Catolicismo 2016, Números 781 a 792

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EXCERTOS

SUMÁRIO

Política de abelha asta ter sido um observador sereno da política brasileira para não alimentar ingenuamente algumas ilusões que, quando desfeitas, provocam certo desânimo. De fato , qual tem sido, até hoje, a característica principal dos métodos políticos de nossa terra senão o personalismo mais primitivo e feroz, e uma ausência completa de ideias e programas? Tudo quanto, durante o Império ou a República, tem aparecido por aí, com os rótulos de federalismo, civilismo, voto secreto, [...] são a piraçõc vagas, imprecisas, mal coordenadas, que os políticos exploram a seu favor, sem um corpo de doutrina, um programa dentro do qual se encaixem e s' justifiquem. Em última análise, todas as lutas políticas, em nosso Paí , e rcsurn ' rn 1w conquista do Poder pelo Poder, ou melhor, pelas vantagens do Poder... Faz-se uma propaganda eleitoral, faz-se uma revolução, e ao 'abo d · 11111 11 ou de outra, vença ou não vença, a situação é a mesma [... ]. Entre os partidos, só o personalismo dos chefe ervia c.l ' limil ·, porquv um e outTo participavam da mesmíssima mentalidade [... ]. Não vemos para já, no cenário político brasileiro, outra perspectiva senão esta: a dos partidos do Governo, montados através da vasta rede do municipalismo, e a dos partidos de opo içã , a declamarem nos ouvidos do povo as eterna cantilenas dos descontentes, com o fim único de arrancar as rédeas do Poder a quem as tenha. Oliveira Viana conta que um biógrafi de l lamilton observa que os verdadeiros estadi ta praticam a política de colmeia, procurando tud subordinar ao interesse coletivo, enquanl s fal sos " polfti ·os" pmti ca m •1 polfti 'H da abelha, na qual tudo s ub rdin a ao i111 ·r •ss · indi vidual. Deste "político " temos tido; rn·1s ·slndi stus rea lmente não. O Poder Público é tran formado num ·ur 10 r ·ndo o, numa verdadeira profissão, e nã.o num ônus p 'Sad< · eh ·io de respon abilidades de quem deve olhar para inl 'r 'sse da naçé o e promover o bem comum, em vez de procurar e lo ·ar bem a sua gente e o seu partido. Os parlid s p líticos Se O verdadeiras tribos que se digladiam. Quem pretenda realiza r ideia terá todas as dificuldades do semeador que espera fruto da sementes lançadas no deserto ... Não foi o Sr. Oswaldo Aranha qu em chamou o Brasil de deserto de ideias? ❖

B Plinio Corrêa de Oliveira

Os falsos "políticos "praticam a política da abelha, na qual tudo se subordina ao interesse individual.

Nota da reda ção: s considerações deste artigo - publicado em "O L gl 11 1 rio ", nº 138, em 4 de fevereiro de 1934 - apesar da distância de 81 parece-nos inteiramente aplicáveis à atual situação política do Pais.

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

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VARIEDADES Corrupção moral

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CORRESPONDÊNCIA

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A PALAVRA DO SACERDOTE Jesus Cristo poderia ter uma vida também humana? Uiretor:

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Paulo Corrêa de Brito Filho

DESTAQUE

Jornalistu Responsável:

Espetáculo inqualificável na Basílica de São Pedro

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Nelson Ramos Bar:retto Regi strado na DRT/DF sob o n" 3ll 6

A REALIDADE CONCISAMENTE

Administruçiio:

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Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 011 32-000 São Puulo. SP

VIDAS DE SANTOS Santo Tomás de Aquino

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Serviço de Atendimento uo Assinuntc:

ENTREVISTA

(ll) 333l-4522

Questão indígena, pretexto para Revolução Tribalista no Brasil ·

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CAPA Retrospectiva do caótico ano de 2015

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(11) 3361-6977 (ll) 3331-4790 (J.J) 2843-94,87 (U) 3333-6716 (11) 3331-5631 fax Corres11011dência: Caixa Postal 707 CEP 0103:1-970 São Paulo . SP

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? Movimentos sociais ou Revolução social?

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Impressão:

Prol Editora Gráfica Ltda.

SANTOS E FESTAS DO MÊS

E-n1ail:

catolicismo@terra. com.b1·

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AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

llomePage: www. catolicismo.com.br

Atividades do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira

ISSN 0102-8502

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AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Preços da assinatura anual para o mês de Jan eiro ele 2016:

Na cria ção divina , importância do movimento estabelecido por Deus

Nossa Capa:

Comum: Coopernclor: Benfeitor: Grande Benfeitor: Exemplar avulso:

R $ 180,00 R $ 270,00 lU 4,60,00 "R$ 760,00 R $ 18,00

Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo catolicismo@terra.com.br / JA IEIRO 201 6

