoje cardeal D. tora l e não dogmático, dedu zindo certamente não infalível." Malcolm Ranjith, arcebi spo de Co lomque "suas doutrinas que não são rebo (Cei lão), e Dom Mario O li veri, bisdutíveis a definições precedentes (D. Mario Oliveri, bispo de Albenga, in prefápo de Albergo-Imperia. não são nem infalíveis nem. irreforcio ao li vro de Mons. Gherardini . Os negritos máveis e, portanto, tampouco vinsão do original) Respeitoso apelo a Bento XVI culantes". Mas o principal motivo da repercusS11bjetivismo e visão a11topocê11trica são obtida pela obra é o rigor teológico de <lecretos co11ciliares de suas análises e o humi lde e respe ito·so ape lo ao Papa, pedindo um esclarecimento definitivo a respeito das questões A respeito "do grande problema da liberdade religiosa " e levantadas, que constitui a conclusão. sobre a poss ibi lidade "de inscrever Dig nitatis Hu manae na O ponto de partida do trabalho é o ape lo de Bento XVI, hermenêutica da continuidade", Mons. Gherardini sublin ha: contido em sua alocução aos membros da Cúria no Natal de a própria declaração visa "ressaltar com ênfase os aspectos 2005, à recusa de uma "hermenêutica da ruptura" e o convite subjetivos da conquista da verdade", na qual "não cabe mais a uma " hermenêutica de reforma na continuidade" em relação ao Magistério eclesiástico a última palavra", mas apenas foraos documentos do Concílio Vaticano II. Em outras palavras, nece uma aj uda válida "no mesmo nível, porém, do diálogo e quando houver dúv idas, deve-se interpretar sempre os textos da comunicação". No contexto da declaração, diz o autor, não do Concílio de acordo con o ensino trad icional do Magistério. há "nada de absoluto ou pelo menos de obj etivo e de objetiva-

CATO LI C ISM O

dignidade do homem, aspirem a uma fraternidade universal mais profundamente fundada" (Gaudium et spes n. 91). Dessa visão antropocêntrica que tende a dilatar os confins da Igreja até quase confundi-los com os confi ns da família humana, resulta a concepção "mistérica" da Igreja, enquanto "sacramento " da "íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano ", em detrimento de seu caráter de sociedade visível e perfeita, da qual fazem parte somente aq ueles que a Ela estão vinculados por uma idêntica profi ssão de fé, pela recepção dos Sacramentos e a submissão aos legítimos pastores. Enquanto o Magistério anterior dizia que tais fiéi s pertencem à Igreja realmente, efetivamente (reapse, em latim), a declaração conciliar Unitatis Redintegratio mudou radicalmente a linguagem, substituindo reapse por uma comunhão plena/ não plena, perfeita/imperfeita, incluindo portanto na Igreja os "irmãos separados" . "A unidade da Igreja (uma de suas características essenciais, segundo a fórmula do Credo) não seria mais ligada substancialmente à mesma f é, aos mesmos Sacramentos e ao Sumo Pontífice, mas tratar-se-ia de uma unidade 'ampliada', que incluiria na 'única Igreja de Cristo ', a qual 'subsiste na Igreja Católica' (cf. Lumen gentium) também as comunidades eclesiais dotadas de 'muitos elementos de santificação e de verdade'" que se encontram fora de sua comunidade. À maneira de conclusão, Mons. Brunero Gherardin i dirige uma Súplica ao Santo Padre: "proceder a uma grandiosa e possivelmente definitiva mise au point sobre o último Concílio em cada um de seus aspetos e conteúdos". E, caso a continuidade de alguns de seus ensinamentos com o Magistério precedente "não resultasse cientificamente provada, seria necessário dizê-lo com serenidade e franqueza", sugere o autor. • E-mail para o autor: catolic ismo @terra.com.br

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M ARÇO 2011

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mus Mariae , a casa reli giosa onde residiam os bispos brasileiros , conv idando teólogos progressistas como Hans Küng. O sacerdote belga altermundia1ista François Houtard (que, aliás, confessou recentemente ter abusado sexualmente de um sobrinho ... ) diz numa carta ao Pe. Oscar Beozzo (c ujo livro sobre a Igreja do Brasil no Concíl io traz informações preciosas) que a Domus Mariae acabou fun cionando "como lugar de reunião e quartel geral" do Ecumênico, a articulação progressista de conferências episcopais dos cinco continentes para influenciar a marcha do Concílio.

"O Vaticano II: Uma história jamais escrita"

Tornielli , o vaticanista do quotidiano "II Giornale", assumiram uma posição contrária. Aliás, antes mesmo da tradução de meu livro para outras línguas, e le já está alcançando repercussão em muitos outros países, devido à reprodução em sites e blogs católicos de artigos que se ocupam dele, como um recente post do conhecido vaticanista Sandro Magister.

A

respeito do livro com o títu1o em epígrafe, o autor, Prof . Roberto de Mattei , vice-presidente do Centro Nacional de Pesquisas da Itália e catedrático da Universidade Européia de Roma, concedeu substanciosa entrevista exclusiva a Catolicismo. Na obra, ele descreve com cores vivas e minúcias densas de significado o confronto entre a ala progressista e a a/a conservadora com a vitória da primeira - bem como as profundas e graves conseqüências do Concílio Vaticano li para a vida da Igreja e da sociedade, que se projetam até os dias de hoje.

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Catolicismo - Obrigado professor por conceder esta entrevista. Sabemos que o Sr. está muito ocupado devido à polêmica que surgiu com a publicação de seu último livro O Vaticano li: Uma história jamais escrita. Prof. de Mattei - De fato, esse livro tem suscitado amplo debate, no qual intervieram apologetas de renome aqui na Itália, provavelmente pouco conhecidos no Brasil, como Francesco Agnoli , Mario Palmam, Alessandro Gnocchi, Corrado Gnerre, os quais se têm expresso em favor das teses que sustento. Enq uanto Alberto Melloni , o atual líder da progressista e muito conhecida Escola de Bolonha, assim como outros intelectuai s moderados como Andrea

-..m.

CATOLICISMO

Pmf de Mattci: "Fornm de muita utilidade as cai·tas de D. fie/der e os relatól'ios do Dr. MurJJJo, que descrevem os contatos do Prol'. l'linio e sua equipe 110 Concílio"

Catolicismo - E o público brasileiro vai poder beneficiar-se de sua leitura? Prol de Mattei - Creio que sim. Mas vai depender das negociações de minha editora, a Lindau, de Torino, com casas editoras de língua portuguesa. Uma das vantagens para o editor em português consistirá em que parte da documentação já está no idioma português. Catolicismo - Justamente, o Sr. Andrea Tornielli, em sua recensão, admirou-se pelo fato de que há toda uma história "brasileira" do Vaticano li. Prof: de Mattei - A bibliografia sobre o Concílio Vaticano II é super-abundante. Mas uma das principais fontes, para entender tudo o que sucedeu a latere da assembléia conci liar, iÇ1fluindo sobre ela, são os testemunhos dos participantes e dos espectadores, em particular os diários, as correspondências, as memórias. Nesse sentido, fora m para mim de muita utilidade as cartas de D. Helder Câmara, recentemente publicadas, assim como os relatórios do Dr. Murillo Maranhão Galliez, que descrevem os contatos que mantiveram o Prof. Plinio Corrêa de Olive ira e sua equipe de 14 colaboradores, na primeira fase do Concílio.

Tais contatos contribuíram possantemente para a constituição do Piccolo Comitato de Padres conci li ares de orientação antiprogressista, que depois amp liou-se no Coetus lnternationalis Patrum e teve grande importância nos debates. E, inegavelmente, as almas do Coetus foram D. Geraldo de Proença Sigaud e D. Antonio de Castro Mayer, enquanto D. Marcel Lefebvre assumi u apenas o papel de figura de proa. Catolicismo - Pode-se falar, então, de um embate entre D. Helder, de um lado, e de D. Sigaud e D. Mayer do outro? Prof. tle Maltei - Todos os historiadores concordam em que D. Helder - o qual , por sinal, nunca tomou a palavra na aula conci liar- foi um dos principais orquestadores da ala progressista. Porque foi e le que, graças a sua posição de vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano, conseguiu arrastar os bispos latino-americanos, em geral bastante conservadores, para uma aliança com as conferências episcopais progressistas da Europa central (França, Alemanha, Bélgica e Holanda). D. Helder era muito chegado ao Cardeal Suenens, ao qual se referia em suas cartas com o nomecódigo de "padre Miguel", e que e le considerava "o chefe mundi al do progressismo" . Os doi s encontravam-se todos os dias e dividiam o trabalho entre si: Suenens na aul a conciliar (ele era um dos quatro Moderadores, além de membro da Comissão de coordenação) e D. Helder atuava nos corredores, onde exerc ia a função de "e minência parda" do que e le chamava o "sagrado complô". Alé m di sso, organizava conferências e reuniões na Do-

Todos os historiadores concordam em que D. Helder foi um dos principais orquestadores da ala progressista durante o Concílio

"D. llel<le,· exercia a t,mção <le "eminência /Jar<la" do que ele chamava o "sagrado COllJ/Jlô". Além disso, organizava reuniões com teólogos progressistas"

Catolicismo - Então, o embate em que se empenharam bispos brasileiros, acabou envolvendo o conjunto dos Padres conciliares? Prol de Mattei - O Concílio não durou três meses, como havia ca lculado ingenuamente João XXIII, nem se desenvolveu na atmosfera de feliz consenso que ele imaginara, mas foi ocasião de entrechoques dramáticos. Se nos limitássemos a fazer uma hi stória "oficial" dele, baseada no resultado das votações, dever-se- ia negar a existência de uma luta interna entre posições opostas, visto que os documentos conci liares foram aprovados por maiorias esmagadoras. Mas, na realidade, nenhum Concílio registrou mais tensões e conflitos entre grupos opostos do que o Vaticano II. Sem negar essa evidência, os historiadores apresentam o Vaticano II como o choq ue entre uma " maioria" progressista e uma "minoria" conservadora, derrotada. Na realidade, o confronto foi entre duas minorias que, já em 1963, Mons. Gérard Philips - professor de dogmática na Faculdade de Teologia da Universidade de Lovaina e secretário adjunto da Comissão teológica do Concílio - descrevia como duas "tendências" opostas da filosofia e teo logia do século XX. Na opinião de Philips, uma estava mais preocupada em permanecer fiel aos enunciados tradicionais , e a outra mais atenta à difusão da mensagem evangélica junto ao homem contemporâneo . Para essa segunda tendência (cujos máximos expoentes - Chenu, Congar, de Lubac, etc. - tinham sido repetidamente censurados e condenados por Pio XII), o Concílio representava uma oportunidade extraordinária, porque a natureza dos debates permitia que ambas as posições se apresentassem num plano de paridade ideológica, cujo resultado ficava confiado às regras do jogo parlamentar. Catolicismo - Mas, se o resultado das votações foi esmagadoramente favorável a essa tendência progressista, por que o Sr. afirma que o embate se deu entre duas minorias? Prof tle Mattei - No Concílio, criaram-se grupos,

MARÇO2011 -


definidos pela mídia como uma direita, um a esquerda e um centro. O uso dessa terminologia, ainda que imprópria, não deve surpreender e pode ser aceito por comodidade. Um dos maiores historiadores dos Concílios, o teólogo alemão Karl Joseph von Hefele, relata que, no ano 325 , no Concílio de Nicéia, os bispos de doutrin a ortodoxa formavam , com Santo Atanásio e seus seguidores, a direita. Ario e seus partidários, que negavam a divindade de Cristo, representavam a esquerda; enqu anto o centro-esquerda era ocupado por Eusébio de Nicomédia e o centro-direita por Eusébio de Cesaréia. A posição verdadeira e autenticamente católica não era o tal centro dos dois E usébios, que for mavam um a " terceira posição" entre a ortodoxia e a heresia; mas era a e ncarnada pela direita de Santo Atanás io, acusado por seus adversários de extremismo e fanatismo. Foi, então, Santo Atanásio - autor do Símbolo da Fé que ainda hoje professa mos - quem traçou a Hi stória da Igrej a nos séculos futuro s. Catolicismo - E o Sr. afirma que sucedeu algo similar no Vaticano li? Prof. de Mattei - No interior da au la conciliar, entre as duas minorias, a conservadora e a progressista, oscilava, como acontece sempre, a massa daqueles que resistiam e m tomar partido. Qual era a posição desse centro majoritário? Não é possível saber pelos disc ursos na aula conc ili ar, nem pelas apresentações nas comissões, porque apenas uma mino ri a usou da palavra. Mas pode-se conhecer pelas sugestões e propostas de tema de discussão que, na preparação do Concílio, o episcopado mundi al, os superiores reli giosos e as uni versidades cató licas enviaram ao Vaticano, em resposta a um a consulta proposta por João XXIII. A maioria das respostas não pede um a mudança radical, mas sim novas defi nições doutrinárias - a defini ção do dogma de Mediação Universal de Maria ou da Realeza de Cristo, por exempl o - e a condenação dos erros doutrinários que grassavam e ntre os fiéis (notadamente do comunismo). Pode-se fazer uma analogia entre os vota (nome latino dessas sugestões) dos Padres conciliares e os famosos cahiers de doléances redigidos na França, com vistas aos Estados Gerais de 1789. Antes da Revolução Francesa, nenhum cahier de doléances propunha subve1ter as bases do Antigo Regime, mas apenas uma moderada reforma das instituições, a supressão de alguns impostos, etc. Mas, de modo inesperado, os Estados Gerais desfecharam na queda da monarqui a. Analogame nte, o Concílio não ate nde u aos pedidos que emergiam 'dos vota , mas secundou as reivindicações da minoria progressista qu e, desde o começo, conseguiu .colocar-se à testa da assembléia e orientar suas decisões.

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CATOLICISMO

Alguns momentos do Concilio apresentaram analogias com lances ocorridos nos Estados Gerais, e suas conseqüências durante a Revolução Francesa

"Os Jlistol'iadores apresentam o CV li como o choque entre "maioria " progressista e "minoria " conser1radora . Mas J'oi o confronto /'oi entre duas minorias"

Catolicismo derança?

E como conseguiram essa li-

Prof. de Mattei -

T a mbé m aqui repete-se o que aconteceu na Revolução Francesa: os di as decisivos foram os primeiros, nos qu ais a lega lidade foi quebrada. Em Versalhes, isso aconteceu no dia l 7 de junho de 1789, qu and o os Estados Gerais tra nsformaram-se e m Assemb lé ia Co nstitu inte . E m Rom a, o di a decisivo foi o 13 de outubro de 1962, apenas dois di as após a inauguração, qu ando, a pedido do Cardeal Liénart, a e leição dos membros das comi ssões conc iliares foi suspensa, para que as confe rê ncias episcopais aprese ntassem os candidatos. A partir desse momento, elas entraram como gru pos o rga ni zados na dinâmica conciliar. Mas, detrás das conferê nc ias episcopai s havia o utros grupos organi zados de bi spos e teó logos, como o tal Ecumênico j á mencionado, qu e fo rm aram um partido abertame nte anti-romano, porque via na Cúria po ntifícia e na teo logia ensinada nas universidades romanas os inimigos a serem abatidos. A rede de re lações desse setor progressista, que pré-existia ao Concílio, era forte, ramificada, e incluia, alé m das cúpul as elas conferências episcopais, algu mas ordens re li giosas de "vanguarda" e grupos ling uísticos. Inclu ía sobretudo laboratórios ideológicos, como os de C uern avaca, no México, ele Bolonh a, na Itália, e de Lova ina, na Bélgica. Catolicismo - Mas, do lado conservador, não havia algo parecido? Prof. de Mattei - Ne m um pouco! Os bispos e teólogos fié is a Roma reag iram muito tardiamente e sem a habi lidade estratégica de seus adversári os. Segundo um a pesqui sadora a me ric a na, Meli ssa Wilde, a minor ia progressista prevaleceu graças a sua me lho r estratég ia e organi zação.

Catolicismo - Mas o que estava em jogo era atrair para seu lado a maioria centrista ... Prof. de Mattei - Segundo essa mesma pesquisadora, o clima qu e caracteri zou as primeiras fases do debate conciliar fo i uma "efervescência coletiva". Trata-se de um a ex pressão cu nhada pelo soc iólogo Durkheim para carateri zar o estado das pessoas quando crêem ter sido transportadas para um mundo completame nte diverso daquele que elas têm diante dos olhos. É um estado eufó rico de "entusiasmo religioso" bem conh ecido dos historiadores. As cartas de Dom Helder oferecem um exemplo típico desse clima de auto-exaltação que é atribuído, de modo s impli sta, à ação do "Espírito Santo". Foi já na prime ira sessão que o "espírito do Concílio" passou a ser um a das principais motivações dos Padres conciliares e a base de grande número de propostas. Catolicismo - Houve algum episódio particular que tivesse sido marcado por esse ambiente de euforia revolucionária? Prof. de Mattei - Sim. Por exemplo, na sessão de 30 de outubro de 1962, durante o debate sobre a Liturgia, tomou a palavra o Cardeal Ottaviani, que era detestado pelos progressistas por ser o prefeito do Santo Ofício e, como tal, o responsável pela condenação dos escritos de alguns cori feus da Nova Teologia . No calor de se u discurso, ele passou dos dez minutos regulame ntares e o cardeal Alfrink, que presidia a sessão, tocou a campainha; Ottaviani, que era idoso e um pouco surdo, conti nu ou a falar. Alfrink deu, e ntão, ordem para cortar abruptamente o microfone. Parte da assembléia ap laud iu calorosamente a humilhação infligida a um dos principais colaboradores do Papa João XXIII! Dom Helder viu aflorar, nesse aplauso, o "espírito do Concíli o" ... Outro caso ocorreu durante a fase que os progressistas de nominaram "a semana preta", na terceira sessão, e m 1964. O ambiente estava aca lorado, po rque Paulo VI havia imposto uma "Nota Explicativa Prévia" ao texto sobre a colegialiclade, que limitava o alcance cio mesmo, e tinha irritado profundamente os progressistas, qu e desejavam transformar a Igreja numa espécie de repúb lica parla me ntar. Dois di as depois da leitura dessa "Nota Prévia", fo i anunciado que, a pedido dos conservadores e para respeitar o regu lamento, o esquema sobre a liberdade religiosa, que ti nh a sofrido muitas modificações,

não iria ser votado senão na sessão do ano seguinte. Desencadeo u-se, então, uma reação fur iosa. Na basíli ca ele São Pedro .mpito.s .~ aqreii.9cinci!jares .ab~n,clonaram seus lugares j:>h1:a retiri'ji·-i~e .e: tii icutir éin pequenos conci.liábulos. O correspondente do diário parisiense "Le Monde", Henri Fesquet, escreve u que se ouvia bispos exclamar: "Fomos traídos!" Um ameri cano, referindo-se aos conservadores (ou talvez aos Mod,eçadores !), deixou escapar um dos piores insultos ela língua inglesa: "Bastardos! " Os jornais aludi ram à "revolta" dos bi spos americanos . Pouco depois, na mes ma "congregação" (assim eram c ha madas as sessões plenári as di árias, na bas ílica), tomou a palavra Dom De Smedt, um progressista notório, que era o relator cio esqu ema sobre a libe rdade religiosa. Q uando afirmou que "a Igreja deve ser li vre dos poderes políticos" - propunha, na realidade, uma renún cia ao ideal de Cristandade ouviu-se um aplauso frenético. Dois Moderadores, na mesa da presidência, uniram-se aos aplausos ! O ambie nte no fim da sessão assemelhava-se à co nclusão de um comício político. 0

ROBERTO DE MATTEI

ILCONCILIO VATICANO II Una storia mai scritta

Capa da obra do Prof. de Mattei

'Jt minoria progressista conseg11i11 não tanto mudai· a doutrina da lgrnja, mas substituir sua imagem Júerárquica pela imagem de uma assembléia democrática"

Catolicismo - Num tal clima de exaltação era, de fato, mais fácil para a minoria progressista extremada obter da maioria mole tudo o que desejava. Prof. de Mattei - N ão, o jogo era mais subtil. As reivindicações da ala "jacobi na" (para ex pri mir-me e m termos da Revolução Francesa) foram rejeitadas pela oposição da minoria conservadora que, aos po ucos, foi-se organizando . Os doc ume ntos não corresponderam às expectativ as dos progressistas mai s audazes e foi graças a compromissos obtidos in extremis que é possível ao Papa hoje dizer que os documentos devem ser lidos à lu z da Tradição. Mas a image m que o mundo formava da Igreja mudou radicalmente. Quando, no d ia 12 de outubro ele 1963, D. Fran i::e, bispo croata ele Split, propôs que, no esquema De Ecclesia, ao novo título de Igreja "peregrina" fosse acrescentada a denominação tradiciona l de " militante", sua proposta fo i rejeitada. A imagem que a Igreja deveria oferecer de si mesma ao mundo não era aquela da luta, da condenação, da controvérsia, mas do diálogo, da paz, da colaboração ecumê nica e fraterna com todos os homens. A minoria progressista conseguiu não tanto

MARÇO2011

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mudar a doutrina da Igreja, mas substituir a imagem sacra] e hierárquica da Esposa de Cristo pela imagem de uma assembléia democrática, aberta às novidades e inserida na História. Catolicismo - Mas a Igreja, de fato, está inserida na História ...

Prof de Mattei - Não há dúvida. Mas de uma maneira inteiramente diferente daquela que os Padres conciliares progressistas a entendiam, num clima psicológico de otimismo, e mesmo de euforia, que vigorava no início dos anos 60. Três ícones brilhavam então no firmamento internacional, encarnando esse clima de otimismo; Nikita Krushev, primeiro ministro da União Soviética; Ângelo Roncalli que, desde 1958, era o Papa João XXIII; e desde 1961 John F. Kennedy, primeiro presidente católico dos Estados Unidos. Em abril desse mesmo ano, o astronauta soviético Gagarin realizou o primeiro vôo no espaço, sugerindo a abertura de nova época de triunfo da ciência. Embora já em agosto de 1961, tivesse sido iniciada a construção do Muro de Berlim ... A influência que o comunismo exercia sobre o mundo, mais do que política e militar, era cultural e psicológica. O marxismo dominava nos ambientes acadêmicos e na mídia, os quais veiculavam conceitos típicos dessa filosofia materialista e evolucionista, como "senso da História", "curso dos tempos", " libertação e repressão" . Tratava-se de uma visão dialética, que se exprimia nas novas "palavras-talismã" (a expressão, por sinal, é de Plínio Corrêa de Oliveira) lançadas pela propaganda comunista: diálogo, "coexistência pacífica", "desenvolvimento" e "emancipação" dos povos. A ideologia subjacente era a do progresso, entendido como marcha irreversível e ascensiona l da humanidade para ati ngir uma "felicidade" social apresentada como a transposição do paraíso celeste para a Terra. Catolicismo - E qual era a posição da Igreja nesse contexto?

Prof de Mattei - No curso de sua história, a Igreja havia se dirigido ao mundo com a linguagem dos confessores destemidos, dos doutores inflexíveis, dos mártires intransigentes no testemunho da fé, das virgens imaculadas na sua fidelidade ao desponsório com Cristo. Esses homens e mulheres haviam

"'-m

CATOLICISMO

O cardeal húngaro Josef Mindszenty, preferiu ser excluído, desprezado, perseguido, do que renunciar à proclamação da verdade, ao combate às falsas doutrinas como era o caso da doutrina comunista

"Histol'iadol' não

é hagiógra/'o. É do poJJto de vista Jlistól'ico que eu exponlw Juízos sohrn Pio XII, João XXII/, Paulo V/ e isso não devel'ia escandalizar ninguém "

preferido ser excluídos, desprezados, perseguidos, condenados à morte, do que renunciar à proclamação da verdade, ao combate às falsas doutrinas. Era a via indicada por confessores da fé como o Cardeal Stepinac, eliminado pelos comunistas croatas nas vésperas do Concílio, e o cardeal húngaro Josef Mindszenty, exi lado desde 1956 na embaixada americana em Budapest. Mas a cultura progressista que acabo de descrever exercia seu fascínio sobre alguns homens da Igreja, convictos de que era necessário mudar a atitude de confronto com o mundo: renunciar aos anátemas e à condenação dos erros para co lher o que o mundo apresentava de positivo. Era a tese defendida por Frei Yves Congar, dominicano francês, depois nomeado cardeal, que exerceu grande influência no Concílio. Ele afirmava que não existiam "germes ativos nos quais ncio haja também micróbios"; ou seja, erros nos quais não haja verdades. E como matar os micróbios s ignificaria matar também os germes vivos, seria necessário, segundo ele, deixar prosperar uns e outros. A condenação dos erros por parte da Igreja, desde as heresias medievais até o Modernismo, havia extinguido os aspectos positivos neles presentes e teria sido melhor deixá-los viver e difundir-se. Congar propunha, então, mudar a Igreja internamente, por meio de "uma reforma sem cisma". "Ncio é preciso fazer uma outra Igreja", explicava, "é necessário fazer uma Igreja diferente". Tal plano de modificar a Igreja a partir de seu interior era o antigo sonho, irrealizado, dos modernistas. Entre os que aco lhiam as teses de Congar havia um grupo de Padres concili ares da Europa central, entre os quais se destacava o Primaz da Bélgica, o jovem cardeal Léo-Joseph Suenens. Seis meses antes do início do Concílio, João XXIII pediu-lhe para preparar uma nota sobre o rumo que o Concílio deveria seguir. Suenens reuniu então um grupo de cardeais, no próprio Colégio Belga de Roma, a fim de discutir um plano e uma estratégia para o próximo Concfl io. Participaram da reunião, entre outros, três prelados que iriam desempenhar papel decisivo: o cardeal Dõpfner, arcebispo de Munique, o cardeal Liénart, arcebispo de Lille, e o cardeal Montini , arcebispo de Milão e futuro Papa Paulo VI. No documento que foi redigido com base nessa reunião, o cardeal Suenens lançava a palavra de ordem do "Concílio pastoral", que foi adotada como linha estratégica por João XXIII.

Catolicismo - O Sr. não fica constrangido de criticar uma linha assumida por dois Papas?

ser interpretado em continuidade com o Magistério tradicional?

Prof de Mattei - O historiador não é um hagiógrafo. O grande historiador dos Papas, Ludwig von Pastor, não poupou respeitosas críticas aos numerosos pontificados por ele examinados. É do ponto de vista histórico que eu exponho juízos sobre Pio XII, João XXIII, Paulo VI e isso não deveria escandalizar ninguém.

Prof de Mattei - Não há dúvida. Mas essa afirmação do Papa pressupõe, de fato, a existência, nos documentos conciliares, de passagens dúbias ou ambíguas, que necessitam urna interpretação. Diante dessa realidade, ou se sustenta, como faz Mons. Gherardini , que as doutrinas do Concílio incompatíveis com as definições dogmáticas anteriores não são nem infalíveis nem irreformáveis, e portanto não vinculantes, ou então atribui- se ao Concílio uma autoridade tal, que anu la os 20 concílios anteriores, abroga ndo e substituindo todos eles.

Catolicismo - Mas o Sr. foi acusado, em algumas recensões, de ter saído de seu campo de estudo, a História, e não distinguir os textos do Concílio de seu contexto histórico, fundindo textos e contexto num único evento. Tal como faz a escola progressista de Bolonha para favorecer a interpretação dos textos segundo a "hermenêutica da ruptura".

Prof de Mattei - Somente um leitor apressado e tendencioso pode lançar-me tal acusação, porque afirmo precisamente o contrário. Jamais neguei a distinção lógica entre texto e contexto. A impossibilidade de separá-los não significa impossibilidade de distingui-los. Nego a tese da escola de Bolonha, segundo a qual os textos são absorvidos no contexto, ou seja, no evento e no "espírito do Concílio". Os textos têm autonomia, importância e dignidade próprias, e devem ser avaliados, enquanto textos, no plano teológico. Reivindico competência no plano hi stórico e é sob esse aspecto que estudo um contexto, que necessariamente inclui a elaboração dos textos. É no plano histórico e não teológico, no qual não tenho competência, que julgo o Concílio como uma Revolução na Igreja e, sob muitos aspectos, um evento desastroso.

"É 110 plano llistórico e não teológico, que Julgo o Concílio

Catolicismo - No atual debate em torno da hermenêutica do Vaticano li, qual é então o papel do historiador? Prof de Mattei - A pesquisa histórica é complementar da pesquisa teológica, e isso não deveria incomodar ninguém. Seria preciso, por acaso, renunciar a escrever a história do Concílio Vaticano II em nome da "hermenêutica da continuidade"? Ou permitir que ela seja escrita exclusivamente pela escola de Bolonha, que tem oferecido contribuições cientificamente vai iosas, mas ideologicamente tendenciosas? E se elementos de descontinuidade emergissem no campo histórico, por que ter receio de trazê-los à lu z do dia? Como negar a existência de uma descontinuidade, senão nos conteúdos, pelo menos na nova linguagem do Concílio Vaticano II? O inexplicável silêncio sobre o comunismo, por parte de um Concílio que pretendia ocupar-se das principais questões do mundo contemporâneo, por exemplo, é um fato clamoroso e catastrófico que, a um historiador, simplesmente não é lícito ignorar!

Vaticano li como Catolicismo - No que, então, sua análise difere daquela da escola progressista de Bolonha? Prof de Mattei - É que Giuseppe Alberigo e seus discípulos (que, por sinal, fizeram uma coleção monumental de documento originais e tiveram a gentileza de facilitar-me ple namente o acesso) inverteram o método de interpretação do Magistério da Igreja, assumindo como ponto de referência não a Tradição, mas o próprio Concílio. A escola de Bolonha faz a leitura da Tradição à lu z do Concílio, atribuindo, portanto, a este uma infalibilidade que nenhum de seus textos, p er se, possui. Assim segundo essa escola - é preciso procurar a infalibilidade do Concílio no próprio evento conciliar, no seu espfrito, no carisma impalpável que anima os textos, não traduzidos em fó rmulas definitórias, que estão ausentes. Catolicismo - Donde, então, a afirmação de Bento XVI de que o Concílío Vaticano li deve

uma Revolução na Igreja e, sob muitos aspectos, um eve11to desastroso "

Catolicismo - Seu livro foi também criticado por estabelecer uma continuidade entre o Concílio e o pós-Concílio. Prof. de Mattei - O Concílio não pode ser apresentado corno um evento que nasce e morre no espaço de três anos, como se não tivesse tido raízes profundas e conseqüências igualmente profundas na vida da Igreja e da sociedade! Já no dia seguinte do seu término, o horizonte da Igreja nublou-se pela queda das certezas dogmáticas, pelo avanço do relativismo de uma nova moral permissiva, pela anarquia no campo disciplinar, pelo abandono do sacerdócio por parte de dezenas de milhares de padres e pelo afastamento da prática religiosa de milhões de fiéis. E o que dizer da retirada dos altares de crucifixos, estátuas de santos, etc. das igrejas? Mas, sobretudo, da queda vertiginosa das vocações sacerdotais e religiosas ? Nos institutos religiosos masculinos, nos 40 anos, de 1965 a 2005, a queda chegou a um terço! Corno negar a existênc ia de uma pro-

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funda crise na Igreja pós-Conciliar, muitas vezes admitidas por Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI? Ora, todo grande acontecimento supõe uma causa proporcionada. É inimaginável ser o Vaticano II estranho à crise do pós-Concílio e que uma má "recepção" dos textos possa ser considerada uma causa proporcionada para explicar tudo o que aconteceu? Pode-se separar a Revolução pós-conciliar do Concíl io? Catolicismo - De acordo. Em tese é assim, mas como provar que foi isso que se deu na prática? Prof. de Mattei - Para isso basta recordar um só episódio da "crise pós-conci liar": quando, em 1968, Paulo VI promulgou a encíclica Humanae Vitae, um dos líderes da contestação foi o Cardeal Suenens. Quem era o Cardeal Suenens? Era o prelado a quem o próprio Paulo VI havia concedido um privilégio sem precedentes, apresenta ndo-o à multidão, a seu lado, na janela do Palácio Apostólico, poucos dias depois de sua eleição. Era o jovem cardeal de Bruxelas que tinha aconselhado João XXIII a imprimir um caráter pastoral ao Concílio. Era o homem que, desde seu início, havia selado um pacto com D. Helder Câmara. Era o homem escolhido para guiar os quatro Moderadores do Concíl io. Era o homem que, já durante o Concílio, tinha levantado o problema do controle da natalidade, pronunciando em plena basílica de São Pedro, em tom veemente, as palavras: "Não repitamos o processo de Galileo! " Ninguém mais do que ele desempenhara no Concílio o papel de protago ni sta. O Cardeal Suenens, rebelde em relação a Paulo VI e à Igreja em 1968, era, por acaso, uma pessoa diferente daquele que, três anos antes, hav ia entoado o canto da vitória, após o encerramento do Concílio? Havia, por acaso, mudado de mentalidade, havia di storcido os documentos do Concílio, havi a mal interpretado seu espírito? Suenens não precisava forçar ou di storcer os documentos concili ares, porque Suenens - como Frings, Alfrink, Bea e tantos outros - era o Concílio! A pretensão de separar o Concílio do pós-Concílio é tão insustentável quanto pretender separar os textos conciliares do contexto pastoral no qual foram escritos. Nenhum historiador sério - e acrescento, nenhuma pessoa de bom senso - poderi a aceitar esta separação artificial, que nasce de um preconceito e não da avali ação serena e objetiva dos fatos. Ainda hoje vivemos as conseqüências da "Revolução conciliar". Por que esconder isso? A Igreja "não deve temer a verdade", como afirmou Leão XIII ao abrir o Arquivo Secreto do Vaticano aos pesquisadores .

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CATOLICISMO

Plínio Corrêa de Oliveira (círculo) diante da Basílica de São Pedro, por ocasião do Concílio

"Tive que co11sultar muitas fontes e, entre elas, o Catolicismo, que é uma das melhores para estudar as correntes católicas conservadoras latino-americanas"

Catolicismo - Muito obrigado pelo tempo que nos concedeu e por sua sinceridade, professor. Desejaria dizer algo mais aos leitores de nossa revista? Prof. de Mattei - Para escrever o li vro, tive que consultar todas as fontes di sponíveis, e entre elas, o Catolicismo , que é uma das melhores fontes para estudar as correntes católicas conservadoras latinoamericanas. Sua leitura tornou-se-me fácil e agradável , porque o italiano é próximo do português e, ainda jovem, aprendi seu belo idioma para poder ler no original as obras de Plinio Corrêa de Oliveira; e, mais tarde,Jl-lira conversar com ele. Posso aq ui confidencia r que Dr. Plínio está um pouco na origem de meu último livro. Porque, numa dessas saudosas conversas, ele explicou-me que, em sua estadia dura nte a .primeira sessão do Conc ílio, havia notado que, na Itáli a em gera l e em Ro ma em particular, existia um fil ão do clero que era piedoso e autenticamente conservador, mas que senti a medo de exprimir-se. E que meu papel contra-revolucionário devia ser levantar- lhe o ânimo com boas pub licações e di zer a ele: "Ousai, monsenhores, ousai!" Espero que, do Céu, ele esteja intercedendo junto a Nossa Senhora a fim de que esse trabalho contribua para uma autêntica restauração da Igreja, em favor da qual ele ta nto lutou! •

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São Zacarias, Baluarte da Igreja numa época de transição G rande Papa sucessor de São Gregório III, em cujo pontificado ocorreram grandes progressos na pacificação da Cristandade

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PUNIO M ARIA SOLIMEO

ão há dados referentes a São Zacarias antes de sua elevação ao sólio pontifício. Sabe-se apenas que era de origem grega, estabelecido na Calábria, e que seu pai chamava-se Policrônio. Muito provavelmente ele já era sacerdote da Igreja romana quando foi eleito para suceder São Gregório III no trono de São Pedro. O Liber Pontificalis, que contém a biografia de vários Papas, des-

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CATOLICISMO

creve-o como sendo de "caráter gent·i/ e conciliado,; muito caridoso para com o clero e povo". Foi eleito por unanimidade apenas cinco dias depois do falecimento de seu predecessor, devido a prementes necessidades da Cristandade. No artigo do mês anterior, expusemos como o rei dos lomba.rdos, Luitprando, foi pacificado por São Gregório II quando sitiava Roma . Dez anos depois, já no pontificado de Gregório III, Luitprando sitiou novamente Roma, por estar insatisfeito com a proteção que esse pontífice concedia

a Trasimondo, duque de Espoleto. Só se retirou depois que seus bárbaros espoliaram a igreja de São Pedro, que até os godos haviam anteriormente poupado. Ele ameaçava outras propriedades da Igreja, o que levou São Gregório III a pedir o auxílio de Carlos Martel - o salvador da Cristandade na batalha de Poitiers, contra os mouros-, então prefeito de palácio franco, mas exercendo todo o poder efetivo naquela nação. Foi narrado também no artigo anterior que no mesmo ano de 741 faleceram o Papa São Gregório III, o imperador iconoclasta Leão (o Isáurico) e Carlos Martel. Coube então a São Zacarias, recém-eleito, enfrentar o lombardo que avançava. O Pontífice foi ao seu encontro, e Luitprando, vencido pela santidade e dignidade do Papa, cedeu mais uma vez. Não só ajustou a paz, mas libertou os prisioneiros e entregou à Sé Romana as cidades de Horta, Ameria, Polimartium e Blera. Conta-se que no dia seguinte, sendo domingo, Luitprando quis assistir com sua corte a uma sagração episcopal presidida pelo Papa. A santidade da cerimônia e as preces que fez então o Pontífice tocaram vivamente os lombardos, que não puderam reter as lágrimas. "E a piedade que ele fez transparecer em toda essa ação excitou no coração de muitos os sentimentos de devoção para com Deus e de respeito para com sua Igreja". 1 Luitprando faleceu em 744, terminando com ele a fase áurea dos irrequietos lombardos. Foi deposto seu neto eco-regente, Hildebrando, e eleito rei em seu lugar o Duque de Friule, Rachi . Este, apesar de muito piedoso, sitiou Perusa por pressão dos seus comandados. Outra vez São Zacarias dirigiu-se ao acampamento lombardo. Suas palavras comoveram tanto o rei, que não só levantou o cerco da cidade, mas concedeu a paz aos romanos. Pouco tempo depois, renunciando ao mundo com sua mulher e filha, depôs a coroa aos pés do Papa.2

A delicada situação de Constantilwpla O novo Papa tinha uma questão ainda mais difícil a resolver com o império do Oriente, que era a do cul to das imagens. Logo após sua eleição, enviou a Constantinopla uma carta ao novo imperador Constantino, filho e sucessor de Leão o Isáurico, comunicando sua eleição. Os emissários papais encontraram na capital do império uma situação delicada. Tendo fa lecido Leão o Isáurico, deveria suceder- lhe naturalmente seu filho Constantino V, Coprônimo. Mas seu cunhado Artavasde, aproveitando a ausência daquele na Ásia Menor, fez-se proclamar imperador. E

Para zelar pela segurança do Estado, de início Constantino deixou as questões religiosas de lado a fim de lutar contra os árabes, os búlgaros e os eslavos. Mas depois, em 752, segui u a política do pai , recomeçando a pressão iconoclasta. São Zacarias, entretanto, não veria esse tempo.

Secundando São Bonifácio na Germânia Em 743 São Zacarias convocou um sínodo em Roma, ao qual compareceram 60 bispos, para tratar de várias matérias relativas à disciplina da Igreja, como o impedimento para casamentos em grau de parentesco, proibido na época.

São Zacarias dirigiu-se ao acampamento do rei Rachis, que tinha sitiado Perusa por pressão dos seus comandados. Suas palavras comoveram tanto o rei, que não só levantou o cerco da cidade, mas concedeu a paz aos romanos

para ser reconhecido no Ocidente, anulou os editos que proibiam a veneração das imagens e deu liberdade de culto. O que fazer diante desse fato consumado? Os emissários pontifícios aguardaram cautelosamente o desenrolar dos acontecimentos , e pouco depois, quando Constantino V recuperou o trono , apresentaram-se a ele, sendo bem recebidos. Obtiveram mesmo do imperador uma importante doação na Itália, que de algum modo compensava os confiscos efetuados por seu pai.

São Bonifácio, missionário que havia sido investido de plenos poderes pelo Papa São Gregório III, trabalhava então na reforma religiosa da Alemanha e da Baviera. São Zacarias manteve contato contínuo com ele, seguindo muito de perto seu apostolado. Em 742, logo após sua elevação ao trono pontifício, recebeu de São Bonifácio uma carta expressando sua total submissão ao sucessor de São Pedro e pedindo-lhe a confirmação de três novas dioceses - Wurzburg, Buraburg e Erfurt - que tinham sido então estabelecidas na Germânia.

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, Mudança de dinastia na França A paz que se seguiu permitiu ao Papa r~mediar as desordens oriunda~ da: guerra e das calamidades públicas, reformar os costumes do clero e do povo e fazer reflorescer a disciplina abalada nessa época de tumultos. "A tranqüilidade relativa de que gozava permitiu ao Papa interessar-se por umci questão que foi de capital importância na história da Igreja: a primeira reforma da Igreja franca, ponto de partida da grande restauração carolíngea ".3 O problema punha-se desta maneira: ao falecer, o grande Carlos Marte) deixava seu posto de prefeito de palácio para seus dois filhos, Carlomano e Pepino, o Breve: o ptimeiro ficava com a Austrásia, a Alemanha e a Turíngia; o segundo com a Nêustria, a Borgonha e a Provença. Os dois, tendo sido educados por monges beneditinos, eram sinceramente católicos e desejavam a reforma dos costumes, pois as pe1turbações constantes da época de Carlos Marte! haviam afetado nefastamente a Igreja na França. O abuso mais grave era a nomeação de leigos para bispados e abadias vacantes. Estes contentavam-se em apenas receber as prebendas que lhes aportavam o benefício . " Via-se também errarem pelo país bispos giróvagos [não vinculados a nenhuma diocese, e de costumes censuráveis], que tinham sua jurisdição não se sabe de onde, além de sacerdotes ordenados por eles e mascateando, aqui e ali, práticas supersticiosas e crenças suspeitas". 4 · Carlomano pediu a São Bonifácio que dirigisse a reforma da Igreja da França oriental. Foi convocado um sínodo naAustrásia, em 742, no qual se decidiu a convocação regular de concílios provinci ais, a restituição às igrejas dos bens

roubados, a degradação cios fa lsos sacerdotes, dos eclesiásticos adú lteros e fornicadores, a exclusão dos bispos desconhecidos e vagabundos, a repressão de todas as faltas carnais de monges e monjas. De igual modo Pepino, o Breve, agiu na França ocidental. Reuniu um concílio em Soissons, do qual São Bonifácio foi a alma, chegando aos m esmos resultados do sínodo da Austrásia. Carlomano decidiu nessa época abandonar tudo para entregar-se a Deus como

monge, ficando Pepino senhor de toda a França. Fazia quase cem anos que os descendentes de Clóvis só reinavam nominalmente, pois todo o poder efetivo passara para os prefeitos ele palácio. Quando da morte de Carlos Marte!, não havia mais rei cios francos. Pepino e Carlomano escolheram então um obscuro descendente ele Clóvis, Childerico III, para dar uma aparência de normalidade à nação. Mas os francos não se contentaram com isso, pois desejavam que a coroa ficasse com quem realmente detinha o poder. Pepino, eleito re i, enviou do is emi ssários a Roma para consultar o Papa sobre o caso. "Duramente pressionado pelos lombardos, o Papa Zacarias deu as boas-vindas

a esse desejo dos francos, que visava extinguir uma intolerável ordem de coisas e estender os fundamentos constitucionais para o exercício do poder real ". 5 Não se conhecem as palavras exatas de São Zacarias na resposta que enviou a Pepino, pois foram ditas em conversa privada. Mas, segundo os antigos Annales de Lorsch, escritos por Eginharcl, secretário de Carlos Magno, ele respondeu que "era melhor que fosse chamado rei quem exercia o poder do que quem permanecesse sem poder real, de maneira que a ordem não fosse pe rturbada". 6 Desse modo, em novembro de 751, Pepino foi proclamado rei em Soissons. Para dar maior legitimidade ao ato, São Bonifácio o sagrou e ungiu. Os dez anos do pontificado de São Zacarias foram, como se constata pelo acima descrito, muito fecundos. Sua ação política na Itália, na França, e mesmo em Constantinopla, trouxe um começo de paz, permitindo o princípio de uma reforma da Igreja, que o fim do século VIII deveria ver realizar-se plenamente. Faleceu a 3 de março de 752, e sua festa fo i fixada para o dia 15 do mesmo mês, dia de seu sepultamento na igreja de São Pedro. • E-mni I para o autor:

cato!ici smo@ terra.com. br Notas \ 1. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barrai, Pari s, 1882, tomo lll, p. 429. 2. Cfr. João Batista Wei ss, Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelona, 1927, tomo IV, p. 6 17. 3. E. Ama nn, Zacharie, Pape, Dictionnaire de Théologie Catholiqu e , Librairie Letouzey et Ané, Paris, 1924, tomo 15 , col. 3672. 4. ld. ib., col. 3673. 5. Franz Kampers, Pepin the Short, The Cat ho li c Encyclopedia, CD-Rom ed ition. 6. E. Amann, op. cit., col. 3674 ; e Les Petits Bo ll andistes, op. cit. , p. 433.

VARIEDADES

Um comentário sugestivo n GREGóR10

V1vANco LoPEs

sugestivo! Que observação fina e sagaz da realidade! De fato, os promotores da onda homossexual devem a Avenida Paulista, esperava eu em meio a manter pessoas pagas para, nas ruas e nas praças, dar uma pequena multidão um ônibus de uma das um ar de "naturalidade" ao seu exibicionismo. numerosas linhas que por ali passam, com desSituação por demais conhecida é que os homostinos diversos. Não gosto de utilizar os assentos exissexuais se beneficiam do incitamento que a mídia tentes nesses pontos de parada, por isso estava de pé, a faz em favor de suas práticas antinaturais. Por exempequena distância de duas senhoras sentadas que conplo, uma matéria difundida pela "Agência Estado" versavam animadamente sobre chuva e bom tempo. em 25 de janeiro afirma: "Sob o título 'O beijo proiCada vez que um ônibus apontava no horizonte bido que o Brasil todo está esperando ver', o jornal da avenida, o conjunto das pessoas se movia como britânico, The Guardian observa que os autores da uma ameba - todos esticavam o pescoço para ver novela Insensato Coração, que tem ao menos seis melhor, pois cada um se perguntava interiormente: personagens homossexuais, esperam 'combater o Será o meu? Dentro em pouco o veículo chegava ao preconceito e promover a aceitação'". ponto, parava e despejava na calçada alguns passaNote-se: 1) a propaganda deslavada presente em geiros, enquanto pela outra porta entravam outros. uma novela com "seis personagens homossexuais"; Esse ritual monótono, ao qual a ansiedade discre2) a mentira do jornal britânico, ao dizer que "o Brasil ta dos presentes comunicava uma certa vida, repetodo está esperando ver" o tal beijo entre eles; 3) a tia-se sem cessar. Até que inesperadamente, paredifusão que se faz desse absurdo no Brasil. cendo ter brotado do asfalto sujo da avenida, um par Não deixa de ser verdade que, numa novela ou de lésbicas se posicionou na calçada, bem junto ao num jornal, a propaganda aparece como que enlatameio-fio, e começou a proporcionar aos presentes da, desligada da realidade. Nas ruas e praças, poum espetáculo inusitado de abraços e carícias. rém, personagens como aquelas duas lésbicas pareDiante daquela exibição, o que pude notar nas ficerão "naturais", convidando a que a prática seja aceisionomias dos circunstantes foi um desagrado prota com mais facilidade, e talvez imitada. Os atores e nunciado, mas contido, um misto de repugnância e atrizes de novelas são pagos, em caráter "profissiomedo. Ninguém parecia gostar do que estava vendo, nal", para fazer o que fazem. Mas seria ingenuidade mas temia pronunciar-se, devido à grande pressão achar que não há grande vantagem, para os propulque se faz atualmente em favor de aberrações desse sores do homossexualismo, em pagar gente para fatipo e de muitos outros. Era nítida a sensação de que zer isso nas praças e outros locais públicos. É o que cada um discutia internamente consigo mesmo: "De aquelas duas senhoras parecem ter intuído. repente existe alguma lei impedindo a liberdade de Mas se isso vale para os atos antinaturais, não valeexpressão dos que não gostam disso, e me levam para rá também para outras manifestações, por exemplo as a delegacia". Sobretudo pareciam indignadas as duas da moda? A atual imoralidade nos trajes femininos e a senhoras mencionadas acima. Ouvi distintamente degradação dos trajes masculinos não contam também com propagadores pagos nas ruas das cidades? uma dizer à outra: "Devem ser pagas para fa zer isso aqui". A outra assentiu prontamente. São perguntas que muitos leitores já terão levanMeu ônibus chegou e entrei nele, deixando para trás tado, pois pessoas intuitivas e clarividentes, no Braos c:ircunstantes e aquele espetáculo rejeitável, mas lesil, não se limitam a duas simples senhoras que esvando comigo o comentário daquelas senhoras, que duperam num ponto de ônibus ... • rante toda a viagem me fez pensar. Que comentário E-mail para o autor: cato li cismo@ terra.corn.br

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A carta 111 BEN OIT BEMELMANS

Um cardeal romano lê uma carta, enquanto numa atitude respeitosa o frade franciscano que a trouxe espera uma resposta. O gato ronrona sobre o joelho do cardeal, que tem a seu alcance um minúsculo cálice de licor- ou talvez grappa, a deliciosa bagaceira italiana. Aberto sobre a mesa, ao lado de uma sineta de prata, está o breviário cuja leitura fora interrompida pela chegada do mensageiro. A luz que entra pela janela mostra um escritório mobiliado com gosto, tendo como ornamento principal a tapeçaria ao fundo. O ambiente deste quadro pitoresco evoca o equilíbrio temperamental e a afabilidade, frutos da prática da virtude colocada a serviço da Igreja. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br

CATOLICISMO

MARÇO 2011

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tara, acrescentou grande glória à Ordem Seráfica. Foi inscrito pelo Papa Gregório XVI no Cânon dos Santos" (Martirológio Romano) . Primeiro Sábado do mês

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l São David, Bispo e Confessor + Menevia (País de Gales), 588. Patrono do País de Gales.

2 São Chad , Bispo + Lindisfarne (Inglaterra), 672. Irmão de São Cedd, foi educado por Santo Aidano na Irlanda. De volta à Inglaterra, tornou-se Bispo de Mércia e Lindisfarne. São Beda, o Venerável, enalteceu suas virtudes.

3 SanLa Cunegundes, Viúva , Imperatriz + Bamberg (Alemanha), 1040. Esposa de Santo Henrique, com quem vivia em perfeita castidade. Foram ambos coroados imperadores do Sacro Império, em Roma, pelas mãos do próprio Papa. Após a morte do marido, ela empregou sua fortuna em erigir bispados e mosteiros, terminando sua vida como simples religiosa em um deles.

4 São Lúcio 1, Papa, Mártir + Roma, 254. Foi um dos ilustres presbíteros de Roma que seguiram São Cornélio ao desterro, tendo sucedido a este no Papado. Primeira Sexta-Feira do mês

5 São João José da Cmz, Confessor + Nápoles, 1734. "Ardente discípulo de São Francisco de Assis e de São Pedro de Alcân-

Santa Colete, Virgem + França, 1447. Reformadora das Terceiras Franciscanas, fot das figuras mais importantes da Igreja no século XV. Com São Vicente Ferrer, aconselhou três cardeais, que reivindicavam o direito à tiara pontifícia, a renunciarem a fim de se proceder a nova eleição.

7 Sanws Perpétua e Felicidade, Mártires. São Paulo, o Simples, Eremita + Egito, 339. É patrono dos que aspiram à santidade em idade avançada. Agricultor, aos 60 anos descobriu que sua mulher o traía. Fugiu então para o deserto, e por sua insistência o grande Santo Antão aceitou dirigi-lo.

8 São João de Deus, Confessor. São Julião de Toledo, Bispo + Espanha, 690. Sob sua direção, a sé de Toledo tomou a primazia entre todas as da Ess:.___ panha e Portugal. Presidiu vários sínodos, reviu e desenvolveu a liturgia mozárabe, tendo sido um dos mais importantes eclesiásticos de seu tempo.

9 QUi\RTA-FEfRA DE ClNZi\S Santa Francisca Romana, Viúva + Roma, 1440. Da mais alta nobreza romana, foi modelo de esposa e mãe, além de fundadora das Oblatas Beneditinas. Tinha trato familiar com seu anjo da guarda, a quem via continuamente.

lO São Simplício, Papa + 483. Governou a Igreja durante 15 anos por ocasião da invasão dos bárbaros, que procurou converter.

11 Santa Teresa Margarida Redi , Virgem + Florença, 1770. Aos 18 anos entrou para o convento carmelita de Florença, e em pouco tempo atingiu grande santidade.

12 São Teófano, J\bade + Samotrácia, 818. Ele e a esposa renunciaram a imensa fortuna para tornarem-se religiosos. Grande promotor do culto das imagens, foi por isso exilado pelo ímpio imperador bizantino Leão, o Armênio, morrendo vítima de maus tratos.

13 Santa Eufrásia, Virgem + Egito, 410. Da nobreza romana. Ao falecer seu pai, foi com a mãe para o Egito. Aos sete anos pediu-lhe licença para servir a Deus num mosteiro próximo.

14 Santo J•:u1,íquio e companheiros, Mártires + Arábia, 741. Patrício romano. Capturado pelos maometanos contra os quais guerreava, foi com seus companheiros torturado e morto, por não renunciar à fé católica.

15 São Longino, Má rtir + Capadócia, séc. 1. Segundo a Tradição, é o centürião romano que, durante a Crucifixão, reconheceu Cristo como o Filho de Deus.

São Zacarias (Vide p. 36)

l6 São Julião de Anazarbus, Mártir + Cilícia (na atual Síria), 302. São João Crisóstomo fez o elogio deste mártir que, aprisionado durante o império de Diocleciano em virtude de sua fé católica, foi colocado dentro de um saco cheio de escorpiões e serpentes e atirado ao mar.

17 Santa Gertmdes de Nivelles, Virgem + Holanda, 659. Filha do Bem-aventurado Pepino de Landen e da Bem-aventurada lta. Com a morte de Pepino, mãe e filh a fundaram o convento de Nivelles, nele ingressando Gertrudes como abadessa ao 20 anos.

18 Santo Anselmo de Luca, Bispo + Luca, 1086. Sobrinho do Papa Alexandre Il, retirou-se de sua diocese de Luca para fazerse monge beneditino. São Gregório VII chamou-o de volta àquela sé episcopal, onde tentou reformar os cônegos relaxados. Estes se revoltaram, e o Papa os excomungou. Com o apoio do imperador, os rebelados expulsaram Santo Anselmo da cidade.

19 São José Esposo da Santíssima Virgem, Patrono da Igreja Universal e da Boa Morte

20 São Wulfrano, Bispo e Confessor + França, 703. Foi nomeado para a Sé de Sens enquanto seu titular, Santo Amatus, estava ainda vivo. Mas resignou o cargo para ir evangelizar os frísios, empenh ando-se em que estes ce sassem de praticar sacrifícios humanos.

21 Santo Endeus ou Enda, Confessor + Arranmore (Irlanda), 590. Brilhante militar, irmão de Santa Fanchea, é considerado o fundador do monasticismo na Irlanda. Teve como discípulos os Santos Kleran e Brendan.

22 São Deogracias, Bispo + Cartago, 457. Bispo dessa cidade, ao norte da África.

23 São Toríbio de Mongmvejo, Bispo + Lima, 1660. "Arcebispo (de Lima, Peru), por cujos labores a fé e a disciplina eclesiástica se disseminaram pela América" (Martirológio Romano).

24 Santa llildelita, Virgem + Inglaterra, 524. Não havendo ainda conventos na Inglaterra, essa princesa atravessou a Mancha, fazendo-se religiosa na França. Voltou então à sua pátria, onde organizou a vida monástica em Barking.

25 Anunciação do Anjo e Encarnação do Verbo O mais importante acontecimento da História: o Verbo de Deus se encarnou no seio puríssimo de Maria.

26 São Teodoro e companheiros, Mártires + Líbia, séc. IV. Estes 43 cristãos vindos do Oriente sofreram o martírio, possivelmente sob Diocleciano.

27 Santo Habib, Mártir

+ Edessa (Iraque), 322. Diácono, exercia a pregação no campo, sendo por isso perseguido. Escondeu-se e posteriormente

apresentou-se ao prefeito, que o mandou queimar vivo. Antes de morrer, foi beijar sua mãe que assistia ao suplício.

28 São Gontran, Rei, Confessor + Châlons (França), 592. Rei da Borgonha, após divorciarse e mandar executar seu médico, ficou cheio de remorsos e abandonou as pompas do mundo. Empregou então sua fortuna na construção de igrejas e mosteiros e na distribuição de esmolas, vivendo na mais rigorosa penitência.

29 São Cirilo de Heliópolis, Diácono e Mártir + Líbano, 362. Tendo Juliano, o Apóstata, reintroduzido o paganismo no império, esse diácono destruiu muitos ídolos, tendo por isso "seu fígado ar-

Intenções para a Santa Missa em março Será ce lebrada pe lo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Especia lmente pelas famí lias que mais sofrem em razão da tragédia que se abateu sobre a região serrana do Rio de Janeiro, bem como por aqueles que, em outras regiões do Brasil, também foram atingidos pelos desastres causados pelas fortes chuvas.

rancado de seu abdômen e devorado pelos pagãos como bestas selvagens" (Martirológio Romano).

30 São João Clímaco, Confessor + Monte Sinai, 605. Ingressando aos 16 anos no mosteiro situado nesse monte, deixou-o mais tarde para viver em maior solidão. Aos 75 anos foi chamado de volta e eleito abade. Seu livro Clímax ou Escada da Pe,jeição, do qual lhe veio o cognome Clímaco, foi das obras mais apreciadas na católica Idade Média.

31 São Guy de Pomposa, Abade + Itália, 1046. Sua santidade e sabedoria atraiu tantas pessoas a seu mosteiro, que foi obrigado a fundar outro. A seu pedido, São Pedro Damião ministrou a seus monges aulas sobre as Sagradas Escrituras durante dois anos.

Intenções para a Santa Missa em abril • Pelos méritos infinitos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, rogando muito especia lmente para que não esmoreça a excelente reação da opi nião pública brasi leira contra o aborto, constatada em fins de 201 O. E para que essa reação aumente sempre e se torne ainda mais intensa, a fim de que jamais em nossa Pátria se aprove qualquer lei contrária à família, instituição amada e estabelecida por Deus.

M


Forças Armadas, enfraquecimento do Judiciário, sovietização. O leitor interessado obterá sobre ele amplas informações no site www.ipco.org.br. Além de iníquo, e talvez por isso mesmo, o PNDH-3 é pouco divulgado, o que quer dizer também pouco conhecido. Por que é pouco divulgado? Por causa do repúdio que provoca imediatamente em quem dele toma conhecimento. Digo isso com segurança, pois em todos os estados pelos quais passamos ele era pouco conhecido; mas, tão logo se explicava às pessoas o seu conteúdo, elas se manifestavam contra.

* * * A caravana era constituída por 38 jovens, na maioria estudantes universitá-

111 DAN IEL M ARTINS

O

primeiro nome de nosso País foi Ilha de Vera Cruz, e o segW1do Terra de Santa Cruz. O que significavam essas denominações, infelizmente substituídas? Muito simples: crescendo e desenvolvendo-se sob o signo da Cruz de Nos o Senhor Jesus Cristo, de sua bênção e de seus mandamentos, o País nascente tornar-se-ia grande diante de Deus e dos homens. Pela mesma razão, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO) instituiu e deCATOLICISMO

nominou Terra de Santa Cruz a caravana de jovens que percorreu sete estados do Nordeste no mês de janeiro, a fim de lutar contra a implantação no Brasil do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Atingido este objetivo, pouparíamos nossos pósteros de arcar com a transformação da Terra de Santa Cruz numa nova Babilônia ou em novas Sodoma e Gomorra. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia puderam ver os estandartes dourados do Instituto , conduzidos por 38 jovens vo-

rios ou do ensino médio, provenientes de vários estados. 25 deles já haviam participado da primeira caravana nas férias de julho último, realizada na região Sudeste. Animados pelo exemplo destes, mais 13 quiseram dedicar suas férias de janeiro para impedir que o PNDH-3 seja implantado no Brasil. O material utilizado foi o mesmo da caravana anterior: pranchetas, canetas e os cartões amarelos - um formato moderno de abaixo-assinado, mediante o qual as pessoas aderem ao protesto enviando mensagens ao Congresso Nacional. Com as assinaturas coletadas, estamos chegando à impressionante cifra de 2 milhões de cartões amarelos já enviados aos deputados e senadores, pedindo que se recusem a aprovar o PNDH-3.

luntários que portavam ao peito uma faixa da mesma cor e bradavam com seus megafones os slogans em defesa da família e da vida humana inocente. Objetivo imedi ato: coletar assinaturas contra o malfadado PNDH-3. Por que malfadado? Para quem ainda não abe, o PNDH-3 visa implantar no Brasil uma érie de medidas contrárias à Lei de Deus e à Lei natural , especialmente talhadas para a demolição da família. Entre elas: aborto, "casamento" homossexual , legalização da prostituição, de moralização da polícia e das

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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira desfruta de boa nomeada no Nordeste. Várias pessoas dizi am conhecer-nos através da internet. Um exemplo, entre muitos: em Fortaleza (CE), certa moça caminhava pelo calçadão onde coletávamos assinaturas, e rumou em direção a um dos caravanistas; quando este começou a explicar-lhe o abaixo-assinado, ela o interrompeu e disse: "Eujá assinei pela internet! Eu estava passando, vi o emblema do l PCO e vim aqui para ver de perto a campanha. Recebo sempre os emails de vocês!". Como não poderia deixar de ser, houve também pessoas que nos conheciam, mas nos odiavam. Um rapaz que se dizia homosse-

Os caravanistas ficaram desde o início estimulados com a gra nd e receptividade. O povo nordestino é acolhedor, alegre, vivaz, inteligente e loquaz. Quando quer sabe r algo, não hesita em perguntar. Quando tem alguma dúvida, logo tenta resolvê-la. Quando concorda, de imediato participa do abai-

xo-ass inado, e muitas vezes deseja gravar um depoimen to. O leitor pode ver diversos vídeos e e ntrev istas co m a população nordestina no site do Instituto. Outra alentadora constatação fo i confirmar que o

Grupo homossexual em Salvador tencionou atrapalhar a campanha

car nossa atuação, provocando ou criando alguma confu são que os beneficiasse perante o público, gerando depois aplausos em certa mídia já convocada para isso. Postaram-se diante dos caravanistas e começaram a bradar sua palavra de ordem: "É legal ser homossexual". O g rosseiro erro de cálcu lo desses ativistas é que não estavam di ante de jovens baderneiros, e sim diante de uma juventude católica ag uerrida e esclarecida, pronta a defender deste midamente a Lei de Deus. Quando esse grupo ini ciou o que pretendia transformar em arru aça, os joven s retrucaram três vezes com es te loga n: "Mandamento de Deus é claro: Aborto é um pecado; casamento é sagrado, entre um homem e uma mulher!". Logo depoi s entoaram o hino "Queremos Deus, homens ingratos, ao Pai Supremo, ao Redentor. Zombam da f é os insensatos, erguem-se em vão contra o Senhor!". Ao denominado Grupo Gay da Bahia só restou a opção de ir embora, murcho e derrotado ... Fracassaram, pois o público percebeu de que lado estava a razão! Convido o leitor a ver o vídeo do ocorrido , no link: www.ipco.org. br/home/ videos/13

* xual, por exemplo, gritou: "Se Plinio Corrêa de Oliveira não estivesse morto, eu mandaria matá-lo!". Curiosamente, em muitas ocasiões os transeuntes paravam para ouvir os debates, e eles próprios se encarregavam de continuar as discussões, defendendo-nos.

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Na sexta-feira, 28 de janeiro, nosso trabalho transcorreu normalmente na capital baiana, no período da manhã. À tarde nos deslocamos para a praça da Sé, e logo após o início da campanha um grupo se apresentou com um cartaz e uma bandeira co m as cores do arco-íris. O cartaz os identificava: Grupo Gay da Bahia. Lo go e ntend e mo s qu e esses ativi stas homossex uais queriam prej udi-

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Em todos os estados pelos quais passamos, a mesma constatação se confirmava sempre: a imen sa maioria dos brasileiros é contrária ao PNDH-3 e deseja lutar em prol da instituição da família, proteger a vida humana in ocente e manter o direi to de propriedade particular. Disso temos provas ao vivo e em cores. Se os políticos quiserem assim mesmo impor o PNDH-3, quais serão as reações da população? Não sabemos. Sabemos apenas que, com a graça de Nosa Senhora Aparec ida, Padroeira do Brasil , no so País será sempre a Terra de Santa Cruz enq uanto houver quem faça denodadamente sua parte. Estimulados pelo que vi mos no Nordeste e em ou tros e Lado. nessa ca mpanha contra o PNDH-3, faremos sempre a nossa parte, e j á n s estamos preparando para novas bata lhas. •

Destacamento em socorro das vítimas das enchentes

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u_ando a c~ravana_a~uava e,~ Recife no dia 20 de j aneiro, a direto n a do lnstLtuto Pltnw Correa de Oliveira comentou com seus participantes a gravidade das enchentes ocorridas na região serrana do estado do Ri o de Janeiro. O País inteiro comovera-se e enviava roupas e víveres aos flagelados. Foi decidido então que a caravana deveria também prestar ajuda às vítimas. Uma das komb is destacou-se e viajou 2.700 quilômetros para levar conforto espiritual sobretudo às fa míli as desalojadas da região de Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo e distritos. Assim for mou-se nova frente de campanha, em que milhares de objetos re li giosos - medalhas milagrosas, te rços e estampas da Santís ima Virgem - fora m distribuídos nos aloj ame nto s dos flagelados, seguidos se mpre de palavras de conforto e esperança. Foi im pressionante constatar como as fa míli as estavam necessitadas desse auxíli o, rece be ndo com gratidão a visita dos jo vens. Um vídeo dessa ação encontra-se di sponível em: www.ipco.org.br/home/videos/14

E-mail para o autor: catolicismo@1erra.com.br

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Na capital americana, a 38ª Marcha pela Vida ■ FRANCISCO JOSÉ SAIDL

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nquanto o movimento abortista parece perder gradativamente impulso, o movimento contrário ao aborto vai crescendo em número e entusiasmo. Indiferentes à temperatura invernal, que oscilava em torno de 0ºC, mais de 300 mil participantes desfilaram em Washington no último dia 24 de janeiro rumo à Suprema Corte, órgão responsável pela decisão judicial que descriminalizou a matança de nascituros em 1973. Desde essa data, anualmente se realiza a March for Life, em protesto contra a decisão e propugnando sua revogação. O movimento alastra-se pela nação norte-americana. Em São Francisco (Califórnia) a marcha contra o aborto vem ocorrendo há já sete anos consecutivos, e neste ano aglutinou cerca de 45 mil californianos. A marcha deste ano m Baton Rouge, que foi a primeira, já congregou 4 mil pessoas. A marcha de Washington teve o apoio das organizações Voglio Vivere, Droit de Naitre e SOS Leben, que enviaram delegações de seus respectivos países: Itália, França e Alemanha. O Brasil também esteve representado por uma delegação chefiada pelo Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança (vide quadro abaixo).

Nas três cidades, membros da TFP americana ostentam seus estandartes rubros com o leão rompante dourado . Foi marcante na capital norte-americana a presença de uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, da campanha A América Necessita de Fátima . Jovens da Academia São Luís de Montfort, juntamente com membros da TFP americana e participantes da Fanfarra dos Santos Anjos, tocavam hinos religiosos e patrióticos próximo ao Capitólio, contribuindo para manter elevado o entusiasmo geral. Nancy Keenan, ativista pró-aborto presidente da NARAL Pro-Choice America, impressionada com a presença de tantos jovens na marcha de 2010, declarou à revista "Newsweek": "Eles são tantos e tão jovens!" . E o número de jovens ativistas anti-aborto continua a crescer.

3. O ocialismo viola a natureza humana 4. O soci ali smo viola a propriedade privada 5. O socialismo se opõe ao matrimônio tradicional 6. O socialismo se opõe ao direito de os pais educarem eus filhos 7. O socialismo promove radical igualdade 8. O ocialismo promove o ateísmo 9. O ocialismo promove o relativismo 10. O socialismo despreza da Religião. Após explicar em cada um desses itens sua relação com o aborto, conclui o documento: "Com inabalável confiança e insistente determinação, prosseguimos nossa luta pacifica e legal contra o aborto. Temos que adicionar essas dez boas razões a outras de natureza moral, para protestar contra a matança de inocentes. Com. a convicção do acerto de nossa causa, recorrem.os à proteção de Nossa Senhora, que em Fátima previu o advento desses erros, mas tamb ém p re viu o triunfo de se u Imaculado Coração". • E-ma il para o autor: catolicismo@ terra.com.br

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Anualmente os membros da TFP distribuem aos participantes da marcha umfolder abordando pontos diversos dessa luta em que estão empenhados. Neste ano, com o título Dez razões a mais para se combater o aborto, enfatizava a necessidade de se combater o aborto devido às suas conexões com o socialismo. E destacava as seguintes razões adicionais: 1. O socialismo e o comunismo têm a mesma ideologia 2. O socialismo viola a liberdade individual

Por que Nossa Senhora chora ? - Este foi o tema da conferência proferida pelo Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança no dia 16 de janeiro, para um público de 900 devotos marianos na cidade de Saint Louis, que leva este nome em homenagem a um antepassado seu, o rei São Luís IX. O encontro, que contou com a presença do arcebispo local, Mons. Robert Carlson, intitulava-se "Confiar em Maria, Mãe de Cristo e da Igreja ". Dom Bertrand explicou que a civilização cristã foi comprada pelo preço infinitamente alto do Sangue do Divino Redentor. A decadência da Cristandade é o motivo pelo qual Nossa Senhora apareceu chorando em La Salette. Pelo mesmo motivo Ela verteu lágrimas milagrosamente em Nova Orleans, através de sua imagem peregrina (a imagem presidia aquele encontro). "É óbvio que não podemos ficar indiferentes diante de tão copiosas lagrimas vertidas", enfatizou. Na semana seguinte o príncipe viajou para a capital americana, onde participou da Marcha pela Vida. A reportagem de Catolicismo perguntou-lhe quantas vezes já havia participado dessa marcha, e ele não soube informar com precisão, mas são mais de dez anos consecutivos.

CATOLICISMO

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vem sendo constantemente velado sob palavra s ecumênicas e de uma f'a lsa tolerância. Nascido no Egito em famíl ia muçulmana, Magdi A li am convcrl u-se ao ca tolicismo, tendo sido bati zado por Bento XVI du rante a vigíli a pasca l de 2008. Jornali sta, ex -v ice diretor ci o prestigioso "Corri ere della Sera" de Mil ão, é atu almente prcs id ' nte do movimento políti co Eu alllo a Itália e deputado ao Parl amento Europeu desde junho de 2009. Nas páginas de s u j ornal, tem denun ciado a perseguição que sofrem mi lhares d · muçulmanos convertid os ao cri sti ani smo na Itália, mui las v ·zes ob riga dos a praticar sua reli gião secretamente.

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Alerta de um muçulmano convertido: a islamização da Europa

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us dois últimos li vros - " Obrigado, Jesus, po r minha con ve r.1·<o do isla111 is1110 ao catolic ism o" (2008) e "Europa c ristã li vre: Minha vida entre ve rdade e liberdade, fé e ra züo, volo rC's e regrns" (2009) - demon. tram co mo sua con versão ''. fi1i o resultado d e uma gradua l e p rr4i111da m edita ção interior ". Des ·nvo lveu na co nferência o tema A Europa e suas raízes, face aos tle.1·t{/io.1· contemporâneos , ressaltando que o conti nente v ' 111 aban donando suas raízes cristãs . Sua co nclu são é que atual111 •111 c o perigo islâmi co não se encontra fora ela Europa, mas a, ' dentro das fronteiras dessa terra sagrad a onde floresc ·u o ·ri sti ani smo. Duranl , mais de urna hora, esse observador arguto não temeu destruir os clichês cio " politicamente correto" e discorreu coraj osa m ' Ili ' sobre o tema. Ao traçar o perfi l do que seria um muçulmano id •a i, sua co nclusão foi: " Osam a Bin Laden f o i quern 111oi.1· oprt•11de11 e incorporou os valores do Islamismo " . Num erosas p ·rguntas , res pondidas ao fin al, demonstram qu e as p ssoas ·om ·çam a preoc upar-se co m o futuro de :eus países .

O públi co ass istente, que incluía membros da ma is alta nobreza européia, políti cos, diplomatas e acadêmicos, ouviu atentamente o brado de alerta de quem encontrou a verdade na ci vili zação cri stã, e agora arri sca sua vida para defend er esse fruto do sacrifício ele Nosso Senhor. Após a conferê ncia, um cock tai l aproximou ainda mais todos os presentes, que manifes taram un ânimes elogios à importante expos ição. • E- mai l para o aut or: clltolicismo @tcrra .com.br

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111 HEITOR ABDALLA Buc HAUL

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o dia 11 de janeiro, os salões da prestigiosa sede da FPEC (Federação Pró-Europa Cristã) em Bruxelas ficaram repletos de pessoas ansiosas por ouvir uma voz que nos últimos anos vem alertando a Europa sobre um perigo que sorrateiramente cresce e se impõe dentro de suas próprias fronteiras. Como um beduíno que chega sem pretensões, mas traz notícias de uma perigosa tempestade que se aproxima, Magdi Cristiano Aliam falou clara e abertamente sobre o islamismo e suas verdadeiras metas, escancarando aqui lo que

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CATOL ICISMO

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ercício de transcendência:

,, ~jestaõe ~ Deus1 ~ Sta em Lu1s XIV 11 PUNIO C ORRÊA DE Ü UVEIRA

uís XIV (1643-1715) foi um homem de suma majestade. Realizava em si a união muito feliz de dois dos melhores sangues que há no mundo: sua mãe Ana d' Áustria era Habsburgo, e seu pai Luís Xlll era Bourbon, unindo assim duas nações cujas qualidades se equilibram muito. O Rei-Sol se diferenciava até dos franceses, pois à elegância do francês acrescentava algo da solenidade compassada e majestosa do espanhol. O que Luís XIV tinha da irradiação própria do sol se explica por essa coexistência da elegância francesa com uma certa grandeza espanhola. Ele incutia um respeito tão extraordinário, que às vezes precisava tranqüilizar pessoas que se aproximavam dele. Não entrava nisso nada de arrogância, vaidade ou interesse, era uma respeitabilidade que irradiava de uma superioridade autêntica, no sentido pleno da palavra. Não se devia à posição que ele ocupava, pois quem não soubesse que ele era o rei, ainda assim perceberia que se tratava de um personagem superior. O corpo é de algum modo símbolo da alma, e as propriedades da alma se irradiam através do corpo: vendo-se o físico, percebe-se a alma; e percebendo a alma, nota-se uma realidade que paira acima da realidade física, quando uma pessoa possui certos atributos num grau muito alto. Assim, por um discernimento que vai além do olh ar dirigido à fisionomia, pode-se perceber simbolicamente um bem da alma, no caso concreto a majestade e a respeitabilidade de alma do rei . Através de aparências sensíveis, percebe-se algo que não é sensível. Vendo a alma majestosa de Luís XIV, percebe-se no fundo algo de mais alto, que é o próprio conceito abstrato de majestade. Esse conceito, não o teria claramente quem estudasse um tratado sobre majestade, mas poderia percebê-lo quem visse em Luís XIV a alma do rei. Trata-se de um fenômeno espiritual, pelo qual transparece num homem uma qualidade moral que não é oriunda de uma definição. Com isso tornamos palpável algo"que é abstrato, e que nos conduz a Deus. Não se pode dizer que Deus tem qualidades, pois Ele é as próprias qualidades que possui, não dizemos que é majestoso, mas que é a Majestade; não que é bom, mas a própria Bondade; não que é sábio, mas a própria Sabedoria. Se olho para um homem e vejo a majestade de sua alma, posso formar a idéia do que é a majestade em abstrato, como também a majestade em absoluto de Deus. Desse modo, posso ter uma idéia da visão beatífica, que é a visão de Deus face-a-face. Concluindo, podemos dizer que em Luís XIV percebemos algo da majestade de Deus, e assim compreenderemos melhor a Deus. É um exercício intelectual excelente, que Santo Tomás de Aquino chama de quarta via. •

Retrato do Rei Luis XIV pintado por Charles Le Brun, 1655. Museu de Versalhes

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 23 de março de 1973. Sem revisão do autor.



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UMARI

Pu N10 CoRRÊA DE OuvE1RA

O significado dador /

"E só pela compreensão do papel da dor e do mistério da Cruz que a humanidade pode salvar-se da crise tremenda em que está afundando"

S

enhor Jesus, estas cons iderações [sobre problemas do mundo moderno] me levam aos pés ele vossa Cruz. Homem da s dores, em vo ssa alm a e em vosso co rpo sofrestes tudo quanto é dado a um homem sofrer. Contemplo vosso cadáver descido do patíbulo, vossa hu manidade como que aniqui lada, e vosso sangue infinitamente precioso derramado ao longo da Paixão. Enquanto o mundo for mundo, represen tareis a dor no ho-

ri zonte de nossas almas. A dor, co m tu lo quanlo ela tem de nobre, de forte, de grave, ele doce e ele sublime. A cl r elevada do simpl es âmbito el as consideraçõe s filo sóficas para o firmamento infinito ela f é. A dor compreendida em sua signi ficação teológica, como expiação necessária, e como meio indi spensável ele santificação. Pelo mérito infinito ele vosso prec iosíssimo sangue, dai à nossa inteli gência a clareza necessária para compreender o papel da dor, e à nossa vontade a força necessári a para amá-la com tod as as veras. É só pela compreensão do papel da dor e cio mi sléri o ela Cruz que a humanidade pode salvar-se ela cri se tremenda cm que está afundando, e das penas etern a, que aguarelam os que até o último momento perm anecerem fechados ao vosso convite para trilharmos convosco a via dolorosa. Mari a Santíss ima, M ãe das Dores, multipli ca i sobr a Terra as alm s que amam a Cru z. É a graça de valor inca lcul ável que Vos pedimos, no crepú sculo de nossa civili zação, nesta Semana Santa. •

ABRIL de 201 1 Nº 724

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Ci\l{'l'A no D11mToR

5

D..:sTAOtm

A catástrofe no Japão e Nossa Senhora de Afdta

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l.,1-:1TtJ1u EsP1R1TtJAL

12

CommsrONDl~:NClA

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Considerações sobre o Pai-Nosso - lll

PAI .AVIM DO Si\CERDOTE REAl,ID/\DE CONCISAMENTE

Caos no Haiti: tel'l'emoto físico e moral

18

INT1mN1\C10NA1,

21

EN·1·m~v1sT/\

26

CAPA

36

Vmi\s DE Si\NTos

40

NA<:10NAt,

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Si\NTos i-: l"ESTAs oo Mf.:s

Ação pró Europa autêntica e cristã

Excertos de arti go publi cado cm Ca10/ici.1·1110, nº 76, abri l/ 1957

44 AçAo

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No sofrimento, purificação e verdadeira alegria Santo Hermenegildo

Agitações islâmicas e o agro nacional

CoN'l'RA-R1w01,t J<:10NAR1/\

Al\'m1ENT1•:s, Cos·mMr•:s, C1v11 .11,Açên:s

O gato: símbolo de pmdência e elegância

Nossa Capa: Crucifixo que se venera na sede do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, situado à Rua Maranhão 341, na capital paulista. Foto da recente catástrofe ocorrida no Japão e da face da imagem de Nossa Senhora de Akita vertendo lágrimas.

Santo Hermenegildo CATOLICISMO

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Caro leitor,

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Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

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CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES L TOA.

Respeitando uma praxe estabelecida de longa data, a matéri a de capa da presente edição é dedicada à Semana Santa, que transcorrerá de 17 a 24 do corrente. Para este ano, nosso colaborador Gregório Vivanco Lopes selecionou alguns textos de Plinio Corrêa de Oliveira sobre o verdadeiro significado da dor e do sofrimento na vida do homem, à luz do sublime exemplo oferecido pelo Divino Salvador em sua sagrada Paixão. O te ma é particularmente oportuno, numa época neopagã como a nossa, em que os padecimentos que sobre vê m a todo ser huma no neste " Vale de Lágrimas" costumam ser encarados como inex plicáveis tragédias, como um " non sense". Em conseqüência, os hedo ni stas e materia li stas conte mporâneos fogem do sofri mento, ou tentam disfarçá-lo com mil artimanhas, procurando e nganar a si mes mos e aos outros, para melhor aproveitar uma fictícia felicidade. Acontece que tal "felicidade" não passa de um disfarce da frustração e do vazio metafís ico que atormenta o ser contingente quando ele bu ca substituir-se a Deus, o Ser Absoluto. Ora, o sofrimento fa z parte da vida e deve ser aceito, como também a alegria. Ao longo da vida de cada um, há momentos nos quais Deus e ntra para proporcionar alegria, para nossa consolação. O pensador e líder católico põe em realce, com ling uagem clara e límpida, colada à realidade mai s palpável, a excelsa s uperioridade de espírito de Nosso Se nhor, no auge de seu sofrimento, pregado na Cruz. Tal superioridade transparece de modo inefável na fisionomia da divina majestade impressa no Santo Sudário, que ne nhum arti sta sacro, por maior que seja, conseguiu assim exprimir. Neste supremo holocausto, o Deus humanado nos concede ân imo e fortaleza para atravessarmos o vale lancinante da dor. Com sua bondade e doçura e m meio aos tormentos, Ele nos ampara e m nossas tribulações, desde que O imüemos na determinação com que cumpriu sua missão redentora, e ncerrada com as inefáve is palavras: "Consummatum est". Santo Inácio de Loyola soube expressar essa realidade com be leza inexcedível na oração Anima Christi! Nesta edição també m merece destaq ue o arti go sobre Nossa Senhora de Akita, imagem que verteu lágrimas na cidade japonesa do mesmo nome, e revelou mí sticamente a uma religiosa mensagem inteirame nte afim com a de Fátima. Esses prodígios sugerem séria reflexão, e m face dos terremotos e tsunamis desencadeados no mês passado naq ue le país asiático. Desejamos aos nossos prezados leitores uma real compunção e m face da ago nia de Jesus, e também o júbilo pe la Páscoa da Ressurreição. Em Jesus e M a ri a,

Paulo Corrêa de Bri10 Jlilho DIRlff()I(

Ondas do tsunami invadem as ruas da cidade de Miyako, em lwate, logo depois do terremoto de magnitude 8,9 que atingiu o nordeste do Japão

ri DIOGO W AKI

C atástrofes se multiplicam em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Entretanto, o recente terremoto do lJapão, seguido de tsunami, nos leva a perguntar se tais cataclismos não seriam sinais do Divino Criador de todas as coisas, com a intenção de alertar os homens que d'Ele se afastam dia a dia. Uma tentativa de interpretação dos fatos à luz das revelações de Nossa Senhora de Akita.

A

s catástrofes têm aumentado no mundo em quantidade e inte nsidade, a ponto de não se poder negar a ev idência de que algo está acontecendo de estranho. Ainda há poucos dias tivemos os des li zamentos na região serrana no Estado do Rio de Janeiro, sendo três cidades especia lmente flageladas pelas chuvas : Petrópolis, Teresópoli s e Nova Friburgo. Os montes como que derreteram , à semelhança ele blocos de ge lo ex postos ao sol. Quem não se le mbra dos terremotos no Chile e no Haiti? Parece que aconteceram há poucos di as. Só no ano passado, centenas de milhares de vidas foram ceifadas em conseq üência de catacl ismos, sendo o Haiti o país mais atingido, com 316.000 mortos (vide artigo às pp. 18-2 1). Ao longo ele 2004, o Centro Nacional norte-americano de Pesquisa Geológica (USGS) contab ili zou 228.802 mortes . Naquele ano, um dia após o Natal, terremoto ele 9, 1. graus abalou a ilha de Sumatra . Ondas gigantes provocadas pelo tremor na crosta terrestre causaram centenas de milhares de mortos no Siri Lanka, na Tailândia, Indonésia e Índi a.

A catástrnl'e que

se abateu sohrn a

nação japo11esa

Assistimos agora à tragéd ia ocorrida no Japão, fl agelado pelo maior sismo de sua hi stória. Até o momento em que escrevemos, j á foram registradas quase L0.000 mortes, com ou-

ABRIL 20111111


tro tanto de desaparec idos. Sem contar as ameaças terrifi ca ntes de ex pl osão de usin as atômi cas na reg ião mais atin gida pelo terremoto, seguido ci o tsunami. Na tentativa de interpretar os fatos, poderíamos di zer o seguinte: os ateus - para os qu ais Deus não ex iste e todo acontecimento é uma fa talidade, uma evolução constante da matéri a - dirão que se trata apenas de uma movimentação de pl acas tec tônicas, e que provavelmente tudo acabará bem. Por sua vez, os panteístas - para os quais Deus não é um ser tran scendente, mas imanente, ou seja, confunde-se com a matéri a e a própri a natureza - procuram ex plicar tudo como sendo a vingança da " M ãe T erra" (Gaia), agredida pelos homens devido ao aquec imento global, à destrui ção da camada de ozônio, à agressão ao eco-sistema, etc. Adotam essa posição (reli gião !?) certo número de eco logistas . E para nós católicos? O que pensar dessas freqüentes e crescentes catástrofes em todo o mundo? A recente tragédi a ocorrida no Japão não desperta em nós ao menos uma pergunta: não será mai s um avi so para a humanidade?

Nosso Senhor amou Jerusalém, a cidade perfeita, alegria do mundo Inteiro. Entretanto, pouco antes de Ele ser crucificado, passando perto de

suas muralhas, profetizou a sua destruição, que ocorreria como castigo pelo delcidlo.

Nosso Senhol' Jesus Cristo chol'o11 sobrn Jemsalém N osso Senhor amou Jeru salém, a cidade per fe ita, alegri a ci o mundo inteiro. Entretanto, pouco antes de Ele ser crucifi cado, passando perto de suas mu ra lhas, prof eti zou a sua destruição, que ocorreria co mo casti go pelo deicídi o. Qu arenta anos se passaram sem que aquela profec ia se cumpri sse. Até que, nos anos 70 da era cristã, a surdez ci o povo aos apelos e admoestações de Nosso Senhor foi punida pelo exército de Tito, general romano, depois imperador, que invadiu e destruiu Jeru sa lém, inclu sive o T empl o, não dei xando pedra sobre peclra . 1

0 1111111elo não ele11 OllVÍ<IOS i:IS aelvel'tências Fátima N ão estaremos presenciando fato análogo? Co m efeito, no ano de 19 17, N ossa Senhora acenou em Fátim a para um prêmio e um cas ti go. Di sse que a Primeira Guerra Mundi al acabari a, mas que no reinado ele Pi o XI sobreviria outra pior: foi a Segunda Grande Guerra . Afirm ou ainda que, se os homens não mudassem ele vida, a Rú ss ia espalhari a seus erros pelo mundo promovendo guerras e persegui ções, os bons seri am perseguidos e martiri zados, o Santo Padre teri a muito que sofrer, vári as nações seri am aniquiladas, mas que, por fim , seu Imaculado Coração triun fa ri a, sendo concedido ao mundo algum tempo de paz. 2 A condi ção para que esses cas ti gos não se abatessem sobre a humanidade seria a consagração da Rú ss ia ao Tmacul ado Coração ele M ari a, a rec itação ci o Terço e a Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados. Como os homens não deram ouvidos a essas advertências, o mundo veio deca indo mora l e espiritualmente, chegando hoj e a abi smos nunca antes imaginados.

Em Nova Ol'leans (EUA), novo aveio ela Mãe ele J)eus Em julho de 1972, uma das imagens peregrin as internacionais de Nossa Senhora de Fátima, esculpidas sob a ori entação da Irmã Lúcia, verteu lágrim as diversas vezes, na cidade de

-CATOLICISMO

N ova Orleans, nos Estados Unidos . Jorn ais cio mundo inteiro estamparam co m destaque o prod íg io. O Prof. Plíni o Corrêa de Oliveira escreveu então, na "Fo lha le . Paul o", um belíssim o e grave arti go intitul ado Lág ri111as, 111ilagroso aviso, no qual conclamava os leitores a atenderem à Mensagem de Fáti ma. Di zia que Nossa Senhora stava ·om o uma mãe que, não tendo mais o que di zer ao filh o, se limi tava a chorar: "O niis-

(Acima) Em julho de 1972, uma das imagens peregrinas internacionais de Nossa Senhora de Fátima, esculpidas sob a orientação da Irmã Lúcia, verteu lágrimas diversas vezes, na cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos.

terioso pranto nos rnostra a Vi rge111 de Fâti111a a chorar sobre o 11/.undo contemporâneo, co11w 011t mra Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém.. Lágrirnas d , qfeto ternf.1·.,·i11t0, lág rimas de dor pro.fimda, na previsão do ·astigo que virá ".3 A justi ça de Deus pede o casti go, mas, por des ígnios mi stcri o, os ci o própri o Deus, Nossa Senhora in tercede por nós, impl orando mi seri córdi a. A té qu ando Ela poderá suster obraço ele seu hlho?

l'Ol'(/lle O Ocielc11tc não <ICII 0,/IIÍ(IOS

à Mensagem tlc Fát,ima ... Tra nscorrid os cinqüenta anos das apari ções de Fáti ma, poucos . e record avam elas trágicas e ameaçadoras palavras de sua M ensagem. Entretanto, sempre bondosa, N ossa , nhora esco lheu um pequeno mas popul oso país de glori oso passado ca tó li co - o Japão - , para na minú scul a ciclacl ' d · /\kita (que cm 1642 teve sua terra regada pelo sa ngu ' d •. m(\rtircs

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católicos) renovar os ape los contidos na Mensagem de Fátima. Revelou então ali à Jrmã Agnes Katsuko Sasagawa, noviça do convento das Servas do Sagrado Coração de Jesus presente na Sagrada Eucaristia, algo que não fora ainda revelado ao mundo e que pode ser aprox imado da terceira parte do segredo de Fátima. Há nesse convento uma imagem da Santíssima Virgem, esculpida em madeira por um artista japonês, inspirada na de Nossa Senhora de Todas as Nações, de Amsterdã. Tal imagem passou a ser conhecida como Nossa Senhora de Alcita. Foi junto a ela que se darão fatos místicos que talvez expliquem os últimos acontecimentos suced idos no Japão e no mundo.

Alâta, guardiã <lc nova ad11crtência No dia 3 de junho de 1624, Masakage, filho do senhor feuda l da região de Akita, mandou queimar vivos nesta cidade 32 c ri stãos. Talvez o fato de ter sido regada pelo sangue de mártires exp lique a predileção de Nossa Senhora por Akita, onde mais ta rde a Mãe de Deus escolheria a Irmã Agnes para transmitir no Oriente um derradeiro apelo à conversão, porquanto no Ocidente a Mensagem de Fátima não tivera a aceitação devida. Aliás, a ligação de Akita com Fátima é notória. Houve uma primeira aparição do anjo à Irmã Agnes, em 1969, paralela à havida em 1917 aos três pastorinhos. O celeste em issário também rezou com ela o Terço e ensinou- lhe a ENOAI mesma oração que por ocasião da segunda parte do segredo Nossa Senhora ensinara aos videntes da Cova da Iria: "Quando rezais o r Terço, dizei depois de cada nústério: 'Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem' ".4 Contudo, diversamente de Fátima, Nossa Senhora não apareceu de forma fís ica em Akita. No período compreendido entre 1969 e 1982 5, além das aparições do anjo e dos fenômenos místicos da Irmã Agnes, sua presença se fez ali sentir através de uma imagem que lacrimejou IOl vezes, verteu sangue proveniente de um estigma da mão direita, e transpirou óleo de agradáve l perfume.

frmã Agncs Katsuko Sasagawa, .vítima expiatória Em l 969, deu-se a primeira aparição do anjo à Irmã Agnes. Em 1973, ela passou por uma dura provação: ficou inteiramente su rda. Neste mesmo ano, depois de uma visão na qual uma coorte celeste lhe aparece u em torno do tabernáculo adorando o Santíssimo Sacramento, ela recebeu na mão esquerda o estigma da Paixão de Nosso Sen ho r, provocando-lhe intensa dor e sofrimento. Nossa Senhora a estava preparando para receber sua mensagem. Nos meses que se seguiram, a Santíssima Virgem com uni cou-se por três vezes CATOLICISMO

com a Irmã Agnes que, apesar de sua surdez, ouvia a voz de Nossa Senhora estando diante da imagem.

Primeira mensagem da Mãe de Deus "Minha.filha, minha noviça, você foi muito dócil abandonando tudo para seguir-me. A surdez a incomoda? A chaga será curada, esteja certa. Seja paciente. Esta é a última prova. A chaga lhe causa muito sofrimento? Reze em reparação pelos pecados dos homens. Cada pessoa nesta comunidade é minha .filha insubstituível. Você sabe rezar a oração das Servas da Eucaristia? Então vamos rezarjuntas". 6

Segun<la me11sagem "Minha.filha, minha noviça, você ama o Senhor? Se você ama o Senhor, ouça o que

ração pelos pecados. Deixe ao esforço de cada uma, de acordo com a capacidade e a posição, de oferecer-se inteiramente ao Senhor. "Mesmo em um instituto secular, a oração é necessária. As almas que querem rezar estão na via de viver em. comunidade. Sem.fazer acepção de pessoa, tenha muita fé e seja ardorosa em rezar para consolar o superior". Depois de um si lê ncio, acrescentou: "É verdadeiro o que você sente em seu coração? Você está realmente dec idida a ser a pedra rejeitada? Minha noviça, você que deseja pertencer ao Senhor sem reservas, ser digna esposa do Esposo, faça seus votos sabendo que você deve ser pregada na cruz com três cravos. Estes três cravos são a pobreza, a castidade e a obediência. Dos três, a obediência é o fundamento. Num abandono total

Colunas de fuma~a levantam-se das rulnas do centro da cidade de Yamada, em lwate

eu tenho a lhe dizer. É muito importante. Você deverá dizer isso ao seu superior. "Muitos homens neste mundo afligem o Senha,: Eu desejo almas que O consolem para aplacar a ira do Pai Celestial. Eu e meu Filho desejamos almas que reparem por seus sofrimentos e sua pobreza, pelos pecadores e pelos ingratos. "Para que o mundo possa conhecer Sua cólera, o Pai Celeste está preparando um grande castigo para todos os homens. Com meu Filho, temos intervindo muitas vezes para apaziguar a ira do Pai. Eu tenho evitado a vinda de calamidades oferecendo-Lhe os sofrimentos de Nosso Senhor na Cruz, seu preciosíssimo Sangue, e almas amadas que O consolam e constituem uma coorte de almas vítimas expiatórias. "Orações, penitências e sacrifícios corajosos podem aplacar a cólera de Deus. Eu desejo isto também de sua comunidade ... que ela ame a pobreza, que ela se santifique e reze em reparação pelas ingratidões e ultrajes de tantos homens. Recite a oração das Servas da Eucaristia com fervor, meditando no seu sign(ficado; coloque-a em prática; ofereça-a em repa-

deixe-se moldar pelo superio,: Ele saberá como entendê-la e como dirigi-la". 7

1'crceirn mensagem Em [3-10-1973: "Minha querida filha, preste bern atenção ao que eu tenho a lhe dizer. Você deve informar ao seu superior". Após um tempo de si lêncio, afirmou: "Como eu lhe disse, se os homens não melhorarem e nc7o se arrependerem, o Pai infligirá uma terrível punição a toda a humanidade. Será um castigo pior do que o dilúvio, como ninguém viu antes. O fogo cairá do céu e destruirá uma grande parte da humanidade... tanto o born como o mau, não poupando nem os sacerdotes nem os fiéis. Os que sobreviverem se sentirão tão desolados que invejarão os mor/os. A única arma que lhes restará será o Rosário, o Sinal deixado pelo meu Filho. Reze o Rosário todos os dias. E reze-o pelas intenções do Papa, dos bispos e dos padres. "O trabalho do demônio infiltrará até mesmo na Igreja, de tal forma que veremos cardeais se opondo a cardeais, bis-

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As três men sagens ac ima estão con tidas na Carta Pastoral que o bi spo de Niigata e ordinário loca l, D. John Shojiro lto, escreveu em 22 de abril de 1984, integralmente transcrita no livro de autoria do Padre Teiji Yasuda, O.S. V. , capel ão e diretor espiritual do convento. Em casos como esse, que tratam de visões e reve lações particulares, é costume da Santa Sé deixar a cargo do ordinário local (no caso o bi spo de Niigata) declarar se as referidas revelações são dignas de c rédi to ou não. Segundo consta na contracapa da versão ing lesa do livro do Padre Teiji Yassuda - Akita - The Tears anel Message of Mary, por John Hafert - , o então Cardeal Ratzinge r, hoj e Papa Bento XVI, considerou "as mensagens da 9

Virgem como dignas de crédito ".

Considerações sobre o Pai-Nosso - III "Rei nosso, venha a nós o vosso Reique Santa Teresa recomenda para as terças-feiras*

S egunda petição -

no" -

Co11cl11são Alguém poderá perguntar: "Você está afirmando que o Japão está sendo castigado pela Providência?

Casas destruídas na cidade de Kesennuma, em Miyagi, nordeste do Japão

pos contra outros bispos. Os padres que ,ne veneram serão obj etos de escárnio por parte dos seus confrades, as igrejas e os altares serc7o saqueados, a Igreja estará cheia daqueles que aceitam compromissos e o demônio pressionará muitos padres e almas consagradas para deixarem o serviço do Senh.01'. "O demônio será especialmente irnplacável contra as almas consagradas ao Senh.01'. A lembrança da perda de tantas almas é a causa de minha tristeza. Se os pecados crescerem em núrnero e gravidade, não haverá m.ais perdão para eles. "Corri. coragem, fale ao seu superior. Ele saberá como encorqiar a cada uma de vocês e fa zer suas reparações". 8 - "Quern é o meu superior?" - pergunta a lrmâ Agnes a Nossa Senhora. - "Em ocasiões corno esta você deveria ter pergunta mais importante afazer" ... - disse, em tom de repreensâo, o anjo que assistia o diálogo de Maria Santíssima com a /rmâ Agnes. - "É que, além do bispo, eu tenho três superiores e por este ,nativo achei que era importante esclarecer isto". - "É o bispo !to, que dirige a comunidade" - respondeu Nossa Senhora. Depois sorriu e disse: "Você ainda tem alguma pergunta? Hoje será a última vez que lhe falarei a viva voz. Doravante você obedecerá àquele que eu lhe enviar e ao seu superior".

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Não digo nem sim, ne m não. E não possuindo o dom do di scernimento profético para interpretar os fatos, mantenho a indagação formulada no início deste artigo: A tragédia ocorrida no Japão não constitui mai s um avi so para a humanidade? É essa a questão que podemos e devemos levantar, para irmos analisando os acontecimentos que se forem desenrolando. Agiremos assim à imitação da M ãe de Deus, que à medida que se aproximavam e sucediam os episódios relativos à Paixão de seu Divino Filho, tudo conferia à luz das Sagradas Escrituras. Diante dos fatos catastróficos que ocorrem em qualquer parte do mundo, é lícito perguntar: Não serão os passos , de Deus na História? Não serão os prenúncios de realização das numerosas mensagens pelas quais, antes de puni r, Deus nos avisa mi sericordiosamente? • E-mai l para o autor: catoljcjsmo@terra.com.br

Notas: l . "A proxim.ando-se ainda mais, Jesus contemplou .lemsalém e chomu so-

bre ela, dizendo: Ó! Se também tu, ao me110.1· neste dia que te é dado, conhecesses o q11e te pode trazer a paz! ... Mas não, isso está oculto aos teus olhos. Virão sobre ti dias em que os te11s inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te aperta rão de todos os lados; destruir-te-cio a ti e a teus filhos que esti verem dentro de ti, e nc7o deixarão e111 ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo e111 que jóste visitada" (São Lucas, 19, 42-44). 2. Cfr. As aparições e a mensagem de Fátima l'Ot(/'orme os 111an11scrito.1· da Irmã Lúcia (Antonio Augusto Borcl Ii Machado, 46" ed ição, junho ele 1997, Artpress Indústri a Gráfica e Edi tora Llcla. , São Pau lo - SP, p. 47. 3. "Folha ele S. Paulo", 6-8- 1972 4. As aparições e a mensagem de Fátima co1t./'o r111e os manmcritos da Irmã Lúcia, pp. 48-49. 5. The Meaning ofAkita, by John M. Haffcrt, I OI Founclati on, Ch ronological Order ofthe Event.1· ofAkita. 6. Idem, p. 6. 7. Ibidem, pp. 6 e 7. 8. Idem, pp. 7 e 8. 9. Akita Th e Tears a11d Message of Mary, by Teiji Yasucla, O.S. Y . (english version by John M . Haffcrt , 1989), 101 Founclation, lnc Asbury , New Jersey, USA pp. 190- 199.

segunda petição pode ser entendida ele duas manei ras: suplicando ao Senhor que nos dê a posse do Re ino dos Céus, cuj a propriedade nos pertence como filhos seus; ou pedindo que Ele reine em nós, e que nós sej amos seu Re.ino. Ambos os sentidos são conformes à Sagrada Escritura, como dizem os teólogos, porque do primeiro disse o Senhor: -

" Vinde, benditos de meu Pai, e possuí o Reino que vos está preparado desde o princípio do mundo". E cio segundo afirmou São João que os santos dirão na glóri a: - "Remistes-nos, Senhor, com vosso sangue, e .fizestes-nos Reino para o vosso Pai e nosso Deus" . Nesses sentidos há um admirável primor: quando Deus fa la conosco, E le diz que é o nosso reino; e quando falamos com Ele, O bendizemos porque somos o seu reino. Não sei qual é a maior dignidade do homem: que sendo Deus quem é se apraza de nos ter por seu reino e satisfaça Sua Majestade com esta posse, ou o fato de Ele querer ser nosso reino e dar-se a nós em posse, ainda que por ora mais me sati sfaça o sermos reino d'Ele, pois daqui nasce o ser Ele o nosso Rei. E le disse a Santa Catarina ele Siena : - "Lembra-te de mim, que eu me lembrare i de ti". E a certa Madre recomendou: - "Cuida das minhas coisas, que eu cuidarei elas tuas". Empreguemos, pois, todo o nosso cuidado em nos tornarmos tais para que apraza a Deus reinar em nós, que Ele cuidará para que re inemos Ne le. E este é o re ino do qual o mesmo Senhor diz no Evangel ho: - "Buscai primeiro e antes de to-

das as coisas o Reino de Deus, e descuidai-vos do resto, pois vosso Pai cuidará disso". São Paulo disse que este reino é o gozo e a paz no Espírito Santo. Consideremos, pois, como devem ser aq ueles dos quais apraz a Deus ser Rei e de serem eles o seu Reino: adornados de virtudes, co med idos em suas palavras, mag nânimos, humildes, mansos no sembl ante, pacientes em seus trabalhos, limpos de alma, puros de pensamentos, amorosos entre si, com paz e tra nqüilidade em todos os movimentos, com ausência recíproca de inveja, e desejosos do bem de todos! [... ] Tudo quanto neste dia fizer ou ouvir, deve se referir a esta consideração de Deus nosso Rei, como na anterior se referia a Deus como Pai. Ca lha muito bem aq ui esta passagem na qual Pilatos, uma vez ac usado o nosso Redentor, O apresentou ao

povo coroado de espinhos, com uma cana na mão por cetro, e com um manto velho de púrpura, dizendo: - "Eis aqui o Rei dos Judeus". E nós, depois de tê-Lo adorado com suma reverênc ia (em lugar das blasfêmias e dos escárnios que Lhe fi zera m os soldados e judeus quando O viram naquela situação), praticarmos atos de humildade com desejos de que as honras e os louvores do mundo nos sirvam de coroa de espinhos. •

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Obras de Santa Teresa , tomo V, Conceitos do Amor de Deus - Relaçües espirituais - Exclamações - Poesias - Avisos. Editora Vozes, Petrópolis, I95 1, pp. 2 15 a 2 18.

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M atte i pela Editora Civilização, do Porto (Portuga l) . Essa edi ção será lançada no Brasil, no l º semestre de 2 012 , pe la Petru s Edito ra (Ru a Javaés, 707 - Bom Reti ro - CE P: 011 30-010 - São Paulo - Bras il 55 11 - Fone 333 1-4522. E nd e reç o e le tr ô ni co : http:// www.liv ra ri apetru s.com.br/

50 anos ele rnlativismos lB] Parabéns pe la ó tima edi ção de

Catolicismo , de março de 201 l , abor-

Uma história jamais escrita Acabei de ler com grande interesse e pro veito o excelente artigo "Congresso em Roma analisa cientificamente o Concílio Vaticano II ", publicado na edi ção de Março/2011 da Revi sta Catolicismo , da qual, com muito orgulho, sou assinante desde 1993. T ambém causou-me e norme satisfação a leitura da fasc in ante e escl arecedora entrevi sta com o Prof. Roberto de Mattei, veiculada na mes ma edi ção. Neste artigo e nesta entrevi sta, despertou-me parti cul armente a atenção o livro "Il Concilio Vaticano li Una storia mai scritta ", de auto ri a do insigne professor, que fo i editado em lín gua itali ana. Há pre vi são para a publi cação dessa obra e m língua portuguesa? Agradecendo sua generosa ate nção , a pro ve ito a o portunidade para cumprimentá-lo pela qualidade e excelênc ia dos arti gos ve iculados na Revi sta Catolicismo , verdadeiro baluarte de divul gação da autêntica doutrin a cató lica na Terra de Santa C ru z. (P.C.C. -

(A.C. -

SP)

SP)

Nota da redação: Está sendo preparada uma tradução em português da obra do Prof. de

CATOLIC ISMO

dando, como te ma de capa, o Concí1io V atica no II ini c iado e m 1962. Brilhante a entrevista com o historiador itali ano Roberto De Mattei, autor de uma obra que, corajosamente, qu es tio na as maze las de qu ase 50 anos de relativi smos e enfraquecimento dogmático da Igreja em todo o planeta. De Mattei revela no livro - e reafirm a na entrevi sta - que as principais mudanças ocorridas na Igreja, a partir do Vaticano II, fo ra m frutos da articulação de um pequeno grupo de ativistas "progressistas" sob a lidera nça do bras ileiro D. Helder Câmara - o mesmo prelado que, contraditoriamente, nos anos 1930 e 1940, havia mi litado no Partido Integralista, versão tropica l dos partidos nazistas e fasci stas e uro peus, e, aos gritos de "a na uê" , faz ia pub licam e nte o "saludo romano", a exemplo dos seguidores de Hitler e Mussolini. O grupo de Câmara, como demonstra De M attei, conseguiu "cooptar" a grande maiori a centri sta e fazer aprovar, com o voto desta " ma iori a sile nciosa" , mudanças que banalizaram a Santa Mi ssa. Transformaram , por exemplo, o a lta r num a es péc ie d e púlpito reformista e também proibiram, como nos cultos protestantes, citações em Latim, Grego ou Aramaico - Línguas mães do Cristiani smo.

Pingos nos is [8J Gostei muito do estudo sobre o Concílio Vatica no JJ, pub licado no

exemp lar de número 723. Acho mui to bom que atu almente estej am aparecendo fi guras importa ntes, tanto cléri gos como le igos, coloca ndo os pingos nos is do Vatica no li , causa de tantas ru ínas espirituais, pessoais e de congregações inteira , e que acabo u ocas io nand o o s urg ime nto da 'T eologia da Libertação", com Frei Boff, etc. Há prec isamente dez anos, a pro pós ito dos 40 anos do Conc íli o, fi z um trabalho sobre aquela funesta reuni ão convocada por João XXII] , e, numa de minhas pesqui sas, encontrei um documento preci oso que copiei de um site, que só publicou umas partes. Mas depoi s encontrei a íntegra do mesmo documento (publi cado origin a lmente na "Fo lha de São Paulo" de 14 de fe vere iro de 1990) nesta revista de vocês do mês de março de l 990 (Catolicismo núm ero 47 L). É um extenso arti go co m o título "Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio ". Tão interessante que anexei como um adendo de meu trabalho. Tra nscrevo um breve trecho desse arti go de autori a de Plíni o Corrêa de Oliveira para possível republicação. No capítulo "A era da Ostpolitik vaticana " (na página 13 da re vi sta, que trata da po lítica de aproximação da Igreja Cató li ca em relação ao mundo comuni sta de então), encontra-se este comentário do autor: "N ão te mos dúvida em afirm ar que as vantagens obtidas pela causa comun ista com a Ostpolitik vaticana não fora m ape nas gra ndes, mas litera lmente in calc uláve is. É exe mpl o di sso o ocorrido no Concílio Vaticano Il (1 962- l 965). " De fato , fo i na a tm osfe ra d a incipiente Ostpolilik vati cana que fora m co nvid ados re prese ntantes da Igreja greco-c ismáti ca (" Ortodoxa") russa para acompanharem, na quali dade de observadores ofi ciais, a sessões daque le Concílio. Vantagens da Sa nta Igrej a ni sto? Segundo até o mo m e nto se sa be , mag é rri ma s, esque léticas. De vantagens? Mencione-se uma só .

"Sob a presidência de João XXIII e de poi s de Paul o VI, reuniu-se o Concíli o Ecumênico ma is numeroso da Hi stóri a da Igrej a. Ne le estava assente que iriam ser tratados todos os mais importantes assuntos da atuali dade, referentes à causa católica. Entre esses assuntos não pode ri a deixar de fi gurar - abso lutamente não poderia ! - a atitude da Igreja face ao seu maior adversário naqueles dias. Adversário tão poderoso, tão brutal, tão ardiloso como outro ig ual a Igreja não encontrara na sua História então já quase bimi lenar. Tratar cios problem as contemporâneos da relig ião sem tratar do comuni smo, seri a algo de tão falh o quanto reunir hoj e em di a um co ngresso mundi al de médicos para estudar as principai s doenças ela época, e om itir cio programa qu alquer referênc ia à AIDS .. . "Pois fo i o que a Ostpolitik valicana aceitou da parte do Kremlin. Esse declarou que se, nas sessões cio Concílio, se debatesse o problema comunista, os o bservadores ec lesiásti cos da igreja greco-cismática russa se retirariam definitivamente ela magna assembléia. Estrepitosa ruptura ele relações que fazia estremecer ele compaixão muitas almas sensíveis, pois tudo fazia te mer, a partis daí, um recrudescimento das bárbaras perseguições religiosas para além da cortina de ferro. E, em atenção a esta. possível ruptura, o Concíl io não tratou da AIDS comunista!" (A.G.J. -

SP)

O "11 de setembro" da Igreja " Uma análi se profund a" e " melhor seri a muito difícil": foram minhas palavras a um padre a quem recomendei a le itura das duas matéri as (arti go de José Antoni o Ureta e e ntrevi sta co m Roberto de M attei) sobre o Concíli o Vati cano II . Alguns di as depois, após uma mi ssa de domin go, e le (o padre me u ami go) veio almoça r em minha casa e, e ntre muitas coisas, di sse que, assim como o di a 11 de sete mbro fo i um marco para os Estados Unidos - o terrível

e inesquecível di a cios ataqu es terroristas do Islão às Torres Gêmeas - , o" l 1 de setembro ela Igreja" foi , sem sombra de dúvida , a assembléia co nc iliar iniciada em 1962. Um " 11 ele setembro" que marca o iníci o cio desmoronamento da trad ição cató li ca. Ele di sse ainda que esperava que, de po is ele tantos desastres produ zidos pe lo Concílio, tinh a chegado a hora de levantar um dique nesse desmo ron a me nto, po is, do co ntrário, " ass istiremos um apouca me nto da Ig rej a de Cri sto e um c resc imento estrondoso das igrejas fa lsas, da li nha dita evangélica". (N.P.E.P. -

PA)

"Buscas a. dor, e encontras prazer; 6uscas o prazer e encontras a. áor" (sci111,tci c.citcirL111,ci ele sLe111,ci)

''Quem foge áa. dor, a. áor corre atrás c!efe. Quem enfrenta. a. dor,

efe é quem põe a. áor

"Para não perder a lê" - Se " pe los frutos podemos conhecer a árvore", tranqüi lamente podemos di zer que a "árvore co nc il iar" não presta, pois seus frutos são ruin s, quando não podres . E xe mplo ele um desses "frutos": uma notíc ia recenteme nte divul gad a pe la ZENIT sobre as mi ssas-show-baterna qu e são reali zadas e m nossas ig rej as . Aqueles que não a leram, recomendo não deixar de fazê-l o. Ela encontra-se no site dessa agê nc ia de notíci as re li giosas , na pág ina do d ia 8 de março. Ta l notíc ia Como irà Missa e n.ão perder afé (com o mes mo títul o do livro do teólogo Nico la Bu x - consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e do Ofíc io de Ce lebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice ) mos tra cl ara me nte que " um e nfraquecimento da fé e a diminuição do número de fi é is poderiam ser atribuídos aos abusos litú rg icos e às Mi ssas ruins, quer di zer, às que traem seu sentido o ri ginal e onde, no centro, j á não está Deus, mas o home m, com a bagagem de suas perguntas ex istenci ais. Os documentos ofici ais do Concíli o Vati cano U foram traídos prec isamente por essas pessoas, bi spos e sacerdotes à frente, que alteraram a liturgia co m deformações ao limi te do suportáve l". (C.N.H. -

FRASES SELECIONADAS

em fu9a." (T-'lL111,Lo C.onfo ele olLveLrci)

"É só através das

Cápimas que os oífws vêem 6em a. Deus"

"Tu que descanso

6uscas com cuúfaáo, neste mar de viáa tem-

pestuoso, não esperes encontrar nmfi.um repouso senão em Cristo Jesus crucifiauío" (Lu[s, ele c.ci Vv1.ões)

ES)

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Monsenhor JOSÉ LU IZ VILLAC

Pergunta - 1. Gostaria de conhecer a posição da Igreja Católica a respeito do homossexualismo, onde posso encontrar respaldo nas Escrituras e no Código de Direito Canônico, para um possível debate; 2. Que atitudes a Igreja manda tomar quando me vir de frente com tal situação, especialmente na família: posso recebê-los em minha casa normalmente? 3. Que atitude, pensamento e palavra devo ter, ao me deparar com tal situação?

Resposta - O tema é dos mais atuais, pois a senadora Suplicy desengavetou o projeto contra a homofobia, que em 2006 fora apresentado na Câmara pela deputada petista Iara Bernardi e agora está no Senado. Ademais, os partidários da propagação do pecado nefando estão tomando uma posição cada vez mais agressiva. Assim , se os defensores da boa posição moral não se mantiverem alertas, podem ser pegos de surpresa por certas manobras sorrateiras para impor - "democraticamente"(?!) - ideologias contrárias ao pensamento geral da opinião pública, como já tem acontecido no Brasil e no mundo. O leitor faz bem, portanto, de se preparar para eventual tomada de posição nos círculos familiares e um possível debate em âmbitos mais extensos. Caso conhecidísslmo naiTado nas Escrituras Embora o caso de Sodoma e Gomorra, narrado no livro do Gênesis, seja muito conheCATOLICISMO

cido, convém recordá-lo aqui para quem não o tenha à mão. Deus apareceu a Abraão, junto com dois anjos (todos em forma humana), e lhe anunciou que, apesar da avançada idade, ele teria um filho. Abraão acolheu-os e fez com que Sara, sua mulher, lhes desse de bebe,.· e comer. E tendo sido servidos, levantaram-se todos e "voltaram os olhos para Sodoma; e Abraão ia com eles, acompanhando-os. E o Senhor disse [para Si mesmo]: Acaso poderei eu ocultar a Abraão o que estou para faze,; visto que ele há de vir a ser pai de uma nação numerosíssima e poderosíssima, e que todas as nações da Terra hão de ser benditas nele? [. .. ] Disse, pois, o Senhor: O clamor de Sodoma e Camorra aumentou, e o seu pecado agravou-se extraordinariamente" (Gen. 18,16-20). Os dois anjos prosseguem o caminho até Sodoma, e Abraão fica com o Senhor. Entendendo que Deu s iria castigar a cidade, onde residia seu sobrinho Lot, Abraão procura salvá-lo. A cena é comovedora. Diz Abraão ao Senhor: "Perderás tu o justo com o ímpio? Se houver cinqüenta justos na cidade, perecerão todos juntos? E não perdoarás aquele lugar por causa dos cinqüenta justos, se os houver? (. ..) E o Senhor diss e-lhe: Se eu ac har no meio da cidade cinqüenta justos, perdoarei por amor deles toda a cidade" (Gen. 18,23-26). Abraão percebe que jogou alto demais, e vai rebaixando o número de justos de 50 para 45, depois para 40, depois para 30, para 20 e chega até 10!. .. "E o Senhor disse: Não a destruirei por amor aos dez. O Senhor retirou-se, depois que cessou de

falar com Abraão e Abraão voltou para a sua tenda" (Gen. 18,32-33). Abraão compreendeu que sua intercessão fora infrutífera, não pel a falta de desejo do Senhor em atendê-lo, mas porque não hav ia sequer dez justos em Sodoma ... "À tarde, chega ram os dois anjos a Sodoma, quando Lot estava sentado às portas da cidade. E ele, tendo-os visto, levantou-se, e foi ao seu encontro, prostrou-se por terra e [. .. ] instou com eles para que fossem à sua casa; e depois que entraram, preparoulhes um banquete, e fez cozer uns pães ázimos, e eles comeram.. Mas antes que fossem

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deita,; os homens da cidade, desde os jovens até os velhos, e todo o povo junto com eles, cercaram a casa. E chamaram por Lot e disseram-lhe: Onde estão aqueles homens que entraram em tua casa ao cair da noite? Fa ze-os sair para que os conheçamos" (Gen. J 9,J-5). Linguagem cheia de pudor da Bíblia para indicar que qu eri am abu sar deles. Lot sa i, e tenta di alogar com os facínoras, alegando o direito de proteção aos hóspedes, ao qual estava obrigado. Chega ao extremo de oferecer suas filh as. É maltratado pela turba, que queria

mesmo os homens ... Tentam arrombar a porta, quando os anjos puxam Lot para dentro, e fecham a porta. " E [os a njos] feriram de cegueira os que estavam f ora, desde o menor até o m.aior, de sorte que não podiam encontrar a porta" (Gen. 19, 11). Lote os se us estavam, de mom ento , salvos.

Não obstai1te, Lot movese com clisplicência ... Segue-se um a batalha inesperada: a dos anjos para retirar Lot e os seus da cidade maldita ... "E disseram a Lot: Tens aqui alguns dos teus? Genro ou .filho, ou filhas, fa ze sair desta cidade

todos os que te pertencem, porque nós vamos destruir este luga ,; visto que o clamor [dos seus crimes] aumentou diante do Senha,; o qual nos enviou para que os exterminemos" (Gen . 19, 12-13). Lot sai para buscar os genros que estavam para se casar com suas fi Ihas, mas estes tomaram o avi so como se Lot estivesse zombando deles. O próprio Lot movia- se com di splicência: "Ao amanhecer, instavam os anjos com Lot dizendo: Levanta-te, toma tua mulher e as duas .filhas que /ens; não suceda que também pereças na ruína da cidade. E com.o ele hesitasse, pegaram pela ,não a ele, a sua mulher e as suas .filhas, porque o Senhor queria salvá-lo. E o tiraram de casa, e o puseramfora da cidade; e aí lhe falaram, dizendo: Salva a tua vida; não olhes para trás, e ncio pares em parte alguma dos arredores deste país; mas salva-te no monle, para que não pereças com os outros" (Gen. 19, 15-17). Lot ainda contemporiza e pede para ir para uma pequena cidade próxi ma, onde diz que se senti ria mai s seguro. "E o Senhor disse-lhe: Eis que, ainda nisso, eu ouvi os teus rogos, para não destruir a cidade a.favor da qual me falast e. Apressate e salva-te lá, porque não poderei fa zer nada enquanto tu lá não tiveres entrado" (Gen. 19,2L-22). "E o sol levantou-se sobre a Terra , quando Lot entrou em Segar [a peque na cidade, el a qual falara]. Fez pois o Senhor chover sobre Sodoma e Camorra enxofi-e e fogo do céu, [vindo] do Senhor; e destruiu estas cidades, e todo o país em roda, todos os habitantes das cidades, e toda a verdura da terra.

E a mulher de lot, tendo olhado para trás, .ficou convertida numa estátua de sal" (Gen. 19,24-26). Soclom a e Gomorra são, pois, casos paradigmáticos da aversão ele Deu s ao pecado ele homossexualismo, que na lei mosaica era castigado com a morte (cfr. Lev. 18,22; 20, 13 ; Deut. 23 ,18-19). Entretanto, se algum sacerdote ler estes trec hos no pú lpito (hoje lamentavelmente abandonado) ele alguma igreja, poderá ser acusado de homofobia e ir para a cadeia, caso o projeto que mencionamos ele início seja aprovado ... Pecado (Jlle h1·ada aos Céus p01· vingança Tampouco o Novo Testamento é menos radic a l na condenação ela prática cio homossex ualismo. São Paulo afirma claramente que os soclomitas não entrarão no Reino cios Céus: "Porventura não sabeis que os injustos não possuirão o Reino de Deus? Não vos enga neis: nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sotlomitas , nem os ladrões, nem os avarentos, nem os que se dão à embriaguez, nem os maldizentes, nem os roubadores possuirão o Reino de Deus" (1 Cor. 6,9-10). Ver também I Tim. 1,8-JI. Por isso o Primeiro Catecism o da Doutrina Cristã enumera, entre os pecados que bradam ao Céu e pedem por vingança ele Deus , o "pecado sensual contra a natureza" (Editora Vozes, Petrópoli s, 1951 , p. 25). É ass im que é design ado, na Moral católica, o pecado de homossex uali smo . O tema é extenso e não

cabe nos limites desta coluna. Sem dúvida, a constituição física ele determinadas pessoas as pode inclinar afetivamente para outras cio mesmo sexo. Elas não são culpadas por isso, mas incumbe-lhes a mesma obrigação ele castidade. E com a ajuda ela graça ele Deus, obtida pela oração, freqü ência aos sacramentos e fu ga elas ocasiões, elas podem coibir os movi mentos desordenados ele sua predi sposição física e manterem-se castas. É claro que as pessoas ela família , sobretudo os pais, elevem ajudá-las e tratá-las com caridade - o que não significa tolerar qualquer infração do 6º Mandamento ela Lei ele Deus, o qual obriga à castidade. Se, em outra hipótese, essa tendência antinatural decorrer de uma educação mal orientada ou de um ambiente viciado, elas devem ser corrigidas também com os desve los ela caridade cristã, mas sem fraquezas nem condescendência alguma relativa às práticas contrárias à natureza. Contudo, para os que se entregam a esses atos - e são muitíssimos-, vale o julgamento terrível cio Catecismo, há pouco lembrado: eles bradam ao Céu e atraem a cólera de Deus. O exemplo ela destruição de Sodoma e Gomorra está aí para ser sempre lembrado ... Espero que os lineamentos gerais ela questão, aqui apresentados ele forma muito sumária, ajudem o missivista a encontrar por si a solução elas situações concretas com que venha a se defrontar. • E-mail para o autor:

catolicismo@terra.com.br ABRIL2011 -


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A REALIDADE CONCISAMENTE nopole armes pou

Desclassificado mais um relatório sobre 11aquecimento"

cri mineis?

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American Association fo r the Advancement of Science

China vermelha restaura porta-aviões nuclear

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Ch! ~ª prati_ca~nente completou a restauração do portaav, oes sov1 ét1 co Varyag, da classe Kuznetsov, comprado em 1998 (foto). Ele servirá para treinamento de seus novos aviões de combate e de know-how para a futu ra constru ção de porta-avi ões nucl eares próprios. Segundo Andrei Chang, chefe do Kanwa Informalion Centre, que monitora o desenvolvimento militar de Pequim, o navio fo i completamente renovado, e sua pista adaptada para receber os mais modernos j atos . O Exército do Povo - que era a menina dos olhos de Mao Tse-tung - é alimentado por um gigantesco orçamento, engrossado com o dinheiro despej ado pelo Ocidente na China através do comercio intern acional. •

Descoberto edifício da igreia de Laodicéia

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o i loca li zad a a anti ga igrej a ca tó li ca da c id ade de Laodi céia (foto), uma das sete I grej as do Apocalipse o último livro do Novo Testamento, que descreve em linguagem alegóri ca as vári as épocas da Hi stóri a da I grej a católica. A opulenta e orgulhosa cidade desapareceu completamente. Tal acontecimento, jul gado talvez impensável pelos habitantes dos tempos apostólicos, ocorreu devido à sua impenitência e f oi previ sto no pro fético livro de São João. A Laodicéia Deus pediu penitênc i a: " Tem, pois,

zelo, e fà z penitência. Eis que estou à porta [do teu coração], e bato. Se alKU.ém ouvir a minha voz, · e me abrir a porta, entrarei nele, e cearei com ele e ele comigo ". Em La Salette, Lourdes e Fáti ma, Nossa Senhora também pediu peni tê nci a. Mui tas das pal av ras dirigidas a essa igrej a merecem séri a refl exão por parte dos homens de nossa época. •

CATOLICISMO

(AAAS) descl ass ificou o estudo da ONG EurekAlert , que previ a um aumento de 2,4º C na temperatura do planeta, provocando dramática escassez de alimentos. O relatóri o alarmi sta estava seriamente deformado e fo i difundido por numerosas agências intern acionais, inclusive a A FP, que se penitenciou pela divulgação. Um dos responsáveis é o cienti sta O svald o Canzi ani , membro da equipe do IPCC galardoada com o Prêmio N obel em 2007. O climatólogo Ray Weymann di sse à agência AFP que Liliana Hi sas, a redatora do trabalho impugnado, fora alertada " vári as vezes" a respeito dos erros antes da publicação, mas mesmo assim se negou a corri gi-los. O ecologismo catastrofi sta não prima mesmo pela objetividade. •

Na lnglaterra 1 expansão da magia e do satanismo

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e acordo com o censo ofi cial de 20 l 1, há na Inglaterra 3 1.000 mulh eres que são bru xas por profi ssão . O vaticani sta Giaccomo Ga leazzi estima que o número real sej a muito maior, em virtude do impul so às artes di abólicas, incentivadas por filmes e novelas tipo H arry Potter. Eli zabeth Dodd, ex-bruxa de Oxford convertida ao catolicismo, denunciou que as práticas da magia abrem as portas para o satani smo, por vezes ligado ao crime ritu al. A Catholic Truth Society de L ondres publicou livro alertando os pais de fa míli a para as ameaças contidas nessas práti cas. •

Rússia: passado sombrio, futuro rumo à extinção

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popul ação da Rú ss ia sofre alarm ante declínio, decorrente do predomíni o abso luto da "cul tura da morte" , exercida através da práti ca abortiva - largamente difundida na era soviética - e do control e da natalidade. Documento da agência de qualifi cação fin anceira S&P prevê que

"a população vai cair a JJ 6 m.ilhões em 2050, contra 140 milhões em 2010 ". A queda mais sensível será da população ativa: dos 72, 1% da popul ação tota l de hoj e, cairá para 60,4% em 2050. A Rússi a perdeu 24 1.000 habitantes só no ano de 201 O. O relatóri o prevê uma exp losão do número de aposentados e de anciãos sem fa mília que o Estado não poderá sustentar. É para horizontes desse gênero que conduz a "cul tura da morte", fa vorecedora do aborto e da deslruição da fa míli a tradicional. •

Cartaz promove o "NÃO" no referendo contra as armas

Suíça aprova guarda de armas de fogo em casa

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s suíços rej eitar am a proposta de proibir a posse de armas de fogo nas residências. No referendo, 57% votaram contra o desarmamento. A maiori a dos homens cumpre o serviço militar obrigatório como milicianos cantonais, guardando suas armas em casa, e muitas vezes as conservam mesmo após o fim desse servi ço. Segundo o Mini stéri o de Justi ça, cerca de dois milhões de arm as são mantidas nas residências. M ais da metade delas são prov eni entes do Exército e cerca de 240 mil não estão registradas. Entretan to, o povo suíço é um dos mais pacíficos do mundo. "Se desejas a paz, prepara-te para a guerra ", di z velho adágio, que os suíços compreenderam mui to bem, ti rando sensatas conseqüências . •

Denunciar aborto dá condenação e prisão na China

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hen Guangcheng, ativi sta chinês condenado em 2006 por denunciar milhares de abortos e esterili zações compul sóri as praticados pelas autorid ades de Shandong, é mantido em pri são domicili ar pelo reg ime co muni sta de Pequim mes mo após cumprir pena de quatro anos e três meses. "Nêio posso dar um passo fo ra de casa. Minha mulher também não pode sair", di sse Chen em vídeo gravado secretamente e divulgado pela entidade de defesa dos direitos humanos China Aid elos EUA. "Saí de uma pequena prisão para entrar em uma m.aior", afirmou, em alusão ao grande cárcere que é a C hina comunista. Seu telefone foi cortado, e o acesso à sua casa bloqueado por carros de policiais que se revezam em três turnos. A detenção é perfeitamente ilegal nos term os da Constitui ção, mas esta não passa de um fa rrapo de papel que a ditadura marxista pró-aborto manipul a como bem entende. •

'l'ribunal recua e restaura uso de cmcifixos Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, da União Européia, reformou a iníqua decisão que proibia ostentar crucifixos nas escolas da Itália. A proibição , absurda e anticristã, tinha sido aprovada pela unanimidade dos juízes de uma alçada inferior, mas suscitou grande clamor popular na Itália e nos ambientes católicos do mundo todo. O novo acórdão é definitivo e inapelável. Ele define que afixar crucifixos nas escolas públicas não infringe a Convenção Européia dos Direitos Humanos e que a Itália agiu bem mantendo os cru cifixos . A proibição foi inspirada pela ideologia anticristã da Revolução Francesa , a mesma que fund a ment a o PNDH-3 brasileiro. A reação dos católicos impressionou o Tribunal , que vol tou atrás numa decisão histórica.

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Fiéis pedem moralidade em trajes nas igrejas

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pós sucessivos apelos dos fiéis , os sacerdotes da catedral de Santa Lúcia, em Colombo, capital do Ceilão (Siri Lanka), estão instruindo as mulheres a usarem véus e mantilhas nas Missas. A tendência agora é os fiéis se vestirem adequadamente para as cerimônias religiosas. Muitos católicos protestam contra o uso de camisetas, shorts, minissaias e roupas moralmente censuráveis dentro das igrejas, porque tais trajes são menos religiosos e moralizados do que as roupas de pagãos hinduístas, budistas e muçulmanos. Há crescente desejo do uso de véus e mantilhas. Numerosos modelos tradicionais estão sendo colocados à venda pela Internet.

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INTERNACIONAL

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m 1: "modelo" de desagregação de um país

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o devastador terremoto do Haiti , os mortos - que inicialmente somavam 220 mil - sub iram para "mais de 3 ló.000 pessoas, segundo o último balanço tom.ado público pelo prim.eiro-rn.inistro Jean- Max Bellerive. Os.feridos ascenderam a 350.000 e mais de 1,5 milhão de pessoas fi caram. sem telo". "No tempo que se emprega para mudar a luz de um semáforo caíram 40% das casas, o parlamento, o palácio presidencial, sete ministé rios, a grande maioria das escolas, vários hospitais, a catedral, a penitenciária e a sede da ONU ". 2 "Ce rca de 60% dos escrilórios do governo, inclusive o palácio presidencial, vieram abaixo com o terremoto". 3 Contudo, a imensa maioria das víti mas morreu fora das insta lações oficiais, e "não se pode sendo alegrar pelo fato de que o desmoronamento dos ministérios e do palácio presidencial tenha causado menos de um.a dezena de mor1

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CATOLICISMO

tos. É necessário igualmente constatar que em um país que já estava em crise, o Estado não trabalha"." Obviamente o terremoto deixou mui tas ruínas, situação que pouco mudou um ano depois . Com efeito, lamentou a organização humanitária Oxfam, nesse lapso de tempo "só 5% dos escombros fo ram relirados, muitas ruas continuam Ruínas da catedral um ano depois do terremoto

inlerditadas em boa parte dos mais de 20 milhões de metros cúbicos de escombros. Em Por/o Príncipe, capilal do país, pode-se observar que uma rua já livre de escombros am.anhece repleta deles no dia seguinte, porque os moradores continuam. limpando com os próprios meios suas casas destruídas " .5 A maioria dos edifíc ios religiosos da

capita l - entre os quais 220 igrejas e capelas - veio abaixo. Além do arcebi spo, morreram soterrados numerosos sacerdotes e seminaristas . "O Núncio cornunica que Porto Príncipe está completamente devastado. A catedral, o arcebispado, todas as grandes igrejas e todos os senúnáriosforam reduzidos a escombro.1·".6

Nada organizado, exceto o crime Um ano depois, a catedra l continua cheia de escombros. Por que os católicos não se organizam e a limpam? Simplesmente porque no Haiti nada se organiza e, quando por fim se limpa o terreno, aparecem novos corpos: "cinco dias atrás, outros três corpos foram retirados das ruínas no cenlro de Porto Príncipe". 7 De fato, a única atividade organ izada é o crime. Nos dias que se seguiram ao terremoto, bandos de criminosos obrigavam as crianças a invadir casas prestes a cair, para roubar objetos valiosos. Mais de400 mil pessoas ainda vivem em acampamentos improvisados8, sendo que somente sete dos mais de mil acampamentos dispõem de proteção policial permanente. "As violações multiplicaram-se desde que o clec~f'a zimen.10 e o desconlrole

reinam no país. Bandos armados atacam à vontade, sabendo que há muilo poucas

possibilidades de serem levados diante da justiça", comenta o último relatório da Anistia Internacional. A organização denunciou que a maioria das vítimas é violada por bandos de homens armados e por jovens que vagueiam pelos superlotados acampamentos após o anoitecer. "As poucas mulheres que denunciaram violações afirmam que lhes foi dito que não se podia fa zer nada, ou que a polícia lhes pediu dinheiro, que elas nâo têm, para investigar os delitos " .9 A segurança é precariamente manti da pelos l2 mil soldados da ONU, tendo o Haiti sido co locado no l 77° lugar entre os l 79 países no índice de corrupção de 2008 da Transparen.cy lnternational. Segundo e la, não se trata de depredações de estrangeiros sem entranhas, mas de uma depravação dos habitantes loca is: "Para dizê-lo simplesrnenle, para o Haiti acabaram. as escusas para seus .fi·acassos no exato nwmento ern que a comunidade internacional fi cou sem. ter mais idéias de como ci;judar". 10 Realmente, a atuação do governo haitiano não poderia ser pior. "O surrealismo chegou ao extremo de o Congres-

so haitiano tarn.pouco ter aprovado a lei que deve marcar as novas regras de construção no país, o que impede de se poder construir qualquer coisa co,n cimento " 11 . "Promelido em abril último, o códig o da construção não foi publicado até agora. A ONG britânica Oxfam diz que foram construídos apenas 15% dos alojam.entos temporários necessários" . 12

Caos inclusive nas eleições A ausência de legislação traz também todo tipo de problemas sobre o que fazer com os órfãos, os quais continuam aumentando incrivelmente: "Outro.f'ator que contribui para aumentar o núrnero de 61:fâos é a quantidade de crianças que estão nascendo. De acordo com um relatório do Fundo de Populações da ONU, a /axa de nascimentos do país triplicou desde o terremoto. Muitas mâes se dâo alta nos hospi1ais horas ou minutos após o parto, indo embora sem as crianças, caso os médicos ou as enfermeiras não estejam no quarto". 13 Como se todos esses desastres fossem poucos, surgiram ainda outros. Uma e pi demia de có lera já causou 3.890 mortos e 194 mil infectados, um furacão ameaçou trazer mais mortes e, em vez de se concluir as eleições das novas autoridades, as mesmas estão paradas por corrupção política. "Dada uma abundância de problemas no Haiti - o prüneiro dos quais é a sua reconstruçâo - a úllima coisa de que necessitam. [os haitianos] é uma prolongada paralisia política. Mas é isso exatamen/e o que eslão sofrendo desde 28 de novembro, quando umas caólicas eleições ABRIL2011

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nacionais tiveram como ,:esultado verossímeis reportagens de .fi'audes da parte do governo e um resultado duvidoso sobre quem vai ser candidato a presidente". 14 Origem da crise na Revolução Francesa A esta altura, mais de um leitor estará se perguntando quem pode ter sido culpado por tantas desgraças que se seguiram ao terremoto. A resposta surpreenderá a mais de um : a grande responsável fo i uma sini stra "bru xa" , nascida em 1789, chamada Revolução Francesa. Com efeito, o Haiti, conhecido antigamente como São Domingos, era uma ri ca, organi zada e próspera colôni a francesa. Mas, durante a Revolução, os republicanos de Paris envi aram para lá dois representantes - Léger-Fél icité Sonthonax e Etienne Polverel - , os quais, em nome do governo revolucionário francês, tiraram a fel icidade da população e transfo rm aram a co lôni a num barril de pól vora. Assim, atiçaram a luta dos brancos entre si, dos mul atos contra os brancos, dos negros livres contra os escravos, permitindo que o poder acabasse ca indo nas mãos do "povo" . De um "povo" cuj as duas terças partes pelo menos eram compostas de negros nasc idos na África, muitos dos quais já eram escravos antes de serem envi ados à América. O resu ltado de semelhante disparate foi um massacre, pois os novos senhores do país não tinham a menor idéia de como se organi za uma sociedade civili zada, nem de que, para se viver nela, é por vezes necessário ceder muitos interesses pessoais em benefício do bem comum. Contrariamente ao Brasil , cujo marco inaugural fo i a Santa Mi ssa, o Haiti é o único país do mundo nascido de uma rebeli ão de escravos tendo como ponto de partid a uma cerimôni a vudu. Esta religião, de práticas satânicas, fo i importada da África e reconhecida pela Constituição de 1987 como reli gião nacional. Ainda hoje ela é praticada ao menos pela metade da população. 15 Curi osamente, muitos haitianos jogam a cu lpa pela epidemia de cólera nos fe iticeiros do vudu, 45 dos quais foram mortos 6, "com pe1

dras ou cortados a machado antes de serem queimados nas ruas" . 17 O que acontece a um país quando este

CATOLICISMO

é dominado durante décadas por pessoas sem nenhuma preparação para govern ar? Um rosário de mi sérias. "Quando o terre-

moto destruiu o Haiti, ele já era vítima de calamidades crônicas. Era então o país mais pobre do hemisfério ocidental, com 9,8 milhões de habitantes concentrados num território de 28.000 km quadrados. A metade dos haitianos vivia com menos de um dólar por dia, 200 mil pessoas eram contaminados pela Aids, quatro de cada cinco não tinham acesso a instalações sanitárias, 25% das crianças de 5 a 14 anos trabalhavam, e de cada duas, só uma ia à escola ". 18 Comenta o diário parisiense "Le M onde": "Inclusive antes do terremoto,

envios de dinheiro do exterior e ajuda internacional eram responsáveis por 30% de sua economia. O país é conhecido como a república das Organizações não-governamentais, uma vez que cerca de três mil.fúncionam lá". 19 O Haiti é "um país onde o saneamento não chega a 80% de seus habitantes e os córregos são lodaçais de excrementos, infecções e lixo. Onde 40% das famílias não têm acesso à água potável e as crianças têm. que caminhar diariamente de três a cinco quilômetros com garrafões na cabeça. Onde 97% da supe,fície estão de.~florestadas e as árvores que sobram têm seus dias contados como carvão vegetal, terreno preparado para a erosão, inundações e demais desastres 'naturais' ".20 O chefe da mi ssão da ONU no Haiti, o franco-guatemalteco Edmond Mulet, bom conhecedor do país, apresenta uma visão terrível da realidade haitiana:

"86% dos que receberam educação média, secundária ou mais, partiram porque o fu turo deles estava em outra parte. O que.ficou aqui é muito m.edíocre. E comentando a rápida deterioração sofrida pelo país nas últimas ci nco décadas, acrescenta: "Em 1958 vinham mais turistas do que à República Dominicana.

Vinham os cruzeiros. Aqui os Clinton passaram sua lua-de-mel. Tudo isso acabou, indubitavelmente destruído pela corrupção, pela elite e por grupos que só pensam no próprio interesse. 85% da educação estão em mãos privadas. Tudo é péssimo, salvo exceções como algumas ordens religiosas. Há no Haili 278 uni-

versidades. Eu decido .fimdar uma universidade, dou títulos e ninguém me diz nada ". Há alguns meses, "a França ofereceu ao Haiti 40 bolsas para advogados, a fim de formá-los como juízes e magistrados. Apresentaram-se 365 candidatos. Sabe quantos passaram nos exames? Nenhum. Alguns não sabem nem ler nem escreve,; mas têm o título de advogado ele alguma universidacle".2 1

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Federação Pro Europa Christiana Entrevista exclusiva concedida pelo Duque Paul de Olctenburg ao nosso colaborador Heitor Abdalla Buchaul

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Que futuro aguarda o Haiti? Ninguém o sabe, nem quer predizê-lo. M as, para pôr-se de pé, uma sociedade moralmente destrufda como esta necessita de apoio extern o. E não basta um apoio ocas ional, mas uma verdadeira ação em profundidade, uma ação civi li zadora como a que realizava a Igreja antes que a Revolução Francesa a impedisse de term inar seu trabalho. Uma ação que produza a conversão das almas e com isso a sua regeneração. Assim como as doutrinas revolucionárias de então ini ciaram as desgraças no solo haiti ano, as doutrinas revolucionárias de hoje as fazem prosseguir. Se ocorrer a alguém dizer que um país como o Haiti ganharia em voltar a ser co lôni a durante algum tempo, até cri ar as condi ções para ser independente e guiar seu próprio destino, será " lin chado" pe la mídia, j á que semelhante " blasf êmi a política" hoje não é permitida. • E-mail para o autor: ca1olic ismo @tcrra.com .br

Notas: 1. " EI Mundo" , Madri , 13- 1- 11. 2. "E I Mundo" , 12- 1- 11. 3. "EI País" , Madri , 12- 1- 1 1. 4. " Lc Monde", Pari s, 13- 12- 10. 5. "La Nac ión", Buenos Aires, 12- 1- 11. 6. " Agênci a Zcnit", 14- 1- 1O. 7 . "CNN", 12- 1- 11. 8. "EI Mundo", 13- 1- 1 L 9. "EI Mundo", 12- 1- 1 1. 10. "The Wall St reel Jou rn al", EUA , 11 - 1- 11. 11. "EI Mundo", 7- 1- 11. 12. " Le Monde", 13- 1- 11 . 13. " BB C", Londres , 8- 1- 11. 14. "The Washin gton Post", 12- 1- 11. 15. "Le Monde Magazine", 8- 1- 11. 16. "Le Monde, 23- 12-20 1O. 17. " BBC", 24- 12-20 10. 18. " EI T iempo", Bogotá , 11 - 1- 11. 19. "The Wall Street Journ al", 1 1- 1- 1 1. 20. "EI Mundo" 12- 1- 1 1. 2 1. "ABC", Madri , 24- 1- 11.

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Duque Paul de Oldenburg é membro da TFP alemã e responsável em Bruxelas pelo Bureau de representação da Federação Pro Europa Christiana. Formado em agronomia , descende de duas das mais ilustres casas dinásticas germânicas. Seus ancestrais paternos eram soberanos do Grão-Ducado de Oldenburg , no norte da Alemanha, e contraíram núpcias com herdeiras de vários tronos europeus. A família Oldenburg reina na Dinamarca (desde 1448) e na Noruega (desde 1905), tendo reinado na Rússia . (1796-1917), na Grécia (1863-1974) e na Suécia (1751-1818) . No Reino Unido, quando a Rainha Elizabeth li for sucedida no trono, este deverá passar da atual casa de Windsor para a casa de Oldenburg, na pessoa do Príncipe Charles ou de seus descendentes, uma vez que o Príncipe Philip, consorte da Rainha, é oriundo da dinastia grega, um ramo dos Oldenburg. Pelo lado materno, o Duque Paul é da família Hohenzollern, dinastia dos antigos Reis da Prússia que depois foram Imperadores da Alemanha até a queda do Kaiser Guilherme li, no fim da Primeira Guerra Mundial. O Duque Paul é casado com Dona Pilar Méndez de Vigo y Lõwenstein e pai de quatro filhos: os duques Kiril, Carlos e Paul Maria, e a pequena duquesa Maria Assunta.

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J)m111e Paul: "O Bureau em Br11xelas nos facilita o contato com os responsáveis e11ropeus em seus /11gares ele trnballlo, como também para convidá-los a assistil' eventos"

Catolicismo - Desde quando existe e qual é a função do Bureau de representação da Federação Pro Europa Christiana em Bruxelas? Duque Paul - O Bureau foi inaugurado no dia 8 de dezembro de 2009 e colocado sob o patrocínio da Imaculada Conceição, de cujo auxíli o nós muito precisamos. Nosso objetivo é defender as raízes cristãs da Europa, em particular aquilo que o Papa Bento XVI chamou de " valores não negociáveis", ou seja, o direito à vida desde a concepção até a morte natural, o caráter sagrado da famíli a fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher, e o direito dos pais de educar os filhos sem a interferênci a indevida do Estado. Apenas para ilustrar com um caso atual a necessidade desse trabalho, aqui na Europa está havendo muita reação ao fato de uma mãe alemã estar atualmente na prisão só por ter-se recusado que seus filhos assistam às aulas de educação sexual da escola pública - aulas de "corrupção moral", na realidade. Catolicismo - Mas por que foi escolhida Bruxelas como local para as atividades do Bureau? Duque Paul - A resposta a sua pergunta requer uma explicação preliminar. Uma semana antes da inauguração do Bureau, entrou em vigor o Tratado de Lisboa - versão camuflada do projeto de Constituição européia proposto por um Presidium e rejeitado em referendo pelos holandeses e franceses - , o qual, além de reduzir ainda mais a soberani a dos Estados membros, impôs a esses países a Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia. Esta carta representa para a Europa algo parecido ao Plano Nacional de Direitos Humanos-3 para o Brasil,

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ou sej a, ainda mais fac ilidades para o aborto, igualdade de dire itos para os ho mossex uais, negação da herança cri stã como uma das fo ntes de inspiração dos direitos, marginalização da religião cio debate público, etc. Devido a essa evolução, aquilo que era um debate interno de cada Estado passou a ser um debate europeu, porqu anto a maiori a das novidades legislativas dos membros da União Européia não é mais decidida pe los respectivos parl amentos nac ionais, mas tornou-se aplicação obrigatóri a, no direito intern o, das chamadas "direti vas" europé ias. Um estudo solic itado pelo Sr. Roman Herzog, antigo presidente da Alemanha e da Corte Constitucional Federal , demonstrou qu e a aplicação dessas "d ire tiv as" represe nto u mais de 80% da nova legislação alemã entre 1998 e 2004. E após essa data, as co isas não fi zeram senão piorar! Como essas "diretivas" são propostas pela Comi ssão Européia, di scuti das consultivamente pelo Parl amento Europeu e depo is aprovadas pe lo Conselho da União Européia, transferiu -se na verdade para Bruxelas o de bate das grandes questões sociais de Paris, Londres, Li sboa ou Varsóvi a. Foram esses os motivos pelos quais a Federação Pro Europa Christiana (FPEC) instal ou seu Bureau de representação em Bruxelas, no ass im chamado "Bairro Europeu", a doi s passos da Comissão Européia e não di stante do Parl amento Europeu e das demais instituições comunitári as. Isso nos fac ilita o contato com os responsáve is e urope us em seus luga res de trabalho, como também para convidá- los a ass istir eventos no próprio Bureau. Catolicismo - Então a principal função do Bureau é de fazer lobby? Duque Paul - Primeiramente, estar a par do que está send o tra mado nos bas tidores . Em seguid a, tentar influenciar no bom sentido a marcha das discussões. Outro aspecto de nossas ativiclades ·é fav orecer a fo rmação de redes de res istênc ia nas di stintas áreas: direito à vida, famíli a, valores religiosos, etc. Antes de nossa chegada, j á hav ia v,'í ri as associações tra balhando pela boa causa, mas cada qu al atu ando no seu pequeno escritóri o, no seu canto, sem coordenação entre si. Como nossa sede é es paçosa, estamos favorecendo reuni ões e e ncontros de líderes e militantes para desenhar estratégias comuns e criar ass im uma sinerg ia de esforços. Cada assoc iação

CATOLICISMO

Catolicismo - Isso certamente não deixa muito tempo para fazer outras coisas ... Duque Paul - Algum tempinho sobra, o que me pe rmitiu , por exempl o, lançar através da Internet uma campanha da FPEC contra o aborto e o casamento homossex ual no Luxemburgo. A campanha chama-se SOS Vitae j á teve inic iativas bem sucedidas .

conserva seu ângul o de ação específico, mas todas fi cam sabendo o que as outras estão reali za ndo . Assim , as info rmações c irculam me lhor e se to mam até algumas iniciativas comuns. Catolicismo - Trata-se de um trabalho de cúpula ... Duque Paul - Primordi almente, sim. Mas é preciso igualm ente qu e os militantes e o público em geral - no caso, o públi co de Bru xelas e de seus bairros peri féri cos - se sintam engaj ados nesse combate, essencial para defender aqueles va lores da c ivili zação cri stã qu e ainda restam. Po rqu e todo o mundo, inclusive os eurocratas apátridas, qu e são numerosos em muitas das institui ções europé ias, são sensíveis às opiniões que circul am nos ambientes onde residem.

Sede do Bureau da federação Pro

Europa Christiana, em Bruxelas

"Outl'O aspecto de nossas atividades é l"al'Ol'ece,· a l'ol'mação de re<les <le resistência nas <listintas ál'eas: <lireito à vi<la, família , ,,afores religiosos, etc. "

Catolicismo - E como a Federação consegue fazer chegar sua mensagem à base? Duque Paul - Promovendo confe rências abertas ao públi co . Já na inauguração ho uv e um a palestra do Prof. Robe rto de Matte i, vice- presidente cio Centro Nacional italiano de Pesquisas, sobre o peri go da admi ssão da Turqui a na Uni ão Europé ia (U E). Esse é um tema muito debati do, parti cul armente na Alemanha, onde a imigração turca é mac iça, mas também na Áustri a, qu e ainda se record a do cerco de Viena e do peri go otomano em suas fronteiras. Rea lizou-se depo is a confe rência do Sr. Stéphane Buffe taut, fun c io nári o europeu es pec iali zad o em qu estões climáticas, qu e alertou para a agenda intern ac ional totalitári a e malthusiana atu almente em curso, sob pretexto de ecologia e " aq uecimento global". Outra confe rê ncia qu e im press ionou muito fo i proferida por uma conhec ida deputada européia pela Es lováqui a, a S ra. Arrn a Zaborska, a res pe ito da ofensiva européia contra a fa míli a. Sob a alegação de resolver os conflitos familiares trans-fronte iras e harmonizar as legislações, e ainda de adaptar as legislações à "evolução da sociedade", a UE vi ola os própri os tratados, porqu e as qu estões de direito de famíli a são de competência exclusiva dos países, e não da UE. Ou sej a, na realidade a Uni ão Européia dá fo rça de lei às reivindicações dos lobbies fe mini stas e do lobby homossex ual. A pa lestra ma is recente versou em parte sobre a famíli a. E la fo i proferi da por Ignac io Arsuaga, fu n-

O Grão-Duque de Luxemburgo (na foto com a esposa) se negou a assinar a legalização da eutanásia que o Partido Democrata-Cristão quis implantar no país

dador e presidente de Házte Oír, a maior organi zação da sociedade civil espanhola, qu e no ano passado reuniu e m Maclri um milhão e me io de pessoas num protesto contra o aborto. Arsuaga di scorreu so bre o radicali smo anticri stão do " Projeto Zapatero" de transform ação da sociedade espanhola, qu e é uma espécie de laboratório do qu e será amanhã a E uropa. (Vicie matéri a nesta edi ção, à p. 50). Porém, a mais impressionante ex posição talvez tenha sido a cio deputado europeu Magcli Cristiano Allam. Ele mostrou que, apesar de haver muçulmanos moderados, o Islã como religião é sempre radical , e que se os líderes europeus não mudarem ele atitude, daqui a pouco a Eurábia - Europa islâmica - tornar-se-á realidade. (Vicie C<,tolicismo, março/2011 ). Catolicismo - Esse trabalho de mobilização das consciências está dando resultado? Duque Paul - Por certo, a julgar pela participação de público nas confe rências e nas reuni ões de coordenação. Prati camente todas as correntes conservadoras ativas nas instituições euro péias parti cipam de nossos eventos; tanto o cre me da sociedade mui to cosmopo liti zacla qu e vive atu almente em Bru xelas como a alta nobreza belga. Catolicismo - Qual é especificamente seu trabalho? Duque Paul - É não ter nenhum trabalho específi co ! Eu sou a "face" do Bureau e, como tal, o responsável por esta belecer e manter contatos com altos fun c ionári os, parl amentares, 1ícleres de assoc iações conservadoras e a elite belga. E, de outro lado, supervi sio nar a orga ni zação das ati vidades gerais cio Bureau .

"A FPEC fez uma camf}anha contra o aborto e o "casame11to " homossexual 110 Luxemburgo. A campai1ha chama-se SOS Vitae já teve iniciativas bem suce<lidas "

Catolicismo - Quais, por exemplo? Duque Paul - A primeira consistiu numa campanha de envio de e-mails aos deputados do Luxemburgo para que não aprovasse m um projeto do governo de Jean-C laude Juncker ag ravando ainda mais a lei do aborto. O governo qui s passar o projeto às ocultas, mas alertados por amigos luxemburgueses de mos o alarme e orga ni za mos uma peti ção pela Internet. Já nos primeiros di as da campanha o site elo Parl amento fi cou satu rado pela qu antidade imensa ele e-mails que chegavam às caixas postai s eletrôni cas cios deputados. O res pons,1ve l pelo sistema inform áti co até ameaçou nosso provedor com uma ação na justiça por entra ve ao trabalho parlamentar. O res ultado foi que o projeto, que ia ser di scutido com prioridade em julho passado, pouco an tes de os luxemburgueses partirem para as féri as de verão, entrou em "compasso de espera". Catolicismo - Realmente interessante. Há algum outro caso como esse? Duque Paul - S im . No fim do ano passado, organi za mos uma in te rpe lação ao prime iro- mini stro Juncker, líder do CSV , o Partido Democrata-Cri stão cio Lu xe mburgo, no poder des de a Primeira Gue rra Mundi al. Nessa interpe lação denunc iávamos qu e o program a atu a l cio partido era contrário ao seu no me "cri stão", uma vez qu e, e m fin s de 2008, havia imposto a lega li zação da eutanás ia qu e o G rão-Duque se nego u a ass inar, send o por isso despoj ado de parte de seus poderes. E ago ra, além ele qu ere r piorar a le i cio aborto, prete ndi a ainda reconhecer o chamado casa mento homossexual e estabe lecer a adoção simpl es de cri anças por "casa is" do mes mo sexo. Ac rescentávamos qu e essas medid as leg islativas abririam um conflito re li g ioso no G rão- Ducad o, porqu e os cidadãos (cató li cos na sua imensa maiori a) teriam ele esco lher e ntre obedecer à Lei de Deus ou obedecer à le i iníqu a dos homens. Então, um a de duas: ou o partido elimin ava o qu alifi cativo "cri stão" de seu nome, ou re form ava seu program a. Enviamos o texto da interpe lação para a metade dos lares de Lu xemburgo - cuja popul ação excede de pouco me io milhão ele habi tantes - e para a zona ru ra l, onde vive a parte mais conservadora da população, que vota tradic ionalmente no CS Y. A clivul-

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mente do Bureau, mas da própria Federação. O que ela é e quais são os seus objetivos? Duque Paul - A Federação foi fundada em 2002 e reúne oito associações européias que atuam em seis países da Europa ocidental, central e oriental. Essas associações visam defender os princípios cristãos na ordem social, inspirando sua ação no pensamento e nos métodos idealizados pelo grande líder católico brasileiro, Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. A Federação não intervé m na organização interna e nas atividades próprias das assoc iações-membros, conservando cada qual sua especificidade. Mas procura ajudá-las na promoção de objetivos comuns, notadamente e m nível europeu. Procura também contribuir para uma conscienti zação dos valores com uns à Europa, e em particular da hera nça cristã que fez sua grandeza e está na base de seu patrimônio espiritual.

gação teve tanta repercussão, que a principal e missora de rádio e televisão do Luxemburgo (a RTL, que por sinal é a maior rádio da Europa) entrevistou-me e deixou a notícia de nossa interpelação durante 48 horas entre as principais novidades de seu site. Jean-Claude Juncker não respondeu, mas também não prosseguiu com suas iniciativas. Catolicismo - Isso não caracteriza interferência estrangeira em assuntos internos de um pequeno país como o Luxemburgo? Duque Paul - Se fosse efetuado na América do Sul, sua objeção teria todo sentido. Mas não podemos esquecer que, por causa da União Européia e da libe rdade absoluta de circu lação de pessoas, bens e serviços que ela impôs, assim como da erosão das soberanias nacionais (a moeda única, por exemplo), essa objeção não tem mais validade na Europa. Além do mais, no caso específico do Luxemburgo, Juncker não pode se queixar pela seg uinte razão. Por ocasião do primeiro referendo irlandês sobre o Tratado de Lisboa, o Luxe mburgo ocupava a presidê ncia rotativa da Europa (que muda cada seis meses) na pessoa de Juncker. Este fez então vee mente apelo aos irlandeses para aprovarem o tratado, apesar de o mesmo coarctar em vários aspectos a soberania da Irlanda. Na ocasião, ele declarou: "Eu não sou irlandês, eu sou luxemburguês e, portanto, europeu. Logo, um pouco irlandês". Com maior razão posso dizê-lo de mim mesmo, porquanto corre e m minhas veias o sangue de muitas nações e uropéias, com cuj os antigos sobe ranos meus antepassados fizeram al ia nças matrimoniais ... Catolicismo - Se Vossa Alteza o permitir, gostaria agora que tratasse um pouco, não direta-

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O Duque Paul (ao fundo) e representantes de algumas das associações que fazem parte da Federação Pro Europa Christiana

"Minlla conversão, foi a maiol' graça que l'ecebi na vida, e sua pel'gunta ensejame <la,· testem11nllo dela, como agradecimento a Deus por tão imereci<lo lavor"

Catolicismo - Além do Bureau de representação em Bruxelas, a Federação exerce alguma outra atividade relevante? Duque Paul - Duas em particular, ambas situadas na França. Um centro de pesquisas e de partilha de know-how, especialmente nos campos das novas tecnologias da informação baseadas na Internet, localizado nas proximidades de Chartres. E também um centro de formação de jovens, situado na cidade de Creutzwald, na fronteira entre a França e a Alemanha, no qual são regularmente organi zadas jornadas de formação destinadas aos novos ou aos futu ros militantes das associações-membro da Federação. Catolicismo - Antes de concluir, e se não for muita indiscrição, gostaria de perguntar como se deu a conversão de Vossa Alteza ao catolicismo, tornando-se o primeiro membro masculino católico de sua família após a adesão de seus ancestrais à pseudo-Reforma de Lutero? Duque Paul - Não é indiscri ção, porque foi essa a maior graça que recebi em minha vida, e sua pergunta enseja-me dar testemunho dela, como agradecimento a Deus por tão ime recido favor. Com a ajuda de Nossa Senhora, minha conversão se deu em duas etapas sucessivas. Numa primeira fase, a graça abriu minha alma para os horizontes da Contra-Revolução, e só depoi s para a atmosfera da Igreja católica. Estudei agronomia na Universidade de Gõttingen, que é um gra nde centro acadêmico perto da fronteira com a anti ga Ale manha do Leste. Na Universidade, um jovem nobre prussiano amigo meu c riou uma assoc iação estudantil chamada Círculo de Gottingen, cuja finalidade era defender os direitos dos antigos proprie tários rurais espoliados ele

suas terras, e qu e não as tinha m reavido - ne m seque r recebido uma inde ni zação - após a re unifi cação do país. Esse líder estudantil o rgani zou um week-end de formação sobre estratégia ele ação ideológica com membros ela TFP ale mã. Uma das conferênc ias foi sobre a crise atual e o processo hi stó ri co desc rito em Revolução e Contra -Revolução, ele Plínio Corrêa ele Oliveira . Eu sempre admirara a Idade Média, os caste los, a cavalaria, as c ru zadas, as catedrai s, e fiquei entusiasmado com a ex pos ição, apesar de, e ntre o utras coisas, e la de mo nstrar que a pseudoReform a Protestante havia sido a primeira Revolução qu e aba lou as bases dessa o rde m medi eval que e u admirava. Al g uns cios participantes lutera nos fi camos e ntão com inte resse e m conh ecer melho r a do utrina cató li ca. Pouco depois, os membros ela TFP ale mã nos colocaram e m contato com Mons. Rudolf-Michael Schmitz, e fomos visitá-lo na residê ncia bávara do In stituto Cristo- Rei Sumo Sacerdote, do qu al à época ele era o supe rior na Alemanha. Em longas conversações, ele ex pôs muito c larame nte a di fe re nça e ntre a Weltanschauung (v isão do mundo) muito equilibrada ela Igrej a cató lica e a Weltanschauung pessimista da doutrina lutera na ela justificação. A certa altura Mons. Schmitz convidou-nos pa ra ass istir à Santa Mi ssa qu e ele ia celebra r no rito antigo, o tride ntino, vo ltado para o altar. Foi no silê nc io sacra! e na beleza dos gestos da celebração dessa Mi ssa qu e e u compreendi como num .flash qu e a Ig reja cató lica era a única Ig rej a verdadeira cio único De us verdadeiro. Após alguns meses de fo rmação, abjurei o protestanti s mo e fui rece bido na Igrej a Cató li ca, e m Roma, pelas mãos de Dom C ustódio Alvim Pe reira, Arcebi spo-emé rito de Loure nço Marques, hoje Maputo, capital do Moçambique. Catolicismo - E nessa ocasião Vossa Alteza entrou na TFP alemã? Duque Paul - Não, isso levou ainda alguns a nos. Pouco depois e u me casei, indo trabalhar num buraco perdido da Rú. sia para um a multinac io nal do agro negóc io. Como, depo is ele um te mpo, de i-me conta de qu e lá não havia co ndi ções ne m ele trabalhar direito ne m ele edu car me us prime iros filh os, decidi e ntão vo ltar para a Alemanha. Ali re tom ei contacto com os membros d a TFP ale mã, espec ialmente com o Sr. Atílio Faoro, um ítalo- brasil eiro que faz ia a po tolaclo contra-revo lu c io ná ri o e m Frankfurt. E le me convido u a participar na Áustria de uma Universidade de Verão da TFP, durante a qu al me impressio naram ele modo parti cu lar o trabalho rea lizado pelos jovens da TFP ame ri cana nas

O Duque Paul discursa em cerimônia do centenário do nascimento de Plínio Corrêa de Oliveira, em dezembro de 2008

"Após alguns

meses de ltJ1·11wção, abjurni o protestantismo e füi mcebido na fgreja Católica, em Roma, pelas mãos <lo Al'cebispo /Jom Custó<lio A/11im Pereil'a "

universidades de seu país e a personalidade do Príncipe Do m Bertrand de Orleans e Bragança. Na ocasião, fo i-me dado o livro Nobreza e elites tradicionais nas alocuções do Papa Pio XII, do Prof. Plinio Corrêa de O li veira, que comecei a le r logo após vo ltar para casa. A le itu ra das palavras do Papa e dos co me ntári os ele Dr. Plinio sobre o papel natu ra l de lidera nça ela nobreza nos destinos da sociedade, be m como a respe ito das gravíssimas obrigações que di sso decorrem para os nobres, colocaram-me contra a parede: ou e u dava outro rumo à minha vida - com o assentimen to de minha esposa - e colocava a serviço ela Contra-Revo lução tudo aquilo que a Providê nc ia me tinha concedido, o u me e nfurn ava na mediocridade de um a vidinh a corre ta, mas fru strante; ou, pio r, tentava imita r alg uns desses prínci pes jet-sel qu e dão escândalos. Durante essa abençoada le itu ra, compreendi que minha vocação era mes mo ser um contra- revolucio nári o nas hostes benditas de Plinio Corrêa ele Oliveira . Depois da conversão ao catolicismo, essa foi a seg unda maior graça ele minha vida: dedi cá- la à causa da civili zação cristã para que possa vir logo o Reino de Mari a, como previsto e m Fátima. É para o que te nta contribuir meu modesto trabalho no Bureau de Bruxelas da Federação Pro Europa Christiana. Catolicismo - Alguma mensagem final para os leitores de Catolicismo? Duque Paul - Pois não. Que tenham cada di a mais devoção a Nossa Senhora, porque Ela é mes mo o Refú gio dos Pecado res, a Consoladora do Aflitos e o Auxílio dos Cristãos! E também porque é Ela que m vai es magar a ca beça ela serpente - ou sej a, a Revolução - e restaurar a civi li zação católica, como prometeu e m Fátima. •

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E m numerosas palestras e conversas mantidas ao longo de sua fecunda existência, Plinio Corrêa de Oliveira abordou o tema da dor, essa companheira inseparável de todo ser humano. Especialmente amada pelos bons católicos, e1a os torna semelhantes a Nosso Senhor Jesus Cristo e pavimenta-lhes o caminho para o Céu. n

G REGóR10 V1vANco LoPEs

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onvém inicialmente esc larecer que o sofrimento de que nos ocuparemos não é de nenhum modo a fa mosa dor do amor desiludido tão exaltada em cânticos sentimentais como, por exemplo, o tango. Também não é a dor que sente o bandido preso numa cela, porque não pode se divertir com ami gos num bar; que fi ca com raiva porque não consegue sair, vai até as grades, sacode-as, deita-se no chão, blasfema, grita. A essa situação, eu recuso o nome de sofrimento. Importa ainda excluir outra espécie de padecimento, do qual nos ocupare mos apenas de passagem. Ele advém ao homem que é tentado a praticar o mal. Nestas circun stâncias, desencadeia-se nele um desejo desordenado, contra o qual sente que deve opor resistência, e meritoriamente resiste. A privação que o homem tentado sente em relação àquilo para o que está sendo atraído, provoca na parte mais alta da sua alma uma dor, que é a da recusa àquele desejo desordenado. Essa dor da rec usa ordenada é uma dor virtuosa, e deve ser suportada com retidão de alma.

A trngé<lia cio beduíno vista sob dois â11g11/os Qu al a dor que se caracteriza como a mais elevada? Para tornar a resposta a esta pergunta acessível, Plínio Corrêa de Oliveira exempli fica. Considere-se um beduíno no deserto que acaba de passar por uma tragédia: sua tribo fo i destroçada, toda sua fa mília morreu, sendo ele o único sobrevivente. Caminha pelo deserto carregando a dor do que lhe aconteceu, e pensa: Perdi meu pai, minha mãe, minha esposa e meus filhos; perdi aquele lugar onde havia uma tamareira magnífica que foi queimada; perdi aquela fonte de água onde se derramou o sangue de meus irmãos, e dela nunca mais poderei beber; desapareceram as noites em que, ao som do chocalho, dançávamos segundo uma música típica; fiquei inteiramente só, e agora caminho neste deserto levando uma vida estraçalhada, sem solução. Há dois modos de o beduíno se condu zir em rel ação a essa dor. O primeiro consiste em suportar o sofrime nto causado pelo fa to concreto daquela enorme perda e pela emoção sensível que ela traz consigo. O segundo modo, mai s e levado, é o do homem que, tendo conservado a retidão de sua natureza, conserva por assim dizer sua inocência primeira.* Ele então pensa: Com a perda do afeto paterno e materno, perdi não só o afeto em si mesmo considerado, mas perdi esse afeto vi sto enquanto a realização concreta de al go muito mais alto, que é o benefício, o aconchego pro vi -

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O apostolaclo exercício pelo grande soli'edol' Uma alma assim atrai outras almas, num sentido curioso: torna menos difícil para elas o desapego, ou sej a, o descolamento de uma fruição concreta. É uma coisa impressionante, mas o gemido daquele sofredor torna mais fácil às outras almas suportar a própria dor. O sofredor torna suportável o sofrimento que o outro não tem forças para suportar. Os grandes sofredores tran smitem um ânimo para o sofrimento, que o grande gozador não oferece. I sto põe na alma doçuras, perfumes, generos idades, paciências, e purifica os furores da alma ele tal maneira que até esses furores ficam límpidos como anjos e terríveis como raios.

Paixão de Nosso Senhol' meditacla sob esse prisma A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando meditada à luz dessas considerações, é um verdad eiro Céu . Do contrário o indivíduo não compreende bem o que se passou. Não entende, por exemplo, o Ecce Homo. Com sua dor infinitamente perfeita, e com aquela superioridade durante a Pai xão que se nota na fi sionomia do Santo Sudário, N osso Senhor qui s nos ensinar como sofrer e dar-nos ânimo para atravessar o vale tremendo da dor. Atravessar com o Redentor, pelos gemidos d'Ele, pelo pra nto d'Ele, pela doçura cl 'Ele, pela bondade d'Ele. Ele nos concede a força para isso. D aí a beleza sublime ci o Anim.a Christi.

clencial de alguém que me quer como tendo sido causa de mim mesmo. O que perdi fo i algo da proximidade de Deus comigo. A mesma consideração, ele a faz em relação à esposa, aos filhos e aos demai s parentes: Perdi [minha es posa] um outro eu mesmo, com quem eu com ia doces frutos à mesa - a metade de mim mes mo fo i-se, e desapareceu ele mim isto que é a co mplementação do homem; perdi os filhos , de quem eu era a causa, e que eu amava como uma proj eção natural ele minha personalidade; perdi meus irmãos, perdi minha tribo. Ele considera corno sua grande perda o valor universa l e metafís ico daquilo que ele perdeu, não apenas o fato concreto e a emoção sensível que o fato lhe dá. Começa então um sentimento muito mais alto que são as saudades. Saudades daqui lo que fo i seu, e que ele não mais terá, mas que ele ad mira em tese, depurado do concreto que passou. Sua memória começa a enriquecer-se na consideração daqui lo que tinha e não tem mais. E le faz uma certa destilação das co isas que pos. uía, e passa a ter uma co mpreensão da vida como ela se apresenta naquele seu aspecto abstrato . Sem revolta, aceita a dor ela parte sensível da alma, dos sentidos físi cos que padecem pela fa lta daquilo que se perdeu. Ele aceita isso porqu e se refugia nessa zona superi or ela realidade, e então pensa e sente-se mai s reali zado e mais ri co desses va lores do que quando os tinha em concreto. É uma depuração.

Na mecfüla em que tmlo cai, a alma se eleva Tudo o que é concreto pode ser visto como um meio para nos aprox imarm os ele um valor uni versa l mais alto. Os ani -

CATOLIC ISMO

mais vivem apenas para o concreto, mas a alma humana, por ser esp iritual, tende a elevar-se para valores mai altos, ele caráter universa l, à maneira ci os anjos . Assim se efetua uma med itação que chega até Deus. Quando alguém perde parentes ou então bens de qualquer espéc ie, sente primeiramente uma dor na parte sensível da alma, dos sentidos físicos ou extern os, porque j á não tem mais aq uilo que antes possuía. M as se ela se volta para a co nsideração daquilo que tai s coi sas significava m nessa zona superi or cio pensamento, então aceita bem essa dor, e sua alm a sente-se mais rea li zada e mais ri ca. É urna consideração que se desprende do materi al e sobe para o esp iritual. Ao longo cios anos, uma pessoa que vá cultivando esse modo de ver e anali sar todas as coisas poderia dizer : Estou me desgastando, estou ficando velho, estou ficando pobre, estou ficando rneno capaz; tudo cai, e na med ida em que cai, eu subo; com esta aceitação paciente, doce e fl ex ível do que houve, bendi go a Deus que assim me aproximou d'Ele; não recrimin o o outros que me lançaram nessa situação, porque desta maneira sigo meu itinerário e lavo a minha culpa na inocência das minhas lágri ma e do meu sangue. Isto é a reabilitação do homem.

Pietá , policromia do séc. XV. Convento cisterciense cm Himmclspforlcn, Bavicrn.

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Um vinh ateiro inventou um vinho mui to doce e agrad ável e lhe deu o nome de Lacrima Christi . É porqu e as lágrim as do que sofre ass im são doces, no sentido espiri tual da palavra.

On<le se unem o Consummatum cst e a Páscoa So frer sem re volta nenhum a não é o mesmo que a resignação do abúli co; é um a dor profund amente sentida até a medula da alm a. D entro ela louçani a dos Buissonnels de Santa Teres inha havia mil res ignações. A res ig nação consumada, inteiramente aceita, deixa atrás de si uma luz incomparável, estri tamente incomparável. É ao mes mo tempo a luz do consummatum est e a aleg ri a ele um a Páscoa. A dor fo i in te iramente aceita, o cá lice fo i bebido inteiramente, tudo fo i compl etamente reali zado, e agora acabou por toda a eternidade: Consummatum est . H á uma alegri a toda especial dentro disso, sem a qual a ord em não é ordem e o mundo não é mundo e, sobretudo, o homem não é homem.

A l'ortaleza <le alma da Mater J)olol'Osa A alma de N ossa Senhora deve ter sofrido uma aridez incomensurável a propósito ela Paixão de N osso Senhor. Tudo indica que Ela foi sofrendo passo a passo desde o começo, em consonância com a Paixão ele nosso Salvador, j á no Cenácul o, durante a Última Ceia. I sto só terá sido possível devido à sua fo rça ele alma. T ão fo rte era E la, que fo i possível fazer isto: ao ser retirado da Cru z, o Sagrado Corpo fo i posto sobre o co lo cl 'Ela, como tão bem representa m as imagens da Pietà. I sto não seri a possível para uma mãe comum, que fi cari a desfe ita, desarti culada. Al go desse sofrim ento eleve ter perdurado durante todo o tempo em que seu divino Filho esteve morto e sepultado, até ressusci ta r e aparecer- lhe antes de fazê-l o a qualquer outra pessoa, como regi tra a Tradi ção. Foi a páscoa d' Ela. Uma última nota é prec iso acrescentar: sofrer tudo sem ter CATOLICISMO

pena ele si mes mo. Qu ando a pessoa começa a ter pena de si mesma (em francês se di z la sensiblerie ), coloca-se numa posição ele alma rej eitável entre todas e indigna. Resulta num choramingo, no que não deve ser. Choramingar a esse respeito é pros ti tuir o sofrimento. Um qu adro de São Pi o X é uma es tu pend a im age m ela dor quando o homem a ace ita não se lamuri ando. Pelo co ntrári o, ci o homem que percebe: Caiu-me o mundo em cima, mas tenho recursos para lutar, sei que vou ter ainda muitas outras penas a sofrer, mas lutarei até o fim. É um homem que está subindo o própri o ca l vári o.

O sofrimento prepara a a/ma para um mumlo paradisíaco O sofrim ento prepara o homem para viver nesta região toda esp iritu al el a alm a que se diri a pré-paradi síaca. N ão é fru to de um cego .faturn (destino) que esmaga, como o consideram os pagãos. Pelo co ntrári o, prepara a alma para esse mundo paradi síaco que vai nascendo dentro dela, até o momento em que sej a chamada para o Céu. Portanto, nada tem a ver com a tragéd ia que o teatrólogo grego Sófocles imaginou e descreveu no Édip o- Rei: um homem qu e se cega, tra nsfo rm a-se em mendi go e sa i ela cid ade, gui ado pela mão ela filha, para es molar pelos caminhos. Entregam-lhe um bordão para ir embora, porque é um cego inúti I que j ,í fez o que teri a ele fazer, salvando a cidade ele Tebas. Qu ando ele vai ca minhando, o bordão vai batendo no chão - é o .fatum cego que esmagou o homem porqu e tinh a que esmagar. O que acabamos de ex por sobre a dor nada tem ele comum com isso. Esse aspecto ci o Édipo causou-me verd adeiro horror, porqu e o so frim ento não é o.fatum cego que es maga. Pelo contrári o, prepara a alm a para esse mundo interi or de pu rifi cação e elevação que vai nascendo. A s almas elevadas, capazes ele enfre ntar e amar o sofri mento, são almas desapegadas. Estão sempre à procura ele

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reali zar tudo do modo mais perfe ito, de maneira a tornar esta Terra, no que fo r possíve l, o mais parecida com o Paraíso. E las têm apetênc ia do Paraíso, e por isso vão crescendo na perfe ição e tornando-se ass im, e las própri as, alm as "paradisáveis ". Para isso é preciso, entre outras coisas, exercer uma certa ascese, pela qual o indivíduo goste desse pólo por ass im dizer paradi síaco, de maneira a ser por ele atraído. E le vai gostando das coisas apenas enqu anto "paradisáveis", e ass im vai se desapegando do gosto pelos prazeres meramente terrenos.

Aspectos na Europa de ouuorn simbolizam o Paraíso A vida quotidi ana na E uro pa, como fo i organi zada em outros tempos, era de grande superioridade porque modelada de modo "paradisável", e por isso preparava para o desapego. O prazer do bem era di ssociado do prazer do mal, tanto quanto isso é poss ível à humana fraqueza. O bem era amado enquanto bem, e por isso produzia apetência do ótimo. No prazer do ótimo, o indivíduo era levado ao desejo das co isas paradisíacas. Daí construções magníficas como as catedrais medievai s - por exemplo, a Sain.te Chapelle, símbolo respl andecente de luz benfazej a - pintu ras paradi síacas como as de Fra Angélico, música ce lesti al como o gregoriano. Ainda no século XIX encontramos traços desse desej o de perfe ição, como na fa mosa .fleche de Notre-Dame (flecha ou agulha que sai do teto da catedra l e aponta para o infinito), ou então na.fleche do Mon.t Saint Michel, ambas colocadas pelo arqui teto francês Viollet-le-Duc. No início do sécul o XX, o desenhi sta geni al Joseph Pin chon lançou em quadrinhos uma fi gura infa ntil , Bécassine, a qual se move num ambiente de inocênc ia e pureza. Eu entendo que o ambi ente ca mponês da Bécassine é paradi sável. Essa ascese rumo ao Para íso consistiria no seguinte: Nunca admitir nada de mal , nunca ace itar nada fo ra da medida, apreciando as coisas pelos seus mais altos lados, portanto por seus lados inte lectivos, e estes lados intelectivos sumamente ortodoxos, mas ainda involucrados nos sentidos, até o momento em que se levanta vôo. Quer di zer, não é a única fo rma de ascese. Longe de mim , censurar os jejuns e as fl agelações, que sobremaneira admiro, e as aceitações das cru zes, que quase di ria que eu adoro. O que eu quero di zer é que entra também isto que acabamos de ver. Evidentemente, esse vôo de alma inclui ainda outros predicados além da ascese. O principal deles é uma espécie de inocência da alma bati zada, à procura da perfeição, mas isto nos levaria para longe de nosso tema, que é o papel da dor na vida humana.

A dor bem aceita causa a vudacleirn alegl'ia Tudo o que fo i exposto sobre o sofrimento não teri a valor, caso não se compreendesse que não se trata da dil aceração do Édipo-Rei. A dor bem aceita produ z tra nqüilidade de alma, acompanhada de um encanto, de uma alegria que atra vessa todos os obstác ul os e chega até o fim a que deve chegar. Esta é a zona da alma que São Franc isco de Sales chama CATOLICISMO

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"afina ponta da alma" , onde cabe alegria nesses transes de sofrimento. Ele dizia que Nosso Senhor, na fin a ponta de sua alma, continuava a ter alegria, mesmo no alto da cruz, quando clamou Eli, Eli, lama sabactani (Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes? !). E isto se aplica a todos nós. É muito difícil atualmente compreender esta dor sem dilaceração, por causa das influências dos ambientes cri ados pelo mundo moderno, onde a dor é apresentada como um azar que aco nteceu, não tinha nenhuma razão para acontecer, é inaceitável que aco nteça, e pro priamente nos destró i. Segundo essa me ntalidade, cada sofredor se considera um pequeno Édipo-Rei. Ora, o sofrimento faz parte da vida, como também a alegri a. Ao longo da vida de cada um, há momentos em que Deus entra para proporcionar alegria, para nossa glóri a e consolação. São momentos em que E le se manifes ta com charme, e entra numa hora certa impressionante. Tudo isso também faz parte de nossa vida. O mesmo sucede na história dos povos, desde que sej am fiéis. Este hi stórico da fidelidade é realmente fa ntástico. A r ecusa do sofrime11to

toma o lwmem vil

Há certo estado de espírito em que o homem recusa qualquer sofrimento. Com isso sua alma se torna vil, e o símbolo animal adequado a isso seria a galinha fugindo espavorida de quem deseja pegá-la. E la corre assustadiça, bate .as asas de modo desordenado, cacareja febrilmente, sem compostu ra e sem dignidade. Nesse sentido, há uma diferença marcante entre o faisão e a galinha. Enquanto a galinha simboli za aq uele que não desej a sofrer, o faisão mostra toda sua beleza quando se apresta para entrar na luta: no pl ano animal, é o protótipo do sofrimento nobre. Se a galinha pudesse pe nsar, considerari a arrojada, inútil, cruel uma ág ui a, e perg untari a: Para que subir lá no alto? Tudo o que uma alma vil pensa de um católico combativo, a galinha acharia da ág ui a: Há esse poleiro aqui tão seguro, há milho, etc. Para que levar a vida da ág uia ? Poder-se-ia compor uma invectiva das galinhas co ntra as ág ui as, que seri a a obju rgatóri a das almas vi s contra os cató licos combativos. O Tabor não fo i mais maravilhoso que o Calvário, e creio que o Calvário foi mais maravilhoso que o Tabor. Mas neste século em que vivemos, educados que fo mos no espírito do happy end - na idéia de que a vida, para alguns privilegiados, tra nscorre sem dor - somos tentados a procurar um jeito de fi gurar entre esses privilegiados da vida, que não sofrem. Quando se é católico tíbio, a grande esperança é consegui r levar a vida passeando pelo Tabor, e indo para o Céu sem ter passado pelo Calvário.

A dor faz parte da contingência lmmana Um pressuposto para se poder aceitar bem a dor é aceitar a nossa contingência, isto é, aceitar que não somos deuses, mas simples criatu ras imperfe itas, que precisam de apoio e de mi sericórdi a para reali zar sua missão nesta Terra. Admitindo a conti ngência, devemos aceitar pacífica, contente e enlevadaCATOLICISMO

mente não ter uma séri e de atributos e bens que vemos nos outros. A aceitação horizontal dessa contingência [e m face do que os outros têm e eu não tenho] é o modo prático de me comprazer com minha contingência perpendicular em relação a Deus. Só depois de ter aceitado essa dor causada pela situação de sua contingência é que o indiv íduo abre a alma para as pi rar a uma fe lic idade que não é palpável. A felic idade palpáve l atrai tanto porque é fác il , está ao

alcance e e nche completamente a alma da pessoa, dando- lhe a fa lsa sensação de que ela não é um ser contingente. É o caso do homem que acredita na seguinte ilusão: dinheiro, honras, cargos, afetos, prazeres sensuais, são co isas que podem satisfazê- lo totalmente. Retenhamos duas noções fu ndamentais. Prime iro, a noção de que a dor não é apenas fruto, corol ário do pecado original, mas uma conseqüência da contingência. A

prova que nos cabe enfrentar nesta Terra inclui necessari amente algo à maneira de dor; do contrário não seri a prova. Segundo, as piores dores neste mundo - as dores más, não as dores boas - são causadas pelo fa to de não querermos caber em nosso própri o limite e deseja rmos extravasá-los, procurando de algum modo ser mais do que somos. Esta é a causa dos nervosismos, em grandíssimo número de C<)SOS.

A /JJ'ova J)ara os <lesccmltmtes <lc A,lão e Eva Pode-se pergun ta r se a prov a no Paraíso terrestre não seria muito dolorida para os descendentes de Adão e Eva, caso não tivesse ocorrido o pecado ori ginal. De outro lado, a prova dos anjos no Céu não terá sido mui to do lorida també m? E não fo i essa dor que Satanás se recusou a sofrer? Considerando a te ntação de Adão - "vós sereis como deuses" (Gen 3,5) - percebe-se clara mente que Adão tinha um desejo de ser como deus, e do ía ne le o fato de não ser deus. A não ser ass im , ele não teri a aceitado aquela pro messa da serpente, através de Eva. Não te mos be m idéia de como, em certos momentos de prova, a do r da contingência pode se apresentar terrível: Uma dor inex primível, uma dor sa ntamente humilh ante, em que o home m se sente pequenino. Há horas em que algo raspa no home m, e e le se reconhece pequeno. Houve momentos em que um Carlos Mag no sentiu -se peq ueno: Eu não sou senão homem, f ilho do pecado . Não é porque pecou, mas porque se sente fraco.

J)eve-se se11tÍI' <leliciosamente a prÓJJl'ia inani<la<le Trata-se então de ace itar esta singul ar e de liciosa aute ntic idade de ter atin gido os me ros limites de si mes mo. É deli cioso quando a pessoa ca i em si e di z: Eu não sou senão eu mesmo, e sou tão pouco. Há uma paz, um a tra nqüili dade, um aro ma inte rno de castid ade, um debruçar-se de Deus sobre a alma, que é uma coisa única. E nós te mos que sentir a nossa in ani dade, ass im como a Terra era "inanis et vacua" (info rme e vaz ia - Gen 1,2). E então Deus começa a encher a alm a, como fez com a Terra. Só quando o homem se co loca verdade ira mente neste seu zero, é que consegue adquirir a perspecti va medi ante a qual toda hi erarqui a, toda des igualdade e todas as grandes superi oridades aparece m na sua beleza. Fora d isto, e le se co loca em espírito de competição e fi ca cego. Santa Joana d' Are, por exemplo, percebi a que não era senão uma pastorinha, e vivi a no perpétuo enlevo de uma mera pastora chamada a reali zar grandes fe itos. A fi deli dade à inocênc ia primeva bati smal vem como conseqüência de sentir-se delic iosamente a própri a inanidade, o própri o vácuo. Fora disto a inocênc ia primeva nem é verdade iramente co mpreensível, é mais um j latus voeis (um sopro da voz) do que uma rea li dade. • * Sobre o conceito ele inocência prim eira, ver: A i11ocê11cia pri,neva e a ca11.-

templaçüo sacra / do 1.111i ver.1·0 110 pe11.1·a,11e1110 de Pli11 io Corrêa de Oliveira , A rl pres s, São Paul o, 2008. Obra lançada por iniciati va do /11 sti11.110 P/i11 io Corrêa de Oli veira.

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.!!Tt ~ • •

Santo Hermenegildo, Príncipe e Mártir Fnho do rei visigodo da Espanha, foj por ele morto em ódio à fé católica. Seu martírio provocou a conversão de toda a nação visigótica à verdadeira Religião. , 1 PuN10 M ARIA SouMEO

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vida de Santo He rme negildo (564-585) fo i narrada por quatro de seus contem po râneos: João de Biclaro, historiador espanhol ; Santo Isidoro de Sevi lha, na sua História dos Godos e dos Suevos; São Gregório de Tours, na sua História dos Francos; e o Papa São Gregório Magno, que a conheceu através de peregrinos espanhóis em viagem a Ro ma e a transcreve nos seus Diálogos.

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CATOLIC ISMO

Os visigo<los arianos na Espan/,a A dominação dos vis igodo s na Espanha lurou quase dois sécu los. E, sendo eles he reges a ri ano , reinava a perseguição re li giosa conlra os católicos. A fé ortodoxa foi então perseguida como nunca antes, nem mesmo na é poca dos imperadores roma nos.

"Foi grande milagre, sem dúvida, que o ódio sectário dos conquistadores não lograsse vencer a constância dos católicos, e que a Espanha toda não se visse arrastada a uma apostasia geral. A heresia não logrou senão aumentar o número de mártires".'

