] PU NJO C ORRÊA DE OLIVEIRA
CONFIANÇA! ossa Senhora é Mãe de mi seri córdi a. Ela nos pede mui tas co isas, mas nos dá muitas co isas também. Prec isamos de tal ou tal co isa, e desej amos aquil o para tornar o nosso caminho um pouco mais leve, nós devemos achar que Nossa Senhora, na ma ior parte das vezes, nos da rá aquilo. Então devemos rezar com confiança: "Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! ". Ou então, "Lembrai- Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizet; que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro,fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular; como a Mãe recorro, de Vós me valho ". Quer dizer: confiança.
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-CATOLICISMO
Confia nça é a virtude pe la qual se confia na sabedori a e na bondade de Deus, pelos rogos de Mari a, se confia no amor materno de Nossa Senhora, especia lmente mi sericordi oso, espec ia lmente pró prio a perdoar, que faz d'Ela uma " longa manus" da mi sericórdi a divina. Confi ança é a certeza de que Ela me atenderá. Tal certeza, Ela a quer como condi ção para atender o nosso pedido. Ela atende, mas quer que se confi e. A prece do desconfiado sobe a Deus com mais dific uldade do que a prece do homem confia nte. A prece do desconfiado, daque le que não confia n' Ela, é como quem subi sse ao Céu passo a passo; a prece do homem confi ante, pe lo contrá rio, voa ! • Excertos da conferência proferida pe lo Prof. Plín io Corrêa de O live ira em 9 de fevereiro de 1985. Sem rev isão do autor.
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Expansão silenciosa da AIDS
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Meteorologista reflita ambientalismo radical
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O autêntico conceito de submissão
Retrospecto do atribulado ano de 2013 Le Nôtre - 400 anos do maior dos jardineiros
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AÇÃO CON'l'RA-RIWOLUCIONÁIUA AiVmrnN'l'ES ,
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A moral católica no processo civilizador
Nossa Capa: Raio atinge a cúpula da Basílica de São Pedro em Roma, poucas horas após a renúncia de Bento XVI, em 28-3-13. Foto: Alessandro di Meo/AFP.
Jardins de Versalhes JANEIRO 2014 -
Ca ro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração: Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (Oxx11) 3333-6716 Correspondência : Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda. E-mail: catolicismo@terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com .br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Janeiro de 2014: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso :
R$146,00 R$ 218,00 R$ 374,00 R$ 616,00 R$ 13,50
Em j ane iro de 201 3, a imagem simbólica do balanço anual, que tradiciona lmente Catolicismo apresenta em suas edi ções do primeiro mês do ano, fo i a bíblica Torre de Babe l. Para o título da matéria de capa da presente edi ção fo i esco lhida uma decorrência da construção da referida Torre: a confu são das lín guas. Com efeito, durante o último ano, o processo revo lucionári o se aprofundou, e com ele a confu são dos espíritos atingiu um clímax tal, qu e leva os homens a qu ase não se entenderem mais. Nesse sentido, os fa tos falam por si . Em fevere iro, "como raio em céu sereno", o Papa Bento X VI renunciou à Cátedra de Pedro. Franc isco l, o novo Papa, já desde o início do pontificado assumiu atitudes que ca usaram perplexidades em ambi entes católi cos e no públi co em gera l. Atitudes que se refl etem tanto no modo de apresentar-se quanto na maneira de se comuni ca r, gera lmente num estil o coloqui al, amiúde através de entrev istas. E tal maneira de agir tem causado confusão, especialmente em matéri as doutrinári as, exigindo posteri ores esclarec imentos, algun s dos quais não sufi cientes para eliminar todas as dúvidas. Tal situação se refletiu até em órgãos da mídia le iga, tendo um deles observado que "o Papa está lançando a l gr~ja em uma agitação como não se vê há séculos ". A "confusão das línguas" teve seu reflexo também no plano temporal, seja no âmbito bras ileiro, seja no de outras nações. Em países do Oc idente essa confusão se alastrou sensivelmente, enquanto no Oriente se articul a uma inic iati va até há pouco tempo impensável: a tentati va de apresentar o pres idente ru sso, Vl adimir Putin - anti go coronel da KGB - co mo pa ladino da civili zação cristã! Entretanto, em meio a essa balbúrdi a deve-se ressaltar um fato, terrível entre todos, a cuj o respeito ninguém fala: o silêncio de Deus, que parece afastar-Se da confu são uni versal. Mas , por outro lado, de modo alvi ssareiro, observamse sinais de que a Providência divina está reunindo cada vez mais almas, à marge m da confu são, preparando-as para se rem fi é is nos aco ntecimentos vindo uros, que devem se desenrolar até o gra nde triunfo anunciado por Nossa Senh ora em Fátima. Prezados le itores: sej amos dóceis ao chamado divino, para assim atendermos plenamente aos pedidos fo rmulados pela San ta Mãe de Deus em 1917. Desej o a todos uma leitu ra prove itosa das graves considerações expostas no arti go de capa. Em Jesus e Mari a,
CATOLICISMO
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
catolicismo@terra.com .br
DI RETOR
Primavera árabe revela ser um inverno cristão nquanto no Ocidente muitos católicos, entre eles altas autoridades eclesiásti cas, vão se entregando à prática de um ecumeni smo sem resultados favo ráveis para a Santa igreja, a perseguição aos cri stãos cresce por toda parte, sem qualquer resposta à altura. Os perseguidores costum am tomar o ecumeni smo como um sinal de fraqueza dos católi cos, quando não de covardi a, e se lançam com mais afoiteza à perseguição. Um impress ionante relatório intitulado Perseguidos e Esquecidos? fo i apresentado numa reunião das câmaras do Parl amento do Reino Unido pela associação Aj uda à Igreja que Sofre (AED, sigla em francês), em 17 de outubro último. O resumo que apresentamos abaixo é da agência de notícias "Correspondance européenne", de 20- 10-13.
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O relatóri o anali sa a situação dos cri stãos. em 30 países, espec ialmente vários predominantemente islâmi cos e nos Estados cuj os sistemas políticos têm um ca ráter autoritári o pronunciado. O período em análise abrange os últimos 30 meses. De acordo com John Pontifex , diretor de Info rmação do Gabinete britâni co da AED, "a conclusão principal do relatório é que, em dois terços dos países onde a perseguição aos cristãos é mais grave, os problemas, sem dúvida, pioraram ainda mais. De fato, em algumas áreas - esp ecialmente no Oriente Médio - a própria sobrevivência da Igreja está agora em perigo". Para os cri stãos, a chamada "Primavera Árabe" tornou-se, em numerosos casos, o que o relatório chama de "in verno cristão ". Se bem qu e as co nvul sões políticas trou xera m sofrim entos para pessoas de todas as religiões, fo ram principalmente as denominações cristãs as que mais claramente sofreram hostilidades e violências. Os cri stãos fo ram vítimas de todos os tipos de confli tos políticos, econômi cos, sociais e reli giosos - por exempl o, os conflitos entre muçulmanos sunitas e xiitas. Conseqüentemente, cri stãos em gra nde número fo ram forçados a fug ir. O relatório descreve o êxodo como sendo de "p roporções quase bíblicas. " De acordo com as info rmações apresentadas nesse relatório, a influência dos grupos fundam entalistas islâmi cos tem aumentado significati vamente ao longo· dos últimos 30
meses. Eles representam, ta lvez, a maior ameaça à liberdade religiosa no mundo de hoje. Seu obj eti vo é a eliminação, ou pelo menos a subjugação, dos cri stãos . Também nos países comuni stas os esforços para controlar a população cri stã aumentou. Na Coréia do Norte, nenhum a atividade reli giosa tem reconhec imento ofi cial, e aqueles que são tolerados são estritamente contro lados. A China insiste em afirm ar sua autoridade sobre todos os grupos cri stão , especialmente os que não são ofi cialmente reg istrados. Como ex plica John Ponti fex , "emerge de todos os depoimentos que os atos de perseguição parecem agora se agravar e tornar-se implacáveis: igrejas são incendiadas, cristãos são pressionados para se perverte,; há violências coletivas contra lares cristãos, seqüestros e estupros dej ovens cristãs, propaganda anti-cristã na mídia e impulsionada pelo governo, discriminação nas escolas e locais de trabalho [.. .} a lista é longa. O relatório Perseguidos e esquec idos? levanta sérias interrogações quanto ao engajamento da comunidade internacional a se levantar em.favor da liberdade religiosa ". *
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É preciso acrescentar: não é dever dos católi cos, especfalm ente das autoridades religiosas, mesmo as mais altas, empreender uma cruzada em favor de seus irmãos brutalmente martiri zados e pressionados para apostatar? Não é a inércia que provoca as lágrimas de Nossa Senhora, enquanto não chega a hora de provocar a cólera de Deus? • E-mail para o autor: cato licismo@terra.com.br
JAN EIRO 2014 -
Manifesta~ão nos Estados Unidos exigendo do governo tratamento para o controle da AIDS
AIDS, banalização do sexo e 1nocenc1a •
1 N ELSON RI BEIRO FRAGELLI
e modo geral, a mídi a noti cia a res peito da epidemi a da AIOS com a mesma relutância com que a vítima se declara infecta da por esse mal. Seri a lóg ico que uma e outra tivessem interesse em denunciar a doença a fi m de contê- la. Entretanto, de maneira enigmáti ca, ambas não se comportam ass im. Quanto à mídi a, a notícias alarmantes sucedemse longos períodos de enga noso sil êncio pretextando ev itar escânda lo. Esse fa lso recato desmobili za a opini ão, levando-
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- - CATOLI CI SMO
1\.
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a ao olvido de uma catástrofe que se presente de modo continuo aos espíritos poderia mais eficaz mente ser ev itada. As vítimas, quanto a elas, hes itam em procurar um médico. Elas se ex põem a um mal maior, temerosas de serem reconhec idas como portadoras da doença, de origem frequentemente vexaminosa. O senso cató li co da maioria sofre in stinti va mente um susto ao ver um conhecido in fectado. O que, sem dúvida, merece compaixão. No mais íntimo somos percorridos por um ca lafrio imedi ato. Ficamos sem saber como ajudar. E até mesmo temerosos.
Co mo ex pli car essa reação num povo afe ito à bondade? Por que essa tendência instinti va ao di stanciamento da víti ma por parte de quem está sempre pronto a ajudar? Não é apenas um receio de contaminar-se. Trata-se de um resto de pudor, se não de vergonha, porquanto esse mal é geralmente transmitido pelo abuso da prática sexual. *
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Entre aqueles que compõem a fa ixa da população mais exposta à infecção a chamada população de alto risco - es-
tão travestis, homossexuais, prostitutas, drogados. E sobre os que compõem esta triste população nosso povo bondoso mas também perspicaz - tem um juízo já feito. Embora esse juízo seja por vezes chamado de " preconceito" até mesmo por certas autoridades sanitárias acovardadas diante do dever de apontar o mal e os vícios dos quais ele origina, a maioria das consciências o conserva. Nossa mão benévola está sempre pronta a se estender aos necess itados, mas a realidade nos mostra que, em face da ALDS, essa mes ma mão estremece, recua, cri spa-se. E não se estende facilmente. À sua bondade outra virtude se sobrepõe e a faz hesitar. É sem duvida o bom senso proveniente de antiga tradição católica.
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Entre es tranh eza, repu gnância e desgostosa confo rmidade, cri anças são cruamente levadas a "explorar" em sa las de aula seu próprio corpo e os de seus co legas, tocando suas partes pudendas, manipul ando-as. O instinto sex ual é ass im exc itado quando o natural pud or in fa ntil aind a o ve lava. Essa práti ca co ntradi z vi olentamente o desej o de elevação própri o à in ocê nci a, outro ra ' legitimamente sati sfeito pelos mistéri os da História Sagrada, pela hero icidade dos soldadinhos de chum-
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Noticia o "O Estado de S. Paulo" (2- 12-1 3) o aumento alarmante dos casos de AI OS na população masculina, entre 15 e 24 anos. Este aumento, relativo ao período 2005201 2, fo i de 8 1%. Entre a população em geral houve em 20 11 o maior número de infecções: 40.535 doentes fora m identificados. Entre os 12 estados brasileiros com maior número de infecções, somente São Paulo e Rio de Janeiro apontam regressão durante aqueles mesmos anos. Precisamente os dois Estados mais devastados pelo mal. *
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A epidemi a ass ume atualmente um ca ráter inexorável. Uma das causas de seu agravamento é a "banalização do sexo" fe ita através das modas tendentes ao nudi smo, da pornografia, da internet, das práticas homossexuais etc. Entretanto, um dos mais anti gos veículos dessa banali zação - e certamente o mais perverso - é a "educação sex ual" nas esco las primári as. E até mesmo em jardins da infü ncia.
banalização torna a procura das práti cas sex uais obsess iva, faze ndo co m que como atesta o referido arti go - já aos 15 anos tantos jovens sej am esti gmatizados pela AI OS. E acrescenta serem os problemas brasileiros relacionados com a AIDS sem so lução.
Se a causa do mal, di zemos nós, é sobretudo mora l, a so lução não se rá encontrada fo ra de um rev igoramento de fo rmas e modos de vid a cri stãos, entre as quais se encontra pri oritariamente a proteção da inocência. • E-mail para o autor: calo li cismo@tcrra.co m.br
JAN EIRO 2014 -
minha fa mília que também leem esta publicação católica. Feliz Natal e Bom Ano Novo! (M.A.A.P. -
RJ)
"Vem Me11h10 Jesus"
A<lvento 18 Acabo de receber o exemplar de dezembro desta rev ista. Foi como se o Advento adquirisse um novo sentido! Desde a capa, lindíssima, até os artigos providenciais, oportunos e che ios de co nteúdo , até as lind as im age ns de N ossa Se nh ora e do Me nin o- De us. Tudo, tudo está espl êndido! Por favo r, peço e nvi are m com urgê nc ia c inco exemplares deste Catolicismo para dálos a pessoas ami gas para elas também receberem as graças que vêm por meio desta magnífica rev ista. Desde j á lhes fico grata pela atenção. (Z.L.C. -
SP)
Clima 11atalino Entrei no c lim a de N atal , ago ra , sim , lendo a rev ista Catolicismo deste mês [dezembro]. Muitíss imo obri gado ! Fe li z Natal a toda eq uipe e que no ano de 2014 continuem sempre firmes no bom combate pe la civili zação cristã, que nasce u co m o nascimento do Men ino Jesus em Belém, confo rme se depreende do exce lente artigo do Prof. Plíni o Co rrêa de Oliveira: "O
Santo Natal.foi o primeiro dia de vida da civilização cristã". (M.U.N -
RJ)
Fantástica a narração do milagre do Menino Jesus na Hungria. "VEM MENINO JESUS!" Devemos exclamar mais do que nunca. Isto porque hoj e a propaga nda e, infe lizmente, até os pais, só exc lamam : " Vem Papai Noel". Este velho-garoto-propaganda, personagem cri ado pela Coca-Co la, que procura substituir o verdadeiro espírito de Natal por um espírito mercantili sta. Muito importante também o arti go do Prof. Plínio, que nos fez muito bem. Gostei também dos textos sobre a origem ~as bolinhas de Natal e da "coroa. do advento"; vou procurar manter em casa essa tradição . Desta edição, menciono também a reve lação sobre os milagres que se passaram quando do nasc imento do Menino Jesus em Belém. Vi que o arti go " A In fa libilidade da lgreja" é muito importante e guardei para ler com tranquilidade nos meus dias de descanso no final do ano. (N.P.S.F. -
SP)
lmacula<la Entre tantos assuntos interessantes da revista, chamou muito minha atenção a hi stória da ruandesa Jmmacu lée Lliba g iza '(e ntrev ista da ed ição de dezembro/2013) . Já de cara o nome [mac ulada me·atra iu. Seria interessante se e la pudesse ser convidada para vir fazer confe rências no Brasil e contar ao vivo sua história de persegui ção, fa lar de sua fé, de sua devoção ao rosário e de tantas co isas in te ressantes que ela demonstra conhecer. Certamente Deus permitiu que ela sob revivesse ao genoc ídio em seu país justamente para poder contar t11do ao mL111do . Vo u comprar o livro dela que foi publi cado em português. (I.C.-ES)
Graças natalinas
'í1 Jnl'alibili<la<le <la Igreja "
- Agradeço as graças do Sa nto N ata l que os senhores me proporcionaram , bem como proporcionaram àqu eles de
Para mim fo i um presente de Natal a matéria sobre a infa libilidade da Igreja. Um presente que ca iu do céu,
-CATOLICISMO
poi s estava procurando um trabalho sério a respeito para esc larecer algumas interrogações que presentemente têm me ato rdoado, sobretudo lendo o noticiári o que chega de Roma. Acho que Catolicismo acertou no ponto certo e na hora certa com tal publicação. Que o Menino Deus os recompensem . (P.G.C.F. -
RS)
Dadaísmo Chamar de "arte" o dadaísmo é uma asne ira de troglodita. Estude i em um conservatório de Música e Pintura, me formando como Mestre em desenho e diversas técnicas de pintura e por esses ensinamentos conheci muitos grandes mestres. Agora ver esse tabuleiro com letras espalhadas e peças geométricas está mais para determinar retardados mentais em um paciente com di stúrbios psíquicos. (G.F.B. -
MG)
Desagravo Vendo o ato pagão no Santuário de Aparecida, simpl esmente chore i. Isto porque me senti sem forças , envergonhada e sem coragem de ped ir perdão a Cristo pela atitude tão explicitamente pagã de um corpo ad ministrativo de um Santuári o católico. Afinal tudo fo i feito com aprovação de um Bispo que deveria ser Apóstolo de Cristo. Pergunto: que palavras ou justificativas são sufi cientes para conve ncer os cató licos do mundo inteiro de que aq uele não fo i um ato anti cristão? Nós cató licos sempre fomos e continuaremos sendo os mais perseguidos e humilhados dentre todos os religiosos do mundo. Atitudes como essa só pioram a situação, penso que interesses não católi cos nortearam o projeto daquele ama ldi çoado carro alegórico com a "deusa" da justiça exposta à adoração no Santuário da minha Mãe Maria. Até quando nós católicos iremos, e m nom e do livre arb ítri o, permitir que alguns infié is infiltrados, lobos di sfarçados de corde iros, continuem profanando templos e afastando cató li cos da Igreja? Espero em Deus que essas minhas palavras sejam lidas por alguém realmente cató li co e, se possível , publicadas . Perdoem-me,
meus irmãos fieis, por essas palavras. É que -sou da roça e sei que um bom pastor sabe distinguir um lobo de uma ove lha, disfarçado ou não, sabe também que um só lobo é o suficiente para di spersar todo o rebanho e algumas ovelh as desesperadamente caem em despenhadeiros . Então, o que pode aco ntecer com um rebanho "orientado" ou "vigiado" por um lobo disfarçado de pastor e com muitos dos seus companheiros cam uflados entre as ovelhas? Penso que num rebanho há sempre ovelhas mais atentas e observadoras que, ao menor sinal de perigo, devem fazer barulho, muito barulho, ao ponto de incomodar o fazende iro que sa lvará grande parte do seu rebanho . (M .V.J.V. -
BA)
Perseguições à Igreja 1:8] Comentário sobre a entrev ista com Dom Cordi leone : A IGREJA vem sendo perseguida, atacada e lentamente destruída desde a crucifixão de NOSSO SENHOR, e a partir do ano 300, quando surge o "man iqueísmo", os ataques só faze m aumentar. Hoje, as agressões são declaradas, estão na mídia todos os dias, sejam em novelas, telejornais, programas de auditório, etc .. Ora ataca-se a religião, ora a família ou um padre, uma freira , e por aí vai. SEMPRE LEMBRANDO QUE COMUNISMO E MlSÉRlAANDAM DE MÃOS DADAS COM O ATEÍSMO E A FALSIDADE IDEOLÓGICA. (C.N.H. -AM)
Razão e Fé 1:8] Excelente entrevista [ediçao de
setembro/20 13, com o arceb ispo de São Francisco (EUA), Dom Sa lvatore Cordileone] , argumentação perfeita. Para reagir é preciso ter conhecimento de causa. O mais das vezes os inimigos da fé " não sabem o que estão fazendo". Mas nós, sim , precisamos saber - e mostrar para eles. Só assim se pode trazer as pessoas à razão. À razão simp lesmente, não se trata ainda da fé! Mas é tarefa nossa, porque não se alcança a fé em meio à irracionalidade .. . (M.A.A. - PE)
O bom uso de objetos preciosos segundo a doutrina católica "Seria injusto condenar a produção e o uso de objetos preciosos, sempre que eles correspondam a um fim honesto e conforme aos preceitos da lei moral. Tudo quanto contribui para o esplendor da vida social, tudo quanto lhe ressalta os aspectos jubilosos ou solenes, tudo quanto faz resplandecer nas coisas materiais a perenidade e a nobreza do espírito, merece ser respeitado e apreciado". (Pio XI1, Discurso de 9 de novembro de 1953, ao IV Congresso Nacional da Confederação Italiana de Ourives, Joalheiros e Afins - Discorsi e Radiomessaggi, vol. XV,
pág. 462).
FRASES SELECIONADAS "Quem é afavor do mundo socialista, da Rússia, ou da Cliina, ou de Cu6a, é tam6ém afavor do Estado assassino" (r--.ielsoV\, RocfrLgues)
"t impossível multiplicar riqueza dividindo-a" (Ach·foV\, Rogers)
"No meu dicionário, 'socialista' é o sujeito que alardeia intenções e dispensa resultados; adora ser 9eneroso com o dinheiro aflieio e prega i911aúíade social, mas se considera mais igu.af que os outros ... ". (Roberto C.C!Vv\.pos)
JA N EIRO 2014 -
11Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC
Pergunta - O pároco de uma paróquia, na capital do Estado em qu e moro, recentemente, numa reunião de um a associação leiga, afirmou categoricamente que a doutrina sobre o pecado original não é aceita universalmente pela igreja e que é um pensamento de Santo Agostinho. Ora, é bem sabido que a Patrística, o ensinamento teológico dos santos e o Ma gistério Pontifício têm reiteradamente ensinado a doutrina do pecado origin al como verd ade de fé. O qu e responder ao mencionado padre?
Resposta - A doutrina do pecado ori g ina l não só é uma verdade de fé como é uma verdadefimdamentaLde nossa fé. Fundamental significa que é uma das verdades sobre as quais se constrói todo o edifício de nossa fé : retirada essa pedra, todo o edi fíc io da fé católi ca vem aba ixo, desmorona. Prec i a mente sob o títul o: O pecado originai - uma verdade .fundamental dafé, o Catecismo da Igreja Católica afi rm a categori ca mente, em seu nº 389: "A doutrina dope-
cado original é, por assim dize,; o reverso da Boa-Nova de que Jesus é o Salvador de todos os homens, de que todos têm necessidade da salvação e de que a salvação é oferecida a todos, graças a Cristo. A l g reja, que tem o sentido de Cristo (cF J Co,: 2, J6), sabe bem que mio pode tocar-se na revelação do p ecado original sem atentar contra o mistério tle Cristo ". E m outras palav ras, se o pecado ori g inal não ex istiu, cabe perguntar o que Jesus Cristo ve io faze r na Terra e em que sentido Ele é nosso Sa lvador e Redentor. O Catecismo logo acrescenta (nº 390) que "a Revelação dános a certeza de/ e tle que toda a história humana está marcada pela/alta original, livremente cometida pelos nossos primeiros pais". E remete, como fo nte dessa afirmação, ao Concílio de Trento (cfr. Denzinger-Shõnmetzer [D-S] nº 15 13), ademais de Pio XII (0-S nº 3897) e Paulo VI (AAS vol. 58, 1966). Trata-se, po is, de um ponto perfe itamente estabe lecido na do utrina cató lica. E é rea lmente estra nho que um pároco p ossa afirm ar, numa re uni ão de seus paroquianos, que a doutrina do pecado orig ina l não é uni ve rsa lmente ace ita pela Igrej a ! O consulente pode então mostrar ao seu pároco os do is tópicos acima citados e pergun tar-lhe se ac ha que o Catecismo da fgr~ja Católica está errado nesse ponto .. .
Onde entrn Santo Agostinho 1,a histól'ia P ara o ta l pároco, essa seri a uma doutrina ex posta por Sa nto Agost inh o , po rém não ace ita univ ersa lme nte pe la Ig rej a. Convém, po is, reca pi tul ar a lg un s pontos da Hi stóri a da Igrej a, em que Santo Agostinho se bate u valente mente contra a heres ia do pelagianismo, a qual negava prec isamente a doutrina do pecado origina l.
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CATOLICI SMO
A narrativa dessa epopeia é fe ita, mui to resumidamente, em dez páginas do tomo J da História da Igreja Católica da BAC (Bibli oteca de A utores C ristianos), de autoria do Pe. Bernardino LI orca S.J. (pp . 542-55 1, 2ª ed ., 1955). Como só dispomos de 60 linhas para compl eta r a presente matéria, o le itor terá de se conte nta r com um res umo do resumo !. ..
A (/Olltl'ina pelagia1,a O mo nge Pe lág io , proveni e nte (não é ce rto) da G rã Bretanha, aparece em Roma em princí pios do século V, onde logo alcançou grande fa ma como di retor espiritual, re unindo em torno de si muitos admi radores, principa lmente donzelas e matronas, ma is ou menos amigas de nov idades. Era ajudado por outro monge, Celéstio, muito ma is habilidoso nas di scussões que seu mestre. Pelágio e Celéstio pregavam que o homem, sem necess idade de nenhum auxílio sobrenatura l, pode evi ta r todo pecado e pra ticar todas as boas obras. l.sto porque a natu reza humana é tão perfe ita como a de Adão antes do pecado, te ndo em v ista que o pecado de Adão fo i só de Adão, e não se tra nsmi tiu aos seus descendentes . Não ex istiu , portanto, pecado orig ina l, e a natureza humana continuou perfe ita e inconta min ada, sendo capaz de todo bem, sem o auxíli o da graça. É fác il faze r o bem, basta querer. Tudo depende de nós mesmos . As consequênc ias dessa doutrina são fáce is de ti ra r. A obra redentora de Jesus C ri sto resul tava compl etamente inútil. A sati sfação obtida por Cri sto era supérflu a. Jesus nos ajuda somente com se u exempl o. Seus méri tos e graças não faze m fa lta ao homem. A oração é também supérflua, já que o homem te m, com suas própri as fo rças, intei ra sufic iênc ia. É o que os autores cató licos chamam de soberba peLagiana. Quando esta nova ideologia contava já com uma mul tidão de partidários na C idade Eterna, no ano 41 Odeu-se a entrada dos visigodos em Roma, ca pitaneados por Alari co. Pelágio e Celésti o fu gira m para Cartago. Pe lágio logo se tras ladou para o Oriente, enquanto Celéstio continuava em Cartago, defendendo com ardor as novas ideias.
Santo Agostinho inicia sua intel'venção O prime iro a chamar a atenção para os erros do pe lagiani smo fo i Paulino, um diáco no origin ári o de Milão. E m um sínodo rea lizado em Cartago, em 411 , aponto u os perigos da nova ideolog ia. O concíli o, alarmado e vendo que Ce lésti o não queria retrata r-se, lançou a excomunhão contra e le, condenando ao mesmo tempo sete pro pos ições que constituem a síntese do pelagiani s mo, dentre as quais destaco aqui a terceira : "As crianças recém-nascidas se encontram naquele estado em que se achava Adão antes de sua prevaricação". O sacramento do Batismo era- lhes, porta nto, supérfluo. Celéstio, desmascarado, partiu para o Oriente, estabe lecendo-se em Éfeso, onde conseguiu ordenar-se sacerdote.
No célebre quadro da Anuncla~ão, de Fra Angélico, aparecem, de um lado, Adão e Eva sendo expulsos do Paraíso, após a sua prevarica~ão. Do outro lado, o Arcanjo São Gabriel anuncia à Virgem Maria, que Ela seria a Mãe de Jesus Cristo, que vinha à Terra para redimir os homens do pecado original, que herdaram de nossos primeiros pais por via de gera~ão. A heresia pelagiana rejeita a doutrina do pecado original e torna sem sentido a obra salvífica de Jesus Cristo.
Santo Agos tinho, até então ocupado com o problema dos donati stas, a partir de 41 2 passou a ocupar-se ta mbém dos pelagianos, escrevendo uma série de obras. N elas, rebate a doutrina de que o p ecado de Adão só se transmite por imitação , não por propagação, e defe nde a ex istência do pecado original em todos os homens, de onde se dedu z a necess idade do bati smo para todos os homens, inclusive das cri anças. E m outra obra, rebate o primeiro subterfúgio dos hereges, que falavam de uma graça meramente extrín seca , consistente na lei e nos prece itos evangéli cos, e prova que a graça deve ser intern a, com a ve rdadeira sa ntificação da vo ntade. Um dos li vros fu ndamentais de Santo Agostinho nesta matéria, composto em 4 l 5, sob o títul o Da natureza e da graça, vo lta a mostra r que a natureza humana, viciada pelo pecado orig inal, necess ita abso lutamente da graça interna para obrar bem ; e insiste na gratuidade do dom da graça, que de pende unicamente da benevolênc ia de Deus. Por estes exempl os, o leitor pode perceber a profundidade com que Santo Agostinho tratou do ass unto, e como sua atuação fo i verdade ira mente prov idencial para debelar a heres ia pelagiana. Fa lta ria mostrar co mo esta heres ia acabou sendo condenada - de pois de muitas peri pécias e vaci lações - por três papas sucess ivos, e fi na lmente pe lo Concí li o de Éfeso, no ano de 43 1, e o papel fund amenta l de Santo Agostinho para
esse desfecho. Mas isso extravasa ri a - de muito - o espaço disp oní vel. Fique a penas um registro: a luz que Santo Agostinho lançou sobre o tema atravesso u os sécul os e chegou até os dias de hoj e, como prova o Catecismo da Igreja Católica, que citamos de iníci o. Foi e le publicado, com todas as chancelas eclesiásti cas, em 1992.
Uma intel'l'ogação final F iça a penas uma interrogação fin al: as heres ias são ve nc idas, mas os seus seguidores, embora redu zidos à insignificâ nc ia, se metamorfose iam e remanescem; a pregação do pároco citado pelo mi ss ivi sta estaria a indicar que o pelag ianismo - em uma nova ve rsão recondic ionada para os te mpos modernos - ainda pretende levantar a cabeça 1.600 anos depo is? A insó lita revivescência, em março de 201 3, do chamado Pacto das Catacumbas, ass inado por 40 Bispos em novembro de J 965 , no ocaso do Concílio Vati cano II, como um programa a ser rea lizado num eventua l Concíli o Vatica no III, estaria a indi ca r que sim! Neste caso, precisaremos das obras de um novo Santo Agostinho! ... • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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A REALIDADE CONCISAMENTE Defender a legalidade é crime na China de Xi s advogados chineses que defendem internautas, j orna li stas e dissidentes estão sofrendo repressão políti ca desencadeada pelo novo pres idente sociali sta X i Jinping. A lg uns advogados fora m proibidos de defender causas "sensíveis" e tiveram que abandonar seus cli entes no meio do processo. Quando as intimidações não desanimam os di ss identes, os advogados podem ser tortu rados até seus c li entes mud arem de pensa me nto. Fo i o caso de Tang Jiti an, preso em Heilongjiang porque advogava em favor uma mulher condenada a trabalhos fo rçados em virtude de suas crenças reli giosas. Defender a lega lidade na China de X i to rnou-se crime punido com pri são, campo de trabalhos fo rçados e to rtura. •
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Matilhas de lobos devoram até cavalos na França a França, o lobo pode mata r à vo ntade e ai do pastor que defe nder o rebanho contra essa "espéc ie protegida" em "via de ex tinção". Após se mul tipli carem à vontade nos A lpes, resguardados pela legis lação amb ientali sta, os lobos infes tara m as montanhas dos Vosges e passaram a depredar as planícies da Champagne. As matilhas atacam até cavalos e cac horros dos pastores. Em 20 12 fora m registrados 800 ataques na região dos Alpes-Marítimos, onde se perderam 2.4 l 7 ca beças de ov inos, um te rço das perdas tota is na França. Os prefe itos de Haute- Marne e de Aube auto ri zaram tiros de defesa. Mas a dec isão sublevou os deputados "verdes" que no Parlamento francês estão aliados à maiori a soc iali sta. A morte das ove lhas e o da no causado aos ho mens não interessa m a esses autoproc lamados amantes da natureza. •
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lgreia do Planeta que Aquece" possui 11dogmas" e 11 pontífices?" Prof. Larry Be ll , da Uni versidade de Houston (EUA), de nunc io u os m ili ta ntes do catastrofis mo ambi enta li sta como membros da "Jgr<4ja da ONU do Planeta que Aquece". Para Be ll , a re li g ião amb ienta li sta quer nos punir pe lo nosso " pecado" de prospe ridade. O professor de Meteoro logia do MIT (EUA), Richard L indzen, defi niu o "aquec imento global" co mo um dog ma da " re lig ião a larmi sta" que co nvoca a uma cruzada de cruz invertida contra os humanos. Michael Cri chto n, escri to r da nove la "Jurass ic Park", te ria redigido o Credo da nova " re iigião": "Nós pecamos contra a energia e estamos condenados a p erece,~ a menos que procuremos a salvação, que agora se chama 'sustentabilidade'. A sustentabilidade é a salvação na igreja do Meio Ambiente, da mesma maneira que o alimento orgânico é sua 'comunhão ' sem Cristo, e a água sem pesticidas é a água benta para o p essoal def é reta". Se essa crença se impuser, a humanidade poderi a ser julgada pelo tribuna l da Inqu isição "verde". •
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CATOLI C I SM O
Povo ucraniano recusa a canga de Putin
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Ucrâni a negoc iava um aco rdo de associ ação com a Uni ão Europe ia. Ma lgrado os aspectos negativos dessa aproximação, ta l acordo a afastaria das garras da Rúss ia de Putin e te ria um efe ito pos itivo maior. Porém, o atual presidente, Vi kto r Yanu kovi ch, é um dóc il instrumento de Vl adimir P utin, que te nta engoli r a Ucrânia, outrora "j o ia da coroa" da UR SS. Mani pul ando o pres idente e deputados pró-ru ssos, Putin vetou dito acordo. Mas o povo ucraniano saiu às ruas das grandes c idades para repudiar a manobra de Moscou. O centro da capi ta l, Kiev, fo i literalmente inundado de manifes tantes ex igindo o fim da suj eição ao presidente russo, que se disfarça ardilosamente de cristão. Evidenciando seu caráter anticomunista, a população derrubou uma grande estátua de Lenine que desde 1946 dominava um bulevar de Ki ev. O braço de ferro continua, mas a resistência ucraniana está ti rando a máscara de Putin. •
Bebê 11 eutanasiado" chora no momento da crema~ão m menino chinês fo i objeto ele um a eutanásia no hospita l pedi átri co da prov íncia de Anhui (leste da China) . Porém, co meço u a chorar qu ando estava prestes a ser cremado. Os pais do bebê - de menos de um mês e gravemente doente - ace itara m a eutanás ia proposta pelos médicos para acabar com a vida do inocente, afirm aram fo ntes do hospita l à agência oficial Xin hua. Após a assinatura da certidão de óbito, o bebê fo i entregue a uma fun erária, que não efetuou a cremação porque a cri ança começo u a chora r. O caso patenteia a desumanidade do procedimentos contra a natalidade na China comuni sta. Mas, é só na China? O fato poderi a ter ocorrido no Ocidente, com ou sem lei de eutanás ia. A China está apenas um pouco à frente na desapi edada corrida da "cul tura da morte" hosti l à existência humana. •
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Sul-africanos escarnecem de Mandela nas suas exéquias oficiais mídi a mundi al fez ini gualável fes ta para enterrar o ex-guerrilheiro marxista sul-afri cano Nelson Mandela. Porém, o povo teve atitudes fri as e até hosti s em relação ao líder esquerd ista. O estádi o da gra nde cerimônia ofi cial fi cou metade vazio. O pres idente Jacob Zuma, herdeiro de Mandela, fo i va iado. Outro companheiro de Ma ndela, o arcebispo angli ca no Des mond Tutu, teve sua casa depenada. O intérprete para surdos que " traduziu" os di scursos dos chefes de Estado estra ngeiros gesticul ou palh açaclas j un to ao pres idente ameri cano Barack Obama. " O que deveria ter sido um momento de glória virou de humilhação " , e creveu o jorn al "The Star". O " Business Day" co mparo u as vaias com os apl ausos de que fo i obj eto o "último presidente do apartheid, Frederik de Klerk ", contra quem lutou Mandela. O grande títul o do diári o "Tim es" fo i " Rain Boo Nati on" (" nação da chuva de va ias"), parafrasea ndo a ex pressão " Rainbow Nation" ("nação arco-í ri s"), do própri o Mandela. •
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Nelson Mandela reunido com Fidel Castro
Imagens sagradas admiravelmente 1neservadas nas Filipinas m 2013, duas enormes calamidades flagelaram as Filipinas. Em outubro, um terremoto danificou grandes e sólidas igrejas coloniais , e em novembro o tufão Haiyan causou aproximadamente 4.000 mortes. Em ambas ocasiões imagens do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora ficaram admiravelmente intactas. Por exemplo, em Bohol, todo o muro da igreja caiu, exceto a parte onde estava a imagem de Nossa Senhora. "É um milagre ", dizia Carol Ann Balansag, apontando para a imagem da padroeira na igreja de Santa Cruz em Barangay, província de Bohol, intacta em meio aos destroços. Entre as ruínas da igreja de Nossa Senhora da Luz, na cidade de Loon , os fiéis rezavam diante da padroeira, também salva. Não haverá em todas estas proteções um ensinamento, e quiçá um aviso, também para nós?
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Centenas de igreias católicas na Holanda serão fechadas ntre 600 e 700 igrejas católicas serão entregues ao uso profano nos próximos cinco anos na Holanda . Entre 1970 e 2008 , foram demolidas 205 igrejas, enquanto outras 148 foram convertidas em lojas, centros de saúde, restaurantes , apartamentos , etc. Teme-se que algumas antigas igrejas virem mesquitas. A Holanda conserva 1.267 igrejas paroquiais católicas , mas só há 2.804 padres e 179 seminaristas. Fecham-se duas igrejas por semana . Algumas viraram livrarias ou teatros , bem ao gosto do progressismo miserabilista . Os objetos religiosos foram repassados para igrejas de diversos continentes. Alguns bares e discotecas as adquirem para escarnecer da religião católica . A degringolada é uma decorrência da modernização feita em nome do "espírito do Vaticano li". Esse "espírito" redu ziu ao mínimo o número de eclesiásticos e de fiéis , sendo que agora está liquidando o patrimônio eclesiástico . Em sentido contrário, congregações tradicionais procuram esses templos e objetos para restaurar o culto católico anterior ao Concílio Vaticano li.
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SOS FAMÍLIA
Magnificat pela Croácia! A histórica vitória no refcrendo croata foi um
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exemplo para todas as nações. O resultado das urnas, que garante proteção constitucional à Instituição da família tradicional, não agradou ao Parlamento Europeu.
a PAuLo RoBERTo CAMPos
odemos cantar o Magnificai pela católica Croácia! Este pequeno país balcânico pronunciou um rotundo NÃO ao "matrimônio" entre duplas do mesmo sexo. Seu brado em prol da família natural e tradicional pai, mãe e filhos - ecoou pelos quatro cantos do mundo . Com o resultado do referendo, transcorrido no dia 1° de dezembro, fica estabelecido na Constituição do país que a família somente pode ser constituída entre um homem e uma mulher. Nada de mais natural! O presidente croata, Ivo Josipovic, e seu primeiro-ministro Zoran Milanovic, ambos socialistas, pretendiam aprovar o "casamento" homossexual. Em tal intento, foram apoiados pelos partidos de esquerda, pelo lobby homossexual e pela mídia esquerdista, especialmente a TV estatal - sem falar da forte pressão exercida no mesmo sentido pelo Parlamento Europeu. Do lado oposto, católicos defensores dos valores da família, mediante mobilização inédita, aglutinaram quase seis mil voluntários numa coligação denominada "U /me Obitelji"(Em nome da Família), a fim de coletar assinaturas e obrigar o governo a realizar um referendo consultando a população croata: "Você é a favor à introdução na Constituição da definição de matrimônio como a união entre homem e mulher?"
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CATOLICISMO
Para a realização do referendo havia necessidade, segundo as leis vigentes, de 450 mil assinaturas ( 10% do eleitorado croata). Obteve-se um resultado bem superior às expectativas: 750 mil firmas! O que representa muito para um pequeno país de 4,3 milhões de habitantes (88% dos quais são católicos). Assim, o Parlamento teve que aprovar a convocação do referendo. No histórico dia 1º-12-13 a população foi às urnas. Resultado : a grande maioria dos croatas (65,8%) votou contra o "casamento" homossexual e manifestou-se favorável à definiçã.o de família como constituída exclusivamente entre homem e mulher. Venceu o bom senso, preponderou a Lei de Deus e a Le natural!
Democracia sem COl1Slllta JJOJJlllar? A Croácia tornou-se o 28º membro da União Europeia (UE) em 1º de julho de 2013 e, graças a Deus, já cravou uma ce1teira flech a na Revolução Cultural promovida pela UE - que pressiona as nações para a legali zação do "matrimônio" homossexual e da adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo. Tanto a UE quanto certa mídia, que fez intensa campanha contra a realização do referendo, ainda não conseguiram "engolir" o resultado que concede proteção constitucional à família . Os leitores bem podem imaginar o que aconteceria se vencessem os partidários do pseudo-casamento entre pares do mesmo sexo ... Esses mesmos meios
Bem-aventurado Cardeal Aloysius Stepinac
de comunicação, que adotam estranho conceito de democracia, estariam até hoje publicando grandes manchetes como " Vitória da d e mo cra c ia na Croácia! ". Para eles, democracia existe quando o povo escolhe pontos da agenda homossexual; quando o mesmo povo rejeita tal agenda, a mídia abafa o resultado e o critica como "homofóbico" .. .
"Rezai' para sempre Céu por todos vós"
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poderíamos considerá-la como Escudo ,ia Família. Que seu exemplo possa ser seguido no Brasil e no mundo! Atualmente, o "casamento" homossexual, ou pelo menos a "união civil", tem sido aprovado por decisão judicial nos tribunais de várias nações, pois os promotores do movimento homossexual sabem que, se forem realizados referendos, serão rejeitados , ficando evidenciada uma verdade que eles não querem encarar: o povo, de modo geral,
é contrário a tal legalização! Por isso, a UE é contrária à consulta popular... Isto é democracia?! A pequena, mas gloriosa e católica Croácia já começa a receber pressões internacionais para deslegitimar o resultado das urnas e reverter a situação atual pró-família. Será uma dura luta entre David e Golias, mas, no final , Deus nos dará a vitória. • E-mail para o autor: ca toli cismo@terra.com.br
Poder-se-ia perguntar se o grande prelado croata, o bem-aventurado Cardeal Aloysius Stepinac (I 898-1960), mártir do regime comunista iugoslavo, não foi o intercessor junto a Deus para que se alcançasse tão esmagadora vitória da família tradicional. Com efeito, em seu Testamento Espiritual, o heroico cardeal deixou registrado: "Espero que o misericordioso Jesus me dará a graça de poder rezar para sempre no Céu por todos vós, enquanto existir o mundo e durar a nossa diocese, afim de que se cumpra a meta para a qual Deus vos criou. " No passado, a Croácia foi conhecida como Esc,ulo ,la Cristmul<ule, devido à sua glória de defender a Europa contra invasões maometanas. No presente ,
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VARIEDADES
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ncontros sociais às vezes são cansativos, às vezes são esclarecedores. Tive de ir a um jantar promovido por amigos, ao qual compareceram pessoas das mais diversas tendências ideológicas e temperamentais. Tudo começou num salão, onde se tomavam aperitivos vários, acompanhados de azeitonas recheadas e salgadinhos, em diversas mesas redondas, em tomo das quais se aglutinavam pequenos grupos de ocasião, que entabulavam conversas de todo tipo. Aprox im ei-me de um desses grupos, composto por umas sete ou oito pessoas, e logo notei que o álcool, mesmo moderado, além de alegrar os corações, so lta as línguas ... Um indivíduo de e tatura méd ia, cabeça raspada, rosto avermelhado e o lhos um tanto esbugalhados, comentava: - "Estou começando a gostar da Igreja. Com o novo Papa, vejo que minhas posições a.fàvor do aborto, do casamento homossexual, do socialismo, dos matrimônios sucessivos e dos vários tipos de pílula são agora
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CATOLIC ISMO
compreendidas. Sempre fai ateu e combati a Igreja, mas agora ela está mudando. Penso em deixar de criticá-la''. - "Ela não está propriamente mudando ", disse eufórico um indivíduo roliço, de orelhas grandes, que eu já vira várias vezes sair de prédios eclesiásticos, e que desconfio ser diácono ou pelo menos ministro da Eucaristia. Em todo o caso, certamente um "progressista". "Ela está se adaptando aos dias de hoje e isso é bom, está seguindo o Concílio Vaticano li", afirmou. Passei os olhos pela roda e notei uma grande perplexidade nos presentes. Um desses perpl exos, que logo mostrou ser cató lico fervoroso, faze ndo esfo rço para vencer a inibi ção de falar do Papa Francisco, atalhou: - "V fa la em adaptar-se aos dias de hoj e e cita o Concílio Vaticano 11. Esse Concílio j á está ficando velho, tem pelo menos 50 anos. Eu nem sequer era nascido quando ele se deu. A novidade hoje em dia é que boa parte da juventude está buscando posições mais conservadoras. Vej a, por exemplo, as man/f"estações m11/titudinária na França contra o casamento
homossexual e o socialismo, as manifestações de junho no Brasil, a proliferação dos grupos pró-vida". A essa altura resolvi intervir. - "Estou achando interessante essa discussão. Por isso queria p erguntar como vocês encaixam nesse panorama as afirmações de Paulo VI de que a Igreja estava sujeita a um processo de autodemolição (já no tempo dele!) e que a fumaça de Satanás penetrara no templo de Deus ". Um silêncio pesado seguiu-se à minha intervenção. Notei que a perplexidade aumentava. Quebrou o silêncio o "progressista": - "Olha cara, disse-me ele, a doutrina não mudou em nada. Francisco está pondo apenas em execução uma nova pastoral. O tempo de São Pio X passou ". Eu ia responder que não me tinha referido a nenhuma doutrina, mas que, de outro lado, a toda pastoral corresponde uma ideologia por detrás, ainda que não explícita. Entretanto, não pude fazê-lo, porque fui atalhado pelo católico fervoroso que di sse:
- "Não é porque São Pio X morreu que os ensinamentos dele não valem mais. Aliás, a Igreja tem uma tradição imutável. Além disso, as palavras do Papa Francisco não têm o peso de um ato infalível. Ele não quis fazer isso ". A discussão - talvez se prefira qualificá-la de diálogo - terminou abruptamente com o aviso de que o jantar deveria ter início. Cada um daquela roda foi designado para uma mesa diferente. Na medida em que nos encaminhávamos para o salão principal, fui observando as fisionomias dos componentes da roda. Todos estavam perplexos com os acontecimentos. Não de uma perplexidade qualquer, mas como que agredidos pela perplexidade. Lembrei-me então do título de um artigo de Plínio Corrêa de Oliveira que li anos atrás: "Perplexidade que agride" . Ele falava de uma saudação enviada por Paulo VI ao marxista Salvador Allende, que vencera havia pouco a eleição presidencial no Chile. • E-mail para o autor: calolicismo@tcrra.corn.br
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''Aquecimento global" opinião de abalizado especialista refuta alarmismo climático ecentemente foi publicado o 5º Relatório/2013 (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Repleto de informações incoerentes, tal relatório é louvado por adeptos da "ideologia verde", mas severamente criticado por cientistas sérios que não seguem a onda "politicamente correta". Um desses cientistas é o Prof. Luiz Carlos Molion, PHD em Meteorologia e professor de Climatologia e Mudanças Climáticas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em Maceió g_ - onde também dirige o Instituto j de Ciências Atmosféricas (ICAT). j Formado em Física pela USP, ~ com doutorado em Meteorologia ~ --""·~"""'-1 pela Universidade de Wisconsin ~ l-~-.. (EUA) e pós-doutorado na Inglaterra. Ex-diretor e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em entrevista obtida por Nelson Ramos Barretto, correspondente de Catolicismo na capital federal , o ilustre climatólogo e professor da UFAL aponta inconsistências, e até mesmo fraudes científicas, nas teses defendidas sobre o tão propalado "aquecimento global".
Catolicismo - A cada seis anos o IPCC, principal divulgador de "Mudanças Climáticas do Planeta", publica um Relatório feito por centenas de cientistas, políticos e ambientalistas. O mais recente, o 5° Relatório de 2013, atendeu às expectativas?
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Prol: Molio11: "Tal como as "pl'evisões" do IPCC, os rnsultados publicados pelo PBMC 11ão mel'ecem credibilidade alguma e os pmdutores rurais podem dormh· tra11quilos"
Prol Molion - O 5° Relatóri o (ARS) do lPCC, lançado em fi nal de setembro, fi cou mui to abaixo das expectati vas. É confuso, obscuro e continua insistindo em que a temperatu ra tem aumentado e em que há 95% de certeza de que esse aumento seja provocado por atividades humanas. Os dados observados, porém, mostram que a temperatura média global está estáve l ou até em ligeiro declínio há 16 anos - o que vem sendo chamado de "hiato do clima" - enquanto a concentração de C0 2 aumentou em 10% no mesmo período. Isso levou o Prof. Richard Lindzen, do Massachussetts lnstitute o/ Technology (MIT), EUA - um dos mais res peitados meteorologistas do mundo - a afi rmar que "o AR5 desceu ao nível de incoerência hilariante e que é surpreendente as 'contorções' que o JPCC tem f eito para manter as mudanças climáticas na agenda internacional ". No ARS, o IPCC faz projeções ainda mais catastrófi cas para o clima global, como aumento de temperatura médi a global de até 6 ºC e aumento do nível do mar de até 98 cm para o ano 2 100. Catolicismo -
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CATOLICISMO
O que aconteceu com as
previsões de aumento da temperatura do Planeta? l'rr~f: Molion - De acord o com as previsões fe itas j á no Primeiro Relatóri o (FAR) do IPCC em 1990, a tempera tura g loba l j á deveria estar cerca de 1º C acima do que se registra hoj e. Os relatóri os subsequentes também superestimara m as previsões. A temperatu ra tem-se mantido estável e o IPCC tem tentado ex pli car esse " hi ato" com argumentos não comprovados, como o de que o excesso de ca lor te ri a sido absorvido pelos oceanos, mudanças no c iclo so lar, erupções vulcânicas ca usando resfri amento, dentre outros. Chega m até a confessa r que
Para o IPCC, até as erupções vulcânicas teriam absorvido o excesso de calor, provocando o esfriamento de muitas regiões do planeta
"alguns modelos podem estar superestimando a intensificação do ef eilo-estirfa e o aquecimento ". Mode los de c lima não reprodu ze m a va riabilidade natura l do c lima por não representa rem adequadamente os processos físicos que controlam o clima global, se utili za m de cenári os fu turos que são fi ctíc ios, ou sej a, fe itos pela mente humana, e, portanto, seus resultados, suas " previ sões", são meros exercícios acadêmi cos que não se prestam para o pl anej amento das a ti vid ades hum anas a longo prazo. Modelos nunca fora m validados. Os resultados publicados no Relatório de Avaliação Nacional nº 1 (RAN 1), do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas ( PBMC), também são catastróficos e afi rmam, por exemplo, que a te mperatura dos
"O Painel lntergovername11tal não sabe ex11lical' /JOJ' que a Antál'tica registl'ou um recorde <le cobertura de gelo nesse fJCJ'ÍOdo [set-2012 a set2013)"
Cerra dos, um dos ce le iros do mundo, vai aumentar de 5ºC e a precipitação pluviométrica decrescer de 35% no verão a partir de 204 1, enquanto na Região Sul a temperatura e a prec ipi tação vão aumentar de 3º C e 35% respecti va mente, no inverno, a partir de 207 1. Ta l como as " prev isões" do IPCC, os resultados publicados pe lo PBMC não merecem credibilidade a lguma e os produtores rurais podem dormir tra nquilos. Catolicismo - Em 2007 foi feita uma previsão de que o Ártico estaria sem gelo em setembro de 2013? O que ocorreu? l'roj: Mo/ion - Em setembro de 201 2, o Ártico reg istro u o maior dege lo na era dos saté lites - que começaram a coletar dados operacionalmente a partir de 1979 - uma área de 2,8 milhões de km 2. Em setembro de 20 13, po rém, o degelo fo i de apenas 1,2 milhões de k.m 2, o u sej a, uma " recuperação" de 1,6 milhões de km2 em um ano, que o [PCC não sabe ex plica r, como também não explica por que a Antártica registro u um record e de cobertura de gelo nesse período. Uma possíve l ex plicação está no Ciclo Nodal Lunar, também conhecido como Ciclo Saros, que é um ciclo de 18,6 anos de du ração e é caracteri zado pela variação do ângulo que o plano da órbita lunar fa z com re lação ao equador terrestre. Quando a Lua está no máx imo desse c ic lo (28,6° de inclinação),
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co mo em 2007, e la pu xa gravitac io na lmente a superfíc ie dos oceanos fora dos trópicos . Isso cri a um desnível hidráuli co entre os oceanos subtropica is e os po lares, aumenta a ve locidade das correntes marinh as que tra nsportam mais ca lor dos trópicos para os polos . A ág ua ma is aquecida das correntes marinh as entra po r deba ixo do ge lo fl utuante, de rrete pa rc ia lmente a pa rte submersa que não consegue ma is suporta r o peso da parte aé rea, e esta co lapsa, desmorona, como pode ser observ ado nos clipes qu e estão na intern et. Portanto, o dege lo no Árti co é natura l, provoca do pe lo ma ior tra nsporte de ca lor pe las correntes marinh as, e j á ocorreu vá ri as vezes no passado, qu and o as ati vidades hu ma nas prati ca me nte não lançava m carbono na atm osfera. O exemplo é a nota publicada na rev ista c ientífica Mo nthly Weather Review de novemb ro de 1922 (note, 1922 !), qu e re lata o degelo do Árti co naqu ela época, inc luindo dados de sondage ns qu e mostrava m as corre ntes marinh as ma is aqu ec idas até 3. 100 111 de profu ndi dade. Catolicismo - E uma subida catastrófica das águas do mar? Prof Molion - No AR 5, o IPCC afirm a qu e o níve l do mar subiu 19 cm nestes últimos 11 0 anos e se to rn a ma is ate rro ri zador ao prever qu e o ní ve l do mar vá subir de 98 cm até 2 100. O ní ve l do mar vem subindo desde o té rmin o da última Era G lac ia l, há cerca de 15 mil anos, qu ando se estima qu e esti vesse a 120 metros aba ixo do ní vel atual. A subida ráp ida até o ito mil anos atrás foi devida ao derretimento das ge le iras qu e co br iam os continentes. Há ev idências hi stóri cas de qu e o níve l do mar j á esteve mais e levado no passado recente. Durante o período quente Romano, entre 500 a.C.
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CAT OLI C I SMO
e 300 d .C ., a C idade de Éfeso, próxima à modern a Selçuk, Província de izmir, Turquia, tinha um movimentado porto qu e hoj e se encontra 5 km di stante da costa do Mediterrâneo. U ma pintura da Batalha de Óstia em 849 d.C., atribuída a Rafael, [foto ao ladol mostra que o nível do mar estava sufic ientemente a lto naque le período para os nav ios de guerra se agruparem na foz do Ri o Tibre. Hoj e, as ruínas de Ósti a estão a 3 km da foz do Tibre. O nível do mar é influenciado por ciclos re lati vamente cur tos, como, por exempl o, o Ciclo N odal Lunar de I 8,6 anos, comentado acima. No máx imo desse cic lo, o nível do mar fi ca, em médi a, I 3 cm mais alto que em seu mínimo. Como o máx imo ocorreu em 2007, essa vari ação natural pode ter sido interpretada como aumento causado pelo aqu ec imento g lobal. Esse c ic lo, porém, está se diri g indo para um mínimo em 2026, e o níve l do mar deverá ba ixar nos próx imos anos. Dados de sensores a bordo de pl ataformas espac iais confirmam que o nível do mar começou a apresentar um ligeiro decréscimo a parti r do máx imo lunar de 2007. E m res umo, o nível do mar é impossível de ser medido com precisão de milímetros, como afirm a o IPCC, uma vez qu e, por exemplo, a crosta terrestre é formada por pl acas tectônicas qu e poss uem movimentos vertica is - ora e levando, ora afund ando as réguas qu e o medem - e ondas oceânicas qu e, mui tas vezes, excedem 30 111 de a ltura.
''.1 pior seca que ocorreu 110 Nordeste /'oi em 1877-79. Eventos extrnmos já ocon·eram 110 passado, e não se pode co11Jimdil' intensidade com vulnerabilidade"
Catolicismo - Os eventos extremos mencionados em 2007, como os furacões? Pnd: Molion - Eventos extremos, como tempestades severas, fu racões, tu fões, torn ados e ondas de calor, sempre ocorreram com o c lima quente ou fr io. São eventos de tempo, e não de clima! O fura cão mais vio lento, categori a F 1, qu e entro u nos EUA, fo i em 1900, 1 14 anos atrás, quando o homem prati camente não emi tia carbono para a atm osfera. De acord o com Dr. Pie lke Jr., professo r da Universidade do Co lorado, Boulder, EUA, a estação de fura cões do Oceano Atlântico N o rte de 2013 , qu e termin ou no d ia 30 de novembro, apresento u a menor frequ ência de fu racões dessas últimas três décadas. E j á se passa ram ma is de três mil d ias desde que o último furacão de categori a F3 ocorreu, o Katrina, em 25 de agosto de 2005. A pior onda de ca lor q ue se abateu sobre o Leste do EUA fo i em 1896, matando ma is de três mil pessoas só em N ova York. A década com maior frequênc ia de tempestades com totais ac ima de 30 mm/di a em São Paul o foi a década dos anos 1940, seguida pela dos anos 1950. A pior seca que ocorreu no N ordeste do Bras il
fo i em 1877-79, descrita por Euclides da Cunha em Os Sertões, publicado em 1902. Portanto, eventos extremos já ocorreram no passado, e não se pode confundir intensidade do fe nômeno com vulnerabilidade da soc iedade. Nos dias de hoje, devido ao aumento populacional e à ocupação de áreas de risco principalmente pela população mais carente, as tragédias são de maiores proporções com fenômenos da mesma intensidade. A região serra na do Rio de Janeiro fo i palco de urna tragédia em janeiro de 20 11 , na qual desapareceram cerca de mil pessoas. Não foi a primeira vez que isso ocorreu. Em janeiro de 1967, evento ex tremo simil ar ceifo u mais de 1.700 vidas na Serra das Araras. Deixa-se um alerta às autoridades de que há grande probabilidade de o Rio de Janeiro voltar a sofrer outros eventos semelhantes em magnitude nos próximos l O a 15 anos. É imperativo, pois, que a população seja removida de áreas de risco e a ocupação do espaço urbano seja repensada. Catolicismo - Afinal de contas, vai aquecer ou vai esfriar?
"Embora os modelos de clima prognostiquem um aquecimento global JJOS JJl'Óximos 100 anos, 11ão há absolutamente evi<lência COl1Cl'eta ou mesmo imlício de que isso OCOl'J'eJ'á ,,
Desde 1999, o Pacífico vem dando mostras de resfriamento que deve durar até cerca de 2030
País de Ga les, houve excesso de mortalidade de pessoas com idade ac ima de 65 anos, um total superi or a 45 mil mortes em excesso quando comparado com o total dos outros nove meses do ano. No inverno de 20 12/20 13, estima-se que morreram mais de 3 1 mil idosos em excesso na mesma região. Nos EUA, o inverno passado deixou os solos congelados por quatro semanas a mais do normal nos estados produtores de grãos, mais ao Noite. O plantio fo i tardio e parte da produção foi perdida com as geadas ocorridas no período outubro/novembro. Em julho de 20 13, o inverno no Hemisfério Sul (junho-agosto), a entrada de uma massa de ar polar matou mais de 100 mil ove lhas no Uruguai, dizimou 62% do café no Para ná e afetou outros cultivos de inverno, como trigo e cevada. Mais de uma centena de cidades regi traram queda de neve nos estados da Região Sul , para gáudi o dos moradores. Os principais controladores do clima globa l, a fo nte de energia, o So l, e os oceanos que cobrem 7 1% da superfície do planeta estão indica ndo que o clima vai resfriar nos próximos 15-20 anos. In fe lizmente, as autoridades brasileiras estão indo na direção oposta. •
Prof: Molion - Embora os modelos de clima prognostiquem um aq uec imento globa l nos próximos 100 anos, não há abso lutamente ev idência concreta ou mesmo indício algum de que isso ocorrerá. É inegável que houve um aquecimento entre 19761998, mas fo i por ca usas natura is e já terminou! A mais provável causa desse aq uecimento fo i a frequência muito alta de eventos EI Nifío intensos. Como já fo i comprovado, os eventos EI Nifío fenô meno caracterizado pelo aq uecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico Trop ica l - liberam grande quantidade de ca lor na atmosfera e aquecem o clima globa l. O Pacífico tem um ciclo de cerca de 60 anos, em que apresenta alta frequência de EI N ifío durante 25-30 anos, segu ida de alta frequência de La Nifía - o oposto do EI Nifío - nos 25-30 anos subseq uentes. Desde 1999, o Pacífico vem dando mostras de resfriamento que deve durar até cerca de 2030. Uma comprovação disso é que, desde 1999, a temperatura tem permanecido relativamente estável e com um ligeiro decréscimo nos últimos IO anos, embora a concentração de C0 2 tenha aumentado. A história mostra que a humanidade sempre floresceu nos períodos quentes, o oposto sendo verdadeiro para os períodos frios . Lamentavelmente, o clima está se esfriando e já se observam as consequências desse novo resfriamento, decorrentes de invernos rigorosos mais frequentes. O in verno do Hemisfério Norte (dez-fev) de 1999/2000 foi tão intenso que, na Inglaterra e no
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São Francisco de Sales B ispo-Príncipe do Sacro Império e DouLor da Igreja, campeão contra o protesLanUsmo, noLável direLor de almas e fundador
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santa Igreja Católica é admirável em seus santos. Cada um deles espelha especialmente alguma de suas inúmeras perfeições. São Francisco de Sales, cuja festa comemoramos no dia 24 deste mês, refulge com tanta grandeza e brilho, que parece não ter pago o ônus à nossa natureza decaída. Com efeito, sobre esse santo tão afável pôde afirmar seu ilustre e insuspeito contemporâneo, o rei Henrique JV: "O bispo de Genebra é verdadeiramente o fénix dos prelados. Entre as pessoas, há quase sempre um lado fraco : em uma é
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CATOLICISMO
a ciência, em outra a piedade, em outra ainda o nascimento. Mas o bispo de Genebra reúne tudo isso no mais alto grau: nascimento ilustre, ciência rara e piedade eminente ". 1 Outro contemporâneo, nada menos do que São Vicente de Paulo, também exclama: "Quão bom e suave de ve ser o Senha,; posto que o bispo de Genebra, seu ministro, o é tanto! ". 2 Mostraremos um aspecto menos conhec ido e menos comentado desse grande santo: sua incansável luta contra o protestantismo.
Alguns traços biográficos de Francisco de Sales Francisco nasceu no castelo de
Sales, então no ducado da Saboia, em 21 de agosto de 1567. Seus pais eram os senhores de Boisy. Desde pequeno, como diz seu primeiro biógrafo, ele trazia em sua face e em todo seu ser a nota da bondade e da suavidade de caráter que seriam características marcantes de sua vida. Apóstolo desde menino, na escola de Annecy dizia a seus coleguinhas:
o muro que a protegia. Ei-la deserta, desenraizada e calcada aos p és. Essa terra, outrora tão bela, foi desolada pelos seus próprios habitantes, porque violaram a lei de Deus, mudaram seus mandamentos, romperam suas alianças. As vias de Sião choram, porque não há mais quem venha às suas solenidades. O inimigo pôs a mão
"Meus amigos, aprendamos cedo a servir ao bom Deus e a bendizê-lo, enquanto nos dá tempo para isso". Depois de ter cursado com amplo sucesso retórica e humanidades no colégio de Clermont, em Paris, Francisco estudou jurisprudência e teologia na Universidade de Pádua. Foi quando estudava em Paris que ele teve uma tentação contra a fé, que durou várias semanas. Ajoelhando-se diante de um altar de Nossa Senhora, Francisco rezou com fervor o "l embrai-vos", voltando-lhe a paz de alma que conservou até o fim de seus dias. Ordenado sacerdote em 1513 , dedicou-se à pregação. Foi então que pediu a seu bispo para ir evangelizar a região do Chablais, pertencente à diocese de Genebra , devastada pela heresia protestante, e que nesse tempo tinha voltado a pertencer ao ducado da Saboia. Depois bispo de Genebra, foi encarregado pelo Papa de reformar vários mosteiros. Fundou também, com Santa Joana de Chantal , a Ordem das Yisitandinas. Em Paris esteve em contato com São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac, bem como com o cardeal de Bérulle, a quem secundou na instalação do Carmelo na França, e com todos os grandes de seu país.
A <levastação <la heresia protestante Chegando ao Chablais apenas com o breviário e alguns livros de controvérsia, ao ver a desol ação a que a heresia havia reduz ido aquela província , São Francisco de Sales exclamou: "Eis como o Senhor arran-
cou a sebe de sua vinha, e derrubou
sobre tudo que ela tinha de precioso. A lei e os profetas desapareceram, as pedras do santuário foram dispersas. Ó Jerusalém! Ó Chablais! Ó Genebra! Convertei-vos ao Senhor vosso Deus, e que vossa contrição se torne grande como o mar! ".3 Depois de 60 anos de domínio da heresia, por toda a região as igrejas estavam destruídas, as cruzes dos caminhos derrubadas, algumas aldeias incendiadas, e as almas pervertidas. O santo começou então a trabalhar, mas ninguém o queria ouvir. Ele passou quase um ano no meio dos hereges praticamente sem nenhum sucesso. Como não podia se fazer ouvir pelos protestantes, começou a pôr por escrito a defesa da Religião católica e a refutação da heresia. Distribuía seus escritos pelas ruas, colava-os às paredes, ou os punha por debaixo das portas. Aos poucos, vendo a abnegação do missionário enfrentando chuva , neve, e muitos trabalhos, alguns começaram a ser conquistados pelo seu
heroico exemplo e acabaram voltando ao verdadeiro redil. À medida que as conversões se sucediam, os ministros protestantes se alarmavam. Finalmente proibiram seus fiéis de ouvir o pregador católico. Entretanto, São Francisco era irresistível. Mesmo as duas colunas do protestantismo no Chablais, o barão de Avully e o advogado Poncet, foram subjugados por sua doutrina, piedade e santidade, e abjuraram solenemente o calvinismo. O zelo de São Francisco de Sales não se restringia ao Chablais. Acompanhado do barão de Avully e de outros convertidos, foi a Genebra para uma disputa com La Faye, um dos mais famosos ministros calvinistas da época. Não podendo este refutar os argumentos do Santo, restringiu-se a cumulá-lo de injúrias e ultrajes. Mas o debate teve grande repercussão e chegou longe. São Francisco começou a ser visto como o atleta invencível da verdade. Era, no entanto, preciso consolidar as conquistas que havia feito no Chablais. O duque de Saboia solicitou-lhe indicar os meios para desenvolver os frutos de sua missão. O apóstolo, visando um fim duradouro, pediu ao duque mais missionários apostólicos para assistir os católicos, restaurar as igrejas arruinadas e abrir as que estavam fechadas. Pediu-lhe também que estimulasse todos os habitantes da província a assistirem às pregações católicas e estabelecesse na região uma companhia de infantaria ou de cavalaria para dar ocupação a uma juventude desocupada. E, finalmente, que fundasse em Thonon, capital do Chablais, um colégio jesuíta, e afastasse todos os hereges dos cargos públicos. Não podia ser mais radical! O santo teve a alegria de receber a abjuração do primeiro magistrado municipal de Thonon e de concluir a conversão da guarnição militar dessa cidade. Os sucessos de Francisco de Sales repercutiram em Roma. Clemente VllI
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Por isso, ass im o descreve Santa Joana de C hanta l, que o co nh eceu tão bem: "Ouvia todo mundo apra-
zivelmente e todo o tempo que cada um quisesse. Suas maneiras e sua conversação eram extremadamente sérias e majestosas. Mas sempre era o mais humilde, o mais doce, o mais natural que se possa querei" Falava baixo, gravemente, repousada, doce e sabiamente. Não falava demais nem de menos, mas o necessário. Entre os negócios sérios, acontecia derramar palavras de grande c!fábilidade cordial".6 A 11e11'eição ao
alcance <le to<los
Escrínio com os restos mortais de São Francisco. Basílica da Visitação, Annecy, França.
confi ou-lhe então a mi ssão de se medir corpo a corpo, na própria cidade de Ca lvino, com Teodoro Beza, sucessor deste, porta-estandarte e o mais fo rte apoio da heres ia. Assim, em 1597, com perigo de vida, o santo entrou em Genebra para a entrev ista com Beza. O herege mostrou-se cortês, reconheceu a verdade, mas não teve forças para se converter, retido pelo respeito humano. Morreu pouco depo is, aparentemente na prática da reli g ião " reformada". São Francisco de Sa les se tornara ass im , por seus trabalhos, sua virtude e sua c iência, o terror dos hereges, de tal modo que os mini stros protestantes acabaram por recusar qua lquer disputa com ele. O santo co roo u sua missão e m Thonon prega ndo as Q uarenta Horas, com a presença dos mais a ltos personagens da cidade. Naquela que tinha sido hav ia pouco a capital do ca lv ini smo na provínc ia, viu-se por duas vezes, em suas ruas renovadas, o Sa nt íss im o Sacramento leva d o em so lene proc issão. Nessa ocas ião, cente nas de pessoas, in clusive alguns ministros, abju raram o ca lvini smo.
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CATOLICISMO
/11ocê11cia <la pomba com a espel'teza <la serpente Tudo isso Francisco de Sa les fez com ousadi a in audita, contrari ando seu modo de ser habitual, tão doce e pac ífi co. Entreta nto, e le mes mo reconhece numa carta a Santa Joana de C hanta l: "Não sou muito pru-
dente. É uma virtude que não amo em excesso. Eu gosto dela, porque é forçoso possuí-la. {. ..] Certamente as pequenas e brancas pombinhas são mais agradáveis que as serpentes, e se foss e preciso juntar as qualidades de uma com as da outra, eu não daria a simplicidade da pomba à serpente, mas a prudência da serpente à pomba ". 4
Por fa lta de espaço deixamos de lado várias obras do Sa nto Doutor, principalmente seu exponenc ial Tratado do A morde Deus, para dizer uma pa lavra sobre aqu e la que, de certo modo, fo i s ua obra prima, Jntrodução à vida devota (ou "F il otéia"), escrita para mostrar que a vida de perfeição está ao alcance ele todos, mes mo dos que vivem no mundo. Por isso dizi a o sa nto : "Não é uma heresia querer
desterrar a vida devota da companhia dos soldados, da oficina dos artesãos, do palácio dos príncipes, e do lar dos casados ?" Ele queria "destruir a estúpida.figura de uma virtude triste, queixosa, ameaçadora, destruidora, confinada em um penhasco, rodeado de espinho, espantalho das pessoas". Pelo contrári o: "Quero uma piedade doce, suave, agradável, aprazível. Em uma palavra, uma piedade fi·anca e que sejáça amar por Deus primeiramente, e logo pelos homens ".1 •
Apesar das aparências, sua doçura proverbia l não fo i adq uirida sem esforço. Ele confessa: "'Quando era
Notas: 1. i,es Pelils Bolla11dis1es, Vies eles Sainls,
jovem, entregava-me ao exercício da doçura'. Assim conseguiu aquela bondade, aquela compaixão, aquela g raciosa bene vo lência na qual se mesclavam a caridade cristã e a gentileza do mundo. {. ..} A graça e a natureza se adaptam, compenetramse nele para forma r aquele coração terno e compassivo ".5
Bloud et Barra i, Lib rai res-Éditeurs, Pa ri s, 1882, tomo XIV, p. 506. 2. Edel vives, E! San/o de Cada Dia, Ed ito ri al Lu is Vives, S. A. , Saragoça, tomo 1, p. 299. 3. Les Pelils Bollandisles, op. c it. p. 515. 4. Frei Ju sto Perez de Urbe l, O.S.B., Aí'ío Crisliano, Ed iciones Fa x, Madri , 1945, tomo 1, p. 179. 5. ld. p. 180. 6. ld. pp. 182- 184. 7. lei. p. 185.
E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
DISCERNINDO
"Se a palavra submissa incomoda, queimai a Bíblia" n Cio ALENCASTRO
A
jornalista italiana Costanza Miriano, que trabalha na RA I (Rádio e TV italiana, estatal), gerou uma grande po lêmica com a pub licação de seu corajoso livro Casa e sê submissa (Sposati e sii sollomessa) , um best-seller na Itá lia, já traduzido na Espanha por iniciativa da Arquidiocese de Granada. Neste último país, em apenas uma semana, o livro foi objeto de uma polêm ica que chegou ao Congresso. A esquerda estremeceu. O Partido Socia lista (PSOE) pediu ao governo que tome medidas para evitar que a obra faça "apologia do machismo ". Furiosa, a deputada socialista Carmen Montón diz que o livro "não contribui para a luta contra a violência
de gênero, pois joga lenha aofogo da violência machista ". Também a Esquerda Unida (]U) reagiu, pedindo à Promotoria de Granada que intervenha contra a edição e a venda da obra, com base no delito de "apolog ia da violência contra
as mulheres". A autora, 42 anos, mãe de quatro filhos, residente em Roma, diz que sua fonte de insp iração é o Apóstolo São Paulo e apresenta citações recolhidas na Bíblia. Por isso, mostra-se surpresa com toda essa polêmica. Em entrevista ao jornal espanhol "EI País" (17-11-13), afirma :
"Estou consternada por imaginar que podem censurar o livro, que contém ideias que a igreja proclama ao mundo desde sempre. De início imprimi apenas 1.200 copias. Telefon ei para minha familia com a esperança de que pelo menos comprassem uma meia dúzia. Mas depois o livro teve muitas edições, mais de vinte, creio ". O entrevistador diz que o livro está sendo acusado de defender a violência contra as mulheres. Constanza responde:
"Em que ponto exato eu exorto, def endo, desculpo,justifico ou menciono a violência, mesmo remotamente? Em que momento digo algo disso? Onde? Com que palavras ? A única violência que vejo em tudo isto é a que estão fazendo contra mim, que também sou mulhe,: Urna agressão indignante. Não se pode lançar acusações ao GI'. "Não escrevi um tratado de sociologia. Olhei para a minha realidade e a de meus amigos, e nossos problemas são como ser f eliz com nossos maridos, como amar melhor, como cuidar deles e como pedir que cuidem de nós, como manter unidos todos os papéis que tem uma mulher moderna: mulhe,; mãe, trabalhadora, mulher de .fé que cultiva o espirita, mas
que também aprecia cuidar de seu corpo. Quem imaginaria que meus escritos iriam ser lido por 50.000 pessoas na itália e no Exterior? "Cristo morreu por sua esposa, a Igreja. Um homem que segue os mandamentos é um homem disposto a morrer por sua esposa. A esposa, segundo a i greja, é uma esposa dócil fa ce a um homem dócil, generoso. É a lógica cristã". O entrevistador insiste na questão da suposta violência .
"Se o que incomoda é a palavra submissa, então queimai todas as cópias da Bíblia. Nesse caso, será para mim uma honra ir para a f ogueira ". Constanza se refere aqui à seguinte exortação do Apóstolo São Pau lo: "As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor [.. .} Ora, assim como a igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a igreja e se entregou por ela " (Ef 5, 22-25). Encerra a autora: "Como a igreja, eu recuso a palavra gênero. Creio que há dois sexos, não gêneros. Ademais, eu rechaço a violência. Basta-me o quinto mandamento: 'Não matarás'. isso significa não matar as crianças (inclusi ve dentro do útero, porque a violência aí se dá em evidente desproporção entre a vitima e o verdugo), não matar mulheres, não matar homens ". • E- mail para o autor: catolicisrno@terra .corn.br
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CAPA
201 Ü ano de 2013 encerrou-se com os homens quase não se entendendo mais. O que nos Lrará 2014? O desvario final, ou a reorganização dos filhos da luz aos pés da Santíssima Virgem para "novos e cristãos atrevimentos"?
Lu1s DuFAUR
os céus de Roma, emo ldurados pelos símbo los do Papado, um he li cóptero faz ia o voo de desped ida de Bento XVI. Este deixava o Vaticano para aguardar em Caste l Gandolfo o instante em que deixaria de ser Papa. Ao soar as 20 horas no dia 28 de fevereiro, os guardas suíços fec hara m os portões: o tro no de Pedro estava vacante e começava a convocação do Conclave. N aque la no ite, na Roma sem Papa, um raio caía sobre a cúpula da Basílica de São Pedro. Na casa de um amigo, o celular toco u e uma voz angustiada perguntou a lém do Atlântico: "O que é isto ? É o .fim do mundo? " Sem dúvida não era. Mas a renúncia evocou esse horizonte apoca líptico. E 20 13 g iro u em torno disso.
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Continuidade do "habelesco " 2012 No discurso de N ata l 2012 , Bento XVI hav ia condenado o "casamento" ho mossexua l e denun ciado que a teoria dos gêneros manipul a a natureza e co mprom ete a dignidade da fa mília ("O Estado de S. Paulo", 2 1-1 2- 12). Porém , no início de feve reiro, o arcebispo Vincenzo Pagli a, presidente do Pontificio Conselho da Família, defendeu a ex istênc ia de dire itos para os casais de fáto. O cardea l fo i apo iado por D. Rino F isiche ll a , presidente do Pontifíc io Conse lho para a Nova Evange lização, criado recentemente por Bento XVT ("El País", 5-2-13).
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CATOLICISMO
Simultaneamente, o Cardeal arcebispo de Co lôni a declarou "justificável" o uso da "pí lul a do di a seguinte" após uma violação. Seu porta-voz tentou apaziguar o alvoroço, di zendo have r se referido a pílul as que impedem a fec undação, sem efe itos aborti vos ("La Croix", 5-2- 13). Mas c ienti stas e especialistas declararam que tais pílul as do dia seguinte não existem. A polêmica atravessou os oceanos e de todos os lados surg iram declarações conflituosas a respe ito da posição do ca rdea l alemão. Por fim , nas vésperas do Concl ave, a Conferência dos Bispos da A lemanha aprovo u certo tipo de " pílula do dia seguinte" "para ef eito preventivo, e não abortivo " ("O Globo", 22-2- 13). Em sentido oposto, o secretário gera l da Confe rênci a Epi scopa l Espan ho la, D. Juan Antonio Martínez Camino, esc lareceu aos fiéis escandali zados: "Não nos consta
que haja uma pílula do dia seguinte sem ~feito abortivo" ("Religion en Libertad", 26-2-1 3). Dois ep iscopados entraram em colisão acerca de uma questão até então indi scutível.
"Como l'aio em céu sel'e110" Em 11 de fevere iro, Bento X VI renunciou à Cátedra de Pedro. A renúncia, que se tornou efetiva no di a 28 , fo i "como um raio em céu sereno", tendo sido recebida com "desconcerto" pelos ca rdea is, segundo o decano deles, D. Angelo Sodano. Muitos fié is, na opini ão do Prof. Roberto de Matte i, hi stori ado r do Concili o Vaticano II , ficaram "órfãos" em meio às tempestades que chacoa lham a Ig reja. E m 20 1O, capitaneados por Hans Küng, líder contestatá ri o proibido de ensinar em nome da Igreja, 50 teólogos espanhó is haviam
i:iedido essa ren ún cia ("Corri spond enza romana", 12-2-13). O Direito Canôn ico ad mite a abdicação e houve Papas que renunciaram , porém nunca pelas razões então invocadas : "afortaleza tanto da mente quanto do corpo[. ..] nos últimos meses se deteriorou em mim ao ponto de ter de reconhecer minha incapacidade de desempenhar adequadamente o ministério que me .fài confiado " ("O Estado de S. Paulo", 12-2- 13). A "Fo lh a de S. Paulo" ( 12-2-1 3) lembrou que , segu ndo "L'Osservatore Romano", Bento XVI era "um pastor cercado de lobos ". Para o diário paulista ( 13-2-1 3), a "renúncia e videncia clima de 'guerra civil ' no Vaticano", alimentada por "lutas fratricidas " e escândalos nunca esclarecidos. Segundo Massimo Introv igne, representa nte da Organização para a Seguran ça e Cooperação na Europa (OSCE) para o Combate ao Rac ismo, Xenofobia e Discriminação, a renúncia fo i um eve nto "apoca líptico". Esse termo foi por ele usado no sentido de que "vivemos num tempo de extrema d[ficuldade para a Igreja e para a sociedade, no qual um processo multissecular de descristianização se re vela como putrefação fina l, com uma virulência
antirreligiosa, anticristã e anticatólica inaudita " ("La Nu ova Bussola Quotidiana", 11-2- 13).
Fenômenos 110 céu O "raio em céu sereno" da Sa la do Consistório teve se u equivalente na esfera física. Na noite da renúncia, um raio atingiu a Basílica de São Pedro (foto acima). Poucos dias depois, um meteoro exp lodi u nos cé us da Rússia com a potência de 20 bombas atôm icas. O fe nômeno iluminou vasta região e feri u mais de mil pessoas em Che lyab in sk. Exp losões de meteorito tão violentas só acontecem a cada sécul o ("O Estado de S. Paulo", 16-2- 13). Em março, outra bola de fogo cruzou o céu da costa oeste dos Estados Unidos (G 1, 24-3- 13). Em abri l, mais uma exp losão descomunal de um meteorito apavorou o centro da Espanha ("Peri od ista Digital", 14-4- 13). No mesmo mês, nove províncias argentinas viram de madrugada o utro fe nômeno meteórico comparável ao russo. A noite virou dia numa imensa superfície, a terra tremeu, muitos correram apavorados à rua . Em La Rioja (A rgentina), o povo achou que era "um sinal divino " ("C larin", 22-4- 13). No iní cio do ano , um temporal de
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vio lência inusitada se abateu sobre o Santuário de Fátima, Portugal. A fúria da natureza danificou todo o perímetro do Santuário, inclusive as Basílicas de Nossa Senhora do Rosário e da Santíssima Trindade ("Santuário de Fátima", 19-1 -13). O jornal "E I Mundo", de Madri , lembrou que nesses dias se comemoravam 75 anos da grande aurora boreal de 25 de janeiro de 1938, considerada como realização do av iso de Nossa Senhora: "Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal, por meio da guerra, da.fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre" ("E I Mundo", 23 -1-1 3).
Francisco I Bento XVI teria renunciado após ler um relatório de 300 páginas elaborado por três cardea is provectos. O sigiloso texto apresentaria a Cú ria Romana infiltrada por redes de homossexualismo, pedofilia e desvio de dinheiro ("O Estado de S. Paulo", 222-13). O Conclave reuniu-se de modo ace lerado . E no dia 13 de março fo i anunciado o novo Sumo Pontífice: o cardeal argentino Jorge Mario Bergogl io, SJ . "Foi uma surpresa geral. Os _fiéis que lotavam a Praça São Pedro precisaram de alguns minutos para entender o nome do papa eleito, antes de aplaudi-lo " ("O Estado de S. Paulo", 14-3-13). Ele apareceu na loggia de São Pedro (foto ao lado) sem usar alguns símbolos característicos do Papa nessa ocasião. E le os teria recusado, segundo o vaticanista Luigi Accato li , dizendo: "Acabou o carnaval " ("li Corriere della Sera", l5-3-l 3). A frase foi desmentida. Porém, quando Francisco I colocou um nariz de palhaço na Praça de São Pedro, foi recordada a fra se alusiva ao "carnaval". Antes da primeira bênção Urbi et Orbe, o novo Papa inclinou-se e pediu aos presentes orações para si , como que reconhecendo uma supremacia à comunidade dos fiéis. Francisco I vo ltou ao hotel Santa Marta num ônibus junto com os cardeais, e sentou-se à mesa sem ocupar o lugar da presidência. Desde então, não usou o carro especial reservado ao Papa, recusou os apartamentos pontificios no Palácio Apostólico e passou a residir na hospedaria eclesiástica Santa Marta, onde esco lhe a esmo um lugar nas mesas de refeição, abre as portas para os visitantes, usa o elevador comum, e procede a outras simp lifi cações muito aplaudidas pela mídia. Além de quase não se referir a si mesmo como Papa, adotou uma cruz peitora l de aço em vez de ouro, um anel do Pescador ig ualmente não de ouro, e um férula nova; deixou de usar o trono papal , a pequena capa chamada mozzetta e os sapatos
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vermelhos; adotou também um branco desbotado para sua batina, entre outras inovações simbólicas ('II Corriere dela Sera", 19-3-13). Muitos se lembraram então do Pacto das Catacumbas, promovido por D . Hélder Câmara durante o Vaticano II, cujos signatários prometiam renunciar a toda honra eclesiástica em aras à igualdade e à pobreza. A adesão de novos bispos a esse pacto realiza-se em cerimônias na Catacumba de Domitila. O Pe. João Batista Libânio SJ, adepto da Teologia da Libertação, saudou o novo Papa como expoente dessa corrente, apontando semelhanças entre ele e o bispo ultra progressista brasileiro D. Pedro Casaldáliga. Para Hans Kung, teólogo punido pela Santa Sé, 'foi a melhor escolha possível ". Para o ex-frade Leonardo Boff, "Francisco é todo um programa de Igreja " ("O Estado de S. Paulo", 15-3-13). O experiente líder comunista italiano Walter Veltroni ressaltou que "Francisco se afastou do trono cada vez que tomou a palavra" ("II Corriere della Sera", 18-3-13). Órgãos da mídia que assumem normalmente uma posição crítica em relação à Igreja noticiaram com satisfação os gestos do novo Pontífice, que "deverá imprimir um novo estilo, mais despojado, à frente da Igreja Católica " ("O Estado de S. Paulo", 15-3-13). Por sua parte, Bento XVI retirouse para urna casa no território Vaticano. A esse propósito tornaram corpo incógnitas inusitadas: "uma Igreja com dois papas ", com os fiéis se dividindo em razão de preferências morais, litúrgicas ou doutrinárias? ("EI País", 28-2- 13). O tratamento reservado a Bento XVI, inclusive no Anuário Pontificio, não desfez essa sombra de cissiparidade. Ele conservou o nome de Papa, com o acréscimo de "emérito", conti nuando a ser tratado de "Sua Santidade", usando símbolos como abatina e o solidéu brancos que os fiéis atribuem exclus ivamente ao Sumo Pontífice. Francisco I sempre procurou se apresentar junto a ele corno um igual.
Analogia e11tre curiosa previsão e alguns /'atos Mario Staderini, secretário de Radicali Italiani, pequeno partido anarquista e libertário, previu em 15 de fevereiro que o próximo Papa iria "libertar a Igreja Católica do poder temporal. Por isto espero um pontífice que se chame Francisco I. Como o poverello de Assis, que se libertou de todos seus haveres para 'viver segundo o modelo do Evangelho' antes de 'viver segundo o modelo da Igreja de Roma"'. E acrescentou: "Renunciar ao poder temporal significa converter o
imenso patrimônio imobiliário e finan ceiro vaticano no primeiro fundo pelo bem-estar universal que torne realidade o direito humano de viver sem miséria. Um .fimdo que talvez.fosse co,?fiado à ONU e que serviria de exemplo para o mundo todo" (www.radicali.it, 15-2- 13). A analogia entre esta singul ar antev isão e os fatos su citou comentários.
Rcfonna da Cúria e da Igreja Na cerim ôni a da Sexta-Feira Santa, presidida por Francisco 1, o Pe. Raniero Cantalamessa (foto à dir.), pregador da Casa Pontificia, comparou a Igreja a "certos prédios antigos " que "não correspondem às exigências atuais, mais ainda, são um obstáculo, e então se.faz necessário ter a coragem de derrubá-los " (ACJ , 29-3- 13). Numerosas fo ram as censuras do novo Papa à Cú ria Romana, a bispos e reli giosos "mundanizados". O Instituto para as Obras de Religião (IOR), tido como banco do Vaticano, fo i alvo de espec ial "estrondo" jornalístico. No fim do ano, as perícias encomendadas nada hav iam encontrado de relevante. A propósito, convém lembrar Voltaire: "Menti, menti, algo sempre ficará ". Em 13 de março, Francisco I convocou oito cardea is para projetar uma reforma da Cú ri a Romana e aconselhá- lo no govern o da Igreja. "Além da reestruturação da Cúria Romana, espera-se também que haja mudanças na renovação da doutrina e da disciplina eclesiásticas " ("O Estado de S. Paulo", 23-6-1 3). Em maio, Francisco I disse à Caritas Internac ional: "deveremos até vender as igrejas para dar de comer aos mais pobres " ("Vatica n ln sider", 17-5-1 3). "Se o papa abre mão do Palácio Apostólico para morar na Casa Santa Marta, por que não se livra do fausto secular que a Igreja traz de antes da i dade Média ?" perguntou "O Estado de S. Paulo" (23-6-13). "Cedo ou tarde - escreveu Frei Betto - a Igreja terá de democratizar sua estrutura de pode,: Torná- la mais colegiada. [. ..] Em suas cartas escritas duran te o Vaticano II, e hoje publicadas, Dom Hélder diz ter sonhado que o Papa enlouqueceu, jogou sua tiara no Rio Tibre e ateou fogo no Vaticano.{...] o Papa deveria doar o Vaticano à Unesco, como Patrimônio Cultural da Humanidade, e passar a residir em Lugar mais condizente com a sua condição de sucessor de um p escador da Galileia ". Fre i Betto perguntou se no fim do processo de colegialização, apareceria "uma Igreja sem Pont(fice" ("O Globo", 10-3- 13). No 100º dia de seu pontificado, justificando-se com "uma imprecisa 'incumbência urgente e improrrogável '", Fra ncis-
co I deixou vazio o troneto a ele reservado numa sala repleta para ass istir a um concerto pelo Ano da Fé. "Não sou um príncipe renascentista que escuta música em vez de trabalhar", teria dito . E o Cardea l Pel 1, arcebispo de Sidney - um do dos oito convidados a reformar o governo da Igreja sublinhou: "OPapanãoquerque o Vaticano seja visto como uma corte da Renascença ou como uma corte do século XV/11 " ("Vatican ln sider", 27-6-13). Também Fra ncisco I decidiu não mais nomear Genti s- hom ens de Sua Sa ntid ade, função honrosa outorgada a leigos ("Corriere della Sera", 23-6- 13). A concessão de títu los honoríficos de Monsenhor também ficou ad iada sine die.
"Mumlanismo" e clcssacrnlização Francisco I qualificou de " homem sáb io" o ex-guerrilheiro tupamaro e atua l presidente ateu do Uruguai , José Muji ca (foto abaixo), a quem recebeu no Palácio Apostólico ("O Globo", 2-6- 13). "O " homem sáb io" já aprovou o aborto, o "casamento" homossex ual e o cultivo, a posse e o consumo da maconha. Famosos esportistas e figuras do jet-set foram aco lhidas com assidu idade, sendo que um jogador de futebol
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. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -chegou a sentar-se no troneto do Papa durante uma audiênc ia, em me io aos ri sos dos presentes. O Pontífi ce ostentou sua " to rc ida" por um time de futebo l da Argentina e até brincou co m os adversári os derrotados. Deteve-se para conversar com um gri.1po de fãs de motos Harl ey-Davidson, reunidos em Roma ("O G lobo", 17-6-13). G uiou um carro velho pe las ruas do Vaticano, recebeu o prefe ito de Roma, que chegou de bicicl eta, incluiu entre os ve ícul os ofici a is uma bic icleta alemã e co locou um nari z de palh aço na P raça de São Pedro (The Mail online, 6-11-1 3). O Pontífice multiplicou te lefonemas cuj o conteúdo fo i muitas vezes reve lado de modo impreciso, dando azo a contro vertidos comentári os. Oportuni stas ou ex ibic ioni stas "confi denciaram" à imprensa fa lsas conversas telefôni cas com o Papa, visando o escânda lo e a autopromoção ("E l Pa ís", 15-9- 13). A revi sta "Vanity Fa ir", edição itali ana, reservou-lhe sua capa na edição de 1Ode julho. Po uco depo is era a vez de a rev ista "Time" faze r o mesmo, com o título "O Papa do povo" ("O Globo", 19-7-1 3) e, em dezembro, confe rir-lhe o título de " Persona lidade do ano" (23- 1213). Essas capas são s intomáticas de uma mídi a la ic ista, " mundana", esca ndalosa, anticató li ca que aprecia o estil o pessoa l do Pontífice . Se ri a de mas ia d a m e nte lo ngo faze r um e le nco dos co me ntá ri os fe itos às homili as pronunciadas por Francisco I durante suas mi ssas quase qu otidi anas no ho te l Santa Ma rta. Fa la ndo d e imp ro vi so, se m texto escrito, de las só se têm versões suj e itas a manipul ações semeadoras de confusão. O Pe. Frederi co Lombardi SJ , porta-voz vati ca no, prec isou esc larecer, em diversas ocasiões, as afi rmações do Pontífi ce. E m 19 de junho, po r exempl o, F ra nc isco I ve rberou os "intelectuais sem talento, eticistas
sem bondade, portadores de belezas de museu " que "le vam o povo de Deus a um beco sem saída ". A "Agência Zeni t" fico u sem saber se ele se referia aos prelados da v ituperada Cúri a Romana ali presentes, aos conservadores, aos progress istas, ou a a lgum outro grupo (19-6-1 3).
Viagem ao Bl'asil Antes de partir para o Bras il , onde protestos multitudinári os contrários ao governo peti sta realizavam-se nas ruas, o Pe. Lombardi desmentiu que o Papa "considera os protestos do Brasil justos e de acordo com o Evangelho" (AC! , 3-7-1 3). A vi agem (22 a 28 de julho) foca li zou a Jornada Mundial da Juventude no Ri o de Ja ne iro e uma visita ao santuário de Aparecida. Na res idência do Sumaré, Franci sco J fez questão de se aloj ar em pé de igualdade com os cardea is de sua comi tiva ("O Estado de S. Paul o", 12-7- 13). Também qui s em-
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ba rcar como um passageiro qua lquer no aeropo rto romano de Fiumi c ino, rej eita ndo o protoco lo rese rvado aos GIORGIO FALETTI Papas, enquanto Chefes de Estado, de embarca r no aeroporto de C iampino. No Ri o, qui s usar um ca rro mediano ("O Estado de S. Paul o", 13-7-1 3). A " Rede G lobo" - fa mosa pela difusão de nove las imorai s - di spensou exce pc ional cobertura à vi sita de Franc isco 1, te ndo a lgun s de seus mais controve rtidos coreógrafos montado os cená ri os das cerimôni as reli g iosas. A acolhida da popul ação ca ri oca, emoc ionada pelo fa to da presença de um Papa na C idade Maravilhosa, fo i reveladora de fili al aco lhid a dos bras il eiros e de incontáveis j ovens estrange iros presentes na c idade para a .IMJ . A recepção ofi c ial, no enta nto, fo i decepc ionante: "a presidente [Dilma] de expressão arrogante", segundo a j orna li sta Eli ane Ca ntanhede, fez um di scurso de aco lhida que "recorreu a todos os chavões lulistas" e nos qua is "pulularam autoelogios à era pelista, além de chavões de palanque " ("Folha de S. Paulo ", 23-7- 13). Mas o público ignorou as palavras de Dilma, que enfa tizaram: "uma aliança de solidariedade", como também ações de erradi cação da fo me e da mi séri a, preocupação com 0ACIA MARAll'II
"as desigualdades sociais agravadas pela crise.financeira"
e com a "globalização da indiferença" ("O Estado de S. Paul o", 23-7-1 3). No trein o prév io da mi ssa de des pedi da e na própri a cerimôni a, o mu ndo ass istiu pasmo a umflas h-mob em que centenas de bispos e arcebispos balançava m o corpo ao ritmo da música (foto acima).
E11trevista 110 avião No Brasil, um projeto para ampli ar o aborto aguardava sanção pres idenci al. Os brasil eiros defensores da fa mília esperaram - infe li zmente, em vão - uma palavra do Pontífice . No avião de retorno a Roma, Francisco I improvi sou uma hi stórica entrevista de imprensa, na qual pronunciou a frase "Se uma pessoa é homossexual e busca a Deus, quem sou eu para j ulgá-la? " ("BBC Brasil", 29-7-1 3). Essa expressão fo i di storcida e apresentada como: "quem sou eu para j ulgar os homossexuais?". A deturpação , nun ca sufic ientemente desmentida, virou ari ete para a aprovação do "casamento" homossex ual e leis "anti-homofóbicas" pelo mundo afora. Assim, promotores da agenda LGBT passaram a ex ibir cartazes com essa frase em passeatas e manifes tações. No estado de Illinois, EUA, onde o projeto de "casamento" homossex ual não passava por causa da opos ição dos deputados católicos, tal frase deformada do Pontífice teve o condão de fazê- los mudar de opinião e aprovar o projeto anticristão ("The Chicago Tribune", 6-l l-1 3). D. Thomas Paprocki, bispo de Springfield , capital daquele estado, julgou necessário faze r um exorcismo co letivo na catedral, na mesma hora em que o governador católi co de lllinois assinava dita lei. O bispo afirmou que essa lei introduzia o demônio na soc iedade e na igreja diocesana. O prelado apoiou-se numa carta que o então cardea l Bergogli o escrevera a umas reli giosas sobre análogo projeto: "não é uma batalha política, mas um complô de Satanás para 'con.fimdir e enganar' os .filhos de Deus " (lifeSiteNews, 20-11 - 13). No Brasil, a apresentação fe ita pelo relator do projeto de Lei Antihomofobia (PLC 122), senador Paulo Paim (PT- RS), também parafraseia de modo truncado a frase de Francisco L Desta maneira, partidários e adversários católi cos do pecado que atraiu a có lera de Deus sobre Sodoma e Gomorra se enfrentam por toda parte, sendo invocada a autoridade do próprio Papa! Diante de tal espetáculo, a confusão das línguas por ocasião da Torre de Babel parece estar se repetindo. Reabilitação da 'l'eologia <la Libertação
Em 11 de setembro, Francisco I conce lebrou na capela do hotel Santa Marta com o fu ndador da Teologia da libertação (T L), o sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez, e com o discípulo deste, D. Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ("O Globo", 16-9-1 3). Os dois concelebrantes, expoentes da TL (foto à esq.), acabavam de publicar uma tradução italiana de um li vro que faz a apologia dessa teologia outrora condenada pela Igreja, sendo um dos coautores D. Müller, paradoxa lmente hoje em di a o pres idente da mesma Congregação que antes condenou a TL. Artigos e trabalhos teológicos sustentam que o Pontífice nunca aderiu à vertente da Teologia da Libertação que adota critéri os de análi se marxista no estil o do Pe. Gutiérrez, mas si m outra vertente para lela - a Teologia do povo - desenvolvida pelo teólogo argentino Juan Carlos Scannone (www. Ch iesa, 5-9- 13). O certo é que o fu ndador da Teologia da Libertação "marxista" nunca se retratou dos erros condena-
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diretor do j orna l esquerdi sta "La Repubbl ica". N ela, erros dos e o públi co cató li co fi cou sem saber no quê essas duas ve rtentes de uma Teo logia gera lmente consid erada como mora is crassos postos na boca de Fra ncisco l parecera m "mais consoantes com o pensamento laicista dom inante que subversiva se dife renciam. Em sermões e discursos, Fra ncisco 1 incluiu insistentes farpa s contra di storções do ca pita lismo com a doutrina católica" (www.chiesa, 22- 11 - 13). "Sequer privado, como o consumi smo exagerado e a tirani a dos meros protestantes mais devotos teriam ido tão longe", escreveu cados. Entrementes, não fez uma correspondente críti ca do o jornal "L ibero" ( l 6-l l -1 3). O texto, publi cado com a anuênc ia do Pontífi ce, fo i considerado "fiel ao pensamento " do soc ia li smo e do co muni smo, intrin secamente maus em todas Papa e ''.fidedigno em seu sentido geral " pe lo porta- voz do as suas form as. Vaticano, Pe. Federi co Lombardi . Porém, poucos di as depo is, Muitos cató licos passaram a sentir-se "órfãos" nesse novo ambi ente. Tal orfa ndade se tra nsfo rmou e m d ra ma aberto " L' Osservato re Romano" retirou de seu site a entrevi sta. Por seu lado, Eugeni o Sca lfa ri dequ and o o ca rdea l João Braz de Avi s, prefe ito da Congreclaro u, na Sa la da lmprensa esgação para a Vida Consagratrangeira em Roma, que advertira verbalmente e por escrito da, no meo u o Pe. Fid e nz io Yolpi chefe do comi ssari ado ao Po ntífi ce de que hav ia posto U~iDV--,lq!Ollldtndtlp(l1d"tctaRl"puttiiiea:~ati.ta?ll~êasi:bie~u.q,.~tlt.ODSI.,. pa ra intervir no Instituto dos e m s ua boca frases qu e e le Fra nc iscanos da Im ac ul ada , não pronunc iara, e que a inda congregação que se di stingue DialogotroFro11cescoe&alfari: "Riparlireda/Concilio,apri,eallaC11lturamodema" assim recebeu duas vezes um l.dll:'---.:aift•wttcl"-- 1 "OK " (Rossoporpora .org, 2 1pe la práti ca da po breza e da Noa Berlusconi · 11-1 3). Nesse imbrógli o fi cou a uste rid ade fra nc isca na. O dai ministri Pdl interventor depôs o fundado r il saber o que Franc isco 1 difíc e il Cavaliere afi rmou, mas fo ram difundidas dessa fl orescente congregação, attacca Napolitano nomeando para preposto geral pela mídi a frases contrári as à doutrina cató lica que não foo chefe da diss idênc ia que fo rneceu argumentos para a cri aram refutadas à altura. Um acação do comi ssa ri ado. Ass im , site italiano, admi rador do tado EcnilCap:,l<mCbmiooe esta mos di ante do paradoxo Pontífice, reconheceu ser im~:=-, S5::::i1fsr57s •lo---1-..-,.. L ~ de franci scanos que levam a poss íve l di scernir qua l é a sua _ _ _ _ _ _ ,.,.::: ~t.litaldltilt«a AICcaintpiaadiKUDt iai,iimiwt1e~ oi,,ID)4asir:diiat&i«di séri o a pobreza serem punidos linha intelectua l. Segundo "La •6-.itrm6~ cnp,«D:Cllifl\• Alliml<qttil°'ndldolloli," pe la co ng regação vat ica na Nu ova Busso la Q uo tidi ana" -,.._......,-:;'-,'4.7! a.-.--..,podl.ti.......Sril_.l!Oc!ai11'4a .,.... - ,Spintiinmareafrustatc,morti 13migrdllti (22-11-13), Fra nc isco I pode aprovada pelo Sa nto Padre que LECARRl:.Tll! DICARONTE prega a "opção pelos " pobres" ser tid o como " progress ista" e ( Vatican lnsider, 6 e 8-8-1 3). " hiper-conservador" ao mesmo tempo. Como fica ni sso o E11tre,1istas acresce11princí pio de não-contrad ição, tam novas conl'usões segundo o qu al uma co isa não N o sexto mês do pontifi cado, a revi sta dos j esuítas ita li anos pode ser e ser ao mes mo tempo? " La C iviltà Cattolica", publi cou entrev ista com F ranc isco 1. Episcopado alemão na rota <le colisão Di versas afirm ações do Pontífi ce causaram estra nheza. E ntre Na entrev ista que concedeu duran te o voo de retorno do e las, a de que a Jgreja Cató lica não pode se "obceca r" pe la luta contra o aborto, a contracepção e o "casamento" homossex ual. Ri o, Franc isco 1, di z-se, teri a entreaberto uma porta para os A po lêmica com a "cultu ra da morte" teria fica do para trás, divorciados " recasados" receberem a Comunhão. Em 23 de sendo substituída pelo " di álogo". A res istênc ia às le is imorais outubro, o pres idente da Congregação para a Do utrina da conviria ser relegada a um segundo plano, devendo-se dar preFé, D. Gerhard MUiier, "corrigia a p iscada do Papa aos divorciados ", no di zer do diári o espanho l "E I Pa ís" (23 -10ferê ncia ao atendimento " mi seri cordioso" quanto aos afetados por esses vícios morais. Inúmeros fe rvorosos defensores da 13). D . MUiier lembrou que essa hipótese é intrinsecamente fa mília sentiram-se desautorados. A entrevi sta soou como uma inadmi ss íve l e, po rtanto, "é impossível [aos ' recasados' ] receberem os Sacramentos ". Porém, em 7 de novembro, o abertura pastoral de preferência aos que praticam o aborto, aos divorciados " recasados" ou aos que vivem em uni ão hoarcebi spo de Muni que, Cardea l Re inhard Marx, membro do mossexual ("O Gl obo" e "Fo lha de S. Paulo", 20-9- 13). Logo grupo de o ito ca rdea is escolhidos para esta belecer a nova depo is, Francisco J pareceu sentir necess idade de compensar co nstitui ção da lg rej a, co ntesto u D. MUii e r di zend o que o desequilíbrio, condenando o aborto numa audi ênc ia co letiva o "prefeito da Congregação não pode fechar o debate" a médicos ("O Estado de S. Paulo", 20-9-1 3). ("La Vi e", 13- 11 - 13). No mesmo mês, D . Gebhard Fuerst, Ma is conturbada fo i sua entrev ista a E ugeni a Sca lfa ri , arcebispo de Stuttgart, confirmou que os bi spos alemães j á
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IlPapa: cosi cambiem la Chiesa
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fixaram critérios para distribuir a Comunhão aos "recasados". Robert Eberle, porta-voz da arquidiocese de Freiburg, após a divulgação da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, reafirmou a posição condenada dizendo que "o Papa agora apontou claramente que certas decisões podem ser tomadas localmente". Uwe Renz, porta-voz da diocese de RottenburgStuttgart, declarou que os bispos alemães estavam agindo "no espírito do ensinamento do Papa" ("Catholic Herald", 28-1113). Por sua vez, D. Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, explicou que "a experiência da igreja ortodoxa [igrejas cismáticas que admitem o divórcio]poderá ser de ajuda" (Vatican insider, 29-11-13).
'itgitação que não se vê há séculos" Em outubro, o Vaticano enviou uma consulta com 38 quesitos destinados às Conferências Episcopais sobre temas como sacramentos para os "recasados", 1,1so de anticoncepcionais, e a família em geral. Esta consulta é de praxe antes dos Sínodos universais, mas nunca foi estendida aos fiéis. Porém, o documento assinado pelo secretário-geral do Sínodo dos Bispos pedia que ela fosse respondida da forma "mais ampla possível". Entenderam muitos que também os fiéis deviam responder ("O Globo", 2-11-13). Resultado: no episcopado americano, por exemplo, estabeleceu-se a falta de consenso. A extensão da consulta pareceu "dificil de decifrar" ("National Catholic Reporter", 5-11-13). Nos EUA ela só foi enviada aos bispos, mas alguns destes a colocaram online; representantes LGBT reclamam o 'direito' de enviar suas respostas. Também na Inglaterra ela foi posta online. Na França e alhures, grupos de base "progressistas" igualmente exigiram ser consultados. O Pe. Lombardi (foto abaixo) tentou arrefecer as tensões, tendo a "Folha de S. Paulo" (5-11-13) observado que a pers-
pectiva de respostas previsivelmente revolucionárias por parte de grupos progressistas "significa que o papa está lançando a igreja em uma agitação como não se vê há séculos".
Evangelii Gaudium Em 24 de novembro, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, Francisco I sistematizou as linhas de seu pontificado. O documento enfatiza a "descentralização" e sinodalização da Igreja, com a transferência de poderes inclusive doutrinários às Conferencias Episcopais; o abrandamento dos preceitos e normas da Igreja considerados "antiquados", excessivamente numerosos e pesados; inclusão de mulheres em cargos de governo "onde se tomam decisões importantes"; extensas invectivas contra excessos na economia de mercado, que muitos identificaram com uma condenação do capitalismo privado ("El País", 26-11-13). D. Lorenzo Baldisseri apresentou o documento como sendo baseado numa versão "correta" da Teologia da Libertação, visando combater as desigualdades sociais e a pobreza ("O Estado de S. Paulo", 27-11-13). Por sua vez, a revista anarco-socialista francesa "Rue89" publicou sua análise sob o título "Desta vez é certo: o papa Francisco é socialista". Ela julga que não se pode ainda dizer que o Pontífice é marxista, embora certos pensamentos dele levem a se pensar assim. Mas, "a partir da Exortação Apostólica, pode-se afirmar sem temor que o Papa Francisco é ferozmente antiliberal e até ... socialista". Após avaliar o documento, a revista conclui que a Exortação encerra uma gradual e radical evolução na Igreja "do anticomunismo para o anticapitalismo" (27-1113). Em dezembro, a "Folha de S. Paulo" ( 11-12-13) resumia as repercussões de Exortação Apostólica sob o título "Papa vira vilão nos EUA após críticas ao capitalismo ".
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"Guel'ra civil católica "? Di ante de tantas imprecisões, contradições, interpretações e co ntra-interpretações, mentiras e desmentidos, muitos depl o raram a insta lação de um ''entrechoque, primeiro larvado
e cada vez mais aberto, áspero e até dramático entre os católicos que sinceramente amam e servem a igreja tradicional, o Vigário de Cristo na Terra e se esforçam para respeita,; d!fundir e propagar o Depositum Fidei. {. ..] Trata-se de uma espécie de 'guerra civil católica '" ("Ri scossa C ri sti ana", 2- 11 - 13) . O arcebi spo de Phil adelphi a (EUA ), D. C harl es C haput, reconheceu que os fié is de sua arquidi ocese estão "con.fúndidos pelas palavras do Papa Francisco ". D. C haput ex pli cou que, após a entrev ista à "C iviltà Catto lica", recebeu
"e-mails de catequistas, pais e fiéis de prática quotidiana que se sentem confú ndidos pelos títulos da mídia sugerindo que a Igreja mudou seu ensinamento pelo menos em alguma medida " ("Phill y.co m", 25 -9-1 3). Confüsão <las línguas na AméJ'ica Latina Se a confu são das lín guas atin g iu ta is ní ve is na Igrej a Cató li ca, Mestra infa lível da Verdade, ponto de referênci a o bri g ató ri o das ve rd ades abso lutas indi s pensá ve is pa ra raciona lidade dos homens, o que di zer do desvari o que fo i to ma ndo conta da ordem tempo ral ? N o iníc io do ano, o hi stri ônico di tador soc ia lista Hugo C hávez estava vivo o u morto? Segundo Ni co lás Maduro, e le vo ltari a de C uba para reass umir a pres idênc ia. C há vez regressou com suas pró prias fo rças, como di sse a versão ofi c ial, ou num caixão, como fa lou a opos ição? O corpo conduz ido durante o ito horas sob o so l de Caracas era o de le ou não? Nin guém pôde fotografá- lo, ne m mesmo a imprensa ofi c ial. Di zem que o caixão que sa iu do Hospital Militar de Ca racas não teri a sido o mesmo que chegou ao loca l do ve lório. Uma fa rsa não muito di stinta da que envo lveu o corpo do ditador p res idiu a posse de seu sucessor, N ico lás Maduro, sobre cuj o chapéu o espírito de C hávez, simbo lizado por um passa rinho de pl ás ti co (foto), continuari a sendo sua fo nte de in spi ração ! N o fin a l do ano, Maduro inc itava in vasões a loj as e supermercados e incentivava a lu ta de classes. A desorgani zação socia l, po líti ca e econômi ca da Venezue la atin g iu o pa rox ismo: confi scos, contro les da moeda, fa lta de a limentos e produtos de hi giene bás icos, pri são de centenas de empresá rios e comerciantes, repressão, supressão das liberdades, inadimplência internac iona l. Po uco menos caoti za nte fo i a pos ição assumida pe lo go verno argentino. Após míti cas di sputas com o cardea la rcebi s po de Buenos Aires, uma vez eleito Papa o kirchnerismo apo iou-se nele, recebendo do anti go opos itor sina is de estima em meio às dificuldades. Cri stina Kirchner obteve uma fo to de Franc isco I ao lado do líder da chapa ofic iali sta para as ele ições de agosto. Apesa r di sso, e da referida fo to ter coberto os mu ros de Buenos Aires, o kirchnerismo sofreu pesa da derrota. Em no ve mbro, po uco depo is de padece r pro bl e mas cerebra is, a despres ti g iada pres id ente no meo u
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CATOLICISMO
um novo chefe de gabinete. Este substituiu os símbo los kirchnerislas de seu escritório por fotos de sa ntos, da fa míli a e de Francisco l. Cri stin a Kirchner nomeou um sacerdote para chefi ar a luta contra a droga, ao mesmo tempo que exmini stros e novos mini stros tidos como cripto-comuni stas passa ram a se dec lara r cató li cos de longa data e admi radores de Fra ncisco l. As arbitra ri edades, os desrespeitos a direitos adqu iridos - vo ltados sistemati camente contra os " ri cos", o " capita li smo" e a "oliga rqui a tradic ional" - , os contro les estata is da moeda e das despesas dos cidadãos, a persegui ção à imprensa opos icioni sta e o desrespeito do Judiciári o se tornaram moeda co rrente . Em dezembro , um a enorm e onda de greves polic ia is, saques e vio lências semeou mortes e entrechoques armados, parecendo imitar a decompos ição soc ia l da Venezuela.
Brnsil 1,a confüsão O Bras il veio pouco atrás nessa cava lgata rum o ao desvari o. No início do ano, muitos duvidavam que o processo do Mensa lão conc luísse com punições. E ntretanto, em agosto, o STF condenou 25 réus, incluindo o chefe da quadrilha, e em setembro determinou novo julga mento para parte dos de iitos
internac ionais contra a espionagem fe ita pelo governo Obama. Os protestos antiameri ca nos fo ram dramáticos, patenteandose depois que os países denunciantes se espionavam reciprocamente. "Qual p ais desenvolvido que não utiliza este recurso 'ilegal '? É uma hipocrisia imaginar que isto não acontece ", escreveu o coron el da reserva Paul o Ri na Ido Fonseca Franco que trabalhou para a Abin ("O Globo", 12-7- 13). A pres idente Dilma tentou ex pli car sua ati tude contraditória afirmando que a espionagem brasileira 'fo i totalmente diferente" ("O Estado de S. Paul o", 6- 11-1 3). Esta<los Uni<los em meio a
cometidos por 12 réus. Estes se entrega ram à polícia, sendo encarcerados alguns em regime fec hado e outros em regime semi-aberto. O chefe da quadrilha, José Dirceu, anunciou que durante a rec lusão trabalhari a como gerente de hotel, poss ibilidade que lhe fo i negada pelo STF. Logo após a ex pedi ção dos mandados de prisão, o ex-pres idente Lul a telefonou aos principais mensaleiros afirm ando: "estamo "juntos " ("Zero Hora", 16-11 - 13). O mal-estar reinante na opinião pública nac ional espec ialmente com o rum o adotado pelas esquerdas para o País se exprimiu em manifes tações a partir de 11 de junho. Passeatas, câ nti cos, slogans, cartazes, encheram as ruas de numerosas cidades em todo o territóri o nacional. Em 15 de junho, no Estádio Nac ional de Brasília, a pres idente Dilma Rousseff fo i vaiada três vezes pelo público. "A novidade da mobilização popular é a visão conservadora despertada ", ava li ou o Prof. Wolfga ng Leo Maar, da Universidade Federal de São Ca rl os. Porém, nos protestos se misturaram grupos anarqui stas, gerados no Fórum Social de Porto Alegre com apoio do PT e da esquerda internaci onal. Estes grupos prati ca ram vi olências que afastara m a população ordeira das mani festações. Na políti ca exteri or, a pres idente Dilma liderou protestos
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tufão
Os EU A começa ram o ano com um pesadelo: as despesas governamentais estavam bl oqueadas e a maior economia da Terra podia ca ir na inadimplência, com efe itos mundi ais catastróficos. A ruína foi evitada em janeiro, quando a Câmara de Representa ntes aprovou um aumento do teto da dívida públi ca. Porém, a cri e voltou a se repetir com um novo adiamento in ex/remis até 7 de feve reiro de 2014. Para esse desequilíbri o pesou o fa raônico gasto com o sistema soc iali sta de saúde implantado por Obama. Al ém de sociali sta, estati zante e impopular, o Obamacare - como é chamado - promove medidas fe rozmente anticatólicas, pois obri ga as insti tuições da Igreja a prati ca r abortos, entregar crianças a casa is homossex uais, sem direito à obj eção de consciência. Em 2 1 de janeiro, ao inaugurar seu segundo mandato, Obama prometeu o fi m de "uma década de guerras" ("O Estado de S. Paulo", 22- 1- 13). Em 2 1 de agosto, a despeito da declaração de Obama fe ita um ano atrás, de que utili zar bombas quími cas equivaleria a transpor uma " linha vermelha", o governo sírio lançou-as contra a popul ação adversá ri a. Os govern antes sírios se benefi ciaram do apoio da Rússia e da " neutra lidade" da China. Aviltando o prestígio internacional dos EUA, Obama se desdi sse e cedeu di ante da posição assumida por Vl adimir Putin : um desarmamento do ar ena! químico sírio sob a supervi são internaci onal. Putin foi ovacionado como sa lvador da paz e chego u a escrever artigo no "New York Times" tachando os EU A de irresponsáveis. Em novembro, o presidente norte-ameri cano ass inava um acordo com o Irã, que fo i comparado à ca pitulação das potências ocidentais di ante de Hitl er em Munique. Em seguida, a Chin a explorou a atitude inconsequente de Obama dec larando-se unil atera lmente detentora de uma "zona de def esa aérea" exc lu siva sobre um arquipélago contro lado pelo Japão. O fa ntasma de uma guerra nuclear apresentou-se quando aeronaves de guerra dos dois países, da Co reia do Sul e dos EUA sobrevoaram a área di sputada. Labirinto <la crise eurof)eia
O pres idente soc iali sta fra ncês Franço is Hollande vem apli cando seu programa pelo método de rolo compressor. O "casamento" homossex ual fo i aprovado no Parlamento, tendo a população reag ido com mani fes tações envolvendo milhões de pessoas. A França tra nsformou-se num vulcão com inú-
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meras bocas abertas. Veilleurs - como lá são conhecidos os que protestam de modo pacífico - fazem vigílias em locais famosos , os ministros recebem vaias monumenta is onde quer que apareçam . A economia e ntrou em forte declive e a elite econômi ca, atingida por impostos equivalentes a 75% de sua renda, começou a fugir do país. O governo multiplicou planos sociais e empregos públicos para maquiar o desemprego. Por ocasião do fim do ano, a maioria da população revoltou-se contra o totalitarismo tributário simbolizado pela "ecotaxa" - imposto abusivo a que foram submetidos os caminhões pe la emissão de CO 2 . Na In g late rra , o primeiro-ministro David Ca me ron prom ete u um referendo qu e poderá libertar o país da União Europe ia e m 2017. Também fixou pa ra 2014 outro referendo sob re a se paração da Escóc ia do Reino Unido. O voto escocês é incerto, mas é incontestáve l que os britânicos rejeitam tanto a UE quanto o e uro. Outro pânico se avolumou entre os políticos do Velho Mundo: a perspectiva de um auge de votação anti-UE nas e leições para o Parlamento E uropeu. O Episcopado francês ameaçou engajar-se contra esse voto, qualificado de "extrema dire ita ". Na Ca talunha , as tendências separatistas estão pleitea ndo a rea li zação de um referendo a favor da independência, enquanto a fa mília rea l espanhola, polo unificador da Espan ha, vem se desprestigiando em razão de escândalos financeiros noticiados com viés antimonárquico. A Alemanha continu ou sua posição de defesa da EU , contrária à seu desma ntelamento .
Ascensão <lc Putin Enquanto o Ocidente vai se desfazendo na contradição, foi se proj etando no mundo a luz negra de Vladimir Putin (foto acima). O antigo coronel da KGB operou uma cirurgia estéti ca no rosto da Rúss ia: embora procurando restaurar o poderio sov iético, astutamente se apresentou como paladino da civi Iização cristã. O pa triarca da ' igreja ortodoxa' de Moscou , Kyril - também ex-agente da KGB - foi eficaz instrumento para isso. H icrarcas dessa igreja increparam de modo concertado os governos laicistas ocidentais e apresentaram a Rússia de Putin como modelo de restauração do cristianismo. O presidente russo foi saudado como o grande vencedor da crise da Síria e se empenhou em ganhar a admiração dos movimentos europeus contrários ao socialismo e
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CATOLICISMO
à Revolução Cultural. Seu mais sutil lance consistiu em sua visita a Francisco I no Vaticano. Entre os gestos diplomáticos simbólicos destacou-se o "olhar cúmplice no Vaticano", segundo "O Globo" (26-11-13), trocado com o Pontífice, o qual havia verberado severamente o sistema econômico-social do Ocidente, também criticado pelo líder russo. Mas, pelo fim do ano, a corajosa reação ucraniana às manobras imperialistas de Putin ameaçou arrancar a máscara pseudo-conservadora do antigo oficial da KGB. No Extremo-Oriente, a estrela da China - aliada discreta, mas fiel de Putin - foi declinando . Fraquezas estruturais de sua artificial economia se revelaram ao longo do ano. Mais de cem mil motins populares patentearam a inconformidade do povo chinês em relação ao regime comunista. O novo chefe supremo, Xi, radicalizou a repressão e a "remaoização" do aparato ideológico e policialesco do regime, ao mesmo tempo que prometia reformas legais cosméticas.
La1,gos setores reagem à caotização Largos setores da opinião pública foram se descolando das Iideranças rei igiosas e temporais que irradiavam a "confusão das línguas" e das mentes. A recusa da desordem devoradora gerou uma crescente procura da ordem verdadeira. Além dos milhões de franceses que saíram às ruas em oposição à agenda socialista contrária à família, à propriedade privada e à liberdade, multitudinárias marchas contra o aborto ocorreram na Europa e nos EUA. Em janeiro, a revista "Time" constatou que nos últimos 40 anos a causa do aborto nos EUA vem perdendo em todos os campos (Infocatólica, 4-01-13). O Estado do Texas aprovou a lei mais restritiva ao aborto dos EUA. Em muitos outros estados americanos essas clínicas cessaram de existir. A Croácia foi outro exemplo (vide p. 14). Se a agenda da "cultura da morte" avançou foi devido a arranjos políticos, a juízes e até a eclesiásticos, contrariando a vontade popular de modo geral. Os "profetas da Igreja do futuro", que atuaram intensamente no período pós-conciliar, envelheceram, perderam o dinamismo ou faleceram. Seus principais órgãos de expressão enfraqueceram ou desapareceram. Há até quem fale em Geriatria da Libertação ... Em 2013, constatou-se o deperecimento dos 'ideais' de Maio de 68 e até da Filosofia das Luzes da Revolução Francesa. As vaias ao presidente socialista francês ao
longo da Avenida Champs-Elysées, por ocas ião das festas de 14 de julho e 11 de novembro, não só testemunharam a decadência da agenda socia li sta, mas o fim de uma era revolucionária. Eric Zem mour, radialista mais ouvido da Fra nça, fa lou de "uma espécie de guerra civil larvada" de natureza cult1iral que dá violentos esta los. Uma imensa mudança de paradigma está em curso, acrescentou o "Bou levard Voltaire" ( 18- 11 - 13).
rea liza ram o prodígio. "O que parecia morto, ou quase morto, se ergue de novo", di sse o abade Paul Mark Schwan ("Fo lha de S. Paul o", 14-1-13).
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20 13 encerrou-se com os homens quase não se entendendo mai s. O que nos trará 2014? Análoga pergunta fizemos no fim do ano passado refletindo sobre o caos da Babel ecumênicoFe11ôme110 gerncio1wl espern11çoso globali zada. Vimos também sinais de que a Providência vai Enquanto os movimentos progressistas e soc iali stas se reunindo almas para o grande triunfo anunciado por Nossa arra tavam para atender a " úlSenhora em Fátima. tima chamada" que signifi cou Ma is eloq ue nte do qu e o novo pontificado, ruas e a balbúrdia produ zid a pelos templos foram sendo invad idos homens fo i um grande sil êncio por jovens que parecem em sobre o qu al ninguém fa la - o busca de uma situação co mo a sil êncio de Deus. É como se existente antes do Vatica no li Ele tivesse querido se afastar e de Maio de 68. Os sem in ádesse estado de coisas. A hurios e conventos "modernos" manidade ainda se aperta em entraram em via de extinção. torno da Babel, da qual se desMas os trad icionais, moldados prendem pedaços cá, lá e acolá. no est il o " constantini a no", Um pintor imaginou os últimos enc heram-se, por ve zes até desesperados construtores da ficarem lotados. "The EconoTorre de Babel açoitando as m ist" co nstatou que a " momul as de carga para subir ao derni zação" do cato li cismo alto do préd io da maldi çã.o, na Grã-B reta nh a fez os fiéis enqu anto outros lh es jogam desertarem das igrejas, aliás pedras para dissuadi-los. Uma com clero cada vez mais esmesma palavra dos arquitetos casso. Mas as Missas em latim, de Babel signifi ca uma co isa e vo ltadas para Deus e de costas o co ntrári o dela; e os homens pa ra o povo, aumentaram em enl ouquecem tentando decifrar mais de 600% em cinco anos, seu sign ifi cado. É o res ultado com uma freque ntação que é o de ter proclamado que o Bem dobro das Missas "novas". No e o mal, a Verdade e a mentira, Brasil , desde o séc ul o XVIII o Belo e o fe io são a mesma nunca a Ordem das Ca rmelitas co isa e que qu alquer um pode Descalças de estrita clausura, esco lh er li vre me nte um ou teve tantas freiras como neste outro. início do sécu lo XXI: cerca de Algo, entreta nto, parece se Representação medieval da Torre de Babel mil monjas. Há dez anos eram mover numa esfera que não é a 700, constatou a " Fo lha de S. Paulo" (23- 12- 12). As clarissas, dos pobres humanos. Sopros fétidos e quentes vindos do reino outra das mais austeras ordens de clausura, conta m cerca de das trevas explod iram em incontáveis e atrozes blasfêmias 300 monjas em 30 mosteiros. Em 1955 , só eram 59 reli giosas durante 20 13. Brisas suti s de espí ritos angé li cos reanimaram e rejuvenesceram fileiras do cato licismo autêntico. É de se em três casas. E as ordens reli giosas modernizadas contam nos dedos seus últimos membros, enquanto vão se encerrando supor que essas ventan ias cresça m no ano que começa. Dará conventos e instalações. Mons. Yves Patenôtre, arcebispo de isso numa dispersão final , fruto necessá rio da "confusão das Sa ns-A uxerre (França) confidenciou que, em duas décadas de línguas"? Ou veremos dois mov imentos opostos, um bafejado sua atividade como bispo, ordenou um padre, mas enterrou pelo infe rno rumo às trevas do desvario final , e outro soprado 120 ("Perep iscopus", 19- 11 - 13). por anjos que aglutinam os filhos da luz e os orga niza em Na Ca li fórn ia fo i inaugurado o mosteiro med ieva l de ordem de batalha aos pés da Sa ntíss im a Virgem para "novos Santa Maria de Óv il a, que há um séc ul o um milhardário e cristãos atrevimentos "? • norte-americano trouxera desmontado da Espa nha, mas que nunca conseguira remonta-l o. Monges cisterc ienses novos E-mail para o autor: catolícísmo(w,tcrra.com.br
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MEMÓRIA
Aux jardins de Monsieur Le Nôtre ■
LOREDO
"Nos jardins do Senhor Le Nôtre". Eis o título das celebrações com as quais a França está comemorando os 400 anos do nascimento do maior jardineiro de todos os tempos: André Le Nôtre (1613-1700).
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Juuo
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ascido em Paris numa família de jardineiros (seu pai Jean era o superintendente dos jardins do palácio das Tulherias, como já o fora seu avô Pierre), André estudou arquitetura e pintura na escola do Louvre, entrando depois no atelier de Simon Vouet, pintor da corte de Luiz XIII, onde aprendeu sobretudo a arte da perspectiva.
O Jardineiro enobrecido Em 1635 foi nomeado superintendente do duque Gastão d'Orleans, irmão do Rei, e, depois, superintendente dos jardins das Tulherias, sucedendo a seu pai. Nomeado por Luiz XIV Superintendente Geral dos Jardins Reais, a partir de 1657 assumiu também a Controladoria Geral dos Reais Palácios. Seguindo uma antiga tradição, em 1675 o Rei Sol lhe conferiu um título de nobreza, em reconhecimento pelos seus talentos artísticos. Le Nôtre projetou os jardins de muitos dos mais famosos castelos e palácios da França e do mundo: Fontainebleau, Saint-Germain-en-Laye, Saint-Cloud, Chantilly e outr9,s.
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El~ foi o criador da Avenue des Chàmps Elysées, em Patis1 e também realizou projetos no exterior. A ele devemos o Greenwich Park, de Londres, bem como os jardins de Racconigi e Venaria Reale, em Turim. Suas obras-primas são, sem dúvida, os jardins do palácio de Vaux-le-Vicomte, pertencente a Nicolas Fouquet, ministro das finanças de Luís XIV e, especialmente, os jardins do Palácio de Versalhes, onde a arte da jardinagem atingiu um auge nunca superado.
"Dominai a terra" (Gn 1,28) A arte de Le Nôtre nos leva a uma reflexão não só cultural, mas também teológica. No início dos tempos Deus criou o universo material e nele colocou o homem, dando-lhe uma ordem explicita: "Enchei a terra e sujeitai-a ao vosso domínio" (Gênesis I ,28). Mas, por assim dizer, deixou a criação a meias, ou seja, após ter criado o universo do nada e de fazer essa obra-prima que é o homem, confiou a este a tarefa de continuar seu divino trabalho pela criação, com base nos seres já existentes, de novas realidades que refletissem a beleza infinita de Deus. É por isso que Dante Alighieri disse com propriedade que se as criaturas são filhas de Deus, as obras de arte são suas netas.
m ma1;1podêv~o se até Ble. Ê a con capacidade de tomar e para criar, por sua vez, ob divinas. É assim que o homem se um pedaço de mármore e transformá-lo Ou de acumular pedras de modo a constnilt umc uma catedral. Ou ainda de manipular pigmehtos pata fazei um quadro. Criando beleza, o homem dá glória a Deus, Extasiamo-nos diante da natureza: uma floresta, um vale, uma montanha, um rio ... Mas Deus nos concedeu sobretudo uma inteligência, a qual podemos e devemos aplicar a esses elementos para ordená-los e elevá-los a um grau superior de perfeição. É o caso dos jardins de André Le Nôtre. "O jardim de Le Nôtre é o domínio da inteligência sobre a pura sensibilidade, é o triunfo do inteligível. Ele tem um sentido e uma beleza real - escreve Henri Régnier. O jardim de le Nôtre satisfaz o espírito juntamente com a vista. Além do prazer dos sentidos, le Nôtre faz com que o jardim também responda à nossa necessidade espiritual de simetria e regularidade. Um
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jardim não deve ser deixado ao sopro da imaginação f értil, mas deve também favorecer o pensamento. Ele devefornecer uma idéia de grandeza, dignidade e razão. Precisamente porque tal jardim é f eito de acordo com estes principias é que ele é nobre, inteligível, ordenado, e pode ser chamado de 'clássico 'do mesmo modo que uma tragédia de Racine ou uma obra de Bossuet " (Henri de Régnier, Portraits et souvenirs, Paris 1913).
"Em Le Nôtre a sensibilidade é canalizada e trabalhada pela inteligência - diz o historiador Er ik Orsenna . Os jardins conhecidos como 'à fran cesa' não são frios e geométricos. Longe disso! São lugares de criatividade e imaginação, mas sempre em diálogo com a inteligência, que domina " (E ntrevi sta, " Le Figaro", Hors Série, outubro de 2013 , p. 50). O papel i11spiraclo1· da llObl'CZa
Le Nôtre foi capaz de realizar essas maravilhas porque tinha diante de si o modelo de uma resplandecente monarquia. Nascido
numa casa que a família possuía nos jardins das Tulherias, ele cresceu contemplando a Família Real e a alta nobreza. E começou a conceber seus jardins porque conhecia os personagens que iriam passear por eles. Os jardins de Le Nôtre são a transposição para termos vegetais do espírito monárquico e aristocrático francês , levado a um auge por Luiz Xlll , e sobretudo por Luiz XIV, tão esplendoroso que recebeu o nome de Rei Sol. Sem Luiz XIV não teria havido um Le Nôtre. Perguntado sobre por que não existem hoje mais artistas como nos velhos tempos, um conhecido crítico de arte ita1iano respondeu que uma das causas é a falta de nobres que os inspirem . Falta uma verdadeira nobreza que busque a bel eza e a perfeição em todas as esferas da vida social, que e leve atrás de si as classes mai s modestas, e acima de tudo os artistas. Eis um as pecto muito importante do frisante papel social da nobreza que hoje, infelizmente, tende a desaparecer. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
quarta-feira à tarde até segundafe ira de manhã. Primeiro Sábado do mês
1 SANTA MARIA, MÃE DE Dl.füS (An tigamente, Circuncisão do Menino Jesus) Coloquemos nas mãos de Maria o ano que se inic ia, para que sej a re pl eto de boas o bras . Quem é filh o devoto de Maria será defendido nos peri gos e livre do pecado (cfr. Oração e Postcomunio da Mi ssa).
2 São Basílio Magno, Bispo, Confessor e Doutor da Jgreja + Cesaréia, 379. Bispo considerado o "Colosso da Igreja oriental", mereceu o título de
"Pai dos monges do Oriente?", porque suas regras deram fo rma defini tiva à vida monásti ca.
3 Santa Genoveva, Virgem + Pari s, 5 12. Consagra ndo a De us s ua virg ind ade aos 14 anos, vivia na casa de uma tia, o nde levava vida de extrema peni tê nc ia e contínua oração . Q uando os hunos ameaçavam invadi r Paris, Ge noveva sa iu às ruas exorta ndo os parisienses à penitê nc ia; ines peradamente, e se m razão apare nte, Á tila afas tou-se com seus bárbaros. P.-imeira Sexta-feira do mês
4 Santo Odilon, Abade + Cluny, 1048 . Um dos grandes abades de C luny, c uj o pape l fo i primordia l na fo rmação da ldade Média. A ele devem-se a introdução da Festa de F inados e, para contro lar o espírito extre mamente beli coso do tempo, a Trégua de Deus, que pro ibia ações bélicas ou pilhagem da
tirou para ocupar a Sé arquiepi scopal de Bourges, no centro da França .
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Santissimo Nome de Jesus
Sanlo Higino, Papa e Mártir + Roma, 142. Grego de origem,
(Domingo entre a Circuncisão e a Epifa ni a) A devoção ao Santíssimo Nome de Jesus, já arraigada na Igreja desde seus albores, fo i pregada e inc ul cada de modo p arti cul ar por São Bernardo, São Bernard ino de S ie na e pelos fra nciscanos.
6 EPIFANIA DO SENHOR, OU SANTOS REIS E pi fa nia sig nifica " mani festação" . Com a adoração dos Reis Magos, Nosso Senhor se manifesto u não só aos judeus, mas a todos os povos.
7 São Raimundo de Penhaforte, Confessor + Espanha, 1275. Dominicano, Príncipe dos canonistas e exímio confessor, fo i igualmente célebre por seus milagres. Com São Pedro No lasco fu ndo u a Ordem das Mercês, para a redenção dos cativos aprisionados pelos muçulmanos.
8 São Pedro Tomás. Bispo e Confessor + C hipre, 1366. Carme lita, encarregado pontific io de deli cadas mi ssões diplomáticas, depo is Bispo e Legado universa l para todo o Oriente.
9 Santo André Corsini, ConfeSSOI' + Fiésole, 1373 . Também carmeli ta e contemporâneo do anterior, de uma das mais ilustres fa mílias de F lo re nça, fez-se religioso depois de vida mundana, expiando suas leviandades mediante grandes penitênc ias.
po r sua v irt ud e e corage m fo i esco lhido para suceder a São Telésforo, que sofrera o martírio. Lutou contra vá ri os heresiarcas, animou os cri stãos perseguidos pelos pagãos e acabou dando sua vida por Cristo.
12 FESTA DA SAGRADA l•f\MÍLIA (Domingo depois da Epifa ni a) Esta fes ta tem por fi nalidade dar às fa mílias cristãs um modelo e um exemplo a imitar, e uma proteção a quem recorrer.
13 Batismo de Nosso Senhor O obj eto desta fes ta é o Batismo de Nosso Senhor por São João Batista e, secundari amente, o nosso nasc im e nto es piritua l para a vida da graça pe lo bati smo.
14 São Félix de Nola, Confessor + No ta (Itá lia), 256. Sacerdote, passou por vá rios suplícios nas perseguições dos imperadores roma nos Déc io e Va ler ia no, sa indo incó lume. Após edifica r a todos co m sua sa nta v ida, fa leceu no Senhor.
15 Santo Amaro ou Mam·o, Confessor
+ Sub íaco, 584. Filho de um senador romano, aos 12 anos fo i entregue a São Bento de Nú reia para ser educado. São Gregório Magno o exa lta pelo seu amor à oração e ao silênc io. Ava nçado na virtude apesar de sua pouca idade, fo i incumbido por São B e nto de diri g ir mo nges e mosteiros.
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São Guilherme de Bourges, Bispo e Confessor + 1209 . G ra nd e a ma nte da
São Marcelo 1, Papa e Mártir
+ Roma, 309. Reorga ni zo u a
so lidão, entro u na Ordem de Cister, de onde a obediência o
Hiera rqui a ec les iást ica . Sob Maxê ncio, fo i exi lado e obriga-
do a viver num estábul o, onde morreu em co nseq üência de maus tratos.
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sorte de tormentos, célebres na História da Igreja. Anastácio fo i um monge persa decapitado com outros 70 cristãos pelo rei Cosroes.
Santo Antão Abade, Confessor
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+ Egito, 356. Viveu longos anos
Santo Ildefonso, Bispo e Confessor
de penitência no deserto, onde resistiu como heró i católico a violentas tentações do demônio.
18 Santa Pl'isca ou Pl'iscila, Virgem e Mártir
+ Tol edo, 667 . Discípulo de Santo Isidoro, fo i Arcebispo de Toledo e zelosíss imo defensor da virgindade de Maria contra os hereges, escrevendo um livro para refutá-los.
+ Roma, séc. 1. É considerada por muitos a primeira mártir do Ocidente. Batizada por São Pedro aos 13 anos, fo i marti rizada pouco depo is, por ter-se recusado a queimar in ce nso aos deuses.
19 Santos Mál'io e Companheil'OS, Mártires + Roma, 270. Mário, a esposa Marta e dois filhos viajaram da Pérsia a Roma para venerar os sep ul cros de São Pedro e São Paul o. Ao visi tar depois os cri stãos nos cárceres, foram também detidos e martiri zados.
20 São Sebastião, Mártir
+ Roma , 288. Ce nturi ão da guarda pretoriana de Dioclec iano, sustentava co m ze lo apostó li co os confesso res da fé e os mártires. Denunciado, fo i trespassado com flec has. Curado mil agrosa mente, fo i açoitado até a morte. Tornou-se um dos sa ntos mais populares em toda a Igreja.
21 Santa Inês, Vi rgem e Mártir + Roma, 304. A fo rtaleza desta menina de 13 anos assomb ro u seus verdugos que, no entanto, a matara m cru e lm ente. São Dâmaso e Sa nto Ambrósio cantaram entusiasmados se us louvores.
22 Santos Vicente e Anastácio, Mál'Lires + 304 e + 628. São Vicente fo i um valoroso diácono de Zaragoza, que para prova r sua fide1idade a Cristo enfre ntou toda
24 São Francisco de Sales, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja (Vide p. 22)
25 Conversão de São Paulo Apóstolo Ao cair do cava lo, o perseguidor dos cristãos tornou-se Apóstolo. Jnstruído pelo próprio Cristo Jesus, fo i um dos mais ardorosos proclamadores do Cristianismo. Submi sso ao Papado , so ube entretanto resistir a São Pedro, co m respe ito e firmeza, na questão dos judaiza ntes. São Pedro, demonstrando gra nde elevação de alma, acabo u por dar-lhe razão.
26 São Timóteo, Mártir, e São Tito, Confessor + Ásia Menor, séc. 1. Fora m dois discípulos de São Paulo. A Timóteo, seu preferido e fiel companheiro, São Paulo escreveu du as ep ísto las che ias de conse lhos. Fo i Bispo de Éfeso e morreu ape drej ado pe los pagãos. São Tito também acompanhou o Apóstolo em algumas viage ns, tornando-se depo is Bispo de Creta, onde morreu.
27 Santa Ângela de Merici, Virgem + Bréscia, 1540. Co nsc iente de que as desordens da soc iedade ori g in am-se em gra nde parte da corrupção da fa mília, fundou o instituto religioso das Ursulinas , para a educação da juventude fem inina e fo rmação de mães cri stãs.
28 Santo Tomás de Aqui no, Confessor e Doutor da Igreja + Fossa Nuova, 1274. O maior teólogo da Igreja foi, aos cinco a nos , confiado aos monges beneditinos de Monte Cass ino, entrando depois para a Ordem Dominicana, da qual é a maior glória, juntamente com o fundador. Com razão foi cognominado Doutor Angélico, por sua pureza de vida e elevação de doutrina, que tra nscende a pura inteligência humana. É o patrono das esco las católicas. Sua doutrina filosófica e teológica recebeu elogios de vários Papas, por sua sapiencialidade e penetração.
29 São SuJpício Severo, Bispo e Confessor + França, 59 1. São Gregório de Tours refere-se a ele com muito respeito, elogiando suas vi rtudes. Foi nomeado para a Sé de Bourges em lugar de candidatos simoníacos.
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Intenções para a Santa Missa em janeiro Será celebrado pelo Revmo. Padre David Francisqu ini, nas segu intes intenções: • Missa pe l os in ten ções dos assinantes, leitores e co lab oradores de Catolicismo, a fim de qu e, neste ano que se inicia , seus lares se jam especia lmente protegidos pela Sagrada Família, para serem preservados do pecado, da violência , do desemprego e das drogas - mal es que flag e lam gravemente nossos co ntemporâneos .
Santa Jacinta MariscotLi, Virgem
+ Viterbo, 1640. Se bem que ed uca da cr istã mente , levo u vida frívo la e mundana mesmo no convento, onde entrara por ordem do pai. Adoecendo gravemente, o confessor da casa não qui s ate nd ê-l a, di ze nd o que o Cé u não era fe ito para pessoas vãs e soberbas. Um terror sa lutar levou-a ao arrependimento e remorso, e depois à reparação, transformando sua vida e conduzindo-a à honra dos altares .
31 São João Bosco, Confessor + Turim, 1888. Exerceu enorme influência no campo religioso e soc ial a partir do século XIX, tendo fundado a Soc iedade Salesiana e o In stituto das Filhas de Maria Auxiliadora. São Pio X afirmou: "O êxito dessa obra só pode explicar-se pela vida sobrenatural e santidade de seu fundador". De alm a simples, alegre e ardente, não havia obstác ulo que o detivesse na senda do bem.
Intenções para a Santa Missa em fevereiro • Supli cando o Nossa Senho ra de Lourdes (prin ci pa I festividade mariana em fevere iro) pela saúde de todos os leitores de Catolicismo. Também pe la saúde es piritual de todos eles, a fim de que, diante das inúmeras dificuldades desta vida, mantenham-se sempre fi éis à moral ensinada pela Sa nta Igreja.
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Conferências no Brasil sobre o Concílio Vaticano II .1 LUCIANO
A
SQ UIBA
ontecimento capita l do século XX, com efe itos até 1a soc iedade tempora l, o Concíli o Vaticano 11 tem usc itado inúm eras discussões nos planos doutrin ário e pastora l - opondo as chamadas hermenêuti cas da ruptura e da continuidade ainda não dirimidas e atraindo a atenção de estudi osos e pesqui sadores. No plano hi stórico ocupou-se do tema o renomado escritor itali ano Roberto de Mattei - professor de Hi stóri a da Igreja e do Cri sti ani smo na Un iversidade Europeia de Roma - , que em 20 1O publi cou o livro O Concílio Vaticano 11 - uma história nunca escrita, no qual deslinda os bastidores daquela
grande assemb leia. Baseado em documentos, arquivos, di ários, correspondências e testemunhos de seus protagoni stas, ele faz uma ri gorosa reconstitui ção cio Concílio em suas raízes, desenvo lvimento e consequências. A obra, logo traduzida para as principais línguas do Ocidente, teve gra nde repercussão na Europa, va lendo ao autor o Acqui Storia 20 11 - o mais prestigioso prêmi o itali ano para li vros hi stóricos. No Brasil , o assunto vem também tomando corpo. Vi sando proporcionar ao nosso público a oportunidade de conhecer de perto as conc lusões do Prof. de Matte i, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promoveu sua vinda a São Paulo no último mês de dezembro, para fa lar sobre o tema . Entidades afi ns orga ni zara m palestras nas cidades do Ri o de Janeiro, Recife e Bras íli a. As co nfe rências cio hi storiador itali ano nessas Continua na página 50
CATOLIC I SMO
JANEIRO 2014
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Da dir. para a esq.: o Prof. Roberto de Mattei, Joรฃo Luiz Vidigal diretor da Editora Ambientes & Costumes, e Nelson Ramos Barretto
CATOLICISMO
O conferencista, e o casal Da. Rita de Sรก Freire e o Dr. Antonio Augusto de Sรก Freire Filho
O numeroso público seguiu com avidez a exposic;ão das teses do livro do Prof. de Mattei
O casal Da. Gilda e Dr. Celso da Costa Carvalho Vidigal com Da. Rita de Sá Freire
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cidades co incidiram com o lançamento da edição bras il eira de se u livro, bem como a de seu novo título Apologia da Tradição, escrito em resposta às críticas de caráter doutrinári o, e não hi stóri co, apresentadas por se us obj etores. Auditóri os lotados, público atento e consonante, perguntas numerosas a ponto de não ser poss ível respondê-l as todas, longas fil as para autógrafos e demorada conversa fi nal, eis tudo quanto um autor pode desejar para o êx ito de uma tournée. Pois essas ca racterísti cas so bej ara m nos qu atro eve ntos aqui preparados para o Prof. de Mattei. Em todos eles, a nota di stin tiva e comum fo i o grand e interesse despertado em um públi co predominantemente jovem, bem- info rmado e com defini ções acerca do tema versado. Integrantes ou não de assoc iações ou grupos, os ass istentes acompanhavam com a maior atenção, durante a ex pos ição de mais de um a hora, os sucess ivos aspectos abordados pelo autor, acompanhamento traduzido depois em perguntas reveladoras de hori zonte e profundid ade de es píri to, res pondid as pelo co nfe re ncista e m sentenças breves e por vezes brilhantes, sempre com acuidade e ampl o domíni o da matéri a. No Rio de Janeiro, a confe rência/ lança mento reali zou-se no sa lão nobre do Hotel Windsor Florida, no Flamengo, tendo como promotores as enti dades Juventude pela Vida, Instituto Vera Fides, Fratres in Unun e Ação Jovem pela Terra de Santa Cruz, cuj os dirigentes ocupara m luga r à mesa. A sessão fo i aberta com uma oração do Abade Eméri to de São Bento, Dom José Palmeri o Mendes, e rea li zou-se sob a pres idência de honra do Prín cipe Dom Antôni o de Orleans e Braga nça. No momento previ sto para o início - 16 horas - 170 participantes lotavam o salão, e passadas as 20 horas ainda numeroso públi co se entretinha em conversa no cocktail de encerramento. No Recife promoveu a sessão, em sua sede própri a, o Círculo Católico de Pernambuco, entidade centenári a com vasta atuação e influência no pensa mento católi co da soc iedade pernambuca na. O bl ogDeus lo vult, muito popular entre
CATOLICISMO
os jovens, contribuiu para atra ir um bom número de participantes. Muito aplaudidas fo ram as referências do palestra nte às atitudes coraj osas de dois arcebispos da cidade, Dom Vi ta l e Dom José Ca rdoso Sobrinho. Entre os 120 presentes hav ia di versos sacerdotes e pessoas de esco l do meio pernambuca no. Na Capital Federal houve o lança mento da edi ção brasil eira do mencionado li vro do Prof. de Matte i sobre o Co ncíli o Vati cano 11 , bem como de um co mpl emento des te, Apologia da Tradição, primorosa mente rea li zados pela Ambientes & Costumes Editora. O evento se rea lizou no anfiteatro da Livraria Cultura do Shopping lguatemi e contou com 180 parti cipantes, muitos deles seguidores do site Nos Passos de Maria, inclusive muitos sacerdotes, seminari stas e professores uni versitá rios. Fo i necessári o retardar o fec hamento da livrari a para que o autor pudesse conceder todos os autógrafos so li citados. Em São Paulo, coube ao Instituto Plínio Corrêa de Oliveira orga ni za r a sessão, como de hábito no auditório do Club 1-foms, na Avenida Pauli sta. Para aco lher os 380 presentes fo ram neces ári os sucess ivos acrésc imos de cadeiras, bem como a instalação de um telão no sa lão anexo. O Dr. Adolpho Lindenberg, pres idente do instituto, sa udou o Prof de Mattei, ca bendo ao Príncipe Dom Bertra nd de Orleans e Bragança o agradec imento e as palavras fi nais, em que ele destacou a identidade de pensamento e de atuação do ilustre visitante com a entidade. Fo i uma sessão brilhante, que encerrou verdadeiramente com "chave de ouro" o programa el e palestras do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira de 201 3; nos três anos completos que leva já esse ca lendári o, nenhuma outra fo i tão co nco rrid a nem des perto u ta nto in teresse e afi nidade. Nas quatro ocas iões ac ima relatadas, o Prof. Roberto de Mattei leu, num português muito claro, o texto de 11 laudas de sua confe rência. As perguntas lhe fora m apresentadas ta mbém em português, sendo respondidas em itali ano com tradução simultânea. A todos ele impress ionou pela ciência hi stórica e enfoque nas questões cruciais, bem como
pela gentil eza no trato. Destacamos a seguir tópicos de seu pronunciamento. Registrando a novidade da fi xação do caráter " pastoral" do Concílio Vaticano II , afirm a: "A dimensão pastoral, em si mesma acidental e secundária relativamente à dim ensão dou trinal, acabou por se tornar prioritária, introduzindo uma revolução na linguagem e na mentalidade". E passa ndo à questão central: "Há uma pergunta que ainda hoj e não tem respos ta: por que f oi que a so lene assembleia dos Padres conciliares, reunidos em Roma para tratar das relações entre a Igreja e o mundo moderno, ignorou o .fenômeno mais colossal e evidente da sua era, o imperialismo comunista?". O orad or aponta para o ce rne ci o embate: "A história é fe ita de minorias, e também no Concílio Vaticano 11 se assistiu à confro ntação de duas minorias: uma conservadora e outra progressista. Entre elas havia essa massa hesitante, que era o Terceiro Partido. Ele dá os nomes. De um lado, "o Cardeal Suenens e D. Hélder Câmara, um dos motores 'ocultos' da assembleia conciliar"; de outro lado, "o Prof Plinio Corrêa de Oliveira, verdadeiro animador da resistência conservadora no Concílio, que conseguiu perceber o que es tava se passando g raças à sua teologia contra-revolucionária da história". E conclui : "A vida da igreja j amais fo i tranquila. Em si mesma, a igreja Católica é ontologicamente santa e imaculada, mas ao longo da história teve de lutar sem cessar para conservar a pureza da sua doutrina e dos seus costumes contra inimigos externos e internos que a fà ram agredindo ". Jnvocando as palav ras de Santa Teresa de Ávil a, encerrou sua brilhante palestra: "Nada te perturbe, nada te esp ante, quem a Deus tem, nada lhe.falta; tudo passa, só Deus não muda". • E-mail para o autor: cato licismo@ terra.com .br Nota: Aque les que desejarem o uvir a conferênc ia do Pro f. Ro berto de Matte i, rea li zada na cap ita l pauli sta, sua gravação encontra-se di sponíve l no site do lnslilulo Plinio Corrêa de Oliveira: http:// i ico.or .br/ i co/
O Concílio Vaticano li - Uma história nunca escrita Sucesso de vendas na Europa, este livro - agora editado no Brasil - nos ajuda a compreender não só os acontecimentos de ontem, mas também os problemas religiosos na Lgreja de hoje.
Prêmios:
* Acqui Storia 2011 - da secção histórico-científica * Finalista do Prêmio Pen Club Itália 2011 Conheça o autor:
R$ 60,00 (frete de R$ 10,00)
Roberto de Mattei nasceu em Roma, em 1948. Formou-se em Ciências Políticas na Universidade La Sapienza daquela cidade. Atualmente é professor de História da Igreja e do Cristianismo na Universidade Europeia de Roma, no seu departamento de Ciências Históricas, do qual é o diretor. Até 201 1 foi vice-presidente do Conselho Nacional de In vestigação da ltália, e entre 2002 e 2006 conselheiro do governo italiano para questões internacionais. Agrac iado pelo Papa em 2008 com a comenda da Ordem de São Gregório Magno, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Igreja. É membro dos Conselhos Diretivos do Jnstituto Histórico Italiano para a Idade Moderna e Contemporânea e da Sociedade Geográfica Italiana. É presidente da Fundação Lepanto, com sede em Roma. Dirige as revistas "Radiei Cristiane" e "Nova Histórica", e colabora com o Pontifício Comitê de Ciências Históricas.
Apologia da Tradição Post-scriptum do livro: O Concílio Vaticano li - uma história nunca escrita
Após o sucesso da publicação do li vro O Concilio Vaticano 11 - uma história nunca escrita, Roberto de Mattei oferece nestas páginas algu ns elementos de reflexão histórica e teológica para aqueles que desejam aprofundar os problemas levantados pelo vivo debate sobre a obra. Pode-se discutir pessoas e acontecimentos que pertençam à história da Lgreja, trazendo à luz eventuais limites e sombras? Pode-se dissentir (quando? em que medida?) das decisões da suprema Autoridade eclesiástica? Qual é a regulafidei da Igreja nas épocas de crises e confusões? Para Roberto de Mattei, o principal camin ho a reencontrar é a Sagrada Tradição da qual, neste vo lume, faz uma apologia documentada.
Petrus Editora Ltda. Rua Visconde de Taunay, 363 - Bairro Bom Retiro CEP 01132-000 - São Paulo-SP Fone/Fax (L l) 3333-67 16 E-mai 1: petrus@Iivrariapetrus.com.br Visite nosso site na internet: www.livrariapetrus.com.br
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Superioridade da civilização católica PuN10 CoRRÊA DE OuvE1RA
o O riente, as pedras preciosas são ma is boni tas e de me lhor quilate; seu subso lo é mais ri co nesse gênero de esplendores. As péro las do O ri ente são de uma beleza incomparável. Ass im, os ori entais podem constituir para si ornatos muito ma is ri cos do que os prínc ipes do Oc idente. Os orienta is também di spõem de tec idos fe itos à mão de uma qualidade mui to superior aos tecidos fe itos, em geral, por meios industria is no Oc idente. De maneira que, sob o ponto de vista da indumentária, eles se apresentam de modo superior aos oc identa is. Tanto mais quanto e les têm uma certa fa ntasia e não são inibidos por preconceitos revoluc ionári os, com medo de parecer por demais marav ilhosos. Já os ocidenta is têm esse receio de parecer por demais maravilhosos. Exa minem-se, por exemplo, os traj es diplomáticos, os unifo rmes dos militares, genera is, marechais, etc., do século XIX e compare-os com os deste sécul o ... Houve uma decadência fri sante. N o século X IX, uns e outros usavam bicórneos - aquele chapéu de dois bicos - , com abas que se reúnem no alto, com egretes Marajá Bhagwatsinhji brancas. As roupas eram bordadas com alamares, os veludos eram extrnordinários. Mas atualmente o homem ocidental tem vergonha de se apresentar nesses trajes porque o espírito revolucionário achatou todas as tendências para o belo. Pelo contrário, no O riente isso não fo i assim , pelo menos até aparecer esse apósto lo da mi séri a e da suj e ira que fo i Gandhi . Mas, na rea lidade, por cima de tudo isto havia uma classe que sonhava com o marav ilhoso. Eram os marajás, raj ás, xás, quedi vas, sul tões, ul emás, etc. , que se apresentava m com trajes lindos. Entretanto, exa minando-se esses orientais pagãos, e les são infe riores aos homens do Oc idente cató li co. Por quê? Porque duran te sécul os, desde que a Igreja Cató li ca penetrou no Ocidente, começou a germinar a moral cató li ca. E quando consideramos uma pessoa que observa em todos os seus pormenores a moral cató li ca, essa pessoa, ou seus descendentes, são portadores de uma educação e de um porte que tende à perfe ição. Imperador Francisco José Uma pessoa que pratique a mora l católica perfeitamente, da Áustria e Hungria ainda que ela não tenha rece bido uma educação de sa lão, mas apli ca os princí pios de mora l a questões de bom procedimento, ao cabo de algum tempo esses princí pios filtra m e nasce da í uma ati tude, uma di stinção, uma amabilidade, uma cortesia, que no fund o faz parte da mora l cató lica. •
Excertos de conferência proferida pe lo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 13 de janeiro de 1989. Sem revisão do autor.
PuN1 0 C o RRÊA DE OuvE1RA
Lourdes: admirável lição de confiança E
stamos vivendo uma terrível hora de castigos. Mas esta hora também pode ser uma admi ráve l hora de miseri córdia. A condi ção para isto é que olhemos para Maria, a Estrela do Mar, que nos gui a em meio às te mpestades. Du rante cem anos [NdR: o autor escreve em 1958, centenári o das aparições de N ossa Senhora em Lourdes], movid a de co mpa ixão pa ra co m a humanidade pecadora, Nossa Senhora tem alcançado para nós os mais estupendos mil agres. Esta piedade se terá extinguido? Têm fim as mi sericórdi as de uma Mãe, e da melhor das mães? Quem ousari a afirmá- lo? Se a lguém du vid asse, Lo urdes lh e se rviria de ad miráve l li ção de confiança. N ossa Senhora há de nos socorrer. ( Catolicismo, nº 86, feve reiro de 1958). •
Fo10: Frcdi..:rico Vioui
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CAT O LI C I SMO
UMÁRI FEVEREIRO de 20l4
Nº 758
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Ex<:mnos
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CAnTA
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POR ()UE NOSSA SENHOR/\ CHORA?
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VAIUEDAnEs Razão da esmola: o amor de Deus
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Co1umsPONDÊNCIA
DO Dnmnm
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RE!\UDADE
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14 D1s<~ERNINDo Humaitá e a política racista do governo 17
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ENTR1w1sTA
Chile: eleições e "vitória" dos indiferentes
Crescente infiltração do Islã no Ocidente
24 INus1·1t\Do Restaurantes, neopaganismo e animalização 26
CAPA
Pop Culture e a intemperança frenética
38 VmAs DE
SANTOS
Santa Bernadette Soubirous
4 1 DESTA()lJE Arte moderna, o horror e a noção do belo
44 VmmADES
ES()lJECIDAS
46 SANTOS
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Ai\fülEN'l'ES , COS'l'Ui\'IES , CIVll,11./\ÇÕli:S
A ressurreição de Lázaro - milagre assombroso Nossa Capa: Multidão frenética num concerto pop nos Estados Unidos.
FEVEREIRO 2014
Caro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração: Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (Oxx11) 3333-6716 Correspondência : Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catolicismo@terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Fevereiro de 2014: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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146,00 218,00 374,00 616,00 13,50
A matéria principal da presente edição, de autoria de nosso colaborador Mathias von Gersdorff, apresenta um tema de singular importância e muito candente: a Pop Culture, sua origem com a Revolução Industrial e o avassalador distúrbio que a caracteriza - a intemperança frenética. Estudioso de várias facetas da civilização atual, ele cita no início o best-seller recentemente lançado pela TFP norte-americana, Retorno à Ordem, obra que analisa a fundo um dos sinistros motores que põe o mundo atual em movimento: a intemperança. Não qualquer tipo de intemperança, mas a frenética, vício que impede o homem hodierno de ordenar sua vida, seus atos e sua volição de acordo com valores e princípios eternos. Em contraste com a desordem caótica da cultura de massa, o artigo expõe com vários exemplos as características da cultura tradicional - tanto a popular quanto a das elites - , quando prevaleciam os costumes regionais, sem o influxo artificial da propaganda, dos "astros" e do "vedetismo". Os meios de comunicação social atuam poderosamente para a difusão da cultura de massa. E funcionam também como "alimento espiritual" para uma sociedade que vive num estado de intemperança frenética, muito bem caracterizado no livro Retorno à Ordem e em obras do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Para reagir à devastadora influência da cultura pop, as mencionadas obras indicam os meios para se retornar à temperança própria da civilização cristã, na qual esta virtude cardeal orientava a cultura e todas as atividades humanas. Possam os prezados leitores, pelo conhecimento da doutrina católica e dos princípios da civilização cristã, praticá-los e rejeitar a intemperança frenética.
Em Jesus e Maria,
CATOLICISMO
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
catolicismo@terra.com.br
DIRETOR
Uruguai, Maconha e Brasil
Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a legalizar totalmente a maconha. O Estado irá regular sua produção, distribuição e venda para usos recreativos, industriais e medicinais. Inclusive a importação de sementes e eventual exportação de maconha serão controladas diretamente pelo Estado. 1 Para o jornalista Carlos Alberto Sardenberg2, os consumidores serão estatizados. Para comprar os cigarros, o maior de 18 anos precisa se cadastrar. Terá assim uma carteirinha de maconheiro, com a qual poderá comprar até 40 cigarros/mês . Mas poderá também plantar e processar sua própria erva, com licença do governo, limitada a seis plantas por domicílio, sob fiscalização. O preço será tabelado e, se a atividade não for lucrativa, terá que ser assumida ou subsidiada pelo Estado. No entanto, muitos maconheiros não desejarão aparecer como tais. Não é por ter sido legalizada que a maconha ganhará aprovação social e absolvição médica. Todos sabem que a droga é nociva ao organismo, vicia e prejudica o desempenho das pessoas em suas atividades, especialmente as psíquicas e intelectuais. Companhias aéreas, empresas de ônibus, construtoras, fábricas com equipamentos complexos têm um bom argumento para recusar os maconheiros oficiais. Quem vai querer viajar num avião em que o piloto é oficialmente maconheiro? Mas se é legal ser maconheiro, como a empresa pode discriminar o usuário? Questão jurídica complexa. De outro lado, vai se criar um novo "emprego", o de maconheiro, a serviço de um novo patrão, o traficante. Quem
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quiser ganhar um dinheirinho sem trabalhar, é só inscrever-se como maconheiro, plantar a erva e passá-la para o traficante, no todo ou em parte. Este terá interesse em financiar a produção doméstica. Todo o complexo estatal da maconha será um grande negócio. O governo vai ter de criar instituições de controle, cargos etc. Ou seja, muitos cargos e dinheiro serão disputados pelos políticos. Segundo o chefe da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes da ONU, Raymond Yans, o Uruguai quebra "um tratado acordado universalmente e endossado internacionalmente". Além do que a criação do primeiro mercado mundial de cultivo e venda de maconha mantido pelo Estado "contribui para o vício precoce". Para Yans, o país também ignora est11dos científicos que "confirmam que a maconha vicia, com sérias consequências para a saúde das pessoas; não tem apenas o risco de dependência mas também afeta fun ções f undamentais do cérebro, no potencial de QJ, desempenho acadêmico e no trabalho; ji,mar maconha é mais cancerígeno que cigarro. " Quanto ao Brasil, terá de reforçar o controle de pessoas e bagagens, com o esperado aumento no fluxo de brasileiros ou uruguaios cruzando a fronteira. É impossível evitar que na esteira da liberação da maconha venha a liberação de outras drogas de potencial destrutivo da personalidade ainda maior. Em fórum internacional realizado no auditório da ONG Viva Rio 3, a médica Raquel Peyraube, assessora do governo do Uruguai , propôs a distribuição de cachimbos de vidro para usuários de crack e salas para o uso seguro da droga. Já o senador petista Eduardo Suplicy disse ter elaborado um anteprojeto de lei visando descriminalizar e regulamentar o uso de todas as drogas usadas por dependentes químicos no Brasil, mas só vai apresentá-lo no Congresso em 2015, para não criar conflitos nas eleições de 2014. Ou seja, ele reconhece que a medida é impopular. Mas para a democracia do PT, o que menos importa é o que o povo quer. Em vista dessa legalização de um vício devastador como o uso de drogas, é compreensível o pranto de Nossa Senhora. • Notas: 1. Os dados deste artigo foram extraídos dos jornais "O Globo" , "Folha de S. Paulo" e "O Estado de S. Paulo", de 11 e 12-1 2- 13 . 2. "O Globo", 12-12-13. 3. "O Globo", 7-12-13.
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VARIEDADES
Não se pede mais "por amor de Deus" ■ GREGÓRIO V IVANCO LOPES
em chamando a atenção em São Paulo e outras cidades brasileiras o aumento considerável dos denominados moradores de rua. É preciso descartar desde logo a ideia, cara aos demagogos, de que se trata de um fruto do capitalismo, que produz uma classe de pessoas cada vez mais ricas e, na camada economicamente mais carente, uma inflação de sem-teto. Numerosas pesquisas vêm demonstrando que não há um empobrecimento geral no Brasil. Pelo contrário, verifica-se uma diminuição da pobreza, com o aparecimento inclusive de uma classe média emergente, que alcança uma situação de suficiência e relativo bem-estar. Então, como explicar o crescimento do número de mendigos? Comecemos por uma constatação. Parece ser espécie em extinção a dos mendigos "tradicionais", realmente necessitados, que pediam "uma esmola por amor de Deus" e que encontravam acolhida benévola e caritativa em numerosos corações. Hoje, uma análi se sociológica bem feita deveria começar por classificar os moradores de rua segundo várias categorias. Um bom número deles não pede nada. Ficam apenas vegetando nas calçadas, remexendo o lixo, dormindo ao relento, só recebendo algo quando alguém espontaneamente oferece. Tomam suas refeições numas espécies de bandejões oferecidos por certas igrejas e instituições caritativas ou filantrópicas . Adoram o ócio e a vagabundagem. Outros se encontram li teralmente
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prostrados pela droga, da qual não arredam pé. Tornam-se uns mulambos humanos, o lhos esbugalhados, face endurecida, prontos a pedir ou a roubar para saciar sua fome da erva maldita. Há os pedintes inveterados, muitas vezes mulheres jovens, fazendo caras de coitadas, sempre acompanhadas de
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criancinhas das quais não se sabe quem é o pai, mas que são úteis para amolecer o coração dos passantes. Fala-se até, não sei com que fundamento, em aluguel de crianças para pedintes. Há também os que recolhem papelão, e o transportam em carroças que puxam com destemor. São os mais
esforçados. Na capital mineira, durante muitos anos uma frase espirituosa figurou no local onde eles reúnem o produto de seu esforço: "A vida me f ez um papelão, eu fiz do papelão a minha vida". Posteriormente foi retirada Há ainda os mendigos eventuais, que programam sua ida às ruas para os momentos que julgam mais rendosos, como por exemplo no Natal. Informa a "Folha de S. Paulo" (19-12-13) que "familias que moram em apartamentos na p eriferia de São Paulo deixam seus lares para morar um mês na rua como se foss em sem-teto, atraídas p ela onda de solidariedade típica desta época do ano ". São apenas exemplos. Um trabalho sociológico cuidadoso poderia enumerar
ainda outras categorias. Quase todos os moradores de rua têm em comum que se negam a ir para os albergues, ou porque lá são obrigados a tomar banho ou por outra razão. Houve até quem declarasse que não ia para albergue porque temia ser roubado! Sem negar que um bom número deles passa de fato por situações de miséria material e necessita ajuda, o mais pungente entretanto é sua miséria moral. Ninguém mais pede "por amor de Deus ". Uma sociedade sem Deus em suas esferas mais altas ou medianas, produz necessariamente, nas situações sociais mais extremas, uma população carente
de amparo religioso, que não sabe que rumo dar à própria existência, que oscila entre a revolta e a indolência, entre o desespero e o vício, preferindo ir morar na rua. Tornam-se presa fácil de movimentos de invasão de casas e prédios, além de outras atividades antissociais que favorecem a luta de classes. Em meio a esse ambiente caótico, não se veem verdadeiros apóstolos da religião e da moral que se inclinem sobre esses pobres miseráveis e os ajudem a sair não só da penúria, mas também e principalmente da miséria moral a que foram relegados por uma sociedade neopagã e sem Deus. • E-ma il para o autor: cato li cismo@terra .com.br
FEVEREIRO 2014 -
CORRESPONDÊNCIA
Perplexidades 181 DD. Diretor da Revista Catolicismo. Educado na Religião católica, na época do saudoso Servo de Deus Pio XII, fui despertado, desde a década de 50, pelo então jornal Catolicismo, para perceber certas doutrinas suspeitas que veladamente iam entrando nas associações religiosas, denunciadas com grande antecipação pelo Prof. Dr. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Em Def esa da Ação Católica. Nos anos 60 veio o Concílio Vaticano II, que pareceu acolher os desvios pastorais antes denunciados. Tenho acompanhado, faz 50 anos, toda a agitação trazida para o seio da Igreja Católica pelas inovações difundidas em nome do Concílio. Quando parecia se esboçar uma reação e revisão dos efeitos do Concílio, com o Papa Bento XVI, um dos momentos mais difíceis para mim foi assistir, depois de sua desconcertante renúncia, a ascensão do novo Papa Francisco 1. Surpreendeu-me ele, desde sua primeira aparição no balcão do Vaticano, sem os ornamentos próprios de um Papa. Em seguida, suas reiteradas palavras sobre "uma Igreja dos pobres e para os pobres" me soaram como algo próximo do miserabilismo do "Pacto das Catacumbas", de Dom Heider Câmara. Depois veio o escândalo das declarações de compreensão para com homossexuais, casais em segunda união e até mesmo abortistas ... !
-CATOLICISMO
Sentia-me isolado, pois não só a mídia lhe dirigia rasgados elogios, mas até mesmo associações ditas conservadoras e católicas, aqui do Brasil, esboçavam um sorriso amarelo. Nessas circunstâncias, o Senhor não pode imaginar o bem espiritual que me fez a leitura de sua revista deste mês de Janeiro de 2014. Venho cumprimentálo pelos oportunos comentários e artigos esclarecedores, a respeito da situação atribulada em que se acha a Santa Igreja, acenando para os sinais da Providência, preparando almas para que se cumpra o triunfo final de Nossa Senhora, prometido em Fátima. Mais uma vez, os redatores de Catolicismo dão provas de sua missão de verdadeiros e únicos continuadores da obra do Professor Doutor Plínio. (C.R.C. -
SP)
Silêncio loquaz C0 "O silêncio de Deus!" Formidável esta observação na matéria sobre o atribulado ano de 2013. Será que as pessoas de modo geral, se não, pelo menos os católicos quando em profunda unção do Espírito Santo de Deus, já perceberam esse silêncio? Vivemos em um mundo tão conturbado, tão distante das promessas de um Reino de paz que hoje me pergunto se esse silêncio não é devido à insensatez do homem, à sua falta de fé e de temor a Deus. As profecias vêm se cumprindo e nada muda; a violência, as leis absurdas, a impunidade; tudo contra um reino desejado por Deus. Para que tudo fosse diferente Ele entregou seu Filho amado e o homem O negou, e ainda hoje O nega no sofrimento de cada filho que sofre com as atrocidades neste final de tempos. Como não ficar em silêncio se não há nada que agrade os filhos ingratos que cada vez mais se afundam no lamaçal de tudo que vai contra ao plano de salvação? "O silêncio de Deus!" Acredito que, como naqueles dias em que Moisés subia a montanha para falar com o Senhor, já amargurado por causa do seu povo ingrato, hoje é Nossa Senhora que desce do Céu para nos alertar sobre o silêncio de Deus. Quem tem ouvidos para ouvir
que ESCUTE. Se Nossa Senhora, em suas mensagens em 1917, já nos deixava um legado de mensagens sérias e verdadeiras e o povo ainda duvidou, imagine hoje ... E as profecias? O povo precisa acordar, e rápido. Quanto aos Papas, que estejamos atentos; se Bento XVI foi o penúltimo Papa, o que nos terá reservado o Senhor enviando um Papa como o Papa Francisco? Isso não quer dizer nada? As profecias podem tardar, mas nunca falhar. O tempo e a hora só Deus sabe. E nos sinais do Céu e no seu silêncio estão a certeza de que A VINDA GLORIOSA DE JESUS é a concretização da promessa de UM REINO DE AMOR E PAZ. Tudo muito próximo. Na bíblia, única inspiração verdadeira de Deus, temos a certeza de suas promessas para os nossos tempos. Rezar, rezar, rezar. Esse é o clamor da Mãe de Deus. (R.C. -
PE)
Submissão salutar 181 Achei muito boa a análise feita pelo autor! [Cid Alencastro, in Se a palavra submissa incomoda, queimai a Bíblia] Consegue explicitar o real comportamento das pessoas diante de tal situação! É isso mesmo que todos nós, implicitamente, pensamos sobre o tema tratado . (A.H.-MG)
Casa e sê submissa 181 Extremamente lúcida a autora [Costanza Miriano] do livro Casa e sê submissa. Defesa perfeita do papel das mulheres no mundo contemporâneo, que foi colocado de cabeça para baixo pelos socialistas. A mulher nos tempos de hoje foram educadas não para serem esposas dos maridos, mas sim inimigas, devido à propaganda, gerando com isso conflitos familiares que resultam na dissolução da família, célula-mater de qualquer sociedade. Parabéns à Constanza! (L.C. -SP)
Con11a11ça! 181 Lendo sobre a situação terrível do mundo no ano passado, fica-se com a impressão de um mundo que padece da AIDS, sem forças para vencer o vírus.
Essa "banalização do sexo" encheu o mundo de acontec imentos, por assim dizer, aidéticos. A epidemia se alastrou. Apesar de tudo, inclusive a respeito dos problemas na Igreja (como fica ev idenciado no artigo sobre as "atribulações na Igreja" e na conferência do Prof. Roberto de Mattei sobre o Concílio Vaticano II), precisamos ter MUITA CONFIANÇA em Deus e MUITA ESPERANÇA no auxílio de Nossa Senhora. (M.A.T. -
MG)
Inoportuno e oportunista [8J Belíssimo comentário no artigo AIDS, banalização do sexo e inocência, edição de janeiro/2013. Que Deus desperte um senso de amor para com os escravos dessa tragédia. Que os governos deixem de financiar o vício e as práticas imorais da pornografia e do ensino inoportuno e oportunista a crianças nas escolas públicas. Ensinar a crianças de 8 a 10 anos a usar preservativo, a fazer sexo com os colegas e as colegas, é um "estupro mental", no dizer de uma antiga psicóloga.
(E.R.L. -
RJ)
IN MEMORIAM Após penosa enfermidade, faleceu no dia 1Ode janeiro em Barbacena, aos 65 anos, o St. Márciio José Rodrigues de Oliveira. Natural dessa cidade mineira, foi ali que a Providência Divina colheu sua alma, previamente assistida em duas ocasiões com o sacramento da Extrema-Unção ministrado pelo Pe. David Francisquini. Radicado desde jovem em São Paulo, aproximou-se da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TfP no início da década de l 960 1 frequentando durante muitos anos a sede da e1,1tidade localizada no bairro da Vila Mariana. Sua vidai foi de total consagração aos ideais da civilização cristã nas :fileiras da TFP, difundindo o mensário Catolicismo, pruiicipando de campanhas públicas, organizando conferências e diversas outras atividades. Foi exímio colaborador do Prof. 'Plínio Corrêa de Oliveira e de dois diretores da TFP: o Dr. Luiz Nazareno de Assumpção Filho e o Dr. Eduardo de Barros Brotero, dos quais foi secretário de toda confiança. Desde 2008 exercia as funções de diretor do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, cuja sede era admiravelmente bem, administrada por ele.
Magnificat pela Croácia [8J Um dia, não muito distante, esse "reinado" da esquerda, esse ídolo de cabeça de ouro e pés de barro, terá um fim vergonhoso e desonroso. Basta o povo despertar da modorra em que foi mergulhado ... Aos poucos isso está acontecendo, como o exemplo da Croácia. Então o Imaculado Coração de Maria triunfará.
(N.A.T.G.P. -
PR)
Inteligente povo croata
FRASES SELECIONADAS "Ó Maria! Se eu fosse Rainfia do Céu e Vós fôsseis Teresa, eu queria ser Teresa afim de que Vós fôsseis a Rainfia do Céu" (SC1111,tC1 TeresLv1,vie1)
[8J Graças a Deus, a Croácia é que
está no caminho certo. Parabéns ao inteligente povo croata no papel ftmdamental de defender a família, hoje em crise por causa dessas coisas de uniões antinaturais condenadas por Deus. Chamo os brasileiros de brio a seguir o exemplo da Croácia. Unidos, para defender as Leis de Deus, poderemos mudar o rumo do Brasil, que vai em direção do abismo com essas leis que favorecem a destruição da família.
"Nossa Senhora é a porta segura, direta, certa, para se ter acesso junto ao Trono do Criador" (PLL111,Lo Correci ii/e oLLveLrci)
"Espero em Vós, So6erana. minfut, e não serei confundido eternamente" (séío Bocivev1,ture1)
(1.0.1.-PR)
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Pergunta - Tenho uma namorada que vê coisas estranhas, vê vultos, ouve passos, eu fico com um pressentimento ruim. Eu e ela somos católicos, ela não tem paz. Quero muito ajudá-Ia, quero muito que ela pare de ver essas coisas. Ela sofre muito, chora muito, me ajudem, por favor.
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Resposta - A primeira ideia de quem ouve essa narração é de que se trata de fenômenos preternaturais produzidos por demônios para atormentar essa jovem e, por consequência, o miss ivista que pretende se casar com ela. Mas a prudência manda que, antes de chegar a essa conclusão extrema, se verifique se não há alguma explicação natural para os fatos por ela narrados. J Essa é a recomendação da Igreja: antes de apelar para uma oração exorcística (isto é, de expulsão dos demônios) feita por algum sacerdote qualificado, convém verificar o estado de saúde da jovem levando-a a algum médico de clínica geral, pois uma simples situação de stress (cansaço excessivo) pode produzir tonturas ou fenômenos estranhos, que talvez desapareçam com tratamentos comuns, além do necessário descanso. Não se trata, portanto, de negar a priori que a atuação de demônios esteja presente, mas de eliminar eventuais causas psico-fisicas, que um clínico geral pode resolver. Este pode, aliás, recomendar a consulta a um psicólogo ou outra especialidade médica, se julgar que o caso vai além da clínica geral. Neste caso; porém, antes de ir a outro médico ou psicólogo, convém desde logo consultar um sacerdote sábio e experiente, para que ele vá acompanhando o caso desde o começo. Quem sabe ele pode ir benzer a casa da jovem, e lá rezar algum exorcismo breve.
Di/Jculdades pelo cami11ho
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Médico, psicólogo, sacerdote .. . É muito fácil falar, não é tão fácil encontrá-los competentes. E muitas vezes se chega, infelizmente, de indicação em indicação, a profissionais imbuídos de teorias "modernas", anticatólicas, como os adeptos de doutrinas freudianas ou afins, que devem ser rejeitados do modo mais categórico. Por isso, é preciso informar-se bem, com parentes e amigos, sobre a competência e confiabilidade do médico, psicólogo ou sacerdote que se vai consultar. Enfim, um caminho cheio de dificuldades. Na vida de Santa Teresa, a Grande, se lê como ela penou na mão de sacerdotes incompetentes, embora zelosos e de bom espírito. Nesse caminho, é preciso, pois, começar por explicar à p1·ópria paciente, que ela tem todo o direito de manter reserva sobre seus problemas íntimos, e não deve estar expondo-os a qualquer um. Ao missivista, como pretendente ao casamento, é
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compreensível que ela o faça, bem como aos pais e, sobretudo, à mãe, com quem todos nós costumamos ter mais intimidade e confiança. Ademais, o senso da maternidade que Deus comunicou às mães, confere-lhes um instinto, nem sempre infalível, mas frequentemente acertado. A filha, por seu lado, no comum dos casos, saberá também como comunicar-se com sua mãe, pedindo-lhe conselho e ajuda. Comecemos pelos médicos. Além da família, amigos e conhecidos podem indicar profissionais competentes e de confiança, a quem se possa consultar. Daí pode resultar um primeiro diagnóstico, do ponto de vista da clínica geral , do que se passa com a doente. O caminho a seguir dependerá dessa primeira consulta. Convém, entretanto, aconselhar desde já algo do ponto de vista religioso, que é o que o missivista certamente espera, dirigindo-se ao sacerdote responsável por esta secção da revista Catolicismo . Entramos, pois, naquilo que nos compete dizer, como "especialista das almas". Não é um autoelogio: é apenas a categoria na qual são formados todos os sacerdotes, independentemente de sua capacidade pessoal e do aproveitamento que tirou dos seus estudos no seminário, bem como de anos de exercício de seu ministério sacerdotal.
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Pôr o caso nas mãos de Deus Qualquer que seja a causa dos fenômenos que o missivista descreve, o fato é que eles produzem na paciente um estado de desconsolo e desabamento interior que a faz chorar frequentemente. Quando a pessoa chora, é porque ela não vê solução para o seu caso. Então, a primeira coisa que ela deve fazer é levantar os olhos para Deus e pedir-Lhe ajuda. Deus sabe tudo que se passa conosco, Ele quer o nosso bem, quer nos ajudar - ajudanos muitas vezes sem pedirmos - mas normalmente aguarda que levantemos os olhos para Ele e peçamos socorro. "Pai Nosso, que estais nos Céus ... não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém ". Deus é infinitamente poderoso e misericordioso e pode livrar-nos de todo mal. Ademais, Deus instituiu Maria Santíssima, Mãe de Jesus Cristo, como nossa auxiliadora em todas as nossas necessidades, e Ela intercede junto a Deus para obtermos todas as graças que nos são necessárias. Daí recorrermos a Ela: "Ave Maria, cheia de graça ... bendita sois Vós entre as mulheres .. . rogai por nós p ecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém ". Portanto, a primeira ideia que devemos fixar é que a principal ajuda nos vem do Céu, isto é, de Deus, pela intercessão de Nossa Senhora, e dos demais santos, que, por vontade de Deus, também são nossos intercessores junto a Ele. É o que o missivista deve inculcar naquela que um dia será sua esposa. Se ela der este passo em direção a Deus e a Nossa Senhora, o caminho para livrar-se dos fenômenos estranhos que a oprimem estará iniciado. O resto é uma questão de tempo e de confiança em Deus.
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CATOLICISMO
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Conselllos psicológicos e de vida espil'itual Dos pontos de vista psicológico e espiritual, um conselho fundamental é não estar pensando continuamente em si . Pensar em si arrasta-nos precisamente a pensar nos problemas que nos afligem. Daí a importância de termos uma ocupação, como os estudos escolares ou um trabalho profissional ., ·;;_,.-_. que absorva a nossa atenção. É o que os especialistas chamam de :· ,•:•:•:•, "terapia ocupacional". Mas um católico, embora não dispense a terapia ocupacional, levanta a mente muito mais alto. E le coloca seus problemas nas mãos de Nossa Senhora e pede a Ela que o livre de seus pensamentos obsessivos. É opOituno lembrar da chamada oração de São Bernardo: "Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à vossa proteção .. .fosse por Vós desamparado! ". Esse nunca se ouviu dizer deve ser levado ao pé da letra ... E a história o prova!
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nos Céus. E, assim, estão a todo momento ajudando os eleitos de Deus a combaterem as tentações do demônio e desse modo salvarem suas almas. Para essa batalha, Deus designou para cada homem um anjo da guarda, que está sempre a seu lado lutando contra os maleficios dos demônios. E, em caso de necessidade, ele chama outros anjos bons para o ajudarem nessa luta. Assim, cada um de nós sairá vitorioso, na medida em que der ouvido aos anjos bons e repelir as sugestões dos malignos. Esse apelo aos anjos é sem dúvida o conselho mais adequado que podemos fazer ao nosso consulente, no caso da jovem que ele quer tanto ajudar. Experimente e depois nos conte o que aconteceu! • E-mail para o autor: catolicismo@terra com br
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Apelo aos Anjos Mas há considerações de ordem espiritual que nos ajudam enormemente em casos como o que estamos ana lisando. Como é muito possível que os fatos que o missivista descreve sejam realmente produzidos pelos demônios dos ares - isto é, aqueles que Deus permite que fiquem na Terra atormentando os homens e tentando-os para o pecado - devemos ape lar para a ajuda dos anjos. Deus criou-os para a sua glória e o seu serviço, mas benevolamente coloca-os também para realizar missões junto aos homens. Ora, acontece que os anjos bons foram aqueles que ficaram fieis a Deus quando se travou aquela grande luta descrita no livro do Apocalipse (12, 7): Etfàctum est praelium magnum in caelo (Travou-se no Céu uma grande batalha). São Miguel , capitaneando os anjos bons, expu lsou para o inferno os anjos maus, que se rebelaram contra Deus. Estes são os demônios que fazem de tudo para perder as almas e levá-las, no maio;. número possível , a sofrer - junto com eles e atormentados por e les - as penas eternas do inferno. É óbvio que os anjos bons não ficam indiferentes à ação dos demônios, e continuam nesta Terra a batalha iniciada
Oração ao Anjo da Guarda
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Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege e guarda, governa e ilumina. Amém.
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FEVEREIRO 2014 -
A REALIDADE CONCISAMENTE Retorno de gostos tradicionais decepciona velhas feministas omo faze r bri lhar a prataria, preparar um inesquecível mil folh as, ou tricotar um cachecol original? Esses temas voltaram de fo rma palpitante entre as mulheres do IIl Milênio na França. Segundo "Le F igaro Madame", toda uma geração fe minina jovem e bem-sucedida se delicia com as artes domésti cas. Os produtos com ar de outra época faze m furor no país que é a pátri a da revolução de Maio de 68. A tendência procede dos EUA, onde o movimento floresce. E le fo i analisado com preocupação pelo "The New York Times", púlpito do fe mini smo mais ao vento. Numerosos blogs ameri canos ass umi ram com uma ponta de provocação a sede de perfe ição domésti ca, na cozinha e no vestuário. Velhas fe mini stas e obtusos soc iólogos quebram a cabeça para entender o que está acontecendo. A jornali sta Valérie de Saint-Pierre declara-se contra a nova tendência, mas diz: "Eu, sem dúvida, fiqu ei.fora da moda". •
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Austrália derruba lei que permitia 11 casamento" homossexual Supremo Tribunal da Austrália derrubou uma lei aprovada pelo governo trabalhi sta (sociali sta) que permitia "casamentos" entre pessoas do mesmo sexo naquele país. O Supremo dec idiu por unanimidade que "a lei do casamento não admite a.formação ou reconhecimento de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. A lei prevê que o casamento seja celebrado na Austrália somente entre um homem e uma mulher ". Trinta dup las tiveram seus "casamentos" invalidados pela decisão judicial. A sentença austra liana saiu um dia depois de o Supremo Tribunal da Índia, seguindo a mesma linha, derrubar dec isão de 2009 de um tribunal infe rior, que descriminalizava a prática do homossex ualismo. •
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Tática soviética: a sibilina pretensão 11cristã" de Putin esde que a Rádio Moscou incitou a população russa a resistir à invasão nazista apelando para a Virgem de Fátima, nunca se viu nada de igual. Agora, o presidente Vl adimir Putin, no di scurso anual à Nação, no final de 201 3, erigiu -se em paladino internacional dos "valores tradicionais". O " inimigo" é sempre o mesmo: o Ocidente. O Kremlin usou o tema dos "valores cristãos tradicionais" para seduzir o número crescente de ocidentais justamente inconformados com leis e governos anticristãos do Ocidente. Na hora da propaganda, para os ex-agentes da KGB tudo vale. E Putin apresentou a "nova-URSS" como tendo "um p onto de vista conservador!" E de um conservadorismo que vi sa a impedir o movimento ''para baixo, rumo ao caos e às trevas ", explicou matreiramente. •
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Aquecimentistas" presos no gelo antártico
m grupo de "cientistas da mudança climática" ficou preso pelo gelo na Antártida, sendo resgatado por um helicóptero do navio quebra-gelo chinêsXue Long, que o levou até o navio australiano Aurora Australis. O quebra-gelo chinês também acabou preso no gelo, onde ficou por mais de dez dias, até que um vento oeste deslocou os blocos que o prendiam. Pouco depois, também um navio russo conseguiu se desvencilhar, após mais de duas semanas preso. A mídia, contudo, omitiu noticiar que a equipe havia viajado para demostrar o aquecimento global! Quarenta de 41 (97,5%) crônicas de jornal impresso ou virtual, recenseadas pelo Business &Media lnstitute, silenciaram o objetivo dos cientistas, e até os apresentaram como "passageiros" ou "turistas". A história é hilariante, mas reveladora do viés ideológico e pseudo-cientista da propaganda do "aquecimento global" e das "mudanças climáticas". •
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Quebra-gelo chinês Xue Long também acabou preso no gelo
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CATOLIC I SMO
Veneza: tradiejão familiar das gôndolas resiste ao tempo
A
s gôndolas ostentam nos canais de Veneza a presença de um pequeno mas requintado grupo de artesãos que mantêm vivos os métodos tradicionais de construção. Roberto Tramontin expli ca que uma gôndola requer dois meses de trabalho, 280 peças de madeiras como limoeiro, carvalho, mogno, nogueira, cerejeira, abeto, lárix e olmo. Os construtores praticam esses métodos tradicionais du rante vários anos antes de começar a construí-las sob medida para cada gondoleiro. "Tudo é f eito à mão", diz Lorenzo Deila Toffola, da oficina San Trovaso, que produz uma ou duas embarcações por ano. Os gondoleiros que não herdam a gôndola de seus pais, compram, no começo de carreira, uma usada e só depois fi nanciam uma nova. A família é o veículo da tradição e a propri edade é o fu ndamento sólido da transmissão cu ltural familiar. •
Segundo recentes pesquisas, bebês têm senso moral ovos estudos psicológicos confirmam: bebês de poucos meses já possuem esse senso e a noção instintiva do bem e do mal. O psicólogo canadense Paul Bloom, em seu recente livro Just Babies, resume décadas de pesq ui sas. Num teste no laboratório de psicologia da Uni versidade de Yale (EUA) crianças de apenas um ano assistiam a um show no qual uma das mari onetes agia com cortes ia e outra com des lealdade. Um dos meninos não teve dú vidas: deu um peteleco na cabeça do boneco " mau" . Na mesma experiência, bebês de três meses ev idenciavam preferir o personagem bom, di rigindo seu olhar preferencialmente para ele. Com pouco mais de um ano, as crianças oferec iam espontaneamente ajuda para carregar coisas ou abri r portas a adul tos desconhecidos. O senso moral não é fr uto de uma impos ição cul tural ou reli giosa, mas está inscrito no mais fu ndo da natureza humana, porquanto é um dos preceitos da Lei natural, inserido por Deus na alma de cada homem. Estão consubstanciados nos I OMandamentos. •
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Milhares de médicos cubanos fogem da Venezuela
E
m 20 13, cerca de três mil cubanos, na sua maioria médicos, fugiram para os Estados Unidos, abandonando os planos soc iais da Venezuela. O número cresceu 60% em relação a 20 12. No dia 1° de dezembro, a cifra dos prófugos nos Estados Unidos atingiu o patamar de oito mil. 98% deles vieram da Venezuela. Segundo o Dr. Julio César Alfo nso, presidente de Solidariedade sem Fronteiras, a maioria fug iu por causa das condições de trabalho que "muitos denunciam como um sistema moderno de escravidão". Esses médicos eram obrigados a inflacionar o número de pacientes atendidos, adulterando RG, nomes ou doenças. Dentro em breve saberemos quantos vão fugir do Brasil, as circunstâncias dos "serviços" por eles prestados e o dinheiro pago à ditadura castrista ... •
Descobertas capelas dos católicos japoneses perseguidos m Taketa (Japão) foram encontradas oito capelas católicas escavadas na pedra durante a perseguição desencadeada pelo governador militar do país, instigado por protestantes holandeses. Não podendo ter igrejas, os católicos abriram locais de culto nos morros para se reunirem e rezar, embora sem sacerdotes que lhes ministrassem os sacramentos ou celebrassem a Missa. A história dos mártires japoneses evoca as dos mártires do Império Romano . As perseguições duraram desde 1614 até a Sexta Feira Santa de 1865, quando dez mil "cristãos ocultos" se apresentaram em Nagasaki aos missionários recém-retornados . Estes ficaram muito surpresos, pois mal suspeitavam a existência dessa épica história de fidelidade.
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Pasmo em Israel: católica é favorecida por um milagre
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cura com sinais de milagre do câncer de Teresa Daoud - devota católica de nacionalidade israelense - abalou Israel. Teresa sofria de um câncer maligno na perna e os médicos decidiram pela amputação. A cirurgia sofreu atrasos, que ela interpretou como sinal para confiar mais na oração do que nos médicos. Teresa ia rezar na igreja católica de sua cidade, onde havia um grande cruzeiro, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, um quadro de São Charbel Makhlouf e um presépio. No quinto mês da doença, as chapas evidenciaram o desaparecimento do câncer. "Se alguém tivesse me contado esta história, eu teria dito que os dois, a doente e o doutor, estavam mal da cabeça. É impossível", disse ao Channel 2 de Israel o Dr. Jacob Bickels, chefe do Departamento de oncologia ortopédica do Hospital lchilov de Tel Aviv. ''.A única coisa que nós fizemos por Teresa foi demorar. Ela de fato não foi tratada ", explicou . Por sua vez, Teresa concluiu para a TV israelense: "É um presente de Deus".
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DISCERNINDO
Política racista provoca sério confronto F rutos amargos vai produzindo a política racista do governo do PT, separando índios e brancos, como se não fossem todos brasileiros e filhos de Deus n Cio ALENCASTRO umaitá, cidade com cerca de 50 mil habitantes ao sul do estado do Amazonas, tem em sua vizinhança uma reserva indígena. Dessas que o governo federal se empenha para que conserve seus costumes e tradições, mas que vive contraditoriamente em grande parte das benesses proporcionadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai): luz elétrica, celular, tablet, tênis da moda! Sou favorável a que os índios tenham todos os beneficios autênticos da civilização. E por isso não compreendo por que mantê-los confinados nesse tipo de reservas, que funcionam quase como um território sagrado e autônomo no qual um reles branco não pode pôr os pés. E não se alegue a Constituição, pois nos pontos em que ela coloca entraves ao bem comum é possível mudá-la - e a base governamental tem maioria. Como fruto dessa política de criar uma classe indígena privilegiada, não sujeita às leis que valem para todos os brasileiros, vão se produzindo acirramentos indesejáveis entre brancos e índios, quando o ideal seria que houvesse cooperação e amizade.
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A população de Humaitá se revolta Para ganhar uns cobres extra, os índios de Humaitá se deram ao luxo de instituir postos de pedágio irregulares na rodovia Transamazônica, pois são impunes. É mais uma causa de atrito com os moradores. Ocorre que três humaitaenses desapareceram, e a população afirma que os mesmos foram sequestrados pelos índios e talvez mortos. Tal fato causou uma revolta geral no município. Reproduzimos alguns dados relatados pela imprensa.* Ao praticar o alegado sequestro, os índios estariam querendo se vingar da morte do cacique Ivan Tenharim encontrado agonizante na estrada, ao lado de sua motocicleta - , desconfiando que ele foi assassinado. Outra versão é que ele estava bêbado, caiu da moto e morreu. Como surgiu a suspeita de assassinato? Segundo Gilvan Tenharim, 24, filho do cacique, "em nenhum momento a gente
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CATOLICISMO
falou que o meu pai foi assassinado. A gente não protestou nem chegou a acusar ninguém ". Mas a reação do coordenador regional da Funai, I vã Bocchini, foi diferente. Em texto publicado no blog oficial do órgão dias após a morte, ele levantou a hipótese de assassinato. Para o filho do cacique, houve uma "precipitação" da Funai. "A gente viu que ele caiu da moto. " Contatado pela imprensa, Bocchini desligou o telefone após a reportagem se identificar. O texto acusador foi apagado do blog da Funai. Dias depois Boschini foi exonerado.
Tensões acumuladas "Milhares de pessoas revoltadas com o assassinato de três moradores cometido pelos índios Tenharim promoveram um quebra-quebra na cidade de Humaitá no início da noite de Natal. Atearam fogo na sede da Funai e da Funasa (Fundação
Nacional de Saúde) e incendiaram 13 carros estacionados no pátio (foto embaixo). Depois seguiram para as margens do rio Madeira, onde atearam fogo a três barcos de grande porte usados pela Funai para transportar índios da cidade para as aldeias". Moradores disseram à PF que viram os índios empurrando o carro onde estavam os desaparecidos. Segundo autoridades policiais locais, o atual conflito é resultado de tensões acumuladas na região entre índios e não índios. A população está revoltada, há um ódio acumulado. "Os líderes da manifestação alegam que a polícia federal, o exército e aforça nacionalforam omissos no momento de efetuarem as buscas dos três desaparecidos que segundo informações sigilosas foram assassinados, e tiveram seus corpos queimados e enterrados no meio do mato, por dezenas de índios".
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146 índios estavam no centro de Humaitá quando começaram a ser hostilizados. Acuados, decidiram se refugiar na base do 54° Batalhão de Infantaria de Selva do Exército. Cerca de 3.000 pessoas participaram do protesto e entraram em confronto com a polícia. Vários humaitaenses ficaram feridos . Para o superintendente da Polícia Federal em Rondônia, Carlos Manoel Gaya da Costa, os índios "não são amigáveis" e limitaram a área de atuação dos agentes da PF na reserva. "Eles dificultam o acesso da policia à área". Dois dias após essas manifestações, cerca de 300 moradores invadiram as aldei'as da Terra Indígena Tenharim. Eles se dividiram em carros e caminhonetes, passaram pela aldeia Majuí, atearam fogo em casas e destruíram o pedágio criado pelos índios no quilômetro 145 da Rodovia Transamazônica (BR-230).
Antes de destruir o pedágio e incendiar as casas, ainda de madrugada, o grupo cortou a energia elétrica das aldeias. "Eles estavam muito furiosos, disseram que iam encontrar por conta própria os três desaparecidos ", disse o funcionário da Eletrobrás, Carlos AI berto Santos, chamado para restabelecer o fornecimento de energia. No momento em que escrevemos, os corpos dos desaparecidos ainda não foram encontrados; os índios dizem que não abrirão mão do pedágio; e a população de Humaitá continua revoltada. No quadro abaixo, alguns depoimentos de moradores. • E-mail para o autor: cato licismo@terra.com.br • "A Crítica de Humaitá", 26- 12- 13 e 11 - 1- 14; "Folha de S. Paulo" e "O Estado de S. Paulo", edições de 27- 12- 13 até 15- 1-14.
Depoimentos de moradores de Humaitá Exemplo frisante das consequências da politica de segregação dos índios (*) 1 - "Enquanto não houver uma resposta para o que aconteceu lá, é melhor que os índios não apareçam por aqui", diz o garçom Edemilton Silva Palheta, de 27 anos. 2 - "Temos índio aqui que é professor, a gente os respeita como seres humanos, mas como
podemos confiar neles depois do que aconteceu? Revoltada, a população é capaz de tudo", diz a funcionária pública Marlene Souza. 3 - "Eles vêm à cidade, enchem a cara, fazem baderna e .fica por isso. Agora que o povo reagiu, eles p egaram o p eco (fugiram); índio é protegido pelo governo que nem bicho, então tem de.ficar no mato, não tem que viver em dois mundos, no nosso e no deles; o cacique deles caiu da moto porque era um pé inchado (bêbado)", disse o almoxarife Edvan Fernandes Fritz, 29 anos
4 - "Temos dois Brasis: um, esse em que a gente vive; o outro, um Brasilzinho que o governo reservou para os índios", disse o madeireiro Elias Trepak, de 60 anos. Segundo ele, há mais de seis anos os índios controlam a Transamazônica nos 140 quilômetros da reserva e não se faz nada. 5 - A multidão chegou, tombou e incendiou uma viatura e começou a depredar o prédio [da Funai], disse a dona de casa Wilma Oliveira da Paixão, de 24 anos. "Logo alguém jogou uma bola de fogo, aí começaram a incendiar tudo ". 6 - O cacique Ivanildo Tenharim, que acompanhou os índios refugiados no Batalhão do Exército, disse que não estava em condições de falar com a imprensa. • Depoimentos publicados por "O Estado de S. Paulo" (29- 12-1 3), do envi ado espec ial José Maria Tomazela
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CATOLICISMO
INTERNACIONAL
Eleições no Chile: as lições da abstenção ffl C ARLOS DEL CAMPO G ARCÍA HUIDOBRO Especial de Santiago do Chile
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m sua grande dimensão territorial , o Brasil limita-se com todos os países da América do Sul, exceto dois : Equador e Chile. Entretanto, apesar das distâncias que separam a nação chilena da brasileira, uma e outra sempre mantiveram estreitas relações de amizade e interesses mútuos. O que acontece em uma delas interessa à população da outra. Por isso cremos que os leitores de Catolicismo terão interesse em conhecer uma análise objetiva das recentes eleições presidenciais ocorridas no Chile no último dia 15 de dezembro . Os analistas políticos consideravam certa a eleição da candidata e ex-presidente Michelle Bachelet, proveniente do socialismo, que realizou um primeiro governo um tanto
moderado no campo sócio-econômico, mas que desta vez se apresentou com um discurso radicalizado à esquerda e apoiada pelo Partido Comunista. Por sua vez, a candidata do setor de centro-direita, Evelyn Matthei , filha de um general da primeira Junta de Governo que derrubou Allende, não conseguiu entusiasmar um país bastante apático em face da eleição. De outro lado, as constantes divisões dos líderes políticos dos partidos de centro-direita e um governo bem-sucedido no campo econômico contribuíram para desinteressar ainda mais os eleitores desse setor a participar das eleições. Realizados os cômputos no final da jornada eleitoral, os resultados demonstraram que, na verdade, todos saíram derrotados, tanto a direita quanto a esquerda. Os únicos vitoriosos foram os indiferentes, que não se interessaram em participar. As cifras o comprovam com toda clareza. Levando em consideração as eleições presidenciais de
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2009e2013 , o percentual de inscritos que votaram na dire ita caiu de 43% para 15%, e nos que votaram na esquerda, de 40% para 25%. Por sua vez, os indife rentes aumentaram de 13% para 58%. Em número de votos, a direita perdeu 1.500. 000 e a esquerda ganhou l 00.000. Enquanto isso, o crescimento dos indife rentes fo i de 6.800.000. Estes números mostram que aqueles que deixaram de votar na direita em sua imensa maioria não votaram na esquerda, mas passaram a faze r parte dos indi fe rentes. De outro lado, os dados mostra m também que a esquerda não fo i capaz de atrair novos aderentes e que seu triunfo se deveu antes à incapacidade da direita de conservar seus aderentes do que aos seus méritos próprios. Como explicar tal resul tado? Muitas expli cações podem ser dadas, cada qual com sua devida importância. Mas há uma da qual não se fa la muito: é a :fidelidade de cada agrupação ao seu ideário político. Não é preciso muita argumentação para mostrar que nesta matéria a esquerda ganhou de longe da direita. Basta ver o prog rama da candidata triunfa nte, totalmente de acordo com o ideário ateu socia li sta, de caráter coletivista e estatizante. Mas como essa doutrina é impopular, a esquerda só pôde conservar seus seguidores fi éis. E m sentido contrário, não se pode dizer o mesmo das propostas da dire ita. E la teve vergonha de se aprese ntar claramente como defensora dos valores mora is e políticos que a definem diante do imaginário público. Só no último momento o discurso da candidata desse setor teve um acento mais conservador. Essa estratégia de ca muflar suas ide ias pró-famíli a e li vre inic iativa se base ia no press uposto errado de q ue assumindo posições relati vistas tipo "ceder para não perder" se consegue o apo io dos ele itores de centro-dire ita. Erro crasso que conduz necessariamente à derrota, pois tal estratégia consegue apenas desencantar seus próprios ele itores, e nunca atrair os setores opostos.
A que
se <leve
tão alta abstenção?
O que não se ana li sou sufi c iente mente é a causa dos verdade iros triunfa dores das úl timas e le ições chilenas: os não votantes. Com efeito, pela primeira vez na história da democracia do Chile, a concorrência à votação fo i vo luntári a, e automática a inscrição nos registros eleitorais. O que fazia com que todos os chilenos ac ima de 18 anos esti vessem capac itados para votar. Contudo, somente 42% de les dec id iram fazer uso desse dire ito. Os restantes 58% preferi ram fica r em casa, ou sa ir da c idade para descansar no domingo em que transccorreu o ple ito eleitora l. Ta l proporção de absente ístas nos recordam um clari vidente artigo do Prof. Plínio Corrêa de O liveira na "Fo lha de S. Paulo" sobre a a lta abstenção nas e leições de 1978 no Brasil , pouco depois do retorno à democracia. Com efeito, diz ia e le então : "No tempo em que aos povos era lícito aplaudir os reis, não porém vaiá-los, o povo tinha
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CATOLICISMO
um recurso para exprimir-se nas ocasiões em que estava descontente. Calava-se à passagem dos reis. Dai o provérbio bem conhecido: 'O silêncio dos povos é lição para os reis '. O desinteresse dos eleitores é lição para a classe politica, como também para a classe publicitária". Mas o Prof. P línio não se limi tava a defi nir os sintomas de uma democrac ia incoerente, ele dava também a solução: "O remédio ? - Consiste em interessar os eleitores nos temas politicos, sociais e econômicos. Ou em inserir no debate público os temas politicos, sociais e econômicos que interessem o eleito,'. Ora, o resultado das eleições bem p rova que o cardápio de temas oferecido aos nossos eleitores, por ocasião do último pleito, esbarrou no fas tio de muitos. Da maioria, talvez". 1 Ta is sábios conselhos não fora m seguidos pelos políticos chilenos, que em vez de tratar das matérias que rea lmente interessam ao elei tor, como por exemplo o debate sobre a legalização do aborto, do denominado "casamento" homossex ual, etc., preferiram di scutir te mas distanc iados das preocupações dos ele itores, como a convocação de uma Assemb le ia Consti tuin te, ou outras reformas po líticas que interessam mui to ao mundo polí tico, mas mui to pouco ao mundo rea l. Segull<la continuação histórica <lo liVl'O Fl'Ci , o KCl'Cl1Sky chileno Outro as pecto muito comentado após essas últimas ele ições presidenc iais fo i a confir mação, pela segunda vez na hi stória do Chil e, do papel de Kerensky desempenhado pela Democracia Cristã (DC). Como alguns leitores de Catolicismo se recordarão, o Dr. Fáb io Vidi ga l Xav ier da Sil ve ira publ icou em 1966 o li vro Frei, o Kerensky chileno, no qua l prev ia, com quatro anos de antecedência, que a DC pav imentari a o ca minho para o socialismo do mesmo modo como Ke rensky o hav ia fe ito em relação aos bolchev istas, pouco depo is da queda do czari smo na Rúss ia. A hi stória confirmou sua predi ção em 1970 com a subida de Sa lvador Allende e a im plantação da "v ia chil ena para o
Ela teve larga difusão na internet e esgotou-se uma edição , .'.;ocia1ismo". Esta terminou no maior fracasso econômico, impressa de 1500 exemplares. O portal Terra realizou uma político e social jamais visto, levando as Forças Armadas a entrevista com um dos autores, dada a conhecer com destaque intervir para acabar com um governo que se aproximava cada vez mais, de modo irreversível, da implantação do modelo no dia anterior às eleições.4 cubano. Conclusão Passados 46 anos, a história se repetiu . Pe la segunda vez, De todas as considerações formuladas nesta análise sua DC possibilitou a ascensão do Partido Comunista ao govermária decorrem três consequências principais. no, ao ceder-lhe cadeiras parlamentares e declarar que não A primeira delas é que o governo surgido destas eleições, há nenhuma dificuldade em governar em coalizão com esse embora legítimo - pois obteve partido ateu e materialista. mais votos que a opção conEm carta dirigida ao diretor do jornal "EI Mercurio", uma leitora trária - , não possui o apoio externava essa preocupação: "Sennecessário para fazer as transformações " profundas" e "rado eu indep endente, mas sempre dicais" que se propõe realizar. preocupada com o acontece r político, não pude senão relacioE, portanto, caso se empenhe nas mesmas, encontrará fortes nar o tema [da DC] com a carta CHILE-40 anos después resistências . que o PC da Federação Russa A segunda consequência é enviou ao PC chileno a propóque não se necessita refundar a sito das últimas eleições em que este ele vou sua representação a direita, como sugeriram alguns de seus membros. Impõe-se seis deputados. [. ..]: 'Souberam precisamente o contrário, ou seja, conjug ar todas as formas de consolidar todos os princípios e luta, na rua, nos parlamentos, valores que a constituem, cuja na clandestinidade, em políticas EI show dei descontento vigência a meias explica em grande alianças, mantendo-se fieis se slrve de la apatia para de parte o descontentamento e a ao marx is mo-leninis mo '. Eu lntroduclr el SOClallsmo chavtsta apatia de seus próprios eleitores. pergunto: o marxismo-leninismo 2 Uma direita coerente terá o é democrático ? " apoio e o respeito de setores imImportante aviso prévio portantes da sociedade, capazes de Cartos dei Campo Garcfa Huldobro arrastar essa maioria de indiferenPouco antes das eleições Juan Antonio Montes Varas tive a oportunidade de publicar tes que espera de seus dirigentes um livro, em colaboração com lealdade, retidão e dedicação ao Acclón Familla - Credo Chile o Sr. Juan Antonio Montes , bem da nação, independente de diretor do movimento Acción maiorias circunstanciais, compromissos espúrios e até de êxitos Familia , no qual dávamos a econômicos transitórios. conhecer estudos científicos sobre a situação E, por fim , que não se trata de voltar ao voto obrigatório econômico-social do Chile, que desmentem de modo claro o para conseguir atrair os eleitores, mas antes saber interessá-los falso dogma de que o país vive numa pobreza e desigualdade tratando de temas que realmente os preocupam e a respeito dos escandalosas. quais eles queiram participar. Do contrario, aumentará cada Sob o título 40 anos depois, nova ameaça socialista no vez mais a abstenção, tornando muito pouco representativos, horiwnte 3, demonstrávamos na referida obra que existe em e portanto muito frágeis, os governos que se constituam com nosso país uma mobilidade social maior do que na França, Estados Unidos e Alemanha, e similar à existente na Inglaterra, base em minorias esporádicas. • E- mail para o autor: catolicismo@terra.com.br e que a desnutrição infanti l praticamente desapareceu dopanorama nacional , atingindo 0,81 % no ano 2000, o índice mais Notas: baixo da América Latina. Por fim, fazíamos notar que não existe um descontentamento generalizado na opinião pública, 1. Cf. " Folha de S. Paulo", 6 de dezembro de 1978. mas o desejo de melhorar ainda mais os índices assinalados, 2. "El Mercuri o", Santiago, 28- 12-13. com políticas prudentes e respeitosas das mesmas regras de 3. Para obtê-lo gratuitamente, acesse: http://www.accionfamilia.org/publiliberdade de iniciativa e do direito de propriedade privada. cac iones/1ibros/ch ile-40-anos-despues- li bro-gratu ito/ O objetivo da obra foi de colocar no centro da discussão, 4. http ://noti e ias. terra.e 1/nac iona 1/a utor-de-po Iemico-1 ibro-bache let-serauna-up-reciciclada,de576 f5 8ad8e241 0V gn YCM5000009ccccb0aRCRD. de modo claro, concludente e acessível à maioria dos eleitores, html aspectos importantes da vida nacional.
NUEVAAMENAZA
SOCIALISTA
EN EL HORIZONTE
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ENTREVISTA
Alerta sobre a grave ameaça muçulmana A infiltração do Islã no Ocidente é crescente, como
também as perseguições muçulmanas contra cristãos. Apesar disso, o mundo ocidental está desprevenido em relação ao sério perigo islâmico.
ascido na Romênia , mas de nacionalidade húngara, o Dr. Youssef Fakhouri é diplomado em Gestão Internacional. Dedica seu tempo livre a lançar alertas ao público sobre o perigo que representa para as nações ocidentais a expansão do Islã. Ele conheceu a revista Catolicismo na Fédération pour une Europa Chrétienne, através de nosso correspondente em Viena, Sr. Carlos Eduardo Schaffer, que pertence àquela federação . Num desse contatos , em dezembro de 2013 , o Dr. Youssef concedeu esta esclarecedora entrevista ao nosso correspondente.
senhor decidiu dedicar seu tempo livre para informar o público sobre o perigo que o Islã representa em escala mundial?
N
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Catolicismo - O senhor poderia nos dizer algo sobre sua vida? Como, tendo nascido fora da Hungria, tem nome tipicamente libanês e nacionalidade húngara?
Youssef F"khouri - Meu pai é do sul do Líbano, estudou odontologia na Transil vânia lá conheceu minha mãe. A Transil vânia pertenceu à Hungria por quase 1000 anos, até o fi m da primeira Guerra Mundial. Por isso, embora seja hoje parte da Romênia, ainda contém uma minoria húngara significativa. Isto expli ca por que minha mãe, tendo nasc ido na Transil vânia, é etni camente húngara.
e
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YoussefF"klwuri - Minha fa mília, que é cristã- libanesa, sofreu ao ser transferida por combatentes islâmicos estra nge iros para fo ra de sua cidade natal em 1985, fato que está acontecendo agora com fa mílias cristãs no Jraque e na Síria e, em alguns casos, no Eg ito. Eu trato também da questão da cristianof obia e de discriminações contra os cristãos no Ocidente, em nome do que poderia ser qualificado de politicamente co1-reto. Minha mãe e os membros de sua fa míli a fo ram di scriminados e sofreram muitas di scriminações por serem húngaros e cristãos praticantes sob o governo de Ceaucescu, que fo i uma das ditaduras comunistas mais cruéis daqueles tempos.
Qual é a razão pela qual o
CATOLICISMO
Youssef Fakhouri. Fotografado de costas, a fim de proteger sua identidade, pois, devido ao trabalho que desenvolve, poderá receber ameaças.
Catolicismo - O que o senhor faz para tornar o perigo do Islã conhecido? Está presente na internet? Como? Em quais idiomas?
Youssef Fakhouri - In fo rm ando as pessoas através da internet e de palestras, consegui reunir um grande número de amigos que me ajudam neste trabalho. Em 2009 lançamos na internet um site em húngaro (www. prochristie. hu). Em 1° de outubro de 201 2 criamos uma página no FaceBook ()ill_ps://www.facebook.com/ProC hristie), também em húngaro. Em 1° de junho _de 201 3 montamos no Facebook uma página semelhante em inglês
(htt12s://www.facebook.com/ProChristian i), a fim de consc ientizar a opini ão pública mundial a respeito do perigo do [s lã. Meus am igos organizam eventos nos quais realizo conferências com fotos e vídeos sobre a história do Oriente Médio, as causas das tensões e das atrocidades praticadas contra os cristãos. Organizamos também uma conferência de maior porte em Budapeste, no dia 1° de dezembro de 20 12, sobre a perseguição aos cristãos. O secretário de assuntos re li giosos do governo húngaro discorreu sobre os contatos que manteve com os cri stãos coptas do Egito, sobre suas apreensões e esperanças em relação ao futuro. O presidente da Christian Solidarity Jnternational (CSI) da Hu ngria dissertou sobre as atividades de sua organização, que procura libertar cristãos escrav izados pelos muçulmanos no Sudão e sobre as dific uldades enfrentadas pelo mosteiro ortodoxo-s iríaco na Turqu ia. Este tenta sobreviver e luta contra confiscos ilegais efetuados pelo governo daque le país. O sacerdote copta de Budapeste foi convidado a fa lar sobre a história dos coptas no Egito, a relação entre cristãos e muçulmanos e as atrocidades a que aqueles estão sendo submetidos atualmente. Esforçamo-nos para tornar compreensível para os húngaros a expres-
Conferência em Budapeste, no dia 1° de dezembro de 2012, sobre a persegui~ão aos cristãos.
"Esl'orçamo-nos para se to1'11a1· comprnensível a exprnssão 'perseguição aos cl'istãos', pelo menos para 'i11tellige11tsia ' cristã que não rnage à altura"
são "persegu ição aos cristãos", pelo menos para a " intelligentsia" cristã que ainda não reage de modo proporcionado a esse problema. Catolicismo - Na sua opinião, qual é o aspecto do Islã que representa maior perigo para o Ocidente? Youssef Fakhouri - Em primeiro lugar, o Ocidente está cometendo um suicídio ao renegar seu passado e sua identidade cristãos. As pessoas na Europa Oc identa l deveriam se orgu lhar da rea lização das cruzadas, por exemplo. Os cruzados foram à Terra Santa tanto para defender os peregrinos, quanto para libertar a maioria cristã do domínio islâmico e da "jizya" - pesado imposto ao qual estavam suje itos os não muçulmanos. A maioria dos habitantes do Egito, da Mesopotâmia, da Capadócia, da Ásia Menor, e também da Andaluzia, eram cristãos muitas vezes tratados como escravos pelos senhores da guerra muçulmanos. Os europeus ainda creem que a total liberdade de ideias para as fa lsas religiões pode trazer um mundo sem guerras. Entretanto, o verdadeiro é o contrário. O que vemos é cada vez mais secularização, mais lobby LGBT, mais feministas radicais, mais teoria de gê nero e as chamados "novas seitas
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cristãs" nas ruas e nas instituições criando crescentes tensões. Em segundo lugar, a infiltração do Islã no Ocidente é financiada pelas nações ricas em petróleo, que possuem um lobby forte em nossos países. Eles estão se infiltrando na cultura, na mídia - a qual pouco difunde notícias sobre a perseguição muçulmana contra os cristãos - na educação e no Poder Legislativo dos Estados do Ocidente. O Islã radical está se difundindo atualmente muito mais rapidamente do que o Islã do Oriente Médio que conhecíamos. É um Islã que não aceita ninguém que não pense como e le ou que não professe a religião de Maomé. A transformação demográfica provocada pelas famílias muçulmanas com prole numerosa ao lado de famí lias não muçulmanas com taxas de natalidade muito abaixo da taxa de reposição constitui o verdadeiro perigo para Europa a longo prazo. Catolicismo - O terrorismo islâmico cometeu muitas atrocidades contra os cristãos em vários países. Por que esse ódio especial contra o cristianismo? Youssef Fakhouri - Os terroristas islâmicos, e especialmente os Wahhabitas, são muçulmanos supremacistas, pois desejam o domínio total do mundo. Há conflitos em todo o universo com Wahhabismo, que é a seita mais poderosa porque é a dominante na Península Arábica, muito rica em petróleo. Há um ódio especial contra os judeus e contra os cristãos
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CATOLICISMO
Ali Khamenei, líder supremo da revolução islâmica no Irã, discursa diante de 50 mil membros da Força de Mobilização da Resistência.
"O Ocidente está cometendo suicídio, ao renegar seu passado e sua identidade cristãos; as pessoas na Europa Ocidental deveriam se orgulhar das cruzadas"
que, segundo eles, estão por detrás de Israel. Os muçulmanos provocam conflitos também na Tailândia com os budistas, e na Índia com os hindus; e as tensões estão aumentando no leste da China, entre os chineses da etnia han e os uigures muçulmanos. Catolicismo - Quais seriam para o senhor as medidas necessárias para se resolver este problema em escala global? Apenas relatar? Algo mais? Yomsef Fakhouri - Em primeiro lugar, o Ocidente deve acabar com a imigração maciça de muçulmanos e cessar de dar- lhes benefícios sociais descabidos como estão concedendo. Isso é quase impossível no momento, porque a economia é a prioridade principal para a União Europeia e os Estados Unidos. Mas se eles rea lizarem isso, será um enorme passo à frente. Em seguida, o Ocidente deverá reduzir sua dependência do petróleo, porque é em função deste que os islamitas detêm recursos e poder. Então, orgulho de ser cristão e autoconfiança devem ser mais fortes . É necessária outra visão a respeito das cruzadas e da Idade Média. É preciso uma reação mais vigorosa contra a islamização, contra o aborto, o lobby LGBT e a teoria de gênero, que enfraquecem o cristianismo. Catolicismo - Observamos por parte dos políticos ocidentais e de parte do clero católico, uma tendência a favorecer a imigração
muçulmana nos países ocidentais e acreditar que o Islã é uma religião pacífica e que apenas uma pequena minoria comete excessos. Como é que o senhor considera o problema? Youssef F"klwuri -É uma minoria de muçulmanos que está cometendo os excessos, isso é verdade, mas esta minoria está crescendo rapidamente e se tornando muito forte . Existem muitos postos de trabalho que os europeus não querem mais ocupar, como os serviços de limpeza e outras profissões não qualificadas . Estes são então ocupados por imigrantes, que recebem muitos benefícios e privilégios desproporcionados. Os direitos que lhes são conced idos são muito maiores do que os requisitos para que sejam assimilados às populações locais. As leis da Europa Ocidental estão sendo adaptadas ao Islã. Isto não deveria ser assim, pois provoca confrontos e protestos, especialmente nos subúrbios das grandes cidades. Mas Paris e Londres estão competindo entre si para ver qual destas capitais será o centro do sistema bancário islâmico . .. Catolicismo - Devido ao aumento dramático da população muçulmana em alguns países europeus, o senhor julga que o Islã pode assumir o poder através de eleições livres e, em seguida, subjugar a nação com as leis da religião muçulmana? Youssef F"khouri- É uma ameaça muito realista e deve ser levada a sério. A inda não é tarde para se
Mesquita em Roma. A maior da Europa.
"Os terro1'i.stas islâmicos, especialmente os Wahhabitas, são muçulmanos supremacistas, desejam o domínio total do universo. Há conflitos em todo o mundo"
evitar tal ameaça. Mas se isso continuar assim, os cristãos na Europa podem se tornar uma minoria e passarem a ser tratados como os cristãos no Oriente Médio. Mas o futuro não será necessariamente esse, porque há muitos sinais de uma crescente resistência contra o avanço do Islã. Catolicismo - Como os leitores da revista Catolicismo poderiam ajudá-lo a denunciar esse perigo? Youssef F"khouri - Apresentando, por exemplo, casos de violência de muçulmanos ou de outras religiões contra os cristãos, ou de cristianofobia no Ocidente e tornando-os conhecidos. Divulgá-los em larga escala. Assinar petições em defesa dos perseguidos, escrever cartas aos jornais pedindo a mais ampla cobertura de tais atrocidades. Este é um método que já está sendo usado por alguns sites de direitos humanos cristãos profissionais, como, por exemplo, htt ://www.christiano hobie.fr/ Convidamos os leitores da revista a visitar e difundir entre amigos nossa página no Facebook https ://www.facebook.com/ProChristiani Agradeço a Catolicismo a oportunidade de tornar conhecido nosso trabalho e pedimos as orações dos leitores da revista pelo desenvolvimento de nossas atividades, mas especialmente, e antes de tudo, para que cesse o quanto antes a perseguição aos cristãos no Oriente e na África, bem como a cristianofobia no Ocidente. •
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INUSITADO
Anjos ou demônios servidos à mesa n N ELSON R1sE1Ro FRAGELu
"Durante as refeições, não apoie os cotovelos na mesa. Evite os bocejos. Não cuspa, não trate de assuntos licenciosos ... "Assim, desde o século XVI, os manuais católicos de instrução religiosa e cívica preparavam o convívio à mesa. A procura de sua perfeição provinha do conselho evangé lico: "Quando dois ou mais se reunirem em meu nome, Eu estarei no meio deles ". A Igreja conferiu elevação e grandeza às refeições, pois Ele estaria presente. Portanto, um caráter de sacralidade. À
mesa , seja nos conventos, nas cortes cristãs como entre camponeses, reinava uma segunda natureza, mais elevada e majestosa, e que era a verdadeira natureza do convívio. Ela se asseme lhava à sociedade dos anjos pintada pelo Beato Angé li co, de cujos quadros evolam a amenidade e a distinção de virtudes sociais perfeitas. Fiel à sua missão de preparar as almas para o Paraíso, a Jgreja fez das relações nesta Terra um aprendizado para o Céu. A refe ição constituía um momento-ápice desse convívio. Civi li zar signifi ca elevar as pessoas acima de sua condição animal.
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CATOLICISMO
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O mundo moderno perdeu a sacra1idade de outrora. Sobretudo os ritos das refeições, pouco a pouco, insensivelmente, desapareceram. Toalhas, talheres, cristais, cande labros, baixelas, flores, regras de conversação foram derrubados pela trepidação do mundo moderno. O tempo, ou melhor, a sua fa lta, passou a ditar as regras. Desapareceram também, de modo paulati-
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no, o vocabulário e a cortesia convivia!. A simplificação é cúmplice da falta de tempo. Assim, até mesmo os ritos singelos, mas quão elevados, da mesa camponesa se evanesceram. Tudo tendeu ao banal. Na foto da página ao lado se vê um restaurante moderno, cuja ornamentação, embora simples, procura a correção. Com exceção dos lustres, não há ornamentos, nem bom gosto. A possibilidade de ver, ao fundo, a folhagem do jardim e suas flores luzentes é sua única amenidade. Os convivas se harmonizam com o mesmo estilo, denotando decência e respeito. Nada agride a compostura dos que estão à mesa, nem lhes tira a elevação de espírito. Este ambiente se distanciou da sacralidade e da atmosfera angélica, mas não impede o trato social digno.
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Todo objeto evoca, forçosamente, a ideia de sua finalidade. Ao vermos um farol lançando seu feixe de luz na escura imensidão oceânica vem-nos a ideia da vigilância. O camelo traz-nos à memória a persistência em meio a condições adversas. O garfo e a faca cruzados nos recordam a refeição. Não é preciso mencionar o que os vasos sanitários evocam. A civilização reservou-lhes nas casas um lugar reservado. Por seu prosaísmo, sua função evoca uma das consequências mais penosas do pecado original. Odores, sons, matéria repugnante - nada no uso dos vasos sanitários deve aparecer em sociedade. Fossem eles visivelmente instalados no escritório de um advogado, na sala de visitas de uma família ou no hall de um aeroporto, por sua simples visão causariam nojo. Mas num restaurante? Num restaurante que os utiliza não só como assentos, mas também como pratos? É verdade que a comida que eles contêm não é imundice. Animais comem seus alimentos independentemente
do recipiente. Comem-nos até mesmo sem repugnânci a ao lado de imundices. Mas o homem, não . O espírito humano pede uma adequação do conteúdo ao receptáculo. Assim, não se toma água em prato de sopa, nem cerveja em cálice de licor. Esta adequação chama-se decoro. O decoro tem regras, a fim de que cada um - não só convivas, mas alimentos também - mostrem em sociedade o melhor de si mesmo. A tendência a relacionar-se com excrementos se encontra em modernas correntes neopagãs, afins com teorias ecologistas extremadas. Elas propiciam a animalização da sociedade. Ensina Santo Tomás de Aquino que o belo reflete a Deus, e o feio ao demônio. A conaturalidade com o nojento, o fétido e o hediondo denota uma tendência, explícita ou não, à simpatia em relação ao demônio. A se implantar essa tendência, a convivência humana não mais estaria preparando as almas a se assemelharem com a sociedade angélica, mas com a desordem e a imundice da sociedade infernal. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
A outra foto tem algo de inverosímil. A uma sã imaginação não ocorreria conceber um restaurante assim. Brincadeira? Não . Infelizmente, restaurantes assim já existem. Como exprimir o choque que se tem ao vê-lo? Uma avalanche de ideias ocorre de imediato. Para um católico, primeiramente, a indignação de ver profanada a sacralidade das refeições.
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CAPA Ela é a expressão cultural de uma sociedade que se deixa mover pela intemperança. Daí o tema deste artigo: A cultura
da intemperança: a Pop culture.
A cultura da intemperança: ,
Retrospecto J1istórico: a cultura tl'a<licio11al A cultura popular moderna é a cult11ra difündida industrialmente, e possui algumas raízes na cultura popular tradicional. A cultura popular antes da Revolução Industrial fornece alguns elementos que nos ajudam a compreender a cultura popular moderna. Na Europa, cada região - praticamente cada aldeia tinha sua própria cultura popular, que se expressava na música local , nos trajes regionais, nas receitas de cozinha, nos textos literários, e assim por diante. Era uma cultura que os homens haviam criado para si e cuja intenção era de refletir a sua própria vida. Assim, as canções populares recordavam os belos fatos históricos, os acontecimentos solenes da vida da aldeia e as diversas atividades que ocorriam ao longo do ano. Até hoje, restos dessa cultura popular podem ser admirados na Europa. A Oktoberfest em Munique é aberta com um grande cortejo, no qual se apresentam as diversas regiões da Baviera com seus trajes típicos, suas canções populares, suas receitas de cozinha etc. Esse desfile é um belo testemunho da riqueza da cu ltura popular que outrora existiu na Europa . Viajando por essas regiões, podemos encontrar diferenças
aPOP
CULTURE n MArH1As voN GERsooRFF
S urgida com a Revolução Industrial, a cultura de massa atingiu hoje, mediante a Pop Culture, um clímax de intemperança frenética. O conhecimento da cultura tradicional de uma sociedade orgânica é indispensável para nos libertarmos desse mortífero frenesi. *
. A
FP norte-americ~na publicou recentemente o 1vro RETORNO A ORDEM· de uma economia
renética a uma sociedade orgânica - onde stivemos, como chegamos aqui e para onde
devemos ir, escrito por John Horvat II, um de seus diretores. Sua tese principal: o motor que co loca o mundo moderno em movimento é a intemperança. Porém, não se trata de uma intemperança qualquer, mas de uma intemperança frenética que faz com que o homem moderno não possa mais ordenar sua vida, seu agir e sua vo-
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lição segundo uma hierarquia de valores e princípios eternos, deixando-se, ao contrário, levar como pena ao vento pelo espírito da época, pelas correntes da moda, pelos anúncios nos meios de comunicação social e pela propaganda política. Na atualidade, o homem deixa-se conduzir - segundo a conhecida Mensagem de Natal de 1944 do Papa Pio XII simplesmente por não ter mais personalidade nem substância humana para conformar sua vida a partir de convicções próprias. Nesse contexto, tem suma e deletéria importância a cultura popul ar moderna, ou seja, a atual cu ltura de massa.
locais ainda mais acentuadas na arte, na arquitetura, nos di aletos etc. Admiramos essa cu ltura por ser ela profundamente autêntica, uma expressão verdadeira da alma dos habitantes do local. Quando os vemos na Alemanha em seus trajes típicos, notamos neles certa a legria proveniente do fato de se sentirem inteiramente interpretados por suas vestes, embora não trabalhem nas profissões que inspiraram esses trajes. Porém, o poder da tradição é tão forte, que eles se acham melhor expressos por essas roupas do que se estivessem portando um terno, em se tratando de homens. Nos Estados Unidos, na Europa, mas também no Brasil e na América Latina em geral, há numerosas encenações de acontecimentos históricos com significado nacional ou regional. Os que as promovem têm provavelmente saudades de uma época na qual ainda existia um vínculo orgânico entre todas as atividades da vida. A cultura popular não é complicada. Normalmente não tem um autor determinado e surge espontaneamente atrnvés das gerações. Por exemplo, uma canção transmitida de geração em geração. Sofrendo possivelmente modificações ao longo dos tempos, ela passa em determinado momento a pertencer ao tesouro cultural da região, à tradição local , tornando-se um bem cultural promotor da identidade regional. A contrapartida da cultura popular era a cultura de corte,
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a cultura dos soberanos e da nobreza. Sendo frequentemente uma sublimação da cultura popular, era refinada e visava a mais alta perfeição, ajudando o desabrochar e o aperfeiçoamento da vida de corte. Na Europa, a cultura foi sempre um instrumento importante da política. Quando um soberano um imperador, um rei, um duque - organizava esplendorosos concertos em seu palácio, ele o fazia com a intenção de aumentar a sua influência. Luiz XIV alcançou isso de modo excelente com a construção do Palácio de Versalhes.
Alguns exemplos Para ser exato, gostaria de observar que a cultura não era "produzida" apenas pela nobreza e pelo povo. Ela surgia também no ambiente da burguesia, sobretudo nas ricas cidades alemãs da Liga Hanseática. Disso são dois famosos exemplos Johannes Sebastian Bach, que desenvolveu seu gênio musical especialmente em Leipzig, e Georg Philipp Telemann, em Hamburgo. Outra forma de cultura popular notavelmente importante é a que serve à piedade popular. No afã de manifestar seus sentimentos religiosos, os homens vêm produzindo desde há muitos séculos pinturas religiosas e oratórios, compondo canções pias e orações, organizando peregrinações. A piedade popular completa-se ainda com as elevadas formas de pintura, música e poesia. Menciono esses exemplos para deixar bem claro que a cultura popular não é de si censurável , muito pelo contrário.
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Usinas nos arredores de Roma.
Quadr~ de Umbe_rto B9cclonl, f 909 ·
Ela é uma expressão da própri a vida orgânica de um povo. Eis algumas de suas ca racterísticas: 1) Na maiori a das vezes não tem um autor determinado, ou, quando tem, este praticamente é sem importância; 2) É radi cada na vida do povo; 3) É produzida para si mesmo pelo povo de determinada região, vi sando a si próprio. Muitas de suas características vão aparecer na futu ra cultura pop, ou seja, na versão industri al da cultura popul ar. A cultura p op é também extremamente padronizada. Centenas, milhares mesmo de suas canções empregam a mesma estrutura fund amental de acordes e ri tmos. O desenrolar da ação de diferentes séri es de televi são se faz de acordo com os mesmos fo rmatos. Isso ocorre também, entre outros eventos, em jogos esportivos - para muitos considerados como parte da cultura de massa. Normalmente o autor é conhec ido, mas na grande maioria dos casos ele não tem qualquer importância, a não ser um mero papel comercial que exerce na divisão dos lucros. Quem é o autor das canções de Boy-Groups como One Direction de Bri tney Spears ou de Chri stina Aguilera? Para o grande público isso não importa. O autor é propri amente o espírito do tempo. Os produtos da cultura popular são, no fund o, documentos, conservas do espírito do tempo, exi stentes em determinado momento. Bem entendido, a cultura pop não está radicada na vida do povo e nem é produzida por ele. A região fo i substituída por outros critérios de segmentação. Inici almente tinh a im portância a integração numa classe. Porém, esse critéri o fo i se tornando inexpress ivo. Posteriormente, depois da Segunda Guerra Mundi al, a cultura de massa fo i segmentada de acordo com as gerações. Cada geração teve sua música, sua
séri e de te lev isão, seus astros etc. E dentro de cada geração havi a vári as subculturas: a dos punks, dos metaleiros, dos yuppies, dos schicki-micki, dos rappers etc.
Um Jn81'CO
hiSlÓl'ÍCO:
a Revolução Jmlustrial
Que importância exerce a Revolução Industrial no surgim ento da cultura popular? Em que medida esta é um produto da Revolução Industrial do fim do século XIX? Grandes massas humanas deixavam então o campo em demanda das cidades, que cresciam rapidamente. Essas pessoas fo ram desenraizadas de suas tradições e de suas regiões. Não vivi am mais em pequenas aldeias, mas em mega-cidades. O ponto de referência soc ial restringia-se frequentemente ao núcleo da própri a fa míli a. Os homens podi am ass im viver anonimamente perdidos na massa. Essas novas condi ções de vida favoreceram a decadência dos costumes de modo signifi cativo. O anonimato e a perda de ra ízes fac ilitaram a vida imora l. Sem considerar que a educação reli giosa se torn ou com isso bem mais difícil. Ta l situação ex igiu do clero católi co um a grande capacidade de adaptação, nem sempre conseguida. Nas aldeias, o pároco conhec ia pessoa lmente cada um . O indivíduo estava fo rtemente li gado a um arcabouço fa mili ar e social, o que fac ilitava os indi víduos a leva r um a vida de acordo com os prece itos morais. Ev identemente, tal situação não representava uma gara nti a quanto à retidão dos costumes, embora fosse um poderoso apoio à mora lidade. Este estil o de vida mudou radi ca lmente nas novas megametrópoles. Surgiram então, in ·pirados pelo Espírito Santo, os mi ss ionári os populares, como o Beato AdolfKolping. Tais
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missionários desenvolveram estratégias para atingir essas pessoas e afervorá-las na prática da religião. Eles fundaram associações, movimentos populares católicos, organizações de lazer, missões populares, catequeses operárias etc. Os maiores perigos para as almas eram então o comunismo e o socialismo, que apresentavam falsas soluções para os problemas existenciais surgidos em função da Revolução Industrial. As pessoas sem raízes, que se sentiam frequentemente isoladas e desprotegidas, eram tentadas a procurar apoio e consolo nas novas ideias políticas. Contudo, os perigos provinham não apenas da política, mas também da própria cultura popular. O indivíduo procurava uma compensação para a vida operosa que levava e a encontrava nos prazeres oferecidos em massa nas grandes cidades: pasquins, cinemas, salões de música, jogos esportivos, feiras de diversão etc. Neles se oferecia ao trabalhador sem raízes um mundo excitante e barulhento, cheio de novidades .