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VARIEDADES

CARTA DO IHRETO R Caro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

Conforme tradição estabelecida em nossa revista, a matéria de capa de janeiro oferece ao leitor um balanço geral do ano findo. . . Não foi fácil apresentar uma síntese dos principais acontecimentos, 111d1cando pontos salientes, em meio ao agravamento do caos que vem sendo produzido em escala universal pelo processo revolucionário multissecular. Entretanto, nesse ambiente crepuscular sobressaiu a ameaça islâmica que se intensificou mediante sangrentos atentados ocorridos especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Nesse crepúsculo de civilização podem ainda ser mencionadas as guerras civis que abalam países no Oriente Médio, corno o Iraque e a Síria. . .. A matéria de capa aponta também outro perigo crescente para a c1v1hzação ex-cristã do Ocidente: as imigrações maciças e indiscriminadas de refugiados de países orientais e africanos, especialmente para a Europa. D r pente, sem que estejam suficientemente esclarecidas as causas, surgem s as verdadeiras invasões. Essa multitudinária invasão lembra um transcendental fato hi tóri o corrido no século VI: a debacle do Império Romano do Ocidente diante dél invasão dos povos bárbaros que transpuseram as barreiras naturais daquel império marcadamente oferecidas pelos rios Danúbio e Reno. ' As massas de imigrantes atuais percorrem a pé estrada da Ma · 'd ni a, da Sérvia e da Eslovênia ou lotam trens para atingir a Áustria e eslal •I • ·cr particularmente na Alemanha, França e Inglaterra. Os novos invasores procuram também chegar à Itália e à ~sponhn atravessando o Mediterrâneo - o Mare Nostrum dos romanos - am nl ondos cm precárias embarcações. Em consequência dessa catástrofe, vários países da Uni ão Europ ·iu \ 'lt erguendo barreiras, frequentemente violadas. . , Outro fator de conflito e confusão que recrudesceu durant ' o uno 101 1'nominado por órgãos de imprensa europeus a algo semelhant ' a unw " •ucrra civil" na Igreja Católica. O Relatório Final do Sínodo Ordinário de outubro último, •11 ·111H inhado ao Papa, não tem valor magisterial nem disciplinar, e foi qualifi ·ndo p lo hi storiador italiano, Roberto de Mattei, como um "documcnt aml 1 •110 • rnnlrnditório". No plano temporal, merece menção o minguament d ' r •illl 'H ·squerdistas da América Latina. Esperamos que essa visão retrospectiva de 2015 seja d ' r 'li 1, 11 iIidade para nossos diletos leitores em meio à confusão que caracteriza u nossa <p ca.

Uma corrupção lembrada · e outra omitida GREGORIO VIVANCO LOPES

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oje em dia, quando se fala em corrupção, logo se entende por rnaracutaias financeiras de todo tipo - desvio de dinheiro público, enriquecimento ilícito, falcatruas, fraudes, negócios escusos ... E a lista é longa, sempre em torno da administração de finanças públicas ou privadas. Em suma, é tudo aquilo que se encontra sob a influência e proteção do reverenciado Mamon - "deus" do dinheiro. Em termos católicos, é a transgressão do 7° Mandamento da Lei de Deus: Não roubarás. É compreensível que o termo corrupção seja assim entendido, pois são tais e tantas as manobras escusas atualmente no palco da política, que só são inferiores, provavelmente, àquelas que ainda estão nos bastidores, ocultas pela pesada cortina do silêncio medroso ou despudorado. *

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*

Mas o uso e abuso da palavra Em Jesus e Maria,

corrupção com esse significado, tem deixado na sombra outro sentido dessa expressão, tão ou mais importante. E isso não é bom . Refiro-me à corrupção moral, a que transgride outro Mandamento, o

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6º: Não pecarás contra a castida-

de. A imoralidade mais desbragada enche nossas ruas e praças, os lugares públicos e privados, os shows, a televisão, o cinema, as revistas e o que mais se queira. Palavras como recato, decência, pudor, pureza, virgindade parecem ter sido abolidas do vocabulário cotidiano. Nesse sentido, a sociedade moderna encontra-se num processo adiantado de decomposição moral. Caminha-se a largos passos para o nudismo e o amor livre. E contra isso, com raras exceções, ningu ém fala, ninguém se levanta, ninguém ousa enfrentar. Temse horror a Mamon, mas cultua-se Asmodeu - "deus" da luxúria. No máximo critica-se (por enquanto) a pedofilia, mas apenas porque constitui um abuso de menores. Não cabe aqui fazer um levantamento dos males de corpo e de alma produzidos por esse ambiente carregado de sensualidade e pornografia. Lembramos apenas um deles, relacionado com a corrnpção financeira de que falamos acima. Ensina Santo Tomás de Aquino que "pela luxúria, sobretudo

as potências superiores, ou seja, a

razão e a vontade, ficam desordenadas" (Suma Teol. II-II, q. 153, art. 5). Ora, esse desregramento da razão e da vontade leva a todo tipo de desvios morais e psicológicos, inclusive no campo financeiro. O impuro facilmente desliza para ser um ladrão, um drogado, um apóstata, e mesmo um suicida ou um assassino. Não estou afirmando que toda corrupção financeira ou de outro gênero provém necessariamente de um desregramento luxurioso. Pode haver outras causas. Mas, sem querer indicar ninguém em particular, é certo que a impureza frequentemente conduz a diversas formas de perversão, inclusive financeira. Trata-se de um gravíssimo problema social. Outra característica do vício da luxúria, é que ele é insaciável. A cada novo prazer segue-se uma frustração e, a partir dela, um desejo de requintar ainda mais. De requinte em frustração e de frustração em requinte chega-se ao inferno. *

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Poder~se-iam dar aqui muitos exemplos concretos, mas parece supérfluo fazê-lo. A pornografia e a imoralidade estão por toda parte e dispensam apresentação especial. Baste-nos recordar a sublime exortação do Apóstolo São Paulo: "Não sabeis que o vosso corpo é

templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (I Cor. 6, 19-20). Que a Mater Puríssima nos ajude a todos. ❖

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CARTAS DOS LEITORES .............................................................. Alto quilate Bendito pronunciamento do Papa Pio XII sobre o Natal. Bem que o Vaticano poderia difundir pronunciamentos desse quilate em vez de tanta baboseira que tem saído de lá. Hoje, mais do que na época daquele Papa, a técnica, sobretudo agora devido à internet, tem servido para afastar os homens de seu Criador, aprofundando as crises que estamos vendo, e, portanto, seria necessário o Vaticano martelar nesse problema. Assim, o progresso seria salutar e não prejudicaria as almas.

(L.M.M. - PB)

Técnica que escraviza Já que o período de Natal é propício para renovações, não apenas de nossa casa ... , e de compras no Shopping... , o clero poderia incentivar mais os fiéis a renovarem suas promessas de fidelidade ao Deus Menino. Que tal, para isso, começar por incentivar a montar presépios nas casas de cada família? Pouco a pouco vejo que os presépios estão sendo substituídos pelas árvores de Natal. Nada contra. Essas árvores enfeitadas aux iliam para iluminar espiritualmente e criar o ambiente

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de Natal, mas acho que se deve buscar mais os motivos religiosos para esse período sagrado. É para isso que Pio XII dirigiu sua mensagem de Natal, para se evitar que o tecnicismo domine a humanidade.