Do prim e iro casamento de Leov ig ild o, rei dos visigodos da E pa nha (569-586), com uma princesa da qual não se g uardou o nome, nasceram dois filhos: H erme neg ildo e Recaredo. Estes foram educados na doutrina aria na do pai , que se casou e m segundas núpcias com Goswinda, viúva do rei Atanagi ldo da Austrásia, furibund ame nte ariana. Em 579 Hermenegi ldo casou-se com Ingonda, filha de Segisberto da Au strás ia e de s ua esposa Brunequilda, filha do primei ro casamento de Goswinda. Neta, portanto, de Goswinda, com o casamento Ingonda tornou-se também sua nora. Como a exemp lo de se us pai s Ingonda era decididamente católica, Goswinda tomou como ponto de honra pervertê- la para o ariani smo . [nicialmen te com boas palavras e através de persuasão. M as co mo não surtiu efeito, começou a utili zar a força. Assim , um d ia qui s que ela recebesse o bat is mo a ri a no . [ngonda respondeu-lhe: "Bas1a-

atual), nomea ndo Herme neg ildo govern ador. Outros dizem que e le fo i para aque la região com o títul o de rei. Jrritado de um lado com o selvagem tratame nto di spensado pe la madrasta à sua esposa, e be neficamente influe nc iado de outro lado pelos habitantes hi spano-ro manos da Bética mac içame nte cató licos e com tensas relações com os visigodos ari anos - , Hermenegildo, e m decorrência de tal

me Ler sido bct1izada uma vez e regenerada em nome da Trindade Sanlíssima, na qual adoro as três Pessoas iguais em. um lodo. Essa é a crença de minha alrna, e j amais dela me apartarei". Goswinda agarrou-a então pelos cabelos, maltratou-a como pôde, e, com a ajuda de algumas aias, arrastou-a até um tanque, o nde lhe mini strou à fo rça um batismo sacrílego. Tratou-se de um arremedo de batismo duplamente inválido: reali zado à fo rça e sem invocar a Santíssima Trindade, na qual os aria nos não ac reditavam por negarem a divindade de Nosso Senhor Jesus Cri sto.

Hermenegildo a/Jjum <la heresia Muilo penalizado com essa atitude da esposa, o rei Leov igildo enviou o jovem casa l para a Bética (correspondente mais ou menos à Andaluzia

a mbi e nte somado ao aposto lado da esposa e de São Leandro, arcebispo de Sevi lha, abjuro u da heresia ari ana, tornando-se sincero cató li co.

Declaração de guen·a do pai ao filho Ao saber da conversão do filh o, Leov ig ildo o intim o u a co mpa recer em To ledo na sua presença. Em seg uida (580) co nvoco u um concíli o de bispos aria nos nessa c idade, no qual, para atrair os católicos, fo i decretado que da li em diante não seri a mais necessário rebatizar-se para passa r para o arianismo. Também, a pedido do rei

e com o mesmo fim, red igiu-se uma nova profi ssão de fé. O próprio rei deu um exemplo de tolerância re lig iosa ao ir junto com os cató licos ve nerar as re líquias dos mártires. Mas estes não se deixaram enganar. Tanto mais que no re fe rid o co ncíli o he rét ico o re i visigodo declarou seu inte nto de unificar a pe nínsul a sob o aria ni smo. A co nve rsão do filho vinh a atrapa lha r seus planos.2 Sabendo da pressão que sofreri a em Toledo para renegar a verdadeira fé, Herme negildo negouse a comparecer diante do pai. Este viu nessa atitude uma declaração de guerra e preparou seus exércitos para ir-lhe ao encalço. Por sua vez, para enfrentar o poderoso exé rcito real, Hermeneg il do ali ou-se com os bizantinos, que do minava m a reg ião sul -o ri enta l da Espa nha , e també m c h a mo u e m s ua ajud a Mirão, rei dos sue vos da Ga lícia . Após comprar a ne utralidade de B izâncio, Leovigildo arrebatou num ímpeto Mérida. Comprou depois Mirão e, li vre desses escolhos, preparou-se para o assalto fina l a Sev ilha. Esta lhe resistiu por dois anos (583-584), fin dos os quais, por fa lta de víveres e munição, caiu sob o poder real. Após enviar a esposa e o filho a Consta ntin op la, para sob a proteção do imperador bizantino ali estarem imunes dos azares da gue rra, Herme negi ldo fugiu para Córdoba, refugiando-se numa igreja. Local cons iderado sagrado já naquela remota é poca, Leovigildo não quis vio lar o direito de asi lo na igreja. Mandou então seu filho Recaredo falar com o irm ão, e este o convenceu a entregar-se ao pai, prometendo-lhe o perdão. Efetiva me nte o rei a parece u, abraço u o fi lh o e o levo u para To ledo. Mas, pouco depois, ma ndo u-o preso, ini cialme nte para Va lê nc ia e depo is para Tarragona. No Sábado Santo de 586 o prisio-

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Martírio de Santo Hermenegildo

ne iro pediu para confessar-se e receber a Sagrada Comunhão de um bi spo católi co. Mas quem apareceu fo i um bi spo ari ano, que veio darlhe a Comunhão e oferecer-lhe a graça paterna, caso abju rasse do cato li cismo.

Na prisão, r ece/Je a graça cio mal'tÍl'io Eis como o Papa São Gregório Magno narra o sucedido: "Sob reveio a fes ti vidade da Páscoa, e naquela noite o pé,_jido rei Leovigildo enviou um bispo ariano ao cárcere para que seu.filho recebesse a comunhão do sac ratíssinw corpo de Cristo da müo sacrílega daquele herege, prometendo-lhe, se a aceitasse, de admiti-lo em sua graça. O santo moço, se bem. que estivesse atado e aflig ido no corpo, estava li vre e desperto na alma. E, estimando mais a graça de Deus do que a de seu pai, Cl/'astou de si o bispo ariano repreendendo-o e dizendo-lhe as palavras que merecia ouvir ".3 Pouco tempo depois o rei mandou um homem chamado Sisberto à prisão, o qual decepou com um machado a cabeça de Hermenegildo. São G regóri o di z que, no silêncio da mesma noite do martíri o, ouviu-se sobre o corpo do mártir uma

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C ATOLICISMO

música celestial, e espargira m-se muitas luzes . Um impressionante mil agre de São Herm e neg ild o co ns istiu na me ia-conversão de seu pai. Meia conversão, po is não fo i completa com a abju ração pública do ari ani smo. Com muita dor e arrependimento pelo que havi a fe ito - "mas nüo de maneira que lhe aproveitasse para alcançar a salvação eterna ", di z o Sumo Pontífice - reconheceu que a fé católica era verdadeira, "mas não se aireveu a declará- lo para não perder o reino". Entretanto, recome ndou a São Leand ro seu filh o Recarecia, que dev ia suceder-lhe no trono. Pouco depois morreu. "Essa m.udança maravilhosa - narra São G regório - nüo teria de modo nenhwn se realizado se Hermenegildo não tivesse derramado seu sangue pela verdade ".4

11 J>Ós-história ele Sa11to llerme11egil<lo Seguindo os conselhos de São Leandro, Recarecia governou com prudênc ia seus Estados . Pouco depo is de elevado ao trono, abjuro u da heres ia ariana e se converteu ao cato li c ismo, sendo aco mpanhado por todos os visigodos. No século XVI, o Papa Sixto V concedeu o ofício de Santo Herme-

negildo a toda a Espanha. O mesmo fo i estendido no século seguinte por Urbano VIII à Igreja universal. Sua fes ta comemora-se no di a 4 de abril. Alguns histori adores qui seram pri va r Santo Hermeneg ildo do título de mártir. Entre eles o própri o São Gregório de Tours, seu conte mporâneo, o qua l afirm ou que o santo não deveri a ter-se levantado contra o pai. E le teria errado "por ha ver ignorado que, a quem ousa levanta r- se contra seu pai, mesmo que este seja herege, espera-o o juíza divino" .5 Outros ac rescentam que sua morte se deveu a uma sublevação política, ainda que a s p ro vid ê nc ias to ma d as po r Leovig ildo tenham sido inspi radas pelo ódio à fé católi ca. E ntretanto, confo rme relatam os mesmos histori adores, a condi ção imposta em quase todas as tentativas de reconc ili ação fe itas pelo re i fo i d a abjuração de Herm enegildo à fé cató li ca, ao que e le sempre se opôs com tenacidade. E fo i por esse motivo que o rei ditou sua sentença de mo rte. lsso fica muito claro no re lato de São Gregório M agno, que narra ainda os mil agres ocorridos logo depois do martíri o do santo, como prova de que o mesmo fo i bem aceito pelo Eterno Padre. • E- maiI para o autor: cato li c ismo@terracom.br

Notas: 1. Edelvives, Ed itori al Lui s V ives, S.A., Zaragoza, 1947, tomo li , p. 443. 2. C fr . Fr. Ju sto Pérez de Urbe l, 0.S.B. , San Aiio C ri s ti a no , Herme n egi ldo, Ed icio nes Fax , Madrid, 1945 , tomo li , p, 12 1. 3. Diálogos, apud Pe. Pedro de Ribadeneira, Fios Sa n clo n11n , in Dr. Ed ua rdo Vil arra s a , La Leye nda d e O ro, L. González y Compaiiía , Ed ito res, Barcelo na, 1896, tomo li , p. 62. 4, Id. , ib. 5. R. Jiménez Pedrajas, San Hermeneg ildo, Gra n Encic loped ia Ria lp, Ecl ic io nes Rialp, S.A. , Mad rid, 1972, p. 708.

As drogas

destroem o homem parti culares ex peri me ntem mais, nas públicas o uso de crack, cocaína e maconha é mais freqüente. Segundo a psiqui atra Ora. Ana Raquel Santiago de Lim a, para deter o ava nço do crack "é necessário um trabalho fo rte de valorização da vida, de forta lecimento da fa mília e das relações e de criaçüo de oportunidades". Mas co locase aqui um proble ma: como valori zar a vida e fo rta lecer a fa míl ia, quando as própri as autoridades vão adotando políti cas destrui doras da fa mília ao empurrarem o Brasil rumo à descrimin ali zação do aborto, à legali zação das uniões homossexuais, à contracepção, à demolição da propri edade privada e ainda outras aberrações? *

I

magine-se, leitor, fo lheando o jornal e deparando com a seguinte notícia: " O sádico de Vila Maomé vai requintando os meios de destruir suas vítimas. Ele as vai submetendo a doses sucessivas de tortura, de modo tal que os seqüestrados nüo morrem logo, mas vão perdendo sangue e energias; ficam f racos, deprimidos e depauperados; têm alucinações, e acabam se transformem do num molambo de gente, à procura de uma cova para cair e morrer". Po is bem, esse sádi co ex iste, e seu no me está em todos os j ornais. Em linguagem erudi ta, é chamado estupefac iente ou ps icotrópico; em linguagem corrente, simplesmente drogas. A devastação que ele produz na natureza humana não é apenas fís ica, é também espiritual e moral. Dentre as drogas mais disseminadas no Brasil , o crack é uma fo rma de cocaína com bicarbonato de sódio, de ação imediata. U ma vez inalado, chega ao sistema nervoso central em dez segundos, produ zindo eufo ria logo segui da de depressão. Vicia com facilidade enorme.

Pesqui sa da Confederação Nac io nal de Municípios (CNM), divul gada e m 13 de dezembro último (cfr. reportagens de "O Estado de S. Paul o", 14 a 17- 12- JO), mostra que seu consumo j á se alastro u pe lo País, atingindo grandes centros urbanos e zonas ru rais, sem di stinção. Dos 3.950 muni c ípi os pesqui sad os, 3.87 1 (98%) enfre ntam problemas relacionados ao crack. O pres idente da CNM adverte: "No Brasil, fizemos um grande esforço para a reduçc1o da mortalidade infantil, mas nüo há nenhuma política de prevenção à mortalidade j uvenil. Estamos salvemdo nossas crianças, mas deixando morrer nossa j uventude". Especiali stas ouvidos pela CNM estimam que, nos próximos seis anos, 300 mil pessoas deve m morrer no País em virtude do consumo de crack. Levantamento fe ito pela Sec retari a Nac ional de Políticas sobre Drogas, focalizando estudantes de todas as capitais, mostrou que 55 % dos alunos da rede particul ar já usaram drogas; na rede pública, 40 %. E mbora os estudantes das

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O pro bl e ma não é só b ras il e iro. Estamos diante de uma revolução sem precedentes. Após séculos de um trabalho sistemático para desmantelar a sociedade, por meio da pregação do igualitari smo, da li bertinagem, dos chamados direitos humanos, etc, está agora em curso um esforço para arruinar a própria natureza humana; e um dos fatores mais atuantes para esse fi m é a proliferação do uso das drogas, mal combatidas ou até favo recidas por muitos governos. Sem uma total reforma mora l do homem e da sociedade, torna-se impossível frear esse processo. M as ex iste atualmente a possi bilidade de levar a cabo essa reforma? Sim, exi ste, desde que a humanidade s iga os caminhos q ue Nossa Senhora apontou em Fátima, depo is de ter chorado em La Salette sobre o mundo e sobre a itu ação da Igreja: oração e penitência. Como oração, a Santíss ima Vi rgem indicou o Rosário. Quanto à penitênc ia, o que pode ser mais ag radável a Ela do que enfre ntarmos e combatermos essas ondas mefíti cas do mundo moderno?! • ABRIL2011

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O Brasil e a revolução

no mundo islâmico PAULO H ENRIQ UE CHAVES

A

hoje confl agrada reg ião do mundo - votada ao culto ele Al á vinh a sendo di stin guid a até há pouco pe la mídi a como povoada pe lo crescente aumento de barbudos de turbante que rezam em praças pú bli cas, em corredores de av iões e, sobretudo, sempre prestes a se torn arem ho mens-bomba rumo à vitóri a fin al cio islami smo. Essa mesma mídia nos apresenta agora esse mes mo mundo coalhado de jovens

CATOLICISMO

engajados com a "democracia" e com as liberdades vigentes no que eles chamam ele o "Grande Satã" oc idental. Manipulando celulares e as redes sociais como o LWitLer ou faceboo k, eles derrubam velhas ditadu ras do mundo muçulmano. De início, as agitações se apresentavam como típicas de uma transição. As ditaduras cairi am, convocar-se- iam eleições e estaria estabelecida a normalidade democrática. Mas as areias do deserto costumam criar miragens: os novos governos não conve ncem e as minori as fund amentali stas podem estar ganhando voz e vez di ante elas novas circunstâncias.

O Eg ito pi sca o o lho para o Irã e e mbarcações militares dos aiatolás entra m por prime ira vez no Mediterrâneo, através do Canal de Suez. Tuni sianos, líbi os e egípcios foge m do caos e inundam a ilha de Lampedusa, cri ando embaraço para o governo italiano, que tem dificuldade em lidar com a situação. Segundo a ON U, mai s de 200 mil cidadãos estrangeiros já deixaram a Líbi a. Há ainda as conseqüênc ias de ordem econômi ca. Da Líbi a, pelo meno até o mo me nto em que escreve mos, não sai ma is petróleo. O preço do produto di sparou e a Arábia Saudita prometeu co-

brir a lac una ocasionada pe la para li sação petrolífera de Trípoli . M as, segundo a imprensa, o colchão previ sto para eventuais fa lhas no fornecimento de petró leo chegou ao limite. Se algum outro produto r medi ano suspende r a produção, o Oc idente ficará a meaçad o ele col apso quanto ao fo rnec imento ele combustível. N a o pini ão d o pres id e nte ru sso M ed vedev, compartilhad a por muitos especia li stas ocidentais, a instabilidade ve io para fi car. Doente e se tratando no e xterior, o re i saudita voltou a seu país co m um pl ano ele 35 bilhões de dó lares para evitar um a poss íve l revo lução no molde elas ocorridas nos países vi zinhos. A Espanha - que importa 13% de seu petróleo da Líbi a - j á adotou medidas de rac io na me nto e s uge re adi c io nar biocombustíveis à gasolin a. O etanol brasileiro desponta nesta conjuntura como uma tábua de salvação. Os EUA , que hoje se opõem à entrada do etanol, poderão amanhã mudar de atitude.

Estaria chegando a grande hora da economia nacional, em que o Brasil se tornaria uma espécie de Arábia Saudita do combustível verde renovável do século XXI? N ão o bstante, paira m so bre essas a le ntado ras pe rspectiva s ve rd ade iros pesadelos, pois, segundo o INCRA , j á foram desapropriados para fin s ele Refo rma Agrária 85,8 milhões de hectares de terras, e assentadas 924 mil famíli as. Ou seja, uma enorme fa ti a do nosso território encontra-se "engessada", uma vez que os asse ntamentos, além de nada ou qu ase nada produzire m, sobrevivem apenas devido a subve nções do governo. A Providência Divina concedeu-nos terras em abundânci a. E a propriedade privada encontra-se tão natural e ampl amente disseminada em nosso territóri o e obtendo êx itos tão extraordinários qu e e m vez de agredi-la com uma Re form a Agrária socialista e malsã, e permitir que e la sej a permanentemente assa ltada por hordas impunes de invasores bafej ados

pelo clero progressista, o governo deveria cingir-se às suas atribuições. Ou sej a, proporcion ar seg urança ao ag ri culto r, diminuir a carga tributária, facilitar o crédito e aperfe içoar as precári as estrutu ras para escoamento da produção. A esse alheamento das autoridades governamentais no tocante às suas obrigações soma-se a zoeira de ONGs ambientalistas que tentam bloquear a expansão de nossos canaviais. São os "vermelhos" de ontem que se metamorfosearam nos "verdes" de hoje, metamorfose da qual o Brasil vem sendo a grande vítima. O arguto Tall ey ra nd di zia: "Nada é menos aristocrático do que não terfé". É hora de, com os olhos postos em Nossa Senhora Aparec ida, faze rmos um ato de fé na mi ssão providenc ial do Brasil , pedindo à nossa Padroeira e Rainha que conduza o País ao pl eno cumprimento de sua mi ssão hi stórica, sobrepondo-se a todos os obstác ulos. • E-mail para o autor: catolicismo@ terra.com.br

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e o utras importa ntes o bras da di sciplina eclesiástica .

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+ Cartago, 250. N a persegui-

Santa Juliana de Comillon, Virgem

ção d o im perad o r ro m a no Décio, estes 40 c ri stãos prefe ri ra m mo rrer que ofe recer sacrifíc ios aos ído los.

+ Fra nça, 125 8. Re li g iosa

1 São Macário, o Milagroso, Abade + Ásia Menor, 830. Abade de Pe lecete, nas proximidades de Constantin opla, famoso pe los mil ag res qu e o pe ra va. Fo i duas vezes ex ilado pelos imperadores bi za ntinos contrári os ao c ulto das image ns, fa lecendo no segundo ex íli o, de vido aos sofrimen tos que lhe fora m infl igidos.

Primeira Sexta-feira do mês

2 São Francisco 'de Paula, Conl'essor

+ Plessis, 1508. Italiano, fu ndo u a O rde m dos Mínimos. L uís XI obteve do Papa que o envi asse à França, a fim de pre parar o mo na rca para a mo rte.

Primeiro Sábado do mês

a

São Rica rdo de Chichestcr: Bispo + Inglaterra, 1253. C hanceler da Uni versidade de O xfo rd , conselheiro de São Edmundo Rich e São Bonifácio, Arcebi spos de Cantuária, teve que lutar contra a prepotê nc ia do re i He nriq ue III.

4 Santo Isidoro de Sevilha, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

10 São Terêncio e Companheiros, Mártires

agos tini ana, grande de vota da E ucari sti a, a quem De us comunicou o desej o de possuir uma fes ta dedicada ao Corpo de C ri sto. Persegui da e m sua própria comunidade, teve q ue se desterra r seis vezes até sua mo rte.

6 São Marcelino de Cartago, Mártir + África, 4 13. Representa nte d o imperad o r H o nó ri o na Áfri ca para faze r cessar a agitação produ zida pelos he reges do natistas. Ao propo r-lhes o retorno à verdadeira fé, e les o mandaram assassinar.

7 Santo l JenriQue Wa lpole, Mártir

São Benedito José Labre, Confessor

Santo Estanislau, Bispo e Mártir

+ Ro ma, 1783. Me ndi go vo-

+ C racóvia, 1097. Grande defensor da moral católica e da santidade do matrimônio, assassinado pelo rei Boleslau por increpar sua vida desregrada.

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12 São Júlio 1, Papa Santíssima Trindade contra os hereges e reabilitou Santo Atanásio no Concílio de Sárdica, proclamando a primazia da Sé epi scopal de Roma. Também: Santa Teresa de Jesus " de los A nd es" , C hil e, 1920.

Domingo de Ramos Santos Elias e Isidoro, Márti res

Santa Margarida de Métola, Vi rgem + Itáli a, 1320 . F ilha de con-

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+ Espanha, 636. Sucedeu ao seu irmão São Leandro na Sé de Sev ilha. A e le se devem a c ri ação de seminári os, a uni fi cação da li turgia, a regul amentação da vida mo nástica

+ Burgos (Espanh a), 1007 . F ilh a do re i mouro de To ledo, ela se converteu ao beber a água mil agrosa do poço de São Vicente .

"Faleceu o santo".

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rir ao c isma de Henrique Vlll, reconc ili ou-se com a Ig rej a, te nd o s id o o rde nado e m Ro ma no Colég io dos Ing leses . Como jes uíta, volto u à Ing laterra, onde socorre u os católicos perseguidos e recebe u a palma do martírio.

Santa Cacilda, Virgem

luntário po r a mor a Cri sto, ele peregrinava e ntre os ma is céle bres santuários da Europa, sofre ndo humilhações e ma us tratos . Ao falecer em Roma, as c rianças espo ntaneame nte saíra m g rita ndo pe las ru as:

+ 352. Defendeu o mistério da

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+ Ing late rra, 1595 . Após ade-

São Dionísio, Bispo + Corinto, 180. "Devido à ciência e à graça de que foi dotado, [. .. ] ilustrou o povo não somente da sua cidade e província, mas [. ..] também bispos" (Do M artiro lógio) .

nas romanas di scípul as de São Pedro e São Paulo, sofrera m crue l martíri o por terem recolhido as re líqui as do P ríncipe dos Apósto los pa ra dar-lhes sepultura.

des, d isfo rm e, cega, coxa, ale ijada e fe ia, fo i abando nada numa igreja. Reco lhida por piedosa fa míli a, e la ens inava o catec ismo e encantava a todos pela inocência, a legri a e confi ança na Providê nc ia.

14 Santa Lyclwina de Schieclam , Virgem + Holanda, 1433. Como vítima expiatória, fo i atingida d urante mais de 20 anos por quase todas as moléstias imagináveis, e m me io à ex tre ma mi séri a. Tinha co nsta ntes visões de Nosso Senhor, do Paraíso, do Purgatóri o e do Inferno.

15 Santas Balissa e Anastácia, Mártires + Ro ma, 66. Ilu stres matro-

cheste r e depois arcebi spo de Cantuári a. De g rande austeridade de vida, e le se dedicou muito a ajudar os necessitados. Foi m artiri zado du ra nte a invasão dos dinamarqueses na Inglaterra po r não q ue re r paga r o próprio resgate com o dinheiro destinado aos pobres.

21 QUINTA-FEIRA SANTA Instituição da Sagrada Eucarisl.in e do Sacerclócio

22 SEXTA-FEIRA SANTA Paixão e M o rte de Nosso Senho r Jesus C ri sto. D ia de jejum e abstinênc ia.

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+ Córd oba, 856. Sacerdo te o

SÁBADO SANTO

prime iro e monge o segundo . Perseguidos pe los muçulmanos, "fo ram conde nados à

Jesus C ri sto no sepul cro e a ·soledade de Nossa Senhora.

morte ao confessa rem sua fé cristã diante do Islamismo"

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(do Ma rtiro lógio).

1a Santo Apolônio, o Apologista, Mártir + R o ma, 185 . "Senado r romano que, sob o imperador Cômodo, foi enlregue como cristão por um. escravo. Quando lhe foi pedida explicação de sua f é, compôs um f amoso livro, que leu no Senado" (do M artiro lóg io).

19 São Leão IX, Papa e Confessor

+ 1054. L uto u contra a simoni a (venda de be ns eclesiásticos) e a incontinênc ia eclesiástica (imora li dade dos c lé ri gos).

20 Santo All'ege, Bispo e MárLil'

+ G ree nwi c h ( [n g la te rra), 1012. Abade, bi spo de Win -

PÁSCOA D/\ Rl~SSURREIÇÍ\O "Cri sto ressusc itou, ressusci to u ve rdade ira me nte, Al elui a !"

25 São Marcos Evangelista, Bispo e M1:írLir

27 Santo AnLimus, Bispo e Mártir

+ Nicomédi a, 303. Bispo que "por sua confissão de Cristo, obteve um glorioso martírio por decapitação. Quase todos os seus fiéis o seguiram, alguns dos quais o j uiz mandou que fossem decap itados à espada, outros queimados vivos, outros co locados num navio e afogados no mar" (do

28 São Luís Maria Grignion ele MonLfot't, Confessor + França, l 7 16. Arde nte missioná ri o popul a r, apa ixo nado pe la C ru z de Nosso Senho r e do utor mari a l por excelê nc ia, sua do utrina da Sagrada Escravidão a Nossa Senhora fo i reconhecida e assumida pe lo Papa São P io X.

29 Santa Catarina de Siena, Virgem + Itá lia, J 380 . A ma io r glória feminina da O rde m Do minica na, Santa Cata rina tra balho u para a vo lta dos Papas de Avinhão a R o ma, pediu a refo rma do c lero e a organi zação de uma cru zada contra os infié is.

:10 Santo E:utrópio ele Saintes, Bispo e Mártir + Fra nça, 404. Roma no, ele

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aco mpanhou São Di o nís io à França, sendo o prime iro B ispo de Sain tes. "Após ter exer-

Nossa Senhora cio Bom Conselho de Genazzano Santo l~stêvão de Perm , Bispo e Confessor

cido durante longo tempo o ofício de pregador; foi decapitado em testernunho a Cristo, morrendo em triw1fo" (do

+ M oscou, J396. Mo nge rus-

M arti ro lógio). N esse d ia come mo ra-se ta mbém São Pio V, Papa e Confesso r.

so, Santo Estevão fo i missionário nos mo ntes U ra is e depo is bi spo de Perm . D evido à sua oposição às he resias cios hussitas locais, te ve que fu g ir para M oscou, o nde fa leceu.

Será ce lebrada pe lo Rev mo. Padre Dav id Francisqu ini , nas seg uintes inten ções:

M artirol óg io) .

+ Egito, 86. D iscípul o de São Pedro e a pósto lo do Egito, o nde fo i martiri zado. No séc ulo XI seus sagrados restos mo rta is fo ra m tras lad ados para Veneza.

Intenções para a Santa Missa em abril

Notas: -

Sa ntos j á ap resentados em ca len-

dári os an te ri ores são apenas mencionados, sem nota biog ráf'ica.

• Pelos méritos infinitos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, rogando muito especia lmente para que a excele nte rea ção da opinião pública brasi le ira contrária ao a borto constatada desde fins de 20 1O - não esmoreça . E para que, pelo contrário, ta l reação au mente e se to rne a in da ma is intensa, a fim de que jamais seja aprovada no Bras il qualque r le i contrária à fam íl ia, instituição amada e estabelecida por Deus.

Intenções para a Santa Missa em mai.o • Diante da tra gédia que se abateu sobre o Japão, pedindo à Santíssima Virgem, sob a invocação de Nossa Senhora de Akita, que zele especia lme nte por este gra nde povo, agora tão provado pelos sofrimentos decorre ntes do te rremoto e do tsuna mi. Pa ra que os japo neses, e nfrenta ndo com resignação e va lentia as te rríve is d ificu ldades, aproximem-se cada vez mais de Deus . Rezaremos também pe las a lmas daqueles q ue fora m vitima dos pela catástrofe, bem como pelo conforto espiritua l de seus familia res.


VII Simpósio de Correspondentes e Simpatizantes da Associação dos Fundadores

(a propós ito do ci nqi.ientenário do Concílio Vaticano Il ) hi storiando as ex pectativas que a Assembléia concili ar vem despertando e salientando as manifestações de índo le conservadora surgidas recentemente da parte de grupos e pessoas que se mostram cada vez ma is perplexas com as conseqüências produzidas pelo referido Concíli o. E mbora não ej a possíve l comentar todas as palestras, convém lembra r um ponto que ficou marcado na alma de todos os presentes: é próprio da esco la espiritua l de Plínio Corrêa de Oliveira procurar auscultar a proximidade cios passos de Nossa Senhora, que se aproxima para converter este mundo que se afasto u de Deus. E m Fátima a Santíss ima Virgem prometeu castigos purificadores, mas também proclamou que, por fi m, o seu Imaculado Coração triunfará. A conferência de clausura fo i pronunciada com o brilho habitual que reveste as falas do Príncipe D. Bertrand de Orleans e B ragança, bisneto da Princesa Isabel. A assistência religiosa do Vil Simpósio esteve a cargo do Pe. David Francisquini , que atendeu a todos com inegáve l zelo apostólico. Após o enceramento, os paiticipantes dirigiram-se à cidade de Aparecida do Norte, onde di ante da milagrosa imagem de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira cio Bra il, recitai·am um terço agradecendo pelo feliz evento realizado e pedindo que seus fru tos sejam abundantes e du radouros. • E- rnai I para o au tor:

li FÁBI O C ARDOSO DA C OSTA

G

ra nd e núm e ro d e bras il e iros ag uarda ansiosamente a chegada cio carnaval. Muitos, in felizmente, aproveitam tais dias de fe riado para se entregarem aos mais alarmantes pecados, especialmente os da sensualidade, revivendo até ambientes de bacanais pagãos. Outros aproveitam certa descontração geral para praticar crimes ou afundar-se nas drogas. Há ainda numerosas pessoas que se deslocam para as praias, ou então se isolam em algum sítio para fu gir num tranqüil o sossego cios tumultuados di as carnavalescos. E ntretanto, não se confo rmando com

a depravação e a decadência gerais, uma ínfim a mas ag ue rr id a pa rce la desse uni ve rso humano reuniu-se du ra nte o carnava l para debater os mais sérios problemas que assolam o mundo atual. São os Correspondentes e Simpatizantes da Associação dos Fundadores, que anualmente se encontra m para faze r uma atuali zação doutrinária e um balanço das atividades desenvolvidas no ano anterior, vi sando modifi car essa situação. Pro ve ni entes de vári os estados da Federação, aprox imadamente 180 correspondentes e simpatizantes aguardavam com grande ex pectativa o iníc io cio VII Simpósio, reali zado nos di as 6, 7 e 8 de março no Con~fort Hotel de São José dos Ca mpos (S P).

Ao todo foram profe ridas sete palestras focalizando a grave crise religiosa e moral que abala a Jgreja e a soc iedade moderna. Os oradores anali saram os fatos sob a ótica da doutTi na tradicional da Santa Igreja e ex puseram os princípios e os métodos de ação preconizados por Plínio Corrêa de Oli veira para uma ação efi caz em prol da civilização cri stã no Brasil. Menção especial deve ser fe ita à confe rê nci a profe rid a pe lo Dr. Anto ni o Augusto Borelli Machado - experiente colaborador de Catolicismo e conhecido autor de um best-seller sobre Nossa Senhora de Fátima - sobre a situação da Igreja, sob o título: Comp reendendo a crise na Igreja. E le aprofundou o tema tratado na edição de março desta revi sta

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Coração de Maria à Santa Missa, celebrada no rito tridentino pelo Revmo. Pe. David Francisquini. Ao longo do simpós io houve diversos jogos, proporcionando sadio lazer. À noite os programas eram mai s leves, consistindo em pequenas peças teatrais e projeções audiovisuais, que con tribuíam para sed imentar os ensinamentos hauridos durante o di a. Como de costume, houve a recitação cio Terço e do Ofício em honra a Nossa Senhora. Para encerrar em grande estilo a semana de estudos houve os tradicionais jogos e banquete medievais. E como lembrança do evento os jovens - cujos comentários sobre o simpósio figuram no quadro abaixo - receberam uma imagem de Nossa Senhora das Graças e o livro O Idealismo, recentemente lança ndo pela Petrus Editora Ltda. • E-mail para o autor: ca1oli cismo @1crra.com.br

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Luís FELIPE EscocARD

nquanto os di as de carnaval transcorriam com suas costumeiras e deprimentes manifestações de nudi smo e sensualidade, 46 jovens - procedentes do Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo reuniam-se numa fazenda colonial em Campos dos Goytacazes (RJ) para uma semana de estudos, oração e lazer promovida pelo Instituto Plini9 Corrêa de Oliveira. O leitmotiv do evento foi: Brasil - sua história e sua vocação. As palestras abordaram temas como a expul são dos protestantes holandeses no século XVll , a Guerra de Canudos, o heroí mo de Dom Vital, a atuação de Plínio Corrêa de Oliveira, etc. Complementando os temas de caráter hi stórico, uma das reuniões versou sobre matéri as fundamentais de teor re ligioso: devoção à Santíssima Virgem, a virtude e a oração. Para ilustrar as doutrinas expostas, os jovens visitara m uma casa senhorial que pertenceu ao Vi sconde de Araruama, na c idade vizinha de Quissamã, onde estiveram o Imperador D. Pedro ll, a Princesa Isabel e outras personalidades. O tônus aristocrático do Brasil antigo pode ser compreendido e ad mi rado naq uele local. Nesse mesmo dia os participantes se deslocaram até acidade de Cardoso Moreira, onde assistira m na [greja cio [maculado

CATOLICISMO

Fábio Ferreira, Paraguaçu (MG): "Gostei muito desses dias! A visita à antiga fa zenda conduziu nosso pensamento ao Brasil tradicional e católico. O que ,nais chamou minha atenção foram as reuniões, que expuseram a verdadeira história do Brasil. Para citar um exemplo: a Guerra de Canudos". Marcelo de Siqueira, Curitiba (PR): "Tomamos conhecimento dos principais heróis católicos do Brasil, e de que há uma continuação desse heroísmo em nossos dias. Apreciei bastante o ambiente geral, especialmente a solenidade reinante no banquete rnedieval ". Saulo Cavalcante, Brasília (DF): "É a segunda vez que participo e posso dizer que está cada vez melhor. Gostei muito das reuniões sobre o Padre Anchieta e Dom Vi1al, sem falar nos jogos medievais. Compreendi melhor como deve agir no seu cotidiano um verdadeiro católico, militante e contrarevolucionário" Arthur Noi:ueira Pessanha , Campos (RJ): "Achei muito boa e fecunda essa semana de estudos. Os participantes tiveram a oportunidade de se entreterem de forma elevada, num equilíbrio entre atividades de lazer e reuniões".

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Simpósio de Estudos Universitários (Toledo - PR) n

N ELSON RAMos BARREno

Em Bruxelas, incisiva denúncia do "Projeto Zapatero"

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ro mov ido pela Associação Cristo Rei, de To ledo, realizou-se nessa cidade paranaense, nos q uatro di as do últi mo carnava l, Simpósio de Estudos Unive rsitários. O e ve nto conto u com a pa rticipação de 30 jovens católicos, inspi rados na doutrina tradicional da Igreja e na o bra Revolução e Contra- Revolução de Plíni o Corrêa de Oli veira. A g ra nde maiori a dos ass istentes era constitu ída po r uni versitários do Paraná, que acolheram com a hospitalidade e o calor de alma toledanos os representantes de São Paul o, Mi nas Gerais, Go iás, Di strito Federal e Ro ndônia. O simpós io fo i uma excele nte ocas ião para alguns se conhecere m, o utros para reverem amigos, e todos trocare m informações e idéias ace rca das vá ri as ca mpa nhas e ncetadas, be m como aprofundar o conhecimento da doutrina católica. O bo m convív io - centrado na consideração de Deus e nq uanto regedo r da Histó ria - fo i uma constante du ra nte todo o e ve nto, que teve seu iníc io abe nçoado pe la ce lebração da santa Mi ssa e m lati m, no rito tradicional. As palestras de abe rtu ra do ciclo ti vera m res pectiva mente por título A importância da luta contra-revolucionária na so-

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o d ia 8 de feve reiro, em Bru xelas, a Federação Pro Europa Christiana (FPEC) recebeu em sua sede o presidente e fund ador do m ovimento espanhol Hazte Oír (Faça-

Co rrêa de Oliveira. Na segunda-feira, te ve lugar uma progra mação c ul tural e de lazer: visita às belíssimas cataratas do Ig uaç u, que mui tos ainda não conheciam. Na ma nhã seguinte, fo ra m proferidas d uas palestras: a pri -

CATOLI C ISMO

O Duque Paul de Oldenburg, diretor do Bureau de Bruxelas da federação Pro Europa Christiana, apresenta lgnacio Arsuaga

te ouvir), lgnacio Arsuaga, para apresentação do li vro do qual ele é c -autor: O projeto 'Zapatero, crônica de um ataque à sociedade". A obra denuncia com riqueza de detalhes a agenda do atual governo espanhol, cujo objetivo é deformar os costumes, a moral e a tradição da sociedade hispânica. Haz1e Oír é uma associação civil , cri ada no a no de 200 1, qu vi sa pro mover a parti c.ipação dos c idadãos na política . Seu fundador di z estar convencido "de que um grupo peque-

no de cidadãos refletidos e comprometidos - com a aj uda de Deus - pode mudar o mundo". Estavam presentes à confe rê ncia cerca de cem pessoas, e ntre as qu ais diversos me mbros da alta e média no breza, político. persona lidades da vida cultural euro péia. Po r exemplo, Ja ime Mayor Orej a, ex-mini stro do Interio r da Espanha (1966-200 1) no governo Aznar e atua lme nte deputado espanho l no Parl ame nto Europeu. Após a apresentação do confe rencista pelo Duque Paul de O lde nburg, diretor do Bureau de Bru xelas da FPEC, Ignac io A rsuaga inic iou sua pre leção afirma ndo q ue a re vo lução promo vida pelo gove rno Zapatero "quer destruir a f amília, desar-

ciedade temporal e Os acontecimentos paradigmáticos de 201O e as perspectivas para 201 I. A prime ira ve rsou sobre a preparação para a lu ta ideológica e sua profu nda razão de ser; o principal foco da segunda palestra fora m os grandes cataclismos com que De us permitiu se iniciassem os dois úl timos anos, ocas ião prop ícia para condu zir ao arrepe ndime nto e à conversão de vida uma humanidade c hafurd ada no pecado e na revolta contra os manda me ntos di vinos. Como um dos objetivos do simpósio era estimular as boas trad ições e um sadio convív io, reali zou-se no domingo uma confrate rni zação com fa mili ares dos partic ipantes do evento, dura nte a q ual fo i servido o saboroso " po rco no ro lete" prato típico da região. O muni cípio de Toledo é grande prod utor agrícola, criador e processador da carne suína. É ta mbé m uma cidade que dá ao B ras il um belo exempl o moral: lá não mais ex iste carnaval, c uj o precioso te mpo - des pe rd içado por mui tos e m vícios, no esb anj amento, e, sobretudo, na ofensa a De us - é dedi cado à colhe ita! O restante da tarde do domingo fo i preenchido com uma confe rê ncia intitul ada O problema do bem e do mal na História, enqua nto a noite fo i reservada à projeção de um filme sobre a recente gesta da Caravana Terra de Santa Cruz contra o PNDH -3, no Nordeste do Brasil , iniciativa do Instituto Plinio

ABDALLA BucHAUL

ticular a Igreja Católica e controlar a 1nente dos menores, restringindo os direitos e liberdades dos cidadãos". Disse ainda que seu livro procura levanta r o véu q ue cobre o verdadeiro rosto da agenda de José Lu ís Rod ríguez Zapatero, atual primeiro min istro do gove rno espanho l, que "exerce o

governo da nação apenas como instrumento para implantar sua ideologia". lntervensão do representante de Rondônia Pedro Henrique Cândido de Oliveira

me ira d isco rre u so bre as pe rs pectiv as e os desafios do agronegócio de nosso País no contex to mundi al; a segunda tratou das intervenções de De us na H istó ri a. Na parte da tarde uma exposição ilustrada sobre Ambientes, Costumes e Civilizações, o utra sobre as diversas atividades desenvolvidas e m 20 10 pela Associação Cristo Rei no Para ná, e a uma terceira acerca d a ca m pa nh a e mpreendida co nt ra o PNDH-3 e m Ro ndô nia . • E- mail parn o autor: catolicismo @terra com br

Chamo u ta mbé m a atenção para a aparente contradição da esquerda: "com o hábil argumento da liberdade e dos novos

direitos, os esquerdistas criticam a família Lradicional, mas reivindicam as 'novasfam.ílias', condenam o matrimônio, mas promovem 'matrünônios' homossexuais, depreciam. a paternidad • e o pátrio-pode,; mas inventam 'novos progenitores"'. Um a das mais fo rtes de núncias contidas e m O proj eto Zapatero é o que os autores de nominam "doutrinação" promovid a pelo gove rno espa nhol, utilizando a educação no sentido ele formar uma nova geração sem padrões de mora l o u valores tradicionais. Ta l "doutrinação" induz as c ri anças a começarem a ver o mundo de uma fo rm a di storc ida, o que é sério e está em desacordo com a moral cristã.

Como não pode ri a deixar de ser, a Ig reja católica tornouse um cios alvos pred iletos do governo esque rdista espanhol, pois, "para subverter os tradicionais valores espanhóis, sua

cultura e identidade, os esque1distas necessitavam previamente promover a extinção do papel público e social da Igreja, ente rrada numa espécie de moderna catacumba. Mas mesmo sem querer ou intenciona,; a Igreja foi se convertendo em bas1ião da resistência ante as propostas de subversão dos valores e identidade" (Proj eto Zapatero, p. l07). Tudo isso fo i ex posto com clareza po r Jg nacio Arsuaga du rante sua conferê ncia. Desenvolveu-se depois um debate com interessantes interpelações cio público presente. U m senho r espanhol elencou as leis ma is revolucioná ri as a provadas e m seu país, ac usando a inérc ia da d ireita q ue, segundo e le, nada fez para impedir tais abusos. O ex- mini stro M ayo r Oreja pediu a pala vra e afi rmo u que "a culpa dessa situação é da

sociedade em geral e mesmo da Igreja, que nada fe z para conscientizar a população; tal culpa não é somente da direita espanhola". Ho uve apl ausos após am bas as in te rve nções Finda a confe rê nc ia fo i servido um cocktail, ocasião para a nimada conve rsa du ra nte a qu a l todos pudera m faze r pe rg untas ao Sr. Ignac io Arsuaga. • E-mail para o autor: catoli cismo @tcrra.com .br

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Príncipe católico homenageado

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or ini ciativa das entidades Paz no Campo e Pró Mona rquia, comemorou-se no último dia 2 de fevereiro o 70º aniversário cio Príncipe D. Bertrand de Orleans e Braga nça com um solene jantar no Nacional Club na capital pauli sta. Trineto do imperador D . Pedro li e irmão cio atual chefe da Casa Imperi al cio Bras il - Príncipe D . Lui z de O rl eans e Bragança - o homenageado é conhecido ademais por sua destacada atuação e m prol cios princípi os da civili zação cri stã, es pec ia lme nte da propriedade privada rural, por me io cio movimento Paz no Campo. A homenage m a D . B ertra nd fo i precedida da celebração de uma santa Mi ssa encomendada pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, tendo co mo ofi ciante o Revmo. Pe. Paul o Sampaio Sandes. Esti veram presentes os Príncipes D. Lui z e D. An toni o, os diretores cio menc ionado ínstituto, ami gos de outros estados e cio ex teri or.

CATOLICISMO

Os variados ambientes cio tradicional Nacional Club , no bairro cio Pacaembu , proporcionaram a largueza de espaço e a distinção adequadas à comemoração, que contou com a presença, entre os 160 convivas, dos Prínc ipes D . Antonio e D . Gabriel, irmão e sobrinho, respectivamente, cio aniversariante. O Príncipe D. Luiz, por indisposição de última hora, in fe lizmente não pôde comparecer. O s convidados - muitos cios quai s descendentes de fa míli as tituladas cio Impé ri o - foram aco lhidos com um fi no cocktail. D . Bertra nd recebe u os cumprimentos nu m sa lão ornado por um be lo quadro de D. Pedro II, cedido especi almente para a noite por conhecido marchand de São Paul o, retratando de modo fe liz aquele Imperador do Brasil. O alto nível dos presentes, o encanto própri o às co isas da monarqui a e o tônus caracte rístico de Plini o Co1J êa de Olive ira confe riram à noite grande di stinção e resultaram em geral comprazimento, externado em numerosas manifestações ao final do evento e mesmo de pois. •

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O GATO Considerando as simples criaturas, podemos chegar ao Criador. n

PuN10 CoRRÊA DE OuvE1RA

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partir das coisas criadas pode-se melhor compreender Deus, embora sem esgotar jamais o conhecimento d'Ele. Observemos, J?.ºr exemplo, um animal muito expressivo: o gato. Velhaco, mas muito expressivo! Ele é matizado, uma espécie de opala, continuamente mudando em dégradé. Por que Deus criou os gatos? Evidentemente, criou-os para os homens. Mas o que lucra o ser humano com a ex'ístência do felino? O homem às vezes caça, espanca e mata o gato. Mas, de outro lado, o . ichinho distrai o homem; ora o encant:.i ., · ora o frustra. Por mais encantador que seja, de repefite. mete uma unhada no dono. Certos gatos são a própria imagem do raffinement: sedosos, peludos, movém-se com elegância. Há outros que são a própria ruiagem do carinho: brinquedinhos vivos e encantadores. Por exemplo., gatinhos bebendo leite numa mesma tigela podem fazer coisas encantadoras. Entretanto, o homem tem certo receio do gato, porque ele age de modo súbito e variável. Por que Deus criou assim esse animal? Ele suscita no homem certo pesar por não existir o gato ideal: interessante como gato o malicioso, mas encantador como o gato bondoso; vivo como o gato de goteira, mas sedoso como aquele criado sobre a almofada de uma marquesa; súbito para distrair, nunca agredindo, contudo capaz de espantar os ratos que proliferam na casa. O homem desejaria este tipo de gato ideal: que fosse um tigrinho para o rato, mas um bonequinho para ele. Em toda essa variedade, o ser humano não sonha com um Paraíso perdido? Não fica apetecendo sentimentos de bondade e prudência? Não fica com apetência da virtude da fortaleza quando vê o gato perseguindo o rato? Mas também não fica com apetência da virtude da vigilância quando vê o gato levantar as orelhas e olhar desconfiado? Essas mil lições o gato as dá ao homem. Porque esse felino simboliza mil aspectos da realidade, que tem seu lado mau, decorrente do pecado original, mas tem seu lado bom cujo fundamento está em Deus. Assim o sedoso e o macio do gato de algum modo simbolizam as delícias do convívio divino. O interessante e o novo que se notam no animal simboli zam de algum modo o que há de inesgotável e sempre surpreendente para nós em Deus: sempre o mesmo e, embora motor imóvel, causando todas as coisas que nos deixam continuamente surpresos e encantados. E assim, considerando as simples criaturas, podemos chegar ao Supremo Criador de todas as coisas. •

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 7 de julho de 1983.' Sem revisão do autor.



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MAIO de 20'11

A mais preciosa graça em matéria de devoção mariana "Nossa Mfic SunLí8sima abri.u para nós unw porta de misc1'iC()l'(lin que ninguém fcclw1·ií"

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os a Senhora, por s ·r M,í I dl 1 111s, e a título sp ciul Mt • dos ho111L111 . l '011 111110 nossa M· . Acredit qu n 111 nl s pr ·dos 1 1• 1· 11; 1 q11 , se pode ter cm mat riu d d ·vo ·1 o 1 811 1111 11111 Virgem é quando El11 ·ondl•sc •1Hk L'lll 11 1 il H11l'L'r, por la s in •f'6v •Is, unrn n•l11ç o V111d111h1li•11111rnte matern a ·0111 ·11d11 u111 d1 1H s, L so s1 1H1d1 dnr de mi l n1 odm;, 11111s, 1·111 ~1 r11l , 1,11 1• r1•v11 l11 prinipnlm ·111 ' ·onHl noss I M · q111111d11 110s tlr11 d· ai ultl 11pt1ro, d · 11111 111odo 1111qu · lk11 111 qut ·f v •I por tod11 , vl d11. 011 q111111do Ili I nos 1wnlon ui u11111 l'nlt11 q111 pl'llt l · 11111i111 · 111 o 1i11h11 1wnh o, m11 s qu • 1il11, p lll' 1111111 d1ss11s bow.l11d •s q11 • S< us 111t s t 111, puss11 por 1Hs · p rdon . llllnil1111 nossa fn lt 11 l'(l lllll Nosso S •nh ) I' J 'S US ri sto ll l'L\V ll a 1 pr11. 1 ss • mouo, a fa lta - que não merecia ser p •rdo11dn, 111 o tinha atenuante e só merecia a cólef'll d • 1 •us - , pelo poder soberano de Nossa Senhof'll e co m a indulgência que só as mães têm, é ·ompletamente eliminada. Ela, como Mãe, com um s rri o apaga a falta e o passado fica esquecido. A Santíssi ma Virgem concede graças desse gênero, de um modo tal que, para a vida inteira, a alma fica marcada a fogo - mas com um fog celestial - com esta convicção: de que pod r mos recorrer a Ela mil vezes, em circun stíl n ·i11s mil vezes mais indefensáveis, e Ela sempr · nos perdoará de novo, porque nossa M, Su nt sslmu abriu para nós uma porta de mis ri · rdl11 q111• nin guém fec hará. • 1

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Excertos da conferência proferida 1w lo 1'11 11 l'I Oli veira em 20 de novembro d · 19(1,I. H1•1111 1•vl

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CommsPONDl~:NCIA

Nº 725

Aumento da violência aflige o País

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D11mTon

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ConsÍderações sobre o Pm-Nosso - IV

Moral catóHca: remédÍo contra a VÍolêncÍa

DO 8A(;1,:Rno·1•1,;

Dilma: alguma mudanc;a de rumo?

R1•:A1.mADE CoNc1sAM1w1•1,:

100 dias do novo governo. O que pensar?

14

NACIONAi.

18

ENTR1<:v1STA

22

INl<'OHM/\TIVO RLJRAI,

25

INTEl{NA<;10NAt,

26

CAPA

40

VmAs DE SANTOS

Aborto de feto anencefáJjco na pauta do STF

BolívÍa: protestos contra Evo Morales

A Salve Rainha comentada por um santo O ReÍ São Fernando III Dr. Rodolfo Acatauassú Nunes

43 Pcm

QLJ1,: NossA S1,:N1101u c1101u'?

46 A<,;Ão

52

CoN·1·1u-R1,;vmu:ioNÁ1UA

A.Nm11-:N·n:s, Cosn11,u:s, C1vruzAçõ..:s

A caravela e aspectos nobres da alma humana

Nossa Capa: Coroação da Virgem (detalhe) - Fra Filippo Lippi, séc. XV. Afresco, catedral de Spoleto, Perúgia, Itália.

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MAI02011

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Caro leitor, No mês de maio, dedicado pela Igreja à Santís ima Virgem, pareceu-nos apropriado oferecer a nossos leitores como matéria de capa, alguns textos mais salientes de um dos maiore devotos da Mãe de Deus - Santo Afonso Maria de Ligório, procJamado Doutor excelente e luz da Santa Igreja pelo bem-aventurado Papa Pio IX. Extraímos os referidos textos de uma de suas obras mais famosas - Glórias de Maria Santíssima - , cujo título fala por si. E dela selecionamos a Parte I, intitulada: Explicação da Salve Rainha. Diretor:

Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: .

Fone/fax (Oxx11) 3333-6716 Correspondência:

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Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catolicismo@terra .com .br Home Page: www.catolicismo .com.br

Embora seja hábito dos devotos marianos rezarem a Salve Rainha ao final do Santo Rosário, poucos conhecem o belo histórico dessa prece. Ela remonta ao século XI, e sua melodia já era entoada pelos primeiros cruzados em 1099. Muitos também ignoram que a terna exclamação final "Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria" foi proferida por São Bernardo, outro grande devoto da Virgem Imaculada, durante o êxtase com o qual foi agraciado m 1 146. Os comentários de Santo Afonso - tão abundantes, rt doxos, e extraordinariamente belos- tornam difícil saber quai . mer c 111 mais admiração. Contudo, há aspectos da bondade materna da Mãe d Deus e nossa que falam mais intensamente à alma d s us d vot s. Por exemplo, seu incomensurável desvelo em auxili ar a cada um d seu s filhos, mesmos os maiores pecadores, desde qu s m str m sinceramente arrependidos. É somente medianl a di vinamente desejada intercessão de Nossa Senhora que pod r mos sp rar bter a sublime graça da perseverança. Nes e sentid , si ntomáti a esta frase lapidar de Santo Afonso: "Nas suas angústias , espe ·ialmente nas da morte, que de todas são as piores, essa boa enhora e Mãe não abandona seus fiéis servos".

ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Maio de 2011:

Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:

R$ 120,00 R$ 180,00 R$ 310,00 R$ 510,00 R$ 11 ,00

CATOLICISMO Publlcação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.

Desejo que e ta as demais matérias da presente edição sejam úteis a.o incremento e piritual e intelectual de nossos diletos leitores. Em Jesus e Maria,

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D IRETOR

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catoli cismo@ terra.com.br

Considerações sobre o Pai-Nosso - IV T erceira petição, que Santa Teresa recomenda para as quartas-feiras: "Seja feita a vossa vontade, assin1 na Terra con10 no Céu" epoi s das antecedentes, vem muito bem esta petição, pois é justíssimo que os filhos cumpram em tudo, e perfeitissimamente, a vontade do Pai Eterno. Para mais nos despertar e conformar com esta vontade, consideremos este Pai e Rei dos Reis com o título de Esposo amantíssimo das nossas almas . Quem considerar com atenção este nome e entender o regalo e favor que ele representa, sem dúvida levantará em seu coração incríveis desejos de cumprir a vontade daquele Esposo que, sendo Majestoso, Sapientíssimo e Amabilíssimo, deseja ser por nós amado e nos amar imensamente. [.. .]

Considerem-se as jóias e os adereços com que o Grande Rei costuma adornar seus vassalos, e procurem dispor suas almas para os merecer. Ele não as deixará pobres e desataviadas. Assim, façamos tudo para agradar a esta Suprema Majestade, coloquemo-nos a seus pés com humildade, e Ele nos levantará com soberana clemência. [... ] Quem considerar isto sentirá tristeza em ofendê-Lo e alegria em servi-Lo! Quem poderá considerar esse Grande Rei atado à coluna, cravado na cruz e colocado no sepulcro, sem que se rasguem as entranhas de dor? Mas também, quem poderá considerá-Lo ressuscitado, triunfante e glorioso, sem uma alegria incomparável?

Neste dia é recomendável meditar sobre a oração e a agoni a no Horto. Jesus Cri sto, prostrado diante do Pai Eterno, suando sangue e oferece ndo-Se como vítima perfeitissi mamente resignada, dizendo: "Pai, não se faça a minha vontade, mas a Vossa ". Os atos deste dia hão de ser de grande mortificação, sacrificando a própria vontade, [... ] renovando os bons propósitos, a fidelidade e as palavras tantas vezes prometidas a um tão grande Soberano. • *

Obras de Sa nta Teresa, torno V, Conceitos do Amor de Deus - Relações espirituais - Exclama ções - Poesias - Avisos. Editora Vozes, Petrópoli s, 195 I , pp . 2 18 a 220.

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DISCERNINDO

Brasil avizinha-se do Iraque P esquisa revela: suicídios crescem entre jovens, a violência se avoluma desmesuradamente no Nordeste, a imagem do Brasil se avizinha à do Iraque, Vietnã e Coréia. Só há uma solução possível. .. n Cio ALEN CASTRO

O

mundo tem sido abalado ultimamente por catástrofes terríveis. A terra treme e joga sobre as pessoas quantidades insuspeitadas de cimento e concreto, sepultando-as; vulcões lançam lavas e cinzas que até impedem a aviação de fun cionar; tsunami s arrasam tudo o que encontram pela frente; enchente calamitosas geram enxurradas, rios de lama, desabamentos e mortes. São apenas exemplos. Mas há pior. No Oriente Médio - estendendo-se para o norte da África - os abalos não fo ram produzidos pe los elementos, mas pelos homens. E tudo com a carac terística do inesperado. As guerras no Iraque e no Afegani stão se pro longam indefinidamente. Por toda parte a sociedade se encontra convul sionada, e os homens divididos entre si. Sinais dos tempos? Talvez. Caso as convulsões continuem a aumentar em ritmo acelerado, ao nde nos conduzirão? Se novos aco ntecimentos vierem a agravar o presente quadro, poderemos chegar a uma situação na qual parcelas ponderáveis dos habitantes do Planeta já não esperem mais nada dos recursos humanos para sair da cri se. O que farão eles? Desesperados pela falta de fé na misericórdia divina, apelarão para que extraterrestres venham salvar-nos? Estarão dispostos a sofrer qualquer tipo de jugo ou escravidão e m troca de um pouco de sossego em suas vidas? São hipóteses extremas que a apostas ia do mundo moderno em face da civilização cri stã obriga a levantar.

Violência

se avoluma no Nordeste

Como está a situação no Brasil ? Não podendo transformar este artigo em um tratado sobre o ass unto, retemos apenas um ponto: o crescimento da violência no País. Não é apenas o tráfi co nos morros do Ri o ou a criminalidade em São Paulo; a situação se ag rava no Norte-Nordeste. CATOLICISMO

O Mapa da Violência 2011 , di vulgado pelo Ministério da Justiça e o Instituto Sangari, revela que o Nordeste (com o Noite fazendo patt e desta dinâmica) é hoje o que pode ser chamado de a grande "chaga" da violência no País. A região registra o maior aumento de mortes por causas externas violentas, uma verdadeira escalada de homicídios, suicídios e acidentes de trân ito (cfr. "O Estado de S. Paulo", 24 e 25-2-11). Certa esquerda, sempre propensa a debitar a causa de todos os males à pobreza, erra aqui rotundamente. Falha mais uma vez o marxismo rançoso e enfe rrujado. "Enquanto a pobreza diminuiu na região, os hom.i ídios aumentaram 65%, os suicídios 80%, e os acidentes d • trânsito, 37%. Na população j ovem os índices seio ainda piores: um crescimento de 49% nos acidentes, 94 % nos h.omi ·fdios e 92% nos suicídios ", revela a pesqui sa.

Estados como Alagoas e Bahi a, que fi guravam na parte de baixo do ranking da violênc ia, agora pul aram para as primeiras posições . Outros, como o M ara nhão, quase quadruplicaram suas taxas de homicídi o. Saíram de taxas quase européias, de c inco assassinatos por 100 mil habitantes, para 20 por 100 mil (um aumento ass ustador, na médi a de 170%). A reg ião registra números crescentes de assa ltos a bancos , roubos ele carros, tráfi co de drogas, ac identes de moto.

lrnque, Coréia e Vietnã No estado de Alagoas, a violência chegou a uma situação tão crítica que lugai·ejos passaram a ser tratados como praças de guerra e ganharam nomes como Iraque, Coréia e Vietnã. São bairros da perife ria ou povoados da região metropolitana onde impera a " lei do silêncio" e nos quais a queixa ou denúncia dos traficantes pode custar o sacrifício da própria vida. Em dez anos a violência cresceu 2,7 vezes. Além di sso, o Mapa da Violência 2011 mostra que dez municípios alagoanos fazem pai·-

te das cem cidades brasileiras consideradas as mais violentas. E ntre os jovens, notam-se sintomas de catástrofe: o número de homicídios cresceu 343% e a taxa por 100 mil habitantes quadruplicou. "Aqui dívida de droga é cobrada à bala " , diz o autônomo José Cláudio da Silva, de 57 anos, pai de nove filhos. E le mora em uma das quatro mil casas do Conjunto Habitacional Nova Esperança, que de tão violento passou a ser conhecido como Iraque. Locali zado na zona rural de Marechal Deodoro, pri meira capital do estado e berço do procl amador da República, o conjunto fo i construído há menos de dez anos. Em pouco tempo, os moradores viraram reféns de trafi cantes. Quem não colabora ou se intromete nos negóci os, morre. O avanço do tráfi co fa z pessoas pagarem pedágio a trafi cantes para poder transitar em bairros populares, nos grotões e na Grande M aceió, em Rio Largo, Pil ar, M arechal Deodoro, Satuba e Paripue ira. Quadro digno da máfi a siciliana !

Suicí<lios entre jovens Os casos de suicídi o no BrasiI cresceram 17, l % no período entre 1998 e 2008 . Mas o que mais preocupa os pesqui sado res é o fa to de que e les ocorrem cada vez mais na popul ação mais jovem. As taxas são mais altas que as da população em geral. "Ncio é comum no mundo que j ovens se matem mais. É uma exceçcio à regra internacional. Temos de ver o que acontece", afirm ou o soció logo Julio Jaco bo Waiselfi sz. E m 1998 , foram 6.985 óbitos desse tipo no País. Dez anos depois, o número passou para 9.328. No Nordeste, a taxa de suicídi o aumentou 80,1% no período anali sado. O segundo ma ior crescimento foi apresentado pelo Centro-Oeste, com elevação de 3 1,1%.

Moral católica, tí11ica solução Há mais de meio século Plinio Corrêa de Olive ira escrevia que a moral católica é "a única que pode dar ao homem a razão pela qual ele é obrigado a cumprir com os seus deveres" ("Legionári o", 3 1- 10-1 937). Fora del a, será vã toda e qualquer tentativa para pôr cobro à vi olê ncia e às demais crises que se abatem sobre o mundo moderno. O que fa zer, então? Ainda é tempo de atender ao pungente chamado, sempre atual, do Profeta Oséas: "Converte-te ao Senhor teu Deus, porque f oi teu pecado que te f ez cair" (Os l4,l-2). Tendo como advogada a Virgem Santíssima, o arrependimento e o pedido de perdão, se sinceros, certamente serão misericordiosamente aceitos. • E-mai I para o autor: ca1oli c is1110 @1crracom.br

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Inquietante para uma alma que busca os prazeres do mundo, ma um grande consolo para as almas que não se contenta m com o mundo presente. Goste i. (J.1.A.F. -

SE)

(S.O.P. -

SP)

/11quieta11te e co11solador B] A dor eleva a alma e f az dela um

paraíso. M uito oportuno este artigo .

Roma)

Co11cílio Vatica110 II

B] Fo i com grande alegria que rece-

B] Queria fe licitar a rev ista Catoli-

bi a Catolicismo em minha casa. Fique i impress ionado com a atualidade do texto O signif icado da dor ("Exce rtos", edição de abril/201 1), escrito em 1957 por Plini o Corrêa de Oliveira. Veio em boa hora. Parabéns pela qualidade da revi sta .

cismo pelo excelente artigo de março sobre o Co nc íli o Vaticano II. É

PR)

Do Prol: Roberto de Mattei

Bl E nvio este e-mail para co muni car-lhes que recebi o Catolicismo deste mês [abril] e já li 70% do arti gos. Certa mente, os 30 % restantes não mudarão minha posição: a revi sta está exce lente ! O qu e ma is me marcou fo i a matéri a principal da revista, tanto pela profundidade quanto pe la elevação do tema. Aliás, mui to apropri ado para se meditar na Semana Santa, sobretudo nesses dias em que se procura a fe licidade material a qualquer preço, esquecendo-se do princ ipal que é a fin alidade da vida. E u não poderia de ixar de mencionar também a entrevi sta do mês, que me ag radou muito, com o nobre dirige nte do mo vim e nto Pro Europa Christiana. Rezo a De us que abençoe os senhores para continuarem a nos brindar sempre com te mas tão substanciosos, pois não recebo outras publicações com tanto conteúdo interessante para a fo rmação da fa míli a. Rezem também por mim e pe los meus.

(R. d. M. -

O sig11il1cado da do,,

(A.V.F. -

O fim ,í/timo da vida

de seu saudoso inspirado r, moti vo pe lo qual como diretor da revi sta lhe exprimo, e a todo o corpo redacional, o me u profundo reco nhec ime nto e vivo apreço.

Prezado Sr. Diretor, Nestes di as recebi exemplares que o Sr. teve a gentileza de envi ar-me da edi ção do Catolicismo de março/ 2011 a respe ito dos atua is debates sobre o Concílio Vaticano II, contendo, e ntre outras matéria s, al gumas respostas minhas a perguntas muito pertinentes da redação da revi sta sobre o tema. Agradeço- lhe o e nvio e apro ve ito o ensejo para fe li c itá- lo pe la abordagem que fo i dada à matéri a, que reve la a coragem cio verdade iro jornali sta cató li co de ex por toda a verdade , a inda qu e e la sej a do lo rosa para os leitores, ass im co mo o equi 1íbri o co m qu e a bo rd a o te ma de li cadíss im o d o últim o co nc íli o ecumê ni co. As repercussões fa voráve is qu e tê m a lca nçado a o bra de Mons. Gherardini e me u livro, além dos colóquios sobre o tema, co mo o o rga ni zado pe los F ranc isca nos da Im ac ul ada, reve lam a ig nifi cativa mudança de posição de a mplos seto res do clero e do laicato e m re lação às novidades co ncili ares. Acredito que o Prof. Plinio Corrêa de Olive ira alegrar-se- ia co m essa evo lução e não teri a deixado de intervir para favorecê-la, vi sando o proveito que adviria para a Santa Igreja e a Contra-Revo lução. É o que Catolicismo continua a faze r nas pegadas

realmente excelente, ass im como a entrevi sta com o Prof. de Mattei. Pergunto se a revi sta poderia publicar um artigo sobre Nossa Se nhora de Akita, devoção que se torno u muito atua l devido aos acontec imentos que estão acontecendo no Japão. (T.G. -

Buenos Aires)

Cl'ise 11a Igreja B) Muito boa a reportagem sobre o

Co nc íli o Vati ca no II na re vi sta do mês de março. E u gostari a que o livro do professo r Roberto de Mattei fosse, o qu anto antes, tradu zido para o português e di vulgado ampl amente aqui , na Terra de Santa ru z. Isto porq ue é evidente que a cri se na Igreja, que é estendida para toda a sociedade, te m muito a ver co m o q ue aco nteceu e ntre os anos de 1962 e 1965 em Roma. (M.A.M.C. -

MG)

A mesma li11ha c<lllOl'lal B] Se, durante a mocidade, fui atuante seguidor de Pli nio orrêadeOli ve ira, o no so inesquecível Dr. Pli nio, há mais ele 40 ano. deixei ele ler Catolicismo . Recentemente, voltei a tornar-me as inante da re vi sta, estando a receber regul armente seus exemplares, podendo a cada mês desfrutar elas excelentes matérias publicadas. Confesso que fiquei agradavelmente surpreso ao constatar que, mesmo depois cio fa lecimento do grande líder cató1ico , mentor da revi sta, a linha editoria l de Catolicismo não se a lterou, continuando a ser aque la mes ma revista ind e pe nd e nte , co raj o a e combati va, que trata, com destemor, de te mas candentes e po lêmicos, com

altivez e segurança, sempre fi el aos princípios norteadores da civilização cristã, o que não se tem encontrado, fac ilme nte, em publi cações congêneres. Por tudo isso, gostaria de, com sati sfação, faze r chegar à alta direção de Catolicismo , ass im co mo a todos os seus redatores e arti culistas, o meus mais efu sivos cumprimentos, agradecendo-lhes pela orientação re lig iosa segura que nós, seus privilegiados leitores, podemos haurir em suas pág inas abençoadas. Com respe ito e gratidão. (A.P.L. -

MG)

Carna val - deslile de ho1'rores Bl Lam e nta ve lm e nte prese nc ie i, aq ui em C uritiba, talvez a maior demonstração de que a humanidade está m es mo se redu z ind o a um níve l inimag inável de degradação moral , com uma passeata carnavalesca denominada "ZOMBIE WALK" ("marc ha dos zumbis", ou "o avanço dos mortos-vivos" - até que é uma boa tradução) que se processou por nossas ruas. Quando se levam crianças a um "espetác ulo" em que elas passam a admirar fa ntasias com o tema "o coração saiu para fora" - nas quais aparecem caras com cicatri zes abertas, órgãos do corpo humano expostos e sangtando - , erá possíve l esperar qualquer coisa delas quando chegarem . à adolescência ou à vida ad ul ta? Como elas serão? Certamente, terão menos compaixão, menos amor ao próx imo, muito menos amor a Deus e à beleza da criação. É de se pergun tar o que houve com aquela boa formação que tivemos de nossos pais e avós, já que os jovens de hoje saem às ruas vang loriando-se de seus miolos e as tri pas à mostra, e com horrendas cicatrizes estampadas em seus corpos mutilados. Depois di sso, quem se importa rá com valores morais? Q uem se preoc upará co m deta lhes co mo corrupção e violência? (N.A.T.G.P. -

PR)

D e primei ra rgJ De coração, agradeço o recebi men-

to das re vistas Catolicismo , muito bonitas e super católicas. Uma da revistas eu dei para uma irmã freira. Ela leu e adorou. Então pediu que colocasse as revi stas na secretari a paroquial para as pessoas lerem enquanto esperam ser atendidas. Eu fiquei muito fe liz, pois, de fato, essas revi stas precisam ser mais divulgadas. Em nosso País, Catolicismo está em primeiro lugar e é pena não chegar aos lares de todos os bras ileiros. Feliz de quem recebe essa publicação. Agradeço a Deus por estar ao lado de vocês, embora di stante, mas nos corres pondendo, o que desejo fazer até o final de minha vida neste "vale de lág ri mas". (M.V.O.C. -

SE)

Hagiografia

FRASES SELEC IO NADAS

"A virtude passa fac.i[:mente do coração das mães ao coração dos fi[fws" (Côv.ego

FY-ClV\-Ç,O~S

TrocVtu)

"Quando Deus tem o

seu altar no coração áe uma mãe, a casa toda. se toma seu tempfo". (c 1ertrucj voV\, Le Fort)

Bl Os textos da vida dos santos são be líssimos, mostram-nos um pouco a vida de santidade, o que não é muito difundido. Foi através de uma homili a do Santo Padre que fiqu ei sabendo da vicia de Santa Catarina de Gênova, e interessei-me por conhecer suas virtudes e modo de vida. Graças a este site www .catoli cismo.com.br, consegui atua li zar-me. (M.A.G.O.-SP)

Virtuosa brasileira Bl M inha mãe vive u alguns anos em Baependi (Min as Gera is), qu ando Nhá Chi ca (Franc isca Paula de Jesus Isabe l) ainda era viv a. E la era sua de vota, e nos ensino u també m a sermos de votos dela. Já visite i muitas vezes a casa e a igreja de Nhá Chica. Agora ela será beatificada em maio de 2011. Q ue alegria para todos os cató li cos! Estaremos todos e m fes ta. Conheci a igreja e a pi a bati smal onde ela fo i batizada, num distrito de São João d'EI Rei. Quero pedir a ela que interceda pela minha fa míli a, naqui lo que cada um mais precisar. Tenho um afilhado, músico re nomado, que é descendente do organi sta que tocava o órgão de Nhá Chica. Como o mundo é pequeno ... (R.N. -

"A 6oa mãe vafe por cem excefentes

mestres" (e; Herbert)

"De que vafe a a&na áe uma mufher, se dentro áefa não há a a&na áe mãe?

"Uma das o6ras-primas áe Deus é o coração áe uma mãe" (°Provérb~o frC1V1-cês)

MG)

CATO LI C ISMO MAI02011-


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r I Monsenhor JOSÉ

Pergunta - O que distingue "rezar pela salvação da própria alma" e "rezar pela salvação das almas" de um modo geral? Não há o perigo de preocupar-se demais com a própria alma e esquecer as demais? Por outro lado, rezar exclusivamente pelas almas dos outros não manifesta presunção pela certeza da própria salvação, como se eu pensasse que quem precisa de oração são eles e não eu?

Resposta - N ão há essa d icotomi a entre rezar por si mes mo e reza r pelos outros, que embaraça o nosso consulente. Na realidade, uma ação resulta na outra, segundo os princíp ios da espiritualidade cristã. Com efeito, é uma verdade bem estabelecida da doutrina católica que uma alma que se santifica, santifica o mundo! E um mundo que se santifica, de tal maneira favorece a prática da virtude por todos, que me santifica também a mim ! Desde que eu não me fec he deliberadamente a essa infl uência benéfica, ev iden temente. Aliás, a recíproca também é verdadeira: uma alma que se deteriora moralmente, deteriora o mundo; e um mundo moralmente deteriorado, lança a fu ligem do pecado sobre todos os homens, mesmo que não o percebam. Assim, numa conclusão rápida, pode-se afirmar que, ao rezar pela salvação dos outros, beneficio a mim mesmo, pela melhora que se produzir neles; e se peço a Deus pela minha salvação, a melhora que se proC ATOLICISMO

duz em mim beneficia ipso f acto a salvação dos outros. M as o ass unto é profundo demais para ficarmos nestas parcas palavras . Merece, pois, que seja desenvolvido.

O dogma da Comunhão dos Santos O que fo i dito nada mais é do que a expressão do dogma da Comunhão dos Santos. As orações e virtudes de uns beneficiam a todos os membros do Corpo Místico de Cri sto, que é a Santa Igreja. No dia do Juízo Final vamos fi car sabendo de certas graças conced idas à humani dade pe la aceitação generosa que alguma alma desconhecida fez de um sofrimento atroz que sobre e la se abateu. Como também tomaremos conhecimento de certas retrações da graça, em co nsequ ênc ia de pecados públicos ou ocul tos, praticados generali zadamente por uma humanidade que se afastou de Deus. Nesse sentido, um episódio recente serve para ilustrar esta doutrina. As circunstâncias propiciaram que um policial mili tar interviesse prontamente na tragédia do Realengo, no mês passado. Segundo e le, fo i Deus que o fez estar próximo da escola, permitindo-lhe abater o criminoso antes que este completasse a chacina que tencionava fazer, provavelmente duplicando o número de vítimas. Po'rém, a monstruosidade do crime mereceria que as igrejas se enchessem de gente a rezar em reparação a Deus pelo pecado cometido. Nessa oração caberia pe1feitamente implorar que o Cristo Redentor não permita que fato análogo se repita na cidade que se abriga sob os seus braços protetores, benig-

LUIZ VILLAC

namente estendidos no alto do Corcovado. As famílias das vítimas atingidas pela tragédia sentir-se-iam moralmente reconfortadas por esse desagravo e apelo confiante ao Divino Salvador. E le e sua Mãe Santíssima aceitariam de bom grado o pedido para ficare m espiri tu a i me nte prese ntes e m suas casas, ajudando essas famíli as a carregar a cruz de um vazio que ninguém pode preencher, a não ser a virtude sobrenatural da conformidade e confia nça.

O papel do demônio; a malignidade do mundo M as há um pe rsonage m que não está ausente do qua-

dro acima, ao qual, entretanto, se tem feito pouca referência a bem dizer, pessoalmente não ouvi nenhuma. Ê o papel do demônio, pai da mentira, sendo a maior delas a de que ele não existe. Entretanto, São Paulo nos adverte contra ele no epílogo da epístola aos Efésios : "De resto, Irmãos, fo rtaleceivos no Senhor e no poder de sua virtude. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Porque nós temos que lutar não somente contra a carne e o sangue, mas também contra os principados e potestades do infe rno, contra os dominadores

Demônios expulsos de Arezzo - Giotto di Bondone, séc. XIV, Basílica Superior, Assis.

deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares. Portanto, tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e .fica r de pé depois de ter vencido tudo" (6, l0-13). Há certos crimes cuja hediondez e malignidade ul trapassam a perversidade normal dos ho mens. Nestes casos, pode-se ter por certo que ent:rou a fig ura do maligno, insuflando o crimi noso aos excessos mais descomedidos. A descrição do que se passou na escola do Rio de Janeiro faz pensar neste agente do mal , que só quer a perdição dos homens. O missivista talvez esteja se pergun tando por q ue dar tanto destaque a um caso concreto, na resposta a uma consulta que se c ingia a uma dúvida sobre a oração pela salvação das almas, a própria e a dos outros. A razão é precisamente que, nos modernos manuais de vida espiritual, é muito comum, ao tratar destas matérias, abstrair de dois pontos fu ndamentais: a malignidade do mundo e a atuação do demônio. Assim, ao rezar pe la nossa própria salvação eterna, ou a dos o utros , não pode mos

nos imaginar sentados confortavelmente numa poltro na, ou mesmo ajoelhados num genufl exório almofadado, como se esti véssemos cercados apenas de anj os bons, ou di ante de uma imagem bondosa da Virgem M aria, sem pernilongos e vespas a nos aferroarem ... A realidade é muito mais complexa: os anjos bons certamente estão ali ; o nosso anjo da guarda certamente está ali . Sobretudo um quadro ou imagem de Nossa Senhora está ali, como penhor de que Ela aco1he benig namente as nossas súplicas. Mas estão presentes também fatores adversos, que a doutrina da Igreja nomeia sinteticamente como o demônio , o mundo e a carne. E m o utras palav ras, e m prime iro lu gar ca rrega mos dentro de nós o peso de nossos pecados - como conseqüênc ia do pecado ori ginal. E m segundo lugar, sofremos as más influênc ias do mundo moderno, laicista e em revolta declarada contra Deus e sua Sa nta Igreja. Por fim, o bafo e mpestado do demônio também está ali , para nos sugerir ma us desejos, in oc ul ar e m nossa mente más intenções e fo mentar más resoluções.

Esse é o quadro habitual em que se desenvolvem nossas orações. As súplicas que faze mos por nós mes mos, por nossa fa mília, nossos amigos, pe lo mundo in teiro, devem levar em conta os fato res adve rsos ac im a desc ritos : as más inc lin ações que nossos pecados introdu zira m em nós, as más infl uências que o mundo moderno exerce sobre nós, e as s ugestões maliciosas que o demô nio nos propõe. Na Ladainha de Todos os Santos reza mos: Ab om ni peccato, libera nos, Domine. Ab insidiis diaboli, libera nos, Domine. A morte perpetua, libe ra nos, Domine. Ou seja: De todo pecado, li vrai-nos, Senhor. Das ciladas do de môn io , li vrai-nos, Se nh or. Da mo rte etern a , li vrai-nos, Senhor. Sob esta lu z, as orações que fazemos pela salvação de nossa alma e as que oferecemos pe la sa lv ação dos homens em geral se superpõem. O mi ssiv ista pode ficar tranqüil o: não há conflito entre ambas. Pelo contrário, se feitas na perspecti va indi cada, uma completa a outra. • E-mail para o autor: cato licismo@ terra.com br

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A REALIDADE CONCISAMENTE

1 Casamento de padres não soluciona crise das vocações

China falsificou em grande escala moedas de euro alemãs China aplicou golpe multimili o nári o na Alemanha, reaproveitando ilegalmente toneladas de moedas retiradas de circulação pelo Bundesbank - o Banco Central alemão. As moedas de l e 2 euros, semelhantes às de 1 real, tinham apenas seus anéis externos separados da parte interior. A sucata era vendida à China para reciclagem, de modo "eco logicamente correto". Mas na China as moeda era m remontadas, reenviadas à Alemanha e trocadas por notas no próprio Bundesbank! Entre 2007 e 201 O, esse " negóc io ela China" teria causado um prejuízo de pelo menos 20 milhões de euros. Falsificar moeda é um delito que ex iste desde que existe moeda. Porém, as falsificações chinesas correspondem a uma política geral, comercial e econômica, que seria inviável sem a ingenuidade - ou cumplicidade - ocidental. •

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Deus, Santo Estêvão e a Coroa da Hungria nova Constitui ção da Hungria, aprovada por 262 legisladores contra 44, incomoda as esquerdas anticri stãs. O preâmbulo assim se inicia: "Deus abençoe os húngaros". E afirma: "Somos orgulhosos pelo fato de nosso rei Santo Es-

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têvão ter criado há 1000 anos o Estado húngaro sobre base sólida e inserido nossa pátria como parte da Europa cristã". Há uma referência especial à "Santa Coroa" - símbolo da identidade nacional - dada pelo Papa a Santo Estêvão e com a qual foram coroados 55 rei s. A Constitu ição também define o casamento como "união

entre um homem e uma mulher", "base para a sobrevivência da Nação" , e protege a vida do nasc ituro, desde a concepção até a morte natural. Já se prevêem atritos com a União Européia , empenhada numa agenda antifamili ar lai ca, próaborto e essencialmente anticri stã. •

Católicos são vítimas da aproximação do Vaticano com Pequim

A

Igreja Católi ca na China está num " estado desastroso" por cau sa da política de aproximação da Santa Sé com o governo comun ista de Pequim, escreveu o Cardeal Joseph Zen Zekiun, bispo emérito de Hong Kong. Essa política prolonga a também desastrosa Ostpolitk do cardeal Casaro li com os tiranos do Kremlin, oportunamente denunciada por Plinio Corrêa de Oliveira. Um diálogo legítimo - afirma o cardeal Zen - é uma coisa diferente de "um Papa que fala àqueles que estão assassinando cruelmente seus.filhos". E acrescentou: "O cardeal Casaroli e seus sequazes se enganavam

achando ter praticado milagres, procurando uma política extremada de compromissos, mas na realidade compactuaram com governos totalitários, causando uma desastrosa debilitação da Igreja". O cardeal chinês concluiu ressa ltando que os fiéis de seu país padecem, aguardando em vão que venham de Roma os esclarecimentos indi spensáveis.

"Cada dia que passa é uma eternidade para suas dores. Quando cifinal o Senhor atenderá suas suplicas ?". •

CATOLICISMO

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Caçadores de cabeças" convertem-se em massa ao catolicismo

e~tado de Arlll~achal Pradesh (nordeste da Índia) l?roi~ b1u as conversoes e o bispo D. George Palhparampil foi declarado "persona non grata", tendo sua foto exposta nas delegacias. De nada ad iantou . A Igreja Católica cresceu nas últimas três décadas num ritmo de mai s de 10.000 bati smos de adu ltos por ano. Hoje, mais de 40% dos l.200.000 habitantes daquele estado são católicos. A população está di sseminada em 26 tribos de "caçadores de cabeças", desi gnação oriunda de antigo e horrível costume pagão. Essas tribos, porém, conservam tradições similares à narração cio li vro cio Gênesis: Deus como o único criador de todas a c isas, Ad ão e Eva, Caim e Abel, etc. Quando ouviram o Evan gelho, compreenderam que só ele podia ser verdadeiro. Os "caçadores de cabeças" mostraram ter um coração mai s sensível do que o dos revolucionários laicistas ocidentais, libera is ou sociali stas, verdadeiros "caçadores de nascituros" que procuram banir da vida pública a Igreja, seus Mandamentos e seus santos costumes. Infelizmente a União Europ •ict e o PNDH-3 dão exemplos de sobra dessa tendência malsã . •

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novo arce~ispo maior de Kiev, D. Sv~at?slav Sh~vchuk, eleito dirigente do nto Greco-Católico da Ucrama e confmnado pelo Papa, explicou o grande afluxo de jovens aos seminários desse rito, no qual a idade méd ia dos padres é de 35 anos. "A juventude do clero - disse -

não é justificada pela possibilidade de os sacerdotes greco-católicos se casarem, mas pela grande efervescência que se seguiu à queda dos regimes comunistas". Em certos ambientes progressistas circula a idéia de que a lgreja deve aceitar o casamento dos padres, bem como o marxismo para atrair vocações. O j ovem arcebispo-mor dos ucranianos católicos desmente essa errôn ea visão: o casamento não atrai vocações e o fim do sociali smo real encheu os seminários. •

Eurodeputado: antes sair da UE do que se descristianizar

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eurodep~1tado Magdi ~ristiano_ Aliam, ex~muçulmano convertido ao catohc1smo, aplaudiu a 1dé1a de a Itáli a romper com a União Européia antes que aceitar uma invasão ele norte-africanos. "Chega de hipocrisias!" - escreveu ele. [A UE] "se envergonha de suas pró-

prias raízes judaico-cristãs, leiloa os valores não-negociáveis e trai sua identidade cristã. [... ] Se a Europa perder a soberania nacional, aceitar sem espírito crítico que 80% das leis italianas sejam ditadas por um lobby descristianizado, relativista, laicista e islamicamente corre.to, que atenta contra nossas certezas sobre a dignidade da pessoa, a sacra/idade da vida e a centralidade da família natural, não teria então chegado o momento de dizer: acabou?". Teria sido preci so um

Lourdes: novo milagre reconhecido pela Igreja

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francês Serge François, 56 anos, perdera parcialmente o uso da perna esquerda, devido a uma hérnia de disco, e somente injeção de morfina aliviava-lhe as dores. Mas em 12 de abril de 2002, após rezar na Gruta de Lourdes e beber água da sua fonte , ficou curado. Em ação de graças, ele empreendeu a pé uma peregrinação de 1570 km, de Angers até o santuário de Santiago de Compostela (Espanha) . O bispo de Angers, D. Emmanuel Delmas, reconheceu "publicamente" sua inexplicável cura. Trata-se do 68° milagre de Lourdes reconhecido oficialmente pela Igreja. Desde as aparições de Nossa Senhora em 1858, a medicina constatou mais de 7.000 curas inexplicáveis. Menos de 1% desses casos foi reconhecido canonicamente como milagre. Só o bispo da diocese do miraculado pode fazê-lo. A cada ano iniciam-se em Lourdes 40 novos processos de apuração de milagres.

Vietnã: seminaristas doutrinados compulsoriamente pelo PC

convertido do i sl amismo nos dizer estas corajosas palavras? Ou há tempo já não deveríamos tê- las ouvido dos Pastores in tituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo para zelar pela Igreja e pela Cristandade? •

191 seminaristas do Seminário Maior de São Quy, no Vietnã, foram constrangidos pelo governo comunista a seguir um programa de "segurança nacional", informou o jornal oficial "Grande Unidade". "Os seminaristas serão doutrinados

Internet é "tobogã" para ataques diabólicos

sobre os pontos de vista, perspectivas e políticas do Partido Comunista e sobre as políticas religiosas do Partido",

a~erdotes, ps icólogos, médi~os, advogados e especialistas que participam de curso sobre o exorcismo em Roma alertam: o acesso a novas tecnologias facilita a aceitação das seitas satânicas e do culto ao demônio. O perigo é grave no caso de jovens frágeis ou que vivem em dificuldades. O po11a-voz da Universidade Regina Apostolorwn, Cario Climati, definiu o satanismo como um paroxismo de relativismo: "Uma espécie de sociedade ao revés, onde o bem vira mal e o mal vira bem". O padre exorcista Gabriele Nanni disse que mesmo pessoas curiosas ou à procura de distração que visitam sites de práticas satânicas e ocultismo apenas para conhecer sem desejá-lo, "sofrem ataques do demônio". A alavanca principal que os impul siona a cair nos sites perigosos é a moda, e a Internet funciona como instrumento perfeito para as potências infernais. •

noticiou o diário. Serão treinados nas tarefas de ''prevenir e desfazer qualquer

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tentativa de forças hostis visando abalar o governo com tumultos e sublevações sociais ou por meio de movimentos pacíficos". Em outros termos, o governo visa a transformar os membros do clero em agentes da máquina estatal que persegue os fiéis católicos. Ou seja, tornar os sacerdotes inimigos de Jesus Cristo.

MAIO2011

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100 dias de governo - mudanças, ambigüidades e expectativas D ecorridos os primeiros 100 dias do governo Dilma Rousseff, muitos se perguntam: o que pensar? Que houve mudanças em relação ao período do presidente Lula é inegável. Qual o alcance delas? São apenas de esti1o ou atingem o cerne da política brasileira? 1 PLINIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA

T

ropeçamos a todo momento na mídia - tanto a brasileira como a estrangeira - com afirmações do seguinte teor: "A nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, adota

um estilo de governar e uma política totalmente diferentes dos adotados por seu antecessor Lula". Tal apreciação vai tão longe que já se c hegou com certa insistência a dizer que Dilma e Lula estavam rompidos, afirmação prontamente desmentida por ambos. O que pensar dessa tão apregoada mudança? Já vai longe o tempo em que se tomava a mídia como um orácu lo infalível. Hoje podemos questioná-la, confrontá-la com a realidade, analisar suas posições, refletir sobre elas. Isso é salutar.

O cansaço com o governo Lula A primeira providência é separar o estilo Dilma da política Dilma. Sem negar que por vezes ambos se relacionam, o estilo é mais sujeito à ação de marqueteiros, que visam impressionar favoravelmente o público. A im agem de Lula estava muito desgastada. A popularidade que lhe atribuíam os institutos de pesquisa, quando existia, se baseava o mais das vezes na distribuição maciça do dinheiro público através de "bolsas", "cestas básicas", "créditos", "assentamentos" etc .. Além de ele ter-se revelado piadista engraçado num país onde todos gostam de rir. Mas não é essa propriamente a figura desejada para um chefe de Estado, o

CATOLICISMO

qual, pelo contrário, deve simbolizar os aspectos mais elevados da Nação, espelhando os anseios profundos da população. Começava assim a pronunciar-se no brasileiro um fastio da vulgaridade, um cansaço com certa rotina política de tipo botequineiro. E, por detrás desse cansaço, levantava-se imperceptivelmente, como uma nuvem dourada, um desejo de seriedade de espírito, de elevação de alma. Esse não é o panorama todo, mas é um traço importante dele, que se omitido leva a incompreensões graves a respeito do momento em que vivemos. Apontado como o marqueteiro por excelência da presidente, João Santana é publicitário muito hábil. Prova-o, entre outros, o fato de que uma prestadora de serviços de seu grupo conduziu pesquisa para o candidato vencedor do primeiro turno das eleições presidenciais peruanas, o pró-chavista Ollanta Humala. Este, em fevereiro, participou do congresso comemorativo do 31 ° aniversário do PT e desde janeiro é assessorado por dois militantes Dilma e Lula desmentiram que estivessem rompidos. Agora os marqueteiros dela torcem para que ocupe a metafórica "cadeira da rainha" ...

petistas. O próprio Santana esteve no Peru e, convidado a assumir oficialmente a campanha de Humala, declinou. 1 Poi s bem, João Santana parece ter estudado a fundo a psicologia do brasileiro de hoje, de modo a fazer com que sua presidencial pupila seja bem aceita pela opinião pública.

Aprnxlmação com a Princesa Isabel O fenômeno, aliás, não é novo. Durante a Revolução Francesa de 1789, decorridos apenas 10 anos da queda da Bastilha marco inicial do período revolucionário - , os fra nceses já davam mostras inequívocas de estarem cansados de tanta demagogia e perseguição. Anseios pela volta do Antigo Regime começavam a florescer nas almas, e a possibilidade de um retorno à monarquia dos Bourbons era vista com pavor pelas hostes revolucionárias. Daí a necessidade de lançar na trama política da época a figura de Napoleão Bonaprute. Ao mesmo tempo em que se apresentava como imperador e deixava pru·a trás a República corrupta de 1793, o corso se esmerava na ap licação dos princípios revolucionários na França e em toda a Europa. Aparentando conhecer esse fenômeno de psicologia social, João Santana explica com muita astúcia o que realmente está no fundo da alma brasileira: "Há na mito-

No campo da política externa foi cantado em prosa e verso o voto favorável do Brasil ao envio de um relator da ONU ao Irã para investi-

gar a situação dos direitos humanos naquele país

logia política e sentimental brasileira uma imensa cadeira vazia, que chamo metafóricamente de 'cadeiradarainha', e que poderá ser ocupada por Dilma. A República brasileira não produziu uma única grande _figura f eminina, nem mesmo conjugal. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço. O espaço metafórico da cadeira da rainha -só foi parcialmente ocupado pela princesa lsabel". 2 O lançrunento de um new-look psicológico pru·a a presidente parece assente: "Um ministro que participou dos dois governos, e que pediu para não ser identificado, conta que a diferença de estilos de Lula e Dilma não acontece por acaso. Segundo este auxiliar, Dilma investe numa imagem própria, para evitar comparações com Lula. Citando fi"ase de João Santana, o ministro diz que a ideia é fazer com que Dilma 'ocupe o espaço imaginário de uma rainha'". 3 Consoante com o novo figurino tem prevalecido na mídia e nos mais diver os círculos, a imagem de uma governante discreta, ponderada, com larga capacidade administrativa e que sabe gerenciar o País.

Ambigiiidades a

sernm esclarecidas

No que tange à política governamental, a situação não é bem a mesma, sendo ambíguos os sinais emitidos pelo Planalto. Em artigo intitulado "Governo ci nzento", o jornalista Marco Antonio Villa escreve:

"A presidente Dilma completou cem dias de mandato. É vista como um verdadeiro fenômeno. Elogiada por todos, até pela MAIO2011

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oposição. Todos louvam sua habilidade política e a capacidade gerencial. Alguns lamentam ter votado na oposição, tão eficiente é a sua gestão. Contudo, ninguém consegue identificar algo relevante realizado pela presidente nestes cem dias. O que ela realizau de tão brilhante? Quais os projetos apresentados? E os resultados daqueles desenvolvidos desde 2003? Ninguém. sabe, ninguém viu. Pior, o governo revelou incapacidade e inoperância administrativas raramente vistas no Brasil". 4 No campo da política externa foi cantado em prosa e verso o voto favorável do Brasil ao envio de um relator da ONU ao Irã para investigar a situação dos direitos humanos naquele país. Os aiatolás do regi me iraniano não go taram, é claro. Mas o alcance desse gesto como mudança da política externa brasileira ainda é muito tênue. E traz consigo uma preocupação. A presidente tem batido muito na tecla de que sua política a favor dos direitos humanos é irrenunciável. Se considerados os di reitos humanos em tese, nada a objetar. Mas se nos lembrarmos de que o governo Lula deixou como herança um abominável Programa de Direitos Humanos (PNDH-3) que avança contra a família, favorece a união civil de homossexuais e a adoção de crianças inocentes por eles, qualifica o aborto como problema de saúde pública, profissionaliza a prostituição, golpeia a fundo o direito de propriedade e conduz veladamente a uma verdadeira perseguição religiosa, perguntamos: por que esse monstrengo chamado PNDH-3 não é definitivamente revogado? In stituído por um decreto, o PNDH-3 pode ser revogado por outro decreto. Entretanto, aí permanece e le, de momento inativo, mas como um fantasma ameaçador que a qualquer momento pode lançarse contra o Brasil e os brasileiros. Tanto mais que é notório o desejo de várias ministras do governo de implantá-lo desde já, e que só não o fazem por conveniências de momento. Outro ponto em princípio favorável à política inicial do governo Dilma Rousseff é o esvaziamento da Reforma Agrária. Alertada durante décadas pela lúcida e incansável atuação de Plínio Corrêa de Oliveira e seus seguidores quanto às falácias do agro- reformi smo, a opinião pública foi abrindo os olhos para os aspectos profundamente maléficos da Reforma Agrária, sobretudo em relação aos pobres. As desapropriações desastrosas e inju stas, bem como a criação em série de assentamentos de miséria, parecem estar chegando ao fim, ou pelo menos declinando, por força da repul sa da op ini ão pública. Entretanto, também aqui, por que não revogar de vez as leis de Reforma Agrária, que sucessivos governos demagogicamente promoveram? A atual administração tem larga maioria na Câmara e no Senado. Por que deixar o Brasil sob a ameaça desse entulho leg islativo inadequaCATOLICISMO

do e pernicioso? Tanto mais que, a pretexto de ecolog ia, busca-se agora produzir o mesmo efeito nefasto antes visado pelo sistema de luta de classes do MST e congêneres.

/11alterada a política de estatização Um dos aspectos mais preocupantes do governo Dilma é a continuidade da política de estatização. Sua exigência em substituir o presidente da companhia Vale do Rio Doce pelo fato de este não se alinhar às diretrizes governamentais mostra bem a ânsia da atual administração de tornar subserviente a iniciativa privada. Para a comentarista econômica Miriam Leitão, a intervenção governamental na Vale "é um dos mais indecorosos sinais de retlvcesso da economia brasileira[ ... ] O espantoso é o sinal dado de estatização e a interferência do ministro da Fazenda.[ ... ] Uma conversa do ministro da Fazenda [com o presidente do Bradesco] pedindo a cabeça do principal executivo de uma empresa privada é absurdo. [... ] o governo vem tentando capturar a Vale para a roda das nomeações políticas. É uma reestatização, na prática. [... ] Essa intervenção, se conDilma é a continuidade da política de estatização. O presidente da companhia Vale do Rio Doce não se alinhava às diretrizes governamentais e a presidente exigiu a sua substituição.

sumada, vai mostrar que a empresa tem um gravíssimo problema de governança, já que voltará na prática a ser estatal. Se o governo for bem sucedido no primeiro momenlo, depois virão os outros cargos, as chefias intermediárias e aí a Vale vai se tornar um bom e apetitoso pasto para os indicados políticos como são os Correios, o sistema Eletrobrás, principalmenle Furnas. [... ] O que o governo quer é um. assalto à Vale". 5 Com inegável verve, também a jornalista Dora Kramer alerta: "Ao molde do socialismo moreno inventado por Leonel Brizola, o PT inventou um capitalismo à moda da casa pelo qual empresas privadas têm controle estatal. Ainda que a Vale não sojj.·a qualquer solução de continuidade em sua condução, a saída de Roger Agnelli, tal com.o.foi.feita indica que a maior exportadora do Brasil, dona de um lucro de R$ 30 bilhões, é suscetível a inte,ferências de governo". r, E no que vai dar a tal "Comissão da Verdade", que o governo e a esquerda tanto querem ver aprovada? Que inquietações, que traumas ela trará para o Brasil? A descon ideração da lei da Anistia, ao menos em certos casos, já tem o voto do atual ministro da Justiça, José Ed uardo Cardozo, do PT (foto à dir.). Ele foi enfático a re ·peito: "Não há anistia jurídica àqueles que cometeram delitos em nome do Estado, mas a decisão judicial [do STFI tem que ser aguardada". 7

Expectativa Essas interrogações não escla rec idas nos levam à convicção de que, decorrido e tes primeiros 100 dias de governo, importa não considerar apenas os sinais ev identes de mudança de estilo: cumpre permanecer atento às ações concretas que venham a ser realizadas, como também às omissões gritan tes. Por exemplo, a não revogação do PNDH-3. Desejamos ardentemente que a atual presidente desenvolva um governo anti-socialista voltado para a harmonia das classes sociais, respeitoso da propriedade privada e ela livre inici ativa, bem como dos princípios morai s que regem a conduta humana. Mas seria ingênuo desconsiderar que ao comemorar seus 31 anos de ex istência ( 10-2- 11), o PT, partido ao qual ela pertence, divulgou uma resolução em que diz expressamente: "O terceiro governo dernocrático e popular [Dilma] será o da conlinuidade e do aprofundamento da grande lransformação iniciada há oilo anos no País pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva". Nossa posição, pois, é de expectativa. • E-mail para o autor: catol icismo@ 1erra.com.br

Notas: 1. Cfr. C11ia Seabra, in Pe1is1as c11ida111 de 'Chávez pema110' - " Folha de S. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Paulo", 4-4- 11 . " Fo lha de S. Paulo'·, 6- 11 - 1O. htlp://b logs.ab ril.com .br/b logdojj/20 11 /0 l/rainha-di lma.h1m l "O G lobo" , 5-4- 11. Idem, 23-3- 11. "O Estado de S. Paulo", 6-4-1 1. Idem, 19-3- 11 .

MAl02011

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Aborto de bebês anencefálicos: institucionalização de prática desumana

NORMAL

ANENCEFALIA

"No mínimo, a questão da anencefalia abre o caminho para a eliminação das crianças com outras afccções congênitas letais, pelo chamado efeito ladeira escorregadia" . modrfrcado de

www anencephalre rnlo org/imagelmed_ sketch grf

da atual conjuntura, Catolicismo se dirigiu a um especialista, o Dr. Rodolfo Acatauassú Nunes, que gentilmente concedeu ao nosso colaborador Diogo Waki a entrevista que segue. O Dr. Rodolfo é professor adjunto do Departamento de Cirurgia Geral da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ; Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Livre Docente pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica.

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oltou recentemente à pauta do Supremo Tribunal Federal uma "ação de descumprimento de preceito fundamental" (ADPF nº 54/STF), em tramitação há quase sete anos e que visa declarar constitucional a prática do aborto em casos de anencefalia. Se der provimento a tal "ação", o STF violará gravemente a Lei de Deus ("Não matarás!") e o sentimento de milhões de brasileiros, além de abrir as portas para o aborto total e irrestrito em nosso País. Por essas portas - que o Congresso, dependente do voto popular, ladinamente se esquivou de abrir - passarão depois outras práticas monstruosas, como a eutanásia, a eliminação de portadores de doenças incuráveis, de deficientes físicos, de crianças com outras afecções congênitas letais; e, por fim , até de crianças normais, com o abortamento autorizado em qualquer caso. Nesse ritmo, o que restará da sociedade brasileira se os próprios "valores inegociáveis", refletidos na Constituição e por ela assegurados, vieram a ser anulados de um momento para outro pela instância máxima da Justiça? Assim, devemos lutar por todos os meios legítimos contra a despenalização do aborto do feto anencefálico, pois além de ser um mal em si , ele abre precedente para que outras barbaridades venham a ser praticadas com autorização judicial. Para tratar desse problema tão relevante CATOLICISMO

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/Jt: Rodolfo: "Constitui objeto absolutamente estranho à prá tica médica eliminar um ser lmma110 sob a alegação de faltarem co11dições téc11icas para tratar da doença "

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Catolicismo - O Sr. poderia expor brevemente o que é a anencefalia? Dr. Rodolfo - A anencefa li a - pela etimologia do termo (a= ausência) - é muitas vezes erroneamente considerada como uma afecção caracterizada pela ausência do encéfalo. Na realidade deveri a chamarse meroanencefalia (mero = parte), pois ela acomete parte do encéfa lo. A anencefali a é resultante de um defeito de fec hamento da parte anterior do chamado tubo neural, estru tura que se fo rma por vo lta da terceira semana de desenvo lvimento do embrião. Esta falta de fec hamento afeta, sobretudo, a porção anterior do encéfalo embrionári o que tem três I artes: anterior, média e posterio r. A parte anteri o r será futu ra me nte representada pelos he mi sférios cerebra is que poderão estar ausentes. Há mais pres ·rv a-

ção das estruturas médias e, sobretudo, posteriores, que originarão o tronco cerebra l e o cerebelo. E m conjunto com a lesão cerebra l, há associadamente um defeito da cobertura óssea e couro cabeludo, fazendo com que no lugar da abóbada craniana ex ista um tecido cérebro- vasc ular que fi ca ex posto. Admite-se que a fa lta da proteção proporcionada pela cobertu ra, exporia os he misférios cerebra is à lesão pe lo líquido amniótico e à pressão intra-uterin a. É importa nte ressa lta r que a anencefalia não equi vale à morte encefálica porque somente parte do encéfalo é afetada. Assim , por exemplo, a criança com anencefalia pode respi ra r e chorar, condições que não acontecem de form a alguma na morte encefálica. Acredita-se que estas cri anças possam ter um nível primitivo de consciência, pe lo fe nômeno da ne uropl as tic idade (certos neurôni os podem faze r o pape l de outros), confirmado pe las próprias mães que costumam referir um certo grau de interação com seus filh os. Este assunto da consc iência é bastante complexo na anencefali a, principalme nte pe lo escasso aprofund amento científico do assunto. Catolicismo - Tramita há anos no Supremo Tribunal Federal o processo visando à aprovação do aborto de anencefálicos. Recentemente o Ministro Marco Aurélio afirmou que colocará tal processo na pauta de votação. Os Ministros do STF já têm suas posições definidas a respeito? Dr. Rodo(/o - Não posso afirm ar como serão os votos, mas to rn a-se segurame nte muito importante conhecer os fund amentos cie ntíficos sobre a matéri a, que nem sempre é do inte iro domíni o dos ilustres mini stros, que têm sua fo rmação básica na área

"É 1·eco11l1ecido que o abortamento pode realm ente determinar seqüelas psicológicas e sentime11tos de culpa, algumas vezes levanclo ao suicídio "

do Dire ito. Por isto, tem havido um esforço da CNBB para levar aos senhores ministros uma contribuição prove niente da área das ciências da Saúde, esclarecendo pontos relativamente obscuros, que poderia m levar a uma interpretação equivocada, como aquela que vimos na pergunta anterior. Catolicismo - O Sr. poderia citar um, ou alguns de seus principais argumentos contrários ao aborto em casos de nascituros portadores de anencefalia? Dr. Rodo(fo - O principa l argumento é que con titui obj eto absolutamente estra nho à prática médica eliminar um ser humano sob a alegação de fa ltarem condições técnicas para tratar da doença que o aflige. Infe li zmente existem doe nças congênitas leta is e a anencefalia é uma delas. Contudo, provocar deliberada me nte a morte destes pequenos pacie ntes nunca será solução para resolver um problema complexo. Para essas doenças exi ste todo um tratamento preconi zado pe la Medicina Pali ativa. Por outro lado, muito se tem avançado na preve nção das doenças de fec ha mento do tubo neural com a po líti ca da ANVISA de adição de ác ido fó lico às far inhas e os primeiros resultados começam a ser publicados mostrando a redução na taxa desta afecção. Uma dúvi da que ex iste é se esta adição poderia contribuir para o aparec imento de fo rmas menos graves de anencefalia, com maior sobrevi da, a exe mpl o do que em sido registrado com outra doença orig inada da fa lha no fec ha mento do tubo neural, em sua porção posteri or, chamada de meningomielocele. Finalmente, não se deve subestimar o avanço da ciênc ia e, neste ponto, começa a surgir na li teratura a possibilidade do emprego da terapia com célul astronco nos defeitos do tubo neura l. Talvez, com a me lhora das técnicas de Medicina Fetal, possa haver, em futuro re lativamente próx imo, a possibili dade ele terapia intra- útero da anencefali a, naqueles casos que escapara m à pre venção com o uso do ácido fólico no período. Catolicismo - É comum o trauma da mãe submetida a aborto de filho anencefálico, decorrente do problema de consciência por ter permitido que se matasse seu bebê? Dr. Rodoljo - É reconhecido que o abortamento pode realmente determinar seqüelas psicológicas e sentimentos de c ulpa, algumas vezes levando ao suicídio. Ac redito que à mãe deveri a ser d ito, que a cri ança que ela está gerando tem infe li zmente uma doença congêni ta, no momento sem cura, a qual torna a sobrevida curta, a maioria fa lecendo nas pri meiras 24 horas, mas podendo em a lguns casos chega r a mais de um ano. E que tudo será fe ito para

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Marcela de Jesus Ferreira nos braços de sua mãe

tratar adequadamente des ta c rian ça, abrindo a possibi lidade de a mãe manifestar todo o seu a morneste curto período de vida. Es ta mensage m, aliada a atitud es de so lid a ri edade, diminuiri a e m muito o sofrim e nto da mãe e afasta ria de vez a fal sa so lução do abo rto.

Catolicismo - Ainda que tais nascituros vivessem apenas alguns dias - ou o tempo que Deus lhes concedesse -, qual a razão do empenho governamental em eliminar os anencefálicos antes de nascerem? Dr. Rodo(fo - Não acredito que haja propria mente um e mpe nh o govern ame ntal e m eliminar estas cri anças. O que ex iste é a pressão por seto res da sociedade, que tê m um a visão mais utilitari sta do ser humano aliada, por vezes, a urn a concepção errô nea da doe nça e urn a subestimação do avanço da ciência e m sua ca pac idade resolutiva de problemas. De fato, tem hav ido, desde já há alg um te mpo, a introd ução da impiedosa prática do descarte de seres hum anos, apare nte mente inúte is, e que re presentari am urna carga des necessári a àq ueles que os produzem. Esta falta de humanidade e de deli cadeza no trato com a pessoa humana de ve ser vencida pac ie nte mente, com o diálogo e, sobretud o, com o exe mpl o do bem c uid ar. Naturalmente, sem consentir que esta práti ca desumana seja instituc ionalizada. Catolicismo - Muitos abortistas alegam que a gestação de feto com anencefalia acarreta ris-

CATOLICISMO

"Tem havido a intl'odução da impiedosa p1·ática do descal'te de seres humanos, apare11teme11te inúteis, e que revresental'Íam uma carga desnecessária"

co de vida para a mãe. Tal alegação é procedente? Dr. RodoUo - A ges tação de um a c ri ança com ane ncefa lia pode c ursar de forma no rmal o u p de m acontecer prob lemas tais corno excesso de líquido amniótico, hiperte nsão a rteri al e o utros. No e nta nto, es tas afecções podem se r co ntorn adas com tratamento específi co, tal corno aco ntece e m o utras gestações . Naturalme nte, estas condições, urn a vez reveladas, não impõem a necess idade imedi ata de interrompe r a g ravidez para sa lvar a vida da mãe. Todas são, em princípio, susceptíve is de controle. Catolicismo - A medicina já utiliza algum tratamento para evitar a anencefalia fetal? Dr. Rodolfo - O uso-de ác ido fó lico no pe ríodo Peri -concepcio na l é fund amental. Mulheres que desej am e ngrav idar de vem fazer uso do ác ido fó lico, desde a ntes da g ravidez, pois a má- fo rmação qu e o ri gina a a ne ncefa li a ocorre no prime iro mês de g ravidez, quando a mulher muitas vezes não sa be ainda se está gráv ida. Daí procede a es tratég ia dos ó rgãos de Saúde Pública de adic io nar ác ido fó lico às fa rinhas. Mulhe res qu e tê m um hi stórico a nterio r de urn a c ri ança com defeito de tubo neura l devem faze r uso de doses mais elevadas. Catolicismo - Há casos de diagnósticos de má formação cerebral durante a gestação não obstante os quais os bebês tenham nascido normalmente?

Dr. Rodo(f<, - Salvo um erro g rosseiro, o diag nóstico ultrassonográfi co da a ne ncefali a é confi áve l e difi cilme nte haverá um res ultado fal so pos iti vo ou fal so negativo. Catolicismo - Se tal processo for aprovado no STF, não há o risco de posteriormente se desejar a aprovação de outras leis permitindo o aborto de nascituros diagnosticados com outros tipos de doenças? Ou, pior ainda, abrir o caminho para se aprovar uma lei do aborto total , ou seja, em qualquer caso, mesmo de nascituros perfeitamente saudáveis? Dr. RodoUo - Este ri sco ex iste. No mínimo, a questão da ane ncefali a a bre o ca minho para a e limin ação das c rian ças com o utras afecções congê nitas letai s, pe lo c ha mado efeito " ladeira esco rregadia". Aberto o precede nte, abre-se o es paço para a elimi nação de c ri a nças no rm ais. Por isto, é impo rtante não ace itar, de forma a lgum a, a introdução da eli minação pe la morte para a resolução de um a doen ça incurável e m um dado mo mento hi stórico. A hi stória da Medicina mostra, co nstante me nte, médicos declarando doen ças inc urá ve is e sendo des me ntidos, pouco te mpo depoi s, pelo pró prio ava nço da c iê ncia ou pela "ousadia" de o utro méd ico que mostrou um a nova fo rm a de resolve r o proble ma.

"É importante não aceitai; de forma alguma, a introdução ela elimhwção vela mol'te vara a resolução ele uma doença incurável em um dado momento histórico "

fluenciar de algum modo uma decisão do STF que proteja a vida de todos os nascituros, inclusive dos anencefálicos? Dr. l?odo(fo - Em prime iro lu gar, informar-se bem e não se deixar leva r pela etimologia do te rmo que condu z a um erro grosseiro de interpretação: "Na a nencefalia ha veri a a falta do encéfa lo e co nseqüe nte me nte a cri a nça esta ria e m mo rte e ncefá lica. E se está e m morte e ncefálica a criança est,\ c lini came nte mo rta e a le i pe rmite até a retirada de ó rgãos . Por qu e ta nta di sc ussão?". O princ ipal erro a ev itar é a desinformação e é isto que está faze ndo o ass unto prosperar. Outra des informação é a questão da . obrev ida. Há qu e m di ga qu e es tas c ri anças mo rre m imedi atamente após o parto. De fato, a maio ri a delas mo rre nas primeiras 24 horas, mas há aque las qu e ultrapassam um dia, um a se mana, um mês e um ano. Neste aspecto, foi amplame nte notic iado o caso da crian ça brasil eira, Marcela de Jes us Ferre ira (foto à esq.), com anencefalia que viveu por um ano e oito meses. A lg un s, que seq uer ate nd era m a cri a nça, chega ram a desq ualificar o diagnós ti co fe ito pe los médi cos ass istentes. Os exa mes de imagem fora m e nv.iados a médicos no ex te rior, entre os quai s o professo r Alan Shew mo n, da Unive rsidade da Ca li fó rnia, es pec iali sta em defeitos de tubo ne ural e todos confirmaram o diag nós ti co fe ito no Bras il. Desta fo rm a, deve ser a rg um e ntado às pessoas em pos ição-c have do executi vo, legislativ o e judi ciário, que o res peito à vida para com es tas c ri anças - portadoras de um a afecção, no mo me nto inc un'íve l - deve ser mantido, através dos c uidados pali at ivos , e nqu a nto a c ura ainda não est,\ di sponível. Não ad mitindo a eliminação dos e nfe rrn os,já se está lutando contra a eliminação dos sa ud áveis. •

Catolicismo - O que o senhor sugere aos brasileiros contrários ao aborto no sentido de in-

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INFORMATIVO RURAL

Código Florestal: "engessamento" da agropecuária brasileira

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uma das maiores manifes tações de produtores ru rais realizadas até hoje em Brasíli a, a bancada ru ralista levou 15 mil pessoas à Esplanada dos Minjstérios, segundo estim ativa da Polícia Mili tar. E m discursos, os ruralistas ameaçaram retali ar os deputados que votare m contra o projeto que altera o atual Código Florestal, altamente lesivo aos interesses do setor. "Não há um senador ou deputado que não tenha recebido sequer um voto de um produtor rural. Quem nos trair, afrouxar e for covarde, terá o troco. Vamos mostrar quem são os inimigos do agronegócio" - disse o deputado Abelardo Lupion (PPPR). O governador de M ato Grosso do Sul , André Puccinelli (PMDB ), fo i na mesma linha: "quem não votar (a favo r do projeto) será considerado traidor" ("O Globo", 6-4-11).

"Ganhei o dia com esse folheto! Al ém de organi zar uma ca mpanha de envio de milhares de e-mails aos deputados e senadores pela reforma do malfadado Códi go F lorestal, Paz no Campo distribuiu ainda uma grande quanti dade de folhetos aos agropec uaristas re unidos e m Brasíli a, com sig nificati vas repercussões de apoio. "Ganhei o dia com esse fo lheto! Estou cansado de só ouvirfalar em ceder", exclamo u um participante, enquanto outro j á estava tra nsmitindo pelo celul ar para sua cidade: "Acabei de receber o f olheto da Paz no Campo . Ouça o que está escrito! " Para que os leitores de Catolicismo possam conhecer a importância desse debate, segue o texto do fo lheto.

Ceder para 11ão penler ou r esistir para vencer? N a hora "H" é comum entra r e m cena o "ceder para não perder"! É preciso reje itá- lo co m todo vigor, pois meia verdade equi vale a uma mentira in teira. A di scussão sobre o novo Cód igo Ambiental não se restr inge a uma disputa entre ambi entali stas e produtores ru rais. O homem do campo CATOLICISMO

ama e defende a natureza criada por Deus, depende do meio ambiente e da preservação da água e do solo. E mbora a grande poluição venha das cidades, só o ru ralista é criminalizado. O debate apaixonado sobre o tema revela apenas a ponta do iceberg de divergências profundas e pouco explicitadas sobre a civilização e o progresso. De um lado, a pretexto de uma sociedade solidári a, ex iste uma concepção tribali sta di vini zadora da natureza e desdenhadora do homem, a qual é defendida pela corrente comunomi ss ionária contrária ao desenvolvimento e ao verdadeiro progresso. De outro, baseada no direito de propriedade, na livre iniciativa e no princípio da subsidi ariedade, está a concepção do dire ito natu ral e da c ivili zação cri stã, que deve ser respeitada e defendida pe lo Estado. E m torno da celeuma do novo Códi go Florestal defro ntam-se duas concepções de vida: l ª - A da corrente que abarca religiosos seguidores da Teologia da Libertação, indi geni stas, ambi e ntalistas radi ca is e ONGs estrangeiras, todos articulados para demolir o agronegócio e a sociedade atual. 2ª - A dos que postulam a paz no campo e por isso lutam em defesa da lei natural e da civili zação cristã, sobre cujos fundamentos desejam ver nossa sociedade restaurada e conduzida ao apogeu através de um autênti co progresso.

Mome11to Jústl>rico da agmpecuária Nosso produtor ru ra l é um herói! Apesar de todas as perseguições ideológicas, e le proj eto u a agro pec uária bras il eira co mo grande cele iro do mundo futuro. Após alimentarmos nossa população com comida fa rta e cada vez mais barata, com o excedente ainda nos tornamos o segundo mruor exportador de grãos do mundo. Produzimos 80% de todo o suco de laranja consumido mundialmente e 40% de todo o café; somos o maior exportador de soja e de 40% de todo o açúcar exportado; produzimo o equivalente a 500 mil barris de etanol por dia. Tornamo- nos também o primeiro criador mundi al de rebanho bovino, o maior exportador de carne bo-

O folheto de Paz no Campo é distribuido aos produtores rurais presentes à manifestação na Esplanada dos Ministérios

vina e o segundo e o terceiro maior exportador de fra ngos e suínos. Em lO anos, acumul amos superáv it da balança comercial de mais de 400 bilhões de dó lares . Graças à agropecuária, superamos sem gra ndes percalços a crise econômica que assolou o resto do mundo . A F AO declarou que o Brasil é o país com maio r potencial de crescimento agrícola para suprir as necess idades mundi ais de alimentos nos próx imos 40 anos.

As ameaças contra a agropecuá ria Ainda assim , nossa agro pecuári a continu a ameaçada!

Ameaça da Reforma Agrária: desaprop riações do INCRA e in vasões do MST. Apesar do asso mbroso fracasso dessa reforma, seus in veterados propulsores parecem não querer abrir os olhos ne m os ouvidos para a realidade.

Os asse ntamentos da Reforma Agrária ocupam 83 milhões de hectares, área superior à de toda a plantação de grãos, de cana e da sil vicultu ra. E para não morrere m de fo me, os assentados ainda recebem Bolsa Famíli a e cestas bás icas ... Ameaça quilombola: fa lsos quilo mbo las re ivindica m 25 milhões de hectares, quase a área do estado do Rio Grande do Sul. Ameaça indigenista: as terras indígenas correspondem a 13% do território nacional (ou 1, 1 milhões de km 2) para uma popul ação estimada em 250 mil sil víco las na área ru ra l. Ou seja, mais de qu atro vezes o território do Estado de São Paulo, que nos seus 248.808,8 km2 abri ga 40 milhões de habita ntes. E tais demarcações parecem estar longe do fim , pois a FUNAI anunc iou mais 129 áreas a serem delimitadas. Há ainda as ameaças dos " índices de produtividade", do uso po lítico do geo-referenciamento e da mentira a propósito

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do "trabalho escravo". Sem contar as leis trabalhi stas e ambi entai s, totalmente impraticáveis e alheias à vida do ca mpo, as quais transformaram a vida do ag ricultor em verdadeiro inferno !

Mo<lilicação arbitrária elas leis

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INTERNACIONAL

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Bolívia: protestos pouco destacados pela mídia

que os órgãos da fiscalização ambi ental aplicassem aos " infratores" multas mon struosas, além do espectro da pri são. Vítimas ele uma retroatividade jurídica abs urda, produtores rurai s - homens de be m - viraram vilões do me io ambiente ela noite para o dia e foram postos à marge m da lei.

É proibiclo produzir O Estado brasileiro - grande produtor de leis e efic.ientísTodo este cipoa l de Medidas Provisórias e portarias "ensimo cob rador de impostos - transfere de modo insensato para o produto r rural o ô nus da pretensa me lhoria do meio gessa" e faz retroceder substancialmente a produção, o emambiente, quando tal custo, a ser necessári o, deveria reca ir prego, a renda cio campo e a arrecadação dos muni cípi os. sobre toda a sociedade. Por solicitação do governo, a Embrapa Monitorarnento por Assim, o antigo Cód igo F lo restal Brasileiro (Dec reto Satélite realizou pesqui sa, na qual conc luiu que "em termos le23793/34) já passou por sete alterações. O Código atual (lei gais, só 29% do País seriam passíveis ele ocupação agrícola". Por que isso? Porque 7 1% 477 l/65) estabeleceu limites ao direito ele propriedade quanto ao do Brasil estão lega lme nte destinados à " preservação ambi enuso e à exploração do so lo e elas ALCA~CE TERRITORIAL tal" e às ass im chamadas " mifl o restas. nori as". Ini cialmente, a Reserva LeDAS UCs +Tis+ R. LEGAL + APPs ga l e ra ele 25% elas florestas A E MBRAPA c hegou à UCs- Tls 2194.343 km2 2 o/o ex iste ntes. Depois fo i alterada conclusão de que a produção rupara 20% da propri edade. E ral ele arroz de várzea em SP, RS RISIR\"ALIGAL: 2.685.5.t2 km2 32% e MA , e a de soja em GO, SP, poste riormente passo u a ser ele APPs l..t-'2.54.t km2 lo/o 80% na região amazô ni ca, 35% MT, MS e PR, já se encontra na 6.059.526 km1 * TOTAL lo/o il egalidade ! no Cerrado e 20% nas demais 29 % 2A 55.350 km2 DISPO:\ÍYI L regiões. Além disso, e m J 986, •ESSE :,,"(;~[ERO XÀO CORRESPOXIE .~ SO~L\ E:U,A DOS TRÊS Ceder para JJão perder .t.'\i'ERIORES POIS R.-Í. Lll DÊncrr DE .-Í.R.E..\P ..\R.UTl:.'\l>EIUS fo i cri ado e ac rescentado o con..\PP1:SO 810 U .UIAlÔ:\1.\E XO P..\.'ló .t.'lóAL DE .lól9Q2 kr.i2 Oll l'esistil' para VCJJCer? ceito de Áreas de Preservação Vamos unir nossas forças Permanente (APPs). para afastar ta is ameaças à agroE m 1996, sob a influênc ia pecuária nac ional. Vamos gado Mini stério do Meio A mbienrantir o futuro cio País com ali te, ambi entali stas radicais, perUCs (Unidades de Conservação) mentação ab undante para o nosseguidores do agronegócio e da Ti s (Terras Indígenas) APPs (Áreas de Preservação Permanente) so povo. propriedade privada, passaram Se não houver reação, o Braa " leg islar" através de Medidas sil passará num futuro próximo Provi sóri as, decretos, portarias , ele exportador de alimentos a importador, exata mente no moinstruções norm ativas e reso luções cio CONAMA - Conselho mento em que o mundo mais preci sa ela produção bra ·ile ira. Nacional cio Meio Ambiente. Não permitamos que mais de 7 1% das terras fiqu em "enC hega mos ass im ao abs urdo de um verdadeiro entulh o gessadas" pe las mãos do Estado, em no me de um absurdo ambientali sta, com mai s de 16.000 dispositivos ! ambientali smo e sem nenhum fruto para o nosso povo . A partir ele 1998 , o Cód igo F loresta l passou a incorporar a E nvi e mensagem aos deputados e senadores de seu estado Lei ele Crimes ambientais (9605/98), que transformou em cripara imped irmos esse malfadado entulho ambienta li sta. • me diversas infrações administrativas. A mudança permitiu

Não perca tempo! Entre no sité Paz no Campo e participe da Campanha enviando logo a sua mensagem

CATOLIC I SMO

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Paz no~ Campo

H ELI O DIAS VI ANA

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mídi a brasileira é de fato curi osa. Ainda há pouco - num evento intern ac ional - Evo Morales foi sua vedete preferida. Hoje, quando a Bolívia deita labaredas por todos os lados, em decorrência de greves e outras ma ni festações co ntrári as ao go verno, nosso público quase não é info rmado. É be m verdade que os atuai s protestos naque le país poderiam ter objetivos mais e levados . Por exempl o, de opos ição ao fato de Evo Morales ter pro mul gado no início deste ano a Lei dos Direitos ela Mãe Terra, class ificado por um espec ia li sta e m bioética ele " louc ura total ", e estar pressio nando a ONU para leg islar no mesmo sentido. Ta l le i abstrusa concede à "M ãe Terra" - inclusive aos insetos e às árvores - direitos iguais aos humanos! Eritretanto, muitas dessas manifestações se re lac ionam com as necess id ades da ex istênc ia ele todos os dias, sem as quai s ta mpouco se vive. E a questão que mais fe rvilha no momento é o aumento cios sa lári os, com o govern o oferecendo até 10% e dizendo não ter dinheiro para mais, e nqu a nto os manifestantes - professores, func io nári os públicos, operári os etc. - ex igem pelo menos 15%. Toda essa situação fez com que o co nhec id o diário es panhol "E l País" ( 12-4- 11) estampasse matéria co m o seguin te título: A Bolívia vive o maior número de protestos dos últimos 4 1 anos. - O le ito r sabia di sso? Pois bem, o jornal prossegue: "O presidente da Bolívia, Eva Morales, vive hoje, do outro lado da cena, o pesadelo dos conflitos sociais, dos quaisfq_i um dos principais protagonistas a partir dos sindicatos

Inimigo dos pobres e traidor são os novos títulos dados a Evo MoÊa ~

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cocaleiros, nos primeiros cinco anos da década passada. O que ele ignorava é que não somente iria provar de seu próprio remédio, mas que Leria de suportar o maior número de expressões de descontentamento registrado em 4 1 anos". E para mostrar a extensão cios protes-

tos, "El País" informa que de acordo com o Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social (CERES), de Cochabamba, em 201 Oocorrera m 8 11 conflitos sociais (greves, protestos de rua, fechamento de estradas ou ele vias e rebeliões nas prisões), com uma média mensal de 67 coníl itos! E que no prime iro trimestre de 201 1já se produziram outros 240, em comparação com os 207 havidos no mesmo período do ano passado. Dada a magnitude das manifestações, algo j á tran spira na mídia nacion al. Segundo a "Fo lha de S. Paulo" ( 15 -4- 11 ): " Milhares de manifestantes bloquearam parte da capital da Bolívia, La Paz, e outras cidades e chegaram a cercar a casa do presidente Eva Morales". - Será que o sucul ento espóli o da Petrobrás - conse ntido prazerosamente por Lula - ou os petroclólares venezuelanos conseguirão tirar do apuro o "companheiro" bolivariano? Seja como fo r, o leitor brasile iro não está sendo sufi ciente mente informado. • E-ma il pa ra o auto r: cato lic isrno @te rra.com.br

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"Mas quem terá escrito coisas tão 6e(as so6re a Mãe tÍe Deus?" S anto Afonso Maria de Ligório deixou uma centena de obras, entre as quais se destaca Glórias de Maria Sanlíssima. Escrita em 1750, quando o santo contava 53 anos, é considerada um monumento pere ne de sua profunda devoção a Nossa Senhora. Este liv ro propiciou larga divulgação da devoção mari ana e alcançou em pouco tempo 11. ed ições . Hoje, está traduzido e m praticamente todas as línguas . Conta-se que, j á bem idoso - Santo Afonso fa leceu aos 9 1 anos - , ele pediu a um irmão redentorista que o entretivesse com algum liv ro de piedade. O irmão passou e ntão a le r Glórias de Maria Santíssima . E m pouco tempo da le itura, o santo perguntou: "Mas quem terá escrito coisas tão belas sobre a Mãe de Deus? " O relig ioso olhou a capa e le u o nome do autor: Afonso M aria de Ligório. E m sua humildade, o sa nto mudou de ass unto ... E is um trec ho da oração co mposta pelo santo a uto r, rogando proteção da Santíssima Virgem para essa obra: "Ó minha caríssima Rainha, aceitai este li vro e protegei-o como propriedade vossa. Mas ficai cienle de que por este pequeno obséquio exi,jo uma recompensa: a de amarvos doravante mais do que no passado, e que cada um daqueles em Ct,(jas mãos for parar o liv ro, fique abrasado de vosso amo,: Que nele aumente de repente o desejo de amarVos e de Vos ver amada por todo o mundo. Que de todo coração se ocupe em espalhar e promover vossos louvores e a confiança em vossa poderosíssima intercessão. Am.ém. Assim espero. Assim seja". É com os mesmos votos que transcrevemos para os le itores de Catolicismo - neste mês de maio, mariano por excelência - trechos escolhidos da primeira parte de Glórias de Maria Santíssima, intitul ada Explicação da Salve Rainha - Das abundantes e numerosas graças dispensa,las pela Mãe de Deus aos que a servem devotamente [vide quadro à p. 33]. Esse livro constitui um precioso tesouro. E oferecendo-o parcialme nte aos nossos leitores, estamos co locando e m suas mãos as valiosíssimas jóias esp irituai s nele contidas para se alcançar a salvação eterna. Sirvam e las, pois, de incitamento a uma crescente devoção mariana, sin al ineq uívoco de predestinação, como o le itor verá confirmado pelo próprio santo ao dizer que "é impossível que se perca um devoto de Maria, que fielmente a serve e a Ela se encomenda". Com pequenas ada ptações, o texto a seguir fo i extra ído da tradução da me ncionada obra publicada pela Editora Vozes Ltda. (V ed ição, Petrópolis, RJ, 1957).

A Direção de Catolicismo

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R ainha cheia de áoçura e áe demência, semyre incúnaáa ajavorecer eJazer bem a nós, yobresyecaáores. Tendo sido a Santíss ima Vi rge m e levada à dig ni dade de M ãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja a ho nra, e que r que sej a ho nrada po r todos com o títul o g lori oso de Rainha. Se o F ilho é Rei - di z o Pseudo Atanásio - justa me nte a Mãe deve considera r-se e c hamar-se Ra inha. Desde o mo mento que M ari a aceito u ser M ãe do Verbo Etern o - di z São Bern ardino de S ie na - , mereceu to rnar-se Ra inha do mundo e de todas as c ri aturas . Se a carne de M ari a, concl ui Arno ldo abade, não fo i dive rsa da de Jes us, como, pois, pode a M ãe ser sepa rada da mo narqui a do F ilho? Por isso deve julgar-se que a gló ri a do reino não só é comum e ntre Mãe e o Filho, mas ta mbém q ue é a mesma para a mbos. Se Jesus é Re i do Uni verso, do Uni verso també m é M ari a Ra inha - escreve Roberto abade. De modo que, na frase de São Bern ardino de S ie na, qua ntas são as c ri atu ras que serve m a Deus, ta ntas ta mbém deve m servir a M ari a. Por conseguinte, estão sujeitos ao do mínio de Maria os anjos, os ho mens e todas as coisas do Céu e da Terra, porque tudo está também sujeito ao império de Deus. E is por que G uerrico abade lhe dirige estas palavras: "Continuai, pois, a dominar com toda a

Maria é Mãe muito solícita e desvelada "Eu sou a Mãe do belo amor" di z M aria (Ec li . 24, 24). O a mo r de M aria - observa certo autor - embeleza nossas almas aos olhos de Deus e le va essa amorosa M ãe a nos te r por fi lhos. O nde está a M ãe, perg unta São Boaventura, q ue ame seus fi lhos e vele sobre e les como vós, dul císsima Ra inha, nos a ma is e c uidais de nosso ad ia nta mento espiri tual? r... ] E m todas as batalhas co m o inferno sere mos sempre vencedores segura me nte, se reco rrermos à Mãe ele Deus e nossa, d izendo e repetindo: "Sob a tua proteção nos refugiaremos, ó Santa Mãe de Deus!"[ ... ] A legra i-vos, porta nto, todos os que sois filhos de M aria. Sabei q ue E la aceita po r filh os seus qu antos o que rem ser. Ex ulta i! Como temer po r vossa sa lvação, te ndo esta Mãe que vos defende e protege?

confiança; disponde ao vosso arbítrio dos bens de vosso Filho; pois, sendo Mãe, e Esposa do Rei dos reis, pertence-vos como Rainha o reino e o domínio sobre todas as criaturas".

Maria é Rai11ha <le Mi sericórdia Mari a é, po is, Ra inha. Mas saibamos todos, para consolação nossa, que é uma Ra inha c heia de doç ura e de cle mê ncia, sempre inc linada a favorece r e faze r bem a nós, pobres pecado res. Q ue r po r isso a Ig rej a q ue a saude mos nesta o ração com o no me de Ra inha de Mi sericórdia. O própri o no me de ra inha - cons idera Sa nto A lberto Magno - denota piedade e providê ncia para com os pobres, e nquanto o de imperatriz dá ares de severidade e ri go r. A mag ni ficê nc ia dos reis e das ra inh as consiste em ali viar os desgraçados, diz Sêneca. E nq uanto os tiranos governam tendo e m vista apenas seus in teresses pessoais, os re is deve m procurar o bem de seus vassalos . Por isso na sagração dos re is se lhes unge a testa com ó leo. É o símbo lo da m isericórd ia e beni gn idade de que devem estar animados para com seus súditos . Devem, po is, os reis e mpenhar-se princ ipa lmente nas obras de m isericórdi a, mas se m om itir, q uando necessári a, a justiça para com os ré us. Não ass im Ma ri a. Se bem q ue seja Ra inha, não é ra inha de justiça, ze losa do castigo aos malfe itores. É Ra inha de M isericórdi a, inc lina só à piedade e ao pe rd ão dos pecadores . Por isso desej a a Igreja q ue expressame nte lhe chame mos Rainha de M isericórd ia. [ ... ] Q ua nta não deve ser, pois, a nossa confia nça nesta Ra inha, sabendo nós quanto E la é poderosa perante Deus e c heia de mi seri córdia para com os ho me ns! r...l

Gramleza do amor de Maâ a par a co110sco Recorra mos, pois, e recorramos sempre à proteção desta d ulcíss ima Rainha, se que re mos seguramente sa lvar- nos. Espanta e desa nima- nos a visão de nossos pecados? Le mbremonos e ntão que M ari a fo i ele ita Rainha de M iseri córdi a, prec isamente para, com sua proteção, sa lva r os ma io res e mais abando nados pecado res que a Ela se recome nda m. [...]

Maria é nossa Mãe espiritual O pecado, quando privou a nossa alma da divina graça, pri vou-a também da vida. Estávamos, pois, miseravelmente mortos, quando veio Jesus, nosso Redentor, com excessiva misericórdia e amor, restituir-nos a vida pela sua morte na cruz. Ele mesmo o declarou: "Eu vim para elas (as ovelhas) lerem a vida, e para a terem em maior abundância" (Jo I O, 10). Se Jesus é Pa i de nossas almas, M ari a é a Mãe. Pois concedendo- nos Jes us, de u-nos E la a ve rdade ira vida . E m seguida proporc io no u-nos a vida da div ina graça, q uando ofereceu no Ca lvá ri o a vida do Filho pela nossa salvação. E m duas difere ntes ocasiões to rno u-se, po rta nto, Ma ri a nossa Mãe espiri tual, como e ns inam os Santos Pad res. [... J Jesus qui s ser o único a mo rre r pe la rede nção do gêne ro humano. "Eu calquei o lagar sozinho" (Is 63, 3). M as viu como Maria desej ava arde nte mente to mar parte na salvação dos ho me ns. Deci diu então que E la, com o sacri fíc io e a oferta da vida do seu mesmo Jesus, cooperasse para nossa salvação, ·1 e des te modo vi esse a ser Mãe de nossas almas.

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CATO LI CIS M O

Maria não pode deixar de a mar-nos. Se, pois, Mari a é nossa Mãe, cons ideremos q uanto E la nos a ma. O amo r dos pa is pa ra com os filh os é um a mo r necessário. E esta é a razão adverte Santo Tomás - por que, po ndo a divina lei prece ito aos filhos de a mare m os pais, não pôs preceito ex presso aos pa is de ama re m os fil hos. Po is o a mo r aos própri os fi lhos é a mor com ta nta fo rça imposto pela própri a nat ureza, q ue mesmo as feras mais cruéis - como disse Santo Ambrós io - não podem de ixar de amá-los. Contam os natura listas q ue até o ti g re, o uvindo o bram ido dos fil hotes capturados pelos caçadores, se la nça ao ma r e va i nada ndo até o navio e m que os levam. Se, po is, nem os próprios tigres se esquece m de sua prole - diz nossa Mãe tern íssi ma - , como poderei eu esquecer-me ele me us fi lhos? "Pode

acaso uma mulher esquecer sua criança de braço, de sorte que não tenha cornpaixão do.filho de suas entranhas? Mas se ela a esquecer; eu Lodavia não me esquecerei de ti" (Is 49, 15). "E se em algum tempo - continu a a Vi rgem - se desse o caso de uma mãe se esquecer de um.filho, não é possível que eu cesse de amar uma alma, de que sou Mãe" . [... ] Re un íssemos nós, enfim, o a mor de todas as mães a seus filh os, de todos os esposos às suas esposas, de todos os anj os e santos para co m seus devotos, não ig ualari a todo esse a mo r ao q ue Ma ri a te m a uma só alma. É mera sombra o a mor ele todas as mães aos seus fi lhos, quando comparado ao de Mari a para conosco, d iz o Pad re Nie re mbe rg. M uito mais nos ama

E la só - di z o mes mo padre - , do que a mam uns aos o utros os a njos e santos. [... ] É no tó ri o qu e M a ri a fo i so líc ita para co m todo o gêne ro huma no . É, po rtanto, mui to recome ndá ve l a práti ca ele alg uns devotos de Mari a, os quais - como refere Corné li o a Láp ide costuma m pedir ao Senho r lhes conceda aque las graças, que para e les lhe pede a Sa ntíssim a Virgem. E com razão, di z o citado a Lá pide, pois a nossa M ãe deseja- nos bens maiores cio que nós mesmos poderíamos desejar. O devo to Berna rd ino de Busti afirm a que M a ri a desej a faze r-nos bem, e co ncede r-nos favores , a inda mais cio que nós desej a mos recebê- los. Segundo Santo A lberto Mag no, a pli cam-se essas pa lavras do li vro ela Sabedori a: "Ela se antecipa aos que a desejam e se lhes patenteia primeiro" (Sab. 6, 14). Antecipa-se Mari a a q ua ntos a Ela recorrem, para que a e ncontre m antes que a busquem. "É lal o bem-querer alvoroçado desta Mãe, d iz Ricardo, que vem logo ao nosso socorro e

descobre as nossas precisões. Tão boa Mcie é, pois, Ma ria para todos, até para os ingratos e ind(fe rentes que pouco a invocam e amam! Que Mãe será então para aqueles que a amam e com.fi eqüência a invocam ?" "Os que a arnam encontrarn-na facilmente" (Sa b. 6, 12). [ .. .] Tem, pois, razão São Boave ntura ao exc la mar: "Bem-aventurados aqueles que têm a dita de ser fiéis servos e amantes desta Mãe amantíssima!" S im , porque esta gratíss im a Ra i0

nha não ad mi te que a ve nçam em amo r os seus devotos servidores. Maria, imi ta ndo ni sto Nosso Senho r Jesus C ri sto, com seus be nefíc ios e favo res dá a q ue m a ama o seu amo r d uplicado. Exc la mare i, pois, com o infla mado Sa nto Anselmo: "Sern-

pre arda por vós o meu coração, e toda a minha alrna se consuma no vosso amor; ó Jesus, rneu am.ado Salvado ,; ó Maria, minha am.ada Mãe. Concedei, pois ó Jesus e Maria, a graça de amar-Vos, já que sem a vossa graça ncio posso fa zê-lo. Concedei à minha alma pelos vossos merecimentos, não pelos m.eus, que eu vos ame quanlo vós m.ereceis. Ó Deus tão am.ante dos homens, vós pudestes morrer pelos vossos inúnigos. E a quem vo-la pede, poderíeis negar a graça de cunar a vós e a vossa Mãe?" [... J

Maria também é Mãe dos 1Jecadures a1rnpe11di<los Mari a gara ntiu a Santa Bríg ida q ue é Mãe não só cios justos e in ocentes, mas ta mbém dos pecado res que se q uere m e me nda r. Se, desejoso de e me nda, recorre um pecado r a esta Mãe de Miseri córdia, o h, co mo a e ncontra pronta para o abra-

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"Por mais cu[paáo que stja um homem, se vem a mim com sincero arr91enáimento, estou semyreyronta a aco(hê-fo" L emos por isso pouco de pois: "Quem

çar e socorre r, ainda mais do que se fosse sua mãe corporal. Era justamente o que o Papa Gregório VII escrevi a à princesa M atilde : "Desiste da vontade de pecar e acharás Maria, eu o

me encontra, encontra a vida e receberá do Senhor a salvação" (Prov. 8, 35). "Ouvi-o, vós que procurais o reino de Deus - exclamou São Boaventura honrai a Santíssima Virgem Maria e achareis a vida juntamente com a eterna salvação".

garanto, mais pronta em amar-te do que tua própria mãe". Portanto, que m aspi ra ser filho desta grande M ãe, é preciso que primeiro deixe o pecado, e depois será sem dúvida aceito por filho . [... ] Mas como ousará chamar-se filho de M aria quem tanto a desgosta com a sua má vicia? Certo pecador di sse um di a a Maria : "Mostra que és minha Mãe?" E a Virgem lhe respondeu? "Mostra que és meu filho!" Um o utro, invocando-a, chamava-lhe Mãe de Misericórdi a. Mas Ela lhe di sse: " Vós,

Na afirmação de São Bernardino ele Siena, D eus não destruiu o homem logo após o pecado, devido ao singular amor para com esta sua futura filha. Não lhe resta a menor dú vida de que todas as mi sericórdias e mercês, em fa vor dos pecadores na Antiga Lei, só lhes tinham sido feitas por Deus em consideração desta abe nçoada Virgem.[ ...]

os pecadores, quando quereis que vos ajude, me chamais de Mãe de Misericórdia; e depois por vossos pecados não cessais de me .fazer Mãe de misérias e de do res". [.. .]

Maria é também nossa vida, po1·que 110s alca11ça a perseverança

Efeitos do amor de Maria para com os pecadores Suponhamos que uma mãe soubesse que dois filh os seus eram inimigos mortai s, inte ntando um tirar a vida cio outro. Em tal conjuntura não seria deve r de toda boa mãe proc urar e ncarec idamente como pacificá-los? Assim pergunta Conrado de Saxôni a. "Ora, Maria é Mãe de Jesus e Mãe dos ho-

mens. Aflige-se quando vê um pecador inimizado para com Jesus e tudo f az por reconciliá-lo com seu di vino Filho". Do pecador só ex ige a be ni gníss ima Rainha que se recomende a E la e tenha o propós ito de e mendar-se. Vendo-o a seus pés a implorar-lhe perdão, não o lha para o peso de seus pecados, mas para a inte nção com que se a presenta. Se esta é boa, ne m que o pobre haja cometido todos os pecados do mundo, abraça-o e como te rn a M ãe, não desdenha c ura r- lhe as chagas que traz na alma. Po is é Mãe ele Mi sericórdi a, não só de no me, senão de fato , e e m verdade tal se mostra pela ternura e pelo amor com que nos socorre. A própri a Virgem Santíssima assim o revelou a Santa Brígida. "Por mais culpado que

seja um homem, se vem a mim com sincero arrependimento, estou sempre pronta a acolhê-lo. Não considero a enormidade de suas f altas, mas tão som.ente as disposições do seu coração. Não recuso ungir e curar as suas fe ridas, porque me chamo e realmente sou Mãe de Misericórdia". É Maria a Mãe dos pecadores que se quere m conve1ter. Como tal não pode deixar de compadecer-se deles. Parece até que sente como próprios os males de seus pobres filhos. A cananeia, ao pedir que o Senhor lhe livrasse a filha do demônio que a atormentava, di sse-lhe: "Senhor; Filho de David, tem compaixão

de mim; minha filha está muito atormentada pelo demônio" (Mt 15, 22). Mas se a filha, e não a mãe, era atormentada pelo demônio, parece que deveria di zer: "Senhor, tem piedade de minha filha!" Mas não; ela disse: "Tem compaixão de mim " e com muita razão . Pois sentem as mães como própri os os sofri -

CATOLICISMO

me ntos cios filhos. Ora, cio mesmo modo, di sse Ricardo de São Lourenço, pede Maria a Deus quando intercede por qualquer pecador que a E la recorre. Pede- lhe que de la se compadeça . Me u Senhor - parece di zer-lhe - esta pobre alma, que está em pecado, é minha alma; por isso compadecei-vos não tanto dela, como de mim, que sou sua mãe. [.. .]

"VlDA E DOÇURA NOSSA" A oração de Mari a o btém-nos a graça da ju 'tificação. Para a exata compreensão ele por que a Santa Igreja nos ordena que cha memos Maria de nossa vida, é neces ári o saber que, assim como a alma dá vida ao corpo, assim também a graça divina dá vida à alma. U ma alma sem a graça divin a só tem nome de viva, mas na realidade está morta, como foi dito àquele bi spo no Apocalipse: "Tens reputação de que vives, mas estás morto" (A poc. 3, l ). Obte ndo Mari a por me io de sua inte rcessão a graça aos pecadores, deste modo lhes dá vida. Ouçamos as palav ras que a Igrej a lhe põe na boca, apli cando- lhe a seguinte passage m do livro dos Provérbi os: "Os que vigiam desde manhã por me buscarem, achar-me-ão" (8, 17). O s que recorrem a mim desde manhã, isto é, sem de mora, certa mente me acharão. Ou , segundo a tradução grega: e ncontrarão a graça. De modo que recorrer a Ma ri a é recorrer à graça de Deus.

A perseverança fin al é um dom divino tão grande que, como disse o santo Concíli o de Trento, é um dom todo ele gratuito que de nenhum modo podemos merecer. Contudo, Santo Agostinho di z que alcançam de D eus a perseverança todos aqueles que lha pedem. E conforme diz o Padre Suárez, infa livelmente a a lcança m os que são diligentes até ao fim da vida em pedi-la a De us. Por isso escreve São Belarmino: "Peça-se a

na graça. Para quem j á está e m graça é finalmente sol , cuj a luz o livra de cair em algum precipíc io. [... ] Concluamos, pois, com as palavras de São Bernardo : "Homem, quem quer

se sejas, já sabes que nesta vida vais flutuando mais entre perigos e tempestades, do que caminhando sobre a terra. Se não queres ser submergido, não apartes os olhos dos resplendores desta estrela. Olha para a estrela, chama por Maria. Nos perigos de pecar, nas moléstias das tentações, nas dúvidas do que deves resolver, considera que Maria te pode ajudar, chama logo por Ela para que te socorra. O seu poderoso nome nunca se aparte do teu coração pela confiança, nem da tua boca para o entoares. Seguindo a Maria, não errarás o caminho da salvação. Quando te encomendares a Ela, não desconfies; sustendo-te, não cairás. Protegendo-te Ela, não temas perder-te; sendo tua guia, sem fadi ga te salvarás. Em suma, pretendendo Maria def ender-te, certamente chegarás ao reino dos bem-aventurados". [... ]

"DOÇURA NOSSA, SALVE"

perseverança todos os dias, para que ela seja obtida cada dia". Ora, se é verdade - como eu o tenho por certo, conforme sentença hoje comum que depois mostrarei - que todas as graças que De us nos di spensa passam pelas mãos de Maria, é também verdade que só por meio de Mari a pode mos espera r e con seguir esta sublime graça da perseverança. Esta mesma graça Ela promete a todos aqueles que fielmente a servem nesta vida. "Os que agem por mim não pecarão; aqueles que me tornam conhecidos, terão a vida eterna" (Ecli . 24 , 30). [... ]

Por intermédio de Maria obternmos a graça ela perseverança Com as p alavras do livro dos Pro vérbios, a nós se dirige M aria: "Feliz aquele que me ouve e que vela todos os dias à entrada da minha casa" (8, 34). Feliz que m escuta a minha voz e por isso está alerta para vir sempre à porta da minha misericórdia, em busca de socorro e de luzes. Sem dúvida não deixará Maria de obter-lhe lu zes e força para sair do vício e trilhar a vereda da virtude. Pelo que graciosame nte Inocêncio III a c hama "lua de noite, aurora de manhã, sol de dia". É lua para quem está cego na noite do pecado, a fim de esclarecê-lo e mostrar-lhe o mi serável estado de conde nação em que se acha. É aurora, isto é, precursora do so l para quem já está iluminado, a fim de fazê-l o sair do pecado e recuperar a divi-

"Aquele que é amigo o é em todo tempo; e nos transes apertados conhece-se o irmão" (Prov. 17, 17). Os amigos verdadeiros e os verdadeiros parentes não se conhecem no tempo de prosperidades, mas sim no das angústias e das desventuras. O s amigos cio mundo não de ixam o ami go, enquanto ele está na prosperidade. Mas o abando nam imediatamente, se lhe acontece uma desgraça ou dele se av izinha a morte. Tal não é o procedimento de Maria para com seus devotos. Nas suas a ngústias e especia lme nte nas da morte, que de todas são as pi ores, essa boa Senhora e M ãe não abandona seu fiéis servos. [... ] Quando uma alma está para sair desta vida, di z Isaías, o in ferno todo se conturba e manda os de mônios mais terríveis a tentá-la antes de sair cio corpo para de poi s ac usá-l a, quando se apresentar ao tribunal de Jesus Cristo. " O inferno lá embaixo se agita para receber-te à tua chegada e diante de ti levanta gigantes" (Is 14, 9). Mas Ricardo di z que os demônios, em se tratando de uma alma patrocinada por M aria, não te rão atrevimento, nem mesmo para ac usá-la. Pois sabem muito bem que o Jui z nunca conde nou, nem condenará j amais uma alma patrocinada por sua grande M ãe.

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B em-aventuraáo, diz Maria, quem ouve meus conse(fws eyermanece constantemente àyorta áe minha misericórdia, invocanáo minha intercessão e meu auxíâo.

Sa(ve Rainha

"ESPERANÇA NOSSA, SALVE" Não s upo rta m os he reges que saude mos e c hame mos a M ari a nossa espe rança. Di ze m que só De us é nossa esperan ça, e que Ele amaldi çoa que m põe sua confi ança na cri atura. "Maldito o homem que co11fia no homem " (Je r 17, 5). M aria é criatura, obj etam eles; como, po is, uma criatura há de ser a nossa es pe rança? Isto di zem os he reges . E ntretanto a Sa nta Ig rej a que r que cada di a todos os ec les iásticos e todos os re lig iosos e m voz alta, e e m no me ele todos os fi é is, in voque m e cha me m a M ari a co m este no me de es perança nossa. De dois modos - di z o a ngéli co Santo To más - podemos pôr nossa esperança num a pes oa: como causa principal o u como causa medi ata. Que m desej a o bte r cio re i uma graça, espe ra alcançá-la de le como sobe rano senhor, e es pera obtê- la cio seu mini stro o u váli do, como intercessor. No último caso a g raça conced ida ve io cio rei, mas por inte rmédio do seu váli do. Po rtanto, quem prete nde a g raça, co m razão c ha ma aquele seu inte rcessor ele sua esperança. Por ser ele infinita bo ndade, o Re i do Céu desej a suma mente nos e nriquecer com as suas g raças . M as po rque para isso é necessári a ela nossa parte a confi ança, pa ra aumentá- la de u-nos o Senhor sua própria M ãe po r ad vogada e intercessora, e concede u-lhe pl e nos pode res a fim de nos vale r. Po r esta razão quer ta mbém que nela co loque mos a espe rança de nossa sa lvação e de todo nosso bem. Se m dú vida são ama ldi çoados pe lo Senho r - como di z Jeremi as - aque les que põem sua confiança uni camente na cri atura . Tal é o procedime nto dos pecadores que, em troca da ami zade e dos préstimos ele um ho mem, não se incomodam de ofender a De us. São abe nçoados pe lo Senhor e lhe são agradáveis, po ré m, os que espe ram e m M ari a, tão poderosa como Mãe de Deus, para impetrar-lhe as g raças e a vida ete rna. Pois ass im De us que r ver aquela exce lsa c ri atura ho nrada, E la q ue neste mundo o amo u e ho nro u mais do que todos os anjos e ho me ns juntos. É, porta nto, com muita razão que cha ma mos a Virgem de es pe ran ça nossa, porque, como diz o Cardeal São Ro berto Be larmino, "esperamos pela sua intercessão obter o que não alcançaríamos só com nossas orações". In voca mo- la, o bserva S uárez, "para que a dignidade da intercessora supra a nossa f alia de méritos". De modo que, continua ele, "invocar a Vir-

gem com tal esperança não é desco,iiar da misericórdia. de Deus, senão temer pela própria indignidade". [... ]

CATOLICISMO

"A VÓS BRADAMOS, DEGREDADOS FILHOS DE EVA" Co mo po bres filh os da in fo rtun ada Eva, so mos réus ela mesma c ulpa e conde nados à mes ma pe na. Anda mo.- e rrando po r este vale de lág rim as, e xil ados de nossa pátri a, chora ndo po r tantas do res que nos afli gem no corpo e no espírito . Feli z, po ré m, aque le que entre ta is mi séri as se dirige muitas vezes à consolado ra do mundo, ao refú g io dos pecadores, à grande M ãe de Deus. Feli z quem a in voca e imp lora com devoção! Bem-aventu rado o ho me m que me o uve e que "vela todos os dias à entrada de minha casa" (Prov . 8, 34). Bem-aventu rado, di z Ma ri a, que m o uve me us conse lh os e permanece con. tante me nte à porta de minha mi seri córdi a, invocando minha intercessão e me u a ux íli o. [ ... ] Ne m mes mo a mu ltidão de nossos pecados de ve diminuir a confia nça, quando nos prostramos aos pés de Mari a. E la é a M ãe ele mi sericórdi a, mas a mi seri córd ia não te m razão de ser onde não há mi séri as pa ra alivi ar. Uma boa mãe não hesita e m tratar de um filh o coberto de chagas repug nantes, a inda que lhe custe a bnegações e traba lhos - observa Ricardo de São Lourenço. Da mesma fo rma ta mbém não sabe nossa boa Mãe aba ndo na r-nos, quando po r E la c hamamos, po r ma is horripila ntes que seja m os pecados dos que prec isa nos c urar. E ju ta me nte isto qui s Ma ri a s ig nifi ca r qua ndo a pareceu a Santa

Alguns atribuíram esta maravilhosa oração ao Bispo Adernar de Puy (+ 1098). Mas seu verdadeiro autor é Hermano Contracto(+ 1054), monge beneditino do convento de Reichenau, no lago de Constança. Certamente também é dele a admirável melodia da Salve Rainha. Já os primeiros cruzados cantaram-na em 1099, prova de que era conhecida pelo povo. Nos sécs. XII e XIII o costume de cantá-la logo após as Completas difundiu-se cada vez mais. Faziam-no igualmente os Cistercienses desde 1218 e os Dominicanos desde 1226. Em 1239, o Papa Gregório IX introduziu esse cântico nas igrejas de Roma. Encaminhavam-se os monges, de velas acesas, para um altar lateral e ali o entoavam. No início, o hino dizia: Salve, Rainha de Misericórdia. No século XVI foi-lhe introduzida a palavra Mãe. Desde então se lê no Breviário Romano: Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia. As palavras finais da Salve Rainha - "Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria"-, acrescentadas em 1146, são atribuídas a São Bernardo de Claraval, por ocasião de um êxtase na Catedral de Speyer, na Alemanha.

Sa(ve Rainha, Mãe áe Misericónlia,

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viáa, áoçura e eperança nossa, sa(ve! A Vós 6raáamos, os áegreáaáosji(fios áe Eva! A vós supiramos, gemenáo e clioranáo, neste va(e áe (ágrimas! Eia, _pois, aávogaáa nossa, esses vossos o(lios misericonliosos a nós vo(vei. E ápois áeste áesterro, mostrai-nos Jesus, 6enáitojruto áe vosso ventre, 1

ó demente, ó_pieáosa, ó áoce se»!}'re Virgem Maria. Rogai_por nós, Santa Mãe áe Deus,

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_para que sgamos ái9nos áas_promessas áe Cristo! 1

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P eros merecimentos áe Jesus Cristojoi conced"üía a Maria a granáe autoriáaáe áe ser Meáianeira áa nossa safração. Gertrudes, estendendo o seu manto para cobrir com e le todos os que a Ela recorriam. Ao mesmo tempo entendeu a santa que todos os anjos têm empenho em defender os devotos de Maria contra os assaltos do inferno. [...] E se alguém duvidar de ser socorrido de Maria ao invocála, ouça a repreensão de Inocêncio III: "Quem é aquele que pediu socorro a esta doce Soberana e Ela não o atendeu ?" Aqui exclama o Beato Eutiquiano: " Ó Virgem Santa, que podeis ajudar todo miserável, salvar os maiores pecadores, quem alguma vez solicitou vosso poderoso patrocínio e por vós foi desamparado?" Tal caso nunca se deu e nunca se há de dar. "Concordo, diz São Bernardo, que nunca mais exalte vossa misericórdia, ó Virgem Maria, aquele que, tendo invocado vosso auxílio em suas necessidades, se recorde de ter sido abandonado por vós". [.. .] Digam, poi , todos com grande confiança, invocando esta Mãe de Mi seri córdia, o que lhe dizia o Pseudo-Agostinho: " Lembrai-vos, ó piedosíssima Senhora, que não se tem ouvido, desde que o mundo é mundo, que alguém fosse de vós desamparado. E por isso, perdoai-me se vos digo que não quero ser o primeiro infeliz, que, recorrendo a vós, não consiga o vosso amparo ". [...] Não só do Céu e dos santos é Mari a Santíssima Rainha, senão também do inferno e dos demôni os, porque os venceu valorosa mente com suas virtudes. Já desde o princípio do mundo tinh a Deus predito à serpente infe rnal a vitória e o império que sobre ela obteria nossa Rainha. "Eu porei inimizade entre ti e a mulher; Ela te esmagará a cabeça" (Gn 3, J 5).

"A VÓS SUSPIRAMOS, GEMENDO E CHORANDO NESTE VALE DE LÁGRIMAS" A invocação e veneração dos santos, particularmente a de Maria, Rainha cios bem-aventurados, é uma prática não só lícita, senão útil e santa. Poi s procuramos por meio dela obter a graça divina. Esta verdade é ele fé, estabelecida pelos concíli os contra os hereges que a condenam como injúria feita a Jesus Cristo, nosso único Medianeiro. Mas se, depois ela morte, um Jeremi as reza por Jerusalém ; se os anc iãos cio Apocalipse apresentam a Deus as orações cios santos; se um São Paulo promete a seus discípulos le mbrar-se de les depoi s da morte; se Santo Estêvão intercede por seus perseguidores e um São Paulo, por seus companheiros; se, em suma, podem os santos rogar por nós, por que não poderíamos nós, por nossa vez, CATOLICISMO

A intercessão de Maria provém da sua cooperação na Redenção Uma sentença de São Bernardo diz: "Cooperaram. para nossa ruína um. homem e um.a m.ulhe,: Convinha, pois, que outro homem e outra mulher cooperassem para a nossa reparação. E estes foram. Jesus e Maria, sua Mãe. Não há duvida, Jesus Cristo, só, foi suficientíssimo para remir-nos, mas conveniente era, entretanto, que para a nossa reparação servissem ambos os sexos, assim como haviam cooperado ambos para a nossa ruína ". Pelo que Santo Alberto chamou Maria "a cooperadora da nossa Redenção". A própria Virgem revelou a Santa Brígida que assim como Adão e Eva por um pomo venderam o mundo, assim também Ela e seu Filho com um Coração o resgataram . "Do nada pôde Deus criar o mundo, observa Santo Anselmo, mas não quis repará-lo sem a cooperação de Maria". [... ]

rogar-lhes para que intercedam por nós? Às orações de seus di scípulos recomenda-se São Paulo: "Irmãos, rezai por nós" (1 Tess. 5, 25). São Tiago exorta-nos a "rogarmos uns pelos outros" (5, 16). Podemos, por conseguinte, fazer o mes mo. Que Jesus Cristo seja o único Medi ador de justiça a reconciliar-nos com De us pe los seus merecimentos, quem o nega? N ão obstante isto, Deus se compraz e m conceder-nos suas graças pela intercessão dos santos e especialme nte de Maria, sua M ãe, a quem tanto deseja Jesus ver amacia e honrada. Seria impiedade negar semelhante verdade. Quem ignora que a honra prestada às mães redunda e m glória para os filhos? Os pai s são as g lórias dos filho s, lemos no livro dos Provérbios (] 7, 6). Quem muito enaltece a mãe, não prec isa ter receio de obscurecer a g lória do filho. Poi qu anto ma is se honra a Mãe, tanto mais e louva o Filho, diz São Bern ardo . E observa Santo Ildefon so: "É tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se presta à Mãe e à Rainha". Ao mes mo tempo está fora de dúvida que pelos merecimentos de Jes us Cristo foi concedida a Maria a grande autoridade de ser Medianeira da nossa salvação, não de ju stiça, mas de graça e intercessão, como bem lhe chamou Conrado de Saxônia com o título ele "fidelíssima medianeira de nossa salvação". E São Lourenço Ju stiniano pergunta: "Com.o não ser toda cheia de graça, aquela que se tornou a escada do paraíso, a porta do Céu e a verdadeira Medianeira entre Deus e os homens?"

"EIA, POIS, ADVOGADA NOSSA" Tão grande é o prestígio de uma mãe, que nunca pode tornar-se súdita de seu filho, ainda que e le seja monarca e tenha domínio sobre todas as pessoas do seu reino. É verdade que, sentado agora no Céu à direita de Deus Pai, reina Jesus com supremo domínio sobre todas as criaturas e também sobre Maria. E o tem mesmo como homem, di z Santo Tomás, por causa da uni ão hipostática com a pessoa do Verbo. Todavia, também é certo que quando vivia na Terra, nosso Redentor qui s humilhar-se a ponto de ser submisso a Maria. "E lhes estava sujeito" (Lc 2, 51). "Sim, desde que Jesus Cristo se dignou escolher Maria por Mãe, estava como Filho realmente obrigado a obedecer-lhe", di z Santo Ambrósio. "Os outros santos - reflete Ricardo de São Lourenço - estavam unidos à vontade de Deus; contudo teve Maria maior ventura. Pois não só foi submissa à vontade de Deus, mas também o Senhor se submeteu à sua vontade". Das outras virgens diz-se que "seguem. o Cordeiro por toda parte". Porém de Maria, podese dizer que o Cordeirinho de Deus a seguia, porque lhe foi submisso. Daí concluímos que ainda que não possa dar ordens a seu Filho no Céu, as súplicas de Maria são eficacíssimas para obterem tudo quanto E la pode. Pois os seus rogos são sempre rogos de Mãe. [... ]

É certo, e m suma , que não há cri atura alguma que nos possa obter tan tas mi sericórdias como esta boa advogada. Não só Deus a honra como sua serva dileta, mas sobretudo como verdadeira Mãe. Di z Guilherme de Pari s: " Uma só palavra de seus lábios é quanto basta para o Filho atendê-la". [...]

Maria cui(/a de cada um de nós São Boaventura anima os pecadores nestes termos : "Que deves fazer se, por causa de teus pecados, ternes a vingança de Deus? Vai, recorre a Maria, que é a esperança dos pecadores. Estás, porém, receoso de que Ela não queira tornar tua defesa? Pois então .fica sabendo que é impossível tal repulsa; pois o /JrÓp~io Deus encarregou-a de ser o refiíg io dos pecadores". "É lícito a um pecador dese~perar de sua salvação, quando a própria Mãe do Juiz se lhe oferece por mãe e advogada?" - pergunta o abade Adão de Perseigne. E continua: " Vós, ó Maria, que sois Mãe de Misericórdia, recusaríeis interceder junto ao vosso Filho que é Juiz por um filho vosso que é pecador? Em fa vor de uma alma recusaríeis falar ao Redentor, que morreu na cruz para salvar os pecadores ? Não; não podeis fa zê-lo; pelo contrário, de coração vos empenhais por todos os que vos invocam".

"ESSES VOSSOS OLHOS MISERICORDIOSOS A NÓS VOLVEI" " Durante sua vida na Terra, tinha a Virgem um coração cheio de piedade e ternura para com os homens", observa São Jerônimo ; mas tinha-o de tal forma que ningué m pode sentir tão vivamente suas próprias aflições, como Mari a sentia as alheias . Bem o mostrou nas bodas ele Caná. Na falta ele vinho, diz São Bernardino de Siena, "a Senhora assumiu espontaneamente o ojrcio de compassiva consoladora. Compadecida da aflição dos noivos, empenhou-se junto ao Filho e obteve o milagre que fe z abundar o vinho nas talhas de água ". Dirige-se São Pedro Damião a pergunta: "Porventura vos esquecestes de nós, miseráveis, agora que estais exaltada à dignidade de Rainha do Céu? longe de nós tal pensamento! É incompatível com a grande piedade do vosso coração o olvido de uma tão grande miséria como a nossa".

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"E imyossívd sa(var-se quem não é áevoto áe Maria e não vive sob sua yroteção ", áiz Santo Anse(mo. Maria socorre seus devotos 110 Purgatório

"As honras mudam os costumes", afirma um conhecido adágio. Mas ele não é ap licável a Maria. Vale para os homens no mundo, que se ensoberbecem e esquecem os antigos amigos pobres, logo que se vêem elevados a alguma di gnidade. Maria Santíssima não procede assim. Justamente para melhor aj udar aos mi seráveis é que se rejubila com sua grandeza. [... ] Quando se dizem devotamente à Santíss ima Virgem estas palavras: "Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei ", não pode Maria deixar de volver os olhos para quem a invoca. Ass im foi revel ado a Santa Brígida. [ ... ] Se, por causa de nossos pecados, a desconfiança nos invadir, digamos com G uilherme de Paris: "Ó Senhora minha, não me lanceis em rosto meus pecados, porque lhes oporei vossa grande misericórdia. Jamais se diga que minhas culpas puderam contrabalançar no juíza a vossa misericórdia. Pois esta é muito mais eficaz para obter-m.e o perdão, que todos os meus pecados para valerem-me a condenação".

"E DEPOIS DESTE DESTERRO, MOSTRAI-NOS JESUS, BENDITO FRUTO DO VOSSO VENTRE" É impossível que se perca um devoto de Maria, que fie lmente a serve e a Ela se encomenda. À primeira vi sta talvez pareça um tanto ousada esta proposição. Antes, porém, que seja rejeitada peço se leia o que a respeito eu vou apresentar. Afirmo que é impossíve l perder-se um devoto da Mãe de Deus. Não me refiro àqueles que abusam dessa devoção para pecarem com menos temor. Desaprovam algun s que muito se celebrem as mi sericórdias de Maria para com os pecadores, di zendo que estes dela abusam para mais pecarem. Mas injustamente o desaprovam. Pois esses presunçosos, por esta sua temerária confiança, merecem castigo e não mi sericórdi a. Falo tão somente daqueles devotos de Maria que, ao desejo de emenda, unem a perseverança em obsequiá-la. Quanto a estes, repito, é moralmente impossível que se percam . O mesmo afirma o Padre Crasset em seu livro A verdadeira devoção à Virgem Maria. E antes já o afirmaram Vega na sua Teologia Mariana , Mendoza e outros teólogos. Que eles não fa laram irrefletidamente, vê- lo-emos pe las afirmações dos Doutores e dos santos. Ningué m se adm ire à vi sta de tantas sentenças uniformes dos autores. Qui s referi-las todas, a fim de provar o aco rdo geral dos escritores sobre este ponto. "É impossível salvar-se quem não é devoto de Maria e não vive sob sua proteção". diz Santo Anselmo, e também é CATOLICISMO

imposs íve l que se condene que m se encomenda à Virgem e por Ela é olhado com amor. [... ] No sa lmo 99 de seu Saltério Mariano chega até a dizer que não só não se salvará, mas que nem esperança de sa lvação terá aque le do qual Mari a aparta o seu rosto. Até o protestante Eco lampádio tinha por indíc io certo de reprovação a pouca devoção à Mãe de Deus. [... ] Por isso o demônio trabalha para que os pecadores, depo is de perderem a graça de Deus, percam também a devoção de Maria. Eis as belas palavras de São João Damasceno, rean imando a sua e a nossa esperança: "Ó Mãe de Deus, se em vós puser minha confiança, serei salvo. Se estiver sob vossa proteção, nada tenho a recear porque a devoção para convosco é uma segura arma de salvação, concedida por Deus s6 aos que deseja salvar". Por isso até Erasmo assim saudava a Santíss ima Virgem: "Deus vos salve, ó terror do ü~ferno, ó esperança dos cristãos; a co,~fiança em vós assegura a salvação ". J.. ."I Estes e outros exemp los , entretanto, não devem servir para autori zar a temeridade dos que vivem e m pecado, confiados de que Maria os haj a de livrar do infe rno, ainda que morram impenitentes. Re matada loucura fora , certamente, lançar-se alguém para dentro de um poço, na esperança de ver-se livre da morte, porque M aria em caso seme lhante já preservou a outros. Muito maior loucura seria, entretanto, arriscar-se a lgué m a morrer no pecado, presumindo que a Santíssima Virgem o preservará do infe rno.

Muito feli zes são os devotos desta piedosíssima Mãe. Pois Ela não só os socorre neste mundo, mas também no Purgatório são ass istidos e consolados com a sua proteção. Por terem essas almas maior precisão de socorro, empenha-se a Mãe de Misericórdia com zelo ainda mais intenso em auxili á-las. E las muito padecem e nada podem fazer por si mesmas . Diz São Bernardino de Siena que Maria Santíssima tem nes e cárcere certo domínio e pleno poder, tanto para aliviá-las como também para livrá-las completamente daquelas penas. [ ... ] Refere São Pedro Damião que certa mulher chamada Marózia apareceu depois de moita a uma sua comadre, e lhe di sse que no dia da Assunção de Maria havia sido libertada do Purgatório . Que juntamente com ela saíra um tão considerável número de a lmas, que excedia o da popul ação de Roma. A re peito das festividades do Natal e da Ress urreição do Senhor, assevera Dionísio Cartusiano o mesmo privilégio. Diz que em tais dias desce Maria ao Purgatório, acompanhada por muitos anj os, e liv ra uma quantidade de almas daque las pena . E Novarino inc lina-se a crer que o mes mo sucede em todas as fes tas solenes da Santa Igreja. Conheci díssima é a promessa que Maria fez ao Papa João XXII. Apareceu-lhe certo dia e ordenou-lhe fi zesse saber a todos aqueles que trouxessem o escapul ário do Carmo, que seriam li vres do P urgatório no primeiro sábado depo is da morte. Fê- lo o Papa por uma Bula que publicou, e que foi depois confirmada por Alexandre VII, Pio V, Gregório XIII e Paulo V. [ ... J

abade Guerrico, "seu amoroso coração ncio pode cessar um momento de ser misericordioso conosco". "E que outra coisa pode jorrar de uma fonte de piedade, senão piedade?" - pergunta São Bernardo. Por isso, Maria foi c hamada "uma bela oliveira no campo " (Ec li. 24, 19). Como da oliveira só sa i o óleo, símbolo da misericórdia, também só graças e mi seri córdias destilam as mãos de Maria. [... ] Do imperador romano Tito, conta Suetônio, que tinha muito prazer em conceder as graças que se lhe pediam. No dia em que não tinha ocasião de co nceder alguma, las timava-se, dizendo: "Hoje foi um dia perdido para mim ". Tito assim fa lava, provavelmente mai s por vaidade ou por ambição de ser estimado que por verdadeira caridade. Nossa Rainha, porém, se possível lhe fosse passar um dia sem dispensar algum favor, julgá- lo-ia perdido, tão grande é sua caridade, seu desejo de es palhar benefíc ios. E até afirma o Bem-aventurado Bernardino de Busti: "Ela tem mais ânsia de nos fazer favores, do que n6s temos desejo de os receber. Por isso, sempre que a invocamos, a encontramos com as mãos cheias de misericórdia e liberalidade". [... ] Concluamos com a elegante e terna exclamação de São Boaventura: "Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria! Ó Maria, sois clem.ente para com os miseráveis, compassiva para com. os que vos invocam, doce para com os que vos amam; sois clemente para com os penitentes, compassiva para com os justos, doce para com os pe1feitos. Mostrai vossa clemência, livrando-nos cios castigos; vossa piedade, dispensando-nos as graças; vossa doçura, dando-nos a quem vos procura ".

"ó CLEMENTE, Ó PIEDOSA"

"ó DOCE VIRGEM MARIA"

São João acrescenta que Maria tem entranhas de tanta mi sericórdia, que merece ser chamada não só misericordiosa, mas a própria mi sericórdi a. Por causa dos infe lizes foi Maria constituída Mãe de Deus e co locada para lhes dispensar misericórdia, ensina- nos São Boaventura. Considera em seguida a imensa solic itude que Ela tem para com todos os mi seráveis, bem como a sua grande bondade, que acima de tudo consiste em socorrer os necess itados. Essa consideração leva o santo adizer: "Qua ndo olho para vós, ó Maria, parece-me não ver mais a divina jus/iça, mas a divina misericórdia somente, da qual estais cheia" . Em sum a, tanta lhe é a piedade que, como di z o

O sublime no me de Maria não foi encontrado na Terra, nem inventado pelo e ntendimento o u arbítrio dos homen , co mo se dá com os outros nomes. Ve io de Deus e foi-lhe imposto por ordem divina, como o atestam São Jerônimo, Santo Epifâ nio, Santo Antonino e outros. Diz Ricardo de São Lourenço: "A Santíssima Trindade vos conferiu este nome, ó Maria, que é superior a todo nome, depois do nome do vosso Filho; Ela enriqueceu-o de tanto poder e majestade, que ao proferi-lo, quer que se dobrem os joelhos dos que estão no Céu, na Terra e no inferno. O Senhor outorgou vários privilégios ao nome de Maria. Cons ideremos apenas um entre todos MAIO2011

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A sa(utar áoçura áe conforto, áe amor, áe a(egria, áe coefiança e áe j011a(eza, que este nome áe Maria ordinariamente dá àqudes que o_pronuncimn com devoção.

os demais: quanto Deus o fez suave na vida e na morte aos servos dessa Santíssima Senhora". Honório, santo anacoreta, dizia que o nome de Maria é cheio de divina doçura, e o glorioso Santo Antonio de Pádua nele achava tanta doçura como São Bernardino no de Jesus . "O nome da Virgem Mãe - repetia ele - é alegria para o coração, mel para a boca, melodia para o ouvido de seus devotos". Muito grande era a doçura que achava nesse nome o venerável Juvenal, Bispo de Saluzzo. Lê-se em sua vida que se lhe notava nos traços do rosto a sensível doçura, que lhe ficara nos lábios, sempre que pronunciava o nome de Maria. Coisa idêntica sabe-se de uma senhora de Colônia, que contou ao Bispo Marsilio sentir sempre um sabor mais doce que o mel, toda vez que pronunciava o nome da Virgem Santíssima. E, repetindo-o devotamente, o bispo experimentou a mesma doçura. No momento da Assunção da Senhora, três vezes perguntaram-se os anjos pelo nome: "Quem é esta que sobe pelo deserto, como uma varinha de jitmo composta de aromas de mirra e de incenso ?" (Cânt. 3, 6). "Quem é esta que vai caminhando como a aurora quando se levanta?" (Cânt. 6, 9). "Quem é esta que sobe do deserto inundando delícias?" (Cânt. 8, 5). E por que lhe indagam com tanta insistência o nome? pergunta Ricardo de São Lourenço. É para terem o prazer de ouvi-lo mais vezes, tão suavemente lhes soava aos ouvidos. Mas não falo aqui dessa doçura sensível, porque esta não se concede comumente a todos . Fa lo dessa alutar doçura de conforto, de amor, de alegria, de confiança e de fortaleza, que este nome de Maria ordinariamente dá àqueles que o pronunciam com devoção. Na opinião de Franco abade, "é esse nome tão rico de bênçãos que, depois do nome de Jesus, nem no Céu nem na Terra outro se profere e do qual as almas devotas recebam tanta graça, tanta esperança, nem tanta doçura. Porque o nome de Maria contém em si uma virtude tão admirável, tão doce e tão divina, que deixa nos corações amigos de Deus um odor de santa suavidade". [... ] Abrasado de amor, assim falava ternamente São Bernardo à sua bondosa Mãe: "Ó excelsa, ó bondosa e veneranda Virgem Maria! Como é vosso nome tão cheio de doçura e de amabilidade! Ninguém o pode proferir, sem que se veja abrasado de amor para com Deus e para convosco". [... ] Pelo contrário, os demônios, diz Tomás de Kempis, tanto receiam a Rainha do Céu que, como do fogo, fogem de quem invoca o seu grande nome. A própria Virgem revelou o seCATOLIC ISMO

guinte a Santa Brígida: "Por endurecido que seja um pecado,; imediatamente o abandona o demônio, se invoca meu nome com o propósito de emendar-se". Isso mesmo lhe confirmou em outra revelação, dizendo: "Todos os demônios têm um grande pavor e respeito diante de meu nome. Assim que o ouvem invoca,; largam de pronto a alma presa em suas garras ". E se os anjos maus se afastam dos pecadores que chamam pelo nome de Maria, os anjos bons tanto mais se chegam às almas justas que o pronunciam com devoção. Sigamos sempre, por conseguinte, o belo conselho de São Bernardo: "Nos perigos, nos apuros, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca a Maria ; nunca se aparte seu nome de teus lábios, de teu coração. Em todos os perigos de perder a graça divina pensemos em Maria, invoquemos o seu nome e o de Jesus, para que andem sempre unidos esses dois nomes. Nunca se apartem nem do nosso coração, nem da nossa boca, esses dois dulcíssimos e poderosíssimos nomes. Pois eles nos darão forças para não cairmos e para vencermos sempre todas as tentações".

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O nome de Maria é doce, sobretudo na hora da morte Dulcíssimo é, pois, na vida, aos devotos de Maria, seu nome santíssimo, porque - como já vimos - lhes alcança graças extraordinárias. Muito mais doce, porém, ser-lhes-á na última hora, proporcionando-lhes uma suave e santa morte. [ .. .] Roguemos , pois, meu amado e devoto leitor; roguemos a Deus que nos conceda a graça de ser o nome de Mari a a última palavra que a nossa língua pronuncie. Roguemos a Deus que no-la conceda, como lha pedia um São Germando, dizendo: "Ó doce e segura morte, a que é acompanhada e protegida com este nome de salvação, o qual Deus só concede proferir àqueles a quem quer salvar!" Ó minha doce Mãe e Senhora, eu vo amo, e porque vos amo, amo também o vosso nome. Proponho e espero com o vosso socorro invocá-lo sempre na vida e na morte. Concluo, pois, com a terna oração de São Boaventura: "Para a glória do vosso nome, ó bendita Senhora, quando minha alma sair deste mundo, vinde-lhe ao encontro e tomai-a em vossos braços. Dignai-vos vir consolá-la com a vossa doce presença; sede o seu caminho para o Céu, alcançai-lhe a graça do perdão e o eterno descanso. Ó Maria, advogada nossa, a vós pertence defender os vossos devotos, e tomar a vosso encargo a sua causa diante do tribunal de Jesus Cristo". •

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Branca, que de futuro seria m mães respectivamente de São Fernando III e de São Luís Rei da França. A D. Afon so VIU coube ass im a g lória de ser avô daqueles que sem dúvida foram os maiores reis da Idade Média. 1

São Fernando III

"Quem ama, odeia; quem ocleia combate"

O invicto rei de Leão e Castela P rimo de São Luís IX, Rei de França, expulsou os mouros de quase toda a Espanha, fundou a fmnosa Universidade de Salamanca e construiu as mais formosas catedrais góticas do país '

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Dona Berengüela, mãe de São Fernando

CATOLICISMO

PLINI O MARIA SOLIMEO

o início do século XIII, os muçulmanos ~a Espanha uniramse aos da Africa numa grande coligação visando restaurar o império islamita até aos Pirineus. Inocêncio III (1160-1216), um dos grandes Papas da Idade Média, promoveu então uma cruzada dos reis cristãos de Castela, Navarra e Aragão para enfrentar a moirama. O embate se deu no dia ] 6 de julho de l 2 l2, na memorável batalha de Navas de Tolosa, quando o exército cristão desbaratou

o da Meia Lua, salvando assim toda a Europa do iminente perigo muçulmano e estendendo significativamente o limite da Cri tandade de então. Ao término da batalha, o Arcebispo de Tol edo, D. Rodrigo Jimenez de Rada, dividiu o botim: os rei s de Aragão e Navarra ficaram com todas as riquezas dos vencidos. E voltando-se para D. Afonso VIII, de Castela, disse- lhe o Arcebispo: "Quanto a vós, ficais com a glória e a honra do triunfo". Parte des a herança e dessa glória foram sem dúvida suas filhas, as princesas dona Berengüela e dona

Conta-se que certo dia de agosto de 11 99, ao se dirigirem o rei Afonso IX de Leão e a rainh a dona Berengi.iela de Sa lamanca para Zamora, esta deu à luz no acampamento real àq uele que seria um dos maiores guerre iros do seu tempo : São Fernando UI de Leão e Castela. O menino cresceu na corte leonesa sob os cuidados de ua piedosa mãe até a anu lação por dec isão papal do ca amento de seus pai s, porquanto o mesmo hav ia sido efetuado dentro dos grau s de parentesco proibidos então. Dona Berengi.iela voltou para Castela e o menino ficou aos cuidados do pai. Quando contava aproximadamente dez anos, Fernando fo i acometido por doença mortal , não podendo dormir nem co me r. Tomando-o , dona Beren gi.iela cavalgou co m e le até o moste iro de Ofía, onde passou a noite rezand e chorando aos pés da Virgem mil agrosa. E ntão, diz um croni sta da época, "o menino começou a dormir, e depois que acordo u, logo

pediu para comer". Segundo um hagiógrafo do santo, a partir daí tudo mudou: " Desde esse momento, afortuna tornou -se inseparável companheira do amável príncipe: ela o porá em possessão de dois tronos, abrirlhe-á os corações dos homens e, sem atraiçoá-lo jamais, o porá em posse da vilória". 2 De uma piedade combativa, o jovem prínc ipe chorava de indignação quando ouv ia dizer que os mouro blasfemavam contra Cristo e ultraj avam a Espanha cristã. E - como diz um antigo adágio da aguerrida Espanha, " Quem ama, odeia; quem. odeia combate" - seu ód io contra o inimi go da fé crescia em decorrência de seu amor a Deus. Tornar-se-á mais tarde campeão de Jesus C ri sto, procurando reco nqui star toda a Espanh a para a sua Igreja.

São Fernando, Rei de Leão e Castela Dona Berengi.iela vivia na corte de seu irmão, o rei menino Henrique l, então co m 14 anos. Brincando este um dia no palácio episcopa l de Palência, uma telha cai u-lhe mortalmente sobre a cabeça. Sem herdeiros, seu trono passou para ela. Demonstrando gênio político superior e desinteresse de mãe, depois de proclamada ra inha de Castela pelas cortes de Valladolid,

dona Berengüela renunciou ao trono em favor do filho, a quem tinha chamado sigilosamente de Leão. Fernando tinha então 18 anos e era também herdeiro do trono de Leão. Quem não gostou foi o pai de Fernando, Afonso IX, que desejava o trono para si. Sem levar e m consideração que lutava contra o próprio filho, invadiu Castela à frente do exército leonês. Não querendo lutar contra o pai, São Fernando enviou-lhe uma carta na qual di zia: " Por que hostilizais com tanta irritação este reino ? Não tendes que temer danos nem guerras de Castela enquanto eu viver". 3 Afonso IX renunciou ao desejo de se tornar rei de Castela, mas deserdou o filho ao morrer. São Fernando III não só consolidou a hegemonia de Castela como ainda aumentou seu prestígio ampliandolhe as fronteiras, pacificando-a, repovoando-a e mantendo a paz com seus vizinhos. Com a morte do pai e a renúncia das herdeiras do trono - suas meiasirmãs dona Sancha e dona Dulce, filhas de Afonso IX com a sua primeira mulher Teresa de Portugal - acedeu à coroa de Leão. Dona Teresa também tivera que separar-se do marido por razões de parentesco. Aos 22 anos de idade, Fernando III casou-se com Beatriz da Suábia, considerada a princesa mais piedosa do seu tempo. Desse matrimônio nasceram dez filhos, sete home ns e três mulheres. Enviuvando em 1235, voltou a casar-se, desta vez com Joana de Ponthieu, bisneta de Luís VII da França. Desta uni ão nasceram mais três filhos.

Reconquistando os reinos mouros pam Cristo Após a vitória cristã em Navas de Tolosa os reinos muçulmanos da Espanha entraram em decadência, favorecendo a incorporação de muitos deles ao domínio de São Fernando por meio de pactos ou conquistas.

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Os contemporâneos descrevem três grandes virtudes nesse grande guerreiro: arapidez, a prudência e a perseverança. Quando os inimigos o criam em um lado, ele aparecia no outro. E sabia prolongar os assédios para economizar sangue.4 Foram inúmeras as campanhas guerreiras de São Fernando em sua reconquista da Espanha para Nosso Senhor Jesus Cristo. O rei -sa nto tinha ape nas 25 anos q uando entrou pela primeira vez na Andaluzia. O rei mouro de Baeza ve io oferecer- lhe obediência, dizendo-lhe que estava pronto a render sua cidade e assisti- lo com dinheiro e alimentos. Em 1235, enquanto São Fernando se apoderava de Ubeda e as Orde ns militares conquistavam com outras praças Trujillo e Medellin , com apenas 1500 homens seu filho, o Infante D. Afonso - mais tarde Afonso X, o Sábio - , vencia em Jerez de la Frontera o exército do rei mouro de Sevilha, composto de sete corpos de soldados. O que foi considerado por todos como um feito verdadeiramente milagroso. Num dia do ano de 1236 estava o rei-guerreiro com sua mãe à mesa para o almoço, em Benave nte, cerca de León , quando chegou um cava leiro a toda brida para avisá-lo de que alguns cristãos haviam conseguido apoderar-se do bairro de Ajarquia, nos arrabaldes de Córdoba, antiga capital do império muç ulmano, na época com 300.000 habitantes. Sitiados, pediam socorro ao monarca para enfrentar os inúmeros mouros que os cercavam. Sem provar nenhum alimento, São Fernando levantou-se imediatamente e foi reunir seus guerreiros para socorrer os bravos súditos. Isso fe ito, eles cercaram a cidade de Córdoba. O soberano foi apertando cada vez mais o cerco, até que no dia 29

CATOLICISMO

São Fernando conquista Sevilha

de junho, festa dos gloriosos Apóstolos São Pedro e São Paulo, o exército cristão entrou na antiga capital dos califas, havia 525 anos em poder dos infiéis. A mesquita maior da cidade foi purificada pelo bispo de Osma e transformada em igreja dedicada a Nossa Senhora. Um fato simbólico: tendo o mouro Almanzor dois séculos antes conquistado a Gaücia, havia feito trnnspmtar os sinos do santuário de Santiago de Compostela até Córdoba em ombros de c ri stãos. Pois bem, em reparação por esse ultraje, São Fernando mandou que os sinos fossem restituídos ao seu local de origem em ombros de mouros!

'J'rilmfo da Cruz

sobre o crescente O cerco de Se vilha, em J 247, foi uma das mai s notáveis empresas daqueles tempos. Durante 20 meses os mouros resistiram, pois o calor e as enfermidades pareciam lutar em seu favor. Contudo, o rei-santo não desistiu . Tanto mais que não tinha pressa, te ndo e le e seus guerreiros chamado suas mulheres e filhos para o cerco. São Fernando havia trazido até mesmo os futuros povoadores para Sevilha, home ns de todas as regiões e de todos os ofícios. Finalmente Sevilha capitu lou. Cantando hinos religiosos e po1tando um andor com a imagem da Virgem vitoriosa, um estupendo cortejo de cem mil homens entrou na cidade conquistada. Foi um brilhante triunfo da Santa Cruz sobre o Islã.

De todo o antigo império mouro restava apenas o reino de Granada. São Luís, rei de França, congratulou-se com seu primo pelo sucesso e enviou-lhe um fragmento da coroa de espinhos e outras preciosíssimas relíquias que São Fernando mandou colocar na catedral de Sevilha - outra grande exmesquita purificada e consagrada ao culto cristão. Havendo, com exceção do reino de Granada, expulsado os mouros de quase toda a Espanha, São Fernando preparava-se para ir plantar a fé na África quando foi acometido por mortal doença, apesar de ter somente 52 anos de idade. Depois de receber todos os sacramentos da Igreja, fa leceu piedosamente no dia 30 de maio de 1252, indo receber no Céu a recompensa demasiadamente grande que Deus reserva para os seus eleitos. Assim um autor o descreve :

"Elevada estatura, agilidade de movimentos, distinção e majestade nos modos, doce e.forte ao mesmo tempo, amável com firmeza, reúne em maravilhosa harmonia as qualidades do gue rreiro e as de homem de Estado". 5 • E-mai l para o autor: catolicis mo @tcrra .com br

Notas : 1. Cfr. Ede lvives, E/ Santo de Cada Dfa, Editori a l Lui s Vives, S.A., Zaragoza, 1947, tomo Ili , p. 302. 2. Fr. Ju sto Pérez de Urbel , O.S.B., A1io Cristiano, Ediciones Fax, Madrid , 1945 , tomo 11 , p. 481. 3. Edelvives , op. cit. p. 304; Urbe!, p. 482. 4. Urbe!, id. ib. p. 484. 5. Urbe!, op. cit. , p. 487. Outras obras consultadas: - João Bati sta We iss , Historia Universal, Tipog rafi a La Educación , Barce lona , 1929, tomo VI, pp. 595 e ss. - Carl os R. Eguía, Fem ando Ili de Castilla y León, E/ Santo, in Gran Encicloped ia Rialp, Ed iciones Ri a lp, Madri , 1972, tomo X, 4 1 e ss.