Essa cultura popular desenvolveu no início da Revolução Industrial as características que a distingue até hoje. É uma forma de cultura padronizada que se dirige às grandes massas, mas que não é produzida por ela própria. Expressando-me de outro modo, com a Revolução Industrial surgiu uma indústria da cultura que produzia música, arte, literatura etc. para consumidores. Essa cultura não era mais produzida pelos habitantes de determinada região para si próprios, mas por uma indústria montada especialmente para influenciar um gênero de consumidores. Uma grande parte dessa cultura foi propagada pelos meios de comunicação de massa. Inicialmente pela imprensa (romances baratos, largamente difundidos por volta dos anos 1900), pelo rádio (música, esporte), pelo cinema e, mais tarde, pela televisão. Em nossos dias, pela internet.
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Cultura de massa oposta à cultura tradicional A cultura de massa tem de fato ainda elementos com os quais o consumidor pode se identificar (do contrário não teria interesse do ponto de vista comercial), porém não reproduz necessariamente as condições de vida, a sensação vital das demais atividades do homem para as quais ele foi criado. A autenticidade das canções populares tradicionais, da arte, da arquitetura, dos trajes etc., não está presente nela. Ela se tornou, no sentido mais verdadeiro do termo, uma cultura de massa, já que, para ela, nem o consumidor nem o autor têm importância em função de sua própria personalidade. A identificação com o produto da cultura - ou seja, com o astro - dá-se sobretudo por um sentimento vital difuso. Não raras vezes a cultura pop deve satisfazer anelos desconhecidos e oferecer uma fuga do quotidiano. Até mesmo aspectos sociológicos como, por
exemplo, pertencer a uma classe, deixam rapidamente de ser importantes: desse modo a cultura de massa preparou o caminho para a democracia igualitária. Como já foi mencionado anteriormente, para ter sucesso a cultura pop deve compreender o "espírito do tempo", existente no momento. Portanto, ela é passageira por sua própria natureza. Os meios de difusão - rádio, cinema, televisão, internet etc. - trouxeram consigo o fato de que a disputa para atrair a atenção se tornou brutal. Quem desejar ter sucesso comercial precisa estar em condições de amarrar o consumidor de
modo rápido, prático e intuitivo. Este fato potencializou o que já estava no bojo da cultura de massa desde o início: o incitamento aos vícios. O erotismo, a violência, a correria já eram no início do surgimento da cultura de massa partes essenciais de seu produto. Essa realidade se torna clara se observarmos a nossa própria época. Os meios de comunicação mais importantes atualmente são as redes sociais, como o Facebook, o Twitter etc. De fato, o Facebook está concebido de tal modo, que o indivíduo entra numa luta perpétua para angariar atenção, não conseguindo desvencilhar-se inteiramente dessa situação se não quiser desaparecer lentamente do contato visual dos outros. Essa luta pelo reconhecimento de outrem leva a um exibicionismo crescente - vício que alguns órgãos de imprensa qualificam como "holofote". Notamos o mesmo fenômeno na músicapop. É grande a lista de cantoras que começaram "inocentemente" na Disney, mas que se apresentaram depois de modo cada vez mais erótico: Britney Spears, Lindsay Lohan e Vanessa Hutgens são
Cultura de massa: ei1trete11imento e "modelo" Para compreender a influência da cultura popular sobre as mentalidades, e em. que medida ela foi e é empregada como meio de propaganda, importa saber que ela tem duas funções a exercer. De um lado ela deve entreter. Este é, à primeira vista, o argumento principal para o seu consumo. Desde cedo as pessoas gastavam grandes somas de dinheiro com o entretenimento em cidades fortemente inchadas pela industrialização, ou seja, a indústria do entretenimento atingiu logo no início um notável êxito comercial. A cultura popular estabeleceu-se como um programa contrastante com a vida de trabalho. Contudo, o mero entretenimento não basta para garantir o êxito. A cultura popular deve também transmitir um sentido das coisas. As pessoas precisam encontrar nela explicações para a sua própria vida, precisam sentir-se interpretadas, receber uma espécie de orientação. Essa é a razão pela qual a cultura de massa não pode viver
Cinema
sem "astros". O "astro" é a figura de identificação para milhões de homens. Para que isso aconteça, é preciso que o indivíduo reconheça no "astro" um modelo para a sua própria vida. alguns exemplos. De modo especialmente radical mostrou-se nos últimos tempos Miley Cyrus. Naturalmente, sempre houve reações negativas a esse fenômeno, como as recentes e fortes críticas contra Miley Cyrus por ocasião da MTV Video Music Awards. Contudo, essas são ondas dentro de um processo. As duas principais regras da indústria de cultura de massa são: a) quem não atrair de modo permanente e cada vez mais forte a atenção sobre si, cai logo no esquecimento; b) num mundo crescentemente sexualizado, onde a pornografia é denominada por muitos como a cultura da "precariedade", só se alcança grande notoriedade apresentando-se de modo imoral.
O papel dos seriados de televisão No Brasil, como também em outros países, as novelas de televisão têm funcionado como um spray de imoralidade, demolição da família, relações extra-conjugais e, a pretexto de combater a homofobia, incentivo aberto às relações homossexuais. Também no campo das modas propagam o semi-nudismo e mesmo o nudismo. O elo entre sentido e entretenimento é facilmente reconhecível nos seriados de televisão. Sobretudo nos seriados feitos para jovens, que tratam em cada episódio de um problema quotidiano.
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lsso se aplica não apenas à ação em si, mas também aos telespectadores que semana após semana, muitas vezes diariamente, assistem aos episódios de um seri ado. Interessa- lhes saber como continua a vida quotidiana dos atores, como e les resolvem seus problemas, como continuam a se desenvolver as múltiplas relações entre eles. A maior parte dos seriados de TV para jovens apresenta o quotidiano comum de rapazes e moças nos últimos anos da High School. Nos seriados como One Tree Hill, O. C. , Califórnia, 90210, Gossip GirL, Gilmore Girls, em certa medida 1-Jannah Montana e em muitas outras, tratase da passagem da juventude para a idade adu lta, do fazer-se valer num ambiente de hostilidade, inveja e rivalidade, da formação da personalidade. l.sso torna os seriados de TV muito apreciados porque dão aos jovens uma orientação, de fato falsa, porém ace itáve l a seus o lhos. Até mesmo num seriado comum como Gilmore Girls , que descreve a vida numa pequena cidade americana, sã.o propagados comportamentos anticristãos . Para que alguém assista um seriado de TV, precisa achá-lo interessante e atraente, necessita identificar-se com os atores e com a sua sorte. Esse interesse é despertado pelos conflitos existentes entre os protagonistas. Os telespec-
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tadores querem saber como se resolvem esses conflitos em que os atores estão envo lvidos, posto que estabe leceram com eles uma relação emocional. Que confl itos são esses? Já observamos que praticamente todos os seriados de TV para jovens delineiam o quotidiano de um clique no mouse. Por isso os conflitos que envolvem os atores devem ser do dia-a-dia. Conflitos que em sua maioria continuam ao longo de vários episód ios e só são resolvidos no final da série. Os problemas do " tornar-se adu lto", das figuras da TV, devem refletir análogos problemas dos telespectadores. Por isso estes últimos ficam tão interessados em saber como se resolvem os múltiplos conflitos que surgem de semana a semana. Muitos deles são seus próprios problemas e conflitos. Deste modo os seriados de TV se tornam uma esco la da vida. A questão é saber o que se aprende nela .. . A casa paterna, a Igreja e a esco la são propriamente as instituições às quais compete a educação. Os anos da juventude são uma época em que a pessoa precisa de muita orientação, pois é quando se põem as questões existenciais. Os seriados de televisão vão diretamente de encontro a essa necessidade. Porém ,
em vez de darem uma orientação cristã, aprovam a vida juvenil como ela concretamente se apresenta, tratando dos problemas e questões dentro do contexto da "cultura" juvenil moderna; não são críticos do sistema - para usar uma palavra moderna - nem colocam em questão o arcabouço de valores subjacente, mas, pelo contrário, o aprovam.
Importância cultural da música pop Na música pop o nexo entre sentido e entretenimento não é por vezes evidente como nas produções de televisão. A música pop consiste em melodia, ritmo e texto. Não se pode dizer com precisão o grau de influência que esses três elementos exercem sobre a mentalidade. Plínio Corrêa de Oliveira explica em seu livro Revolução e Contra-Revolução: "Como Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas.formas, cores, sons, perfumes e sabores e certos estados de alma, é claro que por estes meios se pode influenciar a .fimdo as mentalidades e induzir pessoas, familias e povos à.formação de um estado de espírito profundamente revolucionário. Basta lembrar a analogia entre o espírito da Revolução Francesa e as modas que durante ela surgiram. Ou entre as ef ervescências revolucionárias de hoje e as presentes extravagâncias das modas e das escolas artísticas ditas avançadas " (Cap. X, 2). Nas novas formas de música popular - rock, hip-hop, blues, heavy metal etc. - é evidente o espírito revolucionário acima descrito. Mais ainda, esses gêneros têm sido especialmente fomentados para conseguir uma denominada "quebra de tabu" . Sobretudo para a Revolução da Sorbonne (de maio
de 1968), a música foi um dos instrumentos mais importantes para a difusão do novo estilo de vida revolucionário. Isso não mudou também em nossos tempos. Por isso Britney Spears e ChristinaAguilera foram verdadeiras "embaixadoras" de uma nova forma de feminismo, que se exprimiu igualmente nos trajes . Hoje em dia, Miley Cyrus tenta fazer mais radicalmente o mesmo. Suas últimas apresentações geraram espanto e indignação, mas já seu papel de Hannah Montana não era o de uma adolescente de 13 anos que gosta de cantar, mas o de alguém que se emancipou, ou pelo menos está a caminho de fazê-lo. Se retrocedermos no tempo, poderemos facilmente constatar como as novas tendências musicais colocavam em questão o modo de encarar a vida da época. Bill Haley and the Comeis, Jerry Lee Lewis etc. enviavam sinais à juventude dos anos 50 diametralmente opostos à concepção de vida de então. Com seu ritmo, seus riffs , seus solos de guitarra e sua técnica de canto, tal música conclamava a uma verdadeira revolta contra a ordem vigente e a geração dos pais. O mesmo podemos dizer do jazz antes da Segunda Guerra Mundial. Eddie Connor descreve em sua autobiografia intitulada Jazz - We called it Music o ambiente dos bares de jazz em 1923 : "Numa p equena ante-sala, onde nos cobraram a entrada, o barulho já era bem grande; vinha como um estremecer de músculos, quatro num compasso. Quando abriu-se a porta, os trompetistas King e Louis, um deles ou os dois juntos, sobrepujaram todo o resto. Todo o bar dançava. Mesas, cadeiras, paredes, as pessoas, tudo movia-se no ritmo. [. ..] Podia-se também trazer a própria aguardente, mas no fim o
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efeito era o mesmo - A banda tocava[. ..} e todos e cada um minha companheira de dança jogávamos-lhe beijos com as moviam-se, empurravam e deixavam-se empurra,; batiam o mãos e cantávamos alto com os demais. [. ..}Escapou-me a ritmo com os pés no chão e bebericavam gin. " sensação do tempo, quantas horas ou momentos durou esta Hennann Hesse, Prêmio Nobel de Literatura em 1946, sensação de embriag.uez. '. '. descreve no romance Steppenwolf (O Estes dois textos descrevem muito bem em que estado de embriaguez se lobo das estepes) como um cidadão lançavam as massas dos atordoadores culto nos anos 20 era arrastado cada vez - FOX TROTanos 20. As mudanças culturais desses mais por esta cultura moderna com sua anos foram no fundo precursoras da correria e sua embriaguez dos sentidos, futura Revolução de 1968. atordoadores comparável a um ritual de iniciação. anos 20 Jazz , Foxtrott, Onestep conquistaram a mentalidade das pessoas e lhes abriram Exemplo de lilme e o modo de ver moderno. música pop de 1961 No referido livro, Hermann Hesse A Revolução avançou também, só descreve como Yearning, a famoque de modo mais sutil, para arrastar sa canção foxtrott dos Californiacs, atrás de si aqueles que se sentiam agrelançada em 1925, foi recebida: "Uma didos pelos estilos de música neuróticos nova dança, um foxtrott, conquistou o tipo jazz ou rock 'n rol!. Em 1961 tivemundo naquele inverno com o título 5 ram grande repercussão o filme Bone'Yearn ing '. Esse 'Yearning 'era tocado quinha de Luxo e a canção Moon Ri ver. rep etidas vezes e cada vez mais apreo/chas L.Johnson Há diversas razões pelas quais " ' ~ 7 , ~ BON>: AAG ciado, todo mundo estava embebido e embriagado dele, todos nós zumbíamos F. J A . J'"o,-ster ✓-,..;. A,tiM,.,.. .,... So 11',t,,J A,.., Chi,oj.•IIL alguém assiste a um filme,· muitas sua melodia. Eu dancei sem parai'. { ..} vezes o seu conteúdo não desempenha um grande papel. lsso pode ser válido ainda hoje com o O saxofonista colocou-se de pé sobre a sua cadeira, bateu filme Bonequinha de Luxo. O charme de Audrey Hepburn, com força em seu tubo, subiu sobre a mesa e, de p é, soprou a a música de Henry Mancini , a vida mundana de Nova York plenas bochechas, deixando-se embalar com seu instrumento, frenético e arrebatado, ao compasso do 'Yearning'. Eu e ( continua na p.36)
ALA8AMA SLIDE
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' RETORNO A ORDEM:
de uma economia frenética a uma sociedade orgânica cristã - de onde viemos, como chegamos aqui e para onde devemos ir O livro com o título em epígrafe, de autoria de John Horvat li,* vice-presidente da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), analisa em profundidade um problema candente que afeta não apenas os Estados Unidos, mas praticamente todas as nações do mundo ocidental: a intemperança frenética , inerente ao espírito da economia moderna. A penetrante e clara análise da sociedade contemporânea que John Horvat nos apresenta em seu livro aponta para o fato de que a economia moderna tornou-se fria, impessoal e desequilibrada. Os antigos elementos de honra e confiança, fundamentos da ordem social anterior à Revolução Industrial e tão essenciais para a boa ordenação da vida humana , desapareceram irremediavelmente com o advento da sociedade de consumo desenfreado. Com a intemperança produzida por um consumismo sem equilíbrio foi posta de lado a influência natural , benéfica e restritiva, dos princípios e das instituições humanas que devem temperar as atividades econômicas. Return to Order é, pode-se dizer, um toque de trombeta que convida seus leitores a abraçarem
novamente os valores e instituições frutos dos princípios perenes de uma ordem social cristã orgânica, tal como explanados na vasta obra intelectual de Plínio Corrêa de Oliveira . Horvat fornece em seu livro -
hoje um best-seller nos Estados Unidos -
um quadro vivo e dinâ-
mico dessa organização cristã da sociedade, tão extraordinariamente adaptada à natureza humana. Depois de analisar na primeira parte em que consiste a intemperança frenética na economia, o autor descreve na segunda parte a influência temperante sobre as almas exercida pelas instituições de uma sociedade orgânica, tais como os costumes tradicionais, a família, a comunidade, o Estado cristão e, por fim, a Igreja. A obra Return to Order aponta para um problema crucial que afeta a civilização moderna -
a
intemperança frenética -, mas oferece uma solução para a crise atual, indicando-lhe os remédios adequados. Fruto de aproximadamente vinte anos de estudos e pesquisas, essa obra vem à luz num momento em que os Estados Unidos -
e o mundo inteiro -
se encontram num dilema: voltar às
raízes cristãs ou continuar na rota do frenesi destemperado que conduz à ruína? • Estudi oso e pesqui sado r, co nferenci sta internacional, John Horvat li vem se dedicando há mais de duas décadas à aná li se das ca usas do declínio soc iocconômico dos EUA e à procura de so luções para a cri se de seu país. Sua obra, publicada no ano passado, é fruto de sua dedi cação c de seu empenho na restauração da ordem soc ia l cristã. Relurn lo Order pode ser encomendado (versão ori gi na l cm in glês) através do s ite www.returntoorder.org , onde há também um foro de discussão.
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no fim dos anos 50, os membros da high society, ao mesmo tempo elegantes e dégagés , o American way ofltfe, que então festeja o seu triunfo absoluto, e outros elementos podem ser estímulo suficiente que leve o espectador a ver essa fita, sem que haja grande interesse pelo seu conteúdo. A ação deste filme pode ser contada resumidamente: Uma moça do campo, Holly Golightly (Audrey Hepburn), aprende a ser elegante, a mover-se na sociedade e leva uma vida frívola numa alta sociedade bastante decadente. O seu novo vizinho é o escritor sem sucesso Paul Varjak (Georges Peppard), com quem trava logo relações de confiança. Ela lhe diz que procura um milionário para se casar, mas de fato não sabe bem o que deseja e vagueia pela vida. Ao se desfazer seu noivado com um milionário brasileiro, ela cai em si e dispõe-se a casar com Paul Varjak, que lhe confessara antes o seu amor. Mundialmente conhecida é a canção Moon River, cantada numa cena do filme por Holly. A segunda estrofe resume o conteúdo do filme: "Two drifters, off to see the world/Theres such a lot of world to see/We 're after the sarne rainbows end, waitin ' round the bend/My huckleberry friend, Moon River, and me. " (Numa tradução livre: "Dois vagabundos indo ver o mundo / Há um monte de mundo para ver /Estamos atrás do mesmo término do arco-íris, esperando ao redor da curva / Meu amigo colhedor de arandos, Moon River, e eu). A primeira estrofe canta: "Moon river, wider than a mi/e / J'm crossing you in style some day /Oh, dream maker, you heart breaker / Wherever you 're goin ', J'm goin 'your way." ("Rio da Lua, mais largo que uma milha/ cruzar-te-ei com estilo algum dia / Ó, criador de sonhos, triturador do coração / Aonde quer que vás, irei à tua maneira"). Portanto, Moon River é a metáfora de um sonho de vida. A segunda estrofe fala de dois indivíduos soltos pelo mundo, indicando assim Holly Golightly e o escritor fracassado. Ambos são de fato "náufragos" que não sabem o que fazer da própria vida. O filme e sua música não se tornaram conhecidos por causa da história de uma moça desorientada, mas porque tocavam numa profunda disposição de alma que então começava a se constituir e que levou à Revolução de 1968. Naqueles anos, o sonho americano de vida, de total despreocupação e confiança,
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começava a receber as primeiras rachaduras. Começou a tornar-se notório um distanciamento entre as gerações. A sociedade de massas padronizada do pós-guerra passou a ser cada vez mais questionada. Novos grupos de intelectuais - como a chamada beat-generation - propagaram um novo existencialismo que combatia radicalmente a estrutura de valores vigente. Os jovens que não eram marginalizados sociais, mas que não se sentiam bem na sociedade de seus pais, podiam se identificar inteiramente no subconsciente com alguém como Holly Golightly. Tratava-se de uma moça que vivia na sociedade, mas que estava isolada e sem rumo. Ela era um exemplo claro de que no meio do glamour, da elegância e da riqueza de Nova York havia pessoas que não se identificavam mais com este mundo e dele queriam sair tão logo tivessem forças para tal.
Qual será o futuro? Freneslcrescente ou temperança? Os meios de comunicação social são essenciais para a difusão da cultura popular. E esta é, por sua vez, o alimento espiritual para uma sociedade que vive num estado de intemperança frenética, como bem descreve John Horvat em seu livro RETORNO À ORDEM. (vide quadro à p. XX). Quando se fala de cultura de massa, deve-se falar também dos meios de comunicação de massa, pois esses são na verdade poderosos formadores das mentalidades. Em seu livro As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece-A TFP as descreve como são, publicado em 1982, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira descreveu bem este fenômeno: "No momento em que a excelência dos recursos psicológicos e técnicos chegava a uma perfeição que certamente Gutenberg nem sequer imaginava, Marconi deu ao mundo a rádiocomunicação. E quando esta se achava em franca via ascensional, apareceu, por sua vez, uma rival que haveria de reduzir fortemente a influência da imprensa e do rádio, monopolizando para si a liderança da propaganda política, ideológica ou econômica. É a televisão. E vai se afirmando agora a era da cibernética. Pode-se supor que esta última encerre o ciclo das grandes invenções a serviço da propaganda. Porém, à vista dos progressos da chamada transpsicologia, ainda nebulosos, insólitos e desconcertantes, é possível que novas formas de comunicação entre os homens conduzam a meios de
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propaganda ainda insusp eitáveis, ainda mais céleres, mais drásticos. Em uma palavra, mais terríveis. A marcha ascensional que se nota na celeridade dos meios de comunicação se verifi.ca igualmente no tocante à perfeição das comunicações etc." Lendo essas palavras, somos involuntariamente levados a pensar em três fenômenos que não são muito antigos: a onipresença da cultura pop, o progresso da indústria eletrônica de • entretenimento e a internet. Hoje em dia não importa para onde nos voltamos: estamos cercados pela cultura pop, sobretudo pela música. Esse fenômeno já é Justin Bieber, um astro antigo e talvez não nos chame a para milhões de pessoas atenção. Contudo, vale a pena ter presente em que medida este instrumento de influência está sendo empregado. Vivemos formalmente na cultura pop, nós a respiramos como o ar. É praticamente impossível escapar dela. Décadas atrás ninguém teria pensado seriamente que um instrumento de propaganda pudesse ser empregado com tal amplidão. O mesmo se dá com a eletrônica de entretenimento: MPS , Smartphone, i-Phone etc. tornam possível o consumo ininterrupto de cultura pop. Sobre a internet, não é necessário nos estendermos, pois ela ampliou desmesuradamente as possibilidades de difusão da cultura pop. Basta pensar em cantores como Justin Bieber, um astro para milhões de pessoas cuja ascensão se deu na internet. Incontáveis cantores e bandas procuram imitá-lo.
Destinada essencialmente a inflamar a intemperança dos homens, a cultura pop tem hoje a seu serviço condições técnicas capazes de atingir continuamente as pessoas e de intervir cada vez mais a fundo em sua psicologia. Como reagir contra isso? O que fazer para que a ordem cristã seja restabelecida? As respostas a essas perguntas estão dadas, com acerto e com base na temperança, por John Horvat li na segunda parte de seu livro RETORNO Á ORDEM. • E-mail para o autor: catoijcjsmo@Ierra com br * Matéria exclusiva para Catolicismo. Tradução do alemão: Renato
Murta de Vasconcelos. Bibliografia:
Plinio Corrêa de Oliveira, Gustavo Antonio Solimeo, Luiz Sérgio Solimeo: As CEBs ... das quais muito se/ ala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são, São Paulo, 1982. Plinio Corrêa de Oliveira: Revolution und Gegenrevolution, Frankfurt am
Main, 201 3. Mathias von Gersdorff: Sexua/isierung der Kindheit. Wie Kinder durch Politik, Pop-Ku//111; Werbung und Medien manipuliert werden, Frankfurt am Main, 2011 John Horvat 11 : Return to Order - From a Frenzied Economy to an Organic Chri stian Society, Hanover, Pennsylvania, USA, 2013. Hermann Hesse: Der Steppem volf, Berlin, 1927. Michael Jacobs: Ali that Jazz. Die Geschichte einer Musik, Stuttgart, 1996. Kaspar Maase: Grenzenloses Vergniigen. Der Aufs-tieg der Massenkultur 1850-1970, Frankfurt am Main, 2007. Lothar Mikos, Dagmar Hoffmann , Rainer Winter (1-lrsg.): Mediennutzung, Jdentitiit und Jdentifikationen. Die Sozialisierungsrelevanz der Medien in Selbstfindungsprozess von Jugendlichen. Weinheim und München, 2009. Siegfri ed Schmidt-Joos, Wolf Kampmann: Pop-l exikon. Reinbeck bei,
Hamburg, 2002. Wolfgang Ullrich und Sabine Schirdewahn (Hrsg.): Stars. Anniiherung an ein Phiinomen, Frankfurt am Main, 2002. Peter Vorderer: Fernsehen ais ,, Beziehungskiste", Opladen, 1996.
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Santa Bernadette Soubirous A aparição da Santíssima Virgem à santa vidente de Lourdes confirmou o dogma da Imaculada Conceição e operou maravilhas no mundo inteiro li PUNIO MARIA SOUMEO aria Bernarda, ou Bernadette cuja festa comemoramos no dia 18 de fevereiro - , nasceu em Lourdes, nos contrafortes dos Pirineus franceses, no dia 7 de janeiro de 1844. Seus pais eram moleiros que tinham tido certa abastança, mas que, por sua facilidade em perdoar as dívidas, acabaram caindo na miséria. Sendo a mais velha de quatro filhos, Bernadette viu-se logo cedo na obrigação de ajudar seus pais a cuidar dos irmãozinhos e dos trabalhos domés-
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ticos, não podendo assim estudar. Mas aprendeu os rudimentos do catecismo e a rezar o Rosário. Aos 14 anos, miúda e enfermiça, teve a dita de contemplar por dezoito vezes, de 2 de fevereiro a 16 de julho de 1858, a Santíssima Mãe de Deus, que disse de si mesma: "Eu sou a Imaculada Conceição", confirmando assim o dogma que o imortal pontífice Pio IX havia proclamado quatro anos antes. É claro que do ponto de vista teológico um dogma proclamado não necessita de qualquer confirmação, mas para a piedade dos fiéis as aparições de Lourdes
ocasionaram um caudal de graças e um aumento notável da devoção mariana no mundo inteiro, tornando especialmente viva a crença na concepção imaculada de Maria Santíssima. Numa das aparições, Bernadette, a pedido da Virgem Imaculada, cavou com as mãos um solo barrento, de onde jorrou a milagrosa fonte, origem de tantos e tão retumbantes milagres que se prolongam até nossos dias. A vida de Bernadette resumese em praticar o que lhe recomendou a Santíssima Virgem : rezar, especialmente o Rosário, e fazer penitência pelos pecadores. Por isso, tendo entrado posteriormente no convento das Irmãs da Caridade de Nevers, sua oração frequente era: "Ó Jesus! Ó Maria! Fazei que todo meu consolo neste mundo consista em amarvos e sofrer p elos pecadores . Que eu mesma seja um crucifixo vivente, transformada em Jesus. [ .. .] Tenho que ser vítima[. . .] Levarei com valentia e generosidade a cruz oculta em meu coração. Minha ocupação é sofrer". 1 Analfabeta até os 14 anos, em sua humildade ela se considerava pouco inteligente e capaz. Por isso dizia: "Posto que não sei nada, posso pelo menos rezar o Rosário e amar a Deus com todo o coração. E, ademais, a Santíssima Virgem recomendou tanto que rogasse pelos pecadores! ".
a um fervoroso devoto de Lourdes, a santa lhe pede que reze por ela a Nossa Senhora, para alcançar-lhe "a graça de corresponder .fielmente a todos os desígnios de D eus sobre mim. Eu sou, senhor, muito fra ca. Tenho grande necessidade do socorro das preces das almas boas, para não abusar do favor que recebi do Céu, apesar de indigna "
"Tenho necessidade do socorro das almas boas"
Alta compreensão da vocação l'eligiosa
Nada melhor para se conhecer a vida de um santo do que através de suas próprias palavras. Por isso apresentaremos aqui alguns trechos do que Santa Bernadette escreveu em suas cartas. Pois, apesar de ter aprendido a escrever tarde, um dos seus grandes apostolados foi o epistolar. Possuímos mais de l 00 cartas suas, que dão testemunho de uma inteligência viva, alegre e perspicaz. Assim, na primeira delas, dirigida
Santa Bernadette compreendia bem a vida religiosa. Pelo que escreve a seu irmão João Maria, que queria tornar-se religioso, pode-se compreender como ela vivia sua consagração a Deus : "Lembremo-nos frequentemente desta palavra do divino Mestre que nos diz: 'Eu não vim para ser servido, mas para servir '. isso parece duro e difícil à natureza, mas quando se ama bem a Nosso Senha,; tudo se torna fácil. Quando alguma coisa nos custa, digamos em
(Carta de 3 de dezembro de 1862 a Don Antonio Morales, p. 23). 2
seguida: 'tudo para vos agradar, ó meu Deus, e nada para me satisfazer'. Este outro pensamento me f ez também muito bem: fazer sempre o que mais nos custa'; isso me ajudou a me sobrepor a muitas pequenas repugnâncias" (Carta a João Maria, de 21 de abril de 1870, p. 63).
Grande devoção à Sagrada Eucaristia Sobre sua devoção à Sagrada Eucaristia, encontramos um exemplo na carta que escreve às suas primas, que se preparavam para fazer a Primeira Comunhão: "Ó minhas queridas crianças! É necessário se ter um coração de anjo para receber Nosso Senhor como Ele merece! Fazei-o pelo menos com a maior f é, humildade e amor que vos seja possível. E, assim que Nosso Senhor estiver em vosso coração, abandonai-vos a Ele, e gozai em paz as delícias de sua presença. Amai-O, adorai-O, ouvi-O, louvai-O, eu diria mesmo, desfrutai-O. Ófeliz momento! Só a eternidade nos reserva alegrias maiores" (Carta às suas primas, por volta de 1875, p. l 02). A seu irmão mais novo, Pedro, que também iria fazer a Primeira Comunhão, ela escreve: "Não é preciso dizer, meu querido irmãozinha que, daqui para frente, teu coração, teu espírito, tua alma, não devem ocupar-se senão de um pensamento: o de fazer de teu coração a morada de um Deus. Oh! Sim, é necessário que esse bom Salvador esteja continuamente presente em teu p ensamento, e pedir-Lhe que Ele mesmo prepare sua morada, a fim de que não falte nada à sua chegada" (Carta a seu irmão Pedro Bernardo, de 23 de maio de 1872, p. 80). Sobre a alegria de poder comungar, ela confidencia também à sua irmã Maria: "Nosso Senhor é tão bom! Eu tive a felicidade de O receber durante toda minha doença três vezes por semana em meu pobre e indigno coração. A cruz
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se tornava mais leve e os sofrimentos doces, quando eu pensava que teria a visita de Jesus, e o insigne favor de O possuir em meu coração " (Carta de 28 de abril de 1873, pp. 85-86).
Percebendo a mão de Deus que castiga Bemadette via com olhos sobrenaturais os acontecimentos de sua época. Assim, por exemplo, em 1870, durante a guerra franco-prussiana, quando os alemães já estavam próximos de Nevers - e, portanto, ameaçavam a própria segurança das irmãs - , estando já a comunidade inteira a serviço dos feridos, Santa Bernadette escreve à sua irmã Maria: "Não temos senão uma coisa a fazer: é pedir muito à Santíssima Virgem, afim de que Ela queira interceder por nós junto de seu querido Filho, e nos obter perdão e misericórdia; tenho a doce confiança de que a Justiça de Deus que nos castiga neste momento será então aplacada por essa terna Mãe" (Carta à sua irmã Maria, de 25 de dezembro de 1870, p. 70). Em 1871 , durante os grandes tumultos da Comuna de Paris, ela escreve à Madre Alexandrina: "Permiti, minha querida Mãe, que vos deseje um bom Aleluia, bem como a todas as queridas Irmãs. Nós deveríamos mais chorar do que nos regozijar vendo nossa pobre França tão endurecida e tão cega. Quanto Nosso Senhor é ofendido! Roguemos muito por esses pobres pecadores, afim de que eles se convertam: apesar de tudo, são nossos irmãos! Peçamos a Nosso Senhor e à Santíssima Virgem que transformem esses lobos em cordeiros " (Carta à Madre Alexandrina Roques, de 3 de abril de 1872, p. 78). Já em 1875, num.a outra carta, fazendo alusão aos massacres cometidos em Paris durante o advento da Terceira República e das grandes enchentes na região de Lourdes, ela diz à sua irmã Maria, em carta de 4 de julho: "O bom Deus nos castiga, mas é sempre pai. As ruas de Paris foram regadas pelo sangue de um grande número de vítimas, e isso não foi suficiente
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para tocar os corações endurecidos no mal; foi necessário que as ruas do Sulfàssem também lavadas e que elas tivessem também suas vítimas. Meu Deus! Como o homem é cego se não abre seu coração à luz da fé! Depois de infelicidades tão terríveis, não teremos a tentação de nos perguntar o que teria podido provocar esses terríveis castigos? Escutemos bem, e ouviremos uma voz, no fundo de nosso coração, a nos dizer: é o pecado, sim, o pecado, pois que é a maior infelicidade que nos atrai todos os castigos. O mal que cometemos com malícia cai sobre nós. Eis a .felicidade e as vantagens que nos procuram a obra do pecado. Ó meu Deus, perdoai-nos e fazei-nos misericórdia " (pp. 97-98). Ela pensa nos militares que tinham de manter a ordem e a disciplina durante esses tempos calamitosos. Assim, diz a seu irmão, que havia se engajado no exército: "Eu sei que os militares têm muito que sofrer em silêncio. Se eles tivessem o cuidado de dizer todas as manhãs ao levantar-se estas curtas palavras a Nosso Senhor: 'Meu Deus, hoje eu quero fazer tudo e sofrer tudo por vosso amor', quantos méritos adquiririam para a eternidade. Um soldado que.fizesse isso e fosse.fiel aos seus deveres de cristão tanto quanto lhe seja possível, teria tanto mérito quanto um religioso. Com efeito, o religioso não pode esperar recompensa de seus trabalhos e de seus sofrimentos senão pelo que tiver sofrido e trabalhado para comprazer a Nosso Senhor" (Carta a João Maria, de I de julho de 1876, p.109).
compreendo que para o coração de uma mãe é bem triste, eu diria mesmo cruel, perder seu quarto filho. É certo que a prova é bem rude. Mas quando olho as coisas com os olhos dafé, não posso me impedir de exclamar: feliz mãe que envia anjos ao Céu, que rezarão por ti e por toda a tua família. Eles serão nossos protetores junto de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem. [ .. .} Coragem: nossafamília é mais numerosa no Céu do que na Terra. Rezemos, trabalhemos e soframos tanto quanto agradar a Nosso Senhor. Talvez daqui a pouco partilharemos sua felicidade" (Carta de 26 de agosto de 1876, p.115).
Em carta ao Papa: "Há muito que sou um zuavo" Para terminar, um trecho da carta que a santa escreveu a Pio IX, onde se pode ver seu espírito combativo e cheio de fé: "Há muito que sou zuavo, 3 se bem que indigno, de Vossa Santidade. Minhas armas são a prece e o sacrifício, que eu guardarei até meu último suspiro. Lá somente a arma do sacrifício cairá, mas a da prece me seguirá ao Céu onde ela será bem mais poderosa que sobre esta terra de exílio. [. ..} Parece-me que, cada vez que rezo segundo vossas intenções, do Céu a Santíssima Virgem devefrequentemente lançar seus olhares sobre Vós, Santíssimo Padre, pois que Vós a proclamastes imaculada e, quatro anos depois, essa boa Mãe veio à Terra para dizer: 'Eu sou a Imaculada"' (17 de dezembro de 1876, p.126). • E-mail para o autor: cato licismo@terra.com.br Notas:
"Nossa família é mais numerosa no Céu" Sua irmã Maria, que já tinha perdido três filhos, perde a última filha que lhe restava. A carta que lhe escreve Santa Bernadette é cheia de espírito sobrenatural: "A doremos sempre e bendigamos a mão poderosa de Nosso Senhor, que não nos atinge senão para nos curar e nos fazer ver o nada das coisas desta miserável Terra, onde não estamos senão de passagem. Eu
1. Dom Prospero Guéranger, E/ Ano Litúrgico, Editori al Aldecoa, Burgos, 1956, tomo li , p. 779. 2. As cartas são traduzidas da obra Soeurs de la Charité de Nevers, Sainte Bernadelte d'apres ses lettres, P. Lethielleux, Paris, 1993 . 3. "Zuavo Pontificio". Nome do corpo de infantaria francesa, origina lmente recrutado na Argélia, composto por voluntários católicos que se di spuseram a proteger o Papa Bemaventurado Pio IX contra os revolucionários que invadiram os Estados Pontificios. Foram acrescidos de voluntários alemães, franceses, belgas, romanos, ca nade nses, espan hóis, irlandeses e ingleses.
DESTA UE
A marcha do deiforme para o disforme, e daí para o informe !!!J LEO ÜANIELE
Q
ue lugar deve ocupar a arte entre as atividades humanas? Segundo São Boaventura, há uma semelhança entre o Criador e a criatura. É essa semelhança que nos permite elevar-nos até Deus por meio das criaturas, e é nesse grande anseio de elevação que se deve encontrar o lugar da arte. 1 Como afirma Plínio Corrêa de Oliveira em um texto célebre, "Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes, sabores, e certos estados de alma". 2 Ensinou o Papa Pio XII: "O homem e todas as suas ações devem manifestar, em louvor e glória do Criador, a infinita perfeição de Deus, e imitá-la tanto quanto possível. Por isto o homem, destinado por sua natureza a alcançar esse fim supremo, deve, no seu agir, conformar-se ao divino arquétipo, e nesta direção orientar todas as faculdades da alma e do corpo, ordenando-as retamente entre si, e devidamente domando-as para o conseguimento do fim. "3 Note-se a consequência: negar, minar, conspurcar essa semelhança é cortar o fio através do qual nos elevamos até Deus. E o ódio militante a Deus só pode conduzir ao desejo de cortar esse fio. Mas, em determinado momento do século XIX, essa concepção da arte começou a ser minada de forma radical. Assim, já Chateaubriand (17681848) observava: "Este amor ao feio que nos tomou, este horror do ideal, esta paixão pelos mancos, aleijados, vesgos, trigueiros, desdentados, esta ternura pelas verrugas, rugas, escarros, pelas formas triviais, sujas, comuns,
O (nverno - Gluseppe Arclmboldo, séc. XVI. Kunsthistorisches Museum - Viena.
No Renascimento a visão da deformidade ora é Jocosamente irônica, ora é afetuosa. E é Justamente neste período que surgem algumas reflexões que questionam a condenação do feio.
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são uma depravação do espírito; ele não nos.foi dado p ela natureza da qual tanto se fala". 4 O fenômeno não estava senão começando, e de seu lado Baudelaire (1821-1867) atestava: "A ar/e moderna tem uma tendência essencialmente demoníaca". 5 Gilles Lipovetsky comenta: "De modo algum em contradição com a ordem da igualdade, o modernismo é a continuação por outros meios da revolução democrática ". 6 Trata-se de "um processo de dessublimação das obras, correspondente exato da dessacralização democrática da instância política ".7 É "a cultura da igualdade". 8 Picasso afirmou : "Uma tela era uma soma de adições. As minhas são uma soma de destruições". 9
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Fala-se na " volta do ruído como música". Soa quase como pleitear a volta do mau cheiro como perfume! Nossos cinco sentidos têm graus de tolerância diversos para esse tipo de aberrações : a visão e a audição parecem mais tolerantes que os demais sentidos. Essa tolerância foi o que permitiu um mínimo de trânsito à arte moderna, embora praticamente limitado ao binômio iniciados/basbaques, sendo que estes últimos, como se sabe, aplaudem qualquer coisa, se lhes for sugerida pela mídia ou pela moda ... Disse acima que fora do circuito iniciados/basbaques poucos foram os que apreciaram a arte moderna. Mesmo o muito pequeno trânsito que esta conseguiu junto ao público deveu-se ao fato de ser apresentada como um símbolo da modernidade: "ela se tornou o emblema dos que queriam provar que eram cultos e civilizados ". 10 Não fora por esse motivo, não obteria nem a pequena audiência que conseguiu alcançar. Essa foi a caminhada do deiforme para o disforme, consistente na apologia e na promoção de tudo o que colidia com a verdadeira noção de belo. Foi uma primeira fase. Depois veio a arte pós-moderna, e com esta busca-se não mais o sim-
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plesmente disforme, mas o informe, o amorfo, o amébico. Completou-se o ciclo: deiforme >
disforme> informe.
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A diferença de orientação entre o modernismo e o pós-modernismo no campo da arte pode ser apanhada considerandose qualquer quadro de Picasso. Há neles algo de chocante, agressivo - a seu modo dramático - , que pode ser comparado a uma estridência, uma dissonância. A arte pós-moderna é diferente: nada de dramático. Por exemplo, numa Bienal de São Paulo foi exposto, como obra de arte, um metro de pedreiro ... Comenta Walcyr Carrasco: "As mostras de vanguarda viraram um parque de diversões para intelectuais ". 11 Reduzir tudo aquilo que deveria ser a imagem de Deus a algo sem forma, sem cor e sem sabor, é colidir frontalmente com a finalidade da Criação. De certa maneira constitui, portanto, grande afronta à Divindade. Essa integração através do pastiche é algo de mais grave que a agressão direta, pois quem agride diretamente faz ao opositor a homenagem de um tal ou qual reconhecimento de alguma importância. O puro desprezo do belo, afetado pelo pós-modernismo, vai ainda além da agressão. É a grande ofensa , a suma vingança. Caminha-se assim rumo a um asqueroso pirão ex-deiforme, depois disforme, e, finalmente, informe. Nisso estamos. • E-mail para o autor: cato licismo@terra.com.br Notas:
1. Cf. Hexaemeron, col. 12, n. 14 e 15. 2. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e ConlraRevolução, cap. 1O- 2. 3. Encícli ca Musicae Sacrae Disciplina, de 2512-55 . 4. Essai sur la lilléralure anglaise, 11. 5. L 'Ar/ Romanlique, XIX , IV. 6. Lipovetsky, Gilles, L 'Ere du Vide, Gallimard, Paris, 1993, p. 125 . 7. Op. cit., p. 127. 8. Op. cit., p. 128. 9. Conversa/ians avec Christian Zervos, in Cahier.1· d 'Art, 1953. 1O. 1-lobsbawn, op. cit., p. 183. 11. Calolicismo, Nº 530, fevereiro/ !995.
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"Fazer dos inimigos da Igreja meus inimigos pessoais" e São Jerônimo disse o Papa Bento XV: "Um zelo tão ardente em salvaguardar a integridade da Fé o atirava em veementíssimas polêmicas contra os filhos rebeldes da Igreja, que ele considerava seus inimigos pessoais: 'Ser-me-á suficiente responder que jamais poupei os hereges e que empreguei todo o meu zelo em fazer dos inimigos da Igreja meus inimigos pessoais'; em uma carta a Rufino, ele escreveu: 'Há um ponto em que não poderei concordar contigo: poupar os hereges, não me mostrar católico'. Entretanto, contristado por sua defecção [de Rufino], ele lhe suplicava que voltasse à sua Mãe desolada, única fonte de salvação: e em favor dos 'que tinham saído da Igreja e abandonado a doutrina do Espírito Santo para seguirem seu próprio juízo', pedia ele a graça de que voltassem a Deus de toda sua alma. Já sabemos, Veneráveis Irmãos, que profundo respeito, que amor entusiástico ele votava à Igreja Romana e à Cátedra do Pescador. Sabemos com que vigor ele combatia os inimigos da Igreja. Aplaudindo seu jovem companheiro de armas, Agostinho, que sustentava os mesmos combates, e felicitando-se por haver como ele atraído sobre si o furor
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dos hereges, ele lhe escreveu: 'Honra à tua bravura! O mundo inteiro tem os olhos postos sobre ti. Os católicos veneram e reconhecem em ti o restaurador da antiga Fé, e sinal ainda mais glorioso, to, dos os hereges te amaldiçoam e me perseguem contigo com um ódio igual, matando-nos pelos seus desejos, na impossibilidade de nos imolar sob seus gládios '. Este testemunho se acha magnificamente confirmado por Postumianus em Sulpicio Severo: 'Uma luta de todos os instantes e um duelo ininterrupto com os maus concentravam sobre Jerônimo os ódios dos perversos. Nele, os hereges odeiam aquele que não cessa de os atacar; os clérigos, os quais ele recrimina a vida e os crimes. Mas todos os homens virtuosos sem exceção o amam e admiram. Este ódio dos hereges e dos maus levou Jerônimo a suportar penosos sofrimentos, sobretudo quando os pelagianos se atiraram sobre o Mosteiro de Belém e o saquearam; mas ele suportou com equanimidade todos os maus tratos e todas as injúrias, disposto que estava a morrer para a defesa da Fé Cristã'" (Encíclica Spiritus Paraclitus, de 15 de setembro de 1920). •
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A grande crise universal tem raízes morais e se assemelha a um moloch avassalador que destrói tudo à sua passagem. Ameaça o mundo inteiro. E ao Brasil também. Como se pôde chegar a essa situação praticamente sem saída? Existe uma solução definitiva, humanamente falando, para essa grande crise universal? São perguntas angustiadas que muitos ' se fazem. Uma crise é uma anomalia, uma doença que atinge um organismo antes sadio. Ora, nenhuma moléstia pode ser combatida sem o conhecimento de suas causas e de seus efeitos, de seus grandes traços e características essenciais. Este é, entre outros, o grande contributo de Revolução e ContraRevolução, de Plinio Corrêa de Oliveira, obra que estuda profundamente "a crise do homem ocidental e cristão" e seus efeitos sobre a sociedade e o Estado. Nessa perspectiva, para quem queira orientar-se em meio à grande crise que atinge o mundo moderno, é necessário o estudo dessa obra, que é a chave de interpretação dessa crise. É o que aconselhou o famoso canonista Pe. Anastasio Gutiérrez, ao sugeri-la como objeto de ensino nas grandes universidades ocidentais. Porém não se trata de uma obra meramente especulativa. Estudando a grande crise do mundo ocidental e cristão, Plínio Corrêa de Oliveira indica os meios pelos quais ela pode ser debelada. É portanto um manual indispensável para todos os contra-revolucionários que se empenham na restauração da ordem social cristã.
Petrus Editora Ltda. Rua Visconde de Taunay, 363 - Bairro Bom Retiro CEP 01132-000 - São Paulo-SP Fone/Fax (11) 3333-6716 E-mail: petrus@livrariapetrus.com.br Visite nosso site na internet: www.livrariapetrus.com.br
tanos, em 1687 foi nomeado, a seu pedido, missionário em Constantinopla. Acusado de assassinato, foi supliciado e milagrosamente salvo por um anjo, que lhe ordenou voltar à Itália.
perdão fez com que Sabrício fraquejasse e depois apostatasse, apesar das admoestações de Nicéforo, que então se declarou cristão e morreu em seu lugar.
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Santa Escolástica , Virgem + Úmbria (Itália), 543 . Irmã de São Bento, fundou uma Ordem que chegou a ter 14 mil conventos espalhados por todo o Ocidente.
Santo Avito
+ Vienne (França), por volta
1 Santa Veridiana, Penitente + Toscana (Itália), 1242. Viveu 34 anos na sua cidadezinha, no recinto de uma cela. Cumulada de favores celestiais, obteve de Nosso Senhor compartilhar as perseguições sofridas outrora por Santo Antão, da parte dos demônios. São Francisco de Assis foi visitá-la por volta de 1221. Primeiro Sábado do mês
2 Apresentação do Menino Jesus no Templo e Purificação de Nossa Senhora Festa também chamada das Candeias ou Candelária, encerrava o ciclo do Natal. Tanto Cristo Jesus, sendo Deus, quanto sua Mãe Santíssima, sempre virgem, não estavam sujeitos a estas tradições. Mas bastava ser um ato de religião para que a elas se conformassem.
de 525. Descendente da nobreza romana, sucedeu a Isíquio como Bispo de Vienne. Graças a Santo Avito, Sigismundo, Rei dos Borguinhões, abjurou a heresia ariana. Sua influência estendeu-se até Roma, onde ajudou o Papa Símaco a afastar o antipapa Lourenço.
6 Santa D01·otéia, Virgem e Mártir + Cesaréia (Turquia), 303. Presa durante a perseguição de Diocleciano (284-305), preferiu morrer a renegar a fé.
7 Santa ,Juliana de Bolonha + Itália, cerca de 430. O grande Santo Ambrósio compôs magnífico p anegírico das virtudes desta santa, que compara com a mulher prudente da Sagrada Escritura. Primeira Sexta-Feira do mês
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11 Nossa Senhora de Louedes Aparições a Santa Bernadette Soubirous em Lourdes (França), 1858. No local, os milagres se multiplicam sem cessar até hoje.
12 Santo Antonio Cauleas, Patriarca + Constantinopla, entre 895 e 901. Patriarca de Constantinopla, empreendeu os maiores esforços para restabelecer a paz na Igreja do Oriente, abalada pelo cisma de Fócio.
13 Santa Catarina de Ricci, Virgem. + Itália, 1590. Esta extraordinária santa entrou aos 12 anos no convento das Dominicanas em Prato (Itália), aos 13 foi nomeada Mestra de Noviças, depois superiora, e priora vitalícia aos 30.
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São Jet'ônimo Emiliani + Veneza, 1537. Fundador da Congregação de Somasca para atender órfãos, mulheres perdidas e crianças abandonadas. Famoso pelos milagres que operou em vida, morreu da peste que contraiu cuidando dos que foram atingidos por ela.
São José de Leonissa, Confessor + Nápoles, 1612. Recebeu no batismo o nome de Eufrásio. Tomou o hábito capuchinho antes dos 17 anos, passando a chamar-se José. Como queria aliviar e instruir os cristãos que se encontravam escravizados pelos maome-
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São Marão, Solitário + Síria, cerca de 423 . Monge que viveu perto da cidade de Cir, na Síria. Favorecido com o dom dos milagres, atraiu grande número de discípulos.
São NicéfOl'O, Mártir + Antioquia, 260. Era leigo e teve uma desavença com o sacerdote Sabrício, do qual várias vezes procurou obter inutilmente o perdão. Na hora do martírio, a recusa do
Santos Fauslino e JoviLa, Mártires + Bréscia (Itália), cerca de 120. Eram irmãos, o primeiro sacerdote e o segundo diá-
3 São Brás, Bispo e Mártir + Sebaste (Armênia), 316. Padroeiro contra as doenças da garganta. Há uma bênção especial de São Brás, que é dada pela Igreja neste dia.
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cono. Interrogados pessoalmente pelo imperador romano pagão Adriano, após serem submetidos a torturas, foram decapitados.
16 Santo Onésimo, Bispo e Mártir
+ Roma, cerca de 95. Escravo de um cristão de Colossos chamado Filemon, praticou um roubo e fugiu para não ser castigado. Em Roma, onde se escondeu , encontrou São Paulo, que o converteu.
17 Sete Santos Fundadores dos Servitas, confessores
+ Florença, séc. XIII. Estes comerciantes florentinos tudo deixaram para seguir a Cristo, fundando para isso a Ordem dos Servos de Maria. Foram tão unidos em vida, que são comemorados juntos depois de sua morte.
18 Santa Bernadette Soubirous
ciência e, sobretudo, de santidade. Foi devotíssimo da Santíssima Virgem, a quem chamava constantemente sua querida Mãe. Bispo de Orleans durante mais de 15 anos, foi caluniado e desterrado para Hasbain.
21 São Pedro Damião, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Ravena, 1072. Entrou na Ordem dos Camaldulenses. Nomeado cardeal-bispo de Óstia, teve de aceitar a contragosto essa nomeação, sob pena de excomunhão. Deixou mais de 158 cartas, 60 opúsculos, várias vidas de santos e admiráveis sermões.
22 Cátedra de São Pedro Todos os papas, bispos de Roma e sucessores de São Pedro, são como ele chefes da única e verdadeira Igreja, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo.
23
(Vide p. 38)
19 São Quodvultdeus, Bispo
+ Itália, aproximadamente 444. Seu nome significa O que Deus quer. Bispo de Cartago no século V, governava pacificamente o seu rebanho quando Genserico , rei dos vândalos , apoderou-se da cidade em 438. Este príncipe ariano atormentou-o por ódio à fé católica. Mas não conseguindo fazê-lo apostatar, colocou-o junto com outros fiéis em barcos avariados, com a esperança de que perecessem nas águas. Milagrosamente preservados, chegaram sãos e salvos a Campânia, na Itália do Sul.
20 Santo Euquério, Bispo
+ Hasbain, 738. Na juventude já era tido como prodígio de
São Policarpo, Bispo e Mártir
+ Cesaréia (Turquia), 104. Foi discípulo de São João Evangelista. No Tratado das Heresias, Santo Irineu afirma que "Policarpo não só foi ensinado pelos Apóstolos e conversou com muitos que tinham conhecido em vida Jesus Cristo, mas deveu aos mesmos Apóstolos a sua eleição para bispo de Esmirna, na Ásia ". Por increpar corajosamente sacerdotes pagãos, teve sua cabeça decepada.
25 Santo Avertano e Beato Romeu, Confessores
+ Lucca (Itália), 1386. Avertano, devendo escolher seu estado de vida, teve a inspiração de entrar na Ordem dos Carmelitas. Tendo manifestado grande desejo de fazer uma peregrinação a Roma, os superiores deram-lhe por companheiro Romeu , irmão leigo do convento. Contagiados pela peste negra, detiveram-se na cidade de Lucca, onde morreram no intervalo de uma semana.
26 São Nestor, Bispo e mártir
+ 250 . Quando se desencadeou a perseguição do imperador romano pagão Décio, ocupava Nestor a sé episcopal de Magidos, na Panfília. Preso, o oficial romano mostrou-se inicialmente benévolo para com ele, mas se tornou violento durante o interrogatório. Após novos interrogatórios, Nestor foi condenado a morrer numa cruz.
Será celebrada pelo Revmo. Pod re David Francisquini , nas seguintes intenções: • Suplicando a N ossa Se nh o ra d e Lo urd es (prin cipal festi vidad e mari ana em fevereiro) pela saúd e de todo s os leito res de Catolicism o . Tamb ém pela saúde espiritu al de to dos eles, a fim de qu e, di a nte d as inúm era s dificuldades desta vida , mantenham -se sempre fi éis à mo ral ensinada pela Sa nta Igreja .
27 São Leandro, Bispo
+ Sevilha (Espanha), aproximadamente 600. [rmão de Santo Isidoro, abraçou muito cedo o monacato e foi eleito bispo de Sevilha em 579. Desempenhou papel impo1tantíssimo na história religiosa da Península Ibérica, salvando-a do arianismo. O Papa São Gregório Mag no dirigiu-lhe algumas cartas, nas quais externa a grande afeição que lhe votava.
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28
São Montano e Companheiros, Mártires
São Torquato, Bispo e confessor
+ Cartago, 259. Estes sete discípulos de São Cipriano, quase todos sacerdotes, foram aprisionados um ano após seu mestre, torturados e decapitados por ódio à Fé sob o procurador romano Solon.
Intenções para a Santa Missa em fevereiro
+ Cadi z (Espanha), séc. ou II. Tido como o primeiro dos "Varões Apostólicos" - bispos enviados de Roma à Península Ibérica no I século - foi bispo de Cadiz, que se edificou com sua ciência e virtude.
Intenções para a Santa Missa em março • Pe los m érit os da Anuncia ção do Anjo e da Encarnaçã o do Verbo no se io puríss im o d a Virg em M a ri a festa ce lebrada no dia 25 de março - , que N osso Se nh o r Jes us C ri sto conceda a bun da ntes g ra ças para a boa form ação moral e religi osa da s crian ças. Tamb é m pe dind o a São José, proteto r da Sagrada Fam ília, qu e auxilie particularmente as fam ília s de nossos co lab o rad o res e leito res.
ACÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA
Não se pode enganar todo o mundo durante todo o tempo A s negociações claudicanLes do governo colombiano com as Farc uando começou o chamado "Processo de Paz" com as Farc, em setembro do ano passado, a opinião pública co lombiana não foi unânime em re lação ao desenvolvimento das negociações. A maioria concedeu credibilidade às boas intenções das Farc e um setor minoritário manteve uma atitude de desconfiança e perplexidade, pois não acreditava na honestidade dos grupos terroristas. No momento oportuno, a Sociedad Colombiana Tratlición y Acción se dirigiu ao País, em documento publicado no jornal "E I Tiempo" (21 de No dia 13 de dezembro último, a Sooutubro de 2012), afirmando que essas negociações estavam condenadas ciedad Colombiana Tradición y Acción ao fracasso. Sempre dissemos que através das claudicações do Estado ante publicou no jornal "EI Tiempo" (de Bogotá) as exigências dos terroristas jamais se alcançará a verdadeira paz para a um impactante comunicado sobre as "negonossa Pátria. ciações de paz" que o governo colombiano Pouco mais de um ano depois de iniciada essa farsa, a opin ião co lomrealiza em Cuba com a guerrilla marxista biana é clara e contudente, mod ificando radica lmente sua percepção sobre das Farc (Forças Armadas Revolucionárias o avanço das negociações. A imensa maioria está abrindo os olhos diante do da Colômbia). engano e do cinismo das Farc, que estão submetendo o País a uma extorOcupando uma página inteira, o docusão inaceitável, e tão-só uma minoria, da qua l fazem parte os ául icos mento analisa aspectos fundamentais das do governo, ainda ace ita que o futuro do País possa ser desen hado de negociações e questiona, de um lado a imcomum acordo com os que o destruíram durante 50 anos. posição de uma Reforma Agrária socialista O povo colombiano não pode aceitar que um punhado de terrorise confiscatória nas denominadas "Zonas tas, que ele rechaça e despreza pela enorm idade de seus crimes, queira de Reserva Campesina", a serem criadas desenhar a seu bel-prazer o País no qual estamos vivendo 45 mi lhões por exigência do grupo guerrilheiro em 150 de compatriotas. Ao longo de três décadas de diálogos fraregiões do país, e, de outro lado, o papel das cassados, os guerri lheiros demonstraram à saciedade que guerrillas no narcotráfico e nos sequestros. são especialistas em mentir, enganar e manter farsas interAssinar um "acordo de paz" nessas nacionais com o objetivo de se fortalecer e continuar uma condições é um grande equívoco do Estaguerra insensata que não tem cabi mento nos tempos atuais. do , que a sociedade não pode aceitar, pois Por que mudou a percepção do povo colom.biano sobre o dessa forma jamais se obterá uma autêntica processo de paz? Pe la simples razão de que ninguém pode enganar todo paz para a Colômbia. o mundo du ra nte todo o tempo. Uma verdade tão simp les explica a ind ignação crescente em todos os setores de opinião, porque a realidade ev idente que todos veem, mas que o governo não quer ver, é que as Farc estão caçoando uma vez ma is do País e do mundo. Prova disso são os recentes ataques ao Exército, à Polícia e à popu lação civi l nas rodovias do Departamento [Estado] de Antioquia-, e em Inzá, no Cauca, arrasada demencialmente com bombas. Inexplicavelmente, vemos um Estado vitorioso na luta contra a guerri lha que atua como se tivesse sido derrotado, e uma guerrilha derrotada que atua como se fosse vitoriosa. E cumpre lembrar que a verdadeira paz jamais se obterá med iante a claudicação do Estado diante das exigências arrogantes dos terroristas. A guerrilha marxista das Farc é a única e verdadeira inimiga da paz, acusação que injustamente se faz àqueles que manifestam sua perplexidade em relação ao chamado "processo
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CATOLI CI SMO
de paz". Mas vejamos de modo muito resumido as dimensões dos temas fundamentais que estão sendo negociados:
Membros do exército colombiano patrulhando as selvas do País
1 - Reforma Agrária e Zonas de Reserva Camponesa: A guerrilha marxista sempre desejou a expropriação das terras mais adequadas à agricultura e à pecuária. Além de impor uma Reforma Agrária socialista e confiscatória, que é a maior fonte de pobreza do campo, serão criadas 150 Zonas de Reserva Camponesa, que não se sabe bem o que são, mas que se parecem com 150 pequenos "caguãs" [NdR: referência ao imenso território cedido pelo governo do ex-presidente Pastrana aos guerrilheiros em San Vicente dei Caguán, no qual o Exército estava proibído de entrar] disseminados por toda a Colômbia. 2-
Os vínculos das Farc com o narcotráfico: É muito pouco o que a guerrilha disse sobre seus vínculos estreitos com o narcotráfico. As Pare se converteram em um dos mais poderosos cartéis de droga existentes no mundo, ao absorver todos os antigos cartéis que desapareceram. As somas gigantescas de dinheiro produzido por essa atividade criminosa constituem a principal fonte de financiamento dos grupos subversivos, sem que ninguém se atreva a denunciar onde esse dinheiro é escondido, quem o maneja e quais são seus principais beneficiados. Falou-se disso nas conversações de paz? As Pare continuarão com o negócio do narcotráfico? A Colômbia e o mundo exigem uma explicação sobre esses vínculos, que são evidentes.
3 -A guerrilha não entrega as armas: Já foi anunciado pelas Farc, com toda a arrogância que as caracteriza, que a foto da entrega das armas jamais se concretizará. A guerrilha afirmou que nunca as entregará como garantia dos acordos pactados.
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4 - Não entregam os sequestrados, pois dizem não tê-los: Primeiro disseram que não tinham sequestrados, afirmação que o governo aceitou como verdadeira no começo das negociações. Entretanto, ambas as partes, governo e terroristas, fazem malabarismos para ocultar que as Pare continuamente sequestram algum cidadão, submetendo-o à infâmia de pagar pelo seu resgate. 5 - Acesso dos terroristas a cargos eletivos: Os representantes dos grupos terroristas chegarão ao Congresso da República, às Assembleias Legislativas e às Câmaras Municipais em número ainda não determinado, por concessão do Estado e não pelos votos que consigam em eleições livres. Esta é a democracia que nos querem impor à força?
* * * Haveria muitos outros aspectos absurdos e inaceitáveis nessas negociações, que mais parecem claudicações e que não podem ser aceitos pela opinião pública colombiana. Só para enumerar alguns deles, sem entrar em análise mais detalhada, figura o tema da redução do tamanho do Exército e da Polícia Nacional , além da exigência da guerrilha de abolir os tratados comerciais firmados recentemente com várias nações; e, evidentemente, o indulto e o perdão para todos os crimes cometidos por ela ao longo de 50 anos de terrorismo. Diante de todos esses aspectos das negociações, é muito importante considerar que todas elas estão sendo feitas de forma secreta, ocultando-as da opinião pública e na contramão do que desejamos os 45 milhões de colombianos. Não queremos que um governo que foi eleito para continuar as boas obras do governo anterior queira nos entregar agora nas garras dos inimigos da Pátria e da civilização cristã, conduzindonos enganados para o inferno da guerra, enquanto de modo mentiroso nos fala de paz. Um último aspecto que passou despercebido, mas que não deixa de ter grande importância, são os vínculos da guerrilha colombiana com o ditador Ortega, da Nicarágua. Este sinistro
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personagem sempre apoiou os grupos guerrilheiros colombianos e agora pretende valer-se de artimanhas internacionais para apoderar-se de nossos territórios marítimos. A exemplo das Farc, ele utiliza o princípio marxista de avançar e exigir beneficios quando a outra parte é débil. Como vimos fazendo no decurso de mais de uma década, Tradición y Acción não pode deixar de pedir a assistência da Providência, e em especial da Padroeira da Colômbia, a Virgem Nossa Senhora de Chiquinquirá, para us nlfoclac/onu tlaadlcantes dei Goblemo con las Farc: que nos proteja das consequências funestas desses acordos. No se puede enganar a todo el mundo A Colômbia deseja um rumo diferente daquele que nossos governantes durante todo el tiempo nos estão impondo. Quando os índices de popularidade do governo atingiram índices irrisórios e a aceitação da opinião pública aos grupos terrorista é nula, o que existe na realidade é um imenso clamor, surgido do mais profundo da opinião do País, exigindo uma mudança de rumo que nos salve do desastre a que estamos sendo conduzidos. Em circunstâncias similares, diante da infrene agressão nazista contra toda a Europa, a qual desfechou na Segunda Guerra Mundial , Churchill descreveu a situação com uma frase lapidar - referindo-se aos políticos entreguistas diante de Hitler - que se aplica por inteiro ao nosso conflito: "Tínheis a escolher entre a vergonha e a guerra; escolhestes a vergonha e agora tereis a guerra". Queira Deus que nossos governantes escutem oportunamente este clamor. E que as mais altas autoridades políticas e religiosas do mundo ocidental, que deram seu apoio incondicional a este "processo de paz", sejam esclarecidas e possam vê-lo com os olhos da verdade.
Sociedad Colombiana Tradición y Acción www.colombia-autentica.org
Fac-simile da publicação e imagem de Nossa Senhora de Chiquinquirá, Padroeira da Colômbia
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CATOLICISMO
Caravana percorre cidades polonesas em prol da família tradicional
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VALDI S GRINSTE INS
a Polônia, a Cruzada da Juventude organ izo u em fins de 20 13 a primeira caravana constituída somente por poloneses . Insp irada no exemplo do movimento fundado no Brasil por Plínio Corrêade O liveira, a caravana percorreu as cidades de Lodz, Piotrków Trybunalski e Wroclaw com o objetivo de mobilizar a op ini ão pública para defender com empenho o sacramento do matrimônio católi co e a fa míli a tradiciona l. Sete jovens caravanistas distribuíram fo lhetos contra a agenda do lobby pró-homossexuais. Tais publicações base iam-se na doutrina cató lica, que condena todo tipo de união conj uga l que não seja entre homem e mulher. Um dos fo lhetos fundamenta-se em dados científi cos do Dr. Paul Cameron , do Instituto de Pesquisa da Familia Americana , que apo nta os prejuízos que o estil o de vida homossexual causa à sociedade. Em algu mas ocasiões os jovens poloneses organ izaram em praça pública a rec itação de um Rosário corno reparação às ofensas praticadas contra Deus. O público aco lhe u com simpatia a atuação dos carava ni stas; ape nas na cidade de Wroclaw encontraram reações por parte de defensores da age nda homossexua l. Para este novo ano, a Cruzadas da Juventude já an unciou novas atividades da carava na de jovens poloneses. •
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E- mail para o autor: cato lic ismo@terra .com.br
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Milagre que provocou o ódio dos fariseus ■ PuN10 CoRRÊA DE OuvE tRA
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o dia em que Nosso Senhor ressuscitou Lázaro, o Sumo Sacerdote Caifás, ao tomar conhecimento desse milagre, exclamou: "Convém que morra um só homem pelo povo" (Jo I l , 50). Com efeito, os fariseus organizaram um plano, cujo grande colaborador foi evidentemente Judas, e, em função de tal plano, provocaram a morte de Nosso Divino Redentor. No afresco* pintado por Giotto, Nosso Senhor dá a bênção, e Lázaro, que aparece com seu corpo todo enfaixado, sai de dentro da sepultura. Marta, irmã de Lázaro, está empenhadíssima em que se preste atenção nesse fato, porque um grande milagre foi operado.
Um prodígio tão grande, que duas almas santas, que aparecem no primeiro pl ano da pintura, estão qu ase prosternadas diante de Nosso Senhor e pasmas com o assombroso acontecimento. Por outro lado, notamos Lázaro todo enfaixado, como os judeus costumavam envolver seus mortos. Em frente, nota-se a presença de um personagem muito agitado, talvez pertencente ao grupo dos fariseus que tramou a morte de Nosso Divino Mestre. • * O a fresco encontra-se na Capela degli Scrovegni em Pádua (Itália). Foi pintado entre 1302 e 1306 pelo célebre artista ita li ano da época medieval Giotto di Bondone ( 1267- 1337).
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 30 de novembro de 1988. Sem revisão do autor.
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São José,
Padroeiro da boa morte
ão Jo sé [fes tivid ade ce le brada pela Igreja no dia 19 de março] é o padroeiro da boa morte, porque tudo leva a crer que, em seu fa lecimento, fo i assistid o por Nossa Senhora e pelo Divino Redentor, que o ajudaram a elevar sua alma àquela perfe ição pinacular para a qual ele fora cri ado. Não era a perfe ição de Nossa Senhora, mas era de uma perfeição extraordinári a. Quando o olhar de São José, embaçado, já se ia apagando para a vida, ao contemplar Aquela que era sua esposa e Aquele que juridicamente era seu filho, extasiou-se com a ascensão contínua em santidade de Nossa Senhora e de seu Oi-
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CATOLIC ISMO
vino Filho. Ao vê-los se elevarem ass im, também ele, por sua vez, subia sem cessar na sua própri a santidade. Esta tríplice ascensão contínua na humi lde casa de Nazaré constituiu o encanto do Criador e dos homens- tTês perfe ições que chegaram todas ao pináculo a que cada uma devia chegar. Eram três auges que se amavam intensamente e se intercompreendiam intensamente; perfeições altíssimas, admiráveis, mas desiguais, realizando uma harmonia de desigualdades como jamais houve na face da Terra. Entretanto, a hi erarqui a posta por Deus entre tais sublimes des igualdades era de um a ord em admirave lm ente
in versa : aquele que era o chefe da Casa no pl ano humano era o menor na ordem sobrenatural; enquanto o Menino, que deveri a prestar obedi ência aos pais, era Deus. Uma inversão que nos faz amar ainda mais as riquezas e as complex idades de qualquer ordem verdadeiramente hi erárqui ca; e que impele a alm a fi el, desejosa de meditar sobre tão elevado tema, a entoa r um hino de louvor, de admiração e de fid elidade a todas as hi erarqui as e a todas as des igualdades estabelec idas por Deus. • Excertos da conferência proferi da pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 2 de novembro de 1992. Sem revisão do autor.
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CARTA DO DIRETOR
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POR OllE NOSSA SENIIOIM CIIORA? <ti <(
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REALIDADE CONCISAMENTE
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A questão das canonizações A cateclra1 submersa
Ro1ezinhos e luta de classes Mais médicos -programa desperta suspeitas
Mensagem de Dom Bertrand ao Papa Francisco DE SANTOS
São 1brfbio de Mongrovejo
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Centenário da I Guel'f'a Mundial
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NACIONAL
MS1: vandalismo e irrelevância
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SAN'l'os E FESTAS no M11s
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AÇÃO CON'l'RA-Rli:VOl,UCIONÁRlA
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AMBmNTES, Cos·1·uMi-:s, C1v11,1MÇÕES
Castelo ele Fontaineb1eau: uma sala que r eflete severiclacle e esplendor
Nossa Capa: Na Praça de São Pedro, no Vaticano, a cúpula da Basílica e o famoso obelisco. Foto: Paulo Rob..:no Campos
MARÇO2014 -
Caro le itor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração: Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (0xx11) 3333-6716 Correspondência: Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda. E-mail: catolicismo@terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com .br ISSN 0102-8502
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CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
Um documento de magna importância e atualidade consti tui a matéria de capa da presente edi ção. Seu autor, j á bem conhecido dos leitores de Catolicismo po r sua destacada atuação em defesa da civili zação cri stã e dos princ ípi os cató li cos em nosso País, é Dom Bertrand de Orl ea ns e Bragança, Prínc ipe Imperi al do Bras il, bis neto da Princesa Isabel. Há dez anos ele deu início e di rige a beneméri ta Ca mpanha "Paz no Campo", que vi sa estabe lecer a harmo ni a social no ca mpo bras ile iro . No documento intitulado "Quo vadis, Domine? - Reverente e.filial Mensagem a Sua Santidade o Papa Francisco", Dom Bertrand apresenta suas perplex idades, que são as de inúmeros brasileiros, pelo fato de movimentos que combatem sistemati ca mente a propriedade privada serem convidados a parti cipar de reuni ões em importante organi smo da Santa Sé. O Prínc ipe dec lara sua consternação ao tomar conhec imento do co nvite enviado pe la Academia Pontijlcia de Ciências, do Vatica no, ao Sr. João Ped ro Stédil e, coordenador nac ional do MST e representante da Via Campesina, para parti c ipar como o bservador de um seminári o organi zado em Roma pe la mencionada Academi a. Dois dias após o citado seminário, o Sr. Stédile propôs que a classe trabalhadora se reúna em níve l internac iona l, mas por fo ra das ONGs e dos Fórun s Sociais, pois estes teriam fracassado na tarefa de "organizar o povo ". Dessa fo rma, "a curva da luta de classes será mundial [. ..]E a terra tremerá ". O doc umento relata também a intervenção, no mesmo seminári o, do líder do Movimento de Trabalhadores Excluídos (MTE) da Argentin a, Juan Grabois. E m sua arenga, esse militante da esquerda peroni sta não ocultou suas convi cções claramente marx istas. E le considera a propriedade um roubo e so nha com um socia lismo fortemente planificado. O autor apresenta ainda textos de clareza meridi ana, espec ialmente dos Papas Leão Xlll e São Pio X, expondo a doutrina da Igrej a sobre o direito de propri edade. E co nclui c itando o arti go 2 12, § 3 do Códi go de D ire ito Ca nôni co, qu e consagra o pleno direito de todo católi co à respe itosa ex pos ição de sua op inião às autoridades ec les iásticas e aos demais fié is, tanto na matéri a versada pelo documento quanto em outras matéri as. Invocando a proteção de Nossa Senhora Aparec ida, Rainha do Bras il, e Nossa Senhora de Guada lupe, Padroeira da A mérica Latina, para o Sumo Pontífi ce e para todos os católi cos latino-ameri canos, o autor oscul a o anel do Pescador e pede humildemente a Bênção Apostóli ca. Desejo a todos os caros leitores uma proficua le itu ra dessa importante matéri a. Em Jesus e Mari a,
9:~7 D IRETOR
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Novelas! Até quando? / sabido que, por onde quer chegue sua influência, as novelas de televisão têm sido utili zadas como meio de dissolução dos costumes. Recentemente houve numa novela da "G lobo" um beijo entre homens, fato muito enaltecido por certa mídia conhecida até há pouco tempo como "imprensa marrom". Ao que parece, também a " branca" vai se "amarronzando". A esse respeito, lemos no Painel do Leitor da "Fo lha de S. Paulo" (2-2-14) a seguinte carta: "Após a exibição do primeiro beijo entre homens nas telenovelas brasileiras, a TV Globo emiliu uma nota justificando a sequência como 'uma necessidade dramatú,gica 'que 'reflete o momento da sociedade'. Foi uma/alta de respeito com as crianças e adolescentes que, com os pais, estavam em.frente à TV nessafatídica sexta-feira. Foi o primeiro passo para a exibição de sexo explícito em uma próxima novela, alegando ser uma 'necessidade dramatú1g ica ' que reflete 'um momento da sociedade'". - Jatiacy Francisco da Silva, consultor de negóc ios, Guarulhos, SP". Pouco depois, "a novela 'Em Família ' tentou mostrar serviço com um menu pós-beijo gay, que incluía um nu dorsal de Oscar Magrini, a sugestão de nudez de Bruna Marquezine e, entre um batizado católico e um casamento budista, um milagre". Porém, o primeiro capítulo teve a audiência mais baixa
E
de uma estreia de novela das 21 h da Globo, informa o mesmo diário (5-2-14). Ou seja, apesar de perder público, a emissora insiste em demolir a moral. O efeito deletério dessas novelas é analisado pelo jornalista Nelson de Sá em artigo intitulado "Emissora retoma tradição de forçar limites morais com telenovelas ". Informa ele: "Um centro europeu de pesquisa levantou há cinco anos que 'as mulheres que vivem em áreas cobertas p elo sinal da Globo apresentaram taxa de natalidade muito menor '. O motivo: por mais de três décadas, em 115 novelas, 72% das personagens f emininas não tinham filhos. O Banco lnteramericano de Desenvolvimento apontou depois que 'a parcela de mulheres que se divorciaram aumenta significativamente depois que o sinal da Globo se torna disponível '. A própria Globo acha que Escalada, de 1975, abriu um debate que levou à aprovação do divórcio no pais, em 1977" ("Folha de S. Paulo", 1°-2-14). Como não ver nesse noticiário um empenho das novelas, ou pe lo menos parte ponderável delas, em espezinhar a moral ? Com que fim? O que está por detrás disso tudo? Nossa Senhora chora! Até quando? Lembremo-nos que a Ela se aplicam as palavras da Sagrada Escritura: "Bela como a lua, brilhante como o Sol, terrível como um exército em ordem ,le batalha" (Cant. 6, 1O). •
MARÇ02014-
CORRESPONDÊNCIA com suas cacofonias e os prefeitos querem só aparecer. (O.J. -
Pop Culture Gostei muitíssimo (e será muito útil para mim e meus filhos) do estudo de Mathias von Gersdorffsobre a música pop. Gostaria de sugerir que ele fizesse palestras em colégios para "vacinar" os jovens contra os perigos das bandas modernas que estão sendo impostas pela mídia para nossa juventude que vai, desse jeito, se tran sviando. Vejo agora o quanto a cultura popular autêntica é verdadeiramente salutar e tranquila e não imposta à juventude, como o é a cultura de massa, que padroniza tudo, confundindo e deixando tudo sem graça. Deste tipo de cultura não podem nascer costumes edificantes, enquanto que da cultura tradicional nascem bons costumes que enriquecem os jovens, as famílias e o país inteiro. (J.A.A. -
RJ)
Música clássica 181 Sem dúvida, a chamada "pop culture" tem produzido em nosso século distúrbios sem precedentes em nossa sociedade. A " intemperança frenética" seria um desses distúrbios que mais se nota nos fãs mais fanatizados por tal "cultura". Precisamos incentivar muito mais o gosto pela a música clássica, como um contraponto ao " pop", como também contraponto à "importação" de conjuntos de rock, sobretudo de língua inglesa. Mas as prefeituras, que poderiam patrocinar concertos de música erudita pelas cidades, infeli z mente estão mais preocupadas com atividades que rendem votos ... Aí vem o carnaval
-CATOLICISMO
êxito em todos seus empreendimentos, "ad majorem Dei gloriam".
BA)
(H.S.I. -
RS)
/JJdústt'ia elet1·ô11ica
O hediondo à mesa
181 Achei muito interessante a tese defendida na matéria principal da revista deste mês [fevereiro/2014] e a influência da revolução industrial na música. A influência do rádio, da televisão e do cinema é óbvia, mas não tinha atinado para o papel da revolução industrial. Com o progresso da indústria eletrônica, a temperança é propriamente o remédio certo para se evitar os desvirtuamentos dos homens e mulheres de nossos tempos enlouquecidos.
181 Jamais poderia imaginar que em minha vida veria notícia tão horrível como esta de restaurantes servindo os fregueses em vasos sanitários e coisas semelhantes próprias a banheiros e não a lugares adequados para refeições. Será possível uma degradação maior da humanidade? Será o fim do mundo ou pelo menos da humanidade civilizada.
(M.F.E. -
SP)
Imaginações estra11llas 181 Agradeço ao Monsenhor José Luiz Yillac a resposta sobre visões ou imaginações estranhas que algumas pessoas têm. A resposta parece que foi escrita para me atender e me ajudará também para conversar com uma amiga que tem os mesmos problemas que eu . Até parece que tive outra visão ... Já aconselhei que ela leia a resposta ["A Palavra do Sacerdote", edição de fevereiro/2014]. (T.A.-MG)
"Para a maior gló1'ia de Deus" 181 Tenho recebido, frequentemente, a maravilhosa revista Catolicismo, pela qual muito lhe agradeço. É realmente um enriquecimento espiritual aos fiéis, por vezes, tão confusos frente às ambiguidades e esnobismos literários apresentados nos meios de comunicação. Dentre várias questões controvertidas de nosso tempo, detive-me à leitura das páginas 12, 13, 14 e 15, de autoria de Luiz Sérgio Solimeo, sobremaneira esclarecedora acerca da ação pontificia de nosso Papa Francisco, como vigário de Cristo. Em tempos passados, muito sofri por causa da "Teologia da Libertação" de fundo marxista. Vejo agora com tristeza a tentativa do ressurgimento desta praga. Para não mais delongas, reitero-lhe minhas congratulações e votos de copiosas bênçãos de Deus Altíssimo no decurso de 2014, com muito
(H.V.D. -
AIDS -
SC)
questão moral
181 Uma das virtudes mais carente nos católicos dos dias atuais é a coragem de dizer as verdades como devem ser ditas . Diante dos problemas morais mais graves com que nos deparamos, por respeito humano ou para ficarem de bem com o "politicamente correto", as soluções mais óbvias são deixadas de lado pelas pessoas de grandes responsabilidades, como são, por exemplo, as autoridades civis e eclesiásticas. A revista Catolicismo tem sido uma honrosa e brilhante exceção a esta situação. A leitura de seus artigos traz um alívio àqueles católicos que se preocupam com a situação moral de nossa sociedade. Não querendo excluir outros artigos, ressalto a clarividência de Nelson Ribeiro Fragelli em seu artigo sobre a AIDS. Diante da epidemia desse vírus, um perigo tão grande e iminente como ressalta o articulista, a solução das autoridades tem sido a omissão quanto à apresentação das verdadeiras soluções, ou mesmo o incentivo à lassidão moral. Os sociólogos e pedagogos modernos de esquerda, que tanto prestígio gozam junto às nossas autoridades, literalmente estão levando nossa sociedade para um abismo. (F.C.C. -
RJ)
Jnfalibili<lade da Jgrn/a 181 Precisamos demais de matérias desse tipo [A 1,?falibilidade da Igreja, edição de dezembro/2013] . Muitos de nós nada sabemos sobre temas tão importantes como esse, referentes à Santa
Igreja, ou sabemos pouco e de forma equivocada. Aliás, também é muito melhor tomarmos conhecimento de fatos terríveis da História da Igreja (como a atuação imperfeita e até mesmo nociva de alguns Papas, mencionados na matéria, a título de exemplos históricos), por intermédio de uma publicação contrarevolucionária como esta, do que através dos inimigos da Madre [greja, que costumam revelar preferencialmente as passagens lamentáveis dos mais variados momentos da história do catolicismo, procurando causar a impressão de que tais fatos seriam propositadamente omitidos, como se a Igreja só divulgasse suas vitórias. Ao trazer à tona também os erros do passado, a revista nos ajuda a não sermos pegos de surpresa pelos detratores da Igreja Católica. (G.C. -RJ)
A oratória verdadeiramente católica "O pregador não deve ambicionar os aplausos de seus ouvintes, mas procurar exclusivamente a salvação das almas, a aprovação de Deus e da Igreja. Dizia São Jerônimo que o ensino na Igreja não deve suscitar as aclamações do povo, mas seus gemidos, e as lágrimas dos ouvintes são os louvores do pregador " (Resolução da Sagrada Congregação Consistorial de 28 de junho de 1917).
Lourdes 121 Cada vez mais fico admirada com Nossa Senhora de Lourdes e os milagres dispensados por Ela na bendita gruta onde apareceu àjovenzinha santa Bernadette. Peço-lhes mais artigos a respeito dela e a ligação com a Imaculada. Dela virá a solução para o mundo desvirtuado pelos inimigos da Igreja. (K.S.B. -
SP)
"Pefa vossa paciência salvareis as vossas almas" (Sêío Luc~s, ~1.,1:,:))
Politicame11te ÍllCOl'l'CtO 121 Parabéns Prof. Molion! Sempre com esclarecimentos lúcidos sobre os confusos ambientalistas, sempre nos transmitindo esclarecimentos "politicamente incorretos", mas que os políticos corretos sabem apreciar. (J.J.O. -
FRASES SELECIONADAS
BA)
"Nada se compara à paciência nas aj[ições. A paciência é a rainha e coroa cfas demais virtudes" (Sêíojoêío C-rLsóstoV\,\,o)
"Onde está Deus, está tam6ém a paciência" (TertuLL~ V\,O)
Família 121 O que está fazendo falta hoje na família é não vivermos mais como antigamente, e estamos pagando caro por isso. Lembro também de minha mãe, quanto era carinhosa, afável, amorosa, preocupada e principalmente CRISTÃ. Essa é a grande diferença do verdadeiro CRISTÃO CATÓLICO em relação aos demais . Mansidão, paz, ternura, etc., atributos que só vamos encontrar em JESUS. (H.F.P. -
"Pefu paciência participamos dos softimentos de Cristo" (stío B>eV\,to)
"Homem sem paciência é canáeeiro sem azeite" (ALfre~ ~e Ml/4.s.set )
RJ)
MARÇ02014-
A REALIDADE CONCISAMENTE Denunciado esquema da UE para financiar ONGs ambientalistas
Vila de Wulingyuan, na província de Hunan
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União E uro peia (UE) financia grupos ambi entali stas que faze m campanha contra e la própria. Parece um absurdo, mas não é. E m matéri a de ecologia, a UE tem obj etivos ex tremi stas que não ousa declarar. Mas e la prec isa a lega r uma " pressão da soc iedade" para justifica r suas medidas radi ca is. Os e uropeus, po rém, rej e itam esses radi ca li smos. A UE financ ia campanhas de grupos ambienta li stas radi cais, fing indo ac reditar qu e os mesmos representam a sociedade, e aprova le is e recomendações revolucionári as desej adas por eles como "ex igidas pela soc iedade". O grupo TaxPayers 'A lliance identifi cou pe lo menos 90 milhões de libras esterlinas desv iadas pela UE em favo r de grupos ambi entali stas nos últimos 15 anos seguindo esse esquema. •
Vítimas da terrível poluição existente na China a província de H unan, a lavo ura é irri gada com águas po luídas por li xo industria l, cuj o índice de tox ic idade é dos mais altos da C hin a. Os ca mponeses são muito afetados pelo câncer, sobretudo as cri anças. Segundo o li vro Soi/ Pollution and Physical Health , do Mini stéri o de Proteção Ambiental, um sexto da terra arável está poluído e mais de 13 milhões de to neladas de grãos fi ca m conta minados por ano com meta is pesados; 22 milhões de ac res fora m estragados com pestic idas. Da alde ia de Chenji awan só restam vinte pessoas, na maiori a idosos, observou a Sra . Ge (pseudôni mo), que aponto u como causa dessa situação o câ ncer. Os agri cultores julgam que as fá bricas poluidoras não serão consertadas ou re mov idas porque o Partido Comuni sta não se interessa pela sorte dos cidadãos. O soc ia li smo não sente compa ixão por esses pobres infe li zes condenados à morte lenta e sem esperança de auxílio. •
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Uma em cada cinco adolescentes francesas iá tentou o suicídio
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uase uma de cada cinco meninas ado lescentes da Fra nça (20,9%) e 8,8% dos meninos de 15 anos j á tentaram o sui cídi o, confo rme pesqui sa publicada pela rev ista médi ca "Le Concours M édica!" . E m 1993, só 9% das meninas e 4% dos meninos reconheciam tal tentativa. Em 1999, os sini stros núm eros saltaram para 14,6 e 8,8%, respectivamente. E agora chegara m a 20,9% e 8,8%. Para Xav ier Pommereau, coordenador do "Le Concours Médi ca!", esses núm eros confirmam a diminui ção da idade média dos que tentaram o suicídio. E m seus 20 anos de experiênc ia, a idade passo u dos 17 aos atua is 15 anos. Formadas em lares muitas vezes sem religião e de pais divorciados ou em situações anormais, bombardeadas com ideologias malsãs como a do "gênero", iniciadas precocemente no amor livre e na práti ca do aborto, compreende-se que muitos jovens frustrados sej am te ntados a se sui cidarem. •
-CATOLICISMO
Nomes de revolucionários franceses banidos na Rússia
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Revolução bo lchevista fo i a continuadora da Revolução Francesa. Por isso Lenine e seus crué is sequazes g lorificara m seus predecessores no crime e na subversão re nomeando cidades, ruas e logradouros públicos da URSS . Mas as Revoluções F rancesa e Comuni sta passam por um ocaso. Sintoma di sso acontece em São Petersburgo (outro ra rebati zada como Leningrado), onde a Comi ssão Toponími ca está acabando com o cul to às personalidades do Terro r fra ncês. O ca is Robespi erre, em pleno centro da c idade, recuperou seu nome antigo: Ca is da Ressurreição, dev ido à igreja que ali se encontra. Ruas e cidades cognominadas Danto n, Marat e Robespierre também recuperaram seus nomes hi stóricos: Novgorod deixo u de chamar-se Gorki (escritor sovi ético); Sverdlovsk, ass im cha mada para ho menagear Sverdlov, agitador que mandou chacinar a fa mília imperial, voltou a ser Ekaterinbourg. •
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Libération", símbolo de maio de 68, entra em agonia {\jornal "L ibérati on", símbolo da
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revolução anarco-igualitária da Sorbonne, terá que fechar por fa lta de le itores e receita. "L ibération" nasce u como um panfl eto incendiári o nas barricadas de maio de 68, mas hoj e qu ase não é ma is lid o. E le subs istiu nos últim os a nos graças a contribui ções de "odiados capitali stas" e subsídios governamentais a fund o perdido. Os idea is anarco-esquerdi stas da Revo lução da Sorbonne j á quase nã.o impress ionam a o pini ão públi ca fra ncesa, enqua nto as pro pos tas co nse rvadora s não cessam de progredir e conqui star as novas gerações da F rança. •
Nigéria: Episcopado aplaude lei contra o "casamento" homossexual presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan , aprovou lei que proíbe o "casamento" entre pessoas do mesmo sexo . Esse "casamento" será punido com 14 anos de prisão para cada um dos envolvidos. A lei também pune as relações homossexuais e a adoção de crianças por "casais" de homossexuais. Para a Conferência dos Bispos Católicos da Nigéria (CBCN), a lei foi um passo certo na direção certa. D. Inácio Kaigama , Arcebispo de Jos e Presidente da CBNC, escreveu ao Presidente da República em nome do Episcopado: "Nós vos aplaudimos por vossa valente e sábia decisão, e rezamos para que Deus continue a vos abençoar e proteger, inclusive o vosso governo, contra a conspiração do mundo desenvolvido, que tenta fazer de nosso país um terreno para o 'dumping' de práticas imorais, e que tenta continuamente minar os planos de Deus para o homem em matéria de criação e moralidade, em seus próprios países".
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Igreja Ortodoxa de Moscou dedica calendário de 2014 ao ditador Stalin Venezuela: miséria na terra e no ar, no presente e no futuro ...
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s co mpanhi as aéreas nacionais e internac ionais suspendem seus voos na Venezuela porque seus fu ndos fo ram bloqueados pelo governo chav ista inadimplente. N ão se consegue sa ir da Venezuela sem paga r uma fo rtuna por ca usa dos control es de câmbio. E m terra, os j orna is têm que reduz ir suas páginas por fa lta de papel, e nos superm ercados os cidadãos faze m intérminas e humilhantes fil as para obte r papel hi g iênico e outros produtos. Estudo da U niversidade Cató li ca Andrés Be llo ca lculou que entre 2005 e 2010 pelo menos 143 mil venezue lanos emi graram , sobretudo para os EUA e a Espanha. O tota l dos emi grados na era chavi staj á atinge pelo menos 530 mil. A emi gração é um dos horizontes mais considerados pelos j ovens universitá ri os. Diversos sites fo rnecem conselhos e info rmações para emigrar. Esse é o resultado da "democrac ia" chavista, fi el réplica da castri sta e que alg uns líderes populi stas na América do Sul tenta m empenh adamente imitar. •
lgreja Ortodoxa Russa (10) dedicou seu calendário de 2014 ao ditador comunista Josef Stalin . Os meses são ilustrados com fotos sobre cor preta do tirano soviético responsável pela extinção de dezenas de milhões de proprietários e membros de minorias étnicas e religiosas, qualificadas de "inimigos de classe". O calendário também fornece dados biográficos do ditador desde sua juventude como seminarista cismático até o fim de sua vida . Stalin transformou a 10 numa agência da polícia política soviética . Hoje a 10 atua como instrumento ativo para cercear o catolicismo no território russo e nos países outrora escravizados pela União Soviética , bem como para promover a imagem do atual presidente Vladimir Putin.
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DESTAQUE
O culto dos santos na Igreja Católica D esde seus prirnórdios a SanLa Igreja favoreceu o culto dos santos pm'a benefício dos fiéis. Evolu(ão hist{H'ica e qucstoes teológicas r'clativas a essa temática de aLualidadc. JOS É ANTON IO U RETA
m cada edi ção Catolicismo propõe, para a edificação dos leitores, a meditação sobre a vida de um sa nto que pode servir de modelo para os nossos dias. O exempl o dos sa ntos é de molde a afervora r os fié is na pi edade e excitá- los
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CATOLICISMO
à práti ca de virtudes que os sa ntos exercitam ele modo insigne. A revi sta pode também ca ir nas mãos de pessoas afastadas da Reli gião e que venham a receber graças pa ra ini ciar uma vida ori entada pelas virtude·. om efeito, muitas fora m ao longo da 1-1 istóri a as almas que se converteram dev ido à leitu ra da vida de sa ntos.
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grau hero ico, principalmente as virtudes cardea is da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza. Nisso res ide uma das gra ndes diferenças entre a lgreja Cató lica e as se itas protestantes. A heres ia da "justifi cação só pela fé" leva os adeptos do Protestantismo a supor que o Ba ti smo não lava inteiramente a mancha do pecado original, motivo pelo qual até os atos mais heroicos do homem seriam censuráve is aos olhos de Deus. O homem apenas se sa lva, segundo eles, porque sua pod ridão é coberta exteri ormente pela fé no caráter sa lvífico da morte de Jesus, mas no seu interior o fie l batizado permaneceria um pecador. Os ensinamentos de Nosso Senhor, pelo contrário, afirmam que o " homem velho" é co mpl eta mente renovado no seu interior pela graça e, embora ainda suj eito ao atrativo do mal - chamado concupi scência - , é capaz de amar a Deus sobre todas as co isas e ao próximo co mo a si mesmo. E, por sua uni ão com Deus, capaz de fazer obras boas e até heroicas, gan hando méritos para si e para seus irmãos pela comunhão dos sa ntos. O estado de uni ão total com Deus a que o homem está chamado só é possível alca nçá-l o após a morte, vendo a Deus face a face e sem nenhum a poss ibilidade de afasta r-se d'E le. Mas esse estado de beatitude já é prefigurad o pela união íntim a co m Deus que possuem as almas que, nesta vida, correspondem generosa mente aos apelos da graça divina. É essa sa ntidade que a Igreja reconhece e apresenta co mo exemplo ao ca noni za r alguns de seus filho·, para mostrar que a sa ntificação não é apenas um a poss ibil idade teórica , mas algo ao alca nce de todos os qu e estão em estado de graça ou até dos pecadores que lava m sua alma pelo sacra mento da Confi ssão.
Os cultos <le <lulia e hipel'<lulia
Dil'cl'C11ça cnll'c sanli<la<lc e a "juslificação /JC/a /'é" p1·utcslalllc Em sentido estrito, só Deus é sa nto. Porque a sa ntidade é a propriedade de seu Ser que Ele revela nas Sagradas Escrituras e que cons iste no fato de que Deus, em sua onipotência, glóri a e majestade, está infinitamente ac im a de tudo que não é Ele, req uerendo do homem um a atitude de adoração e o desejo de O imitar em suas perfeiçõe . Mas a sa ntidade é também uma das notas essenciais da Igreja Católi ca que permitem reconhecê-la como a verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cri sto. Isso signifi ca que, sendo o Corpo Místico de Cristo, a Igreja Cató li ca tem os meios sobrenaturai s para tirar o homem do pecado e uni-lo a Deus. E também signifi ca que nunca faltarão em se u se io almas que testemunhem essa fo rça sob renatural. Ou seja, santos. A san tidade no homem é o efeito da graça santifi cante e consiste na participação da santidade de Deus. Ela é inseparável das virtudes teologais - Fé, Espera nça e Caridade - e, quando atinge sua plenitude, leva também as virtudes morais a um
Em coerência com o que ficou dito, a Igreja não somente nos apresenta os sa ntos como modelos, mas incita os fieis a cultuá- los e pedir sua intercessão junto a Deus, porq uanto já gozam da vida eterna e, na corte celeste, são amigos de Deus. A eficác ia da intercessão dos sa ntos é fund amentada na intensidade da am izade ex istente entre eles e Deus e em virtude dos méritos que adq uiri ra m na sua passagem pela Terra. Dita veneração aos sa ntos é chamada "culto de dulia". Este é distinto do "culto de latria" ou de adoração, reservado somente a Deus. O "cul to de duli a" é uma fo rma indireta de O louvar pela obra de santifi cação que Ele operou nesses santos e pelos exempl os de virtude que estes ostentaram quando res idi am entre nó . No culto prestado às criaturas, sobressa i o que é tributado a Nossa Senhora, por ser Ela a Mãe de Deus, ter uma relação ainda mais íntima co m seu divino Filho e ser a Medianeira Universal entre Ele e nós, merecendo por isso de nossa parte um cu lto de " hiperduli a" . Mas nossas relações com os sa ntos nã.o se esgota m no fato de ad mirarmos seus exem pl os e pedirmos a sua intercessão. Pela co munhão dos sa ntos, fo rmamos co m ele um só Corpo Místico e tendemos, todos juntos, a um mes mo fim , qu e é o de conhecer, amar e servir a Deus e participar pl enamente da vida divina no Céu.
MARÇO2014
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A evolução do culto aos santos 1w J-listória Além dos Apósto los, os primeiros santos venerados fo ram os mártires, cujos corpos o povo recolhia nas catacumbas e di spunha de mane ira a tra nsformar seus túmulos em a ltares sobre os qu ais era ce lebrada a Sa nta Mi ssa. Os bi spos os colocavam então no catálogo ofi cial dos mártires . A partir do século JV, começou-se a incluir nessa ve neração também aque les cri stãos, fi guras ímpares, que não tendo vertido o sangue por Jesus C ri sto, havi am entretanto "confessado" seu N o me diante dos homens e passado por múltipl as p rovas. A pedido dos fi éis, os bi spos autori zavam que suas fi guras também fosse m co locadas nos dísti cos. Embora todo fie l tenha o direito de rezar para pessoas que conheceu e admirou , mo rtos em "odor de santidade", a l grej a percebeu que deveria reservar o culto insti tucional apenas para
aquelas pessoas a respeito das quais havi a fundadas razões para acreditar estarem no Céu e terem oferecido verdade iro exe111plo aos fi éis aqui na Terra. Por volta do ano 1nil, os Papas se empenharam em faze r com que as virtudes e os milagres dos servos de Deus - isto é, fi éis que pratica ran, virtudes in signes - e cuj o culto tinha ultrapassado os limites de uma diocese, fossem ana lisados em sínodos regiona is, e seu culto aprovado co letivamente. Uma co nstitui ção do Papa Al exa ndre IIT ( 1159-11 8 1) retirou o dire ito dos bi spos de auto ri zar o culto de um se rvo de Deus em suas di oceses. E ntretanto, ta l dec isão torn ouse efetiva so mente nas prime iras décadas do século XVII medi ante um decreto do Papa Urbano VIII ( 1623 -1 644), qu e reservou o processo das ca usas de beatifi cação e ca noni zação à Sa nta Sé. A partir dessa época introduz iu-se uma di stinção mais precisa entre " beatos" e "sa ntos". Os primeiros são representados com um ha lo de luz em to rno da cabeça, para signifi car que seu culto é apenas permitido num conjun to determinado de dioceses ou numa O rdem reli g iosa. A beatificação é a etapa prév ia à canoni zação. Os santos canoni zados, pelo contrá ri o, são representados com uma auréola definid a e seu culto é de preceito para toda a Igrej a em todos os países. Dois tipos de causas de canoni zação passa ram, na mes ma época, a serem instruídas pelos Papas. Prime iro, as "canonizações fo rmais", ass im chamadas por serem obj eto de uma sentença fo rmal , após um longo processo de estudo da vida do candidato, com a intervenção do ass im denominado "advogado do di abo", ou sej a, de um peri to encarregado de levantar as obj eções à ca noni zação, procedendo-se a uma análi se detida dos mil ag res que certifi ca ri am ser da vontade de Deus que ta l pessoa fosse canonizada. E também as "canoni zações equipolentes", ou equi va lentes, cuj a sentença limita-se a confirmar o caráter imemori al do cul to prestado pelo povo fi e l a um servo de Deus e a preceituá- lo para toda a [greja. A sentença de ca noni zação envo lve três rea lidades derivadas logicamente um a da outra: a) que o servo de Deus goza da visão beatífi ca no Céu; b) que ele mereceu alcançar essa g lória por sua uni ão com Deus e pelas virtudes heroi cas que prati cou, as qua is são um exempl o para os fié is; c) que
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CATOLICISMO
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< No retábulo, além dos Apóstolos aos pés da Virgem, os primeiros santos venerados foram os mártires
a Igrej a deve prestar culto ao santo e pedir sua intercessão, agradecendo a Deus pe lo benefí cio de sua vida.
Processos simplilicados e aumento exponencial das canonizações: novidades pós-co11ciliarns Em vi sta de todo o ac ima exposto, compreende-se que a Igrej a tenha sido no passado muito parcimoniosa em autorizar a inscri ção no catálogo dos santos dos servos de Deus mortos em odor de santidade e venerados pe los fi é is. Considerava-se, com Santo Tomás de Aquino, 1 que embora todos os batizados sej am chamados à santidade, havia poucos santos de altar, devido à fraqueza in troduz ida em nossa natureza pelo pecado ori gina l e pelo ca ráter soberano da misericórdia de Deus, que escolhe quem quer para exceder o estado comum. Por sua vez, a exemplaridade dos santos, para atrair a atenção, pressupunha algo extraordinári o, realmente fo ra do comum . E era por essa razão que, não obstante o Céu estar povoado por servos de Deus, apenas alguns eram elevados à glóri a dos altares. Multiplicar os santos - pensavase - aca baria por diminuir no espírito do comum dos fiéis a sua exempl aridade. Pelo contrári o, os Papas posteriores ao Concílio Vati cano ll decidiram , por ass im dizer, co locar a santidade ao alcance de todo o mundo, em confo rmidade com a in sistência do referido concí li o quanto ao chamado universa l à sa ntidade.
Dessa maneira, só S.S. João Paulo U elevou 482 santos à honra dos altares, ou seja, um número superior ao que fi zera m todos seus predecessores somados, desde São Pedro até Paulo Vl. E Francisco l , já na primeira cerimônia, canonizou os 800 mártires da cidade de Otranto, trucidados pelos muçulmanos em 1480, e mais duas religiosas latino-americanas, praticamente dobrando o número de santos. Para facilitar esse aumento exponencial do número de servos de Deus beatificados e canonizados, João Paulo 11 rea lizou uma reforma radical das regras dos processos de canonização: reduziu de 50 para cinco os anos de espera para a abertura dos processos; reduziu de dois para um os milagres requeridos para a beatificação e, depois, para a canonização; eliminou o "advogado do diabo" e atribuiu ao próprio Promotor da causa o encargo de evocar as objeções; permitiu ao citado Promotor fazer uma seleção das testemunhas, com a faculdade de descartar as pessoas que desejassem relatar eventos negativos para a personalidade em questão. Muitos especialistas e inumeráveis fiéis ficaram muito perplexos com essa simplificação dos procedimentos, que não oferecem as mesmas garantias de rigor científico e religioso de outrora.
Falibilida<le ou infalibili<la<le <las canonizações: discussões teológicas O referido abrandamento do ri gor dos processos propiciou um debate teológico muito antigo, mas que havia diminuído
consideravelmente de intensidade no decurso do século XX: a sentença so lene de canoni zação é um ato infalível do Papa? Sim ou não? Há consenso geral de que as beatificações podem acabar por concernir pessoas que não estão no Céu ou que não merecem ser veneradas. O argumento é que os decretos de beatificação são permissivos, e não impositivos, além de a autorização de culto ser restTita a uma área definida, e não universal. Mas no que se refere às canonizações, elas são julgadas infalíveis pela maioria dos teólogos . Porém, o Magistério da Jgrej a nunca se pronunciou de modo definitivo . Trata-se, portanto - é importante fri sar - , de matéria em que um teólogo, tendo razões de peso, pode di ssentir da opinião comum - favorável à tese da infalibilidade das canonizações - e, por isso, nunca deixou de ex istir uma corrente minoritária que nega essa tese ou levanta sérias dúvidas a respeito dela. Tratadistas medievais de grande autoridade, como o Papa Jnocêncio lV e o Cardeal de Susa (conhecido como Ostiensis), ou o canonista Joannes Andrae, de Bolonha, admitiam a poss ibilidade de erro nas canonizações. No século XVI, o maior e melhor comentador de Santo Tomás de Aquino, o famoso Ca rdea l Cajetano, era da mesma opinião, assim como seus confrades na Ordem dominicana, o Ca rdeal Tommasso Badia (que fora um dos contraditores de Lutero na Di eta de Worm s) e o provincial da Toscana, Frei Niccoló Michelozz i.
MARÇO2014 -
São três as principais objeções teológicas dessa corrente à infalibilidade das canonizações: • uma vez que a Revelação pública 2 encerrou-se com a morte do último Apóstolo e que a Igreja não goza do carisma da inspiração, ela não pode agregar novas verdades ao depósito da fé; • é dogma de fé que ninguém pode saber com certeza, sem uma revelação privada, se está ou não em estado de graça, e menos ainda pode fazê-lo um terceiro que observa de fora a vida de uma pessoa; e • a Igreja funda seu julgamento sobre testemunhas humanas falíveis , logo sua conclusão pode ser equivocada. A corrente majoritária que defende a tese da infalibilidade das canonizações não discute os três argumentos acima, mas afirma que o auxílio do Espírito Santo prometido por Nosso Senhor à Igreja supre as deficiências de um exame meramente humano. E acrescenta que, se a Igreja propusesse à devoção dos fiéis um santo falso, ela estaria oferecendo um modelo errôneo de vida moral e, portanto, uma aplicação equivocada das verdades da fé.
Aparecimento do conceito de "objeto secundário" da infalibilidade durante a polêmica jansenista Essa argumentação viu-se indiretamente reforçada em razão dos debates suscitados pela condenação, no século XVII, na França, pelo Papa Inocêncio X (1644-1655), de cinco teses heréticas do livro Augustinus, de Jansênio, falecido alguns anos antes. Os seguidores deste último, convidados a retratar-se, disseram que não tinham problema em rejeitar essas heresias, mas apenas que, contrariamente ao que dizia o Papa, tais erros não se encontravam no livro incriminado. Diante dessa recusa, três anos mais tarde, o Papa Alexandre Vil ( 1655- 1667), sucessor do anterior, declarou solenemente que as cinco teses figuravam nos escritos de Jansênio, e pediu ao Arcebispo de Paris que exigisse dos jansenistas uma aceitação formal dessa decisão. Estes últimos perguntaram se deviam dar à mesma um assentimento de fé divina, ou apenas de fé humana (se fosse um assentimento de fé humana, pensavam eles poder subscrever a fórmula, mas continuar a considerar que o livro não continha as heresias apontadas). Assistido pelo célebre Fénélon, o arcebispo declarou que o assentimento devido não era nem de fé divina, nem de fé humana, mas um assentimento intermediário que ele chamou de "fé eclesiástica", por causa da assistência do Espírito Santo à Igreja. Como resultado, nos tratados de teologia apareceu o conceito do "objeto secundário da infalibilidade", ou seja, que a Igreja é infalível não apenas naquilo que foi formalmente ou virtualmente revelado por Deus (objeto primário da infalibilidade), mas também naquelas verdades não reveladas necessárias para que o depósito da fé revelado possa ser preservado na sua integridade, explicado convenientemente e defendido eficazmente. Por exemplo, verdades filosóficas como a de que a razão é capaz de conhecer a verdade (sem a qual a ideia de
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CATOLICISMO
"verdade revelada" perde sentido), ou o fato de o Papa apontar as heresias contidas numa obra cuja leitura seria corrosiva para a fé dos fiéis (como no caso do Augustinus). Em vista do aparecimento desse conceito de "objeto secundário da infalibilidade", os tratadistas passaram logo a incluir, de modo quase sistemático, as sentenças de canonização no objeto secundário da infalibilidade da Igreja. Tanto mais quanto o Papa Bento XIV (1740-1758) - que fora anteriormente um renomado canonista e "advogado do diabo" de várias causas havia escrito, antes de subir ao trono pontifício, um livro no qual afirmava, nem mais nem menos, o seguinte: "Quem ousasse sustentar que o Papa errou nesta ou naquela canonização ou que este ou aquele santo canonizado não deve ser cultuado, se não for herege, pelo menos deve ser chamado de temerário, que escandaliza toda a Igreja, injuria os santos, favorece os hereges que negam a autoridade da Igreja na canonização dos santos e ao mesmo tempo abre caminho para os infiéis zombarem dos.fiéis, sustenta uma proposição errônea e merece as mais graves censuras"!
O objeto da infalibilidade: deixado em suspenso no Concílio Vaticano 1 Durante o Concílio Vaticano I, que definiu a infalibilidade pontifícia como dogma da fé católica, houve desacordo entre os padres conciliares quanto à extensão do objeto da infalibilidade. Enquanto para alguns ele se limitava à Revelação stricto sensu (ou seja, às verdades formalmente ou virtualmente reveladas e susceptíveis de serem proclamadas dogmas de fé e impostas aos fiéis para serem cridas com fé divina), para outros, influenciados pelo debate levantado em torno do Augustinus de Jansênio, o objeto da infalibilidade estendia-se também às verdades não reveladas, mas necessárias para a preservação, explicação e defesa do depósito da fé. No decurso do debate, chegou-se a propor fosse declarado explicitamente que o Papa é infalível nas canonizações e na aprovação das leis universais e das regras das Ordens religiosas; mas a proposta foi rejeitada pela maioria. 3 De qualquer forma, por sugestão do Papa Pio IX - que via com preocupação aproximar-se a guerra franco-prussiana de 1870 e o consequente risco de o Concílio vir a ser adiado sem a proclamação do dogma da infalibilidade pontificia - , o Secretariado do Concílio, chamado Deputação da Fé, suspendeu o debate em torno do objeto da infalibilidade e redigiu uma fórmula que não dirimia a questão. Tal fórmula diz que o Papa é infalível "nas questões de fides et mores", expressão consagrada na Teologia para indicar o depositum fidei, mas acrescentando que suas definições infalíveis devem ser aceitas pelos fiéis como irreformáveis. Se a fórmula tivesse dito que deviam ser cridas (termo empregado na teologia católica exclusivamente para o assentimento devido às verdades divinamente reveladas), ela teria de fato limitado a extensão da infalibilidade exclusivamente ao seu objeto primário, a Revelação .4 O secretário da Deputação da Fé, Mons. Gasser, explicando esse detalhe, declarou na aula conciliar: "É de fé que o
Papa é infalível no objeto primário; a infalibilidade no objeto secundário p ermanece no nível de certeza teológica ", ou seja, no nível daquelas doutrinas nas quais o Magistério não se tem pronunciado de maneira explícita nem definitiva, mas que, segundo parecer mais ou menos unânime dos teólogos, não se pode negar sem pôr em risco uma verdade revelada. Não sendo de fé que o chamado objeto secundário seja coberto pelo carisma da infalibilidade da Igreja, menos ainda é de fé a tese de que as canonizações sejam infalíveis. Nem sequer o Magistério definiu ainda qual o grau de conexão que deve haver entre o depósito da fé e uma verdade não revelada (como uma canonização), para que esta última faça parte do objeto secundário da infalibilidade. Existe unanimidade apenas em que o nexo entre o depósito da fé e uma verdade não revelada deve ser íntimo e necessário para que o depósito da fé possa ser apropriadamente preservado, explicado e defendido. Mas não há nenhum consenso quanto ao fato de que esse nexo orgânico realmente existe no caso das canonizações. Em outros termos, é certo ser dogma de fé que os homens vão para o Céu se morrerem em estado de graça; o problema está em saber se, para crer nesse dogma, será preciso crer também que as pessoas canonizadas gozam da bem-aventurança eterna e intercedem por nós junto a Deus. Ou se, pelo contrário, acontece como no culto das relíquias, das quais sabemos que algumas podem ser falsas , mas que nem por isso Deus - fim último de todas as nossas orações - deixa de aceitar nosso ato de devoção.
O 1·enuxo da opinião ma/01•/tária desde o il1ício do século XX Um número crescente de teólogos, a partir dos anos 1930, começou a contestar, respeitosamente, a quase unanimidade dos manuais de teologia em favor da infalibilidade das canonizações. O primeiro tratadista a fazê-lo foi Mons. Bernard Bartmann em seu manual que foi traduzido em várias línguas e muitíssimo usado nos seminários antes do Concílio Vaticano II. O conceituado teólogo retomou as dificuldades que a suposta infalibilidade das canonizações coloca para a teologia desde a Idade Média, ou seja, que a Igreja não pode acrescentar "novas verdades" ao depósito da fé, que ninguém pode saber sem uma revelação se um outro está em estado de graça, e, ademais, que as testemunhas humanas são falíveis. Mons. Bartmann destaca também o fato de que os defensores da infalibilidade das canonizações, na falta de um argumento teológico decisivo, apoiam-se num "feixe de indícios" cujo número tenta suprir a fraqueza de cada argumento isolado. A respeito dessa temática, o teólogo alemão conclui com as seguintes palavras: "Os atos de canonização não podem ser aceitos senão com uma f é geral e eclesiástica e não com f é divina. O fiel não faz, sem dúvida, um ato de f é especial na canonização, mas crê nela mediante um ato de f é geral. Ato pelo qual ele aceita no seu conjunto o culto da Igreja. - Se no conjunto dos santos apresenta-se por vezes um "falso " santo [ ..} o culto relativo que lhe é prestado reverte finalmente
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a Deus. Um rei é honrado através de um fa lso embaixador: Deus também mediante um fa lso santo. " 5
As objeções e resel'vas <le Mons. Gllernnlini
Já neste século, outro renomado teólogo que levantou respeitosamente obj eções e reservas à tese da infa libilidade das canonizações fo i Mons. Brunero Gherardini, por muitos anos decano da Faculdade de Teo logia da Universidade Lateranense, que até o Concílio Vaticano II fo ra o bastião da chamada "escola romana de teologia", de orientação nitidamente conservadora. Num arti go para a revi sta D ivinitas, posteri orm ente reproduzido em Chiesa Viva sob o título "Canonizações e [nfa libilidade", 6 o ilustre sacerdote fl orentino observa preliminarmente que os partidários da infa libilidade das canoni zações faze m um "racioc íni o por absurdo": seri a intolerável que as canonizações não fosse m infa líveis porque isso teri a repercussões deletérias na vida da Igreja. E acrescenta que muitos autores contestam hoje esse argumento . Indo ao ful cro do problema, Mons. Gherardini põe como premi ssa que a canoni zação não defin e nenhum a verdade revelada e, por isso, na linguagem teo lógica, é uma proclamação "non immediate de fide" , não faz parte daquilo que Santo Tomás chama "hiis quae adfidem p ertinent " (aquilo que pertence à fé). Tampouco tem um nexo tão intimo com alguma verdade revelada de molde a transformar a canoni zação numa verdade implícita e indiretamente revelada. Se a canonização em si não é defide, menos ainda o será a dec laração de que tal pessoa é um bem-aventurado do Céu. Fica ria no pl ano da "fé eclesiástica"; mas acontece qu e a ass istência do Espírito Santo prometida por Nosso Senhor à sua Igreja é restrita a um exercício muito prec isamente de limi tado, o qual exclui que a canonização seja equivalente a uma defi ni ção dogmática. O fato de ser dito e repetido que a canonização deve ser assimilada a um "fato dogmáti co" (como a condenação doAugustinus) não é um argumento vá lido: aquilo que é gratuitamente asseverado, pode ser gratui tamente negado. O arguto teólogo fl orentino acrescenta um outro argumento muito embaraçoso para os partidários da infa libilidade das canonizações, os quais negam ao mesmo tempo que ela ex ista para as beatificações . O raciocíni o por absurdo acima aludido não explica, diz Mons. Gherardini , por que razão o carisma da infa libilidade seria válido para a canonização e não para a beati ficação. Porque a Igreja não é uma soma de igrejas part iculares, pois até a menor e mais recôndita comunidade católica num subterrâneo da China é a Igreja Católica. Portanto, uma decisão relativa a uma porção do rebanho (como a autorização do culto a um beato) atinge a Igreja inteira e tem, de si, uma extensão universal. Qual é, então, pergunta Mons. Gherardini , o sentido da distinção entre canonização e beatificação, baseada na ideia de que a segunda é local e a primeira é uni versa l? Consultor da Congrngação para a Causa <los Santos: consi<lerações teológicas e canônicas
Quase simultaneamente, Frei Daniel Ois O.P., professo r na Pontificia Universidade Santo Tomás de Aquino, o Angelicum
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CATOLICISMO
(Roma), e consultor da Congregação para a Causa dos Santos, escreveu um opúscul o intitul ado Fundamentos teológicos do culto aos santos,7 medi ante o qual se inscreve abertamente na corrente que defende a não infa libilidade das canoni zações. Ele afirm a que a canonização contém dois aspectos: de um lado, a afirmação dogmaticamente definível de que uma pessoa praticante da virt1rde cri stã vai para o Céu; de outro lado, a aplicação dessa afirmação a uma pessoa particular. Ora, diz o Pe. Ois, se é fac ilmente demonstrável estar a proposição geral contida na Revelação, "é evidente que o fato de que Tizio ou Caio viveu santamente não está contido nela, nem explícita nem implicitamente". E, de modo diferente da condenação dos erros num livro - necessária, para a preservação da fé dos fi éis, que eles saibam com certeza que tais heresias encontram-se nele- , no caso das canonizações não haveria um dano mortal para a fé se a Igreja vier a cometer um erro. Venerar alguém que está no Infe rno não tem a mesma gravidade que seguir Lutero ou um outro herege. Ass im sendo, a matéria da canonização não parece apta a ser matéria de infa libilidade, conclui o Pe. Ois. A esse argumento de índole teológica, o Pe. Ois acrescenta outro, de nat11reza soc iológica: se a razão da infalibilidade das canoni zações é de evi tar o ri sco de se apresentar um modelo fa lso de sa nti dade, há beatos mu ito mais conhecidos e muito mais popul ares - até mesmo em loca is distantes daqueles em que seu cul to é permitido - do que gra nde número de santos .. . Por que, então, as beatifi cações não deveri am ser contempl adas ta mbém elas, pelo carisma da infa libilidade? Refutando a argumentação dos defensores da tese da infalibilidade de qu e o teor dos decretos de canoni zação provari a que os Papas pretendem engajar neles a sua infalibilidade, o Pe. Ois mostra que, entre tais decretos e as fó rmul as de proclamação de um dogma (por exempl o, da ]maculada Conceição ou da Assunção de Nossa Senhora), há uma dife rença substancial: na proclamação de um dogma, o Papa diz explicitamente que a verdade dec larada deve ser crida com fé di vina pelos fi éis como sendo uma verdade revelada cuj a negação, mesmo que interi or, acarreta a perda da fé e a excomunhão automática da Sa nta Igreja - isto é, dispensa um documento condenatório; enquanto que, no decreto de canoni zação, o Papa apenas afirm a que a pessoa em questão fica inscrita no catálogo dos santos e deve ser cultuada pela Igreja universa l, mas não diz nada no sentido de impor tal crença aos fié is no seu foro interi or. Apenas ameaça com penas eclesiásticas, no foro externo, a quem pronunciar-se publicamente contra tal canoni zação; mas essa é uma fó rmula frequente em muitos outros decretos e bul as sem conotação doutrinária e que manifes tamente não envolvem a infa libilidade. Tanto Mons. Gherardini quanto o Pe. Ois - e outros estudiosos antes deles - aduzem também o argumento de que a Igreja retirou do ca lendári o e suprimiu o culto de vári as pessoas de cuj a ex istência, com o avanço das pesqui sas hi stóri cas, hoje não se tem mais certeza. O poder das chaves não autoriza o Papa - comenta m - a co loca r como santo na rea lidade da Históri a alguém que não viveu como santo e, menos ainda, quem nem sequer viveu, porque jamais nasceu!
Finalmente, em certos ambientes tradicionalistas que se creem obrigados a sustentar a tese infalibilista comum em manuais de teologia pré-conciliares, circulam dois estudos do Pe. Jean-Michel Gleize, da Fraternidade São Pio X, que revelam as deficiências dos atuais processos de canonização e até a mudança que houve no próprio conceito de santidade, assim como o caráter colegial que se tem dado aos processos, com larga participação das dioceses. O que, no parecer do sacerdote lefebvrista, acarretaria a não infalibilidade do decreto que resulta de tais processos, por uma deficiência da vontade de definir do Papa - condição indispensável para uma definição ex cathedra.
A posição sapiencial de Santo 'l'omás de Aquino a respeito da questão Dado que o Magistério oficial não se pronunciou de modo definitivo sobre a falibilidade ou infalibilidade das canonizações e que há uma certa divergência entre os teólogos dissentimento que está, aliás, aumentando, visto o número de teólogos que estão engrossando as fileiras da corrente até há pouco minoritária - a melhor atitude que os fiéis podem tomar, até que a Igreja se pronuncie, é a de seguir a solução de senso comum proposta por Santo Tomás de Aquino nos Quodlibet - questões doutrinárias diversas, que o Doutor Angélico defendeu nas universidades em que lecionou . Tratando da questão "Sobre se todos os santos canonizados estão na glória ou há algum deles no Inferno "8, o Doutor Angélico responde que é certo ser impossível que a Igreja erre em matéria de fé, mas que é possível que Ela erre no julgamento de fatos particulares, por causa de testemunhas falsas. A canonização, prossegue o santo, encontra-se "a meio caminho" entre os dois casos precedentes, dado que a honra tributada aos santos é de certa maneira uma profissão de fé (na verdade que as pessoas que morrem na amizade de Deus gozam da glória eterna). Por isso, deve crer-se piamente,pie credendum est, que tampouco nesses casos erra o juízo da Igreja. O Pe. Ois destaca a precisão dos termos empregados por Santo Tomás. Ao falar de matéria de fé, ele diz "é certo que é impossível" que a Igreja erre; nas canonizações, apenas ''pie credendum est ", expressão sempre usada por Santo Tomás quando "não existe nem pode existir [matéria] para um ensinamento infalível por carecer de base na Revelação". Trata-se então de adotar, em face das canonizações, a mesma atitude assumida diante dos ensinamentos doutri-
nários do Magistério ordinário não revestidos do carisma da infalibilidade: dá-se-lhes um assentimento religioso, por provirem de pastores assistidos pelo Espírito Santo, mas admite-se a possibilidade de um ou outro erro ocasional, até que a doutrina ensinada não seja definida de modo extraordinário ou que se torne patente que é uma doutrina que foi ensinada sempre, em todo lugar e por todos. Em caso de haver razões graves para se inferir que o ensinamento é contrário à Tradição, o fiel é autorizado a suspender seu assentimento interior e, por vezes, seu silêncio exterior obsequioso, para exprimir suas reservas.
No atual estado do desenvolvimento do Magistério a respeito do objeto secundário da infalibilidade, nada impede de se proceder da mesma maneira diante de canonizações controvertidas. • 1. Suma Teológica, 1, q. 23, at 7, ad 3. 2. Deus pode ser conhecido com certeza pela lu z da razão natural. Porém, Ele quis dar-nos um conhecimento sobrenatural de Si mesmo e de seus divinos desígnios naquil o que é de si in acess ível à razão humana - por exemplo, a Santíssima Trindade - por me io da Revelação pública, a qual se reali zou plenamente e com pleto u-se na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo e está contida nas Sagradas Escrituras e na Tradição ora l recebida dos Apóstolos. 3. Cfr. Umberto Betti, Dollrina dei/a cos1i1uzione dommalica Paslor /EJernus, in De doctrina Concilii Vaticani Primi, Libreria Editrice Vaticana, C ittà dei Vaticano 1969, p. 356. 4. No que concerne à virtude sobrenatural da fé, a Teologia distingue entre as verdades reve ladas por Deus, cujo assentimento funda-se diretamente sobre a fe na autoridade da Palavra de Deus - doutrinas de fide credenda - e as verdades propostas pela Igreja como irrefonnáve is, ainda que não reve ladas, cujo assentimento funda-se na fé da assistência do Esp írito Santo ao Magistério e na doutrina cató lica da infalibilidade do Magistério - doutrinas de fide tenenda. 5. Précis de Théologie dogmatique, tradução francesa, Étitions Salvator, Mulhou se (Alto Reno), 1947, tomo 1, pp. 57-59. 6. !J.J1p://chiesaepostconcilio.blogspot.fr/2012/02/mons-brunero-gherardinisu.html 7. http://www.scribd .com/doc/4738 13 15/0LS-Fond-Amen-Ti-Teo logiciDel-Culto-Dei-Santi 8. !J.J1p://www.conustho111isticu111.or / 09.html , questio 8.
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G ABRIEL JOSÉ WI LSON
mi steri osa Bretanh a é um a das mais inte ressa ntes reg iões da Fra nça. 1mensa pl ataform a qu e avança sobre o Atl ânti co, ao sul da GrãBretanha, ela é castigada por toda espéc ie de ventos e marés, como também o fo i por in vasões, ao longo de sua hi stóri a mil enar.
CATOLICISMO
Os primeiros ce ltas chamaram-na Armor - "Terra voltada para o mar ". Daí o nome de Penínsul a Armóri ca, que ainda hoje a des igna. Na sua ex tremidade sul fo rmou-se a Cornualha, nome que parece vir da Corn wa ll bri tâni ca, a penín sula mais oc idental da Inglaterra. Ocupada por ga ul eses, romanos, ce ltas, vári as vezes saqueada pelos normandos, a Bretanh a constituiu-se em reino até o sécu-
lo X, e depois em poderoso ducado, antes de ser incorporada definitiv amente à Fran ça com os casamentos sucess ivos de Ana de Bretanha com Ca rl os VIU e Luís XII, ambos filh os do astuto Luís Xl. Cheia de mi stérios, é uma terra fértil em lendas e tradi ções imemoriais. Santos, calvári os, menires, peregrinações dos perdões ... uma riqueza de tradi ções e costumes que fazem da Bretanha uma região especial, cheia de mitos e legendas . É o caso do rei Artu r e seus caval eiros da távola redonda. O Santo Graal da legenda teri a sido o cá lice usado por Nosso Senhor na Santa Ceia. José de Arimateia, membro do Sinédrio e di scípulo oculto do Divino Mestre, teri a trazido da Terra Santa esse cá lice, contendo algumas gotas do Preciosíss imo Sangue de Cri sto. Na penínsul a Armóri ca, o discí pul o teria vivido numa fl oresta para depois desa parecer sem deixar traços. *
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Outra lenda concerne a cidade de Ys ou Is, sepultada no fundo do mar na baía de Douarnenez, a " baía dos mortos". Construída sobre um pófder e protegida por um dique, Y s teri a sido a capital da Cornualha sob o rei Gradl on, o Grande, no século V1. Enormes comportas permitiam evacuar as águas que vinham dos rios e proteger a cidade das marés altas. O rei guardava pessoa lmente a chave das portas do mar, como eram conhec idas as comportas. Gradl on tinh a uma filh a chamada Dahud ou Ahés. A princesa, em toda a cidade, era conhec ida por seus costumes disso lutos. Gwenolé (ou Guenole), um santo monge da região, vinha frequentemente a Yse advertia os seus habitantes, mas estes não lh e davam ouvidos. Deus permitiu então que o demôni o se introduzisse no palácio real sob a fo rma de um fo rmoso jovem e seduzisse a filh a do rei, a quem o príncipe das trevas pediu como prova de amor que ela abrisse as comportas que protegiam a cidade. Dahud roubou as chaves do pai quando este dormi a e fez a vontade diabóli ca. A maré estava alta quando as ec lusas foram abertas . As águas invadiram logo as ruas e as casas da cidade, apanhando de surpresa os seus habitantes, a maiori a dos quais adormecidos. Deus permitiu que o rei fosse despertado por Gwenolé alguns instantes antes da tragédia . O soberano sa ltou sobre o seu cavalo e fu giu precipitadamente, levando a filha na garupa do animal. Mas, enquanto o cavalo do monge ia rápido como o vento, o de Gradlon esgotava-se rapidamente com o peso da pecadora. As ondas já alcançavam os fu gitivos. Gwenolé ordenou então ao rei que, se quisesse sa lva r-se, dev ia separar-se de sua filha ; Gradlon rec uso u-se. As águas começaram a cobrir os cascos do animal. O santo renovou então sua ordem e, fin almente, o rei obedeceu. No mesmo instante, seu cavalo deu um sa lto e como que libertado de um grande peso, disparou (ilustração à esquerda) .
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Logo o rei e o mo nge atingiam te rra fi rme enquanto o mar cobri a toda a cidade de Ys, até seus mais a ltos monumentos. Depois Gradlo n teria fe ito de Quimper a sua nova capita l e terminado seus di as em peni tê ncia, fa lecendo em odor de santidade.
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Na sua História da Liga na Bretanha, de fi ns do sécul o XVI, um certo cô nego Morea u escrev ia sobre a baía de Douarnenez: "Encontram-se ainda hoj e pessoas antigas que,
estando a pesca,; sustentam ter visto com frequência, nas baixas marés, velhas ruínas de muralhas". Segundo essas testemunhas, trata r-se-i a de "grande obra de que nunca se ouviufalar ".1 A lgumas ruínas parecem indicar construções dos te mpos dos ro manos, que dominaram a região antes dos ce ltas. Por outro lado, em dias de mar ca lm o, pescadores de Do uarnenez di ziam ter ouvido mui tas vezes soar os sinos sob as águas da baía. E de vez em quando suas redes ou linhas apanhavam curiosos obj etos. Entre a lenda e a hi stória real há sempre uma zona nebulosa, de incerteza. O fato é que Ys sublimou-se na atrae nte fig ura de uma be la c idade submersa, com uma catedra l magnífica cuj os sinos ta ngem ao sabor das ondas . . . ou dos anj os! A beleza dessa lenda exc ita as imaginações, descrevendo Ys como a ma is be la capi tal do mundo de então . Mais tarde Paris teria ocupado o seu luga r. Um provérbio em língua bretã diz: "Depois que se inundou
a cidade de Ys / Nada de mais belo se encontrou igual a Paris ".
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CATOLICI SMO
Então a roda do destino deverá inverter-se, porque outro refrão di z: "Quando Paris fo r submersa, / A cidade de Ys
ressurgirá ". 2 *
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Ao tomar conhecimento de um suc into relato dessa lenda, o Prof. Plíni o Corrêa de Oli veira fez uma linda apli cação à fase da vida em que as pessoas ainda não perderam a sua inocência primaveril. 3 A inocênc ia manifes ta-se sobretudo nas crianças, porque não conhecem o mal. Mas e la pode ser também qualidade de um adulto que não se tenha deixado acanalhar ao longo da vida. Essa inocência pode ser algo como uma virtude meramente natural, mas manifesta-se em sua plenitude no cristão fie l ao seu batismo. Teoricamente, todo cató lico, de ambos os sexos, q ue sej a inteiramente fi el à graça sobrenatural recebida nos sacramentos, poderi a conservar a inocência até o final de sua
Estátua de Nossa Senhora dos Náufragos domina a baía
vida. Na realidade, porém, a debilidade humana dificilmente o alcança. Mas é possível! Muitos santos e santas conservaram a inocência mesmo em meio aos mais vio lentos combates, exteriores ou interiores, no anonimato de uma cela de convento como na vida pública ou fami liar de um leigo. Assim uma Santa Teresinha do Menino Jesus, um São Francisco de Assis e tantos outros. Muitos conservam essa inocência na meninice, por vezes até na juventude. A batalha para conservá- la se complica quando começam os transtornos causados pelo orgulho e pela sens ua lidade na passagem do jovem à vida adu lta. [niciam-se então as dificuldades, os dramas, as lutas ... as quedas! "Vita hominis super terram militia est " (A vida do homem sobre a Terra é uma luta, Jó 7, 1), seus dias são como os dias de um mercenário, diz o axioma lati no. E quanto mais avançam os anos, tanto mais é pungente essa luta. É nessa fase que a pessoa, se não resolver ser santa, pode tornar-se cética, pragmática, materialista, sensua l, ou simplesmente perder a fé! Entretanto, se ela conservou um fundo de fidelidade à virtude, de religiosidade, de honestidade, de vergonha, e la poderá ainda ser tocada pelo eco dos sinos de uma catedral submersa no seu mar interior! Terá havido momentos em sua vida em que ela teve fé, confiança, generosidade, teve alma para compreender que este mundo não é senão passagem para um outro mundo perfeito, maravilhoso e ideal. As infidelidades, pecados e omissões poderão ter obscurecido a visão maravilhosa da vida eterna, que afirmamos no Credo. Então nos sentimos num mundo em que a nossa Ys ideal está sepu ltada no mar dos nossos crimes ou da nossa vida banal sem Deus!
Entretanto, como os pescadores bretões, de vez em quando ouv imos o tanger de sinos que das profundezas nos traz à memória o mundo ideal para o qual fomos criados. É o apelo da graça, ou da inocência! E m qualquer idade podemos abraçá- la e estabe lecer com ela um conúbi o para a eternidade. Creio ser bem esta a relação da lendária catedra l submersa de Y s com a reconquista da inocênc ia, na consideração de Plínio Corrêa de O li veira.
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Antes de encerrar, seria preciso dissipar algumas confusões possíveis em torno de tema tão delicado. Em primeiro lugar, o que é precisamente a inocência? Não se confunde e la com a virtude da castidade? Sob a lguns aspectos, realmente a castidade pode confundir-se com a inocência. Assim na criança, que não conhece o mal. Mas ambas são distintas. Nocente é o que causa dano, o que pratica o mal. Mas, na concepção de Plínio Corrêa de Oliveira, in-nocente não é apenas não ser nocivo, não praticar o mal ; para e le a pessoa inocente é a que adere àque le estado de espírito primevo de equi líbrio e temperança com que o homem foi criado, e por isso conserva-se aberta a todas as formas de retidão, de maravilhoso. Mais precisamente, "a inocência é a harmonia de todas as coisas ou de todas as potências da alma entre si. E por causa dessa harmonia, ela tem a noção fácil e imediata das coisas como elas devem ser e, portanto, do modelo ideal de todas as coisas ". 4 Assim, a inocênc ia é irmã da castidade, sim , mas é muito mais abrangente. Como readquiri-la? Sem dúvida pela prática da virtude e pela observância dos Mandamentos. Mas o ser humano é extremamente débil diante do pecado. E quando ele consegue algumas vitórias pelo próprio esforço, fac i!mente se ilude com as próprias virtudes. E a virtude falsa pode ser mais nociva do que o próprio pecado. Só há um meio de recuperar a inocência de modo seguro: é agarrar-se Àquela que é a inocente por excelência, porque concebida sem pecado origina l: Maria Santíssima. Fi lha do Eterno Pai , Mãe de Deus Fi lho, Esposa do Divino Espírito Santo, Ela nos foi dada como Mãe de bondade a quem podemos recorrer a qualquer instante, mesmo tendo cometido o maior dos crimes. A serpente do orgulho e da sensualidade, o maior inimigo das almas em todos os tempos, será esmagada por E la, como está prometido no Apocalipse. • E-mail para o autor: cato lic ismo@terra .com.br
Notas: 1. Cfr. Guide de la Bretagne mystérieuse, Editions Tchou Princesse, 1976, verbete Douarnenez. 2. Idem , p. 224 3. C fr. A inocência primeva e a contemplação sacra/ do universo, In stituto Plíni o Corrêa de O li vei ra, São Paulo, 2008, Parte 1, cap. 5, pp. 53 ss. 4. Idem, Parte 1, cap. 2, p. 35 s.
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VARIEDADES
A Revolução dos rolezinhos ■ GREGÓRIO ViVANCO LOPES
e repente, como um tornado que varre uma cidade e destrói todas as casas, irromperam shoppings a dentro os rolezinhos. Tomaram ademais as páginas dos jornais, os programas de televisão e transbordaram para a Internet; não se falava de outra coisa. Como fenômeno de opinião pública fo i uma novidade, e bem grande, bem inesperada, e mesmo ameaçadora. Noticiaram-se roubos, depredações do comércio, ameaças a lojistas e compradores em São Paulo, Rio, Recife e por todo o Brasil. A esquerda radical logo se mobilizou a favor dos rolezinhos. E a ministra Luiza Bairros (PT) acusou a polícia e os frequentadores de shoppings de discriminar jovens negros nos rolezinhos. O susto foi gra nde, os donos de shoppings correram à Justiça para obter li minares, as lojas fecharam e a polícia se mobilizou . A população se assustou a tal ponto, que uma pesquisa de opinião apontou 82% co ntra os ro lez inh os, rejeitados em todas as camadas da população. É a esquerda, dizia-se, com sua maldita luta de classes. Alguns dias depois , o panorama estava mudado. Uma fada com suavarinha mágica passara pelos rolezinhos e os tocara, obtendo uma transformação rápida e profunda. Eles passaram a ser pobres jovens da periferia que apenas queriam passear um pouco dentro dos shoppings, olhar as vitrines, cantar e dançar ao som do funk e do rap. Por sua vez, o caráter pretensamente espontâneo do movimento cedeu lugar ao surgimento de uma organização com líderes que, em acordo com os donos
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CATOLICISMO
shoppings centers, propuseram-se a limitar o número dos rolezinhos e moderá-los. Fizeram até uma reunião com a associação de shoppings, intermediada por um promotor de Justiça, com o objetivo de ev itar tumultos, marcar somente encontros menores em shoppings; e se propuseram a participar de uma reunião com as secretarias municipal e estadual da Cultura e da Segurança. Segundo o secretário da Igualdade Racial em São Paulo, Netinho de Paula (PC do 8), os jovens querem ter relação tranquila com os shoppings. O presidente da Abrasce (associação de shoppings) se mostrou esperançoso:
"daqui para a.frente, tentaremos fazer com que tudo isso, que criou tanta celeuma, passe a ser apenas mais uma atividade cultural ". Convenhamos, tudo isso soa muito artificial!
Da luta à distensão e ao diálogo Depois das tentativas fracassadas de forçar uma revolução social no Brasil através da luta de classes, utili zando o MST e congêneres para invasões de terras e de casas, e também os quilombolas e até os índios, chegou a vez dos rolezinhos. Só que, com eles, a tática mudou. Lançados de repente no mercado propagandístico com " bombos y platillos", como dizem pitorescamente nossos amigos hispânicos , sua ação correspondeu ao binômio susto-distensão. Primeiro um grande susto: os templos da burguesi a invadidos por novos bárbaros, vindos dos confins das cidades, impedindo o cu lto das " deusas" pagãs da superficia lid ade, da última moda, do exibicion ismo, do quase nudismo etc.
O secretário de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Netinho de Paula, reuniu-se com os organizadores dos "rolezinhos"
A palavra de ordem inicial : é preciso combater esses vândalos, impedi-los de tomar nossas cidades e derrubar nossos deuses: "aux armes, citoyens ". Quando tudo caminhava para a batalha, incruenta é verdade, mas verdadeira batalha, eis que o inimigo se põe a sorrir, estende a mão e usa a palavra mágica que abre todas as portas: diálogo. O burguês decadente - que é pachorrento e não quer senão sossego para gozar a vida - , tomado de uma agradável surpresa, esboça um sorriso melado e estende pressurosamente sua mão macia e invertebrada. Começam os afagos mútuos. Adorador do diálogo e do ecumenismo como forma infalível para resolver todos os problemas sem precisar recorrer aos princípios nem à luta, o burguês se distende. Afinal , vai poder reimergir na sonolência e na letargia. Ele não percebe que perdeu a partida. Os rolezinhos - ou quem quer os
manipule - já se sentem admitidos aos shoppings como coisa normal , com suas correrias e seusjimks, apenas com certa regulamentação, que vigorará enquanto eles quiserem.
Não luta, mas mistura <le classes Mas são só os rolezinhos? Não. A manobra é muito mais vasta. Deixando de lado a luta de classes, tenta-se agora uma mistura das classes. Mas não é a boa e sã convivência entre classes diferentes , em que os valores das classes superiores vão filtrando organicamente para as classes inferiores, as quais gozam da proteção e do incentivo daquelas ; em que alguns dos membros mais dinâmicos e empreendedores dentre os menos favorecidos ascendem na escala social, do mesmo modo como os mais relapsos e acomodados das classes superiores decaem para as inferiores. Nada há de estanque ou de casta intocável. Tudo é regido
íirio da Ma
ORNAL DO LEITOR INTELIGENTE QUE
o MUNDO VÊ E LÊ NA INTERNET www.dm.com.br
pela organicidade, pela caridade, pela justiça e pela religião numa sociedade retamente ordenada. Ensina Plinio Corrêa de Oliveira que "numa sociedade orgânica bem
constituída, deve haver uma diversidade hierárquica e harmônica de classes sociais, um intercâmbio de ajuda e de serviço entre elas. Todas devem ser atendidas em suas necessidades para que possam viver segundo sua posição na escala social.[. ..} a lgreja,fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, tem por dever, por missão, favorecer todo o conjunto social e não apenas uma classe, seja elaqualfor". (Catolicismo, nº 520, abril/1994) . Porém , a mistura atual de que estamos falando nada tem dessa sanidade social. Ela implica uma degradação humana e cultural das classes superiores, enquanto as inferiores crescem apenas do ponto de vista econômico. Não vendo mais nas classes superiores quem as inspire e eleve, impõem sua subcultura, hoje em dia proveniente de tubas internacionais, carregadas de cacofonia e imoralidade, quando não de satanismo.
O HotJE
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Black blocs assumem 'rolezinho' em shopping O rolezinho llO FIJmboyant ,progn11nado p.,ra a,nam:., foi exciuldo do FilCcbook pelo próprio cri.xlor d.i página. Elo í'l\ega ler dosishclo por CllU5n do nnúnct0 do mor,tommento da PMe da presença de i'llegrnntes dos black blocs. grupos que usarnm devioléncla nas ll'IMilestações em 2013. Mas Integrantes dflsesgrupos contifmaram a manlfestaçlo par-a ns 16 horas. ►► ., ,
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Não é mais a luta de classes, mas a mistura de classes. É o ideal igualitário do comu ni smo somado à revolução cu ltu ra l da Sorbonne; o todo dentro de um caldo de cultura sem família, sem propriedade, sem tradição e sem Deus. Essa fase revolucionária já foi prevista por Plinio Corrêa de Oliveira: "É
um erro supor que a única forma de 'questão social ' é a luta entre classes. A corrupção dos costumes públicos e privados a dissolu ção de todos os organismos que constituem a contextura social, a decadência da família, dos órgãos profissionais, das classes sociais, da probidade comercial, das artes, tudo isto pode constituir uma 'questão social ' monstro, que le ve a sociedade à ruína. E uma questão social deste tipo pode existir, medra,; levar aos mais trágicos desfechos, sem que entre as classes componentes do organismo social haja luta ou rivalidade". (" Legionário", nº 754, 19- 1- 1947) Não estamos querendo descrever toda a transformação soc ia l que ocorre no Brasil de hoje, nem de longe. Seria preciso imprimir vários volumes para tentar essa tarefa. Estamos salientando apenas um ponto capita l dentro dessa transformação, que é preciso ter em vista para entender o que vai ocorrendo.
A "invasão " das periferias A revista "Veja" (29- 1-14) publica matéria de capa sobre a "invasão" das periferias que vem ocorrendo nas grandes cidades, especialmente São Paulo e Rio . Dedicamos todo este item e o segu inte para reproduzir alguns tópicos dessa extensa reportagem. Os rolezinhos compõem a face mais visível de um país que existe dentro do Brasil, habitado pelas c lasses C, D e E. Seus componentes estão se afirmando e misturam-se já com as classes rica e média. Constituem "um contingente de
155 milhões de p essoas que vem se consolidando como um gigantesco exército de consumidores"
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miséria para trás e se inseriu na sociedade por meio do consumo. " Prossegue a revista mostrando que muito desse progresso material convive com problemas: "em 2012, 3,2 milhões de domicilias das classes C, D e E não
tinham água encanada; 9, 2 milhões seguiam sem coleta de lixo e 19,4 milhões sem coleta de esgoto. Vive-se na periferia o paradoxo de ter um celular de última geração e ser obrigado a carregar uma lata d'água na cabeça ". Essa mistura de classes, chamemo-la assim, é maior no Rio do que em São Paulo, pois, explica o soció logo Marcelo Burgos, da PUC-RJ , "a geografia cario-
ca põe a perfferia no meio da cidade, aproximando, como em nenhum outro lugar do país, as df/erentes camadas sociais [. ..} Elas ji·equentam a mesma praia. A cultura dos morros transborda para o a~falto, e os desejos de consumo da Zona Sul são aspirados e copiados nas favelas. Há uma simbiose." Para o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, "o jovem dessa classe emergente não está interessado no que Lula ou FHCfizeram; quer um político que melhore as condições de vida dele" Seg undo levantamento da Associação Brasi leira de Shopping Centers (Abrasce) realizado em 20 12, 56% do público de classe C declarou ir àque les centros de compras uma vez por semana (na classe A , foram 70%). Não há luta de c lasses, mas sim uma mistura de c lasses : "Quando cantam
funk pelos corredores dos shoppings, os j o vens rolezeirosfiJhos dessa classe social expandida podem estar querendo apenas se di vertir - e não fazer das músicas hinos de protesto contra algo como a má distribuição de renda ".
A pre<lomi11â11cia <lo funl< Com a decadência cultural das classes mais elevadas, a pseudo-cultura dojimk vai se tornando o denominador comum.
Para o cientista político Rudá Ricci , tais classes "estão conseguindo gastar
"As letras entoadas são, muitas vezes, grosseiras, f eias ". Dos dez nomes mais buscados no Google em 2013 , três são dejúnkeiros. O "(!/ eito smartphone " só
com supérfluos, viajar de avião, ter um smartphone. Os meninos do rolezinho são filhos dessa geração que deixou a
cresce. Uma pesquisa feita com jovens de 15 a 24 anos de áreas pau Iistanas pobres mostrou que esses dispositivos
CATOLICISMO
são o item de consumo mais desejado por eles. São 2 horas da manhã numa casa noturna de Sã.o Paulo e os frequentadores estão dançando uma batida eletrôni ca repetitiva. No clube vigora uma mistura socia l. Encontram-se ali jovens de bairros suburbanos e também os chamados "p layboys". Festas e shows assim se repetem por outras cidades e clubes. Como tantos gêneros musicais que vieram das áreas urbanas mais pobres, ofimkjá conquistou parte da c lasse média. A "comunidadejúnk " hoje congrega 10 milhões de brasileiros com mais de 16 anos, a maioria das classes C e D . Há diferenças entre ofimkcarioca, mais malicioso e sexua l (ou mais bandido), e o paulista, que tem mais influência do hip-hop. O chamado "fimkostentação ", que ce lebra o consu mo e o luxo, é um produto pau li sta. Hoje, o jimk ganhou um batuque brasileiro, que parece saído dos terreiros de umbanda. Muitas letras são incontestavelmente grosseiras . Há ainda "a intersecção dojimk com
a bandidagem, que vigora sobretudo no Rio. Nos anos 90 surg iram nas favelas os chamados 'proibidões ', bailes protegidos ou patrocinados por fa cções criminosas. O 'proibidão ' tornou-se quase um subgénero dofunk, com letras que exaltam criminosos ". "Hoje o jimk reflete a cultura do carioca com muito mais propriedade do que o samba ", diz o empresário Leandro Gomes .
* * * Ta l fenômeno irá ad iante? Ou, como tantas experiências revolucionárias do passado, está destinado ao fracasso? Há problemas e percalços não pequenos pelo camin ho dessa utopia caótica, igualitária e sorbonniana. Sobretudo os seus fautores não contam com a promessa de Nossa Senhora feita em Fátima: Por fim , o meu Imaculado Coração triunfará! Rezemos e lutemos para que este triunfo se dê o quanto antes. • E-mail para o autor: catolícísmo@terra.com .br
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DISCERNINDO
"Mais cubanos" e Frei Betto I]
CID
ALEN CASTRO
o elaborar o programa "Mais Médicos" como carrochefe da _p~o~agan~a ,ele_itoral de Dilm_a _R ousseff ~ara ua reele1çao a Pres1denc1a, e a do ex-mm1stro da Saude, Alexandre Padilha, para o governo de São Paulo, a administração petista pode ter dado um tiro no pé. O programa começa a fazer água. E vai caindo no descrédito a alegação de que seu objetivo primordial é melhorar o atendimento médico no interior do Brasil. Os vários absurdos que esse programa comporta levam à constatação, logo de início, de que se trata fundamentalmente de transferir dinheiro para a ditadura comunista que escraviza Cuba, a qual se acha em situação de aperto, fruto de seu próprio estatismo igualitário. Subsidiado primeiramente pela União Soviética, depois pela Venezuela, caberia agora ao Brasil o papel de principal mantenedor do comunismo dos irmãos Castro. Dos R$ 10 mil pagos para cada médico, estes só recebem R$ 900. O restante vai para Cuba. A situação é tão absurda, que o jornalista Reinaldo Azevedo, à procura de uma explicação plausível para essa situação incompreensível, chega a levantar a hipótese de que se trataria de "um caso monumental de tráfico de divisas, lavagem de
dinheiro e financiamento irregular de campanha eleitoral no Brasil ". Os autênticos médicos cubanos - e não os agentes comunistas que se disfarçam entre eles - vão se dando conta da situação. A deserção de Ramona Matos Rodríguez, médica do referido programa que atuava no interior do Pará, abriu uma primeira brecha no casco desse navio negreiro. Ela pôs a boca no mundo. Pouco depois, ficamos sabendo que outro médico cubano, Ortelio Jaime Guerra, também abandonou o programa na cidade de Pariquera-Açu, no interior paulista. Outros ainda se lhe seguiram. O Ministério Público do Trabalho já está investigando o "Mais médicos", cujas características parecem contrariar a lei trabalhista brasileira (não a cubana, onde todos os habitantes são considerados peças da máquina bolchevista). O jornal "O Estado de S. Paulo" (11-1-14) diz que o programa poderia chamar-se "Mais Cubanos" e informa que, além de ficar com o dinheiro, o governo comunista da ilha retém os passaportes dos médicos. E acrescenta: "A exportação de médicos rende 6 bilhões de dólares anuais " para a ditadura cubana. O Brasil vai contribuir com 511 milhões de reais. Trata-se de "consolidar os laços ideológicos com Cuba".
* * *
Ramona Matos Rodríguez, médica cubana que desertou corajosamente do programa Mais Médicos
No final deste artigo trato rapidamente de outro tema. O Prof. Flávio Prado, assinante e amigo de nossa revista, enviou ao diretor de Catolicismo um artigo de Frei Betto, com um bilhete em que sugere um comentário. O artigo em questão, publicado em 18 de novembro último na "folha de S. Paulo", tem por título " Biografia desautorizada". Trata-se de uma alegoria em que um tal Gabriel , vestindo uma "capa negra semelhante à dosjuízes do Supremo ", entra com um pedido de apreensão dos quatro E vangelhos, por não terem sido fieis à vida de Jesus. E o artigo se perde numa longa apreciação sobre as narrações evangélicas que teriam sido deturpadas, segundo o tal Gabriel. Qualquer que tenha sido a intenção de Frei Betto nessa alegoria, é dificil sustentar que ela seja de bom gosto, ademais de seu caráter esdrúxulo . Fiquei na dúvida sobre o que comentar. Mas relendo o bilhete do Prof. Flávio, dei-me conta de que ele próprio já fez o comentário adequado, embora sob forma de pergunta:
"Caberia algum comentário na revista Catolicismo sobre mais estas sandices do inefável Frei Betto?" • E-mail para o autor: cato licismo@terra.com.br
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CAPA
Quo vadis, Domine?
Reverente e filial Mensagem a Sua Santidade o Papa Francisco
do Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança M ovimentos que combatem obstinadamente a propriedade privada, inclusive por 1neio de ações violentas, são convidados a participar ele reuniões cm importantes 01·ganismos da Santa Sé e um deles é recebido pelo Pontífice
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CATOLICISMO
irijo-me a Vossa Santidade em meu duplo caráter de Príncipe da Casa Imperial do Brasil e ativo participante da vida pública de meu País, para lhe externar uma grave preocupação concernente à causa católica no Brasi l e na América do Su l em gera l. É bem conhecido dos brasileiros o fato de que foi a instâncias do Papa Leão XIII, e apesar dos previsíveis inconvenientes políticos que daí adv iriam, que minha bisavó, a Princesa Isabel , regente do Império, assinou a 13 de maio de 1888 a Lei Áurea, abo lindo definitivamente a escravat11ra no Brasi l. Custou-lhe o trono, mas va leu-lhe passar à História como A Redentora, e receber das mãos do Papa a Rosa de Ouro, em recompensa pela sua abnegação em favor da harmonia soc ial e dos direitos dos mais desvalidos. Movido pelo mesmo senso de justiça e devotamento ao bem comum de meus antepassados, honro-me em ter dado início e animado durante 10 anos a campanha Paz no Campo a qual promove a harmonia social no agro brasileiro. Tarefa tanto mais imperiosa quanto, nas últimas décadas, o meio rural do País vem sendo notori amente conturbado por uma sequência de invasões de terra, assaltos, destruição de plantações, desapropriações confiscatórias, exigências ambientali stas descabidas e insegurança jurídica. No cerne dessa agitação agrária - que é o principal empeci lho para o pleno desenvolvimento da agricu ltura e pecuária brasileiras, responsáveis por 37% dos empregos no Brasi 12 e por cerca de metade dos novos empregos criados no primeiro semestre de 2013 3 - encontram-se o Movimento dos Traba lhadores Sem-Terra, mais conhecido pela sua sigla MST, e a organi zação internacional La Via Campesina.
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Dirigente nacional do MST aproveita-se de seminário convocado por organismo da Santa Sé como tribuna para insuflar a luta de ,classes
Por isso, foi com consternação que tomei conhecimento do convite enviado pela Academia Pontifícia de Ciências ao Sr. João Pedro Stédile, coordenador nacional do MST e representante da Via Campesina, para participar como observador de um seminário organizado pela referida Academia, em Roma, no dia 5 de dezembro de 2013 , sobre A emergência das pessoas socialmente excluídas, com as despesas de viagem pagas pelo Vaticano, segundo declarou o próprio favorecido. Essa consternação difundiu-se nos mais va ri ados meios cató licos, pois, como era previsível , o conhecido
agitador do MST aproveitou-se do evento como tribuna para promover, uma vez mais, seus princípios errôneos e fa lsas soluções, ambos baseados na premissa marxista da luta de classes e na utopia de uma sociedade coletivista. Com efe ito, apenas dois dias após o simpósio realizado nas dependências da Santa Sé, o Sr. João Pedro Stédi le proferiu uma palestra para os militantes da ultraesquerda altermundialista italiana, num antigo teatro de Roma por eles ocupado. Na palestra, reproduzida pela Agência de Notícias Adista4, ele faz apo logia de seus métodos ilegais. Segundo disse, "a estrada das mudanças pela via institucional parece decisivamente bloqueada "; e até gabou-se de que "tudo o que o MST tem conquistado no decurso de seus 30 anos de vida é devido à prática das ocupações de massa ", ou seja, da violação sistemática da propriedade privada no meio rural. A necessidade desse recurso à ilegalidade e até à violência por parte do MST decorreria, segundo Stédi le, do fato de que "no atual contexto histórico, a correlação de forças a nível de luta de classes é bastante desfavorável às classes trabalhadoras " - ou seja, às esquerdas que usurpam a representatividade do setor operário. Stéd il e admite inclusive que "o mundo vive um período de r~fluxo do movimento de massa " que afeta ao próprio MST, devido a que "as condições da luta de classes resultam mais diflceis: as massas percebem a impossibilidade de uma vitória, e se voltam para trás".
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"A curva da luta de classes será mundial... e a terra tremerá"
Mas ele afirma que essa falta de apoio popular não deve desencorajar as forças da esquerda. Apelando à "escola dos marxistas históricos britânicos ", o líder dos invasores de propriedades espera que o atual período de refluxo seja também um "p eríodo de resistência ... prelúdio de um processo de retomada ". Esse período de resistência - que segundo ele poderá levar "alg uns anos " - deverá servi r para "aprender as lições da luta de classes no decurso do tempo ". E o MST deve aprove itá-lo para sua ''.formação política ", valorizando e "estudando Marx, Lenin, Gramsci, mas também os brasileiros Paulo Freire, Josué de Castro e tantos outros", disse Stédi le a seus ouvintes a/termundialistas italianos. Permita-me, Santo Padre, frisar a ameaça com a qual Stédi le concluiu sua arenga: assina lando que é preciso que "a classe trabalhadora se reúna a nível
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João Pedro Stédile
internacional ", mas que isto seja fe ito por fora das ONGs e dos Fóruns Sociais - dado que estes teriam fracassado na tarefa de "organizar o povo" - , indicou que agora é preciso reunir "todos os movimentos sociais do mundo" em um "outro espaço" de confrontação ao capital financeiro internacional. Dessa forma, concluiu, "a curva da luta de classes será mundial e, portanto, quando começar a .fàse de ascensão, será assim por toda parte. E a terra tremerá".
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Stédile gaba-se de ter conseguido apoio no Vaticano e Leonardo Boff se regozija com isso
A terra por enquanto não treme. Mas não posso deixar de me perguntar, Santo Padre, qual a razão de que esse paladino de uma utopi a revolucionária tão visceralmente anticristã e promotor da violação sistemática das leis tenha sido convidado pela Pontifícia Academia de Ciências. Pois é obv io qu e, sendo as c lasses populares cada vez mais infensas à pregação revolucionária, o interesse do líder do MST e dos revo lucionários em geral só pode ser a sua pretensão de utiliza r-se da Igreja Católica e de organismos da Sa nta Sé como companheiros de viagem
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nessa utópica aventura (daí o apelo a estudar Gramsci , o grande ideólogo dessa estratégia). É o que admite o próprio J.P. Stédile em entrevista5 concedida logo após sua palestra no Teatro Valle Occupato, gabando-se de ter conseguido "motivar a que o Vaticano nos ajude com a Via Campesina e como movimentos sociais a organizarmos no próximo ano diversas conferências". Ele espera, ademais, que se estabeleça "de agora em diante um diálogo maior do Vaticano com os movimentos sociais", cujo resultado seria que "em nossos países [. ..] as igrejas locais ouçam os povos e não o Núncio apostólico, que é um burocrata a serviço de não sei quem " (destaques meus). É assim que e le retribui o convite e a passagem aérea que diz ter recebido do Vaticano ... Quais seriam os membros dessas "igrejas locais" que assim desqualificam o representante da Santa Sé a pretexto de ouvir "os povos", senão os adeptos da Teologia da Libertação? É bem sintomático o tom eufórico com o qual um dos mais publicitados corifeus dessa corrente, o ex-frade Leonardo Boff, comentou a incursão do Sr. Stédile no Vaticano 6 • Boff manifestou seu gáudio pelo fato de que "os pobres e excluídos" - na verdade, os líderes extremistas de esquerda - sejam agora "convocados a Roma,junto à Sé Apostólica, para falarem por si mesmos ". Destacou que "o tema fala por si: A emergência dos excluídos. Isso nos remete a um tema central da Teologia da Libertação ainda nos seus primórdios: A emergência dos pobres ". Segundo o ex-religioso, o simpósio em questão pode significar "o começo de uma nova vontade de reinventar [sic] a Humanidade ". Como isto lembra o mito do " homem novo" coletivista, sonhado por Marx!
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Mensagem de saudação a organização internacional responsável por atos de vandalismo
Tudo quanto anteriormente foi exposto, Santidade, é de molde a chocar milhões de católicos brasileiros que conhecem de perto o passado de violência, de crime, de destruição e de miséria que o MST e a Via Campesina têm deixado atrás de si no decurso de 30 anos de ocupações ilegais de terras e de domínio totalitário sobre os militantes que reúnem em seus acampamentos. Esses brasile iros ficarão ainda mais desconcertados quando tomarem conhecimento de que, além do convite
enviado a João Pedro Stédile para participar do referido seminário da Pontifícia Academia de Ciências, Vossa Santidade gravou em vídeo, nessa ocasião, uma mensagem de saudação aos integrantes da Via Campesina. Talvez Vossa Santidade não tenha sido informado de modo cabal, mas essa organização subversiva ficou tristemente conhecida dos brasileiros em abril de 2006, através do pranto comovedor, diante das câmaras de TV, da pesquisadora Isabel Gonçalves, que viu um meritório esforço de 20 anos de investigação científica aniquilado pelo ataque vandálico de 2.000 militantes dessa organização contra a empresa Aracruz Celulose, no Rio Grande do SuF. Os invasores, em operação perfeitamente sincronizada, depredaram grandes estufas experimentais, sistemas de irrigação, viveiros de mudas, incendiaram instalações e destroçaram modernos equipamentos de laboratório. Pode Vossa Santidade calcular o quanto soará inverossímil, aos milhões de telespectadores que assistiram estarrecidos o pranto desconsolado da cientista, saber que Vossa Santidade, nesse vídeo, estimulou a Via Campesina a "seguir ade/ante " - precisamente o que
a cientista não pôde fazer, ou seja, prosseguir com suas pesquisas meritórias! 8 Esse procedimento da Via Campesina não foi o único, Santo Padre. Para não me estender demais, aduzo apenas outro exemplo. Em junho de 2008, membros da organização destruíram as pesquisas daEstaçãoExp erimental de Cana de Açúcar de Carpina, na Mata Norte, órgão ligado à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Por volta das 4 horas da madrugada, cerca de 200 integrantes da Via Campesina chegaram ao local em dois ônibus e renderam o vigilante da estação. Em uma ação rápida, que durou cerca de uma hora, destruíram plantações experimentais no campo e pesquisas do Centro de Vegetação para Experimentos. Nos locais havia pesquisas da referida Estação Exp erimental e de estudantes de mestrado e doutorado. De acordo com o diretor da unidade, Djalma Eusébio, o prejuízo científico e tecnológico é incalculável: "Eles destruíram plantas que faziam parte de p esquisas de melhoramento genético que duram mais de dez anos. Havia pesquisas que estavam sendo desenvolvidas há
Militantes do MST fecham estradas perto de Brasília
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mais de dois anos e foram completamente destruídas. Não há como recuperar o prejuízo", disse. Os manifestantes fugiram antes de a polícia chegar e deixaram duas bandeiras no campo9. Quanto às destruições operadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) durante suas invasões criminosas, seria preciso escrever um extenso livro para relatá-las. Poupo a Vossa Santidade esse dissabor.
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Como interpretará a Via Campesina o estímulo do Papa Francisco de "seguir adelante"?
Os integrantes da Via Campesina provavelmente interpretarão suas palavras de "seguir ade/ante" como aplicáveis a suas ações delituosas acima descritas. Neste caso, elas estariam em nítido contraste com as categóricas palavras com que seu predecessor, S.S. João Paulo II, retomando o ensinamento de Leão XIII, condenou, em três oportunidades, entre 1991 e 2002, as ocupações ilegais de terras. Em particular, a advertência de João Paulo II aos Bispos do Regional Sul 1da CNBB, em visita ad limina apostolorum, em março de 1995, quando reiterou o ensino tradicional da Igreja: "Recordo, igualmente, as palavras do meu predecessor Leão XIII quando ensina que 'nem ajustiça, nem o bem comum permitem danificar alguém ou invadir a sua propriedade sob nenhum pretexto ' (Rerum Novarum, 55). A Igreja não pode estimular, inspirar ou apoiar as iniciativas ou movimentos de ocupação de terras, quer por invasões pelo uso da força, quer pela penetração sorrateira das propriedades agrícolas " 1º (destaques meus). Advertência que S.S. João Paulo II reiterou em novembro de 2002, com as seguintes palavras: "Para alcançar a justiça social se requer muito mais do que a simples aplicação de esquemas ideológicos originados pela luta de classes como, por exemplo, através da invasão de terras - já reprovada na minha viagem pastoral em 1991" 11 •
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Líder cartonero argentino considera que a propriedade é um roubo e sonha com um socialismo fortemente planificado
É de se admitir, entretanto, que Vossa Santidade não tenha tido conhecimento dos fatos delituosos envolvendo a Via Campesina no Brasil, e que as palavras "seguir ade/ante" não passem de uma forma estilizada para concluir sua saudação.
CATOLICISMO
Juan Grabois, argentino militante da "esquerda popular" peronista
Porém - seja-me permitido dizer com todo o respeito - minha perplexidade seria maior na eventualidade de Vossa Santidade não saber perfeitamente quem é Juan Grabois, argentino militante da "esquerda popular" peronista, também convidado pelaPontifíciaAcademia de Ciências, não só para ser um dos organizadores do referido seminário, como também para ser o primeiro de seus relatores. Ou seja, aquele que daria o tom ao subsequente colóquio. Articulador da rede de cartoneros - os catadores de papel de Buenos Aires - no chamado Movimento de Trabalhadores Excluídos, bem como um dos fundadores da Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular, esse advogado e militante da esquerda peronista não esconde suas convicções abertamente marxistas. Em artigo paraAgendaOculta.net12, Grabois sustenta que a "acumulação originária" de riqueza das classes abastadas "provém de algum grande crime" que "o tempo não lavará jamais". Para ele, tal riqueza particular é necessariamente fruto de "saque, escravidão, rapina, contrabando, evasão de capital, tráfico de pessoas, tráfico, usurpação, calote, corrupção, malversação de fundos públicos ... ".
E acrescenta: "São estes, e não outros, os métodos que tem no cardápio todo aspirante a burguês ". Nessa qualificação inclui os trabalhadores da economia informal que, quando bem sucedidos em seus esforços, passam ipso facto, segundo ele afirma, de autoexplorados a exploradores e estabelecem, também eles, "sistemas pericapitalistas de acumulação baseados no delito, na exploração, na escravidão e na violação de todos os direitos sociais " de seus colaboradores e parceiros. Ou seja, todo proprietário particular seria um ladrão pelo simples fato de ser abastado: é a velha tese de Marx e Proudhon. Vossa Santidade notará que uma simplificação tão grosseiramente unilateral, um tal ódio de classe ao chamado "burguês" e à propriedade privada, como à livre iniciativa e ao sistema salarial, está nos antípodas do pensamento da Igreja, e não pode senão desembocar no "socialismo real". É precisamente o que propõe o ideólogo dos cartoneros argentinos: "A construção de uma economia popular solidária, austera, não consumista", a qual pressupõe um "marco estratégico" defini damente socialista e estatizante: só quando a economia for "socializada e planificada " 13, disse ele, se poderá realizar a "sociedade sem explorados nem exploradores", o que implica "uma intervenção fortíssima do Estado " 14 • Tal intervenção será abrangente e omnímoda: "regulando, planificando, complementando e subsidiando as unidades produtivas populares " 15• Cabe perguntar: no que se diferencia esse modelo de uma volta à defunta União Soviética? ... Veneno marxista num invólucro humanitário: tais são as ideias básicas desse advogado revolucionário. Entretanto, Vossa Santidade convidou seus cartoneros a subirem no palanque da Praia de Copacabana, durante a Via Sacra da Jornada Mundial da Juventude 16, além de lhe tributar outros gestos de acolhimento, como a audiência que lhe concedeu 17, por duas horas, no mês de agosto passado, em sua residência de Santa Marta. Envolveriam estes gestos de Vossa Santidade um apoio à linha traçada pelo ideólogo Juan Grabois? Eis minha filial e respeitosa pergunta.
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Nos recintos do Vaticano ecoam as elucubrações anticapitalistas de Karl Marx
Naturalmente o Sr. J. Grabois aproveitou sofregamente a tribuna inaugural do seminário de 5 de dezembro para apoiar suas análises no marxismo, e "explicar" ao Cardeal Turkson, da Comissão Justiça e Paz, e aos
demais participantes do evento, que Marx tinha razão, apenas não anteviu todos os desdobramentos ruinosos do capitalismo! Santo Padre, não abusarei do tempo de Vossa Santidade resumindo a palestra de Grabois, intitulada Capitalismo de exclusión, periferias sociales y movimientos populares 18• Apenas assinalo que ele retoma velhos chavões marxistas sobre o "caráter estrutural da exclusão ", que para ele "surge das entranhas do sistema econômico financeiro global", como "consequência de estruturas humanas injustas ". Por isso considera necessário "analisar o capitalismo na sua fase atual" globalizada, bem como "os novos antagonismos sociais que ele gera". Esta questão, segundo o advogado marxista, já fora abordada por Karl Marx no capítulo XXIII de O Capital. Contudo o que Marx não previu, disse ele, é que, no mundo globalizado, um segmento crescente da população ficaria de fora do processo produtivo formal, constituindo a "massa marginal" dos "trabalhadores excluídos " que, para sobreviver, entram na esfera econômica da informalidade e constituem "o sujeito social mais dinâmico desta etapa histórica". Frei Betto, citado por Grabois, qualifica os trabalhadores deste setor como "pobretariado" [sic!].
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MST e Via Campesina, paradigmas do novo "pobretariado" que pratica a ação direta como ferramenta de libertação
Esses trabalhadores informais seriam supostamente movidos pela aspiração por "um mundo sem exploração do homem p elo homem, onde cada qual receba segundo sua necessidade e contribua segundo sua capacidade" (princípio marxista bem conhecido). Ou seja, seriam todos comunistas em potencial, utopistas marxistas puros, ainda quando não explícitos! E esta clamorosa inverdade, Santo Padre - que seria risível se não fosse terrível - custa entender que tivesse sido pregada em recintos da Sé Apostólica .. . Nessa palestra, Grabois retoma a velha dualidade marxista opressor-oprimido, para dizer que hoje emerge um novo proletariado prestes à rebelião, constituído pelos "descamisados do século XXI, os desempregados, os cartoneros, os indígenas, os camponeses, os migrantes, os vendedores ambulantes, os sem teto, sem terra, sem trabalho". Este pobretariado se apresenta com novas formas de articulação e novos meios de ação, diz Grabois, entre
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os quais destaca "d[ferentes .formas de ação direta ", termo eufemístico cunhado pelos anarco-sindicalistas franceses do início do século XX para indicar ilegalidade e violência. O emprego, hoje, dessa estratégia da "ação direta " decorreria do fato de que, enquanto os operários industriais "contam com a greve como principal .ferramenta, os excluídos só podem se fazer ouvir através de piquetes, mobilizações e outras formas de luta que costumam ser criminalizadas". Como paradigmas dessa "ação direta", o ativista carton ero menciona precisamente os movimentos convidados pela Pontifícia Academia de Ciências para paiticipar do seminário por ela organizado: o Movimento de Trabalhadores Excluídos (MTE) da Argentina (na pessoa dele próprio, Juan Grabois), bem como o Movimento dos Sem Terra (MST) do Brasil (representado pelo Sr. J.P. Stédile), o qual ''.forma parte da Via Campesina, com mais de 100 organizações em todo o mundo ", com sede central na Indonésia.
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Apologia de uma nova sociedade coletivista e igualitária
O mais inacreditável , nessa contundente palestra, é que o Sr. Grabois insiste no fato de que, embora na economia informal popular "os meios de produção necessários estão ao alcance dos setores populares ", isso não conduz a que tais meios se "explorem coletivamente" e possam gerar "relações sociais que sejam horizontais " - em suma, para se chegar a um regime comunista. Então é preciso que também a economia informal seja controlada pelo "poder popular"- ou seja, por novos sovietes. Daí nasceria "uma nova sociedade", que, como facilmente se p~rcebe, identifica-se com o mais puro comunismo. Tanto mais que, se o modelo dessa "nova sociedade " é o dos assentamentos controlados pelo MST, convém não esquecer o que Miguel Stédile (filho de J.P. Stédile), da coordenação nacional do MST, declarou à revista Época (nº 268, julho de 2003): "Queremos a socialização dos meios de produção. Vamos adaptar as experiências cubana e soviética ao Brasi/ "19• Santidade, para meu coração de católico e brasileiro resulta inexplicável que nos recintos sagrados da Cidade do Vaticano tenha ressoado uma tal apologia do comunismo - com sua ideologia fundada na negação da propriedade privada e na luta de classes - feita pelo Sr. Grabois 76 anos depois que o Papa Pio XI houvesse
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condenado esse sistema antinatural como "intrinsecamente p erverso "2º!
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Ademais da Pontifícia Academia de Ciências, Stédile e Grabois põem suas esperanças no Pontifício Conselho de Justiça e Paz
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Sobretudo não deixa de causar perplexidade que o advogado que proferiu semelhante discurso tenha sido convidado, por Vossa Santidade, para uma audiência privada no dia seguinte. E que, no curso dessa audiência, tenha sido gravada a saudação já mencionada para La Via Campesina, e mais um vídeo de promoção do Movimento de Trabalhadores Excluídos , fundado e animado por um militante neomarxista convicto. É compreensível, pois, que a Via Campesina, o MST e o MTE se tivessem apressado em dar publicidade a esses eventos, como "um acontecimento sem precedentes ", num comunicado conjunto2 1 amplamente difundido na mídia, no qual se insiste em que a "atividade foi coordenada pelo chanceler da Academia, [Arcebispo] Monsenhor Marcelo Sánchez Sorondo, a pedido do próprio Francisco ". O comunicado sublinha que, "finalizada a jornada, Stédile e Grabois mantiveram uma prolongada reunião com o Cardeal Turkson, presidente do Pontifício Conselho de Justiça e Paz, na qual intercambiaram opiniões sobre d/ferentes questões sociais e discutiram alternativas para dar continuidade ao diálogo entre Igreja e movimentos populares". Desses encontros com prelados da Cúria Romana, o MST e o MTE esperam auferir inúmeras vantagens. O mesmo Grabois afirmou, em entrevista para a Radio Vaticano 22 : "Nós temos que globalizar a luta[. ..]. E eu creio que nesse âmbito, inclusive o Conselho Justiça e Paz, com uma pessoa como [o cardeal] Turkson, vai nos dar uma mão " . Disse também acreditar que "embora pareça um pouco estranho", a Pontifícia Academia de Ciências "também está disposta a acompanhar, no que lhe cabe, as reivindicações, as nossas posições, nossas lutas, inclusive fortalecer os processos de organização. Sempre num ambiente de diálogo, de paz, de convivência, de resp eito p elas instituições ". Quanto às promessas de paz e de respeito pelas instituições, pelo menos no que concerne ao MST, sinto-me no direito de qualificá-las de hábil dissimulação para melhor angariar o apoio da Santa Sé. Mas, se a Pontifícia Academia de Ciências realmente se comprometeu a contribuir para fortalecer os processos
de organização dos chamados "movimentos sociais ", como asseveraram esses líderes do MST e do MTE, não surpreende que o comunicado conjunto afirme que ambos os movimentos partilham a "renovada sensação" de ter recebido "um importante apoio em sua luta ", e que "se abre uma nova etapa na unidade global do campo popular ". É como quem dissesse: agora sim, poderemos tornar realidade a convocatória de Marx e Engels: "Proletários de todo o mundo, uni-vos!" Certamente esta "nova etapa" não pressagia nada de bom para o Estado de Direito e a alardeada democracia nos nossos países. Pois, segundo o mesmo comunicado conjunto do MST e do MTE, "a democracia formal ou burguesa falhou. As formas de representação estão em crise e não respondem aos interesses dos povos. [ ..] Há necessidade urgente de desenvolver novas formas de participação popular nos três poderes e novas formas de representação política, em todo o mundo. Uma democracia que, além de.formal, seja real". Em outras palavras, o duo MST-MTE propõe o estilo de "democracia popular" que vigora em Cuba ou na Venezuela chavista. Ou seja, uma ditadura de fato, e tanto mais perigosa quanto esses dois " movimentos sociais" aspiram a amordaçar a imprensa livre: "A construção de uma democracia necessita democratizar, em primeiro lugar, os meios de comunicação", afirmam eles de modo eufemístico.
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missionário xaveriano, para o qua l o MST é "uma luz". Este sacerdote, utilizando expressões de um radicalismo fora do comum, chega a dizer que o MST é "odiado, execrado e combatido por aqueles que odeiam, execram e combatem o povo". E, em seguida, faz uma convocatória para que o povo se organize: "Mas, ainda hoje, há uma mensagem que todos devemos escutar e pôr em prática: o povo sabe resolver os seus problemas, e ofàz quando se organiza " (destaques meus) . Como não ver, nessa esdrúxula transmissão da Rádio Vaticano, uma triste e rejeitáve l sequela do que se passou na Pontifícia Academia de Ciências?
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A questão social não é meramente econômica, mas principalmente moral e religiosa
Para evitar quaisqu er mal-entendid os, esclareço a Vossa Santidade que de modo algum cons idero o atual hipercapitalismo globalizado corno panaceia econômica, e que, como católico, deploro, entre outros defeitos graves da presente eco nomia mundial , que os benefícios básicos do progresso material não tenham ainda alcançado muitas parcelas da população. Mas esta não é uma questão meramente econômica. Ensinou Leão XIII que a chamada "questão social" é principalmente uma questão de ordem moral e re li giosa. Disse o Pontífice: "Alguns professam a opinião, assaz
De onde provém a esperança desses extremistas de esquerda de contar com o apoio de organismos da Santa Sé?
Não posso deixar de me pergu11tar, Santo Padre, com profunda apreensão e até com angústia: de onde provém a esperança desses extremistas de esquerda, de contar com o apoio de organismos da Santa Sé para levar a cabo seus planos revolucionários e ditatoriais? Tudo parece indicar que eles dão por certo que estaria havendo uma mudança de orientação doutrinária da Santa Sé. Um indício disso é que o comunicado do MST-MTE registra o fato de que "todos os participantes fizeram reiteradas referências à Exortação Apostólica Evangelii Gaudium" e a seus "categóricos e esclarecedores conceitos sobre a situação dos excluídos e a matriz excludente da economia global". Outro indício é que a própria Rádio Vaticano, em transmissão de 22 de janeiro último, juntou-se às comemorações dos 30 anos de fundação do MST23 • E para isso franqueou seus microfones ao padre Savio Corinaldesi,
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vulgarizada, de que a questão social, como se diz, é somente econômica; ao contrário, porém, a verdade é que ela é principalmente moral e religiosa; e, por este motivo, deve ser sobretudo resolvida em conformidade com as leis da moral e da religião "24 • Assim sendo, uma intervenção bem sucedida da Hierarquia Eclesiástica no campo econômico e social deveria partir da denúncia dos dois vícios que estão na origem de todas as desordens e revoluções modernas: o orgulho e a sensualidade25 . Esses vícios alimentam os dois erros fundamentais e aparentemente opostos de nossa época: o utopismo coletivista e o liberalismo individualista. Porque, de um lado, geram o sonho anárquico-igualitário de uma sociedade sem governo, sem classes e sem leis; e de outro lado, estão na raiz do Liberalismo moderno, o qual recusa toda referência a uma verdade objetiva, a valores absolutos, a uma lei superior e, por isso, conduz à "ditadura do relativismo", oportunamente denunciada pelo então Cardeal Ratzinger26• Assim , na raiz mais profunda da crise antropológica pela qual passa hoje a humanidade, não está simplesmente a negação de direitos fundamentais do homem, mas resulta da negação da primazia de Deus na organização da sociedade humana. Todo o resto é mera consequência.
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Restauração da civilização cristã
A atual sociedade, de inspiração laica, menospreza os bens da alma. Ela penetrou como um veneno o Ocidente a partir da recusa da ordem austera e sacra! que vigorava na Cristandade quando, segundo as luminosas palavras de Leão XIII, "a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civi/ " 27 • Assim, conforme igualmente aos ensinamentos de São Pio X, um verdadeiro retorno à ordem na sociedade humana supõe a restauração de todas as coisas em Cristo - o belo lema de seu pontificado: Jnstaurare omnia in Christo (Ef. 1,10) - e a retomada do ideal cristão de sociedade, que ele magistralmente enunciou . Face à "anarquia social e intelectual " que grassava no início do século XX, o santo Pontífice assinalava a verdadeira saída: "A cidade não será construída de outra forma senão aquela pela qual Deus a construiu; a sociedade não se edificará se a Igreja não lhe lançar
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as bases e não dirigir os trabalhos; não, a civilização não mais está para ser inventada nem a cidade nova para ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe; é a civilização cristã, é a cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundam entos naturais e divinos contra os ataques sempre renovados da utopia ma/sã, da revolta e da impiedade "28 . No que concerne ao reerguimento e à regeneração das classes operárias, São Pio X já insistia em que "os principias da doutrina católica são fix os" e, citando Leão Xlll, sublinhava a necessidade de "manter a diversidade das classes, que é seguramente o próprio da cidade bem constituída, e querer para a sociedade humana a.forma e o caráter que Deus, seu Autor, lhe imprimiu " 29 (destaque meu). Ao mesmo tempo aquele grande Pontífice denunciava a perversidade que há em "pretender a supressão e o nivelamento das classes" sociais - tal como o fazem o MST e o MTE - e em trocar as bases naturais e tradicionais da sociedade humana pela promessa de
fa lsamente cristãs de uma Teologia da Libertação de ori entação claramente marxista. É muito signifi cati vo que, em 2009, urna sondagem do Instituto de pesquisas l bope3 1tenha mostrado que 92% da população bras ileira consideram ilegais as invasões de terras pro movidas pelo MST; e 72% dos ouvidos julga m que o poder públi co deveri a utiliza r a polícia para cumprir ordens judiciais de reti rada dos invasores. Para mais de 70% dos entrevistados o MST prejudica o desenvolvimento econômico e social, a geração de empregos e os in vestimentos nac ionais e estrangeiros. Mais significa ti vo ainda, para 85% dos brasileiros o direito de propriedade privada é essencial ao País: clara amostra de qu e os povos rejeitam o comunismo e sua miséri a. A demagogia da esquerda, Santidade, pode encontrar ressonância nas redações de certos jornais e TVs, em meios acadêmicos, na nomenklatura dos partidos políticos .. . e até - dói constatá- lo - em certos meios ecles iásti cos; mas ela não engana a gra nde maiori a do povo, qu e cada vez mais se distancia dela.
15 "uma cidade.futura edificada sobre outros princípios " 30,
notadamente os do iguali ta ri smo.
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Os pobres rejeitam a pregação revolucionária e anelam pela ordem verdadeira
Porta nto, não serão os programas altermund ialistas de cunho "ecológico" e neomarxista dos ditos "mov imentos sociais", que irão reso lver a crise econômica atual e redu zir a pobreza no mundo. Se o problema é o da emergência dos excluídos, Cuba é precisamente o contra-modelo a ser ev itado a qualquer custo, sob pena de transformar o mundo todo numa sociedade de miseráve is, estes sim, excluídos: excluídos do bem-estar, excluídos da vida política, excluídos da cultura, excluídos da li berdade de viaja r e, sobretudo, excluídos de praticar sem entraves a religião católica na Jlha-prisão! Os pobres não querem para si um ta l pesadelo. E, por isso mes mo, poucos se deixa m iludir pelos devaneios de um MST ou de um MTE, ainda qu e estes se rev istam, em sua pregação revo lu cionári a, com as ro upage ns
Rotundo fracasso da reforma agrária: em vez de favorecer, prejudica os pobres
Comprovação di sso é que, entre as reivindicações mais constantes dos movimentos imbuídos dessas ideias revolucionári as sempre esteve a implantação de uma reforma agrária radi cal, que eliminasse a gra nde e médi a propriedade, reduzindo todo o arcabouço rural de uma nação a pequenas áreas de terra que, aliás, em grande parte nem sequer seri am propriedade de seus detentores, mas sim ele cooperativas fo rtemente estati zadas. Ora, apesar da fe nomenal propaganda fe ita em seu favor e dos ri os de dinheiro nela apli cados, a reforma agrári a fracasso u no Bras il. A situação econômica e social nos assentamentos de reforma agrári a é tão grave, que até ministros do govern o reconhecem que a grande maiori a deles se tra nsform ou em autênticas ':favelas rurais ". Reconhecimento ta rdio, pois essa expressão hav ia sido cunhada mui tos anos antes pelo Prof. Plínio Corrêa de Oli ve ira, em sua luta contínua por alertar os bras ileiros para esse desfecho inevitável. Inevitável, sim, pois tudo que contrari a a ordem natura l cedo ou tarde termina em desastre. Por isso, di zem com razão os fra nceses: Chassez /e naturel, il revient au galop . Não fo i, pois, por falta de advertência. Desde o in ício da década de 50, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira havia notado que a propaganda revolucionári a soprava no sentido da reforma agrária, a qual por fi m se consubstanciou
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em projetos concretos no final da década. Por isso escreveu e lançou, em 1960, em coautoria com dois Bispos e um economista, o livro Reforma Agrária - Questão de Consciência, no qual profetizou que ela desfecharia no fracasso . Foi o marco inicial de uma luta que comportou a publicação de vários livros, manifestos e declarações, bem como campanhas públicas de divulgação e abaixoassinados, dmante as quatro décadas seguintes, até seu falecimento em 1995. Hoje, estudiosos e profissionais competentes glosam o fracasso da reforma agrária. Assim, ainda há poucos dias, o Prof. Zander Navarro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em artigo publicado num grande matutino pauli sta32 , descrevendo o êxodo rural que se verifica de norte a sul do Brasil, escreveu: "E há os assentados, que deveriam ser expressivos. Afinal, seria um conjunto de 1,25 milhão de famílias em 8,8 mil assentamentos, ocupantes de 88 milhões de hectares, quase equivalentes à área total de Mato Grosso. Mas a reforma a(lrária é um rotundo fracasso: boa parte dos beneficiários desistiu, deixando raref eitos os assentamentos, em esp ecial do meio do Pais 'para cima', sobretudo no Nordeste e no Norte". E nquanto os assentame ntos de reforma agrária, criados na onda dessa agitação agrária, nada produzem, vivendo das esmolas do Estado, um competente perito da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa)33 observa que a tecnologia tem ajudado os pequenos, médios e grandes agricultores, e acrescenta: "A produção agrícola do Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas" 34 • Outro estudo registra que "o preço da cesta de alimentos caiu pela metade entre 1975 e 2010 " 35 , o que explica o fato de que, "na década de 1970, a família média brasileira gastava cerca de 40% da renda familiar em alimentos. Atualmente, esse valor não passa de 16% "36 •
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Quo vadis, Domine?
Vo ssa Santidade, agindo com calculada prudência, vai definindo aos poucos os rumos do seu pontificado. É natural que os fiéis acompanhem com atenção os passos que vão sendo dados nesse sentido. Diante das inevitáveis perplexidades que toda mudança de rumo naturalmente produz, compreende-se que muitos façam , no interior de seus corações, a pergunta que, segundo a legenda, o próprio São Pedro fez quando, fugindo da perseguição de Nero, encontrou Jesus Cristo que vinha em sentido contrário: Quo vadis, Domine? Aonde vais, Senhor?
CATOLICISMO
Ao ouvir a resposta de Nosso Senhor de que Ele se dirigia a Roma para ser novamente crucificado, São Pedro entendeu que o momento havia chegado de ele próprio sofrer o martírio. E, assim, submeteu-se ao suplício com grande humildade, pedindo aos algozes que o crucificassem de cabeça para baixo - segundo piedosa tradição - porque não se considerava digno de que sua morte igualasse em todos os pormenores à de Cristo. Assim, em vista dos fatos acima pormenorizadamente descritos, e das perplexidades por eles suscitadas, um fiel poderia ser levado a dirigir ao Papa Francisco idêntica pergunta - Quo vadis, Domine? Seria legítimo fazê-lo? Em que condições? O Código de Direito Canônico consagra, no cânon 212 § 3, o pleno direito de todo fiel à respeitosa exposição de sua opinião, nessa ou em outras matérias: "Os fiéis, segundo a ciência, a competência e a proeminência de que desfrutam têm o direito e mesmo, por vezes, o dever de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e de a exporem aos restantes.fiéis, salva a integridade da/é e dos costumes, a reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das p essoas ". Faço-o, pois, nesta REVERENTE E FILIAL M ENSAG EM, convencido de que Sua Santidade receberá a presente manifestação com paternal benevolência, e como uma leal contribuição para o êxito de sua excelsa missão no governo da Santa Igreja.
* * * Reafirmando uma vez mais a minha obediência irrestrita e amorosa não só à Santa Igreja como ao Papa, em todos os termos preceituados pela doutrina católica, peço a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, que ilumine Vossa Santidade e ajude todos os católicos latino-americanos a permanecer fortes in fide, nas suas convicções católicas e em sua rejeição ao extremismo de esquerda, de maneira que esta Terra de Santa Cruz continue a ser cada vez mais, junto com as nações irmãs da América Espanhola, o Continente da Esperança, sob as bênçãos de sua querida padroeira, Nossa Senhora de Guadalupe. Osculando o anel do Pescador, peço humildemente a Bênção Apostólica, in Jesu et Maria Bertrand de Orleans e Bragança São Paulo, 8 de fevereiro de 2014
Notas:
1. A Campanha Paz no Campo vem se notabilizando no Bras il pela defesa dos princípios da propriedade pri vada e da livre iniciativa, segundo os ensinamentos contidos nos documentos do Magistério ti-adicional da Igreja. 2. http ://www.feedfood.com. br/agronegoc io-corresponde-37-dos-empregos-gerados-no-pais/ 3. http://exame.abril .com.br/economia/noti cias/recorde-de-exportacoes-no-agronegoc io-aumenta-demanda-por-profissionais 4. http://www. adi staonline. it/?op=artico1o&id=53494 5. http://www.wsftv. net/Members/focuspu ller/videos/joao-pedro-stedi le-1 / vi ew 6. http://leonardoboff.wordpress.com/2014/0 l / 1O/os-movimentos-populares-lati no-a meri canos-junto-ao-papa- francisco/ 7. http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/anais_ivsimp/gt7/ 15 _mairakubik. pd f 8. http://www.mst.org. br/node/ 15560 9 . http: // www . o ld.p e rn a mbu co . co m / ultima s/ n o ti c i a. asp?materia=20086 IO133246 1O. http://www.vatican.va/holy_fa ther/john_pa ul_ii/speeches/ 1995/march/ documents/hfj p-ii_spe_ 1995032 1_brasile-ad-limina_po.html 11 . http://www.vati can.va/holy_ fa ther/john_pa ul_ii/speeches/2002/november/documents/hfj p-ii_spe_ 2002 11 26_brazil-sul-iii-iv_po .html 12. http://www.agendaoculta.net/201 2/08/el-capitalismo-de-exclusion-y-l a. html 13. http://www.cartoneando.org.ar/content/capitalismo-popular-una-variante-sa lvaje-del-modelo-por-juan-grabois 14. http://www.economiapopular.coop/juan-grabois 15. http://mareapopul ar.org/rev ista/agremi ando- la-precari zacion-l aboral/ 16. http://www.telam. com.ar/notas/201 307/26546-el-papa-mando-a-buscar-a-3 5-ca rtoneros-argenti nos-entre-u n-m i11 on-de-peregri nos. htm 1 17. http://www.noticiasdiaxdia.com.ar/noticias/va l/6869-43/-carta-a l-ev ita-desde-e l-vatica no-por-j uan-grabois. hlm 1#. UtM McvS ICS p 18. http://www.casinapi oiv.va/content/dam/accademi a/pd f/s v 123/s v 123-grabois. pd f
19. http://revi staepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT564366- 1653-5,00.html 20. Carta Encíclica Divini Redemptoris, de 19 de março de 1937, § 58. 2 1. http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Movimentos-Sociais/Os-mov imentos-popu Iares-lati no-ameri ca nos-junto-ao- Papa- Fra nc isco/2/2 9947 22. http://medi aOl .radiovaticana.va/audiomp3/00404088. MP3 23 . http://it.radi ovaticana.va/news/2014/0 l /22/bras ile:_ compie_30_ anni_il_ movimento_ %E2%80%9Csem_terra%E2%80%9 D/it 1-766279 24. Encíclica Graves de communi, de 18 de janeiro de 1901. 25. Cfr. Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte 1, cap. VII , 3. 26. Disse o Cardea l: "Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades" (Homilia na Missa Pro Eligendo Romano Pontífice, 18 de abril de 2005 - http://www.vati can.va/gpll /documents/ homily-pro-eligendo-pontifice_2005041 8_po. html 27. Encícli ca Jmmortale Dei, de 1° de novembro de 1885 . 28. Carta Apostólica Notre charge apostolique, de 25 de agosto de 19 1O, § 11 http://agnusdei. 50webs.com/notrech2. htm 29. Carta Apostólica Notre charge apostolique, de 25 de agosto dé. 19 1O, § 9 http://agnusdei.50webs.com/notrech2. htm , 30. Carta Apostólica Notre cha,ge apostolique, de 25 de agosto de 19 1O, § 9 e IO http://agnusdei.50webs.com/notrech2.htm 3 1. http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ibopecna-92-condenam-ocupacoes-do-mst,485449,0.htm 32. O Estado de São Paulo, 22 de janeiro de 2014. 33 . Evaristo Eduardo de Mi randa, doutor em Eco logia e responsável pela área de monitoramento por satélite da Embrapa. 34. http ://www. iica. in t/Esp/reg iones/sur/brasi1/L ists/Noti cias/Disp Form . aspx?ID=634 35. Notícias Agroinvvesti, 17 de junho de 2011 , Cleber Bordignon, Agronegócio, um nnmdo de oportunidades. http://www. agroinvvesti. com. br/?menu=noticias&id=907 36. Notícias CNA, 2 de novembro de 2011 ,Brasil e EUA: grandes potências para alimentar o mundo . http://www.canaldoprodutor.com.br/comunicacao/ notic ias/bras i1-e-eua-gra ndes-potenc ias- para-a Iimenta r-o-m undo
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São Toríbio de Mongrovejo, Apóstolo do Peru G rande Inquisidor de Granada, Arcebispo de Lima e missionário, consolidou a Religião Católica em grande parte do continente sul-americano Lima durante a época colonial
Ili PUNIO M ARIA SOUMEO
Religião católica entrou no Peru, no écu lo XVI, com os próprios conuistadores. Com efeito: "Embora seja verdade o fato de que pode ter sido o ouro o objeto mais alto nas mentes dos conquistadores espanhóis do Novo Mundo, é lugar comum na história que nesta conquista, dos confins mais ao norte do México ao extremo sul do Chile, a religião
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CATOLICISMO
sempre jogou a parte mais importante; e que a marcha triunfante da bandeira de Castela/oi também o glorioso avanço do sinal do Salvador. [ .. .} A sanção dada a eles pelo Supremo Pontifice; o tropel de devotados missionários que seguiram os passos dos conquistadores para salvar as almas dos conquistados; as reiteradas instruções da Coroa, cujo grande propósito era o da conversão dos nativos; e dos atos dos próprios soldados ". ' Os cinco frades dominicanos que acompanharam
Pizarro na conquista foram os primeiros a evangelizar os povos conquistados.
Nomeado por Felipe li como lnquisidor-M01· Toríbio nasceu de pais nobres na cidade de Mayorga, na Província de León (Espanha), em 16 de novembro de 1538. Seu pai era Senhor de Mongrovejo. Desde pequeno votava terna devoção à Santíssima Virgem, recitando diariamente seu Oficio e o Rosário. Estudou em Valladolid e Salamanca. O rei Felipe li nomeou-o InquisidorMor de Granada aos 30 anos. "É o
momento em que D. João d 'Áustria acaba de apaziguar a insurreição dos mouriscos. Os vencidos encontram no inquisidor um pai, um conselheiro, um protetor". 2 São Toríbio exerceu esse cargo durante cinco anos com uma integridade, uma prudência e uma virtude tais que lhe granjearam a estima geral.
Al'cebispo de Lima e Metmpolitano do Pe1·u Em 1575 havia falecido em Lima seu primeiro bispo. Era preciso mandar um substituto, pois a situação na Cidade dos Reis - nome que Pizarro deu à capital do Peru - , era muito delicada. A riqueza das novas terras havia atraído para a colônia muitos aventureiros gananciosos que viviam sem lei nem Deus. Era por isso necessário um pastor de virtude comprovada e pulso firme . Felipe n então, servindo-se de um privilégio que tinham os reis naquele tempo, nomeou Toríbio de Mongrovejo Arcebispo de Lima e Metropolitano do Peru. Toríbio ficou perplexo com esse ato. Julgava que não tinha preparação alguma para tal cargo. Era leigo, nunca havia recebido nenhuma das ordens eclesiásticas nem estudado teologia. Escreveu então ao conselho do rei mostrando com cores muito fortes sua incapacidade para o cargo, e alegando sobretudo os cânones da Igreja, que proibiam expressamente nomear leigos para o episcopado. Nada disso teve efeito. O rei permaneceu inamovível e Toríbio teve que
ceder, consolando-se com o pensamento de colher a coroa do martírio no meio dos selvagens do Novo Mundo. O santo quis então receber as quatro ordens menores que encaminham para o sacerdócio em quatro domingos diferentes, a fim de ter tempo de se preparar para cada uma. Recebeu depois as ordens maiores, foi ordenado sacerdote e sagrado bispo, embarcando para o Novo Mundo. Ele tinha então 43 anos de idade.
"Se ele não derramou seu sangue como tantos outros evangelizadores das terras novamente descobertas, teve a glória de ser o maior dos missionários americanos. Foi um grande missionário e um grande prelado: resumiu em sua pessoa de maneira integral os rasgos vigorosos de Carlos Borromeu e de Francisco Xavier ". 3 Lima, capital do império espanhol na América do Sul , fora fundada pelo conquistador Francisco Pizarro em 1535. Em 1546 foi elevada a bispado, sendo seu primeiro bispo o dominicano Jerônimo de Loayza, que faleceu em 1575. A extensão territorial da diocese de Lima equivalia então à metade da França, espalhando-se tanto pelas florestas quanto pela Cordilheira dos Andes, na qual havia numerosos assentamentos indígenas. Como ocorre em cidades onde o ouro corre fácil, Lima tinha atraído todo tipo de aventureiros e gente desclassificada. Para piorar, o clero estava relaxado e dava muito mau exemplo. É bem verdade que, a par disso, havia muitas almas virtuosas, pois na época de São Toríbio viveram, só em Lima , quatro grandes santos : São Francisco Solano, Santa Rosa de Lima e São Martinho de Porres - e, pouco depois, São João Macias.
Lança excomunhões sobl'e os renitentes São Toríbio tinha em mente levar avante em sua arquidiocese as prescrições do Concílio de Trento, celebrando sínodos, reformando o clero, organizando missões, erigindo igrejas e evangelizando os índios . Para isso contava com uma prudência consumada
e um zelo ativo e vigoroso. Sabia aonde levar o remédio e, se a chaga exigisse rigor, também empregá-lo. Desse modo, lançou várias excomunhões onde se fez necessário: contra os sacerdotes que se desviavam de sua missão e se entregavam à boa vida ou ao comércio; contra o colonizador espanhol que maltratava e escravizava o índio entregue à sua custódia; e mesmo contra o vice-rei, que opunha obstáculos ao seu ministério. 4 Tudo isso com um espírito sobrenatural surpreendente, pois o novo arcebispo, antes de agir,jejuava e rezava para atrair a misericórdia divina sobre as almas confiadas a seus cuidados.
Conquistando o índio para a lgl'eja e para a Co1·oa A maior parte dos índios de sua arquidiocese estava mergulhada nas mais infames desordens. A bebedeira só cessava quando não tinham mais nada para beber. E a indolência em que viviam era mãe de todos os vícios, alimentados por sua vez pela mais completa promiscuidade de vida. Para tornar mais efetivo seu apostolado entre os índios, São Toríbio, apesar da idade, estudou a língua quíchua tão cuidadosamente, que se tornou capaz de a falar correntemente. Procurava os silvícolas nas selvas, nas montanhas, enfrentando feras, neve, chuva e todos os outros inconvenientes para levarlhes a palavra divina. Construía igrejas e colocava nelas sacerdotes de virtude comprovada para consolidar os frutos produzidos. São Toríbio estava disposto a sofrer toda sorte de injúrias dos ingratos índios, com seus arrebatamentos e seus caprichos. Muitas vezes teve que passar sereno em meio ao silvar de suas flechas envenenadas. Mas nada o detinha. Se havia uma alma a salvar, arriscava-se a tudo . O antigo doutor em leis havia se transformado em catequista. Falando a própria língua dos índios, penetrava em seus tugúrios, mostrava-lhes a vaidade de sua religião de adoradores do sol,
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lançava por terra seus ídolos. e ensinava-lhes o fund a\n,<;:nto da vida :.:ristã,' ,) . . agrupando-os emJ brno da 1greJa, sob a direção de um sacerdote. Acos_tumavaos, enfim, à vida labori osa. Sua bondade e seu so rri so conquistavam para o impéri o de Cristo e para a Espanha aque les corações arredios. Confirmou milhares de índios em suas andanças apostólicas. A presença do arcebispo contribuía para impressionar aquela gente simples: seu porte era maj estoso, o nari z adunco, testa larga e gestos nobres. No palác io epi scopa l, Dom To ríbi o vivi a com o ri gor de um cenobita, mas quand o aparecia e m públi co, re vesti a-se de toda a magnificência de sua di gnidade epi scopal.
Maldição cumprida sobre a cida<le de Qui11e Os pecadores públicos, qu e antes os te nta va m se us ví c ios pe las ru as da nova metrópole como em terreno conquistado, encontra ram no arcebi spo uma verdade ira barreira para seus desmand os. Cabia-lhes converter-se ou abandonar a cidade. Até a chegada do virtuoso vi ce-re i Francisco de Toledo, São Toríbi o sofreu persegui ção por parte dos governadores do Peru , qu e tud o sacrifi cava m para atender a seus próprios interesses . Em 1597, faze ndo uma visita pastora l, o santo arcebi spo chego u ao povoado de Quive. Ninguém fo i recebê-lo. Ao entra r na igrej a, encontrou apenas dois meninos e uma menina para receberem o sacramento do crisma. Sa indo de vo lta à rua, fo i rece bido co m va ias. Al guns ra pazes, co m ges tos provocativos, seguiram-no até seu aloj amento, gritando: "Narigudo!
Funda o primeil'o seminário da América Latina E m 15 9 1 São Toríbio fundou o primeiro seminári o da Améri ca Latina, dota ndo- o de bo ns profess ores para fo rm arem sacerdotes sábios e virtuosos. E m pouco mais de 20 anos ele celebrou 15 sínodos di ocesanos e em quatro ocas iões reuniu os bispos da Améri ca meridi onal. Visitou duas vezes todo o territóri o so b a sua jurisdi ção, que na época compree ndi a grand e pa rte do continente sul-americano . A prime ira vi sita durou sete anos, a segunda cinco, e estava na terceira qu ando fa leceu. Além do semin ári o, São To ríbi o construiu igrej as e hos pita is. Quando estava em L ima, visitava diari amente os doentes do hospita l. Q uando a peste ataco u parte dos habitantes de sua di ocese, o arcebispo recomendou orações e penitência como me io de apl acar a có le ra divina . E ofereceu-se a Deus como vítima para a conservação de seu rebanho.
Como dissemos, o santo arcebi spo crtsm ou ta1ii bifu aqu e'la qu e seri a a glória de seu país e padroe ira secundári a da América Latilia, Santa Rosa de Lima. Oriunda de numerosa e honrada fa mília ( onze filh os) de mediana fortuna, nasceu a fu tura santa no di a 20 de abril de 1586 e fa leceu em 16 17. Em 1590 chegou a L ima o franciscano espanhol Fran cisco Solano, o fu turo "Taumaturgo do N ovo Mundo". São Toríbi o encarrego u-o de evangeliza r os índios, o que ele fez du ra nte 20 anos. Esse amável santo, qu e apaz iguava os índios ao som do violino, não poupou fa di gas nem sacrifícios para atrair os silvícolas ao seio da Igrej a. E le fo i também o apósto lo da região de Tucumán, na atu al Arge ntina, e do Paraguai. São Toríbi o morreu numa Q uintafe ira Santa, di a 23 de março de J606. Estava fazendo sua terceira viagem pela sua extensa di ocese qu and o adoeceu graveme~te. Desej ou ser transportado à igrej a para rece ber o vi át ico, po is não qu eri a qu e N osso Se nh or fosse obrigado a ir até seu quarto. Mas teve que resignar-se a receber os últimos sacramentos em seu leito. Coisa curi osa: como o superior do convento agostiniano local sa bia tocar harpa, São Toríbi o pediu - lh e qu e a tocasse acompanhand o o Salmo l n te Domine spera vi durante sua ago ni a. A ss im , fo i ao som da música sacra l terrena que sua alma se elevou para o Céu onde ouve os cânticos dos anjos. 5 • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas: 1. Cfr. Prescott, " Conquest of Peru", li , iii, apud J. Moreno-Laca lle, Peru, The Catholi c
"Desgraçados! Não passareis de três".
Encontro de quatro grandes sa11tos
Encyc lopedia, CD Rom edition. 2. Frei Ju sto Pe rez de Urbe l, O.S.B., Ano Cristiano, Ediciones Fax, Madri , 1945, tomo 1, p. 550. 3. ld. p. 55 1. 4. Cfr. ld. ib.
E rea lm ente sucede u qu e em p ouco tempo em Q uive não restavam senão três casas. Entretanto, sua vi age m não fo i inútil , pois a menina confirmada naquele di a veio a ser a gra nde Santa Rosa de Lima!
São Toríbi o crismou mais de me io milhão de pessoas, entre as qua is o fu turo São M artinho de Porres. N ascido em 1579, esse santo mulato depois operou maravilhas no convento de Nossa Senhora do Rosário, dos dominicanos, em L ima.
- Les Peti ts Bo ll andi stes, Saint Toribio ou Turibe, Archevêque de Lima, Vies des Saints, Bloud et Ba rra i, Pari s, I882, tomo 111. - Edward L. Ayme, ToribioAifonso Mog/ovejo, The Catholi c Encyc lopedia, CD Rom edition. - Pe. José Leite, S.J ., S. Toríbio de Mongrovejo, Santos de Cada Dia, Ed itorial A.O., Braga, 1993, tomo 1.
Narigudo! " São Toríbi o contentou-se em dizer:
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5. Outras obras consultadas:
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Uma guerra mundial que foi uma revolução ■ LEO DANIELE
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s holofotes da mídia estão voltados para o centenário da guerra de 1914-1918. Completaram-se cem anos em que a humanidade geme sob o jugo dos tempos novos, pois segundo a maioria dos historiadores eles tiveram início então. É fora de dúvida que com essa guerra uma página foi virada. "Cerca de 10 milhões de mortos - além de ter 'destruído a otimista e benevolente cultura do continente europeu '. " 1 A I Guerra Mundial se distinguiu pela conquista e defesa de trincheiras, portanto com abundância de sujeira, sangue e lama. Esta foi a sua triste originalidade. E se fosse só a lama! E os bichos? E o prosaísmo? E, sobretudo, o sangue generoso, largamente derramado, mesclado a essa lama? As batalhas nas trincheiras foram uma forma de combate irracional, qualificada por Edmond Taylor como "o mais horrível absurdo - e o mais absurdo horror - na História da guerra[. ..], durante algo como 1.400 dias".2 Pior ainda. Algo mudou na juventude, esse é o sentimento unânime. Antes da I Guerra, podia-se notar "gosto pela ação,fé patriótica, limpeza de costumes, renascença católica. Esses traços podiam ser encontrados em todas as nossas observações".3 Uma célebre enquête, assinada com o pseudônimo de Agathon, realizada por Henri Massis (1886-1970) e publicada em 1911, documenta muito bem a situação anterior à decadência produzida pela guerra. Henri Massis afirma com propriedade: "Aos olhos desses moços, uma natureza pensante, verdadeiramente rica de amor e de vida, devia tender para uma crença, um dogmatismo precursor da ação". 4
Ninguém sabe que esp lendores poderiam desabrochar dessa juventude, se tivesse tido condições de desenvolvimento normais. Mas veio a Grande G uerra, veio o pós-guerra. E tudo mudou . As duas guerras mundiais podem ser vistas sob muitos aspectos. Entre eles, o de terem funcionado como extintores de incêndio aplicados sobre uma realidade que incomodava. Se a primeira Grande Guerra tivesse sido planejada exclusivamente para afogar num banho de sangue abrilhante juventude da Bel/e Époque - tanto do lado francês quanto do alemão - dificilmente ela se teria desemolado de forma diversa da registrada pela História. Terrivelmente mortífera. 5 As trincheiras da Grande Guerra eram particularmente apropriadas para sepultar o idealismo brilhante e cavalheiresco dos jovens do fim da Bel/e Époque no prosaísmo horrivelmente pestilento do fundo daquelas ignóbeis valetas. Afundou-se assim , no sangue e na lama, uma juventude muito promissora. Com efeito, descreve Jacques Mayer o que seus olhos viam: "Lama que escor- - rega, lama que escorre, lama que trepa, lama que corre, que cai do alto, que sobe de baixo, lama até a'borda, ou que cobre os joelhos, frequentemente até o ventre... Que te agarra, que te gruda ... que se mete até nos teus bolsos .. . que se come até no pão! ... Lama ventosa, lama vampiro, que te engole, que te aspira". 6 Como afirmo u a revolucionária com uni sta Rosa Luxemburgo, "assistimos ao desabamento do Velho Mundo que cai em grandes pedaços, dia após dia. O mais surpreendente é que a maioria das p essoas não percebe, e acredita ainda caminhar sobre terra.firme".7 Jovem soldado australiano, combatente da I Guerra Mundial
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De um quadrante oposto, o imortal Pontífi ce São Pio X tudo fez para ev itar a ca rnifi cina. Plini o Corrêa de Oliveira ass im externa o que sentiu : "É preciso ter vivido em 1920, ou 1925, para compreender o tremendo caos ideológico em que se debatia a humanidade. A Cristandade parecia um imenso prédio em trabalhos.finais de demolição [. ..] não há alegoria, nem image,n, nem descrição que possa retratar a confúsão daqueles dias de pós-guerra ' " .8
Mas o combate não fo i tudo. Essa moc idade tão promi ssora fo i co lhida em um vasto mov imento envo lvente. Como se sa be, em 19 17 - portanto três anos depois do iníci o da guerra e um ano antes de seu término - os Estados Unidos passaram a participar das hostilidades. Saudáveis, jovi ais, com algo de esporti vo, entraram para vencer. E, junto com a vitória, desencadeou-se no Velho Continente, como onda de choqu e incontenível, a influência norte-a meri ca na. Descreve o intelectual ita li ano Roberto de Mattei: "A América encarnava uma nova way of life, que linha seu modelo cintilante e artificial em Hollywood, a cidade californiana sede do novo império do cinema. Nos anos 20, '/es années.folles 'ou, segundo a fó rmula britânica, os 'roaring Twenlies ', a Europa soji-eu tran~jormações sociais que modificaram prqfimdamente hábitos e costumes de seus habitantes. A americanização.foi imposta sobretudo pelo cinema {..], que se tran~formou no divertimento maispopula,; ao lado dos esportes de massa como o.fútebol e o boxe, os quais o rádio e a imprensa propaga vam". 9
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O efeito dessa onda de choque norte-americana se fez sentir por uma espécie de ricochete no Brasil, porém sua força e influência difi cilmente podem ser avaliadas por quem nasceu na segunda metade do século passado, por causa da perda dos pontos de referência. Hoje se respi ra essa influência como se sorve ar. Ela se di sseminou tanto que quase não é mais perceptível. O desenl ace da guerra co locou no proscêni o hi stórico a influência norte-americana. O que os canhões não conseguiram arrasar - e eles arrasaram muito - , Hollywood e as maneiras di tas "do fu turo" obtiveram. O que o banho de sangue não conseguiu afogar, fê-l o, sem armas, o vaga lhão dessa influência, ou, se nos fo r permitida essa licença de linguagem, o " banho de Coca-Cola" que inundou e afogou a velha Euro pa e o Mundo ...
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O Sécul o XX fo i o da hegemoni a dos Estados Unidos. De um lado, essa potência prestou à humanidade o servi ço ingente e inapreciáve l de enfre ntar o nazismo e o comunismo. Mas sua deletéri a e vitori osa influência sobre a velha cultura europeia e, a seguir, sobre os remanescentes da civili zação cristã no mundo inteiro, constituiu uma verdadeira revo lução cultural , numa ação um tanto impalpável mas bastante prolongada. Por outro lado, justa mente a respeito dos EUA , afirm ou Plínio Corrêa de Oliveira tratar-se de "uma nação aristocrática em um estado democrático". 10 Além disso, o co losso da América do Norte está entre os países que, hoje em dia, apresentam mais "coágul os" benéfi cos, opostos à modernidade e à pós-modernidade. Contradição? Não, paratloxo. Fo i Charles de Gaulle que res umiu esse quadro afirm ando: "A Gmmle Guerra.foi 11111t1 revolução ".11 Em todos os sentidos da palavra ... • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas :
1. Cf, Rica rdo Bona lu me Neto, Mo r/e e111 massa inaugura o século, "Folha de S. Paul o", 30- 12-99. 2. "lày lor, Ed mond, The Fa/10/1/te Dynaslies (Ga rden City, N. York, 1963). 3. lbi d. 4. Henri Massis, li y a cinquan/e ans Aga1ho11 publiail sa célebre enquêle sur lajeunesse (" Histori a", nº 202, sete mbro de 1963). 5. "No pós-guerra se fa lava de uma 'geração perdi da'. Dos alemães nasc idos entre 1892 e 1895, que tinham entre 19 e 22 anos quando começou a guerra , entre 35% e 37% fora m mortos. Dos 16 milhões de alemães nasc idos ent re 1870 e 1899, quase lodos servira m nas Forças Armadas, e 13% fora m mortos" - Ricardo Bona lume Neto, Mor/e em massa inaugura o século, " Fo lha de S. Pa ul o", 30- 12-99. Do lado fra ncês, o número de ba ixas não lerá sido muito diverso. 6. Jacq ues Meyc r, La Vie Quotidienne des Solda1.1· pendam la Grande Guerre - Hachelle, Paris, 1966, p. 106 7. Letlres de prison, 19 16- 19 18, Béli baste, 1969. 8. Plínio Corrêa de Oliveira, "Legionári o", São Paul o, 13/5/45 . 9. Roberto de Matte i, li crociato dei secoloXX, Plínio Corrêa de Oli veira", Casale dei Monlcrralo, Piemm e, Itáli a, p. 46. 10. T!te Uniled Stales: An Aristocralic Nalion Wi1t1in a Democralic Sta/e. Este é o titul o do apêndice nº 1 da obra Nob ili1y and Analogous Tradi1io11at Eliles in 1/te Allocu1io11s o.f Pius XII, de Plín io Corrêa de Oli veira (Ham il ton Press, EE.UU., 1993). 11 . Genera l Charl es de Ga ull e, Le ht de t 'Épée, Gra nde Guerre, 1.
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NACIONAL
O MST se entregou a depredações, arrebentando as grades que defendem o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) e derrubando as que protegem o Palácio do Planalto
C ada vez mais carcnLc de apoio
popular e afagado pelo governo peUsLa, o MST se entrega a atos de índole terrorista, como os ocorridos duranLe seu congresso em Brasília JACKSON SANTOS
vemente, atingindo-os com barras de fe rro, pedras e cruzes de madeira. "Eles partiram para o vandalismo ", di sse o major Marcelo Koboldt, um dos responsáve is pe lo policiamento. Apenas um militante foi detido. Tentaram ainda deixar sua marca em frente à emba ixada dos Estados Unidos, depositando a li grande quantidade de lixo, mas foram impedidos pelas fo rças da ordem. Levavam faixas pedindo mais reforma agrári a, além de criticar o julgamento do Mensalão . A manifestação foi um dos atos do congresso que o MST realizou na capital federal de I O a 14 de feve reiro, para comemorar seus 30 anos de existência impune e desafiante, com a conivência de poderes constituídos.
Apoio ostensivo do govenw pelista esta vez não foi em propriedades agrícolas. Foi na Praça dos Três Poderes, em Brasília 1, que o MST se entregou a depredações, arrebentando as grades que defendem o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) e derrubando as que protegem o Palácio do Planalto. A confusão levou o STF a suspender uma sessão plenária de julgamentos. Não ficou nisso. Agrediram os policiais que defendiam bens públicos, deixando 30 deles feridos, oito dos quais gra-
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CATOLICISMO
Durante os distúrbios, Gilberto Ca rva lho, Mini stro da Secretaria-Geral da Presidência, fo i receber um docum ento do MST e procurou minimizar a ca ráter altamente agressivo dos manifestantes: " O que acontece é muito comum. Vem
uma molecada e empurra a grade ". "Eles têm que fazer pressão mesmo ". Carvalho, tido por alguns como ex-seminarista frustrado e por outros como um autêntico comunista (as duas apreciações
não se excluem), é o encarregado do governo no trato com o MST e congêneres. No dia seguinte ao vandalismo emessetista, a presidente Dilma Rousseff recebeu um grupo de representantes da organização no Palácio do Planalto, entre eles o eterno João Pedro Stédile! Ela prometeu montar um grupo interministerial para analisar a longa lista de reivindicações que recebeu e ver quais delas podem ser atendidas de forma emergencial. Prometeu também assentar 30 a 35 mil famílias até o fim do ano e deu a entender que o novo titular do Ministério do Desenvolvimento Agrário será mais afinado com os sem-terra. A reunião com Dilma foi considerada uma conquista por parte da liderança do MST. Está em debate no Congresso Nacional uma lei antiterror, que seria aplicável a esta manifestação do MST como luva na mão. Acontece, porém, que o PT foi orientado pelo governo a propor mudanças na lei para que os movimentos ditos "sociais", como o MST, não po~sam ser enquadrados na legislação! A conivência não poderia ir mais longe. Sendo que, por seu lado, o MST se porta com inusitada covardia, pois nem sequer assume a responsabilidade de registrar-se como associação legal. É uma agrupação de fato que faz o que bem entende.
A il'J'elev{111cia do MS1' Por que tanto empenho do governo petista em prestigiar o MST, mesmo depois da prática de atos criminosos de vandalismo e lesões corporais graves? Será pela força que o movimento tem na população? Nada disso. O MST está em fase de decadência aguda. O próprio Stédile o reconheceu, em palestra reproduzida pela Agência de Notícias Adista: "O mundo vive um p eríodo de refluxo do movimento de massa " que afeta ao próprio MST;
"as massas percebem a impossibilidade de uma vitória, e se voltam para trás ". 2 É tal a falta de apoio no campo, que Stédile anunciou que vai transferir as invasões do MST para as cidades. Comenta um editorial da "Folha de S. Paulo": "Cada vez
menos relevante, o MST encontra nos tumultos um meio de chamar a atenção[ ... ] Talvez por causa desse sinal de irrelevância o MST considerou importante chamar a atenção por outros meios ". Ao reunir-se com o MST, a presidente Dilma "passa a.falsa impressão de que eles estão no caminho certo ". Ou seja, é o governo petista que tudo faz para impedir que o MST se veja reduzido a sua insignificância. Como, aliás, faz o mesmo com a ditadura comunista em Cuba, impedindo assim que ela caia de podre e liberte os pobres cubanos que sofrem sob seu guante de ferro.
"ajuda financeira" para comparecer. Parece ironia, mas o nome original dessa arena era Ginásio de Esportes Presidente Médici, inaugurado durante o regime militar. A imprensa referiu-se a 16 mil participantes. Embora o Ginásio comporte 16 mil pessoas sentadas, apresentava grandes partes vazias, como se pode ver pela foto . Muitos dos presentes pareciam hippies, havia cubanos e venezuelanos. Como fator de propaganda, organizaram no local uma feira miserável de produtos agrícolas "produzidos" nos assentamentos, com frutas, verduras, mel e - não podia faltar - cachaça.
"Pérnlas" do co11grnsso O líder máximo do MST, o marxista Stédile, parafraseando o brado com,unista "Proletários de todo o mundo, uni-vos ", do Manifesto de Marx-Engels, declarou: "Esperamos que
todas as forças políticas no campo de esquerda se unam nessa luta (pela reforma agrária popular) [...] Vamos continuar ocupando latifúndio, vamos continuar lutando contra o capital internacional ". Nem uma palavra sobre o fracasso generalizado dos assentamentos, que disseminaram pelo campo brasileiro as tristemente famosas "favelas rurais". A propósito, convém lembrar que, a convite e com passagem paga, Stédile participou em dezembro último de simpósio promovido pela Pontificia Academia de Ciências do Vaticano, o que causou grande estranheza entre fiéis católicos de todo o Brasil. Durante as palestras dos diversos oradores no Ginásio de Esportes Nilson Nelson , ouviram-se "pérolas" como esta, anotada por um participante: "O nosso movimento está mais
vivo do que nunca, é para lutar por todos que acreditam na revolução socialista. E é um recado para os nossos inimigos: nós não queremos Estado, nós não queremos imperialismo, queremos o poder, queremos as riquezas para distribuir para o povo. " Como programa futuro , foi anunciado que cada MST estadual terá a obrigação fazer um "MSTzaço" em seus estados. Não faltou ao evento o respaldo, embora discreto, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que tornou presente seu apoio através de carta assinada pelo presidente da Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, D. Guilherme Antonio Werlang, Bispo de lpameri , GO. Este é o MST, ao qual falta apoio popular, mas que é prestigiado pelo governo petista brasileiro e teve seu líder convidado para simpósio da Pont{ficia Academia de Ciências do Vaticano! Seria mais objetivo - e mais leal - dizer que a sustentação do MST é feita por razões ideológicas de esquerda, e não queiram nos impor a balela de que ele representa o povo .
Ajuda ll11a11ceira e público divel'silicado O esforço para arrebanhar participantes foi grande, pois o pátio do Ginásio Nilson Nelson, onde se realizou o evento, estava abarrotado de ônibus provenientes de vários cantos do Brasil. Grande parte dos presentes recebeu uma pequena
E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas:
1. Fontes: "Correio Braziliense" ( 13-2-14); " Folha de S. Paulo" ( 13 e 14-214); "O Estadode S. Paulo" (12 e 13-2-14). 2. http://www.adi staonline.i t/?op=articolo&id=53494
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5 QUARTA-FEIRA DE CINZAS (Jejum e Abstinência)
1 Santo Albino, Bispo e Confessor + Angers (França) 550. De nobre estirpe, foi eleito Bispo de Angers já sexagenário; combateu vigorosamente, sob risco de morte, o imoral costume de senhores semibárbaros de se casarem incestuosamente com irmãs ou filhas. Convocou o Concílio de Orleans que estabeleceu penas severas contra esse abuso. Muitos milagres lhe são atribuídos. Primeiro Sábado do mês
2 São Chad, Bispo + Lindisfarne (Inglaterra) , 672. Irmão de São Cedd, foi educado por Santo Aidano na Irlanda . De volta à Inglaterra, tornou-se Bispo de Mércia e Lindisfarne . São Beda, o Venerável, enalteceu suas virtudes.
3 Santa Cunegundes, Viúva, Imperatriz + Bamberg(Alemanha), 1040. Esposa de Santo Henrique, com quem vivia em perfeita castidade. Foram ambos coroados imperadores do Sacro Império, em Roma, pelas mãos do próprio Papa. Após a morte do marido, ela empregou sua fortuna em erigir bispados e mosteiros, terminando sua vida como religiosa em um deles.
4 São Lúcio I, Papa, Mártir + Roma, 254. Foi um dos ilustres presbíteros de Roma que seguiram São Cornélio ao desterro, tendo sucedido a este no Papado.
São João José da Cruz, Confessor + Nápoles, 1734. "Ardente discípulo de São Francisco de Assis e de São Pedro de Alcântara, acrescentou grande glória à Ordem Será.fica. Foi inscrito p elo Papa Gregório XVJ no Cânon dos Santos " (Martirológio Romano).
6 Santa Colete, Virgem + França, 1447. Reformadora das Terceiras Franciscanas, foi uma das figuras mais importantes da Igreja no século XV. Com São Vicente Ferrer, aconselhou três cardeais que reivindicavam o direito à tiara pontifícia, a renunciarem a fim de se proceder a nova eleição.
7 Santas Perpétua e Felicidade, Mártires. São Paulo, o Simples, Eremita + Egito, 339. É patrono dos que aspiram à santidade em idade avançada. Agricultor, aos 60 anos descobriu que sua mulher o traía. Fugiu então para junto de Santo Antão no deserto, tendo este aceitado dirigi-lo. Primeira Sexta-Feira do mês
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São João de Deus, Confessor. São Julião de Toledo, Bispo + Espanha, 690. Um dos mais importantes eclesiásticos de seu tempo, sob a sua direção a Sé de Toledo tomou a primazia entre todas as da Espanha e Portugal. Presidiu vários sínodos, reviu e desenvolveu a liturgia mozárabe.
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de esposa e mãe, além de fundadora das Oblatas Beneditinas. Tinha trato familiar com seu anjo da guarda, a quem via continuamente.
10 São Simplício, Papa + 483 . Governou a Igreja durante 15 anos por ocasião da invasão dos bárbaros, aos quais procurou converter.
11 Santa Teresa Margarida Redi, Virgem + Florença, 1770 . Aos 18 anos entrou para o convento carmelita de Florença, atingindo em pouco tempo grande santidade.
12 São Teófano, Abade + Samotrácia, 818. Ele e a esposa renunciaram à sua imensa fortuna para se tornarem religiosos. Grande promotor do culto das imagens , foi por isso exilado pelo ímpio imperador bizantino Leão, o Armênio, morrendo vítima de maus tratos.
13 Santa Eufrásia, Virgem + Egito, 41 O. Da nobreza romana. Ao falecer seu pai, foi com a mãe para o Egito. Aos sete anos pediu-lhe licença para servir a Deus num mosteiro próximo.
14 Santo Eutíquio e companheiros, Mártires + Arábia, 741 . Patrício romano, capturado pelos maometanos contra os quais guerreava, Eutíquio e seus companheiros foram to1turados e mortos por não renunciarem à fé católica.
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Santa Francisca Romana, Viúva
São Longino, Mártir
+ Roma, 1440. Da mais alta nobreza romana, foi modelo
+ Capadócia, séc. I. Segundo a Tradição, é o centurião ro-
mano que reconheceu Cristo como o Filho de Deus durante a Crucifixão.
'16 São Julião de Anazarbus, Mártir
seu titular, Santo Amatus, estava ainda vivo. Mas renunciou ao cargo para ir evangel izar os frísios, empenhando-se para que estes cessassem de praticar sacrificios humanos.
+ Cilícia (na atual Síria),
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302 . São João Crisóstomo fez o elogio deste mártir que, aprisionado durante o império de Diocleciano em virtude de sua fé católica, foi colocado dentro de um saco cheio de escorpiões e serpentes e atirado ao mar.
Santo Endeus ou Enda, Confessor
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+ Arranmore (Irlanda), 590. Brilhante militar, irmão de Santa Fanchea, é considerado o fundador do monasticismo na Irlanda. Teve como discípulos os Santos Kleran e Brendan.
Santa Gertrudes de Nivelles, Virgem
Santa Leia, Viúva
+ Holanda, 659 . Filha do
+ Roma, 383. Matrona roma-
Bem-aventurado Pepino de Landen e da Bem-aventurada lta. Com a morte de Pepino, mãe e filha fundaram o convento de Nivelles, nele ingressando Gertrudes como abadessa aos 20 anos.
na discípula de São Jerônimo. Enviuvando, entrou num mosteiro. Mereceu os maiores elogios desse santo.
18 Santo Anselmo de Luca, Bispo
+ Luca, 1086. Sobrinho do Papa Alexandre li , retirou-se de sua diocese de Luca para fazer-se monge beneditino. São Gregório VII chamou-o de volta àquela Sé episcopal , onde tentou reformar os cônegos relaxados. Estes se revoltaram , e o Papa os excomungou . Com o apoio do imperador, os rebelados expulsaram Santo Anselmo da cidade.
19 São José Esposo da Santíssima Virgem, Patrono da Igreja Universal e da Boa Morte Para se ter ideia da grandeza deste Santo , considere-se apenas que foi esposo da Rainha dos Céus e pai adotivo de Jesus.
20 São Wulfrnno, Bispo e Confessor + França, 703. Foi nomeado para a Sé de Sens enquanto
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no campo , sendo por isso perseguido. Escondeu-se e posteriormente se apresentou ao prefeito, que mandou queimá-lo vivo . Antes de morrer, foi beijar sua mãe que assistia ao suplício.
28 São Gontran, Rei, Confessor
+ Châlons (França), 592. Rei da Borgonha, após divorciarse e mandar executar seu médico; impelido por remorsos , abandonou as pompas do mundo. Empregou então sua fortuna na construção de igrejas e mosteiros e na distribuição de esmolas , vivendo na mais rigorosa penitência.
29 São Cirilo de Heliópolis, Diácono e Mártir
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+ Líbano, 362. Tendo Juliano,
São Toríbio de Mongrovejo, Bispo
o Apóstata, reintroduzido o paganismo no império, esse diácono destruiu muitos ídolos, tendo por isso "seuflgado arrancado de seu abdômen e devorado p elos pagãos como bestas selvagens" (Martirológio Romano).
(Vide p. 38)
24 Santa Hildelita, Virgem
+ Inglaterra, 524. Não havendo ainda conventos na Inglaterra, essa princesa atravessou a Mancha, fa zendo-se religiosa na França. Voltou então à sua pátria, onde organizou a vida monástica em Barking.
25 Anunciação do Anjo e Encarnação do Verbo O mais importante acontecimento da História: o Verbo de Deus se encarnou no seio puríssimo de Maria.
26 São Teodoro e companheiros, Mártires
+ Líbia, séc. lV. Estes 43 cristãos vindos do Oriente sofreram o martírio, possivelmente sob Diocleciano.
27 Santo Habib, Mártir
+ Edessa (Iraque), 322. Diácono , exercia a pregação
Intenções para a San ta Missa em março Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Pelos méritos da Anunciação do Anjo e da Encarnação do Verbo no seio puríssimo da Virgem Maria - festa celebrada no dia 25 de março Nosso Senhor Jesus Cristo conceda abun dantes graças para a boa formação moral e religiosa das crianças. Também pedindo a São José, protetor da Sagrada Família, que auxilie particularmente as famílias de nossos colaboradores e leitores.
30 São João Clímaco, Confessor
+ Monte Sinai, 605. Ingressando aos 16 anos no mosteiro situado nesse monte, deixouo mais tarde para viver em maior solidão. Aos 75 anos foi chamado de volta e eleito abade. Seu livro Clímax ou Escada da P e,:fe ição , do qual lhe veio o cognome Clímaco , foi uma das obras mais apreciadas na católica Idade Média.
3 ·1 São Guy de Pomposa, Abade
+ Itália, 1046. Sua santidade e sabedoria atraíram tantas pessoas a seu mosteiro, que foi obrigado a fundar outro. A seu pedido , São Pedro Damião ministrou a seus monges aulas sobre as Sagradas Escrituras durante dois anos.
Intenções para a Santa Missa em abril • Pelos méritos infinitos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, suplicando as graças de que os leitores de Catolicismo mais necessitam. • Na Missa, haverá um memento pedindo à Providência Divina que proteja especialmente o País da atuação de movimentos esquerdistas cujo objetivo é provocar uma luta de classes entre brasileiros de diferentes etnias.
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Epica atuação em prol do sagrado direito de propriedade [I D ANIEL
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ão é tarefa fácil 37 jovens voluntários viajarem por esta enorme Nação, sobretudo quando os recursos são escassos. Mas para os caravanistas do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, "tudo vale a p ena, se a alma não é pequena ". Tendo já percorrido os estados do Sudeste, conhecido os calores tórridos do sertão nordestino, o cerrado do Centro-Oeste e os estados do Sul, a Caravana Terra de Santa Cruz desta vez se aventurou numa ponta do Norte do Brasil, percorrendo cidades do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre. Um dos males que mais aflige essa região é o radicalismo ecologista. Milhares de ONGs nacionais e estrangeiras aninham-se ali, a pretexto de preservar o meio-ambiente, tentando impedir qualquer progresso da civilização. Elas procuram colocar a população local contra os produtores rurais, indígenas contra os não índios, empregados contra os patrões. É triste constatar, mas boa parte dessas ONGs são infiltradas ou promovidas pela "esquerda católica", que mascara seu discurso com pinceladas religiosas para mais facilmente seduzir e influenciar a população. Por essa razão, os 37 jovens voluntários da Caravana Terra de Santa Cruz difundiram o livro Psicose Ambientalista - Os bastidores do ecoterrorismo para implantar uma nova religião ecológica, igualitária e anticristã, de autoria do Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança. O livro aborda o tema com base na Religião, na ciência e no bom senso, demonstrando como o radicalismo ambiental tem falsificado ou deturpado, em nível mundial, dados e teorias, como a do aquecimento global. E isso para criar uma verdadeira psicose ambientalista que justifique aos olhos do público mudanças drásticas no modo de vida ocidental, em direção a um estilo de vida miserabilista. A obra denuncia que o ambiental ismo radical é um caminho "verde" para implantar as reformas "vermelhas" (socialistas). As populações visitadas acolheram calorosamente a campanha do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira; cerca de 2.600 livros foram vendidos em apenas um mês. Com a divulgação realizada pela caravana, esgotou-se praticamente a terceira edição da obra, e uma quarta já está sendo preparada. Os jovens caravanistas ficaram impressionados ao constatar que a propaganda do ambientalismo radical constitui um imenso
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blefe, pois a maioria da população não concorda com ela, nem lhe dá apoio. Por exemplo, estivemos em Xapuri (AC), cidade considerada uma das "capitais internacionais do meio ambiente ", pois nela viveu Chico Mendes, uma das figuras emblemáticas do ecologismo radical. Ali , a rejeição ao ambiental ismo era enorme, tendo sido uma das cidades em que a população mais adquiriu o livro de Dom Bertrand ... Colhemos diversos relatos de pessoas indignadas com o radicalismo ecologista. Assim, um senhor contou irritado que um amigo seu, após cortar o galho de uma árvore para confeccionar sua enxada, foi abordado por um fiscal do IBAMA, que lhe perguntou : "Por que você cortou um pedaço dessa árvore?" O homem respondeu que a madeira se destinava a ser cabo de enxada. O fiscal replicou desaforado : "Por que você não cortou um pedaço da sua p erna"? Até lá chega a psicose .. . Um pequeno produtor de Chapada dos Guimarães (MT) afirmou: "O homem é.feito à imagem e semelhança de Deus, o bicho não. Esses ambientalistas querem inverter tudo, e estão dando mais valor ao animal do que ao homem. Se você mata alguém, fica 48 horas detido na delegacia local. Se malar uma cobra, é crime inafiançável! " Em Rondônia, alguns produtores lamentaram a ação de padres que, contrariamente a sua missão, pregavam a luta de classes e tentavam lançar os empregados contra os patrões. Fatos como esses mostraram que os habitantes das cidades percorridas discerniram na atuação da caravana uma luz no fim do túnel , orientando-os a reagir pacificamente contra a propaganda comuno-ambientalista. Um rapaz em Rio Branco (AC) afirmou : "Vocês são a resposta para nossas orações ". Outro, em Ji-Paraná (RO), condenando o ambiental ismo ecologista, disse: "Vocês precisam passar mais vezes em nossa cidade, não podem.ficar muito tempo sem essa atuação ". E um professor universitário afirmou: "Vocês são a juventude, e podem mudar o futuro da Nação ". Ao regressar da região Norte, a caravana passou por várias cidades de Mato Grosso, algumas de Goiás, e terminou esta épica empreitada em frente ao edificio do Congresso Nacional , no dia em que se iniciavam os trabalhos legislativos de 2014. Deixamos aqui um convite aos jovens corajosos para que conheçam o trabalho do Instituto e se inscrevam para a próxima Caravana Terra de Santa Cruz, acessando o site www. ipco.org.br, na seção Fale Conosco. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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MARÃ&#x2021;O 2014
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Intenso frio não impediu a March for Life
na capital americana rn FRANc1sco JosÉSA1DL
intensa onda de frio que se abateu sobre a nação americana no mês de janeiro passado não fo i impedimento para a rea li zação da Marcha pela Vida, no di a 22 de janeiro último. O número de participantes sofreu redução devido ao cancelamento de voos e de ônibus por causa da neve intensa e do gelo que para li saram parcialmente os meios de tran sporte. Entreta nto, o ca lor do entusiasmo fo i imenso, com um público constituído em sua grande maioria por jovens. Delegações da Holanda e da França impressionaram-se com a desenvoltura com que tantos movimentos católicos, paróquias, associações e jovens sacerdotes co m batin a desfil avam. " Ta is manif es tações são impensáveis na Europa de hoj e, devido ao medo de contrariar o laicismo imperante na Europa Unida. Lamentavelmente existem até dirigentes de movimentos pró-vida e pró-matrimônio tradicional que proíbem seus seguidores de se identificarem como católicos", declarou Emetério Ferrés, da representação em Bruxelas daFédération Pro-Europ a Christiana. As delegações europeias chamaram es pecialmente a atenção do Nún cio Apostólico em Washington, Arcebispo Cario Maria Vi gano, que conversou com os participantes. Envi aram representantes a Associação Voglio Vi vere, da Itáli a; Droit de Naitre, da França ; Krikséioniskosios kultüros institutes, da Lituânia e ativistas holandeses que atuam contra o aborto.