(D.G.X. - GO) Atmosfera de Natal Muito emocionante a lembrança descrita pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira de como era antigamente a atmosfera dos Natais. lnfelizmente o personagem gordinho, o "Papai Noel", invenção da Coca-Cola, expulsa dos ambientes aquelas graças descritas de modo maravilhoso pelo autor. Tal personagem usurpa as atenções que deveriam ser dirigidas Àquele Divino Menino nascido em Belém! Desejo para toda a equipe desta revista (combativa pelos direitos de Deus e combatida pela esquerda) muitas graças de Natal e um próspero Ano Novo!

(L.N.E. -SP)

A tragédia de Paris Artigo belíssimo!! Dr. Plínio parece_que descreve a tragédia que ora presenciamos em Paris. Esclarecedor e emocionante. Que Deus tenha misericórdia da França!

(L.F.-SP)

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Falso ecumenismo Nesses dias, mais que em tantos outros, os terroristas muçulmanos deixam cair o véu de sanguinários, o véu da maldade, de atrocidades sem limites. O terrorismo muçulmano não tem limites. O que é mais preocupante é o falso ecumenismo, dirigido até mesmo em altas esferas eclesiásticas, segundo o qual todos somos irmãos e de bom coração, não sucede nada de grave, porque tudo é· paz e amor ... Não me espantaria que se mandasse celebrar missas pelos terroristas mortos e não pelas vítimas. Hoje nada me surpreende!

sibilidade nada remota, já que a História revela a importância desse luminoso continente no desenvolvimento das mais variadas regiões do mundo, em suas culturas, em seus sistemas políticos, econômicos etc., cujas nações carregam consigo valores inegociáveis, herd ados desse continente outrora cristão. Contin ente, podendo, ainda, ser reconh cido como centro histórico cultura l da hum anld d Havendo de se co n id rar, por fim, su as d cob rtas científi cas, gr nd invenções e v nços tecnológicos. C ntudo, é prud en p ra a possibil qu o

(M.N.Z. -Equador)

Apostasia europeia? As ações de acolhimento de imigrantes que cruzam o Mediterrâneo, por parte dos países europeus, ressa ltam o importante aspecto humanitário, porém nos remete a outro bastante preocupante, ou seja, a real possibilidade do risco de islamização do continente europeu, cuja concepção religiosa poderá fluir persuasivamente, de maneira perigosa por todo o Ocidente, gerando, ainda, formas diferentes e conflitantes no pensar e no agir das pessoas. Pos-

pod erã

· s-

sidad expon chag

tornou tudo que ele é hoje. Logo, com base em tais reflexões, caberia indagar se todo o êxodo dos imigrantes que invadem a Europa nos dias de hoje já não seria para cumprimento dos desígnios de Deus intervindo na história do grande Continente europeu, agraciado com tantas luzes, mas que agora manifesta sua apostasia?

(J.L.F.G.A. - RJ)

Ponto final O Sínodo da Família, que mais deveria ser chamado de "sine donus", ou "sine modus", acaba com a Verdade enquanto tal. A Verdade é só uma e ponto final. Acaba com a essência do ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Deve tua linguagem ser sim, sim; não, não " ... E ainda: "porque tu és morno, eu te vomito" ... Aquele que pertencer ao bando da conspiração contra a Igreja que se prepare. É bom que os conspiradores procurem conhecer o que diz a carta de São Malaquias.

(N.A.1:G.P. -

PR)

Não prevaleceram! enta ção de já que

c nd o d sua identidade glori o , a ponto de negar m i prese nça do Deus v rdade iro. D'Aqu ele que o

Lendo comentários sobre o último Sínodo, veio-me à lembrança a palavra "baldeação", usada pelo Prof. Plín io em seu livro "Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo". Estamos em presença de uma ba ldeação inadvertida ou semi-inadvertida

da Doutrina a partir dessa nova Pastoral. Não posso me esquecer de que lendo artigos do Prof. Plinio, me deparei com esta formulação claríssima: o costume tem um valor de persuasão muito forte. Em outras palavras, se com a nova Pastoral entra o costume da comunhão aos divorciados, fica na prática mudada a doutrina. O costume tem um valor de modelagem, de persuasão que entra até pelos poros. "Non praevalebunt! " Vamos resistir, rezar e confiar na promessa divina: as portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja.

vão desejar que o noivado dê certo, se eles não combatem o divórcio? Por que não incentivaram, no ·resultado do Sínodo, uma vida de família criada na fé católica?

(P.G.C.F. -

RS)

Rejeição de Deus Estão condenando um homem a 15 anos de prisão por matar um leão na África! Enquanto isso, dilaceram bebês no ventre de suas mães. Direi ainda

com mais veemência: porque Deus amou o mundo, e de tal maneira, que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. O Eterno enviou seu Filho para morrer pelos homens. E não olhar o ser humano como superior e mais digno de respeito do que os animais significa rejeitar o sacrifício do Filho de Deus.