Lei inútil e ameaçadora

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m mtigo publicado na edição de março de 20 11 do "Jornal do Advogado" , órgão da Ordem dos Advogados do Brasil, seção de São Paulo, a Dra. Helena Lobo da Costa mostra documenta.damente que uma le i contra a homofobia é totalmente inútil do ponto de vista jurídico . Advogada e professora de Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), a articulista se exprime com clareza e objetividade. Tudo quanto poderia ser considerado "crime" contra um homossexual já está previsto no Código Penal e vale para todos os c idadãos . Nada justifica a criação de um estatuto privilegiado instituindo uma casta. Assim - explica a ilustre professora - , aq uele que "ofen-

de a dignidade ou o decoro de outra pessoa, pratica crime de injúria, previsto em nosso Código Penal no artigo 140. Se, na prática de injúria, for empregada violência, configura-se a denominada injúria real, infração com pena mais alta do que a injúria simples". Se a agressão ''for ainda mais grave, consistindo na prática de lesões corporais, aplica-se o artigo 129 do Código Penal" . Há ainda as fig uras penai s de "lesão corporal de natureza gra ve ou de natureza gravíssima" . Desse modo, se uma vítima de agressão violenta "so.fi-er f erimentos que a impeçam de tra-

balhar por mais de 30 dias, o agressor fi.cará sujeito a uma pena de 1 a 5 anos de reclusão. Da mesma.forma, se a vítima sofrer perda de alguma.função corporal em decorrência dos f erimentos, a pena será de 2 a 8 anos. Também é preciso mencionar que, em todas as hipóteses até aqui mencionadas, o juiz poderá aplicar uma causa de aumento de pena em razão da motivação torpe do agente". A legis lação brasileira ainda prevê, para o caso de "homicídio doloso, qualificado por motivo torpe ", a pena de 12 a 30 anos de reclusão.

"Não é portanto a.falta de tipos penais em nossa legislação" que pode levar a agressões contra quem quer que seja, mesmo que se trate de homossexuais. "Acrescentar novas .figuras típicas não apenas seria desnecessário como também acabaria por criar dificuldades interpretativas e espaços de sobreposição de tipos penais que, muitas vezes, resultam em empecilhos à aplicação da lei", explica a Dra. Helena. Aprovar uma lei específica contra a homofobia seria ademais contraprod ucente, poi s redundaria "na criação de tipos

penais em matéria nas quais eles não são necessários. [.. .] A criação de novos tipos penais apenas causará confusão interpretativa e dificuldades na aplicação".

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Diante da inutilid ade de mon s trada d e uma lei de homofobia, salta a pergunta: por que então tanta pressão das esquerdas para aprovar um dispositivo legal desse tipo? É que persiste no povo brasil eiro um horror sa lutar às práticas homossex uais, espec ia lmente quando exib idas despudoradame nte de público. E mais do que defender o homossexual contra possíveis discriminações, o objetivo da referida lei de homofobia é criminali zar o povo brasileiro pelas suas legítimas e sa lutares discordâncias em relação a essas práticas, sobretudo quando tais discordânc ias se baseiam em convicções religiosas. Trata-se de uma lei de perseguição relig iosa di sfarçada que se que r introduzir no Brasil. Cadeia para o sacerdote que propagar as condenações bíblicas às práticas antinaturais; cadeia para os pais que defenderem seus filhos das pregações homossexuais de certos professores ou de certos livros; cadeia para a mãe de família que não aceitar uma empregada ostensivame nte lésbica; cade ia, enfim , para todo brasileiro que defe nder a livre manifestação de opiniões no caso de passeatas ou outras exibições homossex uais. Se quisermos consolar Nossa Senhora por suas lágrimas, lutemos denodadamente contra a aprovação de le i tão inútil quanto ameaçadora. • MAIO2011

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ciou a tudo quando fo i convertid o por se u pa re nte Sa nto Hono rato, a qu e m seguiu no M oste iro de Le ri ns e de po is sucedeu no B ispado de Arl es .

6 São João Apóstolo na Porta Latina

+ Séc. I. O imperador romano

1 São ,losé Operário, Esposo da Santíssima Virgem De estirpe real, aprouve a Deus que exercesse o trabalho manual.

2 Santos l•:xupério, Zoé, Ciríaco e 'l'eocl olus. Mártires + Panfíli a (Ásia M enor), l40. Por se rec usar a parti c ipar de ritos pagãos, esta fa mília de escravos - pa is e filh os - fo i severamente aço itada e qu e imada viva.

~J Santos Felipe e Tiago Menor, Apóstolos + Séc. l. São Fe lipe de ixo u a casa, mulher e filh os em Betsaida para seguir a Nosso Senhor, sendo martiri zado em H ierápo lis, na Fríg ia (Ásia Menor). São Tiago Menor, primo de Nosso Senhor, fo i o primeiro Bispo de Je ru sa lém , o nd e so freu o mart írio. É autor de um a admiráve l e písto la. (A nteriormente, neste d ia: Inve nção da Santa Cru z)

4 São Roberto Lawrence, Abade, Mártir + Tyb urn (I nglaterra), 1535. Abade da Cartuxa de Bea uvale, em Nottinghamshi re, por rec usa r o Ato de Sup remacia, através do qu al o herético Henrique _VJH se nomeava cabeça da Igrej a na Ing late rra (ori ge m do anglicanis mo), fo i barbaramente torturado e enfo rcado .

5 Santo l lilário e.te Arles, Bispo

+ França, 449 . De fam ília pagã da alta nob reza, exercendo elevado ca rgo no govern o, renun-

Domiciano fez com que aos 90 anos ele fosse lançado em uma caldeira de azeite fe rvente junto à Porta Latina. Dela, contudo, o Apóstolo virgem saiu reju venescido. Foi então desterrado para a ilha ele Patmos, sendo o único Apósto lo não mártir.

Primeira sexta-feira do mês.

7 São ,João de Beverly, Bispo + Inglaterra, 72 1. Mo nge beneditino e depo is B ispo de York, onde sucedeu a São Bosa . Notáve l po r sua co nte mp lação contínua, sa ntidade de vicia e do m ele milag res.

Primeiro sábado do mês.

8 São Pedro de 'J'arantésia, Bispo e Confessor

+ França, 11 74. Entrou para o Mosteiro cisterciense ele Bonnevaux. Seu pai e dois irmãos segui ram-no nesta decisão. Nomeado arcebispo ele Taran tésia, reformou a disciplina eclesiásti ca, substituiu um clero corrupto de sua catedral por cônegos regulares e desa pareceu, torn ando-se irmão leigo em um convento na Suíça. Encontrado, teve que reassumir suas fu nções.

9 São Beato de Vendôme, Confessor

+ França, séc. III. M issionário na Gália antiga . Converteu in úmeros pagãos por suas palavras, exemplo e santidade de vida.

10 Santo Antonino de Florença, Bispo e Confessor + Florença, 1459. Antonio, conhecido pelo diminuti vo por causa ele sua estatura, tornou-se célebre por sua doutrina e obras. Defendeu o Papado no Concílio

de Basiléia, e a sã doutrina católica no de Florença, contra os autores do cisma grego.

dávia, merecendo assim a palma do martírio (do M artiro ló-

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São Francisco de Girolamo, Confessor + N,1 poles, l 7 l6. Pregador po-

São Pascoal Bailão, Confessor

pul a r, j es uíta, passo u a vid a evange lizando o sul ela Itáli a, onde seus sermões atraíam multidões. "Mostrou maravilhosa

caridade e paciência em procurar a salvação das almas" (do Marti rológio Romano).

gio Romano).

+ Valênc ia, J592 . Irmão leigo franc iscano, de pureza angéli ca, passa va ho ra s di a nte do Santíssimo Sacra mento. Recebe u aí a profund a ciência com que refutava hereges e ex plicava sabiamente os mistéri o de nossa fé.

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São Domingos de la Calzada , Confessor

São João I, Papa e Mártir

+ Es panh a, l l 09. Este eremita teve a singul ar vocação de tornar menos rude o cam inho dos inúmeros peregrinos que iam a Composte la, construindo para e les uma es trada (calzada), uma ponte e uma hospedari a.

+ Rave nna (Itá li a), 526. "Aí aprisionado por Teodorico, rei ariano da Itália, por causa de su I f é ortodoxa, f oi longamente C(/ligido na prisão até morre,: eu corpo f oi levado a Roma e enterrado na Basílica de São Pedro" (do Martiroló-

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J4 São Matias, Apóstolo e Mártir

+ Séc. 1. Um dos 72 Discípulos ele Cristo, fo i e lei to à sorte para substi tuir o infam e traidor Ju das Tscari o tes no Co lég io Apostó lico (festividade ante ri ormente celebrada a 24 de feve re iro).

22 Santa Rita de Cássia, Viúva + Itália, l457 . Du ra nte 18 anos suportou as asperezas e infidelidades de um marido ele caráter bruta l, a qu e m co nve rte u com sua pac iê nc ia e es píri to so bre natura l. Te nd o e le sido assass in ado, pediu a Deus a morte dos filh os que queriam vinga r a do pai. Após a morte destes, entrou para o convento elas agos tinianas, onde recebeu na fronte um dos es pinhos da coroa cio Salvador. Opero u tantos mil agres, que passo u a ser conhecida como a "A dvogada

das causas perdidas" e "Santa dos impossíveis".

23 São Desidério, Bispo e Mártir

g io Romano).

Primeira aparição ele Nossa Senhora em Fátima , em 1917

que a Sag rad a Co ng regação dos Ritos afirm a ter sido o martírio mais cru el j á apresentado àque la Sagrada Congregação.

IH

+ França, 607 . Por reforçar a dis-

Santos Puclêncio, Mártir, e Puclenciana, Virgem

ciplina eclesiástica, combater a simonia e clenunciru· a conduta imoral da rainha Brunilcla, esta o ac usou de paganjsmo ao Papa. Exo nerado e banido, retornou quatro anos depois, sendo assassinado por ordem cio rei Teodorico, a quem também tinha publicamente censurado.

+ Ro ma, séc. U. Puclêncio era um senado r romano bati zado pe los Apóstolos e ma rtiri zado por sua fé, sorte que coube também a um a de suas filhas, Santa Praxecles. A outra fi lha, Pude nc iana, após te r reverentemente sepultado muitos márti res e distribuído sua fo rtuna entre os po bres, fa lece u santamente aos 16 anos de idade.

24 Nossa Senl1ora Auxílio cios Cristãos Aparece u durante a batalha de Lepanto, es palhando terror entre os muç ulmanos.

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Santo Isaías de Rostov, Confessor

Santo Austregésilus, Bispo e Confessor

+ Rúss ia, 1090. Monge, Abade

+ Bourges, 624. Abade em São

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do Mosteiro de São Demétri o, em Kiev, e por fim, Bispo ele Rostov. Trabalhou para converter os pagãos.

Ni zier, Lyon, depo is Bispo de Bo urges, j á era honrado como santo em vicia, ta l o brilho de sua virtudes.

São Gregório VII + Salerno, 1085 . Um dos maio-

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São João Nepomuceno, Márti r

SanLo Ancll'ô Bobola, Mártir + Po lô ni a, 1657. Oriu nd o de

+ P raga, 1393 . Co nsagrado a

uma das ma is antigas fa mílias da Polônia, ent rou para a Compa nhi a de Jes us, dedicando-se à pregação na Lituânia e depois na Po lôni a. Foi martirizado por cossacos russos cismáticos com ta ntos requintes ele maldade,

Deus pelos pais desde o nasc imento, tornou-se confesso r da ra inha e "cônego da catedral.

Tentado em vão (pelo rei Wenceslau) a trair o sig ilo confessional.foi lançado ao Rio Mal-

res Pontífices da Santa lgreja, foi seu acérrimo defensor contra as .investidas cio poder tempora l, pro mo ve u impo rtantes re formas litúrg icas e morreu no ex ílio perseguido pe lo imperador ale mão Henrique ]V.

26 São li'ilipe Neri, Confessor + Ro ma, J595 . Fundado r ela Congregação cio Oratóri o, cuj a principal finali dade era a reno-

vação ela vida cri stã e ntre os leigos de Roma.

27 Santo Agostinh o de Cantuária, Bispo e Confessor

+ 605 . Enviado pelo Papa São Gregóri o Mag no, eva ngeli zo u a Ing laterra, sendo considerado o apósto lo daqu ela nação.

28 São Bernardo de Montjoux, Confessor + Aosta, J08 1. Vigário Geral da di ocese ele Aosta, durante mais de 40 anos trabalhou como missionári o na reg ião cios Alpes. F undo u du as hos pedari as nos p assos cha mados Pequeno e Grande São Bernardo, onde estabeleceu um mosteiro de monges agostinianos dedicados asocorrer, com seus grandes cães, viajantes extrav iados na neve.

2H São Cirilo de Cesaréia, Mártir + Ás ia Me no r, 251 . Me nino ainda , abraço u o cri sti ani smo se m o co nhec ime nto ci o pa i. Es te o ex pulso u ele casa e o denunc iou. Como se negou a renun c ia r à fé, foi deca pitado . M odelo de todos os qu e perseve ram na fé contra a persegui ção ele pais ímpios .

Intenções para a Sa nta Missa em maio Será ce lebrada pe lo Revmo . Padre David Franc isquin i, nas segu intes intenções: • Dia nte da tragéd ia que se abateu sobre o Japão, pedindo à Sa ntíssima Vi rge m, sob a invocação de Nossa Senhora de Akita, que zele especia lmente por este gra nde povo, agora tão provado pelos sofrimentos decorrentes do terre moto e do ts unam i. Para que os japoneses, enfrentando com res ignação e va lentia as terríveis dificu ldades, aproximem-se cada vez mais d e Deus . Rezare mos també m pe las a lmas daq ueles que foram viti mados pela catástrofe, bem como pelo conforto espiritua l de seus fa mi liares.

:io

São l•'em a n(lo JII (Vicie p. xx)

Santa Joana O'Arc, Virgem + Rouen (França) 143 1. Suscitada por Deus para li vrar a França cio j ugo inglês, esta virgem g uerre ira fo i depo is tra ída e qu eimada como fe iticeira. Reabilitada por Cali sto Ili em 1456, teve a heroic idade de virtudes reconhecida em 13 ele dezembro ele 1908, send o beatificada por São Pi o X em 1909 e canoni zada por Bento XV em 1920 .

a Visitação de

ossa Senhora

Nota : Os Samos j {i referidos em Calendários anterio res têm aq ui apenas seus nomes enunciados, sem nota biográfi ca.

Jntenções para a Santa Missa em junh o • Para que Nossa Senhora não permita a aprovação no Brasil de pro jetos de lei contrários ao Decálogo, como o da " Lei da Homofobia", de autoria da senadora M a rta Supli cy (PT-SP), o qua l visa pu nir até quem se man ifestar contra o homossexua lismo. Rezaremos também pe las vítimas do colégio de Rea lengo, no Rio, bem como pela preservação espiritua l e física da juventude brasileira .


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ser controlados por uma comissão de "direitos humanos" - na verdade um soviete a serviço de uma ditadura que age em nome desses pretensos direitos. Um exemplo: invadem-se propriedades particulares. Quem julgará o conflito? - Será uma comissão de "direitos humanos", sem a participação dos proprietários, mas incluindo os invasores ... Não será o Judiciário que decidirá, porquanto só poderá manifestar-se posteriormente, assim como os proprietários.

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Na mesa (da dir. para a esq.), o conferencista, Prof. lves Gandra Martins; Dr. Adolpho Lindenberg, presidente do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira; Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil; Dr. Plínio Vidigal Xavier da Silveira

Alarmantes ameaças do PNDH-3 - fator de desagregação da sociedade ■ PAU LO ROBERTO CAMPOS

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m evento organizado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, realizou-se no último dia 6 de abril a conferência do Prof. lves Gandra da Silva Martins sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Quase 400 participantes lotaram o imponente auditório da Faculdade São Bento, na capital paulista. Considerado a justo título o maior tributarista e constitucionalista do Brasil, o palestrante destacou aspectos desagregadores do PNDH-3, chegando à conclusão de que ele - herança maldita de Lula - vi sa à tomada do poder e CATOLICISMO

Na primeira fila, à dir., o abade do Mosteiro de São Bento, Dom Mathias Tolentlno Braga, tendo a seu lado o diretor de Catolicismo, Dr. Paulo Corrêa de Brito Filho

à implantaçã no Brasil de um regime análogo ao havi sta. Na nova Constituição venezuelana praticamente só existem dois poderes: o povo e o presidente. Mas um povo manipul ad pelo primeiro mandatário que, por exemplo, pode convocar plebiscitos a seu bel-prazer, conforme convier ao seu projeto de poder. Lançando ba e semelhantes ao do sistema " bolivarian o" de go verno e pretextando defender "direi tos humanos", o PNDH-3 estabelece um controle do Executivo sobre o demais poderes, através de "conselhos" de tipo soviéti co. "Ora - afirmou o conferencista-, sem meios de comunicação independentes, sem Judiciário e Legislativo independentes, com educação controlada e com as Forças Armadas diminuídas em suas fun ções, temos um típico projeto de governo bolivariano ". Ca o tal Programa venha a ser implantado no Brasil, que futuro nos aguarda? Os brasi leiros que não estiverem alinhados com cs e tipo de governo poderão er amordaçados, como também os meios de e mun icação, que passarão a

O orador afirmou que a pretensão de abolir os símbolos religiosos no País explica-se pelo fato de os mentores do PNDH-3 considerarem a Igreja Católica um obstáculo à libertinagem que desejam instaurar. Alegando a laicidade do Estado, querem impor a seguinte idéia absurda: quem pratica uma religião não pode opinar. Ele desenvolveu a tese de que o Estado laico pode não estar subordinado à Igreja, mas um Estado democrático deve representar a maioria, e esta, em nossa Pátria, tem religião. Se a maioria acredita em Deus, ela deve ser representada num Estado de Direito. No Brasi l, apenas 3% da população não acredita e m Deus. Então, na lógica do PNDH-3, apenas estes 3% poderiam opi nar? - É um disparate! Exemplificou também com a questão do aborto, que o conferencista qualificou de "homicídio uterino". Uma vez que a maioria da população lhe é contrária, o Estado é obrigado a respeitar essa opinião. E não pode impor a sua legalização em nome de um pretenso "direito da mulher" de matar o filho ainda não nascido alegando ser "dona de seu corpo ". Direito de matar um ser humano? - Outro di sparate! !~,:,;::· ·ni:;f~~:::::c:::::?'' ~1. :'.•·1 Aqueles que desejarem ouvir ! ~ egra da exposição do' '.f ilu stre'': conferencista poderão\:! fazê-l~ acessàn,d o· · o ··site do<i:j , .•~ u;;i~• •,_ "'' •" '•'•'. •' ' _ .;:>:;., 1[r,sti~!-!_to Pc/inio Corrêa de y;i Q!Jy__,~Jra .(www.i co .or .br),{!;',li: no quai: se encontra disponí.!';f;. ·'' veffum vídeo do eventÔ:~/i(: \1111·:

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A legalização da prostituição é apregoada pelo PNDH-3 em nome dos "direitos humanos" das prostitutas. Assim, o palestrante indagou se o Estado pode favorecer alguém a afundar no lodo da imoralidade. Afirmou que o verdadeiro direito consiste em criar condições para tirar essas mulheres da triste situação em que se encontram. Quanto ao "casamento" homossexual e à adoção de filhos por "casais" homossexuais , é algo inconcebível , pois equivaleria a facilitar o encaminhamento das crianças para a homossexualidade. A propósito, o orador relembrou o que reza nossa Constituição: ela considera como família a união entre um homem e uma mulher. E a institui ção familiar, como base da sociedade, é uma "cláusula pétrea" que não pode ser abolida. Caso contrário, seria rasgar a Constituição.

* * * O Prof. lves Gandra chamou a atenção dos presentes para uma questão crucial: o grande perigo de sermos surpreendidos pela aprovação dessas aberrações - contrárias à índole das famfüas brasileiras - não se encontra tanto na atuação do Congresso Nacional como na do Supremo Tribunal Federal. Ele di sse recear mais o STF, porque enquanto os parlamentares dependem dos eleitores geralmente contrários a essas medidas os magistrados não devem à opinião pública a mesma satisfação. É por isso comentamos - que não só no Brasil, mas também em outros países, a esquerda se tem valido do Judiciário para fazer aprovar leis contrárias ao sentimento geral da população, como a do aborto.

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Por fim , o conferencista alertou o auditório para o problema da mídia esquerdista - que acelera a desagregação da família pela propaganda dos "direitos" ao aborto, ao "casamento" homossexual etc. - , conclamando-o a reagir contra os fatores dessa desagregação através do envio de cartas aos jornais. O público seria assim alertado e incentivado a defender os valores cristãos, atropelados pelo funesto PNDH-3. Esta MAlO2011

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Na capital da União Européia, mais de .500 pessoas marcham contra o aborto n

H EITOR ABDALLA B ucHAUL

MARS

VOOR HET LEVEN conclamação foi calorosa me nte apl audi da pelos assistentes.

Na primeira fila, à esq., o Duque Paul de Oldenburg, diretor da Federação Pro Europa Christiana

* * * E ncerrada a co nfe rê nc ia, o j o ve m Danie l Féli x de Souza Martins, coordenador do site do IPCO , diri giu-se aos prese ntes , co nvid a nd o-os a pa rti c ipar da ca mpa nh a co ntra o a bo rto prom o vida pe lo Instituto. Tal campanha visa assegura r o fund amental direito à vida, negado por organi zações aborti stas que se vanglori am de defensoras dos propalados "direitos humanos". Fazemos nosso esse convite junto aos leitores de Catolicismo. Trata-se de uma campanha de coleta de ass inatu ras a fa vor da introdução na Constitui ção do estado de São Paulo de emenda defendendo a vida inocente desde a fec undação até a mo1te natu ra l. Dificultar-se-á assim a legalização do aborto e da eutanásia, pois tai s práticas, se tipificadas como c rime, serão colocadas no mesmo pata mar de qualquer atentado contra a vida humana. Pe la Constitui ção do estado de São Paul o (art. 22 §4º), é possíve l apresenta r um a PEC (Proj eto de Emenda Constitucional) de ini ciativa popul a r, desde que se obtenha a aprovação de J % do eleitorado do Estado - cerca de 300 mil assinatu ras válidas. Com a ajuda da Provi dência D ivina e o esforço de todos, obter-se-á uma cifra ainda ma io r. Para tal, basta um click no seguinte link: www.saopa ulopelavida.co m.br A fi m de conhecer melhor tal ini ciativa, recome ndamos o site: http://www.ipco.o rg.br/ho me/ E-mail para o autor: ca1olicismo@terra .co m.br

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CATO LI C ISM O

ra o início da primavera no Hemi sfério Norte. A natureza dava demonstrações de que começava a re nascer, após o rigoroso inverno. Ao mesmo tempo, uma grande mani festação contra o abo1to ocorria na capital belga, com mais de . .500 pessoas pedindo proteção à vida desde a concepção até a morte natu ral. Era a segunda Marcha pela Vida (foto 2). Tais ma ni fe stações fora m co roadas po r uma sema na dedi ·ada a palestras contra o aborto no Parlamento E urope u. Todas as nacionalidades podj am ser vistas em B ru xelas, cid ade ·onhecida como capital da Europa Unida. Reuni dos próx imos à Place Royal, onde a magnífica estátu a d ' Godofredo de Bulhões evoca a epopéia das cru zadas, a analogia com estas não era difíc il. Só que agora o combate trava-se no interior da própria Cristandade, contra leis antinatu rais que ameaçam o qu anto dela ainda subsiste. Antes do iníc io da marcha houve vários discursos, entre os qu ais o de uma jovem norte-americana vítima de estupro, que contraria mente ao que lhe foi recomendado se recusou a prati ca r o aborto. Destacara m-se na marcha cartazes das in stitui ções Droit de naftre (da França), Voglio Vi vere (da Itáli a), Juventude polonesa pela vida (ligada à fundação Padre Piotr Skarga) e SOSLieben (ela Alemanha) . A federação Pro Europa Christiana também este ve presente, representada pelo Duque Paul de O ld nbu g e por diversos me mbros das instituições que a compõem . À fre nte da marcha, um descendente de escoceses (foto 1) ani mava o ambi ente com o aguerrido e marc ial so m de sua gaita ele fo le . O. organi zadores do e ve nto, todos jovens, respl andeciam com ares de quem combateu o bom combate.

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Para participar desse abaixo-assinado virtual é necessário possuir Título Eleitoral do estado de São Paulo. Os que não o possuírem poderão auxiliar divulgando o abaixo-assinado entre seus conhecidos paulistas. Caso se alcance êxito no estado de São Paulo, haverá mais facilidade para obter aprovação análoga em outros estados, e depois na própria Constituição Federal. Será uma grande vitória na luta contra a chacina de inocentes no Brasil, e que poderá influenciar movimentos análogos em outros países.

Apesar da reali zação em Bruxelas de duas mani festações pró-aborto, cujos organi zadores oferecia m lanches e diversões para atrair os transeun tes, os defensores da vida consegui ram re unir um número duas vezes maior de parti cipantes do que no ano anterior. O nccrramento se deu na praça do Palácio da Justiça, onde foram depositadas rosas vermelhas e brancas em homenagem às inocentes vítimas do aborto. No discurso fi nal, Dom André-Joseph Léonard, Arcebispo da Arquid iocese de MalinesBruxc las (foto 3), ressaltou o engajamento da Santa Igreja na luta co ntra o aborto e a eutanásia. • E-mai l para o autor: cai-ol icismo @terra.com.br

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A realidade chinesa

"Eu não me envergonho de Cristo"

l'I MARCELO DUFAUR

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nt:re maravilhado e surpreso, um seleto público de 70 pessoas assistiu à conferência proferida pelo ex-embaixador dos Países Baixos na China, Dr. Anton Smjtsendonk, transcorrida no dia 21 de fevereiro último na sede parisien e da TFP francesa. Católico praticante, profundo conhecedor da China e detentor de vasto currículo diplomático, o Dr. Anton discorreu sobre a mentalidade do povo chinês e a realidade de ontem e de hoje naq uele país. Afirmou que tudo é muito diferente do resto do Oriente: "Eu esperava encontrar um povo exótico e

confrontei-me com um povo simples, que trabalhava muito por pouca coisa e que era muito paciente; que não gastava consigo próprio e guardava para as vicissitudes ... ". Dirigindo-se aos presentes, disse: "Para vós, franceses, a lei é igual para todos. Isso não existe na China, pois as medidas que se tomam são pontuais; dir-seia que as leis são para alguns setores, não há medidas gerais para todo o mundo".

Assegurou que o crescimento econômico crunês é realizado com enorme sacrifício do meio ambiente, para cuja salvaguarda ele estima que o alardeados 10% não deveriam ul trapassar 1%! Acrescentou que, diferentemente de qualquer outro país em desenvolvimento, ninguém na China pode analisar ou fiscalizar o que acontece. Referiu-se também aos atrozes sofrimentos dos verdadeiros católicos, que apesar de persegu idos vêm crescendo em número e fervor. O Dr. Anton Smitsendonk é casado com a Sra. S irin Pathbanothaí, oriunda de antigas famílias da elite tailandesa e que também esteve presente à conferência. O incrível destino pessoal dela foi apresentado em um livro largamente difundido na França -A pequena refém da China vermelha (edições Hachette)- no qual é relatado o intercâmbio que ela e seu irmãozinho maior fizeram com os filhos do líder comunista chinês Chou-enLai, por instâncias do Primeiro-Ministro tailandês, de quem seu pai era secretário. • E-mai l pa ra o auto r: aLo licismo

rra . ·0111 .br

Dr. Anton Smitsendonk ■ LEONARDO PRZYBYSZ

A

Associação pela Cultura Cristã Padre Piott· Skarga,

de Cracóvia (Polônia), através de sua seção estudantil Cruzada, Jovens na Vida Pública , lançou em março a campanha Não me envergonho de Cristo, inspirada no Evangelho de São Mateus "Aquele que se envergonhar de Mim

diante dos homens, Eu também me envergonharei dele diante do Meu Pai" (10, 33). A ampanha consiste na difusão de um chaveiro de metal, a ser sempre levado em lugar bem visível, no qual há de um lado uma cru z em relevo com a frase "Eu não me enve,gonho de Cristo", e do outro lado a referida frase de São Mateus. A campanha tem como objetivo despertar a consciência dos polonescs para a afirmação pública da fé em Deus, que certos órgão da Uni/lo Européia e da mídia laica procuram ridicularizar. Reali zada através do correio e também em paróquias, escolas, instiluiç 'S m ios estudantis, a campanha alcançou grande sucesso , 1' ndo sido distribuídos até o momento mais de 354.200 x mpl ar s do chaveiro. • E-mai l para o aulor: ca 1o licis1110 @1erra.co m.br

CATO LICISMO

MAIO2011

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Símbolos da nobreza da alma humana n PuN10

C o RRÊA oE O uvE1RA

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pintura representa uma caravela que está sfil•do da lagu•a de Veoeza e demandando o mar. A água aparece num colorido muito matinal - um azul ligeiramente esverdeado, que lembra uma pedra preciosa. Por detrás, em contraste com a serenidade matinal do mar, nota-se uma acumulação de nuvens ainda luminosas, mas que significam um porvir que vai ser borrascoso para a caravela. Mas a nau parece dirigir-se ao mar toda enlevada e com a tripulação inconsciente do perigo que representam essas nuvens. As velas enfunadas parecem exprimir o desígnio humano de navegar na esperança de uma travessia bem sucedida, da alegria da viagem, da mudança, do lucro e do risco. A cena representa mil aspetos nobres da alma humana que passo a definir. Um deles é o de uma mobilidade leve e decidida rumo ao desconhecido, que simboliza a coragem e o destemor. Outro aspecto patenteia-se na altura do mastro central - soberano em relação ao mar - , como quem afirma: "Eu te vejo de cima e tu não me engolirás! " Ainda outro: uma aparência de saudades marca a cena. A caravela não está saindo apressadamente. Ela parece estar manifestando um discreto "adeus" à terra que fica para trás. E, por fim, a ameaça de borrasca no fundo parece dizer: "Aqueles que se encontram navegando, estão com suas almas decididas a todos os riscos". •

Excertos da conferêncía proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 6 de outubro de 1984. Sem revisão do autor.



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,

UMARI ·

PUNIQ C QRRÊA DE Ü UVEIRA

,JLJNI 10 de 2011

A verdadeira causa da crise contemporânea

N

ão há urna só apa ri ção da santa M ãe de Deu s que não insi sta sobre um fato : os pecados da hum anidade se tornaram le um peso in suportável na ba lança da ju sti ça divina. Esta a causa recôndita de todas as mi séri as e desord ens contemporâneas. Os pecados alraern a ju sta có lera de Deus. Os casligos mai s Lcrríveis ameaça m, poi s, a hum anidade. Para qu não sobrevenham, é prec iso que os hom ns s convertam. E para que se convertam, prec iso 1uc os bons orem ardentemente pelos I ccaclor s e ofereça m a D eus toda a sorte de sacrifíci os expiatórios. Vemos que o pensamenLo onstanL as mensagens de Nossa Senhora slc. mundo está a braços com uma Lcrrív 1 ·ri s r li giosa e moral. Os pecados comcli clos s· o inconlávcis. E são a verdadeira ca usa da d ·solaç.o uni versal. O modo mai s acertado para r · 111 ·diar seus efeiLos consiste na oração e na r para ', o. Os católicos, por spírit o d ' a ·omodação, por oportuni smo, p I desejo pu ' ril d ' ·oncorcl ar cm tudo com eslc s cul o, para o ·ondu zir por vias cxt:remamenle I rob l ·máti ·as a uma conversão quimérica, p nsa m, a 111 , s ·nt ·m-s' n ·st ' mundo de crise e de derro ·ada ·orn o s • ·sti v ·ss m nos cul X III , com ão Luís r •in and o · m França, ão Fern ando 111 ast la, anlo Tomás ele Aq uino e São Boaventura ilumin ando a Igreja com o esplendor ele sua ci'l n ·ia e d sua virtude. [ ... J. ss s cat óli cos, mu ilas vezes quarentões ou mais d qu e isso, entram frenet ica mente na íarânclola dos despreocupados e entoam loas e hin o a um a siLuação que a outros arra nca gemi dos de angúsLia e até gritos de dor. E se há quem lhes desej e abrir os olhos, enfurecem-se. T olera nles para co m tudo e para com todos , não podem suporta r que se mostre a grav idade da situação em que estamos. • Excertos do arti go de Plíni o Corrêa de Oli veira, 'ntolicis11 10 , ma io/1953

CATOLIC ISMO

)

Nº 72G

oo Dum-ron

4

C/\RTA

5

P MaNA

7

LErrtmA EsP1mTuA1.

8

CORRESPONl)Í-:NCIJ\

MARIANA

Nossa Senl10ra de Vailanka1mi (Índia) Considerações sobre o Pai-Nosso - V

1O A

PA1.AvnA

12 A

REALJJ)ADR CON(;ISAMENTE

oo SAcmmo·n,:

Supremo absurdo

14

D1•:S'l'/\()lJE

17

ENTmw1s1A

Quando o ambientalismo atravanca a agricultura

20 V A1~m0Ao..:s Arte pagã e neopanismo 22

INFOl~MATIVO Rt JUAl,

24

Esru:Noom,;s DA CmsTANDADl•:

26

C ,wA

38

VmAs rn~ SANTOS

A \liagem

UE - rompimento com a Europa autêntica e cristã

41 Pon OlJE

São Barnabé

NOSSA SENIIORt\ CIIORA?

42 Er1sóoms H1sTúR1cos Reconquista espanhola - Final 45 D1sc1mN1Noo Mãe pretere morrer a abortar 46

SANTOS •~ F1,:sTAs oo

Mí~s

48 AçAo CoN'mA-R1,:,1oi.uc10NÁRlA

52

AMBU:N'fES, COS'l'lJMl~S, CIVH,f'.lAÇÕES

A beleza das parábolas de Nosso Senhor nos Evangelhos Nossa Capa: Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo . A catedral de Notre Dame (Paris) e o edifício do Conselho da Europa (Estrasburgo)

JUNHO 2011


Caro leitor,

Diretor:

Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante:

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Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catolicismo @terra .com.br Home Page: www.catolicismo.com .br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Junho de 2011:

Comum : Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:

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120,00 180,00 310 ,00 510,00 11 ,00

CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.

Catolicismo tem denunciado, ao longo de anos, aspectos censuráveis da unificação da Europa, realizada med iante a formação e de envolvimento da União Europeia. Entretanto, não havia apresentado ai nda a seus leitores uma visão de conjunto eles e processo, cujos frutos nefastos vêm aparecendo cada vez mai intensamente à luz do sol. É o que se propõe a fazer no artigo de capa desta edição. O aspecto variegado e orgânico das nações européias fo i sempre objeto da ad miração de pessoas de todo o mundo. Essa riqueza provinha de um só berço: da civi lização cristã, formada sob o influxo da Igreja Católica, cujo ápice histórico foi alcançado durante a Idade Média. Os admiráveis frutos nascidos da civilização medieval são evidentes nos campos mai s diversos: no teológico e filosófico, com a escolástica e a fundação das grandes universidades; no plano político-social, com a organicidade do sistema feudal e elas corporações de ofício, além da fundação ele hospitais e sociedades de comércio; no terreno artístico, com a construção de majestosas catedrais e abadias de esti los românico e gótico ; na esfera cultu ral e de costumes, com a rica proliferação de tradições religiosas e regionais popul ares, etc. Manifestado especialmente desde a doutrina iluminista que inspirou a Revolução Francesa, o espírito revolucionário tendente ao iguali tarismo pela centralização anorgânica nos planos soc ial, político, econômico e cultural é diametralmente oposto à mencionada organic idade med ieval e ao benéfico influxo da Igreja católica na sociedade temporal. Estas considerações são úteis para se compreender por que referendos rea li zados em várias nações europeias rejeitara m a reedição da " torre de Babel" naquele continente, e ex pli cam também as fortes reações susc itadas espec ialmente pelos Tratados de Maastricht e de Li sboa. O arti go ressalta o caráter ditatorial de organismos da Uni ão E uropeia que insistem em se declarar "democráticos" e cujo viés tota litário e tem pate nLeado inc lusive no terreno re lig ioso. Por exemplo, na rejeição da "objeção de consciênc ia" alegada por médicos católicos e outros que se recu sam a indicar locais onde mulheres poderi am submeter-se ao aborto. E também no fato de pai s alemães já terem sido presos por não permitirem que seus fi lhos freqüentem cursos acentuadamente imorais de ed ucação sexual em escolas de nível básico. Convém ainda lembrar as danosas consequências da uni ã monetári a e a deterioração da moeda comum, o euro. Com penetrante visão do futuro, em artigo publicado nesta rev ista no mês de julho de 1954, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira se referia "às cogitações dos revolucionários que, particularmente desde o século XJX, vêm sonhando com o moloch de uma república universal laica, socialista, igualitária - o plano bem conhecido das seitas secretas, que ontem ainda parecia quimérico aos espíritos 'realistas"'. Desejo a todos uma proveitosa leitura de ta im1 orlante matéria, indispensáve l para a compreensão dos acontecimentos da atualidade.

Em Jesus e Maria,

9:~7 D IRETOR

cato lici mo @terra .com.br

Nossa Senhora da Boa Saúde de Vailanl<anni N a Índia, o Santuário derucado à memória das aparições de Nossa Senhora, cultuada como da Boa Saúde de Vailankanni, é denominado "Lourdes do Oriente" e atrai aproximadamente dois milhões de romeiros por ano n V AL01s

O

G R1NsTE1Ns

cartaz existente no local diz exatamente ~Cryrr&&lUJ lllIT§:>IT . Para quem, como eu, não compreende esses caracteres, é muito mais fácil di zer Arokia Matha , que em língua tamil significa Nossa Senhora da Boa Saúde. Também podemos nos referir a e la como Nossa Senhora de Vailankanni - nome do local, no sul da Índia, onde se encontra o santuári o. Trata-se do maior ponto de peregrinação dos católicos indianos. A cada ano, milhões de pessoas vão ali pedir graças. O local é realmente protegido pela Santíssima Virgem. Exem-

pio dessa proteção foi o ocorrido durante o tsunami de dezembro de 2004, que matou pelo menos 230.000 pessoas. Enquanto mai s de mil delas eram ceifadas num raio de um quilômetro em torno do Santuário, os dois mil devotos que se encontravam em seu interior nada sofreram (Catolicismo, fevereiro/ 2005).

Os três primeiros milagres A história do santuário inicia-se com três milagres que a tradição nos transmitiu . O prime iro ocorreu em algum momento do século XVI, quando os portugueses inici aram o nobre trabalho de conversão do país. São Francisco Xavier já

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LEITURA ESPIRITUAL

Considerações sobre o Pai-Nosso - V

Os três primeiros milagres

havi a passado por lá. Um jovem hindu ísta - não pertencente, portanto, à pequena comunidade cató lica da região - carregava certa quantidade de leite para entregar a um freg uês. E m determinado momento ele se deteve debaixo de um banyan - árvore do lugar que proporciona muita sombra - locali zado perto de um reservatório de ág ua. Apareceu-lhe então uma Senhora com um menino nos braços, pedindo-lhe um pouco de leite para dar à criança. Movido por um sentimento de piedade, o rapaz deu certa quantidade de le ite à Senhora e continuou seu caminho. Chegando à casa do freg uês, pediu descul pas pe lo atraso, e pelo fato de trazer menos leite, relatando o ocorrido. Porém , ao abrir o recipi ente, verificou que este estava totalmente cheio. O rapaz e o freg uês, ambos pagãos, ficaram surpresos e decidira m vo ltar ao loca l onde o fa to ocorrera. Ao chegarem lá, Nossa Senhora apareceu no vamente. Tal lugar ficou conhecido como Matha Kulam, o u o reservatório

de água de Nossa Senhora. O segundo milagre deu-se alguns anos depois. Desta vez, o benefi ciado fo i um rapaz inválido que vendi a mante iga numa praça da perife ria do povoado de Vail ankanni. Nossa Senhora lhe apareceu e pediu um pouco de manteiga para dar ao filho. Também impelido pela compaixão, o inválido atendeu ao pedido. A Vi rgem Santíss ima solicitou-lhe então que fosse até o povoado vi zinho de Nagapattinam info rmar da apari ção certo cató lico muito rico que ali morava. O inválido levanto u-se e começou a andar, sem se ·dar conta de início que sua perna estropi ada havi a sido curada. Ao encontrar o rico cató lico, este lhe contou que tivera um sonho na noite anterior, no qual Nossa Senhora lhe pedi a para construir uma cape la. Ambos voltara m então ao local do milag re e tiveram a dita de reencontrar Nossa Senhora. Atendendo ao pedido da Mãe de Deus, ali fo i construída uma capela, que recebeu do povo o titulo de Arokia Matha ou Nossa Senhora da Boa Sa úde. O terceiro milag re deu-se poucos anos mais tarde. Um navio, no qual viajavam vários comerciantes portugueses, enfrentou tremenda tempestade na Baía de Bengala. Golpeada pelos ventos e pe las ondas, a embarcação naufrago u. Os comerciantes, contudo, fora m sa lvos pela intercessão da Vi rge m e chegaram à praia de Vailanka nni . Pedira m então aos habi tantes da localidade para ir à capela próxima - que não era outra senão a de Vail ankanni - agradecer por estarem vivos. E pro meteram construir ali uma capela maior e me lhor, o que realmente fizera m. Posteri ormente, no dec urso de subseqüentes visitas, fo ram ac rescenta ndo me lhorias à construção. Eles dedicaram esta capela à Natividade de Nossa Senhora, que se celebra no di a 8 de setembro, data em que fora m sa lvos.

Recompensa da generosida<le Chama a atenção em todos esses relatos o fato de Nossa Senhora ter aparec ido a pagãos que vivi am em contato com

-CATOLICISMO

cató licos. A Virgem submeteu-os a uma prova solicitandolhes um gesto de generosidade. Podemos im agin ar que eram pobres e que doar parte dos p rodutos de seu peq ueno comércio representava para e les um gesto de desprendimento. E embora talvez tivessem pensado que se atendesse m ao pedido passariam alguma necessidade, contudo eles não hesitaram e, movidos por uma graça, fi zeram de bo m grado a doação, recebe ndo em troca enorme recompensa. M as como Nossa Senhora a ma também os ricos que praticam a virtude, apareceu ainda, segundo a mesma tradição, a outros personagens que possuíam muitos bens. No prime iro caso, ao freguês . Este, ao ouvir o relato do leiteiro, poderia ter-se revoltado. Pelo contrari o, ele aceitou a versão do vidente e, depo is de constatado o fato surpreendente de que não fa ltava leite, resolveu voltar com ele ao loca l da aparição. Gesto premi ado com nova manifes tação da Santíssima Virgem. No segundo caso, é um rico cató lico que teve um sonho. M as um sonho é sempre algo du vidoso, pode ser uma imaginação, um engano. Ele é confi rmado por um milag re, e o católico ri co atende ao pedido fe ito por Nossa Senhora. Portanto, um ato de generosidade. No te rce iro caso, e mbora os co merc iantes já tivesse m muitos moti vos para agradecer à Virgem, eles fora m generosos c umprin do de modo superl ativo o pro metido. O utro caso de liberalidade. Nossa Senhora, por ass im di zer, pagou a generosidade desses personage ns com ju ros. A quantidade de milagres operados neste santuário é realmente impress iorrnnt:e, a ponto de ser comparado com Lourdes !

Pop11/a1'i<la<le do sa11t11ál'io Por não terem mil ag res, as re li giões fo i a, não d ispõem de locais onde estes ocorrem. Ex pli ca-se assim que até indianos não-ca tó li cos vi s ite m o Sa ntuário de Nossa Se nh ora de Vailankanni , edifi cado em be lo esLi l neogótico. É para eles um convite à conversão. Fato curi oso, mas típico dessa reg ião, é que o santuário torno u-se popul ar sem que a mídi a tivesse se ocupado dele. A causa de sua popul aridade está no fa to de que os peregrinos, ao volta r para suas casas, contavam o que viram . E sendo os indi anos mui to abertos aos aspec tos maravilhosos da v ida, explica-se que ainda em nossos dias mul tidões de les, proveni entes até de reg iões longínquas, visitem aque la igreja. Merece menção o fato de que no museu da Basílica xiste m tantos ex -votos doados por peregrinos - muito de les ele ouro e prata - que é impossível expô- los todos ao mesmo te mpo. Por isso são colocados e m caixas, as quais são p riodica mente trocadas para da r lugar a novos ex-votos. •

Q uarta petição, que Santa Teresa* recomenda para as )

quintas-feiras: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje"

N

ão posso persuadi r- me de que nesta petição supliquemos coisa temporal para sustento da vida corpora l, mas espiritual para suste nto da alma. Porque de sete petições que fa zemos, as três primeiras são para Deus: a santificação de seu Nome, o seu Reino e a sua Vontade. E das quatro que pedimos para nós, é só na primeira que ped imos algo. Porque nas outras roga mos que nos li vre dos pecados, das tentações e de todo mal. Pois uma só coisa que pedimos ao nosso Pai nos conceder não eleve ser temporal, para o corpo. Além do que, a filh os de tal Pai, não fi ca bem pedi r co isas tão baixas e comuns, porque essas Ele as outorga às cri atu ras infe rio res e ao homem sem lhas pedir, e especialmente tendo-nos Sua Majestade avi sado que lhe peçamos, proc ura ndo primeiro as coisas de seu Reino (que é o que toca às nossas almas), que do mais Ele cuida rá. E por isso decl arou São Mateus: "O pão nosso sobre-substancial nos dai hoj e" . Suplicamos, po is, nesta petição, o pão da do utrina evangélica, as virtudes e o Santíss imo Sacramento. E, finalmente, tudo o que mantém e confo rta as nossas almas para sustento da vida espi ritual. Consideremos, po is, este Soberano Pai, Re i e Esposo como Pasto r com as condições dos outros pastores, e co m tantas vantage ns q uantas Ele a Si mesmo se atribui no Evangelho

qu ando diz: " Eu sou o bom Pastor, que dou a vida pelas mi-

nhas ovelhas". Ass im , vemos com quanta eminência estão em Cri sto as condi ções dos excelentes pastores Jacó e Davi, aludidos na Divina Escritura. De Davi diz que, sendo jovem, lutava com ursos e leões, aos quais ele desqueixava para defender deles um cordeiro. De Jacó, que as ovelhas e cabras que guardava nunca foram estéreis. Que nunca comeu carneiro nem cordeiro do seu rebanho, nem deixou de pagar algum que o lobo lhe comia, ou lhe furtava o ladrão. Que de dia o fatigava o calor, e de noite o gelo. E que nem dormia de noite, nem descansava de dia, para dar a seu amo Labão boa conta dos seus rebanhos. [.. .] Este amor é o que o Senhor deseja que consideremos quando comungamos. Devem alçar todos os nossos pensamentos a Ele [... ]. E tal agradecimento Ele nos pede quando ao comungar nos manda le mbrar que E le morreu por nós. E bem se vê a vontade com que E le se dá a nós, pois chama a este manjar "pão de cada dia " e almeja que o peçamos cada dia. Deve-se, porém, advertir a pureza e virtudes que devem praticar os que assim o comem. • * Obras de Sa111a Teresa , tomo V, Co11cei1os do Amor de Deus - /?e/ações espiri111ais - Exclamações - Poesias - Avisos. Ed ito ra Vozes, Petrópo li s, 195 1, pp. 220 a 224.

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Nota da Redação: Respondendo na seção "A Palavra do Sacerdote" desta edição a uma pergunta semelhante, Mons. José L uiz Vi ll ac elucida também a sua questão, mostrando como a Virgem Santíssima foi constituída como Medianeira j unto ao único Mediador necessário entre Deus e os homens que é Nosso Senhor Jesus Cristo. Advogada, Mãe do Di vilw Juiz

Me<liai1eira de todas as grnças

t8] Sou teste munha de que Maria Santíssima é advogada das causas mais desesperadoras . Minha própria situação era uma causa muito difícil; pior que "desesperadora", eu a definia como uma "causa perdida". Mas Ela se compadeceu de mim e venceu a causa. Para Ela realmente "nada é impossível" . Quero ser eternamente agradecido. Obrigado pelas páginas com os textos tão abençoados de Santo Afonso Maria.

t8] Já tinha ouvido falar do livro de

Santo Afonso Glórias de Maria Santíssima e carregava um desejo enorme de ler esse livro. Agora satisfaço meu desejo, lendo-o resumidamente na revista. Se eu não o encontrar nas livrarias ou não o conseguir emprestado, vou reler o resumo, pois abriu muito minha alma para nossa "Rainha de M isericórdia". Para mim é lógico e ficou claríssimo que Maria é a Medianeira entre Deus e nós, mas os protestantes não aceitam isso. A respeito d 'Ela, parece que os protestantes querem fazer valer aquele dito de Goebbels "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade" . Mas desde Lutero (portanto há 500 anos ... ), seus seguidores vêm repetindo suas mentiras sobre a Virgem Maria, mas não conseguem mancháLa. Como posso justificar perante nossos irmãos católicos a verdade única da graça da Mediação de Maria Santíssima? Nem penso em fazer isso junto aos protestantes, pois estes estão cegos para a graça marial e assim a maioria deles permanecerá enquanto não houver uma conversão. (M.P.P.K. -

CATOLIC ISM O

PR)

(Y.P.P. -

DF)

Maria nos reconcilia com Deus t8] Nossa Senhora é minha Mãe, minha Rainha, minha Esperança. Ela é tudo para que eu chegue reconciliada ao Pai Eterno. Mas isso eu repito sempre: E la é tudo isso para cada um de seus filhos nesta Terra, "vale de lágrimas". Basta amá-La de coração que todas as dificuldades se resolvem. Tenho essa confiança: Com Ela não temos nada que temer, nem os demônios podem algo contra Ela, porque Ela é Mãe de Jesus. (J.A.H. -

MG)

Casos milagrosos t8] Sem dúvida, é por intercessão da bondosíssima Santíssima Virgem que alcançamos graças, apesar de nossas misérias. Pode confiar nisso, pois sei de muitos casos dessa intercessão, muitos até mi lagrosos. Acho que nem preciso contar esses casos para convencê-los, pois não preciso ensinar o "Pai Nosso" ao pessoal do Catolicismo. Parabéns a todos da revista, que, pelo que conheço, é a mais marial e a mais inspirada para espa-

guém, pois assim Ele deseja que seja, e cabe a nós apenas orar, acreditar e esperar que nossos pedidos sejam atendidos através da intercessão da Mãe de Deus e de nossos queridos santos milagrosos.

lhar a devoção mariana, que "abre uma porta de misericórdia que ninguém fechará". (D.G.X. -

GO)

Tesouro espil'itual t8] Agora, sabendo dos comentários de Santo Afonso, vou rezar a Salve Rai nha com mais amor e compreensão. Os comentários foram de fato valiosíssimas jóias espirituais que os senhores colocaram nas minhas mãos, e nas mãos de todos os leitores da revista. Nossa Rainha Celestial zelará por nós para que possamos ser agradecidos a essas "jóias espirituais". Que tesouro. Imenso tesouro para nossa salvação. Que Deus lhes pague e os recompense em Seu Reino! ((R.C.M. -

SP)

(F.M.-BA)

)

(M.A.A.P. -

RJ)

t8] A imagem de Nossa Senhora de Guadalupe reflete claramente a verdade que Ela é Mãe do SENHOR e nossa Mãe. Ela quer nos d ispensar suas bênçãos e fazer com que seus fil hos creiam em seu F il ho , nosso Redentor. Ela deseja nos acolher em seu Imacu lado Coração. Mãe, obrigada pelo seu amor e por sempre estar presente e insistindo em levar a seu Fi lho nossos corações. Homens, parem de duvidar do poder de Deus!

t8] Sobre "A Palavra do Sacerdote" pub licada no mês de abril, gostaria de acrescentar o que diz São Pau lo em sua epístola aos Romanos, cap. I, v. 24 a 32, especia lmente os versículos 24, 27 e 32, a saber: V.24: " ...de modo que desonraram entre si os próprios corpos ". V.27: "Domesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario ". V .32: "Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem".

PE)

Poderosa e fiel t8] Desde que conheci a linda histó-

ria da Virgem, apaixonei-me perdidamente por Ela. Daí em diante sempre vou às missas na paróquia daq ui de Olinda e também já alcancei três grandes graças com a intercessão da Virgem. Ela é uma intercessora mu ito poderosa e fi el. (R.C.A.F. -

PE)

Enr iquecimento espiritual

Rainha dos anjos

Leit ura belíss ima so bre a Santíssima Virge m, que preencheu minha mente e enriqueceu meu coração espiritua lmente. À medida que leio textos que revelam a história da Mãe de Cristo, mais me apaixono por essa M ul her e Mãe.

t81 "MARIA SANTÍSSIMA, VIA . MAIS RÁPIDA, CURTA E SEGURA PARA SE CHEGAR A DEUS". Simplesmente não consigo encontrar palavras que descrevam o que senti no meu peito quando li esse parágrafo: "Santo Tomás de Aquino, em seu comentário da Ave-Maria, fa z notar que não se tinha jamais ouvido dizer, antes da Anunciação, que um anjo se tivesse inclinado diante de uma criatura humana. São Gabriel, entretanto, o fez diante da Santíssima Virgem". Só sei que é como se eu não precisasse nem quisesse ouvir ou ler mais nada daqui em diante pelo resto de minha vida. Textos como este deveriam ser no rninimo jogados de um avião por cima de toda a popul ação,

t8]

(R.N.S.D. -

DF)

Hiperdulia não é adoração t8] Gostei muitíssimo desse artigo,

principalmente porque faz ca la r a muitos daqueles que gostam de ridi cularizar-nos enquanto católicos, chamando-nos de "adoradores de imagens" . Terão que reconhecer que algumas imagens têm um toque especial, algo divino e milagroso qu só Deus conhece e não reve la a nin -

PR)

P1·ática antinaturnl

Obra-prima da Criação obra-prima de Deus, imagine o que é o Coração da Mãe de Deus! E também aplicando a frase do Cônego François Trochu podemos dizer que "a virtude passa faci lmente do Coração de Maria ao coração das mães devotas, que, por sua vez, transmitem a seus filhos" .

(N.A.T.G.P. -

"Levai' ao Filho os comções"

(A.C. -

t8] Se o coração de uma mãe é uma

para que caíssem principalmente de nt.ro de templos protestantes e outros tão ou mais miseráveis quanto estes, para que todos pudessem vislumbrar a verdadeira razão de sua própria existência.

(D.B. -

RJ)

Vaticano II t8] Espero pela edição em português

do livro do Prof. de Matte i. Achei ótima sua e ntrevista. Há um bom tempo venho procurando me inteirardesse grande tema polêmico que é o Concíl io Vaticano II. Essa bela entrevista contribuiu grandemente. Esperemos então a futura edição do livro em língua portuguesa; afinal de contas, o Brasil tem mu ito a ver com o Concílio. (P.E. - PB)

FRASES SELEC IONADAS

"A ciência é uma espfêndúfa áecoração

para. a. safa superior áo fwmem, se efe possuir no rés-áo-chão uma 6oa. áose cfe 6om senso» (o.

w.

HOLV\,\,e.S)

"Naáa. mais pfri9oso

áo que a. 6urria qunnáo manuseia a. Có9ica.,, (PLLv-,Lo CorrêC! ele OLLvúrci)

"Quando o 6urro viaja., não volta. feito cavafo» (TV10V\,\,C!$ FuLLer)

"As vezes a. estupidez cofoca.-se na primeira. fi[a para. ser vista; a. intd19ênc.ia cofoca.-se

na retaguarda para. ver" (CClrV\,\,ev-, Sl::JLVC!)

Magdi Cristiano Aliam t8] As dec larações do mu lçumano convertido (Magdi) sobre a is lamização da Europa - eu sei disso faz tempo: que os mulçumanos querem tomar posse de tudo, e do Brasil também ; só quero saber se vamos deixar? (M.C.S.O. -

SP)

JU N H0201 1 -


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q Monsenhor JOSÉ LUIZ ViLlAC

Pergunta - Monsenhor: participo de algumas comunidades e fóruns de debate em diversas redes sociais e, uma vez ou outra, surgem os mesmos questionamentos sobre a fervorosa devoção católica à Santíssima Vii·gem Maria. A nós católicos énos dado o injusto título de "idólatras", por confusão e não entendimento da nossa fé grandiosa na Mãe de Deus. Protestantes se baseiam em versículos isolados ela Bíblia, para dar fundamento às acusações. Penso que isso é uma forma muito pretensiosa de acusação e injustiça. Enfim, a seu ver, como se defend er dessas acusações? Sua ajuda me é ele extrema importância. Irei me crismar e estou buscando intensamente passar para os outros aquilo que vai além das Sagradas Escrituras.

Resposta -

Antes de tudo, convém fazer um a observação sobre a forma equivocada de argumentar dos protestantes em geral, que consiste em pôr de lado os dados mais elementares da realidade que estão ao alcance de qualquer pessoa de bom senso. No caso do relacionamento de Nosso Senhor Jesus C ri sto com Nossa Sen hora, e les raciocin am como se não houvesse entre e les o amor inefável da M ãe santíssima pelo Filho divino: o amor do melhor de todos os filhos pela mel hor de todas as mães! Muitas vezes, basta cami nhar pelas ru as para ver a ternu ra da mais ínfima de todas as mães pe lo menos CATOLICISMO

dotado de todos os bebês. É seu filho, e isto basta para que e la o carregue em seus braços como o mais precioso de todos os tesouros. Se isto é assim com uma mãe co mum , como haveria de ter sido a ternu ra da Virgem Mãe Imaculada com rel ação ao Verbo de Deus , fe ito homem no seu seio puríssimo? E, em contrapartida, qual a imensidade do carinho de Jesus Cri sto por Aquela em cuj o seio Ele se encarnou? Bastaria que os protestantes tivessem essas verdades elementares diante dos olhos, para que a maioria de suas objeções contra Nossa Senhora caísse por terra!

Ao criar Adão, o Padre eten10 pensm1a em Cristo! "Christus cogitabatur!" Essa a exc lamação de Tertuliano, um dos mai ores gê nio s cio c ri stian is mo, ao comenta r a passage m cio Gênesis que descreve o momento em que Deus modelava o corpo de Adão, antes de colocá-lo no Paraíso terrestre. Trata-se de uma descrição adequada, para ex plicar em termos humanos o que se passava na me nte de Deus, cujo modus operandi excede completamente nossa capacidade de compreensão. De qualquer modo, algo se pode compreender. Nesse ato que estamos considerando, o comentá.rio de Tertu li ano nos mostra que Deus não podia deixar de ter em mente que a partir de Adão se descenderiam todos os homens . Inclusive e especialmente o corpo humano de Jesus Cristo. Nesse corpo, Deus infunctiria uma alma - a alma de Jesus Cristo, criada no mesmo instante da virgi-

nal concepção - forma ndo assim um homem completo, o qual , unido hipostaticamente à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade - o Filho-, constituiria uma só pessoa divino-humana. A rigor, Deus poderia ter formado esse corpo do nada. Mas Ele queria que Jesus Cristo se inserisse normalmente na linhagem humana, e, portanto, nascesse co mo todos os homens de uma mulher, e assim fosse recon hecido , sem dúvida possível , como um homem. C hegada, pois, a plenitude dos tempos, fo rmou-se, por obra do Espírito Santo, no seio puríssimo da Virgem Maria - que deu o contributo próprio de todas as mães - , o corpo sacrossanto do Verbo de Deus encarnado. Ora, uma mãe o é do homem todo. Sendo, pois, Maria Mãe de Jesus Cristo, é Mãe do Verbo encarnado. Portanto, Mãe de um Homem-Deus . S implifi caclamente, M ãe de Deus, como proclamou o Concílio Ecumênico de Niceia (ano 325), contra os hereges arianos. Nestas conctições, a intuição genial de Tertuliano pode ser estendida a todo o processo de formação do corpo de Jesus Cristo. Mas, como na mente divina tudo estava determinado desde toda a eternidade, foi igualmente desde toda a eternidade que Deus Pai cogitou n' Aquela que seria a Mãe de seu Filho Unigênito. Assim, ao modelar o corpo ele Adão, Deus cogitava também em Maria "Maria cogitabatur"- que haveria de ser a Esposa do Espírito Santo, como adiante se esplicará. Afirma-o expressamente o Papa Pio IX na bul a lne.f fabilis Deus (8 de dezembro

de 1854), com a qual proclamou o dogma da Imaculada Conceição: a Predestinação da Beatíssima Virgem Maria para Mãe de Jesus Cristo estava incluída no mesmo e único decreto em que ficou estabelecida a E ncarnação do Verbo, após a previsão da queda de nossos primeiros pais e como meio para saná-la.

Relação das três Pessoas da Sai1tíssima Trindade Nestas condições, a Virgem Santíssima mantém uma relação privilegiadíssima com as Três Pessoas da Santíss ima Trindade: a) como criatura de Deus, Ela é a Filha bem-amada de Deus Pai; b) como teve a missão de dar à luz o Verbo E ncarnado, Ela é Mãe admirável de Deus Filho; c) e o que nela se gerou foi por obra do Espírito Santo, posto que não con hecia varão. Ela é, poi s, legitimamente chamada Esposa do Espírito Santo. Daí resulta que as três Pessoas da Santíssima Trindade a cum ul aram de privilégios como não o fizeram a nenhuma outra criatura. Os capítulos da Teol og ia que tratam desses privilégios são tão numerosos e extensos, que constituem um a parte especial , denominada Mariologia . Esses privilégios são bem conhecidos dos católicos, razão pela qual nos limitamos a mencioná-los sumariamente : a) isenção do pecado orig inal (Imaculada Conceição) ; b) imunidade de qualquer tendência ao pecado, e de todo pecado atual; c) virg ind ade perpétua, antes, duranl e depois do parto; d) plenitude de todas as graças, vi rtucl es e

dons do Espírito Santo ; e) incorruptibilidade no sepulcro e gloriosíssima Assunção aos Céus.

piritual que Mari a exerce junto a todos os cristãos Auxiliadora dos Cristãos e mesmo aos demais filhos de Eva, procurando atraí-los ao verdadeiro redil de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ass im , Ela foi constit uída como Medianeira junto ao único Medi ador necessário entre Deus e os homens. Não porque Ela fosse abso lutamente necessária, mas porque Deus assim o determinou. Verdade que arrepia a um número incontável de protestantes. Mas que para os católicos representa uma doçura, como a invoc a m na Salve

Ablação mental de todas estas considerações A contraposição que os protestantes estabelecem entre Jesu s Cristo e sua Mãe Santíssima na obra de Redenção do gênero humano resulta da ablação mental de todas estas considerações. E com isso não chegam a entender determinadas expressões da Sagrada Escritura que apresentam Jesus Cristo como Redentor único e necessário, e Mectiador, também único e necessário, entre Deus e os homens. Com efeito, de acordo com a doutrina católica, somente Jesus Cristo é o Redentor único, necessário e suficiente. Mas o Filho de Deus quis associar a essa obra os méritos de sua Mãe Santíssima, que para ela contribuiu não só com o fato de sua gestação humana, como também,

Rainha: "o clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria " (ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria). E essa missão de Maria junto à humanidade atravessa os séculos. E la acompanha os acontecimentos terrenos . E vendo o quanto a humanidade ele hoje se distanciou de Deus e da Santa Igreja, prepara o seu retorno para as vias sacrossantas da civilização cristã. Assim, depois de um castigo purificador - do qual nos fala a Mensagem de Fátima - voltarão a vigorar na Terra os princípios católicos e os sadios preceitos cio Direito natural em lugar desse Estado laico que aí está. Será o Reino de Maria, profetizado por muitos santos e, mais peito de nós, por Nossa Senhora em Fátima, quando disse :

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durante toda a vida, com a ·~> união estreitíssima do seu @ Imaculado Coração com os desígnios do Sacratíssimo Coração de Jesus, a ponto de formar com ele cor unum et anima una (um só coração e uma só alma). E, por fim, com sua participação indizível nos sofrimentos de seu Divino

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ticipação de tal monta que :s muitos teólogos , e mesmo Papas, reivindicam para Ela o título de Corredentora (Cocompreende-se que Deus quiRedenção essa entendida nos sesse associar Maria Santístermos aqui explicados). sima também à obra de salvação que Jesus Cri sto conMaternidade esJ)il'itual fiou à sua Igreja. Fornecem 11a Igreja e base para a tese dessa materReiJw de Maria nidade espiritual as conhePor tudo quanto foi dito, cidíssirnas e solenes palavras

"Por .fim, o meu Imaculado Coração triw1fará ". de Nosso Senhor no alto da Cruz, dirigindo-se à sua Mãe:

"Mulher, eis aí o teu.filho". E diri g indo-s e a São João: "Eis aí a tua Mãe" (cfr. Jo 19, 26-27). Os intérpretes católicos vêem nessas pa lavras a expressão ela maternidade es-

Acredito que o missivista encontra aí os elementos mais essenciais e profundos para replicar aos adversários do culto fervoroso que nós cató1icos professamos à doce e sempre Virgem Maria. • E-mail para o autor:

catolicismo@terra,com.br JUNHO2011 -


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A REALIDADE CONCISAMENTE

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Cientistas querem copiar cerveia mais velha do mundo

Denúncia de preferência da ONU pela ecologia alarmista

ientistas finlandeses do VTI Research Center da Finlândia vão copiar a fórmula de uma cerveja de quase 200 anos encontrada num navio que afundou no Báltico por volta de 1815. Apesar de ligeira filtração de sal marino e uma excessiva acidez, a levedura e os microorganismos são reconhecíveis e permitirão recuperar a fórmula original. Segundo eles, o sabor da "cerveja do naufrágio" lembra a cerveja belga do tipo lambic. A banalização dos sabores decorrente da produção em massa e a globalização dos mercados despertam apetência de produtos anti gos feitos por artesãos tradicionais. •

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) predisse que em 20 LO haveria 50 milhões de "refugiados climáticos" e fez um mapa dos lugares de emigração. Mas, segundo os censos, nesses lugares a população cresce rapidamente. Notadamente nas Bahamas (+14% desde o ano 2000); Ilhas Salomão (+20%) e Seychelles (+9%). O cientista Patrick Michaels comparou os dados e concluiu que os órgãos da ONU funcionam como uma sistemática central de desinformação climática. Para ele, tantos erros não se devem ao acaso, porque as "gafes" da ONU têm sentido único. Trata-se de uma posição ideológica, que também nega liberdade aos cientistas honestos. •

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ONU: conceder 11direitos humanos" à 11 Mãe Terra''

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Bolívia propôs à ONU atribuir "direitos humanos" à "Mãe Terra". A Terra teria absurdamente "direito" à vida, à água, ao ar limpo, à ausência de poluição e seria reconhecida como ente vivo. Os homens não poderiam "dominá-la nem explorá-la ", para não ofender "as múltiplasfés e culturas indígenas para as quais a Mãe Terra é sagrada". Seria criado um Ministério da Mãe Terra para ouvir ativistas e líderes religiosos portadores das queixas da natureza. Em 2008, a Bolívia distribuiu na ONU panfletos com os " 10 Mandamentos" para "salvar o planeta", cujo ponto de partida é "acabar com o capitalismo". Aquilo que Marx sonhou e Lenine, Stalin, Mao , Fidel não conseguiram alcançar, o ecologismo tenta realizar com vestes pseudo-religiosas "verdes". •

Polícia cubana mata dissidente em pra~a pública dissidente Juan Wilfredo Soto García, 46, morreu no Dia das Mães, em consequência de uma brutal surra que recebeu da polícia, em plena luz do dia, num parque público da cidade de Santa Clara, em Cuba. O dissidente Guillermo Farifías, prêmio Sakharov do Parlamento Europeu em 2010, qualificou a morte de Soto como "assassinato". O governo não deu explicação e o hospital estatal atribuiu a morte a uma "pancreatite". "Foi um crime, um assassinato. Ele estava algemado quando recebeu os golpes", garantiu Lisset Zamora, porta-voz dos dissidentes. Farifías pediu "condenação unânime da comunidade internacional". Mas é de se temer que não seja ouvido. A ditadura cubana cultiva grandes amizades, especialmente com governos sociali stas europeus e "progressistas" católicos. •

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CATOLICISMO

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Latas de leite tóxico chinês

China: 11 lguarias" tóxicas da culinária comunista

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eter Foster, do diário "The Telegraph", listou os dez maiores escândalos recentes de adulteração de alimentos na China: 1°. "leite com melamina" (300.000 bebês envenenados, seis mortos); 2°. "feijão tóxico" (com substâncias que fingem qualidade); 3º. ''feijão verde" com pesticidas; 4°. "leite de couro" (leite adulterado para simular mais proteínas); 5°. "alumínio em pães e farinhas", em Shenzhen; 6º. "carne de Avatar" (carne de porco com brilho azul no escuro; governo diz que é bactéria); 7°. "pó de carne magra " que causa tonturas, palpitações, diarréias e sudorese profusa; 8º. "recipientes descartáveis" tóxicos, que envenenam o fígado, os rins e os órgãos reprodutivos; 9º. "óleo de esgoto " (10% das refeições servidas na China foram feitas com óleo reciclado, tirado dos esgotos); IOº. "arroz cádmio" (10% do arroz foi vendido contaminado com metais pesados). • 11

Pílula do dia seguinte": mais perigosa que aborto cirúrgico

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ecente estudo australiano registrou a hospitalização de elevado número de mulheres que fizeram uso da "pílula do dia seguinte" (RU 486) abortiva. Nos EUA, segundo dados da conceituada Food & Drug Agency, pelo menos uma dezena delas morreu e outras 1.100 ficaram debilitadas. 5,7% das mulheres que ingeriram a pílula em alguma etapa da gravidez foram hospitalizadas com complicações. Na Austrália e nos EUA, diversas associaçõe próvida vinham denunciando es. e peri go, mas não foram ouvidas. Entretanto, a filosofia abortista - que diz interessar-se tanto pela vida das mães e não se impo1ta em sacrificar a das cri anças por meio do aborto - silencia esses malefícios da pílula. •

Equador virou ONU do crime, afirma chefe antidroga

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urante o atual governo Correa, o Equador transformou-se numa "ONU do crime organizado", disse Jay Bergman, diretor para a América do Sul da DEA - órgão antidroga dos EUA. "Temos casos de grupos albaneses, ucranianos, italianos, chineses, de crime organizado, todos comprando suas mercadorias para distribuir em seus respectivos países". Hoje, o alquebrado narcotráfico colombiano contrabandeia a droga através do Equador e da Venezuela, países que se tornaram seus sócios comerciais, acrescentou. O presidente equatoriano Correa aboliu a exigência de visto para estrangeiros, facilitando a entrada sem controle de narcotraficantes e de sócios ideológicos destes. •

Repressão socialista mata dezenas de cristãos no Vietnã 49 mortos, centenas de feridos e um número não definido de presos foi o resultado da repressão lançada pelos Exércitos do Povo do Vietnã e do Laos contra cristãos vietnamitas da etnia Hmong na província de Dien Bien. No momento da repressão - levada a cabo através de tropas apoiadas por helicópteros e blindados - 8.500 Hmong estavam rezando numa montanha, pedindo a devolução de suas terras e liberdade religiosa. O que se sabe das outras centenas que se encontram desaparecidos é que foram enviados a locais ignotos onde "poderão ser torturados ou assassinados, ou simplesmente desaparecer", disse Christy Lee, de Hmong Advance de Washington. A energia elétrica e as comunicações foram cortadas e os ministros da Eucaristia que estavam no local também foram presos. Na região, os fiéis praticam a religião na clandestinidade e os sacerdotes só ingressam disfarçados. Apesar da perseguição, há muitas conversões ao catolicismo. •

Ostpolitik vaticana atlige católicos chineses

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acerdotes e leigos católicos chineses fiéis à Santa Sé ficaram deprimidos ao ler o comunicado da comissão do Vaticano que não impugnou as sagrações ilícitas de bispos, efetuadas por prelados da Igreja Patriótica colaboracionistas com o comunismo. "Nós enfrentamos o sofrimento e o medo, mas tememos que não se possam defender os pontos de vista da Santa Sé. Porém, aqueles que integram a 'Igreja Patriótica' estão felizes, porque podem continuar sagrando seus próprios bispos, julgando que eles serão aceitos pela Santa Sé" - declararam católicos fiéis a Roma. Tentando atenuar a dor moral dos fiéis católicos chineses perseguidos, D. José Wei Jingyi, bispo de Qiqihar, explicou: "É compreensível que na Igreja haja erros, porque é uma comunidade de seres humanos. Entretanto, Deus tem tudo em sua mão. Eu ainda conservo a esperança".

Jovem católico martirizado pelo islamismo no Cairo

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jovem católico Abanob Karam (foto) foi morto com um tiro no Cairo durante distúrbios anticristãos atiçados por extremistas islâmicos. "Quando chegou em casa, percebeu que havia problemas na igreja vizinha, de São Minas; deixou sua mochila e saiu para defender sua igreja " - narrou o Pe. Renzo Leonarduzzi. As atuais revoluções do Norte da África empregaram termos como "democracia" e "liberdade". Contudo, por trás dos movimentos "populares" atuam fundamentalistas da conhecida "Fraternidade Muçulmana", que progridem mais rápida e eficazmente pela falaciosa ostentação de aparência democrática, do que se o fizessem através da posição extremada do islamismo.

JUNHO2011

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Supremo absurdo C ontrariando o texto da ConsUtuição, o Supremo Tribunal Federal reconhece "união estável" entre pessoas do mesmo sexo

l'l PE . LUIZ CARLOS LODI DA CRUZ Presidente do Pró-Vida de Anápo lis •

A Constituição Federal de 1988 reconheceu como entidade familiar a "união estável" entre o homem e a mulher: Art. 226, § 3°. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familia ,; devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Conforme reconhece o mini stro Ricardo Lewandowski, "nas discussões travadas na Assembleia Constituinte a questão do gênero na união estável.foi amplamente debatida, quando se votou o dispositivo em tela, concluindo-se, de modo insofismável, que a união estável abrange, única e exclusivamente, pessoas de sexo distinto". 1 Logo, sem violar a Constituição, jamais uma lei poderia reconhecer a " união estável" entre dois homens ou entre duas mulheres. De fato, o Código Civil, repetindo quase litera lmente o texto constitucional , reconhece a " uni ão estável" somente entre o homem e a mulher: CATOLICISMO

menos que ele .fosse interpretado de modo a incluir as duplas homossexuais na figura da "união estável". O pedido, por estranho (e absurdo) que fosse, foi acolhido pelo relator Ministro Ayres Britto e por toda a Suprema Corte. Foi impedido de votar o Ministro Dias Toffoli, que já havia atuado no feito como Advogado Geral da União (em defesa da "união" homossexual , é óbvio). Dos dez restantes, todos votaram pela procedência do pedido. Acompanhemos o raciocínio do relator Ayres Britto. Segundo ele, o texto do artigo 1723 do Código Civil admite "plurissignificatividade" ,2 ou seja, mai s de um significado. O primeiro (e óbvio) significado é que o artigo reconhece como entidade familiar a união estável somente entre um homem e uma mulher, excluindo a união de pessoas do mesmo sexo. O segundo significado (inadmissível) é que o artigo reconhece como entidade familiar a união estável, por exemplo, entre um homem e uma mulher, mas sem excl uir as uniões homossexuai s. Para Ayres Britto, a primeira interpretação é inconstitucional, por admitir um " preconceito" ou "discriminação" em razão do sexo, o que é vedado pela Constitu ição Federal (art. 3°, IV) . Somente a segunda interpretação, por ele descoberta (ou criada) é constitucional. Concluiu então seu voto dizendo: "dou ao art. 1. 723 do Código Civil interpretação conforme à Constituição para dele excluir qualquer sign(ficado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como 'entidade familiar', entendida esta como sinônimo pe1j'eito de 'família '. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequência da união estável heteroafetiva" .3 Uma das consequências imediatas do reconhecimento da " união estável" entre pessoas do mesmo sexo é que tal união poderá ser convertida e m casamento, conforme o artigo l 726 do Código Civ il: "A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil". De um só golpe, portanto, o Supre-

mo Tribunal Federal reconhece a " união estável" e o "casamento" de homossexuais! Para se avaliar quão di sparatada é essa deci são, observese qu e, e mbora a " união estável" e o casamento sempre ocorram entre um hom.em e uma mulher, não ocorrem entre qualquer homem e qualquer mulher. Não pode haver casamento, por exemplo, entre irmão e irmã, entre pai e filha ou entre genro e sogra. Esses impedimentos baseados na consanguinidade e na afi nidade (art. 1521 , CC) aplicam-se também à " união estável" (art. 1723, § 1°, CC). A diversidade dos sexos é necessária, mas não basta. Não se reconhece "união estável" entre um homem e uma mulher "impedidos de casar" (art. 1727). Será que os Mini stros do STF considerariam inconstitucionais estas proibi ções do casamento de parentes próximos? Em outras palavras: é "preconceituosa" e "discriminatória" a lei que proíbe as uni ões incestuosas? Parece que a resposta seria afirmativa. Poi s embora o incesto seja uma perversão sex ual , e le aind a está abaixo do homossex uali smo, que foi admitido pela Suprema Corte como meio de constituição de uma "famíli a". E quanto à pedofili a? Seria sua proibição um simples "preconceito de idade"? Esse é o argumento da associação NAMBLA de pedófilos dos Estados Unidos, 4 que usa a palavra "ageism" (" idad ismo" ou etari smo) para criticar a proibição de praticar atos homossexuais com crianças. Andemos adiante. Quando a Constituição fa la que "todos são iguais perante a lei" (art. 5º) não diz exp licitamente que este "todos" se refere apenas aos seres humanos. Estariam os animai s aí incluídos? Seria, portanto, inconstitucional a proibição de uma " uni ão estável" ou de um "casamento" entre uma pessoa e um animal? O bioeticista australiano Peter Singer usa o termo "especismo" para designar o "preconceito" e "di scriminação" contra os animais em razão de sua espécie. Num futuro próximo, não só a pedofilia, mas também a bestialidade

Art. J.723 . É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. A não ser que se reformasse a Constituição, os militantes homossexuali stas jamais poderiam pretender o reconhecimento da uni ão estável entre dois homossexuai ou entre duas lésbi cas. Isso é o que diz a lógica e o bom enso. No julgamento ocorrido em 4 e 5 de maio de 2011, no entanto, o Supremo Tribunal Federal, ferindo regras elementares da coerência lógica, reconheceu por unanimidade(!) a "união estável" entre duplas homossexuai . Naqueles dias foram julgadas em conjunto duas ações: a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 132 (ADPF 132) proposta em 2008 pelo governador Sérgio Cabral, do Estado do Rio de Janeiro, e a Ação Direta de Inconstitucional idade 4277 (ADI 4277) proposta em 2009 pela viceProcuradora Geral da República Débora Duprat, na épo a xercendo interinamente o cargo de Procuradora Geral da República. O que ambas as ações tinham em comum era pedido de declarar o artigo 1723 do Código Civi l incon stitucional a JUNHO 2011

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Agropecuária brasileira: êxito apesar de poderosos fatores adversos Ü enorme potencial agrícola do País está sendo cerceado pelo

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(prática sexual com animais) poderia ser admitida com base no mes mo argumento que admitiu a "famíli a" fundada no homossexuali smo.

Discriminação co11tra os castos Imag ine-se que dois amigos compartilhem a mesma habitação a fi m de fazere m um curso universitário . Enquanto eles viverem castamente, não terão qualquer direito especial. Se, porém, decidirem praticar entre si o vício contra a natu reza de maneira "contínua, pública e du radoura", constituirão, se quiserem, uma "família", com todos os direitos a ela anexos. A decisão do STF constitui um pri vilégio para o vício em detrimento dos que vivem a castidade.

Perda da segurnnça Juríc/ica Com o golpe de 4 e 5 de maio de 2011 , o Estado brasile iro perdeu toda a segura nça jurídica. Se a Suprema Corte reserva a si o direito não só de legislar (o que j á seri a um abuso), mas até de reformar a Constituição, muda ndo o sentido óbv io de seu texto em favo r de uma ideologia, todo o sistema jurídico passa a se fund ar sobre a areia movediça. A vergonhosa decisão demonstrou q ue a clareza das palavras da Constituição não impede que os Ministros imponham a sua vontade, quando conflitante com o texto consti tucional. A F rente Parlamentar em Defesa da Vida - contra o Aborto - pretende apresenta r uma P ro posta çle E menda à Consti tuição (PEC) que ac rescente as palavras "desde a concepção" no arti go 5°, caput, que trata da inviolabilidade do direito à vida. E m tese, essa emenda, se ap rovada, sepultaria toda pretensão abortista no país. Isso se pudéssemos contar com a seriedade da Suprema Corte. Essa seriedade, porém, fo i perdida com a admi ssão das " uni ões" homossexuais. É de se temer que, mes mo diante da expressão "desde a concepção", alguns Mini stros do STF in ventem uma peculiar " interpretação" do texto que não excl ua o direito ao aborto. -

CATOLICISMO

Caso inédito A monstruosidade lógica do julgamento da ADPF 132 / ADI 4277 ultrapassa tudo o que se conhece de absurdo em alguma Corte Constitucional. É verdade que a sentença Roe versus Wade, emitida em 22 de janeiro de 1973 pela Suprema Corte dos EUA, declarou inconstitucional qualquer lei que incriminasse o aborto nos seis primeiros meses de gestação. Esse golpe fo i dado co m base no direito da mulher à privacidade e na negação da personalidade do nascituro. No entanto, a decisão não foi unânime. Dos nove juízes, houve dois que se insurgira m contra ela. No B ras il , porém, para nosso espanto e vergonha, não houve dissidência. Todos os membros do STF admitiram enxergar uma inconstitucionalidade que não existe no artigo 1723 do Código Civil. Isso faz lembrar o conto "A roupa nova do imperador", cujos tecelões afirm avam que só não era vi sta pelos tolos. E nquanto o monarca desfil ava com cami seta e calça curta, todos - com exceção de uma criança - se diziam admi rados com a beleza da inexistente roupa. Desta vez, os Ministros, temerosos de serem considerados não tolos, mas "preconceituosos", "retrógrados" e "homofó bicos" acabaram todos por enxergar uma inconstitucionalidade inexistente. Espera-se o grito de alguma criança para acabar com a comédi a. • Notas: 1. Voto na ADI 4277 e ADPF 132, 5 ma io 20 11 , p. 5. 2. Voto na ADI 4277 e ADPF 132, 4 ma io 20 11 , p. 1. 3. Voto na ADI 4277 e ADPF 132, 4 maio 20 11 , p. 48-49. 4. Cf. http ://www. nambla.org (*) Anápoli s, 9 de maio de 20 11 Telefax: 55+62+332 1-0900 Caixa Postal 456 Anápolis - GO Cep: 75024-970 http://www. prov id aanapo li s.org.br

"terrorismo ambientalista" apoiado por organismos internacionais, prejudicando a produção para consumo interno e para exportação

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algrado os entraves do governo e de ONGs internacionais, a agropecuária e o agronegócio brasileiros continuam obtendo resultados extraordinários, inclusive em mercados do exterior. Para tratar deste relevante tema, que cresce em atualidade com o novo Código Florestal, Catolicismo entrevistou o Dr. Sebastião Costa Guedes, abalizado líder da pecuária nacional. Médico diplomado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) com especialização em Administra- . ção de Empresas e Marketing na l,.)niversitat Seminar der Wirtschaft (USW), Schloss Gracht, Alemanha, ele foi de 1989 a 2002 conselheiro e vice-presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Saúde Animal (SINDAN) e atualmente é seu consultor. Desde 1998 é diretor da lnternational Federation for Animal Health (IFAH), entidade mundial da indústria de produtos para a saúde animal, com sede em Bruxelas. Representa o setor privado do Cone Sul das Américas no Grupo lnteramericano para Erradicação da Febre Aftosa (GIEFA) e é sócio proprietário de empresa de consultoria e assessoria na área de agronegócio e sanidade animal. Ex-Presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC) na gestão 20052007, reeleito para a gestão 2007-201 O. É membro do Conselho do Agronegócio da FIESP (COSAG) e do Conselho do Agronegócio do

Ministério da Agricultura (CONSAGRO-MAPA) . É também Diretor de Sanidade Animal do Conselho Nacional da Pecuária de Corte, gestão 2011 -2014.

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Catolicismo - Tendo presidido até bem recentemente o CNPC, o senhor possui uma visão privilegiada da agropecuária e do agronegócio no Brasil. Ante as perseguições que ambientalistas movem contra ambos, como o senhor considera o seu futuro?

Sebastião Guedes:

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'~cllo que a necessidade de aumenta,· a oferta de a/JJ11e11tos é llluito J11ais illlportante do que este alllbientalismo exagerado OJ1anciado por ONGs"

Dr. Sebastião Guedes - Acho que a necessidade de aumentar a oferta de alimentos é mui to mais importante do que esse ambientalismo exagerado fi nanciado por ONGs de setores e de países que não praticam nada do que nos recomendam. Por que não reco mpõem matas cili ares no Reno, no Danúbio, no Tâmisa? Por que não param de circular com carros que trafega m a velocidades superiores a 250 km/hora? Deveri am se preocupar com as grandes metrópoles e seus problemas de saneamento, transporte, etc. Qu ando a fo me aumentar de fo rma críti ca, este ambiental.i smo vai ser simplesmente ignorado. Lembrem-se de que a China tem 20% da população mundial e apenas 7% das terras ag ricultáveis. Hoje se faz guerra buscando energia. Amanhã poderemos ter alimentos como motivo de beligerância! Catolicismo - O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo: 200 milhões de ca-

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beças. Recentemente houve uma queda significativa. Chega ela a comprometer essa situação? Dr. Sebastião Guedes - Atu almente e fala que temos novamente 204 mil hões de cabeças. Os cic los da pecuári a possuem fases de red ução segui das pelas de expansão. O importante é limi tar e ter ganhos de proclutiviclacle. Acho que um rebanho ele 220-230 milhões de cabeças seria idea l para o Brasil. Temos que me lhora r o des fru te, po is 22% são ainda baixos .

Catolicismo - A Embrapa fez um estudo provando que as políticas governamentais de proteção de áreas indígenas, de dispositivos ambientais e de coletivizações de terras antes nas mãos de proprietários particulares, já engessaram 76% do território nacional. Como tal política afeta a pecuária? Dr. Sebastião Guedes - A pecuúri a em 2Q anos já li berou 62 mil hões ele hectares para a agricultura. Temos ainda potenc ial para evo luir em produ tividade, princ ipalmente e m confinamentos ele te rm inação da engo rda. Se anali sarmos outros fato res corno me lhori a da sanidade, melhor prevenção de doenças e ele parasitoses, recuperação ele pastagens, integração lavo ura-pec uári a, melhori a ela genéti ca nos pequenos e médios produ tores, irri gação, sup lementação em épocas secas, etc., ternos potencial para

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CATO LI CISM O

"A lguns vegeta J'Íanos desejam que J)ar emos ele comer carnes e J)assemos a ingel'ÍI' insetos, conforme foi divulgacio em rece11te "JJt'ess rel ease" da FAO"

aumentar entre 300 e 400% nossa produção. Dados recentes ainda mostra m cerca de 85 milhões de hectares de terras ociosas no Brasil. Isto sem tocar em uma árvore sequer da Amazônia.

40 anos, eis-nos diante deste desafio. Nossa vantagem é que 80% da carne brasileira são consumidos no Brasil; apesar da queda na exportação, ainda assim haverá crise por excesso de oferta.

Catolicismo - Já que falamos sobre o ambientalismo perverso, alguns consideram a pecuária como uma das mais perniciosas atividades do País. Por quê? Dr. Sebastião Guedes - É a desinfo rmação, muitas vezes intencional ou até mesmo por ignorância. A pecuária, principalmente a nossa extensiva, é perfe itamente sustentável. Basta usar os dados gerados em pesqu isas no Brasil para o balanço emissão/absorção de carbo no de animais e pastagens, os dados reais de óxido nitroso das fezes e urina dos animais, que veremos como mani pu lam os dados com adesculpa de default. Infe lizmente alguns vegetarianos e eco logistas estão reclamando. E ex iste m organismos internacionais que albergam com recursos públicos estes personagens. Alguns de les desejam agora que paremos de comer carnes e passemos a ingerir insetos, conforme fo i divu lgado em recente e ingênuo " press re lease" da FAO. Não sou contra hábitos predominantemente orientais de ingerir estes artropodos. Acho, entretanto, que deveriam respeitar os pi lares de nossa cul tura greco-romana, alicerce da civi lização ocidenta l, na qual nunca houve fome por fa lta de condições de produção . Se, por exemplo, a FAO recomendasse uma sopa de cupins estaria ajudando a reduzir o metano de que tanto fa la, mas nem isto faz . Preferem recomendar os outros da classe "insecta", de maior tamanho como gri los, baratas e simil ares ...

Catolicismo - A União Européia tem feito críticas constantes e ameaças à carne brasileira. Ela tem alguma razão? Como médico veterinário, o senhor constata algum perigo de febre aftosa ou da síndrome da "vaca louca" em nossos rebanhos? Dr. Sebastião Guedes - A União Européia vai conti nuar importando carne. Seus contribuintes não conseguem mais fi nanciar subsídios aos produtores rurais. Além disso, os trabalhadores visitantes, os ·imigrantes legai s ou ilegais necessitam comer e os países não dispõem de terras, água e outros recursos produtivos. Um exemplo disso é que a Europa está afrouxando regras exageradas para importar carne americana. Até a questão de anabolizantes foi negociada. Não entendo por que colocam restrições à carne brasileira! Agora chegaram ao absurdo de nos colocar quanto ao risco da "vaca louca" no mesmo nível que o Reino Unido, Irlanda, Bélgica, Holanda com milhares de casos cada um. Nunca tivemos um caso. Esta classificação foi e laborada por um grupo em decisão intramuros. Só um jornal paraguaio de-

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nunciou a decisão na época. Foi-nos prometida uma revisão que até hoje não saiu. Agora a Suíça também teve um caso da doença da "vaca louca". Nunca tivemos nenh um. A FVO (Food anel Veterinary Office) da União Européia publicou recentemente relatório mostra ndo que a rastreabilidade animal da Irlanda está cheia de fa lhas, embora casos de "vaca louca" pross igam ocorrendo. Sou de opini ão que deveríamos envo lver o lla marati nesta questão e, se não houver correção em breve, entrar na OMC (Organi zação Mu ndial do Comé rc io) contra essa classificação "sem pé nem cabeça".

"O Brnsil clispõe de água, ge11ética e área J)at·a crescer no tocante à produção de alimen tos, ca1'nes, gr ãos e ener gia verde sem den 'ubar uma só árvore"

Catolicismo - Como estão atualmente os entendimentos entre pecuaristas e frigoríficos? Dr. Sebastião Guedes - É problemático. Programas de produtividade poderi am melhorar a remuneração e a confiança mútua. O governo também poderi a lançar uma linha de crédito de 40 dias para os fri goríficos pagarem os animais adqu iridos, evi tando assim os constantes problemas de liqu idez e a conveniente recuperação judic iária. Catolicismo - Como o senhor vê o futuro do agronegócio no Brasil? Dr. Sebastião Guedes - So u otim ista nesta questão. •

Catolicismo - Continuamos sendo os líderes da exportação mundial de carne. Como manter esse recorde e até superar o nosso desempenho? Dr. Sebastião Gue,Les - O Bras il é o único país do mundo que d ispõe de água, genéti ca, conhecimento científico e área disponível para crescer no tocante à produção de a limentos, carnes, grãos e energia verde sem derrubar uma só ár vore na Amazônia. Não vejo como deixa r de ser líder na exportação de carne bovina, princ ipa lmente agora que estamos completando a errad icação da aftosa em todo o País! Catolicismo - Muito se tem falado sobre o câmbio e seus malefícios para quem é exportador. O que pensar a respeito? Dr. Sebastião Gue,les - O govern o deveri a estudar medidas compensatórias, pois o problema cambial preocupa, e muito ! De Gaulle, nos fins dos anos 60, já deixava claro o problema que ad viri a com a substitu ição do padrão ouro pelo dó lar. Decorridos

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VARIEDADES

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Paganismo antigo e Neopaganismo moderno ,:n

Passemos agora ao neopaganismo moderno. A figura horrenda aqui apresentada como arte intitulase Delo. Seu autor é Antonio Saura (1930-1998). Faltam ao quadro todos os elementos de proporcionalidade, beleza e elevação que encontramos no estojo da dinastia Qing. É propriamente o que se poderia chamar um monstro.

GREGÓ RIO V iVANCO LO PES

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om sua habitual perspicácia e profundidade de pensamento, escrevia Plinio Corrêa de Oliveira: "Os frutos da apostasia são piores do que os da gentilidade. Pois pode não haver culpa em ignorar a verdade: há sempre culpa em repudiá-la" (Catolicismo, julho de 1952). Encontrei uma ilustração adequada dessa verdade num rico catálogo da famosa casa de leilões de arte Christie 's, de dezembro de 2010. Foi ele enviado a Catolicismo por um amigo residente na França. Entre as muitas obras que o catálogo oferece, duas são especialmente significativas. A primeira é uma bela caixinha para jóias, procedente da antiga China - e feita, portanto, sem a influência do cristianismo (foto 1). A outra é uma pintura a óleo, de arte moderna, de um pintor espanhol do século XX (foto 2). A caixinha vem assim descrita no catálogo: "Coberta de bronze dourado, com, esmaltes esculpidos e compartimentados, constitui uma rara obra de arte" . Agrada logo à primeira vista o contraste harmônico entre o dourado do bronze e os tons de azul e vermelho do laqueado. É de um bom gosto aristocrático de chamar a atenção. Ademais, o bronze é finamente trabalhado. Embora as figuras representadas no estojo sejam de inspiração pagã, o conjunto revela delicadeza de expressão e acurada arte. Trata-se de uma obra produzida na época do imperador Qianlong, da dinastia Qirig, que sucedeu à dinastia Ming, no século XVIII. Duas dessas caixinhas foram confeccionadas para as comemorações do aniversário do imperador ou foram encomendadas por ele para serem doadas nessa ocasião. Seria altamente desejável que convertida ao catolicismo e purificada de paganismos antigos e modernos, a China respeitasse e fizesse florescer ainda -

CATOLICISMO

mais sentimentos de alma tão elevados como os que se revelam nessa obra de arte. Quando o esperado triunfo do Imaculado Coração de Mruia se e tender também a ela, tais desejo poderão transformar-se em realidade. *

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pois esse monstro tem expressão! - é a de um ser profundamente deprimido, acabrunhado mesmo, pela desgraça sem nome que se abateu sobre ele e o transformou numa espécie de demônio. Quem, à noite, em seu quarto, tendo necessidade de acender a luz, gostaria de deparar-se de repente com um monstro desses!? Teria a impressão de que o inferno se abriu e vomitou esse precito dentro do aposento. Pru·a livrar-se do susto, só mesmo apelando para um exorcismo! É um exemplo adequado de como o neopaganismo moderno conduz a estados de alma muito piores do que o paganismo antigo. Uma civilização que rejeitou Jesus Cristo cai muito mais baixo do que uma outra que não O conheceu. •

Só com dificuldade discernem-se aí traços humanos. Além dos dois olhos totalmente deformados, parece haver um terceiro na testa. Aquilo que seria a arcada dentária sugere a existência de ferro s retorcidos; e na falta de nariz, dois tubos se cruzam de modo ignóbil. A expressão JUNHO2011

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INFORMATIVO RURAL atrás e prometeu retomar as atividades da Embrapa Monitoramento por Satélite. Resta saber se esse recuo será para o mes-

lhadas pelo Brasil A regularização fundiári a pode esbatTar em processos de inconstitucionalidade, como o proposto no ano passado. É urgente que o STF se pronuncie para acabar com a farra do JNCRA, que joga milhares de famílias na mi séria só porque alguns autodeclru·ados quilombolas afirmam que seus antepassados tiveram a posse daquelas terras. Em caso recente, o JNCRA reconheceu como quilombola o assim chamado Quilombo Morro Alto, no Rio Grande do Sul, área onde estão instalados 456 pequenos proprietários que deverão desocupar suas terras, não tendo a grande maioria deles pru·a onde ir.

mo padrão anterior. Fiquemos vigilantes.

A última dos ambientalistas contra a propriedade rural Um fazendeiro de Iowa (EUA) nunca toleraria que lhe dissessem para não tocar em 80% de suas terras ou que ninguém o reembolsaria por deixá-la intacta. Essa frase está no livro A Última Floresta, publicado em Londres por Brian Kelly & Mark e se aplica bem ao caso brasileiro, onde ambientalistas extremados querem a todo custo implantar áreas de preservação florestal e de matas ciliares à custa dos proprietários de terras. Se estas medidas ambientalistas fossem de fato de interesse nacional, todos deveriam pagar por ela, e não só os detentores das terras.

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A Reforma Agrária vista pelo INCRA e a realidade

lzabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente

Apesar dessa constatação da núnistra, o Ministério do Meio Ambiente, respaldando ONGs estrangeiras que pregam apreservação quase total dos biornas brasileiros, colabora com elas na condenação da reforma da referida rodovia. Razões ideológicas impõem aos ambientalistas a supremacia dos bichos e das matas sobre os homens ...

Setor estratégico da Embrapa seria desativado na surdina

18ª Agrishow de Ribeirão Preto: grande sucesso

Não fosse o pedido de demissão feito por Rodrigo Lara Mesquita através de artigo publicado em "O Estado de São Paulo", a Embrapa Monitoramento por Satélite teria desaparecido. O articulista assim resume a situação: "Se o ministro

Rossi e a diretoria da Embrapa não reverterem esse descalabro, o atual gestor do centro será no futuro responsabilizado pela sociedade civil pela perda de um precioso cabedal de gestão estratégica territorial. No momento em que o País discute no Congresso Nacional a reforma do Código Florestal e enfrenta grandes desafios de planejamento, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) extingue, em Campinas, a sua única área de excelência em gestão territorial estratégica. A Embrapa Monitoramento por Satélite foi criada há mais de 20 anos com a finalidade de ser um instrumento estratégico do Ministério da Agricultura e do Estado brasileiro em planejamento e monitoramento territorial". A equipe daquele centro desenvolveu sistemas inéditos, baseados no uso de satélites, para mo1útorar queimadas e desmatamentos na Amazônia; controlar a febre aftosa na faixa defronteira; avaliar o alcance territorial das mudanças introduzidas na legislação ambiental; mapear a irrigação no ,Nordeste, a urbanização nos municípios brasileiros e a expansão da agro-energia; monitorar o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em todo o País, além de outros estudos. Entre tais estudos figura um que é muito importante, mostrando o engessamento de 76% do território brasileiro para as atividades produtivas, por efeito das políticas governamentais de coletivização das terras indígenas e de quilombolas, pela fracassada Reforma Agrária e pelas reservas ambientalistas. Diante das reações que o fato produziu, o governo voltou CATOLICISMO

Uma safra especialmente bem-vil1da Segundo "O Estado de São Paulo" (edição de 13-3-11), a previsão de uma safra de 154 milhões de toneladas de grãos é novo recorde especialmente bem-vindo quando o País enfrenta fortes pressões inflacionárias e há tanta incerteza sobre a evolução geral dos preços. A FAO, organismo das Nações Unidas para agricultura e alimentação, havia publicado uma avaliação sombria das condições do mercado internacional. A colheita dos produtos deverá ser mais do que suficiente para garantir um abastecimento tranquilo do mercado interno e sustentar uma vigorosa exportação. Em 2010, o superávit comercial do agronegócio chegou a 63 bilhões de dólares e foi bem mais do que suficiente para compensar o déficit acumulado no comércio de bens industriais. O saldo positivo do agronegócio foi o triplo do superávit obtido pelo Brasil no comércio global de mercadorias no ano passado.

Co11fissão da m/J1istra contradiz ação millisterial "Sou radicalmente contra a BR 319. Por outro lado, é fácil falar daqui. Vai viver lá. Quando você vai lá e vê a demanda do povo, aí você acha bastante razoável ter um carro que te permita uma mobilidade até Manaus" (Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente, sobre a Amazônia).

A grande feira que se realiza todos os anos na cidade de Ribeirão Preto (SP) bateu recordes de público e de negócios. A área cresceu 20%, perfazendo um total de 360 núl metros quadrados. Os 180 mil estandes, ocupados por 765 empresas de 50 países, e tiveram lotados o tempo todo por agricultores ávidos em fechar negócios e conhecer novidades. A feira esteve dividida nos seguintes setores: fabricantes de máquinas e implementos agrícolas, armazenagem, irrigação, pecuária, aeronaves e pneus. O clima entre os ruralistas era de _empolgação com a safra recorde e os bons preços. Entretanto, prevalecia a palavra de ordem: investir, sim; gastança, não. É hora de pagar as contas.

É urgente acabar com farra quilombola "É oportunidade de a Justiça acabar com a insegurança jurídica em todo o País, devido ao rito utilizado para o enquadramento de áreas carimbadas como de descendentes de quilombo/as. Existem regiões sob ameaça desses grupos da 'reparação histórica', bem situados dentro do governo, principalmente a partir de 2003, com a chegada de Lula e PT a Brasília. A Base de Alcântara, no norte do Maranhão, é uma delas. Um dos melhores pontos do planeta para lançamentos espaciais pode vir a não ser explorado em todo seu potencial devido à reclamação de auto-intitulados descendentes de quilombo/as. [... ] Evidente que existem todas as condições de ser criada uma fábrica de fantasiosos quilombos pelo País, sem quaisquer outras maiores considerações a não ser o testemunho dos próprios interessados" (A hora é do STF, editorial "O Globo", 7-3-11, Opinião, p.6). Até 2010, foram quase núl títulos concedidos. Fala-se em mais de 5.000 comunidades autodeclaradas quilombolas, espa-

Nenhum país vem insistindo tanto e tão longamente como o Brasil na implantação de uma Reforma Agrária "redentora". Com efeito, sua propaganda atravessou regimes políticos de diversas tendências ideológicas . Quer sob o pretexto de erradicar a pobreza, quer para acabar com o "latifúndio improdutivo" ou alimentar o País e o mundo, a Reforma Agrária só produziu miséria e favelização do campo, além de engessar 76 % do território nacional para a produção. Ela não entregou nenhum título de propriedade a qualquer dos assentados, pois é sabido que todas as terras da Reforma Agrária pertencem ao JNCRA, o maior latifundiário do Brasil. Contra as mais gritantes evidências em sentido contrário, a propaganda agroreformista continua insistindo que essa reforma promoverá a redenção do homem do campo. Em 1984, sob a inspiração da Conússão Pastoral da Terra (CPT), moldou-se o MST, organização sem personalidade jurídica, dominada pelo pensamento marxista e sectária da Teologia da Libertação. Fortemente dependente de financiamento federal - sobretudo no governo Lula, que adulava servilmente suas lideranças - , muitos elementos do MST foram inseridos no aparelhamento da máquina federal, especialmente nas áreas do Desenvolvimento Agrário e do INCRA. Pois bem, nesse contexto, mais do que um órgão de governo, o JNCRA se tornou um braço do MST. "O Estado de São Paulo" publicou recentemente um editorial intitulado A Reforma Agrária de Lula, no qual demonstra a absurda deturpação e inflação de dados do JNCRA quanto ao número de assentados durante os dois períodos do governo petista. Pelos dados oficiais, nada menos que 48,3 milhões de hectares teriam sido incorporados às áreas de assentamento rural , beneficiando 614 mil famílias, no período de 2003 a 2009. Dessa forrna, o governo Lula teria sido responsável pela distribuição de 56% das terras, correspondentes a 85,8 milhões de hectares. E teria beneficiado 66,4% do total das famílias assentadas (924 núl). Contudo, o geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor da USP, revelou que esses dados não correspondem à realidade . Ele verificou que 26,6% das famílias qualificadas como assentadas já viviam e produziam nas mesmas zonas rurais. Outros 38,6% são constituídos por trabalhadores que ocuparam lotes abandonados em áreas pré-existentes. Apenas 34,4% - ou seja, 211 mil famílias - foram realmente assentadas durante o governo Lula. Parece mesmo que "nunca antes, na história deste País", um órgão do governo foi capaz de tantas trapalhadas ... • JUNHO2011

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Partir é viver...

ou mo1rer um pouco! ! 1 BENOIT BEMELMANS

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menina agarra-se ao braço da religiosa a quem acaba de dar um bouquet de flores, enquanto a mãe lhe apresenta sua filhinha caçu la para a despedida. Atrás delas o funcionário dos cotTeios consulta seu relógio, pois mais do que uma norma de educação, a pontualidade é para ele um dever que deriva do respeito ao próximo e se reflete na própria honra. No interior da carruagem, outra freira já ocupa seu lugar ao lado de um militar. Outra viajante compra frutas de uma simpática vendedora ambulante. A dama de touca e lenço azul aponta com sua sombrinha para a caixa de chapéu que lhe pertence. Os carregadores dispõem a bagagem no teto do veículo, alguns homens conversam perto dos cavalos, e o funcionário responsável pela transportadora toma notas em seu relatório. *

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Assim era a vida há um século ou pouco mais: tranqüila, alegre, interessante, colorida. A indumentária variada e elegante realça a dignidade das pessoas. O ambiente é de calma, mesmo em meio ao burburinho que precede a partida. Ninguém grita nem gesticula. Embora sejam de regiões e classes sociais diferentes, pela harmonia que a cena transmite os personagens parecem membros de uma mesma familia. O respeito mútuo, a bonomia, o amor ao trabalho honesto, a compreensão da legitimidade e dos benefícios de uma hierarquização social, como fruto da tradição e do mérito, tornam a vida mais suave, embora não eliminem a necessidade do esforço nem as conseqüências do pecado original. Em outras palavras, os princípios cristãos ainda marcam profundamente esta sociedade, entretanto já fustigada intensamente por idéias e princípios revolucionários. *

Quadro de Abraham Solomon retratando a partida da mala postal de Biarritz (País Basco francês) durante o Império de Napoleão Ili. O correio da época transportava também pessoas e mercadorias.

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Outro aspecto desta cena refere-se à viagem enquanto tal. O ambiente é de calma, sim, mas também de muita vida, até de certo alvoroço. Para muitos, a viagem representa a aventura, e esta dá sabor à vida. Por outro lado, quem paite deixa para trás um pouco de si mesmo, de suas raízes: os seres queridos, as amizades, os lugares, as recordações. Por isso, alguém disse: partir é morrer um pouco .. . • E-mail para o autor: catolicismo@ tcrra.com.br

CATOLICISMO

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CAPA

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Â>ós longa e acidentada história, a estrutura artificial que vem eliminando as gloriosas tradições cristãs de 27 países europeus enfTenLa dois perigos: desastre interno e maciça invasão islâmica.

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GABRIEL

J. W ILSON

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n1ao Manto imperial, amisa de força?

m conglomerado de 27 nações - algu mas das quais entre as mais importantes da Terra, com uma população acima de 500 milhões de hab itantes - acaba de obter o direito de pron unciar-se em uníssono no concerto das organi zações internacionais. Em 3 de maio, a Un ião E uropéia (UE) gan hou o direito de fa lar, perante as Nações Unidas, em nome de seus 27 países-membros. Seu peso cultural, político, tecnológico, econômico e militar não pode ser ignorado. Sua ação sobre as alm as vai desde o fato de a UE ser um relicário do que de melhor se produziu em matéria de civi lização e cultu ra no mundo, até o eldorado do bem-estar tecnológico prometido pela modernidade. Uma análi se dos rumos que esse bloco vai toma ndo e sua influência sobre todo o orbe torna-se assim imperativa.

A ,midade europeia: J-'wulo de <111adro pam uma a11álise A ideia de uma E uropa unida não é novidade. Sobre vários povos hoje exti ntos que antes de Cristo habitaram esse mesmo território já se impusera a disciplina do Império Romano: da Inglaterra ao Mediterrâneo, da margens do Reno ao Bálcã . Porém, as sucessivas invasões de bárbaros vindos do norte e do leste fizeram com que desse passado pouco restasse. Graças ao trabalho civilizador empreendido nos primeiros tempos do cristian ismo por missionários cri stãos, bispos santos e monges do Ocidente, a Europa começou a adqu iri r sua fisionomia atual. Basta recordar alguns nomes: São Patrício (389461 ), evangelizador da Irlanda e ilhas britâni cas; São Bento, fundador da Ordem beneditina (480-547); São Columbano (543-615) e São Bonifácio (680-754). Mas quem propriamente deu unidade política à parte mais sign ificativa da Europa foi Carlos Magno, cujo império e dependências estendiam-se pelos territórios correspondentes hoje à Alemanha, França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Áustria, norte da Itália e partes da Eslováquia, Hungria, Croác ia e Península ibérica até os rios Ebro e Douro. A partir desse núcleo floresceu o que chamamos a Cristandade medieval , com toda a sua riqueza de instituições e regimes de governo : reinos, principados, senhorias, hospitais, universidades, cidades livres, repúbli cas. Ela constituía um só todo, que transcendia os vários países cri stãos sem os absorve r. Nessa

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realidade viva a influência da Igreja e dos princípios cristãos deu origem a uma civilização que ainda em nossos dias podemos admirar nas suas obras primas, como as catedrais góticas, abadias, cidades e castelos. A Ordem beneditina de Cluny (séculos IX a XII) contribuiu notavelmente para sua formação. Entretanto essa Europa, desenvo lvida sob o influxo do Evangelho, sumamente diversificada e objeto do sonho de muitos de nossos contemporâneos, encontra-se hoje, em numerosos aspectos, a léguas do ideal da civilização cristã. E não poderia ser de outro modo, porquanto são bem outros os princípios que a in spiram sob a égide da União Europeia.

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Como nasceu a União Europeia - "Estados Unidos da Eumpa" O espetáculo de horror de que foi palco a Europa durante a II Guerra Mundial (1939-1945) deixou milhões de pessoas traumatizadas. Os Estados Unidos da América, participantes vitoriosos do conflito, impunham-se como a grande potência, numa época em que os costumes se transformavam rapidamente sob a influência do cinema de Hollywood .

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Nesse a mbiente , pal av ras como "paz", "concórdia", " uni ão", oavam docemente aos ouvidos de uma população europeia sovada por longo e terrível pesadelo . Era o momento propício para fazer vingar a ideia da unificação do continente. Tanto mai s que nesse sentido haviam-se pronunciado as maiores fi guras do mundo político de então, como Adenauer, Churchill e De Gaulle. Em discurso na Universidade de Zurique, em 1946, Winston Churchill (foto à esq.) propunha um "remédio" que em poucos anos poderia tornar a Europa "livre e feliz": "Trata-se de reconstituir a família europeia ou, pelo menos, a parte que nos for possível reconstituir; e assegurar uma estrutura que lhe permita viver em paz, segurança e liberdade. Devemos criar uma espécie de Estados Unidos da Europa". Em 1949, após duas reuniões internacionais celebradas em Haia e Londres,

CATOLICISMO

Robert Schuman, mini stro francês de origem luxembu rguesa, impul siona em Estrasburgo a criação de uma organização dedicada à defesa dos direitos humanos: o Conselho da Europa, precursor da União Europeia. E m 9 de maio de 1950, o mes mo Schuman, então mini stro dos Negócios Estrangeiros, ap resenta um plano para a cooperação ap rofundada e ntre os países europeus. Trata-se da Declaração Schuman, que preconiza a fo rmação de um núcleo inicial para a unifi cação do continente. Daí o 9 de maio ter passado a ser o Dia da Europa. A partir de 1950, a Co munidade E urop e ia do Carvão e do Aço (CECA) começa a unir econômica e politicamente os países europeus. E m 1957, o Tratado de Roma institui a Comunidade Econômi ca Europei a (CEE) ou Mercado Comum com os seis Estados-Me mbros fundadores da UE: França, Alemanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. Ao mesmo tempo, criase a Comunidade E uropeia de E nerg ia Atômica (EURA TOM). Um novo passo para a fusão foi dado em 1967 com a criação de uma Comissão e um Conselho de Ministros únicos, destinados a gerir as instituições já ex istentes. Para além de suas atribuições em matéria econômica, a CEE foi abarcando gradual-

CEE ampliar o território de sua ação em decorrência da reunificação da Alemanha. E m feve reiro de 1992, com o Tratado de M aastricht, à união econômica so ma-se a uni ão política, sendo a CEE substituída pela UE (União E uropé ia). Em janeiro de 2002 o euro começa a circular como moeda oficial, embora alguns paíse não o adote m . E m 2004 são recebidos Chipre, Malta, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Pol ônia, República Tcheca, Eslováquia e Eslovênia. E m 2007 entram ainda a Romênia e a Bulgária, completando os 27 atuais países-membros. Alguns continuam na fila e em breve a UE poderá contar com 30 países ou mais.

Rumo à República Universal laica, socialista e igualitária?

mente uma vasta gama de outras competências, nomeadamente nas áreas das políticas, social, ambiental e regional. E m 1973 ela recebe a adesão do Re ino Un ido, da Irlanda e da Dinamarca. Em 198 1 admite a Grécia. Em J 986, Espanha e Portugal. Em J990 entram a Finlând ia, a Suécia e a Áustria, alé m de a

Muitos se perguntam até onde será ampliado esse amálgama de nações. Caso se chegasse a admitir a Rússia ou a Turquia, por exemplo, seu território extravasaria os limites europeus, chegando até a Ásia. Com isso estaria mais proximamente configurado o desígnio do estabelecimento de uma República Universal nos moldes da prognosticada por Plínio Corrêa de Oliveira em 1954: "Começou a aparecer como evidente para numerosas pessoas que um novo JUNHO2011

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1 conflito internacional acarretará o fim da civilização, e quiçá da humanidade. Assim, pareceu-lhes que todos os sacriJteios seriam pequenos para evitar um tal desf echo. E nada se lhes afigurava mais racional, mais eficaz, mais definitivo neste ramo, do que suprimir todos os go vernos, toda s as fronteiras, todas as pátrias, e estabelecer a República Universal. "As circunstâncias conferiam assim fo rma, cor e vida em nossos dias, às cogitações dos revolucionários que, particularmente desde o século XIX, vêm sonhando com o moloch de uma república universal laica, socialista, igualitária o plano bem conhecido das seitas secretas, que ontem ainda parecia quimérico aos espíritos 'realistas'". 1

O 1'rntado de Maastricht: nova etapa na uniflcação Ass inado pelos seus 15 membros em Maastricht (Países Baixos) em 7 de fevereiro de 1992 e vi gorando a partir de 1° de novembro de 1993, o T ratado sobre a União E uropeia marca uma nova etapa na unificação ao permitir ampl a integração política até então limitada. Ele cria uma Uni ão E uropei a baseada em três pil ares : as comunidades europé ias j á exi stentes, a política exterior e de segurança comuns e a cooperação policial e judiciári a em matéri a penal. Ademais, institui a cidadani a europeia, reforça os poderes do Parl amento Europeu e lança a uni ão econômica e monetári a. A Comunidade Econô mi ca Eu rope ia (CEE) passa a ser simples mente Comunidade E uropeia (CE) ou, mais correntemente, Uni ão Européia (UE). O Tratado de Maastricht, entretanto, não passou sem objeções nem percalços, manifes tados por ocasião dos referendos convocados na França e na Dinamarca. A assoc iação franc esa Tradition, Famille, Propriété - TFP distribuiu na oca7 sião um manifesto no qual aponta a falta de clareza do tratado, "difícil de compreender em razão da ambição e da imprecisão de seus numerosos objetivos, do alcance das vantagens e dos riscos que ele envolve, e por fim da complexidade dos mecanismos que ele põe em marcha". E convidou os franceses a di zer "não" à "torre de Babel paneuropeia". -

CATOLICISMO

Tratado de Lisboa

der sup ra nac ion al europe u sobre uma massa humana sem identidade, no sentido da utopia de um governo mundi al. A Dinamarca, por sua vez, rejeitou o tratado com 5 J % dos votos . Objeções fora m levantadas também em outros países, mas o tratado acabou aprovado (imposto?) por vi a parl amentar ou por decisão dos respectivos chefes de Estado. A tecnocracia de Bru xelas te m sido suficientemente astuta e flexíve l para contornar os obstác ulos ou até mes mo para dobrar-se temporari amente diante deles.

Outros trntaclos parn ampliar o pocler UE

O governo sociali sta do pres ide nte François Mitterrand deitou todo seu empenho na aprovação do tratado atra vés do emprego da possante máquina estatal, coadju vada pe los meios de comunicação que atuara m em peso no mes mo sentido. O "sim" vence u sem brilho : 51% . Muitos o considerara m um a derrota moral. Mas permaneceram as obj eções da TFP francesa: o Tratado de M aastri cht

tem por objetivo a maior tra nsformação estrutural da hi stória do país, podendo aca rretar até o seu eventual desaparecimento como nação independente: • pe lo abandono de importantes parcelas da soberani a nac ional em proveito das instituições comunitári as; • pe lo reforço de uma estrutu ra econômica e políti ca autoritária, di rigida por uma nomenklatura de tecnocratas; • pela fo rmação ulterior de um po-

Os tratados da UE fora m sendo sucessivamente mod ifi cados, seja para evi tar o choque com as oposições e estranhezas de setores da opini ão pública, seja para adaptar-se às ex igências dos paísesmembros ou candidatos a aderentes. Ou ainda com o objetivo de introdu zir refo rmas nas institui ções da UE e de lhe atribui r novos do mínios de competênc ia. Essas alte rações são sempre efetuadas e m confe rências especiais dos governos nacionai membros da Uni ão. Destas resultaram, por exempl o:

• Ato Único Europeu (1°-7-1 987) - preparou o terre no para o mercado comum ; • 1\·atado de Amsterdã (] º-5- 1999) - ampli o u os do mínios da sobe rania conjunta, diminuindo em consequência o campo da soberani a particular de cada Estado-membro ; • Tratado de Nice (1-2-2003) - visa to rnar mais efi caz o sistema de dec isão da UE, mes mo com futuras adesões de novos membros.

A rnjeição do 1'ratado Constitucio1,a/ da UE Cozinhado e ass inado em outubro de 2004, o Tratado Consti tucional não foi ratificado por todos os Estados-Me mbros da UE. Mais. Submetido a referendos na França e nos Países Ba ixos no di a 29 maio de 2005 , fo i rej eitado. Anali semos o caso fra ncês. O resultado do referendo estarreceu a mídi a, bem como as cúpul as francesas e europeias. Os jornai s comentara m que a rejeição incontestável da Constituição europeia por 54,87% revela a dime nsão da fratu ra social na Fra nça, além de ter representado um terre moto político para o então presidente Jacques Chi rac.

Significativamente, o "s im" chegou a vencer na maioria das grandes cidades, mas não na zona rural, nem nas cidades médi as e pequenas, menos expostas às estruturas de manipul ação da opini ão pública. Para os mentores da UE, o que fazer? M andar seus po líti cos (entre e les Giscard d ' Estaing) atuar nas zonas onde há dificuldades para desarmar os espíri tos? Reformul ar os textos, redigir novos tratados? É o que fi zeram, ao propor um texto reform ado - o T ratado de Li sboa. Basicame nte o mes mo que havi a sido rejeitado.

A imposição do 1'ratado de Lisboa Ass in ado e m 13 de deze mbro de 2007 , o referido tratado - que reform a o func ionamento da UE e emenda o de M aastricht e o de Roma, atinentes respectivamente à União e à Comunidade europeias - entrou em vi gor em 1º de dezembro de 2009. Segundo seus mentores, ele vi sa a introdu zir métodos de trabalho e regras de votação simplificados, torn ar a U E mais "democrática e transparente" (pala vras-tali smãs), garantir os dire itos fundamentais dos cidadãos JUNH02011

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europeus através de uma Carta de Direitos Fundamentais e permitir que a UE se pronuncie como um a só voz sobre questões de dimensão mundial. O Tratado de Lisboa tenta também resgatar os fracassos anteriores, principalmente a recusa por a lguns países da moeda única e da Constituição, conforme trata mos ac ima. 2 Os acenos de sua excessiva " boa vontade", contudo, foram retribuídos em junho de 2008 com uma rejeição contundente cios irl andeses da ordem de 53,4%. Surgiram rumores de futuras recusas também dos tchecos e poloneses . Os governantes, políticos e diplomatas desdobraram-se então para demonstrar aos irlandeses que eles não haviam compreendido bem a questão. E depois de " pentear" o texto e ameaçar com sanções econômicas, um novo referendo acusou uma mudança espetacu lar: em 2 de outubro de 2009, com a participação ele 58% dos e leitores, 67% dos votos disseram "sim" ao Tratado de L isboa! Surpresas da democracia ...

CATOLICISMO

A Carta dos Direitos Fu11dame11tais e a homossexua/iclade A Carta dos Direitos Fundamentais, vinculada ao Tratado de Lisboa, reconhece um conjunto de direitos pessoais, cívicos, políticos, econôm icos e sociais cios cidadãos e residentes na UE, incorporando-os ao direito comun itário. Formalmente adotada em Nice pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho Europeu e pela Comissão Europeia, em dezembro de 2000, com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa um ano antes, a Carta foi investida de efeito jurídico vincu lativo à semelhança dos Tratados, sendo para esse efeito alterada e proclamada pela segu nda vez em dezembro de 2007. A Carta dos Direitos Fundamentais foi e laborada por uma convenção composta por um representante de cada país da UE e da Com issão Europeia , bem como por deputados do Parlamento Europeu e dos parlamentos nacionais. Sua missão era de incluir os textos da Con-

venção Europeia dos Direitos Humanos ele 1950 e o utros documentos.

Em seu artigo 21, a Carta proíbe a discriminação e m razão de "orientação sexual". Essa formu lação é um eufemismo que se destina a dar foros de c idadania a todos os homossexuais o u transexuais, confer indo- lhes o direito ele processar por " homofobia" quem por qualquer motivo - religioso, por exemplo - se lhes opuser. Nesse mesmo sentido, o Parlamento Europeu, sob pretexto de mai s uma vez lutar contra o que chama "homofobia", emitiu uma resolução em 18 de janeiro de 2006, propondo conferir direitos inerentes ao casamento não apenas a " parceiros do mesmo sexo", mas també m a "bissexuais e transexuais". Tal reso lução define exp li c itamente a "homofobia" como "um sentimento irracional de medo e de aversão em relação à homos-

sexualidade e às pessoas lésbicas, bissexuais e transgêneres", que deve ser combatido desde a idade escolar. A intolerância de que dá provas essa resolução do Parlamento Europeu, ao determinar que esse " medo irracional"

seja reprimido, é reveladora de um radicalismo extremado ... Segundo a TFP francesa 3, que a denunciou, seu texto vai ainda mais longe, impondo urna "moral" neopagã. A _d enúncia reproduz também o protesto dos bispos católicos poloneses, para os quai s a referida re olução é um exemplo típico de "d itad ura do relativismo".

Uma apreciação ele co11ju11to De tudo quanto foi até aq ui descrito depreende-se que UE não é apenas uma aliança, nem um simples projeto comercial ou político, mas algo muito mais amplo e profundo, destinado a imprimir determinada mentalidade - uma verdadeira Weltanschauung - nos habitantes a ela vinculados . Em outras palavras, a UE rege-se por princípios igualitários, laicos e democráticos tendo a seu dispor uma co lossal máquina administrativa com tecnocratas altamente qualificados e aparelhado para pôr em marcha de modo implacável todo o sistema. Através dos países-membros, e la também

dispõe a seu serviço ele força militar e policial. Cumpre ainda notar que a democrac ia é apresentada pela UE como se fo se o único regime legítimo e perfeito, o que é fa lso. Outras formas de governo podem ser igualmente boas, e até mais perfeitas, de acordo com o caso concreto de cada povo e Estado. É o que ens in a a doutrina socia l da Igreja. É claro que na UE nem tudo é negativo. Mas muitas vezes o positivo serve para dar ainda mais força ao que é criticável. Ass im , e nquanto em alg uns casos, determinados mecanismos atuam realmente em defesa cios cidadãos, em o utros e les podem transformar-se em carrascos. É o que revelam em substânc ia alg umas notícias e comentários que reproduzimos neste artigo . Por exemplo, a simples afirmação de que a UE protege todas as minorias pode em a lg un s casos ser eficaz; contudo, atendendo a recurso ele homossexuais de Hamburgo, a Corte de Justiça da União Europeia sediada em Luxemburgo aca-

ba de aprovar a equiparação da união homossexual ao ca amento para efeito ele pensões de aposentadoria. O lobby homossexua l serve-se dessa proteção para impor a todos uma situação moral - a relação homossexual - condenada pela doutrina cristã professa da pela maioria dos cidadãos europeus. Assim, no caso concreto, a proteção de uma minoria transforma-se e m privilégio de uma casta em detrimento da maioria. Mas não é este o único ponto negativo da UE. No dia 9 de setembro de 2005 , em comunkado apresentado em Fátima por ocasião do aniversá ri o da Associação Portuguesa de Canonistas, D. Manuel Monteiro de Castro, Núncio Apostólico na Espanha, já apontava uma lista de "omissões lamentáveis" que reproduzimos com a lguns retoques: • não há referência à transcendência, o respeito pelo sagrado; • a dignidade humana e os direitos huma nos apresentados como valores que precedem qualquer jurisdição estatal, não

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Portugal e Irlanda tiv eram ele ser igualmente socorridos. A espada de Dâmocles do risco de falências em dominó continua suspensa, podendo cair em segu ida sobre a Espanha e a Itália.

Imposições injustas de normas e organismos europeus O jornalista Riccardo Cascioli, que escreve no "Avven ire" de Roma e em outras publicações italianas como "II Timone" e "La Bussola Quotidiana", relata em 6-4-11 vários casos que vêm acontecendo na Europa como resultado da imposição abusiva por organismos europeus de absurdas regras em matéria de educação e família, em geral por imposição do lobby homossexual. Eis um resumo: ■ Na França, um professor pode perder o seu emprego se apresentar a alunos

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sendo concedidos pelo legislador, mas existindo por direito próprio; ■ fa lta a tutela do direito à vida desde a concepção; ■ devia ser mais explícita a tutela do matrimônio e da família; ■ menos direito de veto; ■ falta sobretudo uma referência expressa às raízes cristãs da Europa. ■ os representantes das igrejas foram excluídos da Convenção Europeia presidida pelo ex-presidente francês Valery Giscard d'Estaing, reunida em fevereiro de 2002. A Igreja Católica lança uma campanha em favor do papel do cristianismo na redação ela futura Constituição Europeia.

Os referendos: a "asa 11egra" de BnLYelas No artigo Les référendums, bêtes noires de Bruxelles, colocado online em 2-511 por "Mémoire des luttes", o cronista Bernard Cassen comenta que os membros da Comissão Europeia e os altos funcionários da UE detestam os referendos. Primeiro, porque e les são organi zaCATOLICISMO

dos em âmbito nacional, em dissonância com a lógica supranacional da construção europeia. Segundo, porque e les constituem a expressão direta da soberania popular, sem os fi ltros das instituições da democrac ia representativa, com os quais muitos arranjos são possíveis. Os plebiscitos lembram que os povos ai nda existem no Velho Continente. Cassen acha que por enquanto a noção de " povo europeu" continuará a ser urna ficção. Por isso a UE tem um sério problema com certos povos que a compõem. Não que estes sejam hostis à Un ião em princípio, mas porque rejeitam a canga das políticas manipuladas por instituições que agem em nome deles. Por isso, quando podem manifestar o que pensam, não perdem a ocasião. Foi assim que em 1972 a Noruega recusou-se a aderir à já extinta Comunidade Econômica Europeia (CEE); que a Dinamarca rejeitou em 1992 o tratado ele Maast:richt; que em 2005 a França e os Países Baixos disseram "não" ao Tratado Constitucional Europeu; que a Irlanda votou con-

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A objeção de consciência contra o aborto é negada 11a Espanha Em 5 de abri l de 2011, o 3° Tribunal Administrativo de Málaga rejeitou o recurso apresentado por médico de familia de um Centro de saúde pública de Antequera que alegando razão de consciência havia pedido dispensa da obrigação de informar suas pacientes sobre os lugares onde elas poderiam submeterse ao aborto. O magistrado julgou que o fato apon-

Península asiáti.c a separada da Europa pelo Mar de Mármara, a Turquia possui pequeno território do lado europeu - a Trácia oriental, remanescença das conquistas do Império Otomano. Há meio século a Turquia se aproximou da Europa, tornando-se importante aliado ocidental no âmbito da Organização do Tratado Atlântico Norte (OT AN). A esse título conta não só com o apoio, mas até mesmo com certa pressão dos Estados Unidos para que seja admitida na UE. Candidata de longos anos, a admissão da Turquia está por enquanto em banho maria devido às perplexidades e temores que suscita. Pois com uma população quase igual à da Alemanha e um islamismo que vem se radicalizando perigosamente, ela teria nas decisões da UE um peso proporcional ao número de seus habitantes.

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Cascioli comenta: é o triunfo, num conjunto de países, da "democracia totalitária". Conservam as aparências exteriores de uma democracia, mas impõem a violência totalitária do "Estado da ética" (laica). Uma democracia sem valores morais transforma-se facilmente em totalitarismo - declarado ou fingido.

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tra o Tratado ele Nice em 2001, e contra o Tratado de Lisboa em 2008. Entretanto, salvo no caso da Noruega, um passa-moleque sempre acabou por transformar o "não" em "sim".

Crise ec011ômica na coleção de J'racassos Aos fracassos dos referendos, que recusaram os primeiros projetos de Constituição da UE e a adoção da moeda única, soma-se o fracasso econômico que obrigou a União a socorrer alguns de seus membros. Em 2010, os chefes ele governo cios 16 países da zona do euro - em parceria com o Fundo Monetário Internacional (FMI) - aprovaram uma ajuda inicial à Grécia da ordem de 110 milhões de euros, para tentar impedir o alastramento da crise financeira que atinge esse país. Os fatos demonstraram que tal socorro foi insuficiente, pois mesmo após o aumento da aj uda, o governo sociali sta ela Grécia conti nua a debater-se com um déficit ele 156 bilhões ele euros. E cerca da metade de sua população opõe-se aos planos ele socorro da UE.

Movimento na Espanha a favor da liberdade de consciência

maiores de 16 anos um documentário em que explique exatamente o que é o aborto; ■ Na Alemanha, os pais podem ir para a cadeia caso se recusem a que seus filhos da escola primária frequentem cursos de educação sexual que mostrem imagens explícitas de savoir-faire sexuais; ■ Na Inglaterra, enquanto um casal cristão que considera a homossexualidade um pecado é impedido de exercer a guarda de crianças, os homossexuais, pelo contrário, podem adotá-las; ■ Em certos países, o ensino científico que admita a criação do universo por um Ser inteligente (Deus, para os que crêem) pode acarretar a perda da cátedra.

tado não viola a consciência de um funcionário público - no caso, a do médico em questão. Ou seja, a consciência embotada de um magistrado torna-se assim responsável pela extensão de uma medida injusta que afetará milhares de médicos espanhóis que declararam objeção de consciência contra a prática cio aborto.

Rejeição das raízes cristãs da Eumpa e abertura para o islã Apesar do empenho reiterado da Igreja Católica em defesa das raízes cristãs da Europa, a UE prepara a admissão da Turquia islâmica no bloco europeu.

Se admitida, a Turquia poderia ainda representar um rombo na malha de segurança da fronteiras europeias, por onde poderiam passar eventualmente hordas de imigrantes oriundos do Oriente Médio, da Ásia e da África. Pois bastaria cruzar a porosa fronteira greco-turca para estar ao abrigo das proteções legais dos direitos humanos, respeitados pelos europeus, mas não pelos muçulmanos. O Prof. Roberto de Mattei, vice-presidente do Centro Nazionale de Ricerca da Itália e autor de um livro sobre o problema da Turquia na Europa4, fa lando recentemente no Bureau de representação da Federação Pro Europa Christiana em JUNHO2011

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Bruxelas (vide box ao lado), defendeu a necessidade de se convocar um referendo sobre a entrada da Turquia na UE. O confe rencista foi aplaudido quando respondeu a uma pergunta sobre o porquê da exclusão da opini ão pública desse debate: "Negamos - ressaltou o catedrático italiano - que a entrada da Turquia na UE represente um benejzcio para a Europa. Pensamos, ao contrário, que introduzir 90 milhões de turcos na estrutura política e social europeia constituiria uma catástrofe irremediável para o continente". Os recentes acontecimentos no Norte da África e no Oriente Médio, com a fuga maciça de centenas de milhares de pessoas dos países em confli to, mostra a. realidade do perigo de uma verdadeira invasão da Europa por popul ações majoritariamente muçulmanas. Ódio à Cl'uz de Nosso Senlwr Jesus Cl'Ísto

As matanças cruéis e implacáveis de cristãos no Iraque, no Egito, no Paquistão e na própria Turquia comprovam, por sua -

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vez, a que ponto podem chegar os invasores, tanto mais quanto haverá, infiltrados entre eles, fa náticos homens-bomba clispostos ao covarde recurso de sacrificar pessoas inocentes em atentados. A recusa da UE em reconhecer as raízes cristãs do Velho Mundo e em agir em consequência aumenta a sua fraqueza di ante de um inimigo cujo radicalismo está disposto a todas as loucuras e ousad ias. Para estes, a força parece ser a única razão. Mas o ódi o à Cruz não existe apenas entre os infiéis muçulmano . Ele está presente também no mundo ocidental, entre os próprios europeus, ateizados pelo laicismo domi nante largamente disseminado por toda espécie de sei tas gnósticas ou agnósticas desde a Revolução Francesa. Ass im, já tivemos na Itália a queixa apresentada por um casal à Corte Europeia dos Direitos Humanos de Estrasburgo contra a presença de crucifixos nas escolas, sob a alegação de que isso pode ferir os sentimentos das crianças .. . ! A Itália perdeu em primeira in. tância, mas recorreu e o tribunal deu provimento ao recurso. O

caso mostra a que extremos pode chegar a perseguição religiosa na Europa! Quem pratica realmente a verdadeira Religião em nossos dias está sujeito ao martírio nos países pagãos e de infiéis, e ao que j á se chamou de "perseguição branca" nos próprios países ocidentais, pela impos ição de leis iníquas contrárias à Religião. Que Maria Santíssima, Virgem Fidelíssima, Rainha dos Mártires, dos Confesso res e das Virgens, proteja todos os que a Ela recoHem neste tempo de provas e perseguições. Quem d'Ela se vale, não será decepcionado. • E-mail para o autor: ca1olicismo@1crra.com

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Notas: 1. Cf. Plíni o CO RRÊA DE OLIV EIRA , A comunidade dos Eswdos segundo as normas de Pio XII, in Catolicismo nº 43 , de j ulho de 1954. 2. A esse respeito é interessante ass istir o vídeo da conferê ncia do Prof. Elmar Altvater no Brasil , em 2 1-6-2005, no qua l ele reconhece, não sem certo embaraço, o d ivórcio entre as popu lações da Europa e a tecnocrac ia governante. 3. Cf. "Flash Actua lités" nº 63, de março de 2006. 4. La Turchia i11 Europa - Beneficio o catastrofe ? Sugarco, Mi lano, 2009.

F undada no ano de 2002, a Federação Pro Europa Christiana (FPEC) reúne oito associações que atuam em diversos países do continente europeu. Seu principal objetivo é a defesa dos valores que modelaram durante séculos a civilização cristã e contribuíram de maneira decisiva para a grandeza da Europa. Sob a ação do processo multissecular que Plínio Corrêa de Oliveira chamou de Revolução, tais valores foram sendo abandonados, até chegarmos ao neopaganismo hodierno e a uma apostasia quase generalizada. As instituições europeias desempenham um papel relevante nesse abandono através da promoção de leis atentórias ao Direito natural e ao Direito divino. Tais leis vão penetrando nos países membros e dando lugar a uma verdadeira ditadura legislativa. Daí a importância do trabalho desenvolvido pela FPEC. Em dezembro de 2009, a Federação inaugurou seu Bureau de representação em Bruxelas - cidade erigida em capital da União Européia. Ali ela promove palestras e reuniões nas quais grupos e líderes conservadores estudam e discutem estratégias visando opor obstáculos às leis mais revolucionárias emanadas de órgãos da UE, estimulando assim o debate no próprio teatro de operações do jogo de poder europeu. As conferências visam ainda alertar o

público para a verdadeira desconstrução da Europa profunda, uma consequência desses absurdos legais. O diretor do Bureau, Duque Paul de Oldenburg (foto), mantém frequentes contatos com políticos e intelectuais de destaque, bem como com membros da nobreza. Ele foi responsável pelo lançamento da campanha SOS Vita, a qual instou os deputados do Luxemburgo através de e-mails, a não votarem uma lei proposta pelo primeiro ministro Junker para liberalizar ainda mais o aborto naquele país. O projeto, que seria discutido em julho de 2010, continua em "compasso de espera". Em fins de 2010 o Bureau organizou uma interpelação ao primeiro ministro, pedindo-lhe para explicar a contradição existente entre o nome cristão adotado pelo seu partido (ele é líder do CSV partido Democrata-Cristão luxemburguês) e o programa que defende. Além de ter sido o motor da introdução da eutanásia no país em 2008, o CSV pretende agora reconhecer legalmente a união entre homossexuais, concedendo-lhes inclusive o direito de adotar crianças.

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tornou-se muito considerado naqueles tempos da primavera da fé. Seu porte devia impressionar, pois mais tarde os pagãos o tomaram por Zeus, o pai dos deuses entre os gregos. Quando o recém convertido São Paulo procurou os Apóstolos ern Jerusalém, eles tentaram evitar sua presença, pois ninguém podia crer que esse perseguidor de cristãos se tornara agora um deles. Segundo a tradição, São B arnabé - a quem São Paulo deve ter narrado todos os pormenores de sua conversão conhecera o Apóstolo dos Gen-

tios na escola de Gamaliel.

Companheiro de missão de São Paulo M embro destacado da Igreja apostólica, inflamado de zelo pela conversão dos pagãos

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PLINIO M ARIA SOLIMEO

os primeiros dias da Igreja o fervor dos cristãos era tão grande, que e les renunciavam a seus bens , colocando-os à disposição dos Apóstolos para que os utilizassem em proveito de todos: "Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade" (Atos 4, 35). Sem ser obrigatória, esta prática se torn ava possível devido ao pequeno número de fiéis. Com o crescimento da Igreja, ela continuou a florescer nas ordens re ligiosas. Entre esses generosos cristãos destacava-se um, pelo que é nomeado por

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São Barnabé p1'ocura o auxílio de São Paulo Entretanto, os fiéis disseminados pela perseguição que se seguiu ao martírio de Santo Estevão iam espalhando por toda parte a semente da palavra divina. Desse modo alguns de les, "de Chipre e de Cirene", foram para Antioquia, onde pregaram a boa nova da sa lvação: "A mão do Senhor estava com eles, e grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor" (At 11 , 2 1). Notícias desse sucesso chegaram aos ouvidos dos Apóstolos, que enviaram Barnabé para verificar o espírito que presid ia a essa nova cristandade. São B arnabé "alegrou-se, vendo a graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com .firmeza de coração, pois era um homem de bem e cheio do Espírito Santo e defé" (At 11, 23).

São Lucas: "Assim José - a quem os Apóstolos deram o sobrenome de Barnabé que quer dizer filho da consolação -,- levita natural de Chipre, possuía um campo. Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou-o aos pés dos Apóstolos " (At 4, 36-37). Segundo tradição oriental Barnabé se rad icou em Jerusalém , e tendo ouvido Nosso Senhor pregar no Templo, tornou-se adm irador de sua doutrina. Por seu zelo e conselhos, mereceu ser chamado Apóstolo, apesar de não ser dos 12. Era grave e afáve l, com amp lidão de vistas e chama profética, e, sobretudo, como diz São Lucas, "homem bom e cheio do Espírito Santo" (At 11, 24 ). Por tais predicados, São Barnabé

milagrosa para o apostolado, não tendo isentado Saulo da obrigação de receber o batismo das mãos de Ananias, não se vê por que essa mesma vocação o teria isentado de receber o sacramento da Ordem. Nas vocações mesmo extraordinárias, Deus, que age sempre com medida, não suprime as regras que estabele-

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E convencido da sinceridade de seu ex-condiscípulo, serviu-lhe de "anjo da guarda". Conduziu-o e apadri nhou-o junto a São Pedro e São Tiago, pois além desses, diz São Paulo, "não vi nenhum outro Apóstolo " (Gal 1,19). São Barnabé "contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, e que lhe havia falado, e com.o em. Damasco pregara com desassombro o nome de Jesus" (At 9, 27). Depois de ter passado 15 dias com São Pedro, por causa das ciladas dos judeus "os irmãos levaram-no [São Paulo] para Cesaréia, e dali o enviaram a Tarso " (At 9, 27-30).

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Humilde, esse apósto lo não se julgou apto para orientar os novos cristãos sozinho. Lembrou-se então de Saulo, e foi buscá-lo em Tarso para ser seu companheiro de aposto lado. São Paulo estava em pleno vigor varonil e na força de seu primeiro entusiasmo. Se a igreja de Antioquia já experimentava antes um grande impulso, com os dois Apóstolos cresceu ainda mais. E les permaneceram um ano inteiro naquela cidade, onde pela primeira vez os discípulos de Jesus começaram a ser conhec idos como "cristãos". Essa foi também a primeira igreja a desligar-se do solo originário do judaísmo. Quando houve fome em toda a Palestina, Pa ul o e Barnabé foram escolhidos para levar o auxílio dos antioquenhos aos cristãos de Jerusalém (At 11,30).

A primeira viagem apostólica Os dois apóstolos continuavam a dirigir com fervor a cristandade de Antioquia. Ceito dia, "enquanto celebravam a liturgia em honra do Senhor e guardavam os jejuns, disse o Espírito Santo: 'Segregai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os chamo' ". Essa obra seria a primeira viagem apostólica (At 13,2). "Então, depois de jejuarem e de orarem, eles [os anciãos] lhes impuseram as mãos e os despediram " (At 13, 3). "Essa imposição das mãos sobre Saulo e Barnabé era a ordenação episcopal? É o sentimento geral. A vocação

Os dois Apóstolos tomaram consigo São Marcos e partiram para a grande aventura apostólica. Provavelmente foi São Barnabé quem propôs passarem por Chipre. Desembarcaram no porto de Salamina, perto de Famagusta, de onde era originário. Ele sabia que todas as cidades do lado oriental da ilha contavam com prósperas sinagogas e que hav ia nelas grupos de cristãos (At 11, 19). São Barnabé - que dirigia a missão resolveu então atravessar a ilha até Pafos. Nessa cidade residia o procônsul romano Sérgio Paulo, "varão prudente ". Este, sabendo da chegada de Barnabé e de Paulo, chamou-os, "desejando ouvir a palavra de Deus" (At 13, 7). Depois de um incidente com o mago Bar-Jesus - judeu e fa lso profeta, que desejava impedir de todos os modos o contato do procônsul com os apóstolos e que ficou cego após ser increpado por São Paulo -, o procônsul creu.

Abrindo para os pagãos as portas da fé Na pequena cidade de Listra, São Paulo curou um paralítico de nascença. Devido a esse milagre os pagãos quiseram adorá-lo como deus, gritando que Zeus (ou Júpiter) e Hermes (ou Mercúrio) "desceram a nós". Diziam que São Paulo, por causa de sua eloquência, era Mercúrio, e São Barnabé, por seu digno e majestoso porte, era Júpiter. Foi difíci l aos missionários convencer a multidão de que eram homens, e não deuses. "Porém, judeus vindos de Antioquia e de lcônio seduziram as turbas, que apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, deixando-o como morto" (At 14, 18-19). Posteriormente, os dois Apóstolos pregaram em Derbe, na Galácia, e na volta fizeram o caminho inverso para visitar e

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firmar as cristandades por eles fundadas. Retornaram então a Antioquia da Síria, depois de quatro anos de ausência (At 14, 23-26). Os apóstolos "tinham aberto para os pagãos a porta dafé" (At 14, 27). Surgiu então um incidente com os cdstãos judaizantes para os quais os pagãos convertidos deveriam submeterse aos ritos judaicos: "É preciso circuncidá-los e impor-lhes a observância da Lei de Moisés " (At 15,5). Ora, "fazer a admissão daqueles [pagãos] na Igreja depender da circuncisão e da Lei ritual, significava reduzir a Igreja à estreiteza da Sinagoga, e negar a universalidade da redenção ". 2 E era exatamente isto que desejariam os judaizantes, como revela o próprio São Paulo (Gal. 2,4). Tanto ele como São Barnabé eram contrários a essa medida. Resolveuse então que iriam a Jerusalém decidir a questão com os Apóstolos. Na assembléia dos Apóstolos na Cidade Santa, considerada o primeiro Concílio da Igreja, São Pedro e São Tiago Menor, sobretudo, declararam-se a favor dos dois apóstolos, contanto que os cristãos oriundos do paganismo se abstivessem das "contaminações dos ídolos, da fornicação, das carnes sufocadas, e do sangue" (At 15, 6-21). Os Apóstolos enviaram Judas e Sitas "com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (At 15, 25-26) para transmitir aos fiéis de Antioquia a deci são a que haviam chegado. Silas permaneceu depois em Antioquia, associando-se a São Paulo em suas viagens apostólicas.

São Paulo "resiste em face" ao primeiro Papa Mas depois ocorreu outro fato a que São Lucas não se refere, e que mostra como a situação continuava ainda crítica por causa da influência dos judaizantes. É o próprio São Paulo quem narra aos Gálatas, com muita vivacidade, esse penoso conflito: "Quando Cefas foi a Antioquia, resisti-lhe em face, porque ele se tor-

nara repreensível. Pois, antes de virem alguns dos de Tiago, ele comia com os gentios; mas, quando aqueles chegaram, ele se retraía e se afastava, por medo dos da circuncisão. E os outros judeus o acompanharam na mesma simulação, tanto que até Barnabé se deixou arrastar à simulação deles" (2, 11). Palavras duras estas do Apóstolo Paulo em relação ao primeiro Papa! É bom notar que se tratava não de um erro doutrinário de São Pedro, mas de uma atitude prática, se bem que com repercussões muito sérias para o futuro da Igreja. Convém ressaltar também que São Pedro estava inteiramente aberto ao apostolado de São Paulo com os pagãos e lhe deu razão. Ele próprio, no início, sentiase confortável no meio deles. Se mais tarde creu que era seu dever acomodar-se às circunstâncias, não foi porque pensasse de modo diferente de São Paulo. Ocorreu que, sendo especialmente encarregado de pregar o Evangelho aos judeus, talvez por receio de ofendê-los, começou a separar-se da mesa dos fiéis provenientes da gentilidade. E essa atitude equívoca arrastou outros judeus, até mesmo São Barnabé. Pelo que, continua São Paulo: "Mas, quando vi que eles não caminhavam com retidão segundo a verdade do Evangelho, disse a Cefas diante de todos: 'Se tu, sendo judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a adotar costumes judaicos?"' (G ai. 2, 14-2 1). São Pedro "não viu, no lance fogoso e inesperado do Apóstolo das Gentes, um ato de rebeldia, mas de união e amor fraterno. E, sabendo bem no que era infalível e no que não era, cedeu ante os argumentos de São Paulo. Os Santos são modelos dos católicos". 3 Humildemente, São Pedro recebeu a admoestação, reconheceu seu erro e estendeu a mão para São Paulo, desarmando a todos os que tinham escandalizado com sua conduta. São Paulo e São Barnabé permaneceram em Antioquia "com muitos outros", pregando o Evangelho, até o

dia em que o primeiro propôs ao segundo que voltassem a visitar as cristandades por eles fundadas (At 15,36). Surgiu então uma divergência entre os dois santos: São Barnabé queria levar de novo São Marcos. Contudo São Paulo se opôs, pois o jovem os havia abandonado sem explicações na Panfília. "Produziu-se certo dissentimento de sorte que eles se separaram um do outro" diz São Lucas (At 15,19). São Jerônimo assim comenta: "Paulo, mais severo, Barnabé, mais clemente. Cada um insiste no seu parecer. Seja como for, a discussão tem algo da humanafragilidade".4 São Barnabé partiu com João Marcos para a Selêucia, e São Paulo, levando consigo Silas, da igreja de Jerusalém (cf. lPed 5, 12), percorreu a Síria e a Cilícia nessa segunda viagem apostólica (At 15, 40). O incidente com São Barnabé foi rapidamente esquecido tanto por São Paulo quanto por São Marcos. De tal modo que, mais adiante, estão novamente juntos, pois o Apóstolo escreveu a Timóteo: "Traze-me Marcos contigo, pois ele me é muito útil para o ministério" (2 Tim, 4, 11). A partir desse momento, São Barnabé não é mais citado nos Livros Santos, dando lugar a São Paulo. Segundo antiga tradição, São Barnabé morreu em Chipre, em cuja capital (Salamina) seu corpo foi encontrado no ano de 488. Sua festa comemora-se a 11 de junho. • E- mai I para o autor: eatol icismo@ terra.com .br

Amplia-se a prática da castidade

A

grande mídia, habitualmente empenhada na corrupção moral, vem ocultando a existência de um grande filão de jovens que opta pela castidade em lugar do pecado da carne. As notícias abaixo nos apresentam dados muito esclarecedores sobre a opção dos adolescentes nos Estados Unidos, na África e nas Filipinas. Vamos a elas.

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Pesquisa realizada com jovens de 13 a 18 anos nos Estados Unidos mostrou que a maioria deles (61 %) quer permanecer virgem até o casamento. Realizada entre agosto e outubro de 2010 pelos Drs. Rene Paulson e Jacquelyn Pennings sob os auspícios da organização OneHope, 5.108 jovens participaram da pesquisa. Em comunicado de imprensa, a OneHope comentou que os resultados foram "surpreendentes", dada a elevada exposição dos adolescentes ao conteúdo sexualmente explícito da mídia. A pesquisa abrange uma vastidão de assuntos que não é o caso de tratar aqui. Algun deles, entretanto, tem rel ação com o tema que no ocupa: • 57% acreditam que, se forem boas pessoas e fizerem boas obras, irão para o Céu. • 82% acreditam que Deus instituiu o casamento para durar toda a vida. • Apenas 16% acham que a relação sexual entre duas pessoas não casadas é moralmente aceitável. • 79% nunca tiveram relação sexual. • 84 e 87% respectivamente disseram que não tinham visto um filme pornográfico ou lido uma revista do mesmo nível. 1

Notas:

* 1. Les Perits Bollandistes, Saint Paul, Apôtre des Gentils et Martyr, Yies des Saints, Bloud et Barrai, Paris, 1. 882, tomo VII, p. 469, nota 1. 2. Holzner, José, Sa11 Pablo, Heraldo de Cristo, Editorial Herd er, Barcelona, 1946, p. 128. 3. "A polftica de distensão do Vaticano com os govemos comunistas. Para a TFP: omitir-se? ou resistir?", in "Folha de S. Paulo", 10-4- 1974. 4. Apud Pe. José Leite, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo II, p. 230.

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Na juventude africana cresce o compromisso de praticar a castidade até o casamento

ca fa zendo documentados compromissos de pureza bíblica, o que será um marco incrível", disse Jimmy Hester, co-fundador da True Love Waits (www.truelovewaits.com). "Em um continente devastado pela Aids, esses compronússos africanos têm consequências literalmente de vida ou morte", disse Hester. Durante uma apresentação na Zâmbia, uma mocinha se levantou e disse: "True Love Waits é um bom programa. Temonos beneficiado e nossas vidas mudaram para melhor" . " Há muito mais pedidos e espero que sejamos capazes de atendê-los ", disse Sharon Pumpelly , principal consultor da True Love Waits International. 2

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O número de jovens africanos que se comprometeram a praticar a "pureza bíblica" - abstinência sexual até o casamento - coordenados pela associação True Love Waits Internacional (Aguardando o Amor Verdadeiro) sobe a mais de 959 mil desde o lançamento da campanha no verão de 2007. Além disso, quase 46 mil adultos casados fizeram o compromisso de fidelidade. De abril a outubro de 2010, o total de compromissos cresceu em mais de 70 mil entre jovens africanos. Nas Filipinas, 22 mil estudantes entre 15 e 24 anos assinaram análogo compromisso no ano passado, depois de passar por cursos de formação. "Estamos muito perto de ter um milhão de jovens na Áfri-

CATOLICISMO

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Apesar de haver tanta abertura na juventude para a prática da castidade, os meios de comunicação em geral e grande número de governos insistem em propagar a corrupção moral nas televisões, nas escolas e por toda parte. Esse é um fator de calamidade social, de perda de inúmeras almas e de grave ofensa ao Criador, que só pode fazer Nossa Senhora chorar. • Notas: 1. Cfr. A maioria dos jovens americanos deseja manter a virgindade até o casamento, in "LifeSiteNews", 9-2-1 l : h t t p ://www .1i fes ite news .com/news/most-us-teens-wan t-to-be-vi rginsw hen-they- marry/. 2. Cfr. Quase um milhão de jovens africanos comprometem-se com a absti11ê11cia sexual, in "Chri stian Telegraph", 7-2-1 1: http://www.chri sti ante legraph.co m/i ssue 1219 Lhtml.

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A partir de Covadonga, a Reconquista da Espanha

Cercado por m11ç11/manos e católicos traidores Conforme expusemos e m arti go anterior, dev ido à decadência dos visigodos e à traição de alguns católicos, e m 15 meses os muçulmanos hav iam do minado todo o território espanhol. Imaginando-se li vres de quaisquer obstáculos na Espanha, j á se diri giam para a Gália, atual França. Foi nessa ci rcunstância que D. Pelayo e os bravos resistentes católicos iniciaram seu pl ano de combate. Fizeram ini cialmente diversas incursões e escaramuças contra as guarnições mu çulmanas, obtendo várias peq uenas vitórias.

O ataque muçulmano

A coragem e a

Enfurecidos ao extre mo com essa obstinada resistência, os genera is mouros Tarife Alcama juntaram seus j á numerosos exércitos aos do Arcebispo traidor D. Oppas. D. Pe layo di spunha de um exército pequeno e insuficientemente adestrado, mas sua bravura e vo ntade de reconqui star a Espanha para a verdadeira Reli gião produziram nele enorme perspicácia. Enviou parte de seus homens para pontos estratégicos nas montanhas e, com prov isão para muitos dias, armas ofensivas e defensivas, refugiou-se co m mil de seus me lhores combatentes na grande g ruta do monte Auseva, onde outrora fo ra ao enca lço do desordeiro. É interessante menciona r que aquele mesmo eremita a que nos referimos dera a D. Pelayo um a cru z de madeira, di zendo : " Eis o sinal da vitória". D. Pelayo colocou essa cruz no topo de seu estandarte para ser carregada durante a batalha que estava para começar.

perseverança de D. Pelayo comprazeram a Divina Providência, que através de Nossa Senhora reverteu a situação, dando vitória aos caLólicos. Iniciava-se assim a Reconquista Ibérica.

1'c11tativa de <lissuaclir os católicos

Serra da Cantábria, ao norte da Espanha, constitui uma fortaleza natural composta de altos picos, precipícios, vales estreitos, encostas íngremes e florestas verdejantes. Essa região, na qual se encontram os "Picos da Europa", foi durante certo tempo o pa raíso dos ermitãos, o habitat de ursos, águias e cabras montanhesas. Certo di a, por volta do ano 718, um desordeiro esca lava desesperadamente os rochedos, fu gindo de um jovem guerreiro que tentava capturá-lo. De repente, o fugitivo entrou em uma vasta e escura gruta. Correndo atrás dele, o guerreiro encontrou-o abraçado desesperadamente a um venerável eremita. Ao lado do velho monge estava uma imagem da Santíssima Virgem com o Menino Jesus nos braços. Atendendo ao pedido do eremita, o jovem desistiu de prender o arruaceiro. "Deus o ajudará por isso, meu amigo", disse o eremita. 1 Os nomes do eremita e do vilão perderam-se na Hi stória. Mas o do nobre guerreiro era Pelayo, destemido combatente, principal personagem dos feitos a seguir narrados. A gruta é até hoje conhecida como Covadonga - corruptela da expressão "cova lunga". A imagem de Nossa Senhora é aí venerada sob a invocação de Nossa Senhora de Covadonga, Libertadora e Rainha da Espanha.

CATOLICISMO

Acostumado a vencer com base na traição, o mouro Al cama enviou D. Oppas para convencer D. Pelayo a render-se, em troca de terras, presentes e múltiplos benefíc ios. Assim se expressou o arcebi spo traidor: "Irmão, todos sabem.os que é em vão teu trabalho. Que resistência conseguirás oferecer, quando toda a Espanha e todos os exércitos não pudera,n resistir aos ismaelitas ? Segue meu conselho. Desarma-te e de.~fi·uta de tuas numerosas propriedades em paz com os árabes, como todo o povo está fa zendo! " 2 Desdenhando tão vil oferta e confi ando na intervenção de Nossa Senhora de Covadonga, D. Pelayo respondeu: "Não quero qualquer amizade com. os islamüas e j amais me submeterei a seu império. Não sabeis que a Igreja de Deus é como a lua, que depois de eclipsarse retorna ao seu esplendor'! Nós cremos na misericórdia de Deus e sabemos que desta montanha ernergirá a salvação para a Espanha. Vós com vossos irmãos, assim como Olian, núnistro de Satanás, 3 decidiram entregar aos muçulmanos o reino dos Visigodos. Mas nós, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo como nosso advogado diante de Deus Pai, desprezamos essa rnultidão de pagãos, em. nome dos quais viestes. E, pela intercessão da Mãe de Deus, que é Mãe de Misericórdia, cremos que este pequeno exército de visigodos multiplicar-seá corno as sernentes de um pequenino grão de mostarda". 4 Após resposta tão peremptória, D. Oppas voltou para o acampamento dos muçulmanos e lhes di sse: "Ide em direção à gruta e combatei, pois somente a espada obterá qualquer coisa dele". 5 O exérc ito mouro organ izou-se então em frente à montanha onde se localizava a gruta e, com grande fúria , co meçou a lançar mi ríades de pedras e fl echas contra o exército católico. De repente os muçulm anos perceberam que, por um prodigioso efe ito boomerang, ao chegar perto da gruta, todas as pedras e fl echas davam meia-volta e se voltavam contra eles. 6 Encorajados pe lo mil agre, os católicos sa íram da gruta, ouvindo animados a conclamação de D. Pelayo: "Espanhóis heróis, .filhos de pais invencíveis, não vedes que o Céu já decretou vingança e a quer por vossas mãos ?" Começou e ntão a luta corpo a corpo, na qua l os católi co co mbatiam co m tanto ardor que o inimi go, atordoado, começou a debandar. Quando o exército mouro ini ciou a fuga pelas montanhas, o contingente de D. Pelayo

Capela da "Santa Cueva" de Covadonga (Cangas de Onis)

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DISCERNINDO

que estava nelas escondido apa receu por detrás dos picos. Alguns atiravam flechas e outros lançavam grandes pedras e troncos de árvore sobre os mouros, que fu giam espavoridos. Poucos deles consegui ram escapar com vida do vale de Congas. O bi spo traidor D. Oppas foi preso e o general Alcama teve a mesma sorte de milhares de infiéi s. Ocorreu sim ultaneamente outro prodíg io: desatou-se sobre a regi ão uma tempestade inesperada, a qual provocou o desli zamento das encostas próximas ao rio Deva, levando de roldão numerosos ismaelitas . Foi tal a mortandade que, séculos após a batalha, quando o rio enchi a durante os inverno, ainda se encontravam ossos e pedaços de armadura flutuando. Outro comandante muçulmano, Munuza, ao tomar conhecimento da terrível derrota, fugiu com suas tropas, mas foi alcançado e morto pelos espanhóis perto de Oviedo.

Preferindo a morte ao aborto 11

Sabendo dos prodígios ocorridos, muitos cristãos juntaram-se a D. Pelayo. Um deles foi Alfonso, filho do Duque de Vi scaya, que deixou para isso seu pai e suas terras. Mais tarde, Alfonso casou-se com Orminsinda, filha do herói da Reconquista. Com a morte prematura de Favila, filho de D. Pelayo, Alfonso tornou-se o herdeiro do trono sob o nome de Alfonso I, o Católico. D . Pelayo continuou a combater os mouros até o dia de sua morte, ocorrida por causas naturai s, em Congas de Onis, no ano 737. Foi sepultado por sua esposa Gaudiosa perto do altar de Nossa Senhora, na própria gruta de Covadonga. Seu epitáfio diz: "A qui jaz o santo rei Dom Pelayo, adam.ado no ano de 716, que nesta milagrosa gruta começou a Reconquista da Espanha".

Conseqüências para os séculos posteriores

E-mail para o autor: catolic ismo@ terra.com br

Notas: 1. BARAND IARAN, Felipe. Don Pelayo and the Reconquista ofSpa in, "Cru sade Magazine" , Pensil vânia (EUA), julho/agosto 2007, p. 8. 2. ROHRBAC HER. J-listoire de l' Église, Volume X , Gaume Freres, Paris, 1845, p. 478; o di álogo é também confirmado por outros autores como BARANDIARAN, Feli pe. D011 Pelayo and the Reconquista of Spain. "Crusade Magaz ine", julho/agosto de 2007, p. 1O. 3. O conde de Oli an foi um dos responsáveis pela traição ao rei Rodri go, abrindo as portas da Espa nha para a invasão muçulmana. 4. http://www. arbil. org/[3 I]pe ly.htm . 5. BARANDIARAN, Fe lipe. Don Pelayo anel the Reconquista of Spa i11 . "Cru sade M agazine", julho/agosto de 2007, p. 10. 6. ROHRBACHER. J-listoire de l 'Église, Volume X, Gaume Freres, Pari s, 1845, p. 478. 7. WEISS, Juan Baptista. Historia Un iversal, Vo lume V, p. 8 1. 8. WELLS , Jerem ias . J-listory of Westen Civilization, Ed ição Privada, York, p. 176.

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CATOLICISMO

ALENCASTRO

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Semente de um império católico

Historiadores de renome, como J.B.Weiss, reconhecem que a batalha miraculosa de Covadonga "iniciou a reação que havia de conduzir, depois de oito séculos de combates, à total Reconquista da Península Ibérica. Isso é um fato que está por cima de todas as negações da hipercrítica". 7 Muitos espíritos ponderados consideram que, se não tivesse havido a Reconquista, a América Latina seri a hoje muçulmana. E junto com a religião, impl an tar-se- ia toda uma forma de vida e de c ivili zação pagãs. Conforme afirma outro historiador, "a Reconquista tornou-se uma guerra santa para ambos os lados, porque as doutrinas religiosas também incluíam valores culturais que afetavam a vida de 8 todos os dias e as tradições. Essas diferenças irreconciliáveis estavam na raiz dessa luta". Numa visuali zação hi stórica mai s profunda, é a Nossa Senhora de Covadonga e a seu bravo guerreiro Dom Pelayo que devemos a graça inestimável da fé e da cultura católicas que nos transmitiram nossos ancestrais. •

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A imagem de Nossa Senhora é venerada em Covadonga sob a invocac;ão de Nossa Senhora de Covadonga, Libertadora e Rainha da Espanha

ianna Beretta Mo lla, italiana, foi. ca no ni zada e m 16 de ma io de 2004, p r ter preferido morrer antes que abortar sua fi lha. Agora, um novo caso ele sacrifício materno em favor do nasc imento de uma criança nos Estados Unidos enche de admiração os verdade iro cató licos, ao mesmo tempo e m que indi gna os propu g nadores do aborto em todo mundo. Em agosto do ano passado, Jess ica Council , um a jovem mãe de 30 anos, casada com lint Trav is Counci l, começou a sentir dores de garganta. Na mesma época, também começou a suspeitar de que estava novamente grávida. Depoi s de du as semanas, como a dor de garganta não passava, Jessica decidiu consultar um médico, o qual lhe garantiu que não tinha nada. Cerca de 15 novembro, Jessica começou a ter dificuldade para respirar. Em 21 de novembro fo i levada às pressas a um pronto socorro. No dia seguinte, a garganta fec hou-se de tal modo que ela não conseguia respirar. Os médicos inseriram um tubo em sua garga nta, colocando a outra ponta num ventilador. Em 23 de novembro, Jessica foi informada de que tinha câncer. A essa altura, ela já sabia com certeza que estava grávida. Assim começou para ela o drama que iria testar sua fé e suas convicções contra o aborto, partilhadas pelo seu marido. O casal residia em Traveler's Rest, Carolina do Sul, onde nascera seu primeiro filho. Clint descreve a reação de sua esposa com a notícia do câncer na garganta como "uma mistura de medo e surpresa." Ma.- Jessica não era a única ameaçada pe lo câncer, pois ela estava grávida e, conforme o tratamento a que se submetesse, poderia lezar o feto e talvez matá- lo.

Jessica Council, com seu filho e seu esposo Clint

Em 25 de nove mbro, o hospi tal ele obstetríc ia/ginecologia sugeriu ao casal um aborto. Jessica não hes itou: "Isso não é uma opção", di sse e la. Informou- lhe então o oncologista que ela precisari a submeter-se a um trata mento por quimioterapia , o que provavelmente mataria o bebê. O obstreta-ginecolog ista di scordou desse diagnóstico, di zendo que o bebê provavelmente sobreviveria, mas sofreri a danos no cérebro. Jessica bal ançou a cabeça: "Não". E la também recusou a radioterap ia por causa de ri scos seme lh antes para o bebê. Depois disso, os méd icos fi cara m sem muitas opções de tratamento, pois a cirurgia não era viável devido à locali zação do câncer. A questão veio nov a mente à tona quando o bebê ating iu o terceiro trimestre de desenvo lvimento. Os médicos então alegara m que os riscos para a criança eram mínimos, pois esta já estava quase compl etamente desenvo lvi da. Mes mo assim Jessica recu ou o tratamento por amor a seu filho; decisão, diz Clint, que deixou os médicos "totalmente confundidos ". E mbora o casal tenha encontrado algum sucesso na aplicação de métodos alternativos para estancar o crescimento do câncer, como uma dieta rigorosa de

sucos orgâ nicos vegetais e suplementos, se m tratame ntos mai s agressivos , foi apenas uma questão de tempo. Na noite de 5 de fevereiro , Jess ica foi dormir com dor de cabeça e náuseas. "Ela não mais acordou", disse Clint. No dia seguinte, o hospital constatou " morte cerebra l" e Jess ica foi enca minhada para o setor de cesarianas. Em 6 de fevereiro, a pequena "Jessi" nasceu, pesando apenas uma libra e três onças (aproximadamente 538 gramas). Os médi cos pensava m que Jessica completava 25 semanas de gravidez, mas depois de retirado o bebê perceberam que provavelmente se tratava apenas de 23 semanas e meia, limiar mínimo de viabilidade. "Eu sou testemunha desta graça de Deus, pois Jessica morreu no momento em que o bebê se tornou viável para viver fora do útero", diz C lint. Após a morte de Jess ica, seu prime iro filh o passou por um período ag udo de "ansiedade de separação", e só depois começou a se aj ustar. "Sinto-me privilegiado por ter tido um.a esposa que estava tão cheia do amor de Deus", di sse C lint (Cfr. "LifeSiteNews", 20-4- 11 ). • E-mail para o autor: catolic ismo

tcrra.com.br

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5 ASCENSÃO DE NOSSO SENHOR AOS CÉUS São Bonifácio, Bispo e Mártir

+ Dokkun (Ho landa), 754. In-

1 São Panfilio e Companheiros, Mártires + Cesaré ia (Pa lestina), 309. O ma ior dos exegetas do seu te mpo, Panfílio fundou uma escola bíblica, centro de saber e virtude. E ncarcerado e torturado em ód io à fé, foi de po is martirizado com alguns discípulos e companheiros de prisão.

2 São Nicolau, o Peregrino, Confessor

+ Trani (l tá li a), 1094. Jove m grego. Ca rrega nd o pesada cruz e cantando o Kyrie Eleison, ele peregrinava a pé pelos santuá ri os do sul da Itá1ia. Fa lece u aos 19 a nos de id ade . Muitos mil ag res se operaram e m seu túmulo.

~J

glês de nasc ime nto, ele foi o apóstolo da Alemanha. Resigno u a sua sé ep iscopa l para trabalhar nos últimos anos de sua vida junto aos f rís ios (holandeses), que hav iam recaído no paganismo, sendo po r e les martiri zado.

6 São Norberto, Bispo e Confessor

+ M agdeburgo (Ale manha), 11 34. Era c lé ri go munda no, mas se conve rteu após ter sido atingido po r um raio. Fez-se pregador itinerante e fund o u mais tarde os Cônegos Regulares (Pre mo nstrate nses). Foi no meado poste ri o rme nte a rcebi spo de M agdeburgo.

7 Santo Antônio Gianelli, Bispo e Confessor

+ Bobbio (Itália), 1846. Empenhou-se no campo das mi ssões e da ed ucação. Co mo bispo de Bobbio, governo u co m sabedo ria e prudê nc ia sua Sé episcopal.

São Columbano, Confessor

15

+ lona (Escóc ia), 597 . Nasc i-

Santa Germana Cousin, Virgem

do na Irl a nda, onde fundou vários moste iros, mudo u-se para a ilha de lo na. Ali instituiu um mosteiro que e m po uco tempo se to rno u o maior da C ri standade. Considerado o apóstolo da Escóc ia.

l(j São Cyro e Santa Julita, MárLires

+ Inglaterra, 656. Nasceu em

+ Síria, s c . IV. Julita, por não

Ke nt e foi o primeiro anglosaxão a se r nomeado para uma sé inglesa, ao suceder a São Paulino como bi spo de Rocheste r.

que re r re nega r a fé, estava sofre ndo o martírio q uando seu filh o Q uiri co , o u Cyro, de apenas Lrês ano., que lhe fora arrancado los braços, se lhe juntou para morrer, afirmando que Lamb 111 e ra cristão.

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11 São Barnabé, Apóstolo

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(Vide p. 38)

12 DOMINGO DE PENTECOSTES São João de Sahagum, Confessor + Salamanca (Espanha), 1479. Da Ordem dos Ere mitas de Santo Agostinho. Por denunciar o mal ex istente nos mais altos postos da sociedade na qual vivia, sofreu vários atentados, sendo por fim envenenado pela concubina de um nobre.

H

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São Medard, Bispo e Confessor

+ Uganda , 1886. Carlos, ofi -

+ França, 558. Irmão de São

Santo Antônio de Pádua, Confessor e Doutor da Igreja

cial do re i de Uganda, convertido com o utros funcionários pelos Pad res Brancos, fo i com eles queimado vivo. Primeira Sexta-feira do mês.

G ildard , Bispo de Ro ue n, foi e le ito para a diocese de Noyon, à qual se uniu mais tarde Tournai.

4 São Francisco Caracciolo, Confessor

Beato José de Anchieta Apóstolo do Brasil, Confessor

+ Ag no ne (Ttál ia), 1608. De

+ 1597. Converte u inúmeros

nob re fa míli a napo li ta na,

índios à fé católica, arrancando-os das trevas do paganismo. Colaborou decisivamente com Estácio de Sá, fundador do Rio de Janeiro, para a expul são dos calvinistas franceses dessa cidade. Ainda em vida, operou numerosos milagres.

"júndador da Cong regação dos Clérigos Regulares Menores" (do Ma rtiro lógio Romano). T inha o dom de prolecia, sendo favo rec ido com êx tases. Primeiro S,'íbado do mês.

escrofulo a, negligenciada pelo pai e maltratada pela madrasta, morreu aos 22 anos, abandonada em seu leito de palhas no celeiro paterno.

Santo Itamar, Bispo e Confessor

São Carlos de Luanga e 22 Companheiros, Mártires

H

+ Pibrac (França), 160 l. Pobre,

+ Pádua (Itália), 123 1. Chamado de "Arca do Testamento" e "Martelo dos hereges", esse grande taumaturgo fo i um a das g ló ri as da Ordem Franciscana.

14 São Metódio de Constantinopla, Bispo e Confessor + Constantin opla (Turquia), 847. Ttali ano de nascimento, ele se tornou mo nge, tendo sido valente opositor dos iconoclastas . No meado Patri a rca de Constantinopla por inte rferência da imperatri z Teodora.

Santa Teresa de Portugal, Viúva + 1250. Fi Iha do Rei Sancho I de Po rtu ga l. Te ndo seu casamento sido declarado nulo por motivo de co nsanguinidade, fund o u um conve nto c isterciense.

ele D. Sancho 1, a mbas re nunciaram às g ló ri as do mundo pa ra se e ntregare m a Deus atra vés da vida re li giosa.

21 São Luís Gonzaga, Confessor

+ Roma, 159 1. De família principesca, ingre sou aos 17 anos na Companhia de Jesus. Tinha uma pureza angelical. Morreu aos 24 a nos como mártir da caridade, vítima de uma moléstia contraída ao assistir a enfe rmos durante uma epidemi a. É o patrono da juventude.

22 São Paulino de Nola, Bispo e Confessor + 43 l. Pagão de nobilíssim a família, ainda jovem foi prefeito de Roma e senador. Casado com uma cri stã, converteu-se e, de comum de acordo com a esposa, re nunciou a tudo e se tornou sacerdote.

2() Santos ,João e Paulo, Mártires + Roma , 362. "O primeiro era governador de palácio, e o segundo camareiro da virgem Constância, .filha do Imperador Constantino. Ambos obtiveram a palm.a do rnartírio sob Juliano o Apóstata, morrendo pela espada" (do M a rti ro lóg io Ro mano).

27 São Ladislau, rei da Hungria, Confessor

+ Nitra (Boêmi a), 1095. Considerado um dos heróis da Hungri a, esse rei derrotou sucessivamente os polo neses, russos e tá rtaros. Pe la morte da irmã, anexou ao reino a Dalmácia e a Croácia. Apoiou São Gregório VU contrn o imperador Henrique IV, incentivou o trabalho missionário em seus territórios, consb·uiu vários mosteiros e igrejas.

2a

2B São João Southworth, Mártir

Santos Marcos e Marcelino, Mártires

FESTA DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE JESUS CRJSTO São .José Cafasso, Confessor

+ Roma, 287. De acordo com

+ Turim (Itáli a), 1860. Conter-

a tradição, durante a perseguição mov ida I or Dioclec iano esses dois irm'ios gêmeos " ti-

râneo e mestre de São João Bosco, reitor do Internato Eclesiásti'co São Francisco de Assis, de Turim, formou o clero piemontês nos bons princípios de São Franci sco de Sa les e Santo Afonso de Ligório.

Ordenado sacerdote na Fra nça e envi ado à mi ssão na Ing late rra, e le fo i preso vá ri as vezes e depois libertado pela intercessão da Rainha He nri queta, esposa ele Ca rl os r. Após a exec ução deste rei, sob o regime ditatorial e herético de Cromwe ll , fo i apri sio nado e martiri zado .

24

29

FESTA DA NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA

Comemoração de São Pedro e São Paulo, Apóstolos

IH

veram o lado traspassado por lanças, entrando assim no Reino dos Céus pela glória do martírio" (do Ma rtiro lógio

H)

+ Itália, 1027 . De nobre famíli a de Rave na, entrou aos 20 anos num mosteiro. F undador ela Ordem dos Camaldule ns s.

20 Beatas Sancha , Teresa e Mafalda de Portugal

+ Portugal , séc. XIII. Fi lhas

25 São Próspero de Aquitânia, Confessor + França, 463. Leigo e casado, devotado ao estudo da teologia, co rrespo ndi a-se co m Sa nto Agostinho, a quem ad mira va e com o qual combateu a dout:rina he rética dos semipelagianos sobre a graça. Indo para Roma, to rno u-se sec retário do Papa São Leão Magno.

Será ce lebrada pe lo Revmo. Podre Dav id Fra nc isqu ini , na s segu intes inten ções: • Para que Nossa Senhora não permita a aprovação no Brasi l de projetos de lei contrári os ao Decá logo, como o da "Lei da Homofo bia", reativado pela senadora Marta Supli cy (PT-SP), o qua l visa punir qua lquer pessoa que se man ifestar contra o homossexuali smo. Rezaremos também pelas vítimas do co lég io de Rea lengo, no Rio, bem como pe la preservação espiritua l e física da ju ventude brasileira.

+ Tyburn (J ng late rra), 1654.

Romano).

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE São Romualdo Abade, Confessor

Intenções para a Santa Missa em junho

;io São Teobaldo de Provins, Eremita, Confessor

+ Sa lo ni go (Itá li a), J066. F ilho dos Condes ele C ha mpagne, ele trocou a carreira mili tar pela vida e re míti ca. Depois de uma peregrinação a Roma, e ntro u para a Ordem cios Ca ma ldul e nses e m Sa lonigo.

Intenções para a Santa Missa em julho • Pe las inte nções particu lares dos leitores de Cato licismo e para que todos eles ten ham uma devoção cada vez ma is intensa ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imacu lado Coração de Maria. Também para que seus filh os e netos possam receber uma ed uca ção auten ti camente cató li ca que os prote ja contra o e nsino imora l contido em certas ca rtilhas distri buídas em estabelecimentos de ensino.


Aspectos do numeroso público que acompanhou o protesto no Bronx

de ser aprovada, contraria os preceitos divinos, além de ser impopular. Como bem destacou um dos oradores, a mani festação não visava apenas um efeito local, mas fazer com que esta voz de protesto repercuti sse em todo país e no mundo inteiro, tendo em vista a importânc ia da cidade de Nova York no contexto internacional. Com a presença da TFP americana, c uj os membros portavam seus estandartes e capas rubras, além da fa nfarra que executava músicas religiosas e patrióticas, a imensa passeata percorreu 12 quadras até a Courthouse de Bronx, ante os olhares admirativos dos moradores que assomavam às janelas dos edifícios. Na ocasião, os jovens da TFP americana di stribuíram o folheto: Dez razões

para rejeitar o "casamento" homossexual.

'l FP americana mobiliza-se em defesa do casamento tradicional 1

1

FRANCISCO JOSÉ SAIDL

a manhã do último 15 de maio, ape~ar da instabilidade climática, 28 Jovens cooperadores da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) deslocaram-se para Bronx, conhec ido distrito da área metropolitana de Nova York, a fim de participar de uma concentração em defesa do casamento tradicional. O evento reuniu mais de dez mil pessoas. Líderes reli giosos e um destacado po lítico local, o senador Ruben Díaz, somaram esforços para demonstrar ao governo estadual que a lei em favor do pseudo-casamento homossexual, em vias

N

~

CATOLICISMO

Tal campanha não se encerrou com a di spersão do. participantes, pois mui tos se aproximaram dos cooperadores para felicitá-los e in formar que segui am sua atuação on-line. Um jovem de 16 anos, acompanhado de sua mãe, impressionado com a brilhante atuação, procurou um cooperador da TFP para perguntar-lhe como poderi a íazer para tornar-se um aderente. Através do site da Ação Estudantil, continuam sendo coletadas repercussões dos mais variados I cais desta nação-continente. Algumas mensagens recebidas: "GRANDE TRABALHO!!! Se Deus é por nós, quem pode ser contra nós ? Poderemos ter oposição, mas GANHAREMOS a batalha. Espero que isto desperte muito cristão adormecido". "Vivendo na cidade de São Francisco durante dez anos, vi como a revolução homossexual tinha tomado precedência sobre a decência comum. Ficava entristecido ao ver que cristãos não se levantavam para defender sua fé, com medo de zombaria da comunidade homossexual". "São Miguel dai-nos força nesta luta contra o Mal!" •

Pequeno magote porta cartazes a favor do casamento homossexual

E-mail para o autor: caLOli ci smo@ 1erra.com .br

JUNHO2011

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A Cristandade, modelo ultrapassado

ou farol para o futuro? rn

H EITOR

AsoALLA BucHAuL

A

pergunta em epígrafe foi o tema da conferênc ia profe rida no último di a 3 de maio pe lo Duque Paul de O ldenburg (foto) na sede da Federação Pro Europa Christiana (FPEC), em Bruxelas, de cujo bureau é diretor. Apesar de toda a crise mo ra l que se alastra sobre o mundo, a ideia de Cri standade te m vo ltado à to na, reaparecendo até nos di sc ur sos de imp o rta ntes p o líti cos . A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, por exemplo, durante recente encontro de jovens de seu partido (CDU), aludiu ao fracasso do modelo mu lticultural alemão e ao fa to de que os imigrantes devem ser integrados à sociedade a le mã na medida em que a aceite m como cristã. Fo i nessa atmosfera que, estribado nos princípios norteadores da c ivili zação cri stã po r c uj a res ta uração luta , o Duqu e de Oldenburg ex pôs o terna, te ndo sido atentamente acompanhado pelo audi tório composto por po líticos, in telectu a is de reno me e memb ros da nobreza europe ia. Ilustra ndo com exemplos atuais o tota l desv io de rota - ou me lhor, o extravi o na marcha da outrora grandiosa civilização cri stã, após mais de cinco séculos de ofensiva revolucionári a - , o confe rencista mostrou ao púb lico a necessidade de uma fid elidade integra l aos valores recebidos, frutos do sangue preciosíss imo de Nosso Senhor Jesus Cri sto, e de como o cató lico deve honrar seu nome com a militância e o exemplo na vida civil. O interesse dos presentes deu ori gem a grande número de perguntas e intervenções, prolongando a confe rênc ia por mais de 30 minutos. No fin al, fo i servido aos convidados um coquetel nos sa lões da sede da FPEC, onde muitos continuara m e m anim ada conversa du rante mais duas horas. • E-mail para o autor: catoli c ismo@ terra com br

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As parábolas dos Evangelhos

■ PUNI O C O RRÊA DE Ü UVE IRA

P

or vezes, há no espírito humano certa atração por coisas banais. Isso porque a realidade criada por Deus é tão excelente, que nossos olhos não se interessariam por certas coisas se não fosse esse atrativo. Nos Evangelhos, as parábolas de Nosso Senhor Jesus Cri sto - cada uma mais magnífica do que a outra, a tal ponto que qualquer forma de comparação em literatura não é senão pó e cinza - são apresentadas com base em casinhos da vida quotidiana. Um exemplo. Sobre os lírios do campo, narra o Evangelho: "Olhai os lírios do campo, como crescem:

não trabalham nem fiam. Contudo digo-vos que nem Salomão em sua maior glória jamais se vestiu como um deles. Se, pois, Deus veste assim uma erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao f ogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé! " (Mt 6, 28-29). Na Palestina daque les tempos não havia fábricas de tecido. Todos se vestiam com tecidos que as mulheres fi avam . Nesta pa rábola, Nosso Se nho r compara os lírios do campo com o esplendor de Salomão, re i fa moso por sua sabedori a, conhecido no mundo inte iro. Entretanto, nem Salo mão em toda sua glória se vestiu com tanta beleza como os lírios.

O lírio do campo ostenta sua beleza. A glória de Salomão alcançou sua celebridade. Nosso Senhor aproxima ess s dois elementos, mas ao aproximá-los Ele os transforma m raios de sol. Poderíamos analisar os pormenores das numerosas parábolas dos Evangelhos. O que se nota? Estão cobertas p lo pó da banalidade. Entretanto, Nosso Senhor ti ra marav ilhas da banalidade. E le deita seu dedo nesse pó, mexe e sai poeira de ouro ! E vidente mente, isso se deve ao dedo di vino, que tocou numa coi sa comum e a tra nsformou em ouro. Com isso, a sabedoria divina nos dá uma lição: se ·omeçarmos a prestar atenção na realidade criada, chegar · mos a considerações em que o nosso espírito se elevará a um ponto tal que não encontrará t. rmos para exprimi-las adequadamente. Isso me sugere uma palavra muilo bo ni ta, quase não utilizada hoje em dia: IN EFÁ VEL. É uma linda palavra, de natureza Lal qul' corresponde a uma idéia, a uma v ' rd u( k que o espírito humano conhece, mas qt1 l' não e ncontra pal avras sufi cie nl ·s pal'II exprimir. É indizíve l. É belo que o e pírilo hum ano co n ceba algo e encontre uma palav rn upro pri ada para ex primi-lo. Entrelanl o, 1a1nh 111 belo que conceba algo e não n ·onlr · p11l11 vras adequadas para ignifi cá-lo. São lindos princípios qu nos su , ' r · 111 as parábolas de nosso Divino al vador! •

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 26 de janeiro de 1980. Sem revisão do autor.



,

UMARI

n PuN1 0 C o RRÊA DE OuvE1RA

Apetite de extravagância total

U

m dos contra-sensos que marcou o último mês foi a aprovação pelo STF da "Marcha da Maconha". Apresentamos abaixo um artigo publicado sob o título em epígrafe pelo Prof . Plinio Corrêa de Oliveira na "Folha de S. Paulo" em 9 de abril de 1972, o qual se nos afigura inteiramente atual.

* * * O itinerári o do com uni smo é idê nti co ao da droga. Isto faci lmente se explica. Co muni smo e droga são processos de decomposição. Ambos atacam a parte mai s frág il do organi smo social, que é a mais propensa à extravagância, às sensações violentas ou super-req uintadas, à evasão da lógica, do bom senso e da rea lidade. "Corruptio optimi pessima " [A corrupção do ótimo gera o péssimo]. Nada de melhor do que as boas elites. Por isso mesn10, nada pior do que as elites sofisticadas, deterioradas, divofciadas da realidade, e fa lhas do senso do dever. Para elas tudo é objeto de exibição e jogo: as idéias, a moral e as trad ições. E no centro desse jogo está o campeonato das vaidades. Contanto que cada qual consiga ex ibir-se, está contente. E como o processo mais cômodo para exibi r-se é ser extravagante, daí resulta a espalhafatosa e inglória corrida rumo ao disparate total. Cada qual em seu gênero, o comunismo e a droga são disparates totais. Não espanta que a eles corram os mais arrojados dentre os sn.obs, levando atrás de si a caudal dos seus seguidores.

-CATOLICISMO

Este jogo - como todos os ou tros - traz seus ri scos. Quantos começam a se afirmar com uni stas, sem de fato o erem ! M as à fo rça de se di zerem tais, aca bam sendo. Como muitos há que, quando começam a usar drogas, o fazem s para se mostrar. Mas acabam arrastados pe lo vício. É a triste sina dos que brincam com fogo, ainda qu por mero esnob is mo. "Quem ama o perigo, nele perece" (Ec li . . , 27), diz o Espíri to Santo ...

*

*

*

Isto posto, o esnobismo nos aparece como um dos 11111 is possantes - o mais possante, talvez - dos fatores d ' ' p11 11 são, tanto da droga como do com uni smo. E o itin rário d · 11 11 1 e outro, na contam inação de todo o corpo social, 11 pr ,pri a rota do esnob ismo, rumo à extravagância total. - Exagero? - Não creio. Veja-se em outro ·11inpo o poder do esnobismo, e o fascínio que obre este ex ·r · · 11 • Ira vagância. Falo do nudi smo. Todas as modifi cu : c ·s cl11 ,noda se fazem hoje sob o signo da extravagânc ia . • a ' XI rnvn 111 ·ia para a qual tendem é a conqui sta - por etapas s '1llpr ' lll ais ousadas - do nudi smo total. - Ora, quem , s •n1io o •s nohi s mo , a rrasta as multidões n o cam inh o , ou m •lh or , no desca minho da moela?

*

*

*

Não espero, porém, que os espec iali stas na 111ul riu ti ·cin o devido realce ao fator esnobismo. Nã s11oh l'ul11r ti ·I ' ... •

,JULHO de 2()'11

2

Exc1mTos

4

Ci\R'l'J\ no Dnu:TOR

5

D1sc1~RN1Noo

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l,1,:1Tu1{i\ EsP1mTu/\r,

8

CORRESPONJ>f:NCIA

1 O A P i\L/\VRi\ 12 A

Nº 727

O MEC contrjbuj papa o emburredmento Considerações sobre o Paj-Nosso - W

uo SActmDoTE

R..:i\1.1DAU1•: CoNc1sAMt~NT1•:

No Peru, esquerda teve que se camuflar

14

INTERNAc10N/\I,

16

PoR om•: NossA S1◄:N11oni\ <;1101M?

1 7 M EMÚRli\ Revolução Francesa -

episódjos súJjstros

São Franôsco Gú'olamo

20

VmAs DE Si\NTos

23

ENT1mv1s·1'/\

26

CAPA

38

DESTAOlJE

44

SANTOS ..: FESTAS DO Mt1S

46

AçAo CoN'l'Ri\-R1wo1,uc10NÁRIA

52

AMBmNTES, CoSTlJM1•;s, C1v11 .11.Açõt-:s

25 anos da catástrofe de Chemobyl

Divina Providência - Deus, que tudo crjou, rege o Universo Mjjjtância católica

Catedral de Sevilha - torres altivas, portal que evoca fortaleza

Nossa Capa:

Trindade (detalhe) - Antonio Pereda, séc. XVII. Museu de Belas Artes, Budapeste, Hungria. Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo.

JULHO2011

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'.