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CATOLICISMO
Provavelmente o parti cipante que percorreu maior di stância terá sido o jovem li tuano Mantas Kuncaitis. Interpelado pelo representante de Catolicismo presente à Marcha declarou : "Temos que mostrar nossa solidariedade. As pessoas em todo o mundo estão se dando conta de quanto o aborto é mal~fico. Infelizmente, também em meu pais, muitos políticos não p ercebem isso. A multidão que eu vejo aqui supera muito minhas expectativas ". Um sinto ma de que o mov imento contrá rio ao aborto está em ascensão é o fa to de que 87 clíni cas aborti stas fo ram fec hadas no ano passado. É crescente a esperança de que cesse este genocídi o que já vitimou mais de 56 milhões de nasc ituros na nação ameri cana. Como nos anos anteri ores, desde 1974, a mani fes tação anti-aborto termin ou di ante da Suprema Corte, em cuj o edifí cio ainda se lê hipocritamente esta inscrição: "JUSTIÇA IGUAL PARA TODOS ". E todos ali se di spersava m, pensando na injustiça cometida naquele i loca l no fa tídico 22 de janeiro de 1973. A TFP americana se fez presente com seus estandartes com o leão dourado e capas rubras, animando o evento como meio de pôr term o ao pecado do com a fa nfa rra co nstituíd a por se us aborto. Também era oferec ida oportuni cooperadores e por alunos da Academia dade de se obter um a cópi a gra tui ta da bi ografi a de Sa nta Joa na d' Are. São Luís de Montjàrt. No di a seguinte, o vi ce-pres idente O céu profund amente azul e o chão co be rto de neve co nst ituíra m um a da T FP ameri ca na e auto r do liv ro RETORN O À ORD EM, John H.orvat, mag nífi ca mo ldura pre parada pela proferiu uma palestra para seleto público Providência. Na ocas ião, a TFP ameri cana di s- no auditóri o do Bureau da TFP em Watribuiu um fo lh eto in titul ado: "Santa shington sobre "O sign fficado da honra Joana d 'Arc e a Cultura da Pureza ", no 4°. Mandamento do Decálogo ", recom um a foto equestre da heroica sa nta lac ionando o tema com seu li vro e com fra ncesa. O documento enfat izava a ne- a ca mpanha contra o aborto . • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br cessidade da prática da virtude da pureza
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MARÇO2014
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O Castelo de Fontainebleau, na França, fo i construído no século XVI pelos reis da dinastia de Valois. Quando os Valois se extinguiram, passou ele para a dinastia dos Bourbons. E f'o i ininterrupta mente res idência rea l até a Revolução Francesa. Na poleão I e Napoleão Ili também habitara m Fontain ebl ea u. Depois de Versa ill es, Fontainebleau é o mais importante dos castelos franceses.
Castelo de Fontainebleau A severidade e o esplendor da sala da Rainha-mãe ■ PUNIO C O RRÊA DE ÜUVEI RA
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ota-se neste ambiente de Fontainebleau um quê de severidade. E expl ica-se, porque se trata da sa la da Rainha-mãe. Era ela viúva e tudo quanto acompanhava a viuvez tinha um tom de tristeza. De onde as portas escuras, que trazem - ao lado de todo o esplendor - uma vaga reminiscência de luto. Entretanto, o que essa porta tem de muito sério é compensado por diversos desenhos miúdos, de arabescos finos, de flores , de guirlandas e de figuras mitológicas. Um elemento decorativo, ao lado das tapeçarias co lossais, que torna o ambiente muito bonito, são os espe lhos, certamente produzidos em Veneza. Enormes, profundos e que são como que janelas abertas que aligeiram o ambiente. Chama atenção o quadro da Rainha-mãe, Ana d' Áustria, mã.e de Luiz X IV, colocado no a lto da porta. Esses quadros
sobre portas dão à passagem um pouco de majestade semelhante a um arco de triunfo. É triunfal para ela estar no topo de uma porta, dominando o ambiente. Porta sempre com dois batentes, devido ao protocolo da Corte. Para as filhas ou netas do rei , abriam-se os dois batentes e o a labardeiro dava uma estocada no so lo e proclamava: Sua Majestade - a Rainha, ou Sua Alteza Real etc. Para um príncipe de sangue real que não fosse filho ou neto de rei , mas parente mais distante e para todo o resto da nobreza, abria-se apenas um batente. De maneira que era em grande estilo quando a Rainha-mãe entrava precedida pelos a labardeiros. Abriam-se as portas, colocavam-se e les dos dois lados e proclamavam: Sa Majesté, la Reine. Então, faziam-se reverências etc. Assim , a porta era objeto de um cerimonial. E la tinha caráter triunfal , pois fazia parte dos hábitos do tempo a arte de chegar ou sair. Não se chegava num ambiente como um frango entra no ga linheiro ... Ao se chegar a uma sala, a pessoa precisava marcar sua presença; e ao retirar-se, o ato necessitava igualmente ser marcante. •
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 31 de outubro de 1966. Sem revisão do autor.
■ PUNIO C ORRÊA DE ÜUVEIRA
Nossa Senhora nos ensina a perseverança na fé \
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o mesmo tempo em que as pesadas laj es do Sepulcro velam o Corpo do Salvado r aos o lh ares de todos, a fé vacil a nos poucos que havi am permanecido fi eis a N osso Senhor. Mas há uma lâmpada que não se apaga, nem bruxul eia, e que arde, só e la, pl enamente, nesta esc uridão universa l. É Nossa Senhora, em cuj a alma a fé brilh a tão intensamente como sempre . E la crê. C rê inte iramente, sem reservas nem restri ções. Tudo parece ter fracassado. Mas Ela sabe que nada fracasso u. Em paz, aguarda a Ressurre ição. Nossa Senhora resumiu e compendi ou em si a Santa Igrej a nesses di as de tão ex tensa deserção. Nossa Senhora, protetora da fé. É este o tema da presente meditação. Da fé e do espírito de fé, ou sej a, do senso católico. Hoje, a muitos o lhos, as poss ibilidades de restauração pl ena de todas as coisas segundo a le i e a doutrina de N osso Senhor Jesus Cri sto parecem tão irremedi avelmente sepultadas quanto aos Apósto los pa recia irremedi avelmente sepultado N osso Senho r em seu sepulcro. Os que têm devoção a N ossa Senhora recebem d 'E la, entretanto, o inestimáve l dom do senso cató lico. E, por isto, eles sabem que tudo é poss íve l, e que a aparente invi abilidade dos ma is o usados e ex tremados sonhos apostó licos não impedirá uma verdade ira ressurreição, se Deus tiver pena do mundo e o mundo correspo nder à graça de Deus. Nossa Senhora nos ensina a perseverança na fé, no senso cató lico e na virtude do aposto lado deste mido - Fides intrep ida - mesmo qu and o parece tudo perdido. A Ressurre ição virá logo. Fe li zes os que souberem perseverar como Ela e com E la. Deles serão as alegrias, em certa medida as g lórias do di a da Ressurre ição. • Trecho da Via Sacra de autori a de Plíni o Corrêa de O li veira, pu bli cada em "O Legionári o" de 18-4- 1943.
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Ensinamentos da Igreja conJ'orme São Pio X
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Casa de ponta-cabeça, símbolo ela loucura do mundo moclemo
Nossa Capa: Ecce Homo, Senglea (Malta).
ABRIL2014 -
Caro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável : Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração: Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (Oxx11) 3333-6716 Correspondência: Caixa Postal 1422 CEP 01031 -970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda. E-mail: catolicismo@terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com .br ISSN 0102-8502
Preços da assinatura anual para o mês de Abril de 2014: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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Seguindo a tradição de Catolicismo, a matéria de capa desta edição é dedicada à Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. E o artigo que nosso colaborador, o engenheiro Adolpho Lindenberg, redigiu sobre o tema apresenta aspectos de grande atualidade para os homens que vivem em nossa civilização neopagnizada e ex-cristã. Além da atualidade, a perspectiva em que a matéria é apresentada é de suma importância, além de pouco usual. O autor ressalta pontos de vista que entram em choque com a mentalidade de ateísmo prático e de hedonismo, tendente ao reles, ao chu lo, à desordem em todos os campos, avessa a tudo quanto é transcendente e elevado. Nessa progressão espantosa rumo ao feio , à sujeira, à revolta total, ao não-ser, naturalmente as manifestações do demônio vão se tornando cada vez mais frequentes. Em situação tão grave, o que é mais necessário e premente para um católico meditar durante a Semana Santa? O artigo propõe que se aprofundem certas considerações-chave para o progresso espiritual e a auto-defesa. Reflexões que certamente não serão sugeridas ou facilitadas na generalidade dos meios católicos atuais, muitos deles infectados pelo "progressismo" que penetrou em larga medida nos ambientes da Santa Igreja. Uma consideração-chave é - entre tantas outras - a honra , palavra pouco conhecida e praticamente ausente no dia-a-dia de nossos contemporâneos como também o era dos romanos e judeus que condenaram e sacrificaram o Deus humanado. Entretanto, apesar de rejeitado, escarnecido e supliciado entre dois ladrões, quanta honra, quanta dignidade manteve o Redentor em face de juízes iníquos e a lgozes! Acentua muito a propósito o artigo que o homem honrado prefere a morte à desonra. Os perseguidores e algozes do Homem-Deus receberam certamente graças para reconhecer sua honra e majestade - como sucedeu com o bom ladrão, São Dimas - , mas recusaram-nas duramente. A sub limidade da face divina do Salvador, os algozes a viram; puderam contemplar a doçura e infinitude que transparecia em seus o lhos - abertos e não fechados, como se observa no Santo Sudário de Turim. Mesmo assim O rejeitaram! Encerro com uma consideração de especial importância: a Mater Dolorosa - a única criatura que teve uma correspondência integral à graça em todos os momentos da Paixão. É incomensurável o significado profundo dos ol hares que o Fi lho bem-amado trocou do alto da Cruz com sua extremosa Mãe. Nessa ocasião, pode-se imaginar que Ele a viu como Medianeira de todas as graças e Corredentora! Os prezados leitores podem bem perceber que a clave dessas considerações é a mais indicada para a meditação que um fiel católico deste século pode oferecer a Deus. Desejando a todos uma boa leitura, aproveito o ensejo para manifestar-lhes meus votos de Santa e Feliz Páscoa! Em Jesus e Maria,
CATOLICISMO
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
catolicismo@terra.com.br
DIRETO R
O governo contra
a propriedade direito de propri edade é sagrado e necessá ri o para o bom fun cionamento da soc iedade, ensina a doutrina tradicional da Igreja. São muitos os documentos, espec ialmente dos Papas Leão XIJl , São Pi o X e Pio XI, que ex pl anam esse direito. Ademais, está ele defendido em dois Mandamentos da Le i de Deus: "Não roubarás " e 'Não cobiçarás as coisas alheias". Orga nizar-se em quadrilh a para esbulhar a propri edade alheia, além de ser crime pela lei penal, é um pecado. Não apenas individual, mas social. Nessas condições, como explicar que o governo bras ileiro e a "esquerda católica" apoiem o MST? Alguns exempl os recentes ilustram o que estamos dizendo. 1Na Praça dos Três Poderes, em Bras ília, o MST se entregou a depredações, arrebentando as grades que defendem o prédi o do Supremo Tribunal Federa l (STF) e derrubando as que protegem o Palácio do Pl analto. Agredi ra m os policiais qu e defendi am bens públi cos, deixa ndo 30 deles fe ridos, sendo oito com maior gravidade. 2 - Esse vandali smo fo i parte de um Congresso do MST, fin anciado com dinheiro público, no va lor de R$ 1.548 .000,00, proveni entes da Ca ixa Econômi ca Federal, do BND ES, da Petro brás e do fNCRA . 3 - O Mini stro da Sec retari a-Geral da Pres idência, Gilberto Carva lho, procurou minimi zar a caráter altamente agress ivo dos mani fes tantes: "O que acontece é muito comum. Vem uma molecada e empurra a grade". "Eles têm quefazer p ressão mesmo". Para esse ex-seminari sta, o MST ''é um movimento legitimo". 4 - No di a seguinte aos atos va ndáli cos, os líderes do MST fo ram recebidos pela pres idente Dilma Rousseff, que lhes promete u apoio. 5 - Ass im como as invasões do MST, também as dos
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quil ombolas e índi os - todas devidamente orquestradas tra nsgridem a lei. O governo, em lugar de ser um paladino no cumprimento do ordenamento legal , sente-se incomodado em ter que apli cá-lo e, por isso, quer modifi cá-lo. Editori al do jornal O "Estado de S. Paul o" (3 -3-14) info rma: "Gente graúda do governo f ederal resolveu apoiar essa f lagrante ilegalidade, travestindo-a de justiça'". Gilberto Carvalho chegou a lamentar que o "aparelho de Estado" brasileiro, a começar pelo Executivo, que ele representa, seja obrigado a cumprir a ''tarefa ingrata, inglória" de fazer valer o que está na lei, mesmo um a lei com a qual "sabidamente nós não podemos estar de acordo". Carvalho expressa, ass im, um mal-estar do governo em relação ao próprio Estado de Direito! Para dribl ar o Judi ciári o, Carvalho propõe que os conflitos sa iam do âmbito judicial e sejam resolvidos por "mediação". Para ta l fim fund ar-se- ia uma "escola de mediadores", evidentemente toda ela alinhada com a esquerda católico-comunista. Por sua vez, "um importantefuncionário do Ministério da Justiça, o secretário de Rrqforma do Poder Judiciário, Flávio Caetano, declarou que é preciso 'mudar a cultura j urídica do País, que é a cultura do processo, do litígio ' - como se o legítimo proprietário da terra não tivesse o direito óbvio de recorrer à Jus/iça para se queixar de quem a in vadiu ". 6 - Info rmou o "Jornal da Band" (26-2-14) que no sul da Bahi a "centenas de moradores são coagidos a.fàzer cadastro na Fimai (Fundação Nacional de Índios) como se fossem índios para engrossar in vasões de terra". O artifi ciali smo indu zido dessas in vasões não poderi a fi car mais cl aro. Não é só a Le i de Deus que é transgredida, mas também a lei civil , com apoio de órgãos do governo, evidentemente por razões ideo lógicas de esquerda. Por tudo isso, Nossa Senhora chora. Por enquanto! •
Dilma recebe representantes do MST
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Quantos cristãos foram sacrificados, mortos, trucidados, pelos comunistas ao longo da História? Isso tudo a Santa Sé deveria lembrar não fossem seus quadros compostos e contam inados pela Teologia da Libertação (ideo logia que prega a luta de c lasses). Que o novo Papa não assuma atitudes tendenciosas e políticas, causando confusão entre nós, os católicos conscientes do que representa e representou o comunismo para os cristãos. (C.L.X. -
Ansiosamente Gostei especialmente da revista deste mês [março/2014] , sobretudo da carta de Dom Bertrand de Orlcans e Bragança ao Papa Francisco. De minha parte só estou curioso (E MUITO ANSIOSO) com a resposta que o Vaticano provavelmente deverá dar. Fico no aguardo e na reza. Há certas verdades que são necessárias serem ditas, doa a quem doer, seja aos adeptos da Teo logia da Libertação, seja aos adeptos da verdadeira teo logia cató lica. (R.P.A. -
RN)
Implosão? Fiquei muito chocado quando li sobre o aco lhimento e convite do Vaticano para agitadores comunistas, João Pedro Stédi le & Cia, exporem suas ideias e planos de luta de classes. Suas excelências estão aco lhendo serpentes. Não estranhem, portanto, quando receberem a picada venenosa, se é que já não foram envenenadas por tais ideias que tantos desastres produz iram no mundo inteiro. Essa turma da esquerda apenas deseja se aproveitar da Igreja Católica para implodi-la. Vamos lutar para impedir tal desastre. Parabéns a todos da grupo Catolicismo . (J.A.F.M . -
MA)
Teologia da Libertação - O que mais poderemos esperar desta atitude vinda da Santa Sé? O que resta aos cató li cos senão mostrar a sua indignação diante de tal descalabro?
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RJ)
- A carta de Dom Bertand é de uma propriedade e lucidez magistrais. Realmente é isso que podemos esperar de pessoa como e le. Estar atento aos problemas do País e não ter receios em se pronunciar para qualquer pessoa que seja, até mesmo o Papa. São exemp los assim que o País precisa . Estou muito orgulhoso dessa atitude. (L.C. -
DF)
Estarrecimento Muito oportuno e sereno esclarecimento por parte de Sua Alteza Imperial , o Príncipe Dom Bertrand. Que a Providencia Divina nos socorra nestes tenebrosos dias de caos e autodemo1ição da Santa Igreja, que assistimos estarrecidos. (F.S. -
RS)
A esquel'da tiram/o proveito Queria parabenizar D. Bertrand de Orleans e Bragança pela oportuna, respeitosa e necessária mensagem ao Papa Francisco a respeito do apoio que recentemente deu ao Stédile conhec idamente um incentivador das invasões de terras no Brasil. Que proveito a esquerda cató lica está co lhendo de tão inusitado apoio vindo de Roma! Q ue ira a Virgem Aparecida iluminar o Vaticano e abrir os olhos dos cató licos brasileiros para essa nova investida da esquerda no nosso Brasil. Seguramente essa mensagem vai reforçar a Fé de inúmeros brasileiros e ao mesmo tempo dar vigor ao direito de propriedade e à livre iniciativa em nosso Pais. (M.C. -MG)
Cl'ítica a Sté<lile Fico estarrecido com as palavras grosseiras e pouco respeitosas - ao contrário das de Dom Bertrand de Orleans e Bragança - com que Stédile se referiu aos Papas antecessores do atual. Estranho muito que o atua l Papa nada fa le a respeito dessa irreverência e continue a dar apoio. Leia-se "Stédile opõe
claramente a visão do Papa Francisco à de seus antecessores: 'Vínhamos de
dois papados com uma visão conservadora e RETRÓGRADA, os de João Paulo Jf e Bento XVI, e para o mundo católico o papa Francisco rompeu com a tradição europeia, e todos os dias dá sinais de mudanças da relação da igreja com a sociedade'". (J.S.V. -
PR)
Brasil: "cuhazuela "? Como brasileira e cató li ca, cheguei a me sentir mal ao ler a carta de Dom Bertrand de Orléans e Bragança ao Papa Francisco 1, o qual, pelo que absorvi da mesma, está péssima e perigosamente assessorado no Vaticano. Possa Na. Sra. Aparecida, Padroeira do Brasil, proteger nosso País do maléfico objetivo dos que querem torná-lo país uma Cuba ou uma Venezuela e através do seu papel de Mãe Querida, orientar o Santo Padre para abrir seus ol hos e salvar-nos do comunismo, regime político que não deu certo em país algum, trazendo caos, mi séria, cerceamento de liberdades individuais e milhões de vidas perdidas para a morte. (J.R.P. -
SP)
MS1' usmpando 181 Dom Bertrand disse tudo aquilo que os brasileiros éticos gostariam de dizer. Imaginem o que o povo está sofrendo com esta cambada de aproveitadores, usurpando os que produzem e tentando passar para a máfia de vagabundos, apoiada por este governo comunista. (A.M.F. -
BA)
Indignação sem desordens "Rolezinho" é s im uma "Revolução", como escreve em seu artigo
Gregorio Vivanco Lopes, mas , na minha opinião, "Rolezinho" é também para desviar dos grandes problemas que passa o Brasil (des)governado pela quadrilha. E "Black Bloc" é máscara para esconder agentes do PT, que pretendem esvaziar as ruas das excelentes reações do povo brasileiro que, por fim, tinha resolvido sair às ruas para protestar contra o ( des )governo. O povo está indignado, mas não gosta de desordens. Com as arruaças dos "black blocs", quem lucra? O PT, que se vê livre dos protestos contra o sistema de governar tipo quadrilheiro. (H.W. -SP)
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011
vamlalismo?
181 Ao ler esta notícia fico muito feliz, quem sabe assim o MST terá uma nova consciência sobre o DIREITO DE CADA UM, e da RÉS PÚBLI CA. Lutar por algo que seja do bem comum, não IMPLICA EM DESTRUIR propriedades alheias, ou INSTITUCIONAIS, como vem sendo feito ao longo das "Lutas do MST", como fizeram recentemente com aquele Instituto de Pesquisa, onde foram queimados e destruídos anos de trabalhos de pesquisadores, e outras ações que não raro até levam à morte de pessoas, ISTO NÃO É MOVIMENTO, É VANDALISMO ou o QUÊ? Quem sabe, desta forma ao apresentarem ao PAPA, também mostrem o que é feito das TERRAS QUE O MOVIM ENTO RECEBE, e como se desenvolve este processo . São por acaso PRODUTIVAS? Essas AÇÕES ligam ESTE HOMEM À TERRA PELA QUAL ELE MATA OU MORRE? Ou é apenas mais um RAMO DE NEGÓCIOS atrás de um MOVIMENTO? Quem sabe desta forma seja apresentado para o PAPA um PAINEL mais positivo do MOVIMENTO, que possivelmente pode-se tornar um MOVIMENTO mais atrativo, e desta forma desmistificar-se em algo menos repulsivo do que o QUADRO QUE SE APRESENTA ATÉ O MOMENTO, que mais aterroriza do qu e CONSTROI. (V.S. -
RJ)
Sempre alertas 181 Não consigo acreditar como até hoje membros mais conservadores do clero brasileiro ainda não expurgaram os malefícios causados pela esquerda desde o Concílio Vaticano If. E les não percebem que tal esquerda é da mesma linha da Teologia da Libertação aliada do MST? Estejamos sempre alertas. (G.M.S. -
GO)
Sacl'Íl'ício 11ecesSéÍl'ÍO É um grande alívio saber que a Contra-Revolução conta com pesquisadores do nível do Sr. Mathias von Gersdorff. lmagino que deve ser sacrificante investigar seriados como O.C. e cantoras como Britney Spears, mas infelizmente, para tratar com conhecimento de causa dos temas pesquisados pelo Sr. Gersdorff, não tem outro jeito. Por isso seu trabalho é tão esclarecedor e sério. Meus parabéns. (G.C. -
RJ)
Esclarecimento 181 Uma matéria veiculada na Internet e publicada na revista Catolicismo [março/2014, p. 9] causou g ra nde fúria entre ortodoxos brasileiros: a suposta publicação de um calendário em homenagem ao ditador e genocida soviético Stalin sob as bênçãos da Igreja Ortodoxa Russa. Entretanto, o fato é que a Igreja Ortodoxa Russa não só não publicou tal calendário, como também puniu os responsáveis da Editora da Lavra da Trindade de São Sérgio com a demissão imediata. O infame calendário não foi publicado de forma oficial pela Igreja, como também não foi promovido pela Igreja Ortodoxa e muito menos é um calendário "religioso" em homenagem a um homem que perseguiu e matou diversos cristãos ortodoxos e católicos romanos . Da nossa parte, desejamos que os senhores continuem com força na defesa dos valores cristãos, como também estamos agradecidos pelo espaço fornecido para o esclarecimento definitivo da questão. Em Cristo. (R.R.D. - SP)
FRASES
1
SELEC IO NADAS
"Quando dizemos ]esus', devemos figurar-nos um
homem manso, afável compassivo, cfteio de todas as viTtlUÍesi devemos ainda pensar que Efe é o nosso Deus e que, para curarnos de nossas chagas, quis ser desprezado e maltratado até morrer de pura cíor na cruz''. (Seio lseVV\,ClVC,10 )
"Em seu amor pefo homem, esse Deus c/ieio de ternura e misericórdia quis não só comunicarlhe os seus 6ens, mas tam6ém dar-se a efe" "O ofenáicío fez-se
nosso intercessor e Efe mesmo pagou o que [/ie áevíanws"
ABRIL2014-
1, Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC
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Pergunta - Prezado Mon s. Villac: Admiro muito a forma como responde às qu estões qu e lhe são enviadas, sempre com a doutrina de Jesus Cristo, isto é, a doutrina católica. Minha dúvida é a seguin te: sempre entendi que a Redenção, a remissão dos pecados, a salvação das almas, foi merecida pela Morte de Jes us Cristo na Cru z, sendo sua Ressurreição consequ ência da remissão dos pecados, mas não sua cau sa. Daí ser a Cruz e o Calvário o centro da espiritualidade católica. O problema é qu e o pá roco de minha Paróquia usa expressões como "salvos pela Ress urreição" ou "méritos salvíficos da Ressurreição". Quando se refere ao Calvário, diz ser "a demonstração maior do amor de Deus por nós", mas não o associa à Salvação. A Ressurreição sempre prevalece em seus sermões, até mesmo na Qu aresma e Seman a Santa. Isso tem me deixado confuso. Por isso, pergunto: qu e relação tem a Ressurreição de Jesus e a Redenção? A Ressurreição é a glorificação final dos redimidos (pela Cruz!) ou é, também ela, meritória pa,·a o perdão ci os pecados?
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Resposta - A perg un ta do leitor é muito pertinente, porque a mesma unil ateralidade que o chocou nos sermões de seu pároco também se nota em outros fatos, como não ser co locada a cruz sobre o altar onde se ce lebra a Mi ssa ou no arra nj o interior das igrejas modern as ( o u " renovadas"), nas qua is quase não se vê o C ruc ificado ou imagens pi edosas ligadas à Pa ixão, corno o Senhor Bom Jesus, o Senhor dos Passos ou N ossa Senhora da Piedade. O que ta is omissões proc uram criar é uma nova atmosfera ma is j ovia l nas igrej as, nas celebrações li tú rg icas e em toda a vida re li giosa; ou sej a, mais condizente com o otimi smo de um mundo que supostamente marcha rumo ao progresso, e com o qu al a Jgrej a - depo is de tê-l o combatido - deveri a hoj e se reconciliar. Por trás dessas opções pastorais e artísti cas há, na rea lidade, urna mudança teo lógica profunda a respe ito do mi stéri o da Redenção, que junto com o da Santíssima Trindade e o da Encarnação é uma das verdades fund amentais da fé qu e proclamamos cada vez que faze mos o sina l da C ru z. Todo mi stério sobrepassa nossa capac idade de ente ndimento - se não, deixaria de sê- lo ! - e di sso não escapa o mi stéri o da Redenção, no qua l se ali am a mi sericórdi a e aj ustiça infinitas de Deus, de uma fo rma para nós incompreensíve l em toda sua compl exidade. Da í que, no lento exp li c ita r do depós ito da Revelação - ao longo de sua hi stóri a bimilenar - a Igrej a tenha acentuado ora um as pecto ora outro, mas sempre mantendo um perfe ito equilíbri o.
-CATOLICISMO
O peca<lo Ol'iginal e a promessa da Re<le11ção O pressuposto da Redenção - hoj e mui tas vezes o bnubilado, quando não diretamente negado - é o dogma do pecado ori gina l, ou seja , o pecado cometido por nossqs primeiros Pais, que conspurcou neles e nos seus descendentes a imagem e semelhança de Deus e os fez perder a herança do Céu. N ão querendo a condenação eterna dos homens ao Infe rno, Deus prometeu a Adão e Eva que enviaria um Sa lvador para a humanidade, cumprindo sua promessa com a Encarnação da Segunda Pessoa da Sa ntíss ima Trindade nas entra nhas puríss im as da Virgem Mari a. Pe la sua natureza di vina, Nosso Senhor Jes us Cri sto é nosso Mediador junto a Deus. Ele é o "sumo e eterno Sacerdote", "que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor" (Ef 5,2), já que estava destinado por Deus "para se,; pelo seu sangue, vítima de propiciação " (Rom 3,25). Por isso, na C ru z, "se ofereceu uma só vez para tomar sobre si os pecados 'de muitos" (Heb. 9,28) . Isa ías j á tinha profetizado a seu respe ito que E le seri a "como um cordeiro que se conduz ao matadouro ", po is "aprouve ao Senhor esmagá-lo p elo sofrimento [. ..} em sacrificio expiatório "; mas Ele seri a g lorificado, "porque Ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos, e intercedendo pelos culpados" (Is 53,7- 12). Para mostrar que Jesus era o Mess ias anunciado pelos profetas , São João Bati sta, no Jo rdão, assim O apresento u: ''Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo ". E São Paulo, retomando a imagem do cordeiro, incita seus discípulos a despoja r-se do ferme nto velho da malícia "porquanto Cristo, nossa Páscoa, f oi imolado" (1 Cor. 5,7). Nosso Senhor des igna, Ele própri o, sua morte na Cruz co mo sacrifíc io pe los pecados dos homens d izendo que o Filho do Homem veio para "dar a sua vida para a redenção de muitos" (Mt 20,28 e Me 10,45). E acentuou o caráter propiciatório de sua morte ao in stituir a Sagrada E ucari sti a durante a Última Ce ia, di zendo: "Isto é o meu Corpo, que é dado por vós " (Lc 22, 19) e "isto é o meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, que será derramado por muitos para remissão dos pecados " (Mt 26,28). Tudo isto nos leva a concluir que, embora todas as ações de Jesus ao longo de sua vida tenham para nós um va lor redentor, e todas, no seu conj unto, consti tuam a Redenção, a sua obra redentora ati ngiu seu ponto culminante no sacrifício de sua Morte na Cru z. Porta nto, a morte de Nosso Senhor é de maneira proe minente, porém não exclusiva, a causa efi ciente de nossa Redenção.
Equilíhl'io entm a justiça e a misel'icól'dia <lilrinas Duas pergun tas brota m naturalmente dessa sublime rea-
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lidade: era razoável que fosse pela morte de um Inocente que os culpados fossem libertados de sua iniquidade? Por que o Pai chegou a exigir de seu Filho uma tal aniquilação - dar até a última gota de seu Sangue - sem que isso parecesse arbitrário ou cruel? Várias hipóteses teológicas foram levantadas para tentar desvendar esse aspecto da Redenção, talvez o mais insondável dela, porque toca nas relações intimas da Santíssima Trindade e no misterioso balanço entre a justiça e a misericórdia infinitas de Deus. Tais hipóteses giram em torno da questão da satisfação. No sentido jurídico, satisfação significa a reparação de uma ofensa por meio de uma compensação da injustiça cometida, a qual pode ser apresentada pelo próprio ofensor ou por alguém que o faz em seu nome. Nesse último caso, fala-se de satisfação vicária. Foi o tipo de satisfação que Nosso Senhor ofereceu a Deus Padre em nome da humanidade pecadora. O Concílio de Trento diz que a causa meritória de nossa justificação foi o Filho Unigênito, o qual "por sua Paixão santíssima no lenho da Cruz [. ..} satisfez por nós a Deus Padre " (Denzinger 799). Assim, "ninguém pode ser justo se não lhe são comunicados os méritos da Paixão de Cristo " (Denzinger 800). Com o objetivo de explicar como opera dita satisfação vicária, Santo Anselmo desenvolveu, na Idade Média, uma doutrina que, em síntese, dizia que a culpa do pecado original e de nossos pecados atuais é infinita, por ser uma ofensa a Deus, '
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que é infinito; e que ela exige, portanto, uma satisfação infinita, a qual só poderia ser oferecida por um Deus feito Homem: um Deus, para que sua reparação tivesse valor infinito; um Homem, para que Ele pudesse assumir a representação de todos seus irmãos pecadores. Santo Tomás de Aquino compl etou essa doutrina da satisfação vicária ressaltando que a Paixão serviu de compensação ao pecado por ser, acima de tudo, um ato de amor, sem o qual não poderia haver satisfação (Suma Teológica m, 14, 1 ad 1). E acrescenta que Nosso Senhor, "sofrendo por caridade
e por obediência, ofereceu a Deus mais do que exigiria a compensação de todas as ofensas do gênero humano ". Por isso, "ela foi uma satisfação não apenas suficiente, mas sup erabundante " (IH, 48, 2). Por fim , declara que a Paixão de Cristo não era necessária senão no sentido que Deus julgou ser a maneira mais apropriada de manifestar ao mesmo tempo sua justiça e sua misericórdia (IIT, 46 ad 3). Foi no mesmo sentido que o Papa Clemente VI declarou, na bula Unigenitus, do ano jubilar de 1343 , que Cristo havia derramado copiosamente seu Sangue, quando uma pequeníssima gota teria bastado para remir toda a linhagem humana (Denzinger 550). - E qual o papel da Ressurreição nesse plano de salvação? Por ser matéria extensa que já ocupou todo o espaço disponível para esta secção, deixo para o próximo mês a resposta a esta parte crucial da pergunta do leitor. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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A REALIDADE CONCISAMENTE Esportistas russos estariam sendo dopados com gás xênon os jogos olímpicos de inverno em Soch i, Rússia, a TV pública ale111ã WDR denunciou que as autoridades russas reco111endava111 o uso do gás xênon como "substância útil
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para o aumento das prestações " dos atletas. lnodoro e incolor, esse gás não é detectável pelos contro les, e sua capacidade de dopagem é enor111e. A WDR concluiu que o gás foi usado pelos russos nas Oli111píadas de Atenas 2004 e de Turim 2006. "Mais
SOCHI 2014
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do 70% das medalhas obtidas p elos russos nesses encontros desportivos teriam sido impulsionadas pelo gás xénon em grande escala ", acrescentou a
TV ale111ã. Para o ex-presidente da Agência Mundial Antidopagem (WADA), Richard Pound, não há "dúvida alguma " de que "isso é dopagem ". Obviamente, a Rússia nega. Mas um fato é certo: estes abusos co111 fins ideológicos estão voltando sob o co111ando do novo presidente Vladi111ir Putin, como nos "velhos tempos soviéticos". •
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CATOLICISMO
Mandatário da Coreia do Norte reeleito com mais votos que Fidel
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m eleições tota lmente controladas (zero por cento de abste nção) , a Coreia do Norte reelegeu seu supremo mandatário, Kim Jong-un (foto), com 100% dos votos ... Em cada uma das 700 circu nscrições só havia um candidato. Os eleitores só podia111 optar entre o "sim" e o " não"; e quem decidisse pelo "não" devia votar numa cab in e especia l que, segundo a correspondente Stefanie Dekker, era "algo
que poucos estão _dispostos a arriscar " ... Se a lgum e leitor não comparecesse, seria considerado prófugo e seus parentes poderiam ser enviados para a lgum campo de concentração. O curioso é que meios de com unicação e analistas ocidenta is reproduziram tais informações oficiais sem externar qualquer crítica! A única explicação cabível para ta l atitude é que, quando se trata de questão oposta ao "politicamente correto", órgãos da mídia ocidenta l empregam a política dos "dois pesos e duas medidas" para protegerem assim o esquerdis1110 universal. •
Relíquias de São Martinho de Tours na estátua da igreia s fieis de Tours (França) estavam certos de que o braço da grande estátua com o qual São Martinho de Tours abençoa do topo da basílica guardava ossos do santo. Essa tradição era minimizada pelo progressismo religioso , que contesta ou finge ignorar tudo o que se reporta ao sobrenatural. Quando guindastes foram utilizados para a restauração da estátua de bronze de quatro metros de altura e mais de duas toneladas, funcionários da Prefeitura descobriram no interior do braço uma caixa de chumbo lacrada com o selo de um bispo autenticando a relíquia. A multidão não conteve sua emoção. A autenti c idade foi reconfirmada por Jean-Luc Porhel , conservador-chefe do patrimônio histórico de Tours. Após a restauração , a estátua com as relíquias voltará a abençoar a França a partir do jubileu pelos 1.700 anos do nascimento do "Pai das Gálias".
O 2013: o ano mais violento depois da li Guerra Mundial
J\ exemplo de 2011 , 201 3
foi o ano em que houve mais conflitos
rlbélicos depois da li Guerra Mundi al, segundo o " Barômetro" do In stituto ele 1-l eidelberg ( Al emanh a) para estudo dos Conflitos Internacionais. O Instituto ca talogou 414 conflitos em 201 3 - dois a mais que em 201 2. Desses, 20 foram guerras ao pé da letra , enquanto 25 foram tidos como "guerra s limitadas". N o co ntinente ameri ca no, a situação mais grave foi a do M éxi co, por ca usa das lutas entre ca rteis da droga, forças de segurança e "força s de autodefesa". O Brasil não fo i citado, mas a vi olência da crimin alidade não fi ca longe da mex icana ou ela venezuelana, sendo qu e esta última inclui a ação mortí fe ra das milícias cubano-chav istas . •
China: quase 100% dos indiciados foram condenados a priori
E
m 201 3, 99,93% das pessoas denunciadas pelo Partid o Comuni sta chinês ou pela polícia do regime fo ram declaradas culpadas pelos tribunais de Justi ça, de acord o com o relatóri o anual da Corte Suprema ( o STF da Chin a) entregue ao públi co. Em 1, 16 mi !h ões de sentenças, apenas 825 - ou sej a, 0,07 1% dos indi ciados - foram inocentados. "A Justiça é cega ", di z o ve lho e sá bi o adágio do Direito. N a China também o é, só que com um a imensa diferença: o regim e soc iali sta indi cia e a Ju sti ça condena sem levar em considera ção qualquer outro fator. .. Para salvar a face, o relatóri o da Corte Suprema chinesa aponta debilidades do sistema judi ciári o, que soam como lindas frases para enganar ingênuos ou " inocentes úteis" . M as não alteram a monstruosa atuação de um Poder dominado tota lmente pelo sociali smo marxista. •
Tribunal da Bolívia mantém a penalização do aborto Tribunal Constitucional da Bolívia recu ou a despenali zação do aborto pedida por grupos fe mini stas. "O aborto é um crime" e
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"esta decisão do Tribunal Constitucional é um reconhecimento do direito à vida ", dec larou o mini stro Gualberto Cusi. Ele acrescentou que o acó rd ão "respeita o interesse da sociedade" e fund amenta-se "no argumento segundo o qual a vida deve ser respeitada desde a concepção ". O apelo recusado pedi a a aboli ção das penas que punem o massacre dos in ocentes - penalidades constantes cio Códi go Penal boi iviano, que prevê dois a se is anos de pri são para todo médi co ou pessoa que pratique o aborto. Provavelmente pelo temor ele perd er votos, o govern o de Evo M oral es preferiu manter-se fo ra da questão . •
Médica hematologista ateia confcrn ·1.400 milagres onvidada a participar da investigação de um milagre, Jacalyn Duffin, hematologista ateia canadense, examinou no microscópio "uma célula letal de leucemia " e ficou "persuadida de que o paciente devia ter morrido ". Entretanto, ele passava bem . Ex-presidente das Sociedades Americana e Canadense de História da Medicina e catedrática na Queen 's University, a Ora . Duffin depôs diante de um tribunal eclesiástico e constatou a seriedade da Igreja ao analisar os milagres. Ela estudou 1.400 milagres analisados por ocasião da canonização de centenas de santos ao longo de quatro séculos e publicou livros com suas conclusões . Apesar de ateia, ela afirma que "os ateus honestos devem admitir que acontecem fatos cientificamente inexplicáveis ".
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VARIEDADES
Novidades de ontem, muito novas ■ GRE GÓRIO VIVANCO LO PES
oje vou contar ao leitor uma novidade. Mas é uma novidade do passado. Sim, as novidades do passado são muitas vezes mais saborosas e sobretudo mais cheias de significado do que as deste presente sensaborão e agressivo em que vivemos. Todos sabem que no início do século XX, até a Primeira Grande Guerra, a Igreja foi governada por um Papa santo, Giuseppe Sarto, que adotou o nome de Pio X . Isso não é novidade. A novidade que quero apresentar refere-se a certos ens inamentos luminosos desse Pontífice, hoje desconhecidos da grande maioria das pessoas. A novidade está também, especia lmente, na alegria de alma e no alívio que tais ensinamentos causam a quem vive (eu quase diria sobrevive) nos fuliginosos dias presentes. Haverá, talvez, alguns que se surpreendam com o que ensina o Papa Sarto; outros o detestarão; ninguém poderá negar, porém, que se trata da mais lídima doutrina cató li ca. Ele foi canonizado por Pio XII em 1954. Estou lendo uma biografia de Pio X escrita por um conceituado acadêmico francês, contemporâneo do Pontífice santo: René Bazin, Pie X, F lammarion, Paris, l 928. Resumida, mas bem feita, dela extraio os dados abaixo. Em sua primeira Carta Pastoral , quando ainda Patriarca de Veneza, o Cardeal Sarto escreveu: "Deus é expulso da política, pela teoria da separação da Igreja e do Estado; da ciência, pela dúvida erigida em sistema; da arte, aviltada p elo realismo; das leis, modeladas pela moral da carne e do sangue; das escolas, pela abolição do catecismo;
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CATOLICISMO
da família, enfim, que se quer laicizar na sua origem e privar da graça do sacramento [. .. } "Que os sacerdotes tomem cuidado de não aceitar nenhuma das ideias desse liberalismo que, sob aparência de bem, pretende conciliar a justiça e a iniquidade. Os católicos liberais são lobos cobertos de pele de ovelha; é por isso que o padre verdadeiramente padre, deve tornar público aos.fiéis confiados a seus cuidados, suas p erigosas armadilhas e seus maus desígnios". Mais tarde, como Papa, ele incentivou a c0munhão das crianças , apenas se abrisse nelas a idade da razão. Na época, a heresiajansenista, encastoada em largos setores da Igreja, se opunha a que as crianças comungassem. São Pio X mandou a Congregação dos Sacramentos emitir um decreto a respe ito. Referindo-se ao mau costume de não permitir a comunhão infantil , diz o decreto: "A inocência da criança, arrancada às carícias de J esus Cristo, não se nutria de nenhuma seiva interior; em consequência, a juventude, desprovida de recurso eficaz, e cercada de tantas armadilhas, p erdia sua candura, e caía no vício antes de ter saboreado os Santos Mistérios". E prossegue dizendo que a perda da inocência primeva "talvez pudesse ter sido evitada, se a Eucaristia tivesse sido recebida mais cedo ". Por fim: "a idade
Escudo de Armas de São Pio X
razoável para a Comunhão é aquela na qual a criança sabe distinguir o Pão eucarístico do pão comum, e pode assim aproximarse com de vo ção do Altar. Não se requer um conhecimento p e,feito das coisas dafé, mas sim um conh ec im ento e/ementa,~ ou seja, um certo conhecimento é siificiente. Também não é um uso pleno da razão, senão um começo de uso da razão, ou sej a, um certo uso da razão é suficiente". Hoje em dia tanto se fa la em paz e, no entanto, vemos guerras e convulsões por toda parte. A esse respeito, nos explica o Pontífice: "Sem dúvida, a desejo da paz está em todos os corações, e não há ninguém que não a queira com todo empenho. Mas esta paz, insensato aquele que a procura fora de Deus. Pois expulsar a Deus é banir a justiça, e a justiça posta de lado, toda esperança de paz se torna uma quimera ". • E-mail para o autor: catoli cis111o@terra .co111.br
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São João Batista de La Salle F undador dos Irmãos das Escolas Cristãs, foi um instrumento da Providência Divina para a fundação de escolas profissionais e escolas normais
sécul o XVH na Fran ça, também cha mado "O grande Sécul o", fo i d as é pocas ma is brilh a ntes d a hi stóri a daque la nação, tendo servid o de modelo para toda a Europa. Entretanto, nem tudo fora m rosas. Já afetado pelos males provenientes dos problemas re lig iosos suscitados pela revo lta de Lutero e Ca lvino e pelo Humanismo
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Relíquia e assinatura do santo
CATOLICISMO
renasce ntista, o século XVH fra ncês viu escurecidas suas glórias por dois problemas sérios: a miséri a fo mentada pelas constantes guerras, e a ignorância dos filhos do povo. Para remediar essas duas necessidades, a Providência Divina suscitou dois grandes santos. Na primeira metade do século, São Vicente de Paulo cuidou praticamente de todas as fo rmas de miséri a corpo ral com suas duas Congregações Relig iosas, a dos Sacerdotes da Mi ssão e a das Filhas da Ca ridade. N a segunda metade daquele
mesmo século, São João Bati sta de La Salle fund ou os frm ãos das Esco las Cristãs para cuidar da ju ventude. Gêni o na arte de educar, este santo é um exemplo para nossos dias, em que a educação se secul arizou e procura abstrair a ex istência de Deus, como se nem Ele nem a eternidade ex isti ssem.
Educação esmerada e à maneim antiga João Batista nasceu na histórica cidade de Reims, em 30 de abril de 165 1, em pleno reinado de Luís XlV, o Rei Sol. Foi o primogênito entre os dez filhos de Luís de La Salle, magistrado e conselheiro do rei, e de Nicola de Moet de Bro uillet, de nobre e abastada fa mília. A infâ ncia de João Batista fo i pura e inocente. As primeiras palavras que conseguiu pronunciar claramente fo ram os nomes de Jesus e Maria. Seus pais tinham empenho so lícito na educação dos filhos, especialmente no que se refere a seu desenvolvimento reli gioso, mora l e intelectual. Formando-os à maneira católica, eram muito sérios na condução do lar, e ex igentes em matéria de obediência. Esmeraram-se sobremaneira na fo rmação de seu primogêni to. A avó paterna, que morava com eles, li a para o pequeno João Batista a Vida dos Santos, enquanto o avô rezava com ele o Brev iári o. Com isso, fo rm ava-
se possa ntemente seu ca ráter firm e e religioso. Seus estudos fo ram fe itos em casa, numa escola local e no Colégio Des Bons Enfants, da Uni versidade de Reims. Ao terminar seu curso de fil osofi a, João Bati sta graduou-se como Mestre de Artes. No dia 11 de março de 1666, aos 17 anos, o adolescente recebeu a tonsura cleri ca l; e, no dia 7 de janeiro do ano seguinte, de acordo com os costumes da época, fo i solenemente instalado como Cônego da Catedra l de Reims, apesar de ainda ser leigo.
Aos 21 anos tomou-se o al'rimo da família João Batista entrou depois no seminário de São Sulpício, em Paris, visando sua ordenação sacerdotal. Em 19 de julho de 167 1, apenas nove meses depois de sua chegada à Cidade Luz, fa leceu sua mãe. Menos de um ano depois, também seu pai deixou este mundo, o que obri gou João Bati sta a abandonar seus estudos e voltar para casa a fim de cuidar dos seis irmãos menores. Com 2 1anos de idade era agora o chefe da num·erosa fa mília. Ordenando a casa paterna nos moldes de um convento ou quartel militar, estabeleceu horá ri o para tudo, desde o despertar e refe ições, até a meditação diária e as orações em comum. O fa to
O santo ensinando - Cesare Mariani (1826-191 O). Museu do Vaticano.
de ter que se ocupar de negócios e com pessoas do mundo em nada diminuiu sua piedade. Pelo contrário, cuidava de tudo com espíri to sobrenatu ra l, procurando a maior glória de Deus. No tempo li vre que lhe sobrava, após cuidar dos negócios domésticos e dos seus estudos teológicos, João Batista entregava-se às boas obras visitando pobres e doentes, e distribuindo muitas esmolas. Quando se us irmãos já es tava m cresc id os e não mais prec isa vam de seu auxílio, sempre obediente, teve que ceder à ordem de seu diretor espiritual e receber a ordenação sacerdotal no dia 9 de abril de 1678, com a idade de 27 anos.
Encaminhado pam uma gmncle e providencial obm Como se ini ciou a obra a que São João Bati sta de La Sa lle dedica ria sua vida? É curioso, pois, contrariamente ao que normalmente sucede a quase todos os fundadores, ele não fo i levado àquil o que seri a sua vocação mov ido por uma inspi ração interi or espec ial, surgida desde cedo, e que lhe determinaria o rumo a seguir. As co isas fo ram se sucedendo, ele fo i sendo envolvido até surgir uma grande obra, na qual não pensara. Ce rto di a se u diretor es piritual, estando doente à morte, pediu que o então cônego João Batista cuidasse de um instituto re li gioso que ele fund ara havi a pouco, a Congregação das Filhas do Menino Jesus, destinada à instrução sobretudo de meninas órfãs. Ao confia r essa obra quase em seu início a seu dirigido, o moribundo afi rmou: "O seu zelo trará prosperidade a essa Congregação. O senhor completará o trabalho que comecei ". Desse modo João Batista de La Sa lle fo i se enca minhado lentamente para o campo de ação que seria o de toda sua vida: o das escolas cri stãs. Em 1679 , para atender ao pedido de uma benfe itora, auxiliou o professo r Adriano Ni el a abri r uma esco la gratui ta para meninos em Reims. Isso fe ito, o cônego La Sa ll e retirou-se, voltand o a dedica r-se ao seu ca nonicato. Pouco depois, porém, fo i novamente chamado a ajudar na fund ação de outra esco la na
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paróquia de São Tiago, também em Reims, após o que retirou-se novamente. Parece que e le se sentia chamado a tão-somente auxiliar a obra das escolas gratuitas com o seu prestígio e com seus recursos. Deixava que a Adriano Niel fossem tributados todos os louvores das fundações , contentando-se em trabalhar na sombra para o progresso delas. Mas, aos poucos, viu-se envolvido na fundação de várias outras esco las. Ele mesmo afirma: "Nunca me ocorreu essa ideia [de fündar uma grande obra].
Se eu tivesse alguma vez pensado que aquilo que eu fazia por pura caridade para os professores escolares pobres tornaria obrigatório para mim viver com eles, eu teria abandonado isso imediatamente". E, com mai s ênfase: "Se Deus me tivesse revelado o bem que poderia ser feito por esse Instituto (q ue ele fundou), e me tivesse do mesmo modo tornado conhecidas as provações e os sofrimentos que o acompanhariam, minha coragem teria faltado e assim eu nunca teria começado essa obra". No início, o cônego La Sa lle, percebendo que os professores que reunira ficavam , depois das au las, desencorajados com a incerta perspectiva do futuro e a fa lta de uma direção firme, ens inouos a usar melhor o tempo que lhes ficava livre para evitar o desgaste e o aborrecimento. Desse modo encarregou-se deles tanto na esco la quanto na residência em que moravam. Lá estabeleceu horários para as várias funções , dando-lhes formação religiosa e pedagógica. Esse foi o início da Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs. No dia 24 de junho de 1682, decidiu-se a viver com esses discípulos. Pode-se considerar essa data como a do nascimento da comunidade dos lrmãos das Escolas Cristãs, se bem que o nome tenha sido adotado posteriormente.
Ser os ''A njos da Guarda" dos alunos
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a quem instruís". Ele instava seus professores a ter um "zelo ardente" para atender os a lunos: "Não deveis estar satisfeitos só com o impedir que os alunos a vós confiados cometam o mal. É necessário que, a par disso, os leveis a fazer o bem e a executar as ações virtuosas de que são capazes". Ele escreveu a obra "Gu ia das Escolas Cristãs", para orientação dos 1rm ãos de seu Instituto, onde especifi cava os princípios metodológicos para abordar os vários temas, como horários, prê mios , repreensões. Esse "G uia" orientou os Irmãos das Esco las Cri stãs por mais de 200 anos, e foi se renovando frequentem ente à medida dos progressos que real izavam as escolas. São João Batista fundou três escolas normais, sendo pioneiro também nesse campo. Ele reformou também os métodos de educação então existentes. Na época ensinava-se a cada a lun o em separado. Ele, pelo contrário, os reuniu em grupos para dar-lhes au las em conjunto, procurando ensinar mais pelo amor e convicção, alcançando com isso resultados surpreendentes. Todos se adm iravam em ver como melhorava a juventude educada com os métodos do santo. Ele não só ensinava aos alunos co isas teóricas ou abstratas, mas também os conhecimentos práticos que mais tarde lhes seri am de utilidade na vida diária. Tudo isso tendo como base os princípios religiosos e a amabilidade.
São João Batista dizia a seus religiosos que eles deveriam ser os " Anjos da Guarda" dos seus alunos: "Se quereis
"Estou ple11ame11te submisso à Sua vontade "
cumprir bem vosso ministério, deve ser enquanto Anjos da Guarda dos alunos
Infelizmente, por fa lta de espaço, não é possível tratar aqui da árdua peleja que
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o santo travou com osjanseni stas (semiprotestantes da época) e com os ga licanos (que desejavam estabelecer uma igreja nacional francesa, separada de Roma), além de muitos outros aspectos da vida e da obra desse incansável batalhador. Por exemplo, para mostrar sua invioláve l adesão à fgreja e ao Soberano Pontífice contra a crescente corrente galicana, João Batista sempre acrescentava após sua ass inatura "Sacerdote Romano ". Q uando São João Batista adoeceu gravemente, o pároco que o visitou, ao encontrá- lo exausto, mas sereno e fe liz, advertiu-o : "Saiba, senha,; que ides
morrer logo, e comparecer diante do tribunal de Deus". Ao que respondeu o doente : '"Sei muito bem, e estou plenamente submisso à Sua vontade; minha sorte está entre Suas mãos ". Qua ndo, terminaram junto dele as preces dos agon izantes, São João Batista recuperou o conhecimento e recomendou mais uma vez aos seus irmãos de hábito : "Se quiserdes vos conservar e
morrer no vosso estado, não tenhais jamais comércio com as pessoas do mundo; porque pouco a pouco tomareis gosto em sua maneira de agi,; e entrareis tanto em sua conversação, que não podereis vos def ender; por política, de aplaudir seus discursos, ainda que muito perniciosos. O que será causa de cairdes na infidelidade. E, não sendo mais fieis à observância de vossas regras, vos desgostareis de vosso estado, e, por fim , o abandonareis". Foram suas palavras fina is. Às quatro horas da madrugada do dia 7 de abri l de 1719, São João Batista de la Sa lle entregou sua bela alma a Deus aos 68 anos de idade. • E-mail para o autor: catolicismo@ terra.com.br
Obras consultadas: - Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Paris, Bloud et Barra i Libraires-Éditeurs, 1882, tomo XV, pp. 265 e ss. - Kev in Knighl, Saint John Baptist de la Sal/e, The Catholic Encyclo pedia, D Rom edition . - San Juan Bautista de la Sal/e - http ://www. churchforum.org.mx / sa ntora l / Abri l / 0704. h1111
- San Ju an Bautis ta de la Sei/te - 2002. Bib lioteca Electró nica C ri stiana (BEC) VE Multimedi os .
INTERNACIONAL
Putin ameaça guerra contra a Ucrânia e o Ocidente. Entretanto, em todo esse episódio há uma questão-chave religiosa quase não mencionada: a conversão da Rússia.
Lu1s DuFAUR odo mundo, ou quase, julgava que o conflito comunismo-a nticomunismo pertencia ao passado. Em 26 de dezembro de 1991 , a URSS foi dissolvida. A bandeira vermelha com a foice e martelo, espécie de estandarte do inferno, foi arriada do Kremlin. O perigo parecia afastado e abriu-se a perspectiva de uma era de paz imaginada com muito progresso e riqueza ... porém sem fé. Houve quem, forçando a nota no sentido religioso, concluiu que se tinha operado a conversão da Rússia, embora seus erros se encontrassem espalhados pelo mundo inteiro e o império do anticristianismo tivesse mudado pouco . Difundiram-se o otimismo e o desarmamento dos espíritos
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contra aquilo que Nossa Senhora em Fátima apontou como o flagelo da Providência para um mundo que se afastava cada vez mais de Deus e de sua Igreja. Mas houve pelo menos uma exceção: Plínio Corrêa de Oliveira. Este líder católico brasileiro advertiu então que o monstro comunista apenas fingia estar morto, para se metamorfosear e reaparecer futuramente mais forte, mais devorador do que nunca, a fim de agredir um mundo adormecido, anestesiado pela ideia de que o "comunismo morreu". O Prof. Plínio explicou, numa conferência em 18 de maio de 1991 : "Diz-se que o comunismo acabou, mas ao mesmo
tempo tudo cheira cada vez mais a um comunismo que se metamorfoseou e deixou de ser uma cobra venenosa para passar a ser um gás tóxico de efeito lento. É essa metamorfose que está alterando todo o Ocidente, porque se acha que o comunismo acabou. [Os ocidentais] não se defendem mais contra ele. Porém, vive-se numa insegurança como se estivesse presente. Esta incerteza profunda determina que afastem a ideia de uma guerra, mas fareja-se que qualquer coisa no ar cheira a morte".
A serpente se revela um dragão Transcorreram pouco mais de duas décadas e, quando o desarmamento dos espíritos atingia seu auge, empenhado em afastar o temor de alguma catástrofe planetária, o monstro que se imaginava desaparecido pulou da toca agressivo e feroz!
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Os nomes e o aspecto do ser mali gno mudaram. Hoje responde pelo nome de Vladimir Putin, e não Vl adimir Lenine. A aparência é dife rente, mas o obj eti vo e os métodos são semelhante . A metamorfose do velho co muni smo vinha se operando com astúcia. A anti ga URSS se recompunha viperinam ente na Federação Russa. No Oc idente, os partidos soc ialis tas/ populistas recuperavam seu protagoni smo. O decrépito Fidel Castro fun cionava como sinal indi ca ti vo de uma fo rça impalpável que queri a estabelecer uma ponte com o passado nefando. E quando a Ucrânia di sse " não" ao pres idente criptocomuni sta Viktor Yanukov ich, que co laborava para a rea li zação do projeto da " nova URSS", o ditador do Kremlin ex pl odiu de modo inu sual. Como vinga nça, envi ou o exército russo, mal di ss imulado, invadir e anexar a Crimeia, parte estratégica da Ucrâni a. Vladimir Putin agiu com a arrogância de um Hitler ou de um Stalin. Engo liu a Crimeia, mas seu pl ano de restaura r o império soviético fi cou patente para o mundo, ao menos para os que pensam , erguendo contra ele uma crescente indi gnação. Se prosseguisse como anteriormente, como uma serpente, poderia ter ido longe; mas optou pela violência, ainda que di sfarçada, e suas chances de vencer se estreitaram . O que houve?
O l'umlo religioso ela crise Há muitos fa tores hi stóri cos, culturais e soc iais a serem considerados no caso ucra niano. Limi tamo- nos àquele que parece ser o principal, apesa r de menos foca li zado pela mídi a: o religioso, e espec ificamente a qu estão da conversão da Rússia, anunciada por Nossa Senhora em Fátima no ano de 19 17. A Ucrâni a é o berço hi stóri co da Rú ss ia. Em 998, São Vladimir, o Grande (980-1 O15), fo i bati zado em Ki ev, cuj o trono ocupava co m o títul o ele Grão Duque de Kiev e ele todas as Rússias. Logo se empenh ou na destrui ção dos ídolos pagãos e na conversão ele seus súditos. Depois, acontecimentos hi stóri cos aca baram tran ferindo a capital para Mosco u e prec ipitaram o povo russo no cisma cio Oriente. Coube à Ucrânia a glóri a de reverter - ao menos parcialmente - essa aposta ia. Em 1596, inconfo rm ados com o cisma, se us bi spos voltaram a se unir à Sa nta Sé sob o pontifi cado ele Clemente VII 1. Fo i um acontec imento transcendental. Na bea tificação de São Josa phat, grande apóstolo da reunifi cação, o Papa Urbano VI li afi rmou: "Por meio de vós, meus ucranianos, eu espero converter o Oriente ". Quando Nossa Senh ora aparece u em Fátima, todos os povos russos reunidos sob o império dos czares de Moscou estavam des li za ndo para o comuni smo. Adve io-lhes então um período trágico: a seita comuni sta se apoderou deles e os transformou no trampolim para suas tentativas de escrav ização do mundo. Milhões de ucranian os morreram de fom e ou no ex íli o. A Igreja Ca tóli ca teve seus bens confi scados e milh ares de reli giosos e leigos so freram o martíri o. Stalin até tentou obri ga r os católi cos a ingressa rem na Igreja Ortodoxa Russa, então
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controlada por ele. Mas estes preferiram sofrer persegui ção cruel e perm aneceram heroi ca mente fi eis à Santa Sé. Mons. André Sheptyskyj, líder da Igreja Greco-Católi ca na Ucrâni a sob as persegui ções de Lenine e Stalin, escreveu à Santa Sé no início da li Guerra Mundi al: "Este regime só pode se explicar como um caso de possessão diabólica coletiva ". E pediu ao Papa que todos os sacerdotes e religiosos do mundo "exorcizassem a Rússia soviética ".
Católicos heróis a11ticom1111istas Quando a URSS fin almente soçobrou, os católicos voltaram à luz cio dia e recuperaram seus bens. Eles estavam aureo lados pela sua conduta hero ica: hav iam sido os úni cos a não se curva rem di ante do monstro comuni sta. Mons. Borys Gudziak, atual bispo da eparquia (di ocese) ucraniana de Paris, revelou: "Quando a Igreja greco-católica ucraniana deixou de ser ilegal e 'saiu das catacumbas ', surgiu com uma autoridade moral incrivelmente grande ". Em 1939 ela possuía três mil sacerdotes e qu atro milhões de fi eis. Somente 300 padres e um núm ero incerto de fi eis sa íram das catacumbas ! Hoje ela conta com três mil presbíteros com um a médi a de idade ele 40 anos, 800 seminari stas e cinco milhões ele fi eis. É signifi cati vo o fa to ele jovens católicos assumirem a
liderança nas ruas durante os heroi cos protestos da Praça Maidan, ocorridos recentemente em Ki ev, acampados sob um intenso fri o que atingia por vezes 25° negativos ... E o ti ra no ucrani ano fil ocomuni sta teve que fu gir para junto de seu chefe Vladimir Putin, na Rúss ia. O hi stori ador ameri ca no George Weige l relatou: "Em julho passado (2 01 3), eu .fiz o discurso de .formatura na Uni versidade Católica Ucraniana (UCU), onde fa lei dos mártires da Ucrânia do século XX: .. Menos de cinco meses depois, alguns dos.formandos e alguns dos alunos esta vam na linha de.fi·ente de uma onda maciça de protestos públicos na Ucrânia". Uma centena de ucrani anos morreu, um milhar fi cou ferido. No centro do acampamento que resisti a ao comuni smo havi a barracas . Duas delas eram capelinhas católi cas: uma de rito greco-católi co e outra de rito latino. Ali ce lebrava-se a Mi ssa todos os di as, di stribuía-se a Comunhão e mini strava-se a confi ssão aos res istentes. Houve centenas de conversões, na rra o ac im a c itado Mons. Bo rys Gud z iak (foto), que esteve presente apo iand o os valorosos fié is. O prelado
acrescentou que o dia começa va com uma oração, e que à noite, quando o fr io era muito intenso e o ambi ente apresentava-se esc uro e peri goso, rezava-se a cada hora e entoava-se o hino nac ional. No auge do confronto um incêndio atingiu a capelinha católi ca de rito latino, onde estava uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Milagrosamente ela havia sa ído do rec into cinco minutos antes, para pres idir orações num local próximo.
P11ti11 pen/e as estribeiras A derrubada do cripto-co muni sta Vi ktor Yanu ko vi ch inseriu-se num movimento hi stóri co do catoli cismo, capaz de ace lera r a conversão do mundo russo so b o dec isivo influxo da graça divina. O déspota do Kremlin parece ter compreendido tal situação, percebendo que aquele movimento católi co não tardari a em se ex pandir pa ra as regiões menos católi cas da Ucrâni a e, por natura l fi !tração, penetra r na própria Rúss ia. Não era uma poss ibilidade meramente hipotética. Com efeito, no dia 25 março último, 50 mil pessoas desfi laram em Moscou contra a política de Vladimir Putin, bradando "Não aos chequistas (KGB) "; "Não toquem na Ucrânia ". Putin sentiu o quanto seus pés são de barro, e como na própria Rússia há simpatias por um movimento análogo ao da Praça Maidan de Ki ev. Na ocas ião, o prim eiro mand atári o ru sso fe z desfil ar simpati zantes militari zados, arvorando bandeiras co m a fo ice e o marte lo, além de outras co m o mapa da velha Uni ão So vi éti ca e a insc ri ção "URSS 2.0" - uma referência à " nova URSS". Revelando o temor do Kremlin , eles bradavam: "Não haverá outra Maidan em Moscou! ", infor mou um jorn al parisiense. Aba lado pe lo progresso da Igreja Cató li ca na Ucrâni a e sentindo a debilidade de seu regime, Putin teri a perdido as estribeiras. Impunha-se para ele frear esse movim ento, ainda que para isso tivesse que apelar para a vi olência e a violação do Direito. O preço fo i bem alto: ele fez o comuni smo voltar com força ao cenári o internac ional, desvendando em toda a sua ex tensão a radi calidade da metamorfose matreira que estava rea li za ndo. O caso da Crimeia poderá ser "absorvid o" ou não pelo Ocidente, mas o probl ema reiigioso de fund o permanece. A perspectiva da conversão cio mundo ru sso é rea l. Primeiro, porque a Sa ntíss im a Virgem a prometeu em 19 17; e também porque há fa tos que apontam nesse sentido. É inca lcul ável o que poderá resultar da movim entação reli giosa em curso . Do lado comuni sta não há violência que não possa advir. De certos ambi entes católi cos, infiltrados por um fa lso e imprudente ecumeni smo, poderão mesmo surgir surpreendentes pos ições contrárias ao ava nço do catolicismo ucraniano. Mas de Nossa Senhora ele Fátima podemos espera r a certeza do pl eno cumprimento de suas pro messas relativas à conversão da Rúss ia e ao triun fo de seu Im acul ado Coração. • E-mail para o autor: catoli cismo@tcrra.com.br
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ENTREVISTA
Relembrando algo muito esquecido: a moral católica Ü Cardeal Raymond Leo Burke esclarece importantes pontos de moral católica, especialmente no que concerne à instituição familiar. Em nome do relativismo moral - que penetrou até mesmo em ambientes católicos a família vem sendo paulatinamente desagregada. Emmo. Cardeal Raymond Leo Burke foi recentemente entrevistado pela pela Srta . lzabella Parowicz, da revista "Polonia Christiana", de Cracóvia. Nascido em Richland Center (Wisconsin, EUA) em 30 de junho de 1948, ele exerce atualmente o cargo de Prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica - o mais alto tribunal da Santa Sé, que corresponde ao nosso Supremo Tribunal Federal. Anteriormente, foi Bispo de La Crosse, em seu estado natal, de 1994 a 2003, e Arcebispo de Saint Louis de 2003 a 2008 . O insigne purpurado é uma voz proeminente nos ambientes conservadores , especialmente em assuntos atinentes à Igreja, à família e à política americana . O Cardeal Burke e a referida revista polonesa concederam autorização a Catolicismo para a reprodução de pontos salientes dessa importante entrevista .
compromissos quando se trata de defender a vida humana, o matrimônio e a família? Cardeal Burke - A noção de "Catolicismo parcial " é uma contradição nos termos, que refl ete a presente tendência cul tura l ao individuali smo e ao re lativismo; em outras palavras, a te ndênc ia de acomodar qualquer realidade, sem respeito pela sua natureza obj etiva, aos p róprios pensamentos e desejos. Os católicos que têm essa noção de sua fé e prática católicas são algumas vezes chamados de católicos de "cafeteria", porque e les se lecionam e escolhem entre os ensinamentos da Jgreja sobre fé e mora l, aq uilo que e les querem acred itar e seguir. Um verdadeiro católico aceita, sem compromissos, todas as verdades que a Igrej a ensina a res peito da fé e da vida moral.
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Catolicismo - Eminência, é possível ser parcialmente católico? Frequentemente ouvimos afirmações como: "Eu sou católico, mas ... ". Até que ponto é permitido aos católicos fazer
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Cal'<leal Raymond 811l'ke
Catolicismo - Por que a inocência é minimizada hoje em dia? Refiro-me à vida dos bebês em gestação, às crianças que são violentadas psicologicamente durante as aulas de educação sexual obrigatória, e à inocência entendida como a pureza de pensamentos e (antes do casamento) pureza da carne. Cartlea/ Burke -U ma agenda tota lmente secu lar, para ter sucesso, deve atra ir as cri anças e os jovens
Mesmo médicos nominalmente católicos, que também admitem o juramento de Hipócrates, tendem a assumir a sacralidade da vida humana de modo leve e permitir soluções que envolvem morte (ou seja, o aborto e a eutanásia), a fim de garantir a realização pessoal, o conforto, ou a eliminar algum "problema" de um indivíduo. Como podemos evitar que esse mal intrínseco e disfarçado se espalhe ainda mais? Cardeal Burke -A situação que você descreve é
para a sua maneira de pensar. A educação é a chave final para a sua vitória na sociedade. A ún ica maneira de ela conquistar as crianças e os jovens é usurpando o dever so lene dos pais e professores de educar de acordo com o que é verdade iro, bom e belo. Pais, e professores que trabalham com os pais na educação correta de seus filhos , devem necessari amente respeitar por completo o período de inocência das crianças e dos jovens. Respeitando essa inocência natural , que é um reflexo do dom de Deus referente à consciência para todas as crianças, pais e professores vão prepará-las, como também os jovens, para responder de fo rma clara e corajosa a essas fo rças que roubariam sua inocência. Tanto dentro de si mesmos - devido aos efeitos do pecado original - quanto fora, por exempl o, devido às más companhi as e más comuni cações, como a pornografia na internet. Pa is e professores devem esta r sempre vigilantes para que nada seja introduzido no currícul o que viole a inocência de uma cri ança, e até mesmo tentativas de in cutir gravemente na criança formas erradas de pensar - como, por exem pl o, um cu rrícu lo aprovado por determinado governo que ensina a crianças de quatro e cinco anos que o casa mento pode ass umir fo rmas diversas da união duradoura, fie l e procriativa de um homem e uma mulher. Catolicismo - Hipócrates não era católico, mas jurou o seguinte: "Eu não vou dar uma droga mortal a ninguém se solicitado, nem darei uma sugestão para esse efeito. Do mesmo modo, não darei a uma mulher um remédio abortivo. Em pureza e santidade eu vou conservar minha vida e minha arte." Hoje em dia, os ataques contra a vida humana estão se tornando cada vez mais fortes.
Pais e professores devem estar sempre vigilantes para que nada seja introduzi do no currículo que viole a inocência de uma criança, e até mesmo tentativas de incutir gravemente na criança formas erradas de pensar
"É fümlamelltal <la,· às crianças catequese sólida, incluin<lo a mação essencial 110 que <liz respeito à <ligni<la<le ÍIJ11iolável <la vi<la inocellte e imlefesa"
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tragicamente real. Muitas vezes fico profundamente triste ao ver a arte médica, que por sua natureza é dirigida para a cura e a preservação da vida humana, ser reduzida a uma tecnologia de mutilação e morte. É fundamenta l dar às crianças, entre as quais estão os futuros médicos do mundo, uma catequese só lida, incluindo a formação essencial no que diz respeito à dignidade inviolável da vida inocente e indefesa, à integridade do matrimônio e da fa mília, e ao livre exercício de uma consciência corretamente info rmada. Também é fundamental proporcionar ocas iões aos médicos e a outros profissiona is de saúde de se unirem com vistas à educação continuada sobre as dimensões éticas e religiosas dos cuidados da sa úde e a edificação de sua solidariedade na luta contra a cultura do secul arismo e da morte. Um exce lente exemplo de ta l traba lho é a Associação Médica Santa Gianna (http ://www.stgiannaphysicians.org), que te m desenvolvido a "Aliança Católica Juramento de Hipócrates do Médico SI. Gianna" (http://www. stgiannasphys icians.org/enshrinements/hippocratic_oath). Catolicismo - Nos últimos 50 anos, a anulação eclesiástica se tornou uma maneira relativamente fácil para sair de um casamento difícil ou inconveniente. Razões válidas para declarar um casamento nulo e sem efeito muitas vezes são confundidas com meras desculpas para começar uma nova vida. Houve casos em que um ou ambos os cônjuges ficticiamente mudaram seu endereço para obter uma decisão favorável de outro tribunal diocesano de ação rápida ou mais "arejado". Ademais, enquanto um dos cônjuges tende para a anulação, o outro é contrário a ela e se a anulação for concedida -eventualmente sofre muito, ou mesmo perde a fé. Além disso, parece haver um novo nicho de mercado para advogados especializados nestes casos de anulação. Poderia Vossa Eminência nos oferecer alguns insights sobre a maneira como as mais altas autoridades judiciais da
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Igreja previnem o abuso da instituição de anulação? Como devem os leigos resistir à tentação de usar a anulação como uma "saída de emergência" do casamento indissolúvel?
Cardeal Burke - O Supremo Tribunal da Signatura Apostó li ca tem a responsab iIidade de supervisionar a admini stração correta da justiça na Igreja. Isso inclui a justiça admini strada pelos tribunais matrimoniais, no caso da acusação de nulidade de um casamento por parte de um ou de ambos os cônjuges. Por meio do processo empregado nos tri bunais matrim oniais, um processo estabe lec ido na lei uni versa l da Igreja, o juiz ou juízes chega m a uma decisão sobre a verac idade da alegação de que um casa mento fo i nulo desde o início, mesmo se ele pa receu ter sido um casa mento vá li do . A lei universa l da Igreja ta mbém estabelece as bases sobre as quais uma ou ambas as partes podem faze r ta l afi rmação. O processo é direcionado apenas para a descoberta da verdade sobre a reivindicação, pois só a verdade pode servir ao bem das partes envo lvidas. A dec isão do tribunal é corretamente chamada de "declaração de nulidade", não uma "anulação", de modo a não dar a impressão de que a lgreja está anulando um casamento vá lido. A declaração signi fi ca que o juiz ou juízes - por meio de um processo no qual tanto os argumentos a favo r da validade do casa mento quanto todos os argumentos a favo r da nulidade do matrimônio fo ram cuidadosa mente ponderados - concl uíram com certeza mora l que o casamento era nul o desde o início. Certeza mora l significa que o juiz ou juízes, depois de terem ponderado todos os argumentos - considera ndo somente a Deus diante de seus olhos - , não tem nenhuma dú vida razoável quanto à nul idade. O
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No caso de um político ou outra figura pública que age contra a lei moral em matéria grave e ainda se apresenta para receber a Sagrada Comunhão, o sacerdote deve repreender a pessoa em questão e, em seguida, se ele ou ela persiste em se aproximar para receber a Sagrada Comunhão, o sacerdote deve se recusar a dar o Corpo de Cristo para a pessoa.
''As políticas cio Presidente cios EUA se ton1mw11 hostis à civilização cristã. Ele parece ser um homem secularizaclo, que promo11e 110/íticas anti/'amília "
processo também inclui os meios para as partes buscarem soluções efi cazes, se elas acreditam que a verdade não está sendo obedecida pelo processo. A ruptura de um casamento pode ser devida a uma causa distinta da nulidade do consentimento matrimonial a partir do início do casamento. Por exemplo, ela pode ser devida ao pecado de uma ou de ambas as partes. Uma parte só deve faze r a alegação de nulid ade do casa mento quand o estiver convencida de que seu casamento, que ela pensava anteriormente que era válido, na verdade era invá lido. Além de receber denúncias sobre possíveis injustiças cometidas nos tribunais loca is, o Supremo Tribunal da Signatu ra Apostólica também recebe um relatório anual sobre o estado e a atividade de cada tribunal matrimonial. Depois de estudar o relatório, envia observações ao tribunal matrimonial, para auxiliá-lo a rea lizar mais corretamente o seu tra balho. A Signatu ra Apostóli ca também solicita às vezes uma cópi a da dec isão definitiva em um caso de nulidade do casamento, a fim de verifica r que a justiça e, portanto, a verdade fo i obedecida no processo que conduziu à decisão. Por outro lado, a Signatura Apostóli ca tem competência para conceder certos favo res aos tribunais para a admini stração mais efi caz da justiça. Catolicismo - Gostaria de abordar a questão dos políticos nominalmente católicos, que atuam contra o ensinamento da Igreja - por exemplo, apoiando publicamente o aborto ou a legalização de casamentos "homossexuais". Vossa Eminência enfatiza frequentemente que a esses políticos não se deve administrar a Santa Comunhão, de modo a evitar o pecado de sacrilégio. Como os padres devem proceder de forma a garantir que esta proibição cumpra não só uma punição, mas também uma função corretiva?
CardealBurke - A exc lusão de receber a Sagrada Comunhão, dos que persistem no pecado mani fes to e grave depois de terem sido dev idamente advertidos, não é uma questão de punição, mas uma di sciplina que respeita o estado obj etivo de um a pessoa na Igreja. Do mesmo modo co mo São Paul o, no capítulo 11 , v. 29 da primeira Ca rta aos Coríntios, admoestou os primeiros cri stãos: "Para qualquer um que come e bebe sem discernir o corpo do Senho1·; come e bebe a sua própria condenação", assim também a Igreja, ao longo dos sécul os, admoestou aqu eles envolvidos em pecado grave e mani fes to a não se aprox imarem para receber a Sagrada Comunhão. No caso de um político ou outra fi gura públi ca que age contra a lei
moral em matéria grave e ainda se apresenta para receber a Sagrada Comunhão, o sacerdote deve repreender a pessoa em questão e, em seguida, se ele ou ela persiste em se aprox imar para receber a Sagrada Comunhão, o sacerdote deve se recusar a dar o Corpo de Cristo para a pessoa. A recusa do padre de dar a Sagrada Comunhão é um ato nobre de caridade pastoral, ajudando a pessoa em questão a evitar sacrilégio e sa lvaguardar os outros fié is do escândalo. Catolicismo - A política do Presidente dos Estados Unidos em relação à civilização cristã se torna cada vez mais agressiva. Vossa Eminência nota algum sintoma de reações católicas contra essa política? Em caso afirmativo, o que são elas; em caso negativo, porquê?
Cardeal Burke - É verdade que as políticas do Pres idente dos Estados Unidos da América se tornaram cada vez mais hostis à civilização cristã. Ele parece ser um homem tota lmente secul arizado, que promove agress ivamente políticas anti-v ida e anti-fa mília. Agora ele quer restringir o exercíc io da liberdade de religião à li berdade de culto, ou seja, ele sustenta que se é li vre para agir de acordo com sua consc iência dentro dos limites de seu lugar de culto; mas que, uma vez que a pessoa deixa o lugar de culto, o governo pode obri gá- la a agir contra a sua consc iência retamente fo rmada, mesmo na mais grave das questões mora is. Ta is políticas teriam sido inimagináveis nos Estados Unidos até 40 anos atrás. É verdade que muitos fié is católi cos, com uma liderança forte e clara de seus bi spos e sacerdotes, estão reagindo contra a crescente persegui ção reli giosa nos EUA . Infeli zmente tem-se a impressão de que uma grande parte da popul ação não tem pl ena co nsc iência do que está ocorrendo. Em uma democracia, tal fa lta de consciência é morta l. Jsso leva à perda da liberdade, a qual um governo democrático ex iste para proteger. A minha esperança é de que cada vez mais meus concidadãos, à medida que perceberem o que está acontecendo, insistirão em eleger líderes que respeitem a verdade da lei moral , uma vez que ela é respeitada nos princípios fundadores da nossa nação.
"É ve,·<la<le (fllC a decisão <lo Suprnmo 1'l'ibunal continua <le pé, mas também é venlade que o movimento p1·ó-vi<la tem Cl'CSCi(/0 ca<la vez mais nos EUA"
Obama quer restringir o exercício da liberdade de religião à liberdade de culto, ou seja, ele sustenta que se é livre para agir de acordo com sua consciência dentro dos limites de seu lugar de culto
C<,r<ieal Burke - Há esperança de que as más leis anti-vida dos Estados Uni dos possam ser derrubadas, e de que o movimento que impul siona ainda mais essa legislação possa ser resistido. O movimento pró-v ida nos Estados Unidos tem trabalhado desde 1973 para reverter a decisão injusta do Supremo Tribu1ial Federa l que derrubou as leis estaduais que proíbem o aborto provocado. É verdade que a dec isão cio Supremo Tribunal continua de pé, mas também é verdade que o movimento pró-vida tem crescido, tornando-se cada vez mais fo rte nos Estados Unidos, ou seja, cada vez mais os cidadãos, espec ialmente os jovens, têm sido despertados para a verdade sobre o grave mal do aborto pro vocado. Há uma série de razões pelas quais a legislação anti-vida e as decisões dos tribunais têm prevalecido nos Estados Unidos até o presente. As fo rças da seculari zação têm sido e continuam poderosas, e são apoiadas pela maior parte da mídia de massa. Houve uma cateq uese gravemente defeituosa nos Estados Unidos durante vá ri as décadas, a qual deixou adultos e jovens mal equipados para defender a verdade da lei mora l. Houve também a tendência da Igreja de ser tímida quanto ao seu dever solene de defender a verdade no fó rum público, juntamente com uma interpretação errônea da cláusula de não-estabe lec imento da Constituição cios Estados Unidos. Dita cláusula proíbe uma religião oficial, ou religião de Estado, nos EUA, mas não proíbe a lgreja de testemunhar publicamente a verdade. A fa lsa interpretação é geralmente chamada de "separação entre Igreja e Estado" e restringiria a atividade ela Igreja exc lusivamente aos assuntos eclesiásticos. Estes são alguns cios fa tores que têm favo recido os movimentos anti-vicia e anti-fa míli a nos EUA. •
Catolicismo - Há alguma esperança de que a má tendência na legislação dos EUA relativa à proteção da vida possa ser revertida? Os ativistas pró-vida são capazes de agir eficazmente neste assunto? Por que a tática adotada pelos abortistas foi tão eficaz e como ela pode ser combatida com sucesso?
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INFORMATIVO RtJRAL O Brasil cumpre sua vocação agrícola Apesar do governo e dos problemas climáticos, o Brasil espera co lher outra grande safra em 2014. Com efeito, a perseguição aos produtores rurais continua sub-reptícia e implacável, mas estes prosseguem altaneiros e resolutos em sua faina diária, o que permite ao País cumprir sobejamente a sua vocação agríco la. Hoje o Brasil alimenta o equivalente a cinco vezes a nossa população, ou seja, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. Nos últimos 35 anos, de importador o País se transformou em um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, utilizando apenas 8,5% do seu território para plantar.
Um agricultor produz para 155 pessoas Em 1940, um agricu ltor produzia a lim entos para 19 pessoas. Em 1970 produzia para 73 pessoas. E em 201 O passou a produzir para 155 pessoas. O preço da cesta de a limentos caiu pela metade entre 1975 e 2010. O agronegócio é responsável pelo superávit na balança comercia l e por um quarto ( exatamente 23%) do PIB brasileiro. Também gera um de cada três empregos, ou seja, é responsáve l por 37% da mão-de-obra empregada. Nos últimos 20 anos, a área plantada com grãos cresceu apenas 40% e a produção, mais de 220%.
Novas tecnologias Conforme o ex-ministro Roberto Rodrigues , as novas tecnologias permitiram maior produtividade por hectare plantado. Diz ele: "Hoje cultivamos, com todos os grãos,
52 milhões de hectares. Tivéssemos a mesma produtividade de 20 anos atrás, seriam necessários mais 66 milhões de hectares para colher a safra deste ano. Fica claro que nossa agricultura é altamente sustentável, e o mundo sabe disso ".
, milhões de hectares de florestas plantadas. Vale lembrar que 61 % do nosso território são cobertos com florestas nativas do tempo de Adão e Eva, enquanto a Europa possui menos de 1%. Além de a agricultura ocupar apenas 8,5% da área total do País, a pecuária toma outros 20%. Estudos indicam que mais 85 milhões de hectares poderiam ser utilizados para a agricultura, pelo menos, o que causa assombro aos nossos concorrentes de fora , pois já somos os maiores exportadores de açúcar, do comp lexo soja, de suco de laranja, de carne bovina e de frangos, bem como de café.
Terras "engessadas" Infelizmente, daqueles 85 milhões de hectares potencialmente agricu ltáveis, pouco mais de 15 milhões poderão ser hoje incorporados à área plantada. O resto está "engessado" para qualquer atividade por legislações existentes: são parques nacionais, estad uais e municipais, terras para indígenas e quilombolas, reservas legais e áreas de preservação permanente, entre outras, lamenta Rodrigues. 1
A sanha confiscatória O sucesso do agronegócio parece aumentar a ira dos socialistas contra o direito de propriedade. A presidente Di lma Rousseffjogou um pacote de "bondades" contra os produtores no apagar das luzes de 20 13, ao assinar um decreto desapropriando 92 áreas para a Reforma Agrária . Segundo ela, essas 92 áreas somam 193,5 mil hectares e benefic iarão (sic) 4.670 famí li as. Com as oito áreas que já tinham sido desapropriadas ao longo de 2013 , tota li zaram 100 desapropriações . Assim, segundo ela, 'Joi cumprida a meta de 2013 e nosso compro-
misso com a Reforma Agrária ". Serão, portanto, mais 100 "favelas rurais" para tristeza dos 15 Estados contemp lados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais , Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe, São Pau lo e Tocantins, além do Distrito Federal. Além dos decretos de desapropriação, a presidente Dilma Rousseff assinou uma Medida Provisória perdoando as dívidas dos assentados. 2 A todas essas "bondades", o MST agradece com novas áreas invadidas ...
Biodiversidade ou bio-adversidade?
Produção de carnes explodiu E não só a agricu ltura. Segundo dados apresentados por Rodrigues, nos últimos 20 anos a nossa produção de carnes aumentou 90% em bovina, 238% em suína e 458% em aves reduzindo a área de pastagem, que tem sido substituída po;. soja, cana e florestas plantadas. Ademais, contamos com sete
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CATOLICISMO
A insanidade das leis ambientalistas obriga o agricultor a deixar de plantar nas ditas APPs (áreas de preservação permanentes) e nas áreas de Reserva Legal. A li só poderão crescer o mato e outras mazelas. A biodiversidade está se transformando em bio-adversidade... Deus ordenou ao homem que "dominasse a terra" e, portanto, a natureza bravia precisa ser domada . Com o desenvo lvimento de seus talentos, o homem realiza a missão de ser jardineiro de Deus e não predador da natureza, como costuma ser apresentado pelos ambienta li stas.
FUNAI coage baianos a se cadastrarem como índios Centenas de moradores são coagidos a fazer cadastro na FUNAI (Fundação Nacional de Índios) como se fossem índios, para engrossar invasões de terra no sul da Bahia. A reg ião vive em conflito permanente por causa da expulsão de agricultores dessas propriedades. O "Jornal da Band" revelou, com exclusividade, como funciona a fraude que criou uma tribo de falsos indígenas. Apesar de a Constituição proibir a amp li ação de áreas indígenas desde 1988, a FUNAI faz vista grossa em relação ao texto constitucional e demarcou há quatro anos uma extensão de quase 50 mil hectares que abrange três municípios. A área pretendida pela FUNAI está situada numa região conhecida como Costa do Cacau e do Dendê. São terras ocupadas tradicionalmente há sécu los por mestiços, descendentes de índios, brancos e negros que povoaram o Brasil desde os tempos do descobrimento . Enquanto o Ministério da Justiça não dá a palavra final , mais de 100 propri edades já foram invadidas por grupos armados liderados por caciques que se dizem índios da tribo Tupinambá. Para aumentar o exército de invasores, os ditos caciques forjam cadastros com não-índios. E em bairros da periferia da cidade de Ilhéus a lista já passa de oito mil. Depois que o escândalo dos registros falsos veio à tona, mais de 300 pessoas procuraram voluntariamente a FUNAI para pedir que seus nomes fossem excluídos.3 Notas:
1. Artigo Segurança alimentarde Roberto Rodrigues, "Carta Capital", 6-1-14. 2. http ://www.estadao .corn .br/noticias/nacional ,dilma-desapropria-92-areas-para-reforma-agraria, 1112925,0.htm 3. "Jornal da Band": http ://noticias.band.uol.corn .br/cidades/noticia/100000666624/
Contra a bio-adversidade O pesquisador da Embrapa, Dr. Evaristo E. de Miranda, publ icou no jornal "O Estado de S. Paulo" o esclarecedor artigo Contra a bio-adversidade. Ele aponta os males absurdos que o ambientalismo dominante traz para o Brasil e até para a própria natureza. Para ele, nas áreas rurais, nas periferias urbanas e na produção agropecuária, os brasileiros enfrentam uma dura e cotidiana batalha contra a bio-adversidade: pragas e doenças atacam humanos, animais, cultivas e o meio ambiente. Sem ações efetivas de gestão e controle, proliferam populações de animais selvagens, nativos e exóticos. 1
Corredores de pragas e doenças E na revista "Agro DBO", de fevereiro/2014, oreferido pesquisador acrescenta: "Sem manejo adequado, a recuperação das áreas de preservação permanente e de reserva legal, determinada pelo novo Código Florestal, criará corredores e novos espaços para ampliar ainda mais essas pragas e as doenças transmitidas. Seu contato com a fauna selvagem e doméstica ampliará a proliferação de várias doenças, como febre amarela, aftosa, lepra, raiva, leishmaniose etc. O número de animais da fauna selvagem depositários dessas doenças já é crescente e tende a aumentar. Sem gestão territorial e ambiental, a introdução e a aproximação desses animais a áreas rurais e urbanas inviabilizará a eliminação de diversas doenças e trará novas - e dificeis - realidades ao combate das zoonoses."
A volta da caça e das armas Assim conclui. o Dr. Evaristo Miranda: "A situação sanitária atual e fatura precisa de uma atenção mais racional e preventiva. Como enfrentar essa bioadversidade quando qualquer tipo de caça é crime e a posse de armas, mesmo em áreas rurais isoladas, é quase impossível? A natureza é o ecossistema do homem. Maior que o desafio de preservar a natureza é o de geri-la e controlar suas populações animais. Enfrentar a bio-adversidade exige, além de recursos financeiros e mecanismos operacionais, um cabedal de ciência, inovação e competência, algo raro, quase em extinção ''.2 Notas:
1. "O Estado de São Paulo", 24-1-14. 2. Agro DBO - fevereiro/2014.
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modo capital, como um atentado inaudito à Honra e à Gloria de Deus. Nosso sentimento dominante em relação a Nosso Senhor eleve ser de amor intenso e temor reverencial. odemos observar que du rante a Semana Santa pessoas Do mesmo modo importa considera r que a Igreja, recémpiedosas acorrem às igrejas para rezar e meditar as 14 fundada por Nosso Senhor Jesus Cri sto, fi cou reduzida durante estações da Via Sacra. Elas manifestam sentimentos vera Pai xão, a apenas alguns fi eis. Autores piedosos narram que dadeiros de compaixão pelos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus tal fo i o abandono sofrido por Nosso Senhor, que apenas a Cristo, dor pelos pecados cometidos por elas e pelos outros, e Santa Mãe de Deus guardou em sua alm a a fé íntegra durante intenção de melhorar sua vida espiritual. Essa prática constitui toda essa tragédi a. Mas o valor da presença ela Mãe Dolorosa uma tradi ção baseada numa fé autêntica que ainda sobrevive, supera qualquer número de fi eis que deveri am estar presentes. apesar ela infiltração progressista nos ambientes católicos. Muitos episódios de alto conteúdo simbólico ocorreram Os fi eis, ao acompanharem a Paixão, costum am fi ca r então. Cito dois. Primeiro, Jesus Cri sto prec isou ser auxiliado comov idos com a fi gura humana de Nosso Senhor, com sua pelo Cireneu para levar sua Cruz até o alto do Calvário doç ura, amenidade, am or transbordante por nós, e pelo fato honra dada ao Cireneu, que di gnificou todo o gênero humano. de querer se imolar pa ra redimir nossos pecados. Mais raraO segundo episódi o é o que revelou a fé e o desassombro do mente O veem como o Ser Infinito, Todo Poderoso, Cri ador bom ladrão, São Dimas. No momento mesmo em que os Apósdo Cé u e el a Terra. Urge lembrar tolos abandonaram Nosso Senhor, ele que sendo Ele homem, é também o proc lamou bem alto sua fé: "Senha,; Filho ele Deus, a Segunda Pessoa ela C onsideraçücs não somen lembra-te de mim, quando chegares Sa ntíss ima Trindade. no teu reino " (Lc 23 ,42). Por outro lado, muitos pregadores te dos sofrimentos físicos descrevem dramaticamente os sofri- de nosso Divino Redentor A l'ecepção de Nosso Senhor cm ,Jen,salém mentos fí sicos e morais pelos quais Nosso Senhor passou - por exemplo, durante sua Sagrada Paixão, Contempl emos algun s epi sódios vendo os homens, a quem Ele amava 1nas também de seus sofri- da Paixão em que o caráter revoluciocom um amor infinito, agredi -Lo com nári o dos adversá rios se manifesta de extrema crueldade e desejar sua mo1te. rnentos morais, con10 afron- modo protuberante, como ocorreu, Fazem bem esses pregadores. Mas é tas a honra e glória que a Ele por exemplo, com a coroação de espreciso também mostrar como as hupinh os e a morle d' Aquele que hav ia milhações inauditas e os desafi os fe i- são devidas. Aspectos funda afirm ado "de~f'azei esse Templo, e eu tos a Jesus Cri sto ao longo ela Pai xão rncntais que wn verdadeiro o reedificarei em três dias" (Jo 2, 19). atentavam não só contra a integridade "E, no dia seguinte, uma grande ele sua Pessoa, mas também contra a católico não pode deixar de multidão de povo, que tinha ido à honra e a glória de Deus. f esta, ouvindo dizer que Jesus ia a considerar e contemplar: Jerusalém, tomaram ramos de p aiA li<lelilla<le de,,ida a Nosso meiras, e saíram ao seu encontro, e Senhor em seu abandono clamavam: /-fosana! Bendito o rei de lsrael, que vem em nome do Senhor " (Jo 12,12-1 3). Al guém poderi a obj etar que a fl agelação e a co roação de espinh os - atentados contra a honra e a glóri a de Deus "Grande multidão"? Multidão é a massa de afi cionados - fo ram obra não dos judeus, mas dos so ldados romanos, reunidos para ovacionar políti cos ou arti stas bafejados pela pagãos, portanto, que pouco se interessavam pela vinda do mídia . Para reverenciar o Filho de Deus em visita a uma cidaMess ias . Ocorre, porém, que não só o porte, mas os mil imde, todos os habitantes, inclu sive os das cercani as, deveri am ponderáve is que emanava m de sua divina Pessoa, e sobretudo acorrer em massa, áv idos, mov idos por um fervor intenso. o olh ar de Nosso Senhor, eram de tal modo express ivos de Os doentes, os paralíti cos em suas padi olas, os sãos, enfim , sua Sa ntidade, Majestade e Grandeza, que todos aqueles que toda a popul ação deveri a estar a postos para adora r, suplicar d' Ele se aproximassem, entrevi am que estavam di ante de perdão de seus pecados Àquele que os cri ou, curou de suas Al guém absolutamente superi or. A menos que esti vessem tão mazelas e rezou por eles. Isso seri a o mínimo dos mínimos. embrutec idos pelos pecados e vícios, dos quais eram culpados. É tri ste mencionar, mas se aqueles que pavimentaram ocaPara alguns de modo mais claro, para outros menos, qualquer minho de Nosso Senhor com palmas fosse m sufi cientemente atentado à sua di vin a Pessoa constituía um sacril égio. num erosos - e, sobretudo, estivessem seri amente convictos Os católicos verdadeiros têm por mi ssão e obrigação comde que Ele era o envi ado de Deus para redimir a humanidade bater os que atentam contra a Grandeza, o Poder Infinito e a - , não haveri a clima para, logo mais, a turba reunida pelos Majestade da Figura Di vina. Para tais católicos, os diversos fa ri seus manifestar sua preferência por Barrabás em relação episódi os da Paixão devem ser também contemplados, e de a Jesus Cri sto. A DO LPHO LI NDE N BE RG
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A vigília de Jesus no Hol'to das Oliveiras "Visto isso não pudestes vigiar uma hora comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca " (Mt 26,30-4 1). Na véspera de sua Paixão, Jesus C ri sto encontrou-se mergulhado num mar de tristezas e amarguras, e as razões desse sofrimento podem assim ser classificadas: Ele ama seu Pai e O vê infinitamente ultrajado; ama os homens e os vê em estado de desgraça; deve a Si mesmo este amor, e Se vê cheio de aflição. O sono dos Apóstolos quando o M estre, na vigília no Horto das Oliveiras, lhes suplicou que Lhe fizessem companhia naquela hora de provação, constituiu um ato de indiferença inexplicável e inaceitável. O Pastor pede socorro a suas ovelhas, o Ser Infinito suplica compaixão a simpl es pescadores, mas e les a recusam. Nessa ocasião, os Apóstolos comportaram-se de modo mesquinho, numa atitude parad igmática de pessoas comodistas, egoístas, que se imobilizam quando as circunstâncias exigiriam del as atos de hero ísmo, de abnegação e de fortaleza. Horas mais tarde um pagão ( o Cireneu) socorreu o Mestre, carregando sua cruz, enquanto os Apóstolos, os escolhidos pelo F ilho de Deus, preferiram ficar dormitando no Horto e fugiram. Quantas lições encerram para nós esse episódio! "Tristis est anima mea usque ad mortem" (A minha alma está numa tristeza mortal - Mt 26,38). E m nossas confissões não temos o hábito de contar o quanto fomos mesquinhos ao permanecermos absortos em nossos probleminhas ao invés de participar da luta em prol da Santa Igreja. Deveríamos nos arrepender disto e pedir perdão a Deus por essas omissões. "Pater, si possibile est, transeat a me calix iste" (Meu Pai, se é possível, afaste de mim este cálice - Mt 26,38). É Jesus pedindo socorro a seu Pai celeste. Esse episódio encerra uma lição importante para todos os fiei s católicos: Nosso Senhor, enquanto Filho de Deus, não precisava suplicar socorro para enfrentar os sofrimentos inerentes a uma morte na cruz, mas quis ensinar-nos que em nossas angústias, em nossas lutas, é imprescindível recorrer a Deus, pedir e esperar o auxílio do Céu. Deus quis que os homens dependessem de seu amor, amparo, socorro, à semelhança de crianças de colo que em tudo dependem do carinho de suas mães. Querer enfrentar as tentações mais fortes apenas com a fraca força humana à nossa disposição é orgulho e presunção. Nosso Senhor nos ensinou a rezar no Pai Nosso: "Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal". Sejamos humildes, reconheçamos nossas fraquezas e peçamos graças para poder, também nós, carregar nossas cruzes.
Judas encarna o protótipo do traidor Judas "o traidor, tinha dado ao sinédrio este sinal, dizendo: Aquele a quem eu der um ósculo, é esse; prendei-o " (Mt 26,48). Certos mal fe itores respon sáve is pela Paixão de C ri sto tornaram-se paradi gmas universa is de vícios nefa ndos. A
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traição de Judas revela um espírito sumamente revo luc ionári o, fa lta assom brosa de caráter e ressentimento exacerbado. Seu nome passou a personificar a traição. Q uando desejamos acusar alguém dessa perfíd ia, dizemos que é um Judas. O gesto de Judas fo i infame e, nesses dois mil anos passados, em muitas paróquias católicas no Sábado de Aleluia a efígie do tra idor é malhada . Tal episódi o de traição termina com estas palavras de Jesus
"Amigo, a que viestes ? Com um ósculo entregas o Filho do Homem ?" (Mt 26,50).
O julgamento de Jesus pelo Sinédrio Julgamento ele Deus? .É possível conceber tal atrev imento, um absurdo como esse? Esta mos diante de uma monstruosidade sem nome! Jul gamento do Criador do Universo, da Autoridade Máxima? D' Aquele que se deixasse de pensar em nós por um só instante cessaríamos de ex istir? D ' Aquele que é o Juiz Supremo que no fim dos tempos de novo há de vir em sua Glória "para julgar os vivos e os mortos e seu reino não terá .fim"? D' Aquele que é a ca usa, a essênc ia, o fim último ela Justiça e da Moral? D' Aquele que, por sua gra ndeza e maj estade - em função da correspondência dos homens à graça divina - decidirá quem se sa lvará e irá para o Céu, e quem se perderá e irá para o infe rno? Tudo isso nos infundiri a um temor que nos arrasaria, se não tivéssemos a confiança em sua Mi sericórdia. Há livros bem intenc ionados que ana li sam a fa lta de idoneidade do julgamento de Nosso Sen hor pelos far iseus. Uma sessão transcorrida à no ite, quando essa prática era interd itada pela Lei M osa ica; fa lsos testemunhos; ausência do direito de defesa e diversas outras fa lhas processuais. O problema, no enta nto, é prévio. O principal , o ápice do absurdo, da loucura, é excog itar julga r Deus todo-poderoso, criador do Céu e da Terra. Saber se fo i inidôneo ou não o proced imento, pode ser útil e apo logético, mas é secu ndário. Três passagens da Paixão são espec ialmente embl emáticas como símbo los máximos da ofensa direta, convi cta, ostensiva contra a Honra e a G lória de Deus. A primeira foi Ca ifás ter exclamado: "Blasfemou; que necessidade temos de mais testemunhas ? [. ..] É réu de morte". (Mt 26,65). Isso após esse momento ápice na história da humanidade, quando Cristo confirmou perante o S inéd rio - a instânc ia jurídicoteológica suprema em Israe l - que Ele era o F ilho de Deus, o Ungido, o Cristo: "Tu o disseste; mas também vos digo que vereis depois o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, e vir sobre as nuvens do céu ". (Mt 26,64). Todos os que contemplam a figura do Santo Sudário de Turim sentem um estremecimento ao vislumbrar algo da Majestade e do Esplendor infinitos de Deus. O que di zer do olhar e do porte do Redento r ao confirmar que era F ilho de Deus? E ra um o lhar em que transpareciam seu supremo poder, sua infinitude e grandeza. Esta mos diante de uma cena de magn ifi cênc ia insuperáve l, das maiores ocorridas na História humana.
A segunda passagem foi a cena dantesca, satânica, da Coroação de Espinhos. A terceira, a morte de Nosso Senhor na Cruz. O Divino Salvador no ato da Coroação de Espinhos é esbofeteado de modo infamante, vendam-Lhe os olhos, e O desafiam : "Profe tiza-nos quem te bateu? " (Mt 26,68). Cercado pelos esbirros que fazem de Nosso Senhor objeto de divertimento, Ele sofre os maiores ultrajes. Temos aí o paradoxo dos paradoxos: o povo eleito pelo Criador, escolhido entre as nações, chamado a ter uma fidelidade única ao Deus Único, o Deus de Abraão; esse povo, eleito para que o Filho do Altíssimo nascesse de mãe judia; e que naquele iníquo julgamento é renegado, rejeitado e acusado de blasfemar! Suponhamos que malfeitores devidamente condenados conseguissem sequestrar o juiz que os condenou e, reunidos em seus esconderijos, resolvessem simular um julgamento para determinar a suposta culpabilidade daquele magistrado. A cidade inteira se indignaria com tal vilania, com tal ofensa à honra do juiz. Mas a honra do magistrado é finita como ele, enquanto a de Cristo é infinita como Deus é infinito. A inversão de valores ocorrida no Sinédrio é de uma extensão tal , que escapa à nossa capacidade de compreender, mas não deveria ficar imune ao nosso horror e à nossa vergonha por pertencer ao gênero humano, do qual indivíduos são capazes de praticar tal ignomínia .
Jesus é e11trngue a Pilatos para ser comlena<lo Membros do Conselho do Sinédrio levaram Jesus preso da casa de Caifás para o pretório e "O entregaram ao governador Pôncio Pilatos ". (Mt 27 ,2). Embora revestida em menor grau da impiedade satânica que caracterizou o julgamento simulado pelo Sumo Sacerdote, a inquirição de Pilatos revelou que o procurador romano era um covarde, um pagão culposamente cego por não entrever nas palavras de Jesus a presença do próprio Deus, um infame oportunista temeroso de perder seu posto se fosse denunciado a César. Fica-se com a impressão de que, diante da evidente inocência de Jesus, a preferência de Pilatos era absolvê-Lo. Mas seu medo de desagradar ao populacho possesso, levou-o a uma córnea neutralidade diante daquela afirmação solene, de uma grandeza infinita - "Tu dizes, sou rei. Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade" (Jo I 8,37). Tudo indica que Pilatos recebeu graças para se prostrar e adorá-Lo. N ão o fez, foi cético. Então perguntou - " O que é a verdade?" - Àquele que é " O caminho, a verdade e a vida " (Jo 14,6). Plínio Corrêa de Oliveira qualificou o julgamento de Pilatos como o crime profissional mais monstruoso de toda a História.
Nosso Se11l101· é e11cami11J,ado a Herodes "E, quando soube que era da jurisdição de Herodes, enviou-O a Herodes, pois justamente naqueles dias se achava em Jerusalém" (Lc 23,7). Herodes Antipas, o imundo, o incestuoso. A prática dos
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CATOLICISMO
vícios, que o caracterizava, tornou-o cego para quaisquer manifestações de ordem sobrenatural, incapaz de discernir na figura de Jesus a culminância de todas as perfeições, a sublimidade personificada. Incapaz de ascender à contemplação do Poder do Altíssimo, quis rebaixá-lo, mandando revestir Nosso Senhor com a veste de louco, por escárnio. Tornou-se amigo de Pilatos, confirmando que o orgulho e a sensualidade se atraem e unem-se para perseguir tudo o que for bom , elevado e nobre. E quando se deparam com a encarnação de todas as virtudes - a virtude personificada - revoltam-se e procuram de todos os modos ridicularizá-la.
Preferem Barrabás a Jesus Cristo "Todo o povo gritou a uma voz: À morte com este, e soltanos Barrabás " (Lc 23 , 18). No poviléu que assim bradava, provavelmente havia muitos que sete dias antes aclamaram Jesus : "Hosana! Bendito o que vem em Nome do Senhor " (Jo 12, 13); e vários deles prefeririam que Nosso Senhor fosse solto, e não Barrabás. Mas, como nos ensina a História, muitas vezes são os fanáticos das trevas, os radicais do mal que conduzem os acontecimentos. Nosso Senhor não estava mais sendo julgado por um Sinédrio odiento, nem por um proconsul covarde e ambicioso, mas pelo povo escolhido por Deus para que de seu seio nascesse o Messias! Contradição infinita, absurdo dos absurdos, incoerência das incoerências ...
Pilatos tomou então a Jesus e mandou-O flagelar A flagelação tinha um duplo objetivo: infligir um sofrimento físico intenso ao culpado de um crime e humilhá-lo publicamente como merecedor de um castigo de tal magnitude. Certos livros de piedade tradicional acentuam com adequação o sofrimento físico imposto a Nosso Senhor, mas a nós, católicos, cabe-nos também o dever de nos indignar com o inconcebível dos inconcebíveis: castigar o Messias, o Mestre que praticou numerosíssimos milagres para amenizar os sofrimentos de seu povo, que nos amou com um amor infinito e quis morrer para redimir nossos pecados! A infâmia desse ato só é sobrepujada pel a cena satânica da Coroação de Espinhos. Maria Santíssima sabia que Jesus devia sacrificar-se para redimir o gênero humano . E sua dor foi lancinante ao ver seu Filho adorável sendo açoitado até quase perder as forças. Mas, por maior que tenha sido sua aflição pelo padecimento fisico de Jesus - humilhado, despido, amarrado a uma coluna, vergastado como se fosse um delinquente, ocasionando n'Ela paroxismos de sofrimento, aceitos embora na paz de alma e na conformidade com a vontade de Deus Padre - , Nossa Senhora compreendeu melhor do que ninguém a grandeza infinita de Deus feito homem. Ela não só O concebeu por obra e graça do Espirito Santo, mas cantou salmos em sua glória, instruiu-O, protegeu-O. Maria foi a única pessoa capaz de compreender toda a extensão do crime que estava sendo praticado. Suas orações de desagravo e de pedido de perdão
para nós, culpados daquele sacrificio por causa de nossos pecados, à semelhança do que Jesus iria rezar a Seu Pai dentro de poucas horas - "Pai, p erdoa-lhes; porque não sabem o que fazem " (Lc 23,34) - teriam sido seus movimentos de alma, imitando a atitude de seu Divino Filho? O povo voltou a gl'ital': Cn,cilica-o!
"Os soldados conduziram-no ao interior do pátio do Pretório, e alijuntaram toda a coorte; vestiram-no de púrpura, e cingiram-lhe a cabeça com uma coroa entretecida de espinhos . E começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus. E davam-lhe na cabeça com uma cana, e cuspiam-lhe no rosto, e, pondose de joelhos, o adoravam. E depois de o terem escarnecido, despiram-no da púrpura, e vestiram-lhe os seus vestidos; e levaram-no para o crucifi.carem " (Me 15,16-20). E Jesus foi novamente apresentado ao povo judeu: "Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação. [. ..} Pilatos disse: Eis o homem! Quando os pontifi.ces e os guardas o viram, gritaram: Crucifi.ca-o! Crucifica-o! " (Jo 19, 4-6). O único símile da cena do "Ecce Homo" é o da Transfiguração no Monte Tabor! . Sob o prisma da honra - que deve ser capital para católicos dignos desse nome - ridicularizar um homem é, em certo sentido, mais grave do que matá-lo. O que dizer do intuito de caçoar do Deus-humanado? O vocabulário à nossa disposição é insuficiente para expressar o horror, a monstruosidade, as dimensões apocalípticas do pecado cometido. A leitura desse passo da Paixão deveria nos levar a ficar de joelhos, ou prostrados, confundidos por pertencer ao gênero humano, capaz de tal vilania. A dose de maldade é de tal monta, que podemos considerar essa cena como sendo causada por um ódio diabólico sem igual em toda a história da humanidade. As missas sacrílegas, as blasfêmias inimagináveis, os pecados mais nefandos, não podem ser comparados à gravidade do ultraje satânico da coroação de espinhos. Para os católicos, o achincalhe feito a Deus, princípio e sustentáculo de toda ordem e de toda autoridade, e essa macaqueação dos símbolos do poder real - o manto, a coroa e o cetro de irrisão - visando atingir a Majestade Infinita de Deus, constituem, sem dúvida alguma, o ápice do espírito de revolta do demônio e o clímax da Revolução gnóstica e igualitária. S11111·eJ11a Majestade da Sagrada Face
As figuras régias de Salomão, Carlos Magno, São Luís IX ou Luís XIV não são nada se comparadas à augusta e solene majestade da visão de Cristo, coberto de chagas e coroado de espinhos, exposto diante do poviléu judaico. Essa visão assemelha-se à da Sagrada Face impressa no Santo Sudário, mas com os olhos abertos, fixando de modo amoroso e contristado aqueles que O estavam mirando, uns com ódio, outros com alívio, com compaixão, ou mesmo simplesmente com indiferença. Mas também, como transparece no Santo Sudário, com uma rejeição total e absoluta em relação aos pecados que contra Ele se cometiam.
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CATOLICISMO
Dir-se-ia, à primeira vista, que Satanás alcançou seu principal objetivo: provar ser superior ao Poder de Deus e amesquinhar sua Face Sagrada. Mas essa aparente vitória, no entanto, se evapora diante do reluzimento da Suprema Majestade e do Infinito Amor estampados naquele rosto martirizado ao extremo. Tudo em Nosso Senhor revelava sua grandeza, sua sublimidade, seu amor infinito, sua mansidão e seu carinho por cada um de nós homens, pecadores ou fieis seguidores, bem como seu ódio ao mal e ao pecado. Mas o ponto monárquico de sua figura era o olhar de uma profundidade sem igual, doce, terno, majestoso, seguro indício para entrevermos Deus todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra, nosso Pai, nosso Amigo, nossa razão de ser e de viver. Plinio Corrêa de Oliveira dizia que todas as perfeições da ordem do universo estão contidas no olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo. De maneira que ele apresenta estados de alma que correspondem a todas as belezas da criação. E também a rejeição ao mal e àqueles que até o fim o desprezaram se espelha nesse olhar com uma perfeição absoluta. Como acima foi dito, o pecado daqueles que O aviltaram foi proporcional a uma certa percepção que tinham de que a vítima ultrajada era verdadeiramente o Filho de Deus. Mas mesmo os que não visualizaram a divindade em Jesus, manifestaram uma aversão extrema pelas virtudes sublimes e majestáticas tão bem expressas na figura da cena do "Ecce Homo". Resta-nos meditar o quanto nossos pecados podem se assemelhar aos cometidos pelos judeus e pelos romanos nesse episódio sumamente trágico e satânico. A "Via Crucis": o caminho 1·111110 ao Calvál'io
"Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para/ora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota. (Jo 19, 17). O fato de os condenados a morrer crucificados serem obrigados a carregar suas cruzes - ou, pelo menos, a trave na qual as mãos iriam ser pregadas - representa uma humilhação a mais ao tormento: obrigar o condenado a colaborar no suplício! Mas essa não é a única, nem a maior das humilhações impostas ao Redentor Divino. Plinio Corrêa de Oliveira, em sua meditação sobre a Via Crucis , descreve bem o sentido revolucionário dos maus tratos infligidos a Jesus: "Todos pediam sua morte, todos O odiavam, todos O injuriavam. Tudo isto fazia Jesus soji·er imensamente mais do que as inexprimíveis dores que pesavam sobre seu Corpo. E havia pior. Havia o pior dos males. Havia o p ecado, o p ecado declarado, o p ecado protuberante, o p ecado atroz. Se todas as ingratidões fossem feitas ao melhor dos homens, mas por absurdo não ofendessem a Deus! Mas elas eram f eitas ao Homem-Deus, e constituíam contra toda a Trindade Santíssima um p ecado supremo. Eis ai o mal maior da injustiça e da ingratidão. " Antes da chegada de Jesus ao Calvário, o Cireneu, que por ali passava, foi instado a auxiliá-Lo a carregar a cruz. Coube-lhe uma honra superior à de qualquer soberano que tenha existido ou venha a existir, a maior honra que o espírito
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hum ano possa conceber: o C ireneu teve a infi ni ta graça de estar lado a lado com o F ilho de Deus, participa r de sua peregri nação, aux ili ando-O a carrega r sua cruz. E, ac ima de tudo, de te r sido obj eto de seu olhar de gratidão ! É poss íve l excog itar sobre a face da Terra algo tão grandi oso, tão mag nifi cente? E, se alguém te ve a compreensão dessa g ló ri a certamente fo i N ossa Senhora. Deve ter sido emoc iona nte a cena em que, ve ndo aquele desco nhec ido soco rrer seu Filho, comov ida, a Mãe de todas as dores pedir a Deus que o convertesse. Cabe a nós fi car de j oe lhos e manter um sil êncio reverencial diante da grandeza presente nesse epi sódi o. N a medida em que nós, pecadores, esti ve rm os di spostos a ca rregar nossas cru zes - atendendo ass im ao convite de N osso Senhor - , estaremos imitand o esse desconhec ido que fo i agrac iado com a ventura sem igua l de te r o Sa lvador a seu lado, partic ipando com Ele do mes mo esforço, invej ado por um sem-núm ero de cri stãos ao longo da Hi stóri a. Se o o lhar entristecido de Jesus moveu São Pedro a pedir perdão por sua cova rdia, e o o lhar de reconhec imento de nosso Sa lvador converteu o Cireneu, lembremo-nos de que Jesus nos o lha ao longo de nossas vidas com um amo r infinito, paterna l, augusto, a lertando-nos para as nossas res ponsabilidades e pedindo- nos que O auxili emos ca rregando nossas cru zes.
Na cn,cilix ão, o Re<lento,· entre e/ois la<lrões "Ali o crucificaram, e com ele outros do is, um de cada lado, e Jesus no meio (Jo 19, 18). Enquanto um dos ladrões bl asfe mava dizendo: 'Se tu és o Cristo, salva-te a si mesmo e a nós. O outro, porém, respondendo, repreendia-o dizendo: Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplicio? E nós estamos na verdadejustamente, porque recebemos o castigo que merecem as nossas ações; mas este não f ez nenhum mal. E dizia a Jesus: Senha,; lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E Jesus disse-lhe: Em verdade te digo : hoje mesmo estarás comigo no Paraíso ". (Lc 23 40-43). N ão era há bi to entre os jude us pedir para cru c ifi ca r criminosos na época da Páscoa , por razões óbvi as . Mas na Paixão de Jesus te m-se a impressão de que tud o concorreu para que Ele bebesse o cá li ce da amarg ura e da humilhação até os limites ex tremos. Q ual a razão da concomitância com a execução, fe ita pe los romanos, de do is ladrões? Embora a Sagrada Escritu ra tivesse profeti zado que ass im se passa ri a, a indagação perm anece. A resposta é que partilha r da so rte de do is ma lfe ito res constitui uma humilhação a mais. As três fi guras retra tadas em todos os quadros da Sagrada Pa ixão são as do F ilho de Deus, o Redento r, ladeado por do is ladrões ...
mento soc ial. O desnudamento de Jes us constitui outro passo na sequência satânica de ofender a F igura Divina. "Ó vós, que passais pelo caminho, atentai e vede se há dor semelhante à minha dor " (Lam. 1, 12), j á predi ssera o profeta Jeremi as . Segund o tex tos hi stóri cos referentes aos costumes judaicos e romanos vi gentes na época de Jes us, a cruc ifixão era reservada apenas aos crimes muito graves e considerada parti cularmente infamante. O condenado fi cava pregado a uma cru z como se fosse um inseto num mostruário, exposto à vi sta e à chacota dos curi osos presentes, du ra nte horas, às vezes durante di as, contorcendo-se com dores e com terrível sede, até morrer sufocado. Nosso Senhor, do alto da cru z e no extremo de suas dores, fo i desafiado a provar sua rea leza, sua mi ssão redentora e, principalm ente, sua Fili ação divina: "E os que iam passando blasf emavam e/Ele, movendo as suas cabeças, e dizendo: Ó tu, que destróis o templo de Deus e em três dias o reed[ficas, salva-te a li mesmo. Se és o Filho de Deus, e reedificas em três dias, salva-te a ti mesmo; se es filho de Deus desce da cruz. Da mesma sorte, insultando-o também os príncipes dos sacerdotes com os escribas e anciãos, diziam: Ele salvou outros, a si mesmo não se pode salvar; se é rei de Israel desça agora da cruz, e creremos nele. Confiou em Deus; se Deus o ama, que o livre agora; porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus" (Mt 27, 39-43). Esse insulto, partindo dos sacerdotes, escribas, anc iãos e do povo ali presente, repete a seu modo a condenação de Jesus à morte por ter " bl asfe mado", confirmando que era o enviado, o Filho de Deus. O mais signifi cati vo do aparente fracasso da missão redentora de Jesus Cri sto consistiu em seu abandono ao longo da Paixão pe los Apósto los - com a exceção de São João, que voltou ao Ca lvá ri o - , por parte de seus ami gos e daque les por Ele mirac ulados. Fug ira m, escondera m-se, na me lhor das hipóteses, fi ca ram rezando para que os ânimos se aca lmassem e tudo vo ltasse à normalidade ... Tal abandono por parte dos seguidores do Redentor pode ser considerado como um dos pontos mai s trág icos da Paixão. A fig ura de Jesus aniquil ado, abandonado, num cenári o plúmbeo, sintetiza e simboliza o aparente fracasso de sua Missão. O demôni o aparentemente ve ncera. Profecias, sermões, parábolas, mil agres sem conta, de nada teri am valido. Os sacerdotes, os anciãos de Israel e o povo, que O tinham visto rea li za r prodíg ios, não quisera m crer n' Ele, não O ace itaram como o Mess ias prefi gurado e anunciado pelos profetas, ex igiram que fosse crucificado. O pecado fo i cometido, as ca rtas estavam j ogadas. O passo seguinte seri a sua morte.
A cena </olorosa e sublime <la crucifixão "Os soldados, depois de lerem crucificado Jesus, tomaram os seus vestidos e.fizeram deles quatro p artes, uma para cada soldado" (J o 19, 23). Entre os judeus o desnudamento de um ho mem era tido como parti cul armente ofensivo, po is considerava m as vestes como a exterio ri zação de sua di gnidade e de seu pos iciona-
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CATOLI C I SMO
A Mate,· Dolorosa: suhlimi<la<lc <la Mãe ele /)cus "Eis ai lua mãe " (Jo 19,27) - "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes ?" (Sa l. 2 l ,2). Pode-se di zer que Nossa Senhora - guardadas as diferenças entre uma criatura e o Ser Infinito - sofreu de modo análogo ao de N osso Senhor Jesus Cristo. Ela fo i o único ser
humano que compreendeu as dimensões dos sofrimentos fisicos e morais de seu Divino Filho e a eles se associou. Sofreu como Mãe e como a fidelíssima Filha de Deus, ante os extremos inauditos a que chegaram os atentados à honra e à glória divinas. Tanto para nós, simples devotos de Nossa Senhora, como para os melhores escritores piedosos que possam existir, está fora de nosso alcance conceber, quanto mais descrever, a dor sofrida por Ela. É frequente comparar-se a dor da Santíssima Virgem com a da mãe comum assistindo à morte de seu filho . Mas esse cotejo é simplista e está muito aquém da realidade. Quando o número dos assistentes à crucifixão começou a diminuir e os soldados permitiram que Nossa Senhora, São João e as Santas Mulheres se aproximassem da cruz, Jesus e E la devem ter-se comunicado com um olhar de incomensurável profundidade; é suficiente dizer que a alma d' E le é a matriz de todo amor, de toda piedade, de toda misericórdia que possa existir em nosso mundo. Pode-se até supor que mesmo antes de Jesus ter dirigido a palavra a E la, seu simples olhar já A consagrou como a Medianeira de todas as Graças e Corredentora do gênero humano. Afirmam em suas memórias os egressos de centros de interrogatórios nazistas e comunistas, que o pior tormento pelos quais tiveram de passar foi o de assistir à tortura de seus filhos ou pais. O que dizer da angústia de Jesus ao ver, do alto da cruz, impressas no rosto de sua Mãe, as marcas dos sofrimentos, por alguns aspectos semelhantes aos d 'E le?
A consumação do sacl'ifício "Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito" (Lc 23,46). Dizendo isso, inclinou a cabeça e expirou . A Redenção se realizou plenamente. Vosso Sacrifício se consumou, ó Jesus! . A matri z de todos os homicídios, de todos os crimes, de todas as baixezas teve apenas a aparência da vitória! "Quando for levantado da terra, atrairei tudo a mim " (Jo 12, 32). O Reino de Cri sto teve início na Terra. Numa visão profética o Redentor contemplava as almas fiéis de toda a História que viriam a E le ! O centurião romano, que presidia o suplício, em face dos prodígios da natureza ocorridos quando o Redentor ex pirou, reconheceu: "Na verdade, este homem era um justo" (Lc 23,4 7). Uma das provas mais concludentes da veracidade de nossa fé é o fato de que a hipótese de o Ser Absoluto querer unir-se à humanidade para se sacrificar por nós, como o fez Jesus, extrapola totalmente a capacidade imaginativa de qualquer ser humano . Todos os deuses pagãos, ou eram verdadeiros tiranos, demônios exigentes de sacrifícios até humanos da parte dos homens, ou eram alegres convivas de uma corte de seres superiores, mas muito semelhantes a nós, com as mesmas virtudes naturais, defeitos e vícios. E nenhum dos filósofos gregos que chegaram a admitir ser Deus um ente espiritual, único, infinito, absoluto, matriz de todas as perfeições, cogitou que as relações d'Ele conosco fossem baseadas no amor. E que amor! Infinito, imenso, de uma profundidade que ultrapassa de longe nossa capacidade de compreender. São João chegou
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CATOLICISMO
a afirmar: "Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor " (Jo 4,8). Ao mesmo tempo, esse Ser perfe itíss imo e tão amoroso, é infinitamente justo. Ele tudo faz para sa lvar, mas depois recompensa os que o seguiram e castiga os que até o fim o rejeitaram . A morte de Jesus na cruz é vista pe los fieis como a consequência de sua intenção de redimir nossos pecados. Rea lmente, E le desejou morrer para nos sa lvar e nada do que ocorreu foi contra seus desígnios. Mas isso não deve nos impedir de ver também na crucifi xão um aco ntec imento impul s ionado pelo ódio dos que O rejeitaram, sob bafejo do demônio. Com a morte de Jesus Cri sto e o aviltamento da cena da coroação de espinhos, o demônio desejou provar que era superior a Deus.
A socicda<lc e a civilização Esse pecado, que ate nta contra a glória e o poder infinito de Deus, visa imped ir que procuremos mo ldar não apenas nossas almas, mas também a civ ili zação de aco rdo com a perfe ição expressa na figura divina. O ig ualitaris mo, o soc iali smo e a arte mod ern a, por exempl o, parecem ter em vista esta be lecer o seguinte: Deus, na medida em que sua ex istênc ia é admitida, assemelha-se a um grotesco Papai Noel sentado nas nuven , velhusco e indul gente para com nossos pecados. E tentam convencer os homens de que o objetivo da arte não é procurar ating ir a beleza, a harmonia e a sublimidade, mas im cultuar o abs urdo, o grotesco, o satâ nico. A mi ssão e o sacrifício de Nosso Senhor Jesus C ri sto não podem ser aquilatados em toda a sua extensão individual , soc ia l e civilizadora se não tivermos presente as profec ias da Ressurreição e a sua plena rea lização três dias após a morte do Redentor. São Paul o chegou a afirmar que a Ressurreição é a prova real da Divindade de C ri sto: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossafé " (J Cor 15 ,14). Pois, se não tivesse ocorrido a Ressurreição, o vencedor teria sido o demônio . Deus ressurrecto, Aquele "que está sentado à direita do Pai e de novo há de vú; em Sua Glória, para julgar os vivos e os mortos e Seu Reino não terá .fim" - é o Vencedor, o Soberano Absoluto, a fo nte de onde brotam todas as autoridades e todos os poderes. Face a essa concepção da Sobera ni a Omnímoda de Deus sobre os indi víd uos, a sociedade e a civ ili zação, podemos considerar a Ressurre ição como o ponto monárquico, o símbolo por excelênc ia dos cató licos autênti cos. Por mais que as circunstâncias possam dar a impressão de que o demônio seja a força dominante em nossa época, Deus sempre será o vencedor. Essa certeza se coad una de modo perfeito com a promessa da Santíssima Virgem em Fátima, no ano de 19 17: "Por.fim, meu i maculado Coração trii111fará ". • E-mail para o autor: cato licismo terra.com.br Nota: Nesta matéria , todas as citações da Sagrada Escritura foram extra ídas da tradução em porlllguês da V11/gata pe lo Revmo. Pe. Matos Soa res, 25" ed., Edições Paulinas, São Paulo, 1957.
NACIONAL
O Congresso das CEBs
um festival de marxismo Ü santo sacrifício da Missa seria prejudicial à Igreja; buscam as CEBs banhar-se na religiosidade popular; não é um movimento católico; para elas é proibido "caçar" terroristas, bandidos e traficantes
JAC KSON SANTOS
otou o leitor que o Congresso das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), sob o nome de 13º Jntereclesial, realizado em Juazeiro do Norte (CE) de 7 a 11 de janeiro último, antes de sua reali zação se beneficiou de uma considerável propaganda midiática, e que, depois de concluído, quase não se falou dele? Qua l a razão desse si lêncio post.factum , sendo que as esquerdas brasileira e mundial teriam todo interesse em que se publicitassem suas conclusões? Para responder, é preciso considerar o panorama no seu conjunto. É o que pretendemos fazer neste artigo, publicado somente no presente número da revista devido ao acúmulo de matérias na edição anterior.
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Apogeu, que<la e tentativa <le l'CSSlll'l'eição As CEBs, que nos anos 70 tiveram seu apoge u, foram denunciadas no início dos anos 80 como longa manus do com uni smo internacional por um livro que ficou famoso , escrito pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, juntamente com os irmãos Gustavo e Luís So limeo, sob o títu lo As CEBs das
quais muito se .fàla, pouco se conhece, a TFP as descreve como são (Editora Vera Cruz, São Paulo, 1982). A abundância e a qualidade da documentação utilizada, a análise precisa e contundente dessa obra, frustraram então o plano da esquerda católica de marxistizar a cidade e o campo brasileiros. Pois, desvendados os objetivos últimos das CEBs, eles foram rejeitados pela opinião pública nacional. Outros fatores podem ter contribuído para o notório declínio das CEBs, é claro, mas este que apontamos foi decisivo. E assim permaneceram e las durante décadas, vegetando em seu estado cadavérico ou pré-letal, até que, no final de 20 13, trombeteou-se aos quatro ventos que as CEBs ressuscitavam, como que por um passe de mágica. Segundo a propaganda veiculada para esse fim, tal ressurreição se tornara
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CATOLICISMO
possível devido ao impulso que lhes vinha da política posta em prática pelo Papa Francisco, que quando cardeal havia fomentado sua renovação, ao presidir a comissão que redigiu o documento final do Encontro dos Bispos latinoamericanos em Aparecida, em 2007. Parecia confirmar essa assertiva, entre outros fatores , a realização, pouco antes do 13° Intereclesial, de um simpósio no Vaticano, mais precisamente na Pontfflcia Academia de Ciências, com a presença de marxi stas notórios, especialmente conv idados, como João Pedro Stédi le e Juan Grabois. O site da CNBB anunciava exultante: "Pela primeira vez
em sua história, um lntereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) recebe uma mensagem de um papa. No dia 17 de dezembro, o papa Francisco enviou uma carta aos participantes do 13º lntereclesial das CEBs, que tem início
hoje à noite, em Juazeiro do Norte, diocese de Crato (CE), e prosseguirá até o dia I 1 de janeiro ". 1 E o "Osservatore Romano" publicava, em I Ode janeiro, uma longa entrevista com importante assessora das CEBs, a missionária xaveriana Tea Frigerio. O jornal do Vaticano colocava em realce as palavras com as quais esta religiosa parece prescindir de sacerdotes até para a celebração da Missa: "A
vida de uma comunidade eclesial de base (Ceb) concentra-se na celebração dominical da Palavra f eita p elos leigos. A novidade nestas comunidades tradicionais é a centralidade da Palavra a partir da qual começa a renovar-se também a pastoral. A leitura da Palavra a partir da vida compromete nas tran~formações sociais. Nascem as primeiras lutas por um sindicato livre que, livre da siUeição aos lat(fitndiários, se torne instrumento de justiça ".2 Ora, a ressurreição - ou , caso se preferira uma palavra mais branda, a retomada da subversão - das CEBs é um fato muito importante. Se concretizado, poderá acentuar fortemente os rumos para a esquerda que vêm sendo impulsionados no Brasil pelos últimos governos, sobretudo tendo em vista que o MST tem fracassado em suas tentativas de revolucionar o campo. Por que então esse silêncio da mídia, inclusive da mais esquerdista, sobre as conclusões do Congresso? Para desvendar esse mistério, pareceu-nos que o melhor era ir às fontes. Fomos então consultar o próprio site do Congresso das CEBs, intitulado Jntereclesial das CEBs , e outros ligados ao tema. E a matéria abundante que lá encontramos é altamente esclarecedora. Trata-se de um marxismo tão debandado, de um comunismo tão assustador, que publicá-lo na grande imprensa poderia produzir rejeições veementes e dar lugar, talvez, a uma reedição do livro de Plinio Corrêa de Oliveira, que se mostra mais atual do que nunca. Foi mais estratégico reservar aos iniciados o que se passou em Juazeiro naqueles dias. Trata-se evidentemente de uma hipótese, mas ela se amolda tão bem à realidade, que é difícil não se deixar seduzir por ela. Para que o leitor possa julgar por si mesmo, dou aqui uma amostragem do que encontrei , sempre citando as fontes para os que quiserem aprofundar-se no tema.
mente significativas para a Igreja do Brasil: a religiosidade popular que sustenta a vida do povo nos seus so_fi'imentos e as CEBs, mandacarú que resiste como modo de ser Igreja. Esses dois braços do povo brasileiro expressam duas maneiras de viver a.fé: a Romaria de padre Cícero dá voz à.fé do povo pobre e excluído e as CEBs que.fazem memória de umjeito diferente de ser igreja. Estes dois braços se encontraram para se.fortalecer e se enriquecer reciprocamente ". 3
Banho <le l'eligiosi<la<le pam <lisl'al'ça,· o ma,~tismo
As Comuni<la<les Eclesiais <le Base 11ão são católicas
Falam essas fontes da presença de cinco mil pessoas, incluindo 72 bispos, 232 padres e 145 religiosos. A escolha de Juazeiro do Norte não foi ocasional. Apesar do apoio eclesiástico, as CEBs sempre foram tidas como pouco católicas, mais se parecendo a um braço religioso do Partido Comunista do que outra coisa. Ora, Juazeiro do Norte tem sido o berço de uma devoção popular ao Padre Cícero ( 1844-1934), que chegou a ser prefeito da cidade em 1911 e é tido por muitos na região como santo. Realizar o congresso em Juazeiro seria um meio de mergulhar as CEBs num banho de religiosidade para tentar disfarçar seu ranço marxista. Ajá mencionada Irmã Tea Frigerio, presente no congresso, destacou a importância da realização do Intereclesial na terra do padre Cícero: "Aqui se encontram duas realidades forte-
O conhecido dominicano Frei Betto, por sua vez, deixa claro que as CEBs não são um movimento católico, pois
Para Frei Betto, as CEBs são muito mais interreligiosas do que ecumênicas, ou seja, elas não são católicas
"ressalta que nas CEBs que ele conhece tem gente do candomblé e até gente que não tem f é, mas gosta de frequentar a comunidade, 'As CEBs são muito mais interreligiosas do que ecumênicas' ".4 Tal assertiva é, a seu modo, ratificada pelos representantes da Guatemala ao encontro: "A oração coordenada pelos re-
presentantes da Guatemala trouxe pensamentos de dom Oscar Romero, martirizado em El Salvador e de Maria Montoya, santa colombiana. 'Fora da fgr~ja também toda a pessoa que luta pela justiça, toda apessoa que busca reivindicações justas em um ambiente injusto, está trabalhando p elo Reino de Deus e pode ser que não seja cristão. A igreja não abarca
ABRIL2014
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todo o Reino de Deus ... ', foi uma das reflexões de Romero recordadas". 5 Apoio episcopal às Comunidades Eclesiais de Base Num texto em que co mentam o documento do P apa Francisco para o E ncontro das CEBs, o Pe. José M arins e a Ir. Teolide Maria Trevisan alegram-se por não terem sido objeto de correções nem de suspeitas: "Imediatamente se adverte que o documento [de Francisco] nos inunda com um 'pe,:fume'
característico e intenso de alegria, confiança, amizade e não de correções ou suspeitas ".6 Os bispos presentes quiseram consignar num documento seu apo io ao que a li se passava. Em ca rta aos participantes, ass im se expressaram: "Nós, bispos participantes do 13°
lntereclesial de CEBs, em número de setenta e dois {. ..} Muito nos sensibilizaram os gritos dos excluídos que ecoaram neste i 3° intereclesial: gritos de mulheres e jovens que sofrem com a violência e de tantas p essoas que sofrem as consequências do agronegócio, do desmatamento, da construção de hidrelétricas, da mineração, das obras da copa do mundo, da seca prolongada no nordeste, do tráfico humano, do trabalho escravo, das drogas, da falta de planejamento urbano que beneficie os bairros pobres; de um atendimento digno para a saúde {. ..} Que não se cansem de ser rosto da igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas e não de uma igreja enf erma p elo f echamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças, como nos exorta o querido Papa Francisco (cf EG 49) " 7• Nova concepção de mal'tÍl'io... Houve também uma celebração dos Mártires e Profe tas. Pres idiu-a do m Edso n Damian, bi s po de São Gabri e l da Cachoeira (AM), que exaltou a "vontade teimosa de seguir
anunciando o Reino, contra o vento e a maré do anti-reino neoliberal.[ ..} Do chão das CEBs é que surgiram os profetas e os mártires". Fo i cantado durante a celebração um "Pai Nosso dos Mártires" que dizia "Pai nosso revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos". Quem foram os mártires homenageados? São Paulo? São Pedro? Tantos mártires canoni zados? Não. "Santo Dias, dom Helder Câmara, Sepé Tiarajú,
Marçal Guarani, Nísio Gomes, João Caleri, irmã Dorothy Stang, Margarida Alves, Chico Mendes, Oscar Romero, Josimo Tavares, Ezequiel Ramin, padre Cícero Romão, entre outros". 8 Anti-capitalismo e anti-Missa Uma das palestras mais revelado ras da doutrina e do espírito que anim am as CEBs foi o estudo apresentado no congresso pelo soc ió logo Pedro A. Ribe iro de O live ira - autor de obras como Fé e Politica: jitndamentos (2004), Religião e dominação de classe ( 1985) - e reprodu zido por Jaime C . Patias no artigo Análise de conjuntura social e eclesial aponta
caminhos para as CEBs .9 O soció logo apo nta para "o esgotamento do 'sistema mundo ', júndado na economia capitalista". Qual econom ia deveria seguir-se? A cubano-soc iali sta?
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CATO LICISMO
Estaríamos presentemente, segundo ele, numa "época de profimdas transformações, mas também da caça às bruxas (e aos hereges) como na idade média". Q uem são os perseguidos hoj e em di a por essa nova caça às bruxas? O soc iólogo responde: "Hoje são caçados terroristas, bandidos, trafi-
cantes e outros marginais vistos como responsáveis por esse mal-estar. É como se sua morte ou seu 'apodrecimento ' na prisão fosse um sacrifício purifi,cador para trazer de volta a tranquilidade do passado ". O texto é desconcertante! Deveria haver liberdade para os terroristas, traficantes, bandidos? A polícia deveria deixá-los livres? Ou seria melhor nem have r polícia? É para lá que parecem ca minhar as CEBs! Mas há ma is, caro le itor. Sabe quem seria responsável pela presente evasão dos fié is das sagradas fileiras da Igreja Cató lica? Não pense nos mal es que se seguiram ao último Concílio, não pense na livre difusão de " verdadeiras heresias", segundo denunciou João Paulo 11. Nada di sso. Pasme, mas a responsáve l pe la evasão dos fiéis seri a a Missa cató li ca, com seu sentido profundo de renovação do sacrifíc io de Nosso Senhor Jesus Cristo.
"Pedro de Oliveira conta que acompanhou uma pesquisa na arquidiocese de Belo Horizonte e percebeu que a questão chave é a concepção de missa. 'Nos últimos 30 anos, nos habituamos [nas CEBs e congêneres] com as celebrações dominicais sem padre e a entender a missa como a memória da Ceia de Jesus e não como um Santo Sacriflcio. Ora, quando a gente vai ver o ritual da missa, ela é apresentada como sacr(flcio ', observou e explicou o que considera a principal razão da evasão dos católicos da igreja. O sacr{flcio só é necessário para a reparação dos pecados e eu desconfio que o nosso povo não tenha tanta consciência de ser pecador para jàzer tanta reparação. Então, aquele ritual que é de sacriflcio, não é entendido pelas pessoas que acabam se afàstando
notar o teor profundamente revolucionário da enumeração. Em primeiro lugar os leigos, depois os diáconos, os padres e os bispos! Tudo isso é pensado para inverter a hierarquia na Igreja. O Papa não é tratado de Santidade, mas simplesmente de "senhor", como qualquer pessoa mais velha. O que agradecem? "Nós lhe agradecemos por.fazer do ministério papal uma profecia contra a economia de exclusão, que hoje domina o mundo". 11
Uma corrente de pessoas cada vez mais se intoxicando
[. ..} 'Então se, neste momento, a massa se afastar da Igreja é normal ', concluiu". O que faz então o sacerdote, o bispo, nas tais ce lebrações? "Nas CEBs o povo não faz muita d//erença se é o padre que celebra a missa ou se são os ministros que.fázem a celebração da Palavra". Não houve remí11cia a Satanás? Na Mi ssa de encerramento, "que foi presidida por dom Fernando Panico, bispo de Crato, ladeado por vários outros bispos, padres e diáconos [. ..}o povo renovou as promessas do batismo e seus compromissos, dentre os quais, guardar os conselhos deixados pelo padre Cícero: denunciar a cobiça do poder e a devastação da terra, a degradação do meio ambiente, combater a miséria. Anunciar a economia solidária, numa sociedade onde todos tenham oportunidades, casa, escola, saúde, segurança,festa e f elicidade". 1º Não consta no texto que nessa renovação dos votos do Batismo tenha havido a oração hab itu al na Santa Igreja de renunciar a Satanás, suas pompas e suas obras !
O PaIJa,
11111
simples 11rimaz?
A mensagem do Papa Francisco mereceu uma resposta dos participantes, aprovada por aclamação. O texto é diri gido ao "querido irmão, bispo de Roma e pastor primaz da unidade". Primaz da unidade? O que signifi ca isso? Ele não tem poder sobre os bispos, é simpl esmente um " irmão", um "primaz"? E de que unidade se trata? Da unidade da Igreja ou de uma unidade cosmo-pa nteísta que inc lui a tudo e a todos? Quem escreve? "Nós, cristãos e cristãs, leigos das comunidades eclesiais de base, agentes de pastoral, religiosos/ as, diáconos, padres e bispos, assim como irmãos de Igrejas e vangélicas e de outras tradições religiosas ". Co nvé m
É impossível ler todas essas enormidades sem fazer justiça ao acerto profético de Plinio Corrêa de Oliveira, que já em seu primeiro livro, publicado em 1943 (Em Def esa da Ação Católica), previa os desdobramentos fünestos que teria a crise na Igreja se os males internos não fossem atalhados. Não cabe neste simples artigo um elenco de tudo quanto nessa memorável obra denota a antevisão do autor a respeito do que hoje ocorre. A partir das primeiras ideias revolucionárias que então germinavam na Ação Católica, o itinerário para os dias de hoj e é claramente apontado: "As p essoas que aceitaram algumas destas ideias costumam apoiar e aplaudir as que caminharam mais avante no mesmo terreno, revelando singular entusiasmo pelos que chegaram às posições ideológicas mais radicais, e uma real desprevenção de espírito para perceber os erros flagrantes que nestas posições se notam. Em outros termos, estamos em presença de uma ideia em marcha, ou melhor, de uma corrente de homens em marcha atrás de uma ideia, nela se radicando cada vez mais, e de seu espírito cada vez mais se intoxicando ". 12 Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasi l, proteja nossa Nação de todas as heresias e a faça voltar aos caminhos traçados pelo bem-aventurado Anchieta, por Nóbrega e tantos outros herói s da fé. • E-ma il para o autor: catolici smo@terra.com.br Notas:
1. h ttp :/ / www. cn bb .org. br/co m issoes-epi scopais/laicato/se tor- CEBs/13448-20 14-01 -07- 12- 18-56 2. h ltp :// www. osserv a toreroman o. va/pt/news/como-dancas-de-roda-sagradas#. Ut l n8WZTvDc 3. h t l p: / / w w w. p o 111 . o r g. b r / i n d ex. p h p ? o p ti o n = e o 111 _ content&view=article&id=266 I: 130-intereclesial-assessores-avaliam-cam i11hada-das-CEBs-na- igreja&catid= l 6:11acionais&Itemid=75 4. Idem, ibidem 5. h llp ://www. i11 terec les ia IC EBs .org/fu 11 .php?notic ia_ cat=2&id _ noticia=304 6. hllp ://w ww. i11 terec les ia IC EBs.org/fu 11. ph p?11otic ia_ ca t=2& id _ noticia=303 7. http://www. i11 terce les ia ICE Bs.org/ fu 11. ph p? id_11oti cia=296&notic ia_ cat=2 8. http://www. interecles ia ICEBs.org/fu 11 .php?id _ noticia=286&11oticia _ cat=2 9. http ://www.i 11terec les iaICE Bs.org/ fu 11 .php?noticia_ cat=2&id _noticia=305 1O. http: //www.i ntereclesialCE Bs.org/ ful l.php?id _ noticia=302&noticia_ cat=2 11. http://www. interecles ialCE Bs.org/ ful1 .php?id_noticia=29 I&noticia_ cat=2 12. Em Def esa da Ação Católica, Ed itora Ave Maria, São Paulo, 1943, p.338.
ABRIL2014
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São Macá rio , o Milagroso, Abade + Ás ia Menor, 830. Abade de Pelecete, nas proximid ades de Co nsta ntin opl a, ele fo i fa moso pelos mil agres que operava. Ex il ado duas vezes pelos imperad ores bi za ntinos co ntrári os ao culto das imagens, fa leceu no segundo exílio, devido aos sofrim entos que lhe fo ram infli gidos.
2 São f ra ncisco de Paula, Confessor + Plessis, 1508. Itali ano, fun dou a Ordem dos Mínim os. Luís XI obteve do Papa que o envi asse à Fra nça, a fim de preparar o monarca para a morte.
;i São Rica rdo de ChichesLer, Bispo + Inglaterra , 1253. Chanceler da Universidade de Oxfo rd , conse lheiro de São Edmundo Ri ch e São Bonifác io, Arcebispos de Cantuári a, teve qu e lutar co ntra a prepotência do rei Henrique 111 .
4 Sa nlo lsidorn de Sevilha, Bispo, Confessor e DouLOI' da Igreja + Es panha, 636. Sucedeu a seu irmão São Leand ro na Sé de Sevilh a. A ele se devem a cri ação de se min ári os, a unifi cação da liturgia, a regulamentação da vida monástica e outras importantes obras da di sc iplina ec les iásti ca. Primeira Sexta-feira do mês
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SanLa Juliana de Comillon, Virgem + França, 1258. Religiosa agostiniana grande devota da Eucaristia, a quem Deus comunicou o desejo de possuir uma festa dedicada ao Corpo de Cristo. Perseguida em sua própria comunidade, teve que se desterrar seis vezes até sua morte.
SanLo Eslanislau, Bispo e Má rlir + Cracóvi a, 1097. Gra nd e defensor da moral católi ca e da santidade do matrimônio, fo i assass in ado pelo rei Boles lau II por increpar sua vida desregrada.
Primeiro Sábado do mês
São Júlio I, Papa + 352. Defend eu o mi stéri o da Santíssima Trindade contra os hereges e reabilitou Santo Atanás io no Concíli o de Sárdica, proclamando a primazia da Sé episcopal de Roma. * Nesse dia comemora-se também Santa Teresa de Jesus de los Andes (Chile, 1920).
6 São Marcelino de Cait ago, Mártir + África, 41 3. Representante do imp e rador Honó ri o na Áfri ca para faze r cessar a agitação produzida pelos hereges donati stas. Ao lhes propor o retorno à verdadeira fé, eles o mandaram assass inar.
7 São João Balisla de La Sa lle (Vide p. 14)
8 São Dionísio, Bispo + Co rinto, 180. " Dev id o à ciência e à graça de que fo i dotado, [... ] ilustrou o povo não somente da sua cidade e provín cia, mas [... ] também bispos" (Do Martirol óg io).
9 Sanla Cacilda , Virgem + Burgos (Es panh a) , 1007 . Filha do rei mouro de To ledo, ela se co nverte u ao beber a água mil agrosa do poço de São Vi cente.
10 São Terêncio e Companheiros, Mártires + Ca rtago , 250. Na perseguição do imperador romano Déc io, estes 40 cri stãos preferi ra m morrer do que oferecer sacri fic ios aos ídolos.
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Domingo de Ramos A liturgia des te domin go consta de duas partes di stintas: uma, impregnada de alegria - a procissão dos ramos; outra , de tri steza - a Mi ssa e o ca nto da Paixão.
14 Sanla Lyclwina de Schiedam, Virgem + Holanda, 1433. Co mo vítim a expi atóri a, fo i atingida du rante mais de 20 anos por quase todas as moléstias imagináveis, em meio à ex trema mi sé ri a. Tinh a co nsta ntes visões de Nosso Senh or, do Paraíso, do Purga tóri o e do Infe rno.
15 Sanlas Balissa e AnasLácia, M{irt ires + Roma, 66. Ilustres matronas ro manas di sc ípul as de São Pedro e São Paul o, so frera m cruel martíri o por terem recolhido as relíqui as do Prín cipe dos Apóstolos para dar-lhes sepultura.
16 São Benedito José Labre, Confessor
+ Roma, 1783 . Mendi go voluntári o por amo r a C ri sto, ele peregrinava entre os mais célebres santuários da E uropa, sofrendo humilhações e maus tratos. Ao fa lecer em Roma, as cri anças espontaneamente sa íra m g rita ndo pe las ruas : "Fa leceu o santo".
17 QUINTA-FEIRA SANTA In stitui ção da Sagrada E ucari stia e do Sacerdócio
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incentivo u a enfre ntar o martírio. Uma ri ca cristã socorreu depo is a viúva e os sete filh os do mártir, cujos bens hav iam sido confi scados .
23 São Geraldo de Toul, Bispo e Confessor
+ F ra nça, 994 . Cô nego da Catedral de Co lôni a nomeado Bispo de Toul , diocese que governou durante 3 1 anos . Notáve l pregador, tra nsformou sua Sé epi scopal num centro de sa ber, traze ndo monges da Irl anda e da Grécia. F undou moste iros, edifi cou igrej as e um hospital.
SEXTA-FEIRA SANTA
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Pa ixão e M o rte de N osso Senhor Jesus C ri sto. Di a de j ejum e abstinência.
São Gregório de Elvira, Bispo e Confessor
19 SÁBADO SANTO Comemora mos neste sábado Jesus C ri sto no sepulcro e a so ledade de N ossa Senhora .
20 PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO "Cri sto ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!"
+ Espanha, séc. IV. Famoso pelo ze lo apostóli co, ciência eminente, santidade e inflex ibilidade de princípi os, nunca qui s pactuar com os hereges a ri a nos . Desve nd a va se us a rtifíc ios , desa rma nd o s uas invecti vas, não recuando nem mesmo d iante das ameaças do Imperador ari ano.
25 São Marcos Evangelista, Bispo e Mártir
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+ Egito, 86. Di scípul o de São
São Simão Barsabeu, Bispo e Mártil'
Ped ro e apósto lo do Eg ito, onde fo i martiri zado. N o século X I seus sagrados restos m o rta is fo ram tras lada dos para Veneza.
+ Se lêuc ia, 341 . Apri sionado e torturado por ter-se recusado a adorar o so l durante a persegui ção de Sapor H, da Pérsia, fo i obri gado a ass istir à decapitação de uma centena de cri stãos antes de ser e le também martirizado.
22 São Leônidas, Mártir
+ Alexandria, 204. Retórico, fi lósofo e professo r de renome em Alexa ndri a, pai do célebre O rígenes. Este tinha 17 anos quando Leónidas fo i preso, e o
26 ossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano Santo Estêvão de Perm , Bispo e Confessor + M osco u , 1396 . Mo n ge ru sso, Santo Estêvão fo i missionári o nos montes Ura is e depo is bi spo de Perm . Dev ido a sua opos ição às heres ias dos huss itas loca is, teve que fu gir para Moscou, onde fa leceu.
27 Santo Antimus, Bispo e Mártir + Nicomédia, 303. Bispo que " por sua confissão de Cristo, obteve um g lori oso martíri o por decapitação. Quase todos os seus fi eis o seguiram, alguns dos quais o juiz mandou que fosse m decapitados à espada, outros queimados vivos, outros colocados num navio e afogados no mar" (do Marti rológio).
28 São Luís Maria Grignion de Montfort, Confessor + França, l 7 16. Ardente mi ssionári o popul ar, apaixonado pela Cru z de Nosso Senhor e doutor marial por excelência, sua doutrina da Sagrada Escrav idão a Nossa Senhora fo i reconhecida e ass umida pelo Papa São Pio X.
29 Santa Catarina de Siena, Virgem
Intenções para a Santa Missa em abril Será ce lebrada pelo Revmo . Padre David Francisq uini, na s seg uintes intenções: • Pelos méritos infini tos da Pai xão, Morte e Ressurreição de Nosso Se nhor Jes us Cristo, sup li cando as graças de que os leitores de Cato li cismo mais necessitam . • Na M issa, haverá um memento pedindo à Providência Divina que proteja es pecialm ente o País da atuação de movimentos esque rdistas que têm como ob jetivo provocar uma luta entre brasilei ros de diferentes etnias.
+ Itá li a, 1380. A maior g lóri a fe minina da O rdem Dominicana, Santa Catarina trabalhou para a vo lta dos Papas de Avinhão a Roma, pediu a reforma do c lero e a orga ni zação de uma cruzada contra os infie is.
Sa11Lo Eutrópio de Saintes, Bispo e Mártir + Fra nça, 404 . Ro mano, e le aco mpanhou São Di onísio à França, sendo o primeiro B ispo de Sa intes. "A pós ter exercido du ra nte longo tempo o oficio de pregador, fo i decapitado em testemunho a Cri sto, morrendo em triunfo" (do Martiro lógio) . * N esse di a co me m o ra-se ta mbé m São P io V, Pa pa e Confesso r, antigamente em 5 de ma io. Nota: Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui seus nomes apenas enunciados, sem nota biográfica.
Intenções para a Santa Missa em maio • N este 97 ° aniversá ri o da primeira apari ção de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima, M issa em louvor do Santíss ima Virgem e de súp li ca pe la pleno correspondência da humanidade à M ensagem que Ela ve io trazer ao mundo em 19 1 7. Suplicandolhe também que pro teja a Ucrânia e a Ve nezuela, a fim de que essas nações se ve jam livres da ação deletério do com unismo.
A
Correspondentes e simpatizantes da Associação dos Fundadores " FABIO
C ARDOSO DA COSTA
alizou-se em São Bernardo do Campo (SP), entre os ias 2 e 4 de março, o X Simpósio da Associação dos undadores. Correspondentes e simpatizantes da associação acorreram de nove estados da Federação, além de amigos de países vizinhos como Argentina, Colômbia e Uruguai. Nos dias atuais, um católico medianamente informado e desejoso de praticar com seriedade a religião, vê-se inúmeras vezes confuso, perplexo e desorientado diante dos acontecimentos que vão se sucedendo, tanto na esfera religiosa quanto na temporal. Com efeito, obedecendo a uma verdadeira palavra de ordem, uma avalanche de corrupção moral abate-se sobre o mundo ocidental: o aborto; a legalização da droga; o nudismo; a destruição sistemática da família e do pátrio-poder; o avanço da criminalidade; o chamado "casamento homossexual", que juntamente com o aborto vai sendo legalizado em oposição ao desejo da maioria da população. A lista seria interminável. Acrescentam-se a isso as perplexidades causadas até por
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CATOLICISMO
declarações e doutrinas provenientes de Hierarcas da Santa Igreja. Diante desse quadro desolador, a quem procurar? Com quem se orientar? Como haurir forças para resistir a tudo isto? Tais são os problemas enfrentados por incontáveis católicos que vivem no ambiente neopagão de nossos dias. Visando oferecer uma orientação segura àqueles que os procuram, os diretores da Associação dos Fundadores organizam anualmente estes Simpósios, baseando-se na doutrina trad iciona l da Igreja Católica, luminosamente comentada por Plinio Corrêa de Oliveira em seus numerosos escritos. O evento deste ano foi especialmente concorrido e acompanhado com muita atenção pelos participantes. A abertura foi feita pelo Dr. Caio Xavier da Silveira, um dos diretores da associação, que discorreu sobre a expansão das atividades contra-revo lucionárias nas nações europeias, destacando a crescente resistência que se tem observado nesses países aos mencionados fatores de demolição da civilização cristã. Entre as várias palestras proferidas e muito apreciadas, despertou vivo interesse a de Dom Bertrand de Orleans e Bragança. O Príncipe brasileiro discorreu sobre sua recente
mensagem enviada ao Papa Francisco, na qual expôs ao Pontífice sua perplexidade em face do apoio que o Vaticano concedeu aos chamados "movimentos sociais" de cunho esquerdista-marxista. Dom Bertrand referiu-se concretamente ao convite feito pela Pontificia Academia de Ciências, no início de dezembro último, a líderes revolucionários - como o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile - , os quais utilizaram o seminário convocado por aquele organismo da Santa Sé como tribuna para propagar sua doutrina da luta de classes marxista . Com raciocínio lógico e palavras eloquentes, o Dr. Adolpho Lindenberg encerrou os dias de estudos. Falou sobre o verdadeiro espírito do contra-revolucionário, frisando que não basta ao autêntico católico constatar a situação caótica em que vivemos, mas que precisa analisá-la e repudiá-la. E não se pode ficar apenas nisso, pois cumpre lutar para que chegue ao fim tal situação. Urge ainda desejar com ardor a implantação de uma sociedade autenticamente cristã, na qual os divinos ensinamentos de Nosso Senhor sejam acatados, respeitados e seguidos por todos. O atendimento religioso aos participantes esteve a cargo do Pe. David Francisquini, ardoroso simpatizante da Associação dos Fundadores e fiel seguidor dos ensinamentos de Plínio Corrêa de Oliveira. • E-mail para o autor: catolic ismo@ lerra .com.br
À direita e abaixo, flagrantes do Simpósio
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Cristandade: Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo N ELSON
RAMos BARRETTO
lV Simpósio de Estudos Universitários rea li zo u-se nos di as de
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ca rnava l na aprazíve l c idade de To ledo, no oeste paranae nse, onde está sedi ada a conservadora e co mbati va Associação Cristo Rei, que vem promovendo anualmente - com êx ito sempre crescente - o encontro de uni versitários conservadores. Com participantes dos estados de Rio Grande do Sul , Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Ja neiro, Rondônia, Distrito Federa l, Goiás e Amazonas, além do Para ná e até um representante do Canadá, os dias de estudo tiveram sua abertura com a palestra de Luis Dufa ur sobre o tema 2013 - Atribulações na
Santa igreja e confúsão no mundo. O utro expositor, José Carlos Sepúlveda da Fonseca , fund a me nta ndo-se em obras de Plíni o Corrêa de O li ve ira, ana li sou vá ri as menta lidades poss íveis da opini ão pública no processo revolu-
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CAT OLI C ISMO
cionári o. Como ilustração da palestra, fo i p roj etado o film e Lafete de Babette - seguido dos co mentá ri os de L ui s G uill e rm o Arroyave, demostra nd o o requinte e a doçura de viver da mentalidade cató li ca em contraste com o hirto e insípido espírito ca lvini sta. Entre os confe rencistas do Simpós io cabe sa lientar a presença do Dr. Ado lpho Lindenberg, pres idente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Com mui to traquej o e conhec imento, e le demonstrou como as minori as podem mudar a Hi stória. O utro palestra nte fo i Frederico Abranches R . Vi otti , que desenvo lve u o te ma da infa libilidade da Santa Igreja e suas condições, segundo os teó logos. O munic ípio de Toledo se destaca pe la puj ança agríco la, o que deu ocas ião aos partic ipantes do s impós io de desfrutarem uma recreação muito instru tiva: conhecer seus belos campos culti vados. Ass im , aco mpanhando o Príncipe Dom Bertrand de O rl eans e Braga nça, que havia c hegad o para o encerra me nto daque les di as de estudo, os presentes
visitara m a Vinícola Dezem, premiada nac io na l e inte rn ac io na lm e nte pe la qualidade de seus vinhos e espumantes. O Prínc ipe Imperi al do Bras il pres idiu a cerimônia fi nal dos jovens líderes cató li cos , te nd o profe rid o brilh a nte ex pos ição sobre o tema A Cristandade
e o Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após a confe rência, o orador ofereceu aos participantes o Iivro Apologia da Tradição, do conceituado professo r e hi storiador itali ano Roberto de M attei. Representando a Associação Cristo Rei, o P rof. Amir Kanitz expôs brilhante mente a evo lução revo luc ionári a nas ideias, desde a Renasce nça até nossos di as. Os j ovens retornaram a seus lares cheios de fé e entusias mo, com firme propós ito de não apenas defe nde r os princ ípi os da c ivili zação c ri stã , mas também atuar visando sua restauração plena, além de lutar contra os embustes e cil adas da Revolução gnóstica e igualitári a. • E-mail para o autor: catolicismo@terra .com.br
Prof. Amir Kanitz, representante da Associação Cristo Rei
Aspecto parcial de uma das sessões do Simpósio
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Semana de estudos e formação católica para jovens IVAN RAFAEL DE ÜUVEIRA
e lo quinto a no co nsec utiv o, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promoveu, durante os di as de ca rn ava l, uma Seman a de Estudos para j ovens de todo o Bras il. O evento ocorreu numa aprazível faze nda colonial em Ca mpos dos Goytacazes (RJ ). O tema esco lhido para as confe rênc ias deste ano fo ram os grandes aco ntec imentos da Hi stóri a da Igrej a, co mo a hi stór ia dos mártires, a co nve rsão de Co nstantin o, o impéri o de Carl os Magno, as guerras que enfre ntou o Bemaventu rado Pi o IX em defesa dos Estados ponti fíc ios e a perseguição contra os
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CATOLI C ISMO
católicos autênticos, desencadeada por correntes teológico-progressistas modernas. Houve também apresentações teatrais e audiovisuais sobre os erros que assolam a juventude atual e a necessidade de um espírito de luta em defesa dos princípios da civilização cristã. Os participantes ficaram especialmente emocionados pela recitação da Via Sacra, percorrida com espírito bem diverso do tom carnavalesco reinante em certos ambientes modernos. A decoração e os jogos medievais também contribuíram para os jovens adquirirem o espírito de respeito e sã combatividade, explanados durante as conferências. Estiveram presentes mais de 60 jovens dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Goiás, além do Distrito Federal. Todos os menores participaram do evento com autorização dos responsáveis. •
Alguns depoimentos Sérgio Miguel de Oliveira (Brasília - DF), 18 anos: Foi a primeira vez que estive num acampamento deste porte. Gostei muito, foi um programa realmente católico! As reuniões me chamaram muito a atenção, especialmente a que tratou dos mártires. Ela expôs bem corno eles amavam Nosso Senhor e a Fé católica.
E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
Antonio Maurício Lanza de Sá e Mello (Lavras - MG), 14 anos: Todo o acampamento foi bastante interessante, mas o que gostei mais foi a Via Sacra, rezada com uma solenidade que nunca tinha visto antes. Muito diferente do carnaval que se tem aí fora! Fernando Bianchi (Campos - RJ), 15 anos: Tive a oportunidade de conhecer novas pessoas. As reuniões trataram de temas que realmente mereciam ser conhecidos, e fatos que eu realmente não imaginava que tivessem existido. Vinicius Feitosa (Rio de Janeiro - RJ), 23 anos: Achei tudo ótimo. Especialmente a Via Sacra, muito bonita e bem preparada. As reuniões foram bem feitas, de profundo conteúdo doutrinário e com ótimos palestrantes. Gabriel Takegame (São Paulo - SP), 14 anos: Gostei muito da reunião sobre Constantino. Deus fez um grande milagre, uma cruz apareceu no céu para a conversão desse imperador e terminar assim o período de perseguição contra os cristãos. 1 '
Edson Matheus de Souza (Curitiba - PR), 15 anos: Assim que chegamos houve uma recepção toda em estilo medieval, com bandeiras e tochas. Chamou-me a atenção o respeito que um tem para com o outro. É um lugar que santifica as pessoas. Espero poder voltar mais vezes.
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ATO DE REPUDIO A PEÇA BLASFEMA "JESUS CRISTO SUPERSTAR" PAULO RO BERTO C AMPOS
vorecida por verbas públi cas través do Mini stéri o da Cultura, que auto ri zou a ca ptação de R$ 5,7 milhões pe la le i Rouanet - , estreou no di a 14 de março, no tea tro "Tomi e Ohta ke" da ca pita l pauli sta, a peça blasfe ma "JES US C RISTO SU PERSTA R" . E la esca rnece da fig ura sacrossanta de N osso Senho r Jes us C ri sto e com isso da fé cató li ca. Entre vá ri as ofe nsas, nosso Redento r é apresentado como um revo luc ioná ri o qu e ma nteve re lações ilíc itas com Sa nta Mari a M ada lena, e
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CATOLICISMO
os Apósto los são apresentados co mo bê bados . Pa ra ma io res in fo rmações , recomendamos o site www.ipco.org. br N a tarde desse mes mo di a, teve iní c io uma ca mpanha de rua, promov id a pe lo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira , d istribuind o ao públi co nas prox imidades do teatro um manifesto de repúdio à encenação que afro nta a ho nra do Di vino Sa lvador. O referido Instituto convida todos a parti ciparem em seu site de um aba ixo-ass inado, que j á ultrapasso u 38 MIL firmas. E à no ite, pouco antes do in íc io da ignóbil "ópera-rock", reali zou-se um ato de protesto em frente ao teatro repudian-
do a peça e em reparação a N osso Senhor. Consistiu na recitação de um terço, proc lamação de slogans, bem como em cânti cos e toques musicais. Desse ato pa rti c ipa ram ta mbé m as assoc iações
Devotos de Fátima, Sagrado Coração de Jesus e Brasil pela Vida. Eventos públi cos análogos ocorreram em outras cidades brasil e iras. A esse propósito, e também em espírito de reparação pela injúria lançada contra o Deus Humanado, tra nscrevemos aqui palavras de Plínio Corrêa de O li veira, extrn ídas da Via Sacra redigida por ele em 195 1. Palavras lapidares que sa lientam o quanto as dores morais são piores que
as corporais. Neste sentido, pode-se afirmar que aq ueles que zombam de Nosso Senhor - como ocorre na mencionada peça teatral - renovam em nossos dias a Crucifixão do Divino Redentor. "Que são os males do corpo, em comparação com os da alma? Se Jesus so_f,-esse todos aqueles tormentos, mas ao seu lado houvesse corações compassivos! Se o ódio mais estúpido, mais injusto, mais alvar, não.ferisse o Sagrado Coração enormemente mais do que o peso da Cruz e dos maus tratos f eriam o Corpo de Nosso Senhor! Mas a man(festação tumultuosa. do ódio e da ingratidão daqueles a quem Ele linha amado ... a dois passos, estava um leproso a quem havia curado ... mais longe, um cego a quem tinha restituído a vista ... pouco além, um so_fi·edor a quem linha devolvido a paz. E todos pediam a sua morte, todos O odiavam, todos O injuriavam. Tudo isto.fazia Jesus so_fer imensamente mais do que as inexprimiveis dores que pesavam sobre seu Corpo ". • E- mail para o autor: catoiicismo@terra com br
ABRIL2014
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Um ~fmholo da loucura áo fflUJfáo fflOIÚPJfO
PuN 10 CoRRÊA DE OuvE1RA
S
e imag inássemos essa casa, que está com o te lhado
para ba ixo, na sua pos ição normal - portanto com o telhado para cima - , que as pecto ela apresentaria? - Uma impressão perfe itamente banal. Seri a mais uma dessas casas pelas qua is passamos sem notar nada de especial. Posta de cabeça para baixo, entretanto, causa a impressão de um de líri o, de uma loucura. Provoca a ide ia de que todo bom senso está de cabeça para ba ixo, todo equilíbri o mental está invertido, e de um mundo tra nsformado em manicômio. Mas isso levanta um pro bl ema: quem são os loucos? Os que estão se tratando dentro do manicômio e que acham
isso norma l? Ou aque les que estão fo ra do manicômio e que não estranham isso? Mais precisamente a pergunta é esta: quem olha para este edifício e gosta, é louco? Po is um louco, se pudesse desenhar uma casa, poderia desenhá-l a ass im invertida. Então, os homens que não são loucos, mas que julgam isso interessante e até mandam construir casas assim, o que eles são? São loucos? Tratando-se com eles, percebe-se que não são. Então, como é que chegam a gostar de algo que só um louco aprecia? São pervertidos de a lma. A perversão da alma costuma estar ligada à impureza. A impureza ocas iona uma grave perversão de espírito. Mas, não é só impureza, é a fa lta de bom senso, de lóg ica, de amor às co isas na ordem que lhes é própri a. •
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 9 de agosto de 1986. Sem revisão do autor.
Nยบ 761 - Maio 2014 - Ano
11 PUNIO ( O RRÊA DE ÜLIVE IRA
Morreu o comunismo? E m vista dos atuais conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, pareceu-nos relevante transcrever excertos de um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em "A Cidade", Campos (RJ), cm 29-8-1992
A
fro uxa fede ração sov iética , qu e ago ni zava quando o ma logrado Mi kha il Gorbachev fo i prec ipitado do poder, aca bou por se tra nsformar em uma "Comunidade de Estados Independentes", entre cuj os componentes se vêm acendendo sérias fr icções, as qua is causam preocupação a homens públi cos e a ana li stas po líti cos em gera l. Tanto ma is quanto vá ri as dessas repúbli cas possuem armamentos atômi cos ou outros de cons ideráve l poder destruti vo, que podem disparar, seja umas contra as outras, sej a contra os adversários do Islã, cuj a influênc ia no mundo ex-sovi éti co cresce di a a dia, com vivas apreensões para os que se preocupam com o equilíbri o pl anetári o. [ ...] E o comuni smo? O que é fe ito dele? A fo rte impressão de que e le morrerá apoderou-se da maior parte da opini ão pública do Oc idente, des lumbrada ante a perspecti va de uma paz uni versa l de duração ind ete rminada. Ou quiçá de uma duração perene, com o consequente desaparecimento do terríve l fa ntas ma da hecato mbe nuc lear mundi a l. Esta " lua de me l" do Oc idente com seu suposto paraíso de desa nuvi amento e de paz vem reful g indo gradua lmente menos. Referi-m e, com efe ito, às agressões que re lampagueia m nos terri tó ri os da fin ada URSS. Cabe-nos, po is, perguntar se o comuni smo morreu. De iníc io, as vozes qu e punh a m e m dúvid a a
-CATOLICISMO
autentic idade da morte do comuni smo fo ra m raras, iso ladas e escassas e m fund amentação. Aos poucos, de cá e de lá, sombras fo ra m a parecend o no ho ri zo nte. Em nações da Europa Central , dos Balcãs, como do próprio terri tó rio da ex-U RSS fo i-se notando que os novos detentores do Poder, em alguns casos, eram fi guras de destaque do própri o Partido Comuni sta loca l. [.. .]
Pró-russos na Crimeia (Ucrânia) se movimentam, portando a bandeira russa e o símbolo do comunismo
Ou sej a, pode-se di zer que nesses países o comunismo morreu? Ou que ele entrou simplesmente num compli cado processo de me ta mo rfose? Dú v id as a este respe ito e vê m avo lum a nd o, enquanto os últimos ecos da a legria uni versa l pela suposta queda do comuni smo se vêm apaga ndo di scretamente. •
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ENTREVISTA
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°Rl•:Al,ID/\1)1<: CONCISAMl-:N'l'E
Canonizado o Pe. José de Anchieta
São José de Anchieta
16 Dr,:sT1\QU1•: O glorioso Apóstolo do Brasil
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INTm{NAC10NA1,
Hungria: vitória conservadora
25 V1mDADES EsQum:mAs Que pensar cios bailes? Hungria mais conservadora
26 CAPA Suma necessidade ela devoção a Nossa Senhora
36
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DE
SANTOS
Santa Madalena SoJJa Baral
39 D1scERNINDo Crise familiar e suicídios 40 E1•1súnms IJ1s'1'(Hm:os J{wos J-lunyacli e o cerco de Belgrado
Imagem, mídia e suas influências
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VA1UEDAD1<:s
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SANTOS E Ft<:S'l'AS DO
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AÇÃO CON'l'RA-Rl-:VOLUC:IONÁIUA
M Í~S
52 AI\IBIEN'l'ES, CosTUl\rns, Cn 11.1:t.Açü..:s A/mansa: uma f'ortaleza de sonho e heroísmo Nossa Capa: Imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus na basílica de Santa Clotilde, em Paris. Foto: Frederico Vioui
S. João de Capistrano em batalha
MAl02014-
Caro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração : Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo· SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (Oxx11) 3333-6716 Correspondência : Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo· SP Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda. E-mail: catolicismo@terra.com .br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Maio de 2014: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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É natural que no mês de maio Catolicismo apresente a seus leitores um tema mariano. E é com prazer que oferecemos nesta edição precioso artigo em que o autor, o Duque Paul de Oldenburg, Diretor do Bureau da Federação Europa Crhistiana, em Bruxelas, comenta a devoção a Nossa Senhora segundo São Luís Maria Grignion de Montfort - o grande Doutor marial (1673-1716). Após analisar o princípio da gradualidade na Criação, o autor realça a importância da Encarnação do Verbo de Deus no seio puríssimo da Santíssima Virgem. Porque entre o Criador e a criação está o Filho do Homem, o qual é inteiramente Deus, como as demais pessoas da Santíssima Trindade, e, ao mesmo tempo, é homem como nós. Concebida sem pecado original, Nossa Senhora está colocada numa altura insondável. Ela é Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa do Espírito Santo. Ela é Mãe de Deus e Corredentora do gênero humano e também nossa advogada junto ao Divino Redentor. É o refúgio dos pecadores e Mãe de Misericórdia. Sem Nossa Senhora não haveria a Igreja. Ela é a grande protetora da Santa Igreja, sempre presente nas batalhas em que as forças católicas enfrentaram os inimigos da Cristandade. São Luís Maria Grignion de Montfort ilustra adequadamente, em seus escritos, essa função de Medianeira. E quanto mais estivermos unidos a Ela, tanto mais poderemos praticar a virtude e nos mostrarmos gratos a Deus. Tudo isso deve fortalecer nossa decisão de recorrermos sempre a Maria Santíssima, para obtermos a santidade que Ela espera de nós. E assim, sob sua guia, lutarmos eficazmente contra a Revolução gnóstica e igualitária em defesa da Igreja e da Cristandade. Ela fará de nós, católicos, verdadeiros filhos de Deus e soldados do Céu e da Terra. Desejo a todos os diletos leitores uma profícua leitura e meditação de tão importante artigo.
Em Jesus e Maria,
CATOLICISMO
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
catolicismo@terra.com.br
DIRETO R
Fingia ser repreendida! ábitos e leis cada vez mais liberais vão pondo a sociedade em xeque. É a degradação dos costumes, o desfazimento das famí li as, o avanço do nudismo e do semi-nudismo, a crim inalidade, a ... paramos por aqui porque a li sta é longa demais, não cabe neste artigo. Vamos nos deter num ponto apenas, que é fundamental. Trata-se da educação dada a crianças e adolescentes. Dessa ed ucação depende em grande parte, é óbv io, o futuro da sociedade. Hoje é politicamente correto (e asnaticamente absurdo) impedir que os pais impon ham normas a seus filhos menores, se necessári o com castigos proporcionados. A tal propósito, é esclarecedor o documentado arti go da jornalista Ludmilla Ortiz Paiva, publicado no site ela UOL (7-3- 14), intitulado "Pais liberais demais dão a.filho mais responsabilidade do que ele pode ter". Seguem alguns trechos: " À primeira vista, deixar os filhos 'so ltos' demais pode até parecer um sinal de confiança forte dos pais. Mas liberdade em excesso pode tornar crianças e jovens ca rentes ele um a figura que impõe limites. "A lém disso, quando a liberdade é muito grande - principalmente no caso de crianças - , os pais acabam deixando para o filho a responsabilidade de tomar decisões que ele não tem maturidade para administrar. É o que di z o psiquiatra lçam i Tiba, autor ele diversos liv ros sobre educação, como 'Quem Ama, Educa!' "'Apesar de pensar que está ajudando o filho , os pais estão errando como ed ucadores. Não se pode deixar a cri ança ou o ado lescente fazer tudo que tiver vontade. São os adu ltos que vão arcar com as conseq uências dessa liberdade toda' , declara Tiba. E, futuramente , os filhos também. '"Os pais têm a ilusão de que proibir fará os filhos sofrerem. Só que, quanto menor a criança, menos conhecimento ela tem para ava liar as consequências dos seus atos ' , afirma a professora Audrey Setton Lopes de Souza, do Instituto ele Psicologia da USP (U niversidade de São Paulo). Segundo a especia li sta, a libera lidade excess iva não ajuda e, sim, assusta a criança. "De acordo com Audrey de Souza, as regras devem começar a ser impostas quando a cria nça ainda é bebê. ' A gente nasce com uma busca pelo prazer ilimitado. E são com regras básicas que aprendemos a lidar com o mundo' , diz. "Segu ndo os especia li stas, a liberdade total , geral mente, leva o ado lescente para dois caminhos: um é a carência, o sentimento de estar abandonado. O outro é a delinquência. "A professora Leila Tardivo conta que, certa vez, acompanhou o caso de uma adolescente que fingia estar sempre
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conversando com a mãe pelo telefone. ' Ela fazia de conta que tinha uma mãe que a repreendia, como as amigas tinham. Ela precisava de um cuidado, e a mãe não ligava, deixava a garota fazer tudo, a menina se senti a abandonada', descreve a espec iali sta. "Segundo a professora Audrey de Souza, o ado lescente é transgressor por nat11reza e é preciso ir contra a essa tendência. ' Para o jovem, é importante desafiar. A gente sabe que, uma hora ou outra, ele pode experimenta r bebidas alcoólicas. É importante que haja um adu lto que diga 'não'. Que dê bronca se ele beber. O desafio sem uma certa intervenção pode criar um delinquente, que só vai parar de cometer excessos quando fo r barrado pela justiça'." *
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De nossa parte, acrescentamos que todo ser humano, ao lado ele qualidades e aptidões próprias a sua natureza, nasce também com más inclinações provenientes do pecado original. Enquanto convém apoiar e estimular aquelas, é preciso refrear e co ibir estas. É o papel da educação. Por isso diz a Sagrada Escritu ra: " Vara e correção dão a sabedoria; menino abandonado à sua vontade se torna a vergonha da mãe" (Prov 29, 15). Ademais, esse abandono da infância e da juventude faz Nossa Senhora chorar. •
MAI02014-
recorrendo sempre a Ela. A vigilância nos ev itará muitos di ssa bores nesta vida e eternamente na outra. (A.A.O. -
MG)
Missão católica
A hom·a <le Nosso Se11hol' Gostaria primeiramente de parabenizar pelo artigo, publicado no número de abril da rev ista, do engenheiro Adolpho Lindenberg. Fiquei marav ilhada vendo que um engenheiro, que normalmente trata de cá lculos, sabe tratar também de .coisas espiri tuais, assuntos tão elevados como as dores ele Jesus Crislo para sa lvar a humanidade pecadora. É marav ilhoso o pos icionamento cio autor sobre como os católi cos devemos ver os sofrimentos de Cri sto. Não nos basta um sentimentozinho ele pena, mas devemos ter coragem para defender a honra de Jesus Cri sto, que nos dias de hoje é vista com indi fe rença e muitas vezes sua honra é até escarnec ida, como vem sendo com a ex ibi ção ela maldita peça teatra l "Jesus Cristo Superstar". (G.W. -SC)
Fide/i<la<le Devemos todos os dias nos vigiar se estamos correspondendo às graças alca nçadas com a Sagrada Paixão de Nosso Se nh or. Jes us reco mendou a oração e a vigil ância. Ac ho que essa vi gil ância é ta mbém sobre nós mesmos, por exempl o faze ndo exa me de consciência se estamos desprezando ou correspondendo às graças alca nçadas com o sa ngue derra mando na Sagrada Paixão. Num a palavra, prec isa mos da TOTAL FID ELI DA DE que Deus espera de seus Alh os. E, sem dú vida, Nossa Se nh ora pode nos ajudar a ser fi éis
ll!lcATOLICISMO
Ti ve muitos sentimentos bons lendo a rev ista com a capa com Jesus Cri sto com as marcas da fl agelação. Ele aparece muito maj estoso, mesmo com o sofrim ento fí sico e também moral, pois fo i abandonado e rejeitado. A mesma majestade está bem rea lçada na fis ionomia da Sagrada Face. Mesmo morto, com as marcas dos sofrim entos e da morte, Ele surge estampado no lenço l que o cobriu co mo Rei de todo o Uni verso, do Céu e da Terra. Vamos nos esforça r para desagravá- lo e não fa lhar na nossa mi ssão cató li ca e perseverar com muita fé, pois, do contrário, nossa fe li cidade não será pl ena. Mas com a ajuda de Deus e de Mari a, seguindo os sá bi os conse lhos, nossa fe licidade será pl ena, sobretudo no Céu que devemos conqui star. (J.A.G . -
SP)
Civilização realmente Cl'istã As in vestidas do maligno não cessa m. Depois da crucifixão do Filho de Deus, o mali gno faz tudo para que se esqueça o quanto Jesus nos amou e o qu anto Ele deseja nossa alvação. Mas, para obtê- la, é necessári o a nossa parte, que consiste em lutar para que a civili zação seja rea lmente cri stã. E o demôni o quer leva r os homens para o abismo e parece que está so lto para to rn ar a civili zação cada vez mais anticri stã . Uma civilização louca, de ponta-cabeça, exatamente como aquela casa construída com o telhado para baixo. Agradeço ao Adolpho Lindenberg por me pro porcionar refl exões de alto nível para a Se mana Santa, ademais um amor mais intenso à Mãe Dolorosa aos pés da Cruz. Vou tê-l a mais presente nas minhas orações, pois fo i corredentora j unto ao Di vino Redentor. Ela co nsegue para nós as forças para a lu ta quotidi ana. (E.C .N. -
PE)
Bom e mau la<lrão Seri a infantil di zer que na atualidade não exi stem mui tos que agem como " maus ladrões" perante o Salvador, como o mau ladrão no Monte Ca lvário renega nd o Jes us. Ou sej a, tomand o uma atitud e de revolta co ntra Deus devido aos sofrim entos. Vemos qu e os sofrim entos, muitas vezes, chegam para purificação. Então o que é prec iso é ace itar pac ientemente e glorificar a Deus, como na atitude do " bom ladrão" na Cruz. (A.M.D. -
PR)
"Quo Véu/is, Dómi11e?" ~ "Quo Vadis, Dómine?" fo i a pergunta de São Pedro a Nosso Senhor Jesus Cristo que, em vi são, respondeu a São Pedro: " Volto para Roma para ser novamente crucificado ". São Pedro fugia de Roma, já convul sionada pela perseguição de Nero contra os cri stãos. Imedi atamente, São Pedro retornou sobre os seus passos na direção ele Roma, e lá, também como Nosso Senhor, foi crucificado, e a seu pedido, com a cabeça para baixo, porque se considerava indigno de ser crucifi cado tal como Nosso Senhor. Resta sa ber se o Papa Francisco terá a humildade ele São Pedro, e retomará o ensino tradi cional da Sa nta Madre Igreja sobre o Decá logo. Rezo para que isso aconteça. As consequências serão tremendas, como fo i para São Pedro.
(A.T.M . -
SP)
CEBs: mo11stmosi<la<le ~ Pensei que, graças a Deus, já tinha morrido o movimento de esquerda "católica" chamado Comunidades Eclesiais de Base. Até já tinh a me esquecid o desta porcaria que conspurcou a verdadeira Igreja Católica há décadas atrás. Agora vejo que ainda há gente, como o dito "Frei" Betto, que se esforçam por desenterrar as CEBs. Oxa lá que não se consiga e que as pessoas abram os olhos para os prejuízos que tais comunidades fazem para a Religião. Considero as CEBs como um dos braços de um monstro conspurcador elas belezas da Santa
Jgreja Cató lica; o outro braço é o MST. Um é o braço anti-religioso e o outro é o braço anti-sociedade. (P.G.C.F. -
RS)
Santo Padre a verdade; caso contrário ele jamais apo iaria tal movimento em suas dependências. Por favor, contem com meu apo io e podem divulgar, se quiserem , o meu e-mai l. (S .E. -
Peça abominável
Desejaria muito ter estado presente na manifestação diante do teatro Tomie Ohtake para também dar minha contribuição presencial protestando contra a ence nação (ABOMlNÁ VEL) "Jes us Cristo Superstar". Igua lmente, desejari a lá estar para desagravar o Sagrado Coração de Jesus, tão ofendido pelos atores e pelos que vão ass istir esse horrível teatro. Co mo não pude estar presente, sirva esta minha mensagem como protesto e desagravo. Mas espero proximamente poder protestar diretamente na porta do teatro. Rezei , pedindo a Nossa Sen hora que faça cessar esta abomi nação contra Seu Filh o em São Pau lo e que não se passe tal encenação no resto do Brasi l. Rezei também para que aqueles que ass istiram à peça se arrependam sincera mente disso. (G.N .H. -
SP)
Devemos defender o que é correto; o Papa Fra ncisco talvez não saiba, porém como sua assessor ia é que deve estar passando as in formações para ele, temos que fazer as verdades chegarem a ele. SC)
Choque
Estou atu rdida com tudo que está acontecendo no Brasil. Algum as pessoas, com quem fa lo sobre isso, di zem que sou alarm ista e que o comu ni smo não nos dominará, pois somos um povo cristão. Agora, o Vaticano receber os integrantes do MST me chocou profundamente. (R.D.P. -
MS)
Guerreil'os de Cristo ~ Fe li cito os bravos compone ntes do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira pelo ato de repúdio à blasfêmia que é a peça "Jesus Cristo Superstar". Eles são verdadeiros guerreiros de Cristo a bradar neste mundo tão ímpio, a ponto de encenar uma co isa vergonhosa como é a peça teatral nojenta. Reunimos a famí li a e rezamos um terço de reparação junto com uma imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo crucificado. O mesmo ato vamos repetir na SextaFeira Sa nta. Vamos rezar e lutar para que não se repitam peças deste naipe.
(M.U.N- RJ)
Mas experiências 1:8] Sou servidora pública concursada e trabalho no Congresso Nacional. Já tive experiências muito ruins com o MST e posso afirmar que ex istem pessoas criminosas nesse movimento. Com certeza não foi passado para o
FRASES
SELEC IONADA S
DF)
"F'azer as venlades chegarem"
(M.A.V.L. -
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rrFe[izes cu:J.uefas crianças que encontram na mãe junto do 6erço um segundo anjo da guarda para a inspiração e o caminho do &em!" (T-fo X I 1)
rr O melhor método de educação para uma criança é arranjar-Cfte uma &oa mãe" rruma das o&ras-primas de Deus é o coração de uma mãe". (ProvérbLo frei V\,cês)
Esperança
Por favor, vamos difundir de todas as formas esta carta de Dom Bertrand ao Papa. Mais uma vez confirmo a minha tese: nem tudo está perdido. Parabéns Dom Bertra nd , faço minhas todas as suas co locações. (N.A.M. -
ES)
rrSer mãe quer dizer rece6er um filho das mãos de Deusi quer dizer entregar a vida inteira, aniquifar-se até à frcu:J.ueza e à humiúíacíe"
O leitor tem to<la raz{io
Sou leitor da revista há muito tempo e quero dar uma participação no seguinte: Ao ler a vida de Santa Bernadete Soubirous, vidente de Lourdes, ocorreu um erro de informação. A 1". apa rição de Nossa Sen hora a Santa Bernadete foi em 11 de fevereiro do ano 1858 e não em 2 de fevereiro conforme consta no artigo de Plínio Maria Solimeo. Deus vos abençoe e que Nossa Senhora de Lourdes cure nossos males de corpo, da alma e da mente. (E.J.C.S. -
SP)
MAIO2014 . .
A REALIDADE CONCISAMENTE China executou em 2013 mais do que a soma dos demais países
S
egundo o último relatóri o anual da insuspeita Amnesty lnternational, a máquin a judiciári a soc iali sta chinesa bateu mais uma vez, em 201 3, o sinistro recorde de execuções de pessoas, supera ndo de longe a soma rel ativa ao resto do mundo, que fo i de 774 execuções. Human Rights Watch julgou "pos itivo" o fa to de "terem sido menos de 4.000 [execuções] anuais nos últimos anos". Os números da China são segredo de Estado. Em segundo lugar ficou o Irã: 369. Em terce iro, outro país que aplica a lei islâmi ca à ri sca : Arábi a Saudita: 79. Os EUA, onde a cada vez que se apli ca a pena ca pital, após longos processos, os jornais não poupam vitupérios, ficaram bem atrás : 39. •
Hospitais ingleses queimavam fetos para gerar energia ois hospitais ~ritâni co_s queimavam fetos abortados para aquecer suas 111stalaçoes ! O Addenbrookel Hospital, de Ca mbridge, reconheceu ter incinerado 797 fe tos para gerar energia, ga rantindo para as mães que os mesmos tinham sido "cremados". No fpswich Hospital, uma empresa terceirizada incinerou 1.100 cri anças abortadas, trazidas de outro hospi ta l entre 2011 e 201 3. O mini stro da Sa úde, Dan Poulter, ordenou acabar com essa práti ca "totalmente inaceitável ". Em março, uma investi gação jornalísti ca ca lcul ou que nos dois últimos anos 27 hospitais hav iam queimado mais de 15.000 restos de cri anças abortadas, sem consultar os pais ou responsáveis. Em 2011 , houve no Reino Unido cerca de 196.000 abortos " lega is". Em 4. 000 casos, os bebês nasceram com vida, de acordo com o Mini stéri o da Saúde. O abomináve l crime do aborto conduz a outros costum es monstru osos e à perda de todo senso mora l naqueles que o prati cam. •
D lnstala~ão de bases russas na América Latina? mini stro de Defesa russo, Serge i Shoigu, dec larou que a Rúss ia "planeja expandir sua presença militar permanente .fora de suas f ronteiras, abrindo bases militares em países estrangeiros", inclusive na Venezuela, Ni carágua, Cuba, Vietnã e Singapura. Pouco depois chegou a Havana o navio russo de espi onagem Victor Leonov SS-1 75. Pelo menos quatro navios de guerra russos vi sitaram a Venezuela em agosto. Anali stas mili tares de Washington julga m que a Rússia vi sa de imediato cri ar estações de carga de combustível e apoio logísti co para barcos e avi ões. É ass im que começa a esca lada. A mol eza ocidental pode gerar uma situação anál oga à do início da II Guerra Mundi al. E Putin dá sinais de ter encontrado cooperadores, ec les iásticos e civi s, onde menos se podia esperar. •
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Taiwan: gigantesca passeata contra o comércio com a China eio milhão de pessoas sa iu às ruas de Ta ipé, capital de
Taiwan, contra um tratado comercial com a China que M ameaçari a a independência do país.
"Temos que nos resguardar contra a manipulação da economia pela China visando nos controlar ", expli ca va Chin Mei Ching, 29, enquanto levava o carrinho com sua filhinh a de um ano. "Salvem a democracia, não vendam nosso pais", di zia uma das fa ixas ex ibidas. "A China está usando métodos econômicos para invadir Taiwan ", dizia Liou Jong-yuan, um engenheiro de 4 7 anos. Não é só Taiwan que corre esse perigo; num futuro não muito longínqu o, ele também poderá aparecer ameaçador no nosso caminho, sob aparência de tratados econômicos. •
. . CATOLICISMO
Mais de 500 católicos martirizados e 20 igreias destruídas a N igéri a, ma is de 500 cató licos foram marti rizados e 20 igrejas e casas paroquiais destruídas pe la seita islâmica Boko Haram, na região nordeste, de 2009 até a presente data. O ex-chefe do Estado Maior nigeriano, marechal A l-amin Daggash, denunciou que mi steri osos helicópteros abastecem os te rrori stas em seus refúgios. O fa to fo i confi rmado por veteranos líderes políticos e mili tares no epicentro da guerri lha anticri stã. Os bi spos da Nigéria concordaram: "O Boko Haram, até há pouco usava somente arcos e flechas, agora j oga bombas ". Basta ti ra r dos o lh os as escamas "ecumêni cas" para saber que os governos e os líde res islâmi cos " moderados" também fi nanciam o fu ndamenta li smo anticri stão em todo o mundo. •
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Católicos emigram da Crimeia sob perseguição russa s católicos de rito grego, ou "uniat~s", ligados a Roma , estão sendo obrigados a abandonar a Crimeia para fugir às prisões e ao confisco de suas propriedades. O Pe. Mykhailo Milchakovskyi , pároco e capelão militar de Kerch , disse que agentes da FSB russa (Serviço de Segurança Federal , herdeiro da sinistra KGB) estão convocando padres e fiéis católicos a comparecerem às delegacias para saber se eles "reconhecem a nova ordem". O Pe. Milchakovskyi e pelo menos dois terços de seus fiéis tiveram que fugir. O Pe. Mykola Kvych (foto abaixo), pároco em Sebastopol, foi preso e espancado por agentes russos.
O
Relação entre suicídio, músicas modernas e tatuagens
O
"Jorna.l Bras ileiro de Psiquiatria" publicou em .20~9 um doc ume ntado tra ba lho sobre a re lação entre preferencia musica l e sui cídi o, o qua l permanece candente uma vez que os principais estilos denu nc iados continuam circ ulando larga mente no País, como o rock, o heavy metal, a country music, e também o blues. Outros estudos demonstraram a relação entre tatuagens com baixa autoestima, de linquência, ab uso de drogas, comportamento sexual de risco, participação em ritua is satânicos, além do suicídi o. •
Estiagem decorrente de aquecimento global é mera ficção aquec im ento g loba l não te m papel re levante na estiagem que ating iu o Sul e o Sudeste bras ileiro no in ício do ano, segundo o espec ia li sta em te ndências climáticas Alexandre Nascimento. O ca lor e a seca atuais estão re lacionados com fe nômenos de vári os anos de duração, como o cic lo de tem peraturas baixas no Oceano Pac ífico . Porém, rece nte relatório do IPCC, organismo po lítico da ONU para o clima, afirma o contrá rio, tendo sido apontado seu viés ideológico. O meteoro logista bras il eiro Luiz Carlos Molion despoj ou de valor c ientífico os cenários montados por esse órgão po lítico, que ele qualifico u de "fictícios". "Portanto o agricultor não deve levar esses resultados em consideração ", conc luiu . •
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Cristianismo cresce no Irã , apesar da perseguição o Irã dos aiatolás as conversões ao cristianismo crescem, vencendo o regime de intolerância radical. Segundo a ONU , a perseguição fundamentalista atingiu níveis sem precedentes. Líderes do Conselho Supremo da Revolução Cultural Islâmica pregam que, segundo o Corão (5 :59-60), judeus e cristãos descendem de macacos e de porcos. Segundo eles, o cristianismo é para doentes mentais, e o tratamento corân ico correspondente é a execução . Em sentido contrário , cada vez menos iranianos vão às mesquitas. Em 2010, Mohammad Ali Ramin, vice-ministro de Orientação Islâmica , reconheceu : "A assistência às mesquitas vem diminuindo ". A graça, dispensada pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo pelas mãos de Maria , supera obstáculos que parecem concebidos no inferno.
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Monsenhor JOSÉ LUIZ YILLAC
Pergunta - Sempre entendi que a Redenção, a remissão cios pecados, a salvação elas almas, foi merecida pela Morte ele Jesus Cristo na Cruz 1... 1. O problema é que o pároco ele minha Paróquia usa expressões como "salvos pela Ressurreição" ou "méritos salvíficos ela Ressurreição". Quando se refere ao Calvário, diz ser "a demonstração maior cio amor de Deus por nós", mas não o associa à Salvação. A Ressurreição sempre prevalece em seus sermões, até mesmo na Quaresma e Semana Santa. Isso tem me deixado confuso, por isso, pergunto: que relação tem a Ressurreição ele Jesus e a Redenção? A Ressurreição é a glorificação final dos redimidos (pela Cruz!) ou é, também ela, meritória para o perdão dos pecados?
Resposta - Continuo neste mês a resposta à pergunta acima, cuja primeira parte foi publicada na edição do mês passado. Ela pode ser condensada na ideia de que, embora todas as ações de Jesus, ao longo de sua vida, tenham para nós um valor redentor, e todas, no seu conjunto, constituam a Redenção, sua obra redentora atingiu seu ponto culmin ante no sacrifício de sua Morte na Cruz. Daí res ulta que a morte de Nosso Senh or é de maneira proeminente, porém não exclusiva, a ca usa efi ciente de nossa Redenção. - Qual, então, o papel da Ressurreição nesse pl ano de sa lvação?
O caráter salvíl'ico da Ressurreição Do ponto de vi sta apologéti co, a Ress urreição foi o maior dos mil agres de Jesus e, enquanto cumprimento das profec ias, o argum ento mais dec isivo da veracidade de seus ensinamentos. Por isso, São Paul o pôde di ze r: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa f é" ( I Cor. 15, 14). Porém, na sua Epístola aos Romanos, o Apósto lo sublinha o ca ráter sa lvífi co da Ressurreição, apresentando-a como a consumação vitori osa da obra redentora , enquanto fo rma um só todo com a Paixão e a Morte do Redentor, e, ao mesmo tempo, fi gura de nossa ressurreição espiritual do pecado: "Fomos sepultados com Ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurg iu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova" (Rom. 6,4). É por isso que no Tríduo Pasca l da Semana Sa nta, depois de vestir-se de luto para comemorar a Paixão de Nosso Senhor, a Igreja ex pl ode num hin o de alegria para celebrar sua Ressurreição e sua vitóri a definiti va sobre a morte e o pecado. As 11<wicladcs do liWrgicismo
Esse equilíbri o repete-se, ao longo do ano, em toda a vida da Igreja, e deve também marcar a vida de cada cri stão, em
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cuj a alm a algo do luto da Sexta-Feira Santa deve conviver harmoni osamente com a al eg ria do estado de graça e da esperança do Céu. Infe lizmente, esse equilíbri o rompeu-se com as novidades introduzidas pelo litw gicismo, que desejava criar um ambiente fes tivo nas celebrações litúrgicas. A mudança foi fe ita em nome de uma nova apresentação do mi téri o da Redenção, etiquetada de Mistério Pascal. Como bem di sse o cardeal alemão H. Volk , a ex pressão Mistério Pascal não fi gura, enquanto tal, nem no Anti go nem no Novo Testamento e não tinha sido usada como categori a teo lóg ico-litúrgica em nenhum doc umento rn agistcri al da Igreja até o Concílio Vaticano 11. 1 Um artigo de A.M. Roguet na revi sta francesa de liturgia l a Maison-Dieu ex pli ca, do ponto de vista progressista, a importância da introdução do novo conce ito: "A Teologia clássica chama de dogma da Redenção o que nós chamamos Mistério Pascal. [... ] A diferença entre as duas expressões não é desprezível. [... ] Se tentarmos comparar as ressonâncias, as implicações dessas expressões, cujo conteúdo é quase idêntico, veremos mais claramente aquilo que dá originalidade e superioridade à expressão Mistério Pascal. "Re,lenção é um termo negativo,j á que evoca a metáfora do resgate de um escravo. Acentua mais aquilo do que a gente é resgatada - a morte, o pecado - do que o fim para onde vai. [... ] A Redenção é uma imagem de ordem j urídica, j á que se refere à libertação de um escravo, a uma mudança de estatutojurídico. Também é uma imagem de ordem comercial, pois a própria palavra indica um resgate, o pagamento de uma dívida. [... ] Alguns.ficam escandalizados com o sentido de j ustiça que ela acarreta e encontram na Redenção, assim apresentada, uma objeção insuperável contra a bondade de Deus. [...] Na apresentação do Mistério Pascal não se encontram essas dificuldades. Nossa salvação aparece como causada por um ato vila/ e gratuito, uma li vre iniciativa de Deus, nascida unicamente de seu amor mi.·ericordioso. [... ] "Qmuulo se passa ,la Redenção ao Mistério Pascal o acento muda totalmente de lugar. Quem fala de Redenção pensa em primeiro lugar na Paixão e depois na Ressurreição como um complemento. Pelo contrário, quemfala de Páscoa, pensa primeiro no Cristo ressuscita,to. A Ressurreição não ap arece então como um epílogo, mas como o termo e o fim no qual se resume o Mistério da Salvação".2 Silêncio sohrc
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valo/' CXf)ialÓl'iO da Paixão
Não tardou que essa "mudança de acento" desse origem a um total desequilíbri o, que sil encia o va lor ex pi atóri o da Paixão de Nosso Senhor. O primeiro a sa ltar esse abi mo, logo após o fi m do Concíli o Vati ca no 11 , fo i o mal-afamado Catecismo Holandês. Para ·ele, mui to mais do que a reparação de urna ordem
violada, é ''o serviço, a obediência e a bondade que marcam a vida de Jesus". "Morrendo voluntariamente, por causa do pecado, obedecendo até o.fim à vontade do Pai, permanecendo-Lhe.fiel até a morte e permanecendo fiel a nós no mesmo amo,; Jesus, ressuscitando à vida, ,lestrói o pecado ". Portanto, para os autores do Catecismo Holandês , "não é Deus que se reconcilia conosco, mas nós é que somos reconciliados com Ele. É nesta perspectiva que as Escrituras empregam a palavra reconciliação. Elas não evocam um Deus irriüulo que volta a ser benévolo, mas a imagem de um Deus criador que nos penloa, recriando-nos pelo Cristo que oferece sua vida. [... ] É, em suma, o homem que é reconciliado e tran~formado ". No di álogo entre representantes da Sa nta Sé e os teólogos do Episcopado holandês, os primeiros acusaram o novo Catecismo Holandês de afastar sistematicamente "a ideia de uma reparação oferecida por Jesus a seu Pai em compensação do pecado dos homens " e de co locar num segundo plano, e ademais com reservas, a oferenda sacrifi ca l rea li zada por Nosso Senhor. De outra parte, os teó logos romanos afirmavam não ver "como se pode legitimamente dizer que não é Deus que deve ser propício, ou tornar-se propício em relação a nós, mas nós que devemos tornar-nos propícios em relação a Deus". "A dolorosa reparação propiciatória de Cristo ", concluíam, "é uma dimensão profimda e essencial do mistério revelado da Redenção ".3
A Co mi ssão cardin alíci a enca rregada de acompanhar o di álogo ava li zou pl enamente as conclusões dos teólogos romanos e proibiu a divul gação do Catecismo Holandês sem uma retificação desse ponto de doutrina, além de outros, como a virgindade de Nossa Senhora e a ex istência dos anjos. 4
A satisfação 1ricá1'ia de Jesus Cl'isto Pouco depo is dessas di scussões, e para fec har o ano da Fé, Paulo VI publicou em 29 de junho de 1968 uma versão aprofundada da Profissão de Fé, na qual fez questão de que constassem duas passagens relativas à sati.sjàção vicária de Jesus Cri sto: "Padeceu sob Pôncio Pilatos, Cordeiro de Deus que carregou os pecados do mundo, e morreu por nós pregado na Cruz, trazendo-nos a salvaçtio pelo seu Sangue re,lentor [.. .]. "Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Sacrijicio da Cruz, nos remiu ,lo pecado original e de to,los os pecados pessoais, cometidos por cada um de nós; de sorte que se impõe como verdadeira a sentença do Apóstolo: 'onde abundou o delito, superabundou a graça ' (cf Rom 5,20) ". Verdades essas que o Catecismo da igreja Católica, publicado por João Paul o 11 , desenvolveu nos ca pítulos sobre A morte reden tora de Cristo no desígnio divino de salvação e Cristo ofereceu-se a seu Pai por nossos pecados e que fora m bem resumidas no nº 6 15 qu e di z: "Por sua obediência até à morte, Jesus realizou a substituição do Servo Sofredor que
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RepresentaCjão medieval do sepultamento de Nosso Senhor Jesus Cristo
'oferece sua vida em sacriflcio expiatório ', 'quando carregava o p ecado das multidões', 'que ele justifica levando sobre si o p ecado de muitos'. Jesus prestou reparação por nossas/altas e satisf ez o Pai por nossos p ecados".
A partir da dout1'i11a do Mistério Pascal, teorias ah1da mais radicais Porém , esses esforços de retificação ficaram , em larga medida, letra morta nos meios progressistas, nos quais, em nome da doutrina do Mistério Pascal, vieram a lume teorias ainda mais radicais, pondo o acento exclusivamente na Ressurreição. Para os inovadores, a doutrina tradicional "esquecia que a Ressurreição era o elemento definitivamente salvador ". Segundo eles, a Redenção não foi obtida por Jesus para os homens, mas rea lizou-se no próprio Cristo (sic!). "Para a teolog ia jurídica [entenda-se: a teologia tradicional] é preciso que Jesus seja Filho de Deus para que possa pagar infinitamente", afirma, por exemplo, o teólogo FrançoisXavier Durrwell, num artigo de 1973. "Numa teologia do Mistério Pascal, a glor{ficação infinita de Jesus ressuscitado é o que mostra que sua morte era aquela do Filho de Deus; somente Ele podia morrer numa infinita acolhida do infinito divino ". " O ef eito global da morte, do mérito redentor, é a própria Ressurreição: Jesus converte-se no que na realidade Ele era já desde o começo; com Ele, um homem fica elevado ao mesmo nível de Deus, no seio da Trindade".5 Se a Morte e Ressurreição de Jesus são um acontecimento pessoal, a salvação "não p ode distribuir-se senão na medida
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em que o próprio Cristo, pela sua morte e Ressurreição, se faz universal. [... ] Cristo 'morreu por nós' na medida que 'vem ' até nós e comunica-se a nós". "Nada será então pessoalmente de Cristo, porque tudo será universal e eclesial, com sua presença constante entre os homens", conclui Durrwell , numa tirada que fa z lembrar o Cristo Omega imaginado pelo jesuíta Teilhard de Chardin, cujas esdrúxulas doutrinas foram objeto de um Monitum da Santa Sé. Espero que estes esclarecimentos sejam útei s ao nosso consulente para confirmá-lo em sua fé, dissipando a confusão criada em seu espírito por aque les que silenciam sistematicamente o valor expiatório e sati sfatório da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas:
1. 1-1 . Volk, Theologische Grundlagen der Lilurgie. Erwéiwungen nach der Cons/itulio "de sacra Liturgia", Mainz, 1964, p. 81, apud Luis Maldonado, EI Misterio Pascual, in Fe i teologia en la Historia - Studies en honor dei P,: D1: Evangelista Vilanova, a cura de Joan Busqueis i Maria Marlinel,
Montserrat, Facultat de Teologia de Catalunya - lstituto per le Scienze Religiose (Bolonya), Publicacions de I' Abadia de Montserrat, p.17 1. 2. Aymon-Marie Roguet o.p., Qu 'est-ce que /e Myslere Pascal 1, La MaisonDieu, 67 ( 196 1), 5-22. 3. Le Dossier du Catéchisme hollandais - Un nouveau langage théologique, Textes recueillis par Aldo Chi aruttini et traduit de l' itali en par Yves Halloin, Point chauds, Fayard, Paris, 1969, pp. 99, 12 1, 11 6. 4. Ibidem, pp. 237-244. 5. François-Xav ier Durrwell, Mys tere pascal el Parousie. L 'lmpor/ance sotériologique de la présence du Christ. No uvel/e Revue Théologique,
95 ( 1973) 253-278.
São José de Anchieta Ü primeiro devoto do Coração de Jesus no Brasil nascente
Revmo . Pe . Hélio Abran ches Viotti S.J . (19062000) foi um dos maiores conhecedores da vida de São José de Anchieta em nossos dias. Por isso, em razão da recente canonização do Apóstolo do Brasil, transcrevemos uma entrevista que ele concedeu a Catolicismo em junho de 1997. Na ocasião, o ilustre sacerdote jesuíta nos recebeu muito amavelmente no Colégio São Luís, na Av. Paulista (São Paulo), onde residia . Nascido na capital paulista em 1906, o Revmo. Pe. Viotti ingressou na Companhia de Jesus em 1922. Fez o secundário e o curso de Filosofia , Ciências e Letras no Colégio An chieta de Nova Friburgo. Cursou Teologia em São Miguel, na Argentina . Era doutor em Filosofia e Licenciado em Teologia . Entre seus numerosos títulos, citamos o de capelão militar da FEB, Reitor dos Colégios São Luís e Antônio Vieira, em Salvador. Fundou e foi o primeiro diretor da Faculdade de Economia São Luís, titular da cadeira de História do Brasil nas Faculdades dos Jesuítas em Friburgo, São Paulo e Belo Horizonte, membro de vários institutos históricos e academias de letras. Escreveu seis livros e mais de 200 artigos em jornais e revistas do Brasil e do Exterior. Seu falecimento em 2000 constituiu uma perda para as Letras no Brasil.
Catolicismo - Os manuscritos originais do poema De Beata Virgine Dei Mater Maria, escrito por Anchieta, estão na Espanha, ou no Brasil? Pe. Viotti - Não ex iste o manuscrito
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original. Perdeu-se. Mas cópias, sim , há vári as. Uma em Roma, com os Jesuítas, que é a mais preciosa. Eu mesmo encontrei uma outra. Sabe onde? Em Santiago do Chile, no Colégio Santo Inácio! É bem antiga, e fo i preparada para impressão pelo Pe. Luís de Anchi eta, sobrinho-bi sneto do nosso Apóstolo. Co mo fo i para r no Chil e, não se sa be. Sem dú vid a algum a, fo i levada por um dos missionári os que fo i para lá. Nós obtivemos fo tocópia do manuscrito, que é precedido de uma pequena, mas preciosa biografi a Pafil'c Viotti:
''.1 f/evoção de A11chieta ao Santíssimo Sacramento era uma coisa excepcional. N unca c/eixa va suas comunl1ões Ji•eque11tes e visitas ao Santíssimo Sacl'amento "
de Anchi eta. Nos anos 30 fo i encontrado, com descendentes da fa míl ia Anchieta, na Espanha, um volume todo manuscrito com poemas de Anchieta. Estão lá o Poema Mem de Sá, o De Beata Virgine, vários sobre a Eucari sti a .. . Esta era a outra grande devoção do Apóstolo do Brasil: o Santíssimo Sacramento. Ele fo i educado em sua terra natal, São Cri stóvão da Laguna, na llha de Teneri fe, numa fa mília muito cristã. Tanto seu pai quanto sua mãe era m muito piedosos, praticantes, e educaram seus filhos na religião da melhor maneira possível. A devoção de Anchi eta ao Santíss imo Sacramento era uma co isa excepcional. Ele nunca deixava suas comunhões frequentes e suas vi sitas ao Santíssimo Sacramento; nem sua Missa diária, depois de ordenado.
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Antes de o ser, a primeira coisa que faz ia, aqui em São Paulo, era ass istir à Mi ssa di ariamente. Ele é um dos fundadores desta cidade, a figura , digamos assim , mais sa liente dentre todos os fündadores e aq uela que perseverou dez anos aq ui, firme, e consolidou São Paulo. E uma das penitências mais duras que passou na vida fo i quando, deixado sozinho no meio dos Tamoios em Ubatuba, antiga lperoig, ficou sem Missa. Quando o Pe. Nóbrega estava com ele, ce lebrava, e ele comungava empre. Depois, teve que fazer suas Comunhões esp iri tuais. E ele se refere numa série de poesias eucarísticas a essa fome da Sagrada Euca ristia que passou nesse tempo. Após sua ordenação, nunca deixava seu altar portátil. Naquele lempo, nas viagens marítimas, não era permitida a celebração da Mi ssa por ca usa da instab ilidade dos navios. Mas quando ele viajava pela costa do Brasil , descia em cada porto, em cada lugar propício, carrega ndo seu altar portátil , para ce lebra r a Missa. De modo que o Pe. Anchieta ce lebrou Missa em toda a cosla do Brasil. Antes de f-i:1lecer recebeu os Sacramentos, inclusive, natura lmente, a Euca ri stia . Foi uma morte santa, suave; santíss ima, realmente. Catolicismo - No livro// Cuore di Gesu, do Pe. Enrico Agostini, uma nota ao pé da página afirma que a primeira igreja no mundo consagrada ao Sagrado Coração, o foi por Anchieta, em 1585, no Espírito Santo. V. Revma. conhece algo a respeito disto? Existiu ou existe ainda essa igreja? Há algum dado sobre a devoção de Anchieta ao Sagrado Coração de Jesus?
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Poema à Virgem Ma-
ria - B. Calixto, 1901. Colégio São Luis, São Paulo.
"Quamlo Anchie-
ta viajava pela costa <lo Brasil, <lescia em cac/a JJOl'to, em ca<la /ugal' pl'opício, cal'l'ega11<10 seu altar JJOl'tátil, para celebrar a Missa"
Pe. Viotti -Ex iste em Guarapari , no Esp írito Sa nto, uma velha igreja restaurada, que fo i a igreja que ficava junto da residência, uma espéc ie de co lég io que os jesuítas mantinham lá. A data de 1585 é a da inauguração dessa igreja, estando presente o Pe. Anchieta e sob impulso de quem foi ela construída. No século passado chamou muito a atenção a ex istência de símbolos do Sagrado Coração de Jesus, dentro e na fac hada desse templo religioso, no qual há um cá lice com o Coração de Jesus. Mas acontece que essa igreja fo i restaurada já no século XVIII, por um fa moso cônego Antonio de Siqueira Quental, antigo aluno dos jesuítas, que trabalhou inicialmente em Mariana, Minas Gerais, e depois se fixou em Guara pari , restaurando então a igreja. Nessa época, porém, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus já ex istia; havia sido aprovada e estava sendo disseminada. Um dos capítulos do novo livro que ultimamente publiquei - uma coletânea de trabalhos - contém um estudo sobre tal igreja. Ta mbém está lá o discurso que pronunciei por ocas ião do centenário da mesma. A igreja é dedicada à Assunção de Nossa Senhora. Eu concluí que foi esse cônego Antonio de Sique ira Quental quem introd uziu a imagem do Coração de Jesus quando restaurou o ed ificio sacro. Em princípios do século XX, um belga que esteve no Espírito Santo faze ndo pesquisas, ouvindo pessoas, vendo os símbo los na capela, acho u que teria sido o Pe. Anchi eta que os co locara lá, desde o princípio. Em 19 12, inclusive, introduziram na igreja uma imagem vinda da França, belíssima. Junto dessa imagem hav ia uma inscrição. Numa última reforma ela desapareceu . Anchieta era grande devoto do Coração de Jesus. Ele escreveu versos sobre o Coração de Jesus: "a lança que abriu-lhe o peito ... ". Ele eslava já se antecipando nessa devoção. Ele a tinha, mas não a incu lcava publicamente porque não estava ainda aprovada. Catolicismo - Qual teria sido o milagre aceito para a beatificação de Anchieta em 1980?
Pe. Viotti - Ele fo i beatificado com outros quatro Servos de Deus, todos eles tendo trabalhado na América: Canadá, Estados Unidos e Brasil. O Pe. Anchieta e estes outros não tiveram a necessidade do reconheci mento oficia l de milagres recentes, porque já havia em torno deles a fama dos milagres e uma continuidade em sua veneração e invocação por um longo período. E bastou isso para a beatificação. Entretanto, tinha havido aqui em São Paulo um milagre muito grande: a cura total de um câncer generalizado de um empresário que possuía fáb rica
em São José dos Campos, e relacionado com fa mílias ilustres, inclusive com o médico que cuidava do Ca rdea l de São Paulo. Sua fa mília, muito piedosa, conseguiu que o doente, Sr. Dante Manacorda, fosse levado ao Páteo do Colégio onde, na torre, estava a principal relíquia de Anchieta, que é um fê mur seu. E D. Ernesto de Paula, então presente, depois das orações deu a bênção com a relíqui a. O doente deveri a apresentar-se ao Hospital do Câ ncer. Levou então as radiografias ti radas depois, e não apareceu mais nada. "Então ? Como é isso? Não pode ser!". Tiraram outra: nada! Ficara inteiramente curado! Isso ocorreu há vári os anos, antes da beatificação. Mas acontece que nossos postul adores não fo ram fe li zes em conseguir as provas, as radiografi as, dec laração de médicos, etc. Os médi cos tiraram o corpo. Então, não fo i possível apresentar esse milagre que era perfe ito e poderi a ter sido aceito já antes. Agora , por exempl o, temos um outro mil agre que va i ser apresentado para a canonização. Trata-se de uma menina que nasceu sem o osso do ca lcanhar. In voca ram Anchieta e, dois ou três di as depois, o osso se constituiu . Isso já faz algum tempo; portanto, o milagre não é tão recente. A pessoa agora é médi ca. Mas o mil ag re foi encaminhado. Catolicismo - Como está o processo de canonização de Anchieta? Como nós, brasileiros, poderíamos contribuir para o progresso dessa causa? Pe. Viotti - O processo está sendo levado avante
com grande interesse por parte da Companhia de Jesus. O Postulador Geral das Causas dos Servos de Deus, da Companhia, Pe. Paul o Molinari , está interessadíss imo no caso. Esse segundo milagre está sendo investigado e parece que vem causando muito boa im pressão. É bem possível que seja aceito pela comi ssão de médicos, com os juramentos de vá ri as pessoas os pais desta menina, hoje médica , estão vi vos - que já deram seu testemunho. Então te remos a ca noni zação. Eu tenho espera nça de ass isti -la. Catolicismo - Há algum outro aspecto pouco conhecido desse Taumaturgo que V. Revma. gostaria de ressaltar para os leitores de Catolicismo? Pe. Viotti - Bem, eu já escrev i uma bi ografi a do
Pe. Anchieta, e tive para isso a felicidade de receber uma documentação prec ios íss ima reco lhida na Europa pelo Pe. Frota Gentil. E ti ve que completar tal documentação.
São José de Anchieta - Anônimo. Museu Paulista.
"El'a grnmle (le110to cio Cornção de Jesus. Ele eSCl'C11eu os 11el'SOS a l'espeito: 'a lança que alJl'Íll-lhe o peito .. . '. Estava já se anteci1Jamlo nessa de11oção "
Em 1957 fui a Roma, favo recido pelo Embaixador Macedo Soares, que tinha criado um serviço de pesquisas hi stóricas nas capitais da Europa. Lá encontrei um doc umento que há muito tempo procura va: um processo va lios íss imo, de 16 19, na Bahi a. Eu o encontrei no Arqui vo Históri co do Vaticano! Primeiro procurei o Servi ço da Causa dos Sa ntos. E ali o Arcebi spo mostrou que a referid a documentação não estava lá. E recomendou que eu a proc urasse no Vatica no, onde já me haviam dito que ta l documento não ex istia . Mas, com a recomendação daquele Prelado, me fa cultara m a consulta do fi chário, e eu o encontrei imediatamente! Não o ori ginal, mas a tradução latina desse processo onde dez jesuítas - Pe. Cardim e outros importa ntes, provinciais, etc. - prestam seu testemunho sobre Anchi eta. Bom, diante di sso minha impressão é de que não há qualquer dúvida de que Anchieta será canonizado. Inclusive o Sr. Núncio deixou aí uma indicaçãozinha de que é poss ível que a canonização se efeti ve no ano 2000. Espero que Deus me dê vida até lá. Catolicismo - Isso nós também lhe desejamos. Muito obrigado, Pe. Viotti, por sua amabilidade e deferência para com Catolicismo. •
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DESTA UE
São José de Anchieta, Apóstolo do Brasil, rogai por nós! D esde a missão de evangelizar, civrnzar e instruir os indígenas da Terra de Santa Cruz até a vocação de cruzado colaborando heroicamente para a expulsão dos hereges que invadiram nossas terras-, Anchieta foi um dos principais forjadores da unidade nacional
ll1 PAULO ROBERTO CAMPOS
eatificado por João Paulo II em junho de 1980, Anchieta fo i canonizado no dia 3 de abril último pelo Papa F ranc isco. Mas j á nos idos de l 736 C lemente XlI fizera a proclamação da hero icidade de suas virtudes, tornandose desde então comum recorrer à intercessão desse Veneráve l fil ho espi ritual de Santo Inácio de Loyo la, que mereceu o cognome de Apóstolo do Brasil. A esse títul o ele será particul armente atento às preces que nós brasileiros lhe dirigirmos - ta nto para as nossas necess idades individuais quanto para as da Terra de Sa nta Cruz. A respeito das delongas e dos obstác ul os para se chega r à tão esperada canonização de Anchieta, escreve o Pe. Armando Cardoso, S .J : "Seu processo
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de beatificação, começado cinco anos ap enas após sua morte, e interromp ido várias vezes por diversas circunstâncias históricas, se estendeu até 1736, em que o Papa Clemente XJJ deu o 'Decreto das Virtudes em Grau Heroico Praticadas pelo Venerável Servo de Deus o Padre José de Anchieta, Sacerdote Professo da Companhia de Jesus'. Retomado para exame dos milagres, fo i largado
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por mais de 120 anos por ocasião da perseguição à Companhia de Jesus, sua supressão, restituição e volta ao Brasil (1757-1 877) ". 1 Fundador <la ci<lade de São Paulo, um "Bandefrante da fi'é" Também cognominado "Apóstolo do Novo Mundo " e "São Francisco Xavier da América", José de Anchieta nasceu há 480 anos, no dia 19 de março de 1534, em São Cristóvão de La Laguna, Tenerife (Arquipélago das Canárias). Descendente de nobres espanhóis, iniciou seus estudos un iversitári os em Co imbra no ano de 1548, e três anos depois ingressou na Companhi a de Jesus. Com apenas 19 anos, enquanto novi ço jesuíta, embarcou como missionário para o B rasil , aportando na Bahia de Todos os Santos (Sa lvador) em 13 de julho de 1553 , com o governador-gera l Duarte da Costa. Pouco depo is, partiu para seu princ ipa l destino: São Vi cente, no li to ra l pa uli sta , e ntão sede da capi ta ni a de Martim Afo nso de Sousa. Seu ze lo pe la sa lvação das a lmas le vo u o j o ve m Anchi eta a ga lga r os 900 metros da esca rpada Serra do Mar para chegar ao pl analto de Piratininga . Aco mpa nh ara m-n o nesta empre itada
A Fundação de São Paulo Oscar Pereira da Silva (1865-1939)
12 jesuítas, que se estabeleceram sobre uma colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú. Também vinham junto 20 "curumins" - indiozinhos que haviam descido para São Vicente a fim de estudar na escola dos missionários. Não se trata de narrar aqui toda a empolgante epopeia desse santo missionário, nem os numerosos milagres por
ele operados em terras brasílicas, pois disso Catolicismo já se ocupou em edições passadas. Mas dentre os abundantes fatos épicos de sua vida merece especial destaque um: em 25 de janeiro de 1554, o jovem jesuíta, juntamente com o Pe. Manoel da Nóbrega, fundou a Vila de Piratininga, tendo como ponto de pa1tida o atual Pátio do Colégio, berço da capital paulista. Naquele dia, o ato de fundação da cidade foi a primeira Missa celebrada no rústico e provisório "Colégio São Paulo". Tal foi o papel do Apóstolo do Brasil, como incansável "Bandeirante da Fé", na fundação da cidade de São Paulo, que alguns autores afirmam que a atual megalópole bem poderia chamarse "Cidade de Anchieta".
"Ide por todo o mundo e prngai o Evangelho a toda criatura" Pela grandeza da obra do recém canonizado santo, salta aos olhos o quanto é injusta e cruel a crítica que a nova
missiologia indigenista - levada a cabo por sacerdotes progressistas alinhados à "Teologia da Libertação" - lança contra Anchieta devido à sua catequese dos índios. Sendo batizados e civilizados, estes só lucraram , tanto espiritual quanto materialmente, pois se viram livres de práticas pagãs, de contínuas batalhas entre tribos, e de muitos vícios, como a bebedeira, o infanticídio, a feitiçaria, o canibalismo etc. Entretanto, os tais neomissionários pregam o retorno dos silvícolas aos seus antigos vícios, ao primitivismo tribal... Pregação bem oposta à gloriosa missão de Anchieta, que admiravelmente seguiu o divino mandado de Nosso Senhor: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e.for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas " (Me 16, 15-17).
'ít pedrn J)J'CCÍOSa é o Padre Anchieta" O zelo apostólico de Anchieta, "Ad Majorem Dei Gloriam " (fazer tudo para a maior glória de Deus - lema dos Jesuítas), não se restringiu ao planalto paulista. Seu ardor pela conquista das almas e estabelecimento da civilização cristã em nossas terras levou-o a percorrer enormes distâncias e boa parte do litoral brasileiro. Para esse infatigável apostolado junto aos silvícolas, Anchieta redigiu, em menos de dois anos, a Gramática da língua mais usada na costa do Brasil - "a melhor de todas as que se escreveram nos tempos coloniais e a que mais corresponde às exigências cientificas modernas ", segundo o Pe. Hélio Abranches Viotti, S.J. 2 Entre outras obras, Anchieta escreveu os Diálogos da Fé em língua tupi, que passou a ser usado em São Vicente desde 1557. Compôs diversos poemas, canções, sermões e peças teatrais para ensinamento dos índios; redigiu também algumas instruções catequéticas sobre o batismo, a assistência aos silvícolas em perigo de morte e o sacramento da confissão.
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O Pe. Nóbrega abençoando Estácio de Sá e suas tropas, que partiam para reconquistar Guanabara e fundar a cidade do Rio de Janeiro. Ajoelhado, São José de Anchieta.
Crnza<la /Jrasileil'a contra os i1111asores <lo Rio <le .Ja11eil'o
Sintetica mente, para se ter uma certa noção do vulto gra ndi oso desse giga nte da fé, basta lembrar o que dele afirmou o segundo bispo do Brasil , Dom Pedro Leitão, o qual lhe hav ia conferid o o sacra mento da Ordem : "A Companhia de Jesus no Brasil é um anel de ouro e a pedra preciosa dele é o Padre Anchieta". 3 Ou ainda o que escreveu o jes uíta Simão de Vasconcelos ( 1596- 1671 ), um dos primeiros biógrafos de Anchieta: "Um José na castidade, um Abrac7o na obediência, um Moisés nos segredos do Céu, um Job na paciência, um Elias no zelo e um David na humildade. Um portento de maravilhas e um assombro do mundo". 4
Além do título de fundador de São Paul o, o Pe. Anchi eta mereceu também , juntamente com o Pe. Manoel da Nóbrega, o de co-fundador do Ri o de Janeiro. Vejamos. Ni co la Durand de Villegaignon ( 15 10-1 57 1), e outros invaso res franceses protestantes, chegara m à baía de Guanabara em 1555, construíram o Forte de Co li gny na ilha de Seregipe (como a chamava m os Tamoios - hoje ilha de Villegaignon) e impl antara m ali um a co lônia que, muito jactanciosamente, denomin aram "França Antártica". Mas fora m expul sos da ilh a pela esq uad ra env iada pelo governador-gera l Mem de Sá ( 1500- 1572). Entretanto, os sectári os de Lutero retiram-se para terra firme,
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insli garam os índios Tamoios contra os portugueses e retornaram mais ta rde as anti gas pos ições. Os intrusos, amoti nando os Tamoios, desejavam implantar a heresia ca lvinista na Terra de San ta Cruz. Nóbrega e Anchieta logo perceberam a grav idade do perigo e insistira m junto à Corte de Lisboa para que envi asse novas fo rças. Ao mes mo tempo, multipli cara m os contatos com os chefes indígenas aliados e incenti varam a fab ri cação de armas e embarcações, somando esforços junto ao governador-gera l, que - como regislrou Anchi eta em sua obra Feitos de Mem de Sá - "prepara uma esquadra para expulsá-los das terras mal havidas: equipa com armas luzentes muitas naus e as enche de escolhidos soldados". 5 O grande mi ss ionário e taumaturgo tornou-se o este io moral em que se apo iavam as espera nças de todos. Fo i Anchieta quem, durante o estratégico ano de 1565 , soube manter in aba láve l o espírito combativo contra o herege invasor, sem o qual os intrusos não teriam saído do Ri o de Janeiro, ameaça ndo, ass im, dividir a nação brasileira. Vindo da Bahia em socorro de seu sobrinho Estácio de Sá, o governadorgera l, Mem de Sá, derrotou defi nitiva-
mente os invasores franceses em 20 de janeiro de 1567, dia de São Sebastião. A vitória, entretanto, custou a vida do jovem e bravo Estácio - que veio a falecer santamente um mês após a vitória, em consequência de uma flecha envenenada. Essa vitória contra os inimi gos da fé católica fo i marco da fund ação de São Sebastião do Ri o de Janeiro. Fundada pelo fidalgo Mem de Sá, mas para a qual Anchieta tanto hav ia co laborado, por exe mpl o, estimul ando os indígenas à defesa da cidade, entre os qu ais se destaco u o valente índio Ararigboia (da tribo dos terrnirninós), batizado com o nome de Martim Afonso. Essa heroica reação de portugueses e nativos contra os ca lvini stas franceses poderi a ser des ignada corn o a primeira cruzada brasileira para a ex pul são dos protestantes que pretendera m dominar o Ri o de Janeiro e, a partir daí , apoderarem-se da nação. Calltol' e /JOCla <la
Sa11tíssima Virgem Maria A devoção do Pe. Anchieta a Nossa Se nh ora é ci os traços qu e mais o di stin guiam . Urna prova sali ente disso (C ontinua na p.22 )
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Discurso de Plinio Corrêa de Oliveira na Assembleia Constituinte de 1934, por ocasião da passagem dos 400 anos do nascimento de Anchieta. Em 19 de março de 1934 a Assembleia Constituinte estava em plena atividade . Jovem deputado de 24 anos, eleito pela Liga Eleitoral Católica, Plínio Corrêa de Oliveira encaminhou à votação do plenário uma moção especial em homenagem ao Apóstolo do Brasil. Em sessão realizada nesse mesmo dia, o líder católico paulista proferiu caloroso discurso em louvor de Anchieta , que reproduzimos a seguir. [Transcri ção dos anais da Assemble ia N acional Constituinte, vol. 15, pp. 51 6 a 5 19]
Reguerimento nº 1 - Refl etindo o sentimento unânime da população pauli sta, que reconhecendo embora em Anchieta um moti vo de legítima ufa ni a para todo o Brasil, sente-se, no entanto, ligado a ele de um modo particul ar pelo g lori oso papel que teve na fund ação de São Paulo; • Con s id erando qu e, no di a 19 de março, o po vo brasil eiro, justame nte empo lgado, co memorará o l V Cente nári o A nc hi etano com ce le brações entu siásticas, a lta mente ex press ivas da admi ração que vota ao Apósto lo do Novo Mundo ;
• Co ns iderand o qu e a Asse mbl e ia Consti tuinte, por sua vez, não pode deixa r de render o preito de sua admiração aos méritos e servi ços do Padre José de Anchieta, que estão inde leve lmente inscri tos na gratidão de todos os corações brasil e iros: • R equere mos que, na A ta dos tra ba lhos de hoj e, a Assembleia Constituinte consigne o profund o reconhec imento da N ação Brasile ira àque le que lhe dedicou todos os tesouros de sua virtude in vencí vel e de seu engenho fec undo, e levando nossa Hi stória, logo nas suas primeiras páginas, a um grau de beleza que nenhuma outra nação, mesmo entre as mais famosas e antigas, se pode gabar de haver superado.
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Plinio Corrêa de Oliveira, Alcâ ntara M ac hado, C inci nato Braga, José Carl os de Macedo Soares, Osca r Rodri gues Al ves, T h. Monteiro de B arros F ilho, Roberto Simonsen, Almeida Camargo, A.C. Pacheco e Sil va, Ranulpho P inheiro L ima, Alexandre Siciliano Jr. , Carlota de Q ueiroz, M. Whantell y, Henrique Bayma, Cardoso de Mello N eto, A. Hippolyto do Rego, Abre u Sodré, José UIpiano, Barros Penteado, A. Moraes A nd rade . - O Sr. Plinio Corrêa de O li ve ira - Peço a palavra. - O Sr. Presidente - Tem a pa lavra, para encaminhar a votação o nobre Deputado. - O Sr. Plinio Corrêa de O live ira (Para encaminhar a votação) lê o seguin te di scurso: Sr. Pres idente. Tendo e u recebido, da bancada a que me honro de perte ncer, a incum bênc ia de, em breves palavras, para encaminhar a votação, sa lientar, perante esta Augusta Assembleia, a oportunidade e a inte ira p rocedênc ia de uma homenagem especial a A nchi eta, assa ltou- me a persuasão angustiante da inv iabilidade da tarefa para que fo ra destacado. Realmente, louva r v irtudes às quais o povo bras ile iro vota uma admi ração que j á hoj e a lca nçou o seu a pogeu; engrandecer fe itos que tê m em si mesmos, e nos resul tados que produzira m, a maior das glorificações, de tal fo rma que se to rna fraca a voz da ma ior eloquência, diante de fatos que elevam seu louvo r acima de qua lquer elogio; não será isto te meridade, princ ipa lmente no seio de uma Assembleia em que tantos espíri tos de esco l já têm apli cado seu talento em ce lebra r A nchieta em obras de um va lor incontestável? E, invo luntariamente, afl orou-me ao espírito a pergunta que o Apóstolo do N ovo Mundo co locou na introdução do poema que escreveu na areia bra nca do li tora l pauli sta:
Anchieta - pintura de Benedi•o Calixto
• Considerando que, a essas comemorações, j á se associou o Governo Provisóri o, decl ara ndo feriado nacional o dia 19 de março próximo;
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Sala das Sessões, 1 7 de março de 1934
"Eloquar? an sileam sanctissima Mater l esu? "
hinos de guerra celebraram seu triunfo e nem as armaduras foram seu paramento. - O Sr. Arruda Falcão - O vulto insigne de Anchieta se renova cada vez maior em todas as etapas de nossa história. - O Sr. Plinio Corrêa de Oliveira - Serviu-lhe de traje a túnica branca de sua inocência imaculada. Constitui-lhe o cortejo pacífico uma raça que arrancara da vida selvagem , e defendera contra o cativeiro, e uma Nação inteira, que ajudara a construir para a maior glória de Deus, abrandando o rancor dos homens e das feras, na realização da promessa evangélica: "Bem-aventurados os
mansos, porque possuirão a Terra ".
Ele soube encontrar acentos próprios para louvar a mais elevada das criaturas, Aquela que, cantada pelos profetas já antes de seu nascimento, viu-se chamar bem-aventurada por todas as gerações que lhe sucederam. Deverei também eu procurar palavras novas para celebrar aquele que, na grandeza de suas virtudes e na força de seu gênio, parece uma bênção viva d ' Aquela a quem , com tanto amor, ele cantou? Não, o louvor só é necessário quando o esquecimento começa a cobrir com seu musgo uma memória gloriosa, ou quando a calúnia cobre de lama uma reputação imaculada. Nem o esquecimento nem a calúnia empanam o brilho da glória de Anchieta, que é hoje o sol que fulgura no zênite da História Brasileira. Seu vulto se ergue nas cabeceiras de nossa História, presidindo à formação da nacionalidade, com seu vigor de herói , e com sua virtude de santo. As figuras congêneres, que vemos na nascente de um grande número de nações famosas , brilham em geral , num ardor agressivo de heróis se lvagens e implacáveis, conquistando a celebridade ora em guerras justas, ora em inqualificáveis rapinas. Sua existência é discutida, e suas grandezas são fantasias tecidas pelo orgulho nacionalista, que se dissipam inteiramente pelo estudo imparcial da História. E isto desde Rômulo até Guilherme Tel1. Anchieta, pelo contrário, entrou para a História em um carro de triunfo que não era puxado por prisioneiros e vencidos, e nem a dor figurou no seu cortejo, nem os
Mas eu disse mal, Sr. Presidente, quando afirmei que a dor não figurara no seu cortejo triunfal: era ela o nimbo que o aureolava. Era a dor cristã do pelicano, que enche de amargura ao mártir e ao Santo, mas banha em suavidade quantos dele se acercam. Ele passara sua vida a distribuir rosas ... E os espinhos, guardara-os para si , nas labutas do apostolado. Em Anchieta, "vas electionis ", brotara uma flor de virtude, e esta flor, ele a semeou por todo o Brasil: é a mansidão suave ligada à energia serena mas inexorável, que é o eixo de nossa alma. Em seu livro sobre Anchieta, refere Celso Vieira, na Ilha das Canárias há um monte de cujo cume o excursionista pode contemplar, graças a um curioso fenômeno visual , sua figura , projetada em sete cores sobre o céu, numa visão magnífica de glória. Anchieta é vulto culminante de nossa História. E o fenômeno visual que Celso Vieira descreve outra coisa não é senão o símbolo grandioso do seu destino, e da Nação que haveria de fundar. No momento presente, o Brasil atingiu, no seu roteiro histórico, uma culminância de onde se divisam, ao mesmo tempo, sendas tortuosas que conduzem para vales sombrios e caminhos luminosos para novas escaladas. Convém, pois, que, nesta hora de tremendas responsabilidades, retemperemos a fibra na contemplação reconhecida, do maior vulto de nosso passado, e que, desviando nossos olhares dos abismos que nos solicitam, olhemos para o alto num gesto de confiança em Deus, antevendo, projetada em sete cores sobre o céu do futuro , a nossa Pátria engrandecida pela plena realização de sua missão histórica providencial (Muito bem ; muito bem. Palmas. O orador é cumprimentado). Em seguida, é aprovado o requerimento número 1, do Sr. Plínio Corrêa de Oliveira e outros (Anais da Assembl eia Nacional Constituinte, vol. 15, pp. 51 6 a 519).