(J.F. -RS)

F RASES S ELECIONADAS ••••••••••• •• • • • • • •

(C.M.-MG)

Desarticulação da família Nestes dias em que a vida de família está sendo desvirtuada pela sociedade moderna, e muitas pessoas desejam viver sem os comprom issos familiares, o Sínodo da Família deveria ter tido outro resultado. Deveria ter apoiado e solidificado os laços entre pais e filhos. Mas foi o contrário: teve um resultado desarticulador e nefasto para a família. Que triste resultado! As famílias numerosas não receberam apoio desse Sínodo de bispos. Os noivos também não se sentiram respaldados para levar seriamente os planos de um matrimônio sól ido segundo as leis de Deus. Como esses bispos progressistas

"Deus envia mais gente ao inferno por abusarem de sua misericórdia, do que por obra de sua justiça." (Santo Afonso Maria de Ligório)

"O Senhor castiga misericordiosamente os filhos que erram; perseverai, pois, na sua disciplina. Se Deus vos poupa o castigo e a correção, temei que vos reserve o suplício." (Bossuet)

"Há sempre um limite além do qual a tolerância deixa de ser uma virtude." (Edmund Bw·ke)

''A falta de compaixão pode ser tão vulgar como o excesso de lágrimas." (Condessa de Grantham)

''A misericórdia e a verdade se puseram face a face, a justiça e a paz se oscularam." (Salmos 84, 4)

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PALAVHA DO SACEHDOTE

Pergunta - Tenho amigos que dizem não compreender como Jesus Cristo, sendo Deus, poderia ter uma vida verdadeiramente humana, e por isso eu gostaria de saber como eram a Pessoa e a vida humana de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em outros termos, como era possível que Nosso Senhor sentisse dores físicas ou aflições morais, se ao mesmo tempo, enquanto Deus, Ele vivia na absoluta felicidade da Santíssima Trindade. E também se, por exemplo, Ele podia contrair alguma doença, resfriar-se etc. Muito obrigado.

Monsenhor José Luiz Villac

Duas naturezas na Pessoa do Redentor

O pressuposto dos mistérios da Encarnação e da Redenção é, de fato, que Jesus Cristo possui a mesma natureza que nós e, por isso, é verdadeiro Homem e não apenas uma aparência ou um "corpo etéreo", como pretenderam, já nos primórdios do cristianismo, os

hereges docetistas, para os quais a honra de Deus sentir-se-ia "conspurcada" por urna união com a matéria. Os Evangelhos narram sua vida humana desde a concepção no seio puríssimo de Maria até sua morte, e Ele próprio Se proclama com especial predileção "Filho do Homem". Os Apóstolos, por sua vez, reconhecem n'Ele a natureza humana completa. Tanto no seu divino Corpo, que eles viram, tocaram com suas mãos e no qual São João recostou a cabeça, quanto na sua Alma, de cujas emoções eles dão testemunho, descrevendo seus movimentos de amor, de piedade, de tristeza, de alegria e até de indignação contra os mercadores do Templo. São Leão Magno, na sua carta a Flaviano, descreve com grande poesia e rigor teológico o operar

Resposta - Ao fazer o sinal da cruz, símbolo do cristão, nós declaramos nossa fé nos três maiores mistérios de nossa religião: a Santíssima Trindade, a Encarnação do Verbo e a Redenção do gênero humano pela Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Imagem do Menino Jesus dormindo (Catedral de Buenos Aires) A resposta à interessante pergunta do missivista relaciona-se com esses três grandes mistérios. Com o da Santíssima Trindade, porque em Nosso Senhor, como diz São João no início de seu Evangelho, foi o próprio "Verbo de Deus [que] se fez carne e habitou entre nós"; com o da Encarnação, porque em Jesus Cristo a natureza divina e a natureza humana estão unidas substancialmente, e não apenas acidentalmente, numa só Pessoa; e com o da Redenção, porque foi sofrendo no seu . Corpo e na sua Alma e morrendo na Cruz que Ele satisfez a divina justiça e nos redimiu: no Credo confessamos que Ele 'foi crucificado sob ,,, ·3 Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado ". ...J

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das duas naturezas, a divina e a humana, na Pessoa do Redentor: "As propriedades das duas Naturezas permanecendo intactas e reunidas numa só Pessoa, a majestade, a perfeição e a eternidade da natureza divina uniram-se à mortalidade da natureza humana. [..] Ele tomou a forma de escravo sem a mancha do pecado. Ele glorificou sua natureza humana sem diminuir sua natureza divina, porque seu des ignio de tornar-se visível (Ele que era invisível) e de tornar-se mortal (Ele, o Criador e soberano Senhor de todas as coisas) foi um efeito de sua misericórdia e não um diminuição de sua onipotência. Dessa maneira, Ele, que na sua natureza de Deus criou o homem, fez-Se Ele próprio Homem na sua natureza de escravo. Cada natureza conservou suas propriedades sem nenhuma alteração, e assim como a natureza do escravo não fez perder nada àquela do Deus, tampouco a natureza divina não mudou em nada aquela do escravo. [. ..] Cada natureza opera com a participação da outra, mas o Verbo opera como Verbo e a carne como a carne. Uma brilha pelos milagres, a outra sucumbe sob as injúrias. O Verbo partilha sempre a glória de Deus Pai, e a carne as fraquezas de nossa natureza". Cristo em tudo semelhante a nós, exceto no pecado

É pelo fato de Nosso Senhor ser si multaneamente verdadeiro Deus e verdadeiro Homem que Ele podia padecer a dor e as fraquezas da condição humana. Por isso, o Concílio de Éfeso (4 31 ) anatematizou aqueles que se recusavam admitir que "o

Verbo de Deus padeceu na carne e foi crucificado na carne e sofreu a morte na carne" (cânon 12). Mesmo que a união hipostática entre a natureza divina e a natureza humana na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo seja para nós um mistério superior ao nosso entendimento, é possível deduzir algumas verdades relativas ao efeito dessa

Santíssima Trindade e a Sagrada Família - Anônimo, Escola de Cusco, Peru.

união sobre a sua humanidade santíssima. Uma vez que Nosso Senhor veio para salvar todos os que possuem a natureza humana, sem acepção de pessoa, Ele deveria Se submeter a certas carências que pertencem a essa natureza e que lhe são,