DISCERNINDO

Caro leitor,

Diretor:

Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

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Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catolicismo@terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com .br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual paraomêsdeJulho de 2011:

Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:

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CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.

Tema cada vez mai s atual é o papel desempenhado pela Providência divina enquanto regedora do universo criado. Por isso, foi ele escolhido para matéria de capa desta edição. O papel da Providência j á pode ser di scernido, embora de modo um tanto confuso e alterado, nas religiões pagãs da Antiguidade, que apesar de adulterações assombrosas conservaram alguns vestígios da religião natural revelada pelo Criador a nossos primeiros ancestrais, Adão e Eva. Nos livros históricos do Antigo e do Novo Testamento são narrados empreendimentos divinos relacionados com os homens. Os livros proféticos apresentam antecipadamente tais eventos. E os livros sapienciais ou doutrinários ocupa m-se em fazer sua apologia. Na história da Igreja primitiva, o terceiro sucessor de São Pedro, o Papa São Clemente de Roma, ressaltou a importância da Providência, denominando a Deu como "o Criador e o bispo de todo espfrito". Na época patrística, os Padres da Igreja ocuparam-se da questão indagando e anali sando como o mal e o sofrimento podem ser compatíve is com a Provid An ia de um Deus todo-poderoso. No século XVI, a mesma questão fo i objeto de sólida análise, durante o oncílio de Trento. E o tema continuou a ser aprofundado até nossa época, na qu al se multiplicam catástrofes naturais como terremotos, tsunamis, erupções vul âni cas, c iclones, epidemias, etc., causando tragédias marcantes para o hom 111 contemporâneo. Diante dessas catástrofes, cumpre aumentar a confiança na Providôn in di vina e intensificar as nossas preces, que são um recurso disposto desde toda a ·I rni dadc pela Providência do Criador para obtermos os dons necessário à sa lvaçé o. E a imutabilidade dos desígnios divinos não só não se opõe à eficácia da pr · • ', mas é mesmo seu supremo fundamento. "Pedi e se vos dará. Buscai e achar is" (MI 7, 7) é o conselho evangélico. Em épocas de mais fé, suplicava-se de modo instante à divina Provid · 11 ·in que fizesse cessar epidemias, determinasse o advento de chuvas em po ·u 1' seca para se obter boas colheitas e afastasse fl agelos da natureza. O pov ri •I n •sscs dias, denominados "de rogações", participava de procissões por ru us · ·n,n pos rezando ladai nhas especiais. Se em nossa época os homens voltassem a tão recomendáve is prál i ·as d ' pi edade popular, durante as quais se proclamava: "Senhor, não nos tratei.,· ,1'1'Rllt ulo as nossas culpas, mas de acordo com vossa infinda misericórdia", quant os 1 •rrcmotos, tsunamis e outras catástrofes natu rais, cada vez mais frequcnl s, pod ·rium ter sido evitados? São essas oportunas e sérias reflexões que oferecemos aos nossos pr ·zudrn; 1 itores, com o desejo de que possam tirar delas bom proveito para a vida ·spiritu al.

Em Jesus e Maria,

9:~7 DIRETOR

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Ü que significa esse título escrito de modo incorreto? Ignorância crassa do autor deste artigo? E como passou pela revisão? Sem querer defender o autor, nem os revisores, o problema, no entanto, é outro. E grave! CI

Cio

ALENCASTRO

U

m livro circula pelas escolas, com aquiescência do Mini stério da Educação e Cultura (MEC), ensinando às crianças que é certo falar de modo errado. Expressar-se corretamente seria "preconceito". "'Po r uma Vida Melhor ', de autoria de Heloísa Ramos, afirma que o uso da língua popular - ainda que com seus erros gramaticais - é válido na tentativa de estabelecer comunicação. O livro lembra que, caso deixem de usar a norma culta, os alunos podem sofrer 'preconceito linguístico'. 'Fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito

linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escreve,; tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas.' "Uma comissão formada por

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de escolha, que 'desperdiça di nheiro público com material Cfll<' e,nburrece, em vez de instru ir ' como diz a procuradora da República ]anice Ascari. [... ] Um grupo de membros do Ministério Público, liderado pela procuradora, anunciou que processará o MEC por 'c rime contra a educação"'.4

prof essores da Uni versidade Federa l d o Ri o G rande do No rte (UFRN) aprovou o li vro, que chegou a 484.1 95 alunos de todo o País. Defende que a.forma de.falar não precisa necessariamente seguir a norma culta. 'Você pode estar se perguntando: Mas eu posso f alar os li vro'! Claro que pode', diz um trecho. [. .. ] Em nota divulgada pelo MEC, a autora def endeu que a ideia de 'co rreto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado ' ". ' "Para a autora, Heloisa Cerri Reunas, em entrevista, as críticas refletiriam uma 'posição conservadora'. Não se deve ria discriminar quem fa la errado". 2 Co mo se o caso fosse de di scrimin ação e não de educação e e ns in o !

"Com. precisão, a escritora Ana Maria Machado exemplifica: 'Se ria como aceita r que do is mais dois são cinco'. { .. ] Eis o resultado da celebração da ig-

A Defensoria Pública da Uni ão no Di strito Federal e ntrou com ação pedindo o recolhime nto da o bra. Em pesqui sa reali zada co m vári os estudantes no Rio, a domésti ca M aria Erlaine Mendes da Silva, 22 anos, diz que prefe re ser co rrigida na sala de aula a sair po r aí "f alando er-

norância, que, junto com a banalização do malfeito, vai se confl nnando como uma das piores heranças do modo PT de governar". 3 Admitir que é certo fa lar errado "dá a medida da fa lta de rigo r do processo

rado. Não tenho vergonha de ser corrigida. É obrigação do professor ensinar o certo". Para "uma coordenadora de curso supletivo na rede estadual: 'A sensação que tenho é a de que querem sempre nivelar o aluno da escola pública por baixo'". 5

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*

*

Ante alguém que se exprime c m portug uês de fo rma errada, não e trata 111 a bso luto de te r preco nce ito contra lc, mas sim de ajudá- lo a fa lar corr tamente. Para isso ex iste a escola. A av rsão à norma culta como po lo para o qu al deve co nve rg ir necessari a me nte o e ns in o é irmã da a versão às regras de du ·ação no trato e ntre as pessoas; com lamb m da a ve rsão a toda no rma moral no ves tir e no co ibir os instintos e as paixõ s d sregrados. Por detrás da aceitação do erro ramatical como modo normal d fal ar stá uma me ntalidade anárquica, para u qual toda a regras são más e toda ord 111 , uma cami sa de força. É o gui zo da cas ·avel das convul sões anárquico-comuni stas de maio de 1968 que e faz ouvir. •

Notas:

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-CATOLICISMO

1. " A gência Estado" , 17-5- 11. 2. "O Estado de S. Paulo" , 17-5- 1 1. 3. Tdem, ibidem, Co luna ele Dora Kru n1 ·r. 4 . I dem, 18-5- 1 1. - ~ - "Ú ltimo Segundo", 18-5- 11.

Considerações sobre o Pai-Nosso - VI Q uinta petição, que Santa Teresa* rccmnenda para as sextas-feiras: "Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoainos a quem nos te1n ofendido"

osso Redentor livrou-nos do poder de Satanás (ao qual estávamos sujeitos) e pre parou o Reino dos filhos de Deus, e nele te mos a redenção - o perdão de nossos pecados. Todos os males de que podemos ser livres e tão contidos nas três petições seguintes. A primeira é esta: Perdoai-nos,

Senho,; o que Vos devemos, por quem sois Vós, que sois Deus, Senhor do Universo. E o que Vos devemos pelos benefícios, o que Vos devemos pelas nossas ofensas. E isto, Senhor, seja como nós perdoamos aos que nos of endem, que são nossos devedores. D eve mos imagina r que sempre que rezamos esta oração, a faze mos em compa nhia de Cri sto Nosso Se nho r, o qual está ao nosso lado sempre que ora mos, e em seu nome pedimos "Pai Nosso". Se ndo assim , bem compl eto será o perdão, pois tão completo o fez o F ilho de De us pelos homens. Pode-se entender em ri gor como as palavras soam, pedindo que nos perdoe como nós perdoamos . Porque todo homem que reza, presume-se que te m pe rdoado de coração aos seus ofensores. E, no mesmo modo de pedir, significamos e nos notificamos como havemos de pedir e como havemos de alcançar. E que, se nós não temos pe rdoado, damos sente nça contra nós, que não me rece mos perdão . Disse o Sábio: "Corno é possível que

o homem não perdoe seu irmão e peça perdão a Deus?". Aquele que deseja vingar-se incorrerá na vingança de Deus, que g uardará os seus pecados sem remi ssão. A matéri a desta petição é genera líssima

e abraça infinitas co isas, po rque as dívi das são se m conta, a Rede nção copi osíss im a, e o preço do perd ão, que é a Mo rte e a Paixão de C ri sto, infini to. Deve mos recordar nossos pecados e aqueles cometidos e m todo o mundo. E também a gravidade de um pecado mo rtal que, por ser ofensa contra o Criador, não pode ser re mido ne m pago por outre m, a não ser por E le própri o.

Deve mo. a Deus amor e te mor e suma reverência po r ser que m é. E devemosLhe as ofensas que e m paga d isto fazemo . De todas estas dívidas pedimos-Lhe que nos li vre qu ando Lhe roga mos q ue perdoe as nossas dívidas. •

* Obras

de Sa nta Te resa, torno V, Conceitos do Amor de Deus - Relações espirituais - Exclamações - Poesias - Avisas. Ed itora Vozes, Petrópo li s, 195 1, pp. 225 a 227.

JULH02011 -


.AtoUCJSMO

DILEMA EUROPEU

tão lá dentro. Agora, só esperam a ordem para a "guerra santa". Pobre Europa ! Casti gada por voltar ascostas àquilo que ela própri a engendrou: a civilização cristã! (T.G.O. -

18] O governo central (governo único) de Bruxelas está impondo aos povos europeus algo tão oposto à índole das nações europeias que poderemos assistir em breve a uma explosão de reações contra a imposição tirânica dos burocratas de Bruxela .

Rompimento de tradições 18] O que mais me deixa satisfeito

com a leitura da revista é que encontro o que desejava acompanhar, mas que não vejo normalmente em nossa mídia. Caso típico é a análi se fe ita neste mês obre a unificação da Europa enquanto um rompimento com as tradi ções da Cristandade europeia. A Europa que teve seu apogeu justamente dev ido àq uele passado, com a uni ficação despreza seu próprio apogeu. Um suicíd io da Europa sufoca ndo sua cul tura, sufoca ndo sua alma, é o que o artific ial governo europeu promove. (1.W. - SC)

Europa invadida 18] A U ni ão Euro peia persegue os bons costumes e a moral católi ca e abre suas fro nteiras para a religião de Maomé. C laro que o verdadeiro Deus sendo corno que expul so, um dia volta para castigar. Veremos o di a em que os mulçumanos receberão a ordem do Islã para incendiar a Europa como vinga nça contra o catolicis mo. Os soldados do Islã nem precisarão invadir o velho continente, eles já es-

llllcATouc 1sMo

BA)

Naufrágio europeu 18] Não entendo muito de política euro peia, mas mes mo assim sabi a que, di a mais di a menos, aquele sistema unificado não poderia dar certo. Também sem entender de economi a, sa bi a qu e a moeda úni ca (o Euro), estabelecida para todos, não daria certo. Agora estamos vendo a Europa naufraga ndo numa tremenda crise econômica.

(W.N.1.F. -

(M.S.J. -

e ele me mostrou a revista Catolicismo. Com isso, res pondi à minha colega baseada no que li. Muito obrigada, pois me ajudou muito. (C.G.- PR)

DF)

MG)

Burocrntas-tiranos de Bruxelas

(S.C.E.N. -

tica a un ião homossexual. O STF está invadindo frontalmente a esfera do legislativo e faze ndo uma má interpretação da Constitu ição.

RJ)

STF - 2

Desarmamento

18] Achei genial a argumentação do

18] O governo volta a in sistir no "de-

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz. U m absurdo o que está acontecendo no Supremo. Fiquei indignado quando vi a notícia da aprovação da uni ão estável de pessoas do mesmo sexo. Os mini stros defende re m tal uni ão é inexplicável. Não consigo entender tal empenho em defender uma perversão contrária à Le i de Deus e à fa míli a brasil eira q ue os mini stros deveriam proteger. (G.N. - SP)

sarmamento" no Brasil. Isto é uma verdadeira pi ada, porque os bandidos não compram armas em lojas e nem as legalizam , mas as conseguem através de contrabando. O que precisa ser feito para minimi zar um tanto a situação seria uma pena severa para quem fosse apanhado na rua com arma sem porte. Todo cidadão, bandido ou não, se fosse encontrado portando arma nessas condi ções deveria ser preso.

Reação necessária

Tentativas fracassadas

18] Não podemos mais aceitar as per-

18] Essa apro vação da união homos-

seguições de que nós cri stãos e ta mos sendo vítimas. Nossos valores morai e reli giosos vão se ndo lega lm e nte banidos e ridicularizados. Temos que reagir e dar uma resposta fi rme contra todos que nos perseguirem.

sex ual é mais uma tentativa de atingir a Igrej a de Cristo. Em cada século podemos perceber as iniciativas que fo ram tomadas com a fi nalidade última de destruir a Santa Igreja: no século XVIII, a Revolução Francesa; no século XIX, a propagação do ateísmo (Darwin/Nietzche); no século XX, a ex pansão comuni sta; e agora, no séc ul o XXI, a propagação do relativismo moral e sexua l. Nenhu ma das tentativas anteriores fo i realmente efetiva no co mbate à Santa Igreja, e acredito que e ta nova ofensiva ta mbé m não surtirá efeitos de longo prazo. Nada devemos temer, pois Cristo está conosco até o fi m do mundo ! Que o mundo não se torne uma nova Sodoma e Gomorra !

(P.V.R. -

RJ)

S1'F - 1 18] Apoio inteiramente o artigo Su-

Réplica a protestante

premo Absurdo do Padre Lodi , q ue mostra mui to bem como a decisão do Su premo Tribunal Federa l está impregnada de vícios. Parabéns ! Temos mes mo que denunciar esses "supremos absurdos" que vêm ocorrendo na Su prema Corte. Estamos assisti ndo a uma nova forma de implantar o totalitarismo num país: usando o judiciário. Este cerceia nosso di reito de defesa e di tatorialme nte impõe suas "verdades". Se os senhores ministros continuarem nesta "lógica", em breve poderão tachar de "preco nceituosa" a crítica a uniões incestuosas, assim como se desej a pun ir quem cri-

1:0 Estão sendo mui to úteis para mim os artigos sobre o Pai Nosso. Há pouco tempo uma colega de sala (evangélica) pergun tou-me por que o católicos repetem tantas vezes o Pai Nosso. E la falou que nossa oração é muita repetição, que nfoguém presta atenção no que di z, e que os evangélicos não rezam, mas só conversam com Deus. Eu perguntei-lhe: e como você conversa com Deus? Ela respondeu: "Ah, eu falo com ele do mesmo jeito que converso com você !" Para falar a verdade, eu não sabia o que respon ler; cheguei em casa e perguntei a meu pai,

(P.L.M. -

(R.T.O. -

RJ)

MG)

Verdadeira popularidade 18] "Glória, popularidade dos heróis e dos santos". Uma vida inteira dedicada a Cristo e ao próximo ! Maravilhoso !

De uma profundidade incrível as histórias publicadas dos santos. (S.C. -SP)

Campanha da Fraternidade 18] É-me qua e impossível acreditar a que nível de comprometimento ideológico chegou a Conferência Naci onal dos Bispos do B rasil. Não é possíve l que um grupo de "pensadores católicos" possa endossar tamanho absurdo como o tema da Campanha da Fraternidade de 2011 ("Fraternidade e a Vida no Planeta"). Não acredito que os bi spos da CNBB sej am desconhecedores daqui lo que pregam anu almente, e m suas e lucubrações filosófi cas, o que os faz incorrer em culpa de responsabilidade por suas ações, usando o nome da Igreja Católica Apostólica R omana. A atual Campanha da Fraternidade claramente só colabora para promover a fo me no mundo! É um ab surdo ver um órgão de assessoria da própria Igrej a Católica apoiando teses em detrimento da produção de alimentos no Brasil. Apenas para ilustrar, tenho registrado muitas reações indig nadas de sites BRASILEIROS , que defe ndem o aume nto da produ ção no Brasil, sendo acusados de sere m "líderes do agronegócio", como se isso fosse danoso ao povo brasileiro ! Espero que a parcela do epi scopado nacional, que não foi cooptada pelos "ideais" esquerdistas, entenda que a existência da Igrej a de Cristo corre mais perigo do que se pode imaginar.

(A.M. -

FRASES SELEC IO NADAS

•continua a navegar

tranqu.ifo, ainda que se qtre6re o grande mastro. Deus, que é o teu guia, não te esquecerá." (e. A. nelÁge)

•se Deus é por nós,

quem será. contra nós?" (RoV\,\,tlll\,OS, !?-31.)

•com Deus aáian:te, o mar é e/ião!,,

"Nada te pertur6e, Nada te espante, Tudo passa, Só Deus não muda. A paciência

Tudo afcança, Quem tem Deus, Nada Cfte Jafta.

Só Deus 6asta.,, (sall\,ttl Teresa de Áv~La)

SP)

Atendimento on-line 18] Sou catequi sta da paróquia São Bento Abade e es tou feliz porque, quando tenho algumas dúvidas, recorro ao www.catolicismo.com.br e sou atendida.

(M.S.A. -

Cartas, fax ou e-mails: enviar aos endereços que figuram na póglna 4 desta edição.

RJ)

JULH0201 1 -


1 Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC

Pergunta 1 - Já ouvi falar que o milagre de Fátima é de ordem espírita, sendo a Virgem uma aparição e, os três pastorinhos, mediuns que conseguiram ver, ouvir e falar com a Virgem. Como me defender quando questionada por adeptos da doutrina espírita?

Resposta - Segundo a doutr in a es pírita, as almas das pessoas falecidas podem comuni car-se co m os vivos, quando invocada por estes, em gera l através de pessoas especialmente aptas a captar a. men sagens desses espíritos. Tais pessoas serv iriam , pois, de intermediários entre as alm as dos mortos e os vivos: daí o nome de mediuns. Segundo os adeptos d a doutrina espírita que assediam a nossa consulente, os pequenos videntes de Nossa Senhora em Fát im a te ri am sid o mediuns q ue retransmitiam para os circunstantes quanto ouviam da Virgem Santíssima, a qual, ademais, lhes aparecia visivelmente. Não é de hoje que sectários do espiriti smo apresentam tal versão das aparições marianas de Fátima (1917). Mas, ne sa lógica, ta l versão se aplicaria também às aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, na Rue du Bac, em Pari s (1830); em La Sa lette (1846); a Sa nta Bernadette , em Lourdes ( J 858); e a todas as demais, de Nosso Senhor Jesus Cristo e de santos, ocorridas ao longo de dois mil anos de hi stória da Igreja. Com isso, todo o capítulo das aparições e visões sobrenatura is é questionado com a

~

CATOLICISMO

interpretação insofismável da Santa Igreja Católica. Com quem está a razão?

Desti110 <las almas ap6s a morte Com a morte, o corpo se desintegra e a alma - que é espiritual e, portanto, imortal - se destaca do corpo, sendo jul gada por Deus nesse preciso momento. É o juízo particular. Se e la está absoluta me nte ise nta de pecado , mesmo venial, e sem nenhuma culpa a pagar - o que é raríssimo - vai imediatamente para o Céu. Se a pessoa morTeu em estado de graça, isto é, atTependida de todos os pecado mortais que cometeu e foi deles absolvida por confissão válida ou por um ato de contrição perfeita, mas ainda tem culpas a pagar, vai para o Pw·gatório. Ali ela é purificada de todas as mancha e de todo afeto ao pecado, mesmo venial, que ficaram na sua alma e que a impedem de ver a Deus face a face no Céu. Essa purificação é um processo doloroso par·a a alma, porque nada é mais difícil do que se corrigir dos modos e1rndos de ver e julgar as coisas, e das tendências par·a o mal que, devido ao pecado original e aos pecados atuais, permanecem em nós até o momento da morte. Por isso a do utrina católica tradicional co mpara esse processo de retificação da alma a um fogo purificador. Mas um· fogo de natureza especial que queima as almas, como o fogo da Terra queima os corpos. Quando nesta Terra rezar11os e fazemos sacrifícios pelas almas do Purgatório, nós aceleramos esse processo de purificação, arcando com parte do sofrimento delas . E, sobretudo, quando ofe-

recemos por elas o Santo Sacrifício da Missa, pedindo a Deus que lhes aplique os méritos infinitos do sac ri fício redentor de Cristo. Purificada assim por esse processo - que pode ser mais ou me nos extenso e doloroso - a alma está em condições de ser levada para o Céu, onde ela se reunirá a todos aq ueles que a precederam in signum. fidei (com o sinal da fé), como diz a Liturgia da Santa Igreja. E no Céu ficará aguardando a ress urreição geral dos corpos, no fim do mundo , quando cada alma se reunirá ao respectivo corpo, restaurado na plenitude do seu vigor e sublimado no esplendor de um corpo celestial. Dos que cometeram a loucura de voltar suas costas a Deus pelo pecado mortal e

morrera m nesse estado, não falemos dele , mas apliquemos o co nse lh o do poeta Dante: "non ragioniam' di lor', maguardaepassa" (não fa lemo deles, apenas olhe e passe ad iante). O seu destino é o fogo eterno do inferno, que queima as almas e os corpos, sem nunca extingui-los.

As almas ames da ressurreição dos co1pos Diferentemente dos anj os, que são puros espíritos, as almas hum a nas precisam do corpo para se manifestarem e exercere m as uas funçõe normai . Ass im, estejam no Purgatório ou já no Céu, elas não têm p or si próprias os meios de se comunicarem com os homens que estão nes-

te mundo. A doutrina espírita se dispensa de exp licar como isso é possível, e imagina que forças mediúnicas atraiam as alma para esta Terra a fim de se comunicarem co m os home ns. Isto ó eria possível com a permissão divina, e com a intermediação de anjos que serviri am como que de altofalantes par·a essas almas, destituídas como estão de boca e cordas vocais. Daí o fundado receio da Santa Igreja de que os demôni o , que são anjos decaídos, sirvam de intermediários par·a as almas que estão sob seu poder no inferno, para sob pretextos a legadamente bons virem a esta Terra atormentar os vivos com comunicações ou práticas fünestas. Por isso a Igreja proíbe terminantemente que os fiéis católicos participem - sob pena de excomunhão - de sessões espíritas, ainda que se apresentem como meros expectadores e declarem expre sarnente que não querem tomar nen hum contacto com os espfritos ma1ignos.

Visões e co,mmicações celestiais Não há, portanto, razão alguma para supor que as visões e com uni cações ce lestia is, como as de Fátima, Rue du Bac (Meda lh a Milagrosa), La Salette, Lourdes, e tantas outras reconhecidas pela Igreja como dignas de crédito, como as do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria (sécu lo XVII), se enquad rem no mar·co da doutrina espírita. Depois da Revelação oficial do Novo Testamento que terminou com a morte do último Apóstolo - , tudo quanto era estritamente necessário aos homens cumprir para alcançar a sa lvação eterna lhes

vem sendo transmitido fielmente pe la Tradição católi ca e é custodiado pelo Magistério infalível da Igreja. Porém Deus tem julgado conveni ente faze r comuni cações especiais para orientar os homen em certas circunstâncias históricas. São as chamadas revelações particul ares feitas a a lm as esco lhid as . O modo dessas co muni cações apresenta uma vasta gama de modos e aspectos, às vezes dando origem a grandes santuários muito conheci dos e procurados pelos fiéis, como, por exe mpl o, o de Lourdes na França. Querer assoc iar essas comunicações ao esq uema med iúni co da doutrina espírita é uma arbitrari edade sem qualquer fu ndamento nos fatos . A co nsul e nte pode ficar tranquila e desdenhar o assédio dos seq uazes dessa dou trina, que não pa. sa de mera elucubração sem nenhum valor religioso ou intelectual.

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Pergunta 2 - Gostaria de saber como é que a pessoa pode reconhecer quando a Virgem lhe faz uma comunicação. Pas sa-se algo através da medalha de Nossa Senhora que ela usa? Ou a Virgem lhe aparece? Tenho muita curiosidade ... Se me pudessem ajudar, lhes agradeceria. Resposta - Além das revelações particulares citadas na resposta anteri or há também as locuções in teri ores que o Espírito Santo pronuncia no recôndito das almas. Caso se trate de uma alma boa e reta, que Nossa Senhora quer atra-

Nossa Senhora fala com São Bernardo de Claraval. Grande devoto d'Ela, ele proclamou suas glórias em seus escritos.

ir para uma maior santificação pessoal , Ela pede ao Espírito Santo como Esposa, que fa le no interior dessas almas. Não há nenhum inconveniente teológ ico em dizer que é Nossa Senhora quem fa la no interior de nossas almas. Co mo reco nhecer que a procedência des a loc ução interior é da Virge m Mãe de Deus? É muito simpl es: se essa locução nos leva a um sentimento mais humilde de nós mesmos e à prática generosa da virtude ou de qualquer forma de bem, podemos estar certos de que é Nossa Senhora que está fa lando. Não é preciso que Nossa Sen hora nos apa reça e fale visivelmente conosco. Ela pode falar no interi o r de nossas a lm a , como foi exp licado. Mas se essa voz nos leva a qualquer fo rma de vanglória, cuidado: pode ser o demônio querendo nos sugerir a idéia de possuirmos um grau de santidade que não atingimos!

Com esses cuidados devidamente tomados, estejamos atentos à voz de Nossa Senhora e tenhamos a docilidade de pô- la em prática, segundo a palavra da Escritura: "Se hoje ouvi rd es a sua vo z, não endureçais o vosso coração " (Ps 94,8). Ora, a me lh o r resposta que podemos dar a Nossa Senhora é sermos muito devotos d ' E la, pensarmos n'Ela frequentemente, fa larmos interiorme nte com Ela muitas vezes. É o conselho de ouro que São Luis Gr ign io n de Montfort ap resenta no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem., n° J 66, e que transmito aq ui à prezada consul ente. •

E-mail

para o autor:

catolicismo@terra.com.br Errata : A proclamação da materni dade d i vina de Nossa Sen hora foi feita no Concíli o ele Éfeso (ano 43 1), e não no Concíli o ele Ni céia (325), como íoi erroneament e colocado na matéria desta co lun a do mês de junh o próx i 1110 passado.

JULHO 2011 -


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A REALIDADE CONCISAMENTE W~1'1"TEI> :e:

China: escravos explorados para iogos virtuais

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risi oneiros chineses são obrigados a j ogar videogames até desmaiarem, a fim de angariar dinheiro para o regime, denunciou o di ário britânico "The Guardi an" . N o Ocidente, o jogador crê e tar j ogando com outro cidadão que procura entretenimento. N a China co munista, por trás do nome fic tício, há um escravo submetido às violênci as dos carcereiros. Liu D ali, prisioneiro numa mina de carvão, contou que os trabalhadores forçados que não atingiam a quota estabelec ida sofri am sovas e torturas fís icas. "Ficávamos jogando até não conseguirmos enxergar m.ais nada", disse. Que contas prestarão a D eus aqueles que, no Ocidente, por um prazer passageiro contribuem para manter esse cruel sistema de exploração de seres humanos? •

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O 11 ecologicamente correto 11 é agredido pela realidade

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bactéri a E.coli intoxicou 3.000 pessoas e matou 39, especialmente na Alemanha. O país atribuiu a culpa dessa tragédia, primeiramente aos " pepinos assassinos" espanhói s, depois aos tomates e alfaces pro venientes da França, H ol anda e Itália, até que a União Européia impôs o fim de notícias alarmantes . A s autoridades sanitári as germânicas confirmaram finalmente que a fonte da infecção era uma gran j a de alimentos orgânicos "ecologicamente corretos" da Baixa-Saxôni a. O mito utópico e absurdo de que uma sociedade liberada do capitalismo e das técnicas modernas de produção " reconciliari a" o homem com a natureza não resistiu ao teste. N este vale de lágrimas, a luta constante contra as dificuldades existentes na natureza é necessária e, quando bem conduzida, dá bons resultados, como o provam produtores rurais brasileiros. •

Europride: ato ideológico contra a lgreia e a família

A Violência para que radicais se pareçam 11 moderados"

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Diferença de idades entre irmãos estimula senso de hierarquia

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egundo os noruegueses Petter K ristensen e Tor Bj erkedal, da Uni versidade de Oslo, a ordem dos nasc imentos determina uma hierarqui a harmônica entre as cri anças. O estudo anali sou 240.000 cri anças e concluiu que o fato de os irmãos maiores cuidarem dos menores "potencializa sua capacidade intelectual ". Para o Dr. Lui s K ancype r, da Asociación Psicológica Argentina (APA), o primogêni to tem supremac ia natural porqu e "deve preservar as tradições e ser exemplo de responsabilidade". Os pais ex igem menos dos fi lhos in termedi ári os, disse a especiali sta Stacy De Broff, e por isso eles "adotam atiludes mais distendidas na vida" e são mais " voltados para a criatividade". Os caçulas são os mais mimados e "por isso são os mais carinhosos". A des i guald ade hi er árqui ca se dese nv olv e natu ra l e harmoni camente na família desde a mais tenra in fância. •

CATOLICISMO

aniel Andreas San D iego (foto acima), líder ambientalista radical nos EUA, é um dos dez terrori stas mai s procurados pelo FBI, segundo Michael Conn e James Parker, autores de um li vro sobre ecoterrorismo. M as San Diego não é um fanáti co isolado. Ele integra a B rigada pela Liberação dos Animais, grupo ambientalista que pratica crimes v iolentos a pretex to de impedir o uso de cobaias. O grupo incendei a carros de cientistas, aterroriza suas famílias e dani fica suas residências. O vandali smo e a loucura extremada d ssa Brigada tem um efeito estratégico: faz com que outros gru pos ambientali stas, mesmo radicais, pareçam " moclenidos" e acabem por obter a aprovação de proj etos e leis. •

Pólo Norte não derreteu 1 mas ambientalistas não se convencem

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s profetas do derretimento da calota antárti ca encontram-se tão desconcertados como o pastor Harold amping, que profeti zou o fim do mundo para 21 de maio de 2011 - comentou, não sem ironia, em sua coluna na revi sta " Forbes", James M . Tayl or, membro sêni or da pol ít ica ambiental do Insti tuto Heartl and. O gesto di sparatado do pastor Camping está sendo imitado pelos profetas I derretimento do Pólo N orte, acrescentou Taylor. Talvez - observamos nós - seri a mais correto supor que o pastor quem imitou os climáticos apocalípticos que o precederam no terreno ela " profecia" .. . •

manifes tação homossexu al denomi'.iada ~urop1~d~, reali~ada r~centemente em Roma, patenteou o fund o 1deol og 1co ant1catóhco e antifamíli a dissimul ado sob fachada ele " direitos humanos". Para Paolo Patane, líder ativi sta homossexual , o Europride vi sava derrubar o governo itali ano, por considerá-l o " retrógrado", e mudar o modo de pensar cio povo da Península, que adere ao conceito de família ensinado pelas Sagradas Escrituras. N o Circo M áximo, outrora regado com o sangue de incontáveis mártires, a multidão cl amava "Habemus Gaga" - referência ímpia à cantora lésbica que estava no centro das injúrias contra a I grej a Católica. A "estrela" da obscenidade gritou: "queremos igualda-

de plena. Estou .furiosa como vocês.. Façamos a revolução do amor", acrescentando o igualitari smo à imoralidade radical da revolução homossexual. •

Onda de revoltas alastra-se pela China vermelha

A

ditadura chinesa passou dificuldades para recuperar o controle das ruas de Cantão (Guangzhou), centro industrial do sudeste do país, após um fim de semana de protestos popul ares. Na se mana precedente, enfrentamentos entre operários e a repressão socialista ocorreram também em Chaozhou, a 340 quilômetros de Cantão. "Uma pequena.faísca pode fazer explodir tudo", escreveu Geoffrey Croth all, anali sta cio "China L abor Bulletin", de Hong Kong. Apenas em 2010, os motins populares ultrapassaram 130 mil (em 2006 foram 60 núl). A população está revol tada devido às limitações impostas aos seus anseios pelo direito de propriedade particular e melhores salários. •

Proteção divina aos símbolos da fé em catástrofes

S

obre a cidade de Joplin, no estado de Missouri (EUA), soprou o mais letal tornado da História. Pelo menos 132 pessoas morreram . Ficou de pé apenas o cruzeiro da igreja de Nossa Senhora. "Vê-lo erguido nos lembra que

nossa missão está toda baseada nele", publicou "Eastern Oklahoma Catholic". Proteções similares verificaram-se no cruzeiro da catedral de Port-au-Prince (Haiti) e na imagenzinha de Nossa Senhora das Graças, na região serrana do Rio de Janeiro. É oportuno lembrar que no Brasil, o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) postulava em sua versão original o banimento de símbolos religiosos dos locais públicos! O que seria de nossa Pátria se os veneráveis símbolos e imagens de Jesus Cristo, de Nossa Senhora e dos santos fossem banidos?

Ex-muçulmano denuncia: bispos italianos favorecem o Islã

O

eurodeputado Magdi Cristiano Aliam, ex-muçulmano convertido ao catolicismo, protestou publicamente contra o apoio dado pelo Cardeal de Milão, D. Dionigi Tettamanzi, e pelo secretário geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), D. Mariano Crociata, à construção de uma grande mesquita muçulmana naquela cidade . Nos mesmos dias, acrescentou Aliam , "autênticas testemunhas da fé em Cristo" estão sendo martirizadas pelos islâmicos na Nigéria e no Egito. O ex-muçulmano convertido à fé verdadeira também denunciou o apoio do cardeal milanês a políticos favoráveis ao aborto, à eutanásia, ao "casamento" homossexual e ao fornecimento de drogas por parte do Estado. O eurodeputado concluiu exortando a dizer NÃO "ao péssimo pacto

católico-comunista que vende nossa alma e quer nos transformar em escravos dos fanáticos de Alá!".

JULHO2011

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INTERNACIONAL

·,. }

, sações absurdas contra o candidato de Gana Perú. 1 Tais ataques, cru·entes de toda seriedade, apenas mostraram quanto a declaração de Tradición y Acción incomodou a esquerda, bem como a crônica incapacidade desta para responder a uma argumentação católica veraz, serena e e levada. Poder-se-á objetar, em favor da inutilidade do esclarecimento de Tradición y Acción , que a vitória final foi do candidato de Gana Perú. Muito pelo contrário! E m primeiro lu gar, a reduzida porcentagem de votos nul os e brancos, já assinalada, demonstra que o apelo a não viciar o voto teve efeito. Ademais, como fo i dito, a vitória ele itora l de Ollanta Humala se im pôs devido sobretudo a fatores extraideológicos. Sua e leição não teve o sig nifi cado esq uerd ista que a lguns quiseram atribuir-lhe: grande pru"te de sua votação proveio do eleitorado de centro, e fo i mais fruto de ci rcunstâncias de momento do que de ideias.

Peru: Manifesto de Tradición y Acción reforça corrente de opinião antimarxista Ü candidaLo da esquerda, OllanLa Humala, venceu as eleições presidenciais no Peru, mas para alcançar êxito viu-se obrigado a can1ut1ar sua posição e apresentar-se como "Hu1nalinha paz e amor", e não como "chavista"

Na situação pemana: o polo forte e o polo frágil portante manifesto. Nele, advertia que o programa da ali ança Gana Perú - nome do partido do Humala - conjuga o socialismo econômico com a nova revolução anarco-sexual, atacando assim simultaneamente a propriedade e a família. O documento assinalava que votru· contra tal programa de inspiração mru·xista era um dever de consciência, sobretudo para aqueles que tinham intenção de anul ar seu voto ou votar em branco.

r I ALEJANDRO EzcuRRA N AóN

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o contrário do que muitos supõem, a vitória do candidato esquerdista Ollanta Humala nas eleições presidenciai s do Peru, no dia 5 de junho, não signi ficou uma gui nada da opinião pública do país para a esquerda. Numa eleição muito disputada no segundo turno, Humala prevaleceu sobre a candidata Keiko Fujimori por uma margem muito estreita - menos de 3% dos votos - , e devido a fatores primordialmente extra-ideológicos. Para evitar a rejeição dos eleitores de centro, Humala mudou completamente sua imagem carrancuda e agressiva, bem como encobriu suas idé ias socialistas. E de tal maneira, que houve quem o chamasse de "Humalinha paz e amor", comparando-o com a mudança de look operada em Lula no ano 2000.

Ampla dimlgação de eleito palpável Sete jornais de circulação nacional e regional reproduziram em página inteira o documento. Resumos do mesmo, com chamadas remetendo para o texto completo - contido no site www .MarxismoNuncaMas.com - , foram estampados em outros dez jornais, nacionai s e provinciais. Em seu conjunto, essas publicações somaram quase 900 mil exemplares, em 17 jornais do país. O número e a qualidade das repercussões recebidas indicam que o efeito foi e continua a ser considerável. E embora não possa ser quantificado, algumas pesquisas eleitorais ass inalru·am, nos dias ubseq uentes às publicações do manifesto, uma notória queda na intenção de voto nulo ou branco. E não há dúvida de que o documento de Tradición y Acción pesou significativamente para que essa votação inválida (que segundo as previsões seria muito alta) finalmente caísse para 6,3%, uma das mais baixas da história do país, enquanto a diferença final a favor do Humala - decidida como vimos por fatores totalmente alheios ao debate ideológico - não passou de 2.9%.

Numa eleição sem idéias, o papel de Traclición y Acción Al ém disso, na reta final e decisiva da campanha, irromperam denúncias de forte impacto moral contra membros do comando e leitoral da Sra. Fujimori, ac usados de promover a esterili zação forçada de 300 mil mulheres indígenas na_década de 90, du rante o período presidencial do pai da candidata, Alberto F ujimori. A rival de Hum ala não consegui u desvincular-se das ac usações com a ce leridade e a contundência que o caso requeria, o que lhe acarretou uma considerável perda de votos. Pode-se ass im dizer que a eleição foi decidida por um caso de natureza moral, e não por um tema ideológico. Nesse quadro de ausência de ideias, no dia 24 de maio, Tradición y Acción por un Perú Mayor - entidade peruana coirmã de assoc iações que defendem os valores da tradição, da famí li a e da propriedade, dissemi nadas pelo mundo - publicou na imprensa nacional um im-

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CATOLICISMO

Fortalecimento antiesquerdista, furiosa reação marxista

Fac-símile do documento publicado na cidade de Cuz:co

Mas o efeito mais profundo do manifesto, corroborado pelo testem unho de incontáveis leitores, foi o de ter dado consistência ideológica à resi stência de um vastíssimo setor da opinião pública ao programa da aliança Gana Perú. Uma prova indireta desse efeito foram os ataq ues da esquerda ao documento: desde as habituais rajadas de injúrias - "marca registrada" esquerdi sta - até o imoral recurso de juntar frases separadas do texto para atribuir aos autores do documento acu-

As adesões ao humalismo dificilmente serão estáveis numa população como a peruana - em alguns aspectos volúvel e temperamental - por carecerem de fundamento ideológico. O próprio Salomon Lerner, principal assessor de Humala, deixou claro que seu governo não terá condi ções de levar ad iante uma política nos termos do chavismo ou simil ares. 2 A distri buição de forças no Congresso, onde Gana Perú reúne apenas um terço dos parlamentares, também lhe dificultará exercer um governo desse tipo. Em sentido oposto, a resistência ao humalismo teve um caráter nitidamente ideológico, o que é de molde a torná- la mais consistente e durável, podendo ainda ace ntuar-se caso Cana Perú se aventure a aplicar o sociali smo no terreno econôm ico, ou a agenda marxista da revolução sexual antifamiliar. O Peru emerge fortemente polarizado dessas eleições. E, nessa situação, o polo duro é o anti-social ista, devido justamente a sua maior densidade ideológica. Fortalecer esse bloco de op ini ão antimarxista, aumentarlhe a consistência com informações oportu nas e argumentações sólidas - baseadas nos ensinamentos da doutrina soc ial da Igreja e nas teses do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira sobre o processo revolucionário expostas em Revolução e Contra-Revolução - tem sido o intuito específico da atuação de Tratlición y Acción. Certamente o novo governante do Peru não poderá desdenhar essa grande corrente de opini ão. Ainda mais num contexto internacional sumamente frágil e instável como o atual, muito pouco propício para embarcar outra vez o país em aventuras ideológicas já fracassadas . A trágica experiência do século XX demonstrou para sempre que essas utopia só geram catástrofes. • E- mail para o autor: catoli ci smo@ terraco m.br Notas: 1. Ver, por exemplo, art igo de Arturo Rivas, Una cuesti611 de inco11ciencia, enhttp://isotes.wordpress.co m/201 l /06/02/un a-cuestion-de- i nconci enciamarxi smo- nunca-mas/ 2. Cfr. entrevista a " La Tercera", Santiago do Chil e, 7-6- 11 , pág . 7.

JULHO2011

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Casamento causa escândalo entre fiéis

O

casamento é um contrato sagrado, mesmo cio ponto ele vista natural. Tão sagrado que, entre batizados, Nosso Senhor Jesus Cristo o elevou à categoria ele sacramento. Do casamento nascem os filhos e se origina a família, célula-mãe ela sociedade, fundamento ele toda ordem civil bem constituída. Por isso tudo causou grande estupefação e profundo desagrado a decisão cio Supremo Tribunal Federal qualificando ele "entidade familiar" também a união espúria de dois homossexuais. Horrorizados com tal decisão, muitos criticaram o atropelo ela Constituição e a falta ele competência do STF para legislar em substituição ao Congresso Nacional. Caberia ainda acrescentar um fator de ordem mais elevada, o fator moral , dado que a união homossexual é contrária à natureza e à reta ordenação cio relacionamento humano. E há também a forte condenação religio sa a esse tipo ele união, que encontramos repetidas vezes nas Sagradas Escrituras.

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CATOLICISMO

da diocese de Caxias do Sul - à qual pertence Garibaldi - dirigiram-se ao bispo diocesano, D. Paulo Moretto, e ao bispo-auxiliar, D. Alessandro Ruffinoni, apresentando-lhes suas fundadas queixas . Ante a representação feita pelos fiéis, a diocese de Caxias do Sul emitiu nota dizendo: "Recebemos de muitos a manifesta ção de sua perplexidade, desaprovação e preocupação com o que aconteceu na igreja-matriz São Pedro de Garibaldi [... } Por isso nós também desaprovamos, lastimamos o que aconteceu e compreendemos o mal-estar e preocupações causadas" ("Zero Hora ", Porto Alegre, 29-3-11). Tal cerimônia se insere na onda de perseguições clarns ou veladas que vem sendo conduzida contra a santidade do matrimônio, motivo de pranto da Virgem Santíssima. •

14 de julho de 1789 ! Data trágica da "tomada da Bastilha" e do início da Revolução Francesa, que in11uenciou o inundo inteiro. Acontecimento que propicia uma rememoração 222 anos depois. As duas colunas clássicas que faziam parte da Barreira do Trono, erguida em 1787

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GABRIEL

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ituada ao longo da antiga estrada de Vincennes, a Place de la Nation é hoje um dos pontos cardeais da zona central de Paris. Até o sécu lo XVIII, chamava-se Praça do Trono, porque em 26 de agosto de 1660 ali foi erigido um trono para receber Luís XIV e Maria Teresa, que voltavam de Reims, onde acabavam de ser sagrado reis de França. Foi nesse trono que o jovem casal recebeu as aclamações da multidão e a homenagem de todos os corpos constituídos da capital. Em direção ao leste, a cidade não ia então além da abadia de Santo Antonio, de maneira que a Praça do Trono parecia mais um campo. Em 1787 ergueu-se ai i a Barreira do Trono, constituída de dois pavi lhões quadrados de 17 m ele alt11ra, e duas colunas clássicas.

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Em J789 eclodiu a Revolução Francesa. Quando de sua fase mais angrenta - o Terror - os revolucionários mudaram o nome para Praça do Trono Derrubado. O sangue corr.ia na capita l. Fartos do lúgubre desfile de carroças com cadáveres ensanguentados rumo ao cemitério da Madalena e de Er-

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Devido à grande dignidade do casamento, convém que a união do casal se revista ele um cerimonial adequado. Ao longo cios tempos esse cerimonial foi se definindo no Ocidente. Sem ser obrigatório, comporta, entre outros elementos, o característico vestido ele noiva, o traje de gala cio noivo, a marcha nupcial, as flores, os padrinhos dos noivos, os con- · viciados e o banquete, tudo adaptado às posses dos nubentes. É, pois, condenável que a cerimônia do casamento se desenrole à maneira de um ato palhacesco, como ocorreu em 12 ele março na igreja-matriz de São Pedro, no município de Garibaldi (RS), quando os noivos se apresentaram fantasiados ele Shrek e Fiona (ilustração ao lado) .

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Shrek e Fiona são personagens ele uma série de livro s e filmes que caricaturizam os belos contos de fada ele outrora. O nome shrek se origina ela língua iídiche, atualmente falada por diversas comunidades judaicas, e que significa "pânico" ou "terror". Segundo esse conto, Shrek é um ogro com cerca de dois metros de altura, ele cor vereie e de aspecto assustador, que vive num pântano no meio de uma floresta encantada. E le acaba se apaixonando pela princesa Fiona, a qual se transforma numa ogra e ambos se casam. O casamento realizado em Garibalcli foi a utorizado e abençoado pelo frei Antoninho Pasqualon. Os convidados foram incentivados a se fantasiarem com base nos personagens desse horrendo conto, e assim muitos apareceram na igreja. Sentindo-se agredidos em seu bom senso e em sua religiosidade, católicos

Poças de sangue na história de Paris

A Praça do Trono levava esse nome porque em 26 de agosto de 1660 ali foi erigido um trono para receber Luís XIV e Maria Teresa, que voltavam de Reims, onde acabavam de ser sagrados reis de França

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rancis, os habi ta ntes do bairro de Saint-Honoré protestaram. Os revolucionários escolheram então a Praça da Bastilha como palco ela sua infe rnal máquina de matar: a guilhotina. M as os habitantes do bairro de Santo Antonio também não suportaram mais cio que três dias o macabro espetáculo. A guilhotina fo i instalada então, de l 4 a 27 de julho ele 1794, no lado sul da Praça cio Trono Derrubado, voltada para a Rue du Faubourg Saint-Antoine. E começou a matança: e m seis semanas, 1.306 pessoas ali fora m decapitadas, contra 1. 120 e m cerca de l3 meses na praça da Revolução, hoje cini came nte cha mada P raça ela Concórdi a. O carrasco ofic ial, Sanson, chegou a executar até 55 conde nados no mes mo di a. Imag ine-se a sang ue ira ! Inicialmente faz ia-se um bu raco sob a guilhotina para receber tanto sangue e depois se tapava com uma pranc ha. M as o mau cheiro q ue exalava era tal q ue fo i necessário fec há-lo com uma lâmina ele chumbo.

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Maria Antonieta é guilhotinada no local que hole é cinicamente chamado Praça da Concórdia

E- mail para o aut or: cato li c ismo @tcrra.com .br

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O no me da Place du Trône fo i restabelec ido e m 1805. O no me atual de Place de la Nation fo i colocado e m 1880. O mo nume nto ao Triunfo da República, do communard D alou (1899), sela a ig no míni a, mas não sile nc ia o cl a mo r cio sangue inocente ali derramado.

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Outro caso é o ela fa mosa irmã cio Re i Luís XVI, conhec ida como Madarne Elisabeth. M orreu com ape nas 30 anos e não q uis se casar para dar apoio ao irmão. Seu c rime fo i o de ser muito religiosa e irm ã cio rei. M o rre u como uma santa. M as os detalhes podem ficar para outro a rti go . •

Queda da Bastilha

E ntre as vítimas da Re volução Francesa ali decapitadas, algumas deram exempl os sublimes. C ito duas delas . E m primeiro lugar as 16 reli giosas do Carmelo ele Compi egne. Elas partira m da prisão ela Concie rgerie, si tuada bem no centro de Paris, e m carroças que as condu zia m ao suplício, canta ndo os salmos pe nitenciais até o local ela guilhotina. A canalha re vo lucio nária, normalmente vocifera nte à passagem cios conde nados, calou-se. No patíbulo, a primeira elas ca rme-

litas cha mada para a g uilhotina - era a mai s jove m - ajoelhou-se diante de sua superiora e pediu licença para mo rrer. .. Ass im fi zeram sucessiva me nte as demais, canta ndo o hino Veni Creator Spiritus, até que a última voz se extinguiu sob o golpe impl acável da lâmina assassina. A cena tocante in spirou urna peça de Georges Berna nos - Diálogo das Ca rmelitas - , adaptada també m ao c ine ma. Qual o c rim e das carmelitas? Ser reli giosas. Crer em Deus.

A Bastilha pouco antes de ser destruída. Reprodução de uma gravura do séc. XVIII que se encontra no Museu de Montparnasse.

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dotes que viviam santamente, sem ligar-se por votos. Dev ido às excelentes qualidades do adolescente, foi ele encarregado de mini strar catecismo para as crianças e cuidar da boa ordem da igreja. Impressionado por sua piedade, o arcebispo de Tarento conferiu-lhe a ton sura eclesiástica na idade ele 16 anos. Seus pais enviaram-no então a essa cidade para estudar filosofi a e teologia. Francisco foi depois para Nápoles estudar direito canônico e civil no Gesu Vecchio, dos jesuítas, que figurava então entre as melhores universidades da Europa.

Recebe11do a Comw1llão do próprio Nosso Se11llor

São Francisco de Girolamo taumaturgo e pregador Evangelizou a cidade e o reino de Nápo1es. Com suas pregações e zelo apostólico obteve inúmeras conversões ao catolicismo. r!

A Grottaglia, cidade onde nasceu o santo. Na foto, o Castelo Episcopal.

PuN10 MARIA SouMEO

Companhia de Jesus celebra três santos no dia 2 de julho. O primeiro deles é São Bernardino Rea lino, de quem o Martirológio Romano diz: "Em Lecce, na Apúlia, São Bernardino Reatino, confesso r que depois de exercer brilhantemente a magistratura entrou na Companhia de Jesus, foi ordenado sacerdote e se distinguiu pela caridade e milagres ". O segundo é São João Francisco de Régis, cuja vida já apareceu nes ta coluna (Catolicismo julho/ 2000). O terceiro é São Francisco de

Girolamo, anto pouco conhecido no Brasil, que apresentaremos hoje. Francisco de Girolamo nasceu na pequena cidade de Grottaglia, perto de Tarento, na Itália, no dia 17 de setembro de 1642. Seus pai s, Joã Leonardo de Girolamo e Gentilesca ravina, além de terem uma po ição honorífica na região, destacava m-se sobretudo pela virtude. Tiveram 11 fi lhos, dos quais Francisco foi pri meiro. A todos proporcionaram cx c lente educação reli giosa. Como o filh o mai vclh mostrava muita inclinação para a virtu de, quando completou 11 anos os p:ii s o confi aram a uma socieda lc de sa cr-

Francisco de Girolamo foi ordenado sacerdote em 18 de março de 1666. Depois de passar quatro anos no cargo de prefeito de disciplina no co légio jesuíta de Nápol es, aos 28 a nos de id ade pediu admi ssão na Companhia de Jesus. No novici ado, apesar de ser o mais humilde, fervoroso, mortificado e obediente, os superiores, para o provar, proibiram-no de celebrar a santa missa mais do que três vezes por semana. Conta-se então que nos ou tros dias o próprio Nosso Senhor aparecia-lhe para lhe dar a santa Comunhão. Francisco fo i e ntão enviado às mi ssões popul ares acompanhando um

famoso pregador da época, Pe. Agne llo Bruno. Por três anos evangelizaram a região de Otranto convertendo pecadores e fo rtificando os justos, de tal maneira que se dizia na região: "Os Padres Bruno e Giro/amo parecem não ser simples mortais, mas anjos enviados expressamente para salvar as almas". Nomearam-no depois pregador da igreja de Gesu-Nuovo, a casa professa dos jesuítas em Nápoles. Francisco começou por incrementar o entusiasmo religioso de uma congregação de trabalhadores, cuja finalidade era secundar o trabalho missionário dos padres jesuítas. Queria que os congregados, me mo os mai s humildes, levassem muito a sério a Religião: que frequentassem os sacramentos aos domingos e na festas de Nossa Senhora; que todos os di as eles fizessem oração mental, sem a qual não é possível qualquer progresso verdadeiro na vida espirit11al; que fizessem também mortificações e penitência para dominar o próprio eu, e que fosse m devotos da Via Sacra e de Nossa Senhora. Aos poucos esses trabalhadores se tornaram excelentes cooperadores, fazendo muito apostolado e trazendo uma multidão de pecadores aos pés de São Francisco de Girnlamo. Como viviam apenas do parco salário, o santo instituiu entre eles uma caixa de auxíli o que lhes permiti sse

contar co m módi ca so ma para suas despesas em caso de doença. E, em caso de morte, terem um digno funeral, com o in signe privilégio de poderem ser enterrados no ce mitério da própria ig reja de Gesu-Nuovo. São Francisco es tabeleceu ta mbém, nessa igreja, uma comunhão geral no terceiro domingo de cada mês. Seus congregados dedicavam-se a di fundir essa devoção, e o fazia m com tal êx ito que era comum haver mais de 15 mil homens comungando aos domingos.

"Suas Í11dias e Japão serão o reino ele Nápoles" Mas o zelo apostó lico de São Francisco não se limitava a isso. Queria ir para as Índias converter infié is como seu patrono São Fra ncisco Xavier. Mas seus su,,reriores responderam-lhe que "suas lnclias e .lapão" seriam a cidade e o reino de Nápoles. Durante 40 anos ele evange li zará essa região de maneira notável. Saía às ruas da cidade pregando sobre a necessidade da conversão e da penitência, do inesperado da morte e da necessidade de se estar preparado para e la, do terrível juízo de Deus, dos tormentos eternos do in ferno. Escolhia para seus sermões as ruas onde tivesse ocorrido algum escândalo. E m alguns dias da sema na visitava os arredores de Nápoles, às vezes até 50 povoados num só di a. Pregava nas ru as, praças e igrejas. E o res ultado e ra surpreendente. Documentos da época descrevem São Francisco de Oi rolamo como sendo de estatura alta, sobrancelhas amplas, gra ndes olh os escuros, nari z aquilino, bochechas secas, pálido, e com um olhar que refletia sua austeri dade e vida ascética. Tudo isso produzia maravilhosa impressão. O povo se acotovelava para aprox imar-se dele, vê-lo, be ij ar suas mãos e tocar sua veste. Seus sermões curtos, mas enérgicos e eloquentes, tocavam as consciênci as culpadas de seus ouvintes, opera ndo co nv e rsõe mil agrosas. Quando exortava os pecadores ao arrependimento, adq uiri a ares de profeta do Antigo Testamento e sua voz tornava-se mais potente e terrível. Por .

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i sso o povo di zia: "Ele é um cordeiro quando f ala, mas é um leão

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quando prega".

menos sombri o. O santo teve a consolação de ver 22 dessas mulheres abraçarem a vida religiosa.

Pl'egações, arl'ependimentos e COJJ11e1·sões

"Catal'ina, dize-me, onde estás?"

Seu método ordin ário era o de mostrar primeiro a enormidade do pecado e o terror dos julgamentos divinos, de maneira a suscitar nos ouvintes um santo temor e indi gnação por causa de seus pecados. Obtid o i sso, el e mudava totalmente o tom, e fal ava da doçura e ela bondade de N osso Senhor Jesus Cristo, de manei ra a fa zer suceder a esperança ao desespero e conquistar ass im os corações mais endurecidos. Era o momento que escolhi a para diri gir um apelo à conversão, tão meigo e per suasivo que l evava a muitos a ca ir de j oelhos e pedir perdão por seus desmandos. N o fim ac resce ntav a al g um exemplo marcante dos casti gos ou das graças de D eus para dei xa r nas alm as impressão mai s profunda. Di ante do seu auditóri o volúv el e impress ionável , F ranc i sco utili zava t ud o qu anto pud esse co l oca r aquelas imaginações a servi ço de suas própri as alm as. A ss im, um a vez trazi a uma caveira ao seu púlpito improvi sado para fa lar da morte. Outras, quando nada parecia co mover seus ouvintes, para va o sermão, descobri a as costas e fl agelava-se até correr sangue. O efei to era irresi stível. Pecadores começa vam a confessar seus crim es em voz alta, mulheres de má vida ajoelhavam-se diante do Crucifi xo que ele trazi a e cortavam seus cabelos em sinal de arrependimento. São Francisco de Girol amo fundou doi s refú gios para essas pecadoras arrependidas e o A silo do Espírito Santo, que logo abrigou J90 filh os dessas infe li zes, para dar-lhes oportunid ade de enco ntrar um futuro

Mas não era sempre ass.im. Um di a em que prega va numa praça perto de uma casa de má fama, a mulher que nela habitava começou

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vezes repetiu a mes ma pergunta. Quando o fez por terceira vez com voz mais autoritária, os olhos cio cadáver se abr iram, os lábios tremeram e, à vista de todo mundo, el a respondeu com uma voz qu e pareci a vir do outro mundo: "No inf erno! No ü1ferno! ". O susto que pro vocou foi tão grande, que todos fu gi ram daquele lugar maldito. E nin guém teve co rage m de voltar para casa sem antes ter fe ito uma boa confissão. A caridade de São Franci sco de Girolamo l evava-o ta mbém aos co ndenados às galés, tran sform ando aquele lugar de revolta e dor em refú gio de paz e res ignação. Ali , com sua insuperável carid ade e zelo pelas almas, conseguiu a conversão de vári os escravos mouros para a verdadeira fé. Para que seus bati smos influ enci assem a fundo os corações, ce lebra va-os o mais pomposamente possível. O sa nto queri a trabalh ar até o fim de suas forças. Dizia: "Enquanto eu conservar

um alento de vida irei, ainda que arrastado, pelas ruas de Nápoles. Se cair debaixo da carga, darei graças a Deus. Um animal de ca rga deve morrer debaixo de seu.fw do ". Máscara mortuória de São Francisco Girolamo

a fazer todos os ruíd os possívei para atrapalhar a pregação. O santo continu ou até o fim. N outro di a, pregando no mesmo lugar e vendo a casa fechada, perguntou o que tinha acontec ido. Res ponderam - lh e qu e a mulh er, Catarin a, tinha morrido subitamente. " Mo rta!" - ex clamou São Franci sco Girolarno surpreso. " Vamos vê- la". E, aco mpanhado do povo, subiu a escada até a sala onde estava o cadáver da infe li z. Fez-se um silêncio sepulcral , que o santo quebrou perguntando: "Catarina,

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dize- me, onde estás?". Por duas

E isso aconteceu quando ele entregou sua bela ai ma a Deus no di a 11 de maio de 1716, com 73 anos de idade.* • E-mail para o autor: catolicismo@ Jerra com br

* Obras consultadas: - Francis Van Ortroy, Sr. Francisofl errmimo, in The Ca tholi c Encyc lopedi a, Online Edi tion Co r yri ght © 2003 by Kev in Knight , www .NewAdvent.org. - Les Petits Boll andi stes, Saint François de Girolam.o , in Vies des Saints, Bloucl et Barra i, Li braires- Écl iteurs, Pari s, 1882, torno V, pp. 470 e ss. - Pe . .J osé Leite, S..1 ., São Fra ncisco de Jerônimo, in Sa ntos de Cada Di a, Edi tori al A.O., Braga, 1987 , tomo li , pp. 367 e ss.

25 anos da maior catástrofe nuclear S ímbolo do regime que vigorou na antiga URSS por mais de 70 anos. A usina explodiu, mas seus efeitos radioativos - à maneira do "vírus" comunista - ainda persiste1n.

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arrasador desastre atômico ocorreu na madrugada de 26 de abril de 1986, a poucos quilômetros de Pripyat, na Ucrânia, então dominada pela União Soviética. O reator central nº 4 na Usina Nuclear de Chernobyl - originalmente chamada de Vladimir Lênin - explodiu , liberando uma imensa nuvem radioativa por mais de 200.000 km 2. Grandes áreas da Ucrânia, da Bielorrússia e da Rússia foram contaminadas. Apenas cinco trabalhadores da empresa termonuclear sobreviveram. Pripyat é hoje uma cidade fantasma. Apesar de a radiação ter sido · 400 vezes maior que a da bomba atômica de Hiroshima, as autoridades comunistas mantiveram tudo em segredo, alertando a população somente dois dias depois ... Tarde demais. O governo soviético procurou esconder o desastre também aos países vizinhos, não os prevenindo sobre o risco de contaminação, até que altos níveis de radiação foram detectados em algumas nações europeias ... A ONU prevê que até nove mil mortes causadas por câncer estejam diretamente ligadas a Chernobyl, enquanto diversas organizações estimam que esse número não reflete a realidade, podendo aproximar-se de 100 mil. Outras enfermidades decorrentes da contaminação radioativa poderão elevá-lo a mais de 200 mil! Segundo especialistas , serão necessárias décadas para que a zona de Chernobyl setorne imune a partículas radioativas .

Para lembrar os 25 anos do pior desastre nuclear do mundo e dar a conhecer a atual situação na região, Catolicismo entrevistou o repórter cinematográfico Marcos Magossi , 34 anos, que recentemente visitou aquela zona perigosa e pôde constatar os efeitos da apocalíptica explosão nuclear da usina soviética.

S,: Mal'co.'i Ma~ossi: "A cidade está deserta , apenas permanecem as conStl'UÇÕes em geral. Diante das casas vêem-se objetos, nas ruas vêem-se automó1reis, mas tudo abandonaclo"

Catolicismo - Como o senhor conseguiu autorização para fazer uma reportagem em Chernobyl? Sr. Marcos Magossi - Há um órgão destinado a esse tipo ele co ntato nas proximidades ela usina ele Chernobyl, ao qual elevem se diri gir os interessados em fazer al gum a reportagem. A autori zação vem acompanhada ele uma séri e ele norm as que os interessados devem seguir. Catolicismo - Foi-lhe permitido permanecer à vontade no local? Sr. Marcos Magossi - Não. H ouve restrições das autorid ades, como não se aproxim ar muito ele certos locais mais peri gosos. Catolicismo - Quais foram as suas primeiras impressões? Sr. Marcos Mago.,•,çi - Depois que atravessei a cidade de Pripyat, cheguei a um a di stância suficiente para observa r bem o ocorrido. A cidade está despovoada, deserta, apenas perm anecem os prédios e as construções em geral. Di ante elas casas, nas garagens ou nas ru as vêem-se automóveis, mas tudo

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----------------------------------------------..JI abandonado. Nos jardins das residênc ias - muitas com as portas abertas - podem-se ver brinquedos de cri anças largados pe lo chão, utensílios domésticos e de traba lho, empoeirados . Certamente muitos dos pertences cios morado res fo ram saqu eados . E ntre i numa antiga escola onde ainda se podem ver os restos do dia em que a cidade fo i evacuada. Na cozinha, por exemplo, há pane las so bre o fogão, pratos colocados sobre as mesas. Nas sa las ele aula, sobre as carte iras, vêemse lápi s, borrac ha, cadern os, e nfim , material escolar. Tudo deixado por lá quando as cri anças tiveram que sair às pressas . Abandono tota l. Catolicismo - Como as autoridades russas reagiram diante da tragédia? Sr. Marcos Magossi - Após a ex plosão, as autoridades russas demoraram muito para proceder à evac uação, que deveria ter sido imediata. Mas quando o fi zeram, ord enaram a medida subitamente. A população recebeu aviso para sair de imedi ato da cidade, levando apenas a roupa cio corpo e alguns pertences de mão, documentos; pequenas coisas que pudessem carregar. Pode-se imaginar esse procedimento imposto a aproximadamente 100 mil pessoas ! Catolicismo - O senhor confirma a informação segundo a qual o governo comunista russo procurou ocultar o ocorrido? Sr. Marcos Magossi - É prec iso esclarecer que a evac uação da c idade fo i executada somente após a rad iação ter sido observada em outros países europeus . O gove rn o soviéti co proc urou esconder ao máx imo a tragédi a, alegando que não desejava causar pânico ... Por isso, postergo u o alarme. E não querendo reconhecer o erro, comunicou que ocorrera um incêndio, e não a ex plosão do reator - o qual, para redu zir custos, havi a sido construído apenas com uma contenção parcial. Catolicismo - Parece também que já se percebia a presença de irradiação ... Sr. Ma rcos Magossi - Sim , sabi a-se ela irradiação, mas não se fa lava desse gravíssimo peri go. Não se fa lava tampouco que a ex plosão fo ra causada por um defeito do reator - muito instável - nem por fa lha dos operadores, que não possuíam capacitação técnica nem ex peri ência para o trabalho. Tais operadores eram provenientes de usinas termoelétricas a carvão

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e era na sua maiori a um pessoal que não tinha conhecimento es pecializado em energia nuclear.

Bonecas e material de uma creche, abandonados às pressas, após o desastre radioativo

"É ten'iflcante obsel'val' aquele pano,·ama, que reflete a tragédia, mesmo depois de tanto tempo. A tel'ra continua muito contaminada. Um panorama tl'iste".

Catolicismo - O senhor disse que o governo soviético só se moveu após o alarme dos europeus. Como foi isso? Sr. Ma rcos Magossi - Qu a ndo a ocorrência fo i percebida na Europa, as autoridades não puderam mais esconder a catás trofe. Então fora m obrigadas a ordenar a evac uação dos c idadãos, ti ra r as crianças dos colégios e levá- las como estavam para ônibus e caminhões cio exérc ito, transportandoas depois para outra reg ião di stante dali . O mesmo ocorreu com os demais habitantes. Os que possuíam automóveis à disposição retiraram-se em eus ve ículos. Algo de muito grave foi que em vez de promover a distribui ção de pílulas de iodo imediatamente após a ex plosão, o go verno o fez somente um mês de pois. Aqueles que se recusaram a sair, ou se esconderam para não serem retirados repentinamente, morreram algum tempo depois. De seres vivos restaram apenas animais. Hoj e Pripyat é uma cidade fantas ma, seme lhante a um cemitéri o. Registrei muitas cenas, mas elas ainda estão retidas na Ucrânia. Em alguns locais era proibido film ar ou fotogra far. Catolicismo - Então a censura do governo ucraniano não lhe permitiu fotografar o que desejasse da antiga usina nuclear? Sr. Marcos Magossi - Fotografei quase tudo o que eu desejava, mas não pude trazer todo o materi al fotografado. Naqu e la região, a censura continua como na época da União Sov iética. Exi stem lá algumas guaritas ele vigilância fe itas com aço e vidro blindado, revestidas de chumbo. Os guard a usam roupas apropriadas, como ta mbém eu tive que vesti-las. As pessoas só podem permanecer uns 15 minutos, revezando-se com muita frequência para evitar a contaminação. Catolicismo - A explosão revelou o grau de desleixo e incompetência característico do antigo regime vigente na URSS? Sr. Marcos Magos.si - Com toda certeza, uma vez que as autoridades mandaram os fun cionári os ela usina efetuar um teste no reator, mas sem a segurança necessária. Ora, em se tratando de uma usina nuclear, nada poderi a fa lhar. Começaram a faze r o teste e perderam o contro le da situação no sistema de refri -

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torno da usina, não nasce planta alguma; em outros está começando a surgir uma vegetação raquítica, como grama e verdura. Contudo, não é comestível devido à radiação, que permanecerá ainda por dezenas de anos antes de ser eliminada.

ge ração. Daí resultou o derretimento nuclear. A ex plosão fo i vi olentíssima, a cobertura de proteção não suportou , mesmo pesando mai s de mil toneladas. Catolicismo - O que mais o impressionou naquela região devastada? Sr. Marcos Magossi - Sinceramente, fo i ver as árvores retorcidas, secas, e também a vegetação em geral, tl 1do sem vida, ou com uma res istência muito tênue. É terrificante observar aquele panorama, que refl ete bem a tragédia, mesmo depois de tanto tempo. A terra continua muito contaminada. Por vezes, viam-se minhocas esbranquiçadas na terra, mas muito di ferentes das normais. Um panorama muito triste. Também me impressiono u bastante minha entrada numa igrej a católica, próxima a Chernobyl. E la estava fec hada, sendo proibida a entrada. Mas fui à parte de trás, onde se localizava a sacristi a, e consegui arrombar uma porta. Entrei e fui até a nave central d a igrej a. Tudo abandonado e empoeirado. De u-me a impressão de que os que ali se encontravam, por ocas ião da ordem de evacuação, saíram correndo, de ixando para trás al gun's obj etos. Os bancos estavam todos cobertos de poeira. Aproximei-me do sacrári o para rezar e fiqu ei pas mo: não hav ia poei ra nele, ne m so bre o altar! Passe i a mão sobre ele e não encontrei sujeira. Minhas lu vas protetoras continuaram limpas, enquanto a reg ião de meus j oe lhos - eu me ajoelhara para rezar uma Ave-Maria estava suja de poeira. Queri a fi car mais te mpo ali para observ ar melhor, mas os militares c hegara m furi osos e mandara m-me sair. Catolicismo - O que se comenta sobre a ação radioatíva decorrente da explosão e sobre o número de vítimas? As autoridades soviéticas fornecem informações seguras? Sr. Marcos Magossi - A radi oatividade espalhada pela explosão fo i mui to gra nde, intensificando-se pelo incêndio que ajudou a espalhar o material radi oativo para regiões vizinhas. Assim, pode-se crer que o total de vítimas deve ser maior cio que o revelado. Muitos calcul am mais de 200 mil pessoas, entre vítimas diretas e indiretas. A grande maiori a fo i atingida por câncer, outras por graves problemas de tireóide. Muitos acabaram morrendo devido a outros males, todos e les decorrentes ela radi oatividade. Catolicismo - Começa a nascer algum vegetal naquela região? Sr. Marcos Magossi - Em alguns lugares, como em

Assim ficou a usina nuclear de Chernobyl explodida há 25 anos

"A tragédia aconteceu principalme11te por culpa cio regime comunista que dominava a Ucrfmia. 1'al regime não levava em consideração a 1rida dos homens"

Catolicismo - Sua saúde foi atingida pela radioatividade ainda existente na zona de Chernobyl? Sr. Marcos Magossi - Enquanto esti ve lá, não senti nada. Retorn ando ao Bras il , numa área isolada do av ião, eu e alguns colegas que me aco mpanharam na viagem começamos a sentir um calor tremendo e muita sede. C hegando a São Paulo, fui acometido de enjôos e malestares. Subm eti - me a exa mes , te ndo sido diagnosti cada uma virose e fraqueza do orga nismo, certamente em razão da expos ição e m Chern obyl, apesar da ro upage m de pro teção - certame nte, não de boa qualidade, pois ainda do período sovi ético. Estou faze ndo um tratamento es pecia lizado e, se Deus quiser, logo es tare i recuperado. Mas sei que, devido à ex posição radi oativa, terei dois anos a menos de vida. Se minha perspectiva de vida fosse, por exemplo, de 75 anos, viveri a até os 73. Mas e u já estava ciente disso ao rea li zar a viagem. Catolicismo - O senhor gostaria de registrar alguma observação especial a essa visão de conjunto sobre a tragédia ocorrida em Chernobyl? Sr. Marcos Magossi - Saí dessa visita a Chernobyl com a certeza de que a explosão foi causada pelos erros cometidos pelos operadores da usina e pela falha do reator, como já declarei. Mas a tragédia aconteceu principalmente por culpa do regime comu1lista que dominava a Ucrânia. Tal regime não levava em consideração a vida dos ho mens, não os considerava como seres humanos, sendo tratados sem amor, desprezados como entes sem valor, como peças de máquina construída apenas para impulsionar o sistema marxista. Por isso, o governo soviético não se preocupou com a existência cios fun cionári os da usina. E ta mpouco se preocupou co m a v.ida daque les que moravam nas proximidades, que só foram retirados muito tempo após seus organismos terem sido seriamente contaminados pela radi ação. E m res umo, o que observei prova que o regime comuni sta é incompetente e desumano, não servindo para nada. Mas também fi quei muito impress ionado pela ação de Deus para com os homens, ao ver o sacrári o e o altar da igrej a em Chernobyl imunes a toda sujeira. •

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CAPA N uma época como a nossa, e1n que campeiam a impiedade, a imoralidade e a irreligião, multiplicam-se pari passu as catástrofes naturais, com elevado número de vítimas. Ta] situação deveria nos levar a recorrer com mais frequência e confiança à Providência Divina, que a tudo preside, suplicando-Lhe não olhar para os nossos pecados, mas para a sua insondável misericórdia; e que nos perdoe, ainda que tenhamos de sofrer por causa de nossas faltas. li

PUN IO M ARIA SüUMEO

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avi , o rei-profeta de Israel, ass im se dirige a Deus: "A Vós, Senha,; a grandeza, o poder, a honra, a maj estade e a glória, porque tudo o que está no céu e na terra vos pertence. A Vós, Senha,; a realeza, porque sois soberanamente elevado acima de todas as coisas. É de Vós que vêm a riqueza e a glória, sois Vós o Senhor de todas as coisas; é em vossa mão que residem a força e o poder. E é vossa mão que tem o poder de dar a todas as coisas grandeza e solidez" (l Cr 29, lJ -12). E m outras palavras, é a mão de Deus que criou, mantém, rege e governa com sua onipotência div ina tudo o que está no Céu, na Terra, e nos infe rnos. É o que diz São Paul o aos pagãos de Li stra. Fa lando dessa mesma Providência, afi rma ele que ela "nunca deixou de da r testem.unho de si mesma, por seus benefícios: dando-vos do céu as chuvas e os tempos fé rteis, concedendo abundante alimento e enchendo os vossos corações de aleg ria" (Ats. 14, 17). E Nosso Senhor Jes us Cristo afirma que "até nossos cabelos estão contados" (Mt 10, 30; Lc 12, 7), e "que nenhwn deles se perderá" (Lc 2 1, 18) sem o de ejo ou a permi ssão dessa mes ma Prov idência.

l'rovidêl1cia 110 sentido comum e 110 r eligioso Ass im sendo, o que vem a ser propri amente a providência de Deus? No sentido comum, a palav ra providência decorre do vocáb ulo latino providenlia, o qual deri va do verbo providere, que significa ver de ante mão, divisa r antes, e

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Para os antigos persas, Ormuz era o autor de tudo quanto de bom existia para o homem: luz, fogo, água, campos, animais domésticos.

ta mbé m subrnini tra r auxílio , prover. Diz Santo Tomás que a providência, em geral - ou previdência - é urna função da virtude da prudência, que di z respeito ao futuro , à o btenção de um fim , e ordena e prescreve, corno é necessário, os meios para obtê- la (Su m.a Teológica Ila-Ilae, q. 48, a. 1). A providência pode ser definida também como a razão prática adapta ndo o meios a um fi m. Nesse sentido, um pai de fa mília deve prever e prover às necessidades dos seus. Um chefe de governo deve faze r o mesmo em relação a seus governados. Se isto é ass im nas coisas humanas, elevandonos para as di vinas, pode mos afirmar, num sentido lato, que a providência é a perfeição divina que ordena todas as coisas para a glóri a de Deu s e o bem do universo.

A idéia ele uma proviclência clivina nas rnligiões antigas Essa idéia de uma providência, acima do poder do homem, encontra-se em todas as religiões antigas, como restos da revelação primitiva, sofrendo maiores ou menores deformações segundo os diver-

CATOLICISMO

sos povos e cul n1ras. Pois o homem sempre teve necessidade de adorar um ser superi or, que estivesse acima da natureza humana. E, se O adora, é porque crê em seu poder e em sua ciê ncia infi nita. E pelo fato de crer que ninguém pode subtrai r-se ao seu olhar, os seguidores de tais religiões consideram que os deuses não são indife rentes às coisas humanas. Todos os rituais das reli giões pagãs co mo preces, adivinhações, bênçãos e maldições, orác ulo e ritos sagrados, testemunham a crença em um poder dec isóri o divino ou com caráter qu ase divino. E tais fe nômenos estão presentes em cada raça ou tribo, mesmo selvagem ou degradada. Desse modo, todos os povos pagãos tinham uma idéia mais ou menos defini da da Providência divina. Na Babilôni a, os deuses dos ass írios eram considerados os donos do uni verso e o regiam confo rme leis que se ditavam em uma assembléia anual. Os próprios elementos atmosféri cos es ta va m so b a ação dos deuses e eram por e les diri gidos, como faz ia Zeus, e ntre os g regos, desde o Olimpo he lênico.

Como os deuses eram considerados protetores dos homens, sua ação manifes tava-se inclu ive na vida di ária de seus protegidos. Homero, na antiga Gréc ia, acentuou este ofício dos deu ses co mo benfe itores da humanidade. E os semi tas concebiam seu de us como pai, ami go e protetor. Até para os yamanes, da Terra do Fogo, "tudo vem do alto", porque criam que sua divindade era boa. Para os antigos persas, Ormuz era o autor de tudo quanto de bom ex isti a para o homem: luz, fogo, água, ca mpos, animais domésticos . A íntima conexão entre os deuses e as atividades humanas era mais acentuada na religião dos romanos, que cul tuavam um deus especial para zelar por cada detalhe de sua vida diária, seus trabalhos no campo e até para os negócios do Estado. Eles tinham, por isso, deuses protetores do lar, como os Lares e os Penates. Quando apareceu a agricultu ra, os homens passaram a rogar aos deuses que lhes envi assem a chuva, o sol e a boa colheita. Também era co mum a todos os povos antigos a convi cção de que a divin-

dade atuava na Hi stória e se revelava no aco ntec imentos. Entretanto, estes vestígios da religião natural primiti va estavam infeli zme nte mescl ados com de turpações di abó li cas como o po li teísmo, práti cas antin aturais e magia. Daí a já menc ionada advertência do Apóstolo São Paul o.

A Proviclência 110 Antigo 1'estamento Se bem que o te rmo providência seja aplicado a Deus somente três vezes no Anti go Testame nto (Ec les iastes 5, 5; Sabedori a 14, 3 e Judite 9, 5), e urn a vez à Sabedori a (Sabedori a 6, 17), a doutri na gera l da Pro vidênc ia é e nsin ada de modo consistente tanto através do Antigo quanto do Novo Testamento. A B íbli a tem o obj eti vo de mostrar esse governo do mundo, e es pec ialmente da hum anidade, pe la Prov idênc ia di vina. Esse é, por exemplo, o papel dos livros históri cos do Antigo e do No vo Te. lamento ao narra r-nos os sucess ivos emp ree ndimentos di vino. co m re lação aos homens. Do mesmo modo, os liv ros proféti cos anunc ia m com antec ipação

esses empreendime ntos. E os li vros sapi enc iai s ou doutrinári os constituem sua apo logia. Quer Deus entretanto a cooperação do homem, o qual deve saber que depende inteiramente do Criador: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem. Se o Senhor não guardar a cidade, debalde vigiam as sentinelas", diz o Salmista (SI 126, l ).Porisso mesmoé Deus que toma a iniciativa de instruir seus filhos: "Meu filho, ouve-me, adquire uma instrução sadia, tom a o teu coração atento às minhas palavras. Dar-te-ei um ensino muito exato, vou tentar ex.plicar-te o que é a sabedoria; tom a o teu coração atento às minhas palavras, pois vou descrever-te com exatidão as m.aravilhas que Deus, desde o início, fez brilhar nas suas obras, e vou ex.por, com. Ioda a veracidade, o conhecimento de Deus. Por decreto de Deus suas obras existem desde o começo; desde a criação distinguiu-as em partes. Colocou as principais em suas épocas, adornou-as para sempre; elas não sentiram necessidade nem f adiga, e nunca interromperam seu trabalho" (Eco. 16, 24 e ss.). Quer di zer, Deus fe z brilha r suas obras para que o homem O conhecesse por elas: "Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos" (S I 18, 20). E o so frido Jó ac resce nta: "Entre todos esses seres, quem. não sabe que a mão de Deus fe z ludo isso, Ele que tem em mãos a alma de tudo o que vive, e o sopro de vida de todos os humanos?" (] 2, 9- 1O). Pode-se a isso ac rescentar o que di z o Li vro da Sabedoria (J3 , 1): "São insensatos por natureza todos os que desconheceram Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem. reconhecer o Artisla, considerando suas obras". Dos vários li vros do Antigo Testamento podemos extrai r as seguintes afirmações: Deus ama os homen (Sb 11 , 25), deseja a salvação de todos (Is 45, 22), e sua Prov idência estende-se a todas as nações (Dt 2, 19). Ele não deseja a morte do pecador, mas que se arrependa (Ez 18, 20), porque o Criador, acima de todas a, coisas, é um Deus mi sericordi oso, e um Deus de muita compaixão (Ex 34, 6). O que não ex clui o fato de que Ele premia os homens de acordo co m sua JULHO2011

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o bras (Jó 34, 10). De sua cólera não se pode escapar (Jó 9, 13), e ning ué m pode prevalecer contra E le (S b J L, 22). Se o mau é poupado por um te mpo (Jr l2, J), receberá finalmente sua punição se não se a rrepende r (Jr 12, 13), enquanto que o bom , ainda que sofra por um momento, será confortado por Deus (S I 90, 15). Deus usa o sofrime nto como instrume nto pelo qual treina os ho me ns como um pai tre ina seus filhos (Dt 8, J-6); de modo que verdadeiramente o mundo luta pe lo justo (Sb 16: 17). 1

"Dar-,10s-ei

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COl'ação

e um espíl'ito novo"

O Antigo Testamento marca bem , como vimos, se mpre no plano sobrenatural , as sobera nas ini c iativ as da ação divina e m relação à vontade humana, que se reve la, no e ntanto, a mais autônoma das ca usas c ri adas neste mundo . De us facilita de todos os modos, qu ase que constrange o home m a seguir suas vias, mas não lhe tira o livre arbítrio. Assim , o Altíssimo diz pela boca de Ezeq ui e l: "Dar-vos-e i um co ração novo, e em vós porei um espírito novo;

tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Dentro de vós meterei meu espírito, fa zendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os meus preceilos" (36, 26-27). Po is, co mo ac rescenta o autor dos Provérbio : " O coração do rei é uma água fluente nas mãos do Senhor: ele o inclina para qualquer parte que quiser" (2 1, 1). Era também desse modo que a Providênc ia divina diri g ia o povo e leito do Antigo Testamento: "Israel, porém, foi

visivelmente o quinhão do próprio Deus. Todas as suas obras lhe são claras com.o o sol, e seus olhos observam sem cessar o seu procede,: As leis de Deus não são eclipsadas pela iniquidade deles, e todos os pecados que cometem estão diante do Senhor" (Eclo 17, 13 ss.). Sendo isso assim , o ho me m sente necess idade de invocar o a uxílio do Altíssimo para be m agir. Foi o que fez Judite quando deterrninou matar o ímpio Ho lofernes: "Lembrai-vos, Senho,; de

vossa prom.essa; inspirai as palavras de minha boca e dai fi rmeza à resolução de meu coração, para que a vossa casa vos

permaneça (para sempre) consagrada e que todos os povos reconheçam que só vós sois Deus e que não há outro fora de vós" (1 l , l8). O mes mo pe nsa mento ex prime o Salmista: "Cada uma de minhas ações vos-

sos olhos viram, e todas elasforam escritas em vosso livro; cada dia de minha vida foi prefixado, desde antes que um só deles existisse". E, diante da pequenez do homem face à imensidade do Altíssimo, ele exc lama: " Ó Deus, como são inson-

dáveis para mim vossos desígnios! E quão imenso é o número deles! Como contálos? São mais numerosos que a areia do mar; se pudesse chegar ao fim, seria ainda com vossa ajuda", pois o homem nada é sem Deus (S I 138, l6 e ss.).

A Providência

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Nmro Testamento No N ovo Testamento, Nosso Senhor Jesus Cristo estende-se basta nte sobre a Providência divina. Ele não podia ser mais claro do que em M ateus (6, 25 e ss.): "Eis que vos digo: não vos preocu-

peis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis.

A vida não é mais do que o alim.ento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros, e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem..fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão, no auge de sua glória, não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos ? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em. primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo". CATOLICISMO

Ainda e m São M ateus ( 1O, 20 a 3 J), nosso Divino M estre in s iste: "Não se

vendem dois passarinhos por urn asse? No entanto, nenhum. cai por te rra sem a vontade de vosso Pai. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não tem.ais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós". São Paulo , quando se dirige aos ateni e nses no Areópago, expli ca- lhes que há um Deus previdente que c ri o u e ma nté m o Céu e a Terra: " O Deus, que fe z o

mundo e tudo o que nele há, é o Senho r do céu e da terra, e não habita em templos f eitos por mãos hurnanas. Nem é servido por mãos de homens, com.o se necessitasse de alguma coisa, porque é Ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas. Ele f ez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos os tempos e os linútes da sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e se e~forcem por JULHO2011

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encontrá-lo como que às ajJalpadelas, pois na verdade ele não está Longe de cada um de nós. Porque é nele que temos a vida, o movimento e o se,; como caé alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos tcunbém de sua raça" (At 17, 24 e s .).

O p ensamento sobre a Providência <livi1w 11a Igreja primitiva Na Igrej a dos primeiros tempos, para os Padres da Igrej a grega, a ex_istência dessa Prov idência di vina que tudo dirige, ordena e mantém, é apresentada como uma verdade fundamental que a Revelação pressupõe, e da qual ela constitui a mais brilhante tes temunha. Para eles, a negação dessa Providência levaria consigo a recusa de aceitar toda a economi a cristã, e contradiri a mesmo uma das conclusões mais segw·as da fil osofi a helênica.2 Já entre os Padres apostólicos (assim chamados porque tiveram a lguma relação direta ou indireta com os Apóstolos), não há um que faça tão frequente menção da divina providênc ia quanto São C lemente de Ro ma, terceiro sucessor de São Pedro, em sua célebre Epístola aos Coríntios. Nela ele afirma: "Os céus, girando sob seu governo, estão sujeitos a Ele em paz. O dia e a noite seguem o curso estipulado por Ele, sem de nenhum modo atrapalharse mutuamente. O sol e a Lua, em companhia das estrelas, giram com harmonia de acordo com sua ordem, dentro dos limites prescritos, e sem nenhum desvio. A terra f rutuosa produz alimentos em abundância de acordo com sua vontade, em estações estabelecidas, para homens, bestas e todos os seres vivos que há nela, nunca hesitando nem mudando nenhum.a das ordenações por Ele .fixadas [... ] Tudo isso o grande Criador e Senhor de todas as coisas determinou que existisse em paz e harmonia. Enquanto Elefaz bem a todos, contudo mais abundantemente a nós, que procuramos como refúgio suas com.paixões através de Jesus Cristo, Nosso Senhor, a quem sej a dada glória e majestade por todos os séculos". Por isso, acrescenta ele, é-nos necessário imitar a Deus, que não cessa de fazer o bem. E imitar a ordem e a harmonia que reinam em suas obras. T ira ndo depo is uma aplicação prática desse ensinamento, esse Papa dos primeiros séculos afi rma aos corínti os que, CATO LICI SM O

desse modo, os cri stãos devem respeitar també m a orde m ecles iás ti ca, que foi estabe lecida por De us tanto na antiga ali ança quanto na nova. E, nes a mesma ordem de idéias, na q ual o governo divino e o governo ecles iás ti co se junta m, afirm a ele que Deus é chamado "o Criado r e o bispo de todo espírito", e Nosso Senhor Jesus Cri sto, no qual se consumam todos os dons de De us, é "o grande padre de nossas oblações". 3 São Ju stino Mártir, q ue nasce u por

volta do ano J 00 e fo i martirizado em Roma em 165, julga que a questão da providência e a da unidade de Deus e de sua " monarqui a" de ve ser o objeto prin cipa l das pesqui sas fil osófi cas. Co mo apologista, ele dá um valor particul ar ao arg um e nto profé ti co: não so me nte as condutas de Deus são ordenadas, mas Ele as re ve lou antec ipada me nte, a fi m de que, vindo o momento, possamos reconhecer com certeza sua ação. O santo expli ca como a Providência

Por mais desconhecidos que nos sejam os desígnios de Deus, não são jamais injustos. Essa impotência na qual nos deixa a Providência em face de seus desígnios visa também um fim: quebrar nosso orgulho, levar-nos à humildade e fazer subir a nossos lábios o ato de fé humilde e confiante na Providência.

d ivina diri ge o universo po r meio de inlie J. Walker, na The Catholic Encyclotermediários angé licos, e põe em relevo . pedia, edição de 19 J l: também o papel dos de mônios nos aconA pergunta que os Padres da Ig rej a tecimentos, por permi ssão de Deus. 4 se punham, era: "Como podem o mal e o Já para Santo lrineu, bispo de Lyon, sofrimento ser compatíveis com a benefina França, no sécul o II, certos pagãos, cente Providência de um Deus todo-podemenos dominados pelas voluptuos idades roso? E por que o justo, m.ais especialmenculpáveis e pelo culto dos ídolos, pudete, deve sofrer, enquanto os maus são aparam conhecer al guma coisa de Deus Pai , rentemente prósperos e f elizes?" A soluCri ador de todas as coisas, que governa ção patrística para esses problemas pode o mundo. ser resumida nos seguintes pontos: • O pecado não é ordenado pela vonA questão do mal para tade de Deus, se bem que sucede com os Padres da Igreja sua perrnj ssão. Só um resultado secun Essa ques tão é tão importante, que dário pode ser referid o à Pro vidê ncia vamos res umir o que diz o teólogo Les(Orígenes, São João Damasceno).

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• O pecado é devido ao abuso do livre-arbítrio; um abuso que fo i certamente previ sto por Deus, mas que só poderi a ser impedido reti rando do ho mem esse seu mais nobre atributo [o livre arbítr io] (Tertuliano, São Ciril o de Alexandria, Teodoreto). • Além disso, neste mundo o homem tem que aprender, por experiência e contras te, a conhecer os obstáculos e a superá- los (Lactantius, Santo Agostinho). • Portanto, uma razão pela qual Deus permite o pecado, é para que o homem possa chegar imediatame nte [por co ntraste] a uma co nsciência do que é reto, de sua própria inabilidade em alcançálo, e assim possa pôr sua confiança em Deus (Anon, São G regóri o M ag no). • Deus não é responsável pelo pecado, mas só pelos males [mortificações] que de le resultam como punição do pecado (Tertuli ano), males que acontecem sem a vontade [expressa] de Deus, mas que não são contrários a ela (São Gregóri o Mag no). • Todo ma l físico, desse modo, é consequência do pecado, o resultado inevitável da queda ori ginal (São João Crisóstomo, São G regório M ag no) . A essa luz, e l.e é visto imediatamente como uma medicina (Santo Agostinho), uma di sciplin a (id. , São Gregório Mag no), um a ocas ião para a caridade (São Gregóri o M ag no). O ma l e o sofrimento, então, tendem a aumentar o mérito (id), e desse modo a junção da justiça torna-se um agente para a bondade (Tertuliano). • O ma l atua assi m segundo os desígnios de Deus (São G regório Magno, Teodoreto). Donde - se o universo for considerado como um todo - decorre que, aquilo que para o individuo é mal, será, no fi m, mudado para ser consistente corn a bondade divina, en, conforrni dade com a justiça e a reta ordem (Orígenes, Santo Agostinho). • É no fim que se prova a felicidade (Lactantiu s, Santo Ambrósio, São João C risóstomo, Santo Agostinho, Teodoreto). No Ju ízo F inal o problema do mal será resolvido, mas até então os trabalhos da Providência permanecerão mais ou menos um mi stéri o (Santo Agostinho, São João Crisóstomo) . • Co m re lação à pobreza e aos sofrimentos, entretanto, convém ter presente JULHO2011

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eles [os ímpi os] não se corrigem, Ele afiará a espada, entesará o arco e visará. Contra os ímpios apresentará dardos mort(feros, Lançará flechas inflamadas" (SI 7, 12-13).

que, priv and o- nos dos bens te rre nos, Deus está chamando de volta o que é seu (São Gregório Magno); e e m segundo lugar que, como Sa lvaniu s nos di z, nada é tão leve que não pareça pesado àq uele que o leva de má vontade, e nada tão pesado que não pareça leve àquele que o carrega com boa vontade. 5

A Pl'ovidê11cia segumlo Sa11to Agosti11ho

Uma grande autoridade muito posterior à dos Padres da Igreja - o Concílio de Trento ( 1545- 1563) - afirma que o mal está no poder do homem, e que as más obras não deve m ser atribuídas a Deu s no mesmo se ntid o que as boas obras, mas somente como toleradas, do mesmo modo que a vocação de São Paulo é obra de De us num e ntido muito mai s verdadeiro do que a trai ção de Ju- .!:i das (Sess. VI, can. vi, A. D. 8 16).6 ~ Entretanto, há outra pergunta que se põe: "Quando a desventura cai sobre o homem nesta Terra, é sempre por causa ig :, ele seus pecados? Os amigos de Jó o afirmam. Jó o nega. Como nota Santo Tomás em seu co mentá ri o sobre esse livro do Antigo Testamento, os ami gos de Jó não pensava m na vida futura. Eles cri am que, já agora, antes da morte, o justo deve ser recompensado e o mau punido. Jó, pe lo contrá ri o , fi g ura ele C ri sto, está como elevado por uma inspiração superior para o mi stéri o do além, que nos faz entrever o prólogo do livro. E le responde (19, 6): "Sabei que fo i Deus quem 1ne afligiu e me cercou com. suas redes". E, no versículo 2 1 ac rescenta: "Compade-

cei-vos de mim, compadecei-vos de mim, ao menos vós, que sois meus amigos, pois a mão de Deus rn.e f eriu ". Mas depois Jó afirma que a in felicidade aqui na Terra não é sempre o castigo de uma vicia criminosa (capítul os 28 e 31). E le ignora a razão de seus sofrimentos, mas sabe que Deus, em sua sabedoria que permanece insond ável para os ho mens, a con hece. 7 Nosso Senho r Jesus C ri sto exp li ca mais explic itamente, no Novo Testamento, que nem sempre alguma tragédia sucedida a algué m ocorre por causa de seus pecados. Com efeito, quando viera m anunciar-lhe que alguns galil e u tinham sido sacrificados por Pilatos ao abafar

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um a revolta, o Divino M estre, sempre pronto a tirar a lgum e ns in amento dos fa tos concretos, pergunta aos presentes:

"Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo? ". E responde que não. Para reforçar essa afirmação, E le insiste: "Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém ?" E responde: "Não, digo-vos eu ". E para mostrar qu e o sucedi do àq ueles infelizes poderia ter ocorrido com qualquer

Com relação à pobreza e aos sofrimentos, entretanto, convém ter presente que, privando-nos dos bens terrenos, Deus está chamando de volta o que é seu (São Gregório Magno)

pecador impenitente, acre centa: "Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo m.odo" (Lc 13, 1-5). I so não significa que algumas vezes Deus não puna aq ui mes mo, na Terra, alguns crimes e os que os cometem, pois, diz o Salmista: " Deus é um juiz íntegro,

um Deus perpetuam.ente vingado,: Se

A Providência, ele acordo com o geni a l Santo Agos tinho ,8 pressupõe e m Deus a sabedoria, a presciência, a vontade de criar e de ordenar todas as coi as ao fim do universo ou à manifestação da bondade divina. Segundo ele, pode-se definir a Providência como sendo o atributo divino pel o qual a Trindade diri ge a ação que exe rce sobre toda a criação, e que tem por termo a constituição defi nitiva da Cidade de Deu - título de um de seus livros mais conhecidos, e do qual são ex traídas estas considerações. A Providênc ia, estendendo-se do menor dos seres ao mais perfeito, harmoniza no universo essa hierarquia de belezas que lhe fazem o esplendor. É Ela que dispõe a marc ha dos séculos. É ainda Ela que constitui os impérios, di stribui os reinos - e leva este ao poder e às honras, e a baixa aquele à sujeição e à servidão. Se a Providênci a permite que imperadores indi gnos subam ao trono, é ainda em v.ista de um fim de justiça: o maus príncipes são uma punição aos maus povos. Para Santo Agostinho , se a Providência di spõe os acontecimentos fa voráveis, é para levantar as coragens abatidas. E se Ela pe rmite as adversid ades, é para exercer a justiça. Se estabeleceu certas pessoas na domin ação e outras na sujeição, vi sa ao bem que deve resultar di sso: a submi ssão a um vencedor é, co m efe ito, preferível aos rigores e às vinganças da guerra. É a Providência que traça as le is das gerações e dos nascimentos. É Ela també m que su c ita os fa tos marav ilhosos , bem como o curso ordinário da natureza. É a Providência que dota o homem de todo os órgãos requeridos ao se u

mini stéri o de alma raciona l, que provê às necess idades de cada um , que preparou essa via rea l para a libertação das almas que é a Religião de Cri sto. Foi també m E la que deu à Escritura sua incontestável superi oridad e sob re as outras obras do espírito humano. Ela é que distribui indi stintamente os bens e os mal es temporais aos justos e aos ímpi os, e que, pela marcha dos aco ntecimentos, dirige, corrige o vício e prova a virtude. É mais uma vez a Prov idência que ordena, no presente, os aconteci mentos

É E la quem quebra nosso orgulho e purifica nossa fé, pela incompreensível execução de seus insondáveis desígnios. É Ela que tira o bem do mal , mesmo do pecado ; Ela que restabelece a ordem da justiça, ago ra em parte, no último dia em sua totalidade. E la, enfim , que sacia os desejos da cri atu ra racional e lhe concede a posse de seu fim , condu zindo-a à perfeição ela sabedoria. Por mais desconhecidos que nos sej am os desígnio de Deus, não são j amais inju stos. Essa impotência na qu al nos deixa a Providência em face de seus desígni os vi sa também a um fim : qu e brar nosso orgulho, levar-nos à humildade e fazer subir a nossos láb io o ato de fé humi Ide e confi ante na Providênci a. Po is é a perfeição cio conjunto que é o termo perseguido pela Providência. Que o homem tome então consc iênc ia de seu lugar de parte nesse conjunto; que cesse de se considerar como centro do universo, e mui tas difi culdades desaparecerão. Sendo parte, ele não pode apoderar-se da ordem universal. Esse é o motivo por que lhe escaparão algumas vezes as razões da ação prov idenc ial, dessa ação universal. Não somente o homem não co mpree nd e essas razões como algumas vezes as julga dolorosas e se in surge contra a Providência, quando o bem do todo, a perfeição do universo e o triunfo da Cidade de Deus ex igem dele algum sacrifíc io incompreendido.

A co11/ia11ça "ª Pf'OVidêllcia não dispensa a prece

favoráveis, e permite as adve rsidades; que di spõe as alegri as e as afli ções cio justo, que pune imediatamente certas fal tas e retarda a sanção de certas outras, be m como reserva para o último dia a sanção definitiva. É a Providência que exerce e purifica os justos, que distribui sua graça segundo seu bel prazer, e não somente segundo nossos méritos.

Mais uma pergunta pode surgir ao espíri to humano: se a Providência infa lível é universal, e se tudo prev iu , qual pode ser a utilidade da oração? Co mo nossas úplicas poderiam esc larece r a De us, fazendo mudar os desígnios d' Aquele que di sse "Eu sou o Senha,; e não mudo" (Mal 3, 6)? Assim o conhec ido teólogo Pe. Ga.rri gou-Lagra nge apresenta esta questão. E a resolve da seguinte maneira: Como ex plica Santo Tomás, a prece não tem seu primeiro princípi o em nós, mas foi querida por Deus bem antes que JUL!-1O2011

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A bênção dos trigais em Artois - Jules Breton (1827 - 1906) quiséssemos pôr-nos a rezar. Desde toda a eternidade, o Criador quis a prece como uma causa das mais fecundas de nossa vida espiritual. Ele a desejou como um meio de obter a graça que nos é necessária. Foi Ele mesmo Quem a inspirou aos primeiros homens que, como Abel , dirigiram-Lhe suas súplicas. Foi Ele que a fez jorrar do coração dos patriarcas e dos profetas. A resposta, pois, a essa obj eção, é muito simples: a verdadeira prece, fe ita nas condições requeridas, é infalivelmente eficaz, porque De us, que não pode desdi zer-se, decretou que o seria: "Pedi

Museu de Belas Artes de Arras, França

resia anglicana, não se tolerou mais essa devoção tipicamente católica. 11 Mais recentemente, sem deixar de suplicar a Deus por toda a Igreja, essas "rogações" tornaram-se em geral preces para obter uma bênção para as colheitas. E até meados do sécul o XX fi guravam na liturgia com a bênção dos campos. E las se encontram, por exempl o, no Missal Romano QuoJidiano, de 1963, de Dom Gaspar Lefebvre, cio qu al extraímos estes dados. O primitivo caráter de reparação não é esquecido nessa bênção dos campos, pois começa com os versículos: V: Senhor, não nos trateis segundo

e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á" (Mt 7, 7-8). Não somente tudo o que aco ntece foi previ sto e querido (ou pelo menos permüido) por um decreto providencial , mas também a maneira pela qual as coisas se sucede m, as causas que produzem os acontecimentos, os meios pelos quais se obtém os fin s. Assim é em todas as ordens de seres, desde a matéri a bruta até a vida da graça: Deus pre parou as causas que as deve m produzir, em vi sta de certos efeitos. Em vi sta de certos fins, E le preparou os meios propo rcionados. Ora, a prece é uma causa ordenada desde toda a eternidade pe la Providência para produzir esse efeito que é a obtenção dos dons de De us necessários à sa lvação. E, pois, a imutabilidade dos desígnios de Deus, bem longe de se opor à efi các ia da prece, é seu supremo fundamento. O Senhor, quando di sse: "Pedi e recebereis " é como um pai que está reso lvido a priori a conceder um prazer a eus filhos, e que os leva a pedi-lo. Mas, para que a prece seja bem ordenada, devemos nos le mb rar desta pa lavra do Evangelho: "Buscai em primeiro lugar

o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo" (Mt 6, 33). Desse modo a prece é um culto rendido à Providência, reconhece constantemente que estamos sob o governo divino. Aquele que reza como deve, com humildade, confiança e perseverança, pedindo, para si e pelos oulTOS, os bens necessários à salvação, coopera com o governo divino, porque o Onipotente decidiu , desde toda a eternidade, não produzir tal efeito -

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as nossas culpas, mas de acordo com vossa infinda misericórdia. R : Nem nos castigueis co11forme merecem nossos crimes. Se em nossa época de tsunam.is, ter-

salutar senão com nosso concurso, e em seguida à nossa intercessão. E ntretanto, a prece deve ser acompanhada de um abandono confiante na Providênc ia, que saberá dar-nos o que pedimos, ou ainda melhor do que pedirmos. Confiemos na Onipotência divina.

Nossa Senhora e a DiviJw Providência Uma vez que, por desígnio de Deus, todas as graças nos vêm por M ari a, qual é seu papel como nossa intermed iária junto à Providência Divina? A e se respeito tra nscrevemos algumas co nsiderações fe ita pelo grande pensador e líder católico Plinio Co rrêa de Oliveira a seus discípulos, em l 6 de novembro de 1964:

"Por que Nossa Senhora é chamada a Mãe da Providência Divina ? Evidentemente não é porque Ela tenha gerado a Providência Divina. Mas é porque, segundo os desígnios dessa Providência, Ela é a mãe que toca mal e malmente, que aplica maternalmente a nós os decretos da Providência Divina. E que, portanto, fa z com que o governo da Providência Divina sobre nós seja um governo materno. E fa zendo com que esse governo seja materno, fa z com que ele se aplique

com uma plenitude de carinho, de comiseração, de afeto, que é algo que esgota inteiramente tudo quanto o homem possa pensa,: "Assim, por causa disto a devoção a Nossa Senhora é a fon te de nossa confiança; a razão para nós esperarmos é porque temos uma mãe que dirige a nossa existência, que preside nossa vida espiritual, orienta nossa vida de apostolado, orienta nossa atividade diária. A razão de tudo isto, e11fim, está nesta invocação de Nossa Senho ra, Mãe da Providência Di vina. "A piedade real visa dar glória a Deus e conduzir o homem à virtude. Para alcançar esses dois fins, a devoção ao Imaculado Coração de Maria é urn verdadeiro dom da Divina Providência a este desventurado século. "Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Tenta r rezar sem sua intercessão é o mesm.o que tenlar voar sem asas, diz Dante. Se quisermos que nossos atos de amor, louvor, ação de graças e reparação subam ao trono de Deus, temos que colocá-los nas mãos de Maria Santíssima. Seria ridículo imaginar que a devoção a Nossa Senhora fosse um desvio, e que pudéssem.os alcançar Deus m.ais diretamente não nos reportando a

Ela. O oposto é que é verdade: Só podemos alcançara Deus por meio d'Ela [.. .]. "No Apocalipse, capilulo 3, versículo 8, lemos: 'eu pus diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar; porque, apesar de tua fraqueza, guardaste a minha palavra e não renegaste o m.eu nome'. Essa porta, aberta à f raqueza do homem contemporâneo, é o Imaculado Coração de Maria ".9

As orações m gativas para aplacar a Justa cólera de Deus N as é pocas de fé mai s ace ndrada, supli cava-se co nstantemente à Divina Providênc ia que fizesse cessar uma epi de mi a ou um flagelo, cair chuva benfazeja em época de seca, ou para se obte r boas colheitas. A origem dessas devoções, contudo, é bem antiga e remonta ao século V. É atri buída a São Mamerto, bispo de Viena, no De lfinado (França), quando o país foi assolado por tremores de terra, incêndios e devastações por parte de bestas selvagens. Na noite da Páscoa de 469, quando o povo estava reunido na igreja, São Mamerto anunciou que tinha prometido a Deus rogações especiai para que cessassem esses fl agelos. Esses atos deveriam constituir-se em olenes procissões penitenciais acom-

panhadas de jejum e súplicas públicas. Ao fim dos três dias de rogações, os males foram debelados. 10 A Santa Igrej a estendeu essa devoção à Igrej a universal com o intuito de apl acar a justa có lera de Deus por causa da transgressões dos hom ens, có lera essa que pode mani fes tar-se e m catástrofes naturais, terremotos, inundações, seca prolongada, epidemi as e outras calamidades. Sabendo que tudo depende da Providênc ia do Criador, o povo ne ses dias chamados "de rogações" partic ipava das proc issões pelas ruas e pe los campos, rezando as ladainhas " de rogações" ; suplicava a Deus que não olhasse para os pecados dos homens, mas considerasse apenas a extrema misericórdia divina. Esses dias de "rogações" - denominadas até há pouco tempo ele "Ladainhas M enores", que se reali zava m nos dias que precedem à Ascensão - tornaramse muito comun s na Eu ropa medieva l, na "doce primavera da fé", qualificativo atribuído a essa é poca pelo Conde ele Montalambert. Esses Dias de Rogações fora m também muito populares na Inglaterra até 157 l , quando, no reinado ela ímpi a Isabel, com a introdução do cisma e da he-

remotos , inundações e numerosas outras ca lamidades, além ele tantos pecados públicos, se recorresse mais à Divin a Providênci a nos termos dos ve rsículos acima, poder-se- ia evitar ou pe lo menos atenuar muitos mal es que se abate m sobre a humanidade pecadora ! • E-mail para o autor: cato licismo @tcrra.com .br

Notas: 1. Les li e J. Wa lke r, Divine Providence, Th e Catholi c Encyclopedia, CD Rom edition. 2. Cfr. H.-D S imo nin , Providence, Peres Apos!Oliqu es e r apo log is tes , D ict io nnaire de T héolog ie Catho liqu e, Librairie Leto uzey et Ané, Paris, 1936, tomo 13, co l. 942. 3. Fa th ers, SL C le ment of Rome, Letrer to the Corinthians, c hap. 20 e ss., The Cat ho li c Encycloped ia, CDRom ed iti on,. 4. Cfr. Pe. R. Garri go u-Lag range, Providence, Théo log ie, Dictionnaire de Théo log ie Catho lique, Librairi e Leto uzey et Ané, Pari s, 1936, tomo 13, col. 994. 5.Les lie J. Walker, op. ci L 6. ld. ib. 7. Pe . R . Ga rri go u-Lagra nge, Provide n ce, T héo log ie, Di c t:ionnaire de Th éo log ie Catho lique, Librairi c Letou zey et Ané, Pari s, 1936, tomo l3, co l. 994. 8. Resumimos aq ui o Pe. A. Rasco!, La P,vvidence se /011 Saint Au gus tin , in Di c ti o nn a ire de T héologie Catholique, vol. citado, cols. 96 1 e ss. 9 . Pa lestra pronunciada para sócios e cooperadores da TFP cm 16 de novembro de 1964; gravação em fita magnéti ca sem rev isão do auto r. 1O. Cfr. Roga 1io n , La Gra nd e Encyc lopéd ie, Société Anonyme de la Grande Encyclopédie, Pari s, sem data, tomo 28, p. 812. 1 1. Franci s Mers hm an, Roga 1io11 Days, Th e Catholi c Encyclopecl ia, CD Rom eclition.

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O caráter militante do católico: prova de sua autenticidade D iante dos erros que no início dos anos 30 começavam a minar os ambientes católicos, Plinio Corrêa de Oliveira passou a orientar a opinião católica no sentido de ressaltar o caráter militante da Igreja como condição necessária para o exercício do verdadeiro apostolado

1 JUAN GONZALO lARRAÍN CAMPBELL

O

re itor da grande mesquita de Pari s, S i H amza B o ubakeur, tido co mo " mo d e ra d o", afirm o u : "Após ter durante séculos exagerado, tornado pesado e deform.ado o culto verda-

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deiro devido a Deus, os cristãos se mostram agora entusiasmados iconoclastas. [... ] Seus altares estão mais 'limpos', mais simples, e as paredes das igrejas fi.caram li vres das imagens" . Em consequência dessas tra nsformações ele di z sentir-se animado a um di álogo, porque a "Igreja cede cada vez mais, pensando erroneamente que se pode de modo impune e por

razões efêmeras, ceder em detalhes sem 'violar' as leis eternas de Deus. Em verdade, alguns daqueles que a Igrej a chamava outrora 'soldados de Deus', tom aram-se desertores [.. .]. Pois bem, nós muçulmanos não pretendemos ceder em nada em matéria de dogma e de práticas religiosas". Por sua vez, um "teólogo" muç ulma1

no declarnu: "Se os 'vossos' [os oc identa is] e vós tendes respeito pelo nosso modo de pensar e por nossa religião, é porque ela vos domina, e po rque vós careceis de confiança na vossa. [... ] Pois bem, para nós não pode existir neste terreno nenhuma ambiguidade. [... ] Quando duas religiões se e,~f'rentam, não é para se compararem e trocarem saudações, senão para combaterem-se uma à outra. É por isto que jamais ouvireis dizer que nós respeitamos vossa religião. [... ] De vossa parte, esse respeito a nossa religião parece uma abdicação : Vós renunciais a impor-nos a vossa fé, mas nós jamais renunciaremos a expandir o Islã". 2 Frases inso lentes? Sem dúvida . Falsas? Infe li zmente, não. Ante nossos olhos está patente - e devidamente documentada na edição de Catolicismo de agosto de 1994 - a verdadeira invasão da E uropa por mais de 20 milhões de muçulmanos; invasão que de lá para cá não tem fe.ito senão crescer. A pergun ta que sa lta aos olhos é: como se chegou a isto? Qual a gênese desta dra mática deserção cio mundo cató lico? É o que passa mos a responder no limüado espaço deste arti go. Até a década de 30, a atitude da Igrej a - isto é, do conjunto de sua Hierarquia encabeçada pelo Santo Padre e da totalidade de seus ensinamentos - era de militância face aos revoluc ionári os. 3 Entre e tes se destacavam o comuni smo com todos os seus matizes, e a heres ia moderni sta, conde nada pe lo Papa São Pio X e m 1907 e renascid a das cin zas com o nome de progressismo. A pos ição mil itante dos católi cos constituía um dos ma iores obstácul os à Revolução gnóstica e igualitária em seu desígni o de conqui star o maior número de adepto . Para a remoção de tal obstáculo importava modificar a mentalidade dos cató licos, para que abando nasse m essa posição de integridade e fosse m apertar a mão convidati va à co labo ração que traiçoeira mente os revolucionários lhes este ndiam. E um dos pontos mais sensíveis para essa modificação consistia em ir elimi nando muito utilmente da consciência

A Igreja Militante e Triunfante (detalhe) - Andrea di Bonaiuto, séc. XIV. "Capela Espanhola", Santa Maria Novella, Florença, Itália.

dos cató licos a noção do caráter militante da Igrej a e de seus membros. Percebendo essa manobra revolucionária desde o seu nascedouro, na remota década de 1930, o Pro f. Plínio Corrêa de Oliveira in sistiu incontá ve is vezes nas págin as do "Legionário" sobre o caráter militante de que de ve se revestir todo verdadeiro filh o da Igrej a. Passa remos a ilu stra r, co m algun s de seus muitos textos, um aspecto essenc ial da missão verdadeira mente profética do Prof. Plínio Corrêa de Olivei ra 4 : a de orientar, co mo le igo, a opini ão cató lica para evitar que esta se desvi asse do caminho que a Igreja tinha seguido até então nessa maté ri a.

Ser cristão 11ão é só ser um crnntc, é se1' soldado Já quando se ini ciavam os preparativos para a formação da Consti tuinte de 1933, Dr. Plini o traçava o plano de luta que os católicos deviam seguir, defendendo assim o caráter militante da lgreja contra a moleza insidi osamente soprada em certos círcul os pré-progressistas:

" Ser cristão não é só ser um crente, é ser também um soldado. É saberdescer à arena da luta de opiniões, ostentando com firmeza nossos princípios. É não ter medo de adquirir inimizades, se for necessário. É não ter medo de atrair sobre si antipatias. É, em suma, sacrificar-se". 5

Preservar os filhos da luz das infiltrações cio erro A avalanche de info rmações fa lsas a respeito dos acontecimentos mundiais despejada pela mídi a sobre a opini ão católica produ zia nesta uma noção viciada dos problemas contemporâneos. Ante esse fenômeno morboso o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira defini a em 1935 a mi ssão do "Legionário", que não era senão a assumida por ele mesmo durante toda a vida: "No entanto, é necessário que não percamos de vista que a principal fina-

lidade do 'O Legionário' é de orientar a opinião dos que já são católicos. E estamos certos de que, realizando esta obra, ela preencherá uma verdadeira lacuna . Realmente, a f alta de instrução JULHO 2011

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mulgara. Até nos círculos intelectuais, o vigor com que agira o Papa lhe a/raiu o respeito geral, e todo o mundo começou a re5peitar e se interessar por uma Igreja dotada de tal vitalidade ". E ac rescentava: "Evidentemente, ninguém pode negar o alcance deste acontecimento histórico. Erram os que condenam as manifestações vigorosas da fé, e que julgam imprudente e contraproducente qualquer gesto de energia e de vigor combativo, dos filhos da Luz contra os filhos das Trevas ". 7 Apostolado: só 11a base a sorrisos e carícias?

religiosa em nosso povo é imensa. E te de nosso afeto fraternal, o mais delicado de nosso carinho em. Cristo". 6 como consequência, muita gente há que, recebendo as informações sobre o que se passa no mundo inteiro através dos El'l'am os que conclenam as jornais diários, adquire uma noção in- , manifestações vigorosas <la ré Um dos principais erros que se esteiramente viciada de todos os grandes gueirava m através do progressismo conproblemas contemporâneos. Assim., a sistia na difusão implícita ou explícita da maioria dos católicos ingere sem antíidéia de que era inoperante afirmar de dotos todos os venenos que lhe são mimodo vigoroso e destemido as verdades nistrados pela imprensa quotidiana". da fé e condenar energicamente os erros E prosseguia, alertando os católicos opostos à doutrina da Igreja. E que, em sobre a necess idade da energ ia apos tó liconseq uência, só era eficaz a tática das ca contra o mal, provando que esta não concessões e do sorri so permanente em fe re a caridade: "Ora, se é certo que é re lação aos infiéis. com mel que se caçam. moscas, é com O insigne líder católi co sustentava o cercas de arame farpado que se tlevein contrári o dessa concepção errônea, sercercar os campos onde não se quer que vindo-se do exemp lo de energia do Beapenetre o lobo devorador. to Pio IX ao decidir atuar no Concilio "Neio quer isto dizer que devamos Vaticano I, apesa r das oposições: infringir os gravíssimos deveres que nos "Em. primeiro lugar, todos os católiseio impostos pela caridade. Há uma cercos militantes deram sua adeseio inconta forma de ser caridoso e severo, que dicional. No seio do povo, as verdades nos faz alvejar o erro ou o vício, sem. definidas pela Igreja foram aceitas graatingir quem erra ou quem peca, ou meças ao vigor com que a Igreja as prolhor, levando ao pecador o mais ardenCATOLICISMO

E m arti go publicado uma se mana depois, o destemido articuli sta atacava uma vez mais o erro contido na afirmação de que a tática do sorri so era a única so lução válida no apostolado: "Erram. os que supõem ser o apostolado viável unicamente por meio de sorrisos e carícias. É certo, certíssimo, incontestável, que ele não pode ser.feito a neio ser com. caridade. Mas que a caridade consiste em ostentar para gregos e troianos, ftllios da luz e filhos das trevas, pecadores arrependidos como a Madalena ou impenitentes como os fariseus e os mercado res do Templo, o mesmo semblante perpetuamente desanuviado e inexpressivamente risonho, é errar gravemente. Erra,; não apenas porque não é este o ensinamento da Santa Igreja, que armou contra os mouros as cruzadas, e instituiu contra os hereges o Santo O.ftcio romano e as fulminações das penas canônicas, mas ainda porque é colidir com os ensinamentos dos Santos Evangelhos que, se de um lado, nos rnoslram o Salvador afável e misericordioso para com os pecadores que queria atrair a Si, também O mostram inexorável e terrível para com os pecadores que se mantinham obstinados na impenitência". 8

Affancar a máscara: primeira obra de apostolado Defendendo os cató licos contra os artifício dos hereges, o ilustre líder católico sustenta que arrancar- lhes a máscara é a primeira obra de apo tolado: "Deste artifício dos hereges, temos um precioso ensinamento a tirar. Eviden-

temente, temem eles levantar a máscara, e atacar diretamente a Igreja. E a razeio está em que eles esteio bem persuadidos de que, se atacarem. a Igreja, ninguém. dentre os católicos deles se acercará. "Assim, se não queremos que os católicos deles se acerquem, devemos evidentemente tomar a iniciativa de lhes arrancar a máscara, e, em todos os trabalhos que fize rmos contra a heresia, tratar de declarar logo de início que se trata de erro incompatível com. a doutrina da Igreja. [... ] "Assim, pois, arrancar a máscara é, para nós, a primeira obra de apostolado. Realmente, do que no Brasil se deve cuidar, não é de que a heresia seja um. problema resolvido, mas de que ela não venha a se tornar problema. "Nossa lula ainda é sobretudo preventiva. E, assim, sem prejuíza de utilização de ou, ros meios de luta, o desmascaramento do adversário deve ser nossa principal preocupação". 9

verdadeiro, e portanto corno matéria certa. "Em. outros termos, a mania invariável de condescender leva muita gente a procurar di/atar os espaços intelectuais reservados à dúvida. Em presença de uma afirmaçeio deduzida da doutrina católica, a pergunta deveria ser esta: posso incorporar mais essa riqueza ao patrimônio de ,ninhas convicções? Não, em geral é esta outra: que razões posso descobrir, . para duvidar também disto? " º 1

Flagelai; <leilllllCiar e l'lllmÍJJal' como Nosso Senlwr No artigo intitul ado Não tratemos aos lobos como ovelhas perdidas, Dr. Plíni o prossegue sua denúncia contra as tendências dialogantes que viam na doçura o único meio de apostolado. Assim, contra a deformação sentimental da fig ura de Nosso Senhor Jesus Cristo propal ada nos meios da Ação Cató lica, escrev ia e le: "E compreendamos enfim que a imi-

Lação de Nosso Senhor Jesus Cristo por nós só será perfeita no dia em que soubermos, não apenas perdoa,; consolar e afagar, mas ainda no dia em que soubermos flagelar, denunciar e fulminar como Nosso Senhor. "Há muitos católicos que consideram os episódios do Evangelho em que aparece o santo furor do Messias contra a ignomínia e a perfídia dos faris eus como coisas indignas de imitação. É ao menos o que se depreende do modo como eles consideram o apostolado. Falam sempre em doçura e procuram sempre inútar essa virtude de Nosso Senhor. Que Deus os abençoe por isto. Mas, por que não procuram eles únitar as outras virtudes de Nosso Senhor? "Muito frequentemente, quando se propõe em matéria de apostolado um ato de energia qualquer, a resposta invariável é de que é preciso proceder com muita brandura 'a fim de não afastar ainda mais os transviados '. Poder-se-á susten-

A mai1ia de comlesce11der dilata os espaços <la dtívida A relativização das verdades da doutrin a cató li ca é in erente aos católicos " pac ifi stas" opostos ao caráter militante da Igreja, que introduzem na mentalidade dos fi é is o espírito de dúvida. Este e rro foi Lambém de nunc iado por Dr. Plínio: "Evidentemente, essa vacilaçeio, em um verdadeiro católico, não se pode referir a certas verdades já irretorquivelmente definidas pela Igreja. Mas há um

sem número de aplicações práticas de princípios, ou de deduções doutrinárias a respeito de princípios já definidos, em que essafi·aqueza se manifesta. Em lugar de se procurar, na utilização doutriná ria ou prálica dos princípios a verdade, toda a verdade, e só a verdade , as reflexõesf'eitas a esle respeito se deixam imbuir mais ou menos pela preocupaçeio de condescender com os erros do século. E, assim, em vez de procurar tirar do /esouro das verdades católicas todos os .frutos de ordem intelectual e moral que contêm, procura-se saber mais o que pode ser rotulado como discutível e portanto com.o matéria livre, do que potle ser rotulado como

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todo proselitismo católico. Excetuadas certas situações especialíssimas, o interesse da Igreja consiste em fa zer com que seus arautos a proclamem sem desfiguramentos, sem diluições, sem covardes adaptações ao espírito da época. "Se em todos os tempos esta foi a reg ra, hoje, mais do que nunca esta atitude se impõe. Ela já não constitui só um ato de elementar coerência com nossos princípios, mas medida de soberana sabedoria estratég ica. Saibam-no todos os maníacos de 'adaptações ao sabor da época': vivemos em uma era de radicalismo, e a adaptação de nossos processos de propaganda à época consiste em mostrar o catolicismo em sua expressão mais radical, despido das sacrílegas maquiagens com que muita gente gostaria de desfigurar a suafisionomia." 12

Perdão e misericó,·dia, sim; estupidez e cretinice, 11ão Refutando um jornalista nazistoide que negava sutil mente o caráter mi-

tar que os atos de energia têm sempre o invariável efeito de 'afastar ainda mais os transviados'? Poder-se- ia sustentar que Nosso Senhor, quando dirigiu aos faris eus suas invectivas candentes, f ê-lo com a intenção de 'afastar ainda mais aqueles transviados '? Ou porventura se deveria supor que Nosso Senhor não sabia, ou não se preocupava com. o efeito 'catastrófico ' que suas palavras causariam aos fariseus ? Quem ousaria admitir tal blasfêmia contra a Sabedoria Encarnada, que foi Nosso Senhor? "Deus nos livre de preconizar o uso de energia e dos processos violentos como único remédio para as almas. Deus nos livre também, entretanto, de proscrever estes remédios heróicos de nossos processos de apostolado. Há circunstâncias em que se deve ser suave e circunstâncias ein que se deve ser santamente violento. Ser suave quando as circunstâncias exigem violência, ou ser violento quando as circunstâncias exigem suavidade, há nisto sempre um grave mal". No mesmo arti go, sempre mostrando os aspectos de Nosso Senhor ocultados em certos meios da Ação Cató lica, o articulista orientava os fiéis para que não

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se deixassem arras tar por esse espírito oposto à doutrina da Igreja:

"Nosso Senhor não nos fala sarnente em ovelhas perdidas que o Pastor vai buscar pacientemente no fundo dos abismos, ensanguentadas pelos espinhos em que Lamentavelmente se f eriram. Nosso Senhor nos fala também em lobos rapaces, que circundam constantemente o redil, à espreita de uma ocasião para nele se introduzirem disfarçados com peles de ovelhas. Ora, se é admirável o Pastor que sabe carregar aos ombros com ternura a ovelha perdida; o que dizer do Pastor que abandona suas ovelhasfiéis para ir buscar ao longe um lobo disfarçado em ovelha, que toma o Lobo aos ombros amorosamente, abre ele próprio as portas do redil, e com suas mãos pastorais coloca entre as ovelhas o lobo voraz?" 11

O catolicismo apresenta<lo sem sacrílegas maquiagens Combatendo as tendências e doutrinas daqueles que propugnavam a adaptação da Igreja ao mundo, Dr. Plínio insistia:

"Assim, a franque za apostólica foi sempre uma regrafundamental de

litante do Evangelho , insinuando que este só ensinava o perdão e a misericórdia, Dr. Plínio atacava uma vez mais a unilateralidade com que a doutrina católica era apresentada:

"A doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo prega certamente o perdão e a misericórdia, mas não prega a cretinice. Quando um adversário investe contra nós para nos roubar os maiores bens da alma e do corpo, é para nós um direito sagrado, a defesa, e mais do que isto constitui um grave e imperioso deve,: Assim, os cruzados, por exemplo, não duvidaram em e.fundir sangue sarraceno para libertar o Santo Sepulcro e as Cristandades do Oriente. A Inquisição não duvidou em acender fogueiras para def ender afé e a civilização... e tanto não duvidou, que até passou consideravelmente da conta e dos limites. E quantos outros casos análogos não poderíamos citar! Santa Joana d'Arc, por exemplo, não fechou o Evangelho quando partiu em guerra para a libertação de sua Pátria, mas cumpriu um altíssimo dever evangélico quando o f ez. O que pensa, pois, nosso jornalista de tudo isto? "Querem saber o que provavelmente pensa? Terá tido um calafrio lendo o que dissemos, e terá pensado que somos muito atrasados, porque Religião não é cruzada, nem Santa Joana d'Arc. Religião é... doçura ... ou seja imbecilidade! "Religião é doçura, sim. Mas só é doçura nos casos em que a doçura não se confunde com estupidez". 13

* * * Conc luímos constatando que foi a perda da militância e a consequente condescendência para com o erro, o que levou os inimigos externos e internos da Igreja a desafiá-la insolentemente; ou pior, a deformar os meios católicos por dentro. Se a mentalidade "pacifista", "dialogante", entTeguista, emoliente e desertora logrou penetrar em tantos meios católicos a partir de amplos setores da Ação Católica, tal não se deveu à falta de insistência do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. E le apontou a militância como condição de autêntica catolicidade, doutrina que ele ensinou e incentivou por todos os meios ao seu alcance até o fim de sua vida. A responsabilidade pela apocalípticas defecções dos católicos perante a Revolução - algumas de las produzindo frutos que estão descritos nas frases dos seg uidores de Maomé, citada no início

deste artigo - se deve ao espírito igualitário, liberal, acomoclatício e oportunista, numa palavra revolucionário, assumi do por incontáveis eclesiásticos e leigos de todo o mundo a partir dos anos 30. Catolicismo deposita sua total confiança no poderoso auxílio de Nossa Senhora, a fim de que, sejam quais forem as circu nstâncias, jamais nos arredemos do caminho encetado pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, que contra o in sidioso espírito cios espúrios compromissos afirmava em 1944:

"Se Deus quiser, a política do 'legionário' continuará sempre a mesma[... ] fa zendo pactos só com Deus, seus anjos e seus santos, desprezando pois, inteiramente, todos os soJismas que o Levariam a manchar a pureza imaculada da doutrina católica". 14 • E-mail para o autor: catolicismo @terra.com.br

Notas: 1. Trai/é 111oderne de 1héologie isla111iq11e, Cheik Si Ham za Boubakeur , in Au g i er Pierre, Dialoguer avec l'Jslam ?, Centro M ontaurio l, IV Congresso de Pereg rinações a Lourdes , pp. 27 e SS, 2. Bruno Etienne, L'lsla111is111e radical, Hachette, Paris , 1987 . pp, 22-23. 3, Empregamos a palavra Revo lução e revolucionário no sentido que lhes atribui Plinio Corrêa de O li veira em seu li vro Revolução e Conlra-

Revolução . 4 . Sobre o profetism o no Novo T estamento, cfr. Juan Gonzalo Larrain Ca mpbell em: Plínio Corrêa de Oliveira: Previsiones y Denuncias em d~/'ensa de la lglesia y de la civilizaci6n crisliana (Pet ru s Ed itora, rua Vi sco nd e de Taunay, 363 , Bom Retiro - O11 32-000 - São Pau lo - SP - pp , 197-202), 5. Nossas reivindicações pol(1icas, " Legioná ri o" nº, 74, de 8 ele fevere iro de 1931, 6. Ofensiva ?, " Leg ionário" n", 18 1, de 29 de setembro de 1935, 1. A esfr{lfég ia apo,\'/6lica de Pio IX, " L egionário" nº. 326, de 11 de deze mbro de 1938. 8. A e,1·1ra1égia apostólica de Leão XIII, " Legionário" nº, 327, de 18 de dezembro de 1938, 9. Desmascarar, " Legioná rio" nº, 446, de 30 de março de 194 1. 1O. N6s w11·1,bé111 .. , " Leg ionário "' nº, 448, de 13 de abri I ele 194 1.

1 1, Não tratemos os lobos como ovelhas perdidas , " Leg ionário" nº. 472, ele 28 ele setembro de 1941. 12. Arau1os do Divino Rei, "Leg ion ário" nº. 478, de 9 de novembro de 194 1. 13. 7 dias em revis/a , " Leg ionári o" nº, 534, de 1°, ele novembro ele 1942, 14, O discurso de Churc/1ill, "Legionário" nº, 617 , ele 4 ele junho ele 1944. N .B. : Os negritos que fi g uram neste arti go são nossos.

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Igreja na Itália antes do Concílio de Trento. Fundou a Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo, ou "Barnabitas".

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Santa Maria GoreLLi, Virgem e Mártir

+ Bélgica, 1230. Trovador,

+ Londres, 1681. Irlandês, ordenado sacerdote em Roma e depois eleito Bispo e Primaz da Irlanda, foi martirizado em Londres. Primeira Sexta-feira do mês.

onde se reza, se educam cristãmente os filhos no santo amor de Deus, na obediência aos pais, no amor à verdade, na honestidade e na pureza ".

São Francisco de Girolamo (Vide p. 20) Primeiro Sábado do mês.

3 São Tomé, Apóstolo

+ Índia, séc. 1. Segundo a tradição, pregou o Evangelho na Armênia, na Média, na Péria e na Índia, onde foi martirizado. Uma tradição diz que passou pela América, inclusive pelo Brasil. Por seu apostolado e sua morte, confessou a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, da qual duvidara por momentos.

4 Santa Isabel, Rainha de Portugal Santo Ulrico, Bispo e Confessor

+ Augsburgo (Alemanha), 972. Zelou pela disciplina do clero em sínodos anuais, reafervorou o povo por meio da pregação e de visitas pastorais, protegeu os pobres e fundou mosteiros.

5 Santo Anton io Mai'ia Zaccaria , Confessor

+ Itália, 1539. Foi um dos grandes santos que se empenharam na restauração da

10 Beato Pacífico, Conressol'

1902. Esta menina de 12 anos incompletos preferiu ser submetida a uma morte cruel, antes que perder sua pureza virginal. Pio XII afirma ser ela "o fruto de lar cristão

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da Imaculada Conceição.

6 + Ferriere di Conca (Itália), Sagrallo Coração de Jesus (neste ano) Santo Olivério Plunkett, Bispo e Mártir

Santa Catarina. Fundou a primeira congregação religiosa feminina brasileira, as Irmãzinhas

7 Beatos Rogério Dicl<enson e Rau l Milnet~ Mártires

+ Winchester (Inglaterra), 1591. Raul, agricultor analfabeto, abjurou o protestantismo e foi preso no dia de sua Primeira Comunhão. Liberado, passou a auxiliar os católicos perseguidos. Uniu-se ao Pe. Rogério, ajudando-o no ministério clandestino entre os católicos. Encarcerado com o mencionado sacerdote, recusou-se a abjurar a verdadeira fé. Ambos foram executados.

8 São Quiliano, Bispo e Má rtir

+ Wurtzburgo (Alemanha), 689. Irlandês de origem, partiu para evangelizar a Baviera. Quando seu apostolado ia ser coroado de sucesso com a conversão do Duque de Wmtzburgo, a cunhada deste mandou assassiná-lo na ausência do Duque.

9 Santa Paulina do Coração ele ,Jesus Agonizante, Virgem

+ São Paulo, 1942. Oriunda da Itália, aos dez anos emigrou com a família para o Brasil, e tabe1ecendo-se inicialmente em

converteu-se aos 50 anos, ao ouvir São Francisco pregar. Este o recebeu em sua Ordem, enviando-o depois para estabelecê-la em Paris.

11 São Bento, Abade

+ Montecassino (Itália), 547. Patriarca dos monges do Ocidente, Patrono da Europa. Seus monges reconstruíram, por meio do cristianismo , aquele continente arrasado pelos bárbaros. São Gregório Magno dele afirma que "es-

tava cheio do espírito de todos os justos", e Bossuet o chama de "síntese perfeita do cristianismo". Lutou por uma Europa católica, oposta à que hoje se quer construir.

12 Beatos João Jones e João Wa ll, Mártires

+ Inglaterra, 1598 e 1679 re pectivamente. De familia católica galesa, João Jones enu·ou na Ordem Franci cana em Roma. Enviado para a missão inglesa, acabou sendo preso, decapitado e esquartejado por ódio à fé. João Wall , também franciscano, trabalhou na clandestinidade durante 22 anos no Condado de Worcester, onde foi executado.

1a Santo Henrique li e Santa Cunegundes

+ Alemanha, 1024 e 1033 respectivamente. Santo Henrique era Duque da B avi e ra quando recebeu do Papa a coroa do Sacro Império Romano Alemão , por seu zelo em prol da propagação da fé e sua vida profundamente re1i giosa. Sua esposa, Santa Cunegundes, após a morte do

marido, ingressou num mosteiro por ela fundado.

no, retirou-se para o deserto no Egito, a fim de fugir das ciladas do mundo.

foi um dos mais famosos da Idade Média. Patrono e protetor da Espanha.

14 São Camilo de Lellis, Confessor

+ Roma, 1614. De nobre familia, foi expulso do exército por mau caráter e vício de jogar. Por cau a do jogo, perdeu a fOLtuna e teve que mendigar. Tocado pela graça, entregou-se ao serviço dos enfermo nos hospitais, especialmente dos pestíferos. Fundou para isso a Ordem dos Ministros d Enfermos, ou dos Camiliano . Morreu vítima de sua caridade, com moléstia contagiosa que contrafra. Leão XIII declarou -o patrono dos hospitais e dos enfermos.

15 São Boa ventura, Bispo, Confessor e Dou1,or· ela Igreja

+ Lyon (França), J 274. Discípulo de ã Francisco de Assis, distinguiu-se por sua sabedoria e piedade. Cheios de unção sobrenalu ral, seus escritos lhe valeram Lítulo de Doutor Seráfico. eraJ dos franciscanos e cardeal , morreu em Lyon durante un1 concílio.

16 Nossa Senhora do Carmo

17 Beato lr16cio de Azevedo e Compa 11l1 cir•os, Míirtircs + 1570. Est s 40 Mártires do Brasil foram vítimas de pira-

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Samo Elias, ProfeLa

São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria Santíssima

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+ Séc. I. Descendentes de reis

São Lourenço de Brindisi, Con fessor e Doutor da Igreja Santa Praxedes, Virgem

e pontífices, sua maior glória consiste em terem sido pais da Virgem Maria e avós do Verbo de Deus Humanado.

+ Roma, éc. II. Contemporânea dos Apóstolos e irmã de Santa Prudenciana, foi de suma generosidade para com os cristãos, manifestando intrepidez em auxiliar os mártires.

22 Santa Maria Madalena, Pen iLente + Séc. J. "Porque muito amou, muito lhe foi perdoado" . Acompanhou o Divino Mestre até a Cruz e foi a primeira a ter notícia da Ressurreição. Antiga tradição diz que morreu no sul da França.

23 Santo Apolinário, Bispo e Míirtir + Dalmácia, séc. 1. Discípulo de São Pedro, que o sagrou bispo de Ravena, de onde foi expulso pelos pagãos. Foi martirizado na Dalmácia.

24 São Charbel Makhlour Santa Luíza de Sabóia , Viú va

tas herético prole tantes quando estavam a caminho de nossa Pátria, que vinham evangelizar. Em um êxtase, Santa Teresa teve uma vi são desses mártires entrando no Céu.

+ Orbe (Suíça), 1503. Descen-

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São I•ilasl.ro, Confessor

+ Bréscia (Itália), 386. Acérrimo inimigo do arianos, foi nomeado pároco de Bréscia.

19 Santo Arsênio, Confessor

+ Mênfis (Egito), 41 2. Roma-

dente do Beato Amadeu IX de Sabóia, casou-se com Hugo de Châlons. Perdendo o marido 10 anos depois, entrou num convento franciscano.

27 SanLa Natália e Compa nlleiros, Mártires

+ Córdoba, 852. Natália e o mar.ido, de origem muçulmana, converteram-se ao cristianismo, sendo imitados por Félix e Liliosa, também cristãos oculto . Todos foram condenados à morte junto com o monge palestino Jorge, a quem davam abrigo.

28 Santo Inocêncio 1, Papa

+ Roma, 417. Papa numa das mais turbulentas épocas da Igreja, em que a Itália era invadida pelos godos e pela heresia pelagiana. Condenou esta última a pedido de Santo Agostinho .

29 Santa Marta, Virgem Santo Olavo Rei, Confessor

+ Noruega, 1030. Estabeleceu o catolicismo como Religião oficial do Estado .

30 São Justino de Jacobis, Confessor

+ Etiópia, 1853. Lazarista italiano, foi vigário apostólico na Abissínia.

31 São Tiago Maior, Apóstolo e Mártir + Séc. I. Irmão de São João, foi um do três Apóstolos presentes na Transfiguração e na Agonia do Horto. Pregou na Judéia, Samaria e Espanha. Seu sepulcro em Compostela

Santo ln{1cio de Loyola, Confessor São Germano de Auxerre, Bispo e Confessor

+ Ravena (Itália), 450. Doutor em Direito Canônico e Civil. Ao morrer Santo Amador, bispo daquela cidade, Germano foi eleito para seu lugar.

Intenções para a Santa Missa em julho Será celebrada pelo Revmo . Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Pelas intenções particulares dos leitores de Catolicismo e para que todos eles tenham uma devoção cada vez mais intensa ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. Também para que seus filhos e netos possam receber uma educação autenticamente católica que os proteja contra o ensino imoral contido em certas cartilhas distribuídas em estabelecimentos de ensino.

Intenções para a Santa Missa em agosto • Pelos méritos da Assunção de Nossa Senhora aos Céus, rezaremos pelo Brasil, para que não sejam aprovadas leis co ntrárias às Leis de Deus, como as que visam impor a aceita ção de peca dos contra a natureza. E que a Santíssima Virgem forta leça a instituição familiar, tão vulnerada por ataques constan tes da propaganda imoral . Que os pais e mães de família sejam muito protegidos, a fim de poderem educar seus filhos de acordo com a moral sempre ensinada pela Igreja Católica Apostólica Romana .


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Resistamos fortes na fé! n

D AN IEL M ARTIN S

O

Brasil es tá assistindo à maior avalanche an. tifamília de toda sua História. A afirmação é forte, mas nem por isso deixa de ser verdadeira. Começando pelo incrível julgamento do STF, que reconheceu a união estável entre homossexuai s como entidade familiar, a onda foi se avolumando com a criação e iminente distribuição do "ki t homossexual " na escolas e a pressão em prol da PEC do "casamento" homossexual; tomando ares ainda mai s ameaçadores com a tentativa de aprovação do Projeto de Lei 122/2006, mai s conhecido como " lei da homofobia". Punindo com prisão quem se mani festar contra a prática homossexual , ainda que pac ificamente , o PLC/ 122, se aprovado, implantará uma verdadeira perseguição relig iosa, pois nos impedirá de professar publicamente nossa fé na Lei de Deus, que condena o pecado de homossexuali smo. Diante desse perigo, os católicos e todos os que defendem a familia e a Lei natural estão postos numa encruzilhada: ou lutar com todos os meios ordeiros e pac íficos ao seu alcance, ou se deixar transformar em cidadãos de segunda classe, vivendo numa sociedade que ampara e prestigia o víc io e persegue a virtude. Graças a Deus, muitas vozes se leFaixa usada na campanha

vantara m contra essa avalanche. No dia 1° de junho, uma multidão de 40 mil pessoas inundou o gra mado em frente ao Congresso Nacional para manifestar seu rotundo NÃO ao PLC/122. Na mesma ocasião foi protocolado no Senado um abaixo-assinado com 1 milhão de assinaturas contra o projeto.

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Entre as associações que se têm des- ~ tacado na mobilização e ação em prol da & família, figura o Instituto Plinio Corrêa &:~

de Oliveira. Além de marcar expressiva presença na citada manifestação do di a 1° de junho, os jovens voluntários do Instituto co ntin uara m a ca mpanha em Bra íli a por mais IO dias, distribuindo o manife to t.:m defesa de uma lei superior - 10 razões para rejeitar o PLC 122, a "lei da hornqfobia". Vi savam assim mobili zar toda a apitai Federal em defesa da instituiçft fam ili ar. A aco lhida da população foi surpree ndente. A rande maiori a das pessoas abordadas defendeu a farnília e o casamento tradi ·ional e rep udiou a " lei de ho mofobi a" . Vários elementos do público aproximaram -se para apoiar e louvar a corage m daqu Jes jovens, que para defender a Lei de Deus e a Lei natural se expunham a toda sorte de insultos dos ativistas ho mos. exuais. Digo in sult s, porq ue os houve. Por exemplo, um a mulher de aproximadamente 30 an . lesacelerou o carro, berrou vários palavrõe , e com gestos obscenos gritou : " eus intolerantes" (sic !). Os joven respondera m com sua costumeira serenidade: "Bem se vê quem. está sendo intoleran te... " . As pessoa em volta riam ao ver a fl agrante contradição daquela mulher, e saíam ainda mais favoráveis à ca mpanh a.

* CATOLICISMO

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Pedido importante. Não devemos nos deter aqui, ma continuar a fazer a nossa parte, a fim de cortar completamente o passo a essa torrente induzida. Reg istro aqui um pedido ao leitor : convoque todos seus amigos para entrarem no site www.ipco.org. br e enviarem seu protesto aos senadores, solicitando que não aprovem o PLC/122. Para encerrar, eis a conclusão do manifesto Em defesa de uma Lei Superior: "Sim, queremos proclamar que há uma lei que deve ser obedecida antes de todas as outras: a Lei dada por Deus Nosso Senhor a Moisés no alto do monte Sinai. Se o PLC 122/oraprovado, vários mandamentos da Lei Divina serão ultrajados. Não

nos é lícito, portanto, ficar omissos diante da 'lei da homofobia '. "São Pedro alertava: 'O vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, procurando a quem devora,: Resisti-lhe fortes nafé' (/ Pe 5, 8-9). "Este é o apelo do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira: Resistamos fortes na.fé! " E peçamos a Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, que interceda junto a seu Divino Filho e nos obtenha d'Ele graças de inabalável fidelidade neste trágico momento histórico". • E-mail para o autor: catolicismo@ terra .com.br

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Sobre o mandato divino -"Ide, pois, ensinai todas as nações" (Mt 28, 19) - , Dom Bergonzini explicou que Nosso Senhor não se refere somente às verdades da fé, mas a "tudo aquilo que se relaciona com a fé. Ensinar o que é certo, condenar aquilo que está errado, advertir a pessoa que erra, procurar corrigi-las". E cita textualmente um pronunciamento de Bento XVI : "Quando os direitosjimdamentais da pessoa ou a salvação da almas o exigirem, os pastores têm um grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas". *

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"O correto é sim, sim; não, não! Não existem meias verdades. Ou • verdade ou não é", afirmou o prelado, ressaltando a nec ss idade de se ter caridade para com os que erram, dando oportunid ade para se corrigirem . Mas, quando preciso, é "oportuno que imitemos Jesus Cristo que expulsou os vendilhões do T, 111p/o ". O orador foi taxativo a respeito da luta contra o aborto: "A defesa da vida, a defesa do nascituro, é um dever do cristão! [. .. ] Nenhuma gravidez é passível de aborto. Uma vez que existe vida, ela I erlence a Deus e só Ele pode tirá-la". Quando foi so li citado a esclarecer a questão das penas canônicas relati va ao aborto, o bispo resumiu em uma única palavra: Excomunhão! Expli cou que excomunhão significa estar fora da comunhão da Igreja, à qual se pode voltar pelo arrependimento e pedido de perdão.

Conferência do Bispo de Guarulhos contra o aborto ■ EosoN CARLOS DE OuvE1RA

N

a noite de 20 de junho último, no aud itório do Colégio São Bento, no centro da capital paulista, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, Bispo de Guarulhos (SP), pronunciou uma conferência patrocinada pelo Instituto Plínio Corrêa de Oliveira. O tema desenvolvido foi A cultura da vida contra a cultura da morte, tendo· o recinto ficado lotado com mais de 300 pessoas. A sessão contou com a presença de sacerdotes, religiosos, seminaristas, líderes de movimentos pró-vida, cientistas, profissionais liberais, professores e universitários. Compuseram a mesa diretora o Dr. Adolpho Lindenberg, presidente do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira; Dom Bertrand de Or!eans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil e diretor do Movimento Paz no Campo; Dom Mathias Tolentino, Abade do Mosteiro de São Bento, e o conferencista. CATOLICISMO

Dr. Adolpho Lindenberg abriu o evento apresentando o palestrante, conhecido do público brasileiro devido à polêmica travada sobre o aborto durante o último pleito eleiloral, bem como pela promoção da campanha São Paulo Pela Vida - ora em curso e que consiste numa petição visando alterar a Constituição do Estado de São Paulo para a defesa do nascituro. Dom Bergonzini explicou no início que a paz que Nosso Senhor Jesus Cristo nos concede não significa au sência de guerras ou de problemas, mas a paz de quem está em ordem com Deus. "É impossível estar bem com o próximo se não estivermos bem com Deus". Para o prelado, os partidos políticos, "ao invés de procurarem proporcionar o bem comum, promovem o bem do partido. Devemos distinguir partido político de política.[. .. ] A Igreja não tem o direito de fa zer política? A Igreja tem o dever de afazer! Como cidadão eu tenho o direito e, como bispo, como cristão, tenho o dever de Jazer política, o dever de ser político. Não partidário. Não seguidor de uma sigla. Em nosso partido, o chefe é Jesus Cristo, e nossa arma, nossa lei, é o Evangelho!"

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Polônia: ni estação anti-aborto

A respeito da polêmica que o envolveu nas últimas eleições presidenciais, afirmou : "Quantas e quantas vezes, nas eleições, ouvia-se: 'Escolham bem seus candidatos. Votem em pessoas honestas '. Só que o povo não sabe quem é quem! Então, resolvi dar nome aos bois. E se na época da eleição eu não tivesse co locado o nome da então candidata Dilma Rousseff no artigo que escrevi, não teria acontecido nada em relação ao aborto. Sou j ornalista e sei disso! [. .. ] Dilma defendeu o aborto quando candidata; dizia ela que era um carasoo Brasil não liberar o aborto. Depois do primeiro turno, no qual ela contava com uma vitória que não veio, mudou o discurso. Então foi a Aparecida, pegou no terço - e não sabia o que fa zer com ele. Nem mesmo o sinal da cruz soube fa ze,: Ela quis usar a Igreja ".

* * * No final , muitos dos presentes encam inharam perguntas ao palestrante. Diversas delas referentes à omi ssão de parte do Episcopado, que não acompanhou a atitude corajosa de Dom Bergonzini pronunciando-se sobre a questão do aborto. "Infelizmente - disse o Bispo - temos que admitir que há eclesiásticos que não comungam com nosso pensamento. Não sei como é que eles vão responder isso diante de Deus. Precisamos abrir a boca e falar, a omissão é um dos grandes pecados do rnundo ". Perguntado se o PLC 122 (" lei da homofobia") vai acarretar uma perseguição reli giosa no Bra il e, em face di so, qual é nossa obrigação de cató licos, Dom Bergonzini respondeu: "Estão pensando em penalizar as pessoas que falam contra o homossexualismo, mas e a liberdade -de expressão que é um direito que todos ternos ? O projeto [PLC 122/2006] visa até prender quem falar contra o homossexualismo. Mas não tenho medo de ser preso. Não vou deixar de expor o Evangelho por causa de cadeia. Devemos ter coragem de e,~frentar esse problema. [. .. } Devemos enfrentar com coragem e colocar o caso nas mãos de Deus. Podemos perder, mas Ele deve ganhar![. .. } Essa perseguição não vai derrotar a Igreja. Nunca. 'As portas do inferno não prevalecerão contra Ela '" . Sobre o papel da CNBB na Igreja, Dom Bergonzini afir-

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CATOLICISMO

mou categoricamente: "A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre o bispo diocesano; ela é um órgão de consulta, esclarecimento, de ajuda, de subsídio aos bispos. Ela não tem autoridade nenhum.a para dizer ao bispo '. faça isso' ou 'não fa ça aquilo'. O único superior que um bispo tem, o meu superior direto é o Papa! Eu não posso admitir que outro bispo venha mandar em minha diocese".

* * * Encerrando o evento, Dr. Adolpho Lindenberg comentou: "O silêncio diante dos atentados à Lei de Deus é um pecado, quer na política, quer em nossa vida diária, e todos os responsáveis por movimentos paroquiais, padres e religiosos, têm a obrigação moral de com.bater o aborto. Não podem. ficar em silêncio. Não de vem assistir aos atentados, mas tomar a iniciativa do ataque. [. .. } A ONGs, a Unesco, a mídia e políticos form.am um bloco maciço contra o qual é difícil se opo,: Mas se conseguirmos uma mobilização dos movimentos católicos contra o aborto, então poderemos vencer essa monstruosidade que está nos ameaçando". Após as palavras de encerramento, Dom Bergonzi ni rezou uma Ave-Maria e deu sua bênção especial aos presente , juntamente com o Abade Dom Mathias Tolentino. Em seguida foi servido um coquetel, durante o qual se estabeleceu animada conversa por mais de uma hora. • E- mail para o autor: cato licismo@ tcrra.co m.br

l I ONARIJO

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ob o l l ' ll t:I A l'olônia apela às cons<:i<?11f"if/,1' do.,· seus habitantes, reali zo11 Hl ' l'lll Varsóvia, no dia 29 de maio úlli111 0, 11()", Ma rcha em def esa da vida e do jt1111 ffin , iniciativa da Associação p el" ( '11/t,11 ·a Cris tc7 Padre Piotr Skarga ' d11 /•11111/nrao Dia Nacional da Vida.* Unt:1 111 11 l11 dao de cerca de 20 mil pe.·soas hr11d 11 v11 slogans cm defesa da família , · 11111it os 111a11ifcstantes portavam cartazes ·011w "St" f' Aborto" e "Direito de nas ·i11w11to />11 m todas as crianças". Famílias i 111 •i 1·11~ 11t·o111pa nharam a manifestação •0111 11111 11 0 entu siasmo. Foi 111:11'l'lllll l' a parlicipação de associações qul' 1'111l' 1tt campanha contra o aborto 111 di w 11ms países: Bras il , Estados Unidos, l,. n11 11i11, /\h.: manha Áustria Bélgica, Lil11 11 i11 l' Estfrn ia. D~zenas d~ sacerdolcs · l'n•i 111,\ destacava m-se na multidão, h ·111 ' llllH l m1111erosos deputados e pcssons 1 ·I ·v1111lt·s no mundo políti co polon 'ls.

A marcha deste ano foi precedida de um abaixo-ass inado-rel âmpago, qu e obteve em apenas du as seman as mai s ele 500 mi I ass in aturas pleitea ndo a proibi ção total cio aborto na Pol ôni a. Enca mi nhado à Assembl e ia Legislativa, o documento faz o seguinte apelo: "Nossa Pátria de.fi"onta-se hoj e ·om rnuitos problernas di:f(ceis, sociais, econôrnicos e

políticos. Entretanto, o problema básico é de ordem moral, fundam ento da vida de cada pessoa e de cada sociedade. Por isso, a Polôn ia apela hoje, sobretudo, à consciência de seus habitantes" . • E-mai l para o auto r: cato li cismo @terra .co m.br

* Para mais informações, recomendamos a consulta ao site www . Jiotrskaroa.[tl

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Fachada da Catedral de Sevilha Uma fortaleza meio eclesiástica e uma igreja meio fortaleza n

Pu N1 0 C o RRÊA DE O uvE1RA

E sta fo tografi a (foto 1) evoca um antigo provérbio português: "Quem não viu Sevilha, não viu maravilha". Chamam a atenção na Catedral de Sevilha a duas torre. laterais muito ornadas. Entre elas, nota-se um espaço com fundo claro e um gradeado mui to boni to de ogivas e rosáceas que estabelecem o contraste do mui to simples com o mui to ordenado. Uma grande travessa com imagens de santos, com dosséis no alto, também muito ornada (foto 2). Por cima desse fund o simples salienta-se o portal com um triângul o magnífico que é uma ex pressão da ogiva. E mbaixo, uma porta ogival profund a. A meu ver, o aspecto be lo dessa porta consiste em ter al go de monumental (foto 3). As torres têm muita altivez e levantam-se do solo co m dec isão e galh a rdia . Tem-se a impressão de que e las seguram o chão como garras, e que sobem ao céu com segura nça e despreocupação em relação ao peri go de ca ir. E las s uste nta m o peso sobre si com fac ilidade. Mais ainda, parece que elas olham do alto de si mesmas para a te rra e para os pobres transeuntes numa atitude de desafi o, como quem di z: "Se ousas, ex pe rimenta me enfrentar; só pela minha fi sionomi a te afugento". Os arcos, arrimos das torres, são .transfo rmados pe los arquitetos em verdadeiros ornatos. Há qualquer coisa que lemb ra a e ntrada de uma fo rtaleza nesse magnífico portal. Uma fo rtaleza meio ecles iás tica e uma igreja me io fo rta leza rea li za m uma síntese admirável: os mais altos valores do espírito defendidos pela força e inseridos dentro da lu ta. Um combate ao pé da letra, em que a pessoa se entrega ao total ri sco de vida. • Exce rtos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 15 de janeiro de 1977. Sem revisão do autor.



UMÁRI

PuN10 C o RRÊA DE OuvE1RA

Impostação míope e otimista sobre o comunismo cubano

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xprimir-se- ia adequ adamente assim o otimismo continental l_do Canad á à Patagônia] : Guerras apocalípti-

cas, revoluções-hecatombes, crises ideológ icas pungentes, glórias .fitlgurantes e até solares a rasgar povos inteiros em setores mortalm.ente inimigos, tudo isto f az parte do colorido e da movimentação que co,~ferem tanto realce e tanto interesse aos povos da Europa. Nas três Américas ti vernos, sem dúvida tambérn, guerras, revoluções e dilacerações. Mas elas estão para o ocorrido na Europa corno a catapora para a varíola, ou o chuvisco para a tempestade. Por aqui sempre teremos paz; paz e mais ainda paz... O corol ári o dessa impostação otimi sta - aliás, absol utamente objetável do ponto de vi sta hi stóri co - es tá em que, importando a implantação de um reg ime comuni sta numa tragédia, ele j amais cri ará raízes na Am éri ca. Esse otimi smo é, a meu ver, uma das cau sas profundas da inércia com que diversos países sul -ameri canos têm vi sto outros às voltas com convul sões de fundo comuni sta, public itá-

-CATOLICISMO

ri as, políticas ou até cru entas ; não passam de catapom .,· <•111 casas de vizinho. Quando determin ado país se sent atn ·11do, cuida-se, isto sim . N ão é, contudo, porqu e atribu a à sua " ·111n pora" a gravid ade da varío la. É tão-só porqu e ea la qu 11 I lr111 a da catapora quando dá na própri a pele. A ss im foi que os países hi spano-ameri ca nos ·onsid •1·:i rn 111 os reg im es m ai s o u menos comuni stas implant11d o s efemeram ente, ou qu ase só isso - em vári os d ' i •s. E t 11ssi111 que certos po líti cos sul -ameri canos co nsid mm i11t t· i1·11 11 11·111L· possível uma aproxim ação com Cuba. Para a mi opi :i dl'i t•s, o comunismo em C uba tende a se atenuar, p )r f'ini . Por q11L·? Simplesmente porqu e C uba faz parte da /\m ri ·n, • po,1 1111 10 a tremenda varío la qu e de modo deseo nc rt ant • " pl'pou" 1·111 C uba, propende inevitavelmente a " ea t.apori zur -s •" 11 0 t·m so dos anos ... • Excert os ele arti go cio Prof'. Pl íni o Corrêa ele O li vcirn, puhl ic11d11 11 11 " 11011111 ele S. Pau lo" cm 30- 1- 1982.

AGOSTO de 20 11

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Excmnos

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CAIUA L>O DumToR

5

PAGINA MARIANA

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LEITURA EsPrRITUAL

8

CommSPONof:NCIA

Nº 728

Nossa Senhora e milagres Considerações sobre o Pai-Nosso - VII

10 A

PAr,AVRA DO SACERDOTJ•:

12 A

REAUDADE CONCJSAl\'IENTE

A força da agropecuária

14

NAc10NA1,

16

INl<'ORMAT1vo Rumu,

18

IN'l'm~NAc10NA1,

O impasse da moeda única

20 Pm~ Qtm Noss1\

Euro: da euforia ao ceticismo SENHORA

cno1u?

Direito para práticas antinaturais?

21

D1sc1mN1Nno

22

ENT1mv1sTA

26

CAPA

América Latina - incertezas, surpresas, esperanças

38

VmAs

m~

Revigoramento na defesa de valores familiares

SANTOS

Santa Rosa de Lima

42 EP1sómos HrsTúmc;os Poitiers: marco na História 45 V A1~m0Am•:s Admiração no quotidiano

46

SANTOS E F1,:sTAS oo

48 AçÃo

52

M1~:s

CoNTRA-R1,:vowc;10NAR1A

AMnrnNTES, COSTUMES, CrVIUZAÇÕES

Carlos Marte/ - chefia na guerra, domina na paz Nossa Capa: Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo.

Santa Rosa de Lima

AGOSTO 2011 . . . , .


Pode a Santíssima Virgem operar vários milagres ao mesmo tempo?

Caro leitor,

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Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Admlnlstraçiio:

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Prol Editora Gráfica Lida. E-mal/: catolicismo@terra .com.br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços de assinatura anual peta o miJs de Agosto de 2011:

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Tendo em vista o fato de Catolicismo oferecer habitualmente a seus leitores artigos de capa que abordam temas religiosos transcendentes, ou a suntos temporais importantes, pareceu-nos que uma visão panorâmica a respeito da IberoAmérica seria muito oportuna. Ao convidar nosso colaborador Alfredo Mac Ha le, especialista na matéria, para fazê-lo, considerou ele a tarefa difícil , devido às rápidas transformações e à volatilidade a que está sujeito o quadro político-sócioeconômico em nosso continente. Em vista disso, estabeleceu-se que nesta edição seriam focalizados alguns aspectos essenciais desse vasto panorama geopolítico do mundo. E que tal análise seria complementada na edição de setembro com um artigo menor. Assim sendo, a focalização da presente análise incidiu sobre o avanço político das esquerdas em países da região, que tem como ponta-de-lança a chamada "revolução bolivariana" e como protagonistas Venezuela e Cuba. Fiel à norma adotada por nossa r~vista ele difundir particularmente notícias sobre fatos "silenciados" ou pouco tratados por outros órgãos da mídia, o autor acentua em sua análi se, por exemplo: a) a atitude dialogante e concessiva em relação à esquerda do novo presidente colombiano Juan Manuel Santos, se comparada à enérgica posição assumida por seu antecessor Álvaro Uribe; b) a adoção pelo candidato marxistoide peruano Ollanda Humala, de uma posição mais atenuada entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidenci_al daquela nação, com o objetivo de vencê-la. Fato que igualmente sobressai nessa visão geral é a posição da Venezuela que, após 12 anos ele vigência do governo esquerdista e incendiário de Chávez, está conduzindo o país ao caos. A imprevi sta enfermidade do caudilho lança uma incógnita sobre sua possível substituição, bem como a respeito do futuro da Venezuela e da malfadada "revolução bolivariana". Outra marcante incógnita no quadro é a próxima eleição presidencia l na Argentina. A reeleição da presidente Cristina Kirchner, incerta de momento, representaria um movimento rumo ao peronismo radical, que apresenta muitas afinidades com a "revolução bolivariana". A oposição - que no dizer de uma arti culista argentina se afigura até o momento "enática" e com "excesso de fragmentação" - exibe sintomas preocupantes quanto à sua fraq ueza e pouca eficácia. Assim, um comentário-chave a respeito da situação política da naçõe · iberoamericanas analisadas cifra-se no seguinte: algumas delas vão despencando no abismo esquerdista, outras convergem para ele. Tal situação é de molde a nos levar a recorrer instantemente a Nossa Senhora de Guadalupe, Imperatriz das Américas, rogando-Lhe vir em socorro das nações iberoamericanas, afastando os males que as flagelam e dando-lhes clarividência e força ante os iminentes riscos a serem por elas enfrentados. Desejo a todos uma esclarecedora e proveitosa leitura,

Em Je us e Maria,

~~7 D IRETOR

catolicismo@ terra.com.br

Ü milagre é sempre um acontecimento extraordinário. Qual seria a necessidade de operar vários deles simultaneamente? Pode haver alguma circunstância em que Nossa Senhora assim se manifeste? 1ii1 VALDIS GRINSTEINS

N

o século XVIII filosofias ímpias abalaram a moralidade pública. E quando a Revolução Francesa ec lodiu com toda sua carga de ódio anticatólico, Roma era uma das muitas cidades europeias onde a integridade moral se encontrava em estado lamentável. Seus bailes e diversões imorais, condenados por numerosos santos, degradavam o panorama da cidade que deveria ser santa por excelência. Por ocasião da Revolução de 1789 muitos otimistas pensavam que os problemas da França ficariam li mitados a esta nação, e que a tormenta revolucionária seria contida pela barreira dos Alpes. Assim, em 1793, quando a França estava em guerra com praticamente metade da Europa, parecia a muitos - e ninguém poderia prever - que os revolucionários franceses pudessem dispor de tempo para planejar um ataque a Roma. Mas em 1796 tudo mudou. No dia 2 de março, um então obscuro general chamado Napoleão Bonaprute foi nomeado pru·a o comando do exército. E já no mês seguinte começou a ganhar batalhas. O otimismo desapareceu em 12 de junho, quando os territórios do Papa foram invadidos. Hoje é difícil ter ideia do que significava a perspectiva da invasão de um exército revolucionário numa época em que ainda havia restos de espírito de cavalaria. Esperava-se que um soldado se comportasse com honra, pois afinal ele representa um país, uma bandeira, um ideal. Mas o exército revolucionário desconheceu a hon-

ra, além de negar validade aos preceitos divinos. Donde os saques, abusos de toda ordem, incêndios, latrocínios, etc. O próprio governo revolucionário francês roubava desinibidamente bens dos países ocupados, despojando-os de seus tesouros culturais, rutísticos e religiosos. Hitler e Stalin continuaram, no século XX, essa política de depredação cultura l iniciada com Napoleão. Os Estados pontifícios haviam desfrutado de relativa calma durante um bom período. As guerras anteriores haviam poupado seu patrimônio cultural. Por isso, em tais Estados, especialmente na cidade de Roma, até então capital cultural do Ocidente, a perspectiva de tal invasão e a destruição que dela seguramente adviria afiguravam-se como um horror. E foi neste momento que numerosas manifestações de Nossa Senhora tiveram início.

Sucessão de varias manifestações sobre11aturais Curiosamente, a Santíssima Virgem escolheu para manifestar-se através de diversas imagens existentes nos cruzamentos de quase todas as ruas da Roma antiga, e também de outras cidades. Essas imagens mantinham viva a devoção popular e guiavam as pessoas de uma rua pru·a outra, graças às velas acesas naquela época em que não havia iluminação pública. A primeira dessas manifestações marianas ocorreu no dia 25 de junho de 1796 na cidade de Ancona, integrante dos Estados do Papa, quando as tropas revolucionárias se aproximavam do local. A Madonna del Duomo, ou seja, da catedral, moveu seus olhos e fixou as pessoas ajoelhadas diante dela. E isto não poucas vezes , mas ininterruptamente durante meses. AGOSTO 2011 -


No dia 9 de julho daquele ano começaram manifestações semelhantes em Roma. A primeira a mover os olhos foi a Madonnadell'Archetto (Nossa Senhora do Pequeno Arco), bela imagem entronizada no final de uma estreita rua. Acorreram então multidões de fiéi , sendo necessário convocar a força pública para assegurar a ordem. Pouco depois outra imagem, seguida de uma terceira, repetiam o prodígio. Em determinado momento, nada menos que 122 imagens, em várias cidades dos Estados pontifícios, igualmente moveram os olhos, e isto durante longo período de tempo. La Madonna dell'Archetto moveu os olhos durante três semanas. Várias outras manifestações sobrenaturais também foram observadas em imagens de Nossa Senhora. O próprio Papa Pio VI foi testemunha desses milagres, além de numerosos cardeais, bispos e outras auto1idades religiosas e civis. O Pontífice ordenou uma in- · vestigação oficial, em viltude da qual hoje dispomos de registros com numerosos testemunhos. Esses fatos constituíram ótima oportunidade para resgatar almas submergidas no pecado. Numerosos pregadores pronunciaram sermões em diversas praças, entre eles São Vicente Strambi. A situação moral de Roma começou a melhorar, cessando as vinganças, as brigas e

-CATOLICISMO

as blasfêmias. Muitas igrejas permaneceram abertas dia e noite para que as pes oas pudessem se confessar. Além disso, era impossível não constatar a ocorrência de muitos mil agres em cape las particulares ou de conventos, mas sobretudo atravé das imagens existentes nos cruzamentos das ru as. Milhares de pessoas os testemunharam, dentre elas numerosos ateus e livres-pensadores, alguns dos quais de ixaram registro em seus diários privados ou em cartas. Reco rdo que , quando e u morava em Rom a, pessoas conhec idas afirmavam com a maior naturalidade que ali acontecia um milagre em cada canto de rua.

Advertências misericonllosas da Mãe de Deus Esses milagres obtiver am de Deus que Roma fosse poupada, ao menos por certo tempo. O Tratado de Tolentino, entre o Papa e a França, foi ratificado em fe vereiro de 1797. Mas a imoralidade tinha raízes muito profundas e, não tendo havido uma proporcional correspondê ncia à graça, nem mes mo esses mil ag res e limin aram inteiramente os maus costumes. Em vista di sso, um ano depo is, em fevereiro de 1798, os revo lucionários franceses entraram na Cidade Eterna e começaram as desgraças a afligi-la. O Papa foi feito prisioneiro e leva-

do para fora do Vaticano, houve saques organi zados e os assassinatos passaram a faze r parte do quotidiano. Alguém poderia perguntar: como é possíve l que mil agres tão notórios não sejam hoje mais conhec idos, falando-se pouquíssimo deles, ou quase nada? Ocorre que, de modo geral, a mídi a só difunde aquilo que para ela tem interesse ideo lóg ico-esque rdi ·ta de ser propagado. Embora haj a muita difusão de noticias a respeito de desgraças e calamidades do mundo inte iro, o le itor raramente encontrará notic iado algum milagre. Entretanto, aí estão os milagres de Lourdes, que continuam a aco ntecer de modo admirável e m nossos dias. Para certas pessoas, não é possível haver milagres porque, em sua concepção, Deus não existe. Logo, mes mo que certo gênero de jornali tas presenc iasse um autêntico milagre, poucos o noticiariam ... Diante do exposto, surge a pergunta: o que Nossa Senhora quis di zer c m as manifes tações que narramos? Como b a Mãe, Ela procurou advertir seus filhos a respeito das catástrofes que se aproximavam. No sentido literal da palavra, convidou-os a ab rir os olho . E isto não uma ou duas vezes, mas em repetidas a toes, com centenas de imagens mil agrosamente movendo os olhos, esses r ãos tão nobres do corpo humano. Um dos piores efeitos do p ado é a cegueira espiritual, devido à qu al as pessoas não querem reconhecer as fu nestas consequências daquilo que fazem. O pior cego é aquele que não qu r ver. A Virgem Santíssima procura faze r mi sericordiosamente com que seu filho s vejam claramente a realid ade. ·, para isso, multiplica prodígios qu , anali sados em seu conjunto, não podem ser explicados senão por uma ação sobrenatural. Em 1796, à vista das desgraças que se aproximavam, numerosas foram as advertências recebidas pelo povo romano. E hoje? Será que não há advertências semelhantes? Assim sendo, o que pensar de Fátima (Po rtu ga l) , R ue du Bac, La Salette e Lourdes (França), Akita (Japão), Kibeho (Ruanda), e tantas outras aparições milag rosas, várias delas acompanhadas de impress ionantes mensagens à humanidade? • E-ma il para o autor: catolicismo@terra com br

Considerações sobre o Pai-Nosso - VII S exta petição, que Santa Teresa (*) recomenda para os sábados: "E não nos deÍXeis cak em tentação"

C

o~no_ os nossos inimigos sã..o tais e tao 1mportunos que sempre nos põem em aperto - e como a nossa fraqueza é tão grande que facilmente cairíamos se o Todo-Poderoso não nos ajudasse - , é necessári o sermos perseverantes em pedir favor a Nosso Senhor para que não permita que sejamos vencidos pelas tentações presentes, nem tornemos a cair nos pecados passados. Não Lhe pedim os que não permita que sejamos tentados, senão que não sejamos vencidos pe las tentações. Poi s a tentação, sendo venc ida pelo favor de Deus e pela nossa vontade, é para glória sua e coroa nossa. E Ele no-lo manda pedir co m es tas palavras: " Não nos deixeis cair em tentação". Para que entendamos que ser tentados é permissão sua, e o ser vencido é pela nossa fraqueza; e a vitória é sua. Consideremos aqui, poi s, o quanto é verdade que todos somos fracos e enfermos. Tanto porque o herdamos de nossos pais, como porque nós mesmos, com os nossos pecados e maus costumes passados, temos nos debilitado. E apresentemo-nos assim diante deste Médico Celestial , peçamos-Lhe que não nos deixe cair em tentação. Sustentando-nos em sua poderosa Mão e não nos deixando sem cura e aj uda. Este título de Médico é muito agradável à Divina Majestade e foi o ofício que, vivendo neste mundo, mais exercitou, curando enfermos incuráveis de enfermidades corporais, e as almas de víci os envelhecidos. E por isso Ele se pôs a Si mesmo este nome quando disse: "Os sãos não têm necessidade de Médico, mas sim os e,~fermos". Desse ofício usou Sua Majestade com o homem, comparando-se com o samaritano, o qual com azeite e vinho curou

Jesus Cristo compara-se com o bom samaritano, que com azeite e vinho curou aquele que os ladrões tinham roubado, ferido e deixado melo morto

aquele que os ladrões tinham roubado, ferido e deixado meio morto. Médico e Redentor são uma mesma coisa. Só com a diferença de que o Redentor atende aos pecados passados, como diz São Paul o. E o Médico a curar as chagas e enfennidades presentes e prevenir todas as culpas futuras. Consideremos a condição dos médicos da Terra, os quais não visitam senão os que os chamam, e visitam mais a quem melhor lhes paga, e não aos mais necess itados. Encarecem a enfermidade e às vezes a entretêm para ganhar mai s. Aos pobres curam por informação e aos ricos por presença. E, nem para uns, nem para outros buscam de sua casa as medicinas. É que estas são custosas e as curas incertas. Ó Médico Celestial, que em nada di sto Vos pareceis com os da Terra senão no nome! Vós vindes sem ser chamado, e de mais boa vontade aos pobres do que

aos ricos, e a todos curais por presença. Não esperais senão que o enfermo reconheça que está doente, e que tem necessidade de Vós. Não só não encareceis a cura ou a enfermidade, mas facilitais a saúde aos enfermos por mai s grave que seja a moléstia, e lhes prometeis que, com um pedido, obterão a saúde. De nenhum enfermo tivestes asco, por mais asquerosa que fosse a enfermidade. Pelos hospitais andai s buscando os incuráveis e os pobres. Vós vos pagais a Vós mesmo, e de vossa casa forneceis as medicinas. E que medic inas? Feitas do Sangue e da Água de vosso lado. Do Sangue para nos curar e da Água para nos lavar e deixarnos sem mancha, nem sinal algum de termos ficado enfermos. • (*) Obras de Sa111a Teresa, tomo V, Conceitos do Amor de Deus - Relações espirituais - Exclamações - Poesias - Avisos. Ed itora Vozes, Peu-ópoli s, 195 1, pp. 228 e 229.

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corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros, e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?". Se as pessoas tivessem essa frase impressa em seus corações, não viveriam tão atormentadas por preocupações materiais . (G.L.A. -

AJ)

Confla11ça dos flllws de Deus

18J Deixarmos tudo confiadamente

"Sa11to remédio"

18J Nunca os homens e mulheres do mundo inteiro estiveram tão necessitados de conhecer este estudo sobre a Providência Divina. Para mim foi motivo de muita ajuda e imagino que seria para todos. Então, por que não traduzir para as principais línguas e difundir isso para todas as nações? Poderia ser via Internet. Seria o melhor "remédio" (um santo remédio) para os piores momentos de dificuldades do corpo e da alma de todos que passam por atribulações. Em vez de entrar em desespero nas dificul dades, devemos é juntar as mãos, dobrar os joelhos e rezar, tendo a certeza que a Providência de Deus não nos abandona nunca. Como disse Santa Teresa: "Quem tem Deus, nada lhe falta" . (T.E.N. -

MG)

Bondade divina

18J Que bonito o tema do artigo principal da revista ("A Providência Di vina regendo o universo") . Gostei muito e já decorei aquele trecho: "Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso

-CATOLICISMO

nas mãos de Deus é a solução, sem dúvida, mas a gente muitas vezes perde a confiança infelizmente. Mas o Altíssimo quer de nós uma entrega sem desconfianças. Precisamos aprender tal solução . Entretanto, como crianças teimosas, não queremos compreender isso. Rogo então orações para ter a humildade necessária tendo em vista uma entrega a Deus sem nada de amor próprio. Só assim poderemos dizer que somos filhos realmente fié is e receberemos a recompensa de viver sem aflições inúteis. (J.V.F. -

SC)

Misericórdia <livina

18J Fazendo minha leitura da revista Catolicismo deste mês , particu larmente do texto sobre a Providência Divina e pensando que é com a graça misericordiosa de Deus que seremos salvos, veio à mente uma historinha que recebi nesta semana num e-mail. Aí vai o texto. Seria um prazer receber de vocês um comentário. Tal historinha não lembra essa mi sericórdia divina que tanto necessitamos para ficarmos livres dos malefícios do demônio? "Pedrinho, um pequeno menino que junto com sua irmã visitava seus avós na fazenda, recebeu um estilingue e foi brincar no mato. Ele pra-

ticou a caça na floresta, mas nunca conseguia acertar o alvo. Desanimado, voltava para almoçar, quando viu o pato de estimação da avó e, num impulso, acertou a cabeça do pato e matou-o. Chocado, triste e em pânico, ele escondeu o pato morto na pilha de madeira! Lúcia (sua irmã) tinha visto tudo, mas ela não disse nada. Após o almoço, a avó disse: 'Lúcia, vamos lavar a louça'. Mas Lúcia respondeu: 'Vovó, o Pedrinho medisse que queria ajudar a Sra. na cozinha' . Em seguida, ela sussurrou ao ouvido do irmão: 'Lembra-te do pato?' . Assim, Pedrinho lavou os pratos ... Mais tarde naquele dia, quando o vovô perguntou se as crianças queri am fazer um passeio até o rio e pescar, a vovó disse: 'Me desculpe, ma eu preciso da Lúcia para ajudar a fazer o jantar'. Lúcia apenas sorriu e disse : ' u vou com o vovô, porque Pedrinho me disse que queria ficar para ajudar a fazer o jantar'. Novamente ussurrou no ouvido do irmão: 'Lembra-te do pato?' Então Lúcia foi pesca r e o Pedrinho ficou para ajudar .. . Após vários dias de o Pedrinho ficar fazendo o trabalho da Lú ia, ele finalmente não aguentava mai s. Foi falar com a avó para pedir perdão e confessou que tinha matad o pato. A avó ajoelhou, deu-lhe um abraço e disse: 'Querido, eu sei... u estava na janela e vi a coisa toda, mas porque eu gosto muito de você, eu te perdoei. Eu só estava me perguntando quanto tempo você ia deixar a Lúcia fazer de você um escravo" '. A lição é para todos e de cada dia: qualquer que sej a o seu passado, e o que você tenha feito de errado ... O diabo fica jogando em seu rosto mentiras, enganos, dúvidas, maus hábitos, ódios , amarguras, etc.; seja o que for. .. Você preci sa saber que Deu s

estava de pé na janela e viu a coisa toda. Ele só espera que você tenha __.,,c onfiança n'Ele e peça perdão. Ele viu toda a sua vida ... Ele quer que você saiba que Ele o ama e que você será perdoado. Ele está apenas querendo saber quanto tempo você vai deixar o diabo ficar fazendo chantagens e transformá-lo num escravo. A grande verdade é: Deus, quando você sinceramente pede perdão, sempre perdoa. (M.S.V. -

DF)

Comunismo ateu l8l Fiquei com muita pena do repórter que esteve em Chernobyl e vou rezar pela saúde dele. Também fiquei horrorizada com o governo comunista, pelo modo como trata seres humanos, sobretudo crianças, com tanto desleixo. Fruto do materialismo e do ateísmo comunista. (A.K. -GO)

Mar cha da loucura l8l Sinceramente fico sem entender como pôde o Supremo Tribunal Federal aprovar a "Marcha da Maconha". Evidentemente, os ministros sabem que tal marcha faz propaganda da maconha; que esta leva a outras drogas ainda mais pesadas; que · estas ajudam o fortalecimento do tráfico; que este colabora para aumentar a violência e a destruição mental dos adolescentes; logo, colabora para a destruição da família. Mas o STF quer tal destruição? Se não quer, por que então aprovou tal manifestação que propaga a droga? Procuro uma resposta para tentar justificar a decisão do STF e não a encontro em hipótese alguma. Também procuro resposta para tentar justificar como é que alguns órgãos públicos ensinam como os viciados devem se drogar para não pegar AIDS. Na parada gay havia até pessoas ensinando como fazer uma piteira para puxar cocaína, mas que a

piteira não deveria ser compartilhada para evitar contágios. O mesmo em relação a seringas. O que essas organizações deveriam ensinar é, evidentemente, que a droga acabará por matá-los e que se deve abandonar o vício enquanto é tempo. Muito mais do que planos governamentais para recuperar jovens drogados, precisamos urgentemente de planos governamentais para impedir a expansão da droga, e a começar pela maconha, que é o início do caminho sinistro que termina num despenhadeiro de onde raramente se consegue sair. (M.A.T. -

SP)

Es<111erda dissimulada?

18J Que tristeza a escolha feita no Peru nestas eleições recentes. Gosto muito do povo peruano e fico pensando se a população escolheu mesmo o Humala, ou se foi enganado, ou ainda, se não houve fraude na contagem cios votos. Em qualquer caso, temos que esperar que o novo governo não se alinhe ao coronel Chávez da Venezuela. Porque se isso acontecer a nação peruana cairá no abismo do "socialismo do século XXI" . (A.A.A. -

AS)

FRASES

'

SELEC IO NA DAS

"Quem em contenta-

mentos vãos espera, espere ctáo de áesf!n9anar-se, que tem &reves limites sua espera11 (e,ci~ões )

"Não fui ClÍe9"4 neste mundo tão p r i ~

que não pague pensão à, tristeza_,,

"Há poucas coisas tão .fata[mente CDnta9iosas como a ClÍe9M áas pessoas sérias11 _(JuLLo DLV\-Ls)

"Cada um (dê a sua

Pmf. Molion

oferta,) como propôs no

18J As entrevistas servem muito para

seu coração, não com tristeza., nem constran-

enriquecer os debates, por exemplo, sobre os efeitos das ações do homem no planeta, como a entrevista com o Prof. Molion. Ele defende a sua tese com fortes argumentos e convicção. Isto nos ajudará na busca de soluções adequadas. (M .B. -

gu{o; porque Deus ama quem áci com ClÍe9"4 11

(Stío 'PciuLo -

11 Cor

3, 7")

BA)

Moral católica l8l Ótima matéria sobre a moral. Deus vos abençoe. Vocês têm mais um aliado nessa luta. Vou repassar artigos semelhantes em minha rede de contatos.

Cartas, fax ou e-mails: enviar aos enderec;os que figuram na página 4 desta edic;ão.

(X.G.- AS)

AGOSTO 20 11 -


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1•

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Pergunta 1 - Quero tirar uma dúvida. Vivo há 24 anos com um homem que é casado no civil. Temos três filhos. Vivemos em pecado? Posso comungar e participar das atividades da Igreja?

Resposta - Realmente, sua situação atual é irregular perante a moral católica, mas talvez seja fácil de so lucionar, uma vez que a união anterior do homem não foi realizada na Igreja. Realmente, entre batizados, só há verdadeiro casamento quando fe ito na Igreja. Se o homem com o qual a senhora vive há 24 anos está separado da mulher (com quem casou somente no civil), ele provavelmente pode conseguir a dissolução desse casamento, de comum acordo co m ela. Com efeito, se ele não tem compromi ssos a cumpri r resultantes dessa primeira relação, seja no tocante à mulher, seja a eventuais filhos, ela possivelmente

concordará com a separação amigável. Ora, o casamento civil entre batizados não é vinculante, nem perante a Igreja, nem perante as lei s civis, e pode ser dissolvido, observadas as praxes legais. Assim , a senhora poderia não só se casar na Igreja - o que, ali ás, pode fazer desde já - como também regularizar sua situação perante o Direi to civil, o que, para efeitos legais, é conveniente. Na outrn hipótese, isto é, de recusa da mulher de dissolver amigavelmente o casamento civil, nada impede que a senhora providencie o casamento re1igioso com o homem co m quem vive e tem filhos. E, neste caso, que o faça quanto antes, para sair da atual situação de pecado e reintegrar-se na graça de Deus e na vida da Igreja. Com isso, ademais, dará um exemplo de respeito aos princípios e às normas da nossa santa Religião. Mas é preciso notar que o casamento religioso não de-

sobriga o homem, que já então será seu marido legítimo, dos deveres de justiça decorrentes da união civil anterior, tanto em relação à mulher, quanto em relação aos eventuais filhos que com ela tenha tido, como pensão alimentícia, cuidados com a saúde, educação, etc. Naturalmente, tudo isso deve ser feito com o decoro e a di stância prudencial que ele deve manter em relação à mulher com a qual antes conviveu. Não sej am essas tratativas ocasião para familiaridades que dariam escândalo. Diz Nosso Senhor no Evangelho que "o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt 26, 41). Todos os cuidados, nesta matéria, são poucos . Tanto mais se peculiaridades do caso, que desconheço, desaconselharem qualquer tratativa direta entre ambos. Que Nossa Senhora Aparecida a abençoe, e facilite os passos que ambos devem dar para regularizar sua situação matrimonial.

Resposta - Os protestantes negam toda outra mediação fora a de Cristo, porque na verdade não entenderam direito nem sequer ta mediação única e necessária. Por que Jesus Cristo é o único M edi ado r? Porque , como está dito pelo próprio consulente - que ouviu isso, como ele supõe, de um sacerdote - foi somente por meio de Jesus C ri sto que fo mos reconciliados com Deus. Com efeito, depois do pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva, a humanidade se encontrava rompida com Deus. Seu pecado tinha uma gravidade infinita, pois a gravidade de uma ofensa se mede

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Pergunta 2 - Já vi duas explicações católicas sobre a mediação de Jesus - tão falada pelos protestantes e queria saber qual é a correta: 1º Eu assisti ao vídeo de um padre falando que nós somos mediadores (inclusive os santos e Maria), porque todos fazemos parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Por isso, quando se fala em Jesus como único mediador, fala-se d'Ele "inteiro", incluindo seu Corpo Místico, que é a Igreja. 2° Já ouvi também (se não me engano de um padre) que a Mediação de Jesus é única, porque Ele é nosso Mediador advogado, e foi apenas por meio d'Ele que fomos reconciliados com Deus Pai. Mas todos podem ser mediadores de graça, rezando uns pelos outros. Qual é a versão correta defendida pela nossa doutrina?

CATOLICISMO

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_,,pela grandeza e dignidade do ofendido. Assim, sendo Deus infinito em sua dignidade, o pecado de Adão, que foi transmitido a todos os seus descendentes, tinha uma gravidade infinita; exigi a, portanto, uma rep aração també m infinita . Ora, nenhum homem podia oferecer tal reparação. A humanidade se encontrava, pois, num impasse. O próprio Deus reso lv e u div inam ente esse impasse: a segunda pessoa da Santíssima Trindade - o Fi1ho - encarnou-se para oferecer a reparnção necessária: sendo Deus e Homem, sua reparação teria um valor infinito, e superaria a gravidade da ofensa. Tal foi o mérito do sacrifício redentor de Cristo: Ele comprou a nossa salvação derramando seu Sangue, infinitamente precioso, na Cruz. Precisamente aqui entra a incompreensão dos protestantes: eles julgam que urna vez consumado o sacrifíc io da Cruz, estava tudo resolvido e e ncerrado. Entretanto, não é precisamente assim: os méritos alcançados por Cristo que Ele pôs ao alcance de todos os homens - precisam ser aplicados a cada homem, o que se faz pelo sacramento do Batismo, que apaga o pecado original e nos reconc ili a pes oalmente com Deus. Uma comparação ajudará o leitor a compreender este ponto. Quando uma nação rica e generosa envia socorros para outra nação devastada por um cataclismo, esses auxílios precisam depois chegar a cada urna das vítimas. A primeira operação é de obter e enviar o socorro; a segunda, de distribuí-lo. E estamos vendo, por acontecimentos recentes, como, entre a ajuda enviada e a chegada aos que dela necessi-

tam, muitas vezes se interpõem saqueadores ou aprovei-tadores inescrupulo-sos ... As duas fases são, pois, bem disti ntas. Assim também, quanto à graça que Jesus Cristo nos alcançou com sua morte na Cruz, é preciso aplicá-la a cada homem individu alm e nte. E m concreto, é preciso que os pais apresentem seus filhos para receber o benefício do Batismo. Ora, qu anta negli gência ou omissão notamos neste ponto, tanto maior quanto mais a sociedade vai ficando laica e ateia! Daí a necessidade do apostolado católico, que lembre a esses pais omissos a necessidade e urgência de proporcionar aos filhos a recepção do sacramento que os reconcilia com Deus. Adernais, quando um homem comete um pecado mortal, ele volta a romper com Deus. Não perde o caráter de cristão, que o Batismo imprimiu em sua fronte de maneira indelével, mas perde a graça santificante que o tornava a.migo de Deus e herdeiro do Céu. Aí entra o sacramento da Penitência ou Confissão, que reconcilia o pecador novamente com Deus. Jesus Cristo deu aos sacerdotes o poder de perdoarem os pecados em seu nome, apli-

cando ao pecador os méritos infinitos do sacrifício redentor da Cruz. Tal é o sentido da Mediação única de Cri sto, que só a Ele compete e a nenhum outro membro do Corpo Místico de Cristo, a nenhum Santo. Como fi ca então a mediação uni versal de Nossa Senhora? Todos os méri tos pessoais da Mãe de Deus têm valor enq uanto unid os aos méritos infinitos de seu Divino Filho. Sobre o papel único de Nossa Senhora, co rn o Medianeira de todas as graças e Co-Redentora (tese que, espera mos, sej a declarada dogma pe la Igreja) , muito haveria a dizer, co m o que se encheriam páginas e página de nossa rev ista, a qual , ali ás, não tem se omitido de tratar abundantemente da matéria.