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se deu durante seu cativeiro entre os índios Tamoios, em lpero ig (Ubatuba), quando co mpôs o cé lebre Poema da Virgem (De Beata Virgin e Matre Dei Maria) , certamente a primeira gra nde obra literári a em honra da Santíss ima Virgem escri ta em terras da América. Com seu bordão, o indômito mi ssionário jesuíta escreveu sobre a areia da praia, em latim clássico, o poema de quase se is mil versos, no qu al ele ca nta a hi stória da Mãe de Deus desde sua Conce ição Imac ul ada até sua glori osa Coroação no Céu. Nesse fa buloso poema, além de sua robusta inteli gência e cultura, o sa nto autor se reve la um precursor dos dogmas da Imacul ada Conce ição e da Assunção. Após 44 anos de contínuo labor apostólico, o agora canoni zado Pe. José de Anchieta - que em vicia já era considerado gra nde sa nto - , prev iu o dia de sua morte. Despediu-se na véspera de seus próx imos, e no di a 9 de junho de 1597 entregou sua bela alma a Deus, aos 63 anos de idade, na aldeia do Reritiba, hoje cidade de Anchieta (ES). Entre os índi os, foi gera l a lamentação e tristeza pela morte daq uele que lh es dedi cara toda a sua ex istência. Hoje o Brasil inteiro venera esse ful gurante mi ssionário qu e profetica mente, na ac im a citada obra, anunciara: "A nação que se ceva agora em carnes humanas, a terra em que sopra o Sul, conhecerá o Teu nome e ao mundo austral advirão os séculos de ouro, quando as gentes brasí/icas observarem a Tua doutrina "6 - a divina doutrina de Nosso Senhor Jesus Cri sto, pela qual o Apóstolo do Brasil viveu e morreu hero icamente.
"Primeiro rebento ele santidade de uma grane/e nação" Em homenagem a este "Bandeirante da Fé Cató li ca", a quem todos os brasil eiros tanto ad miram e devem, reproduzimos às pág inas 20-2 1 um di scurso profe rido por Plínio Corrêa de Oliveira na Assembleia Co nstituinte de 1934, por ocas ião da passagem dos 400 anos do nasc imento desse sa nto padroe iro da nação brasileira. A seguir, algum as palavras domes-
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reproduzirem-se em selvas brasileiras os mil agres do Poverel!o de Assis, que, com sua simples presença, amansava ferase atraía ?S passarinhos, nas florestas l densas da Umbria." mo autor, publicadas em "O Século", do Ri o de Janeiro, em 4-9-1932: "Se pud ésse mos reco rrer a uma comparação profa na, para dar a ideia da importância de Anchieta em nossa hi stóri a, diríamos que ele foi para o Brasil o que Li curgo foi para Esparta e Rômul o para Roma . Isto é, um desses heróis fab ulosos que se encontram nas origens de algumas grandes nacionalidades, a leva ntar os primeiros muros, edificar os primeiros edifícios e orga ni za r as primeiras instituições. "S ua figura, de um a rutil ante beleza mora l, se ergue nas nascentes da nação brasileira , a co nstruir se u prim eiro hospital e seu primeiro grupo esco lar, e a redi gir, confiando-os às pra ias do oceano, os primeiros versos compostos em pl agas brasileiras. " O fundador de São Paul o foi , portanto, simultaneamente, nosso pri meiro mestre-esco la, nosso primeiro fund ador de obras pi as e o patriarca de nossa literatura , o mais antigo vulto da literatura brasileira, como o chamava Sílvio Romero. "E sobre esta tríplice coroa fulgura aind a o di adema de uma virtude que fez
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Almejando ardentemente a elevação do Pc. Anchieta à honra dos altares, assim conclui Plínio Corrêa de Oliveira o referido arti go, naqueles idos de 1932: "Seu processo de canoni zação está confiado ao juízo soberano da Santa Igreja. E todas as razões nos levam a crer que Deus ouvirá as orações que lhe fo rem diri gidas por intermédi o de Anchieta, fac ilitando assim a causa de sua ca noni zação, para erguer sobre seus altares um grande santo, primeiro rebento de santidade de uma grande nação". • E-mail para o autor: catoli cismo@terra.com. br Notas: 1. Pe. Armando ardoso, S..I ., O Bem-aventurado
Anchiela, Edições Loyo la, São Paulo, 199 1, p.
2.
68. fr. Pe. Héli o Abranches Vioui , S..I ., José de
Anchieta, Tenenge, ão Paulo, 1987, p. 24. 3. Celso Viera , Anchieta, Pimenta e Mel lo & Cia,
Rio de Janeiro, 1929, p. 175 . 4. Pe. Simão de Vasconcelos, A Vida do Venerável Pe . .José de Ancliieta, Lello & Irmãos, Editores,
Porto, 1953 , p. 90. 5. Pe. Joseph de Anchieta, De Geslis Mendi de Saa praesidis in Brasil/ia, Obras completas, 3" ed., 1° vo l. p. 195. 6. Idem, ibidem, p. 229.
1NTERNACIONAL
Eleitorado húngaro aprova orientação Conservadora , C ARLOS EDUARDO SCHAFFER
Correspondente em Viena
as e leições parlamentares na Hungria, em 6 de abril , o partido Fidesz (Fiatal Demola-aták Szovetsége - Aliança de Jovens Democratas), sob a liderança do Primeiro-ministro Viktor Orbán, garantiu para si, com folgada margem, mais quatro anos de governo. Conqui stou 44,54%, dos votos. A aliança das esquerdas (MSZP-EGYÜTTDK-PM-MLP) obteve apenas 25,99%. O partido Jobbik (Jobb ik Magyarországért Mozgalom - Movimento por um a Hungria Melhor) obteve 20,54% dos votos e o Partido Liberal LMP, de linha eco logista, 5,26%. Pequenos partidos que não consegui ram mandatos tota li zaram 3,67% dos votos . E ntretanto, quanto ao número de cadeiras no Parlamento, por uma recente modificação na lei ele itora l, a situação de Fidesz é ainda melhor: ele fica com 133 cadeiras (66,83%), o Jobbik com 38 ( 19,10%), e o conj unto das esquerdas com 28 (14,07%). 1 O partido Jobbik tem fo rtes traços fasc istas, como racismo, xenofobia, anti-semiti smo, uso de uniformes de tipo fascista em manifestações públicas e ostentação de força , chega ndo mesmo a usá-la, especia lmente contra os c iga nos (8% da população), considerados indesejáveis. Em 1998, com 29,48% dos votos, o Fidesz ganhou se u primeiro mandato em coa li zão com o MDF (Magyar Demokrata Fórum - Foro Democrático Húngaro fo rmado por pequenos proprietários). Nas eleições de 2002 e 2006 perdeu para os socia li stas por pequena margem de votos, mas em 201 O obteve brilhante vitória com 52,73%.
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defendido a E uropa de seus inimi gos e co laborado para o seu desenvolvimento; protege a vida desde a concepção até a morte natura l; define a famí li a como sendo a uni ão consentida de um homem e uma mulher baseada nos conceitos de fé, fidelidade e amor; encoraja a fo rm ação da prole; declara inválida a constitu ição comu ni sta de J 949; louva o levante anticomunista de 1956. A nova Constitui ção denuncia a decadência mora l de nosso sécu lo e afirma a necessidade de uma renovação moral e intelectual ; estabe lece como elementos constitutivos do brasão da Hungria, entre outros, um escudo com uma cruz patriarcal no lado direito, tendo na base uma pequena coroa e o todo encimado pela coroa de Santo Estêvão, sempre cha mada de A Santa Coroa; estabe lece como fer iados naciona is, entre outros, a festa do santo em 20 de agosto e a comemoração do levante anticomun ista de l 956, em 23 de outubro ; fixa como moeda naciona l o Fori nt, evitando assim que a Hungria entre algum dia na zona do Euro (o que dificilmente poderá ser alterado, pois não se vê qualquer possibilidade de algum partido de esq uerda consegu ir a necessária maioria de dois terços para
A nova Constituição F idesz conseguiu, em 25 de abril de 20 11 , com a necessária maioria de dois terços dos deputados, ap rovar modificações na Constitu ição, dando-lhe um caráter nitidame nte cristã.o. O novo texto constituciona l reconhece em Santo Estêvão (969- J 038) o fundador da nação enquanto reino cató li co integrado na E uropa Cristã e o papel do Cristianismo na preservação do país; afirma que a coroa de Santo Estêvão é o símbo lo nacional e da unidade pátria; orgu lha-se de ter
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Fa lando no dia 9 de outubro de 20 13 em Londres, na Chatham House,4 sede do Instituto Real de Assuntos Internacionais, um think tank britânico, ele tratou mais de problemas econôm icos:
"Mas acho que o que está acontecendo na Europa agora, é um ataque vermelho e verde absolutamente aberto contra os valores tradicionais: contra a Igreja, contra a família, contra a nação. Claro que aceitamos que há um espaço para debater questões sobre o futuro do Cristianismo e da Igreja, mas permita-me citar um autor inglês: 'podemos ter dúvidas até mesmo básicas sobre o .fúturo do Cristianismo, mas eu tenho certeza de que matá-lo não é a tare.fà dos políticos'. Especialmente porque, em nosso entendimento, a democracia na Europa é uma democracia com base no Cristianismo. A raiz antropológica de nossas instituições políticas é imago Dei (à imagem de Deus), o que exige um respeito absoluto ao ser humano ".
Um exemplo a ser seguido
modificar os parágrafos desta Constitui ção); estabelece a livre iniciativa como base do sistema econômi co; defende o direito de propriedade e de herança; afirma que desapropriações só podem ser fe itas em casos excepciona is definidos por lei e com total e imediata indeni zação; afirma o direito dos pais de determinarem o modo de educar seus filhos. Contudo, em alguns pontos ela é falha. Por exemplo, quando se refere ao dever de proteger a natureza e seus recursos, não estabelece, pelo menos em princípios gerais, o que por isso se entende, dando assim ao movimento "ecoterrorista" oportunidade de prejudicar os direitos dos proprietários, segundo a definição do Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança. 2
Declarações de Viktor Ol'bán O Primeiro-ministro Viktor Orbán tem pronunciado em diversas ocasiões discursos de caráter bem conservador, o que o torna muito popular. Em 20 de novembro de 2012, durante uma conferência em Madrid por ocas ião do XIV Congresso de Católicos na Vida Pública3, disse. "A Europa deve retornar ao cristianis-
mo para que seja possível uma regeneração econômica[. ..] A crescente crise econômica na Europa tem sua origem no campo espiritual, não na ordem econômica ". Para resolver esta crise, e le propôs "uma renovação da cultura e da política baseada em valores cristãos para salvar a Europa do colapso econômico, moral e social. "
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Como seria bom para o Brasil se um governo pudesse seguir o exemp lo de Yiktor Orbán e de Fidesz nos pontos acima menc ionados! Mas é preciso ver que nem tudo na Hungria vai tão bem como as palavras de seu primeiro-ministro poderiam levar a imaginar. É opinião corrente de que ainda há muita desonestidade da parte de empresários e membros do partido de quem o governo depende. Embora a Constitu ição proteja o direito à vida dos nascituros, há muitos abortos porque a legislação ord inária ainda não fo i adaptada ao texto constituciona l. Boa parte dos juízes das cortes superiores ainda vem dos tempos do regime comuni sta e resiste às mudanças. Viktor Orbán tentou desvencilhar-se deles reduzindo a idade de aposentadoria, mas teve que voltar atrás por pressão da União E uropeia. Como logo depois da queda da Cortina de Ferro o preço das propriedades rurais era muito baixo, europeus ocidenta is compraram grandes extensões de terras, alguns para explorálas, outros a título especul ativo. Muitas dessas terras foram recentemente desapropriadas sob o pretexto de devolvê-las aos húngaros . Esta medida foi muito criticada, tanto interna quanto externamente. C ritica-se também um certo control e exerc ido sobre a imprensa. É de se desejar que neste novo período legis lativo as coisas melhorem. Acompan hemos com atenção os acontecimentos. • E-ma il para o autor: catolicismo@terra .com.br Notas: 1. Dados oficias do Departamento N ac ional de Ele ições, órgão do governo : http://www.valasztas. hu/en/ogyv2014/4 16/4 16_ 0_ index .hlml 2. Psicose Ambientalista - Os bastidores do ecoterrori.1·1110 para implantar uma "religião" ecológica, igualitária e anticristci, Dom Bertrand de Orlea ns e Bragança . 3. http://www.li fesitenews.com/news/abandonment-of-christ ian-principlesled-lo-e uropes-econom ic-cris is-hunga ria 4. http://www.chathamhouse.org/s ites/de fa ult/fi les/publ ic/ Meelings/Meeling%20Transcripts/09 IOl 3Orban.pdf
Que pensar dos bailes? "Uma observação a respeito dos bailes. É de toda a evidência, e até uma banalidade, que dançar não constitui , em si, um mal , mas que as circunstâncias que podem existir concretamente fazem, em geral, da dança um mal bastante grave. "Fala-se tanto - e com quanta razão! - da doçura de São Francisco de Sales. O conselho que o santo Doutor dá a respeito de danças é concludente, e mostra como lhe pareci am perigosas as danças de seu tempo: 'Falo-vos dos
bailes, Filotea, como os métlicos falam dos cogumelos; os melhores de nada valem, ,lizem eles; e eu vos digo que OS MELHORES BAILES NÃO SÃO BONS... Se por qualquer motivo de que não conseguirdes desculpar-vos, vos for necessário ir ao baile, velai por que vossa dança sejll tlecente. Dançlli pouco, e poucas vezes, pois que do contrário correreis o risco de vos afeiçollr às danças ... , e estlls recreações dissipam o espírito de devoção, tornam langorosas llSforças, tornllm tíbill ll caridade e despertmn na almll mil vllriedades de maus afetos; eis por que é necessário servir-se dellls com gramle prudência'. De
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que maneira d a nçar ? São ~ Francisco de Sa les o explica: ~
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"O que diria o Santo Doutor de certas danças modernas, como a 'conga ', em que os pares formam longos cordões pelo salão, segurando-se uns aos outros, gesticulando e gritando como crianças? Encontraria ele um mei o de se dançar 'com
decoro e dignülade' a 'conga', quando j á lhe parecia isto problemático quanto às danças suaves, artísticas e delicadas de seu tempo? - Certamente não. "Muitas pessoas entendem que, porque São Francisco de Sales autorizou, em tese, que se fosse a bailes, fazendo-o embora muito a contragosto e cheio de apreensão, se deve com a maior liberalidade estender a quem quer que seja esta autorização. Estas pessoas tomariam o cuidado de aconselhar aos que dançam que façam uso de certos pensamentos salutares durante a dança? E teriam a coragem de aconselhar os pensamentos que São Francisco de Sales menciona? Quais são eles? Diz o Santo:
'Penslli nas almlls que llrdem no inferno por CllUSll dlls fllltlls que cometerllm em bailes; penslli nos santos religiosos que, enquanto vos divertis, Cllntmn os louvores de Deus; penslli nos homens que no mesmo momento estão sofrendo ou morrendo; pensai em Nosso Senhor, em Nossa Senhora, nos anjos e santos que vos viram no baile, e que tiveram grande pena de ver vosso coração tlistraído com tão grande tolice e atento a uma tal sensaboria; penslli na morte que se aproxima zambando de vós, e que vos fllz sinal para que entreis na dança macabra onde os gemidos substituem o violino, e onde fareis vosso trânsito dll vidll à morte' " (Em Defesa da Ação Católica, Plínio Corrêa de Oliveira, Editora Ave Maria, São Paulo, 1943 , pp. 254-255). •
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DUQUE PAUL DE ÜLDENBURG
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o final desta matéria ficará claro que sem Nossa Senhora é impensável conceber uma vida conforme a vontade de Deus, e menos ainda o homem ser um autêntico católico. Portanto, sem Maria não há vida que mereça ser vivida, nem existe verdadeira militância católica. Dito ainda de modo mais claro, quem rejeita a Santa Mãe de Deus tornase facilmente presa de Satanás e instrumento da Revolução gnóstica e igualitária. Com essas palavras quase que se poderia dar por encerrado o presente artigo, pois está dito tudo de modo sintético. Mas sempre convém voltar ao tema da Santíssima Virgem, pois sabemos o quanto nossa relação com Ela é inconstante; quando não deveria ser assim, considerando-se sua importância para cada um de nós e para a Igreja Católica. São Luís Grignion de Montfort, um dos maiores devotos de Nossa Senhora, dizia:
"Só se pode encontrar Maria se Ela for conhecida, porque ninguém procura e deseja algo que não conhece". Uma "viagem" considerando aspectos da natureza Em consideração ao pensamento reproduzido acima desse grande apóstolo marial, gostaria de empreender com os leitores uma viagem para encontrar a Santíssima Virgem - viagem que Plínio Corrêa de Oliveira realizou em circunstâncias semelhantes há mais de oito décadas. Naquela época ele procurou também explicar a muitos jovens o papel de Nossa Senhora na criação e no plano de salvação divina, a fim de encorajá-los a se entregarem a Ela com toda a confiança. Lancemos para esse fim um rápido olhar sobre a natureza. Quando se considera um belo panorama ou uma bela perspectiva - a cidade alemã de Rottenburg ou a fortaleza de Maria em Würzburg, por exemplo - , ou quando se observa a mudança da luz e das cores ao longo de um dia, percebe-se que o belo e o esplêndido que se tem diante dos olhos apresentam-se o mais das vezes em meios tons que se revelam gradualmente. Tomemos um arco-íris. Sua beleza - como se patenteia na foto ao lado - provém da pluralidade de cores. Se olharmos mais detidamente, perceberemos que nenhuma das cores está isolada da que lhe é próxima. Há entre um e outro tom uma transição harmônica, não uma ruptura. E se considerarmos os dois extremos do arco-íris, unidos entre si pelos diversos entretons, veremos que Deus conduz o olhar humano de um extremo a outro através desses pequenos
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CATOLICISMO
entretons, os quais, mesmo tomados individualmente, são de si magníficos . Este concurso de incontáveis tonalidades de cores - que se encaixam umas nas outras e que resplandecem como conjunto - constitui propriamente a beleza do arco-íris. Isso pode-se observar também em inúmeras plantas. Considerem-se as pétalas de uma flor. Nelas encontramos o mesmo princípio da gradualidade, que é um dos mais belos princípios da natureza. Não há rupturas, não há saltos; existe uma harmonia entre os seres diferentes, entre as formas e as cores que se seguem umas às outras, conduzindo-nos de um extremo a outro. O ourives, por exemplo , segue este princípio quando produz um colar de pérolas. As pérolas vão se tornando cada vez maiores, até vir por último a maior e a mais bela de todas, que fecha o colar. Ele também leva em consideração que a diferença do tamanho das pérolas deve ser sempre a mesma. A diferenciação harmônica conduz da menor à maior. Ou da maior à menor. A beleza que daí decorre torna o colar mais valioso do que se ele fosse constituído com pérolas do mesmo tamanho, pois é muito mais dificil fazer uma coleção de pérolas que se adaptem de modo perfeito umas às outras. Esse é o princípio da gradualidade. Ele contém em si a ideia de que todas as coisas ordenadas entre si por diversos elementos gradualmente diferentes possuem um elemento máximo, um elemento grande, e muitos elementos
São Luls Grlgnlon de Montfort
menores. E na dependência do grande - em nosso caso a maior pérola do colar - ordena-se a beleza das demais pérolas.
Uma "viagem" a um universo superior ao nosso Lancemos agora um olhar sobre o universo dos seres intelectuais, que está acima do universo dos minerais, dos vegetais e dos animais. Também encontraremos, segundo a doutrina católica, o princípio da gradualidade, o princípio da hierarquia. Entre os seres espirituais situamse os homens e os anjos. Os anjos são por natureza superiores aos homens. O número de anjos é incrivelmente grande. Segundo Santo Tomás de Aquino, há mais anjos do que a soma de todos os homens que existiram, existem e existirão; eles podem ser divididos em nove categorias, mas dentro de cada categoria nenhum anjo é igual ao outro. Cada anjo tem um que lhe é superior e outro que lhe é inferior. Imaginemos, portanto, uma longa fila de seres espirituais cada vez mais brilhantes, mais fortes e mais perfeitos, cada vez mais
O Gênesls - A criação dos animais - Representação medieval.
próximos de Deus, até chegar aos Serafins, que contemplam a Deus face a face e entoam o Sanctus eternamente: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos Exércitos! Assim , há uma longa fileira que sobe de nós, pobres humanos, passando pelos anjos, até chegar a Deus. E agora consideremos os homens.
Co11siderações sobrn o "mini-universo" lmma110 O homem, entretanto, possui algo de especial. Uma espécie de mistura entre ser material e espiritual , pois é dotado de corpo e alma. Se olharmos o conjunto da criação, veremos então que existe uma longa sucessão, a qual vai desde o menor dos minerais - passando pelas plantas, pelos animais, pelos homens, pelos anjos - e termina em Deus. Quem se situa no alto dessa sucessão, dessa ordenação? Naturalmente os Serafins, pois eles são _os que se encontram mais próximos de Deus. Mas Deus realizou sua criação de modo mais subtil do que se poderia imaginar. É verdade que os Serafins são os seres naturalmente mais altos, mas também é verdade que o homem, pela união do corpo com a alma, possui uma perfeição própria, estupenda. O homem resume, por assim dizer, o Universo em si. O anjo é puro espírito. Nós, homens, unimos em nós todo o universo criado, pois possuímos espírito como os anjos e corpo como os animais. Temos também uma vida vegetativa como a das plantas e, em nossos corpos, matérias pertencentes ao reino dos minerais. O homem assemelha-se, portanto, a um mini-universo. Poderíamos dizer a um anjo, depois de lhe prestar as devidas reverências e honras, às quais ele tem direito : "Tu és maior do que eu, pois és um puro espírito. Mas, em certo sentido, eu sou maior do que tu, porque não sou apenas um puro espírito. " Não se trata aqui de um jogo de palavras, mas de um aspecto da realidade. Por que isso é importante? Se o que está nas Sagradas Escrituras é verdadeiro - e o é - , quando Deus criou o mundo, considerou no fim do sétimo dia o que havia criado nos dias anteriores e viu que cada coisa era boa, mas o conjunto era melhor do que as partes. Portanto, poderíamos dizer novamente aos anjos : "Vós sois incomparavelmente mais nobres do que nós no que diz
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respeito ao espírito. Porém, o conj unto da criação está mais bem representado em nós homens. " Este é um aspecto da rea lidade. E um as pecto muito importa nte. Ass im sendo, poderíamos im aginar as consequênc ias desta imensa di gnidade do homem.
Deus se encal'nou no seio /Jlll'ÍSsi1110 da Santíssima Virgem Segundo a lguns teó logos, a Encarnação do Verbo fo i revelada aos anj os antes mesmo da queda de Adão e Eva . E la se dari a, entretanto, num homem e não num anj o. E por que isso? Deus poderia ter di sposto as co isas de modo di ve rso, mas o homem representa me lh or o conjun to de toda a cri ação di vina. Unindo-se ao homem deste modo, Deus honra de modo espec ial todos os gra us da cri ação aos quais nos referimos acima. Por isso Deus se fez homem e habitou entre nós. E te ri a se to rn ado homem e habitado entre nós, segundo essa corrente teológica, ainda que o pecado original não tivesse sido cometido, a fi m de honrar dessa fo rma toda a cri ação. Sa ntos e Doutores da Igrej a narra m como toda a natureza se a legi·ou com o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cri sto, como tudo tomou um novo brilho: as estrelas brilhara m com mais ful gor do que antes, o ar se tornou mais pu ro, as fo ntes mais cri sta linas, as plantas vicejaram com novo vi gor e os animais gozaram de saúde mais pl ena. Os homens recuperaram sua esperança e algo de bom lhes tocou o mais fu ndo da a lma. Por quê? Porque ve io ao mund o Aquele que era Deus e que, unindo-se ao homem, uniu-se com o conjunto da criação - que va i desde o mais alto dos anj os até a menor de todas as criaturas. Consideremos a menor das pedras, o menor dos animais, e, sobretudo, o menor ou o maior de todos os homens; a respecti va natureza de cada um encontra-se em Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta natureza cri ada torna-se ass im unida de modo mí st ico a Deus, ao A ltíss imo no Céu, ao ocea no de g lória da Santíss ima Trindade. Temos então: Deus C ri ado r, o F ilho do Homem e todas as demais cri aturas.
CATOLICI SMO
Porém, se contemplarmos isso com o espíri to ordenativo de que fa lamos, perceberemos que alguma coisa está fa ltando neste quadro. Entre Deus e a criação está o Filho do Homem, o Verbo encarnado, o qual é inteiramente Deus como as demais pessoas da Santíssima Trindade, e, ao mesmo tempo, homem como nós. Contudo, permanece um tal abismo entre Nosso Senhor e as meras cri aturas, que somos obri gados a nos perguntar se não há um outro ser que preencha essa distância. Um ser que não é o Homem-Deus, mas uma mera criatura que esteja mais próx ima de Deus do que todos os anj os e todos os homens. Sem ela, algo pareceria estar fa ltando. Este ser altíss imo - infinitamente menor do que Deus, mas ao mesmo tempo não infinitamente di sta nte dos homens e, entretanto, incomparavelmente superior a todos eles, melhor e mais perfeito do que qualquer homem jamais fo i, é ou será até o fim do mundo - é justamente Mari a Sa ntíssima. Ela é a ponte sobre o abismo, unindo a criação a Jes us Cri sto, Verbo de Deus encarnado. Filha de Deus Pai, Mãe ele Deus Filho, Esposa elo Espfrito Santo
Conceb ida sem pecado ori ginal, Nossa Senhora está colocada num a altu ra inimaginável e insondável; numa pl enitude de glóri a e perfeição de sa ntidade que nenhum homem jamais poderá conceber. Deus co locou sua Mãe ac ima de todas as demais meras cri aturas. Ela é Rainh a dos anj os e Rainha dos homens! Ac ima de Nossa Senhora só está o Verbo de Deus Encarnado c, portanto, o Deus Uno e Trino, di ante do Qual Ela é infinitamente peq uena - pois tudo é infi nitamen te pequeno diante do própri o Deus. Mas entre Ela e Deus não ex iste nenhum a outra mera criatura . Ass im, a Mãe de Deus é o topo da pirâmide de toda a cri ação. A Ela cabem, portanto, os títul os que jamais serão outorgados a outrem: Filia dilecta Dei Patris, Matei·· admirabilis Dei Filii, Sponsa.fidelissima Dei Spiritus Sancti. Parece-nos importante repetir essa doutrina, de muitos já conhecida, para tornar claro sobre quem estamos propriamente fa lando e com quem fa lamos ao recitar a Ave- Maria. São Luís Grignion de Montfo rt nos diz também que não fo i poss íve l a Nosso Senhor durante sua vida públi ca mostra r Nos a Senhora em toda a sua grandeza, pois os homens não o teriam suportado. Mas, de fato, Ela é o broche de ouro que li ga toda a Cri ação a Nosso Senhor Jesus Cri sto. Precisamos conhecer isso, se qui ermos estudar o papel de Nossa Senhora em nossas vidas. Se compreendemos esse ponto, decorrem então daí muitas consequências. Mãe ele D eus, co1·1·ede11tora do gênel'o humano
Voltemos a considera r a Enca rnação do Verbo de Deus em Mari a, como fora an unciado pelo anj o São Gabriel. Nossa Senhora rezava . Rezava para que houvesse a Enca rnação do
Verbo e se desse, assim, a Redenção do gênero humano. Essa era a sua mi ssão. Ela fo i criada para pedir isso a Deus, pois nenhum homem era di gno de ser atendido em tão grandioso pedido. Ela não pedi a para ser a Mã.e do Salvador, mas desejava ser a escrava da Mãe de Deus e ter o privilég io de servi-la. Mari a rezava. E quando o Anj o se aproximou d'E la e convidou-a a ser a Mãe do Messias, Ela soube imediatamente que teria de participar das dores incomensuráve is do Redentor, que deveri a "sofrer com". É como Maria sofreu durante a Paixão de seu Filho! lmaginem a dor de uma mãe que ti vesse de supo11ar a visão do martí ri o do própri o filh o. Cuspido, ultrajado, esbofeteado, fe rido por todo o corpo, gotejando sangue, humilhado com os mais baixos insultos, carregando o pesado madeiro, despojado de suas vestes, maltratado ainda mais na Cruz com suas mãos e pés perfurados, e entregue à mais brutal das mortes. Qualquer mãe teri a morrido de afli ção e desespero. Entretanto, por des ígnio de Deus, Nossa Senhora suportou e aceitou tudo, embora fosse uma mãe incomparave lmente melhor do que todas as mães e amasse a seu Filho de modo incom parave lm ente maior do que todas as mães pudessem amar seu filh o único. As dores incomensuráveis Ela as suportou com tranquilidade de alma e com uma fo rça que A tornaram modelo para todo homem ex posto à dor. Ela viu seu Filho sofrer e morrer, di zend o sem cessar ao Padre Eterno: "Eu aceito que isso aconteça com meu Filho, a.fi.m de que as almas dos homens possam ser salvas, a.fi.m de que glória Vos seja dada, ó meu Deus, e para que os homens alcancem a eterna bem-aventurança em Vós no Céu". Nossa admgada junto ao Divino Redentol'
Os teólogos dizem que Nosso Senhor, na Cruz, viu todos os homens que existiram e haveri am de ex istir e pelos quais deveri a verter seu sangue. Ou seja, do alto da Cruz Ele me viu; considerou-me com todas as minhas carências, com todos os meus defeitos, com toda a minha ingratidão. Ass im como viu e conheceu cada homem individualmente. Cada um que está lendo estas considerações neste momento. Cada um de nós estava presente ao pé da Cruz. E por cada um de nós Ele hav ia dec idido dar a sua vida, sacrifica r a sua ex istência em favo r de cada um indi vidualmente. Para isso Ele suportou todas as suas dores inenarráveis. E ainda que eu fosse o único homem sobre a face da Terra, Ele teria sofrido por mim tudo o que sofreu. Nossa Senhora participou dessas dores de seu Filho. Mas a compaixão de Maria ainda não estava completa. Ela conhecia a culpa que os homens tinham pela morte de seu Filho. Para completar sua compaixão, ao pé da Cruz a Mãe de Deus pediu perdão a Ele por cada um de nós. Ela pediu perdão por todos os pecados que seriam cometidos ao longo dos tempos. E Ela pod ia fazê- lo. Isenta de qualquer culpa e em união com seu divino Filho, merecia ser atendida, enquanto nós não merecemos. Porque rezou por nós, pudemos receber o Santo Batismo, conhecer a
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Igreja, ter acesso aos sacramentos, descobrir a devoção a Ela e permanecer fiéis à Igreja nestes tempos em que esta é atacada, perseguida e até passa por um processo de autodemolição. E por meio da Santíssima Virgem vamos alcançar o Céu. Ela é nossa advogada. Ela, de Mãe do Filho de Deus que é, tornou-se Mãe dos pecadores. Ela assumiu um papel que o próprio Deus, enquanto juiz, jamais poderia desempenhar. Porque Deus é juiz. E se Deus é ofendido, Ele deve punir necessariamente. Mas Ela é Mãe, e sabemos que mãe não é juiz. Ela é a advogada que intervém a favor de seus filhos e os protege até o fim , seja qual for o tamanho de suas culpas. A sua oração diante de Nosso Senhor é esta: "Meu Deus,
próprios defeitos e na conquista da virtude. E ainda quando não nos lembramos d'Ela, Maria se lembra de nós no alto dos Céus. Ela pede por nós com uma misericórdia que nenhum pecado do mundo consegue sufocar. Ela é a Mãe de Misericórdia. E quando nos voltamos à Santa Mãe de Deus, Ela nos espera cheia de bondade e purifica nossas almas, nos fortalece, nos conduz a uma vida virtuosa e nos transforma de pecadores em homens bons.
meu Filho, por minha inocência, por minha virgindade, por meu amor a Vós, Eu Vos peço por este aqui, p erdoai-o ". Ela
Eis a missão específica de Nossa Senhora: o homem é pecador devido à sua maldade. Ele peca por maldade porque lhe é dificil viver uma vida segundo os Mandamentos de Deus. Porém, sendo árduo viver de acordo com os divinos preceitos, Ela nos alcança as forças necessárias para tal. Nunca nos faltarão as forças necessárias para fazermos os sacrificios indispensáveis para viver segundo as leis divinas, se recorrermos a Maria. Todos os que recorrem a Ela, recebem TUDO. Os que se separam d'Ela não recebem nada. Nossa Senhora é chamada pela [greja de " Porta do Céu". É através desta porta que passam todas as orações dos homens a Deus, como também todas as graças que Deus concede aos homens . Tudo isso se dá pela mediação da Santíssima Virgem, Medianeira universal por vontade de Deus junto ao Medianeiro necessário, Nosso Senhor Jesus Cristo. O grande devoto de Nossa Senhora, São Luís Grignion de Montfort, emprega uma imagem maravilhosa para ilustrar essa função de Medianeira. Imaginem um menino pobre que deseja dar um presente a seu rei. Mas a única coisa que ele possui é uma simples maçã. O menino quer agradar a seu rei e prestar-lhe homenagem , mas, tendo consciência da pouca valia de seu presente, procura a mãe do rei. Esta, com solicitude maternal , lava a maçã e a torna lustrosa, coloca-a sobre uma bandeja de prata e a apresenta a seu filho com estas palavras:
nos defende, a nós pobres pecadores, junto a Nosso Senhor, e nunca deixou de ser a grande Medianeira que jamais abandonou quem quer que seja. Essa verdade nós a contemplamos na oração composta por São Bernardo, chamada Memorare: "Lembrai-Vos, ó
piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que tendo recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado ... "
ReJ'úgio <los pecadores e Mãe de Misericórdia Consideremos a cena de São Pedro que foge e abandona Nosso Senhor no Monte das Oliveiras e depois O nega três vezes seguidas. Nosso Senhor troca um olhar com Pedro no pátio da casa de Anás e Caifás. Tocado, ele começou a chorar amargamente. Mas dirigiu-se imediatamente à Mãe de Deus, que teve pena do Apóstolo e alcançou-lhe o perdão de Nosso Senhor. São Pedro recorreu Àquela cujo Filho ele acabara de negar e alcançou o perdão. Na Ladainha Lauretana rezamos:
"Refugio dos pecadores, rogai por nós ". Alguns teólogos dizem que até Judas - tendo cometido a maior traição da história da humanidade, um pecado para nós imperdoável - teria alcançado o perdão de seu crime, se tivesse recorrido a Nossa Senhora. Pelo contrário, o traidor recusou todas as graças e precipitou-se no inferno após cometer o suicídio. Assim é a incomensurável misericórdia de Maria. Depois da morte de seu divino Filho na Cruz, Ela reuniu em torno de si os discípulos dispersos de Nosso Senhor e os preparou para a imensa graça de Pentecostes. É compreensível que os discípulos tenham pedido à Virgem Santíssima perdão por sua covardia e tibieza. E que Ela obteve de seu Filho o perdão para aqueles arrependidos - os pilares da Igreja nascente. Sem Nossa Senhora não haveria a Igreja. Ela é a Mãe extremosa, a grande protetora da Igreja, sempre presente nas batalhas em que as forças católicas enfrentaram os inimigos da Cristandade. Ela é quem assiste os povos fiéis em sua luta contra os infiéis. Ela está junto de cada um de nós na luta contra nossos
CATOLICISMO
"Pol'ta do Céu" - A me<liação da Santíssima Vil'gem
"Meu filho , este menino é também meu filho. Ele te manda este presente ". O rei sorri e aceita a maçã, como se esta fosse um preciosíssimo presente. A este respeito, diz São Luís Grignion: a maçã são as nossas obras, que fazemos com a ajuda de Maria. As coisas mais fabulosas que nós homens possamos fazer não são diante dos olhos de Deus mais do que uma simples maçã. Mas apresentadas pelas mãos de Maria e com um sorriso d'Ela, Deus as recebe com satisfação e por elas nos cumula de graças. Quanto mais estivermos unidos a Nossa Senhora, tanto mais poderemos praticar a virtude e nos mostrarmos gratos a Deus.
VitOl'iosa Rai11ha do U11ivel'SO 11a Juta pelo l'ebanlw de Cristo O mesmo santo apóstolo da devoção marial nos ensina que se a Santíssima Virgem é a distribuidora de todas as graças,
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osfilhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais então Ela é a Rainha do Universo, é a Rainha de cada um de terrível inimiga que Deus armou contra o demónio. Ele lhe nós, de todas as nações e de todos os povos. E a Igreja ensina exatamente isso: Maria governa o mundo pela sua bondade deu até, desde o paraisa, tanto ódio a esse amaldiçoado inimigo de Deus, tanta clarividência para descobrir a malícia e pelas graças que distribui . Mas se Ela governa o Universo, dessa velha serpente, tanta f orça para vence,; esmagar e então é também verdade que temos de nos consagrar a Ela como seus servos. aniquilar esse ímpio orgulhoso, que o temor que Maria inspira Não devemos querer faze r nossa vontade própria, mas nos ao demónio é maior que o que lhe inspiram todos os anjos e colocarmos à dispos ição d'Ela. Somente assim seremos aqueles homens e, em certo sentido, o próprio Deus. Não que a ira, o que Nossa Senhora mi sericordiosamente utiliza para combater ódio, o poder de Deus não sejam infinitamente maiores que os os filh os das trevas. Os filhos da Luz são a descendência da da Santíssima Virgem, pois as perfeições de Maria são limiMulher que esmaga a cabeça da serpente, o exército de homens tadas, mas, em primeiro lugar, Satanás, porque é orgulhoso, virtuosos, modelares, corajosos e intimoratos que se deixam sofre incomparavelmente mais, por ser vencido e punido conduzir por Ela na luta. pela pequena e humilde escrava de Deus, cuja humildade o O pressuposto para uma luta humilha mais que o poder divino; efi caz é uma vida interior virtuosa. segundo, porque Deus concedeu Através da verd adeira devoção a Maria tão grande poder sobre a Nossa Senhora, segundo São os demônios, que, como muitas Luís Grignion, o escravo de Maria vezes se viram obrigados a conobtém as graças necessárias para o f essa,; pela boca dos possessos, combate no mundo. A Rainha da ú?fimde-lhes mais temor um só de Paz conseguirá com este exército seus suspiros por uma alma, que a vitória sobre o mal. as orações de todos os santos; Plíni o Co rrêa de Oliv e ira e uma só de suas ameaças que escreveu certa vez no semanário todos os outros tormentos. O legionário ( 13-5- l 945): "Não "O que Lúcifer perdeu por se pense que a paz dessa gloriosa _orgulho, Maria ganhou por huRainha é a paz dos charcos e mildade. O que Eva condenou dos pântanos. É a paz do Céu, e perdeu pela desobediência, que brilha em todo o seu esplensalvou-o Maria pela obediência. dor; enquanto no inferno o mal, Eva, ob edecendo à serpente, manietado e esmagado, padece perdeu consigo todos os seus tormentos eternos. Por isto, a f ilhos e os entregou ao poder Rainha da Paz é por excelência il?fernal; Maria, por sua pe,:feita a Rainha da Vitória, que conduz fidelidade a Deus, salvou consigo ao triunfo entre terríveis lutas, as todos os seus.filhos e servos e os ovelhas de Cristo. Essas lutas são consagrou a Deus. entre osfilhos de Maria e osfilhos "Deus não pôs somente inida serpente, separados entre si mizade, mas inimizades, e não por uma irredutível inimizade. " somente entre Maria e o demôMesmo nas mais difícis situações, Essa inimi zade, explica São devemos confiar na proteção de nio, mas também entre a posteNossa Senhora Luís Gri gni on, estabelecida por ridade da Santíssima Virgem e a Deus no começo dos tempos, vai posteridade do demônio. Quer du ra r até o fi m do mundo, tornando-se cada vez mais aguda. dizer; Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos
Maria 110 combate e11tre os 11/llos <la Luz e os 11/llos da trevas São Luís Gri gni on escreve em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíss ima Virgem - li vro que fo i um pil ar fu ndamental no pensar e no agir de Plíni o Corrêa de Oli ve ira: "Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar; mas aumentar até o fim: a inimizade entre Mário, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e
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CATOLICISMO
entre os verdadeiros .filhos e servos da Santíssima Virgem e osfilhos e escravos do demônio. Não há entre eles a menor sombra de amo,; nem correspondência intima existe entre uns e outros. Os.filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo úJois é a mesma coisa) sempre perseguiram até hoj e e perseguirão no.futuro aqueles que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacob, .figurando os réprobos e os predestinados. Mas a humilde Maria será sempre vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande será a vitória.final que ela chegará a ponto de esmagar-lhe a cabeça, sede de todo orgulho.
Coroação da Virgem - Fra Filippo Lippi, séc XV. Catedral de Santa Maria Assunto, Spoleto (Itália).
Ela descobrirá sempre sua malicia de serpente, desvendará suas tramas infernais, de~jàrá seus conselhos diabólicos, e até o fim dos tempos garantirá seus fiéis servidores contra as garras de tão cruel inimigo. " Mas o poder de Maria sobre todos os demônios há de patentear-se com mais intensidade, nos últimos tempos, quando Satanás começar a armar insídias ao seu calcanhat; ou seja, aos seus humildes servos, aos seus pobres.filhos, os quais ela suscitará para combater o príncipe das tre vas. Eles serão pequenos e pobres aos olhos do mundo, e rebaixados diante de todos como o calcanhat; calcados e perseguidos como o calcanhar em comparação com os outros membros do corpo. Mas, em troca, eles serão ricos em g raças de Deus, g raças que Maria lhes distribuirá abundantemente. Serão grandes e notáveis em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura, por seu zelo ativo, e tão.fàrtemente amparados pelo poder divino, que, com a humildade de seu calcanhar e em união com Maria, esmagarão a cabeça do demônio e promoverão o triun.fà de Jesus Cristo. " Pa la vras proféticas, profe ridas há ma is 300 anos . Elas estão send o confirmadas nos di as de hoj e pela crescente agressividade dos filhos das trevas - herdeiros das revo luções Protes tante, Francesa, Comuni sta e da Sorbonne, de Maio de 1968 - que com seus incessa ntes ataq ues arremetem contra
tudo o que é cri stão. Pa lavras que estão sendo também confirmadas pe la mensagem de N ossa Senhora de Fátima, a qual anunc iou os horrores do século XX, mas também prometeu auspi c iosa mente que, po r fim , o se u Im ac ul ado Coração triunfaria . Tudo isso deve fo rtal ecer nossa decisão de recorrermos sempre a Mari a Santíssima - em todos os dias, a todas as horas, em todo momento - , para obtermos a sa ntidade que Ela espera de nós, e assim , sob a sua orientação, lutarmos eficazmente contra a Revolução gnóstica e igua litária em defesa da Sa nta Igreja e da Cri standade. Devemos hoje ir ao encontro d' Aque la que reza por cada um de nós, por todos os que estão lendo neste momento estas con iderações. Ela possui grandes graças para conceder a todos nós. Precisamos apenas pedi -las. Recordemos sempre o menino pobre com sua simples maçã. A pequena e simpl es maçã que apresentarmos a Maria com humildade será purificada e dourada. Se confi armo n'E la, a Med ianeira de todas as graças, essas preciosas graças logo virão . Ela fará de nós, católicos, verdadeiros filh os de Deus e soldados da Rainha do Céu e da Terra , para alcançar a vitória fin al sobre a diabólica Revo lução gnóstica e igualitária que ca mpeia em nossos di a . • E-mail para o autor: catolicismo@tcrra com br
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Santa Madalena Sofia Barat F undadora da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus para educação das jovens, tanto das classes abastadas quanto das menos favorecidas LIMEO
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adalena Sofia Barat nasce u em Jo igny, na Borgonha, França, no dia 13 de dezembro de 1779. Como principi ara um incêndio em sua casa, sua mãe de u-a prematuramente à luz. Débil e enfermi ça, Sofia fo i bati zada logo na madrugada do di a seguinte. N ão havendo tempo de chamar os que deveri am ser os padrinhos, seu irmão L uís, então co m I I anos, e um a senhora que tinha ido cedo para a Mi ssa, atuara m como tais.
CATOLI C ISMO
Jacq ues Barat, seu pai, possuía uma v inh a e fab ri cava to né is, pe lo que a fa míli a vi via com di gni dade. Apesar de sua frág il constitui ção, Sofia era muito precoce e dotada de grande fo rça de vontade. Já aos c inco anos de idade co nsagrou a D eus s ua virgindade. Crescendo, e la gostava de costura r e trico tar, era e ntusiasta de música, e freq uente mente ajudava o pa i na vinha.
Sob o 'J'el'l'Ol' 11a Revolução Francesa Muito dotado, seu irmão L uís, tor-
nando-se professor no co légio local , vendo em sua irmã-afilhada grandes qualidades de alma e de inteligência, ensinou-lhe latim, grego, história, ciências nat11rais, matemática e as línguas espanhola e italiana. De maneira que Sofia, aos 15 anos, chegou a traduzir corretamente Homero, Virgílio e os escritos dos Santos Padres, tendo uma bagagem intelectual e cu ltural rara nas pessoas de seu tempo. Muito cedo ela tomara gosto pela leit111"a dos clássicos, que li a no original. Luís fazia sua irmã prestar os mesmos exames que seus alunos, e Sofia frequentemente os sobrepujava nas notas que obtinha. Entretanto, aqueles tempos foram terrívei s para a nação francesa . Estourara a ímpia e ateia Revolução, que começou a perseguir a Igreja. Sofia contava apenas I Oanos de idade. Seu irmão se tornara seminarista e fora intimado a prestar juramento à Constitu ição civ il do clero, em 1791 . E le prestou, mas sabendo depois que o Papa havia condenado a Constituição , abjurou . Foi então feito prisioneiro. Entretanto não teve, como tantos outros, a graça de dar a vida pela fé. Foi libertado em 1795 , com a morte de Robespierre e o fim da época do Terror. Foi então para Paris a fim de receber a ordenação sacerdota l em segredo, levando Sofia consigo para que ela completasse sua formação.
Fumlação da Socie<lade do Sagrado Coração de Jesus Luís juntou-se então a um grupo de fervorosos sacerdotes que não tinham feito o juramento cismático à Constituição. Esses presbíteros uniram-se num a Sociedade dos Padres da Fé, na esperança de ver restaurada a Companhia de Jesus. Entregavam-se à vida de piedade e à educação dos meninos
crescidos sem religião durante o vendaval revolucionário. O ideal de Sofia era ser freira carmelita. Mas como o Carmelo havia sido fechado em 1790 pela Revolução Francesa, não lhe restava senão ir para o Exterior a fim de seguir sua vocação. Entrementes, Luís apresentou-a ao
Pe. José Yarin, a quem uma sen hora nobre havia pedido que fundasse uma congregação feminina para a educação das jovens. Essa congregação seria devotada à adoração do Sagrado Coração de Jesus, devendo rezar e sacrificar-se pela Santa Igreja naqueles tempos tão conturbados. Deveria também dedicarse à educação das moças, assim como os jesuítas faziam com os rapazes. O sacerdote discerniu em Sofia as qualidades para essa fundação. Entretanto a interessada, que tinha somente 2 1 anos, respondeu simplesmente ao sacerdote: "Pensarei nisso ". O Pe. Varin retrucou com ênfase : "Não há nada que pensa,'. Uma vez que se conhece a vontade de Deus, só resta obedecer ". O tom insp irado do
sacerdote acabou com todas as dúvidas de Sofia, que não mais pensou em ser carmelita.
Damas da Fé ou da lnstl'ução Cristã Assim , no dia 2 1 de novembro de l800, com Sofia e três companheiras, fundou-se a So ciedade do Sagrado Coração de Jesus. Contudo, como o culto ao Sagrado Coração de Jesus tinha sido proibido pela ímpia Revolução, as freiras começaram a ser conhecidas como as Damas da Fé, ou da Instrução Cristã. Desde então Madalena Sofia ofereceu-se em holocausto ao Sagrado Coração de Jesus. Sobre isso, e la dizia : " Viver sem padecer é viver sem amar; e viver sem amar é morrer ". Aos poucos , outras jovens foram se juntando às primeiras, e em setembro de 1801 fundou-se o primeiro convento e o primeiro colégio para moças, em Amiens. No ano seguinte foi aberta na mesma c idade uma escola para pobres, pois a Irmã Barat desejava atingir tanto as c lasses mais abastadas quanto cuidar das menos favorecidas. Em 1802, conquanto fosse a reli giosa mais jovem, com apenas 23 anos, a Irmã Barat foi eleita Superiora do co légio, por ser sua a lma, cargo que conservou até o fim da vida. Seu primeiro ato de governo foi ajoelharse aos pés de cada freira e oscu lá-los. Nas dificuldades do governo, a Santa costumava dizer: "Quando tudo nos abandona, tudo abandonemos nas mãos de Deus ".
Dificuldades na expansão <la Obrn Em 1804 Madre Barat foi a Grenoble, a fim de receber em seu Jnstituto uma comunidade de ex-freiras visitan-
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Santa Madalena Sofia no leito de morte
dinas di spersas pela Revo lução. Uma delas prostrou-se a seus pés e os osculou. Era a Madre Filipina Duchesne, alma de têmpera apostóli ca que seri a o braço direito da fund adora, cuj a obra leva ria para os Estados Unidos, onde fa leceria mais tarde em odor de santidade. A obra de Santa Madalena Sofia começo u a ex pandir- se não só na França; em pouco mais de 50 anos alastrou-se pela Itáli a, Suíça, Bélgica, Algéria, Inglaterra, Irlanda, Espa nh a, Holanda, Al emanha, Chil e, Áustria e Polôni a. Em 1806 Madre Barat fo i eleita Superi ora Ge ral, ob te nd o, no entanto, apenas a maiori a simpl es dos votos. Isso se deveu à influência de um ambi cioso sacerdote, cape lão em Amiens, cujas intri gas quase fizera m naufraga r o nascente In stituto. Sob sua maléfica influ ência, a lgum as irm ãs tornar-se-iam depois relutantes em ace ita r as Constitui ções aprovadas pelo Papa. "Prece prolongada, sofrimento em silêncio, tato, respeito, caridade foram os únicos meios que Madre Barat opôs aos desígnios desse sacerdote". 1 Não sabemos o que foi fe ito dele, pois seu nome não passo u para a 1-1 istóri a. O que sa bemos é qu e Sa nta Sofia conseguiu supera r essa cri se e sua obra continuou.
"Vontaclc inclomável e coração ele mãe" Auxili ada pelo Pe. Varin , que se tornara jesuíta, Madre Barat escreveu as Co nst itui ções de sua congregação, in spirando-se na dos filhos de
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CATOLICISMO
Sa nto Inác io. Subm eteu-a antes à aprovação por suas filhas e depois ao Pontífi ce Leão XII, que as aprovou. "O talento varonil e o saber pouco comum no seu sexo, a vontade indomável e o coração de mãe, tudo informado pelas mais austeras e profúndas virtudes cristãs, granj earam-lhe.fama em todas as classes sociais. Falava com nobres e príncipes, sábios, bispos e cardeais ". 2 Para consolidar sua obra, Madre Barat teve de cruzar inúmeras vezes a França, a Itáli a e a Suíça, algumas delas às vésperas de revoluções. Mantinha- e em ass íduo contato com suas filhas por meio de co nsta nte co rrespo ndência. Dev ido à rápida expa nsão de sua obra, em 1820 ela reuniu as superi oras de todas as casas do Sagrado Coração de Jesus para estabe lecer um programa uni fo rm e de estud o. As freiras deveriam sobretudo zelar para que as jovens fo rmadas por elas fosse m devotadas ao Sagrado Coração de Jesus e à Igreja, e tivessem uma formação cultural que lhes permiti sse viver em sociedade, fosse m elas de classe abastada ou de poucos recursos. "No decurso de seus sessenta e cinco anos como superiora geral, So_fia e sua Sociedade sobreviveram ao regime de Napoleão, viram a 1-· rança so,ji,-er mais duas revoluções. 3
Gnmcle c/e11oção
à Santíssima Vil'gem Mui to devota de Nossa Senhora, Sa nta Madalena Sofia fund ou em Lyon uma congregação de Filhas de
Mari a para as anti gas alunas e outras se nh oras da soc iedade. Em 1832 , deu início em Turim à obra de retiros esp irituais para senhoras do mundo, um aposto lado que depoi s foi imitado com sucesso por outras congregações reiigiosas. Madre Barat era req ui sitada por toda parte, além cios cuid ados que prodi ga li zava às suas reli giosas, di sseminadas por quase todo o mundo. Dotada de profunda humildade, atra ía e enca ntava a todos os que dela se aproximavam. Contudo, Sa nta Madalena Sofia não era centrali zadora. Co mo tinha um dom extraordinári o para esco lher as pessoas certas para cada função, dava- lhes depois mui ta liberclacle de ação, gui ando-as somente por seus co nse lh os, e geralm ente de longe. Deixava o resto à ini ciativa de cada uma. Isso contribuiu para o sucesso de toda a obra. Durante as convul sões da Revolução de 1830, que baniram os Bourbons do trono da França, o noviciado da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus, sed iado em Poiti ers, fo i fec hado. A Madre Barat fundou então um novo novic iado na Suíça.4 No dia 2 1 ele maio ele 1865, estando na casa de sua congregação em Pari s, Santa Mada lena Sofia di sse às suas irmãs: "Apresw-me a vir ho_je, pois na quinta-fe ira vamos para o Céu". E fo i o que aconteceu: quatro dias depois, di a 25 el e abril , festa ela Ascensão, ela entregou sua alm a a Deus. Seu corpo fo i sepultado em Co nflans, no nov iciado, sendo encontrado intacto 28 anos depois. • E-mail para o autor: catolicismo@terra .com.br Notas:
1. Ali ce Power, Ven. Madeleine Sophie /Jaral, The Cat holi c En cyclopcd ia, CD Rom ed ition. 2. Pc. José Leite, S..J. , Santa Madalena Sofia Boro!, Santos de ada Dia, Editoria l A.O., Braga, 1987, tomo 11 , p. 136. 3. Wik ipcd ia cm inglês, disponí ve l em http:// en.wi kipedia.o rg/wik i/Madclc in c_ Soph ic_ Barat 4. Cfr. John Delancy, Dicliona,y o/' Sai111s, . Doublcday, New York , 1980, p. 86.
DISCERNINDO
Suicídio e sociedade Cio
ALE NCASTRO
m ami go contou-me que uma co lega sua de trabalho, moça bonita, bem apessoada, por volta de 30 anos, casada, com um filhinh o de poucos meses, fo i acometi da de uma doença que a deixou inchada, sobretudo o rosto, que fi cou avermelhado e com protuberâncias. Mas o pi or da hi stória é que essa situação a lançou numa depressão profunda, tão profun da que a levou a atirar-se ele um andar alto cio edifício onde morava, morrendo instantaneamente. O choqu e para a fa míli a, para os co legas el e tra ba lh o, para todos qu e a co nh ec iam enfim , fo i tremendo. Não conheci essa moça, mas o fa to me impress ionou e passe i a refl etir sobre ele. Quantos sui cídi os vão ocorrendo nos dias de hoje! Mais de um milhão ele pessoas co mete m s ui c ídi o a ca da ano no mund o. Trata-se ele um a elas principa is ca usas ele morte entre adolescentes e adultos com menos de 35 anos de idade. 1 Proj eções da Organização Mundi al de Saude, com base em tendências do fin al do século XX , indi cam qu e em 2020 haverá ce rca de 1,53 milhão de sui cídi os; sendo que I O a 20 vezes mais pessoas tentarão sui cid ar-se em todo o mundo.2 No Brasil , estimativas sugerem que ocorram 24 sui cídi os por di a, mas o núm ero deve ser 20% maior, pois mui tos casos não são reg istrados. A quantidade de tentativas é de dez a 20 vezes mais alta que a de mortes. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez ele 1980 a 2000 : de 0,4 para 4.3 Normalmente é na j uventude que a pessoa tem mais desejo de viver, tem pl anos, tem empreendimentos a realizar, tem ilusões. Por que pôr fim à vicia? Por que essa fa lta de coragem de enfrentar as adversidades? Já se ouvem casos ele suicídio infa ntil.
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Os estudi osos que se debruça m sobre o assunto, de modo geral atribuem essa ca lamidade a fa tores sociais. A sociedade modern a seri a de molde a tornar as pessoas muito egoístas, cada um por si, fa ltando compreensão e apoio a quem dele prec isa. O indivíduo sente-se suj eito à lei da se lva. Essa ex pli cação tem muito de verdadeira , mas ela prec isa ir até o fundo do problema para ser inteira mente aceitável. O Anti go Regime, como era des ignada a sociedade anteri or à Revo lução Francesa, tinha uma concepção profundamente fa mili ar da sociedade. Os indivíduos ex istiam dentro das famíli as, fosse m elas nobres ou plebeias. É ali que eles se fo rmavam para a vida quando crianças, recebiam os estímulos para um desenvolvimento reto ela personalidade quando jovens, apoio quando adultos e proteção quando as cãs lhes cobri am as ca beças e as forças diminuíam. Na família eles eram compreendidos e amados durante toda a sua exi stência. Tudo sob o signo da Religião e da paz de alma, nas alegrias co mo nas adversidades. Com a Revolução Francesa ve io a era moderna, com seu indi viduali smo e suas liberdades. Progress ivamente fo ram se ndo impl antados o divórcio, os anti concepcionais, o aborto, as leis permi ss ivas de todo gênero. A fa míli a monogâmica e indi sso lúvel, fr uto do sacramento e das bênçãos da Igreja, implodiu e cada um de seus elementos fo i jogado para um lado. Cri anças, para as crec hes; jovens, para os pse udo-prazeres da sex ualidade, do rock, do funk; adultos, para a disputa acirrada pela sub istência; velhos, para os as il os. Nesse entretempo, o clero, com honrosas exceções, também foi se moderni zando. As igrejas, outro ra templos da adoração a Deus, mas também de conso lo, de perdão, de cura das fe ridas mora is, em muitos casos se di stinguem pouco de um circo, onde vale tudo. Como estranhar que o número de suicídios cresça assustadoram ente? • E- mail para o autor: catoli cismo@terra.com.br Notas : 1. hllp ://www. rfc rl. org/cont ent/ arti cle/107 1203.ht ml 2. hllp ://www.ncbi.nlm .nih .gov/ pmc/arliclcs/PMC 1489848/ 3. Julli ane Silveira, in "Folha de S. Paulo", 18-3-20 1O.
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EPISÓDIOS HISTÓRICOS
János Hunyadi e o cerco de Belgrado Esse extraordinário herói húngaro e São João de Capistrano, derrotando o sultão Maomé li em Belgrado, sustaram avassaladora investida muçulmana na Europa
n Gu1LH ERM E FÉux DE So u sA M ART1Ns
o ano de 1453, a c idade de Constantinopla, ca pital do Impéri o Romano do Oriente, ca iu sob o domíni o dos turcos otomanos. Os vencedores submeteram os sobrev iventes - muitos deles monges e reli g iosas - a um cruel e bárbaro tratamento. A fa mosa igrej a de Santa Sofi a tornou-se cenário de uma sangrenta org ia, depo is da qua l o local sagrado passo u a servir de estábul o para os cavalos dos turcos. F icava claro para a Cri standade que os seguidores de Maomé não descansariam enquanto não estendessem seu domínio sobre a E uropa. Mas a Divina Providênc ia, que permiti ra ta l derrota para castigo da Cri standade decadente, suscitari a, no momento e no lugar certos, os homens certos para obstar os planos dos infi éis.
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Vitórias iniciais contra os turcos János (João, em po rtuguês) nasce u provavelmente no ano 1387. Seu pai, Serba Vojk, leal servidor do rei húngaro Sigismundo, recebera como prêmi o o castelo de Hunyadvár, na Transilvâni a, tendo desde então mudado seu nome, Serba Vojk, para Hunyadi . Desde a infâ nc ia, János Hunyadi , a quem trataremos apenas pe lo sobrenome, mostrou-se sempre muito pi edoso. Seus companheiros de Corte o vi am frequentemente levanta r-se du ra nte a noi te e passa r horas de j oe lhos na capela rea l, em oração. Ele cresceu como um soldado. inic ialmente lutando como mercenári o na Itália, dedi cou-se depo is a enfrentar o Império Oto mano, o ma ior inimigo de seu país e da Sa nta Igrej a, na época. Até 1441 , suas campanhas militares fo ram apenas um prelúdio de sua longa guerra contra os otomanos, o que lhe va leu a fa ma de "Flagelo dos Turcos". Em uma dessas campanhas, tentou unir forças com o grande herói albanês Skanderbeg, 1 só não o faze ndo por intrigas de um príncipe sérvi o. 2 E m 1437, o rei Sig ismundo nomeou-o defensor do sul da Hungria, desde a Tran silvâni a do Leste até o mar Adri áti co. O rei seguin te, Ladi slau V, tornou-o capitão de Nando,f ehervár (atual Belgrado, capital da Sérvia) e voivode (príncipe) da Tra nsilvâni a.
Avai1ço maometano 110s /Jálcãs Nos anos que precederam essa nomeação de Hunyadi efetuou-se um gradual ava nço turco sobre os Bálcãs, em direção à Hungri a. Vilas inte iras eram destruídas, milhares de pessoas mortas, e mui tas outras, inc luindo mulheres e crianças, ca ptu radas como escravas. N omeado comandante, Hunyadi decidiu que já era tempo de pôr um fi m às invasões turcas. Guerre iro incansáve l, apareci a de improvi so nas regiões ocupadas, surpreendi a o inimi go com táti cas inu sitadas, infundi a temor mesmo nos grandes exércitos, acompanhado por tropas se letas mas redu z idas.
Vitoriosa tática cios ",,agões blimlaclos"
Monumento de János Hunyadi
CATOLICISMO
Certa fe ita, deparo u-se com a quase totalidade dos contingentes turcos da E uropa, sob o comando do terrí vel Sehabeddin , súdi to do mesmo Mao mé II que depois conqui staria Constantinopla. A ordem deste era conqui star a M oldávi a, a Valáquia e a Transilvâ ni a. Hunyadi pos icionou suas tropas em fo rmação retangular, tendo os fl ancos e a retag uarda bem p rotegidos por vagões blindados. Inovação utili zada por um líder da Boêmia anos antes, os vagões eram preenchidos por so ldados, e ligados por correntes
para evitar a penetração pelo inimigo. No auge da refrega, os vagões fo ram subitamente empurrados sobre o adversá ri o, ca usando, com seu movimento, grande pâni co entre as tropas turcas. Os soldados desembarcaram e cumpriram sua missão. Mais uma grande vitóri a obtida pelo herói húngaro. A notícia das conqui stas de Hunyadi espalhou-se por toda a Europa, trazendo esperança para os reinos que ainda sofri am sob a dominação otomana. No ano seguinte, o general húngaro venceu mais se is bata lhas, livrando a Sérvia da presença turca. Apesar dos aplausos das outras potências europeias, nenhuma delas ofe receu ajuda significativa. Apenas a Santa Sé levou a sério essa tão importante causa. Calixto IU, ancião espanhol recém-eleito para o só lio pontifício, soube perceber a gravidade do momento. Considerou como obrigação enfre ntar os turcos, faze ndo o propósito de expulsá-los de Constantinopl a, e até, se poss ível fosse, da própria Terra Santa. "O mundo tinha mudado desde os velhos tempos de Urbano JJ, mas no peito do Papa ancião batia o coração de um verdadeiro cruzado. Em carta ao novo rei húngaro Ladislau, o Papa declarou sua resolução, mesmo ao preço de seu próprio sangue se necessário, de que 'estes inimigos insidiosos do nome Cristão s~jam inteiramente expulsos não só da cidade de Constantinopla, recentemente ocupada, mas também de todos os confins da Europa "'.3 Após tomar Constantinopl a, o jovem Maomé TI dec idiu, em 1455, que era tempo de esmagar definiti vamente a Hungria. E o ponto nevrálgico era a fo rtaleza de Nandorfe hervá r. "Em dois meses, estarei jantando tranquilamente na capital húngara ", teri a dito o sul tão.
São João de Capistrano
São João ele Capistrnno: pl'egaclol' de Cmzada
As notícias dos co lossa is preparativos logo chegaram ao sucessor de São Pedro . Cali xto IH enviou, então, um monge franciscano, São João de Capistrano,4 a pregar uma nova cruzada contra os infi éis. Septuagenári o como o Papa, homem de baixa estatura, fraco, exausto, mas movido por um ardor juvenil , o santo contag iava com seu entusiasmo os corações de seus ouvin tes, embora - co isa notável - fa lasse apenas latim e italiano. Conseguiu reunir por vo lta de 40 mil camponeses húngaros e alguns vo luntá ri os de outras nações, partindo com Hunyadi , que condu zia sua tropa de I O mil cavaleiros. Com a guarni ção de Belgrado e outros reforços, o exército cri stão chegou a congregar 75 mil homens, a maiori a fracamente armada, mas animados de sa nto zelo pela defesa da Cri standade. Maomé JJ estabelece o cel'co ele Belgrnclo
Os turcos chegaram a Belgrado semanas antes do esperado . Eram entre 100 e 200 mil homens, trazendo consigo 300 ca nh ões, 22 dos quais de grande envergadura. Uma frota de 200 embarcações balouçava nas águas do Danúbio. Testemunhas da época narram seu espanto por toda a parafe rnáli a presente no aca mpamento tlirco, tanto de materi al bélico quanto para outros fin s. Matilhas inteiras de cães fo ram trazidas para consumir os corpos dos cristãos, que se prev iam muito numerosos. Os infié is pareciam di spostos não apenas a ocupar Belgrado, mas toda a Hungria e outros reinos vizinhos.5 Quando o exército católico chegou à cidade, no início de julho de 1456, encontrou-a já siti ada pelos otomanos, e ameaçada pela frota estac ionada no Danúbi o. A primeira tarefa de Hunyadi fo i quebra r o bl oqueio naval, o que ele conseguiu em 14 de julho, afundando três grandes ga lés otomanas e capturando duas dezenas de navios. Franqueou ele ass im a entrada de tropas e de suprimentos na cidade. Enquanto isso se dava, a artilhari a pesada dos turcos perfurava as muralhas de Belgrado em diversos pontos, enchendo os fossos de escombros. No dia 2 1 de julho, Maomé U ordenou um assa lto tota l, que começou no ocaso e conti nuou por toda a noite. Os janízaros6 1ideraram o ataque, e a feroc idade de seu avanço conduziu-os para dentro das mura lhas. Hunyadi , entretanto, diri giu a defesa com grande habilidade. Ordenou aos defensores que jogassem lenha, cobertores saturados de enxofre, pedaços de gordura animal e outros materiais inflamáveis dentro do fosso, e ateassem fogo . Logo uma parede de chamas separou os janízaros que lutavam dentro das muralhas de seus companheiros
Cerco de Belgrado
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que ainda estavam no exteri or. Os que ocupavam o fosso morreram queimados, ou ficaram seriamente feridos; e osjan ízaros foram massacrados pelas tropas de Hunyad i. Com a ca lmaria da manhã seguinte, mais reforços cristãos puderam chegar à cidade.
Fato inesperado provoca i11ício da batalha No dia segui nte, enquanto os turcos enterravam seus mortos, algo de inesperado aconteceu. Contrariando as ordens de Hunyadi para não deixarem o interior da forta leza, alguns grupos de cruzados escaparam pelos rombos das muralhas, tomaram posição diante da linha turca e começaram a provocar os so ldados inim igos, gritando e atirando flechas sobre e les. Cava leiros turcos tentaram, sem sucesso, dispersar os cristãos. Então, mais cruzados se uniram aos que já estavam fora das muralhas. O que se ini ciara como um incidente isolado tornou-se uma batalha em grande esca la. São João de Capistrano, que de início tentara trazer seus homens de volta ao interior das muralhas, logo se viu cercado por dois mil cruzados. Então, começou a liderá- los em direção às Iinhas otomanas, gritando: "O Senhor quef ez o inicio cuidará do desfecho! ". Os turcos logo se viram diante de uma furiosa avalanche humana. Apan hados de surpresa nessa estranha mudança dos acontecimentos e paralisados por um medo inexplicável , fugiram . A guarda pessoal do sultão, formada por cin co mil janízaros, tentou conter o pânico e recapturar o acampamento; mas o exército de Hunyadi já tinha se unido à inesperada batalha, e os esforços turcos tornaram-se vãos. O próprio sultão foi gravemente ferido, ficando inconsciente. Protegidos pela escuridão, os t1ircos retiraramse às pressas, carrega ndo seus fe ridos. As baixas turcas em Belgrado foram inéditas. Eles perderam 50 mil homens na batalha, e outros 25 mil abatidos pelos sérvios durante a fuga . As perdas entre os defenso res de Belgrado totalizaram menos de 10 mil.
Vitória cristã comemornda em toda Cristamlade A derrota do su ltão fo i saudada como g loriosa vitória pela Cristandade. O Te Deum fo i entoado nas igrejas, os sinos tocaram e grandes fog ueiras foram acesas em comemoração. O Papa Ca li xto IU, quando soube do sucesso do comandante húngaro, descreveu Hunyadi como "o mais impressionante homem que o mundo tem visto em 300 anos" . Depois de mais um triunfo, chegou o dia da partida para a eternidade daquele homem providencial. Contagiado pelo tifo que grassava no acampamento, János Hunyadi entregou sua alm a a Deus em 4 de agosto de 1456. No le ito de morte, como São João de Capistrano lhe apresentasse a morte como recompensa desta vida, Hunyadi respondeu: "Vivi e Lutei para achar meu Lugar de descanso, como campeão emérito na tenda de meu Senhor ". O su ltão derrotado, sabendo da morte do herói cató lico, depois de a lguns momentos de s ilêncio exclamou: "Éramos inimigos, mas sua morte é para mim dolorosa; pois nunca o mundo viu um homem como ele!". Naqueles tempos o valor e a honra eram reconhecidos mesmos nos inimigos, quando neles ex istentes.
O Papa Calixto Ili, quando soube do sucesso do comandante húngaro, descreveu Hunyadi como "o mais impressionante homem que o mundo tem visto em 300 anos"
"Def endei, caros amigos, a Cristandade e a Hungria de todos os inimigos. Não vos deixeis levar por intrigas internas. Se gastardes vossas energias em altercações, selareis vosso próprio destino e cavareis a cova de nossa própria nação ". 7 Foi esse o último conselho de Hunyadi a seus compatriotas. • E- mail para o autor: catoli cismo@terra .com.br
Notas: 1. Vicie Catolicismo, abri l/2004.
2. WEISS , Juan Baut ista. Hi storia Universal - Vol. VIII. Barcelona : Tipografia La Eclu cación, 1929, p.3 1. 3. SETTON, Kenn eth Meyer. The Papacy anel lhe Levant, Vol. 11. Philaclelphia: Th e Arneri can Philosophical Society, 1978. p. 164. 4. Vicie Catolicismo, outubro ele 2007.
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CATOLICISMO
5. SETTON, Kenn eth Meyer. The Papacy anel lhe Levant, Vol. 11. Phil aclelphia : The American Philosophical Society, 1978. p. 176. 6. Elite guerreira formada por cri stãos pervertidos, muitas vezes raptados ainda jovens do seio ele suas famí lias. 7. KOVA CH, Tom R. Ottoman-1-lungarian Wars: Siege ofBelgrade in 1456. Mi litary Hi story Magazin e, 1996. Disponível em http://www.historyn et. com/ottornan-hungarian-wars-siege-o f~belgracle-in-1456.htm
VARIEDADES
Cuidado com a imagem GR EGÓ RIO VI VANCO LO PES
/ uma lei não escri ta a de que muitas co isas influenciam mais pela imagem que delas e projeta do que pela sua ex istência rea l. A propaganda utili za-se muito de se recurso para apresentar seus produtos sob um prisma atraente e agradáve l, nem sempre condi zente com a rea lidade. É um quitute super-saboroso que no paladar do freguês revela um gosto amargo; é um a cadeira confortável que se mostra incô moda; é um co mputador de últim a linh a qu e apre enta uma série de defeitos; e ass im por di ante. Cumpre, pois, ser ca uto com as imagens fa bri cadas. Dessa regra não esca pam nem sequer os po líticos, os chefes de Estado, os ec les iásticos, nem mesmo o Papa, quando os vemos foca li zados pelas lentes tantas vezes deformantes da mídi a e da propaga nda em gera l. Fa lamos do Papa. De fa to, muito e até muitíss imo, se tem publi cado sobre ele nos meios de co muni cação: rádi os, j ornais, TVs, intern et etc. Co mo o apresentam? Vale a pena nos determ os sobre o tema, ainda que de modo rápido, pois ele importa maximamente como elemento para compreendermos . o curso contemporâneo dos aco ntec imentos e das mentes. Nada mais augusto, mais elevado, mais sa nto do que o Papado. Através dos sécul os, a Igreja sempre venerou o Papa como o "doce Cri sto na Terra". Assoc io-m e de toda alma a essa veneração. Outra co isa, porém, é a fi gura que a propaga nda qu er apresenta r, hoje em di a, do Papa Francisco. E é dela, e só dela, que desejo aqui tratar. Ela está intimamente li gada à im age m que se fo rmou a respeito da Améri ca Latina. Este se ri a um continente de pobreza, rejeitado pelos setores ri cos e desenvolvidos do mundo, co locado à margem e oprimido. Da form ação cri stã do Bras il - por exempl o, de suas rea li zações magnífi cas como a catequese dos índi os, as igrejas e a música barrocas, os profe tas do Aleij adinh o, os heróis ele Guara ra pes - , das esperanças que aqui desabrocharam , não mais se fa la. Um sil êncio pesado caiu sobre esse passado glori oso, para dar lugar à propaga nda do MST, dos se m-teto, dos bla ck bl ocs. Os negros e os índi os, formad ores eles também ele nossa nac ionalidade, são apresentados apenas co mo contingentes espezinh ados que prec isa m revoltar-se e reivindi ca r direitos em nome ela luta de classes e de raças. Algo de análogo ocorre nas nações irmãs de origem hi spânica . Nessa perspecti va, a ascensão ao trono ele Pedro de um Papa latino-ameri ca no signifi ca ri a, sempre segundo essa image m, o início de um leva ntamento dos pobres contra os ri cos, do MST contra o latifundi ári os, dos se m-teto contra
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j o industriai s e comerciantes, cios índi os e negros contra os brancos, enfim da Améri ca Latina, pobre e espezinhada, contra o ca pitalismo norte-american o opressor, bem como contra as tradi ções de ostentação ele um a Europa cri stã mil enar. Terí amos ass im , in stalado na Cá tedra sacrossanta de Pedro, não mais o Pai da Cri standade, o Defensor da Fé, o Vi gá ri o de ri sto, mas um promotor, em nível religiosouniversa l, dos princípi os marxistas. Dou-me bem conta ele qu e essa apresentação cheira a bl asfêmi a. Mas ela não é minha. Eu apenas estou ex plicitando aquil o que todos sentem ao lerem os jornais, as revi stas, ao ass istirem à televi são, mas que não chega m a conscienti zar inteiram ente. Essa é a image m qu e se qu er apresentar cio Papa Francisco. Insisto: só estou tratando ela imagem. Mas acontece que essa imagem pode influenciar tão a fund o as mentalidades daqu eles que a tomem por rea lidade, que pode produzir um dano irreparáve l nas alm as ele muitos ele nossos contemporâneos, sobretudo dos ca tóli cos. Importa, pois, conhecê-l a para defender-se. • E-mail para o autor: catolí císmo tcrra.com.br
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vado cargo no governo, renunciou a tudo ao ser convertido por seu parente Santo Honorato, a quem seguiu no Mosteiro de Lerin s e sucedeu depois no Bispado de Arl es.
Defendeu o Papado no Concílio de Bas iléia, e a sã doutrina católica no de Florença, contra os autores do cisma grego.
fi
São Francisco de Girnlamo, Conressor + Nápoles, 1716. Pregador popu-
São João Apóstolo, na Porta Latina São José Oper·á,•io, Esposo da Santíssima Virgem De estirpe rea l, aprouve a Deus que exercesse o trabalho manual para servir de exemplo a todos os trabalhadores católicos
2 Santos Exupério, Zoé, Cit'Íaco e Teodolus, Mártires + Panfili a (Ásia Menor), 140. Por se recusar a participar de ritos pagãos, esta fa mília de escravos - pai s e filhos - fo i severa mente açoitada e queimada viva. Primeira sexta-feira do mês.
3 Santos Felipe e Tiago Menor, Apóstolos
+ Séc. l. São Felipe deixou a casa, mulher e filhos em Betsaida para seguir a Nosso Senhor, sendo martirizado em Hierápoli s, na Frígia (Ásia Menor). São Tiago Menor, primo de Nosso Senhor, foi o primeiro Bispo de Jerusalém, onde sofreu o maitírio. É autor de wna admirável epístola. (No Calendário tradicional, neste dia: Invenção da Santa Cruz) Primeiro sábado do mês.
4
+ Séc. 1. O imperador romano Domi ciano fez com que aos 90 anos ele fosse lançado em uma ca ldeira de azeite fe rvente junto à Porta Latina. Dela, contudo, o Apóstolo virgem sa iu rejuvenesc ido. Fo i então desterrado para a ilha de Patmos, sendo o úni co Apóstolo não mártir.
7 São ;João de Beverly, Bispo + Inglaterra, 721 . Monge beneditino e depois Bispo de York, onde sucedeu a São Bosa. Notável por sua contemplação contínua, santidade de vida e dom de milagres, teve sua bi ografi a escri ta por São Beda, o Venerável, a quem ordenara sacerdote.
8 São Pcdr·o de Tarantésia, Bispo e Conressor + França, 11 74. Entrou para o Mosteiro cisterciense de Bonnevaux . Seu pai e dois irmãos seg uiram-n o nes ta dec isão. Nomeado arcebispo de Tarantés ia, refo rm ou a di sc iplin a eclesiástica, substituiu um clero corrupto de sua catedra l por cônegos regulares e desapareceu, tornando-se irmão leigo em um convento na Suíça. Encontrado, teve que reassumir suas funções.
São Roberto l ,awrence, Abade, Mártir
~)
+ Tyburn (Inglaterra), 15 35. Abade da Ca rtuxa de Beauvale, em Nottin ghamshire, por recusar o Ato de Supremacia, através do qual o herético Henrique Vlll se nomeava cabeça da Igreja na Inglaterra (ori gem do anglicanismo), fo i barbaramente torturado e enfo rcado.
São Beato de Vendôme, Conresso,·
5 Santo I lilário ele Arles, Bispo + França, 449. De fa míli a pagã da alta nobreza, exercendo ele-
+ Fra nça, séc. 111. Mi ss ionário na Gá li a anti ga, converteu inúmeros pagãos por suas palavras, exempl o e sa ntidade de vida.
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lar, jesuíta, passou a vida evangelizando o sul da Itália, onde seus sermões atraíam multidões. "Mostrou maravilhosa caridade e paciência em procurar a salvação das almas" (do Maitirológio Romano).
12 São Domingos ele la Calzada , Confessor
+ Espanha, 1109. Este eremita teve a singular vocação de tornar menos rude o caminho dos inúmeros peregrinos que iam a Compostela, construindo para eles uma estrada (calzada), uma ponte e uma hospedaria.
Primeira apa,·ição de Nossa Senhora em l• átima, em 1917
14 São Matias, Apóstolo e Mártir + Séc. L Um dos 72 Di sc ípulos de Cristo, fo i eleito à sorte para substituir o in fa me traidor Judas lsca ri otes no Colégio Apostólico (fes tividade anteriormente ce lebrada a 24 de feve reiro).
15 Santo Isaías de Rostov, Conressor + Rúss ia, 1090. Monge, Abade do Mosteiro de São Demétrio, em Kiev, e por fim , Bispo de Rostov. Trabalhou para converter os pagãos.
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São João Nepomuceno, Mártir
Santo Antonino de Florença , Bispo e Confessor
+ Praga, 1393 . Consagrado a
+ Flore nça, 1459 . Antoni o, conhec ido pelo diminutivo por ca usa de sua estatura, to rnou-se célebre por sua doutrina e obras.
Deus pelos pais desde o nascim ento, torn ou-se co nfess or da ra inha e "Cônego da catedral. Tentado em vão (pelo rei Wenceslau) a trair o sigilo
co11fessional,foi lançado ao Rio Moldávia, merecendo assim a palma do martírio" (do Martirológio Romano).
mais crue l já apresentado àquela Sagrada Congregação.
vação da vida cristã entre os leigos de Roma.
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Sa nta Rita ele Ci:íssia, Viúva + Itália, 1457. Durante 18 anos
Santo Agostinho ele Cantul:Í1·ia, Bispo e Confessor + 605. Env iado pelo Papa São
São Pascoal Bailão, Confessor + Valência, 1592. Irmão leigo franciscano, de pureza angélica, passava horas diante do Santíssimo Sacramento. Recebeu aí a profunda ciência com que refutava hereges e explicava sabiamente os mistérios de nossa Fé.
18 São João 1, Papa e Mál'lir + Ravenna (Itália), 526. "Aí aprisionado por Teodorico, rei ariano da itália, por causa de sua f é católica, foi longamente afligido na prisão até morrer: Seu corpo .foi levado a Roma e enterrado na Basílica de São Pedro " (do Martirológio Romano).
19 Sa ntos Puclêncio, M{t rtir, e Pudenciana, Vil·gem + Roma, séc. ll. Pudêncio era um senador romano batizado pelos Apóstolos e martirizado por sua fé , sorte que coube também a uma de suas filhas , Santa Praxedes. A outra filha , Pudenciana, após ter reverentemente sepultado muitos mártires e distribuído sua fortuna entre os pobres, fa leceu santamente aos 16 anos de idade.
20 Santo /\ustregésilus, Bispo e Confessor
+ Bourges, 624. Abade em São Nizier, Lyon, depois Bispo de Bourges, já era honrado como santo em vida, tal o brilho de suas virtudes.
21 Santo André Bobola, Má rtir + Polônia, 1657. Oriundo de uma das mais antigas famí lias da Polônia, entrou para a Companhia de Jesus, dedicando-se à pregação na Lituânia e depois na Polônia. Fo i martirizado por cossacos russos cismáticos com tantos requintes de maldade, que a Sagrada Congregação dos Ritos afirma ter sido o martírio
supo1tou as asperezas e infidelidades de um marido de caráter brutal, a quem converteu com sua paciência e espírito sobrenatural. Tendo ele sido assassinado, pediu a Deus a morte dos filhos que queriam vingar a do pai. Após a mmte destes, entrou para o convento das agostin ianas, onde recebeu na fronte um dos espinhos da coroa do Salvador. Operou tantos milagres , que passou a ser conhecida como a "Advogada das causas perdidas " e "Santa dos impossíveis ".
23 São Desidério, Bispo e Ml:Írtir•
Gregório Magno, evangelizou a Inglaterra, sendo considerado o apóstolo daquela nação.
28 São Bernardo de Montjoux, Conl'essor + Aos ta, 1081. Vigário Gera l da diocese de Aosta, trabalhou durante mais de 40 anos como missionário na região dos Alpes. Fundou duas hospedarias nos passos chamados Pequeno e Grande São Bernardo, onde estabeleceu um mosteiro de monges agostinianos dedicados a socorrer, com seus grandes cães, viajantes extraviados na neve.
+ França, 607. Por reforçar a disciplina ecles iástica, combater a simonia e denunciar a conduta imoral da rainha Bruni Ida, esta o acusou de paganismo ao Papa. Exonerado e banido, retornou quatro anos depois, sendo assassinado por ordem do rei Teodorico, a quem também tinha publicamente censurado.
24 Nossa Senhora Auxílio cios Cristãos Apareceu durante a batalha de Lepanto, espa lhando terror entre os muçulmanos.
29 ASC l~NSÃO DE NOSSO SENI IOR /\OS c1 tus São Ciri lo de Cesaréia, Mártir
+ Ásia Menor, 251. Menino ainda, abraçou o cristianismo sem o conhecimento do pai. Este o expu lsou de casa e o denunciou. Como se negou a renunciar à fé, foi decapitado. Modelo de todos os que perseveram na fé contra a perseguição de pais ímpios.
Santa ,Joana D'J\r•c, Virgem. + Rouen (França) 1431. Suscita-
res Pontífices da Santa Igreja, foi seu acérrimo defensor contra as investidas do poder temporal , promoveu importantes reformas li túrgicas e morreu no exílio, perseguido pelo imperador alemão Henrique IV.
Sa nta Mada lena Sofia Barat
31
25 + Sa lerno, 1085. Um dos maio-
Visitação de Nossa Senhora
(Vide p. 36)
26 São Filipe Néri , Confessor + Roma , 1595. Fundador da Congregação do Oratório, cuja principal finalidade era a reno-
Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Neste 97° aniversário da primeira apari ção de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima, Missa em louvor da Santíssima Virgem e de súp li ca pela plena correspondência da humanidade à Mensagem que Ela ve io trazer ao mundo em 1917. Sup licandolhe também que proteja a Ucrânia e a Ve nezue la, a fim de que essas nações se vejam livres da ação deletério do comunismo.
30 da por Deus para livrar a França do jugo inglês , esta virgem guerreira foi depois traída e queimada como feiticeira. Reabilitada por Calisto Ul em 1456, teve a heroicidade de virtudes reconhecida em 13 de dezembro de 1908, no pontificado de São Pio X, sendo por este beatificada em 1909 e canonizada por Bento XV em 1920.
São Gregório VII
Intenções para a Santa Missa em maio
(No Ca lendário tradiciona l, Nossa Senhora Rainha) Nota:
Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui seus nomes apenas enunciados, sem nota biográfica.
Intenções para a Santa Missa em junho • Em repara ção ao Sagrado Coração de Jesus {neste ano, festa comemorada pela Igreja no dia 27 de junho) pelos ultrajes proferid os contra Ele na peça teatral blasfema "Jesus Cristo Superstar", em cartaz na cid ade de São Pau lo . E rogando graças e bên çãos especiais para todos os nossos co laboradores e suas respectivas famílias.
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Conferência do Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança C om a ufania de ser católico, o Príncipe desenvolveu o ten1a ele sua "Reverente e filial i\1.ensagcrn a Sua Santidade o Papa Francisco··, expressando sua perplexidade ao tomar conhecimento da participação de representantes do MST e do MT~: em evento no Vaticano. · A UGUSTO VI EIRA
Ciclo de palestras do instituto PLinio Corréa de Oliveira na cidade de São Paul o em 2014 fo i aberto no di a 3 de fe vereiro pelo Príncipe Dom Bertand de Orlea ns e Bragança. Di ante de um auditóri o que lotou o Clube Homs, na Av. Pauli sta, ele fal ou sobre seu recente documento "Quo Vadis Domine? Reverente e.filial Mensagem a Sua Santidade o Papa Francisco". Coordenador nac ional da Ca mpanha Paz no Campo, o Príncipe manifestou nesse doc umento sua perpl ex idade em face da promoção, por organi smos da Sa nta Sé, de pessoas e movimentos que promovem a subversão no campo bras il eiro e no continente. Na palestra, ele reafirm ou de iníci o sua ufa ni a em ser católico, apostólico, romano, recebida da tradi ção fa mili ar e robustec ida por seu mestre, o Prof. Plini o Corrêa de Oliveira. Ela se traduz nas três devoções básicas, à Sagrada Euca ri sti a, à Santíss i111a Virgem e ao Papado, e se projeta, no pl ano te111poral , na busca da adequação das leis humanas à Lei de Deus, aos IO Manda111entos e à Lei natural.
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Rel'ol'ma Ag1·ál'ia, bamleira de mal'xistas
O Príncipe afirm ou que a Reforma Agrári a fo i bandeira co111um aos marxistas de todos os tempos e latitudes, e no Bras il, pregação constante da esquerda católi ca desde meados do séc ul o passado, co111 destaque para uma 111inori tá ri a mas ati va parce la do Episcopado, em estreita co laboração com governantes de esquerda e constante favo rec imento do subversivo MST - Mov imento dos Trabalhadores sem Terra. Para Dom Bertrand era ass im imperativo reg istrar a consternação e o desconcerto com que os agropecuari stas em particular, e os brasil eiros em gera l, tomara m conheci mento da participação do líder máx i1110 do MST e de seu equi va lente urbano argentino, o MTE - res pectivamente João Pedro Stédile e Juan Grabois - em um seminári o promovido pela Academi a Pontifícia de Ciências sobre "A Emergência das Pessoas Socialmente Excluídas". As referidas pessoas ti vera m suas despesas pagas pelo Vaticano, gozaram de pri vil égio na
CATOLICISMO
ordem do uso da palavra, consegui ram a gravação pelo Papa Francisco de dois vídeos alusivos ao evento, um a reuni ão com o Cardea l Tuckson, Presidente do Conse lho Justiça e Paz e um progra ma da Rádi o Vati ca no dedi cado aos 30 anos do MST. Apologia ele uma
11011a
sociedade
Fazendo o hi stóri co das pregações e ações desses dois age ntes revo lucionári os, ex pli citamente marxistas e co m ex pressa apologia de uma nova soc iedade, co leti vista e igualitári a, Dom Bertrand recordou o que afirm a o Documento Bás ico do MST: "As ocupações e outrasformas massivas de luta pela terra vão educando as massas para a necessidade da tomada do poder e da implantação de um novo sistema econômico: o socialismo!" (s ic). E que Grabois pro pugna uma economi a "socializada e planificada ", o que impli ca em "uma intervenção fo rtíssima do Estado ". Perguntando de onde provém a espera nça desses ex tremi stas de esquerda de contar com o apoio de organi smos da Santa Sé, ressa ltou que, segundo o ensinamento dos Papas, a questão soc ial não é meramente econômica, mas sobretudo moral e reli giosa . E sua verdadeira so lução se encontra no que fo i o lema do pontifi cado do grande São Pi o X: "Jnstaurare omnia in Christo ", isto é, na restauração do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cri sto. Como católi co e coordenador do Paz no Campo, Dom Bertrand não poderi a, e111 consciência, deixa r de mani festa r ao Pontífice sua respeitosa e fili al perpl ex idade, o que ele fez amparado no Cânon 2 12, parágrafo 3 do Códi go de Direito Canônico, afi rmando ao mesmo tempo sua obediência amorosa e irrestri ta à Sa nta Igreja e ao Papa, em todos os termos prece itu ados pela doutrina ca tóli ca. Respondendo às perguntas cio auditóri o, Dom Bertra nd info rmou sobre a ampl a difu são que sua " Mensagem" obteve, além do Brasil, na Euro pa e nos Estados Unidos, bem como ex press ivos comentári os e apoios. • E-mail pa ra o autor: ca tolicismo@tcrra.com.br Nota:
* Aqueles que desejarem ouvir a íntegra da confe rência, podem fa zê- lo acessando o site www.i pco.org.br
O presidente do Instituto Pllnlo CorrĂŞa
de Oliveira, Dr. Adolpho Llndenberg, dirige palavras ao pĂşblico
MAIO 2014
!Fall
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Na Sexta-Feira Santa, protesto contra peça blasfema e reparaçao a Nosso Senhor Jesus Cristo ,...,,
Ü blasfemador viola diretamente o primeiro preceito do Decálogo, ''Amar a Deus sobre todas as coisas", e o segundo, "Não tomar o seu santo nome em vão" u Ü SCAR VIDAL
e
orno mencionamos na edição anterior, a peça-rock "Jesus Cristo Superstar", em cartaz no teatro
CATOLICISMO
"Tomie Ohtake" (na capital paulista), zomba da figura divina de Nosso Senhor Jesus Cristo e deturpa gravemente a passagem do Homem-Deus pela Terra, onde foi crucificado e morreu para a sa lvação da humanidade.
Em razão de tal representação blasfema, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, desde o início da nefanda ex ibição, tem feito campanha de rua esclarecendo o público a respeito e distribuindo um manifesto intitulado "PAREM COM A
"Blasfêmia é d?famação! Blasfêmia não é liberdade de expressão!" "O governo não po,le .financiar a blasfêmia! Isto é cristianofobia!" Embora contando com número menor de pessoas, atos semelhantes, todos pacíficos mas indignados, ocorreram em diversas cidades de norte a sul do País. Apenas na capital paulista houve um pequeno incidente: um sujeito favorável à execrável encenação berrava a todos os pulmões e acelerava sua motocicleta, fazendo o máximo de barulho possível para conturbar as orações e os cânticos. Mas percebendo que não encontrava apoio dos passantes, retirou-se em disparada. No geral, os manifestantes católicos presentes ao ato comentavam que compareceram porque não podiam ficar indiferentes às blasfêmias, assistindo de braços cruzados as afrontas aos símbolos sagrados da Religião. Entre as várias repercussões, a título de exemplo, narro esta: próximo à entrada do referido teatro, um casal conversava, enquanto observava a manifestação de repúdio à peça blasfema. Em certo momento, o senhor disse para a mulher: - Sabe de uma coisa? Eu não vou assistir esse teatro não! - Mas como?! Você já pagou, agora vamos perder os ingressos ? - Olha, é melhor p erder o ingresso do que p erder a alma!
BLASFEMIA JÁ!". Tem feito também atos de protestos e de reparação diante daquele teatro, em horários da encenação.
Manifestação na Sexta-Feira Santa Na Semana Santa, o ato organizado pelo Instituto Plinio Corréa de Oliveira diante do teatro contou com aproximadamente 200 manifestantes indignados com o grave ultraje a Nosso Senhor na própria Sexta-Feira Santa. Naquela noite, muitos portando velas, rezaram um terço público em desagravo ao Divino Redentor - ali representado por uma pungente imagem de Cristo Flagelado [foto] - , bem como bradaram slogans repudiando a peça teatral. Também entoaram cânticos religiosos acompanhados por uma fanfarra. Eis alguns trechos dos slogans bradados:
"Reparação a Nosso Senhor Jesus Cristo gravemente ofendido pela peça ,le teatro Jesus Cristo Superstar" "O Brasil não quer a blasfêmitll O Brasil não quer a dijàmação!"
"1'e11tativa satânica de ridicularizar o Homem-Deus" A repugnante encenação teatral "Jesus Cristo Superstar" foi exibida pela primeira vez no Brasi I em 1972. Por ocasião de sua estreia, Plínio Corrêa de Oliveira (1908- 1995) fez um pronunciamento manifestando sua repulsa, classificando-a de "exemplo do subdesenvolvimento mental do 'hippismo ', numa tentativa satânica de ridicularizar o Homem-Deus". Afirmou ainda que só trataria do assunto em consideração ao repórter, pois, segundo ele, "torpezas desse género não merecem comentário ". E concluiu: "Considero a p eça destinada a lançar sobre a figura divinamente majestosa de Cristo o ridículo e a irrisão. 'Jesus Cristo Superstar 'não se sustenta sequer como trabalho artístico " . • E-mail para o autor: catoli cis111o@lcrra .co111 .br
PS: Para participar de um abaixo-assinado contra a referida peça teatral acesse o site www.ipco.org.br
MAIO2014 . _
Marcha contra o aborto no Peru: a maior na história da América Latina Lu1s DuFAUR
oi a maior passeata pela vida já rea li zada no continente sul-ameri cano, contando com uma cifra que vari a entre 250. 000 e 300.000 pessoas, segundo fo ntes diversas, info rmou " Reli gión en Libertad".1 Na Terceira Marcha pela Vida na capital peruana, jovens, adul tos e cri anças marcharam a partir das 9 da manh ã do di a 22 de março úl tim o pelas grandes avenida Bras il e Javier Prado, chega ndo a atingir uma ex tensão de 40 qu arteirões. Poucos di as depois houve marchas análogas nas cidades de Piura, Trujillo, lqui tos, 1-luancayo e Arequipa. Nesta última, mais de 100 mil pessoas participaram do VIII Grc111 Corso por la Vida, La Familia y la Juventud, no Dia da Criança por Nascer. 2 Para muitos participantes, fo i uma surpresa ver o própri o Cardea l-arcebispo de Lima fa lando à imensa multidão, como faze m certos cardea is e bispos dos EUA e do Canadá nas marchas contra o aborto. No Peru o aborto é il egal, mas ex i te um a norma, antiga de 90 anos, que permite o aborto "terapêuti co". Tal norm a é tã.o arca ica que nunca se verifi ca m circunstâncias para a sua apli cação. Porém, a ministra da Saúde, Midori de 1-l abi ch, anunciou que o governo aprova ri a antes de junho uma "guia técnica que regula o aborto terapêutico". Na prática, o conse nso geral percebe nesse anúncio um pretexto para tra nsfo rmar sorrate iramente a mencionada norm a numa generali zação da práti ca do aborto. Em 2009, os grupos peruanos pela vida perceberam a necess idade de se orga ni zarem, quando o governo lega li zou a pílula do di a seguinte, qu e provoca a morte do embri ão. •
F
E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas:
1. http://www.rcli gioncnlibcrtad.com/arti culo.asp? ida rtic u\0=34623 )
2. hll p: //www,aciprcnsa.co111/noticias/pcru-mas-dc-80-mi lparticiparon-cn-corso-por-la-v ida-cn-a rcqu ipa-28774/)
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CATOLICISMO
oAyó~to{o -do Brasi[ .,,
Edição comemorativa da canonização
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Um castelo de sonhos e heroísmo cristão
Situado na cidade de Almansa, na província de Albacetc (Espanha), o castelo de Ahnansa é o mais preservado da região de Castilla La Mancha. Cravado no Cerro dei A guila, suas origens remontam ao século XIII , mas a aparência atual é do século XV, quando passou a ser propriedade de Dom Juan Pacheco, M arquês de Villena. Em 192 1 a forta leza foi declarada M onumento Histórico-A rtístico N acional.
■ PUNIO CORRÊA DE OLIVEIRA
e
orno que se faz análise de uma fotografia? Olhando e tendo a primeira impressão; depois, procurando ver qual a sensação que ela causa e, em seguida, analisando o fundamento dessa sensação. Na foto desse castelo da Espanha, o AI mansa,* é preciso fazer uma distinção entre dois campos visuais admiravelmente harmônicos, mas perfeitamente distintos. Um é o castelo propriamente dito - com a montanha que lhe serve de base - e o outro é o conjunto de nuvens extraordinárias que servem de moldura para a fortaleza. O castelo e as nuvens fazem centralizar toda a vista na torre. Esta incute a impressão de altaneria, dignidade e majestade extraordinárias. Tem-se a ideia de que ela enfrenta, do alto desse monte, um inimigo que surge ao longe. Mas que ela o enfrenta com galhardia, olhando como quem ameaça dizendo: "Aproxima-te que eu te esmago, não temo!" Não é fanfarronada. Porque se percebem outras muralhas da fortaleza, que mostram o quanto ela é profunda, que possui tropas e outros elementos para resistir. Esse fidalgo atrevimento da torre tem a sua razão de ser: revela que o castelo é poderoso e não teme nada. No alto, as nuvens se acumulam densas e majestosas.
Dir-se-ia que elas simbolizam o tremendo da batalha que pode dar-se. Seriam como que uma voz da História dizendo ao senhor feudal do castelo: "As ameaças da vida pairam sobre ti, chegou a tua hora de lutar. Sê herói ou serás esmagado!" Nesta cena, o artista soube fotografar o castelo numa hora em que a luz deu-lhe a aparência de âmbar ou de porcelana. É um castelo de sonhos, um castelo irreal. Qual a missão desse castelo? Lembrar à alma comodista do homem contemporâneo alguma coisa que o deve envergonhar. É que ele perdeu o senso do sacrificio, perdeu o gosto da luta e não sabe mais o que é ser herói. Para as populações acovardadas de hoje em dia o castelo é uma lição de moral, que fica proclamando a grandeza de alma dos espanhóis da Reconquista, que por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Nossa Senhora e à Santa Igreja Católica, foram povoando a Espanha de castelos à medida que iam reconquistando o país; para que os muçulmanos não pensassem jamais em voltar. Se voltassem , encontrariam essa rede de castelos para fazer-lhes oposição. É o heroísmo cristão! Heroísmo que nasceu no mundo quando Nosso Senhor Jesus Cristo expirou na Cruz, redimindo o gênero humano e a Santa Igreja católica pôde começar a difundir-se entre os povos. •
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 5 de maio de 1984. Sem revisão do autor.
, ,, Pu N1 0 C o RRÊA DE O uv E1RA
Devoção eucarística e devoção mariana: antídotos para os males atuais P or ocasião da "Semana Eucarística de Campos" (RJ), cm 23-4-1955, pediram a Plinio Corrêa de Oliveira que tratasse da influência da Eucaristia no mundo moderno. A seguir~ alguns trechos de sua conferência.*
'' se
um a nação como o Bras il, tão di gna de melh or prese nte, se co ntorce neste momento numa cri se das mais graves da sua históri a, é porque lhe fa lta a mora lidade, porque lhe fa lta a coerênci a da fé co m as ati tudes práti cas, porque temos a tendência, qu e infe li zmente cada vez mais nos invade, de adorar a Deus Nosso Senhor só co m as palavras, di zendo 'Senhor! Senhor! ' , mas continuando a viver como bem entendemos. [.. .] "Mas também é ve rdade qu e, neste mundo cada vez mais domi nado por esse espírito [de co rrupção, da civilização moderna], está presente Al guém eterno, que é Nosso Senhor Jes us Cri sto, se mpre presente em todos os sacrári os da Terra - nos sac rários de ouro, nos sac rários indi gentes, nos sacrári os ocultos dos paí es qu e estão atrás da Cortina de Ferro ou da Cortina de Bambu. Mas este Al guém, cuj a presença não se sente com os sentidos da ca rne, é o grande Apóstolo do mundo contemporâneo, co mo de todos os tempos; e Ele fa la constantemente às almas, ensinando-as pela linguagem muda, mas infinitamente eficaz, que é a de Deus Nosso Senhor. Ele lhes fal a constantemente a respeito da necess idade de o homem se opor a essas coisas que constituem a sua miséri a e degradação; da necess idade de CATOLICISMO
voltar no se u ca minho, em oulro se nlido; de co nstruir sua vida sobre Deus, sobre o sac rifício e a renúncia; de ace itar a autoridade; de se vo ltar e se converter a Deus Nosso Senhor, de todo o co ração. [.. .] "No momento em qu e a iniquidade está chega nd o ao seu cúmul o, a graça e a miseri córdi a de Deus chega m ao seu cúmul o também. À fo rtaleza do vício e do mal, Deus opõe um a indômita fortaleza do bem. O triunfo da Igreja Católi ca dar-se-á no mundo moderno, certamente pelo embate giga ntesco entre as fo rças pequenas do bem e as fo rças enormes do mal. Essa vilóri a ., será a da Sagrada Euca ri sti a, fo nte de graça aberta para o mundo pela intercessão de Nossa Senhora , que reza ndo sempre a Jesus Euca rístico, consegue para nós as graças de que precisa mos. "Esse papel da Sagrada Eucari sti a no mundo moderno faz pensa r em Nossa Senhora. E como não se pode fa lar em triunfos e em graças se m fa lar n' Ela, que é a Medi aneira necessá ri a, posso afirm ar que um dos don s mais preciosos que a Sagrada Eucari sti a dá ao mundo é a devoção a Nossa Senhora. É essa devoção, tão característica e tão radi cada em nossa Terra de Santa Cruz, que há de salvar o Bras il ". •
* Sem rev isão do autor.
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Distinguir entre o Bem e o Mal
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D1scm{N1Nno
Elei~ões polarizadas na Colômbia
Em jogo o futuro ela Colômbia
Venezuela, o caos e as reações
A EucaristÍa e a celebração de Corpus Christi m:
SANTos
São Bonifácio, Apóstolo da Alemanha
O desmoronamento da JOC
44 V AnmoAo..:s França: cresce apetência pelo Batismo
46
SANTOS ,,: J◄'..:sTAS oo Mf.:s
48 AçÃo
CoN·1·1u-Rrwo1,U<;mNÁ1UA
52 AMRmN·n:s, Cos'l'UMES, C1v11.1ZA<;fms O dom da ação humana exempljJJcado com Talleyrand Nossa Capa: Basílica do Santíssimo Sacramento (Buenos Aires). Foto: Luis Gui ll enno Arroyave
JUNHO2014 -
Caro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração : Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (Oxx11) 3333-6716 Correspondência : Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catolicismo@terra.com .br Home Page: www.catolicismo.com .br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Junho de 2014: Comum : Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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A celebração de Corpus Christi, uma das maiores festas litúrgicas da Igreja, comemora-se neste ano no dia 19 de junho. Catolicismo dedica a ela a matéria de capa desta edição. De início o articulista expõe principalmente as excelências da Sagrada Eucaristia, ressaltando que, segundo Santo Tomás de Aquino, "todos os sacramentos estão ordenados para a Eucaristia como para o seu.fim". E que a dádiva do Divino Sacramento é "uma graça de heroísmo na luta, e que seu efeito próprio é não só o de amortecer em nós o.fogo das paixões, como o de tornar-nos invencíveis contra todas as potências infe rnais". Instituindo a Eucaristia na Santa Ceia com os Apóstolos, nas vésperas da Paixão, Nosso Senhor Jes us Cristo quis manifestar seu incomensurável amor aos homens, mediante um Sacramento que Lhe permitia permanecer na Terra, presente verdadeiramente sob as aparê ncias das Sagradas Espécies - o pão e o vinho. A origem da festa de Corpus Christi remonta ao século XIII, com Santa Juliana de Cornillon, alma eleita por Deus para receber a revelação sobre a conveniência para a Igreja do estabelecimento de uma solenidade destinada à glorificação do Santíssimo Sacramento. O admirável e afamado "Milagre Eucarístico de Bolsena", ocorrido nessa cidade italiana, representou um poderoso fator para difundir por toda a Igreja a comemoração de Corpus Christi. Com efeito, com a bula Transiturus de hoc mundo, de 11 de agosto de 1264, o Papa Urbano IV estendeu a todo o Orbe católico a Festa do Corpo de Cristo. Por ocasião de uma viagem à Itália, no ano passado, nosso colaborador Pau lo Roberto Campos assistiu e fotografou as belíssimas festividades de Corpus Christi em Orvieto. Assim, na parte final do artigo, nossos leitores poderão apreciar o fausto dos maravilhosos trajes medievais evocado a cada ano pelos habitantes daquela cidade, cujo rico passado religioso e artístico reluz em honra do incomparável sacramento, na celebração da fé na presença real de Nosso Senhor na Eucaristia. Desejando a todos uma leitura profícua dessa matéria, rogo a Jesus Sacramentado, hoje em dia tão desprezado e mesmo ofend ido, concederlhes bênçãos muito especiais, particularmente por ocasião da Festa de Corpus Christi. Em Jesus e Maria,
CATOLICISMO
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
catol icismo@terra.com.br
DIRETOR
Os gestos de Deus ão apenas c~m palavras podemos nos comunicar com os nossos semelhantes, mas também por gestos e outros meios. Um movimento vertical da cabeça pode indicar assentimento, enquanto o movimento horizontal significa negativa. Os exemplos são tantos que seria supérfluo deter-se neles. A linguagem dos gestos é tão extensa que, utilizando-a, dois mudos podem conversar entre si com toda comodidade. Na célebre peça teatral Cyrano de Bergerac, seu autor, Edmond Rostand, imagina Cyrano sendo repreendido por um amigo por ter lançado fora um saco cheio de moedas. Este lhe diz: Que tolice! Ao que Cirano responde: Mas que gesto! Se até os hereges podem falar por gestos, conforme artigo publicado nesta revista por Arnaldo Xavier da Silveira, em dezembro/ 1967, intitulado "Atos, gestos, atitudes e omissões podem caracterizar o herege", quanto mais os santos. Santa Terezinha, por exemplo, "oferecia a Deus todos os gestos e sacrificios, do menor ao maior, pela salvação das almas". Se por essa forma podemos nos manifestar, pergunta-se: Deus também pode comunicar-se com os homens por gestos? O que seriam esses gestos divinos? A resposta não pode deixar de ser positiva. A abertura do Mar Vermelho, para que através dele se salvassem os judeus perseguidos pelos egípcios, é um exemplo frisante. Nosso Senhor chicoteando os vendilhões do Templo, é outro exemplo. Vamos dar um passo a mais. Hoje em dia, Deus ainda fala através de gestos? Essa pergunta me foi sugerida por um amigo. Para um espírito timorato, a questão pode incomodar, mas é difícil, e pode
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chegar a ser temerário, negar a Deus essa possibilidade. Talvez até uma atitude de indiferença ante os gestos de Deus possa caracterizar uma falta que faça Nossa Senhora chorar. O terreno pode parecer escorregadio e afirmações peremptórias nem sempre encontram eco na realidade. Mas isso não significa que seja vedado levantar hipóteses a respeito. Essa possibilidade de arriscar interpretações possíveis, desde que razoáveis, é uma das faculdades mais preciosas que Deus nos deu. A própria ciência progride através de hipóteses, a serem depois confirmadas ou in:firmadas. Feitas tais ressalvas, alguns fatos poderiam, talvez, incluir-se na categoria de gestos de Deus. Exemplifiquemos. 1 - Na noite da renúncia de Bento XVI, um raio atingiu a Basílica de São Pedro. 2 - No início de 2014, um temporal de violência inusitada se abateu sobre o Santuário de Fátima, Portugal, danificando todo o seu perímetro. Nesses dias se comemoravam 75 anos da grande aurora boreal de 25 de janeiro de 1938, conside-
rada como a realização do aviso de Nossa Senhora de catástrofes que viriam . 3 - Na antevéspera da canonização de João XXIII e João Paulo II, em 24 de maio, uma pesada cruz caiu em Bréscia (Itália) sobre um grupo de jovens, matando um deles e ferindo outro. A cruz havia sido erigida em comemoração da visita de João Paulo Il à cidade em 1998. O rapaz morto morava na Rua João XXUI e alguns lembraram que Bréscia é a província natal de Paulo VI. 4 - Em 2013, com menos de um mês de intervalo, duas enormes calamidades atingiram as Filipinas. No dia 16 de outubro, um terremoto de magnitude 7.2 produziu grande destruição, inclusive de igrejas. Em 8 de novembro, o tufüo Haiyan causou por volta de 2.500 mortes. Nas duas imensas tragédias registrou-se o mesmo fenômeno: imagens de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus ficaram admiravelmente incólumes em meio aos escombros. O leitor arrisca uma interpretação para esses fatos? Se quiser, pode escrever-nos. • JUNH02014-
PÁGINA MARIANA
Notável milagre de Nossa Senhora de Loreto P rovas é o que não faltam. Se alguém desejar conferir para crer, exisLcm muiLíssimas evidências a favor da aLuação sobrcnaLural da Virgem, mesmo em nossa época de incredulidade.
stive mais uma vez em peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Loreto, onde se encontra a Santa Casa em que Ela morou na Palestina, a qual foi transportada milagrosamente pelos anjos até a Itália. A história deste milagre e as provas do mesmo já foram publicadas nesta revista [por exemplo, edição de dezembro/ ] 985 e dezembro/1997]. Mas constate i com satisfação que as autoridades do Santuário se empenham em publicar os milagres que se têm operado em época recente, de forma a fortalecer a fé de pessoas com dificuldade em acreditar. Os milagres são de ordem fisica, ou seja, curas de doenças conhecidas. Entretanto, os mais importantes são os de ordem espiritual, as curas das doenças da alma . Estas, embora sejam superabundantes, não se manifestam por meio de provas materiais, a não ser pela notória mudança de vida das pessoas assim favorecidas. E em alguns casos se dão concomitantes a um milagre físico, relativamente fáci l de provar com radiografias, testes médicos, depoimentos de cirurgiões etc. No milagre moral acreditará quem tiver fé ou conhecer a pessoa favorecida.
Matelica, Itália, muito comentado na época, publicado em jornais e hoje em livro.' Além disso, porque a miraculada escreveu um diário 2 muito interessante, que foi o que mais me atraiu, por conter, por assim dizer, a marca da autenticidade. Algumas pessoas podem pensar que um diário desse tipo conteria uma série de relatos de dores misturados com graças sobrenaturais, terminando numa espécie de êxtase na ocasião em que ocorre o milagre. A realidade é bem diferente. A Sra. Cecília, casada com o Sr. Mario Palmieri, tinha três filhos em 1960. Infelizmente foi acometida por uma doença bem comp li cada - nevralgia no nervo trigêmeo. Esse nervo é assim denominado porque se divide em três partes, que conduzem a informação sensitiva para boa parte do crânio. Quando essa doença se manifesta, ela produz terríveis dores de cabeça, fa lta de visão, extrema sensibilidade a ruídos etc. A Sra. Cecí li a padecia dessa enfermidade havia oito anos. Os médicos tentaram todas as curas possíveis na época, mas nada funcionou , chegando seu estado de saúde a tornar-se desesperador. Ela conta que à medida que percebia a dolorosa realidade, já tinha se resignado a deixar este mundo. Só aceitou ir a Loreto porque não queria morrer em casa diante dos três filhos e dar a estes o choque de vê- la fa lecer.
O caso da Sra. Cecília Zeppa
Embal'que rumo a Loreto
Significativo neste sentido foi o milagre ocorrido em 1960 com a Sra. Cecília Zeppa (foto), residente na cidade de
Os problemas começaram antes de ela iniciar a viagem . Sua situação era tão má, que o capelão do trem sanitário rumo ao
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Santuário estava propenso a não levá-la, pois poderia falecer no percurso e mortes nessas circunstâncias trazem todo tipo de complicações para os demais enfermos presentes no trem. Discussões e pressões dos amigos da enferma resolveram finalmente o problema. Instalada no vagão, ela permaneceu num compartimento em que um funcionário, temporariamente de serviço e contrário à religião, começou a blasfemar, dizendo que ela se parecia com sua mulher e que era para ele motivo de revolta ver como Deus permitia tais doenças etc. Com o tempo, observando a paciência e resignação de Cecília, o funcionário se tranquilizou. O trem chegou à noite no Santuário, e como não era mais possível entrar, instalaram-na numa sa la denominada dos Anjos da Guarda, onde passaria a noite. Outras doentes, que se encontravam próximas, achavam que ela não sobreviveria até a manhã seguinte. Por isso, pediram para ir para o lado oposto da sala, pois não queriam ficar perto de alguém que morreria naquela mesma noite. De fato, Cecí lia estava em tal estado que, apesar do ti-emendo calor daquele dia 18 de junho, nem água conseguia beber, devendo alguém empapar de tempos em tempos um lenço e molhar-lhe os lábios para refrescá- la. Um médico que visitava os doentes deu ordem para que nem sequer fosse movida, nem levada para dentro do Santuário, pois a doença poderia extinguir suas últimas resistências. A pobre senhora pensava, em sua tristeza, que apesar de ter chegado a poucos metros do Santuário, não conseguiria nele adentrar.
O /'ato miraculoso No entanto, desconhecendo a ordem médica, um senhor, vendo-a sozinha numa sala, pegou a maca e, com a ajuda do mesmo funcionário temporário de serviço que blasfe mara no dia anterior, levou-a para dentro da Santa Casa. Uma vez dentro, não imaginemos que Cec ília teve uma espécie de consolação ou algo parec ido. Não. O que ela mesma conta é o contrário: sentiu como se um gigantesco martelo tivesse caído sobre sua cabeça; sentia uma terrível dor no coração, e pensando que ia morrer, apenas dirige algumas palavras à imagem de Nossa Senhora: "Aqui estou, minha Senhora,
estou pronta. Meus filhos, meu marido, meus pais, a Vós confio, ajudai-os". E, subitamente, uma sensação dupla: um mal imprevisto e indescritível, e logo um bem extraordinário. A sensação de bem-estar foi tão forte que, em determinado momento, ela preferiu voltar à dor, de tal forma sentia um incômodo com a nova sensação de ausência da dor. Num primeiro instante ela pensou em saltar fora da maca e gritar "milagre!", mas logo lhe veio uma dúvida: "E se tudo
não fosse senão auto-sugestão? Será que agora também o cérebro está doente? Será alguma coisa temporária?". De forma que ficou tranquila na maca e deixou-se conduzir para fora sem se manifestar.
Era a hora da refeição. Como um dos efeitos da doença no nervo é eliminar as sensações do olfato e do paladar, ficou surpresa ao ser tomada de terrível fome ao ver o pão e sentir o cheiro da sopa. Neste momento um alto-falante velho e enferrujado no pátio começou a tocar a todo volume a "Ave Maria" de Schubert. E ela, que antes não podia suportar o menor ruído, ficou espantada por não sentir nenhuma dor. Enquanto se alimentava com um apetite assombroso, sentiu que se aproximava um funcionário. Era o blasfemo que havia ajudado a transportá-la na maca. Cecília pensou: se ele recomeçar a proferir blasfêmias, gritarei para que se cale! Mas, para sua enorme surpresa, o homem lhe contou que, ao levá-la diante da imagem, sentiu uma graça súbita de arrependimento, indo se confessar e comungar - o que não fazia desde o dia de seu casamento. Curiosamente, de todos os personagens que aparecem em seu relato (médicos, especialistas, capelães, parentes , etc.), este é o único cujo nome até hoje ninguém conhece.
O rntorno
à Santa Casa
Ao voltar para casa já se sentia curada, mas nada dizia, para não escandalizar. E deixava-se transportar, pois após tantos anos deitada, estava sem forças para caminhar. Mas, uma vez em seu lar, todos notaram que algo havia mudado. O mais desconfiado era o marido, que temia ser uma melhoria temporária, depois da qual viria uma desilusão . O primeiro a falar decididamente em milagre foi o médico, a quem não era possível enganar. Ele conhecia perfeitamente a debilidade extrema da doente, e agora via que ela podia executar todos os trabalhos domésticos, como lavar a roupa à mão sem o menor esforço. Portanto, não é de estranhar que o primeiro documento comprobatório de algo fora de série tenha sido o dele. Dois meses depois, em agosto de 1960, já totalmente recuperada, Cecília Zeppa retornou a Loreto para assistir à primeira comunhão de sua filha Rosanna . Este é um dos tantos milagres registrados . Todas as confirmações encontram-se em Loreto: datas, endereços, documentos, atestados médicos, registros de viagem, nomes e sobrenomes. Para quem desejar uma verificação, está tudo registrado. Pois, como dizíamos no início, provas é o que não faltam. Se alguém desejar conferir para crer, existem muitíssimas evidências a favor da atuação sobrenatural da Santíssima Virgem de Loreto. • E-mail para o autor: catolic ismo@terra.com.br Nostas: 1. Le guarigioni a Lorelo, Dott. Pierluigi Cavatorti, Ed. Congregazione Universak Santa Casa, Lorcto, 200 1. 2. Cecí lia Zeppa, Diario di una miracolata a Lorelo, Ed. Santa Casa, 111 , Loreto, 2002.
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as criaturas, desde os minerais até os anjos. Ah, e também gostei das pinturas de Maria Santíssima, de cada uma delas dá vontade de fazer um quadro. Ah , e também do exemplo da pequena maçã que ofertamos a Deus, por meio de Maria. De coração, muito obrigada! (U.S.L. -
RJ)
Um dos maiores cruzados
Retiígio dos pecadol'es
i:8l Sem Nossa Senhora em nossas vidas, as coisas ficam muito dificeis. Ela é quem aplaina nossos caminhos cheios de perigos, de emboscadas , tanto dos inimigos do catolicismo, quanto dos próprios demônios que rondam para nos perder. Ela refugia sob seu manto os filhos fiéis e convence os pecadores a se converterem para poderem, também eles, se refugiarem sob seu manto. Tenho experiência nisso e sei como Ela resolve quando a gente invoca seu nome . Recorrendo a Ela os demônios fogem. Aos incrédulos, faço o desafio: experimentem e verão como a vida ficará mais suave, mesmo nas dificuldades que atravessamos e que Deus nos manda para nos purificar de todo pecado. Ele deseja que sejamos parecidos em algo com sua Mãe, concebida sem pecado original. (M.A.J. -
SP)
Nossa Senhora, Rainha
i:8l Gostei muitíssimo da revista que trouxe como matéria principal o artigo do Duque Paul de Oldenburg. Peçolhes transmitir a ele meus parabéns entusiásticos e também meu agradecimento, pois me ajudou muito a unir-me mais a Maria. Vejo que preciso abrir inteiramente as portas de minha alma para Ela, minha Rainha, que deve reinar neste mundo não apenas espiritualmente, mas de fato, para solução das crises do mundo. Gostei muito também das considerações que o autor fez sobre
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Fico com a sensação de que se os brasileiros (pelo menos uma boa parte) soubessem do grande poder que possuímos pelo fato de termos um santo tão poderoso como São José de Anchieta, as coisas no Brasil seriam bem diferentes, para muito melhor. Ele é um poderoso advogado nosso ao lado de Deus, mas os brasileiros o desconhecem. E quando conhecem alguma coisa da vida do grande " Apóstolo do Brasil" e "Bandeirante da, Fé", não conhecem o mais relevante que é sua história dedicada ao Brasil para a formação de uma grande nação católica. Uma grande civilização nascida aqui e forjada inteiramente na perfeição da doutrina cristã. Eu digo que ele não foi só o fundador de São Paulo, mas - em certo sentido, e no melhor dos sentidos - do Brasil no conjunto, devido à influência da personalidade fortíssima de Anchieta. Espero da revista "Catolicismo" mais e mais sobre o novo santo brasileiro. Esperamos muito para a canonização do nosso Anchieta, um dos maiores cruzados de Cristo, mas por fim chegou a nossa hora. (T.B.E. -
SP)
Rede11ção e Ressul'rnição
i:8l Tinha lido a resposta do Monsenhor José Villac na revista de abril e aguardava a deste mês [maio] para lhes escrever e dizer que nunca vi uma explicação tão bem feita e esclarecedora sobre o alcance da Redenção e da Ressurreição de Jesus Cristo. Tenho leituras a respeito, mas meio confusas. Estava com algumas dúvidas, mas as duas respostas do Monsenhor José Villac são perfeitas! Apreciei especialmente o esclarecimento sobre o conceito "modernista" de "Mistério Pascal". Parabéns! (L.C. -
RS)
Vel'dadeirn revista católica
i:8l Caro diretor da revista Catolicismo, venho por meio deste e-mail expressar a grande alegria que sinto em saber que existe pelo menos uma revista católica neste país, que verdadeiramente expressa o que é ser Católico Apostólico Romano; expressarei mais à frente o motivo dessa afirmação. Sou seminarista, tive minha formação católica e noto que parte das dioceses que residem neste solo nordestino sofrem (ou sofreram) com a influência massiva da Teologia da Libertação, a ponto tal que o ensino catequético e litúrgico tomou rumos um pouco desastrosos para a vivência espiritual do ser cristão nesta região. Aqui faço um desabafo! Entristece-me ver que a ideologia marxista mascarada por uma corrente teológica venha deteriorando a nossa amada Igreja. Igreja sim, de um povo sofrido, mas de fé . Ideologia teológica esta que se aproveita das condições paupérrimas do Povo de Deus para perverter suas mentes dentro de uma pseudo-proposta cristã. Afirmo aqui, com grande descontentamento, que "militei" por esta corrente (não por vontade própria, mas por não conhecer a Verdade na qual a Igreja revela), mas graças à grande misericórdia de Deus, vi a verdadeira Verdade a qual a Santa Igreja Católica prega e sempre pregou a sã Doutrina de Cristo nosso Salvador. A partir da minha entrada no seminário pude conhecer, ler e aprofundar sobre tudo aquilo que o Depósito da Fé nos mostra e revela. Neste sentido, sempre li revistas e mais revistas que se dizem "católicas", mas o que pregam é um verdadeiro acervo de marxismo cultural, e digo revistas estas de destaque no meio eclesiástico. Ao passar as férias em minha casa neste ano de 2014, fui presenteado com um exemplar da revista Catolicismo dado por um piedoso católico amigo. Caro Sr. Paulo Corrêa, que grande felicidade eu senti em ler os artigos desta estimada revista, que grande senso de catolicidade, que fidelidade à Doutrina, que preocupação com os princípios e fundamentos tradicionais,
princ ipa lmente p elas fi li a is pa lavras dirigidas ao Santo Padre pelo Príncipe Dom Bertra nd de Orleans e Bragança, simplesmente magnífico . Portanto, encerrando minhas breves palav ras, para beni zo o senh or e toda a equipe de editores e redatores desta verdadeira rev ista CATÓLICA, e peço a Deus que E le faça deste veículo um ve rdade iro Arauto da D outrin a C ri stã nesta ba ta lh a q ue é trava da constantemente contra as fo rças do inimigo. Inimigo este presente fo rtemente na nossa soc iedade, cuj o obj etivo é destruir os va lores e preceitos cri stãos, como ta mbém a própria Igrej a. Mas no fi m o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de M ari a triunfa rão sobre o mal. (M.H.A.C. -
PE)
Culturn autêntica [8:J Li e re li a mensagem de Dom Bertrand . I mpress io no u- me so bre tud o a consistência do texto, respe itoso e elegante na fo rma, como seria de se esperar de um trabalho do Príncipe. Mas, também, du ro e m seu conteúdo, como seria de desejar diante da condu ta do Papa Francisco e de outras autoridades eclesiásticas. Penso que o documento deverá ter ampla repercussão, sobretudo no exte ri o r, até po rqu e aqui a mídi a, inclusive a da falsa direita, irá sabotá- lo. A mensagem do Príncipe me tro uxe à memória uma confe rência do Dr. Plinio Corrêa de O live ira sobre a terceira parte do Segredo de Fátima, profe rida nos anos 70 do século passado e publicada no exterior, que pude ler e guardar em meus arquivos. Ne la Dr. Plíni o pros pectou o poss ível conteúdo das pa lavras de N ossa Senhora, oculto até hoj e pelo Vati cano, e infe riu que bem poderia se referir a um Papa infie l que - diante dos fracassos da estru tura do movimento comunista estaria levando o povo cató li co para o mesmo comunismo. N este contexto Dom Bertrand prestou um grande benefic io à opini ão públi ca ao di vulgar fa tos estarrecedores e anali sá-los em profundidade com os subsídi os de sua cul tura autenti camente católi ca.
(R.A.L. -
FRASES SELECIONADAS "Adiai a operação, até que a desintegração moral do inim190 faça com que o 90Cpe mortal se tome possíveí e fád[i os capitalistas nos vão verufer a corda com a qual os enforcarenws" (UV\,LV\,)
"Em um ponto, apenas, Lênin se e119anou. Os seus sucessores não têm necessidru:fe de comprar essa corda. Os capitalistas Ches estão dando. Estão Ches pagando dinheiro, e muito dinheiro, para que a aceitem... " (PLLV\,LO C.orrêlil ele oLLveLrlil)
"O Comunismo não é a.fratemidru:fe: é a invasão do ódio entre as cfasses. Não é a reconci[iação dos homens: é a sua exterminação mútua. Não atvora a 6anáeira do E,v~eífw: 6ane Deus das almas e das reivindicações populares. Não da tréguas à, ordem. Não conhece a Ci6erdade cristã. Disso(veria a sociedade. E,~iJ1.9Uiria a reC19ião. Desumanizaria a liumanidru:fe. Everteria, su6verteria, inverteria a o6ra do Criador" (RuL "E>lil rbos/il)
BA)
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■ Monsen hor JOSÉ LUIZ V!LLAC
Pergunta - Monsenhor Villac: tenho 21 anos e gosto muito de ler, na revista Catolicismo, as páginas que o senhor dedica para esclarecimento de questões modernas à luz da doutrina católica. São realmente muito interessantes e um farol para todos os católicos conhecerem sua doutrina frente a problemas complicados de nosso mundo, hoje. Então, é ao senhor que peço o favor de me esclarecer uma dúvida muito importante para mim. Tenho certeza de que suas explicações vão dar rumo certo ao que devo seguir na minha vida. O que acontece é que sou virgem, e queria muito me casar virgem, porque sei que só se deve ter relações sexuais após o casamento. Tenho uma namorada de 20 anos que descobri que não é virgem. Ela não me contou antes porque tinha medo que eu a largasse. Ela disse que se arrepende do que fez e não me falou antes apenas por medo, e não por maldade. Ela é sincera nesse ponto, pois a conheço bem. Então acredito nela, e não pretendo me afastar dela por isso. Mas sinto algo de insuportável nesse fato: não me acostumo com a ideia de que ela não é virgem. Sendo eu virgem, e tendo tido sempre a vontade de casar virgem, descobrir que a mulher que amo não é virgem ... isso me atormenta! Não sei se me afasto dela por isso. Então queria uma orientação do senhor sobre esse ponto. Não sei se devo dar tanta importância a isso, ou se há algum problema maior na questão. Desde já agradeço e peço, por favor, que me ajude.
formulado em português) até as regras do comportamento e do relacionamento humano. O festival de Woodstock, em agosto de 1969, nos Estados Unidos, foi uma manifestação concreta dessa liberação moral desenfreada, e serviu de ponto de referência para a disseminação de tal Revolução que, com velocidade crescente, alcançou quase toda a sociedade, no mundo de hoje. Para nos restringirmos à consulta que nos foi apresentada, pode-se dizer que até a Revolução da Sorbonne, prevalecia o princípio de que as moças deviam chegar virgens ao casamento. E, grosso modo, esse princípio era observado na prática. Quanto aos homens, havia muito que tal princípio era largamente desrespeitado, e a sociedade fazia vistas grossas para ele. Depois da Revolução da Sorbonne e de Woodstock, chegou-se ao ponto de as próprias moças sentirem vergonha de permanecerem virgens . Os jornais bras ileiros noticiaram o caso de uma menina de 15 anos que, ao chegar em casa, noticiou triunfante : "Mamãe, já não sou virgem! " Diante desse quadro, de conhecimento geral , é realmente consolador verificar que, por uma ação do Divino Espírito Santo, começam a surgir rapazes e moças que em pleno processo de demolição da Moral tradicional, iniciam uma caminhada de volta e vêm a público reivindicar a virgindade como uma condição sine qua non do casamento! Sem dúvida, é um retorno auspicioso, mas ainda lento e incipiente. Por outro lado, o mal se espalhou por tais larguezas da sociedade, em tantas partes do mundo, que se pode temer que esse retorno não alcance amplitude suficiente para afastar as ameaças de castigo que Nossa Senhora anunciou em Fátima.
Nossa Senllora anunciou também o seu triunfo Resposta -
O consulente faz muito bem em dar grande importância ao fato que descreve. Tal fato realmente envolve um problema muito maior, o qual de um lado explica a existência, no mundo de hoje, de situações anômalas como a que ele descreve (um moço puro na busca difícil de uma noiva virgem), e de outro lado justifica que, observadas certas condições, ele possa contrair matrimônio com a moça sinceramente arrependida que ele encontrou.
Maio de 1968: liberação gemi dos costumes Simplificando a descrição moral do mundo de hoje, poder-se-ia dizer que a liberação geral dos costumes, que vai chegando a um paroxismo, teve como marco simbólico inicial a Revolução da Sorbonne, em maio de 1968. Os slogans "É
proibido proibir ", "O prazer sem limites'', "Nem Deus nem senhor", e outros do gênero, bradavam por uma recusa total dos Dez Mandamentos da Lei de Deus e, portanto, de toda lei moral, natural e religiosa. Esse "liberou geral " abrangia todos os aspectos da vida social, política, econômica e cultural, desde as regras da gramática (bem expressa no slogan
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Mas aqui entra uma hipótese que tem fundamento precisamente em Fátima. É que, nessas célebres aparições de 19 I 7, Nossa Senhora anunciou também o seu triunfo: "Por fim, o meu imaculado Coração triunfará ". Esta profecia confirma outra, feita 300 anos antes pelo grande São Luís Grignion de Montfort, o qual advertiu a huma nidade de análogos castigos e do final triunfo de Maria, que ele assim descrevia:
"Quando chegará esse tempo f eliz, esse século tle Maria, em que inúmeras almas escolhidas (...) se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo ? Esse tempo só chegará quando se conhecer e praticar a devoção [a Nossa Senhora] que ensino: Ut adveniat Regnum tuum, adveniat Regnum Mariae" (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº 217). A conclusão parece clara: l º) Os castigos anunciados em Fátima, que preveem o aniquilamento de várias nações, não destruirão toda a humanidade; 2º ) Sobrarão, para entrar no "século de Maria", as almas que se conservaram sempre fieis, ou se tornaram fieis antes do Castigo, ou se converteram durante ele, ou logo após.
Portanto, o que hoje vemos parece ser um incipiente movimento em que a lg umas tantas almas, até há pouco distantes da Doutrina e da Moral de Jesus Cristo, estão voltando ao seio da Santa Madre Igreja, e que constituirão o núcleo fundacional do Reino de Maria , juntamente com os neoconvertidos por ocasião do Castigo.
Esta mio o mundo como está ... Sendo essa a situação atual do mundo, e diante dos prognósticos ac ima descritos, um jovem puro, que buscava uma noiva virgem, fica perplexo porque não encontrou exatamente o que procurava. Rea lmente, estando o mundo na situação em que está , não será fácil encontrar alguém nas condições requeridas, e com a qual, ao mesmo tempo, sinta afinidade em vista de um casamento. De outro lado, a ca ndidata que encontrou arrependeu-se do que fez e deplora essa situação. Pode o jovem puro deixar de lado o seu de ejo tão acariciado de encontrar uma jovem virgem e aceitar outra qu e não se encontra nessas condições? Julgo que si m, desde que esse arrependimento seja acompanhado de uma proporcionada penitência. Penitência levada tão a sério que, conforme o caso, possa chegar, nada mai s nada menos, que
à res tauração espiritual de sua inocência e virgindade. Esta não é uma simples frase de efeito. Ela corresponde a um fato profundo: a restauração espiritual da virgindade é o resultado da ablação total da impureza que o pecado deposita na alma de quem pecou. Digo ablação, e não simples remoção , porque não se trata apenas de raspar uma camada de impureza superficial, mas de arrancar a escória do pecado que se entranha nas profundezas da alma. Portanto, um milagre espiritual correspondente ao efeito que um milagre produziria no corpo, se ocorresse uma resta uração fí sica da virgindade. A intercessão de Nossa Senhora, a Virgem das virgens, pode alcançar tão gra nde graça. A hagiografia católica apresenta um exemplo marav ilhoso nesse sentido: Santa Ma rga rida de Co rtona ( 1247- 1297) viveu nove anos, a partir dos 17, em uma união ilíci ta com um jovem gentil-homem que lhe prom e tera casamento , se m
nunca cumprir sua palavra. Desse relacionamento nasceu-lhes um filho. Um dia, o gentil-homem foi assassinado e seu corpo abandonado numa floresta próxima. Foi a própria Margarida que encontrou o cadáver, dois dias depois, coberto de folhas e já em decomposição. Transtornada, ocorreu-lhe a lembrança dos terríve is juízos de Deus, e do castigo eterno de que ela própria talvez fôra causa para o gentil-homem. Voltando para casa, entregou todos os seus bens aos parentes do morto e passou a levar uma vida de penitência extremamente austera. Favorecida por visitas de Nosso Senhor Jesus Cristo, seu progresso espiritual se processou por etapas. Primeiro, Nosso Senhor chamou-a "minha pecadora". Seis meses depois de seu ingresso na Ordem Terceira de São Francisco, após a comunhão, ouviu uma voz de indizível ternura que a chamava de "minha.filha". Anos depois, também no momento da comunhão, Nosso Senhor lhe disse: "Eu te declaro
que és minha esposa". Todos estes dados foram extraídos do artigo Eu te escolhi no fundo dos abismos deste mundo, de Celso da Costa Carvalho Vidigal , em Catolicismo (nº 99, março/1959), o qual assim termina: o corpo de Santa Margarida "repou-
sa incorrupto na igreja de seu nome, em Cortona; a incorruptibilidade da carne, prémio habitual da virgindade, veio indicar que a penitência a havia purificado de seus pecados. Sua alma, subindo aos Céus, goza do prémio das virgens, que é seguir o Cordeiro a toda parte". A última frase é referência ao capítulo 14, versículo 4, do Apocalipse, o qual diz: "Estes são
aqueles que não se contaminaram com mulheres, porque são virgens. Estes seguem o Cordeiro por onde quer que Ele vá". Se a noiva do consulente tiver análogas boas disposições, e tendo em vista a situação em que se encontra o mundo, no qual escassearam as almas virgens, parece-me que o consulente pode aceitar o casamento, sem afetar e m nada seu amor ao princípio da virgindade. Peço a Nossa Senhora, a Virgem das virgens, que abençoe o seu casamento, adornando sua futura esposa com as vestes e os perfumes de uma virgindade espiritual, que a leve depois a exercer eximiamente os deveres de esposa e de mãe, dirigindo com firmeza seus filhos, por meio de uma educação cristã autêntica, no caminho da salvação de suas almas! • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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A REALIDADE CONCISAMENTE Em 40 países, o aborto e a agenda homossexual são rejeitados enhum dos 40 países sond ados pelo Pew Research Center aprovou o aborto corno prática moralmente acei tável. Em 13 países, a oposição ao assassi nato de inocentes venceu na proporção de três a um. A maior parte dos povos consu ltados também qualificou a homossexualidade de moralmente in ace itável. "Os resultados da enquete do Pew são surpreendentes" - declarou Adam Cassandra, diretor da Human L(fe Jnternational. E acrescentou "Os missionários do Human Life Jnternational vinham observando essas tendênciaspelo mundo todo. Os países em desenvolvimento ainda mantêm os valores morais tradicionais. Porém, a moralidade está declinando nos países mais ocidentalizados". •
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Professor afirma que aquecimento global não faz sentido es Woodcock, professor emérito de Termodinâmica na Universidade de Manchester, na Grã-Bretan ha, explicou que "a expressão 'mudança climática ' não faz sentido. O clima da Terra está mudando desde tempos imemoriais. A teoria de uma 'mudança climática produzida pelo homem 'é uma hipótese insustentável ". Esclareceu ele que, se nós ouvimos com frequência fa lar da ocorrência de climas extremos nunca vistos "desde que começaram as medições", é porque os registros começaram há apenas cem anos. Também teceu comentários sobre a falta de provas da teoria da mudança climática: "Se você me diz que você tem a teoria de que há uma chaleira em órbita em algum lugar entre a Terra e a Lua, não cabe a mim demonstrar que isso não existe, cabe a você apresentar as provas cientificamente reproduzíveis de sua teoria ". Mas até agora os postuladores do "aquecimento global" não apresentaram provas idôneas. •
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Putin, pseudo-moralista, deseja uma Las Vegas na Criméia presidente P~1tin enviou ao Parlamento russo um projeto de lei que ena uma zona de Jogos de azar e cass inos na Criméia, visando atra ir assim uma indústria da imoralidade nessa província ucran iana. Putin justificou seu projeto dizendo que "uma zona de jogos tem todas as condições de se tornar uma concorrente de territórios como Macau, Mônaco ou Las Vegas ". Como pode alguém, que se tem apresentado como defensor da moralidade, da famí lia e até da civ ili zação cristã ..., promover agora na Criméia um empreendimento que ele reprova nos EUA e nos países ocidentais, qualificados como carcomidos pelo dinheiro, pelo capita li smo e por todas as formas de imoralidade? •
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Jovens franceses rejeitam atitude de bispos progressistas ma nova geração de jovens católi cos franceses, comprometida com a defesa da famíli a e a vigência da moral na soc iedade, causa constrangimento à Conferência Ep iscopa l Francesa. Esse órgão ec les iástico há décadas tornou-se simpatizante do soc iali smo e do comu ni smo, sob o pretexto de conqu istar a classe operária. No entanto, tendo perdido, no final do século XX, sua influência sobre o operariado, passou a se inclin ar para a direita. Agora perdeu também a adesão da juventude! A nova geração de jovens, entretanto, deseja vida espi ritual, oração e uma cu ltura genuinamente cató lica, e não entende o caos que invad iu as paróquias. •
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Venezuela: falta farinha até para hóstias nas Missas á meses que na Venezuela_ não há fa rinha de tri go nem para faze r as hóstias a serem consagradas nas Mi ssas. E um refl exo da ex trema carência que se abateu sobre um dos países mais ricos do continente, agora sob reg ime soc ialista. Em Caracas, a Irmã Mari a Rosa informou que fa lta farinha em todo o país. E, segundo o Pe. Marcos Sánchez, o fabri cante do vi nho espec ial para Mi ssa av isou que este não mais será produzido. A imp lantação do ateísmo e a generalização da mi séri a andam de mãos dadas, enquanto o 'soc ialismo do sécul o XX I' se aproxima do infe rno cubano. •
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CATOLICISMO
Robô-iornalismo tende a esvaziar iornais e sites
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m ro bô " redig iu" a prime ira notíc ia sobre um peq ueno terremoto na Ca li fó rnia. O j orna li sta Ken Schwe ncke, do "Los Ange les Times", aco rdou com o tre mor, pul ou da ca ma e encontro u em seu compu tador a matéria aguardan~
do autorização para ser posta 1tosAniiêie,s &imês _ no ar. Assim, seu j orna l fo i o ('J:&. LOCAL prim e iro a in fo rmar so bre o tre mor. O " auto r" do a rti go fo i um a lgo ritm o ape lidado Quakebot, desenvo lvido pelo Is 4-4 iolt an end t L 'earthquake drougit'ts Angeles' j o rna li sta. Schwe ncke reco,, m, - ••J ~ o .,.... ...,. .. ., ......, ,.,. CllD@ ,,., "' nheceu que a matéria continha mui tas imperfe ições e teve ....,ti-· que ser polida 7 1 vezes para sa ir na prim eira pág ina do j ornal impresso. Não espanta, po is, que órgãos profi ss ionais de info rmação perca m cada vez mais leitores, que julgam suas matérias de níve l raste iro e sem calor humano, além de seu j á costumeiro v iés esquerdizante. •
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M1 tro11
Bispo dos EUA não dará a comunhão a pecadores públicos o m T ho mas Paproc ki (foto), bi s po de Springfield (E UA), apo iou os padres que se negam dar a comunhão aos políticos que, dizendo-se cató li cos, cooperam com proj etos contrá ri os à moral da fgreja. O cânon 9 15 do Códi go de Dire ito Canô ni co di z que "não devem ser admitidos à Sagrada Comunhão
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os excomungados e os interditados após a imposição ou declaração da pena, e aqueles que obstinadamente persistam num manjfesto pecado grave". Esta le i provoca a ira da mídi a em gera l e dos inimi gos da Igrej a. E ta mbém dos c lérigos da linha " progress ista" ou ami gos de governos de esquerda, em nome de uma mal entendida ca ridade e mi seri córdi a. Por isso, poucos são os bispos movidos por autêntico ze lo pelo Santíssimo Corpo de Nosso Senhor e pe la sa lvação das a lmas como o D. Paprock i. •
EUA: Suprema Corte aprova fim de cotas raciais no Michigan
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Suprema Corte de Justiça dos EUA deu ganho de causa à proibição de cotas raciais nas uni versidades públicas do estado de Mi chi gan. A decisão vetou qualquer "tratamento pref erencial a individuas ou grupos com base em raça, sexo, cor, etnia ou origem" na admi ssão em insti tui ções públicas de ensino superi or daquele estado. O u sej a, o fi m das cotas raciais. O acórdão estende seus efeitos a mais sete estados americanos que adotaram pro ibi ções análogas. •
China: nome de Jesus é mais procurado na internet que o de Mao a rede social Weibo (o "Twitter chinês"), os nomes Jesus e Deus são mais procurados que os do presidente comunista Xi Jinping, de Mao Tsé-Tung e até o do Partido Comunista . Em pesquisa realizada no dia 3 de abril de 2014, enquanto a palavra "Bíblia" obteve 17 milhões de resultados, a "bíblia do comunismo chinês" - ou seja, o Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung - somou menos de 60 mil. Do mesmo modo, enquanto quatro milhões buscaram o nome do atual ditador-presidente Xi Jinping, 18 milhões procuraram o de Jesus. Um exército de cem mil censores do Partido Comunista tenta apagar as mensagens com nomes "politicamente incorretos" como Bíblia e Jesus Cristo, mas na China as pessoas desejam ouvir mais sobre Ele e o Evangelho do que a respeito do sanguinário Mao e de suas teorias antinaturais, igualitárias e ditatoriais.
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Arte cristã do Oriente, rejeitada no Museu do Louvre pelo governo famoso Museu do Louvre, em Paris, prometera dedicar "um novo departamento à arte dos cristãos do Oriente, do Império bizantino e dos eslavos". Contudo, o governo socialista cancelou o projeto com uma canetada. A professora Marie-Héléne Rutschowscaya - uma das maiores especialistas em tesouros culturais do cristianismo do Oriente ' - denunciou a decisão "cristofóbica " em carta aberta publicada no jornal ,. "La Croix". O presidente do Louvre, Jean-Luc Martinez, alegou problemas burocráticos. Para a professora Rutschowscaya , porém, a verdadeira razão é o preconceito ideológico laicista da administração do presidente socialista Hollande.
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ANTIRRELATIVISMO _,
NAO ao relativismo! O Bem deve ser distin uido do Mal a LEO
D ANIELE
e existe - dizem alguns - um "Bem nem tão bom" e um "Ma l nem tão mau", por que não fundilos em um a médi a? N ão fi carí amos todos mais fe li zes? Outros di zem que o conveniente é 'fazer aquilo de que se gosta". Se a lguém está faze ndo aquilo de que gosta, seja ele um drogado, um depravado ou um pequeno esteli onatário, não há por que condenar sua conduta, desde que ele não chegue ao extremo de prej udicar o próximo, matando, assaltando bancos ou fazendo co isas do gênero. O Bem e o Mal, dizem, são ideias superadas que em breve poderão ir para um museu de conceitos ul trapassados, pois são algo que não se sustenta mais, que não combina com o nosso tempo, ao sopro da moderníss ima e "salutar" indefini ção de tudo. O Bem e o Mal seriam dois preconceitos de antigamente ... O importante é, como se diz de maneira horrível, cada um "na sua". Entretanto, o pressuposto da moralidade é o senso da opos ição entre o Bem e o Mal. Ou seja, as co isas ou são boas ou são más, e não podem ser uma e outra coisa ao mesmo tempo. Mas, na ânsia de integrar todas as co isas umas nas outras, depo is de termos ass istido à tentativa de integração do Belo com o Feio, da Verdade com o Erro, não causa mais espanto a constatação de que se desej a juntar o Bem e o Mal em um só magma, um só pirão. Na rea lidade, vai fi cando cada vez mais difíc il distinguir, por exemplo, uma esposa legítima de uma concubina, por sua aparência. E, por outro lado, avança a chamada "teoria do gênero", tornando superada a antiga fi gura do homossexual ou da lésbica.
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CATOLICISMO
Tudo aponta para um fa to in sofis m á ve l: os limi tes entre o Bem e o Ma l se borrara m, minando a fu ndo toda a instância mora l. Dentro da mentalidade pós-moderna, o mal não existe; é apenas uma "disfun ção".
"Não podemos ser preconceituosos em relação ao Ma l e aos maus ", di ze m os qu e tê m, consc ientemente ou não, essa maneira de pensar. Ass im como não se pode, segundo e les, ser ho mofóbi co, dentro em breve have rá o malofób ico (o inimigo do Mal), o deso rdofóbi co (quem nã.o gosta da desordem), e o ma land rofó bi co (qu e m cons id e ra "com preconceito" a maland rage m, e, porta nto, não a ace ita). Integrar o Bem e o Ma l em um só pirão é vi sto hoj e como mani festação de sabedori a. Proc ura r ma n te r a di stinção entre o Bem e o M a l to rn o u- se um a do idi ce reprovável. Por exemplo, há sobre o ass un to uma nova corrente que "tra nscende noções antigas". A ela pertence Dav id K. Marcus, psicó logo da Uni versidade Estadual de Washington. Segundo essa corrente, "o vício e a virtude, como
os do is lados da letra V, podem estar inseparavelmente ligados ". A matéri a fo i publicada no j ornal "The N ew York Times" de 8-4-14 sob o título Cientistas
estudam o lado bom da maldade. Ex iste até uma espéc ie de execração daquele que chama de Bem ao Bem e de Ma l ao Ma l. "Isso é maniqueísmo ",
Cópia da imagem de São Miguel Arcanjo, que se encontra na ponta da flecha do Mont Saint Michel, França .
o u "você é maniqueísta ", afi rm a m. Supremo horror! Com isso se para li sa m instanta neamente os " infrato res". E ntreta nto, o maniqueísmo - urna péss ima heresia do sécul o IU - nada te m a ve r com a práti ca de esta belecer a ve rdadeira e salutar di stinção entre o Bem e o Mal. O maniqueísmo fo i uma seita herética fund ada por Maniqueu, segundo a qua l o demôni o não teri a sido criado por Deus, mas seri a e le mes mo o princípi o e a substância do mal. 1 A di stinção entre o Bem e o Ma l, como dito ac ima, é a base do senso moral. Portanto, parte integrante da fo rmação cató li ca. N ega r a opos ição entre um e outro constitui o auge da imoralidade.
E estamos nisso! É o fü nd amento de um erro chamado relativismo. Este, sim, um peri go rea l. Distinguir entre o Bem e o Ma l sempre fo i considerado uma necess idade, desde o fund o da noite dos tempos. Muitíss imo antes, portanto, de Manique u. É prece ito da Lei natural, fo i consignado por Deus no Decálogo, percorreu todo o Anti go Testamento, fo i obj eto da divina pregação de Nosso Senhor e faz parte do patrimôni o doutrinári o e mora l da Santa Igrej a. A Sagrada Escritu ra a todo momento fa la dessa necess idade. Lê-se, por exemplo, nas páginas sagradas : "Contra o Mal está o Bem, e contra <l morte a vida; assim também contra o homem
justo está o pecador. Considera assim t0<las as obras ,lo Altíssimo. Serão encontr{l{/as ,luas a ,luas, e uma oposta à outra" (Ec l. 33, 15). Outro não é o ensinamento dos Papas. Eles di ssertaram largamente, em termos claros, sobre a luta entre o Reino de Deus e o de Satanás, e em particular sobre a intensifi cação dessa luta nos di as atuais. 2 Seria um não acabar mais analisar os desregramentos decorrentes do orgulho - ma is graves, mais refinados e menos aparentes que os da sensualidade, mas intimamente a eles ligados. Os ditames da mo ral tradiciona l, expressos nos Dez Mandamentos, estão sendo substituídos pe lo soc ia li smo, pe lo ambienta li smo, por outros itens de sabor hedonista e individu a li sta: "farás apenas aquilo de que gostas, procurarás sempre uma melhor 'qualidade de vida"' ... Mas desce dos Céus um brado tonitruante: Ai dos que atenuam a opos ição que deve have r entre o Bem e o Mal! Os homens serão separados dois a dois: "A uns [Deus] abençoou e exaltou; a outros santificou e tomou para si; e a outros amaldiçoou e humilhou, e expulsou-os, <iepois de os ter separado" (Ec l. 33, 13). D evo ser ma lofó bi co, sim! Ode io e de vo odiar o ma l o qu anto possa, com muita paz e alegri a, e para isso a Reli g ião cató lica nos convida, sem ambi guidade, com ami zade, mas com severidade. Que assim Deus nos conserve, pois isto é amar o Bem! • E-mail para o autor: cato li cismo@terra.com.br
Notas:
1. Denzinger, nº 237. 2. lnsegnamenti di Giovanni Paolo li, Libreria Editri ce Vati ca na, Bas ílica Vati cana, 26 de março de 198 1.
Detalhe do portal da catedral de Notre Dame de Paris. O Bem e o Mal representados por um anjo e um demônio, cada um separando os que Deus salvou e os que condenou.
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INTERNACIONAL
Consenso, sim,
mas não com os demolidores da Colômbia; • paz, sim,
mas não com prejuízo da honra nacional; diálogo, sim,
mas sem negar a nossa tradição cristã! La Sociedad Colombiana Tradlción y Acción se dirige ai Pais:
1Consenso si, pero no con los demoledores de Colombla· paz, si, pero no en perjulclo de la honra nacional· ' diálogo si, pero sln renegar de nuestra tradlclón ~rlstlana!
:'~~=~c:=':;.~so:'adCd:=r:':°"~ crlstian~ald::,.~eon'::'9 ,= : de ftllltra lrlólclón
=-~~-~• en e11~ ~~~~':si!:
Às vésperas da eleição presidencial, a Sociedad Colombiana Tradición y Acción se dirige ao País, por considerar que está em risco a vigência dos princípios mais vitais da sociedade - aqueles que recebemos de nossa tradição cristã. Se os mesmos continuarem vigentes, assegurarão o futuro da Colômbia; se forem abandonados, a Nação cairá em crises muito piores do que todas as que sofreu até o presente. Aseguir, a íntegra do manifesto da mencionada entidade, publicado no dia 21 de maio no jornal "El Tiempo", o principal do país.
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CATOLI CI SMO
Soclodad Colombiana Tl'adiclón y Acclón
EugeoloJ,= VilegaS
Bogo!A, Mayo 13de2014
Así votó Colombia
Resultado do primeiro turno, do dia 25 de maio
Consulte por departamentos, capitales, consulados y las tendencias por boletín. To t11I de votos: 13.216.402 1 Porcc n t11jc m cs11s : 99.97% 1 McSlls cscrut11d11s: 89.371 1 Votos anul11dos: 311.758
Boletín No. 59
Cenuo DemocrAtico
50%
Polo Oemocd tico
Partido Conservador
Unidad Nacional
Alianza V e,de
Voto e n bla n co
■■ 29. 25%
Votos 770.610
Votos
3 759.971
■ 25.69%
Votos
Votos
3.30 1.815
DEPARTAMENTOS
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CAPITALES
15.52%
1.995.698
MUNICIPIOS
Votos
15.23%
1958 414
V otos
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CONSULADOS
8.28%
1065.141
5.99%
TENDENCIA
/Jiálogo com a guerrilha mal'x ista, o principal l'atol' de clesconcerto
Ante o clesconcerto da opÍl1ião nacional, a guerrilha se mostra clesalia11te
O mais importante dos temas em torno da eleição é o diálogo com a guerrilha das FARC. Há mais de um ano e meio o governo se empenhou nele, sem ex ibir até agora o menor fruto , havendo claras contradições entre o que afi rmam seus delegados e repete a imprensa, e o dito pelos porta-vozes do grupo guerrilheiro. Por essa causa, propagam-se pelo País o ceticismo e o desconcerto, caindo o apoio ao Presidente, pois a opini ão pública sente-se navega ndo à deriva ou rumo a uma quimera, co locado em grave perigo os va lores mais dignos de apreço na vida política, jurídica e moral da Nação . Pi or ainda, apesar do di álogo em curso, continuam os crimes da guerrilha e se ouvem as jactâ ncias de seus líderc por supostas conquistas nas conversações de Havana, onde tudo se di scute, pouco se conclui e, menos ai nda, se conhecem as conclusões. Ademais, as FA RC ex igem acrescentar mais temas ao debate, fazendo com que nada de concreto se conclua, causando um mal-estar nac ional. Vê-se que tudo quanto é vital para o País está em risco de ser destruído, porque a ínfima minori a guerrilheira assim o deseja e muito poucas são as vozes que recusam a claudicação. Por sua vez, o Chefe de Estado pede à Nação uma confiança quase cega nele, como se o êx ito do diálogo fosse seguro, e sua linha política uma garantia para conseguir a paz. Há quatro anos, o atual Presidente recebeu um apoio maciço pela corajosa luta do Estado contra a guerrilha, mas ao mudar de postura seu prestígio se diss ipou, pois a Nação quer que se combata a guerrilha marxista. O candidato Enrique Pefialosa, por seu turno, apoia o diálogo com a guerrilha, defende o aborto e os postulados eco logistas mai s radicais, mas fora disso pouco se sabe de suas propostas. O grupo que o apoia é heterogêneo, o que somado aos poucos parlamentares de sua mesma tendência transforma em outra incógnita o modo como exerceria o governo, dada a pouca coi ncidência deles com a maioria do País. Outros dois candidatos - Ósca r lván Zuluaga e Marta Lucia Ramírez - objetam [dizendo] que o diálogo signifi ca impunidade e recusa m a claudi cação do Estado nas negociações com a guerrilha, o que lhes valeu um significativo avanço na sua aceitação por parte do público.
As afirmações da guerrilha constituem um auge de hipocri sia. Primeiro disse que não entregaria as armas, ainda que se assine um acordo de paz. A seguir, segundo ela, não possui sequestrados, sem ex plica r o que sucedeu com os incontáveis co lombianos que sim , o foram , sem nunca terem sido libertados. Assegura que jamais fez recrutamento armado e muito menos infa ntil , mas o número de meninos que fugiram da guerrilha ou que fora m resgatados pelo Exército soma vários milhares, sem que a guerrilha di ga quantos continuam cativos e escravizados, nem quantos morreram em confrontos e maltratos. A guerrilha também nega ter produzido migrações camponesas em massa ; afirma que jamais cometeu crimes de lesa-humanidade nem de terrori smo, apesar destes terem sido incontáveis; e nega praticar o narcotráfico, não obstante ter-se tornado o mai s importante ca rtel de droga . Como dar crédito às suas perorações pacifistas, quando se sabe que ela própria as ignorará, como já o fez tantas vezes? Como esperar que os representantes do governo no diálogo denunciem a fa lsidade e a mentira dos terroristas, se por sua condescendência eles mais se parecem marionetes elas FARC do que outra coisa? De algum modo se entende que a guerrilha guarde sil êncio sobre esses pontos, poi s tratá-los seriamente equivaleria a auto acusar-se, o que ela nunca fará. Mas o inaudito é que o governo também os omita com cuidado, para não difi cultar o diál ogo nem acaba r com a pseudo-pacificação. Isto é di álogo? Ou antes um monólogo do bando guerrilheiro com simples interrupções da contraparte ofic ial?
Nada há ele pior do que 1·eprese11ta11tes cio governo condescendentes com uma guen'ilha prepotente A pacificação da guerrilha é vital , mas deve cumprir uma condição especial: que não seja uma promessa de duração efêmera e cumprimento nulo. Deve fi ca r claro que há critérios morais que não serão negociados, que não haverá criminalidade impune, nem zonas sob domínio guerrilheiro, nem sobera nia relativizada pelo narcotráfico, sobretudo se estiver em mãos das FARC.
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e idênticas ameaças. Ass im, longe de estar iniciando uma era de paz, a Colômb ia estaria afundando mai s do que nunca sob o domínio criminoso.
O bloco bolivariai10 imJ}ulsiona a lberoamérica
para cair sob o domínio da Cuba casU'ista
Entretanto, produzem-se nesses pontos misteriosos si lêncios, garantidos pelo muro de segredos que se levanta em torno de Havana e da Casa de Narifio [Palácio do Governo da Co lômbia], e que quase todos os atores políticos coincidem em nunca questionar. Resguarda-se assim o futuro do País? Não, ainda que as vozes mais autorizadas se unam para assegurá-lo! Por quê? Porque é contra todas as evidências!
Se a guerrilha não reconhecer por inteiro os crimes que cometeu, multo dll1cilmente se emendará O Cardeal-Arcebispo de Bogotá afirmou há pouco: "se a guerrilha nasceu como uma rebelião contra o regime político e econômico, a solução deve passar por uma abertura à participação política das pessoas no país". Em princípio isto se compreende, mas em seguida o Purpurado acrescentou: "Que guerrilheiros e ex-guerrilheiros possam participar na política é desejável e necessário. Se não o fizerem, manter-se-ão como uma ameaça. " Que isso se diga dos ex-guerri lheiros não é novo, pois os diálogos havidos ao longo de vinte anos partiam da base de que à violência guerrilheira só se respondia com indulgência. E sucedeu que o fanatismo guerrilheiro - que era evidente, mas negado por personagens-chaves - conduziu a novas explosões de violência que todo o País real temia, mas que o País oficial negava com pertinácia. O que frustrou a pacificação. Agora, vai-se apesar disso mais longe, pois se insinua que guerrilheiros não pacificados, mas ativos e ameaçadores, devem participar do governo, que entregaria o País à força que mais fez para o demolir. A violência e a guerra continuarão, se o País sofrer uma extorsão da parte da guerri lha e a ela se submeter. Esta é uma concessão que a dignidade cristã da Colômbia não permite, pois é contra a legítima defesa nacional, um desprezo pelo sangue de centenas de milhares de camponeses, soldados e policias que caíram vítimas do ataque guerrilheiro ou terrorista ao longo de mais de seis décadas. Se o País se submeter à exigência guerri lheira, fe ita com armas na mão, muitos outros setores propensos à violência crerão ter-se aberto um precedente de capitulação das autoridades diante do crime, o que os incitaria a fazer aná logas ex igências CATOLICISMO
Esses males não afetam somente a Co lômbia, mas também toda a lberoamérica, em especia l nossa nação irmã, a desditosa Venezuela. Seu regime iníquo a lança nas garras do comun ismo, tornando-se um regime prepotente e agressivo, o carcere iro de seu próprio povo, o escárnio de suas leis e a fru stração de suas esperanças. Outros países do Continente, cujos governos se so li darizam em graus diversos com o regime "boli variano" e o domínio cubano tomam o mesmo caminho de caos e de desolação dos dois m~delos que os guiam pelo caminho do desvario comum. E isto, apesar das mortes que causaram, da miséria que produziram e da violência que instauraram. Não é alheio a este lamentável panorama que o governo colombiano tenha querido que os diálogos com a guerrilha se realizassem em solo cubano, sob a tutela da ditadura castrista. Não se compreende que Cuba seja autoridade ou testemunha do processo de pacificação, depois de ser, por mais de meio século, a promotora da ofensiva demolidora para expandir o comun ismo. *
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A quanto fico u dito, cabe acrescentar que a Co lômbia espera que ao menos um dos cand idatos presidenciais assuma a posição que o País desejaria ver em todos eles: que prometa não claudicar diante das ex igênc ias dos terroristas; que se identifique com a civil ização cristã; que lute pela grandeza da Pátria; e que notifique aos fautores da violência que eles serão tratados não com indulgência, mas com a aplicação severa, mas justa, da Lei. Bastará isto para que a opini ão pública se anime, o desconcerto se desvaneça, e a confiança em nosso futuro se torne uma disposição gera l da maior parcela da Nação. Pedimos a Nossa Senhora de Chiquinquirá, Padroeira da Colômbia, que fortifique as fibras da alma nacional , nos prepare, a todos os seus filhos, para os sacrifícios que sejam necessários, e mantenha em nós a decisão de combater sem descanso pela preservação cristã, não somente da Colômbia, mas também de toda a América, confiados na proteção da Mãe de Deus. É o que nesta encruzi lhada em que se encontra a Colômbia lhe pedimos, seguindo o exemplo e contin uando a luta doutrinária de nosso Mestre e Inspirador, o insigne pensador cató lico Plinio Corrêa de Olive ira, que tantas batalhas em defesa da Cristandade contra a seita comunista travou, sempre " in Signum Cruc is". Bogotá, 13 de maio de 2014
Sociedad Colombiana Tradición y Acción Euge nio Truji ll o Vil legas Diretor
Qual é o sentido mais profundo da palavra calma? É mais fácil definir o que ela não é: nervosismo, agitação, ruído, movimentação. Mas qual é o seu sentido positivo? O Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirma: "Calma é o estado temperamental inerente à inocência. A calma produz a inocência, e a inocência produz a calma ". Este livro se insere em um fluxo de interesse pela inocência. Mas quem é inocente? É ainda Dr. Plinio quem define: "É o homem de todas as idades, que adere àquele espírito primevo de equilíbrio e de temperança com que o homem foi criado, e por isso conserva-se aberto a todas as.formas de retidão, de maravilhoso. Inocente é quem não pecou contra aquele espírito primevo de equilibrio e de harmonia, e por isso conserva-se aberto a todas as formas de maravilhoso, é apetente delas".
A Calma
R$ 23,90 Frete R$10,00 Formato 14x21cm - 136 páginas - ilustrado
\cx~crtos do pensamento de
P!Jnio Corrêa de Oliveira recolh idos por I co Da iuclc
Figura fonnidável, a Beata Alexandrina (1904-1955, Balasar, Portugal) tem uma dimensão universal. Os seus devotos consideram-na como urna das maiores figuras místicas de toda a história da Igreja, eq uiparando-a a Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Siena, Santa Faustina Kowalska, Beata Maria do Divino Coração, Beata Anna Catarina Emmerich. O leitor se encantará com a vida mística da Beata, agraciada por Jesus com o fenômeno da transfusão de sangue, que Ele lhe oferecia todas as sextas-feiras. Cabe ressaltar que esse prodígio foi único e exclusivo na vida dos santos.
R$ 26,50 Frete R$10,00 Formato 14x21cm - 184 páginas - ilustrado
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Agronegócio continua o esteio do comércio exterior brasileiro
Apesar das esquerdas apresentarem o agronegócio como o vilão das atividades agropecuárias do País, ele vem se mantendo como a viga-mestra do comérc io exterior co m um superáv it de 24, 14 bilhões de dólares de janeiro a abril. Esse sa ldo positivo foi alcançado apesar de fatores adversos, como a redução de preços obtidos no exteri or de vários produtos importantes, como a soja e grãos, carnes, açúcar e álcool. As ex portações do agronegóc io renderam 29,85 bilhões de dólares nos primeiros quatro meses, 1,2% menor que no ano anterior, pequena queda causada pela razão supra citada. Apesar di sso, as vendas do setor compensara m boa parte do desastre ocorrido em outros componentes da balança comercial. Assim , as vendas de manufat urados, no valor de 24,659 bilhões de dólares, foram 7,6% menores que os de janeiro a abril de 20 13. As dos semimanufaturados, de 8,769 bilhões de dólares tiveram um decréscimo de 9,5% em relação às vendas no mesmo quadrimestre de 20 13. O saldo gera l do comércio de bens representou um déficit de 5,57 bilhões de dólares, o qual teri a sido muito maior sem a rece ita dos produtos agropecuá ri os, com ou sem processa mento. Em face desse quadro, a op ini ão pública brasi leira tende a condenar a ca mpanha esq uerdi sta contra o agronegócio. Ao invés de vi Ião ele é o herói do nosso comércio ex terior e da economi a nac ional. E como tal , merecedor do ap lauso, gratidão e apo io de todos os bras il eiros. (Fonte: "O Estado de S. Paulo", Notas e lnfo rmaçõe , 13-5- 14). Conflagração indígena para ampliar demarcações de terra
Há 285 muni cípi os bras il eiros co nfl agrados por disputas de terras entre indígenas e produtores rurais, segundo estima a CNA. Os confli tos em propriedades invadidas crescem pari passu à ampliação e à multiplicação dos territórios indígenas promov idas pela infausta Fundação Nacional do Índio - Funai. Com efe ito, de 1988 para cá, as terras indígenas multiplicaram-se sete vezes - de 16 milhões para 111 milhões de hectares - e já atingem 13% do território nac ional. Os probl emas se concentra m de modo mai s acentuado no Rio Grande do Sul , no Mato Grosso do Sul e na Bahia, mas estão presentes em pelo menos 13 estados. A polêmica, contudo, gira em torno do processo de demarcação, hoje a ca rgo exc lusivo da Funai . O setor produtivo vem leva ntando suspeitas quanto ao modelo atua l adotado pelo governo em decorrência de uma sistemática ação política e ideo lógica que visaria favorecer os indígenas, mas de fato prejudica a todos os brasileiros. Para o proc ura dor de Ju st iça do Ri o Grande do Sul e mem bro do Grupo de Trabalho Indígena do mesmo Estado, Rod inei Candeia, os processos obscuros das demarValter Campanato / Abr
CATOLICISMO
cações em áreas com faze ndas são parte de uma estratégia políti ca para ampliar as reservas a qualquer custo. (Fonte: http://www.questao indi gena.org/20 14/04/confl itos-geradospela-funai-incidem.html) CPT defende invasões indígenas e silencia crimes de silvícolas
De vítimas os índios passaram a ser protagonistas da violência, segundo o documento "Conflitos no Campo 2013" apresentado no dia 28/4/20 14 pela Comissão Pastoral da Terra (C PT). O relatório destaca as ações de invasão de propri edades rurais na Bahia e no Mato Grosso do Sul. Fora m 20 na Bahia e 30 no Mato Grosso do Sul as ações de 'retomada', eufemi smo empregado pelos autores do relatório para di zer ' invasão de propriedade' por índios. Esses fatos "desconstroem a noção de pass ividade dessas populações", di z o documento da CPT. O texto não chega a mencionar os três habitantes de Humaitá assassinados pelos índios tenharins no conflito ocorrido no sul do Amazonas no final do ano passado; não menciona também os agricultores Ju raci Santana e Arnaldo Alves Ferreira, o primeiro assass inado durante conflito indígena no sul da Bahia, e o segundo assass inado por índios guarani s no Mato Grosso do Sul. Curiosamente, a ex pulsão de pequenos agricultores pelas 'operações de des intrusão' das terras indígenas Marãiwatsédé, no Mato Grosso, e Awá-Guajá, no Maranh ão, também não são mencionadas no relatório. (Fonte: http://www.questaoindigena. org/20 14/04/indi os-deixa ram-de-ser-apenasvitimas-e. html). Bloqueio de estrada e homicídio de agricultores pelos Kaingangs
Dois ag ri cultores foram morto s num confronto com índi os kaingangs em Faxinalzinho, na região de Erechim , norte do Rio Grande do Sul. Os irmãos Anderson e Alcemar Souza tentaram passar por um bloqueio armado pelos índi os e fora m mortos por eles a tiros de escopeta . Os corpos ainda foram sadi camente esfaqueados. Confo rme o Comandante da Brigada Militar do município, sargento Valdecir Golfetto, um grupo de índios hav ia bloqueado a estrada que dá acesso às Linhas Faxinai Grande e Cox ilhão, no interior da cidade, em um protesto reivindicando a demarcação de terras indígenas. À tarde, um grupo de agricultores tentou liberar a estrada, o que teria iniciado um confronto no qual os dois irmãos foram brutalmente mortos. Enquanto o clima prossegue tenso no município, a área fo i iso lada pela Brigada Militar. O Co nse lho lndi geni sta Missionário - CIMI di vul gou nota na qual manifestava apoio ao protesto dos índi os. (Fonte: http:// www.questaoindigena.org/2014/04/urgente-doisagri cultores-sao-mortos.htm 1).
Preso o cacique tupinambá prestigiado pela CNBB O cacique esco lhido pela CNBB para visitar o Papa fo i preso em Brasília pela Polícia Federa l na véspera de sua viagem a Roma. Rosivaldo Ferreira da Silva - que se apresenta como cacique tupinambá do su l da Bahia - viajaria na companhia do presidente da CNBB , cardea l Raymundo Damasceno Assis, para assistir à Missa de ação de graças pela canonização do Padre José de Anchieta . Ele estava com um mandado de prisão da Justiça baiana em aberto desde 20 de fevereiro deste ano, ac usado de envo lvimento no homicíd io de um agricu ltor no dia 11 daquele mês. (Cfr. Fo lha press, 24 de abril de 20 14). A esse propósito vem causando estranheza certos convites recentes do Vaticano. No final do ano passado foi convidado João Pedro Stédi le líder do MST. Agora é um índio fabricado , con hecido n~ região como Babau, o Lampião tupinambá, que tem levado o terror aos campos baianos, invadindo, saqueando, obstruindo estradas para evitar que a Polícia Federa l cumpra os sucessivos mandatos de prisão do Poder Judiciário contra ele.
Na pré-campanha eleitoral, cresce o anseio pela paz no campo No dia 30 de abri l p.p. , no Agrishow, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, houve uma série de críticas de líderes do setor ao governo federal e à presidente Dilma Rousseff (PT), pré-candidata à reeleição, a lém de cobrança de projetos efetivos referentes ao agronegócio por parte dos candidatos à sucessão. ("O Estado de S. Paulo, 30-4-14). O agronegócio tem se desenvolvido apesar da verdadeira perseguição que lhe é movida pelo governo federa l. E os brasileiros a lmejam um candidato que garanta de fato a paz no campo, com respeito ao direito de propriedade e à li vre iniciativa no campo e na cidade.
Cacau premiado no Espírito Santo Feliz Páscoa! Chocolate vem do cacau, e há quem diga que em 2020 teremos cada vez menos cacau de verdade no chocolate, pois a produção no campo não acompan ha o crescimento im enso dos chocó latras pelo planeta afora . No Brasil, em 40 anos, aumentamos o consumo desse produto em cerca de dez vezes. A Índia, por exemp lo, que não aparecia nas estatísticas, dobrou o tamanho do mercado em apenas uma década. Notícia ótima sobre o tema para o Brasil é a que veio no Sa lão do Chocolate, em Paris, no final de 20 13: o cacau da
Fazenda São L uiz, em Linhares (ES), foi se lecionado entre os 50 melhores do mundo. Foram considerados aspectos como a doçura, o sabor, a ac idez, o que significa um prêmio excepciona l para essa produção, que é resultado de inteligênc ia da liderança dessa região - o único loca l brasileiro com JG , que significa identificação geográfica - concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industria l. lG significa rigor, qualidade e processos definidos e cumpridos. E lá, em Lin hares, a produção do cacau tem crescido, revelando que o caos previsto para o fim do cacau pode ser revertido com gestão, educação e inovação, como se constata na produção cacaueira de Linhares. (Fonte: CCAS , José Lu iz Tejon Megido Diretor Vice-Presidente de Com uni cação do CCAS (Conse lho Cientifico para a Agricultura Sustentáve l).
Em Santa Catarina, povo expulsa invasores Rojões e pedras de moradores levaram invasores de terra a recuar em Santa Catarina. O povo vai se cansando de invasões e das conivências do governo. Populares tocaram fogo numa barricada montada por invasores de um terreno público em Florianópo lis. Em 19 de abri l, cerca de 100 "famí li as" de invasores no bairro Rio Vermelho enfrentaram 24 horas de hosti lidades e violências por parte de moradores da região. Tiveram de ceder à pressão popular e deixar o lugar protegidas pela polícia, voltando para Maciambu, em Palhoça. Durante a tarde, moradores indignados, aos gritos de " vagabundos", "vão trabalhar", atacaram os sem-terra com rojões e pedradas. O local invadido é próximo a um campo de go lfe do Resort Costão do Santinho. Os invasores são os mesmos da chamada ocupação Amarildo. (Fonte: (Renan Antunes de O li veira , UOL, em F lorianópolis, 2 1/04/20 14).
Brigada comunista e guerrilheira O jornalista Renan Antunes dormiu durante uma noite no acampamento. Para entender o que aco ntece lá, conversou longamente com Rui Fernando, líder do assentamento e da desconhecida Brigada Marighella. Surpresa: o homem que lidera a Ocupação Amarildo, que estabeleceu o assentamento, é um funcionário público aposentado da Casan! Tem 50 anos, foi petista e sindica li sta da CUT, hoje milita no PCB. É de estarrecer o comportamento do líder da invasão, que criou uma associação em homenagem ao terro ri sta Carlos Marighella. Seu nome completo é Rui Fernando da Si lva Junior. Ele revelou que a invasão "foi sua primeira ação", o cartão de visitas da recém-criada Brigada Marighella. O líder explica que "a brigada é de F loripa, nossa criação co letiva, lutamos por reforma agrária popular, por te rra, trabalho e teto, como verdadeiros com unistas". Usa boné com a bandeira de Cuba e a estre la de Guevara, escondendo os cabe los grisalhos. Veste uma jaqueta esti lo militar. Ele cursou Direito na Unisul, mas não termino u a facu ldade. (Fonte: http ://otambosi.b logspot.com.br/20 I 4/04/ ainda-ha-juizes-em-florianopolis. html ).
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ENTREVISTA
A dramática
situação venezuelana P erseguição à propriedade privada e à livre iniciativa, violência, paralisação de hospitais, inflação altíssima, desabastecimento, queda na cadeia de produção, controle dos meios de comuni cação etc., atestam o caos implantado pelo governo chavisLa outrora rica e vicejante Venezuela afunda na miséria e no caos. Mas à medida que sua "cubanização" vai se tornando cada vez mais evidente para os habitantes da nação vizinha, crescem as reações. Com a conivência de governos do continente latino-americano, Nicolás Maduro ordena uma repressão brutal contra as manifestações de rua, na tentativa de amedrontar e abafar a reatividade, mas os corajosos protestos contra seu governo ditatorial não cessam . Catolicismo obteve entrevista inédita com um jovem venezuelano, na qual ele narra o que assistiu e/ou tem acompanhado de mais relevante sobre o assunto na mídia de seu sofrido país. Para não expô-lo, bem como sua família, à sanha persecutória dos partidários do "socialismo do século XXI" - ou, segundo expressão enunciada algum tempo atrás por Lula, dos responsáveis pelo "excesso de democracia" reinante na Venezuela chavista ... - , será denominado Gustavo Ramos . Ele conta casos impressionantes, vários dos quais não noticiados pela mídia brasileira . Pelas mesmas razões apresentadas acima, não publicaremos a fotografia do nosso entrevistado.
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Catolicismo - Poderia nos apresentar uma visão sintética da situação venezuelana desde o momento em que se acentuou a desordem em sua pátria? Gustavo Ramos - Desde o dia 12 de fevereiro último, a Venezuela vive uma série de protestos antigovernamentais, iniciados pelos estudantes e continuados por opositores, essencialmente da
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CATOLICISMO
Gustavo Ramos: "Repressões: 42 mortos, mais de 817 feridos e cerca de 2.500 detidos, dos quais por volta de 200 permanecem presos e sujeitos a processos judiciais"
classe méd ia. É uma resposta ao profundo malestar gerado pelos contínuos atrope los da ordem econômica, política e socia l do governo chavista. E também uma reação retardada - Hugo Chávez se elegeu em dezembro de 1999 - que tomou conta do país e o foi polarizando pari passu aos seus crescentes problemas. A crise de governabilidade se agrava diante do sequestro dos poderes públicos por um só partido - o govern ista - que controla tudo. O Estado está compl eta mente sequestrado, a inflação em total descontrole (acaba de bater o recorde de 60%), há desabastecimento e um a ltíssimo índice de delinquência. As repressões, nos violentos incidentes havidos de feve reiro até agora, resultaram em 42 mortos, mais de 8 17 feridos e cerca de 2.500 detidos, dos quais por volta de 200 permanecem presos e sujeitos a processos judic iais. Há um crescente descontentamento da população com o governo, porque o modelo castro-comu-
nista - eufemisticamente renomeado de Socialismo do século XXI - que vem sendo imposto, trouxe como consequência a mais alta inflação do planeta, desabastecimento de alimentos da cesta básica, forte queda na cadeia de produção, perseguição aberta à propriedade privada e à livre iniciativa, controle dos meios de comun icação, censura e controle da educação. Como se fosse pouco, a isso se soma uma criminalidade descontrolada, fomentada pelo discurso de ódio e ressentimento, além da criação e manutenção pelo governo de grupos paramilitares armados (denom inados coletivos - outro eufemismo) para contro lar setores da população. Tais gru pos funcionam como braço armado do governo para amedrontar e procurar acabar com quaisquer protestos pacíficos, os quais foram criminalizados. Todos os poderes do Estado estão controlados. Catolicismo - Como se deu na Venezuela o processo de amordaçamento da imprensa pelo chavismo? Gustavo Ramos - Há pouco mai s de uma década, o chavismo aprovo u a Lei de Responsabilidade Socia l no Rádio e na Televisão, alegando proteger crianças e ado lescentes da programação radiotelevisiva. Tratava-se, segundo o di scurso de então, de resguardá- los de conteúdos de teor violento ou explicitamente sexua l transmitidos por aq ueles meios, em particular pela televisão. O que resultou da referida lei? O que efetivamente ocorreu fo i que o Conatel - órgão do governo responsável em aplicá-la - passou a desempenhar o papel de comissário político, tornando-se a lei um excelente instrumento para tirar do ar em issoras críticas ou com progra mas com mensagens incômodas ao regime. Em todos esses anos, não houve um só caso promovido pelo Conatel em que a bandeira tenha sido de defender as crianças e os ado lescentes, como se di zia antes de a lei ser aprovada. Esta terminou sendo um enorme e efetivo elemento de coerção. A autoritária revolução bolivariana se valeu de uma tenaz com aspecto " legal", para censurar e promover a autocensura no rádio e na televisão através da chantagem . Ela quer o controle total. Catolicismo - Como começaram os protestos e que tipos de manifestações eles congregam? Qual é a modalidade de repressão utilizada pelo governo? Gust<,vo Ramos - Os protestos constituem uma novidade: começaram no interior do país, mantiveram-se e se estenderam a 16 estados. São manifestações feitas dos mais diversos modos, com atores heterogêneos. Há na Venezue la novos padrões
Maduro, presidente da Venezuela, com uma bandeira de Cuba ao fundo
"O país está assolado por uma situação econômica aguda, decorrente <la progrnssiva aplicação de medidas socialocomunistas, como o desabastecimento"
de violação dos direitos humanos, que incluem a participação de grupos paramilitares, o uso da força desproporcionada por funcionários policiais e o roubo sistemático perpetrado por estes em relação aos detidos. Como resposta ao bloqueio informativo dos meios de informação tradicionais, e com tantas demandas e tipos de protesto quanto de pessoas envolvidas - segundo pesquisa de Provea, cerca de 800 mil nos dois primeiros meses - , existe hoje nas ruas um movimento carente de um centro único. Ultrapassando os próprios partidos opos itores, deixou de ter como referência os protestos em Caracas, normalmente autoconvocados mediante o uso das redes sociais e dispositivos tecnológicos. Segundo a tipologia de redes, a massa opositora seria uma " rede descentralizada", na qual alguns pontos conectados entre si articulam uma rede menor em pontos, mas com maior dinamismo, flexibilidade e imprevisibilidade do que a centralização representada hoje pelo " madurismo". Esta onda de protestos apresenta novidades em relação a manifestações anteriores. O ímpeto de alguns desses protestos nas primeiras semanas vem se transformando em conj untos mais inclusivos, revelando um importante fato r que é a continuidade. Já duram mais de três meses, contradizendo os que acusam o venezuelano de imediatista. O segundo fator é o número de estados e de pessoas - por volta de 800 mil, em 16 estados dos 23 de que se compõe a Venezuela. O governo afirma que os protestos são violentos, apesar de não chegar nem a 5% o número de pessoas que se envo lveram numa briga. Houve marchas, concentrações, vigí lias, correntes humanas, cartazes, e até orações coletivas, convocadas em diferentes partes do país. Assim, são muito variadas as características dos protestos, convocados de diversos modos em diferentes centros com autores também diferentes. É fa lso afirmar que são controlados, que constituem uma doença generalizada expressa de distintas formas. Catolicismo - Quais são os produtos de consumo básico atingidos pelo desabastecimento e de que meios se utiliza o governo para reprimir a revolta popular? Gustavo Ramos - O país está assolado por uma situação econômica aguda, decorrente da progressiva aplicação de medidas socialocomunistas; do desabastecimento de produtos de consumo básico (leite, ovos, farinha, açúcar, café, papel higiênico), sobretudo no interior do país; da falta de medicamentos e insumos hospitalares, que _está levando
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à paralisação progress iva hospitais e centros de sa úde; de uma insegura nça que se tem convertido num dos principais problemas dos venezuelanos (segundo lugar na taxa de assass inatos do mundo). Há também situações novas: violações de direitos humanos pelo excessivo uso da fo rça da parte de policiais e militares; atu ação de grupos civi s armados, e de paramilitares alentados e acobertados pelo próprio pres idente Madu ro para reprimir protestos em sua maioria pacíficos. Ex istem evidências suficientes do nível de coordenação desses bandos com fun cionários policiais e militares, do roubo sistemático que praticam junto aos detidos, de seus ataques a imóveis e conjuntos residenciais, além da uti lização de instrumentos sonoros para reprimir e tentar di ssuadir as manifes tações de rua. Uma soc iedade cansada da imposição de uma ideologia que a maioria rejeita e cuj as consequências práticas são o desa bastec imento, a inflação galopante, a insegurança, o desemprego e a ausência de inversão. O maior problema é a pretensão do ofi cialismo de impor o chamado "Plano da Pátri a", que é a concreti zação do sociali smo do sécul o XXI através de um sistema de governo de estilo totalitário. Ele pretende implantar um modelo socioeconômi co e politicocultura l de controle das pessoas que fracassou na URSS de Stalin, na China de Mao e na Cuba dos irmãos Castro. O principal responsável pela violência no país é o governo, sobre isso não há dúvida. A perseguição para acabar com os protestos é uma política do Estado.
ou estrangeiro, denominando a isso de nacionalização. Ele o fez em nome de uma mal compreendida soberania nacional, e apenas 30% dessas empresas fo ram indenizadas pela desapropriação de seus bens. A nova investida contra a propri edade privada é o decreto que, se fo r aplicado, obriga rá os donos de casas e de apartamentos a vender suas propriedades aos inquilinos "a preço de banana", estabelecido pelo próprio governo. Catolicismo - No plano jurídico, há falta de segurança devido à prepotência do poder Executivo? Gustllvo Rmnos - Sem dú vida. Há muita
insegurança jurídica, decorrente, na prática, da implantação do controle do Poder Judiciário pelo Executivo, a ponto de qualquer processo contra o governo ser indeferido, e as pessoas que insistirem em reabri-lo se arriscarem a ser processadas pelo Estado. Isso acarreta um compreensível desestímulo ao investimento. Catolicismo - E qual é a situação do câmbio? O governo o controla totalmente? Gustllvo Rlllnos - O governo criou o controle O líder opositor Leopoldo López no momento de sua prisão
Catolicismo - Quais as causas do desabastecimento? Gustllvo Rlllnos - Um a das principais causas
certamente é a perseguição implacável do governo à propriedade privada nestes l 5 anos de chav ismo. Maduro, que é a continuação de Chávez, a tem atacado através da expropriação de faze ndas e de terras. Foram expropriadas mais de 3.6 milhões de hectares de um total de pouco mais de 30 milhões de hectares de terras agricultáveis, não importando se produtivas ou não, eufe misticamente chamadas de "terras recuperadas". Destas, só 10% fo ram pagas pelo Estado. Com isso a produção agropecuári a, que em muitos casos era suficiente para atender à demanda interna, passou a precisar de importações para completar as necessidades de consumo do país. Outra importante causa do desabastec imento é a estatização de empresas privadas. O governo também empreendeu, com fundos provenientes da produção petroleira, a expropriação de mais de 400 indústrias e empresas privadas de capital nacional
CATOLICISMO
"/Jwestida contrn a pmpriedade é o decreto que, se l'or aplicado, obrigará os do110s <le casas e <le apartamentos a ve11de1· suas pmpriedades aos inquilinos"
do câmbio, aca rretando em sete anos mais burocracia, corrupção e desabastecimento, pois nem sequer paga as dividas de produtos, serviços e importados, seja por particulares ou pelo Estado. Estatização paulatina da economia; minguamento da inversão de capitais estrangeiros; incremento da impo1tação, que passo u a ser uma atividade cada vez maior para abastecer a Venezuela; caso muito sintomático: o governo deve mais de 3.4 bilhões de dólares às companhias aéreas que voam para Venezuela, levando várias delas a excluírem o país da rota de seus voos. Catolicismo - Os governos estaduais e prefeituras da oposição são perseguidos pelo governo de Maduro? Gustllvo Rllltws - Todos os governos estaduais e
prefeituras não controladas pelo partido de Maduro têm sido enfraquecidos pelo governo, que lhes ti ra atribuições e cria um governo para lelo especialmente para essas regiões, de modo a ir controlando tudo. Apesar de a maioria dos países comunistas ter abandonado o modelo estatal e comunal, na Venezuela estão querendo implantá-lo à fo rça. Numa fa ixa das bases chavistas está escrito: "Nem pacto nem traição. Basta de reconciliação, radicalizemos a Revolução ". Catolicismo - Há um culto de personalidade a Hugo Chávez? Gust<tvo Rlllnos - Na hegemonia propagandística
Catolicismo - Nossa revista já publicou matérias sobre Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela [vide edições de setembro/1976 e setembro/1998), despertando especial interesse nos leitores. Encerrando a entrevista, poderia dizer-nos algo a respeito? Há alguma analogia entre o caso do cacique da tribo de Coromoto com a dramática situação atual da Venezuela?
do governo, contin ua a construção de um mi to, de uma lenda. No di a do ani versá ri o do fa lecido Chávez, seu sucessor Madu ro chegou ao di sparate de dizer, em cadeia nac ional de rádio e telev isão, que Chávez era "o Cri sto redentor da América". Catolicismo - Pode-se afirmar que o chavismo utiliza a pobreza como política de Estado?
Gustavo Ramos - Co nfi rm a-o o própri o ministro da Educação quando, a propósito da "campanha para erradicar a pobreza", declaro u que se pretende estabelecer políticas sociais, mas faze ndo uma ressa lva, na qual fo i mui to enfático: "Não é que vamos tirar as pessoas da pobreza para levá-las à classe média e que [elas] pretendam ser esquálidos" (termo com o qual denominam os opositores). Isso se liga a outra declaração, enunciada anos atrás pelo mini stro da Planificação do então governo Chávez numa discussão com o presidente de PDVSA (a Petrobrás venezuelana). Ele disse que a revo lução boli vari ana se propunha operar uma mudança cu ltural no pa ís: mudar as pessoas, a fo rma de pensa r e de vi ver, e que essas mudanças só pod iam ser empreendidas a partir do Poder. Assim, a primeira coisa a ser fe ita é permanecer no Poder para rea lizar a mudança. A base política para isso, dava m-no os pobres: eram eles os que votavam pelo governo, de onde o di scurso de defesa dos pobres. Ass im, eles deveriam continuar pobres, e era co mo se necess itava deles, até se faze r a tra nsfo rmação cultura l. Entretanto, é preciso mantê- los pobres e com esperança. Ao ser indagado sobre quanto tempo isso levaria, o então ministro Jorge Giordani afirmou: "Trata-se de uma mudança cultural e isso leva ao menos três gerações. Os adultos resistem e se a.ferram ao passado; os jovens a vivem e se acostumam, e as crianças a aprendem e .fazem-na sua; leva pelo menos 30 anos". Em face dessa dec laração, o general Guaca ipuro Lameda fico u indignado. Chávez, tenta ndo aca lmar a situação, apelou para a esperteza e di sse: ."Bem, a coisa não é bem assim, Giordani. Vocês são idealistas e estão nos extremos; vamos deixar a reunião para depois". E nunca mais se reuniram.. . O presidente Madu ro criou o cartão de rac ionamento como o que ex iste em Cuba, chamado contudo, eufe misticamente, de Cartão de Abastecimento Seguro. Ele perm ite criar um cadastro de i::ontrole dos pobres, para que estes possam compra r "sem restrições" os bens que desejarem nas redes de comercialização do Estado...
Policial se prepara para lançar uma bomba de gás lacrimogêneo
"No dia do a11iver sál'Ío do f'alecido Chá vez, Maduro chegou ao disparate ele dize,; em cadeia 11acio11al, que Chá vez era 'o Cristo rede11tor ela América "'
Gustavo Ramos - Sim , há mui ta relação com a hi stória de Nossa Senhora de Coromoto. Ela, após aparecer ao cacique em 1652, incenti vouº a mudar-se para a cidade a fi m de manter contato com os cristãos e, ass im , conhecer a reli gião cató li ca. Ele aceita, levando sua fa míli a e mui tos outros índios. Mas depois ele acaba desejando abandonar os ensinamentos cristãos e volta r para a se lva onde vivia sem regras. Isto co nstitui a parte ini cial de sua história. Numa segunda parte, há uma nova e misericordiosa apari ção de Nossa Senhora ao cac ique Coromoto quando ele encontrava-se em seu bohio (choça), decidindo apostatar e leva r de vo lta sua tri bo para a vida selvagem. Nesta aparição, o índio pega sua fl echa para alvejar a Sa ntíss ima Virgem, mas Ela se coloca tão perto de le que fico u sem distancia para lançar a flec hada . Assim , o indígena tentou agarrá-La com o fi m de co loca r Nossa Senhora para fo ra de seu bohio . Neste momento Ela desa parece, deixa ndo nas mãos do cac ique uma espéc ie de pedra, na qual está gravada a imagem d'Ela, sen tada num trono com o Menino Jesus ao colo. Essa apa ri ção não co move u o cac ique dos Coromotos. Certo tempo depois, fugi ndo para o interior da selva, fo i picado por uma cobra muito venenosa. Percebendo que iri a morrer e que aquilo era um castigo, começou a se arrepender e desejou ser batizado. Neste momento, passava pelo local um mestiço católico que lhe mini strou o Batismo. Ou seja, apesar de toda a dureza de alma do índio, antes de morrer, Nossa Senhora o salvou. Uma história que revela um dos mais insignes atos da misericórdia. Que ensi namentos podemos extrnir dessa história? Antes de tudo, o de que para Maria Santíssima, em última análise, a maldade humana não consegue opor obstáculos decisivos. De um modo ou de outro, se Ela desejar, acaba vencendo a maldade humana. E que, portanto, se em determinado momento da História da humanidade a Virgem Santíss ima quiser praticar um ato de misericórdia generoso, como no caso do índio Coromoto, não em relação a um indi víduo, mas em relação a todos os homens de uma nação, Ela poderá praticar e vencerá, porque à sobera na e inesgotável bondade d' Ela ninguém resiste. •
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CAPA
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À esq., o futuro Papa São Pio X, conduz o Santíssimo Sacramento pelas ruas de Veneza. Abaixo, com os paramentos e a tiara papais.
m seu glorioso Pontificado, o Papa São Pio X (1903 a 1914) impulsionou extraordinariamente a piedade eucarística. Ele recomendou a comunhão frequente quando declarou que "todos os.fieis têm liberdade de receber a sagrada comunhão com frequência e até diariamente, como é desejo de Jesus Cristo e de Sua Igrej a; e que, portanto, não se deve negá-la a ninguém, que se aproxime da Sagrada Mesa em estado de graça e com reta e devota intenção ". O Sumo Pontífice também incentivou a primeira comunhão concedida às crianças, para isso bastando que elas "soubessem distinguir entre o 'Pão Eucarístico 'e o 'pão material ordinário '". E que, quanto à doutrina, exigir-se-ia apenas que elas tivessem "certo conhecimento dos rudimentos da f é". Incentivando a comunhão frequente e a aproximação das crianças à mesa da comunhão, São Pio X concorreu eficazmente para que as ideias modernistas e jansenistas não se expandissem nos ambientes católicos de então. Com efeito, a heresia jansenista - alegando um falso respeito e negando
CATOLIC I SMO
a misericórdia infinita de Deus - enfraquecia a devoção ao Santíssimo Sacramento. Esse Santo Papa, que passou para a História como o "Pontífice da Eucaristia", sintetiza o mais excelso de todos os sacramentos - que, como sabemos, são sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio - com essas eloquentes palavras: "A devoção à Eucaristia é a mais nobre de todas as devoções, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais salutar porque nos dá o próprio autor da graça;
é a mais suave, pois suave é o Senhor. Se os anjos pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar". Eucal'istia: a maiol' manifestação cio amol' clfrino
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Conforme Santo Tomás de Aquino, "todos os sacramentos estão ordenados para a Eucaristia como para o seu fim". O Doutor Angélico ainda afirmou que a dádiva do Divino Sacramento é "uma graça de heroísmo na luta, e que seu efeito próprio é não só o de amortecer em nós o fogo das paixões, como o de tornar-nos invencíveis contra todas as potências infernais". Ele defendeu a tese de ser o Santíssimo Sacramento o maior dos milagres operados por Nosso Senhor Jesus Cristo, o sacramento por excelência, a maravilha das maravilhas, o "Maximum miraculum Christi ". Nesse mesmo sentido, Santo Agostinho, de modo muito inspirado, assim se manifestou sobre esse milagre divino : "Que Deus, como ser infinitamente sábio e infinitamente poderoso, não poderia e nem saberia dar-nos mais precioso mimo do que o da Eucaristia; visto que, neste dom, se nos dava a Si mesmo". Impossível maior manifestação de amor de Deus pelos homens, segundo o Apóstolo São João. "Tendo Jesus amado aos seus, que estavam no mundo, amou-os até ao extremo" (Jo 13, 1). "Panis Angelorwn" -
o sobrenatural
alimento para nossas almas
Não seria, portanto, ingratidão para com Nosso Senhor Jesus Cristo desprezar essa tão excelsa manifestação do amor divino, se recusássemos esse "alimento espiritual" que Ele misericordiosamente nos concedeu? Claro que sim. Ademais, seria desprezar uma graça que aumenta nossa união com Deus, que nos propicia uma prelibação da visão beatifica; uma dádiva que nutre nossas almas, fortifica nossas virtudes, conserva e aumenta em nós a vida da graça (a vida sobrenatural); que nos dá forças para vencer as tentações, dominando nossas paixões desordenadas; além de apagar os pecados veniais, nossas faltas leves. Segundo definição do Concílio de Trento (1545 - 1563), a Eucaristia é "um antídoto que nos puri-
.fica das .fàltas que cometemos todos os dias e nos preserva de quedas mortais". A instituição ela Eucaristia na Santa Ceia com os Apóstolos
Nosso Senhor, em sua extrema manifestação do divino amor para com seus filhos neste mundo, nas vésperas de sua Crucifixão, Ressurreição e subida ao Céu, instituiu o sacramento eucaristico na Santa Ceia, a última com os Apóstolos, para não nos abandonar nunca, permanecendo na Terra até fisicamente presente no sacrário. Não apenas de modo simbólico, mas verdadeiramente presente sob as aparências das Sagradas Espécies consagradas (o pão e o vinho). Assim, habitando sempre entre nós
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- para ouvir nossas súplicas e atendê-las quando necessárias para nossa salvação eterna - cumpriuse esta promessa divina: "Eu estarei convosco até a consumação dos séculos " (Mt 28,20). Testemunharam-no os Apóstolos e registraram os Evangelhos: "Enquanto ceavam, Jesus tomou o pão, e o benzeu, e o partiu, e deu-o a seus discípulos, e disse: Tomai e comei; isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, deu graças e deu-lho dizendo: Bebei dele todos. Porque isto é meu sangue (que será o selo) do novo testamento, o qual será derramado por muitos para a remissão dos pecados" (Mt 26, 26-28). "Sacerdos alter Christus" (O sacerdote é um outro Cristo). Como ensina a Santa Igreja, na parte mais importante da Missa, que é a Consagração - pelo poder conferido por Nosso Senhor aos Apóstolos ao ordenar "Fazei isso em memória de mim " (Lc 22, 19) - , a substância do pão de trigo e do vinho de uva converte-se em seu corpo e alma substancialmente, e em estado glorioso, impassível, intangível e invisível. O sacerdote na Missa - que é a renovação incruenta do sacrifício do Calvário - pronunciando as palavras sacramentais durante a Consagração, "agit in p ersona Christi" (atua na pessoa de Cristo). O sacerdote não diz "Tomai e comei, isto é o corpo de Cristo", mas, sim, "Tomai e comei, isto é o meu corpo" - neste momento dá-se a "transubstanciação", como muito apropriadamente denomina a Igreja. Com efeito, no Concílio de Trento, a respeito da presença real e substancial de Jesus Cristo nas espécies eucarísticas, foi promulgado: "No sublime sacramento da santa Eucaristia, depois da Consagração do pão e do vinho, Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está contido verdadeira, real e substancialmente sob aparência das coisas sensíveis". Eucal'istia: o modo de rncebel' o augusto sacramento
Uma vez que no Santíssimo Sacramento da Eucaristia Nosso Senhor encontra-se verdadeiramente presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, não é uma grande graça poder visitá-Lo com frequência? Não é considerado uma grande honra visitar
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um rei? Imagine-se então quão grande é a honra poder visitar o Rei dos Reis, o Senhor do Céu e da Terra - sempre à nossa disposição nos sacrários, tanto das ricas e imponentes catedrais quanto das pobres e simples capelinhas! Se fôssemos convidados a visitar uma rainha por exemplo, a Rainha da Inglaterra - , não nos prepararíamos primorosamente para tal visita e a faríamos com todo respeito? Se assim é, com razão ainda maior devemos visitar o Santíssimo Sacramento e receber a Sagrada Comunhão com sumo respeito, numa atitude de adoração, estando em estado de graça (sem a mancha de qualquer pecado mortal). É sapiencial tradição da Igreja recebê-la de joelhos e sobre a língua; no caso das senhoras, cobertas com o véu na cabeça e convenientemente vestidas. Não estando em estado de graça, deve-se primeiro purificar a consciência, arrependendo-se e confessando-se antes de receber a Comunhão. Como adverte São Paulo Apóstolo: "Todo aquele que comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Examine-se, pois, a si mesmo o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o corpo do Senhor" (I Cor. 11, 27-29). Consonante com essas palavras do Apóstolo, o Concílio de Trento reafirmou : "Ninguém cônscio de pecado mortal, por mais contrito que se julgue, se aproxime da Sagrada Eucaristia sem ter recebido antes o Sacramento da penitência". "Mistério de l'é" -
o sublime mistério eucarístico
Para nós, simples mortais, a transubstanciação é um mistério, o "Mysterium Fidei ". Cremos porque nos é ensinado pela Fé, que nos leva a crer em Deus e em todas as coisas que Ele faz, mesmo que nos pareçam incompreensíveis. "A fé é o fimdamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê" (Hb 11 ,1). A Eucaristia é um altíssimo mistério, que excede a pobre inteligência humana, pois nossos olhos mortais não veem senão o pão e o vinho. Mas temos
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a certeza que é o Corpo de Cristo, pois para Deus NADA é impossível. De modo muito expressivo e poético, um dos hinos compostos por Santo Tomás de Aquino para adoração do Santíssimo Sacramento, o Adoro te devote, assim canta essa misteriosa e sublime verdade de fé: "Eu te adoro com afeto, Deus oculto, que te escondes nestas aparências. A Ti sujeita-se o meu coração por inteiro e desfalece ao te contemplar. A vista, o tato e o gosto não te alcançam, mas só com o ouvir-te .firmemente creio. Creio em tudo o que disse o Filho de Deus, nada mais verdadeiro do que esta Palavra da Verdade". "Ver para crnr": comoventes milagrns eucal'Ísticos
Se do nada Deus criou todo o Universo, não poderia Ele mudar a substância do pão e do vinho em seu Corpo e Sangue? - Responde o grande Santo Ambrósio: "Se acreditamos que Deus pode criar do nada todos os seres, não deveremos crer mais facilmente que possa permutar uma substância por outra? Se todos os dias, por virtude natural, e não menos incompreensível, o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue daqueles a quem serve de alimento, por que não haveremos de crer que, por divina virtude, os mesmos objetos se transformem no corpo e no sangue de Jesus Cristo ?". Entretanto, em algumas ocasiões, Nosso Senhor misericordiosamente nos desvendou o mistério eucarístico, mostrando-se realmente presente na Hostia Santa por meio de comoventes milagres. Estes confirmam a presença Real do Homem-Deus na Eucaristia, e, assim, fortalecem a fé de muitos de nós que, como São Tomé, às vezes precisamos "ver para crer". Impossível elencar nas páginas disponíveis para este artigo todos os prodígios operados ao longo dos séculos, que confirmam a presença Real na Eucaristia, mas nos deteremos em um que neste ano completa 750 anos exatos. Um milagre portentoso que está na origem da expansão das festividades públicas em honra do Santíssimo Sacramento, as procissões de Corpus Christi. Antes, porém, algumas linhas explicativas sobre a origem de tal celebração.
Festa <lo Santíssimo Corpo e Sa11gue de tfesus Cristo
As maiores manifestações públicas da fé no dogma da Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia são as festas de Corpus Christi - como as belas e já conhecidas celebradas solenemente em diversas cidades de norte a sul do Brasil, com suas ruas enfeitadas com "tapetes" de flores etc. A origem do festa de Corpus Christi remonta a uma religiosa agostiniana, Santa Juliana de Cornillon (1193 - 1258), a quem Deus revelou a conveniência para a Igreja de uma celebração dedicada a glorificar o Santíssimo Sacramento. Esta grande devota da Eucaristia foi superiora da abadia de Mont-Corni llon de Liege (Bélgica), fundada em
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1124. Neste lugar de recolhimento, surgiu um movimento eucarístico que incentivou várias práticas de adoração à Hóstia Consagrada, como a Exposição e a Bênção do Santíssimo Sacramento. Em 1246, Santa Juliana pediu ao bispo de Liege, Dom Roberto de Thorote, a instituição da festa de ação de graças pela presença Real , em Corpo e Alma, de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. O Bispo concordou com a celebração na diocese, mas não chegou a ver cumprida a solenidade, pois faleceu no mesmo ano. Somente em 1250 o Cardeal Cher, também de Liege, decidiu instituir em toda a diocese a nova festividade. Assim, a primeira celebração, com o nome de "Fête-Dieu", foi realizada no interior da igreja de Saint-Martin, num cerimonial dirigido pelo próprio Cardeal. Orvicto: a "Cidade do Corpus Ch1'isti"
Desenvolveremos com mais detalhes para os leitores as festividades de Corpus Christi em Or-
vieto (Itália). Sem dúvida uma das mais bonitas, ou mesmo a mais bela manifestação em honra do Santíssimo Sacramento. Em qualquer caso, é considerada a primeira procissão de Corpus Christi realizada publicamente. Sobre um plateau a 300 metros de altitude, tendo a seus pés uma planície repleta de formosos vinhedos, Orvieto, com um pouco mais de 20 mil habitantes, situa-se mais ou menos a 100 km ao norte de Roma. A "Cidade do Corpus Christi " - como é denominada - possui notáveis monumentos medievais, sendo o mais importante o Duomo - o "Lírio das Catedrais". Sua frente foi classificada por Plínio Corrêa de Oliveira como "a mais bela fachada da Cristandade". Dedicado à Virgem Santíssima, é uma obra-prima da arte gótica italiana, floreado por preciosos mosaicos e baixos relevos (retratando fatos do Antigo e do Novo Testamento), além de afrescos de Fra Angélico e de Luca Signorelli. Sua construção teve início em 1290 para que fosse um grandioso escrínio no
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qual :ficasse dignamente conservado e venerado o "Milagre de Bolsena".
ordenou uma apuração meticulosa, que resultou na comprovação inequívoca do milagre.
O imprnssio11a11te "Milagre Eucarístico de Bolsena"
Estabelecimento da Festa de
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Que milagre é esse? Encontrei sua narração no livro Leituras Eucarísticas (Editora Vozes, 1935), do Frei Mariano Wentzen. Eis um pequeno resumo: Entre os milagres realizados pela Santíssima Eucaristia, o de Bolsena (província de Viterbo, diocese de Orvieto) é o mais conhecido, pois está na origem da festa de Corpus Ch.risti (ou Corpus Domini). Em 1264, o Padre Peter, oriundo de Praga, empreendeu uma viagem desde sua região (a Boêmia) até Roma. Embora fosse um sacerdote piedoso, ele desejava revigorar sua fé na Cidade Eterna, pedir ao Papa alguns esclarecimentos e expor-lhe dúvidas a respeito da doutrina da transubstanciação. Como vimos acima, durante a Consagração, ocorre a mudança da substância do pão e do vinho em Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo - permanecendo, contudo, na aparência do pão e do vinho. Chegando à cidade de Bolsena, o referido sacerdote celebrou a Missa na Igreja de Santa Cristina. Foi esta a última vez que as dúvidas de fé sobre a presença Real de Jesus na Santíssima Eucaristia o atormentaram! No momento da Consagração do pão e do vinho, na Sagrada Hóstia ocorreu uma efusão do preciosíssimo Sangue, que começou a transbordar e gotas verteram-se sobre o corporal (tecido de linho branco que fica debaixo do Cálice), tingindo-o de sangue. Assustado com aquele inexplicável acontecimento, o sacerdote primeiro procurou esconder o sagrado corporal, pois julgava que isso ocorrera em castigo devido às suas dúvidas de fé, Mas o sangue transpôs o linho e quatro gotas caíram sobre os degraus do altar, deixando impressos no mármore sinais evidentes do adorável Sangue. Não podendo mais ocultar o milagre, foi à procura do Papa Urbano IV - que se encontrava em Orvieto, cidade bem próxima de Bolsena - para se confessar e narrar o acontecido. Assim, o Papa mandou trazer à sua presença aquele corporal e
Co1pus Clu'isti para to<la Igreja
Daí a edificação da Catedral de Orvieto para a guarda e veneração do sacrossanto Corporal objeto de grande devoção não apenas dos italianos, mas de pessoas do mundo inteiro que para lá se dirigem. Quanto ao mármore sobre o qual pingaram gotas do preciosíssimo Sangue, conserva-se até hoje na Igreja de Santa Cristina de Bolsena, onde ocorrera o impressionante milagre, outra prodigiosa comprovação da presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Hóstia consagrada. Com a bula Transiturus de hoc mundo, de 11 de agosto de 1264, Urbano IV estendeu a todo o Orbe católico a Festa de Corpus Christi, a ser celebrada publicamente de modo solene pelas ruas e praças. A data da comemoração foi fixada para a quinta-feira após o dia da Santíssima Trindade. O dia escolhido foi em memória da celebração da primeira Missa por Nosso Senhor, na última ceia no Cenáculo, que foi na Quinta-Feira Santa, quando instituiu o incomparável Sacramento da Eucaristia. Também o Papa Urbano IV pediu a Santo Tomás de Aquino para compor cânticos para se festejar com maior esplendor o dia de Corpus Christi. Ele então compôs cinco hinos em louvor ao Santíssimo Sacramento - o "Lauda Sion", "Adoro Te Devote", "Pange Língua", " Sacris Sollemnis" e "Verbum Supernum". Conta-se que para a criação de um dos hinos, o Papa encomendou a São Boaventura e a Santo Tomás, mas quando o Romano Pontífice fez leitura em voz alta do ofício composto por Santo Tomás, São Boaventura, despretensiosamente, foi rasgando a sua composição ... Tal hino é o célebre e belíssimo "Lauda Sion" (Louva Sião). O cortejo histórico e solene de Orvieto
A partir da determinação de Urbano IV para se festejar o dia de Corpus Christi, uma soleníssima procissão se realiza todos os anos pelas encantadoras ruas de Orvieto. Antes de seu início, logo pela manhã, no interior da Catedral é realizada com
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grande pompa a cerimônia da exposição e adoração da Santíssima Eucaristia. Segue-se a celebração da Missa solene. Logo depois tem início a magnífica procissão, com o venerável Corporal percorrendo as ruas da cidade, cujas casas ornam suas janelas e sacadas com bandeiras, tapeçarias e maravilhosos arranjos florais . Atualmente, quase mil personagens em preciosos trajes medievais, representando as diversas classes sociais (desde a alta nobreza, passando pelos cavaleiros, pelos homens de justiça, pelas confrarias de estudantes e pelas corporações ofício até o povo miúdo) desfilam em homenagem ao Sagrado Corporal e ao Santíssimo Sacramento. O histórico e solene desfile é dividido por quatro bairros da cidade, cada um com suas bandeiras e cores próprias. Muitos dos hábitos medievais usados no cortejo são confeccionados em riquíssimos tecidos, alguns de seda e veludo, outros bordados em ouro e prata - como se pode observar nas fotos ao lado. Alguns trajes constituem verdadeiras obras de arte confeccionadas pela célebre "Manifattura LISIO". Dando um brilho ainda mais especial ao cortejo, observamos brasões e armas das famílias nobres da cidade, bem como armaduras, couraças, escudos, capacetes, feitos cuidadosamente à mão por armeiros de renome. Imbuída de charme, sacralidade e grandeza, esta é a solene cerimônia de Corpus Christi de Orvieto, que tive a graça de assistir no dia 2 de junho de 2013, certamente a mais bela procissão do gênero que se realiza no universo em honra de Nosso Senhor Jesus Cristo Sacramentado. É razoável que assim seJa, uma vez que o "Milagre de Bolsena" está na origem da primeira procissã.o pública de Corpus Christi, que depois foi pouco a pouco se multiplicando pelo mundo inteiro. • E-mail para o autor: catolicis111o@terra .co111 br
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São Bonifácio, Apóstolo da Alemanha M issionário extraordinário, evangelizador, bispo, mártir, nada lhe faltou para tornar-se_ um grande santo e um apóstolo fecundo ■ PLINIO MARIA SOUMEO
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assara-se apenas um sécu lo
desde que os discípulos de São Gregório Magno haviam desembarcado na Inglaterra, e já a ilha dos piratas convertera-se em 'i lha dos santos' . Havia santos reis, virgens inflamadas no amor de Cristo, ascetas que deixavam atrás os solitários da Tebaida, sábios monges e figuras magníficas de bispos. Havia, sobretudo, apóstolos. O fogo do aposto lado consumia os
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novos convertidos , e os empurrava longe de sua terra". 1 São Bonifácio foi uma dessas almas de fogo cujo espírito apostólico o levou a deixar a Inglaterra para tornar-se o Apóstolo da Alemanha. Winfrido, nome que recebeu no batismo, nasceu por volta do ano de 680 em Kirton, no Devonshire (Inglaterra). Seus pais eram de origem saxônica e desfrutavam de boa posição social. Não sabemos se tiveram outros filhos . Quando Winfrido contava apenas cinco anos de idade, viu na casa paterna alguns religiosos que pregavam na região.
Pediu então ao pai licença para seguilos ao seu mosteiro. Tomando o pedido como fa ntasia de criança, o pai não deu ouvidos. Acontece que Winfrido levava a coisa a sério e continuava a insistir com o pai. Este, atacado por repentina doença que o pôs às portas da morte, viu finalmente nisso a mão de Deus, que o casti gava por sua negati va ao filho. Mandou então o menino aos sete anos de idade - o que não era ra ro na época - como interno para o mosteiro be neditin o de Ad esca ncastre, hoj e Exeter. Lá ele passou 13 anos, após os quais fo i transferido para o moste iro de Nursling, na diocese de Winchester. " Aí, levando uma vida austera e estudiosa sob a direção do abade Winbert, ele fez rapidamente progressos na santidade e no saber, sobressaindo-se especialmente num profundo conhecimento das Escrituras, o qual ele evidencia em suas cartas. E ra também bem versado em hi stória, gramática, retórica e poesia". 2 Aos 30 anos fo i ordenado sacerdote. Winfrido tornou-se professo r fa moso, sendo também ótimo monge. Por isso seus irmãos de hábito o esco lheram para seu abade. E ntretanto, apesar da possibilidade de faze r uma grande carreira, angariando as mais altas dignidades em seu próprio país, ele não
visava as glórias humanas; queri a leva r a luz da fé aos seus antepassados saxões da Alemanha. Depois de vá rios pedidos ao seu superi or, obteve fi na lmente a permissão de seguir seu chamado.
"Piedosos <lesejos de teu zelo inflama<lo em c,·isto " " H avi a e ntão du as A le ma nh as: a Germâni a ' bárbara ', fo rm ada pe la Frísia e pela Saxônia; e a Germâni a ' romana' , eng lobando a Renâ ni a, a Turín g ia, a Bavi era , a Yestefá li a, o Yurte mberg e o Hesse. A prime ira tinha fi cado pagã; a segunda, exceto em alguns loca is, tinha também vo ltado a ser" 3 por fa lta de mi ss io nári os que mantivessem acesa a luz da fé. Fo i em 7 16 que Winfr ido chegou a Utrech, na Frísia (agora prov ínc ia de Fries land , na Ho landa). Essa região j á hav ia sido evangeli zada pe los sa ntos ing leses Wigbert, Willibrord , e o utros. Mas o duque Radbod, pagão convi cto, perseguia os cri stãos, o que tornava m inúte is os tra ba lhos de Winfrido, que vo ltou então para a Ing laterra. T rês a nos d e po is , munid o d e cartas de recomendação do bi spo de Winchester, o mi ss ionári o partiu para Roma, onde fo i benevo lamente recebido pelo papa Gregóri o II.
N o di a 15 de maio de 7 19, após haver testado sua fé, sua virtude e sua pureza de inte nção, o Papa nomeou-o mi ssionári o apostó lico, e deu-lhe uma carta na qu al di zia: "Os piedosos desejos de teu ze lo infl amado em C risto, e as p ro vas que me deste de tua fé, ex igem que te chamemos a participar de nosso mini stério para a dispensação da pa lav ra di v ina. Sabendo que, desde a infâ nc ia, estudaste as Sagradas Letras, te ordenamos que leves o re ino de Deus a todas as nações infiéis que encontres em te u caminh o, e que, no espírito de virtude, de amor e de sobriedade, derrames nas a lmas incultas a pregação dos do is Testamentos".4 O Pontífice de u-lh e também cartas de recomendação para os príncipes cristãos que encontrasse no ca minh o.
Gregório /1 <le11omi11011-o JJ011ifácio De vo lta à Al e ma nha, passa nd o pela Bavie ra, Winfrido chegou até a Turíng ia, onde reformou a lguns membros do c le ro que tinham ca ído em sérios des regra mentos de costum es. Sabe nd o e ntão da mo rte do duqu e Radbo d , reso lv e u vo lta r à F ri g ia , pondo-se às ordens de São Willibrord . Este, sentindo-se j á muito idoso, qui s torná-lo seu coadjutor. Mas ele se opôs, alegando que tinha ido para trabalhar como mi ss io nári o. Três anos depois, Winfrido percorreu de novo a Turíngia e o Hesse, que as armas de Ca rl os Marte! lhe haviam aberto. Em 723 fo i nova mente a Roma, a fi m de apresenta r ao Papa o fruto de seus labores e cons ultá-l o sobre as di fic uldades que haviam surg ido em sua mi ssão. G regório lI consagrou-o então bi spo de todas as terras setentrionai s. Foi nessa ocas ião que, segundo a maiori a dos hi storiadores, o Sumo Pontífice mudou seu no me para Bonifácio.5
Abate-se 11111 falso deus, o carvalho <le 1'01· Vo ltando pa ra seu ca mpo de bata lh a , São Bo ni fác io reso lv eu da r
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um golpe de morte no paga 111 smo derrubando o "carvalho de Tor", um enorme carvalho qu e se alçava no meio do campo de Ge ismar e que era venerado co mo deus pelos pagãos da reg ião. Os idólatras ameaçavam massacrar o mi ss ionári o, mas este não se atemori zou: aos primeiros golpes de machado, um vi olento vendaval arrancou a árvore até às raízes. Muitos dos que presenciaram o fa to se converteram . São Bonifác io fez construir no loca l uma capela com a madeira do ídolo abatido, que foi a primeira igreja na região . O número dos fi éis aum entava, novas igrejas surgiam, acudiam catecúmenos e o mi ss ionári o começou a sentir necess idade de outros colaboradares. Dirigindo seu olh ar para a Inglaterra, escreveu a bispos, abades e abadessas, comunicando sua penúria e a insufici ência de sacerdotes para atender a todo seu apostolado. Pediu também ornam entos sace rd otai s, sinos e livros. Os mosteiros anglosa x.ões res pond eram co m grand e generosidade, e aos poucos chegaram muitos di sc ípul os e ntu s iasmados com o trabalh o apostóli co. Vi eram também algumas mulheres, virgens e viúvas, para tomar parte no labor. São Boni fác io co locou -as à frente dos novos mosteiros fe mininos que havia fund ado. Entretanto, não bastava converter aquele povo, sempre disposto a voltar para seus fal sos deuses; era prec iso arrancar de seu coração as raízes do pagani smo. Para isto São Boni fác io organizou uma hi erarqui a episcopal, enviou seus discípul os a várias regiões e fund ou os grandes mosteiros, que deveriam ser " núcleos de vida estável e civili zad a, refú gio dos operári os evangé licos, focos de cultura, granjas agríco las, pontos estratégicos daquela conquista espiritual, sementeiras, escolas e organismos industri ais".6 Simplici<la<le e muita eloquência
São Boni fác io era sum amente eloquente em sua simpli cidade. Com
poucas palavras, resumi a com clareza os mi stéri os cristãos. Pelo que di zia aos recé m-bati za dos, perce bemos qu ais eram os probl emas qu e enfrentava: "Escutai, meus irm ãos, e meditai atentamente no que acabais de abjurar no bati smo. Have is renunciado ao demônio, às suas obras e às suas pompas. Quais são as obras do demôni o? São o orgulho, a idolatri a, o homicídio, a ca lúni a, o ódi o, o perjúrio, a fo rni cação, o adul téri o e tudo o que mancha o homem. São o roubo, a embri aguez, o fa lso testemunho, as palavras vergonhosas, as querelas; são os sortil égios, as fe itiçarias, a crença nos magos, nos homens lobos e no poder dos amuletos".7 No ano de 738 São Bonifácio fez sua terce ira vi agem a Roma, a fim de confe rir seu trabalho com o Papa. Desta vez fo i acompanhado por uma multidão de francos, báva ros e anglosaxões, que não quiseram separar-se dele. Gregó ri o li hav ia fa lec id o e subira ao trono pontifício Gregóri o 111 , qu e o aco lh eu co m bondad e dando- lh e ampl os poderes e ca rtas para os príncipes e bispos em seu campo de apostolado. Deu-lhe também fac uld ade para reform ar, organi za r e reconstituir a hiera rqui a nas terras suj eitas aos francos. São Bonifácio "começa sua obra com a mesma atividade que exerceu quando tinha 30 anos. Passa da Fra ncôni a à Baviera , da Austrásia à Neustri a: reúne concíli os em Septines, em Soissons, em Salzburgo. Cri a novas províncias ecles iásticas; depõe bispos em concubinato, degrada sacerdotes intrusos, proíbe aos cléri gos o traje laico, a companhi a de mulheres, o uso de armas, das matilhas e dos fa lcões." 8 Em 747 o Papa Zacarias - que havia sucedido a Gregóri o III - nomeiao arcebispo de Mainz, Primaz de toda a Alemanh a e legado pontifício na Germânia e nas Gálias. Nessa qualidade, em 75 2, ele sagra Pepino, o Breve como rei dos Francos, dando ass im ori gem à dinasti a dos Ca rolín gios, denominação esta que provém do filho desse rei, o grande Carl os Magno.
Evangeliza<lol' e apóstolo completo
Finalm ente, no ano de 754, São Bonifác io deveria promover o cri sma de grande número de conversos perto da cidade de Dockum, nas margens do rio Burda. Havi am construído um pavil hão na ca mpina, onde estava o altar com todo o necessário para o crisma e a ce lebração do Sa nto Sacrifício. Entretanto, além dos catec úmenos, co meça ram a apa rece r guerreiros pagãos armados de lanças e escudos. Em determinado momento estes se prec ipi taram sobre os cristãos, que estavam desarmados, matando muitos deles sem piedade. São Boni fác io estava com um li vro dos Eva ngelhos nas mãos quando fo i martirizado. Embora os infiéis tenham perfurado o livro com uma lança, não danifi caram uma só letra, o que fo i considerado milagroso. Os bárbaros se prec ipitaram depois nas tendas, mas em vez de ouro ou prata, enco ntrara m apenas reiíqui as, livros e o vinho reservado para a Mi ssa . Irritados com a esterilidade de sua pilhagem, embebedaram-se e começaram a lutar entre si. Então os cristãos que restaram se armaram e exterminaram esses pagãos homicidas . "São Boni fác io é apósto lo compl eto: não lhe fa ltou· nem o heroísmo do mártir, nem a intrepidez do mi ss ionário, nem a grandeza do bispo, nem a fo rça dos milagres e da palavra, nem a bela auréo la da graça e da bondade, que soube adaptar-se à sua época para dominá-l a e torná- la cri stã" .9 •
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E-mail para o autor: catolicisrno@tcrra .corn .br ~
Notas :
1. Fr. Justo Perez de Urbe!, O.S.B., Aiío Cri stiano, Edi ciones Fax , Madri , 1945 , tomo 11 , p. 539. 2. Fra ncis Mershman, St. Boni face, The Catholi c Encyc lopedi a, CD Rom editi on. 3. Pe. José Le ite, S. J., São Bonifác io, Santos de Cada Dia, Editori a l A .O. , Braga, 1987, tomo li , p. 184. 4 . Urbe!, op. cil. P. 540. 5. C fr. Compton 's Encyc lopedi a 2000, C D Rom ed ition. 6. Urbe!, op. c il. p. 544. 7. ld ., p. 545. 8. ld. , p. 546. 9. Pe. José Le ite, op. cil. pp. 185- 186.
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DISCERNINDO
Trajetória inglória, fim ainda mais inglório "Após debates e votos, o Conselho Nacional da JOC belga concluiu que não tem mais significado chamar-se ' Juventude Operária Cristã', mas sim 'Jovens Organizados Com bati vos' (Jeunes Organisés Combatifs). m 1943, em livro que ficaria famoso, intitulado Em "Fundada em 1925 pelo padre belga Joseph Defesa da Ação Católica, Plinio Corrêa de OliLéon Cardijn, a JOC visava ajudar os jovens veira (foto) denunciava os perigosos erros operários a unir o seu quotidiano com a que então se introduziam nesse movimento, mensagem do Evangelho. Mas, há alguns com destaque para o chamado "apostolado meses, o movimento escolheu um novo de infiltração". Tal "apostolado" consistia nome para si, mais de acordo com suas em que os membros da Ação Católica frelutas atuais. quentassem ambientes dos mais contrários "'Um desafio importante era à moral, como certos bailes, clubes, etc., poder nos definir, não por aquilo além de partidos comunistas, sempre com que não somos, mas por aquilo que o fim de ali "levar o Cristo". somos' , informa a revista do moO tempo demonstrou que essa tátivimento. 'Tornara-se evidente que ca, como fora denunciada no referido uma grande parte dos jovens não se livro, era ruinosa, pois os membros das viam refletidos nas palavras cristão e diversas formas de Ação Católica, como operário '. O adjetivo cristão era visto a JEC, JOC e JUC, mais se deixavam como impeditivo da inclusão de jocistas influenciar pelos ambientes anti-religiosos de outras confissões religiosas. que frequentavam do que eram capazes de "'Há dois anos que os jovens jocistas influenciá-los. decidiram entregar-se a um longo processo de Iniciou-se então, para esses movimentos, reflexão sobre a identidade da JOC ', explica um couma trajetória inglória. Por exemplo, a JOC municado de imprensa do movimento. Agora, (Juventude Operária Católica) foi escorregan' os membros da JOC buscam organizar todos do para posturas cada vez mais próximas da PLlN!O CORRCA DE OLIVEIRA ,.._. .. ,...,.::·: r:::·--~ aqueles que se revoltaram e querem combater luta de classes marxista, abandonando a potodas as formas de opressão causadas notadasição declaradamente anticomunista, sempre mente pelo sistema capitalista"'. defendida pela Igreja. UI Df:FES\ Dl Assim, de escorregão em escorregão, a ilf,iU CIITÓUC.\ JOC mundial, que tinha como inspiração e * * * modelo sua seção belga, fundada em Bruxer:.... . o. aturo AI.OIS! MASELA Vemos a JOC descambar assim para o las pelo falecido padre progressista Joseph comunismo mais rombudo e mofado, sem se Cardjin, foi adotando opiniões cada vez mais preocupar sequer em revestir-se das novas pró-comunistas. roupagens com que muitos dos sequazes de Com o tempo, o glorioso nome de "caMarx buscam pudicamente disfarçar seus tólica" passou a incomodar os membros da intuitos malsãos. JOC . Ela passou a dizer-se simplesmente Visão profética de Plinio Corrêa de Oliveira cristã. Na realidade, sentia-se mais próxima quando, em 1943, percebeu e denunciou os do leninismo ou do maoísmo do que do crisdesdobramentos que teriam os erros então larvados existentes tianismo. Com isso perdeu muito de sua antiga importância. na Ação Católica! Erros esses que hoje chegam a seu último Agora nos vem a notícia de que o esperado fim inglório desdobramento na JOC belga: a apostasia dos e inglório chegou. gloriosos nomes católico e cristão. • O boletim francês la Vie, pertencente ao grupo do jornal "Le Monde", de Paris, publicou em 14 de abril último notícia E-mail para o autor: cato licismo@terra .com br da qual extraímos os tópicos que seguem.
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VARIEDADES
Filhos de pais não praticantes pedem o Batismo na França ■ G REGÓRIO VIVAN CO LOPES
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e en~ontra r~es b~las e s~borosas maçãs num espinhe iro, sabei que nao fo i esse as pero arbu sto que as produ ziu, mas sim um mil agre de Deus. Se do ovo de um a serpente virdes sa ir um fo rmoso e cantante rouxinol, sabei que não fo i a serpente que o gerou, mas sim um outro mil agre divino. Estes pensamentos nos ajudam a entender como, neste século que parece rea lizar a profecia de N osso Senhor "quando
vitdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação [...}a tribulação será tão grande como nunca foi vista desde o começo do mundo" (Mt 24, 15-2 1), é possível desabrochar de modo inesperado entre crianças e adolescentes, filhos de pais não religiosos, uma tendência para pedir o bati smo. O fenô meno é notório na França, e o conhecido j ornal "La Croix" dedica-lhe extensa reportagem em seu caderno Religião e Espiritualidade ( l 9-4- L4). Logo na epígrafe lemos: "É cada
vez maior o número de crianças de mais de sete anos que empreendem um caminho de.fé, para swpresa de seus.familiares". A lguns dados ex tra ídos dessa reportagem, constituem o cerne deste artigo. Vamos a eles. "'Para me tornar melhor'. 'Porque eu sentia necess idade de crescer com fé' . 'Para dar um sentido a min ha ex istência e pôr a minha v ida nas mãos de Deus'. É por meio dessas palavras que Alexa ndre, Vi tó ri a e M 'Ba llou testemunham o seu percurso . "Jun ta mente com dez outros de seus companheiros das cape lani as [pastora is esco lares] de Vanves et de Ma lakoff(Hauts-de-Se ine), esses três adolescentes de 14 a 19 anos se prepara m para se tornarem cri stãos. Seu desej o de serem batizados não tem origem em suas tradições fa miliares. "Imposs íve l enumerar, entre as 12 mil crianças de 7 a 12 anos e os 5 mil adolescentes de 12 a 18 anos, batizados por ano, quantos empreenderam um caminho inteira mente pessoal, no qual os pais absoluta mente não intervieram, fosse m estes não-crentes, pra ticantes de o utra re li gião, o u si mpl es me nte afastados da Igreja. Os responsáveis constatam que o fe nômeno toma grande vulto. "Com uma mãe não batizada e um pai ate u, aos 14 anos Alexandre, bom aluno do curso colegial, escolheu abraça r a fé cató lica, para surpresa dos pais.
"Ao ass istir um batismo, M 'Ballou, que se prepara hoj e em dia para um conc urso de enfe rmage m, sentiu desej o de se aprox imar da Igrej a. 'Eu cresci livre mas sem fé, entre uma mãe cató lica e um pai muçulmano. E u me dei conta que a fé me faz ia fa lta', conta a j ovem, hoj e com 19 anos. "Para Vitória, 17 anos, olhar claro e blusão de couro preto, em sua casa nunca se pôs o pro blema da religião. ' Meus pais são di vo rc iados. Minha mãe é batizada, mas nunca fo i ao Catecismo, e meu pai tem a imagem da Ceifadora [representação da morte] tatuada no braço: a religião de nenhum modo é de seu gosto'. Desde a idade dos 6 anos, a menina vem pedindo regularmente para ser batizada, mas sem sucesso. Até que 'aos 15 anos, eu me zangue i ve rdade iramente' e então sua mãe te lefonou para a capelania. "Em Co lommiers (A ude), Benj amin confessa senti r um certo ' orgulho' vendo seu filho Max ime, l Oanos, preparar-se para a ce lebração. 'Foi por me io do escotismo que ele desej ou frequenta r o catec ismo, ser batizado e faze r a P rimeira Comunhão. De nosso lado, nem minha esposa nem eu somos crentes e praticantes. É sua primeira esco lha de adul to. E u o vej o crescer, ele traça seu caminho, torna-se autônomo'."
* * *
Que neste século de incredulidade e torpezas possam germinar graças tão insignes quanto inesperadas, só pode ser atribuído a uma ação do Di vino Espírito Santo, a rogos de Maria Santíss ima. "O vento sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito " (Jo 3,8). Um incrédulo poderia perguntar: mas no que vai dar tudo isto? Não tem futuro. Acabará engo lido pelas ondas da modernidade. A resposta é: o Senhor não é o Deus das obras inacabadas. Se Ele começou a edificar, chegará ao fim , ainda que tenha de remover montanhas e convulsionar os mares, produzir terremotos e ativar vulcões. Aos que têm fé, cumpre acompanhar o fenômeno , favorecê- lo quanto lhe for possível , e sobretudo esperar com toda certeza a vitória fina l de Deus. • E-mail para o autor: calolicis111o@lerra.co111.br
O batismo de Clóvis abriu as portas da França para sua conversão ao Cristianismo. À direita, tapeçaria no Palais du Tau, em Reims.
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1 São Panfílio e Companheiros, Mártires + Cesaréia (Palestina), 309. O maior dos exegetas do seu tempo, Panfilio fundou uma escola bíblica, centro de saber e virtude. Encarcerado e torturado em ódio à fé, fo i depois martirizado com alguns discípulos e companheiros de prisão.
2 São Nicolau, o Peregrino, Confessor + Trani (Itália), 1094. Jovem grego. Carregando pesada cruz e cantando o Kyrie Eleison, ele peregrinava a pé pelos sa ntuários do sul da ltáli a. Faleceu aos 19 anos de idade. Muitos milagres se operaram em seu túmulo.
a São Carlos de Luanga e 22 Companheiros, Mártires + Uganda, 1886. Carlos, ofi cial do rei de Uganda, convertido com outros funcionários pelos Padres Bra ncos, foi com eles queimado vivo.
4 São Francisco Caracciolo, Confessor + Agnone (Itália), 1608. De nobre fa mília napolitana, "fimdador da Co ngregação dos Clérigos Regulares Menores" (d o Marti ro lóg io Romano). Tinha o dom de profecia, sendo fa vorecido com êxtases.
5 São Bonifácio, Bispo e Mártir (Vide p. 40)
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10
São Norberto, Bispo e Confessor
SanLo ILamar, Bispo e Confessor
+ Magdeburgo (A lemanha),
+ lnglaterra, 656. Nasceu em Kent e fo i o prim eiro anglosaxão a ser nomeado para uma Sé inglesa, ao suceder São Pau1ino como bispo de Rochester.
11 34. Era cléri go mund ano, mas se converteu após ter sido atingido por um rai o. Fez-se pregador itinerante e fund ou mais tarde os Cônegos Regulares (Premonstratenses). Fo i nomeado posteriormente arcebispo de Magdeburgo. Primeira Sexta-feira do mês.
7 Santo Antônio Gianelli, Bispo e Confessor
+ Bobbio (Itália), .1 846. Empenhou-se no campo das mi ssões e da educação. Co mo bi spo de Bobbio, governou com sabedori a e prudência s ua Sé epi scopal. Primeiro Sábado do mês.
8 Domingo de PentecosLes São Medard, Bispo e Confessor + França, 55 8. Irm ão de São Gildard, Bispo de Rouen, fo i eleito para a diocese de Noyon, à qual se uniu mais tarde Tournai.
9 São José de AnchieLa ApósLolo do Brasil, Confessor + .1 597. Co nverteu inúmeros índi os à fé católica, tira ndoos das trevas do paga ni smo. Colaborou decisivamente com Estácio de Sá, fundador do Rio de Janeiro , para a ex pul são dos calvinistas fra nceses dessa cidade. Ainda em vida, operou numerosos milagres.
São Columbano, Confessor
+ lona (Escócia), 597. Nasc ido na lrlanda, onde fund ou vários mos teiros, mudou- se para a ilha de lona. Ali instituiu um mosteiro que em pouco tempo se tornou o maior da Cri standade. Considerado o apóstolo da Escócia.
11 São Barnabé, Apóstolo + Chipre, séc. l. Fiel companheiro de São Paulo na evangelização, este o chama de Apóstolo, embora não fosse um dos Doze.
12 São ,João de Sahagum, Confessor + Sa lamanca (Espanha), 1479. Da Ordem dos E re mitas de Santo Agostinho. Por denunciar o mal ex istente nos mais altos postos da soc iedade na qual vi via, sofreu vári os atentados, sendo por fim envenenado pela concubina de um nobre.
SanLo AnLônio de Pádua , Confessor e DouLor da Igreja + Pádua (Itália), 123 1. Chamado de "Arca do Testamento" e "Martelo dos hereges ", esse grande taumaturgo fo i uma das glórias da Ordem Franciscana.
14 São Metódio de Constantinopla, Bispo e Confessor + Co nstantin opl a (Turqui a), 847. Italiano de nascimento, ele se tornou monge, tendo sido valen te opos itor dos iconoc lastas. Foi nomeado Patriarca de Constantinopla por interl:e rência da imperatriz Teodora.
15 Domingo da Santíssima Trindade Santa Germana Cousin, Virgem + Pibrac (França), 1601 . Pobre, escrofulosa, negligenciada pelo pai e maltratada pela madrasta, morreu aos 22 anos, abandonada em se u leito de palh as
no celeiro paterno. Catequista, notabilizou-se por sua grande fé católica, em época de atuação da heresia calvinista.
21 São Luís Gonzaga, Confessor + Roma, 1591. De família prin-
16 São Cyro e Santa ,Julita, Mártires + Síria, séc. IV. Julita, por não querer renegar a fé, estava sofrendo o martírio quando seu filho Quirico, ou Cyro, de apenas três anos, que lhe fora arrancado dos braços, juntou-se a ela para morrer, afirmando que também era cristão.
17 Santa Teresa de Portugal, Viúva + 1250. Filha do Rei Sancho Ide Portugal. Tendo seu casamento sido declarado nulo por motivo de consanguinidade, fundou um convento cisterciense.