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DESTAQUE

por assim dizer, inerentes após a Nossa Senhora, concebida sem pequeda de Adão. Não poderia, po- cado original - , que contraem tais rém, submeter-Se àquelas que re- deficiências em razão do pecado, pugnassem à ciência e à santidade Nosso Senhor Jesus Cristo as abraperfeita, próprias à união hipostáti- çou voluntariamente, porque Ele ca com o Verbo, como o ser sujei- poderia, de fato, ter assumido a nato à ignorância, ter dificuldade para tureza humana na perfeição que ela fazer o bem ou sofrer os ataques da possuía no estado de inocência oriconcupiscência. Igualmente, o Re- ginal, acrescida dos dons preternadentor não poderia ter carências turais que corrigiam suas deficiênque não pertencem ao gênero hu- cias (imortalidade, impassibilidade mano enquanto tal, mas que afe- e ciência infusa). Mas Ele preferiu tam apenas alguns indivíduos em fazer-Se semelhante a nós em tudo, razão de uma causa pessoal especí- exceto no pecado (FI 2, 6-7). Não é, portanto, por um milafica, tais como deficiências congênitas ou adquiridas acidentalmente, gre que Jesus sofreu, mas por ter e que implicam numa inferioridade um corpo e urna alma passíveis de pessoal incompatível com sua dig- sofrer e de mo1Ter. De fato, não há nenhuma contradição nem incomnidade de Messias. Porém, entre as indigências patibilidade no fato de que uma inerentes à natureza humana, há alma glorificada (como a de Cristambém aquelas que são comuns to, que gozava permanentemena todos nós e ligadas à possibilida- te da visão beatífica) esteja unida de de sofrer e de morrer: a fome, a substancialmente a um corpo passede, o cansaço, a dor, a tristeza, a sível, nem que a alma esteja arreangústia, o temor etc. O Evangelho batada, na sua parte superior, pela as atribui a Jesus Cristo, e Santo To- contemplação do Bem infinito, enmás de Aquino, resumindo o pen- quanto suas faculdades inferiores samento dos Padres da Igreja, indi- continuam a exercitar-se de modo ca três razões de conveniência para normal, passando por movimentos isso: l) Para que elas manifestas- de alegria ou dor, esperança ou tesem de modo mais perfeito a ver- mor, etc. dade da Encarnação; 2) para que, pelo sofrimento, Jesus pudesse sa- Enfermidade não é condição necessária da natureza humana tisfazer a Justiça divina em repreQuanto à pergunta concreta sentação da humanidade; 3) para ser um modelo de como suportá-las de nosso missivista, se Nosso Secom brio e resignação. Uma quarta nhor Jesus Cristo podia contrair alrazão é ainda indicada pela Epísto- guma doença, os Padres da Igreja la aos Hebreus: conhecendo experi- . negavam que Ele tivesse assumimentalmente nossas misérias, Jesus do doenças. Não somente porque não há nenhuma menção de algupodia compadecer-Se de nós com ma doença de Jesus nos Evangeum Coração ainda mais misericor1hos, mas porque a doença não é dioso. uma condição necessária da natureEntretanto, à diferença dos outros homens - exceção feita de za humana.

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É verdade que grande parte dos homens sofre diversas doenças, mas não é verdade que toda a humanidade sofra de alguma doença em particular, nem que haja qualquer doença específica que pertença universalmente à natureza humana. De onde se deduz que nenhuma enfermidade particular foi assumida por Nosso Senhor. Santo Atanásio acrescenta que seria inapropriado que não fosse inteiramente são Aquele que devia sarar os outros. Em sentido oposto, as debilidades próprias à ancianidade são comuns à humanidade inteira. Portanto, se Jesus Cristo a tive se atingido, Ele teria sofrido o achaques desta sem perder cm nada de sua dignidade de Filho de Deus, do mesmo modo como padeceu de maneira encantadora as debilidades próprias à infância, que nos cnlcvam junto ao Pre épio. ,~. no fim de sua vida terrena, Ele poderia ter falecido de modo infinitamente venerável de morte natural , como também Maria Sanlí sima . Mas, para nossa salvação, Ele qui s pad cer, na plenitude da idade madura, a morte violenta da Cruz. A meditação sobr a venerabilidade intrínseca à an ·ian i<lade, a qual , apesar de cus achaq ues, não é de si incompatível com a dignidade infinita do l·fomcm -1>cus, é muito estimulante e atual, como resposta católica à propaeu nda ateia e cruel que hoje é foit a cm favo r da eutanásia, a qual cria nos nossos anciãos um complexo de cul pa por serem economicamcnll: improdutivos. Quando, na realidad e, aos olhos de Deus, sua rcsignaç,)o, unida aos sofrimentos de nosso divino Redentor, vale mais do que o ou ro.

São Pedro: uma basílica ultrajada Catolicismo reproduz a seguir clarividente artigo do Prof. Roberto de Mattei, publicado em "Corrispondenza Romana" (11-12-15), sobre o inqualificável espetáculo realizado em Roma no dia 8 de dezembro último, festa da Imaculada Conceição

• • • ROBERTO DE MATTEI

A

imagem que ficará assoc iada à abertura do Jubil eu ex traordinário da Misericórdi a não é a cerimôni a anti triunfa lista celebrada pelo Papa Francisco na manhã de 8 de dezem bro, mas o retumbante espetáculo Fiat lux: 11/uminaling Our Common !-fome, qu e co ncluiu a refe rida jornada, inundando de so ns e de luzes a fac hada e a cúpul a de-São Pedro. Ao longo do show, patroc inado pelo Grupo do Banco Mundi a l, image ns de leões, tigres e leopa rdos de proporções giga ntescas se projetavam sobre a fachada ele São Pedro, que se eleva prec isamente sobre as ruínas do circo de Nero, onde as feras devorava m os cristãos. Graças ao jogo de luzes, a bas íli ca dava a impressão de esta r de ca beça para baixo, de dissolver-se e submergir-se. Sobre a fachada apa reciam peixes-palhaço e tartarugas marinhas, quase evoca ndo a liquefação das estruturas da Igreja, privada de