O Col'po Místico <le Clisto Resta explicar ao consulente a pergunta que ele faz sobre o Corpo Místico de Cristo . Este fo i o tema de uma carta encíclica do papa Pio XII (datada de 29 de junho de 1943), precisamente com es e título. O Papa mostra corno a doutrina do Corpo Místico de Cristo - que é a Santa Igreja - se presta às mais altas e sublimes

considerações. Mas, como todos os temas muito alcandorados, tal doutrina recebeu também interpretações gravemente errôneas, claramente denunciadas e severamente reprovadas na encíclica. No que se refere à consul ta do mi ssivi sta, sem dúvida se pode afirmar que, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo entregue à Igreja os tesouros infinitos dos seus mérito s, para que os di stribu a a todos os homens através do seu ministério sagrado, ela partici pa da condição de Mediador único de seu Divino Fllndador. O mesmo vale para Maria Santíssima. Vale tam bém para todos os santos, e inclusive para os fiéi comuns, em estado de graça, unindo seus méritos finitos aos méritos infi nitos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como observação co mplementa r, le mbremos que o pecado morta l não exclui o pecador do Corpo Místico - como Pio XII lembra em sua encíclica - mas tornam-se membros mortos gue, se não se arrependerem em tempo, são galhos secos destinados ao fogo eterno. Não sei se o vídeo sobre o Corpo Místico de Cristo ag ue o rnissivista assistiu faz todas as matizações necessárias. Em todo caso, ficam aq ui estas poucas indicações para ele se situ ar no delicado ass unto. E me lhor fará se procurar o texto compl eto da referida encícl ica, disponível no site da Santa Sé (vatican.va), que apresenta a correspondente trad ução portuguesa do original em latim. Será uma leitura muito enriquecedora e de gra nde atualidade. • E-mail para o autor:

catolicjsmo@terra com br AGOSTO 2011

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A REALIDADE CONCISAMENTE Rússia e China aliam-se contra escudo americano

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Rússia, quatro repúbli cas da ex-URSS e a China assinaram acordo em Astana, capital do Cazaqu istão, contra o projeto defensivo americano de antimísseis, que deveria ser instalado na Europa. Na ocasião, o presidente ru sso, Dmitri Medvedev (foto), ameaçou ressuscitar a corrida armamentista como ocorreu durante a Guerra Fria. Na verdade, a Rússia teme que o escudo antimíssi l americano, oficialmente voltado contra a ameaça iraniana, neutralize os fog uetes atômicos russos e impossibilite Moscou de lançar uma cartada decisiva contra o Ocidente num futuro - mas não tão improvável - conflito. E Pequim apressou-se a apoiar o Kremlin, como na trágica época de Stalin, Brejenev e Mao Tsé-tung. •

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Crescente interesse pela cidade dos cruzados

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Acre - cidade da Galiléia (Palestina) de 50 mil habitantes - a prefeitura vai abrir ao público um bairro inteiro da Idade Média, tempo em que a cidade era a porta de entrada dos cruza.dos que iam libertar ou proteger Jerusalém. Muitos turistas vêm sendo atraídos pelas construções medievais já conhecidas, como a fortaleza dos cavaleiros hospital ários, com salões e pilares suntuosos, calabouços e um túnel que comunica a fortaleza com a cidadela dos templários. A prefeitura de Acre julga muito vantajoso atrair mais visitantes interessados pelo passado medieval das cruzadas. • 111

11Aconteça o que acontecer1 nós nunca nos divorciaremos11

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s gerações anteriores julgavam que o divórcio era uma "liberdade" e uma "conquista" a serem aproveitadas. Porém, para a geração de jovens que -:=.~;;:::-, .1.~::=..-, _ ..~:::.. ~.._-: hoje estão se casando, e que so.._.., __ w ... ....,_ ,, • ,11,. ....,._ freram as consequências do divór1 cio de pais e avós, o ideal é o oposto. "Aconteça o que acontecer, nós ln nunca nos divorciaremos", é a fraSpite se que os caracteriza., escreveu

Outras paróquias anglicanas convertem-se ao catolicismo

Senado francês repele 11casamento11 homossexual Senado da França rej eitou definitivame nte o projeto do Partido Socialista que visava a aprovar o "casamento" homossexual. Para a mídia, a votação mostrou que "os valores tradicionais vigoram em muitas partes da França". A Corte Constitucional havia definido que as leis que impedem o "casamento" homossexual não violam a Constituição e que só o parlamento poderia estabelecer esse "casamento". Diferentemente dos magistrados, os deputados dependem do voto popular para conservar seus cargos e não duvidaram em rejeitar o projeto. O deputado Christian Va.nneste (foto) qualificou dita união de "aberração antropológica", enquanto a deputada Brigitte Ba.reges perguntou com ironia: "Por que não se propõe também casamento com animais, ou a poligamia?" •

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Megalópoles de pesadelo planeiadas por Pequim

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Susan Gregory Thomas no livro thing ln Spite of Everything: A Memoir (Apesar de tudo: Uma Memória). Mu itos "sobreviventes" do divórcio dos pai s e das crises geradas pelo adultério querem hoje poupar esse drama a seus filhos. E, a frase "retrógrada" voltou com força: "As crianças antes de tudo" ; o que também quer dizer: "Não nos divorciaremos" . •

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11Cérebro de pipoca 11 Internet estimula distúrbio mental

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egundo Gilberto Dimenstein, do Conselho editorial da "Folha de S. Paulo", "começa a se disseminar entre psicólogos americanos a expressão 'cérebro de pipoca ' para designar um distúrbio estimulado -pela internet". Um psicólogo da famosa Universidade de Stanford, um dos berços da revolução digital, constatou que muitos jovens que usam excessivamente a Internet se tornaram incapazes de interpretar o significado de expressões faciais de homens e mulheres, revelando uma espécie de analfabetismo emocional e dificuldades graves de relacionamento. É como se as pessoas tivessem dentro da cabeça a agitação do milho explodindo no óleo quente, resumiu Dimen tein . •

CATOLICISMO

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equim visa a c1:iar até 20~0 uma megalópole - o Delta do Rio Pérola - que fundirá nove cidades e ocupará 42.000 km 2 • Essa gtgantesca futura cidade será maior que a Suíça e terá 45 milhões de habitantes. O conjunto poderia ainda ser superado pela megalópole que amalgamaria Pequim e Tianjin, atingindo 260 milhões de habitantes, 36% mais que a população brasileira. Nesses conglomerados o indivíduo ficará reduzido a um grão de areia, valor que o comuni smo chinês atri bui às pessoas. Os planejadores marxistas j á construíram a megalópole interiorana de Kangbashi, na fronteira com a Mongólia. Foram gastos mais de 160 bilhões de dólares em prédios futuristas, com ave nidas, museus, teatros e até um autódromo. Mas ninguém quer ir morar em Kangbashi, que hoje não passa de uma cidade fantasma ... •

Família e filhos: antídoto contra o suicídio iuvenil

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e acordo com um estudo da Organi zação Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é uma das três maiores causas de morte entre adolescentes e adu ltos jovens na faixa entre 15 e 34 anos. Acreditava-se que a pobreza, a má qualidade de vida e a prole numerosa eram as maiores causas de suicídios. O mito foi esvaziado pelo estudo. A prole abundante não deprime a mulher, mas enche-a de um sentimento de realização. Ainda de acordo com o estudo, os filhos fornecem apoio emocional e material à mãe, pondo em relevo seu papel social positivo. O suicídio emerge no trabalho da OMS como um fenômeno nefasto entre jovens dos países ricos e "desenvolvidos". •

m Maryland (EUA) , duas paróquias anglicanas ingressaram em bloco na Igreja Católica. Poucas semanas depois da Páscoa, seis paróquias até então anglicanas do Texas também abraçaram a fé verdadeira . Enquanto isso, na Inglaterra, três "bispos" e 20 paróquias anglicanas fizeram abjuração pública dessa seita protestante na catedral de Westminster durante a Páscoa. Outros três "bispos" e 100 "padres" - além de numerosas outras paróquias inglesas estão recebendo instrução de catecismo e Nossa Senhora de Walsingham a formação adequada para darem o mesmo passo. Em Blackfriars, Oxford, foi celebrada a primeira liturgia anglo-católica do Ordinariato de Nossa Senhora de Walsingham . O rito é o mesmo do século XVI, acrescido de certas festas e definições como a Imaculada Conceição e a infalibilidade pontifícia.

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Malabarismos para 11 provar11 o aquecimento global

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ão há aquecimento global desde 1998, constatam os instrumentos de medição do clima. Mas uma equipe liderada por Robert Kaufmann, do Departamento de Geografia da Universidade de Boston (EUA), tentou salvar a face dos "aquecimentistas". O trabalho entrnu na história como uma das maiores piruetas para justificar o injustificável. Ele assevera que a fabulosa emissão de súlfuros-poluintes por parte da China impediu que o "aquecimento global" aparecesse nas medições. Segundo essa visão, enquanto a sociedade capitalista teria aquecido a temperatura global, a poluição chinesa e outros fatores "salvaram o planeta". Para Judith Curry, do Georgia Institute of Technology, o argumento "é totalmente não convincente" do ponto de vista científico. •

'fendência religiosa tradicional surpreende jornal americano

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jornal laico e esquerdizante "The New York Times" surpreendeu-se quando ouviu as seguintes palavras de Mary Kate, 18 anos, estudante que renunciou à prestigiosa e cara Universidade de Harvard para tornar-se noviça das Irmãs Dominicanas de Maria Mãe da Eucaristia, em Michigan: "Nós rezamos o terço na mesma hora todos os dias. Você essencialmente vai repetindo as palavras que o Arcanjo Gabriel disse a Nossa Senhora. Essas são as palavras mais importantes da História. Rezar o terço também ensina a guardar o silêncio . Você fica realmente tranquila durante alguns minutos diante daquilo que é realmente verdadeiro".

AGOSTO 2011

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Agropecuária brasileira: modelo de eficácia apesar de fatores adversos E xemplo de reflorestamento, superávit atual de 63 bilhões de dólares, recordes mundiats em rebanho bovino e exportação de carne n HÉuo

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nquanto a ag ropecuária vencia obstác ul os de toda ordem, provia a mesa dos brasileiros e atingia 63 bilhões de dólares de superávit na balança comercial em 201 O, a metalurgia para a fabricação de veículos amargava seis bilhões de dólares de déficit. Outros setores, como o eletro-eletrônico e o farmacêutico, também vêm registrando déficits colossais. Embora os preços tenham sido favoráveis aos produtores da agropecuária, é oportuno recordar a declaração clarividente de Dr. Nelson Paludo, presidente do Sindicato Rural de Toledo (PR): "Não faça mos ilusões, a boa safra e os bons preços ajudaram a pagar apenas os prejuíws acumulados durante anos!".

Recordes mundiais da pecuál'ia brasileira O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, ultrapassando a marca de 200 milhões de cabeças - o dobro dos EUA, o segundo colocado. A população brasileira aume ntou, como também sua renda e o consumo de carne. O País tornou-se também o maior exportador mundial de carne. Contudo, enfrentando anos a fio índices avilta.dos e incertos quanto a.os preços futuros, os produtores aproveitaram o bom momento e a.bateram indiscriminadamente novilhas e vacas reprodutoras do plantel. Com isso nosso rebanho baixou quase 30 milhões de cabeça , criando um défi cit na oferta, tanto para o mercado interno qu anto para o de exportação, pressionando a inflação. Contudo, essa quebra ve m sendo paulatinamente reposta com o nascimento de novos filhotes, que estarão prontos para abate ou cria dentro de 20 ou 30 meses.

Recol'de nacional na produção de grãos O total de grãos produzidos em 2010 atingiu 149,5 milhões de toneladas. Embora seja um belo número, convém mencionar o dos EUA, que produziram 520 milhões de toneladas, e o da China, supostamente quase 500 milhões de toneladas. Tanto organi smos internacionais como órgãos da mídi a têm ressaltado a questão do aumento da fome no mundo, atribuindo a elevação do preço dos alimentos em grande medida aos biocombustíveis. Não di spomos de dados para faze r uma avaCATOLICISMO

li ação relati va aos EUA. Mas convém frisar que no Bras il a.penas J % do terri tó rio é usado para o cul tivo da cana, com a consequente produção de aç úcar e álcool; para este último, estim a-se que seja apenas 0,50 %. O que tais organismos e certos órgãos de comunicação sistematicamente "esquecem" entretanto de di zer é que a malfadada Reforma Agrária desperdiça hoje no Brasil mais de 80 milhões de hectares, que se transformaram em gigantescas favelas rurais ! Se o governo se despojasse de seus preconceitos ideológicos e entregasse es a verdadeira "Terrabrás" à iniciati va pri vada apenas 2% dos assentados da Reforma Agrária receberam título de propriedade, enquanto 98% do terri tório pertencem à União - nossa prod ução, não só de grãos, mas de proteína animal, biocombustível, macieira, etc., poderia ser imensamente aumen-

tada. Com tal crescimento seriam beneficiados não somente a __yopul ação, mas também outros setores. Outra ac usação lançada pelos ambientali stas radi cais refere-se às pastagens e ao fl agelo de áreas degradadas pela erosão e em fase de desertificação. Contudo, tais ambi entali stas olvidam temas como o abordado por "O Estado de S. Paulo" (2- l - 11 ): a desertificação, imensamente maior que a nossa, em curso no norte da China de 1950 a esta parte : 385 mil km2 , ou sej a, o equiv alente à área co njunta dos estados de São Paulo, Santa Catarin a e Rio de Janeiro ... É óbvio que a degradação de áreas do territóri o nacional é tão censurável quanto a do norte da China, e que o bom senso recomenda que esses terrenos sejam restaurados o quanto antes. É o portuno ressa ltar ta mbé m o es tranh o silê nc io dos a mbientali stas qu anto a um fe nômeno análogo: os milhares de quilô metros da África subsaari ana suj eitos à inv asão cio dese rto cio Saara rumo ao sul , a.tingindo espec ia lmente o Senegal, Mali , Níger e Chade. Tal desertificação ocorre em larga medida porque mais de 90% das necessidades energéticas das civili zações primiti vas que ali habita m são supridas com a madeira, além cio uso des ta na construção e nas cercas.

Com um novo sistema que está sendo implementado no Brasil, o eucalipto de três anos já é passível de corte

Os ambientalistas, que atacam a censurável degradação do solo no Brasil, não cobram dos organismos internacionais medidas contrn esse avanço clamoroso do dese1to! E para investir contra o eficiente agro-negócio brasileiro, procuram associá-lo ao fenômeno da degradação em fase da desertificação.

Rellorestamento crite1·ioso pela iniciativa privada O Bras il possui a segunda maior fl oresta nativa do mundo, só perdendo para a Rússia, cujo território é o dobro do nosso ( 17 milhões de km2 contra 8,5 milhões de nosso País). Entretanto, grande parte da fl oresta nativa russa está locali zada nas geleiras da Sibéria. A área de fl oresta brasileira ocupa 60,7 % do territóri o nac ional, superando de longe as áreas cios EUA, Canadá e China ("Bo letim Informativo Faep", n.º 113 l ). Nosso país possui a segunda maior fl oresta plantada do mundo, logo atrás da China. Cru zamos o ano de 2010 para 2011 com ma is de 50% de toda a madeira usada no Brasil e na exportação (construção, móveis, papel, celulose, carvão para siderurgia e lenha combustível) provenientes de fl orestas pl antadas, evitando-se o corte das fl orestas na.tivas . O Brasil detém hoje a quarta posição na produção mundi al de papel e celul ose, e ascenderi a fac ilmente à primeira se não fosse m os entra ves governamentais à produção. A ABRAF Assoc iação Bras il eira de Ativos Fl orestais - denunciou que, desde o plantio de uma árvore até o seu corte alguns anos depois, são necessári as 32 licenças do Poder público! (cfr. "Valor Econômico", edição de 28- 12-2010). De acordo com a ABRACEL - Associação Brasileira, dos Produtores de Celulose - , existe hoje a fabulosa quantia de 20 bi !hões de dólares aguardando liberação dos entrave burocráticos governamentais para ser aplicada no setor de fl oresta. O entrave mais complicado é o ambiental , porque o refl orestamento é fe ito com espéc ies denominadas "exóticas" - eucalipto, pi nus, teça, neem, etc. Elas são abominadas pelos ainda mais exóticos ecologistas radicais, que consideram as plantações de eucalipto "desertos verdes".

Avanço 11as pesquisas referentes ao eucalipto Os especialistas brasileiros têm alcançado auspiciosos progressos nos estudos dessa espécie de madeira através do desenvolvimento dos chamados "clones" ou mudas "clonais" - pequenos pedaços r tirados de uma "árvore mãe" e germinados em laboratório. Tal sistema propicia um desenvolvimento 30% mais rápido do que as mudas por semente. Enquanto em outros países as plantas levam até 20 anos para alcançarem o ponto de c01te, no Brasil , com este novo sistema e para algumas utilidades como a celul ose, o eucalipto de tTês anos já é passível de corte. É obvio que desenvolvimento tão rápido exige da planta utilização de muito mais umidade, ressecando em alguma medida a supe1fície do solo. Em contrapartida, estudos mais recentes concluíram que o eucalipto é o maior repositor de água do lençol freático. Suas raízes em forma de cunha aprofundam-se muito, perfuram o solo duro e até o subsolo rochoso, drenando a água para o lenço l freático. A lém di sso, o eucalipto é o me lhor regenerador de pastagens degradadas pela erosão. •

E-mail para o autor: catoJicismo@terra.com.br AGOSTO 2011

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INFORMATIVO RURAL

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Poder Executivo e S1'F Cl'iam pl'oblema social em Romima

Grnpo argentino salienta-se 11a produção de soja 110 Bmsil

A Comi ssão de Agricul tura, Pecuária, Abas tecimento e Desenvolvimento Ru ral do Senado decidiu realizar audiência pública para debater denúncias publicadas pela revi sta "Veja" sobre as consequências da demarcação da terra ind ígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e para discutir a questão indígena, de fo rma geral. Segundo o referido semanário, nos últimos dois anos, quat:ro novas favelas surgiram na periferia de Boa Vista (RO), a capital, em consequênc ia da TI São Mar(OS demarcação da reserva indígena. Na área desta reserva, que abra nge 7,5% do terri tó rio cio estado, viviam 340 fa mílias de bra ncos e mestiços. Em sua Soo Vlstlt I'"\ maioria eram constituídas por arrozeiros, pecuari stas e pequenos comerciantes, que respo ndi am por 6% da economi a do estado. Em 2009, todos fora m expul sos por decisão do governo Lula, ratificada pelo Supremo Tribunal Federal. No momento de calcular as compensações, o governo federal alegou que eles haviam ocupado ilegalmente terra indígena. Por isso, encampou as propriedades e pago u apenas o valor das edificações. Os novos sem-terra iniciaram o êxodo em direção a Boa Vi sta. As indeni zações fo ram insufic ientes para que os ex-fazendeiros se estabelecessem adequadamente. "Veja" ouviu 40 deles. Suas indeni zações variaram de R$ 23 mil a R$ 50 mil. Em seguida foi a vez de os índios migrarem para a capital. Os hi stori adores acreditam que eles já mantinham contato com os brancos há três sécul os. E les perderam sua fo nte de renda, proveniente de empregos e comércio, depois que os faze ndeiros fora m expul sos. U m milhar de índios in stalou-se então nas novas fa velas de Boa Vi sta, segundo a mesma revi sta. (cfr. " Veja", 15-6- l l ).

Co m somente oito anos no Bras il , o grupo argentino El Tejar superou na safra de 2010/11 tradic ionais produ tores de soj a do País, utili zando uma agressiva estratégia de arrendamentos que tem seduzido os donos de terras e oferecido forte concorrê nc ia a bras ilei ros. O El Teja1; co m e mpresa constituída no Brasil denominada "O Te lhar", concentra suas operações no Mato Grosso, onde se cal.cuia que tenha plantado até 300 mil hectares de soja, segundo levantamento junto ao setor produtivo e a consultores. O grupo argentino, com atuação ag rícola também na Argentina, U ruguai, Bolívi a e Paraguai, não divulga a área plantada no Brasil , mas uma porta-voz da empresa no País afirmou que "O Telhar" conta com 21 unidades produtoras em Mato Grosso, que integram os mais de 700 mil hectares de cul tivos da companhi a em toda a América do Sul. (cfr. "Agrolink" , 4-6- J l ). •

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RJ,111eza Jogada fora Estudos do Centro de Tecnologia Canavi eira de São Paulo comprovam: verdadeiro tesouro está sendo j ogado fo ra, todos os dias, quando o assunto é geração de energia. Trata-se da palha da cana-de-açúcar, hoje desprezada mesmo pelas usinas que prod uzem energia elétrica através da queima do bagaço da cana. A região de Ribeirão Preto pode, mais uma vez, servir de modelo para todo o setor sucro-alcoole iro do País. Segundo o coordenador de pesqui sas do CTC, Suleiman José Hassuani , o uso da palha na geração de energia pelas usinas de cana pode garantir eletricidade para até 13 milhões de residências . São, em média, 12,6 to neladas de palha desperdiçadas por hectare. CATOLICISMO

Plantac;ão de soja

A cada safra, são 84 milhões de toneladas de palha deixadas nos canav iais brasileiros, que seriam suficientes para abastecer Ribei rão Preto, Guarulhos, Campinas, São José dos Campos, São José do Ri o Preto, Diadema e Sorocaba. " É produção de energia renovável, limpa e que pode contribuir com o fatu ramento das usinas, mas que hoje está sendo desperdiçada ", crê o coordenador da secretaria, R icardo Viegas (cfr. "DCI", 14-6-11).

José Rai11J1a, do MS1; é preso A Polícia Federal prendeu no Pontal do Paranapanema o agitador profissional e líder do MST da Base - dissidência do MST - , José Rai nha Júnior. Ele é acusado de desvio de dinheiro da ve lha e fracassada Reforma Agrária ! Agentes da Polícia Federal prenderam também seus cúmplices, dirigentes do INCRA no estado de S. Paulo. O superintendente do INCR A, Raim undo Pires da Silva, e pelo menos dois coordenadores do órgão fora m detidos. Em abril, a Justiça Federal aceitou de núncia oferec ida pelo Mini stério Público contra José Rainha. Outras oito pessoas fora m acusadas do mesmo crime. A investigação, inic iada há 1.0 meses, foi desenvolvida com acompanhamento do Mini stério

Público. Em nota, a PF afirmou que ·o grupo ac usado usava associações c ivi s, cooperativas e institutos para se ap ropriar de recursos públicos destin ados à Reforma Ag rária (cfr. "O Estado de S. Paulo", 16-6- 11 ).

Prisão vai preju<licar pmgrnma do P1' O mini stro Gilberto Carvalho, que se te m revelado protetor dos ditos movimentos sociais, fico u "muito triste" e "lamentou" a pri são de José Rainha, acusado de desvio de verba pública. Razão do mini stro? - A pri são de Rainha "tumultua o processo de Reforma Agrária" e "a relação com os movimentos. Por isso estamos extremamente preocupados ". Para ele, apesar dos 10 meses de investigação sobre os desvios de Rainha, "ainda é cedo para qualquer palavra que o incrimine ou não" ... Quanto aos corruptos do INCRA, cúmplices de Rainha, o ministro prometeu: "Tomaremos medidas para afastar as pessoas que estiverem efeti vamente envolvidas em algum desmando ou malfeito". Ficou tudo claro, leitor? Tais fatos mostram bem como se desenvolve a Reforma Agrária! (cfr. "Agência Estado", 16-6-J 1).

AGOSTO 2011

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INTERNACIONAL

Europa castigada por um mito revolucionário E mbora dolorosa, a única solução para a atual crise econômica que assola o continente europeu é o abandono do euro. A insistência na moeda única não se justifica, a não ser por motivos político-ideológicos.

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CARLOS PATRICIO DEL CAMPO

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fo rma como a Europa se apresenta hoje ao mundo asseme lha-se a um espetác ul o de desvairados que perderam a razão. Di ante da cri se que se avoluma, o que predomina no ambiente po lítico europe u são a indecisão, a incerteza, a contradição e a carência de lógica, ecoadas por sua vez pelo geral da mídia com opini ões esparsas, incompletas e contraditórias, como se ex isti sse um temor de apontar a realidade completa e escancaradamente.

O impasse A li ás, é compreensível, pois está em jogo a própri a sobrevivência do projeto de uni ão e uropeia tão acalentado pe las cúpulas governamentais. Excogitou-se construir uma Europa unida, estruturada artifi cialmente segundo determinadas normas estabelecidas por uma cúpula, com a colaboração do parlamento e banco central europeus, sob a ég ide de um regime monetário de moeda única - o euro.

O fruto prometido dessa nova Eu ropa seria um salto quanto ao progresso e ao bem-estar econômico-social das populações dos 27 países membros . E isto sem necessidade, em seus as pectos básicos, de tais países abrirem mão de suas estruturas de gove rno individuais. Esta preservação de independência política e econômica - ainda que dentro de certos limites - tornou o projeto apresentável diante da opini ão publica. E ntretanto, o "calcanhar de Aquiles" está nessa inde pendência do projeto. E m um regime de moeda única, qualquer desajuste fiscal ou monetário, ou a existência de algum tipo de rigidez nos preços e salários - frutos de pressões políticas internas, ou de uma gestão errada da autoridade econômica de um país- membro - afeta necessariamente e de forma direta sua economi a real, ou seja, o nível de emprego e rend a. E, dependendo do grau desse desajuste, o país "doente" pode contagiar o conjunto. Não existe a possibilidade de alteração da taxa de câmbio, que nessas situações poderia atuar como um a espécie de amortecedor, diminuindo as consequências negati vas desses desajustes no emprego e na renda do país afetado, evitando assim o contág io. Na realidade, para um conglomerado de nações, a vigência de uma moeda única e a independência decisória em matéria econômi co- fin anceira de seus membros, de certa maneira, são termos contraditórios. Problema difíc il de resolver quando a renúncia a essa independência em favor de um governo central parece ser uma utopi a irrealizável; sobretudo em se tratando de países com larga tradição histórica, e marcados por difere nças cultu rais profundas e rica e de costumes, com é o caso da nações e uropeias. Esse é o verdade iro impasse em que e encontra hoje a U ni ão Européia. Ou seja, como sair da cri se mantendo a independência política e econômica de seus países-membros, especialmente em matérias fiscais e mo netárias.

plina fi sca l, ou seja, se gasta além do permitido, ac umulando um a dívida que, por seu volume, ameaça tornar-se incobrável. ....../ A primeira reação do mercado é suspender novos e mpréstimos e dificultar a renovação dos antigos, gerando assim uma ex pl osão nos juros a serem pagos. E, no fim desse caminho, chega-se rapidamente à fa lência. Para ev itar essa situação extrema, as nações pressionadas se vêem obri gadas a gastar menos - "apertam o cinto" - , provoca ndo desemprego e queda de renda. E, como conseqüência natural , o descontentamento se generali za na popul ação com danos soc iais e po líticos previsíveis. Tal situação torna fac ilmente vulneráveis os bancos credores, gerando uma instabilidade em todo o sistema fin anceiro especialmente o euro peu. Para evitar o contágio, órgãos finan~ ceiros internacionais (Banco Central Europeu, FMI, etc .) correm em auxilio dos bancos credores comprando os títulos " podres" das nações em crise, os quai s estão na posse desses bancos . Tenta-se ass im salvá- los de uma eventual bancarrota, assumindo a dívida impagável. Ao mesmo tempo, as autoridades centra is press ionam os países em dificuldade a praticar uma disciplina fiscal que equilibre as despesas com as receitas. Visam a conseguir desse modo criar condições para que, num prazo mais ou menos longo, eles possam pagar os títul os que ficaram em mãos desses órgãos fin anceiros internacionais. Quem assume o custo desta "correri a"? O país ou países em cri se e o conjunto todo - e dentro do conjun to, espec ialmente os países mais fo rtes e di sciplinados. E m outros termos, o prejuízo é geral, com uma di stribuição da carga segundo as situações particulares e as negociações políticas. Em face dessa ituação, é inteiramente razoável que a população dos países mais fo ttes e disciplinado se pergunte por que razão eles vão ter que assumir boa parte desse custo. Pi or ainda, quem garante que, uma vez a situação resolvida, não haja reincidência. São perguntas válidas e difíceis de responder.

A saída O leitor fac ilmente percebe que todo este custo político, soc ial e econômi co surge, em última análi se, por causa da tentativa de suste ntar o euro, a moeda única da Uni ão Euro peia. Pelo dito até aqui parece não ser difíc il concluir que os países membros da União Europeia estão di ante de uma alternati va: ou renunciar à direção de suas economias ou abandonar o e uro. Renunciar à direção de suas economi as significa, e m gra u não pequeno, renunciar à sua própria indepe ndência po lítica. Ora, graças a Deus, tal caminho é tota lmente inaceitável para a maiori a dos europeus. Resta, portanto, a hipótese de aba ndonar a moeda única. A saída não deixa de ser do lorosa. Mas, pelo menos, envereda-se na direção certa. Insistir em pseudo-so luções que não reso lvem o problema de fund o não parece ser uma atitude sapi enc ial. Seri a como alguém to mar as pirin a para cura r um câncer. O caminho do prog resso da Euro pa não passa pelo euro ou por qu alquer outra moeda única. Bastam um mercado aberto para produ tos e recursos e uma política econômica individual correta com esta bilidade monetári a e fiscal. Nesse ambiente a variedade de méritos e qualidades que caracteri za m os po~ vos e uropeus, fr uto de antigas tradições que ainda sobrevi vem, reluziri am com esplendor maior, para encanto e proveito do mundo . Nesta situ ação, os países " indi sciplinados" seri am "casti gados" pelo mercado. Mas, de modo geral, as saídas seri am mais suaves e se m pe ri go de um grave contág io. Insistir na moeda única não te m fund amento econômico de importâ ncia relevante. Na reali dade, e princ ipalmente, só se justifica em virtude de metas político-ideológicas. • E-mai l para o aut or: catol icis1110@ 1crra.co 111.br

A realida<le dos fatos

Protestos nas ruas de Atenas contra o plano de austeridade do governo grego

CATOLICISMO

O primeiro país a entrar em crise fo i a Grécia - em 20 1O, por incapac idade de pagamento de sua dividas. Neste momento, Portugal e Espanha estão na berlinda, isto é, na iminência de uma crise em suas balanças de paga mento. Algo similar levanta-se no hori zonte com relação à Itáli a. O denominador comum dessas situações é a fa lta de disc iAGOSTO 2011 - -


Os "ídolos"

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E proibido rezar pelos mortos? o Cemitério Nacional de Houston, uma das grandes cidades dos Estados Unidos, as lápides mortuárias são - como em geral nos cemitérios modernos - todas iguais, gélidas, desprovidas de imagens ou lembranças piedosas, sem arte nem bom gosto, quase se diria atéias. A única consolação para os que ali vão recordar a memória de seus entes queridos é poder rezar por eles. Pois bem, mesmo isso lhes está sendo proibido. "O Cemitério Nacional de Houston informou aos veteranos de Guerra e voluntários que os ajudam, que não poderão mais empregar as palavras 'Deus', 'Deus te abençoe', ou 'Jesus' em nenhum funeral ou cartão de condolências. Tais palavras são consideradas 'ofensivas'". Três organizações-os Veteranos de Guerras Estrangeiras, a Legião Americana e as Damas do Memorial Nacional · de Houston - denunciaram a diretora do cemitério, Arleen Ocasio, e outros fun c ionários do governo por criarem "hostilidade religiosa" no cemitério. "Voluntários da localidade e grupos de veteranos que trabalham no cemitério estão processando a administração do mesmo num tribunal federal para obterem permissão de usar a palavra 'Deus' ". O processo é contra o cemitério e o Departamento de Assuntos dos Veteranos de Guerra por "ampla e contínua discriminação contra o direito privado de expressão religiosa". Para M arilyn Koepp, voluntária das D a ma s d o M e mori a l Nacio nal de Houston, "é absolutamente chocante que esta mulher [Arleen Ocasio] venha nos impor que não podemos dizer 'Deus te abençoe' ". Já Cheryl Whitfield, fundadora dessa mesma associação de Damas, afirmou: "Eu poderia ter ficado calada e deixar

C onduzida através de etapas bem estudadas, a prática do homossexualismo passou da rejeição popular à categoria de algo intocável; do inferno ao olimpo.

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CATOLICISMO

não podem ser criticados

rn Cio A LE NCASTRO

as coisas acontecerem, mas quando se trata de defender nossa crença em Deus e consolar as famílias , não quero ter remorsos por não ter dito nada". O processo judicial descreve a maneira de a Sra. Ocasio administrar o cemitério: "As portas da capela permanecem trancadas durante as horas de abertura do cemitério; a Cruz e a Bíblia foram removidas e os sinos, que tocavam pelo menos duas vezes ao dia, não funcionam mais. A diretora somente destranca as portas da capela quando reuniões ou sessões de treinamento são ali realizadas. Mais ainda, o prédio não é mais chamado 'capela', mas 'local de encontro'". Outra pessoa que sofreu di scriminação, segundo o processo, é Nobl eton Jones, veterano da Guerra do Vietnã. Após recitar por muitas décadas a frase "rogamos a Deus que lhes conceda, e à sua.família, graça, misericórdia e paz", foi-lhe ordenado que parasse. "Isso me faz sentir diminuído, mesmo porque passei meu tempo no exército lutando para que as pessoas tivessem a liberdade de usar essas palavras", declarou. *

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Hoje em dia, vai sendo concedida liberdade para tudo quanto antigamente se proibi a ou se ocu ltava nas trevas. É a maco nha, é a libertinagem, é o nudismo, são os pecados contra a natureza. Ne se " libera geral" chegará daqui a pouco a vez da pedofilia, do incesto, e o que mais se queira. Já se prepara a redenção até do demônio. Em tal clima, não nos iludamos, a prática da virtude passará a ser proibida e o bem, perseguido. A pregação da liberdade total é apenas um paravento para enganar os ingênuos. O que se avista no hori zonte é a intol erância para com a verdadeira Religião e até para com o Criado r. A perseguição no cemitéri o de Houston é ape nas um exemplo. "Que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunidade entre a luz e as trevas?" (II Cor. 6, 14). Uma frase el a c itada Sra. Cheryl Whitfield resume nossa obrigação: "Temos que defender aquilo em que acreditamos" . • (*) Dados extraídos dos sites noticiosos Foxnews e Pundit Press , de 29-6- 11.

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linio Corrêa de Oliveira insistia em que os princípios morais devem ser constantemente recordados, pois a omissão em fazê- lo conduz gradualmente às piores degradações. É o que estamos presenciando com relação à prática homossexual. Quando, nos anos 50, ouvia-se di zer que alguém possuía esse vício - então raramente confessado - isso vinha envolto numa atmosfera de horror. As próprias crianças ridicularizavam quem assim se manifestasse . M as j á nessa época os princípios morais que condenam a prática homossexual eram pouco ensinados. O horror então existente vinha mais do bom senso, ainda pre ervado, e de uma certa tradição adq uirida. Com o passar dos anos, o processo de aceitação desse vício continuo u, e pouco depois se começa a ouvir - provindo até de meios religiosos - que a prática do homossexuali smo se origin a de uma doença e não é um vício moral. Punha-se assim em moda uma nova apreciação do problema. E a co nseq uênc ia concreta dessa moda é que a anterior rejeição social ao homossex ual praticante se derrete e m pena: "Coi tado! É um doente". Foi uma etapa passageira, mas fundamental, pois

derrubou a barreira de horror que havia em relação às orgias homossex uais. A fase seguinte abandonou a idéia de doença, para fixar-se no "d ireito das mi nori as". Os homossexuais eriam uma minoria no campo da sexualidade humana, com direitos análogos aos de todos aq ue les que legitimamente constituem minorias dentro de uma nação. Há pouco, mai s um passo foi dado: igualdade total. O STF concedeu à união homossexual o caráter de "entidade famili ar", em igualdade com as fa míli as legítimas! Inclui direito de adotar crianças, direito de herança, benefícios previdenciários, seguro-saúde em comum , declaração conjunta do imposto de renda etc. como para marido e mulher. Programa-se agora ir adiante: os homossexuais seri am seres superiores, que formar iam uma espécie de casta, contra a qual ning uém poderi a se manifestar. Daí as pretendidas " leis da homofob ia", que não visam mais favorecê- los, mas sim perseguir e pôr na cadeia quem usar de sua liberdade de expressão para discordar da prática homossexual. Se aprovadas tais leis, poderemos continuar criticando um juiz, um deputado, um religioso, até o presidente da

República. Mas os homossex uai s, não. Os "ídolos" não podem ser criticados ! Nesse sentido, vários parlamentares do PT têm se esforçado no Congresso Nacional para fazer aprovar uma " lei de homofobi a", pe la qual seria crime qualquer manifestação, mesmo individua l e pacífica, que rejeitasse essa prática antinatural. Toda essa orq uestração vem sendo conduzida de modo muito artificial, poi s a massa da população continua a ver com desagrado essas manifestações chibantes em defesa da homossexualidade. Mas não basta tal desagrado se ele não se traduz em protesto contra a verdadeira di tadura que vem sendo impl antada nessa matéria, especialmente por parte da mídia e de certos políticos e juízes . Para isso é preciso ter bem claros os princípios. Afinal a prática homossexual é considerada pela Igreja como pecado que brada aos Céus. E temos ainda o fato bíblico de Sodoma e Gomorra, destruídas pelo fogo ! • E- mail para o autor: cato)icismo@ terrn.com. br Nota: * Para o leitor desejoso de inteirar-se melhor dos princípios relati vos ao tema, indicamos a ed ição de novembro/2004 de Carolicismo.

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Mobilização contra o aborto e outros fatores corrosivos da instituição familiar A ção empreenctida no Vale do Paraíba (SP) representa um contributo em defesa da vida e do Brasil autenticamente catóHco

E

m nossa época de indiferentismo religioso, a doutrina católica não só é denegrida pelos seus adversários, mas tantas vezes desobedecida até pelos próprios seguidores. Poucos se destacam na luta contra a maré relativista e o neopaganismo. Um deles é o Prof. Hermes Rodrigues Nery, que concede esta entrevista . a Catolicismo. Ele é coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e do Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté (SP); diretorexecutivo do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida - Brasil Sem Aborto; coordenador da campanha São Paulo pela Vida; professor de bicética (pós-graduado pela PUC-RJ , em curso promovido pela CNBB e Pontifícia Academia para a Vida) ; catequista, pai de família, jornalista e escritor.

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Catolicismo - Em meio a tantas ameaças e ataques à fé católica, especialmente no Brasil, enquanto muitos se deixam arrastar pelo relativismo, chegando até mesmo ao ateísmo, o senhor se destaca pelo entusiasmo que demonstra como uma das mais atuantes lideranças católícas do País. Uma vez que os ataques contra a Igreja Católica em nossos dias são intensos e sistemáticos, perguntamos: afinal, o que está sucedendo? Prof Hermes - O entusias mo se mantém pela con-

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vieção da verdade de qu e a Igreja provada por 2.000 anos - sustenta: urn a verdade de amor que supera todos os equívocos da História; os enga nos ideo lógicos qu e são co rn o o "psiu" da serpente, que prometem a panacéia utópica de realidades tempora is, a qua l se transforma em pesadelos totalitários e inumanos . Daí a " pérola da verdade" qu e a Igreja mantém corno sei doutrina que perm anece rocha inconcussa, a confirmar o que Jesus assegurou a Pedro: "As portas do inferno não prevalecerão". Mas esta convicção req uer de nós pôr a mão no arado, carregar a cruz e seguir Nosso Senhor Jesus Cri sto. Daí o sentido da missão evangeli zadora ser cada vez mai s ex ige nte, em meio a tantos desafios.

Pl'of. llcnncs: "O maior desafio, de toe/os eles, penso cu, seja o ele não se deixai' le1 1al' pela co1Tc11tcza daqueles que qucrnm bai1il' Deus do hol'izonte da Jlistól'ia "

Catolicismo - Quais são esses desafios? Prof Hermes - Gostaria de di zer como Chesterton: "Sou o homem que - com grande ousadia - descobriu apenas o que havia sido descoberto antes: a Igreja é o cam.inho segu,v da salvação". É o que a experi ência mostra com fartos exemplos do cotidi ano. "Fora da Igreja não há salvação!" Isso é de uma tão grande atualidade, que nos fo1talece quando nos vemos na tempestade da pós-modernidade. E quando o barco em que estamos parece não dar conta de tão grandes ondas adversas, ouvimos a voz de Jesus - que anda sobre as águas e acalma o mar - a nos di zer repetidas vezes: "Não tenham medo! ". O maior desafio, de todos eles, penso eu, é não se deixar levar pe la correnteza daq ueles qu e qu erem banir Deus do hori zonte da Hi stória. E agora mais do qu e nun ca - é hora de reconhecermos que

zando o abo,to, autori zando a eutanásia, permiti ndo o uso de embriões humanos em pesquisas científicas, ferindo a dignidade sacramental do matrimônio ao legitimar uniões do mesmo sexo com o direito de adoção de crianças, negando assim o direito destas à insubstituível e imprescindível paternidade e maternidade, indispensáveis à formação integral da pessoa humana. Por isso a Evangelium Vitae buscou sensibilizar os governantes e legisladores não apenas a elaborar e aprovarleisem favorda vida, como a sociedade de um modo geral a colocar-se ao lado da vida, na defesa do nascituro, do portador de necessidade especial, dos idosos, enfim, dos mais fragilizados do mundo, pois o que a fgrej a quer é a vida para todos.

precisamos de Deus. Por isso rezamos e trabalhamos, para no manterm os vinculados a Ele (daí o --s'e ntido da relig ião - re ligare), poi s é este víncu lo co m o Altíssimo qu e irá gara ntir a vida eterna . Esta é a vida qu e nos inte ressa: a vida verdadeira . O apelo pela defesa da vida foi fe ito pelo papa João Paul o ll , em sua memorável encíc lica Evangelium Vitae. A defesa da vida, portanto, é hoje prioridade na missão evangeli zadora, para qu e a vida di gna seja condição para a vida plena na eternidade. É nesse campo qu e sopra mais forte o Espírito Santo, a ex igir de nós uma atuação coerente com o Evangelho. Catolicismo - Que pontos relevantes o senhor destacaria na Evangelium Vitae e qual é a importância do apelo do Papa na defesa da vida? Prof Hermes - A Evange /ium. Vitae é profética porque denunciou as novas ameaças à vida humana e as hostil idades contra a in stitui ção fam iliar (e também contra a Igreja), demonstrando qu e ta is ataques - cada vez mai s intensos - não são espontâneos, mas pl anejados e siste mati zados por poderosas forças culturai s, po líticas e econômi cas, que têm como objeti vo mi nar a sã doutrina católi ca, para relativi za r e banali za r cada vez mais o sentido e o va lor da vida, vu lnerabilizando a pessoa humana a condições indignas de ex istência. Tais ataqu es frag ili zaram a vida humana, de modo es pec ial na fase nascente (com a tragédia cio aborto) e no seu ocaso (com a eutanásia), dentro de um contexto político que o próprio Papa chamou de "conjura contra a vida", em qu e forças ideológica vão impond o estilos sui cidas qu e se vo ltam contra o ser humano, agrilhoando-o a fal sas necess idades e perversas ilusões . Há um em bate que o Papa chamou de "cultu ra da mo1te x cultura da vida", em uma "guerra dos poderosos contra os débeis". Realidade esta tão bem documentada e elucidada, por exemplo, por Edwin B lack em seu livro "A Guerra contra os Fracos - A eugenia ea campanha norte-arnericana para criar um.a raça superior". Os mesmos institutos e fundações noite-americanos que naquela época investiram nas pesquisas nazistas por uma "hi giene racial" da espécie humana (recorrendo às esterili zações), são os que hoje promovem o aborto e a eutanásia no Brasil e no mundo. Através da permissividade legislati va, os poderes constituídos vêm aprovando leis contra a vida: descriminali-

Prof. Hermes Rodrigues Nery, coordenador da Campanha "São Paulo pela Vida", faz pronunciamento na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo

'~nnas possantes visaJJ(/o atingir OS alicel'CCS da Igreja, muna somatória de csfol'ços, com investidas lucife1·i11as, com o propósito de destrnir a fé cristã "

Catolicismo - A Igreja sofre com tudo isso, daí ser imprescindível a defesa da vida. Que forças ideológicas são estas que formam o que a Evangelium Vitae chamou de "cultura da morte"? Prof Hermes - A Igreja não apenas sofre com tudo isso, mas é atingida por estas forças ideológicas no que ela tem de mais sagrado. Há uma sutil estratégia no intuito de tentar corroer inclusive por dentro a instituição, os seus princípios e valores, com uma metodol ogia muito sofisticada: descaracteri za ndo conceitos, dando outro sentido e significado àq uilo que a Igrej a sempre anunciou como valor de vida, relativizando e debilitando a moral cristã para viabili zar a aceitação de um ideário inte iramente anárquico. São forças antigas, antiqüíssimas, que j á atuavam desde os primórdi os da lgreja (a começar pela gnose) , e que agora encontram na tecnologia e em tantos meios de manipulação dos mass media armas mais possantes, visando atingiJ· os alicerces da Igreja, numa somatóri a de esforços, com investidas luciferinas, com o propósito de destruir a fé cri stã. De todas as re ligiões, é a dou trina católica apostólica romana a que se quer mais atingir. Estas forças ideológicas (o laicismo de raízes maçônicas e também anarqui stas, o ateísmo agressivo, o fund amentalismo ambiental, o fe minismo radical, o cientificismo hu xleano, etc.) têm sido difundidas e sustentadas por instituiçõe , organismos sociais e empresas, com vasta ramificação em todo o planeta, direcionando seus dardos principalmente contra a fgreja Católica. Catolicismo cesso?

Como vem ocorrendo esse pro-

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potências que atuam "de modo anônimo" têm expressão nos centros privados do poder, nas grandes fundações (como as Organizações Rockefeller, a Ford, a MacArthur, a Buffet, a Gates, a IPPF, a Bemfam, o IPAS), na vasta rede de OnGs feministas que defendem os direitos sexuais e reprodutivos, em agências da ONU , etc., que querem "construir o mundo de um modo autônomo, sem Deus"; daí a obsessão _pela manipulação da vida, com as possibilidades inquietantes em decorrência dos avanços biotecnológicos. Depois da obsessão por uma libertação que primeiramente se expressou por uma utopia social, agora quer se chegar a uma libertação mais profunda, contra até mesmo as condições biológicas do ser humano . "Aqui se ultra-

Na história recente, depois da Segunda Guerra Mundial, estas forças se intensificaram e passaram a atuar de modo mais sistematizado. Desde 1952, em departamentos da ONU, com o apoio crescente de grandes fundações internacionais (Rockefeller, Ford, entre outras) - foi se estruturando no interior de muitas instituições, principalmente no meio universitário e das comunicações, e governos, um anticatolicismo que superou o anticlericalismo do passado, pois agora é a doutrina moral católica que está seriamente ameaçada. A líder fem ini sta Frances Kissling, fundadora da OnG Católicas pelo Direito de Decidir - que é católica só no nome, para confundir - afirmou: "A perspectiva católica é

um bom lugar para começa,; tanto em termos filosóficos, sociológicos como teológicos, porque a posição católica é a mais desenvolvida. Assim, se você puder refutar a posição católica, você refutou todas as demais. Se você derrubar a posição católica, você ganha". Catolicismo - Nesta luta contra o aborto e tantos males que visam à degenerescência da família, não há necessidade de mover uma verdadeira cruzada? Prof Hermes - Sim. Trata-se de uma cruzada, no melhor sentido cristão. O apelo lançado pela Evangelium Vitae pela defesa da vida deve mobilizar a sociedade nesta nova frente de batalha. E rogamos a intercessão de São Miguel Arcanjo, pois vemos que os ataques contra a vida e a família são também ataques contra a Igreja. Mas é promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo de que ela não será inteiramente combalida. O próprio Catecismo afirma que "a

consumação da Igreja e, através dela, a do mundo, na glória, não acontecerá sem grandes pmvações" (CIC, 769). É promessa de Jesus: 'quem perseverar até o fim, será salvo''" (Mt I O, 22). Catolicismo - Sobre a tragédia do aborto, que interesses estão em jogo? Prof Hermes - A questão do aborto é a ponta do iceberg. Há um holocausto silencioso, vitimando a milhares de seres humanos a cada dia, em todas as partes do planeta; vidas ceifadas ainda no ventre materno, do modo mais cruento e doloroso, pois o inimigo de Deus tem sede do sangue inocente. "Esta-

mos todos na realidade presos pelas potências que de um modo anônimo nos manipulam", afirmou Joseph Ratzinger em seu li vro Jesus de Nazaré. Essas CATOLICISMO

passou, por assim dizei; a teologia da libertação política com uma antropológica", explicou Ratzinger em sua obra O Sal da Terra. Tais forças de poder

Rogamos a Intercessão de São Miguel Arcanjo, pois vemos que os ataques contra a vida e a família são também ataques contra a Igreja

"O J'ato é que com

o PNDJl-3, os direitos lwma110s

se transl'o1·mam em palavra-deordem para justiflca,· uma nova mentalidade e ordem mundial i11teiramente amoral"

atuam no esforço de um desmonte das estruturas civilizacionais do Direito natural , e na arqu itetura de uma engenharia social, tecnicamente planejada para um completo domínio da vida. O controle populacional faz parte desta estratégia. O aborto, portanto, é um aspecto sombrio desta terrível realidade que o Papa chamou de "cultura da morte". No Brasi l, todas estas ideologias estão contidas no Plano Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3, que causou assombro e perplexidade entre vários setores da sociedade, quando foi lançado pelo governo federal, em dezembro de 2009. O fato é que com o PNDH-3, os direitos humanos se transformam em palavra-de-ordem para justificar uma nova mentalidade e uma ordem mundial inteiramente amora l, em que a pessoa deixa de ser sujeito para se tornar objeto, destituída de humanidade, sem proteção e promoção, anulada e m sua identidade e vítima de reducionismos avi ltantes, em graus diferenciados de manipulação, que é a pior de todas as violências. Por isso a Igreja se posiciona em favor da vida, como fez valentemente Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guaru lhos, durante a campanha presidencial de 20 I O, denunciando o governo federal de estar comprometido com estas ideologias do mal, tão evidentes no PNDH-3. Catolicismo - Como tem sido no Brasil o trabalho de mobilização para evitar a legalização do aborto e afirmar a cultura da vida, especialmente com ações da Igreja?

Prof Hermes - Desde a publicação da Evangelium Vitae, tem havido iniciativas nesse sentido em ~

uitas partes do mundo. No Brasil, após a aprovação da Lei de Biosseg urança (março de 2005), esta mobilização vem crescendo. Têm surgido em várias dioceses comissões diocesanas em defesa da vida, grupos de estudos na área de bioética, movimentos de leigos comprometidos com o Eva ngelho da Vida. Na diocese de Taubaté, o nosso bispo Dom Carmo João Rhoden fundou, em 28 de outubro de 2005, o Movimento Legislação e Vida, que coordeno junto com o Pe. Ethewaldo Naufal L. Júnior; e também a comissão diocesana em defesa da vida. Realizamos vários seminários de bioética e um Congresso Internacional em Defesa da Vida, no Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (fevereiro de 2008). Desde en tão, junto com outras comissões diocesanas e demais grupos (como o Movimento Nacional da Cidadania pela Vida - Brasil Sem Aborto, que é suprapartidário e supra-religioso ), estamos acompanhando em Brasília, os projetos de lei relacionados à vida e família que tramitam nas comissões do Congresso Nacional, bem como as deliberações no Supremo Tribunal Federal (como a ADIN 3510, a ADPF 54 e outras). Com um trabalho coordenado e integrado, temos conseguido importantes vitórias no campo legislativo. Em maio de 2008 , por 33 x O, o PL 1135/91, visando despenalizar o aborto no Brasil, foi rejeitado na Comissão de Seguridade Social e Família, e também posteriormente pela Comissão de Constituição e Justiça. Promulgamos ainda, no período em que fui presidente da Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí (2009-2010), a primeira lei orgânica pró-vida do País, incluindo no texto constituc ional local o direito à vida desde a fecundação até a morte natural, com diretrizes do humanismo integral, destacando que o direito à vida é o primeiro e o principal de todos os direitos humanos. Catolicismo preendidas?

Prof Hermes -

Que outras ações têm sido em-

A nossa diocese também lançou, em novembro do ano passado, a Campanha São Paulo pela Vida, que conta hoje com o apoio da Comissão Regional em Defesa da Vida do Regional Sul 1

da CNBB. Esperamos através da iniciativa popular obter mais de 300 mil assinaturas para inserir na constituição do Estado de São Paulo o direito à vida desde a fecundação. Em nível federal, propusemos ainda no 4º Encontro Brasileiro de Legisladores e Governantes pela Vida, no começo deste ano, que os · deputados federais da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida trabalhassem pela aprovação da PEC pela Vida, para através de emenda constituci onal garantir o direito à vida de modo integral. O que já foi feito em nível municipal nós esperamos conseguir em âmbito estadual e, se Deus quiser, também nacional. Nesse sentido, há ainda esforços pela aprovação do Estatuto do Nascituro. Todas estas iniciativas mostram que a Igreja está viva e atuante, apesar das tantas dificuldades existentes . O nosso trabalho em nível diocesano é feito em comunhão eclesial com o Bispo, o padre assessor e os leigos. E também integrado a outros grupos que trabalham nesse sentido, pois diz o Catecismo claramente que "a missão de Cristo e cio Espírito Santo realiza-se na Igreja" (CIC, 737). Superando os problemas, vamos buscando - fiéis ao Magistério da Igreja - estar mais disponíveis à graça de Deus, pois é Ele quem opera.

É esta vida que defendemos: a vida nova proposta por Jesus, que come~a aqui a ser edificada. Dai o imperativo bíblico tão atual: "Escolhe, pois, a Vida!"

"Esperamos através da iniciativa popular obte1· mais de 300 mil assinaturas para inserir na constituição do estado o dil'eito à vida desde a fec1111dação"

Catolicismo - Como são superadas as dificuldades? Prof Hermes - Santo Afonso ele Ligório é enfático em dizer que a oração deve preceder a ação, para estabelecer o vínculo perfeito que propicie a abundância das g raças, que somente Deus pode oferecer a quem a Ele recorrer sinceramente. É o lema de São Bento "ora et labora" que atualiza a pedagogia de Deus no mistério da Igreja, orante e militante, na defesa da vicia humana, de modo integral, na dimensão soteriológica, com a perspectiva para a realidade última; pois a vicia definitiva depende desta provisória, das nossas decisões e adesões que fazemos no dia-a-dia. E então somos levados a refletir: sobre que lastro construímos a nossa história? Nesse sentido, a Igreja confirma Jesus Cristo como "caminho, verdade e vida". E é esta vida que defendemos: a vida nova proposta por Jesus, que começa aqui a ser edificada. Daí o imperativo bíblico tão atual: "Escolhe, pois, a Vida! ". •

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~ ós 12 anos de regilne chavista, a Venezuela é, ao lado de Cuba, a nação do continente mais prostrada por uma terríveJ crise decorrente da aplicação do socialismo. Seu veneno vai penetrando em quase todas as demais nações e produzindo nelas outras crises menores que, se não forem detidas, crescerão no rumo daquelas que as suscitaram. O que ficaria de pé na Ibero-América com uma dezena de incêndios simultâneos em tantos outros países? ' ALFREDO MAC H ALE

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quadro da esquerdização forte e ga lopante da Ibero-América, descrito por nós várias vezes nos último anos, nas páginas de Catolicismo, recentemente acentuou- e muito, impondo profundos receios pelos seus efeitos sobre o Continente. Numerosos e expressivos são os fatos nesse sentido: a substituição, na Colômbia, do notório anticomuni sta Álvaro Uribe - que enfrentou com denodo a escalada guerrilheira e a prepotência chavista - por Juan Manuel Santos, até então seu mai s fiel seguidor e que, uma vez eleito, vem se mostrando muito mais dialogante e concessivo com a esq uerda que seu antecessor; a vitória, sob os auspícios de Lula da Silva e sem autêntica oposição, de Dilma Roussef para a Presidência do Brasil, através da qual e procura alcançar uma hegemonia sem contrapeso do PT neste imenso País; a eleição para a Presidência do Peru de Ollanta Humala, que durante muitos anos ostentou uma posição marxistoide, atenuada um tanto entre o primeiro e o segundo turno da referida eleição, com a finalidade exclusiva de ganhá-la, iludindo a oposição e a opinião pública; a forte agitação que sacudiu o Chile nos últimos meses, debilitando e colocando em dificuldade o governo de Sebastián Pifiera, que não dispõe de maiori a parlamentar nem condições de recorrer sistematicamente a med idas de força para manter a ordem pública; a perspectiva de que no México, para substituir o atual presidente Felipe Calderón, seja eleito no próximo ano algum dos líderes do Partido Revolucionário Institucional (PRI), como o ex-governador da capital, Enrique Pena Nieto, com o que se reiniciaria o domínio dessa agrupação fortemente socialista e pouco apegada às normas do Direito; o risco de a Presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, vir a reeleger-se nas e leições de fins de outubro, reiniciando assim o galope rumo à esquerda. AGOSTO 2011

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Sem temor a exagero, poderíamos dizer que, embora quase tudo se tenha agravado, a situação continental não se tornou desesperada, porque, por motivos alheios à vontade da esquerda, seus líderes se viram forçados a se mostrarem "moderados" nas vésperas das eleições, sob pena de perdê-las. Foi o que se viu, por exemplo, de modo gritante, no Brasil e no Peru. Entretanto, corno veremos, passadas as eleições - e até mesmo antes de assumir o poder - os "moderados" as vezes voltam a assumir discurso radical. Nessa condições, se não houver reações vigorosas em todo o Continente, os "moderados" se radicalizarão, e os que já são radicais terminarão dominando. Observa-se de outro lado, corno regra geral, as forças de esquerda mostrarem-se implacáveis opositoras em relação aos que não partilham de sua orientação, enquanto estes, para não ser qualificado de reacionários, procuram ser condescendentes e neutros em face do adversário. Beneficiam assim a esquerda, porquanto a opinião pública fica com a sensação de que de um lado há segmança e de outro debilidade, e em consequência a nação é arrastada rumo à esquerda, embora a maioria não esteja de acordo com essa tendência. Excluindo de nossa análise o Brasil, pelo fato de sua situação ser bem conhecida dos leitores de Catolicismo, Após 12 anos de governo que poderia se qualificar de semi-ditatorial, a doenc;a de Chávez pode colocar em xeque seus planos expansionistas

cuidaremos aqui da situação de algumas nações sul-americanas, deixando outras para setembro, a fim de apresentar um quadro de conjunto, se não exaustivo, pelo menos ilustrativo.

Chávez dllapldou a riqueza pretrollfera da Venezuela, usando o dinheiro para promover a sua 11 revoluç60 bollvarlana" por toda Ibero-América

Ve1,ezuela, na vanguarda rumo ao caos Como já vimos em outros artigos, o protótipo desta situação é a Venezuela de Hugo Chá.vez, que há 12 anos estabeleceu ali um regime a respeito do qual o mínimo que se pode dizer é ser semi-ditatorial. Eis um rápido elenco dos epítetos aos quais o incendiário presidente faz jus: cúmplice e promotor da tirania cubana, marxista obsessivo, opressor de todas as classes, demolidor da riqueza, do bem-estar e da sã convivência dos venezuelanos; promotor da violência política e subversiva, tanto na Venezuela como em nações vizinhas; ufano das expropriações e dos confiscos maciços; brutal e sem escrúpulos, apesar de apresentar-se às vezes bonacheirão; desrespeitador das leis, inclusive das ditadas por ele; camaleão, declarando-se ora "democrático", ora revolucionário, sua norma suprema é o arbitrário jactancioso e internpesti vo do momento. É claro que os delírios autolaudatórios do ditador, amiúde muito próximos da paranóia, por serem de intensidade variável, são tomados pela população venezuelana de modo também variável: às vezes com profunda recusa por seus incontáveis abusos, mas com frequência também de modo jocoso e burlesco, pelas expressões ridículas e grotescas que Chávez adota. Com isso se diluem a indispensável seriedade e a consequente combatividade da oposição. Em outros termos, o déspota socialista sabe para que rumo vai: o do comunismo sem dissimulações. E não dá importância às razões - leis, princípios, normas de convivência civilizada, etc. - para deter-se. De modo que

avança sem cessar, retrocedendo somente quando é forçado. Enquanto isso a oposição, fracionada e sem suficiente zelo pelas normas violadas, sem afirmatividade sobre o tipo de sociedade que ela deseja em contraposição ao desvario governista, não tem um consenso fogosamente contrário à demolição. Limita-se então a idéias comuns às várias forças antichavistas, o que se traduz em afirmações frouxas de princípios evidentes e não atrai o apoio do restante da opinião pública. Caso não se tenha uma visão das proporções cio incêndio propagado por Chávez, nem dos perigos dele decorrentes, não se terá uma idéia clara dos sacrifícios que é preciso fazer para apagá-lo. Sem isso não se arrastará senão uma fração dos que poderiam combatê-lo, mobilizando-os apenas parcialmente para a magna empresa.

Iniciando pelo aspecto econômico, e para dar dele uma noção cabal, vale a pena recordar que nos últimos 12 anos o regime chavista dilapidou centenas de bilhões de dólares, mais que a soma cio que o país auferiu em vária décadas com o petróleo! Segundo cifras do Banco Central da Venezuela, os ingressos petrolíferos somam 700 bilhões de dólares desde que Chávez assumiu a presidência. E "isso excede os ingressos petrol(feros da Vene zuela dos 25 anos anteriores" (cfr. André Oppenhe imer, O milagre venezuelano, "EI Nuevo Herald", Miami, 306-11). Pois bem, uma vez dilapidada essa imensa riqueza, a Venezuela está em situação muito pior cio que no começo do processo. Soma-se a isso a destrui ção e deterioração do aparelho produtivo, devido aos confiscos, à agitação, ao cole-

em Caracas, depois que o Chávez anunciou o fechamenemluoras de rádio e dois canais por supostas Irregularidades mlnlstratlvas

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tivismo, às torpezas da burocracia socialista, à galopante delinquência que domina o país, à inflação mais alta da América, à falta de inversão - pois ninguém está disposto a arriscar mais recursos que os já comprometidos - , ao caos dominante em todos os âmbitos; só para nos referirmos ao lado material. Para além deste, cumpre considerar as energias gastas pelo país num conflito estéril e intérmino; as frustrações que isto causa em todos os venezuelanos de bem e as audácias demolidoras a que se sentem convidadas pela impunidade as hordas chavistas, incluídas as milícias; o êxodo de talentos e de capitais ao exterior por falta de futuro no país; o desânimo das forças vivas, a multiplicidade dos conflitos, a abundância e gravidade dos perigos; a inoperância - quando não a cumplicidade com o delito- da administração da justiça e o amordaçamento dos meios de comunicação para privar a opinião pública de informação e de meios para se expressar, etc. Tal panorama comporta aspectos que mai s parecem um pesadelo surrealista que a vida de uma nação real. É o que se deu com a rebelião violentíssima das máfias de presos nos cárceres, que mantiveram a imensa maioria dos condenados como reféns durante várias semanas sem que o regime atinasse a encontrar uma solução. São os contínuos cortes de luz elétrica, em diversas regiões do país, atribuídos pelo governo a problemas climáticos quando é óbvio que a causa é sua própria incompetência técnica e administrativa. É a escalada delituosa mais alta da América do Sul, com 48 assass inatos anuais a cada 100 mil habitantes. É a dilapidação dos fundos públicos em benefício do chavismo, para que este domine a nação e se expanda pelo Continente. Pa1'a a Re110/11ção, uma swpresa e muita incerteza

Esse era, até há pouco mais de um mês, o panorama da vida venezuelana, por efeito do regime que a oprime. De repente, após alguns vai-e-vens de desinformação, deu-se primeiro o rumor e depois a notícia da doença que afeta Hugo Chávez. Este, pelo estado de abandono em que se encontra o sistema hospitalar público venezuelano, bem como pelo temor e desprezo que vota às clínicas privadas de seu país, optou por fazer-se examinar e operar em Cuba, a Meca dos xiitas do comunismo sul-americano falsamente apresentada pelas esquerdas como possuidora de uma medicina "digna do Primeiro Mundo". Entretanto, após duas cirurgias - uma, segundo tudo indica, errada, feita por cubanos, e outra, na aparência mai s certeira, que durou seis horas e foi realizada pelo cirurgião espanhol que cuidou da ruína ambulante Fidel Castro-, foram dados à publicidade um diagnóstico câncer-, e um tratamento em relação ao qual o regime não especifica quase nada, omitindo que órgãos foram -

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afetados, qual o tempo de desenvolvimento cio tumor, se ele atinge ou não outros órgãos, que perspectivas ex istem , etc. As hipóteses dos observadores, tanto sobre o presente quanto ao futuro , são as mais variadas. Entretanto, muitos e pecuiam sobre o que esperar do círculo próximo de Chávez, cujos mem bros têm em comu m uma notória falta de liderança, um a vez que o Führer afastou eus possíveis competidores; total falta de preparação para governar, claro fanatismo marx ista e suposta incondicionalidade diante o líder, sem que se possa descartar, não obstante, que se venham a produzir entre eles, nos momentos cruciais, enfrentamento do mais brutais para resolver a sucessão. Assim , o mais provável é que Chávez, morrendo ou se submetendo a um duro tratamento de rádio ou quimioterapia - depois de um período de tensões e de dúvidas - , seja substituído provisória ou definitivamente, seguindo o modelo cubano, por seu próprio irmão Adão; ou por algum dos membros da cúpul a militar designada

por Chávez, todos de sua tendência ideológica e seus incondicionais. Com isso, é provável que tudo termine em guerra civil, ou que a resistência seja esmagada pelas Forças Armadas somadas às milícias bolivarianas - e quiçá aos brutais contingentes castristas. O dito anteriormente é muito provável, porque os ditadores marxistas e seus sequazes vivem obcecados com conspirações contra eles, pois sabem que a opinião pública lhes é adversa. E como imaginam que as conspirações para matá-los ou destituí-los se produzem continuamente, também maquinam de maneira permanente para esmagar tai s conjurações. De modo que são contínuas as manifestações ameaçadoras dos dirigentes chavistas, muitos dos quais anseiam pelo dia em que possam dar rédea solta a seus ódios. Em todo caso, à margem do enfrentamento esquerdadirei ta, todo o restante das atividades de um Presidente - ou seja, o que é propriamente governo, administração e liderança do país - continuará muito provavelmente abandonado, como esteve durante o governo Chávez, ou inclusive pior. Com o efeito cada vez mais intenso de um auge de desestruturação e de uma verdadeira derrocada nacional , o que não significa que o regime fique sem forças para continuar a demolição, as agressões e as perseguições. A este respeito, o jornal "Clarín" (10-7-11), de Buenos Aires, no artigo intitulado Literalmente, a Venezuela se descasca, fornece detalhes muito expressivos: "A Ve-

nezuela tem um déficit de dois milhões de casas. Os críticos de Chávez dizem que seu desempenho na construção de moradias - menos de meio milhão de novas unidades desde que assumiu em 1999 - é pior que o de seus antecessores. [.. .] A crise mais inquietante é o declínio do modelo econômico estatista, porque há um estancamento do aparelho produtivo e uma extrema dependência de produtos importados. [.. .] O incessante aumento dos preços reduziu substancialmente o poder aquisitivo dos venezuelanos, que desde 2007caiu 14,5%. [... ] A dívida externa triplicou, de 30 bilhões de dólares em 1999 a uma que supera atualmente os 120 bilhões". A Venezuela vive, em síntese, na confluência de quase todas as catástrofes, com um poder supremo ao mesmo tempo totalitário e inepto; venerado e desprezado; olímpico em suas atitudes jactanciosas, mas incapaz de AGOSTO 2011

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resolver as crises e catástrofes que ele mesmo provocou . C hávez é implacável e m atribuir suas próprias culpas a quaisquer de seus súditos, de modo a poder afirmar-se como uma espécie de gênio incompreendido. Isto até que a derrocada geral o sepulte na ruína dos mitos que construiu.

Colômbia: da co111'ro11tação à aliança com Chávez Esboçado este panorama, resta ver quanto e como esse fenôme no penetrou nos demais países, inclusive naqueles que lhe são contrários. Comecemos pela Colômbia, a nação que melhor resistiu a Chávez durante oito anos e na qual ele vai agora obtendo avanços inesperados e deploráveis. Como vimos, o enfre ntamento protagonizado entre Álvaro Uribe e C hávez cede u rapidamente lugar às relações amistosas estabelecidas por Juan Manuel Santos com o caudi lho caribenho. Estas se tornaram públicas no gesto simbólico hav ido entre ambos com o ex -guerrilheiro sandi nista Dan iel Ortega, atual presidente da Nicarágua, e Porfírio Lobo, Presidente de Honduras, quando do regresso a este país do malogrado Manuel Zelaya. Eles procuravam dar assim por ence1rnda a crise em Honduras de 20 JO, afirmando que e tratou de um simples golpe de Estado, om itindo pura e simplesmente as ilegalidades e

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violações da Constituição praticadas por Zelaya, responsável pelo conflito. Assim, abre caminho para se repetir as manobras de Chávez a fim de submeter Honduras. Após essa reunião, o secretário-geral da OEA, o socialista José Miguel Insulza - que também tentou impedir que Honduras escapasse do domínio chavista-, apresentou-se dizendo que incumbia à população hondurenha determinar "se é necessário castigar Roberto Micheletti ", o presidente que substituiu Zelaya. Pois bem, os castigos a serem aplicados aos que os mereçam, ou estão previstos na Constituição e nas leis, ou não passam de vulgares injustiças e ilegalidades; e não é estimulando o povo a uma vingança que se resolve qualquer problema. Essa insólita atitude de Insulza, além de desqualificá-lo para o cargo que ocupa, denota um verdadeiro contubérnio para expandir o poderio de Chávez na América Central. É uma temeridade do secretário da OEA provocar o povo hondurenho para que, arrogando-se faculdades judiciais que não possui, desencadeie conflitos de alcance imprevisível! Começa surgir a preocupação no País pelo aumento da insegurança e o recomeço de ataques da guerrilha a pequenas cidades. A promessa de continuidade da política de Uribe, base do apoio eleitoral a Santos, parece ter ficado nas urnas ...

O simbólico gesto de Santos estendendo a mão para o presidente da Venezuela Hugo Chávez, gerou profunda desconfiança em amplos setores da opinião pública colombiana

Mas voltemos à Colômbia. Seu principal problema é o progressivo desmantelamento do esquema de segurança estabelecido por Álvaro Uribe, com a diminuição dos efetivos mobilizados e dos orçamentos para enfrentar a guerrilha. Em decorrência disso aumentaram consideravelmente os índices de atentados e sequestros praticados por esta. Também vários altos chefes militares que se destacaram no passado por sua efetividade no combate à guenilha foram transferidos para a reserva, aumentando a ousadia dos subversivos e desalentando as tropas mais valorosas a se empenharem por inteiro na defesa da Pátria. As consequências desta política não se sentirão obviamente de imediato, mas quando isso acontecer, haverá muitos efeitos irremediáveis. Por exemplo, a sensação de segurança da população, que havia melhorado notavelmente e ntre 2002 e 2010, hoje j á baixou, não aos ínfimos níveis de 1994-2002, mas parece rumar para eles ... A hi stória da Colômbia dá conta de centenas de milhares de mortos em conflitos internos, ao longo de meio século. Mas ainda atingiu auges até então inéditos com a guerrilha marxista e sua articulação com o narcotráfico. Isso, que até 2002 parecia um problema sem solução devido à frouxidão contínua de sucessivos governos, inverteu-se na gestão de Uribe. Portanto é muito grave que o mal esteja renascendo. E se compreende a preocupação de grande parte do país, a qual espera que o governo não dê crédito às falsas promessas marxistas. A Colômbia vai sendo, por outro lado, afetada a cada dia mais pelo que já muitos chamam de "ditadura judicial". Com

efeito, inte1pretando de forma abusiva e a seu bel-prazer as disposições constitucionais, as altas Coites de Justiça vem emitindo sentenças sumamente questionáveis, quer do ponto de visto do Direito, quer do mero bom senso, ou ainda da segurança do país. Uma delas foi a aprovação, evocando a liberdade individual, de vários tipos de aborto que estavan1 proibidos por lei; outra foi a declaração de que os dados encontrados nos computadores do guerrilheiro Raúl Reyes não terão valor jurídico, apesar de vários organismos est:ratégicos de nível mundial terem atestado o evidente valor dos mesmos e sua inquestionável autenticidade. Mas há outras sentenças ainda mais questionáveis. São as que facultam à Promotoria poderes para lançar graves A Corte Suprema de Justiça da Colômbia vem emitindo sentenças sumamente questionáveis, quer do ponto de visto do Direito, quer do mero bom senso, ou ainda da segurança do país

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nea, não tardou em haver discrepâncias entre possíveis membros do futuro governo. Mas Hurnala esforçou-se para se apresentar como ameno, dialogante, distendido, entrevistando-se com presidentes de diversos países, dando a impressão de que seu passado d.e esquerdismo radical e sua mentalidade socialista eram coisas superadas. Sem embargo, a menos de três semanas de sua posse, ainda não indicou os nomes dos principais ministros, de tal modo que pouco se pode dizer de concreto sobre a política que aplicará. Isso não obstante, aconteceu de repente algo que pai·a alguns terá sido desconcertante, embora para outros parecerá simplesmente um sinal: enquanto Humala, em plena "operação tranquilizadora", se encontrava em Washington, no outro extremo do mundo - precisamente em Moscou - , uma notícia dava conta que o "representante especial do presidente eleito peruano", seu irmão mais novo Aléxis Humala, visitava altos funcionários do Estado russo, inclusive o chanceler e o ministro de defesa, a cúpula da gigantesca empresa de gás Gazprom e empresas de pesca, com os quais ele tratou de inversões, compras, convênios e negócios no Peru. Sobre isso até o momento ninguém havia falado, nem dado algum detalhe ou explicação coerente. As expressões de estranheza e repúdio no âmbito peruano foram obviamente numerosas e eloquentes. É compreensível, pois o país tem péssi ma experiência de acordos pesqueiros com a Rússia durante a ditadura militar de esquerda (1968-1980), na qual numerosos barcos russos pescavam abusiva e predatoriamente nas águas nacionai s, tendo custado muitos esforços encerrai· o convênio. acusações contra altos oficiais do Exército, capazes de desencadear processos judiciais que podem levá-los a sentenças condenatórias por dezenas de anos de cadeia, enquanto muitos guerrilheiros que cometeram crimes hediondos paiticipam da política ativa sem que ninguém os perturbe. Como consequência, começam a surgir casos de militares que optam por urna posição neutra, por não aceitai·em que o heroísmo na frente de batalha contra a guerrilha seja retribuído pelo establishment com investigações, castigos e ações judiciais; disposições que podem ter efeitos funestos no Exército e, portanto, no futuro do país, pois uma nova irrupção em grande escala do terrorismo na Colômbia repercutiria em todas as nações vizinhas. Um 110vo CJ1ávez andil10 no Peru?

No tocante ao Peru,já mencionamos a vitória de Ollanta Humala nas últimas eleições, obtida graças a uma manobra de apai-ente moderação do candidato, de seus fami liares e dos paitidos políticos que o apoiai-am ou lhe são próximos. Entretanto, corno a frente que o apo iava era heterogêCATOLICISMO

O Peru é um dos maiores países pesqueiros do mundo. Humala abriró as ricas costas peruanas para os barcos russos?

Se bem seja verdadeiro que naquela época a União ..../Soviética ainda não tinha sido derrubada, taQ1bém é certo que os atuais hierarcas do Kremlin nutrem imensa nostalgia por esses tempos. Pois bem, nestas condições surgem sintomas de que se tramam novos tratados que podem dar margem à repetição de tais abusos. E isto a pai-tir da própria família do presidente eleito, e havendo versões de que era por encai-go dele! A agrupação política que apoiou Ollanta Humala apressou-se em excluir de suas fileiras o irmão deste, a quem não sabe como qualificar: se como gestor administrativo, aventureiro ou farsante. Mas quem deveria mostrai--se mais contrariado seria o próprio Ollanta, que guardou até o momento completo e inexplicável silêncio. Enquanto isso os esquerdistas mais radicais se esforçavam em elogiar a suspeita iniciativa. Evidentemente, o perigo maior é que se estabeleça no território peruano uma "cabeça de ponte" do imperialismo russo, o qual se mostrou bastante amigo de Chávez, Lula e outros próceres da esquerda ibero-americana, e está ansioso por obter concessões das nações do Conti-

OLLANTA NO SE SACUDE DE SUS HERMANOS

Hablael Humala, 'ruso'

O En diálogo telefónico con La República desde Moscú, Alexis Humala afirma que habló con las autoridades rusas a título personal y no en representación dei presidente electo Pág. 3

~;~;;;,•;;dirá masificación dei gasadomicilio

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Os jornais deram grande cobertura ao escânda lo das tratativas do irmão de Humala na Rússia Ollanta Humala, novo presidente do Peru

nente através de tentadoras ofertas, que se tornam por isso mesmo suspeitas. Se a tentativa é grave, fazê-la secretamente é pior, pois não é verossímil que a chancelai-ia russa receba emissários estrangeiros sem credenciais, ouça ofertas que não contam com a aprovação da cúpula do governo que os envia, e se façam em retribuição propostas sem conhecer as disposições da outra pai-te em aceitá-las. Adernais, caso em algum país ibero-americano se estabeleça uma "cabeça de ponte" russa, não será profundamente afetada apenas a nação hóspede, mas todo o Continente. E os eventuais conflitos entre os países maiores e poderosos terão inevitavelmente um eco e desdobramentos entre nós. Argentina na senda prnpotente do peronismo radical

Voltemos o olhar para outra importante nação, cujo destino está sendo jogado em nossos dias: a Argentina. Haverá ali uma eleição presidencial no próximo dia 23 de outubro, precedida por primárias em 14 de agosto, quando os partidos de oposição elegerão seus candidatos para competir com a presidente Cristina Fernández de Kirchner, postulante à reeleição. Não se sabe bem por que sortilégios, as pesquisas e os prognósticos oficiais já ·a apresentam como vencedora, apesar das abundantes reações suscitadas contra seu autoritarismo. AGOSTO 2011

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Por outro lado, haverá também nos próximos dois meses e meio várias eleições regionais de relevo, de governadores e prefeitos, as quais podem inc.idir na contenda presidencial. Os candidatos com maior possibilidade de vencer são os opositores. A questão-chave é se os que saírem vitoriosos se articularão ou não nas primárias de agosto numa aliança para enfrentar a Presidente-candidata. Se tal não suceder, é praticamente certo que ela vencerá. Infelizmente, como é habitual na política partidária, a urgência de uma aliança não significa em absoluto que ela se efetuará. A razão é que os candidatos com poucas possibilidades de triunfo preferem fechar os olhos ao risco de uma derrota, de modo a se tornarem mais conhecidos e tentarem mais à frente novas candidaturas com possibilidades de êxito. Isso sucederá agora, ou o patriotismo de alguns postulantes prevalecerá em certos casos sobre suas próprias ambições, com vistas a apoiar outro com uma opção maior? - Na verdade, em alguns casos, talvez sim; mas dificilmente em todos. Sucede que, terminado o período presidencial em curso, cumprir-se-ão oito anos de domínio kirchnerista sobre a política argentina. E se a Presidente for eleita, tal domínio se estenderá a doze anos. Como foi esse domínio e quais foram seus frutos? Foi na verdade um domínio sem contrapeso, exercido muitas vezes com a brutalidade decorrente da aliança dos Kirchner com as poderosas centrais sindicais - peronistas de inspiração socialista em geral, nada escrupulosas em matéria ética. E também pelo uso constante e indissimulado dos fundos do Executivo para influir sobre todos os setores da política e das populações das províncias do interior, em especial das cidades pequenas e médias.

As armas do poder foram igualmente usadas incontáveis vezes sem vacilação, seja para jugular a imprensa opositora e enfrentar as classes mais honestas e representativas, seja para a promoção dos setores que praticam a contestação e a agitação, de modo a impulsionar o país rumo ao conflito social e à luta de classes, ou ainda para designar os candidatos do governo, desde que sua lealdade à Presidente fosse a toda prova. Em decorrência de tais manejas, vários políticos, meios de comunicação e líderes locais importantes, que se haviam manifestado contrários ao casal Kirchner, chegado o momento-chave deram meia-volta, esqueceram as diferenças e se submeteram docilmente à sua vontade. As razões? A julgar pelo que dizem os comentaristas políticos, nada de ideologias, nem de princípios, mas pressões, ameaças, vinganças, alianças de conveniência recíproca, promessas de retribuições, etc. A consequência é que, segundo o articulista Joaquín Morales Solá, de "La Nación" (10-7-11), de Buenos Aires, "a política opositora é tão errática como é arbitrária a governista. Os opositores nunca se recuperaram do excesso de fragmentação; o governo, por seu lado, confunde um momento político excepcional com o direito perpétuo a mandar sem concessões. [... ] Nada penetra, de momento, na envoltura de amianto que cobre a presidente. Tampouco

Os oito anos de domínio kirchnerista sobre a política argentina foram na verdade um domínio sem contrapeso, exercido muitas vezes com a brutalidade decorrente da aliança dos Kirchner com as poderosas centrais sindicais

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Presidente argentina Cristina Fe rnández de Kirchner

puderam contra essa proteção política nem a já longa es___J:assez de combustíveis nem o método claramente stalinista que usou para dirimir as listas de candidatos. São pequenos fogachos que ninguém sabe quando se converterão em um fogo mais devastador". Mas em relação à atual Presidente existem outros pontos questionáveis e questionados, como o aumento desmesurado de seu patrimônio entre 2003 e 2010, ou seja, durante o governo de seu esposo e o dela mesma, o que fez com que a Oficina Anticorrupção (AO) lhe pedisse esclarecimentos. Segundo o jornal "Perfil" (12-7-11), "a chefe de Estado devia apresentar o detalhe de seus bens no dia 4 de julho, mas o responsável da AO, Julio Vitobello, primeiro adiou a data limite até o dia 22 do mesmo mês e depois a estendeu até 22 de agosto, oito dias depois das primárias". Naturalmente, são muitos os comentários afirmando que, para desmentir seus detratores, ela deveria tornar público esse informe. Mas ela não parece crer que este será precisamente o efeito da difusão de tal informação. Trata-se assim de um governo cujos desejos e ambições constituem a regra máxima de seu proceder diário; que conduz o país como se fosse sua fazenda pessoal, sem maior respeito pelas leis vigentes, pelas normas de probidade, pelos direitos alheios; que, a exemplo dos demagogos, não fala do bem comum do país senão exclusivamente do bem dos pobres; e que quer satisfazer as conveniências dos pobres às expensas dos que não estão nesta situação, nunca a custo de uma maior austeridade dos funcionários do Estado. Comentando o resultado da recente eleição para o governo de Buenos Aires na qual o opositor Maurício Macri venceu ao candidato oficial, Sergio Kovadloff, escreveu "La Nación" (12-7-11): Filmus [nome do candidato apoiado pela Presidente]foi derrotado antes de tudo pela inconformidade social gerada na cidade de Buenos Aires em decorrência da gestão de seu próprio partido. O oficialismo teria querido que a confrontação na capital fosse entre progressistas e conservadores. A população decidiu que seria entre a lei e a corrupção, entre o espírito de convivência e o afã de beligerância. E votou contra o governo, potenciando afigura de Mauricio Macri em nível nacional. Se os pratos quebrados da derrota foram pagos por um homem que se deixou construir como porta-voz do maniqueísmo governista, os benefícios dessa inconformidade popular recaíram sobre um chefe de governo que soube transmitir um espírito de convivência pacífica e capitalizar em seu favor a agressão inverossímil da que o fez objeto uma presidente empertigada desde sempre a humilhar seus adversários significativos. A regeneração de suas derrotas - um procedimento usual no kirchnerismo - obriga seus porta-vozes a pro-

mover um discurso do qual bastaria dizer que é maníaco e tragicômico, se não fosse perigoso. Certamente não é este o melhor modo de avançar por um caminho democrático. Mas é o único possível quando se responde a um projeto autoritário". *

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Com os exemplos aqui comentados, vimos como algumas nações vão despencando no abismo, enquanto outras se dirigem para ele. Umas se encontram muito próximas, outras menos. Mas a Divina Providência se vale dessa diversidade de situações para adverti-las dos perigos a que estão expostas, e do que deveriam fazer para livrar-se deles. Condição para poderem viver sob uma ordem e paz social de desigualdades harmônicas, sem esperanças vãs, frustrações ou amarguras. Que a Santíssima Virgem de Guadalupe, Imperatriz das Américas, obtenha dos saudáveis temores que inspiram o comunismo e o mundo neopagão, um movimento das almas que conduza ao estabelecimento de seu Reino sobre a Terra. • E- mail para o autor: catolicismo @terracom. br

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Santa Rosa de Lima A primeira santa das Américas N ativa nos primórdios do Novo Mundo, esta extraordinária mística peruana galgou os mais altos cumes da santidade n PuN10

P A confirmação de Santa Rosa foi feita pelo arcebispo de Lima, São Toríbio de Mogrovejo

M ARIA SouMEO

ara vencer o desregramento que atingiu nossa natureza depois do pecado original e adquirir domínio sobre os movimentos da concupiscência é preciso que nos mortifiquemos, aplicando, segundo a norma pregada por Santo lnácio, o a.gere contra. Isso explica o grau incrível de penitência que pra ticaram muitos santos. Alguns deles, como Santa Rosa de Lima, o fi zeram de modo tão categórico, que choca o homem amolec ido e re lativista de nosso sécul o. É por

isso uma santa para ser ad mi rada, mas nem sempre se alcança imitá-la, a não ser almas com uma vocação mui to especial. Filha de numerosa e honrada famíli a de medi ana fo rtuna da capital peruana, a futura Santa Rosa de Lima nasce u no dia 20 de abri I de 1586. Quando Isabe l - nome que recebe u no batismo - tinha ape nas três meses, sua mãe viu eu rostinho transfi gura r-se numa fo rmosa rosa. A partir de então passo u a chamá-la pe lo nome com que fi cou mundia lmente conhecida, que fo i também o de sua confirmação, fe ita pelo arcebispo de Lima, São Toríbi o de Mogrovejo.

Os pais a cri aram segun do as máima de nos a santa Relig ião. Desde mui to cedo a menina leve um sexto entido para tudo quanto se referi sse a Deus Nosso Senhor e à fé católica. Já aos três anos agia como se ti vesse pleno uso da razão, dando provas de v.irtude apanágio só de pessoa mais ex perimentada. Ass im , um dia em que fo i pegar algo numa pesada arca, o tampo caiu-lhe sobre a mão, fe rindo gravemente um dos dedos. Este depo is se infl a mou, sendo preciso submetê- la a doloroso trata mento. A menina suporto u ludo sem chorar nem se que ixa r, mui to impress ionando a todos. Pouco depois sua mãe teve a infe lic id ade de lhe apl icar um produto à base de mercúri o no couro cabeludo, para curar algumas erupções. Este penetrou na pele e causou graves lesões. Contudo, apesar da dor que isso provocava, a menina não se lamentou. Algun s biógrafos re lata m que Rosa fez o voto de virgindade aos cinco anos de idade.

sa nta, que era exímia no manejo da agulha, passou a confeccio nar rendas e bo rd ados para ajudá- los. Dividiu para isso o di a em três partes: na primeira, de 10 horas, fa zia trabalhos de mão ; na segunda, de 12 horas, dedi cava-se à prece. Nas duas horas restantes ela re pousava. Vencer o sono fo i um de seus ma io res es for ços.

Ao nome "Rosa ", o acl'éscimo de "Santa Mal'ia " Ao crescer, soube Rosa a razão pe la qu al seu nome fo i mudado. E, em sua humildade, julgou que isso era mais motivo de vanglória que de glória. Apresentando seu receio a Nossa Senhora, Ela U1e apareceu com o Menino Jesus nos braços, edis e: "Meu Filho gosta desse nome, e deseja que a ele acrescentes o meu, de maneira que passes a chamar-te Rosa de Santa Maria". Rosa com preendeu be m que os favo re extraordi nários que e la recebi a do Céu con tituíam um moti vo a ma is para, seguindo as inspiraçõe da graça, cumprir tudo com a maior perfeição. E exercitava-se em casa em todas as práticas dignas da religiosa mais fe rvorosa. Uma séri e de reveses privou os pa is de Rosa de quanto possuíam, deixando-os e m ex tre ma necess idade para cui da r da numerosa fa míli a. A

Q uando se punha em oração, por mais que mudasse de pos ição, o sono vi nha sempre, e ela tinha q ue faze r esforços in auditos para vencê- lo. Para acordar no horário que se havi a fi xado recomendava-se sempre à Santíssima Virgem, que muitas vezes vinha pessoalmente acordá-la. Rosa tra nsformou- se num a bela moça, cujo ma ior atributo era a virtude. Por isso a mãe pensou em casá-la com um bom partido, a fi m de ajudar a pro ver às necessidades sempre crescentes da fa mília. E, quando surg iu um pretendente ideal - filho único de viú va rica - , sua mãe a pressionou de todos os modos para que aceitasse o casamento. Mas ela respondia que j á se entregara a Deus Nosso Senhor. Toda a famíli a uniu-se para

tentar fa zê-la mudar de opini ão, mas nem agrados, nem mau s tratos conseguiram demovê-la.

Severas mortiflcações e zelo apostólico Rosa leu a vida de Santa Catarina de Sie na e tomou-a como modelo e advogada. Desejosa de ser, corno ela, terceira dominicana, vestiu o hábi to da Ordem Terceira da Penitência do Patriarca São Domingos no dia LO de agosto de 1610. A partir desse momento julgou que deveria esmerar-se ainda mais na penitênc ia e mortificação pe la San ta Igrej a, por sua pátri a, pe la cidade de Lima e pelas almas do Purgatóri o, de que m era muito devota. Para se ter uma ide ia do que isso significa va, convém ter presente que, desde os seis anos de idade, Rosa jejuava a pão e ág ua na s sextas-fe iras e nos sábados; aos 15 anos fez voto de não mais comer carne, a não ser por obedi ênc ia ; de pois passou a tomar uma só refeição por di a, qu e constava de uma sopa feita com pão e ág ua; al ém das fl agelações di ári as a que se submeti a, usava à cintu ra um c ilíc io feito de corre ntes, fec hado por um cadeado cuj a c have j ogara fora. A corrente penetrou-lhe na carne, que infl amou, provocando dores inauditas. Fo i preciso quebra r o cadeado para tirar o cilício, q ue de ixou chagas em seu corpo. O desejo de Rosa pela sa lvação das a lmas cresc ia em propo rção do seu amor a Deus. Considerando que elas fo ram resgatadas por Nosso Senhor, sentia dor ace rba e m pensar que muitas se perdiam. Pensava, sobretudo, nos que se apartaram da verdade ira Igrej a com a heresia protestante; nos pagãos mergulhados nas trevas da idolatria; e nos muitos católicos que viviam como se não tivessem uma a lma a sa lvar. Para livrar todas as almas, que ri a col ocar-se às portas do in fe rn o para impedi-l as de nele ca ir.

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À esq., relicário com o crânio de Santa Rosa, na igreja de São Domingos, em Lima. À dir., procissã o na festa da santa, pelas ruas de Lima. Ela é a padroeira da Polícia Nacional e recebe dela suas homenagens.

A um de seus confesso res que partilhando de seu zelo apostólico se sentiu impulsionado a levar a luz do Evangelho às terras dos idólatras, ela prometeu fazê- lo partíc ipe de todas a suas boas obras, contanto que ele a associasse ao mérito de seu apostolado . Tinha planos de cri ar um meni no pobre para que ele se tornasse sacerdote e fosse às mi ssões converter infiéis em seu lugar.

Êxtases li'equentes e provações espirituais Chocava-a constatar que muitos sace rdo tes não tinham verdadeiro zelo pelas almas , perdendo seu tempo com sermões inócuos. Depois de ouvir a um deles, que tinha fama de grande orador, de estilo fl orido e redundante, ela lhe disse: "Meu pai, vede que Deus vos f ez pregador para que convertêsseis almas; não gasteis vosso talento ociosamente em flo res, que é trabalho inútil. Lembrai-vos da conta que Deus vos pedirá por tão alto ministério". Aos confessores e pregadores rogava que pers uadi ssem seus penitentes e ouvintes de que a oração é o remédio uni versal para todas as

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enfe rmidades do corpo e da alma. Nunca deixou de rezar o Rosário, no qual considerava que as orações vocal e mental estavam mu ito bem conjugadas . Os êxtases de Rosa de Santa Maria eram tão frequentes que bastava ela entrar em oração para seu espírito subir às mais altas paragens. Cheia de gratidão, dedicava de te rmin adas horas do di a para agradecer a Deus pelos inúmeros benefícios que recebi a. Medi tava constante mente nos atributos do Altíss imo e venerava cada um deles de modo particular. Com a ajuda de um de um de seus irmãos, construiu uma ermida no jardim da casa e nela passou a viver reti rada. Ali experimentou todos os fe nômenos da vida mística. Os frequentadores do convento do Rosário a certa altura notara m que ela, contrariamente ao que fazia todos os di as, não mais aparecia para assistir à santa Missa. Rosa respondeu que não necess itava sair de sua ermida para assisti -la, pois, de sua cela, via e ouvia quantas mi ssas se celebravam no hospital do Espírito Santo e no convento de Santo Agostinho.

Rosa sofreu também muitas provações espirituais, chegando a ser tentada de que não salvaria sua alma. Uma vez em que apresentava a Nosso Senhor esse grande temor, disseLhe Ele: "Minha filha, tem ânimo, que eu não condeno senão aqueles que querem condenar-se". Santa Rosa de Lima faleceu em 24 de agosto de 1617, aos 31 anos de idade, sendo canoni zada e m 1672. • E- mail para o autor: e atolicismo@ 1e rra.co111 .br

Notas : Obras Consultadas: - Pe. Ju an Croisset, S.J ., Santa Rosa de lima, Virgen, e m A íl o C ri s ti a no , Saturnin o Call eja, Madri , 190 1, tomo llf, pp. 656 e ss. - Edelvives, Santa Rosa de Lima, em El Santo de Cada Día, Editori al Luis Vives, S. A., Saragoça, 1948, tomo IV , pp. 6 13 e ss. - Les Petits Bolland istes, Sainte Rose de Sainte-Marie nu de Lima, em Vies des Sa int s, Blo ud e t Ba rra i, L ib ra iresÉd iteurs, Paris, 1882, tomo X, pp. 337 e ss. - Pe. Pedro de Ribadeneira, Santa Rosa de Sanw María, Vi,gen, in Fios Sanctorum, apud Dr. Eduardo Maria de Vil arrasa, La Leye nda de Oro, L. Go nza le z y Compaíli a, Editores, Barcelona, .1897, tomo Ili, pp. 436 e ss.

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A Batalha de Poitiers ■ PAULO H ENRIQUE ALVES AMÉRICO DE ARAUJO

T ravada em 732 e decisiva para a Cristandade, foi o primeiro grande confronto entre a Cruz e o Crescente, quando os franceses repeliram o exército do Islã

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Batalha de Polllers

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s notícias trazidas pelos mensageiros eram tenebrosas. Uma tempestade estava prestes a varrer o reino dos francos, o primeiro a se converter ao catolicismo. Carlos, o prefeito do palácio da Aquitânia, avô do futuro Carlos Magno - que fazia às vezes de rei, apesar de não possuir o título-, soube do perigo com antecedência, pois quando a tormenta se abateu sobre a França da época, ele estava preparado para enfrentá-la e fazer brilhar a Cruz de Cristo sobre os seguidores de Maomé. A tempestade havia se originado nos desertos da Arábia. Apenas algumas décadas separam o início da pregação de Maomé em Meca da estranha expansão do islamismo por todo Oriente Médio, norte da África e Península Ibérica. A cavalaria muçulmana não conhecia limites em suajihad (guerra santa) inspirada no Alcorão. Em 7 l 1 desembarcaram em Gibraltar, no sul da Espanha, em 722 já haviam atravessado os Pirineus e faziam incursões no Reino Franco. O muçulmanos, na mesma época, se aventuravam pela Anatólia, atual Turquia, atacando Bizâncio, capital do império romano do Oriente e, dessa maneira, a jovem Cristandade estava para ser envolvida num abraço mortal. Composto essencialmente de cavalaria, o exército muçulmano conhecia poucos reveses na Europa. Em 722, o duque Eudes da Aquitânia - príncipe que queria a independência em relação ao reino franco - forçou a retirada dos maometanos da cidade de Toulouse, com um ataque-surpresa. Foi uma vitória esporádica do duque Eudes, apenas um intervalo na grande invasão muçulmana da França. Aquela tempestade de árabes e bérberes africanos voltaria. Somente um exército disci plinado, experiente e bem comandado poderia realmente opor-se ao poderio islâmico. O duque da Aquitânia não possuía tal exército. E nem os francos do norte estavam em melhores condições. A situação começou a mudar quando Deus suscitou um homem para unir os francos, conter a avalanche maometana e salvar a Cristandade. Era justamente esse Carlos que mencionamos. Veremos como a ele foi atribuído o nome de Marte! (martelo).

Preparação e espem da ocasião providencial

O mapa mostra a distribuic;ão das forc;as na Europa à época de Carlos Martel

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No início do século VIII, o reino franco, como se nota na própria atitude do duque Eudes, estava agitado por divisões internas. As outras regiões do reino Neustria, Austrásia e Borgonha - viviam em disputas internas pelo poder, pois os reis francos (merovíngios) descendentes do grande Clóvis tinham se tornado fracos, detendo uma autoridade apenas fictícia. Era a época dos "reis indolentes". A direção do reino cabia na verdade aos prefeitos do palácio, mas estes, muitas vezes, eram escolhidos, ou obtinham o comando em meio a convulsões entre os partidos das várias regiões francas. Carlos era filho bastardo de Pepino de Heristal, antigo prefeito do palácio na Aquitânia. E acabou sendo escolhido para o posto do pai, após a morte deste, devido à necessidade de

um líder capacitado para resolver as tensões do reino. Com o apoio de boa parte da nobreza e da população franca, Carlos venceu os partidos opositores e se consolidou como prefeito ( do palácio. Então, com uma série de campanhas vitoriosas, conteve a ameaças dos vizinhos próximos 1. Contudo, o real inimigo ainda estava por vir. Como já mencionamos, em 722, o duque da Aquitânia saiu vitorioso no primeiro embate contra os muçulmanos em Toulouse. Mas, reconhecendo que aquela vitória fora momentânea, entregou sua filha em casamento ao general maometano Munuza, concluindo assim um fraco acordo de paz com os infiéis 2 • Foi por essa época que Carlos começou a preparar o exército franco para enfrentar o Islã. A tarefa não era fácil. A utilização da cavalaria ainda não havia ati ngido sua real eficácia na Europa cristã. Os francos batalhavam, sobretudo a pé, no antigo sistema das legiões romanas. Os cavalos eram reservados apenas para uma elite de guerreiros. O grosso do exército cristão era formado pela infantaria, enquanto os muçulmanos possuíam uma formidável cavalaria, constituída por árabes e povos do norte da África 3• Carlos preparou seus francos para resistir ao choque dos cavaleiros do Islã. A disciplina era arma indispensável. Durante anos, os francos treinaram a guerra defensiva. Precisavam encontrar o inimigo no lugar e momento propícios. A surpresa também era fator imprescindível para homens a pé vencerem inimigos a cavalo. Foi em 732 que a ocasião se apresentou.

Representac;ão de Carlos Martel

Surge um grande gue1Teiro: Carlos Marte/ O novo governador da Espanha muçulmana, Abdul Raman, ro mpeu o insignificante pacto com o duque Eudes da Aquitânia. O exército islâmico invadiu então, mais uma vez, o reino fra nco. "Uma multidão inumerável de sarracenos passou os Pirineus, em 732. Tomaram Avignon, Viviers, Valence, Vienne, Lyon". 4 Depois, conquistaram Bordeaux, onde queimaram as igrejas. Passaram em seguida pelo rio Garonne, infligindo, desta vez, sangrenta derrota ao duque Eudes. Avançaram para Poitiers, saqueando e queimando a igreja de Santo Hilário. Seu próximo passo era fazer o mesmo com a igreja de São Martinho, em Tours, mais ao norte do país. Os acontecimentos se precipitaram. Depois de fugir dos muçulmanos, Eudes dirigiu-se a Carlos para lhe pedir ajuda. Este aceitou a paz para enfrentar o inimigo comum dos cristãos. Sob o comando de Carlos, o já bem disciplinado exército cristão pôs-se em marcha - juntamente com o que restou das forças do duque Eudes - ao encontro do Islã entre as cidades de Poitiers e Tours. Carlos posicionou seus francos sobre uma colina, por onde necessariamente passaria o exército maometano. A estratégia era diminuir a força da cavalaria inimiga, poi s esta teria que subir a colina, perdendo o ímpeto do ataque. arlos escolhera o local mais apropriado. Era o mês de outubro, o inverno se aproximava. Se fosse necessário, os francos estavam bem agasalhados para resistir aos rigores do fr io. Os muçulmanos, com roupas leves, não estavam preparados para suportar baixas temperaturas. Carlos também escol hera o momento ideal para a batalha. Foi grande a surpresa do comandante mouro Abdul Raman . Não esperava encontrar outro exército cristão após ter vencido Eudes. Como não sabia contra quem estava lutando, mandou mensageiros para reunir todos os invasores muçulmanos que se encontravam espalhados, pilhando e matando, por uma vasta região da França. A operação durou sete dias . Talvez Abdul Raman esperas e arrefecer a confiança dos francos, obrigando-os a abandonar sua rígida posição e a atacarem primeiro, vendo que o número de muçulmanos aumentava. Em vão. Firmes e pacientes, os francos permaneceram em sua posição defensiva, aguardando serem atacados. O tempo jogava a eu favor, poderiam esperar quanto fo se necessário. Já os infiéis não podiam dar-se a esse luxo.

Os francos, com Carlos Martel à frente, vencem os mouros, em Poitiers, após vários dias de batalha

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.i Em meados de o utubro 5 de 732, com todas as forças do Islã reunidas, Abdul Rama n ordenou o ataq ue geral. Com ondas sucessiva , a cava lari a subi a a pequena co lina e e ncontrava os francos sempre firmes, de pé, mantendo sua posição. Em cada c hoque, os muçulmanos iam sendo derrubados e e liminados: "Como um muro de ferro, permaneciafirme a

Uma das mais impol'tantes batalhas da llistól'ia

E-mail para o autor: ca1oli cismo@ terra.com.br

Notas: 1. ROHRBA C I-I ER. Hi stoire ele l'Égli se, Volume X, Gaume Freres, Paris, 1845, p. 481 2. ROHRBAC I-I ER, op. cit. , p. 485. 3. WEISS, Ju an Baptista. Hi stori a Un iversa l, Ed it o ra Tipografia La Ed ucación, Tradução da 5' edição alemã, Barcelona- 1927 , Volume IV, p. 708. 4. ROHRBA C HER, op. cit. , p. 483. 5. O dia da bata lha é incerto, provavelmente foi en tre os dias IOe 15. 6. WEISS , op. cit. , p. 708. 7. ROI-IRBACHER, op. c it. , p. 484.

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VARIEDADES (

linha dos fran cos " 6.

A batalha prolongou-se por horas, sem que se pudes e definir um vencedor. Ao que tudo indi ca, o número de muçulmanos era muito maior que o contingente franco 7 • Houve pesadas baixas de a mbos os lados. Carlos permanecia no meio da defesa dos cristãos, montado em seu cava lo, comandando e incentiva ndo seus comandados. Sua voz se fazia sentir especia lmente quando os cavaleiros maometanos conseguiam, por vezes, quebrar as defe as francas e avançar até o centro do quadrado, endo então rapidamente repelidos. Nessa ocas ião, mais uma vez, Carl os demonstrou sua genia lidade como comandante. A ntes do início da batalha, e le havia combinado com o duque Eudes que es te atacasse o acampamento dos infié is, o qual estava ingurgitado de tesouros saq ueados da igrejas. Ass im , o duque E ud es e alguns cavale iros franco fizeram uma investida rápida ao acampam ento inimigo. O resultado foi melhor que o previ sto. Vendo a ameaça sobre s uas riquezas, os cava leiro mu ç ulmanos ficaram confusos, des viaram o ataq ue principal e se dirigiram e m massa para o acampa mento. Abdul Raman percebeu a situação e, montado e m seu cavalo, avançou até muito próximo da linha de defesa dos francos, para deter adi persão de seu homens. Carlos mandou os seus francos avançar em bloco. Um dele encontrou Abdul Raman desprotegido no campo de batalha e ceifou-l he a v ida com um go lpe de lança. N a falta do comandante, os muçulma nos se retiraram durante a noite, sem que os cristãos percebessem. Apenas o alvorecer reve lo u a completa vitória de Carlos. A partir de e ntão, e le passaria a ser conhecido por Marte! o u Martelo, pelo modo como esmagou o poderio islâ mico nesta memorá vel batalha de Poitiers, o primeiro grande confronto entre os seguidores da Cruz e do Crescente. Essa vitória haveria de ser lembrada por todos os povos ocidentais como um a das mais importantes de sua hi stória. Se não fosse Carlos Marte!, ninguém mais teria capacidade de deter o avanço do Islã na E uropa. Roma, capita l do Papado, estari a ameaçada de pilhagem e o surgimento da gloriosa Civili zação Cristã ficaria grave mente prejudicado. A Providência Divina reservou para Carlos Marte! outros grandes fe itos. Veremos em próximo artigo como ele favoreceu a Re ligião católica e desferiu mais um golpe co ntra os asseclas de Maomé. •

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Dá o pé, louro C1 GREGÓRIO ViVANCO LOPES

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Carlos Martel entra triunfante na cidade de Poitiers

uando eu era cria nça, tínhamos lá no quintal de casa um papaga io que atendia pelo nome nada ori gi nal de louro. Senhorialmente insta lado num polei ro, ele parecia considerar-se o rei , ou pelo menos um barão bem estabe lecido. O poleiro era composto de um piso e uma cobertura de madeira, e ntre os quais havia três traves hori zo ntais colocada a difere ntes alturas, para que a ave pudesse subir e descer conforme lhe apro uvesse. Esse conjun to podia ser baixado ou elevado por meio de uma corda que girava numa roldana à maneira de elevador. Quando alcançava seu ponto mais alto, o poleiro ficava totalmente inacessível aos gatos que de vez em quando transitavam pelo quintal. Aliá , bastava um bichano despontar no hori zo nte próximo para que o lo uro se inquietasse, encarrapitando-se no último andar de ·eus aposentos, onde se entia mai s seguro. Urna correntinha de metal leve, com certa exte nsão, ligava ao poleiro o pé do papagaio. Colocada certa mente por alguém da família, minha mente infantil nunca e ntendia bem para que e la servia, uma vez que o senhor papaga io não dava qualquer sinal de querer abandonar seu trono. Tanto mais que ali lhe eram servidas em abundâ ncia sementes, algumas frutas e legumes, sem falar do serviço de higiene. Curiosame nte, nunca o vi beber água. Para as crianças da casa era uma alegria c hegar perto da ave, estender-lhe o dedo indicador à maneira de uma pequena haste horizontal e dizer-lhe: "Dá o pé, louro ". Ele não se fazia de rogado: imediatame nte colocava sua pequena garra sobre o dedo que lhe era estendido e repetia com sua voz rouca: "Dá o pé, louro". Parecia sentir-se bem com os pequenos. Outras vezes, quando todos os da casa estavam en tretidos em seus afazeres, ouvia-se de i-epente, vindo lá do quinta l, o grito estridente do papaga io , chamando pelo nome uma pessoa da família. Não é que estivesse necessitando de algo, ma este era o seu modo de externar a alegria

ele viver, como alg uém que, por se sentir feliz, começa a cantaro lar sozinho. *

*

*

Não sei o que fo i feito do louro . Eu o perdi de vista, como a ta ntas coisas da in fância que desaparecem de nossa atenção sem sabermos como nem por que, mas que deixam na alma uma record ação cheia de saudade, à maneira de um a névoa perfumada e luminosa. É o modo de ser da inocênci a, que para ser feliz não necess ita de gra ndes sensações nem de acontecimentos espetaculares; bastam-lhe o comum da vicia e se us pequenos fatos corriqueiros,. E aqu i tocamos com a mão no que consiste o privilégio inestimáve l de ser católico. O seguidor de Jesus Cristo, o fi lho de Nossa Senhora, sabe desde cedo que essas alegrias da inocência correspondem a valores eternos que reencontraremos no Céu. O papagaio passou, mas a alegria inocente que ele proporcionou, essa subsiste em Deus. O louro - como mil outras coisas - fo i apenas a ocasião e o símbolo concreto para que valores eternos se manifestassem e fossem amados desinteressadamente pelos homens. Tais valores transcendem o papaga io, como transcendem todas as coisas materiais. Referemse não apena ao que foi , mas ao que agora ex iste e ao que vi rá. De modo que as saudades que ele deixam na alma correspondem a algo com que novamente nos depararemos no Céu. Felizes as almas como Santa Teresinha e Santa Bernadete, que jamais perd eram sua inocência primeva e viveram constantemente em conúbio com esses va lores.

T ive a ventura ele convive r de perto com P línio Corrêa ele Oliveira e posso dar de le igual testemunho. Para aq ueles - quão mai s numerosos - que nos afastamos dessa via régia, a Providência mantém as portas abertas pela penitê nc ia. Sobretudo por aq uela f'orma de penitê ncia qu e Lhe é tão agradáve l: "Um coração contrito e humilhado, Senha,; não o desprezarás " (S I 50, 19). A admiração pelos valores ela inocênc ia e a certeza ele que os ree ncontraremos na ua ple nitude infinita e m Deus é o qu e nos fortal ece para vi ve r e lu tar nesta vida tão c heia de problemas e adversidades .

*

*

Como são di gnas de pe na as crianças de hoje! S ubmetidas ao e mburrecirne nto pe la te lev isão, hipnoti zadas pelos vídeoga mes e com a alma destroçada por uma ed ucação sexua l precoce e desvairada, são e las vítimas - perdoem-me o neo logismo - de um verdadeiro inoccnticíclio que as esp re itará na vicia adu lta com toda espécie de fru strações e de taras. Es ta é a verdadeira catástrofe do mundo moderno, mui to mai s do que terremotos e tsunami s. Vejo já algum ecologista radi ca l me incre par: não se pode te r papagaio e m cativeiro, é contra a mãe- natureza. Calma, meu caro, você não só que r arrancar a felicidade ela cri ança, como a ela própria ave, na medida e m que esta é capaz ele fruir esse sentimento. Pois seu bem-estar maior consiste e m c umprir sua finalidad e mais alta, que é a de serv ir ao home m. • E-mail para o autor: catolicjsmo@tcrra com br

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5 Dedicação da Basíli ca de Santa Maria Maior Santo Abel de Reims, Bispo e Confessor

l Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Pagani, 1787. Fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, dedicada à pregação de missões populares . Grande moralista.

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+ Lobbes (Bélgica), séc . VIII. São Bonifácio, chamado por Pepino, o Breve, para reformar a Igreja na Gália, escolheu Abel para Bispo de Reims. Impedido de tomar posse dessa diocese, ele se refugiou na Bélgica, onde morreu entregue à oração e à penitência por seus diocesanos.

+ Roma, séc. VI. Era sapateiro. "Segundo São Gregório Magno, ele distribuía no sábado tudo quanto havia ganhado na semana precedente" (do Martirológio) .

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Primeira Sexta-feira do mês.

+ Assis, 1253. Digna êmula de

6 Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo Primeiro Sábado do mês.

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+ França, 1868. Fundador do Instituto do Santíssimo Sacramento para a adoração perpétua, seus últimos anos foram cheios de sofrimentos. Dizia a Nosso Se nh or: "Eis-me aqui, Senhor, no Jardim das Oliveiras; humilhai-me, despojai-me; dai-me a cruz, contanto que me deis também o vosso amor e a vossa graça ".

+ 258. O perverso imperador Vale1iano estabelecera a pena de morte no império romano "sem julgamento, só com verificação da identidade" - contra bispos, padres e ruáconos cristãos. Sisto II foi executado na Via Ápia, no mesmo lugar onde celebrava clandestinamente os Santos Mistérios. Com o Pontífice foram martirizados seis diáconos que o assistiam.

+ Anagni, 1105. De famíl ia nobre, tendo entrado ainda jovem num mosteiro daquela cidade italiana, fo i nomeado seu bispo pelo Papa lá exi lado. O Pontífice enviou-o posteriormente a Constantinopla, como embaixador junto ao imperador bizantino.

4 São João Maria Vianney, o Cura cl'Ars, Confessor, Patrono dos Párocos

21 São Pio X, Papa e Conl'essor + 1914. O lema do seu pontifi-

São Deodato, Confessor

São Pedro Julião Eymard, Con fessor

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16 São Roque, Confessor + Montpellier, séc. XIV. Tendo perdido os pais aos 20 ~os, partiu em peregrinação para Roma, passando pelos lugares empestados para tratar dos enfermos. Voltando à sua cidade natal, foi tomado como revoltoso e levado à prisão, onde morreu na miséria ao cabo de cinco anos.

São Sisto II, Papa, e Companheiros, Mártires

São Pedro de Anagni , Bispo e Confessor

gens, sofreram "inúmeros lormentos e foram mortos pela espada" (do Martirológio).

8 São Domingos de Gusmão, Confessor + Bolonha, 1221. Oriundo de nobre família, ele foi cônego de O ma, na Espanha. Ao se dirigir em peregrinação a Roma, viu o dano que a heresia albigense fazia no sul da França. Ali permaneceu para pregar e defender a verdade, fundando a Ordem dos Pregadores. Para vencer os albi genses, Nossa Senhora lhe revelou o modo de rezar o Rosário.

+ Ars, 1859. Sua fama de pre-

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gador e confessor atraía pessoas de todas as partes da França. São Pio X o erigi u em patrono de todos os párocos e pastores de almas.

Santos ,Juliano, Mariano e Companheiros, Mártires + Constantinopla, séc. VIII. Esses 10 eclesiásticos, por terem defendido o culto das ima-

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Santa Clara, Virgem seu contetTâneo e contemporâneo São Francisco de Assis, fundou a ordem segunda dos franciscanos, conhecida pelo seu nome - as Clarissas - , dedicada à contemplação e ao cultivo da mais estrita pobreza.

12 Santo Euplúsio, Már'Lit' + Catânia, séc. IV. Este intrépido cristão, movido por uma graça particular, apresentouse à entrada do tribunal da cidade e desafiou: "D esejo morrer, porque sou cristão". Depois de diversas torturas, fo i decapitado.

13 Santa Radegunda Rainha, Viúva + Poitiers , 587. Esposa de Clotário I, rei dos francos , por sua virtude exerceu g rande influência na corte. Retirouse depois para um mosteiro que fundou em Poitiers.

14 Santa Anastácia, Abadessa + Egina (Grécia), séc. IX. Por duas vezes teve que se casar contra sua vontade. Mas o segundo marido, com o qual se dedicava às boas obras, resolveu fazer-se monge. Ela fun dou, no deserto de Tímia, um mosteiro que governou até sua morte.

15 ASSUNÇÃO DE NO,SSA SENIIORA AOS CEUS

São Jacinto, Confessor + Polônia, 1257. "Depois de ter estudado em Cracóvia, tomou o hábito dosfrades pregadores em Roma, das mãos do próprio São Domingos. Fundou a província dominicana da Polônia e estendeu seu apostolado para a Rússia e Prússia " (do Martirológio).

18 Santo Aga pito, Mártir + Palestina, éc. JJI. Com apenas 15 anos, mas já cheio de amor de Deus, foi du ramente flagelado com nervos de boi, depois entregue aos leões, que não o tocaram. Fin a lme nte teve a cabeça decepada.

19 São ,João Eudcs, Confessor + França, 1680. Dele rus ·e São Pio X: "Ardendo de amor extraordinário aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, foi o primeiro a pensa,; e não sem inspiração divina, em tributarlhes um culto litúrgico ". Fundou o Instituto de Jesus e Maria (Budi stas) e as Filhas de Nossa Senhora da Caridade.

cado era Restaurar tudo em Cristo. Foi o grande Papa da Eucaristia, do Catecismo, do Direito canônico e do canto gregoriano e, sobretudo, o grande batalhador contra os erros da heresia modernista, antecessora do atual progressismo.

NOSSA SENHORA RAINHA

22 Antigamente esta festa comemorava-se a 31 de maio. No dia 22 de agosto celebrava-se a festa do Imaculado Coração de Maria.

23 Santa Rosa ele Lima, Virgem, principal Padroeira da América LaLina (Vide p. 38)

24 São Bartolomeu, Apóstolo + Séc. 1. Segundo autores antigos, seu verdadeiro nome seria Natanael, de quem Jesus disse: "Eis um verdadeiro israelita, no qual não há dolo" . Levou o Evangelho a vários países, inc lusive Pérsia, Índia, Arábia e Armênia, onde teria sido esfolado vivo.

25 São Luís IX, Rei ele Prança, Conl'essor + África, 1270. Árbitro entre

no - Monástico), que logo se espraiou por toda a Espanha e também para o exterior.

27 Solenidade de Nossa Senhora dos Pra1/. eres Um de seus santu ários mais famosos, no Brasil, é o dos Montes Guararapes, onde se travou a batalha decisiva dos brasileiros contra os hereges calvinistas.

28 Santo Agostinho, Bispo, Confessor e Doutor ela Igreja + Hipona, 430. Dele disse Leão XIII: "É um gênio vigoroso que, dominando todas as ciências humanas e divinas, combateu todos os erros de seu tempo". Morreu quando os vândalos punham cerco à sua sede episcopal, a cidade de Hipona, ao noite da África.

29 Martírio de São ,João Batista São Seba Rei, Confessor + Essex (Inglaterra), 700. Rei de Essex, dele djz São Beda, o Venerável: "Era homem muito dado a Deus. Preferia uma vida isolada de caráter monástico a todas as riquezas e todas as honras do reino ".

+ França, 670. Filho de um rei da Escócia, ele se instalou na França, onde construiu um mosteiro. Monge desbravador, foi muito venerado pelos jardineiros e horticultores, tomando-se muito popular na França.

+ França, 11 53. O monge mai

26

ilu tre de seu século. Fundou a Ordem C isterciense, fo i conselheiro de Papas e príncipes, pregou a egunda Cruzada, combateu os hereges. Devotíssimo de Nossa Senhora, é chamado Doutor Mel(fluo e considerado o últim dos Padres da Igreja latina.

Santa Teresa de ,Jesus Jornet-e-Ibars, Virgem

São Paulino ele 'l'réveris, Bispo e Confessor + Tréveris, 358. Defensor da fé

+ Lfria (Espanha), 1897. "Nascida na Catalunha, de uma família de agricultores, consagrou-se inicialmente ao ensino; depois .fundou o Instituto das hmãzinhas dos Idosos Abandonados" (do Martirológio Roma-

no Concílio de Nicéia e grande partidário de Santo Atanásio, foi por isso exilado pelo imperador ariano Constâncio para a Ásia Menor, onde moffeu entre não católicos, vítima de sofrimentos e fadigas .

20

Será cel ebrada pelo Revmo. Padre Da v id Fran cisquini , nas segu intes intenções : • Pelos méritos da Assunção de Nossa Senhora aos Céus, reza remos pelo Brasil, para que não se jam aprovadas leis contrária s às Leis de Deus, como as que visam impor a aceitação de pecados contra a natureza. E que a Santíssima Virgem forta leça a instituição famili ar, tão vuln erad a por ataques con stantes da propaganda imo ral. Que os pais e mães de família se jam muito protegidos, a fim de poderem educar seus filhos de acordo com a mora l sempre ensinada pela Igreja Católica Apostólica Romana .

30 São Fiacre, Confessor

reis da Europa, e depois mesmo entre infiéis, quando empreendeu a VII Cruzada. Foi pai de seu povo,jlliz para os ímpios, e defensor da fé contra os muçulmanos. Mon-eu vitimado pela peste na costa da África.

São Bernardo, Abade e Doutor da Igreja

Intenções para a Santa Missa em agosto

31

Intenções para a Santa Missa em setembro • Rogando es pec ia l proteção de São Miguel Arcanjo - festi vidad e celebrada no dia 29 de setembro paro a Igreja, perseguida e mal defendid a em nossos dias. E também pedindo que o Prín cipe da Milícia Celeste defenda os fiéis católicos, auxiliando-os a resistir a todas as infestações diabólicas tã o frequ entemente causada s pelo poder das trevas.

AG STO2011


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Ação Jovem pela Terra de Santa Cruz

Neles se estudaram primeiramente as aparições e profecias de Nossa Senhora em (Fátima e La Salette. E depois as grandes fevoluções que visaram destruir a civilização cristã, de ·critas na obra Revolução e Contra Revolução, do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: desde a pseudo-Reforma protestante, passando pela Revolução Francesa e o comunismo, até chegar ao anarcotribalismo e ao satanismo (estas duas últimas fases já se apresentam em gérmen no mundo hodierno). Como oposição a essa decadência multissecular da civilização, numa reunião especial foi apresentado o conceito de Contra-Revolução, exposto na citada obra. Outro tema que despertou muito interesse foi a razão de ser do idealismo na vida, a verdadeira "chave da felicidade", em contraposição ao hedoni smo e ao egocentrismo, que provocam fru stração e infelicidade na juventude atual. No final de cada reunião, o jovens, agrupados em duas turmas, tinham oportunidade de aprofundar os conhecimentos adquiridos, por meio de uma acirrada disputa intelectual. Pequenas peças teatrais complementaram as reuniões, demonstrando como se apresentam na prática os erros da Revolução. Jogos diversos despertaram o entusias mo de todos, destacando-se a caça ao tesouro, o paintball e os concorridos jogos inspirados na Idade Média. Ambos os acampamentos se encerraram com um banquete medieval, em ambiente de cordial e cavalheiresco convívio . • E-mail para o autor: catolicismo@ terra.com.br

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RO DRIGO

VALENTE

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or ocasião da importante fest ivi dade de Corpus Christi, nada melhor do que proporcionar à juventude um encontro em ambi ente propício à prática das virtudes, ao estudo e a um sadio lazer. Mas onde encontrá- lo hoje em dia? Pois isso aconteceu tanto em Brasília (DF) [fotos de 3 a 5] co mo em ltapecerica da Serra (SP) [fotos de 1 e 2] , quando a Ação Jovem pela Terra de Santa Cruz promoveu doi s eventos nos dias 23 a 26 de junho, reunindo o tota l de 60 jovens. CATOLICISMO

AGOSTO 2011

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"Dia internacional de combate à crtstianofobia"

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o dia 23 de junho, enquanto uma fina garoa caía sobre Bruxelas, o cenário cinzento foi rompido por um grupo de pessoas com estandartes rubros marcados por um heráldico leão dourado ostentando no peito uma cruz vermelha. Logo começaram eles a bradar slogans como: "O laicismo dominante quer reduzir os cristãos a cidadãos de segunda classe; aceitaremos essa condição de estrangeiros em nossos próprios países ?" Es e evento teve lugar na Praça Luxemburgo, em frente ao Parlamento Europeu, e foi promovido pela Federação Pro Europa Christiana, sob a direção do duque Paul de Oldenburg. Para essa campanha, voluntários - a maioria constituída por jovens - distribuíram durante três horas cerca de 2000 folhetos alertando o público sobre a perseguição atualmente movida contra cristãos, tanto no Ocidente quanto no Oriente. CATOLICISMO

Pedia-se no folheto a instauração do Dia internacional de combate à cristianofobia, a ser celebrado em 2 de março, dia do assassinato de Shahbaz Bhatti, católico paquistanês e ministro para as Minorias, morto em ódio à fé por islâmicos radicai s. A referida Federação está recolhendo adesões com vistas a promover um abaixo-assinado com esse fim. Fatos como o da paquistanesa católica Asia Bibi - que continua presa em terríveis condições - , assim como os recentes morticínios de cristãos no Iraque e no Egito também foram lembrados; além das constantes blasfêmias, muitas vezes expressas em atos de vandalismo e vilipêndio religioso que vêm ocorrendo no Ocidente. Por exemplo, durante a recente Parada homossexual realizada em São Paulo, quando imagens de santos foram aviltadas. A reação do público foi muito sintomática: tanto cristãos orientais como ocidentais felicitaram os promotores da campanha. Houve até casos de muçulmanos que chegaram a confessar: "Somos realmente cristianofóbicos " . •

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Maiores lntorm çoes estão disponíveis no site:

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da a Ban Kl•Moon, secretário-geral das Nações Unidas.

E-mai l para o autor: catolicismo@terracom.br

AGOSTO 2011

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Carlos Martcl Plenitude de um verdadeiro chefe guerreiro e nobre

Il · , fl

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PuN10 CoRRÊA DE OuvE1RA

ilustração é de Carlos Marte!*, um homem de certa rusticidade e muita gravidade, profundamente sério, de vistas elevadas e consequente. Quem ousar desafiá-lo poderá receber respostas bem sérias, pois ele está permanentemente em condições de fazer algo perigoso. É um homemC,rave, forte, e muito estável: Quando afirma: "Eu, depois de J;ensar, amadureci um plano", tenha certeza de que tal plano será inteiramente rexecutado ! Eis aí, na plenitude, o que era· um verdadeiro chefe guerreiro e nobre. Ele tem uma superioridade que não lhe advém do fato de ser mais fino, mas que reside na sua elevada gravidade de espírito e na força de sua personalidade. Ele cavalga e luta disposto a derramar seu sangue por Nosso Senhor Jesus Cristo. É um cavaleiro que ouvindo narrar a Paixão de Cristo é capaz de chorar e que, voltando da guerra santa, ~oderá se transformar num monge, por exemp lo. Com essa impostação, podemos compreender o que era o quilate de uma alma da Idade Média. Um guerreiro que não tem medo de se confrontar com a verdade nem teme inimigo algum. Ele pensa de modo análogo ao de sua marcha para o combate. Senhor em toda linha, moldado para dominar, ele chefia na guerra, dornina na paz, impõe a ordem por toda parte. É propriamente um soldado de Cristo. Em seu lar, na comodidade e placidez, estará até distendido. Mas é distensão de uma pessoa de grande seriedade e estabilidade. É uma personalidade constituída por uma só peça e que tem apenas um objetivo na vida. • * A respeito dele, vide artigo A Batalha de Poiliers, à p. 42 desta edição.

Excertos da conferência proferida pelo Prqf. Plínio Corrêa de Oliveira. Sem revisão do autor.

Carlos Martel na Batalha de Poltlers



P1.1 N1

CoRRr11

UMÁRI ,

DE O uvE1RA

SETEM Bl~O c1c 20 1·1 Nº 72H

2

Exum:ms

4

CARTA uo D11mT(m Reação conservadora na Hungria

Deflação de valores morais

5

VARrnDADEs Aplausos à nova Constituição húngara

6

D1sc1mN1Nno

7

L1,;1TURA Esr1mn1A1,

8

CommsPONDf.:NCIA

O STF e as drogas Considerações sobre o Pai-Nosso -final

1O A

PALAVRA DO SAcmmoT1•:

12 A

REAl,IOADE CONCISAMl<:NTI•:

Processo demolidor de nações ibero-americanas

14

IN·1·1mNAC10NA1 .

18

EN·m1-:v1sTA

22

VmAs 1n; SANTos

25 PoR

Príncipe camaronês em visita ao Brasil

Qt11,: NossA

São João Macías

S..:N1101M

c110RA?

Internet - alterações no modo de pensar, ler e recordar

26

CAPA

38

M1•:MúmA

42

SANTOS E F1,:sTAS DO Mf~s

Belle Époque, uma época brilhante, desaparecida

44 A<,:Ao CoNT1M-R..:vo1.1 1cmNA1m\

52

AMmi-:N·r..:s, CosTtJMJ•:s ,

C1V11 .1zAçfms

RodiJJa - mosteiro-fortaleza testemunha gloriosas batalhas e sublime heroísmo

Nossa Capa: Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo.

Paris em plena Betle Époque

SETEMBRO 2011 -


,O exemplo vem da Hungria Caro leitor, ! 1 G REGÓRIO VIVANCO LO PES

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Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsá vel:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

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Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catollclsmo @terra .com .br Home Page: www. catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Setembro de 2011 :

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Nossa revista já tem abordado temas vinculado à informática. A par de evidentes contributos visando à ampliação do conhecimento humano e ao progresso científico, a informática tem, contudo, apresentado graves perigos para seus usuários. Com a espantosa difusão dos meios eletrô nicos, vêm crescendo também as críticas a seu uso, frequentemente desvirtuado quanto aos aspectos moral e psíquico, ocasionando séri as consequências, especialmente para a infância e a juventude. Procurando atender aos questionamentos e dúvidas expostos por leitores de Catolicismo a respeito do tema, julgamos oportuno oferecer-lhes, como matéria de capa desta edição, artigo baseado em sérias pesquisas realizadas por especialistas em informática. Ressaltam estes - por vezes a partir de experiências pessoais - como o uso indevido ou intemperante dos meios eletrônicos pode vulnerar a reta atividade da mente humana, incapacitando-a para uma compreensão mais profunda da realidade, dificultando a conexão das idéias, prejudicando a atuação da memória, cri ando dependência à tecnologia, etc. Há mesmo "idólatras" da informática que pretendem estabelecer uma simbiose física entre o homem e a máquina, num proce so de "robotização" ou " maquinização" do ser humano. Chega-se a propor o implante de microchips no cérebro, que permitiriam conectar nossa inteligência a computadores . Se tal absurdo uso se generalizasse, rumaríamos para o estágio de uma sociedade "robotizada" e escravizada a certo tipo de máquinas cibernéticas. Essa sini stra hipótese levou o articulista a inserir em seu trabalho uma previsão do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, que em palestra realizada em 1988 descreve a situação de uma sociedade dominada pelo que ele chamava de "dilúvio energético", ressaltando as analogias dessa situação com o dilúvio da época de Noé. Pedindo a Nossa Senhqra que preserve a fé católica e a integridade psíquica de nossos prezados leitores e de seus familiares contra a inundação desse "dilúvio energético", desejo a todos uma leitura aprofundada de tão importante temática.

E

m sua edição de ma io último, Catolicismo notic iou a aprovação da no va Constitui ção da Hungri a, e m abril , pelo voto da esmagadora ma iori a dos legis ladores . A nova Caita Magna salienta quanto a Nação se sente orgulhosa pelo fato de o Estado húngai·o ter sido criado há mil anos por Santo Estêvão, como parte da gloriosa E uropa cristã. Com a coroa húngara - presente do Papa Silvestre II ao Rei Santo Estêvão - fo ram coroados nada menos do que 55 reis. A Co nstitui ção te m a ind a o utros mé ritos . Defi ne o casame nto co mo "união entre um homem e uma mulher ", protege a vida do nascitu ro contra o aborto desde a co ncepção até a morte natural, proíbe a e ugeni a e rechaça o comu nismo.

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Numa situação norma l, toda a Euro pa deveria alegrar-se co m essa ap rovação. M as se há algo a respeito do qual não se pode fa lar atualmente é e m "s ituação normal" . As ond as mefíticas da Revo lução ig ualitária e imoral que desde fi ns da Idade M édi a vêm asso lando o Ve lho Contine nte - e todo o Ocidente exc ri stão - acabaram po r mode lar u m tipo de Uni ão E uropéia (UE) inspirada num laicismo agressivo e persecutório d as boas tradições e da moralidade . Por isso, os dirigentes da UE se "escandalizaram" com a nova consti tuição

húngara, a qual provoco u ademais as iras de aborti stas e ativistas homossexuais de todos os qu adra ntes . Di versos grupos a favo r do aborto e da prática homos sex ua l pro moveram nos meios de comunicação uma campanh a co ntra essa co nst itui ção. Por exemplo, a assoc iação Hum.an Rights Watch, conhec ida defensora do aborto, di sse estar preocupada pelas cl áusul as a favo r da vida. Em declarações à Associated Press, o porta-voz do Parlamento húngaro, Laszlo Kover, salientou que a consti tuição está modelada para ser o passo final da tomada de di stância do estilo de governo comunista e declai:ai·-se ex-país do bloco soviético. "Participam.os de um. momento histórico", disse ele. "A nova constituição baseia-se em nosso passado e em. nossas tradições, mas procura e contém respostas para os problemas atuais, ao mesmo tempo em que se volta para o futuro". Para Steven W . Mosher, preside nte do conhecido Population Research. fnstitute , dos EUA, os princípios que regem a nova constitui ção "são precisamente aqueles de que a Europa precisa para impedir a crise demográfica, econômica e cultural que está enfrentando atualmente; por isso é admirável a vontade dos húngaros de construir uma cultura de vida em meio à atitude do-

minante europeia de obscurantismo" (ACI, 19-7- 11 ). Ao manter-se fi rme ante os ataques q ue recebe, a nação húngara segue o g lorioso exemplo do baluarte contra o comun ismo soviético a e la im posto dura nte d écadas pe la fo rça: o Cardea l Mind sze nty , c ujos restos morta is se vene ram na catedral de Erztergom. Aos c itados di spos itiv os da nova constituição húngara poder-se-ia aplicar, com as devidas adaptações, o elogio que em Mensagem encabeçada pelo Prof. Plíni o Corrêa de Oli veira foi di rigido ao Cardeal Mindszenty por sua firmeza em não se dobrar ante o comunismo: "O non possumus firme de Vossa Eminência, repercutindo no mundo inteiro, vale por uma lição e por um exemplo próprios a manter os católicos na via da fidelidade aos ensinamentos tradicionais imprescritíveis, emanados da Cátedra de Pedro em antigos dias de luta e de glória. E é por esta razão que, a par da admiração, tributamos a Vossa Eminência um agradecimento profu ndo. [...] O Reino Apostólico da Hungria recebeu desde San.to Estêvão a missão gloriosa de ser baluarte da Igrej a e da Cristandade. Esta missão, ele a cumpre por inteiro em nossos dias, na Pessoa augusta de Vossa Eminência " (Catolicismo , maio/ 1974). • E- mai l para o autor: cato lici srno @terra.co rn .br

Estátua de Santo Estêvão, em Budapeste

Em Jesus e Maria,

CATOLICISMO

~~7

Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES L TDA .

cato lic is mo@ terra.com.br

DI RETOR

SETEMBRO 2011 -


DISCERNINDO

A morte da cantora e o S1F A 1norLc de A1ny Winchouse, conhecida pelos seus escândalos públicos e uso de drogas e álcoül, não foi surpresa para seus familiares. Surpresa foi o STF ter liberado as marchas da maconha. rn Cio ALENCASTRo

E

m 2007, o pai de Amy Winehouse, cantora judia-inglesa de rock, declarou que, por duvidar da recuperação da filha, já havia preparado o seu funeral. Em junho de 2008, o mesmo senhor revelou aos jornalistas que Amy estava com uma possível arritmia cardíaca por conta do uso abusivo de cocaína e cigarro! Nesse mesmo ano ela foi presa duas vezes por posse de drogas. No seu último show, em 19 de junho último, em Belgrado, era visível o seu estado de embriaguez, chegando a ser vaiada pelo público. Pouco tempo antes de sua morte, médicos que a tratavam diagnosticaram: "se não deixar as drogas, irá perder a voz e morrer rapidamente ". Em 23 de julho Amy foi encontrada morta em seu apartamento. Tinha apenas 27 anos. E tatuagens disseminadas pelo corpo. Sua mãe, que havia se encontrado com ela 24 horas antes, declarou que a morte da filha era "apenas uma questão de tempo. Ela parecia fora de si". O caso de Amy Winehouse infelizmente não é único. Numerosos personagens, entre os badalados pela mídia, ti veram destino semelhante. Basta lembrar Marilyn Monroe e a multimilionária Cristina Onassis. Mas, além dos "famosos", morrem em consequência das drogas numerosos indivíduos, especialmente jovens, sem que isso seja notícia. Todos esses dados foram reproduzidos na imprensa diária. *

*

*

É nesse contexto que se insere a polêmica em torno da descriminalização das drogas no Brasil, defendida até por políticos muito bafejados. É claro que, presentemente, falase apenas em drogas leves, como a maconha. Será a maconha tão leve assim? Admitamos que o seja. Alguém tomaria um veneno "leve" porque não mata de imediato, mas vai produzindo efeitos nocivos à saúde? Ademais, é sabido que do mais leve se vai ao mais pesado, e quem

-CATOLICISMO

Considerações sobre o Pai-Nosso (final) C oncluímos esLa série da seção l1eilura EspÍrÍtual com a séLin1a peLição que SanLa Teresa * recomenda para os do1ningos: "Livrai-nos do mal. i\mé1n".

Empregados de uma funer6ria particular carregam o corpo de Amy Winehouse

começa a viciar-se na maconha depois passa à cocaína, ao oxi, ao crack, e ao que mais for. Como fica então a liberação das marchas da maconha pelo Supremo Tribunal Federal? Sim, eu sei que o STF não liberou o uso da maconha, mas "apenas" as marchas em favor da liberação desse uso. Ora, deixando de lado di stinções especiosas e sem conteúdo, vamos à realidade do fatos. Quem irá a essas marchas? Ev identemente os que querem utilizar a maconha sem qualquer tipo ele constrangimento. Precisamente os que põem o pé numa ponta da esteira rolante que conduz, na outra ponta, às Amy Winehouses. Claro, não será em todos os casos, ma o fe nômeno social fica instalado e as portas são abertas para a destruição das personalidades.

*

*

*

Acima do fenômeno social está o prob lema moral. Segundo o jornalista João Pere ira outi nho, "o drogado pode ficar doente; mas ele não é um doente - é um agente moral" (Folha.com, 25-7- 11 ). Outro testemunho interessante fo i publicado pelo jornal "O Popular", de Goi âni a: "É um disparate essa marcha da maconha ter acontecido com a aprovação do Suprem o, que deveria zelar pelos bons costumes, pela ética e pelafa111(/ia. [... ] Um grande problema que poderia ser evitado, cr111sado por decisões de pessoas 'modernas'. Mas para 011d1• r, modernidade nos levará? Ao fundo do poço se for por<',\'.\'/' caminho [.. .] A marcha da maconha marca uma 1101·r1. Tornando-se sinônimo de decadência humana" (L '11111l ro Sena, suplente ele deputado estadual em Goiás, 3-7- 1 1), Palavra como droga, STF, Amy Winehou.1·1•, 111,11rltas , esteira rolante e ainda outras poderiam constiluir pl•.;n~ de um quebra-cabeça cuja figura total é aterradorn . • E- mail para o autor: ~-ltilllll<,0 1•1111 . um,br

a sétima petição não pedimos que nos livre deste ou daquele mal , senão de tudo o que própria e verdadeiramente é mal, ordenado a privar-nos dos bens da graça ou da glória. Há males de pena - como são as tentações, enfermidades, trabalhos, desonras etc. - , porém a isto não se pode chamar propriamente de males senão enquanto ocasião de cair em culpas. Assim sendo, às riquezas, às honras e a todos os bens temporais se poderão justamente chamar de males, pois podem servir de ocas ião para ofendermos a Deus. De todos estes males e bens, que podem ser causa de nossa condenação eterna, pedimos para sermos livres. A matéria desta petição é copiosíssima, reduzindo -se a ela os quatro Novíssimos cio homem: a morte, o juízo final, as penas do inferno e os gozos da g lória. Aqui se pode tornar a repetir as considerações passadas. Pode haver confusão maior que tendo nós tal e tão amorosíssimo Pai, tão potentíssimo Rei, tão suavíssimo Esposo, tão bom Pastor, tão rico e misericordioso Redentor e tão eficaz e piedoso Médico, Lhe sejamos tão ingratos e tão sem proveito em tudo? E quão grande temor causa tanta carga de benefícios da sua parte, e da nossa tamanha ingratidão e desamor! Porém, com tudo isso, grande e incomparável é a confiança que secobra para aparecer em juízo, considerando o que se há de fazer diante de um Juiz que é nosso Pai, Rei etc.

Representac;ão do Juízo Final no pórtico de uma catedral gótica

Pode-se concluir este dia e encerrar esta oração com uma ação de graças que o profeta Davi compôs naqueles cinco versículos de um salmo do qual usa a Igreja no Ofício Ferial de Prima (Salmo l02), os quais dizem: l - Bendize, ó alma minha ao Senhor, e todas as minhas entranhas ao seu santo Nome. 2 - Bendize, ó alma minha, ao Senhor, e não te esqueças de todas as suas pagas e benefícios . 3 - O qual perdoa todos os teus pecados e cura todas as tuas enfermidades. 4 - O qual redime e livra ela morte a

tua alma, e te coroa de misericórdia e compaixão. 5 - O qual cumpre em todos os bens os teus desejos, e por quem a tua alma será renovada como a juventude da águia. De maneira que, usando de misericórdia, este piedosíssimo Senhor por pecados dá perdão; por enfermidade dá saúde; por morte dá vida; por miséria dá perpétua proteção; por defeitos dá cumprimento de todo o bem, até nos levar a uma nova vida incomparável. • (*) Obras de Santa Teresa , tomo V, Con ceitos

do Amor de Deus - Relações espirituais - Exclamações - Poesias - Avisos. Editora Vozes, Petrópolis, 1951, pp. 231 e 233.

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Situação cada vez pio1· B Não estou nada otimista com opanorama ibero-americano. A situação no Brasil e nos países vizinhos é assombrosamente preocupante, como Alfredo Mac Hale nos faz ver claramente em seu artigo. Antes tínhamos a Colômbia, com Álvaro Uribe, a nos servir de proteção da Venezuela de Hugo Chávez. Agora temos a Colômbia, com Manuel Santos, a servir de ponte para a "Revolução Bolivariana" ameaçar nosso País. E para piorar a situação: o novo "Chávez" surgido das eleições peruanas, Humala, que foi "maquiado" por marqueteiros pelistas. Piorando ainda mais a situação: ficou comprovado, por documentos encontrados no computador do ex-chefe das FARC, Raul Reyes (morto alguns anos atrás), que as FARC, além de comprar armas em nosso País, mantinha relações com o PT e mandara dinheiro para uma campanha eleitoral no Brasi l. Santíssima Virgem de Guadalupe, protegei nossas Pátrias! Santa Rosa-de Lima, salvai o Peru, mas nós também! (P.E.K. - RN)

Câncer contagioso ... B Chávez é tão paranóico que é capaz de acusar os Estados Unidos de ter-lhe

-CATOLICISMO

injetado algum vírus que causou o câncer maligno, dizendo coisas espantosas como: "Dos gringos só recebemos o maligno". Este câncer no caudilho paranóico deve ser mesmo muito grave, pois, do contrário, Chávez faria questão de esclarecer e logo dizer tratar-se de mal passageiro. Apresentaria os atestados médicos, exames, etc. Mas o pior do "câncer chavista" é que ele já contagiou boa paite da América Latina, aliás, o que está bem representado na capa da revista. O problema que vejo é que (assim como no Brasil) na Venezuela não há uma oposição que atue eficazmente. E também, assim como no Brasil por parte da CNBB, os bispos venezuelanos não fazem nada de eficaz contra a ideologia socialo-"bolivai-iana" ... (N.P.E.P. - PA)

a América Latina para o despenhadeiro marxista, ou por líderes empenhados em reverter o quadro político, salvando nosso Continente da precipitação na crise completa? SP)

da não foi arquivado um projeto de lei anti-religiosa proibindo pregadores da palavra de Deus de mencionar os versículos da Sagrada Escritura que condenam práticas homossexuais. (C.H. - PE)

Mais empe11l10 católico B Assino todas as respostas do Prof.

Patrono dos párocos B Heróico no amor de Deus e firme

Hermes em sua entrevista sobre a luta empreendida por ele em defesa da fanúlia, contra o aborto e para que Deus não seja colocado à mai·gem das instituições. Os católicos precisam se empenhar muito mais nessa luta. Estamos cochilando enquanto políticos abortistas e favoráveis ao "casamento" homossexual conspiram pai·a tentar abalar os "alicerces da Igreja".

na oração, São João Maria Vianney é ----Gm modelo atual de santidade e firmeza na fé. As pessoas de hoje precisam se espelhar nele que, com sua sabedoria divina e perseverança, conquistava multidões. (M.F.F.M. - RJ)

(G.N.H. -

(R.B.N.R. -

CE)

Exportação B Muito bom o artigo sobre o pano-

Estatuto do Nascituro

rama político ibero-americano, com uma análise muito lúcida da realidade, e bem diversa daquela apresentada pela mídia esquerdista em nosso País. Terminei a leitura com a certeza de que a via chavista é o caminho perfeito e seguro para desagregar de vez nosso Continente, ou o caminho seguro para o fundo do poço, isto é, para o "abismo esquerdista". O melhor que os venezuelanos de bom senso poderiam fazer seria exportar de vez o mandatário canceroso para Cuba. Isso sim que seria um grande negócio, eles lucrariam muito mais do que com a exportação do rico petróleo venezuelano. (K.A. - RJ)

tes", é como vejo o novo Plano Nacional de Direitos Humanos, decretado pelo ex-presidente Lula e que ficou como "herança maldita" para a presidente Dilma. "Assassi nato", é como vejo o aborto. Viva o "Estatuto do Nascituro". É urgente sua aprovação. E para isso, precisamos rezai· bastante, mas também trabalhar muito. (S.M.E. - BA)

"Coma andante" ... B O "comandante" Fidel e o "comandante" Chávez podem estar virando "reis fora do baralho", ou fora do tabuleiro latino-americano. Neste jogo de xadrez, logo teremos um xequemate? Ou os dois "comandantes" doentes serão substituídos? Por novos comandos que continuarão empurrando

18:J "Declaração de morte aos inocen-

mídia de modo geral esconde verdades, especialmente as eternas. Como é difícil encontrar nela notícias acerca de temas sobrenaturais! E, quando a mídia os aborda, procura, com frequência, deturpar o que acontece. Os noticiários de jornais, revistas e TV s, raramente tratam de milagres aprovados pela ciência que ocorrem no mundo. Nem costumam publicar matérias sobre as manifestações incontestáveis de Jesus e Nossa Senhora que têm lugar hoje em dia, nem aquelas que se passaram em séculos anteriores. Por isso, vocês estão de parabéns! Continuem a divulgar as maravilhas realizadas por Deus e sua Mãe Santíssima. Eles os abençoarão por esse trabalho.

www.catollcismo.com. b1' B Seus irtigos têm me auxiliado

A Palavra do Sacerdote ~

Fico maravilhada com as explicações do Mons. José Luiz Villac. É impossível acreditar que alguém, depois de Cristo, possa ainda crer em reencarnação. Esta não é só rejeitada pela revelação cristã, mas é um absurdo rechaçado pela própria razão, pois é uma hipótese gratuita, sem qualquer fundamentação vál.ida do ponto de vista filosófico e das ciências naturais. (R.L.M. -

vocês nos apresentam todos os meses. Gostaria de agradecer a toda a equipe que oferece esse manancial de objetivas informações e formação aos leitores. Estes (em larga medida órfãos espirituais) procuram textos realmente saudáveis e densos de visões maravilhosas. Principalmente por eles chegarem até nossas paróquias fornecendo ótima formação, contida nas páginas de Catolicismo. CE)

MA)

"Deus seja louvado" B Julgo muito oportuna a oposição ao homossexualismo, uma vez que ain-

muito nas questões que preciso resolver. Este site contém todo o verdadeiro significado da Reforma Agrária e muito mais. Muitíssimo obrigado! (M.J. -

CE)

(V.L.C. -

Orações pela conversão B O artigo respondendo objeções dos protestantes foi muito esclarecedor, pois mostrou pontos importantes e falhas que eles cometem, "pinçando" palavras isoladas fora do contexto e usando como ai·gumento, por exemplo, para condenar a reza do terço . Fico muito triste com o fato de os protestantes não darem o devido valor a Nossa Senhora, a qual deveria ser

FRASES

PR)

Convulsões B Agradeço-lhes pelas oportunidades

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SELEC IONADAS r ,,

"Que nunca o livro fique fo119e de tua mão

e de teus ofhos"

a história de Noss a Senhora de Guadalupe. Num momento muito difícil em minha vida, vejo que a fé é o maior sustentáculo. Desejo conhecer mais sobre Nossa Senhora. (R.S. - RJ)

Certa mídia sabotadora B De fato, é impressionante como a

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Guadalupe B Estou profundamente tocado com

Conteúdo católlco B Obrigado pelo belo trabalho que

(J.E.M. -

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amada por todos, assim como os filhos amam suas mães. Nós, como bons servos do Senhor, devemos rezar para que eles também encontrem e reconheçam a verdade e, desse modo, obterem a salvação. (L.E.C.S. - PA)

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".Adw a tefevisã.o muito educativa. Toáas as vezes que alguém l19a o aparefho, vou. para outra safa e Ceio um livro"

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"Ler é 6e6er e comer. O espírito que não Cê emagrece como u.m corpo que não come"

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cessante: o livro faCa. e a alma responde" AV\,civé MCIIA.VOlS

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que nos oferecem em conhecer mais profundamente certos temas publicados na revista Catolicismo. Ela nos leva a conhecer os porquês desses momentos difíceis que estamos vivendo nesta Terra convulsionada por tantas crises. Saudações. (H.A.F. - GO)

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r:, Pergunta 1 - Gostaria de saber se é possível me casar somente na Igreja, sem me casar no civil. Pois meu noivo não quer de jeito nenhum se casar, e penso em ao menos convencê-lo de casar no religioso, para termos a bênção de Deus. Resposta - A consulente apresenta um problema que, na realidade, tem dois aspectos, um de fácil resolução, e outro muito complexo e delicado. Comecemos pelo de fácil solução: é possível, sim, casar-se somente na Igreja, sem realizar o casamento civil, desde que seu noivo não tenha compromissos resultantes de eventuais uniões anteriores, como pensão alimentícia, filhos a criar, etc. Aliás, mesmo que os tenha, e desde que os satisfaça devidamente, o pároco poderá realizar o casamento religioso, com licença do bispo, sem maiores problemas (cfr. Código de Direito Canônico, cânon 1071). Ademais, ocasamento religioso tem efeitos civis, de acordo com o § 2º do art. 226 da Constituição Federal, mediante simples registro. Mas a questão tem outro lado - este sim, muito complexo - que transparece na pergunta. Realmente, não é compreensível que o seu noivo não queira "de jeito nenhum se casar", mas ao mesmo tempo a consulente acha que pode "convencê-lo de casar no religioso". Um simples "ajuntamento" estável entre um homem e uma mulher já acarreta obrigações

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CATOLICISMO

civis, quanto mais um casamento religioso, com a agravante de que este é vinculante - "até que a morte os separe", como diz o ritual do matrimônio católico. A consulente deveria, pois, apurar as razões que levam ao seu noivo a recusar o casamento. Qual é o mistério que está por trás dessa recusa? Um casamento religioso com essas disposições prévias do futuro marido pode levar a desfechos desagradáveis e dolorosos ... E aqui entra uma realidade de nossos dias que é do conhecimento de todos: quanto tempo durará esse casamento? Valerá a pena correr tal risco? Para a consulente, que deseja viver sob as bênçãos de Deus, isto implicará na impossibilidade de novo casamento. Para um marido que eventualmente não dê maior importância de estar de bem com Deus, ele pode abandonar a legítima esposa e se unir a outra irre-

Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC

gularmente sem grande escrúpulo .. .

Palavras que mudaram de signincado No que está explicado acima, parti do pressuposto de que a consulente estava usando a palavra noivo no seu sentido clássico. Acontece que essa palavra, como as suas correlatas, namoro (que precede o noivado) e casamento (no qual termina o processo), foram lentamente mudando de significado, e hoje já correspondem generalizadamente a outros conceitos. Um amigo me contou, referentemente a uma jovem sua parente, que ela já havia "oficializado o seu namoro"! Ora, o namoro sempre foi caracterizado pela sua informalidade; isto é, um período em que o par se visita e se encontra, com a finalidade de alcançar um conhecimento mútuo, em vista de um possível casamento. O que sig-

nificaria a "oficialização do namoro"? Meu amigo ficou sabendo que eles passaram a viver juntos! Durante um certo período, na casa dos pais de um dele . Pressionados por estes, mudaram-se para outro apartamento ... cedido pelos pais. O "casal" em questão agora manifesta menos mal! - o desejo de "oficializar", desta vez, ocasamento, ao que tudo indica na Igreja ... Assim se passam, infelizmente, as coisas hoje em dia, por todo o mundo, pelo menos no mundo ocidental e excristão. O casamento real na Inglaterra, que merecidamente deslumbrou meses atrás o mundo pela pompa de que se cercou, foi precedido, com toda a naturalidade conforme amplamente noticiado pela imprensa - por oito ano de "namoro"! Na Inglaterra houve pelo menos uma cerimônia prévia

Uma realidade de nossos dias que é do conhecimento de todos: quanto tempo duraró esse casamento?

Casamento da Virgem Maria e Sóo José - Phlllppe de Champalgne, séc. XVIII.

de oficialização do noivado, que faltou no caso da moça brasileira, acima descrito. A etapa do noivado foi simplesmente engolida pelo novo conceito de "namoro". Assim, causou-me até uma surpresa agradável ver ressuscitada a palavra noivo, na presente consulta. Mas, depois, diante da estranheza que causa a negativa do "noivo" de honrar o compromisso assumido com o "noivado" (que outra coisa não é senão um compromisso formal de casamento), perguntei-me se a consulente aplicou adequadamente a palavra ao que ela chamou de "noivo". Será que este, no relacionamento com a consulente, não quer manter a informalidade de uma relação que com ela mantém? A consulente, por sua vez, faz muito bem de procurar santificar esse relacionamento mediante um casamento religioso. Se o "noivo" aceitar de bom grado, tudo bem. Mas, neste caso, a "noiva" deve certificar-se de que há uma possibilidade real de que ele aceitará - e cumprirá - a cláusula "até que a morte nos separe".

Pleno uso dos direitos sagrados do matrimônio Para que a questão fique bem clara aos olhos da consulente - e dos leitores de Catolicismo em geral é bom lembrar que tanto o namoro como o noivado não dá acesso a nenhum dos direitos sagrados do matrimônio. A coabitação de forma

alguma lhes é permitida e mesmo certas familiaridades que hoje se tornaram banais constituem ocasião próxima de pecado, quando não um pecado até mortal (que exclui dos Sacramentos da Santa Igreja). Se a consulente quer atrair para si, e para seu "noivo", as bênçãos de Deus, deve

aguardar a realização do casamento religioso. Nosso Senhor Jesus Cristo deu tanta importância à união do homem e da mulher para a constituição de uma nova família, que elevou essa união à categoria de Sacramento. Não o desonreis com uma "oficialização do namoro", expressão contraditória em si mesma, que indica bem quanto a humanidade de nossos dias está afastada de Deus.

Nossa Senhora do Bom Conselho Todas estas são questões que a consulente deve ponderar bem, recorrendo a pessoas de confiança de suas relações que tenham princípios católicos seguros, e expondo o problema com toda a firmeza e franqueza ao seu noivo. Não me cabe, como sacerdote desconhecedor da situação real do casal de noivos, ir além das linhas gerais que deixo aqui consignadas. O que posso fazer é darlhe uma sugestão de ordem espiritual: peça a Nossa Senhora do Bom Conselho que a ilumine e dê forças para tornar a decisão acertada. O casamento religioso é um compromisso muito sério para que se entre nele sem pensar no dia de amanhã. Rezarei para que Nossa Senhora atenda às suas súplicas da maneira mais conveniente para o bem da sua alma. E também a de seu noivo, que bem pode estar precisando de um conselho ... de Nossa Senhora do Bom Conselho! • E-mail para o autor:

cato1icismo@terra.corn.br

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A REALIDADE CONCISAMENTE Armaduras medievais causam admiração

Fábricas secretas de 11 Frankensteins"?

s armaduras da Idade Média requeriam fo rça e destreza especiais, concluíram pesqui sadores europeus que as analisaram com instrumentos modernos. Elas podiam pesar até 50 kg e os exames de esforço em esteira mostraram que exigiam mais do que o dobro da energia empregada para a locomoção com roupas normais. Com esta sobrecarga os cavale iros desciam ao campo de batalha para defender a Igreja, a Cristandade, seus fe udos e seus vassalos. Na guerra moderna, o pragmatismo e a feiúra tomaram conta dos espíritos e marcaram muitos equipamentos de combate. No tempo das armaduras, a nobreza e a beleza moral das almas se refletiam nelas e ajudavam a moderar as guerras. •

ientistas da Academia de Ciências Médicas de Londres alertaram para a possibilidade de a novela "Frankenstein" tornar-se espantosa realidade. Segundo eles, colegas britânicos já criaram secretamente mai s de 150 embriões híbridos de homem e animal. Os autores trabaJham células embrionárias com o pretexto de descobrir novos remédios, mas de fato procuram obter cybrids pela implantação de núcleo de célula humana em célula animal, e quimeras através da mistura de células humanas em e mbriões animais. Lord David Alton (foto), que solicitou um debate no Parlamento para analisar o assunto a respeito de tratamentos, afirmou: "Dos80tratamentosecurasobtidas a partir de células estaminais, todos vieram de células estaminais adultas, nenhuma de células embrionárias. Isto não temfundamento na moral e na ética, nem tampouco na ciência e na medicina". •

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Jovem religiosa defende o uso público do hábito

França: lobos dizimam rebanhos devido ao 11 ambientalismo"

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m seis meses, 4 18 ataq ues ele lobos em toda a França mataram 1.303 animais, 463 % a mais cio que em todo o ano de 2010. As aldeias dos Alpes sofreram 17 ataques e perderam 58 a nim ais. " Isto terá consequências desastrosas para a economia da região" - dizem os pastores. Eles pedem medidas sensatas: que o governo "pare de proteger os lobos" e conceda "autorização para atirar". Mas o lobo é "espécie protegida " e não pára de se multiplicar. O procedimento burocrático para caçá- los é tão complicado, e a má vontade ideológica dos funcionários ambientali stas tamanha, que os lobos depredam à vontade - aliás, segundo a sua natureza. O ambie ntalismo rad ical e insensato está sendo mais danoso para os pastores do que os próprios lobos, que são animais irracionais. •

Na China, heróico exemplo de resistência à cristianofobia

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cardeal chinês José Zen Ze-kiun, membro da Comi ssão da Santa Sé para a Igreja Católica na China, deu a público uma corajosa carta denunciando as ordenações episcopais ilícitas promovidas pelo governo comuni sta chinês. "Por meio da violência, o governo Limita as liberdades individuais; ofende a dignidade das consciências [... ] e ainda ousa dizer que tem vontade sincera de diálogo. É a maior mentira do mundo! Nossos fiéis não têm medo [... ] ou superarão seu medo com afé e a oração, que lhes darão forças para imitar os mártires canonizados. Queridos irmãos na f é, que as saudações de um irmão que se sente quase envergonhado de viver em liberdade cheguem até vós". •

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Irmã Ana Verônica foi convocada ao Liceu Carnot, em Paris, para uma reunião de professores. Como ela se apresentou vestida com o hábito de religiosa, os socialistas lhe exigiram que o tirasse, sob pena de ser expu lsa. Diziam que o hábito é uma ofensa à laicidade. A religiosa resistiu e a mídia a "bombardeou". Até o secretariado geral do ensino católico exigiu que ela usasse trajes civ is. Em tom respeitoso e füme, a freira respondeu em carta pública: "Jamais tiraremos nosso hábito. [... ] eu não sou religiosa por horas. Fazemos a profissão para viver seguindo Cristo até a morte. O hábito religioso é sinal de contradição. Não deixa as pessoas indif erentes. Por meio dele nós relembramos que Deus existe. [... ] Jesus nos diz no Evangelho: 'se eles me perseguiram, eles vos perseguirão também. As pessoas vos tratarão assim por minha causa, porque eles não conhecem Aquele que me enviou "' (Jo 15, 21). A carta da corajosa religiosa suscitou viva simpatia na França. •

Rússia e China retomam atitude de provocação aos EUA

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xploranclo a atual crise financeira, o premiê da Rúss ia, Vladimir Putin, provocou os EUA acusando-os de serem "parasitas" da economia mundial. Incapaz de alimentar sua população - que cai anualmente em qua e um milhão de pessoas - e sobrevivendo graças ao investimentos dos europeus em seu gás e petróleo, ainda a sim a Rússia atreveu-se a criticar os EUA, por supostament viver acima ele suas possibilidades. Por sua vez, Pequim ex i iu ele dedo em riste que Washington resolvesse o problema da dívida americana. A Ch ina deve a sua atual acumul ação de títulos americanos principalmente ao favorecimen to econômico e comercial dos EUA. A reação dos líderes esquerdista revelou quanto lateja neles o antigo ódio marxista contra o regime de propriedade privada e da li vre ini ciativa representado pela economia americana. •

Trem-bala chinês: contrafação desastrosa

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ois "trens-ba la" chineses colidiram ao sul de Pequim (foto) . O resultado fo ram 43 mortos e 200 feridos, embora nunca se saberá a verdade ao cetto. Enquanto as equipes human itárias ainda retiravam corpos dos vagões acidentados, as escavadeiras enviadas ao local os afu ndavam na lama com malas e pertences. Os trens de alta velocidade são a " menina dos olhos" da propaganda do regime comunista chinês. Segundo Zhou Yimin, ex-chefe cio Departamento de Tecnologia do Ministério das Ferrovias, esses "trens-bala" resultaram da contrafação de tecnologias estrangeiras adaptadas além do razoável por engenheiros locais. A ambição expansionista e a incompetência da planificação sociali sta estão deixando sua marca macabra nos anais dos desastres ferroviários. •

Cardeal Sarah: Deus julgará padres omissos quanto à moral Cardeal Robert Sarah, presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, declarou que os padres que se abstêm de combater a imoralidade moderna, especialmente o aborto e o "casamento" homossexual, serão interpelados pelo próprio Deus. Durante a ordenação de sacerdotes e diáconos em Candé-surBeuvron (França), o purpurado ressaltou: "Nós vivemos em um mundo onde

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não se sabe mais o que é ruim e o que é bom. Se tivermos vergonha de denunciar os desvios graves em matéria de moral; se nos acomodarmos a este mundo caracterizado pelo relaxamento dos costumes e pelo relativismo religioso e ético; se tivermos medo de denunciar em todas as suas formas as leis abominá veis da nova ética mundial sobre o casamento, a família, o aborto, leis em total oposição às leis da natureza e de Deus, então as palavras proféticas de Ezequiel cairão sobre nós como uma grave repreensão divina ".

EUA: ativistas contrários ao aborto tornam-se católicos íderes pró-vida não-católicos estão se convertendo ao catolicismo por causa da luta contra o aborto. Influenciado por pastores evangélicos segundo os quais a Igreja Católica era pior do que Babilônia, o ativista protestante Bryan Kemper manifestava reações paranóicas só em pensar nos católicos. Kemper estudou o catolicismo para polemizar melhor contra seus seguidores. Mas acabou convencido de que "não era do agrado

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de Deus ser reverenciado por 40.000 denominações e que deveria haver uma só verdadeira". Em Bruxelas, durante a Marcha pela Vida de 2011, converteu-se ao catolicismo. O Pe. Frank Pavone, presidente de Priests for Life's, comentou que o caso de Kemper é "a ponta do iceberg

de um fenômeno que está acontecendo com muita assiduidade". Em suas viagens, esse sacerdote ouve frequentemente pessoas dizerem: "Eu me tornei católico graças a meu ativismo pró-vida".

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.A parábola venezuelana causa e modelo da atual demolição socialista na América Latina Ü panorama exposto em nosso artigo ela edição anterior; sobre a acelerada esqucrdização ele vários países de nosso Continente, poderia sintetizar-se num esquema geral: a imposição pela esqucl'da das abermçõcs marxist,as mediante o despl'ezo olímpico e a implacável repressão das resistências que inevitavelmente surgem. É ele vital imporlíincia focalizar o modus opcrandi ele tal amcnça. para que a mesma não se concretize cm novos casos. É o que analisaremos no presente artigo.

□ ALFREDO M AC HALE

A

o tratar do processo revolucionário que afeta o mundo ou comentar mais porm~noriza?amente lances que se processam nas naçoes latino-amen canas, o Prof. Plinio Corrêa de Oli veira observou inúmeras vezes que as crises produzidas em certos países tornam-se com muita freqüência prototípicas daq uilo que começa a suceder pouco depois também em outros. E isso tanto pela infl uência ou poder desses países, como pelo fato de os avanços ali veri ficados despertarem o interesse e susc itarem o aparec imento de seus êmulos de além-fro nteira; como também porque alguma fo rça atuando nas sombras arquitetou uma trama internacional nesse sentido. Seu efeito é que ta is processos revolucionários nacionais confl uem às vezes num só processo continental, com numerosos fe nômenos parciais desenvolvendo-se simultaneamente em várias nações, inclusive distantes por vezes entre si, mas ati ngidas por uma mes ma ameaça. Foi o que sucedeu co m a Revolução cubana e sua penetração numa dezena de países do Continente. Mas o insigne pensador católico que acabo de citar, lutando sempre para opor obstáculos ao processo mundial de descristianização, esmerava-se em descobrir as forças que entravam em jogo e o modo como elas se influenciavam. O fato de o processo revolucionário mundial ter ficado con-

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sideravelmente freado durante muito tempo, devido primeiro à apatia e depois à aversão dos povos aos acenos marxistas fe nômeno que culminou com a derrubada da União Soviética e não tem feito senão intensificar-se - trouxe como resultado que, quando um caudilho local consegue sobrepujar essas dificuldades e conquistar o Poder, natural mente fascina políticos e agitadores de tendência afi m à dele em outras latitudes.

CJ1ávez, o caudilllo prototípico, abl'e camil1J10 a wn processo Como já dissemos em diversas ocasiões, o promotor gera l dos atuais processos de esquerdi zação da América Latina é o coronel venezuelano Hugo Chávez. Após longa militânc ia marx ista e algumas aventuras subversivas nos anos 80, ele surg iu mais ostensivamente à luz pública em 1992, como líder de um golpe mili tar fr ustrado. Condenado a ai-

guns anos de prisão, ascendeu à Presidência de seu país pela via eleitoral em 1998, logo depois de indultado. Umª-_Yez no cargo, Chávez convocou dois referendos para mudar a Constituição, de modo que a nova versão da Carta o dotasse de poderes mais ou menos completos e concedesse possibilidades de manobra di ante dos eventuais opositores. Com isso ele se converteu em precursor de movi mentos análogos em vários países, de modo espec ial na Bolívia, no Equador e na Nicarágua. Um aspecto básico das condições estabelec idas por Chávez não poderi a naturalmente deixar de ser a poss ibilidade de se reeleger várias vezes, tendo ele afirmado que espera manter-se no poder ainda por vinte anos. Avidez e j actância só superadas pelo seu vice-presidente, Elias Jaua, quem asseguro u que "com Chávez o povo nunca sairá do Poder". A isso se somou, a partir de 2005, um Legislativo totalmente solidário a Chávez, porquanto naquele ano diversos grupos de oposição decid iram abster-se de apresentar candidatos à eleição parlamentar, por fa lta de garantias no processo eleitoral. De que essa falta de garantia era real, não há a menor dúvida, mas fo i uma torpeza inaudita os opositores terem agido assim, pois com isso o regime pôde di spor a seu talante de um Congresso unânime e incondicional pelo menos durante se is anos. Assim, o Parlamento venezuelano fo i sistematicamente dócil a Chávez em suas ati tudes coletivistas e totalitárias,

sem se molestar sequer em tomar atitudes de aparência independente. O mesmo felizmente não sucedeu nos países que segui ram os passos da Venezuela, nos quais os opositores não caíram nas mesmas torpezas e, apesar de minoritári os, são detentores de forças ponderáveis. O acontecido há pouco no Peru foi especialmente eloquente do que sejam as táticas chav istas: como a opini ão pú blica estava advertida quanto à linha radicalmente sociali sta de Ollanta Humala, du rante a última parte da contenda eleitoral este fez, acolitado por membros do PT, uma comédi a de moderação que du ro u somente até o dia em que assumiu a Presidência. Com efeito, ao prestar o juramento, Humala surpreendeu o país ao não fazê-lo segundo a Constituição vigente, mas pela que fo i derrogada pouco menos de duas décadas atrás. O novo Chefe de Estado deixou a entender ass im que fará todo o possível para mudar a atual Carta. Os reg imes do tipo chav ista costumam também instrumentali zar as Forças Armadas, a Polícia e os organi smos judiciais, para torná- los inteiramente receptivos à penetração da conjura revolucionária em suas fileiras. A isso se somam os incontáveis oportunistas, que faze m outro tanto por vontade própria, para conservarem seus cargos ou ascenderem na hierarquia dos organi smos nos quais atuam. Prod uz-se assim uma submi ssão aberta dessas instituições chaves à ditadu ra sociali sta, com a consequente prevalência dos desígnios do Executivo sobre os opositores. Nesse sentido, há poucas semanas Ollanta Humala deixou claro mais uma vez que mantém intacta sua antiga afi nidade com militares de esquerda, e como prova des ignou várias dúzias deles para cargos importantes no governo.

A eliminação da imprnnsa independente Uma vez instalado esse esquema, Chávez prosseguiu em sua escalada. Para dominar de fo rma progressiva os meios de comunicação, passou a mover processos judiciais contra seus legítimos proprietários ou a sua direção, ou ainda a emitir novos regulamentos para as rádios, TVs e transmissões digitais. Bem entendido, o Estado sempre reservando para si uma alta pro porção, concedendo às forças "populares" sindicais, indígenas, autogestionári as, operárias - as respectivas quotas, e deixando em mãos da iniciativa privada apenas uma quantidade míni ma dos referidos meios. Seguindo uma pauta estritamente totalitária, tanto quanto ao fi m perseguido como aos meios utilizados, isso foi realizado na Venezuela e na Bolív ia, estando em curso também no Equador. Nesses três países são frequentes os longos e incendi ários di scursos dos respectivos caudilhos nas cadeias de rádio e telev isão, parecidos em algo com os intermináveis discursos de pedagogia radiofônica revolucionária com que Fidel Castro atribulou durante décadas a sofrida população cubana. Se tais medidas não fo rem sufic ientes para derrubar uma cadeia de rádio ou T V e transferi-la para a tutela estatal, detém o Poder Público outras armas de uso frequente. Uma delas é pri var dos programas de alta audiência os meios que

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se quer capturar, obtendo ,que tais programas sejam exclusividade da mídia estatal. Outra é privar os referidos meios da propaganda de todos os órgãos estatai s, tanto da admini stração pública como de empresas que já caíram sob seu domínio, para que não se sustentem economicamente. Outra ainda é faze r sentir às subsistentes empresas privadas que elas se arri scam a ser objeto da vingança oficial caso contratem propaganda nos meios de comunicação opostos ao regime. Mas isso é apenas uma parte. Também é frequente que pressionem os acionistas desses meios para que vendam suas participações a algum simpati zante do regime, de tal sorte que este se apodere da direção; que promovam greves entre os funci onários; que lancem investigações tributárias para que os donos fiquem reduzidos entre capitular ou serem arruinados por completo; ou simples mente o regime deixa que se esgote o período de vigênc ia da concessão, não a renova e em seguida a transfere para algum membro incondicional do regime sociali sta. As combinações mais diversas desses recursos fo ram utilizadas contra diversas TVs venezuelanas importantes, assim como em relação a incontáveis rádios do país, excetuando-se as que pactuaram com o reg ime e moderaram seus programas para adaptá-los ao gosto deste em troca de poder con tinuar fun cionando. Algo de parecido ocorreu com as empresas do grupo argentino do jornal "Clarín", para cuja derrubada o governo da presidente Cristina Kirchner usou de todas as armas possíveis, causando-lhe muitos prejuízos. Mas não obteve até o momento a sua capitulação, porque a vítima conta com o respaldo de alguns setores da opinião pública que sabem da importância de um grupo independente de meios de comunicação para a salvaguarda da liberdade. Outro caso semelhante sucedeu no Equador com o jornal "El Universo", de Guayaquil , que sofreu há pouco um processo judicial movido pessoalmente pelo presidente Rafael Correa, conhecido pelos seus furiosos e ameaçadores ataques à imprensa. Por uma suposta difa mação, um juiz parcial impôs àquele órgão pagar uma indenização que o levari a à fa lência (foto à dir.), sendo que o breve lapso de tempo em profe rir a sentença demonstra que o juiz nem sequer tomou conhecimento dos recursos apresentados pela defesa.

Demagogia em gra11de escala para obter apare11te apoio popular A partir daí desencadeou-se na Venezuela uma longa série de expropriações, confi scos e intervenções em propriedades e empresas privadas, que passaram direta ou indiretamente

CATOLICISMO

para o bloco estatal. A este setor o governo, através de um Diktat pres idencial, acaba de acrescentar vári as outras categorias. Tudo isso vem causando perdas enormes aos donos, ac ionistas e executivos, além de processos judiciais intermináveis e amiúde inúteis, pois foi desenhado para que a Justi ça não prevaleça, os direitos particul ares sejam totalmente arrasados e o Poder ditatorial vença sem contrapeso. Mai s além dos confi scos, devemos considerar a política econômica soc iali sta utili zada pelo governo na gestão do enorme conjunto de bens ac umul ados injustamente sob o domínio estatal. Não para gerar riquezas, como seria o normal, mas a mais abso luta mi séria, porque à sua frente está a cúpula chavista, absolutamente dominante e totalmente incompetente, irremediavelmente obcecada com os supostos prejuízos que gerariam ao país a li vre iniciativa e a propriedade privada, que acarretam, segundo o chavão governi sta, a especulação, a escassez de bens e o mercado negro. Um exemplo dessa política ruinosa é a recente Lei de Custos e Preços Justos, promulgada por Chávez, visando a estabelecer o controle absoluto da economi a através da regulamentação dos custos de todos os produtos e dos seus respectivos preços de venda. Para esse efeito o Estado fará um registro de todos os estabelecimentos comerciais ex istentes no país, mesmo os de tamanho ínfimo, os quais serão minuciosa e permanentemente fi scalizados sem exceção. Tal lei revela um caso extremo da mentalidade socialista, pois supõe que os comerciantes vivem apenas de especular com os bens básicos. Para evitá- lo, pretende-se estabelecer - como se fazia na Un ião Soviética - uma máquina oni potente e feroz que controle pormeno ri zada me nte s uas ativi dades, exercendo uma tutela sobre todas as vari áveis do processo produtivo, o que equivale na prática ao Estado fi xar preços que provoquem a ruína dos comerciantes. Como não poderia deixar de ser, . essa imensa máq uina ad mini strativa funcionará sob a tutela de máfias chavi stas todo-poderosas, que de um lado perseguirão e extorquirão os comerciantes, e de outro darão acesso privilegiado à aquisição dos produtos aos que façam parte das hostes bolivarianas. Ou seja, será um aparelho de domín io ditatorial, não tanto a serv iço do caudilho, mas antes do proletariado em pé de guerra contra o conjunto da população, colocando todos os venezuelanos, pobres e ricos, no dilema de se submeterem ao esquema chavista ou ficarem sem comer. Mas o anteriormente visto ainda não é tudo. Vai-se montando ademais um esquema de domínio ditatorial que penetre nas casas particulares, domine e perturbe a fundo a vida

cotidi ana de cada venezue lano, mes mo das pessoas mais simples - sem muitos bens, sem influência ponderável na soc iedade, sem ambição alguma, a não ser a de poder viver com algum a tranquilidade no verdadeiro infe rno que se vai gerando - , pois é a essas pessoas, que são milhões, que se quer escravizar.

Má(Juina 1·ep1·essi va chavista ameaça a população Soma-se a isso o aume nto desmes urado da delinquência - já referido em nosso artigo anteri or - e a abso luta inefi các ia da Justiça em castigar os crimes, pois 90% dos assassinatos cometidos na Venezuela não recebem qu alquer pena. Considere-se ainda a ex istência de 10 milhões de armas de fogo co locadas em mãos da massa popul ar (cfr. "EI Universal", 13-8- 1 l). Isso produz uma fo rma de repressão indireta cio reg ime sobre a generalidade da população, pois essa massa é a mesma que se encarrega amiúde de reprimir a oposição não em nome do governo, mas di retamente do " povo", significando toda uma imensa variedade de abusos e deli tos que a Justiça não chega a julgar. Tudo se reveste de tal gravidade, que se tornou pública e notóri a a generali zada censura te lefônica no país. As rádi os transmitem com fre qu ê nc ia gravações rece ntes, c landestin as e il ega is, fei tas co m to lerânc ia do govern o (cfr . "Ta l C ual", 13-8- 11 ), se não é o própri o que ordenou diretamente sua execução. Tais gravações vão transformando os opos itores em prováveis alvos de vinganças dos incontáveis membros das milícias governi stas. E isto não só no di a em que estas se lancem em um a vi olência genera li zada, mas també m a ntes, ao começarem o que denominam vi olência seletiva, com a qual em certo momento julgam poder di zimar a oposição e acabar com ela para sempre.

Alge11ti11a: graças aos candidatos op osi tores, total vi t611a gover11ista 11as eleições p11márias E nqu anto concluía o presente artigo, realizavam-se na Argentina as eleições primárias com vistas ao prélio presidencial de outubro próx imo. Nele, a presidente Cri stina Kirchner concorrerá à reeleição, uma vez que obteve agora pouco mais de 50% dos votos, sobre pujando a soma de todos os seus contendores, aos quais individualmente quase qu adruplicou. O efe ito de tal res ultado é que ela fico u às portas de ser reeleita, a menos que todos os seus opositores se unam contra ela, o que dific ilmente acontecerá.

Como di ssemos no artigo anteri or, a forte fragmentação da opos ição é um dos principai s fa tores desse resultado, mas não o único. Devem-se acrescentar a mediocridade e a insipidez dos candidatos, dois dos quais fo ram presidentes efêmeros há uma década, tendo ca ído por falta de apoio de seus próprios partidos. Ademais, não houve programas alternativos ao da pres idente, pois todos os postul antes exibiram, aparentemente de forma deliberada, perfi s anódinos, destituídos de substância, e loquência, caráter e firmeza. Em suma, fo ram os competidores ideai s para a presidente Cri stina Kirchner, como se a oposição quisesse sua permanência no cargo a qualquer preço. Verifi cou-se agora diametralmente o oposto do ocorri do nas três eleições recentes - em Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé - , nas quais concorreram oponentes séri os que inflig iram vergonhosas derrotas aos postul antes governi stas. Eleições que patentearam mais uma vez a vi abilidade de se co mbater o soc ialismo e o populi smo quando realmente se quer. Este é de certo modo o ma l comum a todos os países nos quais o sociali smo hoje domina: a gravíss ima decompos ição que os afeta decorre, sim, dos respectivos governos; mas, muito mais do que destes, é responsabilidade dos oposito res que, vacil antes, concess ivos, movidos por interesses próprios, indulgentes com os que deveriam combater e intran sigentes com os que deveriam ali ar-se, faze m a tais governos um combate apenas aparente. Concluindo, enquanto não surgirem líderes autênticos que arrastem ve rd adeiramente a opini ão públi ca em sentido contrário, ou seja, e m defesa da Cri standade, tudo leva a temer a continuação do processo de demolição desses países. Mas nessa hora se verá também, pela mediação da Santíssima Virgem, a intervenção da Providência, despertando os adormecidos, alentando os timoratos, escl arecendo os confusos e intimidando os que agora encontram sua fo rça na mediocridade com que são enfrentados. • E-mai l para o autor: cato lic ismo @terra.com.br Nota da 1·cdação : No arti go "A esquerdi zação da Ibero-A mérica", publicado na ed ição anteri or, houve os seguintes lapsos: 1 - O mi ssão da prepos ição em a ntes de " La Nac ió n" , na 3a. linh a do últi mo parágrafo da p. 37; 2 - Na mes ma págin a, na legenda da fo to de Mauríc io Macri , ca nd idato opos ic ioni sta vencedor da e leição de B uenos Aires, o nome de Sérg io Kovadl o ff de ve se r s ubs titu ído pe lo de Da ni e l Filmu s, ca nd id ato kirc/111.erista venc ido naque le pl eito.

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"Eu me sinto como se estivesse em casa" Ü príncipe Bernard Ndouga, neto do último rei dos Camarões, encontra-se no Brasil e estabelece diversos contactos visando à salvaguarda da civilização cristã em seu país.

bombock Linjeck Libayemi, avô de Bernard Ndouga, foi o último rei pagão dos Camarões. Em fins do século XIX ele se converteu ao catolicismo, fruto do apostolado de missionários alemães que se estabeleceram naquele país do oeste africano. No Brasil , o príncipe Bernard está visitando movimentos dedicados à preservação dos princípios da moral católica no mundo moderno e também centros de excelência de produção industrial, do agronegócio e da agropecuária nos estados do Espírito Santo, Mi- o: nas Gerais, Paraná, Rio de Ja- .2 & neiro e São Paulo. Em pales- ~ tras nas cidades percorridas, o ~ príncipe tem manifestado admiração pela eficiência e diversidade da agricultura brasileira, afirmando ter adquirido muitos conhecimentos que levará para serem aplicados em seu país. A atual República dos Camarões é auto-suficiente em produção de alimentos e possui uma das economias mais dinâmicas da África. · Na capital paulista, por ocasião de uma visita do príncipe Bernard à sede do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, pedimos-lhe uma entrevista exclusiva para Catolicismo, no que fomos atendidos com a extrema gentileza que caracteriza o nobre camaronês.

Catolicismo - Qual a finalidade da visita que o Príncipe Bernard faz ao Brasil? Príncipe /Jemard - As finalidades são, de um lado, entrar em contacto com o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, para conhecê-lo melhor, aprender seus métodos de trabalho. E, de outro, tomar conhecimento do mundo agrícola brasileiro com vistas a implementar este setor, também importante em minha pátri a, mas carente de meios para um maior desenvolvimento. A agricultura é hoje muito desenvolvida no Brasil , segundo exportador de produ tos agrícolas do mundo e, uma vez que te mos produ ções seme lh antes, poderíamos estabelecer uma cooperação para realizar o progresso deste setor nos Camarões.

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PrÍllcipc Bernard:

"É fantástico tudo quanto vi no Brasil desde minha chegada. Se eu l'osse descrever, sairia um livro. Eu me sinto como se estivesse em casa "

Catolicismo - Com base em contactos que o Príncipe Bernard manteve aqui , bem como de quanto lhe foi possível conhecer no Brasil, quais suas impressões? Príncipe Bemard - É fantástico tudo quanto vi no Brasil desde minha chegada. Se eu fosse descrever, sairia um livro. Mas gostaria simplesmente de dizer que eu me sinto como se estivesse em casa. E isso diz tudo. Tocou-me muito ver diversas pe soas se tratarem com gentileza. Encontrei-me com grupos de agricultores, falei-lhes sobre nossos problemas. Muitos manifestaram desejo de trabalhar conosco. Será preciso somente definir as coisas. Debruçar-me-ei sobre isso para ver como será possível estabelecer uma cooperação cri stã Sul-Sul, como eu a designei em todos os lugares por onde pas ei.

Catolicismo - O Príncipe Bernard poderia dar aos leitores de Catolicismo uma pequena descrição sobre a sua família e a atual situação nos Camarões? Príncipe /Jemard - Co meço pelos Camarões. Sua situação atual é estável. Nosso país sempre fo i pacífico, com as di versas tribos procura ndo sempre com sucesso manter a paz. O que nos preocupa é a situação econômica que, devido à crise mundi al, torna a vida difíc il. A solução seria atrair grupos estra ngeiros qu e di sponham de meios fin anceiros para investir nos Camarões. Espero poder contar neste sentido com a cooperação dos bras ileiros, para levar ass im um pouco de aj uda, mitigando em alguma medida a nossa preocupante situação econômica. No tocante à minha fa milia, tenho sete irmãs e três irmãos. Pertenço à tribo dos Bassas, hoje presente em di versos países da África, como Moçambique, Angola, Quênia, Libéria, para citar apenas estes. Meu avô Mbombock (rei) Linjeck Libayerni , grande Patriarca da família Ndogsul, era quem nos guiava. Em fins do século XIX e início de 1900, ele encontrou os alemães e se converteu ao catolicismo. Infe lizmente perdeu o poder em 1918, com o fim da Primeira Guerra mundial. Minha fa míl ia é muito piedosa e conta com muitos membros de ambos os sexos a serviço da Igreja Católica.

Catolicismo - Qual é a situação dos católicos nos Camarões? Príncipe Bernard - A situação dos católicos é boa. Não temos problemas semelhantes aos ex istentes hoje na Europa. Os seminários e as igrejas estão cheios , os sacerdote seguem a linha tradicional da Igreja, os bati zados apóiam os sacerdotes, e vice-versa. Graças a Deus, os males que afligem os países católicos da Euro pa ainda não chegaram até nós. Vivemos em paz com outros grupos, havendo muitas conversões.

"Em nns do século XIX e início <le 1900, meu avô se converteu ao catolicismo. Infelizmente perdeu o poder em 1918, com o fim da Primeira Guerra mundial"

Catolicismo - O que o levou a viver durante muitos anos na Europa? Príncipe /Jemard - Por instâncias de uma de minhas irmãs, eu cheguei em 1978 à Europa, a fi m de fazer meus estudos . Mas alguns dias depois eu queria regressar, pois o modo de vida europeu não me agradava. Minha irmã escondeu então meu passaporte e suplicou-me que ficasse, só retornando uma vez concluídos os estudos. Após dez anos, em julho de 1988, voltei aos Camarões. Eu partiria novamente de minha pátri a em 1989. O desti no era a Hungri a, um dos países li bertados do jugo comuni sta, onde pensei em estabelecer relações comerciais. Permaneci 18 meses, sem obter sucesso. Um amigo sacerdote da Basílica de Santo Estevão de Budapeste aco nselhou-me então a fiSETEMBRO 2011

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cito sobre a saída ou permanência da Áustria naquele organ ismo, a maioria votaria pela retirada.

. }. eato/1c1smo

C orno JU . 1gar a .mfl uenc1a • . exer-

cida pela França sobre Camarões e outras nações africanas?

Príncipe Bernard - A influência provém da coloni zação. A França detém muito poder no continente devido à economia. Ela é a primeira parceira de Camarões e de certos países africanos. A moeda em nossos países francófonos é controlada pela França; sem contar as más influências anticristãs exercidas pela Revolução francesa, que por decência prefiro não citar. Catolicismo - Há perseguições de muçulmanos movidas contra católicos em seu país?

xar-me na Áustria, aonde cheguei em setembro de 1991. Dois meses depoi s conheci uma grande senhora: a formidável Condessa Anna Coreth, que conta com dois beatos em sua família - o célebre oftalmologi sta Dr. Ladislas, Conde Battyany Laslo, e Mon s. Conde Schidera, bispo de Trento, na Itáli a. Muito cu lta, ela é historiadora e possu idora de dois doutorados. Escreveu um célebre livro sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus na famíli a Habsburgo, o qual foi traduzido para diversas línguas. A Condessa foi diretora dos arq uivos nacionais, considerado um alto posto na administração austríaca. E la introduziu-me na Legião de Maria e na alta aristocracia austríaca. Algum tempo depois , conheci outra grande personalidade: o Príncipe Wilhelm Turn und Taxis. Eu lhe propus trabalharmos para aj udar meu país e a Igreja Católica nos Camarões, da qual um de meus primos se tornara bispo em 1993. Ao que ele de bom grado acedeu, tendo generosamente nos ajudado até o seu fa lec imento em 2004. Essas atividades me retiveram na Europa. Catolicismo - Como o Príncipe Bernard conheceu a TFP austríaca e quais são suas relações com a nobreza europeia, em particular a austríaca?

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O Príncipe Bernard junto ao diretor de Catolicismo, Dr. Paulo Corrêa de Brito Filho

"A população austríaca se deu co11ta de que a União Européia não lhe trouxe muitos benefícios. Hoje a grande maioria dos austríacos é contrária à UE"

Príncipe Bernard - Minha paróquia em Viena, a partir de 1991, foi a de São Carlos Borromeu, a mesma frequentada pelo Sr. Carlos Eduardo Schaffer, representante de TFPs e uropeias na Áustria. Foi ali que nos conhecemos e, como as idéias de Plinio Corrêa de Oliveira sobre a restauração da civi lização cristã correspondem às minhas, nunca perdemos o contacto. Quanto às nobrezas europeia e austríaca, mantenho com elas boas relações, em particul ar com a última. Conheci pessoalmente o pranteado Otto de Habsburgo como conheço seu filho Carlos e outros membros desta grande família . E ainda os Hohenberg, os netos do Arquiduque Francisco Ferdinando, etc. Como se trata da nobrez~ europeia, conheço muitos de seus membros oriundos de diversos países: Alemanha, Espanha, Bélgica, Inglaterra, Hungria, Polônia, Tchecoslováquia, Portugal. Catolicismo - Qual é a atual posição da Áustria em relação à União Europeia? Príncipe Bernard - A Áustria perdeu certa soberania após seu ingresso na União Europeia, pois foi obrigada a conformar-se às leis emanadas daquela organização. A população austríaca se deu conta de que a União Européia não lhe trouxe muitos benefícios. Hoje a grande maioria dos austríacos é contrária à UE, e se houvesse um plebis-

Príncipe Bernard - Há problemas esporádicos nesse sentido, mas de fato não são como os existentes em outros países. Na Nigéria há problemas entre cristãos e muçulmanos, mas a origem é o poder. Os muçulmanos na Nigéria detiveram durante muito tempo o poder através de golpes de Estado. Atualmente vigora ali um regime democrático. E como os muçulmanos temem perder o poder, surgem então os problemas. Mas não necessariamente em virtude da religião, que, por certo, exerce também seu papel. Catolicismo - A Revolução Cultural em curso no Ocidente constitui ameaça ao comportamento moral da população africana?