1B Santos Marcos e Marcelino, Mártires + Roma, 287. De acordo com a tradiçã.o, durante a perseguição movida por Diocleciano, esses dois irmãos gêmeos "tiveram o lado traspassado por lanças, entrando assim no Reino dos Céus pela glória do martírio " (do Martirológio Romano).
19 Festa do Santíssimo Cot'PO e Sangue de Jesus Cristo
cipesca, ingressou aos l 7 anos na Companhia de Jesus. Tinha uma pureza angelical. Morreu aos 24 anos como mártir da caridade, vítima de uma moléstia contraída ao assistir enfermos durante uma epidemia. É o patrono da juventude.
São Romualdo Abade, Confessor + Itália, 1027. De nobre família de Ravena, entrou aos 20 anos num mosteiro. Fundador da Ordem dos Camaldulenses.
20 Bea tas Sancha, Teresa e Mafalda de Portugal + Portugal, séc. XIII . Filhas de D. Sancho 1, ambas renunciaram às glórias do mundo para se entregarem a Deus através da vida religiosa.
Romano).
27 SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS São Ladislau, rei da Hungria , Confessor
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+ Nitra (Boêmia), 1095 . Con-
São Paulino de Nola, Bispo e Confessot'
s iderado um dos heróis da Hungria, esse rei derrotou sucessivamente os poloneses, os russos e os tártaros. Pela morte da irmã, anexou ao reino a Dalmácia e a Croácia. Apoiou São Gregório Vil contra o imperador Henrique LV e incentivou o trabalho missionário em seus territórios com a construção de vários mosteiros e igrejas.
+ 431 . Pagão de nobilíssima família, ainda jovem foi prefeito de Roma e senador. Casado com uma cristã, converteu-se e, de comum de acordo com a esposa, renunciou a tudo e tornou-se sacerdote.
23 São José Cafasso, Confessor + Turim (Itália), 1860. Conterrâneo e mestre de São .João Bosco, reitor do Jnternato Eclesiástico São Francisco de Assis, de Turim, formou o clero piemontês nos bons princípios de São Francisco de Sales e Santo Afonso de Ligório.
24 FESTA DA NATfVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA
25 São Próspero de Aquitânia, Confessor
(Vide p. 26)
Constância,fiiha do Imperador Constantino. Ambos obtiveram a palma do martírio sob Juliano o Apóstata, morrendo pela espada" (do Martirológio
+ França, 463. Leigo e casado, devotado ao estudo da teologia, correspondia-se com Santo Agostinho, a quem admirava e com o qual combateu a doutrina herética dos semipelagianos sobre a graça . Indo para Roma, tornou-se secretário do Papa São Leão Magno.
26 Santos João e Paulo, Mártires + Roma, 362. "O primeiro era governador de palácio, e o segundo camareiro da virgem
2B São João Southworth, Mártir + Tyburn (Inglaterra) , 1654.
Intenções para a Santa Missa em junho Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seg uintes intenções: • Em repara ção ao Sagrado Coração de Jesus (neste ano, fes ta comemorada pela lgreia no dia 27 iunho) pelos ultraies proferi dos contra Ele na peça teatral blasfema "Jesus Cristo Superstar", em ca rtaz na c idade de São Paulo. E rogando graças e bên çãos especiais para todos os nossos co laboradores e sua s respectivas famílias.
Ordenado sacerdote na França e enviado em missão à Inglaterra, foi preso várias vezes e depois libertado pela intercessão da Rainha Henriqueta, esposa de Carlos 1. Após a execução deste rei, sob o regime ditatorial e herético de Cromwell, foi aprisionado e martirizado.
29 Comemoração de São Pedro e São Paulo, Apóstolos
30 São Teobaldo de Provins, Eremita, Confessor + Salonigo (Itália), 1066. Filho dos Condes de Champagne, trocou a carreira militar pela vida eremítica. Depois de uma peregrinação a Roma, entrou para a Ordem dos Camaldulenses em Salonigo.
Nota: Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui seus nomes apenas enunciados, sem nota biográfica.
Intenções para a Santa Missa em julho • Em louvor de Nossa Senhora do Carmo (fe sta celebrada no dia 16 de iulho) e pelo aumento da devoção a Ela a ao escapulário do Carmo, particularmente entre os leitores de Catolicismo.
Reação estudantil católica impede "missa negra satânica" em Harvard A gendas anticristãs diversas revelam o fator que as une: o escárnio de Cristo e o culto a Satanás rn Lu1s DuFAUR
A
encenação de uma "missa negra satânica" havia sido agendada para segunda-feira, 12 de maio, véspera da festa de Nossa Sen hora de Fátima, na prestigiosa Universidade de Harvard, nos EUA . A "missa negra" é um cu lto satânico com blasfêmias e sacri légios, que faz as vezes de uma paródia da Missa católica. Muitas orações são invertidas para exprimir o contrário do rito católico e cultuar Lúcifer, informou o "Boston Globe". O satânico ritual fo i aprovado pelo Harvard Extension Cultural Studies Club e deveria ser executado pelo grupo "Satanic Temp le", de Nova York. O responsável por esse grupo declarou que não seriam usadas hóstias consagradas, como é o sacrí lego costume, segundo informou a CNSNews. A tentativa de amortecer as reações incluía a "expli cação" de que essa " missa negra" seria apenas uma manifestação de independência em relação à autoridade da lgreja, quando na realidade trata-se de cu ltuar a revolta de Satanás contra o Sacrificio Redentor da Cruz, renovado em toda Missa autenticamente católica. Afastando quaisquer dúvidas, Lucien Greaves, porta-voz do grupo satanista, explicou o que eles fazem: "Nós pegamos um pedaço de ' pão mágico' que é realmente a carne de Cristo. Nós o escarnecemos sem mercê e nas canções dizemos para ele que já era, e que nós detestamos o sabor de sua carne. Após o deixarmos suficientemente intimidado e fora de combate, alguns representantes da agenda homossexual esfregam todo o seu homossexualismo sobre a Bíblia até Deus chorar. Esse é o momento em que Satanás aparece, e todo o mundo vira a garrafa". Greaves acrescentou ainda que eles se inspiram num relato do sécu lo X IX feito pelo escritor Huysmans no livro là-bas, e outros elementos provêm de sabbaths de bruxas. De fato , o escritor Joris-Karl H uysmans ( 1848- l 907) narra nesse livro ter assistido a uma "missa negra", na qual participavam pessoas portadoras das mais torpes taras morais. O sacerdote era verdadeiro e consagrava rea lmente a hóstia modo nauseabundo. Seguiam-se cenas de tal horror moral, CATOLICISMO
que a " missa negra" desencadeou um processo de conversão do até então ímpio escritor. E le foi readmitido na Igreja Cató lica em 1892 e morreu como monge oblato beneditino. O mesmo porta-voz do grupo luciferino exp li cou que muitos satanistas são ativistas dos direitos dos animais, vegetarianos e artistas com um "forte senso de comunidade". A notícia do evento satânico em Harvard suscitou comoção e forte reação nos meios católicos. Uma procissão reparadora, com centenas de participantes ostentando terços e imagens religiosas, saiu da Capela
O Pe. Michael E. Drea conduziu as orações e disse que todas as pessoas que têm fé " reconhecem a missa negra pelo que ela é: um ato de ódio à Igreja Católica". Observou também que os fiéis permaneceram em oração e reparação por várias horas além do previsto. Cerca de 80 mil estudantes e professores de Harvard assinaram uma petição contra a realização da missa sacrílega no campus universitário. Só a petição da TFP StudentAction atingiu 46 mil assinaturas em quatro dias . "Eu estou envergonhada pelo fato de minha universidade estar permitindo um evento tão cheio de ódio sob aparências de 'educação"', disse a professora Aurora Griffin, ex-presidente da Associação dos Estudantes Católicos de Harvard. Diante das reações católicas, os promotores do ritual satânico o transferiram para um bar noturno chamado "Hong Kong", e chegaram a afirmar por e-mail que o mesmo estava sendo realizado naquela noite. Porém um empregado do local , que só quis se identificar como Fred, disse por telefone que os membros do grupo satânico encontravam-se bebendo no bar, mas não estavam realizando ritual algum . A organização satânica emitiu comunicado esclarecendo que a "missa negra" havia sido adiada indefinidamente. A tentativa de realizar esse ato revelou o objetivo final para o qual trabalham os militantes de agendas na aparência tão diversas. Eles convergem para tentar eliminar Deus e sua Igreja do mundo, e proclamar um reinado igualitário, repositório de todos os vícios, dócil servidor de Satanás e promotor de seu culto. • E-mail para o autor: ca toli cismo@terra.co m.br
do Massachusetts Institute of Technology (MIT) até a igreja de São Paulo, na Praça Harvard . Naquele santuário, totalmente lotado, 1.500 católicos fizeram uma hora de adoração eucarística. Entre os participantes estava a presidente da própria Universidade de Harvard, Catherine Drew Gilpin Faust.
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TFP italiana na IV Marcha Nacional pela Vida, em Roma mJuuo LoRrno rinta mil, segu ndo a Polícia Municipal de Roma, e 40 mil, de acordo com os organizadores, foram os participantes da IV Marcha Nacional pela Vida na cap ital da Cristandade no dia 4 de maio. O desfile começou em lugar altamente simbólico: a Basílica de Santa Maria dos Anjos e dos Mártires, situada na Piazza della Repubblica, construída pelos Romanos Pontífices para comemorar os milhares de mártires cristãos mortos nas Termas de Diocleciano. Após atravessar as ruas do centro histórico de Roma, terminou na Praça de São Pedro.
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CATOLICISMO
Hoje, dois mil anos depois, o sangue inocente corre novamente. Não mais nas Termas, no Circo ou no Coliseu, mas nas clínicas de aborto . É para deter este massacre que os defensores da vida se mobilizam a cada ano para fazer ouvir sua voz no coração do cristianismo. No dia anterior, a TFP italiana havia participado de dois importantes congressos: um nacional e outro internacional. O primeiro, realizado no Pontificio Ateneo ReginaApostolorum, contou com a participação de importantes figuras do mundo prolife italiano. Representantes da TFP da Itália tomaram parte nas conferências e nos círculos de estudo. O outro congresso reali zou-se no Auditório São Pio X, do Vaticano. Na
parte da manhã participaram ape nas líderes prolife de nível mundial ; o presidente da TFP italiana teve então ocasião de apresentar as atividades em defesa da vida inocente levadas a cabo pela vasta família de a lmas fundada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. À tarde, o congresso era aberto ao público, tendo sido novamente conced ido à TFP apresentar suas ativ idades no plenário. O congresso foi encerrado pelo Cardeal Raymond Leo Burke, Prefeito da Signatura Apostólica, que declarou não ser lícito dar a comunhão aos políticos que favorecem o aborto. A Marcha pela Vida de Roma envolve uma ampla coa lizão de associações religiosas e le igas, unidas no desejo
co mum de defender a vida human a desde a concepção até a morte natura l, cance lando a Lei 194 - que e m 1978 ab riu a porta para a mata nça dos inocentes na ltál ia . A marcha teve que supera r muitos obstácul os, tanto psico lógicos quanto políticos. N ão é inco mum , de fa to, e ncontrar a ideia, professa da sobretudo por cató li cos ditos " moderados", de que a lei 194 é "uma lei boa, mas mal aplicada ". Segundo essa ide ia, tal lei itali ana co nteria também aspectos positivos, que no entanto nunca fo ram impl eme ntados. Ao in vés de pedir a sua a bo i ição, di zem, deveríamos lutar pela sua plena impl ementação. Esta, que é a posição de até não poucos bispos, constitui uma armad ilha que se deve dissipar. No regulamentos lega is anteri ores à le i 194, o abo rto na Itá li a não e ra permitido, e de fato era punido pelas le is contidas no X Título do Livro 11 do Códi go Pe na l, que prev ia pena de rec lusão de do is a cinco anos para quem praticasse o abo rto numa mulher, mesmo co m o seu consentimento. N o caso de a mulhe r não consentir, a pena subi a de sete a quinze anos. No e ntanto, à luz do artigo 54 do mesmo Códi go, era m contempladas a lgumas exceções, como, por exempl o, para sa lvar a vida da mãe . A le i 194 in ve rte essa lógica jurídica: cons idera o abo rto totalme nte lega l, mas depois a plica algumas restri ções. Ela divide , de forma co mpl eta me nte a rbitrári a, a vida intra-ute rina e m três períodos, e a pli ca para cada um de les crité ri os jurídicos diferentes. O ponto de referênc ia é sempre a saúde ou os dire itos da mãe, sem a mínim a alusão aos direitos do nasc itu ro, a quem assi m se vê negada a condi ção de pessoa . Eis a intrínseca ma ldade dessa lei. Para transmitir esta me nsagem é que nasce u a " Marcha pela Vida em Roma", da qua l participa desde o iníc io a Asso-
ciazione Tradizione Famiglia Proprielà. (htt ://www.atfi .it). • E- mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
Na foto de cima, o Cardeal Raymond Leo Burke, Prefeito da Signatura Apostólica, conversa com manifestantes da Marcha
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n.11
Deus concede esse dom de modo especial a certos homens. Um exemplo disso na vida de Talleyrand. PuN1 0 C o RRÊA DE OuvE1RA
H
á certos homens a quem Deus proporcionou, de modo impress ionante, o dom da ação. Q ua lquer coisa que e les faze m, qua lquer questão que resolvam, uma deliberação que tomem, uma gentil eza que pratiquem, atinge seu auge. É porque aquela ação quase se destaca de seu objetivo, para constitui r uma atividade vista na sua beleza própria. A ação ass ume uma fo rmosura e um brilho especial. Por exemplo, um problema resolvido por Ta lleyrand no Congresso de Viena. A França - a grande derrotada na guerra empreendida na época - representada por Talleyra nd, comparece a uma reunião de grandes potências da Europa. Metternich, mini stro austríaco, reuniu Ta lleyrand e os representantes da Inglaterra, P rúss ia e Rúss ia. O embaixador pruss iano observa Talleyra nd indolente e impass íve l. O fraco pode ser esmagado pelo fo rte. Mas ele é tão inteli gente que não teme ver o " touro" chegar perto. Sabe que, na hora certa, coloca um pano vermelho do lado e o touro 9 assa. Talleyrand faz uma declaração: "O direito dos povos" ... O embaixador prussiano inte rrompe e diz: "Eu quero sabet; o que faz o direito nesta reunião ? ".
Talleyrand sorri e responde: "Uma coisa muito importante. É ele que lhe conf ere o direito de estar sentado aqui! ". É uma ação humana "saborosa". N ão tem mais nada para di zer e o outro fi ca qui eto. Esta ação é mui to bonita por ser um gesto de superioridade da inte ligência sobre a fo rça. A fo rça vem e investe; a inteligência, com um dito de espírito, aniquila a fo rça, que se dobra di ante do p restígio da inteligênc ia. E este lance da inteli gência é executado com indo lência - aparente, porque por detrás há suma e aristocrática sagacidade. A na li semos outro epi sódi o em que atua o mesmo Ta ll eyra nd : Napo leão está prestes a ca ir. O futuro Carlos X, em nome de seu irmão Luís XVIII de Bourbon, está às portas da F rança. Talleyra nd deseja se reconciliar com os Bourbons. É prec iso di zer uma palavra amáve l. E le manda um emi ssário à aquele príncipe, com apenas estas palavras: "Monseigneur, estamos fa rtos de glória; por fim , traga-nos a honra". Está tudo dito ! Isto é, aquela glóri a sem honra de Napo leão. Porque N apo leão obteve exatamente isso: glória sem honra, e fi ca arrasado. Aquele que entra com a honra sem a g lória, entra normalmente. Aquele que alcança a glóri a sem honra, tem a "glória" do embusteiro . Carlos X fica contente. Está concluída a reconciliação. O que é isso? É uma ação humana, mas che ia de beleza. •
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 26 de outubro de 1967. Sem revisão do autor.
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_A Nº 763 - Julho 2014 - Ano LXIV
E1 PUNI O C O RRÊA DE ÜLIVEIRA
A História do Brasil reinterpretada
segundo certas correntes da "Teologia da Libertação" ntre os objetivos de uma corrente ideológica constituída de c lérigos e leigos agitadores, inspirados em certa "Teologia da Libertação", figura urna reforma na política indi gen ista, própria a lacerar em vários pontos o território nacional deste Brasil que emerg iu soberano, e robustamente uno para todo o sempre, do brado histórico
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"independência ou Morte". [... ] Um le itor que deseje fazer-se uma ideia sumária do que seja a "Teologia da Libertação" enquanto aplicada aos temas indígenas, pode tomar conhecimento dos escri tos de D. Pedro Casa ldáli ga, nitidamente críticos da expansão portuguesa no Brasil e da evangelização dos índios, obra de Anchieta e dos heroicos missionários jesuítas e franciscanos das primeiras eras, e dos que - de tão variadas famílias religiosas - lhes vêm sucedendo nesta g loriosa faina, desde o século XVI até nossos dias. Já de alguns anos se vem notando, em livros didáticos brasileiros, uma tendência cada vez mais acentuada de reescrever a História do Brasil, reinterpretando-a no sentido de criticar a obra co lonizadora portuguesa, bem como a influência civi lizadora dos Missionários.[ ... ] Assim , toda a História do Brasi l deveria ser reformulada no ensino para uma finalidade essencialmente divorciada da realidade - e enquanto tal injusta.( .. .) Ora, se uma História do Brasil escrita com imparcialidade deve necessariamente tomar em consideração o papel das várias etnias de nosso povo, é obviamente falso afirmar a igualdade da contribuição que cada uma delas tem dado para o progresso do País. Eq uiparação de tal maneira aberrante da realidade hi stórica só se pode conceber como decorrência de pressupostos históricos - e das consequentes avaliações - em c lara oposição à obra missionária. • (P líni o Corrêa de Olive ira , Proj eto de Constituição angustia o País, Catolicismo, Ed. Extra, SP, 1987 , p. 170).
Brancos e índios carregam o corpo de São José de Anchieta, em direção a Vitória (ES) em 9/6/1597
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Na União Europeia, vitória cios "eurocéticos"
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ENTREVISTA
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Ameaça ele uma revolução incligenista
Venezuela: calamitosa crise e clestemicla reação oE SANTOS
Os Quarenta Mârtires cio Brasil
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48 AçÃo CoNTR/\-R1wowc10NA1uA 51 D1sc1~nN1N1>0 Arte e neopaganismo 52 AM1.m:N·n:s, CosnJm:s, C1v11,1ZAçúi,;s A visitação ele Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel Nossa Capa: Cena em manifestação de estudantes contra o governo venezuelano na capital do país
JULHO 2014
Caro leitor Um drama se desenrola presentemente na vizinha Venezuela, país integrado no conjunto das nações latino-americanas e, como as demais do continente, tratada com especial dileção pela Providência desde o seu descobrimento. Atesta-o a ação benemérita de missionários católicos, que por sua abnegada atuação converteram seus habitantes nativos à verdadeira fé, levando-lhes, ao mesmo tempo, as maravi lhas da civ ilização cristã. Em seus 63 anos de existência, nossa revista tem focalizado com frequência o secu lar processo revolucionário de envergadura universal, cuj a ação demolidora se acentuou na época atual, tanto no Brasil e demais nações do continente americano, quanto no resto do orbe. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsãvel : Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração: Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo· SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (0xx11) 3333-6716 Correspondência : Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo· SP Impressão: Prol Editora Grãfica Ltda. E-mail: catolicismo@terra.com .br Home Page: www.catolicismo.com .br
Tal processo devastador ganhou relevância na América Latina com a comunistização, décadas atrás, de Cuba, e atualmente pela atuação dos países dominados por regimes chamados "bo li varianos", entre os quais prepondera a Venezuela, transformada hoje praticamente em satélite da ilha-prisão do Caribe. Exp lica-se assim que Catolicismo tenha reservado a matéria de capa desta edição ao agravamento da tragédia vivida hodiernamente pela infe liz Venezuela, publicando substanciosa e bem documentada análise de nosso colaborador, Alfredo MacHale, especialista em América Latina. Uma grave crise econômica, política e social, que se agravou nos últimos meses, tornou a situação do governo venezue lano presidido por Nicolás Maduro bastante instável. Milhares de jovens saem quase diariamente às ruas de numerosas cidades do país para expressar pacífica, mas energicamente, sua inconformidade com o estado calamitoso de sua nação, e contra a vio lência ditatorial do governo. E a brutalidade dos esbirros do regime bolivariano contra os jovens estudantes, bem como as injustas decisões judiciais, não os têm desanimado. Pelo contrário, despertaram nas almas de muitos deles o sentimento religioso, que há décadas não se observava. Quando participam das manifestações, os jovens rezam o rosário e rogam à Virgem de Coromoto, Padroeira da Venezuela, que lhes conceda sua proteção e salve a pátria venezuelana. É inegável que esses jovens estudantes já obtiveram importante conqui sta: uma considerável parte do mundo civilizado tomou con hecimento de sua luta, sabendo agora que o regime bolivariano é ditatorial , anticristão e marxista. Esta atuação é de molde a alertar a opinião pública mundial contra os engodas e arbitrariedades praticados por um regime autoproclamado "socialismo do sécu lo XXI", que na verdade é o socia lo-comunismo de sempre.
ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Julho de 2014: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
R$146,00 R$ 218,00 R$ 374,00 R$ 616,00 R$ 13,50
Unamos nossas orações, prezados leitores, às desses valorosos jovens, rogando não apenas pela Venezuela, mas também pelo Brasil, para que Nossa Senhora Aparecida não permita que ele seja precipitado numa situação de descalabro como a que assola a nação vizinha.
Em Jesus e Maria,
CATOLICISMO
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
catolicismo@terra.co m.br
DIRETOR
DESTAQUE
COMUNICADO
Importante passo rumo ao modelo venezuelano País atravessa momentos de turbulência político-social, inéditos e perplexitantes. Tensões, boa parte delas induzidas, marcam o dia a dia do noticiário. A atmosfera psicológica do Brasil está saturada e nem sequer o clima, habitualmente distendido que cerca uma Copa do Mundo, ainda mais realizada em território nacional, escapou a tais deletérias influências. A população tem assistido, estupefata, à realização de greves em serviços essenciais, muitas delas declaradas abusivas pela própria Justiça e impondo graves inconvenien- ~ tes e perturbações aos brasileiros ordeiros, que labutam e produzem .2 nos grandes centros urbanos; tais ~ greves têm gerado insegurança, que :ã se traduz em depredações de bens públicos e privados e até em saques. tradas em fotografias que percorrem Grupos de chamados "sem-teto", o mundo, transmitindo a fa lsa ideia altamente treinados e organizados, de um Brasil que se contorce em inclusive com a presença de estran- estertores sociais e raciais. Por outro lado, grupos extremisgeiros, invadem terrenos e prédios urbanos, sendo recebidos, após seus tas anti-sistema, estilo "Black Bloc", atos criminosos, por autoridades promovem atos de protesto - por - até mesmo pela Presidente da causas poucos definidas - espaRepública - tornando assim o poder lhando a violência w-bana, planejada público e a sociedade refém de seus e calculada, de modo a lançar o caos e atacar símbolos do capitalismo, no desígnios ideológicos. Marchas do MST e de reais ou exercício do que qualificam como fictícios indígenas, manipulados por "ilegal idade democrática". Por fim , diante do alastrar-se ONGs ou instituições como o Conselho lndigenista Missionário-CIMI de fatores de incompreensão e de ou similares, fazem encenações de indignação, nas camadas profundas enfrentamentos com policiais, regis- da população, em relação ao governo
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da Presidente Dilma Rousseff e ao Partido dos Trabalhadores, vozes como a do ex-Presidente Lula tentam disseminar um clima de luta e de ódio de classes, tão avesso ao sentir do brasileiro comum. *
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É neste contexto tumultuado que surge um gravíssimo ataque às instituições e à ordem constitucional vigente, perpetrado através do Decreto presidencial nº 8.243, cuja efetivação poderia ser qualificada com uma tentativa de golpe de Estado incruento.
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Editado pela Presidência da República no dia 23 de maio p.p., e publicado no "Diário Oficial" três dias depois , estabelece ele a "Política Nacional de Participação Social " e o "Sistema Nacional de Participação Social". Sob o disfarce de tratar da organização e funcionamento da administração pública - invocando para tal até dispositivos constitucionais - e alegando que o sistema representativo contém falhas, o governo do Partido dos Trabalhadores, via decreto, tenta implementar um novo regime de organização do Estado, o qual visa "consolidar a participação social como método de governo". Manejando habilmente sofis mas e falácias sobre a "democracia direta", valendo-se de definições e disposições vagas, o Decreto submete a Administração Pública, em seus diversos níveis, aos "mecanismos de participação social". Os "conflitos sociais", como, por exemplo, invasões de terras, de imóveis urbanos, de demarcação de terras indígenas - tantos deles gerados
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artificialmente - serão mediados por elementos do governo e setores da sociedade civil, controlados por "coletivos, movimentos sociais, suas redes e suas organizações". E a Secretaria-Geral da Presidência da República dirigirá uma burocrática e coletivista estrutura de conselhos, conferências, comissões, ouvidorias, mesas de diálogo, etc. O Decreto 8.243 - que já chegou a ser comparado a um decreto bolivariano ou bolchevique - torna obsoletas as instituições do Estado de Direito, criando organismos informais ( ou quase tanto) que condicionarão o Judiciário, o Legislativo ou o próprio Executivo. Como é de conhecimento público, em grande medida tais "movimentos sociais", "coletivos " ou grupos da dita sociedade civil são influenciados, orientados e financiados pelo Partido dos Trabalhadores, pela "esquerda católica", bem como pelo próprio governo. Fica assim instituído um sistema paralelo de poder, que consagra na prática uma ditadura do Executivo,
na pessoa do Secretário-Geral da Presidênc ia da República, atualmente o ex-seminarista Gilberto Carvalho, quem habitualmente faz a ponte entre o governo e a CNBB. *
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A Presidente da República tenta desta forma impor ao País metas político-ideológicas do PT - alimentadas nos Fóruns Sociais Mundiais - e sempre repudiadas pela maioria dos brasileiros. Desde há muito, certo tipo de esquerda - e sobremaneira a esquerda petista no poder, influenciada em maior ou menor grau pelo progressismo católico - tenta subverter o exercício do regime "democrático". Fiel a suas velhas convicções socialo-comunistas, eriça-se contra as instituições do que qualifica de "democracia burguesa", tentando vender a ideia de uma democracia direta e participativa, como mais autêntica e popular. Já no primeiro mandato do Presidente Lula, enquanto o País estava
embalado pela pseudo-moderação do projeto político de mudança do Brasil, expresso na Carta ao Povo brasileiro, o programa "Fome Zero" fazia uma primeira tentativa de instaurar no Brasil "conselhos populares" que, como alerProf. taram certas vozes na época, mais não eram de que uma reedição dos conselhos da revolução cubanos ou dos coletivos chavistas. Mais à frente veio a tentativa de controlar a imprensa pelo mesmo mecanismo de conselhos, manipulados por "movimentos sociais". O PNDH3 , baseado numa vaga e abrangente política de Direi tos Humanos, constituiu nova tentativa de impor ao País um controle da sociedade e das instituições do Estado, por conselhos. Por ocasião das manifestações de junho de 2013 , a Presidente Dilma Rousseff, em discurso televisionado a todo o País, voltou a acenar com o tema da democracia direta e a "voz das ruas" . Veio, logo em seguida, a tentativa de impor ao País uma Constituinte específica para a reforma política.
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De todos os quadrantes da sociedade se têm erguido vozes que apontam o grave peri go criado ao futuro político do Brasil pelo Decreto presidencial nº 8.243. No Congresso Nacional há movimentos pronunciados para inviabilizar ou derrubar o referido Decreto. Outros setores ensaiam movimentos para recorrer ao Supremo Tribunal Federal, reclamando da inconstitucionalidade de tal Decreto.
O governo veio a público defender a medida, sempre baseado em subterfúgios e, segundo informa a imprensa, não está disposto a recuar. Aproveitando-se do período em que
Plinlo Corrêa de Oliveira
divorciados dos verdadeiros anseios do Brasil profundo, iriam arrastando inexoravelmente o Brasil para o esquerdismo radical. E admoestava ainda que cada vez mais raros seriam os partícipes da farândola reformista da esquerda, "ganhos gra-
dua !mente pelo sentimento de inconformidade e apreensão nascido, a justo título, das camadas mais profundas da população ".
as atenções de muitas pessoas estão voltadas para a Copa do Mundo, contando ainda com já tão próxima campanha eleitoral, Dilma Rousseff e seus assessores no Planalto e no PT parecem decididos a apostar no golpe institucional. *
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Quando dos trabalhos da Constituinte de 1988, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou a obra Projeto
de Constituição angustia o País. Nele alertava para o fato de que elementos de nossa classe política,
O Decreto nº 8243 é, por certo, um grave exemplo dessa obstinação ideológica. A inconformidade, ainda que silenciosa, é também uma realidade que cresce, apesar das máquinas de propaganda tentarem menosprezá-la ou distorcer-lhe o sentido. O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira faz um apelo às forças vivas da Nação para que, num concerto geral dos espíritos clarividentes, alertem para o perigoso rumo ao qual nos encaminha o Decreto 8.243, obstruindo-lhe legalmente o caminho. Caso não seja derrubado, o Decreto nº 8.243 terá operado uma transformação radical nas instituições do Estado de Direito, esvaziando o regime de democracia representativa, deixando o País refém de minorias radicais de esquerda e de ativistas, abrindo as portas para a tão almejada fórmula do atropelo e do arbítrio, típica dos regimes boli varianos.
Adolpho Lindenberg Presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
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Cal'ta do Cardeal Blll'ke Caro Paulo, Diretor de Catolicismo O brigado pe lo seu cartão, com o qual o senhor me env iou exemplares da rece n te publicação Catolicismo, Rev ista de C ultu ra, com uma tradução em português da entrevista que concedi a Izabe lla Parowicz, do periód ico Po-
lonia Christiana. Peço que se lembre de mim em suas orações. Rogando as graças de D e 1 s para o senh o r, ao mesmo te mpo em que co nfio s uas in te nções à intercessão de Nossa Senhora de G uada lupe, São Mi guel Arcanj o e São José, permaneço dedicada mente seu, no Sagrad o Coração de Jesus e no Imac ul ado Coração de Maria, Raymond Leo Cardi nal Bu rke Prefeito do Supremo Tribuna l da Ass inatura Apostó lica 3 1 d e M a io d e 20 14, Festa da Visitação da Bem-aventurada Virgem M aria.
Gmças e incol'l'espondê11eias
1:81 Não recebi a revista de ma io e peçolhes o favo r de me comuni car como adquiri-l a, po is, a lém de qu ere r me info rmar dos te mas nela p ub li cados, não q uero ficar co m minha co leção incompleta. Entretanto, recebi a revista de junho que está maravi lhosa, com te mas de alto nível ta nto do ponto de vista dos ass un tos de nossos te mpos quanto dos ass untos espiritua is . No próprio dia de Corpus C hri sti, 19 de
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junho, li com mui to p roveito a matéria sobre o Santíss imo Sacramento da E ucaristia. Causou-me muita alegria e recebi graças ao tomar conhec imento ma is profu ndo dos aspectos tratados sobre a presença real de Cristo na Santa Hóstia, sob as aparências do pão e do vinho, o " ma ior mil agre de Jesus Cri sto : sua presença contínua nesta Terra". Confesso que me emocionei vendo as be líss imas fes ti vidades em louvor de Jesus C ri sto na cidade italiana de Orvieto e pensando como E le é incorrespondido em tantos lugares em que se deveriam rea lizar festividades pelo menos semelhantes para louvá-Lo como Ele merece. Mas, pelo contrá rio, vejo com frequência, até mesmo nas Igrejas, como E le é desrespeitado, e, por vezes, até ofendido. Sem desejar entra r em pormenores, digo-lhes que doi-me ver pessoas que comungam de qualquer j e ito e, aparente mente, sem esta rem preparadas para receber a di vina visita em seus corações, ou sej a, sem antes se confessa rem. Como gostaria que cada uma dessas pessoas pudessem meditar nesta matéri a que tive a sotte de ler na festa de Corpus Christi. Estou disposto a aj udar neste sentido e para isso peço as orações dos senhores de Catolicismo. São Pio X, rogai por nós ! (J.A.S.F. -
RJ)
D evoção Ellcal'Ística
1:81 A ma ior manifestação do amor di vino é, sem dúvida, a Sagrada E ucari stia. Passarei a rezar com empenho para aumentar minha devoção a esse estupe ndo Sacrame nto e pedir um aumento na fé . Anote i para rezar o que di sse Santo Agostinho sobre o Deus que, apesar de TODO PODEROSO, não PODE dar-nos ma is, uma vez que j á nos concede a Si próprio na E ucaristia. Ele, INFINITA MENTE SÁBIO, não SABE como nos da r mais do que na Comunhão, que j á é a máx ima dád iva. E ntão fico sem palavras para lhes agradecer o fato de deseja r estar com a alma preparada para poder permanecer co nv e ni e nte me nte prese nte di ante do Sacrário que guarda o santíssimo
corpo e sangue de N osso Senhor Jes us Cristo. Amém. (M.M.A. -
BA)
Repamção
1:81 O trato descuidado, nos dias atua is, dado ao Santíssi mo Sacramento em ta ntas ocas iões e igrej as obscurece no fie l seu e levado sentido. O artigo a respeito d 'E le repara esse desleixo. (N.F. -
MS)
Milagl'es Ellcarísticos Vocês publi caram sobre o " milagre e ucarístico de Bo lse na", qu e ac he i fa ntásti co. Com que brilho este milagre é lembrando na Itália! É ass im que devem faze r os católi cos no Bras il e de todos os países! Sobretudo no dia do Corpo de Cristo ! Agora gostaria que vocês publicassem sobre o utros mil agres eucarísticos. Agradeço antec ipadamente. (F.R.-SP)
Santíssimo Sacmmento
1:81 Que Maravilha é a Real Presença de N osso Jesus C ri sto em todos os Sacrários da Terra e a Santa Jgreja Cató li ca, Apostólica, Romana! (M.G.D.P. -
SP)
Cristianol'obia
1:81 Mesmo sendo o Bras il um Estado laico, sua soc iedade é profu ndamente reli giosa. O laicismo, como entendido em nosso Pa ís, não é contrário à re lig ião e não pode ser usado como um instrumento a serviço da cristianofobia. Em outros te rm os, reti ra r s ím bo los re lig iosos em nome do laicismo é o mesmo que dizer que cabe ao Estado decidir o que a sociedade pode ou não pode fazer em maté ria de ex pressão relig iosa. O laicismo acaba ass im sendo perigosamente transfo rmado em um va lor re li gioso, numa relig ião ofic ia l do Estado laico. (E.E.-SC) Lllloc/,a vismo Já rezava pe los jove ns venezue lanos que estão enfre nta ndo as fo rças da
ditadu ra do déspota chavi sta e agora, com a leitura que fi z da entrevi sta com o j ovem Gustavo Ramos, vou rezar ainda mais por eles. Eles prec isam de graças de Deus para não des istirem, pois o governo " pré-histórico" que se apossou da Venezuela não des iste de seus chavões soc iali stas e "dinossáuricos". O futu ro da nação venezuelana será aind a mais negro se os j ovens se cansarem de faze r opos ição. Mas, atenção bras il e iros: também negro será nosso fu turo se des istirmos de reag ir aos esquerdi stas, qu e adoram retroceder na H istória, adorando Hugo Chávez. Este fa lec ido fa liu seu país, qu e era tão ri co devido à profu são de petróleo . Mas hoj e, o podre Maduro apodreceu toda a infraestru tura que fosse capaz de produzir esse "ouro negro". Por enquanto, ele só consegue se manter no poder devido às "bolsas" tipo fa míli a que ele di stribu i graças à extorsão de impostos exorbitantes cobrados da classe média e ri ca venezuelanas . L ula e Chávez são dois fl age los não apenas para seus países, mas para to da a A méri ca Latin a. Chávez com a agrava nte de ser tido por seus sucessor e seguidores como o "Cri sto redentor da Améri ca". Minhas orações serão para que Madu ro seja o quanto antes exportado para a Cuba, que ele adora. (U.V.C. -
MG)
"Comunistização" do Brasil Estávamos ass istindo o Bras il e com ele a América Latina serem arrastados para as profu ndezas abi ssa is do lamaça l verme lh o, de mane ira trág ica e qu ase irremedi áve l, se m que se notasse uma oposição eficaz e integral como esta situação dramática e aflit ivamente ex ig ia. Alardeava-se o peri go da "cubanização" de nossa Pátri a aos quatro ventos , o que não deixa de ter um grande mérito. Mas, " le constat n ' est pas le combat" (constatar não é combater). E is que "cessa tudo o que a antiga musa canta, que um valor mais alto se alevanta!": - a palavra sacra! e aguerrida do nosso Príncipe
Imperi al, Dom Bertrand de Orl eans e Bragança exarada na "Reverente e fi lial mensagem à sua Santidade o Papa Francisco". Gesto sábio, providencial e necessário, que certamente concorrerá para barrar a comunistização da Terra de Santa Cruz. Atitude de uma grandeza e alcance, de momento, imponderáveis. Gesto profético que faz lembrar a ação de Moisés abrindo o Mar Vermelho para que o Povo Eleito escapasse de ser chacinado pelas tropas do Faraó. O Brasil e a América Latina se enco ntram num beco se m saída. Muitas de suas lideranças temporais e espirituais, em vez de conduzir este apri sco predestinado às verdes pastagens, tangem-no para as fauces do lobo, e do lobo vermelho e sanguinário. Príncipe bendi to, que Nossa Senhora da Co nce ição Aparec ida, Ra inh a e Padroeira do Brasil , lhe proteja e abençoe os passos. Que a Virgem Mãe de Guadalupe, exce lsa Padroeira de todas as Améri cas, alargue e fec unde sua atuação. E ass im venha logo o triunfo do seu Imaculado Coração prev isto em Fátima. (M.R.R.F. -
MG)
Aguardemos
f8l Sua Alteza o príncipe Dom Bertrand disse tudo o que eu gostaria de também dizer ao nosso Papa Francisco. Será que este vai ao menos responder a ele? Se não o fize r, o que poderemos pensar? Aguardemos então, com reverência e respeito. (M.N . -
Portugal)
"Sem tato " ou sem tino ...
f8l Acho que não fica bem para Sua Santidade o Papa e o Vaticano o fa to de receberem e darem apo io a um movimento que só vi sa a baderna e a desordem no País, que não contribui em nada para a produção agrária e que não possui nenhum apoio da imensa parte da opinião pública, como é esse tal MST (Mov imento dos Sem "Tato" com as tradi ções agrárias brasileiras) . (J.G. -MG)
INMEMORIAM
A
pós longa e penosa doença, reconfortado pelos sacramentos da Santa Igreja, entregou sua alma a Deus no dia 16 de junho, aos 72 anos, o Sr. Oberlaender Seixas Bianchini . Natural de São Fidelis (RJ), ele passou quase três décadas de sua existência na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ) à frente do núcleo local da Sociedade Brasilei-
ra de Defesa da Tradição Família e Propriedadé - TFP. Católico praticante e fervoroso, desde muito jovem tomou-se membro da Congregação Mariana, mais tarde da Ordem Terceira do Carmo, e por fim da TFP. Foi fiel seguidor dos ensinamentos e orientações de Plinio Corrêa de Oliveira, tendo participado de numerosas campanhas públicas em prol da civilização cristã no Brasil. Distinguiu-se também como propagandista entusiasta de Catolicismo, desempenhando um papel de relevo na expansão de nossa revista na região do norte fluminense.
Cartas, fax ou e-mails: enviar aos endereços que figuram na pógina 4 desta edição.
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,Monseo hor JOS~ LUIZ YIL.J.M; t:
Pergunta - Tenho algumas dúvidas para as quais já busquei resposta em vários livros e sites católicos, porém nunca consegui achar nada a respeito. l) A primeira trata do destino do nosso anjo da guarda após a nossa morte: ele volta para o Céu, ou passa a ser anjo da guarda de outra pessoa que nasce? 2) Nosso an_jo da guarda tem influência para evitar que cometamos pecados? 3) É verdade que assim como existe um anjo da guarda para cada pessoa, há também um demônio específico para acompanhar e tentar cada pessoa?
Resposta - In te ressantes perguntas, que certamente despertarão também a curiosidade de outros le ito res de Catolicismo. Curios idade espiritual sadia , referente aos sa ntos mi stéri os de nossa Re li g ião, e que, portanto, eleva as a lmas para Deus. Ressalvas 1J1·elimi11ares Os anj os são c itados numerosas vezes na Sagrada Escritura, em circunstânc ias diversas e muitas delas de prime ira importância . Bas ta menc ionar a apari ção do anj o São Ga brie l à Virgem M ari a para anun ciar-lhe a E nca rnação do F ilho de Deus e soli c ita r o seu conse ntimento para que esse aco ntec im ento máx im o da hi stóri a humana se desse, por obra do Espírito Sa nto, em seu sacratíss im o ventre. Poderíamos preencher todo o espaço di sponíve l para esta seção de nossa revista simplesmente alinhando os epi sódi os tra nscendentes em que os anj os atuam no decurso da Hi stóri a Sagrada. Com isto, a teo logia cató li ca tem condições de definir os e lementos essenciais da natureza angé li ca e de sua mi ssão na obra da Criação . E ntretanto, qu ando se tra ta de descer a po rmenores como os que o consulente apresenta - as narrativas constantes da Sagrada Escri tura não são suficientes para esc larecer vári os aspectos da atuação dos anj os. Por isso, mesmo os chamados Padres da Igrej a e escri to res eclesiás ticos dos primeiros sécul os do cri stiani smo enco11traram dific uldade em construir uma doutrina homogênea e sufi c ientemente comp leta sobre os anj os. Conseguiu fazê-lo Santo Tomás de Aquino, no seu tratado sobre os anj os, nas questões 50 a 64 da parte Ida Suma Teológica, aproveitando o materi al e laborado pe los seus antecessores e harmoni zando-os num corpo do utrinal coerente. Por isso, o Pe. A ureliano M artínez O .P., na sua introdução ao Tratado dos Anjos de Santo Tomás, ex plica por que o D outor Angé li co, "deslindando sábia e p er-
fe itamente os campos da Revelação e da razão natural nesta matéria, p roceda, quando necessário em sua argumentação, por razões p rováveis e conjecturasfilosoficamente.fitndadas, mais do que por demonstrações teológicas apodícticas. De onde também resulta que, à fa lta muitas vezes de princípios
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revelados, o Santo apele.frequentementepara os mais sólidos princípios meta.fisicos de seu sistema, afim de deduzir deles conclusões lógicas " (Suma Teológica, BAC, Madrid, 1959, tomo li-IH, pp . 6 15-6 16). Assim , não é estranh o que o consulente não tenha encontrado resposta para as indagações que se fez . Mas, apli cando o mes mo método utili zado por Sa nto Tomás, tentaremos apresentar so luções para elas.
Número ele anjos supera a multidão dos seres materiais
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E a primeira afirm ação surpreendente de Santo Tomás, que adu z imos para responder às perguntas do leito r, é que o número de anj os s upera a mul tidão dos seres materi ais! Afirm a ele: "Deve-se dizer que os anjos, como substâncias
imateriais que são,.formam uma multidão imensa, superior à multidão dos seres materiais [. ..]. E a razão dis to é que, como o.fim que Deus tem principalmente em vista na criação das coisas é a pe,:feição do universo, quanto mais perfeitas são as coisas, em maior grandeza são criadas por Deus. Porém, assim como, tratando-se de cotpos, a grandeza se mede p elo tamanho, nos seres incorpóreos a grandeza se mede pela multidão. [.. .] Portanto, é razoável p ensar que as substâncias imateriais [os anj os] excedam por seu número as substâncias materiais, quase sem comparação " (Suma Teológica, I q. 50, art. 3, e.). Porta nto, di zemos nós - respondendo à pergunta do leitor - havendo tão grande quantidade de anjos, não há ca rência deles para Deus co locá-los à guarda dos homens que ex istira m, ex istem e ex istirão. E ass im é razoável supor que, te rminada a ex istênc ia te rrena de um homem, seu anj o da guarda vo lte para o Céu. Evi dentemente fa lamos aq ui em termos da linguagem humana, po is o anj o, embora acompanhando em todos os in stantes um determinado ser humano aqui na Terra, em nenhum momento perde o gozo da visão beatífi ca que tem no Céu. De qualquer modo, sua mi ssão te rrena se encerra com a morte daquele ser hum ano cuj a guarda lhe fo i atribuída.
As luzes primordiais cio anjo ela guanla e do homem Seguindo a trilh a aberta por São Tomás, aventu ra mo-nos a outra hipótese teo lógica, que passa mos a expor. O P rof. Plíni o Corrêa de O li ve ira observava que, não have ndo do is homens iguais neste mundo, cada um de les tem uma forma peculi ar de ve r a Deus. Em outras palavras, vê as perfe ições de Deus sob uma luz especial que é só dele. É o que ilustre fund ador da TFP chamava de luz primordial. E sendo Deus infinito, infinitas são as suas perfe ições. A cada ser rac iona l - anj o ou homem - Deus reservou um modo ~spec ial de contempl ar as suas perfe ições infi ni tas. M as há luzes primordi a is afi ns, isto é, próx imas uma da outra. E é
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natural que dois homens com luzes primordiais afi ns gostem de estar juntos. E glorifiq uem as perfeições de Deus de modo semelhante. Não seria razoável supor que Deus designasse para cada homem um anjo que tivesse uma luz primordial afim? Parece-nos uma hipótese muito bonita! E neste caso, também é razoável supor que, terminada a existência terrena de um homem , seu anj o leve sua alma para o Céu, seja imediatamente, seja quando este terminar seu estágio de purificação no Purgatório. E no Céu glorificarão a Deus segundo a luz primordial que lhes é afim. Quanto aos que forem condenados ao inferno, seu anjo os exproba rá por sua má conduta e rejeiçã.o de Deus, e por não terem seguido suas insp irações, deixando que os demônios
da perdição - a quem eles deram ouv idos os levem para o fogo eterno ...
os agarrem e
Existência dos anjos da gual'da é uma verdade <le J'é Acabamos de mostrar como certas teses a respeito dos anjos são deduções feitas por Santo Tomás ou autores que o precederam, enriquecidas por outros que se lhe seguiram. Mas a existência dos anjos da guarda está fundamentada em várias passagens da Sagrada Escritura, e portanto constitui uma verdade de fé . Para não multiplicar as citações, limitamo-nos a uma, muito conhecida. Quando Jesus advertiu seus discípulos contra a gravidade do escândalo feito aos pequeninos - " o que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe f ora que se lhe pendurassem uma p edra ao pescoço e o lançassem no.fundo mar " (Mt 18, 6) - logo depois acrescentou: "Vede, não desprezeis um só destes pequeninos, pois vos declaro que os seus anjos nos Céus veem incessantemente a face de meu Pai, que está nos Céus " (Mt 18, 1O). Os teólogos concluem que inequivocamente Jesus fala aqui dos anjos da guarda que protegem a cada um daqueles pequeninos (vide vitral à esquerda). E para responder à segunda pergunta do consulente, basta uma citação de São Paulo, extraída da epístola aos hebreus: "Porventura não são todos esses espíritos uns ministros de Deus, enviados para exercer o seu ministério a.favor daqueles que hão de recebera herança da salvação ?" (Heb. 1,14). Fica claro, portanto, que a atuação dos anjos da guarda é efetiva para a nossa sa lvação, ajudando-nos a evitar o pecado com toda sorte de inspirações e graças que obtêm de Deus a nosso favor.
Existem os "de111ô11ios <la penlição"? ,li
Satanás acompanha com atenção e ódio o modo de operar de Deus. Vendo que o Criador dispôs um anjo bom para acompanhar cada homem que vem a este mundo, pode-se supor que ele faça o mesmo em sentido contrário. Em abono desta tese pode ser alegada a advertência de São Paulo: "Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Porque nós não temos que lutar apenas contra a carne e o sangue, mas também contra os principados e potestades do inferno, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares " (Ef 6, 11 -12). Não está dito, entretanto, que será sempre o mesmo demônio que nos acompanhará do nascimento à morte, uma espécie de demônio da perdição, como o anjo da guarda é o anjo da salvação. Porém, uma coisa é certa: precisamos estar constantemente preparados para a luta, revestidos da armadura de Deus, para que possamos resisti r às ci ladas do demônio que esteja rondando perto de nós. Para isso, o melhor recurso é clamar por Nossa Senhora, que é Regina angelorum e Terrordaemonum . Ela nos ajudará a vencer e esmagar a cabeça da serpente, como está dito no li vro do Gênesis (3 ,15) : "lpsa conterei caput luum ". •
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E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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A REALIDADE CONCISAMENTE
Julgamento de um responsável pela repressão marxista húngara
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Justiça húngara condenou Béla Biszku, membro do Partido Comunista, a ci nco anos e meio de prisão, por crimes de guerra contra a popu lação civi l desarmada em 1956. Trata-se do primeiro processo de um antigo líder civil comunista desde o fim da ditadura soviética. Biszku esteve à frente do Ministério do Interior de 1957 a 1961 , e da vice-presidência do Conselho de Ministros até 1978. Os crimes do com unismo não foram objeto de um processo proporcionado e justo. Em 1956, a repressão comunista matou 2.500 populares, executou mais outros 225 e encarcerou 20.000. Durante esse movimento, o heroico Cardeal József Mindszenty, Arcebispo de Esztergom e Primaz da Hungria, teve de refugiar-se na embaixada americana. •
Fraude na Criméia: apenas 15% aprovaram anexaCiÕO à Rússia site do "Conselho para a Sociedade Civil e os Direitos Humanos do Presidente da Rússia" postou os resultados do referendo que anexou a Criméia à Rússia. A matéria foi logo retirada do ar, mas já havia sido registrada no exterior. Segundo o relatório, o comparecimento às urnas foi só de 30%. Ora, o anúncio oficial tinha apontado um comparecimento de 83% dos votantes. E que destes, uma maioria de 97% teria renegado a Ucrânia. Contudo, no referido relatório, o voto pela anexação baixa de 97% para 15%. Farsas seme lhantes foram montadas pelos agentes pró-russos nos estados de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano, mas caíram no descrédito mundial. •
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CATOLICISMO
Nova catedral em estilo tradicional emociona católicos nos EUA projeto da nova catedral do Santíssimo Nome de Jesus, da diocese de West Raleigh (EUA), não entra na categoria dos prédios 'feios como o pecado" criticados pelo arquiteto Michel S. Rose. Concebida em estilo neo-românico, a nova catedral custará muito pouco, se comparada com as extravagantes catedrais feitas no espírito pós-conciliar da Igreja pobre e aggiornata. O bispo disse que faria a catedral que o "povo de Deus nos permitisse construir ". E o povo recusou as propostas futuristas, aprovando em seu lugar um projeto majestoso que acompanhe a rápida expansão do catolicismo na dioéese. Espera-se que o número de católicos se duplique ali em menos de 20 anos. O projeto aproveita vitrais e estações da Via Sacra recuperadas da cidade de Phi ladelphia, onde o modernismo vem fechando as igrejas históricas. •
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Via Sacra católica demolida e emparedada na China
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ma Via Sacra cató lica, construída a céu aberto sobre a colina de Longgang, fo i arrasada pelas autoridades comunistas de Wenzhou. As grandes estátuas de Jesus, Nossa Senhora e São José, que pesavam quase cinco to ne ladas cada uma, fora m muradas com tij olos para não serem vistas nem cultuadas pelo povo. Outras imagens foram removidas, e toda a decoração das cenas da Pa ixão sumariamente demolida. Cerca de cem católicos compareceram às pressas ao loca l, entoaram hinos de reparação, mas não puderam conter as lágrimas. "A conduta das autoridades relembra a demolição das propriedades da Igreja durante a Revolução Cultural ", disse um deles. •
Sudanesa condenada à forca por casar com cristão
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justiça islâmica do Sudão condenou Meri am Yehya l brahim Ishag à morte por enfo rcamento, acusada de apostasia por se casar com um cristão. Para a j ustiça islâmi ca basta uma simpl es testemunha acusadora, o julgamento é sumá ri o, e im edi ata a exec ução. Meria m também rece berá 100 chibatadas por ordem do juiz. Na pri são ela de u à luz uma meni na, que passa bem. Mas a mãe será executada dois anos após o nasc imento da filh a. Se depender do espíri to ecumênico sincretista, Meriam está perdida, pois não rece berá uma só mensagem animando-a, di zendo-lhe que está agindo bem ao preferir a morte a renunciar à fé católi ca. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo premia seus mártires com uma coroa eterna que os mundanos são incapazes de oferecer. •
Cardeal de Viena elogia travesti e causa estupor em católicos
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população católica de Viena fico u chocada com a atitude do arcebispo da cidade, Cardeal Christoph Schõnborn , que fe li citou o cantor travesti Thomas Neuwirth pelo seu prêmio no fes ti val "Eurovisão". O purpurado escreveu em sua coluna semanal de "Heute", a publicação de maior tiragem da capital austríaca: "No multicolorido jardim de Deus há uma variedade de cores. Nem todos os que nasceram seres masculinos se sentem homens, e a mesma coisa do lado f eminino ". O e logio do prelado evidentemente causou espanto entre os católicos e soou como aceitação da " ideo logia de gênero". O efeito nefasto de tais afirmações fo i rápido: a Prefe itura de Viena anunciou que promoverá iniciativas anti-homofobia, enquanto os " verdes" e os socialdemocratas retomaram proj etos para ampli ar as concessões à agenda homossexual. •
Médico irlandês narra exemplos típicos de milagres no Santuário de Lourdes Dr. Michael Moran foi a Lourdes há 17 anos e hoje faz parte do Comitê Internacional que avalia as curas naquele santuário. Cirurgião, ele explica: "O Comitê é um grupo de profissionais que trabalha com as mais exigentes provas médicas". O primeiro milagre que ele acompanhou foi o de um doente com um braço paralisado, que recuperou o movimento subitamente. "Outro exemplo típico foi o de um homem que tinha um tumor na pélvis, e você podia ver nas chapas de raios X, mas o osso voltou a crescer, seja na pélvis e no fêmur, de um modo anatomicamente correto e muito difícil de explicar". Mas, para ele, os milagres são apenas o "topo do iceberg" em Lourdes.
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Sequestros e crucifixões de cristãos: crimes que o ecumenismo finge não ver uase trezentas moças cristãs nigerianas foram sequestradas pelo movimento islâmico Boko Haram, que pretende vendê-las no mercado de escravos "em nome de Alá" ou entregá-las a seus militantes para serem estupradas. Desde janeiro, o grupo causou mais de 1.500 mortes. Na Síria , combatentes islâmicos crucificaram cristãos . Esses atrozes crimes coletivos levantaram dúvidas sobre o ecumenismo com os muçulmanos, que imagina ser possível encontrar um Islã bom e pacífico numa leitura sincera do Corão. Ora, o Corão trata os cristãos de "ímpios", "idólatras" e "blasfemos" que devem ser humilhados ou exterminados: "Combatei-os [. .. ] até que não exista outra religião senão a de Alá" (VIII , 39); "Fazei-os prisioneiros! Sitiai-os! Armai emboscadas contra eles!" (IX, 5); "Nenhum profeta pôde fazer prisioneiros sem antes ter praticado massacres na terra " (VIII, 67).
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INTERNACIONAL
A União Europeia ante um grande dilema: mudar de rumo ou afundar no caos? ! 1 C ARLOS EDUARDO SCHAFFER Correspondente em Viena
ntre 20 e 25 de ma io, nos 28 pa íses membros da Uni ão E urope ia (UE), fora m e leitos os 751 deputados que comporão o Parlamento Europeu no período de liberativo 2014-201 9. Os tradi cio na is partid os europeístas fo ram os grandes derrotados: o Partido Popular E uropeu (PPE), de orientação cri stã-democrata, perdeu 6 1 cade iras, fi cando com 2 13; o Partido Sociali sta Europeu (PSE) perdeu seis, fi cando com 190; a A li ança L iberal Democrata perdeu 19, fi cando com 64; e a Aliança dos Conservadores Reformi stas perdeu 11 , fi cando com 46. Entre os vencedores estão o Partido da Esquerda E uropeia, que ga nhou sete cade iras, fi cando com 42; e o Partido E uropeu da Democrac ia e da L iberdade (EFD na sig la em ing lês), que ta mbém ganhou sete, fi cando com 38; o sem partido, que era m apenas 33 no período anteri or, passaram a l 05 . Nesses grupos encontra-se boa parte dos chamados eurocéticos - aque les que advogam a retirada de seus pa íses da Uni ão E urope ia ou, ao menos, tão profündas modifi cações no orga ni smo que o tornem apenas uma li ga de nações inte ira mente independentes com moedas própri as. Eurocéticos encontra m-se também nos dois maiores partidos, o PPE e o PSE . Com di fe rentes mati zes eles constituem, no conjunto, quase um terço dos membros do Parlamento. O mais fa moso eurocético é Ni gel Fa rage, do EF D na sigla em inglês (Europa da Liberdade e da Democrac ia), e le ito na Ing laterra pelo UKIP (U nited K ingdom lndependence Party). Seu partido obteve 27 ,5% dos votos, fi cando os Trabalhi stas com 25 ,4% e os Conservadores com 23 ,9%.
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na Europa
Na França , o Front Nacional, de Marine Le Pe n, de o ri entação eurocética e fa ci sto ide, ganho u 26% dos votos, contra 20% do UMP (U ni on pour un Mouvement Popul a ire, de Ni colas Sarkozy) e apenas l4% do Partido Socia lista, de Franço is Ho llande. A vitória do Front Nac iona l causou na
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CATOLIC I SMO
po lítica francesa um aba lo seme lhante ao de um terremoto de grau l Ona Esca la Ri chter, abalando-a profundamente. Outros pa íses em que partidos com fo rtes críti cas à UE ga nhara m muito terreno fo ram a Dinamarca, onde o Partido Popular, de Morten Messerschmidt, obteve 26,6% dos votos; a Hungri a, onde o Fidesz, do primeiro-mini stro Yiktor Orban, a lca nçou 5 1,5%, e o Jobbik , de Gábor Vona, 20,5%; a Alemanha, onde o AID (Alternative für Deutscha land), partido recém-fundad o que com 7% dos votos co loca sete dos 9 1 deputados que representa m a Alemanha.
Como explicar esta vitória dos em·océticos? Por fa tores que nos úl timos anos vêm crescendo em importâ ncia, estas eleições colocaram a UE di ante de um dilema,
de modo muito mais claro do que nas anteri ores: continuará firme no rumo que vem tomando até aqui , apesar do crescente descontentamento de boa parte de seus 400 milhões de eleitores , ou será obri gada a rever suas metas? Isto poderá ser para a UE uma questão de vida ou morte. Inúmeras são as crises que se avolum am em seu interi or. A que mais se faz sentir nos noti ciári os, mas sem que por isso sej a a ma is importante, é a econômi ca. Organismo de ca racterísticas nitidamente totalitárias e soc iali zantes, a UE possui um a máq uin a admini strativa enormemente di spendi osa, 'fazendo mal o bem que.faz, e bem o mal que.faz", segundo o ax ioma popul ar que ass im descreve os maus governos. A Máquina não pára de crescer, criando sempre novas comi ssões, serv iços, representações, etc.
Em seu afã de crescer territorialmente sem cessar, a UE tem admitido a cada ano novos países membros, não raro com economi as deficitári as que necess itam sempre maiores apoios financeiros do Banco Centra l Europeu para sobrev iver. A adoção do E uro por vários desses países impede-os de ajusta r suas economi as por conta própria, com taxas de câmbi o variáveis o u permitindo alguma infl ação.
Uma nova União S011iética? Ca usa muito descontentamento nas respectivas popul ações dos países membros da UE - e aq ui está o seu caráter mais nocivo - a perda da identidade nac ional como países cristãos e das autonomias próprias de estados soberanos. Estes são obj eti vos não abertamente confessados, mas que podem se r constatados nas " diretri zes" e " regul amentos" da Comi ssão E uropeia nos cainpos do abo rto, eutanás ia, "casamento" homossex ual, adoção de crianças, educação sex ua l nas esco las, po lítica migratóri a, monetári a, trata mento de refugiados políticos, posições referentes a " dire itos" humanos, ag ricultura , e muitos outros. Embora essas diretri zes não ten ham caráter obri gatóri o, elas são "zelosamente" tra nsformadas em le is pelos governos dos diversos países, a tal ponto que mais 30% das le is aprovadas pelo Parlamento Alemão nos últim os anos têm como ori gem as ta is " diretri zes" .
O ca,·áter dil;aWl'ial ela União Eumpeia E mbora se di ga democrática, a União Europeia tem na prática ca ráter ditatorial. E m tese, os regul amentos e as diretrizes emanadas de sua Comissão ou de seu Parlamento não têm fo rça de le i, mas se não fore m adotados pelos países membros, estes sofrem retali ações, como fo i o caso da Hun gria depois da ele ição de Viktor Orban em 20 10. Para se livrar mais rapi damente dos juízes da era comuni sta, o Parl amento húngaro diminuiu a idade de aposentadoria destes, mas fo i obri gado pela UE a voltar atrás. Caso ma is gritante a inda aco nteceu no di a 28 de maio deste ano. No último dia em que exerc ia se u cargo, José Manuel Barroso, presidente da Comi ssão Europeia, vetou a iniciativa c idadã One o.f Us , a maior petição da históri a das instituições euro pe ias,,apoiada por ma is de dois milhões de pessoas. Ela pedi a à UE que não ma is financiasse qualquer prática visando destruir a vida humana antes do nasc imento. Mas fo i vetada antes mesmo de ser di scutida no Parlamento! Que rumo tomará a União E urope ia com o novo Parl amento? Imposs íve l prever, por enquanto. Mas uma co isa é certa: não será ma is a·mesma. • E- ma il para o autor: cato lic ismo@terra.com.br
Plenário do Parlamento Europeu
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A esdrúxula e supérflua "Lei da Palmada" P almada pedagógica, aplicada pela mão amorosa dos pais, NÃO PODE. lnvesLir contra a família, por meio da mão odiosa do Estado, PODE. !.] PAULO ROBERTO C AMPOS
o dia 4 de junho foi aprovado pelo Senado Federal o PL 7672/ 10 - Projeto de Lei conhecido ' como "Lei da Palmada" e rebatizado como "Lei Menino Bernardo". Verdadeiro absurdo, que constitui mais um golpe contra a Família. Dora em diante, os pais poderão ser punidos por castigar seus filhos , ainda que levemente. Comenta a "Agência Brasil" (4-6-14): "Apesar de os senadores favoráveis à matéria garantirem que não se trata de legislação criminal, o texto prevê punições aos pais que insistirem em castigar fisicamente os filhos, como advertência, enca,ninhamento para tratamento psicológico e cursos de orientação, entre outras sanções. Os conselhos tutelares serão responsáveis por receber denúncias e aplicar as sanções". Assim, os pais poderão ser penalizados, por exe1npio, pelo simples fato de um filho os denunciar por lhe terem dado um beliscãozinho, um puxão de orelha, uma palmadinha pedagógica. Ou por os denunciarem vizinhos que, por qualquer motivo, desejam caluniá-los e fazer-lhes acusações falsas , apresentando um tapinha na criança birrenta como se tivesse sido uma agressão. Claro que se os pais, ou seja lá quem for, espancarem u1na criança, deven1 ser punidos. Mas para isto não é preciso esta absurda "Lei da Palmada", pois agressão violenta contra qualquer pessoa constitui crime punível pelo Código Penal, que já se incumbe de "enquadrar" o infrator - conforme o caso até com pena de prisão, com a agravante se os maus-tratos causarem lesões corporais em menores de 14 anos. Agora, com a aprovação dessa lei supérflua, o Judiciário, já abarrotado de processos, deverá julgar se
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uma palmada infringiu a lei . Segundo Carmen Nery, advogada especialista em administração legal, a aprovação da referida lei poderá gerar - além de uma onda de denuncismo - uma ingerência do Estado nos assuntos familiares e sobrecarregará o Judiciário: "Agora, o juiz vai verificar se tal chinelada.fere ou não.fere a lei. [. ..] Você acha que um Judiciário como o nosso, lotado, sem condição de julgar latrocínios e serial killers, tem de decidir se a palmada.foi bem dada e o beliscão foi excessivo?" (Cfr. "Folha de S. Paulo", 6-6-14).
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A "Lei da Palmada" foi rebatizada de "Lei Menino Bernardo" em memória do pequeno Bernardo Boldrini, assassinado pelo pai e pela madrasta no Rio Grande do Sul. Um outro absmdo, pois esses pais (melhor diríamos monstros) não deram palmadas no menino, mas mataram-no. Casos desse tipo são excepcionais, uma vez que, segundo todas as evidências, 99,9% dos pais não castigam de modo cruel seus filhos. Como sabemos, "abusus non tollit usum" (o abuso não impede o uso). Ou seja, não é porque há casos extremos de violência contra crianças que todos os pais devem ser proibidos de impor limites e mesmo leves castigos aos filhos . Pelo contrário, como nos ensina a Sagrada Escritura, os pais que amam verdadeiramente seus filhos, não deixam de puni-los. "Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, nem te espantes de que ele te repreenda, porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima " (Provérbios, 3, 11-12). "Conselhos" h1spirados 110s sovicts da URSS
Mas com a aprovação desta insensata lei, o Estado invasor, interferindo indebitamente no recinto familiar através dos famigerados "Conselhos Tutelares", poderá agora punir o bom pai, a boa mãe, que por amor ao filho e para bem o educar dá-lhe uma leve palmada ... "Conselhos Tutelares" que passarão a fiscalizar os lares bem no estilo dos chamados "Conselhos Populares" - como os soviets, oriundos da antiga URSS - estabelecidos por Fidel Castro em Cuba e por Hugo Chávez na Venezuela. Típico de regimes totalitários, essa indevida intromissão do Estado na vida familiar - além de espezinhar o pátrio poder e instalar um sistema de denúncias que poderá jogar os filhos contra os pais - , visa, no fundo,
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Ultrmas notrcra s
Edrtorras
Política
Senado aprova Lei da Palmada sem alterações URL:
"Quem bem ama, bem castiga"
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~ 04/06/2014 21h54 «) Brasília Mariana Jungmann . Repórter da Agência Brasil
E<l,çào:
Luana Lourenço
Dlan'.e de grande polêmica, o plenário do Senado aprovou hoje (4) o projeto de ler que pune famílias que usem violência física na educação dos filhos. Conhecida como Lei da Pa lmada, o projeto foi aprovado mais cedo na Com_rssão de Direitos Humanos (COH) da Casa, após intervenção do presrdente Renan Calheiros (PMOB-AL) pa ra que o projeto fosse aprovado a tempo de chegar à apreciação do plenário ainda hoje. A pro,po~ta segue para análise da presidenta Oilma Rousseff, que te rá até 15 dias uce,s para vetar eventuais trechos ou sancionar integralmente o texto.
O texto altera o Estatuto da Criança e do Adolescente e prevê que eles sejam educados e cuidados sem 0 uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante. o texto define castigo como a · ação de natureza disciplinar ou punitiva com AaprMentadoraXux1 cumprimentao
O uso da força física que resu lte em
s,nador José Sarney em sessão do pltnSrio sofrimento físico ou lesão à criança eo~rlo ou,. ~r'> f.O\t(.lt~J ,.i ,:e..,_ _.....,.-i;ll.'.i.l,~~ ~
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debilitar o princípio de autoridade, pois a educação dos filhos é da responsabilidade dos pais, e não do governo. São eles que sabem o que convém ou não para melhor formar seus pequenos. O Estado-patrão-socialista não pode meter o bedelho na família, usurpando dos pais o sagrado direito de educar sua prole, em conformidade ao que ensinou Pitágoras: "Eduquem os meninos e não será preciso castigar os homens ". Aprovação do aborto, reação e recuo do governo
Muito incoerente, o Estado petista, ao mesmo tempo que deseja aparecer como protetor da criança, proibindo palmadinhas, favorece algo INCOMPARAVELMENTE mais grave e mesmo cruel: o aborto! Para este Estado, o bebê no ventre materno não merece proteção, não conta com qualquer "direito humano"; o nascituro pode
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ser torturado até a morte, cortado em pedaços e j ogado na lata de lixo hospitalar! A ind a rece nt e me nte , fo mos surpree ndid os por um a aprovação qu e ampliari a a práti ca do aborto no Brasil com fi nanciamento público. Fo i a sa nção à lei 12.845/20 13, por meio da regul amentação da Portari a 415 , ass inada pela Pres idente Dilma Rousseff em 2 1 de maio últim o e publicada no di a seguinte no "Diári o Oficial da Uni ão". Essa regul amentação, no fund o, fac ilitaria a práti ca abortiva nos hospitais, uma vez que o governo incluía o aborto na Ta bela de Procedimentos do Sistema Úni co de Saúde (SUS), pagando R$443,40 pela "interrupção da gestação " ou "antecipação terapêutica do parto " - ou seja, sem eufe mi smos : a execução de um bebê no ventre materno. Ademais, tal regulamentação seria motivo para interpretações jurídicas que poderi am ampliar ainda mais os casos de abortamento no País, além daqueles que absurdamente a lei vige nte permite (em casos de estupro, quando a vida da mãe esteja em ri sco e em casos de fe tos anencéfa los) . A notícia dessa regul amentação pro vocou indi g nadas reações no B rasil in te iro - despertadas por mui tos movimentos co ntrári os ao aborto - e o governo recuou. Segundo nota da "Agência Bras il" (295-14), o Mini stéri o da Saúde anul ou a portari a 41 5, publicada no di a 22 de maio. Mas aquele Ministéri o não admitiu que o recuo fo ra por ca usa da mencionada reação. Ele alegou que a revogação fo i devido a uma "fa lha téc ni ca" ...
Palmada", ence rro com um deles, divul gado pe la " Agê ncia Bras il " (6-6-2014): "O admini strador de empresas Ca rlos Damasceno, 40 anos, é pai de três meninas e confessa: 'Uma das minhas.filhas é bem danada ejá le vou muita palmada '. Perguntado se concorda co m o proj eto de lei que pune fa mílias que usem violência fí sica na edu cação dos filh os, aprovado na última quarta-fe ira (di a 4) pelo Senado, ele garantiu ser contra agressões pesadas, mas ava liou que conversa r co m as filh as nem sempre é sufi ciente. "'A gente quer educar e sabe dos nossos limites. Tem que haver limite. Afinal, não vai ser nem a policia nem o Estado que vão educar nossos .filhos ', di sse, apoiado pela ami ga F láv ia Passos, 37 anos, enfe rmeira e mãe de um rapaz de 2 1 anos. Pa ra ela, agressão fís ica que deixa hematomas e fraturas devem ser punidas, mas palmadas ocas ionais não faze m mal à cri ança. "'Minha avó apanhou, minha mãe apanhou, eu e minhas irmãs apanhamos e somos, hoj e, to das muito bem resolvidas. Pai e mãe querem sempre o melhor para o filho, mas há momentos em
que o castigo não resolve e a palmada, sim "'. É esse bom senso - da imensa maiori a dos brasileiros e próprio aos pais de fa mília - que não fo i respeitado. Com efeito, notícia publicada no própri o portal "Câmara dos Deputados", em 22-8-20 13, info rm a: "Desde l O de j ulho [portanto, em menos de doi s meses], 661 cidadãos entraram em contato com a Central de Comunicação In terativa da Câmara pelo Disque-Câmara (0800619. 6 l 9) ou por e-mail, utilizando o serviço 'Fale Conosco' do Portal, para se posicionar sobre o proj eto (Pl 7672/2010) . D esse total, 616 (93 %) são contrários à aprovação da proposta, enquanto 45 (7%) disseram ser.favoráveis". Embora mera amostragem, essa info rm ação co nfirma outras pesquisas e se rve para ava li ar a pseudodemocrac ia esqu erdi sta qu e aprovou a " Lei da Palmada" - co m o apoio de apenas 7% da população e despreza nd o os 93 % de bras il e iro s co ntrári os à in tromi ssão do governo na vida parti cul ar da fa mília. • E- mail para o autor: catolic ismo@terra.com.br
Não é a JJOlícia nem o l!Jslaclo que ec/11cam os filhos
Entre inúmeros depoimentos de pais contrári os à aberra nte " Lei da
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CATOLICI SMO
A boa mãe deve disciplinar a filha birrenta ...
Grandeza da visão histórica de uma santa
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orria o ano de 1918. A jovem chilena Joana Fernández Solar, dedicada estudante de História , apresenta três composições literárias ao Concurso Geral da Vicária, que a levaram a obter o primeiro prêmio, outorgado pela Academia . É esta a mesma jovem que ingressará poucos meses depois no convento das Carmelitas de Los Andes (Chile), chamando-se a partir daí Teresa de Jesus, que veneramos com o nome de Santa Teresa de Los Andes . Transcrevemos trechos da primeira das composições mencionadas, intitulada expressivamente "Demolidores e Criadores ". O conteúdo desta composição revela traços admiráveis e pouco conhecidos de seu pensamento e de sua personalidade. Sua visão de conjunto sobre decisivos acontecimentos históricos dos últimos séculos, a convicção com que esta jovem de 18 anos passeia pelos campos da Teologia e da Filosofia da História , e, sobretudo, sua fé na Igreja militante, constituem um reconfortante exemplo, uma admirável lição para todos aqueles que lutam em defesa dos valores da civilização cristã . O fato de hoje as pessoas ficarem presas apenas a seus pequenos interesses e não levarem em consideração visões de conjunto como esta da jovem Joana, é que faz Nossa Senhora chorar.
Demolidores e Criadores " Há um poder sempre reinante, uma din asti a que não conhece ocaso, uma luz que jamais se extin gue, e este poder tem sido se mpre combatido, esta dinastia sem cessa r perseguida, esta luz está continuamente circundada de trevas. Eis aqui a eterna hi stóri a do poder da Igreja; da dinasti a do Papado; da luz, da verdade. Enquanto tudo pa sa e perece a seus pés, a Igreja mantém-se erguida, porqu e está sustentada pelo poder do alto. Abramos a cortina do cenári o do povos moderno , e veremos que, em cada século, os filh o da Igreja têm que leva r a seus lábios a trombeta guerreira . Esta luta não terminará porque etern o é o antagoni smo entre a sombra e a luz. Enquanto os filh os da sombra demolem, os filh os da luz regeneram . Daí o títul o que adotamos: ' Demolidores e Cri adores'.
"O que se passou no sécul o XVI ? Os países da Europa se incendi aram no fogo da guerra fratri cida. Na Al emanha, um astro sini stro se interpõe entre as alm as e o so l da verdade. Lutero e seus sequazes dão o grito de guerra, o alvo de seus ataques é a autoridade da Igreja. Crede no que queirais! Qual é o fruto desta rebeli ão? A destruição da co munhão de ideias . As nações se veem inundadas em sa ngue, as almas envoltas nas treva do erro, e a here ia, como ri o desbordado, arrasta a ma a popul ares, a nobreza, os tronos, até os mini stros do altar. Os canais por onde Deus derrama as graças sobre as almas estão, pois, envenenados. " Mas, será poss ível que o mundo pereça? Não, eis que um novo astro surge no hori zonte; é o fe rido de Pampl ona, Inácio
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de Loyola, que cai como so ldado de um rei terreno e se leva nta como guerreiro do Rei do Céu. Veio alistar uma companhia que não manejará a arma nem empunhará a espada. Quereis conhecer suas armas? O C rucifixo! Seu lema? Tudo para a maior glória de Deus! Seus soldados se derramaram por toda parte, e, portadores da luz da verdade, vão deixando atrás de si um sinal luminoso; luz derramam na Europa, na controvérsia, na pregação, no ensinamento; luz derramam nas Índias com Francisco Xavier que regenera nas águas do batismo milhões de a lmas ; luz derramam os soldados da nova milícia por onde quer que dirigem seus passos. "Viremos a pág in a do séc ul o XV[ e veremos no século seguinte o mesmo espetáculo de sombra e de luz, de demolidores e criadores. No século XVIT vemos destacar-se entre as sombras uma figura de aspecto ríg ido e severo: Jansênio, que lança a frieza e a sombra por onde passa. A chama de amor vacila e acaba por extinguir-se com seu grito ímpio: 'Cristo não morreu por todos! F ug i do Deus do Sacramento, posto que podeis perder sua boa vontade pela vossa indi g nid ade . Fugi , Fugi! ', clamam os demolidores do século XVII, e as almas aterradas fogem ... se enregelam e se perdem! ... " Deus estava ferido no ma is de licado de seu amor... o Verbo pronuncia uma vez ma is a pa lavra criadora que vai fazer brilhar a luz no meio das trevas: em Paray-Le-Monial se levanta um sol espl endoroso e vivificante. Jesus Cristo mostra a uma humilde vi sitandina seu Coração aberto, abrasado em chamas de amor, queixa-se do esquecimento dos homens e os chama a todos com in sistênc ia. A leg ião jansenista grita: Fugi, fü gi!... A voz de Paray-Le-M onial chama em contrário: Venham , venham! A negra bandeira do terror cederá ante o formoso estandarte do amo r, é isto tudo? N ão, ali está o grande apósto lo da caridade, São Vicente de Paulo, que à imitação do Divino Mestre, chama o pobre, o enfermo, o menino ; para todos há lugar em seu coração.
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CATOLICISMO
A Providência suscita Santo Inácio de Loyola (foto acima) e sua Companhia de Jesus para liderar a luta contra as teses do protestantismo a cuja cabe~a estava Lutero (foto abaixo)
" A luta não terminou ; o inimi go espreita se mpre a Igrej a. A tempestade é mai s terrível do que nunca no século XVJI L Os corifeus da ma ldade, Vo ltaire e Rousseau, aparecem , o prim eiro com o sorri so jocoso nos lábi os e a bl asfê mi a na pluma , o segundo com o sofisma e a confüsão nas ideias, e ambos com a corrupção no coração. Os pretendidos fil ósofos querem ex pli car tudo racionalmente, e proc lamam à face do mundo que não há Deus, e arrancam Cristo do coração de nobres e plebeus, e a ind a se atreve m a arrancá- lo do coração da criança . " Parem, infames ! Está ultrapassada vossa medida, esse santuário de inocênci a não pode ser traspassado, essas cri anças perte nce m a Jes us Cristo! Um apóstolo e leva nta em no me do Deus da infânci a. João Batista La Sa ll e funda as esco las cri stãs, encerrando no coração dos pequeninos desva lidos a faísca da fé qu e se ext in g ue por toda s as partes[ ... ]". "Ó Igreja, teu poder jama is será destruído! As trevas cobriram a face do universo na aurora do Tempo e ao ' Fiat lux' fu g iram ve ncidas. Mai s tarde as sombras da idolatria cobri ra m o mundo anti go, veio o Verbo e dissipou as trevas, porque o Verbo era a Luz. Hoj e as som bras cobrem de novo o orbe cristão; mas ali está a pa lavra de C ri sto, Verdade eterna: 'Aquele que me segue e cumpre minha pa lavra não a nela nas trevas' . "Ó palavra de vida! A Ti amor eterno, a Ti eterna felicidade! ". • (Cli". U 11 lirio dei Carmelo: Sor Teresa de Jesús - Juanita Fernández S., 1900- 1920, pp. 555 a 559; 1111prenla de Sa n José, San ti ago, 1929).
Revolução feita em nome dos índios! A questão indígena no Brasil -
manipu]ada sobretudo por ONGs e políticos - está gerando insegurança e graves conflitos no campo, como as invasões de propriedades, podendo produzir uma situação de guerri1ha generalizada em várias regiões do território naciona1.
ão é temerário afirmar que estamos ameaçados por uma revolução indigenista! Quanto ao produtor rural , seja ele pequeno, médio ou grande , produzindo ou não, está sendo chantageado por pretensos índios "fabricados" pela FUNAI , pelo CIMI e por ONGs. As terras indígenas já representam 13% do território nacional , o equivalente a 1,1 milhões km 2 para 250 mil índios! Ou seja, o dobro da área da França (543 .965 km 2 para 60 milhões de habitantes), ou quase duas vezes a área de Minas Gerais (586 528,293 km 2 para 20 milhões de habitantes). Engajados nessa revolução encontram-se antropólogos que produzem laudos para a FUNAI com vistas à demarcação de territórios indígenas. Edward Mantoanelli Luz, antropólogo formado pela Universidade de Brasília , vem realizando um trabalho sério em oposição à corrente afinada com a FUNAI, e apontando interesses políticos, ideológicos e até internacionais por detrás dessas demarcações. No dia 3 de junho último, numa audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, feita a pedido do Dep. Paulo Cesar Quartiero (DEM/RR), Edward Luz defendeu a revogação da vinculação
do Brasil à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Impressionado com a coragem e a clareza de suas posições, Nelson Ramos Barretto, jornalista e colaborador de Catolicismo , entrevistou esse jovem antropólogo sobre o momentoso assunto .
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Catolicismo - Como o senhor agora denuncia as demarcações indígenas se já trabalhou para a FUNAI com esse objetivo? Teria renunciado às ideias de outrora? Edward luz - N ão me sinto consh·angido diante da pergunta. Jul go-a até oportun a, pois me permite esc larecer minha posição a respeito da vai idade, constitu c ion a l id ade e necess idade dessas demarcações. O respeito às terras indígenas sempre foi mantido pe la admini stração pública desde que os portugueses aqui aportaram. Seguindo a tradi ção, os dire itos indígenas fo ram confirmados em nossa Constituição de 88, assegurando a lega lidade e a legitimidade das atua is demarcações. Portanto, não há nada de errado em re-
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Peruanos e colombianos entram em quantidade ilegalmente no pais, na esperanc;a de aqui serem reconhecidos como indígenas e receberem as benesses asseguradas aos nossos índios.
dois campos, pretensamente legitim ados pela aparência de boa vontade e da nobreza da causa. Catolicismo - Como percebeu que havia desvios e fraudes nos laudos antropológicos da FUNAI?
lação à prestação deste serv iço. Trata-se de um momento importante na carreira de um antropó logo poder contribuir com indígenas e com a sociedade no cumprimento da Constitu ição. Na verdade, a diferença entre remédio e veneno situa-se na fo rma e na quantidade em que a substância é ministrada. Venho testemunhando muitos casos nesse sentido. Por respeito à prática da cu ltura administrativa brasileira, as descobertas de corrupção nos procedimentos técnicos, científicos e acadêmicos em relação aos índios vêm chocando e causando justa indignação dos brasileiros. Não estou renunciando nem traindo compromissos com a ciência antropo lóg ica . Estou denunciando que há um apare lh o especializado em fraudar e adu lterar o sistema de demarcação das terras indígenas. É um sistema poderoso, capaz de corromper e convencer muita gente. A lguns são corrompidos pelo dinheiro , outros se deixam corrompe r por compromissos ideológicos, mas a grande maioria age num equi líbri o delicado entre esses
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"Estou elemmcianelo que há um apal'elllo especializado em l'l'auela1· e adulterar o sistema ele demarcação elas terras indígenas. É um sistema poderoso"
Edward luz - Comecei a perceber isso no final de 2005, quando fui env iado a campo pela Coorde nação Geral de Identificação e Delimitação da FUNAI. Tendo a coordenação do órgão gostado muito de meus relatórios, pediu-me para avali ar o trabalho dos profissionais que atuavam pressionados politicamente, ou daqueles de quem sedesconfiava ter omitido dados e/ou distorcido real idades para beneficiar o movimento indígena. Assim que pisei em Tabatinga (AM), fui intimado pela Polícia Federal a comparecer à sua sede, onde o Delegado me convidou (quase intimou) a co labora r com os trabalhos de investigação da PF sobre o processo de entrada ilegal no país de peruanos e co lomb ianos em quantidade, e que vinha se intensificando nos últimos anos, na esperan ça de aq ui serem reconhecidos como indígenas e receberem as benesses asseguradas aos nossos índios . No Alto Solimões deparei-me com uma série de irregul aridades, que iam desde a formação de grupos envo lv idos com o tráfico de drogas e armas até uma grande afl uência de peruanos e de colomb ianos para o Brasil. Apesar da ilegalidade da situação deles, contavam com a conivênci a da FUNAI. Caso estranho fo i o que ocorreu com uma antropóloga da FUNAI incumbida de identificar uma terra na região de Santo Antônio do Iça. Ela foi mantida sob estrita vigilância - praticamente refém - do grupo indígena local, que a impediu mesmo de fa lar com qualquer pessoa fora da com unidade. Nesta ocasião observei também a mercantili zação dos direitos étnicos. As populações mestiças eram conv idadas a in gressar e forta lecer o movimento indígena. Em troca , recebiam benefícios estatais, de ONGs ou de políticos locais. A propósito desse assunto, enviei re-
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Barés, dos Caixanas e Cocamas, dos Boraris, dos ditos Tupinambás no su l da Bahia, dos Anacés e Tapebas no litoral do Ceará, e de muitos outros. Isto é a mercantilização de direitos em troca de benefícios estatais ou organizacionais. Verdadeira perversidade a praticada em relação a estas populações.
latório técnico para o órgão indigenista denunciando tudo o que vi e testemunhei na viagem. Vim a descobrir depois que foi exatamente esse relatório que deu início à minha carreira de antropólogo do mainstream, diretamente li gado à FUNAI e ao movimento indígena. Este foi o verdadeiro momento transformador em minha carreira, pois testemunhei aspectos perniciosos do atual processo de politização de populações mestiças, transformadas em grupos étnicos.
Catolicismo - Quais são as regiões mais ameaçadas por conflagrações indigenistas?
Catolicismo - Como explicar a multiplicação de índios evidenciada no último censo demográfico do IBGE?
Edwar<l Luz -Essa multiplicação inusitada se explica pela somatória de dois ou três fenômenos conjugados. 1) É alto o índice de natalidade indígena (4 ou 5% ao ano), muito mais elevado do que do restante da população brasileira. Entretanto, esse índice não explica sozinho o crescimento da população indígena, pois ela praticamente dobrou na última década. 2) Existe forte migração de indígenas do Peru, Colômbia, Paraguai e Bolívia em busca dos benefícios oferecidos e assegurados pelo Estado brasileiro, que nada faz para deter a entrada ilegal deles. 3) Possuo dados que apontam para a manipulação da identidade das populações tradicionais como um dos principais fenômenos sociais de nossos tempos . Ocorreu e ocorrerá toda vez que determinado grupo - dotado de algum tipo de poder - estabelecer critérios de identidade para punir ou beneficiar determinada população. Sempre que há promessas reais ou fictícias de qualquer benefício para determinado grupo, a tendência humana natural é amo ldar-se aos critérios estabelecidos, e, assim, se tornar merecedor dos benefícios. O que acontece de fato, sobretudo no Norte e no Nordeste, é que um contingente cada vez maior da parcela pobre das populações mestiças cede aos encantos e estímulos do discurso pró-etnias, promovido por ONGs, antropó logos e engenheiros sociais comprometidos com a re-etnicização. É o caso dos
''As pol)ulações mestiças eram com1idadas a i11gf'essar e fortalecer o movimento indígena. Em uoca, recebiam benefícios estatais, ele ONGs ou ele políticos"
Edward Luz - Seria mais fácil falar das regiões não ameaçadas. É difícil precisar quais os locais de conflitos, porque já são tantos e há situações tão numerosas de tensão que o conflito pode estourar a qualquer momento. Como Roraima no passado, Mato Grosso do Su l é atua lmente o estado mais ameaçado por conflitos indígenas . Há mais de 85 propriedades invadidas no País, além de um movimento extremamente militante e aguerrido, sem falar do contingente vindo do Paraguai , disposto a retomar o "território Guarani". Em segundo lugar vem o estado da Bahia, onde o conflito já gerou muitas mortes que sequer foram contabi lizadas. Ali a violência e o terrorismo também são utilizados no processo de etnicização das populações mestiças. No Pará a construção das hidrelétricas do Xingue do Tapajós enfrenta forte reação de ONGs internacionais, que se utili zam das populações indígenas para frear o processo legítimo de nosso desenvolvimento. Os recentes assassinatos de cidadãos brasileiros no Amazonas e no Rio Grande do Sul revelam que há uma situação de tensão latente no País. O próprio movimento indígena ameaça deflagrar conflitos a qualquer momento em outros estados da Federação. Estamos testemunhando um cenário de crescente violência éti1ica que vai transformando o Brasil num cenário de guerrilha generalizada. Catolicismo - Quais são os erros e perigos da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)?
Edward Luz - São muitas as imprecisões, contradições e erros, mas os mais graves e evidentes são dois:
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1) O segundo parágrafo do primeiro artigo, que estabelece o critério da autoidentificação como "fundamental" para o reconhecimento dos indivíduos e dos "povos" indígenas. 2) O conjunto dos artigos 14 e 15, que estabelecem que os Estados nacionais devem reconhecer não só o " território" que foi em algum momento tradicionalmente ocupado por índios, como também "as áreas de perambulação para grupos nômades e seminômades ". Esses dois erros são os que mais ameaçam os direitos da sociedade brasileira e de seus cidadãos e os reais motivos pelos quais eu endossei e endosso a renúncia do Brasil à Convenção 169 da OIT. O primeiro artigo, que estabelece o critério da autoidentificação e da "consciência étnica" para o reconhecimento desses grupos, é intrinsecamente subjetivo, imensurável e portanto pretensamente infalseável , pois não é e não pode ser critério científico. Na verdade, sequer é critério. Trata-se de um artifício político autoritário que pretende impor aos estados e às sociedades regionais a etnogênese e a "auto-declaração étnica" como fato absoluto e inquestionável. É uma armadilha conceituai , altamente suscetível a manipulações, à qual o Brasil foi levado por uma elite
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CATOLICISMO
"Há 111ais de 85 propl'iedacles invadiclas, além ele 11111 movimento extl'emamente militante e ag11en'iclo, se111 talar do contingente vindo cio J>arag11ai"
intelectual irresponsável, política e ideologicamente comprometida com a agenda da re-etnicização das minorias. Quando a Convenção ratificada pelo Brasil se revelou porta escancarada para intervenção das ONGs, estas passaram a injetar rios de dinheiro para a promoção da etnogênese - termo utili zado pelos antropólogos - ou seja, o "ressurgimento étnico" pelo qual um grupo passa a se apresentar como se indígena fosse. Os antropólogos se esforçam para descrever o fenômeno como se fosse legítimo ... Tenho dados abundantes de estados do Norte e do Nordeste que revelam como as filiais nacionais das tais ONGs vivem de promover, estimular e impor a tal "consciência étnica", já que ela é absolutamente manipulável. Para isto contam com todo um cenário favorável, no qual o Estado brasileiro assegura uma série de beneficias, da bolsa família à sonhada terra indígena. Tais beneficias são suficientes para convencer grande parte da população regional , que quase imediatamente adere ao grupo político que passa a se formar e se estabelecer em torno da identidade ét11ica. Outra parcela da população o apoia, seja pelo medo de ser prejudicado de alguma forma, seja pelo temor de perder seus bens devido ao terrorismo psicológico imposto por grupos armados.
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Na prática, a auto identificação indígena é instrumento para legitimar a manipulação identitária. Já foram até noticiados pela mídia baiana casos mais graves, como o convite feito até mesmo a bandidos, criminosos e membros de gangues da periferia de Ilhéus para integrar o agrupamento político local. Há ainda os artigos 14 e 15, que acrescentam direitos territoriais não aco lhidos pela Constituição, como o reconhecimento do " território" que em dado momento foi ocupado por índios. O mesmo se aplica nas "áreas de perambulação para grupos
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nômades e seminômades ". Em minha interpretação, estes direitos não foram acolhidos pelo nosso texto constitucional, pois são absolutamente impraticáveis num país como o Brasil que, em algum momento de sua hi stória, certamente teve todo o seu território habitado por algum indígena. Na prática, reconhecer este direito equ ivale a co locar na irregularidade todo o país, inviabilizando a sua existência. Reconhecer o direito de perambulação de grupos "nômades e seminômades" também é outro desses direitos que servem perfeitamente para atender às demandas de ONGs, de seus antropólogos, de engenheiros sociais, uma vez que só eles detêm o monopólio do discurso científico sobre os grupos indígenas. Apenas o reconhecimento do território que um dia fo i " tradicionalmente ocupado" pelos Guaranis implicaria na dem arcação de toda região Su l e Sudeste do País. Santa Catarina e Rio de Jane iro desapareceriam : Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul ficariam reduzidos a menos de 20% de seus respectivos territórios. Mato Grosso do Sul e São Paulo perderiam mais de 30%, inclusive áreas com grande densidade de população, como a própria capital Sã.o Paulo. (Ao lado, mapa do território Guarani trndicionalmente oc upado). Se o Brasil levar a sério o compromisso assum id o na Convenção 169 da OlT, e le precisará obrigatoriamente reco nhece r e demarcar todo o "território Guarani". Na prática só serve como instrumento de coação, pressão e negociação das ONGs,
ARGBfflUA
que pela 'antropologia da vingança' ficam pressionando, articul ando e estimulando o processo de etnicização do Brasil. Catolicismo - Até onde chegará essa política indigenista?
''Autoi<lentilicação indígena é i11st1·11mento para legitimar a manipulação i<lentitál'ia. Noticia<los casos graves como o co1111ite /'eito até mesmo a bamli<los"
Edward Luz - Ninguém sabe ao certo! Ninguém sabe o que deseja nem o que vai conseguir o aparato indigenista-ambientalista. E muito disto ainda está em disputa hoje. A resposta a esta pergunta vai depender muito de como o Brasil reagirá nos próximos meses e anos. Se continuar como está, tudo sob o domínio, controle e monopólio abso luto das ONGs que mantêm o Estado e a sociedade como reféns, o Brasil certamente ingressará num período de violências e conflitos étnicos generali zados. Se retomarmos o domínio da situação ao submeter ONGs e seus grupos indígenas ao controle do Congresso, se reformarmos os procedimentos demarcatórios ao dar espaço e amp lo direito de defesa aos atingidos, talvez o Brasil ainda consiga manter as terras e pretensões indígenas num percentual entre l 5 a 19% do território nac ional. •
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CAPA
Venezuela à beira do abismo
cialmente os pagamentos em suas relações econômicas internacionais. O que só tende a se agrava r, afetando um setor depois de outro da economia e repercutindo nos di ve rsos as pectos da vida di ári a da popul ação, em um processo qu e inicialmente pode ter tido problemas mais ou menos contornáveis, mas qu e a longo prazo torn ara m-se crônicos e perturbadores.
A in11wensa internacional rcproclui despachos diários de Caracas sobre o conílito entre o governo marxista e a oposiçüo. Isso acabarú ou néio em guerra civil aberta? 1~ provável que esta venha a tanlar, mas quanto n1aior for a de1nora, mais terl'Ívcl será. O único meio de evitá-la é urna fortíssima e contínua pressão internacional sobre o regi1ne para que respeite a orden1 jurídica. ,
De pouco vale r em ellia1· o a ci<lental, se se mantém o essencial
ALFREDO M AC H ALE
e
o rn o mostram incontáveis arti gos e notícias, a situação na Venez uela torn a-se cada di a mais in sustentá vel, apa renteme nte a ca minh o do co lapso econômico fin al, sem qu e se sa iba de modo exato quando este ocorrerá. Por muitos lados parece iminente, pois as medidas do governo procuram de modo sistemático apenas ate nuações mais o menos pequ enas, sem implementar qualquer política conducente a um a so lução de fund o.
Socialismo hmciona mal 1101· tollos os lallos - fra casso irrcmelliá vel
Com efe ito, além da il egitimidade insa náve l dos princípi os marxistas, sucede que o govern o não to ma nenhuma medid a para restabelecer a normalidade econômi ca e social, por exemplo cortando a torrente de dinh eiro desperdi çado pela Venezuela no sustento dos demais países comuni stas e pró-comunistas da Améri ca Latina, como Cuba, Bolí via e Nicarágua. Nos últimos três anos fora m 18 bilhões de dólares, sem qu alquer resultado. Mas Madu ro e Fidel Castro não querem obviamente qu e se dê esse passo, ruinoso para este último. Outra medid a seri a ajusta r o preço in te rn o dos deri-
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CATOLI C I SMO
vados do petróleo até aprox imá- lo dos preços internac ionais, ou seja, ao va lor real desses produ tos, o qu e dari a algum alívio econômico ao Estado, que no fund o paga por quase todo esse consumo. Mas isto também causari a uma fo rte diminui ção da popularidade do governo, uma vez qu e esses preços praticamente se decupli ca ri am, causando um aumento de todos os demais preços do comércio venezuelano. E por isso o gove rno não quer proceder dessa maneira, embora o prejuízo nacional aumente a cada di a. Igualmente, se o Estado ve nezuelano sa ldasse suas dí vidas co m as empresas pri vadas , permi tir-lhes- ia continuar produzindo com algum a normalidade. Mas ele não o faz, porqu e sua políti ca consiste em demolir a economia pri vada nac ional, sem importar-se mui to
com o efe ito simultâneo de destruir junto à população o pouco que ainda resta de prestígio ao "soc iali smo bolivari ano". Afi nal de contas - parece ponderar - , se isto continuar, teremos de reprimir.. . Os exemplos poderi am multiplicar-se indefinidamente com a insuficiência dos salári os pagos pelo Estado aos empregados e operári os dele dependentes, tota lmente defasados devido ao aumento constante do custo de vida, já que a inflação venezuelana é a mais alta das Améri cas. A isto cumpre acrescentar o efeito da emi ssão monetári a inorgâ ni ca produzida nos últimos meses. Obviamente, ta l situação não deveri a continuar, mas o simples reajuste de sa lári os tampouco reso lveri a o probl ema, pois a política do governo é errada de início ao fim . A Venezuela já ca iu na trágica situação de cessar par-
A um a vintena de empresas aéreas in ternac ionais, por exemplo, o Estado deve mai s de quatro bilhões de dólares, dí vida que veio se acumulando durante os úl timos anos. Depois de muita demora, sua atitude fo i de reso lver recentemente paga r " uma parte" a algumas delas, e o resto mais adi ante. Contudo, a essas poucas empresas o Estado paga rá somente o qu e lhes deve desde 201 2 e 20 13, qu ando o problema era menos agudo, de modo qu e no fundo a medida é pouco significa ti va. O restante da dí vida será adi ado por tempo indefinid o, o qu e equivale a um escárni o, pois é ex igir dessas empresas que fi nanciem os gastos fa raôni cos do Estado venezuelano. lsso para não perguntar o que será fe ito das dí vidas com as demais empresas de av iação, às qu ais o Estado de momento aparentemente nada paga rá, ameaçando-as ademais com a suspensão de suas Iicenças de operar nos ae roportos venezuelanos se ela cancelarem seus voos, não obedecerem normas do govern o ou lhe fi zerem demas iadas ex igências. Ass im , qu ando se torn ar claro que grande parte dessas políti cas é um conjunto de medid as meramente dilatóri as, ou que o governo fez paga mentos insignifica ntes, reiniciar-se-ão os protestos, acentuando-se a sensação de cri se total; e a negativa do regime em reconhecer essa rea lidade não fa rá senão agrava r a sensação de descalabro. ComJ)lemelll,ó lia JJOlítica econômica <lo Esta<lo: a l'CJJl'essão
Por ser um govern o estatista, favo ráve l à luta de classes, demagóg ico no uso dos recursos fisca is para a obtenção de maior apoio popular, favo ráve l à igualdade social completa, e indiferente di ante da cri se que desse modo provoca, Maduro opta por ataca r e ameaçar todas as correntes de opinião que não lhe são afin s, agravando ass im sua impopularidade. O res ultado é que uma parte considerável de seus próprios partidári os passa para a opos ição, pois fica
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evidente a inviabilidade de um diálogo sério. Desse modo, a perspectiva é de que a rejeição recíproca entre governo e oposição se acentue fortemente rumo à ruptura total, com a provável eclosão de uma violência nunca vista até o momento. É útil citar o artigo O que acontece com a Venezuela e com as organizações internacionais, de Ezequiel Vásquez-Ger, publicado no "EI País" de Madrid, em 6 de junho último. Ele descreve as condições imperantes na Venezuela e a indiferença das organizações internacionais, que deveriam se pronunciar e impor respeito ao Estado de Direito. "Na Venezuela, a situação é evidente para os que querem ver: durante os últimos 15 anos o pais sofreu a paulatina decomposição de todas as instituições democráticas. Desde o começo do ano, esse processo destrutivo se intensificou. O governo de Nico/ás Maduro atacou sistematicamente, reprimiu e criminalizou as manffestações de protestos estudantis indefesos, em alguns casos mediante a prática brutal e ilegal da tortura,· perseguiu e prendeu, sem processo judicial, a dissidência política, hoje convertida em resistência,· f echou meios de comunicação, limitou o acesso à il1formação, promoveu a impunidade, confiscou a propriedade privada, impediu a livre circulação dos cidadãos, desprezou o direito à vida, à integridade fisica, à alimentação e à educação.[. ..] "Internacionalmente, a situação torna-se evidente quando se observa a atuação da Organização dos Estados Americanos no transcurso do corrente ano. Por meio ·de dólares e do p etróleo, a Venezuela conseguiu controla,~ quase em sua totalidade, os votos dentro da dita Organização, a qual não só p ermaneceu em silêncio a respeito da situação catastrófica que vive a Democracia no pais, mas nem sequer permitiu que se debatesse a situação em seu Conselho Permanente. " Em consequência, a ordem jurídica e a segurança não existem na Venezuela, pois o governo as destruiu de modo sistemático, para reduzir a cinzas a opinião pública e torná-la totalmente inerme diante dos abusos do Poder. Ou seja, a população sente-se acossada pela Guarda Nacional e pela Polícia bolivarianas , pelos tribunais de Justiça dominados pelo Executivo, pela Fiscal ia Geral da Nação, que formula as acusações aos opositores, e também pelas hordas de delinquentes que atuam em todas as partes a seu bel-prazer, obviamente porque sabem que o governo as vê com simpatia, como a expressão da " fúria popular" revolucionária. Por isso os índices de mortes violentas na Venezuela
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são de longe os mais altos entre os países que não se encontram em guerra declarada. O mesmo sucede com os sequestros, assaltos, roubos e extorsões, fenômenos que aumentaram brutalmente devido ao grande número de máfias, quadrilhas e milícias ilegais, toleradas se não criadas, pelo regime vigente. Nessas circunstâncias, deve-se temer que o governo de Maduro - apoiado por Cuba, por várias nações de tendência "bolivariana" da América, bem como pelas entidades internacionais por elas formadas, além da Rússia, da China e de vários países dominados pelo islamismo radical - , longe de cair em breve, vá acentuando sua faceta ditatorial, fazendo com que o regime vigente e a própria Venezuela agonizem conjuntamente por longo tempo, em um ambiente ao mesmo tempo caótico, miserável e infernal.
Se o regime se rn<licaliza,; Madul'o co11vel'ter-se-á em demolido/'
Se isso suceder, Maduro passará para a História como o demolidor da Venezuela em continuidade a Hugo Chávez, do mesmo modo como Fidel Castro se converteu no demolidor de Cuba. lsso não impede que o regime castro-comunista continue a receber todo tipo de elogios dos oportunistas de sempre, assim como dos fanáticos do igualitarismo e da luta de classes, satisfeitos com o afundamento daquela nação na miséria. De fato, Maduro já é visto como o demolidor de seu país, diminuindo dia a dia a parte da população que o apoia. Beneficia-se com isso a oposição, que se sente cada vez mais esmagada ao longo de um processo que está se tornando galopante devido ao inescrupuloso apoio da maioria dos governos da região ao regime ditatorial venezuelano.
Embora este possa cair de um dia para outro, poderá também durar meses ou anos, o que seria devastador para a Venezuela e altamente daninho para toda a América, tanto ou mais do que a eclosão de uma guerra civil. A esperança de Maduro vir a ser vencido em uma eleição de vital importância, abrindo-se as vias à normalização do país, é totalmente utópica. Jsso porque as contendas eleitorais vêm sendo contaminadas por uma disparidade escandalosa e crescente nas campanhas, com o uso maciço de dinheiro público para seduzir a população, a distribuição entre os partidários do governo de fundos da mesma origem, a utilização sem a menor equidade dos meios de comunicação estatais, e naturalmente o uso também maciço das fraudes eleitorais, pois o regime maneja à vontade todos os mecanismos de controle que deveriam impedi-las. Por exemplo, na última eleição presidencial de que Chávez participou, o uso do rádio e da televisão por parte deste foi doze vezes maior do que o de Henrique Capriles, o candidato opositor. E se houvesse eleição agora, essa disparidade seria muito maior. Ademais, o regime bolivariano estabeleceu para as massas que lhe são favoráveis , formas de subsídio popular que em muitos casos compensa de sobra a pobreza em que caiu toda a população, de modo que este setor continuará apoiando-o só por cumplicidade. Quanto mais durar a atual situação, mais cruento e demolidor será o confronto geral , pois, segundo o costume comunista, para manter o Poder nas mãos da minoria vermelha, vale tudo, inclusive as piores brutalidades e que o país caia na mais profunda miséria e nos mais tempestuosos conflitos. Isso só não se dará caso o comunismo sinta que lhe é absolutamente forçoso tolerar uma mudança de rumo, provocada por uma fortíssima reação da população venezuelana e um apoio internacional muito categórico a ela, o que ainda não aconteceu. Pelo contrário como ' dissemos, a maior parte dos governos da América do Sul é cúmplice do chavismo, e se pudesse levaria seus respectivos países pelo mesmo rumo. A queda do clla11ismo po<leria /Jl'O<luzil' o colapso <lo castl'ismo
Nesse sentido, pesa também o fato de que, se a ditadura bolivariana cair, acarretará de imediato uma crise fortíssima no castro-comunismo na própria Ilha-prisão. Simplesmente porque este não poderá suportar o corte da ajuda econômica venezuelana . Se esta é enorme e ruinosa para o país que a dá, muito maior será sua falta
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para o regime esquálido que até hoje a recebe. De onde Cuba faze r de tud o para proteger e, ao mesmo tempo, dominar o regime de Maduro. Mas a di fe rença entre ambos os países é que, enquanto a população de Cuba já se acostumou à mi séri a mais negra, com a da Venezuela tal não sucedeu. Ao contTá ri o, a abundância de dinheiro durante mais de uma década de regime bolivari ano tra nquili zou um ta nto a população, permitindo de algum modo ao chavi smo instalar-se no Poder e nele se manter. Mas a presente escassez estimula os protestos de rua em um ní vel de inédita in trepidez, pois fico u claro para todo o país que é indi spensável lu tar e fa zer todos os sacrifícios necessári os. A Ve11ezuela vai se11do tra11sfon11a<la em cam/)o de co11ce11tração
De outro lado, o isolamento da Venezuela das demais nações, como é tí pico dos regimes comuni stas, já começou a se produ zir com a suspensão dos voos de vári as companhias in ternac ionais e o encarecimento das passage ns aéreas. Estas úl timas só farão aumentar, não apenas porque outras companhias suspenderão por sua vez seus voos, mas ta mbém pelo fato de o país ir sendo tra nsformado num verdadeiro campo de concentração do qual os ve nezuelanos podem cada vez menos sai r. Mas isto ta mbém mostra à opin ião pública que o combate é hoje essencial; não em tese, mas de imedi ato. Algo de semelhante parece suceder com a desmontagem do parqu e industrial, pri vado de todo crédito, da mais elementa r segurança jurídica, do poder aqui siti vo de toda a popul ação e de qualquer estabili dade. Ac rescentem-se a isso as infindas tropelias dos organi smos estatais e de seus res pecti vos fun cionári os, que tornam quase impossíve l a vida da maiori a da população. E no que ta nge às subsidiári as das empresas estrangeiras, some-se a todo o anterior que a tolerância destas a um tal sistema te m limite, pois do contrário equi va leria a que aceitasse m seu defi niti vo despojamento. Tudo isso se transform a ass im em estímulo para lu ta e a urgente necessidade da mesma, porque a estratégia de Maduro poderi a chamar-se a de "país arrasado" . Também sucede que du ra nte décadas a Venezuela vi ve u do consum o de produ tos importados, pagos com o dinheiro oriundo do petróleo. Mas não pode mais arca r com esse enorme gasto, pois mui tas de suas vendas foram fe itas com paga mento antec ipado dos países compradores, em es pecial da China. Assim, Caracas deve agora simpl esmente fo rnecer-lhes o petróleo vendido, pois o dinheiro correspo ndente ela já o gastou.
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Em consequência, a escassez dos produ tos mais essenciais tende a fica r dramática, sem que haja re médi o à vi sta. A escassez tornar-se-á no melhor dos casos rotati va e a população irá se acostumando com as maiores e mais va ri adas privações, sem conseguir a satisfação de todas as suas necessidades. A altern ativa é lutar sem descanso e com ânimo sempre alto, porqu e o efeito da perseverança é a vitóri a. Se para o geral da população as condições são dramáticas, elas são altamente lucrativas para a minoria incondi cional do regime, que se tra nsformou em uma máfia paras ita do Estado, com acesso a negócios com o mundo oficial que são vedados ao comum das pessoas; ademais de graves desfa lques denunciados amiúde pela imprensa. Deze11as de milhares de cubanos: força <lecisi va /)ara a co11quista
Como pode acontecer tudo isso sem que os conflitos
se multipliquem sem medida? Simplesmente porque a Venezuela está invadida por dezenas de milhares de soldados, milicianos, agitadores e pistoleiros cubanos, que atuam de modo ao mes mo tempo cland estin o e ostensivo, cometendo crimes e preparando-se para eles, sem que haja a menor poss ibilidade de serem reprimidos, casti gados ou ex pulsos pelo governo , pois procedem assim por desejo expresso deste; ou antes, em razão do combinado entre ele e a cúpul a castrista. Ademais, as violências que praticam têm por fim amedrontar a população, mostrand o-lhe que os abusos poderi am tornar-se muitíss imo maiores, se o governo de Maduro ass im o desejar. É o que permitiu a este radi ca li za r-se de modo notóri o ultimamente, enqu anto a população se manteve parali sada. Apenas nos últimos meses, co m os corajosos protestos estudantis e a solidari edade da maiori a das demais classes co m os mes mos, é que se produziu um impasse entre o governo e a opos ição, o qu al perdura até agora .
Assim , a ameaça de guerra civil se mantém, com a ditadura di spondo de um poder béli co desproporcionalmente maior do que o da opos ição, enqu anto os demais países da Améri ca mostram uma esca ndalosa indiferença pelo qu e sucede na Venezuela, ou simples mente apoiam sem reservas o regime opressor. Parece haver um profü ndo descontentamento no seio das Forças Armadas com a infi !tração cubana, sobretudo porque esta se converteu em um poder paralelo à hi erarqui a ofi cial. E embora as mani fes tações castrenses sejam sumamente ca utas, o governo lança contínuas denúnc ias so bre sup os tas co nspirações nos co rpos militares, prova velmente para inibir toda reação e para que possa prender ofi ciais pass íve is de se transformarem em opositores. Pl'otesws estmlantis abl'iram nova eta11a 110 co11/1ito
A respos ta do governo à mobili zação estudantil fo i violenta. De um lado, ele se valeu de hordas de delinquentes fortemente armados - algun s da Guarda Nacional, outros simpl es mente anônimos e por vezes enca puzados - , e de outro lado, de orga nismos judiciais e poli ciais to talm ente facc iosos, porque o regime é totalitári o. Um dos líderes da oposição, Leopoldo López, fo i perseguido até se entrega r. Transco rridos vári os meses, não lhe fo ram fe itas acusações veross ímeis, porqu e as gratuitas são abundantes e sempre desprovidas de provas. Por exempl o, a afirm ação de que ele estari a preparando um " magni cídi o" - o assass inato do Presidente Maduro. A depu tada Mari a Co rina Machado fo i por sua vez acusada de "assass ina" pelo próprio Madu ro , o que é perfe itamente ridícul o. Ele afirm ou qu e qu er vê- la presa, também por supos ta tentati va de " magnicídi o" . A Fisca lia Ge ral da Nação, diri gida por Luí sa Ortega, esposa de Maduro , deve intervir no caso, natu ra lmente para endossa r a absurda e grotesca acusação . Analoga mente, os prefeitos de San Cri stóbal e de San Di ego fora m presos, acusados, destituídos e julgados de modo parcial, no fundo por terem uma indi scutí ve l lideran ça
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sobre suas respectivas cidades; mas também a fim de intimidar outros opositores com prováveis perseguições, para que abandonem suas posições e se dobrem diante das hostes do regime. Maduro não conseguiu contudo amedrontar os prefeitos, nem suas famílias e relações . A prova é que suas esposas se apresentaram como candidatas para substituí- los - pois estão presos - , tendo ambas obtido estrondosas vitórias. Demonstrou-se assim um claro apoio da população aos prefeitos depostos. Mas isto não impedirá o governo de continuar com os seus abusos, nem a oposição com os seus protestos. Realmente, devido à falta de princípios morais do governo, a impressão que se tem é de que se está preparando, não um " magnicídio" propriamente dito, mas um simu lacro deste destinado ao fracasso e que sirva de pretexto para repressões brutais e indiscriminadas contra toda a oposição. Isto porque as investigações ficariam a cargo de súditos de Maduro, que lh e obedeceriam cegamente nas várias providências, e, sobretudo, nas decisões judiciais. O princípio mais básico da função governativa exige que todas as acusações lançadas por uma autoridade contra a oposição, em particular em matéria penal , sejam meticulosamente provadas. Se não o forem, devem ser
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recusadas. Mas a prática no atual regime venezuelano é a sucessão ininterrupta de embustes e calúnias, na aparência com a ideia de que, de tanto repetida, uma fa lsidade se torne verossímil. É o que parece suceder com a acusação do " magnicídio".
-----------------------------, /Jiálogo 11roblemático porque seu êxito é muito i11111r011ável Isso te m, entretanto, outra co nsequênc ia adi c iona l: o di á logo ini ciado entre o governo e a opos ição fica imposs íve l, po is não se pode tratar de temas graves entremea ndo-os com imputações ca luniosas, ameaças, afrontas, insul tos, impropéri os e medidas repress ivas. E, de fato, o di álogo não tardo u em ser suspenso. Houve algumas espera nças de reiníc io, mas logo se tornou patente que não era poss íve l, po is parte da opos ição havi a sido ma ltratada, e o governo suspendido vá rias vezes os enco ntros sem explicações válid as.
E m princí pi o, em qualquer confli to, caso as partes qu eira m chega r a um entendimento, ou ao menos qu e a coexistênc ia entre e las se to rne poss íve l, cumpre que di a loguem a partir de princí pi os co mun s e co m um rac iocínio ta mbém co mum, para chega rem a uma con-
c lusão co mpartilhada. Isto é prec isa mente o que fa ltou no iníc io do di á logo ve nezue lano e o qu e augurava desde o co meço o seu fracasso: todos os argumentos jurídi cos da opos ição são recusados pe lo governo, por não co incidirem co m os press upostos marxistas nem com própria estratég ia deste, cuj a úni ca " moral" são as conveni ênc ias da revo lução . Al gumas pessoas p ropuse ram certos perso nage ns estra nge iros para medi adores nos di á logos, pensa ndo co m isso confe rir ta lvez a estes alguma objetividade. E m temp os de Hu go C hávez ho uv e um a tentativ a semelhante, qu ando se propôs o ex-pres idente norteameri ca no Jimmy Ca rte r para idênti ca fu nção. Mas a proposta res ultou um grande fi asco qu ando Ca rter dec larou que estava muito de acordo com a política de C hávez, a quem dava toda a razão - o que, ali ás, não constituiu surpresa .. . É, portanto, de desejar que Ca rter seja agora descartado, por sua fa lta ele imparc ialidade. Tão evidente qu e, ao morrer C há vez, e le destacou o "compromi sso" do fa lec ido co m a melhori a nas condi ções de vida de milh ões de pessoas (! ), bem como sua "visão" para abord ar " prof1md as mudanças em se u país" e "bene-
.ficiar os setores mais esquecidos e marginalizados da população ". O u seja, pi or do que Jimmy Ca rter só se ria mes mo Vl adimir Pu tin ... M as ex iste também outra condi ção a ser preenchid a pelo medi ador: este não pode estar ao alcance de ataques de nenhuma das partes. Houve propostas para que se nomeasse co mo árbitro o novo Secretári o de Estado da Sa nta Sé, Ca rdea l Pietro Paro lin, por vá ri os anos Núncio Apostó li co na Venezuela. Mas ta l proposta parece não ter prosperado, prime iro porque o Vati ca no não deu o menor sina l de que fosse ace itá-la, e depo is porque o di á logo seri a difíc il, longo e com poucas poss ibilidades de êx ito, dev ido às numerosas altercações de Chávez com vári os bispos venezuelanos e suas frequentes expressões irreverentes em relação à Igrej a. De outro lado, se o di álogo fracassasse estrepitosamente, co mo é prováve l, haveri a ri sco de as represá li as do regime bo li vari ano afetarem a liberdade da Igreja na Venezue la, o que o Sumo Pontífice, co mo é óbvio, não poderi a desej ar. Também, as incontáveis ocupações do cardeal Parolin na Secreta ri a de Estado do Vaticano não lh e permitem assumir uma mi ssão quase intérrnina, justamente porque a tática chavi sta consiste em prolonga r a situação enquanto va i assumindo novos controles do Poder e desgastando a opos ição. Mas, à margem dos medi adores, há outro aspecto a
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ser analisado: é a participação da UNASUR - aliança de nações sul-americanas com governos afins ao chavismo - no diálogo, a cujo respeito transcrevemos parte do artigo "O 'diálogo ' deve continuar", escrito por Alek Boyd ("El País" , Madrid, 17 de maio de 20 l 4):
"Cumpre lembrar que a mesma UNASUR anunciou seu apoio, em abril de 2013, a uma auditoria total dos resultados da eleição que Maduro supostamente ganhou. Dita auditoria nunca foi levada a cabo, p elo que a credibilidade dos representantes da UNASUR, como observadores supostamente imparciais, é igual à dos atores [governamentais] já mencionados ". Ou seja, nula. "[. ..] O que nenhum dos comentaristas e especialistas de oficio ressaltam é que transcorreu mais de um ano
desde aquele apoio a uma auditoria total dos resultados eleitorais, combinado em Lima pela UNASUR e que legitimaria a Nico/ás Maduro como Presidente, a qual não se realizou, nem se realizará. Os 'bem dispostos ' chanceleres da UNASUR não disseram qualquer palavra de discriminação ou critica a respeito, por considerações económicas [leia-se: negócios com o chavismo] que são as que ditam a agenda. [. ..] "O 'diálogo ' entre as partes não produziu um só resultado: os presos políticos continuam presos e seus 'processos judiciais' regidos p ela Fiscal ia chavista continuam sendo uma farsa; os estudantes continuam sendo presos, torturados e acusados /à/som ente; os coletivos do terror campeiam livremente; altas autoridades do governo continuam fabricando evidências e denunciando complôs inexistentes; quer dizer; nada mudou. O chavismo não deu nem uma só mostra que
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indique uma intenção diferente à de manter-se no poder a qualquer custo. " Pois bem, como esperar algo de positivo no diálogo com tais participantes?
Em meio às trevas, sul'gem algumas luzes ele esperança Portanto, por muitos lados a situação é opressiva e de algum modo sem muita esperança. Mas há dois aspectos sumamente alentadores, como acontece amiúde nas grandes tragédias que caem sobre os povos. É que estas suscitam energias, espírito de luta, patriotismo e religiosidade que pouco antes pareciam quase extintos ou, pelo menos, profundamente deteriorados, e a cujo influxo se acende uma ardente combatividade que se propaga com celeridade pela multidão. Com efeito, milhares de jovens saem quase todos os dias às ruas de muitos bairros de numerosas cidades venezuelanas, para expressar pacífica mas energicamente sua rejeição à violência ditatorial, à ilegalidade sistemática, à prepotência irracional e à descristianização do país. E isso eles o fazem depois de ter visto muitas vezes outros jovens como eles caírem massacrados pelos esbirros do regime comunistoide, ou serem presos por prazos cuja extensão é impossível prever e que talvez incluam torturas , porque tudo depende da arbitrariedade insana de um ditador nacional , comunal ou distrital , que em algum canto escuro decide que violências perpetrar, como intimidar, sabendo que tudo ficará impune para ele. Entretanto, a perspectiva do risco não detém nem assusta os jovens. Pelo contrário, os alenta, pois a presença
do ódi o que notam contra si é um sintoma de tudo o que se prepara para o país, do peri go que o circunda, não só a ele, mas a todo o Continente, e que urge enfre ntar. Estão cônscios de que, se são ameaçados, é porque os agressores veem o peri go que significa para eles a força e o arroj o da combatividade cri stã, na qu al brilham o ideali smo, a apetência pela luta heroi ca e a generosidade. Se tal combatividade fosse tudo, ainda seri a pouco e insufic iente. Mas a isso se acrescenta uma religiosidade como há décadas não se via, a qual leva os jovens a reza rem, não somente antes de começarem e depoi s de terminarem as manifestações, mas também durante as mesmas, nas praças, nas ru as e, obviamente, nas situações de perigo. Em muitos deles, é palpável a graça de Deus quando se lançam ao combate e imploram por meio do Rosári o à Vi rgem de Corornoto, Padroeira da Venezuela, que lhes conceda sua proteção, mas, sobretudo, que resgate sua Pátria. Os estudantes dão ass im as costas ao mundani smo, aos interesses pessoais, às conveni ências imediatas, às diversões, à fri volidade, e ao próprio instinto de sobrevi vê ncia, para abraçarem a causa da sa lvação nac ional, certos da ajuda da Providência Divina e de que essa res istência será assumida por incontáveis outros jovens, junto aos quais lutarão até a vitóri a'. Há provavelmente mais de um século que não se via algo ass im na Améri ca, ao menos nessas proporções e com tanta autenticidade. Na rea lidade, os próprios esquerdistas - fa lo daqueles que entendem de fato a realidade profu nda das co isas, não de seus esbirros devem estar lamenta ndo profund amente que os irmãos Castro, Chávez, Maduro e outros tiranos tenham levado
sua perfi di a até ao extremo, como está descrito nas páginas precedentes, suscitando toda essa magnífi ca reação. Dentro de algun s di as , Mari a Corin a Mac hado, Leopoldo López e muitos outros estarão sendo julgados por juízes venais, aos quais Maduro mandou que os sentenciasse m à pri são. Mas inúmeros outros jovens se porfi arão para ocupar seus luga res, tendo isso como um privilégio e uma honra, à espera de lances glori osos porqu e árdu os, sabendo que muitos outros quererão depois seguir seus exemplos . É muito provável que não haja publicidade para eles, salvo quando alguém queira di fa má-los. Mas sabem que um di a os homens serão julgados considerando apenas o que fi zeram, o que os inspirou e as perseguições que enfre ntaram. E que aqueles que os julga ram serão por sua vez julgados .. . A admiração que os heróis suscitarão será mais silenciosa, mas também mais sincera. É inegável que os jovens estudantes já obtivera m uma conquista de primeira ordem: o fa to de que em todo o mundo civilizado tenha pelo menos quintuplicado o número dos que ouviram fa lar de sua luta e dos que agora sabem que o regime boli vari ano é ditatori al, repressivo e marxista, servindo ass im para alertar fo rtemente a opinião pública de muitas nações contra semelhantes enganos. Para encerrar, não me resta senão fazer votos para que esta chama não se apague, mas, ao contrári o, continue servindo de exemplo aos jovens de outras latitudes, a fi m de que, sempre que fo r necessá ri o, eles optem pelo combate legal, pacífi co e intrépido, e pelo revigorarnento do au têntico espírito reli gioso contra os inimigos da Cri standade. • E-mail para o autor: catolicis111o@terra .co111.br
Protestos de estudantes e repressão
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Beato Inácio de Azevedo e 39 Companheiros Ü s "Quarenta Mártires do Brasil", heroicos jesuítas portugueses e espanhóis destinados à missão no Brasil • PUNJO
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norme relação com a nossa história tem uma falange de filhos de Santo Inácio de Loyola que se destinavam à evangelização da Terra de Santa Cruz. Martirizados por piratas calvinistas por estarem vindo pregar a verdadeira Religião, foram por isso cognominados Os Quarenta Mártires do Brasil, apesar de aqu i não terem aportado. Não podendo, no espaço de que
E Gravura do Porto, cidade natal do Beato Inácio de Azevedo
MARIA
dispomos, tratar de cada um de~ses bema venturados , apresentaremos a lguns dados biográficos do Beato Inácio de Azevedo, o superior dessa missão. D. Inácio de Azevedo de Ataíde de Abreu Malafaia, também conhecido como Inácio de Azevedo, foi o primogênito de D. Manuel de Azevedo, comendador de AI pendurada, e de Da. Violante Pereira. Nasceu na cidade do Porto no ano de 1527. Um dos seus irmãos, Jerônimo, será Governador e Vice-Rei da Índia Portuguesa entre 1612 e 1617. Como era de nobre estirpe, Inácio
foi criado na corte portuguesa. Muito maduro e responsável para a sua idade, aos 18 anos o pai lhe confiou a administração dos bens familiares. Quatro anos depois, fnácio resolveu fazer os "Exercícios Espirituais" de Santo Inácio de Loyola, pregados pelo jesuíta Francisco Estrada. Após 40 dias de retiro, decidiu entrar para a Companhia de Jesus. Renunciou a todos os seus bens, nomeadamente ao senhorio de Barbosa, cabeça do morgadio dos Azevedo de Ataíde Mala faia , e ingressou no noviciado jesuíta em Coimbra. Como suas qualidades de liderança se manifestassem muito cedo, mesmo antes de sua ordenação, ocorrida em J 553, foi-lhe confiada a direção das escolas jesuíticas de Santo Antão. Quando chegaram a Portugal cartas do Pe. Manoel de Nóbrega descrevendo o apostolado com os índios e pedindo missionários para o Brasil , o Pe. Inácio ofereceu-se como voluntário. Foi então a Roma, em 1565 , para apresentar-se ao novo Superior Geral dos jesuítas, São Francisco de Bo,ja. Na Cidade Eterna participou da Congregação Geral de sua Ordem, tendo sido nomeado Visitador para o Brasil. Passou assim a integrar a Província Brasileira da Companhia de Jesus.
Com os Padrns Manoel da Nóbrega e ,José de A11chieta Inácio de Azevedo chegou à nossa Pátria no dia 18 de janeiro de 1567, desembarcando no Rio de Janeiro. Teve então oportunidade de assistir aos últimos combates dos portugueses contra os terríveis tamoios e os hereges franceses que haviam invadido aquela região. O futuro beato visitou depois a capitania de São Vicente, subindo até São Paulo de Piratininga. Voltou depois para o Rio com o bispo da Bahia, D . Pedro Leitão, e os Padres Manoel
da Nóbrega e José de Anchieta. Daí partiram para a Bahia, visitando, no caminho, as casas dos jesuítas no Espírito Santo, Porto Seguro e Ilhéus. Depois de três anos de fecundo trabalho em nossa terra, Inácio de Azevedo voltou para a Europa. Em Portugal, entrevistou-se com o rei Dom Sebastião, a quem agradeceu a proteção dada aos trabalhos da Companhia no Brasil. Em maio de 1569 foi a Roma, a fim de prestar contas de
Enquanto aguardavam para partir na frota do novo Governador Geral do Brasil , D. Luís de Vasconcelos, Inácio concentrou seus religiosos na Quinta de Vai de Rosal, ao sul do rio Tejo, evitando Lisboa, onde reinava a peste. Mais de 12 mil pessoas já haviam morrido nessa capital, entre elas 20 jesuítas. Nesse retiro, que durou oito meses, o Beato preparou seus discípulos para a tarefa que deveriam enfrentar. Sem o saberem, preparavam-se para o martírio.
o
fel'OZ ódio dos hel'eges pl'otestantes
sua missão a São Francisco de Borja e pedir novos reforços para o Brasil. Com o apoio do Papa São Pio V e de São Francisco de Bo1ja, o Beato Inácio voltou à Península Ibérica para recrutar, na Espanha e em Portugal , voluntários para o trabalho de evangelização na Terra de Santa Cruz. Seus esforços foram coroados de sucesso, tendo ele conseguido 72 voluntários, sacerdotes e seminaristas, entre os quais estava um sobrinho de Santa Teresa d' Ávila. Alguns irmãos leigos completavam o número.
As três naus da frota do Governador do Brasil partiram para seu destino no dia 5 de junho de 1570. O Beato Inácio viajava com 39 jesuítas na embarcação Santiago, enquanto os demais foram divididos entre as duas outras naus. A Santiago deveria passar pelas Canárias e seguir depois para o Brasil, separando-se assim da frota. No dia 15 de julho, quando se aproximava de La Palma, ela foi acometida por uma frota de cinco navios piratas. Eram todos calvinistas franceses, comandados por Jacques Sourie, um dos mais fanáticos inimigos da Religião Católica. Travou-se então feroz batalha, durante a qual os jesuítas animavam os minoritários portugueses e socorriam os feridos. Sourie apossou-se finalmente da Santiago. Notando então o grupo de jesuítas, gritou aos seus correligionários: "Matai, matai, massacrai os papistas, porque vão semear a doutrina falsa no Brasil". Obedecendo cegamente a essa ordem, um dos hereges atingiu com um machado a cabeça do Pe. Inácio, que segurava um quadro de Nossa Senhora nas mãos. Ensanguentado, o mártir exclamou : "Eu atesto aos anjos e aos homens que morro na f e da Igreja
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Católica, Apostólica, Romana, e que morro com alegria na def esa de seus dogmas e de suas práticas ". 1 Como os calvinistas tentavam arrancar de suas mãos o quadro de Nossa Senhora, o Pe. Diogo de Andrade abraçou-se a e le. Ambos sacerdotes foram mortos a punhaladas e lançados ao mar. Comentando o ocorrido, o Pe. Pero Dias escreveria um mês mais tarde: "Não podiam mãos sacrílegas
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de hereges [ ... ] tirar das mãos de tão for te capitão aquele tão fort e escudo, com que andava mais unido, que com sua mesma alma, pois lhe tiraram a vida, não lhe arrancaram a imagem ".2 Os demais jesuítas, com exceção de um , fora m também mortos ou simplesmente lançados ao mar. O único sobrev ivente foi um irmão le igo, que os calvinistas pouparam para ser seu cozinheiro. Ocorreu e ntão um fato sub lime. Estava também no navio um ado lescente, João, sobrinho do capitão do navio, rapazi nho tão piedoso que em sua terra tinha merecido o epíteto de São Joaninha . O Beato Inácio havia prometido recebê-lo na Companhi a de Jesus, no Brasil. Vendo que os jesuítas recebiam a g loriosa coroa do martírio, vestiu às pressas uma batina, passando assi m por um deles. Foi então atirado vivo ao mar pelos hereges. Desse modo João "Adauto", que no Minho, seu lugar de origem , significa "acrescentado", passou a ser venerado como "Beato São Joaninho". 3 Esses heróis da fé foram beatifica-
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dos no dia 11 de maio de 1854 pelo imortal Pontífice Pio IX.
Os outros <loze "Mártires <lo Brasil" Entretanto, um grupo desses jesuítas, que se encontrava repartido nas outras duas naus, deveria também derramar seu sangue pela fé um ano depois . Com efeito, sob a liderança do Pe. Pero Dias, o grupo havia chegado mesmo a avistar as terras brasileiras. Mas as borrascas arrastaram suas embarcações até as Antilhas. Reunidos outra vez nos Açores, os missionários, num total de l5 , partiram novamente para o Brasil. No entanto, nas costas das Canárias, suas naus foram atacadas por quatro outras, três de hereges franceses e uma de ingleses, sob o comando do feroz Capdevi ll e. Apesar da desproporção numérica, os bravos portugueses combateram valorosamente, até serem todos extermin ados. Fo i ass im que, após heroica resistência, o Governador do Brasil , D. Luís de Vasconcelos, que viajava nessa nau, pereceu nas mãos dos hereges. Dos quinze jesuítas, 12 foram então massacrados e dois lançados vivos ao mar. Mas estes, sabendo nadar, permaneceram na água até serem recolhidos por uma embarcação, que os deixou na costa da Espanha. Tomado de pânico, o último do grupo, Irmão Gaspar Gonça lves, para escapar à morte, vestiu roupas de marujo e co locou-se entre os feridos como se fosse um deles.
Acontece que os franceses, não tendo como.cuidar dos feridos nem querendo al imentá- los, atirou-os todos, inclusive o Irmão Gaspar, ao mar. Assim esse jesuíta foi privado da coroa do martírio, mas não da morte .. . Ao todo , somam assim 52 os "Mártires do Brasil". Embora tenha hav ido um processo de beatificação de todos eles, não se sabe por que razão Pio IX beatificou somente o primeiro grupo de 40. Os outros l2, que foram igua lmente martirizados por ód io à fé, aguardam ainda o julgamento da Igreja, embora certamente no Céu.
Verdadeiramente "Mártfres do Brasil" Como são imprevisíveis os caminhos de Deus! Como teriam sido úteis para a nossa terra esses 73 jesuítas arrebanhados a tanto custo ! Com efeito, essa empresa co nsistia na maior exped ição missionária que Portugal já env iara às suas co lônias. No entanto, nenhum desses sacerdotes chegou à Terra de Santa C ruz. Pois, os que não foram martirizados, por um motivo ou outro, também para cá não vieram.
"Negar a esses santos o título de pertença ao Brasil seria sem dúvida uma aberração: aberração para os cristãos de então, aberração para os cristãos de hoje, que tenham um mínimo de sensibilidade histórica e eclesial. Tirar-lhes esse titulo é algo que não nos cabe, pois elefoiforjado pelafama de santidade que se seguiu imediatamente ao martírio, e perdurou nos séculos seguintes ".4 • E-ma il para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas:
1. Les Petit s Bo llandistes, Le Bienheureux lgnace d 'Aze vedo e/ ses compagnons, marly rs, Vies des Saints, Bloud et Barrai, Paris, 1882, to1110 VIII , p. 348. 2. LEIT E, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, tom o li , p. 595, apud ht1p://reporterdecri sto .co111/beato-inacio-deazevedo-e-39-cornpanheiros-rnartires/. 3. Cfr. Pe. José Leite, Beato inácio de Azevedo e 39 companheiros mártires, Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1987, 101110 li , p. 432. 4. http://reporterdecristo.co111/beato-inacio-deazevedo-e-39-cornpanheiros-rnartires/
VARIEDADES
Se dependesse só do "Mais Médicos" ... li GREGÓRI O VIVANCO LO PES programa "Mais Médicos", lançado pelo governo federa l com grande alarde e propaganda, visava, dizia-se, atender à necessidade premente de profissionais da medicina existente no interior do Brasi l. Porém, logo ficou claro que o programa tinha ainda outra finalidade, não confessada, de transferir dinheiro para o combalido governo comunista de Cuba, vítima de sua própria ideologia malsã. A partir de então, a contestação ao "Mais Médicos" (cubanos) se genera li zou no Brasil. Acontece que o programa tinha ainda uma terceira finalidade, tão ocu lta quanto a anterior: a de servir de p lataforma política para as candidaturas do então Ministro da Saúde,Alexandre Padilha(ao governo de São Paulo) e de Dilma Rousseff (à presidência). Esta finalidade, por sua vez, veio sendo corroída por sucessivas mazelas que foram se revelando durante a ap li cação do Programa, como a deserção de diversos profissionais provenientes de Cuba, o escândalo do baixo sa lário que recebiam, a fisca li zação que sofriam por parte de agentes cubanos que os vigiavam. Informa agora editorial de "O Estado de S. Pau lo" (9-6-14) que o novo Ministro da Saúde, Arthur Chioro, resolveu "muito provavelmente" estender o programa por mais três anos, além dos três inicialmente acertados. Ou seja, deve ir até 2019. A justificativa apresentada é de que o País precisa de mais tempo para formar os médicos, quase todos cubanos, necessários para atuar nas regiões hoje atendidas. Para o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, a prorrogação expõe a fa lta de planejamento. "Mais uma vez", di z e le, "fica comprovado que não existe nenhuma política de recursos humanos. O Brasil continua improvisando em muita coisa. O governo está enganando a população, dizendo que vai resolver o problema da saúde."
O
Em nota igualmente dura, o Conselho Federal de Medicina (CFM) diz: "Em lugar de so luções desse tipo, o Estado deveria propor respostas efetivas para melhorar a ass istência prestada pelo Sistema Ún ico de Saúde (SUS)". E, "em vez de priorizar prograrnas midiáticos", deveria cuidar de questões como o aumento de recursos orçamentários para o setor. Para o governo, comenta o referido editorial, "pouco importa a força desses argumentos, porque seu principal interesse, no caso do 'Mais Médicos ', está no efeito político e eleitoral do programa". A esta a lt11ra dos acontecimentos, o governo parece amedrontado ante a pressão da classe médica. Veja-se este noticiário sobre a presença do atua l Ministro da Saúde em Campo Grande (MS), extraído do site da CFM (12-6-14): "Ao saber que estava sendo aguardado por aproximadamente 300 manifestantes entre acadêmicos de medicina e médicos, o ministro da Saúde Arthur Chioro mudou o local onde realizaria um seminário para fa lar sobre o programa 'Mais Médicos' . Agendado para acontecer no Pa lácio Popular da Cu ltura, o evento foi transferido repentinamente para a Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Su l. A tropa de elite da polícia Mi li tar (Bope) foi chamada para restringir a entrada dos manifestantes, deixando o acesso livre apenas para prefeitos e secretários municipais de saúde". Rosana Leite de Me lo, primeira secretária do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRMMS), comentou: "Estamos extremamente indignados, é uma quebra da democracia. Ficou muito claro que o ministro fugiu da gente". Segundo o presidente do CRM-MS, A lberto Cubei Brull Junior, é um absurdo o ministro se apresentar para falar sobre o "Programa Mais Médicos" e ignorar as reivindicações da classe médica. "Não podemos deixar que utili zem a saúde pública para fazer propaganda e leitora l mentirosa", disse o Dr. Brull Junior. Se dependesse só do "Mais Médicos", parece que nenhum cand idato do PT seria e leito ... • E-mai l para o autor: catolic ismo@terra .com.br
JULHO 2014 - -
ESPLENDORESdaCRISTANDA'DÊ~~•tfJ
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.Rocamadour, símbolo de fé encravado na rocha
!!!li G ABRIEL J. WILSON
ouco mais que uma aldeia, Rocamadour 1 surge como um sonho das neblinas do vale. Se o célebre Monte de São M igue l - !e Mont St-Michel, diz-se na França - aparece como uma montan ha sagrada apontando para as nuvens, Rocamadom brota das entranhas da terra e das próprias pedras em busca do céu.
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CATOLICISMO
Não é sem razão que Rocamadour significa "o rochedo de Amadour". Mas, quem foi Amadour, aliás, Santo Amadour? Segundo a tradição ou a legenda (pois os documentos são escassos), Amadour não foi outro senão Zaqueu, o publicano do Evangelho. 2 Se a antiga Gália, depois reino de França, tornou-se a filha primogênita da Igreja, não foi sem razão. Para o seu território migraram vários discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo, entre eles Lázaro, o
outros emigrantes da Terra Santa, indo buscar refúgio na Gália. Uma legenda diz que Zaqueu teria-se casado com a Verónica, que enxugou a Sagrada Face de Jesus durante a Paixão. E que, após a morte da esposa, teria procurado a solidão para viver como eremita em alguma caverna a meia altura das paredes rochosas de um desfiladeiro, em cujo leito corre um pequeno riacho. Esse canyon rasga as colinas de um planalto árido e pedregoso - que os franceses chamam Causses - entre os rios Dordogne e Lot. Sobre a vida de Zaqueu ou Amadour, entretanto, pouco se sabe, a não ser que viveu e morreu naquele lugar ermo, conforme notícia que vinha de boca a ouvido desde tempos imemoriais. Sabia-se que o santo estava enterrado naquelas rochas, mas não se conhecia o lugar exato.
O c01po incon·upto e o culto a Nossa SenJ,ora
ressuscitado, e suas irmãs Marta e Maria, a Madalena, os quais desembarcaram em Saintes-Maries-de-la-Mer, antigo porto perto de Marselha. O evangelho de São Lucas é bastante claro: Zaqueu era rico, o que não o torna simpático aos demagogos da pobreza, tão em voga em nossos dias ... Depois da paixão e morte de Nosso Senhor, ele teria servido a Nossa Senhora. E, aconselhado por Ela, tomado o destino de
No século XII, veio contudo à luz o primeiro documento sobre o assunto. O abade do Monte São Miguel, 1 _ __ _ _ _ _ Robert de Torigny, relata numa crônica consagrada à peregrinação do rei da Inglaterra, Henrique II, o Plantageneta , que "no ano da Encarnação de 1166, um habitante do lugm~ estando nos seus derradeiros momentos, mandou aos seus, sem dúvida inspirado por Deus, sepultar seu cadáver à entrada do oratório " ( que existia ·no lugar onde hoje se encontra o santuário de Rocamadour). "Ao cavar a terra, prossegue o abade, encontrou-se o corpo bem inteiro (ou seja, incorrupto) de Amadour; ele foi colocado na igreja, junto do alta,~ e assim é mostrado aos p eregrinos". Vê-se, pela crônica, que no século XII, quando o corpo foi encontrado, já havia um verdadeiro culto ao santo, que o povo 1igou logo ao de Nossa Senhora, da qual ele foi fiel servidor. Com efeito, o culto à Virgem Negra3 de Rocamadour vem de tempos imemoriais. De qualquer modo, o certo é que naquele lugar insólito formou-se , durante a Idade Média, uma encantadora aldeia, que ainda em nossos dias testemunha a glória de Zaqueu ou Amadour.
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"Seu corpo, sabe-se de ciência certa, está incorrupto e nunca apodreceu ", recitavam os trovadores no século XIU. "Em pele e osso comoAmadour ", diz um provérbio de Liege, que por vezes ainda se ouve em nossos dias. O fato é que, 400 anos depois da sua descoberta, o corpo continuava intacto, como testemunha uma paroquiana falecida em 1632, que viu o corpo glorioso de santo Amadour "todo inteiro, em pele e osso, como no dia em que ele morreu". Essa piedosa centenária também foi testemunha da tentativa frustrada dos protestantes huguenotes, que queriam fazer uma grande fogueira para queimar o corpo do santo. "Mas Deus não o permitiu". Entretanto, eles fizeram em pedaços a urna de prata e roubaram o precioso tesouro. No espírito das pessoas do povo, o fiel servidor de Maria Santíssima esperava assim o dia da ressurreição dos mortos. E se voltavam para a Virgem Negra, que rea li zava tantos milagres. E la é apresentada como o Trono da Sabedoria encarnada, que é Nosso Senhor Jesu s Cristo, que Ela tem sobre seus joelhos. Um livro do santuário contém 126 relatos de milagres atribuídos a Nossa Senhora de Rocamadour, delicadamente ilustrados com desenhos representando as cenas de tais milagres.
Abençoa<lo e mamvilhoso local <le /)erngl'inação
Rocamadour é fascinante sob vários pontos de vista. Poderíamos descrever as suas maravilhas, por exemplo do ponto de vista da sociedade orgânica. Mas o espaço nos põe limites. Restrinjamo-nos ao aspecto religioso, às peregrinações. Rocamadour é uma fonte de graças. Por isso atraiu santos, reis e príncipes. E continua a atra ir até hoje toda espécie de peregrinos, sobretudo os que estão cansados da banalidade do mundo moderno e procuram, fugindo do deserto das megalópoles modernas, um oásis que lhes sacie a sede de algo maravilhoso e espiritual. Cravada diretamente no rochedo, junto à entrada do santuário, vê-se a legendária espada de Roland, que o fiel par do imperador Carlos Magno teria vindo oferecer a Nossa Senhora de Rocamadour. Por ali passaram peregrinos célebres: São Bernardo (por volta de 1147); São Domingos (1219); Cristóvão da Romanha , companheiro de São Francisco de Assis, Santo Engelberto (l 216 e 1225); Santo Antonio de Pádua ou de Lisboa, que combateu os cátaros e fundou um convento em Brive-la-Gai li arde; Henrique ll da l nglaterra ( 1159 e 1170); Filipe da Alsácia, conde de Flandres (1170); São Luís IX, rei de França, com seus três irmã.os e sua mãe, (continua na p.44)
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CATOLICISMO
Um milagre espiritual: a conversão de um príncipe É difícil para muitos, em nossos dias, compreender o temperamento apaixonado dos medievais, embora os desregramentos e pecados de hoje sejam em geral muito mais graves do que os de outrora. Um caso interessante é o da família dos Plantagenetas, à qual pertencia Henrique II, duque deAnjou , que se tornou rei da Inglaterra. Era seu contemporâneo de Luís Vil, Rei da França, o qual se casou, ainda muito jovem, comAliénor ou Eleonora, filha de Guilherme de Poitiers, duque da Aquitânia. Com o falecimento prematuro de seu pai, Eleonora herdou o extenso e poderoso ducado da Aquitânia, cujas terras compreendiam quase todo o Sudoeste da França, do Poitou aos Pireneus. Neta de Guilherme o Trovador, Eleonora era urna mulher brilhante, cheia de vida e de curiosidade, de espírito vivaz, inteligente e mundano. Luís Vll, ao contrário, era muito recatado e piedoso, tendo recebido sua educação do sábio abade Suger, que ergueu a primeira catedral gótica do reino em Saint-Denis. Consciencioso, o rei quis expiar suas culpas indo à segunda cruzada, pregada por São Bernardo em Vézelay. Eleonora quis ir também com seu séquito. No Oriente, a rainha encontrou-se com seu tio e ex-tutor, príncipe de Antioquia (que não era muito mais velho do que ela). Essas relações foram de tal sorte a causar escândalo. Ora, a corte francesa já não via com bons olhos a leigeireza de costumes meridionais da rainha. Com o caso de Antioquia, as relações do casal real se deterioraram ao extremo. Luís Vll quis repudiá-la, Suger tentou contemporizar. Finalmente, um concílio reunido em Beaugency decidiu pela nulidade do matri -
mônio. Dois meses depois, Eleonora casava-se com o turbulento Henrique TI de Anjou, rei da Inglaterra, cognominado o Plantageneta. Com a herança de Eleonora, a monarquia inglesa tornava-se assim mais poderosa do que a francesa. Henrique teve quatro filhos com Eleonora. Entretanto, as relações de família nunca foram boas . Em determinado momento, o rei encarcerou a rainha. Três de seus fill}os se revoltaram e tomaram armas contra o pai. O rei procurava favorecer como herdeiro o seu favorito, JoãoSem-Terra, prejudicando os demais. Um deles, Henrique Court-Mantel, devastou então o vice-condado de Turenne e o Quercy, região onde se encontra Rocamadour. Para puni-lo , Henrique II cortou-lhe a pensão e passou suas terras para o seu irmão, o célebre Ricardo Coração de Leão. Como vingança, Court-Mantel pilhou a abadia de Rocamadour e roubou o cofre com o tesouro de santo Amadour, constituído de pedras e jóias doadas por peregrinos, por vezes ilustres, que iam ao santuário. Porém, quando o príncipe deixava a aldeia, os sinos começaram a tocar milagrosamente ... Interpretando o ocorrido como uma advertência de Deus, Henrique Court-Mantel fugiu para a cidade de Mantel , não muito distante, onde chegou doente, arrependeu-se e confessou os seus crimes. Seu pai despachou um mensageiro concedendo-lhe o perdão, mas o príncipe, agonizante, deitado sobre um leito de cinzas e com uma enorme cruz sobre o peito, logo expirou, enviando um supremo adeus a sua mãe. Sem dúvida , os medievais cometiam por vezes crimes bárbaros, mas a sua alma não estava fechada à graça de Deus como a de tantos homens de hoje.
JULH02012
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Branca de Castela (1244); e outros soberanos, dos quais o último foi Luís XI, filho de Carlos VII (1443 e 1463).
A vitória cristã estava assegurada pela intervenção de Maria Santíssima!
Rocamadom· e a bata/J,a de Navas de Tolosa
Rocamado111· e a epopeia de Santa Joana d'Al•c
Segundo uma crônica do monge Alberico, havia Dois séculos mais tarde, a Europa cristã está em pleem Rocamadour um religioso sacristão ao qual Nossa na decadência, vítima do processo magistralmente desSenhora apareceu em três sábados sucessivos, tendo na crito por Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra-mestra Revolução e Contra-Revolução.4 A Providência divina, mão um estandarte dobrado. A Virgem ordenou-lhe que, de sua parte, levasse o estandarte ao "pequeno rei de sempre misericordiosa, envia sinais de advertência. A Espanha", que devia combater os sarracenos. O sacristão peste negra é um deles. A guerra dos Cem Anos, outro. alegou o pouco de consideração ligada à sua pessoa: não Em consequência desta última, os ingleses ocupam boa dariam crédito às suas palavras, disse. Sua recusa foi o parte do território francês a oeste e ao norte do país. sinal de que morreria ao terceiro dia. O prior de Em 1428, Carlos VII, rei sem coroa, sem exército, Rocamadour recebeu o encargo de cumprir o sem recursos e sobretudo sem virtude à altura da situação mandato, ao qual estava ligada a ordem de desesperadora, envia com sua esposa Maria de Anjou não desfraldar o estandarte antes do dia carta ao Papa Martinho V, pedindo-lhe que recorra a do combate e, ainda nesse dia, antes de Nossa Senhora de Rocamadour. O Papa concede um uma necessidade premente. O sacristão jubileu extraordinário por um período de dez anos. Isso morreu depois de dar conhecimento corresponde ao que na França se chama Estátua de Santa dessa revelação. um "grande perdão", pelos quais as pesJoana d'Are em O prior executou fielmente soas que visitam determinado Paris, confeccionada por Emmanuel Fréo mandato e compareceu em santuário obtêm indulgências miet (1824-191 O) pessoa ao campo de batalha. e graças especiais, concedidas Esse estandarte levava a imapor Deus em virtude do "pogem de Nossa Senhora com der das chaves" que Jesus o Menino Jesus nos braços. Cristo deu a São Pedro. Ela tinha a seus pés o símbolo Como resultado, grandes que o rei de Castela, chamado o multidões, inclusive de ingle"pequeno rei", costumava ter no seu ses, afluíram ao santuário de próprio estandarte. Rocamadour. Em 1429, aparece O "pequeno rei" de Castela uma donzela enviada pelo Rei era Afonso VIII. Corria o ano dos Céus para expulsar os ingleses de 1212. Os mouros ocupavam do Reino e fazer coroar Carlos grande parte da Espanha e os VII rei da França. Este não reis de Castela, Navarra e Araacredita. Mas Joana d' Are gão se uniram para rechaçar o lhe diz coisas de sua vida íninimigo. Afonso VIII assumiu tima que ninguém poderia a direção das operações milisaber. Por fim, Carlos tares contra o emir Al-Nacir, VII cede e começa a perto de Las Navas de Tolosa. epopeia bem conheOs muçulmanos eram cinco vezes cida da reconquista mais numerosos. O combate se engaja, do reino por Santa a vanguarda cristã é esmagada, a seJoana d'Arc. gunda linha desfeita, o resultado parece fatal ... O estandarte de Rocamadour é * * * então desfraldado e mostrado a todos os guerreiros. Os católicos enchem-se de A situação atual do coragem e põem em fuga o emir e as que foi a Cristandade e suas tropas. a da própria Igreja Católica é incomparavelmente mais grave do que a do século XIV. Foto: Paulo Roberto Campos
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CATOLICISMO
Hoje, o inimigo não só derrubou todas as muralhas e cativou todos os habitantes, mas conquistou até mesmo os que detêm os mais altos cargos de influência no plano temporal e mesmo elevados cargos na ordem eclesiástica, sem falar nos meios de comunicação, nas :finanças e outros instrumentos de poder. Supliquemos a Nossa Senhora de Rocamadour que nos socorra nesta circunstância a todos os que estamos desamparados, e em condições de tal inferioridade material que só com o auxílio celeste podemos triunfar sobre os inimigos da Igreja e da civilização cristã. •
Notas: 1. Pronuncie "rocamadur" , com acento na última sílaba. 2. Veja quadro aba ixo, com o texto do Evange lho de São Lucas. 3. A expressão deve-se à cor negra da rústica estátua da Virgem Santíssima, venerada no santuário encravado na rocha. Alg uns espec iali stas se perguntam se a estátua não seri a pintada, como no tempo dos romanos, e se a sua aparência atual , bastante rústica, não se deve ao descoramento da camada de pintura que talvez tenha ex istido outrora. A ex plicação não passa, entretanto, de mera conjectura . 4. Revolução e Contra-Revolução, Artpress Indústri a G ráfi ca e Editora Ltda., São Paul o, 1998. Vej a-se, partic ularmente, Parte 1, Cap. 111 , A. Decadênc ia da Idade Média.
E-mail para o auto r: cato li cismo@terra .com.br
Zaqueu, segundo São Lucas Retábulo representando o encontro de Jesus com Zaqueu
Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver Jesus e não podia por causa da multidão, por ser de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicômoro para O ver, porque Ele devia passar por ali. Quando chegou àquele local , Jesus levantou os o lhos e disse-lhe: "Zaqueu, desce depressa , pois tenho de ficar em tua casa". E le desceu imediatamente e recebeu-O cheio de alegria. Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-Se em casa de um pecador. Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: "Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, em qualquer coisa, devolver-lhe-ei quatro · vezes mais". Jesus disse-lhe: "Veio hoje a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido" (Lc 19, 1-10).
JULHO2012
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Itá li a a ntes do Co nc íli o de Trento. Fundou a Congregação dos Clérigos Regulares ele São Paulo, ou " Barnabitas". Primeiro Sábado do mês.
6 Santa Maria Goretti, Virgem e Mártir
Santo Olivério Plunkett, Bispo e Mártir + Lo ndres, 168 1. Irland ês, ordenado sacerdote em Roma e depois eleito Bispo e Primaz da Irlanda, fo i martiri zado em Londres.
2 São Bernardino Realino, Con fessor + Lecce (Jtália), 16 19. Formado em Direito Civil e Ca nôni co, advogado fisca l de Alessandria, no Piemonte, tudo abandonou para servir a Deus na Companhi a de Jesus.
~I São Tomé, Apóstolo + Índia, Séc. 1. Segundo a tradição, pregou o Evange lho na Armênia, na Média, na Pérsia e na Índia, onde fo i martirizado. Uma tradi ção di z que passo u pela Améri ca , inc lu sive pelo Brasil. Por seu apostolado e sua morte, confesso u a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, da qual duvidara por momentos.
4 SanLa Isabel, Rainha ele Portugal Santo Ulrico, Bispo e Confessor + Augsburgo (Al emanha), 972. Zelou pela di sc iplina do clero em sínodos anuais, reafervorou o povo por meio da pregação e de vi sitas pas torai s, protegeu os pobres e fundou mosteiros. Primeira Sextà-fe ira do mês.
5 Santo Antonio Maria Zaccaria, Confessor + Itália, 1539. Fo i um dos gra ndes sa ntos que se empenhara m na res taura ção da Igrej a na
+ Ferri ere di Co nca (Itáli a), 1902. Essa menina de 12 anos incompletos preferiu ser submetida a morte crue l, antes que perder sua pureza virginal. Pi o X U afirma ser ela "o.fruto de lar cristão onde se reza, se educam cristãmente os .filhos no santo amor de Deus, na obediência aos pais, no amor à verdade, na honestidade e na pureza".
7 Beatos Rogério Dickenson e Raul Milner; Mártires + Winchester (Inglaterra), 159 1. Raul , ag ri culto r analfabeto, abjurou o protestanti smo e fo i preso no di a ele sua Primeira Comunhão. Liberado, passo u a auxili ar os católi cos perseguidos. Uniu-se ao Pe. Rogério, ajudando-o no mini stério clandestino entre os católicos. Encarcerado com o mencionado sacerdote, recusou-se a abjurar a verdadeira fé. Ambos fo ram executados .
B São Quiliano, Bispo e Mártir + Wurtzburgo (Alemanha), 689. Irlandês de origem, partiu para evangelizar a Baviera. Quando seu apostolado ia ser coroado de sucesso com a conversão do Duque de Wurtzburgo, a cunhada deste mandou assass iná- lo na ausência do nobre.
9 Santa Paulina cio Coração de Jesus Agonizante, Virgem + São Paul o, 1942. Oriunda da Itáli a, aos dez anos emigrou co m a fa míli a para o Bras il , estabelecendo-se ini cialmente em Santa Catarina. Fundou a primeira congregação reli giosa fe minina brasil eira, as Irmãzinhas da Imaculada Conceição.
10 Beato Pacífico, Con[essor + Bé lg ica, 1230 . Trovador, converteu-se aos 50 anos, ao ouvir São F ranci sco pregar. Este o recebeu em sua Ordem, envi ando-o depois para estabelecê-la em Pari s.
São Bento, Abade + Montecass ino (Itáli a), 547. Patriarca dos monges do Ocidente, Patrono da Europa. Seus monges reconstruíram, por meio do cristiani smo, aquele continente arrasado pelos bárbaros. São Gregório Magno afirma que ele "estava cheio do espírito de todos os justos ", e Bossuet o chama de "síntese perfeita do cristianismo". Lutou por uma Europa católica, oposta à que hoje se quer construir.
12 Beatos João Jones e João Wall , Mártires + Inglaterra, 1598 e 1679, respectivamente. De fa mília católica galesa, João fones entrou na Ordem Franciscana em Roma . Enviado para a missão inglesa, acabou sendo preso, decapitado e esquartejado por ódio à fé . João Wall , também franciscano, tra ba lhou na clandestinidade durante 22 anos no Condado de Worcester, onde fo i executado.
·13 Santo Henrique li e Santa Cunegundes + Alemanha, 1024 e 1033, respectivamente. Santo Henrique era Duque da Baviera quando recebeu do Papa a coroa do Sacro Império Romano Alemão, por seu zelo em prol da propagação da fé e sua vida profundamente re li giosa . Sua esposa, Santa Cunegundes, após a morte do marido, ingressou num mosteiro por ela fundado.
14 São Camilo de Lellis, Confessor + Roma, 1614. De nobre família, foi expulso do exército por mau caráter e víc io de jogar. Por causa do jogo, perdeu a fortuna
e teve que mendi ga r. Tocado pe la graça, entTegou-se ao serviço dos enfe rmos nos hospitais, es pec ialmente dos pestífe ros. Fundou para isso a Ordem dos Ministros dos Enfermos, ou dos Camilianos. Morreu vítima de sua caridade, com moléstia contagiosa que contraíra. Leão XII[ declarou-o patrono dos hospitais e dos enfe rmos.
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21 São Lourenço de Bl'indisi , Confessor e Doutor da Igreja Santa Praxedes, Virgem + Roma, séc. li. Contemporânea dos Apósto los e irm ã de Santa Prudenc iana, fo i de suma generosidade para com os cristãos, mani festa ndo intrepidez em auxiliar os mártires.
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São Boavenuwa, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja
Santa Maria Madalena, Penitente
+ Lyón (F rança), 1274. Di scí-
+ Séc. T. "Porque muito amou,
pulo de São F rancisco de Assis, distinguiu-se por sua sabedori a e pi edade. C he ios de unção sobrenatural , seus escritos lhe va leram o título de Doutor Será.fico. Geral dos fra nciscanos e ca rd ea l, mo rre u e m Lyo n du ra nte um concílio.
muito lhe.foi perdoado". Acompanho u o Di vin o Mes tre até a Cru z e fo i a prime ira a ter notícia da Ressurre ição. Anti ga trad ição di z que morre u no sul da França.
2:J
16
Santo Apolinário, Bispo e Mártir
ossa Senhora do Carmo São Sisenanclo, MárLir
+ Dalmácia, séc. L Discípulo de
+ Córd o ba (Esp a nh a ), 85 l. Pregador audaz e fogoso, português de origem, fo i lançado ao cárcere e depois martiri zado pelos maometanos.
17 Beato Inácio de Azevedo e Companheiros, Mártires cio Brasil (Vide p. 36)
18 São FilasLro, Confessor
+ Brésc ia (Itá li a), 386. Acé rrim o inimi go dos ari anos, fo i nomeado pároco de Bréscia .
19
marido, de ori ge m muçulmana, conve rteram-se ao c ri sti ani smo, sendo imitados por Féli x e Liliosa, ta mbém cristãos ocultos. Todos fo ram condenados à mo rte junto com o mo nge palestino Jo rge, a quem davam abrigo.
28 Santo Inocêncio l, Papa + Roma, 41 7. Papa numa das ma is turbul e ntas é pocas d a Ig rej a, e m qu e a Itá li a e ra invadid a pe los godos e pe la heres ia pe lag iana, cond eno u esta úl tima a pedid o de Sa nto Agostinho.
ao
25 São Tiago Maior, Apóstolo e Mártir
+ Séc. I. Irmão de São João
São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria Santíssima + Séc. I. Descendentes de re is e pontífi ces, sua ma io r g lória
Será celebrada pelo Revmo. Padre David Fra ncisqui ni, nas seg uintes intenções : • Em lo uvor de Nossa Se nh o ra d o Ca rm o (fes ta ce le brada no d ia 16 de julho) e pe lo a um ento da devoção a Ela a ao escapulário do Carmo, particularmente entre os leitores de Catolicismo.
Santa Marta , Virgem Santo Olavo Rei, Confessor
+ Orbe (S uíça), 1503. Descendente do Beato Amadeu IX de Saboia, casou-se com Hugo de Chà lons. Perd end o o marid o 1O anos de po is, e ntro u num convento fra nc isca no.
Intenções para a Santa Missa em julho
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+ No ruega, 1030. Estabe leceu
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co se sabe da vida dessa mártir. Seu culto fo i traz ido ao Ocidente pelos cruzados.
+ Córd oba, 852. N atá li a e o
São Charbel Makhlouf Santa Luísa de Saboia, Viúva
Santo Elias, Profeta Santa Margarida, Mártir• + Constantinopla, séc. III. Pou-
Santa Natália e Companheiros, Mártires
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retirou-se para o deserto no Egito, a fim de fug ir das ciladas do mundo.
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São Pedro, que o sagrou bi spo de Ravena, de onde fo i ex pul so pe los pagãos. Fo i martirizado na Dalmácia.
Eva nge li sta, fo i um dos três Apósto los presentes na Transfiguração e na Agoni a do Ho rto. Prego u na Jud é ia, Sa ma ri a e Es pa nh a. Seu sepul cro em Compostela fo i um dos mais famosos da Jdade Méd ia. Patrono e protetor da Espanha.
Santo Arsênio, Confessor + Mênfis (Egito), 41 2. Romano,
cons iste em te rem sido pais da Virgem Mari a e avós do Verbo de Deus Humanado.
o ca to li c is mo como re li g ião oficial do Estado.
São Justino de Jacobis, Confessor + Etiópi a, 1853. Lazari sta itali ano, fo i vigá ri o apostó lico na Abissíni a.
~H Santo Inácio de Loyola , Confessor São Germano de Auxerre, Bispo e Confessor + Ravena (Itá li a), 450. Doutor em Dire ito Ca nônico e C ivil. Ao morrer Santo Amador, bi spo daque la c idade, Ge rmano fo i e le ito para seu luga r.
Nota : Os Sa ntos aos quais j á fize mos referência em ca lendários anteriores têm aq ui apenas seus nomes enunc iados, se m nota biográÍl ca.
Intenções para a Santa Missa em agosto • Em ho nra à festi vidade ce lebra da pe la Sa nta Igreja no dia 15 de agosto : a glori osa Assunção d e N ossa Senho ra aos Cé us em corpo e a lm a. Nesse dia, em que se comemora uma das ma is an ti gas festas marianas , ped iremos à Vir ge m Sa ntíss ima que materna lme nte abençoe os lares e as fa míli as de todos nossos co la borado res, ass in antes e leitores. Ta m bém ro ga remos para q ue o povo ucra ni a no se ja de modo especia l proteg ido, e não se deixe subju ga r pe la investida neossoviéti ca.
A política indigenista é caótica, afirma o General Heleno n N ELSON RAMos BARREno o di a 29 de maio último, em evento promovido pelo Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, mais de 350 pessoas acorreram ao Club Homs, na capi tal paulista, para assistir à confe rênc ia do General Augusto Heleno Fragoso sobre a questão indígena na Amazôni a. A sessão fo i aberta pelo Dr. Caio Xav ier da Sil ve ira, diretor do Instituto. E le ex plicou que o confe rencista conhecia como ning uém o problema do índ io, pois enquanto a ce leuma em to rno da demarcação da Rese rva Raposa/Serra do So l atingia seu c límax, o Gen. Heleno se encontrava lá em pos ição pri vi legiada. E le mbro u a propós ito este verso de Gonça lves Di as: "E à noite, nas tabas, se alguém duvidava do que ele contava, dizia prudente: Meninos, eu vi". Ele viu , ele lá estava. Viu com os seus olhos lúcidos e patri otas.
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O General esclareceu que ampliaria o tema da Raposa/Serra do Sol ao falar sobre outros desafios. Para ele, conjugada com outros problemas, a questão indígena é seríssima e capaz de faze r perder o sono. D iante de muitas indagações, começou por di zer que não é candidato a nada, nem fil iado a qualquer partido político. Utilizando-se de slides com desenhos e gráficos, fez um apanhado didático do cenário internacional. Após a falsa eufo ria do Brasil como terceira potência em 20 anos, ca ímos na real ao nos contentarmos com a sétima ou oitava economi a do mundo. Para ele, isso não é pouco. O país é tão rico, que qualquer corrupção de uma pequena prefeitura j á desvia 20 milhões de rea is ... Para o palestrante, os insucessos nas guerras do Afeganistão e do Iraque, além da crise econômica de 2008, fi zeram com que os EUA conhecessem um declínio. O que faz acreditar na sua recuperação é a sua superior tecnologia. Eles não abrem mão de pesqui sas e de inovações tecnológicas, além de atra írem as grandes cabeças mund iais. Pari passu às crises europeia e americana adveio a ascensão econômica da China. Pelo que consta, é o pa ís que mais cresce no mundo, ao utilizar-se daquela fó rmula do violino: toma-se com a esquerda e toca-se com a di reita. Com regime de exceção, trabalho escravo, espionagem industrial e reengenharia de tudo, a China não encontra óbi ce. Na verdade, ninguém sabe o que se passa lá dentro.
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Com crescimento de cerca de 10% ao ano, agora um pouco menos, o PIB chinês já encosta no PIB americano. Isto é preocupante, pois a China é uma ca ixa preta. Mas ela depende de matéria prima nossa e de muitos países. A relação China-EUA passou a ser tratada como algo muito importante. O cenário de crise das economias desenvolvidas ao lado do crescimento da China faz com que a relação bilateral passe a ter uma influência mui to grande daq ui para fre nte. Mesmo assim , os EUA não vão perder a sua supremacia a médio ou curto prazo. O Brasil se insere no contexto dos BRICS, organização que reúne Bras il , R ússia, Índia, China e África do Sul. Procu-
ramos uma posição de relevância junto a esse grupo de países com muita capacidade de influência. Só que na relação bilateral Brasil-China, as estratégias ainda não foram definidas. Somos vendedores de commodities para a China, mas elas se esgotam. Em troca, recebemos empréstimos, investimentos diretos e grande déficit comercial que ao longo do tempo pode nos empobrecer.
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Olhando para a América do Sul, diz-se não haver a menor possibilidade de uma guerra. Mas podem acontecer episódios que provoquem tensões e daí podem sair conflitos. Se não estiver envolvido, o Brasil atuará fatalmente como poder moderador. O ambiente geopolítico sul-americano sofre a ameaça do grupo bolivariano. Embora o Brasil tenha como um de seus postulados a democracia e o Estado de direito, vai lá beijar a mão dos Castro, dos maiores
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tiranos da História. Aprova todas as barbaridades feitas nos círculos bolivarianos e ai nda vem falar em democracia! Fica difícil acreditar. Fa la-se de democracia e empresta dinheiro para construir porto em Cuba ... A Comi ssão da Verdade é uma excrescência. Em nenhum documento das organizações de luta armada há qualquer registro de lutar pela democrac ia rea l. Na verdade, a democracia deles é o regime cubano. Desejavam transformar o Brasil numa imensa Cuba, num saté lite da União Soviética. E tinham como ícone a Albânia! E agora todos os participantes daquelas orga ni zações viraram defensores ardentes da democracia! Há pessoas que têm quatro codinomes. Não vou di zer quem é ... Nunca vi alguém lutar pela democracia com cod inomes. O potencial do grupo bolivariano é considerável. Ele tem petróleo, gás natural, do qual _nós dependemos, muito recurso mineral e coca ína! Dispõem de sa ída para o Pacífico, o Atlântico e o Caribe. Por outro lado, nosso efetivo mili tar nas fronteiras é sufi ciente para desencorajar qualquer ameaça à integridade territori al. Estamos falando do problema militar. Não enfrentamos problemas com os vizinhos. São dez vizinhos com os quais mantemos relações cordiais. Mas seri a não ter senso patriót ico considerar que o Brasil, com o seu enorme potencial, não fosse alvo da cobiça internac ional. *
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Quais são as vulnerabilidades do Brasil? - Carência de estrutura básica compatível co m as suas necess idades. Por fa lta de vontade política, há muita roubalheira ao lado de muita falta de planejamento. Não temos estrutura para ser a sétima economi a do mundo. Padecemos de deficiências na saúde, na ed ucação e no saneamento. Não é falta de dinheiro. Quem fa la em aumentar a verba de educação e saúde nunca pegou o orçamento para ver a quantidade de dinheiro aplicado aí. Se comparado com a verba das Forças Armadas, a diferença é gritante. Falta mão-de-obra qualificada. As próprias empresas estão qualificando os seus empregados. São os head hunters, os caças talentos. Já que não os encontra, os prepara. Po líti ca ambiental confusa, com prejuízo para a situação fundiária e energética. São os eco-man íacos, os eco-chatos, como vêm sendo chamados. Roraima é um caso típico. Lá existe uma hidrelétrica planejada há anos em Conti go. As autoridades não dão li cença amb iental para construí-l a por
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causa da rã amarela. Lá, recebemos energia da Venezuela. Por que até hoje não fize mos a hidrelétrica de Contigo? Por causa da rã amare la... *
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Política indigenista irrea l. Na época, avisei que iria fa lar. Não fo i falta de lea ldade, pois eu conhecia a Amazônia desde tenente. Como comandante militar, conheci um brigadeiro sensac ional. Aos sábados pegava o av ião e ia visitar as comunidades indígenas levando méd ico e veterinário. Tiv e oport unid ade de visitar muitos lugares. Com dois meses de comando da Amazônia, em reunião do Alto Comando, av ise i: estou presenciando coisas que me têm deixado revoltado. São verdadeiros acintes ao ser humano. Se continuar, com seis meses de comando, eu vou colocar a boca no trombone. E a cada reunião do Alto Comando eu levava vídeos e fo tografias. Depois de se is meses, declarei que a política indigenista era lamentável , para não di zer caótica. Hoje tenho certeza de que ela é caótica. Nesta semana um policial fo i atingido por uma flecha em Brasília. Agora se discute se a flecha é arma ou se faz parte da cultura indígena ... Desvalorização dos princípios éticos e mora is. Esse para mim é o maior problema do País e tem reflexo em todos os outros. Eu não quero superestimar a capacidade de uma esq uerda virulenta que almeja acabar com as nossas instituições. Não sei se serão capazes de faze r isso. *
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Por fim , o Gen. Heleno expôs a trágica situação em que se encontra a reserva indígena Raposa/Serra do Sol, cinco anos após a sua demarcação. Com a ex pulsão dos antigos proprietários, aq uela região tão próspera transformou-se numa imensa fave la indígena. O Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertra nd de Orleans e Bragança, ao encerrar a reunião, lembrou a denúncia profética de Plinio Corrêa de Oliveira no seu livro Tribalismo Indígena, ideal comuna-missionário do Brasil nos século XXI, no qual apontou, há 35 anos, a conspiração de neomi ssionári os contrários à catequização e a atividade para civilizar os índi os, preparando uma revolução indigeni sta. De fato, uma grande revolução está sendo fe ita em nome dos índios, visando a divisão do Brasil e a liquidação do direito de propriedade e do produtor rural. • E-mail para o autor: cato licismo@terra.com.br
DISCERNINDO
Duas escolas de arte, duas concepções de vida mCID ALENCASTRo a mi go de Cato licismo na Fra nça envio u-nos doi s á lbun s repl etos de fotografia s de o bj etos ditos a rtí sti cos, postos à venda na co nh ec ida casa de lei lões Osenat, situada nas proximidades do Castelo de Fontaineb lea u, a 60 km de Paris. Esses álbuns, tota li zando mais de 60 páginas, de tamanho ava ntajado (42x30 cm), comemoram "O Espírito do século XX", ou seja, a intenção dos auto res é apresentar aq uil o que, segundo e les, de me lhor se produziu em matéria de arte nos anos 1900. Folheando o materi a l, fica-se porém horro ri zado co m a mediocridade, a fe iu ra e o caráter disforme e mesmo grotesco dos obj e-
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tos apresentados - mesas, cadeiras, lampadários, escultu ras, quadros - , tudo segundo os padrões da chamada "arte moderna". Não podemos deixar de lamentar a enorme decadênci a artística que se espelha nesses objetos, entretanto expostos como símbolos artí sticos de um sécul o. Naturalmente há exceções, mas são poucas. Não podendo reproduzir aq ui nem mesmo um pequeno número dessas aberrações artísticas, lim itamo-nos a estampar a que figura na capa de um desses álbuns, portanto em grande destaq ue. O leitor é capaz de inte rpretar o que signifi ca essa figura? Certamente não. Vou então ajudá- lo co m os dados fo rn ec id os pela própria Osenat. Trata-se de madeira policromada, esculpida em 1947 por Joseph Sav ina, de aco rd o com dese nh o fo rnec ido pelo arquiteto Le Corbusier. O nome da escultura é Ozon , nome da c idade dos Pirineus onde viveu esse arquiteto. Pa rece imp oss ív e l assoc iar esse monstrengo a qualquer fo rma encontrada na natureza ou retamente idea li zada pela imaginação humana. A sensação que causa é de profundo desagrado, como se um mi stério mau se escondesse por detrás dessa cacofo ni a visual. Diante de le, a prim e ira reação é de fu gir, para livrar-se de suas más influências.
* * * Com pa re-se , de o utro lado, a beleza arq uitetôni ca da antiga Prefeitura de Praga, na Re-
púb lica Checa. Agrada profundamente a vi sta. A elevação e a sublimidade do gótico são assoc iadas a uma leveza e a uma graça toda peculi ar. Tem-se vontade de ficar olhando e contemplando indefi nidamente, para ver se algo dessa harmoni a nos penetra. Construída na primeira metade do sécu lo XLV, espe lha bem o espírito da época medi eva l depo is das invasões bárbaras, quando o ri sonho e atraente das construções a inda coexistia com a austeridade e seri edade das épocas anteri ores, numa sí ntese ad miráve l. Fruto do espí rito cató li co, é bem o contrário do neopaganismo qu e se espe lha na prime ira figura. • E-mai l para o auto r: cato lic isrno@terra.com.br
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A Visi ação respeito e maravilhamento PUNIO C OR RÊA DE OLIVEIRA
e autoria do renomado pintor itali ano Giotto, esse afresco* representa a visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa lsabel. A Virgem Santíssima está chegando à casa e sendo aco lhida pela parente. A Mãe de Deus aparece mui to bondosa e meiga. Santa Isabe l assume uma atitude * O afresco encontra-se de sumo respe ito, faze ndo uma inclinação e fi xando sua excelsa prima com um olhar na Capela degli Scrovegni cm Pádua ( Itália). de marav ilh amento. Nossa Senhora observa Santa Isabel muito comprazida, mas não Foi pintado entre 1302 e faz uma inclinação. É natura l, po is Ela é a Mãe do Redentor da humanidade e a outra, 1306 pelo célebre artista a mãe de seu precursor. italiano da época medieva l G iotto di Bondone Cada uma delas trazia em si um menino. Mas um, no claustro de Sa nta Isabel, não ( 1267- 1337). seria senão aq uele que prepararia os ca minh os de Nosso Senhor Jesus Cri sto que ali se encontrava encerrado no se io puríss imo da Rainha do Uni verso. É algo imenso ter São João Batista recebido aquela sublime vocação, a de precursor! Nosso Senhor o comparou a Elias e a um Anj o... Mas Jes us Cristo é o Homem-Deus, não há o que O transcenda, não podendo ser comparado com nenhuma outra criatu ra. •
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Excertos de conferência proferi da pelo Pro f. Plínio Corrêa de Oliveira em 30 de novembro de 1988. Sem revisão do autor.
Nยบ 764 - Agosto 2014 - Ano LXIV li
PUN IO C ORRÊA DE ÜLIVEIRA
''A Rússia espalhará os seus erros pelo mundo" s espíri tos ma is atil ados sempre o lhara m com desconfia nça a perestroika, 1 recea ndo que e la conti vesse em seu boj o uma j ogada soez do comunismo. Hoj e a opini ão públ ica do Ocidente va i lenta mente se precatando de que os ve rdade iros fi ns da perestroika era m na realidade obsc uros . Talvez não estej a longe o di a em que a autenticidade di scutível da retração do comuni smo revele que esta não fo i senão uma metamorfose, e que da larva decomposta sa i voando a " linda" borbo leta da autogestão ... Autogestão esta que todos os teó ri cos e líderes máx imos do comuni smo, desde Marx e Engels até Gorbac hev, sempre apresentaram como a versão extre ma e ca ba l do comuni smo, a quin tessência de le. N o preâmbul o da Constitui ção soviéti ca, ta l estava afi rmado com todas as letras. O comuni smo, aparente mente derrocado, se teri a ass im di sseminado por todo o mundo. Neste ponto, s im , se confi rmari am as profec ias de Fátima, que advertem: se os homens não se emendarem, a Rú ss ia espa lhará os seus erros pe lo mundo ! Importa, po is, e m a lto gra u, in terpreta r a Mensagem de Fátima de fo rm a a utêntica, para que os espíritos se mantenham lúc idos, vig il antes e corajosos di ante de acontec imentos ex trao rdinários que possam advir, lançando a humanidade na perpl ex idade e na afli ção.
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Para os que têm fé, ressoa rão sempre aos seus ouvi dos as palavras de N ossa Senhora em Fátima: " Por fim , o meu Imac ul ado Coração triun fa rá !". 2 • Notas: 1. Perestroika ("a bertura" ou " reestruturação"): política do ex- líder sov iético Mik hail Gorbachev, surgida cm 1986, q ue cons istia em apresentar um socia lismo "renovado" com a fi na lidade de iludir o Ocidente sobre uma pretensa " morte" do comuni smo e, assim, desmob ili zar a reação anti comun ista. De fa to, tra tava-se de uma " metamorfose" do comuni smo. 2. Excertos de arti go de Plí nio Corrêa de O li ve ira, publi cado no "Diit ri o Las Américas", de Miami (EUA), cm 14-5- 1992.
A "revolução" de Gorbachev prestigiada pela conhecida revista norteamerica Time de julho,1987
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Homenagem ao Papa São Pio X em seu centenário U11ç11lrnnnnc: ntnrnm Mnltn
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Nossa Capa: A figura imponente de São Pio X no trono pontifício
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Caro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração: Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: Fone/fax (0xx11) 3333-6716 Correspondência: Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Lida. E-mail: catolicismo@terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Agosto de 2014: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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Comemora-se neste mês o centenário da morte do Papa São Pio X , canonizado por Pio Xll em 1954. Catolicismo, que ao longo de sua hi stória sempre exaltou a fi g ura e a obra daquele imortal Pontífi ce, não poderi a deixar de fazê-l o nesta magna data, re lembrando sua ex trao rdinári a estatu ra moral, que marcou profundamente o mundo e continua a marcá-l o até os presentes dias . Para esse efe ito reproduz, na matéria de capa desta edi ção, tex tos se lecionados do P rof. Plíni o Corrêa de Oliveira - inspirador e principal articuli sta de Catolicismo até seu fa lec imento em 1995 - sobre aquele santo varão, cuj o pontifi cado ( 1904-1914) represe nta grande glóri a para a Hi stória da Igrej a. Na prime ira parte, o leitor encontra rá um a admirável síntese biográfica e o sentido profund o da obra do homenageado, ressaltando seu empenho em promover a devoçã.o euca rísti ca e o culto litúrgico, a instrução reli giosa e catequética, bem como em defender os dire itos da Igreja na esfera pública. É ressa ltada também a benéfica ação sobrenatural exerc ida por São Pio X sobre aque les que de le se aprox imavam. A segunda pa rte da matéria é dedi cada a descrever a doutrina e os métodos empregados pela heresia modernista, condenada energicamente pelo santo Pontífice depo is de ba ldados seus ingentes esforços para converter os líderes dessa corrente à ortodox ia cató lica. Medi ante a ful g ura nte Encícli caPascendi dominici gregis, p ro mulgada em 1907, São Pio X denunc iou os fa utores da conspi ração modernista, que tentavam adulterar o Magistéri o tradici onal da Santa Igrej a e cuj os erros di sseminavam nos próprios ambientes da c idade la católi ca. Ele des masca rou ass im os fa uto res dos erros, denunciou suas táti cas, revelou a extensão da conspiração, e estigmatizou a doutrina modernista como sendo a "síntese de todas as heresias ". Infe li zmente, com grande pertinác ia, os modernistas rej eitara m submeter-se à autoridade da Igrej a. O Papa entã.o, para defender a Igrej a e os fi éis, sentiu-se obri gado a condenar nomina lmente os princ ipais chefes do movimento. A matéria reprodu z alguns trechos da Pascendi, os quai s, além de apresentar as pectos da doutrina modernista, põem em ev idênc ia o péss imo estado de espírito dos hereges ; e se detêm na expl anação de sua táti ca de proselitismo, especialmente a di ss imulação. N os di as de hoj e, os católi cos desej osos de se mante rem fi éis à doutrina sempiterna da Igrej a enfrentam um inimigo tão virul ento e ardil oso como o modernismo: o progressismo católi co, que apresenta clara mente desvi os modernistas adaptados às circun stâncias at11ais. Assim sendo, devemos pedir instantemente ao g lori oso Papa São Pi o X que nos conceda sua firm eza doutrinária, sua energ ia e providencial perspicáci a para di scern ir e reje itar a investida do progressismo dito católico. Desej o a todos uma boa leitura.
Em Jesus e Maria,
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
ca to licisrn o@terra. corn .br
DI RETOR
O vômito do cão e a porca lavada Nossa Estátua de São Pedro diante da Basílica Vaticana
Senhora chora sobre o mundo atual como outrora Jesus Cristo chorou sobre Jerusalém. Motivos não faltam. É só atentarmos para a multidão de pecados que se cometem , quer individualmente, quer através dos governos, das legislações, de atos judiciais, e até mesmo internamente na igreja por representantes a ltamente qualificados. Presenciamos um processo ace lerado, não apenas de descristianização da sociedade, mas de imposição de fa lsos va lores pagãos. Com a consequente perseguição, ainda incipi ente mas que vai se avo lumando, de quem quiser permanecer fie l aos ensinamentos autenticamente católi cos. Médicos e enfermeiras obrigados a colaborar na prática do aborto e de operações contra_ a natureza ; juízes e cartórios coagidos pela lei a ratificar divórcios e pseudo-casamentos; professores constrangidos a impingir a seus alunos doutrinas e práticas que pervertem suas mentes infantis; e por aí afora . Diante de tantas pressões e ameaças, muitos cristãos temem, tremem, e acabam por apostatar. Fa lta- lhes a coragem dos mártires e a intrepidez dos confessores da fé . Sobretudo falta- lhes pedir a Nossa Senhora a graça da perseverança, pois, se o fizessem, esta não lhes seria negada. Ta lvez seja esta apostasia a face mais sombria e dilacerante da presente paganização e a que mais faz chorar a Santíssima Virgem . Tanto mais que não se trata apenas de indivíduos esparsos, mas de toda uma civi lização que opta pelo abandono da Lei de Cri sto. O Apóstolo São Pedro, c iente das obrigações inerentes a seu elevado múnus de Papa, o primeiro da História, já naquela época advertia os fiéis sobre os terríve is males da apostasia. Suas palavras candentes, ele as quis deixar registradas em uma de suas epístolas:
"Se aqueles que renunciaram às corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador; nelas se deixam de novo enredar e vence,; seu último estado tornase pior do que o primeiro. "Melh or fora não terem conhecido o caminho da justiça do que, depois de tê-lo conhecido, tornarem atrás, abandonando a lei santa que lhes.foi ensinada. "Aconteceu-lhes o que diz com razão o provérbio: 'O cão voltou ao seu vômito; e: A porca lavada volta a revolver-se no lamaçal '" (II Pedro, 2, 20-22). •
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querda a uma repressão tão violenta. E ainda tem gente no Brasil que acha que o comunismo morreu. Melhor se diria: a palavra de ordem dos comuni stas é: "tranq uilizem-se porque o comuni smo morreu". E por que razão o governo brasileiro é tão amigo de Maduro, de Castro e outros do mesmo gênero? Vou divulgar esse artigo de Alfredo Mac Hale. Obrigado. (M.C.-MG)
Sovietes
Apoio integralmente o lú cid o e oportun o com uni cado do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira sobre os chamados Conse lh os Populares. Inicialmente, é preciso lembrar que eles violam a Constituição Federa l, a qual delega ao Poder Legislativo a legítim a representação democrática do povo. Em segu ida, as li ções que a Históri a nos dá nos mostram que ta is conselhos nada têm de novo! A Revolução Francesa fo i feita a partir dos Clubes Jacobinos, os quais inspiraram e fo mentaram os seus mais sa ngrentos episód ios, como o Terror! Os sovietes - conse lhos de representação popular - alij ara m do poder Kerensky e o substit11íram pelo regime com uni sta na extinta Uni ão Soviética. Recentemente, na Venezuela, os desvarios de conselhos semelhantes levaram o país ao caos político, econômi co e soc ial. Não admitamos isto para o Brasil , ordeiro e cultor das liberdades! Usemos de todos meios licitas para pressionar nossos representantes no Congresso Nacional a reje itarem este absurdo Decreto 8.243! [8J
Cuba, Venezuela, Brasil
l:8J Sem dúvida, o "socialismo bolivariano" levou a Venezuela a esta catastrófica situação, quase em colapso, e, se continuar nesta trilha, não demorará muito a levar a campos de concentração os jovens que ousarem sair às ruas em protestos. Assim começou a derrocada de Cuba até a situação atual da dominação Castro, assi m poderá iniciar a derrocada do Brasi I se cansarmo-nos da reação ao projeto esquerd ista para o País. (L.A.S.S. - AM)
Herança maldita [8J Com a política su icida adotada pelo não saudoso Hugo Chávez, deu no que deu: a degringolada ace lerada da Venezuela na pobreza, causada pelo totalitarismo. Apesar do desastre, ainda tem políticos do PT babando diante de Fidel e Maduro. O melhor para o Brasil seria exportá-los para Cuba, uma parte, e a outra para a Venezuela. Não cobraríamos pelas "exportações" e, mesmo ass im, o Brasil lucraria muito mais do que com a exportação de commod ities. Só ficaria com pena dos nossos irmãos venezuelanos que desejam se livrar da herança maldita de Cbávez.
(W.T.1.-PR)
Muyamigos ... [8J Exce lente e amp lo co mentário sobre o bolivarianismo venezuelano. Quase inacred itável que um país seja assim submetido pela ditadura de es-
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(M.P.F.A. -
GO)
"Com,mismo pelas bordas" ... [8J O governo petista está querendo ser mais realista que o rei ... Tenho cinco filhos - uma médica, uma jurista, uma arq ui teta, um estudante de engen haria e uma de veterinária - todos levara m umas palmadas ou um "chega prá lá" para impedir suas estripuli as ... Eu também fui criado dessa maneira ... Esse governo infestado por petistas/ comuni stas/terro ri stas/subversivos, é conhecido no mundo in te iro por im-
plementar o comun ismo pelas bordas e está cada vez mais desacreditado pelos próprios brasileiros ... São governantes que estão entrando em nossas casas com a baioneta em ri ste ca mufl ada de flores .. . São comuni stas da fa lsa democracia que retiraram o cruc ifixo das repartições púb li cas e querem retirá-lo das famí li as ... Agora, desta fe ita, querem transformar uma simples palmada em espancamento ... É uma lei duplamente incoerente, confund indo palmada com violência e dar o nome da lei a um men ino daqui da "Repúbli ca Rio-Grandense", que fo i assass inado e enterrado vivo (fo i dopado) pela própria fa míli a ... Tudo tem limi tes .. . (E.G.-RS)
O Brasil sel'Ía diternnte... [8J Se a nossa presidente e o Lula tivessem levado palmadas quando crianças não estariam afundando nosso País. Fa ltaram algumas palmadas neles.
(A.M.M. -
PE)
Filhos educados pelo Estado? [8J Cada vez mais vemos o governo petista dificultando os pais a educarem se us filhos conforme a trad ição fa mili ar. Para a esquerda é o Estado e nã.o o~ pais que devem influenciar os filhos. Uma interferência na privacidade da famí li a, no mesmo esti lo do regime comu ni sta, que desde o pré-primário obrigava os pais a levarem as crianças para serem assum idas pelo Estado, que ensinava com sua carti lha materialista. Cresciam crianças sem noção das marav ilhas da [greja Cató li ca e brutali zadas pelo materialismo. Este é o sonho do governo PT? Parece que sim, com o estabe lec imento desta absurda "Lei da Palmada".
(J.R.A. -
MG)
Questão indígena 12] Fu i criado numa fazenda próxima a uma aldeia guaran i e sabemos o que rea lmente está acontecendo. Índio nã.o quer terra, pois mesmo as que têm não usufruem e não produzem nem para o sustento próprio. Nossos índios precisam de ferra mentas que os integrem à soc iedade, pois, na verdade, pelo
menos no sul do Brasil, não há mais espaço e nem condi ções físicas para que eles viva m de fo rm a primitiva, como prega m muitos defensores e indi geni stas. A rea lidade é muito pior do que se im agina. (F.M.-MS)
"Do Prata ao Amazo11as "...
181 É conso lador ter por mestres em senso cató lico o exce lentes redatores e arti culistas de Catolicismo . A rev ista nos ens ina a ser católicos conscientes da luta que se trava entre os filhos de Maria Santíssima e os seq uazes ele Satanás. Assim, aprendemos no número 76 1, do mês de maio, no lúcido artigo " O papel da devoção a Nossa Senhora, segundo São Luís Grignion de Montfort, na vida e luta do católico ". S. A. o Duque Paul de Oldenburg relembrou a importância dada pelo Prof. Dr. Plínio Corrêa ele Oli veira ao cé lebre trecho do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem em que o autor menciona a inimi zade irreconc ili áve l que Deus estabe leceu entre Mari a e seus fiéis servos e os escravos cio demôni o. (p. 34) Como o Prof. Dr. Plínio e seus discípul os sempre ostentaram o di stinti vo tradicional dos Congregados Marianos, fiquei curi oso ele rever um antigo Manual do Congregado Mariano de 1936, em que se lê a letra do Hino das Congregações: Do Prata ao Amazonas , do mar às co rdilheiras, cerremos as fileiras , soldados do Senhor! [.. .] Era esse Hino, cheio de co mbatividade , que ai nd a se ca ntava nos sodalícios marianos nos anos 50 cio sécul o passado. Eu mes mo o aprendi , pois me tornei Congregado em 2 ele Julho de 1955. Qua l o Hino Oficia l que se ca nta agora no Brasil? Mostra-nos o site da Congregação Mariana Nossa Senhora da Glória de São João do Meriti, no Ri o de Janeiro: Do Prata ao Amazonas , do mar às co rdilheiras, cerremos as fileiras, so ldados do Senhor! [... ] O Mund o está sedento de paz e unidade; amor, frate rnidade, queremos
difundir! Nós somos miss ionários, por Cristo convidados! Basta compa rar com a letra do anterior e ver que o espírito é agora totalmente outro : Fa la de "amor e .fi'ttternidatle a d(fimdir", "se,le de paz e unitlade ". Para que luta partem "os soldados tio Senhor" que continuam figurando na nova letra? "Cerrar fileiras" para "dijimtlir amor e fraternidade"? Para isso não é preciso que os so ldados lutem. É só deixar que a onda atual de pacifismo e relati vismo os leve ... Aí entendemos a li ção do artigo do mês de junho de Catolicismo nº 762 , de autoria do Dr. Leo Dani ele "Não ao relativismo! O bem deve ser distinguido do Mal ". "Desce dos céus um brado tonitruante: Ai dos que atenuam a oposição que deve haver entre o Bem e o Mal! [. ..} Devo ser malojobico, sim! Odeio e
devo odiar o mal o quanto possa, pois isto é amar o Bem!" (p.15) "para isso a Relig ião católica nos convida, sem ambiguidade, com amizade, mas com severidade. " (i bidem). O senso católico estava presente no Hino tradicional das Congregações. Elas atraíram milhares de jovens de todas as classes sociais no Brasil e no mundo. Por que mudaram sua letra? A que novo ideário ela convida? É ler e reler Catolicismo para ter as respostas. (C.R.D. C. -
SP)
Fideli<lade
181 Aprecio bastante a alta qualidade espiritual e cultural de vossa revista. Fazendo votos que ela continue sempre fiel à linha de seu ilustre fundador, despeço- me assegurando-lhe minha oração diária por vossa benemérita entidade católica. (A.A. -
França)
FRASES SELECIONADAS "Por isso vos digo: tudo o que pedirdes na orotão, crede que as Fia.veis de o6telj e ser-vos-á dado" (sêío MC!rcos.,
íí,
2.4)
''Quem reza se salvaj quem não reza se condena. Todos os que se salvaram, salvaram-se pefa orotãoj todos os que se condenaram, condenaram-se por falta de orotãa" (SCI V\,to MC!rLC! AfoV\,S.O o!e LLgórLo)
"Reze dia.ria.mente durante 3 Ominutos, mas quando estiverdes muito ocupado, reze durante uma Fwra" (Sêío FrCIV\,CLs.co ote SC!Les.)
"Como é grande o poder da orotão ! t como uma rainfui que em todo o momento tem acesso direto ao rei e pode consC9uir tudo o que ffie pede" (SCIV\,tCI Teres~V\,VJCI)
AGOSTO 2014 -
Monsenhor JOSÉ LUIZ YILLAC
Pergunta - Sou filho de família católica e, infelizmente, durante muitos anos me perdi pelos descaminhos do mundo. Há alguns anos, comecei a me relacionar com uma jovem, mais por sensualidade do que por sentimentos de afeto pela sua pessoa. Esta relação "descompromissada" sofreu um baque quando ela engravidou. Tentando um aborto, chegamos a fazer uma tentativa com chás naturais, mas ela logo desistiu da ideia e prosseguiu com a gravidez. À medida que os dias foram passando, o meu desespero inicial foi se transformando em alegria, pois a ideia de ter um filho estava escondida dentro de mim. Os anos se passaram e o amor pela minha filha me levou a uma mudança radical na forma de vida que levava. E então fui me reaproximando de Deus e conhecendo a doutrina católica. Isso foi fundam ental na caminhada que ainda faço para uma verdadeira conversão. Hoje o meu drama continua, aliás, aumentou, pois a consciência do meu erro é cada dia maior. As duas soluções mais óbvias para a minha situação me parecem difíceis. A primeira, a de me casar com a mulher com quem vivo e constituir uma família, seria a mais óbvia, até porque é um pouco desejo dela. Mas o que ela chama de casamento ou família é muito diferente do que aquilo em que acredito. Para ela, até hoje, filho é um fardo, não uma bênção. Ela tem um temperamento difícil e a gente não tem maior afinidade. Quando penso em me casar com ela, a primeira coisa que me pergunto é se seria legítimo estabelecer este laço sacramental com uma pessoa que não amo. Eu estaria mentindo se dissesse que gostaria de viver o resto da minha ao lado dela. Fazer isto por amor à minha filha seria legítimo? A segunda solução seria ir embora e me separar dela. Mas não quero abandonar a minha filh a, que amo demais. Quando penso em como ela educaria a nossa filha sozinha, tenho menos vontade ainda, pois acho que seria com base em outros valores, principalmente não católicos. Além disso, a minha consciência de que não estou dando bom exemplo para a minha filha, vivendo sem matrimônio até hoj e, me angustia cada vez mais. As duas soluções que vejo são, portanto, insuficientes. Rezo todos os dias para Deus me iluminar e me mostrar uma solução. Gostaria que o senhor me desse um esclarecimento, uma orientação. Resposta - O miss ivista hi storia como chegou a relacionar-se com uma j ovem, e como desse relac ionamento lhes nasceu uma menina. Q uando se patenteou uma indesej ada grav idez, ambos pensaram e m tentar o aborto. Mas logo a jovem desistiu da ideia e, assim, aos poucos o seu desespero ini cial se
-CATOLICISMO
tra nsformou na alegria de ter um filho. O que o moveu a ir coabi ta r com a jovem. Com o te mpo, o amor pe la filh a levou-o a uma mudança radica l de vida. Começou a reaprox imar-se de De us, ir à mi ssa, ler a Sagrada Escritura, estudar a doutrina católi ca. Enfim, operou-se no consulente uma verdadeira conversão. E, desse modo, a consc iência do erro que cometeu tornou-se cada di a maior. Como o mi ss ivista bem observa, as duas so luções ma is óbv ias seriam: l O casar-se com e la em um matrimônio legítimo, ou: 2º separar-se dela. Mas logo acrescenta que ambas as so luções lhe parecem difice is. E indi ca as difi culdades de cada uma. Não tendo ele mencionado que ajuda poderia obter por parte de memb ros de sua famíli a (pai, mãe, irmãos), ou da fa mília dela, não tenho condi ções de levantar outras saídas poss íveis, como seri a deixar a filh a com algum parente de confia nça. Ass im, limito-me a anali sar as difi culdades que el e vê nas duas so luções mencionadas. O miss ivista ass ina la que a regulari zação do casamento "é um pouco desejo dela", mas além da di sparidade de temperamentos, ela considera os filh os um fardo e não uma bênção. O que colide com a noção de fa mília que ele tem - e que é realmente a certa - pois o casamento é a união de um homem e de uma mulher em vi sta da propagação da espécie, segundo os des ígni os de Deus. Depo is de acrescentar que e le não sente afinidade com a jovem mãe de sua filha, ele se pergunta se seria legítimo estabelecer um laço matrimoni al com uma pessoa pel a qua l não sente amor. E afirm a que estari a mentindo se di ssesse que gostari a de viver o resto da vida ao lado de la. Conclui pergun ta ndo-se: "F aze r isto por amor à minh a filh a seri a legítimo?".
O romantismo intl'oduziu o "casamento por amor" Aq ui cabem do is esclarec imentos importantes . Com o triunfo do ro manti smo, a partir do século XIX, a sociedade moderna passo u a ter uma concep ção do casa mento di fe rente da que havia na sociedade tradicional. Hoje, de modo gera l, o chamado "amor" entre os nubentes prevalece sobre as considerações de conveni ência social ou patrimonial , e mesmo po lítica, como ainda em nossos dias sucede nas casas reais e fa míli as nobres (estas, a li ás, ta mbém contaminadas infelizmente, em vários casos, pe lo ro mantismo imperante). E é interessante notar como o sistema antigo, que aos olhos do homem moderno parece um di sparate, va lia inclusive para fa mílias da mais humilde condição soci al, e resul tava em casamentos que duravam "até que a morte os separe". Sobretudo tinha-se em vista viver um matrimônio cri stão, em que o amor de Deus e os deveres da Relig ião passa vam ac ima de
Com o triunfo do roman tismo, a partir do século XIX, a sociedade moderna passou a ter uma concepejão do casamento diferente da que havia na sociedade tradicional
tudo e faziam aceitar com resignação os sofrimentos próprios à união matrimonial. Com o triunfo do romantismo e da esco lha do cônjuge feita primordialmente "por amor", os casamentos se dissolvem quando o tal "amor" acaba ... E desse modo frequentemente duram muito pouco, quase nada ... Com isto respondo à primeira pergunta do missivista: é perfeitamente legítimo casar-se com uma pessoa pela qual não se tem um amor prévio, conforme o ditado outrora em vigor: O homem estulto casa com a mulher de quem gosta; o homem sensato gosta da mulher com quem casa ... Consequentemente, respondo também afirmativamente à segunda pergunta: É perfeitamente legítimo que ele se case com a mulher pela qual nutre pouco ou nenhum amor, pelo grande amor que tem à filha de ambos. Tanto mais quanto isto resolveria o seu receio de deixar a filha aos cuidados de uma mãe que a educaria "com base em outros valores, principalmente não católicos". Isto posto, a não ser que exista uma incompatibilidade de
gênios verdadeiramente insuperável, mais vale a pena casar-se com a jovem com a qual já convive há uma dezena de anos. Embora não exista uma obrigação estrita de se casar com essa jovem (mas, nessa hipótese, deveria se separar dela), permanece o dever de cuidar da filha do ponto de vista moral e material, e eventua lmente dar alguma assistência à pessoa com a qual ele conviveu. Tudo se fará, pois, mais adequadamente com o casamento com a mesma jovem. Ao fazê-lo, o missivista precisaria ter bem presente que ass ume uma vida de holocausto, em benefício principalmente da filha, por cuja criação, educação e formação religiosa, e - mais do que tudo - pela sa lvação da alma dela, ele é maximamente responsável. E acrescento: dessa forma e le se tornará um homem verdadeiramente feliz nesta Terra, porque o holocausto não traz amargura, e sim fel icidade! Por mais que os românticos pensem o contrário ... • E-mai l para o autor: catolicismo@terra.com.br
AGOSTO 2014 -
A REALIDADE CONCISAMENTE Primeiro- ministro francês adverte: a esquerda pode morrer
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Hong Kong: multidão lembrou massacre de Tiananmen eze nas de milhares de pessoas lembraram em Hong Kong as vítimas da sanguin ária repressão da Praça Ce lestia l em Pequim, há 25 anos. "Não podemos deixar que o tempo dilua a sua lembrança", disse Anna Lau, de 19 anos, que não era nasc ida no tempo da revo lta. Apresença da juventude reforçou a ideia de que o mov imento anti comuni sta tem muito futuro pe la frente. "Eu v im aqui porque na C hina nós não temos nenhum dire ito e nenhuma liberdade", ex pli cou Huang Wa icheng, engenhe iro de 35 anos, que mora na vizinha Shenzhen. Os residentes da cidade temem " crescentes interve nções de Pequim" e a erosão de valores essencia is, expli co u Joseph Cheng, professo r da U niversidade de Hong Kong. •
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Para grupo satânico Casamento homossexual" é luciferino
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egundo Lucien G reaves, porta-voz nac io na l do "Templo Satâni co" - grupo que tentou rea li zar uma 'M issa Negra' na U ni versidade de Harvard (EUA) - , as restrições ao aborto violam as crenças religiosas satânicas e o "casa mento" homossexual é um "sacra mento" da reli gião di abó li ca. " Para nós, o casa mento [homossexual] é um sacramento. N ós o reconhecemos e ac hamos que o Estado deveria reconhecer o casamento por motivos de liberdade re li g iosa". Adam Cassandra, da Human Life International, dec laro u à imprensa que essa afi rmação "sustenta a posição de muitos no movim ento pela vida, de que os ataq ues à vida humana inocente e à famí lia são demoníacos em sua origem". "M es mo que advoguem por 'j usti ça' e ' dire itos ', e les [os ataques] se identifica m com aq ue le que tem sido a fo nte de todos os ma les e os enganos ao longo da hi stória humana" - acrescentou. •
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esquerda pode morrer", alerto u consternado o primeiro-ministro francês Manuel VaiIs, diante do Conselho Nac ional do Partido Socialista. Ele fe z soar o alarme gera l dizendo que o problema não é apenas uma oscilação entre partidos e candidatos. E fo i categórico: "S im, a esquerda pode morrer", e " não ex iste alternativa para a esquerda", referindose à catástrofe de popularidade dessa te ndênc ia e ao fiasco nas eleições muni cipais e europeias. "N ós percebemos bem que chegamos ao fi m de alguma co isa, ao fi m talvez de um ciclo hi stóri co para nosso partido. A esquerda nunca fo i tão débil na história da V República" - ac rescento u. Ele pro pôs soluções cosméticas que desmoralizam as crenças totalitárias dos últi mos fié is socialistas. As apetênc ias profündas dos fra nceses pedem algo novo que reate com as melhores tradições do país, trazendo fr utos du radouros ele ordem, segura nça e sanidade moral. •
CATOLICISMO
Miséria completa nos hospitais venezuelanos ara os venezuelanos, inclusive os que possuem seguro médico, o pesadelo virou rea lidade. Nos centros assistenciais do Estado as ci rurgias podem ser adiadas por vários meses, dev ido à fa lta de insumos . Apesar das dezenas de milhares de " médicos" cubanos importados, os pacientes aguardam horas a fio nos prontos-socorros, por fa ltarem médicos e material. A Asociación Venezolana de Distribuidores de Equipas Médicos, Odontológicos, de Laboratorios y A.fines denunciou o aumento de amputações de membros infer iores em clínicas e hospitais pela carência de material básico. De 239 insumos, fá rmacos e equipamentos médicos de uso quotidiano, 200 estavam esgotados. Os fo rnecedores não os importam porque o governo não libera dólares. A planificação socialista regula os preços que os hospitais privados podem cobrar e 83% deles encerraram 20 13 no vermelho. •
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Médicos poloneses prometem não praticar abortos ais de três mil médi cos e estud antes de Medi cina poloneses ass inara m em Cracóvi a uma dec laração pro metendo não praticar abortos nem fo rnecer receitas para anticoncepcionais. Os ambientes da cultu ra da morte criticaram ra ivosamente a dec laração. O pres idente da Comissão de Saúde do Parl amento polonês, Tomasz Latos (foto ), lembrou que os médicos estão amparados pelo direito à obj eção de consciência. Porém, esse direito está sendo cada vez mais desconhecido e desrespeitado nos países da Uni ão Europeia, da qual a Polônia faz parte. Prevê-se também nessa nação uma acirrada polêmi ca entre os médi cos sérios e cató licos e os inimigos da vida e do cato licismo. •
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Em um ano, 737 .000 venezuelanos caíram na pobreza extrema o primeirnano do "sociali smo do sécul o XX f" sob o governo de Ni co lás Madu ro, continuador de Hugo Chávez, 737.000 venezuelanos ca íram na pobreza ex trema. A infl ação anual atingiu 56,2%, e o " índice de desabastecimento" apontou que 25,3% dos produtos sumi ram do comércio. No tota l, 2.79 1.292 cidadãos estão nessa tri ste situação num país de mais 30 milhões de habita ntes e ostentando fab ulosas jazidas petrolíferas. Um grupo ideo lógico teled irigido de Cuba e afi m com a "Teologia da Libertação" quer imergir na mi séri a e no desespero - que fazem pensar na desgraça eterna do infe rno - a América Latina, tão largamente dotada de recursos natura is pela Providência Divina. •
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Fabulosas iazidas de gás e petróleo na Patagônia nquanto a política da presidente Cristina Kirchner tende a quebrar a riqueza agropecuária da Argentina e das classes tradi cionais ligadas à terra, a produção e as exportações agríco las batem recordes. Na Patagôni a, fico u imposs íve l ignora r a existência de uma das maiores reservas de gás e petróleo do mundo. Para o governo america no, a jazida de Vaca Muerta é a segunda reserva mundial de gás de xisto e a quarta em petróleo de xisto, podendo atender às necess idades de energia da Argentina du rante 400 anos. Ini ciada a exploração da ::;: jazi da, locali zou-se debaixo dela outra jazida :;; igual ou maior. Contudo, a obstinada opos ição :!::, an,bientali sta a esta lufada de ox igênio para o !": país vizinho não arrefece. E não encontra ndo _.H.,. pretextos n1ateriais, ela se tornou "espirit11al", inimiga da riqueza, segundo pregações ouvidas em igrejas "progressistas" ou em di scursos panteístas e neocomuni stas "verdes". •
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Líder vietnamita repudia socialismo e torna-se católico ô Hai , prócer do comunismo vietnamita e célebre compositor, anunciou em um livro que causou sensação por ter abandonado o Partido Comunista . Em seu blog, ele comunicou sua "imensa alegria no fim de minha vida ... Após muitas noites sem dormir, eu por fim encontrei o caminho rumo a uma razão de viver, uma via que eu tinha recusado desde a minha infância : eu me voltei para Deus! Meu coração fica agora em paz com minha fé em Deus. O mal foi expulso, eu viverei livre da angústia até o dia em que fecharei os olhos nesta vida". Tô Hai recebeu o batismo em Saigon (foto) e adotou o nome cristão de Francisco Tô Hai.
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Onda de conversões de adultos ao catolicismo no Vietnã o Vietnã , o vazio gerado pelo comunismo impulsiona muitas almas para a Igreja Católica . Em Ho Chi Minh City (antiga Hanói, a maior cidade do país), 680 mil de seus nove milhões de habitantes são católicos , número que cresce de modo vertiginoso , alarmando o regime socialista . Em 2012 , 6.736 adultos foram batizados. Teresa Nguyen Thuy Kieu abandonou o budismo em 2005 porque admirava a fi rmeza católica de seu noivo. Hoje ela é militante da Legião de Maria, ensina o catecismo e acompanha adultos em processo de conversão. Ela já teve seu "batismo de sangue" com os médicos do governo socialista que rotineiramente tentam fazer as grávidas abortar. Sendo católica e sabendo que o aborto é assassinato, recusou a tentação e confiou o caso a Deus. A criança nasceu prematuramente, mas encontra-se hoje muito saudável. Seu exemplo impressionou a família, fazendo com que sua mãe, sua cunhada e seus 11 sobrinhos pedissem o batismo.
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NACIONAL
O Decreto presidencial nº 8.243 ou a sovietização do Brasil pelo PT F rei Betto enaltece o D8243 - que ele considera fruto de iniciativas análogas anteriores - e lamenta que o mesmo seja editado somente 11 anos depois da ascensão do PT ao poder... n
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H EU o D1As V 1ANA
empre se admitiu - e com quanta razão! - que o pensamento do PT é marxista, e que sua meta últi ma é a implantação do comuni smo no Brasil. E isto explica-se fac ilmente, uma vez que esse partido é a expressão sociopolítica da corrente reli giosa denominada "Teo logia da Libertação", a qual vi sa tornar o comuni smo pa latáve l aos católicos latinoamericanos. Além das demonstrações de simpatia pelo comuni smo havidas ao longo dos três governos petistas no âmbito ex terno - so lidariedade em re lação a ditadores do Irã, do Vi etnã, de Cuba, da Venezue la etc. - a obra interna desses governos tem sido de demolição das instituições. Seu obj etivo está consubstanciado no fa migerado Programa Nacional de Dire itos Humanos - 3 (PNDH-3), um dos documentos revolucionários mais amplos e radicais de que se tenha notícia, decretado no apagar das luzes do segundo mandato de Lula da S ilva . Poi s bem, a recente edi ção de um dos postu lados do PNDH-3 - o Decreto 8.243, ass in ado pela pres idente Di lma em 23 de maio último, o qual estabelece a "Politica Nacional de Participação Social " e o "Sistema Nacional de Participação Social" - está em vi as de tra nsform ar o Brasil em um país comunista, onde os verdadeiros interlocutores do governo serão os mal-chamados " Movimentos Soc iais". Exatamente como aco nteceu na Rúss ia, quando fo i criado um poder paralelo - o dos sovietes - que depois preva leceu sobre os demais poderes e implantou o regime comuni sta antinatural e anticristão que escravizou não somente aque la nação, mas diversas outras por mu itas décadas. Se alguém ainda ti ver alguma dú vida sobre o que pretende o governo peti sta com o referido Decreto 8.243, leia as declarações de Fre i Betto, publicadas em 14-7-2014 no
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CATOLIC I SMO
site da " Rede Brasil Atual" (R BA) sob o título "Para Frei Betto, Politica Nacional de Participação Social fo rtalece a democracia ". Subi inhamos algumas partes das declarações e chamamos a atenção para o fato de que os esquerdistas sempre fa lam arteiramente em "aprimorar a democracia " para evitarem de di zer "implantar o socialismo ou o comunismo". Eis a notíci a: "São Paulo - Para o assessor de movimentos sociais, Frei Betto, a Politica Nacional de Participação Social, decreto
diálogo, fórum interconselhos, audiência pública, consulta pública e ambiente virtual de participação social. "O decreto busca estimular as instâncias j á existentes de democracia participativa para que a formulação, implementação, monitoramento e avaliação das políticas públicas tenham participação popula1'. "'A única coisa que a gente lamenta é que esse fruto das manifestações seja colhido somente 11 anos depois de o PT chegar à presülência da República e às vésperas das eleições', prosseguiu Frei Betto. Segundo seu comentário, Lula tentou, com a criação tio Conselho da Presidência da República em 2003, órgão que contava com a participação tle representes ,le todos os segmentos da socieda,le para ,liálogo com o potler executivo, quebrar a 'ponte exclusiva ' entre o Palácio ,lo Planalto e o Congresso Nacional. '"Havia lá sindicalistas, representantes do MST, empresários, comerciantes, enfim. Mas com o tempo ele tornou-se um espaço no qual apenas o empresariado tinha voz'. O assessor de movimentos sociais enfatiza que a imp lementação do decreto deve melhorar o diálogo entre o governo e sociedade civil. "Frei Betto critica ainda que muitos deputados f ederais e senadores não consultem suas bases eleitorais e exerçam atividades públicas em.fimção de interesCDl03 C08ETCKHX COIIJIAIIIICTHlfECl(NX PECOY!nHK ECTb COWIAnNCTM4ECHOr fOCYlUJICTBO ses privados. 'A política tle participação PA&04NX N KPECt~RH: social intro,luz nas estruturas do Estado brasileiro um mecanismo ,Le consulta popular ', avalia. "
assinado pela presidenta Dilma Roussejfno dia 23 de maio, é um avanço democrático que deve forta lecer a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas. Em seu comentário hoje (14-7) à Rádio Brasil Atual, o escritor ressalta que o decreto vai de encontro às demandas apresentadas pela sociedade. "'Esse decreto obriga todos os órgãos e entitlades ,la administração pública f ederal, direta e indireta, de consulta pública antes de qualquer tlecisão de interesse da sociedatle civil', explica. O objeti vo da política é consolidar a participação social como método de governo e obrigar que todos os ministérios e agências reguladoras consultem a população. 'Tratl1-se de um passo importante para aprimorar a tlemocracia brasileira. ' "A PNPS - recém-ins tituída por meio do Decreto Presidencial nº 8.243 e que vem despertando forte resistência da oposição ao governo.federal no Congresso - tem o obj eti vo de .fortalecer e articular os mecanismos de diálogo entre a administração pública f ederal e a sociedade civil. Para isso, o decreto defi ne dez conceitos: sociedade civil, conselho de políticas públicas, comissão de políticas p úblicas, conferência nacional, ouvidoria pública .federal, mesa de Propagandas soviéticas da época de Lênin
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Parece-nos oportuno transcrever aqui o parágrafo final do incisivo e esc larecedor Comunicado di fu ndido pelo instituto Plinio Corrêa de Oliveim sobre este desagregador Decreto presidencial: "Caso não seja derrubado, o Decreto nº 8.243 terá operado uma transformação radical nas instituições do Estado de Direito, esvaziando o regime de democracia representativa, deixando o País r<qfém de minorias radicais de esquerda e de ativistas, abrindo as portas para a tão almejada fórmula do atrop elo e do arbítrio, típica dos regimes boli varianos". Assistiremos pass iva mente a essa obra de demolição premeditada? Ou, faze ndo uso dos me ios legais e pacíficos, tudo envida remos para impedir que a solércia de uns poucos substitua pela fo ice e o martelo a cruz protetora que o Criador estampou no Cruzeiro do Sul que brilha no alto do nosso firm amento? • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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CROACIA "Escudo da Cristandade" E sse título, concedido em 1519 pelo Papa Leão X à Croácia por sua defesa da Europa cristã, simboliza a vocação do país que tem a Virgem Marija Bistrica como Padroeira e, entre tantos filhos ilustres, o Cardeal Aloysius Stepinac (1898-1960), herói da luta anticomunista
ascido em 20 de setembro de 1950 em Selca, ilha de Brac, na Croácia, Drago Stambuk é médico, poeta, ensaísta e embaixador. Fez o curso superior na Faculdade de Medicina da Universidade de Zagreb (capital do país), especializando-se em medicina interna , gastroenterologia e hepatologia . A partir de 1983 trabalhou e viveu em Londres, onde se envolveu na investigação das doenças do fígado e da AIDS. Nessa fase inicial de conscientização sobre o HIV/AIDS , o Dr. Stambuk foi um dos primeiros pesquisadores profundamente engajados na tentativa de compreender a doença, agora amplamente conhecida e onipresente. Após a Croácia declarar sua independência em 1991 , o Dr. Stambuk se dedicou à diplomacia . No período sensível de 1991 a 1994, atuou como representante plenipotenciário da República da Croácia junto ao Reino Unido. Posteriormente, tornou-se seu embaixador na Índia e no Sri Lanka (1995-1998), no Egito (1998-2000), bem como em alguns países árabes. Em 2001-2002 associou-se à Universidade de Harvard . Foi ainda embaixador no Japão e na Coréia do Sul (2005-201 O), e desde 2011 é embaixador da Croácia para o Brasil, a Colômbia e a Venezuela .
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CATOLICISMO
D1: Siambuk: "Muitas batalhas croatas foram trava<las para proteger suas terras e sua lê, e 110 füwl elas prevaleceram depois de séculos de hemorragia e <lestmição"
O Dr. Stambukjá publicou mais de 40 livros de poesia, amplamente traduzidos , e é considerado um dos principais poetas croatas contemporâneos . O escritor norteamericano Raymond Carver qualificou-o de "um poeta de verdade". Seus livros em inglês incluem lncompatible Animais (Animais incompatíveis - 1995), Black Wave (Onda negra - 2009), And the Sea is no More (E o mar não é mais 2011 ). Ele tem contribuições para a revista inglesa "Ploughshares", bem como matérias publicadas em árabe, espanhol, francês, japonês e português. Seus poemas foram traduzidos para a língua de Camões e publicados na "Revista Brasileira", Fase VIII, Julho - Agosto - Setembro 2012, Ano 1, No. 72 . "Céu no Poço", seu livro em português, foi publicado pela Editora Universitária da PUCRS (2014). Ele recebeu muitos prêmios nacionais e internacionais de literatura, de arte e de paz. Esta entrevista ele a concedeu na Capital Federal ao jornalista Nelson Ramos Barretto, colaborador de Catolicismo , a quem recebeu cordialmente.
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Catolicismo - Nossos leitores ficaram encantados com a maravilhosa história de Marija Bistrica, Padroeira da Croácia.
um "kangaroo court", falsamente acusado de colaboração com o governo fasc ista naqueles momentos. Ele foi preso, alimentado com comida envenenada e seu corpo sofreu efeitos de radiação de forma organizada e clandestina. Ele morreu como um mártir. Seu corpo foi sepultado na Catedral de Zagreb. A única parte Dr. Stambuk -Antemurale que falta do seu corpo é o Christianitatis é o títu lo concoração, que foi queimado cedido em 1519 pelo Papa pelos inimigos comunistas. Leão X à Croácia por sua deQuando tomei conhecimenfesa da Europa cristã durante to desse fato horrível em as invasões dos turcos e suas 1995, escrevi um poema incursões em terras croatas chamado Coração Queida Bósnia e da Croácia. mado, o que sugere que A Croácia, embora "quebrada" em vários pedaços, o símbolo do amor nunca pode ser destruído. Mesmo nunca sucumbiu aos turcos, que suas partículas tenham e sua capital Zagreb nunca sido queimadas, elas irão se foi ocupada, ao contrário, espalhar em toda a Croácia por exemplo, de Budapeste .e tocar o coração de todos, que esteve sob ocupação inoculando o amor nas pesturca por mai s de 150 anos. soas. O amor de Stepinac Muitas batalhas croatas foera indestrutível, essa é a ram travadas para proteger minha mensagem. L ivros suas terras e sua fé, e no fina l elas prevaleceram depois em quantidade crescente de sécu los de hemorragia e vêm testemunhando sua humanidade exemplar e, ao destruição. mesmo tempo, aj udando as Catolicismo - Em 2014 pessoas de todas as crenças comemoram-se os 80 anos e religiões. Ele é a mais alta da sagração episcopal do e mais importante figura do Cardeal Aloysius Stepinac catolicismo croata. O atual grande Cardeal Aloysius Papa Francisco conhece bem a sua luta pela Stepinac, mártir do nazismo e do comunismo que dominaram a Croácia. Que verdade e humanidade cristã e anunciou sua "Steplnac é o canonização para o final deste ano. papel ele desempenhou na libertação da exemplo parn
Ela ensejou diversos pedidos para que fizéssemos outra matéria, desta feita sobre o catolicismo em seu país. O senhor poderia nos dizer algo a respeito de como ele foi no passado e como está na atualidade? E por que a Croácia é conhecida como "Escudo da Cristandade"?
Croácia?
Dr. Stambuk - Stepinac é o grande exemp lo e sinal luminoso para todo o povo croata, por sua conduta valente contra duas ideologias conflitantes e os sistemas totalitários do comunismo e do fascismo. Eram tempos terríveis para os croatas, que se reuniam em torno do seu amado Cardeal, e este dava orientações durante todo o tempo da II Guerra Mundial, e depois durante o regime comunista vitorioso. Porque Stepinac recusou a oferta de Tito para fundar separadamente a Igreja Católica croata, ele foi julgado em
todo o povo cl'Oata, por sua conduta contra duas ideologias conflitantes e os sistemas totalitál'Íos do comw1ismo e do fascismo "
Catolicismo - Com seus 1500 anos de história, a pequena e nobre nação croata tem muitos exemplos a dar ao Brasil, descoberto há apenas 500 anos. Como a Croácia conseguiu se libertar da ditadura comunista?
Dr. Stambuk - Depois que Tito - que também era um croata, porém de matiz comunista e ditatorial - morreu, e após a queda do muro de Berlim, "a cola" que mantinha a Iugoslávia multinacional caiu, o vácuo de poder apareceu. Esse poder foi ocupado
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Cidade de Rovlnl
pela liderança sérvia, que nunca se sentiu confortável com a igualdade declarada por Tito entre as nações iugoslavas, e começou a se estender a todo o país, transformando a Iugoslávia em Serboslávia. Seu plano era criar uma Grande Sérvia, que consistiria na maior parte do território iugoslavo. Isso significava que a Croácia, um país histórico e antigo, não deveria existir, nem mesmo seu nome. Claro que isso era absolutamente inaceitável para o povo croata, que através de uma eleição democrática formara um governo nacional, o qual iniciou uma defesa organizada contra a agressão sérvia e sua conquista interna seguida pela "limpeza étnica" de todos aqueles que não eram sérvios. No final, a autodeterminação croata e a resistência organizada prevaleceram. A Croácia provou ter excelentes soldados, como sempre em sua história. Mas a coisa mais importante a ser mencionada - os croatas nunca lutaram por território de outras nações, sempre combateram por sua autodefesa, e eram bons nisso. A História, a terrível História nos ensinou a sobreviver, e agora somos uma nação orgulhosa e independente, que recentemente se juntou União Europeia como seu 28° país. O amor croata por seu país é legendário, e pode-se entender, pois a Croácia é uma nação extre-
O amor croata por seu país é legendário, e pode-se entender, pois a Croácia é uma nação extremamente bela e rica
"Nossa l'é católica é lege11dál'ia pol' sua a<lesão a Roma e ao Papa em suas formas tradicionais. A pl'imeil'a 11ação eslava c1•istia11izada pol' sua pl'Ópl'ia 11011ta<le"
mamente bela e rica . Costumo brincar com o comentário de que, se é verdade o que o famoso escritor russo Dostoievski afirmou de que a beleza salvará o mundo, então o papel da Croácia em "salvar o mundo" deve ser primordial. Nossa fé católica também é legendária por sua adesão a Roma e ao Papa em suas formas tradicionais . Os croatas foram a primeira nação es lava que foi cristianizada por sua própria vontade no início da chegada dos croatas ao mar Adriático, no século VI. A Igreja Católica na Croácia foi a única permitida, e, em primeiro lugar, após algum tempo, a utili zar a sua língua croata nacional, o script glagolítico, em lugar do latim . Catolicismo - Na época da tirania comunista houve uma grande emigração de croatas para diversos países, entre os quais o Brasil, que se orgulha de ter acolhido numerosa colônia de seus compatriotas. Como são as relações da Croácia com os descendentes de croatas no Brasil?
Dr. Stambuk - Durante a época da existência da Iugoslávia, a relação era quase nula, porque tal relacionamento era ideologicamente proscrito e muito problemático, devido à interferência de autoridades iugoslavas e comunistas. Mas, desde que a Croácia tornouse soberana, ela depende muito de sua emigração, porque as pessoas que têm emigrado são famosas por seu amor ao país. O antigo serviço secreto iugoslavo, chamado UDBA, matou brutalmente muitos emigrados croatas em vários países do mundo no passado, centenas e centenas deles. E, graças a Deus, esses tempos acabaram . No momento, há um processo judicial em curso na Alemanha, através do qual as autoridades alemãs tentam estabelecer o caminho da morte de emigrados croatas em seu território e como eles foram conduzidos e condenados. A associação croata em São Paulo Croácia Sacra Paulistana - tem divulgado bastante sobre o apego croata à fé católica. O nome de sua casa Cardinal Stepinac expressa bem a ex istência do amor e estima desse nobre filho croata nos corações croatas. •
ATUALIDADE
Um "vazio tecnicolor"? n Lw DANIELE vazio, em certo sentido, é o pai e a mã.e do mundo moderno. Por isso Plinio Corrêa de Oliveira dizia que a cabeça de inúmeros de seus habitantes era "cheia
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de nada e vazia de tudo". As etapas precedentes pelas quais passamos , produziram alguns dos ingredientes do ambiente pós-moderno: o fe nômeno da despersona lização das últimas gerações, o rock, a droga, a libera lização gera l dos costumes, o anarquismo, o tribalismo, o hippismo, a teoria do gênero, etc. Esses ingredientes entraram, em confuso processo de fusão, numa espécie de caldeirão marcado por enorme to lerância, resultando daí um pirão geral, denominador comum de todas as disparidades . Foi assim que todas as variantes do espírito pós-moderno - melhor seria dizer hiper-moderno - chegaram ao quotidiano, nele se instalando sob a forma de vazio. Todas as correntes que formaram a caudal de tendências do sécu lo XX acabam desaguando na perda de sentido de hoje, nessa grande desistência de viver uma vida que seja digna desse nome, uma vida que faça a lgum sentido. Assim, um vazio tecnicolor se estabelece por toda parte, exceto nos locais onde se encontra uma versão mais avançada de vazio, que é o vazio preto e branco. Ou o famoso vazio cinzento. Esse vazio é preenchido com alguma coisa? Preenchido apenas, não; e le é saturado. Saturado .. . com mais vazio! Só que esse vazio, como diz o escritor Jair Ferreira dos Santos, pode ser um
vazio cintilante. Esse vazio cintilante compreende vários aspectos, notadamente a saturação informativa e a sedução da imoralidade onipresente.
levando sua vidinha, e recitando o seu credo: Creio num só deus, o dinheiro onipotente, criador da fartura e da tranquilidade etc. "3 Metem a cabeça dentro da televisão, dentro de uma vitrine ou dentro da tela do computador... E fogem, dessa maneira, da "cruel" realidade objetiva do século XXI. Em pleno Terceiro Milênio, o homem já está cansado do vazio, tecnicolor ou preto e branco, não v.-----k= 7 importa. Oxalá esse cansaço gere um amor apaixonado e cheio de resoluções práticas pela ordem, ou seja, "a civilização cristã, austera e
hierárquica, fimdamentalmente sacra/, anti-igualitária e anti-liberal ". 4 Sem dúvida alguma, nesse universo de qualidades está a verdadeira alternativa, a verdadeira solução para o caos contemporâneo.
"As sociedades pós-industriais vivem saturadas pela informação. Vai-se ao consumo pela informação publicitária, consome-se informação no design, na embalagem, devora-se informação dos mass media e na parafernália ofertada pela tecnociência (micro, vídeo, etc.). O sujeito se converte assim num terminal de il?formação ". "Eis por que a massa pós-moderna é atomizada (ultrafi·agmentada) [. ..] Ora, para motivar e controlar sujeitos atomizados, a autoridade e a policia são secundários. Basta bombardeá-los com mensagens que excitem seus desejos ". 1 O homem de hoje já foi pitorescamente comparado a "um bípede com a boca aberta'',2 e também - já que estamos neste gênero de comparações - apresenta afinidades com o avestruz que, segundo se diz, quando se aproxima algum perigo, enfia a cabeça dentro da areia para não vê- lo. Diz Plinio Corrêa de Oliveira: "O avestruz continuará
com a cabeça metida na areia [. . .]
"Esse universo de qualidades afirma o ser sobre o não ser, a ordem sobre a desordem, a categoria sobre o que não tem categoria. E, assim, embevecidos, podemos considerar uma série de categorias que vão se requintando umas às outras, subindo, galgando cada vez mais, até um ápice que é a categoria das . categorias, a pe1feição das perfeições, a classe das classes, a distinção das distinções. Forma de bem majestosa, grandiosa, régia;forma que eleva, mas ao mesmo tempo tão suave, tão amena, tão acolhedora, que é desejosa de conter tudo em seus braços ". 5 • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas:
1. Jair Ferreira dos Santos, O que é Pós-Moderno, Ed. Brasiliense, São Paulo, 1986, 7' ed. , p. 95 . 2. Entrevista de Laurent Suaudeau a Catolicismo, nº 528, dezembro/1 994. 3. Plinio Corrêa de Oliveira, "Folha de S. Paulo", 3 1 de janeiro de 1971. 4. Revolução e Contra- Re volução, 1, ll-1. 5. onferência de Plinio Corrêa de Oliveira, em 14- 12-1 968, para sóc ios e cooperadores da TFP (sem revisão do autor).
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Aprovada PEC contra a propriedade
Na confusão do noticiário, o Congresso Nacional promulgou no dia 5-6-14 a Emenda Constitucional conhecida como PEC do Traba lho Escravo, que na realidade "legaliza" a expropriação da propriedade rural ou urbana onde for identificada a prática do indefinido e genérico trabalho escravo. Apesar da grave advertência da Campanha Paz no Campo, o direito de propriedade foi relativizado na Constitu ição. A expropriação ficará ao sabor da lei ordinária e do governo de plantão. Infelizmente, essa malfadada PEC foi aprovada mediante estranho acordo entre o governo do PT e a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, que deu voto favorável. Agora que a expropriação virou norma constitucional, para alegria das esquerdas, a CNA propõe que haja uma definição clara e detalhada do conceito de trabalho escravo na lei ordinária (sic).
queda de 5,4% na comparação semestral, somando US$ 14 bilhões. Segundo a CNA, o desempenho da soja está associado à safra recorde do grão, de 86 milhões de toneladas, o que compensou a redução dos preços da oleaginosa, ocasionada pelo aumento da oferta mundial. "Terrabrás", uma encrenca federal
Estudo da Embrapa mostra que em 25 anos o governo federa lizou mais de um terço do território nacional, destinando-o a unidades de conservação, terras indígenas, com unidades quilombo las, assentamentos de reforma agrária, áreas militares, projetos de infraestrutura etc. Segundo Evaristo Eduardo de Miranda, doutor em ecologia e coordenador do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa, o País está diante de um desafio de gestão territorial , gerador de conflitos cada vez mais agudos. O debate da gestão territorial estratégica é incontornável. · Exclusão do ser humano
Soja em grão lidera exportações brasileiras no 1° semestre
Apesar de toda a perseguição do governo e das ONGs, a salvação da economia brasileira vem novamente da lavoura. Se não fosse o esforço da agropecuária, nossa balança comercial estaria no verme lho. A soja em grão distanciou-se ainda mais do minério de ferro na pauta das exportações e conso lidou-se como o principal item das vendas externas do País no primeiro semestre deste ano, segundo análi se da Confederação da Agricu lt11ra e Pecuária do Brasil (CNA). Os embarques da oleaginosa para o exterior, de janeiro a junho, totalizaram US$ 16,1 bilhões, uma alta de 17,7% em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas de carne bovina também são destaque, com alta de 12,1% em relação a 2013. Já as exportações de minério de ferro caíram pelo segundo mês consecutivo, uma CATOLICISMO
Até outubro de 2013, l 098 unidades de conservaçãc ocupavam 17% do Brasil. Enquanto aqui as unidades de conservação excluem na maioria dos casos a presença humana, nos parques nacionais da Europa, da Ásia e dos Estados Unidos pode haver agricultma, aldeias e diversas atividades, sem evocar a ampla visitação turística. Nas unidades de conservação, a legislação ambiental brasileira ainda define no seu entorno externo uma zona de amortecimento onde as atividades agrícolas (e outras) são limitadas por determinações da gestão da unidade de conservação (proibição de transgênicos, de pulverizar com aviação agrícola etc.). A largura dessa zona é variável. Estimativas avaliam o seu alcance entre 1Oa 80 milhões de hectares adicionais (1 a 9% do Brasil). Divisão racial
Pelos dados do INCRA e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, as 268 áreas quilombolas decretadas ocupam
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cerca de 2,6 milhões de hectares. No conjunto, mais de 290 milhões de hectares - 34% do território nacional - estão atribuídos por decretos. Sem considerar as áreas militares, com uma superficie total maior que a do estado de Sergipe. Com mais de 11 .000 áreas atribuídas, essencialmente pelo governo federal, o mapa do Brasil (abaixo) permite
visualizar a complexidade da presente situação. Ele ilustra espacialmente o "confisco" territorial e fundiário. O governo federal e as ONGs empreendem uma febre demarcatória com extensões de terra cada vez maiores que sairão do controle dos estados e dos municípios. Há estados cuja boa parte de seu território já foi "federalizada" por simples decretos.
Campeão do atraso
Segundo a FUNAI, 584 terras indígenas ocupam aproximadamente 14% do território nacional. Eliminando-se as sobreposições, as áreas protegidas ocupam 247 milhões de hectares ou 29% do País. Segundo a lnternational Union for Conservation ofNature (IUCN), os 11 países com mais de dois milhões de quilômetros quadrados existentes no mundo (China, EUA, Rússia etc.) dedicam 9% em média de seus territórios às áreas protegidas. Com quase 30%, o Brasil é o campeão mundial de preservação. A atribuição de terras pelo Governo Federal não acaba por aí. Sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) existem 9.128 assentamentos, de diversas naturezas e estágios de implantação. Eles ocupam 88,1 milhões de hectares, ou seja, 10,2% do Brasil ou 14,4% do que resta, se descontado o território já atribuído às áreas protegidas. Essa área é atualmente quase o dobro daquel a destin ada ao cultivo de grãos.
ÁREAS LEGALMENTE ATRIBUÍDAS
UCs + Tis + Assentamentos + Quilombolas Área de 290.378.932 ha descontadas as sobreposições 34% do Brasil
Legenda Tis (FUNAI, 2013), UCs (MMA, 2013), Quilombolas (INCRA. 2013 e SEPIR , 2013) e Assentamentos (INCRA,2013)
1.098 unidades de conservação 584 terras indígenas 9.128 assentamentos 268 quilombolas 11.078 áreas e 291.534.974 ha a gerenciar ou 34% do Brasil
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EPISÓDIOS HISTÓRICOS
O Grande Cerco de Malta li PAULO H ENRI QUE AMÉRICO DE ARAÚJO
ma pequena ilha no Mediterrâneo foi o cenário de mai s um embate entre a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e o Crescente islâmico. O destino da Europa cristã ficou reservado à bravura de poucos cava leiros que se mantiveram firmes para defender um único bastião contra uma quase incalcul áve l horda de inimi gos. E pior, esses cava leiros cri stãos sabia m que para eles mesmos não hav ia esperança. Veremos como se deu a brilhante defesa da ilha de Malta pelos valorosos cava leiros da Ordem de São João de Jerusalém.
U N uma época de crise na Europa, o hnpério Otomano Lentou dominar a ilha de Malta, a fim de que ela servisse de ponte para invadir o velho continente. Mas, após duro combate, a Cruz venceu o Crescente.