qualquer elemento de solidez. Uma enorme coruj a e estranhos animais voadores sobrevoavam em torno da cúpula, enquanto monges budistas ca minhando pareciam indicar uma via de salvação alternativa ao cri stiani smo. Nenhum símbolo reli gioso, nenhuma refe rênci a ao ci-istiani smo; a fgrej a cedi a luga r à natureza soberana. Andrea Tornielli escreveu que não é preciso esca ndali za r-se por-

que, corno documenta o historiador da arte Sandro Barbagallo em seu livro Gli animali nell 'arte religiosa. La Basifica di San Pietro (Libreria Editrice Vaticana, 2008), foram muitos os a,tistas que no decurso dos séculos representaram uma luxuriante faun a em torno da sepultura de Pedro. Mas se a Basílica de São Pedro é um "zoo sagrado", como a define com irreverência o autor dessa obra, não é porque os animais ali representados estejam recluídos num recinto sagrado, mas porque o significado que a arte atribuiu àqueles animais é sagrado, isto é, ordenado a um fim transcendente. Com efeito, no cristianismo os animais não são divinizados, mas valorizados em f·unção do fim para o qu al foram criados por Deus: o serviço do homem . Diz o Salmista: "Deste-lhe o mando sobre as obras

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das tuas mãos, siyeitaste todas as coisas debaixo de seus p és: Todas as ovelhas e todos os bois e, além destes, os outros animais do campo " (Ps 8, 7-9). O homem foi posto por Deus como vértice e rei da criação, e tudo deve ser ordenado em função dele, para que, por sua vez, ele ordene tudo a Deus como representante do universo (Gn 1, 26-27). Deus é o fim último do universo, mas o fim imediato do universo fisico é o homem. "De cer-

to modo, nós somos o fim de todas as coisas", afüma Santo Tomás (ln II Sent., d. 1, q. 2, a. 4, sed con-

digiosa de seres criados, da matéria inorgânica até o homem, possui uma essência e uma perfeição íntima, que se expressa mediante a linguagem dos símbolos. O ecologismo apresenta-se como uma visão do mundo que transtorna essa escala hierárquica, eliminando Deus e destronando o homem. Este último é posto em pé de absoluta igualdade com a natureza, numa relação de interdependência não só com os animais, mas também com os componentes inanimados do ambiente que o circunda: montanhas, rios, mares, paisa-

gens, cadeias alimentares, ecossissas para o homem " (Super Symb. temas. O pressuposto dessa cosmovisão é a dissolução de toda linha Apostolorum, art. 1). divisória entre o homem e o munPor outro lado, a simbologia cristã atribui aos animais um sig- do. A Terra forma com a sua biosnificado emblemático. Não preo- fera uma espécie de entidade cósmica geoecológica unitária. Ela se cupa ao cristianismo principalmente a extinção dos animais ou o seu torna algo mais que uma "casacobem-estar, mas o significado últi- . mum": representa uma divindade. Há 50 anos, quando se encermo e profundo de sua presença. O leão simboliza a força e o cordeiro rou o Concílio Vaticano II, o terna a benignidade, para nos lembrar a dominante naquela quadra históriexistência de virtudes e perfeições ca era um certo "culto ao homem", diversas, que só Deus possui por contido na fórmula "humanismo inteiro. Na Terra, uma gama pro- integral" de Jacques Maritain. O litra), porque "Deus.fez todas as coi-

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vro do filósofo francês , com esse título, é de 1936, mas sua maior influência foi sobretudo quando um leitor entusiasta, Giovanni Battista Montini, eleito Papa com o nome de Paulo VI, quis fazer dele a bússola de seu pontificado. Na homilia da Missa de 7 de dezembro de 1965, Paulo VI recordou que no Vaticano II se produziu o encontro entre "o culto de Deus que quis ser

homem" e "a religião - porque o é - que é o culto do homem que quer ser Deus ". Cinquenta anos depois, assistimos à passagem do humanismo in-

tegral à ecologia integral; da Carta internacional dos direi tos do homem à dos direitos da natureza. No século XVI, o humani mo havia recusado a civilização cri stã medieval em nome do antropocentrismo. A tentativa de con trui r a Cidade do Homem sobre as ru ínas da Cidade de Deus fraca ou tragicamente no século XX, e baldas foram as tentativas de cristianizar o antropocentrismo sob o nome de humanismo integral. A re ligião do homem é substituída pela da Terra: o antropocentrismo, criticado

por seus " desvios", é substituído por uma nova visão ecocêntrica. A Ideologia de Gênero, que dissolve toda identidade e toda essência, insere-se nessa perspectiva panteísta e igualitária. É um conceito radicalmente evolucionista, que coincide em grande medida com o de Teilhard de Chardin. Deus é a "autoconsciência" do universo que, evoluindo, torna-se consciente de sua evolução. Não é casual a citação de Teilhard no parágrafo 83 da Laudato si, encíclica do Papa Francisco na qual filósofos como Enrico Maria

a celebração da Mãe Terra, para propagar a ideologia dominante, a da 'religião do clima e da ecologia', neopagã e neomalthusiana, apoiada p elas p otências do mundo. É uma profanação espiritual (porque aquele lugar - lembremonos - é um lugar de martírio cristão) ".