Príncipe Bernard - Certamente. Está em curso nos nossos países uma influência dessa Revolução: a televisão, o rádio, certas organizações e os jornais realizam um trabalho nesse sentido. Entretanto, temos a sorte de que as famílias ainda exercem ponderável influência sobre os indivíduos e pouquíssimas pessoas gostariam de perder suas relações com suas famílias. Catolicismo - O Prínci pe Bernard crê que uma reação contra-revolucionária à Revolução Cultural seria bem recebida pelos católicos e pelas elites em geral dos Camarões?

Príncipe Bernard - Com certeza. As elites estão conscientes de que a Revolução cultural quer nos impor - não apenas nos Camarões, mas em toda a África - maneiras de vi ver contrárias às nossas tradições. E seriam receptivas a uma ação que se contrapusesse aos planos revolucionários. Catolicismo - A prática do aborto está difundida em seu país?

Príncipe Bernanl - Graças a Deus, o aborto é proibido nos Camarões. Mas os revolucionários tentam de todos os modos implantá-lo. Felizmente a Igreja Católica é tota lmente contrária e está vigilante.

"Está em curso nos nossos países uma inlluência da Revolução Cultural: a televisão, o rádio, certas organizações e os jornais realizam esse trabalho"

Catolicismo - Tivemos conhecimento das atividades desenvolvidas pelo Príncipe Bernard contra o aborto na Áustria. Poderia descrevê-las?

Príncipe Bernard - Nós, membros da Legião de Maria, fazemos apostolado diante dos centros de aborto. Esse apostolado obtém muito êxito e consiste na distribuição de fo lhetos às mulheres que passam, e mais especialmente àquelas que se dirigem aos centros para praticarem o aborto. Fomos atacados várias vezes por revolucionários abortistas, que até nos processaram. Mas sempre ganhamos tais processos judiciais. Nossa Sen hora está sempre presente nessa atuação apostólica para nos proteger. • SETEMBRO 2011

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disso continuou a aparecer-lhe com frequênbia e com ele conversar.

Mr,dança da Espanha pam o Novo Mr,ndo

São João Macías Glória da Ordem Dominicana Irmão leigo dominicano contemporâneo de São Martinho de Porres, e como ele notável pela caridade e pelo dom de milagres 13 PUNIO M ARIA SOLIMEO

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POCjO de São João Macias, em Rivera dei Fresno, sua cidade natal

CATOLICISMO

ão João de Macías nasceu em Rivera dei Fresno, diocese de Badajoz, na agreste Extremadura espanhola. Era rei o grande Felipe li, e Papa Gregório XIII. Sua família era pobre, mas abundante em bens espirituais e dons da graça. João Macías perdeu seus pais muito cedo. Ele e a irmã foram criados por um tio. Ass im que atingiu a idade da razão, foi-lhe confiado o cuidado do rebanho de sua casa. Espírito metafís ico, desde pequenino ocupava seu tem-

po em rezar e meditar. Suas preces eram agradáveis a Deus. Certo dia apareceu-lhe um menino _de extraordinária beleza, que lhe di sse: "Eu sou João Evangelista. Deus confiou-te à minha guarda por causa de tua piedade. Não tenhas, pois, medo algum". O Evangelista dis e-Ih também que algum dia o menino pattiria para terras remotas, onde haveria de ser erigidos templos e altares em ua honra. Como João Macías ignorava quem fosse propriamente São João Evangeli sta, este lhe apareceu novamente alguns dias depois e transportou-o ao Céu, dizendo que era a sua pátri a. Depois

Entretido com Deus e seus santos nessa vida recolhida, virtuosa, calma e aprazível, João Macías acabava de completar 20 anos de idade. Em 1619, levado por um impulso interior, foi para Jerez de la Frontera e depois para Sevilha, então a cidade comercial mais inquieta da Espanha, de onde partiam as grandes empresas para o Novo Mundo. Lá entrou para o serviço de um mercador que fazia negócios nas Américas, acompanhado-o numa de suas viagens. Esta durou 49 dias, atracando finalmente o navio no porto de Cartagena de Índias, ao norte da Colômbia. Ali o mercador, sob o pretexto de que João Macías não era suficientemente instruído para o serviço de que necessitava, abandonou-o à sua própria sorte. O que fazer? Não tendo outra profissão que a de pastor, pouco comum na América, João Macías ficou "ao Deus dará". Levado mai s uma vez por um impul so interior, decidiu ir para Lima, capital do vice-reinado do Peru. Foram 900 léguas percorridas a pé ou em lombo de burro através das solidões, passando por privações incríveis, até chegar a seu destino depois de quatro meses e meio de viagem. João Macías dedicou-se então ao trabalho no campo, durante dois anos, nos arredores de Lima.

ll'mão leigo na Ol'dcm de São Domingos O tempo passava, João Macías estava para cumprir 36 anos e ainda não encontrara sua vocação definitiva. Foi então que o Céu o inspirou a entrar na Ordem dominicana como irmão leigo. Na capital do vice-reino de Peru as vocações eram tantas que existiam dois conventos dominicanos - o de

extraordinários. Por exemplo, no momento da elevação da Sagrada Hóstia, na Missa conventual, ele não precisava estar presente para adorar a Deus-hóstia, pois contemplava milagrosamente da portaria o que se passava na igreja, apesar das várias paredes intermediárias.

Santa Maria Madalena e o de Nossa Senhora do Rosário - , ambos com uma centena de frades. João Macías seria a glória do primeiro, enquanto que, no de Nossa Senhora do Rosário, São Martinho de Porres já brilhava por seus milagres. No noviciado, João Macías foi modelo de observância. Julgado digno de fazer a profissão solene, esta ocorreu no dia 23 de janeiro de 1623.

Comr,nicação com o Cér, e com o J>r,rgatól'io

Foi então designado para a portaria do convento, apesar de sua propensão para a vida contemplativa. Durante 20 anos esse foi o teatro de sua ardente caridade. Começou então a trilhar a via das mortificações e austeridades. Não concedia a seu corpo senão o absolutamente necessá rio para não morrer. Disciplinava-se diariamente, passava em oração quase todas as noites, e levava rudes cilícios. Sua cela era muito pobre: um estrado de madeira coberto com couro de boi por cama, uma cadeira rústica e uma arca . O único adorno do aposento era uma tela representando Nossa Senhora de Belém. A íntima união com Deus deste irmão le igo manifestava-se em fatos

Certa noite em que a comunidade rezava o ofício no coro, o convento foi sacudido por violento terremoto. Os religiosos correram para o jardim do claustro, considerado como o lugar mais seguro. Frei João corria também quando uma voz, vinda do altar de Nossa Senhora do Rosário , chamou-o pelo nome: " Frei João, aonde vais?". Respondeu ele: "Estou fugindo, como os demais, dos rigores de vosso divino Filho" . Nossa Senhora então lhe disse: "Regressa e estejas tranqüilo, pois aqui estou eu". Voltando para junto do altar, Frei João Macías pediu fervorosamente à Virgem que se compadecesse do povo cristão. Imediatamente cessou o tremor de terra. Certa noite em que rezava junto ao altar de Nossa Senhora, ouviu golpes que uma mão invisível dava sobre o altar. Sobressaltado, viu então um vulto rodeado de chamas que lhe disse: "Sou frei João Sayago, que acabo de morrer e necessito muito de tuas orações e de teu auxílio. Para que, satisfazendo assim a justiça divina, saia destas penas expiatórias ". Este frade vivia no mosteiro do Santíss imo Rosário , tendo expirado à mesma hora em que apareceu ao santo . Alguns dias depois tornou a aparecer rodeado de luz, dizendo que a Virgem bendita o havia tirado do Purgatório graças às orações e penitências de Frei João Macías. Ao morrer, São João de Macías acabou por confessar que havia liber-

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tado um milhão e 400 mil almas do Purgatório! Em outra noite, um noviço, impressionado com o cadáver de Dom Pedro de Castilha, que havia sido enterrado naquela manhã no convento, dirigiu-se à igreja para acender as velas para o ofício noturno. Quando chegou perto do altar, deparouse com as sandálias de Frei João. Este se encontrava elevado acima do solo, em êxtase. Não distinguindo na obscuridade do que se tratava, julgou ser o espectro do defunto que lhe aparecia. Dando um grito, começou a correr, tropeçou e caiu. Os religiosos acudiram e o encontraram estendido no solo com o hábito em chamas, devido à vela que levava. Nem toda essa confusão conseguiu tirar o santo de seu êxtase. O noviço ficou gravemente enfermo, sendo curado pelas orações de São João Macías.

bres. Quando faltava algo, saía esmolando até conseguir.

Servia ajoelhado os nohres empohreci<los Depois, por volta do meio-dia, começava a distribuir as refeições aos necessitados. Para os sacerdotes e pes-

O prodigioso bwrico provedor

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Para poder socorrer o con- j vento e seus pobres, Frei João : Macías servia-se de um expediente muito prático: enviava todos os dias às ruas de Lima um burrinho carregado com dois grandes cestos para recolher esmolas, sem condutor nem guia. O animal desempenhava-se exemplarmente deste ofício, dirigindo-se aos lugares a que estava acostumado. Ao chegar à porta da mercearia ou casa particular onde deveria receber esmola, parava e não se movia até que alguém pusesse no cesto a esmola combinada. Desse modo o burrinho atravessava toda a cidade. Como todos já o conheciam, enchiam seus cestos com esmolas_. Ninguém se atrevia a tirar nada, pois o animal sabia defender com mordidas e coices as doações recebidas. Todos os dias às cinco da manhã, depois de tocar a alvorada, São João Macías levava para a cozinha os alimentos destinados à comida dos po-

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soas gradas caídas em pobreza, havia um refeitório reservado, onde o santo os servia ajoelhado. Aos pobres "envergonhados" (em geral pessoas de alta condição social que haviam caído na miséria) enviava secretamente a comida com alguma esmola. Não descuidava também dos enfermos, aos quais, além da comida, enviava remédios. Sua imensa caridade estendia-se às viúvas, aos órfãos e a outros desamparados. Apesar da multidão crescente de pobres, e de o convento não ser rico para atender a tantas demandas, nunca faltava comida, pois esta era milagrosamente aumentada segundo as necessidades. São João Macías dividia a reza do Rosário em três partes : uma pelas almas do Purgatório - que muitas vezes vinham pedir a esmola de suas preces - , outra pelos religiosos do convento, e a terceira por seus parentes. Embora sem nenhuma instrução, Frei João de Macías possuía a verdadeira sabedoria de Deus, sendo consultado pelas principai s pes soas da cidade, inclusive pelo vice-rei D. Pedro de Toledo y Leyva, Marquês de Mancera. Este, em 1643, consagrou os Reinos do Peru à Virgem do Rosário, escolhendo-A como Patrona e Protetora daquelas terras. São João de Macías faleceu no dia 18 de setembro de 1645, aos 60 anos de idade. • E-mail do autor: catol ic ismo@terra.com.br

Obras consultadas:

O vice-rei D. Pedro de Toledo y Leyva, Marquês de Mancera, consagrou, em 1643, os Reinos do Peru à Virgem do Rosário

- Fre i Tomás Jacinto Cipolletti , O. P., Vida dei Beato Juan Masías , Tipografia Li ga Sagrada , Cu sco, 1949. - Les Petits Bollandistes, Le 8. Jean Massias d ' füpagne, religieux dominican, in Yi es lcs Saints, Bloud et Barrai , Pari s, 1882, tomo XII , pp. 11 e ss. - Edelvives, Beato Juan Massias de Espaíía, dominico, in EI Santo de Cada Dia , Editori al Lui s Vives, S.A. , Saragoça, 1955, tomo V, p. 342.

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os presentes dias, tudo concorre para que a natureza humana seja degradada: aprovação de leis abortistas, facilitação do uso de drogas, imoralidade galopante, músicas frenéticas, arte delirante, e o que mais se queira. Nesse contexto social de rebaixamento humano, não poderia deixar de acontecer que seres irracionais, de natureza inferior, fossem promovidos a gozar de direitos semelhantes aos dos humanos. Donde a propaganda insistente quanto aos "direitos dos animais". Ninguém defende que os animais devam ser maltratados, pois seria uma insânia. Eles existem para o serviço do homem e devem ser tratados de modo racional. Desde tempos imemoriais os cães são considerados amigos do homem e são bem tratados por ele. O trinado melodioso de um pássaro ou o colorido de um pavão sempre foi muito apreciado. Mas procurar equiparar o animal ao homem, não engrandece o animal - incapaz de elevar-se acima de sua natureza - e degrada o homem. *

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Seguindo essa onda, a prefeitura de Po1to Alegre instituiu uma Secretaria dos DiJ·eitos Animais, aprovada pela Câmara Municipal. Noticia o site daquela prefeitura: "O pref eito José Fortunati sancionou nesta segunda-f eira [25-7-11 }, a lei que cria a Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda), durante solenidade no Salão Nobre do Paço Municipal. A pasta tem como objetivo estabelecer e executar políticas públicas destinadas à saúde, proteção, defesa e ,,r bem-estar animal da cidade. [...] A pref eitu- ,. ra terá uma estrutura, com 14 cargos, e orçamento para trabalhar ações com mais contundência. O prefeito assumirá a responsabilidade pela pasta com o apoio voluntário da primeira-dama Regina Becker". Diante dessa notícia, cabe aqui uma observação preliminar: somente os humanos, racionais, podem ser sujeitos de diJ·eito; nunca os animais. E o homem não deve maltratar a estes, porque tal atitude é oposta à sua racionalidade. Entretanto, chegamos ao extremo de mães que abortam

seus filhos e concedem a seu cão ou gato tratamento que talvez não dariam à sua prole! A moda agora é hotel de luxo e salões de beleza para cães e gatos, incluindo perfumaria, piscinas, manicure, quitutes e gozo de férias ... Acrescentemse "casamentos" com festa e convidados! Não estamos exagerando. Em Londres, "casaram-se Lota [uma cadela] e Mugly [um cachorro], numa aristocrática mansão toda decorada em branco, prata e rosa. A 'noiva' usou vestido em organdi suíço, em camadas, sem mangas, decote canoa, com manteaux de renda prata e branco, braceletes com navetes e colar de contas de cristal. O 'noivo' vestiu austero colete de cetim preto, colarinhos brancos engomados, gravata papillon preta, e meia cartola. A madrinha [dona dos bichos] e convidadas ostentavam chapéus (fotos a.o lado). "A madrinha, Louise Harris, convidou 80 pessoas para a cerimônia. Ela investiu 20 mil libras, ou R$ 52,3 mil, na festa. Só o aluguel da mansão custou R$ 6.540, ou 2500 libras esterlinas. No coquetel, mais 3 mil libras, ou R$ 7,85 mil. Os floristas cobraram mil Libras (R$ 2,6 mil). Não faltaram os seguranças, com cachê de 400 libras (R$ 1050). Louise Harris fe z um emocionado discurso, com a noiva no colo, e comemorou brindando com champagne" (http:// margaritasemcensura.com/fotos-da-semana/ cachorros-casam-com-luxo; 6-4-11 ). *

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Ao colocar os bichos no nível humano, afrontam-se não só as leis da natureza como a própria doutrina católica. Como ensina o Doutor Angélico, "na hierarquia dos seres, aqueles que são imperfeitos são criados para os mais peifeitos [... ] assim, os seres que têm apenas a vida, como os vegetais, existem no seu conjunto para todos os animais; e os animais existem para o homem. Eis por que, se o homem se serve das plantas para o uso dos animais, e dos animais para seu próprio uso, isto não é ilícito, como já o demonstrou Aristóteles. [...] Se a ordem divina conserva a vida dos animais e das plantas, não é para eles mesmos, mas para o homem" (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, t 3, q. 64, a. 1). • SETEMBRO 2011

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T ornando boa parLe do Lcmpo e da atenção, inibindo o pensamento profundo e o recolhimento, a internet pode representar risco incomensurável para o equiHbrio psíquico de um nún1ero assustadoranicnLc crescente de usuários

, J D ANI EL FÉ LI X DE SOU SA M ARTIN S

E

m abril de 2010, Catolicismo publicou o artigo A Quarta Revo-

lução e o Tribalismo Cibernético, no qual o pesqui sador José Antonio

Ureta descreve a mudança de mentalidade que os autores da revolução digital pretendem realizar e m nível globa l, levando à tribalização do home m por meio de transformações psicológicas, soc iai s e religiosas. No presente arti go

deseja mos aprofundar a questão da cibernética sob outro prisma: os males psíqui cos e psicológ icos que a internet pode trazer, com influência profund a na personalidade de seus usuários.

Obsen ração pré1ria: sites pornográficos e satanistas Muitos criticam a internet pela facilidade co m que, através de seus bilhões de páginas, pode-se penetrar nos sinistros mundos da pornografia mais baixa ou mes mo do oc ulti smo satânico. Tais críticas procedem. Pessoas que normalmente ficariam alheias a essas aberrações, acabam ne las ca indo pela fac ilidade de acesso que a internet lhes proporciona. E m outros termos, a internet se transforma, para milhões de seus usuários, e m uma verdadeira ocas ião próxima de pecado. A doutrina católica define a ocasião de pecado como: "pessoa ou coisa ex-

terna que constitui um perigo de pecado para o homem". Consta, portanto, de dois fato res: um objeto externo que alicia o home m para o pecado e um a propensão interna para pecar. Esta ocasião pode ser próx ima ou remota: a próxima é aquela e m que há um grave ou SETEMBRO 2011

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provável perigo de pecar. A remota é aquela que cria apenas um perigo leve. 1 Assim, um jovem em plena adolescência - fase em que as tentações se avolumam, sobretudo em matéria de castidade - , que 'navegue' desprevenido pela internet, transforma-se em presa fácil do demônio, tantas são as ocasiões que se lhe apresentam: um vídeo no YouTube, um contato pouco edificante pelo Facebook ou Orkut, uma página que achou pelo sistema de busca de imagens da Google . Típicos casos de ocasião próxima de pecado, as quais um católico deve de todos os modos evitar. Outra ocasião típica são os sites esotéricos e ocultistas. Renomados exorcistas chamam a atenção para o fato de que grande parte das possessões diabólicas nos dias de hoje se dão por causa de sites desse gênero, facilmente encontrados na web. Portanto, toda cautela neste terreno é pouca. Acertam os pais e educadores que tomam o devido cuidado para que seus filhos e educandos evitem tais ocasiões.

Uma revolução te11de110ial Entretanto, há um aspecto sobre o qual pouco se tem chamado a atenção dos católicos. Serão perniciosos somente certos conteúdos disponíveis na internet? Especialistas de diversas áreas pensam que não. Segundo eles, a internet possui características que podem influenciar a fundo a mentalidade de seus usuários. Ainda que não houvesse pornografia, ocultismo e outros riscos, é uma verdadeira revolução nas tendências2 que ela está operando. Cumpre, pois, estudá-la sob este â ngulo. Para esse efeito, consultamos diversos livros e artigos a respeito da temática, bem como conferências do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre a cibernética, assunto sobre o qual ele tratou nas décadas de 80 e 90. Nosso objetivo aqui não é negar benefícios práticos que a tecnologia da informação possa ter oferecido em muitas áreas: pesquisa, rapidez de comunicação, praticidade de redação, etc. O que pretendemos é alertar os leitores para aspectos geralmente silenciados do problema, o que lhes facilitará inclusi-

Susan Maushart

ve um uso mais consciencioso da internet e demais mídias eletrônicas.

1'rês casos ilustrntivos Consideremos três casos bastante significativos da influência dos eletrônicos e da internet na vida. a) O primeiro é a experiência que Susan Maushart, mãe australiana, resolveu realizar juntamente com seus três

filhos adolescentes: eles passaram seis dos Estados Unidos, sem celulares nem de pensar, ler e recordar. 5 [facsímile da internet, para investigar se o uso intenmeses sem televisão, vídeo games, iPocapa embaixo l ds, nem co_31putadores. O resultado foi sivo de artefatos digitais pode mudar o A obra contém inúmeras pesquisas impressionante, e está documentado no modo de pensar e a conduta dos hoe dados científicos, alguns dos quais mens . David Strayer, professor da Unilivro The Winter of Our Disconnect3(0 mencionamos neste artigo, para ajudar Inverno de Nossa Desconexão)[ Abaixo versidade de Utah, concluiu que a atena responder à pergunta: quais são as facsímile da capa]. A filha mais velha ção, a memória e o aprendizado dos cicausas dessa influência da internet na foi a que mais rapidamente se adaptou, dadãos modernos ficam afetados. Para psicologia e na vida? pois já havia adquirido o bom hábito Paul Atchley, professor da UniversidaTudo atrnvés da internet da leitura. O rapaz, que passava horas de de Kansas, o uso continuado da inem video game, aprenformática inibe o penO primeiro fator decisivo para a indeu um instrumento samento profundo, fluência que a internet exerce é sua unimusical e percebeu que causa ansiedade, deversalidade, não só no sentido de se THE tinha talento para múpendência e prejudica estender ao mundo inteiro, mas a quase WINTER sica. A filha mais nova a saúde. O Prof. Art todas as áreas da atividade cotidiana. OF OUR foi a que mais dificilKramer, da UniversidaComo explica Nicholas Carr, a internet DISCONNECT de de Illinois, notou que tornou-se "uma máquina de poder inmente se adaptou à inusitada situação, mas no isolamento o grupo comensurável, e está ao pé da letra subdepois se acostumou. ficou muito mais reflejugando a maior parte das outras tecO resultado foi um tido, tranquilo e voltanologias intelectuais. Está se tornando 1' acréscimo considerádo para a realidade. nosso processador de texto e nossa imvel no rendimento esc) Um caso semeprensa, nosso mapa e nosso relógio, Hm Thrtt Totlllú ll'ind Tr.m•g,rt colar de todos os filhos lhante se deu com Ninossa calculadora e nosso telefone, (1t1td d M,thtr l#'bo ~tp( 1tith Htr iPbo11t) P•lltd tht Plllf ,,. Th,ir nrhnol'IJ (inclusive a mais nova, cholas Carr, intelectual nosso correio e nossa biblioteca, nosso 11,,J Li'llrrl lo Tr/1 th, Tafr que obtinha péssimas norte-americano, diplorádio e nossa TV" (pp. 83-82). notas) . O rapaz desismado em literatw·a pela Ou seja, atividades que antes realitiu de jogos virtuais, Universidade de Harzávamos em diferentes lugares vão gravendeu seu vídeo game vard e pelo Dartmouth dualmente se restringindo à tela do come hoje estuda música na universidade. College. Imerso após alguns anos no putador. A cada ano que passa ficamos Todos os filhos, afirma Susan Maushart, mundo das mídias eletrônicas a ponto de mai s tempo na rede, e isso com nosso saíram da experiência de um estado consentimento: "A internet tem dese tornar um especialista em tecnologia de cognitus interruptus (pensamento da informação, começou a perceber que monstrado ser tão útil de tantas formas, interrompido) e passaram a pensar e que nós acabamos por dar as boas-vinseu cérebro não funcionava como antes. refletir melhor. As longas leituras tornaram-se mais radas a qualquer expansão de seu uso" Mas a principal vantagem foi uma (p. 88). ras, a concentração ficou enfraquecida e união maior da família, a qual passou a difícil , a memória constantemente o A internet substitui o papel das ouconviver mais entre si, com animados tras mídias, mas difere destas e m ponto traía. jantares e boas conversas. Além disso, Decidiu então famuito importante: é zer uma experiência descobriram prazeres simples e agradábidirecional. Ao conveis como ouvir música em conjunto radical: foi com sua trário de uma revista, THE (não só cada um com seu fone de ouviesposa morar na s por exe mplo, ou de do), jogos de tabuleiro, rever antigas fomontanhas do Coloraum programa de rátografias de família etc.4 do (EUA), sem celudio, em que as pessoHow thc internet is changing the way Sobre o fenômeno, comenta o lares nem internet. as somente recebem a wc thjnk, read and remember jornal "La Republica", de Montevidéu Durante dois anos, fez informação, a internet (16-6-11): "A necessidade dos meios profundas e abundannos permite interagir técnicos de comunicação e trabalho tes pesquisas em neue responder a quase parece nos absor·ver e até nos escraviroplasticidade, histótodas suas solicitazar. Susan demonstrou que é uma esria da comunicação e ções e estímulos, em cravização voluntária, da qual se pode informática. Em 2009, tempo real. escapar e com muitos benej{cios". lançou um livro que Com poucos clib) Outro caso exposto na edição de logo se tornou bestques, podemos comCatolicismo de dezembro de 2010 foi seller: Os Superficiais prar os objetos da NICHOLAS CARR o de ci nco neurocientistas americanos - Como a internet está propaganda. O anúnque passaram um mês em uma região mudando nosso modo cio de um relógio de

SHALLOWS

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pulso, por exempl o, e m uma re vista, pode nos dar um grande desejo de obter o objeto Uá tão ' retrógrado', aliás ... ). M as para isso precisamos parar a leitura, deix ar a rev ista e ir até a loja. Com a internet, não: vemos a propaganda, 'c li camos' na imagem, fazemos o pedido e rastreamos o frete. Um arti go de jornal ape nas nos dá informações . Na internet, o mes mo artigo permite-nos faze r comentári os e re lac io nar com outros arti gos do mesmo ou de outros autores. "A interatividade da internet - come nta Carr - transformou-a também em uma 'casa de encontro global ', onde as pessoas se reúnem para chats, fofocas e discussões, através do Facebook, Twitte ,; MySpace, e todo tipo de redes sacias ( e às vezes antissociais)" (p.85). Muitos veem a universalidade e interatividade da internet como um avanço, e de fato o é sob alguns aspectos. Mas "rarwnente nós paramos para pondera,; e muito ,nenos questionar, a revolução núdiática que tem se dado em torno de nós, em nossos lares, nossos Locais de trabalho, nossas escolas" (p. 88).

Uma verdadeira patologia De ta l maneira a internet convida ao uso des mes urado, que ao estudarem desde 1995 os efeitos dessa mídia nos pacientes, psicólogos e psiquiatras começara m a classificar um novo tipo de dependênc ia patológica: o transtorno de dependência à internet - TDI. 6 Segundo a psicóloga-crimino logista suíça Martine Courvo isier, "os relatórios de psicoterapeutas indicam. que os usuários compulsivos e patológicos da internet se tornam dependentes da mesmaforma que um toxicômano ou um alcoólatra se tornam dependentes da

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droga ou da bebida, e que os efeitos dessa dependência são igualmente devastadores na vida da pessoa". 1

Dissipação do pensamento: o papel <los links Mesmo quando não chega às raias da dependência pato lógica, a internet exerce forte influ ê ncia sobre nosso modo de raciocinar. Aos poucos ela nos afasta do pensamento profundo, da reflexão e do recolhimento. Isso se dá por três e lementos, sobretudo: os hiperlinks, a acessibilidade e a multitarefa. Hiperlinks - ou Links, por simplificação - são paJavras ou fi guras que se posicionam dentro ou ao redor do texto principaJ e que, ao serem acionadas pelo cursor (a "seta do mouse"), remetem para páginas diferentes da que estamos considerando naquele momento. Na década de 80 houve muito entusias mo a respeito do uso de computador, e os educadores estavam convenc idos de que a introdução de links nos textos seria um "salto qualitativo" em matéria didática. No fim da década, o otimismo começou a diminuir, pois as pesquisas de e ntão j á mostravam que "a valiar os links e navegar por eles envolve tarefas mentalmente difíceis de solução de problemas que são alheios ao próprio ato de Ler. Dec(fiw· os Links aumenta substancialmente a 'sobrecarga cognocitiva' dos leitores e enfraquece assim sua capacidade de compreender e de reter o que leem " (p. 126). Um experimento de 1990 revelou que os leitores de textos com Links geraJmente não podiam lembrar o que eles leram ou não leram. Em um outro estudo, naquele mesmo ano, os pesquisadores apresentaram uma série de perguntas sobre um

texto. As pessoas que leram o texto em papel tiveram um resultado bem melhor do que as que o fizeram em texto elet:rônico recheado de Links. Outra experiência, de 1999, reali zado por Erping Zhu, revelou que quanto maior o número de links em um texto, menor a compreensão. Seg undo ele, "há urna forte correlação entre o número de Links e a desorientação ou 'sobrecarga cognoscitiva'. Ler e compreender pressupõe estabelecer relações entre conceitos, tirar conclusões, ativar o conhecimento prévio e sintetizar as idéias principais. A desorientação ou sobrecarga cognoscitiva pode assim inte,ferir nas atividades cognoscitivas de leitura e compreensão" (p. 129). Em 2005, Diana De Stefano e Joanne Letêvre, psicólogas da Universidade de Carleton (Canadá), fi zeram um estudo comparativo com 38 experimentos envolvendo o uso de Links. Sua conclusão foi análoga à das pesqui sas anteriores. Segundo Carr, "as recentes pesquisas continuam a mostrar que aqueles que Leem um texto Linear compreendem mais, recordam mais e aprendem mais do que aqueles que leem um texto salpicado de links" (p. J27).

Rapidez de acesso

à h1fonnaç,c'ÍO

O segundo e lemento dispersivo é a acessibilidade, isto é, a faci lidade com que na internet se pode ' pular' de um documento a o utro, de uma página a outra, de uma informação a outra: "Assim como os Links, a facilidade e rápido acesso às buscas tornam muito mais simples pular entre documentos digitais do que pular entre os impressos. Nossa Ligação com qualquer texto se torna mais tênue, mais ef êmera" (p. 90). A faci lidade de busca traz consigo a fragmentação dos documentos virtuais . O meca ni smo de busca - como Google ou Bing - desperta a atenção do internauta para um fragmento de texto, a lgumas palavras ou frases co m forte re levânc ia no ass unto procurado. Mas os mes mos mecanismos proporcionam pouco incentivo para se considerar o trabalho e m seu conjun to: "Nós não vemos a .floresta quando buscamos na

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Web. Nós não vemos sequer as árvores. Nós vemos galhos e folhas" (p. 90).

O malabarismo mental Os links e a acessibi lidade produzem um terceiro elemento dispersivo: a multitarefa, a qual consiste em realizar várias atividades difere ntes ao mesmo tempo. Ligamos o computador de nosso escritório para redigir um ofício . Após algum as linhas lembramos que há um e-mail " urgente". Lemos a mensagem: conta a pagar..., 'entramos' no site do banco. Enquanto pagamos a conta e a página 'carrega', di stra ímo-nos com uma vídeo-propaga nd a na mes ma página do banco, do novo iPad, que pode ser pago em 12 vezes sem juros no cartão de créd ito! Fazemos a compra, pois afinal é preciso não desco lar da moda ... Voltamos ao e-mail e nos deparamos com outra mensagem com o título "Imperdível - Escultu ras na melancia". Abrimos a apresentação de slides (o famoso 'PPS') , na faina de descobrir o aspecto fa ntástico. De fato, é preciso ser artista para escu lpir em uma melancia! Terminada a sensacional sucessão de fotos, voltamos aos e-mails e abrimos

o recado do gerente, furioso porque ainda não entregamos o ofício ... A experiênc ia mostra que este é o modo de proceder de boa parte dos usuários de computador, sobretudo os mais

jovens. Vê-se facilmente como a multitarefa, transformada em hábito, é um outro elemento de dispersão. Mas tal hábito tem-se tornado tão comum que "muitos de nós acharia intolerável se tivéssemos que voltar aos computadores que

podiam executar só um programa ou abrir só um arquivo por vez" (p. 113). A internet multimídia - que combina muitos tipos diferentes de informação em uma só tela - "fragmenta ainda mais o conteúdo e dispersa nossa concentração . Uma só página da web pode conter blocos de texto, um vídeo ou áudio, uma série de instrumentos de navegação, várias propagandas, e muitos aplicativos, os chamados 'widgets'. Todos nós sabemos como essa cacofonia de estímulos é dispersiva" (p.90). Alguém pode objetar que, se bem utilizada, a multitarefa pode ser um bom in strumento didático, pois treina a rapidez de pensamento. Gary Small, neurocien tista especializado e m Alzheimer e diretor do Centro de Pesquisa em Memóri a e Envelhecimento da Universidade da Califórnia (Ucla), afirma que "o uso da internet pode exercitar o cérebro da mesma maneira que palavras-cruzadas. Mas tal exercício intenso, quando se transforma em nosso modo primário de pensar, pode impedir o aprendizado e o raciocínio. Tente ler um livro enquanto resolve uma palavra-cruzada; este é o ambiente intelectual da internet" (p. 125).

O "dilúvio energético"

em.curso, previsto décadas atrás No início da década de 80, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira já alertava para uma revolução digital, que poderia desfechar em verdadeiro "dilúvio energético". Transcrevemos abaixo suas palavras, proferidas numa palestra para jovens em 28-2-82 (sem revisão do autor). Impressiona a antecipação com que o insigne pensador católico previu o que hoje presenciamos.

* * * "A história do trabalho humano compreende uma fase na qual o homem preparou os instrumentos para que ele,

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Mudanças no pl'Ópl'io cérebro Essa febre de multitarefa pode ter efeitos físicos, alterando até o funcionamento do cérebro. Em e ntrev ista para a revista "Veja"9 , o mesmo professor Gary Small declara que "ao passarem horas em frente ao computador, seja para pesquisar, mandar e-mails ou fazer compras, as pessoas estão expondo o cérebro a uma enxurrada de estímulos. É por isso que o uso da tecnologia digital altera nossos circuitos ce rebrais ". Pior do que a multitarefa em si é o estado de contínua atenção parcial em que a internet nos mergulha, aliada aos aparelhos eletrônicos da moela. Segundo o Dr. Small, "estamos permanentemente ocupados, acompanhando tudo. Não nos focamos em nada. A atenção parcial contínua é diferente da multitarefa, na qual temos um propósito para cada uma das ações paralelas e tentamos melhorar nossa eficiência e produtividade. Quando prestamos atenção parcial continuamente, colocamos nosso cérebro num estágio mais elevado de stress. Ficamos sem tempo para refletir, contemplar ou tomar decisões ponderadas. As pessoas passam a existir num ritmo de crise constante, em alerta permanente, sedentas de um novo contato ou um novo bit de informação". Os jovens são os mais afetados por essa expos ição excessiva à informação

digital. "Muitas vezes, eles passam mais tempo na internet do que cultivando contatos sociais diretos. E o jovem, em pleno desenvolvimento, é mais vulnerável. Seu cérebro não desenvolveu completamente o lobo Fontal, a seção que nos diferencia dos animais e controla pensamentos mais complexos e a nossa capacidade de planejamento ".

O arcabouço mental próprio a cada homem John Sweller, psicólogo educacional australiano, estudou por três décadas o modo como nossas mentes processam a informação e, em particular, como aprendemos as coisas. Seu trabalho científico deita lu z sobre como a internet e demais mídias eletrônicas influenciam o estilo e a profundidade de nosso pensamento. E le explica que nosso cérebro incorpora dois tipos bem diferentes de memória: a de curto-prazo e a de longoprazo . A de curto-prazo contém nossas impressões, sensações e pensamentos imediatos, que tendem a durar somente algun s segundos. Tudo o que aprendemos sobre o mundo, conscientemente ou não, fi ca armazenado como memória de longo-prazo, que pode permanecer em nosso cérebro por alguns dias, algun anos, ou mesmo a vida inteira. Um terceiro tipo é a memória de trabalho (working memory). É tudo aquilo que

temos de modo consciente no momento. Por exemplo, quando lemos wna notícia sobre a crise da União Europeia, aquela informação nos ocupa a atenção por alguns segundos. O papel da memória de trabalho é obter a informação, captá-la e transferir o que é relevante para a memória de longo-prazo, o que contribuirá para a criação de nosso arcabouço pessoal de conhecimento. O conteúdo de nossa memória de longo-prazo fica armazenado em algum lugar do cérebro, sem que venha à consciência a todo o momento. Para pensar em algo que previamente aprendemos ou experimentamos, nosso cérebro deve transferir a informação da memória de longo-prazo para a memória de trabalho. A profundidade de nossa inteligência reside na habilidade de transferir as informações da memória de trabalho para a memória de longo-prazo e transformá-las em esquemas conceituais. Tais esquemas, que o homem possui no fundo da cabeça, vão construindo a personalidade. É o processo mental humano iluminado, que Plinio Corrêa de Oliveira chamava de "luz primordial", ou seja, aquele aspecto peculiar de Deus e do universo que cada homem é chamado a entender e contemplar. Esse arcabouço mental é diferente em cada um e produz uma admirável e rica desigualdade harmônica entre os homens. Pois bem, ao contrário da memória de longo-prazo, que pode conter urna

com sua própria energia, pudesse acionar; instrumentos cuja finalidade era, por assim dizer, economizar, condensar num determinado instrumento a energia humana e assim, poupando energias, com esforço relativamente pequeno, conseguir um efeito maior. Todo instrumento tem, desde a idade da pedra lascada - até a espada, a lança, ou sei lá o quê - por finalidade que o golpe humano atinja com mais acerto: como cortar, matar, colher, abrir, aproveitando as energias do homem. Hav ria uma segunda etapa, na qual nos encontramos, que teria começado pelo aproveitamento pelo homem de energia qu não são humanas e que ele sujeita a si. Seriam, por x mplo, o fogo, a roda d'água, o moinho de vento, a traç o animal, coisas que permitem ao homem captar Pllnlo Corrêa de Oliveira

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ante de várias torneiras de informação, todas elas a todo vapor. Nosso pequeno dedal transborda enquanto passamos de urna torneira a outra. Só conseguim.os tran4"erir para a memória de longo-prazo uma pequena porção de informação, e o que de fato transferimos é uma confusão de gotas de diferentes torneiras, e não um fluxo contínuo e coerente vindo de uma só fonte" (p. 125).

quantidade quase ilimitada de informação, a memória de trabalho pode conter pouquíssimos dados. De acordo com Sweller, as evidência s ugerem que

"nós não podemos processar mais de dois ou quatro elementos por vez". Esses e lementos que podemos conter na memória de trabalho irão, ademais, rapidamente desaparecer, "a menos que o possamos refrescá-los " por atividades repetidas . Comenta Nicholas Carr: "Imagine

se.fôssemos encher uma banheira com um dedal; esse é o desafio envolvido em transferir informação da mem.ória

de trabalho para a memória de longoprazo. Ao regular a velocidade e a intensidade do fluxo de informação, as mídias exercem forte influência nesse processo. Quando lemos um livro, a torneira da il1formação proporciona um filete de água contínuo, que podemos controlar pela velocidade da leitura. Pela concentração exclusiva no texto, podemos transferir toda ou boa parte da informação, dedal por dedal, para nossa memória de longo-prazo, e.forjar as ricas co rrelações, indispensáveis para a criação dos esquemas mentais. Com a internet, ficamos di-

Ou seja, embora abundante, a in formação não é digerida pela inteligência, restando na memória apenas cacos desconexos. É o que tem sido chamado de geração dos informatissimi idioti 1º (idiotas informadíssimos): pessoas sobrecarregadas de dados, descobertas e novidades, mas que não conseguem passá-los para seu esquema mental , pois "quando a carga de informa-

ção excede a capacidade de nossa mente armazenar e processar a informação - quando a água transborda do dedal - ficamos incapazes de reter a informação ou de fa zer correlações com a informação já armazenada na memória de longo-prazo. [. .. ] Não conseguimos incorporar a nova informação a nosso esquema mental. Nossa capacidade de aprender sai prejudicada, e nosso entendimento ftca supe,:ficial. Os recentes experimentos indicam que, quando atingimos os limites de nossa memória de trabalho, torna-se mais

energias de origem animal ou de origem natural comum sem vida, para seu serviço. É, pois, um passo muito maior, porque representa um esforço mediante o qual ele não gasta nada e se beneficia de vários modos. Neste sentido a humanidade foi progredindo até o momento (portanto, nos séculos XVIII e XIX) em que o homem inventou a máquina a vapor e descobriu a eletricidade. A partir de então, energias muito maiores do que as humanas, sobretudo a eletricidade, acentuaram o raio de ação do hom:em enormemente. Tais energias se desenvolveram em cascatas. Assim, cada pro= gresso efetuado facilitou uma catarata de outros progressos sempre maiores, até se atingir a situação em que atualmente nos encontramos.

Cibernética e transpsicologla Há quem já fale também de captar a energia dos as-

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difícil distinguir as informações relevantes das irrelevantes. Nós nos tornamos meros consumidores irrefletidos de dados" (p. 125). Segundo Sweller, os dois fatores que mais contribuem para essa sobrecarga mental são "resolução de problemas alheios ao assunto" e "atenção dividida". Essas são exatamente duas características centrais da internet. Quando estamos on-line, "ingressa-

mos em um ambiente que promove a leitura descuidada, pensamento apressado e distraído, aprendizado superficial. É possível pensar de maneira profunda enquanto se navega pela Rede, assim como é possível pensar de maneira superficial durante a leitura de um livro, mas esse não é o gênero de pensamento que o tipo de tecnologia encoraja e estimula" (p. 116).

A humanização da máquina e a 'maqulnização do homem'

Há ainda um outro problema, consequência de todos os até aqui considerados : o homem começa a tratar a máquina como um ser racional, dotado de inteligência, vontade e sensibilidade, e, ao mesmo tempo, tende a 'computadorizar' seu temperamento. Continuamente exposto a vibrações e energias físicas, controladas e decodificadas por circuitos de integração (os chips), o homem começa a ter a ilusão

de que a máquina possui inteligência própria, quase que mágica, com a qual ele pode interagir e conviver. Em 1962, o famoso cientista Joseph Weizenbaum acabava de criar ELIZA, um programa de computador que simulava um ser humano, respondendo às perguntas como se fosse um psicoterapeuta. Em 1976, mais de uma década depois de sua invenção, o mesmo Weizenbaum publicou o livro O poder do computador e a razão humana, no qual criticava os efeitos danosos de sua própria invenção. O seguinte fenômeno começou a ocorrer: "as pessoas que

trotam as habilidades tecnológicas. Mas os circuitos relacionados a habilidades sociais são negligenciados". Por exemplo, "a alta exposição à tecnologia parece diminuir a nossa capacidade de captar certos detalhes durante uma conversa. Deixamos de 'ler' as informações não verbais existentes em um bate-papo, como a postura corporal, os gestos e eventuais nuances no olhar".

'conversavam' com o programa tinham pouco interesse em fa zer julgamentos racionais e objetivos sobre a identidade de ELIZA. Elas queriam acreditar que ELIZA era uma máquina pensante. Ao simular um ser humano, embora toscamente, ELIZA encorajava os próprios seres humanos a simularem computadores ".(p. 206)

me a impressão [. ..] que a robotização de uma humanidade organizada emfun ção da 'inteligência artificial' é incontrolável". 11

A humanização da máquina traz como seu corolário a 'maquinização' do homem e das relações sociais, como afirma o Dr. Gary Small: "Tecnicamen-

te, a superexposição a estímulos constantes na internet afeta a maioria dos circuitos corticais e a camada externa da área cinzenta do cérebro, o que inclui os lobos frontal, parietal e temporal. O resultado disso é que ocorre um reforço nos circuitos cerebrais que con-

tros. Sabe-se, por exemplo, que a maré é causada por influência da lua sobre a Terra; é uma energia que a lua lança sobre nosso planeta e que o influencia em certo sentido.

Há, portanto, energias desse tipo que podem ser captadas de algum modo. É um gênero de energia que, em certo mom nto, procura realizar o trabalho do cérebro e penetrar na vida do cérebro. Já não é mais o homem governando a energia, mas é esta usada para governar o homem; a matéria procurando governar e modelar a alma humana. A im, por exemplo, a tendência de implantar chips nos homen . É, ao lado disso, uma tentativa embrionária para manipular as energias mentais mediante a transpsicologia. A im, a cibernética e a transpsicologia se estabelecem - mas já ntão a transpsicologia num grau completamente dffl nte : são energias de caráter espiritual, de qualidade mllito superior ao raio laser, sendo impossível prever a

Vários analistas e escritores chegam à mesma conc lusão. Em sua sinopse do livro Os Superficiais , o propalado escritor Mario Vargas Llosa conclui: "dá-

A simbiose do homem com a máquina A ' robotização' ou ' maquinização' chega a tal grau , que há quem já pretenda realizar, num futuro próximo, a simbiose física entre o homem e a máquina. Atente-se, por exemplo, ao que afirma o Dr. Gary Small , quando perguntado pela revista "Veja" sobre qual é o futuro do cérebro humano 12 : "Num futuro não

muito distante, teremos a capacidade de monitorar e estimular a atividade de células cerebrais individuais. Cientistas já contam com aparelhos quefazem isso, por meio de uma proteína fotos-

que pontos poderiam atingir tais energias e que alterações poderiam produzir na vida humana. São realizações inimagináveis que despontam em nosso horizonte. Resumindo: eletricidade, cibernética e transpsicologia. Haveria ainda outras coisas, e à medida que formos revolvendo esses assuntos, poderão surgir novos dados de outra natureza. Deus, ao que parece, permitiu que o homem fosse puxando para fora aquilo que poderíamos chamar as chaves que governam o universo; e que, até pouco tempo atrás, até há um ou dois séculos, eram conhecidas só pelos anjos e agora participam do conhecimento humano. Isso é uma parte da exposição. Eu não estou, com esta exposição, rumando para qualificar esse desenvolvimento como intrinsecamente mau. Estou caminhando para dizer que, ou o homem é guiado

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mas não falam, olhos e não podem ve,; têm ouvidos, mas não ouvem, nariz, e não podem cheira,; têm, mãos, mas não apalpam, pés e não podem anda,; sua garganta não ernite som algum. "Semelhantes a eles sejam os que os fabricam e quantos neles põem sua confiança. Mas Israel, ao contrário, confia no Senhor: ele é o seu amparo e o seu escudo" (Sa lmo l 13, J 1- 17).

À medida que nouoa computadores ficarem mala r6pldoa e mala eficientes, • oe Implantes• tomantm a nonna, em vez: de discutirmos a lacuna cerebral entre geraç6ea, vamos debater aa lacunas entre o computador e o cjrebro humano

Conclusão e sugestões pl'áticas

sensível, controlada por laser. [. .. ]. Em breve, também vamos checar e corrigir nosso circuito neural por meio de controles remotos, semelhantes aos usados nas TVs. Teremos também mínimos implantes na cabeça. Eles permitirão que nossa mente se conecte aos computadores. Farão com que as máquinas entendam os comandos do cérebro. À medida que nossos computadores ficarem mais rápidos e mais eficientes, e esses implantes se tornarem a

norma, em vez de discutirmos a lacuna cerebral entre gerações, vamos debater as lacunas entre o computador e o cérebro humano. Esse é um terna que donúnou a ficção científica por anos. Como se vê, o futuro pode ser a .ficção atual ". E se prognóstico faz lembrar um salmo que trata dos ídolos pagãos: "Nosso Deus está nos Céus; Ele fa z tudo o que lhe apraz. Quanto a seus ídolos de ouro e prata, são eles sirnples obras da mão dos homens. Têm boca,

De quanto foi aqui anali sado, podemos concluir que, além cios pe ri gos morai s ela internet, há graves prej uízos para a psicologia hum ana . Enganar-seia quem pensasse que estes últimos são secundári os. Poi s o pensamento profundo e concatenado, a estabilidade psíqui ca e o recolhimento são pressupostos indi spensáveis para alcançarmos a virtude da sabedori a, 13 enquanto "com a internet, a mente calma, concentrada e recolhida está sendo substituída por um novo tipo de mente" (p. 1O). O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus, e sem a contempl ação da ordem cio universo e das verdades ela fé, componentes ela virtude ela sabedoria, o homem não pode atingir sua fina lidade. Segundo D. Chautard, fa moso frade cisterciense francês , mestre da espiritual idade cató li ca, para que a vida ela graça permaneça e aumente em nossa

por uma sabedoria - no sentido católico da palavra cada vez maior, para que o nível de sua fé, de suas intenções e de sua virtude seja ainda maior do que as energias que ele vai mobilizando; ou, se isto não ocorrer, ele caminha para o desastre. E será um desastre tanto maior quanto maior for o desnível entre o fator religioso-moral, de um lado, e o fator energético, de outro.

Imagem dos reis bom e mau Para usar uma comparação que nos produza a sensação tangível da problemática, imaginemos um rei que, na ponta de seu cetro, possua esse poder que detém o homem de hoje. Que seja uma espécie de mago, o qual mexendo o cetro pode ordenar e desordenar todo o universo, inclusive as mentes. Se tal soberano for um santo, pode-se esperar muito bem - por exemplo, se ele for um São Luiz IX.

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alma, é primordial o recolhimento para, "no decurso das ocupações, conservar o coração numa pureza e generosidade suficientemente grandes para não ser abafada a voz de Jesus ". 14 Para ele, "os ventos da dispersão impedem a alma de viver unida a Deus" . 15 Ora, ao dificultar o recolhimento e a meditação do espírito humano, e roubar o tempo e a atenção que deveriam ser empregados na contemplação e no convívio, a internet pode nos privar das condições psicológicas de uma sadia vida espiritual. Alguém dirá: há atividades na internet que se tornaram hoje em dia indis-

pensáveis para muitos. Como, então, resolver esse problema na prática? Respondo dizendo primeiramente que nunca uma dificuldade é maior do que a proteção que Deus sempre nos concede. Assim sendo, a primeira sugestão é a oração. Pedirmos a Nossa Senhora que nos obtenha o Bom Conselho, para sabermos utilizar a internet sem nos deixarmos levar por esses males. Em segundo lugar, ter bem presentes os riscos; conhecer inteiramente o prob lema já representa 50% da solução. A prece, o conhecimento dos perigos e o bom senso serão bons guias em cada caso particular.

Notas : 1. Aertnys-Damen C.SS.R., Theologia Mora/is secundum doctrinam S. Alfonsi de ligorio, Doct. Ecclesiae (Teologia Moral Segundo a Doutrina de Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igrej a), Tomo li , ite ns 468,469, Editora Mari ett i, Mil ão, 1950, 16' edição, 2. A Revolução nas Tendências é estudada no e nsa io Revolução e ComraRevolução, obra mestra de Plínio Corrêa de O liveira, capítulos V e VI, Artpress Indústri a Gráfica e Editora LTDA ., São Paul o, 1998. 3. The Winter of our Disconnect, Pro fil e Books Ltd ,, Londres, 20 11 . 4. C fr . si nopse em http://www.ipco,org. br/home/notic ias/seis-meses-deliberdade 5, Nicholas Carr, Th e Sha/lows - flo,v the internet is changing the way we think, read and re111e111ber, Atlantic Books, Londres, 20 10. As citações do artigo proveem deste livro, salvo indicação em contrário, 6 . Em inglês, !AD - Internet Addiction Disorder. No Brasil , o conceito de dependência à internet começou a ser divulgado desde o ano 2000, pela psicóloga Luciana Nunes, que trouxe o conceito já estudado nos Estados Unidos desde 1995 por Dr. Ivan Goldberg 'e Dra, Kinmberly Young.

Mas se ele for como o neto de São Luiz, Filipe o Belo, não há desastre que não se possa temer. Assim, a bifurcação entre a verdade e erro, bem e mal, posta essa situação, apresenta-se de um modo muito mais lancinante. Qualquer ação boa caminha enormemente para resultados magníficos; qualquer infidelidade na linha da sabedoria equivale a um precipício para o mal, para resultados vertiginosos, pelo próprio poder que o homem adquiriu.

"Dilúvio energético" Se isto é assim, em que situação nós estamos? Encontramo-nos num "dilúvio energético". Expressão que é concisa e ao mesmo tempo muito precisa. Quer dizer, assim como houve um dilúvio de água, há um dilúvio de energias soltas, e que podem esmagar o homem e afogá-lo. Se é que ele já não está meio esmagado e afogado, pergunta que se

Por fim , é indi spensável exercer o domínio sobre si mesmo. Uma das formas de atingir tal objetivo consiste em planejar as atividades que serão realizadas na internet, e fazer somente aquilo que for previsto. Não usar a internet como fonte principal de lazer. Retomar boas leituras e conversas. Criar em si o hábito de anali sar o mundo ex terior, as obras de Deus e as boas reali zações dos homens, como as belas construções e verdadeiras produções artísticas, além do apreço por um sadio convívio familiar e social. • E-mai l para o autor: catolicismo @terra.com.br

7. Trouble de Dependance à Internet - /AD - Notion.~ générales, disponível em http ://ww w .ac ti o ninn oce nce.o rg/su isse/Fi c h ie rs/ M ode leCo nten u/2 l 4/Fichiers/D%C3% A9pendance%201 nternet. pdf. Acesso e m 1 1 Ago. 20 11. 8, Ide m 9, A internet tram,:forma seu cérebro - e ntrev ista à revista "Veja", repórter Lia Luz, ed ição nº 2 125, 29-8-2009 , 1O. Es ta ex pressão é j á co nsagrada na Europa, sobretudo na Itáli a, e foi prime iramente utili zada por Ferrarroti Franco, e m seu livro Le strage degli innocenti (0 Massacre dos Inocen tes). 11. "O Estado de S. Paulo", Caderno 2, DI 1, 14-8- 1 L 12. A internet transforma seu cérebro - e ntrev ista citada à rev ista " Veja". 13, Cfr, conferê nc ia de Plínio Corrêa de Oliveira sobre a sacralidade e a sa bedori a em 8-4-67, 14. D. Jea n-Bapti ste C hautard, A Alma de lodo Apostolado, Ed itora C ivi li zação, Braga, 2001, p. 19, 15, .Idem, op , c it. , p. 174.

pode fazer. Em outros termos, o próprio homem está se escravizando a esses aparelhos e se tomando escravo deles. E colocando-se nessa escravidão, ele está se esmagando a si próprio de modo mais terrível do que se fosse liquidado. Se a humanidade chegar à metodização generalizada de chips dentro da cabeça, será a consumação de um processo escravizador. Tal dilúvio é mais terrível do que o dilúvio da época de Noé. Alguém poderia dizer: "Não, porque ambos matam". Todavia, o "dilúvio energético" degrada muito mais, pois o dilúvio de Noé foi ocasião para muitos se salvarem. São Pedro, numa de suas epístolas, afirma que muitos salvaram suas almas porque caíram em si, pediram perdão; esse dilúvio, não, estamos vendo claramente que ninguém está pedindo perdão. No "dilúvio energético" em curso, não se observa alguém suplicando perdão ou se salvando ..."

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n

NELSON

R.

FRAGELu

l)uas

impressões ,êm à mente da mffioc parte das pessoas quando pensam na Belle Époque. De um lado, as roupas femininas - saias longas, apertadas na cintura, chapéus largos, a sombrinha não podia faltar. E os trajes masculinos - fraque escuro e cartola. Ainda hoje, em ocasiões de gala, os homens usam esse traje como sendo o máximo da elegância. Indissociavelmente ligadas a tal modo de vestir ficaram na lembrança as boas maneiras e a cortesia. Eram nas festas, recepções, concertos que essa distinção de trato encontrava o ambiente próprio a se desenvolver e encantar a sociedade. Não havia maior prazer do que a conversa. A arte de conversar era então das mais cultivadas. No centro dessa arte estava a cortesia. Isto é, a consideração pela dignidade própria ao interlocutor, fosse ele sacerdote, nobre ou pessoa do povo. A escolha do assunto? - se é que se pode falar de escolha, pois ele surgia segundo a ocasião social , iluminando-se gradativamente, suavemente, como o acender das velas por lacaios em libré, lustre após lustre, naqueles salões. O desenvolvimento do assunto e a escolha das frases, isto sim, era circunstancial, faze ndo da conversa uma obra de minuciosa composição temática. Uma obra que encantava.

Ritos como numa litul'gia tempornl Que críticas não se deviam fazer em determinado ambiente? Ou em que medida fazer elogios? Em caso de uma discussão, como manter a elevação da conversa? Caso se tratasse de convite para um jantar, por exemplo, que flores oferecer e com que traje comparecer? Como se servir dos talheres, do guardanapo, dos vi-

nhos? Terminada a refeição, prescreviam os ritos sociais conhecer o momento oportuno de se retirar, a fim de nem sobrecarregar a hospitalidade dos anfitriões com uma conversa muito longa, nem dar a impressão de aborrecimento, retirando-se apressadamente. Todos os atos da vida social eram organizados segundo regras - flexíveis de acordo com o bom senso, é claro, mas que constituíam uma verdadeira liturgia da vida civil - cuja finalidade era dar ao próximo respeito, reverência e honra. Havia então uma ordem de valores que unia a todos da sociedade e essa ordem era superior aos interesses ou aos prazeres individuais. Essa liturgia era um resto da antiga caridade cristã, ensinada pela Igreja, e cujo modelo tinham sido as interlocuções dos monges nos mosteiros e nas abadias. Havia um momento da vida monacal dedicado à conversa - e ela era obra de santificação - que ensinava a dominar as inclinações e controlar a vontade própria em favor do próximo. Primava a caridade. Assim, na Belle Époque, foram a elegância e a amenidade da vida social que a tornaram bela. A vida de salão atraía irresistivelmente a todos, porque no contacto humano a cortesia dá um prazer durável. A cortesia é o melhor portador de respeito e amizade: dois sentimentos que confortam a alma. A distinção orienta o homem no sentido diáfano do anjo.

Um episódio multo ilustrntlvo da época Talvez um exemplo faça luz sobre a cortesia de então. Nos primeiros anos do século XX, em plena Belle Époque, chefiava Joaquim Nabuco a Missão Diplomática do Brasil em Londres. Pertencente a uma família de políticos, intelectual de renome, tomado por abstrações filosóficas e políticas, Nabuco era conhecido por suas distrações. Tendo recebido convite, belamente impresso, para jantar em casa de outro embaixador, esforçou-se por chegar à hora, pois embora a pontualidade não estivesse de

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modo algum em seus hábitos, na Inglaterra ela sempre foi rigorosamente exigida, Recebido pontualmente pelo mordomo, teve entretanto de esperar um tempo mais longo do que habitual até que aparecesse o embaixador, acompanhado de sua senhora. Amabilíssimos, contentes com a presença de Nabuco, mestres na arte de receber, incitaram-no a falar - desde sobre florestas exóticas do Brasil até os movimentos sociais da recente República - o que muito lhe agradou. Terminados o jantar e a animada conversa, o casal o acompanhou até a saída, e ao abrir-lhe a porta do cabriolé, disse então o diplomático anfitrião, com ligeira inclinação: "Prezado Doutor Nabuco, segundo o convite que tivemos a honra de lhe enviar, nós o aguardamos então, amanhã, para o jantar". Nabuco tinha se enganado de data e comparecido um dia antes ...

Salões e a nobre arte da conve,·sa Não surpreende que, em razão dessa amenidade de trato, nas grandes cidades européias os salões se multiplicavam em todas as classes sociais. A elite, em seus palácios, discutia arte e literatura, ambas em rápida transformação. Política era também um tema central. Monarquistas afeitos às belas e boas tradições enfrentavam os republicanos imbuídos de suas idéias de progresso e reformas soc iais. Os salões burgueses se reuniam nos cafés. Escritores e poetas frequentavam cafés literários; professores e cientistas os cafés universitários. As novidades científicas empolgavam, pois as descobertas e invenções se multiplicavam. Na medicina surgiam novos remédios e métodos cirúrgicos. Em todos esses salões cintilavam inteligências. Quando o clima permitia, sobretudo na primavera e no verão, concertos e espetáculos ao ar livre reuniam nos grandes parques e jardins pessoas provenientes dos mais variados salões. Paris e Berlim ofere-

ciam jardins cujo elevado bom gosto se refletia para os paulistanos no Parque da Luz e no Parque Antarctica, e para os cariocas na Praça Paris.

"Salões" nas pequenas cidades e aldeias Havia também "salões" - talvez os mais autênticos - nas pequenas cidades e nas aldeias. À saída da Missa, pequenos grupos de pessoas se reuniam num café ou em casa de uma delas, quando não os recebia o chefe político local. A literatura, as artes, a ciência não constituíarn os grandes temas das conversas. O centro das atenções era a vida do lugar·. Uma cabra desapar·ecida, uma onça vista à noite ao lado do cmrnl, o incêndio no paiol do vizinho, a chegada do novo pároco, rumores de que ladrões vindos de longe rondavam a região, narrntivas de caçadas eram assuntos próprios a inflamar· as conversas. Por vezes as reuniões se davam também durante a preparação das festas religiosas ou das procissões solenes. Desses encontros até crianças participavam, ouvindo silenciosamente, aprendendo com os mais velhos. Não havia rádio. A televisão estava ainda mais distante. Não havia, po1tanto, a excitação das novidades e a ânsia comercial despeitada pela propaganda. As pessoas assim se preservavam, conservando o car·áter autêntico de sua família e de sua região, sendo cada uma delas uma personalidade rica em particularidades. Precisamente esta riqueza tornava interessante o contacto, pois de que vale encontrar·-se com pessoas padronizadas pela propaganda, tal como cada um dos outros? Se nesses "salões" a delicadeza cortês e as sutilezas de linguagem podiam não ser a nota dominante, como na capital, a autenticidade das almas oferecia uma variedade de car·acteres também ela encantadora. Este esplendor das relações sociais conferiu à Belle Époque seu qualificativo de bela, tornando-a inesquecível.

Invenções moden1as e mudanças sociais Entretanto, havia o outro lado - realidade contraditória com o encanto social da Belle Époque. Ela representa a segunda impressão que Jogo vem à lembrança, ainda hoje,

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quando pensamos naquele período entre 1870-1914. Essa realidade se apresentou insidiosamente às pessoas de então, sob a máscara atraente do enorme progresso técnico. As cidades grandes foram as primeiras a adotar as invenções: eletricidade, telefone, rádio, cinema, bicicletas, automóveis. As conquistas el a tecnologia entusi asmavam. Os olhos se enchiam ele lágrimas ao verem os primeiros balões dirigíveis contornar as torres das catedrais ou ao se ter notícia, na Patagônia ou no Saara, da vitória japonesa em Port Arthur, no momento em que as armas ainda fumegavam: o telégrafo dava ao homem um novo senso de sua presença na Terra. Acreditava- e que a máquina a vapor e a eletricidade dariam ao mundo uma forma de felicidade nunca antes obtida. Acontece que o progresso técnico trazia em seu bojo profundas mudanças sociais e morais, dele insepar·áveis. Poucos viram es ·e perigo. Desejava-se juntar ao esplendor social os confortos trazidos pela técnica. Mas a máquina , trazendo velocidades e a produção em massa, minava a sociedade. O trem - e Jogo depois o automóvel - trouxe o gosto pelas viagens - nascia o turismo, vi sitavam-se estações balneárias e montanhas desconhecida da maioria. Consequentemente incrementava-se o esporte om ele a modificação dos trajes, adaptados às novas maneiras e se mpre tendentes a considerar co mo aceitável o que at pouco antes era visto como imoral. O esporte separava as crações, pois os mais velhos ainda não os praticavam em razão das normas cio decoro: como era ridículo ver alguém cl fraque e cartola pedalando bi cicletas ! Com o esporte vi ram as danças cujo ritmo parecia competir com a velocidad' das máquinas, acelerando-se sempre, sempre mais sensuais. Do minueto passara-se à valsa, da valsa ao charleston e a tango. A indústria empregava moças e elas, ainda então Ii adas aos círculos da família paterna até o casamento, passaram a trabalhar como operárias ou secretárias, tornadas in l ' pcncles pelo salário. Aumentavam as uniões fora dos laços sa raclos do matrimônio eh tão, aparec iam os pri meiros casos de divórcio, caía a prática religiosa. Em vários

países europeus aumentava a prostituição. A glorificação das velocidades intoxicou os espíritos que passaram a se distanciar de toda forma de recolhimento. Entre os balões dirigíveis e a torre da catedral, esta passou a representar o passado petrificado enquanto os dirigíveis simbolizavam o futuro, o movimento, pois eles permitiam o descortino de horizontes mais vastos.

Utopia socialista, desluzimento de uma bela época Politicamente, os republicanos oriundos da Revolução Francesa viam com simpatia os novos costumes. Sabiam que a decadência moral dos anos precedentes à Revolução de 1789 tinha sido uma das principais causas da vitória revolucionária. Partidários do progresso e da técnica consideravam os restos de tradições cristãs como incompatíveis com os novos tempos. Essa mesma corrente evoluía, aos poucos, rumo à aceitação da utopia socialista. Tanto os aficionados à elevação social daqueles anos, na qual viam um ideal a ser conservado, quanto os partidários do progresso tiveram enorme sobressalto com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em meados de 1914. Os primeiros viam no terrível conflito a destruição de tradições tão preciosas e belas. Os outros, por reconhecer no progresso o criador de máquinas mortíferas nunca antes fabricadas. A brutalidade da Guerra sufocou na lama das trincheiras e nos gazes mortíferos a beleza daquela época. O mundo nunca mais voltou a ser o que era. O esplendor social empalideceu para em seguida entrar em obscuro ocaso. Hoje, em meio às frustrações de uma sociedade altamente tecnológica e vazia de conteúdo moral e religioso, um número crescente de pessoas admira o esplendor e lamenta o desaparecimento daquela doce liturgia que no convívio da Belle Époque regulava os atos de cortesia. • E-ma il para o autor: catolic ismo@terra.com.br

A brutalidade da Guerra sufocou na lama das trincheiras e nos gazes mortíferos a beleza daquela época

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libertar o povo de Israel oprimido no Egito pelo Faraó. Falava com Deus face a face como se fala a um amigo" (do Martirológio Romano - Monástico).

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l Santa Margarida de Riéti , Virgem + Florença, 1770. De abastada família, entrou aos 19 anos para o Carmelo, tendo ali falecido como grande mística aos 23 incompletos. Pelo seu empenho em não aparecer ficou conhecida como a Santa da Vida Oculta.

2 Santo Antônio, Mártir + Síria, séc. IV. "Jovem cristão de 20 anos, cortador de pedras por profissão, quebrou em pedaços ídolos pagãos. Foi por esse motivo condenado a morrer na própria construção de uma igreja em que estava trabalhando" (do Martirológio Romano - Monástico). Primeira sexta-feira do mês.

3 São Gregório Magno, Papa, Confessor e Doutor da Igreja + Roma, 604. De família senatorial romana, muito jovem foi prefeito da cidade. Herdeiro de enorme fortuna, ele fundou seis mosteiros, fazendose beneditino em um deles. Delegado Apostólico em Constantinopla, e depois Papa, exerceu o governo da Igreja com firmeza e energia, destacando-se sua atuação na organização do culto e do canto sacro. Primeiro sábado do mês.

4 Patriarca Moisés, Profeta + Palestina, séc. XIII a.e. Profeta e legislador, Moisés "recebeu de Deus a missão de

São Berlino, Confessor + Luxeuil (França), 700. Este patriarca fundou com Santo Omer a abadia de Luxeuil, da qual 22 monges foram elevados às honras dos altares.

6 Seis bispos africanos. Mártires + África, séc. VI. Estes pre1ados, "como verdadeiros pastores ofereceram suas vidas pelos seus rebanhos durante a perseguição do Rei Hunerico" (do Martirológio Romano) .

7 Santa Regina de Alésia, Virgem e Mártir + Borgonha, séc. II. Seu culto na Borgonha "é documentado desde o século V por uma basílica edificada sobre seu sarcófago. Uma tradição designa assim o lugar do martírio de Alésia: 'Aqui César venceu a Gália; aqui uma virgem venceu César"' (do Martirológio Romano - Monástico).

8 NATíVIDADE DE NOSSA SENHORA

9 São Pedro Claver, Confessor + Cartagena (Colômbia), 1654. Apóstolo dos Negros. Nasceu na Espanha e partiu para a então Nova Granada, dizendo: "Quero passar toda minha vida trabalhando pelas almas, salvá-las e morrer por elas". Foi o que fez, vivendo por mais de 40 anos no apostolado entre os negros, morrendo vítima de moléstia

contraída ao atender empestados.

10 Santa Pulquéria Imperatriz, Viúva + Bizâncio, 453. Batizada por São João Crisóstomo, ainda jovem fez o voto de virgindade com suas duas irmãs mais novas. Aos 15 anos sucedeu ao pai, pois seu irmão, Teodósio II, ainda não havia atingido a maioridade. Tendo que se afastar da corte devido aos ciúmes da cunhada, voltou a pedido do Papa São Leão para combater as heresias de Eutiques. Com a morte do irmão, tornou-se imperatriz. Para estabelecer sua autoridade, casou-se com o general Marci ano, com quem viveu em castidade.

11 São ,João-Gabriel Perboyre. Mártir + China, 1840. Depois de ter trabalhado na formação da juventude em várias escolas católicas da França, foi enviado para as missões na China. Deus atendeu seu pedido, concedendo-lhe a graça do martírio durante uma inesperada e cruel perseguição.

12 Santíssimo Nome de Maria

13 São João Cl'isóstomo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja +Armênia, 407. Um dos quatro grandes doutores da Igreja Oriental e bispo de Constantinopla, notabilizou-se pela rara eloquência, de onde seu nome Crisóstomo (boca de ouro). Perseguido e desterrado pela Imperatriz Eudóxia, morreu a caminho do exílio. São Pio X declarou-o patrono dos oradores cristãos.

14 EXAL:J'AÇÃO DA SANTA CRUZ

·15 NOSSA SENHORA DAS DORES Festa instituída por Pio VII em 1814, em substituição a duas outras muito antigas , para rememorar as dores da Co-Redentora do gênero humano.

16 Santa Edite, Virgem + Wilton (Inglaterra), 984. "Filha do Rei Edgar, da Inglaterra. Consagrada a Deus desde a mais tenra inj'flncia (no Mosteiro de Santa Maria, em Wilton), morreu aos 23 anos, pranteada unanimemente por suas irmãs" (do Martirológio Romano - Monástico).

tre os chifres. Eustáquio converteu-se e sofreu o martírio com a esposa e dois filhos, assados dentro de enorme estátua de metal aquecida.

2 :t São Mateus, Apóstolo e Evangelista + Antioquia, séc. 1. Deixou sua mesa de arrecadador de impostos em Cafarnaum quando o Senhor, fixando-o, disse-lhe simplesmente: "Segue-me". Foi o primeiro que, por inspiração divina, escreveu o Evangelho. Segundo a Tradição, foi martirizado em Antioquia ou na Etiópia, onde teria instituído um convento de virgens.

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São Roberto Belarmino, Bispo, Confessor e Doutor da -Igreja + Roma, 1621. Jesuíta, autor das admiráveis Controvérsias, obra em que refuta ossofismas protestantes. Foi arcebispo de Cápua, cardeal, consultor das principais congregações romanas e conselheiro de vários Papas.

Santo Emerano, Bispo e Mártir + Alemanha, séc, VII. Apóstolo da Baviera, foi martirizado pelos pagãos. Sobre o seu túmulo foj erguida a abadia beneditina de Kleinchelfendorf, que se tornou lugar de peregrinação.

'18 São João Macias, Confessor (Vide p. 22)

2~J São Pio de Pietretcina, Confessor

24 Nossa Senhora das Mercês

19 Aparição de Nossa Senhora em La Salette (França) Em l846, aos dois pastori nhos Maximin e Mélanie, recomendando a oração quotidiana e a santificação dos domingos. Denunciou, em termos candentes, os pecados do clero.

20 Santos Eustáquio e companheiros, Mártires + Roma, 120. Eustáquio foi um dos maiores generais do exército romano imperial e notável por sua caridade, apesar de pagão. Numa caçada, o cervo que perseguia voltouse para ele com uma cruz en-

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Beato Hermano Contractus, Confessor + Baden, 1054. Filho de condes, ao nascer foi vítima de um traumatismo obstétrico, ten do de ser carregado no colo durante toda sua vida. Daí o cognome de Contractus ou Entrevado. Mas a Providência compensou essa lacuna corporal com dons de inteligência que lhe mereceram o utro cognome , o de Maravilha do século, por sua ciência e vir,tude.

26 Santa Teresa Coudül'C, Virgem

+ Lião, 1885. Fundadora da Congregação de Nossa Senhora do Cenáculo, dedicada à obra dos retiros espirituais para senhoras, sofreu toda sorte de humilhações, ingratidões , rivalidades, sendo mesmo destituída do cargo de superiora da obra que fundara, sendo-lhe negado o título de fundadora.

27 São Vicente de Paulo, Confessor + Paris, 1660. Cognominado o grande Santo do grande século na França. Fundador dos Lazaristas e das Irmãs de Caridade. Praticamente não houve atividade religiosa ou de caridade a que não estivesse ligado. Os religiosos e as religiosas das congregações por ele fundadas foram peças fundamentais para fazer o protestantismo retroceder e perder força naquele país. No Conselho de Regência, foi responsável pela nomeação de, bispos virtuosos, o que auxiliou a realização de uma verdadeira reforma religiosa. Incentivou uma cruzada contra a Inglaterra, que naquela época perseguia cruelmente os católicos. O empreendimento não foi possível devido à oposição do Cardeal de Richelieu.

Intenções para a Santa Missa em setembro Seró ce lebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções : • Rogando especial proteção de São Miguel Arcanjo - festividade celebrada no dia 29 de setembro - para a Igre ja, perseguida e mal defendida em nossos dias. E também pedindo que o Príncipe da Milícia Celeste defenda os fiéis católicos, auxil iando-os a resistir a todas as infestações diabólicas tão freq uentemente causadas pe lo poder das trevas.

28 São Wenceslau da Boêmia, Rei e Mártir

29 Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael

30 São .Jerônimo , Confessor e Doutor da Igreja Santo Honório, Bispo e Confessor + Cantuária, 653. Discípulo e sucessor de Santo Agostinho na Sé de Cantuária, seguindolhe os passos na evangelização dos anglo-saxões.

Intenções para a Santa Missa em outubro • Em louvor a Nossa Senhora Aparecida, implorando sua especial intercessão para que o Brasi l corresponda efetivamente a tão eleva do privilégio de tê-la como Rainha e Padroeira, e os brasileiros se tornem súditos inteira mente fiéis a tão excelsa Soberana.

SETEM


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Conferência sobre Cristofobia surpreende o público pela extensão inaudita da perseguição aos cristãos li EDSON CARLOS DE OLIVEIRA

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ob o tema "Cristofobia: Por que são mortos e perseguidos os cristãos de hoje?", o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promoveu, na noite de 4 de agosto último, mais uma importante palestra na capital paulista. O auditório do Mosteiro de São Bento voltou a estar lotado, desta vez para ouvir um relato da perseguição que, aberta ou veladamente, o cristianismo tem sofrido nos dias atuais. A conferência foi proferida pelo especialista na matéria, Prof. Alexandre dei Valle, professor de Relações Internacionais na Universidade de Metz, França, e consultor de Geopolítica em diversas importa ntes instituições europeias, com vários livros publicados. Na abertura do evento, o Dr. Adolpho Lindenberg, presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, fez uma breve apresentação do Prof. dei Valle e do importante trabalho que ele desenvolve na Europa denunciando a ameaça mulçumana para a civilização cristã. E chamou a atenção quanto ao uso da palavra "mulçumana", e não da "árabe", porque a ameaça é religiosa e não racial.

* * * Em sua palestra, o Prof. dei Valle alertou para o fato de que o cristianismo é a Religião mais perseguida no mundo. Os dados e exemplos fornecidos por ele mostram o quanto nossa mídia nada ou pouco divulga sobre o assunto. Quinze milhões de cristãos são perseguidos e humilhados em países mulçumanos e 20 milhões foram exilaCATOLICISMO

conhecida. Segundo, a asiática - budista ou hinduísta -, menos conhecida, mas muito mai s criminosa em termos de números e violência. Terceiro, a comunista, marxi sta e socialista. Quarto, a ocidenta l, menos violenta na aparência, mas mu.ito perversa, cujo objetivo é destruir a civilização cristã. Cada um desses vetores foi detidamente anali sado duran te a palestra, que pode ser assistida n site do In stituto Plinio Corrêa de Oli veira (www.ipco.org.br). Para Prof. dei Valle o Ocidente, adormec ido, pass ivo e por vezes até cúmp lice dessa realidade, acordou um pouco 0111 fatos atuais que vieram a públi o. Por exemplo, com os atentado cont ra cr istãos em Bagdá e em

eclipsada pelas imagens das revoluções árabes, muito elogiadas pela mídia ocidental, durante as quais os cristãos continuaram sendo perseguidos. Segundo o Prof. Alexandre, "as notícias divulgadas pela mídia são apenas a ponta do iceberg da perseguição que os cristão sofrem ".

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dos em um século, número maior que o dos refugiados palestinos, aos quais os meios de comunicação têm concedido muito realce.

Entre 1960 e 2000, dois milhões de cristãos foram assassinados no Sudão do Sul. O conferenci sta ressaltou que muito se fala dos 300 mil mu lçumanos assassinados no Darfur, enquanto o genocídio de cri stãos no Sudão normalmente é esquec ido. Por quê? Para o pales trante, no mercado midi áti co de " vitimologia", a vítima mulçumana vale mais que a cristã. Mas essa culpa não é tanto dos mulçumanos, quanto dos próprios cristãos, que não falam ou não se interessam por esse ass unto. Por isso ele parabenizou o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, por abrir espaço para que esse sombrio panorama seja apresentado ao público. "O cristão tem que falar desse problema" , disse.

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O conferencista dividiu em quatro os vetores promotores da cri stofobia. Primeiro, a cristofobia islâmica, a mais

Alexandri u no ano passado, quando os terrori stas 1 ritavam, segundo relatos dos obr 'viv ntes: "inferno aos cristãos ·aclwrros que de viam morrer como i11/1 /.1· que se recusam a abjurar suafé". 'l11 111bém fa lou do exílio, ocorrido no nn o passado, de cristãos do Iraque, obri •udos a escolher entre fa zer as mul us ou morrer. Isso tudo fez abrir os o lhos dos euro peus para a existência d ·ri sti1os no Oriente, pois ele até então p •nsnvam que árabes só podiam ser mulçumanos. "Na Ew ·o11a se pede perdão, contabiliza-se , t·rltic·<1-se a islamofobia. No entanto, nos /lttf.1·es mulçumanos, ninguém conta/Ji/iza, ninguém pede perdão para nada, ,, ainda há pessoas muito ufanas de per.1·,·~uir e matar cristãos ", disse o Prof. ti •I Vulle. Mas essa tomada de consciência repentina dos ' urnpeus foi rapidamente

Numa demonstração de grande interesse pela matéria, no fina l da conferência o auditório e os espectadores que acompanhavam a palestra pela Internet enviaram dezenas de perguntas ao Prof. dei Valle. O príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança encerrou o evento com agradecimentos ao palestrante, ressaltando que desde o fim da II Guerra Mundial o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira já alertava para o fato de que o islamismo se tornaria um perigo futuro para o Ocidente. • E- ma il para o autor: cato lic ismo @1erra.co111 .br

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Caravana em defesa da Família ■ GABRIEL FERRE IRA

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omo é do conhecimento geral, o malfadado Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) constitui séria ameaça para o Brasil. Nos últimos meses pouco se tem ouvido falar dele. Deixou de existir? Foi arquivado? Seus mentores desistiram? Não. Os defensores desse programa não descansam. Estão sempre procurando alguma maneira de implantá-lo. Ora por investidas furibundas contrárias à família, como é o caso da campanha a favor do aborto, do "casamento" homossexual, etc., ora metamorfoseando-se e dando a impressão de ter desaparecido. Mas basta surgir uma brecha no horizonte para que os propugnadores desse programa voltem a mostrar suas garras e, muitas vezes, mais empenhados do que antes. Felizmente, os voluntários do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira também não descansam . Com o intuito de, tanto quanto possível, não deixar brechas para os adversários da civilização cristã, parte do território nacional foi percorrida no mês de julho por mais uma Caravana Terra de Santa Cruz. Os temas focalizados: alguns dos males que o PNDH-3 visa implantar no País, como aborto e "casamento" homossexual. Procurando alertar a opinião pública contra as manobras do movimento abortista e tirar todas as dúvidas a respeito do tema, os jovens caravanistas divulgaram o livro Catecismo contra o Aborto, de autoria do Pe. David Francisquini. Além disso, foram distribuídos milhares de folhetos explicativos contra o PLC 122, mais conhecido como "Lei da Homofobia".

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Desta vez a caravana dividiu-se em três grupos: o primeiro - caravana São Miguel - percorreu o interior de São Paulo [fotos 2 e 4]; o segundo - São Gabriel - atuou no Paraná e em Santa Catarina [foto 3]; e o terceiro - São Rafael - dirigiu-se ao sul de Minas e à região das cidades históricas [foto 1). É indispensável mencionar que os três grupos partiram com as especiais bênçãos de Nossa Senhora de Fátima, cuja imagem peregrina que verteu lágrimas em Nova Orleáns (EUA) visitou a sede do Instituto f linio Corrêa de Oliveira pouco antes de as caravanas iniciarem seus itinerários [vide p. 50). Essas graças estenderam-se ao público, pois foi com grande receptividade que o brado de alerta dos jovens caravanistas foi acolhido. Constatamos que a população não se tem deixado impressionar pela propaganda da mídia em prol do aborto e do "casamento" homossexual. O que encontramos, de modo geral, foram pessoas "cristalizadas" contra tais abominações, e que felicitavam os jovens: "Até que enfim alguém está fazendo alguma coisa". Houve uma "meia dúzia de gatos pingados" que nos insultavam e tentavam contestar-nos, sempre sem argumentos. E os espectadores facilmente discerniam com quem estava a razão.

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Num total de dez dias foram percorridos pelas caravanas 7 .000 quilômetros, visitadas 52 cidades e divulgados 1638 livros, esgotando-se assim a segunda edição do Catecismo Contra o Aborto (cada edição de 5 mil exemplares). Alguém poderia dizer: "Mas vocês

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perderam suas f érias com essa atividade"- A resposta é simples. "Não só não perdemos nossas férias, mas ao .ftnal da caravana todos seus componentes tinham a certeza de ter cumprido o seu dever; dificultando a ação dos que tentam encontrar uma brecha para destruir de vez a instituição familiar no Brasil ". Agradecemos a todos os que nos acolheram durante essa nossa cruzada e contamos com as orações dos leitores para o sucesso da próxima Caravana Terra de Santa Cruz. • E- mail para o autor: catolicismo@ terra com br

CATOLICISMO SETEMBRO 2011

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'IlP britânica acolhe

Foto oficial diante da sede da TFP em Glasgow

universitários italianos 11!1 NELSON

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FRAGELLI

Visita à abadia de Cambuskenneth, destruída pelos protestantes no séc. XVI, como a quase totalidade dos edifícios religioso da Escócia

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TFP italiana organiza anualmente um simpósio de estudos para universitários. Durante a primeira semana de agosto do presente ano ela os reuniu na sede da TFP Britânica, eni Milngavie, nas proximidades de Glasgow (Escócia). Esta sede encontra-se estabelecida em secular casa de fazenda agrícola construída com sólidas e bem talhadas pedras róseas, em estilo despretensioso e calmo ainda não afetado pela moderna ânsia de funcionalidade. Seus edifícios evocam, em tamanho reduzido, a disposição arquitetônica das abadias da região, cujas ruínas plangentes foram visitadas com veneração pelos universitários. A essa evocação não falta sequer um claustro interior, onde uma bacia talhada em pedra, outrora destinada a dessedentar animais, hoje recorda as fontes dos claustros abaciais.

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As reun iões versaram sobre a civilização cristã e os momentos auges desta na história da Escócia, bem como sobre as suas principais figuras: santos e heróis da envergadura da Rainha Santa Margaret, de São David I, de William Wallace e Robert de Bruce, de Maria Stuart, a rainha mártir, entre outros. O esti lo gótico, enquanto expressão cultural da Cristandade, foi analisado nas obras de August Pugin [ 1812-1852), arquiteto britânico, católico, célebre pelas igrejas que construiu e sobretudo pela execução do imponente edifício do Parlamento Britânico, em Londres. Alargando a visão teórica exposta nas conferências, uma parte do programa foi destinada a visitas aos castelos de Edinburgh, de Stirling - "elevado sobre o precipício, ele domina os vales"-; de Inveraray, e aos centros históricos das cidades de Edinburgh e de Glasgow. Diante de tal espetáculo as fisionomias dos jovens mudavam, tornando-se por vezes quase sonhadoras, tal como ao ouvir "a solitária gaita de fole" no alto das muralhas do Castelo de Edinburgh, ao final da apresentação do espetáculo militar - o Tattoo - , numa noite úmida e escura. Não faltou visita a uma destilaria de whisky, com degustação local, aprofundando assim o contacto cultural com a região. A placidez dos lago , a chuva miúda e contínua, as brumas - parecendo velar enigmas além da percepção deixavam pensativos os buliçosos italianos.

* * CATOLICISMO

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Aos poucos, com o aprofundar da análi se histórica e de sua comparação com os presentes dias, os jovens se davam conta do estado precário em que se encontra hoje a c ivilização cristã: a descristianização da Europa, a dissolução da família, os ataques crescentes à Igreja, as perseguições aos católicos os deixavam reflexivos. Alguns reviam as priori dades anteriormente estabelecidas para seu futuro. Rico em tragédias, em mártires e gloriosos santos, o passado escocês pairava como majestosa parábola sobre essas reflexões. A Mensagem de Fátima, tão apropriada a interpretar os atuais acontecimentos, trazia esperança ao drama contemporâneo e levava os jovens a cerrar fileiras com a Contra-Revo lução. A assistência espiritual aos universitários, bem como a celebração da Missa quotidiana foi poss ível graças à presença um jovem sacerdote romeno . Ele viveu sob a ditadura e a miséria do comunismo, podendo assim apontar na sociedade europeia de hoje sinai s de desagregação moral semelhantes aos então existentes no murido soviético. Esse sacerdote estava acompanhado de três outros romenos, desejosos de estabelecer em seu país uma ação contra-revolucionária. A presença de dois outros jovens, um holandês e um austríaco, completou o número de 22 participantes. Um solene jantar tipicamente escocês encerrou a Semana de Estudos. Um haggis (bucho de carneiro recheado com vísceras ligadas com farinha de aveia) regado a whisky levou os jovens italianos, habituados à leveza do fettuccini ou spaghetti, à digestiva luta. A despedida trazia o duplo sentimento de tristeza pelo término de um convívio formativo e de animosa esperança pelas perspectivas abertas . •

Sobre a velha ponte de Stirling, onde em 1297 William Wallace derrotou as tropas inglesas de Eduardo li

E-mail para o autor: catoli cismo@terra.corn .br

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Visita da maravilhosa

Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima (!!'J PAULO ROBERTO CAMPOS

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ntre os dias 16 e 19 de julho, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira teve a honra de receber em sua sede na capital paulista a Imagem Peregrina Internacional de Nossa Senhora de Fátima, proveniente dos Estados Unidos. Essa imagem foi esculpida em cedro brasileiro sob a orientação da Irmã Lúcia, uma dos videntes de Fátima, que descreveu ao escultor as feições de Maria Santíssima por ocasião das aparições de 1917 na Cova da Iria. Em julho de 1972, numa igreja da cidade de New Orleans (EUA), a imagem milagrosamente verteu lágrimas. Uma histórica fotografia que registrou o fato sobrenatural percorreu naquele ano os jornais do mundo inteiro [foto à direita] . O momento da lacrimação foi testemunhado por muitos fi éis presentes naquela igreja e as lágrimas foram depois analisadas meticulosamente. A respeito, aconselhamos a leitura do artigo Lágrimas, Milagroso Aviso, de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em 6-8-72 na "Folha de S. Paulo" e depois em diversos outros periódicos. O autor explicita o s ignific ado do pungente pranto da Virgem Santíssima - uma Mãe que, não tendo mais o que dizer, chora. Esse memorável artigo encontra-se disponível no seguinte link: www.pliniocorreadeoliveira.info/FSP%2072-0806% 20Lágrimas.htm

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Após alguns abençoados dias de veneração na sede do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira - durante os quais a presença de Nossa Senhora como que se fez sentir-, soou a hora do retorno para Washington da maravilhosa Imagem Peregrina. A foto na página da direita embaixo, capta o momento da despedida no aeroporto de Guarulhos , onde ela ficou exposta ao público por alguns instantes no saguão da ala internacional. Numerosas pessoas aprox imaram-se dela para rezar e tirar fotografias. Alguns comentaram sua extraordinária e belíssi ma expressão, através da qual Nossa Senhora parecia falar interiormente a cada um dos circunstantes. CATOLICISMO

Dentre as repercussões colhidas no aeroporto, citemos uma muito significativa: Uma senhora chorava. Ela contou a um amigo que estava para abandonar a Igreja Católica, mas "a fisionomia da imagem de Nossa Senhora foi a resposta que esperava". E assim, resolutamente, tomou a nobre decisão de permanecer católica. • E-mail para o autor: catolic ismo @terra.com br (*) Outro artigo de Plínio Corrêa de Oliveira sobre a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, intitulado PEREGRINANDO DENTRO DE UM OLHAR, e nco ntra-se disponível no link : http://www .pliniocorrea deoliveira.info/FSP%2076- 11 - 12%20Peregrinando. htm

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maometanos - com risco de vida ev idente, ass im como ri sco de profanação dos lugares sagrados, de violação das mulheres das redondezas - , era então a hora da coragem, aq uelas mãos empunhavam a espada. *

mosteiro de 'Rodilla Torre de um mosteiro-fortaleza evocando heroísmo 11 PuN1 0 CoRRÊA DE O uvE 1RA

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o mos te iro de Rodilla (construído no século X, na região de Burgos, na Espanha) restou apenas uma torre sobre uma e levação. É inegável que o fotógrafo focali zou um ângul o que causa uma impressão de heroísmo verdadei ramente sublime. Por que provoca tal impressão? Um mosteiro não fo i construído para se rezar? Co mo então ele te m uma torre combativa como essa? Que sentido tem um mosteiro-torre? Um mosteiro-fortaleza não é algo irreal? A resposta é simpl es. Devido às guerras que a Espanha teve de enfrentar - guerras de re li gião de mao-

metanos-árabes co ntra cató licos - , os moste iros eram ferozmente atacados pe los muçulmanos, porque eles queriam extermina r a Religião católica. Tais mosteiros muitas vezes estavam s itu ados no campo, pois os monges queriam viver em reco lhi me nto, longe das c idades. E para tal objetivo, prec isavam viver protegi dos dos ataq ues dos infi é is. Daí a construção de mosteiros-fortalezas. Eram verdadeiras fortalezas , defe ndidas por monges obri gados pelas ex igências a serem mo nges-guerre iros. Suas mãos, muitas vezes ungidas, seguravam o cá li ce, o rosário, benziam, ministravam os sacramentos, davam abso lvição - eram mãos símbolos de bênção e de paz. Entretanto, se de longe e les vi s lumbrava m os

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A torre tem qualquer coisa de heróico. Sólida e grossa para res istir a toda espécie de ataques, essa torre de combate como que brada: "Aqui estou, daqui ninguém. me Lira, resistirei a tudo!" E la é testemunha de glori osas e antigas batalhas, de uma missão hi stórica esplendidamente reali zada; uma lembra nça do passado, qu ase uma relíquia abençoada pelo Céu. Notem como o fotógrafo fo i feli z ao registrar, com muito senso artístico, o movimento das nuvens ac ima da torre. Tem-se a impressão de que a lu z avança por esse céu che io de nuvens, ilumina e co bre a construção com um a espécie de auréola - símbolo do amor de Deus que paira e ajuda a co mpreend er a alta expressão mora l da torre.

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Para e sentir bem ao vivo o qu ·,nto as inovações do nosso sécul o têm de degradante, imaginem junto à torre, por exemplo, um jipe ... A simpl es presença de tal veículo estragaria o panorama, como que in sultaria a torre. Aliás, qualquer máquina mod ma - um trator ou mesmo um lind o Mercedes Benz ou um Rolls Roy ·e não ficari a bem perto dessa torre. A marca mecânica de nosso sécul o não se compagin a co m esse panonm:i heróico. •

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 5 de maio de 1984. Sem revisão do autor.



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Octogésimo aniversário do Cristo Redentor certos de dois discursos de Plínio Corrêa de Oliveira a respeito do tema : o desta página, pronunciado em 1412- 1968, e o da última capa, proferido em 17- 10- 1978 . Cumpre ressaltar que o Prof. Plínio esteve pre à inauguração do Cristo Redentor, a convite do cardeal -arcebispo do Rio de Janeiro, Dom S b Leme da Silveira Cintra.

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"Cristianofobia " e Islamismo no mundo atual

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Prof. Alexandre dei Valle

(1931 - 2011) Tendo como pedestal o Corcovado, no dia 12 de outubro de 1931 era inaugurada no Rio de Janeiro a estátua do Cristo Redentor. Principal "cartão postal" daquela cidade e referência do Brasil no mundo inteiro , ela foi eleita em 2007 como uma das "Sete Maravilhas do Mundo Moderno" . Como homenagem de Catolicismo pelo transcurso dos 80 anos da monumental imagem, oferecemos ex-

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Reforma Agrária fracassada e "agroecologia" Santa Maria Francisca das Cinco Chagas

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A monumental imagem do Cristo Redentor no alto do Corcovado

Nossa Capa: Fac-símile da capa da revista "Carta Capital", edição nº 657, de 1-8-2011. Foto de Plinio Corrêa de Oliveira na época de seu primeiro livro contra a Reforma Agrória.

Cavaleiro franco em batalha OUTUBRO 2011 -


Nova defesa para novo tipo de combate espiritual

Caro leitor,

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Paulo Corrêa de Brito Filho Jornsl/sts Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

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CATOLICISMO Publicação mensal ds Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.

É uma tradição de Catolicismo publicar, na edição de outubro, matéria alusiva ao seu inspirador e maior colaborador, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, falecido no dia 3 de outubro de 1995. Desta feita, curiosamente, foi uma publicação de esquerda - a revista "Carta Capital", de São Paulo - que forneceu material precioso para homenagearmos aquele insigne pensador católico. Em recente edição, cuja capa vinha marcada por um cemitério contendo um sem-número de cruzes, um boné do MST sobre uma delas, e a inscrição "Reforma agrária, descanse em paz", aquele órgão esquerdista patenteou com fidelidade o abatimento fúnebre que domina o "movimento social" (melhor se diria, anti-social) mais trombeteado no Brasil, bem como o mal-estar da esquerda brasileira pelo fracasso da Reforma Agrária no Brasil. Dolorosa confissão da esquerda, a qual foi com maestria aproveitada p l nosso colaborador José Carlos Sepúlveda da Fonseca, que denunciou também os chavões propalados há décadas pelos agro-reformistas, suas afirmaç es ntraditórias ou gratuitas, suas distorções e graves omissões. Em face dessa situação e considerados os fatos em profundidade - up , mais de cinco décadas de sucessivas tentativas de implantação d uma R ·forma Agrária radical, ora de modo furibundo, ora sibilino - , o arti uli sta I' •ssalta a figura de Plinio Corrêa de Oliveira, a quem o Bra il dev frn usso da investida agro-reformista que poderia ter arrastado o Pa(s para fl nil s riu ou para convulsões sociais inauditas. Principal autor do best-seller Reforma Agrária - u ' S I o d,• 0 11,1d 11 ·lo, lançado em 1960, o Prof. Plinio desenvolveu ainda muit s out ros lu11 ' llS ,m defesa do campo brasileiro, durante décadas d atuu ·; o ·fi ·11:1, 111 fllvor da propriedade rural. Foi autor de numerosos livros, f' •z in ·011t v ·Is pro,11111 ·iumentos, participou de debates, escreveu arti os, HI 111 d dlrij'ÍI' 1wssonl111 nt monumentais campanhas de âmbito na ional ·onlrn II I{ ro, mu Ai r ri I so ·!alista e confiscatória. O articulista ressalta também o pap •I sll'llt d o du R l'ornrn A l'~l'in ·omo favorecedora dos planos de dom ni o ·on11111 ist11, tanto no 13rnsll quant n mundo inteiro. Nessa linh a d p ·nsu m 1110, lndu 111: s' n ss País tive se sido dominado pelo comuni smo naqu •la po ·11, • vi ss' a servir de "celeiro" para a manutenção da e trutura do imp rio sovi li ·o, l ria este desabado em fins da década de 80 e infci d 1 1, com desab u? Tudo indica que não. Possam as consid ra • ' 8 i,np rlanles e reveladoras desta matéria auxiliar os prezados .l eitor s a ompreender em profundidade fatos transcendentais da história contemp rânea do Brasil e do mundo. Em Jesus e Maria,

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DIRETOR

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P or que Nossa Senhora de Fátima propõe a devoção a seu Imaculado Coração como solução para a imensa crise do mundo hodierno?

M VALDIS GRINSTEINS

uando li há muitos anos A mística cidade de Deus, da Venerável Sóror Maria de Agreda, chamou-me a atenção um ponto a respeito de Nossa Senhora: Ela tem o co cimento de todas as ciências, até mesmo das militares. Julguei isso um achado, porque não teria sentido que Deus concedesse a Ela tantos privilégios e a privasse nesse ponto. Mas, por outro lado, como provar que Nossa Senhora conhece táticas e estratégias? Quando analisamos as diversas devoções surgidas ao longo dos séculos à Santíssima Virgem - várias delas fruto de aparições ou revelações - compreendemos a existência de uma ligação lógica profunda entre o tipo de invocação e a época na qual essa devoção se tornou necessária ou até imprescindível. Isto é lógico, porque na luta espiritual, assim como na guerra, as armas se adaptam ao tipo de combate e a luta se trava de acordo com o gênero de armas existentes. Quando não havia pólvora nem artilharia, as pessoas se protegiam em castelos com altas muralhas, isolados numa montanha ou em algum local de difícil acesso. Com odescobrimento da pólvora - e com ela dos canhões - isto já não era suficiente e as pessoas procuravam se resguardar dentro de fortificações sólidas, como tantas existentes no litoral brasileiro. Quando nem isto foi suficiente, as pessoas passaram a camuflar tanto quanto podiam o local onde se escondiam, evitando assim ser vítimas de bombardeios.

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Para cada situação, nova devoção A história da luta espiritual entre a luz e as trevas obedece a semelhante lógica. Quando, no início da Cristandade, a corrupção no mundo pagão era generalizada, tornaram-se necessários exemplos ostensivos de vida virtuosa, ou de mártires que provassem pelo heroísmo a existência de outro mundo. Nossa Senhora era então apresentada como a Virgem e a Mãe casta por excelência. Quando começaram a surgir Estados cristaos, impôs-se o aparecimento de governantes e

A devoção do escapulário - símbolo de que servimos a uma Rainha muito poderosa

governados virtuosos e, sobretudo, de devoções a Nossa Senhora enquanto Rainha. Para deformar essa virtude, o inimigo infernal açulou o orgulho, que rejeitava servir determinado rei ou nobre poderoso. A Igreja respondeu a essa revolta mediante a devoção do escapulário - símbolo de que serv imos a uma Rainha ainda mais poderosa. Depois, quando o demônio e seus sequazes começaram a difundir doutrinas erradas, com desvios sutis e difíceis de replicar, apareceu o Rosário, em que se medita uma série de verdades elementares. Contrarrestou-se com isso a investida do adversário. OUTUBRO 2011 -


Quando o protestantismo esti mul ou o orgulho, apresentando-o como s uperioridade espi ritual, a Igreja ensinou as devoções a Nossa Senhora como mestra ela humildade. Surgiram então devoções como a da Divina Pastora, tão difundida pela Ordem dos capuchinhos. Por ocasião dos ataques externos, como o dos turcos muçulmanos para esmagar a Igreja , nasceram devoções como a de Nossa Senhora Auxiliadora dos Cri stãos. Antes e de pois da Revolução Francesa surgiu e propago u-se o Ilumini smo, para o qual só a razão é séria, e que tudo aquilo que não se prova no âmbito das ciências naturai s (como a existência de Deus) não pode ser levado em conta. A Igreja então nos lembrou a be leza dos mistérios mariais, como o da Imaculada Conceição. E não é mera casualidade o fato de Nossa Senhora de Lourdes operar milagres que até hoje deixam atônitos os que veem na ciência a única porta do conhecimento. Ficou mais do que provado ter havido uma intervenção sobrenatural nos extraordi nários milag res de Lourdes, obrigando os que vilipendi am a fé à incômoda posição de não poderem explicar cientificamente o que não podem negar.

Devoção ao Imaculado Coração de Maria Chegamos assim aos nossos dias, com uma crise espiritual, moral, política e financeira generalizada. Como contestar e se opor à pretensão moderna de que a lcançamos o melhor nível de vida da Hi stória, a me lhor organização social, e de que podemos faze r o que bem entendermos, até estabelecer estatutos de legalidade p ara desvios morais condenados claramente nas Sagradas Escrituras? É a própria Santíssima Virgem que em Fátima indica o remédio para tão grande mal: a devoção a seu lmacu lado Coração. Por quê? Se houve por um lado e norme progresso materi al nos últimos tempos, por outro ningué m pode negar que se ve rificou também um a decadê nc ia mora l imensa. Crimes antes diffcei de imaginar ocorrem hoj e co m freq uê nc ia. P esqui sas de opinião atesta m que as pessoas se mostram muito céticas em relação ao futuro, e os jovens tendem a admitir que terão uma vida pior que a de seus pai . Os pecados coletivos vão tomando uma proporção assu tadora. Na E uropa, a limitação da natalidade, causada pelo egoísmo e não pela pobreza, chegou a tal ponto que muitas pessoas se perguntam: seus países sobreviverão, ou irão desaparecer submergidos pe las ondas da imi gração?

-CATOLICISMO

Inauditas misérias e solução materna Quando os problemas chegam a um extremo, só a mudança rad ical resolve. De onde a nece sidade da imagem do coração - ou seja, mudar aqui lo que amamos com apego e começar outro modo de viver. Mas, por que então não conservar a devoção ao Sagrado o ração de Jesus, praticada desde o século XVIII? Por que mudar para o Coração de Maria? Eis aí outro problema de caráter psico lógico. Primeiramente, não se trata de mud ar nada. A devoção ao Imaculado Coração de M ari a somase à devoção ao Sagrado Coração de Jesus. E las como que formam uma só de voção. Acontece que o nível de pecado chegou a tal ponto, que alg uns poderiam pensar: é de mais um Deus perdoar tanto e, para isso, só mes mo o concurso materno poderá ajudar. Obviamente, do ponto de vi sta doutrinário, esta objeção é falsa. Deus Nosso Senhor é a própri a Misericórdia e, por maior que seja a bondade de Nossa Senhora, El a é um canal que traz até nós a mi sericórdia cl 'Ele. Mas como Deus toma em consideração as nossas mi sérias, para nos fazer sentir melhor sua infinita mi sericórdi a, EI aponta como saída uma solução materna. E, no fun do, as palavras de Nossa Senhora e m Fátima "Por fim o meu Imaculado Coração triw~/ará " podem ser assim interpretadas: " Vocês ·0111eterw11 lodo

tipo de crimes, mas meu coração 111atem o os ama a tal ponto, que mesmo assim e11 co111rei 11111a saída e vou conduzir ao é11 todos os f/11(' ,\'(' abrirem ao meu amor". com 'S la s' ,urnnça, ele que nossa Mãe vai nos uj ud ur, t qu • pod ·mos adquirir forças para ini ·iar o pro ·csso da r'forma de nossos ·ora '< •s, li<

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R ·sumindo, 1·mos hoj 'dois adversários espirituai s l •rr(v •is: por um lado, o apego ao pe·ndo, e a p ' ·ados incomensurávei ; por outro lado, a s -nsação de que fracas amo ele ta l forma, qu sem uma aj uda absolutamente ex trardinária não sairemos da triste situação em qu nos encontra mos. Para combater esses doi s inimigos ele nossa alma nos é oferecida uma arma dec isiva: a devoção ao Imaculado Coração de admirável M ãe, que move montanh as e resolve casos imposs íve is. E que prom te ademais, de maneira a não deixar dúvida s, um n vitória compl eta. Podemos depoi s disto duvidar da sabedoria qu ·, Sl'/'llÍ ll do as melhores regras de estratégia, govern a as 11çm·s de Nossa Senhora? •

De Anchieta ao CllVII, a torpe inversão

O

bem-aventurado José de Anchieta trabalhou com afi nco para converter os índios brasile iros à verdadeira Relig ião e assim afastá-los das práticas pagãs a que se entregavam. Eis o qu e ele relata em carta de março de J555 a seus superi ores: "Estes nossos catecúmenos [os índios em processo de conversão] parecem apartar-se um pouco dos seus antigos

costumes, e já raras vezes se ouvem os gritos desentoados que costumam. fa zer nas bebedeiras. Este é o seu maior mal, donde lhes vêm todos os outros. De f ato, quando estão mais bêbados, renova-se a memória dos males passados, e começando a vangloriar-se deles Logo ardem. no desejo de matar inimigos e na fome da carne humana. Mas agora, como diminui um pouco a paixão desenfreada das bebidas, diminuem as outras nefandas ignomínias; e alguns são-nos tão obedientes que não se atrevem a beber sem nossa licença." O benemérito esforço do mi ss ionário para trazer os índi os a Nosso Sen hor Jesus Cristo foi constante:

" Residimos aqui ao presente oito da Companhia, aplicando-nos a doutrinar estas almas e pedindo à misericórdia de Deus Nosso Senhor que finalmente nos conceda acesso a outras mais gerações, para serem subjugadas pela sua palavra. Julgamos que todas elas se hão de converter àfé, se lha pregarem." ("O Estado de S. Paulo", 20-1-04). Transparece nessas linhas a fé de um verdadeiro mi ssionário .

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ao banco dos réus agentes de saúde e da FLmai considerados omissos em casos de infanticídio em aldeias. A prática de enterrar crianças vivas, ou abandoná-las na floresta, persistiria até hoje em cerca de 20 etnias brasileiras. Os bebês são escolhidos para morrer por diversos motivos, desde nascer com deficiência física a ser gêmeo ou filho de mcie solteira. "ONGs e deputados evangélicos acusam o governo de cruzar os braços diante da morte de crianças. "O CIM/, da CNBB, também pressionou contra o projeto original. Segundo o secretário-adjunto do órgão, Saulo Feitosa, a prática seria 'residual': 'Ninguém defende o infanticídio, mas ncio podemos aceitar que vendam uma imagem de que todos os índios scio selvagens e sacrificam suas crianças'." T a l afirmação visa joga r are ia nos o lhos dos le itores, pois ningué m afirma que todos os índios sacrificam crianças. O problema é outro: como agir para impedir que crianças ejam sacrificadas por algumas tribos. Para Janete Pietá, relatora do projeto e deputada do PT, "a tradiçcio de sacrifi-

car crianças é mantida por poucas comunidades. O Brasil tem. mais de 200 povos indígenas. Se isso ainda ocorrer em 20, scio apenas 10%". O fato de o crime ser praticado por poucas com unidades não o torna menos hed iondo! Para o dirigente da Associação B rasileira de Antropologia, João Pacheco de Oliveira, "tirar índios de suas aldeias

para criá-los sob a ética cristci é uma interferência violenta ". Portanto, é proibido cristianizar. Cabe aqui reproduzir a constatação dolorida e indi gnada de Plínio Corrêa de Oliveira: "O maior problema suscitado

Hoje em dia está e m curso uma pressão ignóbil para que não se proc ure co nverter e civi lizar as tribos que praticam o infanticídi o e outras aberrações, sob pretexto de que se trata de uma "cultu ra" própria. Nesse sentido atua não só o governo federal, através da FUNAI, como também a CNBB, através do Conselho Indigeni sta Miss ionário (CIMI). Noticia a "Folha de S. Paulo" (7-8- 11): "Sob pressão do

por esses delírios ncio está nos próprios missionários, nem nos índios, cumpre repetir. Está em. saber como, na Santa Igreja Católica, pôde esgueirar-se impunemente essa filosofia, intoxicando seminários, deformando missionários, desnaturando missões. E tudo com. tcio forte apoio eclesiástico de retaguarda" (Tribalismo indígena, ideal comunomissionário para o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz

governo, a Câmara esvaziou um projeto de lei que previa levar

Ltda, S. Paulo, 7" edição, 1977). • OUTUBRO 2011 -


irmã", não? Ela "zela" por nós continuamente ... (H.J.I. - PR)

Droga virtual

BJ A internet tem coisas positivas e ne-

IN MEMORIAM Após longa e dolorosa enfermidade, suportada com heroísmo e resignação cristã, confortado pelos sacramentos da Santa Igreja, faleceu no Rio de Janeiro, aos 52 anos, Antonio Augusto Azevedo de Carvalho, grande admirador, divulgador e benfeitor de Catolicismo, bem como da vasta obra contra-revolucionária daquele que, com justiça, foi cognominado o "Cruzado do Século XX": Plinio Corrêa de Oliveira, a cujo Instituto dedicou os últimos anos de sua vida. Todos os que tiveram o privilégio de conviver com Antonio Augusto, em particular nos dias de sua derradeira enfermidade, se impressionavam com o apostolado que, inteiramente esquecido de si mesmo, ele se empenhava em fazer com os circundantes. A ponto de o visitante não raro se perguntar quem ali era de fato o doente ... Em suas conversas apostólicas, não faltavam palavras de indignação contra os males de nossos tempos - enquanto lhe permitiu a saúde, não deixou de acompanhar os acontecimentos pela imprensa - tornando patente sua especial confiança em Deus e crescente devoção a Nossa Senhora. Como fiel discípu lo de Plinio Corrêa de Oliveira, essa devoção marcou tão profundamente sua vida, que, no decurso de aproximadamente quatro me es em que Antonio Augusto permaneceu num hospital carioca, distribuiu cerca de mil exemplares da Medalha Milagrosa, além de livro de teor contra-revolucionário, imagens e outros objetos reli giosos, a numerosos amigos que o visitavam e também a médic s, nfcrmeiros e doentes. A uma piedade sincera e profunda aliada ao profícuo aproveitamento de seus dons intelectuais - que a sua invulgar capacidade · dcdicuçãÓ aos negócios jamais empanou - poder-se-iam acrescentar doi s traços de sua personalidade, que constituem, segundo abalizado e pccialista norte-americano, a principais características de um líder: a humildade e a magnanimidade. Todos que o conhecernm podem dar deste particular sobejas provas. Finalmente, como consequência de sua profunda devoção a Nossa Senhora, nutria Antonio Augusto outra especialíssima devoção: ao Santíssimo Sacramento. Seu hábito de comunhão diária ele o manteve durante toda a enfermidade, e foi após o feliz e sublime momento da última ação de graças que ele entregou sua bela alma a Deus.

-CATOLICISMO

Curioso ...

BJ Realmente a internet está nos dominando cada dia mais, ainda que contra nossa vontade. Ela está parecendo uma babá-robô que toma conta da gente, nos vigiando dia e noite, ainda quando se deseja ficar longe de seu "olhos", vigilantes espiões e indiscretos . Um dia desses estava que rendo comprar um HD externo para meu P e pesquisei os preços por mei d t dopoderoso Google. Nã sei como (ma o Google sabe), pas ci a r e ber diversa propaganda de cmpr sas oferecendo-me todo tip 1 11 0 ·xt ·rno ... Curioso nã ? A inl rn ·1 "sab "de tod s s nossos passos. 1 r ·xemplo, " sab " qu • •u ui moço I or volta das l 2: 30h, poi s u · •sso a int rnct desde a i •um r ·s rnura nl ntrc 12:3 0 e 13: Oh . e num dia cu não acessar a int erne t naqu le horário de dentro de um rc taurante, ela "sabe" que eu estou com fome . Então o que acontecerá? Receberei e-mails de restaurantes que oferecem almoço em domicílio. Se por algum motivo eu ficar preso no escritório, portanto não sair no horário para ir jantar em casa, recebere i mai ls com o "subjet": DISK PIZZA ... Não é curioso? Nas véspera. d · minhas férias, começo a reccb r prnpugandas com promoções cl pussnl'c,ns aéreas e hotéis ... Curioso 11 1 o '/ Ou me lhor, curiosa essa nossu "1 1 111tle

gativas. Pelo negativo, todo cuidado é pouco. Podemos usar da rede mundial para coisas proveitosas para nós, mas o que não podemos é ficar dependentes. Neste caso ela seria uma espécie de droga virtual (o que seria um desastre psicológico). No virtual podemos ter centenas de amigos, mas não valem todos juntos mais que um só amigo com o qual podemos conversar pessoalmente, colocar nossos problemas, ouvir e procurar ajudá-lo nos problemas dele. Quando o sujeito gosta mais dos amigos virtuais do que do amigo do peito, o problema da internet já afetou seriamente, ele ent:rou numa "realidade vutual". Chegou a hora de parar para pensar e con-igir os rumos. Do contrário tal sujeito passará a gostar mais de um passeio virtual, por exemplo, vendo fotos de animais e ouvindo gravações de seus rugidos, do que um real e calmo passeio num belo parque numa manhã luminosa vendo os cisnes deslizando sobre os lagos, enquanto cantam os pássaros. E isso, com as mais diversas coisas da vida. Acho esse debate sobre a internet muito importante para não se apagarem nos nossos olhos as maravilhas da criação de Deus. (N.B. - ES)

Saudades da Belle Époque

BJ Antes de tudo, gostaria de cumprimentar o autor [Nelson Ribeiro FrageJJi] pelo belo e oportuno artigo sobre a "Belle Époque", no número de setembro de Catolicismo. Fica-se com saudade de uma época que não se conheceu pessoalmente, mas cujos ecos chegaram até nós através de objetos, gravuras e relatos, como os que ilustram o importante artigo. Tive a felicidade de conhecer de perto alguém que foi educada no final dessa realmente bela época: minha mãe que, nascida em 1905, faleceu com 102 anos, ainda lúcida, em 2007. Ela nos

contava um pouco do que tinha sido sua infância, em pequena cidade do interior de Minas Gerais, em que não faltavam concertos e declamações no clube recreativo local . Morou depois no Rio de Janeu·o e em São Paulo nos anos 10 e 20 do século passado, em que iam se apagando devagar as cintilações da "Belle Époque", na cidade que se ia transformando na (feia) megalópolis em que sobrevivemos. O autor refere-se também à "nobre arte da conversa", cujo exercício praticamente se perdeu com o advento do rádio. Com tanta "informação", sobrou algum espaço para a formação do caráter dos mais jovens? Sabiam conversar? E hoje, seus filhos e netos educados diante da TV? Realmente, nossa época perdeu quase todo o senso da boa conversação, da cortesia, da fineza no trato. Tudo parece invadido pela sede de simplificação, tudo são siglas, diminutivos, apelidos. Enfim, concluo que estamos hoje numa "Vilaine Époque" ou "época do mau gosto" ...e, por isso mesmo, dos governos socialistas. (C.C. -SP)

FRASES

SELECIONADA S

•o ma.is fucrativo áos comércios seria comprar os homens pefo que vafem e vencfê-fus pefo que jUÍ9am vafer" TIÍILLe!::JYIÍI v\-el

•o primeiro 9ofpe da. vaidade é na. cabeça:" JulÍlv\- ele T orves

·o lioman cheio áe si está sempre vazio,, Reg LSV\,\,fÍlv\-Se

"Não fui coisa que me

Retificação

BJ No artigo "TFP britânica acolhe universitários italianos" , do último Catolicismo (p. 49), há um engano na legenda de uma foto . É citado o rei Eduardo II, como vencido numa das batalhas pela independência da Escócia. No caso o rei é Eduardo 1. E a diferença é importante do ponto de vista histórico, embora eu não possa justificar no espaço de um e-mail. (E.M.F.S. -

ma.is áo que o espeflio em que me contempfu: quanto ma.is fte[mmte. me reprocfu%, ma.is tmiveCmente me espanta:" fumuriu

FYIÍIV\ÚSCO ele Queveelo

SP)

Nota da redação: Agradecemos a observação da atenta leitora, que tem toda razão. Os dois Eduardos foram derrotados pelos escoceses - Eduardo I na batalha de Stirling (1297), com o exército escocês sob as ordens de William Wallace; e o filho, Eduardo II, na batalha de Banockburn (1314), com o exército escocês sob as ordens Robert the Bruce.

Cartas, fax ou e-mails: enviar aos endereços que figuram na página 4 desta edição.

OUTUBRO 2011 -


1! Monsenhor JOSÉ LUIZ VIU.AC

Pergunta 1 - Olá! Eu quero saber por que os católicos criticam muito o satanismo, o ateísmo e o agnosticismo. Sou agnóstico e queria saber sobre essa questão. Por favor, respondam.

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Resposta -

O leitor reúne na mesma pergunta sobre o ateísmo e o agnosticismo, a crítica dos católicos ao satanismo. À primeira vista dir-se-ia que a junção é arbitrária, uma vez que se trata de temas aparentemente distintos: a existência de Deus e o culto ao demônio. O curioso é que o leitor, que se declara agnóstico, e portanto duvida da existência de Deus (que não nega nem afirma), se pergunte qual a razão dos ataques dos católicos ao demônio, cuja existência consequentemente admite. Pois se não existisse, não haveria razão para ele preocupar-se com os ataques ao satanismo. Ora, se - para ele Deus (um ser espiritual que não vemos) não é certo que exista, não se entende por que ele tenha por certo que exista o demônio (outro ser espiritual cuja existência também não podemos atestar com os nossos olhos). O que está dito aqui do sentido da vista vale, evidentemente, para os outros quatro sentidos corpóreos: tato, gosto, olfato e audição; como são corpóreos, de si mesmos nada captam do que é puramente espiritual. Mas esta análise é, na verdade, superficial, posto que os cinco sentidos, se não

detectam diretamente nada do que é espiritual, entretanto percebem de várias maneiras os reflexos do que é espiritual na natureza material. Com efeito, em especial o rosto humano denota alegria, tristeza, contrariedade, etc., manifestações do espírito que o observador percebe através dos dados que os sentidos transmüem. O mesmo raciocínio funciona como um dos meios para o homem adquirir a certeza da existência de Deus: vendo as maravilhas de suas obras, formamos uma idéia de quem é Deus, e, portanto, nos convencemos da sua

existência. Isto é tão evidente que São Paulo não hesita e m dizer, na epístola aos Romanos, que os pagãos (e isto vale também para os ateus e agnósticos) "sunt inexcusabiles": "As coisas invisíveis d'Ele [de Deus], com a criação do mundo, tornam-se visíveis ao intelecto humano por aquelas coisas queforamfeitas, isto é, o seu poder eterno e a sua divindade, de modo que eles [os ateus e agnósticos] são inescusáveis" (Ro 1,20).

As descobcl'tas astmnômicas do século XX Isto já era evidente para

o homem primitivo e para todas as gerações das épocas anteriores à nossa. Mas ficou ainda mais patente com as descobertas astronômicas do séc ulo XX . Até então, os homens - cientistas inclusive - achavam que o Universo era só isso que vemos nos céus, a olho nu ou com o auxílio dos telescópios até então di sponíveis: um universo fechado sobre si mesmo, estável e imutável ao longo dos séculos e dos milênios. Mas havia problemas. Um deles era o das nebulosas, que pareciam nuvens de

poeira luminosa. Qual a sua verdadeira natureza? Estavam dentro ou fora da nossa galáxia? Alguns astrônomos começaram a desconfiar de que elas estavam fora. Tinhase a impressão de que nossa galáxia fosse a única. O que significaria estar "fora" da galáxia? O astrônomo norte-americano Edwin Hubble começou a estudar o problema no

início do século XX e percebeu que, com os telescópios até então existentes, cuja lente principal era de 152 centímetros, eram incapazes de resolver a questão. Foi só quando da construção do telescópio do Monte Wilson, nos EUA, com 25 0 centímetros de diâmetro (2,5 metros) , que ele pôde medir a di stância da nebulosa mai s próxima da Terra, que fica na constela-

ção de Andrômeda. Sua primeira medição, ainda um pouco imprecisa, determinava que essa nebulosa fica a cerca de doi s milhões de anos-luz da Terra (em medições posteriores os astrônomos verificaram que, de fato, ela se situa a 2,5 milhões de

anos-luz). Ora, nossa galáxia deve ter de 80 a 100 mil anosluz de diâmetro. Portanto, a nebulosa de Andrômeda fica bem fora de nossa galáxia! E constitui, ela mesma, uma outra galáxia! Hubble pôs-se então à caça de novas galáxias, e procurou calcular sua velocidade de deslocamento no espaço. Hoje se sabe que há bilhões de galáxias e que sua velocidade varia de 300 a 1.800 quilômetros por segundo! Verificou-se também que elas se distribuem em grupos de galáxias, e que estes se afastam uns dos outros a essas velocidades fantásticas. Daí nasceu a teoria da explosão primeva, ou explosão primordial (como a denominam cientistas franceses), porém chamada pelos norte-americanos de teoria do Big-Bang (nome que prevalece hoje em dia). Tal teoria explica a maioria dos fenômenos conhecidos, porém não todos . Daí estarem os astrofísicos em busca de novas teorias mais aperfeiçoadas . Mas disto tudo, a humanidade só tomou conhecimento a partir da década de 20 do século passado! Nossa concepção do universo mudou então radicalmente. O universo é aberto, está em expansão, mas nos dá a impressão de que está tudo parado! O que podemos deduzir daí? A resposta é óbvia: o ser que fez isso tem um poder infinito. Deus é infinito! E fez o universo assim tão imensamente grande, para que o homem formasse uma idéia de seu poder infinito. Quem nega a existência de Deus, como dizia São Paulo, é inescusável!

Os ateus e agnósticos são de coração pétreo Diante disso, o homem fica muito pequenino. Mas Deus não fez isso para amesquinhá-lo, e sim para mostrar-se ao homem como Ele é, infinito em poder, sabedoria e bondade, como explicitou São Paulo. E ademais convida o homem a coabitar com Ele por toda a eternidade. O s ateus e agnósticos se fecham a esse convite. Além de eles serem inescusáveis, são de coração pétreo. Com razão, pois, são verberados pelos católicos como loucos, por recusarem o apelo de Deus para um convívio eternamente feliz no Céu . Deus, porém, não quer que eles se percam e sejam mergulhados no fogo do inferno, mas que abram seus corações para essa Bondade infinita. Se eles se fecharem a esse convite, então sim optarão pel a separação eterna de Deus e por uma vida eternamente infeliz. Neste ponto cabe um comentário: os agnósticos dizem não saber se Deus existe; mas optam por viver como se ele não existisse. É uma decisão demencial, porque se, de dois tratamentos de saúde incertos, um pode desfechar na cura, e o outro só pode desfechar na morte, é uma verdadeira loucura optar pelo caminho que conduz à morte certa! Os agnósticos melhor fariam, portanto, em optar por viver como se Deus existisse ... • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br

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CATOLICISMO

OUTUBRO 2011

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A REALIDADE CONCISAMENTE

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CrianCjas que não brincam preiudicam o seu futuro

Vício dos iogos esconde drama familiar

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psicóloga Rosely Sayão apontou uma realidade preocupante: hoje as crianças não sabem brincar! E indicou os dois motivos principais: lº.) Os pais acham que basta comprar brinquedos. 2º.) As crianças não têm verdadeiras oportunidades para brincar. "Vamos reconhecer, sem tempo livre para nada fazer e com o direcionamento direto de adultos, as crianças nunca aprenderão a brincar", escreveu. A criança brinca ser aquilo que ela um dia acabará tentando realizar. Uma criança que não brinca prenuncia uma pessoa sem iniciativa nem criatividade. Outra causa da inibição do desenvolvimento das crianças não será a dramática redução da natalidade, que deixa os pequenos sem irmãos, primos e amigos? •

Estudo desmente mito do 11aquecimento global de origem humana1'

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ientistas do CERN ( Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), um dos maiores institutos mundiais dedicados ao estudo das partículas, descobriram a verdadeira causa do "aquecimento global". O escritor britânico James Delingpole - parafraseando uma expressão carregada da vulgaridade socialista, atribuída ao então presidente americano Bill Clinton - assim resumiu o resultado do sisudo trabalho: "lt's the sun, stupid" (é o sol, estúpido). No Brasil, o Prof. Luiz Carlos Baldicero Molion, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), vinha demonstrando com fundamento que o o sol é o regulador do aq uecimento ou arrefecimento da Terra, e não a atividade humana. Esta evi dência, que qualquer trabalhador agrícola de bom senso conhece por experiência própria, era negada pelo alarmismo "verde", o qual manipula dados científicos. Foi, portanto, muito oportuno que um organismo altamente prestigioso como o CERN desmentisse tais manipulações . •

Terror iraniano abre base ostensiva em Cuba

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Hezbollah, movimento terrorista favorec ido pelo Irã, abriu uma base oficial em Havana. Com sede principal no Líbano, o movimento age na tríplice fronteira Bras i 1-Argen tina-Paraguai e em cidades fronteiriças da Venezuela e Colômbia. Além de ter praticado atentados a sassinos em Buenos Aires, o Hezbollah apóia encontros para troca de informações, treinamentos e articulação entre terroristas, patrocinados por Hugo Chávez. Outrora uma instalação ostensiva desse movimento em Cuba susc itaria represáli as americanas muito graves. Mas agora, julgando pouco provável uma reação do presidente Obama, os comandantes do terrorismo possivelmente consideraram ser possível dar esse passo, reforçando assim as desgastadas esquerdas latino-americanas. •

CATOLIC ISMO

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entiras reiteradas, brigAas ~amiliares_, ~utodestruição econ~mica são algumas consequencias da pa1xao desenfreada por Jogos virtuais na Internet. A psicóloga Débora Bianca, autora do livro La adicción ai juego ;,No va más .. . ?, afirma que a vítima da ludopatia "não para de jogar até perder tudo, mas logo as recriminações e o sentimento de culpa a torturam e a empurram a querer recuperar o perdido e cai num estado que não se consegue mudar nem pela razão nem pela força de vontade". Para a psicóloga Luz Mariela Coletti, por trás desse vício se encontra a deterioração da famíl ia. O dano é muito sensível na terceira idade e pode levar ao suicídio. A destruição da família produz mais este ruinoso efeito. •

Anti-histamínicos chineses com pó de bebê abortado Família de 11 filhos suscita admiraCjão e espanto nos EUA famíli a de Larry e Jen Kilmer com seus 11 filhos criou uma onda de simpatia em Washington. Seu lar não é rico, mas bem arrumado, as camas sempre feitas, as roupas bem dispostas nos armários e as crianças ajudam na organização doméstica. A faina da mãe começa às 5 da manhã, no santuário de São Judas Tadeu. As dificuldades econômicas não são pequenas e o ordenado de Larry é médio. Mas o exemplo do casal comove os vizinhos. "Achamos malas com roupa na nossa porta e nem mesmo sabemos de onde vieram", diz Jen. A paz de alma desse lar vem da fé católica, como afirma Jen: "De alguma maneira, Deus sempre providencia. Por vias que você nem imagina". Essa fé inspira também as crianças. O lru· bem con. tituído atrai as bênçãos e os auxíli os divinos. E iss nã tem preço. •

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Combate contra o 11 casamento11 homossexual

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Cardea l K ith O ' Brien, arcebispo de Edimburgo (foto), pronunci u uma homili a para os deputados da Escócia denunciando c mo um "ataque direto" contra a instituição do matrimônio qu alquer tentativa de aprovar uma união estável entre homossexuais por meio de cerimônia civil ou religiosa. Ti ntativa que "deve ser combatida até às últimas consequências". O purpurado disse que "a instituição do casamento é a pedra fundamental mais estável sobre a qual a família pode repousar. A posição da Igreja é clara: nenhum governo pode re-escrever a natureza humana; a família e o casamento existiam antes do Estado e se fundamentam na união entre um homem e uma mulher", acrescentou. •

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ocumentário da cadeia de TV SBS, da Coréia do Sul, desvendou o esquema de empresas chinesas comunistas para vender pílulas feitas com cinzas de bebês abortados como sendo anti-histamínicos. Hospitais e clínicas de aborto informam a morte de um bebê a empresas, que compram os corpos e os guardam no freezer de alguma fa mília para não causar suspeita. Num segundo passo, os corpos são reduzidos a um pó básico em microondas. O pó é encapsulado e vendido. A equipe da SBS comprou cápsulas ele bebê morto e mandou fazer testes de DNA. Os resultados detectaram que o material era hu. mano na proporção ele 99,7%, com restos de cabelo e unhas. Até o sexo do bebê pôde ser identificado. Eis aí o si nistro sintoma de materialismo e crueldade de um regime comunista. •

38% dos europeus padecem de distúrbios mentais

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a população da União Européia, 38% sofrem de distúrbios mentais e doenças cerebrais, revelou estudo do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ENCP). "As desordens mentais se tornaram o maior desafio à saúde na Europa do século XXI", dizem os autores. A percentagem desses doentes era de 27% da população total em 2005. O estudo analisou 30 países, que somam 514 milhões de habitantes e cerca de 100 doenças. As perdas anuais causadas por essas moléstias são da ordem de centenas de bilhões de euros. Uma das causas mais profundas desses desequilíbrios mentais cada vez mais generalizados não será a tentativa de construir uma super-organização em bases puramente materiais que ignoram - e até hostilizam - o aspecto espiritual das pessoas e a religião? •

Índia: Pagãos tentam impedir crescimento da Igreja Católica

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igreja de Nossa Senhora de Vai lankanni, Kerala (Índia) [foto] , foi vandalizada por fanáticos pagãos, que destruíram o altar, ornamentos sagrados e confessionários, tendo ainda ameaçado os fiéis que acudiram em grande número ao ouvirem o tumulto. Os fanáticos hinduístas e islâmicos estão furiosos com o progresso do catolicismo na Índia. No estado de Kerala, 20% da população já é católica. Dirigindo-se aos católicos, que desejavam revidar as agressões, o bispo diocesano, D. Stanley Roman , disse: ''Agiremos segundo a lei". Como na época das perseguições romanas, em que o paganismo se desfez de podre e a Igreja Católica emergiu triunfante das catacumbas , cabe agora aos católicos indianos perseverar, lutar e esperar o triunfo do Imaculado Coração de Maria prometido em Fátima.

Eurodeputado ex-muçulmano censura atitude ecumênica

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a cidade de Cantu , Itália, o Pe. Lino Cerutti, funcionário emérito da basílica de São Paulo, distribuiu folhetos com orações islâmicas e textos místi cos apresentando o Islã como uma religião excelsa. O eurodeputado Magdi Cristiano Aliam , muçulmano convertido ao catolicismo , respondeu afirmando que quem professa a fé católica e crê em Jesus Cristo, de modo algum pode julgar que Maomé foi um profeta autêntico nem que o Islã seja uma religião verdadeira. Eis suas palavras textuais: "Ou se acredita em Jesus Cristo ou se acredita em Maomé; ou se é cristão ou muçulmano. E um sacerdote que legitima Maomé e o Islã certamente é réu de apostasia".

OUTUBRO 2011

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INTERNACIONAL

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Reunindo terrorismo e narcotráfico, as FARC ameaçam a estabilidade da América do Sul Raúl Reyes, seu computador e restos de seu quartel de comando na selva equatoriana

Em oportuna publicação estampada na edição dominical de 28 de agosto do jornal "EI Tiempo", de Bogotá, com 500 mil exemplares de tiragem, a Sociedad Colombiana Tradición y Acción alertou a nação para as atividades das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e a escandalosa conivência da Corte Suprema de Justiça da Colômbia com a subversão. A situação atual deste país poderá influenciar negativamente o Brasil, sobretudo se a mencionada corte continuar com essa política. Segue abaixo a tradução do corajoso e importante manifesto, cujo original encontra-se disponível no site da entidade: www.colombia-autentica.org

de Colombiana Tradició11 y Acción não pode deixar de fazer algumas considerações a respeito.

AI dt<larar oolH las prutks que si son lt9ales:

La Corte Suprema de Justicia consagra la impunidad y deja desprotegidos a los ciudadanos de bien

O Comunicado de lmpre11sa de 25 de maio de 2011 Embora o Com uni cado de Impren sa não faça referência aos aspectos políticosmilitares da "Operação Fênix", dizendo centrar seu estudo nos aspectos meramente jurídicos, a decisão tomada não deixa de

ser uma censura indireta à referida operação militar, que teve consequênc ias

Ao declarar nulas as provas que, de fato, são legais:

A Corte Suprema de Justiça consagra a impunidade e deixa desprotegidos os cidadãos de bem A Honorável Corte Suprema de Justiça emitiu há alguns dias um Comunicado de Imprensa que deixou horrori zado o País e perplexa a comunidade internacional. Em um sucinto comunicado que não eq ui va le a uma sentença de fundo, entregue aos meios de comunicação, a Sala Penal da mencionada Corte informa ao País que profe riu um auto mediante o qual ela se ab tém de iniciar investigação penal contra Wil son Borja, ex- parlamentar do Polo, por seus vínculos com as FARC. Isto porque todas as provas obtidas na famosa "Operação Fênix", na qual pereceu o chefe máximo das FARC, o terrorista Raúl Reyes , numa operação mili tar no Equador, são nulas, por terem sido obtidas violan-

OCEANO PACIFICO

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CATOLICISMO

As FARC são um monstro ele duas cabeças: terrorismo e narcotráfico

deplorável decisão da Corte é mais política que judicial. É um pretex to pelo

É impossível supor que os honoráveis membros da Corte Suprema de Justiça se tenham esq uecido que durante os últimos 50 anos ele nossa história as FARC desenvolveram uma guerra implacável e sangrenta contra a sociedade co lombiana. Dezenas de milhares de assassinatos, sequestros e atentados terroristas foram uma constante permanente do último meio séc ulo em nossa Pátria. E quem foi o causador de toda esta tragédi a humana ? Fu nd amentalmente as FARC. Pelo oportuno apoio recebido do comunismo inte rnacional, e, mais recentemente, pela sua incursão como um dos maiores carté is de drogas do mundo, as

qual os mais altos juízes co lombianos questionam a admin istração do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, as Forças Armadas e a Políci a Nac ional, por terem levado a cabo a "Operação Fênix". A Sala Penal não pode desconhecer que o propósito da "Operação Fênix" não era obter provas contra as FARC e seus cúmplices, nem que, parn executá-la, pudesse ter o consentimento das autoridades equatorianas. O propósito era capturar

ou liquidar o terrorista Raúl Reyes, chefe das FARC, homiziado no Equador com o beneplácito das autoridades daquele país, de onde dirigia e organizava atentados contra a vida, a honra e os bens dos colombianos.

do o devido processo. Segundo a Corte, as provas não foram obtidas de acordo com as disposições lega is colombianas, tendo sido levantadas de facto ultrapassando ilega lmente a fronteira, e, ademai s, sem contar com a participação das autoridades equatorianas. Ante um fato de tanta importância como este, e a repercussão nacional e internacional por ele causada, a Socieda-

enormes na luta do Estado co lombiano contra o terrorismo . Os honoráve is Magistrados da Sala Penal consideram ilegal a forma como as Forças Armadas co lombi anas obtiveram esses documentos em território equatori ano. Em seu sentido mais profundo, a

Localização da região onde se levou a cabo a Operação Fénix (requadro verde)

É universalmente aceito que ao se realizarem operações militares no exterior, em pruticular se o objetivo é combater o terrorismo, não se tem como propó ito obter

provas, nem são seguidos os procedimentos estabelecidos nos códigos de procedimento penal para casos normais. Desde a Segunda Guerra Mundial até agora, incluindo famosíssimas operações militares no Irã, Iraque e recentemente no Paquistão, este princípio não foi questionado por nenhuma autoridade judicial no mundo. E, como era de esperar, as repercussões internacionais não tardaram em se produzir. A Corte Suprema de Sucumbío , no Equador, numa deci são in sp irada no Comunicado ele Imprensa de nossa Corte Suprema de Justiça, processou os generais comandantes das Forças Militares e da Políc ia pelo assassinato de várias pessoas na chamada Operação Fênix.

FARC são a principal ameaça para a estabilidade política, não só da Colômbia, mas de todos os países vizinhos. Sociedad Colombiana Tradiclón y Acción (.i!t23No•teNo 3·l3of<I02 C-,1-(oofll:J•J Tt'INnno!},6674515 f,H121(,674)1>6 (('l }1~S6.!4fi97 ,, ( mdt1 t1Jd1dor-y.irnon2C10\,!9mJllcom w"'wrnkimhl.i ~Ull'nlw::J ntg

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Quase todas as nações europeias e americanas as consideram como uma organização terrori sta que vive do crime e do OUTUBRO 2011

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narcotráfico, que destruiu a Colômbia e constitui o principal fator de pobreza, atraso e injustiça em nossa Pátria. Em consequência, todos os segmentos da sociedade as combateram sem trégua, e pecialmente nos últimos anos, nos quais elas se debilitaram muitíssimo graças a um embate exemplar e heróico de nossas Forças Armadas e dos últimos governos, incluído o atual. A opinião pública da Colômbia apoiou sem vacil ações esta luta. Só para confirmar nossa afirmação, basta recordar as multitudinárias marchas de anos recentes contra as FARC, e que os últimos presidentes da Colômbia foram eleitos por amplíss imas maiorias principalmente porque prometeram manter um combate implacável e sem trégua contra elas e todas as organizações terroristas que destruíram a Colômbia. Neste esforço titânico temos estado todos os colombianos. Com exceções abso lu tamente minoritárias, toda a nação apoiou as nossas Forças Armadas em seu combate contra essas organi zações, celebrou com júbilo cada uma de suas vitórias, e apoiou sua luta incansável para nos devolver a paz perdida. A luta contra o terrorismo é uma das tarefas mais difíceis da soc iedade contemporânea. Se a isto se soma a luta contra o narcotráfico, esta dificuldade se multiplica. E se levarmos em conta que no continente americano as FARC encarnam um monstro de duas cabeças; que ela representa a mais radical uni ão de terrorismo político de um lado, e de narcotráfico de outro, não podemos ignorar que temos diante de nós um inimigo temível que deseja destruir a ordem cri stã de nossa nação, para impor um regime totalitário de caráter marxista- lenini sta.

O mundo cerra fileiras contra o teI'l'orismo No momento em que a maioria das nações toma medidas extremas para se proteger do terrorismo, unindo esforços internacionais para a captura desses crimjnosos, desmantelando suas organizações assassinas, levando seus cúmplices à justiça e castigando os que participam desta forma si ni stra de maldade, a Honorável Corte Suprema de Ju stiça da Colômbia torna o cami nho oposto. É isto o que se ev idencia com as provas obtidas nos computadores do abatido terrorista Raúl Reyes. Em vez de resolver a questão do terrorismo com a informação extraordinária obtida através de um ato legítimo de guerra contra o pior inimigo da sociedade colombiana, a Honorável Corte pretende paralisar e anular todas as investigações. Sua atitude deslegitima as provas· obtidas e cerca de impunidade os responsáveis pelo terrori smo, deixando desprotegidos os cidadãos de bem. E está na contra-mão do sentimento mais profundo de uma nação e de um povo profundamente cristãos, que rechaçam em seu foro mais íntimo todas essas formas de violência guerrilheira e narcoterrori sta, e que só pedem a Deus que, na majestade de sua justiça, atue para castigar os responsáveis de tanta maldade, faze ndo desaparecer para sempre todas essas organizações que só trou-

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CATOLICISMO

Ocidente cristão ameaçado pela "Cristianofobia" e a indispensável reação 10 anos após o maior atentado do terrorismo islâmico (11 de setembro de 2001), o Prof. AJexandre del Valle denuncia os perigos apresentados pelo muçulmanismo no mundo atual

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Palácio de Justiça na capital colombiana

xeram dor, injusti ça e pobreza à nossa Pátria durante mais de 50 anos.

A claudi cação da Justiça fortalece o crime Ao tecer tais considerações, queremos fazer um apelo a todos os que detêm a altíssima investidura de administrar justiça em nossa sociedade, como um reflexo da Justiça Suprema que só provém de Deus Nosso Senhor. Não poderá manter-se incólu me uma sociedade na qual tecnicismos judiciais da mais baixa condição, que paralisam os processos judiciais, são utilizados para enfrentar o mai p deroso, maior, mais perigoso e mais agressivo inimigo da olômbia. Para terminar estas con iderações, não é demasiado perguntar aos honoráveis mag i trados da rte, neste dias em que se celebram os 25 anos do assallo do M-19 ao Palácio da Justiça: Quantos integrantes do setor judicial do Estado foram assassinados pelo terrorismo e pelo narcotráfico na Colômbia? Tem s alguma ideia do tamanho e da dimensão dessa imolação? Embora haja alguma vozes discordantes, estamos certos de que a falta de vigor no combate a essas organizações é a maior re ponsável pelos crimes que elas cometem. E que a debilidade dos segmentos da sociedade que deveriam combatê-Ias com firmeza acaba sendo a principal de suas aliadas. Que a Santíssima Virgem Nossa Senhora de Chiquinquirá, Rainha e Padroeira da Colômbia, não permita que a iniquidade guerrilheira continue oprimindo o povo colombiano.

Sociedad Colombiana Tradición y Acción

nquanto em países muçulmanos se estabelecem programas "cristianofobos" - perseguições, agressões e até mesmo a execução de cristãos -, nas demograficamente decadentes nações europeias uma política suicida favorece a imigração islâmica, a ponto de torná-la verdadeira invasão. Ademais , governos ocidentais têm respaldado a chamada "Primavera árabe", cuja principal favorecida vem sendo a Irmandade Muçulmana, tornando ainda mais sombrio o futuro dos cristãos. Renom ad o especialista em mundo islâmico, o Prof. Alexan- º dre dei Valle, em entrevista concedida a Catolicismo alerta: o j mesmo perigo que ameaça o ~ continente europeu poderá atin- ~ gir a América Latina. Ele exemplifica com a política de acolhimento de terroristas islâmicos praticada por países como Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba, entre outros. Política que encontra apoio até em meios católicos de esquerda, "tolerantes" em relação a maometanos que são "intolerantes" para com a civilização europeia cristã .. . A fim de que tal ameaça islâmica não surpreenda o Brasil, o Prof. dei Valle recomenda aos católicos que reajam firmemente o quanto antes, pois nossa prosperidade atrairá ainda mais imigrantes e "em pouco tempo chegarão de todas as partes os islâmicos para

trabalhar, e os islamitas radicais procurarão instrumentalizá-los como fonte inicial de conquista". O ilustre entrevistado é professor de Relações Internacionais na Universidade de Metz (França) e consultor de Geopolítica de diversas importantes instituições do Velho Mundo, entre as quais o Parlamento Europeu . É autor de vários livros e artigos acerca da questão islâmica. Sua última obra - Nova Cristofobia - está sendo traduzida para o português.

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Catolicismo - O Sr. poderia expor sinteticamente as várias vertentes religiosas do Islã na atualidade?

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l'l'OI: dei Valle: "Na Al.·ábia Saudita, os c,1stãos são perseguidos, sem direito de expr essar a sua religião, e os muçulmanos que desejam co11verter-se são condenados à morte"

Prof dei Valle - O Islã é hoje o mesmo do século IX! Existem no Islã sunita (em árabe Ah! ai Sunna, ou seja, "gente da tradição" ou "ortodoxos do Islã", correspondente a 80% do mundo islâmico) quatro principais escolas: Malikismo, Hanbalismo, Shafeísmo e Hanafismo. Dentro destas quatro escolas sunitas ortodoxas há algumas formas mais radicais, como a corrente wahabita (na Arábia Saudita, por exemplo), que não é senão uma forma ultra-rigorista da escola hanbalita. O mesmo vale para os talibans, que embora pertençam à escola indo-paquistanesa de origem hanafita, são influenciados pelo hanbalismo e pelo wahabismo saudita. A partir do século IX, as 20 escolas então existentes do Islã fo ram reduzidas, restando somente OUTUBRO 2011

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quatro mais ortodoxas e intolerantes. Isso em decorrência da "reforma integrista" do grande intelectual sunita AI-Ghazali , que nos séculos IX e X proibiu todas as escolas não ortodoxas do Islã que uti lizavam a razão e estavam influenciadas pela filosofia grega "pagã". O mesmo sucedeu com o sufismo, de aspecto místico liberal e muito tolerante antes do século X: AIGhazali consegui u proibi-lo, para adeq uálo à ortodoxia das quatro únicas correntes islâmicas sunitas. Esta revolução integrista foi chamada "la fermet ure des portes de l'Ijtihad" (fechamento das portas da interpretação). Além das escolas sunitas existem no Islã escolas ou correntes heterodoxas pertencentes ao mundo chamado xiita. Majoritários no Irã, no Líbano e no Iraque, entre outros países, os xiitas não são como os sunitas nostálgicos do califado, porque embora este tenha sido conquistado pelos sunitas, os xii tas são majoritários e detêm uma importante tradição de corporativismo e clericalismo. Dentro do mundo xii ta estão todas as escolas heterodoxas mais liberais e tolerantes do Is lã, correntes ou seitas que quase sempre são perseguidas pelos sunitas: o druzismo (Líbano, Síria, Israel, etc.), o alaui tismo (Síria, Turquia, etc.), o ismaelismo (Paquistão). As lutas entre sunitas e xiitas são invariavelmente muito graves e importantes: no Irã, os sunitas são perseguidos pelos xiitas, mas no Bahrein, na Arábia Saudita, no Kuwait, no Paquistão e no Afeganistão ocorre precisamente o oposto. Na Turquia e na Síria, os mais "laicos" e antiintegristas são os alauitas, odiados pelos sunitas que os acusam na Síria de persegui r e dominar os sunitas majoritários; na Turquia é o contrário: os alauitas, modernos, pró-ocidentais e laicos acusam o governo islamita do presidente Erdogan (sunita) de perseguir os alaui tas, denominados alaviti na Turquia. Catolicismo - Há no Alcorão uma primeira fase, em que Maomé prega a moderação, inclusive a colaboração com cristãos e judeus; e uma pregação posterior, em Medina, na qual ele propugna a violência e o extermínio de todos os que não se submetem ou se convertem ao maometismo. É bem assim? Prof dei Va/le - Sim, isto historicamente é muito lógico. Em primeiro lugar, Maomé queria fazer a união com os monoteístas judeus e cristãos abraamitas para lutar contra os "Pagãos da Meca" , muçulmanos membros de sua própria tribo. Mas

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CATOLIC ISMO

quando, depois da imigração de Medina (Hijra), ele se tornou mais forte e vitorioso, qu is submeter e dominar os aliados judeus que haviam acolhido os muçulmanos quando de sua fuga da cidade de Meca. Mas como os judeus não queriam tornar-se muçulmanos, Maomé ordenou então o massacre de todos os homens judeus das cidades de Medi na e de Khaibar.

As lutas entre sunitas e xiitas são invariavelmente muito graves e importantes

"Dois milhões de cristãos foram mortos 110 Sudão desde 1980. Na Nigéria, desde o último mês de abril, 1500 CJ'ÍStãos foram mortos pelos islâmicos radicais"

Catolicismo - Existem diferenças entre os maometanos sufistas ou ismaelitas radicais e os demais maometanos? Prof dei Valle - Os sufistas são muito numerosos e diferentes. Não existe um só que seja tolerante e pacífico. Isto consiste num mito dos islamófilos, que querem apresentar um Islã "água de ani s" . Os sufistas são místico , fazem uma leitura mística do Islã, querem forta lecer o contacto com a divindade e não ficar apenas na leitura do Islã clássico. Inicialmente heterodoxos, desde a referida reforma do sécu lo IX os movimentos sufistas se tornaram em sua maioria fun damentalistas e ortodoxos, aderindo como os demais ortodoxos ao mesmo Islã intolerante; conservam somente a estrutura sectária do tipo "confraternidade" ou " irmandade" , com um "Guia", os "ritos escondidos", a estrutu ra hierarquizada, etc. No que se refere aos ismaelitas, a situação é outra. O movimento ismaelita é uma seita do xiismo heterodoxo exi stente no Paquistão, cujo repre entante intern acional mais famoso é Aga Khan, homem rico e muito relacionado no Ocidente. O ismaelitas são também chamados de "xiitas sétimos", por darem uma importância absoluta ao sétimo imã xiita, enquanto os xiitas ortodoxo · majoritários aderem ao 12° imã. Para resumir e simplifi car, poder-se-ia dizer que os sufistas são muçulmanos sunitas ortodoxos ou heterodoxos que pri v ileg iam o misticismo, enquanto os ismaelitas constituem a mais importante seita xi ita heterodoxa e tolerante, como os druzos e o alauita . Catolicismo - Em que pontos os maometanos laicos - como Ataturk na Turquia e seus seguidores até os nossos dias - se diferenciam dos islamitas radicais? Prof dei Vai/e - Os muçulmanos laicos ou lai cistas, chamados kémali stas, denominação derivada do famoso Mustafá Kémal "Ataturk " ("pai dos turcos"), criador, em 1923, da rcpúbli ·a lurca moderna após a destruição do imp ri) oll mano pelos aliados ocidentais e as tropas unli -im pcriais de Ataturk. Embora nem todo. os muçulmonos lai-

cos sejam kémalistas ou seguidores de Ataturk, entre 1920 e 1960 a ideologia laica deste inspirou muitos líderes muçulmanos anti-religiosos, próocidentais ou nacionalistas que desejavam modernizar seus respectivos países em relação à teocracia islâmica, a responsável, segundo eles, pelo seu atraso. Bourguiba na Tunísia, o xá Reza Pahlevi no Irã e os nacio nalistas da Indonésia, por exemplo, se inspiravam em Ataturk. Mas hoje - a prutir da década de 1980, data do nascimento da ideologia do islamismo radical e político - as velhas ideologias nacionalistas árabes, iranianas ou turcas de inspiração laica ou antiislamita foram vencidas pelos muçulmanos radicais teocráticos, os quais conseguiram estabelecer a crença de que o islamismo radical anti-laico é "a única fórmu la política autenticamente indígena" e pós-colonial. Para resumir, o nacionalismo laico é considerado desde os anos 1980-1990 como a ideologia "pagã" antiislâmica "importada" pela ação do colonialismo ocidental. E, a meu ver, a principal força do islamismo radical, desde os sucessos políticos da Irmandade Muçulmana no Egito e da revolução islâmica no Irã, foi impor a crença de que o islamismo radical é "a verdadeira ideologia identificadora da Umma" - a comunidade mundial que reúne os muçulmanos. Catolicismo - O regime sunita wahabita da Arábia Saudita é mais intolerante em relação aos cristãos do que os regimes políticos dominados pelos xiitas? Prof dei Valle - Sim! Absolutamente! Não me apraz dizer coisas que pru·ecem favoráveis ao terrível regime totalitário do Irã, criado pelo imã Aiatolá Khomeini no ano de 1979, mas é um fato que na Arábia Saudita, país sunita "aliado do Ocidente" e "amigo", sob a ideologia oficial chamada wahabismo - escola sunita particularmente fundamentalista do ramo sunita hanbalismo -, os cristãos são realmente perseguidos, não têm nenhum tipo de direito de se expressar ou praticar a sua religião, e os muçulmanos que desejam converter-se ao cristianismo são condenados à pena de morte. É também verdade que os engenheiros e oficiais ocidentais residentes nos bairros ricos das cidades sauditas podem viver de modo quase tranquilo, mas oficialmente não têm o direito de se tornarem cristãos; já para os cristãos pobres das Filipina ou de outros países, e para os não muçulmanos em geral, é impossível e perigoso ser cristão e praticar a religião cristã, ainda que discretamente. Enfim, no Irã, enquanto os cristãos protestan-

tes ligados ao Ocidente são perseguidos porque acusados de "espiões da América imperialista", os cultos autóctones cristãos de rito oriental, como o dos armênios, são mais felizes, ainda que possa parecer impossível. O Irã foi o principal país a aj udar os cristãos armên ios quando a Armênia estava em guerra contra os turcófonos azeri, muçulmanos. Isso pode parecer paradoxal, mas é lógico e mostra que, para os cristãos do Oriente e as minorias em geral, é sempre pior viver em um país sunita ortodoxo ou integrista do que em um regime xiita radical. Explica-se tal situação porque os xiitas são menos fechados , menos "ortodoxos" e menos rigoristas que os sunitas no referente ao tema central do monoteísmo.

Para os cristãos do Oriente, é sempre pior viver em um país sunita ortodoxo ou integrista do que em um regime xiita radical

"No Sudão e na Nigéria há mais perseguições, seguem-se Arábia Saudita, Paquistão, Somália e países do Magrnb (i11cluída a Líbia pós-Kadafi)"

Catolicismo - O Sr. poderia apresentar com cifras um panorama geral atualizado de perseguições contra os cristãos em países de maioria muçulmana? Prof: dei Valle - Não temos cifras precisas dos países muçulmanos, porque os tipos de perseguição são muito diversos. Entretanto podemos dizer que dois milhões de cristãos foram mortos no Sudão pelo regime islamomilitar do general Omar AI Bechir desde 1980. E podemos também afirmar que na Nigéria, país dividido entre o norte muçulmano e o sul cristão, desde a eleição do presidente Jonhatan Goodluck, no último mês de abri l, 1500 cristãos foram assassinados pelos grupos islâmicos radicais. Eles acusam o presidente de ser ilegítimo e não aceitam o jogo democrático, porque queriam um presidente muçulmano, e não um cristão. Em 11 dos estados federados onde os muçulmanos possuem maioria, a lei islâmica (Shru"ia) é imposta aos cristãos, que são também legalmente perseguidos por esta via. De outros países islâmicos é mais difícil apresentar cifras ou esboçar um quadro, mesmo caricatural, porque as perseguições são mais correntes, diversas, oficiais, muitas vezes sem mortos, mas com outra forma de violência jurídica, psicológica e física. Podemos dizer que depois do Sudão e da Nigéria, os dois países piores são a Arábia Saudita e o Paquistão. Seguem-se a Somália, prisioneira do islamismo radical, os países do Magreb (incluída a Líbia pós-Kadafi e os países "amigos" do Ocidente como o Kuwait, Bangladesh, Indonésia, etc.). Só na Indonésia, recordamos que em horríveis perseguições racistas e cristianofobas foram mortos, desde a década de 1990, pelo menos 100.000 cristãos pertencentes às minorias étnicas ou às ilhas do arquipélago majoritariamente cris-

OUTUBRO 2011

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fazendo um jogo perigoso em curto prazo ao favorecerem a implantação na América Latina de agentes do Hamas, do Hezbollah internacional e de movimentos islâmicos fanáticos e "revolucionários". A presença desses movimentos terroristas e o apoio do presidente Chávez ao governo do Irã, ao Hamas e ao Hezbollah ninguém pode negar. Também convém ter presente que, no Brasil, a cidade de Nova Iguaçu é desde a década de 1980 um centro de fanatismo, refúgio e tráfico econômico em favor do Irã e do Hezbollah internacional. Outro fato pouco conhecido é que alguns movimentos "indígenas" radicais da Bolívia, da Venezuela e do México (Chiapas) já estão convertidos ao Islã radical e crêem, como Chávez, na aliança dos totalitarismos vermelho e verde (social-comunista e islâmico) contra o homem branco, o "imperialismo", o "capitalismo", os norte-americanos e a civilização europeia cristã ...

tãs. Os respectivos governos permitiram, com quase total impunidade, que paramilitares e milícias islamüas matassem anualmente milhares de cristãos, como na Nigéria ou no Sudão. Catolicismo - A imigração maciça de muçulmanos apresenta perigo sério para os países europeus e suas gloriosas tradições cristãs? Prof. dei Valle - É uma questão muito delicada e importante! Uma primeira observação: em meu movimento político "A Direita Livre", que criei em 2002 com um amigo de origem muçulmano-algeriana, Rachid Kaci, hoje conselheiro do presidente Sarkozy, dizemos sempre que a imigração islâmica é em si mesma um perigo, se deixarmos os líderes religiosos muçulmanos manipular e fanatizar os respectivos imigrados instalados na Europa juntamente com seus filhos tão pouco integrados. Segunda observação: ainda que conseguíssemos integrar muitos filhos de muçulmanos, imigrados ou nascidos na Europa, a partir de certo número de pessoas em tais condições é sempre mais difícil integrar do que fazê-lo em relação a grupos oriundos de povos e civilizações diferentes. Creio ser possível integrar muitos muçulmanos se acreditamos em nossos valores ocidentais de origem judeu-cristã e conseguirmos transmitir uma forma de "patriotismo integrador". Mas no contexto mundial de radicalização islâmica, com o fenômeno de "mundialização" permitindo hoje ao imigrado muçulmano estar sempre em contato com a sua cultura de origem, especialmente através das televisões árabes ou islâmicas mais fanáticas e anti-ocidentais, de um lado; e sabendo, de outro lado, que a estratégia dos líderes islamitas fanáticos mundiais é de utilizar os imigrados islâmicos na Europa para invadi-la e conquistá-la, em tais condições uma imigração não controlada de milhões de muçulmanos na Europa assemelha-se sempre mais a um fenômeno que eu chamo de "povoamento" ou "colonização de povoamento". Por isto, é vital e estratégico limitar a imigração dos países islâmicos e privilegiá-la em favor de países cristãos. Catolicismo - Há um perigo de infiltração islâmica na América Latina, especialmente através da chamada Revolução Bolivariana na Venezuela e em outros países? Prof : dei Valle - Outra vez, claro que sim! Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador e Cuba estão

CATOLICISMO

Muçulmanos Tzotziles, em Chiapas, México

"No Brasil, Nova Iguaçu é desde a década de 1980 um centro de fanatismo, reflígio e tránco econômico em favor do Irã e do Hezbollah internacional"

Catolicismo - O que pensar da política concessiva da esquerda católica quanto ao relacionamento com os maometanos? Prof: dei Valle - A esquerda católica favorecedora do Islã, da Palestina, do Irã, de Chávez, do Hamas ou do Hezbollah age como "inocente útil" mediante sua atuação "antiimperialista", conforme a expressão de Lênin em relação a seus aliados ingênuos. O que é um "inocente útil" paraLênin ontem, para Khomeini em 1979 ou para o Hezbollah ou a Al-Qaida hoje? É o "infiel" que acredita poder estabelecer uma aliança durável com os integristas islâmicos, mas que ignora ser essa apenas uma ali ança momentânea, destinada a ser útil somente a um do dois: ao comunismo ontem, ao islami smo radical hoje. A melhor prova disso é que os cri tãos per eguidos no mundo todo nunca são perdoado , poupados pelos islamitas que o perseguem ou matam. A política próPalestina e anti-Israel dos católicos de esquerda nunca melhorou a situação catastrófica dos cristãos da Palestina "livre", os quais, em 1950, eram 20% da população e agora são menos de 1% ... O mesmo vale para o Magreb, a Turquia, a África negra e a Indonésia: em nenhuma parte do mundo islâmico observa-se o princípio de tolerância e reciprocidade co m os cristãos, que são o único a respeitarem o jogo da "tolerância" em entido único. Catolícísmo - O Sr. admite que uma Invasão pacífica da Europa pelos muçulmanos

através do fator demográfico esteja sendo levada a cabo? Em tal caso, .de quem seria a principal responsabilidade? Prof. dei Valle - Podemos dizer que a Europa será invadida progressivamente em algumas de suas cidades e países , pelos povos muçulmanos e africanos do sul, se não houver reação. Claro que o fator demográfico é cen- OMIM~TE tral. Por isto, os dirigentes europeus demons- NOl\l Ct.11 llO tO lll traram ser irresponsáveis e destituídos de bom senso, porque em vez de favorecerem a política demográfica de natalidade para os europeus (ajuda às famílias para terem mais filhos), preferiram importar milhões de pessoas culturalmente pobres e de difícil integração. Esta é uma política não somente suicida, mas criminosa, porque o que se está preparando é simplesmente a "substituição de povo". Nossas elites europeias de esquerda ou europeístas de Bruxelas, intoxicadas pela ideologia mundialista, querem mudar o povo europeu e criar, em nome de uma política antinacional e de negação da identidade fundamentalmente cristã da Europa, uma mescla impossível entre o Ocidente e o Islã. A conclusão terrível é que os líderes intelectuais europeus que aplicam as teori as marO objetivo da cristianofobia é a xistas ou libertárias mundialistas querem negar a destruição do identidade branca e judeu-cristã da Europa. E, para Ocidente cristão que tal negação se transforme em "verdade", a melhor solução é transformar o povo europeu e, a longo termo, o povo ocidental cristão, porque a nova cristianofobia existe não somente nos países muçulmanos asiáticos ou comunistas, mas dentro do próprio Ocidente. E o objetivo da cristianofobia, nascida da ideologia anticlerical francesa do Iluminismo e da Revolução Francesa - agora o coração da ideologia mundialista ocidental -, é a "Os brnsileiros destruição do Ocidente cristão, considerado como devem reagir se "a pior das civilizações" .

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Catolicismo - O que pensar da Irmandade Muçulmana e de seu apoio à "Primavera árabe"? Prof dei Valle - Boa pergunta! A Irmandade Muçulmana, movimento sa lafista pan-islâmico criado em 1928 no Egito para reagir contra a abolição por Ataturk do califado isl âmico otomano, encontra-se feliz por estar realizando uma "revanche", uma vingança, depois de 84 anos! Com efeito, é fácil observar que desde o princípio da "Primavera árabe" estão em perigo somente os governos ditatoriais socialistas, "laicos", nacionali stas, contrários à AI Qaida e à Irmandade Muçulmana:

11ão quiserem terminai· como alguns países europeus, que vivem um problema de integração quase impossível de solucionar"

Mubarak, no Egito, era inimigo dos islamitas dessa irmandade; o mesmo se dava com Ben Ali, na Tunísia, Kadafi na Líbia, o regime "não muçulmano" de origem alauita de Bachar AI Assad na Síria; e, por fim, Saleh no Iêmen, também odiado porque "inimigo do islamismo radical" e acusado de não muçulmano. Poderíamos ainda mencionar o rei de Jordânia, muçulmano moderado, igualmente ameaçado pela Irmandade Muçulmana ... Posso também precisar que após a queda do presidente Bachar na Síria - se ele terminar um dia como Kadafi, o que não é nem impossível nem seguro-, a situação dos cristãos tornar-se-á exatamente como no Iraque, onde eles eram muito mais considerados quando o ditador laico Saddam Hussein governava do que agora. Hoje, os cristãos do Iraque são as principais vítimas dos grupos salafistas e da Irmandade Muçulmana. Catolicismo - Que iniciativas o Sr. sugere aos católicos brasileiros para se oporem a uma eventual invasão muçulmana no País? Prof. dei Valle - No Brasil, os católicos devem organizar campanhas de opinião pública para esclarecer a população a respeito do totalitarismo islâmico e fazer pressão sobre os governos, para que estes denunciem às Nações Unidas a Nova Cristianofobia, título de meu novo livro em francês, o qual espero ver brevemente traduzido para o português. Creio que os católicos não devem temer. O Santo Padre João Paulo II dizia "não ter medo" . Ele tinha razão, pois o medo não permite evitar o problema. Os católicos devem sublinhar sempre o fato de que nos países muçulmanos não existe a menor forma de reciprocidade em relação aos cristãos. Enquanto os muçulmanos continuarem a perseguir os cristãos e todas as minorias não islâmicas no mundo inteiro, eles não poderão se queixar de serem vítimas de "islamofobia". Os brasileiros devem reagir o quanto antes, se não quiserem terminar como alguns países europeus, que agora vivem um problema de integração quase impossível de solucionar. Nosso presente cristianofobo e a invasão ora em curso na velha Europa pelos conquistadores islâmicos serão o vosso futuro se os católicos não reagirem rapidamente. Porque sendo o Brasil um país rico que atrai muitos imigrantes, em pouco tempo chegarão de todas as partes islâmicos para trabalhar, e islamitas radicais procurarão instrumentalizá-los como fonte inicial de conquista. •

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O progresso autêntico

inclui a beleza n GREGóR10 V1vANco LoPEs

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os dois últimos séculos a ciência tem sido enormemente enaltecida, suas descobertas e invenções muito apreciadas, com alguns resu ltados surpreendentes. Deixemos de lado certos espíritos tacanhos ou ateizantes, que se obstinam em opor a ciência à religião, e também certos ecologistas de plantão, que gostariam de acabar com o progresso e voltar às selvas no estilo indígena primitivo. Livres desses objetantes importunos, nós podemos afirmar que o progresso científico, na medida em que caminha na linha da moral e do bom senso, traz benefícios inegáveis ao convívio humano . Mas esses benefícios poderiam ser ainda muito maiores se a ciência não se limitasse ao caráter utilitário das invenções e procurasse, na medida do razoável , apresentá-las de modo artístico e belo. De fato, a parte mais nobre do homem é a alma, e atender à aspiração de beleza do espírito humano não pode estar desligado dos confortos e vantagens proporcionados ao corpo. Para não ficar apenas em teoria, examjnemos dois exemplos.

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La joueuse de tympanon (a tocadora de tímpano, ou a timpanista) é umà androide (figura com semelhança humana) , que toca oito árias num tímpano, percutindo as 46 cordas com doi s pequenos martelos. Trata-se de um presente oferecido em 1784 à rainha Maria Antonieta por Jacques de Vaucanson, especiali sta em pesquisas sobre a restituição dos movimentos humanos. CATO LICISMO

O mecanismo é complicado, composto de molas, engrenagens, alavancas, etc., da mais alta sofisticação para a época, mas permanece oculto sob a saia da androide. Funciona mediante corda (como um relógio) e não só movimenta os braços da figura para que execute a partitura, como também move seu pescoço e seu rosto, produzindo a sensação de uma timpanista que toca com alma uma música nobre e deliciosa. A obra é conjunta do marceneiro David Roentgen e do relojoeiro PietTe Kintzing.

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O rei Lu ís XV tinha verdadeira paixão pelas artes mecânicas e pela astronomia. Em 1754, ele mandou colocar com realce em seus aposentos la pendule astronomique de Passemant, cuj a confecção durou 12 anos. É um belíssimo relógio de sala, fabricado pelo engenheiro Claude-Siméon Passemant, que indica a data, a hora, as fases da lu a e, na esfera de cristal que o coroa, o movimento dos planetas.

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Artefatos de ciência? Certamente. Mas também de arte. A verdade e a beleza se osculam nessas obras. Hoje em dia, com faci lidade constroem-se aparelhos que tocam música, marcam as fases da lua etc. Porém ... a beleza se foi! O mecanismo ficou e até foi aperfeiçoado, mas à alma é negado seu quinhão. Isto é progresso autêntico? • E- mail para o autor: catolicis1110 @1erra.co111 .br

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INFORMATIVO' RURAL Os ambientalistas deixarão o Brasil continuar a crescer? Depois de passarem anos "legislando" por decretos, medidas provisórias, resoluções e outros meios administrativos, os ambientalistas do Ministério do Meio-Ambiente e do IBAMA criaram uma absurda perseguição ao agronegócio. Os produtores rurais passaram a ser perseguidos e criminalizados em suas ações. Reforma Agrária, terras ditas indígenas, pretenso trabalho escravo, remanescentes quilombolas, associados ao mais feroz ambientalismo, fizeram do INCRA, IBAMA e FUNAI o chamado "tridente do diabo", instrumentos de punição à agropecuária. Poder-se-iam ainda somar a CPT e o CIMI, ligados à CNBB. O ex-ministro do Meio-Ambiente, Carlos Mine, tratava os produtores como se fossem bandidos. Após duas fragorosas derrotas na Câmara dos Deputados, por ocasião da votação do novo Código Florestal, os ambientalistas voltaram-se para o Senado. Estão realizando audiências públicas e reuniões quase diariamente, mobilizando grupos de intelectuais e tentando reverter a situação. E os produtores rurais, o que estão fazendo? Não parecem mobilizados ... Está na hora de começar, antes que seja tarde.

Fundamentalismo ambiental brasileiro versus sensatez africana O governo da República do Congo anunciou que necessita de um fundo de 2,6 bilhões de dólares para recuperar as florestas tropicais do país --,-- a segunda maior do mundo, atrás apenas da Amazônia, segundo as Nações Unidas. O plano do governo é reflorestar e regularizar, nos próximos dez anos, a produção rural (madeira, mel e óleo de palma, entre outros produtos) numa área de um milhão de hectares. Para cumprir a meta, o Congo terá de buscar a colaboração de doadores e investidores que paguem a maior parte da conta. Como contrapartida, o governo entrará com 684 milhões. O Congo anda na direção certa. Uma vez que o mundo se beneficia dos serviços prestados pelas florestas do país, seu governo busca recursos internacionais para custear arecuperação e o provimento dos serviços ambientais. Já o governo brasileiro, pressionado pelo fundamentalismo ambiental, caminha na direção contrária. Através do atual Código Florestal, o governo joga todo o custo da recuperação e do provimento de serviços ambientais nas costas dos produtores rurais. Nem o Estado .brasileiro, nem as comunidades internacionais - que usufruem do benefício de um meio-ambiente preservado - arcam com absolutamente nad a (cfr. site Código Florestal Brasileiro).

. Agricultores brasileiros vão para a África O governo de Moçambique está oferecendo seis milhões de hectares no norte do país, para que agricultores brasileiros plantem soja, algodão e milho. Os primeiros 40 agricultores partirão do Mato Grosso no mês que vem. As terras são oferecidas pelo governo moçambicano em regime de concessão. Os produtores poderão usá-las por 50 anos, renováveis por outros 50 mediante o pagamento de um imposto anual. "Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete muito mais barato", diz Carlos Ernesto Augustin, presidente da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa). "Hoje, além de a terra ser caríssima em Mato Grosso, é impossível obter licença de desmate e limpeza de área".

i "Os agricultores brasileiros têm experiência acumulada que é muito bem-vinda. Queremos repetir em Moçambique o que o Brasil fez com o cerrado 30 anos atrás ", afirma o ministro da Agricultura de Moçambique, José Pacheco, acrescentando: "A grande condição para os agricultores é ter disposição de investir em terras moçambicanas". Os produtores brasileiros se comprometem a empregar e treinar 90% da mão-de-obra de cidadãos moçambicanos. O governo de Moçambique dará isenção fiscal para a importação de equipamentos agrícolas. As terras oferecidas aos brasileiros estão situadas em quatro províncias da região norte: Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia. Além dos produtores brasileiros, também a Embrapa mantém na área o projeto Pró-Savana com a Agência Brasileira de Cooperação e a Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão). O projeto de cooperação técnica em Moçambique é o maior da Embrapa fora do Brasil. Os pesquisadores brasileiros trabalham na adaptação de culturas de algodão, soja, milho, sorgo e feijão (cfr. site Código Florestal Brasileiro).

Ele assim descreve como o IBAMA atua na Amazônia: "Durante meus trabalhos na Amazônia conheci o Seu Afonso Vieira Simões. Seu Afonso veio para a Amazônia nos anos 70, comprou um naco de terra e recebeu um documento do antigo IBDF (antecessor do lhama) autorizando odesmatamento de 50% da área conforme permitia a lei da época. Seu Afonso desmatou e plantou pasto. Nos últimos anos Seu Afonso transformou seus velhos pastos em área agrícola. Uma das fazendas de maior potencial produtivo que conheço. Sabe o que aconteceu? O IBAMA, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, apareceu lá, embargou a área agrícola e apreendeu toda a soja que estava armazenada nos silos dafazenda". Este é mais um dos inúmeros desmandos do IBAMA, que vimos denunciando há tempo nas páginas desta revista. Frequentemente a Campanha Paz no Campo recebe novas denúncias (cfr. site Código Florestal Brasileiro). •

Safra de grãos do País alcança 162,9 milhões de toneladas A produção nacional de grãos deve chegar a 162,9 milhões de toneladas. O volume representa aumento de 9,2% em relação à safra anterior (2009/2010), que registrou 149,2 milhões de toneladas. O bom desempenho se deve principalmente às condições climáticas favoráveis na maioria das regiões produtoras. A área total cultivada no País está estimada em 49,9 milhões de hectares, correspondente a pouco mais da metade das áreas destinadas à Reforma Agrária - 80 milhões de hectares! - que quase nada produzem e estão transformadas em imensas "favelas rurais" (cfr. Agrolink e Conab).

O governo, o IBAMA e a desventura de um produtor rural do Amazonas Editor do blog Código Florestal Brasileiro, Ciro Siqueira é um incansável batalhador em defesa da agropecuária. CATOLICISMO

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T entou-se realizar no Brasil uma verdadeira revolução agrária corno meio para se implantar um regirne comunista. Hoje a própria esquerda confessa, contrariada, o fracasso. O novo nmne da velha Reforma Agrária é "agroccologia".

mJos É CARLos

SEPúLVEDA DA FoNsEcA

á poucas semanas, a revista "Carta Capital" estampou matéria de grande relevância. Mas o correcorre do acontecer contemporâneo e o estranho e quase completo silêncio de outros órgãos da mídia impediram que a referida matéria alcançasse o devido destaque. Tomando toda a capa da revista, um extenso gramado cobetto de uma infini-

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dade de cruzes brancas alinhadas evoca a imagem de um cemitério de guerra. Em primeiro plano, um boné do MST repousa sobre a cruz que se destaca, transmitindo a ideia de desalento fúnebre que atinge o "movimento social" mais proeminente no País. Ao lado, em letras grandes e de cor contrastante, o título: Reforma Agrária, descanse em paz. O conjunto busca transmitir com impacto uma mensagem clara a quem tenha apenas a oportunidade de vet' a revista em alguma banca, sobre a mesa de uma sala, ou numa escrivaninha de trabalho de um escritório. A simples consideração da montagem de capa não deixa dúvidas a respeito do teor da matéria no interior da revista: o dobre de finados da Reforma Agrária, uma das metas revolucionárias mais almejadas, há décadas, por todo o tipo de líderes políticos e movimentos ideológicos, mais ou menos influenciados pelas concepções socialistas, comunistas ou até anarquistas, com destaque para a chamada esquerda católica. Esse dobre de finados não foi um toque isolado. Foi antes o apogeu simbólico de uma série de notícias e comentários que se sucederam nos últimos meses apontando o fracasso agroreform ista. OUTUBRO 2011

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"Extrema unção" da Reforma Agr,ária Quem, movido pelo interesse ou então pela simples curiosidade, folheie a revista, verá reforçada na página 22 sua impressão do toque de finados da Reforma Agrária. Assinada por Ricardo Carvalho e Soraya Aggege, a matéria intitula-se: Extrema unção. A reportagem, que se estende até a página 28, tem o tom de uma confissão malhumorada. A essência do texto encontra-se na afirmação de que "o sonho da reforma agrária no Brasil agoniza". Seja-nos permitido o parêntese, mas teríamos vontade de ~ prontamente contrarrestar que ~ felizmente e para bem do Bra- ~ sil, não é o sonho, mas o pe- ] sadelo da Reforma Agrária que agoniza. Fechado o brevíssimo parêntese, detenhamo-nos em alguns aspectos da referida reportagem, que a exiguidade do espaço não permite analisar de modo detalhado. Habitualmente próxima aos chamados "movimentos sociais" (MST e outros) e simpática ao agro-socialismo confiscatório, "Carta Capital" é insuspeita. O que de si realça o valor da confissão de fracasso do modelo agro-reformista frente ao modelo da propriedade privada: "O PT, a partir da experiência no governo, demonstra ter concluído, como várias correntes do pensamento econômico, que a reforma agrária clássica, da distribuição de terra, não faz mais sentido".

Esquerdistas não reconhecem uma evidência: "favelas rurais" Trata-se, como dissemos, de uma confissão mal-humorada, pois no momento mesmo de reconhecer o desastre do modelo agro-reformista, a matéria, para não "dar a mão à palmatória" de acordo com a expressão popular está eivada de chavões papagueados há décadas pelos agro-reformistas, de afir-

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hectares sob a égide da Reforma Agrária constituem um fracasso de produtividade e estão isentos da cobrança de tais "índices de produtividade". O que a reportagem não consegue esconder é que muitas vezes só a distribuição de cestas básicas nos acampamentos da Reforma Agrária pode aliviar a penúria dessas verdadeiras "favelas rurais". "Carta Capital" põe ainda em evidência um paradoxo: "Não deixa de ser irônico que as últimas pás de cal [em cima do "sonho" da Reforma Agrária] tenham sido despejadas por governos petistas, partido historicamente ligado aos movimentos sociais do campo. Mas é fato". E acrescenta que, mações contraditórias ou gratuitas, de distorções e omissões graves. Segundo a reportagem, por exemplo, "os índices de produtividade - já de si um mecanismo arbitrário de penalização do direito de propriedade - favorecem os proprietários que mantêm ~-~ ,.':; grandes extensões de ter- &l ras praticamente sem pro- d dução "! Como? Por quê? Onde? Não está dito. Como é sabido, não existem praticamente grandes extensões de terras sem produ ção, em mãos de proprietários particulares. E a própria revista acaba por reconhecê-lo, logo a seguir, ao afirmar que o preço do hectare de terra "segue em constante valorização", fruto da enorme produtividade alcançada pela agropecuária nacional e da "expansão das fronteiras agroindustriais". A matéria omite, por outro lado, que os milhões de

ao tomar posse em 2003, Lula havia prometido resolver com uma canetada a questão dos índices de produtividade, atualizando os mesmos. "Faltou tinta na caneta", acrescenta. A revista escamoteia a realidade. Na verdade, Lula da Silva foi alçado à Presidência da República com forte apoio dos movimentos pró-Reforma Agrária, incluindo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e boa parte dos meios ligados à esquerda católica. O INCRA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário foram, sobretudo em seu primeiro governo, loteados entre os representantes radicais do agro-reformismo. E, em marcante gesto político, Lula colocou na cabeça o boné do MST, mostrando a disposição de tomar como parceiro esse "movimento social", cujos métodos de ação desrespeitam sistematicamente o Estado de Direito: "Não pensem que eu não acordo de madrugada pensando numa reforma agrária radical e numa distribuição de renda justa", declarou o ex-presidente ("O Estado de S. Paulo", 30-4-03). Em 2003 , lançou ainda um Plano

Nacional de Reforma Agrária (PNRA), coordenado por Plínio de Arruda Sampaio, plano que gozava do apoio da CNBB e previa a expropriação sumária de grandes extensões de terra. Na realidade, Lula prometia dar impulso ao agro-reformismo "com uma canetada ". Mas não faltou tinta na caneta - ao contrário do que afirma "Carta Capital". O que explica a mudança de orientação dos governos petistas ou, pelo menos, a paralisia destes, foi a acentuada oposição sofrida pelos mesmos da parte do brasileiro médio. Por isso o paradoxo! O que está ausente na análise de "Carta Capital" é precisamente a consideração desta oposição que a grande maioria dos brasileiros de há muito demonstra ao agro-reformismo. Oposição que tem um histórico, e talvez seja neste campo - da conquista das mentalidades - que a Reforma Agrária tenha sofrido um dos seus maiores insucessos.

Reforma Agrária: uma verdadeira revolução agrária no Brasn Cabe, pois, a pergunta: qual o sig-

nificado profundo desse fracasso, desse dobre de finados da Reforma Agrária? Não se trata apenas do fracasso de um modelo de produção. É o malogro de uma revolução! Da revolução agrosocialista confiscatória que visava mudar em profundidade a fisionomia do Brasil: "A lei que implantasse a Reforma Agrária constituiria uma revolução. Revolução de índole social e econômica, porque a Reforma Agrária visa alterar a estrutura da sociedade e da economia. Revolução de cunho religioso, porque a alteração projetada é em si mesma contrária à Lei de Deus e ao ensinamento da Igreja", afirmava Plinio Corrêa de Oliveira no livro Reforma Agrária-Questão de Consciência (Editora Vera Cruz, 3ª ed., São Paulo, 1961, p. 46). Foi precisamente contra esta profunda revolução religiosa, política e social - discernida em seus alvores - que Plinio Corrêa de Oliveira empreendeu desde os anos 60 uma batalha de idéias sem trégua. Para ele não se tratava apenas de preservar um modelo de produ-

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ção agropecuária, mas de defender em suas raízes cristãs o que poderíamos chamar de civilização brasileira; de impedir que fosse convulsionado o ambiente de harmonia de classes que imperava no relacionamento social; de não permitir que a liberdade dos brasileiros de desfrutarem do direito de propriedade fosse trocada pela servidão reinante nos países que jaziam sob o inclemente totalitarismo materialista e coletivista imposto pelas ideologias socialo-comunistas, classificadas anos mais tarde pelo então Cardeal Ratzinger como a "vergonha de nosso tempo".

dida nas exíguas fil eiras de ativistas que se reuniam em torno do parti do, mas sem raízes na opini ão pública.

Esquerda católica e distorção do ensl11amento de Nosso Senlwr Para vingarem e se consolidarem, as revoluções necessitam conquistar o que se poderia chamar o "centro decisivo"

Che Guevm'a, Reforma Agrária e tomada do poder Para bem se entender a dimensão desse fracas so da Reforma Agrária - a revolução malograda! - convém lançarmos um olhar retrospectivo. Nos anos 50-60 o Brasil e a América Latina eram alvo da atuação ardida das mais variadas correntes esquerdistas (marxistas, trotskistas, maoístas, etc.) que, em grande medida inspiradas pela revoluç ão comuno-c a stri sta de Cuba, tinham de algum modo em vista implantar "ditaduras do proletariado", não hesitando muitos desses grupos e militantes em empreender a luta armada revolucionária. Che Guevara, o cruel guerrilheiro transformado em ídolo por certa esquerda, proclamava a necessidade de uma Reforma Agrá- ~ ria para o êxito da revolução e a -;:. 2 consequente tomada do poder: "A ~ base das reivindicações sociais que o guerrilheiro deve levantar, ,!i! será a mudança da estrutura da propriedade agrária ... a luta deve de'senvolver-se, pois, continuamente sob a bandeira da reforma agrária " (cfr. Oeuvre I - Textes Militaires, Maspero, Paris, 1976, pp. 52,53). A Reforma Agrária era, aliás, desde os anos 20, uma das metas reivindi cadas no Brasil pelo Partido Comunista, uma aspiração de ideólogos difun-

Meta r evol uclo11ál'ia: destruir a harmonia social 110 Brasil

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bem como entre soc iali stas de salão ou de porta de li vraria. Mas sua penetração no público em gera l era minguada. Dev ido à índole pacífica do povo brasileiro - sua bondade de temperamento, aversão às tensões sociais e aos embates de classes, e sobretudo pel a influência nele exercida pelas tradições cri stãs de co ncó rdi a e benqu erença, como pelo arraigado respeito pela instituição fa miliar e sua correlata, a pro pri edade priv ada - , o co njunto da opinião pública nacional não se deixava penetrar pelos pruridos revolucionários dessas minori as de ideólogos e de ativi stas. Para levar esse conjunto a uma mudança de posição, só mesmo um trabalho metódi co por parte do clero que apelasse às consciências, procurando mobilizar a larga infl uência religiosa e o prestígio hi stóri co da Igreja. A infiltração esquerdista nos me ios católicos j á então se fazia sentir. E seus agentes, di storcendo os ensinamentos de Nosso Senhor Jesu Cristo, iam operando uma paulatina mudança nas menta li dades, erodindo as res istências às idéias revolucionárias. O alvo primord ial era a propriedade privada; o método, o ataque aos proprietári os.

da nação. E essa conqui sta se faz antes de tudo nas mentalidades. No Brasil dos anos 50-60 - e em boa medida no resto da A mérica Latina - a esquerda radical, pouco numerosa mas ruidosa, tinha adeptos em diversas redações de jornais, rád ios e telev isões, em certos ambi entes uni versitári os, em setores do mundo artístico e cultura l,

O processo de fo rmação do Pa ís tinha naturalmente gerado uma elite - a dos faze ndeiros que se requ intava em cultura e saber, que fizera suas lavouras crescerem em meios de produção, em cultu ras di versificadas. Alé m di sto, essa elite - em sua grande maioria ainda impregnada pela tradição cri stã luso- bras ileira de trato afável, q ue sabe que as relações de trabalho se expandem para muito além da relação patrão-empregado - gerava relações de afi nidade, de benquerença, de cui dado e desvelo, de proteção mútua. Todo este quadro, em que trabalha-

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Reforma Agrária:

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"Não há cadastro público; os líderes são contraditórios; não temos números oflciais... "

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A política de Reforma Agrária tem cons umido ao País milhões e milhões de reais, litera lmente extorquidos aos contribuintes pela acachapante carga tributária em vigor. Seria necessário que o Poder Público prestasse contas claras e prec isas desses seus programas, mediante a coleta científica e imparcia l de dados estatísticos inteiramente elucidativos de toda a realidade rural brasileira contemporânea, bem como dos programas de Reforma Agrária. A partir desta elucidação, honesta e objetiva, seria possível, aos mais diretamente interessados, e à opinião pública em geral, avaliarem a necessidade ou não das políticas de Reforma Agrária. Plinio Corrêa de Oliveira, aliá , propôs mais de uma vez pela imprensa di ária1 essa elucidação objetiva como solução para a controvérsia agrária em curso no País: "A partir desta realidade assim elucidada, seria possível às várias correntes de opinião discordantes, travar de modo objetivo, substancioso e fraterno, uma polêmica ou um diálogo aberto e capaz de preservar a paz social, e operar na paz os progressos e quiçá as modificações que ajustiça e a caridade eventualmente sugerissem" (No Brasil: A Reforma Agrária leva a miséria ao campo e à cidade, Editora Vera Cruz, 1986, 2ª ed.; p. 19). Enquanto muitos continuam a vociferar exigindo mais desapropriações e mais distribuição de terras, com base em argumentos demagógicos ou fundados em análises teóricas pouco vincul adas à realidade, o Poder Público demonstra que no campo agro-reformi sta oficial reinam a imprecisão e a confusão. É elucidativa a breve entrevista do atual ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso F lorence, estampada por "Carta Capital", da qual transcrevemos alguns tópicos: "CC: Eu gostaria que o senhor fosse mais específico ao menos em relação aos números. AF: O PPA (Plano Plurianual) está em elaboração. Nós esta mos aperfeiçoando nosso planejamento. Estamos conversando com movimentos sociais, quilombolas ... Mas vamos amp li ar e conso lidar os assentamentos.

Ministro do Desenvolvimento Agrórlo, Afonso Florence

CC: Não há sequer estimativas, uma ideia geral de quantas famílias serão assentadas em 2011? AF: Não trabalho com estimativas e não temos números aqui que permitam um planejamento. Primeiro vamos levantar os números reais. CC: Ministro, qual é a demanda nacional por reforma agrária? AF: Não há cadastro público de demanda. Há acampamentos, mas os líderes são contraditórios nos dados. Não temos números oficiais. CC: Mas, como ministro, o senhor não tem idéia da dimensão atual da demanda por reforma agrária no Brasil? O Incra trabalha com a estimativa das famílias acampadas, de 170 mil, pelo número de cestas básicas distribuídas pelo governo nos acampamentos. AF: Não é possível estimar a demanda. Não creio que sejam 170 mil famílias. Veja, o governo, por orientação da presidente Dilma, vai trabalhar com o planej amento inclusive de gestão fundiária. Não posso, como ministro, dizer que os dados não são confiáveis. Mas há, por exemplo, áreas cadastradas no Incra superiores ao tamanho dos próprios municípios onde estão localizadas. [... ] CC: Quando o governo Dilma terá um planejamento sobre as metas de assentamentos, de distribuição de terras? AF: Não temos esse planejamento nem o teremos muito rapidamente. [... ] Olhe, eu gostaria de ter os instrumentos apurados, mas não os tenho".

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dores manuais iam tendo suas posses, adquirindo suas terras, e tantas vezes se impregnando do trato e do refinamento de seus patrões, criava um ambiente avesso a revoluções, a inversões profundas da ordem. Esta ordem, baseada na propriedade e na família, era de molde a preservar as tradições do País e o espírito cristão. Para aqueles que, em nome de ideologias essencialmente materialistas e ateias, viam nas relações humanas - especialmente entre patrões e empregados - uma fonte de inesgotáveis conflitos, de intermináveis ódios e incompreensões, que seriam o motor da evolução histórica rumo a uma sociedade radicalmente igualitária, sem hierarquias sociais, sem propriedades e sem famflia, era necessário dar uma machadada em toda esta organização sócio-econômica. A Reforma Agrária - sob diferentes pretextos - era, pois, o machado, a solução mágica e revolucionária para alcançar esse fim.

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Debilitação da salutar influência rellgiosa Mas, como afirmamos anteriormente, tratava-se de operar uma baldeação nas mentalidades, para envenenar esta realidade ainda sadia. Certa modorra nos ambientes religiosos, em que os princípios eram ensinados tantas vezes sem entusiasmo, fazia com que muitos - dizendo-se, embora, católicos - fossem perdendo o vigor das convicções, as quais se tornavam, cada vez mais, simples hábitos mentais. Além disso, o declínio religioso foi afetando indiscriminadamente patrões e empregados, e a salutar influência religiosa foi-se enfraquecendo na vida do campo, bem como em todo o País.

Preconceito passional contra o proprietário Estava assim preparado o campo para a ação, solerte e incansável, da minoria progressista.