Histórico da Ordem até Malta O cerco de Malta em 1565 fo i o auge da longa hi stória da Ordem de Cava laria de São João. Ela havia surgido logo após a primeira Cruzada ( 1099) com o objetivo de dar abrigo aos peregrinos que chegavam a Jerusalém. O " hospita l" fundado na cidade não era destinado somente à cura de enferm idades, mas também ao refúgio dos peregrinos. Os "hospita lários", como passaram a ser chamados, constataram depois a necessidade de defender com armas os peregrinos nas perigosas estradas da Terra Santa . Nascia assim uma ordem militar religiosa, segu indo o exemp lo dos Templários. Essas duas ordens mili tares passaram a ser o corpo de elite dos exércitos cristãos do Reino de Jerusalém. Sua fama era grande. Seus componentes sempre eram destacados para ocupar as posições mais perigosas nas batalhas e afirmava-se que lutavam como se fossem um só homem, tal era sua disciplina . Com a dramática destruição do Reino de Jerusalém no final do sécul o XIII, os Cavaleiros do Hospital viram-se forçados a migrar para a ilha de Chipre e depois para a ilha de Rodes (sécs. X IV e XV). Neste período, adaptaram de maneira form idável seu modo de combate para as lides marítimas. Passaram a ser chamados de "escorpiões do mar", pois estavam em constante luta contra a poderosa frota turco-otomana no Mediterrâneo. Os muçulmanos infiéis viam na Ordem do Hospital seu maior inimigo. O su ltão twco não podia suportar a presença dos cavalei ros em Rodes, ilha situada ao sul da atua l Turquia. Em 1522, os hosp italários tivera m que se retirar da ilha, depois de se is meses de cerco - em que todo Império Turco se engajou - e diante dos apelos da população cristã que preferiu a trégua. Em 1530, o imperador Carlos V cedeu aos cava leiros a pequena ilha de Malta, loca lizada ao sul da península itáli ca e Sicília. Malta passou a ser a sede da ordem, bem como o posto avançado da Cristandade contra o poderio turco-otomano.
O Império Otomano e a Ew·o11a em crise
Vista das muralhas de Malta nos dias de hoje
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CATOLICISMO
No sécu lo XVI, os turcos conti nuavam sua expansão por todas as encostas do Mediterrâneo. Com uma formidáve l frota marítima, ameaçavam a Europa cri stã. O objetivo final do sultão era levar a religião de Maomé até Roma. Acrescenta-se a isso a confi.1são interna nos países cristãos, sobretudo por causa da revolução protestante, ini ciada pelo monge apóstata Martinho L utero em 151 7. O momento era propício para os inimi gos da Cruz. O su ltão So limão l[ desejava para logo a conq ui sta de mais territórios europeus, conta ndo com a superioridade nava l turca e as divisões existentes entre os príncipes cristãos. Mas, antes de tudo, impunha-se conqu istar a pequena ilh a-rocha de Malta, ponte que levaria os turcos à ltália. Malta era então sede dos poucos, mas impertérritos cava leiros de São João, sempre devotados na luta contra os turcos.
E m 1565, o sultão reuniu um exército de 40 mil homens e 180 nav ios de guerra . Sua missão: eliminar de uma vez por todas os cava leiros de M alta. Dois comandantes turcos fo ram designados para a empresa: Piali Paschá e Mustafá Pasc há, fa mosos por suas faça nhas. E m maio daque le ano, as avassa ladoras fo rças turcas chegaram a M alta e lançaram toda sua potênc ia contra a pequena ilha. Mas os cavaleiros da Cru z estavam preparados para detê- las.
Jean Parisot de La Valette
La Valette: /1ernico líder da r esistência A incrível res istência dos cava leiros em Ma lta não pode ser compreendida sem foca li zarmos aquele que fo i seu próprio artífi ce: Jean Parisot de La Valette. Com seus 70 anos, La Yalette ainda mantinha a fo rça e a determinação da juventude. Sob o manto da Ordem de São João, considerava como idea l de vida a defesa da civilização cristã e a luta contra o Império Turco. Já havia ex perimentado os horrores da escravidão aos turcos, mas fo ra libertado em uma troca de prisioneiros. Havia também partic ipado ativamente do cerco de Rodes. Era mestre em todas as táticas de guerra, nas lides do mar e nos armamentos da época. La Valette, eleito Grão- mestre da ordem em 1557, organi zou em Malta a construção de novos basti ões com poderosas mura lhas e canhões. A defesa da ilha fo i dividida em três fo rtes di spostos nas encostas da chamada Baía Grande lfotol. O fo rte Santo Ânge lo dominava a ponta da península de Birgu, através da qual se estendia a cidadela. Na base da outra península, Seng lea, erguia-se o Forte São Mi guel. Do outro lado da Baía Grande, vo ltado para o mar aberto, o solitá rio Forte Santo E lmo, possuindo forma semelhante a uma estrela, era o primeiro oponente a qua lquer invaso r. Os cavaleiros de Cri sto eram também exce lentes ati radores, numa época em que as armas de fogo, os arcabuzes, já começavam a dominar os campos de bata lha. Estima-se o número de defensores entre 600 a 700 cava leiros da Ordem, três a quatro mil so ldados de infa ntaria espanhóis, além de civi s malteses, vo luntári os dedicados, mas mal treinados. Com esse contingente, La Va lette iri a enfrentar o poderio turco, dez vezes maior. O Grão-mestre comunicou aos seus homens que have ri am de suporta r a in vestida principal do Impéri o Otomano e de empreender o combate da C ru z contra o Crescente, para a lcançar uma glória imorta l e o Céu. Todos receberam a santa comunhão e ju rara m consagrar suas vidas à nobre causa.*
Canhões Turcos
Epopeia <lo /'ol'te de Sallto Elmo Pia li dec idiu ancorar a fro ta turca ao norte das defesas cri stãs. l sso signifi cava que os otomanos teriam primeiro de conqui star o pequeno ba luarte de Sa nto Elmo. Aparentemente, o solitário fo rte era de menor importâ ncia estra tégica. Mas La Valette não ignorava seu papel. A fo rta leza deveri a res istir até o último homem. Quanto mais ela detivesse os invasores, mais tempo haveri a para o incremento das defesas das outras fo rtalezas. A lém disso, uma fo rça de resgate já hav ia sido prometida pelo vice-rei da Sicíli a. Santo Elmo tinha a missão de retardar ao máx imo o cerco para manter acesa a esperança da vitóri a. Os canhões t11rcos fora m postos em terra e apontados para Santo Elmo. A 25 de maio, ini ciou-se o bombardeio. À medida que os enormes proj éteis ating iam as muralhas,
Defesas da ilha de Malta
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elas iam se esboroando e levantando nuvens de poeira. Um cronista contemporâneo descreveu Santo Elmo como "um vulcão em erupção, cuspindo.fogo e.fumaça ". Os canhões só silenciaram após alguns dias. Então, os turcos se atiraram impetuosamente contra Santo Elmo. A pequena guarnição de uma centena de cavaleiros e outros 400 soldados não parecia em condições de resistir à avalanche de guerreiros do Islã que saltavam sobre as brechas e muralhas. A batalha durou da madrugada até o meio-dia. Mustafá enviava ondas de atacantes, uma após outra, contra as muralhas incendiadas de Santo Elmo. Os infiéis eram alvejados em grande quantidade pelos tiros certeiros dos cristãos e pela chuva de fogo-grego, pedras e artefatos. No fim do dia, 2.500 soldados turcos jaziam mortos e o forte ainda resistia, em meio a um mar de chamas e fumaça. Os ataques continuaram ainda por semanas. O que parecia impossível acontecia: o minúsculo Santo Elmo suportava o peso de todo o poder turco . Exemplo admirável do heroísmo católico, poucas vezes igualado na História. Nos fins de junho, Santo Elmo estava em frangalhos e os defensores, no limite da resistência. La Valette continuamente mandava reforços a partir de Santo Ângelo, do outro lado da baía. Uma carta foi enviada de Santo Elmo a La Valette implorando que os últimos defensores pudessem recuar para Santo Ângelo: seria inútil permanecer lá, esperando a morte certa! La Valette respondeu que se não havia mais cavaleiros valentes para defender o forte, eles poderiam se retirar. O grão-mestre enviaria homens a quem pudesse confiar Santo Elmo. Os defensores, envergonhados com a proposta, decidiram permanecer e morrer em defesa do forte. Os turcos montaram baterias para impedir os socorros vindos de Santo Ângelo. Ninguém mais podia atravessar a baía e ajudar Santo Elmo. O pequeno forte estava só, mas o moral dos defensores era alto. A 23 de junho, os turcos atacaram mais uma vez. Os poucos cavaleiros moribundos ainda resistiram por quatro horas. Mas o fim havia chegado para o heroico Santo Elmo. A bandeira do Crescente turco foi erguida nos restos das muralhas. Santo Elmo caiu. Contudo, o preço foi muito alto para os invasores. O cerco, que deveria ter durado apenas uma semana, se estendeu por um mês. Oito mil soldados turcos pereceram. E mais do que tudo, as tropas e os próprios chefes muçulmanos estavam desanimados . Mustafá, olhando para figura imponente e ameaçadora do forte Santo Ângelo, situado no outro lado da baía, não pode conter essa exclamação: "Quanto nos custará o pai, sendo que pagamos tão caro p elo filho ? ". Veremos, num próximo artigo, o desfecho da incrível defesa de Malta pelos cavaleiros de São João. • E-mail para o autor: calolicismo@ tcrra.com.br
Notas e referências (*) WEI SS, Juan Baptista. Historia Universa l, Editora Tipografia La Educación. Tradução da 5" edição alemã, Barce lona, 1927, Volume IX , p. 493.
Outras obras consultadas: - OHEN , R. Knights of Malta , 1523-1 798, E- Book, 2004. - BALBI , Fran cisco. The Siege of Malta- 1565, The Boyde ll Press, Woodbridge (EUA ), 2005.
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CATOLICISMO
Os cavaleiros de Malta de·fendem valorosamente as muralhas de Santo Elmo
Compatibilidade entre o ideal militar e o ideal cristão CarLa do Papa BcnLo XJV de louvor à Ordem de Malta, por sua heroica defesa ela Cristandade ameaçada pelas forças 1nuçuln1anas
Papa Bento XIV
"A Ordem Hierosolimitana tem um lugar de escol entre as Ordens mi litares que, com satisfação Nossa, sustentam a Religião Católica e a defendem corajosamente contra seus inimigos. Para glória de Cristo, esta Ordem move o mais duro combate contra os muçulmanos, os piores entre os celerados. Com todas as suas forças , ela protege sem descanso as fronteiras da Cristandade contra as incursões deles. Para nela ser admitido como soldado, é preciso fazer prova de nobreza; mas também, a fim de poder combater mais facilmente e ser mais livre e mais apto para os trabalhos que se preveem, é necessário renunciar às facilidades da vida doméstica e fazer voto de castidade. Eis por que Nós, elevado pela graça de Deus à Sé suprema de São Pedro, desejando dar um testemunho da benevolência pontificia a esta Ordem ilustre, que tanto mereceu já da Igreja e da Santa Sé, decidimos conceder-lhe importantes privi légios e socorrê-la em suas necessidades atuais". • (Da Carta Quoniam Inter de Bento XIV, de 17 de dezembro de 1743, dirigida à Ordem Mi litar Hospitalar de São João de Jerusalém, conhecida também como Ordem de Malta).
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São Bonifácio, chamado por Pepino, o Breve, para reformar a Igreja na Gália, escolheu Abel para Bispo de Reims. Impedido de tomar posse dessa diocese, ele se refugiou na Bélgica, onde morreu entregue à oração e à penitência por seus diocesanos.
tudo quanto havia ganhado na semana precedente " ( do Martirológio).
11 Santa Clara, Virgem + Assis, 1253. Digna êmula de
6 Santo Afonso Maria de Ligório
Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo
(Vide p. 44) Primeira Sexta-feira do mês.
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São Sisto II, Papa , e Companheiros, Mártires + 258. O perverso imperador
São Pedro ,Julião Eymm·d, Confessor + França , 1868. Fundador do Instituto do Santíssimo Sacramento para a adoração perpétua, seus últimos anos foram cheios de sofrimentos. Di z ia a Nosso Senhor: "Eis-me aqui,
Senha,; no Jardim das Oliveiras; humilhai-me, despojai-me; dai-me a cruz, contanto que me deis também o vosso amor e a vossa graça ". Primeiro Sábado do mês.
3 São Pedro de Anagni, Bispo e Confessor + Anagni , 1105. De família nobre, tendo entrndo ainda jovem num mosteiro daquela cidade italiana, foi nomeado seu bispo pelo Papa lá exilado. O Pontífice enviou-o posteriormente a Constantinopla, como embaixador junto ao imperador bizantino.
4 São ,João Maria Vianney, o Cura d'AL's, Confessor~ Patmno dos Pámcos + Ars, 1859. Sua fama de pregador e confessor atraía pessoas de todas as partes da França. São Pio X o erigiu em patrono de todos os párocos e pastores de almas.
Valeriano estabelecera a pena de morte no império romano
- "sem julgamento, só com verificação da identidade" contra bispos, padres e diáconos cristãos. Sisto ll foi executado na Via Ápia, no mesmo lugar onde celebrava clandestinamente os Santos Mistérios . Com o Pontífice foram martirizados seis diáconos que o assistiam.
8 São Domingos ele Gusmão, Confessor· + Bolonha, 1221. Oriundo de nobre família, ele foi cônego de Osma, na Espanha. Ao se dirigir em peregrinação a Roma, viu o dano que a heresia albigense fazia no sul da França. Então permaneceu ali para pregar e defender a verdade, fundando a Ordem dos Pregadores. Para vencer os albigenses, Nossa Senhora lhe revelou o modo de rezar o Rosário.
9 Santos Juliano, Mariano e Companlleiros, Mártires + Constantinopla, séc. VIU. Esses IO eclesiásticos, por terem defendido o culto das imagens, sofreram "inúmeros tormentos
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+ Lobbes (Bélg ica), séc. VUI.
12 Santo Euplúsio, Mártir + Catânia, séc. IV. Este intrépido cristão, movido por uma graça particular, apresentou-se à entrada do tribunal da cidade e desafiou: "Desejo morrer, porque sou cristão ". Depois de diversas torturas, foi decapitado.
13 Santa Radegunda Rainha, Viúva
+ Poitiers , 587. Esposa de Clotário [, rei dos francos, por sua virtude exerceu grande influência na corte. Retirou-se depois para um mosteiro que fundou em Poitiers.
14 Santa Anastácia, Abadessa + Egina (Grécia), séc. IX. Por duas vezes teve de se casar contra sua vontade. Mas o segundo marido, com o qual se dedicava às boas obras, resolveu fazer-se monge. Ela então fundou um mosteiro no deserto de Tímia, que governou até a morte .
15 ASSUNÇÃO DE NO,SSA SENHORA AOS GEUS
e foram mortos pela espada" (do Martirológio).
Dedicação da Basílica de Sanla Maria Maior Sanlo Abel ele Reims, Bispo e Confessor
seu conterrâneo e contemporâneo São Francisco de Assis, fundou a ordem segunda dos franciscanos , conhecida pelo seu nome - as Clarissas - , dedicada à contemplação e ao cultivo da mais estrita pobreza.
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São Roque, Conl'eSSOI'
São Deodt!tO, Confessor
+ Montpellier, séc. XIV Tendo perdido os pais aos 20 anos, pattiu em peregrinação a Roma, passando pelos lugares empes-
+ Roma, séc. Yl. Era sapateiro. "Segundo São Gregório Magno, ele distribuía no sábado
tados para tratar dos enfermos. Voltando à sua c idade nata l, foi tido como revoltoso e levado à prisão, onde morreu na miséria ao cabo de cinco anos.
17 São Jacinto, Confessor + Polônia, 1257. "Depois de ter estudado em Cracóvia, tomou o hábito dos frades pregadores em Roma, das mãos do próprio São Domingos. Fundou a província dominicana da Polônia e estendeu s eu apostolado para a Rússia e Prússia " (do Martirológio).
18 Santo Agapito, Mártir + Palestina, séc. III. Com apenas 15 anos, mas j á cheio de amor de Deus, foi duramente flagelado com nervos de boi , e depois entregue aos leões, que não o tocaram . F inalmente teve a cabeça decepada .
19 São João Eudes, Confessor + França , 1680. Dele disse São Pio X: "Ardendo de amor extraordi nár io aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, fo i o primeiro a pensar, e não sem inspiração divina, em tributar-lhes um culto litúrgico". Fundou o Instituto de Jesus e Maria (Budistas) e as F ilhas de Nossa Senhora da Caridade.
20 São Bemm·do, Abade e Doutor da Igreja + França, 11 53 . O monge mais ilustre de seu século, fundou a Ordem Cisterciense, foi conselheiro de Papas e de príncipes, pregou a Segunda Cruzada e combateu os hereges . Devotíssimo de Nossa Sen hora , é chamado Doutor Melífluo e considerado o último dos Padres da Igreja latina.
21 São Pio X, Papa e Conressor' (Vide p. 26)
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NOSSA SENHORA RAINHA
Solenidade de Nossa Senhol'a dos Pmzeres
Antigamente esta festa comemorava-se em 31 de maio. No dia 22 de agosto ce lebrava-se a festa do Imaculado Coração de Maria.
23 Santa Rosa de Lima, Virgem, principal Padroeira da América Latina
Um de seus santuários mais famosos no Brasi l é o dos Montes Guararapes, onde se travou a batalha decisiva dos brasileiros contra os hereges ca lvini stas.
28 Santo Agosti nho, Bispo, Confessor e Doutor· da Igreja
+ 1617. Aos cinco anos fez voto de virgindade, vivendo entre extraord inárias penitências e mortificações , perseguições diabólicas e comun icações divinas. Tinha freqüente colóquios com seu anjo da guarda e com a Mãe de Deus. Foi a primeira santa elevada à honra dos altares no Novo Continente.
+ Hipona , 430. De le disse Leão XIII: "É um gênio vigoroso que, dominando todas as ciências humanas e divinas, combateu todos os erros de seu tempo ". Morreu quando os vânda los punham cerco à sua sede episcopal , a cidade de Hipona, ao norte da África.
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São Ba rtolomeu, Apóstolo
Martíri o de São João Batista São Seba Rei, Confessor
+ Séc. l. Segundo autores antigos, seu verdadeiro nome seria Natanae l, de quem Jesus disse: "Eis um verdadeiro israelita, no qual não há dolo ". Levou o Evangelho a vários países, inclusive Pérsia, Índia, Arábia e Armênia, onde teria sido esfolado vivo.
+ Essex (Inglaterra), 700. Rei de Essex, de le diz São Beda, o Venerável: "Era homem muito dado a Deus. Preferia uma vida isolada de caráter monástico a todas as riquezas e honras do reino ".
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São Fiacre, Confessor
São Luís IX, Rei de l"rança , Confessor
+ França, 670 . Filho de um rei da Escóc ia, instalou-se na França, onde construiu um mosteiro. Monge desbravador, foi muito venerado pelos jardineiros e horticultores, tornando-se muito popular na França.
+ África, 1270. Árbitro entre reis da E uropa, e depois mesmo entre infiéis quando empreendeu a VJI Cruzada, foi pai de seu povo, juiz para os ímpios e defensor da fé contra os muçulmanos. Morreu vitimado pela peste na costa da África.
26 Santa Teresa de Jesus :1ornet-e-lba rs, Virgem + Líria (Espa nha), 1897. "Nascida na Catalunha, de uma familia de agricultores, consagrou-se inicialmente ao ensino; depois .fimdou o instituto das irmãzinhas dos idosos Abandonados" (do Martirológio Romano - Monástico), que logo se espraiou por toda a Espanha e também para o exterior.
31 São Paulino de Tt·éveris, Bispo e Confessor + Tréveris, 358. Defensor da fé no Concílio de Nicéia e grande partidário de Santo Atanásio, foi por isso exi lado pelo imperado r aria no Constâncio para a Ásia Menor, onde morreu entre não cató licos, vítima de sofrimentos e fad igas.
Nota: Santos já apresentados em calendários anteri ores são apenas men cionados, sem nota biográfica.
Intenções para a San ta Missa em agosto Será celebrada pelo Revmo . Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Em honra da festividade ce lebrada pela Santa Igreja no dia 15 de agosto : a gloriosa Assunção de Nossa Senhora aos Céus em corpo e alma. Nesse dia , em que se comemora uma das mais antigas festas marianas, ped iremos à Santíssima Virgem que abençoe maternalmente os lares e as famílias de todos os nossos co laboradores, assinantes e leitores. Pediremos também que Ela conceda espec ia l proteção ao povo ucraniano, para que ele não se deixe sub jugar pela investida neossoviética.
Intenções para a Santa Missa em setembro • Rogando aos três Arcan jos - São Miguel, São Gabriel e São Ra fae l - , ce lebrados no dia 29 de setembro, que prote jam a Igreja e o Brasil nos presentes dias. Na Missa do mês, será também pedida uma particular pro te ção angélica paro os co laboradores, as sinantes e leitores de
Ca tolicismo .
AGO
CAPA
Parte I
Centenário de falecimento do Papa São Pio X Ü glorioso Pontífice da Sagrada Eucaristia, do Catecismo, do Direito canônico e do Canto gregoriano, que combateu destemidamente a heresia modernista Por ocasião dos 100 anos do falecimento de São Pio X, Catolicismo dedica ao imortal Pontífice a matéria principal desta edição, reproduzindo a seu respeito textos da lavra de Plínio Corrêa de Oliveira, inspirador e durante várias décadas principal colaborador de nossa revista. Prestamos assim um preito de gratidão ao Sumo Pontífice que agiu em tudo conforme seu admirável lema Restaurar todas as coisas em Cristo, e cujo centenário deveria ser recordado pelos católicos do mundo inteiro. Falecido em 20 de agosto de 1914, o 259° sucessor de São Pedro foi solenemente elevado à glória dos altares pelo Papa Pio XII em 1954. São Pio X exerceu seu pontificado de 1903 a 1914 - até o ano, portanto, da Primeira Guerra Mundial - , numa época fortemente contagiada pelo liberalismo anticlerical e, por isso mesmo, de muitos combates desse Vigário de Cristo contra os inimigos externos e internos da Igreja. Dentre estes últimos destaca-se o movimento modernista , precursor do progressismo católico de nossos dias, que visava adaptar a Igreja ao espírito e aos erros do mundo moderno, infectar com tais desvios os ambientes sagrados , e levar os católicos a acomodarem-se a esses erros. Mesmo em meio a tão árduas lutas, São Pio X fortaleceu extraordinariamente a Santa Igreja e incrementou de modo vigoroso a piedade católica . Quando assistimos perplexos às calamidades de nossa época , tão semelhantes às enfrentadas pelo insigne Pontífice, voltemos para ele os nossos olhares, pois além de ser especial intercessor junto a Deus, constitui para nós o melhor exemplo e incentivo para resistir sempre no bom combate dos presentes dias. É o que passaremos a expor por meio dos textos que a seguir transcrevemos. A Direção de Catolicismo
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CATOLIC ISMO
Significação essencial de um grande pontificado PUNJO C ORRÊA DE ÜLIVE IRA
Catolicismo, nº 47 -
novembro de 1954
A vida de São Pio X foi mna preparação providencial para assumir a Cátedra de São Pedro. Vigário de Riese, cônego em Treviso, bispo de Mântua, Patriarca de Veneza, na ILália, conheceu ele o ministério das almas nos seus vários níveis e aspectos. Assim, adquiriu uma visão de conjunto sumamente adequada para quem exerceria a direção suprema de todos os Pastores e de Lodos os rebanhos.
e há muito se faz sentir no público bras ileiro a necessidade de urna apresentação da figura de São Pio X em todos os seus aspectos, e numa perspectiva de conjunto que ponha em evidência a mútua conexão, a devida hi erarquia de natureza e fin s, e a harmoni osa unidade que entre esses aspectos ex iste. Até certo ponto, na retina mental do povo, há "vários" Pio X. Alguns vêm nele tão somente o taumaturgo com as cãs nirnbadas por urna auréola de santidade, a di stri buir bênçãos milagrosas nas nobres galerias do Vaticano. Outros, ancião cheio de doçura, absorto inteiramente no aprimoramento da instrução catequética e da piedade eucarística das crianças. Os artistas consideram nele exclusivamente o restaurador da música sacra. Certas pessoas piedosas tanto se impressionam com sua vida interi or que o imaginam como uma alma unicamente contemplativa, tanto mais que, fora da Itália, seu apostolado pessoal intenso perdeu-se algum tanto
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na memóri a das massas. As pessoas mais particularmente chamadas para a luta tendem por vezes a não considerar em Pio X senão o Anj o de espada de fogo, que infligiu ao modernismo a maior derrota que este até hoje sofreu, e opôs um dique vitori oso à arremetida anti cleri cal na França. Ora, a maior glóri a de São Pio X não está em ter sido o Anjo da Guarda da humanidade de seu tempo ou o taumaturgo adm irável do Vaticano, ou o Papa da Euca ri stia, etc., mas em ter sido tudo isto a um tempo, de modo eminente,
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reali zando em sua pessoa e em sua obra um a variedade de as pectos desconcertante por sua riqueza e cont11do sumamente harmoniosa. A consideração detida deste ponto dá-nos o conhecimento exato de quem fo i Pio X , e abre vi stas para uma noção equilibrada e altamente proveitosa do que seja a sa ntidade, e a própria mi ssão da lgreja.
As grn11<les linhas biográficas
de aldeia a Pontífice Romano, e passando por fun ções delicadas, não só como a de chance ler de bi spado, mas ainda como a de diretor espirit11al de seminário, delicada dentre as mais delicadas. É, como se vê, uma incomparável preparação para o Papado.
O sentido pl'Oflmdo de uma vida
O futuro Pio X nasceu em de junho Confro ntando-se na obra do Padre Dai de 1835, de pais muito pobres, João Gal, as atividades do santo em cada Bati sta Sarto e Margarida Sanson, uma destas etapas, nota-se que são substancialmente as mesmas da num lugarejo insignifi ca nte denominado Riese, antiga Maretapa anterior, transpostas apenas para campo ma is vasto. ca de Trevi so (Itá lia). No Dir-se- ia uma mesma medi a imediato, fo i bati zado lodia executada com força co m o nom e de Jo sé . e harmonia crescentes, até C ri smado aos IO anos, cobrir com seus acordes fo i admitido à Sagrada toda a superfície da TerComunhão aos 12. Em 1850, entrou no semira . As notas desta me lodia espiritual - isto é, nário de Pádua, onde fo i recebendo sucesos mais altos conce itos sobre a Igreja, a ação da sivamente as Ordens Prov idência no governo menores e maiores até das almas e na direção 1858, ano em que redos acontecimentos tercebeu o Presbi terato. renos, a santidade sacerNomeado logo depoi s dotal, a difusão do bem e ca pe lão de Tombolo a repressão do mal como e e m l 867 pá roco de aspectos do grande prélio Sa lzano, fo i pro movido da Igreja militante - em a cô nego de Trevi so em essência não são muitas. Seu 187 5 , ac umul a ndo es tas va lo r ve m da in co mpa ráve l fün ções com as de chanceler beleza de cada uma, da harmonia da diocese e diretor espiritual do que reina entre todas. A verdadeira seminário. Em 1884, aos 49 anos música não se faz com muitos sons de po is, fo i eleito bi spo de Mântua, e mero efe ito, mas com o desenvo lvimento nessa sede recebeu em 1893 o cardinalato Bispo de Mântua, 1885 de melodias simples, harmônicas, belas. como prêmio de seus altos méritos. No mesmo ano, viu-se elevado a Patriarca de Veneza. Em 1903, Poderíamos talvez enunciar assim as linhas mestras que nos fo i dado notar na obra fec unda do grande Papa: o Conclave reunido para a escolha do sucessor de Leão XIII - Por sua própria razão de ser, o sacerdote ou o bi spo, o elegeu para o Sumo Pontificado. José Sarto tomou então quer na sua vida pessoa l, quer no exercíci o do seu miniso nome de Pio X. Tinha 68 anos e governou a lgreja até tério, deve estar intimamente unido a Nosso Senhor Jesus sua morte, ocorrida aos 79 anos, em 20 de agosto de 19 14. Cri sto e ocupado em Lhe fazer a vontade irrestritamente, Como se vê, foi urna carreira brilhante, que levou José incondicionalmente, sem pusilanimidade nem meios termos. Sarto, por todos os degraus intermediários, da pobre v ivenda Portanto, oração, meditação, mortificação, antes de tudo. de Ri ese aos esplendores do Vaticano . Mutatis mutandis, o mesmo se deve dizer dos re li giosos, e Esta carreira lhe deu ocasião de exercer o múnu s sacerdos apóstolos que nas fil eiras do laicato auxiliam a Sagrada dotal nas mais variadas sill1ações, vendo os problemas de Hierarqui a. De onde deve merecer luga r primordi al tudo apostolado em todas as perspectivas, tomando contato com quanto se refere ao afervora mento da piedade, quer entre eles em todos os níveis da cura de a lmas, desde coadjutor
CATOLICISMO
os fiéis, quer entre rei igiosos e sacerdotes. - A Sagrada Eucaristia e Nossa Senhora sendo respectivamente fonte e canal das graças necessárias para tal , é da mais alta importância incentivar e desenvolver a devoção que Lhes têm os fiéis. O culto público da lgreja, celebrado com gravidade e decoro é meio indispensável e muito eficaz para a santificação das almas. Convém pois interessar nele os fiéis, para o que é muito importante o incentivo da boa música sacra, e a eliminação das músicas profanas, teatrais, indecorosas, que infelizmente haviam invadido o santuário. - A formação piedosa não pode deixar de se basear sobre uma instrução religiosa séria, embora proporcionada ao grau de cultura de cada fiel. Todas as formas de alta instrução religiosa - estudos de filosofia escolástica, investigações históricas e bíblicas profundas, etc. - são de se aplaudir e desenvolver. Mas devem pressupor o conhecimento exato do catecismo, sem o que todo o edifício cultural católico carece de base. Ademais, sem o conhecimento do catecismo, todo o apostolado e toda a apologética são vãos. Como propagar uma verdade que não se conhece? E como atacar o erro, quando se ignora a verdade? De onde ampla, amplíssima
divulgação catequética para crianças e também para adultos. - Com a piedade, a instrução religiosa e a mortificação reinando em seus muros, com membros inteiramente dóceis ao Papa - docilidade que é a pedra de toque de toda formação verdadeira - as falanges católicas, trilhando sempre as vias da perfeição que são as vias da Providência, podem contar com o apoio de Deus. E por isto devem atirar-se animosamente - cada qual segundo sua vocação - às fainas do apostolado. Por entre borrascas, abismos e aparentes desastres talvez, Deus as conduzirá à vitória. - Este apostolado há de ser inteligente e heroico. Inteligente, há de suporem seus planos um conhecimento minucioso da época e do lugar em que atua, um emprego refletido e ági I dos métodos de ação adequados às circunstâncias, grande envergadura e até certo arrojo no formar os desígnios, muita prudência nos meios, penetração religiosa profunda em todos os setores e classes da sociedade. Heroica, há de acarretar a renúncia a todas as vantagens pessoais, e implicará no destemor em face de todas as inimizades e de todos os riscos. - A esmola é um dos graves deveres dos católicos. - O zelo do apóstolo não pode estar alheio à esfera da política, para proteger os direitos da Igreja. Assim, sempre que haja questões de ordem religiosa ou moral a tratar na política, os católicos ali devem estar, unidos e disciplinados. - Para que a atividade da Igreja seja livre de tropeços interiores, cumpre que suas leis, sabiamente proporcionadas às necessidades dos tempos, sejam conhecidas, amadas e obedecidas por todos. - A ação pessoal do apóstolo sobre as pessoas com quem tem contato é do maior proveito. Em São Pio X sua eficácia atingiu frequentemente as raias do milagroso. Tal eficácia, aliás, não resulta de se velar a verdadeira doutrina, nem das concessões impossíveis, mas da atração da verdade, do bem e da graça. - O combate ao erro e ao mal não compendia em si
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toda a atividade da Igreja, como a clínica e a cirurgia não são os únicos cuidados que devemos a nosso corpo. Melhor é evitar as doenças por uma vida metódica e sã. Mas quando a doença apesar de tudo se manifesta, cumpre enfrentá-la por todos os modos. Assim, melhor é prevenir o aparecimento do erro e do mal, pregando a verdade, aproximando as almas dos sacramentos, Jazendo-as amar a virtude e a mortificação, do que reprimir os desatinos em que por nosso triste descuido possam cair. Mas se o erro e o mal se mostrarem persistentes é preciso agir contra eles. São Pio X deu todos os exemplos da admirável bondade e da energia com que neste combate se deve lutar. É interessante analisar a continuidade da obra grandiosa de São Pio X em cada cargo que ocupou, à luz destes princípios em que se enfeixam - pelo menos de modo geral - os seus meios para a realização de seu lema admirável: Instaurare omnia in Christo (Restaurar todas as coisas em Cristo).
Importância que São Pio X deu ao catecismo Este ponto merece no Brasil relevo especial, pois precisamos de catecismo em todos os graus. Muito tem sido feito, mas muito ainda há que fazer para o desenvolv!mento catequético primário. Não menos importante talvez é o desenvolvimento do ensino da Religião no curso secundário. Mas isto não basta. Precisamos trabalhar por que se dissipe o triste preconceíto de que o catecismo é apenas para crianças. Nenhum católico de nível cultural universitário pode sentirse em dia com sua consciência, se não tiver uma formação catequética correspondente. José Sarto foi o aluno mais vivo e esforçado do curso de catecismo que seguiu em sua Paróquia natal. Com a vivacidade que conservou até os últimos dias, seguia as explicações do pároco, ao qual dava respostas por vezes surpreendentes. "Darei uma maçã a quem me diga onde está Deus", disse certa vez o zeloso sacerdote. E o pequeno José lhe respondeu ato contínuo: "Pois eu lhe darei duas maçãs se me disser onde Deus não está". Nasceu nos bancos do catecismo seu ardente interesse pela doutrina sagrada, elemento essencial de toda vocação sacerdotal séria. Concluídos seus estudos de seminário, seu espírito estava definitivamente aberto para a impottância do ensino da Religião. Assim, como pároco de Salzano, lecionava pessoalmente o catecismo ao povo, convidando para ele os paroquianos, e explicando-lhes todos os males que decorrem da ignorância religiosa. "Conjuro-vos a que venhais ao catecismo", dizia. E acrescentava: "antes.faltar às Vésperas, do que faltar ao catecismo". Seu ensino era sério, fundo, meticuloso, mas muito interessante. Explicava a doutrina "com muita vitalidade e
CATOLICISMO
grande calor". Inaugurou o método de dialogar o catecismo com um jovem sacerdote da Paróquia vizinha, o que atraia para suas aulas pessoas de toda a redondeza. Como Cônego em Treviso, sobrecarregado de afazeres na chancelaria da cúria diocesana, e responsável pela direção espiritual de mais de 200 seminaristas, ainda achava meio de ensinar catecismo aos alunos do colégio episcopal. À testa da diocese de Mântua, uma de suas maiores preocupações foi o ensino do catecismo. Era tema frequente de suas exortações ao clero ou aos fiéis. Estendeu-se particularmente sobre o modo e ocasião de ministrar a doutrina católica em sua Pastoral de 1885, ordenando que em todas as Paróquias se instituísse a Escola da Doutrina Cristã, mandando outrossim que o pároco ensinasse o catecismo ao povo nos domingos e dias de preceito, e diariamente para as crianças na quaresma e advento. E, acompanhando estas judiciosas medidas de ação positiva com algumas
O Pontífice no pavilhão de Pio IV
vido e emocionado, chorará seus erros e se aproximará dos sacramentos divinos ".
Reorganizou ele imediatamente as escolas de catecismo paroquiais, ordenou aos párocos uma explicação mais assídua e sistemática da doutrina católica, promoveu com todas as suas forças a formação de melhores catequistas, e introduziu o ensino da Religião nas escolas municipais. Como em Mântua, aparecia ora numa igreja ora noutra, para observar como se ministravam as lições. Como Papa, São Pio X deu ao orbe católico um exemplo magnífico, ensinando durante oito anos, pessoalmente, o catecismo ao povo romano no pátio de São Dâmaso, onde até hoje se assinala o ponto em que falava. Pode-se imaginar quão eficiente foi o incentivo deste exemplo, para dar impulso aos esforços catequéticos no mundo inteiro. Mas São Pio X não se contentou com isto. Na Encíclica Acerbo Nimis, de 15 de abril de 1905, mostrou em palavras pungentes o estado de ignorância religiosa em que se encontravam tantos fiéis: "É dificil descrever quanto são densas as trevas que envolveram inúmeros homens que se supõem cristãos e nesta crença vivem tranquilos. Neles não há o menor pensamento para Deus. Os mistérios da Encarnação do Verbo de Deus e da Redenção do gênero humano realizada por Jesus Cristo são coisas desconhecidas para eles. Nada sabem sobre o Sacrijicio da Missa, nem os sacramentos p elos quais se adquire e conserva a graça de Deus, e não avaliam quanta ma/feia existe no pecado mortal. Por isto não se esforçam por evitá-lo nem deplorá-lo, e só se inteiram de algo quando estão chegando ao fim de sua vida ".
severas penas, segundo seu sábio costume, proibia que os confessores dessem absolvição às pessoas que impedissem seus filhos , ou criados, de comparecer às aulas de instrução ·religiosa sem justa causa. A fim de estimular os párocos neste apostolado, comparecia ora nesta, ora naquela Paróqui a, inesperadamente, certificando-se sobre se a aula estava sendo dada, e assistindo-a para se inteirar da capacidade do sacerdote. Não haviam transcorrido dois meses de sua trasladação para Veneza, e já o novo Patriarca dirigia a seus diocesanos uma Pastoral em que falava larga mente do catecismo e exclamava: "Acontece com.frequência que pessoas instruídas nas ciências profanas ignoram totalmente ou conhecem mal as verdades da Fé, e conhecem menos o catecismo do que as crianças mais simples. Pense-se no bem das almas, que se tem em mira. O povo está sedento de verdade. Dê-se-lhe o necessário para a salvação de sua alma, e então, como-
Depois de mostrar que a instrução religiosa é meio indispensável para o pleno aproveitamento dos frutos do Batismo, dispõe medidas para o incremento do ensino religioso em todo o orbe católico. Estas medidas, fru,o de uma longa experiência, são em sua substância as mesmas já postas em vigor em Mântua e Veneza. O Santo Pontífice determinou nesse documento que também nas Universidades se estabelecessem "Escolas de Religião destinadas a promover o ensino das verdades da Fé e a.formação da vida cristã". O efeito desta Encíclica foi mundial. A preparação
de catequistas leigos para suprir as deficiências do clero se desenvolveu imensamente, os congressos catequéticos, os concursos, os prêmios se multiplicaram. Os estudos sobre metodologia catequética floresceram . Foi uma aurora em toda a Igrej a. O ensino do catecismo, São Pio X não o concebia como coisa inerte, fria, puramente informativa. Desejava ele que fosse feito de maneira a acender o amor pela nossa santa Fé, e o ze lo pela Lei de Deus. O seu empenho neste particular melhor se compreende estudando o _modo de pregar de São Pio X.
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Para combater problemas análogos em nossos dias, eis o modelo: São Pio X PUNJO CORRÊA DE ÜLIVElRA
Catolicismo, nº 42 - junho de 1954
"Todos os que se acercavam de Pio X tinham a impressão de sair mais próximos de Deus" canonização de São Pio X no dia 29 de maio [de 1954], festejada por todo o universo, tem para esta fo lha, seus colaboradores e seus leitores, um significado muito particular, quer do ponto de vista da mediação, quer do exemplo. É o que pretendemos evidenciar. Todos os que se aproximaram de São Pio X foram desde logo atraídos e subj ugados por sua personalidade. Dotado de uma bela aparência, de maneiras afáveis e acolhimento encantador, servido por uma inteli gênc_ia robusta, penetrante, ági l, o Pontífice podia ser tido como pessoa bastante prendada do ponto de vista natural. Entretanto, estes dotes, embora reais, não eram tão relevantes que fizessem dele um grande homem no sentido próprio do termo, e não teriam bastado só por si, para explicar o ascendente extraordinário que exerceu sobre as pessoas de todas as categorias - Reis, Príncipes, estadistas, literatos, artistas - com que tratou, bem como sobre as multidões de todas as procedências que o veneraram em vida e depois de morto. Pio X governou a Igreja num período brilhante para a História do Ocidente. Foi talvez o apogeu da Europa. Na direção da vida política e social do continente encontrava-se uma elite imponente constituída por uma mescla curiosa, colorida, incomensuravelmente rica de valores humanos. Compunha-se ela de uma aristocracia que herdara todas as tradições de tato, finura e gosto do século XVIII; de uma "bigarrure" de intelectuais de todo gênero, cientistas, literatos,
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CATOLICISMO
jornalistas, artistas que dirigiam a vida do pensamento do orbe; de expoentes da indústria, do comércio e dos bancos que manipulavam todas as riquezas da Terra; de militares que dirigiam os exércitos mais poderosos e municiados que até então se tinham conhecido. Ora, esta elite estava habituada, havia perto de trinta anos, a ver brilhar nas cu lminâncias do Vaticano a glória de Leão Xlll , este sim um grande homem no plano natural, pois aliava a uma inteligência fulgurante uma educação aristocrática, uma cu ltura excepciona l, e uma
São Pio X celebra Missa solene durante a inauguração do XVI Congresso Eucarístico, 1/6/1906
atividade impressionante. Assim, é fác il compreender que Pio X não tinha em si os dotes sufic ientes para ombrear com seu ilustre antecessor, e ainda menos para superá- lo. Quanto às multidões, estava m trabalhadas a fu ndo pelo ceticismo e pelo li vre pensamento, e não eram propensas a admi rar incondicionalmente qualquer novo Pontífice . "Dele saía m11a virtu<le que a to<los Clll'ava "
Explorando esta situação, a imprensa anti clerical e a própria imprensa "neutra" abri ra m contra Pio X, nos primeiros anos de seu reinado, uma ca mpanha infernal, em que, para acent11ar a desproporção entre o novo Papa e seu antecessor, chegaram até à calunia, apresentando aquele co mo um ignorante, de inteligência apoucada, etc. Entretanto, o vozeri o dos opos itores fo i aos poucos perdendo seu vigor, ao passo que a veneração por Pio X se ia torn ando universal. Quando, em 19 14, ele cerrou os olhos, o mundo inte iro chorou de dor. Não estava ele ainda sepultado, e já de milhares de peitos subiam preces ao Céu, por sua canoni zação. E o Céu atendeu estas supli cas quando o Santo Padre Pio XII o elevou à glória dos santos. Que dom tinha aquele homem de Deus para de tal maneira atra ir os corações? A sa ntidade, di r-se-á. Sim. Mas a resposta é um pouco genérica. O santo não é necessari amente estimado por seus coevos. A históri a de São Pio V - o úl timo Papa ca nonizado antes de S. Pio X - é di sto uma
prova. Deus concedeu a São Pio X uma graça particul ar, di spondo que todos os que se acercassem de sua pessoa sentissem desde o primeiro instante sua piedade angéli ca, sua profunda bondade. E fo i isto que lhe deu sobre os seus contemporâneos o imenso ascendente que até hoje se conserva tão vivo. Todos os que se acercavam de Pio X tinham a impressão de sair mais próx imos de Deus, ali viados em suas dores, consolados em suas afli ções. Podi a-se di zer que "dele saía uma virtude que a todos curava ". A co11spirnção <lo movimento "mo<lcn1ista"
Ora, na vida deste Papa que parec ia só ter entranhas de bondade e suav idade, um fato terrível ocorreu. Foi a cri se modernista. Uma seita de há muito se instalara na Igreja como um câncer sub-reptício. Seu objeti vo era propaga r o pante ísmo materialista e evolucionista, o socialismo, a abolição do celibato eclesiástico, a inteira confo rmação do catolicismo com os gostos e as ideias pagani zantes do tempo. Seus membros, entretanto, não queriam sair da Lgreja, pois consideravam com razão que, se parados do tronco venerável da Reli gião Católica, todas as portas se cerrariam diante deles. Por isto, preferi ram agir à socapa. Ocupando lugares de influência no laicato e no clero, propagava m suas ideias pelos próprios órgãos que formam a opinião católica: púlpi to, co nfess ionári o, cátedras de
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seminários, uni versidades e colégios, imprensa, etc. Bem entendido, essa difusão doutrinária não era ex plícita. Mestres incomparáveis no emprego das meias luzes, das meias tintas, das meias verdades, os modernistas sabiam criar um ambi ente de liberalismo, de ceticismo, de igualitari smo que por si só já produzia a inocul ação de boa parte de seus erros. Essa ação era completada pelas reuni ões e conciliábulos dos moderni stas nas assoc iações que dominavam. Com efeito, nesses ambientes sabiam eles tornar mais transparentes seus erros, sem incorrer na censura eclesiásti ca, pois " verba volant" . E por fim em suas conversações particul ares levavam ao último grau de eficácia sua ação, descerrando todos os véus de sua linguagem dolosa, diante dos pequenos grupos de iniciados, no segredo de conventículos mais íntimos. Esta conju ração era imensamente poderosa. Seus tentáculos abrangiam todo, ou quase todo o orbe católico. Seus prosélitos, pessoas muitas vezes recomendáveis por sua aparente piedade, eram ativíssimos e influentes. E o prejuízo para as almas era imenso, pois sem número eram os inca utos que se deixavam arrastar. Esse, em linhas gerais, o problema, que entretanto abrangia em seus refolh os aspectos ainda mais complexos e difícei . Ora, a solução deste problema incumbi a em grau superi or ao Papa. Pois é ele o Pastor das ovelhas, e o Pastor dos Pastores. Se ele cruzasse os braços, deixa ri a devorar pelo lobo as ovelhas que Jesus Cri sto lhe confiara. Como pode ser bom quem se conserve indife rente ante o espetácul o do lobo que sacrifi ca ovelhas inocentes e indefesas? Cumpria pois ao Papa agir. Contra quem? Contra o lobo, evidentemente. Mas - e aí está o cerne do problema - aqueles lobos ... eram, eles também, ovelhas ! Com efeito, se para um Papa todo homem é de certo modo uma ovelha, um fi el, máx ime um sacerdote o é em todo o sentido da palavra. Não se tratava de defender uma ovelha contra uma fera, mas uma ovelha fi el contra outra ovelha tra nsviada e fe ita fe ra. Ora, o Papa, Pastor de todas as ovelhas, não poderia ser indife rente à salvação ... da "fera". Se para sa lvar uma, go lpeas e outra , perderia provave lmente essa outra. Um homem sem entra nhas, iracundo, apaixonado, poderi a considera r com displicência esta perspectiva. Nunca um católico verdadeiramente bom. Com a c1·isc "modernista ", como deveria agil' o Papa?
Para escapar às desagradávei alternativas que este estudo vai desvendando, seríamos tentados a dizer: convertam-se as fe ras em ovelhas, e estará tudo resolvido. So lução ideal, sem dúvida, e preferível a qualquer outrn. Solução entretanto
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CATOLICI SMO
muitas e muitas vezes impraticável. Pois se é verdade que a História registra exemplos insignes de pecadores que se convertem - e pensamos neste instante em Saulo fe ito Paul o - também é verdade que muitos não se convertem por maior que seja a santidade do apóstolo que a Providência lhes envia. E pensamos igualmente neste momento, não só em Judas, refratário ao ósculo supremo do Mestre, mas ainda em Pilatos, Anaz, Caifaz e todos aquel es de quem São João escreveu: "a luz brilhou nas trevas, e as trevas não a compreenderam ". Neste caso, ainda uma vez, como agir? Problema duro, problema gravíssimo. A maior parte dos homens foge de o ver claramente. Prefere iludir-se sobre a irredutibilidade do lobo. Prefere iludir-se sobre sua nocividade. Prefere iludir-se sobre a fragilidade das ovelhas. E por isto terá de dar terríveis contas a Deus. Pio X não se iludiu . Sua bondade não se confundia com um humanitari smo sentimental e mole, nem com um filantropismo naturalista e Iibera 1. Antes de tudo, levava-o a amar a Deus e a Sua Igreja, cuj a glória era ultrajada pela perfídia e malícia dos moderni stas. Em segundo lugar, levava-o a amar os bons, e só em terceiro lugar os maus. Verifi cada a impossibilidade de resolver o problema convertendo os maus, São Pio X os go lpeou sem mercê. Foi a memorável Encíclica Pascendi, [vide a segunda parte desta matéria à p. 36] luminosa e terrível como o relâmpago; fora m as excomunhões; fo ram as inclusões de numerosas obras no Index; foram as medidas di sciplinares. Caíram assim dessas mãos de santo, fe itas para abençoar, as punições mais terríveis... mas na Igreja se fez uma grande paz e o sol da Verdade continuou a brilhar sobre as almas. A hidra do moderni smo estava fe rida em sua cabeça e estavam salvas da perdição milhares de ovelhas de Jesus Cri sto. Que Pio X tenha sofrido ao agir assim, é óbvio. Que tenha vacilado, não o cremos. Pois é próprio de uma caridade bem ordenada não se perturbar com problemas destes. Quem em nossos dias vê ou pelo menos vislumbra problemas análogos; quem sente em si a tentação de fechar os olhos, cruzar os braços e recuar; quem abriu os olhos mas tem medo de levar sua fidelidade aos documentos pontifícios até as últimas consequências; quem sofre da incompreensão dos próprios irmãos; quem de outro lado receia deixar-se levar longe demais no ardor da luta e quer ter sempre um zelo sobrenatmal, tenha em São Pio X um modelo, e reconheça nele um intercessor. Pois fo i para isto que a Providência pela mão augusta de Pio XII reservou nossos dias a fim de lhe ser dada a suprema glória dos santos. 1
Notas:
1. Pascendi do111inici gregis, Encícl ica de 8 de setembro de 1907. (*) Titul o e entretítul os inseri dos pela redação de Catolicismo.
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Parte II
PASCENDI a monumental encíclica que fulminou a heresia modernista Em 1907, São Pio Xcondenou o movimento modernista que se infiltrara nas hostes católicas com a finalidade de relativizar, e até mesmo deturpar, o ensinamento do magistério tradicional e infalível da Igreja e levar os católicos incautos a aceitarem os erros do mundo moderno Certamente um dos mais importantes documentos do Papa São Pio X foi sua célebre Encíclica Pascendi Dominici Gregis, sobre as doutrinas dos modernistas, promulgada pelo Sumo Pontífice em 8 de setembro de 1907. Ela alcançou enorme repercussão no século XX e continuará ecoando ao longo da presente centúria . Em nossos dias, o movimento progressista - infiltrado nas próprias fileiras católicas - utiliza-se das mesmas táticas e espalha nos ambientes da Igreja erros condenados por São Pio X, que denunciou e estigmatizou a doutrina modernista como sendo a "síntese de todas as heresias". Neste centenário do falecimento do santo autor da Pascendi, oferecemos aos nossos leitores excertos especialmente marcantes dessa admirável e intrépida encíclica. Tais excertos encontram-se citados em três matérias de autoria do insigne líder católico Plinio Corrêa de Oliveira, publicadas em nossas edições de setembro, outubro e novembro de 1957. Ele transcreve trechos da Pascendi,(*) enaltece a firmeza de São Pio X, e o apresenta como modelo para o combate aos inimigos internos e externos da Santa Igreja.
A Direçlo de Catolicismo
CATOLICISMO
Denúncia da tentativa de adulterar o Magistério tradicional e infalível da Santa Igreja de Deus PLIN IO C ü RRÊA DE OLIV EIRA
Catolicismo, nºs 8 1, 82 e 83 -
setembro, outubro e novembro de 1957
"Esperávamos que os modernistas algum dia se emendassem. Por isto, ele início, usamos em relação a eles medidas suaves, como se faz com filhos, e depois medidas severas; por fim, e muito a contragosto, empregamos repreensões públicas"
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e São Pi o X não tivesse fulmin ado a heres ia modernista, o mundo teri a entrado rapidamente em
marcha para o pante ísmo e o ateísmo. E toda a ação comuni sta sobre a face da Terra não teri a encontrado diante de si os enormes obstáculos que encontrou . A condenação do modernismo fo i, pois, um fa to hi stórico tão importante quanto a vitó ria de Lepanto. E o Papa Pio XII [elevando Pio X à honra dos altares, em maio de 1954] se tornou credor do reconhec imento eterno dos homens, por lhes haver apresentado por modelo e dado por protetor um tão grande santo. [ .. . ] "Odiai o erro, amai os que erram", escreveu Sa nto Agostinho. Grande, sábia, admiráve l sentença. E ntretanto, quantas aberrações, quantas traições, quantas ca pitulações vergonhosas se têm abusivamente cometido em nome dela! Há pessoas cândidas - ou covardes - que imaginam as ideias como entes dotados de ex istênc ia fí sica própri a e autônoma, os quais se incubari am mi steri osa mente nas
pessoas. Segundo elas, pode-se mover guerra às ideias sem atacar as pessoas, mais ou menos como se pode combater a doença infecc iosa sem atingir o doente, po is a guerra é tão somente contra o bac il o.
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Este modo de ver, infelizmente muito generalizado em nossos dias, beneficia largamente nossos adversários, pois desarma toda a nossa reação. A verdade e o erro não são algo de extrínseco ao espírito humano, como as fichas na gaveta de um fichário. A inteligência, pelo contrário, tende a assimilar este e aquela, por um processo que tem sido merecida e frequentemente comparado à digestão. Se alguém come pão ou carne, a digestão incorpora ao organismo uma parcela da substância desses alimentos, que ficam fazendo parte da pessoa. Analogamente, se alguém aceita uma doutrina, esta de tal maneira pode chegar a marcar sua personalidade, que se diria figurativamente que tal homem personifica aquela ideia. Como pretender destruir o pão já digerido por uma pessoa, sem ferir esta última em sua carne? E como se pode atacar uma ideia sem atingir em certa medida quem a personifica, quem ipso facto lhe dá vida, atual idade e possibi Iidades de difusão? Não. A sentença de Santo Agostinho é de sentido óbvio. Ela preceitua que desejemos a humilhação e a derrota do erro, bem como a conversão e a salvação de quem erra. Ela recomenda que usemos, para com quem erra, de toda a suavidade possível. Ela não nos proíbe de utilizar, contra aquele que erra, uma justa severidade, quando isto se torna necessário para o bem da Igreja e a salvação das almas. Nesse sentido, não chega aquela sentença ao ponto de inutilizar no católico a capacidade de ação e de luta contra os autores do erro ou do mal. Muito pelo contrário, os santos souberam sempre conciliar as duas obrigações fundamentais e aparentem·e nt.e contraditórias, de amar o próximo e de o combater, qriando a isto impele o zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas. É disto que nos deu admirável exemplo o Papa São Pio X na Encí_clicaPascendi, contra o modernismo, com o monumento de objetividade e lucidez que é aquele imortal ato pontifício.
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CATOUCISMO
São Pio X desmascarou os e,·ms e os seus fauto1·es Enganar-se-ia quem supusesse que a Pascendi foi um mero documento doutrinário. São Pio X não combateu apenas no campo das ideias, mas, com admirável energia e perspicácia, desmascarou os próprios fautores do erro; e traçou o lamentável perfil moral do modernista, denunciou suas táticas e pôs a nu a vastidão de sua conspiração. A Encíclica não menciona nomes, mas é riquíssima em dados sobre a personalidade do modernista. Em outros documentos, São Pio X chegou aos nomes. Por exemplo, nos importantes decretos em que foram nominal e pessoalmente atingidos os principais chefes do movimento. É para que nossos leitores possam medir em toda a sua admirável extensão a severidade com que o Santo Pontífice se houve nesta emergência, que consagramos ao assunto este artigo. Fazendo-o, chamamos a atenção para a oportunidade flagrante do exemplo que apontamos. São Pio X foi beatificado e mais tarde canonizado pelo Santo Padre Pio Xll. Quis ele que seu antecessor servisse de modelo para os homens, e não para os mortos que jazem na sepultura ou para as crianças que ainda estão por nascer. Foi para isto que ele fez brilhar na honra dos altares esse grande luzeiro. Agir como São Pio X, eis o que nos recomenda com sua suprema autoridade o imortal Pontífice Pio XII. [.. .]
Os "modernistas" rejeitamm
submetel'-se à autol'i<lade Os modernistas representam o sumo da obstinação, e com eles são inúteis as medidas brandas: "Esperávamos que os modernistas algum dia se emendassem. Por isto, de início, usamos em relação a eles medidas suaves, como se faz com filhos, e depois medidas severas; por fim , e muito a contragosto, empregamos repreensões públicas. Não ignorais, Veneráveis Irmãos, a esterilidade de Nossos esforços: eles
PIO X: 1 CA ITOUCI UB[RAU SONO lUPI V[STITI DA AGN[lll
Suplemento de revista italiana noticia a condenac;ão do modernismo por São Pio X
curvam por momentos a cabeça, para a levantar novamente com orgulho ainda maior". Uma das raízes mais importantes deste lamentável estado de espírito, com efeito, é o orgulho: "O orgulho! Ele está, na doutrina dos modernistas, como em sua própria casa; aí encontra ele por toda parte algum alimento, e se expande então em todos os seus aspectos. Orgulho, por certo, esta confiança em si mesmos, que os leva a se erigirem em regra universal. Orgulho, essa vanglória que os apresenta a seus próprios olhos como os únicos detentores da sabedoria; que os leva a dizer, arrogantes e repletos de si mesmos: não somos como os outros homens; e que, para realmente não serem como os outros, os impele às mais absurdas novidades. Orgulho, o que os faz repelir toda sujeição e os leva a uma conciliação da autoridade com a liberdade. Orgulho, essa pretensão de reformar o próximo, esquecendo-se de si mesmos; essa absoluta falta de consideração para com a autoridade, inclusive a autoridade suprema. Não, realmente, nenhum caminho há que conduza mais rápida e diretamente ao modernismo do que o orgulho. Que nos deem um leigo, ou um sacerdote, que tenha perdido de vista o princípio fundamental da vida cristã - a saber, que devemos renunciar a nós mesmos, se queremos seguir Jesus Cristo - e que não tenha extirpado de seu coração o orgulho: esse leigo, esse sacerdote estará maduro para todos
os erros do modernismo. Eis por que, Veneráveis Irmãos, vosso primeiro dever é resistir a esses homens soberbos, e empregá- los em funções ínfimas e obscuras: que sejam postos tanto mais baixo quanto mais alto pretendam subir, e que seu próprio rebaixamento lhes tire a ocasião de fazer mal".[ ... ]
"Vítimas do el'l'o que al'l'astam os outros ao e11'0" Nascida dessa curiosidade malsã, a mania das novidades, o horror à tradição é uma das notas características do modernismo. Por isto é que, pensando o Santo Papa Pio X nos modernistas - que qualifica, com palavras da Escritura, de "homens de linguagem perversa, dizedores de novidades e sedutores, vítimas do erro que arrastam os outros ao erro" - lamenta-se de que "cresceu estranhamente nestes últimos tempos o número dos inimigos da Cruz de Jesus Cristo que, com uma arte absolutamente nova e soberanamente pérfida, se esforçam por anular as energias vitais da Igreja, e até mesmo, se pudessem, por subverter inteiramente o reino de Jesus Cristo". [... ] Os modernistas, como tantos protestantes, odeiam a pompa esp lêndida do cu lto cató lico. Eis sua razão: "Do momento em que seu fim é todo espiritual, a autoridade religiosa se deve despojar de todo aquele aparato externo, de
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todos aqueles ornamentos pomposos, pe los quai s ela como que se dá em espetáculo". [...] Percorrendo o quadro psicológico que do modernista pinta Sã.o Pio X, fica-se admirado com a franqueza de sua linguagem, com a clareza, a energia e a precisão de seus conceitos. É bem de ver que, se outrem que não um Papa - e que Papa! - assim se exprimisse, abriria fl anco a que os liberais, cujos mati zes são tão numerosos em nossa população, e infelizmente ex istem até nos círculos católicos, tivessem a impressão de que se está exagerando. [... ] No âmago <la pl'ópl'ia Igreja, a infiltração dos inimigos
É natural que, movidos por sua febre de novidades, os modernistas também se tenham lançado contra todas as boas tradições cristãs. [... ] Acrescenta o Papa: "O que exige, principalmente, que falemos sem tardança, é que os artífices de erros não devem ser procurados hoje entre os inimi gos declarados . Eles se ocultam - e ni sto está um título de apreensão e de angústia muito particular - no próprio se io e no coração da Igreja, inimigos tanto mai s temívei s quanto menos declarados. Falamos, veneráveis Irmãos, de grande número de católicos leigos - e, o que é mais dep lo ráve l, de padres - que, sob o pretexto de amor à Igreja, abso lutamente fa lhos de filosofia e de teologia sérias, impregnados, pelo contTário, até a medula dos ossos, de um veneno de erro haurido entre os próprios adversários da fé católica, se inculcam, com desprezo de toda modéstia, como renovadores da Igreja. Esses tai s, em falanges cerradas, dão audacioso assalto a tudo quanto há de mai s sagrado na obra de Jesus C ri sto, se m respeitar sua própria Pessoa, que tentam rebaixar, por uma temeridade sacrílega, até o nível da simpl es e pura humanidade. "Estes hom ens se espantarão de que os inscrevamos entre os inimi gos da Igreja. Ninguém terá surpresa diante di sso, com algum fund amento, quando - pondo de lado suas intenções, cujo julga mento está rese rvado a Deus examinar suas doutrinas e, em função delas, seu modo de falar e de agir. Inimi gos da Igreja, certamente eles o são; e ninguém se afasta da verdade di zendo que são dos piores. N ão é de fora, com efe ito - j á o notamos - mas é principalmente de dentro que os modernistas tramam a ruína da Igrej a; o peri go está hoj e quase nas entranhas mesmo e nas veias da Igreja: seus go lpes são tanto mais seguros qu anto eles sabem me lhor onde lançá- los". [ ... ] "Não tem/o hOl'l'Ol' de caminhai' nas pega<las de Lutern"
Conforme a fundamental duplicidade de seu espírito, os modernistas têm toda uma tática espec ial para disseminar
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CATOLICISMO
os seus erros, dando-lhes aparência de verdades atraentes e simpáticas. Essa tática, São Pio X a descreveu admiravelmente: "O que projetará maior luz ainda sobre essas doutrinas dos modernistas é sua conduta, que é inteiramente coerente com suas doutrinas. Ao ouvir os modernistas , ao ler os seus trabalhos, ter-se-ia a tentação de acreditar que eles caem em contradição consigo mesmos, que são oscilantes e indecisos. Longe disso: tudo é pesado, tudo é desejado entre eles, mas à luz do princípio de que a fé e a ciência são estranhas uma à outra. Tal passagem de seus trabalhos poderia ser assinada por um católico; voltai a página, e tereis a impressão de ler um racionalista. Escrevendo história, nenhuma menção fazem da divindade de Jesus Cristo; subindo à cátedra sagrada, proclamam-na alto e bom som. Historiadores, desprezam os Padres e os Concílios; catequistas, citam-nos com honra. Se prestardes atenção, há para eles duas exegeses inteiramente distintas: a exegese teológica e pastoral, a exegese científica e histórica. Do mesmo modo, em virtude desse princípio de que a ciência não depende da fé, sob nenhum ponto de vista, se eles dissertam sobre a filosofia, a história, a crítica, ostentam de mil modos - não tendo horror de caminhar assim nas pegadas de Lutero - seu desprezo pelos ensinamentos católicos, pelos Santos Padres, pelos Concílios universais, pelo Magistério eclesiástico; advertidos sobre esse ponto, lançam brados de protesto, que ixando-se amargamente de que se lhes viola a liberdade. Enfim , dado que a fé é subordinada à ciência, repreendem a Igreja - abertamente e em toda ocasião - pelo fato de que Ela se obstina em não sujeitar e não acomodar seus dogmas às opiniões dos filó sofos". [... ] Pal'a mel110r inoculai' o veneno: a tática <la dissimulação
Os modernistas agem dentro da Igreja como verdadeira quinta coluna, pois, segundo é de toda evidência, sua intenção consiste em conservar o aspecto de católicos, para mais facilmente disseminar nas próprias fileiras católicas a peçonha de seus erros. Infelizmente, como sempre acontece, existe uma terceira força para facilitar a ação dessa quinta coluna. Essa terceira força é formada por aqueles católicos, quiçá bem intencionados, que, por um excessivo desejo de conciliação, ou pelo temor de parecerem atrasados, retrógrados ou reacionários, adotam em sua linguagem, em suas atitudes, em toda a linha de sua conduta, uma orientação que, se não é diretamente modernista, facilita o deslizar perigoso dos espíritos para essa heresia. Foi o que com muita finura observou o Santo Pontífice:
considerar sem tristeza como despendem, em arruinar a "O que é muito estranho é que católicos, que sacerdotes, Igreja, energias magníficas que seriam tão aproveitáveis dos quais queremos pensar que tais monstruosidades lhes fazem horror, se comportem entretanto, na prática, como se fossem bem empregadas. Seus artificios para iludir os se as aprovassem plenamente; é muito estranho que catóespíritos são de duas maneiras: esforçar-se por afastar os licos, que sacerdotes, tributem tais louvores, prestem tais obstáculos que lhes causam transtorno; depois procurar, homenagens aos corifeus do erro, que se tem a impressão com cuidado, pôr em movimento, ativa e pacientemente, de que desejam honrar por esta forma, não os homens em tudo que lhes possa ser útil". si mesmos, talvez não de todo indignos de alguma consi"Os modernistas se apoderam das cátedras nos seminários, nas universidades, e as deração, mas os erros que tais 41• Annl• VlilNDIUi:DI 2 0 SlilPT.6.MBREl 19,07 homens abertamente profestransformam em cátedras de sam, e dos quais se arvoraram pestilência. Disfarçadas talvez, em campeões". [... ] suas doutrinas são semeadas pu DIOC".f:SE D'AllRAS, DOO LOGNE :ET . SAINT· OU;~ por eles do alto dos púlpitos Pertinácia dos sagrados; professam-nas aber:S-Owi,"me. - J~u l~~r\\liquo tio N . .. . )>. Jb Pape: Pi X ,mr lttt': d«,1rlou~ d~A mo,l,ll'nl1'tt" ..... c,u,,uiquc. cl loc;.', ,inc. Pt1Nlc ()/ /fclcllt: : "modenlistas" tamente nos congressos; fa~Nic,for, ti pnrm~ • No. -ninot . iornL 1 •e~·, . ft,•trnlu:- ~ ~ t .')iíl ... ti •1nn,. A,·fi< dl,~cr-:,i:. 1•t ll'.' rinus X lt••· OArn c ,te .. V1ctc., 1r,•:,,. ,·t A,\ l ont1mut1 ,.. para iludir as zem-nas penetrar e as põem em U•:m rc ctl t<..M\in t.l lo M<","'C1·,•1}:11--.u l'i i; \.' . A unoui;.,: &-. hostes católicas ~~=="-=~~~~~~~-~~-~ voga nas instituições sociais.
LA SEMA]NE RELIGIEUSE: l'l
Muito bem organizados do ponto de vista da propaganda, os modernistas se aliam no mundo inteiro, para o efeito de difundir melhor as suas doutrinas. "Não se pode deixar de sentir estranheza e surpresa diante do valor que certos católicos lhe atribuem [à crítica modernista]. Para isto há duas causas: de um lado, a aliança estreita que fizeram entre si os historiadores e críticos da escola modernista, por cima
LETTR.E ENCYC LIQUE ..; DE
~OTRE ÜNT-PERE LE PAPE PIE X~ A tou 1 los P a t,-!arcbes. Pl"lmatw, ArchcvOquo,, Evõqac1 et aux aut,·e• Or<Uo afro8 qul sont on pa lx ot on communlon &Tec l e S ióge ApoatoUquo,
SU B LES , DO GTBHRS DB8 II ODEBI ISTH ' ~
de todas as diversidades de nacionalidade e de religião. De outro lado, a audácia sem limites desses mesmos homens:
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O fruto de tudo isto? Nosso coração se sente apertado ao ver absolutamente transviados tantos jovens que eram a esperança da Igreja, e que lhe prometiam tão bons serviços. Outro espetáculo ainda Nos contrista: é que tantos outros católicos, não indo certamente tão longe, entretanto têm tomado o hábito, como se tivessem respirado um ar contaminado, de pensar, de falar e de escrever com mais liberdade do que convém a católicos". Tentativa de enfraquecer a doutrina tradicional da Igreja
que um dentre eles abra seus Na França difunde-se a encíclica "Os modernistas se empelábios, e os outros aplaudirão a contra os erros do modernismo nham em minimizar o Magisuma voz, elogiando o progresso que comunica à ciência; se tério eclesiástico e em lhe enfraquecer a autoridade, seja alguém tem a infelicidade de criticar uma ou outra de suas desnaturando sacrilegamente sua origem, seu caráter e seus novidades, por monstruosa que seja, em fileiras cerradas os direitos, seja reeditando contra ele, do modo mais livre do modernistas investem contra ele; quem nega suas doutrinas mundo, as calúnias dos adversários. Ao clã modernista se é tratado de ignorante, quem as adota e defende é elevado aplica o que Nosso Predecessor Leão XIII escrevia, com às nuvens. Muitos que, iludidos com isto, se inclinam para dor na alma: Afim de atrair o desprezo e o ódio sobre a os modernistas, recuariam de horror se o percebessem" . Esposa mística de Cristo, na qual está a verdadeira luz, os Como tantas vezes acontece com os hereges, os moderfilhos das trevas têm o hábito de lhe atira,; à vista dos ponistas têm um ardente espírito de proselitismo: vos, uma calúnia p érfida{. ..}. Depois di sto, não há motivo "Se, pelo menos, tivessem menos zelo e menos ativipara que alguém se espante se os modernistas perseguem dade em propagar seus erros! Mas tal é neste particular com toda a sua malevolência, com toda a sua acrimônia, seu ardor, tal sua pertinácia no trabalho, que não se pode os católicos que lutam vigorosamente pela Igreja. Não
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há espécie de injúrias que não vomitem contra eles: a de serem ignorantes e obstinados é a preferida. Se se trata de adversário temíve l por sua erudição e vigor de espírito, os modernistas procuram reduzi-lo à impotência, organizando em torno dele a conspiração do silêncio. Cond uta tanto mais censurável quanto ao mesmo tempo, sem fim nem medida, esmagam sob seus elogios quem se coloca de seu lado. Quando aparece um trabalho, desde que por todos os poros se deixe notar nele o desejo das novidades, os modernistas o aco lhem com ap lausos e exclamações de admiração. Quanto mais um autor tiver mostrado audácia em atacar o veneráve l edifício da Antiguidade, em solapar a tradição e o Magistério eclesiástico, tanto mais será tido por sábio". [... ]
Causa maior <lano o erro que se inliltrn 110 i11teri01· <la Igreja Com essas citações, concluímos a descrição do perfil moral do modernista e dos seus métodos de ação, segundo a Encíclica Pascendi. Por esta forma, rendemos ao imorta l Pontífice Pio X nossa homenagem, cheia de gratidão pelos benefícios que prestou à Santa Igreja ferindo gravemente, com intrep idez angé lica, este terrível inimigo da Religião Católica. Nossa insistência a este respeito foi motivada por uma circunstância especial. Hoje em dia, para o comum dos fiéis, mesmo para os de alguma cultu ra religiosa, o erro só pode ex istir fora da Igreja. Em outros termos, o erro é adotado pelos que professam religiões fa lsas ou pelos que não professam nenhuma rei igião. Ele deve ser procurado e alvejado nas fileiras dos protestantes, dos espíritas, dos comunistas. Mas haveria perigo, haveria fa lta de caridade, haveria temeridade, em procurá-lo nas hostes cató licas. Nestas, pelo contrário, só a verdade poderia florescer. E a ideia de procurar algum erro de doutrina em obras de escritores católicos poderia parecer, a esse público, singular, estranha, nascida de suspicácias infundadas e antipatias pessoais. Na realidade, vimos como São Pio X nos mostra a ex istência, em seu tempo, de poderosa corrente de erros vicejando no próprio seio da Santa Igreja, e não apenas nas seitas heréticas ou cismáticas, ou entre os rac ionalistas. No tempo do Santo Papa, esta vasta coorte de católi cos transviados estava intimamente li gada aos adversários externos da Reli gião, articulada de maneira a, protegida por uma falaciosa aparência de catoli cidade, difundir o erro nas próprias fileiras cató licas. Trabalho terrível de quinta co luna, que fazia com que o mal se apresentasse disfarçado sob o aspecto mais simpático e mais agradáve l. [... ] É esta uma constante dentro da vida da Igreja. Com efeito, não é raro que, aparecendo uma heresia, seus fautores
CATOLIC I SMO
procurem, quanto podem, tomar aparência de ortodoxos, permanecendo durante o maior tempo possível nas fileiras católicas para mais faci lmente arrastar as almas. Em geral, é necessário um esforço terrível para que o erro seja apontado, caracterizado, reconhecido e expulso do redil. [... ]
Po<le-se confiar nos lobos ocultos sob peles <le ovellws? Como se sabe, a corrente jansenista que se difundiu por toda a Europa nos séculos XVIT e XVIII, e em certa medida no século XIX, era, em essência, um calvinismo disfarçado. Seus partidários, homens muitas vezes insignes por sua erudição, tendo apo ios e simpatias entre altos dignitários eclesiásticos, dispondo do apoio também de chefes de Estado e de políticos eminentes, exímios na arte de esconder a peçonha dos erros sob a aparência de austeridade, de ze lo e de talento, conseguiram perturbar durante sécu los inteiros a vida da Cristandade. Ocultando suas doutrinas heréticas sob uma linguagem agradável, atraíram a simpatia de pessoas que teriam horror a qualquer espécie de heresia. Foi necessária uma luta terrível para extirpar da Santa Igreja esse veneno tremendo. E, em consequência dessa luta, se debilitaram as forças católi cas, se aniq uil aram energias que poderiam ter sido utilizadas com adm irável eficácia no combate ao raciona lismo. Mais ainda, os partidários da doutrina ortodoxa, muitas vezes desacreditados pelas calúni as jansenistas, ficaram na impossibilidade de prestar à Igreja todos os serviços que de outro modo lhe teri am podido prestar. [... ] Desta situação amarga participou a própria Santa Sé. Várias vezes os Romanos Pontífices denunciaram o erro. Mas sempre conseguiram os jansenistas, servidos por uma tática muito eficiente, fazer aceitar por numerosos fiéis a ideia de que essas condenações não passavam de atitudes políticas tomadas sob a deplorável pressão de conjunturas humanas, e não eram atos de magistério movidos pelo puro zelo da causa de Deus. O que explicava que muitas pessoas, duvidando dos verdadeiros Pastores da Igreja e deitando toda a sua confiança nos lobos ocu ltos sob peles de ovelhas, se deixassem persuadir de que as disposições da Santa Sé a respeito do jansenismo não deviam em consciência ser ace itas pelos católicos. A divisão que o jansenismo causo u entre os fiéis, a dispersão de esforços, a confusão, favoreceram na realidade a Revolução Francesa. Outra poderia ter sido a reação dos catól icos do século XVII, e particularmente do século XV III , se permanecessem unidos na verdadeira doutrina ortodoxa: teriam combatido de frente os erros monstruosos da Enciclopédia, que se prepararam, se en unciaram, e depois foram difundidos por toda a Europa. Tal não se
deu. O enciclopedismo, encontrando nos próprios arraiais católi cos o terreno preparado pelos desvios do jansenismo, se propagou livremente. E daí nasceu o terrível cataclismo que foi a Revolução Francesa. Este aspecto do quadro ideológico e político do século XVHI merece paiticularatenção. Costumam os historiadores afirma r simplesmente que o enciclopedismo, servido porescritores eminentes, de grande talento, consegui u conquistar a Europa. Seria o caso de perguntar por que esta conquista não encontrou reação, ou por que a reação oposta à conquista foi tão fraca, que praticamente não pôde evitar o mal. A debilidade dessa reação foi devida, em grande parte, à circunstância já apontada: a desordem imensa introduzida nas fileiras católicas pelojansenismo, o prejuízo causado à vitalidade da Igreja pela difüsão, em seu seio, de uma heresia tão perigosa.
para os problemas internos da Santa Igreja de Deus, com a convicção de que eles podem constituir embaraço dos maiores; e com uma franca compreensão para com aq ueles que, de modo todo particular, se dedicam à aná lise e à so lução desses problemas. Çombater o erro que possa sel'peal' dentro do reclil católico
Quantas e quantas vezes, ao percorrerem as várias edições desta folha, leitores houve que fizeram a pergunta: por que combater erros existentes entre fiéis , quando há tantos outros a serem combatidos fora das fileiras católi cas, mais claros, e portanto mais perigosos? A esta pergunta tão frequente, a Encícli ca Pascendi oferece magnífica resposta: o erro interno é sempre mais perigoso que o erro externo, a divisão das forças é sempre mais periSemelhança com a crise gosa que qualquer adversário. atual: el'l'O dissimulaclo E para fazer cessar a divisão entre católicos das forças, o essencial é que todos lutem em torno de uma O modernismo foi condenado no início do século XX. só bandeira. O essencia l é A atua lidade do exemplo hisque tenham todos a mesma tórico que acabamos de evocar, doutrina. O essencial é que a circulação sub-reptícia do erro entTetanto, ainda é grande. Nos documentos pontifínão divida os espíritos, não cios, não é raro encontrarmos divida os corações, não divida as energias. alusões paternalmente tristes e severas a respeito de erros O modo verdadeiro de reaque circu lam entre os fiéis. lizar a união entre os católicos Esses erros podem renovar não consiste em calar diante Canoniza~ão de São Pio X por Pio XII em 1954 nas hostes católicas todos os do erro que possa serpear inconvenientes que produziram no começo deste século, dentro do redil. A tática acertada consiste em combater sob a forma do modernismo; ou anteriormente, sob a forma de fre nte tal erro, para que, unidos todos os católicos em dojansenismo. torno de um mesmo ideal , sob a autoridade suprema e amorosa do Romano Pontífice, guiados pelos seus bispos Nós mesmos nos encontramos também nas vésperas de um imenso cataclismo, a cuja iminência é inúti l fec har os e legítimos pastores, possam manter acesa e finalmente vitoriosa a grande luta pelo triunfo da Igreja, da civi lização olhos. [... ] Nessas condições, importa soberanamente que todos os católicos, atentos à grande voz e ao grande exemplo cristã, contra o materialismo, o panteísmo, a irreligião, o do Papa Pio X, que Pio XII elevou à honra dos altares para socia lismo, o comunismo e todas as formas da Revolução. nos servir de intercessor e de luz, saibam orientar-se quanto (*) Os trechos transcritos dos mencionados artigos de Catolicisao dever da hora presente. mo sofreram apenas pequenas adaptações. Os entretítulos são desta Este dever consiste, certamente, em combater os inimiRedação e as frases entre aspas foram extraídas da própria Encíclica gos externos da [greja com todo o zelo e com todo o afã. Mas ?ascendi, publicada em francês no volume 111 dos Aios de Pio X, edição Bonne Presse, Paris. ele não para aí. Também consiste em ter os olhos vo ltados
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Santo Afonso Maria de Ligório B ispo, Fundador e Doutor da Igreja. Formado em direito civil e canônico, advogado habilíssimo, foi um dos 1na1ores moralistas da Igreja. Tu scendi dane sttillo
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Canto de Natal composto por Santo Afonso
CATOLICISMO
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screver sobre a vida de Santo Afonso Maria é tarefa difícil quando se dispõe de pouco espaço. Pois e la foi tão rica e tão longa - mais de 90 anos - que surge a dúvida: sob qual aspecto apresentá-lo? Por isso nos cingiremos a um resumo, ficando muito para ser dito. O que convidará o leitor a procurar uma biografia mais completa do santo. Afonso Maria Antonio João Cosme Damião Miguel Gaspar de Ligório nas-
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ceu em Marianella, cidade próxima de Nápoles, no dia 27 de setembro de 1696, festa dos Santos Cosme e Damião. Seu pai , José de Ligório, era oficial da marinha e capitão das Galeras Reais. A mãe, Ana Catarina, de origem espanhola, era mulher piedosa e totalmente dedicada aos sete filhos. Vendo os dotes de inteligência e aplicação de Afonso, o primogênito, contrataram os melhores educadores para formá-lo nas ciências humanas, nas línguas clássicas e modernas, na pintura e na música. Já aos 13 anos ele tocava com habi-
!idade o cravo. Chegou de tal maneira a dominar a música, que comporia depois um dueto da Paixão, numerosos hinos sacros, e inclusive o cântico de Natal mais popular da Itália - Quanno Nascetti Ninno , traduzido do italiano e adaptado pelo bem-aventurado Pio IX como Tu scendi dalle stelle ("Tu descestes das estrelas"). Aos 12 anos passou a dedicar-se com ardor ao estudo do direito canônico e civil. Graduou-se, com dispensa especial , aos 16 anos, e aos 18 anos começou a praticar no foro . Afonso adquiriu uma tal reputação, que seus serviços eram disputados em todo o reino de Nápoles.
Em sua velhice, ele não cessava de recomendar esse ministério, que julgava proveitoso para todos . Uma mentalidade rigorista, fruto do jansenismo, em moda na época, negava o livre arbítrio e afastava os homens dos Sacramentos, por apresentar em primeiro lugar a lei e o pecado com todo o rigor, quase sem remissão . Para agir contra essa tendência, Santo Afonso começou a falar do amor de
Dos co11fessores mais al'ama<los do Reino
cobrirá vossos def eitos como num espelho; a mortificação vos ajudará a emendá-los; sem mortificação não há verdadeira oração, nem é possível a mortificação sem o espírito de oração ".4 "De todos os que conhec i que eram verdadeiros p enitentes, não houve um que não fosse muito zeloso nesses dois exercícios ". 5 Funda a Congregação do Santíssimo Redentor
No ano de 1723 , tendo por descuido perdido uma ca usa, Afonso abandonou a carreira. Sobre isso, escreveu a um colega:
"Meu amigo, nossa profissão é muito cheia de dificuldades e perigos. Levamos uma vida infeliz, e arriscamos ter uma infeliz morte. Quanto a mim, deixarei estacarreira, que não me apraz, porque quero assegurar a salvação de minha alma ". 1 Ordenado sacerdote em 1726, Santo Afonso começou seu apostolado entre os "lazzaroni", os pobres mais abandonados de Nápoles, organizando para eles as_"capelas da noite". Essas reuniões noturnas, realizadas em alguma capela da cidade, eram assim chamadas por serem feitas quando os operários e pobres de todo gênero estavam livres de suas ocupações.2 Entretanto, aquele que viria a ser o "Príncipe dos Moralistas" não ousava ouvir confissões, de tal maneira tinha uma alta ideia desse ministério. Foi preciso uma ordem formal do cardeal Pignatelli para que passasse a ouvi-las. Os frutos obtidos foram então incalculáveis, tornando-se Santo Afonso um dos confessores mais procurados do Reino.
Para que a confissão fosse proveitosa e visando acostumar o pecador à sua prática, Santo Afonso dava como penitência nova confissão depois de determinado tempo, bem como a comunhão e a assistência à Missa, meditando a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: "A meditação vos des-
Deus e de sua misericórdia. "Deus nos ama " - foi a mensagem predileta de toda sua vida.
Importância <la confissão e da mortificação Era preciso atrair os pecadores ao tribunal da penitência com toda a bondade. Pois, dizia : '' Quanto mais
uma alma está afundada no vício e nos liames do p ecado, tanto mais é necessário, à força de bondade, arrancá-la das garras do demônio e lançá-la nos braços de Deus. Não é difícil dizer a alguém: 'Ide, estais condenado; eu não posso absolver-vos'. Mas quando se considera que essa alma é o preço do sangue de Jesus Cristo, ter-se-á horror dessa conduta ".3
Não se contentando com o apostolado que fazia no púlpito e no confessionário, Santo Afonso ingressou em várias confrarias. Uma delas se propunha preparar os condenados à morte, acompanhálos até o local de execução, cuidar de seus funerais e ajudar depois a família enlutada. Outra visava atender os doentes do hospital dos incuráveis, acompanhando-os até o desenlace final. Uma terceira trabalhava para a conversão dos pagãos. Para isso ele ingressou no Colégio dos Chineses, pois desejava ir à China pregar a palavra de Deus. A obediênci a, contudo, o reteve em Nápoles. Mas a verdadeira vocação de Santo Afonso se revelou nas missões populares. Adoecendo certo dia em 1730, o médico aconselhou-o a mudar de ares. Ele escolheu então uma pequena cidade montanhosa, Santa Maria dos Montes, habitada sobretudo por pastores de cabras. Vendo o abandono religioso daquela pobre gente, começou a pregar-lhe as verdades da Redenção . Foi grande a avidez em ouvi-lo. O bispo da sede da diocese, Scala, convidou-o a pregar na catedral e para algumas religiosas . Ora, uma
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das freiras desse mosteiro, a venerável Irmã Maria Celeste Costarosa, era uma alma privilegiada pelo Céu. Em confissão, e la afirmou a Santo Afonso: "Deus não quer que fiqueis
em Nápoles. Ele vos chama para a jitndação de uma nova Congregação de missionários, que procurarão os socorros espirituais para as almas daqueles que agora estão privados de todo meio de instrução". 6 Depois
Para afervorar o povo no amor à pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Santo Afonso escreveu Prática de
Amor a Jesus Cristo, Visitas ao Santíssimo Sacramento, além de várias obras sobre a Encarnação e a Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Grande devoto de Nossa Senhora que nas suas missões ele se comprazia em mostrar como a Medianeira de
de muitas vicissitudes, surg iu a Congregação do Santíssimo Redento(,:J:>ara as missões populares. ·seu leina era "Copiosa Apud E~,;,;, Redemplio " ("Junto d 'Ele a R~den~ão é abundante").
"Uma característica do grupo: não i7.;orar fora nem longe dos abandônados. Suas residências ·não serão em Nápoles, mas o maispróximo possível dos pobres. Assim o grupo poderá girar n1aisjacilmente entre eles, e eles poderão participar mais da vida dos missionários. Irão às suas igrejas, reunir-se-ão em suas casas·. para os exercícios espirituais [. .. }. Não apenas pregam missões: a comunidade, a casa, tudo é missão e missão contínua. Assim os redentoristas, comq serão chamados mais tarde, continuam Jesus Redentor que armou sua tenda no meio de nós".1 "Afonso tornou-se proficiente nas artes; era músico, pintor, poeta, e autor ao mesmo tempo. Ele pôs toda sua criatividade artística e literária ao serviço da missão cristã, e pediu o mesmo àqueles que entraram em sua congregação" depois de formada.8
toclas as graças que nos vêm de Deus - , dedicou a Ela sua obra-prima, Glórias Santo Afonso sempre insistiu no papel da oração para a perseverança e a santificação. Por isso, escreveu a obra O grande meio de salvação, onde afirma: "Quem reza se salva; quem
não reza se condena ". Como bispo, i11cremento11 o estll<lo de teologia
Santo Afonso fo i fecu ndo escritor. Suas obras ultrapassam uma centena. Por exempl o, para orientar seus missionários, sobretudo no tribunal da penitência, escreveu o Tratado de Teologia Moral. Esta obra lhe valeu ser nomeado por Pio XII, em 26 de abri l de 1950, patrono dos confessores e moralistas.
Em 1762 , Santo Afonso, então com 66 anos, foi nomeado bispo da pequena diocese de Santa Ágata dos Godos. De nada lhe valeu ape lar para a saúde abalada, pois o Papa respondeu:
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de suas doenças, Santo Afonso recebeu a Extrema-Unção (Sacramento dos Enfermos) o ito vezes, fa lecendo com mai s de 90 anos em 1° de agosto de 1787. São Francisco de Gero lamo teve o pequeno Afonso em seus braços, abençoou-o e profetizou que ele seria grande no serviço de Deus. Também o franc iscano São João José da Cruz privou com Santo Afonso já anc ião. Esses dois santos foram canonizados no mesmo dia que o Doutor da Igreja: 26 de maio de 1839. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
de Maria.
Apostolado da boa leitura, redigiu várias obras
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pobres, instruiu os ignorantes, reorganizou o seminário, reformou os conventos, criou um novo espírito em seu clero; baniu nobres escandalosos e mulheres de má vida com igual imparcialidade; incrementou o estudo de teologia e, especialmente, o de teologia moral; todo o tempo pedia, Papa após Papa, que aceitasse sua renúncia ao oficio [de bispo}, porque não estava fazendo nada por sua diocese! A todo seu trabalho administrativo, temos que somar seus contínuos trabalhos literários, suas muitas horas de orações diárias, suas terríveis austeridades, e o cansaço da doença que tornou sua vida um martírio ". 9 Devido à grav idade
"Dom Ligório, de sua cama, governa melhor a diocese que muitos bispos jovens e com saúde". Como bispo, "ele alimentou os
Notas: 1. Antonio Ta nnoja, The life of St. Alphonsus Maria de Liguori, 1855, p. 30, apud http :// e n . w ikip e di a.o rg/w iki / A lph o ns us_ Maria _de_ Liguori . 2. Sobre esse apostolado ver nosso arti go Santo Afonso: verdadeiro reformador da sociedade, em Catoli cismo n. 620, de agosto de 2002. 3. Les Petits Bo ll andi stes, Vies des Saints, Bloud et Barra i, Libraires-Éditeurs, Pari s, 1882, tomo IX, p. 2 19. 4. Edelvives, E! San/o de Cada Dia, Ed itoria l Lui s Vives, S.A., Saragoça, 194 8, tomo IV, p.338. 5. Bo ll andi stes, p. 220. 6. ld. p. 222 . 7. http ://pt.w ikipedia.org/wiki/ Af'onso_de_ Lig%C3%B3rio. 8. http://en.wikipedia.org/w iki/ A lphonsus_ Mari a_ de_ Liguori. 9. Harold Castle, Alphonsus Liguori, The Catholic Encyc loped ia, CD Rom edition.
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VARIEDADES
O demônio não dá o que promete
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demônio nunca dá o que pro mete" - di z, com lm s--• ,p,,,11' ül!D cm mm quanta razão, um di tado popular. 'f lll.ilflll(IIY Tel1 Florida And The Satanlsts· Vem de épocas passadas uma campanha Absolutely NQ Satanlc Chrlstmas Dlsplayll ............... _, .. ,.,. º" -contra a Relig ião católi ca, tachando-a de "obscura ntista", Send Youc RtM)tetfyf But Efnn Ptütlon Mtltegt IIIIIYSTIIY O...•Godl-111QAme1k•n " retrógrada", e outros impropérios do gênero. O homem "esclarecido" e "atualizado" deveria guiar-se ,~c.y,,.,a11,~""tto"tc1•,•'"'tant'!'W~ somente pela ciênc ia, a ve rdadeira operadora da redenção ""'8r-111ot P,~P11,tio11 •ll"'J'!lll10Vlotld:a1ttlf1i11t.M1owr_,.~•""'-. 111 ..,calmftltho.-fifrt da humanidade. Esta lhe dari a o domínio absoluto sobre DclcbaltetodYPM! et~ ~-;~•~~-:-·1t~ lll""li•"'-:11ffpro40ltltav-i,~t~11141tll!t,i,ptdltr>•"•s.t.rvc a matéria, a medi cina curaria todas as doenças, seri a a ~'"!U.l'.!1-' 1 fo li e.idade geral e sem nuvens. E outras balelas do gênero. ~;,::':.~~~~111 Ltt t .ilo.rrr I~•'" 10 OtUt1•t lht Ctu•f.l'"H 1 Slll:M>#; ::::.~~::::1.:.·~:::.:.•·"nh~• 1p;,l,t4(09t1thuC1ww..,,..tt,;,111~1,)1 l"-'OIIIN Com isso a fé fo i sendo posta de lado. Muita gente, . .:.;:::::::t~Yo,t.~"I=IM O,O;t p°:,~~:'i:!:;;I~tflllt~M •$"00194 até dentro da Igrej a, para não fi car ma l diante do mundo, : , k l ~ ~ ' ll'l~IJlf,~v.-~:~•~-•~~tn..,,.i~"'l.ic<1.1!1•1o(~f achou melhor adaptar-se aos novos ve ntos. O fe nômeno Clacll twt IPJfMYJMPl'llt1t Pt1•P10Pbl W ei.c.,,..,1tn«N+'fitM(kN Jt' ace ntuou-se sobretudo depois do Concílio Vaticano II. Ptnttt.-,ltll•• A ciência, por sua vez, progrediu e muito ... E assim =~-;:::.•:.-"":':::.--..,~ ........ dl~,1111lft/lC11p11C'lt~~ U.~,111.,.,.,.,.,,"...,b~w--,,IOpit\lll!.,._., chegamos a este início de milênio com a Aids em expansão, TI.tu•Mrw,d,t~hl>Jllt1t1101, 1'n..tc-ll-lpPN a pro liferação da dengue, o desfazimento das famílias, a vio lência debandada, o aborto matando cada vez mais O mesmo grupo que tentou rea lizar a Missa Negra em inocentes, a eutanásia livra ndo-se dos idosos, a propaganda Harvard está agora querendo faze r uma ex posiç~o de Natal dos lobbies homossexuais solta. Quadro de infe li cidade gera l, em plena paz, como não se tem notícia em tempos passados. satânica no centro de eventos da Assembl eia Legislativa do De tal modo o homem moderno se viu des iludido pelas Estado da Flórida (EUA). É um modo de zoníbar do Santo poss ibilidades curati vas ou "felicitárias" da ciência, que agora N ata l de N osso Senhor Jesus Cristo. Contra.: tal pretensão ma is do que nunca começa a recorrer aos poderes mágicos blasfe ma, a Sociedade Americana de Defesa d.a Tradição, Famíli a e Propriedade (TFP) está promovendo-um abaixo-asdas trevas. s in ado. Os interessados podem ass inar em : h_ttps://www. Ele o faz propul sionado não só pela mídi a, mas até por a meri caneeds fa ti ma. org/M isce 11 a neo us/send ~you r-petitioncentros "c ientíficos", como é o caso das Uni versidades. Recentemente, um poderoso grupo da fa mosa Universin o w- the-sa ta n ic-ch ri s tm as-d is p la y. h tm l u (?xsYJU g_ Dc (acima foto da petição). dade de Harvard , nos Estados Unidos, visou p rodu zir uma É claro que não se trata ainda de um fe nômeno._generalizado. "Mi ssa N egra Satâni ca" no rec into universitári o. Só não Mas os fatos acima mostra m que ele j á vai se expandindo até chegou a concretizar seu des ígnio devido à fo rte reação que nos centros de cultura. É assim que começa. Quais serão os próse produ ziu . Depo is, no di a 28 de maio úl timo, houve aqui no Bras il, ximos passos? Cumpre estar alerta para não se deixar envolver. na unidade de Ri o das Ostras da Uni versidade Federa l F lumiA mesma humanidade que para li vrar-se do "obscurantismo" vo ltou as costas à Relig ião Cató li ca e a seu espírito nense, uma mi stura de ritual satânico com orgias e pornografi a de ordem, de santidade e de e levação mora l, procura agora a mais abj eta (e lementos que se dão bem) que nem se pode a sa lvação no caos tenebroso do satani smo sob suas várias descrever. Anunciou-se depois que a reitori a da Uni versidade fo rmas, • abriu uma sindicância para in vestigar os acontecimentos. N ão E-mail para o autor: ca tolicis111o@terra.co111 .br conhecemos o resultado a que se chegou. _ ,_ I
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Ideais e ruínas do passado na rota da Caravana Terra de Santa Cruz
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IVAN RAFAEL DE Ü LIVEIRA
m menino gaúcho, de aproximadamente nove anos, caminhava pelo centro de sua tranquila cidade, quando de repente algo de inusitado chama sua atenção. Ao som de ga itas de fo le, tro mpetes e pífaros , j ovens portando grandes estandartes em estilo medieval circulava m pelas ruas, abordando respei tosamente os transeun tes para lhes oferecer suas publicações. Marav ilhado, o menino pareceu esquecer o que faz ia e passo u a acompanhar os caravani stas. Ma is à fre nte, outros meninos vieram chamá-lo às suas ta refas, ao que ele respondeu que não iri a, pois queria continuar a ver a campanha. Demorou ainda algum tempo antes de destacar-se e vo lta r para casa. Casos como o desse menino não são incomuns nas cara-
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vanas promovidas pelo Instituto Plinio Corréa de Oliveira, denominadas Caravanas Terra de Santa Cruz. Pessoas de todas as idades, mui tas vezes em centros agitados de grandes cidades ou em pequenos vil arej os por onde passam os caravanistas, vão comentando a surpresa desse atraente modo de atuação . Mal os j ovens da carava na começam a entoa r seus instrumentos nas praças, uma grande quantidade de câmeras e ce lulares saem dos bo lsos de tra nseun tes para registrar o aco ntecimento . Desta vez, entre os di as 25 de junho a 11 de julho, 36 carava ni stas percorreram c idades dos estados de Goiás, Minas Gera is, São Paul o, Paraná, Santa Catarina e Ri o Grande do Sul , para di fu ndi r duas obras do padre David Francisquini : Homem e mulher; Deus os criou e Catecismo contra o Aborto. Ta mbém, com ótima adesão do público, fo i di vul gado o li vro Psicose Ambientalista, de auto ri a do príncipe D. Bertrand de Orl eans e Bragança.
No Rio Grande do Sul, os jovens caravanistas puderam visitar as imponentes ruínas da missão espanhola de São Miguel Arcanjo e o local do martírio dos santos Roque González, Afonso Rodríguez e João de Castilho. O memorial desses mártires recorda o empenho com que um cristão deve lutar pelos ideais da Igreja. Curiosamente, a caravana passou também por uma outra ruína, mas esta teve um rumo em sentido oposto. Percorrendo a cidade de Palmeira, no Paraná, avista-se a indicação da Colônia Cecília, a mais antiga e infausta experiência de uma sociedade anárquica no Brasil. Com efeito, em 1890, imigrantes italianos implantaram na região uma colônia nos moldes comunistas, oficialmente ateus, sem propriedade individual nem família. Através do "amor livre" e do não reconhecimento da paternidade, eles negavam os pilares de uma sociedade católica, que são a tradição, a família e a propriedade. Os quatro anos dessa experiência evidenciaram que tal modelo libertário não traz senão miséria, discórdias e desonestidades. Com a passagem da caravana, assim como sucedeu na época dos anarquistas, a população de Palmeira optou pelos ideais da família e da Lei de Deus. Em apenas 18 dias, foram divulgados mais de 2.100 livros em 26 cidades. A sua poderá ser a próxima a ser visitada pelo Instituto Plínio Corrêa de Oliveira. Caso deseje que isso aconteça, mande-nos uma mensagem através do site www. ipco.org.br, na .seção Fale Conosco. • E-mail para o autor: catoli cismo@terra.co m.br
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Luís FELIPE EscocARD
icar conectado a redes socia is, jogos e quinquilharias eletrôni cos, sem fa lar de drogas e imora lidade, aparentemente são os grandes chamari zes para os ado lescentes de nossos dias. Entretanto, não é bem ass im . Por exe mplo, 37 jovens resolveram dar as costas a essas tentações e participaram de mais um acam pamento da Ação Jovem pela Terra de Santa Cruz, o oposto de tudo isso, com sua convocação para o hero ísmo e a virtude. Foi o que se passou entre os dias 18 e 2 1 de junho em Brasília. Houve LO palestras, cinco para cada turma. Os mai s novos conheceram os esplendores da Idade Médi a e uma síntese da obra Revolução e Contra-Revolução. Os efeitos nocivos do igualitarismo foi o tema para as reu ni ões da segunda turma, baseadas nos ensinamentos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Pequenas peças teatrais ilustraram os temas. Como entretenimento, além das competições e passeios, o que mais chamou a atenção dos jovens foram os jogos medievais, realizados à noite, sob a luz de inúmeras tochas e an imados por trompetes, tambores e pífaros. Lança ao alvo, corrida de fogo e j ogo da maça fo ram alguns dos desafios. "Foi sem dúvida o melhor acampamento de que participei " - declarou um dos rapazes. De fato, perceb ia-se o entusiasmo que uma programação inteli gentemen te baseada na doutrina cató li ca tradicional susc ita nas almas de jovens, que nunca tinham imagi nado que algo assi m pudesse ex istir. No meio do aca mpamento, se alguém perguntasse se não
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preferiri am estar jogando GTA , ou "posta ndo" algo no Facebook ou no Twitter, ou ai nda assistindo alguma nove la na telev isão, certa mente seri a alvo de risada ou de um bom e merecido debique ... • E-mail pa ra o autor: catolicjsmo@terracorn.br
DISCERNINDO
O fracasso da Reforma Agrária vem de antes de Cristo r. CID ALENCASTRO
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leitor terá notado que os agitadores que promoviam invasões de terras agríco las no campo, fo ram em grande parte des locados pa ra as c idades e estão servindo de massa de manobra para as invasões de terrenos urbanos, casas e prédi os. Isso não se de u por acaso, é planejado. De fa to, a principal fin alidade (oculta) das invasões de terras nunca fo i dar terra a quem nela quer trabalhar, mas sim anga riar ade ptos para uma revolução soc iali sta. Acontece que o homem do campo brasile iro, seja ele um agricultor ou mesmo um oporl1111ista, é muito intuiti vo, e ao perceber para onde estava sendo levado, não aderiu . Mes mo quando se apossa indev idamente de uma terra, e le não quer sa ber de soc iali smo, nem de comunis mo o u ideo log ias desse naipe. Por isso, a agitação agrária fo i em boa medida transferida para as cidades, a fim de reforça r os chamados sem-teto . O líder máx im o do MST, o marxi sta João Pedro Stédil e, j á havia anunciado essa transfe rênc ia, pouco depo is de vo lta r de Roma, onde fo i parti cipar de um simpósio promovido por um órgão do Vaticano. Na ocas ião, em entrevista ao Porta l IG ( 17-2-14), afirm ou: "Só ocupar terras não muda mais a correlação de.forças. O MSTprecisa das alianças com a cidade". Ele admitiu "que a reforma agrária clássica, baseada em invasões, acampamentos e distribuição de terras, pela qual o movimento lutou por três décadas, está ultrapassada e perdeu a oportunidade histórica". A " urba ni zação" do MST, con ta S tédil e, ve m sendo construída com um proj eto de ali anças, que inc lui os movimentos socia is que lutam por moradia nas gra ndes cidades e as centra is sindi ca is. Di ante desse quadro, não é fora de propós ito lembra r que o mode lo sociali sta de Reforma Agrári a vem da Antiguidade pagã, tendo fracassado também lá, por fa lta de adesão dos camponeses. Os dados hi stóricos fa lam muito e a analogia com situação bras il eira é marcante. Vamos a eles.
* * * Estamos no ano 130 antes de Cri sto, em pl eno Impéri o Romano. O povo da Roma anti ga não se de ixa levar por demagogos agrári os que querem j ogar a população contra os proprietári os de terras.
Os dois irmãos G racchus (escultura acima), tribunos c oradores - espéc ie de deputados esquerdi stas da época reso lve m pro por le is agrárias contrárias à ari stocracia ro mana, grande propri etári a de terras (hoj e se diri a, latifundi ári os). Pela prime ira vez Roma conhece a tentativa de lançar os pobres contra os ri cos. Com que resultados? Vej amos o que nos di z a respeito o hi stori ador francês Fuste l de Coulanges, o ma is respe itado autor da Hi stóri a G reco-Romana: " A luta entre ricos e pobres não começou em Roma senão no te mpo dos G racchus. Mas esta luta nunca teve em Roma ca ráter viol ento, como em outras partes. O povinho romano não invejava mui to a riqueza; ele ajudou mo temente os Gracchus; recusou-se a crer que os reformadores traba lhasse m por e le, e os abandonou no momento dec isivo. " As leis agrárias, tão frequentemente a presentadas aos ri cos co mo uma ameaça, sempre de ixaram o povo muito indi fe rente, e não o agitaram a não ser na superfície. " Via-se c laramente que o povinho não desej ava muito vivamente possuir terras; de outro lado, ao lhe oferecerem a divi são das terras públicas, isto é, do do míni o do Estado, ele não tinha desej o de despoj ar os ricos de suas propriedades. "Em parte por um respe ito enraizado, em parte pelo hábito de nada fa zer, o povinho preferi a viver ao lado dos ricos, e como que à sombra de les". ( Fuste l de Coulanges, La Cité Antique, livre V, cap. 11 , Hachette, Pari s, 19 17, 24" edi ção). • E- mail para o aul or: ca toli cismo@terra.com.br,
AGOSTO 2014
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Tensão e distensão no semblante de um Santo ■ PuN10 CüRRÊA DE Qu'{ÉJRA
foto à direita focaliza, nos jardins do Vaticano, o Papa São Pio X acolhendo visitantes distintos, que lhe apresentam suas homenagens. O corpo do Papa, ereto e vigoroso apesar dos anos, dá uma impressão de ascese e firmeza , mas alguma coisa em sua pessoa, e sobretudo a fisionomia desanuviada, exprime repouso e distensão. É que o Santo está passeando em instantes de lazer. O sorriso afável, quase carinhoso, o gesto do braço que se estende, da mão que se abre, exprimem uma colhida franca e paternal. Em todos os circunstantes nota-se o efeito da presença do Pontífice: muito respeito, que não exclu i uma suave e natural alegria. O lazer de um Santo nunca é porém esq uecimento de seus deveres. Note-se quanto o olhar com que o Pontífice considera o visitante que o cumprimenta, é atento e penetrante. São Pio X era excelente psicólogo, e várias das pessoas que com ele fa lavam tinham a impressão de que li a nos seus corações.
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Consideremos a segunda foto. O olhar diz tudo. Firme, sereno, lúcido, parece perscrutar com impressionante nitidez, com dor, mas com coragem, um hori zonte muito fundo, carregado de nuvens pesadas. Tem-se a impressão de que em sua alma se passa o mesmo que na de um capitão, atônito com o vulto da tormenta que se apresenta, mas disposto a prosseguir intrepidamente na rota traçada. Esta resolução do Papa Santo se nota aliás em todo o seu ser: ainda aqui , corpo ereto e forte dá uma viva impressão de robustez, apesar da idade. Quão grande é o fardo das preocupações, di -lo a cabeça, um pouco pendente, o corpo quase imperceptivelmente arqueado. O Papa parece atingir o ápice do seu Ca lvário. Tem a alma amargurada com os pecados do mundo, e vê ao longe os castigos que se acumulam no hori zonte. É a guerra mundial qu e se aproxima, com seu cortejo de desastres materiais e morais, e as ruínas políticas, sociais, econômicas e principalmente religiosas do pós-guerra. Mas todo o seu estado de espírito é de quem conserva uma grande paz interior: "Ecce in pace amaritudo mea amaríssima" ... ("Encontrei a paz na minha amaríssima aflição", Isaías 38- 17). •
* Este texto, pub licado na edição de novembro de 1954 de nossa rev ista, pareceunos muito adequado para figurar também na presente edição em homenagem a São Pio X, no centenário de se fa lec imento. A Direçlio ,te Catolicismo
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PuN10 CoRRÊA DE OuvE1RA
A monotonia da nossa vida pública e se comparar o número global de membros efetivos dos diversos partidos políticos (número este muito inferior ao dos e leitores que afluem às urnas pela pressão da obrigatoriedade do voto, e não têm remédio senão inscreverem em sua cédu la e leitora l algum candidato de partido a que não pertencem), com o número de brasileiros em idade de votar, a desproporção é flagrante. Muitíssimos são os brasileiros que não pertencem nem aderem estave lmente a partido algum. Essa abstenção se deve à indiferença política de muitos deles: a coisa pública pouco ou nada lhes fa la à alma. Mas, ao que tudo indica, a maior parte desse e leitorado não arregimentado opta pela marginalização partidária, não porque lhe fa lte interesse pelo bem comum e pelas problemáticas relacionadas com este, mas por outra razão: é que e les acalentam no fundo da a lma anelos, ideais, sugestões políticas, sociais e econômicas para as quais não encontram nenhum reflexo nos mass media compactamente homogeneizados. Mass media mais ricamente diferenciados, do ponto de vista ideológico, doutrinário e cul tura l, poderiam servir de meios de expressão e de consequente aglutinação de inúmeras almas que se calam. E a vida pública brasileira adquiriria ass im a amplitude e a vitalidade que lhe faltam. Com efeito, entre os que assim são abafados se encontram , muitas vezes, reflexões ansiosas de se comunicarem, aspirações palpitantes do desejo de procurarem em larga esca la e lementos afins aos quais somarem os que já têm, com o fito de iniciar uma pregação política ou socioeconômica específica, concepções novas do Brasil que não chegaram a se esboçar inteiramente, vida corpuscu lar, miúda, mas estuante, a qual lateja nos recantos ideológicos minoritários e obscuros do País e que tendem a lançar cada qual, em tais c ircunstânc ias, seu SOS para sa lvar o País ... ou para que o País os sa lve da situação anquilosada na qual vegetam.
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-CATOLICISMO
Não é dificil admitir que toda essa vida, comprimida pelo anonimato a que a relega o capitali smo publicitário, se "vi ngue", reco lhendo dentro de si as riquezas de pensamento que muitas vezes possuem. E privando ass im a vida pública da vivacidade rica e inesperada que lhe é peculiar. Daí resulta em parte a monotonia da nossa vida pública: "monotonia " no sentido etimológico do termo. A "monotonia ", sim, que insti la o tédio político no grande público. E produz a "a-fonia" de considerável parte do eleitorado. • Excertos da obra de Plínio Corrêa de Oli veira, Projeto de Constituição angustia o País, Catolicismo, Ed. Extra, SP, 1987, p. 19.
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UMARI Igreja católica destruida no Iraque
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Equívocos na questão jndígena e agrá1ia Debacle do ParUdo Socjajjsta Francês
26 D..:s·1'!\()lm 800 anos do nascimento de São Luís IX 40 VAm..:oAn..:s Avanço muncUal do conservadoâsmo 42
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Nossa Capa: Freiras dominicanas do convento de Santa Catarina de Siena destruido em Mosul (Iraque).
Embaixo, estátua equestre de São Luis, na cidade de Saint Louis, Missouri (EUA). Murchou a rosa do PS francês SETEMBRO 2014 -
Caro le itor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116
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Administração: Rua Visconde de Taun ay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante : Fone/fax (0xx11) 3333-6716 Correspondência: Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Lida . E-mail: catolicismo@terra .com .br Home Page : www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502 Preços da assinatura anual para o mês de Setembro de 201 4: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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No mês anteri or desencadeou-se uma das mais crué is persegui ções contra os cri stãos em diversos países muçulmanos, sobretudo no Iraque, movida pelos guerrilhe iros do ISIS ou ISIL (sigla em inglês de Estado Islâmico do fraque e do Levante). Ta is guerrilhe iros impõem aos cri stãos que se perverta m ao Islã, ou que aba ndo nem suas casas sem levar seus bens; do contrá ri o serão mortos. Dezenas de milhares de cristãos iraqui anos estão sofrendo atrocidades brutais prat icadas po r esses ex tremi stas maometanos. O patri arca cató lico caldeu de Bagdá, Do m L uís Raphae l Sako, afi rmou que 100 mil cri stãos em fu ga estão passa ndo por uma verdade ira Via Sacra, ca minhando sob o calor ardente para se refug iarem em cidades curdas. Po r sua vez, o líder da comunidade caldeia, Mark Arabo, dec larou ao canal norte-ameri ca no CNN que osj ihadistas do lSIS estão decap itando até crianças cristãs e exec utando seus pais, mu itos são enfo rcados. Em face dessa tragédi a, Catolicismo apresenta como matéri a de capa desta edi ção o dram a pu ngente desses nossos irmãos na fé.
146,00 218,00 374,00 616,00 13,50
CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
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Comemora-se neste ano o oitavo cente nári o de um grande re i, estadi sta, cru zado e santo, títul os que constituem apanágio de São Luís IX, consolidador do re ino da França, árbi tro da Cri standade, empreendedor das duas últimas cruzadas co ntra o Islã, poss uidor de alta visão dos assun tos temporais e, sobretudo, de elevada virtude. Catolicismo, na seção " Destaqu e" desta edi ção, a justo títul o oferece aos le ito res o perfi l bi ográfi co desse soberano que marcou o século XIII. Em meados deste, qu ando o idea l das cruzadas já se encontrava amortecido na Europa , São Luís o reacendeu, promovendo a sex ta e sétima C ruzadas co ntra a tira ni a muçulmana que se exercia sobre Jeru salém. Exce lente modelo para todos os governantes, se São L uís tivesse sido imi tado pelos outros chefes de Estado, o mundo não teri a sido dominado pelo neopaga ni smo moderno. E se vivesse em nossos di as, sem dúvida empunhari a sua espada em defesa dos cri stãos iraqui anos.
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Q ue as co nside rações so bre as pe rsegui ções anticri stãs sirvam como um brado de a lerta para que as autorid ades das nações oc identais tomem prov idências urgentes co m vistas a reprimir as investidas do [slã. Soli c ita ndo aos prezados leitores prementes orações nessa intenção e pelos cristãos pe rseguidos, desejo a todos uma boa le itura, E m Jesus e M ari a,
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7 D IRETOR
catolicismo@terra .com.br
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DISCERNINDO
MTST, PCC, PNPS e FFPS r!
Cio
ALENCASTRO
I
ndigestão de siglas, que ademais metem medo. O que significam? Como se relacionam?
MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, organização voltada a invadir prédios e terrenos urbanos, sob o pretexto de obter moradia para quem não possui.
PCC - Primeiro Comam/o da Capital, organização abertamente criminosa que ahia dentro e fora dos presídios.
PNPS - Política Nacional de Participação Social, decreto da presidente Dilma Rousseff que cria uma série de conselhos (leia-se soviets) , com os quais fica estabelecido uma espécie de governo paralelo capaz de executar mais facilmente o programa socialistaautogestionário do PT, sem o concurso do Congresso Nacional nem do Poder Judiciário.
FFPS - Fundo Financeiro de Participação Social, inventado pelo ministro Gilberto Carvalho, a ser imposto por decreto, para financiar com dinheiro público a infraestrutura do PNPS.
* * * Embora se jacte que seu objetivo é obter moradias para os sem-teto, o MTST vem se entregando ao bloqueio de vias importantes, ao cerco e invasão de prédios, inclusive com arrombamentos, e até à reivindicação de melhori as no serviço de telefonia móvel nas periferias! Por que
tão extenso leque de ações ilegais? Guindado das profundezas do nada aos galarins da propaganda midiática, seu líder Guilherme Boulos diz que o MTST "não é um movimento de moradia ", mas "um projeto de acumulação de forças para mudança social ". A complacência, para não dizer incentivo, das autoridades com o MTST é patente. O PCC, por sua vez, vem crescendo continuamente, mostrando-se como uma espécie de FARC brasileira, com ramificações no Paraguai e na Bolívia. Afirma-se que ele já se espalhou pela maioria dos estados (22 dos 26 da Federação) e que chega a faturar R$ 120 milhões por ano, com o tráfico de drogas e outras atividades criminosas. A leniência do governo em combatê-lo é notória. Segundo o Ministério Público Estadual de São Paulo, o PCC controla 90% dos presídios paulistas. No PNPS estão presentes os mesmos princípios e ações que a opinião pública repudiou em 2009, por ocasião da publicação do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), no final do governo Lula. O PNPS segue as pegadas da manobra empreendida na Venezuela por Chávez e Maduro: um poder paralelo submisso ao governo, composto por militantes muitas vezes armados que seguem a cartilha das esquerdas. Tal poder ruma para um regime dito "comunitário" em que a propriedade particular é fortemente golpeada, a caminho de sua final abolição; a família sofre toda sorte de injunções; e as liberdades individuais são coarctadas. Pairando sobre os múltiplos soviets, um partido hegemônico
tipo PT dominaria sobre os demais partidos, aviltados, enquanto não pudesse aboli-los, a exemplo do que ocorreu na União Soviética, e ditaria as normas a serem seguidas para a construção da sociedade socialista autogestionária. Gilberto Carvalho deseja que se exerça pressão sobre o Congresso para que o decreto não seja impugnado, tendo chegado a pedir, nesse sentido, a mobilização dos membros do Conselho Nacional de Saúde. O FFPS, por sua vez, fere profundamente a Constituição, a qual impede que a Presidência da República disponha , mediante decreto, sobre organização e funcionamento da administração federal que implique aumento de despesas.
* * * Que relação têm essas siglas entre si? Na aparência, nenhuma, com exceção das duas últimas. Porém, analisadas em profundidade, verifica-se que todas elas concorrem para criar um clima de agitação, semelhante ao que sempre esteve presente nas grandes comoções revolucionárias. Tanto na Revolução Francesa de 1789, quanto na Revolução Comunista de 1917, revolucionários, bandidos da pior espécie e inocentes úteis estiveram de mãos dadas à frente das convulsões demolidoras da ordem civil e religiosa. Estarão querendo nos jogar nesse abismo? • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Fonte: Informações baseadas em matérias publicadas nos dias 17, 18 e 2 1 de julho último no jornal "O Estado de S. Paul o".
SETEMBRO 2014 -
à l greja ta l coragem para combater os novos " hereges", também moderni stas, não cedendo às exi gências de les, mas enfrenta ndo -os va lentemente e vencendo-os.
~ Ato11 e l_ §.M,_Q
(P.G.C.F. -
RS)
P1·imavera rnligiosa
Coluna espiritual <la Igreja 181 Fique i maravilhado com a fo rça de expressão do grande Papa São Pio X, com seus documentos, bem como com a força da palavra do Prof. Plini o Corrêa de Oliveira comentando aquele Pontificado, aquele período em que a Igrej a era Mestra da verdade. Por mais que os inimigos (no caso, os chamados " modernistas") procurassem atenuar a verdade do Magistério, triunfa va a verdade como ensinada pela Santa lgrej a. C heguei a comparar com documentos mais recentes e notei, com tri steza, a enorme dife rença. Nos documentos de São Pio X a força da verdade com a claridade do sol; mas em documentos mais recentes, nota-se o relativismo do ensinamento, sem fa lar que induz a uma certa confusão. Parabéns por nos ter propiciado celebrar o centenário do Santo Pontífi ce com esta publicação comemorativa exaltando a personalidade do santo, pois em outros órgãos, ditos católicos, não encontrei nenhuma celebração digna do centenário dessa co luna espiritual da Igreja. Por que esse silêncio, como que desprezando o grande Papa? (C.K.P. -
SC)
181 Graças a São Pio X , apesar dos intentos do movimento progress ista da época, fo i impossível que "a fum aça de Satanás penetrasse na Igrej a", segundo a fa mosa expressão de Paulo Yl. São Pi o X não permitiu e nem deu voz aos inimi gos infiltrados co m o obj eti vo de debilitar a Santa Igreja desde seu interior. Ademais e le organizou a ofensiva do bem. Pe na que seu programa de ação não fo i posto em prática pelos sucessores. Estaríamos hoje numa primavera de fe rvor cató lico e não neste in verno de medi ocridade que vemos nos ambi entes católicos corroídos pela "esquerda cató li ca". (A.C.B. -
Como na AnUguidadc os v,·of'ctas 181 Há um ditado popular dizendo que "o tempo é o senhor da razão". Somos obrigados a concordar com o pensador Plinio Corrêa de Oliveira. Ma is que uma suposição, ele sabia dos desdobramentos dos fatos. Pessoas brilhantes têm sido desconsideradas através dos tempos, o que resultou em decepções e sofrimentos. Estamos diante de um desses exemplos. Como na Antiguidade os profe tas dos nossos tempos denunciam, mas hoje são poucos aqueles que os escuta m. (J.L. -
PE)
PE) hnraSOl'CS
Digno Vigário <le Jesus Cristo Entu s ias me i-me com os escritos a respeito de São Pio X, sobretudo o fa to de e le não ter tra nsig ido com os adversários que conspi ra vam contra a Igrej a, e a gove rnou com s uma sabedo ri a e mão enérg ica, dedicando-se incan sa ve lmente para manter toda a firmeza doutrinaria, sem a qual tudo vai desmoronando. Na minha opinião, ele fo i um dos mai ores Papas de todos os tempos, di gno Vigário de Jesus C ri sto e di gno sucesso r de São Pedro. É, sem dú vida, o melho r exempl o que temos pa ra seguir no bom combate aos erros do mund o mod ern o. Ainda qu e não ti vesse lid o tudo sobre e le, bastari a ver suas fotos, que, por si só, revelam a grande santidade que ele alcançou. (A.N.R.V. -
PB)
"Novos hereges"
Questão imlígem1
Como que um braço de Deus agindo pe la "restauração de todas as co isas em Cri sto" ( confo rme o lema de São Pio X), é que aco mpanhe i a leitura, qu e fi z com um a dobra da atenção , os arti gos sobre o co raj oso Papa do iníc io do sécul o passado. Que fa lta faz
181 Muito oportuna as declarações do Sr. Edward Luz [vide entrevi sta, edição de julho/2014]. Pe soas como ele não podem desanimar em continuar lutando contra ta ntos desmandos de órgãos importantes do governo. Sabemos que as pressões são terríveis, e se ele estiver
-CATOLICISMO
sozinho, as dificuldades são muito maiores, mas não tem outro je ito. Quando alguém sabe o que está fa lando, e dispõe de provas sérias referentes aos erros que estão sendo praticados em relação à atual questão indígena, não se omite, mesmo sozinho ele pode ajudar muitos a terem condições de se opor a esses erros. (G.C. - RJ)
181 A te rra deve se r d e qu e m ne la trabalha, pl anta, co lhe, admini stra e comerciali za. Fazendeiros, agricultores e lavradores, na verdade, são escravos porque trabalham para a nossa a limentação. Difícil seri a se houvesse greve geral na agri cultura . Fa ltariam alimentos na c idade, desemprego, fo me. Ou será que invasores do M ST querem que os c itadinos passem fo me? Ou , então, será que é tanta a vontade dos invasores de trabalhar sob o so l, carregar peso e se suj ar na terra? (E.S. -MG)
Decrnto prnsidencial 18] Q uanto ao artigo do Sr. Héli o Vi ana, O decreto presidencial nº 8.243
ou sovietização do Brasil p elo PT, concordo plenamente. Só lemb ro que essa questão de " democrac ia direta" recorda- me o dito do Lul a a respe ito da Venezue la, onde exi stiri a "democracia até demais" .. . (A.T.M. -
SP)
"Descanse em vaz " 181 Sobre a fa la do primeiro-mini stro francês [Manue l Vall s] de que a esquer-
da está morrendo? Pois bem, que morra de uma vez e .. . desca nse em paz . .. (M.O.F. -
RJ)
Desco11te11tame11to justilicável [81 F ique i revoltadíssimo com a notícia da ida da Presidente Dilma a Cuba para bajular o ditador Raul Castro ! E não bastasse isso, a inda levo u do nosso sofrido dinhe iro, alta soma: US$ 1.37 bilhão, [tirados dos] bras il e iros que, em grande parte, são desempregados e passa m necess idades dolorosas ! Fo i um ultraj e fe ito, sorrid ente mente, a nós, a todos os bras il eiros, ri cos ou pobres ! E la abu sou de seus dire itos; até pisou a dignidade de ser Presidente! (M.D.H.G . -
SP)
Um abismo atrai outl'o
"A byssus abyssum in vocat " e, co m o Vati ca no 11 , ca da vez ma is abi s mos estão atra indo o utros, po is se perderam os fre ios da fid e lidade ortodoxa e das di sciplina e hi erarquia clerica is. "Roma locuta, causa.finita", infeli zmente, não temos vi sto mais a ação serena e enérg ica de Roma, mas, pe lo co ntrário, pronun ciamentos, no mais das vezes, se não contrários à sã doutrina, um tanto ambíguos. (R.R.S. -
SP)
Indevida interf'el'ência [81 Essa é uma fo rma sucinta de se impl antar a interfe rênc ia direta do estado na soc iedade. Com essa " lei da palmada", e les podem in vadir s ua casa, sem mandado judic ial, podem infe rni za r a vida de qualquer pessoa que seja contra suas pretensões e que tenha filhos, simpl esmente cri and o fa lsas denúnc ias. lm ag ine m um co nse lho tute lar com o poder de dec isão maior do que um Jui z de Direito! Essa co1j a tem de ser ex tirpada da sociedade, antes que nos domine e mostre a que vi eram . (W.G.F. -
RJ)
"Eu me recuso! " [81 A respe ito da fa migerada " lei da
pa lm ada", sinto- me na obri gação de expressar meu convencimento: se, por acaso, algum dia, eu tivesse um filho e precisasse, debaixo do teto do meu lar,
dar-lhe umas palmadas ou um puxão de orelha, para me faze r entendido, na hora de um sermão qu e visasse controlar alguma revolta ou desobediência, ou qualquer outra atitude de fa lha de caráter desse meu filh o, e alguém buscasse me punir por isso, seria tentado a levar antes esse filh o, sua mala com suas ro upas e eventuai s brinquedos, à primeira insti tuição pública, estatal, que encontrasse pela frente. Porque, a partir daí, ele não mais seria meu filh o, mas passaria a ser por mim considerado filh o do Estado, e o Estado que o suportasse dali em diante. Meus pais me educaram muito bem, para eu ser o que sou hoje, uma educação pince lada de algun s inesquec íveis "cascudos", algumas "c intadas", puxões de orelha e de cabe lo, se mpre so b as breves, auto-ex plicati vas, inesquecíve is e sábias palav ras de meu pai: "Filho que
"Qua.náo dominam os justos, alegra-se o povo; qua.náo governa o ímpio, o povo geme"
não apanha em casa, mais tarde vai apanhar lá.fora, dos outros, na rua, e da vida". E aca bamos nas mãos de um
(c:;eorg LLcviteV\,berg)
Estado inepto, inefi ciente, patrocinador desse caos soc ial em que nos vemos hoje. Nem toda demagogia cio mundo esconde o fracasso estatal em controlar a desordem em que nos vemos jogados. É dos três aos dez anos de idade que se constrói os füncl amentos do que um di a será um homem de verdade, de caráter e com personalidade. E o Estado, apesa r de ser um monstro louco, tem perfe ito conhecimento dessa c ircunstância. Razão pela qual promulga despoticamente leis mentalmente perturbadas, in vasivas e desconcertantes. Tudo co m a fin alidade de "adotar" a pro le e destroça r a famíl ia. Fe lizes os homens de hoj e que tiveram pais corno os meus. Parodi ando Zo la, no fa moso "J' acc use !", diante desta e outras tantas " leis" , EU ME RECU SO ! S impl es mente, R ECUSO ! Essa lei cretina deveria estar dirigida a_pais que abortam, que j ogam fetos e filh os em esgotos, nas calçadas, pelas j anelas de seu apartamento e em cruzamentos para que mendi guem, ou em ca ntos de ruas para que se droguem e se prostituam; ou a inda, para os pais que permitam que se us filh os se tornem maus políticos. (N.A.T.G.P. -
FRASES SE LEC IO NADAS
(LLvro /i!os ProvéYbLos, _;), ::2)
"Quanáo os que comandam perdem a vergonha,, os que o&eáecem perdem o respeito"
"O castigo dos 6ons que não fazem po[ítica, é ser
governados por maus que fazem política" (PLcttêío)
"Tempo de efeição, mentira como o cão" (ProvéYbLo -português)
Cartas, fax ou e-mails: enviar aos endereços que figuram na página 4 desta edição.
PR)
SETEMBRO 2014 -
A REALIDADE CONCISAMENTE Freira suíça prega a eutanásia, bispos ''dialogam" com ela ... óror Marie-Rose Genoud (foto), religiosa ursulina do cantão de Valais (Suíça) e ativista pelos imigrantes ilegais, declarou-se favorável à eutanásia disfarçada como "suicídio assistido". Dom Norbert Brunner, bispo de Sion, lembrou que a religiosa não obedece ao ensinamento da Igreja Cató lica. Mas em vez de puni-la, prometeu dialogar com e la e que "não aplicaria eventuais sanções ". A Conferência Episcopal Suíça defendeu "um debate no interior da Igreja" sobre um tema como esse, que está há sécu los fora de discussão. Essa posição dialogante rendeu copiosos dividendos à contestação subversiva da freira , que se recusa a aceitar o estabe lecido pelo quinto Mandamento da Lei de Deus. •
S
Exorcista: "missa negra" em Oklahoma "entrega as almas ao inferno"
O
grupo satanista "Dakhma of Angra Mainyu" foi autorizado a celebrar uma "missa satânica" no Oklahoma Civic Center Music Hall, pertencente à prefeitura. Entrevistado pelo site católico "A leteia", um sacerdote exorcista alertou para os perigos espirituais dessas "m issas negras" :
"O inimigo nunca dorme, e os satanistas estão aumentando, declarando-se agnósticos, ateus, ou sem religião. Está em curso uma verdadeira batalha espiritual p ela alma de nosso país. Legalizando-se o aborto, a eutanásia e o 'casamento ' homossexual, de tal maneira antitéticos aos valores do Evangelho, estamos liberando o poder do diabo em nossa sociedade. Devemos invocar Nosso Senhor; Sua Mãe Santíssima e todos os anjos e santos nesta f eroz batalha contra os poderes do inferno. Cessar de combater este mal é entregar as almas ao inferno ". •
Seminaristas chineses recusam celebrar missa com bispos comunistas
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s seminaristas de Pequim boicotaram sua cerimônia de colação de grau , para não terem que participar de uma Missa conce lebrada por bispos comprometidos nos últimos anos com sagrações canonicamente ilícitas. A cerimôn ia, imposta pelo governo comu ni sta, não se realizou . Aliás, não é a primeira vez que isso acontece. Em 2000, todos os estudantes do Seminário Nacional - mais de 130 - foram expulsos, por se negarem a participar de uma sagração ilícita de bispos alinhados ao governo. Em carta aberta, os seminaristas expli caram: "Não queremos ir contra o Papa; ainda
que.fiquemos impedidos de ser sacerdotes, conservaremos a alma pura, em comunhão com a Igreja universal e unidos no amor de Cristo". Também os seminaristas de Xanga i se opuseram à presença de bispos ilícitos. Este seminário diocesano foi fechado pela ditadura comunista. •
Maiores Q.I. do mundo em pessoas que acreditam em Deus
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empre pareceu evidente: o ateísmo emburrece. Mas aque les que negam a existência do Criador diziam orgulhosamente que as "p essoas que acreditam em Deus o fazem por ignorância ". Agora está disponível na internet o catálogo das pessoas com os mais altos coeficientes de inteligência (Q.l.) já verificados no mundo. E basta olhar para os dez primeiros, para constatar que o verdadeiro é o oposto: são pessoas das mais diversas procedências, estudos e idades; a única constante é que todas acreditam em Deus, embora não professem a mesma religião. As inteligências mais brilhantes não recusam a existência da fnteligência Criadora. •
-CATOLICISMO
Prefeito de Pádua instala crucifixos e proíbe cultos islâmicos
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prefeito da c idade de Pádua (Itá li a), Massimo Bitonei
(foto acima), dispôs que a municipalidade distribua
crucifixos para serem afixados obrigatoriamente nas esco las e dependências governamentais. "Não mexam nos crucifixos ou vai ter problema ", disse o chefe do executivo da cidade onde está situado o santuário de Santo Antônio, quando uma decisão de um tribunal europeu - logo revogada - tentou banir as cruzes e os sinais cató li cos dos prédios públicos italianos. Bitonei também interditou a realização neles de orações maometanas. As duas práticas religiosas não podem coex istir, dada a militância dos islâmicos contra os cristãos e o respeito à dignidade das orações que exaltam a Redenção do gênero humano, que o Islã odeia especia lmente. Mas, acima de tudo, porque uma religião fa lsa como o islamismo não pode coexistir com a única religião verdadeira - a católica. •
Na China, smartphones baratos com software espião •
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martphones de marcas desconhecidas e de baixo custo estão env iando os dados de seus usuários a servidores chineses, disse a empresa de segurança a lemã G Data Software. Esses smartphones estão à venda nos maiores sites de e-com merce com software de espionagem préinsta lado. A empresa comprou online o Star N9500 e trabalhou mais de uma semana até identificar o perigo. O modelo é produzido em Shenzhen, su l da China, e o spyware permite a um servidor, instalado nesse país, captar os dados do usuário, acompan har os locais onde ele usou o apa relho, e ativa r à distância a câmara ou o microfone do sma rtphone. •
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Livro desvenda alto luxo do ídolo dos "defensores dos pobres" uan Reinaldo Sánchez, guarda-costas de Fidel Castro durante 17 anos, denunciou que o " líder do povo" vive no luxo, que reprova quando se trata do "corrupto" cap itali smo americano. Segundo ele, Fidel levava vida de ricaço extravagante, possuía o único iate de lu xo de Cuba, no qual recebia, entre exóticos prazeres, seus am igos íntimos, como teólogos da libertação engajados na luta "pelos pobres", ou escritores dojet-set como o colombiano Gabriel García Márqucz. Em seu livro, Sánchez descreve o rosto ocu lto do totem das esquerdas latino-americanas, a quem acodem tanto presidentes popu li stas e ec lesiásticos que se dizem defensores dos Direitos Humanos, quanto pretensos inimi gos da ditadura e advogados dos pobres. •
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Fanáticos islâmicos almejam a conquista de Europa e do mundo
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a Síria, dois extrem istas islâm icos postaram um a mensagem ameaçadora: "A Espanha é /erra de nossos avós e vamos tomar conta dela p elo poder de Alá". Abu Bakr ai Baghdadi (foto), líder dos terroristas do Estado Islâmico de Iraque e Síri a (ISfS), exortou: "Pegai as armas, ó soldados do Estado Islâmico! E combatei, combatei! A Síria não pertence aos sírios, nem o Iraque aos iraquianos. A Terra toda pertence a Alá. Vós conquistareis Roma e possuireis o mundo lodo". O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, esteve na cap ital austríaca no dia de Corpus Chrisli , e discursando perante uma multidão de turcos, disse : "Nós somos os netos do poderoso Sultão Solimão. Nós somos os herdeiros de heróis como Maomé IV e Kara Musta.fá Pachá ", referindo-se aos chefes cios exérc itos otomanos que sitiaram Viena em 1529 e 1683. Neste lin k (https://www.youtube. com/watch?v=PB44P5TDAt4), o leitor encontrará uma interessante representação do primeiro sítio de Viena. •
Arcebispo exorta soldados ucranianos ao bom combate Metropolita (arcebispo) grecocatólico de Lviv, D. lhor Voznyak, publicou carta de apoio aos militares ucranianos, na qual sublinha: "Vós, a mais jovem geração de ucranianos, se transformou para todo o nosso povo em verdadeiro rochedo, que não será quebrado pelo medo, pela intimidação e pelas ameaças. Eu vos agradeço por vosso coração valente, cheio de ternura para com Deus e desejo de paz, que não foi envenenado pelo ódio, pelos maus-tratos ou por vilões estrangeiros. Acredito que vossa ação mostrará a todo o mundo que o povo da Ucrânia não está de joelhos e nunca permitirá ser acorrentado como escravo. E vós, tendo Cristo como companhia, vencereis a agressão e o furor, pelo bem da liberdade e dos valores morais que são a base do nosso vitorioso futuro comum."
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Bilocação do Padre Pio parn assistir o Cardeal Mindszenty urante o período comunista, por meio de uma bilocação - fenômeno místico extraordinário que faz com que uma pessoa esteja em dois lugares ao mesmo tempo - o Padre Pio pôde entrar numa cela na Hungria onde estava preso o destemido cardeal József Mindszenty. Em recente livro, Angelo Battisti, diretor da Casa AI ívio do Sofrimento, relata o que ouviu do próprio santo. No cárcere, "numa manhã, apresentou-se diante dele o Padre Pio, com tudo que ele precisava [para a Missa]. O Cardeal celebrou sua Missa e o Padre Pio lhe serviu [de acólito]; depois conversaram e, no final, Padre Pio desapareceu". O Padre Pio concluiu: "Lembre-se de orar por esse grande confessor da fé, que tanto sofreu pela Igreja ".
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SETEMBRO 2014 -
CAPA
JUAN MIGUEL M O NTES
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fim de um mundo milenar infelizmente chegou" - escreveu, no último dia 8 de agosto no "Corriere della Sera", o conhecido historiador Andrea Riccardi, referindo-se à imensa tragédia dos cristãos iraquia-
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CATOLICISMO
nos e lamentando, porque ''.faltou da parte de todos uma ideia do que estava para suceder". "Da parte de todos ". São palavras claras , que não admitem ate nuantes ou isenção de responsabilidade. De fato , trata-se de uma realidade que temos diante de nossos olhos. Até mesmo na fgreja se pensou em outra co isa em todo esse
tempo decorrido desde a famosa denúncia do bispo de Esmirna (Izmir, Turquia), Dom Gi useppe Bernardini, quando em sua intervenção no Sínodo de outubro de 1999 deixou claro que em certos âmbitos eclesiásticos havia uma certa miopia em julgar as intenções dos islamitas, infiltrados nas grandes migrações humanas para a Europa, segund o ele, com um programa de "expansão e reconquista".
O prelado, depois de 16 anos na Turquia, conhecia bem o assunto e seguramente tinha muito presente a erradicação do cristianismo da Anatólia no início do século passado, com o genocídio dos armênios.
1999: impõe-se um sínodo urgente sobre a questão A fim de evitar à Europa tal tragédia, ele propunha a convocação urgente de "um Sínodo ou simpósio de bispos " para resolver o problema dos muçulmanos nos países cristãos, lembrando a seus confrades reunidos em Roma o que ele tinha ouvido falar de um autorizado expoente muçulmano: "Graças às suas leis
democráticas, vos invadiremos; graças às nossas leis religiosas, vos dominaremos". Diante de um fenômeno em expansão na Europa havia alguns anos, ele concluiu com uma severa advertência: "Nunca se deve dar aos muçulmanos uma igreja católica para o seu culto, porque isso, aos olhos deles, é a prova mais certa de nossa apostasia ". E depois , com um conhecimento preciso da realidade humana, rematou : "Todos sabemos que é preciso distinguir a minoria.fanática e violenta da maioria pacifica e honesta, mas esta, mediante uma ordem dada em nome de A lá ou o Corão, marchará sempre compacta e sem hesitação. D e resto, a História nos ensina que as minorias sempre conseguem se impor às maiorias derrotistas e silenciosas ". As palavras do arcebispo de Izmir, referindo-se especialmente ao perigo da expansão das minorias islâmicas em países de antiga tradição cristã, precediam
as nuvens que se adensavam cada vez mais sobre as cabeças das minorias cristãs em terras islâmicas, e que desencadearam em seguida uma tempestade de furor equatorial.
De 1999 aos dias presentes Àquela advertência seguiram-se, no Ocidente a demolição das Torres Gêmeas (2001), os massacres de Madrid (2004) e de Londres (2005), e no Oriente Médio e na África as atrocidades sem fim contra as comunidades cristãs. Talvez nem sequer o previdente Dom Bernardini podia então imaginar que dois de seus irmãos no sacerdócio, italianos como ele, e missionários na Turquia como ele, seriam brutalmente assassinados naquela terra à qual dedicavam o melhor de suas energias: o padre Andrea Santoro, em 5 de fevereiro de 2006, e o bispo Dom Luigi Padovese, em 3 de junho de 2010. Quando nos lembramos daquelas palavras de advertência e examinamos a realidade que se desenrola diante de nossos olhos, podemos dizer com o Prof. Riccardi que ninguém em cargos de alta responsabilidade mediu toda a gravidade da situação. Certamente o presidente Obama não compreendeu as condições dramáticas em que retirou as tropas norte-americanas do Iraque em 2011, deixando milhões de pessoas abandonadas à mais triste sorte. A administração Obama não parece ter tido a menor noção da força de que estava penetrado o renascimento jihadista da galáxia islâmica. Façase agora o que se queira, a sua parte na tragédia já está escrita. Por outro lado, no âmbito católico, o discurso parecia remoto, quase abstrato; muito menos premente, por exemplo, do que questões como a comunhão administrada ou negada a divorciados recasados. E quando alguém se lembrou do antigo mundo
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cristão que estava desmoronando no Oriente Médio, todo o raciocínio foi, de imediato, atribuir os males da guerra à desigualdade econômica, à falta de solidariedade em relação aos recém-chegados à Europa, à comercialização de armas, e assim por diante. Já este modo limitado de raciocinar denota que de há muito se vinha perdendo, mesmo entre os próprios católicos do mundo secularizado, a perspectiva correta para enquadrar as questões de fundo religioso, dotadas de uma dinâmica própria e que estiveram muitas vezes na origem, como ainda podem estar, de mudanças imensamente significativas. Prnlú<lio do que ,1ai acontecer
Agora é um bispo iraquiano que reproduz quase textualmente as palavras proféticas de Dom Bernardini. O que ele diz assusta obviamente os católicos secularizados. Trata-se de Dom Amei Nona, de 47 anos , arcebispo caldeu de Mosul , em fuga para Erbil: "Nossos sofrimentos de
hoje são um prelúdio daqueles que também vós, europeus e cristãos ocidentais, padecereis no fi,turo próximo". A mensagem é clara, glosa Lorenzo Cremonesi , enviado do "Corriere dei la Sera", em extenso artigo de 1O de agosto: "A única maneira de deter o êxodo cristão dos lugares que viram suas origens na época pré- islâmica é responder à violência com a violência, à.força com a.força. Nona é um homem.ferido, triste, mas não resignado. 'Perdi a minha diocese. O lugar .flsico de meu apostolado foi ocupado por radicais islâmicos que me querem convertido ou morto. Mas minha comunidade ainda está viva'. " "Ele está muito contente de encontrar-se com a imprensa ocidental", acrescenta o enviado do " Corriere": "Por favo,~ procurai
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CATOLICISMO
entender. Vossosprincipios liberais e democráticos aqui não valem nada. Precisais repensar nossa realidade no Oriente Médio, porque estais acolhendo em vossos países um número sempre crescente de muçulmanos. Vós também estais em risco. Deveis tomar decisões fortes e corajosas, sob pena de contradizer os vossos princípios. Vós pensais que os homens são todos iguais - prossegue o arcebispo Amei Nona - , mas não é verdade. O Islã não diz que todos os homens são iguais. Vossos valores não são os valores deles. Se não o entenderdes em tempo, tornar-vos-eis vítimas do inimigo que recebestes em vossa casa". "Nossos sofrimentos de hoje são um prelúdio daqueles que também vós, europeus e cristãos ocidentais, padecere is no futuro próximo ". Ele parece ressoar as palavras de Winston Churcbill após os acordos de Munique e da Baviera, assinados pelo primeiro-ministro britânico Chamberlain com Hitler: "Devíeis escolher entre a vergonha e a guerra; escolhestes a vergonha e agora tereis a guerra ". O pacifismo <lesmobiliza as consciências
O fato é que um pacifismo dogmático entrelaçou-se na mente ocidental em geral e especialmente na católica, como a serpente na árvore do Paraíso. Isso faz com que a realidade do pecado e do mal seja implicitamente negada, permitindo ao irenismo de obnubilar a razão, tornando-a depois psicologicamente despreparada para as ocasiões em que é necessário reagir. Portanto, aconteça o que acontecer, para a mentalidade assim plasmada, será sempre errado o recurso às armas e à força, e ela evitará sempre a pergunta elementar: como dialogar com quem atira em você? Se disser o contrário, você será
tido corno alguém que deseja repetir o massacre de 1914 em pleno 2014. Mas, na realidade, quem se arrisca a cair nas repetições são os que não aprendem as lições da História. Corno dernonstrnu em um brilhante ensaio o historiador Alberto Leoni (A Cruz e o Crescente, Ed. Ares 2009), a luta do Islã contra o Cristianismo não é um episódio ou uma sucessão de muitos episódios históricos isolados, mas um grande continuum de 14 séculos com algumas interrupções de paz. Para alcançar essas interrupções e assegurar a sua máxima duração possível , nada é mais necessário do que não perder a grande perspectiva histórica. A 11oz dos bispos
na tribulação
Bem diverso do pacifismo irênico é por certo o panorama que tem diante de si quem está fora do circo midiático ocidental e de suas apertadas agendas mais ou menos politicamente corretas. Hoje não deve surpreender que sejam bispos
como o já mencionado Dom Nono, ou o arcebispo de E rbil , Dom Warda , ou ainda o patriarca caldeu de Bagdá, Dom Sako, que rompem a unanimidade existente para so li citar a intervenção internacional , a qual para ser eficaz só pode ser armada. Uma guerra, em suma. Guerra defensiva, justa e inevitável. "Guerra por amor à paz", como ensin ou Santo Agostinho e retomou Santo Tomás. Temática e doutrina multissecular que um establishment ocide ntal em geral , e cató li co especialmente, quis quase excluir a priori, mesmo como hipótese de escola; como se a huma-
nidade nas últimas décadas tivesse sido completamente regenerada das conseq uências do pecado. O maior problema está no fato de que, quando se cede aos mitos não razoáveis, ulteriores dores e sofrimentos se produzem. Odespreparo psicológico, o entreguismo, a mitologia do diálogo como fim em si próprio, criam monstros piores do que aque les que parecem ev itar. Um grande c lamor em defesa dos cristãos ameaçados, conforme so li citado por Dom Bernardini em 1999, teria podido inibir até mesmo a formação dos dispositivos terroristas e persecutórios islâm icos. Entretanto, aderia-se então à idéia de não criar qualquer tensão com o mundo islâmico no contexto do diálogo inter-religioso. Hoje, a tragédia que se desenrola ao norte do Iraque nos diz quanto os gestos, as palavras e as omissões podem ter grandes e graves co nsequências. Alguém poderá dizer que agora podemos estar tranquilos, porque iniciaram-se as medidas tomadas pelas grandes potências do Ocidente para defender os cri stãos e os
y azidi refugiados nas montanhas. Impedirão elas "o.fim de um mundo milenar "? A julgar pelos fatos, esse fim será irreversível para aq ue la antiquíssima cristiandade do Iraque, talvez também para a da Síria, ameaçando gravemente os milhões de cristãos libaneses. Isto para nos atermos ao Oriente Médio. No entanto, uma outra pergunta se impõe: não está acontecendo tudo quanto disse hoje Dom Nono e ontem Dom Bernardini , isto é, que estamos no prelúdio do que poderá acontecer no Ocidente devido a uma política migratória imprevidente, se não mesmo su icida? O fato é que hoj e se sabe que muitos membros do ISIS, os cabeças do "ca lifado" recém-fu ndado no Iraque e perpetradores de atrocidades contra os cristãos, bem como e outras minorias, levam em seus bolsos passaportes europeus. Junto com um mapa do mundo todo pintado de verde. E quem estaria então recriando em 2014 as condições para a reprodução de um 1914 grande e amp li ado? • E-mail para o autor: catolicjsmo@tcrra com br
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Lágrimas de fogo m Mosul (fraque), os jihadi stas muçulm anos mataram milhares de cri stãos, há centenas de milh ares de refu giados , um verdade iro genocídio reli g ioso . Apesar de viverem a li há muitos séculos e fa larem a língua de Jesus ( o aramai co), os cri stãos não podem ma is permanecer, po is são massacrados. Na China, as autoridade,s comuni stas se aferram a uma ca mpanh a contra a Ig rej a Cató lica e in stitui ções cri stãs . Desde j ane iro o governo demo liu 360 cru zes o u edifíc ios cri stãos, segundo relatóri o da agência " Asia N ews"; e na c idade de Nin gbo (7,6 milhões de habi tantes) a catedral católica, construída em 1872, fo i que imada até às c inzas. Na Nigéri a, os muçulmanos do Boko Aram j á mataram milhares de cri stãos, sem co ntar os sequestros , as escrav izações e as vi o lações, a destrui ção e o incêndi o de ig rejas e esco las cri stãs . Muitos fora m fu zilados dentro dos templ os enquanto rezavam. A indife re nça no Oc idente a tud o isso é asso mbrosa. Autoridades c ivi s e reli g iosas ca lam-se como se o ass unto não lhes concerni sse. A preocupação é promover o aborto, defender as invasões de terras e de casas, perseguir os católi cos que, fi é is a s ua fé, não podem em consc iência ace itar inovações aberrantes, sej am e las impostas por leis iníquas ou po r se nte nças judi c ia is, se mpre a pretexto de dire itos humanos ou de um la icismo to ta li tá ri o. Para o escri to r francês G illes Lapo uge, "no caso dos cristãos de Mosul, es-
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tamos diante de uma das mais violentas crueldades. Surpreende um pouco que esse fa to não tenha provocado indignação nas capitais ocidentais. " ("O Estado de S. Paul o", 24-7- 14). E m arti go intitulado " A indi fe rença qu e mata", o hi stori ado r e j o rn a li sta ita li a no Ernesto Ga lli de ll a Logg ia , é bastante c laro : "Digamos a verdade: a
quantos aqui na Europa e no Ocidente
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importa realmente a enésima matança de cristãos, pela explosão de uma bomba em uma igreja na Nigéria? E, além disso, a quantos importou realmente algo, que cristãos foss em obrigados a f ugir de Mosul, em 24 horas, sob pena de morte ou conversão forçada ao Islã? Ninguém. Assim como ninguém j amais levantou um dedo para ajudar as centenas de milhares de cristãos que.fugiram ao longo deste ano do Iraque, da Síria, de todo o mundo árabe. Quantas resoluções os países ocidentais apresentaram à ONU so bre seu destino ? Quantos milhões de dólares pediram às agências das Nações Unidas para ajudá-los ? E já são anos em que o massacre continua, quase diariamente: às dezenas e dezenas cristãos/oram queimados vivos ou mortos nas igr~jas da Índia, do Paquistão, do Egito, da Nigéria. E sempre no silêncio ou pelo menos na omissão geral. O que, por exemplo, foi f eito de concreto para as 2 76 j ovens cristãs sequestrada há algum tempo, também na Nigéria, pela seitajihadista do Boko /-/aram?" ("Corriere dei la Sera", Mil ão, 28-7- 14).
E as autoridades reli g iosas, mesmo as ma is altas, por que se ca lam? O u se algo murmu ra m, é com um so m quase inaudível, um suss urro sem consequências . Não são irmãos na fé os que estão sendo martirizados? N ão merecem e les todo o nosso apoio? Em sua fa mosa "Via Sacra", Plínio Corrêa de Oliveira exclamava: "Quan-
tos são os que realmente veem o pecado e procuram apontá-lo, denunciá-lo, combatê-lo, disputar-lhe passo a passo o terreno, erguer contra ele toda uma cruzada de ideias, de atos, de viva.força se necessário for ?" N ão, nada disso importa. Os cri stãos que morram. O importante, o urge nte é procurar aquietar a consciência daqueles qu e a si mesmos se co loca ram num a situação de escândalo público por um pse udo-casa me nto , pe la mata nça de inocentes antes de nascerem, ou por uma apostas ia velada. Como pode N ossa Senhora não chorar, por ass im di zer lágrimas de fogo , so bre o mundo di ante desse quad ro? E quando suas lágrimas provocarem o castigo vindo do Céu, como será? •
Ameaça maometana A respeito do Islã, uma verdade esquecida erigo hoje evidente - basta a ludir ao presente massacre de cristãos no Iraque - , a ameaça muçulmana ao Ocidente fora prevista por Plínio Corrêa de O li veira há sete décadas . Neste sentido, entre seus diversos artigos advertindo para tal perigo, seguem trechos de um deles, intitulado Maomé renasce, publicado no "Legionário" em 15-6- 1947. "Quando estudamos a triste história da queda do Império Romano do Ocidente, custa-nos compreender a curteza de vistas, a displicência e a tranquilidade dos romanos diante do perigo que se avolumava [... ]. Falar na possibilidade de ressurreição do mundo maometano pareceria a lgo tão irrealizável e anacrônico quanto o retorno aos trajes, aos métodos de guerra e ao mapa político ela Id ade Média.
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Dessa ilusão, vivemos ainda hoje. E, como os romanos, não percebemos que fe nômenos novos e extremamente graves se passam nas terras do Corão. [... ] Todas estas nações maometanas estas potências , pode mos dizer - se sentem orgulhosas de seu passado, de suas tradições, de sua cu ltura, e desejam conservá-las com afinco. Ao mesmo tempo, mostram-se ufanas de suas riquezas nat11rais, de suas possibilidades políticas e militares e do progresso financeiro que estão alcançando. Dia a dia elas se enriquecem[ ... ]. Nas suas arcas, o ouro se vai acumulando. Ouro significa possibilidade ele comprar armamentos. E armamentos significam prestígio mu ndi al [ .. .]. Tudo isto transformou o mundo islâmico e determinou em todos os povos maometanos, da Índi a ao Marrocos, um estremecimento [.. .]. O ne rvo vital do islamismo revive em todos estes povos,
faze ndo renascer neles o gosto pela vitória. A Liga Árabe, uma confederação vastíssima de povos muçulmanos, une hoje todo o mundo maometano. É, às avessas, o que foi na Idade Média a Cristandade. A Liga Árabe age como um vasto bloco, perante as nações não árabes, e fome nta a insurreição [ ... ]. Será preciso ter muito talento, muita perspicácia, informações excepc ionalmente boas, para perceber o que significa este perigo?" •
Milicianos islâmicos das forças terroristas 1515 no Iraque
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Santa Eustóquia, Virgem F ilha de Santa Paula e discípula de São Jerônimo, a quem acompanhou à Terra SanLa e secundou em seus inúmeros escriLos 1111
Partida de Santa Paula e Santa Eustóquia para a Terra Santa
CATOLI C ISMO
PUNIO M ARIA Sü UMEO
Eustóqui a nasceu em Roma no ano de 368, a terceira das quatro filh as do senador romano Toxócio e de sua esposa Paula. Seu pai pertencia à nobre estirpe dos Júli os e a ancestralidade de sua mãe remontava aos Cipi ões e Gracos de Roma, como afirm a São Jerônimo em sua Carta 108. 1 Ficando viúva aos 32 anos de idade, Paula dedicou-se inteiramente aos filhos e à própri a sa ntifi cação. Passou então a levar vida mortifi cada e austera, na ora-
ção e na penitência. Sua fi lha Eustóqui a, apesar de ter apenas 11 anos, passou a imitar a mãe co mo podi a. Encontro com São ,Jerônimo em Roma
A fim de combater as heres ias que pululava m, principalmente no Oriente, o grande Imperador Teodósio e o Papa São Dâmaso resolveram convocar, no ano de 382, um sínodo em Roma. Convidado a participa r como secretá rio no luga r de Santo Ambrós io, que fica ra doente, São Jerônimo teve seu ca rgo estendido
por São Dâmaso, que findo o sí nodo nomeou-o seu secretário particular. Devido à sua grande reputação, um grupo de matronas e virgens romanas da mais alta aristocrac ia co locou-se sob sua direção esp iri tua l, entre e las Santa Marcela , sua mãe A lbina, s ua irmã Asél ia, Santa Pau la e suas filhas Paulina, E ustóqu ia, Blesila e Rufina; as viúvas Léia e Fúria, Marcelina e Fe li cidade, a lém de outras. São Jerônimo fundou para e las um a espécie de convento aberto em Roma. Várias dessas matronas e virgens romanas viriam a ser veneradas como santas, inclusive a de que nos ocupamos Sa nta Eustóquia - então adolescente, Santa Asélia e Santa Léia. Tiveram então origem as " reuniões do Aventino", isto é, do pal ác io de Santa Marcela , onde Sã.o Jerônimo passou a faze r conferência s sobre teologia e estudos bíblicos para suas aristocráticas alunas, que eram muito atentas. Diz São Jerônimo: "O que eu via nelas de espírito, de p enetração, ao mesmo tempo de encantadora pureza e virtude, não saberei dizer ". 2 Santa Paula assistia às conferências com suas filhas , ouvindo o monge com a maior atenção. Este aos poucos compreendeu que aquela a lm a era chamada à mais a lta perfeição, e a incentivou a prosseguir com decisão nesse caminho. São Jerônimo, que era enérgico e um tanto rígido para consigo mesmo, não consentia que suas dirigidas tivessem uma piedade apo ucada. Exigia delas grandes horizontes e esmerada virtude . Essas opul entas matronas e delicadas virgens deveriam ter o jejum como prática habitual. E entregar-se a uma austera vida de penitência para domar a natureza humana decaída pelo pecado. A Pau la e a Eustóq ui a ele propôs, além disso, que aprendessem o hebraico, a fim de est11darem as Sagradas Escrituras no original. Como "não era possível encontrar espírito mais dócil que o de Paula ", ela e suas filhas puseram-se com empenho ao labor. Com o tempo, conseguiam can-
tar os sa lmos na língua em que foram compostos, e ler as Sagradas Escrituras no origi nal hebraico. Desse modo, São Jerônimo, a par dos estudos escrit11rísticos, "prescreveu rigorosamente o trabalho manual para aquelas descendentes dos Cipiões, dos Fábios, dos Camilos, sob quatro pontos de vista: primeiro, para evitar o tédio, esse peso das vidas mundanas; em seguida, porque é um dever, mesmo para aquelas que Deus mais cumulou dos bens de f ortuna; depois, porque o trabalho pode ser um auxiliar precioso da caridade; e finalmente, porque nada mantém melhor as virtudes domésticas e o espírito de família. Esses quatro pontos de vista, tão atuais ainda, são indicados com grande precisão e grande delicadeza na seguinte passagem de uma de suas cartas: 'Quando terminarem as horas destinadas à leitura da Escritura Santa e à prece, depois que o cuidado de vossa alma vos tenha.fe ito frequentemente dobrar os joelhos, tende sempre vossa lã nas mãos e, ou bem com o polegar puxe o fio do .fi,so, ou forçai-o para fazer uma trama; [. ..] Se estiverdes assim ocupadas, jamais as horas vos parecerão longas; p elo contrário, mesmo os dias longos de verão vos
parecerão curtos, porque à noite não tereis ainda acabado vossa tarefà "'. 3
Voto ele pe,pétua virgill(/ade aos 16 anos No ano de 384, Santa Eustóqu ia, então pelos seus 16 anos, fez voto de perpétua virgindade. Himeto, seu tio, e sua mulher Pretextata, tentaram persuadir a ado lescente a deixar sua vida austera e a gozar dos prazeres lícitos do mundo no meio da a lta soc iedade a que pertencia; mas todas suas tentativas foram vãs. 4 Nessa ocasião São Jerônimo dirigiu à Santa sua célebre carta número 22, conhecida como De custodia virginitate (Sobre a guarda da virgindade), a qual começa com as belas palavras do Salmista: "Ouve,filha, e olha, e inclina os teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa do teu pai " (Audi,filia, et videet inclina aurem tuam et obliviscere populum tuum et domum patris tui - Salmo 44/45, 1112). Essa extensa carta - talvez o mais famoso de seus escritos - constitui um verdadeiro tratado sobre a virgindade, suas vi,tudes, os riscos que corre, e os cuidados para preservá-la. Nela São Jerônimo se estende muito sobre os motivos que devem levar uma jovem a devotar sua vida à virgindade, e dá as
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não estão terminados, e nos quais eu ainda trabalho ". 6
Santa Eustóquia, superiora dos mosteiros
regras de conduta que devem pautar a vida diária da virgem. A ca11a contém também uma descrição muito viva da sociedade romana de então, com seu luxo, sua corrupção e hipocri sia, tanto dos homens quanto das mulheres. Fala ainda extensamente sobre os três tipos de monasticismo praticado naquele tempo no Egito.
Caml}anha de calúnias contra São Jerônimo Entretanto, os que são do mundo não suportam que outros pratiquem a virtude. Logo começaram a circu lar em Roma ca lúnias sobre as relações de São Jerônimo , principalmente com Sa nta Paula. O austero monge resolveu então mudar-se para a Terra Santa, a fim de ficar a sa lvo das más línguas. Na época, escreveu a Santa Marcel a: "Tenho sofrido horrivelmente, mas o que importa isto para quem combate sob o estandarte de Cristo? imputaram-me um crime infamante, mas sei ir ao reino dos Céus tanto pela il1f'âmia quanto pela boa.fama ".5 Entretanto, persistindo os rumores, Santa Paula viu-se obrigada a dividir seu patrimônio entre os filhos , reservando para suas boas obras apenas uma pequena porção. Devido em parte a essa campan ha organ izada contra ela, mais as mortes de sua filha Blesila e do Papa São Dâmaso, ocorrida no ano de 384, Santa Paula decidiu mudar-se também para a Terra Santa. Deixou os filhos Toxócio e Rufina aos cuidados de Santa Marcela, e levou consigo a fiel Eustóquia, que queria comparti lhar sua sorte. Em Belém, Santa Paula edificou quatro mosteiros junto à igreja da
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Natividade: três fem ininos, para as numerosas virgens e viúvas que a haviam seguido à Terra Santa, dos quais ficou superiora, e outro masculino, que ficou sob a direção de São Jerôn imo. Santa Paula e Santa Eustóquia davam o exemp lo em tudo, sendo as primeiras nos trabalhos mais vis. As duas tiveram ampla participação nos trabalhos de São Jerôn imo, como sábias secretárias e tradutoras. Ambas eram fluentes em grego e latim, além do hebreu. Pelo que foram de muita utilidade para o Santo em matéria de pesquisas e trad uções. Por exemp lo, no prefácio de sua tradução do Livro de Ester, São Jerônimo diz: "Paula e Eustóquia, vós, que sois tão.fortes na literatura hebreia e feio peritas em discernir o valor de uma tradução, sede cuidadosas em rever esta, palavra por palavra, de modo a se certificarem se eu acrescentei ou tirei algo do original, ou se, como uma interpretação exata e sincera, eu .fiti feliz em pôr em latim esta história hebreia tal como a lemos em hebraico". Muitos dos comentários bíblicos de São Jerônimo devem sua existência à influência de Santa Eustóquia e de sua mãe, tendo ele lhes dedicado, entre outros, seus comentário sobre os profetas Isaías e Ezequie l, conforme afirma: "A Paula e Eustóquia eu não sei [quantas obras dediquei} porque [para elas] eu escrevia diariamente. Eu escrevi sobretudo dois livros de Explicações sobre o livro de Miquéias, um livro sobre Naum, dois li vros sobre Habacuque, um sobre Sofonias, um sobre Ageu [ou Hagai, um dos profetas menores] e muitos outros sobre os profetas, que ainda
Quando Santa Paula fa leceu, em 404, Santa Eustóquia fico u com a direção dos mosteiros femininos. Ela foi então muito ajudada por São Jerônimo, pois devido à prodigalidade de Santa Paula, que dava de esmo la tudo o que podia, os mosteiros ficaram em precária situação econômica. Em 417 os mosteiros de Belém foram atacados por bandidos, que saquearam e queimaram um deles, matando ou ferindo algumas monjas. Supunha-se que eles agiram a so ldo do Patriarca de Jerusalém e dos hereges pelagianos, contra os quais São Jerônimo hav ia redigido alguns textos viru lentos. São Jerônimo e Santa Eustóquia enviaram então uma carta ao Papa Inocêncio l, o qual repreendeu fortemente o Patriarca. Sa nta Eustóqu ia fa leceu em 419 ou 420, sendo substituída em suas funções pela sobrinha, Paula, a Jovem, que teve a dita de fechar os olhos de São Jerônimo. A festa de Santa Eustóquia ce lebra-se a 28 de setembro. Dela diz o Martirológio Romano: "Em Belém de Judá, Santa Eustóquia, virgem que, em companhia da bem-aventurada Paula, sua mãe, partiu de Roma para a Palestina, onde.foi educada com outras virgens, junto ao Presépio do Senho1'. A refulgir de grandes méritos, passou desta vida ao Senhor". • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas:
1. As citações das ca rtas de São Jerônimo são ex traídas das cartas pub licadas pela Th e Catholic Encyc/opedia, Fathers, St. Jerome, Letters, CD Rom ed iti on. 2. Lcs Petits Bol landi stes. Sa inl Jéróme de Strido, in Vies eles Saints, Bloud et Barra, Paris, 1882, tome XI , p. 541 . 3. Lcs Petits Boll andistes, p. 567. 4. fr. Michael T. 011, St. Eustochi111n .Julia, The Cath olic Encyclopedia, CD Rom edition, 5. Fr. Justo Perez de Urbe!, O.S.B., Afio Cristiano, Ed iciones Fax, Madri , 1945, tomo 1, pp. 173- 174. 6. De Viris ll/11strib11s 135, The Ca th oli c Encyclopedia , Fathers, CD Rom editi on.
ENTREVISTA
Equivocada política agrária prejudica o crescimento do País P roprietários rurais - víUmas habituais de critérios falseados de viés ideológico-esquerdista aplicados nas drnnarcações de terras, que favorecem indígenas manipulados por ONGs
outorando do Programa de Pós-graduação em Ciência s Sociais na Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS/RS , Mestre em Antropologia Social (2002) e Bacharel em Ciências Sociais (1999) pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, o Prof. Antonio Pimentel Pontes Filho é docente e pesquisador em instituições de ensino superior há mais de uma década , atuando em cursos de graduação e diversos cursos de pós-graduação lato sensu. Professor efetivo da Universidad e Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE é orientador de mais de 30 alunos de gra duação e pós-graduação. É autor de artigos e capítulos de livros. Palestrante. Atuou na Comissão Universidade para os Índios - CUIA da SETI/ do governo do Paraná , sendo presidente da mesma no ano de 2009. Experiência na área de Antropologia , principalmente nos seguintes temas : antropologia, religião , teoria antropológica , cultura e laudo antropológico. Nosso entrevistado é proprietário do escritório Pontes Consultoria e Pesquisa , que atua nas áreas das Ciências Sociais, Antropologia , Sociologia e Política , com trabalhos em perícia antropológica, consultoria e pesquisa qualitativa , na cidade de Toledo (PR). O Prof. Antonio Pimentel concedeu esta entrevista a nosso colaborador, o jornalista Nelson Ramos Barretto .
D
Pl'OJ: Anto11io Pimentel:
"J/êm OCOl'J'endo denúncias de migrações de cidadãos /)araguaios, bolivianos e Ollll'OS mais, r1ue aqui estal'iam se passando e 01.1 sendo passados /JOt' ín<lios "
Catolicismo - Quais são as conclusões sobre a demarcação de terras indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná? Prof: Antonio Pimentel - Ainda não oco rreram, mas sa be-se que a FUNAI está fazendo seu laudo antropológico, isto é, uma perícia para anexar ao processo de criação de uma área indígena naqueles municípi os. Depois que o fi zer, será obri gada a publi ca r o resumo dele no " Di ári o Ofi cial da União" e aguardar 90 dias co rridos, para o contestatóri o, por parte de quem se julgue prejudicado. Porém, este é um ato admini strativo dela. Após, ainda transcoITerão até out ros 90 di as , entre buroc racia e enca minhamento ao mini stro da Justiça, para a aprovação e publicação no D.O.Li. do ato de "des intrusão" e de demarcação da área indígena. Catolicismo - O que ocorre então? Prof: Antonio Pimentel - Neste momento, da publicação fin al, é que os ag ricultores, cooperativas e outros atingidos devem ac ionar a Justiça, para garantirem e defenderem seu direito às suas hi stórias de vida, às suas fa míli as, às suas propri edades, ao seu trabalho, ao seu modo de vida e a seus bens. Também é neste momento que os produtores rurais prec isa rão ter um estudo peri cial em mãos, além de outras poss íveis provas que eles tenham. Porque, ao ac ionarem a Justi ça, haverá uma di sputa judicial na qual uma das partes, a FUNA I e o MP F, apresentarão suas provas e mais o laudo antropológico fe ito.
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Se os agricu ltores continuarem a fazer suas defesas, como vem oco rrendo até agora, e não as apoi arem em uma perícia antro pológica, a Ju stiça esta rá ouvindo apenas uma das partes, a FUNA I e o MPF. Pelo que observa mos até o presente, nos inúmeros processos já julgados nos quais sempre perdem , é bom que eles acordem e busqu em os estudos para os ajudar. Infe lizmente a simples apresentação de um título de propri edade já não va le nada! Catolicismo - Os critérios para o laudo antropológico que seu escritório realiza, não contrariam a FUNAI e o CIMI? Prof: Antonio Pimentel - Primeiro,
esc lareço que meu escritório rea liza, para um conjunto de agricu ltores da região de Guaíra e Terra Roxa, estudo pericial sobre as suas propriedades que fora m in vad idas e são demandada s pela FUNA I. Para tanto, a equipe (mu ltidi sc iplinar) que está à frente deste trabalho, como sempre, se orienta pelos cri térios éticos da pesq ui sa científi ca: a liberdade plena de pesqui sa; a confide ncialidade; a objetividade e o uso dos parâmetros própri os de pesqui sa , etc . Chamo a atenção que não ex iste apenas uma teoria ou conceito antropológico a guiar os laudos ou estudos. Se isto ocorre ou parece ser ass im , é porque neste tipo de trabalho é comum sobressa írem, mai s do que os aspectos científicos e técni cos, os aspectos polí ticos e ideo lóg icos. De tal so rte, que basta constata r a pressão contrária que vimos sofrendo e que alguns colegas sofrem por parte de uma militância tacanha . As pessoas podem achar estra nho, a FUNAl e o C IMI ficarem co ntrariadas, mas além de ser previsto pela lei, isto é apenas o uso do direito e da liberdade de se confrontar, de produzir o contrad itório. Em dezenas de profissões é ass im . Devemos lembrar que o embate de pontos de vista discordantes é rotina para advogados, médicos, jornalistas, etc. Ta lvez pad res-
-.m
onguistas-antropó logos te nh am mais dificu ldade de compreender isto. Catolicismo - Como estão surgindo tantos "índios" no Paraná e em outras partes do Brasil? Prof. Antonio Pimentel - Deve mos
lembrar que há tempo vêm ocorrendo repetidas denúncias de mi grações de cidadãos paraguaios, bo livia nos e outros mais, que aq ui estariam se passando e ou sendo passados por índios. Até porque entre ser imi grante lati no-americano e ser índio, a segunda opção tem sido melhor, uma vez que há vantagens governamentais sendo distribuídas, e todo apoio aos ditos movimentos soc iais. A mídia, pelo menos no Paraná, tem noticiado tais denúncias. Há também um movimento dentro e fora da academia, constituído por militantes pró-índios, que introduziu a questão da possibi lidade da " ress urreição" de povos já aniquilados. Também nos meios de comuni cação é farto o material a este respeito. O que in fe li zmente não há, ou pouco se faz neste sentido, é a soc iedade brasil eira olhar para o que vem sendo fe ito há anos como política pública agrária. A militância abertamente partidária ou "reli giosa mente" engajada domina todas as ações, particularmente no uso e ab uso de conce itos como identidade e alteridade culturais, além de outros. De onde quererem impor até o modo como este debate deve ser fe ito. Catolicismo - Qual tem sido a atuação do CIMI, da CNBB e da esquerda católica nesses conflitos "indígenas" que já estão se transformando em verdadeiras guerras em algumas regiões? Prof: Antonio Pimentel - Tanto pela
minha própria ex periência, quanto pelos trabalhos que vimos rea liza ndo em nosso escritóri o, posso dizer que a atuação de ambas é de apoio e incentivo ao aprofun-
"Chama a atenção o l'ato de os materiais que bispos da CNBB preparam e as práticas que favorecem, entrarem em choque com a própria doutrina católica"
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damento do conflito, e isto já há décadas. Ex iste uma verdadeira mili tâ ncia neste se ntid o, num arranj o maniqu eísta dos "povos da terra-águ a-florestas ", numa versão fora de época dos bons selvagens versus agricultores (pequenos ou grandes), sempre postos como " inocentes úteis", latifundiários, ou perversos aniquiladores da pacha mama. Como ninguém é ob ri gado a simplesmente acreditar no que digo, então, como ajuda, sugiro a leitura do Estudo n. 99 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil , "A igreja e a questão agrária brasileira no inicio do séc. XXI". Este documento, lançado no início deste ano, guarda relação direta com outros documentos e estudos ema nados da CN BB e de seus órgãos assessores, como a Com issão Pastoral da Terra, tanto recentes quanto de 30 anos atrás. Apesar de estarmos fa lando de uma assembleia de bispos cató li cos e de seus órgãos, como cientista soc ial me chama a atenção o fato de os materiais que eles preparam e as práticas que favorecem, entrarem em choque direto com a própria doutrina católi ca, a qual é na melhor das hipóteses distorcida, como o paralelismo feito entre crime e pecado. Sem me alongar aq ui sobre o tema, o documento que expressa como os bispos cató licos exercerão seu "o lhar de pastores sobre a atua l questão agrá ri a", já na primeira página, na terceira linha, foca li za a teori a de gênero, condenada pela Igreja, opondo mulheres e homens até chegar à oposição do homem a Deus. São abordadas também, por todas as 42 páginas do documento, a teoria pósmoderna, criticada pela Igreja pelo seu relativismo filosófico, moral e ético, e as ideias de desconstrução e de pós-colonialidade. Na mesma linha, está ali a teoria materiali sta hi stórica, ou marxista, com seus antagonismos fetich istas de produtores X trabalhadores, Propriedade Privada X Propriedade Coletiva/Estatal, reiteradamente condenada pela Igreja. Segundo o modo como os bispos da CNBB cons ideram os índios ou outros povos e camponeses, a questão agrária é vista positivamente como tudo o que leva à superação da propriedade privada da terra e ao seu uso para a comunidade/coletivi-
dade. Quem se interessar, pode encontrar isto no anexo I do Estud o. Daí o presente crescimento dos conflitos, das mortes e das agressões; os fi éis e os sacerdotes se sentem desorientados; e justificativas absurdas são apresentadas para este estado de coisas por parte dos
"Estas ideias de territórios i11dígenas, quilombolas, identidades autodeterminadas, coletivos disso e daquilo são projetos políticos ideológicos"
1íderes e seus assesso res.
Catolicismo - Quais são os prejuízos para a região? Como disse um deputado sobre essas demarcações da FUNAI, são duas as vítimas: os índios e os produtores rurais. E o algoz é o governo. Prof: Antonio Pimentel - Prime iramente é o aumento da tensão social entre as pessoas, os grupos. Ou seja, pessoas que vivem num mesmo local passa m a desconfi ar e ag ir de modo indiferente ou contrári o em relação a outras, o que em extremo leva a conflitos e agressões. De onde resulta que indígenas e agri cultores fi cam ex postos como inimigos e " paga m o pato" por isto. É óbvi o que se os índios julga m que estão sendo ou fora m prejudicados, aí está a Justiça. Mas isto também é válido para as dema is pessoas. O fo ro privil egiado somente condu z a um desequilíbri o social e mais injustiças. A partir di sso ocorre a migração de pessoas para outros luga res, com graves prejuízos indi viduais e sociais, como j á fo i estudado e indicado pelas ciências soc ia is. A perda de confi ança na validade das le is, das normas. A fa lta de perspectiva para investir na produção, ou a apli cação dos recursos em outros setores que não o da produção, o que acarreta prejuízos em toda a cadeia econômica direta e indiretamente li gada à agri cultura. Se isso é muito danoso para a nossa região, ta mbém o é para o Bras il. Bas ta cogitarm os no que aconteceri a se o setor agrícola estivesse nos mesmos índices do setor industrial. Q uanto ao Governo/Estado no Bras il , este fo i sempre ag iga ntado; mas nas últimas décadas cresceu ainda mais. Ass im , e le é a ori ge m e causa de tantos desacertos e desgraças na vida dos brasil eiros . Cont11do, paradoxa lmente, sej am índios, agri cultores e dema is cidadãos, de modo freque nte, todos e les ple ite iam ma is Governo/Estado. É a lgo meio esqui zofrênico
em nós : o Estado/Governo tira agricultor e põe índio, tira índio e põe agri cultor; ve nde, doa e toma a terra ; cobra quase 50% de impostos so bre a produção e o tra ba lho. Entreta nto, o protesto é para que o Go vern o/Estado atue ma is, legisle ma is, interfira mai s. As pessoas descreem e m sua pró pri a capac idade de agir por si e para o seu próprio benefíc io, sem precisarem de um Go verno/Estado onipotente e o nipresente, e invari ave lm e nte mau quanto ao serviço.
Catolicismo - Como ficará a integridade do território nacional com essas demarcações na fronteira, quando já se fala em território Guarani? Prof: Antonio Pimentel - Bem ou mal , lemb remos que estas ideias de territóri os indíge nas, quil ombo las, identidades autodeterminadas, co letivos di sso e daquilo são proj e tos po lí ticos ideo lóg icos ou, quando já implementados pelo governo, são políticas públi cas. De qualquer modo, a sociedade, ou melhor, as pessoas, devem reco rd a r- se de que polí t icas públi cas podem mudar, po is nada é definitivo em te rm os po líti cos. Outra coisa é que as pessoas têm de saber e ass umir que são e las que formam o Estado e a sociedade, não o contrári o. Como aponta a mídia es pecializada, a continuar no Brasil a po lítica pública id eo log izada, co m o Estado/Gove rno aparelhado, ass umido por um partido, não devemos es perar a melhori a das relações soc iais, da vida na sociedade bras ileira, j á que tal políti ca j á se estende por ma is de uma década para ge rar o ta l "outro mundo possível"; contudo, o que temos é o que está aí. As ditas terras indíge nas, como um terri tó ri o Guara ni , são na realidade terras do Estado. Então, dar terra para os índios é, na rea lidade, acabar com as propriedades parti culares rurais, torna ndo-as estatais
e coletivas, corres pondendo ao proj eto político do Governo-partido. Quanto aos problemas agrári os de que estamos trata ndo, é incrível como agri cultores, cooperati vas, po líticos, enfim, toda a sociedade brasileira é mal info rmada sobre quais são os dire itos e deveres daqueles que são índi os, quilombola s etc., mas também dos outros quanto a seus próprios dire itos. N ão pode mos s imples me nte acusar os "amados povos da terra, das florestas, etc." por esta ignorância - até porqu e e les estão faze ndo sua parte no projeto de poder. Termino co m do is exemplos di sso. Primeiro, o desconhecimento a respeito de políticas como o Protoco lo de Nagoya o u a Conve nção 169/O LT-ONU . Ali ás, nosso escritório fo i consultado a esse respeito pelo fato de políticos desconhecerem quando seria o seu término. Não poucas pessoas li gadas à agricultura, ao mundo ru ra l, deram-se conta de que fo i a adesão do Bras il à Convenção 169 que dá a base não só jurídico-legal, mas também políticoideológica para tudo que temos visto no País sobre identidades indígenas, identidades quilo mbo las, povos trad icionais, coletivos cul tura is, direitos disso e daquilo. Ou sej a, são orga nismos internacionais que têm determinado a compreensão política e jurídica do tema dentro do nosso País! Segund o, exemplifi co vo lta ndo ao Estudo da CNB B, po is ne le está apresentada a ideia, no parágrafo 264, acerca da parti c ipação dos co letivos sociais pari passu do decreto bo livari ano 8.243/2014 do governo fe dera l. É incríve l, mas rea l, o fato de vários leigos e sacerdotes católicos com os quais nosso escritóri o conversa, crerem, sabe lá Deus a razão, que toda esta po lítica de terras que está a í ser apenas no interesse daqueles índi os lá dos cafund ós do Brasil. Sem dú vida, o que percebemos no caso é a ex istência de mais uma frente para o somatóri o de fo rças rumo à transfo rmação social. •
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INTERNACIONAL
A dcrr'ota do PS nas eleições 111u11icipais de 2014 revela a crise profunda de u,n paitido que perdeu a l>aLalha da opiniüo pública. Como e por que isso aconteceu?
Aríuo FAoRo
Paris - Para o jornal esquerdi sta " Le Monde" (3 1-3 I4), as eleições municipais de março de 2014 fi ca rão na históri a do PS francês como um "cataclismo, uma
hecatombe, que não encontra equivalente nos anais dos escrutínios municipais fi'a nceses ". Desta fe ita, a esquerda I sofreu um rec uo hi stóri co, tendo que tomar o cá lice amargo da derrota até a última gota. Os números indicam a profundidade do desastre: as li stas dos partidos esqu erdistas somadas perderam as prefeituras de 151 cidades com mais de 10.000 habitantes. Nas 22 1 cidades com mais de 30.000 habi ta ntes, a vi rada fo i também sensacional: a esqu erd a estava no
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poder em 122 delas. Agora, em 20 14, somente 55 estão nas mãos de diri gentes sociali stas. A catástrofe não parou aí. Nas cidades com mais de 100.000 habitantes, os partidos de esqu erda detinham, antes destas eleições, 29 prefeituras. Hoje, têm apenas 19. Como "prêmio de consol ação", a Prefeitura de Pari s permaneceu com o PS. Entretanto, na nova ag lomeração da Metrópole da Gra nde Paris, à qual pertencem 123 cidades qu e faze m a coroa da ca pi ta l, a esquerd a obteve apenas 45% dessas prefeitu ras, perdendo com isso a poss ibilidade de go vern ar esta importante região, que será autônoma a partir de 201 6. 2 Consequência lógica da derro ta : a esquerda perderá muitos esta belecimentos de cooperação intercomunais e a frág il mai ori a de se is cadeiras no Senado, cuj as
eleições indiretas são fe itas pelos chamados grandes eleitores, entre os quais encontra m-se os conselheiros municipais. 3 Concretamente, é tida como certa a derrota da esquerda nas eleições de setemb ro/20 l 4, quando será renovada a metade do Senado. A partir de então, não será possível ao governo soc ialista faze r aprovar alterações na Consti tuição, para as quais se requer maiori a de 3/5 dos votos.
PS francês em minas Outra consequência catastrófica desta derrota para o PS é a destruição de seu sistema de recrutamento, que começa pela di stribuição de cargos nas prefeih1 ras e nas associações ass istenciais e cul turais por elas fi nanciadas. "O socialismo municipal morreu ", lamentou um deputado socialista. Outro deputado esquerdista alerta: "O aparelho central vai entrar em pânico! " O jornal "Libérati on" (3 1-3- 14), porta-voz das ideias da Revolução de Maio de 68 , declara que "o partido socialista foi atomizado, os socialistas acordaram em um campo de ruínas ". De fato, o PS fo i atacado no coração de sua estru tura: "As consequências serão pesadas e se farão sentir duravelmente. Muitos pontos de apoio.foram p erdidos e serão d(ficeis de reconquistar", opina Jérôme Fourquet, diretor da agência de sondagens de op inião Tfop. A perd a dos cargos muni cipais e da máquina de recru ta mento te m outra consequência ruinosa para os partidos de esquerda na França: a diminuição de recursos fin anceiros, parte dos quais provém de uma contribuição
obrigatóri a ti rada dos sa lários dos candidatos eleitos. Por exemplo, com a perda de 155 cidades com mais de 9.000 habi ta ntes, os cargos muni cipa is obtidos pela esquerda ca íra m para a metade, de 64.000 para 30.000, segundo as cifras da Federação nac ional dos eleitos socialistas e republi canos. Bruno Levy, em artigo escrito para o "La Croi x" (23/6/ l4), estima que perto de um milhão de euros poderão fa ltar aos cofres das di ve rsas federações dos partidos da esquerda, sem falar dos recursos que diminuirão nos cofres do própri o PS. Para o soc iali sta Renaud Lagrave, que ocupou até há pouco o cargo de primeiro secretári o do PS do departamento de La ndes, o desastre eleitora l destruiu o moral das tropas do PS: "É preciso tirar as conclusões individuais destes resultados catastróficos. Nas municipais, não fo i apenas uma fo rma de tsunami, mas uma desmobilização do nosso eleitorado ". Segundo "Le Parisien" (1 5-6- J4), há uma deserção nos quadros do PS, que teri a perdid o nos dois úl timos anos cerca de 25 .000 membros. Para Stéphane Bretout, membro do escri tório de adesões do PS, "são os decepcionados com a política governamental" que abandonam o partid o. E para completar a cascata de desastres, o presidente François Hollande nunca chego u tão baixo nas sondagens de opini ão: apenas 18% dos fra nceses estão de aco rdo com a polí tica do atual governo. De sua parte, o socialista Bernard Poignant, prefeito derrotado em Quimper, comuna fra ncesa na região da Bretanha e próx imo do Presidente Hollande, declarou amargurado que hav ia "subestil110do as consequências
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eleitorais da extraordinária impopularidade do poder socialista ". Valls:
O
PS pode
ll1Ol'l'e1·
No dia 14 de junho último, o primeiro- ministro socialista Manuel Valls fez uma constrangedora análise da situação do seu partido diante do Conselho nacional do PS. Na ocasião, ele declarou que existe o risco de uma vitória do "Front National" nas eleições presidenciais de 2017 e que "a esquerda pode morrer ". O primeiro-ministro advertiu os seus colegas de que "nós podemos afimdar numa era na qual um dos grandes partidos republicanos pode.ficar ausente deste grande encontro eleitoral [as presidenciais de 2017]. E, se nada for f eito, pode abrir-se uma era em que a esquerda p ode desaparecer ". Manuel Valls declarou-se extremamente pessimista sobre o futuro do PS : "Nós estamos conscientes de que estamos chegando ao _fim de qualquer coisa, ao fim talvez de um ciclo histórico para o nosso partido. A esquerda jamais fài tão f raca na história da 5ª República". Como isso aconteceu?
Inúmeros analistas perguntam: como isso aconteceu? A resposta não deve ser encontrada apenas na crise :financeira, que se exprime hoje numa massa de 3,4 milhões de pessoas desempregadas. Segundo o analista político Roland Hureaux, membro do comitê científico da Fundação Charles de Gaulle, "em democracia, os atos políticos encontram a sua verdadeira sanção nas provas eleitorais". Para Hureaux, o desastre eleitoral das municipais de 2014 foi a "revanche" do movimento "Manif pour tous". A escolha de supostas ideias modernas, como a do Pa,tido Socialista de instituir o casamento homossexual, "hoje não são bem aceitas ". Pior, todas as posições defendidas pelo PS no poder, sobre o direito de família, mas também sobre métodos de ensino, história nacional, justiça, diplomacia em favor dos direitos do homem [ou seja, favorecimento do aborto e da homossexualidade na África], etc. são consideradas "de/irias perigosos, gravemente prejudiciais à sociedade. A direita hoje na França é a resistência a estas ilusões destrutivas, o partido do bom senso e do real contra as quimeras da modernidade". Alguns líderes socialistas, como Patrick Mennucci, que perdeu as eleições para o primeiro setor da prefeitura de Marseille, estima que "o debate sobre o casamento homossexual lhe trouxe problemas: ele nos custou votos no lugar ". Para ele, além dos votos dos católicos "que se radicalizaram " contra o casamento homossexual,
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"não foi possível reunir os votos dos muçulmanos, que desta vez não votaram por mim ". Aliás, por causa do casamento homossexual e do ensino nas escolas da chamada "teoria do gênero", em um movimento generalizado, os muçulmanos se afastaram do PS, segundo uma sondagem lfop para "La Croix": se 86% dos eleitores muçulmanos tinham votado por François Hollande em 2012, agora apenas 55% teriam escolhido um candidato de uma lista da esquerda. Para David Proult, diretor da campanha de Didier Paillard, prefeito comunista eleito em Saint-Denis, "o casamento homossexual apareceu como a única questão d(/erencial entre a esquerda e a direita". Esta análise é compartida por Philippe Doucet, candidato derrotado do PS na prefeitura de Argenteuil: "Faltaram votos [ao PS] por causa da polêmica sobre o gênero. Se a esquerda p erdeu, é porque ela está sem um projeto [popular]".
A luta de <luas Franças Numa visão mais ampla, as eleições municipais de 2014 tiveram também um resultado histórico, porquanto nesta disputa eleitoral digladiaram-se duas Franças. Esta é a tese sustentada por Christophe Guilluy, em artigo para "Le Figaro" (2-4-14). Jamais o contraste entre Paris e o resto do país apareceu de maneira tão gritante. Uma verdadeira contra-sociedade nasceu na França periférica: "Esta
contra-sociedade manifesta interesse p ela sua p equena cidade - seti quarteirão, seu território, sua identidade - nos meios populares, qualquer que seja a sua origem social. Nestes territórios per[féricos, categorias ontem em luta, operários, trabalhadores, desempregados, jovens e aposentados, p equenos agricultores, não desenvolvem uma cultura de classe, mas uma p ercepção comum dos ef eitos da mundialização e das escolhas econômicas e societais [como a proposta do casamento homossexual]
da classe dirigente. Quaisquer que sejam as suas origens, as classes populares são muito reservadas quanto às r~formas societárias. Forjei a noção de 'insegurança cultural ' para exprimir este.fenômeno". " Moral laica contra a moral católica?" - pergunta o historiador católico, Jean Sévillia, em artigo para o "Figaro Histoire" (25-03-13), comentando os atuais ataques socialistas aos valores católicos. Para Sévillia, autor do livro Quand /es catholiques étaient hors la /oi (Quando os católicos estavam fora da lei), no qual relata as perseguições religiosas na França no século XIX, " a laicidade à.fi'ancesa, hoj e apresentada como garantia da paz social, foi no começo umafiloso_fia de combate voltada contra a relig ião católica ". Após recordar a agressividade anticatólica de dois ministros do governo anterior, Yincent Peillon (PS) e Cécile Duflot (Verde), o conhecido hi storiador pergunta se, "historicamente .fàlando, nós não estamos de no vo mudando de época ". Quem vencerá esta deci siva batalh a pelo futuro da Filha primogênito da Jgr~ja? É dificil saber. E ntretanto, o surgimento de um movimento de resistência às chamadas reformas societárias preocupa líderes socialistas de todos os matizes e até mesmo membros da linha progressista da Igreja, que temem uma reação que venha para ficar, sobretudo porque a força motriz da resistência está constituída por uma nova geração de jovens conservadores que recusam a modernidade. Jean-Pierre Mi gnard, codiretor do jornal da esquerda católica "Térnoi gnage chrétien", em um a entrevista a "Libération" (9-4-14 ), declara-se alarmado pelo "p eso adquirido na França por um catolicismo intransigente. É aflitivo! O .fenômeno data de alguns anos. É uma.franja importante e signfficativa do catolicismo, uma minoria barulhenta e atuante, poderosa, e que obtém resultados. O pluralismo é seu inimigo. É uma catástro_fe! ". • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com .br Notas:
1. Na França, utili za-se a ex pressão "de gauche" (de esquerda) para indicar u111 leque de agrupações políticas que va i do cent ro-esquerda até o Partido Co111unista e a extre111a-esquerda. No caso das eleições 111unicipais, a imprensa refere-se també111 às " li stas" co111postas pela esquerda, isto é, pelos partidos Socialista, Verde, Co111unista Francês e Frente da Esquerda, assim co1110 pelos candidatos independentes de esquerda que se apresenta111 co1110 "diversos da esquerda" para não fi gurare111 nas li stas dos partidos aci111a. No siste111a eleitoral municipal fran cês, não se vota no candidato a prefeito, ma· na li ·ta que este últi1110 apresent a, con, seu no111e ,\ testa seguido dos candidatos a conse lheiros, que serão eleitos na proporção dos votos obtidos pela li sta, com um prê111io para a lista que obti ver 111ais votos. 2. A ascensão do "Front National" não será tratada neste arti go. Trata-se de u111 fenô111eno que aco111panh a a queda da popul aridade da esquerda e que 111arca a seu 111odo o atual panora ma político na França. A co111plex idade do te111a ex igiria outro arti go. 3. .. xiste111 na França 36.682 111unicípi os, in cluindo a França 111etropolitana e os departa111entos cha111ados "d'Outrc-mcr": Guadalupe, Martini ca, Gui ana Fra ncesa e Reuni ão.
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'i'\ Sahec/oria et,crna desceu 11111 dia de seu trono no Céu e posou sobre Súo Luís" - escreveu Dom Guéranger. 1 /\os BOO anos do nascimento do santo Rei de Franca, , o orbe católico o recorda con1 devoção e saudade. '
Lu1s DuFAUR
m 25 de abril de 12 14 um meni- · no nasc ia no caste lo de Po issy, perto de Pari s. Há hoj e no loca l um moste iro para honrar aquela crian ça, qu e conhecemos pe lo nom e de São Luís IX , re i de França. O fe li z evento aco nteceu em meio a uma tormenta política. Nesse ano, seu avô, o re i Felipe Augusto, derrotou na bata lh a de Bouvines uma coalizão de príncipes e nobres franceses revo ltados, apoi ados pe lo rei da Ing laterra, João Sem-Terra , sustentados pelo imperador Othon IV e aux ili ados por tropas flamengas da Holanda e da Lorena. João Sem-Terra co biçava a co roa francesa e o imperador alemão Othon lV hav ia s ido excomungado pelo Papa. A vitória de Bouvines fo i considerada um " autêntico juízo de Deus", qu e sa lvou o tron o a ser ocupado um di a pelo princ ipez inho. Quando ele aprendeu a escrever, ass inava Luis de Pois.sy, gostava de cantar na ig rej a e ouvir os fe itos bé licos de Bouvines dos própri os lá bios de seu avô. Ao subir ao trono, os conse lh os do velho monarca inspirara m-n o no exercíc io do poder rég io.
/i'i/hot;c <le Leão Se u pa i, Luís VIII , o Leão, fa lece u qu ando vo ltava de uma Cruzada contra os hereges albi genses. Sua prematura morte ca uso u co nste rnação. O reino da Fra nça estava muito longe de ser a respeitad a estrutu ra políti ca L
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Educaejão do futuro rei
qu e São Luís lego u depois à sua descendênc ia. No sul , ainda crep itava a revo lta da heres ia cáta ra, panteísta e imora l, qu e co rrompi a os costum es até além Pirine us. No leste, após ser derrotado em Bouvines, Othon LV renunc ia ra à coroa imperial, afastando-se da po lítica. Porém, os partidári os do erro, qu e negava m o poder do Papa de destituir imperado res, so bera nos, bispos e abades, ainda ateava m crises, desmandos e guerras. Os Pa pas estava m absorvidos por esse co nflito teo lógico e políti co. Na França, o poder da fa míli a rea l era peq ueno se co mparado ao do re i da In g late rra, qu e também era
Coroação e casamento de São Luís
duque da Normandia e da Aquitânia e cujas terras estendi am-se do Canal da Mancha ao Mediterrâneo. Ademais, turbulentos senhores fe udais gerava m desordens, atritos e guerras locais. Na Espanha e no Medi te rrâneo, os muçulmanos promoviam incursões, infestava m o mar com sua pirata ri a e ameaçavam os portos cri stãos. As notícias do leste da Cri standade eram alarm antes: os mongó is devastavam países batizados hav ia não muito tempo e parec ia que ninguém deteri a sua marcha infe rnal rumo ao Ocidente. Do decadente e cismático Impéri o de Bizâncio provinham muitas intrigas e apelos desesperados em virtude do progresso das hordas do Islã na Terra Sa nta e na Ás ia Menor. Ao pequeno "Luís de Poissy " incumbiu o dever de sa lvar o reino e equilibrar a Europa qu e soçobrava. Sua mãe, a pi edosa rainha Branca de Caste la, era constituída da maté ri a- prima dos verd adeiros chefes de Es tado. Enérgica e diplomática, ela fo i nomeada regente durante a minoridade do rei , que herdou sua pi edade e seu caráter. São Luís fo i sagrado aos 12 anos, em 29 de novembro
de 1226, na catedra l de Reims, mas só ass umiu o poder régio em 1234. Casou-se com um a princesa de nome poético, Marga rida de Provence, que levou consigo o grão-ducado de seu pai, reforçando o poder da casa rea l e trazendo esta bilidade e segurança. Rei enquanto santo e santo e11qua11to rei
São Luís teri a preferid o viver num mosteiro, na abstinência e na meditação, ex pli co u em conferência o renomado histori ador Georges Bordonove. 2 Porém, nasceu num berço de ouro ag itado pela l-1 istóri a e com uma missão divina: reger afilha primogénita da igreja e tornar-se o árbitro da Cri sta ndade no século XIII. Sua aspiração à santidade foi rea lizada na responsabilidade tremenda de monarca e estad ista europeu. "Ele sabia comparecer em grande pompa, acolher faustosam ente, dava.festas e.festins quando necessário. Ele respeitava altamente sua condição de rei. Mas na vida privada ignorava o luxo, misturava muita água no vinho e nos molhos para Ihes tirar o gosto. Quando ia às
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procissões, levava calçados sem sola para ocultar que caminhava com os pés nus, na lama ou no pedregulho, pois as ruas de Paris não estavam pavimentadas",
seu reino. E a França, como sempre, o fulcro do bom gosto e da elegância! Mas também "era um soldado intrépido, hábil na
explicou Bordonove. Segundo o historiador Henri Pourrat, São Luís era
hora de conduzir uma carga de cavalaria, pondo em risco em primeira linha sua pessoa, levando um elmo dourado que se destacava por cima de todos os barões do reino e que o tornavam alvo natural dos disparos. Entrementes, tinha horror pelo sangue derramado e após a batalha se empenhava em cuidar dos feridos e salvar os prisioneiros do abusos", acrescenta o histo-
"louro, delgado, de ombros um pouco curvos, alto e de fisionomia serena. Joinville disse dele: 'Asseguro-vos que nunca vistes um homem de tão bela aparência, quando armado. E, mais ainda, era o mais altivo cristão que os pagãos jamais conheceram '". 3 O aspecto físico exprimia seu valor moral. São Luís IX foi um dos homens mais extraordinariamente bem apresentados de
riador Bordonove. São Luís inquietava até seus capelães, que temiam pela sua saúde. Ele saía de seus êxtases ou meditações quase esgotado, no limite do desmaio. Mas sabia ser o mais brilhante da corte, distinto, generoso e alegre, no protocolo oficial e na vida privada. Ria à vontade, dava às vezes gargalhadas, mas nunca às custas de alguém e jamais permitindo uma expressão grosseira ou ofensiva. Nele, o chefe de guerra era a outra face do místico. O homem piedoso e amante da virtude da pobreza constituía a outra face do monarca mais brilhante da Europa. O tato do diplomata revertia na caridade do esmoler, e a suavidade do santo, na esperteza sagaz do diplomata. Ele se tornou o árbitro dos conflitos da Europa e da Cristandade do século Xlll porque foi santo, e foi santo porque praticou heroicamente as virtudes no exercício político do mais requintado trono da Europa e do mais terrível dos exércitos da Cristandade. Uma coisa estava contida na outra e eram perfeitamente inseparáveis, a ponto de que, se tivesse fraquejado no múnus monárquico, não teria sido santo, e vice-versa. Ele foi rei cristianíssimo como nenhum de seus sucessores. E o fiel por excelência do Papado até mesmo quando dizia, com inflexível lógica e imenso respeito, algumas verdades ao próprio Papa e aos bispos de vários ducados do reino.
O banquete de Saumw· Em 1237, o novo rei investiu seu irmão Afonso como conde de Poitiers, um riquíssimo, brilhante e populoso feudo . Mas, infelizmente, um ninho de revoltas da nobreza local! Atiçados pelo rei Henrique UI, da Inglaterra, que sonhava ser rei da França, os senhores feudais não cessavam de fazer intrigas. Já germinava a discórdia que desfecharia na guerra dos Cem Anos. Os intTigantes haviam motejado o jovem monarca como "rei dos monges", como "devoto" incapaz de defender sua herança. São Luís lX quis conferir à investidura do irmão um caráter oficial e solene. As
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fes tas incluíram um famoso banquete no castelo de Saumur e foram descritas por Joinville, autor de uma ini gualáve l biografia do rei santo e espécie de primeiroministro do conde de Champagne, um dos mais poderosos, ri cos e autônomos senhores da França. - "O rei reuniu uma grande Corte em A11jou. Eu estava lá e dou testemunho que fo i a mais bem ordenada que j á vi". E após descrever os grandes homens do reino sentados à mesa com brilhantes roupagens, prossegue: "Atrás deles, protegiam-nos aproximadamente 30 cavaleiros vestidos com túnicas de seda. E, por trás dos cavaleiros, um grande número de lacaios com as armas do conde de Poitiers bordadas sobre tafetá. O rei estava vestido com uma túnica de seda bordada de cor azul, tendo por cima um manto de seda vermelha bordada e j orrada de arminho, com um chapéu de algodão sobre a . ' nao ~ Ih . . ma /li ca beça, o quaI, a I.ws, . e.fizcava mutto .. ..I, por-. que ele erajovem ". Eis como se apresentou o terceiro fra nciscano que ia descalço nas procissões, pois ass im o ex igiam o bem da ordem política e social, a harmonia da ordem cristã, a vocação e o cargo que Deus lhe concedeu. O "devoto " 110 combate
Por detrás da des lumbra nte fes ta crepitava o dra-
ma. Com as cerimônias, São Luís qui s patentear seu poder supremo sobre o fe udo. Mas os insubordinados senhores locais interpretara m-na como provocação e ti raram pretex to para revolta. O chefe dos dissidentes era R ugues de Lusignan, conde de la Marche, que a exemplo de lscari ote à mesa com Jes us na Última Ceia, estava sentado à mesa do rei. E seu suzerano era o rei da l nglaterra, Henrique 11 r. A murmuração correu como rastilho de pólvora: São Luís queri a usurpar os direitos do rei inglês. A prova? O festim e a nomeação de seu irmão como conde de Poito u! Louco de raiva, Rugues de Lusignan abandonou Saumur às pressas, prometeu repudiar a vassa lagem ao rei da França e montou uma liga mili ta r contra a Coroa. O rei da Inglaterra garantiu-lhe tropas que viriam por mar. Os amotinados aguardavam reforços da Espanha e o ataque do imperador alemão, que surpreenderi a o rei fra ncês pelas costas. São Luís não se descuidou: estava perfe itamente info rmado dos planos, tratativas e reuni ões secretas dos adversári os. E antes de as tropas inglesas desembarcarem, empreendeu a ofensiva ! Os castelos de Hugues de Lusignan capitul aram um após outro. E quando o rei inglês pôs o pé em terra com seu exército, era tarde demais. Ele, porém, ousou enfrenta r o "rei devoto". O
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c hoqu e se deu em Ta illebourg, em 1242, batalha completada em Sa intes. A carga de cavalari a conduzida pelo santo sobre um soberbo cava lo branco decidiu a batalha e mudou os rum os da Europa fe ud al. "l uís - narra o hi stori ador Henri Pourrat4 - , à testa de somente oito homens de armas, lançou-se sobre a ponte de Chernete e sustentou o embate de mil ingleses, até o momento em que sua gente chegou, entusiasmada com af eito do rei ". Sécul os depois, o pintor Delac roi x imortalizou a faça nha. Pouco fa ltou para o rei inglês ca ir pri sioneiro. A partir de Taillebourg, a Europa fico u sa bendo qu e esse rei dos monges manejava a espada com implacá vel maestri a. E plêndido vencedor, São Luís mani fes tou magnanimidade, inteli gência, tato políti co e visão hi stóri ca
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que impressionaram a Europa fe udal. Seus conse lheiros qui seram convencê-lo a despojar os vencidos. O Santo reafirmou qu e isso estava no se u direito, mas não pediu senão aquil o que julgou politicamente inteligente. Ao rei inglês derrotado cedeu as regiões francesas de Limousin , Péri go rd , Age nais, Sa intonge e parte de Quercy, com a condição de torn ar-se se u vassa lo medi ante o sagrado juramento de vassa lage m. Luís IX qui s firm ar os laços de amor entre os filh os de ambas as coroas. O rei da Inglaterra passou a lhe prestar as homenagens de um subordinado. Ass im faze ndo, a Guerra dos Cem Anos fi co u adi ada de um sécul o. Ao conde Hugues de Lusignan, chefe dos revo ltosos, o rei perdoo u um terço dos bens. Reti ra ndo-se para suas terras, morreu de desgosto.
A Col'oa ele Espinhos e a Sai11tc-Chavelle
Enquanto punha ordem na França e preparava a Cruzada, São Luís executou um projeto que marca a França até hoje. Em 1239, o lmpéri o de Bizâ ncio consignou a Coroa de Espinhos a banqueiros venezianos como penhor de uma dí vida de 135.000 libras tournois. 5 A quantia equi valia à metade das entradas do reino fra ncês em um ano! Porém, se comparada com os orçamentos multibili onári os dos governos atuais, parece ex ígua: aprox imadamente R$ 84.620.700,00. São Luís ass umiu a dívida, com a condição de a relíquia fica r sob a guarda da casa rea l fra ncesa, em uma negociação que poderi a ser comparada a empréstimos atuais envo lvendo o FM1 e bancos mul tinacionais. Ass inados os acordos e apurada a autenticidade da relíquia, ela fo i levada à França por religiosos dominicanos. No dia 10 de agosto de 1239, o sa nto monarca, seu irmão o príncipe Roberto 1 de Arto is e o Arcebispo de Sens receberam a Santa Coroa, conferiram seus registros de autenticidade e entrara m em cortejo na cidade de Vi lleneuve-1'Archevêque, na França. Descalços e vestidos
com túni cas de peni tentes, o rei e o príncipe tras ladaram o relicári o de ouro e sua caixa de prata até a catedra l de Sens. No dia 11 eles fora m de barco até o castelo real de Vincennes, fora dos muros de Paris, e no 18 de agosto, carregando nos ombros o incomparáve l símbolo do Rei dos reis, o soberano e o príncipe penitentes entrara m solenemente na capi ta l em meio às aclamações populares. No di a seguinte São Luís di spôs a construção da Sainte-Chapelle, para guardar defi niti va mente a sagrada relíqui a, qu e entrementes fico u na bas íli ca de SaintDenis.6 E providenciou a aquisição de mais sete relíquias da Crucifixão , entre elas a do Sa ntíssimo Sa ngue de Cri sto, da Pedra que fec hou o Santo Sepulcro, partes da Santa Lança e da Santa Esponj a. A edifi cação da Sa in teChapelle custou 35.000 libras tournois, e o relicári o da Coroa de Espinhos e demais relíquias da Paixão consumira m outras 135.000, devido ao ouro e às pedras preciosas empregados. A Sainte-Chapell e fo i concebida como um reli cári o giga nte fe ito de crista l e pedra. O mov imento da luz através dos imensos vitrais muda o colorido in te rno e cri a uma atmosfera irrea l, verdadeiramente sobrenatural,
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onde a arte mais delicada e a espiritualidade mais alta se fundem num só, segundo Bordonove. O imponderável faz esquecer as formidáveis colunas de pedra e as imensas portas da melhor madeira, convidando a alma para um voo místico. O pensamento se descola da espessa matéria como que espirituali zada pela arte, para partir como um foguete rumo ao Céu. Na Sainte-Chapelle os valores culturais e espirituais assumem a pedra e a matéria como a alma se une ao corpo. Que ninguém se engane, conclui o referido historiador: São Luís está presente na Sainte-Chapelle não porque as flores delis da França e os castelos de Castela - símbolos de seu brasão - enchem os muros, mas porque na SainteChapelle lateja a própria alma do santo estadista. A Sainte-Chapelle (foto à direita) é a capela do Palácio Real e, juntamente com suas relíquias, pertencia à Coroa, e não à Igreja, assentando aliança entre o Rei dos Céus e o rei da França. A Coroa de Cristo legitimava a Coroa da França, sua vassala por excelência nesta Terra, e ambas se uniam como as duas faces de uma mesma medalha. "Na linguagem dos liturg istas, a Coroa de Espinhos tornou-se um p enhor de Deus confiado ao povo fi-ancés. Deus havia p enhorado sua Coroa ao rei de França até o dia do Juízo Final, quando Jesus Cristo em pessoa viria bater na porta do Palácio Real de Paris para recobrar a posse da coroa de Seu Reino ". 7 Até o fim do mundo, a monarquia francesa seria a guardiã da Coroa com que o Redentor julgará a humanidade e encerrará a História. As relíquias foram definitivamente instaladas e a capela consagrada em 26 de abril de 1248. A pedido de São Luís, foi instituída uma festa litúrgica em 11 de agosto para comemorar a chegada da Santa Coroa à França. Dois meses depois da consagração, o santo rei partiu para sua maior campanha militar: as Cruzadas. "Ressurreição" e Cn,za<la
São Luís regressou de Taillebourg padecendo uma disenteria que se agravou rapidamente. Esta havia sido a causa da morte de seu pai , Luís VIJl. A rainha-mãe, Branca de Castela, pediu ao abade de Saint-Denis abadia onde repousam os restos dos reis da França - para expor à veneração pública o corpo do glorioso São Dionísio, protetor do reino, bem como as relíquias de São Eleutério e São Rústico, seus companheiros de martírio. São Luís já tinha feito seu testamento, e murmurava em voz baixa: - "Olhai para mim. Eu era o homem mais rico e mais nobre do mundo, o mais poderoso de todos pelos tesouros, p elo meu poder e pelos meus amigos, e eis que
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não posso obter da morte sequer uma trégua, nem uma hora à doença. De que valeu tudo isso? " Quando ele perdeu o conhecimento, os médicos anunciaram seu fim iminente. O Palácio Real encheuse de lamentações, suspiros e prantos. O clero recebeu ordem de preparar as exéquias. Em certo momento, acreditou-se que o santo-herói tinha morrido. Joinville conta: "Ele chegou a tal ponto, que uma das damas em volta quis puxar o pano por cima do rosto, dizendo que estava morto. Outra não quis. E enquanto discutiam, Nosso Senhor agiu nele e lhe devolveu a saúde. Tão logo pôde falar, pediu que lhe impusessem a Cruz, e assimfoifeito. Então, ao ouvir dizer que ele falara, a rainha-mãe man{festou o maior júbilo que podia. Mas quando soube que ofiJho se tinha cruzado [decidido ir para a Cruzada], como ele mesmo dizia, ela.ficou num estado de luto como se o tivesse visto morto". São Luís IX explicou (ilustração inferior) que Nosso Senhor o havia tirado dentre os mortos para que adotasse a Cruz, montasse um exército e reconquistasse Jerusalém, que gemia desde 1187 sob a tirania muçulmana. As rainhas Branca e Margarida, os conselheiros reais e as altas autoridades eclesiásticas tentaram de tudo para di ssuadi -lo. Mas em vão. Ele tinha certeza de que fora salvo das fauces da morte para cumprir essa mi ssão, e não por uma simples misericórdia de Deus. Do antigo re ino de Jerusalém só ficava São João d ' Acre e mais a lguns portos periclitantes. O espírito sobrenatural da Cruzada estava morto. São Luís IX o ressuscitaria com o fervor dos tempos de Godofredo de Bouillon e seus companheiros de expedição. Reformador sábio e pmdente Prevendo urna ausência longa ou definitiva, Luís IX quis, antes de se lançar na Cruzada, apalpar o estado do reino, dar proteção aos mais fracos e conciliar os poderosos. Em 1247, inspetores percorreram o reino como outrora os missi dominici de Carlos Magno. Dominicanos e franciscanos, Ordens que viviam um momento de fervor e seriedade, iam em duplas anotando as queixas dos pobres nos campos e nas cidades, sem tomarem contato com os bailios (governadores de província, ao mesmo tempo juízes, chefes militares e coletores de impostos). O inquérito permitiu a São Luís modificar o Conselho Real, trocar três-quartos dos bailios e definir os limites precisos de seus poderes. Também moderou os poderes judiciários da alta nobreza, fazendo com que todo o reino pudesse apelar ao rei como juiz supremo. São Luís também estabeleceu regulamentos relativos aos costumes
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das corporações de oficio - os "sindicatos" da época concedendo- lhes autonomia e estabilidade. Reorgani zou a Prefeitura de Paris e criou uma moeda: o escudo de ouro e o grand denier de prata para fac ilitar o comércio, pôr fim às fraudes e morali za r a atividade econômica. Um gove rnante hodi erno que mexesse tanto nos costumes do país seri a antipatizado, mas o cari sma rea l e a luz da sa ntidade do monarca brilhara m nessas refo rmas e ele fo i abençoado pelo povo. O escudo de ouro fo i a primeira moeda, no sentido modern o, emitida por um rei. Nela estava cunh ado o escud o - de onde o nome - com o brasão.fleurdelisé do sa nto rei. O escudo de São Luís fo i padrão até a Jdade Modern a, sendo reedi tado pelos seus sucessores e imitado por bi spos, príncipes e senhores que emitiam moeda, e até mes mo pelos Papas, porque era di gno de fé e isento de fraude. A moeda fo i conservada por muitos como uma medalha religiosa! Ass im, houve um pl ebi scito mudo aprova ndo a confia nça dos franceses em seu rei. Árbitl'o <la Cristamla<lc
A partir 1241 pioraram as notícias prove nientes da Europa Orienta l e da Terra Santa. A invasão dos mongóis atingiu a Polôni a, a Hungri a e a Romêni a, após devasta r a Rússia e a Ucrâni a. O chefe mongo l Subedei mira va o coração da Europa, mas após es magar o rei da Hungri a em Mohi , vo ltou às pressas para a Ásia por razões não esclarecidas. A corajosa ra inha Branca fi cou muito temerosa, mas São Luís parec ia ser o úni co a intuir qu e a invasão não prosperari a. "Quando viu a Europa ameaçada pelos tártaros - conta Pourrat - , São Luís disse: 'Tende coragem minha mãe; ou nós os colocamos nas portas do inferno ou eles nos abrirão as portas do Céu "'. O santo fo i arguto estrategista e homem de fé : ou ele os venceri a e eles iriam para o inferno enquanto pagãos horri ve lmente crimin osos, ou ele morreri a e iria para o Céu. Nada se perderi a lutando contra eles. Uma das situações mais tempestuosas para arbitra r se deu na Bretanha, um ducado enfe udado à França mas quase independente dos pontos de vi sta de governo, cul tural, étni co e linguísti co . Lá, Pi erre de Dreux, parente de São Luís, tornou-se Duque. Audaz chefe de guerra, mas turbul ento senhor fe ud al, Pierre ga nhou o apelido de " Mauclerc" (mau cléri go) por suas exações à Igreja. Seus atritos com os bispos bretões lhe va leram diversas excomunhões. Os Papas pouco conseguiram
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junto a este homem qu e dividiu a nobreza com conflitos de toda ordem. Após inúmeras deso rdens, São Luís entrou militarmente na Bretanha e o despojou do ducado por fe lonia. "Mauclerc" insurgiu-se, mas o exército rea l, apoiado por boa parte da nobreza bretã, extinguiu a revolta. Pi erre de Dreux se submeteu ao jovem rei em Paris, em l 234. São Luís não o humilhou, mas di spôs que a ,,....._., Bretanha fi caria na posse do filh o dele, João, o qu al, por sua vez, jurari a vassalagem ao rei da França juntamente com os nobres rebeldes . O sa nto monarca concedeu a Pierre de Dreux o pequeno fe udo de Bra ine. Ass im , '' Mauclerc" torn ou-se " Braine" e acompanhou o rei na Cruzada ao Egito, onde fo i gravemente fe rido e morreu ao volta r, recebendo di gna sepultura na necrópole fa mili ar de Dreux.
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Árbitro entre Papas e lmpcrn<lor
Muito mais complicada era a secul ar luta entre o máx imo poder temporal da Cristandade - o Imperador
"Que vossa majestade real não se espante quando César prende no aperto e na angústia aqueles que vieram para criar angústia a César". São Luís IX retrucou com tanta habilidade que os arcebispos foram libertados. Banido da Itália, Inocêncio IV instalou-se em Lyon e marcou para 1245 um Concílio que julgaria o Imperador. Este reuniu um exército em Turim, visando impedir a assembleia. São Luís IX lhe fez saber, com tato e força: "Não toqueis no Soberano Pontífice, para não incorrerdes na cólera de Deus". O Imperador entendeu: enviou ao Concílio um jurista para defendêlo, comunicou que iria à Cruzada contra os mongóis e os sarracenos, e que indenizaria a Santa Sé. Mas não cumpriu o prometido, voltando aos abusos. Foi então excomungado. Abandonado por boa parte de seus adeptos, pediu a intercessão de Luís IX. Este marcou um encontro sigiloso con1 [nocêncio IV na abadia de C luny. São Luís implorou ao Papa que aceitasse a proposta do imperador em troca da obrigação de ir para a Cruzada. O litígio só acabou com a morte do imperador. No fim do caso, São Luís ficou consolidado como árbitro da Cristandade, nele confiando Papas, imperadores, episcopados e nobreza , além de corporações de ofício, de estudantes e cidades livres.* A Cmza<la
do Sacro Império - e o supremo poder espiritual, e indiretamente temporal , dos Papas. O [mperador Frederico II Hohenstaufen investiu contra os Pontífices Gregório IX e Inocêncio IV, tendo sido excomungado duas vezes. Gregório IX qualificou-o de "A nticristo" . Inocêncio IV, um ano apenas após sua eleição, fugiu da Itália perseguido por ele. Nobres partidários de um e de outro estavam em situação de guerra civil e religiosa na Alemanha e na ltália . Nesse confronto, o rei santo, que já era o mais respeitado dos príncipes cristãos, poderia ter feito prevalecer sua influência sobre o Papa e o Imperador. Porém, ele se recusou a tal , pois queria reconciliá-los respeitando suas superioridades. A França estava prosperando tanto, que podia arcar sozinha com o ônus da Cruzada. Mas Luís queria uni-los nesta santa ernpresa. Gregório lX ofereceu a coroa imperial ao conde Roberto de Artois, irmão de São Luís. Contudo, o rei não aceitou, pois podia parecer usurpação e falta de respeito ao Imperador. Em 3 de maio de 1241 , arcebispos franceses que iam a um Concílio convocado por Gregório lX foram presos por Frederico Il. São Luís IX pediu-lhe explicações, ao que ele respondeu secamente:
São Luís tinha certeza de que Deus queria dele a libertação de Jerusalém. E repetia que desejava salvar as almas dos muçulmanos, convertendo-os. Joinville, contudo, para quem a sa lvação desses ímpios passava pelo extermínio, espantava-se ouvindo as intenções de tão grande chefe de armas. Em 1240, para se livrar das potências marítimas italianas cuja politicagem prejudicara as Cruzadas anteriores, São Luís [X ordenou a construção de uma im ensa fortaleza e um porto no Mediterrâneo. Abriu-se uma estrada entre os pântanos, canalizaram-se fios de água, erigiram-se muralhas e torres de defesa e armazenamento. A população local, que até então morava em palafitas , sentiu-se protegida com o surgimento da cidade de Aigues-Mortes, verdadeira maravilha arquitetônica a partir da qual o santo monarca embarcou para as Cruzadas - tanto para a sétima, em 25 de agosto de 1248, que durou seis anos, quanto para a oitava, em 1270. Na Vll Cruzada o rei desembarcou diante de Damietta , fortaleza que controlava o acesso ao Cairo, sede do Sultão, chefe máximo dos islamitas no Egito. São Luís desenhou o plano de ataque. Os cavaleiros mais experimentados desceriam primeiro e estabeleceriam uma
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cabeça de ponte para repelir os contTa-ataques mouros. O grosso do exército desembarcaria depois. Porém, muitas naves não compareceram no dia combinado, desviadas pelos ventos. O Santo ordenou o ataque antes de os muçulmanos concentrarem mais tropas. A frota real e a dos grandes senhores impressionavam pelo seu esplendor. Assim que a ponta de lança da cavalaria atingiu a terra, foi assediada por grande número de mouros, velozes e hábeis. A confusão na praia foi geral. São Luís então pulou na água - como descreve Joinville - , todo armado, magnífico, com capacete luzidio e armadura de ouro; e pisou em terra junto com seus homens mais fiéis. O pânico tomou conta dos islâmicos, que abandonaram a imponente fortaleza . O santo temeu uma emboscada e enviou observadores ao castelo que confirmaram a deserção geral. Em Damietta, São Luís aguardou a parte do exército que faltava , enviou patrulhas de reconhecimento e pagou informantes para obter dados sobre a estrada até o Cairo e o estado de ânimo dos adversários. Cairo era mais populosa que qualquer cidade da Europa. O único obstácu lo no caminho era a fortaleza da Mansurah. Para atacá-la, era preciso atravessar um braço do rio Nilo que não tinha pontes. Um beduíno denunciou um passo, que a cavalaria atravessou , sendo que metade dos cavalos
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CATOLICISMO
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ia nadando e a outra metade tocava no fundo. A ordem real era de -fincarem pé enquanto o resto do exército cruzava o rio. Os muçulmanos hostilizavam a cavalaria, e fugiam quando esta reagia . O conde de Artois, irmão do rei , perdeu a paciência e foi atrás dos seguidores de Alá, que entraram na fortaleza deixando as portas abertas. Quando o conde penetrou com os seus, as portas se fecharam: era uma arapuca. A ponta de lança da milícia real , composta de nobres e cavaleiros das Ordens Militares, foi massacrada por desobediência a São Luís. O rei , que estava doente e comandava na retaguarda, percebeu a magnitude do desastre. Após diversos embates, os cruzados foram desarticulados e o santo caiu prisioneiro. Os muçulmanos exigiram um a lto resgate e a entrega da cidade de Damietta em troca da liberdade do monarca. Enquanto a rainha Margarida providenciava esse dinheiro em Damietta, São Luís permaneceu numa prisão onde ocorreram fatos singulares. O sultão Almoadam ficara ébrio de orgulho com a vitória, mas os mamelucos, que constituíam sua guarda pessoal, resolveram assassiná-lo no final do banquete da vitória. Almoadam foi ferido, fugiu até o alto de uma torre, de onde caiu oferecendo em prantos o seu próprio trono em troca da vida. Octai, chefe dos mamelucos e os seus, traspassaram-no com inúmeros golpes. Logo a seguir, Octai
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trégua com o rei da inglaterra. Mas o povo de Terra Santa quer impedir-me de partilê Eles dizem que se eu for embora, sua terra estará perdida e será destruída e que eles pref erem sair comigo. Eu vos rogo pensar nisto e responder-me em oito dias ". Os nobres, incluídos os dois irmãos do rei e os grandes senhores, julgaram que o estado do exército exigia voltar para a França, a fim de se reorganizarem. O conde de Jaffa, senhor feudal na Terra Santa, defendeu a ideia de ficar, apoiado por Joinville. São Luís decidiu: "Eu vim para proteger o Reino de Jerusalém e não para perdê-lo. Que os que desejarem ficar comigo falem corajosamente". Luís lX autori zou os outros a partir. E ficou quatro anos tentando pôr fim às desavenças entre os príncipes cristãos do diminuído Reino de Jerusalém. O monarca fortificou os pontos estratégicos e ele próprio carregou pedras para construir castelos. Segundo o historiador Bordonove, São Luís assumiu a missão de um rei de Jerusalém sem ter o título . Na sua mente, o objetivo de reconquistar · a Terra Santa não havia mudado. Ele retornou à
foi até a tenda de São Luís com a mão ensanguentada, dizendo: "Almoadam já não existe. Que me darás por ter-te libertado de um inimigo que premeditava a tua ruína e a nossa?" São Luís nada respondeu. O infiel apontou-lhe a espada, e exclamou irado: "Não sabes que eu sou senhor de tua p essoa? Faze-me cavaleiro, ou serás morto!" São Luís respondeu: "Faze-te cristão, e te farei cavaleiro ". Octai abaixou a espada e retirou-se sem lhe fazer mal. 8
Estátua de São Luís na cidade norteamericana de Saint Louis, Missouri
Reordena o Reino ele ,Jerusalém
A rainha Margarida de Provence salvou Damietta com um punhado de cavaleiros e reuniu o imenso resgate de 400.000 bizantinos de ouro, libertando assim o rei, a maioria dos cavaleiros e grande parte do exército prisioneiro. São Luís trasladou-se a São João d' Acre, onde consultou os barões do Reino sobre permanecer ou não na Terra Santa. A rainha-mãe Branca de Castela havia informado que o rei da Inglaterra tramava invadir a França e qu e o reino corria grande perigo. Segundo Joinville, São Luís explicou: "Eu não tenho paz nem
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França em 1254, quando morreu sua mãe. Na hora de regressar, qui s ser o último a subi r no nav io. Seu irmão queixo u-se pelo atraso. O rei respondeu: "Conde de Anjou, se eu vos sou pesado, desembaraçai-vos de mim; mas nunca abandonarei meu povo". O es pírito medi eva l ex igia do grande chefe ser o primeiro a ava nça r e o úl timo a se retirar. •:Jerusalém! Nós fremos até .Jerusalém!"
Para Luís IX, o fracasso da Cruzada fo i um castigo pelos seus pecados, de seus nobres e do povo da França em ge ral. O Reino deveri a requin ta r a justiça de sua ordem hierárqui ca e sacra! com pi edade e humildade. A França inteira e ele própri o deveri am se oferecer a Deus. Porém, languidesc iam na Euro pa o heroísmo reli gioso, a generos idade de alma e a in te ira entrega a Nosso Senh or Jes us Cri sto. O rei não encontro u apoios propo rcionados e sua saúde fraquejava. Mas, apoiado na promessa di vina, za rpou de Aigues-Mortes rum o à África em 2 de julho de J270. Pisando terra moura, ele "ordenou a seu capelão que lançasse a proclamação de guerra da parle de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Luís, rei de França, seu sargento ", contra a Tunísia, como narra Henri Pourra t. O verão daquele ano fo i abrasador e os poços de água estavam contaminados. O exército fo i atingido pelo tifo , inclusive o rei, qu e hav ia entregado ao delfi m Fe li pe seu testamento espiri tual. Redi gido antes de partir, constituía uma obra sublime de uni ão da Religião e da políti ca, da Fé e da monarqui a, de Cri sto e da França. "Meu bom .filho, a primeira coisa que eu te ensino é engajar teu coração no amor de Deus. Sustenta os bons costumes do reino e destrói os malvados. Trabalha para que todos os vilões pecadores sejam varridos da Terra e, especialmente,.fàz tudo que te.for passivei para abater heresias e blasfêmias ".9 Seus mais próx imos ouvira mno murmu rar com insistência: "Jerusalém! Nós iremos até Jerusalém!" Fo i seu último desejo. Deitado sobre um leito de cinzas em fo rm a de cru z, com as mãos cruzadas sobre o peito e o olhar posto no Céu, entro u no Paraíso e na Hi stóri a no di a 25 de agosto de 1270, aos 56 anos de idade. Carl os de Anj ou, seu irmão, infligiu uma diss uas iva derrota aos sa rracenos; o sul tão de Túni s aceitou um tratado favo rável aos cri stãos e a Cruzada encerrou-se. O corpo do monarca fo i tras ladado para a Sicília, onde reinava Carl os, e inumado na catedral de Monreale, perto de Palermo. Seus ossos fora m levados para a Catedra l de Notre-Dame de Paris, e sua di sputa como relíquias fo i
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CATO LI C I SMO
tão gra nde, que eles se ac ham hoje dispersos nos mais va ri ados loca is da França. "Uma CS/Jécic <lc rei ctcn10 "1º
São Luís IX realizou a perfeição da França. Encarnou o país da harmonia, da bondade, da generos idade de alma e da inteira entrega a Nossa Senhora. Ele parece presente na Sainte-Chapelle e em outros lugares que cantam a glóri a de Nosso Senhor e de Sua Mãe Santíssima. Foi um santo segundo a alma da França, como São Fernando III de Castela, seu primo-irmão, fo i o santo que a Espanha aguardava, ou Santo Henrique imperador fo i o anelado da Alemanha. Ele contribuiu para fazer da Idade Médi a uma Jerusalém terrestre, imagem da celeste. Na Alemanha, quando alguém perguntava: "Como você vai?" e o outro ia muito bem, di zia: "Eu vou como vai o bom Deus na França". Pois, sob o santo estadi sta, a França imprimiu na Europa o equilíbrio ideal entre os senhores fe udais, a rea leza e o povo, entre o Papa e o Imperador, entre os soberanos vizinhos. O govern ante sem sa bedori a perde seu povo e o rei sá bi o o sa lva. Sem sabedoria, o poder civil ou eclesiástico se transforma em instrumento de perdi ção. Por isso, Dom Guéranger, o gra nde abade de Solesmes, fo rmul ou um elogio lapidar do santo: "A Sabedoria eterna desceu u111 dia de seu /rono no Céu e pousou sobre São Lu is ". • E- mail para o autor: catolicis111o@tcrra.co111 .br Notas:
* São
Luís tornou-se então o úrb itro da Cristandade, por suplência e e111 ca ráter excec ional, exercendo a runção própri a ao l111 perador - no caso o i111 piu Frederi co li , que se tornara inepto para exercê-la; e ta 111 bé111 exercendo o pape l de 111ed iador entre o l111 perador e os Papas Gregório IX e In ocêncio IV, pois sua au tori dad e 111ora l superava às dos supre111os titu lares tanto do plano te111pora l quanto do esp iritual.
1. 00111 Prosper Guéranger O.S. 13., L 'anné /i1 11rgiq11e, http-//www abbayesa in1 -bcno jt ch/gucrangcr/an neli11irgiquc/1~ e /pentecote05/003 htm . 2. Geo rges Bordonove, Sai11t Louis , conferência pronunciada e111 Pa ri s, e111 16- 12-92 na Fundação Dosne-Tliiers. 3. Hen ri Pourrat, Les Sair/Is de France, Ed iti ons Conte111 poraines Boivi n, 195 1. 4. Henri Po urrat, id. ibid. 5. Na época de São Luís, a li bra to111·1·1ois era cunhada pela abad ia de Tours, que lh e dava o no111e. Continh a 6,74 gra111as de ouro, ou 80,88 gra111as de prata. E111 rea is, a li bra to11rnois de ouro valeria: 6,74 gra111as X R$ 93,00 = R$ 626,82. fr.: hltp -//fr wikiped ia org/w jkj/L ivre tournois; hllp -//ourohojc com/. 6. athédmle No tre-Dame de Paris, La Couronne d 'Épines, Assoc iation Mauri ce de Su ll y, Montligeon, 20 14, pp. 29 e ss. 7. lei. ibid. 8. René Gro usset, l·listoire eles Croisades e/ du Royc111me Freme de Jem sale111, Plon, Pa ris 1936, vol. 111 , p. 489; J. F. Michaud, História das Cruzadas, Edi tora da s Américas, São Pa ulo, Vol. V, pp. 87/88 9. Georges Bordonove, Saint Louis, co l. Les rois q11i ontfáit la France, Ed. Pyg111a li on, Pari s, 1984, p. 314. 1O. Georges Bordonove, Saint Louis, id. ibid., p.3 19 .
Representação medieval . da morte de São Luís
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VARIEDADES
Virgindade e Missa tradicional em alta D uas reportagens publicadas em 27 de julho no jornal "O Globo" dão muito o que pcn8ar. Julgue o leito1: Não deixe de ler também, no final, o comentário expressivo de um conhecido jornalista .
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GREGÓRIO YIVANCO LO PES
A
p rimeira reportagem vem assinada por Roberta Salomone e nos informa da existência do movimento "Eu escolhi esperar" (EEE), cujos seguidores - todos .jovens, de ambos os sexos - se comprometem a manter a virgindade até o casamento. Há inclusive um famoso jogador de futebol. Neste mundo em que a corrupção moral é propagandeada por todos os meios e atingiu índices insuspeitados, a notícia causa uma surpresa agradável. Ao menos para os que ainda aspiram por padrões de sanidade moral. Um dos sinais de sua autenticidade é que os participantes desse movimento estão dispostos a sofrer perseguição dos inconformados ou dos corruptos. De fato, Carla Duarte, 27, secretária-executiva de uma multinacional, conta: "Algumas amigas me chama-
ram de louca, mas posso dizer que sou muito mais feliz assim ". O idealizador do movimento, Nelson Junior, declara: "Eu mesmo sofri bullying por parte dos meus amigos quando dizia que não tinha tido relação sexual com ninguém ". Nelsiane Carrara, 25 , oficial da Marinha Mercante, confessa que teve alguns desli zes antes de conhecer o movimento : "Foi ai que eu percebi que isso não estava me .fàzendo bem e que estava indo contra o que eu mesmo acreditava". Quantas outras jovens prefeririam a castidade, mas se deixam levar pela onda imoral por causa da pressão do ambiente? Cássio Pedroso e Sara Costa, 22, namoram, mas excluem qualquer relacionamento de tipo conjugal : "Só depois de subir ao altar ". Ana Carolina, 20 anos, colunista do site EEE, "recebe e-mails de gente de todo o país, e virou uma espécie
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CATOLICISMO
de consultora virtual para quem quer aprender a resistir às tentações ". O vídeo do movimento no Youtube já tem mais de 1,3 milhão de visualizações. O pecado solitário também é sumariamente condenado.
* * * A segunda reportagem, assinada por Leonardo Vieira , di z respeito a um assunto inteiramente diferente, ao
menos na aparência. Fala da grande procura por missas tradicionais, de rito tridentino, entTe os fiéis : "Missas em latim, o padre voltado para o altar, rito antigo, mulheres com véu na cabeça, canto gregoriano". "Missas tridentinas se espalham pelo Brasil, numa ressurreição de formas litúrg icas antigas que atrai incontáveis jovens .fiéis. O termo Juventutem, aliás, designa um movimento de volta às tradições católicas liderado porpessoas de 16 a 34 anos". Conta o engenheiro Felipe Alves, 25 : "Descobri a missa há uns anos, é um tesouro. Está claro que tem algo de sagrado aqui. É possível perceber tanto com os ouvidos quanto com os olhos". A reportagem explica que "foram séculos assim, até que o Concilio Vaticano 11, na década de 1960, introduziu inúmeras mudanças, o uso da lingua local e o padre de fi-ente para os.fiéis entre elas. Mas o século XXI vive uma intrigante retomada de tradições conservadoras na Igreja [. ..] Amparadas pelos j ovens católicos conservadores, as missas tridentinas crescem pais afora. Em 2007, uma organização indep endente contabilizou 20 dessas celebrações no território nacional. Agora, cerca de cem ocorrem com regularidade". Diz o adolescente Eduardo Salomão, 15: "Claramente prefiro a tridentina. Já cheguei a ser tachado de maluco. O rito contemporâneo não é para mim. No antigo, a meditação, o silêncio e a beleza encantam ". Bárbara Soares, 20, descobriu o rito pela internet. Ela ficou tão encantada com as primeiras celebrações que "não parou mais de_ji,-equentar as missas". *
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O que têm em comum esses dois movimentos de jovens, tão opostos ao que se poderia esperar neste mundo em que vivemos? Propaga-se que ser "moderno" e " prá frente" é entregar-se a todo tipo de desregramentos e a pôr em realce celebrações sem mistérios, que sejam mais um encontro da comunidade do que um culto divino! Que traço une os movimentos pela virgindade e pela Missa tridentina? Haverá uma origem comum? Qual seria ela? Urna ação do Divino Espírito Santo, a rogos de Maria, preparando as almas abertas à sua inspiração para um futuro totalmente diferente do atual ? Futuro que São Luís Grignion de Montfort chamou "Reino de Maria" e que Nossa Senhora anunciou em Fátima como sendo o triunfo de seu Imaculado Coração, que se daria depois de terríveis convulsões? Referi esses fatos e reflexões a um velho conhecido com quem me encontrei casualmente na rua. De barba branca e um tanto alquebrado pela idade, levava debaixo
do braço um jornal amarrotado. Quando jovem, ele se entusiasmara com as perspectivas abertas pelo Concílio Vaticano II e, esquerdista da gema que era, entrara no foguete do otimismo que o levou até os céus da utopia , certo de que a adorada modernidade conduziria a uma reconciliação de toda a humanidade, que não haveria mais lutas nem disputas, fossem elas ideológicas, religiosas ou quaisquer outras. Liberdade para tudo e para todos, um supra ecumenismo mundial regado a festança e sem a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para ele, as mencionadas reportagens não constit11íam novidade, pois já as conhecia. Fitou-me com um olhar entre desolado e frustrado, nada comentando. Depois, num gesto brusco, colocou o jornal amarrotado em minhas mãos, virou as costas e afastou-se.
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Entre estupefato e curioso, folheei o jornal, depois de desamassá-lo. Eram umas poucas páginas da edição de 4 de agosto da "Folha de S. Paulo". Nela, chamou-me logo a atenção uma crônica do conhecido jornalista Ruy Castro, comentando exatamente as duas reportagens a que acabo de me referir. Corno o autor ana lisa os fatos de um ângulo muito diferente daquele que aqui adotamos, pareceu-me que o leitor gostaria de conhecer essa crônica , a fim de montar uma visão de conjunto. Não podendo transcrevê-la na íntegra, escolho alguns trechos significativos. "Acabo de saber que surgiu no Brasil um movimento chamado 'Eu Escolhi Esperar ', composto de rapazes e moças que escolheram esperar p elo casamento para fazer sexo. Contando seu público na internet, elesjá seriam dois milhões de não praticantes - de 18 a 30 anos. "Outra noticia surpreendente, esta ref erente aos católicos, é a volta da missa em latim, com o padre de costas para os .fiéis, as mulheres de véu, os homens de terno escuro e uma liturg ia perdida desde 1962, quando o Papa João 23 instituiu a missa com o padre defi-ente e .falando na língua local. A missa à antiga já é uma realidade em muitas igrejas do pais. "Ouço.falar também da volta das.festas de.formatura, dos bailes de debutantes, dos concursos de misses, e me pergunto: a continuar assim, onde vamos parar? Se a vúg indade e a missa em latim estão de novo na praça, logo teremos a volta do vestido saco, das saias com anáguas. "Pelo visto, nós, os garotos de 1968, que p ensávamos ter derrubado essas instituições, derramamos o nosso sangue e suor[. ..] em vão". • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br SETEMBRO 2014
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5 São Bertino. Confessor + Luxeuil (Fra nça), 700. Este patriarca fund ou co m Sa nto Omer a abadia de Luxeuil , da qual 22 monges fo ram elevados às honras dos altares. Primeira sexta-feira do mês.