Radaelli e Arnaldo Xavier da Silveira salientaram pontos em desacordo com a Tradição Católica. E o espetáculo Fiai Lux foi apresentado como um "manifesto ecologista" que pretende traduzir em imagens a encíclica Laudato si. Antonio Socci o definiu no jornal "Libero" como "uma en-

tas blasf emos e coprolálicos os que contaminaram a f e de tantos cristãos. Não era preciso p erquisição ou detectador de metal para impedir o ingresso dos vândalos na cidadela de Deus: eles estavam no interior das muralhas e já tinham acionado a sua bomba multicolor de transmissão satelital no calor da sala de controle. "

cenação gnóstica e neopagã com uma inequívoca mensagem ideológica anticristã ", observando que "em São Pedro, na f esta da Imaculada Conceição, em vez de celebrar a Mãe de Deus, preferiram

Por sua vez, escreveu Alessandro Gnochi em "Riscossa Cristiana": "Portanto, não foi o !SIS

que profanou o coração da Cristandade, nem foram os extremistas do credo laico os que danificaram o credo católico, nem os artis-

Os fotógrafos , os desenhistas gráficos e os publicitários que reali zaram o Fiat Lux sabem o que representa para os católicos a Basílica de São Pedro, imagem material

do Corpo Místico de Cristo que é a Igreja. Os jogos de luz que iluminaram a Basílica tinham uma meta simbólica, antitética àquela expressa por todas as luzes, lâmpadas e fogos que transmitiram ao longo dos séculos o significado da luz divina. Esta luz estava ausente no dia 8 de dezembro. Entre as imagens e luzes projetadas na Basílica, faltavam as de Nosso Senhor e da Imaculada Conceição, cuja festa se celebrava. São Pedro foi imersa na falsa luz trazida pelo anjo rebelde, Lúcifer, príncipe deste mundo e rei das trevas.

A palavra "luz divina" não é apenas uma metáfora, mas uma realidade, como realidade são as trevas que envolvem boje o mundo. E nesta vigília de Natal a humanidade aguarda o momento em que a noite se iluminará como o dia, "nox sicut dies illuminabitur " (Salmo 11), quando se cumprirão as promessas feitas pela Imaculada em Fátima. ❖ Tradução do original italiano por Hélio Dias Viana

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Após ataques terroristas, aumento de voluntários franceses

Centenas de milhões de crianças são abortadas na China Cont inuará sendo assim na China vermelha, no futuro mundo verde cogitado pe la COP21? O jorna l oficia l do Partido Comunista ch inês informou que todo ano há 13 milhões de abortos no país. Em 35 anos, 400 milhões de bebês foram mortos antes de nascer. Steven Mosher, autor do traba lho "Isto é pe las crianças perd idas na Ch in a", deplorou que o resto do mundo não queira ouvir a t rágica lição ch inesa. A presidente de Direitos da Mu lher sem Fronte iras, Reggie Littlejohn, denunciou que "alguns abortos forçados são tão violentos, que as próprias mães morrem ", e também que a política oficial induz ao aborto se letivo por sexo. O resu ltado é que "cerca de 37 milhões de homens chineses nunca poderão se casar". O Departamento de Estado dos EUA ca lcu la que o dirigismo socialista na China produz "o índice mais alto de suicídio fem inino do mundo: 590 mulheres por dia ".

A quantidade de jovens que se alistaram no exército francês após os atentados de 13 de novembro foi algo nunca visto. As inscrições via Internet triplicaram . "É um fenômeno totalmente inédito. Vemos reaparecer va lores como a bandeira, os símbolos nacionais, que foram um pouco esquecidos", explicou o coronel Eric de Lapresle, chefe do serviço de recrutamento do Exército. No início de 2015 apresentaram -se entre 300 e 400 cand idatos por dia. Após os ataques islâm icos, esse número pu lou para 800. Houve, no total, 160.000 candidaturas em 2015, contra 120.000 em 2014. A ofensiva islâmica na Eu ropa está tendo como contrapartida o renascer do desejo de defend er a pátria com risco da própria vida.

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Recuperação dos "valores" de Lenine e Stalin? Foi o que pediu o patriarca Kiri ll , de Moscou ... Ele exortou seus seguidores a recuperar os "va lores" do período sov iético: "A Rússia moderna não existiria se não fosse o heroísmo das gerações precedentes dos anos 20 e 30." Ele convidou a exa ltar "o heroísmo do nosso povo nessas décadas". Ou seja, no auge dos períodos de Lenine e Sta li n, durante os quais morreram pe lo menos 100 m ilhões de pessoas para que fosse implantada a utopia comunista. O religioso da igreja dita ortodoxa também enviou mensagem de fe licitações a Fidel Castro pe los seus 85 anos: "Vossa vida é um exemplo vivo de serviço des interessado pela pátria. Vós ganhastes a ma is alta autoridade possível ante o povo cubano e goza is de seu sincero amor." Ele resum iu fielmente o pensamento do chefe máximo do Krem lin, evocando o inglório exemplo de um decrépito ex-governante comunista.

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Estônia: grandes campanhas em prol da inst ituição familiar

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Tentativa de suicídio de ativista francês da eutanásia

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O médico francês Nicolas Bonnemaison, 54 anos, ativista da eutanásia, foi sa lvo in extremis quando tentava suic idar-se numa floresta no sudoeste da França. Ele hav,ia sido condenado por matar um doente term inal através de uma injeção leta l e corria risco de ser preso. Uma sentença judicia l lh e havia tirado o direito de exercer a medicina. O "médico da morte" foi acusado de matar sete doentes, mas confessou ter assassinado "só" uma mu lher de 86 anos. ·A pena prevista no Código Pena l francês é a prisão perpétua. Recentemente, o presidente socia lista François Holl ande prometeu facilitar o "assassinato assistido ". A lega lização da eutanásia a "faci lita" ... ~ 111m1111111n111111111111111m1111111111mtt1111m11m1111111,rmm111m~111111111m1n11m1111n1111111111111u11111111tt111111111111t11tttm1ttl!llllllllfltUllllllltlllllllltttllU1111111ttlllttUIIU!!ltl!lllltlllllllll!IIIIHll!IIIIUllll!1tll11lllllllllltl!Ut11rl!I IIIU!ltll!HIIIHIIIIIIIIIHIHllllt!f

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A Fundação para a Proteção da Família e da Tradição (SAPTK) da Estônia real izou um ato simbólico diante do Parlam ento nacion al mediante uma incisiva mensage m em defesa do casamento e da fa míl ia. A entidade ost ntou imensa bandeira de 600 m tros quad rados com o símbo lo da famíl ia, usado nas imensas m nifestações realizadas em Paris - Manif po ur tous - contra o "c mento" homossexua l. Aind m novembro de 2015, a SAPTK entr gou a quatro partidos repres nt dos no Pa rlamento mais de 25.000 mensa gens de 6.500 cidad - o p dindo aos parlamentares r J ição desse projeto antinatur 1. A fundaçã o também coletou m i de 45. 000 visava impor "lm r I ideologia homossexual" r d finir ra dical-