Num ambiente de confusão, manipulando termos como "latifúndio", "democracia", "justiça social", mais do que uma doutrina, a esquerda católica espargia uma mentalidade. O desconhecimento, por boa parte dos católicos, da doutrina da Igreja no tocante às legítimas desigualdades existentes entre os homens, ao lado da igualdade fundamental, permitia que o clero progressista disseminasse a ideia de que a Igreja era mestra e paladina de uma igualdade radical e onímoda. Sob o pretexto de legítima proteção aos pobres, ia-se formando um estado de espírito rancorosamente hostil a toda e qualquer hierarquia. O proprietário era apresentado como detentor de interesses opostos aos dos trabalhadores e do Estado. Aflorava assim um preconceito passional contra o proprietário (egoísta, inclemente, soberbo), fazendo com que surgisse na cabeça de muitos a dúvida: se a própria condição de proprietário

não era, por si só, contrária ao verdadeiro espírito cristão. Num segundo passo era questionada a própria instituição da propriedade, a qual de si seria iníqua e causa dos múltiplos defeitos atribuídos aos proprietários, bem como responsável pelas crises que o País atravessava. Neste caldo de cultura irrompiam, como soluções simplistas, a supressão da propriedade privada no campo e areforma completa da estrutura agrária do País.

"Livro-bandeira contra a reforma agrária" Na medida das possibilidades, tornava-se imperioso preparar as condições para uma sadia reação do bom-senso e da consciência cristã. Plínio Corrêa de Oliveira julgava chegado o momento de empreender uma pugna ideológica do ponto de vista católico contra o agro-reformismo socialista e confiscatório. Antes de tudo por convicção pessoal, mas igualmente pela certeza de que a reação da consciência cristã precisava ser o fundamento da defesa da propriedade privada, para alcançar seu superior sentido moral aos olhos dos brasileiros, mesmo dos não católicos. Estava ele persuadido de que a imposição de uma lei anticatólica a um país católico arrastaria o Brasil a um mare magnum de problemas que faria da Reforma Agrária o ponto de partida para uma grave convulsão da consciência cristã do País, criando um gênero de questão - a religiosa - que estadistas e homens de pensamento reputavam assaz delicada. Ciente de que o problema agrário é um aspecto da questão social e de que, segundo ensinam os Sumos Pontífices, esta é primordialmente moral e religiosa, tratava-se de convocar à ação em

Plinio Corrêa de Oliveira expõe as teses do livro Reforma Agrária - Questão de Consciência

defesa de direitos inalienáveis, em nome da fidelidade aos princípios da civilização cristã. Com a participação dos Bispos de Campos (RJ) e de Jacarezinho (PR), respectivamente Dom Antonio de Castro Mayer e Dom Geraldo de Proença Sigaud, e com um estudo complementar do economista Luiz Mendonça de Freitas, surgiu Reforma Agrária - Questão de Consciência (RA-QC), que viria dar uma fisionomia totalmente nova ao embate antiagro-reformista: "Este trabalho se dirige, pois, aos membros das profissões liberais, aos eclesiásticos, aos pol{ticos, aos militares, e notadamente aos agricultores, engenheiros agrônomos, economistas, bem como, de modo geral, a todos os homens de cultura e de ação nos quais a Fé e o amor à nossa civilização mantêm vivaz a convicção da legitimidade e benemerência da propriedade privada, e aos quais incumbe, a títulos diversos, a defesa dos fundamentos da nacionalidade " (op. cit. Editora Vera Cruz, 3ª ed., São Paulo, 1961, p. 6). Difundido por todo o Brasil e transformado em pouco tempo em best-seller, RA-QC tornar-se-ia o verdadeiro "livro-bandeira contra a reforma agrária " , segundo as palavras do insuspeito Márcio Moreira Alves (cfr. O Cristo do Povo, Ed. Sabiá, Rio de Janeiro, 1968, p. 271). A campanha concorreu inegavelmente para barrar o caminho à Reforma Agrária - à revolução agrária - e favoreceu um ressurgimento das energias abatidas na opinião pública, fincando um filão de resistência ao agro-reformismo que se prolongaria no tempo.

O cat6llco não pode deixar de ser contra a Reforma Agrária Durante décadas o agro-reformismo socialista e confiscatório agiu de modo camaleônico: mudou de cor, de táticas, de pretextos; mudou de modos de esca-

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católica presente em todos os países. Este desastre foi evitado ao Brasil, objetivamente, pela impossibilidade da vitória do "sonho" (pesadelo!) agro-socialista, confiscatório.

d ida, sustado. Hoje, muitos dos que outrora se envergonhavam de defender a instituição da propriedade, declaram sem pejo que não existe verdadeiro e autêntico progresso sem a vigorosa colaboração da propriedade. E todos aqueles que se encontram em legítima ascensão social, mesmo os mais pobres, vêm na propriedade um bem a alcançar. A Reforma Agrária tornou-se, pois, inviável.

Plinio Corrêa de Oliveira e o economista Carlos Patricio dei Campo deram o brado de alerta no livro Sou Católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, demonstrando que em vários de seus tópicos o documento da CNBB de 1980 favorecia conclusões agro-reformistas que não encontravam fundamento nos ensinamentos tradicionais do Magistério Supremo

motear a realidade e de meios de intimidar a classe dos proprietários e da burguesia em geral com ameaças fantasmagóricas de convulsões sociais partidas de massas camponesas indignadas com o estado de miséria quimérico a que as teria reduzido a instituição cruel da propriedade. Só não mudou duas coisas: sua meta - a supressão da propriedade privada, e seu ardil - a tentativa de instrumentalizar o prestígio da Igreja em seu favor. Também durante décadas, Plinio Corrêa de Oliveira sustentou animosamente essa controvérsia, aparando os golpes e investidas agro-reformistas , enquanto outros preferiam muitas vezes fechar os olhos, cruzar os braços ou, como visionários, entoar o estribilho de colorido derrotista "ceder para não perder". Entretanto, a receptividade da opinião pública à ação anti-agro-refoi·mista se renovava a cada lance. Nesse longo percurso, cujo imples enunciado histórico extrapolaria os limites do presente aitigo, é de realçai·-se a explosão agro-reformista, de espírito e propósitos radicalmente igualitários, do documento coletivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),lgre-

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ja e problemas da terra, aprovado em fevereiro de 1980. Com franqueza e sem rodeios, o documento episcopal proclamava a determinação de promover uma igualdade sócio-econômica completa, por meio da Reforma Agrária seguida da Reforma Urbana, o que conduzilia naturalmente a uma Reforma Empresai·ial. Era imperioso, uma vez mais, acautelar os meios católicos. Plínio Corrêa de Oliveira, coadjuvado pelo economista Carlos Patricio dei Campo, deu obrado de alerta no livro Sou Católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, demonstrando que em vários de seus tópicos o documento da CNBB favorecia conclusões agro-reformistas que não encontravam fundamento nos ensinamentos tradicionais do Magistério Supremo: "Em consequência, o autor se sente no direito, enquanto católico, de combater a Reforma Agrária proposta no documento Igreja e problemas da terra. Um direito que ele tem na conta de um verdadeiro dever. Esse dever, ele o cumpre com tranquilidade de consciência, pois está seguro de agir, desse modo, segundo os ensinamentos e as praxes tradicionais da Santa Igreja" (Editora Vera Cruz, 1981, p. 34).

Não há progresso sem garnntla ao direito de propriedade Passadas tantas décadas, um insuspeito órgão de imprensa declara envergonhado o toque de finados da Reforma Agrária. Esse toque de finados tem, por certo, diversos significados. Um deles é a constatação do desastre reinante nas verdadeiras "favela rurais" em que se transformaram os assentamentos da Reforma Agrária. Exemplos vivos das fracassadas experi ências coletivistas, eles são geradores de miséria para os pobre brasileiros envolvidos nesse processo; consomem o dinheiro da alta carga tributária extorquida aos brasileiros e impedem que milhões de hectares sejam devidamente aproveitados para a produção agropecuária. Isso, diga-se de passagem, no preciso momento em que as mesmas tubas publicitárias que fomentam a propaganda agro-reformista lançam mais uma dessas ondas alarmistas a respeito da eventual crise de alimentos no mundo. Mas há um fracasso bem mais profundo: na marcha dos espíritos e das mentalidades, o progressivo descrédito da propriedade privada foi, em boa me-

Se o Brnsil fosse comunista, teria ,1esmoro11ado a URSS?

Uma outra consideração pode ser aqui enunciada. Em meados da década de 80, enorme descontentamento se espaTeJJtatJ,ra de implanta1ha va pelo mundo soviético. ção de um regime Surgiu, então, das fileiras do comunista no Brasil Comitê Central do Paitido Comunista, como figura inovaDiante de tal constatação, dora, o futuro Secretário-Geuma pergunta se impõe: o que ral e líder da União Soviética, teria ocorrido no Brasil se a Mikhail Gorbachev. Ele se investida agro-reformista tiprojetou como o homem que vesse saído vitoriosa? vinha operar uma mutação do Ela imporia um boulevercomunismo, com a Perestroisement completo da estrutura ka, sem abandonar o regime agrária do País, com a instaunem desfazer a União Soviéração de um férreo dirigismo tica, como ele mesmo fazia estatal e a supressão da proRerwrlcr Ri, ke questão de ressaltar; uma Pepriedade individual e da livre to Gct Photogn1p Shuwing Slarva restroika que devia estenderiniciativa. Este teria sido um S'....!.":~..::-::=::.-.::... ....... --, se igualmente ao mundo livre, passo fundamental para a im,. numa convergência do Ociplantação entre nós de um redente com o comunismo "regime coletivista de inspiração -~!!=!~?: r·:.--:.•:--:?f-· novado". socialista, que eliminando o Mas, enfraquecida duraninstituto da propriedade teria te décadas por um totalitarisextinguido urna das principais mo estatista, a exangue Rúsliberdades humanas: a de acusia Soviética necessitava namular o fruto de seu trabalho, quele momento de um apoio fazer crescer seu patrimônio internacional vigoroso. Apoio e transmiti-lo em herança. Milhões morreram de fome na antiga União Soviética geopolítico estratégico e fonO Brasil teria sido então por causa de uma reforma agrária implacável ordete de abundantes riquezas e retransformado num imenso renada pelo ditador Stalin cursos naturais. Esse apoio gime de servidão, cuja expedevia estar, normalmente, no Novo ia tornado uma imensa Cuba, o modelo riência coletivista não seria tão diferente Mundo, no grnnde bloco latino-ameritão adulado pelos agro-reformistas. das outras grandes experiências coleticano ... mas não estava. No decurso de O comunismo internacional - que vistas que se viviam atrás da Cortina nas décadas de 50-60 se encontrava quase três décadas, o Brasil resistira à de Ferro e cujos resultados se podem investida agro-reformista e à revolução num auge de ofensiva expansionista resumir na trilogia: tirania, servidão e que decorreria da implantação radical teria deste modo cravado uma garra no fome. desta. Evitara para si o desastre comugigante católico da América Latina. A Longe do espírito de iniciativa que nista e ajudara a evitá-lo também para partir dessa conquista, sua política exhoje constatamos em todas as classes, o resto da América Latina. É de se supansionista se teria acentuado e com longe da prosperidade que faz com que por que, se o comunismo tivesse sido certa facilidade conquistado outras natenhamos um processo de melhoria ecovitorioso na América Latina, provavelções latino-americanas, com a preciosa nômica e de legítima ascensão social que mente a União Soviética nem sequer colaboração dos esforços da esquerda já dura há décadas, nossa Pátria ter-se-

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teria chegado ao estado de prostração, de humilhação e de vergonha em que se encontrava. Por diversos fatores, entre os quais o acima mencionado, a União Soviética terminou por esboroar-se. "A morte da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século", reconheceu Vladimir Putin, ex-oficial da KGB e atual primeiro-ministro da Rússia.

Fracasso do projeto agroreformista salvou o Brasil O Brasil, pelo contrário, transformou-se em uma potência agrícola que deslumbra o mundo. É a pujança da propriedade individual e da iniciativa privada que se desdobram em criatividade, em espírito empreendedor e em atividades desbravadoras que beneficiam visivelmente no seu conjunto todo o País e todas as classes sociais. Do ponto de vista sob o qual estamos analisando a realidade, pode-se afirmar que o Brasil hodierno tem diante dos olhos dois destinos: um que é, e outro que teria sido. O primeiro destino é seu presente, borbulhante de vitalidade, no qual a harmonia social permanece como nota predominante no convívio entre classes desiguais, em que a propriedade privada - apesar de combatida e cerceada

- é o grande motor do inegável crescimento econômico e social que tem conduzido o País a posições de destaque, feito crescer o bem-estar interno e cuja experiência já começa a ser cobiçada por países (como Moçambique) vítimas também do atraso a que os reduziu em matéria de agricultura o dirigismo estatal. O outro (infeliz) destino - que teria sido o de todo o País - está refletido no fracasso do projeto agro-reformista, cujas experiências baseadas nas ideologias socializantes só geraram fracas-

Plinio Corrêa de Oliveira

CATOLICISMO .

so, miséria e assistencialismo. A este projeto a revista "Carta Capital" decretou o "dobre de finados": Reforma Agrária, descanse em paz.

Luta anti-agro-reformista de Pllnlo Corrêa de Oliveira Talvez na hora da análise dos dados da produção agrícola crescente, da constatação do crescimento do consumo interno de alimentos, da realização das grandes negociações internacionais de commodities agrícolas, da consideração dos avanços nas técnicas da agropecuária nacional, muitos se esqueçam da longa trajetória de lutas que se tem travado no País em torno do direito de propriedade da terra e que tornou possíveis todos esses resultados. Para o bem geral da Nação, o agroreformismo fracassou em seus intentos mais radicais e também no esforço de conquistar as mentalidades dos brasileiros médios. Diante desse resultado, auspicioso e de reconhecida importância, é imperioso reconhecer com gratidão o percurso de lutas, rico em esforços árduos e desinteressados, que situa a figura de Plinio Corrêa de Oliveira num plano ímpar da pugna em prol do sagrado direito de propriedade na história contemporânea do Brasil. •

Agroecologia: o novo nome da velha Reforma Agrária socialista e confiscatória

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Nem os desastres mais espetaculares, nem os fracassos mais evidentes fazem ós defensores do agrosocialismo confiscatório desistir de suas idéias utópicas e sectárias. João Pedro Stédile é um dos arautos dessa nefasta "utopia". Líder do MST - uma organização que atenta habitualmente contra o Estado de Direito com suas invasões de propriedades - , ele repete sem cessar as mentiras mais descaradas a respeito da situação rural do País. De acordo com sua entrevista concedida a "Carta Capital", 66 mil fazendas classificadas de grandes fazendas improdutivas - ocupam mais de 175 milhões de hectares. O que Stédile não explica em seu discurso fraudulento é como dezenas de milhares de fazendas "improdutivas" trazem à Nação êxitos crescentes e cada vez mais impressionantes na produção de alimentos que são consumidos em boa medida internamente no País. O que Stédile esconde é q e as áreas destinadas hoje à Refor- § ma Agrária ocupam mais de 80 ~ milhões de hectares, sem qualquer produção significativa, sobrevivendo muitas vezes de distribuição de cestas básicas. Aliás, o dado fornecido por Stédile é inteiramente deturpado: há atualmente 4.920.465 propriedades rurais . As áreas destinadas ao cultivo são de 60 milhões de hectares e as atribuídas à pecuária, 200 milhões. Mas Stédile insiste na meta de "desapropriação de terras e democratização da propriedade", um eufemismo para a meta última do agro-socialismo confiscatório: a expropriação (sem indenização) e a coleti vização da terra. Para atingir essa meta, as "razões" mudaram. Agora não são mais as imaginárias hordas de camponeses indignados e esfomeados em busca de terra, mas a agressão ao meio ambiente através do cultivo da terra e o

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esgotamento dos recui;sos naturais provocado pretensamente por proprietários movidos por anseios egoísticos de lucro, de luxo, de status e de desigualdade. Acenando com mitos infundados e pouco científicos dos chamados "ambientalistas", para Stédile a solução agora tem um nome: a agroecologia, que não é senão a tentativa de tornar invjável a produção agropecuária por meio de absurdas e abusivas legislações ambientais. Tudo com a finalidade de desmantelar essa imensa estrutura "injusta" e "malfazeja" baseada na propriedade privada e na livre iniciativa. Para esses utopistas - escreve Plínio Corrêa de Oliveira - "o futuro está em dividir tudo por igual, acabar com as competições, as 'carreiras', liquidaras imensas estruturas econômicas, políticas, administrativas e sociais" (Tribalismo indígena, ideal comuna-missionário para o Brasil no século XXI, Ed. Vera Cruz, 1977, p. 10). Tais legislações ambientais visam engessar qualquer atividade agropecuária da iniciativa privada e são bem diversas de uma ordenação das atividades produtivas proporcionada através da qual o homem, pelo sábio aproveitamento dos dons de Deus e da natureza dadivosa, extrai desta os meios para o seu sustento. Curiosamente, os acampamentos da Reforma Agrária estão imunes, na prática, a tal malha legal, e neles qualquer "crime" ambiental é justificado ou acobertado. Agroecologia! Mudam-se os pretextos, mas a meta mantém-se: a supressão da propriedade privada e das decorrências desta, a coletivização da terra e a redução da produção humana a meras atividades de sobrevivência, geradoras de inevitável miséria. Afinal, para as correntes mais radicais, a miséria não é consequência de um fracasso, mas uma meta a alcançar. O miserabilismo tornou-se um ideal!

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Santa Maria Francisca das Cinco Chagas Terceira franciscana, devotíssima do sublime mistério da Trindade Santíssima, viveu em constante agonia em união com a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo n PuN10

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M ARIA SouMEO

amos apresentar neste mês a vida de urna santa que, apesar de grande mística e com especia l fama de milagrosa, é pouco conhecida no Brasil. Trata-se de Santa Maria Francisca, canonizada pelo bem-aventurado Pio IX em 1867. Com vocação extraordinária para o sofrimento, enfrentou perseguições dos homens e dos demôni os, recebeu os estigmas de Cristo e participava de sua Paixão. É urna santa para ser venerada, embora não possa habitualmente ser imitada, a não ser

CATOLICISMO

por quem for chamado a vocação semelhante. Exporemos aqui alguns aspectos de sua sa ntidade, acessíveis à compreensão de todos os cristãos.

Co11vívio com o a11jo da guarda Ana-Maria Rosa Nicoleta nasceu no dia da Anunciação , 25 de março de 1715, em Nápoles, filha de Francisco Gallo e de Bárbara Barisina, ambos de condição modesta. Aos quatro anos pediu à mãe que a levasse à igrej a para participar do Santo Sacrifício da Missa. Obteve também, nessa idade, o privilégio de poder confessar-se - rnes-

mo sendo um anjo de pureza - embora tivesse que esperar até os sete anos para fazer a Primeira Comunhão. Depois disso, sua surpreendente maturidade levou o confessor a permitirlhe comungar diariamente, privilégio muito raro na época. Ana-Maria era instruída por eu próprio anjo da guarda, que lhe aparecia visivelmente. Quando chegou à adolescência, o pai colocou-a em sua pequena fábrica de passarnanaria, onde já trabalhavam sua mãe e suas irmãs. Ana-Maria soube conciliar o trabalho com a vida ele piedade. Auxiliada pelo seu bom anjo, este fazia parte ela tarefa que lhe era destinada, para que ela dedicasse mais tempo à oração. Sobre as relações de Ana-Maria com seu anjo da guarda, diz um hagiógrafo: "Ela tinha uma terna devoção pelo anjo tutela,; e se esforçava de a inspirar aos outros. A presença quase contínua, e as ji·equentes conversações desse espírito celeste obtinhamlhe grande força e viva alegria. Era ele, dizia a santa, que tomava sua def esa contra as in vestidas e assaltos de seu pai, e suas preces obtinham-lhe do alto os preciosos e inumeráveis socorros de que tinha necessidade. À sua escola e por suas lições, ela aprendeu a discernir as verdadeiras aparições das falsa s, e a se manter em guarda contra as ilusões do demônio. O anjo dava-lhe, como regra desse discernimento, o saudá-las sempre, quando se apresentavam a ela, com os santos nomes de Jesus e de Maria, assegurando-lhe que encontraria nesses nomes a luz para seu espírito, a força para seu coração, e um refúgio seguro contra toda potência inimiga".' As mencionadas investidas de seu pai visavam inclin á-la a viver corno todas as outras donzelas de sua idade, em vez de permanecer em contínua oração, e a desistir de seu desejo ele tornar-se religiosa .

Entrega-se i11teframe11te a Deus Quando completou 16 anos, seu

Luvas que ocultavam os estigmas da santa

pai quis casá- la com um rico cavalheiro, que lhe pedira a mão. Mas ela recusou-se, dizendo-lhe: "Meu pai, não posso.fazer a sua vontade, porque estou resolvida a deixar o mundo e a tomar o hábito religioso na Ordem Terceira de São Francisco, para o que desde já lhe peço autorização". 2 Essa determinação foi um rude golpe para o avarento pai , que julgava tal união ocasião de melhora da situação econômica da família. Por isso empregou todos os meios para convencer a filha a ceder, inclusive agressão física. Trancou-a depois, por vários dias, em um quarto da casa, não lhe fornecendo senão pão e água para alirnentarse. Finalmente, a intervenção de um religioso muito respeitável Levou Francisco a conceder a autori zação pedida. Ana-Maria foi admitida na Ordem Terceira ele São Francisco, na reforma de São Pedro de Alcântara, em J 731 , escolhendo os nomes de Maria , por devoção a Nossa Senhora, Francisca, por devoção a São Francisco, e elas Cinco Chagas, por devoção à sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. As terceiras franciscanas viviam no mundo, embora observando uma regra que estipulava jejuns, penitênc ias, disciplinas e as orações diárias da Ordem. Reuniam-se na igreja ai-

gumas vezes por dia para a oração comum. Devotíssima da Paixão de Cristo, Santa Maria Francisca fazia diariamente o exercício da Via-Sacra, percorrendo as várias estações na igreja paroquial. Era tanta a dor e o sentimento com que rezava esse pio exercício, que algumas vezes desmaiava entre uma estação e outra. Tendo sua mãe falecido, o pai, desejoso de casar-se novamente, quis pôr sobre seus ombros o sustento e o cuidado da família, que constava então de quatro pessoas para alimentar e vestir. Com dificuldade, a santa livrouse desse encargo, alegando sua má saúde. No entanto o avarento pai passou a cobrar-Lhe o aluguel do pequeno cômodo que ocupava na casa, sendo ela obrigada a recorrer a seus benfeitores para pagá-lo e assim atender a sua família. Em 1763 Santa Maria Francisca conheceu, por revelação divina, que o reino de Nápoles seria desolado por uma grande fome seguida por terrível epidemia. Ela própria foi atingida pela enfermidade, tendo chegado às portas da morte e recebido os últimos Sacramentos.

Gra11des devoções de Sa11ta Maria Fra11cisca Uma das grandes devoções de

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:1\ Especial amor à virtude da obediência

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Aspecto atual do quarto onde dormia Santa Francisca. Nele se encontram suas relíquias e uma imagem.

Maria Francisca era o sublime mistério da Santíssima Trindade. Ela exclamava: "Ó! que eu não possa morrer, que eu não possa dar minha vida como testemunho de minha fé a esse grande mistério da Santíssima Trindade! Que eu não possa, ao preço de meu sangue, torná-lo conhecido e adorado por todos os homens!". A adoração da Santíssima Trindade era o primeiro e o último ato de seu dia. Quando alguém queria discutir com ela esse ou outro mistério de nossa fé, respondia: "Não é permitido a um vil verme da terra querer perscrutar e compreender os mistérios mais sagrados da sabedoria divina, sem uma presunção temerária; muitos caíram na incredulidade e se perderam para sempre por querer discutir esses mistérios". 3 Sua devoção a Nosso Senhor padecente não tinha limites. Santa Maria Francisca consagrava todas as sextas-feiras do ano à meditação da Paixão. Teve o privilégio de receber os sacrossantos estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo e participar de seus sofrimentos durante a Paixão, pela salvação dos pecadores. Ela sentia em seu corpo os padecimentos de Cristo em sua dolorosa Paixão especialmente nas sextas-feiras da Quaresma. 4 Maria Francisca possuía uma confiança tão viva e um amor tão ardente à Santíssima Virgem, que nunca re-

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zava sem ter a Ela recorrido. E inculcava essa devoção nos outros: "Sede verdadeiramente devotos de Maria; recomendai-vos a Ela e obtereis de Deus todas as graças que desejais". 5 As invocações de Nossa Senhora eram tão frutuosas para ela, que meditava sobre cada uma para tirar delas todo o proveito. Preparava-se para as festas da Santíssima Virgem com orações, jejuns e mortificações, rezando diariamente em sua honra o Rosário e a Ladainha Lauretana. Sua devoção estendia-se também aos santos anjos. Preparava-se do mesmo modo para suas festas, que celebrava com todo fervor. Como estava sempre enferma, Nosso Senhor encomendou-a ao arcanjo São Rafael, que a socorreu e curou várias vezes. Ela amava também ternamente São Miguel, seu defensor contra os ataques do demônio, e São Gabriel, o anjo da Anunciação. Santa Maria Francisca não se esquecia também das almas que sofrem no Purgatório. Praticamente todas as esmolas que recebia empregava-as em mandar rezar Missas pelas santas almas. Procurava também ganhar em seu favor todas as indulgências possíveis. Quando suas doenças a retinham no leito, recomendava aos sacerdotes e às pessoas que a iam visitar, de ganhar muitas indulgências em favor das benditas almas.

Uma das virtudes que mais repugnam ao orgulho humano é a de renunciar à própria vontade para fazer a dos outros. Por isso, na vida religiosa, ela é objeto de um voto, segundo o conselho do Redentor: "Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo". Maria Francisca despojou-se inteiramente da vontade própria, e vi via só da obediência. Quando lhe perguntavam qual a virtude que mais lhe agradava, dizia: "Todas as virtudes me agradam, mas a maior é a de não nos opormos nunca à vontade daqueles que têm o direito de mandar em nós". 6 Santa Maria Francisca tinha igualmente uma grande veneração pela Santa Igreja, por seus Mandamentos e suas máximas. E procurava inculcar essa devoção em todos que a rodeavam. Dizia: "Todo cristão é obrigado a crer e a obedecer cegamente em tudo o que a Santa Igreja ensina. E ninguém deve esquecer a obediência e submissão ao Sumo Pontífice". 7 Santa Maria Francisca era procurada por sacerdotes, religiosos e pessoas piedosas por seus sábios conselhos. Por isso, seu falecimento, ocorrido em 6 de outubro de 1791, foi um triunfo. Os inúmeros milagres alcançados por sua intercessão levou o papa Pio VII a declará-la venerável já em 1803. Mas sua canonização caberia ao imortal beato Pio IX, 64 anos depois. •

EPISÓDIOS HISTÓRICOS

Carlos Martel e os primórdios da Cavalaria Medieval 1J PAULO HENRIQUE ALVES Â.MÉRICO DE ARAUJO

N o artigo anterior desta série, tratamos da histórica vitória obtida por Carlos Martel na batalha de Poitiers e sua importância para a civilização cristã; o presente artigo abordará a consolidação do Reino Franco.

"Os franj. .. os franj estão vindo! Fujam todos! São os franj". Este era o brado proclamado pela população árabe quando soube que um exército imenso vindo da Europa estava próximo das terras islâmicas.' Isso ocorreu por volta do ano de 1097 d.C., época da primeira cruzada. Aquele terror era compreensível. "Franj" era o modo pelo qual os árabes denominavam todos os católicos europeus. "Franj" é também a simples corruptela de "francos". Dos mesmos francos que haviam quebrado a avançada muçulmana na Europa. E passados três séculos do grande fracasso islâmico contra Carlos Marte! em Poitiers, aquele medo dos "franj" não havia desaparecido. Como vimos no artigo anterior, a memorável batalha de Poitiers foi vencida pelos francos de Carlos Marte!, em 732 d.C. O nome franco passou a ser sinônimo de terror entre os maometanos. Outra batalha, além de Poitiers, contribuiu para a fama dos francos nas longínquas terras do Islã. Veremos como, nas cercanias de Narbonne, no extremo sul da França, o fato aconteceu.

Carlos Martel apóia São Bonifácio É preciso deitar um olhar sobre outros feitos praticados por Carlos Marte!. Somando-se ao sucesso no campo de batalha, ele também estendeu sua ação apostólica com o apoio dado à Igreja Católica. No decurso de suas campanhas vitoriosas na Alemanha, ele secundou o apostolado de São Bonifácio. Apostolado que trouxe frutos enormes para a Santa Igreja. Com efeito, para o coroamento dos esforços de São Bonifácio na Alemanha, o próprio santo reconheceu quão imprescindível foi o apoio concedido por Carlos Marte!, sem o qual ele não teria condições de administrar as igrejas, defender o clero e evitar a idolatria naquele país. 2 Assim, Carlos Marte! participa, em boa medida, dos méritos da grande obra civilizadora e evangelizadora de São Bonifácio em territórios germânicos. Também é digno de nota o fato de São Gregório II, então Papa, ter outorgado a Carlos Marte! o título de patrício, pelos bons ofícios prestados à Igreja. 3

E-mai l para o autor: catolicismo@ terracom.br

Nova ameaça islâmica e primórdios da cavalaria Notas: 1. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barrai, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo XII, p. 107. 2. Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo III, p. 136. 3. Les Petits Bollandistes, op. cit. p. 111. 4. Cfr. Ferdinand Heckmann, St. Mary Frances of the Five Wounds of Jesus, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 5. Les Petits Bollandistes, op. cit., p. 111 . 6. Pe. José Leite, op. cit. p. 137. 7. ld., ib.

Carlos Martel secundou o apostolado de São Bonifácio na Alemanha

Após a batalha de Poitiers, durante a qual o governador da Espanha islâmica, Abdul-Raman, fora derrotado e perdera a própria vida, o filho deste, Omar, formulou novos planos para atacar os francos. Para ele, seu pai fora derrotado porque Carlos Marte} surpreendera o exército mouro em Poitiers. Mas agora que conhecia os francos e sabia como eles guerreavam, Omar previu que no próximo confronto a vitória muçulmana seria inevitável. Os guerreiros árabes, desta vez, determinariam o teatro da batalha, e os francos - sempre guerreando a pé - seriam esmagados. Tais conjecturas provavelmente seriam concretizadas se os mouros não tivessem como adversário Carlos Marte!. Este - um gênio militar poucas vezes igualado possuía grande capacidade de adaptar-se às circunstâncias mais adversas. Assim, quando em 737, cinco anos após Poitiers, os mouros novamente invadiram a França, Carlos Marte! lhes havia preparado outra surpresa. OUTUBRO 2011 -


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te ntar outra invasão do território franco. O próprio comandante mouro, Omar, pereceu nas ág uas do rio Berre .7

Às margens do pequeno rio Berre, perto da cidade de Narbonne, no extremo sul do reino fra nco, o enorme exército islâmico - cuj a força princ ipal era a cava lari a - esperava encontrar os francos prontos para lutar a pé, com sua infa ntari a, do mesmo modo como haviam lutado em Poitiers. M as os infiéis fi caram atô nitos quando vira m os cristãos surgirem, no alto de uma colina, com uma cavalaria perfil ada em orde m de batalha, perfeitamente organizada. Ao centro, sobressaía a fi gura de Carl os M arte!. Como isso se deu ? Para responder a esta pergunta cumpre faze r algumas conj ecturas hi stóricas, um tanto controversas, é verdade, mas que faze m brilhar o gênio de Carlos M arte! e, mais do que isto, descortinam a origem de uma das mais esplendorosas instituições medievais: a cavalaria cri stã. 4

Legado do líder dos frnncos, pai da cavalaria me<lieval Entretanto, Carl os M artel resolveu não mais continu ar o cerco a Narbonne. Os saxões havi am se revo ltado mais uma vez, e e le precisou diri gir-se ao norte . Além disso, Carlos presse ntia que sua morte se aproximava, e a preparação para a sucessão no rein o se faz ia necessári a. A seu filho, Pepino o Breve, fi cou reservada a g lória de reconqui star N arbonne para a Cristandade, em 75 9. Já era costume de longa data entre os francos que o re i era indicado pe lo prefeito do palácio. Contudo, Carl os Martel conseguiu tal prestígio no reino franco que, por ocasião da morte do rei merovíngio Teodori co IV , e m 737, e le não se deu o trabalho de indicar um sucessor para o trono vaca nte .8 N a verdade, Carlos M arte ! era o re i dos francos sem possuir a coroa. M as ele se conte nto u em manter o títul o de duque e prefeito do palác io até sua morte. Com Pepino, seu filho, o trono dos fra ncos foi dado ofi cialme nte aos caro líng ios, sob os auspíc ios da Santa Igreja. Pouca fi guras med ievais são tão expressivas quanto Carlos M arte l. F undado r de uma dinastia, ele preparou a asce nsão de seu neto, Carlos Magno, como imperador da C ristandade. Co mo genera l, de uma capacidade de comando sem par, barrou o avanço islâmico sobre a E uropa e salvo u toda a Cri standade. E, cm certo sentido, foi um dos iniciadores da Reconquista, expul sando quase compl etamente os seguidoRepresenta~ão dos res de M ao mé el a Fra nça, ass im como Pe layo havia começado a Reconqui sta na Espasarracenos antes da batalha nha. Co mo vimo , ac resce-se a tudo isso que Carlos M artel pode ser considerado, por a lguns aspect s, o pai da cavalari a cristã medieval. Houve fa lh a. n seu governo. Pode-se criticá- lo quanto à _,_, ,,,~,' · ,,-, - ,-- •- ...... ~,~""",..,. J"'-(..' t;:ºf'.fG.tT~o,,. o t rr • concessão ilegítima de terras ec les iásticas aos seus ali ados; ' - -,~ - · ' ' pi11.v7Ôv~uw 1;w.o,.\ ' ' a nomeaçã nã auto ri zada de bi spos e também por não ter atendido com prontidão a um pedid o de socorro vindo de Roma contra os lo mbardos. Mas tais sombras não empanaram o brilho de Lanl s benefícios prestados por Carl os M arte l à Cristandad e à Igrej a Católica.9 Ele fal eceu cm 2 1 de o utubro de 74 1. •

Origem da cavalaria cl'istã medieval Na história da Europa medieval, a ascensão da cavalaria e a utili zação desta como a maior força de guerra pelos cri stãos é objeto de muitos debates. A di scussão hi stóri ca cifra-se, sobretudo, nesta questão: como e quando surg iu a cavalari a européia. M as, sej a como fo r, é certo que houve um grande progresso nesse sentido du ra nte o século VIII, o mesmo século de Carlos M arte l. U ma das hipóteses do avanço da cava lari a cri stã é que, após a bata lha de Poitiers, Carlos M arte!, com a previdênc ia de grande general, mando u seus fra ncos prime iro estudar e depo is praticar a maneira de batalhar dos cavaleiros muç ulmanos. E le percebera que os francos precisari am se adaptar aos cavalos para rea lmente se opore m aos árabes. Ao que tudo indica a cavalaria entre os francos não era be m aproveitada porque o estribo - peça de montari a imprescind ível para o eq uilíbri o do cavale iro, sobretudo du rante as batalhas - era desconhecido ou, ao me nos, muito pouco utili zado (vide figuras, ao lado, de cavaleiros francos do séc. VIII sem estribos). Os muçulmanos que juntamente com seus cava los to mbaram e m Poitiers, revelara m aos fra ncos os segredos do estribo.5 Fato extraordinário é que Carlos M artel conseguiu adaptar o exérc ito franco à cava lari a e m apenas cinco anos. Foi du ra nte as campanhas ocorridas entre 732 e 737 que os francos co meçaram a utili zar com efi ciênc ia as fo rças combinadas da cava lari a e da infa ntaria. Isso proporc ionou a Carlos M arte! uma superi oridade mili tar incontestável contra todos os seus inimi gos. E le se d irigiu ao sul do país em 736, arrebatou aos muçulmanos a cidade de Avignon - conqui stada havi a anos pe los infiéis - e ini c iou o cerco da c idade de Narbonne.6

Nova vit6l'ia de Carlos Ma,·tel: Batalha do Rio Berre E nquanto isso, o general muçulmano, Omar, recebeu instruções diretas do ca lifado para invadir nova mente a França e, ao mes mo tempo, defender s uas possessões ao sul do país. O obj eti vo de les era c laro: estender a re li gião i lâmica por toda a Europa, conquistando, num fu turo próx imo, inc lu sive Roma, cap ital da C ristandade. Desta vez, os muçulmanos dividi ram suas forças de invasão em duas fre ntes: a cavalari a atravessou os Pirineus a partir da Espanha e a infa nta ri a, com a ajuda de uma frota poderosa, desembarcou onde o ri o Berre dese mboca no lago Bages, que se encontra com o Mar M editerrâneo, bem perto da cidade de Narbonne. A manobra não surtiu efeito devido à perspicácia de Carl os Marte!. Mui to bem info rmado das disposições inimi gas, e le deslocou rapidamente seus francos que estavam diante de Narbonne, e precipito u-se sobre os infié is e nquan to estes a inda desembarcavam dos navios. A cavalaria árabe, atô nita por ter de e nfre ntar os fra ncos também montados, não teve tempo de socorrer o resto do exérc ito e d ispersou-se. A surpresa e a confu são se generali zaram entre os invasores . O resultado desse novo confro nto entre os fra ncos e os mouros fo i mais uma notável vitória de Carlos M artel. Depois dela, nenhuma fo rça islâmi ca significativa ousou

CATOLICISMO

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H-mail para o autor: cato lic is111o@terra.co m.br

Notas : 1. MAALO UF, Am in , As r,~zadas vista s pelos Árabes , Ed itora Di fusão , Portu gal, 1983 , 7" ediç10, p. 17. ~•-~ 7>;1; ~;_;,i,;~''"'' "-;: ê 2. Encic lopédi a Cató licu na internet, in http://www .newaclvent.o rg/cath en/ 03629a.htm 3. RO HRBAC HER. Hi sto ire el e l'Ég li se, Vo lum e X, Gm11ne Fre res, Pa ri s, 1845, p. 482 4. C fr . SLOAN, John, T/1 e Stirmp Controversy, in http://www.forclham.eclu/ha lsa ll/ med/s loan.ht ml 5. SLOA N, op. cit. Os árabes provavelmente copiara m o estri bo dos bizanti nos . 6. WEISS, Ju an Baptista . fl istoria Uni versa l, Ed itora Tipogra fi a La Eclucac ión. Tradução da 5" ed ição alemã, Barce lona, 1927, Vo lume IV, p. 59 1. 7. Os detalhes da batalh a pode m ser co nhecidos no artigo de Géra rd Ducruc, La Bataille de la Berre, i11 http://www. porte l-cles-corbi cres.org/ Anglais/berre_e ng.ht m 8. WEISS, op. cit. , p. 592. 9. Enc iclopédia Cató lica nu internet, i11 http://www .newaclvent. org/cathen/03629a. htm

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llustra~ão do embate na batalha do rio Berre vencida por Carlos Martel

Guerreiro franco

OUTUBRO 2011

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Santa Teresinha do Menino Jesus, Virgem, Doutora da Igreja + Lisieux (França), 1897. A grande santa de nossos tempos entrou no Carmelo aos 15 anos, levando uma vida de imolação e sacrifícios em favor das missões e da Igreja. Desejando possuir todas as vocações para nelas glorificar o Criador, encontrou no amor a Deus, conforme diz, a solução para seu problema. Por isso foi nomeada padroeira das missões, sem nunca ter deixado a clausura. Sua doutrina espiritual da "pequena via" abriu as portas da perfeição a inúmeras almas. Primeiro Sábado do mês.

2 Santos Anjos da Guarda São Tomás de Ereford, Bispo e Confessor + Inglaterra, 1282. Descendente de uma das mais ilustres famílias da Inglaterra, após ser ordenado sacerdote foi chanceler da Universidade de Oxford, e depois arcebispo de Ereford.

3 São Francisco de Borja, Confessor + Roma, 1572. Vice-Rei da Catalunha e duque de Gandia, renunciou às atrações do mundo ao ver o cadáver da outrora belíssimà rainha Isabel. Enviuvando aos 40 anos, ingressou na Companhia de Jesus, da qual foi depois Superior Geral.

4 São Francisco de Assis, Confessor + Assis (Itália), 1226. O Poverello de Assis amou tão

apaixonadamente o Salvador, que adquiriu seus estigmas e até uma semelhança física em relação a Ele. Com São Domingos, foi uma das colunas da Igreja em seu tempo, contribuindo para renovar com seus heróicos exemplos os costumes já tão decaídos naquela época. É uma das maiores glórias da Santa Madre Igreja em todos os tempos.

5 Santa Flor ou Flora , Virgem + Beaulieu (França), 1347. Filha de pais nobres, ingressou muito cedo como religiosa na hospedaria dos Cavaleiros de São João de Jerusalém para cuidar dos doentes e peregrinos.

10 São Paulino de York , Confessor + Inglaterra, 644. Enviado por São Gregório Magno para evangelizar a Inglaterra, realizou frutuoso apostolado nas regiões de Kent e da Nortúmbria, converteu o rei Edwin e fundou o bispado de York.

11 São Sármatas, Mártir + Tebaida (Egito), 357. Discípulo de Santo Antão, foi morto pelos sarracenos por ódio à fé. Dizia: "Prefiro um homem que, tendo pecado, reconhece esse pecado e faz penitência, a um que não tenha pecado e se considere justo".

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Santa Maria Francisca das Cinco Chagas, Virgem (Vide p. 38)

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA , RAINHA E PADROEIRA DO BRASIL

7 NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO Festa instituída por São Pio V em ação de graças pela vitória obtida na batalha de Lepanto contra os maometanos, em 1571, durante a qual Nossa Senhora apareceu. Vitória atribuída à recitação do rosário. Primeira Sexta-feira do mês.

8 Santa Taís, Penitente + Egito, séc. IV. Inspirado por Deus, São Pafúncio deixou seu retiro no deserto para conduzi-la ao bom caminho. Ela queimou seus vestidos e jóias e entrou num mosteiro no deserto.

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16 Santa Margarida Maria AJacocque, Virgem + Paray-le-Monial (França), 1690. Religiosa visitandina, entregou-se desde cedo à contemplação da Paixão do Redentor, recebendo d'Ele a extraordinária mensagem sobre a devoção ao seu Sagrado Coração e a incumbência de difundi-la pelo mundo inteiro.

17 Santo rnácio de Antioquia, Bispo e Mártir + Séc. II. Discípulo dos Apóstolos e sucessor de São Pedro na Sé de Antioquia. Com São Policarpo, foi o mais ilustre dos Padres Apostólicos. Conduzido a Roma, foi devorado pelas feras no Coliseu.

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Santos Fausto, Januário e Marcial, Mártires + Córdoba, 307. Esses três irmãos increparam o novo governador romano da Espanha, Eugênio, por sua crueldade para com os cristãos.

São Lucas 11:vangclista, Már'Lir + Séc. 1. Médico de Antioquia convertido por São Paulo, a quem acompanhou em várias viagens. Autor do m Evangelho e dos Atos dos Apóstolos. É célebre um quadro de Nossa Senhora que ele teria pintado. Uma tradição autorizada afirma que sofreu o martírio.

14 São ,João Ogilvie, Mártir + Glasgow, 1615. Calvinista inglês convertido pelo célebre exegeta jesuíta Cornélio a Lápide. Entrou para a Companhia de Jesus, voltando a seu país para socorrer os católicos perseguidos. Depois de converter muitos hereges, foi traído e entregue ao arcebispo protestante.

São Luís Beltrán, Confessor

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+ Valência, 1581. Sacerdote

Santa Teresa de Ávila , Virgem, Doutora da Igreja + Alba (Espanha), 1582. Alma ardente e enérgica, empreendeu a reforma do Carmelo, sendo auxiliada por São João da Cruz no tocante ao ramo masculino. Padeceu muitos trabalhos e doenças por amor de Deus.

dominicano, aos 23 anos era mestre de noviços. Seu extraordinário zelo levou-o a desejar combater os protestantes. Mas a Providência encaminhou-o para a Colômbia, onde durante sete anos evangelizou os índios.

Unia a mais sublime contemplação a uma extraordinária capacidade de ação.

19 Santos João d • lké l)cuf, Isaac Jogues e companheiros, MéÍ l'tir·es + América do Norte, séc. xvn. Jesuítas franceses que evangelizavam o então Canadá (atual norte dos Estados Unidos) e regaram essas terras com seu sangue ao serem martirizados pelos ferozes índios iroqueses.

mador dos franciscanos da Espanha, auxiliou e incentivou Santa Teresa na reforma do Carmelo.

juiz: "É a glória dos cristãos ganhar a verdadeira vida eterna ao perder aquilo que tu crês ser vida".

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Santo 1-lilarião, Abade + Palestina, séc. IV. Filho de pagãos, que o enviaram a estudar em Alexandria, converteu-se e partiu para o deserto, onde foi dirigido por Santo Antão.

Santos Vicente, Sabina e Criseta, Mártires + Ávila, séc. IV. Vicente defendeu corajosamente a fé em Talavera, diante de Daciano, governador romano.

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Santos Simão e Judas Tadeu, Apóstolos + Séc. 1. São Judas Tadeu era irmão de São Tiago Menor e filho de Cleófas e Maria, primos de Nosso Senhor. Pregou o Evangelho na Judéia, Sarnaria, Síria e Mesopotâmia. Escreveu uma epístola exortando os fiéis a perseverarem na fé, atacando vigorosamente os falsos doutores. São Simão, cognominado Cananeu ou Zelador, era originário da Galiléia.

Santa Maria Salomé, Viúva

+ Palestina, séc. 1. Segundo a tradição, prima da Santíssima Virgem e mãe de São Tiago e São João Evangelista, era uma das Santas Mulheres que estavam ao pé da Cruz.

23 Santo Inácio, Bispo, Confessor + Síria, 877. Filho do imperador Miguel, tornou-se monge aos 14 anos e depois abade, fundando três mosteiros. Patriarca de Antioquia.

24 Santo Antonio Maria Claret, Bispo e Confessor + Fontfroide (França), 1870. Pregador popular, fundou a Congregação Missionária dos Filhos do Coração Imaculado de Maria. Foi arcebispo de Santiago de Cuba, confessor e conselheiro da rainha Isabel II, da Espanha.

25 Santo Antonio de Sant'Ana Galvão, Confessor + São Paulo, 1822. Natural de Guaratinguetá (SP), franciscano, foi fundador do Recolhimento Mosteiro da Luz, que dirigiu até sua morte.

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São Pedro de AJcânwra . Confessor + Arenas (Espanha), 1562. Padroeiro principal do Brasil, foi admirável por suas mortificações e penitências. Refor-

Santos Luciano e Marciano, Mártires + Nicomédia, séc. III. Condenados a serem queimados vivos por terem se convertido ao cristianismo, disseram ao

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Intenções para a Santa Missa em outubro Seró celebrada pelo Revmo . Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Em louvor a Nossa Senhora Aparecida, impiorando sua especial intercessão para que o Brasil corresponda efetivamente ao elevado privilégio de tê-la como Rainha e Padroeira, e os brasileiros se tornem súditos inteiramente fiéis a uma tão excelsa Sobera na .

29 Santa Ermelinda, Virgem + Meldert (Bélgica), séc. VI. Adolescente filha de pais nobres e ricos que desejavam casá-la, cortou os cabelos para dedicar-se inteiramente a Deus, retirando-se para a solidão.

30 São Marcelo Centurião, Mártir + Tanger, 298. Pai dos santos mártires Cláudio, Luperco e Vitório, esse centurião espanhol foi decapitado por ter declarado que era cristão e servia a Jesus Cristo.

31 Santa Joana Delanoue, Virgem + França, 1736. Herdou do pai um modesto bazar, que com habilidade fez prosperar. Começou a dedicar-se também a obras de caridade, a ponto de ser chamada mãe dos pobres. Fundou um asilo ao qual denominou "A Providência".

Intenções para a Santa Missa em novembro • Missa de Finados (2 de novembro), pelas aimas dos familiares falecidos dos leitores e simpatizantes de Cato/icismo e por todas as santas almas do Purgatório.

Rogando a Nossa Senhora das Graças, cuja festividade a Santa Igreja comemora no dia 27 de novembro, que conceda superabundantes graças a todos, especialmente àqueles que portam sua Medalha Milagrosa.

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tandartes. O que estavam eles a fazer? Estavam a promover um abaixo-assinado (organ izado por Plinio Co rrêa de Oliveira) pa ra a independênci a da Lituânia, para ela se ver livre do jugo soviético! Fui falar com os rapazes e disse: - E u quero assinar! - Não, não pode, você só tem LO anos, é muito peque nino para assinar. - M as eu quero assi nar, pois sei do que se trata - eu aco mpanho o assu nto pelo telejornal. Não im ag in am a paciência que o pobre rapaz teve que ter para me convencer que eu não podia assinar. Fiquei tão triste, mas tã triste, que tive que esperar até hoje, aguardar 2 1 anos, para poder tentar dar alguma colaboração às idéias de Plíni o Corrêa de Oliveira! Antes tarde lo que nunca ... ".

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Destruição da família, pressuposto para eITadicação da civilização cristã ■ PAULO ROBERTO CAMPOS

e

onvidado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira a fa lar sobre · as ameaças que a instituição familiar e o casamento tradicional são objeto desde a Antiguidade, o Prof. David Magalhães, da Universidade de Coimbra - cultor da História do Di reito, mestre e doutor em Ciências Jurídico-Históricas, detentor de diversos prêmios acadêmicos em Portugal, autor de vários livros e articulista em importantes periódicos lu sos - iniciou "Plinío Corrêa de Oliveira fo i, segunsua conferência afirmando que teve de do palavras de pessoas de reconhecida autoridade, 'O Cruzado do Século XX'. esperar duas décadas para poder se dirigir a simpatizantes e discípulos de Isto diz tudo! Num século em que abunPlinio Corrêa de Oliveira no Brasil. E, daram covardes, abund ara m pagãos, de modo espirituoso, explicou a razão abundaram materiali stas, ser 'o Cruzadessa delonga: do do Sécu lo XX' ... tem muito valor !

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CATOLICISMO

Os valores defendidos pelo Prof. Plinio - a tradição, a fa míli a e a propriedade - são valores fundamentais de nossa civ ilização. E eu, muito jovem, tive contacto com eles de uma forma inusitada. Estávamos em 1990. O mundo ai nd a não estava livre da besta soviética - estava moribunda, mas não tinha morrido. O povo lituano sofria os últimos estertores da besta moribunda. Os tanques do exército vermelho invadiam a Lituânia esmagando pessoas, esmagando a liberdade e a fé do povo litua no. Eu, apesar de te r apenas 10 anos, ass isti a pelo noticiário a essa brutalidade. Num di a, e tava e u num supermercado com meu avô - fe li zmente ainda vivo, com seus muito lúcidos 82 anos e que se lembra bem do episódio - e vejo uns rapazes altos, dignos, com uns es-

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A ocas i'fo longamente esperada se deu no dia 5 d setembro de 2011, em concorrido cv nto promovido no Golden Tulip Paulista Plaza, prestigioso hotel da capital pauli sta. A uni ão c n1 rc pessoas do mesmo sexo foi sempre amparada por lei desde os primórdi os da civili zação? É o que afirma o mov imento homosse xual. Nega-o, contudo, o ilustre conferencista, que comprova sua tese com base ·na

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História e põe por terra os "argumentos" do lobby homossexual, baseado tão-só em ficções literárias. O Prof. Magalhães, que é especialista neste tema, demonstrou que NUNCA houve tal amparo legal ao "casamento" entre homens, ou entre mulheres.

* * * O expositor comentou que, apesar da índole histórica do tema da noite, este era de suma atualidade: "Por incrível que pareça, muitas individualidades no meio acadêmico têm defendido que há um precedente histórico para 'casamento' entre pessoas do mesmo sexo. Por quê? ". Tal questão foi magistralmente respondida na conferência. Convido os leitores a ouvi-la na íntegra, através do vídeo disponível no site www.ipco.ogr.br Apenas como "aperitivo", segue um resumo da importante exposição. Primeiramente, o Prof. David Magalhães ressaltou que muitos autores têm defendido que há precedentes históricos, desde a Roma Imperial, de casamento entre pares do mesmo sexo com amparo da lei então vigente. E que o principal defensor dessa teoria foi o historiador norte-americano John Boswell, que passou boa parte de sua vida tentando encontrar justificativas históricas para a homossexualidade, especialmente para o "matrimônio" entre homens. Por exemplo, ao afirmar que já era alusão a um "casamento" a referência de Cícero a Marco Antonio, de ter este sido tirado da prostituição e entregue a um romano chamado Cúrio. Mas historiadores sérios veem nesta afirmação não uma confirmação de "casamento", mas sim que Cícero visava denegrir Marco Antonio - eles se odiavam - , insinuando que este subia na escala social. de forma ilegítima. Tal asserção foi proferida num contexto de evidente acidez e sarcasmo. O palestrante exemplificou com vários episódios da Antiguidade, aproveitados por apologistas do homossexualismo na tentativa de dar crédito às suas teorias, mas que não passam de sofismas visando "comprovar" a existên-

CATOLICISMO

eia legalizada de "matrimônio" homossexual. São meras referências a núpcias, dotes, uniões, noivos, véus etc., que, entretanto, eram apenas termos empregados em relatos literários como figuras de linguagem, mimetismo ou simples farsas. E leu, por outro lado, docu!llentos mostrando justamente o contrário. Por exemplo, o Codex Theodosianus [Código de Teodósio (9,7,3) - uma compilação das leis do Império Romano] referindo-se à constituição de 342, que proibia aos homens, sob pena de morte, de se casarem entre si como se um deles fosse mulher. Com essas meras referências literárias não se pode concluir que tenha havido no Direito Romano qualquer fundamento para admitir o "casamento" homossexual. O que se conclui é que as fontes jurídicas são contrárias a tais práticas antinaturais. As definições de matrimônio presentes no Direito Romano são taxativas no sentido da união do homem e da mulher. As Instituições de Justiniano (1.1,9,1) [manual elementar do ensino dos estudantes de Direito] definia o casamento como a união do homem e da mulher com intenção de viver em comunidade indissolúvel. O jovem mestre de Coimbra - considerado autoridade no campo da História do Direito - enfatizou que, desde os tempos imperiais, não subsistem os "argumentos" de que as cerimônias descritas de modo metafórico fossem "casamentos" homossexuais. Outras fontes do Direito Romano clássico, citadas na conferência, comprovam exatamente o oposto: somente a união entre um homem e uma mulher era considerada casamento. Requeriamse três condições: 1ª.) Matrimonium: os nubentes tinham que ter capacidade natural, atingido a puberdade; 2ª.) Afectio maritalis (Afeição conjugal): o acordo de vontade, o consentimento dos cônjuges de viver como marido e mulher com vistas à procriação de filhos legítimos; 3ª.) Conubium (Conúbio): o direito de casar-se legalmente. Após refutar cabalmente os "argumentos" daqueles que tentam dar legitimidade histórica ao pseudo-matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, o

Prof. David Magalhães concluiu esta parte de sua exposição mostrando que, contrariamente às fontes literárias, as fontes jurídicas, notadamente o Direito Romano, são claras em exprimir que "a noção de matrimonium e a sua disciplina não oferecem incertezas a respeito do caráter heterossexual das uniões reconhecidas".

* * * Na segunda parte de sua conferência o Prof. Magalhães falou sobre o procedimento dos movimentos pró-homossexualidade em alguns países. Foi objeto de sua especial atenção a decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro, que em 5 de maio deste ano equiparou a "união estável" de pessoas do mesmo sexo a uma "entidade familiar". Decisão qualificada por ele como um meio de rebaixar o matrimônio normalmente constituído segundo a ordem natural. Mostrou também que tanto a Constituição brasileira (conforme o § 3º do art. 226 que prescreve: "Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento") como o nosso Código Civil (art. 1.723) são claros e taxativos ao estabelecer que a "entidade familiar" só pode ser formada pela união de um homem com uma mulher, justamente para deixar claro que não se trata de qualquer "união estável". O conferencista afirmou ainda que o conceito de casamento não pode ser alterado por via interpretativa, como quiseram alguns juízes após aquela decisão do STF. E aduziu: "Qualquer tentativa de reconhecimento do 'casamento' homossexual, por via judicial, não passará - há que dizê-lo - de uma pura usurpação de funções legislativas, com a concomitante violação do princípio da separação de poderes". O contrário seria infringir a lei fundamental, seria ignorar a tradição jurídica milenar, legada pelo Direito Romano e recebida pela nossa civilização. •

Acampamento de Verão na Irlanda ■ RORY O'HANLON

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romovido pela Sociedade Irlandesa por uma Civilização Cristã, realizou-se entre os dias 10 e 17 de julho último, na abadia cisterciense de St. Joseph de Roscrea (Condado de Tipperary), o V Acampamento de Verão. Compareceram 30 participantes, provenientes da Irlanda, Jnglaterra, Escócia, Itália, Lituânia e EUA. O programa foi muito variado, com exposições doutrinárias e audiovisuais, visitas culturais e jogos de entretenimento. Todas as atividades estiveram bafejadas pelo influxo sobrenatural da Santa Missa e a recitação diária do terço em conjunto, seguido do canto da Salve Regina. No último dia, como de costume, realizaram-se jogos medievais seguidos de lauto e solene jantar ao estilo e com músicas da Idade Média, aos quais assistiram e participaram familiares dos rapazes num clima festivo e de aprazível convivência. Após o j antar medieval houve a procissão do terço, precedida por um andor com uma bela imagem de Nossa Senhora de átima que esteve presente em todas as atividades. Os participantes e seus familiares portavam tochas, bandeiras e velas. Para enc rrar solenemente a programação, Dom Richard Purc li, abade da abadia de São José, procedeu à bênção solen do Santíssimo Sacramento. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br

E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br

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Curso de verão nos Estados Unidos atrai jovens de toda a nação mi FRANCISCO J OSÉ SAIDL

s princípios católicos que inspi- ~ raram a Cavalaria Medieval con- ~ ~ tinuam vivos e despertando cres- 6 cente interesse, principalmente entre a 1i -li juventude. Sentindo cada vez mais a va- í cuidade e a corrupção do ambiente revolucionário que hoje impera, muitos se voltam para os valores perenes da civilização cristã. A TFP americana vai de encontro a essa aspiração reunindo anualmente estudantes em dois eventos distintos um na.Louisiana e outro na Pensil vânia - , que se realizam há uma década, a cada ano com um tema específico e a duração de 10 dias . Figuras históricas que se destacaram pela santidade e bravura, dignas de serem imitadas, são revividas não apenas em expos ições do utrinárias, mas ilust:.radas com projeções de slides e apresentação de pequenas peças teatrais. O contraste com os dias e m que vivemos é ressaltado.

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Na Loui iana, as palestras giraram e m to rn o d e São Patríc io, São Columbano e São Tomás Morus, todos eles ingleses. A jornada se iniciava às 6h45, com toques de gaitas de fole e o rufar de tambores, tendo uma de suas partes dedicada a jogos de vi vacidade, como paintball, sa lto de o bstác ul os, jogo da bandeira e caça ao tesouro. M o ns. R o bert Be rggreen, ze loso sacerdote, esteve se mpre d ispo nível para a ass istência religiosa, celebra ndo diariamente a missa tradicional e ouvindo confissões. U ma relíquia da Santa Cruz esteve exposta à veneração de todos os participa ntes. CAT OLICISMO

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Volu ntári os preparavam as refeições com cardápi o da saborosa cozinha cajun, na qual predomina o bom gosto francês , ainda presente naquela reg ião apesar de há mais de 200 anos o estado da Lo ui siana não pertencer mais à França. Du ra nte um a das refeições, um perso nagem representou o rei Henrique V faze ndo a conh ec ida conclamação da festa de São C ri spim , na Bata lh a de Agincourt. O di a te rmina com um a procissão com tochas e a rec itação do sa nto rosári o. " Procuramos incutir nos jovens a idéia de que o heroísm.o não é uma coisa do passado", afirm o u T ho mas Drake, diretor da TFP-Lou isiana. *

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Com jovens vindos espec ialme nte do norte do país, programa análogo reali zo u-se na Acade mi a São Luís de Mo ntfo rt, loca li zada na Pe nsil vâ nia. Esse eve nto aprese nto u um a nota muito espec ial: a presença da Imagem Peregrin a In ternac ional de Nossa Senhora de Fátim a, a mesma q ue verteu lágrimas e m Nova Orlea ns. "Era impossível .ficar ented iado durante o e vento" , afirm a um adolescente vindo de C hi cago. O ulro declaro u: "Eu aprendi 11·1.aneiras e gostei das co11.versa.1· e d(),\-jogos também ". Por sua vez, um novaiorquino co mentou: "Eu realmente gostei de conversar com. um soldado que lutou no Afeganistão, e compreendi que a coragem moral exige mais do que a coragem _f{.\'ica ". Após o e nce rra me nto, me nsagens conti nuam a chega r por correio eletrôni co. Um estudante observou: "Obrigado pelo fa to de manterem Deus no primeiro plano de seu programa para a j uventude de hoj e. Necessitarnos de pessoas rnodelares, que coloquern a Lei de Deus acima da lei dos hornens ". Te rmi nadas as j ornadas de verão, ini ciou-se o novo ano letivo com o in gresso de novos alun os. Para ate nde r à c resce nte de ma nda, a Acade mi a São Luís de Mo ntfo rt está ampli ando suas instalações. • E-mail para o autor: ca1olic is1110@1crra.co rn .br

O UTUBRO 2011

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\ MHIENTES C OST U MES

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l I V I I. I ZAÇÚE

_ P ....,L=IN.,,_,l""-"=RRÊ6-DLQLIVEIRA

Excertos do discurso na Sala Bandeirantes do Hotel Hilton (capital paulista) proferido pelo Professor Plinio Corrêa de Oliveira em 17 de outubro de 1978. Sem revisão do autor.


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ustesdo

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UMARI

1,, PuN10 CoRRÊA 01: Ouvc1RA

Os preceitos divinos,

a paz e a guerra

O

s LO Mandamentos são a própria Lei natural, os pontos fund amentai s de toda ordem que deve ex istir no mundo. Se o mundo cumprir os I OMandamentos, ele terá paz e prosperid ade. Um a prosperidade que não signifi ca rá vício, mas glória, e encaminhará o hom m para a sabedoria e a nobreza . Se o mun lo abandonar esses M andamentos, pod m-s estabelecer tratados e institui ções; pod ' -s · jurar a paz e descobrir elemenl os ma i nffi ·os de aproximação entre os ho111 •ns ;is facilidades de comun icação, por ·x · rnpl o; pode-se fazer o que quis r, o rnund o a ·abará se precipitando na voru g · 111 1 • Iodas as cri ses. - Por qu ·? ~nsi1111-nos S:i nl o /\ •oslinh que o hom · rn mo ·11pn;,, d ' ,111 1,Ir ao próx imo se n,o uI11H u 1 ' us. S' mo uma u D us, o ho111 ' 111 s > 11nw a si 111 ·s mo. El só é capaz de nI11ur uo pr ,xi nio quando o ama p r amor ti ' 1) ' ll S, T i roi o amor de Deu s da ~ rra e 1 ·r ·is lira lo os M'll1da mentos ; tirai os ManH tl 11111 ·111os ' a velha e surrada expressão la# 1i 11 11 " lt o11w homini lupus " tornar-se-á verdutl ' ira : o home m tran sformar-se-á num lobo para ou tro homem . Não adianta fal ar -ll 11 ' tn ele ONU , nem ele paz num mundo onde o homem é um lobo para o próx imo! Por, qu a guerra é a condição natural do homem egoísta que se choca com outro ho~ mem egoísta. E o egoísmo e o ncopani smo servirão, sobretudo, para engen Irar as mai!i ores guerras. Por isso é qu nós nl ramos ":' no ciclo trágico das guerras mundiai s: a Pri :S-ll meira Guerra, a Segunda, o ·sp ' ·1ro da j Terce ira que ronda em torno d · 116sl •

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1 1 ~

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l ATO LI CISMO

Trecho de um di scurso do Prol'. Pli11 l0 C'!Hr II de Oli veira pro ferido, em 20-5-7 , 1111 ·id11d (• d1• C'11 111pos RJ. Sem revisão do autor.

4

CARTA no

5

P AmNA

7

PoR

8

CommsPONDl~:NCli\

1O A

DnmT<m

MAmANA

Nossa Senhora "sem coroa"

Olm NOSSA SENIIOIM CJIOl~A?

PALAVRA no SAcmmoT1~

14 CosTtJM..:s Chapéu -

um símbolo

17 l~r•:M1N1sd:N<;1A Formação católica em épocas passadas 22

EN·1·1mv1sTA

26

CAPA

Igreja Católica na Chjna: dor e esperança

China: as duas faces da mesma Revolução

40 VmAs m-:

SANTOS

São Gregório Taumaturgo

43 l\11,:MómA História da famosa foto de lwo Jima 46 01,:sTAOrn~ "Indignados" e o vandalismo sacrílego em Roma 48

SANTos ,,: FESTAS DO

M 1'i:s

50 AçAo CoNT1u-R1-:vowcmNAmA 52 AMBmNTl•:s, CosTUl\'rns, C1v11,1zAçüEs Modelo feminino odjado pela Revolução: Maria Antonieta

Nossa Capa: A Grande Muralha, com sete quilômetros de extensão, é o símbolo da China. Iniciada em 221 a.C., ela só foi concluída no século XV, pois os trabalhos ficaram praticamente paralisados durante alguns séculos. Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo. NOVEMBRO 2011 -


PÁGINA MARIANA

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Nossa Senhora e o Bem-aventurado Jeremias de Valáquia

li

Caro leitor,

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Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

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CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES L TOA.

Catolicismo tem abordado com frequ ência fato ref r nt s , hina muni sta, em notícias e comentários pontuais. Devido ao realce que o tema assumiu de um tempo a esta pa rte, julga mo oportuno estampar nesta edição uma visão abrange nte e aprofundada da questão. Apresentamo-la na matéria de capa, a cargo de nosso articulista José Antoni o Ureta, e na entrevista concedida pelo Pe. Bernardo Cervellera, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, considerado o maior especialista romano sobre a Igreja na China. De modo objetivo nos é revelada tanto a face coruscante e enleante como a obscura e perigosa do dragão chinês, o qual, depois de bem analisado, poderia ser sob certo aspecto qualificado de "tigre de papel". Numa visão mais profunda da História dos povos, o fator religioso é o mais determinante na vida das sociedades humanas. Exemplo saliente disso nos oferece o império romano pagão. Logo após Pentecostes, os Apóstolos fundaram pequenas comunidades cristãs no Ocidente e no Oriente, e o sangue abundante dos mártires foi a "semente de cristãos" . Em 313 d.C. o imperador romano Constantino converteu-se ao cristianismo e deu liberdade à Igreja, a qual, sempre perseguida por pagãos e judeus empedernidos, modelou ao longo dos séculos a glori osa civi lização cristã. Assim, foi o fator religioso - e, no caso concreto, a única Reli gião verdadeira - que determinou um giro transcendental na Hi tóri a. A penetração católica na China teve início no séc. Vil d.C. Apó. quatro tentativas de evangelização, regadas durante século pelo . an gue de incontá veis márti res e com frutos duradouros, chegamos aos dias atu ais. A Igreja Católica clandestin a na China - a úni ca autê ntica, vin cul ada a Roma - conta oito milhões de fiéis. É um a peque níss ima minoria se comparada à gigantesca população chinesa. Entre tanto , a s im como os cri stãos da época das catacumbas con stituíam minoria ínfima n impéri o rom ano pagão, os fi éis católicos da China poderão exercer pape l de te rmi11·1 nte nos destinos dessa imensa nação. Na pegadas de seus predecessores, que arrostaram a perseguição e o martírio ao longo de tantos séculos, a h r ica resistê ncia desses cristãos é sinal incomum de que graças espec iai continua m sendo concedidas à China. Feliz auspício de que, livre por fim de paga ni smos anti gos e modernos, uma futura conversão daquele país se operará a rogos de Maria Santíssima, pela qual ardentemente aspiramos. Desejo a todos uma boa leitura.

Em Jesus e Maria,

9:~7 DIRETOR

catolicismo@terra.com .br

U ma aparição no séc. xvrn, na qual a Mãe Deus estava sem coroa, ressalta que a maternidade divina é seu maior titulo de glória, superior ao de Rainha dos anjos e dos homens 111 VALDIS GRIN STEIN S

A

primeira vez que ouvi falar da imagem de Nossa Senhora "sem coroa", passou-me pel a cabeça a pergunta: "Quando roubaram sua coroa ?" Seria mais um sinal precursor dos nossos tristes dias de profanações e blasfêmias em que isso ocorre com frequência? Entretanto, de origem italiana, a imagem, conhecida como Nossa Senhora sem coroa, de fato nunca a teve . Ela apareceu assim e explicou o por quê. A historia começa num país pouco conhecido para a maioria de nossos leitores, a Romênia. E numa região ainda menos conhecida, a Yaláquia. No ano de 1556, nascia ali um menino chamado João Kostistik. Sua família pertencia à minoria que permanecera fiel à Religião católica quando a maioria aceitou a igreja greco-cismática. Como castigo por tal pecado, a Providência Divina permitiu que os turcos, com suas doutrinas aberrantes e costumes depravados ocupassem o pais, o que ocasionou a piora dajá péssima situação moral existente. Por isso, enquanto o menino Kostistik crescia, sua mãe, Margarita Barbat, contava-lhe, contrapondo à decadência reinante naquela região, que em outro pais - Itália - habitava um Papa santo (São Pio V), havia bons cristãos e monges santos. Para o menino, essa perfeição de vida era muitíssimo atraente. Assim, quando completou l 8 anos, ele tomou a resolução de deixaT a famíli a, a pequena fazenda e o país para ingressar num convento daqueles santos monges. Mas punha-se um problema concreto: como chegar até eles? João Kostistik não tinha dinheiro nem conhecidos que o levassem até onde morava o Papa santo. Teria que percorrer 800 km por vários países de diversas línguas, florestas, montanhas, enfrentar bandidos e finalmente cruzar o mar Adriático. Tudo isso para um rapaz analfabeto e pobre empreender sozinho! O ponto de partida não poderia ser pior. Mas, penNOVEMBRO 2011 -


Isso ocorreu quando ele contava 23 anos. Mudou seu nome para Jeremias e ali permaneceu durante 46 anos, até sua morte, levando vida exemplar e aj uchnclo os doentes, tendo sido beatificado no dia 30 de outubro ele 1983. Numa noite ele agosto de 1608, a Santíssima Virgem apareceu-lhe. Um detalhe, contudo, despertou tanto a sua curiosidade, que ele não resistiu e perguntou à Virgem: "Minha Senhora é Rainha e não tem coroa?" Ela r sponcle u-lhe: "Frei. l erem.ias, minha coroa é o meu Filho ". E le narro u a Elll're11talldo as dil1culda<les aparição apenas a um virtuoso capuchinho que conhecera Afirmar que a viagem foi dura é dizer pouco. Foi desde a entrada na ordem, Frei Pacífico de Salerno. Este, duríssima. O rapaz esteve várias vezes a ponto ele ser assasporém, falou da aparição a um outro, que a contou também sinado por bandidos; quase morreu duapenas a um outro ... Assim, todos os religiosos e depois os benfeitores e rante uma tempestade no meio ele uma floresta; teve que realizar duros trabafrequentadores do convento tomaram conhecimento do mil agroso fato. A lhos para sobreviver e conseguir atingir sua meta. Após dois anos de camiprincesa Isabel Della Rovere mandou nhada, tinha percorrido apenas 200 km, pintar um quadro representando Nossa estando ainda muito mai s perto ele seu Senhora com o Menino, mas sem a copaís do que ela Itália. Monges, não enroa. M ais tarde, a pintura gerou uma série de réplicas e foram efetuadas tamcontrou nenhum . E ainda por cima teve bém impressões populares, o que torde carregar pedras e tijolos para conseguir dinheiro e comprar comida. Quannou muito conhecida a aparição em do parecia que não conseguiria empretodo o Reino de Nápoles. ender novamente a jornada, uma oporSe refletirmos sobre a frase dita por tunidade providencial surgiu: um méNossa Senhora - "Minha coroa é o meu Filho" - compreenderemos que dico italiano, Pedro Lo Iacomo, que vitudo na vicia d'Ela estava abso lutame najara à Hungria a fim de obter tratamente ordenado em função de seu chamato ela enfermidade ele um nobre ela faRelíquia do bem-aventurado do para ser a Mãe ele Deu s. mília Bathory, estava a ponto de regresPara si mbo li zar a grandeza cios plasar a seu país. Para tal, necessitava ele nos divinos, que não conhecem barreira nem impossíveis, um criado que o acompanhasse. Assim, o rapaz peregrino Nossa Senhora foi exemplo excelso de fidelidade durante a rumou rapidamente em direção à sua meta. Paixão e Morte de seu Divino Filho; foi quem, nas Bodas de Em 1577, já com 21 anos, desembarcou na cidade de Caná, obteve d'Ele o primeiro milagre público, revelador de Bari. Mas, em vez de encontrar pessoas vivendo em estado sua sublime missão. M es mo tendo uma perfeição altí ima e de santidade, encontrou o oposto. A imoralidade naquela ciúnica, Ela ele tal modo viveu em função ele seu Filho que nos dade italiana era pior que a de sua reg ião natal. Bebedeiras, Evangelhos é menc ionada ele modo li reto e pecialmente quanbrigas, blasfêmias, vinganças, todo tipo ele fraude nos condo há relação com o plano da Encarnação e da vinda do Retratos, etc. Foi a maior desilusão ele sua vida! Já estava pendentor. Ela apa rece em função ele Nosso Senhor Jesus Cristo. sando em fazer o caminho de volta para casa. Sua glória, sobretudo, é a de se r a Mãe ele Deus. Dessa realiA Providência Divina, que para o nosso bem permite as dade superi or decorre a frase sobre a ausência ela coroa, ou provações, colocou termo a elas no momento adequado. Um seja, o que E la tem de mais glorioso é o seu Divino Filho. senhor idoso conversou com João e mostrou-lhe que ele esAssim, quando os protestantes acusam os católicos ele tava enganado, que a imoralidade não dominava toda a Itáexaltar a fi gura ele Nossa Senhora em detrimento da ele Jelia, e recomendou-lhe que cruza se o país e chegasse ao porsu , tal falsa acusação soa como tremendo absurdo . Não faz to de Nápoles. Ao mesmo tempo, um farmacêutico , que tisentido algum , pois Nossa Senhora está sempre vinculada a nha irmão morando em N ápol es, deu-lhe uma carta de recoNo o Senhor. Ela é o caminho seguro e perfeitíssim que mendação. Desta vez a viagem foi bem mais fácil e João conduz a E le. chegou àq uela cidade no período da Quaresma de 1578. No quadro de Frei Jeremias, ao aparecer sem a coroa "Mh1/1a coroa é o meu filho " material , mas com seu Filho nos braços, Nos a Senhora quis deixar bem claro qual é a verdadeira hierarquia ele Iodas a. Em Nápoles encontrou lugares onde reinava a perfeição: coisas: Deus sempre estará em primeiro plano a mi ssão igrejas cheias de fiéis, cerimônias religiosas suntuosas, música incomparável, monges compenetrados, sérios e decididos. d'Ela é de nos conduzir a Ele. • João Kostistik decidiu ingressar na ordem dos capuchinhos. sava ele, para Deus nada é impossível , e contava com a ajuda divina. Os pais sentiam que uma inspiração tão forte só podia ser fruto ele uma graça. Porém, como concordar com um projeto tão arriscado? João Kostistik resolveu o problema fugindo de casa sem se despedir da família. Mesmo em meios materiais e falando apenas o dialeto de sua região, resolveu rumar para a Itália, à procura do lugar onde a perfeição reinava.

-CATOLICISMO

Totalitarismo de mansinho

A

pretexto ele no proteger, o Estado vai se imiscuindo cada vez mais em nossas vidas, para !1os dizer~ que podemos fazer e o que não podemos. E um sociali smo totalitário que vai entrando ele mansinho, sem precisar para isso de revoluções sangrentas como a ele 1917 na Rússia, nem de ditaduras férreas como a ele Hitler. Somos tratados como menores de idade. Vemo-nos obrigados a educar nossos filhos cio modo como o Estado manda. Querem nos proibir ele criticar os homossexuais, negam nosso direito ele católicos de execrar qualquer participação no aborto, na contracepção ou no divórcio. A pretexto de que não se pode discriminar, perseguem-nos - até judicialmente - se desped irmos um empregado ineficiente ou ampararmos a moral de nossas filh as . A propósito de ssa "proteção" indesejada e cada vez mais abrangente, o escritor João Ubaldo Ribeiro, da Academi a Brasil eira ele Letras - de quem entretanto discordamos em muitos pontos - publicou um interessante artigo intitulado "O totalüarismo científico'\ cio qual reproduzimos alguns trechos.

"Cada vez mais se tenta regular a conduta do cidadão, rnesmo em áreas imemorialmente reservadas a arbítrio e atos da sua exclusiva alçada. Subi.tamente, há um afã por proteger-nos de nós mesmos e, muito pior, impor-nos 'verdades' cient(ficas. Isso se deu, por exemplo, com. a lei da palmada, que, aliás, parece que não colou, considerada descabida por muitos pais. "Que é isso? Aonde chegam.os? "Vive-se em cidades poluídas como Rio e São Paulo, mas o cigarro do vizinho, trancado em seu escritório, é o que prejudica o condomínio? "Deverão em. breve man,i:f'estar-se os que se sentem incomodados com cheiro de carne assada - e assim poderão ser banidos os churrascos na cobertura. Talve z várias plantas também venham a ser proscritas, pois há muitos alérgicos a pólen que padecem com flores. Caprichando, dá para proibir tudo. "No futuro, para proteger nossa saúde, seremos ob ri-

gados a seguir restrições alimentares baixadas pelo Ministério da Saúde e, em certos casos, o supermercado só nos poderá vender alim.entos de wna lista carimbada por uma nutricionista oficial. Corno essas coisas mudam a cada instante, todo ,nês sairia urna lista revista do que é cientificamente aconselhável comer e, portanto, devia ser obrigatório. "Não sobra muita razão para não se instalarem câmeras de tevê, a fim de monitorar pelo menos certos casos, como na área da educação. Os pais estabeleceriam os horários em que c;judariam os filhos com os deveres de casa e aí um funcionário do Ministério da Educaçcio acompanharia os acontecimentos em. tempo real, para ver se o pai segue a metodologia traçada pelo Ministério e se não faz observações politica1nen1e incorretas. E, na hora em que os pais dessem um livro para os.filhos lerem, a leitura só poderia ser realizada depois que os pais ouvissem do governo a contextualizaçcio do livro e como ele deverá ser co rretamente entendido e explicado" ("O Estado de S. Paulo", 2-10-2011).

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Não se trata, é claro, ele advoga r o anarquismo. O Estado tem, evidentemente, um papel importante na sociedade humana, mas subsidiário. Cabe-lhe fazer aquilo que os indivíduos, as famílias ou outras soc iedades intermediárias não têm meios ele reali zar. É o caso ele estradas, ela proteção contra calamidades públicas e outras do gênero. Quanto ao mais, ele tem a obrigação de coibir o mal e, na medida do possível, incentivar o bem que os grupos inferiores levam a cabo. Sobretudo o Estado deve simboli zar a união das populações que se encontram sob sua égide. O inconcebíve l é o pstado introm eter-se em todos os detalhes ela vicia do cidadão para aí impor normas de conduta, criando indivíduos-robôs que não se movem mais por si mesmos, mas apenas pelo impulso que lhes vem de fora. Isso é antinatural e anticatóli co. • NOVEMBRO 2011 -


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"Dobre de finados" 121 Bem que as igrejas poderiam tocar seus sinos, não em "dobre de fi nados" (fúnebre), mas em toques festivos pela morte ela Reforma Agrária. Imagino que eleve haver algum tipo de toque de sino bem alegre para celebrar a Ressurreição de Jesus. Mas é uma brincadeira, pois sei que não ouviremos esses sinos ... pelo menos enquan to certas igrejas esti verem em mãos dos discípu lo não ela "teologia de Cristo", mas da " teologia da libertação". (A.G.J. -

"Nem choro nem vela "

Eclipse da Reforma Agrária

M atéria formidável deste exemplar da rev ista [outubro/2011] mostrando a Reforma Agrária, por fim , jazendo no lugar apropri ado a programa tão nefasto para o Brasil : no cemitério. Parabéns ao arti c u lista ! P ara bé ns ao sa udoso Plinio que tanto lutou para que o projeto de Reforma Agrária fosse enterrado. F inalm ente tal reforma morreu e não deve haver "choro nem vela" (conforme Noel Rosa) e ninguém deve fi car com saudades. Mas continuemos alerta, pois as esquerdas poderão tentar uma "exumação" ela falecida, obter alguns restos para uma "clonagem" e conti nuar executando a revolução agrária comunista, com a fi nalidade ele levar o Brasil para a época elas cavernas. (D.M.N.O. - ES)

Obra é/Jica A atuação heróica cio mestre Corrêa ele O li veira contra a Refo rma Agrária merece uma obra épica ó com o tema desse artigo sobre a sua "Ação anti-agroreformista". Sem dúvida o fiasco e o descrédi to em que cafram o agro-reformistas se devem a ele com a sua TFP palmilhando o País de norte a sul , leste a oeste, animando os faze ndeiros a não desanimarem na luta. Quero deixar aqui registrado o meu muito obrigado a meu mestre, este grande patriota que nos salvou, salvou o Brasil. (A.S.P. -

CATOLIC ISMO

SP)

MS)

121 Que alegria ao ver a capa da rev ista deste mês de outubro. A Reforma Agrária eclipsou-se! Pena que não me convidaram para o funeral, teria um prazer enorme se pudesse carregar o caixão da Reforma Agrária. Não estive no funeral para ver as caras escondidas debaixo de bonés do MST, mas vamos comemorar abrindo um champanhe, num brinde à saúde do Brasil. Tin-tin! (R.C.G. -

RJ)

Fracasso dos assentamentos 121 Gostaria ele mais info rmações refe re ntes à Re vi sta Catolicismo. So u filho do senhor M.A.M. (falec ido). Na Bahia, encontramos um anti go in vasor de terra, 45 anos, ex-vereador e Secretário da Agricultura de um município próx imo. E le falava revoltado contra o regime de escrav idão nos assentamentos de Reforma Agrária: " No

meu conceito, Reforma Agrária seria para melhorar o padrão de vida do homem do campo, dar a ele condição de sobrevivência, e não de escravidão! Você vive submisso às regras da Refo rma Agrária! Vim de ltabuna para cá j unto com o proj eto de Reforma Agrária, desde / 982, corno invaso,: Eu estou há dez anos numa área de assentamento, ncio tenho um título, não tenho um documento qualque r que prove, que eu possa ir a um banco ten-

tar desenvolver um proj eto individual para mim. O Incra não cumpriu isso com todos os parceiros deste projeto". (1.S.M. -

BA)

Oport1111a e 11/Jal sugestão 121 De coração a me i as pa lavras do ilustre D r. Plinio Corrêa de O liveira sobre nosso Pai, nosso Cri sto Redentor. Gostaria de sugerir que se gravassem suas devotas palavras numa pl aca de bro nze para se fi xar junto ao mo nume nto. São palavras que fa lam profundamente à nossa fé ! São p alavras lapidares ! Que tal esta sugestão para o aniversário de 81 anos do Cristo Rede ntor? Hoje estou muito sugestiva. Aqui vai mais uma: Todo mundo comemora seu ani versário, todos os pais comemoram o de seus filhos, e estes daqueles. Assim, não só os cariocas, mas o Brasil inteiro deveria parar, ai nda que fosse por um minuto, e entoar o cântico de parabéns, melhor, um hino religioso ou uma oração, em louvor ao no so Cristo Redentor e nosso Pai. Todos os brasile iros omos filhos do Redentor e sua grandiosa imagem no ponto mai alto do Corcovado tornou-se nosso ímbolo máximo (gostem ou não gostem o ateus e agnósticos). Então, a sugestão: uma campanha pela internet para que todos os brasileiros, em todos os dias 12 de outubro ele cada ano, parassem seus afazeres por um minu to, e se voltassem na direção do orcovado e rezassem algo, ai nda que apenas um Pai-Nosso. Tenho certeza ele q ue E le abençoaria a todos com um carinho especial por seus filhos brasi leiros. (M.U.N - RJ)

Crianças em Pe1'igo O extenso artigo sobre os efeitos negativos da internet, de Daniel Fé lix de Sousa M artin s, pareceu-me excelente. Vou tradu zi-lo para o a lemão, a fim de utili zá-lo nas publi ações da ca mpanha "Kfoder in G fahr" ( rianças e m Perigo), que lula contra a imo-

ralidacle nos meios de comuni cação soc ial. (M .V.G. -

Frankfurt, Alemanha)

me programar para ser fiel aos bons conse lhos. (M.P.G. -

MG)

FRASES

"Belle Époque"

Vi11ga11ça da natureza

121 Faz pouco mais de duas semanas que no Evangelho da Missa se rememorou a cura dos dez leprosos. Somente um deles voltou para agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo. Uma prova ele como a virtude da gratidão é frágil ... Quisera, pois, como propagandista de Catolicismo, imitar aquele leproso, manifestando minha gratidão ao nosso caro Dr. Nelson R. Fragelli pelo seu artigo sobre a " Be ll e É poque" . Lendo -o, fi ca-se numa grande dúvida, qual das duas coisas mais admirar: se aquela bela época hi stórica, ou a nobreza de alm a de quem a descreveu em nossos dias. Artigos como estes nos curam da le pra revolucionária e igualitária deste século XXI, e eleva e fo rtalece nossa confiança na restauração da civilização cristã. Que Nossa senhora fa voreça aquele autor e lhe conceda tempo para outrns artigos.

121 G oste i cios arg ume ntos cio Prof. Da vid M agalhães, aprovo todos eles e vou encaminhá-los a me us conhecidos . Temos que acabar com essas tentati vas de deturpar a noção de uma família ve rdadeira, visando destruí-la. A natural relação matrimonial entre home m e mulher fo i estabe lec id a po r De us. Quando se perturba a natureza (como no comportame nto homossexual), as consequências são calamidades para a humanidade devido a essa revolta contra a natureza, que cobra caro por isso, ela não perdoa. Aqueles que defende m as relações ho mossexua is que se cuidem, pois a própria natureza se encarrega de vingar-se.

(G.S. -

CE)

Pare, que eu quero descei: .. 121 Co mparando a " Be lle Ép oqu e" com a é poca atual, "tri ste é poca", fico com ve rgonha da nossa. L amentável progresso, q ue poderi a ocorrer sein destruir o modo ele viver segundo as tradi ções; que poderiam avançar sem matar o passado, mas optou em pi sar nos valores de antigamente . Lendo o a rtigo sobre a " Be lle É poque", tive vo ntade de gritar: "Progresso, pare que e u quero descer !" (T.W. E. -

BA)

A Pala vra do Sacerdote 121 Impress ionante como a resposta do M onsenhor José L ui z Villac [Catolicismo, sete mbro/2011] responde inteiramente ao meu problema. Era EXATAM ENTE a pergunta que e u gostari a de fazer. A pessoa que a fez tem O M ESMO PROBLE MA qu e te nh o. Agradeço a ela e ao M onsenhor. Vou

(H.C.E.M. -

SELEC IO NADAS

"Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó tomarás" c;êll\,esLs 3 .:!j

"Quanta vez junto a

um jazigo, alguém mu.nnura de feve: Adeus, para sempre, amigo! E c!iz-Che o morto: ½.té 6reve! ,,,

CE)

'BelV1A.Lro lsrc:igc:i

Logística milionária 121 Tudo indica a ex istência de um a logística milionária coberta por publi cidade de mesmo porte para dar visibil idade à questão homossexual, algo repudiado pela esmagadora maioria do po vo bras ile iro . Qua l a fin a lidade? Destruir a fa mília bras ile ira ! (P.U .M.C. -

SP)

Ignorância protestante 121 Que maravilha é Nossa Senho ra Virgem Peregrina. É realmente triste ve r q ue os pro testa ntes co nsidera m Nossa Se nh ora co m o um a mulh e r q ualquer. Ma is triste ainda é o que disse um protestante: "Essa mulher, que vocês católicos cultua m, é uma mulher morta e vai ser julgada como todos os mortos". Veja a ignorância e m que se encontram eles. Pode Jesus julgar sua própria mãe? E les são cabeças du ras, d is ta ntes do verdadeiro Evangelho de Cristo. P referem seguir assim , vão continuar batendo suas cabeças até a volta de Jes us. (M.F. F.Q. -

"Um epiúifio dizia:

Aqui jaz fu(ano, muito

contra sua vontade" Pe. MClll\,UeL B>eY'll\,ClY-iiles

t preciso ter vivido

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muito tempo para reconhecer como é

6reve a vicfa.»

Cartas, fax ou e-mails: enviar aos endereços que figuram na

página 4 desta edição.

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N OVEMBRO 2011 -


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Pergunta - Tenho 19 anos e preciso de um favor. Vi que o senhor é monitor de latim, e eu precisava traduzir uma frase do português para o latim. Explicando melhor, eu passei por uma experiência de vida muito difícil e dolorosa. Tive um tumor, mas com a graça de Deu s me recup erei. Na ve rdad e , eu cons id e ro como um milagre. E queria tatuar essa graça. A frase é: "É d'Ele a vitória alcançada em minha vida". Teria como o senhor traduzir para mim? Muito obrigada. Aguardo resposta!

Resposta - E mb o ra não seja " monitor de latim" como escre ve a co nsul ente, ainda sou do tempo em que se ensinava latim nos seminários; ademais, fui reito r de semi -

nário em duas dioceses brasileiras, nos quais o latim era di sciplina obrigatória. E a frase, proposta para a tradução, não é tão complicada que ex ij a estudos especia li zados de lat im. Ass im , pro po nh o à missivista a seguinte fo rmulação: Tua est, Deus meus, in vita mea victoria. Como vê, sugiro explicitar que o "Ele" de quem se trata é Deus, de forma que quem a ler entenda desde logo que a referência é a Deus, autor supremo de todas as vitórias em nossa vida. O latim é uma língua muito co nc isa e a pal av ra "alcançada" é di spensável na tradução; fica subentendida. A j ovem mi ss ivi sta fa rá um belo apostolado to mando essa frase como d ivi sa e mostra ndo-a a q ue m qui ser lê-la. Poré m, um conselho : não o faça por meio de uma ta tu age m! J á tra te i des te te ma, nesta mes ma seção, em

maio de 2007 e abri I ele 2010. M as vo lto a ele.

Advertê1,cias importantes e oportwws Se i bem que as tatuagens estão de moda, principalmente entre os jovens, e cabe perguntar se não há algo por trás dessa moda. Como também das pichações em mu ros e paredes ele edifíc ios. Pichações e tatuagens são parentes afin s. Seu DNA tem em comum di sseminar a sujeira e a fe iúra, e desse modo contribuem para poluir as almas cios habitantes elas cidades. E, ao que indicam algumas notícias de imp rensa, servem ta mbém, em mui tos casos, para indi ca r a pertencença a variadas tribos urbanas e assim " marcar terri tório", co mo o faze m, por di stin tos métodos, dive rsas espéc ies animais. N ada di sto, po is, é tão inocente qu anto parece à pri -

meira vista. Assim , ainda que a tatuagem ou a pi chação e m si possa ser inocente, artísti ca e até santa - co mo é certa me nte o caso el e nossa mi ss ivista - , a mes ma se insere num contex to revo lucionári o que as pessoas ele alm a limpa têm o deve r ele evitar. De um modo geral , porta nto, as tatu age ns de ve m se r v is tas num co ntexto mui to ma is amplo do que a moralidade e m si das frases ou desenhos tatuados: isto é, a decênc ia da vicia pú bli ca e a proteção da mora lidade ind ivi du al. Em nome destas, os pregadores cató li cos e os confesso res deve ri am desaconselh ar aos fiéis a prát ica elas tatuagens. Ade ma is, tratando-se de uma jovem, põe-se um probl ema: e m que parte do cor-

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po a tatuagem dessa frase seria feita? Conforme recomendam os morali stas católicos, as pessoas do sexo feminino devem, e m qualquer idade, evitar expor as partes cio corpo deno minadas pudendas, isto é, aquelas que o pudor hum a no reco menda manter cobertas. E a razão é si mples: deve m e las evitar ex por, de seu corpo, tudo aquilo que excita a conc upiscênc ia de outros. A inobservância desta regra elementar de pudor é um fator a mais para expli car a multipli cação de s ituações e mbaraçosas para as próprias jovens, e inclusive meninas - como os estupros ou as gra videzes precoces - , para cuj a solução se ape lará depois, indevidamente, para o nefando crime do aborto, ainda que disfarçado pelo silencioso método das pílulas abortivas.

Os adornos da

vestimenta feminina Mas nem por isto a jovem consulente está desprovida de meios para executar o seu honesto e meri tório desej o de proclamar a vitóri a de Deus e m sua vid a, estampando a frase - curiosamente em latim! - Tua est, Deus meus,

in vita mea victoria. É perfeitamente legítimo que a mulher solteira se adorne decentem ente, em vi sta de agradar a um eventua l esposo, e, ass im, construir um a nova fa núlia, segundo os desígnios de Deus; ou, se j á casad a, agrada r ao ma rid o . Para isto, o gênio inventivo fe minino criou adornos para a sua apresentação e vestimenta, tais como fitas para o cabe lo, tiaras, brincos, pinge ntes, co lar es, bro c hes, camafeus, braceletes, anéis, etc. A mulher sen sata os usa-

rá com moderação, di stinção e elegância, alternativame nte, confo rme as circun stâ ncias. Caberá à consulente fazer uso desse gênio inventivo para colocar, ou mandar gravar, a frase do seu agrado na disposição conve ni e nte em um ou dois desses adornos, o u num cru c ifixo o u medalha do Coração de Jesus - de fo rma que sej a discretamente legível pelas pessoas com as quais convive. Pres ta rá ass im, co nfo rme deseja, o pre ito de gratidão devido a Deus que, a seu ver, lhe propic iou uma cura milagrosa. E ningué m será tão insen sato de negar-lhe o direito de prestar crédito à palavra interior que o Divino Espírito Sa nto coloco u e m seu coração. Nin g ué m neg ará ta mpouco seu direito de realçar a beleza que Deus lhe deu, usando tal adorno. A própria

Virgem Santíss ima, em suas aparições, se mostra aos vi de ntes de fo rm a extre ma mente bela. "Uma Senhora

mais brilhante que o Sol ", descrevi a a princ ipal vidente de Fátima. E na Ladainha lauretana, várias invocações exaltam a fo rmosura ela Rainh a dos Cé us e d a Terra: Vaso honorífi co, Rosa mística, Torre de marfi m, Casa de ouro, Estre la da manh ã, Rainha das virgens, etc. Que a San tíssima Virgem Mari a in spire a consulente a e nco ntra r a ma ne ira ma is adequada de satisfazer o seu legítimo voto, sem recorrer a métodos que os costumes re voluc io nári os de nossos d ias impin ge m dita toria lmente, co m a in te nção de afastar os ho mens de Deus, suma e etern a b eleza! •

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E-mail para o autor:

catolicismo@terra.com.br

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~ CATOLICISMO

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A REALIDADE CONCISAMENTE

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Homossexuais: maior foco infeccioso da AIDS nos EUA

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e acordo com o oficial U.S. Centers for Disease Control, embora os homossexuais constituam apenas 2% da população americana, só os de sexo masculino são responsáveis por 61 % dos novos casos de infecção por HIV em todo o país. Desde 2006, a cada ano são registrados 50.000 novos casos, 27 % dos quais de homens entre 13 e 29 anos de idade. O maior incremento (48%) foi constatado entre os afro-americanos, noticiou a agência "LifeSiteNews". O estudo também revelou que pelo menos 20% dos homossexuais são portadores da doença m011al, sendo que metade deles não tem conhecimento de que já a contraiu. •

Religiosos, parem de falar ''baboseiras"

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ichel Garroté, especialista em geopolítica, denunciou que por trás do vandalismo que abala a Inglaterra estão as idéias de " Maio de 68". "Há 43 anos, Maio de 68 vem apodrecendo a sociedade; já é hora de denunciar a enorme hipocrisia dessas idéias pseudo-pacifistas ". Para Melanie Phillips , do diário britânico " Daily Mail ", "quando os responsáveis religiosos cessa rem de falar baboseiras típicas de assistentes sociais de idéias moles e recomeçarem a defender os princípios morais que fundamentam nossa civilização, quando nossos dirigentes políticos decidirem se opor à guerra cultural empreendida contra nossa civilização em vez de aquiescerem passivamente com sua destruição, então - e só então - poderemos começar a solucionar esta crise terrível ". •

Ambientalismo: se o clima não muda, falsifiquemos os mapas!

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a edição de 2011, o reputado Times Comprehensive Atlas of the World representou a Groenlândia como tendo perdido 15% da cobertura de gelo THE TIMES perene em relação a 1999. Eminentes cientistas de todas as tenCOMPRLHENSIVE dências acusaram o Atlas de falsificar os dados. Este também suprimiu os países-arquipélago Tuvalu OFTHE e Maldivas, além de grandes extensões de Bangladesh, para inocular a "verdade emocional" das " mudanças climáticas causadas pelo homem". David Rose, portavoz do editor, explicou a mudança dizendo : "Os mapas que representam formas geográficas precisas pertencem à era vitoriana. Nós agora precisamos de mapas que mudem o mundo". Em outras palavras: falsifiquemos os mapas para ver se levamos nossos leitores para onde queremos ... •

ATLAS

WORLD

Liechtenstein: populaCjão repele aborto em referendo

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o Principado de Liechtenstein, 52,3 % dos eleitores votaram pelo "não" ao aborto em referendo nacional , rejeitando assim s ua descriminalização . As pesquisas midiáticas previam uma vitória da liberalização desse crime abominável, aumentando assim a pressão sobre os setores mais moralizados do país. Estes, porém , resistiram. E o massacre dos inocentes continua punível no Principado com até um ano de prisão, mesmo se realizado no exterior. O príncipe herdeirn, Alois Philipp M ai-ia de Liechtenstein, trabalhou contra a liberalização, e Mons. Wolfgang Haas, arcebispo de Vaduz (capital do Principado), também protestou publicamente. A coragem do povo de Liechtenstein terá agora de enfrentar outras ofensivas, pois tal votação, perfeitamente democrática, será contestada internacionalmente pelos arautos da "cultura da morte", que hipocritamente se jactam de democratas. •

CATOLICISMO

Sequestrar crianCjas: outro método chinês contra a natalidade

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s agentes chinese de controle de natalidade geram pânico em Long hui , ul da China. Eles sequestram as crianças "excedentes" . Em 2005, Yuan Xinquan segurava sua filhinh a, de menos de dois meses, num ponto de ônibus, quando seis agentes lhe exigiram a certidão de ca.-amento ou 745 dólares para permanecer com a filha. Yuan só ficou com um saco plástico contendo as roupas do bebê uma pomada. O povo de Longhui diz que o governo so ialista local vende os bebês no país ou para estrangeiros. Depoimentos ainda mais sinistros falam da utilização dos bebês abortados ou sequestrados para a elaboração de ·osméticos exportados ao Ocidente. •

Planeta de diamante: liCjÕes de um esplendor divino

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Max -Planck-Institute für Radioastronomie de Berlim anunciou a descoberta de um planeta feito de diamante. Esta jóia natural se encontra nos confins de nossa galáxia, a Via Láctea. Os dados foram confirmados pelos radiotelescópios de Lovell, Reino Unido, e de Keck, Hawaí. "É um enorme diamante orbitando uma estrela de nêutrons a cada duas horas", explicou Matthew Bailes, da Universidade de Swinburne, Austrália. Deus criou um diamante do tamanho de um planeta para brilhar sem outra utilidade senão a de Lhe dar glória e convidar à admiração seus filhos que moram a milhões de anos-luz dessa jóia ímpar. Esse imenso "supérfluo" dá uma lição à mediocridade da visão humana e é mai s uma razão para se cantar as glórias do Criador e Senhor dos Céus e da Terra. •

Prêmio Nobel recusa dogmatismo pró- 11 aquecimento global"

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var Giaever (foto), Prêmi o Nobel de Física de 1973, renunciou à famosa American Physical Society (APS) como forma de condenar a posição oficial da associação em favor do aquecimento global. Giaever é professor emérito do R ensse la er Polytechnic Institute, em Troy, Nova York, e da Universidade de Oslo. Ele enviou um e-mail a Kate Kirby, chefe da APS, explicando que não ace ita o dogmatismo da entidade contra as ev idências, porque "a temperatura tem sido surpreendentemente estável, e a saúde humana e a felicidade melhoraram indiscutivelmente neste período de 'aquecimento "', acrescentou o Prêmjo Nobel. Para Giaever, "o aquecimento global tornou-se uma nova religião" . •

Islâmicos pedem para retirar a cruz da bandeira da Suíça

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econd@s Plus, associação de imigrantes islâmicos na Suíça, iniciou campanha nacional para remover a cruz branca da bandeira do país. O grupo argumenta que a cruz é um "símbolo cristão que não mais corresponde à Suíça multicultural de hoje" e ofende os imigrantes maometanos. A associação propõe uma bandeira parecida com a da Bolívia e a de Gana. Porém, há símbolos corânicos nas bandeiras dos países islâmicos e quem falar em removê-los poderá ser condenado à morte. A absurda exigência muçulmana de abolir a cruz, símbolo nacional, está em consonância com as metas das esquerdas laicistas e anticristãs que atuam na Suíça.

Tática de evolucionistas assemelha-se à de materialistas

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a_Inglaterra, 30 ci~n!istas ateus assinaram uma pet1çao para que a teoria da evolução de Charles Darwin seja imposta às crianças a partir dos cinco anos de idade. Em carta ao governo, o grupo pede, ademais, o combate às aulas de criacionismo. O que equivale a proibir o ensino de partes essenciais da Bíblia. O criacionismo e a corrente do design inteligente crescem entre os alunos e pais de família, pois se apresentam como teorias mais razoáveis. Incapaz de promover o ensino do evolucionismo com base em convicção racional, o movimento ateu quer usar as alavancas do Estado para impôlo pela força, como se fosse matéria dogmática. Aliás, como o materialismo científico na época da fracassada URSS!

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Emépocas diversas, o chapéu tornou-se um símbolo

da dignidade de quem o portava; em nossos dias ele ainda sobrevive, remetendo para uma visão da antiga cortesia

• I N ELSON

R.

FRAG ELLI

Se

não chega a surpreender, certa mente é uma visão, cuja percepção desperta a ate nção adorm ec id a e m meio às pessoas e aos a mbie ntes padro nizados de nossos dias. O olhar se detém, ainda que passageiramente, e a este olhar os espíritos se dividem. Ainda que por um momento apenas as concepções sociais irrompem. As ideologias se abrasam. Veloz como um relâmpago - mesmo que esta movimentação interior se passe, o mais das vezes, em silêncio - as mentalidades são sacudidas pelo estímul o daquela vi são. Ideologias e concepções soc iais sa lta m e m direção , não só de um a Weltanschauung ("vi são ele mundo"), mas até mesmo rumo a uma posição política: direita ou esquerd a? Esta vi são é a de um homem ou de uma mulher portando chapéu nas movimentadas ruas ele no.ssas mega lópo les. O chapéu sobrevive como um sinal de distinção social. Ele oferece uma visão da antiga cortes ia que gravitava em torno da di gnidade da pessoa humana. E m se tratando do porte de chapéu, talvez não se devesse falar nos atuais di as em homem e mulher, mas em cavalheiro e dama. Será razoável achar que o chapéu desperta - mesmo quando não se fix a a atenção nele - tantos movime ntos de alma? Convido o leitor a fazer a experiência. Pergun te di scretame nte aos conhecidos e ami gos, quando virem alguém CATOLICISMO

portando chapéu, atravessando o Vi adu to cio há ou ' 111 passeio num fi m ele tarde em Copacabana. Ouça as opi ni ões. Discretamente as anote. Elas revelarão que es tas ·onsiderações não estão longe da realidade.

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· A primeira objeção formulada contra o po1te do chapéu neste segundo decênio do século XXI é tão banal que contra ela hesita-se em esgrimir. Os leitores de Catolicismo - conhecedores, po1tanto, de nossas posições contra-revolucionárias - daiiam a ela fácil resposta. Vale a pena, entretanto, analisar a raiz de sua banalidade. Frequentemente a banalidade é a máscara usada por uma inconfessável e ferrenha oposição. O chapéu, diz esta objeção, tinha no início do gênero humano a finalidade de proteger a cabeça contra as intempéries, mas com o progresso essa finalidade se perdeu. Na cidade ou no campo, a tal ponto a modernidade criou meios tão mais eficazes pai·a agasalhar a parte superior do corpo que o chapéu perdeu sua utilidade. Logo, portá-lo hoje seria dai· mostra de atraso cultural ou de apego a uma moda irracional. Esta é a oposição feita pelos assim chamados espíritos práticos e funcionai s ao atual uso do chapéu. Esses espíritos não querem considerai· que a cabeça é a parte mai s nobre do corpo. Nela residem as faculdades que mais levam à cognição inte lectual e, portanto, aquelas que mais influenciam a formação espiritual. A cabeça foi posta pelo Criador no alto do corpo, de onde ela comunica sua dignidade, através dos séculos, à indumentária que a protege, ass im como a di gnidade do rei se transmite a seus próximos servidores. Diferentes épocas em países diversos conferiram ao c hapé u formas, dim e nsões, cores e adornos indicativo s da di g nidade d e quem o portava. Essa indume ntária tornou-se, pois, um símbolo. Desse símbolo o chapéu, ta l como hoje ex iste, é um depauperado, mas digno

REMINISCÊNCIA

herdeiro, sustentado pelo bom gosto ele muitos que não permitem seu desaparecimento. Ele é apenas uma exterioridade. Mas , conforme Plínio Corrêa ele Oliveira, uma

Catolicismo e Contra-Revolução

"exterioridade que revela, através dos sentidos, uma essência misteriosa, recôndita, de caráter simbólico, nela existente". De que adianta à conduta ele cada um

no Brasil dos séculos XIX e XX

a procura desses símbolos? Os observadores mais penetrantes ela personalidade de Winsto n Churchill diziam que "ele

via, nos seres e nas situações, símbolos fora do tempo que encarnam princípios eternos e brilhantes". Esses mesmos princípios lhe deram força nas horas trág icas ela luta contra o hitleri smo, sustentando-a quando tinha como recompensa apenas "sangue, suor e lágrimas".

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Assim como o barrete é portado pelo sacerdote para exprimir a misteriosa virtude cio medi ador entre Deus e os homens, o chapéu, portado com cligniclacle, evoca gestos e atitudes integrantes ele uma verdadeira liturgia social, necessária aos atos humanos numa soc iedade cristã. Num e noutro, no barrete e no chapéu, o católico eleve "pro-

curar algo que não é seu aspecto prático - algo que os espíritos que adoram o prático e a vida terrena chamarão de 'coisa inútil' -, ele deve procurar princípios que dão o sentido da vida e preparam a alma para o Céu" (Plinio Corrêa de Oliveira). • E-mai l para o autor:

M agníficos frutos do autêntico catolicismo no Brasil, baseado nos ensinamentos do Concílio de Trento, revigorado em meio a muitas provações e ataques anticlericais

catolicjsmo@ terra.com.br

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SÉRG10 füRmu

negativos foi descrito pelo Papa Pio XII como sendo um sutil e misterioso inimigo da Igreja: "Ele se encontra em

todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo". 1 Foi sob esse prisma que analisamos em nossos aitigos anteriores o embate entre forças antagônicas no Brasil, a partir do século XIX, no tocante à educação, ao verdadeiro papel da mulher e em especial à influência da família na boa formação ela sociedade.

Provações J11ere11tes a toda obra de apostolado

O

sécu lo XIX foi marcado pelo florescimento cio catolicismo ultramontano, que fortaleceu a influência e o prestígio ela Santa Igreja. Além de afirmai·em as verdades eternas, os católicos se opunham decididamente aos inimigos ela fé. Inspirado nos perversos ideais ela Revolução Francesa, expandia-se na época o chamado liberalismo católico, o qual pregava a "democratização" ela Igreja e o distanciamento em relação à autoridade papal. Os católicos ultramontanos se levantaram então com ufania para defender a autoridade do Sumo Pontífice e a ortodoxia, gerando ao mesmo tempo grande dinamismo nas instituições e movimentos católicos. Na Europa, esse ren.ouveau teve como figuras proeminentes contra-revolucionários do porte de Joseph de Maistre e Donoso Cortés, De Bonald, São Clemente Maria Hofbauer e, principalmente, o Bem-aventurado Papa Pio IX. Muitos outros poderiam ser aqui citados. Catolicismo, na década de 1960, através da pena de seu saudoso colaborador, Prof. Fernando Furquim de Almeida, abordou com maestria a luta ultramontana e contra-revolucionária desenvolvida na Europa durante o século XIX. No Brasil, este mesmo combate se travou com enorme vivacidade, envolvendo altas personalidades: a) de um lado, os defensores da fidelidade a um catolicismo genuíno; b) de outro, os propugnadores do dito catolicismo liberal, o " progressismo" da época.

D. Antônio Joaquim de Melo, primeiro bispo brasileiro a assumir a diocese de São Paulo, elaborou sólido plano de recuperação do catolicismo autêntico no Brasil, fundamentado nos ensinamentos do Concilio de Trento e nas orientações cio Bem-ave nturado Papa Pio IX. Entre suas metas principais figurava a constituição de seminários para a forma-

Visão da llist6ria sob o prisma cat61Jco Analisada a História sob o prisma católico, ela não se apresenta como uma sucessão de fatos caóticos e desarticulados entre si, mas sim orientados e influenciados por uma série de fatores naturais e sobrenaturais, que variam ele acordo com o momento e a situação histórica. Um desses fatores

CATOLICISMO

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Praça de Martouret, na cidade de Puy, onde foram mortas as primeiras mórtlres das religiosas de São José de Chambéry

Madre Teodora de Voiron

ção de um clero instruído e pleno ele vida interior. Alé m di sAssim , a indicada para superiora - Madre Maria Basíso, o prelado percebi a bem quanto valor tinha a in strução li a - , logo ao sai r da Europa contraiu um resfriado , que se católica da juve ntude, em espec ial a fe minina, que levari a a agravou a ponto de levá- la à morte em plena viagem. O Revmo. Pe. Terrier, diri gindo-se ao cardeal boa seiva para suas fa míli as como filh as, Billet, assim descreve o ocorrido : "Apeirmãs, esposas e mães. sar da dedicação do médico, o mal se O plano do fe rvoroso bi spo constava agravou, uma f ebre violenta afez perder ele uma in strução religiosa e cultural exímia. Exemplo di sso foram as seis irmãs completamente o conhecimento de tudo, de São José de Chambéry, Sabóia (Franmantendo-a em delírio durante cinco dias. ça), envi adas a Itu , no estado de São PauPela tarde de 26 de julho, depois de ter lo. Essa congregação tivera a glóri a ele ser repetido duas ou três vezes os nomes de di spersa pela Re volução Francesa e ter Jesus, Maria e José, ela morreu como os justos, eh.orada por todos e a dois dias da suas primeiras mártires executadas na Prachegada à terra, na altura do Cabo Frio, ça de Martouret, na cidade de Puy, por diante do Brasil onde ela tanto desejava não aceitarem a constitui ção civil do clero e as idéias ilumini stas eles e movimenchegar. Ó Eminência, que terrível golpe para nós; mas aos olhos da fé, que linda to a nticri stão. A con gregação fe li zmente morte! Era mister uma vítima para atrair não sucu mbiu , e se reorgani zou durante o as bênçãos celestes sobre o nosso empresécul o XIX. endimento: Deus escolheu a mais pura, a A maioria de suas religiosas aq ui apormelhor preparada, a mais agradável aos tadas era constituída por jovens entre 19 e 30 anos de idade, cuj a chegada não deiseus olhos. "Como não se podia conservar a borxou de causar, de um lado e ntusiasmos do um cadáver além de 12 horas, .foi precontagiantes, e de outro provações enorMadre Maria Basília ciso proceder-se à sua im >rsão, na mames, o que não é raro nas grandes obras drugada seguinte. A ·eri111ô11ia foi realide apostolado.

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CATOLICISMO

Monumento em homenagem à Madre Teodora

,: zada com a maior solenidade possível. Celebrei a missa de corpo presente, e, bem assim, o Revmo. cônego Goud e o padre capuchinho: todos os católicos de bordo assistiram ao Santo Sacr(fício. Findo este, o corpo, revestido do seu habito religioso, foi transportado para o convés e aí se cemtau a Absolvição em meio dos soluços de todos os assistentes. Depois do último Requiescat in pace, suas Irmãs aproximaram-se para o derradeiro adeus, em seguida lhe ataram aos pés um saco de areia e escorregaram-na suavemente para o mar". 2 Deixamos para futuro artigo a narração das peripécias da viagem entre Rio, Santos, São Paulo e ltu. Pode-se bem imaginar as dificuldades sentidas por religiosas ainda muito jovens, vindas de uma sociedade europeia, sendo transportadas em liteiras, carroças e animais do mundo ag reste de então. Entretanto, logo no primeiro instante, perceberam a cordialidade e a hospitalidade do brasileiro, características de nosso povo que foram objeto de elogios das religiosas. Com a morte de Madre Basíli a, que superiora escolher? Foi indicada a Madre Maria Teodora de Voiron, de apenas 24 anos. D . Joaquim se opôs: "Mas é uma criança! Uma criança! Que faremos com uma criança?!" Com o passar dos dias e observando-a atentamente, ele mudou o seu parecer: "Concluí que sua sensatez, sua discrição e sua prudência triunfariam de todos os obstáculos. Pareceu-me ver nela bom senso e condescendência, qualidades indispensáveis a uma superiora. Tudo me convenceu que ela devia governar". Madre Teodora, escrevendo à sua superiora na Europa, registrou: "O Sr. Bispo acaba de me enviar; por escrito, a confirmação do meu nome para superiora. Nunca senti tão vivamente minha fraqueza e profunda miséria. Minha única esperança está no Divino Salvador. Conto com a assistência de sua graça e com os conselhos de minha boa Mãe". Logo em seguida acrescenta "Fazem-nos um pouco de guerra: nossa mudança excitou a raiva dos maus; eles não se conformam com a idéia de que a mais rica e bela Igreja, não somente da cidade, mas da Província, passe para mãos estrangeiras. Vêem que nossa obra prospera, que gozamos das simpatias de um grande número e não nos podem perdoar". Madre Teodora enfrentou provações múltiplas : contra a fé, contra a esperança, de desânimo, e muitas outras. Já com mais idade, contava sorrindo que certo dia, quando ainda jovem superiora, foi chamada ao locutório por um senhor de mei a idade que, sem mais preâmbulos, exprimiu-lhe profunda admi ração por sua brilhante inteli gência, seu espírito de ini ciativa e demais prendas. Acabou pedindo-a em casamento. Agradecendo-lhe a homenagem e os cumprimentos, Madre Teodora explicou-lhe: "Se fosse esse meu ideal, por certo eu não deixaria a França, onde recusei ótimos partidos" . Esta é usualmente, diga-se de passagem, uma arma dos inimigos da Igreja contra sacerdotes e religiosas. E quantos apostatam! Mas era tal o desinteresse da Madre pelo assunto, que jamais cogitou da ide ntidade do cavalheiro ...

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De acordo com o registro dos livros de matrículas que se encontra no Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, de 1859 a 1919 foram matriculadas 2.275 alunas. Considerando o número de inscritas ano a ano, a tabela fala por si, demonstrando que o prestígio do colégio se mantinha equilibrado no decurso de 60 anos - caso inusitado, se comparado a outras instituições de educação que tentaram se firmar nesse mesmo período. A sociedade paulista ficou marcada durante essas décadas pela moralidade católica tradicional. Moralidade esta combatida hoje ao extremo pelos fautores do hedonismo como "sociedade hipócrita, cheia de falso moralismo e tabus" e toda sorte de slogans injustos e superficiais. É a manifestação do mundo com seus ódios, falsos atrativos e falsas máximas, a que se refere São Paulo Apóstolo. Em próximo artigo pretendemos expor o método e o programa de ensino das Madres de São José de Chambéry, tão amadas e queridas por várias gerações de formandas. • E-mail para o autor: cato licismo@ terra.co m.br

Notas:

Oposição cios h1imigos da Igreja Interessa-nos realçar principalmente aqui em que consistiu a oposição a esta obra por parte de forças anticlericais de então, com seus métodos de ataques explícitos à Igreja. Hoje o lobo mudou de pele, embora tenha conservado e até requintado seu ódio à fé. O jornal "A Gazeta de Campinas" publicou, no período de 1878 a 1880, uma série de artigos assinados por um L.L. (morador de Itu), sob o título O conventinho, os jesuítas e o Patrocínio de !tu. Entre sarcasmos, afirma-se nessa série (mantemos a ortografia do original): "Até quando ficaremos expostos aos e_ffeitos funestíssimos dessas cazas jesuíticas, que não escrupolizam em dar educação por 'tais metas '[. .. }. Dezenas e dezenas de meninas costumam vir educar-se no Patrocínio, seria este cúmplice naqueles desmandos, caso não se viesse pela imprensa, abrir dos olhos aos ingênuos pais de famílias que, na boa fé, são aludidos pelos saltimbancos de roupeta ". O alvo prioritário dos ataques eram os jesuítas. As Irmãs de São José também se tornam objeto das investidas, em virtude de sua ligação com os filhos de Santo Inácio. A congregação foi alvo de inúmeras crônicas, às vezes rudes, furi bundas, fantasiosas e infundadas. Um artigo no mesmo jornal, assinado por Ollem Sopmac - que, se lido na ordem inversa, pode significar Campos Mello - comenta: "Entretanto, a menina de quefallamos, que não

CATOLICISMO

teve tempo para estudar nem sequer a historia pátria, nem somente a provincial, sabia de cor inteiramente sem faltar uma linha, um volume inteiro da Historia Sagrada![. .. ] Nem um só dia deixa de repetir Cathecismo e Historia Sagrada [. .. }, única cousa que se ensina com desvelo é o que lhe chamam religião, e que seria, se não estivesse enxertada das mesmas superstições dos jesuítas. Não vale a pena tão pouca cultura intellectual em troca de tanto fetichismo. [. .. ] Em breve, os observadores conheceram que o beatíssimo começava a ressurgir de suas cinzas. Novas e desconhecidas praticas religiosas appareceram. As festas do mez de Maria de que nunca se faltou em Jtú, foram instituídas; as solemnidades da Primeira Comunhão, um verdadeiro melodrama, que deslumbra as mulheres ignorantes e até alguns não muito ignorantes, celebram-se em grande concurso". 3 Expressões como "fanatizado pelos jesuítas", "enorme turba de beatos", "medrosos", "multiplicaram-se as superstições", "asqueroso fetichismo" etc., não cessavam de aparecer em tais escritos cheios de fel e anticlericalismo.

1. Alocução à União dos f-lomens da A. C. Italiana de 12- 10-1952 "Discorsi e Radiomessagg i", vol XIV p. 359. 2. Uma alma de Fé, Olivia Sebastiana Silva, Ave Maria, São Pau lo, 1985 p. 55 e 56. 3. "Educação Feminina numa lnstiluição total confessional Católica Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, Maria lza Gerth da Cunha. Tese apresentada do Departamento de Historia da Faculdade de Filoso fia , Letras e Ciências Humanas da Universidade de SP (USP) , 1999.

Resultado de uma grande obra de apostolado Madre Teodora foi superiora da congregação por quase 66 anos. Apesar de todas as investidas, a obra foi adiante. A partir daquela semente nasceram numerosos frutos. Só no estado de São Paulo, até 1919, a congregação já mantinha 31 casas sob sua direção.

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China comunista: implacável perseguição anticatólica B ispos, sacerdotes e leigos católicos são presos, mandados para campos de trabalhos forçados, torturados e executados. Entretanto, apesar de tão atroz perseguição, cresce o número de católicos na China. "O n1artírio de um católico conduz à conversão de outros", afirin.a o Pe. Bernardo Cervellera, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras.

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tualmente fala-se muito sobre a China, mas pouco se sabe a respeito da verdadeira situação dos católicos chineses. A fim de proporcionar a nossos leitores uma ideia do que está ocorrendo naquele país, Valdis Grinsteins, colaborador de Catolicismo, entrevistou em Roma o Pe. Bernardo Cervellera, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, considerado o maior especialista romano sobre a Igreja na China. Professor na Universidade Beida, em Pequim (de 1995 a 1997) e diretor da Agência de imprensa vaticana "Fides" (de 1997 a 2002), ele é o atual diretor da prestigiosa Agência "AsiaNews" (www.asianews.it). *

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Catolicismo - Circularam ultimamente muitas notícias sobre um esfriamento das relações entre a China e o Vaticano. O que há de certo nisso?

Pe. Cervellera - Sou convidado algümas vezes a participar de encontros com industriais itali anos que me perguntam sobre a China. Quando me refiro às perseguições que sofrem lá os católicos, ficam surpresos. Porque hoje muitíssimas pessoas possuem uma imagem turística da China, ali ada a uma noção confusa oriunda de notícias que informam sobre a quantidade de arranha-céus construídos nas grandes CATOLICISMO

Padre Ce1'vc/Jcrn:

'1/1 estrn11geil'os varece que a China mudou, quando, de fato, sempre foi assim. /lá perseguição contínua, cuja extensão pode te1' varia<lo, mas nunca cessou"

cidades, da existênci a de grande número de automóveis Ferrari, do aumento da renda média do trabalhador chinês, etc. Pensam tais pessoas que, pelo fato de a China estar apresentando aparentes mudanças do com unismo para o capitalismo, a situ ação dos direitos humanos também se alterou. Acompanho há 20 anos a situação chinesa e posso afirmar que, se do ponto de vista geográfico muita coi a mudou (novas autopi stas, condomínios, trens, etc.), por outro lado, a perseguição religiosa manteve-se sempre constante. Houve há poucos meses sagrações ilícitas de bispos, ou seja, sem mandato papal. Nos últimos quatro anos ocorreram cinco dessas sagrações. Alguns bispos débeis ou timoratos foram obrigados a participar das mesmas, tendo sido conduzidos à força pela polícia. Isto é algo que não se registrava desde a época da Revolução Cultural dos anos 50 e do início do maoís mo. Época na qual se tentava criar uma igreja nac ional composta de padres e bispos sob a direção do Partido Comunista Chinês. Na teoria, uma igreja independente de Roma; na prática, dependente do governo com unista. Perguntei recentemente a um católico chinês sobre a mudança de rumo do governo. Ele simplesmente respondeu-me dizendo que para os estrangeiros parece que a China mudou , quando ela, de fato, sempre foi assim. Há um a perseguição contínua, cuj a extensão pode ter vari ado um

pouco, mas nunca cessou desde que os comunistas tomaram o poder em 1949. Catolicismo - Os bispos chineses fiéis ao papado continuam sendo presos?

Pe. Cervellera - Por uma sugestão de Stalin a Mao Tsé-Tung, o Partido Comunista Chinês quis inicialmente exterminar a Igreja, mas isto não funcionou. Criaram então, em 1957, a Associ ação Patriótica, a qual ficou encarregada pelo Partido Comunista de controlar a Igreja. Já o Papa Pio XII condenou essa associação em l 958 e declarou que os bispos que sagrassem outros bi spos escolhidos por ela estavam excom ungados. Todos os bi spos que se opu seram, nos anos 50, a essa manobra com uni sta, terminaram na prisão, sendo obri gados a permanecer 20 ou 30 anos sob o regime de trabalhos forçados. Por exemplo, o bispo de Xangai, D. Ignatius Kung ; o bi spo de Booding, D. José Fan Xueyan; o bi spo de Cantão, D. Dominic Tan Yee-Ming, e tantos outros. Há ainda vários bi spos "clandestinos" - ou seja, que se negam a fazer parte dessa Associação Patriótica - os quais se encontram nas mãos da polícia. É o caso, por exemplo, de D. Jacobo Su Zhimin, há 15 anos nessa si tuação. Ele está desaparecido e sem sinais de vida. E isso só por não querer fazer parte da Associação Patriótica. Também o bispo de Yixian, D. Cosme Shi Enxiang, encontra-se nas mãos da polícia há 1Oanos. De forma totalmente ilegal, apesar das poucas leis existentes na Chi na. Estamos preocupados, porque muitos bi s-

Por uma sugestão de Stalin a Mao TséTung, o Partido Comunista Chinês quis inicialmente exterminar a Igreja

"O bispo de /Joocling, após passar três meses nas mãos da polícia, em 1992, teve seu cadáver deixado <liante da porta de sua casa, en,ro/to em papel celofane"

pos que a polícia fez desaparecer, reapareceram depois ... mortos. Foi o caso, entre outros, de D. José Fan Xuyean, bispo de Bood ing. Após passar três meses nas mãos da polícia, em 1992, seu cadáver fo i deixado diante da porta de sua casa, envolto em papel celofane. Seus familiares constataram que ele tinha sido torturado brutalmente, a ponto de ter uma de suas pernas quebrada. Era um ancião de 90 anos, que já havia passado 32 anos na prisão. Há poucos anos ocorreram outras mortes. Em 2007, alguns meses antes das Olimpíadas (esta celebração da modernidade da China ... ), um dos prelados da província Hebei, D. Giovanni Han Dingxian, bi spo de Yongnian, reapareceu num hosp ital após seis anos de deten ção. Seus fa miliares encontraram-no moribundo. De fato, e le faleceu às 23 horas daquele mesmo dia. Seu corpo foi cremado e sepultado às 5 horas da manhã, sem a presença dos fam iliares. Os fiéis julgam que a cremação foi efetuada para ev itar as provas que derivariam da autópsia. Catolicismo - Qual é a situação atual dos bispos "subterrâneos", considerados "ilegais" pelo regime comunista?

Pe. Cervellera - Existem na China 37 bi spos "subterrâneos", ou seja, que não pertencem à igreja oficial, control ada pela Associação Patriótica. Esses bi spos encontram-se em pri são domicili ar; estão isolados, não podem exercer seu ministério. O mai s velho deles é o bispo de Zhengding, D. Julio Jia Zhiguo, muito estimado pela população. Ele mantém 200 meninos abandonados, sobretudo defic ientes físicos, que não são aceitos por motivos culturai s. O bispo lhes proporciona roupa e alimento, cuida dessas crianças com a ajuda de algumas freiras. Ele é vigiado dia e noite por quatro policiais, para que não possa sair de casa nem se encontrar com quaisquer pessoas. Sua "culpa": não querer renunci ar a seus vínculos com o Papa. Muitas vezes é preso e levado para "férias" forçadas , a fi m de receber doutrinação política do Partido Comunista sobre a grandeza de seu programa e de como se deve dar adesão ao mesmo. Atualmente até os bispos da igreja ofic ial - de obediência ao governo - estão na mi ra do Partido Comunista. Não é uma perseguição na qual eles são conduzidos a campos de trabalhos fo rçados ou fuzilados, mas são controlados. Desde 2006, quando das novas sagrações ilegais, eles são seguidos e controlados em suas

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viagens pastorai s. Por que este medo do governo? É que, graças ao trabalho dos Papas, quase todos esses bispos da igreja oficial - sagrados mediante intervenção do partido e sem permissão papal - escreveram ao Vaticano pedindo perdão pel a sua situação, tendo sido reintegrados na comunhão católica. Quando o Papa Bento XVI escreveu uma carta aos católicos da China, em 2007, ele a enviou indi stintamente aos bispos da Igreja Católi ca, não fazendo distinção entre aqueles que eram fi éis e os que não eram. Catolicismo - Se há tantos bispos que tiveram de pedir perdão ao Papa por estarem ligados à Associação Patriótica, por que o governo tem tanto medo deles?

Pe. Cervellera - Porque a Igreja Católica chinesa é hoje muitíss imo mai s unida que no tempo da Revolução Cultural ou nos anos 80. Este é o ponto importante e o que exp lica o aumento da persegu ição. A unidade da Igreja na China é um dos grandes fracassos do Partido Comunista Chinês. Nos anos 50 eles queriam · destruir todas as reli giões. Convencendo-se de que não o consegui am, tentaram então criar religiões nacionais - seja a budi sta, a islâmica, ou igrejas protestantes nacionai s. E, transcorridos 60 anos, na prática, a Igreja Católica é hoje mai s unida do que antes . É por isso que a Associação Patriótica - cujo novo presidente é paradoxalmente um bi spo em comunh ão pessoal com o Papa -

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Missa clandestina de católicos chineses

deseja a sagração de bispos ilegítimos, a ponto de forçar um bispo excomungado a ser presidente de um organismo subordinado a ela, a conferência dos bispos da igreja patriótica. Este é um modo de misturar as coisas, criar divisão e confusão generali zada. A situação é muito dura. Os bispos oficiais [subservientes ao regime] e os "subterrâneos" [obedientes a Roma] são muito controlados. Fiscalizam-se todos os seus encontros e discursos, são levados à força a reu niões onde os obrigam a ouvir dissertações sobre a política do partido, além de serem isolados, para não receberem o reconforto e o apoio da Igreja. Em maio, por ocasião da festa da Padroeira da China - Nossa Senhora de Sheshan, próximo de Xangai - Bento XVI pediu orações pela Igreja naquele país e, sobretudo, pelos bispos, para que não defeccionem. E para que não sejam derrotados pela tentação de oportunismo, ou seja, de uma vida cômoda e de não perseguição.Uma vida tranquila é melhor do que uma vida isolada. E a Associação Patriótica exerce esse tipo de perseguição, vencendo o coração pelas suas debilidades . Infelizmente, há pessoas que por oportunismo desejam se tornar bispos, ou seja, ser promovidas a tais pelo partido, receber honrarias , uma residência cômoda e nova e, de vez em quando, lembrar-se do Papa na oração. É preciso rezar muito por elas. Catolicismo - Poder-se-ia então afirmar que o Partido Comunista está preocupado porque não consegue controlar a Igreja?

"Nos anos 50 os comunistas queriam destruil' todas as l'eligiões. Convence1ulo-se de que não o conseguiam, telltarnm então c1·iar religiões naci011ais"

Pe. Cervellera - O partido não está tão preocupado com o controle da Igreja Católica quanto com a difu são dela. O cri sti ani smo difundese muitíssimo na Chin a. E isso não obstante serem necessários três a seis meses de catecismo, assistênci a à mi ssa, participação nas orações, etc. Há anualmente pelo menos 150.000 adu ltos - não nos refirerimos às crianças que se fazem batizar. Enquanto o governo prega que a riqueza é o mais importante, as pessoas procuram a vida espiritual. Este é o motivo da perseguição. Enquanto os direitos humanos forem comer, beber, vestir, etc., o partido pode controlar. Ele pode permitir que se construa uma casa ou que se vi sta com roupas Armani; permite a satisfação das necessidades materi ais. Mas quando surgem necessidades espirituais, o partido não sabe o que fazer e teme que as pessoas escapem de seu controle. Para os comuni stas, as re ligiões devem ser controladas ou eliminadas. Isto cri a problemas para o partido,

porque na China está ocorrendo um grande renascimento religioso . Nós afirmávamos isto anos atrás e não nos davam crédito. Hoje se trata desse terna com frequência, existindo abundante documentação a respeito. Fala-se do regresso de Deus à China. As pessoas procuram algo mais do que o materialismo. Catolicismo - Que tipo de pessoas se convertem ao catolicismo?

Pe. Cervellera - Todo tipo de pessoas. Mas existe urna categoria que chama especialmente a atenção. Convertem-se ao catolicismo antigos - e dos mais ardorosos - membros do Partido Comunista, que estão desiludidos pelo que ali se faz. Eles vêm que estão nas mãos de um grupo que os utiliza para ganhar dinheiro -com o qual, por sua vez, financiam o partido para que este controle o povo. Notam haver urna grande simbiose entre capitalismo e comunismo. Estão desiludidos com a insensibilidade do partido diante das necessidades das pessoas. O salário dos trabalhadores é dez vezes menor que no Ocidente, não existem auxílios de seguridade social, etc. Estes desiludidos aproximam-se da Igreja. Por exemplo, um ativista que criou um sindicato não oficial e que havia estado no massacre da Praça de Tiananmen tornou-se católico. Catolicismo - Existe alguma possibilidade real de a Igreja mudar a situação na China?

Pe. Cervellera - O que teme o partido é que haja uma fusão entre a busca dos valores espirituais e a tensão dentro da sociedade. Existe nisso algum nexo. Esta tensão aparece em situações que são relativamente pouco conhecidas, mas na China há anualmente 180 mil rebeliões sociais. O governo as chama de " incidentes de massa". São pessoas que se rebelam devido às injustiças, porque confiscaram suas casas, contaminaram os rios e não há água para beber, por problemas de transporte, saúde, etc. Os ex-comunistas que se tornam religiosos procuram alguma dignidade para as pessoas, e o fundamento para isso é religioso. O homem possui direitos inalienáveis. Ao Estado incumbe recon hecê-los, e não se arvorar em deter poderes para concedê-los ou não. Se o homem não tivesse uma dimensão religiosa ele seria apenas um objeto nas mãos do poder. As pessoas procuram os fundamentos espirituais do direito do homem. Um advogado cristão que defendia pessoas perseguidas por sua fé , foi sequestrado pela polícia, torturado, colocado em situação de iso-

"Para os comunistas, as religiões devem ser eliminadas. Isto cria p1·ohlemas para o partido, porque na China está ocorrendo grande renascimento 1·eligJoso"

Martírios na China, durante a perseguição anticatólica de 1900

lamento, sem poder comer, etc. Ao ser liberado, em junho último, ele denunciou tudo quanto sofreu. Isso antes não acontec ia. As pessoas começam a denunciar os maus tratos recebidos e perdem o medo que tinham. Para o governo, esta mistura de rebelião social aliada à busca de fundamentos religiosos e de coragem pode ser fatal. Catolicismo -É conhecido o dito de Tertuliano de que "o sangue dos mártires é semente de cristãos". O Sr. conhece algum caso na China que nos pudesse contar?

Pe. Cervellera - Recentemente entrevistei um chinês que acabava de se converter ao catolicismo. Eu queria saber o que o havia levado a abraçar a fé. Ele contou-me que tudo começou quando a polícia deteve um de seus vizinhos. Intrigado sobre o motivo da detenção de alguém tão tranquilo e normal como esse vizinho, foi perguntar aos familiares dele. Estes lhe disseram que havia sido preso por ser católico. Isto chamou sua atenção, pois o que podia urna fé ter de importante quando o mais valorizado na sociedade era possuir bem-estar material, comodidades e reconhecimento social? Corno não entendia, começou a estudar os fundamentos de nossa Religião e constatou que a fé é o bem mai s importante da vida. É por ela que arriscamos tudo o que temos . É a mais preciosa pérola. Corno resultado, decidiu se converter e foi batizado. O martírio de um católico conduz à conversão de outros. •

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T odas as atenções se voltam para o Império do Meio, cujo vertiginoso crescimento econômico não cessa de atrair exaUações hiperbólicas. Mas cresce também o poderio militar de um governo que além de não ter renunciado à ideologia marxista, ainda mantém a imp1acável repressão policialesca própria dos regimes comunistas. Assim, pode-se perguntar: é prudente aliar-se à China? Seu crescimento não corresponde a uma "bolha"? Não há o perigo de a civilização pagã subjugar a civilização ocidental e cristã? Vale a pena o Ocidente correr o risco de tal ameaça? A presente matéria mostra a face coruscante e a face obscul'a do "Tigre de Papel".

pI JOSÉ ANTONIO URETA

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grave recessão que golpeia as grandes economias deixou as nações ocidentais mais endividadas, mais enfraquecidas e mais vulneráveis. As atenções voltam-se cada dia mais para os países emergentes - particularmente para a China - como a última tábua de salvação capaz de evitar uma nova Grande Depressão que teria consequências incalculáveis. Mas eis o preço a pagar: fechar os olhos para as violações dos direitos humanos naquele país asiático, permitir que ele se arme, e reconhecê-lo como "economia de mercado", com as evidentes vantagens econômicas, políticas e militares para Pequim. O "jogo vale a vela"? A China é capaz de assumir estavelmente a posição de locomotiva do crescimento econômico do mundo? A consequente hege-

monia política contribuirá para a paz e a estabilidade universal ou, pelo con trário, aumentará o risco de desestabilização e conflito? Para dar a um a resposta objetiva e matizada a tai s indagações importa discernir sem preconceitos as luzes e sombras do quadro. É o que pretendemos fazer nestas linhas, como corresponde a uma revista de cultura católica. Tomaremos como bússola não os interesses deste ou daquele país, desta ou daquela área de civilização, deste ou daquele setor econômico ou corrente política, mas o supremo interesse das almas.

Uma geopolítica católica O pranteado Papa Pio Xll disse certa vez que "a Igreja é um fato histórico que, como uma possante cadeia de NOVEMBRO 2011

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qu anto poss ível, o centro geopolítico para os países pagãos do Oriente.

A C/1/Jw e a meta de el'J'adicar o cristianismo

montanhas, percorre a história dos dois últimos milênios". Queira-se ou não, é e m fu nção de Nosso Senhor Jesus Cri sto que a Históri a se desenrola. Um de seus campos são os povos cuja cultura se pode dizer ainda cristã. Outro campo é o daq ueles povos que não reconheceram ainda a divindade de Jesus Cri sto e que aberta ou veladamente O combatem. Jes us Cristo e seu Corpo Místico a Santa Igreja Católica - são realmente a pedra de escândalo do passado e do presente. E é em fun ção dessa pedra angul ar que o futu ro se desenvolverá. É por isso que os católi cos de qualquer parte do mundo são le vados a desejar, para as respectivas nações, prestígio c ultural, fo rça econômica, influência política (indi ssociável, neste vale de lágrim as, do pode ri o militar), de modo que o mandato de Nosso Senhor possa se r mais fac ilme nte levado a cabo: "Ide e evangelizai todas as nações! ". Foi prec isamente o que se deu a partir da Idade Média, qu ando os povos cri stãos passaram a ser os líderes do mundo. E continuaram a sê- lo mesmo após a Renascença, que marcou o in ício da decadência da Cri standade: quer sob o impéri o da Casa d ' Áustri a, e m cuj as terras "o sol não se punha", nos

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sécul os XVI e XVII, quer sob a hegemoni a política e c ultural fra ncesa, no século das Luzes. Ne m a do min ação inglesa no século XIX, ne m o poderio dos Estados Unidos no século XX, alteraram essa constante. Ne m mes mo o ime nso polvo comunista sino-soviético, no auge ela Guerra Fria, conseg uiu ti rar do Ocide nte o cetro geopolítico cio mundo. E mbora a civil ização oc ide ntal em suas manifes tações mais essenciais, mais profu ndas e mais característi cas - seja hoje em dia neopagã, e seu neopagani smo seja, em certo sentido, mais radical que o dos orientais, ainda restam nela, borbulhantes e sob várias formas, inestimáveis valores cristãos tradicionais oriundos desta perpétua fo nte ele vida espi ritual re novada que é a Santa Igreja Católica sed iada em Roma. De sorte que erraria gravemente quem di ssesse que a hege mo nia c ul tural e política do Ocidente sobre o Oriente não tro uxe e não trará ainda ao mundo imensos benefícios. Nesse contexto, não é de estranhar que as forças do mal tenham como principal ponto de mira e limin ar toda influê ncia cristã no mundo, erradicando na medida do possível o cri sti ani smo no Ocidente, enfraquecendo as nações outro ra c ri stãs e tra nsfer ind o, tanto

A China é precisame nte uma nação que, em sua imensa maiori a, jamais fo i cri stã. Pior ainda, sobre seu velho tronco pagão in seriu -se o mais ve ne noso enxerto neopagão: o comuni smo. Pois ela passo u a ser dirigida com mão ele fe rro, a partir de 1949, pelo Partido Comuni sta Chinês. Este introduziu , por sua vez, nos últimos anos, novo enxerto igualmente vene noso e neopagão: o fre nes i hi perprodutivi sta de algumas grandes companhi as macrocapitali stas oc identa is. Ambos enxertos estão reduzindo à sua mínima expressão as simpáticas tradições que a China conservava de seu glori oso passado imperial. De onde engrandecer a China hodierna às expensas do Ocidente é transfe rir gradu almente a preponderância do mundo do cristi anis mo para o do pagani smo - a menos que, sob o influxo do Espíri to Santo, que sopra onde quer, a expansão da Igreja Católica no antigo Império do Meio mude radicalmente o pa norama ... M as essa as piração parece bem longe de sua reali zação. U ma vez qu e o cetro do mund o amarelo - e, e m boa medida, de todo o orbe - está passando gradualmente para as mãos da China, cabe a pergunta: Q ual será a config uração que tomará um mundo futu ro sob a influê ncia preponderante desta? Qu ais são os temores ou as esperanças que essa perspecti va abre em função do grande ideal ele reconqui sta ci o mun do para Jes us Cristo? Neste umbral do terceiro milê nio, é principalmente a partir dessa visualização relig iosa que a situação geopolítica do mundo e a ful gurante ascensão da C hin a co muni sta no cenári o mundial devem ser anali sadas.

A China de /10/e: a face coruscante da moeda Os arra nha-céus de Xangai levamnos por vezes a esquecer que poucos anos atrás a China jazia na mais avil tante mi séria, não tendo literalmente do

que se alimentar. Foi esse o resultado do comunismo e, em particul ar, da sinistra Revolução Cultural empreendida por Mao Tsé-Tung em meados da década de 1960. Se a China conseguiu desenvolverse e alçar-se à atu al condição de potê ncia emergente fo i graças ao concurso das empresas macrocapitalistas ocidentais que, em detrimento da economi a e da mão-de-obra de se us respec tiv os países, fi zeram investimentos colossais na China e deslocaram para lá quase toda a sua produção industrial. Impul sionada por Deng Xiaoping, a China introduziu , de fato, a parti r de 1978, elementos de economia de mercado, permitindo a entrada controlada do capital estrangeiro e cri ando, na sua faix a litorânea leste, as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEE). Nestas se instalaram as e mpresas de capi tal mi sto, que pode m investir, com o apoio de cientistas europe us e norteamericanos, em ciência e novas tecnologias. Por outra parte, no setor agrícola, a responsabilidade sobre a produção, a propriedade dos meios de produção e as deci sões fo ram tra nsferidas das comunas e governos locais para os próprios agricul tores. Ape nas 25 a nos mais ta rde, e m 2003, os in vestimentos estrangeiros ti nham passado de US$ 5 bilhões a US$ 60 bilhões, o PIB havia se multiplicado praticamente por sete, o ingresso per capita por cinco, e a produtividade da mão-de-obra por qu atro. A parte da China no PIB mundial tinha passado, no mesmo período, de 5 a 15% (se calculada segundo a paridade de poder de compra). O valor total do comércio exterior chinês elevou-se de 20,6 bilhões de dólares, em 1978, para 1,1548 trilhão de dólares em 2004, subindo do 38° lugar para o 3° lugar no ranking mundi al. No ano retrasado ela superou a Alemanha como o maior exportador do mundo. De 2004 até hoje, a China continuou a crescer a um ritmo anual médi o de 9 ,65 % e, e m fevereiro deste ano, passou o Japão como segunda maior economi a mundial. Por causa de seu superáv it comer-

eia], a China acumulou imensas reservas de câmbio (4,21 trilhões de dólares, equivalentes a 30% das reservas mundiais). Na hi stória moderna, nunca um só país concentro u tal quantidade de recursos fi nanceiros. Seus fun dos soberanos de investime nto lhe servem de instrumento para um a ofensiva neocoloniali sta em todas as latitudes, parti cul armente na África e na América Latina, onde se encontra m as matérias primas de que seu território carece. Numa palavra, o Império do Meio transformou-se, apare ntemente, na maior successjitl story da hi stóri a eco nômica da humanidade.

O lado obscur o e perigoso da meda/lia: o "Tigre de Papel" Porém, corno freq ue ntemente acontece, as aparências e nganam ...

1. O PIB por habitante Ainda que o PIB chinês ex ibido pelas autori dades comun istas (e sujeito à caução!) chegasse um dia a equi pararse ao dos Estados Unidos, há um detalhe geralmente esquec ido: é que a Chi-

na, no ranking mundial do PIB/habitante do Banco Mundial, situa-se atu almente no 100° lu gar, entre Angola e Tunís ia ! E no di a em que o tamanho da economia chinesa tiver alcançado a de seu ri va l a me ri cano (calcul a-se que isso poderá da r-se por volta de 2050), seu PIB por habitante aind a representará uma magra quarta parte do PIB per capita americano ou canadense ... Isso quer di zer que, caso continue a crescer no ritmo atual por mais 40 anos, a China ainda será um país em desenvo lvimen to, no qual uns 50 milhões gozarão de um nível de vida ocidental, 350 milhões de um nível equivalente ao da Rússia de hoje, e um bilhão de pessoas ainda vive rão na mi séri a negra deixada pelo sociali smo.

2. As revoltas populares É fácil imaginar o grau de descontenta mento que e mergirá dessa massa imensa, submersa na mais extrema pobreza, obri gada a emigrar para outras reg iões e a conviver com o luxo ostentador de uma minoria de oportuni stas e

Mao Tsé-Tung foi o promotor da sinistra Revolução Cultural empreendida em meados da década de 1960

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asing por 70 anos, nada na China perO número de revoltas sociais na China é de 180 mil por ano! Manter unido o conjunto do país implicará no reforço ainda maior do já implacável aparelho repressivo militar e policial

de membros da antiga Nomenklatura. Um estudo de acadêmicos da Universidade de Ti anjin contou 90 mil episódios de revo lta, incluindo di stúrbios de rua e petições, somente no ano 2009. Segundo o ma ior espec iali sta vaticano da Chin a, o mi ss ionári o P. Bernardo Cerve ll era, o número de revoltas sociais é de 180 mil por ano ! M anter unido o conjunto do país implicará no reforço ainda maior do já implacável aparelho repressivo militar e polici al.

3. A falta de criatividade e de iniciativa A limitação do acesso à informação e à educação de um tal sistema repressivo acarretará a jugulação do capital intelectual e do espírito de empreendime nto, que para fl orescer adequadamente requerem um clima de liberdade individua l. É essa fa lta de criatividade que obriga os dirigentes comuni stas chineses ·a desenvo lver descaradamente e em larga escala a espionagem industrial, a fim de copi ar as descobertas e os modelos desenvo lvidos alhures. E nem sequer consegue m copi ar direito, como ficou comprovado nos recentes acidentes do trem de a lta velocidade e do metrô de Xangai .

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Num mundo g loba li zado e hiperconcorrenci al, reg ido por aquilo que os economi stas chamam de " inovações de ruptura", que mudam os parâmetros de determinado setor da econo mi a (é só pensar nos lançamentos d a Apple qu ando estava sob o comando de Steve Jobs), a China não tem nenhuma possibilidade de ganhar a corrida; e limitar-se-á ao seu atu al pape l de g igantesco e mpreiteiro das multinacio nais à procura de uma mão-de-obra barata. Ou da maior oficina de contrafação da Terra ... Recentemente tivemos o escândalo das falsas loj as da "Apple" e da "Ikea" (depósito de IO mil metros quadrados), funcionando em Kunming, capita l da provínci a de Yunnan, no sudoeste da China. Alguns anos atrás houve o rumoroso caso da j oint-venture entre a Embraer, produtora brasileira de av iões civi s de alcance médio, e a estatal chinesa CAIC, a qual aproveitou a parceria para roubar a tecnologia brasile ira, rompendo logo depois o contrato para desenvolver seus "próprios" aviões. Essa falta de cri atividade e iniciativa pesará cada vez mais sobre a economia chinesa.

4. O socialismo de Estado Tanto mai s quanto os setores mais

importantes e lucrativos da economi a estão reservados às empresas estatais, que se benefici am de 80 % dos empréstimos bancários. O res ultado é que , enquanto apenas 150 e mpresas de dimensão nacio nal e 120 mil empresas regiona is se aproveitam da parte do leão , quatro milhões de e mpresas privadas e algumas dezenas de milhões de pequenos negócios particul ares, geralmente info rm ais, devem lutar por mi galhas. Segundo as estatísticas, essas 150 grandes empresas geram mais de 2/3 do PIB chinês e seus lucros corresponde m à metade da riqueza nacional. Apesar de muitas empresas estarem listadas na bolsa de valores, ou ofi cialmente privati zadas, o governo reté m na realidade pelo menos a metade - até 2/3 - das ações e seus diri gentes são escolhidos pe la Comi ssão de Supervisão e Admini stração do Patrimô ni o, após consulta ao Partido Comunista. Não é de surpreender que 2/3 dos me mbros das diretori as e 3/4 dos executivos sej am diri gentes ou memb ros do Partido Comunista chinês, atualmente com 85 milhões de membros e uma lista de espera com 80 a 100 milhões de oportunistas. O atua l prime ii-o-mi nistro Wen Ji abao gabou-se, ainda em 2008, d e que "o Partido Comunista

Chinês representa o povo e, portanto, a ditadura do proletariado é o melhor sistema do mundo" ... Co mo a China continua a func ionar na base de "planos quinquenais", o esquálido setor pri vado é obri gado a agir no quadro estrito fi xado por um parti do ditatorial que considera o acesso ao desenvo lvimento pela maioria da população como uma ameaça a seu poder. Nenhum empresári o pode desenvolver suas atividades sem se ubmeter inte iramente às ordens do partido único e sem corromper os fun cionári os do Estado e os quadros dirigentes do Partido. Alé m do mais, pelo sistema de te-

tence verdadeirame nte aos particulares, nem a terra e nem sequer as casas.

S. A fuga de cérebros O res ultado desse c lima é que os me lhores empresári os, aque les que conseg uiram sobrevi ver e enriquecer- se, e stão in vestindo de modo mac iço no exterior, para ali instalar suas fa mílias e conseguir um passaporte estra ngeiro. E stados Unidos, Canadá e Au strália estão sendo seus destinos preferidos . Seg undo um relatóri o conjunto do China Merchants Bank e da e mpresa norteameri cana Bain & Co., de 20 mil chineses dete ntores de uma riqueza de pelo menos 15 milhões de dólares, 27% já e mi graram e 47% estão pensando em fazê-lo. So mente no ano passado, 68 mil chineses conseg uiram a invejada green. card americana.

6. A "fratura geográfica" A úni ca solu ção pa ra evitar essa contínua " fu ga de cérebros" seri a libera lizar o regime. Porém, isso provocari a outros probl emas tanto ou mais graves, decorre ntes dos abi ssais desequi líbrios regiona is, soc ia is e é tnicos ex istentes na imensa China. Co m efe ito, não

só o antigo Império do Meio é vítima dos separatismos tibetano e uigur, como a própria identidade chinesa passa por uma grave cri se, causada pela "fratura geográfi ca" exi stente entre as regiões costei ras desenvolvidas e o interior agrícola atrasado, ou ainda pelas lutas entre o poder central e os poderes locais, do minados por pequenos potentados.

7. A penúria energética e a poluição Uma d as questões qu e provocam fricções entre as reg iões é o acesso aos recursos e ne rgéticos. N a China, não somente fa ltam a terra cultivável e a água, mas o próprio desenvolvimento tem aca rretado uma dramática "penúria energéti ca". Segundo a Agênc ia Internac io na l de Energ ia, em menos de uma década o consumo energético da China duplicou . Ela se tornou assim o maior consumidor do mundo, ultrapassando inclusive os Estados Unidos. A China é o prime iro pa ís produtor e co nsumidor de carvão (67 % de sua energia é termoel étrica), desde que, em 1959, o Grande Salto multiplicou os pequenos fo rnos termoelétricos até nos vil arej os do interi or. É o que explica o fato de o céu de quase todas as suas c idades - espec ialmente Pequim - se-

A China especializou-se na falsificação de inúmeros produtos, chegando ao extremo de "piratear" até lojas de marcas famosas como a de Apple da foto

rem cinza e não azul , e que 30% das chuvas ácidas que po lue m o Japão venham da China ... Ademais, e nqua nto as min as de carvão situam-se no norte, 71 % das indústri as co ns umidoras estão loca li zadas sobretud o no leste. É por isso que a metade do frete fe rrovi ári o é monopolizada pe lo transporte de carvão . Por outro lado, os poços de petró leo e de gás encontra m-se no noroeste, o que obri ga à con strução de lo ngíss imos e e normes o leodutos e gasodutos. Não é de estra nhar que o número ele acidentes do meio a mbie nte tenha aumentado expone ncia lmente nos últimos anos e que os rios da C hina sej am os mais poluídos do mundo. Uma das soluções mais econômicas é a hidroe letric idade - de o nde o interesse em controlar com mão de ferro o Tibet, cio qual parte a maiori a dos rios - , mas todas as barragens chinesas (incluída a gigantesca Três Gargantas) representa m menos de 10% ela produção atual.

8. O envelhecimento da população Entretanto, o maior "ca lcanhar de Aquiles" da República Popul ar ela Chi na é o envelhec ime nto ele sua popul ação, fruto da irracio nal po líti ca do " fi lho único", in stituída pe lo governo chinês e m 1979. A taxa de fe rtilidade é estimada entre 1.5 e 1.8 cri anças por mulher em idade reprodutiva, abaixo da taxa de 2. L, necessári a para manter estável a população. Eis as três consequências princ ipa is dessa políti ca do " filh o úni co" : a) o desequilíbrio da proporção dos sexos no nascime nto (princ ipalme nte devido ao aborto das meninas por nascer), que é atualmente de 120 meninos por cada 100 me ninas, resultou na carênc ia de 20 a 30 milhões de moças com as quais os rapazes pudessem se casar; b) a transformação da pirâmide das idades, que colocará uma carga excessiva nos ombros ela atua l geração de j ovens, os quais terão de arcar soz inhos com a manutenção de seus pais idosos. E m 2007, o número de chineses na idade de a posenta r e ra de 144 milhões. Es pera-se que e m 20 35 esse número

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será de 391 milhões (mais do dobro), enquanto o número de jovens vai diminuir. Essa diminuição j á se nota nas escolas: em 1995 havi a 25,3 milhões de novos alunos ; em 2008, a cifra já tinha caído para 16,7 milhões; em J990 havia na China mai s de 750 mil esco las primárias; em 2008 elas tinham dimi nuído para perto de 300 mil , por causa da queda da natalidade; e) o declínio da força laboral , que nos últimos dez anos já significou uma baixa de 14% do número de jovens trabalhadores de 20 a 29 anos de idade (a queda vai chegar a 20% nos próx imos 20 anos). Dessa escassez de mão-deobra resultará o aumento das ex igências salariais dos novos trabalhadores.

9. A bolha imobiliária e a inflação A essas gravíssimas fraquezas estruturais soma-se uma alarmante fraqueza conjuntural: a bolha imobiliária e o aumento da inflação. Com efeito, a fim de manter um crescimento de dois dígitos apesar da crise financeira de 2008, o partido ordenava ao Banco Central facilitar o crédito e incitar os paiticulares a investir no setor imobiliário, de um lado, e de outro encoraj ava os potentados locais a desenvolver uma política de construção de infra-estruturas (grande paite delas inúteis). Isso deu lugar à especulação no setor da construção e à formação de um a imensa bolha imobili ári a: a parti cipação do setor da construção no PIB subiu, nos últimos a nos, pa ra mais de 20%, fazendo com que os preços dos imóvei s disparassem muito acima das possibilidades de aquisição de uma família da classe médi a (por isso há dezenas de milhões de apartamentos e casas desocupados). Para se ter um termo de comparação, no auge do boom. do tijolo na Espanha e na Irl anda, a participação da construção no PIB foi, re·spectivamente, em torno de 11 % e 9,4%; ou seja, a bolha da China é o dobro da espanhola e da irlandesa. O que acontecerá quando a bolha chine a explodir? Basta considerar o que aconteceu na Espanha e na Irlanda ... Segundo os dados di sponíveis, o endividamento interior é atualmente equi -

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valente a 125% do PIB , estimando-se que a metade dessas dívidas são irrecuperáveis. Por isso, as agências de notação já começarai11 a rebaixar a nota dos bancos e das empresas públicas chinesas. A infl ação foi o utro resultado dessa mes ma abertura do crédito. Como as taxas de ju ros oferecidas pe los bancos para os depósito são claramente inferiores ao aumento do preços, os chineses são inc itados a gastar o dinheiro rapidamente e m bens que podem manter seu valor. Isso retro-a limenta a infl ação. Nos últimos meses ela se situa acima de 6% ao ano, afetando, sobretudo, os setores que se referem à vida quotidi ana: alime ntação, aloj a mento , etc. As med idas de contenção têm alcançado res ultados in sig nificantes e o contro le dos preços de certos legumes apenas alimentou o mercado negro.

10. As novas exigências salariais Em vista di sso, e da diminuição da entrada de jovens no mercado de trabalho, os assalariados começaram a exigir das empresas aumentos significativos de seus sa lários. Não conseguindo abso rve r os gastos, as e mpresas são obrigadas a repercutir nos preços. Isso leva os assa lari ados a rec la mar novo aumento, etc. , condu zindo a uma "espiral preços-salários" que encarecerá os produtos chineses no mercado exterior. Ou seja, prec isa me nte na contra mão daq uil o que tem sido a base do " milagre chinês" : a mão-de-obra barata e as ex portações a baixo custo. *

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Tudo somado, o cresc imento desequilibrado da China, por mais espetacul ar que te nha sido nas últimas décadas, pode não passar de um espelhi smo passageiro . Nesse caso, voltar-se-ia contra a China o apelativo que Mao Tsé-Tung atribuiu aos Estados Unidos: um "tigre de papel".

China: gra11de responsável pela ruína Jinanceira <lo Oci<le11te Em seu curto período de glóri a, esse "tigre de papel" teria, e ntretanto, con-

seguido provocar a crise econômica em que hoje se debatem a Europa e os Estados Unidos. O mecani smo foi revelado recentemente, nas páginas do jornal francês " Le Monde", por Antoine Brunet, coautor do livro La Visée hégém.onique de la Chine (L' Harmattann, 2011). Brunet explica que, mercê do controle draconi ano das divisas, a China manté m o yuan a US$ 0,15 e a 0,ll euros, quando o mesmo de veria valer 0,25 dólares e 0,21 euros, segundo o FMI e a ONU . Ao admitirem a China na Organização Mundi al do Comércio, os países ocidentais renunciaram às represá lias aduaneiras, única arma que poderia ter forçado os dirigentes chineses a reajustar sua moeda. Resultou daí uma imensa desindustrialização do Ocidente (as empresas transferiram suas fábricas pai·a a China), acompanhada de uma intensa indu strialização desta última, a qual se apoderou dos mercados. O comércio exterior ocidental passou a ser fortemente deficitário, diminuindo ao mesmo te mpo o investimento interno, enquanto suas economias ficavam expostas a sofrer uma recessão prolongada de natureza estrutural, ocasionada pel a manipulação do yuan. Em vez de enfrentar a China, a solução encontrada por Alan Greenspan (ex-presidente do banco central a mericano) e por seus co legas europeus foi a de favorecer uma política de juros bai xos, para desencorajar a poupança das famílias e incitá-las à compra a crédito de moradias e outros bens de consumo. Durante quatro anos, o PIB e o emprego nos países ocidentais foram puxados para cima por um setor imobiliário eufórico, o qu al levou a excessos e a um terrível efeito boomerang: uma tríplice cri se, imobiliária, bancária e bursátil, a recessão e uma explosão do desemprego. Um fiasco absoluto. Em fin s de 2008, ao invés de forçar a China a revalorizar o yuan - que, desde o início, teria sido a única solução verdadeira para relançai· o comércio exterior, o PIB e o emprego nos países ocidentais-, os aprendizes de feiticeiro da economia ocidental optaram

por uma políti ca de estímulo orçamentário, junto à manutenção de baixas taxas de juro a curto e longo prazo. Apesar dessa estratégia keynesiana, a retomada do crescimento foi modesta e de curto prazo; em todo caso, incapaz de absorver os gigantescos défic its provocados pelos planos de estímulo, fazendo assim expl odir a dívida pública. A subsequente suspeita dos investidores quanto à capacidade dos países mais frágeis em honrar seus compromi ssos (Grécia, Portugal, Irlanda, etc.) causou a disp arada dos juros ex igidos pelo mercado para os respectivos títulos da dívida pública, levando esses países à beira da falência. Um novo fi a co absoluto que ameaça fazer explodir a zona do euro e a própri a Uni ão Europeia. Que m é o responsável? - A covardia do Ocidente diante da China. Porque: 1) foi o pacifismo mo netário di ante da manipul ação da moeda chinesa que desestabili zo u as eco nomias oc identai s em todos os pl anos (comercial, econômico, soc ial, tecnológico, etc.); 2) as políticas compensatórias foram um fracasso e só agravai·a m ainda mais a desestabili zação; 3) a única so lução estrutural teria sido obrigar a China a re-

valori zar o yuan media nte represá )ias aduane iras coletivas. Os Estados Unidos e a Europa terão a coragem de fazê-lo, sabendo que os conflitos comerciais são muitas vezes o prefácio de co nflitos diplomáticos e até militares? lsso levanta a delicada questão da esca lada militari sta da China.

A maior ameaça cJJinesa: seu crescente poderio militar Favoreci dos pelo reco nhecimento dipl omático de Pequim como único e legítimo representa nte de toda a China, co m cade ira permanente no Conselho de Segura nça da ONU , os diri gentes comuni stas chineses servem-se da tendência independenti sta de Taiwan como pretexto para uma escalada armamenti sta. Rea lmente, com governo próprio e independê ncia de fato sob re a ilha desde o fim da guerra civil chinesa e m 1949, Taiwan é reconhec ida como Estado independente por menos de vinte nações secundárias . E Peq uim ameaça com o uso da força e Taiwan declarar formalmente a sua independência, oferecendo em troca a fó rmula " uma na-

ção, doi s s iste mas" que vi gora em Hong- Kong. A esca lada armamentista, porém, vai muito além do necessário para meter medo , e eventualmente e nfrentar Taiwan , levando analistas americanos e europeus a suspeitar que a China tem interesses geoestratégico e milita res mais amplos.

1. Os interesses econômicos e ideológico-estratégicos preponderantes Tai s interesses são, ao mesmo tempo, ideológico-estratégicos e econômi cos. Do po nto de vista eco nô mi co, os escassos rec ursos natura is da China obrigam-na a assegurar a alimentação de uma população que aumenta cada dia seu padrão de consumo nas c idades coste iras. Ademai s, o modelo de desenvolvimento chinês, baseado nas ex portações, indu z seus dirigentes a assegurar o acesso a fontes seguras das matéri as primas necessárias para suas atividades ele manu fa turação. Daí, por exe mplo , sua crescente aproximação com o Paquistão, com o qual está construindo uma parceria ( 11 mil soldados chineses estão estacionados na região de Gil-

A escalada armamentista chinesa vai muito além do necessário para meter medo ...

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git-Balistan para ajudar o Paquistão a combater a rebelião autonomista dos habitantes) com vistas a construir um corredor viário e ferroviário que lhe dê acesso direto ao imenso porto de Gwadar, na boca do Golfo Pérsico, recentemente financiado e construído pela China. Do ponto de vista ideológico-estratégico, a China procura consolidar uma coalizão internacional de países emergentes que, com o propósito de defender seus próprios interesses, no final das contas acabam embarcando valens nolens numa espécie de luta Sul x Norte, versão atualizada da velha luta de classes marxista. Isso explica a aproximação da China com os regimes ditatoriais de Cuba e da Venezuela chavista, bem como com os seus parceiros populistas do Equador, Bolívia e, mais recentemente, Peru. Além de exportações militares - a compra de 40 aviões K-8 (Karak:orum) pela Venezuela e seis pela Bolívia, e o equipamento da força aérea chavista com um centro de controle e comando empregando radares JYL-1 , também adquiridos pelo Equador - , o Exército de Libertação Popular da China utiliza as in tituições de sua Universidade da Defesa Nacional (em Nanjing e Changping, peito de Pequim) para estreitar laços com oficiais dos exércitos latino-americanos, oferecendo a estes últimos cursos em espanhol e inglês. Com o mesmo objetivo, o ELP participa, desde 2004, na for-

ça internacional da ONU no Haiti e desenvolveu exercícios de assistência humanitária no Peru.

2. A doutrina hegemônica do Dragão Vermelho Com vistas a atingir esses objetivos político-estratégicos e econômicos, os geoest:rategistas do Exército de Libe1tação Popular falam de uma nova "fronteira de interesses" da República Popular da China, sugerindo que o exército chinês não deve proteger apenas seu vasto território, mas igualmente seus interesses econômicos muito além de suas fronteiras (por exemplo, as companhias petrolíferas e mineiras operando em regiões vulneráveis da floresta amazônica). Daí a necessidade, segundo os estrategistas chineses, de preparar as forças armadas não apenas para uma ação defensiva, mas , sobretudo, como uma "força de dissuasão" capaz de uma "defesa ativa em profundidade" (ou seja, de uma intervenção distante). Em 2006, Wu Shengli, comandante-em-chefe da

Marinh a de Guerra chinesa, exigiu "uma marinha poderosa para proteger a pesca, a prospecção de matérias primas e as rotas estratégicas da energia". Em 2010, o diretor do Instituto de Pesquisa de Desenvolvimento Militar na Universidade Chinesa de Defesa Nacional , coronel Liu Mingfu, publicou um livro intitulado A Chinese Dream: Big-Power Thinking and Strategic Positioning in a Post-American Era [Um sonho chinês: Grande capacidade de pen sar e posicionamento estratégico numa era pós-americana] , no qual sustenta, parafraseando Clemenceau, que "o mundo é importante demais para ser deixado nas mãos dos Estados Unidos". Por isso, diz o coronel, a "China deve salvar a si própria e ao mundo" e preparar-se para ser a "timoneira do mundo", urna vez que "possui o gene cultural superior requerido para transformar-se em líder mundial". Interrogados pelo site do Global Times, jornal ofic ial do Partido Comunista, a respeito das conclusões do livro do coronel Mingfu , 80% dos internautas chineses responderam positivamente

A China moderniza e aumenta possantemente seu poderio militar

Cac;a chinês J-1 O, considerado por alguns especialistas mais sofisticado que el F-16 norteamericano

à pergunta: "Você pensa que a China deve procurar transformar-se no primeiro país do mundo e no poder militar dominante?". Essa nova tendência belicista ficou demonstrada em 2001, quando a av iação chinesa forçou um EP-3 - avião norte-americano de reconhecimento a aterrissar na ilha de Hainan, desmemCATOLICISMO

brando depois o aparelho e aprisionando seus tripulantes por longo tempo.

3. O poderio convencional e atômico do Exército Nacional de Libertação A China já possui , de fato, o maior contingente de tropas do mundo, e ainda assim dobrou seu orçamento mili tar, numa corrida para dotar suas forças de armamentos sempre mais sofisticados, corrida esta não limitada às armas convencionais. Na última década, o Estado comunista chinês aumentou o número e a quantidade das ogivas de seu arsenal atômico e cios mísseis capazes de atingir alvos distantes. Um recente relatório do Pentágono reconheceu que o Exército Nacional ele Libe1tação "estáfechando rapidamente a distância tecnológica com as forças armadas modernas". Por exemplo, Chen Hu, principal colunista militar da agência estatal Xinhua e editor da revista "World Military Affairs", sustenta que os caças J- 1Oe J-11 já são superiores à última versão cio Fl.6 americano e que é esta a razão pela qual o governo Obama se recusou a fornecer a referida versão aos seus aliados chineses nacionalistas de Taiwan. O mes mo relatório revela a ex istênci a, na China central, de insta1ações subterrâneas profundas, conectadas por três mil milhas ele túneis, usadas para armazenar e esconder ogiva e mísseis, bem como para abrigar centro de comando resi tentes a ataque nucleares. No seu recente livro A ContestforSupremücy [Uma disputa pela supremacia] , o Prof. A~tron L. Friedberg, da Universidade de Princeton, explica como a China representa uma séria ameaça para o futuro da paz: "A faixa de alcance, precisão e quantidade de m.ísseis cruzeiros e de mísseis balísticos de meio-alcance no arsenal da China dar-lhe-ão daqui a pouco a opção de atacar todas as bases americanas e aliadas na região [do Pacífico Ocidental] com ogivas que podem abrir

crateras em pistas de pouso, esmagar abrigos para aviões e acabar com portos, plantas elétricas e redes de comunicação", informa o autor. Baseados na teoria dos "conflitos assimétricos" da guerrilha maoísta (segundo a qual uma ameaça mo1tal não provém necessariamente de um poder militar equivalente; por exemplo, o ataque às torres gêmeas ... ), o Exército de Libertação Popular tem empregado grande pmte de seus recursos em domínios que lhe dão uma vantagem assimétrica, como a guerra eletrônica e a espionagem. Outro fator de superioridade das tropas chinesas é seu fanatismo, resultado de um doutrinamento político contínuo feito pelos Comissários do Povo. Estes exploram o orgulho nacional apresentando a China como um país do Terceiro-Mundo, vítima cio caráter predatório do imperialismo e do colonialismo ocidentais. Donald Rumsfeld , sec retário de Defesa dos EU A no governo de George Bush, confessou candidamente, numa recente conferência no Canadá: "A única coisa que realmente me preocupa, a respeito da China, é que eu não entendo as relações enlre a liderança política - os dirigentes do ParLido Comunista - e o Exército de Libertação Popular. Eu não sei qual é a influência do ELP ou quem é que é realmente o responsável. É uma espécie de nústério para mim". Igual ingenuidade parece prevalecer entre os líderes ocidentais a respeito da notóri a aproximação entre Moscou e Pequim.

4. A convergência estratégica entre a China e a Rússia De fato os interesses da China e da Rúss ia não são divergentes, mas convergentes, pelo menos a curto e médio prazo, apesar do que dizem a maioria dos líderes ocidentais baseados em alguns analistas otimistas. Num estudo publicado e m 2006 pelo Norsk Utenrikspolitisk Institutt, de Oslo, de autoria de Kyrre Brrekhus e lndra 0verland, tal convergência é posta e m realce so b o expressivo título: A Match made in Heaven? [Um casal de

sonho?]. Para os autores, essa convergência geoestratégica resulta tanto de interesses materiais comuns quanto da consonância de valores e de ideologia. Do ponto de vista material , a Rússia é o fiel da balança no jogo de poder entre o Japão e a China pela preeminência na Ásia. E isso porque as duas potências amarelas carecem de matérias primas, especialmente as energéticas, que devem ser trazidas de longe através de rotas estratégicas de alto risco, enquanto podem pegá-las de modo mais seguro e com custos de transporte mais baratos no território russo, que as possui com fartura. É si ntomático o caso do oleoduto para levar o petróleo da Sibéria ocidental para o Extremo Oriente, cujo traçado era asperamente di sputado entre o Japão e a China. Até 2004, parecia que o Japão estava levando a melhor e que o terminal oriental do oleoduto seria situado na baía de Nakhodka, na Sibéria, de onde seguiria depois para o Japão. Em vez disso, em 2005, o governo russo preferiu um traçado alternativo que levm·á o petróleo primeiramente até Skovorodino, nas proximidades da cidade chinesa de Daqing. Com um e mpréstimo de 25 bilhões de dólm·es para a sua construção, o oleoduto começou a operar em l O de janeiro de 2011 e proverá a China com 300 mil bru-r.is-dia durante 20 anos, existindo já um plano para desenvolver um gasoduto paralelo. A Rússia também pode prover as empresas chinesas com minérios estratégicos dos quais as empresas russas são os primeiros produtores mundiai s, como al umínio, níquel , titânio e paládio. Tais empresas também estão entre os vanguardistas na produção de outros minérios, como platino (2º produtor), magnésio (3º), vanadio (4°), cobalto e ouro (5 °), cobre (6º); sem contru· suas reservas de carvão, sobrepujadas apenas pelas dos Estados Unidos. A crescente competitividade da China não representa uma ameaça para a Rússia porque a indústria de manufaturados desta é muito pequena e, pelo contrário, seus co nsumidores podem aproveitar-se ele produtos chineses baratos sem que tai s importações deseq ui -

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Prevalecerá por enquanto o dito por Dimitri Medvedev em 2008, durante uma visita a Pequim, de que o objetivo de sua viagem era confirmar "a convicção da Rússia de que a China é um aliado geopolítico sério no desafio ao Ocidente ".

Desafio ao Ocidellte ... A declaração do presidente-títere Meclvedev nos remete ao início deste artigo. Pelo fato de o Ocidente ter desenvolvido a mais alta expressão histórica da civilização cristã; por abrigar em seu seio Roma, a capital da Cristandade; por ainda guardar os mais admiráveis e valiosos tesouros do seu passado cristão; pelo fato de a fé ainda estar viva em países como a Polônia, a Irlanda e Malta, ou nas nações emergentes da América Latina; por tudo isso, as forças do mal trabalham para o seu declínio, em favor do Oriente pagão. Isso deve nos levar, a nós católicos, a olhar com muita vigilâ.ncia a escalada geopo lítica da China, e a eventual constituição, em torno desta, de um grande bloco anti-ocidental. librem sua largamente excedente balança comercial (decorrente da venda de petróleo). Aliás, ambas nações se reconheceram mutuamente como "economias de mercado" (sic!) e já tinham concluído, em outubro de 2004, negociações sob a égide da Organização Mundial do Comércio. Outro domínio de convergência entre os dois países é o militar. A Rússia tem sido o principal provedor de armamento da China desde o fim da Guerra Fria (90% das compras de armas entre 1991 e 2004, segundo um relatório do Pentágono), incluindo submarinos, clestróieres, caçabombardeiros, misseis e aviões estratégicos de reconhecimento. Igualmente, a Rússia tem fornecido assistência técnica ao programa espacial chinês. Por estarem dotadas de gra nd es exércitos e grandes arsenais convencionais e atômicos, as chances de uma invadir a outra são muito baixas. De outro lado, ambas carecem de aliados de peso e por isso têm expandido a cooperação militar, principalmente no

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campo da inteligência militar. Do ponto de vista ideológico, ambos regimes reprimem de modo inclemente suas minorias étnicas rebeldes, em pruticular as islâ.micas (Chechênia, na Rússia, e Uigur, na China), e reprimem a oposição interna com idêntica desconsideração dos direitos humanos, apoiando-se mutuamente diante dos organismos internacionais e da opinião pública mundial. As suas diplomacias convergem em muitos cenários ele conflito, como o cio fim das sanções ao Irã (o qual é parceiro da Rússia e da China), ou no Oriente Médio e na África. Sobretudo, têm interesses convergentes na rivalidade comum com os Estados Unidos, lembrando ovelho ditado segundo o qual. "dois inimigos de um terceiro são amigos entre si". Por todas essas razões, a convergência estratégica entre a Rúss ia e a China é uma tendência que ai nda ganhará força em curto e médio prazo, e somente poderá passar por fricções de longo prazo no tocante à Sibéria, onde há uma clara pressão demográfica chinesa.

A mão estendida do Ocidente aos cllineses autê11ticos Isso de nenhuma maneira significa que o povo chinês seja nosso inimigo. Muito pelo contrário. No começo ele tas linhas, afirmávamos que Nosso Senhor Jesus Cristo e a Igreja são o centro ela História, a qual continua a ser atravessada apenas por dois campos: o cios povos cuja cultu ra se pode di zer ainda cristã, e o dos povos que ainda não aceitaram Jesus Cristo . Embora cl ara, simples, lógica e conforme evidentemente aos fatos, esta divi são preci sa ser vista com certa ductilidade de espírito. Porque existe, em ambos os lados , uma profunda divisão. Em nosso Ocidente - cheio de tanta luz e de tanta glória, decorrentes de seu esplendoroso passado cri stão - entretanto quanta mi séria! Apostasia da fé, indiferentismo religioso, relativismo, imoralidade, às vezes mais odiosos cio que o paganismo asiático ou africano. Enquanto isso, nos países ela antiga gentiliclacle, vicejam núcleos crescentes

ele católicos, que constituem no seu conjunto uma verdadeira primavera ela fé. Por isso, atrás ela cortina policialesca de bambu que ainda cerca a China, há riquezas de alma que não se deixaram absorver nem pelo comunismo nem pela atual hiper-produtividade induzida, e que marcham em sentido oposto ao das falsas elites do país. O melhor da China é representado pelos 4% de cristãos e, em particular, pelo 1% ele católicos (14 milhões). Mas estes últimos estão às voltas com a sinistra estratégia de divisão promovida pelo Partido Comunista através da cismática Igreja Patriótica sob as ordens de Pequim. [ver quadro à p. 38) Perseguidos implacavelmente pelo regime por causa ele sua fidelidade inquebrantável a Roma e à jurisdição universal do Sucessor de Pedro, esses milhões de verdadeiros católicos da Igreja subterrânea constituem a grande promessa cio imenso povo chinês. Se eles permanecerem fiéis e o "dragão ele papel" - pelo peso de seu próprio crescimento desequilibrado e de suas pretensões hegemônicas - acabar ruindo como um colosso de barro, abrirse-á uma auto-estrada para a evangeli zação e a conversão de centenas de mi lhões de chineses des iludidos. Como um lírio nascido na noite elas catacumbas, no lodo de um regime que acumulou os males do miserabilismo comunista e do consumismo ocidental, sob a tempestade de um conflito apocalíptico pela disputa da hegemonia do mundo, uma nova China católica poderá vir à luz. E essa nova China católica não será uma imitação, de pele amarela e olhos puxados, da civil ização oci.dental. Pelo cont:rário, ela será o reflexo do plano que Deus teve em vista quando cri ou o poético, delicado e industrio. o povo cl1inês. A razão disso é explicada em lumi noso artigo escrito por Plíni o Corrêa de Oliveira para a revista Catolicismo , em janeiro de 1956, do qual reproduzimos alguns extratos, adaptando-os ao caso da China: "A doutrina do Evangelho é imutável. Mas, aoserposta emprática, ela deve atuar sobre inúmeras circuns tâncias concretas das mais variáveis, ordenando-as,

corrigindo-as, elevando-as. E como uma civilização católica, considerada no plano hist.órico, é sempre a realização dos princípios dout.rinários imutáve is do Evangelho, em. circunst.âncias históricas mutáveis, como de outro lado a Igreja não está vinculada senão à Revelação, daí decorre que Ela não Se iden#fica com qualquer cultura, ou qualquer civilização, por mais que lhes tenha servido de fonte de inspiração. [... ] "De onde decorre que, embora [a cultura ocidental] tenha sido uma cultura católica, outras culturas católicas são possíveis, igualmente fiéis ao espírito da Igrej a, mas alimentadas de seivas diferentes. [...] "Pode haver [ na China] ou na Pérsia, desde que se convertam, uma cultura católica que assuma, purifique, eleve e ordene todos os valores tradicionais daqueles países. Claro está que, neste sentido histórico da palavra 'cultura', terá nascido uma autêntica cultu ra católica nova, profundamente afim com a do Ocidente enquanto católica,

profundamente diversa enquanto persa ou [chinesa]. [... ] "Os povos gentios, a Igreja não deseja de modo nenhum desnacionalizá-los, nem ocidentalizá-los. Católica, a Igreja entretanto não é cosmopolita. [... ] "Cabem, portanto, em seu seio todas as culturas, em tudo aquilo que tenham de naturalmente bom e aceitável pela Igreja, sob a condição de que se deixem guiar por sua doutrina e embeber inteiramente de sua vida sobrenatural". Re zemos a Nossa Senhora de Sheshan, Padroeira da China, cuja basílica encontra-se cativa nas mãos da falsa Igreja Patriótica, para que os católicos chineses resistam à perseguição, convertam seus irmãos de sangue e façam nascer no antigo Império do Meio a maior nação católica da História. Nesse dia, a China não será mais um a ameaça, mas a grande aliada do Ocidente para levar o Evangelho de Jesus Cri sto até os últimos confins da Terra. • E-mail para o autor: cato licismo@ terra.com.br

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Resistência heróica da Igreja clandestina na China Segundo espec ia li stas, a China está vi vend o um a " quin ta eva ngeli zação". Uma pedra preservada no Mu seu Provincial de Shaanxi, a lé m de descrever a doutrin a e o cerimo ni al cri stão, comprova que o c ri sti ani smo percorreu a Rota da Seda e chegou àque le país em 635, dura nte a din astia Ta ng, le vado por um monge nestori ano ele ori gem assíria. O segundo esforço, desenvo lvido dura nte um século pelos franciscanos, começou no fim do século XIII, com o mi ssionári o F rei João ele Montecorvino, e levado a arcebispo pelo Papa C lemente V. A "terceira evangelização" ocorreu no começo cio sécul o XVI, quando jesuítas, francisca nos, agostini anos e dominicanos tentaram penetrar no " fmpério Celeste", mas não consegui ra m ir a lé m do po rto de Guangzhou. No fim daquele século, poré m, o famoso jesuíta Pe. Matteo Ri cci e seu companhe iro Miche le Ru ggieri consegui ra m estabelecer-se em Pequim , graças ao prestíg io alcançado pelos seus conhec imentos as tro nô mi cos . Verifi caram-se muitas conversões nas classes di ri gentes e nas ca madas popul ares. Por volta do ano 1700 j á hav ia cerca de 200 mil católicos na China, mas a erupção da chamada "quere la cios ritos" e a dec isão

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CATOLICISMO

papa l de pro ibir as cerimô ni as de homenage m aos ancestrais conduzira m à proibição do cri sti ani smo pe lo imperador, à deportação dos mi ss ionários e ~1 clandestini dade do clero, dos catequi stas e dos fi é is chineses, tendo sido o culto católico dec larado " perverso". A "q uarta evange li zação" co meçou e m meados do sécul o XIX , quando o Tratado de Tianjin garantiu a liberdade re li giosa para os cri stãos. Muitas orde ns reli giosas voltaram ao Impéri o do Me io e o Vati cano estabe leceu os vários territóri os ec les iásticos . A lg un s mi ss io nári os fra nceses chegaram até os confins do Ti bc t, mas fora m martiri zados junto com os nat ivos converti dos ao cato li c ismo, dura nte uma revo lta organi zada pe los lamas budi stas. Muitos mi ssionários e dezenas de milhares de fi é i fora m igualme nte massacrados durante a rebeli ão dos Boxers, um mov imento ocorrido em 1900 contra a presença estrangeira e e m particul ar do cristi ani smo, o qual conduziu à tota l dest rui ção ele igrej as, semin ári os, hosp itais e orfa natos católicos. Nas décadas que se segu iram reinou re lati va paz, proporc ionando uma prosperidade miss ionári a para a Igreja. Em 1930 já hav ia mais ele 40 igrejas apenas em Pequi m. Mas, em 1949, com a vitória cios comunistas na guerra civ il , começou nova era de persegu ição cruenta. Em 1955 os mi ss ionários foram expu lsos e milhares de cató li cos fora m enviados para "cen tros ele reed ucação", inclusive o princ ipal pre lado no país, Dom Inácio Kung Pin-Mei (mais tarde cardea l), bispo ele Xa nga i, apri sionado dura nte 30 anos por recusar-se a romper seus vínculos com Ro ma. Em 1957 o Partido Comunista inaugurou uma igreja cismática denominada "Associação Católica Patriótica", a qual não reconhece o Papa como Supremo Pastor cio rebanho católico e até hoje obedece cegamente às diretrizes do bureau de Ass untos Religiosos do Partido Comuni sta.

Du ra nte a Revolução Cu /lura/ ( 1966- 1976), todos os que se di ziam cató licos, inclu sive os que segui am os pastores c ismáticos da "Igreja Patrióti ca", vi ra m-se obri gados a esconder-se para escapar à perseguição maoísta. O regime comuni sta chinês começou a conceder re lativa li berdade somente após a queda cio Muro de Ber/in e o colapso do comuni smo na Europa cio Leste, dando-se iníc io à "quinta evangeli zação". À difere nça dos anteri ores esforços ele evangeli zação cio país, que depend iam sobretudo ele miss ionári os estrangeiros, a atual propagação ela fé é impulsionada pelos própr ios sacerdotes e le igos católi cos chineses que res istiram à perseguição com uni sta. Nos últimos anos, o Vatica no tem procurado estabe lecer uma di stensão em re lação ao governo ele Pequim , reco nhecend o bi spos c ismáticos a inda fili ados à "Ig reja Patrióti ca" (cinco milhões de seguidores) e proc urando obter a aprovação cio gove rn o para seus canclicl atos, com vistas à substitui ção cios bi spos fa lec idos ou muitos idosos da Igreja clandestin a (a única legítima, com o ito mi lhões ele fi éis). Em ma io ele 2007, Be nto XVI escreve u uma Carla aos Católicos Chineses, te ntando explicar essa po lítica e fa vorecer uma aprox im ação entre os fi é is clandestinos e " patri óticos". De um lado, a ca rta pedi a aos bi spos cl andestinos que procurasse m o bter o reco nhecimento cio governo e, de o utro, inc itava os bi spos fi li ados à "Igrej a Patriótica", rcconhcciclos pelo Vaticano, a to rnare m públi ca su a ficlc licl aclc ao Papa. Contudo, q uase nenhum des tes últimos atendeu ao pedido. Num primeiro momento, as autori dades comunistas seguiram a proposta do Papa, te ndo alguns bispos sido nomeados conjuntamente pelo Vaticano e a " Igreja Patri óti ca". Po rém, a partir ele meados ele 20 1O, o regime ele Pequim recomeçou a po lítica ele no mear bi spos para a "Igreja Patrióti ca" sem o aval do Vaticano e até fo rçando os prelados reconhecidos por Ro ma a parti ciparem ela sagração cios novos bispos ileg ítimos. A lguns dos bispos reconhec idos pe lo Vaticano chegara m a ser concluziclos à força para a cerimônia.

Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong-Kong

A essa vio lênc ia o Vaticano rep lico u com uma declaração ofi cia l, na qual afirm ava que os novos bi spos consagrados e os bi spos co nsagrantes estavam auto mati camente excomungados. A trépli ca cio governo não tardou. Em agosto último, Zhang Qing li - mais conhecido como o "B uldogue cio Tibet" de vido à repressão que comandou contra os budi stas tibetanos - foi no meado Secretário cio Partido Comuni sta ela pro víncia de Hebei, onde res idem cerca ele um quarto cios cató li cos cl andestinos ... O Cardea l Joseph Zen Ze-kiun , bi spo e mé rito de HongKong, não hes itou em declarar, du ra nte uma conferênc ia ele impre nsa, que "nesle momenlo, há uma guerra". E, pouco depo is, publicou matéria paga no jorna l " Apple Dai ly", d iri gindo fo rte ape lo ao presidente e ao primeiro mi ni stro da Chin a, visando impedir que ''.fimcionários párias" usasse m de violência "para ajudar a escória da Igrej a a fo rça r bispos, sacerdotes e fiéis a agir contra a própria consciência". Em carta aberta , o cardea l escreveu: "Ninguém sabe quanto tempo vai durar este terrível in verno, mas nossos fiéis não Jêm medo, ou vão superá-lo com fé e oração, que lhes darão força para imitarem os márlires canonizados e os heróis vivos da f é e darem um testemunho coraj oso de nosso Sa lvador Ressuscitado. Queridos irmãos e irmãs na fé, eu vos saúdo! De vosso velho irmão que quase se envergonha de viver em liberdade."