6 Santa Margarida de RiéLi, Virgem + Florença, I770. De abastada fa míli a, entrou aos 19 a nos para o Ca rmelo, nele fa lecendo co mo gra nde míst ica aos 23 inco mpl etos. Pelo se u empenh o em não aparece r, fi co u conhec id a como a Sa nta da Vida Oculta.
2 Santo Antonio, Mártir
Seis bispos aíricanos, Mártires + Áfri ca, séc. VI. Este prelados, "como verdadeiros pastores ofereceram suas vidas pelos seus rebanhos durante a perseguição do Rei Hunerico" (do Martirológ io Romano). Primeiro sábado do mês.
7 Santa Regina de lésia, Virgem e Mártir
+ Síria, séc. IV. "Jovem cristão de 20 anos, cortador de pedras por profissão, quebrou em p edaços ído los pagãos. Foi por esse motivo condenado a morrer na própria construção de uma igreja em que eslava trabalhando " (do Martirológio Romano - Monástico).
+ Borgonha, séc. II. Seu culto na Borgonha "é documentado desde o século V por uma basílica edificada sobre seu sarc1/étgo. Uma tradição designa assim o lugar do martírio de Alésia: 'Aqui César venceu a Gália; aqui uma virgem venceu César '" (do Martirológio Romano - Monástico).
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São Gregório Magno, Papa, Confessor e Doutor da Igreja
TIVIOADE OE OSSJ\ SENI-IORA
+ Roma, 604. De fa mília senato ri al romana, muito jovem fo i prefeito da cidade. Herdeiro de enorm e fo rtun a, fund ou se is moste iros, fa zendo-se beneditin o em um deles. Delegado Apostólico em Constantinopla e depois Papa, exerceu o governo da Igreja com fi rmeza e energia, destaca ndo-se sua atuação na organização do culto e do canto sacro.
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4 Patriarca Moisés. Prot'eta + Palestina, séc. X II[ a.C. Profe ta e legislador, Moisés "recebeu de Deus a missão de libertar o povo de Israel oprimido no Egito pelo Faraó. Falava com Deus .fétce a fa ce como se .fala a um amigo " (do Martiro lóg io Romano - Monástico).
São Pedro Clave,; Confessor + Cartagena (Co lômbi a), 1654. Apóstolo dos Negros. Nasceu na Es pa nh a e part iu para a então Nova Granada, di zendo: "Quero passar toda minha vida trabalhando pelas almas, salvá-las e morrer por elas ". Fo i o que fez, vivendo por mais de 40 anos no apostolado entre os negros e morrendo vítima de moléstia contraída ao atender empestados.
10 Santa Pulquéria Imperatriz. iúva + Bizâncio, 453. Bati zada por São João Cri sóstomo, aind a jovem fez o voto de virgindade co m suas duas irmãs mais
novas. Aos 15 anos sucedeu ao pai, pois seu irmão, Teodós io rr, ainda não havi a atingido a maioridade. Tendo que se afasta r da corte devido aos ciúmes da cunhada, voltou, a pedido do Papa São Leão, a fim de combater as heres ias de Eutiques. Com a morte do irmão, tornouse imperatriz. Para estabelecer sua autoridade, casou-se com o genera l Marciano, com quem viveu em estado de castidade.
l1 São João-Gabriel Perboyre, Máltir + China, 1840. Depois de ter tra balhado na fo rmação da juventude em vári as escolas católicas da Fra nça, fo i enviado para as mi ssões na China. Deus atendeu seu pedido, concedendo-lhe a graça do martírio duran te uma inesperada e cruel persegui ção.
12 Santíssimo ome ele Mai'ia
São ,lo5o Crisóstomo. Bispo, Conressor e Douto1· ela Igreja + Armêni a, 407. Um dos quatro grandes doutores da Igreja Orienta l e bi spo de Constanti nopl a, notabili zou-se pela rara eloquência, de onde seu nome Crisóstomo (boca de ouro) . Perseguido e deste rrado pela lmperatri z Eudóx ia, morreu a ca minho do ex ílio. São Pi o X declarou-o patrono dos oradores cri stãos.
14 EXAl;l'AÇÃO DA S 'l'A CRUZ
15 OSSA SE HORA DAS DORES Festa instituída por Pio VII em 18 14, em substitui ção a duas outras muito antigas, para rememorar as dores da Co- Redentora do gênero humano.
16 Santa Eelite, irgem + Wilton (Inglaterra). "Filha do
Rei Edgm; da Inglaterra. Consagrada a Deus desde a mais tenra infância (no Mos teiro de Santa Ma ria, em Wilton), morreu aos 23 anos, pranteada unanimemente por suas irmãs" (do Marti ro lóg io Ro mano Monásti co).
postos em Cafa rnaum quando o Senhor, fixa ndo-o, disse-lhe simpl es mente: "Segue- me". Fo i o primeiro que, por inspi ração di vina, escreveu o Evangelho. Segundo a Tradição, fo i martirizado em Antioquia ou na Etiópia, onde teria instituído um convento ele virgens.
Congregação de Nossa Senhora do Cenáculo, dedi cada à obra dos retiros espi rituais para senhoras, sofreu toda sorte de humilhações, ingratidões e ri yalidades. Chegou-se a destituí-la do ca rgo de superiora da obra que fu ndara, sendo-lhe negado o títul o de fündaclora .
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Santo Emerano, Bispo e Mártir•
São Vicente de Paulo, Confessor
+ Roma, 162 1. Jesuíta, auto r das admiráveis Controvérsias, obra em que refuta os sofismas protesta ntes. Foi arcebi spo de Cápua, cardea l, consultor das prin cipais co ngregações romanas e conse lheiro de vá ri os Papas.
+ Alemanha, séc. VIL Apóstolo da Bav iera, fo i martirizado pelos pagãos. Sobre o seu túmulo fo i erguida a abadi a benedi tina el e Kl ein chelfe nclorf, qu e se tornou luga r de peregrinação.
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São Pio de Pietrelcina, Confessor Santa Tecla , Virgem e Mártir
+ Paris, 1660. Cognominado o grande Santo do grande século na França. Fundador dos Lazaristas e das lrmãs de Ca ridade. Praticamente não houve ati vidade reli giosa ou de caridade a que não esti vesse li gado. Os reiigiosos e as rei ig iosas das congregações por ele fund adas fora m peças fu ndamenta is para faze r o protesta ntismo retroceder e perder fo rça naquele país. No Conse lho de Regência, fo i responsável pela nomeação de bispos vi rtuosos, o que auxili ou a rea li zação de uma verdadeira reform a re li giosa. In ce ntivou uma cruzada contra a Inglaterra, que naq uela época pe rsegui a cruelmente os católicos. O empreendimento não fo i poss íve l dev ido à oposição do Cardea l de Richelieu.
17 São Roberto Belarmino, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja
São João Macias, Confessor + Lima, 1645 . Contemporâneo de São Martinho de Porres e domini cano como ele, embora em outro convento de Lima. Foi modelar em todas as virtudes, principalmente nas da obedi ência e da pureza.
19 Aparição de Nossa Senhora em La Salette (França) Aos dois pastorinhos Max imin e Mélanie em 1846, recomendando a oração quotidiana e a santificação dos domingos. Denunciou, em termos candentes, os pecados do clero.
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+ Se lêucia (Turqui a), séc. 1. Co nve rti da po r São Pa ul o, sofreu inúm eras persegu ições para co nse rvar se u voto ele virgindade, sa in do in có lume do tormento da fog ueira, dos leões e das serpentes. Embora, depois di sso, a tenham de ixado li vre, ela 'é considerada pelos Padres da Igreja como a "primeira das mulheres mártires",
24 Nossa Senhora das Mercês
São Venceslau, duque da Boêmia Santa Eustóquia, Virgem (Vide p. 16)
20
25
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Santos Eustáquio e companheiros, Mártires
Beato Hermano Conlractus, Confessor + Baden, 1054. Filho de condes,
Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael
ao nascer fo i vítima de um tra umati smo obstétri co, tend o de ser ca rregado no co lo durante toda sua vida. Da í o cognome de Con tractus ou Entrevado. Mas a Prov idência compensou essa lac una corpora l com 'dons de inteli gência que lhe merece ram outro cog nome, o de Maravilha do século, por sua ciência e virtude.
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+ Roma, 120. Eustá qui o fo i um dos maiores genera is do exé rcito ro mano imper ial e notável por sua caridade, apesar de pagão. Numa caçada, o cervo que perseguia volto u-se para ele com uma cruz entre os chifres. Eustáquio converte u-se e so freu o martíri o com a esposa e dois filh os, assados dentro de enorme estátua de meta l aquec ida.
21 São Mateus, Apóstolo e E:vangelista + Antioqui a, séc. 1. Deixou sua mesa el e arreca dador ele im -
São Jerônimo, Confessor e Doutor da Igreja Santo Honório, Bispo e Conresso1· + Ca ntuári a, 653. Discípul o e sucesso r de Sa nto Agostinh o na Sé de Cantuária, seguiu-lhe os passos na evangelização dos anglo-saxões.
2() Sa nta Teresa Coudet·c, Virgem + Lião, 1885. Fund adora da
Será ce lebrado pelo Revmo . Podre David Fro ncisq uini , nos seg ui ntes intenções: • Rogo ndo aos t rês Arco nios - São Miguel, São Gabri el e São Rafae l - , ce lebrados no di a 29 de sete mbro, poro q ue proteiom o lgre io e o Bras il nos p r ese ntes di as . N o Mi sso d o m ês, se rá ta mb ém ped ido uma pa rti cu lar proteção angé lico para os colaboradores, ass inantes e leito res de Colo/icismo .
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e "semelhante aos Apóstolos"
(do Martirológio Romano).
Intenções para a Santa Missa em setembro
Not a: San tos jil apresentados cm ca lendári os anteriores são apenas mencionados, sem nota biogrMica.
Intenções para a Santa Missa em outubro • Ped in do o Nosso Se nh o ra A p arec id o, Ra inha e Pad roeira do Bras il , cu ia festa secomemora neste mês, que prote io espec ialmente o País nos dificuldades presentes e aume nte o fervo r re li gioso de seu povo. Q ue o torne fo rte e reso luto no com bate o todo ti po de corrupção, sobretu dó o corrupção mora l q ue ton to enfraq uece os o lmos, de ixan d o os famí li as vul neráve is à imora li dade .
Universidade de Verão de 2014 na Polônia LE ONARDO PRZYBYSZ
ealizou-se de 23 a 27 de julho p.p. na cidade de Niepolomice, nos arredores de Cracóvia (Polônia), a XII Universidade de Verão. Foi promovida por algumas TFPs e associações co-irmãs da E uropa,
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CATOLICISMO
entTe elas o instituto Padre Piotr Skarga, que patrocinou o encontro. As instalações do antigo e belo palácio de caça dos reis da Polônia, onde se realizou o evento, foram quase insuficientes para abrigar os 170 congressistas provenientes de diversos países (Alemanha,Argentina, Áustria, Brasi l, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Es-
À esq. da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, D. Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana, no Cazaquistão; e à dir., o presidente da Federação Pró Europa Christiana, Dr. Caio Xavier da Silveira
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tônia , Finlândia , Fra nça, Holanda, H ungri a, Jrlanda, Itáli a, Lituânia, P e ru , Po lô ni a e Po rtu ga l), qu e d iscutiram e debateram, num clima de muito interesse e entu siasmo, ternas corno "a o rdem do universo co rno refl exo d as pe rfe ições de Deus", " fund amentos da c ivili zação cri stã." N ão fa ltara m também interessa ntes ex pos ições sobre o processo revo lu c ionário segundo o pensamento de Plínio Co rrêa de Oliveira, co nsubstanciado em sua mag istral o bra Revolução e
Contra-Revolução. O S r. S lawo mir Olejni cza k, pres id e nte d o In stituto Padre Piotr Slcarga, saudou vivamente os congress istas. Entre os ilustres pa rti c ip a ntes e co nfe re nc is tas destaco u-se D. A tha nas iu s Sc hne ider, bi spo aux ili ar de Astana, no Cazaqui stão, que comentou a vida e os ensin amentos do grande Papa São Pio X. C umpre também destacar a presença do pres idente da Federação Pró Europa Christiana, Dr. Ca io Xav ier da S il ve ira, e do diretor do escritóri o de representação da mesma em Bruxelas, o Duque Paul de Oldenburg. Como representantes do clero estivera m presentes Monsenhor Roman Kneblewski , de Bydgoszcz, Po lônia, e o Padre Andrea di Pao la, ca pelão militar em Pa le rmo, Itá li a. O evento co ntou co m a augusta presença da image m de N ossa Senhora de Fátima, a mesma que verte u mil agrosa mente lágrimas em ] 972 na c idade de N ova O rl ea ns, nos Estados Unidos. Diante dela se rea li zara m vig íli as de orações pela restauração da c ivili zação cristã, hoje quase reduz ida a cinzas. N ão fa ltou ao programa vi sitas a lu ga res hi stó ri cos da c idade e região de Cracóv ia. • E-mail para o autor:
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catolicismo@terra.corn .br
CATOLI C I SMO
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Dez anos do Estatuto do Desarmamento, fracasso total. Por quê? D10GO W AKI
ando continuidade ao ciclo de conferências promovidas pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira no Club Homs da Avenida Paulista (SP), e atendendo ao insistente desejo de so lução para o grave problema da insegurança da popu lação, foram convidados adissertar sobre o tema, em 12 de agosto último, dois grandes especia li stas na matéria, o Prof. Adilson de Abreu Dallari e o Cel. Jairo Paes de Lira. Ao longo de sua brilhante carreira, consagrada a combater o crime, o Cel. Paes de Lira assumiu cargos dos mais importantes na Polícia Militar
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Prof. Adilson de Abreu Dallari
Cel. Jalro Paes de Lira
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INSTITUTO PLINI0 CORRtA DE OLIVEIRA
pauli sta, entTe eles o de Comandante Metropolitano de São Paulo. Qui s a Providência acrescentar ao seu currícul o uma nova experi ência: fo i eleito deputado federal para a 53a. Legislatura. Também parti cipou intensa mente de uma coali zão pela Legítima Defesa, fo rm ada por diversas assoc iações de tiro, caçadores e co lecionadores de armas, que bata lharam e venceram, em 2005, o referendo das armas por um a espetacul ar margem de 63% dos votos, mani festando seu NÃO à pro ibi ção do co mércio e venda de arm as e muni ções. Esse passado confe ri a ao coro ne l sobeja auto ridade para mostrar ao numeroso público a rea lidade que se seguiu à aprovação do malfadado Estatuto do Desarmamento. Aprovado na calada da noite, em no me de um suposto contro le de armas para combater o crime - sem qu e mui tos po líticos sequer soubessem o que estavam aprova ndo - o referido Estatuto na realidade não só não co mbateu como, pelo co ntrári o, favoreceu o crim e e os criminosos. Os homens de bem fora m desarmados e ficara m à mercê dos bandidos, que cresceram em ousadi a, aumentando assustadoramente o crime em 111tensidade e em di fe rentes moda lidades. *
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Não menos brilhante fo i a ca rreira do Prof. A dil son de Abreu Dall ari , que se destacou no campo c ivil co mo gra nde jurista: espec ia li sta em Direito Po lítico pe la US P, Doutor em Dire ito, Livre-Docente e professor T itul ar de Dire ito Admini strati vo da PU C-S P. Sua carreira acadêmica e destacada capac idade logo poss ibilitou ser convidado a ocupar di versos ca rgos admini strativos e de consultori a jurídica em governos muni cipa is e estadual. Al ém de possuir diverso títul os publicados, é ta mbém conferencista ex perimentado, com participação em congressos, seminários, encontrns e simpós ios no Bras il e no Ex teri or. Amante do Dire ito, quando viu a Pátri a ameaçada pelos desv ios jurídicos que se apresentavam no hori zo nte, lançouse na luta e espec ialmente insurg iu-se contra o Estatuto do Desarmamento, parti c ipando de di versos debates e conferências por ocas ião do Referendo de 2005 . Ao Prof. D a ll a ri co ube ex por os as pectos jurídi cos vi olados pe lo Estatuto do Desarmamento e suas inconstitu cionalid ades. Entre o utras, ressa lto u aque la qu e, para e le, é a ma is gri tante: o referendo - prev isto na Le i do desarmamento - em que a esmagadora maiori a do povo brasile iro votou pela não pro ibi ção da vend a de armas e muni ções, fo i descumprido. Ex plico u qu e ni sso res id e a mais fl agra nte vi o lação de um dos princí pios fund amentais da democrac ia que é a so berani a popular. O resultado desse referendo, ins istiu , fo i a mani fes tação dessa so bera ni a, e o seu descumprimento é a sua maior inconstituc iona lid ade.
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CAT OLI C I SMO
Ruu Mal"Jnhilo, 34 1 - 0 1240-000 - Si\o l''a ulo - SP MAN IFESTO À NAÇÃO llllAS IL EIR A
Estatuto do Desarmamento: uma década de fracasso e de opressão Em 22 de lk:r.cmbro de 200) . o governo federal submclcu, de modo furti vo, o ch:unndo Estotu10 do Dcsarnrnmcnm li a1>rcciBçllo do Çongrcsso, <pie o aprovou. f'oi :11,rcsc,uado à po1)11laçAo como panaceia pnra ucnbnr com o cri-
me ,•íolcnto. l..ogo depois. ao perceber que essa idcin-forç.a n~o fun ciona va. pois. exceto cm Silo Paulo, os índices de homicld ios dolosos e de todos os crimes violentos con1 inu11mm a subir, o govcmo fcdcml mudou de 11'i 1icu. Pílssou n nfinnar <11ie a 1d 11 ~0 \'icra apcnos para desarm3r os criminosos. mos 13. rnbém ns 1>essons de bem. n fim de evi1ar aquilo (lUC os seus aliados dcsanuamc111istas rotulavam como Mcrimcs de relacio11amc1110". No roforondo de 2005, 2/3 dos bras ilei ros dizem NÃO à proibição do comércio de armas e munições
. O 1~w o pode ser enganado, mas não pa ra sempre . Com eleito, o dcspcnur dn consciência dos cidudl\os pam 11 fa l6c1a :\l'(lutlt lada pelo go"cmo foi dec isivo 1mm evidcnci11r o logro II que fora submclido. por ter recebido de seus legisladores lnl 1:s11111110. Assim sendo, cm 23 de outubro de 2005, 111>0inndo-sc no Dirci10. dois terços dus d d lon:s brasileiros. cm um dos pleitos m11 is concorridos d:1 His16rin do Pois. rejeirnrum. cm referendo. a 1>roibiçllo do comércio de nnnas de fogo e de munição. prcvistu no artigo 35 du draconiana lei.
Não sa tisfeito com o res ultado, o governo inicia campanh a d e desarmamento da população Ocrrolnda no referendo sua mi\c111ina de propaganda. o governo federa l. contudo. nllo se deu por vencido. Con• 1inuou n 111 ilid-la paro tentar embair os brasileiros, por meio de lacrimosas cmnpanhas de dcsannamcmo. de 111anipu• ~::;: ~e dados e emprego da aíi nuaç.llo rcpc1i1i\'a de que era nccc.-s5.i rio ceno tempo parn que o Es1111u10 prodmds.sc
0oz anos depois, Mapas da Vloffmcla comprovam o fracasso do desarmamento .. Pois bem, pass.1 r.un-sc mais de dc7, an09, Os sucessivos cs1t1dos denominados Mapa:, ,la Vfolé11c1", a principio u11h1.ados parn alardear fa lsos resultados do desarmamento civil. cm suns edições mais rccc111es nllo puderam mais ocull:1r um fa to irrctorquí\'t l: as engrenagens enganadoras do draconiano cstmu10 só produ.tira m resultados contra 0 cidaddo de bem. c111e. atendendo aos rcc1uisitos rcstrili\'OS da lei (1111sê11ci11 de 11ntccedc111c crimi nn l, h11bílimção técnica e 11dc<111ndo pcríil psicológico). sinla-se com disposiç5o de possuir urna annn de fogo parn defender. nos casos cx lrcmos cm que a força 1>ública nOo posSII socorri- lo. a 1>rópria vida e a vida de pessoas de sua famíli u. Os indicadores da cri111 ir1111idude violcn111 . cm especial homicfdios dolosos, nesse pcriodo, nllo só ndo dim inu ímm, como ex1>lodir::un. principalmcn1e nos esrndos c1ue urnis se dcs11mrn r::11n 1>0r ocasillo dns mencionadas c:unpanhas. Apenas para ex~mJ>li ficar. \•t·j:1-sc o c:,so de Al:tgoas. 1>ar1 icul:m11e111e de suu Ca1>ital.
A segurança püblica não pode defender a todos, a todo o momento, em todos os lugares . Compete :\ polícia dcsa rm:i r os criminosos. é claro. Mas é ímpossivcl :\ força po lici11 I g11rn n1ir a vidn, a incolun11~adc 11siea e :i propriedude de Iodas as pessoas de bem, cm iodas as 11anes e cm todo o tempo . Sempre hal'cr:\ oc:1s1i10 cm que :1lgu111 cidadão. na iminência de sofrer lcsllo criminal. 11~0 possn conlar com o socorro do Es111do. E é cm tais momentos críticos que advog11 mos parn todos o inalicn:\vcl direito de a111odcfc sa . nos Jimiles da lei. Os estudos de l..011 e Mustard, dn Uni\'ersid:idc de Chic:igo. dcmostmr::un que o crime violento diminui nas comunid11dcs nnnadas, 1>0rq uc o bundido a\'aliu os riscos e opta por :itncar vltinrns sem cup:1cidnde de nulodcfcsa, ou busca o crime patrimoninl 11110-vioh:nto, nrnis 1olcrflvcl sob o ponto de visla soc iu l. E os estudos de Wrighr e Ross i, dri Univcrs idndc de M:,ssachuscts (USAJ, demonstr:ir:1111 que os crim inosos. scj:, quu l for o nlvcl de controle exercido pelo Estudo. sempre conseguem as urmos de fogo com 3S quais agridem a sociedade. Assim sendo. 110 cidadno honcs10, o (lllC res1ar:\? Se o Estado cm arm11s lhe fa lhar. o que nno mro acontece, será urn cordeiro entre feras: lobos que pas.s.·1111 o 1em1>0 a afi ar os de111cs e a prep:irar-sc ,,ara ab:ilcr :1 pr6x inrn vhirna.
O Estado não pode arrogar-se o monopólio da cora gom Nno se pode, adcm:i ís, por dc\'cr de consciência, dcix:ir de lcva n1ar n qucs1no mais crucia l: o Es111do n;)o 1cm 0 direito de tu1cl:1r :t disposiçllo hum:111:i de cnfrc111ar o perigo: nno pode nrrogar-sc o mono1'6lio da comgcm. Qu:1lc111cr 1>esso:1de bem c1uc (1tcnd11 nos rcquisi10s de umn lei m;,.oá\'cl pode exercer o direito naturnl à lcgiti• 111:1 defesa. Aindu que isso lhe custe curo. O que seriu de uma 1mçno cujos cidi1dnos fossem todos cducudos para ter repulsa fts nrmas'! Quem iriu :\s fil cirns dn força ptiblica'! Corno 1>rO\'Cr ó dclCsa d11 Pl1tria ou d:1s ins1i1uiçõcs se nno res1,1rcm senão 11Cssoas que lcnh:un medo de nnnns e que ncci lcm 11 1in;, a <1ualc1uer cus10, mesmo que seja o dn escrn\'id3o irnpos1a 1>e lo in\•asor. a lranquilidadc própria dos rrinusoléus'! É a isso - a cmasculaçllo nacional - a ,1ue scr/i condenado o nosso País. caso as pessoas dis1>0s1:ts n dcfcndcr•sc sejam impedidas de fa zê-lo.
A responsabllldade dos três poderes pela atual situação No entanlo, o atual Es1:1do brasilei ro co111 l11 u11 surdo uo cl11 111 or dos opri midos: - o l'odcr Ugislnli\'Ocúmplice, por lardnr cm reformar complclamcnlc umo lei que nunc:i serviu /1 Naçllo; - o E1cc111h·o. 1>0r u1ili.rnr 11 rb i1mrinmc111 c mecunisrnos [ldmínislr::llivos que se situam ncim11 e além dos dispositivos dn lei , pi,m climinor. de ve;,_ os poucos dircilos oinda prcscrvntlos no malfa dado Esti111110: -:-. o J ud iciário. 1>0r não haver dcclnrado. nas uçõcs próprias im pctn1dus. a inconslitucionalidadc de dispositi• vos cn.ic1a1s do Es1a1u10, além de quase sempre se recusar II refonnar, cm sede de ações cautclnrcs, ns arbitrariedades administrativos policinis (lllC impedem sb pessoas respeitadoras d:i lcgislaçllo II nquisiçllo de novas armns de fogo de defesa, bc.·m corno a rt."110\'IIÇ!\o do rcgis1ro das j á possuidas.
Apelo nos 1111mda1ários do Brns il: i1c:1bcm com essa 01,rcssão! Os brasileiros. vítimas dcss.i1angustios.i1situaçllo, ciumam uos manda1t\rios da Naçl\o: Rcconheçmn n \'Crd:1dc e ajam cm consonfi ncia com cln: o Elillltuto do Ocsnrmamcruo para 11:idn serviu em l(•rmos de co111role de criminulidndc. A1>e11ns 1m><l11z.iu dnno aos direitos e ganmlius indi viduuis bt\sicos dos brasileiros. Tr:iba1hando empcnlmdamcnlc 1>elo cngr:mdcc imcnlo do Pnís. dcsejmn eles :11>enns vi ver cm paz e, se nceess./4 rio. defender-se a si. aos seus l:ircs e t\s suas fa milias. E fa zê-lo. de modo p11nicular, nas ocnsiôcs. não mms. cm que o Es1ado arnrndo fmeusjll cm pro1cger .seu dirci10 :'1 vidu. 4 propricdndc. :\ segumnçn e il liberdade. erigidos como invioláveis no anigo s• da Constiluiçfto da Rc1>í1blíca f'cdcm1iva do 13rasil. Si'lo Pau lo, 12 de :1gosto <lc 201 4 Nome.:_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ CPF ou HG.: _ _ _ __ l!ndcrcço:. _ __
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Cidndc :. _ _ _ _ _ _ _ Estado: Assim,turu.: _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
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O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira convidou essas duas personalidades por serem muito qualificadas para falar sobre o fracasso da aplicação dessa malfadada Lei do desarmamento, quando ela completa seus dez anos. Aproveitando o evento, juntamente com a coalizão Pela Legítima Defesa, foi lançada uma campanha de assinaturas a um Manifesto à Nação , no qual se faz um apelo aos três Poderes nos seguintes termos:
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Apelo aos mandatários do Brasi 1: acabem com essa opressão!
Os brasileiros, vitimas dessa angustiosa situação [desarmados ante o crime], clamam aos mandatários da Nação: Reconheçam a verdade e ajam em consonância com ela: o Estatuto do Desarmamento para nada serviu em termos de controle de criminalidade. Apenas produziu dano aos direitos e garantias individuais básicos dos brasileiros. Trabalhando empenha-
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damente p elo engrandecimento do País, desejam eles apenas viver em paz e, se necessário, defender-se a si, aos seus lares e às suas familias . E fazê-lo, de modo particula,~ nas ocasiões, não raras, em que o Estado armado ji-acassa em proteger seu direito à vida, à propriedade, à segurança e à liberdade, erigidos como invioláveis no artigo 5° da Constituição da República Federativa do Brasil. • E-mail para o autor: ca tolicismo@tcrra.com.br
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Cursos de Formaçã da juventude norte-ame icana
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FRANCISCO JOSÉ SAIDL
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os meses de junho e julho a TFP americana organizou, nos estados da Pensilvânia, Louisiana e Califórnia, cursos de formação para jovens dispostos à ação contra-revolucionária, com a participação em cada curso, em média, de meia centena de adolescentes. O clima de entusiasmo reinante pode ser notado na descrição de um dos participantes da Louisiana, estado situado próximo ao Golfo do México e sobre o qual sempre paira a ameaça de urna tempestade tropical ou de um inesperado furacão , especialmente no verão : "Ao anoitecet; a chuva aprox ima-se em densas cortinas, avançando contra a vidraça. Os jovens continuam a recitar o terço no salão principal do Feliciana Centet; na cidade de Norwood, próximo à divisa com o estado de Mississipi. Troveja, relampeja e o vento CATOLIC I SMO
sopra fortemente. Repentinamente, ficamos sem eletricidade, na quase completa escuridão. Uma só luz p ermanece: a que ilumina os oratórios distribuídos p elo jardim. Esses oratórios, dedicados ao Sagrado Coração, a Jesus Crucificado ou a Virgem Santissima,foram ali instalados inspirando-se na singeleza das aldeias alemãs, onde são.fi'equentemente encontrados. Este .fàto nos deu a esp erança de que, em meio à escuridão em que vivemos, uma luz p ermanece: é a que vem de Nosso Divino Salvador e de Sua Mãe Santíssima, que é vida, doçura e esperança nossa ". lntenso programa intercalado com estudos, exercícios de vivacidade e jogos (caça ao tesouro e outros) proporcionaram a todos um ambiente de intenso convívio em torno dos ideais da ContraRevolução. Os jovens puderam haurir conhecimentos de história da civili zação cristã
em palestras de qualificados conferencistas, e estabelecer o contraste com a decadência em que nos encontramos. Na Louisiana foram-lhes apresentados neste ano aspectos da civilização no mundo germânico e seus pr1nc1pais personagens , corno os imperadores Carlos Magno e Santo Henrique, entre outros. Entretanto, o curso de formação não se restringiu à parte teórica. Os participantes saíram às ruas para combater um grande inimigo da Cristandade em nossos dias: o crime do aborto. No estado de Nova Jersey e da Louisiana foram organizados protestos contra a matança de inocentes. Em Nova Orleans, organizouse um protesto no local onde está sendo construída uma clínica de aborto. Além dos jovens do curso, participaram também militantes do movimento pró-vida local. Quando entrar em funcionamento , a referida clínica terá capacidade de matar 30 nascituros por dia. As atividades contra o aborto prolongaram-se ainda por mais alguns dias do mês de julho, com uma caravana que percorreu o estado do Texas. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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■ PuN1 0 C o RRÊA DE OuvE1RA
eus deseja que vivamos diante de maravilhas, e que nos maravilhemos com tudo o que é belo. A alma revolucionária tem aversão ao maravilhoso e aprecia apenas as coisas sensuais. A tal ponto, que o revolucionário procura enfear as coisas maravilhosas que o passado nos deixou. Por exemplo, a pirâmide de vidro instalada no pátio principal do Palácio do Louvre - hoje o mais notável museu de Paris. Encomendada pelo presidente socialista François Mitterrand, a pirâmide hedionda enfeia um dos mais belos golpes de vista que existe no mundo, que é o pátio do Louvre. Por quê? Porque aquilo que é maravilhoso espelha a Deus. Todas as coisas belas que existem refletem a Deus, mas de modo desigual. De maneira que há coisas que espelham
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mais a Deus, e outras menos. E as mais maravilhosas são as que refletem mais intensamente o Criador. Portanto, habituando-nos a amar as coisas maravilhosas segundo o seu grau de maravilha, tornamo-nos mais propensos a adorar a Deus. Habituamo-nos a desejar o Céu, que é a concentração de todas as maravilhas, em todas as formas e graus imagináveis. Quando temos horror ao vulgar, ao feio, ao sórdido e ao caricato, repudiamos o que é o contrário de Deus. E o amor à maravilha leva o homem a crer em seu Criador e depois o conduz a adorá-Lo. A Revolução impele o homem a não apreciar o maravilhoso. Mas enquanto a crença em Deus adorna a alma, tornando-a maravilhosa, a posição revolucionária, pelo contrário, desdoura a alma, transformando-a num antro, numa espelunca. •
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 24 de março de 1988. Sem revi são do autor.
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OUTUBRO de 2011
Segunda Guerra Mundial .
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Exctm:ros
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CAR'J'A DO DIRETOR
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PÁGINA MARIANA
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CORRESPONDÊNCIA
Nº 766
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propósito dos 75 anos da ec losã.o da Segunda ~uerra Mundi~I ~onvém destacar um impresSJOnante prognostico. Em Fátima, no dia 13 de julho de 1917, na terceira aparição da Santíssima Virgem aos três pastorinhos, Ela previu o fim da Primeira Grande Guerra : "A guerra vai acabmê Mas se [os homens] não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio X I começará outra pior".
De fato, a profecia cumpriu-se. Terminou a Primeira Grande Guerra e 2 l anos depois eclodiu a Segunda Guerra Mundial. Oficial mente ela começou em setembro de 1939, já no reinado de Pio Xll , mas de fato ela se iniciara antes, no reinado de Pio XI , com a an xa ão ela Áustria e a invasã.o da Tcheco lováquia pelos na zistas e com o Tratado de Munique. Dez anos ante da clcfla graçã dcs c nílit mundial , Plínio orrêa de Oliveira o pr gnosti u cm memorável carta que escrevera a um amigo em 1929. Eis um excerto ela mesma: "Meu caro Cada vez mais se acentua em mim a impressão de que estamos no vestíbulo de uma época cheia de sofrimentos e lutas. Por to,la a parte, o sofrimento da lgre}a se torna mais intenso, e a luta se aproxima mais. Tenho a impressão de que as nuvens do horizonte político estão baixando. Não tarda a tempestade, que deverá ter uma guerra mundial como simples prefácio. Mas esta guerra espalhará pelo mundo inteiro uma tal confi,são, que as revoluções surgirão em todos os cantos, e a putrefàção do triste século XX atingirá seu auge. Aí, então, surgirão as forças do mal que, como os vermes, somente aparecem nos momentos em que a putrefàção culmina. Todo o 'bas-fond' la parte mais baixai da socie,lade subirá à tona, e a Igreja será perseguida por toda a parte. Mas... 'et ego dico tibi q11,ia tu es Petrus, et super hanc petram aed!ficabo Ecclesiam meam, et portae inferi non praevalebunt adversus Eam '. 1 Como
consequência, ou teremos 'un nouveau Moyen Age' 1uma nova Idade Média I ou teremos o.fim do mundo. Eis a nossa principal tarefà: prepararmo-nos par" a luta, e preparar a Igreja, como o 11wri11fteiro que prepara o navio antes da tempestade'': • 1. " Tu és Pedro e sobre esta pc Iro ·dil1 ·111· •i 111inl111 lp1 •j11 , • IIN p111111s do inferno não preva lece rão conlru ·111" (M I l /1, 18) . 2. Roberto de M allc i, O ( 'r11z11rl11 d11 .\'1 11'11l11 ,\',\' l 1//11/11 ( 'w •r," ,/, • ( l/11•,•im, Livraria i v ili Zll\:ílO fal i lOl'II , 1•01l ll, 1997, p. 11
ouE NossA SENHORA CmmA
Um milagre de Nossa Senhora na Ucrânia
10 A
PAl ,/\\IRA DO SACl~IWOTE
14 A
REAl ,IDADE
CoNc1SAl\lmN1·1,:
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ENTREVISTA
Adoração devida ao SantÍssimo Sacramento
22 D..:s'l'i\OUE Fátima: mais atual do que nunca 26
CAPA
Centenário da Primeira Guerra Mundial
36 VmAs m : SANTOS São Seralim de Montegranaro
39
D1scERN1Noo VÍcio dos games e o vazio na juventude
42 EP1sómos H1sTómcos Malta - combates e triunlo
Eleições: análise criteriosa
46
NACIONAL
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SANTOS E i<'ES'J'AS DO
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AÇÃO CON'l'RA-REVOL,UCIONÁRIA
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AMBIEN'n :s, COSTUMES, CtVIL,IZAÇÜES
Mf:s
O Castelo de Trujillo, na ProvÍncia de Cáceres (Espanha)
lgr la d truida durante a Primeira Gu ndo u ada pelos aliados como hospital d
Nossa Capa: Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo
CATOLIC ISMO OUTUBRO 2014
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Por que não existe paz Caro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração : Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante : Fone/fax (0xx11) 3333-6716 Correspondência : Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda . E-mail: catolicismo@terra.com .br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502
Preços da assinatura anual para o mês de Outubro de 2014: Comum: Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso :
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CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
Neste ano, centenário do início da Primeira u rra Mundial, parecenos conveniente apresentar a profunda aná li e que sobre a hecatombe universal de 1914- 18 fez Prof. Plini rrêa de Oliveira, inspi rado r de Catolicismo e cu principal colaborador, fa lec ido em 3 de outubro de 1995. Ao trazer como de hábito suas reflexões à principal matéria da ediçã.o de te mês, nós lhe manifestamos mais uma vez toda a nossa gratidã.o. ompilada pelo nosso colaborador Juan Gonzalo Larraín Campbell, que pesquisou obras e numerosos artigos do Prof. Plinio, a matéria rcp rta-se de início ao conceito que em seu livro Revolução e ContraRe vo!ução, ele apresenta de Revolução, ou seja, um movimento que v i a destruir uma ordem legítima e estabelecer em seu lugar um estado de coisas ilegítimo. Analisadas sob esse prisma, as duas guerras mundiais do século passado constituem capítulos cruentos do processo revolucionário. Em seguida, o compilador transcreve textos que ressaltam diversas fases da destruição da civilização cristã a partir da Primeira Guerra Mundial. Dentre elas, merecem especial menção: 1 - A hegemonia Ocidental da Europa desloca-se para os Estados Unidos. 2 - Ao término do conflito, vários tronos da Europa foram derrubados e os costumes democratizaram-se intensamente no mundo inteiro. Os agentes do processo revolucionário que planejaram a guerra de 14-18 ou dela se aproveitaram, souberam promover e conduzir assim, ao fim do conflito, um golpe profundo contra a Cristandade. Merece destaque a previsão do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, na remota década de 1940, de um reviver do mundo muçulmano - hoje trágica realidade, tanto no Oriente quanto no mundo ocidental. O brado de alerta dado então parece prenunciar os massacres praticados em nossos dias, especialmente contra os cristãos, pelosjihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, na sigla em inglês), com o fim de estabelecer um novo Califado que pretende conquistar o mundo! Esperamos que essa matéria, de suma importância, seja útil para o esclarecimento de nossos prezados leitores acerca da imensa cri e qu ' assola a civilização neopagã em que vivemos.
unca se falou tanto de paz como em nossa época. Entretanto, nunca houve tanta violência! As incursões russas na Ucrânia para desestabilizá-la ameaçam transformar-se numa nova guerra geral. Os confrontos entre Israel e o Ramas não se apaziguam. Há ainda a proclamação ameaçadora de um Califado no Iraque por muçulmanos furiosamente anticatólicos, primos dos que entram às torrentes nos países europeus como imigrantes . No Brasil, com complacência das autoridades, os chamados sem-teto criam um clima de insegurança e agitação constantes, somados aos outros "movimentos sociais" que o decreto 8.243 da presidente Dilma erige em interlocutores do governo, pondo na sombra o Legislativo. Ainda no Brasil - e em várias partes do mundo - a criminalidade aumenta
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assustadoramente. A população tem medo até de sair às ruas. Mas a ausência de paz também se nota de modo alarmante na esfera privada. Filhos que matam os pais por "dá cá aquela palha" e, pelo mundo inteiro, mães matam os filhos antes de eles nascerem, por meio do aborto, cada vez mais ameaçador. "Máquinas da morte" estão sendo usadas em alguns países para produzir eutanásia. E las são acionadas por computador pela própria vítima, que aplica em si mesma uma injeção letal. Para conter a violência, de nada adianta ficar somente falando em paz, dizer que esta é necessária etc. Nesse sentido - como em muitos outros - a ação das associações de direitos humanos, da ONU, das ONGs, e do que mai s se queira , tem-se revelado totalmente ineficaz.
De outro lado, como esperar que a violência diminua, com a televisão despejando diariamente sua dose envenenada de viol ência e imoral idade dentro dos lares? Impõe-se uma restauração moral da soc iedade . Sem a prática dos Mandamentos da Lei de Deus, não há violência que nã.o esto ure. Mas, para isso, seria necessár io um empen ho sério e decidido do clero católico, desde os simples sacerdotes até os mais altos escalões da Hierarquia ec les iástica, na pregação da doutrina católica tradicional. Porém, isso parece ser propriamente o que mais fa lta. Daí aplicar-se a nossos dias a lamentação do Profeta Jeremias: "Sem respon ·abilidade, querem curar a f erida do meu po vo, dizendo: 'Paz! Paz! ', quando não existe paz" (6, 14). Ante esse quadro apoca líptico, pode Nossa Senhora não chorar? •
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Nossa Senhora e São Jacinto M uagre operado há séculos pela Virgem Santíssima en1 Kiev (Ucrânia) é atestado por crônicas fidedignas, mas rejeitado arbitrariamente por historiador rt VALDIS GRINSTEINS
o ano 1240, São Jacinto, sacerdote da Ordem dos Pregadores - mais co nh ec ida como dos Dominicanos - preparava-se para abandonar a cidade de Kiev, na Ucrânia, pois a mesma seria atacada nada menos do que pelo mon gó is, a li ados de outros povos bárbaros da região, como os tártaros. Sabendo do desprezo desses se lvagens por toda e qualquer lei da guerra civilizada, São Jac into não queria arriscar sua vida nem a dos frades ob sua direção. Se fosse para converter os bárbaros, ele ficaria e daria sua vida com gosto; mas tal possibilidade não se apresentava razoável naquele momento. Além de os mongóis serem duros de coração, seus aliados, os tártaros do rio Volga, eram muçulmanos desde o ano 922. E, pior ainda, os habitantes da cidade de Kiev tinham caído no cisma grego (dito ortodoxo) e odiavam os católicos. Se os dois povos referidos não respeitavam os cristãos, os habitantes daque la c id ade não se co nvertiam por pura birra. Portanto, não havia nenhuma razão para os religiosos permanecerem a li .
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Lamentando ter de deixar o c nvcnlo qu • rundara, São Jacinto foi à capela e retirou o ' antíss imo Sa ·rnmento. Mas quando estava saindo, ouviu uma voz · •lestial que lhe disse: "Jacinto, vais e me d ixas '!" l~ru uma pesada imagem de Nossá Senhora que o chamava . Incontinenti, ele a tomou também, e dirigiu-se ao rio Dnieper, para cruzá-lo e ficar a salvo dos invasores. O que significa isso? Por que uma imagem não pode ficar naquele local? Pode parecer estranho, mas diante de pessoas que duvidam de tudo, somos forçados a procurar melhores formas de explicar o que pensamos. É o que se deu na nanação deste fato. CATOLICISMO
pouco se discute que todos os que puderam escapar da cidade ass im o fi zeram, pois as crueldades dos mongóis estão fartamente documentadas. Quanto ao fato de uma imagem falar, o historiador já começa a duvidar, especialmente usando um argumento curioso. Para ele, uma imagem é apenas uma representação artística de alguém. Como toda representação, sua profanação é lamentável, mas não atinge a pessoa representada em concreto. Queimar uma bandeira, por exemplo, insulta urna nação, mas não a destrói ou lhe produz danos materiais. Sendo assim, havendo tantas imagens de Nossa Senhora, que sentido teria que uma delas falasse, pedindo para ser levada numa fuga? Em teoria, toda mãe cujo filho está ameaçado, procura favorecê-lo para que escape, e não o contrário, sobrepondo-lhe uma carga.
No ·uso l'0l\\.'1\1 10, lrnlu-s • de um historiad r qu · Hl' va n iloriu d · 111\0 u ·r •di tar cm nad , ou qua e. Ma Hq11 l ao m •nos l ·m a honestidade ele reconhecer que · ·rios fatos S' o hi stóric , e tão narrados em crônicaH 1111 ll 11 tica que re latam fatos qu e outros também rc ,i ,• lr11111 , e que, portanlo, são dignos de fé. E le não di sl·@ln que os mongó is atacaram Kiev em 1240, fato nw i. do que aceito, e que arrasaram a cidade de tal fom111 , q11 • esta tardou sécu los em voltar a ter alguma imporl ll ll 1.1 . Tam-
Importa reconhecer que seus argumentos, ponderáveis embora à primeira vista, são falhos em alguns pontos. Primeiro, o fato de existirem hoje muitas imagens de Nossa Senhora, que podem ser compradas mais ou menos por toda parte, não significa que naquela época também fosse assim. As imagens antigas eram todas artesanais, não havia produção industrial, era m esculpidas normalmente por encomenda, as das igrejas muitas vezes eram obras de arte e, portanto, dificeis de serem substitu ídas em caso de perda. Em segundo lugar, Deus tolera muitas coisas, mas há outras que Ele absolutamente não permite. Na sua Paixão, deixou seus inimigos praticarem contra E le muitas crueldades. Mas ao pé da cruz não permitiu que tocassem sequer em um fio do cabelo de sua Mãe Santíssima. Como todo bom Filho, E le não tolerou que insultassem a sua Mãe. E são inúmeros os exemplos nesse sentido, como o da Casa da Santíssima Virgem, na qual Nossa Senhor viveu em Nazaré, que foi levada pelos anjos até a cidade de Loreto, na Itália, onde permanece até hoje. Mas, em terceiro lugar, e muitíssimo mais importante, falta a esse hi storiador o senso do simbólico. Nossa Senhora é Mãe e, como toda mãe, deseja ficar com os filhos, especialmente nos seus momentos mais dificeis. Se a Virgem faz até um milagre para indicar que deseja sair de algum local , isso signifi ca que Deus está desgostoso com os pecados ali cometidos, ou que ali se cometerão, e provavelmente não deseja que os pedidos de misericórd ia apresentados por sua Mãe in terfiram na sua justiça. No caso concreto de Kiev, era a cidade que mais influência reli giosa ti11ha naquela parte do mundo. Se e la ace itasse a verdadeira doutrina católica, terminaria ali mesmo o eis-
ma grego, que tanto dano tem produzido, sendo causador até hoje de mortes e conflitos. Mas os habitantes de Kiev se obstinaram em não querer reconhecer a autoridade do Papa nem certos pontos da doutrina católica. E isso acontecia, apesar de eles não terem para essa obstinação nenhum argumento válido, apenas o orgulho de não reconhecer um erro e corrigi-lo. E pagaram muito caro por essa satânica obstinação. À medida que as pessoas possuem mais cultura, elas captam, por assim dizer, mais dados nos imponderáveis, e compreendem melhor os detalhes, entendem os matizes dos problemas e o símbolo dos gestos. Já uma pessoa bronca, rude, inculta ou primitiva pode estar tão dominada pelos sentidos, que todos esses detalhes espirituais lhe escapam completamente. Não é este o caso desse historiador. Para ele, o problema é o milagre em si mesmo. E le aceita que Deus e Nossa Senhora existem. Mas parece não compreender que o Criador e sua Mãe não são indiferentes aos nossos problemas e, para auxiliar-nos e aumentar nossa fé, se comun iquem de alguma forma conosco. É dificil para ele aceitar como certo algo que ele e muitos outros não viram. Entra aqui o problema da tradição da Igreja católica, instituição com dois mil anos de existência. A tradição nos mostra que tal fato é digno de fé. Assim como acreditamos no parecer de um médico que se formo u em determinada universidade, ou na avaliação de um arquiteto que projetou diversos prédios, por que não acreditar em crônicas escritas por testemunhas oculares de fatos passados? Crônicas que, após anos de exame, são confirmadas por outros textos que afirmam o mesmo? Para mim, não é dificil acreditar nesse milagre. Tudo nele faz sentido, a cronologia confere com os fatos e, do ponto de vista teo lógico, nada se opõe à doutrina da Igreja. São Jacinto foi um grande devoto da Santíssima Virgem, o que é confirmado por inúmeros fatos. Por exemplo, quando ele foi visitar o rei Leszek I, o Branco, em Cracóvia, naquela época capital da Polônia. O soberano insistiu em prestar-lhe urna grande homenagem, chegando até a se colocar de joelhos diante dele, pedindo-lhe a bênção. São Jacinto não queria por modéstia aquiescer, e disse ao monarca que não merecia tanto louvor, pois era um simples frade. Mas o rei o corrigiu, dizendo: "Não é a ti a quem presto homenagem, mas à Rainha dos Céus, que vejo cobrindo-te com a sua proteção ". Se um soberano em sua corte, diante de tantas pessoas, não receou em dizer isso e agir assim, por que numa capela ameaçada a Rainha do Céu não poderia dirigir algumas palavras a seu fiel servidor por meio de uma imagem? • E-mai l para o autor: catolicismo@terra com br
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ferro choca-se contra o pote de barro, quem sai quebrado? Com toda urgência os líderes ocidentais precisam reagir, poi s se não o fi zerem com firmeza, logo enfrentarão as forças do ISIS em seus próprios países, incendiando suas próprias casas, violando e matando membros de suas famílias. Será um castigo por agirem com moleza para protege r nossos irmãos perseguidos no Extremo Oriente. (A.B.B. -
Perseguição aos católicos 181 Católicos são perseguidos e assassinados e m diversos paí ses isl âmicos, sobretudo nos países árabes e na África. No entanto, o extremi smo muçulma no avança não apenas nos seus próprios países , mas em toda a E uropa, com o aval das po líti cas liberais e maçô ni cas europe ias de aco lhida a qualquer um que so lic ite autorização para emi grar e se e tabelecer em países outrora cató li cos. E e les já chegam à E uropa ditando as normas, ex ig ind o que bem entendem, e mand ando faze r isso ou aquilo, ex ig indo a eonstru çã de mesquitas aqui ou ali , ex ig ind o uso de antigas igrej as católicas aba ndonadas para o seu culto islâmico, etc. E os pa íses europeus simplesmente acolhem , aceitam e atendem a tudo o que os muçulmanos impõem . {LA. -
MG)
Pífia r eação oci<lental 181 A '~ihad islâmica" é uma guerra que os muçulmanos cham am de "santa", mas certamente incentivada pelo diabo. Eles continuam com a carnificina contra os católicos que vivem em nações árabes, inclus ive tem havido casos de crucifixões. São mon stru osos assas sinos frio s que mata m co mo se pisa numa formi ga. Essa carnifi cina deveria ser estancada de imed iato pelas nações ocidentais, mas seus mandatários são fracos e suas intervenções são pífias. Se a situação continuar assim , quem ganhará esta guerra? Q uando o pote de
- C A T O LICI SMO
SP)
sábias intervenções militares, sábias políti ca e muita fé, tornando-se o mais di gno chefe da França medieval. Com um estilo arlos Magno de governar o reino , fazendo justiça com muita destreza, e le engra ndeceu a França, a Europa e a Igreja . Admiro muito o santo rei e também a sua mãe Branca de Castela. Vou guardar com cuidado este artigo como um raro documento em meu arquivo de ternas históricos. (G.D.T.I. -
BA)
Estal"recimento
Estadista exemplar
181 O silêncio da estrutura eclesiástica da Igreja Católica no Brasil a respeito desta perseguição religiosa praticada pelo Islã é antigo e é de estarrecer, tanto mais que no Ocidente preparam o caminho para a " guerra santa" islâmica. É uma situação realmente Apocalíptica!!!
181 Conhecer melhor a história desse monarca [São Luís IX] auxiliou-me para ilustrar minhas aulas. Admirável ver corno o monarca ao mesmo tempo em que cuidava de seus domínio s zelava pelas relíquias de Cristo, como a obtenção para a França da sagrada Coroa de Espinhos. E para guardá-la construiu aquela maravilhosa edificação gótica, a Sainte-Chapelle. Ah, se nossos governantes se in spirassem em São Luís ... Tudo seria tão diferente e não estaríamos n sta desord e m e m m e io a rouba lh e ira e abs urd os em todo esca lões do governo. (W.H. -PR)
(A.T.M. -
SP)
Palavras divinamente sábias 181 É lamentável constatar como a perseguição aos cristãos não para de crescer a cada dia que passa. Enquanto nos países isl âmicos e comunistas a perseguição é fe ita por meio de queima de igreja , a sass inato de sacerdote e leigo que e recusam a abandonar a fé e por e Lu1 ro de cri stãs, n c idente e les o fazem p r me io eh ridi cuhri zação de no sa f6. Já virou r tina ver piadas e desmora li zação ele rc li gios na televisão . E o pior é qu tanto o governo quanto a grande mídi a não se preocupam em denunciar tais barbári es, muito pelo contrário, eles a apoiam. Nada diferente do que Jesus nos disse. E le não nos prometeu felicidade neste mundo. "Lembrem-se das palavras que Eu disse: Nenhum escravo é maior do que o seu senho1'. Se me p erseguiram, também vos perseguirão. Se obedeceram à minha palavra, também obedecerão à vossa" (Jo 15 ,20). (L.H. -
MG)
Digno chefe ela França medieval 181 Achei fascinante o artigo sobre a hi stória de São Luís IX, neste 800° aniversário de seu nascimento. Um grande homem que conseguiu com muita sabedoria consolidar o trono francês, com
Kvom/)lo para os políticos ~ o ta ri a ele externar os meus sinceros cumprimentos pelo excelente artigo s bre São Luís, estadista da cristandade, na revista Catolicismo de setembro. No momento caótico em que vive a nação brasileira, foi muito oportuna a homenagem ao rei São Luís IX. Pois e le deveria ser o exemplo para todos os nossos políticos. O Brasil possui uma arquidiocese e duas paróquias dedicadas ao Santo, sugiro que se envie a revista para elas, a fim de que os respectivos sacerdotes promovam e divulguem São Luís, através do memorável artigo . Vai ser útil para os catequistas, inclu ·iv . Existe uma paróquia em Costa Borros, no Rio de Janeiro, dirigid por um \!rei franciscano, outra n Rio (l1·11 1Hll- do Sul e a arquidioccs' dl1 S o 1 11 ls do Maranhão. Talv ''/, ns pd1 prl 11 p111 oquias 1111 11dquiri r fiquem int er ·ss11d11, outros · 111pl11I' -. .
(J ,M.< - RJ )
Desarmamento
e del'J'ocada
181 Parabenizo os ilustres conferencistas no fórum organizado pelo Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, o Prof. Adilson de Abreu Dallari e o Cel. Jairo Paes de Lira, pela posição valente que eles tomaram, atacando com excelentes argumentos o "Estatuto do Desarmamento". Minha opinião é bem a deles: desarmar os cidadãos que vivem para o bem da família, da sociedade e do País, é abrir as portas para que os bandidos possam agir livremente. E não resistir contra os criminosos equivale à derrocada de uma nação. Devemos desarmaros bandidos e não os pais de família! Se estamos numa democracia, por que os governantes não respeitaram o resultado inequívoco do referendo feito em 2005, no qual a maior parte dos brasileiros votou contra a lei do desarmamento? {T.A.V. -
RS)
São Pio X 181 A matéria de capa da Catolicismo d_e agosto foi muito oportuna para que melhor entendamos a atual crise da Igreja. Sugiro aos senhores que façam mais matérias mostrando a gênese da heresia modernjsta, pois só assim poderemos conhecer melhor as artimanhas dos inimigos internos da Santa Igreja , inegavelmente os mais perigosos. Que São Pio X interceda por nós para que outro Papa santo venha para chefiar o rebanho católico. Amém! (G.C.C. - RJ)
Cruelclades cio mundo atual 181 Recebemos substanciosa matéria da prezada leitora, P rofa. Myria Ramos e Silva, com o pedido de sua publicação em Catolicismo . Lamenta ndo não poder reproduzir na íntegra a missiva, devido a sua extensão, publicamos a seguir excertos dela, relativos a temas da maior atualidade e que poderão representar esclarecimentos úteis para nossos leitores. "Escrevo a esta extraordinária rev ista Catolicismo, a qual tenho o privil égio de receber todos os meses porque, como católica e apreciadora da tradição irretocável da nossa Igreja,
encontro-me estarrecida diante dos fatos escabrosos ocorridos nesta nossa época chamada 'moderna'. [ ... ] "A intenção desta matéria é contribuir com um parecer, digamos assim, mais coloquial sobre assuntos que Catolicismo já se pronunciou com inquestionável competência. "Por exemplo, quanto à prática do aborto, defendida por muitos como procedimento normal, temos a acrescentar que, se por um lado a Igreja Católica se coloca diametralmente em socorro da vida com o imbatível argumento de que abortar é executar covardemente um ser humano inocente e indefeso seja lá qual for o estágio da gravidez, por outro lado, acreditamos ser importante acentuar que pessoas aptas a se unirem sexualmente precisam estar conscientes que este ato não é apenas uma brincadeirinha prazerosa, mas acima de tudo um ato que exige responsabilidade, uma vez que dele
pode advir uma gravidez ... um novo ser... um filho. "O muito atual argumento de que efetuar aborto é procedimento normal , ou ainda que sendo a mulher dona de seu corpo é quem deve decidir se prossegue ou interrompe a gravidez, é na verdade um meio de incentivar e sustentar o poder da 'cultura da morte '. Para completar esse clima assustador, contamos com a introdução legal da eutanásia (na Holanda e Alemanha) em recém-nascidos portadores de defeitos físicos, síndrome ele Down ou mongolismo. Quem decide nesses casos a morte da vítima são os pais com anuência do médico. "Observe-se, com o exposto, a incrível crueldade de nosso mundo supostamente civilizado. Observe-se que tudo isto tem origem na essência humana. Observe-se os meios diabólicos, sob o abrigo da lei , de ceifar vidas" . (Myria Ramos e Silva -
RJ)
FRASES SELECIONADAS ''Conuptissima. repu6[ica p[urimae feges'' (Quanto ma.is conupto o Estado, maior o número de íeis) (Téíc~to)
"Pode-se enganar a todos clurante ~um tempoi pode-se enganar ~uns clurante todo o tempoi mas não se pode enganar a todos clurante o tempo todo" (AbrCl VlCl VIII, L~V\-COLV\-)
"O Orçamento Nacional deve ser equili6raáo. As Dívidas Públicas devem ser reduzidas. A arrogância das autorúfruíes deve ser moderaáa e controlada,. Os pagamentos devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à fafêrn:ia. As pessoas devem novamente aprender a tra.6alha.r,. em vez de viver por conta do erário pú6[ico" (cfoero)
OUTUBRO 2014 -
l~Monsenhor JOSÉ LUIZ YILLAC
Pergunta - Desde há muito são levantadas hipóteses da existência de vida inteligente em outros mundos, tanto por cientistas quanto por leigos. Recentemente, até o Papa Francisco referiu-se à possibilidade de marcianos o procurarem, embora, certamente, o tenha dito em sentido metafórico, para reforçar sua opinião de que todo aquele que busque o Batismo deverá recebê-lo. Pergunto: Segundo a Doutrina Católica, seria possível a existência de seres inteligentes em outros planetas? Eu creio que não, pois tendo o homem sido criado à imagem e semelhança de Deus e residindo esta semelhança não no nosso corpo, mas na nossa alma espiritual, e sendo a inteligência e o livre arbítrio as capacidades e potencialidades superiores desta alma espiritual, esses eventuais seres extraterrenos teriam que possuir também alma espiritual, e serem igualmente criados à imagem e semelhança de Deus. Einstein, ao lhe ser perguntado se Deus poderia ter criado o mundo regido por outras leis, respondeu que sim, mas que não poderia fazêlo, pois se existissem leis melhores para reger o Universo e Ele não as tivesse adotado, Deus não seria perfeito. Do mesmo modo, Deus não poderia ter criado seres semelhantes ao homem, mais perfeitos ou menos perfeitos, não sujeitos às leis que regem o gênero humano, isto é, isentos do pecado, pois também isto seria contrário à sua perfeição. Assim, embora pecadores, esses extraterrenos, tendo alma espiritual, ansiariam pelos Céus. Mas como poderiam ser salvos sem a obra redentora de Cristo, que Se fez homem e morreu na Cruz não para salvar todas as criaturas, e sim, a humanidade?
Resposta -O prezado missivista insere em sua pergunta a interessante questão - baseada numa citação de Einstein que desconheço - de se Deus poderia ter criado um mundo mais perfeito do que criou. Deixo de lado essa interessante questão, porque ela é vasta e excederia o espaço disponível para esta secção. Fica reservada para outra oportunidade. Tratarei aqui apenas dos pontos da sua pergunta condensados nas três frases finais. A hipótese da existência de vida inteligente em outros
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CATOLICISMO
planetas parte da ideia, propugnada por muitos, de que é altamente improvável a "solidão cósmica" (como dizem) do homem num universo tão imenso como o que Deus criou. A referência a Deus entra aqui por nossa conta - compartilhada também pelo nosso consulente que se professa católico - , pois nos tempos de ateísmo em que vivemos, poucos serão os que farão referência ao Criador ao tratar de uma questão como esta. Na verdade, a intenção consciente, subconsciente ou inconsciente de muitos dos que torcem pela descoberta de vida, e sobretudo vida inteligente, em outros planetas, é justamente contestar a visão católica do universo. Daí a importância em elucidar a questão proposta pelo nosso consulente.
Valor universal da Redenção O próprio missivista lembra que a Redenção operada por Nosso Senhor Jesus Cristo teve em vista resgatar a humanidade, a qual , criada num estado de inocência e santidade, entretanto prevaricou. como a culpa tinha uma gravidade infinita, só um Deus poderia pagá-la; por outro lado, tinha que ser paga por um Homem, o qual, assumindo sobre si a culpa de toda a humanidade, prestava a Deus a reparação devida, aliás, superabundante. A Redenção tinha assim um valor universal para toda a humanidade, passada, presente e futura. Diante desse ponto firme da Doutrina católica, houve quem se perguntasse se alguma outra humanidade existente em um lugar distinto do Universo, e que também tivesse prevaricado, poderia se beneficiar dos efeitos da mesma Redenção operada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa hipótese levanta problemas árduos: como se aplicariam os frutos da Reden ção a essas almas? Seria criada para elas uma Hierarquia sacerdotal encarregada da aplicação dos méritos de Cristo? Como se criaria esta ordem sacerdotal? São perguntas que jazem no plano das meras conjecturas e do mistério. O que leva a unanimidade dos teólogos - que saibamos - a desconsiderar categoricamente a hipótese da existência, em algum outro planeta, de uma humanidade distinta da existente na Terra, e sem nenhum relacionamento conosco. Num Universo em que, até do ponto de vi ta f1 sico - e não apenas metafisico - , tudo está rela ·ionado com tudo , como poderia haver duas humanidad ·s que se desconhecem absolutamente? Alguém poderia até perguntar por qu 0 nos det0mos
em esmiuçar uma noção tão clara da Doutrina católica. As vicissitudes da História da Igreja o explicam.
O sistema de Copérnico pôs em xeque o humanoce11trismo O caso Galileu, tão explorado pelos inimigos da Igreja, tornou os teólogos mais cautelosos em face de teorias novas que, à primeira vista, parecem incompatíveis com a Doutrina Católica. Justamente nesse caso histórico, a posição mais prudente era a que São Roberto Belarmino preconizava a seus pares: aguardemos as provas, e depois veremos em quê a nossa interpretação da Sagrada Escritura e nossos princípios filosóficos devem ser ajustados ou eventualmente corrigidos. O fato é que as provas que Galileu aduzia não eram unanimemente aceitas nem sequer no meio científico do tempo. O que, aliás, veio a ocorrer logo depois de sua morte, sendo hoje uma verdade de conhecimento comum . Quando se analisa hoje a resistência dos consultores do Santo Ofício às teorias de Galileu, em geral se esquece do verdadeiro nó da questão. Não se tratava apenas de
uma questão científica, na qual Galileu estava afinal ce1to (embora não apresentasse provas conclusivas), mas das consequências que os adversários da Igreja iriam tirar dessa constatação científica. Era toda uma visão do universo admitida no mundo culto de então e adotada também pelos homens da Igreja que parecia desmoronar, caso fossem aceitas as teorias de Galileu (1564-1642). Como se sabe, estas partiam dos estudos de Copérnico (14 73-1543), que apontavam para o heliocentrismo, ao contrário do geocentrismo vigente desde os filósofos gregos (entre os quais cabe registrar a posição oposta de Aristarco de Samos [310-230 a.C.] e alguns outros que ensinavam o heliocentrismo). A respeito de Copérnico, escreve o Pe. Guillermo Fraile O.P. em sua abalizada Historia de la Filosofia: "A teoria copernicana deu o golpe de graça no conceito grego e medieval do universo com suas esferas rotatórias concêntricas, em que o mundo aparecia como uma máquina harmoniosa e fácil de compreender. As consequências nãoforam apenas cientificas, mas também de ordem psicológica. A terra era expulsa de seu
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posto fixo, estável e privilegiado no centro do cosmos, e lançada ao espaço, e junto com ela o homem, que começa a sentir sua pequenez, sua insignificância e sua instabilidade" (BAC, Madrid, 1991, tomo III, p. 281). Segundo as novas concepções, a Terra deixava de ser o centro do universo e consequentemente o homem não seria o objeto principal de tudo que Deus criou. A própria Encarnação do Verbo, que implicava na sacralização de toda a obra da Criação, tinha seu efeito esvaziado. Pode-se compreender a perplexidade filosófica e teológica que a aceitação do heliocentrismo acarretava para aqueles homens do século XVII. Para os onze consultores do Santo Ofício incumbidos de analisar a teoria de Galileu, esta se afigurava "estulta e absurda em.filosofia e formalmente herética, posto que contradiz sentenças expressas da Sagrada Escritura" ... (stultam et absurdam in philosophia etformaliter haereticam, quatenus contradicit expresse sententiis Sacrae Scripturae - Censura facta in Sancto Officio Urbis, die mercurii 24 februarii 1616.1 Documenti dei Processo di Galileo Galilei, Pontificiae Academiae Scientiarum Scripta Varia, vol. 53, 1984, p. 99). Por que "es tulta e absurda em filosofia"? Porque entendiam que se a Terra não estava no centro do Universo, ipsofacto o homem também não estava no centro do Universo ... Eles não souberam ver que o deslocamento espacial da Terra - e do homem - do centro do cosmos não tinha o alcance por eles temido! . ~oje_ a ciência constata que a Terra ocupa um lugar pnv1leg1ado no sistema solar e tudo foi minuciosamente disposto pelo Criador em beneficio da vida do homem neste planeta. Até a inclinação do eixo da Terra em rel~ção ao plano de sua órbita em tomo do Sol propicia a ?1f~rença de estações (primavera, verão, outono, inverno), md1spensável para vários efeitos benéficos à vida humana. O fato de nosso planeta não estar no centro do cosmos não tem, portanto, as implicações teóricas e práticas negativas que os opositores de Galileu imaginavam.
A vida em outros planetas Na realidade, o objetivo dos adversários da Igreja sempre foi amesquinhar a grandeza do homem criado à imagem e semelhança de Deus. Desse estado de ânimo nasceu a ideia de procurar a todo custo sinais da existência de vida em outros planetas. Ainda que fosse a de simples protozoários, isso animaria a busca por vida humana. Assim, em 1898, o romancista inglês Herbert G. Wells publicou uma novela intitulada A guerra dos mundos, na qual imaginava que os habitantes do planeta Marte teriam alcançado um grau de progresso muito superior ao existente na Terra. O cineasta e ator Orson Welles teatralizou essa novela numa famosa e trágica transmissão radiofônica em 193 8 - levada a sério por muitos ouvintes em que descrevia uma hipotéti ca invasão de marcianos aos Estados Unidos , munidos de armas devastadoras ... As espaçonaves enviadas pela NASA para
explorar os sinais de vida nesse planeta até agora nada encontraram de positivo, a não ser débeis indícios de que talvez no passado tivesse havido água na sua superfície, elemento indispensável para o surgimento da vida. O Mars Rover Curiosity, que chegou ao planeta em 6 de agosto de 2012, pousou próximo a uma área que parece ter sido um lago quatro bilhões de anos atrás ...
Somos importantes porque somos únicos Mas os astrônomos não desanimam. E seus telescópios já descobriram, fora do sistema solar, milhares de planetas com características semelhantes às da Terra. A esse respeito, o professor brasileiro Marcelo Gleiser, que ensina física teóric a no Dartmouth College em Hanover (EUA), escreveu interessante artigo. Vale a pena transcrever dele alguns tópicos: "No meu livro Criação Imperfeita, sugeri que a astronomia moderna proporciona uma nova visão da humanidade, que chamei
O M ars Rover Curioslty, que chegou ao planeta M arte em 6 de agosto de 201 2, pousou próximo a uma área que parece ter sido um lago quatro bilhões de anos atrás •.•
Repercusão do famoso programa de Orson Welles que produziu péànico nos EUA em 1938
de humanocentrismo. O humanocentrismo é uma inversão do copernicanismo, que diz que quanto mais aprendemos sobre o Universo, menos importantes somos. Hoje, quando telescópios espaciais como o satélite Kepler descobrem milhares de outros planetas, aprendemos algo de muito importante sobre quem somos e, mais ainda, sobre o nosso planeta. "Mesmo que existam outros planetas com as propriedades da Terra, vemos como nosso planeta é único. Ao estudarmos a história da vida na Terra, aprendemos como nós, humanos, somos únicos.A evolução de seres unicelulares a seres rnulticelulares e, finalmente , a seres multicelulares inteligentes, sobrepujou uma série de barreiras. Aprendemos que, se houver vida inteligente em outros planetas, será rara e distante. Estamos sós, e somos importantes porque somos únicos. "Se os sábios do Iluminismo soubessem disso, teriam declarado a centralidade do homem junto ao Cosmo como um todo. Um conjunto de moléculas capaz de se questionar sobre a existência deve também celebrar e respeitar sua existência. E como nossa existência depende do nosso planeta, devemos também celebrá-lo como único. A razão humana, que nos levou a compreender nosso lugar no Cosmo, leva a uma nova moralidade, independente da religião: a igualdade de todas as criaturas e a preservação da vida e do nosso planeta" (O Iluminismo e o humano-centrismo , Folha de S. Paulo, 6 de julho de 2014). Com se vê, a concepção do autor é evolucionista, igualitária e nada tem de católica; preconiza uma nova moralidade, independente da religião. Mas chega à mesma conclusão do leitor que nos enviou sua consulta: até agora não foi constatada vida humana fora do planeta Terra. E daí a conclusão final: "Estamos sós e somos importantes porque somos únicos". Se ele fosse católico, diria melhor: "Somos importantes porque foi a nossa natureza humana que Deus escolheu para a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, conferindo assim um aspecto sacra! a todo o Universo por Ele criado!" • E-maii para o autor: catolicismo@terra.com.br
CATOLICISMO
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A REALIDADE CONCISAMENTE
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Rússia: roubados centenas de milhões de endereços de e-mail
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iratas informáticos sed iados na Rúss ia roubaram no Ocidente 1;2 bilhões de enh as da Intern et e quase 500 milhões de contas de e-mail. Segundo a empresa de segurança in form ática fio/d Security, talvez seja a maior operação delituosa j amais rea lizada. E la é mais própria de serv iços sec retos cio que de bandidos comun s. A Rússia acoberta há anos uma vasta rede de hackers que bombardeiam a Intern et com SPA M e propagandas il ega is ou pornográficas, tendo montado através dessa rede um a " máq uin a de ciberguerra " contra os países ou grupos " inimigos". O site espec iali zado ameri ca no "The Verge" observo u que bandidos comu ns venderi am essas senh as no mercado de SPAM, mas que os hackers em questão não se interessa m por dinheiro. O obj etivo parece ser ideo lóg ico ou condi ze nte com as novas táticas executadas por Moscou. •
A Terra teria consumido seus últimos recursos?
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egundo a ONG Global Footprint Network, no di a 19 de agosto a humanidade aca bou de consu mir tudo aquilo que o planeta era ca paz de produzir por ano: alimentos, água doce, peixe, absorção do lixo, emi ssões de C02... Um fundo de luta de classes aponta os culpados: os ri cos, que consomem o qu e pertence aos despossuídos, às gerações futuras e à " M ãe Terra". Outro culpado são os transportes, porque em item C02. As moradi as ta mbém são culpadas: é preciso confi nar todo mundo em apartamentos cada vez menores! Então, um a rij a pl anifi cação para restringir o co nsumo. Como se vê, o comunismo utóp ico verd e diferencia-se pouco do comuni smo verm elh o da fa lida URSS! •
Os heróis católicos silenciados da Coréia do Norte
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m parte algum a do mundo os cató li cos sofrem uma perseguiçã.o mais inclemente do que na Coréia do N orte. Oficialmente eles deveriam ter ido todos exterm inados, mas perseveram nas catacumbas! Em 1945, a cap ita l Pyongyang era tida como a Jeru sa lém do Extremo Orient . Nela viv iam aprox imadamente 50 mil cató li cos. Hoje ó se perm ite cu ltuar os ditadores marxi stas. Acredita-se que ainda há I O111 i 1 católicos, uma quarta parte deles em campo de trabalhos forçados, em condições subumanas e até sendo torturados. Refugiados norte-coreanos relatara m que as mulheres se reúnem em círculos e vão contando grãos de fe ij ão como meio de rezar o Terço. No Ocidente, os cató li cos progressistas não mani fes tam em relação a eles com iseração, mi seri córdi a ou aux íli o eficaz, ao contrári o do que costumam fazer quando se trata de agitadores e pessoas que violam princípios ela mora l católica. •
CATOLIC I SMO
NASA: o sol quase ''torrou" a civilização da informática
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111 julho de 20 12 o so l expe liu formidáve l " nu vem de plasma", que "se nos tivesse atingido estaríamos ainda recolhendo os pedacinhos " da civilização humana, segundo Daniel Baker, da Un iversidade do Co lorado. A "n uvem de plasma" atravessou a órbita da Terra, porém longe dela. Caso contrári o, ela "teria enviado a civilização contemporânea de volta ao séculoXV/11", inform ou a NASA. Nossa soc iedade não está preparada para uma súb ita desaparição das redes de com uni cação globa l, altamente se nsíveis às irradi ações so lares. Imagi ne o leitor acorda r um di a sem poder dispor destes itens: ce lul ar, Intern et, ca rtão de créd ito, supermercados, far mác ias , bancos , ae roportos , metrô, ferrovias " sem sistema", ca rros com mi croprocessadores, e ass im por diante. Levaria anos até se retorn ar à atua l situação. A ocorrência ev idencia a pequenez do homem e de sua atual civ ili zação diante da imens idade das fo rças postas por Deus na natureza. •
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Favelados: mais felizes do que certos ricos famosos
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nele está a fe licidade? Segundo a " Vulgata" da Teo logia da L ibertação ou de "O Cap ital" de Karl Marx, ela encontra-se entre os detentores da riqueza, que têm tudo o que desejam. Mas a realidade é bem outra. "94% dos moradores de favela são felizes", disse Renato M eirelles, sóc io-d iretor do Data Popular, instituto de pesquisa das classes mais pobres do Brasil. Artistas e ídolos fa mosos, frustrados após uma vida de prazeres, recorrem com alguma frequência ao sui cídio. Porém, 94% dos moradores de fave la afirmam ser fe lizes e 66% dizem não ter vontade de deixar seu habitat, ainda que suas rendas dobrassem .. . •
Um iornal impresso que superou tendência de publicações on-line echou as portas o jornal itali ano " l 'Unità", fundado por Antonio Gramsci , o maquiavélico e in te ligente ideólogo comunista. A rgumento único: descolou-se da realidade e ficou se m leitores. Sua ed ição final teve 2 1 páginas em branco. As notíc ias e ideias de viés esquerdi za nte, mesmo em face iro invólucro gramsciano, não interessa vam mais. Em sentido contrári o, o j ornal francês "Le Canard EnchaTné" (O Pato Acorrentado) , de ori gens anarqui stas, evo luiu para o centro, não se descolou do públi co , sobrev iveu às guerra s mundiais, às mani as da moda, e, por fim, à 1ntern et. Sua di agramação não mudou desde o primeiro número, não usa cores, privil egia os textos, só é publicado em papel (nada de ed ição on-line), nunca publica anú ncios e só vive da venda em bancas e por ass inaturas. Sua tiragem é de meio milhão de exempl ares e é uma empresa lucrativa. Os leitores franceses , q ue ap rec iam a verve e a mordacidade, reconh ecem o talento do furioso " Pato Acorrentado" . Ele di z muitas co isas qu e o parisie nse comum pensa e que os j ornai s descolados dos leitores não dizem. Por isso, passa bem. •
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EUA: Brooldyn restaura magnificamente sua co-catedral imensa e centenária igreja de São José , no Brooklyn , Nova York , passou a ser a co-catedral daquela diocese. Ela foi restaurada em todo o brilho de seu esti lo tradicional e pode acolher 1.500 fiéis sentados. A diocese de Brooklyn é a sétima maior dos EUA. Não faltaram protestos: por que algo tão grande, tão magnífico , num local tão central , com tanta despesa? As objeções vinham infeccionadas de "miserabilismo" progressista. Na restauração prevaleceu o desejo de glorificar Nossa Senhora em todas as suas manifestações mais importantes, num ambiente onde o ouro e as ricas pinturas contribuem para elevar as almas a Deus.
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Recmdesce a perseguição contrn católicos na Ucrânia ercenários pró-russos invadiram.º mosteiro das Irmãs Servas de Mana Imaculada, em Donetsk, transformando-o em sua base de operação. Felizmente as religiosas não mais se encontravam lá, por recomendação do bispo local , D. Stefan Meniok. Os milicianos anticatólicos roubaram todos os objetos de uso pessoal delas, material da igreja e um carro. Há 15 anos as Servas de Maria Imaculada realizavam um apostolado naquela cidade. Agora elas se encontram na região ocidental da Ucrânia. O catolicismo enfrenta sérios desafios na Ucrânia, agredida pela Rússia dirigida por Putin. Mas a graça divina e a poderosa proteção de Nossa Senhora conseguem o que parecia impossível : crescem os resultados apostólicos.
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Em defesa da Sagrada Eucaristia e da ortodoxia católica D om Athanasius Schneider exerce admirável apostolado para incrementar o devido respeito ao Santíssimo Sacramento em nossa época neopagã, ao mesmo tempo que denuncia vigorosamente desvios do progressismo católico
S. Exa. Revma. Dom Athanasius Schneider é Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Maria, em Astana, capital do Cazaquistão. Nasceu em 1961 no Quirguistão (Ásia Central), para onde seus pais, que eram alemães, haviam sido deportados e condenados a trabalhos forçados durante os anos 50, período em que aquela nação se encontrava subjugada pela URSS. É membro da Ordem religiosa dos Cônegos Regulares da Santa Cruz, na qual professou em 1982. Foi ordenado sacerdote a 25 de março de 1990. Após permanecer vários anos em Lisboa, exerceu sua atividade pastoral em algumas paróquias do Brasil, tendo sido também diretor espiritual da comunidade de sua Ordem em nosso País . Posteriormente doutorou-se em teologia na área dos estudos patrísticos no Augustinianum de Roma. Foi eleito conselheiro geral da Ordem da Santa Cruz, cargo que ocupou aproximadamente por dez anos. Exerceu ainda o cargo de diretor espiritual e de estudos do seminário do Cazaquistão (o primeiro seminário católico daquele país), de pároco em vários locais da mesma nação, de chanceler da diocese e de diretor de uma revista católica mensal. Recebeu a sagração episcopal em 2 de junho de 2006, sendo nomeado bispo auxiliar da diocese de Karaganda, e transferido em 2011
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para auxiliar da capital, Astana. Ademais, tem atuado como conferencista e pregador de retiros em vários países. Esta entrevista foi concedida originalmente a Sarah Atkinson, jornalista independente e editora da revista "Mass of Ages", órgão oficial da Latin Mass Society da Inglaterra e País de Gales. Excertos dela, traduzidos pelo nosso colaborador Hélio Dias Viana, são publicados agora em Catolicismo com a expressa autorização de Dom Athanasius Schneider.
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Dom Alha11asi11s Sc/111dclcl': '~ prática moderna de receber a Co11mnhão 11a mão COJlll'ib11i gracl11almente para a pel'<la da tê católica na presença real e na trans11bstanciação"
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Catolicismo - Algumas considerações para introduzir o leitor no tema, isto é, o gravíssimo problema da Sagrada Comunhão distribuída na mão e não do modo tradicional, na boca dos fiéis.
Dom Athanasius Schneüler - Quanto à minha experiência e ao meu conhecimento, a maior ferida na atual crise da Igreja é a chaga referente à Eucaristia, os abu sos do Santíssimo Sacramento. Muita pessoas recebem a Sagrada Comunhã.o em estado objetivo de pecado mortal. .. lss está se difundindo na Igreja , e pccialm cnte no mundo ocidental, onde as pessoa raramente
se aproximam da Sagrada Comunhão com uma preparação suficiente. Algumas pessoas que se aproximam da Sagrada Comunhão vivem em situação de moralidade irregular, que não corresponde ao Evangelho. Casais, sem serem casados, aproximam-se da Sagrada Comunhão. Pode darse o caso de serem divorciados e viverem em um novo casamento, um casamento civil, e ainda assim se aproximam da Sagrada Comunhão. Eu acho que esta é uma situação muito, muito grave. Há também a questão da recepção objetivamente desrespeitosa da Sagrada Comunhão. A chamada maneira nova, moderna, de receber diretamente a Comunhão na mão é muito grave, porque expõe a Cristo de ser tratado de um modo muito trivial. Há o fato doloroso da perda de fragmentos eucarísticos. Ninguém pode negá-lo. E os fragmentos da Hóstia consagrada são esmagados pelos pés. Isso é horrível! Nosso Senhor, em nossas igrejas, é pisoteado! Ninguém pode negá-lo. Isto acontece em grande escala e deve ser considerado, para uma pessoa que tem fé e ama a Deus, um fenômeno muito grave. Não podemos continuar como se Jesus não existisse como Deus, como se existisse só o pão. Esta prática moderna da Comunhão na mão nada tem a ver com a prática da Igreja antiga. A prática moderna de receber a Comunhão na mão contribui gradualmente para a perda da fé católica na presença real e na transubstanciação. Um padre e um bispo não podem dizer que tal prática está bem. Aqui está em risco o que há de mais sagrado, de mais divino e concreto na Terra. Catolicismo - V. Exa. está levando adiante esta posição sozinho?
DomAt/l(masius Schneider - Estou muito triste por sentir-me como alguém que clama no deserto. A crise eucarística, devida ao uso moderno da Comunhão na mão, é muito evidente. Não é um exagero. É o momento
de os bispos fazerem ouvir suas vozes em defesa de Jesus na Eucaristia, que não tem voz para se defender. Isto é um ataque contra o que há de mais santo, um ataque à fé eucarística. Certamente há pessoas que recebem a Sagrada Comunhão na mão com muita devoção e fé, mas elas são uma minoria. A massa das pessoas está perdendo a fé por causa dessa maneira trivial de receber a Sagrada Comunhão como um alimento comum, como uma batata ou um pedaço de bolo. Tal maneira de receber o que há de mais santo que existe na Terra nã.o é sagrada e, com o tempo, destrói a consciência profunda e a fé católica na presença real e na transubstanciação. Catolicismo - A Igreja está indo na direção oposta à posição de V. Exa.?
"/11/'elizmente, há membros do clero que fazem propagam/a do uso moderno da Comm1hão na mão, e por vezes proíbem rncebêla na boca e de joelhos"
Dom Athanasills Schneider Parece que a maioria do clero e dos bispos está satisfeita com este uso moderno da Comunhão na mão e não percebe os verdadeiros perigos conexos a tal prática. Para mim, é incrível. Como é isso possível, quando Jesus está presente nos pequenos fragmentos da Sagrada Hóstia? Um padre e um bispo deveriam dizer: "Devo fazer alguma coisa, pelo menos para reduzir gradualmente tudo isto. Devo fazer tudo o que posso". Infelizmente, há membros do clero que fazem propaganda do uso moderno da Comunhão na mão, e por vezes proíbem recebê-la na boca e de joelhos. Há até padres que discriminam aqueles que se ajoelham para receber a Sagrada Comunhão. Isto é muito, muito triste. Há também um incremento de roubo de Hóstias, devido à distribuição direta da Comunhão na mão. Há uma rede, um comércio de roubo das Sagradas Hóstias, e isso é facilitado pela Comunhão na mão. Por que deverei eu, como sacerdote e bispo, expor Nosso Senhor a tal perigo, a tal risco? Se esses bispos ou padres [que
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aprovam a Comunhão na mão] têm algo de valor, nunca O exporão ao perigo de ser perdido ou roubado. Protegem as suas casas, mas não protegem Jesus, e permitem que Ele seja roubado tão faci !mente.
munhão agem segundo um falso conceito de misericórdia. É como um médico que dá ao paciente o açúcar, embora saiba que isso vai matá-lo. Mas a alma é mais importante do que o corpo. Se os bispos admitirem os divorciados e os recasados à Sagrada Comunhão, depois os confirmarão em seus erros diante dos olhos de Deus. Silenciarão até mesmo a voz de suas consciências. Empurrá-los-ão mais profundamente na sua situação irregular só pelo bem desta vida temporal, esquecendose de que depois desta vida há o julgamento de Deus. Esta questão será discutida no Sínodo. Ela está na agenda. Mas espero que a maioria dos bispos ainda tenha suficiente espírito e fé católica para rejeitar a proposta mencionada e não aceitá-la.
Catolicismo - De acordo com o questionário sobre o tema da família, as pessoas esperam grandes mudanças ...
Dom Athanasius Schneider Sobre esse tema há muita propaganda, levada a cabo pelos meios· de comunicação de massa. Devemos estar muito atentos . Existem os meios de comunicação oficialmente anticristãos em todo o mundo. Em quase todos os países eles transmitem o mesmo conteúdo de notícias, talvez com exceção dos países da África, da Ásia ou da Europa do Leste. Só na Internet se podem difundir livremente as próprias ideias. A ideia de que se farão alterações no casamento e na lei moral no próximo Sínodo dos Bispos em Roma é principalmente da mídia anticristã. E alguns membros do clero e católicos cooperam com ela para difundir as expectativas do mundo anticristão no sentido de uma mudança na Lei de Deus relativa ao casamento e à sexualidade. É um ataque do mundo anticristão, e é muito trágico e triste que alguns membros do clero colaborem com e le. Para apoiar uma mudança na Lei de Deus, eles usam o conceito de misericórdia sofisticamente. Mas na realidade isso não é misericórdia, é crueldade. Não é misericórdia, por exemplo, se alguém está doente e você o deixa em tão penosa condição. Isso é crueldade. Eu não daria, por exemplo, açúcar a um diabético, para mim seria cruel. Tentaria demovê-lo dessa situação e dar-lhe um outro alimento. Talvez ele não goste no início, mas vai ser a melhor coisa para ele. Aqueles do clero que querem admitir os divorciados e os recasados na Santa Co-
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Catolicismo - Qual é a crise de que V. Exa. fala?
''.Aqueles membms do clero que querem admitil' os divorciados e os recasados na Santa Comunl1ão agem segundo um falso conceito de misericórdia"
Dom Athanasius Schneider Esta é uma crise de âmbito mais vasto do que a recepção do Santíssimo Sacramento em si. Julgo que esse problema de os recasados receberem a Sagrada Comunhão fará explodir e revelar a verdadeira crise na Igreja. A crise real da Igreja é o antropocentrismo, esquecendo-se o Cristocentrismo. Na verdade, este é o maior mal, quando o homem ou o clero se coloca no centro ao celebrar a liturgia e quando muda a verdade revelada por Deus, por exemplo no que respeita ao sexto mandamento e à sexualidade humana. A crise se revela também no modo como o Senhor eucarístico é tratado . A Eucaristia é o coração da Igreja. Quando o coração é fraco, todo o corpo é fraco. Portanto, quando a prática relativa à Eucaristia é fraca, então o coração e a vida da Igreja são fracos. E quando as pessoas não têm mais uma visão sobrenatural de Deus na Eucaristia, elas começarão a adorar o homem, e depoi s também a doutrina mudará ao sabor do homem. Esta crise é quando nós nos colocamos,
inclusive os sacerdotes, no centro, e quando Deus é posto num canto; e isso acontece também fisicamente. Às vezes, o Santíssimo Sacramento é colocado em um local distante do centro, e a cadeira do sacerdote está no centro. Já estamos nessa situação há 40 ou 50 anos, existindo um real perigo de que Deus, os mandamentos e estatutos divinos sejam postos de lado, e o desejo humano natural no centro. Há uma conexão causal entre a crise eucarística e a doutrinária. Nosso primeiro dever como seres humanos é adorar a Deus; não a nós, mas a Ele. Infelizmente, a prática litúrgica dos últimos 40 anos tem sido muito antropocêntrica. Participar da liturgia é, em primeiro lugar, não seguir os atos, mas rezar e adorar, amar a Deus com toda a sua alma. Esta é a verdadeira participação, estar unido a Deus com a própria alma. A participação exterior não é essencial. A crise é verdadeiramente esta: nós não colocamos Deus ou Cristo no centro. E Cristo é o Deus encarnado. Nosso problema hoje é que pomos de lado a encarnação. Nós a eclipsamos. Se Deus está em minha mente apenas como uma ideia, isto é gnose. Segundo outras religiões, como para os judeus, os muçulmanos, Deus não se encarnou. Para eles, Deus está no livro, mas Ele não é real. Apenas no cristianismo, e especialmente na Igreja Católica, a encarnação é plenamente realizada, e isso deve, portanto, ser enfatizado em todos os pontos da liturgia. Deus está aqui e verdadeiramente presente. Por isso, cada detalhe tem importância. Vivemos em uma sociedade não cristã, em um novo paganismo. Hoje, a tentação para o clero é de adaptar-se ao novo mundo, ao novo paganismo, ser colaboracionista. Estamos em uma situação semelhante à dos primeiros séculos, quando a maioria da sociedade era pagã e o cristianismo era discriminado.
Catolicismo - V. Exa. julga que vê tudo isso devido à sua experiência na União Soviética?
O santo Padre Pio no momento da comunhão de um novo casal
"Se os bispos admitil'em os divorciados e os recasaclos na Sagmda Comunhão, depois os co11lirmarão em seus erros cliante dos olhos de Deus"
Dom Athanasius Schneüler - Sim, [sei o que significa] ser perseguido, para testemunhar que você é cristão. Somos uma minoria. Estamos cercados por um mundo pagão muito cruel. A tentação e o desafio de hoje podem ser comparados aos dos primeiros séculos. Os cristãos eram solicitados a aceitar o mundo pagão e a se mostrarem colocando um grão de incenso no fogo diante da estátua do imperador ou de um ídolo pagão. Mas isso era idolatria e nenhum bom cristão jogou qualquer grão de incenso. Preferiam dar suas próprias vidas, até mesmo as crianças, os leigos, que eram perseguidos ofereceram suas vidas. Infelizmente, nos primeiros séculos, houve membros do clero e até mesmo bispos que jogaram grãos de incenso em frente à estátua do imperador ou de um ídolo pagão, ou que entregaram os livros da Sagrada Escritura para serem queimados. Tais cristãos e clérigos colaboracionistas foram chamados naqueles dias de " thurificati" ou " traidores". E m nossos dias a perseguição é mais sofisticada. Aos católicos ou ao clero não se lhes pede para colocar incenso diante de um ídolo. Seria um gesto apenas fisico/material. Agora, o mundo neopagão quer que substituamos as nossas ideias pelas ideias dele, como a dissolução do Sexto Mandamento de Deus, sob o pretexto de misericórdia. Se alguns membros do clero e os bispos começarem a colaborar hoje com o mundo neopagão pela dissolução do Sexto Mandamento e a revisão do modo como Deus criou o homem e a mulher, então eles são traidores da fé, estão participando definitivamente de um sacrifício pagão. Catolicismo - É possível uma divisão futura na Igreja?
DomAthanasius Schneider-Infelizmen-
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te, algumas décadas atrás, alguns membros do clero aceitaram essas ideias do mundo. 1 E agora, porém / 'eles as estão seguindo publicamente. Se tais coisas continuarem, penso, haverá uma divisão interna na Igreja por parte daqueles que são fiéis à fé de seu batismo e à integridade da fé católica. Haverá uma divisão com aqueles que estão assumindo o espírito deste mundo, e resultará numa clara divisão, acho. Pode-se imaginar que os católicos que se mantêm fiéis à verdade imutável católi'ca possam ser perseguidos ou discriminados durante certo tempo em nome de quem tem o poder nas estruturas externas da Igreja? Contudo, as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja e o Supremo Magistério certamente promulgará um a inequívoca sentença doutrinária que rejeite qualquer tipo de cooperação com as ideias neopagãs de mudança, por exemplo , do Sexto Mandamento de Deus, do significado da sexualidade e da família. Assim, alguns liberais e muitos colaboradores do espírito deste mundo, muitos "thurificati" e "traidores" modernos deixarão a Igreja. Porquanto a verdade divina trará sem dúvida esclarecimentos, livrando e separando no meio da Igreja os filhos da luz e os filhos da pseudo-luz desse mundo neopagão e anticristão. Posso supor que tal separação afetará todos os níveis dos católicos: os leigos, e até mesmo sem excluir o alto clero. Os membros do clero que aceitam hoje o espírito do mundo atual em matéria de moralidade e família se dizem católicos e fiéis ao Papa. Chamam até mesmo de extremistas aqueles que são :fiéis à fé católica ou aos que promovem a glória de Cristo na liturgia. Catolicismo - Tal situação piorará antes de melhorar? Dom Athanasius Schneider - Eu tenho a impressão de que ficará pior. Às vezes é necessário que as coisas piorem e depois se
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CATOLICISMO
verá o colapso deste sistema clerical antropocêntrico que está abusando do poder administrativo da Igreja, abusando da liturgia, abusando dos conceitos de Deus, abusando da fé e da devoção dos pequenos na Igreja. Veremos então o surgimento de uma Igreja renovada. Isso já está se preparando . E m seguida, este edificio clerical liberal entrará em colapso, porque não tem raízes nem produz frutos. Catolicismo - Algumas pessoas dizem que V. Exa. se preocupa com coisas sem importância. E em relação aos pobres?
Dom Athanasius Schneider -
"Vivemos cm uma sociedade 11ão Cl'istã. Hoje, a tentação parn o clero é <lc adaptar-se ao novo mundo, ao novo paganismo, ser colaboracio11ista "
Isso é falso. O primeiro mandamento que Cristo nos deu foi de adorar somente a Deus. A liturgia não é uma reunião de amigos. Nosso primeiro dever é adorar e glorificar a Deus na liturgia e em nosso modo de viver. A partir de uma verdadeira adoração e amor de Deus se desenvolve o amor aos pobres e ao próximo. É uma consequência. Em dois mil anos de Igreja, os santos, todos os santos, portanto devotos e piedosos, eram extremamente misericordiosos para com os pobres dos quais cuidavam . Nesses dois mandamentos estão contidos todos os demais. Mas o primeiro mandamento é amar e adorar a Deus, o que é realizado de modo supremo na sagrada liturgia. Quando se negligencia o primeiro mandamento, então não se está fazendo a vontade de Deus, mas a própria. A felicidade consiste em realizar a vontade de Deus, não a nossa. Catolicimo - O nosso tempo é visto como o mais liberal da Igreja ... Dom Athanasius Schneider - Devemos rezar a Deus a fim de que guie Sua Igrej a para sair dessa crise, e que dê à Sua Igreja apóstolos que sejam corajosos e sa ntos . Precisamos de defensores da verdade e defensores de Jesus na E ucaristia. Quando um bispo defende o rebanho e defende Jesus na
controla a vida da Igreja, como por exemplo, na nomeação do clero ou dos bispos. Tal prática de uma Igreja de Estado prejudicaria a própria Igreja. Na Inglaterra, por exemplo, o Estado governa a Igreja da Inglaterra. E sta influência do Estado pode corromper espiritual e teologicamente a Igreja: é melhor ser livre de uma Igreja de Estado assim estruturada.
Eucaristia, então esse bispo está defendendo os pequenos na Igreja, não os poderosos. Catolicismo - Então não importa a V. Exa. ser impopular? Dom Athanasius Schneider - É muito insignificante ser popular ou impopular. Para todos os homens da Igreja, o primeiro interesse é ser popular aos olhos de Deus, e não aos olhos do mundo de hoje ou dos poderosos. Jesus fez uma advertência: Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vós. A popularidade é falsa. Jesus e os Apóstolos recusaram-na. Os grandes santos da Igreja, como São Tomás Moro e São João Fisher, recusaram a popularidade e são grandes heróis. E aqueles que hoje estão preocupados com a popularidade através dos meios de comunicação e da opinião pública, não serão lembrados na História. Serão lembrados como covardes, e não como heróis da fé. Catolicismo - E sobre a Communicatio in Sacris com os anglicanos e os outros? Dom Athanasius Schneider - Isso não é possível, são fés diferentes. A Sagrada Comunhão não é um meio para alcançar a unidade: é o último passo, e não o primeiro. Isto seria uma profanação do que há de mais sagrado. Naturalmente devíamos ser um; mas temos ainda no credo algumas diferenças substanciais. A Eucaristia é um sinal de profundíssima unidade. A Communicatio in Sacris com não-católicos seria uma mentira, seria contrário à lógica. O ecumenismo é necessário para manter boas relações com os irmãos separados, para amá-los. Em meio ao desafio do novo paganismo, podemos e devemos colaborar com não-católicos sérios, para defender a verdade de Deus revelada e a Lei natural criada por Deus Seria melhor não ter uma relação estruturada Estado-Igreja, quando o Estado
Catolicismo - E sobre as mulheres na Igreja?
Dom Athanasius Schneüler -
"Pode-se imaginar que os católicos que se ma11têm Jiéis à vcrda<lc católica possam ser perseguidos, mas as porws do i11/'crno não prevalecerão co11tra a Igreja"
As mulheres são chamadas de sexo frágil por serem fisicamente mais débeis; porém, elas são espiritualmente mais fortes e mais corajosas do que muitos homens. É preciso coragem para dar à luz a uma criança. É por isso que Deus deu à mulher uma coragem que o homem não tem. É claro que houve muitos homens corajosos em tempos de perseguição . Ainda hoje Deus escolhe os fracos para confundir os fortes; por exemplo, as mulheres eucarísticas sobre as quais tratei em meu livro. É o Senhor trabalhando em suas famílias e querendo ajudar os sacerdotes perseguidos de um modo verdadeiramente excepcional. E las nunca teriam coragem de tocar as Hóstias sagradas com seus dedos. E se recusariam até mesmo a proclamar as leituras durante a Missa . Minha mãe, por exemplo, que tem 82 anos e vive na Alemanha, quando chegou pela primeira vez ao Ocidente, ficou chocada e horrorizada ao ver mulheres no presbitério durante a Santa Missa. O verdadeiro poder da mulher cristã e católica é de ser o coração da família, a igreja doméstica; de ter o privilégio de ser a primeira a nutrir o corpo de seu filho , e também de ser a primeira a alimentar sua alma, ensinando-lhe as primeiras orações e as primeiras verdades da fé católica. A mais prestigiosa das profissões que uma mulher pode desempenhar é a de ser mãe, e especialmente uma mãe católica. •
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DESTAQUE
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UMA RE\lELAÇÃO PROVIDENCIAL
Sai à luz impressionante complemento da Mensagem de Fátima
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ob o título Novidades apocalipticas de Fátima, o jornalista ita_li~n? Anto~i~ Socci i~forma sob~e uma extraordtnana apançao da Virgem Mana à Irmã Lúcia dos Santos, ocorrida em 1944, mas só conhecida recentemente. Trata-se de um complemento das cada vez mais atuais profecias de Fátima e, por uma providencial coi ncidência, sai à luz no preciso momento em que os acontecimentos mundiais previstos naquelas profecias parecem próximos de seu desenlace.
Como se conheceu a apal'Íção
Pela importância do tema, procuramos a própria fonte dessa informação, um manuscrito dado a conhecer no ano passado, no qual a Irmã Lúcia narra a referida visão. O documento foi incluído numa biografia da religiosa, escrita por suas irmãs de hábito com base nas suas cartas e no seu Diário espiritual, ainda inédito. Intitulada Um caminho sob o olhar de Maria, foi publicada no final de 2013 pelo Carmelo de Coimbra, onde a Irmã Lúcia viveu de 1948 até sua morte em 2005. 1 Mas essa biografia de quase 500 páginas teve até agora uma difusão limitada, sem maior publicidade. Pelo contrário, o artigo de Antonio Socci , publicado no último dia 17 de agosto, permitiu que o relato da visão fosse conhecido pelo grande público e caísse rapidamente nas redes sociais. 2 Os alltece<lelltes da visão
A aparição relatada pela Irmã Lúcia ocorreu em janeirode 1944, quando ainda era religiosa no convento das
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Irmãs Doroteias em Tuy (Galícia). Dois anos antes, em dezembro de 1941 , e la já havia escrito as duas primeiras partes do segredo de Fátima (a visão do inferno e os avisos e predições da Virge m), mas deixou pendente, por ordem de Nossa Senhora, a terceira parte. O bispo de Leiria - a diocese de Fátima - a insta va reiteradamente a redigir também esse " terceiro segredo", mas como Nossa Senhora lhe havia mandado guardar reserva, todas as vezes que ela tentava fazê- lo, não conseguia. Sua perplexidade interior e ra muito grande: estando o mundo em plena II Guerra Mundial, teria chegado realmente o momento de escrevê-lo, como lhe pedia o seu Prelado? O rnlato da ll'mã Lúcia, passo a passo
Nessas circunstâncias, por vo lta das 16 horas do dia 3 de janeiro de 1944 - re lata a Irmã Lúcia
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Fac-símile do manuscrito da Irmã Lúcia
OUTUBRO 2014
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- , enquanto rezava na capela do convento diante do tabernáculo, "pedi
a Jesus que me fizesse conhecer qual era a sua vontade", e com o rosto entre as mãos, esperava alguma resposta:
"Senti então, que uma mão, amiga, carinhosa e maternal me toca no ombro, levanto o olhar e vejo a querida Mãe do Céu". Nossa Senhora lhe diz: "Não temas, Deus quis provar a tua obediência, Fé e humildade, está em paz e escreve o que te mandam, não porém o que te é dado entender do seu significado". E a instrui a colocar o que irá escrever em um envelope lacrado, anotando por fora deste "que só pode ser aberto em 1960". Em seguida - prossegue a Irmã Lúcia -
"senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N'Ele vi e ouvi, -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, - Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente sem número que não se pode contar, é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora!' "Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espirita o eco de uma voz suave que dizia: - No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica. Na eternidade, o Céu!' "Esta palavra Céu encheu a minha alma de paz e felicidade, de tal forma que quase sem me dar conta, fiquei repetindo por muito tempo: - O Céu! o Céu!". Alentada por essas maravilhosas palavras finais, a Irmã Lúcia teve forças para escrever o Terceiro Segredo, tal como Nossa Senhora lhe havia ordenado: "Apenas passou a maior força
do sobrenatural, fui escrever e fi-lo sem dificuldade, no dia 3 de janeiro de 1944, de joelhos apoiada sobre a cama que me serviu de mesa. Ave Maria". Assim conclui o relato da visão (Um caminho sob o olhar de Maria, p. 267). CATOLICISMO
Obviamente ela só escreveu o que lhe foi revelado em 13 de julho de l 917 - o Terceiro Segredo - , omitindo, conforme as instruções que acabara de receber da Mãe de Deus, qualquer referência a esta nova aparição. Como inte,prnta,·
Note-se, ademais, a consonância desse desfecho com o triunfo do Imaculado Coração de Maria, anteriormente previsto em Fátima, e com as predições similares de Nossa Senhora em aparições como a de La Salette ( 1846), Akita ( 1973) e outras.
essa visão?
O extraordinário dessa visão particular é que ela vem acompanhada de palavras que a interpretam, complementando e realçando assim a grandeza e a seriedade da própria Mensagem de Fátima. Além de mostrar sua inefável bondade para com a Irmã Lúcia - a quem conforta com sua "mão amiga, carinhosa e maternal" e com expressões de apreço por sua obediência - , e de autorizá-la a escrever o Terceiro Segredo, Nossa Senhora a premia com esta visão e lhe faz "compreender seu significado", embora advirta que não deve acrescentá-la ao escrito oficial: ela só pôde anotá-la em seu Diário pessoal. A imagem que a Irmã Lúcia via em Deus - "a ponta da lança como uma chama que se desprende" - é notavelmente parecida com a espada de fogo que o Anjo empunhava na visão do Terceiro Segredo. 3 E essa chama, tocando o eixo da Terra, convulsiona de tal maneira toda a natureza, que até "cidades, vilas e aldeias com seus moradores são sepultadas ". O que, por sua vez, coincide com a predição anunciada na segunda parte do Segredo de que "várias nações serão aniquiladas " se os homens não atendessem aos pedidos de Nossa Senhora. A esse cenário pavoroso se sorna a "guerra destruidora" , que a Irmã Lúcia entende ter duas causas: "o ódio" e "a ambição". Os atrozes massacres de cristãos no Oriente Médio em mãos dos islamitas do ISIL e congêneres, que revelam um ódio satânico (quase diríamos ódio em estado puro), e a mortífera insurreição impulsionada pela Rússia na Ucrânia, em que a ambição territorial se torna cada vez mais notória, já não são primícias dessa calamidade? É digno de nota que, paralelamente à visão, foi dado à Irmã Lúcia entender que essas catástrofes são causadas pelo pecado que cobre a Terra, e têm por objeto a ''purificação do mundo" . Após a purificação vem um grande triunfo universal da Igreja, representado pela voz que proclama "uma só Fé, um só Batismo, uma
só Igreja". Tudo isso confirma de modo notável as análises e previsões feitas ao longo das décadas por Plínio Corrêa de Oliveira sobre os rumos da situação internacional, advertindo que a mesma poderia desembocar no caos generalizado antes de urna grande vitória da Igreja.
No limial' do <lesenlace de Fátima?
Além do que esta visão tem de terrível e grandioso, cabe ressaltar seu encaixe perfeito como peça-chave na contextura da Mensagem de Fátima - essa apaixonante equação profética cada vez mais próxima de resolver-se - , enriquecendo-a com importantes pormenores até agora ignorados. É também muito significativo o fato de que a visão é dada a conhecer somente agora, 70 anos depois de ocorrida, quando ameaçadores focos de violência irrompem por todas as partes, e até o próprio Papa Francisco surpreende o mundo declarando que já "entramos na
terceira guerra mundial".4 De fato, a descrição da Irmã Lúcia não poderia chegar em momento mais oportuno: o contexto tão convulsionado em que o mundo se encontra permite que todos a entendam sem dificuldade, e por isso parece-nos providencial que seja revelada agora. Sua divulgação poderá ajudar a compreender o castigo que virá se os homens não renunciarem à impiedade e à corrupção, e estimulá-los a "endireitar as suas veredas" (Me 1,3) por meio da emenda de vida a que a Santíssima Virgem os instou em Fátima. Assim se farão credores de uma misericórdia especial de Deus, na hora de um castigo cada vez mais provável. E esse poderá ser o maior beneficio da celeste mensagem, que a todos nós deve fazer refletir. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br Notas:
(*) Arti gos relac ionados : Fá!ima numa visão de conjunlo (Ca!olicismo, Maio/ 1967), Lágrimas, milagroso aviso (Calolicismo, Julho/ 1997). 1. CAR MELO DE Co1M llRA, Um caminho sob o olhar de Maria - Biografia da Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, O. C. D. Marco de Canaveses: Edições Carme lo, 20 13, 495 páginas. 2. ANTONIO Socci, Novilà apocalilliche da Falimo, " Libero", Milão, 17-820 14; di sponível em http://www.a ntoniosocc i.com/2014/08/novita-apocalittiche-da-fotima-lultimo-mistero-il-silenzio-delle-suore-ma-chi-tace/ 3. " ... vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco ma is alto, um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas qu e parecia iam incendiar o mund o" (Congregação para a Doutrina da Fé, A Mensagem de Fátima, 26 de junho de 2000, http:// www.vatican.va/roman_ curia/congregations/cfa ith/documen ts/rc con cfaith_ doe _20000626_ message-fatima_ sp.html). 4. li Papa: 'La Terza guerra mondiale e già iniziala ', "La Repubblica", Roma , 18-8-2014; www.repubblica.it/esteri/2014/08/ 18/news/papa_francesco_lerza_guerra _ mondiale_ kurd istan-94038973/
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CAPA
t• Ili Ili~ I llll f;(Jl~llllll IIIJNl)l1ll. álise clarividente e Plinio Corrêa de Oliveira J:111 JUAN GONZALO lARRAÍN CAMPBELL
A 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial, é importante e esclarecedor analisá-la sob a ótica do insigne líder católico contra-revolucionário
1,
pós o falecimento do Prof. Plinio, em 3 de outubro de 1995, é praxe da revista Catolicismo dedicar a ele as matérias de capa das edições de outubro, com temas sempre elucidativos e proveitosos para o leitor. Neste ano em que se comemora o centenário do início da Primeira Guerra Mundial, pareceu-nos oportuno oferecer aos leitores a sapiencial e profunda visão de conjunto que Plinio Corrêa de Oliveira formou a respeito desse magno acontecimento, um marco do século XX. Ele não considerava a guerra de 14-18 como mero fruto do acaso ou como consequência de intrigas ou interesses políticos de quinta ordem, mas sim como um episódio cruento dentro do espantoso processo revolucionário seis vezes secular que vem destruindo a Cristandade. Com efeito, em sua obra Revolução e Contra Revolução, após descrever a crise do Ocidente cristão ele ' assim se expressa: "Descrita assim rapidamente a crise do Ocidente cristão, é opo1tuno analisá-la.
1. A REVOLUÇÃO POR EXCELÊNCIA Esse processo crítico de que nos vimos ocupando é, já o dissemos, uma Revolução.
A. Sentido da palavra "Revolução" Damos a este vocábulo o sentido de um movimento
CATOLICISMO
que visa destruir um poder ou uma ordem legítima e pôr em seu lugar um estado de coisas (intencionalmente não queremos dizer ordem de coisas) ou um poder ilegítimo.
B. Revolução cruenta e incruenta Nesse sentido, a rigor, uma Revolução pode ser incruenta. Esta de que nos ocupamos se desenvolveu e continua a se desenvolver por toda sorte de meios, alguns dos quais cruentos, e outros não. As duas guerras mundiais deste século, por exemplo, consideradas em suas consequências mais profundas, são capítulos dela, e dos mais sanguinolentos. Ao passo que a legislação cada vez mais socialista de todos ou quase todos os povos hodiernos constitui um progresso importantíssimo e incruento da Revolução." 1 *
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Nos textos do Prof. Plinio que, a título de exemplo, citamos a seguir, encontram-se algumas das consequências revolucionárias da Primeira Guerra Mundial. Como se destruía a Cristandade durante a Guerra 14-18
No final da Segunda Guerra, o Prof. Plínio escreveu , extenso artigo no qual faz um apanhado histórico do período milenar compreendido entre a conversão dos bárbaros até o comunismo.
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Logo no início, no item 2, ele faz uma descrição alegórica, muito clara e resumida, das catástrofes do pós Primeira Guerra: "[ ... ] 2 - Será, por exemplo, muito difícil que a História venha a compreender, tão bem quanto nós, a época agitada, crepuscular, indecisa, em que irromperam no mundo os partidos totalitários. É preciso ter vivido em 1920, ou 1925, para compreender o tremendo caos ideológico em que se debatia a humanidade. A Cristandade parecia um imenso prédio em trabalhos finais de demolição. Não havia o que não se fizesse para a destruir. Aqui, especialistas silenciosos e metódicos arrancavam uma a uma as pedras, desconjuntavam as traves, tiravam as portas a seus batentes, e as janelas as suas esquadrias. Essa faina, que faziam com o mutismo, a solércia e a agilidade de conspiradores, progredia com frieza inexorável, sem perda de um instante, sem desperdício de um segundo. Revezavam-se os operários, mas de dia e de noite, enquanto os homens se divertiam, dormiam, trabalhavam ou passeavam, o trabalho não se interrompia. Mais além, monstros de figura humana assaltavam os muros vetustos da Cristandade com o furor delirante e impetuoso com que se atacaria, não um edifício de pedra, mas um edifício de carne viva, um grande corpo. Era a escalada de multidões raivosas, que entravam pelas portas e pelas janelas, saqueavam relíquias indefesas e tesouros abandonados, arrebentavam vitrais, profanavam altares, destruíam imagens ou abatiam com um só estampido de dinamite torres centenárias, muralhas imensas, contrafortes até há pouco inexpugnáveis. E a alguma distância, aos aplausos dos gravoches, dos vadios e dos petroleiros, outros operários procuravam, com o material roubado à Casa de Deus, construir em suas linhas extravagantes e sensuais, a orgulhosa Cidade do Demônio.
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desabamento do czarismo, e se implantou o comunismo na Rússia. Toda a vida intelectual e social se seccionou ainda mais do passado. No Ocidente, a hegemonia se deslocava cada vez mais da Europa tradicional para os Estados Unidos niveladores." 3 A miopia <los estadistas europeus: uma lição para os pa11amel'ica11os
3 - Tudo isto não é senão alegoria. E não há alegoria, nem imagem, nem descrição que possa retratar a confusão daqueles dias de pós-guerra." 2 A hegemonia Ocidental se desloca da Europa tradicio11al pam os Estados Uni<los niveladores
No mesmo artigo, depois de descrever o avanço revolucionário entre 1789 e 1918, ele afirma. no item 13: "[ ... ] 13 - Em 1918 um novo sopro de espírito revolucionário varreu a Europa. Deu-se o imenso estrondo do
A respeito da conferência panamericana de estadistas, a reunir-se em Buenos Aires sob a presidência do Presidente Roosevelt em fins de 1936, Dr. Plínio incita os chefes de Estado a não tratar de questões secundárias, como obter acordos aduaneiros vantajosos, etc., mas afirma que o primeiro desiderato deles deveria ser a libertação do México das garras comunistas. E, assim sendo, inicia seu artigo descrevendo a triste miopia dos governantes europeus antes da Primeira Guerra e suas consequências: "É preciso que não se repita na América o grande erro político que caracterizou a diplomacia europeia, nos cem anos que medeiam entre a queda de Napoleão e a grande guerra. Entre 1815 e 1914, a Europa ardia em pleno incêndio revolucionário. As forças anti-monarquistas e anti-sociais se infiltravam em todos os países europeus, abalavam todos os tronos, atacavam todas as instituições religiosas, e desconjuntavam todas as peças do velho edifício da Europa de Filipe II e de Luís XIV. Contra esta marcha revolucionária, que providências tomaram as monarquias europeias? Praticamente nenhuma. Unidas, as chancelarias europeias poderiam ter esmagado a hidra revolucionária com um simples
gesto. Desunidas, seriam devoradas por ela. E foi esta segunda atitude que prevaleceu . Por quê? Porque a união de todas as forças da direita suporia necessariamente um largo entendimento internacional. E a miopia dos estadistas europeus não percebia, no terreno da diplomacia, outra coisa a tratar, senão de estreitíssimos interesses econômicos e de pequeninas gloriolas nacionais. Enquanto se verteram rios de sangue pela posse de algumas jardas de terra no Scheleswig Holstein, na Alsácia-Lorena, na Silésia ou nos Bálcãs, nem uma só gota de sangue foi vertida para a defesa da estrutura política e social da Europa. Excetua-se, apenas, nesta regra geral, o sangue heroicamente derramado pelos mártires de Castelfidardo. O resultado desta miopia não se fez esperar: enquanto os monarcas europeus se consumiam em lutas estéreis para estender seus impérios, a revolução, no interior de seus países, cavava a sepultura em que seriam sepultados seu cetro e sua coroa. E a Europa monárquica e cristã de 1815 se transformou na Europa laica e republicana de 1918. [... ]" 4 A Nobrnza, vítima do ó<lio revolucionál'iO do pós-guerra
Por ocasião do octogésimo aniversário de Pio XII, o Prof. Plínio publicou um estudo introdutório aos
À direita, gravura representando o atentado contra o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa, em Saraievo, que foi o estopim da I Guerra Mundial
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Competição feminina em uma escola norte-americana, em 1920
ambiente doméstico e social de cada aluno. Ao tempo em que José Gustavo era menino, ainda sopravam as rajadas do 'após-guerra'. O término da Primeira Guerra Mundial trouxe uma verdadeira revolução, que derrubou na Europa vários tronos e democratizou no mundo inteiro os costumes. As maneiras ditas 'americanas' dominavam absolutamente a geração nova. E por 'maneiras americanas' se entendiam entre meninos os modos desabusados e brutos, a sensualidade precoce e desbragada, o espírito de revolta contra toda lei e toda autoridade, em que eram exímios os 'cow-boys' que então faziam furor. Longe das vistas de mestres e vigilantes, até nos melhores colégios, as maneiras, as opiniões, os assuntos eram inteiramente dominados por esse gênero de americanismo[ ... ]." 6
discursos do Santo Padre à Nobreza e ao Patriciado Romanos, do qual extraímos o seguinte texto, qte se relaciona com a matéria que vimos tratando: "[ ... ] A esta situação se somavam outros fatores de complexidade. Na Idade Média, a nobreza constituía uma classe social com funções especiais dentro do Estado, às quais estavam ligadas as honrarias e também os encargos correspondentes. No decurso dos Tempos Modernos, esta situação foi perdendo gradualmente sua consistência, relevo e colorido. Ao longo das revoluções igualitárias do século XIX, sofreu ela sucessivas mutilações. E isto a tal ponto que, na monarquia italiana tal qual existia no fim da última guerra, o poder político da nobreza sobrevivia em estado de
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do progresso técnico e da igualdade, fruto da Revolução, criava um clima de ódio, de prevenção, de difamação e sarcasmo contra a nobreza apegada à tradição, e fundada na forma de desigualdade que a demagogia mais odeia: a do sangue e do berço." [ ...] A Segunda Guerra Mundial levou , na Itália, "[ ... ] ao paroxismo a gravidade de todos estes problemas. Estava definida em grau agudo a crise de uma grande classe . 1 [ ... ]" .s soem O "americanismo", consequência da Primeira Gue,·ra
José Gustavo de Souza Queiroz fora um amigo e "companheiro de armas" de Plínio Corrêa de Oliveira, tendo falecido muito jovem. Ao tratar de sua vida escolar, na descrição que faz de sua personalidade, o Prof. Plínio mostra os efeitos deletérios da Primeira Guerra rumo ao "americanismo": "[ ... ] Todo o colégio é um microcosmo em que se refletem, quase sempre com exagero e por vezes de forma até tempestuosa, as preocupações, as ideias, as tendências do
"Maomé Renasce "... após a Primeira Guerra
Desde 1943 o Prof. Plinio vinha prevendo o renascimento do Islã, através das páginas de o "Legionário". Para analisá-lo, bem como a desídia do Ocidente em relação ao mesmo, ele exemplifica, em 1947, no artigo Maom é Renasce, com a misteriosa conduta adotada pelos romanos frente à invasão dos bárbaros. E passa a descrever o espírito de anquilosamento em que durante séculos caiu o maometanismo, e o caminho que ele percorreu até sua ressurreição após a Guerra de 14-18:
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fantasma ou de vestígio. Esse vestígio, :...... esse fantasma, a República o destruiu . Ora, enquanto se delineava tão rápida no quadro da História a curva descendente do poder político da aristocracia, a sua situação social e econômica seguia o mesmo rumo, mas muito e muito mais lentamente. Por suas propriedades agrícolas, seus palácios, seus tesouros artísticos, pelo prestígio social de seus títulos e de seus nomes, pelo valor moral e cultural exímio de seu ambiente tradicional doméstico, suas maneiras, seu estilo de vida, a nobreza ainda se encontrava, em inícios do século, no ápice da organização social. As crises decorrentes da Primeira Guerra Mundial trouxeram alguma modificação neste quadro, privando parte das famílias nobres de seus meios de vida e obrigando muitos de seus membros a aceitar profissões subalternas, em desacordo com sua psicologia, seus hábitos, seu prestígio social. De outro lado, a sociedade contemporânea, modelada cada vez mais pela finança e pela técnica, criava novas relações e situações, novos centros de influência social, totalmente alheios aos quadros clássicos da aristocracia. E assim toda uma nova ordem de coisas nascia ao lado da antiga, que ainda vivia. Tudo isto diminuía a importância social da nobreza. Por fim, a isto tudo se somava, em detrimento dessa classe, um elemento ideológico que cumpre pôr em primeira plana na ordem da importância. A adoração
1 - A crise universal. A sociedade humana apresentava na primeira parte deste século, isto é até 1914, um aspecto brilhante. O progresso era indiscutível em todos os terrenos. A vida econômica tinha alcançado uma prosperidade sem precedentes. A vida social era fácil e atraente. A humanidade parecia caminhar para a era de ouro. Alguns sintomas graves destoavam das cores risonhas deste quadro. Havia misérias materiais e morais, é certo. Mas poucos eram os que mediam em toda a sua extensão a importância destes fatos. A grande maioria esperava que a ciência e o progresso resolvessem todos os problemas. A Primeira Guerra Mundial veio opor um desmentido terrível a estas perspectivas. Em todos os sentidos, as dificuldades se agravaram incessantemente até 1939. [... ]" 7
Os fetiches da ciência e do pl'ogrnsso 11ão rnsolveram os problemas
Escrevendo sobre as revelações de Nossa Senhora em Fátima, o Prof. Plínio denuncia o estado de espírito otimista que reinava na Beile Époque e a cegueira que havia a respeito dos graves sintomas que apareciam. Otimismo este que foi desmentido pela Guerra: "[ ... ] Os fatos contemporâneos mais marcantes são:
"[ ... ] É dificil abranger em uma discriminação sintética fenômenos tão vastos e ricos como este. Mas de um modo muito geral pode-se dizer que, depois da Grande Guerra, todo o Oriente - e entendemos esta expressão num sentido muito lato abrangendo em sua totalidade as zonas de civilização não cristã da Ásia e da África - começou a passar por um fenômeno de reação anti-europeia muito pronunciado. Esta reação comportava dois aspectos algum tanto contraditórios, mas ambos muito perigosos para o Ocidente. De um lado, as nações orientais começavam a sofrer com impaciência o jugo econômico e militar do Ocidente, manifestando uma aspiração cada vez mais pronunciada pela soberania plena, pela formação de um potencial econômico independente e de grandes exércitos próprios. Esta aspiração comportava,
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é claro, uma certa ocidentalização, ou seja a adaptação da técnica militar, ifldustrial e agrícola moderna, do sistema financeiro e bancário euro-americano, à Ásia, etc. De outro lado porém, este surto patriótico provocava um renouveau de entusiasmo pelas tradições nacionais, costumes nacionais, culto nacional, história nacional. É supérfluo acrescentar que o espetáculo degradante da corrupção e das divisões a que estava exposto o mundo ocidental, concorria para estimular o ódio ao Ocidente. De onde a formação em todo o Oriente, de novo interesse pelos velhos ídolos, de um neopaganismo mil vezes mais combativo, resoluto e dinâmico do que o paganismo antigo. O Japão é bem um exemplo típico, ultratípico talvez, de todo esse processus que tentamos descrever. O grupo ideológico e político que o elevou à categoria de grande potência e que ambicionou para ele o domínio do mundo, foi precisamente um desses grupos neopagãos obstinadamente apegados aos velhos conceitos de divindade do Imperador, etc. Ora, um fenômeno mais lento, porém não menos vigoroso que o do Japão, se deu em todo o mundo oriental. A Índia está na iminência de conquistar, em virtude de tal fenômeno, a sua independência; o Egito e a Pérsia ocupam hoje em dia uma situação avantajada, na vida internacional, e progridem a passos rápidos. Bem antes disto, Mustafá Kemal (foto à direita) renovara a Turquia. Todas essas nações, essas potências podemos di zer, se sentem orgulhosas de seu passado, de suas tradições, de sua cultura, e desejam conservá-las com afinco, e ao mesmo tempo, mostram-se ufanas de suas riquezas naturais, de suas possibilidades políticas e militares, e do progresso financeiro que estão alcançando. Dia a dia elas se enriquecem, constroem cidades dotadas de um aparelho governamental eficaz, de uma polícia bem adestrada, de universidades estritamente pagãs mas muito desenvolvidas, de escolas, hospitais, museus, h1do enfim que para nós significa de algum modo poder e progresso material. Nas suas arcas, o ouro se vai acumulando. Ouro significa possibilidade de comprar armamentos. E armamentos significam prestígio mundial. É interessante notar que o exemplo nazista impres-
sionou fortemente o Oriente. Se um grande país como a Alemanha tem um governo que abandona o cristianismo e não cora de voltar aos antigos ídolos, o que há de vergonhoso em que um chinês ou um árabe permaneçam em suas religiões tradicionais? Tudo isto transformou o mundo islâmico, e determinou em todos os povos maometanos, da Índia ao Marrocos, um estremecimento que significa que o sono milenar acabou . O Paquistão - Estado muçulmano hindu em vésperas de independência - o Irã, Iraque, a Turquia, o Egito são os pontos altos do movimento de ressurreição islâmica. Mas naAlgéria, no Marrocos, na Tripolitânia, na Tunísia, a agitação também vai intensa. O nervo vital do islamismo revive em todos esses povos, fazendo renascer neles o senso da unidade, a noção dos interesses comuns, a preocupação da solidariedade, e o gosto pela vitória. Nada disso ficou no ar. A Liga árabe, uma confederação vastíssima de povos muçulmanos, une hoje todo o mundo maometano. E, à avessas, o que foi na Idade Media a Cristandade. A Liga Árabe age como um vasto bloco, perante as nações não árabes, e fomenta por todo o norte da África a insurreição. [... ]" 8
Orige11s <la xenofobia orie11tal na G1,en•a de 14-18 1
Em maio de 1952, escrevendo para Catolicismo, o Prof. Plínio tece considera-
T. E. Lawrence, enviado pelos ingleses, promove a revolta dos árabes entre 1916 e 1918. Ele é o personagem mai central e evidente nesta fo?q.
Oficial francês observa os túmulos dos camaradas mortos durante a I Guerra Mundial, em Saint-Jean-sur-Tourbe, na Champagne
ções sobre a gentilidade oriental, mostra a contradição ideológica do imperialismo ocidental, expõe os princípios doutrinários de um imperialismo católico, e por fim indica o rumo que os fatos tomariam. No último tópico, abaixo transcrito, ele aponta o papel da Guerra de 14-18 como estando na origem da xenofobia oriental: "[ ... ] Nas relações entre Oriente e Ocidente, há duas etapas muito nítidas. Na primeira, que vem de meados do século XIX até, mais ou men os, o fim da Primeira Guerra Mundial, o Oriente viveu sob a ação de um verdadeiro complexo de inferioridade em relação ao Ocidente: envergonhava-se de suas velhas religiões, de seus velhos hábitos, de
sua arte antiga. Daí a imitação sistemática: por toda a parte, cheiks, rajahs, príncipes, beis, ulernás, visitando a Europa, começaram a se ocidentalizar, e a introduzir em seus países, por vezes com uma energia que roçava pela violência, a ocidentalização. A Guerra de 14-18
foi, porém, para o Ocidente um golpe terrível. A Europa -foco da cultura ocidental- saiu dela abalada, diminuída, deslustrada. E, em sentido contrário, o Oriente progredia. De um lado, a ação dos próprios europeus aumentava o nível de riqueza e de instrução das nações coloniais. De outro lado, os princípios igualitários da Revolução Francesa, pregados implícita ou explicitamente por todas as potencias colonizadoras, atingiram também o Oriente. Como era inevitável, dia chegou em que os orientais se perguntaram por que motivo deviam obedecer ao Ocidente. Foi este o ponto
de partida ideológico do nacionalismo que depois de 1918 começou a grassar por toda a Ásia e África[ ... ]. O nacionalismo exacerbado movimentou a desconfiança e a má vontade das velhas religiões pagãs, ainda muito generalizadas e influentes, contra a ação missionária da Igreja. Tudo isto criou uma imensa mole de antipatias, de prevenções, de ressentimentos, que não foi dificil
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transformar em verdadeira oposição política. E assim, da China até a Jord~ ia, da África do Sul até a Tunísia, 9 a gentilidade começou a efervescer. [... ]" A hora de Deus chagará
A propósito da anexação da Áustria pela Alemanha nazista, Plínio Corrêa de Oliveira sintetiza os efeitos da Primeira Guerra para os países europeus e denuncia a solidariedade dos Césares totalitários com os sinédrios liberais. Prevê ainda que, pela conduta deles em favor da Revolução, a hora de Deus chegaria para a Europa: "O dramático desaparecimento do mapa europeu, da Áustria católica, esmagada com criminosa brutalidade pelo tacão da bota nazista, toma oportuno um retrospecto político que fazemos com a alma indignada e o coração em sangue. Mais do que qualquer argumentação este retrospecto provará a solidariedade com que os Césares totalitários e os sinédrios liberais trabalham para crucificar mais uma vez o Salvador, representado hoje pela Santa Igreja. I - Reconhecendo ser desesperadora a situação das tropas alemãs [na Guerra de 14-18], o Imperador Guilherme II cede às tentadoras promessas das potências ocultas, e faz transportar Lenine secretamente, da Suíça em que se encontrava à Rússia. O transporte é feito em carro de aço fechado, para evitar a disseminação do vírus comunista na Alemanha. A revolução desejada explode na Rússia, e os comunistas recompensam Guilherme II, assinando a paz de Brest-Lituvsky, vantajosa para a Alemanha. Cristão, Guilherme II traiu a causa de Cristo. O imperador traiu a causa da Ordem. Mas Deus tem a sua hora. Para Guilherme 11, a hora de Deus não tardou. Na última fase da Grande Guerra, um pavoroso catacl isma ensanguenta a Rússia. Feita a paz, esperavase que as potências interviessem na Rússia. II - A Inglaterra e a França contemplam com indiferentismo a vitória comunista na Rússia e, além de protestos platônicos, não têm um gesto de defesa para as populações cristãs perseguidas, restaurando no trono a Família Imperial, cujo chefe morrera miseravelmente assassinado.
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Cristã, a monarquia inglesa traiu a causa de Cristo e o princípio monárquico. Cristã também ela, a burguesia que dirigia a França traiu a causa de Cristo e o princípio da propriedade individual. É que não tinham tempo de pensar em Cristo e em sua civilização. Ali estavam, para serem esquartejados, os restos ainda palpitantes, dos Impérios vencidos. Era preciso colher os frutos da vitória. Quanto a Cristo, que esperasse e se arranjasse como pudesse. E, com isto, 155.000.000 almas foram expostas sem defesa à propaganda ateia e à perseguição religiosa.
esmagam o povo alemão. Com isto, o descontentamento e o socialismo crescem . A Santa Sé pede clemência para o vencido, mas os poderes ocultos sorriem na sombra: o grande vencido não é a Alemanha, mas Cristo, contra o qual se desencadeia na Rússia e na Europa Central, a sanha comunista. V - Mais perseguida do que a Alemanha é a Áustria. Aquela apresenta, aos olhos dos poderes ocultos, a preciosa atenuante de ter uma maioria protestante. Enquanto, esta é ré do inexpiável crime de ser católica.
Seu único crime é de ser católico. Mas a hora de Deus chegará [... ]. VIII - [... ] Um Judas, Von Papen, o traidor dos católicos alemães, faz subir ao poder o Sr. Adolph Hitler. A hora de Deus está chegando para a França e a Inglaterra [... ]. XIII - Em 1935, consolidado o eixo Roma-Berlin, Hitler começa a exigir imperiosamente a anexação da Áustria à Alemanha. A Itália manifesta discretamente seu agrado. As chancelarias francesa e inglesa franzem a testa[ ... ]. XIV - [... ] Quanto a Mussolini, em cujas mãos está a direção de um dos mais nobres e católicos povos da Terra ... , nem é bom falar. Um telegrama benevolente e generoso do Fuhrer o recompensa: 'Mussolini, não me esquecerei de vosso gesto'. Deus também não se esquecerá ... e a hora d'Ele chegará" [... ]. 10 *
Mas Deus tem sua hora. E para a Inglaterra e a França a hora de Deus não tardou. III - O vírus comunista se alastrou da Rússia à Alemanha e à Áustria-Hungria. Guilherme II vê, com pesar, que o fogo por ele ateado na casa do vizinho, passou agora para a sua própria casa e para a de seus ali ados. A orgulhosa monarquia de Bismarck cai, e com ela cai o Kaiser. A França, a Inglaterra e os Estados Unidos veem com secreto prazer que o socialismo se alastra pela Europa Central, porque concorre para debilitar e desmoralizar os vencidos. Quanto a Cristo, que se arranje. IV - No tratado de Versalhes, a Alemanha é diminuída territorial e moralmente. A supressão das colônias alemãs e o peso insuportável das indenizações de guerra
A desigualdade do tratamento dos Aliados para com a Alemanha e a Áustria é flagrante. AAlemanha é humilhada e diminuída; mas subsiste. O lmp~rio austro-húngaro é esquartejado, e dele só resta a Austria germânica, que dificilmente subsiste por s1 mesma. A hora de Deus começa a chegar para os Aliados; eles prepararam com suas próprias mãos o Anschluss. Enquanto Guilh erme II, acusado pelos próprios Aliados de ser culpado pela guerra, vive regiamente em Doorm, o Imperador Carlos da Áustria morre tuberculoso na Ilha da Madeira, pobre como Jó, mas, como este, admiravelmente resignado. Nenhum soberano do mundo ousa vir em seu auxílio. Abandonado de todos, o último Imperador da Casa d'Áustria morre como um pária. Só a Igreja lhe conforta a agonia. Subido ao trono no fim da guerra, não pode serresponsabilizado pelo conflito mundial.
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Um ano depois de publicado o artigo acima, iniciava-se a Segunda Guerra Mundial, durante a qual a hora de Deus chegou para quase todos os povos da Europa - e também para Hitler e Mussolini , conforme previra Plínio Corrêa de Oliveira. Concluímos aqui os juízos expostos pelo autor e, voltando ao princípio do a1iigo, afirmamos que os agentes secretos da Revolução souberam iniciá-la, conduzi-la e levá-la meticulosamente ao seu termo. Para depois, por meio cruento, ou seja, pela Guerra de 14-18, assestar um fortíssimo golpe contra a Cristandade,já profundamente combalida naqueles anos, fazendo assim progredir em incontáveis terrenos o processo revolucionário. • E- ma il para o autor: catolicismo@tem, com
br
Notas:
1. Plíni o Corrêa de Oliveira, in Revolução e Contra Revolução, Parte Pri meira , "A Revolução", Cap. VII , "A essência da Revolução", 1 A-B. 2. A grande experiência de 10 anos de luta , " Legionário" Nº 666, 13-5-45. 3. ldem. 4. Os mexicanos, nossos irmãos, " Legionário" Nº 220, 29- 11 -36. 5. Um hino de amor sobe ao trono do Pontífice imortal, "Catoli cismo" Nº 63, março/1956. 6. No tas Biográficas sobre o S,: José Guslavo de Souza Queiroz pelo Prof Plinio Corrêa de Oliveira. Em Cartas sobre a Inquisição Espanhola , rev ista " Leituras Católicas", Ano LIX , setembro de 1949, Nº 7 12. 7. Fátima explicação e remédio da crise contemporânea, "Catolicismo" Nº 29, maio/ 1953. 8. Maomé Renasce, "Legionário", Nº 775, 15-6-47. 9. Revolução bolchevizanle na gentilidade Orienlal, "Catolicismo" Nº 17, Maio/ 1952. 1O. A Conjuração dos césares e do sinédrio, " Legionári o" Nº 288, 20-3-1938.
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go do mundo da primitiva regra franci scana, como pregada por São Fra ncisco de Ass is, e dedicar-se às missões. Seu fundador, Mateus di Bassi, fa leceu em 1552, e embora não tenha sido beatificado pela fgreja, é chamado de beato pelos membros da Ordem . Fé li x prepa rou se u in gresso ao novo estado com uma peregrinação a Loreto, a fim de pedir a bênção e a proteção da Santíss im a Virgem.
São Serafim de Montegranaro I rmão leigo capuchinho, Laumaturgo, era consulLado pe~as autoridades civis e eclesiásLicas e tido como santo em vida ■ PLINIO M ARIA SOLIMEO
eus suscita santos para se tornarem exemplos de virtudes diametralmente opostas aos vícios de seu tempo. No século XVI, o capuchinho São Serafim de Montegranaro tornou-se exemplo de humildade, contrastando com vícios da época, como a ostentação, o orgulho e a sensualidade, que se agravaram com o movimento renascentista, incentivador de um neopagan ismo.
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Foi na cidade de Montegranaro, na Marca de Ancône, que nasceu em 1540 o futuro São Serafim de Montegranaro. Seus pais eram desprovidos cios bens da fortuna , mas ricos em virtude, sobretudo sua mãe, Teodora, cuja pi edade era objeto de adm iração na cidade e modelo para as outras mulheres. Ela incutiu nos filhos sua fé e suas virtude , tendo o pequeno Félix, como se chamava o nosso santo, correspondido inteiramente aos seus cuidados. A respeito dele, diz um biógrafo: "Não se via em seu exterior nada de pueril. Ele amava a prece e,
conhecendo já o valor do tempo, ncio perdia nenhuma de suas parcelas ". 1 O pai , Jerônim o Rapagnano, um humilde pedre iro, ass im que o menino atingiu certa idade, o empregou como pastor para ajudar no magro orçamento da família . Nosso Senhor Jesus C ri sto ama os pas tores. Foram e les os prime iros a serem chamados à gruta de Belém. Nas três últimas grandes aparições de Nossa Senhora - La Salette, Lourdes e Fátima - , seus confidentes foram pastores. A beleza dos campos, a doc ili dade dos animais, tudo concorre para elevar o pensamento a Deus. O pequeno Fé lix gravou no tronco de uma grossa árvo re o símbolo de nossa redenção, diante do qual fazi a suas preces e e levava sua a lma a Deus. Q uando voltava para casa no fim do dia, depo is de uma parca refeição dava algumas horas ao sono, levantando-se muito cedo para continuar sua comunicação co m o Salvador.
"Viver numa floresta para só pe11sa1· em Deus" Entreta nto, o pai veio a fa lecer. Então, o fi lho mai s ve lho, tornando-se arrimo da família, obrigou o men in o a ajudá-lo no pesado trabalho de pedre iro, não tendo para com ele nenhuma complacência. Féli x, contudo, suportava os excessos do irmão com humil de doci lidade. Mas não era possível nem sonhar com a esco la. Quando trabalhava com o irmão numa obra, Félix, então com 17 anos, ouviu a filha do dono da casa ler em voz alta algumas pág inas de Dionísio,
o Cartuxo, sobre os Novíssimos. Pensou então em faze r-se religioso, para melhor dedicar-se à santifi cação de sua alma. Ce rto d ia, a mãe dessa me nina di sse a Fé li x: "Tu pareces triste, rapazinho. O que é que nc7o te anda bem?" O ado lescente respondeu: "O que eu gostaria era de ir viver no meio de uma .f!.oresta, em que ncio tivesse que p ensar sencio em Deus ". A senhora prometeu então recomendá-lo aos capuchinhos de Tolentino, de quem e ra benfe itora. 2 Ora, fora nas Marcas (região da Itá lia central , onde se situa To lentino) que tivera início a reforma de um ramo dos fra nc isca nos, que deu orige m, em 1525, à Ordem Capuchinha, então em todo seu viço primaveri 1. "Cortada pelas montanhas dos grandes caminhos da Itália, os habitantes das Marcas têm conservado até hoje (início do sécul o XX) uma deliciosa simplicidade de carátet; aliando uma tendência mística a uma prática inclinação da mente. Eles parecem possuir a 'alma naturalmente francis cana', sendo jacil entender a rápida resposta do povo dessa província ao ensinamentofi-anciscano e a tenacidade com que os f i··ades das Marcas se apegam à primitiva s implicidade da Ordem [...} As Marcas eram, de.fàto, desde os primeiros dias da Ordem, um centro de resistência à tendência secularizante que encontrou guarida entre osf,-ades, mesmo nos dias de São Francisco, de ci!Ja tendência o fàmoso [e infausto] irmão Elias é o tipo histórico".3 A finalidade da nova Ordem era de voltar assim à simplicidade e ao desape-
l'eregl'inalJ(/0 pelos conventos capuchinhos Acontece que os capuchinhos de To lentino não tinham ove lh as para g uardar, nem precisavam de um aj udante de pedreiro analfabeto e de má sa úde . Por isso fi ze ram-no es perar po r muito tempo. Por fim , graças à in s istênci a de sua protetora, e le foi adm itido aos 18 a nos como irm ão le igo no noviciado ele Jes i ( cidade da região das Marcas), iniciando assim sua vida de capuchinho. Entretanto, por maiores que fossem sua diligência e sua boa vontade em tudo que fazia , Fé lix não consegu ia contentar os superiores e os confrades, que chegavam a criticar até mesmo sua excess iva generosidade para com os pobres. Ass im e le peregrinou por todos os conventos capuchinhos das Marcas. Aos poucos, aquele postulante, qu e tão pouco prometia, começou enfim a conquistar seus irmãos de hábito por sua bondade, espírito de pobreza, humildade, extrema pureza e mortificação. D e modo qu e, um ano depois, ele pôde pronunci ar seus votos, trocando então seu nome para Serafim. Tal foi a alegria que ele sentiu nesse dia, que oscu lou os pés de todos os irmãos de hábito.
No mosteil'o de Ascoli, /'ama de santidade F inalmente, no ano de 1590, frei Serafim e ncontrou esta bi Iidad e no mosteiro de Ascoli Pi ceno (também nas Marcas), como e ncarregado de pedir es mol as para o convento. Logo
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· se distinguiu por sua simp licidade sem afetação, mortificação e obediência, além deu a caridade sem lim ites para com os pobres. Notável, sobretudo, era sua devoção ao Crucifixo e a Nossa Sen hora, cuj o Rosário se tornou seu instrumento preferido na evangelização. Certo dia, na hora da recreação, obrigaram-no a dirigir a palavra aos irmãos presentes. Ele o fez com tal espírito sobrenatural , com tais acentos de piedade, que os outros religiosos bendisseram a Deus por ter dado uma fé tão viva e tanto fervor a esse humilde irmão leigo. E le, que era analfabeto, explicava o Evangelho com tais luzes, que se notava o Espí rito Santo falando por sua boca. E lia as consciências como num livro aberto . Em breve começaram os milagres. O governador de Ascoli levou-o à cabeceira do cardeal Bandini, que agonizava devido a uma terrível gangrena. Com um simples Sinal da Cruz, frei Serafim curou o purpurado no mesmo instante. Apesar de ana lfabeto, seus conse lhos eram procurados pelos a ltos dignitários seculares e ecles iásticos, a lém de afervorarem todos por sua virtude. O amor de Deus era sua vida . E le teria querido dar seu sangue para demonstrá-lo. Por isso solicitou o favor de ir aos países dos infiéis para a li sofrer o martírio, mas seus superiores não permitiram, pois a com unidade ficaria privada desse modelo de virtudes . Uma caridade sincera em relação ao próximo acompanhava seu amor a Deus. E le era afáve l, benevolente para com todos, e sempre disposto a prestar serviço. Mas eram sobretudo os pobres o principal objeto de sua afeição. E le punha em obra todos os meios a seu alcance para os aliviar, privando-se frequentemente para isso do necessário. Em um tempo de carestia, restringi u ao estritamente indispensável sua alimentação, a fim de dar aos pobres o que lhe sobrava.
Como prescrevia a regra, São Serafim usava somente sandá lias. E na dupla condição de irmão le igo e ana lfabeto, era dispensado de recitar com os frades o Ofício Divino da meia-noite, o que se fa zia mesmo no três últimos dias da Semana Santa. Ao Ofício canônico, contudo, não deveria ser acrescentado nenhum ofício extra, para que os frades tivessem mais tempo para a prece privada. Não sabendo ler, São Serafim acompanhava o Oficio dos frades em espírito de oraçã.o e contemplação. E le foi objeto de muitos ataques do demônio, furioso com o bem que o santo praticava. Mas estava muito bem fortalecido na virtude para sofrer qualquer dano do espírito O povo lhe cortava pedaços infernal. <lo manto como relíquia Advertido sobre o dia de sua morte, São Serafim comunicou-o aos seus Como encarregado de pedir esmoirmãos e lhes pediu com insistência las, São Serafim devia sa ir quase todos os últimos Sacramentos, apesar de não os dias. Pois, segundo a constituição parecer muito doente. Fina lmente, no dos Capuch inhos, e les não podiam ter dia 12 de outubro de 1604, entregou alimentos em estoque, mas depender sua a lma a Deus. Tinha 64 anos de das esmolas de cada dia. Quando muito podiam receber o sufi ciente para três · idade, 46 dos quais passados na Ordem dos Capuchinhos. dias , e, assaz raramente, para uma Imediatamente após sua morte, semana. O curioso é que não podiam muitos milagres ocorreram em se u pedir esmola de carne, ovos ou queitúmulo. De modo que, já em 16 1O, o jo, mas recebê-los quando oferecidos Papa Paulo V permitiu aos habitantes espontaneamente. 4 de Ascoli que lhe rendessem um culto Os superiores começaram contudo público. Entretanto, e le só fo i canonia enfrentar um problema: a reputação zado em 16de julhode 1767, peloPapa de santidade de São Serafim chegou Clemente Xll l. 5 • a tal ponto, que eles foram obrigados a retirá-lo do ofício de pedir esmolas E-mai l para o autor: catolic isrno@terra.com.br para o convento. Pois, quando ele Notas: saía, era cercado por uma multidão querendo cortar pedaços de seu manto 1. Les Petits Bolland istes, Saint Séraphin de Montegranaro, in Vies des Saints, Bl oud et como relíquia. E quando, em 1602, os Barrai , Libraires-Éditeurs, Pari s, 1882, tomo superiores pensaram em transferi-lo XII , pp. 305-306. para outro mosteiro, toda a cidade 2. Pe. José Leite, S..I., S. Serafim de Montealvoroçou-se, suplicando seus habigranaro, Santos de Cada Dia , Editorial A.O ., Braga, 1987, tom o 111, p. 164. tantes aos capuchinhos que não os 3. Father C uthberl, Cap11cin Friars Minar, The privasse de sua presença. Catholic Encyclopedia, C D Rom editi on. Tal popu laridade podia subir à 4. Father Cuthbert, ld . lb . cabeça de qualquer pessoa, mas não 5. Outras obras consultada s: Ferdinand Heckmann , SI. Seraphin of Montegranaro, The à de Serafim, cuja humildade era tão Ca th o lic Encyc lopcdia, C D Ro m editi on. profunda que nem essas manifestações Edelvi ves, an Serafln de Montegranaro, 1 borbulhantes dos italianos podi a m Santo de Cada Dia, Editori al Luis Vives, .A. , abalar. Saragoça, 1955, tomo V, p. 432 .
DISCERNINDO
Consequência danosa do laicismo: fuga dos jovens para os games N uma sociedade sem Deus. os games Lornamse vício e são utilizados para preencher o vazio das almas, com consequências funestas Cio ALENCASTRo
O
mundo de delícias que nos foi prometido pela técnica, pela ciê ncia e pelo progresso material em s ubsti tuição à religião, produz cada vez me nos esperançados e mais fru strados, pessoas que fogem da realidade através do suicídio, das d.rogas ou do frenesi dos ritmos aloucados. Mas tudo i o é um presente que vai derivando pa ra o passado. A mais
nova forma de fuga da realidade é constituída pelos games, que estão deixando de ser um divertimento solitário de certos esqui sitões da informática para transformar-se numa competiçã.o de profissionais.
Co1111111idacles de tipo religioso No futebo l, antes de algum jogo importante, é costume os clubes conce ntrarem seus jogadores em algum local apropriado, a fim de se prepararem para o embate. O mesmo vai acontecendo com os "jogadores
de games", como têm sido denominados os profissionais desse estranho esporte. Com a característica, que nem no futebol ex iste, de formarem uma espécie de comunidade permanente, onde se dedicam ao game em tempo integral. Rapazes com idades entre 17 e 24 anos constituem um time e passam a morar numa mesma casa - do gênero gaming houses, já comuns no Exterior - , com dedicação integral, como atletas profissionais dos games. Para os jogadores não terem que pensar em outra coisa, tais casas contam com empregada doméstica comida roupa lavada, piscina, ch~rasq uei~ ra e, sobretudo, acesso ilimitado à Internet.
CATOLICISMO
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Os jovens passam então horas a fio estudando novas-táticas, testando personagens virtuais, promovendo jogos amistosos. Namoro? Segundo um rapaz entrevistado, "muito jogador já caiu de nível porque.foi atrás de mulher". Família? "Seria muito cansativo ir ver minha mãe toda semana", afirma outro. Também não pensam em estudar em Faculdade. Recebem uma ajuda de custo, além de ganharem pela publicidade de seus jogos. Há estimativas de que cada um recebe de cinco a dez mil rea is por mês. Porém, informa um dos rapazes, "não estamos nessa p elo dinheiro, paraficarfamoso · ou milionários. Estamos nessa pelojogo, e queremos continuar enquanto pudermos". Uma espécie de dedicação religiosa, portanto. Marx propagava que a religião é o ópio do povo, prometendo que a felicidade nesta Terra se encontraria numa sociedade ateia e comunista. Esse sonho - melhor diríamos, pesadelo - se esboroou. Foi substituído pelo sonho das sociedades lai cas de nossos dias, em que o ateísmo não é ostentado, mas disfarçado. Acontece que também elas se mostraram frustrantes. A necessidade premente da alma humana de uma dedicação total a Deus , que só a Religião Católica satisfaz plenamente, vem sendo preenchida, à falta de melhor, pela obsessão dos games. Vale a pena?
les (EUA), que costuma apresentar partidas de basquete e shows. No Brasil, em 26 de junho último, no Ginásio do M araca nãz inho, no Rio, diante de um público pagante de se is mil pessoas (e mais 116 mil espectadores via Internet), houv e uma disputa entre alguns des ses times de games. O time vencedor, além do prêmio de R$ 55 mil , conquistou o direito a viajar a Seattle (EUA), a fim de competir por uma das 16 vagas no campeonato mundial que se decidirá em Seul , na Co reia. A profission a li zação e a organização dos chamados eSports começaram a se tornar sistemáticas com o surgimento e popularizaçã.o dos games multiplayer online, qu e permitem partida s e ntre vários jogadores pela Internet; além do financiamento proveniente de grandes empresas. Há games para todos os gosto : de luta, de tiro, de futebol ; mas os mais populares são os que representam arenas de batalha online,
para vários jogadores que se enfrentam num mapa, com o objetivo de defender suas bases e destruir as bases inimigas. Algumas equipes já importam jogadores de outros países, especialmente da Coreia do Sul, onde eles são muito profissionalizados.* Jovens incol'pol'am os personagens dos jogos
O médico psiquiatra Jairo Bouer, escrevendo em seu blog ( 4-8-14) e na revista "Época" (11-8-14), no s fornece alguns dados sobre os games , dignos da maior atenção. Informa ele a existência de um importante estudo, publicado recentemente nos EUA , indicand que determinados jogos podem aumentar a propensão d jovcn a comportamentos de risco como b ber, fumar e envolver-se em brigas. O trabalho foi feito por uma eq uipe do Darmouth College e publicado no Journal of Persona/ity and Social Psychology, periódico da Associação Psicológica Americana.
Os resultados foram os mesmos para meninos e meninas. Os pesquisadores entrevistaram mais de cinco mil adolescentes durante quatro anos, e concluíram que os fãs desse tipo de jogo tiveram um comportamento mais agressivo, se envolveram mais em brigas, fugiram mais de casa e até cometeram mais furtos do que os não fãs. Segundo o líder do estudo, o pesquisador Jay Hull, que preside o Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro de Dartmouth, os games permitem aos usuários viver na pele de outra pessoa. Jogos com protagonistas violentos e antissociais geram recompensas a comportamentos de risco, nã.o sendo portanto de admirar que em algum grau isso seja repetido na vida offline. Muitos jovens incorporam características dos personagens desses jogos. Por isso têm mais dificuldade para lidar com os limites da vida real. O videogame mais popular entre eles, apreciado por quase 58% dos jovens, é o Grand Theft Auto 111, que permite ao usuário encarnar um criminoso.
Os pesquisadores descobriram que quanto maior a frequência com que os jovens jogavam games violentos, maior o envolvimento deles em agressões. O uso de álcool e de tabaco também aumentou expo~enci~lmente ao longo do tempo, a medida que o envolvimento com esses jogos também crescia. Estudos como este sugerem que é preciso ficar atento ao tipo de experiência que os games proporcionam. A omissão dos responsáveis pode ser fatal. Cuida<lo com os games-babás
Terminamos relembrando a entrevista da Sra. Elizabeth Woolley, concedida à revista Crusade, da TFP americana e reproduzida por Catolicismo em julho/2012. A entrevistada é fundadora do Online Gamers Anonymous (Jogadores Anônimos Online) e opositora sem reservas de videogames que causam vício. Conta ela: "Em 2002, meu filho Shawn viciou-se em um jogo chamado Everquest. Em três meses ele largou o
emprego,foi despejado de sua casa e ficava a noite inteira acordadojogando no computado,: Apesar de nossos ingentes esforços para auxiliá-lo a restabelecer a normalidade em sua vida, ele cometeu suicídio um ano e meio mais tarde ". Depois disso, "me dei conta de quantas familias estão sendo destruídas e sofrem como a minha." E acrescenta: "Eu tenho visto muitas atitudes irresponsáveis de pais que desejam usar os videogames como babás. Isso infelizmente acontece porque muitos pais são com frequência eles próprios jogadores. Primeiramente, não é bom pai aquele que dá à criança um jogo de computador para que ela não o amole". Tire o leitor as suas conclusões. • E-mail parn o autor: catolicismo@tcrra.com.hr * Até este ponto, uti Iizamos os dados fornecidos por reportagem publicada em "O Estado de S. Paulo" (4-8-14), nos Cadernos Economi a e Link.
Multidões em estádios
Torneios têm ingressos esgotados em poucas horas. Cerca de 32 milhões de pessoas acompanharam pela Internet os games realizados em Staples Center (foto à direita), arena de Los Ange-
"Não é bom pai aquele que dá à crian~a um jogo de computador para que ela não o amole" O videogame Grond
Theft Auto Ili, que permite ao usuário encarnar um criminoso
CATOLICISMO OUTUBRO 2014
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EPISÓDIOS HISTÓRICOS
O Grande Cerco de Malta - II rn PAuLo HENR1ouE AMÉR1co DE ARAúJo
Emmatéria de
O
agosto último sobre o cerco de Malta, narramos a heroica resistência católica à invasão maometana. Trataremos neste artigo do desfecho dos árduos combates e do triunfo dos cavaleiros da Ordem de Malta.
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velho corsário turco Dragut ficou indignado ao desembarcar com um exército auxiliar em Malta, em junho de 1565. Experie~te e_respeitado como era, criticou os dois comandantes turcos que haviam instalado o cerco contra as defesas cristãs da ilha. "Atacar o Forte Santo Elmo primeiro.foi uma péssima ideia", disse Dragut. O cerco deveria ter sido armado do lado oposto da Baía Grande, cortando as comunicações dos cristãos. Após a tomada das principais fortalezas dos cavaleiros de Malta, Santo Elmo não ofereceria mais resistência. Mas a crítica do velho Dragut - ele próprio o sabia - chegara tarde. Ao mesmo tempo em que o pequeno Santo Elmo resistia a todos os ataques, conquistá-lo havia se tornado uma questão de honra para os turcos. Abandonar o primeiro plano agora seria vergonha! Dragut passou então a preparar as novas baterias para acabar de vez com Santo Elmo. Uma furtiva bala de canhão atirada pelos cavaleiros, entretanto, atingiu o velho, tirando-lhe a vida antes que pudesse assistir a queda do " insignificante" Santo Elmo. Como vimos no artigo anterior, esse pequenino forte resistiu durante um mês a toda fúria dos otomanos. Os valentes cavaleiros da Ordem de Malta exigiram um preço alto por ele: oito mil mortos nas hostes turcas e preciosos dias perdido . Entretanto, o cenário estava preparado para o confronto decisivo. De um lado a Ordem Militar de São João, com 500 cavaleiros e quatr ' mil soldados voluntários apinhados nas duas fortalezas de Santo Ângelo e São Miguel, situadas nas penínsulas de Birgu e Senglea [mapa ao lado] . Do outro lado, a poderosa frota turca e ma i de 30 mil muçulmanos ansiosos por expulsar o glorioso domíni o da Cruz da pequena ilha de Malta.
·. de Santo Elmo e a possibilidade de alongar demais o cerco, Mustafá Pachá, o comandante turco, ofereceu um acordo a La Valette. Um mensageiro trouxe a proposta ao Grão-mestre. O turco dava sua palavra de que os cavaleiros poderiam se retirar da ilha em segurança, levando o que pudessem. La Valette levou o mensageiro até o alto de uma muralha, e apontando para o fosso lá embaixo, disse: "Avise o seu líder que este é o único pedaço desta ilha que cederemos aos turcos. Nós o encheremos com seus cadáveres ". 1 Batalha Total
A partir de 15 de julho, a Baía Grande de Malta transformou-se num incrível cenário de confrontos. A guerra foi travada literalmente de todos os modos. Canhões lançavam projéteis mortais pelos ares. Arcabuzeiros, lanceiros e espadeiros se digladi avam em terra. Túneis subterrâneos eram escavados incessantemente por mineiros para implodir as muralhas pela base. Isso forçava os cristãos a fazer seu próprios túneis para destruir os do inimigo. Houve terríveis batalhas até sob a terra. Numa açã.o surpreendente, os turcos transportaram navios até o sudoeste da baía, arra tando-os por terra sobre toras de madeira. Os cristãos não esperavam
O
Grande Cerco
de Malta
Acordo impossível
N
T Frota
~ Turca ~
Cidadela Canhões
~\ ..,;..
Turcos~
CATOLICISMO
O verão daquele julho de 1565 estava especialmente sufocante. O Grão-mestre dos cavaleiros, La Valette, dentro das muralhas de Santo Ângelo, sem se incomodar com o ca lor, vestido de armadura e elmo de aço, mantinha a vigilância e a calma de um grande general. Ele já havia previsto todas a possibi lidades de ataques turcos, bem como os planos de emergência. Na terra e no mar as defesas estavam montadas. Malta precisaria resistir apenas mais algumas semanas. A força de resgate da Sicília viria em seu socorro e a batalha seria vencida. A questão era manter os cavaleiros firmes até lá. Os turcos trabalharam durante dias transportando e armando seus canhões. Dezenas deles foram colocados nas colinas ao redor das defesas. Mas, sentindo talvez os efeitos da feroz resistência
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ter de enfrentar também a frota no mar. Em princípio, os canhões de Santo Ângelo manteriam os navios turcos longe, mas agora as águas próximas às defesas estavam juncadas com mais de 80 embarcações. Sob a água, mergulhadores turcos tentaram destruir as grandes barreiras de correntes que impediam a aproximação dos navios junto às defesas. Os nadadores mal teses tiveram muito trabalho neste inusitado cenário de batalha. Mas, como conheciam bem aquelas águas, armados com punhais entre os dentes, repeliram com êxito os turcos em sangrentas lutas corpo a corpo. No primeiro ataque geral, os turcos se concentraram na base da península de Senglea. Depois que os canhões silenciaram, os guerreiros turcos se atiraram sobre as paredes do Forte São Miguel. Ao mesmo tempo, a frota turca avançou a toda velocidade, mas teve de deter-se ao encontrar as barreiras submarinas ainda intactas. Os soldados turcos saltaram então no mar, e avançaram para dentro da fortaleza através de uma brecha aberta por uma explosão. A situação era desesperado ra, mas La Valette já a havia previsto. Ele sabia qu e as defesas de Senglea eram mais débeis e por isso havia mandado alinhar ' barcos formando uma ponte co m a outra península. Os soldados cristãos de Birgu vieram rapidamente para o resgate. Os turcos foram repelidos no último momento. Enquanto isso, Mustafá, vendo as atenções voltadas para o sul de Senglea, ordenou que l Onavios com miljanízaros 2 atacassem o norte da península. O lance teria sido devastador. Mas La Valette, de novo, não foi surpreendido. Um grupo de cavaleiros armados com peças de artilharia estava escondido em uma brecha da península. À passagem dos navios, eles abriram fogo , causando a morte de 800 janízaros.3 As investidas turcas foram se sucedendo dia após dia dmante todo mês de agosto. Num dos ataques à cidadela de Birgu, os turcos atravessa ram as primeiras mu ra lhas, mas foram surpreendidos por uma segunda linha de defesa. Sem poder avançar nem recuar, centenas deles foram eliminados pelo fogo certeiro dos cavaleiros. Numa nova inves tida a Birgu, os turcos, aproveitando-se do colapso de uma parte da muralhas, conseguiram chegar quase ao centro da cidadela. La Valette, percebendo a situação crítica, foi pessoalmente de espada em punho tomar a frente do contra-ataque. Motivados pelo corajoso exemplo do Grã -mestre, os cavaleiros se tomaram de tal ardor que logo fizeram retroceder o turco com formidáveis golpes de lança e espada. Mustafá tentou uma nova táti ca co ntra a até então invencível resistência dos cavaleiros: uma enorme torre rol ante. Sua intenção era aproximar a máquina até as muralhas e lançar rapidamente os atacantes dentro da fortaleza. Isso deu ocasião para o gênio de La Valette brilhar mais uma vez. De longe ele observou a construção e o tran sporte da torre. Quando esta foi encostada nas muralhas, o Grão-mestre já sabia o que fazer. Paradoxalmente, ele havia pensado o " impensável" : colocar abaixo a próprias defesas! Uma mina foi detonada pelos cavaleiros na base da muralha. O buraco aberto deixou exposto o pé da torre. Um canhão previamente posicionado abriu fogo através da brecha e, em questão de segundos, o terrível engenho de guerra foi ao chão. Foi um duro golpe para os infiéis e um dos derradeiros.
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CATOLICISMO
Chega o resgate
Soldado turco
No início de setembro, o poderoso exército turco estava ficando sem munição e víveres. Muitos homens estavam doentes ou desmotivados. Seu último sucesso fora a conquista do Forte Santo Elmo, havia quase três meses. Apesar de todos os bombardeios e dos esforços de dezenas de milhares de soldados turcos - a maioria dos quais jazia morta nos fossos - a guarnição cristã permanecia resolutamente erguida. ''Trabalhando noite e dia, os def ensores reparavam as brechas e a captura de Malta parecia mais e mais impossível. "4 La Valette, por seu tmno, jánão confiava mais na força de resgate de D. Garcia, vinda da Sicília, que deveria ter chegado até o fim de ago to. "O único aux ílio que podemos esperar é o de Deus onipotente ", 5 disse ele ao seu secretário. Mas o Grão-me tre aind a não sabia que uma sentinela já trouxera a notícia a Mustafá : a frota da Sicília havia chegado, fora avistada do outro lado da ilha. O chefe turco ordenou o abandono de Malta o quanto antes. Era o dia 4 de setembro de 1565. A frota turca já tinha levantado âncora quando Mustafá foi informad que o exército de D . Garcia era composto de apenas I O mil homens. Querendo evitar a vergonha completa, comandante ordenou que todos voltassem para a ilha num último lance desesperado. Mas as nova tropas cristãs, ávidas para combater, desbarataram os tu rcos num violento choque de cavalaria. As fileiras dos infi éis entraram em confusão e se dispersaram. Incontáveis turcos pereceram na tentativa desesperada de voltar às embarcações. As águas do mar ficaram tingidas de vermelho. Foi o último erro de Mustafá . A frota tur a se di stanciou, levando agora o que restou daquele formid ável exérc ito otomano. Apenas 15 mil dos 40 mil hom ens v !taram a Constantinopla. Mustafá, envergonhado, teve de atracar os navi s no porto da cidade durante a noite. Em Malta, a vi tória foi comemorada com o Te Deum. Em toda a Europa se exaltava a façanh a dos caval eiros. O Santo Padre enviou cartas de louvor aos heróis da resi stên ia . A Ordem de Malta atingia o auge de sua glória. Uma nova idade foi erguida junto ao glorioso Forte Santo Elmo. Ainda hoje a figura do grande general cristão é lembrada mediante o nome da atual capital de Malta : Vai tle. •
La Valette comanda os cavaleiros de Malta
E-mai l para o autor: calo lic ismo@terra.com.br
Notas e referências: 1. W EISS, Juan Baptista. l lístorio Un iversal, Ed ito ra Tipografia La Educac ión. Trad ução da 5" edição a le111ã, Barce lona, 1927, Vo lu111 c IX, p. 495. 2. Janíza ros: corpo de elite do exérci to lurco . Eram recrutados entre os j ovens cri stãos do império. Sequestrados, escravi zados e fo rçados n renegar a fé , rece bi am um tre in a111ento espec ial lo nge das vo lúpias e corrupções turcas. 3. BALBI , Franc isco. Th e iege o.f Ma lta- ! 565, The Boyde ll Press, Woodbridge, 2005. p. 11 5. 4 .COH EN, R. Kni ghts o f Ma lta, 152 - 1798, E- Book, 2004. p. 12. 5. W EISS, o p. cit. p. 496.
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·I,
NACIONAL
. Novos governantes: critérios para uma análise Ü utubro, mês de eleições. Escrevemos sem conhecer ainda o
resultado das urnas. A ocasião é altamente propícia para estabelecer critérios segundo os quais acompanhar - aprovando ou combatendo - a trajetória daqueles que nos governarão nos próximos quatro anos. n GREGóR10
V1vANco LoPEs
e
omecemos por lembrar as imensas manifestações ocorridas em junho de 2013. Elas transbordaram para o mês seguinte e foram analisadas com cuidado e pormenor por Catolicismo em sua edição de agosto/2013. Bem ponderadas, tais manifestações nos fornecem bases suficientes para o acompanhamento do que farão ou deixarão de fazer nossos novos governantes. A nota tônica delas, como tivemos oportunidade de salientar na ocasião, consistiu num imenso descontentamento em relação aos rumos pelos quais o Brasil estava sendo conduzido por seus dirigentes. "Os mais de 1O anos de governo do PT, com sua tendência estatizante e seu aparelhamento do Estado, agravaram enormemente o descontentamento no País ", dizíamos na ocasião.
JUSTIÇA ElEllORAl
'
Exemplos <le reivindicações justas
A solução de bom senso, para apaziguar o crescente e protuberante descontentamento expresso naquelas manifestações, seria atender aos reclamos profundos que nele emergiram: - menos imposição do Estado sobre os cidadãos; - menos impostos; - menos intervenção nas famílias e nas escolas; - mais garantias para a propriedade privada e a livre iniciativa; - mais rigor com a bandidagem e a co m expansão das drogas;
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CATOLICISMO
- pôr fim à utilização da propaganda dos direitos humanos para arrastar o País a uma situação de amoralidade sem freios nem barreiras; - nada de facciosismo esquerdista na po lítica exterior, que vem sendo pautada pelo favorecimento da Cuba comunista e dos países ditos "boli varianos", e pela repulsa às relações com os Estado Unidos que se diria ridícula, se não fosse altamente prejudicial aos interesses da Nação; - fim das perseguições contra o que defendem a moral católica.
As reitrindicações <lesviadas. O Decreto 8.243.
Nada disso, porém, foi fe ito . Pelo contrário. Tentou-se, de um lado, desmorali zar as manifestações de junho através da multiplicação exacerbada de manifestações menores, altamente agressivas e antipáticas, como as dos blaclc bloclcs, dos chamados "sem-teto" ' dos indígenas (verdadeiros ou postiços), e ass im outras. Fazendo com que os cidadãos de bem se sentissem inibidos de continuar seus protestos, pelo medo de serem implicados em violências descabida ou reivindicações estranhas a seu descontentamento. Ao mesmo tempo, o governo tentou cooptar o movimento de junho por meio de lançamentos bombásticos e aventureiros, como a convocação inconstitucional de uma Constituinte e um plebi scito sobre a reforma política, que se mostraram inviáve is. Mais ainda, foi insinuando subtilmente no panorama pontos do ideário socialista, e procurando aplicá-los, como se correspondessem às reivindicações dos manifestantes. O mai e candaloso deles foi o Dec reto 8.243, que institui numerosos conselhos (soviets, em russo), para deliberarem junto com o Executivo e sob o tacão deste sobre os problemas nacionais, com a falaciosa aparência de que eria o povo a governar nessa espécie de democracia direta. Muito se riti cou o malfadado Decreto, inclusive vários deputad o fize ram. Mas o leitor terá notado que até agora o ongresso Nac ional, devidamente cooptado pelo Exec utivo, nada fez de eficaz para revogar a danosa decisão autoritária , a qual continua como uma espada de Dâmocles pendente sobre as cabeças dos brasileiros, a ser utilizada pelo govern o que em breve sairá das urnas . Fratllrn entre o País real e o País legal
Na realidade, ur fando as manifestaçõe , o governo buscou aplicar um programa de tipo socialista e anticristão, como se i o pudesse atender a voz das ruas. Ledo engano ou pas a-mol eq ue? O partido no poder chegou a incentivar a cobrança de impostos sobre as grandes fortunas - medid a de aráter comunista, que ninguém pediu - para financiar atend imento das reivindicações populares! Na elaboração de sa mi ragem, segundo a qual as manifestações visariam obretudo ações em favor da esqu erda, a presidente pa ou a receber militantes dos movimentos impropriam ntc chamados "sociais" (muitos deles, na verdade, ã anti -sociais), como se tais agremiações representa cm a multidão que saiu às ruas! Assim, chegamos às cleiçõ s d 2014 vendo alargar-
se a impressionante fratura entre o País legal e o País real. Quaisquer que sejam agora os eleitos - presidente, governadores, senadores, deputados - cabe-lhes esforçar-se para pôr remédio àquilo que constitui o fundo do problema, ou seja, o imenso desagrado de uma Nação que não se vê representada em seus anseios pelas leis que se querem aplicar, pela corrupção moral e financeira de seus dirigentes, enfim pelo modo como o Estado vem sendo conduzido. Não há solução /'ora da civilização Cl'istã
Se, porém, os novos governantes buscarem desviar de seu leito o rio da indignação popular, para fazê-lo servir a programas socialo-eomunistas, socialo-ecológicos, igualitário-tribalistas, com o aumento de impostos a pretexto de distribuir riquezas, com as estatizações, o aparelhamento do Estado pelas forças da esquerda, e outras coisas do gênero, tudo rumo a um anarquismo ecológico-tribalista, - cumpre que as forças vivas da Nação utilizem todos os meios legais para se opor a isso. Não há solução para o Brasil fora das vias da civilização cristã, civilização da ordem, de favorecimento do autêntico espírito familiar, da livre iniciativa, da aplicação do princípio da subsidiariedade, da defesa da propriedade particular, sobretudo da consideração de que há um Deus· no Céu que a tudo vê, h1do julga e dará a cada um segundo suas obras, não só aos indivíduos, mas aos povos e às nações. Ficam assim esboçados alguns critérios, que podem ajudar o leitor a acompanhar a trajetória dos políticos que começarão a nos governar no próximo ano. Se os novos governantes conduzirem o País nas vias adequadas, poderá fechar-se, ao menos em grande parte, a enorme fratura existente entre o Brasil real e o Brasil legal. Caso contrário, essa fratura tenderá a escancararse, arrastando a Nação para catástrofes imprevisíveis, que não desejamos. Aplicam-se aqui as palavras de Plínio Corrêa de Oliveira, em sua famosa obra "Projeto de Constituição angustia o País": "Olhar de .frente esses problemas, e enfi-entar as petplexidades e apreensões que eles trazem consigo, oferecendo ao Poder Público e à opinião do País sugestões viáveis: assim pode o bom brasileiro cumprir seu dever em ocasiões dramáticas, como esta em que vamos entrando. " Fica, eventualmente para a próxima edição, uma análise do resultado das eleições. • E-ma il para o autor: cato li c isrno@terra.com.br
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ção a E le. Com São Domingos, fo i uma das colunas da Igreja e m seu te m po, co ntri b uin do para renovar com seus heróicos exemplos os costumes j á decaídos naquela época . É uma das ma iores glórias da Santa M adre Igrej a em todos os tempos.
Primeiro Sábado do mês.
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10 São Paulino ele York , Confessor + Inglate rra, 644. E nviado por São Gregório Magno para evange li za r a In g laterra , rea lizo u frutuoso aposto lado nas regiões de Kent e da N ortú mbria, converteu o rei Edw in e fundou o bispado de York.
Sa nta Flor ou Flora, Virgem Santa Tcresinl1a do Menino ,Jesus, Virgem, Doutora da Igreja + L is ie ux (Fra nça), 1897 . A grande santa de nossos tempos entrou no Carmelo aos 15 anos, levando uma vida de imo lação e sacrifícios em favor das missões e da [greja. Desejando possuir todas as vocações para ne las glorifica r o Criador, encontro u no amor a Deus, confo rme diz, a so lução para seu prob lema. Tornou-se por isso Padroeira das missões, sem nunca ter deixado a clausura. Sua doutrina espiritual da "pequena via" abriu as p011as da perfeição a inúmeras almas.
2 SanlOs Anjos da Guarda São Tomás ele Erel'orcl , Bispo e Confessor + 1ng late rra, 1282. Descendente de uma das ma is ilustres fa m ílias da Inglaterra, após ser ordenado sacerdote fo i chanceler da U ni versidade de Oxford, e depo is arcebi spo de Ereford .
3 São Francisco ele Borja, Confessor
+ Bea uli e u (Fra nça), 134 7. F ilha de pa is nobres, ingresso u muito cedo como re li giosa na hospedaria dos Cava le iros de São João de Je ru sa lém pa ra cuidar dos doentes e peregrinos.
6 Santa Ma ria Francisca elas Cinco Chagas, Virgem + Nápo les, 179 1. Aos 16 anos, entrou na Ord em Terceira de São Franc isco, entregando-se à oração, ao j ej um e à peni tê nc ia, sendo visitada por seu anj o da g ua rd a, qu e a an im ava. Fo i retirada do convento pelo pa i, que a enca rrego u dos cuidados da fa míli a.
11 São Sá rmatas, Má1'L ir + Tebaida (Egito), 357. D iscípulo de Santo Antão, fo i morto pe los sarracenos por ód io à fé . D izia: "Prefiro um homem
que, tendo pecado, reconhece esse pecado e faz p enitência, a um que não tenha pecado e se considere justo ".
12 NOSSA SENHOR/\ DA CONCEIÇÃO APARECIDA. RAINHA E PADROl•'.I RA DO BRASIL São Serafim de Mont gr-anaro (Vi de p. 36)
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NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
Santos Fausto, Januário e Ma rcial, Má rlircs
Festa instituída por São Pio V em ação de graças pela vitó ri a obtida na bata lha de Le panto co ntra os mao meta nos, e m 1571, d ur ante a q ua l Nossa Senhora apa receu. Vitória atribuída à recitação do Rosári o.
+ Có rd oba , 307. E cs Lrês irmãos increpara m o novo governado r ro mano da Espanha, E ugê nio, por sua crueldade para com os cristãos, sendo então martirizados.
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São João Ogilvie, Márli1·
Santa Taís, Penitente
+ Ro ma , 1572. V ice-Re i da Cata lu nha e duq ue de Ga nd ia, re nunc iou às atrações do mundo ao ver o cadáver da outrora belíssima ra inha Isabel. Enviuva ndo aos 40 anos, ingressou na Companhia de Jesus, da qual fo i depois Superi or Gera l.
+ Egito, Séc. IV. Inspirado por Deus, São Pafú nc io de ixo u seu retiro no deserto para conduz ila ao bom cam inho. Cortesã, ela queimou seus vestidos e joias, ingressando nu m mosteiro no deserto.
Primeira Sexta-feira do mês.
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+ G lasgow, 16 15. a lvinista inglês convertido pe lo célebre exegeta jesuíta ornélio a Láp ide. Entrou para a ompanh ia de Jes us, vo lta ndo a seu país para socorrer os ca tó licos perseguidos. Depoi de converter mu itos hereges, foi traído e entregue ao arcebispo protes ta nte, sendo conde nado à morte.
São Luís Beltrán, Confesso r
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4 São Francisco de Assis, Con fessor + Assis (Itá lia), 1226. O Poverello de Ass is amou tão apa ixo nada mente o Sa lvador, que ad quiriu seus esti g mas e até uma seme lhança fís ica em re la-
+ Va lê nc ia, I 58 I. Sace rd ote do minicano, aos 23 anos e ra mestre de noviços. Seu extraordinári o zelo levou-o a deseja r combater os protestantes. Mas a Prov idênc ia enca minhou-o para a Colômbia, onde durante sete anos evangelizou os índios.
Santa Teresa de Ávila, Virgem, DoulOra da Igreja + Alba (Espanha), 1582. Alma ardente e enérgica, empree ndeu a reforma do Carme lo, sendo auxi liada por São João da Cruz no tocante ao ramo mascu li no.
Padeceu mui tos trabalhos e doenças por amor de Deus. Unia a mais sublime contemplação a uma extrao rdinária capac idade de ação. Fo i uma das colunas da Contra-Reforma.
16 Santa Margarida Maria Alacoeque, Virgem + Paray- le-M o ni a l (Fra nça), 1690. Relig iosa visitandina, entrego u-se desde cedo à contemplação da Pa ixão do Redentor, recebendo d 'Ele a extrao rdinári a mensagem sobre a devoção ao se u Sagrado Coração e a incumbênc ia de di fu nd i-la pelo mundo inte iro.
ções e penitênc ias. Reformador dos franciscanos da Espanha, a ux iliou e incentivo u Sa nta Teresa na refo rma do Carmelo.
21 Santo Hilarião, Abade + Palestina, séc. IV. F ilho de pagãos, que o enviaram para estudar em A lexand ri a, converteu-se e partiu para o deserto, onde fo i d irig ido por Sa nto Antão.
22 SanLa Ma ria Salomé, Viúva
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+ Pal esti na, séc. l. Segundo a tradição, prima da Santíssima Virgem e mãe de São T iago e São João Eva ngelista, era uma das Santas Mulheres que estavam ao pé da Cru z.
Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Má1'Lir
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+ Séc. II. Discípulo dos Apó tolos e sucessor de ão Pedro na Sé de Antioquia. uas carla às igrejas da Ásia e de Roma são os documentos mai · prec i sos da época . Conduz ido ·i R ma, foi devorado pe las fera n oliseu.
Santo Inácio, Bispo, Confessor + Síria, 877. F ilho do imperador Migue l, torn ou-se monge aos 14 anos e depois abade, fu nda ndo três mosteiros. Patriarca de A ntioquia.
IH
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São Lucas 1•:va11gclista , MárLir
Sa nto Antonio Maria Claret, Bispo e Confessor
+ Séc. L M édi co ele Anti oqu ia convertido por ão Pau lo. Autor do III Eva n&elho e dos /\los dos Apóstolos. E célebre um quadro de N ossa Senhora que e le leri a pintado. Embora não ·e l ' nham dados concretos a respeito de sua morte, tradi ção auto ri zada afirma que sofreu o martfr i
19 Santos João de Brébeul', Isaac Jogues e companheiros, Mártires + Améri ca do Norte, séc. X VII. Jesuítas fra nceses que evange1izava m o então Ca nadá (atua l norte dos Estados U n idos) , cuj as te rras regara m com se u sangue ao serem martirizados pe los ferozes índios iroqueses.
+ Fo ntfroi de (F rança), 1870. Inca nsável miss ionário, queri a sa lva r o mundo com suas pregações. Arcebispo de Cuba, profetizou casti gos para aquela Ilha. Fundou a Co ng regação Mi ssionária dos F ilhos do Coração ]maculado de Mari a. Confessor e conselheiro da ra inha [sabei II , da Espa nha, influiu para a e le ição de bi spos di g nos que foram depo is "a guarda pessoal do Papa" no Vaticano I, no qua l exerceu papel prepo nderante.
25 San to Antonio de Sant'Ana Cnlvão, Confessor
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+ ão Paul o, 1822. Natu ra l de G uaratinguclá (S P), fra nciscano, fo i fund ado r do Reco lhi mento Mosteiro da Luz, que dirig iu até sua morte.
São Pedro de Aieâ nLara, ConfeSSOl'
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+ A renas (Espanha), 1562. Padroeiro principal do Brasil , foi adm iráve l por suas mo rtifica-
NOSSO Sl•:NJIOR ,JESUS CRI STO, REI DO UNIVl•:RSO Festa institu ída por Pio XI. em
1925, para proclamar a rea leza socia l de Nosso Senhor Jesus Cristo.
27 Santos Vicente, Sabina e Criseta. Márt ires +Ávila, séc. IV. Vicente, depois de defender coraj osamente a fé em Ta lavera, diante de Daciano, governador ro mano, fugi u com as duas irmãs para Áv il a. Depois de ap ri sionados, sofrera m o martírio.
28 Santos Simão e .Judas Tadeu, Apóstolos, Mártires + Séc. I. São Judas Tadeu era irm ão de São Ti ago Me no r, fil hos de Cleófas e Maria, p rimos de Nosso Senhor. Prego u o Eva ngelho na Judé ia, Samari a, S íria e Mesopotâmia. Escreveu urna epísto la exortando os fié is a perseverarem na fé, atacando vi gorosa mente os soberbos, os luxuriosos e os fa lsos do utores. São Simão, cognominado Cananeu ou Ze lador, era originário da Galiléia. Segundo a tradi ção, ambos morre ram mártires.
Intenções para a Santa Missa em outubro Será ce leb rada pe lo Revmo. Padre David Francisqu ini, nas seguintes intenções: • Ped indo a Nossa Senhora Aparec ida, Ra inha e Padroeira do Bras il , cu ia festa seco memora neste mês, que prateia especia lmente o País nas d ificuldades p rese ntes e aumente o fervor re li gioso de seu povo . Que o to rne forte e resoluto no comba te a todo tipo de corrupção, sobretudo a corrupção mora l, que tanto enfraquece as a lmas, deixa ndo as famí lias vu lneráve is à imora lidade.
29 Santa Ermelinda, Virgem + Meldert (Bélg ica), séc. VI. Adolescente, fi lha de pa is nobres e ricos qu e desejava m casá- la, cortou os cabe los para dedicar-se inte ira mente a Deus, retirando-se para a so li dão.
30 São Marcelo Centurião , Mártir + Ta nger, 298. Pai dos santos má rtires C lá udi o , Luperco e Vitório, esse centu ri ão espanhol fo i decapitado por ter dec larado que era cri stão e serv ia a Jesus Cristo .
31 Santa .Joa na Delanoue, Virgem + Fra nça, 1736. Herd o u do pa i um m o desto baza r, q ue com hab ilidade fez prosperar. Co meço u a dedicar-se também a obras de caridade, a ponto de se r chamada mãe dos pobres. Fundou um as ilo ao qu al denom inou "A Providência ".
Intenções para a Santa Missa em novembro • M issa de Finados (2 de novembro) em sufrágio das a lmas do Purgatório, espec ia l men te pe los nossos parentes iá fa lecidos. • Pe los cató licos perseguidos e martirizados em diversos países, sobretudo no Iraque e na Síria . Para que Nossa Senhora das Graças (festiv idade do d ia 27 de novemb ro) lhes conceda a graça da forta leza para não vac il arem na fé, perseverarem e resistirem com toda firmeza.
Em Guritiba, um "Chamado à Cavalaria" 1, lvAN RAFAE L DE OuvEIRA
ntre a lta neiras ara ucári as, em uma centenári a casa nos ento rnos de C uritiba (PR), 20 j ovens partic iparam do s impós io "C hamado à Cava lari a", promov ido pe lo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. O evento ocorreu entre os di as cin co a oito de setembro, d urante o fe ri ado de Nossa Senhora da Luz, Padroe ira da cidade. O grande herói da A lbâni a, Skanderbeg, a hi stória das cruzadas e a guerra dos C ri steros mex icanos fora m alguns dos exemplos q ue ilu strara m o tema da cava laria. E ntre conferênc ias, audi ov isua is, orações, câ nticos e j ogos ag uerridos, os participa ntes conheceram a necess idade do heroísmo para a juventude no mundo de hoj e. Também a devoçã.o a N ossa Senh ora e a castidade fo ram temas postos em foco, co mo virtudes necessári as para quem deseja servir a causa cató lica. N a úl tim a noi te do s impós io, os j ovens fize ra m uma "v ig íli a de armas", à seme lh ança das cerimôni as medi eva is de recepção de cavale iros, só que sem armas. Di ante de uma relíqui a do Sa nto Lenh o e de uma imagem de N ossa Senhora de Fátim a, a cada hora os j ovens revezavam-se para reza r o te rço na si nge la cape la da pro pri edade. N o último di a, ao despedi r-se, um dos j ovens ex presso u o sentimento dos partic ipantes, lamentando o té rmino do simpósio: "Como gostaria que durasse mais uns cinco meses! ". •
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E-rnail para o autor: catoli cis111o@tcrra.co111.br
CATOLICISMO
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■ PUNIO C ORRÊA DE OLIVEIRA
ste é o castelo de Trujillo, localizado na província espanhola de Cáceres. É digno de nota a tática empregada na sua construção: muralhas extensas e torres enormes. Se construíram muralhas tão grandes, por que edificar torres tão salientes? Não seria melhor concentrar tudo na muralha? Qual é o papel militar da torre? A finalidade da torre era a seguinte: os inimigos quando atacavam eram enfrentados dos dois lados. Tática que oferecia aos defensores um embasamento melhor. Os atacantes levavam altas escadas e catapultas - aparelhos que lançavam pedras pesadíssimas sobre os que guarneciam a muralha - , também dardos incendiários e barricas com material incendiário projetados para dentro do castelo. Assim, as torres e muralhas constituíam o sistema de defesa, mas não eram inexpugnáveis. Era árduo tomar um castelo, e uma glória tê-lo conquistado. Entretanto, nos séculos em que as armas de fogo
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começaram a ser utilizadas, esses castelos perderam o significado militar para as grandes guerras, nas quais se passou a utilizar canhões e o castelo não mais conseguia resisfü. Desse modo, muitas forti ficações foram arruinadas. Símbolos magníficos ele heroísmo que foram assim arrasados. Para se evitar essas ruínas, a solução teria sido haver nobres que habitassem os castelos, mas isentos de espírito de revolta contra os reis; e reis que não desejassem liquidar os nobres, nem as autono. . mias reg1ona1s. A raiz do mal: os soberanos, os senhores e os povos estavam decaindo religiosamente. Era a decadência produzida pelas três Revoluções - a protestante, a francesa e a comunista, como explanadas em minha obra Revolução e Contra-Revolução. 01110 consequência, nada mais funcionava bem. E assim , chegou-se ao caos da época atual. Afastando-se de Nosso Senhor Jesus Cristo, de sua Santíssima Mé e e da Santa Igreja como centros dos acontecimentos, envereda-se para a via do caos. • '
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 5 de maio de 1984. Sem revisão do autor.
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■ PUNIO C O RRÊA Dl l iLIVEIRA
Quando "voltar para trás" representa um avanço?
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om inequívoca aplicação à situação do Brasil nos presentes dias, o excerto abaixo foi extraído de uma entrevista que Plinio Corrêa de Oliveira concedeu à antiga TV ltacolomi,* de Belo Horizonte, em 16 de agosto de 1965, por ocasião de uma visita dele à capital mineira.
* *
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Exc1mTOS
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CARTA DO D11mTOR
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PoR Qtm NossA SENIIORA C110RA
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Comu:sPONDf.:NCIA
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Blasfêmia na 31 ª Bienal
PALAVRA DO SAcmmoTE
R1•:A1,mADE CoN<:1sAMENTl•:
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Bienal de pseudo-arte blasfema
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Pergunta - O senhor acha que seria possível fazer retroceder o avanço do comunismo e do socialismo que se deu até hoje? O senhor não vê que é querer que a História volte para trás? Resposta - "Voltar para trás" ... Todas essas perguntas contêm termos que pedem explicações. O que é propriamente "voltar para trás"? O que é voltar para trás na vida de um homem? A vida de um homem não volta para trás? Quando um homem erra, quando um homem peca, quando um homem reconhece nobremente seu erro e seu pecado e se regenera e volta às ideias ou aos costumes que tinha, ele não volta para trás? Então, quantos episódios da vida dos homens - episódios nobres, elevados, dignificantes da história humana - a História registra de homens que voltaram para trás. "Voltar para trás" .. . A Espanha era cristã. Entretanto, ela foi invadida pelos mouros e depois de séculos -CATOLICISMO
.
Com a Batalha de Guararapes, os invasores holandeses foram expulsos do Brasil
de dominação moura, ela recuperou a sua independência. Isso será, por acaso, voltar para trás? Corrigir os grandes erros da História, retificar as grandes catástrofes, isso é voltar para trás? Eu o contesto. Assim como na história dos homens, na história dos povos é possível voltar para trás. O Brasil foi invadido pelos holandeses. Eles estabeleceram longamente aqui o domínio do herege invasor. E com a expulsão dos holandeses, nós voltamos para trás, isto é, ao estado élnt ,rior. Isso não foi um grande feito da história do Brasil? A História, meus senhores, volta para trás sempre que ela anda mal e os homens corrigem seus erros. Os homens podem corrigir a série de erros que os levaram às portas
do comuni smo! Duvidar disso seria duvidar da mi ericórdia de Deus. Seria duvidar da mis ã.o da Igrej a que com força e di gni dade Ela anuncia a todos o p v ; Sim, eu a r di t que homens podem vo ltar para lrá , de de qu e se ente nd a qu l 'S ··1111 inhara m em rumo p t a Nosso , ·nh r Jesus ri to, ma qu ' vo ltando para Nosso enh r ele vo ll am paru trás . Nesse entid , ◄ 1 111: o 'stá apena na vanguarda, mas também está atrás de todos aminh e está também atrá do mau caminhos esperando o filho pródigo, esperando o pecador. A H istória pode vo ltar para trás. • * A Integra desta entrevista encontra-se di sponlvcl
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D1sc1mN1Nno
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INTERNACIONAi ,
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D.,;s·1'A()t 11-:
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CAPA
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VmAs 1n: SANTOS
Um pais chamado fa vela
A favela surpreende ...
França: vigorosa reação à revolução sexual
Cruzada em clel'esa cios cristãos perseguidos
Aleijadinho: Expoente cio estilo colonial brasileiro São João Berchmans
l..tl Manifesta~ão pró-família em Paris
45 V A1tmDAn..:s Loucuras cio mundo neopagão 46
SANTOS t•: F1,:sTAS Do
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AÇÃO CON'l'RA-Rl-:VOl,LJCIONÁIW\
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Mí~s
AMBmN'l'ES, CosnJMES, C1v11,11.Açü1,:s
Esquilo: Um brinquedinho que Deus criou para o homem
Nossa Capa: Profetas Ezequiel e Oseas, com a Basílica do Bom Jesus de Matosinhos ao fu ndo. Congonhas do Campo (MG).
no site www.pliniocorreadeo li veira.in fo Foto : Luís Guill erm o Arroyave
São João Berchmans
NOVEMBRO 2014 -
Caro leitor, Comemora-se neste mês o bicentenário da morte do artista barroco mineiro Antonio Francisco Lisboa, cognominado Aleijadinho, a respeito do qual Germai n Bazin , um dos ma i abali zados críticos de arte do século XX, observou: "Ele deu ao mundo cristão as últimas grane/, s imagens do drama da Paixão ". O genia l artista, enta lhador, arquiteto e escul tor, fa lecido em 18 de novembro d 1 14, deixou uma obra em estilo barroco que o situa no ápice da prod ução desse gênero de arte cm nossa Pátria. Sua gigantesca fig ura artística e mora l, porém, só começou a ser dev idamente apreciada em âmbito nacional na segunda metade do século passado. E sua fama tra nspô as fro nteiras do Pa ís, como o comprova a renomada obra A arquitetura religiosa barroca no Brasil, do mencionado especia lista fra ncês. A fig ura do Aleijadinho merece realce na hi stória pátri a não só por sua geniali dade, mas também pela profunda resignação cristã com que enfrentou a longa e dolorosa enfe rmidade que o acometeu. Foi nos últimos anos de sua ex istência que ele deu ao mundo sua monumental obra escultórica rea lizada na cidade de Congonhas do Ca mpo: os 12 Profetas Maiores do Antigo Testamento, esculpidos em pedra sabão, e Os Passos da Paixão, cuj<1s fig uras são ta lhadas em madeira.
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho
O que o Brasil esJ}era do l'llt11ro l'rnsidente Jornalista Responsável : Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração : Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante : Fone/fax (0x x11) 3333-6716 Correspondência: Caixa Postal 1422 CEP 01031 -970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda. E-mail: catol icismo@terra.com.br Home Page: www.catolicismo.com.br ISSN 0102-8502
Preços da assinatura anual para o mês de Novembro de 2014: Comum : Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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146,00 218,00 374,00 616,00 13,50
Aproveitamos para comunicar a nossos leitores que o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira difund iu em seu site, como também através de órgãos da imprensa, seu parecer a respeito da eleição presidencial. Intitul ado Eleição presidencial: o Brasil ante o perigo esquerdista e o vácuo político, o documento foi divulgado no dia 7 de outu bro. Como o segundo turno da eleição rea li zou-se no último dia 26, não fo i possível apresentar nesta edição um parecer sobre o resultado fi nal do pleito. Entretanto, pareceu-nos conveni ente reproduzir agora aos nossos leitores o item mais importante do manifesto difu ndido. Este Brasil que recusa aventuras e rupturas sócio-políticas, necessita de uma candidatura viável que saiba vocalizar suas aspirações e se comprometa: • afazer cessar as imensas máquinas de corrupção; • a tornar a administração pública credível; • a não introduzir qualquer legislação que venha a permitir o aborto; • anão modificar a ordenação legal da fam ília, mantendo o matrimônio como união estável entre homem e mulher; • a não impor a educação estatal às crianças e a garantir o direito da familia de educar seus.filhos; • anão aprovarprogramas e reformas educacionais que implantern a antinatural "ideologia de gênero "; • afazer cessar as agitações e reformas que ameaçam a propriedade urbana; • afazer cessar as múltiplas ameaças contra a propriedade no ampo a dar estabilidade aos produtores rurais, verdadeiro esteio de nossa economia; • a rever a chamada política indigenista e a repensar e refornwlar 1s demarcações de reservas indígenas e de terras quilombo/as; • a livrar a economia do dirigismo estatal, a favo recer a ini ·iati va privada, a diminuir a onerosa carga tributária. Desejamos aos prezados leitores uma proficua leil11ra.
Em Jesus e Maria,
CATOLICISMO
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Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
cato!icis111o@terra.co111.br
DI RETO R
Satanismo para crianças! propaganda mundial do satanismo vai mar alto. Por toda parte ouvimos falar de manifes tações satânicas, organizadas por autoridades políticas ou, pelo menos, sem oposição destas . Dir-se-ia que, diante da brutal degradação dos costumes de hoj e, como também das leis e dos atos dos homens, os demônios acharam que era chegada a hora de dizerem: "Estou aqui. Sou eu mesmo que dirijo a sarabanda rumo ao Inferno". Aquilo que estava oculto, agora sai à luz do dia. São as mi ssas negras, pro mov idas ostensivamente, com grande publicidade, em várias partes do mundo; é a satânica mostra na B ienal de São Paul o (vide p. XX] ; é o direito de cidadania concedido aos ritos
A
em urna sala de aula, juntamente com uma menina satanista chamada Annabel. A legenda diz: "Annabel está difundindo conhecimento e ajudando a dissipar o medo e a ignorância, ao apresentar seu ritual satânico para a classe .. . " A terceira pág ina mostra o desenho de urna aconchega nte sala de aula, com lareira e prateleiras de livros. Annabel está sentada em uma cadeira, com um
diabólicos; e ass im por di ante. Chega-nos agora a notícia de que manifes tações satânicas bu scam atin g ir també m as cri anças. Tinha de ser! O demônio não tolera a inocência. Informa-nos o site da America Needs Fatima (A América necessita de Fátima), meritória camp anh a da TFP norte-americana, que o Conse lho de Educação Esco lar Públ ica do condado de Orange, no Estado da Flórida, aprovou um livro para co lorir. .. satanista. Para as cri anças !!! O Conse lho deu permissão ao chamado Satanic Temp le (Templo satânico, organi zação satani sta que pro move rituais diabólicos) para di stribui r literatura aos alunos do Condado. E isso inclui um "Livro para colorir", infa ntil , de teor satanista. Na primeira página do referido livro há imagens de um professor e crianças
Color Annabel's s tudy f illed with Satan lc Utera ture and philos ophy.
sorriso nos lábios, lendo um li vro que tem um pentagrama mágico na capa. Na parede, um quadro sobre a lare ira representa uma fa mília, na qual a mãe satanista tem dois chi fres sali entes na cabeça. E, igualm ente com chi fres, careca e sentado em urna cadeira, o pai satanista vestindo uma camiseta tipo Anton LaVey [fundador da igreja de Satã] com a fig ura de um bode. Annabel está
segurando o que parece ser um cá li ce ou copo de vinho. A legenda diz: "Colore o estudo de Annabel, que contém literatura e filosofia satânicas ". A oitava página do livro apresenta um "código secreto" para as cri anças decodificarem, com a legenda: "Annabel enviou a Damian um bilhete durante a aula, mas é SEGREDO! Ajuda Damian a desvendar o código secreto para descobrir o que Annab?l quer lhe dizer ". A resposta é chocante: "Ouve a minha oração, Satanás, bendito sejas". Na quinta página encontrase o segu inte tex to: "Whopper [o Mentiroso, o Pai da Mentira] é grande e por vezes assustador, porque ele tem dificuldade em dizer o que está em sua mente. Ajude Damian e Annabel a ter paciência e a mente aberta para decifi-ar o que ele quer dizer ". Trabalh ar pa ra a sata nização das mentes in fa ntis é certamente um dos maiores pecados que se possam cometer. E, no entanto, ela é promovida abertamente, com todas as autori zações necessárias . Como fo i possíve l descer até esse extremo, que faz Nossa Senhora chorar? Foi através do perrni ssivismo mora l, religioso e do utrinário. Urna vez que se adote o pri ncíp io de que tudo é perm itido, de que é pro ibido proibir, o demôni o se apresenta e diz: "Por que não também eu?" Outro fo i o ensinamento de Nosso Se nh or, qu and o afi rmo u in d ignado: "Todo o que.fizer cair no pecado a um destes p equeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma p edra de moinho lhe foss e posta ao pescoço e o lançassem ao mar!" (Me 9,42). •
NOVEMBRO 2014 -
na edição sobre os 100 anos daquela te rrí ve l guerra, deu-me um a compreensão do conjunto dos principais danos que modifi caram a mentalidade tradicional das pessoas, substituindo-a, em grande medida, pela menta lidade igualitária. Em nome el e um a fa lsa concepção de democracia, destruiu-se uma visão hierárquica do mundo como Deus deseja para a sociedade em gera l. (L.P.R. -
MG)
Revolução 110s coswmes
Razão e Fé 18 No estudo de História, quanto mais aspectos variados sobre um acontecimento fo rem contemplados e anal isados, mais rica e esclarecedora se torna a análi se. O Prof. Plinio faz ia análi ses dessa forma como ninguém. A razão e a fé não se separa m em momento algum de suas considerações, e quão bem embasados era m seus comentários, em decorrência dessa uni ão entre perspectivas que se completam mui to mais do que se exc luem . Mesmo sendo necessário uma certa sim plificação dos grandes momentos da Hi stó ri a, para efeito da ap licação do con hec imento dessa disciplina para as crianças e jovens nas esco las, a qualidade cio ensino melhoraria bastante se fatos importantes como a Primeira Grande Guerra, não fosse m reduzidos a exp licações de ordem puramente econômica e soc ial. O Prof. Plínio sabia o exato lugar de cada um desses fato res, sem menosprezar outro , tão negligenciados atualmente. (G.C.C. -
RJ)
Malelícios es11i1·ituais Tinha uma certa ideia, mas muito vaga, dos estragos psico lógicos c·ausados à humanidade pela Primeira Guerra Mundi al. Refiro-me aos estragos espirituais, mais do qu e aos tremendos estragos materiais devido aos combates, bombardeios, mortes, queda de governos etc. Ma os comentári o de Plinio Corrêa de Oliveira, publicados
-CATOLICISMO
A críti ca do conflito mundi al de 19 14-1 9 l 8 neste ano do centenário fo i de muita valia para mim, que sempre goste i de estudar as conseq uências da Primeira e da Segunda Guerra Mundial. Neste ano do centenário, além de ter repassado uma ótima coleção que tenho sobre as duas guerras, li várias publicações a respeito. Gera lmente interessantes, mas nada comparáve is à profunda crítica elaborada pelo Dr. Plinio Corrêa de Oli ve ira, que é fora de séri e. Ele não ficou na superficie das consequências da hecatombe, mas desvendou o pl ano das fo rças secretas. O que estas de fato conseguiram e o que elas esperavam a mais para mod ifi car os costumes dos povos, como, por exemp lo, a comuni stização dos hábi tos da vida soc ial. (T.B.F. -
RJ)
Plano <livi110
Ass im, insp irou Mons. José Luiz Villac a nos escla recer inteiramente sob re o assunto das tatuagens, seus males e as conseq uência delas resultantes. Expôs, numa sáb ia, bem fundamentada e apostó lica exp lanação, o que importa saber sobre e e lema . Que Deus o abençoe, por participar d bem que esta rev ista proporciona a lodo nós. (N.B.L. -
SC)
Devoção cucaríst,ica 18 Até que enfim encontre i alguém que tem os mesmos pensamentos que eu sobre a Sagrada Euca ri stia. Muito esc larecedora a entrev ista com Dom Athanasius Schneider. Há vários anos atrás fui conv idado por um bispo, ami go meu, a ser ministro da Eucaristia. Delicadamente recuse i por considerar-me indigno de tão grande responsab ilidade. E o que vemos hoj e? Pessoas sem o mínimo preparo distribuindo a Sagrada Euca ri stia como se distribui balas para crianças, e pessoas tomando a Eucari stia como se pegasse um objeto qualquer. Para comprovar o que digo, basta ass istir a uma mi ssa pela TV Aparecida e ver como é distribuído o Corpo de Cri sto. Inclusive, na minha paróquia, o padre proibiu tomar a Eucaristia na língua ou ajoelhado. Qual será o triste fim a que esse chamado progressismo da Igreja Cató lica nos levará? (S.B. -SP)
A resposta do Monsenhor José Luiz sobre a (im)possibilidade de vida inteligente noutros planetas fo i muito fe liz e mesmo excepciona l!! A resposta me deixou fasc inado pelo assunto e deu-me o gosto de acompanhar as descobertas no Cosmos e estudar as leis e as maravilhas que o Criado r estabe leceu no Universo. Nunca fui neste papo de vida inteli gente fora da Terra, mas a resposta deu-me a certeza. Deus criou o homem e co locou a vida humana como um centro do plano divino para o Univer o. (R.J.M.M. -
PE)
'/'atuage11s [gj Jes us nos confirma, através de seus fiéis servos, o que devemos saber a respeito de nossa etern a sa lvação .
Rei, Sa11w e Cl'llZél(IO Mui to bem fundamentada a matéria sobre o rei Santo, São Luís IX, do qual ta mbém sou devoto e estudioso de sua vida e obra. Viva o rei anlo ! Viva o Sa nto cruzado, que deu sua vida em holoca usto combalendo a heres ia que éo lslã!!! (R.M.S. - RJ)
Por (Jue 11ão existe paz Partidários da Teologia da li be rtação, assumindo postos chav es na Igreja, apoia m e incentivam agitadores profissionais ou in stitu cionais, travestidos de "movimentos sociais" . A CNBB, ofic ialmente, apoia o d crclo presidencial 8.243. Se na Igreja ató-
lica, que deveria ser um polo irradiador de paz e estab ilidade, ex iste o conflito, uma corrente filosófica que defende a violência como agente de transformações sociais, como podemos pedir ou ex igir que o mund o seja diferente? (A.L.C. -
VERDADES ESQUECIDAS
RS)
A Igreja não pode renunciar ao dever de julgar
/J1JJ11ê11cias boas e más 18 Rea lmente a internet nos influencia, mai s até do que os ambientes que frequentamos. Ela nos envolve de maneira muito mais am pla. Se não se puser limites, corre-se o ri sco de ela acabar por escravizar os usuários. Gostei do tema, que foi ex posto de modo muito didático. Vou me esforçar para educar meus filhos conforme as considerações que assimilei da leitura. Fico com medo dos dados sobre nossos filhos que ficam armazenados na rede e que uso será fe ito deles. Espero outras abordagens sobre as influências ela técnica no ser humano e sobre os cuidados que elevemos tomar para não nos afastarmos das influências de Deus em nossas vidas. (P.N.C. -
·
"Desejar que a Igreja de Jesus Cristo renuncie ao direito e ao dever de julgar em última instância da moralidade dos atos de um agente moral qualquer, particular ou coletivo, pai, mãe, magistrado, legislador, inclusive rei ou imperador, é querer que Ela se negue a si mesma, que abdique de sua essência, que rasgue sua ata de nascimento e os títulos de sua história, enfim, que ultraje e mutile Aquele que tem seu lugar na Terra" (Alfredo Sáenz, El Cardenal Pie, 2ª edição, Gladius, Buenos Aires, 2007, p. 205).
DF)
Agl'iculturn sabotacla 18 O sociali smo, como doutrina alternativa que se propõe subst ituir o que eles chamam de cap italismo, não consegue competir e mostrar coisa melhor na área da produção de ali mentos. Então procuram sabota r a agricultura no Brasil, minar sua fonte de sucesso para leva r algum tipo de vantagem! É o que os soc iali stas estão fazendo com o "Bras il que deu certo". Sabotam a agricultura, dificultam os meios para se obter melhores resultados, visando, perante o fracasso produzido por eles, culpar o capita li smo! (A.L.C. -
FRASES SELECIONADAS "Vede que Deus vos o[lia Vede que Efe está vos o[liarufo Vede que deveis morrer Vede que não sabeis quando ..." (Mcwlve MC!r~CIV\,CI c!ejesus Torves) 11
Nós, ossos que aqui estamos, pefus vossos esperamos"
PR)
AguaJ'<lamos
(Léi-p~c!e 11
18 Lendo o arti go sobre a Santa Mãe de Deus, deu-me vontade de saber mais ainda sobre Ela. Já encontrei um Iivro sobre São Luís Maria de Montfort que não conhecia. Depois que termin ar a leitura vo u lhes escrever, partilhando com vocês as minhas ava li ações. (I.C. -
V\,C{
"Cci-peLci elos ossos", eV\,\, évovci, PovtugciL)
O que me impulsiona a ir para o Céu é o pensamento
de poder acender o amor de Deus em uma muCtidao de aCmas que O fuuvarão eternamente" (SCIV\,tCI TevesLV\,VICI)
SC)
NOVEMBRO 2014 -
rJ Monseobor JOSÉ LUIZ YILLAC
Pergunta - Sou evangélica, tenho 18 anos e nasci no berço evangélico. Meu namorado tem 18 anos, é católico praticante e não muda de religião. Eu também não quero, pois isso não interfere no nosso namoro. Porém pensamos em casar futuramente. Ele vai à igreja católica aos domingos, é líder do terço dos homens, e não quer ficar sem comungar. Queria muito saber o que podemos fazer para casar, porque eu não quero casar na igreja católica. Se ele se casar na minha [religião], ele ·pode comungar depois normalmente? Ou, então, se ele se casar na minha e depois a gente for na [igreja! católica, e o padre der a bênção para a gente, com uma testemunha se for preciso? Não queremos viver errado, pois se casarmos, vamos ser um só, e queremos viver corretamente. Aguardo resposta. Obrigada. A paz do Senhor!
Resposta - A rnissivista, embora protestante, consulta um sacerdote católico, porque seu futuro marido é católico, e ambos querem "viver corretamente", cada um conservando sua religião. Casos desses acontecem mundo afora, e até já estão previstos, de há muito, nas leis da Igreja católica. Trata-se, pois, de fornecer, a ela e a ele, os dispositivos do Código de Direito Canônico que regulam o chamado casamento com disparidade de cultos. O Ordinário do local (isto é, em geral o Bispo), pode conceder a dispensa necessária para a realização deste tipo de casamento. É o que está expressamente disposto no cânon l 086, o qual, depois de afirmar, no parágrafo 1, que "é inválido o matrimônio entre duas p essoas, uma das quais tenha sido batizada na igreja católica[. .. ], e outra não batizada ", no parágrafo 2 estabelece que "não se dispense desse impedimento, a não ser que sejam cumpridas as condições mencionadas nos cânones 1125 e 1126". O bispo, portanto, pode conceder essa dispensa, respeitadas as condições estabelecidas nos referidos cânones.
A prole deve ser batizada e educada na Igreja católica Vejamos, pois, o que dizem os cânones 1125 e 1126: "Cân. 1125 - O Ordinário local pode conceder essa licença, se houver causa justa e razoável; não a conceda, porém, se não se verificarem as condições seguintes: I ". a parte católica declare estar preparada para afastar os perigos de tlefecção nafé, e prometas inceramente fazer todo o possível afim de que toda a prole seja batizada e educada na Igreja católica; 2ª a parte não católica seja oportunamente informada
-CATOLICISMO
destes compromissos da parte católica, de modo que conste estar ela verdadeiramente consciente do compromisso e da obrigação da parte católica; 3''. sejam ambas as partes instruídas a respeito dos fins e propriedades essenciais do matrimônio, que nenhum dos contraentes pode excluir". O cânon 1126 diz que compete à Conferência episcopal de cada país estabelecer o modo segundo o qual devem ser feitos essas declarações e esses compromissos. No Brasil, ficou estabelecido que o pároco perante o qual se realizará o matrimônio tomará essas declarações preferivelmente por escrito, isto é, com a assinatura do cônjuge católico.
Matrimô11io celebrado perante o pároco e duas testemunhas Quanto à forma de celebração do matrimônio, o cânon 1108 estabelece que "somente são válidos os matrimônios contraídos perante o Ordinário local ou o pároco", se bem que estes podem delegar essa função a outro sacerdote ou diácono (cfr. cânon ll 11 ). Ademais, a celebração requer a presença de duas testemunhas. O pároco ou o sacerdote delegado é considerado "assistente do matrimônio ", e é quem "solicita a manifestação do consentimento dos contraentes e a recebe em nome da Igreja" (cânon 1108, § 2). Portanto, trata-se de algo mais elevado e importante do que uma simples bênção sacerdotal: o sacerdote que assiste
o matrimônio deve solicitar a manifestação dos cônjuges de que se aceitam um ao outro, como esposo e esposa, respectivamente, e receber essa manifestação em nome da Igreja. Embora o casamento entre pessoas batizadas deva, em princípio, ser celebrado na paróquia onde reside um dos nubentes, o cânon 1118, § 3 admite que "o matrimônio entre uma parte católica e outra não batizada poderá ser celebrado na igreja ou em outro Lugar conveniente". Corno se vê, a Igreja é muito firme quanto à salvaguarda da fé da parte católica, bem corno no exigir o Batismo e a educação da prole na Igreja católica, segundo foi dito acima (cânon 1125). Mas, de outro lado, compreende as susceptibilidades da parte não católica em celebrar o casamento num templo católico. Assim permite que, obtida a licença do bispo, a cerimônia do casamento se realize em outro lugar conveniente. Isto é, um lugar digno, onde os parentes da parte não católica, como ela mesma, não se sintam constrangidos ; e também os parentes da parte católica, bem corno o cônjuge católico, possam ir, sem abdicar de seus princípios de Fé e Moral.
Convém ter presente, ademais, o que dispõe o cânon 1127, § 3: "Antes ou depois da celebração religiosa de acordo com o § 1, proíbe-se outra celebração relig iosa desse matrimônio para prestar ou renovar o consentimento matrimonial; igualmente não se faça uma celebração religiosa em que o assistente católico e o ministro não-católico, executando cada qual o próprio rito, solicitam o consentimento das partes ". Embora este cânon seja específico para casamentos mistos (isto é, em que um dos cônjuges é de rito oriental não católico), aplica-se também ao casamento com disparidade de cultos, que estamos analisando. Com efeito, o cânon 1129 diz expressamente: "As prescrições dos cânones 1127 e 1128 de vem aplicar-se também aos matrimônios em que haja o impedim ento de disparidade de culto mencionado no cânon 1086, § I ".
Como resolver as dil1culdades que smjam É compreensível que o emaranhado de leis (cânones) acima citados possa ter deixado mais confusa do que esclarecida a missivista que nos consulta. Realmente, é preciso ser um especia1ista nessas leis para compreender todo o seu alcance. Quisemos, entretanto, expô-las detalhadamente para que ela veja que a Igreja procura, em toda a medida do possível, permitir a realização do seu casamento, respeitando a sua posição religiosa, sem transigir nos pontos essenciais da doutrina católica. Mas a Igreja, com sua experiência de dois mil anos, tem bem presente que dificuldades graves ainda podem surgir, além dos pontos mencionados. Por isso, o mais aconselhável seria que a missivista debatesse com seu futuro marido as leis que acima foram expostas, e depois procurassem o seu pároco para que ele os oriente sobre a melhor forma de pedir ao bispo as dispensas necessárias. Deus nunca abandona quem O procura com um espírito reto. Por isso não abandonará um casal que declara: "Não queremos viver errado, pois se casarmos, vamos ser um só, e queremos viver corretamente". E já que a jovem missivista recorreu a este sacerdote, permita que ele termine com uma invocação semelhante à que usa para os seus fieis : - Que a graça de Deus onipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça para sempre. Amém. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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A REALIDADE CONCISAMENTE Base espac,ial chinesa na Patagônia para finalidade militar
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i nsta lação de uma estação espac ial chinesa na Patagônia ca usa vivas apreensões na Argentina. E la começou a ser construída às pressas, após acordo entre os pres identes C ri stina K irchner e X i Jiping, sem o ava l do Congresso. Loca li zada na desértica loca lidade de Baj ada de i Agri o, perto da fro nteira <;om o Chil e, a base não será contro lada pela A rgentina, será isenta de impostos e regida pe la lei chinesa . A despe ito de Pequim di zer que "a p erda da soberania argentina é uma .fala absurda ", as Forças Armadas argentinas julgam que a ba se servirá no fu tu ro próxim o para ta refas mili ta res. O nac iona li smo argentino, sempre ~orrateiramente ami go e cooperador do soc ialo-comuni smo, tripudi aria contra um eventual acordo espac ial com os EUA, seu obsess ivo inimi go. Mas em se tratando da C hina, herdeira de Mao Tsé-Tung, esse naciona li smo não é reivindicado, favo rece o comuni smo por debaixo do.pano e finge não dar importâ nc ia. •
Jovem inglês quebra mito antivirginidade e recebe aplausos s estudantes do prestig ioso Wellington College ca íram das nu vens quando seu co lega Phin Lyman escreveu uma apologia da virgindade, reproduzida em grandes j ornais da Grã- Bretanha. Ele ex pli cou com clareza que seus ami gos optam pe las relações pré-conjuga is press ionados fo rtemente pe lo ambiente e pe la mídi a. Phin atribui sua coragem às suas " ideias cri stãs". Por causa do arti go ele "recebeu cartas e e-mails de toda parte ", a maiori a de apo io. "As pessoas me dizem 'obrigado por ser honesto' ". Segundo Phin , làz-se um vaz io em torno dos j ovens como ele, porque ninguém to ma a ini ciati va de denunc iar o " mi to" de que os j ovens são se mpre impuros. E le lhes di z: ''A todos aqueles que ainda não tiveram relações pré-conjugais e se sentem pressionados porque 'todos os demais j á tiveram', eu respondo que não é verdade. Muitas vezes o pessoal mente sobre o que.fez num .fim de semana. O mais provável é que não exista a 'incrível ' vida sexual que seus amigos dizem ler ". •
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Espanha: não há outeiro ele onde não se aviste um santuário
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Teólogo da 11 autodemolição da lgreia'' defende o suicídio
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pós ter consagrado sua vida a elaborar uma teo logia "prog ress ista" qu e justifi ca a "autode mo li ção" da Igrej a e a sini stra entrada da "fum aça de Satanás" no templo sagrado, segundo afirm ou Paul o VI, o teólogo suíço Hans Kung encontra-se à beira da morte, prestes a comparecer ao tribuna l de Deus. Diante dessa perspectiva, ele preparou um li vro em que reafirma seu apo io a um fa lso "dire ito de esco lher a morte" e ao iníquo "suicídio ass istido", condenado pe lo Mandamento Di vino "N ão matarás". Kung sempre contribuiu para desenvo lver as tendências que hoj e coonesta m todas as fo rmas de imoralidade, inc lusive o sui cídi o. E também para uma espéc ie de suic ídio co letivo da lgrej a Católica - que, aliás, Deus não permitirá que se consume. •
Expedição comprava que 11 ilha de lixo" era ficção qmbientalista
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Bola de fogo, meteorito gigante e asteroide: sinais do Céu? Irlanda: 900 médicos iá assinaram declaração contra o aborto elo menos 900 profissiona is da medi cina já ass inaram a "Declaração de Dublin sobre a Saúde M atern a". O documento fo i dado a público no S impós io Intern ac iona l de Sa úde Materna de D ublin , Irlanda, e seus pro motores esperam reunir duas mil ass inatu ras por vo lta de 20 15. E le defende: "Enquanto práticos expúimentados epesquisado1'es nas áreas de obstetrícia e ginecologia, afirmamos que o aborto provocado - a destruição intencional de uma cric111ça não nascida - não é medicamente necessário para salvar a vida de uma mulher ". A Irlanda e o C hile estão entre os países do Hemi sféri o Oc idental cuj as mães grávidas e seus filhos não nasc idos sentem-se mais seguros, com níve is de morta lidade perinatal ainda mais ba ixos do que nos EUA. •
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CATOLICISMO
ma bo la de fogo mais brilhante que uma lua che ia sobrevoou em setembro úl ti mo diversas regiões da Espanha, de ixando um a cauda de cor rosa e bra nca no céu. O insó lito fa to se deu no mesmo d ia em que um astero id e passo u próx im o à Terra sem causar danos. N essa mesma ocas ião, um meteori to de tamanho inusual ca iu perto do aeroporto internac iona l de M anágua, capital da Nicarág ua, abrindo grande cratera. Manág ua te m 1,2 milhões de habitantes. Para se medir a vio lênc ia do impacto, e le fo i registrado pe los sismógrafos. Embora sej am fe nômenos de aparênc ia natural, chama a atenção o fato de ocorreram simultaneamente, num momento em que o mu ndo ass iste a espantosas catástrofes desencadeadas pelo ódi o anticri stão no Ori ente Médi o, na Áfri ca e na Ucrâni a. Haverá em tudo isso um ameaçador sina l do Céu? •
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~ BC e o j orn al bri tâ ni co "The lndepende nt'_' ve icul aram a ex istenc1a de uma "Gra nde Ilha de Lixo do Pac ifi co". O espanta lho fo i glosado pelo ambienta l ismo apoca líptico. Mas ninguém nunca o mensuro u ou anali sou. O Consejo Superior de Jn vestigaciones Ciendjicas (CSIC) da Espanha - a terce ira maior in stituição pú blica da Europa dedi cada à in vesti gação científi ca - ocupou-se desse estudo, que ex ig iu a circunavegação do pl aneta. O oceanógrafo Carlos Duarte, principa l res ponsáve l, aprese nto u os res ul tados da expedi ção: "Essa fàmosa ilha de plásticos não existe". E acrescento u que "o oceano global está melhor do que se pensava; a acidificação da água é menos severa, e as reservas de p eixes são entre 10 e 30 vezes superiores aos cálculos prévios". O d iagnóstico pos iti vo ca iu como um ba lde de água fri a nos "sa lvadores verdes" dos oceanos. Suas habilid ades não estã.o do lado da investigação científi ca séri a, mas estão presentes na agitação dos congressos mu ndi a is ambi enta li stas e nos escri tó ri os burocráti cos de ON Gs, partidos de esqu erda ou da ON U. •
Sem crianças, metade das cidades iaponesas pode se extinguir ma subcomi ssão do governo j apo nês conc luiu que quase metade dos muni cíp ios do pa ís te rá dific uldades para continuar ex istindo até 2040. Isso poderá leva r a que 896 muni c ípi os, ou 49,8% do tota l, possa m desaparece r, vira ndo cidades-fa ntas ma. 523 localidades cerca de 30% do tota l - , cujas popul ações estão abaixo de 10 mil moradores, te ndem a "qu ebrar" por fa lta de cri anças - co nsequ ênc ia da limitação da natalidade. O que nem a bomba atômica conseguiu, a "cul tu ra ela morte" está obte ndo: ex tinguir a popul ação do Ja pão . •
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ontar os santuários da Espanha é tarefa tão difícil , que somente agora apareceu um livro apresentando uma cifra . Salvador Batalla Gardella , exdiretor do departamento de Pastoral de Turismo, Santuários e Peregrinações da Conferência Episcopal espanhola, contabilizou "mais de 12.300 santuários e ermidas" no país. Ele explica que "não há montanha, morro ou colina de onde não se possa ver no horizonte um santuário, uma ermida ou uma capela dedicada a Jesus Cristo, à Mãe de Deus, ou a algum santo ou santa". Aqueles dedicados a Nosso Senhor são pelo menos 1.200 (10% do total); à Virgem Maria ou a alguma invocação mariana, 4.300 (35%); aos santos e santas, 6.800 (55%). A ereção e manutenção dos santuários é quase sempre feita por confrarias e associações de leigos. Mas é a graça divina que atrai romeiros a muitos desses locais. Em nossos dias, consola constatar este aspecto na católica Espanha , onde o "progressismo" católico se opõe às devoções tradicionais.
Católica perante os carrascos: "Sou feliz morrendo mártir" o Iraque , os seguidores do Alcorão prenderam Khiria AI-Kas Isaac, 54, puseram-lhe uma faca no pescoço e exigiram que ela apostatasse da religião católica , tornando-se muçulmana. Mas Khiria lhes respondeu: "Nasci católica e vou ficar assim até a morte. Prefiro morrer católica. Sou feliz pelo fato de ser mártir. Jesus disse: 'Aquele que me nega diante dos homens, eu não o reconhecerei diante de meu Pai que está no Céu". Os muçulmanos ficaram assustados. E, em vez de decapitá-la , roubaram todos seus bens , antes de expulsá-la de sua casa em Qaraqosh. A resistência heroica de Khiria levou outras 46 mulheres a fazerem o mesmo . A graça de Deus é mais forte do que qualquer artifício e crueldade dos islamitas.
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REVOLUCÃO CULTURAL
;, ,como zombar da fé com uma arte inexistente ~
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N a 31 ª Bienal de São Paulo, um conjunto de obras blasfemas e anticatólicas revela a perseguição religiosa e o acinte público a Deus
Errar de Deus
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DANIEL
F. S. M ARTINS
conjunto de obras expostas na 31" Bienal de Arte de São 8 ~ Paulo (6 de setembro a 7 de 1l dezembro) constitui um amontoado ~ ~ anticristão de caráter ocultista, saõõ -o > crílego e persecutório, sem conter ~ nada de arte autêntica. Seu le111a é b :;;: "Como(..) coisas que não existem". .,; ~ As reticências são propositais, para
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Representantes do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira estiveram no local durante esse evento, e foram hostilizados pelos agentes pró-aborto (assista ao vídeo em www.ipco.org. br ). Ele mostra como moças bem jovens são convidadas a entrar nos tais "úteros" e ouvir a propaganda abortista. Diga-se de passagem que no Brasil o aborto provocado é crime.
CATOLIC ISMO
que cada um pe nse e inclua seu próprio verbo. Calharia melhor, no entanto, o lema que tomamos como título desta notícia: Como zombar da fé com uma arte inexistente. O efeito normal dessa exposição é destruir nas almas sua ordenação interna, posta por Deus, os parâmetros e princípios da civilização cristã, a noção de bem e de mal, e sobretudo o respeito devido a Nosso Senhor e à Santíssima Virgem.
"Espaço para abortar" Logo na entrada do prédio da Bienal, o visitante se depara com a "obra" Espaço para abortar, constituída de cabines denominadas "úteros gigantes"(foto 1). As mulheres visitantes são convidadas a entrar e ouvir depoimentos sobre o aborto gravados por outras mulheres durante uma "procissão-performance", no primeiro dia da Bienal.
No andar de cima da Bienal, a blasfêmia começa a aparecer. Na exposição Linha do tempo, um travesti vestido como Nossa Senhora das Dores (foto 2). Um pouco adiante, a exposição Errar de Deus contém um nauseante arsenal de sacrilégios: uma imagem da Virgem Maria envolta por uma serpente prestes a picá-la (foto 3); uma imagem do Imaculado Coração de Maria pronta para ser triturada por um ralador (foto 4); a Santa Ceia dentro de uma
frigideira (foto 5); um Crucifixo em que o crucificado é devorado por corvos (foto 6); uma imagem em que a Virgem e o Menino Jesus são devorados por escorpiões e baratas! (foto 7). Ao final da visita, as pessoas - a maioria delas estudantes levados por suas escolas - são convidadas pelo guia a assinar uma petição ao Papa Francisco, pedindo a "abolição total do inferno", com uma linguagem em que o sacrilégio e o sarcasmo anticristão se misturam (foto 8).
6-9-14), levando a bl asfê mia ao ápice. "O Estado de S. Paulo" (31-814) menciona outra peça na mesma sala, contendo "corpos andróginos e relações homoeróticas em frente a imagens religiosas como a Virgem de Guadalupe". Por respeito aos leitores de Catolicismo , limito-me
Perseguição religiosa de caráter llomossexual Perto daqueles horrores encontra-se outra exposição, supostamente proibida para menores de 18 anos, "com obras que subvertem ícones católicos, como uma Virgem barbada " ("Folha de S. Paulo",
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a citar textos publica,dos em jornais, embora tenha v_isto pessoalmente essa imundície. De acordo com o site oficial da Bienal (ver http://app.31 bienal. org.br/pt/s ingle/1110), a obra Casa particular "encena a última ceia de Jesus com seus discípulos em um dos prostíbulos da rua San Camilo, em Santiago [do Chile]. Nessa ação, uma das prostitutas, sentada no centro da mesa, assume o duplo papel de Cri.s:to e de Pinochet, dizendo [. . .], depois de oferecer pão e vinho: este é meu corpo, este é meu sangue". Outra obra, na mesma sala, apresenta cenas de uma procissão, em que uma imagem de Nossa Senhora é levada e m andor por travestis, seguidos de várias duplas homossexuai s. Diversos qu adros literalmente pornográficos, postos diante de uma imagem da Santíssima Virgem em tamanho natural , mostram quanto se quis atingir a figura de Nossa Senhora. Uma exposição no mesmo local convida os alunos a levarem para casa cartões comemorativos da quebra de imagens católicas (foto 9), destruição
de igrejas e conventos pelos comunistas, durante a guerra civil espanhola (1936-1939).
Uma revolução na alma lmmai1a E ssa Bienal acena para uma revolução contra Deus, procurando subverter a ordem intern a do ser humano , acostumá-lo ao caos e à revolta. Explica o site oficial da Bienal: "As diversas crises políticas, sociais, relig iosas, econômicas e ecológicas que vivenciamos [. ..] e a sensação de que carecemos dos meiàs ou opções para realizar uma mudança verdadeira parecem ter chegado a um estado de virada". Para um católico que te nha honra e brio, é notório, isto s im, que o mundo precisa de uma mudança verdadeira e que chegamos a um estado de virada: a fa mília sendo destruída, a fé esmaecen do, os costumes se degradando. Essa virada verdadeira está divin ame nte bem expressa na Mensagem de Fátima. Mas não é essa mudança verdade ira, essa virada, qu e ente ndem e querem os organizadores da Bienal:
"A virada - a nossa virada - não é moderna, orientada para o futuro, progressista. É, ao contrário, desordenada, às vezes enganosa, definitivamente inconstante. Ela parece estar tentando sair dos parâmetros estabelecidos a .fim de dar espaço à complexidade e à flexibilidade, sem receio de conflitos e enfrentamentos. Esse estado de virada é nossa condição contemporânea e, por conseguinte, a condição desta 31ª Bienal", declara o site oficial da exposição. Pe lo que se pode constatar em diversas obras da Bienal , essa saída dos "parâmetros estabelecidos" não é outra coisa senão sair dos parâmetros da civilização cristã, do que ainda resta de la no mundo atual, rumo a um mundo relativista, sem moral , sem lei , contra Deus. Para seus organizadores, deve haver na sociedade uma tran sformação que "pode então ser entendida como uma forma de efetivar mudanças, apontando para novas direções de virada - valendo-se de transgressão, transmutação, transcendência, transgênero e de outras ideias transitórias que
agem contra a imposição de uma única e absoluta verdade". E m outros termos , apresentar ao público uma série de ideias, impressões e símbolos para subverter a única e absoluta verdade, que só pode ser encontrada na doutrina e nas leis de que m afirmou: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6).
Coletivismo tribal
É di gno de nota este outro trecho, que aponta para o velho sonho revolucionário de um mundo sem hierarquia, coletivista e tribal: "A 31" Bienal quer analisar diversas maneiras de gerar conflito, por isso muitos dos projetos têm em suas bases relações e confrontos não resolvidos: entre grupos diferentes, entre versões contraditórias da mesma história ou entre ideais incompatíveis. As dinâmicas geradas
gem ', p ensamento que não pensa e se volta apenas para o concreto. Tal é o preço da.fi,são coletivista tribal " (Revolução e Contra-Revolução, III, Cap III, ponto 2). Uma babel ele Ó<lio a Deus Uma torre de Babel estilizada , carregada por várias pe rnas humanas - esse foi o símbolo esco lhido para a 31 ª Bienal, desenhado pelo artista indiano Prabhakar Pachpute. A torre de Babel sempre foi vista como um símbolo da revolta contra Deus. Sua escolha não deixa de ser sintomática.
COMO FALARDE CQISASQUE
3IABIENALDE AOPAULO
"N.>\@EXISTEM ~
por esses conflitos apontam para a necessidade de pensar e agir coletivamente". Apontando para a tarefa imperiosa de restaurar a civilização cristã, o Prof Plínio Corrêa de Oliveira denunciou ideias equivalentes a essas da Bienal como sendo a meta da Revolução em nossos dias: "Segundo tal coletivismo, os vários 'eus 'ou as pessoas individuais - com sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade, e consequentemente seus modos de ser característicos e co,iflitantes - se.fimdem e se dissolvem na personalidade coletiva da tribo geradora de um pensm~ de um querei; de um estilo de ser densamente comuns. "Bem en tendido, o caminho
rumo a este estado de coisas tribal tem de passar pela extinção dos velhos padrões de reflexão, volição e sensibilidade individuais, gradualmente substituídos por modos
CATOLICISMO
,le pensamento, deliberação e sensibilidade cada vez mais coletivos. É neste campo, portanto, que principalmente a transformação se deve dar. "D e que forma? Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um comum p ensar e senti,; do qual decorrem hábitos comuns e um comum quere1ê Nelas, a razão individual fica circunscrita a quase nada, isto é, aos primeiros e mais elementares movimentos que seu estado atro.fi.ado lhes consente. 'Pensamento selva-
Agenda de Setembro
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Terça- fe ira às 13h Aber~u~a O!icial para convidados (part1c1paçao Jera Guarani)
Domingo às 16h Aberiura Oficial para o público TREME TERRA Esculturas Sonoras Com a p..uticipaç3o d e • 25 guar,,nls
IP.I Quarta- feira. às 1911 liiill Sarau da Kambinda
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Domingo às 1611 O Menor Sarau do Mundo+ Bicicloteca
Dom logo às 1611 Balé Capão Cidadão + Bicicloteca
~ Quarta- feira às 19h líiíJ Sarau A Plenos Pulmões
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Domingo às lÓb ~ Sarau O Que Dizem os Umbigos
1111111 Parque Pavilhão da Bienal do lbirapuera
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Logo na entrada, da exposição, um imenso mapa desenhado pelo artista Qiu ZhiJ ie especialmente para a 31 ª Bienal, funciona como um curioso prólogo para a caminhada pela exposição adiante. Representa ilhas, vulcões, rios, vales, serras e outros acidentes geográficos, cada um deles pertencente a uma rei igião, seita, instituição ou grupo ideológico; a família tradicional ao lado de "outras.formas de.família "; o Cristo Redentor colocado como um "líder carismático ", perto da região do ocultismo e da iniciação esotérica;
o "cabo da revolução ininterrupta", próximo ao templo da ciência, da clonagem e da cibernética. Enfim, uma mistura de tudo, como a dizer que no fim a verdade "única e absoluta " deve dar lugar a um amálgama em que o bem e o mal já não se distinguem. A profecia de Sofonias (profeta do Antigo Testamento) não di z outra coisa: "Naqu ele tempo,
inspecionarei Jerusalém com lanternas, castigarei os homens que, sentados em sua borra, dizem consigo mesmos: O Senhor não faz bem nem maf' (Sofonias 1, 12). "Os Jillws d'EJa se levantaram e a proclamaram Bem-avenwrada" Segundo a doutrina ensinada por Santo Agostinho , ao contrário dos indivíduos, os povos e as nações, vistos como um conjunto, não vão nem para o Céu nem para o Inferno. Portanto, precisam ser premiados ou castigados nesta terra, em função da glória que dêem a Deus, ou das ofensas que pratiquem contra Ele. Por exemplo, é próprio da justiça divina castigar não só os indivíduos que fazem com o demônio um pacto contra Deus, mas em seu conjunto a nação que o tenha feito . Como os países enquanto tais não irão para o
CATOLICISM O
Céu nem para o Inferno, tal castigo deve ser aplicado ainda nesta Terra. Assim, da mesma forma que a paz verdadeira e o reto progresso são exemplos do prêmio que Deus concede a um país que o glorifica, as guerras, as epidemias, a fome, a seca podem ser castigos devidos a pecados coletivos. O que faz com que um pecado seja coletivo? Primeiramente, o fato de ser perpetrado por homens públicos. Em segundo lugar, que tal pecado seja objeto da aprovação ou da indiferença geral. O grau de maldade que apontamos na 31 ª Bienal foi exposto com financiamento do governo federal, com a aceitação e o patrocínio de importantes empresas nacionais e em meio à indiferença geral. Diante disso, o Ins-
Corrêa de Oliveira está percorrendo a cidade de São Paulo, distribuindo um manifesto de alerta à população contra as blasfêmias anticatólicas da Bienal [fac-símile ao lado], vindo recebendo amplo apoio da população. Até o momento em que escrevo, o manifesto já deu origem ao envio de mais de 30 mil mensagens aos diretores das escolas de toda a cidade, e 20 mil ao Cardeal Arcebispo de São Paulo e ao clero paulistano. Aos primeiros, para que não levem
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11s.~u n!//1 umo ral.WI d;• l\~\"\'1Jl!l/11du 1/a socili,/ad(t e 1m11lxl111 11111a opnr11111Mmfu de t1brt1f(ir 1111m /orço 1111151/ra 11·,mçfm·ma<fom" (EI P,,is, 4/W14). Em
ou1ms pal:wr:is, querem 1ransfom1.,r noss:i mcn1ali(b dc e :i de nossos lilhM, e conch111r-t1os a um:i socied1de cm <111c o:ilx,uo,.-, im,117ll i.la.!cca i11jí1rin :'I l)cus ~e TOl'nem comuns ...
llr:1sikiiu~. pudemos lic:ir indifo• rentes dian 1c desse nrscna1 de blasfc• mi!ls, cm cxposiç.io tlc (, de setemb ro a 7 de dc1.cm brn de 2014'? Potkmos dcix:,r No~~ Senhor e srn, S:int ís~ima
Cw11l/u, cm.'}(111/fo~11f<l0Chilcl N~w,
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(lemos dcixm·(]llCus (."SC01us, a llretc.~10
dnp/,, papel
de "educnçílo unis1icu", lcH.:m nossos jovens e crianças 1mm assi~tir essa~ e outrnsofcnSRsíl fCcíl moral? Hlasrêmia u:lo é nr1c, n/io é " lilx.'f• d:u.lc de c-.~picss.'io"; blasfémi.i é um grnvc <k ~rcs1K"ito 110 2" f\•lflndarnento tln Lei de Deus! F:iç:1su:1 p:,nc :'Bom mesmo, elllh.:
tx111m d.1 11ws11, a,·,·1111111 o
dG· Cn,,t{) e du !'111odw1, 1/iu:nt/1.1 (. ). dl'/HIÍ1 de ofcnv:cr p/lo e 1•inho: '"-"'fC <1 111u11 , ·orpa, <'~'/IJ
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(fuc l11d11i 11111a No.1·sa S1.•ulmrt1 de lm• Çp~· ma.1·c11f111ov " (EI f':u s, 4/YJ l·I),
no )Üc 1pw.01)!.br e rnvit' :wn
tx1>0siç1lo "Linlm do Tempo". 1 O Uma d:is exposições dispo111b1li :ro c~nõcs 1,os1nis comcmorm 1w,s d:1 ,iocbr:i de igrejas, imagcn~ e convcncospclosc('llmmistns, durnntcn 111:rrn cl\'I I cspanhol:1( 1936-l'J).
que nilo promov:im 11excursão de seus alunos :\ J I" U1tnl'll de Am:s de Silo
u:,
lll'.lll llOSdirc1orcsdascscolns, l)Cdintlo
l'nulo!