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mirável, magnífica e muito a propósito para a majestade do Jmpério ".2

Conquistado pela escola de Ol'íge11es

São Gregório Taumaturgo D iscípulo de Orígenes e convertido do paganismo, tornou-se

bispo de Neocesareia. Pela abundância de seus milagres, passou para a História com o cognome de "O Taumaturgo". , .. PUNIO M ARIA SO LIM EO

ão Gregório Taumaturgo é um dos bi spos do século III de quem mais se tem notícia. Além de alguns de seus escri tos - sobretudo uma "Oratio Panegyrica ", em louvor de Orígenes, com muitos dados autobi ográfi cos - , falam-nos dele São Gregório Nanzianzeno e os irmãos São G regório de Ni ssa e São Basílio, cuj a avó, Santa Macrina, a Antiga, o conheceu e narrou sua vida aos netos. Teodoro - nome do santo antes de sua conversão - nasceu no ano l85 em

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São Gregório nasceu em Neocesareia (hoje Niksar, na Turquia)

CATOLICISMO

Neocesareia (hoje Niksar, na Turquia), então capital do Ponto, de pais pagãos e entregues às superstições . Quando contava 14 anos, seu pai faleceu: "Sem esse acontecimento, não creio que teria chegado a conhecer o Verbo verdadeiro e salvffico " 1, diz ele, pois, a partir de e ntão, começaram seus primeiros contatos com a Religião cristã. Atendendo ao desejo da mãe, Teodoro e seu irmão mais novo, Atenódoro que depois será também bispo no Ponto, ofrendo o martírio em 270 - , continuaram os estudos desejados pelo pai: a advocacia. Para isso, estudaram retórica, leis e a língua latina, que ele chama de "ad-

Quando os dois irmãos se preparavam para continuar seu s estudos em Beirute, onde havia na época uma afamada escola de Direito, sua irmã, casada com um assessor do governador da Palestina, pediu-lhes que a acompanhasse m antes a Cesareia, onde ia encontrar-se com o marido. Acontece que, no ano 231 , o sábio Orígenes, perseguido em sua pátri a, Alexandria, mudara sua escola catequética para Cesareia. Esta logo adquiriu fama, vindo pessoas de todos os quadrante da Ás ia para ouvir o renomado mestre ale xandrino. Os dois irmãos tiveram também curiosidade de ouvir o tão famoso mestre. E ficaram cativados por ele. Teodoro, muito enfáti co, diz desse encontro em sua como que autobiografia: "Este é o primeiro, o mais fo rmoso dia de minha vida; hoje saiu o sol para mim ". E Orígenes, descobrindo logo nos dois irmãos uma capacidade extraordinária para as ciências e uma di sposição rara para a virtude, trabalhou com empenho para inspirar-lhes o amor à verdade e o desejo de possuir tão inestimável bem. São Je rônimo, e m seu livro Dos Homens ilustres, diz: " Quando Orí-

genes viu a notável habilidade desses homens, instou-os a estudar filosofia, no ensino da qual ele gradualmente introduziu a matéria da f é em Cristo, e assim os f ez seus seguidores". 3 Os dois irmãos foram inteiramente conqui stados para Cristo e logo se inscreveram no número dos catecúmenos. Teodoro mudou então seu nome, que queria dizer dom de Deus, para Gregório, que significa o vigilante. Tudo corria bem na escola catequética de Orígenes até a eclosão da violenta perseguição de Maximino Trácio, nos anos 235 a 238, que inundou de sangue o Império Romano e obrigou o ilustre mestre a deixar Cesareia. Por conselho deste, Gregório e Atenódoro continuaram seus estudos e m Alexandria. Com a morte do tirano em 238 cessou a perseguição, e tanto Orígenes como os dois irmãos puderam voltou a Cesareia. Mas chegara a hora de retornar à pátria. São Jerônimo, na obra citada, diz que "instruídos assim por ele [Orígenes] por cinco anos, foram mandados de volta à sua mãe". 4 Gregório, já então batizado, na despedida fez o panegírico de seu benfeitor. "O discurso que pronunciou nesta ocasião considera-se, e com razão, como um dos mais eloquentes que nos deixou. É, além disso, de muitíssimo

valor para a História, porque nele o autor nos dá o relato dos anos de sua juventude e de sua vida escola,; até sua chegada a Cesareia e suas relações com Orígenes. Nele, além disso, dá conta do sistema de ensino do insigne doutor, e aponta com interesse os princípios e métodos que reinavam naquela época nas Academias. Finalmente, expressa muito comovido seu agradecimento ao Senhor, a seu anjo da guarda que o conduziu a Cesareia, e ao incomparável mestre que abriu a sua alma à luz da verdadeira f é".5

Nomeado bispo de Neocesareia Apenas chegou à sua cidade natal, em 238 ou 239, Gregório recebeu uma carta de Orígenes: "Vosso talento natural pode fa zer de vós um advogado romano cumprido, ou um filósofo grego de uma das escolas em grande reputação. Mas desejo que devoteis toda a força de vosso talento ao cristianismo como a vosso fim. E, para isso, quero que extraia da filosofia dos gregos o curso inteiro das ciências que sejam preparatórias para o cristianismo, buscando mesmo na geometria e astronomia o que puder servir para explicar as Sagradas Escrituras. E que tudo o que os filósofos costumam dizer sobre geometria e música, gramática, retórica e astronomia, como auxiliares da filosofia , possamos dizer sobre a própria filosofia , como preparação para o Cristianismo".6 Apesar dos elogios que se possa fazer de Orígenes como historiador, filósofo e exegeta, é preciso dizer que, naquela época, ele era inteiramente ortodoxo, mas depois, infelizmente, caiu em heresia em alguns pontos. Por isso pode ser citado no que tem de bom, mas evitado no que apresenta de mau. A carta acima sugere que Gregório ainda não havia decidido a levar uma vida inteiramente consagrada a Deus, e que pensava exercer a advocacia. Mas teve que mudar de plano, pois foi pouco depois nomeado bispo de Neocesareia.

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São Gregório de Nissa, ao narrar a vida desse seu homônimo sa nto, conta que ele, antes de sua consagração episcopa l, retirou-se para um lugar ermo a fim de preparar-se para o episcopado. Foi então visitado pela Santíssima Virgem, que lhe apareceu com o apóstolo São João. Este lhe ditou uma profissão de fé ou fórmu la da vida cristã. São Gregório de Nissa afirma que qua ndo escrevia essa biog rafia, quase um século depois, um autógrafo desse "credo" existia ainda em Neocesareia.7 Essa declaração de fé, que é muito importante para a hi stória da doutrina cristã, segundo o mes mo S ão Gregório de Nissa, foi deixada por ele à sua diocese, que

"teve assim a f elicidade de ser preservada de toda heresia, notadamente as dos arianos e semi-arianos". 8

"Um segundo Moisés" - milagres estupe11dos São B asílio, em sua obra Do EspíriLo Santo , pergunta: "Onde colocarei o grande Gregório, e as palavras pronunciadas por ele? Não poremos entre os Apóstolos e Profetas um homem que caminhou pelo mesmo Espírito que eles (2Cor 12:18); que nunca, em todos seus dias, desviou-se das pegadas dos santos; que manteve, ao longo de sua vida, os exatos princípios de cidadania evangélica? [. .. ] Narrar detalhadamente todas suas maravilhosas obras seria tarefa bem longa. Pela superabundância de dons operados nele pelo Espírito Santo, em

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todo poder e em sinais e maravilhas, ele era chamado um segundo Moisés pelos próprios inimigos da Igreja[. .. ] Até hoje ele é objeto de grande admiração para o povo de sua própria redondeza, e sua memória, estabelecida nas igrejas, não se atenuou com o correr dos tempos, permanecendo sempre fresca e verde". 9 São Gregório de Nissa narra alg uns dos muitos milagres que valeram a São Gregório de Neocesareia o título de " taumaturgo". Citemos alguns. Doi s irmãos pleiteavam em torno de um terreno por causa de um lago que nele havi a. Não conseguindo fazê-los chegar a um acordo, São Gregó rio rezou e o lago secou, terminando assim o objeto da di sputa. Na cidade de Comana, os habitantes lhe pediram que indicasse um bispo . São Gregório apontou-lhes e ntão um pobre coberto de andrajos, todo sujo de carvão, assegurando-lhes que era homem de gra nde mérito, que por humildade ocu ltava-se detrás daq uela aparência. O povo então o aclamou e a Igrej a o honra com o nome de Santo Alexandre, "o Carvoeiro". Um rio que passava pela comarca causava grandes prejuízos com suas inundações . São Gregório foi ao lugar mais largo do mesmo, onde começava gera lmente a transbordar, e enterrou na margem seu bastão. São Gregório de Nissa afirma que, desde esse dia, não houve mai s inundações. Dois judeus tentaram explorar sua caridade. Um deles pediu-lhe um au-

xílio para dar a sepultura ao companheiro, que se fingia de morto . O Taumaturgo deu a esmola pedida, e seguiu seu caminho. O judeu, triunfante, correu para contar ao amigo o sucesso da empresa, e o e ncontrou rea lm ente morto ... Cresce ndo o número de c rist;ios em sua diocese, São Gregório precisava constru ir uma nova igreja. Mas o terreno disponível estava apertado entre um rio e um monte. São Gregório rezou , e o monte deslocou-se o s uficiente para dar luga r à igreja. São Gregório de Neocesareia, ou Taumaturgo, fa leceu muito provavelmente no a no de 270. Sentindo a aproximação da morte, pediu que lhe informassem quantos pagãos havia ainda em Neocesareia. Responderamlhe que apenas 17. Ele deu então graças a Deus por restar tão poucos, e suplicou que também esses se convertessem. Pediu então que não o sepultassem num túmulo próprio, mas no cemitério comum, dizendo : "Não

Batalha de Iwo Jima e heroísmo católico

tive na vida casa própria, e passei pelo mundo como estrangeiro. Não quero perder esse título depois de morto" . Comemora-se sua festa no di a 17 de novembro. • E-mai I para o autor: catoli c ismo @te rra.com .br

Notas: l .A pud Fr. Justo Pérez de Urbe l, 0.S.B. , Aiio Cri stiano, Ed icio nes Fax, Mad ri , 1945, vol. IV, p. 36 1. 2. ld ., p. 362. 3. Th e Ca th o li c Encyc loped ia, CD Ro m e diti o n, Fa th ers , St. Jerôme, De Viris lllustribtts, 65 4. ld ., Ib. 5. Eclelvives, El Santo de Cada Día, Editori al Luis Vi ves, S.A., Saragoça, 1949, vol. V I, p. 173. 6. The Catholic Encyclopecl ia, CD Rom ecl iti on, Fathers, Ori gen, Leuer to Gregory, 1. 7. H. Leclercq, Saint Gregory of Neocesarea, The Catho lic Encyc lopeclia, CDRo m ecli ti on. 8. Les Peti ts Bollandistes, Vi es des Sa ints, Saint Grégo ire Thaumat11.rge, Blo ucl e t Barrai, Libraires-Éditeurs, Pari s, 1882, to rno XIII, p. 470. 9. The Catholic E ncyclopedia, CD Ro m ecliti on, Fathers, Saint Basil the Great, De Spiritu Sc111cto, cap. 29, 74.

P oucos conhecem detalhes en1ocio11antes da famosa foto, prévia a cclelwação de uma Missa, durante a batalha vencida pelos nort<\-americanos EDsoN CARLos oE OuvE1RA

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f~mosa fot o acima, intitul a?ª Raising tlie fla g on l wo ]una (L ' vanlando a bandeira e m lwo J1ma), reg1st:rou o mo ment o cm que os marines conquistaram, em 23 de fevereiro de 1945, o cume d vu lcão Suribac hi , ponto mais a lto da ilha de lwo .lima, no Oceano Pacífico. Esta foto foi tirada por Joe Roscntha l q uando do segundo içamento da bandeira norte-am ericana naquele local.

Contudo, a brav ura profunda me nte cató lica que e nvo lve u o primeiro has tea me nto da referida bandeira não é mui to conhecida. O livro Battle.field Chaplains: Catholic Priests in World War li, (Ca pe lães no Campo de Bata lha: Padres Cató li cos na II Gu erra Mundial), do padre jesuíta Donald Crosby, narra os feitos dos sacerdotes católicos que participara m da seg unda Guerra Mundi a l. E ntre e les, o Pe. C ros by conta a históri a do sacerdo te jesuíta Charles Suver, e ntão com 38 a nos de idade, perte nce nte à 5" Divi são ele Fuzi le iros Navais. Era um dos 19 cape lães que ministravam os sacra me ntos nas três divi sões marines que partic ipara m da mai s sang re nta batalh a no Pacífi co . O Pe. Suver nasce u em Elle nsburg, Was hingto n, no a no de 1907 . Formou-se na faculclacle ele Seattle em 1924 e fo i ordenado e m 1937. Pouco depois do ataq ue j apo nês e m Pearl H arbor, ele entrou para a marinha como cape lão e foi designado para acompanhar os soldados na bata lha de fw o Jima.

Um nobre desalio apl'opriado a heróis Um di a antes do desembarque na ilha, a te nsão a ume ntava e ntre os so ld ados, que se nti a m a morte se av izinha r à NOVEMBRO 2011

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medida que o navio se aproximava de seu destino. Eles sabiam que em breve enfrentariam mais de 23 mil japoneses liderados por um dos mais capacitados generais do Japão. Sua coragem seria testada ao máximo. Após o jantar, alguns fuzileiros dirigiram-se à cabine do Pe. Charles Suver, para conversar sobre a invasão que ocorreri a ao amanhecer. Em certo momento um jovem oficial disse que, se tivesse uma bandeira americana, ele a levari a até o alto do monte e talvez alguém a hasteasse Já em cima. O tenente Haynes, desafiando o oficial, imediatamente respondeu: "Certo, você leva a bandeira que eu a coloco lá em cima ". Com uma santa ousadia, o Pe. Suver acrescentou: " Vocês a colocam lá em cima e eu celebro uma missa embaixo dela!".

Suver estava trabalhando em um posto de socorro com seu ajudante Jim Fisk (durante a batalha foram designados assistentes para transportar os equipamentos dos capelães), quando percebeu que os marines cautelosamente escalavam o Monte Suribachi . Embora a situação fosse extremamente perigosa, ele decidiu que era o momento. Convocou seu ajudante, pegou sua mala com o material necessário para celebrar a Missa e correu na direção do vulcão. Enquanto subiam, viu a bandeira tremulando no cume do monte. Uma onda de entu siasmo tomou conta de todos os marines, alguns dos quai s até choraram de alegria ao verem o pendão nacional balouçar ao sabor do vento. "Todos experimentamos uma emoção que nenhum de nós nunca vai ser capaz de descrever", disse o Pe. Suver.

Cume do vulcão Suribachi

Uma coragem que suplantou o medo Às 5:30 da manhã do dia seguinte - 19 de fevereiro-, ainda a bordo do navio (LST 684), o Pe. Suver celebrou missa para os fu zileiros navais. Logo após, alguns marines fi zeram vári as perguntas a ele, especialmente sobre a coragem. O sacerdote jesuíta respondeu : "Um homem corajoso cumpre o seu dever; apesar do medo atroz. Muitos homens têm medo, por muitas razões diferentes, mas poucos são corqjosos ". O Pe. Suver desembarcou naquele dia, às 9:40 da manhã, na mais perigosa de todas as praias, a Green Beach. Sob o fogo de metralhadoras que começaram a crepitar, ele foi forçado a se atirar ao chão. Mais tarde soube que estivera atrás das linhas japonesas, no territórib controlado por cinco metralhadoras. Ele se arrastou imediatamente para a próxima trincheira. Apesar da situação enervante, o Pe. Suver não abandonou a ideia de rezar mi ssa no Monte Suribachi tão logo a bandeira americana fosse hasteada lá. Sua vida esteve em risco diversas vezes durante a batalha, mas ele conseguiu sempre manter o domínio de si mesmo e continuou a exercer sua função. Cinco dias de combates sangrentos se passaram. O Pe.

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Infeli zmente, o tenente Haynes, que se tinha prontificado a hastear a bandeira no alto do monte, foi momentos antes baleado nas costas e ficou paralítico até o fim da vida.

Missão cumprida: Missa celebrada 110 topo do monte O Pe. Suver chegou ao topo e, com aprovação do comandante, preparou-se para celebrar o Santo Sacrifício da Mi ssa. Por altar não tiveram senão dois tambores de gás, vazios, sobre os quais colocaram uma placa. Mais ou menos vinte soldados ass isti ram à Mi ssa com suas armas em riste, pois a resistência japonesa ainda estava muito acirrada. Dois marines seguravam um manto, a fim de proteger o sacerdote e os utensílios sagrados do vento feroz. Os fuzileiros navais proteg iam o sacerdote não só do vento, mas também de um iminente ataque. As cavernas próx imas ainda abrigavam soldados japoneses. Estes estavam tão perto que, egundo o Pe. Suver, podiam ser ouvidos fa lando sobre aq uela desconhec ida cerimônia religiosa. Providencialmente, os japoneses não atacaram e o Pe. Suver conseguiu reali zar a hi stórica primeira mi ssa da ilha de lwo Jima.

Jim Fisk, o ajudante do Pe. Suver, pub licou posteriormente um artigo afirmando que a mi ssa foi celebrada durante o hasteamento da primeira bandeira, por vo lta das 10: 30 da manhã. s' 1 undo hastea mento da bandeira (foto de Joe Rosenthal , no in ício do artigo) ocorreu entre 12:00 e 12:30h. Sobr · o momento exato em que a missa foi celebrada, há uma v rs· o do padre jesuíta Jerry Chapdelaine, amigo do Pe. Suver, com o qu ul conviveu na escola inaciana Bellarmine, em Ta.coma, Washington. Ele contou que o Pe. Suver lhe di sse pessoa lm 111 • qu ' a missa foi rezada antes do hasteamento da bandeira , ' n, o d poi s. O Pe. Chapdelaine acrescenta que o Pe. Suvcr di ss · aos seus homens: "Eu vou rezar missa para vocês e, •111 ,1'ef.i t1ida, vocês levantam a bandeira ". "Ele era 11111 cara durão - co menta o Pe. Chapdelaine sobre o Pc. Su v ·r , .fisicamente forte e tinha muita coragem. Mas , , ·o 11111 lwmem muito gentil, também ". Pe. Suver morreu ele t n · ·r cm 1993, aos 86 anos. Era um domingo de Páscoa. " Ele (ft1 l'l'io 111orrer na Sexta-Feira Santa - segundo ele próprio 111e disse", observou o padre Chapdelaine, que celebrou s ·u funeral na Igreja St. Joseph, em Seattle.

Heroísmo (/m; <:ol'a/osos capelães jesuítas Sobre o pup ·I dos cape lães jesuítas, o fotógrafo Joe Rosenth al com ·111 11 que gua rda boas recordações dos sacerdotes corajosos qu e serv ira m como cape lães durante a

Segunda Gu erra Mundial. "A maioria dos capelães fo· ram bons [. .. ]. Os j esuítas eram admirados por todos os marines. [. .. ] Se eles encontravam um.fuzileiro naval morrendo, eles iam até Lá [correndo o ri sco de serem atingidos], como uma coisa natural. Eles eram tão heróicos quanto os marines". O Pe. Suver e seus homens tinham cumprido sua promessa, apesar do grande perigo que os ameaçava. Muitas batalhas ainda haviam de ser travadas em lwo Jima, mas o levantamento da bandeira e a Missa encorajaram os marines a manter a luta num espírito de sublime combinação: brav ura patriótica e fervor religioso. • E--maíl para o autor: catolicísmo@terra.com.br

Fontes consultaclas: - S0111e1/ú ng E/se Sublime Happ ened on Mount Su ribachi, B log The Am erica Needs Fat ima, http://americaneedsfatima.b logspot.co m/2008/ II /so meth ing-else-subl ime-happened-011.html, acessado em 22/9/20 L1. - F,: Cha rles F. Su ve,; S. l . "The l esuil of l wo lima", B log Good Jesuit, B ad Jesuit, http://gooclj esuitbadj esuit. blogspot.com/20 11/01 /fr-charl esf-s uver-sj -j esui t-of- iwo. html , acessado em 22/9/20 11. - Th e Forgorten. Mass on l wo lima , site T he Remnant New spaper, http:// w ww.remn antn ew spap er.co m/ Archi ve s/archive- 2006 -0831 - iw ojim a.htm , acessado em 22/9/20 11 . - The Mass on Moun t Suribachi, site The America n Catholic, http://t heam er i ca n-cath oi i c. co m/2009 /03/30/the- ma ss -o n• mou n t- suri bach i/, acess ado em 22/9/20 11.

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movimento "Ocupe Wall Street" em Nova York "O comitê de comida oferece alimentação de graça [. ..] As pessoas que doam alimento e dinheiro são as que[. .. ] não podem estar aqui " , clis e ela ("Folha ele S. Paulo", 12- 10-2011 ). Curioso, não? Talvez a nossa compatriota tenha sido sincera demais... Primeiro ela fala ela ex istência de um "comitê de comida" , o que pressupõe organização. Do contrário cada qual levari a eu lanche. E depois di z que os doadores "não podem estar aqui "? Por que não podem aparecer? O que está sendo escond ido de nós nessas manifestações? É mais um eni gma que fica no ar, à espera de ex plicação. *

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tâneo" movimento que começa a se manifestar pelo mundo inteiro? Sua mais 1'ecente - . e indignante - manifestação em Roma foi principalmente voltada contra Deus e a Virgem Santíssima com a profanação de imagens, revelando assim seu ódio contra a orden1 católica das coisas. ■ AB EL DE O LIVE IRA C AMPOS

e

....m

CATOLICISMO

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Nos rcc nles atos de vandalismo sacríl ego em Roma, ao quebra r 111 crucifixos e imagens ele Nossa Senhora - como mostra o ita lo clipe - os "indi gnados" se des mascararam. As asp irações comunistas e anarquistas dos organi zadores do Fórum I ão Paulo e dos chamados Fóruns Sociais não e tão tão di stantes dessas manifestações. É a velha esquerda que tenta sair ela tumba, depois da depressão sofrida com a queda lo Mu ro de Berlim e o rasgar da Co rtina de Ferro, acontccim ' nto este considerado tanto por Gorbachov quanto por Putin ·orno "o maior desastre geopolítico do século XX". ó qu , para reerguer-se e tentar tirar do letargo as suas bas s d 'Sanimaclas e des norteadas, a esquerda precisa se radical i%or e mostrar-se de corpo inteiro. Mas, ao fazê- lo, ela assusta · afasta aquela imensa parcela do centro, indispensáv I para a sua vitória.

Ü que está por detrás desse "espon-

aro leitor, vale a pena ver na Internet o clipe no seguinte link http://www.pliniocorreadeo liveira. info/ nov idades.asp (publicação de 17-10-2011). Ele mostra o acrílego atentado contra uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes, levado a cabo durante as manifestações dos tais "indi gnados" (foto à direita). Houve também destruição de crucifi xos. É para manifestar ódio contra Deus que eles estão se ag lutinando? Tudo leva a crer que sim .

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As uas mani fes tações "es pontâneas" se multipli cam, segundo a mídia, por quase todas as partes cio mundo. E circul aram notícias - depois des mentidas - de que o grande finan ciador desse movimento seria o Dr. George Soros, arquimilionário investidor mundi almente conhec ido. De fato , manifes tações como essa têm uma "espontaneidade" muito bem organi zada. E muito bem fin anciada. É o que se deduz do depoimento de Vanessa Zettler, jove m manifesta nte bras ileira residente nos EUA e que faz parte do

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Bom, não poderiam faltar alguns bispos esq uerdi stas que já estão apoi ando esse movimento. Não vou citar nomes, basta ler os jornais. Em 1990, quando caiu o Muro de Berlim e o mundo se deu tardiamente conta cio horror do regime comuni sta, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, na qu alidad e ele pres idente do Conselho Nacional da TFP, levantou a bandeira da verdadeira INDIGNAÇÃO. E o fez por meio cio mani fes to publi cado em vários j ornai s ci o País e do Ex teri or intitulado Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio. A TFP apresenta uma análise da situação - no mundo - no Brasil. O mesmo pode ser encontrado no seguin te endereço : http://www.pliniocorreadeo liveira. info / 1990-02- l 4%20%20Comunismo%20e%20anticomunismo%20na%20orla.asp Convido-o, leitor, a fazer uma atenta leitura desse memorável manifesto, que em sua época alcançou grande repercussão no mundo inteiro. Publicado há mais de 20 ano , é mais atual do que nunca. Tire bom proveito dele. E alguma s lições para a nali sar o que esta mos co meçand o a presenciar. • E- ma il para o autor: catolicismo @terra.com.br

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Todo o mundo está realmente farto com o que a esquerda tem fe ito. A ·om çar por ex poentes da política brasi leira que estão no ·um ' do poder, passando pelos da União Europeia e terminando ·om Obama, que com sua política ambígua fa vorece habil idosamen te aq uilo que parece atacar. E agorn , num golpe ele mágica, os que deveriam ser objeto da v rdud •ira indig nação estão se apresentando co mo "indi gnados" ... (~outra fa rsa da esquerda que urge no horizonte. É bom n ' , ·io para eles tomar a bandeira que deveria ser leva ntadu ·ont ra si pró prios por terem criado no mundo a situação d ' uhsurdo soc ialista, corrupção e desordem na qual vivemos. Il i s cana li zam assim, velhacamente, esse imenso D •S ' )N'l'ENTAMENTO pelo qual eles fora m os res pon ávcis. Sun ntitude assemelh a-se à do ladrão que, após o roubo, grita "Pl· 1 t1 ladrão", a fim de desviar as atenções para outra clir '<,'f o... Não exc lu ímrn, qu' cm meio a essas manifestaçõe possa haver p ssoas L' ll •nnudas e ele boa fé, exasperada com a atual onda d ·orrup,·, o que invade o mundo. Entretanto elas fazem o pap I d · in oc.:c.:ntcs úteis, para fins que ignoram. E na medida cm qu · for '111 esclarecidas, se de fato estiverem ele boa fé, d v ·n1o ·nir m si e retroceder.

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l:falllll


5 SanLos Zacarias e Isabel, Pais de São João Batista, o Precursor + Séc. 1. Sua fé mereceu-lhes gerar na velhice aquele que prepararia os ca minho s do Salv ador. Primeiro Sábado do mês.

6 1 TODOS OS SANTOS Celebrada j á no séc ulo V como festa de Todos os Mártires, esta festa adquiriu mais tarde um caráter univ ersal, sendo fixada neste di a. É a comemoração da Igreja Tri unfante, formada por todos os bem-aventurados que gozam da glória ete rn a. Podemos pedir-lhes que nos alcancem graças.

2 FINADOS Comemoração da Igreja Padecente, formada pelas numerosas alm as que sofre m no Purgatório, pelas quai s devemos rezar. (*)

3 São Martinho de Porres, Confessor + Lima, 1639 . Mestiço, era filho de um descendente de cruzados e de uma escrava liberta. Entro u como "doado" para um dos conventos dominicanos de Lim a, onde levou uma vida extraord inária pela humildade, penitência, caridade e dom de milagres.

4 São Carlos Borromeu, Bispo e Confessor + Milão, 1584. Cardeal aos 21 a nos, depo is Arceb ispo de Mil ão, reali zo u plenamente seu ideal de episcopado mediante as reformas do Co ncíli o de Trento. Faleceu aos 46 anos, tendo sido uma das figuras exponenciais da Contra-Reforma. Primeira Sexta-feira do mês.

São Nuno Álvares Pereira, Confessor + Lisboa, 143 l. Armado cavaleiro aos 13 anos e Condestável de Portugal aos 25, a ele D. João I deveu seu trono e Portugal sua independência, pela retumbante vitória em Aljubarrota.

7 São Vilibrardo, Bispo e Confessor + Alemanha, 739. Nascido na Irlanda, fo i sagrado bispo de Echternach, de onde seus mi ssionári os partiam para evangeli zar a Renâni a. Seu ze lo chegou até a Dinamarca.

mentou e deu novo esplendor às cerimônias litúrgicas. Por tudo isso, recebeu da posteridade o título de Magno.

11 São Bartolomeu Abade, Confessor + Grotaferrata, 1065. Calabrês, entrou muito jovem para um mosteiro ítalo-grego, colocando-se sob a direção do fundador, se u compatriota São Nilo.

12 São Teodoro Studita, Confessor + Constantinopla, 826. Considerando as ordens monásti cas corno "os nervos da Igreja", fez do mosteiro bizantino Studios - que chegou a ter mil monges - um centro de santos e sábios.

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São Claro, Confessor + Tours, 386. Pertencente a família de alta nobreza, foi ordenado sacerdote ainda jovem , deixando tudo para viver junto ao grande Bispo de Tours, São Martinho.

Santo Estanislau Kostka, Confessor + Roma, 1567. Pertencente a uma das mai s nobres famílias da Polônia, sua vida é palmilhada de maravilhas. Recebido por São Pedro Canísio no nov iciado da Companhia de Jes us, na Alemanh a, foi enviado a Rom a e paternalmente acolhido por São Francisco de Boija.

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Dedicação da Basílica de São João de Latrão, Roma Catedral dos Bispos de Roma e urna das primeiras basílicas dedicadas por Constantino ao culto cristão, ela fo i consagrada por São Silvestre em 324.

10 São Leão I Magno, Papa e Confessor + Roma, 46 1. Governou a Igreja por 2 1 anos, durante a invasão dos bárbaros; luto u contra os hereges eutiqui anos e donatistas; deteve o huno Átil a às portas de Roma ; defe nde u intrepidamente os direitos da Sé Apostólica; incre-

São José Pignatelli, Confessor + Roma, 1811. Nobre espanhol de origem italiana, entrou aos 15 anos para a Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote, dedicou-se ao magisté ri o e aos mini stérios apostóli cos.

15 Santo Alberto Magno, Bispo e Doutor da Igreja + Co lônia (Alemanha), 1280. Pouco dotado para o estudo, mas grande devoto de Maria, recebeu d' Ela a ciência, que lhe valeu de seus contemporâneos o títul o de Doutor uni-

versai. Foi professor de Santo Tomás de Aquino.

virgens - foi recolhida por São João Damasceno.

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Santa Gertr udes, a "Magna" , Virgem + Helfta (A lemanha), 1303. Tendo entrado para um mosteiro aos c inco anos de idade, é considerada uma das maiores místi cas da Idade Média.

Santa Cecília , Virgem e Mártir + Roma, séc. III. Padroeira da música sacra e uma das mais veneradas mártires da Igreja primitiva, Cecília já tinha feito voto de castidade quando o pai a casou com Valeriano. Ela o converteu, bem como o cunhado Tibúrcio, sofrendo os três o martírio pela fé.

17 São Gregór·io Taumaturgo, Bispo e Con fessor (Vide p. 40)

IH Dedicação das basílicas de São Pedro e São Paulo Na prim ira, no Vaticano, encontra-se o túm ulo de São Pedro, o pri meiro Papa; a segunda, na Vi a Óstia, foi construíd a no I cal do sepul tamento de São Paulo.

19 Santos Roque González e Companheiros, Mártires + Rio Grande do Sul, 1628. Mi ssionário s jes uítas qu e evangelizaram a região das Missões . Na de Caaró (R ) , quando o Pe. Roque termin ava a Mi ssa, índi os sublevados pelo pajé (fe iti ceiro) pa rt iram-lhe a cabeça com um a cl ava. Fizeram o mesmo com o Pe. Afonso Rodríguez. O Pe. Ju an del Castillo havi a sido martiri zado anteriorm nte, na missão de Pirapó.

20 NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO Festa instituída por Pio X I cm 1925, para proclamar a rea l za social de Nosso Se nh or Jesus Cristo.

21 APRESE TAÇÃO DE OSSA SE HORA Esta tradição - segun do a qual os pais da Santíss im a Virgem a oferecera m ao tem plo para ser educada entre as

23 São Clemente 1, Papa e Mártir + Roma, séc. 1. Terceiro sucessor de São Pedro, conheceu os Apóstolos e conviveu com eles. Sua carta dirigida aos Coríntios é docum ento fundamental para comprovar as teses do primado universal do Bispo de Roma e da constituição hierárquica da Igreja.

24 Santos André Dung-Lac e Companheiros, Mártires + Vietnã, séc. XVI. Vietnamitas "convertidos pelos nússionários domini canos que haviam começado a e van.ge/izar a região,foram martirizados sob a acusação de estarem· introduzindo no país uma religião estranha" (do Martirológio Romano) .

25 Santa Catarina de Alexandria, Virgem e Mártir + Séc. IV. Uma das santas mais populares dos primeiros séculos, e la recebeu aos 17 anos o dom da sabedoria e era tida como a mais sábia das j vens do império.

26 São Pedro de Alexandria, Bispo e Mártir + 3 11 . "O historiador Eusébio saudava-o como um desses pastores divinos, pela vida virtuosa e por sua sagrada eloquência. Foi uma das úl-

timas vítimas das perseguições romanas" (do Martirológio Romano).

27 FESTA DE NOSSA SENHORA DA MEDALHA MILAGROSA Santa Catarina Labouré, Virgem + Paris, 1876. Esta filha espiritual de São Vicente de Paulo recebeu de Nossa Senhora a revelação da Medalha Milagrosa, que tantas graças, conversões e mil agres tem obtido em todo o mundo.

28 Santo Estêvão e Companheiros, Mártires + Constantinopla, 764. Monge do Mosteiro Studios, foi martirizado com centenas de outros companheiros por terem defendido o culto às imagens.

29 São Francisco Antonio Fasani, Confessor + Itália, 1742. Franciscano no convento dos Frades Menores Conventuais de Lucera, doutorou-se em Teologia, tornando-se exímio pregador, diretor de almas, conselheiro, defe nsor dos pobres e humildes.

Intenções para a Santa Missa em novembro Se rá celebrada pe lo Rev mo. Pad re David Franci squi ni , na s seguintes intenções: • Missa de Finados (2 de novembro), pelas almas dos fami liares fa lecidos dos leitores e sim patizantes de Catolicismo e por toda s as santas almas do Purgatório. • Rogando a No ssa Senhora das Graças, cuja festividade a Santa Igreja comemora no dia 27 de novembro, que co nceda supera bun dantes graças a todos, especia lmente àque les que portam sua Meda lha M ilagrosa .

30 SanLo André ApósLOlo, Mártir + Séc. 1. Irmão de São Pedro, foi dos primeiros discípulos de Jesus. Pregou o Evangelho na Ásia Menor e nos Bálcãs, onde foi crucificado. É patrono das vocações. Notas:

* "Aos que visitarem algum cemitéri o e rezarem, ainda que só mentalmente, pelos defuntos, concedese uma Indulgência Plenári a, só aplicável aos defuntos; diariamente, do di a lº ao dia 8 de novembro, nas condições costumeiras. Isto é: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontffice; nos restantes dias do ano, Indul gência Parcial (Enchi,: lndulgentiarum, nº 13)".

Intenções para a Santa Missa em dezembro • Missa de Natal, rogando ao Divino Menino Jesus, por mediação de sua Santíssima Mãe, que conceda muitas e especiais graças às fa mílias dos assinantes de Catolicismo e a todos aqueles que apoiaram e/ou difundiram a revista ao longo deste ano.

NOVEM


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derna a um ed ifício cujas fundações se encontram corrompidas, um a vez que a soc iedade não está mais fundamentada nos princípios morai s e reli giosos. Portanto, se mais andares do ed ifíci o forem construídos - por exempl o, os ava nços tecnológicos e c ientíficos - sem um a prévia resta uração dos ali cerces, o desmoronamento será inev itável. A solução só poderá ser encontrada na med ida e m que o mundo se orientar no sentido cio cumprimento dos pedidos fe itos por Nossa Senhora em Fátima, como a rec itação do Terço - preceituada por E la e m todas as seis aparições. *

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A palestra foi precedida pela rec itação do Terço, e no final procedeu-se ao sorteio de um be líssimo quadro ela Virgem Santíssima com o Men ino Jesus. Todos os participantes fora m ainda beneficiados pela distribuição de obj etos re ligiosos de devoção. Esta foi urn a iniciativa de várias ca mpanhas pela divulgação da Mensagem de Fátima - urna coa li zão que atua vigorosamente em pro l dos princípios morais e religiosos na sociedade. • E- mail para o au1or: ca 1o lici smo@ l erra.co 111 .br

"Saiba por que o Terço é a arma mais poderosa que existe" rt M ÁRCIO COUTINHO

O

tema em epígrafe fo i desenvolvido no // Encontro Regional - /TU , que reun iu no dia 17 de setembro último, 80 fatimistas no auditório do /tu Colonial Plaza Hotel daquela tradicional cidade do interior paulista. A palestra foi proferida pelo coordenador de campanhas de divulgação da Mensagem de Fátim a, Sr. Marcos Luiz Garc ia (foto à direita), que se deteve mais especialmente em relatar a origem do Rosário, proporcionando um melhor conhecimento do papel desta fundamental devoção aos que desejam com fidelidade observar os preceitos divinos . A exposição despertou enorme interesse, dando lugar a muitas perguntas e esclarecimento de dúvidas. O palestrante comparo u a decadência da sociedade moCATOLICISMO

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MARIA ANTONIETA Personagem simbólica que a Revolução precisava derrubar PuN10 CoRRÊA DE OuvE1RA

~ R I A ANTONIETA, rainha da França, representava em sua versão brilhante o tipo de dama destinada a desaparecer pela ação demolidora da Revolução.* Era um modelo para um gênero de dama - não apenas da corte, mas de Paris e da província. Ela representava também 9 ponto ideal de uma evolução, na qual os acontecimentos, as idéias e as tendências vinham, há séculos, gerando um modelo de dama. Esse modelo afinal desabrochou na pessoa de Maria Antonieta, com um brilho ab olutamente excepcional. Ela ficou colocada na posição de figura de proa de navio em guerra, pois era um símbolo que a Revolução precisava destruir. Por que ese modeJo precisava ser destruído? Porque ela era um símbolo anticonsensual. Os conselhos que ela dava ao rei eram anticonsensuais e todas as suas atitudes eram anticonsensuais. Por exemplo, naquele célebre fato histórico ocorrido em Versalhes, durante a Revolução Francesa, em que ela aparece num balcão do palácio diante da turba que vociferava.

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Lembremos que Maria Antonieta morreu nas vésperas do início do século XIX, o qual presenciou o nascimento e a expansão pelo mundo inteiro dos pri meiros movimentos feministas, com o aparecimento de um outro modelo de mulher cada vez menos caracteristicamente feminina. E mesmo as mulheres não ' feministas foram se tornando cada vez menos femi ninas . .2 A meu ver, o auge da mulher bem feminina, com ~ todo charme e distinção, e também toda debilidade e força femini na, foi Maria Antonieta. Ela representou , portanto, o extremo oposto dessas práticas antinaturais que se intensificaram hoje em dia: o homossexualismo e o lesbianismo rumo a um misterioso hermafroditismo. Apesar de tudo isso, atualmente estamos assistindo ao reaparecimento, não só na França mas em vários outros países, de uma bolha de saudad ·s dessa rainha. Fenômenos desses gênero a Revolução teme. Porque de -repente tal s ·nti mento de admiração toma volume, cresce e ela não consegue dominar... •

j

* A palavra Revolução é utili zada neste texto no sentido empregado pelo autor em seJ ensaio Revolução e Contra-Revolução, publicado prime iramente em Catolicismo, nº 100, abril/1959.

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 3 de setembro de 1988. Sem revisão do autor.



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UMARI

PUNIO C O RRÊA D[ Ü UVEIRA

A impregnação das alegrias de Natal

A

festa cio Santo Nata. 1 tem o privilégio - ao menos é a impressão pessoal que tenho - ele interromper o tempo. Pode uma pes oa estar na situação afl iti va que estiver, chegando o N atal, abre-se co mo que um paredão e as desgraças ficam do outro lado. Bimbalham os sinos, o Natal começou! Cri sto nasceu: alegri a para todos os homens! Uma alegri a que não é a alegria vulgar do homem que fez um bom negócio, que venceu uma j ogada política ou ganhou na loteri a. Não. É uma alegri a muito mais interna, muito mais leve, toda fe ita ele luz. Enquanto as outras alegri as são feitas de coisas palpáveis e de segunda ordem, a alegria própria ao N atal é toda fe ita de luz - é o Lumen Christi, a lu z d Nosso Senhor Jesus C ri sto que brilhou na Terra na noite de N atal. Luz que nunca mais, ele ano em ano, deixou de brilhar, trazendo uma verdadeira alegria, uma verdadeira paz de alma até para as pessoas mais alorm nladas. No meu tempo de m nino, a noit d Natal era um hi ato luminoso, eh io de ai o qu não se consegue descrever, mas qu lodos sentiam: era aq uela suav idade, aq u la paz, aquela doçura que dava a impressão d qu lodo o céu estrelado ela noite eslava como que impregnando a Terra de p rfumes. Os sinos locava m, o som se espa lh wa o júbilo impregnava até os jardins. ra uma ai gria enorme que circundava lodos os homens, porqu e Cristo nasceu, nasceu em Belém! • Excert os da co nl'erCncia proferida pelo Pro l'. Plíni o orrêa de O li veira ern 2 1 de dezembro d 1984. Sem rev isão do au lor.

- C A T O U I SMO

2

E.xcmnos

5

INl<'ORMAnvo Rt lRAr,

8

CommsPONDf.:NCIA

Brasil cadastrará todas as árvores?

1O A

PAtAVRA

no SAc1mnO'n:

12 A

REAJ,IDADE

CoNc1sAM1w1·..:

14 Cos·1·t11\ms Chapéu - II

1 7 l~N·1·mw1s·1'A Em defesa da ÍnstituÍção fammar

22

CONTO DE NA'l'Aía

Uma dÍVÍna VÍSÍta no Natal Indispensável exame de consciência

25 VARmDADl~s Feminjsmo Ígualitário 26 CAP'\ O Inocente veio ao mundo para redÍmÍr o pecador

38

VmAs m•: SANTOS

41 Pon Qtm NossA

42

São Nicolau de BarÍ

S1•:NHORA CHORA'?

SANTOS E F1~s·r·As no Mf.:s

44 A<,:Ão CoN'l'RA-Rl•:vm,ucmNÁmA

Boas maneiras e o uso do chapéu

52 AJ\lmrnN·rt-:s, Cosn11\ms, Cnrn.1zAçõEs Majestade do Divino Infante em Belém

A alegria própria ao Natal é toda f<·it,, de luz - é o Lumen Chri ti, a luz de Nosso Senhor Jesus Cristo </li<' brilhou na Terra na noite de Natal.

Nossa Capa: Imagem do Menino Jesus do Vale, Sevilha, Espanha.

DEZEMBRO 2011 -


O superávit do agronegócio brasileiro

Caro leitor,

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Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração:

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CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.

Aproximamo-nos de uma data magna da Cristandade: o Santo Natal de nosso adorável Redentor. E tem sido praxe de nossa revista apresentar como matéria de capa das edições de dezembro, reflexões que auxiliem os leitores de Catolicismo a meditar adequadamente sobre o mistério do nascimento do Divino Infante. Devido à progressiva paganização dos costumes, torna-se cada vez mais difícil ao verdadeiro católico comemorar condignamente o sagrado evento e defender-se da avassaladora onda neopagã. Tal avalanche tende a transformar o Natal num acontecimento meramente naturalista e comercial, em que o nascimento do Deus encarnado cede lugar à figura caricata do Papai Noel. Em que o presépio e a tradicional árvore de Natal são suplantados, por exemplo, por um grande pinheiro iluminado em cuja base movimentam-se figuras de anões e animais, excluído qualquer símbolo cristão, como está exibido a milhares de visitantes de conhecido shopping da capital paulista. Como reação a tais deformações anticristãs, compreende-se o recente movimento popular ocorrido em certas regiões da Alemanha -famosas pelas celebrações cristãs do Natal-que obteve a proibição do Papai Noel. Este vinha substituindo a simpática figura do bispo católico São Nicolau, cujo aparecimento na época natalina, distribuindo presentes para as crianças, era um costume multissecular. Visando retornar ao abençoado clima do Natal cristão, tradicional nos lares, a leitura que convidamos o leitor a fazer da presente matéria de capa não poderia ser mais apropriada. Trata-se de excertos selecionados da obra Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo , de Santo Afonso Maria de Ligório, admirável Doutor da Igreja. Com os votos de que ela faça crescer nas almas dos prezados leitores a compreensão, o amor e a gratidão à infinita misericórdia de Deus, que Se fez homem e padeceu por nós, valho-me do ensejo para lhes desejar, bem como às suas famfüas, um Natal cumulado de abundantes graças.

O Brasil vem se destacando no comércio dos produtos agroindustriais. Agora se tornou também o país com o maior superávit comercial, à frente até dos EUA que, embora continuem sendo o maior exportador mundial, passaram à condição de grande importador de alime ntos. Esta é mais uma notável contribuição do campo para o crescimento da economia brasileira, situando-a entre as mai s destacadas do mundo no setor da agroindústria. Dados do Ministério da Agricultura mostram que nos 12 meses encerrados em agosto, o saldo da balança comercial do agronegócio brasileiro alcançou US$ 72 bilhões, resultado de exportações de US$ 88,3 bilhões e importações de US$ 16,3 bilhões. Esse valor é 22,9% maior que o registrado nos 12 meses encerrados em agosto de 201.0, de US$ 58,6 bilhões. Nos 12 meses até setembro, o saldo do agronegócio americano foi de US$ 43,5 bilhões, bem menor do que o brasileiro. Observe-se, porém , que os EUA continuam, como foi dito acima, sendo os maiores exportadores mundiais de produtos agroindustriais . O Departame nto de Agricultura norte-americano estima que as exportações do país alcançaram US$ 137 bilhões em 12 meses, 55% a mais que as exportações brasileiras. (Cfr. "O Estado de S. Paulo" , 8-10-11).

Da porteira para denuo, 205 bilhões A informação é do jornal "Valor" (São Paulo, 13-10-11):

"O governo voltou a reajustar para cima sua estimativa para o valor bruto da produção agrícola (VBP) em 2011 . Agora a previsão é de que um faturamento (da porteira para dentro) das 20 principais culturas atinja R$ 205 bilhões, um

aumento de 12, 1 % em relação ao ano passado. Se for confirmado, este será o maior valor da série histórica, iniciada em 1997".

Preocupante Lemos no blog do jornalista Claudio Humberto: "A AGU (Advocacia Geral da União) recebeu do Palácio do Planalto um levantamento preocupante: Há 1. 700 comunidades quilombolas no País prestes a entrar com recursos judiciais para a posse de terras ". Agindo em surdina as entidades enca rregadas pelo governo para preparar essas "comunidades" as faze m brotar artificialmente, como cogumelos, expul sando milhares de legítimos proprietários (em geral agri c ultores familiares) de suas terras. A Constituição Federal de 1988 reconheceu o direito de propriedade definitiva aos remanescentes das co munidades de quilombos que estejam ocupando suas terras. Para regulamentar o dispositivo Constitucional , o Executivo promulgou o Decreto 4887 /03 , que está cria ndo uma confusão de grandes proporções e efeitos catas trófi cos. Por determinação desse decreto, na prática, os únicos crité rios para o reconhecimento da condição de quilombola e a delimitação das áreas a serem ocupadas por eles, são o da autodefinição e o da própria indicação. Como é faci lmente compree nsível , a Con stituição de 1988 mandou apenas que se reco nhecesse o direito de proRepresentantes de várias comunidades de quilombolas, que reivindicam a regularização das terras nas quais vivem, reúnem-se com o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, Paulo Paim

Em Jesus e Maria,

9:~7 DtRETOR

catolici s mo @te rra.co m.br

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priedade das comunidades de quilombos que estivessem ocupando suas terras. Trata-se tão só de uma questão de regulamentação fundiária. O decreto de Lula extrapolou completamente. Ou seja, passa automaticamente a ter direitos adq uiridos sobre terras alheias quem se declarar afrodescendente e dizer que elas teriam pertencido a seus antepassados. Uma vez que os quilombos em processo de reconhecimento são considerados de propriedade coletiva, eles são absolutamente inconstitucionais. Calcula-se que aparecerão cerca de 5.100 "quilombos" para ocupar 21 milhões de hectares, ou seja, cinco vezes a área do Estado do Rio! Maiol'ia dos que criticam os trai1sgê11icos está mal informada

O engenheiro Francisco Aragão, pesquisador da Embrapa, foi homenageado por outros cientistas no Congresso da Anbio (Associação Nacional de Bio-segurança). Aragão é o responsável pela liberação do feijão transgênico, aprovado pela CNTbio (Comissão Técnica Nacional de Bio-segurança) no dia 15 de setembro. Em 2014 o País terá o primeiro plantio isento de um vírus que provoca a perda de 90 a 210 toneladas de feijão por ano (Cfr. "Folha de S. Paulo", 27-9-11 ). Soja é rnsponsável por seq11estl'O de carbono

"As lavouras de soja capturam mais carbono da atmosfera do que as florestas". A afirmação é do pesquisador da Cooperativa dos Agricultores do Plantio Direto (Cooplantio ), Dirceu Gassen, que por mais de 20 anos desenvolveu pesquisas para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele diz que a fotossíntese da soja é mais

-CATOLICISMO

atuante do que a das árvores, já que as florestas estão em equilíbrio - consumindo e soltando gás carbônico. As plantações de soja, ao contrário, estariam apena consumindo a concentração de carbono. Gassen garante que a agricultu ra não é agente poluidor do meio ambiente, mas sim o contrário, aduzindo que, com a lavoura, todos os anos são produzidas toneladas de biomassa. O pesquisador diz que já existem estudos da Embrapa nesse sentido e que falta maior disseminação dessas informações por parte dos próprios agentes do agronegócio. Ele exemplifica sua tese informando que a cada três toneladas de soja colhida, são geradas mais duas toneladas de palha. "São cinco toneladas de matéria seca por hectare. Então o agricultor está sequestrando 50% desse volume em carbono". Para produzir um quilo de carbono, a planta - na fotossíntese - consome 3,66 kg de CO2. "Em um cerrado ou floresta em equilíbrio, as plantas não aumentam a biomassa, porque as folhas caem, apodrecem, se decompõem, mineralizam, e outra árvore nasce no lugai: A única forma de sequestrar carbono é tirando biomassa e, isso, a soja ou o milho faz, a floresta não, pois ela está em estado de equilíbrio ". Dirceu Gassen comenta que na América do Sul são mais de 40 milhões de hectares m plantações de soja, e que se multiplicarmos a quantidade de carbono sequestrada todos os anos, a conta passará a contar - e muito - a favor do agronegócio, quando a questão for preservação ambiental. "O agricultor vive uma tensão muito grande em termos de instabilidade. O setor precisa divulgar informações que muita gente desconhece. O agricultor é um guardador dos recursos naturais. Nenhuma outra atividade humana pode sequestrar CO2, apenas diminuir a emissão". (Fonte: Associação do Produdores de Soja, 12-10-11). •

Cadastrar cada árvore existente no Brasil? "RENAVAM da madeira" ... * Esta ideia estúrdia foi apresentada pelo relator do Código Florestal no Senado, senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC): a criação de um cadastro de cada árvore existente no País ... O próprio parlamentar apelida a ideia de "Renavam da madeira". Segundo Luiz Henrique, o projeto permitirá a criação de "registros precisos de cada árvore existente no País". De acordo com o texto apresentado à comissão, a medida será útil "para subsidiar a análise da existência e qualidade das florestas do País, em imóveis privados e terras públicas". Se o projeto for aprovado, caberá à União cumprir a tarefa, totalmente inviável e que se presta a toda sorte de "exigências ambientais" absurdas. Esperemos e lutemos para que seja derrubada tal proposta no plenário do Senado ou na volta do projeto à Câmara dos Deputados. (*) RENAVAM (Registro Nacional de Veículos Automotores). Trata-se de

um gigantesco banco de dados que registra toda a vida do veículo desde sua fabricação . O número de identificação de cada veículo é registrado

no DBTRANS interligados em. ~tema

· nal.

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de perigo. A reação deve ser, pelo menos, a de não aceitar esta situação e rezar muito para os católicos na China tornarem-se bom anticorpo que, de dentro, poderá destruir esse vírus comunista que ameaça subjugar o Ocidente cristão. (S.F. -

SP)

Serpentes

B GOG E MAGOG, China e Rússia, um poderio militar e tanto! O Ocidente não perde por esperar, pois, quem alimenta cobras vai ser mordido por elas. (M.C.S.O. -

A outra cara da China

B Em vista do que li na revista deste mês [novembro] sobre a China socialista (artigo e entrevista), não tenho pensado noutra coisa: a perseguição cruel do comunismo chinês contra nossos irmãos católicos. Como será o N atai deles, tendo que comemorar escondidos o Nascime nto do Menino Jesus? Que governo é esse que persegue a Religião daqueles que só desejam seguir os preceitos divinos? Que governo é esse que sequer respeita o mais elementar direito humano? Que governo é esse que trata, até mesmo seu povo, como escravo, criado só para produzir para o Estado? É a cara diabólica daquela nação-máquina! Mas muitos no Brasi l, como em vários outros países, só querem ver a outra cara, aquela que finge sorrir nos oferecendo produtos "baratinhos". E, de nossa parte, por que não incentivar no mundo livre um boicote aos produtos feitos na China? Aliás, em geral pirateados, ordinários com a marca "Made in China" - cuja melhor tradução seria "Mal feito in China" ... (M. F.C. -

Chilw

MG)

e vírus comw1ista

B Pela excelente exposição dos fatos, argumentos lógicos e concatenamento das idéias, verdadeiramente podemos dizer que nos encontramos numa situação

- C A T O L I C ISMO

RJ)

Lá e cá ... B Na China vermelha nenhum empresário pode desenvolver suas atividades sem se submeter inteiramente às ordens do partido único, sem corromper os funcionários do Estado e os quadros dirigentes do partido comunista. Além do mais, pelo sistema de leasing por 70 anos, nada na China pertence verdadeiramente aos particulares, nem a terra, nem as casas. Bom, pelo menos lá os caras não escondem que ão comunistas. Escancarado ... Ao contrário do que acontece por estas bandas, em que marxistas afivelam a máscara de democratas. (J.L. -

PR)

En·os do protestantismo

B Sou estudante do Jº ano do ensino médio em Maringá (PR) e sempre leio a revista Catolicismo , a qual espero ansiosamente todos os meses. Esta semana na escola, durante a aula de religião, uma colega (a única protestante da sala) começou a falar que nós católicos adoramos imagens, que rezamos para pessoas mortas e expôs quase todas as objeções que encontrei, respondidas na revista. Na hora eu e outros alunos debatemos o tema por muito tempo com ela. Encontrei as respostas para silenciar as doutrinas errôneas desses protestantes. Agrade-

ço- lhes pela matéria bem feita e completa. Rezo pelos Srs., para que Nossa Senhora ilumine seus corações. (C.G.F.H. -

PR)

Não basta lamentai'

B Nada de meias conversas! Devemos protestar publicamente contra essa infâmia direcionada aos católicos chineses. Porque essa agressão é inominável, é basicamente contra a Igreja católica! Afinal de contas, nós católicos, vamos só ficar contando os sacrifícios dos mártires na China? Ou vamos fazer algo mais positivo para combater isso? Foi só com lamentos que libertamos em tempos passados a Terra Santa do jugo dos muçulmanos? (J .C. -

MG)

Patrão estatal e tirano

B Na China, na realidade, não existe propriedade privada, o governo domina tudo. As empresas ocidentais, que lá colocaram seus bilhões de dólares, sofrem um estrangulamento do governo chinês. Qualquer empresa que lá se estabelece não consegue evitar a pirataria de segredos industriais e depois o aparecimento de firmas chinesas suas concorrentes ... (L.C. -

SP)

"Indignados" 011 prol'atJa(IOl'eS?

B "Indignados" contra Nossa Senhora? Contra a Religião? Esta indignação é a do demônio, solto no m io desses "indignados", que e mani festaram na Itália invadindo igrejas qu ·brando imagens sagrada . D v mos 'x ternar nossa santa e v rd acl ira ind i •nação contra e se. " in li nados" su ·rílcgos. Precisamo clcsagrav~u· o sacri l gio cometido em Roma contra Nossa Senhora, como seus queridos filhos! (J .L.A. -

MG)

Autê11tico ensil10 católico

B Excelente artigo sobre o nsino católico no Brasil em sécu los passados!

Escrevam mais sobre esse assunto. Os jornais da atualidade são obrigados a reconhecer o fracasso do ensino laical (promovido pelos críticos da educação religiosa): crimes, comportamento anti-social, vandalismo, drogas, sexo, desrespeito, ignorância, etc. (M.C. -

SP)

Corngem católica

B No artigo [Batalha de Jwo lima e heroísmo católico] atestamos numa outra época a existência de sacerdotes verdadeiramente católicos e heróis. Hoje em dia, fazem-nos faltam tais exemplos de coragem. Aquela missa celebrada no campo de batalha deve ter sido realmente muito emocionante. Vou, a partir de hoje, ver a famosa e histórica foto sob outro ângulo, pois desconhecia os fatos narrados no artigo, apesar de ter lido algo sobre a história daquela foto. (K.H. -

RS)

Véu e chapéu

B Eu já escrevi sobre o uso de chapéu para nós, mulheres. Lembro-me quando comecei a frequentar a missa tridentina: uma das primeiras coisas com que tomei contato, além da beleza da liturgia tradicional, foi o uso do véu. Ele simboliza uma série de realidades, dentre elas a modéstia, humildade, recato, etc. Nunca mais deixei de usá-lo. Mas, com o tempo - e me interessando pelo tema - aprendi que, na realidade, o véu é somente um símbolo de um a realidade, de um preceito bíblico (paulino, aliás) que considera que é desonroso à mulher rezar na igreja de cabeça descoberta. E na tradição que recebemos, o que era mais emblemático disso era o véu. Havia - e há - outras maneiras de se fazer o mesmo com outros acessórios do vestuário. O uso de chapéu, boina ou gorro também atende a esse preceito bíblico. Certa vez, fui à igreja de chapéu e uma senhora me abor-

dou: "Por que motivo você não tira o chapéu na igreja?". Respondi que não o tirava pelo mesmo motivo que ela usava seu véu. Ela se espantou, achando que era desrespeito usar chapéu na igreja. Expliquei-lhe que o mandamento só estabelece que cubramos nossas cabeças. Na igreja podemos usar outro adorno que nos cubra a cabeça. E que os homens devem tirar por respeito - qualquer adorno que usem para cobrir a cabeça pelo mesmo motivo: temor a Deus e respeito pelas coisas santas. (J.F. -

RJ)

"Maquiadores" petistas

B Os marqueteiros petistas que atuaram no Peru por ocasião da eleição de Ollanta Humala deveriam assumir que lá trabalharam como se tivessem a profissão de "maquiadores". Eles maquiaram bem o Humala para enganar e vencer a eleição no Peru. Só que depois não divulgaram que, na tomada de posse, o novo presidente prestou seu juramento não à Constituição vigente, mas à anterior, mais conforme ao figurino chavista. (J.A.A. -

RJ)

FRASES SELEC IO NADAS

"Libertou sua cidade. no cfia áe hoje, manifestando sua majestaáe ao povo pecador, não só fowuío nascer o Fiffw, mas também áecorando e acfonuuufo com seus milagres o cfia,

a hora e o tempo cfa. Nativuúufe" sllo lsoaveV\,tl,{Y-Cl

"O Menino Jesus é o pequeno, com toáo o encanto

áo granáe

e áo majestoso" PLLV\-LO Cor-r-êa ote o LLVÚY-Cl

La Salette

B São estranhas para mim a falta de conhecimento e pouca divulgação da aparição de Nossa Senhora de la Salette, bem como da vida dos videntes. Algum vidente terá sofrido e sido mais humilhado de que Maximiliano? Pouco se sabe sobre peregrinações a la Salette. O Vaticano reconhece a aparição? Não se divulga nem a situação geográfica na qual ocorreu a aparição. (L.A. -

"Se Jesus Cristo se deu toáo a caáa ftomem, será muito para o fumtem áar-se toáo a Jesus Cristo?"

CE)

Nota da redação: A respeito deste tema, recomendamos extensas matérias publicadas em Catolicismo (setembro e novembro/2006). E também o seguinte blog: aparicaodelasalette.blogspot.com

Cartas, fax ou e-mails: enviar a .os endereços

que figuram nc:a página 4 desta edjcjão.

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., ! ! Monsenhor JOSÉ LUIZ VIU.AC

Pergunta - Mons. José Luiz: Tenho uma pergunta a lhe fazer. Há anos que vou à santa Missa todos os dias e faço a comunhão, e vou com muito prazer (mesmo chovendo canivetes). Eu tenho um pecado de omissão na consciência que não consigo expurgar, mesmo com as repetidas

confissões. Há uma barreira intransponível devido às circunstâncias. Essas santas Missas e comunhões têm, assim mesmo, valor ou as faço em estado de pecado grave? Gostaria que me orientasse nesse sentido, pois os sacerdotes não me condenam por essa omissão, visto que há em mim um forte bloqueio sentimental. Mas, como fica, então, a absolvição, se continuo no mesmo pecado? Resposta - O consulente, compreen ivelmente, expõe o seu caso de consciência em termos reservados e inexplíci tos - como convém uma vez que está se dirigindo a um veículo de imprensa e pede uma resposta que tornará pública a sua consulta. Com isto, porém, não fica clara a natureza do que ele chama seu "pecado de omissão". Tanto mais quanto diz não resolver esse estado de omissão por causa de " um forte bloqueio sentimental", que não especifica. Então a resposta també m só pode ser dada em termos genéricos: se a omissão corres ponde a uma obrigação leve, o pecado de omissão é venial, e continuará leve, por mais que nele persista. Po-

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rém, se a omissão é grave, há obrigação de saldá-la o mais cedo possível; passado um tempo razoável , a persistência nela, salvo no caso de uma barreira realmente intransponível, constitui pecado mortal , o que impede a recepção da sagrada comunhão. Se os acerdotes com quem o senhor se tem confessado não o condenam por essa omissão, pode ser que eles avaliam que ela é leve; ou pode ser que considerem que o "forte bloqueio sentimental"

que o senhor alega, constitui realmente para o senhor "uma barreira intransponível". E assim julgam poder concederlhe um prazo maior, esperando que o senhor vença esse "bloqueio sentimental". É-me impossível emitir um juízo válido sem conhecer os pormenores do caso. Tanto mais quanto isso já se estende por anos, durante os quais o senhor manteve a comunhão diária e se tem confessado frequentemente. Só me cabe, portanto, aconselhá-lo a recorrer à oração

humilde diante do Santíssimo Sacramento, ou de uma imagem de Nossa Senhora, para que Ela o ajude a vencer esse pernicioso "b lo queio sentimental".

Conllsslío bem feita: corajosa Jmmilda<le Falei de humildade. Com efeito, o demônio nos tenta com frequência a não admitir as nossas culpas ou a diminuí-las diante do confessor. Procedemos assim para não ferir o nosso orgulho. É preciso, então, pedir a Nossa Senhora uma corajosa humildade para nos olharmos de frente e declararmos na Confissão o verdadeiro estado de nossa alma. Se o fizermos, os obstáculos aparentemente intranspo níveis tornam -se pequenos e a paz

retorna às nossas almas. Quantas vezes não sentimos a suavidade que advém de uma confissão bem feita? Um "bloqueio sentimental" pode resultar, por exemplo, de não termos a coragem de procurar uma pessoa que nos tratou mal , mas a quem devemos um favor que seria preciso agradecer; ou perdoar um parente ou amigo ingrato, que nos ofendeu, mas com o qual seria preciso nos reconciliar, para o bem da vida de família ou a normalidade de nossas relações sociais. A receita, mais uma vez, é um ato de humildade. Lembremo-nos da palavra de Nosso Senhor no Evangelho: "Quem se exalta será humilhado; quem se humilha será exaltado" (Lc 14,11). Note o leitor que estou "atirando no escuro", e pode bem ser que não esteja atin-

gindo o alvo. E, po1tanto, as hipóteses que estou levantando nada tenham a ver com o seu caso. É uma tentativa de fazer bem à sua alma e à de nossos leitores. Mas a graça de Deus pode se servir desses "conselhos fora de foco" para falar no interior de sua alma e apontar-lhe o caminho adequado para remover a tal "barreira intransponível".

Omissões de que pouco se fala A consulta deste missivista nos dá op0ttunidade de lembrar um ponto muito importante da doutrina católica, sobre o qual pouco se fala: o pecado de omissão. A maior de todas as omissões em nossos dias é certamente o esquecimento de Deus. Ele criou o Universo e nos preparou o planeta Terra, com todos os recursos necessários para aqui vivermos de acordo com a sua Lei, e depois gozarmos de sua Presença por toda a eternidade. Em vez de Lhe agradecermos por esse dom, muitos viram as costas para Deus, fazem pouco caso de sua Lei, infringemna petulantemente e até querem instaurar nesta Terra um modo de vida contrário aos mais comezinhos princípios das Tábuas da Lei. É um estado de revolta ostensiva contra Deus, do qual nossa revista, Catolicismo, tem tratado continuamente. Outro ponto: o Filho de Deus se fez homem e habitou entre nós para nos remir do pecado que herdamos de Adão e Eva. Para isso suportou tormentos atrozes, superiores a qualquer outro tormento sofrido por um ser humano nesta Terra. Quem se

lembra de O louvar e agradecer por nos ter livrado do fogo do inferno e nos ter abe1to o caminho para o Céu? Ademais, fundou a Santa Igreja para nos conduzir nesse caminho, e nos reconduzir a Ele quando nos extraviamos. Para isso concedeu aos Apóstolos e seus sucessores, o poder de perdoar os pecados em seu nome e administrar os demais Sacramentos, além de nos transmitir os seus ensinamentos para alcançarmos a salvação eterna. Quantos, em vez de louvar a Santa Igreja por isso, não se levantam contra ela e querem até extirpá-la da face da Terra? Não o conseguirão, porém, pois Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu que estat"ia conosco até o último dia e as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (cfr. Mt 16,18). E assim, muitas outras omissões há, ele diversas naturezas, que cometemos por dureza de coração e/ou superficialidade de espírito. Por exemplo, esquecendo de dizer uma simples palavra de afeto e gratidão àqueles que estão à nossa volta, a que,rn devemos mil ajudas; ou prestando pouca atenção àqueles desvalidos autênticos (saibamos distingui-los dos meliantes ... ) com os quais cruzamos pela rua, a quem poderíamos ajudar com uma esmola mate.ria! e mesmo uma prudente e oportuna palavra de consolo ou de orientação. Não é esta uma omissão clespicienda, pois dela seremos cobrados no Juízo do Último Dia, conforme a impressionante e terrível descrição feita pelo próprio Fi-

lho de Deus, como consta do evangelho de São Mateus: "Quando pois vier o Filho do homem na sua majestade, e todos os anjos com Ele, então se sentará sobre o trono de sua majestade; e serão todas as gentes congregadas diante d'Ele, e separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E porá as ovelhas à sua direita, e os cabritos à esquerda. (... ) "Então dirá também aos que estiverem à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fo go eterno, que foi preparado para o demônio e os seus anjos; porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me recolhestes; esta va nu e não me vestistes; e,~fermo e no cárcere e não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto ou sequioso, ou peregrino, ou nu, ou enfermo, ou no cárcere e não te assistimos ? Então lhes responderá: Na verdade vos digo: Todas as vezes que não o fizestes a um destes mais pequeninos, a Mim não o fizestes. E estes irão para o suplício eterno; e os justos para a vida eterna" (Mt 25,31-33; 41-46). Se o prezado consulente tiver estas grandes perspectivas diante dos olhos, certamente encontrará forças para superar os obstáculos que agora considera intransponíveis para saldar o pecado de omissão que pe1turba a tranquilidade de sua vida sacramental e de união com Deus. • E-mail para o autor:

catolicismo@terra.com.br ,r

CATOLICISMO

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A REALIDADE CONCISAMENTE Assassinado um cristão no mundo a cada 5 minutos 105 mil cristãos são mortos por ano no mundo, por causa de sua fé- um assassinato a cada cinco minutos. A impressionante cifra esteve no centro do simpósio realizado em Roma pela associação Luci sull'Est, na Aula Magna da Pontifícia Universidade Lateranense [foto]. Esta associação promove há 20 anos os valores básicos da civilização cristã nos países que foram subjugados pela ditadura comunista. "Desde Jesus Cristo até o ano 2000 houve 70 milhões de martírios de cristãos, dos quais 45 milhões só no século XX", segundo estatística apresentada na exposição de David Barrett. Por sua vez, Mons. Luigi Negri, bispo de San MarinoMontefeltro, ressaltou que "no martírio dos cristãos se man(festa de um modo extraordinário o poder do príncipe das trevas". •

China comunista: mais uma intoxica~ão em massa

E

m Shangzu, região autônoma de Xinjiang, oeste da China, 11 pessoas morreram envenenadas com anticongelante altamente tóxico, segundo a agência oficial Xinhua. 120 pessoas foram hospitalizadas pelo mesmo motivo. A substância tóxica mortal seria o etilenglicol (usado em motores e solventes) mi sturado com vinagre para consumo humano. O governo comunista atribuiu a culpa ao Ramadã islâmico, que obriga o jejum só durante o dia, enquanto à noite os muçulmanos se reúnem para comilanças. Mas as contínuas intoxicações em massa revelam a existência de uma população tratada como se fosse constituída por animais destinados a trabalhar para o Estado materialista. •

ara os escritores britânicos Peter Oborne e France Weaver, poucos grupos tiveram uma vitória moral tão completa e esmagadora quanto os conservadores eurocéticos de hoje. "Eles previram com uma precisão e uma lucidez quase-profética como e por que o euro iria provocar a devastação financeira e o afundamen_to das sociedades. Simultaneamente, os pró-europeistas estão perfeitamente knock-out". Oborne e Weaver dedicaram densas e longas colunas para mostrar como diários econômicos a exemplo do "Fi nancial Times" - tido como oráculo infalível da economia livre - deram as costas ao público, entregaram a redação a jornalistas de esquerda e perseguiram os antieuropeístas clarividentes. Agora seria justo que apresentassem suas contas, concluíram os referidos escritores. •

CATOLICISMO

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Na Noruega, multiplica~ão de ferozes ursos brancos urso branco é belo, mas feroz . Em Longyearbyen, capital do arquipélago de Svalbard, Noruega, um deles invadiu um acampamento de estudantes, matando um e ferindo gravemente ouu·os quatro . O vice-governador de Svalbard , Lars Alfheim, tentou tranquilizar os turistas dizendo que "os ataques mais comuns são a cientistas", como se isso afastasse o temor da população. Os ursosbrancos constituem 'espécie protegida' e proliferam . Um deles entrou no aeroporto local enquanto o governo alertava contra o ingresso dos ursos em zona urbana. Essas feras protegidas já são 3.000 em Svalbard, que conta apenas 2.000 habitantes. Mas estes não partilham o sentimentalismo tolo da propaganda ambientalista. •

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África subsaariana repudia o homossexualismo

N

a África subsaariana, a prática homossexual tem sido judiciosamente reprovada por etnias locais. Ajustiça de Malavi, por exemplo, para "escarmento e como forma de evitar que outras pessoas imitem esse horrível exemplo", condenou uma pantomima de cerimônia de casamento organ izada por um casal homossexual. Isso valeu ao país injustos ataques de órgãos da mídia internacional. O Parlamento do Congo começou em 2010 a debater a penalização da homossexualidade. Na Naimbia a sodomia é ilegal e na Botsuana a lei proíbe "manter contatos sexuais contra a ordem da natureza". E o governo de Angola recusou as credenciais de um embaixador israelense assumidamente homossexual. •

Feiras de Natal: maravilhoso religioso-temporal

J\ luz sobrenatural de Belém , o cântico t ldos anjos, a alegria ingênua e enlevada dos pastores, o maravilhamento dos três Reis do Oriente revivem nas feiras natalinas no mundo alemão. Elas começam no Advento, período litúrgico de preparação do Natal. Para competir com o bolo de quatro toneladas e 14 metros de altura (o Christstollen) de Dresden, a cidade de Colônia realiza seis feiras natalinas que atraem cerca de dois milhões de pessoas. Estas encontram porcos assados em espetos de madeira, gente envergando roupas longas, sapatos de couro de ovelha e chapéus medievais. Se alguém julga estranho o ambiente , a resposta é: "O Sr. está num mercado de Natal medieval!". Em ambientes que confortam a fé e mantêm seculares tradições, as pessoas degustam comidas e bebidas da época em que a Religião Católica impregnava inteiramente a vida e os costumes das populações na Cristandade medieval. Presépio: criação de São Francisco de Assis nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo é comemorado pelos cristãos desde a época das catacumbas. Apartir do século IV a manjedoura de Belém passou a ser exposta na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, num relicário de ouro e cristal. A palavra presépio provém do nome litúrgico da festa (ad praecepe) , que significa em volta do berço. Em 1223, São Francisco de Assis montou na igreja de Grecchio, na Itália, o primeiro presépio com personagens vivos, entre os quais figuram o boi, o burrico e as ovelhas. Aldeões representavam os santos de Belém . Desde então, presépios de todos os tipos são montados no mundo católico.

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Eurocéticos: menosprezados ontem, profetas hoje

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Aranha monstruosa, absurdo símbolo de ''mãe"!

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m Zurique, Suíça, foi exposta uma assustadora aranha de metal chamada acintosamente de "Mãe". De 10 metros de altura e 11 toneladas, o aracnídeo de aço é obra da falecida artista contemporânea Louise Bourgeois, que o apresenta como uma vingança contra seu pai e um tJ.ibuto à sua mãe ... O público e a imprensa conservadora da Suíça apontaram uma grosseira contradição na concepção da artista: a aranha é um inseto venenoso que pode matar, e portanto a comparação não é elogiosa, e sim ofensiva a uma mãe. O laicismo deseja proibir a exibição em local público de crucifixos ou imagens religiosas cristãs, mas favorece a exposição de "obras de arte" desse gênero, que injuriam até o sagrado e universal respeito à maternidade. •

TV, um problema de saúde pública, diz especialista ara o Prof. Frederick Zimmerman, da Universidade da Califórnia, a televisão tornou-se um problema de saúde pública. Os bebês são abandonados regularmente diante da tela quando atingem nove meses de vida, numa fase em que são incapazes de compreender aquilo que vêem. Esse costume impede o desenvolvimento de capacidades fundamentais como a atenção, a linguagem e o aprendizado da leitura e da matemática. •

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n N ELSON

R.

FRAGELu

"Quem é aquela senhora de chapéu?", perguntou-me um a mi go durante a Mi ssa de Réq u ie m, celebrada na Paulan er Kirche, no centro de Viena. Era a assistente de um professor falecido. Seu chapéu de cor negra, circundado por uma faixa púrpura, realçava a dor pelo mestre perdido. As largas abas sombreavam delicadamente seu rosto, separando-a do ambiente para melhor recolher-se em sua dor. Naquela solenidade religiosa ela parecia aureolada pelo sofri mento. E sobre essa auréola de luto concentravam-se os olhares contristados. A crescente igualdade entre os sexos a chamada emancipação da mulher - retirou os chapéus dos sembl antes fe mininos. É uma das muitas perdas destes tempos modernos, pois eles realçavam a di gnidade feminina, dando a impressão de amparar sua delicadeza. *

N o artigo anterior, oh~rva_... 'hos o chapéu como símbolo de d'gnidade; ·analisamo-lo· agor ,_çomo expressão de .boas maneiras ede como ele entrou em dfX'ndência antffl ,·.de desapa,recer.

CATOLICISMO

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O juízo estético-moral suscitado se prende ao estil o do chapéu escolhido por quem o usa. Modesto? Pretensioso? De mau gosto? Dentre os modelos con hecidos, cada estilo tem um caráter próprio ligado à forma, tamanho, material, cor, orname nto. E o caráte r do chapéu fala do caráter de quem o usa. Os estil os variam segundo as circunstâncias da vida civi1. As necessidades do quotidi ano, as festas, as ocas iõe fú nebres ou de ga la, etc. - fizeram surg ir ao longo dos séc ulos modelos variadíssimos. E estes ex prime m, do ponto de vista moral, a im agem que homens e senhoras quiseram dar de si ao ambiente frequentado. A profissão, o prestígio, a condi ção soc ial, se espelhava m mais ou me nos autenti camente pela fo rma do chapéu. Sobretudo a partir do século XVII, os modelos passaram a refletir menos a origem e a dignidade dos que o usava m, e bem mais uma concepção político-social da sociedade ditada pela moda.

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O chapéu chama a atenção de modo natural e irresistível, antes mesmo que a ele se possa assoc iar um juízo estéticomoral. De um modo natural, si m, pois ele está logo ac ima do rosto, parte do corpo - se não a mais visível - certamente a que mais se procura ver. Em uma pessoa nada atrai mais o olhar do que o rosto; nele se conhece alguém, seus traços forma m fisionomias e estas revelam o espú-ito e seus estados. Ele suscita respeito e nele não se toca a não ser com cuidado, se não com reverência. Ao sombreá- lo o chapéu se inclui neste ponto de mira dos olhares, modificando fis ionomias, manifestando estados de espfrito, acentuando a mentalidade, definindo um caráter. Enquanto peça de vestuário o chapéu foi excogitado para sombrear, mas na real idade quanta luz ele projeta sobre os atributos pessoais! Tomemos como exemplo o chapéu eclesiástico clássico: na simpli cidade de suas for mas e na unifo rmidade de seu negrume ele irradia a seriedade do estado religioso, suscitando reverência. São Pio X quase sempre o portava, e em sua despretensiosa simpli cidade ele acentuava, na expressão sobrenatural do mais alto Hierarca deste mundo, sua ime nsa dignidade [foto ao lado]. Também o chapéu ec lesiástico modesto e negro, portado por um humilde pároco de aldeia, "leva a discernir, através da aparência sensível, algo que de si não é sensível, mas espiritual " (segu ndo Plínio Corrêa de Oliveira). Deus está ali representado.

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Prioridade da atuação em defesa da família

Exemplifiquemos com o chapéu de abas largas, encimado por uma pluma [foto ao lado] , tal como o modelo usado pelos Três Mosquete iros e outros dignitários do Ancien Régime. As abas sugeriam proteção e generosidade; a pluma, levemente subindo às alturas, elegante em seus movimentos, trazi a ao espírito a mobilidade de pensamento e ideais transcendentes, próprios ao cavalheiri smo do tempo. O tom de uma conversa entre cavalheiros era percebido pelo movimento das plumas, ora oscilantes e nervosas, ora imóveis e como que reflexivas. Quando senhoras se apresentavam, os homens tiravam os chapéus, e as plumas em circunvoluções harmônicas davam a nota e a medida da cortes ia segundo o padrão social das senhoras. O chapéu era um dos elementos de expressão das boas maneiras. Regras determinavam as circunstâncias e os modos de descobrir-se em sociedade, honrando a cada um segundo sua posição.

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A Revolução Francesa adotou estilos ao gosto da filosofia iluminista, igualitária e utilitária. Seu modelo [foto abaixo] continha uma renúncia ao esplendor. Ele fig urava a brutal ruptura com o passado. A ausência de abas deixava patente o confinamento das idéias e a revolta contra as regras seculares de bom gosto. Em vez de plumas, um feixe de cereai s signifi cava a primazia do útil sobre o maravi lhoso. Sob tais símbolos, cabeças em efervescência infe rnal mandaram outras ao cadafalso, faze ndo com que tantas delas, impávidas e elegantes como as plumas de seus chapéus, rolassem implacavelmente sob a fria lâmina da guilhotina. Durante a Revolução Francesa apareceram os primeiros chapéus de copa alta e abas reduzidas. Eram inspirados no "povo", em nome de quem se fazia a Revolução, e foram os precursores da cartola, que dominaria a moda masculina no século XIX. Na França havia term inado a douceur de vivre - a cartola e o traje de quem a portava, geralmente de cor negra, exprimiam essa tristeza. Embora tivessem, políticos e embaixadores, nobres e indu striais que assim trajavam a aparência sombri a de agentes funerários, a cartola conservava ainda elegância e grav idade. Sua copa, elevada, exigia movimentos solenes e compassados. A altura da cartola é majestosa e os reflexos de sua seda chegavam quase a substituir os movimentos li geiros das plumas de outrora. Mas nelas já não estava presente a flexi bilidade, substituída pela altura cilíndrica e hirta. Da pluma ao ci lindro passou-se da elegância do Ancien Rég ime à objetividade geométrica do século indu stria l.

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P rofessor da Universidade de Coimbra denuncia incoerência nas alegações propugnadas por movimentos homossexuais e insta a sociedade a se n1anifestar claramente a filn de evitar o desaparecimento da noção de família

Os homens deixaram qua e totalmente as cartolas e as mulheres seus belos chapéus. "Não têm utilidade", "passaram de moda", "não têm mais lugar na vida moderna"- é a cantilena ouvida, ao se fa lar de chapéus. Em nome da funcionalidade nem se nota a perda e m dignidade trazida pelo desaparec im e nto dos chapé us. Ter ia m ficado oca as cabeças? •

e passagem pela capital paulista, em setembro último, o Prof. David Magalhães proferiu esclarecedora e oportuna conferência para membros e simpatizantes do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira (vide Catolicismo, outubro de 2011 ). Professor da Universidade de Coimbra, autoridade no campo da História do Direito, mestre e doutor em Ciências Jurídico-Históricas, detentor de diversos prêmios acadêmicos em Portugal, autor de vários obras e articulista em prestigiosas publicações, o Dr. David Magalhães concedeu esta entrevista ao colaborador de Catolicismo Paulo Roberto Campos. O jovem mestre de Coimbra esclarece quais são os objetivos visados nessas tentativas de aprovação do pseudo-casamento entre pessoas do mesmo sexo e de adoção de crianças por duplas de homossexuais: no fundo, uma radical transformação social, eliminando costumes e culturas tradicionais, a fim de destruir a família. Para alcançar tal objetivo, viola-se até o que as leis constitucionais estabelecem sobre a instituição familiar. *

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Catolicismo - Por que o movimento homossexual procura hoje alegar a existência na Antiguidade de "casamento" entre pessoas do mesmo sexo?

Prof. Magalllãcs:

''A. tl'adição recebida pelos 01'de11ame11tos jul'Ídicos é a do casame11to como u11ião e11trn 110mem e mull1e1: Nunca as Co11stituições pressupuseram outl'a coisa"

Prof. Davitl Magalhães - Em pri meiro lugar, quero di zer que concedo com muito gosto esta entrevista à revista Catolicismo , prestigiosa publicação que ajuda a perpetuar o importantíss imo legado doutrinal do Sr. Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Quanto à concreta pergunta que me é colocada, parece-me óbv io que a alegação da ex istência de um suposto precedente de "casamento" homossex ual na Antiguidade deve-se, antes de mais, a um desejo de falsear os dados cio problema e, ao mesmo tempo, de rebaixar o cristianismo. Por um lado, tenta-se encontrar uma leg itimação hi stórica dessa figura mostrando-a como algo natural e que apenas a influência da Religião cristã fez peri gar. No fundo, a argumentação é esta, e perdoe-se a ironia: a noção de casamento sempre abrangera a união de pessoas do mesmo sexo, os preconceitos cristãos é que teriam posto em causa tão respeitável tradição ... Claro que, concomitante a esse argumento está um rebaixamento do cristianismo: a ordem natural seria a que supostamente vigorava no pagani smo e que os preconceituosos e intolerantes cristãos vieram adulterar. Catolicismo - Na época da Roma imperial, as leis eram taxativas em condenar a união homossexual?

Prof. Davitl Magalhães -

Por muitos relatos

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que nos cheguem de práticas homossexuais neshaveria de seguir regra dife rente. Faria algum ses tempos, a verdade é que elas nunca tiveram sentido o concubinato ter de ser heterossexual guarid a na orde m jurídi ca da R oma Anti ga. e o casamento poder ser entre dois homens ou Nenhuma fo nte jurídica as apro vou e, pelo conduas mulheres? Não se dava relevo às uni ões trário, algumas condenaram-na. Apesar de o seu homossexuais estáveis, mas reconhec iam-se teor não ser diretamente conhecido, a lex Scanmatrim ô nios e ntre pessoas do mesmo sexo? tinia, ainda da é poca re publi cana (e, Responder afirmativamente é absurdo. portanto, muito anterior à penetração do Repare-se que o melhor que os decristi ani smo) poderá ter punido o hoCODEX fe nsores do reconhecimento de um sumossexualismo - e, portanto, qualquer p os to "casame nto" ho mosse xu al no união e ntre pessoas do mesmo sexo. Dire ito Romano co nseguem arra nj ar CVM PERPETVIS Ademais, uma le i imperial de 342, reCOMM E NTARIIS são alguns relatos literários de rituais ferida no Codex Theodosianus proibi a, OBI GOTIIOF R EDI nupciais entre home ns. Viri Scn:xorii &: lurifêonfulri huiut sob pena de morte, que os homens se Ora, além de serem esses rela tos fttuh aimij. Pf. t~I ITlV TVll ( H tl.0 11: UI O«,IA .\( C\' A.TU) casassem co mo se fosse m mulheres; o profunda mente críticos e satirizarem ( ( 1 ' • que aponta notoriamente para uma se,W,.-~~:-~?.:!.:T'l'fl,f4,;, impiedosame nte os interveni entes, a veríss im a co nde nação das uniões de OPV ' P OSTH MVM , moderna ro manística entende pacificaDIY IN 'ºªº IT SC HO LA DfiSIDl!aArV~, índole ho mossexual. • • , 1 mente que a mera prática de cerimôni••••• .,. Jtror• ""''º"" ,.,,,.,.,,"'" ..1Hf'lt'•11•au .,.,__,.; Uma co isa é certa: nunca se recoas nupciais não era sinônimo de ex isTOM VS nheceu esse tipo de união, mesmo dutência de matrimônio. No Direito Rorante o pagani smo. mano o casa mento dependia, sim, da vo ntade, do acordo em estar casado, Catolicismo - Os textos jurídicos do indepe ndente mente de quaisquer fo rDireito Romano clássico estabelecem malidades ou ritos. E as fontes mostram claramente que por matrimônio deveque essa vontade apenas era reconhese considerar apenas a união entre cida entre um homem e uma mulher. um homem e uma mulher? Portanto, uma cerimônia " nupcial" Prof. David Magalhães - Absolutaentre pessoas do mesmo sexo não time nte. A definições de matrimôni o nha qualquer valor jurídico, não pa presentes do Dire ito Roma no (a do Disando de uma farsa. gesto e a posteri or, das In stitui ções de Justiniano) são explícitas ao referire m Catolicismo - O que o Sr. pensa a à união de um ho mem e de uma mulher. Só isto O Codex Theodosiarespeito da aprovação em diversos países do nus proibia, sob acabaria com qualquer dúvida! "casamento" homossexual por via judicial? pena de morte, que Mas não fi quemos por aí. Sem querer ser Prof. David Magalhães - Vejo esse fe nômeno os homens se exaustivo, pode m convocar-se vari adíss imos com a mais profunda preocupação. A tradição jucasassem como se arg umentos que demonstra m inapelavelmente fossem mulheres rídica recebida pelos ordenamentos jurídicos cique o Dire ito Romano apenas considerou como vis e constitucionais do Ocidente é a do casam nmatrimônio a união entre o homem e a mulher. to como união entre homem e mulher. Nu n a a Todas as fo ntes apontam nesse sentido. Constituições pressupuseram outra coisa. Por exempl o, os cerimo niais e a prática soQuando, em países como a Áfri ca do ui ou o "Uma clecisão (a cial de que se poderi a inferir a ex istência de Canadá, os tribunais entenderam que o " asamendo STF do Brasil) matrimôni o pressupõem a uni ão entre pessoas to" homossexual era constitucionalmente imposque viola a Consde sexos dife rentes. to, esqueceram toda a base civilizacional qu está tituição brasileiTambém a capacidade jurídica de contrair por detrás da figura do matrimôni o e qu o Direira, que é absolucasa mento, que era reco nhec ida aos c idadãos to sempre tomou como adquirida. No fundo, não tamente explícita livres, o chamado "conubium", é definid o como quiseram aplicar a lei, mas procecl r a transfor"o direito de casar com uma esposa segundo o quanclo se r efer e mações sociais, o que viola o princíp io da s paraà ,mião estável direito romano". ção de poderes e converte o poder j udi ial nu ma entl'e homem e Mes mo a mera união estável - o "conc ubiespécie de Leviatã todo poder soq ue, sem qualmulhe1 '" natus" - partia sempre de uma li gação entre quer legitimação democráli ca u ·ivili za ional, um homem e uma mulher, embora sem intenfaz e desfaz culturas e sociedades. ção de constituição de matrimôni o. Ora, se o mero concubinato só era admitido nessas cirCatolicismo - Qual é o seu parecer sobre a cunstâncias, é evidente q ue o matrimôni o não decisão do Supremo Tribunal Federal no Bra-

ODOSIANVS

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CATOLICISMO

ti

sil, em 5 de maio deste ano, reconhecendo a união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar?

Prof. David Magalhães- - Co m todo o respeito - e é muito - pe los Mini stros que a tomara m, trata-se de uma decisão que viola a letra e o esp íri to da Constitui ção bras ile ira, que é abso lutamente explícita qua ndo se refere à uni ão estáve l entre homem e mulher. Acresce que fo i clara a intenção da Assembleia Nacional Constituinte do Brasil de afastar a tutela de uniões homossexuais. Se assim não fosse, teria mantido a formulação do art. 297 do Substitutivo Cabral l que, na sua pureza li teral, poderia abranger esse tipo de situações, como na altura muito bem aleitou o Sr. Prof. Plínio Corrêa de Ol iveira, na página 135 do seu Projeto de Constituição Angustia o País. E a verdade é que os constituintes abandonaram essa solução. Mas creio q ue a decisão, apesar de juridicamente errada e extremamente peri gosa para a vida política e social brasileira, não tem o alcance que muitos lh e quere m dar. Na verdade, o legislador ordinário brasileiro, no art. 1723 do Código C ivil , estabelece que a união estável se constitui entre homem e mulher. Esse preceito exclui li minarmente qualquer reconhecimento legislativo da união homossexual . Portanto, havendo uma pronúncia legislativa indiscutível sobre a matéria, o Supremo Tribunal Federal , mesmo que a declare contrária à Constituição, não pode, pura e simplesmente, substi tuíla por uma di ciplina que ache aceitada.

Supremo Tribunal Federal (STF)

A norma até poderia ser inconstitucio nal, mas ex iste ! Interpretá-la de acordo com a Constituição te m um limite inultra passável: a sua letra e a finalidade que presidiu à sua elaboração. Se estas reve lam inapelave lmente uma solução inconstitucional, o poder judicial não pode interpretar às avessas o di spos iti vo legal. Tal j á não seria interpretar, mas legislar. E legislar não é uma fun ção dos tribunais. Este é um entend imento perfe itamente pacífico na doutrina constituciona l. Por exemplo, o Sr. Mini stro Gilm ar Mendes ensina-o na sua obra Jurisdição Constitucional. Não acredito que o Supre mo qui sesse deitar para a lata do li xo estes dados adquiridos pela ciê ncia do direito e arvorar-se e m legislado r. Portanto, toda a decisão de 5 de maio tem de ser lida e m consonância com esses pressupostos científicos fundamentais. Quando o Ilustre Re lator da dec isão refere a "interpretação conf orme à Constituição" do art. 1723, ele certamente remete para o que unanime mente se entende como tal. O que faz com que a pronúncia de inco nstitucionalidade não possa ser acompanhada de um "colocar do avesso" aquele arti go. O reconhec ime nto da união homossexual determinado pelo STF terá ele ser fruto de outra intervenção legislativa. Catolicismo - Então o Sr. julga que tal decisão poderia ser revertida? Como?

"O pocler juclicial não pocle interpretai' às a vessas o clispositivo legal. 1'al não seria h1te1preta1; mas Jegislm: E legislar não é uma função dos tribunais "

Prof. David Magalhães - Log icamente que pode ser revertida. Em primeiro lugar através de uma revi são da Constituição que ex plicite (ainda mais .. . ) a questão, proibindo ex pressame nte o reconhec imento de uni ões ou "casamentos" e ntre pessoas do mes mo sexo. É só haver vontade política. Por outro lado, sempre que abrir uma vaga no STF, a opini ão pública deve mobili zar-se de fo rma acutil ante, co mo acontece nos Estados Unidos, de modo a que apenas sej am escolhidos Mini stros que, pe lo seu passado e obra, ofereçam credenciais seguras de respe ito pela lei e pe la separação de poderes. Por exemplo, confro nte m-se os ca ndidatos com questões concretas, de modo a saber o que eles pensam sobre as matéri as mais importantes. Como catali sador de tudo isso, terá de estar uma intervenção cívica de grande dimensão que faça os pode res públicos verem que a maio ri a do povo brasileiro não quer o reconhec imento jurídico do homossexuali smo e que punirá severame nte através dos meios políticos democ ráti cos a todos aq ue les que pro mo vere m a

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agenda homossexual , nomeadamente identificando aqueles q ue lhe são favoráve is. Como exemp lo dessa intervenção cívica não posso apresentar nada melhor do que a extraordinária atividade levada a cabo pelo Sr. Prof. Plinio Corrêa de O li ve ira, através da TFP. Se o Brasil não caiu nas garras de ideologias totalitárias, mu ito o deve a essa corajosa ação. Catolicismo - Em Portugal, onde o "casamento" homossexual foi aprovado, é possível reverter essa situação?

Prof David Magalhães -A resposta não pode deixar de ser inteiramente positiva. Desde logo, o Tribunal Constitucional português admitiu a consagração do "casamento" homossexual, mas e ntendeu que ela não era imposta pela Constituição e, por isso, o legislador tem plena liberdade para voltar a consagrar a solução oposta. De outra banda, o "casamento" homossexual foi aprovado por uma combinação de votos de deputados socialistas, comunistas de esti lo soviético e de trotskistas. Tal foi feito com base em questões puramente ideológicas, na aversão ao trad icional modo de vida dos portugueses e fu gindo de um referendo - que sab iam que perderiam. A li ás , apesar da iminente fa lência do Estado português e daqui lo que a causou, o anterior Primeiro-Mini stro, o socia li sta José Sócrates, afirmou que uma das maiores batalhas da sua governação fo i o "casamento" homossexual... É difícil obter mais arraigada confissão de obstinação contra a civi lização cristã.

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"O combate a tão venenosa lwl'ança de destl'uição da família é uma pl'iol'idade. Se a classe política o esquecei; a sociedade deve rnlembl'á-lo contilwamente"

Ora, neste momento, aq ue les grupos políticos são oposição no parlamento português. Se a nova maioria quiser ser algo mais do que um "socratismo sem Sócrates" e pretender respeitar as tradições portuguesas, que são parte integrante da civilização ocidental, tem toda a legitimidade e os meios para voltar a consagrar o casamento como comunhão de vida entre homem e mulher. O Partido Popular na Espanha já disse que o fará. O combate a tão venenosa herança de destruição da famíl ia é uma prioridade. Se a classe política o esquecer, a sociedade deve relembrálo conti nuamente. Catolicismo - Tramita no Brasil um projeto de lei visando criminalizar a homofobia. O que o Sr. pensa a respeito? Tal projeto não daria ensejo a uma verdadeira perseguição religiosa no País?

Prof David Magalhães - Daquilo que conhe-

Em Portugal é necessário voltar a consagrar o casamento como comunhão de vida entre homem e mulher

ço do PLC 122/2006, ele encerra gravíssimos perigos. Repare-se que se trata de um projeto que contém penalizações. Logo, dirige-se aos cidadãos, aos particu lares, limitando o domínio jurídico-privado com um conjunto de imposições e proibições, sancionadas com castigos. Não se trata de uma legis lação que se apl ique somente às e ntidades públicas. O que se quer é transformar ituações, que até agora estavam na área da autonomia privada, em verdadeiras dimen sõe públicas submetidas a um Estado onipresente. Em duas palavras: menos liberdade. Isto im plica, pois, menos liberdade contratual, meno liberdade de expressão, menos liberdade de associação e, claro, menos liberdade religiosa. Certo discurso dos direitos até poderá fazer sentido face ao Estado, mas já o faz menos quando em causa estão privados os que também têm direitos de autonomia e liberdade - que, pela sua natureza, precisam de amplo espaço de efetivação. Com a eventual aprovação do PLC J22/2006 corre-se o sério risco de o homossexuali smo se tornar uma "vaca sagrada" a que os particulares têm de submeter a sua propriedade, a sua organização doméstica, a sua vontade contratual, os seus negócios, a sua crença religiosa e até o seu pensamento. Os homossexuais já estão protegidos como qualquer outra pessoa. Ninguém pode espancar um homossexual, assim como não pode espan-

car quem quer que seja. São direitos que têm como pessoas, não como homossexuais. Criarlhes uma esfera jurídica reforçada e impô-la à sociedade em detrimento das várias dimensões da autonomia e liberdade conduz a um totalitarismo homossexual. Catolicismo - Quais seriam os principais argumentos a se utilizar contra a adoção de crianças por pares homossexuais?

Prof David Magalhães -

Os argumentos são muitos. Tenho precisamente um projeto de investigação acadêmica em que tratarei dessa questão. Qual é, hoje, a finalidade fundamental inerente à adoção? O interesse de quem adota ou de quem é adotado? Na realidade, a adoção já foi pensada no interesse de quem adotava, mas esse foi um paradigma há muito ultrapassado. Presentemente, são os interesses das crianças e jovens que assumem o papel cimeiro. Esses interesses só podem basear-se na natureza: dar ao adotado aquilo que naturalmente teria, mas que, por infortúnios da vida, não teve. Um par homossexual jamais preencherá esse requisito. O modelo de adoção que é objeto de garantia institucional nas Constituições do Brasil e de Portugal só pode ser esse, fruto de uma evolução milenar e que se apoia no princípio de que "a adoção imita a natureza". Soluções distintas são o resultado de experiências de engenharia social que visam outros interesses.

"A "lei da homofobia " implica, pois, menos libel'dade contratual, menos libel'dade de exprnssão e libel'dade de associação e, claro, menos libel'dade rnligiosa"

Na adoção são os interesses das crianças e jovens que assumem o papel cimeiro. Esses interesses só podem basear-se na natureza e um par homossexual jamais preencherá este requisito.

Foi uma estrondosa derrota no plano político e econômico, que levou a que essas soluções caíssem de podres, não enganando mais ninguém. Por isso, eles continuam agora a sua luta, mas no plano sócio-cul tural, para enfraquecer as bases éticas e conv ivenciais da civ ili zação cristã. E uma das frentes mais importantes dessa subversão de valores é a negação da verdadeira família, medi ante a apologia e a oficial ização do homossexualismo. Repare-se que os comunistas, enquanto tinham esperança que o seu modelo vingasse, perseguiram ferozmente os homossexuais, como não se fazia no mundo livre. Apenas mudaram de posição quando viram o homossex uali smo como uma das últimas armas que lhes restavam para minar o Ocidente com di scórdia e destrui ção. É a tática seguida, por exemplo, por Fidel Castro que, depois de liderar décadas de brutalidade contra os homo sexuais cubanos, só manifestou uma estranha contrição no ano passado, em plena explosão da apologia ao homossexuali smo. Só acredita na coincidênc ia quem quiser ... •

Catolicismo - O Sr. discerne na apologia do homossexualismo - como ele vem sendo propagado, sobretudo pelo /obby homossexual e nos meios de comunicação, em várias nações ao mesmo tempo - uma investida organizada para se destruir a instituição da família e o que resta de civilização cristã?

Prof. David Magalhães -

Essa investida organizada existe e é comprovável. Os seus responsáveis estão bem à vista. A civi lização cristã ocidental tem adversários claros e notórios: aqueles que querem pôr em causa os seus valores basilares, como a família, a propriedade, a proteção da vida em todas as suas fases, a autonomia e responsabilidade pessoal. Ou seja, tudo o que está no Evangelho. A verdade é que, por onde puderam passar, os adversários da Cristandade semearam a mais abjeta miséria, com reformas agrárias improdutivas, estruturas empresariais públicas ineficientes ou leis do inquilinato ruinosas.

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JüRGEN WETZEL Traduzido por Renato Murta de Vasconc_ elos

JJ:l

está sentado nas pedras fria,.da escadaóa da lgmja

de São Tiago, numa pequena cidade da Baviera (Alemanha). Como sempre, encontra-se ali pedindo esmolas. Antes das Missas, abre a porta da igreja para os fiéis e lhes sorri amavelmente, deixando ver uma boca já praticamente sem dentes. Ele tem 50 anos e faz parte daqueles mendigos sem teto que lutam para sobreviver. Seu corpo está consumido não somente pelo frio e pela fome, mas também pelo excesso de álcool. Parece muito mais velho do que é na realidade. Se ao menos tivesse forças para lutar contra este vício, pensa ele continuamente ... E faz oliFme propósito de parar de beber. Mas quando a noite chega e com ela a lembrança de sua família, perdida num trágico acidente, ele não resiste e recorre ao consolo da garrafa. O álcool amortece então o vazio em sua alma, pelo menos por um curto espaço de tempo. A garrafa de vinho é sua fiel companheira e a cirrose do fígado e outras doenças vão paulatinamente consumindo seu corpo. A cor de sua face levanta suspeitas nada boas. Paul tornou-se parte integrante da escadaria da igreja na ótica dos habitantes do bairro, mais ou menos como se fosse uma estátua. E desta forma eles o tratam. A maior parte mal lhe presta atenção. E os que ainda se dão conta dele se perguntam até quando resistirá.

CATOLICISMO

O pároco e a ajudante de pastoral ainda se preocupam com ele. Mas, sobretudo, a Irmã Petra, uma missionária jovem que vem todos, o dias visitá-lo. Ele se alegra com a visita da freira, que sempre lhe traz algo para comer. Porém até mesmo esta religiosa não consegue tirar Paul da rna. Nem sequer na casa paroquial ele entra, seja pará comer, seja para se lavar.

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Todas as noites, quando escurece e ninguém mais o vê, Paul esgueira-se na igreja vazia e de luzes apagadas. Senta-se então no primeiro banco, bem diante do Tabernáculo. E aí fica em silencio, quase sem se mover, por cerca de uma hora. Depois se levanta e sai arrastando os pés pelo con-edor do centro, passa pela porta principal e desaparece na escuridão da noite. Para onde? Ninguém o sabe. No dia seguinte, porém, lá está ele ..-·sentado novamente na escadaria, diante do po1tal da igreja. 11 E assim passavam os dias. Certa vez a Irmã Petra I e pergun ou: '"Pàul, vejo que você entra na igreja todas as noites. O que você faz aí tarde da noite ? Você reza por ocaso?" "Não rezo", respondeu Paul "Como é que poderia rezar? Já não rezo desde o tempo em que era menino e ia às aulas_de reli~ião,: esq~eci ~oda~ as orações. ~o e lembro mais de nenhuma. O que faço na tgre;a ? E m ta srt'fn leó'hí,Vou fil .e o Tabernáculo, onde Jesus está sozinho e(!! se),!, pequ.<:.Jlo s erário, e Lhe dig9: Jesus, sou eu, o Paul. Vim Te visitar'. Ejico um pouquinho, afi.111pdequr: pel6 menos alguém Lhe fa ça companhia".

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Feministas antifemininas 19

GREGÓRIO V1VANCO LOPES

A

Na manhã do dia de Natal , o lugar que Paul ocupou durante anos a fio está vazio. Preocupada, a Irmã Petra começa logo a procurá-lo. E acaba por encontrá-lo no hospital que fica perto da i·greja. Nas primeiras horas da madrugada alguns passantes o haviam encontrado sem sentidos sob uma ponte e chamado a ambulância. Paul está agora no leito de doentes. Ao vê-lo a missionária tem um choque. Paul está ligado a vários tubos, sua respiração é fraca. Sua face tem a cor ámarelada típica dos moribundos. "A senhora é parente dele?". A voz do médico arranca a Irmã Petra de seus pensamentos. "Não, mas vou cuidar dele", responde ela espontaneamente. "Infelizmente não há muito que fazer, ele está morrendo". O médico meneia apenas a cabeça e sai. A Irmã Pet:ra senta-se peito de Paul, toma sua mão e reza longamente. Depois, t:Jistonha, retorna à casa paroquial. No dia seguinte volta novament~ ao Hospital, já preparada para receber a má notícia da morte de Paul... - "Não, o que é isso?". Ela não crê no que seus olhos vêem. Paul está entado, ereto em sua cama, com a barba feita. Com olhos bem abertos e vivos, ele vê com alegria a freira que se aproxima. Uma expressão de inefável alegria cintila de ua face radiante. Petra mal acredita no que está vendo e pensa: "É este realmente o homem que ainda ontem lutava contra a morte?".

CATOLICISMO

- "Paul, é incrível o que se passou. Você está praticamente ressuscitado. Você está irreconhecfvel. O que aconteceu com você?". - "É, foi ontem à noite, pouco depois que você foi embora. Eu não estava nada bem. Porém, de repente, vi alguém de pé junto à minha cama. Belo, indescritivelmente esplendoroso.:. Você não pode nem imaginar! Ele sorriu para mim e me disse: 'Paul, Sou Eu, Jesus. Venho te visitar'" .

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A partir desse dia Paul não tomou mais sequer uma gota de álcool. A Irmã Petra lhe conseguiu um quartinho na casa paroquial e um emprego de jardineiro. A sua vida transformou-se inteiramente desde aquele Natal. Paul encontrou novos amigos na paróquia. E, sempre que pode, ajuda a Irmã Petra em seus afazeres. Uma coisa, porém, permaneceu a mesma: Quando anoitece, Paul esgueira-se na Igreja:, assenta-se diante do Tabernáculo e diz: "Jesus, sou eu, o Paul. Vim Te visitar". • O conto foi publicado in Wtichentliche Depesche c.hristlicher Nachrichten, RU 50/201 O.

pretexto de igualdade, há quem procure arrancar da mulher seu caráter feminino. Refiro-me ao movimento feminista, o qual poderia mais bem se chamar antifeminino. O papel da mulher na soci'edade é altamente respeitável. Esse respeito era evidenciado, algum tempo atrás, até nos pequenos detalhes da vida quotidiana: fazer com que passassem à frente nas portas, oferecer-lhes os melhores lugares nos transportes coletivos, etc. As moças solteiras eram especialmente protegidas por seus pais; as casadas, tratadas com delicadeza por seus maridos; as mães, veneradas por seus filhos; as anciãs, tidas quase como sagradas na família. Contra tudo isso investiu a revolução feminista. Buscou arrancar da mulher sua delicadeza, lançando-a abruptamente nas situações mais ásperas da vida; fez com que seu exterior, marcado pelo recato e pela modéstia, fosse substituído por modos toscos que beiram não raro a grosseria; trocou sua singela pureza e seu pudor sensível por exibicionismos e "liberdades", antes só encontradiços em certos bairros ou ambientes de má fama; a beleza e o colorido de suas vestes foram substituídos por trajes masculinizados ou imorais; a graça feminina, dom eminentemente do espírito, pela sensualidade transbordante. Felizmente muitas mulheres têm sabido resistir a essa pressão - que a mídia e a moda propagam de todos os modos e mantêm íntegras suas qualidades femininas. Outras talvez se deixem coagir num ou outro ponto e resistem nos demais. Haverá as que naufraguem nas ondas do feminismo. O certo é que a revolução feminista atua globalmente nessa direção e visa a arrancar das mulheres suas características próprias e inconfundíveis. Isso vai tão longe que já começa a produzir reações.

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O importante diário madrilense "EI País" (8-10-11) publica reportagem intitulada Uma crise hiper-feminina Nesta temporada volta a mulher-mulher. Trata da retomada de adereços e maquilagens femininos que haviam caído em desuso. Não é o caso aqui de especificar quais sejam esses enfeites. O que nos importa constatar é o caráter reivindicatório desse retorno: "Reivindica-se a feminilidade[. .. ] ou seja, volta o eterno feminino".

No Café - Aime Stevens, 1879. Colec;ão particular.

Depõe a respeito Víctor dei Río, escritor e professor de Teoria da Estética na Universidade de Salamanca: "A crítica a este estereótipo [feminino] tem sido contundente durante décadas. O feminismo lutou contra a estética tradicional nos anos sessenta e setenta. Seu discurso era político". "Mas agora - comenta a reportagem - definitivamente, a referência volta a ser a 'mulher-mulher '." Para o escritor Oscar Scopa, "se em anos anteriores apostou-se na mescla de gêneros, agora se volta ao tradicional".

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É também ilustrativo o depoimento da escritora e jornalista Danuza Leão, no artigo Falando de igualdade ("Folha de S. Paulo", 16-10-11). "Dilma deverá escolher entre quatro nomes cotados para o cargo [ministro do STF]. Nenhum homem.faz parte da lista. Muito bonito dar força às mulheres, nomeá-las para cargos importantes, mostrar ao mundo que o Brasil acredita na igualdade dos sexos etc. e tal; mas menos, presidente, menos. Não é possível que no país inteiro só existam quatro pessoas com capacidade para exercer o cargo de juiz do STF, e que as quatro sejam mulheres. "Quantas ministras temos no governo? São nove ou de z, fora as que exercem altos postos na administraçüo. Será que não chega? [. .. ] Não adianta existir uma lei obrigando os partidos a terem 20% de candidatos do sexo feminino; se poucas se candidatam a cargos eletivos, é porque não querem, elas têm esse direito [. .. ] Essa história de fa zer discursos sobre as conquistas femininas ficou velha[. .. ] Modernize-se, presidente". Modelo por excelência para o sexo feminino é Mari a Santíssima, a "bendita entre todas as mulheres". • E-mail para o autor: ca1olicismo@1erra.com.br

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O VERBO ETERNO SE FEZ HOMEM "Vim trazer o fogo à Terra; e o que desejo senão que ele se inflame?" (Lc 12, 49)

S JUDEUS CELEBRAVAM uma festa chamada "Dia do Fogo" em memória do fogo com que Neemias consumou a vítima oferecida a Deus, quando ele vol.tou com seus compatriotas do cativeiro da Babilônia. A festa do Natal deveria também, e com muito mais razão, chamar-se "Dia do Fogo", porque nesse dia um Deus veio ao mundo sob a forma de uma criancinha para atear o fogo do amor no coração dos homens. " Vim trazer o fogo à Terra", disse Jesus Cristo, e o trouxe de fato. Antes da vinda do Messias, quem amava a Deus sobre a Terra? Ele era apenas conhecido numa pequena região do mundo, isto é, na Judeia; e mesmo lá, quão poucos eram os que O amavam no tempo da sua vinda! No resto da Terra, uns adoravam o sol, outros os animais, as pedras ou criaturas mais vis ainda. Mas, depois da vinda de Jesus Cristo, o nome ele Deus se espalhou por toda parte e fo i amado por muitos. Desde então os corações abrasaram-se das chamas do divino amor, e Deus foi mais amado em poucos anos cio que nos quatro mil aos que decorreram depois da criação. Muitos cristãos costumam preparar com bastante antecedência em suas casas um presépio para representar o nascimento de Jesus Cristo. Mas há poucos que pensam em preparar seus corações, a fim de que o Menino Jesus possa neles nascer e repousar. Sejamos nós desse pequeno número: procuremos dispor-nos dignamente para arder desse fogo divino, que torna as almas contentes neste mundo e felizes no Céu. Consideremos o Verbo Eterno de Deus que se fez homem para nos inflamar com o seu amor divino. Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Santíssima Mãe que nos iluminem sobre tal mistério, e comecemos.

CATOLICISMO

DEZEMBRO 2011


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místérío ba JEncarnação: o milagre ~os milagres - milagre íncompreensi\?el!

1• J.

Deus vê-se obrigado a expulsar imediatamente o homem do paraíso terrestre e a privá-lo do paraíso celeste e eterno, que lhe havia preparado para depois desta vida temporal.

~A NOSSO PAI, ADÃO. Ing,aoo pruca com Deus, do qual recebera tantos benefícios, revolta-se contra Ele e transgride a sua lei comendo do fruto proibido. Em consequência Deus vê-se obrigado a expulsar imediatamente o homem do paraíso terrestre e a privá-lo e seus descendentes, no futuro, do paraíso celeste e eterno, que lhes havia preparado para depois desta vida temporal. Ei-los pois condenados a uma vida de sofrimentos e de misérias, e excluídos para sempre do Céu. Mas também, para expressarmos à maneira de Isaías, eis que Deus parece afligir-se e queixar-se. E agora, diz Ele, que me resta no paraíso, já que perdi os homens, nos quais encontrava as minhas delícias? Mas, meu Deus, Vós que possuis no Céu tão grande multidão de serafins e outros anjos, como podeis sentir tão vivamente a perda dos homens? Vossa felicidade não é perfeita sem eles? Sempre fostes e sempre sois feliz em Vós mesmo. Que pode pois faltar à vossa felicidade, que é infinita? Tudo isso é verdade, responde o Senhor, como o imagina dizer o Cardeal Hugo, explicando o texto citado de Isaías; tudo isso é verdade, mas, perdendo o homem, penso que perdi tudo, que nada mais me resta; as minhas delícias consistiam estar com os homens, e Eu os perdi; ei-los condenados a viverem longe de mim para sempre!. ..

Sacrifício do lnoce11te para sa/lrar o pecador Mas como pode Deus dizer que os homens são as suas delícias? Ah!, responde Santo Tomás, é que Deus ama o homem, como se o homem fosse seu Deus, e como se não pudesse ser feliz sem o homem. São Dionísio acrescenta que, devido ao amor que tem aos homens, Deus parece fora de si mesmo. Há um provérbio que diz que o amor põe fora de si aquele que ama: Amor extra se rapit. Não, disse Deus, não quero perder os homens; haja um Redentor que satisfaça por eles à minha justiça, e os resgate das mãos de seus inimigos e da morte eterna que mereceram ... Aqui São Bernardo, contemplando esse mistério, julga ver uma contenda entre a Justiça e a Misericórdia de Deus. - Estou perdida, diz a Justiça, se Adão não for punido. - Estou perdida, diz por sua vez a Misericórdia, se o homem não obtiver perdão. O Senhor põe fim a essa contenda: "Morra um inocente, diz ele, e salve-se o homem da pena de morte, em que incorreu". Na Terra não havia esse inocente. Então, disse o Padre Eterno, já que entre os homens não há quem possa satisfazer a minha justiça, qual dos habitantes do Céu descerá para resgatar a humanidade? Os anjos, os querubins, os serafins, todos se calam, ninguém responde. Só responde o Verbo Eterno e diz: - Eis-me aqui, mandai-me. Meu Pai, uma pura criatura, um anjo, não poderia oferecer a Vós, Majestade infinita, uma digna satisfação pela ofensa recebida do homem. E mesmo que vos quisésseis contentar com uma tal reparação, pensai que até esta hora nem os nossos benefícios, nem as nossas promessas e ameaças puderam decidir o homem a amar-nos. É que ele não sabe ainda a que ponto o amamos; se quisermos obrigá-lo a amar-vos irifalivelmente, eis a mais bela ocasião que possamos ter: eu, vosso unigênito Filho, encarregar-me-ei de resgatar o homem perdido, descerei à Terra, tomarei um corpo hum.a-

CATOLICISMO

no, morrerei para pagar a pena que ele deve à vossa justiça; esta será assim plenamente satisfeita e o homem se persuadirá do nosso amor para com ele. - Mas, pensa, meu Filho, responde o Padre Eterno; pensa que, se te encarregares de satisfazer pelo homem, terás de levar uma vida cheia de trabalhos e dores. - Não importa, eis-me, mandai-me... -Pensa que terás de nascer numa gruta, que será estábulo de animais; que depois terás de fugir para o Egito a fim de escapar das mãos desses mesmos homens que procurarão, desde a infância, tirar-te a vida. - Não importa, mandai-me... - Pensa que, voltando do Egito, terás de levar vida extremamente penosa e abjeta como auxiliar de um pobre artífice. - Não importa, mandai-me ... - Pensa enfim que, quando apareceres em público para pregar tua doutrina e te manifestar ao mundo, terás sim discípulos, mas serão pouquíssimos; a maior parte dos homens te desprezará, te tratará de impostor, de mago, insensato, samaritano e não deixará de perseguir-te, enquanto não te fizer morrer nos mais ignominiosos tormentos e suspenso num patíbulo infame. - Não importa, mandai-me... Lavrado o decreto de que o Filho de Deus se faria homem para ser o Redentor do gênero humano, o arcanjo Gabriel foi enviado a Maria. A humilde Virgem consente em tornar-se a Mãe de Deus e o Verbo Eterno se fa z carne. Eis pois Jesus no seio de Maria; e entrando no mundo, Ele diz com a mais profunda humildade e inteira obediência: - Meu Pai, já que os homens não podem aplacar vossa justiça por suas obras nem por seus sacrifícios, eis-me aqui, o vosso Filho unigênito, revestido da carne humana, e pronto a expiar as faltas humanas por meus sofi'imentos e por minha morte. Assim o faz falar São Paulo: "Entrando no mundo, diz: Não quiseste hóstia, nem oblação, mas me forma ste um corpo... E eu disse: Eis-me que venho .. . parafaze1; ó Deus, a tua vontade" (Hb 10,5). Assim, pois, por nós míseros vermes e para ganhar o nosso amor, é que Deus quis fazer-se homem. Sim, isso é de fé, como a Santa Igreja o proclama: "Por nossa causa e para nos salvar, Ele desceu do Céu... , diz ela, e se f ez homem ". Sim, um Deus fez isso para nos obrigar a amá-lo.

Encarnação do Verbo de Deus revela a divina bo11da<le Quando Alexandre Magno venceu Dario e se apoderou da Pérsia, para cativar o afeto daqueles povos, se vestiu à moda deles. O nosso Deus empregou, de certo modo, o mesmo meio para cativar os corações dos homens: tomou a sua semelhança e mostrou-se ao mundo feito homem. Quis assim manifestar até aonde ia o seu amor a nós: O amor de Deus nos o Salvador apareceu a todos os homens (Tt 2,1 J). O homem não me ama , parece dizer o Senhor, porque não me vê; vou mostrarme a ele e conversar com ele, e assim me fa zer amai'. Ele foi vi sto sobre a Terra, disse o profeta, e viveu familiarmente com os homens (Br 3,3 8) . O amor de Deus pelo homem é imenso, e o foi desde a eternidade: Eu te amei com amor eterno, diz-nos Ele, e por misericórdia te tirei do nada (Jr 31,3). Mas esse amor não se manifestara em toda a sua incompreensível grandeza. Apareceu realmente quando o Filho de Deus se fez ver sob a forma de uma criança reclinada

Lavrado o decreto de que o Filho de Deus se faria homem para ser o Redentor do gênero humano, o arcanjo Gabriel foi enviado a Maria. A humilde Virgem consente em tomar-se a Mãe de Deus e o Verbo Eterno se faz carne. DEZEMBRO 2011

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São Bernardo dizia: Antes que Deus aparecesse sobre a Terra revestido da natureza humana, os homens não podiam fazer-se uma justa idéia da bondade divina.

11111111m

CATOLICISMO

sobre palha num estábulo. Foi então que, como diz o Apóstolo, se manifestou a bondade, a ternura, ou, segundo o texto grego, o amor singular do nosso Deus Salvador aos homens (Tt 3,4). Deus já havia mostrado o seu poder criando o mundo, observa São Bernardo, e sua sabedoria governando-o. Na encarnação do Verbo, porém, manifestou a grandeza de sua misericórdia. Antes que Deus aparecesse sobre a Terra revestido da natureza humana, continua o mesmo santo, os homens não podiam fazer-se uma justa ideia da bondade divina. Por isso Ele se encarnou a fim de descobrir aos homens toda a extensão de sua bondade. E de que outro modo poderia o Senhor provar ao homem ingrato a sua bondade e amor? Desprezando a Deus, diz São Fulgêncio, o homem separara-se d'Ele para sempre. Mas não podendo mais o homem voltar-se para Deus, o Senhor veio procurá-lo sobre a Terra. Santo Agostinho havia já expressado o mesmo pensamento: "Como não podíamos ir ao nosso celeste médico, ele dignou-se vir a nós ". De diversos modos, diz São Leão, havia Deus beneficiado o homem. Jamais, porém, manifestou melhor o excesso de sua bondade para conosco do que enviando seu unigênito Filho para nos resgatar, ensinar o caminho da salvação e proporcionar a vida da graça. Então, assim se expressa o santo, "Ele saiu dos limites ordinários de sua ternura, quando, na pessoa de Jesus Cristo, a Misericórdia desceu aos pecadores, a Verdade se apresentou aos desviados, e a Vida veio em socorro dos que estavam mortos". Santo Tomás pergunta por que a Encarnação do Verbo se diz obra do Espfrito Santo: Et incarnatus est de Spiritu Sancto. É cetto que todas a obras de Deus chamadas pelos teólogos Opera ad extra, isto é, que têm por objeto as criaturas, pertencem às três pessoas divinas. Por que então a Encarnação é atribuída só ao Espírito Santo? A principal razão, alegada pelo Doutor Angélico, é que todas as obras do amor divino são atribuídas ao Espírito Santo, que é o amor substancial do Pai e do Filho; ora, a obra da Encarnação foi o puro efeito do amor imenso que Deus tem para com o homem. Isso quis significar o profeta dizendo que Deus viria ao lado do meio-dia, expressão que designa, segundo o Abade Ruperto, o grande amor de Deus para conosco. Também Santo Agostinho afüma que o Verbo Eterno veio ao mundo, principalmente para que o homem soubesse quanto Deus o ama. E, segundo São Lourenço Justiniano, "Jamais Deus f ez resplandecer aos olhos dos homens a sua adorável caridade, como quando se f ez homem". Poré m o que mai s faz conhecer o amor divino para com o gênero humano, é que o Filho de Deus veio buscá-lo, quando este d 'Ele fugia. É a isso que alude o Apóstolo quando di z referindo-se ao Verbo divino: Não tomou a natureza dos anjos, e sim a carne dosjtlhos de Abraão. A palavra apprehendit e mpregada aqui, observa São João Crisóstomo, significa que E le se apoderou do homem à maneira de quem persegue um fugitivo a quem desej a prender. Sim, Deus desceu do Céu como para prender o homem ingrato que d 'Ele fu gia, como se lhe dissesse: "Hom.em, vê quanto te amo; desci do Céu à Terra expressamente para te buscar. Por que foges de mim? Pára, ama-me; não fujas mais de mim que tanto te amo ".

De Cria<lor, criatllra enqllanto 11atm·eza hllmana, nascida <le wna criatllrn Deus veio pois procurar o homem perdido; e a fim de melhor lhe testemunhar o seu amor e movê-lo a amar enfim Aquele que tanto o tinha amado, o Senhor quis, ao manifestar-se-lhe pela primeira vez, aparecer sob a forma de uma tenra criancinha reclinada sobre a palha. " Felizes palhas, mais belas do que as rosas e os lfrios!, exclama São Pedro Crisólogo; Que terra afortunada vos produziu? E que felicidade é a

vossa por haverdes servido de leito ao Rei dos Céus! Ah!, continua o santo sois bem frias para Jesus, porque não podeis acalentá-lo na gruta úmida, onde El~ tirita de !rioi m_as sois para nós fogo e chama, pois que acendeis em nossos corações um mcendzo de amor que todas as águas dos rios não poderiam apagar". Não b~stou ao amo~ di:ino, diz Santo Agostinho, ter feito o homem à sua imagem, quando :nou nosso pnmerro pai Adão; quis fazer-se à nossa imagem para resgatarnos. Adao comeu do fruto proibido por instigação da serpente, que dissera a Eva que lhe bastaria provar desse fruto para se tomar semelhante a Deus, quanto à ciência do bem e do mal. Eis por que o Senhor disse então: "Adão se fez como um de nós" (Gn 3,22). Deus falava assim por ironia, e para censurar a Adão a sua temeridade· "Mas nós, observa Ricardo de São Vítor, depois da Encarnação do Verbo, podem;s dizer em verdade: Eis que Deus se fez como um de nós". "Considera esse prodígio, ó homem", exclama Santo Agostinho: "O teu Deus se fez teu irmão", tomou-se seme~ante a ti ; fez-se filho de A?ão como tu, revestiu-se da mesma carne, tomou-se pass1 vele m?ital como tu. Podia tomar a natureza angélica. Mas não, preferiu unir-se à tua própna carne, a fim de satisfazer à justiça divina com uma carne vinda de Adão pecador, embora isenta de seu pecado. E disso se gloriava chamandose repetidas vezes o Filho do homem, e autorizando-nos assim a chamá-lo nosso verdadeiro irmão. Um Deus fazer-se homem é um abaixamento incomparavelmente maior do que se todos os príncipes da TetTa e todos os anjos e todos os santos do Céu, sem excetuar a Mãe de Deus, se abaixassem ao ponto de não serem mais do que um fio de erva ou um pouco de fumo. Pois que a erva, o fumo, bem como os príncipes, os anjos e os santos são criaturas, enquanto que da criatura a Deus a distância é infinita. - Mas, observa São Bernardo, quanto mais esse Deus se humilhou fàzendo-se homem por nós, tanto mais f ez conhecer a grandeza de sua bondade. Também o Apóstolo exclama que o amor de Jesus Cristo para conosco é tal, que nos constrange e força extremamente a amá-Lo. Ah! se a fé não nos desse a certeza, quem poderia jamais imaginar que por amor de um verme da terra, como é o homem, um Deus se fez verme da terra como o homem! Se acontecesse, diz um piedoso autor, que passando pela estrada pisásseis casualmente um ver~e e o matássei , e que alguém, vendo-vos ter dele compaixão, vos d1s~esse: Se quereis restituir a vida a, esse pobre verme, deveis primeiro tornar-vos como ele, e depois abrindo-vos as veias, banhá-lo em vosso sangue; - que responderíeis? - Que me importa, diríeis certamente, que o verme ressuscite ou fique morto, por que eu tenha de buscar a sua vida com a minha morte? Essa seria com ma is razão a vossa resposta, e se tratasse não de um verme inocente, mas de um áspide ingrato que, depois de beneficiado por vós, vo tentasse tirar a vida. M as se, não obstante isso, levásseis o amor ao ponto de sofrer a morte para restituir a vida a essa malvado réptil , que diriam os homens? E se esse animal sa lvo as im pela vossa morte tivesse raciocínio, que não faria p r vós? Mas Jesus Cristo fez isso por ti mísero verme da terra ; e tu ingrato tentaste muitas vezes tirar-lhe ~ vida, e os teus pecados O teriam matado realmente, se Ele ainda estivesse sujeito à morte. Tens sido mai s vil a respeito de Deus do que o verme a teu respeito! Que importava a Deus que ficasses ou não no pecado, presa ela morte e da condenação segundo o teu méri to? E esse Deu teve tanto amor por ti que, para livrar-te da morte eterna, primeirn se fez verme como tu , e depois para sa lvar-te quis derramar todo o seu sa ngue e ofrer a morte que me recias. Sim, tudo isso é de fé:. O Verbo se fe z carne, diz São João, e amou-nos a ponto de nos lavar em seu própno sangue (Ap 1,5). A Santa Igreja, ao considerar a obra

Observa São Bernardo: quanto mais esse Deus se humilhou fazendo-se homem por nós, tanto mais fez conhecer a grandeza de sua bondade.

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da Redenção, declara-se aterrada. E ela não faz senão repetir as palavras do profeta ao exclamar: Senhor, eu ouvi a tua palavra, e temi; tu saíste para a salvação do teu povo, para o salvar com o teu Cristo (Ha 3,2-13). Santo Tomás tem, pois, razão de chamar o mistério da Encarnação o milagre dos milagres; milagre incompreensível, em que Deus mostra o poder de seu amor pelos homens; pois que, de Deus que é, esse amor O faz homem; de Criador, criatura nascida de uma criatura, di z São Pedro Damião; de soberano Senhor, simples servo; de imortal, sujeito às penas e à morte. É assim que, segundo a palavra da Santíssima Virgem, Ele fez brilhar o poder de seu braço. São Pedro de Alcântara, ao ouvir uma vez cantar o Evangelho que se reza na terceira missa de Natal: ln principio erat Verbum etc., contemplando esse mistério ficou de tal modo inflamado de amor para com Deus que em êxtase se elevou nos ares e, embora distante, foi levado para diante do Santíssimo Sacramento. E Santo Agostinho dizia que não se saciava nunca em considerar a grandeza da bondade divina na obra da Redenção dos homens. É sem dúvida por causa da grande devoção a esse sublime mistério, que o Senhor mandou escrever sobre o coração de Santa Maria Madalena de Pazzi estas palavras: E o Verbo se fez carne.

lEncarnação bo \Derbo: belo incênNo be amor bi\'?ino ( l )UEM AMA, NÃO AMA SENÃO PARA SER

Desde que Jesus Cristo veio habitar entre nós, Deus foi certamente mais amado pelos homens num só século~ do que o fora durante os quarenta séculos que precederam sua vinda. ~

CATOLICISMO

AMADO ; assim , di z São Bernardo, Deus que tanto nos amou, só quer de nós o nosso amor. Dirigindo-se depois a cada um de nós, ajunta: "Homem, qualquer que seja, viste o amor que Deus te mostrou f azendo-se homem, sofrendo, morrendo por ti; quando é que Deus verá por experiência em tuas ações o teu amor a Ele? " Ah! ao ver que um Deus se quis revestir da nossa carne, levar vida tão penosa, e padecer morte tão cruel por nós, cada homem deveria arder de amor para com esse Deus tão amoroso. Oxalá romperás tu os Céus, e descerás de lá! Os montes se derreteriam diante da tua face; as águas arderiam em f ogo (Is 64, L). Meu Deus, exclamava o profeta antes da vinda do Messias, dignai-vos descer do Céu tomar a natureza humana e habitar entre nós! Vendo-vos os homens, feito como u;,, deles, as montanhas se derreterão, aplanar-se-ão para eles todos os obstáculos, todas a dificuldades que os impedem de observar os vossos preceitos e os vossos con elhos; e as águas arderão em fogo: a chama que acendereis nos corações penetrará nas almas mais glaciais e as abrasará de amor por vós ! E de fato, depois da encarnação do Verbo, que belo incêndio de amor divino se viu resplandecer em tantas almas generosas ! Desde que Jesus Cristo veio habitar entre nós, Deus foi certamente mais amado pelos homens num só século, do que o fora durante os quarenta sécul os que precederam sua vinda. Quantos jovens, nobres e até monarcas renunciaram às riquezas, às honras e à dignidade régia, retiraram-se ao de erto ou ao claustro, e abraçaram uma vida pobre e desprezada a fim de melhor mostrar a Deus o seu amor! Quantos márti.res caminharam jubilosos e sorridentes aos tormentos e à morte ! Quantas tenras virgens recusaram a mão dos grandes do mundo e derramaram seu sangue por Jesus Cristo a fim de retribuir de alguma maneira a um Deus que quis encarnar-se e morrer por seu amor!

Sim, tudo isso é verdade; mas consideremos agora o que nos deve fazer chorar. Tem-se visto igual maneira de agir em todos os homens? Têm todos procurado corresponder a esse grande amor de Jesus Cristo? Ah! a maior parte lhe pagou e ainda paga com ingratidão. E tu, meu irmão, dize-me: qual tem sido o teu reconhecimento para com um Deus, que tanto te amou? Tens-lhe sempre agradecido? Tens considerado o que significam as palavras: um Deus feito homem e morto por ti? Um homem que assistia uma vez a missa sem devoção, como fazem tantos, não fez nenhum sinal de reverência ao ouvir dizer no fim: "E o Verbo se f ez carne". O demônio deu-lhe uma rude bofetada dizendo: "Ingrato, lembra-te que Deus se f ez homem por ti, e tu nem te dignas inclinar-te? Ah! se Deus tivesse f eito outro tanto por mim, eu lhe ficaria grato eternamente". Dize-me, cristão, que mais poderia Jesus Cristo fazer para merecer o teu amor? Se o Filho de Deus tivesse de salvar da morte a seu próprio Pai, que mais poderia fazer do que se abaixar ao ponto de tomar carne humana e sacrificar sua vida para resgatá-lo? Digo mais: Se Jesus Cristo fosse um simples homem e não uma pessoa divina, e quisesse por qualquer prova de afeição obter o amor de seu Pai, poderia Ele fazer mais do que fez por ti? E se um dos teus servos tivesse dado o seu sangue e sua vida por amor de ti , não te prenderia o coração e te obrigaria a amá-lo ao menos por gratidão? E por que Jesus Cristo, mes mo dando por ti a sua vida, não conseguiu ganhar o teu amor? Ah! se os homens desprezam o amor divino, é porque não compreendem, digamos melhor, não querem compreender que felicidade é possuir a graça de Deus, a qual, segundo a expressão do Sábio, é um tesouro infinito, e faz amigos de Deus aos que dela gozam (Ecl. 7,14). Os homens estimam e procuram o favor de um príncipe, de um prelado, de um rico, de um sábio, até de um desclassificado na sociedade; e há infelizes que não fazem caso da graça de Deus: renunciam-na por uma fumaça, um prazer brutal, um pouco de terra, um capricho, um nada. E tu, caro irmão, que dizes? Queres ser também do número desses ingrato ? Se Deus não te sati sfaz, diz Santo Agostinho, vê se podes encontrar algo que valha mais. Vai, pois, procura um príncipe mais benfazejo, um protetor, um irmão, um amigo mai amável, e quem te tenha amado mais do que Deus; proc ura alguém que, mais do que Deus, te possa fazer feli z nesta vida e na outra. Quem ama a Deus nenhum mal tem a temer; pois Deus assegura que não pode deixar de amar a quem O ama; e quando alguém é amado por Deus, que temor poderá ter? É assim que falava Davi : O Senho r é minha luz e minha salvação, a quem pois temerei ? E as irmãs de Lázaro contentaram-se em di zer ao Senhor que seu irmão estava enfe rmo, pensando: Jesus o ama e is o ba ta; Ele não podia deixar de ir em seu auxílio e curá-lo. De outro lado, como pode amar a Deus quem despreza o seu amor? Ah! resolvamo-no uma vez a pagar com amor a um Deus que tanto nos tem amado. Peçamos-lhe sem cessar nos conceda o grande dom de seu amor. Segundo São Francisco de Sales, é essa a graça qu e elevemos desejar e pedir mais que toda outra graça, porque com o amor divino obtemos todos os outros bens como no-lo assegura o Sábio. Eis por que Santo Agostinho dizia: "Amai e f azei o que quiserdes ". Quem ama alguém foge de tudo que o possa desgostar e procura agradar-lhe sempre mais. Ass im quem ama verdadeiramente a Deus nada faz que O possa desagradar, mas aplica-se a fazer o possível para lhe causar prazer.

Quem ama a Deus nenhum mal tem a temer; pois Deus assegura que não pode deixar de amar a quem O ama; e quando alguém é amado por Deus, que temor poderá ter?

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Para obtermos mais depressa e mais seguramente esse precioso dom do divino amor, recorramos Àquela que mais amou a Deus, digo, a Santíssi ma Virge~ ~aria sua Mãe: o seu coração era tão inflamado de amor por Deus, que os demomos, no dizer de São Bernardino de Sena, não ousavam aproximar-se d ' Ela para tentála. Ricardo ajunta que os próprios serafins podiam descer do Céu para aprender de Maria o modo de amar a Deus. E já que o coração de Maria era sempre todo abrasado do divino amor, continua São Boaventura, Ela comunica o mesmo fogo a todos os que a amam e d 'Ela se aproximam, tornando-os semelhantes a Ela.

@ \Oerbo

lEterno ~e gran~e se fe3 pequeno "Nasceu-nos um Menino e foi-nos dado um filho" (Is 9, 6).

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~ LATÃO DIZJA QUE O AMOR ATRAI O AMOR Magnes amoris, amor. Daí o provérbio c itado por São João Crisóstomo: Se queres ser amado, ama. De fato, o mais se-

O coração da Santíssima Virgem Maria era tão inflamado de amor por Deus, que os demônios, no dizer de São Bernardino de Sena, não ousavam aproximar-se d' Ela para tentá-la. CATOLICISMO

guro para cativar-se o afeto de uma pessoa, é amá-la e darlhe a entender que é amada. Mas, Jesus meu, essa regra, es e provérbio é para os outros, para todos os outros e não para Vós. Os homen são gratos para com todos, menos para convo co. Não sabe is o que mais fazer para testemunhar aos homens o amor que lhes tendes; nada mais vos resta a fazer para conquistardes o coração dos homens. E quanto são os que vos ama m? Ah! a maior parte, digamos melhor, qua e todos não só não vos amam, mas nem sequer vos querem amar. Ainda mais: vos ofendem e desprezam. Queremos também nós ser do número desses ingratos? Oh! não, que não o merece esse Deus tão bom , tão ama nte que, sendo grande, e de uma g randeza infinita, quis fazer-se pequeno para ser amado por nós. - Peçamo a Jes us e Maria nos esclareçam.

Que são os Jwmens diante da infinita grandeza de Deus? Para se compreender qual foi o amor que determinou a um Deus fazer-se homem e criancin ha em favo r dos homens, seria preci so ter uma ide ia da gra ndeza de Deus. Mas que homem ou que anjo poderia compreender a grandeza divina que é infi nita? Segundo Santo Ambrósio, dizer de Deus que Ele é maior que os Céus, que todos os reis da Terra, que todos os santos é fazer- lhe injúri a, como seri a injuriar a um príncipe dizer que ele é maior do que um cálamo de erva ou uma mosca. Deus é a grandeza mesma, e toda a grandeza é apenas mínima parcela da grandeza de Deus. Considerando essa divina grandeza, convencido de sua abso luta incapaci dade para compreendê-la, Davi exc lamou: "Senhor, onc~e encont~ar_uma_g~an~le~a ~-~mparável à vossa?" De fato, como poderia uma cnatura, cuJ a 111te ltgencta e f111 1ta,

compreender a grandeza de Deus, a qual não tem limites: Grande é o Senhor, cantava o mesmo profeta; Ele é digno de todo o louvor, e sua grandeza é infinita. - Não sabeis, disse Deus aos judeus, que Eu encho o Céu e a Terra? De sorte que para falarmos segundo o nosso modo de entender, não passamos de atomozinhos imperceptíveis nesse imenso oceano da essência divina. Dizia o Apóstolo: "Nele

temos a vida, o movimento e o ser". Que somos nós em relação a Deus? Que são todos os homens, todos os monarcas da Terra, e mesmo todos os santos e todos os anjos do Céu diante da infinita grandeza de Deus? Somos menos que um átomo relativamente ao mundo inteiro; e para falarmos como Isaías, todas as nações são na presença de Deus como a gota d 'água suspensa no bordo do vaso, como o peso que faz pender apenas a balança; e todas as ilhas não são senão um pouco de pó; numa palavra, todo o universo é diante d'Ele como se não existisse. Ora esse Deus tão grande se fez criança, e para quem? Por nós. Nasceu-nos um Menino, disse ainda Isaías. Mas para que fim? Santo Ambrósio responde: "Fez-se

pequeno para nos tornar grandes; quis ser envolvido em paninhos para nos livrar das cadeias da morte; desceu à Terra afim de que pudéssemos subir ao Céu". Eis pois o Ser imen so feito criança; Aquele que os Céus não podem conter, eilo enfeixado em pobres paninhos, e deitado num presépio estreito e grosseiro, sobre um pouco de palhas que lhe servem de leito e de travesseiro! São Bernardo exclama: Vinde

Santo Ambrósio comenta: "Fez-se pequeno para nos tornar grandes; quis ser envolvido em paninhos para nos livrar das cadeias da morte; desceu à Terra a fim de que pudéssemos subir ao Céu".

ver um Deus que pode tudo, preso em paninhos de sorte a não poder mover-se; um Deus que sabe tudo, privado da palavra; um Deus que governa o Céu e a Terra, necessitando ser carregado nos braços; um Deus que nutre todos os homens e todos os animais, precisando de um pouco de leite para viver; um Deus que consola os aflitos, que é a alegria do paraíso, e que chora, que geme e que procura quem o console! Em suma, diz São Paulo que o Filho de Deus vindo à Te1rn se aniquilou a si próprio. E por quê? Para salvar o homem e para ser por ele ainado. "Meu divino Redentor, exclama São Bernai·do, na medida em que vos abaixastes fazendo-vos ho-

mem e criança brilharam a misericórdia e o amor que nos mostrastes afim de ganhar os nossos corações".

Soberano, mas nascido 1mma manjedoura em l'i'ia gruta Embora os hebreus tivessem claro conhecimento do verdadeiro Deus que se lhes manifestai·a por tai1tos milagres, não estavrun satisfeitos. Queriam vê-lo face a face. Deus achou o meio de contentai- também e se desejo dos homens. Tomou a natureza humana e tornou-se visível a seus olhos, diz São Pedro Crisólogo. E pai-a melhor se insinuai· aos nossos corações, continua o mesmo santo, qui mostrai·-se primeiro como uma criancinha, porque nesse estado E le devia pai·ecer-nos mais grato a nossos afetos. Sim, acrescenta São Cirilo de Alexandria, Ele se abaixou à humilde condição de uma criancinha a fim de se tornai· mais agradável a nos os corações. Era esse, com efeito, o meio mais próprio pai·a se fazer ainar. O profeta Ezequiel tinha pois razão de dizer: ó Verbo encarnado, que a época da vossa vinda à Terra devia ser o tempo do amor, o tempo dos que amam. E, com efeito, por que motivo Deus nos amou tanto e nos deu tantas provas de seu amor, senão para ser amado por nós? Deus só ama para ser amado, diz São Bernai·do. Aliás, o Senhor mesmo o decla-

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rou desde o início: E agora, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti; senão que O temas ... e O ames? (Dt 10,12). Para obrigar-nos a amá-Lo, Deus não quis confiar a outrem a tarefa de nossa salvação, mas quis fazer-se homem e vir resgatar-nos em pessoa. São João Crisóstomo tem uma bela observação sobre a expressão de que se serve São Paulo ao falar desse mistério; Ele nunca tomou a natureza dos anjos, mas tomou a carne dos filhos de Abraão. Por que, pergunta ele, o Apóstolo não diz simplesmente que Deus se revestiu da carne humana, mas que a tomou como que à força, segundo a significação própria do vocábulo apprehendit? E responde: afirmou assim como metáfora, para explicar que Deus desejava ser amado pelo homem, mas o homem lhe voltara as costas e não queria reconhecer o amor que Deus lhe votava. Eis por que desceu do Céu e tomou um corpo humano para se fazer conhecer e amar, como que à força, pelo homem ingrato que d'Ele fugia. É por isso que o Verbo Eterno se fez homem, e é também por isso que Ele se fez criança. Ele poderia apresentarse sobre a Terra como homem feito à semelhança do nosso primeiro pai Adão, mas o Filho de Deus preferiu mostrarse ao homem sob a forma de uma graciosa criança, a fim de ganhar mais depressa e com mais força o seu coração. As crianças são amáveis por si mesmas e atraem o amor de quem as vê. O Verbo divino fe z-se menino, diz São Francisco de Sales, afim de conciliar o amor de todos os homens. Ouçamos São Pedro Crisólogo: "Não é porventura desse modo que deveria vir a nós Aquele que queria banir o temor e fazer reinar o amor? Que alma haverá tão fero z que não se deixe vencer pelos encantos dessa criança? Que coração tão duro que não se enterneça à sua vista ? E que amor não exige Ele de nós? Assim pois quis nascer Aquele que desejava ser amado e não temido". O Santo Doutor nos faz compreender que, se o divino Salvador quisesse, vindo ao mundo, fazer-se temer e respeitar pelos homens, ter-se-ia apresentado sob a forma de um homem perfeito e cercado da dignidade régia. Mas, como procurava apenas ganhar nossos corações, quis aparecer no meio de nós como uma criança, e como a criança mais pobre e humilde, nascida numa fria gruta entre dois animais, colocado sobre a palha num presépio, sem lume e envolta em paninhos insuficientes para defendê-la do frio. Assim quis nascer Aquele que almejava ser amado e não temido!

O Verbo divino fez-se menino, diz São Francisco de Sales, a fim de conciliar o amor de todos os homens.

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CATOLICISMO

O Pai Eterno não despreza o sangue de Jesus vertido por nós E falando em geral do que concerne a todos, como podemos recear não obter o perdão de nossos pecados, quando pensamos em Jesus Cristo? Não foi para reconciliar os pecadores com Deus que o Verbo Eterno se humilhou a ponto de revestir-se da natureza humana? Não vim chamar os justos, disse ele, mas os pecadores. Digamos-lhe, pois com São Bernardo: "Sim, Senhor, abaixando-vos assim por nós, mostrastes até onde se estendeu a vossa misericórdia e a vossa caridade para conosco". E tenhamos confiança, como nos exorta São Tomás de Vilanova com as palavras: " Que temes, pecador? Se te arrependeres de teus pecados, como te condenará aquele Senhor que morre para não te condenar? E se queres voltar novamente à sua amizade, como te repelirá Aquele que veio do Céu para te procurar?" Não tema pois o pecador que não quer mais ser pecador, mas deseja amar a Jesus Cristo; não se apavore mas confie. Detesta o pecado e procura a Deus, longe

de se afligir, alegre-se, como a isso o convida o Salmista. O Senhor protesta que anseia se esquecer de todas as ofensas de um pecador que se arrepende. Se o ímpio fizer penitência, já não me recordarei de todas as suas iniquidades. E para nos inspirar ainda mais confiança, nosso divino Salvador se fez menino. "Quem temeria aproximar-se de uma criança?", pergunta São Tomás de Yilanova. As crianças nada têm de terrível, respiram só doçura e amor. Alegrai-vos, pois, ó pecadores, exclama São Leão, o nascimento de Jesus é a aurora de alegria e de paz. - Ele é chamado por Isaías o Príncipe da paz. Jesus é Príncipe, não de vingança contra os pecadores, mas de mi sericórdia e de paz. Constituiu-se Mediador de paz entre Deus e os pecadores. Se não podemos pagar a justiça divina, diz São Agostinho, o Pai Eterno não pode desprezar o sangue de Jesus Cristo, que satisfaz por nós. O célebre duque Afonso de Albuquerque, tran spondo os mares, viu certo dia o seu navio em risco de arrebentar contra os escolhos. Julgava-se já perdido, quando, percebendo uma criança que chorava, tomou-a nos braços e erguendo-a para o céu exclamou: "Senhor, se eu não mereço ser atendido, atendei ao menos os prantos desta criança inocente, e salvai-nos". Terminada a prece, a tempestade acalmou-se e desapareceu o perigo. - Sigamos esse exemplo, nós, miseráveis pecadores. Temos ofendido a Deus. Merecemos ser condenados à morte eterna. Com razão a justiça divina quer ser satisfeita. Que devemos fazer? Desesperar? Ó, não, ofereçamos a Deus essa terna criancinha que é seu Filho. E digamos-Lhe com confiança, se não podemos expiar as ofensas que vos temos fe ito, lançai os olhos sobre o divino Infante, que geme, que chora, que treme de frio sobre a palha nesta gruta; Ele satisfaz por nós e vos pede misericórdia. Se não merecemos o perdão de nossos pecados, con iderai os sofrimentos e as lágrimas do vosso Fil ho inocente, que os merece por nós e Vos pede misericórdi a.

Intercessão da augusta Mãe Junto de seu divino Ji'ilho Esse meio de salvação é precisamente o que Santo Anselmo nos indica. Ele di z que Jesus mesmo, ·não querendo nos ver perdidos, encoraja a quem se acha réu diante de Deus nestes termos: "Pecador; toma éJ.nimo; se tuas iniqüidades j á te fi zeram escravo do inferno e não tens meio de te livrares dele, toma-me, oferece-me a meu. Pai; assim escaparás à morte e te salvarás. Se rá possível imaginar-se maior misericórdia?". A Mãe de Deu ensinou o mesmo à Irmã Francisca Farnese. Colocou-lhe nos braços o Menino Jesu e di sse-lhe: "Eis meu Filho; aproveita-te dele oferecendo-o muitas vezes a Deus". E se quisermo e tar ainda mais seguros do perdão, reclamemos a intercessão dessa augusta Mãe, qu é todo-poderosa junto de eu divino Fil ho para obter o perdão aos pecadores, como ensina São João Damasceno. E com razão, porque, segundo Santo Antonino, a preces de Maria junto de um Fi lho que ta nto a quer e deseja vê-la honrada, têm o valor de ordens. É isso que leva São Pedro Damião dizer que quando a Santfs ima Virgem vai pedir a Nosso Senhor em favor de algum de seus servos, Ela parece antes mandar que pedir: "Vós vos aproximais do trono de Jesus, não só para lhe suplicar, mas para, em certo sentido, lhe dar ordens, e antes como Rainha do que como serva, porque, para honrar-vos, o vosso Filho nada do que lhe pedis vos recusa". Também São Germano acrescenta que Maria, em virtude da autoridade materna que exerce, ou, para melhor dizer, que exercera outrora sobre a Terra a respeito de seu divino Filho, pode impetrar o perdão aos maiores pecadores. •

Segundo Santo Antonino, as preces de Maria junto de um Filho que tanto a quer e deseja vê-la honrada, têm o valor de ordens.

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to de as prostituir para ganhar a vida. Nicolau soube do fato e fi cou horrorizado. Tomando então uma bolsa com moedas de ouro, jogou-a pela janela da casa do infame, dando-lhe com isso o sufic iente para casar a filha mais velha. No dia seguinte fez o mesmo, possibilitando casar a filha do meio. O beneficiado pôs-se então à espreita, para ver quem era seu anônimo benfeitor. E quando Nicolau, no terceiro dia, jogou outra bolsa para o dote da terceirn filha, o nobre se lançou a seus pés, di zendo-se arrependido e agradecendo-lhe por aquele benefício. Nicolau pediu-lhe, confuso, para não tornar público o fato. Mas em vão, pois no dia seguinte toda a cidade comentava aquele grande ato de caridade. Nicolau procurava, desse modo, remediar com suma caridade todos os necessitados. Socorria assim os enfermos e os miseráveis, libertava escravos e procurava atender todos os que sofri am por alguma causa. Tendo falecido o arcebispo de Mira, os prelados da província e o clero elevavam fervorosas preces aos Céus, pedindo luzes para enco ntrar um di gno sucessor. Como não chegavam a um acordo sobre quem escolher, combinaram então, por inspiração do alto, eleger bispo o primeiro cri stão que entrasse na igreja no di a seguinte. Ora, Ni colau tinha se mudado de Patara para Mi ra, a fim de viver mais obscuramente. E pensou logo em visitar a igreja local. Ass im, bem de manhãzinha, franqueou o umbral do templo, ignorando em abso luto o que fora combinado. E foi logo apanhado e aclamado bispo. Embora resistisse, fo i preciso ceder à vontade de Deus.

São Nicolau de Mira ou Bari O gentil santo dos presentes natalinos F amoso por suas esmolas e socorro ao povo cristão, tornou-se para vários países o santo que realça as festas de Natal IJ] PUNIO M ARIA SOLIMEO

a vida de São Nicolau de Mi ra, ou de Bari , é difícil saber o que é realidade e o que é legenda. Pois este santo do século IV fo i um dos mais venerados no Oriente, antes de o ser no Ocidente. E as legendas contando maravilhas a seu respeito espalharam-se por todo o mundo. Nicolau nasceu por volta do ano 270 em Patara, opulenta capital da Lícia (atual Turquia), de pais nobres, ricos e piedosos. Recebeu requintada educação religiosa e cívica. Na escola, evitava a companhia dos

N

colegas perniciosos, só travando amizade com os bons e virtuosos. Crescendo, evitava os espetáculos perigosos, e domava seu corpo com vigílias, cilícios e jejuns. Quando seus pais fal eceram, Nicolau herdou grande riqueza. Mas considerouse apenas admini strador desses bens, cujos reais senhores se tornara m os pobres e os necessitados .

Elevação ao episcopado: Juta contra os vícios Nicolau tinha até então vivido de modo exemplar. Mas deu-se conta de que a elevada di gnidade de que tinha sido revestido exigia ainda maior virtude. E -di sse para consigo: "Nicolau, esta dignidade requer outra vida. A té hoje viveste para ti. Agora hás de viver para os demais. Se queres que tua palavra

Socorm à pobreza envergonhada Foi então que ocorreu um fato que todos os seus biógrafos narram e pintam tão bem. Um nobre caído na pobreza, não tendo como casar suas três filhas jovens e nem mesmo mantê-las, teve o satânico propósi-

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CATOLICISMO

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Salvando marinheirns de naufrágio Num ano de grande carestia na Lícia, Nicolau soube que alguns barcos vindos de Alexandria, no Egito, com grande carregamento de trigo, refu giaram-se num po1to perto de Mira. O santo apressou-se em iJ até eles, suplicando aos armadores que fornecessem parte de sua mercadoria

para remediar a extrema necessidade dos fiéis. Eles recusaram, alegando que todo o carregamento pertencia ao Estado e se destinava a Constantinopla. O bispo pediu-lhes então que cada barco fornecesse apenas certa medida de trigo, que ele retribuiria todo o prejuízo junto ao administrador do tesou ro público em Constantinopla. Por fim os armadores consentiram, e depois fi zeram vel a para o Bósforo. Quando chegaram ao destino, foram medir o tri go em seus barcos e viram que havi a a mesma quantidade deste ao partir de Alexandria. Os marinheiros narraram então, por toda parte, o prodígio operado pelo santo. Noutra ocasião, um navio fo i surpreendido por terrível tormenta em alto mar. Seus tripulantes rogaram a Deus que, pelos méritos de seu servo Nicolau, os livrasse do perigo. No mesmo momento o santo bi spo apareceu-lhes, dizendo : "A qui estou para aj udar-vos. Tende confia nça em Deus, de quem sou servo". E, tomando o timão, diri giu a nave em meio ao proceloso mar até o porto de Mira, e desapareceu. Os marinheiros fora m então para a igreja agradecer tão grande favor. E viram o santo no meio de seu clero. Lançara m-se então a seus pés, testemunhando-lhe reconhecimento. Confuso ante essa calorosa manifestação, São Nicolau lhes disse:

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persuada a grei que Deus te confiou, tens que dar eficácia às tuas exortações com o exemplo de uma vida perJeita". 1 A partir de então passava parte da noite em oração, comi a uma só vez ao dia, abstendo-se de carne e vinho, dormia sobre uma du ra enxerga e consagrava uma parte do tempo à oração e a outra parte à admini stração da diocese. "Sua solicitude pastoral estendeu-se geralmente a todas as necessidades de seu povo. Cuidava dos pobres, dos doentes, dos prisioneiros, das viúvas e dos ó,fãos. Quando não os podia assistir pessoalmente, Jazia-os ser visitados e assistidos por pessoas piedosas, a quem encarregava esses cuidados. Sua principal aplicação era a de conhecer as necessidades espirituais de seus fiéis e de levar-lhes os remédios eficazes. [... } Pregava contra todos os vícios, e o Jazia com uma eloquência divina que o tornava vitorioso sobre todos os corações". 2

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"Dai a Deus, meus filh os, a glória desse sucesso. Quanto a mim, não sou senão um pecador e um servo inútil. Ele é Quem. faz as grandes maravilhas". São Nicol au foi encarcerado na perseguição de Diocleciano, sendo libertado depoi s, com a ascensão do imperador Constantino. Narra-se também que Nico lau apareceu em so nhos a es te imperador, increpando-o por ter condenado inju stamente à morte três de seus comi ssários. Acordando, o imperador chamou seu s secretári os para certifi car-se do ocorrido. E suspendeu a sentença contra aquel es inocentes. Narra a legenda que, numa época de muita fome, um açougueiro atraiu três meninos para sua casa, matou-os e pôs os corpos num barril , querendo vender a carne como sendo de porco. São Nicolau , vi sitando a região à procura de alimentos para seu povo, conheceu o horrível crime do açougueiro e, com suas preces, ressusc itou os três meninos. 3 Es a lenda correu o mundo e permaneceu, por exemplo, numa singela canção infa ntil qu e as cri anças francesas cantavam até há pouco. Um biógrafo do santo, o arquimandrita (superior de um mosteiro na Igrej a Oriental) Mi guel, narra ass im sua morte: "Ha vendo regido a ig reja metropolitana de Mira e embalsamado o país com o p e,fume de uma santíssima vida sace rdo tal, trocou es ta vida perecedoura pelo repouso eterno" por volta do ano 341. 4 Suas relíquias são preservadas na igrej a de São Nicol au, em Bari . E até

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hoje uma substância oleosa - conhecida como Maná de Süo Nicolau, altamente apreciada por seus poderes medicin ais - emana delas .5

De1roção ao 110

santo

Oriente e no Ocidellte

No império bizantino, São Nicolau de Mira era venerado como um dos mais poderosos auxil iares do povo cristão. No séc ul o VI , o imperado r bi zantin o Justiniano I construiu em Constantinopla uma bas ílica em sua honra. São João Crisóstomo o co locou em sua liturgia com a bela in vocação: "Cânone da fé, imagem. da mansidão, mestre da continência, chegaste à reg ião da verdade. Pela hurni/dade conseguiste o mais sublim.e, pela pobreza o mais opulento. Pai Nicolau, sê o nosso legado para com Jesus Cristo, para que consigamos a salvação de nossas almas". 6 Seu cu lto chegou à Itália em 1087, qua ndo mercadores itali anos roubaram suas relíq uias e as levaram para Bari. Antes disso já chegara à Alemanha durante o reinado de Oton II (955-983). Nesse tempo, o bi spo Reg in aldo de Eichstaedt (+ 99 1) escreveu sua vida, q ue se tornou mu ito popul ar. São N ico lau to rnou-se também o patrono de vários países da Europa, como a Gréc ia, a Rússia (é patrono de Moscou), o Reino de Nápoles, a Sicília, a Lorena, e também de vári as cidades da Itália, da Alemanha, da Áustria, da Bélgica, da Ho landa e da Suíça. Na Holanda ele é conhecido como Sinterk/aas. Representam-no montando um cavalo branco, mitra sobre a cabeça e

empunhando um báculo dourado. Segundo uma legenda, ele cavalga sobre os telhados, acompanhado de seu escudeiro Pikkie, um mouro terrível que põe num saco os meninos maus. São Nicolau visita as casas, perguntando: "Há aqui algum menino mau ?" Todos respondem: "Não, Sinterklaas, aqui todos somos bons". "Todos?" - pergunta o bispo. "Sim, Sinterklaas" . Então o santo distribui bombons a todas as crianças. Quando alguma delas não se po1tou bem durante o ano, em vez de bombom o santo lhe dá um pedaço de carvão. O mesmo ocorre no sul da Alemanha, país onde está havendo uma sadia reação contra a intromissão do Papai Noel nas festas natalinas e um ressurgir da tradição do Sinterklaas, cheia de encanto, inocência e autêntico espírito católico.

/Jwestida anticatólica COJ1tl'a

São Nicolau

Nos Estados Unidos e em muitos outros países, São Nicolau foi substituído pelo comercializado Papai Noel. E o espírito religioso do Natal lamentavelmente vai se extinguindo, dando lugar a outro, comercial e materialista. Entretanto, surgiu recentemente em algumas zonas da Alemanha, um movimento popular propugnando o retorno da tradicional figura de São Nicolau nas festas natalinas e a proibição do Papai Noel - perso11agem imposto pela propaganda neopagã para eliminar a benéfica e secular influência católica do santo bispo de Mira nas comemorações do nascimento do Divino Infante. • E-mail para o autor: catoli cismo @terracom .br Notas: 1. Ede lvives, E/ Santo de Cada Dia, Editorial Lui s Vives, S.A. , Saragoça, 1949, tomo VI,

p. 365. 2. Les Peti ts Bollandistes , Vies des Saints, Blo ud et Barrai, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, vol. XIV, p. 87. 3. Cfr . http ://e n.wikipedia or1,?/wjki/ Sa int Nicholas#c ite ref-6 . 4 . Edelvives , op. c it. p. 369. 5. C fr . Mic hael T . Ott, Saint Nicho/as of Myra , Th e C a th o lic Encyclopedia, CD Rom editi on. 6. Fr. Ju s to Perez de Urbe! , O.S.B. , Ano Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo

lV, p. 483.

Tragédia, indiferença, hipocrisia

e

hoque e indignação foram as reações despertadas pelo caso da menina chinesa de dois anos de idade, atropelada várias vezes, em meio à indiferença dos passantes, na cidade de Foshan, sul da China comunista. O impactante vídeo reproduzindo a cena foi um dos mais assistidos na Internet (http://www.youtube.com/watch?v= BO89cEOpgMw). Numa ruela com pouco movimento de veículos, um furgão atropela a menina que, ensangüentada, fica caída sob o carro, entre as rodas dianteiras e traseiras. O furgão para por alguns instantes e e m seguida retoma seu caminho, passando novamente sobre a menina, desta vez com a roda traseira. Durante um certo lap o de tempo, diversos pedestres e motos passam junto à pequena vítima estirada no solo, sem se incomodarem. Até que um outro furgão a atropela novamente, passando também com as rodas dianteira e traseira sobre ela. Ao todo foram 18 pes oas que transitaram indiferentes ao lado da menina, até que uma mulher a socorreu e providenciou sua remoção para um hospital, onde veio a falecer alguns dia depois (21 de outubro). O nome da menina era Yueyue, cuja tradução significa "Pequena Alegria". Passados os momentos mais candentes desse crime hediondo, cabe um a reflexão.

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A brutalidade inaudita do ato levantou em todo o mundo uma interrogação obre a deformação moral a que o regime chinês está submetendo sua população. O materialismo crasso do comunism é ele molde a embrutecer as almas e tornálas insensívei à tragédias humanas, mesmo as mais capazes de sensibilizar. A perseguição a , cri stãos na China é outro capítulo terrível dessa realidade. Donde a pergunta lanci nante: como pode o Ocidente, que tanto fala em direitos hum anos, promover de tal modo ocomunismo chinês, por me io de indústrias gigantescas, comércio avassalador e dólar s sem conta? Que julgamento os atuais dirigentes das nações, rcspon áveis por tanta hipocrisia, merecerão de Deus e da Hi stóri a? Se a morte trágica da pequena Y ueyue servisse ao menos para acordar os ocidenta is imerso em seu letargo e os

A menina no hospital. Dias depois morreria.

levasse a repudiar os imensos males do comunismo - seja ele chinês, russo, cubano, vietnamita, coreano ou de qualquer outro país - , o sacrifício da "Pequena Alegria" não teria sido em vão. Acordarão? Ou esperarão o desencadeamento dos terríveis acontecimentos previstos em Fátima por Nossa Senhora? Eis a questão. •

CATOLICISMO

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5 São Sabas, Confessor

+ Palestina, 532. Cognominado "a pérola do Oriente", após vida eremítica nos desfiladeiros do Cedron reuniu e dirigiu numerosos eremitas, fundando o mosteiro que depois levou seu nome.

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1 SanLos Edmundo Campion, Roberto SouLhwell e Companheiros, Mártires + Inglaterra, entre 1581 e 1679. Desses 10 jesuítas, oito eram ingleses e dois do País de Gales. Foram martirizados por ódio à fé.

2 São Cromácio, Bispo e Conl'essor

+ Itália, 407. Bispo de Aquileia, no Vêneto, desenvolveu em sua Sé uma espécie de ordem religiosa com vida clerical em comunidade. São Jerônimo denominou-o "o mais santo e o mais douto dos bispos ". Primeira Sexta-feira do mês.

3 São Francisco Xavier, Confessor

+ Sancião, 1552. Discípulo de Santo Inácio de Loyola, apóstolo da Índia e do Japão, seu zelo alcançou Málaca e as Molucas. Faleceu aos 46 anos de idade às costas da China, que pretendia evangelizar. São Pio X o declarou patrono especial da obra da Propagação da Fé e das Missões católicas. Primeiro Sábado do mês.

4 SanLa Bárbara , Virgem e Mártir

+ Séc. III ou IV. Não é possível precisar os locais de seu nascimento e martírio. Padroeira da Artilharia, é invocada contra raios, morte súbita e impenitência final.

São Nicolau, Bispo e Confessor (Vide p. 38)

7 SanLo Ambrósio, Bispo, Confessor e DouLor da lgt'eja

+ Milão, 397. De nobre família romana, governador civil de Milão e depois bispo, conselheiro de imperadores e do Papa, teve papel decisivo na conversão de Santo Agostinho.

8 FESTA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA SANTÍSSIMA VlRGEM Festa oficialmente instituída pelo Bem-aventurado Pio IX em seguida à promulgação desse dogma, em 1854, com base nos Evangelhos e coroando tradições muito antigas a respeito.

na às margens do Bósforo, aí vivendo como estilita por 33 anos.

12 Nossa Senllora de Guaclalupe, Padroeira principal da América Latina

13 SanLa Luzia , Virgem e Mál'Lir + Siracusa, séc. IV. Consagrando a Cristo sua virgindade e renunciando em favor dos pobres seu rico patrimônio, foi degolada à espada. Santo Tomás a cita duas vezes na Suma Teológica. É invocada nas doenças dos olhos.

14 São João da Cruz, Confessor e Doutor da Igreja

+ Ubeda (Espanha), 1591. Co-reformador, com Santa Teresa, do ramo masculino da Ordem do Carmo e grande místico. Poucos penetraram mais a fundo nos arcanos da vida interior.

·15 São Folcuíno, Bispo e Confessor

+ França, séc. IX. Primo-ir-

+ França, 1640. Entrou para

mão do Imperador Carlos Magno, por sua autoridade e energia foi designado bispo para governar a região ainda báJbara de Thérouanne (norte da França).

a Congregação dos Cônegos Regulares, à qual deu novo vigor por sua virtude e talento.

Beata Maria dos Anjos, Virgem

9 São Pedro Fourrier, Confessor

16 + Turim, 1717. Uma dos 11

10 Traslaclação ela Santa Casa de Loreto

filhos do Conde de Santena e Baldissero, cujo pai descendia da família de São Luís Gonzaga. Entrou aos 16 anos para o Carmelo de Turim.

11 São Daniel E:sliliLa , Conressor

+ Constantinopla, 493. Depois de visitar os Lugares Santos, fixou-se numa colu-

17 Cinquenta Soldaclos ele Gaza , Mártires

+ Egito, 630. Ao general árabe que os intimava a aposta-

tar sob pena de morte, responderam: "Ninguém poderá nos separar do amor de Cristo; nem nossas mulheres, nem nossos jUhos, nem as riquezas do mundo, pois somos servidores de Cristo, Filho do Deus Vivo, e estamos prontos a morrer por Aquele que morreu e ressuscitou por nós " (do Martirológio).

l8 São Gatiano, Bispo e Confessor

22 Santa Juta, Virgem

+ Alemanha, séc. XI. Foi ter com ela a futura profetiza do Reno, Santa Hildegarda, aos oito anos de idade. Juta instruiu-a, dando-lhe noções de latim, medicina e História Natural, familiarizando-a tão bem com os textos litúrgicos e a Sagrada Escritura que, ao falecer, Hildegarda a substituiu como abadessa.

+ Tours (França), séc. IV. Pri-

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meiro a pregar o Evangelho na região de Tours, da qual foi Bispo.

São Sérvulo, Confessor + Roma, 590. São Gregório

19 São Nemésio, Mártir + Alexandria, séc. III. Abso lvido de falsa acusação de roubo durante a perseguição de Décio, quando saía do tribunal foi denunciado como cristão e condenado pelo juiz a ser queimado vivo, recebendo assim a coroa do martírio.

20 São Teól'ilo ele Alexandria e Companheiros, Mát'Lires + Séc. III. "Estes soldados cristãos do tribunal imperial, vendo um de seus irmãos na fé vacilar diante do juiz, fi ze ram-lhe sinais para enco rajá-lo. Ao perceber os se us gestos, o juiz os intimou e eles não hesitaram em confessar sua fé, sendo imediatamente condenados à mort e" (do Martirológio).

21 São Pedro Canísio, Confessor e Doutor da Igreja

+ Friburgo, 1597. Discípulo de Santo Inácio, notabilizouse pela eficácia com que combateu , pela palavra e e critos, a heresia protestante, especialmente entre os povos de língua alemã. Graças a ele, a Renânia e a Áustri a permaneceram católica .

Evangelista por excelência da divindade de Cristo. Perseguido pelo imperador Domiciano, foi levado a Roma e mergulhado num tacho ele azeite fervente, de onde saiu rejuvenescido. Foi então deportado para a ilha de Patmos, onde escreveu o Apocalipse. Tendo morrido seu perseguidor, voltou a Éfeso, onde residia, escrevendo então, a pedido dos fiéis, seu Evangelho e três epístolas, para refutar as heresias que negavam a divindade de Nosso Senhor e pregar o amor entre os cristãos.

Magno relata sua vida em seus "Diálogos". Paralítico, vivia de esmolas sob o pórtico da igreja de São Clemente em Roma.

Santos Inocentes, Mártires

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Santo Davi, Rei e Profeta

São Delfim , Bispo e Confessor

+ Judéia, séc. X a.C. Escolhi-

+ França, séc. IV. Paladino e intrépido defensor da Igreja, foi bispo de Bordeaux e participou do Concílio de Saragoça, onde muito contribui para a condenação dos hereges priscilianistas.

25 NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

28

29 do pelo próprio Deus para suceder a Saul, primeiro rei de Israel, entrou a serviço deste como tocador de cítara e derrotou o gigante Golias. Subindo ao trono, instalou a Arca da Aliança em Sion, que transformou na capital de Israel.

SanLo Anísio, Bispo e Confessor

sete primeiros Diáconos nomeados e ordenados pelos Apóstolos. Relatam os Atos dos Apóstolos que ele "fazia prodígios e grandes sinais entre o povo". Não podendo isso suportar, membros da sinagoga alegaram que ele blasfemava, e o lapidaram.

+ Macedônia, 407 . Discípulo

presentou a humanidade ao receber, junto à Cruz, Nossa Senhora com o Mãe. Foi o

• Missa de Natal, rogando ao Divino Menino Jesus, por mediaçõo de sua Santíssima Mãe, que conceda muitas e especiais graças às famílias dos assinantes de Catolicismo e a todos aqueles que apoiaram e/ou difundiram a revista ao longo deste ano.

30

Santo Estêvão, Protomártir + Jerusalém, séc. I. Um dos

São João, Apóstol o e Evangelista + Éfeso, séc. I. O Discípulo amado por sua virgindade re-

Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas segui ntes intenções:

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

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Intenções para a Santa Missa em dezembro

de Santo Ascólio e seu sucessor na Sé de Tessalônica, foi nomeado por São Dâmaso Vigário Pontifical na Ilíria.

31 São SilvesLre 1, Papa e Confessor

+ Roma, 335. Foi dos primeiros santos não mártires que recebeu culto público. Sob seu pontificado a Igreja começou a sair das catacumbas e a construir basílicas magníficas. Iniciou a série de Papasreis, como fundador dos Estados Pontifícios.

Intenções para a Santa Missa em janeiro • Pelos leitores e benfeitores de Catolicismo, a fim de que, neste novo ano que se inicia, sejam especia lmente protegidos, preservados de todo pecado, da violência, do desemprego e das drogas, as quais constituem grande perigo, sobretudo para os mais jovens. Graças essas que suplicaremos à Sagrada Família - festividade ce lebrada no dia 30 de janeiro.

DEZEM


de bioética Jorge Scala, o conferencista passou a expor o conteúdo do livro. De início, definiu a palavra gênero que, para os agentes da Revolução Cultural, possui um significado diferente do que norm almente se entende. O sentido comum de gênero: conjunto ele seres que possuem a mesma origem ou são ligados pela sim ilitude de uma ou mais peculiaridades. Aplicado à sexualidade, por extensão, pode-se afirmar gênero masculino ou feminino. Mas, para os defensores da Ideologia de Gênero, o termo perde seu conteúdo verdadeiro e adota outro de cunho ideológico. Para eles, gênero significa abstrusamente que o ser humano nasceria sem sexualidade definida.

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"Os fundamentos da Ideologia de Gênero estabelecem não existir identidade biológica sexual nos seres humanos e que eles apenas acidentalmente nascem com órgãos sexuais, convencionalmente considerados como masculinos ou femininos". O palestrante acrescentou não existir também, para tal ideologia, identidade psicológica masculina ou feminina, considerando tal identidade como mera imposição de um modelo educacional de tipo patriarcal.

A conclusão dessa teoria antinatural é que o comportamento sexual também é fruto de mera influência do meio social. Assim, ninguém nasceria menino ou menina, homem ou mulher, mas sim um ser humano sem definição sexual, embora anatomicamente possa ser diferenciado. Trata-se, pois, de um ser genérico que adota um comportamento sexual por força do meio social. E, mais ainda, a Ideologia de Gênero defende que tal ser poderá não só escolher esse comportamento por opção, como mudá-lo quando quiser, segundo seu arbítrio. "A refutação do primeiro fundamento - que afirma não existir identidade biológica nos seres humanos - reside na análise genética mais essencial da biologia, que demonstra: as células reprodutivas da mulher só contêm cromossomos tipo X, enquanto as do homem possuem tanto cromossomos X quanto Y. Na fecundação, a combinação XX só gera mulheres e a combinação XY só gera homens. É a lição mais básica da biologia", explicou o conferencista. Portanto, do ponto de vista genético, cai por terra a Ideologia de Gênero. Mas para seus defensores, a questão anatômica é irrelevante. O Cel. Paes de Lira expôs, com

"Ideologia de Gênero", manifestação mais recente da Revolução Cultural m EosoN

N

CARLOS DE OuvE1RA

o último dia 18 ele outubro, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promoveu no auditório do Colégio São Bento, na capital paulista, uma palestra intitulada Ideologia tle gênero: Saiba como se defender dessa arma psicológica contra a Família.(*) Essa famigerada ideologia constitui a maior ameaça à família e à sociedade em toda História. A sessão foi presidida pelo diretor cio Instituto, Dr. Plínio Vicligal Xavier da Silveira, que abriu os trabalhos ao lado ele outro diretor, Dr. Eduardo ele Barros Brotero. O conferencista foi o ex-deputado federa l Cel. Jairo Paes

~

CATOLICISMO

de Lira, coronel ela Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo e ex-Comandante do Policiamento Metropolitano. Durante seu mandato legislativo na Câmara dos Deputados, Pae de Lira participou das Comissões de Direitos Humanos e Minorias, de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e de Seguridade Social e Família. Dispondo de comprovada experiência legislativa na defesa da família contra projetos de lei visando debilitá-la ou eliminá- la, corno nos casos do "casamento" homossexual, do aborto e do divórcio, entre outros, Paes de Lira apresentou ao público o livro Ideologia de Gênero - o neo-totalitarismo e a morte da família, do autor argenti no Jorge Scala, cuj a tradução para o português foi lançada nessa mesma ocasião. Após breve descrição do curriculum vitae do professor

DEZEMBRO 2011 - -


dados fornecidos pela obra de Jorge Scala, as origens da Ideologia de Gênero a partir do movimento feminista. Citou a femi nista francesa Simone Beauvoir, que defendia a teoria segundo a qual ninguém nasce mulher, mas se torna mulher; e que o objetivo final do movimento feminista não consiste na eliminação dos privilégios da "classe" opressora - a "classe" masculina - , mas da própria diferenciação entre os sexos. O orador observou que tal teoria servia à militância homossexual , que encontrou nessa fórmula a justificação de seu modo de vida. E denunciou ainda a estratégia totalitária da Ideologia de Gênero através da manipulação semântica, no sentido de que o termo gênero perdesse seu significado gramatical, adotando outro de cunho ideológico. Para a difusão desse conceito teve papel primordial a mídia de massa. No Brasil, tal manipulação pode ser observada especialmente nos Mini stérios da Educação e da Saúde. Paes de Lira enfatizou a importância da instrumentalização da educação escolar por ideólogos de gênero. O conferencista referiu-se ainda à pressão exercida pela ONU que, sob pretexto de Direitos Humanos, está exigindo dos países a aprovação de leis conforme a Ideologia Gênero. " O PNDH-3 quase foi imposto ao Brasil por meio de decreto e, se não tomarmos cuidado, será imposto pelo 'ativismo judicial ', que substituirá o poder legislativo ". "É essa ideologia mais radical da História que impregna o PNDH-3. Da Ideologia de Gênero surgirão crianças sem identidade natural, do "casamento " homossexual resultarão os grupos pseudo-familiares, a criminalização da opinião produzirá a perseguição policial e judicial aos resistentes. É uma conspiração contra a família tradicional que é a base da sociedade. É a fundação do neo-totalitarismo que construirá o "homem novo", como sonham os teóricos marxistas. Mas que 'homem novo' é esse? Será um ser desprovido de espiritualidade. Será massa informe de nervos, ossos e músculos que perambula pela face da Terra. Mas será também desprovido de liberdade", afirmou o conferencista . A expo ição foi concluída com respostas às perguntas do público presente.

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II Congresso Internacional pela Verdade e Pela Vida 111 EosoN C ARLOS DE ÜUVE IRA

A

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O Príncipe Imperial do Brasil, dom Bertrand de Orleans e Bragança, encerrou o evento com calorosas palavras sobre a luta empreendida pelo Professor Pli.nio Corrêa de Oliveira contra esse processo revolucionário, cujo escopo é a destrui ção integral da civilização cristã a partir de uma de suas bases fundamentais que é a fa mília. "É uma obrigação de consciência, da qual responderemos diante de Deus, lutar contra essa conspiração anticristã que é a destruição do homem como Deus o criou, para colocar em seu lugar um anti-homem, resultado do pecado, da abominação e de tudo aquilo que 'brada aos Céus e clama a Deus por vingança'", afirmou dom Bertrand.

Um cocktail foi servido logo após, dando ocasião para conversas sobre o te ma entre os que prestigiaram o evento com sua pre e nça [fotos acima]. • E- mail para o autor: cato lic ismo@ terra. co rn .br (*) A sista a íntegra da conferência no site do lnsriruro Plínio Corrêa de Oliveira (http://www.ipco.org. br/home/noticias/assista-ao-vivo-a-palestra-sobre-icleologia-de-genero-u ma-arma- psico logica-contra-a-fami li a).

Human Life International (HLI) promoveu em São Paulo, de 3 a 6 de novembro, no auditório do Colégio de São Be nto, o II Congresso Internacional pela Verdade e Pela Vida, que reuniu oradores pró- vida de diverProf. Felipe Néri sas partes do mundo. Após a a bertura, feita pelo Prof. Felipe Néri , do Colégio São Bento, o Pe. Shenan Boquet, presidente da HLI, alertou os participantes do evento para o fato de que a questão-chave por detrás da "cultura da morte" é a rejeição de Deus e a fa lta de prática dos Mandamentos. Numa clara referência ao aborto de anencefálicos e à eutanásia, disse que muitas pe soas não são militantes consciente de sa cultura anti-vida, mas Mons. Dr. Juan Carlos Sanahuja de algum a forma partic ipam dei.a ao utili zar métodos anti concepcionai s ou ter uma fal sa compai xão ao pensar que se pode tirar a vida de quem sofre. O Pe. Shenan destacou que o cont:role de natalidade é c ntrário ao sacramento do matrimôni o, tema este que outro conferencista, Matthcw Hoffman, correspondente para a Am ri a Latina da agência de notícias LifeSit•News, tratou com mais detalhes. Para H ffman, a origem do movimento homossexual se enDr. Jorge Scala contra no estilo de vida prom fs uo entre aquele que não o são e que exc lu m da prática sex ual a procriação com finalidade primeira. Esse desregramcnt facilitou o êxito da propaganda homossexual. A pale tra de Mons. Dr. Juan arlos Sanahuja, formado em jornalismo pela Universidad de Navarra e doutor cm Teologia, versou sobre a nova "Religiã Universal ", de fundo ecológico, a qual Pe. Paulo Ricardo

tenta impor uma uniformização política e um mesmo regime de pensamento para todas as nações. "A ética judeucristã não poderá ser aplicada n.o futuro ", diz um documento da OMS (Organização Mundial da Saúde) aludido por Mons. Sa.nahuja, que surpreendeu o público presente com diversas outras citações extraídas de textos oficiais de órgãos ligados à ONU. O conhecido Pe. Luis Carlos Lodi, presidente da associação Pró-Vida, de Anápolis (GO), pronunciou exce lente conferência sobre os principais erros a serem evita.dos por aqueles que lutam contra o aborto. Destacou a importância do uso de uma linguagem correta, não utili zando ter mo s próprio s aos abortistas. Ele se referiu também às principais armas que devemos utilizar nesse apostolado em defesa da família. A exiguidade de espaço não permite infelizmente dar o merecido destaque aos demais ilustres oradores. O Dr. Jorge Scala abordou a "ideologia de gênero"; o Dr. Piero Tozzi ressaltou que o termo aborto nunca foi citado em Tratados Internacionai s; o Pe. Pau lo Ricardo explicou como o marxi smo cultural se infiltrou na Igreja; o Sr. Raymond de Souza discorreu sobre os três pontos fundamentais de combate à "cultura da morte" : "reza,; estudar e agir"; e finalmente o Dr. Mario Roj as alertou p ara a ass ustad ora qued a demográfica. mundial. O II Congresso Internacional pela Verdade e Pela Vida atingiu assim seus objetivos de apresentar um panorama completo da "cultura da morte", salientando como tal "cultura" está ao nosso lado em muitos aspectos e esclarecendo como combatê-la eficazmente. •

CATOLICISMO

DEZEMBRO 2011 -


Recitação pública do Rosário em mais de 7 mil localidades Ili FRANCISCO JOSÉ SAIDL

"Seja realista: exija o impossível!" Este slogan - que estudantes revolucionários da Universidade da Sorbonne proclamaram nos idos de 1968 passou a animar em nossos dias a causa contra-revolucionária nos Estados Unidos. Com efeito, ao planejarem há quatro anos a recitação pública e simultânea do Rosário em 1000 localidades diferentes, os propulsores da campanha America Necessita de Fátima, da TFP americana, consideraram ousada a meta. Mas eles foram realistas e o que parecia impossível sucedeu. A meta foi sobejamente superada. Nos anos sucessivos os objetivos foram ainda mais ousados, até se conseguir em 2011 a impressionante cifra de 7.515 localidades. Esta manifestação ocorre sempre no sábado mais próximo ao 13 de outubro, dia em que se comemora a última aparição de Nossa Senhora em Fátima. América Necessita de Fátima visa atender ao apelo da Virgem Santíssima, que em 1917 indicou a devoção ao Rosário como remédio eficaz para o grande mal que assola a civilização cristã: os erros do comunismo. Este perigo se acentua ainda mais nesta quadra histórica em que o comunismo se metamorfoseou na Revolução Cultural: ataca-se principalmente a instituição da família e caminha-se a passos lru·gos para uma implacável perseguição religiosa. Quanto mais a crise se avoluma, mais cresce a recitação do Rosário. Eis as cifras dos últimos anos: 2007 - em 2.107 localidades 2008 - em 3.500 localidades 2009 - em 4.337 localidades 2010 - em 963 localidades 2011- em 7.515 localidades

dral de St. Patrick. Chamou.-rne a atenção encontrar jovens com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, bem na calçada. Rezavam o terço. Havia público que acompanhava. Prestei atenção nas pessoas que circulavam, e não percebi reações de desagrado. Pelo contrário, notei curiosidade, atenção e interesse. Então, veio-me o pensamento de que, sendo um local tão conhecido, turístico, e com visitantes de tantos países, essa manifestação de devoção a Nossa Senhora de Fátima, em plena rua, será comentada não só nos EUA mas em todo o orbe". Tal imensa operação só foi possível graças a uma bem organizada central montada na cidade de Topeka, Kansas, com uma equipe de 115 voluntários trabalhando intensamente entre os dias 5 de julho e 30 de setembro. No dia 13 de outubro, um voluntário da TFP americana viajou a Portugal e depositou no local das aparições de Nossa Senhora em Fátima 7 .515 rosas - número correspondente aos lugares onde neste ano o Rosário foi recitado em público. •

Congresso da TFP americana

V

sando trocar ideias e traçar rumos para novas ações nos EUA, correspondentes e simpatizantes da TFP ame·icana reuniram-se em Spring Grove, na Pensilvânia. A maioria do pruticipantes havia tomado parte ativamente na realização do Rally do Rosário, seja na organização, seja na execução. O programa, transcorrido de 28 a 30 de outubro último constou de palestras proferidas por diretores da entidad~ sobre tem as de pa lpitante atualidade, como a perseguição religiosa no mundo de hoje e a onda de blasfêmias que se alastra por toda parte. Um convidado especial e orador consagrado v ioda Cal ifórnia para fazer uma exposição sobre o México ri stcr . Os dois dias de intenso estudo, reflexão e debate tiveram como fech cl ouro palavras de encorajamento de Dom Bertrand d ri an e B ragança, Príncipe Imperial do Brasil, que no últimos anos tem comparecido a esses congressos [à tribum1 na foto abaixo]. No mesmo v nlo fo i an unciado que uma campanha da TFP americana s realizava simultaneamente: jovens membros da entidacl p ' rcorriarn o Estado de Mississipi esclru·ecendo o público · s vésperas de um plebiscito a respeito do reconhecimento cio nascituro como ser humano. •

Neste ano, além dos Estados Unidos, outras 22 nações se associaram à recitação pública e simultânea do Rosário, envolvendo um total de mais de 200 mil fiéis. A maior concentração realizou-se na Quinta Avenida, a principal artéria de Nova York. Os transeuntes detinham-se para observar, informru·-se, tirar fotos ou filmai·, e até mesmo rezar juntos. Um senhor uruguaio , de 74 anos, comentou: "Considero

uma experiência realmente interessante da minha vida o ter assistido a um dos mais de 7 mil pontos do Rally do Rosário. Foi em Nova York, na Quinta Avenida, emfrente à Cate-

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CATOLICISMO DEZEMBRO 2011

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JORGE S CALA

Jornadas do Patrimônio na França

Ideologia

11 M ARCE LO D uFAUR

T

odos os anos, durante o terceiro fim -de-semana de sete mbro , rea li za m-se na Fra nça as Jo rnadas do Patrimônio. Vi ve-se nessa ocas ião uma situação privilegiada, pois é permitido ao público vi sitar construções do patrimônio naci onal: museus, monumentos, teatros, prédi os públicos e privados, castelos, prefeitu ras, palácios, institui ções, e mui tos outros locais que na vida de todos os dias só se pode ver de fora. Foi o caso do Château du Jaglu, situ ado próximo de Chartres, 100 km a leste de Pari s, que abriu suas portas nos dias 17 e 18 de setembro. Atualmente o castelo é ocupado pela Federação Pró-Europa Cri stã, entidade que agrupa diversas associ ações que defendem as raízes cristãs da E uropa em dez países do continente.

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o neototalitarismo e a morte da familia

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Ideologia

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Desde o século XVI o castelo do * * * ]agiu pertenceu à fa míli a d 'Espinay Saint-Luc. O atual castelo foi construído Nas recentes Jornadas do Patrimônio, a partir de 1830, sobre os al icerces de os visitantes fora m aco lhidos na entrada do castelo do ]agiu pe lo advogado Dr. Gerard um outro destruído pela Revolução FranDucray. Co m o espírito de síntese e a clacesa. vous ouvre ses portes pour les Journées du Patrimoine 2011 reza apanág ios dos fra nceses, ele os ia inNico las Marc Antoi ne, marquês trodu zindo na hi tóri a do castelo e lhes d'Espinay Saint-Luc ( 1733-1793), Seaprese ntava a Federaçao Pró-Europa nhor do Jaglu até a Revolução, Mosqueentre 1Oet 19 beures \ Cristã. Em segui da, jovens vo luntários das teiro e tenente-coronel do Regimento de Champagne, foi condenado por um tribuENTREE LIBRE l diversas associações que compõem a Federação mostravam detalhadamente os sanal revolucionário e guilhotinado durante 81 ,onnelll, SI s1uv11.W•MS"IIII Reaselgntmenl'.i : ChfllllU du Jagh•, a~ .. lfll. 02 31 63 09 10 lões, a mobíli a, os quadros e os obj etos o período do Terror, na atual Praça da 28170 Cllllllll . ..,....nvme• Concórdia, em Paris. de arte. O interesse do públi co superou as preSeus dois filh os, Antoine Amédée e Antoine Jules, reconstruíram o atual castelo sobre as ruínas visões: mais de 750 pessoas em dois di as. Muitos residentes do anterior. A hi stóri a registra a fa mília d 'Epinay Saint-Luc das redondezas, impressionados pela visita, agradeceram a amabilidade com que fo ram recebidos. No fi nal da tarde do no círculo de vários reis: Henrique III, Henrique IV, Luís segundo di a continuavam chegando muitos vi sitantes, sem XIII, Luís XVIII; e membros dessa fa mí lia passaram perto do castelo quando esco ltaram o rei Carl os X, último soberase incomodarem com a chuva que começava. • no Bourbon, que partia para o exílio. E-mail para o autor: catolicismo@ terracom.br

Le Château du Jaglu 17 et 18 SEPTEMBRE

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CAT OLICISMO

Durante o século passado, marxismo e nazismo almejaram criar um "homem novo" à custa de constantes banhos de sangue. A ideologia de gênero, igualmente totalitária, do mesmo modo quer conquistar diferentes povos e nações, mas não mediante a violência das armas. Tem a pretensão de modificar a estrutura íntima do ser humano por meio de uma transformação cultural levada a cabo pela manipulação da linguagem, pelo controle dos meios de propaganda. Trata-se, em definitivo, da tentativa de impor uma nova antropologia que é a origem de uma nova cosmologia e que provoca uma mudança total nas pautas morais da sociedade.

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Divino Infante, com majestade de verdadeiro Rei, repousa em seu presépio, embora seja ainda uma criança recém-nascida. Ele, Rei de toda majestade e de toda glória, o criador do Céu e da Terra, Deus encarnado feito homem. Ele, detentor desde o primeiro instante de seu ser - portanto já no claustro de Nossa Senhora - de mais majestade, mais grandeza, mais manifestações de força e de poder que todos os homens, em toda a História da humanidade. Ele, conhecedor de todas as coisas, sabendo incomparavelmente mais do que qualquer cientista. Ele, em vários momentos, manifestando na fisionomia, sempre variável, esta majestade feita de sabedoria, de santi dade, de ciência e de poder. Imaginemos perceber tudo isso misteriosamente expresso na fisionom ia desse Menino. Às vezes ao mover-se e no movimento aparecendo sua faceta de Rei. Abrindo os olhos e no olhar externando um fulgor de tal profundidade que n'Ele divisamos um grande sábio. Rodeando-O, uma atmosfera que nimba de santidade todos aqueles que d'Ele se acercam. Uma atmosfera de pureza tal, que as pessoas não se aproximam daquele local sem antes pedir perdão por seus pecados; mas, ao mesmo tempo, sentindo-se atraídas à emenda pela santidade que emana daquele sagrado recinto. • Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 29 de dezembro de 1973. Sem revisão do autor.


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