1\l')mh: tnmhfo1 m, mros•wrm no ü mkal de S:lo l'nulo. pedindo que se vn lh:1 de su:1grnnde i11tlu~nc1:i - <1u~·
nlifts corrcs1>0ndc n su:i sagrrub mis• Pablo L.1fucn1c, um dos cunulorcs '' Bicn:11, ;ili,mou: "~1Jl!romus
,,uc
s.,o de Pnstor - para 1111pcd1r que esses s.1crilé~ios eomi1111cm a ~cr cometidos
cm su:i iunsd1ç:\o.
tituto Plinio Corrêa de Oliveira decidiu dar um brado de alerta a toda população da cidade de São Paulo, para que proteste veementemente contra as blasfêmias e os sacrilégios expostos nesta Bienal. O objetivo é conseguir que esse grave pecado encontre uma reparação em toda a medida do possível, e que a glória de Deus seja desagravada por filhos que buscam ser fiéis. Conforme lema inscrito no brasão dos padres do Imaculado Coração de Maria "Os.filhos d'Ela
se levantaram e a proclamaram Bem-aventurada". *
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A Ação Jovem do Instituto Plinio
seus alunos à Bienal. Aos últimos, para que se valham de sua influência e desaconselhem o comparecimento dos católicos ao evento. Além disso, os voluntários do Instituto realizaram um ato público de reparação junto ao Monumento das Bandeiras [fotos na p. 17], ao lado do parque onde se encontra a Bienal. Faça também su a parte: Entre no site www.ipco.org.br e env ie sua mensagem aos diretores das es-
colas de São Paulo, pedindo que eles não permitam a perversão moral de seus alunos. E nvie também sua mensagem ao Cardeal de São Paulo e ao clero paulistano, pedindo-lhes que atu e m com decisão e eficácia contra as blasfêmias expostas na Bienal. • E-mai l para o autor: cato lic ismo@terra.com .br
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Coleção Santa Gertrudes
R$ 12,BO
R$15,40
DISCERNINDO
R$ 27,40
A favela sob nova ótica P esquisa abrangente no 1u1ivcrso das l'ave]as lwasi1ciras apresenta o rcsulLaclo publicaclo no livro Un1 país charnado /'aveia que hern n1ercce um con1cnLário CIDALENCASTRO .
Frete R$10,00
Petrus Editora Ltda. Rua Visconde de Taunay, 363 - Bairro Bom Retiro CEP 01132-000 - São Paulo-SP Fone/Fax( l l ) 3333-671 6 E-mai l: petrus(c~ livrariapetrus.co m.br Visite nosso site na internet: www.livrariapetrus.com .br
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ão me pronunciarei sobre as várias aná li ses do fenômeno favela ex istentes no livro Um pais chamado favela (Editora Gente, São Paulo, 20 14), que publi ca a pesq ui sa diri gida por Renato Me irell es, presidente do Instituto Data Popul ar, e pe lo produtor cultural Ce lso Athayde. Tais aná li ses, por vezes de teor bas tante esq uerdi za nte, algumas até co m um certo ranço marxista pré-concebido, não são o que o livro tem de mai s autêntico. Ta mbém não tratarei da repercussão que teve na vida das fave las a in sta lação em diversas delas das UPPs (Unidades de Polícia Pacifi cadora). Sobre este ponto, pesqui sa de 20J3 mostrou que "75% dos moradores de.fàvelas eramfavoráveis à pacificação pela policia (55% totalmente a f avor e 20%
parcialmente afavor). "
Interessa- me aqui , como o melhor fruto que se pode tirar da leitu ra das 168 pág inas qu e constituem a obra, sa lientar algun s dos fatos que a pesqui sa, aliás muito bem fe ita, traz à ton a. Sem negar - e os autores não o negam - que nas fa velas medram o tráfico de drogas, o banditi smo e a inda outras maze las, entretanto o ambiente nelas ex istente não se limita a tal as pecto nega tivo, o único praticamente sa lientado pela mídi a. Há um a o utra face da favela , ocultada ao público das cidades como aquela face da lua que nunca ninguém vê, e qu e é o melhor que ex iste na fa ve la . Essa face oculta se compõe, grosso modo, de dois traços fundamentais : um resto de organicidade, muito vivaz, e um empux o para me lhorar, próprio dos organismos vivos que não se de ixam abater pelas condições adversas nem para li sar pe lo torpor.
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Restos vivos <le o~~anicidade Afastado, não ·nteiramente mas em boa medida, do olho do furacão dos grandes centros, o ambiente interno das favelas se desenvolve naturalmente, com traços ainda de uma sociedade orgânica, que a máquina trituradora do mundo moderno não conseguiu inteiramente pulverizar. Não exageremos nada. Não se trata do ambiente sossegado e aprazível de uma aldeia medieval , nem de longe. Mas o que surpreende é que em pleno século XXI, com suas agitações e lufa-lufas sufocantes, sua agitação frenética , restos sadios de organicidade possam ainda medrar. " O povo da.favela[. ..} quer ser.feliz, com os parentes e amigos, no lugar onde tem suas raízes". Eles são 11 ,7 milhões de habitantes, o que equivale a 6% da população brasileira. Uma análise geral dos resultados da pesquisa exibe uma favela muito menos pobre do que se imaginava, sendo que 94% dos favelados se consideram felizes, "amam o cônjuge,
adoram os.filhos e.folgam com a boa saúde ". 81 % dos moradores gostam da comunidade em que estão fixados e 66% não estão dispostos a abandoná-la. A principal razão é o estabelecimento de fortes laços sociais entre os moradores. Ali, o cidadão tem quase sempre com quem contar. Há alguém que pode lhe emprestar algum dinheiro ou o cartão de crédito na hora do aperto. Há outro que pode tomar conta de seus filhos enquanto ele trabalha. E há sempre aquele que pode ouvir suas confissões no boteco ou no salão de beleza. Há um senso aguçado de união, que se manifesta, por exemplo, "quando uma mulher cuida do filho p equeno da
vizinha que trabalha.fora, quando o jovem decide participar de um mutirão para livrar do lixo um barranco". Tudo isso é feito com base numa "cultura do comprometimento e não p ela imposição da lei ". A favela, mais do que outros núcleos de moradia, é "um lugar vivo, orgânico,
que tem coração, que respira, composto pela síntese de suas gentes, suas histórias e suas culturas ". É "o ambiente das nossas experiências, onde criamos raízes, onde nos sentimos seguros, onde nos consideramos em casa". A favela "enternece quem ali viveu a infância, que recebeu na construção modesta o primeiro carinho materno. " "A casinha azul, estreita, encarapitada no morro, tem a cara e um pedaço da alma de José que a construiu com as próprias mãos, auxiliado pela esposa e p elo filho mais velho. Ainda que reduzida, tosca e varada de fitros no telhado, é sua paixão. É igual a nenhuma outra. " "64% dos entrevistados têm parentes que moram no mesmo núcleo. Todos se conhecem. Há um conceito de família estendida. O mano é irmão. As boas senhoras são todas tias". "A fàvela, de maneira geral, gosta de
CATOLICISMO
acolher. O morador tem orgulho de servir aos iguais e, quase sempre, quer mostrar seu mundo aos conhecidos do as.fàlto ".
Empreemledores à brasileira Há "um processo contínuo de ascensão social e econômica. No cotidiano de lutas e desafios, os moradores das.favelas favoreceram-se de mais recheio na carteira e mais comida na geladeira." Para isso, muito brasileiramente, "misturam a garra e o j eitinho ". Para o morador, "as coisas parecem bem se a reforma no segundo andar da casa do vizinho progrediu. Se esse mesmo sujeito trocou seu Passai 76 por um Gol seminovo. Isso tudo é visto como sinal de que a comunidade como um todo avança". "Se ele conseguiu, posso conseguir também ". Gente que sempre viveu de salário cogita , agora, montar uma empresa na comunidade. Pode ser uma pizzaria, um albergue, uma loja de presentes ou uma oficina de reparos automotivos. É o caso da doceira que incumbia os filhos de distribuir seus bolos, queijadinhas e brigadeiros no asfalto e que agora tornou-se uma microernpresária do segmento, finalmente formalizada. Pelo preço mais em conta, ela adquire os melhores ingredientes, evita o desperdício na preparação e tem a fórmula para agradar os exigentes paladares da clientela. A melhora de vida, poucos a atribuem às políticas públicas. 40% atribuem-na a Deus, 42% ao próprio esforço, 14% à família. Por uma espécie de sanidade mental e verdadeira preservação, "não enxetgam o governo como provedor de
São "homens e mulheres particularmente resilientes, que aprendem, enfi·entam preconceitos e fazem acontecet: " Pode-se "validar assim a tese de que o brasileiro nunca desiste da luta ". Não se nota, nos resultados da pesquisa, indícios da inveja que leva à luta de classes: 75% se veem na classe média em 2023, enquanto 10% esperam conquistar um posto na classe alta. "Para muitos, o sonho maior é mergulhar no mundo do
consumo e não contestar o sistema ". Por exemplo, em 201 Oa Rocinha tinha 130 mil habitantes e aproximadamente seis mil empreendimentos, a maior parte deles atuando na informalidade. Existe ali o "Carteiro Amigo", um serviço alternativo de entrega de correspondências que complementa a operação dos Correios no emaranhado da favela, com lugares de difícil acesso, como vielas e becos desprovidos de nomes e números. Numa favela de Porto Alegre, Cláudio Amorim, 65 anos,
"considerava que o jitndamental era adquirir boa carne para seu churrasco de fim de semana. Citava outras prioridades: ter na cuia o chimarrão preferido e na geladeira sua cerveja predileta: o resto aí é com a 'nega veia ', porque é ela que faz as compras". 13% dos entrevistados têm motocicleta, 20% automóvel, 28% TV por assinatura, a mesma média do País. 55% possuem forno de microondas, mais do que no Brasil em geral, e 69% máquina de lavar. Em 2013, l 6%já tinham viajado de avião.
Faltam missionál'ios católicos Ante o quadro aqui resumidamente apresentado, é impossível não perguntar onde estão os missionários católicos dispostos a ir até essas almas para levar-lhes o pão da palavra de Deus, quão mais necessário do que o pão que alimenta os corpos! Fala-se tanto em ajuda material. Onde estão os que proporcionam a ajuda espiritual, o catecismo, o ensino moral e religioso, a conversão da alma a Deus, os sacramentos, a confissão, a comunhão do Corpo de Cristo? Em outros tempos, formar-se-iam congregações religiosas só para fazer apostolado junto às favelas. Porém , é tão pronunciada a decadência de nossos dias, que caso tais congregações se constituíssem, é de se temer que elas buscariam antes açular a inveja dos moradores para levá-los à revolta e à luta de classes. De modo que, contemplando o importante aspecto das favel as que nos é revelado pelo livro em qu estão, somos, de um lado, levados a nos alegrar pelos valores positivos apresentados, que não são poucos, mas de outro, compelidos a nos lembrar de que "Jesus viu uma grande multidão
e compadeceu-se dela, porque eram como ovelhas que não têm pastor ". (Me 6,34). • E-ma il para o a utor: cato li c ismo@ terra .com.br
bem-estar ".
Uma análise geral dos resultados da pesquisa exibe uma favela muito menos pobre do que se imaginava, sendo que 94% dos favelados se consideram felizes
Pesquisa de 2013 mostrou que "75% dos moradores de favelas eram favoráveis à pacificação pela polícia (55% totalmente a favor e 20% parcialmente a favor)"
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INTERNACIONAL In fe liz mente - e co mo não é nov idade - a grande míd ia bras il eira pouco ou nada in fo rmou sobre essas co lossa is mani festações populares, que rumam no sentido oposto ao das esquerdas e da Revo lução Sex ua l. Procurando esvaz iar as ma ni festações , Manue l Ya ll s, prim e iro mini stro soc ia li sta , co ncedeu entrev ista ao " La Croi x", pro metendo que os proj etos questionados não serão aprovados. Em promessa de políti co em apuros, a in da ma is sendo e le soc iali sta, só um cúmpli ce ou um simpl óri o pode ne la ac reditar.
"Chega <le J)ala1 1ras, nós <111er emos fatos" Muití ss imos pa is de fa míli a aco mpanhados de seus fi lhos, bem como numerosas delegações v in das de todos os rincões do pa ís, desfil ara m em Pari s entre a Porte Da uphin e e Montparnasse. Ta l era a extensão do cortej o, que na a ltura da fa mosa cú pul a dos Invalides e le passo u du ra nte c inco horas ! Mui tas fa ixas ex ibi am as razões do ma l-estar popul ar: "Espancamento tributário das fam ílias: STOP "; " O ser humano não é uma mercadoria ", ou ainda "A mulher não é
uma máquina de fàzer bebês ".
Meio milhão de franceses nas ruas contra a revolução sexual socialista M ARCE LO D UFAUR Correspondente em Paris
e
erca de 530.000 fra nceses desfil aram no di a 5 de outubro em Pari s e Bordeaux contra dois proj etos imorais do governo sociali sta: insemin ação artific ial em du plas lésbicas (procri ação med icamente ass istida ou PM A) e aluguel de ve ntres (gestação por outrem ou GPA), este úl timo requ erido po r um par de ho mossex ua is. Essas operações atua lm ente são ilegais e porta nto não podem ser fi nanc iadas pe lo sistema públi co de saúde. Os mani festa ntes fora m convocados pe lo co njunto de organ izações conhec ido co mo "La Man!f"pour tous ", que nos dois anos ante ri ores promoveu mul titudinários protestos contra o " casa mento" homossexua l, segun do info rmou
CATOLICI SMO
N ada a ver com as passeatas fi nanc iadas pelo governo ou por a lgum grupo de pressão. Os mani festa ntes paga ram do próprio bo lso todas as despesas de tran sporte e outras, chega ndo de ôni bus, de trem, ou compartilhando os respectivos carros em combinações fe itas através das redes soc ia is. La urence ve io de M ans (Sa rthe) co m se us do is filh os pequenos. E le, que nunca perde u uma mani festação , d isse:
"As garantias de Manuel Volts, vê-se bem que sâo umjogo. Agora chega de palavras, queremos/à tos ". U m grupo de estud antes ve io de Fri burgo, Suíça, onde
cursam fil osofia e teo log ia. Um deles, G régo ire, de 23 an os, d isse sentir-se mal diante das manobras vi sando "mudar nossa
moral para fu ndamentá-la em outras coisas que nâo sâo a ordem natural. A 'gestação por outro ' conduz à coisificaçâo dos homens e pode dar na eugenia". Os mani fes tantes continu am ex ig indo a revogação da le i de " casa mento" homossex ua l.
"Este não vai ser me11 JJ1·esi<le11te" Em Bordeaux, entre os 30.000 mani fes tantes provenientes das regiões do s ul co mo Aqui ta ine, Midi-Pyré nées, Po ito uC harentes, Lim ous in e Vend ée, não fa ltava m as críti cas contra o prefe ito da c idade, Alain Ju ppé, que embora sendo pré-ca nd idato pres ide nc ia l de "dire ita", dec laro u que não abo liri a a lei de "casa mento" homossex ua l. Geoffroy, de 36 anos, pa i de cinco cri anças e res idente em Pau, não di stante de Lourdes, montou seu cartaz ironi zando os di tos desse po lítico de dire ita, com a frase: "Este ncio vai
ser meu presidente ". "Casamento" homossex ua l, "gestação por outrem", " procri ação medi ca mente ass istida", " ideo log ia de gênero" e outras aberrações igua li tá ri as aca bara m fo rmando um pacote de procedimentos mora lmente perversos vo ltados contra a própri a fin a lidade da fa mília e repudi ados pe las mani fes tações. Para a im ensa ma io ri a dos presentes, a mani fes tação passa por c im a das pos ições dos partidos políticos , inc lus ive daque les que vê m subindo por se di zerem defensores da fa míli a. "Não podemos alugar o corpo da.familia", in sistia Jea n-Baptiste de Scorra ill e, prefe ito de ba irro em To ulo use. Para Consta nce, 19 anos, de Bayo nne, "é importante
mostrar com estas manifestações que a.fam ília, inclusive os jovens, esteio contra este mundo que deseja a mercanlilizaçcio das crianças ". • E- mail pa ra o autor: catoli cismo@terra.com.br
a im pre nsa fra ncesa , co mo o peri ódico " La Cro ix" (5- 10- 14), porta-voz oficioso do Epi scopado. Falava-se ante ri o rm e nte de certa desa rticul ação ou desânimo em relação ao mov imento. Mas as passeatas mostraram tratar-se de mera to rcida esq uerdi sta v isando esmorecê-l o. O púb li co fa mili ar, e m s ua la rga ma io ri a cató li co co nse rvado r, demo nstro u mui ta força , de ixa ndo atô ni tos mui tos j orna li stas, espec iali stas e soc iólogos acostumados aos rac iocí nios de laboratóri o.
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DESTAQUE
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E pôr que não uma Cruzada? A nte a agressão do extremismo islâmico, . a atitude autenticamente católica
□ ALEJANDRO Ezc uRRA NAó N
'
A
medida que vão sendo conhecidos os massacres perpetrados pelos terroristas do Es~ado Islâmico e seus congêneres contra cristãos da Asia Menor e da África, cresce a indignação na opinião pública do Ocidente. E muitos começam a perguntar se não se deveria convocar uma nova Cruzada em defesa desses povos, vítimas de uma inédita guerra de extermínio em nome de Alá. A palavra "Cruzada" pode causar calafrios a liberais inveterados, como também a católicos picados pela mos-
ca do relativismo progressista. Uns e outros procuraram estigmatizá-la, associando-a ao abuso, à cobiça, ao afã de domínio político, etc. Mas, felizmente, sua tentativa foi vã. Embora tenha havido cruzados indignos desse nome, como os há em todas as categorias de pessoas, o protótipo do Cruzado é um só: o Cavaleiro cristão, cujo idealismo e virtudes mil vezes comprovadas converteram-no em paradigma, em modelo de homem de honra perfeito e acabado, inigualado na História. E a gesta das Cruzadas ficou de tal maneira unida aos valores da Cavalaria, que ela perdura até hoje no imaginário do Ocidente, aureolada de merecido prestígio.
Na origem das Cruzadas, a defesa dos cristãos oprimidos Ao contrário do que se tenta impingir como verdade, as Cruzadas, de fato, nasceram como defesa das populações cristãs em situação de fraqueza diante das agressões, abusos e vexames sem conta cometidos contra elas pelos muçulmanos - em tudo similares aos praticados hoje pelos guerrilheiros do Estado Islâmico. A notícia desses abusos moveu o Bem-aventurado Urbano II a convocar em 1095 o Concílio de Clennont, assistido por 300 bispos e milhares de nobres. Ali, oretrato da terrível situação dos peregrinos e dos habitantes cristãos da Terra Santa, agredidos e oprimidos pelo poder muçulmano, e das profanações contra os lugares santos, determinou que ao grito de Deus vult! ("Deus o quer!"), um vento de coragem e decisão percorresse as fileiras dos cavaleiros presentes, e se propagasse em seguida pela França e pela Europa. Milhares decidiram fazer um voto de cruzada e partir para a Terra Santa. Nasceu assim a Primeira Cruzada, que culminaria vitoriosamente em 1099 com a conquista de Jerusalém, arrebatada aos egípcios pelo lendário Godofredo de Bouillon e pela flor da nobreza francesa.
Uma gesta impulsionada e protagonizada por santos da Igreja Ávidos de lhes encontrar defeitos, os crí-
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CATOLICISMO
! ticos das Cruzadas se esquecem de que o essencial dessa gesta foi ajustiça de seu objetivo, servida pela santidade de seus propulsores e protagonistas. Santo foi o propulsor da Primeira Cruzada, o bem-aventurado Urbano li; santo foi o Doctor Melífluo, São Bernardo de Claraval - a quem se deve a belíssima oração do Lembrai-vos ... - , autor da regra de vida dos Cavaleiros Templários, na qual figura o famoso voto de não recuar no campo de batalha; santos foram os reis cruzados São Luís IX da França (que comandou não uma, mas duas Cruzadas!) e seu primo espanhol, São Fernando III de Castela, que com ímpeto incontenível, em poucos anos recuperou aos mouros metade da Espanha, inclusive as cidades de Córdoba e Sevilla. Santo foi também o heroico frade franciscano São João de Capistrano, cognominado de "o padre piedoso", que com risco de perder a vida alentou os cruzados em pleno campo de batalha e contribuiu decisivamente para a vitória contra os turcos em Belgrado (1456); santo foi igualmente o Papa São Pio V, organizador da grande cruzada naval que, no golfo de Lepanto, quebrou definitivamente em 1571 o poderio naval dos turcos; do mesmo modo santo foi o bem-aventurado Inocêncio XI, o qual convocou a Cruzada contra os turcos que assediavam Viena(l683). Com ele cooperou outro beato franciscano, Marco d' Aviano, que ajudou a organizar o vitorioso exército cristão, o qual, embora três vezes inferior em número (60 mil contra 180 mil), derrotou os turcos e extinguiu para sempre a ameaça terrestre otomana à Europa central. Poderíamos citar ainda muitos outros santos com espírito de Cruzado, como o caritativo São Vicente de Paulo, que ao ser surpreendido pela morte impulsionava um projeto de Cruzada ao norte da África.
São Francisco <le Assis defende as Cruza<las e insta o sultão a se converte,, Alguém poderá objetar: não entendo São João de Capistrano e o bem-aventurado Marco d ' Aviano: como é possível que pacíficos santos franciscanos tenham se envolvido numa Cruzada? Tal ação não contradiz sua vocação de homens de paz? De nenhum modo! Estando a Cristandade em perigo, o que há de mais lógico do que defendê-la e apoiar os que a defendem? Tanto é assim que o próprio São Francisco de Assis deu o exemplo a seus frades: ele acompanhou
a Quinta Cruzada e teve a coragem de proclamar sua legitimidade diante do próprio sultão do Egito! Essa santa ousadia ocorreu em 1219, quando o sultão Malik al-Kamil recebeu São Francisco próximo de Damieta. O episódio é assim narrado por Frei Illuminato, seu companheiro de incursão : "O Sultão apresentou [a São Francisco] outra questão: 'Teu Senhor ensina nos Evangelhos que não se deve pagar o mal com o mal, e que inclusive não deves negar o manto a quem quiser subtrair-te a túnica. Portanto, os senhores cristãos não deveriam invadir nossas terras'. "Ao que o Beato Francisco respondeu: "Parece-me que tu não leste todo o Evangelho. Em outras passagens, na verdade, está ' dito: 'Se teu olho te é ocasião de p ecado, arranca-o e atira-o fora de ti '. Com isto quis Jesus nos ensinar que caso tenhamos um parente, por mais querido que este nos seja, ainda que tão querido como a menina de nossos olhos, se tentasse nos afastar da f é e do amor de nosso Deus, devemos estar decididos a separá-lo, a afastá-lo, a erradicá-lo de nós. Por tudo isso, os cristãos agem segundo a justiça quando invadem vossas terras e vos combatem, porque vós blasfemais contra o nome de Cristo e porfiais em afastar de Sua religião todos os homens que podeis. Entretanto, se tu quiseres conhece,~ conf essar e adorar o Criador e Redentor do mundo, amar-te-ei como a mim mesmo". "Todos os presentes .ficaram tomados de admiração por sua resposta".* *
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Os santos que acima citamos, por sua virtude e elevação moral, são exemplos para nós. Quando até São Francisco de Assis justifica plenamente, em nome do Evangelho, a Cruzada contra aqueles que usam a violência para arrancar das almas a fé em Jesus Cristo, nada impede, em princípio, que nós, católicos, o imitemos. Sendo assim, não será uma Cruzada o que Deus pede neste momento às nações ocidentais e ainda cristãs, para deter o extremismo islâmico e evitar ao mundo males maiores? • E-mail para o autor: catolicismo@terra .com.br
Nota: • "Fonti Francescane", Seção terceira, Outros depoimentos.fi-anciscanos, Nº 2691 , http://www.ofs-mon za .it/n les/a ltretestimonianze france scane.pdf
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CAPA
Çl{rte ínspírada pela CiFé
GBícentenárío da morte de (il{leffadínho ~
cido em Vila Rica de Ouro Preto em 1738, Antonio Francisco Lisboa - o nosso genial artista, entalhador, arquiteto e escultor - ficou conhecido internacionalmente com o nome de Aleijadinho. Apesar da grave enfermidade que o acometeu, continuou a produzir obras magníficas, como as doze portentosas estátuas dos profetas que adornam o átrio da Basílica do Senhor do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo (MG). Foi também no estado avançado da doença que ele entalhou em cedro as principais imagens dos famosos Passos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que formam aquele magnífico conjunto de 64 imagens em tamanho próximo do natural. Falecido em 18 de novembro de 1814, Catolicismo presta comovida homenagem ao Aleij adinho neste seu bicentenário, porquanto o mais importante mestre do barroco brasileiro e genial artista soube, como ninguém, adaptar tão adequadamente a arte barroca ao ambiente brasileiro do século XVIII. A Direção de Catolicismo
CATOLI C ISM O
" WILSON G ABRIE L DA SILVA
1 8 de nove mb ro co mpl e t a m- se 200 anos do falecimento do arquiteto e escultor ouropreta no Antoni o Francisco Lisboa, o Aleij adinho, expoente máximo do barroco mineiro. C atoli cis mo tem o praze r de oferecer a seus leitores um a seleção de ce rtos aspectos mais relevantes da época, do meio _e da arte em que o célebre escultor viveu, impregnados de urna religiosidade qu e marcou o Brasil desde os primeiros momentos de sua existência. Sob a curadori a de Fá bio Maga lhã.es e a coordenação de Ana Helena Curti , o Centro Cultu ral Banco do Bras il publi cou em 2007, no Ri o de Jan eiro, uma sun tuosa obra ri ca mente ilustrada, in titulada Aleijadinho e seu tempo - Fé, eng enho e arte, a qu al fo rnece abundante doc umentação sobre o ta lentoso artista. As citações qu e aqui faze mos são extra ídas dessa obra, precedidas do nome do autor do ensa io ou da colaboração, exceto algumas es pecíficas . As fo tos, salvo indicação em contrári o, são de Paul o Roberto Ca mpos, colaborador desta rev ista. *
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Norm almente um povo ou um a nação exprime em arte os seus anseios quando chego u à pl ena maturidade, ou até na ve lhice . Ass im fo i co m civili zações mil enares como a dos gregos, romanos, chineses, persas, j aponeses, hind us e outra s. Paradoxa lmente, o qu e o Brasil produziu de mais representati vo em maté ri a de arte deu-se no período co nturbado da co rrida em busca do ouro nos sertões das Minas, di stantes ela capital e das pri ncipa is cidades, qu ando o País não era senão
uma ex tensão além-m ar ele Portuga l, ainda habitada por gra nd e núm ero de tribos em estado selvagem. A qu e se deve esse surto de civilização num a população co nstituída de raças ele três co ntinentes, na busca de um futu ro num a terra ignota? A meu ver, eleve-se a um desígni o especial da Providência sobre nosso Pa ís. O utro pro bl e ma é sa ber até onde a população tem corres pondido a essa graça. O /Jrasil sob o signo da Cl'uz de Cl'isto
Basta reler a carta de Pero Vaz de Caminh a ao Rei ele Portuga l sobre o descobrimento da "Terra ele Vera Cruz", como fo i nomeado inicialmente o Brasil pelo ca pitão da esq uadra, Pedro Ál va res Ca bra l. Após di scorrer sobre a terra descoberta e os seus habitantes, o esc ri vão ela armada desc reve a ce na co movente da primeira Mi ssa : "Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e.fossem com ele. E assimfàifeito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros f ez dizer missa, a qual disse o padre fi-ei Henrique, [. ..] ouvida por todos com muito prazer e devoção. " "Por todos", inclusive os índios qu e ali estava m, embora nada co mpree ndesse m. "A li estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saira de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho. " Trata-se da insígni a da Ordem de Cri sto, sob cuj os auspícios se rea li zava a expedi ção ele Cabral. Dev ido à persegui ção à Ordem do Templ o na França, o Re i de Portuga l cri ou a Ordem de Cri sto, para a qu al tra nsferiu os bens dos Templ ári os, fica ndo ele, Rei, o grão-mestre da Ordem, para garantia ela mes ma.
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Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, em - Oscar Pereira da SIiva. Museu Paulista.
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centrar o esforço na colonização do Brasil. Amigo de Santo Inácio de Loyola e muito próximo dos jesuítas, enviou para a América homens de valor e santidade que aqui deram a vida pela catequização dos índios e colonos. Basta citar a obra inigualável de São José de Anchieta no Brasil. De início, os portugueses exploraram quase exclusivamente os milhares de léguas de litoral, "arranhando a praia como caranguejos", como disse alguém. De fato eles exploraram a costa, da foz do rio Oiapoque ao rio da Prata. Muito lentamente, foram se estabelecendo no interior, protegidos no Sudeste por barreiras naturais, como as serras do Mar e da Mantiqueira, que constituíam obstáculos à penetração no interior do País. Da corri<la do ouro à civilização
Continua a carta de Caminha: "Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do chamamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito". Bela e comovente foi também a cerimônia no dia da Santa Cruz, tendo o madeiro sido osculado por todos os portugueses e por grande parte dos índios que ali se encontravam, e cuja docilidade surpreendia, pois não entendiam a língua dos europeus. O escrivão insiste na sua preocupação apostólica: "E imprimir-se-áfacilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele trazer-nos para aqui creio que não foi sem causa. E (como) Vossa Alteza tanto deseja acrescentar a santa .fecatólica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!" Sobre as riquezas da terra descoberta, acrescenta: "A té agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou.ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares, .frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque
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neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. As águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! E finaliza, "Contudo o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar". Colonização lenta e penosa
As excelentes intenções do escrivão da armada de Cabral não se cumpriram de imediato, mas também não foram abandonadas. Ao longo do século XVI, a preocupação maior dos portugueses foi com as feitorias nas Índias, pois a descoberta de sua rota sem passar pelo Mar Vermelho modificara sensivelmente o panorama geopolítico no que se refere às relações da Europa com o Oriente. Pode-se comparar o esforço colonizador de Portugal ao de uma formiguinha que carrega uma folha imensa, desproporcional ao seu tamanho e força. O fato é que, apesar do comércio com as Índias, as despesas eram enormes. O rei Dom João III tomou a sábia decisão de preferir abandonar as praças portuguesas tomadas aos mouros ao longo da costa africana do Marrocos e con-
E m 1695 a situação mudar-se-ia radicalmente com a descoberta de ouro no rio das Velhas, próximo às cidades de Sabará e Caeté; em Minas Gerais. Segundo Boris Fausto, em sua História do Brasil (Eduspo, p. 98), a tradição associa a essas descobertas o nome de Borba Gato, genro do bandeirante Fernão Dias. Também o jesuíta toscano Antonil relata a descoberta em sua obra Cultura e Opulência no Brasil, publicada em 1711. Diz ele que um mulato, cujo nome não foi registrado para a posteridade, estando a prear índios em sertões distantes de uma colina de nome Tripuí, chegou a certa altura às margens de um riacho e dele se aproximou para colher água. Mergulhou a gamela e, ao recolhê-la de volta, viu que nela havia depositadas umas pedrinhas da cor do aço. Nem ele nem seus companheiros de viagem sabiam do que se tratava. O mulato levou as pedras para Taubaté e vendeu-as a Miguel de Sousa, que também ignorava do que se tratava, mas suspeitou que pudessem ter valor. E mandou algumas amostras para serem examinadas no Rio de Janeiro. De fato tratava-se de ouro, recoberto por uma camada de óxido de ferro . Daí o "ouro preto", que daria
nome ao riacho no qual o mulato mergulhara a gamela e à cidade que se tornaria a capital da província (cf. André JoãoAntonil, apudRoberto Pompeu de Toledo, A Capital da Solidão, Ed. Objetiva, p. 193). Até à época da descoberta das minas de ouro e diamantes, viviam naquela região os índios botocudos, que praticavam a antropofagia. Esse detalhe ressalta o contraste notório com o surto de civilização que veio modificar a região a partir de então. O arraial de Ouro Preto surgiu em 1698, com a chegada da bandeira dos paulistas Antônio Dias de Oliveira e padre João de Farias Fialho à garganta dominada pelo pico do Itacolomi . Outros povoados se formaram na região. A pequena vila de São Paulo ficou quase despovoada, pois a população mascu1i na em massa tomou o rumo das
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Para lá rumaram ig1,1al111ente aventureiros do Rio de Janeiro, da Bahia e de outros rincões da colônia (cf. Fábio Magalhães, p. 26). Começava assim a "corrida do ouro", provocando a primeira grande corrente migratória de Portugal para o Brasil. Durante os primeiros 60 anos do século XVlll, chegaram de Portugal e das ilhas do Atlântico cerca de 600 mil pessoas - oito a dez mil por ano. Tratava-se de gente das mais variadas condições - pequenos proprietários, padres, comerciantes e aventureiros. Apenas a presença de mulheres foi pouco significativa, segundo Boris Fausto (op. cit. , p. 98) . A exploração das minas naturalmente interessou ao Estado portugüês. Segundo Lourival Gomes Machado (Barroco mineiro, Ed. Perspectivas), de 1735 a 1751 arrecadaram-se, só de quintos (tributo de 20% sobre a produção), na Casa de Fundição local, 457 arrobas de ouro. São 34.275 quilos do precioso metal arrancados do chão, fora as sonegações sabidamente vultosas, correspondentes a 2.142 quilos por ano. No século XVIII o Brasil transformou-se no maior produtor de ouro do mundo. De 1700 a 1770, a sua produção foi praticamente igual à de todos os demais
países da América entre 1493 e 1850, e cerca da metade do que o resto do mundo produziu nos séculos XVI, XVII e XVIU (Fábio Magalhães, p. 26). Em 1709 foi criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Em 17 l l , o governador Antônio de Albuquerque criou o município de Vila Rica de Ouro Preto, reunindo uma dezena de arraiais pioneiros sob a tutela da Câmara Municipal. Em 1720 criou-se a Capitania de Minas Gerais, separada de São Paulo. O ritmo dessas medidas administrativas mostra a rapidez do crescimento da região. [sso teve uma repercussão imediata no nível da população. "O dia-a-dia das cidades mineradoras mostra a.faina da construção de melhoramentos, como de cha.fàrizes e pontes, e de templos denotativos do poder de suas irmandades" (cf. Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Cotidiano e contexto cultural nos passos de Aletjadinho, p. 42). Segundo Rodrigo Mello Franco de Andrade, " a despeito de só ter o povoamento do território mineiro principiado depois de decorridos dois séculos desde o descobrimento do Brasil, poucas décadas bastaram para que essa aéreafàsse enriquecida de bens culturais em número maior e com f eição muito mais expressiva
do que as demais regiões do Pais" (Revista do Jphan, nº 17, p. II-26). Os governadores impuseram novo ritmo a Vila Rica, que cresceu e se transformou, especialmente entre 1725 e 1750, período de maior abundância na extração de ouro. Do ponto de vista artístico e cultural , manteve intensa atividade até o fim do século XVIIl e mesmo no início do século XIX (Fábio Magalhães, p. 29). Toda essa riqueza produziu profundas mutações nas mentalidades. Aquela região podia ter-se transformado numa espécie de farwest norte-americano. Não foi o que aconteceu . A preocupação dessa população oriunda de uma miscigenação tão díspar foi com a religião, o maravilhoso e a cultura. Fábio Magalhães apresenta como exemplo dessa transformação a procissão de trasladação do Santíssimo da capela do Rosário para a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, realizada em 1733 e conhecida como o Triunfo Eucarístico. "O cortejo, de grande luxo, apresentava inúmeros quadros e alegorias, além de uma in_finidade de figuras secundárias, muitas delas trajando vestes ornadas de ouro e diamantes" (p. 29). Por outro lado, desenvolveu-se em Vila Rica "intensa vida cultural e literária. A música tinha grande presença na vida cotidiana, sobretudo nos o/leios e f estejos religiosos. Documentos atestam que existia um número muito expressivo de compositores e de conjuntos musicais em todas as vilas das Minas Gerais. Há relatos que afirmam haver mais músicos em Vila Rica, no século XVIII, do que em Lisboa, capital do reino. A literatura era prestigiada e a Arcádia mineira abrigava a inteligência da época" (idem, p. 30). Em 1763 , a capital do Governo-geral do Brasil transfere-se de Salvador para o Rio de Janeiro. A fim de aproximar-se das Minas Gerais, o vice-rei instala-se no Porto do Ouro, ligado a Vila Rica pelo Caminho Novo (Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Cotidiano e contexto cultural nos passos de Aletjadinho, p. 44). É durante o afl uxo de imigrantes e o surto de riqueza acima descrito que nasce, em l 738, Antonio Francisco Lisboa, conheci do como o Aleijadinho. A humilclc carrcirn ele um gênio
Filho natura l do prestigioso arquiteto e mestre-deobras português Manuel Francisco da Costa Lisboa com Isabel , uma escrava africana, Antonio Francisco Lisboa foi alforriado pelo pai ao ser batizado. Aos doze anos ingres ou no seminário de Donatos do Hospício Terra
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Detalhe do pórtico da Igreja do Carmo, em São João dei Rei
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Igreja de São Frq~c;isco de Assis, de Ouro Preto
Detalhe da fachada da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Ouro Preto
Santa, e dw-ante nove anos estudou com os frades leigos da Ordem dos Esmoleres da Terra Santa, onde recebeu aulas de gramática, latim, matemática e religião. Antonio Francisco recebeu seu aprendizado prático como artesão na oficina de seu pai, especialmente com seu tio Antonio Francisco Pombal, bem como com outros artistas portugueses que emigraram para Minas na primeira metade do século XVIII. Aos 14 anos projetou o risco em sanguínea do chafariz para o pátio do Palácio dos Governadores em Ouro Preto. Com quase 20 anos, foi encarregado do projeto e execução do chafariz em pedra-sabão (esteatita) nos fundos do mosteiro do Hospício da Terra Santa, em Ouro Preto. Esta é considerada a sua primeira obra como escultor. E a maestria no trabalhar a pedra-sabão foi, a bem dizer, a sua especialidade. Ainda muito jovem Antonio Francisco Lisboa colaborou com José Coelho Noronha na capela-mor da matriz de Caeté e aprendeu desenho ornamental com João Go mes Batista. Adulto, revelou grande talento artístico e estilo próprio. Dominou com maestria os
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ofícios de arquiteto, escultor e entalhador (Fábio Magalhães, p. 30). Em 1766, Antônio Francisco projeta a igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, uma de suas obrasmestras, considerada um dos exemplos mais notáveis da arte barroca. No ano seguinte falece seu pai , sem mencioná-lo em testamento, que favorece apenas os filhos legítimos. Elabora em 1771 o projeto da igreja de Nossa Senhora do Carmo, de Ouro Preto, concluída em 1773. Projeta e conclui várias outras obras. As obras do Aleijadinho estão em quase todas as cidades históricas da região das minas, especi almente em Ouro Preto, Mariana, Sabará, São João dei Rei , São José dei Rei (hoje Tiradentes) e Congonhas do Campo. Nesta última encontra-se a Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, que lembra tanto o Cristo venerado em uma freguesia do Porto, quanto o Santuário do Bom Jesus, nas cercanias de Braga, em Portugal. São reminiscências desejadas pelo doador da obra de Congonhas do Campo. Ali oAleijadinho passou a dolorosa fase final de sua vida
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e realizou a sua oq~ª -~1,)rima, que são os doze profetas maiores do Antigo Testamento e as cenas da Paixão de Cristo, como ve't·emos adiante. Não é nosso objetivo fazer aqui o elenco exaustivo das obras do grande artista, que o leitor interessado poderá encontrar em publicações especializadas. Desejamos apenas mostrar o alcance por assim di zer profético da sua genialidade, co11J relação ao futuro de Minas Gerais e do Brasil , como artífice de uma arte herdada de Portugal, mas enriquecida com contribuições genuinamente brasileiras. Assim também a consideram conceituados críticos de arte. A 0/JÍllião cios Cl'ÍtÍCOS
O mais importante testemunho de época sobre a arte de Aleijadinho é o registro historiográfico feito em 1790 pelo capitão Joaquim José da Silva, da cidade de Mariana. Segundo o documento, "A ntônio Francisco, o novo Praxíteles, é quem honra igualmente a arquitetura e a
escultura. [. ..] Superior a tudo e singular nas esculturas de pedra em todo o vulto ou meio-relevado e no debuxo e ornatos, irregulares do melhor gosto.francês[. ..}. Em qualquer peça sua que serve de realce aos ediflcios mais elegantes, admira-se a invenção, o equitibrio natural, ou composto, a justeza das dimensões, a energia dos usos
e costumes e a escolha da disposição dos acessórios com os grupos verossímeis que inspira a bela natureza. Tanta preciosidade se acha depositada em um corpo e11/ermo que precisa ser conduzido a qualquer parte e atarem-se-lhe.ferros para poderem obrar " (A . O. de Araújo Santos, p. 46). A igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto é considerada a obra máxima do estilo barroco no Brasil. Estudiosos como Lourival Gomes Machado consideramna inovadora do ponto de vista artístico: "São elementos barrocos puros e autênticos. O espírito que os organiza, no entanto, [. ..] não abre mão de uma contribuição original e impõe uma ordem especial em que se guarda, do estilo adotado, a característica principal, que é o contínuo movimento das massas e linhas, sem se perder nos parox ismos do "barroquismo " decadente e nos ademanes prenunciadores do rococó. Numa palavra, [na Igreja de] São Francisco esplende o barroco, mas o barroco brasileiro das Gerais" (F. Magalhães, p. 3 l s.). Para o escritor e crítico Mário de Andrade, que esteve à frente da reavaliação do valor estético do barroco mineiro pelos moderni stas, "esse tipo de igreja.fixado imortalmente nas duas São Francisco de Ouro Preto e de São João dei Rei não só corresponde ao gosto do tempo, r~fletindo as bases portug uesas da colônia,
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como também já si:; distingue das soluções barrocas luso-coloniais por uma tal ou qual denguice, por uma graça mais sensual e encantadora, por uma delicadeza tão suave, eminentemente brasileiras ... É a solução brasileira da colônia. " (Cronologia de Antonio Francisco Lisboa, organizada por Ana Ciccacio, p. 226). Por outro lado, Lourival Gomes Machado chama a atenção para a pesquisa empreendida pelo cônego Raimundo Trindade, na qual este nota a inspiração gótica em algumas obras do artista. Segundo Machado, o artista mineiro teria se inspirado (não copiado) em gravuras dos trabalhos de Lorenzo Ghiberti para a catedral de Flo_rença (Cronologia, p. 227 s.).
Germain Bazin, fa lecido em 1990, é um dos críticos de arte mais autorizados do século XX. Conservador por longo tempo do Museu do Louvre, de Paris, é autor de A arquitetura religiosa barroca no Brasil (Record, Rio de Janeiro, 1956). Sobre a obra de Aleijadinho, assim se exprime ele, com concisão e propriedade : "Nessas regiões permanecidas selvagens, a ausência da tradição artística autóctone constituía uma circunstância favorável à implantação de uma arte que prolongava com muita originalidade a da metrópole. Entretanto, no século 18 o grau de civilização da colônia permitiu-lhe criar escolas artísticas originais, capazes de inventar formas pessoais, principalmente
na região favorecida pela descoberta do ouro, onde se fundou a vila de Ouro Preto; lá, no fim do século 18, o filho de um arquiteto português e de uma escrava negra, Antonio Francisco Lisboa, dito o Aleijadinho (17381814), concebeu uma das expressões mais notáveis da estilística barroca. "Seria à presença da mão-de-obra negra no meio artístico brasileiro que se deveria atribuir uma aptidão à forma escultural que não se encontra a mesmo título na metrópole? Tal tendência teve como resultado a obra genial do Aleijadinho, que anima com uma grande inspiração lírica e vitaliza com uma energia primitiva a plástica barroca, então esgotada na Europa pelo formalismo e pela virtuosidade" (Cf. Germain Bazin, Histoire de l 'Art, Massin, Paris, 1992, 5° ed., p. 185 - os destaques são nossos). A cruz e a glória
Até os 38 anos de idade, Antonio Francisco Lisboa gozava de perfeita saúde. De temperamento alegre e extrovertido, apreciava boa comida, bailes e festas populares. Isso não significa, porém, que não tivesse sofrimentos. Vários trabalhos em escultura reconhecidos como criações suas não possuem registro de época confirmando a autoria. Isso se deveria, segundo especialistas, a sua condição de mulato, entre outras razões. Antonio Francisco teria sido obrigado a aceitar muitas vezes contratos como simples artesão diarista e não como mestre (Cronologia, p. 227).
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A partir dessa idade, entretanto, manifesta-se nele uma doença terrível que irá deformar e atrofiar o seu corpo, passando o artista a ser carregado por escravos para vistorias e executar seus trabalhos. De 1777 em diante será obrigado a mandar atar os instrumentos às mãos e usar joelheiras de couro. A natureza do mal de que sofria é controvertida. O poeta Manuel Bandeira assim descreve o seu sofrimento: "A leijadinho padecia frequentemente de dores violentas, tão agudas que o levaram mais de uma vez a mutilar os dedos[. ..], não caminhava senão de joelhos. Para isso mandou fazer umas joelheiras de couro, e, assim, subia escadas com grande agilidade. Perdeu também quase todos os dedos das mãos.
"Para trabalhar, era mister que lhe amarrassem às mãos o cinzel e o martelo. Foi assim que, em idade já avançada, lavrou ele as 12 estátuas dos profetas e as sessenta e tantas figuras dos passos [da Paixão de Cristo] de Congonhas do Campo. "Todavia, a enfermidade, longe de abater o ânimo de Antônio Francisco Lisboa, como que estimulou sua extraordinária capacidade de trabalho. O principal ef eito dela/oi segregá-lo da sociedade, que ele passou a evitar. Às primeiras horas da madrugada punha-se a caminho do local em que devia trabalhar, quase sempre uma igreja ou capela, de onde só regressava em noite f echada " (Cronologia, p. 227). De acordo com os traços recuperados por Rodrigo
Bretãs, Antônio Francisco teria superado preconceitos e obstáculos graças à energia de seu temperamento. Não lhe é concedido acesso às Ordens Terceiras do Carmo e de São Francisco "mas ambas vão chamá-lo JJara enobrecer-lhes os templos. Os governadores, de igual maneira, o contratam: vê-se sua presença no retábulo da capela do palácio de Vila Rica. Entre os companheiros de oficio, é acatado e consultado, sendo chamado para 'louvar ' com seu laudo pericial obras de outros mestres " (A. O. de Araújo Santos, p. 45). O cognome "Aleijadinho" aparece escrito em documento de 1810, referente ao projeto da nova fachada da Matriz de Santo Antônio, na Vila de São José dei Rei , hoje Tiradentes. Ele terá reagido tenazmente ao tratamento depreciativo, por certo contribuindo para a fixação da alcunha, também mencionada por viajantes estrangeiros que documentam a região no início do século XIX. Desfrutando de renome, o artista passa a ser visto sempre encapuzado, conduzido a cavalo ou carregado por seus escravos, nas ruas das vilas do ouro. A enfermidade dificulta-lhe a locomoção e a sua aparição pública se cerca de pudor e espanto . As janelas de Ouro Preto, em geral fechadas por gelosias de madeira, resguardavam os olhares que observam, com protegida malícia, o vulto estranho do aleijado (idem, ibidem). Esta foi a cruz de Antônio Francisco Lisboa . Qual foi a sua glória? Entendamo-nos: não foram os elogios que recebeu dos homens ; foi de ter abraçado o próprio sofrimento como Nosso Senhor Jesus Cristo abraçou a sua Cruz. A o/Jra-pl'ima
"A obra maior do Aleijadinho é o c611junto do santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo ", escreve A. O. de Araújo Santos. "Ao subir ao alto do Morro do Maranhão, onde o eremita português Feliciano Mendes plantara uma cruz votiva, ele é um homem abatido quanto lhe apequena os sentimentos, fazendo do arrogante e soberbo que f ora um infeliz acabrunhado. No artista está também um peregrino, e sua obra tem a expressão de um ex-voto da tragédia que o arrebata, como as cenas da Paixão de Cristo ali estão para expiar a derrocada das Minas [. ..] É na solidão do sacro monte de Congonhas, longe das empobrecidas vilas ricas, que ele arremata, em grandiosa criação, o ciclo artístico do eldorado do Brasil" (p. 46). Concebidas em 1796 e finalizadas em 1799, as cenas da Paixão de Cristo são abrigadas em seis capelas, que
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se alternam no caroipho ,. ' rumo ao alto do morro onde se encontra o santuário. As principais imagens dessas capelas foram executadas por Aleijadinho, e as demais por artistas de sua oficina sob a direta orientação dele. Ali o grande artista mineiro "deu ao mundo cristão as últimas grandes imagens do drama da Paixão", no dizer de Germain Bazin ( cf. A. O. de Araújo Santos, p. 43). Bazin nota ainda certo medievalismo nas estilizações dos soldados romanos que figuram nas cenas da Paixão (F. Magalhães, p. 36). O realismo das cenas é impressionante. Os soldados que insultam Nosso Senhor têm de tal modo cara de maus, que pessoas do povinho literalmente "vingaramse'1 batendo neles (o que exigiu uma restauração das esculturas ... ). A figura de Jesus é majestosa, pungente, altamente expressiva. As cenas mereceriam ser analisadas de vários ângulos.
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Quanto aos doze Profetas que se encontram no átrio da Basílica do Senhor Bom Jesus, em Congonhas do Campo (MG), eles foram esculpidos em esteatita (pedra-sabão) de 1800 a 1805. Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira afirma que "a gigantesca empreitada do trabalho de pedra parece ter exigido de Aleijadinho doente, sexagenário e esgotado pela recente maratona da obra dos passos, um esforço quase sobre-humano" (Cronologia, p. 233). "São mineiros esses profetas, comenta Germain Bazin (Cronologia, p. 233). Mineiros na patética e concentrada postura em que os armou o mineiro Aleijadinho; mineiros na visão ampla da terra, seus males, guerras, crimes, tristezas e anelos; mineiros no julgar friamente e no curar com bálsamo; no pessimismo; na iluminação íntima; sim, mineiros de há 150 anos e de agora: taciturnos, crepusculares, messiânicos e melancólicos". Os mineiros não podiam receber melhores elogios de um francês... · Voltemos aos Profetas: eles parecem fora do tempo ou da realidade banal deste mundo. Contemplam o horizonte, enfrentam o inimigo, clamam aos céus ... São homens de uma fé inabalável, que repreendem os pecadores para reer-
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Daniel (estátua da Catedral de Amiens)
Profeta Daniel (obra de Aleijadinho)
Ezequiel (estátua da Catedral de Amiens)
Profeta Ezequiel (obra de Aleijadinho)
guê-los: De stercore erigens pauperes ... para reerguer os miseráveis das imundices em que caíram! Como precisamos deles! Falam como enviados de Deus e com a autoridade d'Ele. Daí uma segurança, um desafio que paira acima de todos os mortais. Grande admirador dos Profetas do Aleijadinho era Plinio Corrêa de Oliveira, que tanta falta faz a este Brasil desfigurado e desviado dos desígnios que a Providência lhe reservou desde a eternidade. Para ele, a arte barroca brasileira prenunciava o grandioso porvir desta Terra de Santa Cruz. A título de exemplo, encerro com um comentário dele a propósito de duas obras do nosso genial Aleijadinho, publicado nesta revista (edição de junho/1959): "Se.fossem conhecidas as obras-primas que a era colonial deixou em toda a América Latina, melhor se compreenderia, na contemplação dessas primícias culturais, que não é só um fitturo de grandeza material que nos aguarda. "Se, por exemplo, na Europa conhecessem os trabalhos do Aleijadinho, veriam que fazem muito boa vista ao lado de conceituadas e famosas produções da arte francesa, italiana ou alemã. "As.figuras de Daniel e Ezequiel, em duas esplêndidas estátuas da majestosa Catedral de Amiens: piedosas, naturais, dignas, ajaveis, dão bem todo um aspecto da.fisionomia moral tão rica e tão complexa dos Profetas. "Nas duas fotos ao lado, vemos Daniel e Ezequiel representados em admiráveis esculturas de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (Santuário do Bom Jesus, Congonhas do Campo, no Estado de Minas Gerais). O olhar de lince de Ezequiel parece transpor os séculos, analisando um.futuro remoto, que seus lábios vigorosos estão prontos a anunciar para os homens. "Daniel, tão varonil quanto Ezequiel, tem entretanto uma .fisionomia mais suave. Seu olhar meditativo parece fitar a paisagem sem vê-la, como se ela estivesse interceptada, numa zona ideal do espaço, por todo um mundo de visões augustas e piedosas que deslizam diante dele. "Não é exato que as obras-primas de nosso artista figuram muito bem, e até com honra, ao lado dos belos trabalhos da lindíssima catedral.francesa?". • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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São João Berchmans /\
E nwlo de Sfio Luiz Gonzaga, noviço jesuíta de uma pureza angélica. obtinha n força para preservá-la e1n sua devoção à Virgem elas Virgens cuja Concciçfio hnaculada l'cz voto de defender
PLI NIO M ARIA SO LIM EO
vida de São João Berchmans foi de tanta reg ul arid ade no cumprimento dos deveres e tão consta nte no progresso da virtude, que se tem a impressão de que não pago u ônus ao pecado origi nal. Seus bi ógrafos são unânimes em afirmar que ele "soube converter o comum em extraordinário, e o vulgar em heroico com base num constante esforço interior ", ' na procura de faze r sempre o que fosse da maior glória a Deus.
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"Cheio de graça e de uma beleza angélica " São João Berchmans na sce u e m Di est, no Brabante belga, a 13 de março de 1599, primogênito de cinco filhos. Seus pais fora m João Carlos Berchmans, curtidor e sapate iro , e Isabe l Vanden Hove, que puseram grande empenho em educar os filh os nas virtudes cristãs, sobretudo o primogênito, que dava mostras das melhores qualidades. De João Berchmans di zem os bi ógrafos: "Ch eio de graça e de uma beleza angélica [ .. .} a gravidade de seu porte inspirava já o respeito. Ao
vê-lo, não se p odia deixar de pensar no divino Menino de Nazaré, que sua mãe ensinava a conhecer e imitar ".2 "Ele era naturalmente bondoso, gentil e afetuoso para com os pais, favorito entre os companheiros de fo lguedo, bravo e acessível, atraente no modo de ser; e com uma brilhante e alegre disposição ".3 Aos sete anos de id ade, João co meç ou se us estudo s prim á ri os. Ma s antes de se diri gir à esco la, ia muito cedo à igreja loca l, onde ajud ava três mi ssas "para que o bom Deus me concedesse a graça de aprender e de reter melhor minhas lições ".4 Quando ele tinha nove anos, uma longa e dolorosa doença prostrou sua mãe no leito. Todos os dias, voltando da escola, ia fazer-lhe co mpanhia, para consolá-la e animá-la a pensa r na reco mpensa qu e teria no Cé u por se us sofrim entos bem aceitos. Aos 16 anos, por causa da extrema pobreza dos pai s, ele fo i tirado da escola, para aprender algum ofic io e ajudar a fa míli a. João então prostrou-se aos pés do pai e suplicou-lhe que não o impedi sse de seguir a ca rreira sacerdotal, pois se contentaria apenas com pão e água . Comov ido, o pai o co locou como criado de um virtuoso cônego de Malines, que co incidentemente proc urava um clérigo pobre di sposto a se rvir-lhe de criado, podendo cont inuar a frequentar, como externo, o seminári o.
Bebeu com o leite materno a clc,roção mariana Em 16 15 o jesuítas fund ara m um colégio em Ma lin es , no qual João fo i admitid o. Era ainda o gra nde tempo da Companhi a de Jesus. Logo os professores viram o tesouro que receberam. Ma e les tin ham difi culdade em descrever em João, "essa mescla incomparável de inocência, recolhimen-
to, ardor no estudo e amabi/idade cheia de encanto que lhe conquistou, desde os primeiros dias, o coração e o respeito de todos seus novos condiscípulos ".5 Tendo conhecimento da vida sa nta do então beato Luiz Gon zaga, João se propôs a tomá-lo como modelo.
No co légio dos jesuítas ele ingresso u na Congregação Mari ana e, para melh or serv ir a Nossa Senhora, no início de cada mês procura va seu diretor pedindo-lhe para indicar a virtude que deveria praticar e o defeito que deveria co mbater especia lm ente em honra d' Ela. Foi aí que passo u também a rezar diari amente o Oficio Parvo.
Eswclo ele lilosolia Colégio Romano
110
Ambicionava também seguir os passos do Pe. Pedro Canísio (beatifi cado em 1864 e canoni zado em 1925), que arrancara ao protestanti smo gra nd e parte da Alemanha com suas pregações e trabalhos apostóli cos. Pode-se di zer que João Berchmans bebeu a devoção a Nossa Senhora no leite materno. Desde a id ade de sete anos, ele rezava diariamente o rosário e ia em peregrinação a um se u sa ntuári o a uma légua de distância. Crescendo, "não poupava nada para fazer com que todas suas palavras e todos seus atos fo ssem verdadeiramente dignos, por sua perfeição, de serem cwradáveis à Rainha dos Anjos ". 6
A leitura dos fe itos de São Francisco Xavier no Extremo Oriente, a vicia de Sa nto Ed mundo Ca mpi on em meio às torturas e o patíbulo, na In g laterra, e os atos heroicos de São José de Anchieta no Brasil , inflamava m o seu zelo. Ele e propunha a imitar seus feitos , principalmente prestando assistência aos so ldados católicos nos ca mpos de batalha e nos hospitais, bem como procurando converter os heréticos. No dia 24 de setembro de 161 6, festa de Nossa Senhora das Mercês, João Berchmans entrou no nov iciado da Companhia de Jesus em Malin es. Dois anos mais tarde, fe z os votos reli giosos e partiu para a Cidade Ete rna a fim de estudar filosofia no Colégio Roma no. Um dos seus professores declarou que "era tão g rande seu ardor e sua aplicação, que creio que era impossível suplantá-lo nesse ponto. E eu mesmo ncio conheci alguém que pudesse, a meu juízo, comparar-se a ele. [. ..} 'O saber de um religioso da Compan hia não de veria se,; dizia me ele, o suficientemente vasto para suprir a metade de um mundo? ' Mas, ao mesmo tempo, eu adm irava nele um candor e uma docilidade incomparáveis a prestar as contas mais.fiéis de ludo que fazia ou se propunha a fazer nesse gênero, prestes a deixm; ao primeiro sina l, tudo o que não tivesse sido aprovado por aqueles que
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1 para ele ocupavam o lugar de Deus". 7 A isso 'àc'r escentava: "Vim à religião não para estar ocioso, mas para trabalhat: Os hereges põem tanto cuidado em impugnar a Cristo, e eu serei remisso em defendê-lo? Os seculares estudam com tanto trabalho e atenção por prêmios inúteis e vãos da honra humana, e hei de ser menos desejoso da glória divina do que eles em seu próprio louvor? ". 8 Por causa de sua de licada sa úde, foi -lhe dado o oficio de prepara r os lampi ões destinados ao serviço da comunidade no Co légio Romano. A isso ele se entregava com fervor, poi s tinha sido a mesma ocupação conferida a São Luiz Gonzaga. E ntretanto, nas férias , s ua ocupação preferida consistia em ir a a lgum hospital servir os enfermos co m as doenças mai s repugnantes à natureza. N a sua pureza, obediência e admiráve l caridade, João Berchmans asseme lh ava-se a muitos religiosos, mas s upl antava-os e m se u ime nso amor às regras de sua Ordem. Com efeito, o Papa Júlio Jll e alguns de seus sucessores afirmaram que "as
Constituições da Companhia de Jesus levam aqueles que as observam com exatidão ao mais alto grau de santidade". Daí o empenho de João Berchmans, que afirm ava: "Se eu não me torno santo enquanto sou jovem, eu nunca o serei". 9
panhia. Depois juntava, em algumas palavras, alguns conselhos particulares, segundo o estado de alma de cada um, fazendo bem ver, segundo o depoimento expresso de muitos, que ele lia claramente o fimdo de suas almas ". 12
Senhora, e a vosso benditíssimo Filho presente no Santíssimo Sacramento, que confessarei sempre e defenderei vossa Imaculada Conceição, a não ser que a i greja de}!na o contrário' ". 10 Transcorrera m ma is de 200 anos para que essa tão fundamental e consoladora verdade fosse declarada dogma de fé . Contrariando as mais caras esperanças de seus mestres pelo seu futuro, João Berchmans contraiu uma grave doença pulmonar que abreviaria seus di as. Um dos médicos ma is hábe is de Roma, chamado para examiná-lo, afirmou: "Essa doença é toda divina!
Nossos remédios nada podem contra ela ". Quando foi comunicado ao doe nte seu g raví ss imo es tado, e le di sse ao irmão qu e lhe dava a notícia:
"A h, meu caro irmão! Regozijai-vos então comigo, pois eis bem aí a melhor notícia e a mais doce consolação que vos era possível me dar ". 11
Deita<lo 110 chão e Pevestido do hábito
A Imaculada Conceição da Virgem Santíssima era uma verdade conhecida e propagada, mas ainda não havia sido defi nida como dogma. E João Berchmans, que crescia a cada dia na devoção à Santíssima Mãe de Deus,
São João Berchmans pediu para receber o viático de itado no c hão, revestido do hábito jesuíta. Fez então sua profissão de fé, di zendo que morria como verdadeiro filho da Companhi a de Jesus e da bem-aventurada Virgem Maria. Aos que iam a seu quarto recomendar-se às suas orações, "a todos, sem
"obrigou-se, diante do Santíssimo Sacramento, a defender a sua Puríssima Conceição mediante cédula assinada por ele, que assim dizia : 'Eu, João Berchmans, indigníssimo jllho da Companhia de Jesus, prometo a Vós,
exceção, o bem-aventurado, sempre sorrindo, recomendava instantemente três coisas: uma ternura filial pela Santíssima Virgem Maria, um grande amor à oração, e a mais inalterável fidelidade a todas as regras da Com-
Voto <le <lel'e11der a Jmacula<la Conceição
CATOLICISMO
Em seus últimos momentos o demônio tentou-o mai s rudemente. João Berchmans repetiu então cerca de quarenta vezes o grito: "Retira-te Satanás, eu não te temo". E pediu então "suas armas": o crucifixo, o terço e as regras da Companhia: "Com eles eu morro sem pena". Assim, no dia 13 de agosto de 1621 , aos 22 anos de idade, esse valente soldado de Jesus Cri sto e de sua Santa Mãe entregou sua alma ao Criador. Tão logo seu corpo foi levado à igrej a, a devoção popular começou a honrá- lo como santo. A Bélgica rivali zava com Roma para honrar a sua memóri a, e a Alemanha o invocava com ma is entusiasmo do que a Itália. E ntretanto, seu processo de canonização infe lizmente fo i suspenso, dev ido à supressão da Companhia de Jesus. Sua beatificação só se deu em 15 de maio de 1865, pelo bem-aventurado Pio lX. Vinte e três anos depois, em 15 de j ane iro de 1888, Leão XIII o canonizou. Padroeiro secundário da juventude com São Luiz Gonzaga, sua festividade é celebrada no dia 26 de novembro . • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
Notas: 1. Pe. José Leite, S.J. , Santos de Cada Dia, Editoria l A. O. , Braga, 1987, tomo III , p. 355. 2. Les Petits Bollandistes, Vies eles Saints, Bloud el Barrai, Paris, 1882, tomo IX, p. 5 13. 3. 1-1. Demain , St. John Berchmans, The Catholi c Encyclopedia, CD Rom edition. 4. Bollandistes, p. 5 13. 5. lei . p. 5 14. 6. lei . p. 5 15. 7. lei. p. 520. 8. Pe. Juan Cro isset, S.J ., Afio Cristiano, Satu rnino Ca lleja, Madri , 190 1, tomo Ili , p. 476. 9. J-1 . Demain, The Cath oli c Encycloped ia. 10. Cro isset, p. 475. 11 . Boll andi stes, p. 528. 12. lei. ib.
VARIEDADES
A loucura dos homens "sãos" ■ G REGÓRIO V iVANCO LOPES
O
mundo de hoje parece totalmente descontrolado. Aquilo que seria inconcebível até pouco tempo atrás, ocorre hoje e ninguém mais se espanta. Qual a razão para tanto descalabro acontecendo no meio de tanta apatia? Esta é a pergunta fundamental para nossos dias. Mas antes de sugerir uma resposta, dou alguns exemplos.
1. Está em andamento na Colômbia um "diálogo de paz" entre o governo de Juan Manuel Santos e os guerrilheiros das FARC. Nisso já há um disparate, pois os guerrilheiros estavam sendo vencidos e encurralados, e Santos os chama para conversar, num palco ideal para eles, que é a Cuba comunista, acenando-lhes com condições mais do que vantajosas, como a participação política privilegiada e outras benesses. Pareceria que os cabecilhas do grupo guerrilheiro deveriam estar exultantes e prontos a entregar as armas. Nada disso. Publicaram um comunicado insolente nos jornais, no qual afirmam que só entregarão as armas, se houver "a desmilitarização da sociedade e do Estado ", ou seja, se forem dissolvidos o Exército e as polícias! Depois disso, dir-se-ia que o di álogo acabou. Não. Ele continua, e o governo parece sempre mais disposto a novas concessões! Entenda quem puder. 2. No campo reli gioso, Mons. Livieres Plano, até há pouco Bispo de Ciudad del Este, no Paraguai, foi destituído pelo Papa Francisco, sob a alegação de que com ele não havia "unidade eclesial na Diocese e com os demais Bispos ". Falou-se também de que ele protegeria um padre pedófilo, ao que parece sem provas. O bispo Livieres saiu-se então com um comunicado pouco comum, em que afirma, entre outras coisas: "Aceito [a destituição], por mais que a considero infundada ~arbitrária, e da qual o Papa terá que prestar contas a Deus e não a mim ". Queixa-se de que nem sequer foi ouvido e de que foi vítima de "uma perseguição ideológica" por parte dos progressistas. onvenhamos, tudo isso é surpreendente!
3. Enquanto isso, no Oriente Médio, um Califado recém inventado entrega-se a decepar cabeças, com a característica nada comum de que filma as execuções em vídeo e as transmite pela internet para o mundo todo! 4. No Brasil , na fase pré-eleitoral, institutos de pesquisa, com cobertura bombástica da mídia, anunciaram durante semanas seguidas que a candidata Marina da Silva iria facilmente para o segundo turno das eleições, com grandes chances de ser eleita presidente da República. E ela alcançou apenas um magro terceiro lugar, bem distante do segundo colocado. Isso tudo, e muito mais que não temos espaço para relatar, falam de um mundo desestruturado, para não dizer em decomposição. Voltamos à pergunta inicial: qual a razão? Não parece ser outra senão a progressiva apostasia em relação ao Cristianismo, que vai se acentuando com o passar dos anos e das décadas. Quando ainda prevaleciam os princípios da civilização cristã, a cujo respeito o Papa Leão XIII disse que "a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos", havia evidentemente males, guerras e pecados como em todas as épocas houve. Mas havia uma lógica e uma ordem fundamental que a tudo presidiam. O mal era chamado de mal, e o bem, de bem; a verdade e o erro se diferenciavam um do outro; o monstruoso e o cacofônico não se ostentavam como arte, como na Bienal de São Paulo. A Igreja católica era o centro difusor da ordem e da elevação moral. Essa inversão de valores, essa loucura dos homens sãos, essa anástrofe mental - se me permitem usar uma palavra um pouco pedante - , é o sintoma de um Cristianismo que se foi, como a alma se evola de dentro do corpo que não tem mais condições de viver. O que resta vai para o túmulo, para a podridão, para os vermes. Até o momento da ressurreição ! Mas esta só poderá vir pela misericórdia de Nossa Senhora. Peçamo-la, pois. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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pre para ri a os ca minh os d o Sa lvador.
(i São Nuno Álvares Pereira , Confessor
TODOS OS SANTOS Celebrada já no século V como fes ta de Todos os M á rtires, esta ce lebração adquiriu ma is ta rd e um ca rá te r uni ve rsa l, se ndo fixada nes te d ia. É a comemoração da Igrej a Triunfa nte, fo rm ad a por todos os bem-aventurados que gozam da g lóri a eterna. Podemos ped irlhes que nos a lca ncem gra ças. Primeiro Sábado do mês.
2 FINADOS Comemoração da Igrej a Padecente, formada pelas numerosas almas que sofrem no Purgatóri o, pelas qua is devemos rezar.(*)
3 São Martinho ele Porres. Confessor + L ima, 1639. Mestiço, era filh o de um descendente de cru zados e de uma esc rava liberta . Entro u como "doado" para um dos co n ve ntos d o mini can os de Lima, onde levou uma vida extraordinári a pe la humildade, penitênc ia, caridade e pelo dom de milagres .
4 São Carlos Borrorneu. Bispo e Confessor + Mil ão , 1584. Ca rd ea l aos 2 1 anos, depo is Arce bispo de Milão, rea lizou plenamente seu ideal de episcopado medi ante as reformas do Concílio de Trento. Fa leceu aos 46 anos, tendo sido uma das fi guras ex ponenc ia is da Contra-Reform a.
5 Santos Zacarias e Isabel, Pais de São ,loão Batista, o Precursor + Séc. L Sua fé mereceu-lhes ge rar na ve lhi ce aqu e le q ue
+ L isboa , 143 1. Armado cavale iro aos 13 anos e Condestáve l de Portuga l aos 25, a ele D. João 1deveu seu trono e Portu ga l sua independência, pela retumbante vi tóri a em A ljubarrota.
7 São Vilibrarelo, Bispo e Confessor + Alemanha, 739. Nascido na Irl anda, mi ss io ná ri o dura nte 50 a nos, fo i sag rad o Bi s po de Ec hte rn ac h, de onde seus miss ionários partiam para evangeliza r a Renânia. Seu zelo chegou até a Dinamarca. Bati zo u Pepino, o Breve, pa i de Carlos Magno. Primeira Sexta-feira do mês.
8 São Claro, Confessor + Tours, 386. Pertencente a uma fa míli a da a lta nobreza, fo i ordenado sacerdote a inda j ovem, de ixa ndo tud o para viver junto ao grande bi spo de Tours, São Martinho.
9 Dedicação ela Basílica de São ,João de l ,at1·ão, Roma Catedra l dos Bispos de Roma e uma das prime iras bas ílicas dedicadas por Constantin o ao cul to cristão, ela fo i consagrada por São Sil vestre em 324.
10 São Leão I Magno, Papa e Confessor + Ro ma, 4 6 1. Go ve rn o u a Igrej a por 2 1 anos, du ra nte a in vasão dos bá rb aros; luto u contra os hereges eutiqui anos e donatistas; deteve o huno Átila às portas de Roma; defendeu intrepidamente os dire itos da Sé Apostóli ca; incremento u e deu novo esplendor às cerim ônias li túrg icas. Por tud o isso, recebeu da posteridade o título de M agno.
11 São Bartolomeu Abaele, Conl'essor + Gro taferrata, 1065. Ca labrês, entro u muito j ovem para um moste iro ítalo-grego, colocando-se so b a direção do fundador, seu compatriota São Nilo.
12 São Teodoro Studita, Conl'essor + Constantinopla, 826. Considera ndo as ordens monásticas como "os nervos da Igreja", fez do mosteiro biza ntino Studios - que chegou a ter mil monges - um centro de santos e sábios.
Tendo entrado para um moste iro aos cinco anos de idade, é considerada uma das maiores místi cas da Idade Média .
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Santa Isabel ela l lungria , Viúva
Santa Cecília , Virgem e Mfütir
+Turíngia, 123 1. F iIha do rei da Hungria, casada com o duqu e da Turíng ia, enviu vou aos 20 anos com três filh os. Abandonada e perseguida pe los parentes do marid o após a morte deste, e sem recursos, ofereceu seus serviços a um hosp ita l de leprosos, fa lecendo na paciênc ia, pobreza e humilhação aos 24 anos de idade.
18 Santo l•:stanislau Kostka, Conl'essor + R oma, 1567. Pertencente a uma das mais nobres fa míli as da Po lônia, sua vida é palmilhada de marav ilhas. Recebido por São Pedro Canísio no nov iciado d a Co mpa nhi a de J es us, na Alemanha, fo i enviado a Roma e patern a lmente aco lhido po r São Franc isco de Bmj a.
Deelicação elas basílicas de São Pedro e São Paulo
São José Pignatclli , Confessor + Roma, 18 11 . Nobre espanhol de ori gem italiana, entrou aos 15 anos para a Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote, dedicou-se ao magistéri o e aos ministéri os apostólicos. Foi o Prov inc ia l e um dos baluartes da Companhia de Jesus restaurada no reino de N ápo les por Pio VIL
15 Santo Albcc'Lo Magno, Bispo e Doutor ela Igreja
+ Co lôni a (Alemanha), 1280. Pouco dotado para o estudo, mas gra nde devoto de M ari a, recebeu d'Ela a c iênc ia, que lhe va leu de seus contemporâneos o título de Doutor universal. Foi professor de Santo Tomás de Aquino.
1(j Santa Gertrudes, a "Magna", Virgem
+ H e lfta (A le ma nh a) , 1303 .
m. Padroeira da mús ica sacra e um a das ma is ve neradas mártires da Igrej a primiti va, Cecí lia j á ti nha fe ito voto de castidade quando o pai a casou com Val eri ano. Ela o converteu, bem como ao cunhado Tibúrc io, sofrendo os três o martí rio pe la fé.
+ Roma, séc.
2:l São Clemente 1, Papa e Mártir
+ Roma, séc. L Terceiro suces-
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sor de São Pedro, conheceu os Apóstolos e convi veu com eles. Sua ca rta diri g ida aos Corínti os é documento fund amenta l para comprova r as teses do primado uni versa l do Bispo de Roma e da co nstitui ção hi erárqui ca da Igrej a.
Santos Roque González e Companheiros, MárLi1·es
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N a primeira, no Vaticano, encontra-se o túmulo de São Pedro, o primeiro Papa; a segunda, na Via Óstia, fo i construída no loca l do sepultamento de São Paulo.
+ Ri o G ra nde do Sul , 1628 .
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a oferecera m ao templ o para ser edu cada entre a s virgens - foi reco lhi da po r São João Damasceno.
Missionários jes uítas que evangelizara m a região das Missões. N a de Caaró (RS), quando o Pe. Roque terminava a Missa, índios sublevados pelo paj é (feiticeiro) partira m-lhe a cabeça com uma c lava . F izera m o mesmo com o Pe. Afonso Rodríguez. O Pe. Ju a n de i Cas till o hav ia s id o martiri zado anteriormente, na missão de Pi rapó.
Santos J\nelré Dung-Lac e Companheiros, Mártires + Vietnã, séc. XVJ. Vietn amitas "convertidos pelos rnissionários dom inicanos que haviam começado a evangelizar a região, fo ram martirizados sob a acusação de estarem introduzindo no país uma religião estranha" (do Marti ro lógio Romano).
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20 Santo Eelrnundo, Má1·Lir + Ing laterra, 870. Sub indo ao tro no ing lê aos 15 anos, governou com ·a bedoria e prudê ncia de a nc ião . Protegeu po bres, órfãos e viúvas, sendo um pa i para se us súd itos. Por negarse a apo talar, foi decap itado por pagãos dinamarqu eses que in vadi ra m o paí .
21 J\PRl•:8ENTAÇÃO OI~ 0 881\ SENJ IORA Esta tra lição - segundo a qu al os pa is da Santíss ima Virge m
Santa Cata rina de Alexandria, Virgem e Mártir + Séc. IV. Um a d as sa ntas ma is popul ares dos primeiros sécul os , recebeu aos 17 anos o dom da sa bedori a e era tida como a ma is sábia das j ovens do impéri o.
26 São Pedro ele Alexandria, Bispo e Mártir + 3 11. "O historiador Eusébio saudava-o como um desses pastores divinos, pela vida virtuosa e por sua sagrada eloquência. Foi uma das últimas vítimas
das p erseguições romanas" (do Martirol ógio Romano).
São João Berchmans (Vide p. 42)
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Intenções para a Santa Missa em novembro
FESTA DE NOSSA SENHORA DA MEDALI IA MILAGROSA Santa Ca tarina Labouré, Virgem
Será cele brada pe lo Rev mo. Padre David Fra nc isq uini , nas seg uintes inte nções:
+ Paris, 1876 . Esta filh a espiri tua l de São Vicente de Paulo recebeu de Nossa Senhora a reve lação da Medalha Milagrosa, que tantas graças, conversões e milagres tem obtido em todo o mundo.
28 Santo Estêvão e Companheiros, Mártires
+ Constantinopla, 764. Monge do M osteiro Studios, fo i martiri zado com centenas de outros companheiros por terem defendid o o culto às image ns.
29 São Francisco Antonio Fasani , Conresso1·
•
M issa d e Fin a d os
(2 d e nove m b ro ) em sufrág io da s a lmas d o Purgató ri o, es pecia lme nte pe los n oss o s pare ntes já fa lec idos. • Pe los cató li cos pe rseg uidos e martirizados em di versos países, so bre tud o no Ira qu e e na Síria . Para q ue Nossa Senhora das Graças (fest ividade do d ia 27 d e novembro) lhes conceda a graça da fo rta leza para não vac il a rem na fé, perseverarem e resisti rem com toda firmeza.
+ Itá lia, 1742. Franciscano no convento dos F rades Menores Con ventua is de L ucera, doutorou-se em Teo logia, tornandose ex ími o pregador, diretor de a lmas, co nse lhe iro, de fe nso r dos pobres e dos humildes.
30 Santo André ApósLolo, Mártir
+ Séc. 1. 1rmão de São Pedro, fo i dos prime iros discípul os de Jesus. Prego u o Eva ngelho na Ás ia Menor e nos Bá lcãs, onde fo i cruc ifica do. É patro no das vocações. * "Aos que vis itarem algum cem itério e reza rem, a inda que só mentalmente, pe los defun tos, concede-se urna Indul gência Plenári a, só aplicáve l aos defuntos; d ia ri a mente, do d ia 1º ao dia 8 de novembro, nas condições costum eiras. Isto é: confi ssão sacramenta l, co munhão euca rísti ca e oração nas in te nções do Sum o Pontífice; nos restantes dias do ano, Ind ul gência Parcia l (Enchil'. J11d11/ge11riar11111 , 11 º 13)".
Jntenções para a Santa Missa em dezembro • Pe los mé ritos infinitos do nascime nto do Divin o Me nin o Jes us, rogare mos es pec ia lmente pelos le ito res de Catolicismo e suas respectivas famí lias, bem como por todos aq ueles que nos apoia ra m ao lo ng o deste a no, pa ra que Ele conceda a to dos um Sa nto Na ta l e a bunda ntes graça s para o Ano Novo. Súplicas q ue e levaremos ao Cé u por inte rmédio da Santíssima Virgem, c uja Imacu la d a Conceição é celebrada no d ia 8 de dezemb ro.
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Delegação internacional de TFPs na Lituânia l'll RENATO MURTA DE V ASCONCE LOS
e 28 de agosto a 3 de setembro, uma delegação composta de 1O membros de TFPs europeias e entidades afins da Alemanha, Portugal, Itália, Irlanda, Argentina, Colômbia e Brasil percorreu a Lituânia, como vem fazendo todos os anos desde 1993, tomando contato com personalidades de relevo do mundo político e eclesiástico, participando de cerimonias cívicas e religiosas, visitando escolas e hospitais, procurando enfim manter vivas as antigas amizades e descobrir novas, sobretudo entre a juventude universitária. Qual a razão de ser de uma delegação internacional das TFPs europeias visitar anualmente a Lituânia?
D
Um pouco de história
A pseudo-reforma protestante do século XVI alastrou-se como uma epidemia por toda a Europa. Passando pela Polônia, chegou rapidamente às margens do Báltico, onde contaminou a Estônia, a Letônia e a Lituânia, cujas populações se tornaram majoritariamente calvinistas. Na Polônia, o grande jesuíta Pe. Piotr Skarga verberou os erros protestantes com grande zelo e inteligência. Graças a seu apostolado, a maior nação católica do Leste europeu pôde preservar a sua Fé. Na Lituânia, entretanto, fo i a
CATOLICISMO
própria Mãe de Deus quem se encarregou de liderar a Contra-Reforma católica ao aparecer em 1608 para dois pequenos pastores na localidade de Siluva. De pé, sobre uma grande pedra, Ela lamentava que aquelas terras, onde seu Filho foi amado e venerado, tinham sido transformadas em terreno de pasto para o gado. O pranto da Virgem de Siluva não foi derramado em vão. Comovido e tocado pela graça, o povo lituano retornou à Fé de seus maiores. Trinta anos mais tarde, a Lituânia tinha voltado a ser inteiramente católica. E desde então passou a ser conhecida como a Terra de Maria. A Lituânia, que até 1595 havia formado um grande reino unido à
Polônia, estava desde então sob o domínio da Rússia czarista. Ao longo de três séculos esta última tentou, por vezes de modo brutal, impor a religião dita ortodoxa aos lituanos, porém sem sucesso. Em 1917, com a queda do czarismo, a Lituânia recobrou sua independência. Por pouco tempo, pois em 1940, nas tropelias da Segunda Guerra Mundial, voltou a cair sob domínio russo, desta vez sob a bota do comunismo soviético. Com a queda do muro de Berlim em 1989 e o crescente descontentamento nos países além Cortina de Ferro, o Parlamento Lituano, sob a direção do futuro presidente Vytaytas Landsbergis, tomou uma atitude de extrema ousadia e coragem, proclamando no dia 11 de marco de 1990 a independência do país face à União Soviética. Era uma nação pequena, do tamanho do Estado de Alagoas, a enfrentar um colosso duas
Campanha pela independência da Lituânia, na cidade de São Paulo
vezes maior que o Brasil. Diante das ameaças de Gorbachev, cuja política de abertura - a famosa Perestroi/ca - era mero artificio para sopitar a crescente insatisfação interna nos países satélites da URSS e amortecer as críticas do mundo livre , a Lituânia procurou apoio nos países ocidentais. Entretanto, por toda a parte seus
Vytautas Landsbergis
enviados foram recebidos com frieza e pouco caso: na Casa Branca, no Eliseu, e daí para fora. 0
IDO/llllllellta/
abaixo-assina<lo das 1'FPs
Neste momento crucia l para a Lituânia, uma voz se levantou altaneira em seu favor. Por iniciativa do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, a TFP brasileira, logo seguida por TFPs em cinco continentes, empreendeu um gigantesco abaixo-assinado de apoio à independência lituana. Em pouco mais de dois meses foram co letadas mais de 5.200.00 assinaturas em 26 países. A campanha das TFPs em prol da Lituânia livre galvanizou a opinião pública ocidental e constituiu um alento incomparável para os patriotas lituanos que se julgavam desemparados de tudo e de todos. A declaração de independência da Lituânia foi, depois da queda do muro de Berlim, um tremendo solavanco que fez desmoronar a estrutura do colosso soviético. Ao final da campanha, em dezembro de 1990, uma delegação de membros de TFPs de diversos países dirigiu-se a Moscou e entregou diretamente no Kremlin uma cópia em microfilmes do histórico
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abaixo-assinado. De Moscou, a delegação dirigiu-se a Vilnius, onde foi recebida com grandes manifestações de júbilo e gratidão. Outra cópia do abaixo-assinado foi então entregue ao presidente Landsbergis no Parlamento lituano. Na mesma ocasião, o então Cardeal Arcebispo de Kaunas, Dom Vincentas Sladkevicius, pediu aos membros da TFP que não se esquecessem da Lituânia. Manifestou mesmo seu desejo de que uma TFP fosse fundada em seu país. Atendendo ao pedido do Cardeal Sladkevicius, uma delegação internacional voltou a visitar a Lituânia em 1993. E todos os anos , desde então.
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Um gran<le amigo
Acompanhou a delegação das TFPs em Moscou o encarregado de relações internacionais do Parlamento Lituano, Sr. Antanas Racas [foto], que a partir de 1993 passou a organi zar com muito e mpenho o programa anual de
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CATOLICISMO
visitas e contatos dos membros de diversas TFPs em seu país. Ao longo dos anos ele foi se identificando cada vez mais com os ideais de restauração da Cristandade, até se tornar um amigo indefectível dos discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira. No dia 9 de fevereiro deste ano , a Providência colheu sua bela alma. Possa ele ser um intercessor junto ao trono da Virgem Santíssima, Nossa Senhora de Si luva, para que sua pátria permaneça em liberdade e trilhe as vias da civilização cristã. A pl'ogramação <leste ano
A delegação iniciou seu programa na tarde de 28 de agosto na cidade de Kelme, prestando uma homenagem ao ex-Deputado Antanas Racas, diante de seu túmulo. E rezando pelo descanso eterno de sua alma durante a Missa celebrada logo em seguida em sua intenção pelo pároco local. No dia seguinte, uma sexta-feira, logo de manhã, os membros da delegação visitaram em Kaunas, a segunda cidade do país, os estúdios da Rádio Maria, onde o subscritor desta matéria concedeu uma longa entrevista sobre a TFP, suas origens,
suas atividades passadas e as atuações presentes das TFPs europeias. Visitaram em seguida um hospital e, à tarde, levaram a imagem de Nossa Senhora de Fátima à Igreja da Ressurreição, a maior da Lituânia, onde foi recebida calorosamente pelo pároco. Na ocasião foram distribuídos profusamente exemplares do "TFP Kalendorius 2015". No dia 30 a delegação participou de cerimônias cívicas em Kelme e em Siauliai, a quarta cidade do país.
Na Colina do Insurgentes, prestou homenage m aos heróis católicos que enfrentaram s cossacos russos nos levantamentos de 1832 e 1863. De lá, sempr levando em andor uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, os membros das TFPs europeias e entidades afin s participaram de uma M ,r ha pela Vida. Encabeçada por . 'xa. Revma. Dom Eugenio Bartuli , la terminou na catedral. No d min go, 31 de agosto, foi o dia da granel peregrinação ao Santuário
Mariano de Siluva, uma peregrinação de 8 km, a partir de Tytuvenai. Nos dias subsequentes, a delegação participou da abertura do ano escolar em Baisogola e Salcininkai, na fronteira com a Bielorússia, quando seus membros puderam se dirigir a centenas de estudantes. Uma nota jovial foi dada pela presença de um membro da delegação proveniente da Irlanda, que agradou o público estudantil com sua gaita de fole.
Digno de especial menção foi o lançamento da edição lituana da obra-mestra de Plinio Con-êa de Oliveira Revolução e Contra-Revolução, organizado pela municipalidade de Kelme, no dia 2 setembro. Posteriormente, um encontro com jovens universitários na capital, Vilnius, marcou o fim do programa da delegação internacional das TFPs europeias. No ano que vem, se Deus quiser, ela voltará. • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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ESQUILO sorriso de Deus,
que leva o homem a sorrir! ■ PuN10 CoRRÊA DE OuvE1RA
esquilo é um brinquedinho que Deus criou para o homem. Para fazê-lo sorrir e ficar encantado. Uma maravilha de delicadeza, de leveza! Um sorriso de Deus, que leva o homem a sorrir! Aquela cauda linda do esquilo dá a ele mais ou menos o perfil de uma chaleira ou de uma cafeteira, com uma linda alça, uma verdadeira beleza, gestos encantadores. No hemisfério norte, durante o inverno, os esquilos costumam ir comer nas janelas de pessoas que põem uns grãozinhos para eles se alimentarem, são comestíveis do tipo de avelãs, nozes, amêndoas etc. Diante dessas guloseimas, eles escolhem para comer primeiro o que há de melhor. É encantador observar o jeitinho deles, olhando para ver se colocam comida na janela e, quando não tem, eles chegam a bater com as patinhas nas janelas. Nisso, os homens contemplam uma maravilha de Deus, que criou esses entes para fazê-los sorrir em meio a tantas outras coisas que os preocupam . O mesmo Deus que Se encarnou, que sofreu aquela terrível morte, e que pede que tenhamos aquelas dores d'Ele continuamente presentes no espírito, é o Deus que criou os esquilos para sorrirmos.
Na liturgia da Semana Santa canta-se o "Stabat Mater": Fac me tecum pieflere, crucifixo condolere, donec ego vixero (Ó! Dá-me enquanto viver, com Cristo compadecer, chorando sempre contigo). Contemplando a Sagrada Paixão, Deus deseja que nossas almas chorem, com a delicadeza própria a Deus, mas Ele, ao mesmo tempo, quer que elas sorriam. Assim, depois do exemplo magnífico e faustoso de sua Morte, E le nos diz: "Meu filho , agora pare um pouco, sorria de modo saudável e reto. Olhe o esquilo, veja como é engraçadinho ... Olhe a formi ga no formigueiro, veja como é diligente ... Olhe o ninho de passarinho como é gracioso ... " •
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 24 de março de 1988. Sem revisão do autor.
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UMARI
.., ' ■ PUNIO C ORRÊA DE OLIVEIRA
160 anos da proclamação do Dogma da Imaculada Conceição azendo uso explícito e so lene de seu magistério infalível, o Bemaventurado Papa Pio IX declarou, por meio da Bulalneffàbilis Deus, de 8 de dezembro de 1854, ser de revelação divina que a Santíssima Virgem Maria foi totalmente isenta do pecado original. Em razão desta memoráve l data e como singela homenagem a No ·sa Senhora , transcrevemos aqui trecho de um artigo de PI inio Corrêa de O Iive ira, intitulado A santa intransigência, um aspecto da Imaculada Conceição , publicado nesta revista na ed içã.o de setembro de 1954, ano do centenário do magnífico Dogma.
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PoR otm NossA SENHORA (;110RA
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12 V ARnmAm•:s Vitóâa de Pirro 13 D1,:s·1'.l\oui-: Movimentos Populares no VaUcano
18 EsP1,END01ms DA CiusTAND/\01~ A voz dos sinos
Imagine-se uma criatura tendo todo o amor de São Francisco de A ·si , todo o zelo de São Domingos de Gusmã.o, toda a piedade de São Bento, todo o recolhimento de Santa Teresa, toda a sabedoria de Santo Tomás, toda a intrepidez de Santo Inácio, toda a pureza de São Luiz de Gonzaga, a paciência de um São Lourenço, o espírito de mortificação de todos os a nacoretas do deserto: e la não chegaria aos pés de Nossa Senhora. Mais ainda. A glória dos Anjos é algo de incompreensível ao intelecto humano. E a g lória de Nossa Sen hora está incomensuravelmente acima de todos os coros angélicos. A esta criatura dileta entre todas, superior a tudo quanto fo i criado, e inferior somente à Humanidade Santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus conferiu um privilégio incomparável , que é a Imaculada Conceição. "Imaculado" significa etimologicamente a ausência de mácula, e pois, de todo e qualquer erro por menor que seja, de todo e qualquer pecado por mais leve e insignificante que pareça. É a integridade absol uta na fé e na virtude. É portanto a intrans igência abso luta, sistemática, irredutível, a aversão comp leta, profunda, diametral a toda a espécie de erro ou de mal. A º santa intransigência na verdade e no bem é a ortodoxia, a pureza, enquanto 1 em oposição à heterodoxia e ao mal. Por amar a Deus sem medida, Nossa 1______
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CAltl'.I\ DO Dm.t-:TOR
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Senhora correspondentemente amou de todo o coração tudo quanto era de Deus. E porque od iou sem medida o mal , odiou sem medida Satanás, suas pompas e suas obras, o demônio, o mundo e a carne. Nossa Sen hora da Conceição é Nossa Senhora da santa intransigência. •
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22 VmAs 1m SANTos São João Damasceno
25 V1mnAm:s Esom:cmAs São Pio X: r epreensão a jornais 26 CAPA Júbilo do Natal impregnava todos os ambientes
38 SíNono DA FAMí1.1A Debates sobre pr.indpios morais 46 SANTOS E f<'1,:s·1'.l\s no M1~:s
48 A<;Ão CoNT1~A-R..:vou1c10NÁIUA 52
AMBIENTES,
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A Catedral de Reims e um episódio /Jistóâco-simbólico
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A Coluna da Imaculada, na Piazza di Spagna (Roma), erguida a 18 de dezembro de 1856 e abençoada pelo Bem-aventurado Pio IX em 8 de setembro de 1857.
Instituição familiar em foco
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Meninas e bonecas falando palavrões
Caro leitor,
Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável : Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o nº 3116 Administração: Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante : Fone/fax (0xx11) 3333-6716 Correspondência: Caixa Postal 1422 CEP 01031-970 São Paulo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Lida . E-mail: catolicismo@terra.com .br Home Page: www.catolicismo.com .br ISSN 0102-8502
Preços da assinatura anual para o mês de Dezembro de 2014: Comum : Cooperador: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:
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146,00 218,00 374,00 616,00 13,50
Ofereço-lhe nesta edição de dezembro um pre ente de Natal .rni g neris: um comovente rel ato do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira so bre a comemoraç· natalina em sua infância, nas duas primeiras décadas do século XX. Co nvido-o a imergir assim no ambiente ainda carregado de bênç s ela fe ti vidades natalinas na então pequena e tradicional cidade de ã Paulo. P r me io da descriçã.o, poderá sentir o encanto e a alegria espiritual intensa que envo lvia a todos. Parece-me oportuno deixar consignado aqui um depoimento pessoal, que pode ajudar o leitor a compreender melhor o aspecto ublime das narraçõe que o Prof. Plinio co m frequência fazia , como a que rep rodu zimos na matéri a de ca pa . Co m efeito, durante os 46 anos em que co nvivi co m o insigne líder e pensador católico, fui testemunha do seu alto grau de virtudes e de sua total dedicação à causa da Igreja e da civilização cristã.. E um aspecto de sua alma qu e sempre atraiu a minha atenção era sua especial capacidade de marav ilhar-se co m as coisas verdadeiras, boas e belas que lhe caíam sob os olhos, o que denotava ter conservado intacta sua inocênci a, já na vida plenamente ad ulta. Conhece ndo-se fatos de sua infância - como seu encanto pelo Natal - vê-se qu e neles transluz um equilíbrio harmonioso das faculdades de sua alma. Tal eq uilíbrio normalmente é mai s perceptível nos adultos, quando neles existe. Ademais, co ntrari amente ao que sucede co m a generalidade daqueles que vão se adentrando em anos, nele a inocência e o marav ilhamento, próprios de uma infância bem co nstituída , se conjugavam com a se ri edade e a plena maturidade de espírito. Pode-se di zer que nele se rea lizou a soma das idades. Narro a seguir um fato que ilustra a consideração acima. · Na segunda metade do sécu lo passado, veio ao Brasil o profes or hún ga ro Thomas Moinar ( 1921-20 JO). Filósofo, teórico político e intelectual de renome intern ac ional, sua fi gura exponencial de católico de orientação tradicional no 12 lados Unidos era aprec iada também em ambientes intelectuais europeus. Nessa ocasião, segundo disse o Prof. Moinar, veio ele para onh r du as personalidades: o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira e Dom Hélder ân,-1ra . Te ndo visitado primeiramente o antigo arcebispo de Olinda e Recife, viaj u d 'poi s para São Paulo, onde manteve longo colóquio com o fundador da TFP. Eu me encontrava na sala ao lado, quando a conversa t 'rminou. Ouvi então o afa mado intelectual hún garo comentar com uma pe a qu ' o 'sperava: "O encontro com Dom Hélder foi para mim uma decepção. A 011 v •rsr1 r1ue acabo de ter com o Prof Plinio superou minha expectativa em relação n ,fe. Is/o porque o Prof Plínio é um homem que conservou na maturidade o maravillu1111e11 /o rio espírito infantil. " Após essa breve recordação, desejo aos prezados 1 ·itor ·se às suas distintas famílias um Natal cumulado de bênçãos do Divino ln l'ant ' · de sua Mãe Santíss ima. 1~m .1 ·s us e Maria,
~~ CATOLICISMO Publicação mensal da Editora PADRE BELCHIOR DE PONTES LTDA.
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onda de imoralidade e pornografia que grassa no mundo moderno é muito pior do que a disseminação do vírus ebola. Pode parecer chocante, mas é a pura realidade. Primeiramente, porque aqui lo que atinge a alma e pode produzir a sua danação eterna é pior do que aqui lo que atinge o corpo e tem apenas o poder de adiantar a hora da morte, que chega inexoravelmente para todos os filhos de Eva . Mas há uma segunda razão para se afirmar que essa onda de imoralidade e pornografia é pior do que a pior das doenças. É que enquanto contrn o vírus ebola e outras epidemias do gênero se movem todos os poderes constituídos, as organizações científicas, a mídia, e tudo mais que se queira, no que diz respeito à depravação moral, ela é antes promovida do que combatida, e a escravidão ao vício da impureza é apresentada como uma " libertação social". E o mais trágico dessa onda é que ela procura perverter as mentes infantis, normalmente receptácu lo de pureza e de inocência.
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O jornal "O Globo" (24-10-14) e o site da UOL (23-11-14) noticiam a disseminação de um vídeo que apresenta meninas com idades entre 6 e 13 anos, vestidas como princesas, proferindo os piores palavrões. O clipe é uma campanha de um site ativ ista de Ohio, nos Estados
Unidos, que pretende usar o linguajar chulo das meninas para chamar atenção para a causa feminista. Ele traz ainda um menino de 12 anos com vestido cor de rosa e manifestando-se contra o "sexismo": "Quando você diz a meninos para não agirem como meninas, é porque você acha que ser uma menina é algo ruim", prega o menino. Muitos internautas se sentiram ultrnjados com a linguagem utilizada pelas crianças nas referidas cenas, tendo alguns acusado seus pais de "abuso infantil". Ainda nos Estados Unidos, uma rede de lojas especia li zada em brinquedos pôs à venda, a poucas semanas do Natal , bonecas que falam palavrões quando apertadas. Apesar das reclamações, a rede não quer retirar essas bonecas de circulação.
Tudo isso parece servir a um objetivo. Se a criança, ao abrir os olhos para este mundo, recebe uma formação reta e inocente, por mais tênue que esta seja, isto se refletirá depois durante toda a sua vida. Ainda que, mais tarde, por uma perversão, ela venha a entrega r-se a todas as infâmias morais, aquela primeira luz de inocência que ela conheceu permanece na alma sob a forma de um remorso, de uma consciência pesada, ou mesmo de uma saudade, que podem impedi-la de dar os últimos passos em direção ao precipício moral , ou ainda - e há casos nessa direção - de produzir em certo momento uma conversão salvadora, como a do filho pródigo do Evangelho. Por isso, a onda de imoralidade e pornografia tem o maior,empenho em atingir as crianças logo nos seus primeiros balbucios, a fim de poluir as águas puras da inocência com sua baba fétida e imunda, e evitar ass im qualquer ve leidade futura de perseverança no bem, ou de conversão, ou mesmo da prática de um mal menos radica l do que aquele des ejado e promovido por Satanás. Filmetes como esse a que aludimos, ou bonecas que falam palavrões, atuam decididamente nessa direção, e ofendem grave mente o Coração Imaculado de Maria, já tão ofendido. •
Uma "espécie em extinção": a boneca tradicional para as meninas .. .
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particular o monumenta l artigo sobre A le ij adinho, tão belamente ilustrado e que mostra bem a vocação prov idencial do Brasil. A comparação dos profetas de Al eij adinho com os da Catedral de Amiens, reporta ndo-se a um artigo de Plini o Corrêa de O li veira, é de encher a a lma e de mo lde a susc itar a espera nça de que, apesar de tudo, o B rasil tem um a mi ssão grand iosa a desempenhar na ordem da Graça e que essa mi ssão será cumprida! (M.C. -SP)
Al'te paradisíaca
Honl'oso apoio a Catolicismo
18:J O Pres ide nte da Câ mara Muni cipal de G uaratin guetá (SP) enviou ao Diretor de nossa rev ista um a carta acompanhada de cópi a do requerimento nº 2294-14-JP de au to ri a do Ve rea dor João Pita Canettieri , aprovado em 2310-2014 pe lo pl enári o daqu ela Casa legislati va, nos seguintes te rmos: "Requeremos nos termos regimentais, ouvido o Plenário, seja incluída nos Anais da Casa, a matéria "São José de Anchieta. O primeiro devoto do Coração de Jesus no Brasil nascente ", publicada na Revista Catolicismo, nº 761, ano LXI V, maio de 2014, páginas 13 a 22. Soli c ita m os ai nda o en vio do Presente Requerimento ao Excelentíss imo e Reverendíssimo Senhor Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis - Arcebispo da Arquidiocese de Aparecida e ao }lustríssimo Senhor Paulo Corrêa de Brito Filho, Rua Visconde de Taunay, 363, Bom Retiro, São Paulo, CEP 011 32-000. Recinto do P lenário 'Vereador João Mod', outubro de 2014. Autor: João Pila Canettieri, Vereador " Missão gramliosa do Brasil 121 N ão poderi a deixa r de cumprimentar toda a equipe da revista Catolicismo pela belíssima edição de novembro, em
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artístico do me tre ouropretano. Sem dú v id a, e le fo i o ex poente do estilo co loni a l brasil eiro e legou-nos uma arte regada pela grande fé que te mos. Rezo para que o B ras il perceba e ta gra nde dádiva que Deus nos deu por me io das obras do Al eij ad inh o. N e ta rev ista de novembro, ao mesmo te mpo em que me enca ntei com a arte barroca , re pugnei a noj enta "a rte" (uma ca ri catu ra da arte) ex posta na Biena l desse ano em São Paulo. Além de horríve l, sob todos os pontos de vista, as "obras" expostas em ta l Bi enal agridem o bom senso. E para pi orar a expos ição, e la é bl asfema. Só não entendo como as autoridades (civis e relig iosas), em vez de utili zar aquele lugar no lbi rapuera para expor o noj o, não fi ze ram um a expos ição para lemb ra r dos 200 anos da morte do Ale ij adinho. Seria uma g lóri a para o Bras il e atra iria a admiração de todos os bras il eiros e mesmo de muitos estrange iros. Precisa mos protestar contra as auto ridades que permitiram utili zar aquela ga leria para escarnecer de nossa sa nta Religião. (R.J.A. - MG)
Escrevo para lhes para benizar pela homenagem ao nosso Aleij ad inho. N ão v i outras publi cações que prestassem o devido louvor a este grande mestre da arte tipi ca mente bras ile ira. E isso está dentro do norm al de nossa mídia, que despreza os verdade iros va lores artísticos de nossa te rra, que, entretanto, são justamente valori zados no exteri or. Até mesmo na Fra nça, terra por exce lência da arte, particu larmente da arte gótica, o nosso Ale ij adinho recebe o dev ido reconhec imento. E no Bras il , o que se divul gou a respeito desse bi centenári o? E o nosso Mini stéri o da C ul tura? Q uase nada de reconhec imento à arte barroca, ori gina l pe las mãos ta lentosas do Ale ij adinho. Vocês apresentara m mui to bem a nossa arte, po is, pe las pág inas da revi sta, percebemos bem como a arte do barroco bras ile iro, em particul ar do barroco mineiro, procura refl etir o Céu, com seus anj os e santos . Por exe mpl o, os pórti cos de autori a do A le ij adinh o nos leva m a imaginar os pórti cos do Para íso. (A.J.J. - MG)
lz2I Vo u guardar com todo carinho o número de novembro da revi sta, por todo se u conteúdo tão exce lente, mas sobretudo pelo artigo principal, " ARTE IN SPIRADA PE LA FÉ", em razã.o do bicentenário de Ale ij adinho. Ficou uma edi ção pra ninguém botar defeito. N em mesmo os crí ticos de arte encontra rão defe ito. Meus parabéns ao autor e ao grupo responsável por esta ed ição: uma obra-prima! (L.A.N.G. - MG)
Arte e "arte"
Ap1'i111ora111e11to
18:J Es pe tac ul a r o te x to d e Wil so n
Acabei de ler a última edição do Catolicismo. Sempre está exce lente, mas me vejo na obrigação de cumprimenta r especia lmente por esta edição: Está e pl ênd ida! Que Nossa Senhora reco mpense os se nhores por todo o tra balho, de uma rev ista que vai se aprimorando cada vez mais. Essa é também
Ga brie l da Sil va sobre o Aleijadinho ! O escri tor não apenas apresenta nobremente o mestre dos arti stas mine iros, mas co nseguiu apo nta r es petacul arme nte, tanto pe la riqu eza do tex to como po r me io das fotos, o as pecto re li g ioso a li ado ao as pecto do be lo
"Pra 11i11guém botar deleito "
a opini ão de a lg un s a mi gos, o que ta mbém me motivo u a escrever-lhes. (S.M. -DF)
Contra o como<lismo
18:J Como vocês recomendaram, por me io do site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, assinei a carta de protesto contra a Bi ena l, uma vez que e la zomba de nossa fé. Espero que os diretores de co légios não colaborem para matar a inocência dos alunos, levando-os à Bie na l. Aquilo é um absurdo inace itável e todos os cató licos devem também p ro testar energicamente, po is se fi carmos de braços cruzados, na próx ima Bi enal os ini migos bl asfe madores irão pi sar ainda mais em nossos sagrados símbolos e imagens. Os blasfemadores querem que os cató li cos engul am os desaforos sem dizer um a palav ra sequer de protesto. Vamos a lertar todo mundo contra isso, não podemos fi car aco modados. (M.A.V. - SP) Bienal "catolicol'óbica "
18:J Todos os arti gos me impress ionara m pe la importânc ia, espec ialm ente a qu e le so bre o art ista min e iro por excelênc ia, mas ta mbém aquele sobre as fa ve las bras il e iras; igua lmente um ou tro , sobre a reação dos franceses contra a revolução sex ua l, e ta mbém o tema "Esquil o, so rri so de D eus". Ótima a resposta do M onsenh or José L ui z so bre matrimô ni o. M as o qu e mais levantou a minha indignação fo i o artigo sobre a 3 1ª B ienal de Sã.o Paulo. Uma co isa é liberdade de expressão, m as não é poss íve l ace itar a fa lsa liberd ade de faze r pi ada da Re li g ião Cató li ca. N a Bienal os organizadores a bu sa m d a libe rd ade e bl asfe ma m contra Deus. Não se pode chamar isso de liberdade, assim como o filh o não pode ter a li berdade de bater em sua mãe ou ridiculari za r o seu próp rio pa i. O mesmo se poderi a di zer da questão d o a bo rto (ta mbém in ce ntiv ado na ta l Bi enal, no chamado "espaço para abortar"), pois uma mãe não pode ter
a liberdade de matar alg uém, mui to menos seu própri o filh o. Aqu ilo não é libe rdade de expressão, é ignó bil libertinage m, é ig nóbil mani fes tação de cato li cofobia, é ignóbil persegui ção re li g iosa, é o di abó li co ódi o a Deus. Q ue E le tenha piedade de nós ! (S.W. -SP)
Evento anticatólico ~ A B ienal em São Pa ul o só está transcorrendo norma lmente dev ido à indi fe rença, e mes mo à co ni vê nc ia, da CNBB , que não tem um rea l amor de Deus, po is se ti vesse não permitiri a aquele evento anti cató li co, aberto para todos tipos de sacrilégios. Precisamos acordar a CNBB e o bri gar esta entidade a tomar séri as providênc ias contra a Bienal.
. (P.V.O. -
Também incompreensível que o c lero de São Paulo ass ista essa ofensa a Deus sem faze r nada. Se o c lero desej asse, fa ri a um processo e se fech ari a no mesmo di a aquela porcaria de expos ição que se autonome ia " de arte", mas que não passa de um chiqu eiro, qu e poderi a ter um no me: "Biena l de arte do demôni o" . Arte verdade ira é o qu e a revi sta mostra nas páginas sob re o A le ij adinho. O admirável A leijadinho, se so ubesse que no século XXI se exporia a arte di abó li ca da Biena l, pediri a a D eus que o mundo aca basse antes dessa aberração ser exposta, po is seri a uma mancha na c ultu ra do Brasil tão che io de marav ilhas cri adas por Deus, mas também marav ilh as cri adas pelos fa ntásticos arti stas bras il e iros. (I.N.C.C. - PR)
ES)
Al'te diabólica
18:J Uma ofensa incompree nsível o que se está passa ndo na Bi enal de "arte".
Cartas, fax ou e-mails: enviar aos endereços que figuram na página 4 desta edição.
FRASES SELECIONADAS rvirufe, fiéis, afegres, triwifantesi vináe, vinde a Beíémi vede o rei cfos anjos que ttasceuj vinde, adoremosj vinde, adoremos o Senfwr" f-l{V\,o de NCltC!L, Ades.te fLdeles •
I•
r,E conw é possível ao Rei cfos reis, que enche o Céu e a Terra, não encontrar para repousar seus mem6ros vindo ao mundo, senão essa po6re manjedoura?" Sêío 9 -egóvfo de NLssci
'<Sim, Senhor, a6ai;mndo-vos assim por nós, nwstrqstes até onde se estendeu a vossa misericórdia e a vossa caridade para co1Wsco" sêío isevV\,civdo
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Monsenhor JOSÉ LUIZ YILLAC
..... ' Pergunta -Leio sempre a coleção O S(lnfo do dia e o livro Clula dia tem seu S(lnfo e tenho visto várias Santas que foram dadas em casamento com 12 anos de idade (em alguns ·casos, incompletos) e logo em seguida tiveram filhos. Em nossos dias isso seria, no mínimo, inconcebível, com direito até a punição pela legislação, que não permite relações com menores de 18 anos. Como se explica isso? Por outro lado, houve várias Santas que se casaram e, de comum acordo com seus-maridos, praticaram o voto de castidade e jamais tiveram relações conjugais. Entretanto, aprendi que o Sacramento do Matrimônio, para ser configurado como tal, é necessário que haja a consumação do ato, pois ambos tornar-se-ão uma só carne: se isto não ocorrer, fica descaracterizado o Sacramento do Matrimônio. Poderia, por favor, esclarecer-me tais dúvidas?
Resposta - O missivista faz duas perguntas, uma sobre a idade mínima para o casamento, outra sobre o voto de castidade dentro do casamento. Começamos pela primeira pergunta e deixamos a segunda para outra ocasião. A idade mínima para o casamento variou com o tempo, e ainda hoje é diferente, conforme a legislação e os costumes dos diversos países. No direito antigo - a que se refere o consulente a idade mínima para as mulheres era de 12 anos, e 14 para os homens. O atual Código de Direito Canônico (de 1983, e nisto repete o estabelecido no anterior, de 1917) fixa a idade mínima para o casamento em 16 anos completos para o homem e 14 anos completos para a mulher (cânon 1083, § 1). Entretanto, deixa a critério do Episcopado de cada país fixar uma idade maior para a celebração lícita do matrimônio (cânon 1083, § 2). Além disso, estipula que é preciso respeitar a lei civil vigente no país (cânon 1071, § 1, 2º). No que se refere ao Brasil , nosso Código Civil estabelece a idade mínima, tanto do homem como da mulher, em 16 anos. Ressalve-se, entretanto, que entre os 16 e os 18 anos é necessária a autmização dos pais (art. 1517), pois só aos 18 anos os jovens atingem a maioridade civil (art. 5°). Maturidade llsiológica e maturidade psicológica Qual a razão de ser dessas idades mínimas? Observa o Pe. Jesus S. Horta[ SJ, em seu comentário ao cânon
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1083: "A idade aqui estabelecida marca o momento em que normalmente se atinge a maturidade .fisiológica necessária para o matrimônio. Mas esta deve ir acompanhada também da maturidade psicológica, sobre a qual há disposições adequadas no capitulo relativo ao consentimento matrimonial" (Código de Direito Canônico, Edições Loyola, 1983). Vejamos o que reza o cânon 1095 sobre a maturidade psicológica: "Cânon 1095 - São incapazes de contrair matrimônio: 1 º os que não têm suficiente uso da razão; 2° os que têm grave falta de discrição de juízo arespeito dos direitos e obrigações essenciais do matrimônio, que se devem mutuamente dar e receber; 3º os que não são capazes de assumir as obrigações essenciais do matrimônio, por causas de natureza psíquica ". Comentando, na obra citada, o item segundo do cânon l 095, o Pe. Jesus Horta( pondera: "O nº 2º indica o defeito do que poderíamos chamar 'razão prática'. É a falta de maturidade psicológica para p esar a gravidade dos direitos e obrigações próprios do estado conjugal. Possivelmente é um dos defeitos mais comuns, no nosso meio. Contudo, não se esqueça que o matrimônio goza do fàvor do direito; portanto, na dúvida sobre a existência da incapacidade, o matrimônio não pode ser proibido e, uma vez contraído, não pode ser declarado nulo p elo tribunal correspondente, sem que se demonstre com certeza que, de fato, existia a incapacidade". Essas ponderações são de suma atualidade. Atualidade <lo problema Com efeito, no rumoroso Sínodo extraordinário dos Bispos realizado em Roma no último mês de outubro, a acesa discrepância entre os participantes incidiu principalmente sobre esse tema: fazer dos processos de declaração de nulidade um "divórcio católico". É o que afirma o Pe. Pio Pace, num artigo aparecido no blog norte-americano Rorate Caeli, em 13 de novembro de 2014 (tomamos o texto da tradução em francês do site Osservatore Vaticano - o qual nada tem a ver com o diário oficioso da Santa Sé, L 'Osservatore Romano): "A declaração de nulidade consiste em dizer que, no momento do casamento, o consentimento dos esposos
No rumoroso Sínodo extraordinário dos Bispos realizado em Roma no último mês de outubro, a acesa discrepância entre os participantes incidiu principalmente sobre esse tema: fazer dos processos de declaraCjão de nulidade um "divórcio católico".
1095 3º) . Os tribunais laxistas (os dos Estados Unidos são com frequência citados, mas há muitos outros) se baseiam principalmente nesta última razão: falta de maturidade dos esposos, ou de um deles. Uma maneira muito simples de transformar as declarações de nulidade em um 'divórcio católico' seria pois alargar a Jurisprudência sobre a questão da imaturidade que torna o consentimento inexistente, o que os tribunais romanos podem.fàcilmente faze1ê Quando uma pessoa tem 20 ou 30 anos, ou mesmo mais, é sempre mais ou menos imatura ". E o perigo - acrescentamos - não é apenas que, declarado nulo um primeiro casamento, um segundo se realize. Quem pode garantir que este segundo não sofra o destino do primeiro e os cônjuges se sintam livres para um terceiro, um quarto, etc.? Afigura deum matrimônio monogâmico e indissolúvel ficaria assim sem sentido! O resultado deste quadro é que a civilização cristã construída sobre os princípios do Evangelho - seria assim destruída. É o que estamos assistindo em nossos dias. A Mensagem de Fátima contém uma palavra a Tespeito
realmente não existiu. O Código de Direito Canônico prevê certo número de casos de nulidade matrimonial: incapacidade de contrair matrimônio em razão da ausência de um uso suficiente da razão (cânon 1095); exclusão de elementos essenciais do próprio matrimônio (cânon JJOl), tais como a.fidelidade a un; só cônjuge ou sua indissolubilidade (cânon 1099); erro sobre a p essoa (cânon 1097), dolo (cânon 1098), violência (cânon 1103), bem como a incapacidade de assumir as obrigações do casamento por razões psíquicas (geralmente a imaturidade: cânon 1095, § 3). Com ef eito, as causas mais importantes de nulidade do matrimônio são frequentemente que os contraentes sofi-em 'de uma grave .fàlta de discernimento concernente aos direitos e deveres do matrimônio' (cânon 1095 2º), ou que, 'por causas de natureza psíquica, não são capazes de assumir as obrigações essenciais do matrimônio ' (cânon
É oportuno lembrar que no ano de 1917 em Fátima, Nossa Senhora nos advertiu sobre este desfecho. E la deixou claro que sobre o mundo moderno - saído da Reforma protestante e do Iluminismo, e levado às últimas consequências pelo comunismo e pelo hipismo - pesa um decreto de condenação: ou se converte e faz penitência, ou será destruído por um grande cataclismo de proporções universais. De um modo ou de outro, deixará de existir. Esta não é, porém, a visão simplesmente de uma catástrofe. Em seu lugar se erguerá uma nova civilização, de acordo com os princípios do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. É o que São Luís Maria Grignion de Montfort denominava Reino de Maria, o qual é confirmado pelas célebres palavras de Nossa Senhora em Fátima: "Por.fim, o meu Imaculado Coração triunfará". Cabe a todos os filhos da Santíssima Virgem a honrosíssima e gratíssima - porém crucial - tarefa de consagrar todos os seus esforços para a edificação desse Reino. O auxilio divino não lhes faltará! • E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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A REALIDADE CONCISAMENTE ·
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Letônia r,esiste às chantagens e intimidações da Rússia
Neo-religião verde: ritos fúnebres ''ecologicamente corretos11
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a Letôni a, 27% dos dois milhões de habitantes são etnicamente ru ssos. E isso é pretexto para manipul ações do K remlin, tal como fez na Crimeia e no leste ucraniano, vi sando " defender" esses russos étnicos. "A Rússia tenta usar a mino-
Bélgica e a Holanda estudam aprovar um processo de disso lução dos corpos humanos através de um ri to fún ebre "ecologicamente correto" que substituiria o enterro. O rito da " bi ocremação" é tido como mais " reintegrador" ao meio ambiente e j á está em uso em algumas partes dos EU A e do Canadá. T rata-se de disso !ver o corpo do fa lecido numa solução quente à base de água alcalina submetida a altas pressões. O processo deixari a escassas cinzas do finado e o líquido resultante seri a " devolvido" à natureza ou vertido no esgoto. O ateísmo, e espec ialmente o panteísmo, pregam que o homem não é senão 1 matéri a que retorn a à natureza no momento da morte, contrariamente ao dogma católico, o qual ensina que na ressurreição do fim dos tempos as almas voltarão a se reunir a seus corpos. •
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ria russófona como instrumento para obter agressivamente seus o~jetivos ", disse o mini stro de D efesa letão R aimonds Vej oni s. O país sofreu sucessivos ciberataques ru ssos. N as eleições gerais de outubro último, o partid o ru ssófil o H armonia perdeu sete das 3 1 cadeiras que detinha, enquanto a coalizão governamenta l garantiu o govern o com 6 1cadeiras e 58,8% dos vo tos. Janis Urbanov ics, presidente do Harmonia, reivindicou a form ação do governo, apesar de ser incapaz de reunir o quorum necessári o. M as seu gesto sinaliza o intuito de procurar atritos em relação ao atual governo letão. •
Rússia: governo planeia vetar 11 lnternet capitalista 11 Rú ss ia teme movimentos intern os de contestação, como as manifestações contra Putin e a guerra na Ucrânia, bem como aqueles gerados pelo mal-estar da população com a fa lta de alimentos importados. O K remlin apela para o velho truque: imaginar uma ameaça externa. D e fato, o govern o está cortando o acesso da popul ação à Intern et, a fim de abafar a diss idência. O mini stro das Comunicações, Nikolai Nikiforov, confirmou exercíc ios com o Ministéri o da D efesa e o FS B (po lícia política ru ssa), preparan do um cenári o no qual a Jnternet na Rú ssia fü ncione sob o controle absoluto de um sistema de repressão. Para o site de notícias russo "Gazeta. ru" , o Kremlin visa mudar as características das conexões de Internet no país para impedir fugas v irtuais. •
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CrentO Ucranianos derrubam a maior estátua de Lenine existente no país
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ratou-se de um gesto simbóli co e polêmico contra o com uni smo. E m Kharkiv, segunda cidade da Ucrânia, situada na fro nteira com a Rú ss ia, a maior estátua de Lenine fo i j ogada de ponta cabeça, em meio à alegri a geral. L enine é um dos fu ndadores cio comuni smo e culpado por milhões de mortes de ucrani anos. A maiori a da popul ação da região é de língua ru ssa, mas não quer saber da Rú ss ia. A pós operários com maçari cos racharem a base da estátua de bronze de 8,50 metros de altura, a mul tid ão, em meio a uma imensa festa, puxou a corda que derrubou o monstru oso símbolo. Dançou-se, cantou-se, e alguns usara m seus martelos para levar um pedacinho co mo lembrança. A estátua teve seu merec ido destino - o fe rro ve lho - e em seu lugar fo i eri gido um grande C ru ze iro. •
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0 Titanic está afundando 11 1 adverte bispo ucraniano
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om Jan Sobil, bi spo~a_uxili ar de Kharkiv-~apori zhi a, cio ri~,o. latino, afi rmou que os catolicos ucrani anos estao espantados. E como
se o Titanic estivesse afimdando e as pessoas da vizinhança tocassem música e se divertissem ", dec larou. D om Jan Sobil exortou os católi cos a sacrifi ca r sua diversão habi tual para jejuar e rezar. "Nas cidades ocupadas pelos mercenários, não há Missas nas igrejas católicas devido ao perigo", di sse. Em K ra matorsk, a igrej a do Es pírito Santo fo i danifi cada. Em M ariupol, os cató licos estão engaj ados nos preparati vos de defesa da cidade. O "Ti ta nic" que afund a é uma fie l imagem do mundo. O apelo à penitência e à renúncia às diversões levianas fo i fe ito por N ossa Senhora em Fátima, mas não fo i atendido. E o "Titanic" está cada vez mais ameaçado de afund ar no fri o da morte, num oceano de indi fe rença e de pecado. • 11
Polícia islâmica" nas ruas apavora Alemanha
cidade de Wuppertal, na Al emanha, está assustada com a " polícia da shari a" que controla a obediência à lei islâmica, usando j alecos identificati vos. A opinião pública alemã teme que sej a o início encoberto da instalação ele um regime que acabará sendo dirigido por fanáticos.
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"O perigo é sua capacidade de recrutar j ovens para fazer a 'guerra santa' na Siria e no Iraque, podendo voltar depois mais radicalizados para a Alemanha", observa a polícia loca l. Recentemente, dezenas de fa náticos sa íram ela A lemanha para lutar no Ori ente M édi o nas fi leiras do Estado Islâmico. A lguns não provêm de famíli as estrangeiras, mas se pervertera m à reli gião de M aomé em solo alemão. Para mui tos cidadãos, os temidos radicai sj á estão em casa e podem ser loiros e de olhos azui s. A chanceler Angela M erkel advertiu que "ninguém está autorizado a agir como policial". Porém, esses "guerreiros do Corão" não estão dispostos a obedecer às leis ou às advertências das autorid ades ocidentais. •
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CATOLICISMO
Católicos iraquianos: ''Antes J110l'l'e1· que nos pe1·ve1·ter ao Islã " s católicos iraquianos que fugiram das milícias islâmicas afirmaram ao jornal "Corriere della Sera": "É melhor morrer do que nos perverter". O jornal diz que esses católicos "demostram uma fé e uma determinação de permanecerem fiéis que, para nós europeus, pode parecer coisa do passado". Salem, Habib, Odish e Kakosh contaram que os torturadores "vinham todos os dias nos dizer para nos tornarmos muçulmanos. Um dia respondemos que seria melhor eles se batizarem. Então nos golpearam ainda com mais força". Os católicos quase choravam , ao descrever a profanação da basílica local. Mas a apostasia estava fora de discussão . A graça de Deus anima seus filhos nos momentos mais difíceis, dando-lhes forças para derrotar seus adversários ou para partir rumo ao Céu, sem necessidade de sofismas relativistas "irênicos" que nada resolvem no momento decisivo.
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Na China comunista: destruição de igreias provoca ira po1mlar m três provínci as chinesas, duas igrejas católicas foram demolidas e uma terceira teve sua cru z arrancada da torre , simultaneamente. O epicentro da campanha de demolição de igrejas está na província de Zhejiang, onde quase uma centena delas foi arruinada ou perdeu suas cruzes externas. A campanha começou após o secretário do Partido Comunista local avistar nas cidades "uma selva de cruzes no horizonte visual". Então mandou "retificar" essa visão. Esmigalhar cruzes, destruir imagens e demolir igrejas tornou-se a tarefa mais absorvente do Partido Comunista . Até o bispo "oficial" Vincenzo Zhu Weifang - nomeado pelo comunismo em violação aos direitos da Igreja - está tomado de medo pela reação popular. Por isso advertiu o governo dos riscos que este e seus seguidores correm por causa da ira do povo indignado.
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D EZEMBRO 2014
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VARIEDADES
DESTA UE
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Encontro Mundial de Movimentos Populares no Vaticano
Uma lição da Grécia antiga n GREGóR10
V1vANco Lo PEs
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lérn de sua fil osofia e de suas escul turas, a Grécia anti ga nos lego u alguns paradi gmas notáve is. Um deles tem como referência Pirro, rei de Épi ro e da Macedôni a, que morreu em 272 antes de Cristo, co m apenas 46 anos. Gra nde guerreiro, ele fico u fa moso por sua oposição a Roma e pelas guerras que empree ndeu na penínsul a itálica. A mais célebre delas fo i a batalha de Áscul o, em 279 a.C., na qual, após esfo rços ingentes de seu exército, derrotou os romanos co mandados por Publius Decius Mus. Nessa vitóri a, arra ncada a ferro e suor, Pirro perdeu 3.500 homens, incluindo vári os ofi ciais. Quando o parabeni zara rn por ela, Pirro res pond eu: "Mais uma vitória como esta, e estou perdido". Daí vem a fa mosa ex pressão " vitóri a de Pirro", para indi car um triunfo alca nçado com tantas perdas qu e, sob certo ponto de vista, equi va le a urna derrota. *
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N ão pretend o faze r aqui urn a análise das últimas eleições no Bras il. Nem te ri a espaço para isso, mas o leitor já percebeu que estou me referindo ao resultado pós-eleitoral. Faço apenas um breve co mentári o a res peito, sem entrar nos aspectos mais profu ndos que o te ma co mporta. O PT venceu, é verdade, mas co m quanto custo! Para utili zar a terminologia dos institu tos de pesquisa, fo i uma vitó ri a dentro da margem de erro. E isto apesar de a opos ição ter sido muito branda, ex plorando pouco, ou qu ase não explorando, os aspectos ideológicos do governo pelista. Por exemplo, o favorecimento desca bido à Cuba co mu-
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CATOLI C ISMO
ni sta; o decreto instituindo os tais conse lhos popul ares (o u soviets, dá na mesma), desca rtado há pouco pelos parl amentares; uma política externa assa nh adarn ente anti-norte-americana, mesmo co m prejuízos evidentes para o Brasil; um inexplicável morrer de amores pelo gove rno Chávez e de seu sucessor; e ass im por di ante. E já qu e estamos fa lando do pós-ele ição, é bom lembrar qu e Madu ro, depois de pronunciar um fogoso di sc urso de regozijo pela vitóri a peti sta no Bras il , considerada por ele importantíssima para a manutenção e desenvo lvimento do tal " boli va ri anismo" na Améri ca, mandou para cá um de se us mini stros, chamado Elias Jaua, a fi m de faze r um aco rdo com o MST. Um acordo entre um govern o e uma assoc iação de um outro país, a qu al ademais atua fora dos parâmetros lega is, convenh amos que é inusitado. A menos que Madu ro esteja co nsidera ndo o Brasil mera província de seu Estado totalitári o bolivari ano. Qual a fin alidade desse aco rdo? Ace lera r a implantação do socialismo (co munismo?) no Bras il , ou seja, segundo dec laro u o próprio Ja ua, forta lecer o que é essencial para uma revolução socialista, que é treinamento, conscientização e organização do povo para def ender o que fà i alcançado e avançar na construção de uma sociedade socialista " ("Ya hoo Notícias", 29- l0- l4). Logo após a publicação do resul tado eleitora l, o PT se sa iu co m ex igênc ias para participar ati va mente do govern o nos próx imos quatro anos, in timando ainda qu e se faça um a refo rm a política a se u modo, ou seja, muito pouco democráti ca . Isso tud o nos leva de volta à Grécia anti ga. Vitóri a de P irro ou ampliação e co nso lidação cio soc iali smo no Bras il , co mo qu er Maduro? O futu ro o dirá. Co nvém estarm os atentos.•
Estátua de Pirro
TentaLiva de ressuscitar grupos revolucionários? 1 N ELSO N RAMOS BARRETTO
Roma - A co nvite do Pontifício Conselho de Justi ça e Paz e ela Pontifíc ia Academia das Ciências Sociais, com o dec idido apoio do Papa Francisco, líderes dos ass im chamados M ovimentos Popul ares dos cinco contin entes se reuniram nos di as 27 a 29 de outubro, em Roma, para três di as de debates sobre três ternas aprese ntados co mo fund amenta is: terra, moradi a e tra balho. "O Papa Francisco não se esqueceu de nós ", declarou um dos orga ni zadores do evento, ele clara tendência marxista, o argentino Juan
Grabois, responsável pela Confederação dos Trabalhadores da Econo111 ia Popular. "Jorge Bergoglio nos acompanhou p or anos no p rocesso de organização dos recic!adores, c:amponeses, vendedores ambulantes, artesãos e herdeiros da crise provocada pelo capitalismo neoliberal ", acrescentou Grabois. Os temas em debate no dia 27 foram : desigualdade e exclusão social, di gnidade humana e meio ambiente. A conclusão dos trabalhos do di a fo i fe ita pelo líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), também marxista, João Pedro Stédil e. No di a seguinte, terça-fe ira, no
Vaticano, na antiga Sa la do Sínodo, houve o enco ntro co m o Papa Francisco, estando prese nte o presidente boliviano (e bolivari ano) Evo Moral es, qu e participou do evento na qualidade de ex-represe ntante dos movimentos popula res. De passagem por Roma, a Agência Boa Imprensa (ABIM ) pediu-me para acompanh ar esse importante evento, es pec ia lmente o segund o dia dele, rea lizado no Vaticano. O programa da manhã, que contou co m a presença do Papa, fo i fechado para a imprensa. Com isso as informações para o grande público fora m fil tradas pelos co muni cados ofi ciais, o que
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E-ma il para o autor: catoli cisrno@terra.com.br
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se realizar dentro do Vaticano. Todos agradeciam o apoio do Pontífice. Um representante africano chegou a perguntar "se agora não seria o
é, aliás, habitual nas reuniões dos movimentos populares, que têm lá seus segredos revolucionários. Longa pl'eparação e estranho silêncio
Segundo a Agência Fides, o Papa Francisco encorajou os presentes a
"construir uma igreja pobre e para os pobres ". No mesmo despacho, Fides informa que mais de l 00 leigos, líderes de grupos sociais, 30 bispos engajados com as realidades e os movimentos sociais em seus países (leia-se bispos de esquerda), e cerca de 50 agentes pastorais, além de alguns membros da Cúria romana , participaram do Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Esse congresso mundial foi preparado em menos de um ano. Em dezembro de 2013, quando houve a primeira reunião de alguns líderes como João Pedro Stédile do MST e Juan Grabois no Vaticano, foi anunciada a preparação de um Encontro internacional para outubro de 2014. (vide Catolicismo, março/2014 Reverente e Filial Mensagem). Depois do Encontro de dezembro de 2013 em Roma , não se publicou mais nada. Jlllot1ime11tos ret10/ucionários
Quando se analisa a lista dos movimentos convidados e representa-
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dos no Encontro, causa perplexidade a lista de crimes, invasões e depredações imputadas a estes movimentos na sua luta revolucionária para a implantação do socialismo. O que teria motivado o Vaticano na escolha desses movimentos revolucionários dos mais radicais, que manipulam as classes populares para a revolta e a implantação do comunismo? Por que entidades sérias que se dedicam a ajudar os pobres não foram convidadas? Por que esse preconceito contra as entidades classificadas de "assistencialistas"? Pauta (/0 encolltl'O: como eliminar o capitalismo
O segundo dia do Encontro realizado no Vaticano foi o mais importante.
Para facilitar a exposição, começaremos pela sessão da tarde, para depois trntarmos do discurso do Papa, proferido no período da manhã. O local escolhido foi a antiga sala do Sínodo (foto acima). Pobre, despojada e sem reboco, com os tijolinhos aparentes, ela está localizada na parte medieval do Palácio Apostólico, não possuindo por isso o fausto renascentista-barroco dos andares superiores. A primeira parte da sessão foi presidida pela Dra. Margareth Archer, Presidente da Pontificia Academia de Ciências Sociais, e a segunda pelo cardeal Turkson, Prefeito do Pontifício Conselho de Justiça e Paz. A palavra de ordem que mais se ouviu entre expositores e debatedores foi "derrubar o capitalismo", classificado como um regime opressor. Evo Morales, presidente da Bolívia, começou propondo eliminar o capitalismo , em que tudo é mercantilizado, condenou a "invasão" europeia de 520 anos no continente americano, e pediu o fim do bloqueio comercial de Cuba, sem nenhuma palavra de reprovação à férrea ditadura comunista imposta àquela infeliz nação. Era difícil imaginar que urna reunião de líderes revolucionários comunistas e filocomunistas pudesse
momento ideal de derrubar o capitalismo ". Depois da Dra. Margarettb Archer e do Pe. Michael Czerny, SJ falou Juan Grabois, soi-disant líder dos recicladores da Argentina. Este, após elogiar as palavras do Papa dirigidas aos presentes, relembrou o pedido de Francisco I para que os movimentos superassem seus conflitos de ideias, tivessem uma visão global de si mesmos, e iniciassem sem perda de tempo o processo de luta revolucionária. Palat1ras do Papa causam perplexi<lade
Na antiga sala do Sínodo, o Papa Francisco exortou os presentes: "Continuem com a vossa luta, caros irmãos e irmãs, faz bem a todos nós". Segundo matéria de Gian Guido Vecchi, do diário italiano "Corriere della Sera", nunca se tinha visto um Papa diante de 150 pessoas de 80 países representando os "movimentos populares" do mundo inteiro para uma conferência sobre "Terra, teto e trabalho, as últimas chagas do planeta". Com efeito, o Papa Francisco serviu-se da linguagem utilizada por socialistas utópicos que apregoam
um paraíso nesta Terra onde apenas os bens materiais são levados em conta: "Vamos repetir juntos do
jimdo do coração: nenhuma familia sem-teto! Nenhum camponês semterra ! N enhum trabalhador sem direitos! Nenhuma p essoa sem a dignidade que dá o trabalho ". Reconhecendo que suas palavras poderiam causar estranheza pelo seu sentido inequívoco , o Papa tentou defender-se da acusação de comunista: "Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se eu falo disso, o Papa é 11111 comunista", afirmou ele. "Não se compreende que o amor pelos pobres é o centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo para o qual vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir tais coisas, de.fato, não é algo estranho, é a doutrina social da Igreja". A cena sem precedentes de um Papa que repete chavões da luta de classe socialista deixou muitos setores católicos perplexos, como se vê, por exemplo, nos comentários do leitor Alceir, no site "Frates in Unum": "Ao longo de dois mil anos tudo que a Igreja.fez.foi dar de comer a quem tem fom e, vestir quem está nu e instruir os ignorantes. Os primeiros hospitais e sanatórios do
mundo.foram criados p ela Igreja. As primeiras universidades do mundo foram criadas pela Igreja. De dentro do povo católico nasceram as Santas Casas de Misericórdia". E prossegue: "A Ig reja forjou a santidade de homens e mulheres extraordinários como São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Martinho de Tours, São Bernardo de Claraval. Santos que renunciaram ao mundo para abraçar a causa de Cristo e o serviço aos pobres e doentes. Com o regime de suserania e vassalagem a i greja amparou e protegeu o camponês que deixou de ser um mero escravo do senhor de terras para ser um servo da gleba que, embora preso a um pacto de vassalagem, era livre para ter seus bens e seus animais. Em todos esses tempos a Igreja nunca pregou o conceito de 'luta ' como método para fazer _'justiça social' ". Amor de Cristo pelos pobres
A "Teologia da Libertação" confunde deliberadamente o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo pelos pobres, praticado depois pela lgreja e pelos santos durante dois mil anos, com a luta de classes marxista. De um lado, a Igreja segue o preceito
Fot~: Ne lson Ramos Barretto
CATOLICISMO
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za ', do 'crime' da.fome, da miséria daqueles que estão nas ruas e são chamados de 'sem-teto ', o 'excedente' da mão de obra. 'Em geral, p or trás de um eufemismo há um delito '". Nenhuma palavra sobre a trágica situação dos po bres em C uba, na Coreia do N orte ou na anti ga U nião Soviéti ca! Revitalizar as clemocracias rumo aos conselhos bolilraf'Íanos?
evangé li co ao dar de comer a quem tem fo me, de vestir a qu em está nu e instruir os ignorantes. De outro lado, o co muni smo impla ntou um reg ime ti râni co, opresso r, ig ua litári o e usurpado r do direito de propriedade, reg ime que só gerou mi séri a e fom e. Outra frase que causa perplexidade é afirm ar que o amor aos pobres é o centro do Eva nge lho. Esta é uma di sto rção fe ita pe la " Teo log ia da Libertação", para a qua l pobres só ex istem no sentido materi a l e terreno, quando a Redenção operada por Nosso Senh or Jesus C ri sto consiste em sa lvar etern amente os " pobres pecadores", qu e so mos todos nós, ri cos e pobres. Condenação do com1111ismo
A li vre c ircul ação dos erros da "Teologia da Libertação" nos ambientes católicos só fo i possível porque as advertênc ias de Nossa Senhora em Fátima contra o co muni smo forari1 esqu ecidas o u mes mo repudiadas . No li vro Um caminho sob o olhar de Maria, publicado pe lo Ca rmelo de Co imbra e m outubro de 2013 com uma bi ografi a da Irmã L úc ia, a vid ente exorta quanto à urgênc ia de se revelar em 1960 a terceira parte do segredo co muni cado a e la pela CAT OLI C ISMO
Sa ntí ssima Virgem. Isso deveri a ter sido fe ito para frear a expansão do comuni smo. In fe li zmente o Concíli o Vatica no lI não atendeu ao ape lo de 440 bispos pedindo a condenação do co muni smo, reg ime ao qua l sequer fez menção. E a in:filtrnção comunista na Ig rej a fo i tremenda e continua na atualidade a sua devastação nos meios católi cos. Papa Francisco e a ut opia igualitária
Segundo o "Corriere della Sera", no di scurso do Papa aparecem os traços de uma nova "Encícli ca social" : "E,?frentar o escândalo da pobreza 'não é uma ideologia ', diz Francisco, tem tudo a ver com a 'solidariedade ' que, 'em sentido prof undo' significa .fazer história ' e 'lutar contra as causas estruturais da desigualdade', .fazer.frente 'aos ef eitos destrutivos do império do dinheiro'. Os pobres 'não esperam de braços cruzados a aj uda de ONGs ou p lanos assistenciais '. E p ropõe: 'Ponham os pés na lama e as mãos na carne. Tenham cheiro de bairro, de povo, de luta '. "Assim o Papa dispara sobre as fa lhas de 'um sistema econômico centrado no deus do dinheiro ', da 'grilagem ', da 'pilhagem da nature-
" O Papa Francisco rej eita as 'estratégias 'p ara 'cativar' os pobres e o assistencialismo. Os Mov imentos 'expressam a necessidade urgente de revitalizar as nossas democracias ' ". Que novas fo rmas de parti c ipação serão estas? U ma das poss ibilidades parece se r a cri ação dos co nselhos populares, co nforme o decreto 8243 do governo da pres idente Dilma Rousseff, um eufe mi smo para se adotar a ditadura dos soviets . Feli zmente, há no Co ngresso forte reação para derrubar esse decreto. Resultaclo do encontro
Não só no Brasil , mas ta mbém na América Latina, os movimentos inspi rados pela "Teo log ia da L ibertação" carece m de apoio popular. E les só não desapareceram porque a inda contam co m apoio de governos esqu erdi stas , e so bretud o da esquerda católi ca. Esse Encontro, que causou perplex idades pelo fa to de o Papa apoiar e estimul ar tais movimentos, parece se r o grito de desespero dos seus líderes. E les fo ram busca r no Vaticano o precioso apoio que lhes tem sido negado pe las bases católi cas, as qua is di scernem na pregação da Juta de classes a velha e fracassada meta de impl antar o regime da iguald ade so nhada pelo co muni smo. •
Reflexão a respeito da "Teologia da Libertação" Em entrevista para a ''TV Gazeta", Plinio Corrêa de Oliveira analisa os diversos matizes da "Teologia da Libertação", que arrastam para posições cada vez mais radicais TV Ga zeta - Aqui no Bras il e na Am érica Latina em geral, a "Teologia da Libertação" está presente. Gostaria de uma refl exão do senhor a res peito da "Teologia da Libertação".
Dr. Plinio -A "Teologia da Libertação" é uma co rrente ideo lóg ica que se co mpõe de vári os fi lões, co mo aco ntece quase semp re com as correntes fortemente revo lu c ionári as, fo rtemente tendentes ao estabelecimento da igualdade compl eta entre os homens. Quer di zer, e les têm um a va nguarda que re ivindi ca tudo quanto há de mais ex tre mo nessa matéri a. Depoi s e les tê m uma retag uard a do utrin ári a de matizes sucess ivos, dos qua is cada um é menos categóri co do qu e outro. Não qu e seja ma is moderado, mas é menos claro. De modo que, no extremo oposto do mati z mais categórico, a dosagem revoluc ionária é tão insensíve l qu e não se sabe bem o que é. Ava nça prime iro, na opinião pública, o e lemento aparentemente mais moderado, ma is confuso , e com algumas ideias ass im vagas, pelas qua is ce rta parte do público tem alguma simpati a. E depois, por um processo de destil ação, os elementos confi scados por essa corrente confusa , aparentemente moderada, vão sendo passados sucessiva mente para pos ições mais radi cais, até dar na radi cal de todo. Vista na sua corrente mais radica l, aquei a que espec ifi camente fo i obj eto de censura da Santa Sé, vista nessa corrente, a "Teolog ia da L ibertação" se redu z ao seguinte: se trata de pessoas que querem estabelecer um a reforma no sentido de implantar a igualdade compl eta entre todos os homens. Aboli ção de todas as classes sociais, e um reg ime tota lmente, e u to picamente, iguali tá ri o. Essas pessoas apresen-
ta m Nosso Se nh or Jesu s C ri sto co mo tendo sido, não o HomemDeus - e o Homem-Deus dotado de bond ade e sabedori a infinitas, qu e o Eva nge lh o n os descr eve - mas fig ura m N osso Se nh o r Jesus C ri sto co mo tendo sido um revoluc ionári o, um desorde iro, um mazorque iro, do tempo em qu e ele v iveu. M azorque iro e desorde iro co ntra a dominação roman a, que a "Teologia da Libertação" apresenta co mo a liada das e lites jud a icas , para opressão do povo. U ma ac usação ma is ou menos parec ida co m a que a " Teo logia da L ibertação" faz ao sistema sul-amer ica no. Ass im se sustenta, na "Teo log ia da Libertação", qu e não tem autenti c idade a hiera rqui a social na Améri ca do Sul , e que esta se apoia no capi ta li smo · intern ac io na l, dominado pe los no rteamen ca nos. Para justifi ca r uma aparência de apoio à pos ição deles, de um a revolução na Améri ca do Sul , eles montam es te mito, deformando grave mente a real idade. A partir dessa defo rm ação, a "Teo logia da Libertação" procura então arrastar a opinião ca tóli ca na América do Sul. Como essa fig ura de Nosso Senhor Jes us Cri sto, que a "Teo log ia da Libertação" apresenta, é muito fl agra ntemente contrári a ao que a doutrin a ca tóli ca ensin a - reli gião seguid a pe la grande ma iori a dos bras ileiros - essa gente afirma ora um a parte di sso, outros afirmam tudo, outros não afirm am nada disso, mas também não afirm am o co ntrári o di sso. E ntão essa máquin a de sucção para a ex tremaesquerda fun ciona de modo a levar todo mundo para os erros censurados pela Santa Sé. (E ntrev ista do Prof. Plinio Corrêa de Oli veira à "TV Gazeta", levada ao ar em 14 de dezembro de 1988, reapresentada naquela TV no di a 19 do mes mo mês e ano, e publi cada em Catolicismo, edi ção Nº 457, jane iro/ 1989) .
E-mail para o autor: cato lic ismo@terra.co111 .br
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campanarros ■ G ABRIEL
/ m e io-di a, soa o Ange lus. Al gun s se recolhem e diri ge m as suas preces ao Cé u. Em geral e les estão mais orgulhosos de seu campanári o paroquial do que de suas prefeitura s. É fácil co mpree nder: o sino lhes fa la ma is ao coração do que os di scursos proli xos e interesse iros dos políticos. So b vá ri os pontos de vi sta, o sin o é a a lma da a lde ia. E le representa a Providência div ina que ve la sobre as mi séri as hum anas. E le anuncia as alegri as e as tri stezas, a vid a e a morte. As mi ssas, os bati smos, os casa mentos, os fun erais ... a vida inteira está sob o império sereno e acess íve l do campanário, ou seja, da Santa Madre a Igrej a.
E
Não toquem 110 meu camvanário ...
Co mpree nd eu-o be m a França profunda das pequenas a lde ias. Po r isso, ao longo dos séculos, seus habi ta ntes marcaram com sua personalidade a vari edade quase inso ndáve l de estil os de ca mpanári os. A lg un s são pontudos como agulh as, desafia ndo a lei da gravidade em busca do céu. Outros são fo rtes co mo torres de fortalezas, quadrados e altivos, abri ga ndo os seus sinos. Todos traduzem, de algum modo, as tendênc ias primeiras do povo da reg ião onde se encontra m. N ada a ver co m a mass ifi cação se m alma e sem perso nalidade dos edifi cios modernos, que se podem co nstruir iguais em qu alquer luga r do mund o. A pesa r de todas as devas tações deco rrentes das guerra s, do protesta nti smo, do igualitari smo imposto pe la Revolu ção Fra ncesa, da di ta moderni zação da vid a
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CATOLI C ISMO
Capela de St-Ceneri, perto de Alençon, França
J.
WILSON
e da decadência dos costum es, a França conserva ainda em seus panoramas be lezas e doçuras que caracteri zam a filh a primogênita da Igreja. U ma dessas belezas encontra-se na riqueza de estilos arquitetônicos. E como subproduto, a diversidade de campanári os das igrejas e cape las, de acordo com a reg ião o u sub-reg ião onde se encontram . U m campanári o na Al sácia, na Bretanh a, na Normandi a, nos Alpes, na Bo rgonha, no Quercy ou na Provença podem até apresentar entre si di fe renças de estil o maiores do que aque las ex istentes entre a lguns pa íses. Assim, as diferenças entre a Al sác ia e a Bretanha talvez sej am maiores do que entre Portugal e Espanha, ou mesmo do que os pa íses sul-americanos entre si. A torre da mw1icivalidacle, símbolo do lugar
A torre da igrej a como embl e ma de perso na lidade de um lu gar ou de uma região tem seu êmul o c ivil nas to rres dos edifíc ios públi cos da muni c ipa lidade. N a Fra nça, como por toda a Europa, a autoridade municipal é emblemati cam ente representada pe lo edifíc io da prefeitura, do co nselho, do ayuntamiento, ou câ mara municipa l, confo rme os costum es do país. Esses edi fíc ios espe lhavam geralm e nte um estilo própri o da região e tinham no ca mpanári o o se u ponto mais cuidado, sobretudo em F landres, anti go condado hoj e situado em parte na Bélgica e em parte no norte da F rança. Os campanári os fl amengos são verdade iras obras-primas de arte e simbolismo. Com efe ito, trntando-se de uma região que eminentemente comercia produtos de qua lidade (co mo tapetes, tecidos etc.), a sua riqueza espelhava-se nos edi fíc ios públi cos, entre os qua is o campanário dese mpenhava um pape l sali ente. Com efeito, nos tempos de outrora em que as guerras era m fe itas com exé rc itos de infa ntari a e tropas de caval aria , o beffro i era a torre muni c ipa l destinada a dar o a larme em caso de aprox imação do inimi go, para que a cidade pudesse organizar rapidamente a sua própria defesa . São célebres os be/ji-o is de Gand , Bruges, Arras, entre tantos outros. /11/luê11cias dos sinos na vicia cios habitantes
Costumo ir a uma paróqui a do Perche, na reg ião central da Fra nça, tipicamente agríco la, onde se criou a raça de cava los p ercheron. Fe li z mente a í exi stem ainda famíli as numerosas e um a prese nça cons ideráve l de cri anças, que levam a legria aos lares, de mane ira a causar inveja aos casa is que evitam os filh os. Te rmin ada a mi ssa, um dos praze res in oce ntes dessas cri anças consiste em di spu tar a corda do sino,
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pendurando-se nela ao sabor do vai-e-vem do badalo. O rebimbar que assim produze m é claramente festivo , em contraste com a nota triste e compassada de um toque de finados. Sim, os sinos transmitem harmonias que refletem certos estados de espírito. Ademais, eles são desiguais entre si, pelo tamanho e pela importância da capela, igreja, abadia ou catedral onde se encontram. Sem falar nas maneiras de tocá-los, desde o triste anúncio de um enterro até o alegre bimbalhar de um dia de festa. Os sinos das capelas em geral são pequenos e de timbre agudo. Por isso são festivos e quase diria juvenis. As ig_rejas são desiguais, conforme o seu tamanho e a sua importância. Podem até possuir carrilhões. Mas, de um modo geral, as igrejas paroquiais situam-se numa mediania bem acima das capelas. Pelos toques do Angelus, ou de convite para a Missa, elas davam outrora vida à cidade e ao campo. A vida material era regulada pelo influxo sobrenatural. E isso produzia na sociedade civil uma doçura no trato, uma seriedade no cumprimento do dever, uma riqueza de alma que inconscientemente ungia e amenizava as agruras da vida. Emprego sempre o tempo passado, pois de há muito os sinos emudeceram devido à "fumaça de satanás" que penetrou na Igreja, para usar a expressão de Paulo VI. Hoje a vida doméstica é pautada sobretudo pelos programas de televisão. Na vida das paróquias, haveria que acrescentar ainda dois outros elementos consonantes ao sino: o órgão e o coral. Mas aqui as coisas se complicam, porque a música depende do compositor, o órgão do organista e o coral do maestro. E aí temos o confronto de escolas, de estilos, de interpretações.
A sacra/idade das abadias e mosteil'os Hoje são cada vez mais raros os mosteiros e as abadias tradicionais com religiosos reclusos que consagram suas vidas à oração, ao estudo e ao trabalho numa Ordem religiosa. Outrora a sua influência nas respectivas regiões era incalculável. Por que esse abandono, hoje? O timbre dos sinos de uma abadia em geral é grave, solene, compassado. Sinos há que.mais parecem feitos para anunciar a eternidade do que o tempo. "Ora et labora " é o lema dos beneditinos. Reza e trabalha: na paz, na serenidade, no sofrimento aceito, por vezes na luta contra a tentação, mas sempre obediente à regra que conduz o religioso ao Céu. As vidas de santos estão cheias de fioretti encantadores a respeito desses heróis da fé que civilizaram o mundo bárbaro e construíram a Eurnpa cristã. Pois
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Capela num bairro de Rocamadour, no centro-sul da França
foram sobretudo os beneditinos e também outras Ordens religiosas que secaram os pântanos, fi zera m progredir a agricultura e por vezes até certas indústrias. A invenção do champanhe no século XVll, por exemplo, é atribuída ao monge beneditino Dom Pérignon, da Abadia de Saint-Pierre d ' Hautvillers, perto de Epernay, na região de Champanhe. Numa visita à Abadia de Lérins, situada na ilha de St-I-lonorat, próximo de Cannes, na Côte d'Azur, ele conheceu o método de vinificação de vinhos espumantes ali criado, e aplicou-o com sucesso em sua terra. Discretamente dava-se início à história do mais célebre vinho da Terra, com o qu a l se festejam todas as grandes comemorações. A influência de uma abadia vai muito além dos limites onde chega o som de seus sinos. Porque a presença de almas votadas ao sobrenatural lhes confere uma sacralidade que as transforma em símbolos permanentes do destino eterno dos homens. Simplesmente por existirem, elas são como um farol, uma fortaleza, um refúgio e um estímulo para o comum dos mortais . E o
toque do sino .é um veículo sensível dessa mensagem que vem do Céu. Felizes são as abadias que conservaram o tradicional canto chão, o canto gregoriano. Este é uma criação verdadeiramente divina da vida religiosa, de tal modo a sua melodia dá glória a Deus, eleva as almas e as predispõe para a contemplação.
A solenidade das catedrais A catedral é a mãe das igrejas ou paróquias. O bispo é o pai dos fiéis . Não são os bispos os continuadores dos Apóstolos? Por isso é bom e salutar que a catedral seja dotada de maior solenidade, que ela tenha o melhor templo, o melhor coral, o melhor órgão. Pela mesma razão o carrilhão da catedral em geral é mais rico, a fim de exprimir a força da mensagem apostólica que da Sé deve partir. Há muitos anos visitei a catedral de Bourges, no centro da França. Seus vitrais são lindíssimos e grande parte deles está à altura da vista do visitante. Mas o que
mais me impressionou foi ver a lista dos bispos daquela arquidiocese nos seus primeiros séculos: eram quase todos "santos de altar", ou seja, canonizados, num tempo em que não se podiam dispensar as virtudes ... Talvez o leitor se surpreenda, pois hoje a ideia dominante sobre os bispos é voltada para a administração dos bens materiais da diocese, ou para insuflar a luta dos pobres contra os ricos. Depois do Concílio Vaticano II, pode-se dizer que o bispo deixou de ser "pai" para ser administrador, político, comunicador ou manipulador de massas ... Com certo exagero, tudo, menos o pastor realmente preocupado em salvar as suas ovelhas. Que triste orfandade a destas últimas! Como consequência dessa revolução silenciosa, quantas catedrais e igrejas foram depenadas, abandonadas, demolidas, para dar lugar a monstruosidades estéticas consideradas "obras de arte" por urna mentalidade modernista doentia. Assim ficou rico o conhecido comunista carioca Oscar Niemeyer, arquiteto da sede do Partido Comunista Francês, em Paris, e da catedral de Brasília, entre outras numerosas "obras de arte" bastante discutíveis, para não dizer rejeitáveis. Por que os modernistas destroem o que é tradicional e constroem o que é "moderno"? Porque este último é igualitário, estapafúrdio, arbitrário, vulgar. .. Em suma, em vez de conduzir à ideia de Deus, produz o efeito contrário. O modernismo é a arte do igualitarismo. O igualitarismo é a revolta contra todas as desigualdades, mesmo aquelas que são justas e proporcionadas, contra toda autoridade, toda superioridade, toda quintessência. Seu lema poderia ser "non serviam": não servirei , não aceito nenhuma superioridade. É o brado de revolta de Satanás contra Deus. Mais de cinquenta anos de reformas litúrgicas introduzidas na Igreja a partir dos anos 60, e até bem antes, vão nesse sentido. Qual o resultado? A apostasia em massa no clero e nos fiéis . Cito como exemplo a Ordem dos Jesuítas, que tinha 36.000 sacerdotes antes do Concílio. Dez anos mais tarde, nos anos 70, havia caído para 25.000 ... Como exemplo de devastação do rebanho, lembro que o Brasil possuía entre 92 e 95% de católicos antes do Concílio. Hoje, esse número está em cerca de 65%, sem contar que o número de praticantes é ínfimo e superficial. O protestantismo dito evangélico ganhou a maior parte dessa diferença. Quem são os responsáveis por esse desastre? • E-mail para o autor: cato1icismo@terra.com.br
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da erudição, Mansur comprou então a vitória espetacular, Leão lll salvou sua liberdade, fazendo-o tutor de seus verdadeiramente a Cristandade. 1 filhos. Os ensinamentos de Cosmas Ótimo militar mas péssimo admiaproveitaram sobretudo a João, que nistrador, Leão UI promulgou em 725 fez rápidos progressos na música, na uma reforma financeira muito impopuastronomia e na teologia. lar. E no ano seguinte, apesar de muito Com a morte do pai , João Man· orante na matéria, quis legislar sur sucedeu-lhe no cargo, que re religião. " O imperador passou a desempenha egou à conclusão de com igual competência. 1ue as imagens eram Entrementes, iniciava1'lt~,-,ll:>'f o maior obstáculo se em Constantinopara a conversão pla a querela sobre as dos judeus e muçulimagens. manos, a causa da superstição, fi'aqu eza O imperador e divisão de seu impéLeão Isául'Íco rio, e opostas ao PrimeiO imperador do ro Mandamento. Sua Oriente era então Leão Moeda de Leão Ili, o lsáurico campanha contra as III, chamado ]sáuri- e Constantino V Coprônimo imagens é parte da reco por ter nascido em forma geral da Igreja Isáuria. Soldado do Império Bizantino, e do Estado. A idéia de Leão iiI era ele se fez notar por sua bravura e habi !ide purificar a igreja, centralizá-la dade. Nomeado em 7 J3 para o comantanto quanto possível sob o Patriardo das tropas do Oriente, ele derrotou o ca de Constantinopla, e desse modo usurpador Teodósio e entrou vitoriosa- .fortalecer e centralizar o Estado e o mente em Constantinopla em março de Império ". 2 Aqui já se nota a tendên717, sendo sagrado Imperador. cia constante de Constantinopla de Cinco meses depois iniciava-se, separar-se da verdadeira Igreja. por terra e por mar, o sítio is lâmico A Igreja não adom os Santos, da capital imperial, cujo termo não mas os venera se daria senão dentro de um ano, em agosto de 718. Sua defesa foi tã.o Assim , em 726, apesar dos proformidável, que da frota muçulmana testos de São Germano, Patriarca de somente cinco navios retornaram a Constantinopla, Leão 111 publicou seu seus portos na Síria. Perderam ainda primeiro edito contra a veneração das os muçulmanos 140 mil soldados, dos imagens. 180 mil com que contavam. Com essa São João Damasceno, que podia
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São João Damasceno Ü primeiro dos escolásticos e o últin10 dos Padres Gregos, combateu heresias e escreveu obras que lhe mereceram o título de Doutor da lgreja
PUNIO M ARIA SO LIM EO
S Mosteiro de São Sabas, na Palestina, onde se retirou o santo para levar uma vida de recolhimento
CATOLICISMO
ão João Mansur, conhecido como Damasceno por ter nascido em Damasco no último quartel do século VII, era cristão de origem árabe. Nessa época a Síria já estava dominada pelos muçulmanos, que haviam conquistado também a Palestina. Entretanto, nesse início da ocupação islamita, ainda havia certa tolerância e liberdade para os cristãos. Isso explica por que seu pai, Sérgio Mansur, era homem de boa fortuna que
detinha na administração pública o elevado posto de encarregado de receber os impostos dos cristãos. Como se desempenhava do cargo com toda probidade, logo gozou da estima dos altos dirigentes muçulmanos,da cidade, o que não o impedia de continuar a ser um lídimo católico, ajudando de todos os modos possíveis os seus correligionários. Certo dia em que fora ao mercado, estavam sendo apresentados os últimos cativos cristãos pegos nas costas da Itá1ia. Entre eles encontrava-se um monge de nome Cosmas. Informado de que se tratava de um homem de vasta e profun-
falar da Síria sem entraves por não estar sujeito ao Imperador, imediatamente entrou em liça, escrevendo três cartas contra o iconoclasta e seu edito: " Talvez, conhecendo minha indignidade, deveria ter-me condenado a um p erpétuo silêncio. Mas quando a Igreja de Jesus Cristo, minha mãe, é ultrajada, caluniada e perseguida diante de mim, o grito do amor.filial brota naturalmente de meu coração. A palavra sai de meus lábios para defendê-la, porque temo a Deus mais que aos poderes deste mundo ". E com a lógica do sentido comum , pondera: "O que é um livro para os que sabem ler; isso são as imagens para os analfabetos. O que a palavra obra pelo ouvido, a imagem obra p ela vista ".3 Depois argumentava: "Não venerais o monte Calvário, a p edra do Santo Sepulcro, os livros do santo Evangelho, o santo Lenho e os vasos sagrados? Que dúvida, pois, tendes em venerar as imagens dos Santos ? ".4 Ao que acrescenta que a Igreja não adora senão a Deus, e que venera os santos. "Quanto às imagens, elas servem para nos instruir, para despertar a nossa de voção, porque sendo dupla, sensível e intelectual a nossa natureza, as coisas visíveis nos são necessárias para nos lembrar das invis i veis. O próprio Deus se tornou visível encarnando-se ".5
O impressionallte mi/agl'e <la mão decepada Irritado, o Imperador procurou um meio de atingir São João Damasceno, súdito de outro Estado. Conseguiu entã.o um documento autógrafo cio santo e, por meio ele hábeis copistas, fo1jou uma suposta carta em que ele se oferecia para entregar Damasco ao Imperador. De posse dessa carta, Leão IH escreveu ao califa de Damasco, avisando-o "como bom amigo" que ele tinha um traidor junto de si . Apesar de São João protestar sua inocência, o califa admitiu que a carta era genuína e mandou decepar sua mão. Entretanto, de acordo com o primeiro biógrafo cio santo, essa mão foi miraculosamente restaurada ao braço pela in-
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tervenção de Nossa Senhora. O califa, reconhecendo pelo mila~re a inocência de São João, restabeleceu-o no cargo. Mas a essa altura o santo já se havia desiludido do mundo e retirou-se para o mosteiro de São Sabas, na Palestina. Logo qu e João M ansur chego u ao moste iro, fo ram-lhe dadas as seguintes normas para qbservar: "Não procures fazer nunca a tua vontade. Aprende a morrer a ti mesmo para chegares ao completo desapego de todas as criaturas. Oferece a Deus as tuas ações, sofrimentos e orações. Nã<? te ensoberbeças em virtude dos teus conhecimentos ou de qualquer outra coisa, mas convence-te cada vez mais de que não és nada senão ignorância e .fraqueza. Renuncia à vaidade, desco 11fla da tua p rópria op inião, e não queiras desejar aparições e privilégios extraordinários do Céu. Afasta da tua memória tudo o que te ligou ao mundo. Observa bem o silêncio e fica sabendo que é fác il cometer pecado, não dizendo senão o bem ".6 Seguindo ao pé da letra essas normas, São João Damasceno chegou logo a um alto grau de perfe ição. E le não sa ía do moste iro se não
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para pregar em Jerusalém. Copiadas, suas homili as passavam de mão em mão como rico tesouro, espalhando-se pe lo Ori ente. Um de seus sermões mais fa mosos fo i sobre a Transfi g uração, no qua l "ele discursa em seu tópico .favorito, a dupla natureza de Cristo, cita o clássico texto da Escritura em testemunha da primazia de São Pedro, e testemunha a doutrina católica da Confissão sacramental [ .. .} A Anunciação é o texto de um sermão [.. .} no qual ele atribuiu várias bênçãos à intercessão da Santíssima Virgem. O segundo dos três sermões sobre a Assunção é especialmente notável pelo seu relato detalhado da translação do co,po da Santíssima Virgem ao Céu, relato esse, afirma ele, que é baseado na mais confiá vel e antiga tradição". 7 O dogma da Assunção da Santíss ima Virge m ao Cé u se ri a proc la mado muitos séculos depois.
CATOLICISMO
Virgem de Trijerusa. A mão restituída a São João Damasceno aparece na parte inferior esquerda do ícone.
Eco fiel da literatura eclesiástica do Oriente São João Damasceno fo i ao mesmo tempo filósofo, teó logo, orador ascético, hi stori ador, exegeta, poeta e músico. Escri to r profíc uo, sua prin cipa l o bra é a Fonte do Co nhecimento, dividida em três partes: "a primeira, chamada Di alética, traz o melhor da .filosofia grega; a segunda [livro das Heresias] é histórica, trata das heresias nascidas na Igreja no decurso dos séculos até a dos iconoclastas, e contém clara exposição e re.fittação do maometanismo. A terceira é um volumoso tratado chamado Expos ição da Fé Ortodoxa, no qual ele.fala de Deus, de suas obras e atributos, da Providência, da Encarnação e dos Sacramentos, compendiando o que dizem a Escritura e a Tradição acerca de cada uma dessas matérias ". 8 "Tratando do islamismo, ele ataca vigorosamente as práticas imorais de Maomé e os ensinamentos corruptos inseridos no Alcorão para legalizar as delinquências do pro.feta". 9 São João Damasceno 'foi o primeiro a acometer a empresa de f azer uma exposição sintética do dogma e uma defesa geral dos artigos do Sím bolo
contra todas as heresias, realizando, mais do que uma compilação, um resumo pessoal dos Padres gregos, cuja doutrina condensa com um esf orço genial em uma linguagem clara,firme e precisa. Eco.fiel e poderoso de toda a literatura eclesiástica do Oriente antigo, escreve o p rimeiro ensaio de Suma teológica, merecendo ser chamado o primeiro dos escolásticos ". 10 "Não é pequeno o crédito devido a João Damasceno pelo.fato de ter sido capaz de dar à Igreja, no século oitavo, seu p rimeiro resumo das opiniões teológicas conexas" existentes. 11 Entre outras muitíss imas obras de fil osofi a e teol ogia, São João Damasceno "é tido como autor de muitos cânticos seletos e populares, alguns dos quais trazem as antologias antigas e modernas de música religiosa; há entre eles alguns muito f ormosos dedicados à Virgem Maria. Também compôs algumas trovas piedosas p ara pedir o eterno descanso para as almas do Purgatório ". 12 São João Damasceno fa leceu por volta do a no 749, qu ase ce nte nário. Foi dec larado Doutor da Igreja pe lo Papa Leão XIII em 1890. Sua festividade é celebrada no di a 4 de dezembro. • E-mail para o autor: catolic ismo@terra.com.br
Notas: 1. Cfr. Charles Diehl , la Grande Encyclopédie, Soc iété Anonyme de la Grande Encyclopédi e, Pari s, tomo XX II , pp. 28-29. 2. Adri an Fortescue, lconoclasm, T he Catholi c Encyc loped ia, CD Rom Ed ition. 3. Fr. Justo Perez de Urbe!, O.S.B., Ailo Crisliano, Edi ciones Fax , Mad ri , 1945, tomo 1, pp. 574-575 . 4. Pe. José Le ite, S.J ., San/os de Cada Dia, Ed itoria l A.O., Braga, 1987, tomo Ili , p. 396. 5. Les Pet its Bo ll andi stes, Vies eles Sainls, Bl oud et Ba rra i, Li braires- Édite urs, Pa ri s, 1882, tomo V, p. 368. 6. Pe. José Le ite, op. cit. p. 395 . 7. John B. O'Conn or, Saint John Danwscene, The Catholic Encyclopedi a, CD Rom edi tion. 8. Ede lvives, E/ San/o de Cada Dia, Edi tori a l Lui s Vives, S.A., Saragoça, 1947, to mo li , pp. 277-278. 9. John B. O'Connor, op. c it. 1O. Urbe!, op. c it. , pp. 576-577. 11 . John B. O'Connor, op. cit. 12. Ede lvives, op. c it. , p. 278.
São Pio X increpa jornais que "oferecem incenso aos ídolos do momento" "Como se poderão aprovar certos jornais que se cobrem com a etiqueta de católicos apenas porque, de vez em quando, relatam as audiências pontifícias ou as notas vaticanas e que, entretanto, não somente não dizem nunca uma palavra sobre a liberdade e a independência da Igreja, mas simulam mesmo não perceber a guerra contínua que lhe é feita? Jornais que não só não combatem os erros que desencaminham a sociedade, mas também acrescentam sua contribuição à confusão das ideias e das máximas estranhas à ortodoxia, que oferecem incenso aos ídolos do momento, elogiam livros, empreendimentos e homens nefastos à Religião? "Lastimamos (caso estejam de boa fé) estes pobres iludidos, que acreditam impedir a leitura de jornais maus, substituindoos por jornais ditos tolerantes, de meiastintas e incolores, que, sem converter um só de nossos adversários (que os desprezam pela simples aparência de católicos), causam o maior dano aos bons: estes, procurando a luz, encontram as trevas; tendo necessidade de alimento, ingerem veneno; em lugar da verdade e da força para se manterem firmes na Fé, encontram os argumentos para se tomarem, em questão de tal importância, negligentes, apáticos, indiferentes. Oh! Que dano causado à Igreja e às almas por esses jornais." • Da carta de São Pio X ao Vigário de Casalpusterlengo, (Itália) , em 20 de outubro de 1912, reproduzido em G. QUADROTTA, O Papa, Itália e Guerra, Rava & C Publishers, Milano, 1915, p. 17-18.
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As sepulturas eram de mártires. Terminado para os pagãos o "espetáculo" de um martírio, o povo se retirava. Quando anoitecia, católicos heroicos - candidatos eles mesmos ao martírio, porque se fossem pegos seriam martirizados - arrastavam-se nas trevas da noite até o Circo Máximo, ou até o Coliseu, para resgatar aqueles restos de corpos trucidados pelas feras. Depois, passo a passo, talvez rastejando pelo chão, chegavam escondidos até à entrada da catacumba, que era um orificio no chão. Eles se esgueiravam, chegavam no subterrâneo. Imediatamente, do fundq da terra ecoava um cântico de triunfo pelo irmão que padeceu e agora está no Céu. Os corpos deles eram gloriosamente trazidos para dentro da catacumba, corpos de mártires que morreram por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo. Havia mártires que morriam na alegria de enfrentar as feras. Eles iam de encontro a elas; triturados, morriam na alegria com a esperança da salvação eterna no Céu. Quando se canta o Anima Christi, há uma das invocações que diz: Sanguis Christi inebria-me! (Sangue de Cristo embriaga-me!). Pode-se perguntar o que quer dizer "Sangue de Cristo embriaga-me". O que é esta embriaguez do Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo? Pode-se responder com um exemplo: um mártir que comungou o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor, embriagando-se da alegria e da graça do Espírito Santo, está como que ébrio. Diante do perigo e da dor ele não tem medo. Pelo contrário, a alegria sobrenatural que o
PUNIO CORRÊA DE OLIVEIRA
sta do Santo Natal, assim
como a festa de Páscoa, têm especialmente este privilégio: elas interrompem o tempo. Pode alguém estar na situação aflitiva em que estiver, chega o Natal e se abre um paredão: desgraças e lágrimas de um lado, e de outro bimbalham os sinos; o Natal começou; Cristo nasceu; alegria para todos os homens! Uma alegria que não é a alegria vulgar do homem que fez um bom negócio; do homem que deu uma tacada política e venceu; do homem que se envaideceu e no qual os outros acreditaram; do homem que ganhou uma loteria ... Não! É uma alegria muito mais interna, muito mais leve, uma alegria feita de luz, enquanto as outras são feitas de coisas palpáveis e de segunda ordem. Uma alegria toda ela feita de luz e de uma luz que é o Lumen Christi - a luz de Nosso Senhor Jesus Cristo que brilhou uma vez na Terra, na noite de Natal, e nunca mais, de ano em ano, deixou de brilhar, trazendo uma verdadeira alegria e uma verdadeira paz de alma até para as pessoas mais atormentadas.
CATOLICISMO
enche é tal que, se lhe dissessem que a fera não vem, ele poderia :ficar desapontadíssimo! Para ele, a boca do tigre é ocasião de entrar na eternidade no Céu! E as presas do animal são para ele as presas benfazejas que vão romper os laços que o prendem à Terra, para que a sua alma possa voar e ver Nosso Senhor Jesus Cristo! Há momentos em que a graça produz este efeito. Então se compreende bem a jaculatória sublime: Sanguis Christi inebria-me! Quantas vezes vemos sinais dessa ebriedade casta e temperante do Sangue de Cristo?
Natal: alegria c/1eia <le asas, cheia <le bl'ilho
A vida de um católico autêntico pode ser difícil, uma vida de batalha, uma vida de renúncia e de sacrifício. Não há quem seja mais isolado, mais bloqueado, mais odiado do que um verdadeiro católico contra-revolucionário neste mundo de neopaganismo. Entretanto, como estamos alegres! Como nos enche de alegria a perspectiva do Santo Natal! Acontecimento que desfechou na maior das tragédias da História: a Crucifixão. Para pessoas mundanas esta consideração poderia ser tachada de loucura. Entretanto, é a casta embriaguez do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo! Porque recebemos a graça no Batismo, porque muitas vezes confessamos e comungamos, porque rezamos, porque nossas almas se tornaram sensíveis a estas alegrias de uma categoria inteiramente superior, perto das quais as alegrias da Terra não valem absolutamente nada.
"Sangue <le Cristo, embl'iaga-me!"
Na noite de Natal, gosto de lembrar o que teria sido o Natal nas catacumbas. A catacumba de São Calixto, em Roma, é terrível. Eu nunca pensei que fosse o que é: corredores estreitos, altos, tem-se a impressão de que as duas paredes vão se encontrar no alto. Terra por todos os lados e sepulturas. De repente, uma clareira :filtrava de cima um pouquinho de luz e via-se uma sala quadrangular com algumas pinturas,já muito velhas, feitas não sei com que técnica, diretamente sobre a terra. Elas representam de um modo ingênuo cenas do Evangelho. Percebo um altarzinho .. . E o guia explicou: "Esta era
uma capela, aqui se rezava missal"
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Natal! Todos nos pre,r~ramos para a alegria do Santo Natal. Que maravilha! • Essa alegria tira o homem de dentro de si mesmo e difunde uma atmosfera. Alegria, por assim dizer, cheia de asas, cheia de brilho. Os mais jovens não alcançaram o que era verdadeira~ mente uma noite de Natal. Quais eram as impressões da noite do Natal de outrora? - Lembro-me dos tempos em que Natal ainda era Natal... Assim, não seria descabido descrever um pouquinho dessas recordações e tentar fazer reviver aquilo que, numa grande cidade de hoje, tão rica e tão pobre, quase não se percebe mais. Natal na "São Paulinho" dos mws 20 Como era um Natal de 1920? Como era o Natal dos últimos anos da minha infância? Que impressões causavam? Alguns poderão dizer que se trata de imaginação a descrição que eu vou fazer. Responderia que não tenho nenhuma prova de que não seja imaginação, mas é do que me recordo. Tenho a convicção interna de que não era imaginação, mas era a graça. A graça que era concedida a mim, mas era dada a todas as crianças do tempo que eu conheci. Era uma graça generali zada! As crianças, alguns dias antes do Natal já se sentiam invadidas por uma expectativa, por uma alegria que era muito curiosa, porque vinha sem dúvida da esperança das festas que se reali zariam . A perspectiva da festa , no que ela tinha de humano e de terreno, essa perspectiva desempenhava um papel na alegria da criança. A criança sabia que tinha pedido a São Nicolau - o santo bispo afável que vinha à noite, enquanto as crianças dormiam, e colocava caixas de presentes junto a elas - presentes grandes nos lares abastados; caixinhas de presentes, afetuosas e pequenas, nos lares modestos; talvez uma florzinha , talvez uma bala, nos lares pobres. Mas em todo lar onde houvesse uma mãe, havia presentes . Ou num lar onde houvesse um pai solícito, alguma coisinha havia para colocar junto à cama do filho . E para a criança isto era uma maravilha, que ela esperava com alguns dias de antecedência.
nos estudos de matemática, de geografia e de línguas. Tínhamos assim dias agradáveis na perspectiva do nascimento do Menino-Deus. Podia-se então passear um pouco, correr pelo jardim, brincar. Eram alegrias próprias à inocência da infância, na espera do Natal que se aproximava. Esta alegria era motivada por alguma coisa mais alta e que já era um prenúncio da alegria estritamente religiosa e definidamente religiosa do Natal que chegava. Algo de especial começava a nos encher a alma. Nesses dias, todas as crianças ficavam melhores. As que mentiam, mentiam menos; as que não mentiam, censuravam alguma criança que mentisse; as que vagabundeavam ou que sofismavam, ou chicanavam com os horários da casa, eram mais pontuais. Todo o mundo começava a sentir mais limpeza dentro da alma. E a
alegria de ter a alma limpa é uma alegria que não tem igual na vida. Esta é a alegria, por exemplo, de quem se confessa e de quem sai do confessionário com a certeza de que foi perdoado. Há certas alegrias da confissão que não se comparam com nada. Todos os senhores, uma vez ou outra, sentiram isso. Foram se confessar, às vezes era um mero escrúpulo que estava atormentando a alma. A criança sai do confessionário alegre, sentindo-se feliz. É a alegria sobrenatural da alma limpa . Enquanto estou falando, vejo vários dos senhores que sorriem, porque se lembram disso e têm saudades desta "alegria de confessionário". Era um pouquinho assim a alegria de Natal nos dias que se antecipavam ao dia 25 de dezembro. Sem que se tivesse confessado, havia uma ideia de um princípio de pureza, de limpidez, de honestidade, de bondade, de candura descida sobre a Terra, que alterava as almas de todos os homens. As pessoas começavam a ser mais benévolas umas com as outras, fazendo pequenos favores recíprocos. As crianças egoístas emprestavam de bom grado os seus brinquedos, as crianças birrentas faziam pequenos favores. E imaginava-se que no mundo dos mais velhos isso era assim também. E havia razão para imaginar isso. Os mais velhos sabiam que esse já não era o mundo deles, já não estávamos na época de esplendor da Religião católica, mas eles sabiam que esse era o mundo em que nós crianças estávamos, e quando se aproximavam de nós, aproximavam-se como que desejando ver nos nossos olhos a recordação do que foram os Natais deles. O que me levava a achar que eles estavam impregnados da mesma alegria natalícia, pois era só chegar perto que
eles cumprimentavam: "Ó, como vai?" E mais amáveis, mais afáveis, e cedendo a pequenos caprichos de criança, etc. Imaginava então que e les estavam tomados pela mesma alegria de Natal.
Participação na alegria geral na é/)oca de Natal Nas vésperas do Natal, éramos levados para ver os brinquedos nas casas que tinham exposição das peças. Naquela época, lembro-me que, em geral, eram casas alemãs e inglesas. Havia em São Paulo a "Casa Fuchs", a "Casa Grumlach". Havia uma casa portuguesa - a "Casa Lebre" - e outras, como a "Casa Mappin". Nesta última, minha mãe e afrau/ein iam conosco. Corno o Natal se aproximava, íamos com roupa de gala, todos enfeitados. E quando saíamos para ver os presentes, admirávamos este presente, aquele, aquele outro .. . Mamãe ficava prestando atenção e vendo o que cada um queria. E o presente preferido era, " por coincidência", aquele que São Nicolau levava ... Maravilhávamo-nos com a coincidência: "Veja como São Nicolau sabe de todas as coisas ... " Para mim, sensível à gastronomia desde muito cedo, uma das partes culminantes da preparação do Natal era quando, depois do circuito para ver presentes, íamos tomar um lanche no salão de chá da "Casa Mappin" . Chá, sanduíches, torradas, chocolate ... Eu me regalava! Tinha a impressão de que a alegria do meu corpo em contato com aqueles ventos que sopravam era meio
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Alegria sobrenatural da alma limpa Essa alegria que eu sentia invadia minha casa alguns dias antes do Natal. Afri:iulein Mathilde [governanta da família] fa zia conosco um armistício
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Propaganda de brinquedos de Natal da "Casa Fuchs"
Prédio da antiga "Casa Mappin" na Praça do Patriarca
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parecida com a alegF~aide minha alma em contato con:i as graças do Natal que se aproximava. Eu pensava: "E bem verdade, o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo está chegando. Daqui a pouco se comemorará que Ele nasceu numa manjedoura, nasceu da Virgem Maria, sob o olhar de São José. Oh, que beleza! Vamos depressa, pois Ele está para chegar!". Esta alegria se percebia em todas as mães que levavam crianças de um lado para outro do centro da cidade. Em São Paulo, no centro andavam todas as crianças, alegres e satisfeitas. Algumas já levando presentes, dando risadas, conversando. As mães, quando passava urna criança mais vistosa, mais engraçada, piscavam para a mãe daquela como que a dizer: "Mas que engraçadinha, etc." A mãe ficava toda satisfeita ... Era uma participação da alegria geral.
Os preparativos, a árvorn de Natal e a "Missa <lo Galo"
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CATOLICISMO
Voltava-se para casa e começavam os mistérios ... Numa sala determinada, não se podia entrar. Era a árvore de Natal que estava sendo preparada. Cada ano com alguma novidade. Eram os enfeites de Natal das árvores anteriores, mas com alguma novidade: alguns enfeites diferentes; uma estrela muito grande e muito bonita; um anjo de papel colado num círculo dourado; enfim, diversos enfeites para a árvore de Natal. Às vezes, de esguelha, ouvia-se alguma coisa a respeito da árvore e ia-se contar para os outros: "Olha tem tal novidade ... " E assim corriam os dias até a chegar a noite de Natal , a "Missa do Galo". Morávamos perto da igreja do Sagrado Coração de Jesus e íamos a pé para a Missa. Todas as casas estavam abe1tas, todas as luzes acesas, todas as janelas e portas também abertas. E quando caminhávamos, percebíamos - tanto em casas modestas como em casas apalaciadas - uma árvore de Natal maior ou menor, acesa, e no interior das residências algum gramofone tocando roufenhamente umas músicas de Natal. Percebíamos a alegria da família: todos estavam acabando de se aprontar para sair, ficava apenas um criado ou outro tomando conta da casa. As famílias começavam a sair e os sinos a tocar, avisando que não tardaria muito o início da Missa. Chegava-se à igreja e estava iluminada - para a ótica da criança, iluminada feericarnente. O altar todo cheio de flores, uma manjedoura e o Menino Jesus deitado. E quando batia a meia-noite, o padre entrava e começava a Missa. Era um recolhimento impressionante! Uma espécie de contradição: um recolhimento e uma explosão ao mesmo tempo. Urna explosão de recolhimento, um recolhimento explosivo, algo nesse sentido, que enchia literalmente a alma de alegria. Assistia-se à Missa e, quando já se tinha idade, comungava-se.
Havia algo de religioso nelas, algo de sacra!, de recolhido, que era uma verdadeira maravilha! Mas ao mesmo tempo uma enorme alegria! Começavam os cumprimentos, os ósculos, as felicitações, etc. Nem preciso falar dos carinhos e felicitações que recebia de minha mãe ... Eu já chegava em casa contando com isso, que era um complemento da noite de Natal: a mãe católica osculando um filho que ela desejaria que ficasse católico também. Depois começava a festa de Natal, que terminava já com o sono pesado, mas sono delicioso. Como se sabia que São Nicolau viria durante a noite entregar o presente, tínhamos vontade de surpreendê-lo ... Como ele era muito hábil , isto nunca acontecia. Mas tínhamos esperança. E quando chegavam mais ou menos as quatro horas da manhã, sentia-se às vezes sobre os pés o peso da caixa de presentes. E pensávamos : "Será que São Nicolau acertou?" Eu não podia acender a luz do meu abat-
A comunhão era o ápice. Recolhimento, a ideia de que Nosso Senhor Jesus Cristo tinha nascido em Belém numa noite daquelas e estava agora realmente presente em nós. Faziam-se os pedidos ... Mas, sobretudo, uma sensação de intimidade. Eu tinha uma estampa do Sagrado Coração de Jesus que representava Nosso Senhor segurando um menino de cabelos pretos cacheados, e embaixo havia uma oração mais ou menos assim: "Ó Bom Jesus, tende piedade de mim! " Eu rezava pensando: "Espiritualmente, Nosso Senhor está fazendo isto comigo nesta hora. Eu peço a E le: 'Ó bom Jesus, tende piedade de mim! "'. "Será que São Nicolau acertou?"
Tinha-se a impressão de que , celebrada a Missa, as graças de Natal se difundiam por tod as as casas. E quando se retornava, elas já não 'eram bem as mesmas.
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------------------------------------------------1------------------------ - - -jour para ver porque,p1éiUS pais, que dormiam no quarto contíguo, notariam e me censurariam . Mas também pensava: "Como é gostoso sentir nos pés o peso desse presente grande". E avaliava o valor e o prazer que o presente iria causar. Pouco depois o sono infantil dominava e a criança dormia . Mas mais tarde, a sofreguidão de acordar faz ia com que a criança acordasse de novo e pensasse no presente. Um pouco antes de a criada chegar, para acordar com o café, eu já estava de pé, estraçalhando as fitas, os laços, os barbantes ... Se fosse possível, arrebentando a caixa para ver o presente que estava dentro, que era sempre muito bonito e que tinha visto e gostado na "Casa Lebre", na " Casa Grumbach" ou na " Casa Fucbs" .. . Um exél'cito <le sol<ladi11/Jos <le chumbo Lembro-me de um dos presentes de Natal que recebi : uma caixa grande de soldadinhos de chumbo. Eram soldadinhos franceses , entre estes os meus bem-amados Dragões de Cavalaria , um dos quais tocando trompete. Havia outras tropas e canhões. Era a miniatura de um pequeno exército. Não estávamos ainda longe da Primeira Guerra Mundial e t11do isto para mim dizia muito. Falava-se de guerra e fui em toda minha vida muitíssimo militarista. Sempre tive entusiasmo pela condição militar. Assim , eu puxava aqueles soldadinhos para fora da caixa e ia constituindo paradas militares, ficava horas dispondo tropas e sonhando com batalhas. Foi um presente de Natal! O sono da noite de 25 para 26 era um sono pesado, gostoso, da consciência tranquila, do Natal sagrado, sob cujo bafejo se dormia, sabendo que no dia seguinte ainda seria de recordação do Natal. Ainda iríamos comer os últimos doces , beber os últimos ponches, brincar mais uma vez com os brinquedos até nos familiarizarmos com eles.
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CATOLICISMO
Recordação ... esperança ... ce1'teza ... No meu tempo de menino, a noite de Natal era um hiato luminoso, cheio de algo que não se consegue descrever, mas que todos sentiam: era aquela suavidade, aquela paz, aquela doçura que dava a impressão de que todo o céu estrelado da noite estava como que impregnando a Terra de perfumes. Os sinos tocavam, o som se espalhava e o júbilo impregnava até os jardins. Era uma alegria enorme que circundava todos os homens, porque Cristo nasceu, nasceu em Belém! Creio que alguns dos mais velhos devem ter sentido essa atmosfera natalina. Receio que os mais jovens não tanto. Nos tempos atuais, as televisões ligadas o dia inteiro, rádios vociferando canções de Natal comercializadas, essas lâmpadas elétricas laicas penduradas em torno de árvores, em jardins de prédios de apartamentos ... Nas igrejas, a missa não é mais tradicional, com toda a tristeza da realidade pós-conciliar. O que resta de todo o ambiente do Natal de outrora? Resta uma recordação. Resta muito mais do que uma recordação, resta uma esperança! E foi para avivar esta esperança que eu teci essas considerações. Resta mais do que uma esperança, resta uma certeza! Esta certeza é ligada a uma promessa divina: "As portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja!" Assim, um dia, depois de provações, de lutas, acontecerá que os verdadeiros Natais reflorescerão na Terra. A alegria do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aquelas antigas noites de Natal eram ainda os últimos luzimentos da Cristandade. Nós olhamos para o futuro e esperamos ver, ou do Céu ou na Terra, os natais que florescerão no Reino de Maria - conforme anunciado por São Luís Grignion de Montfort e na Cova da Iria, em Fátima. São promessas tão celestes e
tão confortadoras : "Por fim o meu Imaculado Coração triunfará". Quando o Imaculado Coração de Maria triunfar, que glória, que doçura, que harmonia, que suavidade indescritível e única terão as festas do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo!
As comemorações natalícias da Sagrada Ji'amília Encerro imaginando como seria o Natal na Sagrada Família. É possível que, nas noites de Natal, Nossa Senhora e São José celebrassem o aniversário do Menino Jesus. O dia é tão grandioso que, quando Nosso Senhor nasceu, os anjos cantaram: "Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na Terra aos homens de boa vontade!" É impossível que Nossa Senhora e São José não festejassem esse tão grande dia. Podemos imaginar, por exemplo , Nosso Senhor com apenas dois anos deitado na sua caminha, e Nossa Senhora e São José aproximando-se à meia-noite e adorando-O no silêncio, com receio de acordá-Lo. Em certo momento, Ele acorda, abre os olhos ... Que olhar!
Em forma de cruz, Ele abre os braços para ambos, que se aproximam e Lhe osculam os pés. O Menino Jesus os abraça e os beija. Era o Natal na casa de Nazaré, a qual se encontra hoje na cidade italiana de Loreto. Pode-se imaginar que à medida em que Nosso Senhor Jesus Cristo crescia em graça e santidade diante de Deus e dos homens, o Natal ia ficando mais belo. fmagine Ele adolescente, depois Ele já maduro, irradiando aquela perfeição cada vez mais sensível aos homens e que deixava Nossa Senhora e São José cada vez mais encantados. Como seriam essas comemorações? Os anjos não cantariam? Não se ouviriam coisas extraordinárias naquela santa casa? Todas as conjecturas são possíveis, cada uma delas mais bela do que a outra . Pode-se imaginar o primeiro Natal depois da Ascensão de Nosso Senhor ao Céu? Na Igreja ainda pequenina e nova, que nascia como uma plantinha, cada ano que passava o Natal se tornava mais belo, mais sagrado, mais recolhido, introduz ia-se mais uma cerimônia, mais um ritual, firmava-se uma tradição ... •
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O aniversariante e
o palhaço gorducho JACI NTO FLECHA
M
eu amigo americano olhou-me um tanto desconcertado, parou um pouco para pensar, e esclareceu: Os sinos festivos do Jingfe be/ls acompanham a música e lhe dão o ritmo, lembrando os guizos do animal que puxa o trenó; e a época do Natal é muito boa para se passear de trenó na neve. Resumida assim a explicação, ele me fez saber que estranhara a minha pergunta, pois sempre julgou isso muito natural. É possível que algum leitor conheça apenas a versão brasileira do Jingle bells, impregnada de referências natalinas a sino de Belém, Deus menino, rezar na capela, noite bela, etc. Por isso, antes de alguém estranhar minha estranheza, responsável pela do meu amigo americano, informo que a letra original do Jingle bells não contém nenhuma referência ao Natal , gira apenas em torno de um alegre passeio de trenó pelos campos, que poderia realizar-se em qualquer período nevado do ano.
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11111111.m
CATOLICISMO
Bem distantes desses costumes, os brasileiros não compreenderiam a maioria das referências psico-atmosféricas presentes na música, daí um letrista vincular diretamente ao Natal a versão brasileira. Acho louvável a iniciativa, embora não me agrade o aspecto alegrote, que excede o limite entre o leve e o leviano. A lentidão pensativa e respeitosa do Noite f eliz, muito mais adequada para reverenciar a presença augustíssima de Deus entre os homens, não dispensa no entanto a alegria. Na música natalina alemã, a alegria atinge a alma em toda a sua profundidade, não é apenas epidérmica como a saltitante e sorridente musiqueta americana. Associar o Natal à neve é um costume proveniente dos países cristãos onde a neve cobre a natureza nessa época do ano. No Brasil , ela quase só existe no dicionário e na poesia, muito lembrada onde entram anciãos com cabelos marcados pela neve do tempo , ou para realçar o branco como a neve de alguma coisa. Em relação ao Natal , quase nada significa para nós, embora presente em cartões de Natal mais adequados ao Polo Norte ou à Lapônia. Parecem de brinquedo as casinhas quase sucumbindo às grossas coberturas brancas, as renas e trenós movimentandose suavemente, os sinos bimbalhando em torres de capelinhas iluminadas ... e o onipresente Papai Noel (ho! ho! ho!) - o sorridente, prestativo e vermelhão Papai Noel. (Será qu e ele acredita mesmo em Papai Noel ?!) Sem dúvid a nenhuma , caro leitor. Aproximando-se o Natal, basta ligar a TV, entrar num shopping, abrir uma revista ou jornal, surfar na internet, e lá está ele com seu sorriso elástico de velhote velhaco, sempre pronto a brincar com uma criança, indagar qual presente ela quer receber dos pais, e assim avalizar diante do comprador o que o comerciante precisa vender. Como
duvidar de velhinho tão real e agradável , tão amigo das crianças e do cartão de crédito dos pais? Entendeu por que não posso deixar de acreditar em Papai Noel? Constato sua existência pelo que vejo, só isso. Mas quando a pergunta é se ele deveria existir, não vacilo numa resposta clara e definidamente negativa. Sou até propenso a supor você e eu em extremos opostos sobre este assunto. Como a maioria das pessoas, você pode achar o Papai Noel engraçado (todo palhaço tem de ser engraçado); tem uma roupa bonita, atraente (ridícula de ponta a ponta, das botas ao gorro de dormir); tem uma risada diferente (muito útil, se você quiser amestrar animais); resolve o problema dos pais na escolha dos presentes (espero que você saiba conversar com seus filhos). Se você perguntar aos seus amigos de onde surgiu o costume natalino de dar presentes aos filhos, provavelmente muitos não o relacionarão com os presentes dos Reis Magos ao Menino Jesus. Na perspectiva da Boa Nova evangélica, os presentes aos filhos adquirem significado profundo, elevado, colocando-os na esfera -;;;do sobrenatural e divino. Dando ao li filho um presente, homenageamos na ~" pessoa de le o Menino Jesus, recém- t nascido vinte séculos atrás, quando ~"' recebia presentes régios. Os presentes ~ natalinos tomam assim o caráter de -~~ homenagem ao aniversariante. ~ Será que a pantomima do Papai :~ E Noel remete as crianças a esse nível -~ de cogitações? Não quero imaginar "'0 da sua parte uma resposta afirmativa. ":f Desde o aparecimento do Papai ~ Noel no fim do século XIX, ele não passa de um artificio propagandísti- :1i co, comercial. Foi criado para vender ,g Coca-cola, mas depois o instrnmen- il~ talizaram para vender outras coisas. "" Funciona bem para essa finalidade. Mas ele faz só isso? Será só esta a sua função? Será só este o objetivo, ao popularizar esse personagem ridículo e interesseiro? Você já notou como o aniversariante ficou esquecido, marginalizado, depois que o Papai N oel ajudou a comercializar o Natal?
O Menino inocente de Belém atraiu inimigos desde o nascimento, forçando-O a um exílio no Egito para não ser degolado. Você acha que hoje Ele não tem inimigos? Pelo contrário, os inimigos nunca foram tão numerosos, e agem empenhadamente na tarefa de fazêLo desaparecer da vida das crianças, de todos. Como? Deslocando a atenção para um palhaço gorducho, como se o aniversariante não existisse. Caro leitor, cante a nossa versão do Jingle bells, mas
i 1
prefira o Noite f eliz. Dê present~ aos filhos no Natal, mas ensine-os a homenagear o aniversariante, a venerar quem fez muito mais por nós do que todos os gorduchos vermelhos. E assim você também terá um Natal feliz, tornando felizes os seus filhos e o aniversariante. • E-ma il para o autor: ca tolic isrno@ terra .corn .br
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!I
SÍNODO DA FAMÍLIA
Um Sínodo "extraordinário" sob todos os pontos de vista ' ' JOSÉ ANTONI O U RETA
enos de um mês após a rea li zação da JMJ (Jorn ada Mundi a l da Ju ventude) no Ri o de Jane iro, em julho de 201 3, o Papa Fra ncisco comuni co u ao Secretá ri o do Sín odo dos Bispos, Dom Renato Ba ldi sse ri , anti go Núncio no Bras il , sua determinação de co nvoca r uma 3" Assembl eia Extraordinári a do Sín odo dos Bispos. Co m efe ito, os Sínodos ordin ári os são rea li zados em Roma a cada quatro anos, o próx im o devendo acontecer em 20 15. M as o Papa pode co nvoca r uma asse mble ia gera l extraordin ári a a qu alquer tempo, aproveitando-se para isso de c ircun stânc ias ou datas de grande re levo. Por exempl o, o anteri or S ín odo Ex trao rdin ári o ocorreu em 1985, para ana lisa r o estado da Igrej a Ca tó lica vinte anos após o encerra mento do Co nc íli o Vatica no li.
M
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CATOLI C I SMO
Fru to dessa decisão de Fra ncisco I, tomada logo após o retorno do Brasil , em 8 de outubro, fo i anunciada a convocação da referida 3ª Asse mbl eia Gera l Extraordinári a do Sínodo dos B ispos. Esta deveri a tratar dos
"desafios pastorais dajàmília no contexto da evangelização", tema qu e vo ltará a ser tratado no Sínodo Ordinári o de 20 15 a respe ito de "Famíli a e pessoa hum ana". A esco lha do tema ca usou certa surpresa, pois em 198 1 j á houvera um S ínodo sobre a famíli a, que teve como fr uto a Exortação Apostó li ca Familiaris Consortio "sobre a fun ção da fa míli a cri stã no mundo de boje", documento magiste ri al que gui a há 30 anos a pas toral fa mili ar da Igreja no mundo inteiro. D esde então, nada de substanc ia l parec ia ter mudado, nem na cri se da fa míli a, nem na resposta pastoral da Igrej a. Ta mbém surpreendeu essa sequênc ia de do is Sín odos , um Extraordin ári o e um O rdin ári o, a respeito do
. mesmo tema. A aparente ex plicação só ve io recentemente e também é li gada ao Brasil : segundo o va ti ca ni sta Lui gi Accatoli, no seu encontro com os bi spos bras il eiros no Ri o de Janeiro, o Papa Fra nc isco teri a fica do impress ionado co m o método usado pe la CN BB (Confe rência dos B ispos do B ras il ) para adotar o novo programa de reforma das paróquias. Após uma consulta interna, a assemble ia episcopa l bras ile ira teria redi gido um esquema prov isóri o, env iado posteriormente para consul ta às bases nas di fe rentes di oceses, cuj as o ri entações seriam reco lhidas no documento defini tivo (publicado depois sob o tí tul o "Comunidade de comunidades: uma nova paróqui a. A conversão pastora l da paróqui a"). Esse método de trabalho em dois tempos teri a inspi rado, segundo Accato li, a decisão do Papa Franc isco de convoca r do is sínodos sucessivos e separados apenas por um ano, com o fim de assegurar uma ampl a consulta às bases. De fato, na ca rta que o Ca rdea l Baldisseri enviou aos pres identes das Co nfe rênc ias e pi sco pa is no di a 18 de o utubro de 201 3, anunc iand o a convocação do S ín odo Ex traord inári o, e le reco mend ava um a ampl a di stribui ção nas paróqui as de um quest ionári o contendo 38 perguntas a respeito das " novas problemáticas" em torn o da fa míli a, como a di fusão dos casais "de fa to", as fa míli as mono pa renta is, a di fusão do fe nô meno do "a lugue l de úteros", etc. Do is temas abo rd ados no q uesti onári o abri ra m caminh o para um gra nde debate: as uni ões entre pessoas do mes mo sexo e o tratamento pastora l - espec ia lmente o acesso à comunh ão eucarí stica - dos casa is divorciados em seg unda uni ão.
Mll(la11ça da prática pastoral e cio ensiname11to ela l g1'eja em matél'ia sexual?! O documento in trodutóri o das perguntas acenava , efeti va mente, para uma mud ança de atitude da Igrej a,
em nome do "vasto acolhimento que tem, nos nossos
dias, o ensinamento sobre a misericórdia divina e sobre a ternura em relação às pessoasferidas, nas p erif erias geográficas e existenciais". Ta nto ma is quanto o próprio Papa Fra ncisco, no voo de retorno do Bras il , hav ia dado a entender qu e uma mud ança da pos ição trad ic ional da Ig rej a nos do is temas ma is controvertidos não devi a ser exc luída. Q uanto aos homossex uais, sua co nhec ida resposta de que se e les procura m a Deus e têm boa vontade ''quem sou eu parajulgá-los? " - a qual passa rá provavelmente para a Hi stóri a co mo o resumo do se u pon tifi cado - , j á tinh a influenc iado parl amenta res cató li cos a qu e votasse m em fa vo r de leis aprovando o casa mento de pessoas do mesmo sexo. Entrevia-se a mesma abertura a partir de outra resposta aos jorn ali stas, no mes mo av ião de reto rn o do Ri o de Jane iro. Perg un ta do se ex iste a possib ilidade de mudar a lguma co isa na di sciplina da Igreja a res peito do acesso aos sacra mentos po r parte dos d ivo rc iados, ele afi rmou: "Um parêntese: os ortodoxos têm uma prax is diferente. Eles seguem a teologia da economia, como eles achamam, e dão uma segunda chance, permitem-na. Mas acredito que esse problema - fecho o parêntese - deve ser estudado no marco da pastoral matrimonial. " A nomeação co mo sec retário espec ia l do S ín odo Extrao rdin ári o do bispo e teó logo Do m Brun o Forte, ex poe nte de um a linh a teo lóg ica e pastora l aberta , ve io aum entar a in da ma is a ex pecta ti va de uma eve ntua l mud ança do ensin ame nto da Ig rej a em matéri a sex ua l. Ex pectati va que se acentuou a inda ma is após a imprensa tra nsc rever dec larações de um a mulh er argentina e de seu co mpa nh e iro di vorc iado, segundo as quais o Papa Fra ncisco teria te lefo nado a e la, e que no curso da co nversação a autor izo u rece ber a co munh ão , apenas tomando o cui dado de não fazê- lo na próp ri a pa róqui a para não cri ar co nflito com o vigário. A sala de imprensa do Vat ica no não des mentiu essa versão dos fa tos, limi ta ndo-se a dec larar q ue ta is conversações deve ri am ser entendidas no contexto das re lações pasto ra is pessoa is do Papa, e não co mo um evento qu e acarreta "consequências em relação aos ensinamentos da Igreja". lndissolulJiliclacle cio matrimônio e a 111·oil1ição ,la comu11hão aos 11ecadores JJLÍIJ/icos Essas in tervenções do ma is alto vérti ce do Vaticano ensej aram que as " bases" - ou seja, as conferências ep isco pa is e os mov imentos de le igos de o ri entação progress ista - respondessem ao questionári o Ba ld isseri
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exigindo não somente 'uma mudança pastoral , mas até mesmo doutrinár-.ia da Igreja em relação à homossexualidade e à indissolubilidade matrimonial. Com efeito, o então presidente da Conferência episcopal alemã, Dom Robert Zollitsch, arcebispo de Friburgo, chegou a publicar um documento oficial encorajando os divorciados recasados a aproximar-se sem escrúpulo da mesa da comunhão, com base numa simples "decisão de consciência ". Em resposta a essa iniciativa escandalosa, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal alemão Gerhard L. Müller, em longo artigo publicado pelo "Osservatore Romano" em 23 de outubro de 2013, viu-se forçado a reafirmar a indissolubilidade do matrimônio e a proibição da comunhão aos pecadores públicos, artigo no qual, de passagem, condenava a "teologia da economia" praticada pelos cismáticos ortodoxos. Mas a intervenção do cardeal Müller viu-se obnubilada por declarações de dois cardeais muito chegados ao Papa Francisco e membros do G8 - grupo de oito cardeais que assistem o Pontífice na reforma da Cúria. De um lado, o cardeal Reinhardt Marx , arcebispo de Munique, declarou que dito artigo não podia "fechar a discussão" e, de outro, o cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, afirmou que "Miiller é um professor de teologia alemão, na sua mentalidade só há o verdadeiro e o.fàlso. Mas, meu irmão, o mundo não é assim, você devia ser um pouco fiexivel ".
Três propostas exvlosivas No meio desse debate, e aproveitando que, por ocasião do último consistório para a criação de novos cardeais, o corpo cardinalício se encontrava em peso em Roma, o Papa Francisco pediu-lhes que debatessem sobre a família com base em um relatório introdutório por ele confiado ao cardeal Walter Kasper, que já em fins do século passado havia se posicionado a favor da superação da proibição da comunhão aos divorciados recasados. A proximidade do Papa Francisco com o cardeal Kasper tinha ficado manifesta por ocasião do primeiro Angelus do atual pontificado, quando o Pontífice disse que estava lendo um livro deste último sobre a misericórdia de Deus, no qual ele se revelava um "teólogo de mão cheia". O cardeal Kasper, no seu relatório de duas horas apresentado a portas fechadas no Consistório de cardeais, desenvolveu a tese de que a Igreja deveria operar uma "mudança de paradigma " em relação à comunhão aos divorciados recasados , considerando a situação a partir
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CATOLICISMO
da perspectiva de quem sofre e pede ajuda. E fez três propostas explosivas: • Que, nos casos daqueles que em consciência estão convencidos de que seu precedente casamento foi irremediavelmente desfeito e nunca teve validade, em lugar de confiar a avaliação de sua eventual nulidade aos Tribunais Eclesiásticos, o bispo a confiasse a um sacerdote com experiência espiritual e pastoral; • Que, nos casos de divorciados recasados que têm obrigações com filhos nascidos de uma segunda união, lhes fosse aberto o acesso à mesa da comunhão eucarística, uma vez que, segundo Bento XVI, eles podem receber a comunhão espiritual (a forma de comunhão daqueles que estão impedidos de recebê-la por razões materiais: distância, reclusão, etc.). "Quem recebe a comunhão espiritual é uma só coisa com Jesus Cristo. [... ]Porque, então, não pode receber também a comunhão sacramental?" alegou o cardeal. • Que na Igreja primitiva teria existido um direito consuetudinário segundo o qual os cristãos que viviam uma segunda união tinham a sua disposição embora o primeiro cônjuge estivesse vivo e após um tempo de penitência - não um segundo casamento, mas uma tábua de salvação pela participação nacomunhão . Enquanto a Igreja latina teria abandonado esse costume, as [grejas ortodoxas o conservaram, conforme o princípio para eles válido da oikonomia. Note-se que o cardeal Kasper não exprimiu uma única palavra de condenação ao divórcio, nem sobre as desastrosas consequências deste para a sociedade; tampouco mencionou o grave dever da pessoa que se encontra em pecado mortal de rezar para obter a graça de sair dele (o que não se confunde com a comunhão espiritual, reservada, segundo muitos teólogos, a quem está em estado de graça). Aliás, a proposta do cardeal envolve um paradoxo: ao invés de se arrepender da situação de pecado em que se encontra, o divorciado recasado deveria se arrepender de seu primeiro e autêntico casamento! Além disso, se a Igreja admitisse a legitimidade de uma convivência pós-matrimonial estável (segunda união), não se vê por que não deveria permitir também as convivências pré-matrimoniais estáveis e sinceras. Finalmente, sua tese de que a Igreja primitiva admiti a à comunhão os divorciados recasados foi demolida nas semanas seguintes por renomeados historiadores, os quais demonstraram que aquilo que os concílios tinham aprovado era a comunhão dos viúvos - e não dos divorciados - que se voltavam a casar.
A resistência ele purpuraclos, l1istoriaclores, teólogos, canonistas e moralistas Naturalmente, a palestra do cardeal Kasper encontrou a oposição de vários cardeais, que na mesma manhã daquele dia se exprimiram num debate sereno e fraterno. Na parte da tarde, o Papa Francisco permitiu que apenas o cardeal Kasperfizesse uso da palavra, para replicar as críticas que recebera de manhã. Ao noticiar o desenvolvimento do Consistório, o Pe. Federico Lombardi , portavoz do Vaticano, apresentou o relatório Kasper como esta'ndo "em grande sintonia " com o pensamento do Papa Francisco. Confirmou-o no dia seguinte o próprio Pontífice, que na conclusão do Consistório assim se exprimiu: "Ontem, antes de dormil'; mas para não dormü; li - reli - o trabalho do cardeal Kasp er e queria agradecer-lhe porque li uma teologia profunda, também um pensamento sereno na teologia. [... ] Fez-me bem e me deu uma ideia - desculpe-me, eminência, se o .fàço corar - , mas a ideia é que isto se chama .'fàzer teologia de joelhos'. Obrigado. Obrigado. " Tal apoio ter-se-ia evidenciado também pelo fato de o Papa ter vetado a publicação no "Osservatore Romano" de uma intervenção em sentido oposto ao relatório Kasper preparada por um cardeal de grande destaque, segundo informou o vaticanista Sandro Magister, grande conhecedor dos bastidores do Vaticano. Sentindo as costas quentes, o cardeal Kasper empreendeu uma verdadeira rodada de conferências e entrevistas de imprensa para divulgar e defender suas teses, di zendo
que elas não implicam uma mudança da doutrina da Igreja a respeito da indissolubilidade do matrimônio, mas apenas uma praxis pastoral. Em tais intervenções, ele invocava sistematicamente o suposto apoio do Papa Francisco, o que levou o cardeal Rayrnond Burke a comentar jocosamente que o pontífice não padece de laringite e não precisa de porta-voz para exprimir o que pensa. A divulgação das teses kasperianas encontrou a resistência de bom número de purpurados - entre os quais cabe destacar os cardeais Burke, Müller, Brandmüller, de Paolis, Caffarra e Pell - e de historiadores, teólogos , canonistas e moralistas. Cabe especial menção um trabalho publicado por oito professores dominicanos dos Estados Unidos, os quais ressaltaram que o relatório do cardeal alemão significa, nem mais nem menos, a supressão da obrigação de castidade segundo o próprio estado, como se os fiéis não tivessem certeza da ajuda da graça para mantê-la. Se fosse aceita a comunhão para os divorciados recasados - di ziam os teólogos dominicanos - "não se vê como a Igreja p oderia recusá-la aos casais que coabitam ou às pessoas engajadas numa união homossexual, etc. Com e.feito, a lógica dessa posição sugere que a igreja deveria abençoar tais uniões (como o .fàzem agora os anglicanos) e mesmo aceitar toda ·a gama que comporta a 'liberação ' sexual contemporânea. A comunhão para as pessoas divorciadas
recasadas não é senão o começo". Nas vésperas do Sínodo Extraordinário, os cinco primeiros cardeais acima mencionados publicaram suas intervenções, reunindo-as às de outros quatro peritos
O cardeal Kasper rlmlu uma única palavra de conde divórcio, nem sobre as desastrosas co nelas deste para a sociedade; tampo nclonou o grave dever da pessoa que se encontra em pecado mortal de rezar para obter a graça de sair dele. Aliás, a proposta do ca cd envolve unli,dr'dê:loxo: ao Invés de se a nder da sltuaçfto de pecado em que se ontra, o divorciado recasado deveria se pender de seu primeiro e autêntico casam 1
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em um li vro sob o express ivo títul o Permanecendo na
verdade de Cristo: Matrimônio e comunhão na igreja Católica. A obra percorre a hi stóri a de sécul os de res istência católi ca à co munh ão aos di vorciados recasados, e mostra que nela não se encontra nenhum argumento a fa vo r do tipo de " to lerânc ia" que o Ca rdea l Kasper propõe. Esse prelado deplorou a publi cação do li vro, class ifi ca ndo-a de afronta para go lpea r o Papa Bergoglio. N as se manas prév ias ao Sínodo Ex traordinári o, o Pontífice convidou 26 pre lados a parti cipar do mesmo, entre os qu ais o pró pri o ca rdea l Wa lter K asper e o ca rdeal belga Godfr ied Danee ls, que j á no Sín odo de l 99~ hav ia se pro nunc iado a favo r de uma abertura pastora l aos divorc iados recasados. O utro fa vorecido fo i o arce bi spo Ví cto r M anu e l Fern á nd ez, re itor da U ni versidade Católi ca de B uenos Aires, ao qual co nfio u a vice- pres idência da comi ssão enca rregada de redi gir a mensagem do Sínodo ao mundo. Relatório intennediário ahertamente conflitivo com o ensino tmdicio1wl ,la I gr eja
No d ia 5 de outubro de 20 14 abriu-se fi na lmente o Sín odo Extrao rdin ári o, co m uma ano ma li a: a comuni cação pe lo secretári o, ca rdea l Baldi sse ri , de que as interve nções na aul a não seri am publi cadas, mas que se da ri a das mes mas apenas um a visão de co njunto, através dos respo nsáveis da sa la de imprensa co m o auxíli o de algun s parti cipantes esco lhidos pela secretari a do Sínodo. O ca rdea l M üll er protestou em vão co ntra essa censura , a qual não obsta nte se efetivou, porquanto em duas se manas de disc ussões as confe rências di ári as de imprensa se cing ira m a da r um a versão parcial do aco ntec ido, e apenas uma vez um pre lado anti-Kasper fo i convid ado a delas partic ipa r. Verifico u-se uma segunda anomali a no fato de o Papa refo rça r a equipe de três redatores do documento fi na l co m seis pre lados esco lhi dos por e le próprio, entre os qu a is o ul tra-p rogress ista ca rdeal G ianfra nco Ravas i, o se u arceb ispo protegido D . Víctor Manu el Fernández, e o Gera l da Companhi a de Jesus, Pe. Ado lfo Ni co lás . A cri ativ id ade manipul adora dessa equi pe redatora fico u comprovada no di a 13 de outubro (por sin al, festa da úl tima apari ção de Nossa Senhora em Fátima), q uando a leitura do relatório in termed iário das discussões suscitou crí ticas vee mentes dos participa ntes, para os qu ais e le não refletia o verdadeiro conteúdo das in tervenções . De fato , o relató ri o intermed iário não era apenas pa rcial - desenvo lvendo as teses da minori a pró-Kasper - , mas aberta mente confli tivo com o ensin o tradi cional da I.g reja, uma vez que:
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CATO LI C ISM O
• apresenta a " mudança antropo lógico-cultural" da soc iedade (l e ia-se a revo lu ção sexua l e suas consequênc ias: coa bitação, d ivórcio, contracepção artific ial, homossex ua lidade etc.) como um "desafio" para a Igrej a, sem fo rnecer nenhum e lemento de avali ação moral; • introduz um novo e sur preende nte princí pio moral, a " le i da gradua lidade", que permite colher elementos pos iti vos em todas as situações objetivamente peca minosas, como as relações pré-matrimoni ais ou as uniões homossex uais, reconhecendo que, nelas, "a semente do Verbo se espalhou além das fronteiras vis iveis e sacramentais" (ou sej a, qualquer pecado passa a constituir uma forma imperfe ita de bem, face ao qua l é preciso praticar uma espéc ie de "ecumeni smo com o mal"); • sublinha "a realidade positiva dos casamentos
civis e, f eitas as de vidas d/ferenças, também das coabitações" , subverte nd o a doutr in a da Igreja segundo a qu al a estabili zação no pecado constitui uma fa lta mais grave do que a uni ão sexual ocasional e passageira, porque torna mais di fíci l o retorno ao ca minho certo; • chega a afi rmar qu e "as pessoas homossexuais têm dons e qualidades para oferecer à comunidade cristã " (insinuando que e las brotam da condi ção homossexual) e nota que "há casos em que o suporte mútuo com vistas ao sacr/flcio constitui um apoio precioso para a vida dos parceiros " homossexuais, promovendo de.fato a lega li zação de tais uniões, sem sequer aprese ntar obj eções à adoção de cri anças por tais parceiros ! Co mo era de espera r, o escanda loso relatóri o intermedi ári o fo i celebrado uni versalmente pela grande imprensa como a aurora de uma nova era na qual a Igreja fi nalmente se reconc ili ari a com o mundo moderno e ace ita ri a os novos modelos de convivê nc ia nasc idos da revo lução sex ual. Cúpula ,10 Sínoclo tenta manohra 11a m silenciar as cliticas e pr011oca vozerio
N a conferê ncia de imprensa oficial do Sínodo do di a seguinte, o cardeal sul-africano W ilfr id N apier deplorou o texto do re latório e sua di vul gação mundial, que teria co locado a Igreja em uma situação "sem saída", porque
"a mensagem já partiu: 'é isto que diz o Sínodo, é isto que diz a igreja'. Agora não há mais retificação efi,caz, tudo que podemos fazer é tentar limitar os danos ". Foi o que tentaram faze r os dez c írculos de trabalho em que se dividi ram, por idiomas, os padres sinodais, ai-
guns dos quais e legeram para presidi- los perso nalidades conhec ida mente conservadoras, como o ca rdeal B urke ou o arceb ispo Do m Léonard, de Bruxe las. N a gra nde maioria desses círcul os de tra ba lh o, onde os padres sinoda is podiam exp rimi r-se li vreme nte , o re latóri o in termedi ário fo i li teralmente destroçado por uma enorme massa de propostas de eme nda no sentido de que o relatóri o fi na l deveria ressa ltar sobretudo que o úni co mode lo de casamento é a uni ão in d isso lúve l entre um homem e uma mulher com a fi na lidade primária de procriação e educação na fé , e que a pretensa " lei da gradualidade" pastora l não deve ser entendida como uma "gradu alidade da lei" através da qua l todas as situações irregulares passam a ser consideradas de modo pos iti vo. Diante do co nteúdo negati vo da grande ma ioria dos relatóri os dos dez c írcul os linguísticos, na q ui nta-fe ira , 16 de o utubro, quando as sessões conj un tas fora m reto madas, a cúpul a do Sínodo tentou uma manobra para limitar o seu impacto. Tendo o Papa a seu lado, o cardea l Baldisseri, secretári o-gera l, avisou que os referi dos relatórios não seriam tornados pú blicos. Ta l anúnc io fez com que um vozerio exp lodi sse li teralmente na sala, tend o o cardea l australi ano George Pell , que o liderou, mostrado a injustiça e a parcialidade da dec isão, e o risco de qu e, permanecendo desconhec idas as propostas de emend a, o texto fina l simplesmente as descons iderasse. Depois de aca loradas intervenções no mesmo sentido e apesar do silêncio sepul cral do Papa Fra ncisco, o próprio Secretário de Estado, ca rdeal Pietro Parolin, somou sua voz à dos que so licitavam a publi cação dos
re lató ri os dos gru pos de trabalh o, sendo então o ca rdea l Ba ldisseri , mui to a contragosto, o brigado a ceder. Para aca lmar os espíri tos e dar gara nti as de a lguma imparcialidade, o Papa Francisco anun c iou, na tarde desse d ia, que co locava mais do is membros na co missão redatora do texto defi niti vo, um dos qu a is o co mbativo cardea l Wilfr id Napier. 1'rês 11arágmfos cio relatório final r ejeitaclos 11ela assemhleia sinoclal
Apesa r de a comi ssão redatora ter produ z ido um texto de co mpromi sso, na vo tação fi na l apenas um dos 62 pa rágrafos recebeu aprovação unâ nim e, e três não obtivera m a ma ioria de do is terços req uerida estatutari amente pa ra a aprovação e inclusão no re lató rio fi nal da Asse mbl e ia Extraord in ári a do S ínodo . Do is dos parágrafos reje itados tratavam da questão da co munhão aos d ivorc iados recasados (descrevendo a di vergência de posições entre os padres sinoda is), e o terceiro da atenção pastora l às pessoas com tendência homossexual. Apesar dessa rej e ição, e contra ria ndo ma is uma vez o regulamento, o Papa Franc isco ordeno u que eles fig urassem no texto fi nal a ser enviado às di oceses e pa róq uias para nutrir a di scussão nos próx imos meses e insp ira r as propostas da " base" para a segunda eta pa, ou seja, o Sí nodo Ord iná rio de outubro de 20 15. Não obstante a in esperada res istência de um número ponderável de padres sinodais, inc lu ídos vá rios ca rdea is de destaq ue, o ca rdeal Wa lter Kasper e seus seguidores não dera m o braço a torcer e prete ndem co ntinuar
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Padre Thomas de Salnt-Laurent
São João da Cruz Armando Alexa ndre dos Santos
a marcha para a frente até obter a mudança pastoral (e necessariamente doutrinária) da atitude da Igreja face às situações matrimonias irregulares e as uniões homossexuais. Perguntado se considerava esse resultado do primeiro Sí nodo " uma derrota" da estratégia do Papa Francisco, seu discípulo e amigo, D. Víctor M. Fernández - um dos redatores do texto final - , respondeu ao jornal " La Nación", de Buenos Aires, que "de maneira alguma " teria sido uma derrota , porque o Pontífice nunca propôs uma so lução concreta, mas apenas quis que o assunto fosse debatido com toda franq ueza. Ainda segundo ele, na questão da com unhão aos divorciados recasados, a maioria dos bispos foi favorável a uma abertura e "havia apenas um grupo de seis ou sete muito.fànáticos e um pouco agressivos, que não representavam nem 5% do total ".
Debates <lo Sino<lo não /'ornm senão um começo e ameaçam pl'm1ocal' 11m cisma O diretor do renomado mensário "Civi ltà Catto li ca", o jesuíta Pe. Antonio Spadaro, convidado pelo Papa a participar do Sínodo, declarou que "Graças à decisão do Pontífice, todos os pontos discutidos continuam quaestiones disputandae [questões abertas ao debate] , mas iluminadas por todo o confi'onto sinodal. O processo portanto permanece aberto e requer a participação do povo de Deus por um ano inteiro. " Por sua vez, o cardea l Reinhardt Marx declarou ao jornal a lemão Die Zeit: "A té agora, esses dois assuntos [comunhão para os divorciados recasados e aceitação
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CATOLICISMO
das uniões homossexuais] eram absolutamente não negociáveis. Apesar de não terem obtido a maioria de dois terços, a maioria [simples] dos padres sinodais votou, porém, a.fàvor delas. Eles ainda.fàzem parte do texto. [... ] Este papa abriu as portas e o resultado do voto no .fina l do Sínodo não vai mudar isso. [... ] Os debates do Sínodo não foram senão um começo. Francisco quer que as coisas vão para a frente, que o processo continue. O verdadeiro trabalho está para começar".
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As posições são portanto inconciliáveis. O que levou um conhec ido coluni sta católi co do "New York Ti mes on Sunday", Sr. Ross Douth at, a tocar o alarme: através desse Sínodo sobre a famí li a, o Papa levou a Igreja à borda de um precipício. E se o Sínodo continuar nessa trajetória - disse o coluni sta - , e le vai "semear a confusão no meio dos aderentes mais ortodoxos da igreja " e poderia eventua lmente conduzir "a um verdadeiro cisma ". Uma hipótese que já havia sido aventada por D. Rogelio Ricardo L ivieres, bispo de Ciudad del Este, no Paraguai , destituído por Francisco l por não estar em si ntonia com o resto de episcopado paraguaio, maciçamente solidário com o ex-presidente Lugo e a "Teo logia da Libertação" . Não há dúvida de que estamos diante de um Sínodo realmente extraordi nário. Sob todos os pontos de vista ... • E-ma il para o autor: cato li cisrn o@terra .co rn .br
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eremitas, fundando o mosteiro que depois adotou seu nome. Primeira Sexta-feira do mês.
(j São Nico lau, Bispo e Confessor
+ Mira, 324. Bispo de Mira,
1 Santos Edmundo Ca mpion, Roberto Southwell e Companheiros, Mártires
+ lnglaterra , entre 15 8 l e 1679. Desses IOjesuítas, oito eram ingleses e dois do País de Gales. Foram martirizados por ódio à fé.
2 São Cro1mício, Bispo e Confessor
+ ltália, 407. Bispo de Aquileia, no Vêneto, desenvolveu em sua Sé uma espécie de ordem religiosa com vida clerical em comunidade. São Jerônimo denominou-o "o mais santo e
o mais douto dos bispos".
:J São Fra ncisco Xavier; Confesso r
+ Sancião (Japão) , 1552 .
na Ásia Menor, de eminente caridade, foi desterrado pelo Imperado r Licínio . Após a derrota deste por Constantino, voltou à sua diocese, onde operou estupendos milagres. No Concílio de Nicéia foi um dos mais ardorosos adversários do arianismo. É um dos santos mais populares, considerado o distribuidor de prêmios para os bons meninos. Primeiro Sábado do mês.
que os intimava a apostatar sob pena de morte, responderam : "Ninguém poderá nos
12 Nossa Senhora de Guadalupe, Pad l'Oeira principal da América Latina
13 Santa Luzia, Virgem e Mártit'
+ Siracusa, séc. IV. Consa-
separar do amor de Cristo; nem nossas mulheres, nem nossos filhos, nem as riquezas do mundo, p ois som os servidores de Cristo, Filho do Deus Vivo, e estamos prontos a morrei·por Aquele que morreu e ressuscitou por nós" (do
8 f◄' E STA
DA IMACU LADA CONCEIÇÃO DA SANTÍSSIMA VIRGEM
São Pedro Fourriet~ Confessor
+ França, 1640. Entrou para a Congregação dos Cônegos Regu lares, à qual deu novo vigor por sua virtude e seu talento.
10 Trasladação da Santa Casa de Lor·eto
Co-reformador juntamente com Santa Teresa do ramo masculino da Ordem do Carmo e grande místico. Poucos penetraram mais a fundo nos arcanos da vida interior.
15 São Folcuíno, Bispo e Confessor
+ França, séc. IX. Primo-irmão do Imperador Carlos Magno, por sua autoridade e energia foi designado bispo para governar a região ainda bárbara de Thérouanne (norte da França).
Santas Virgens, Mártires
+ África, 480. Quando da invasão do norte da África pelos vândalos arianos de Hunerico, estas muitas virgens consagradas a Deus "defenderam a
honra da Igreja de Cristo em meio a atrozes torturas " (Martirológio Romano Monástico).
Sama ,Juta, Virge m
+ Alemanha, séc. XI. Foi rece-
São .João, Apóstolo e Evangelista + Éfeso , séc. l. O Discípulo amado por sua virgindade representou a humanidade ao receber, junto à Cruz, Nossa Senhora como Mãe . Perseguido pelo imperador Domiciano, levaram-no a Roma e o mergulharam num tacho de azeite fervente, de onde sai u rejuvenescido . Foi então deportado para a ilha de Patmos, onde escreveu o Apoca li pse. Escreveu ainda seu Evangelho e três epísto las, para refutar as heresias que negavam a divindade de Nosso Senhor e pregar o amor entre os cristãos.
+ Tours (França), séc. IV Pri-
2:1
2B
São Sérvulo, Confessor
Santos Inocentes, Mártires
+ Alexandria, séc. III. Ab-
+ Úbeda (Espanha) , 1591.
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São GaLiano, Bispo e Confessor
Martirológio).
São João da Cru z, Confessor e Doutor da Igreja
mília romana, foi governador civil de Milão e depois bispo, conselhe iro de imperadores e do Papa. Teve papel decisivo na conversão de Santo Agostinho.
bateu, por sua palavra e seus escritos, a heresia protestante, especialmente entre os povos de língua alemã. Graças a ele, a Renânia e a Áustria permaneceram católicas.
ber suas lições, aos oito anos de idade, a futura profetiza do Reno, Santa Hi ldegarda. Juta instruiu-a, dando-lhe noções de latim, medicina e História Natural. E familiarizou -a tão bem com os textos litúrgicos e a Sagrada E scritura, que Hildegarda substituiu-a como abadessa quando e la faleceu.
São Nemésio, Mártir
São João Damasceno
nado "a pérola do Oriente", após levar vida eremítica nos desfiladeiros do Cedron , reuniu e dirigiu numerosos
+ Egito, 630. Ao general árabe
de visitar os Lugares Santos, fixou-se numa coluna às margens do Bósforo, aí vivendo como estilita por 33 anos.
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+ Palestina, 532. Cognomi-
+ Constantinopla, 493. Depois
+ Milão , 397 . De nobre fa-
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São Sabas, Confessor
Cinquenta Soldados de Gaza, Má rt ires
Santo Ambrósio, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja
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Festa oficia lmente instituída pelo Bem-aventurado Pio IX em seguida à promulgação desse dogma, em 1854, com base nos Evangelhos e coroando tradições muito antigas a respeito.
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São Da niel Estili ta, Confessor
grando a Cristo sua virgindade e renunciando em favor dos pobres seu rico patrimônio, fo i degolada à espada. Santo Tomás a cita duas vezes na Suma Teológica. É invocada nas doenças dos olhos.
Discípulo de Santo Inácio de Loyola, Apóstolo das Índi as e do Japão, seu zelo alcançou Má laca e as Malucas. Faleceu aos 46 anos de idade na costa da China, país que pretendia evangelizar. São P io X tornouo patrono especia l da obra da Propagação da Fé e das Missões católicas.
(Vide p. 22).
17
meiro a pregar o Evangelho na região de Tours, da qual fo i Bispo.
19
solvido de falsa acusação de roubo durante a perseguição de Décio , quando saía do tribunal foi denunciado como cristão e condenado pelo juiz a ser queimado vivo, recebendo assim a coroa do martírio .
20 São Teórn o de Alexandri a e Companheiros, Mártires + Séc. III. "Estes soldados cristãos do tribunal imperial, vendo um de seus irmãos nafé vacilar diante do juiz, fizeramlhe sinais para encorajá-lo. Ao p erceber os seus gestos, o juiz os intimou e eles não hesitaram em confessar sua f é, sendo imediatamente condenados à morte" (do Marti-
+ Roma, 590. São G regório Magno re lata em seus Diálogos a vida deste santo. Paralítico, ele vivia de esmo las sob o pórtico da igreja de São Clemente em Roma.
24 São Delfim, Bispo e Confessor + França, séc. JY. Paladino e intrépido defensor da Igrej a, foi bispo de Bordeaux e parti cipou do Concílio de Zaragoza, onde muito contribui para a condenação dos hereges prisci Iian istas.
25 NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRJSTO
29 Santo Davi, Rei e Profeta
+ Judéia, séc. X a.e . Escolhido pelo próprio Deus para suceder a Saul, primeiro rei de Israel, entrou · para o serv iço deste como tocador de cítara e derrotou o gigante Golias. Subindo ao trono, instalou a Arca da A li ança em Sion, que ele transformou na capital de Israel.
Santo Anísio, Bispo e Confessor
+ Macedônia, 407 . Discípu lo de Santo Ascólio e seu sucessor na Sé de Tessalônica, foi nomeado por São Dâmaso Vigário Pontifical na flíria.
26 Santo Estêvão, Protomártir + Jerusalém , séc. L Um dos
São Silvestre 1, Papa e Confessor
+ Roma, 335. Foi um dos pri-
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sete primeiros Diáconos nomeados e ord e nados pe los Apóstolos. Re latam os Atos dos Apóstolos que ele 'fazia
São Pedro Canísio, Confessor e Doutor da Igreja
prodíg ios e grandes sinais entre o povo ". Não podendo
+ Friburgo, 1597. Discípulo
suportar isso, membros da sinagoga alegaram que e le blasfemava e o lapidaram .
rológio) .
de Santo Inácio, notabilizouse pela eficácia com que com-
meiros santos não mártires a receber cu lto público. No seu pontificado a Igrej a começou a sa ir das catacumbas e construir magníficas basílic as . Como fundador dos Estados Pontifícios ele iniciou a série de Papas-reis.
Intenções para a Santa Missa em dezembro Será ce lebrada pe lo Revmo . Padre David Fran cisquini, nas segu intes intenções: • Pelos méritos infinitos do nascimento do Divino M enino Jes us, rogaremos especia lmente pelos lei tores de Ca tolicismo e suas respectivos família s, bem como por tod os aqueles que nos apoiaram ao longo deste ano, para que Ele co ncedo a todos um Sa nto N otai e abundan tes gra ças paro o Ano Novo. Súp licas que eleva remos ao Céu po r interm édio do Santíssima Virg em, cuja Im acu lado Co nce ição é ce lebrada no dia 8 de deze mbro.
Intenções para a Santa Missa em janeiro • Pela união e santifi cação de todas os famílias católicas em torno do Sagrada Família. Suplicando à Santa M ãe de Deus (festividad e comemorada no dia l º), pelos méritos da Epifania do Senhor (dia 6), cop iosas graças poro todos os leitores. Que eles sejam providencia lmente amparados, de modo o estarem aptos paro enfrentar com energ ia ecoragem as dificuldades que possam suceder ao longo de 20 15, particu larmente aquelas provenientes de persegu ições religiosos e aos bons cos tum es , fomentadas por governos socialistas.
TFP americana em intensa atividade r,
A
FRANCISCO JOSÉ SAIDL
s atividades da Sociedade Americana de Def esa da Tradição, Família e Propriedade foram especialmente intensas no mês de outubro.
No sábado mais próximo à data em que se comemora a última aparição de Nossa Senhora em Fátima, em 13 de outubro, a TFP americana, através da campanha A América Necessita de Fátima, organiza a recitação do Rosário em locais públicos. Neste ano a iniciativa alcançou a impressionante cifra de 12.629 Rosários simultâneos em todos os estados da Federação. A intenção é pedir a intercessão da Mãe de Deus pela nação americana e pelos interesses da civilização cristã. O número superou em dois mi l o do ano anterior. Muito oportuno lembrar a importânc ia dessa devoção: "O Rosário é uma arma poderosa contra o Inferno. Destrói o vício, livra do p ecado e afasta a heresia ", ensina São Domingos de Gusmão. Foi também o remédio indicado há quase 100 anos pela Virgem Santíssima em Fátima, para sanar os males do século XX, que perduram e se agravaram neste século XXI. Importa muito ressa ltar que, uma vez mais, este portentoso evento de recitação pública do Rosário foi ignorado pela mídia.
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Já se abriram in scrições para os que desejam ] participar em 2015 do próximo "Rally do Rosário". ""
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Enquanto jovens voluntários da Ação estudantil j il da TFP participavam de uma caravana em defesa do rii .É casamento tradicional, ou seja, da união entre homem ~ ~e mulher, na sede da TFP americana em Spring Grove c3 (Pensilvânia) realizava-se mais um Encontro Nacional 1 de Correspondentes e Simpatizantes. i;,;
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CATO LI C I SM O
D EZEMBRO 2014
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Imbuídos da co wicção de que a maioria dos americanos concorda que nossa sociedade necessita urgentemente de uma restauração dos valores morais, cuja sustentação provém das famílias bem constituídas, baseadas no casamento natural e indissolúvel , e não em formas pecaminosas de uniões antinaturais, duas dezenas de militantes da TFP americana estiveram nos estados de Maryland e Virgínia. Entre os locais visitados figurava a famosa Universidade Johns Hopkins, onde receberam excelente acolhida. No último fim de semana de outubro, reuniram-se em Spring Grove mais de duas centenas de correspondentes e simpatizantes da TFP americana, para se atualizarem nas atividades dessa entidade. Eis o elenco dos temas abordados nessa ocasião:
• Resistindo à Revolução Moral dentro da Igreja • A sociedade que ama a Cruz O crescimento da perseguição movida pela agenda homossexual • Campanha de difusão do livro RETURN TO ORDER • A importância do interesse do público americano pelo sublime e p elo heroísmo • impostos e a guerra sobre a desigualdade A destruição do sistema educativo TFP americana em ação. Sacerdotes amigos estiveram disponíveis durante todo o evento para prestar com solicitude assistência religiosa. Ao entardecer do sábado, uma procissão conduziu uma bela cópia da imagem de Nossa Senhora da Esperança Macarena, que se venera na cidade espanhola de Sevilha. No domingo houve missa na Basílica do Coração de Jesus, na vizinha localidade de Connewago. Esta histórica igreja foi a primeira da América consagrada ao Sagrado Coração de Jesus. Após o banquete final discursou o Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, dirigindo aos presentes palavras e encorajamento. •
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E- mail para o autor: ca tolic is111o@terra.co111.br
CATOLICISMO
DEZEMBRO 2014
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TSateáraf áe Fato altamente simlliólico marca a história~ dessa: famosa , . construçao got1oa
, ezms ■ PUNIO (ORRÊA DE ÜUVEIRA
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catedral de Reims é tão carregada de história que haveria dificuldade em tecer sobre ela apenas um comentário. Até o reinado de Luís XVI, foi o templo onde os reis de França eram sagrados. Houve uma espécie de sagração póstuma do rei Carlos X, irmão de Luís XVI, que reinou após a Revolução Francesa. Essa catedral francesa tornou-se um símbolo da arte gótica,juntamente com a catedral de Notre-Dame de Paris. As sagrações dos reis de França que se realizaram em Reims foram as festas mais características e simbólicas da glória e da pompa da Idade Média. O rei de França era cognominado Cristianíssimus (Rei Cristianíssimo) e sua sagração transcorria numa cerimônia que empolgava a Europa inteira. Um fato simbólico que sempre me impressionou ocorreu em Reims. As igrejas góti~as ostentam em seu exterior estátuas e imagens, mas durante a Revolução Francesa elas foram decav,itadas. Previamente à coroação do rei Carlos X, a fim de que a sagração não se passasse em 'condições tristes, com a visão daquelas imagens decapitadas, modelaram cabeças de pedra e as recolocaram nas imagens.
Rex
Entretanto a restauração monárquica de Carlos X não foi uma verdadeira Restauração. Ele manteve muitos aspectos péssimos oriundos da Revolução Francesa. Então, aplicava-se a ele o dito magnífico de Joseph de Maistre numa correspondência ao rei da Sardenha: "Majestade, depois da queda de Napoleão, tudo foi reposto, nada restaurado ". Quando o cortejo de Carlos X chegava à catedral de Reims, os canhões começaram a troar. Entretanto, à medida em que os estampidos dos canhões iam retumbando, as cabeças das imagens iam caindo ... Simbolicamente, "tudo tinha sido reposto, nada restaurado". Foi um modo eloquente de a Providência manifestar a fatuidade da obra que se estava empreendendo. O fato simbólico patenteou a inutilidade de todos os esforços contra-revolucionários que não sejam radicais, completos e de índole profundamente religiosa. Sem isto, toda obra é estéril e inútil. Devemos nos persuadir de que a restauração da civilização cristã só pode efetivar-se de modo durável se for inteiramente radical e profundamente religiosa. •
Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 23 de maio de 1967. Sem revisão do autor.