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Na Polônia fertilização in vitro é proibida O novo governo conservador da Po lônia pôs fi m ao financiame nto da fe rti lização in vitro, aprovada pe lo governo anterior. "É uma boa notíc ia", disse Mariusz Dzierzawski, da Poland's Right to Life Foundation. "Mas é só um primeiro passo. Temos de segu ir lutando para que fique ilega l". Nos últimos anos, o movi mento pela vida re uniu as 100.000 assinaturas necessá ri as para obrigar o Parlamento a discutir a pro ibição "sem exceções" do aborto, m_as os parlament ares a nti-abort istas era m então minoritários. "Agora temos esperança, porque somos maioria no Parl amento", disse Mariusz. O abo rto na cató lica Polôn ia faz parte da "herança verdade iramente maldita" legada pelo comun ismo soviético. Na Rússia, esse cri me abom inável atinge hoje índi ces esta rrecedores.

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NASA: gelo na Antártica não cessa de aumentar O ciclo periódico do Ártico entrou em fase de cresc imento e deixou de interessar aos alarm istas verdes. Estes foram procurar outro pretexto para seu gasto rea lejo do aquecimento globa l, te ndo encontrado-o na região oc idental da Antártica, onde o gelo está diminu indo. Mas novo grande estudo da NASA desmentiu os promotores do trombeteado alarm ismo. Res umidamente, a acumulação de gelo na Antártica cresce há 10.000 anos. Segundo os satélites, de 1992 a 2001 ela aumentou 112 bi lhões de tone ladas por ano. Só em 2015 foram 135 bilhões de tone ladas. A espessura do gelo cresce 1,7 centímetros há 10.000 anos. Essa acumu lação abaixa o nível dos mares apenas 0,23 milímetros por ano. A ciência imparc ial, a natureza e os homens não interessam ao fanatismo verde, que continua ex igindo reformas soc ialistas planetárias para evitar perigos inexistentes. ltllllltllltlll lttlll fllllllttltllttlllllllllllllllllttlllltllllllllll1lltllllllHIIIHIIIIHU1111HlllllltlllHllllllllllllllll!llllllllllllllltllllllllllttlllllllllllllltlllllllllllltltlHIIIHIIIIIIIIIIIIIIIIIIHIIIIIIIIIIIIIIIIIIHllllllll1111111111111HIIIIHlllllllllllllllllllllUIIIIIUIIIIIIIIIIIIIIIIIUUIIIIIIIIIIIIIHIIIIIIIIIUIIIIIIIIIIIIIIIIUIIIAllllllllllllltllllllllllllllllllllllllHIIIIIIIIIIII IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIHllllNIIIH111Hllltl111111HIIIIIIIIIIII

"Arte contemporânea", caos mental e insensibilidade A esco la de "arte co ntemporânea" visa produzir o caos menta l, apelando para imagens absurdas, cruéis, en louq uecedoras e agressivamente feias, desatarraxando a inte ligência, a vontade e a sensibi lidade dos homens. Seus efeitos são perceptíveis na vida cotidiana . Um exemp lo recente ocorreu na famosa ga leria Art Base/, em Miami Beach (EUA), onde uma moça foi esfaqueada; apesa r de cobe rta de sangue, não recebeu auxílio de centenas de visitantes. Estes estavam insensibi lizados pe las monstruosas exibições da "arte contemporânea" e j ulgaram tratar-se de mais uma ma luca e extravagante "obra de arte". Funcioná rios da ga leria ficaram estarrecidos com essa situação e chamaram uma ambu lância e a políc ia. Após passar por cirurgia, a jovem pôde ser sa lva. catolicismo@terra.com.br / .IANEl RO 2016

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SANTO TOMÁS DE AQUINO Doutor da Igreja e Patrono dos estudos católicos em todos os graus

• • • PLINIO MARIA SOLIMEO

e Santo Tomás de Aquino, o maior luminar da Igreja Católica, nós já apresentamos uma biografia nesta coluna ( Catolicismo, janeiro/2002). Como sua perene doutrina - o ápice da escolástica - foi em grande parte abandonada pelos teólogos católicos atuais, ressaltaremos aqui sua importância universal na História da Teologia e Filosofia católicas. A transcendência da douh·ina tomista foi ressaltada por Leão XIII na Encíclica Aeterni Patris (1879), e São Pio X em documento de 20 de setembro de 1892. 1

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Breve síntese biográfica do Santo

claro, conciso, profundo, preciso, e

Santo Tomás de Aquino nasceu no castelo de Roccasecca, próximo de Nápoles, em 1225, filho de Landolfo, senhor de Roccasecca, e de Teodora, filha dos condes de Chieti. Aos cinco anos de idade seus pais o enviaram corno oblato ao Mosteiro de Monte Cassino, onde, além da formação moral e religiosa, aprendeu as primeiras letras, a gramática latina e italiana, música, poesia e salmodia.

Triunfo de Santo Tomás - Benozzo Gozzoll, séc. XV. Museu do Louvre, Paris.

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Na adolescência estudou Filosofia e Artes na Universidade de Nápoles. Seu afã nos estudos objetivava maior conhecimento de Deus para melhor servi-Lo. Em 1244 ingressou na Ordem dos Pregadores ou Dominicanos, fundada havia pouco por São Domingos de Gusmão, a qual harmonizava as observâncias monásticas com o estudo, satisfazendo plenamente os anseios do santo. Em 1247 Tomás foi enviado para o Estudo Geral da Ordem, em Colônia (Alemanha), onde teve corno mestre a Santo Alberto Magno - o Doutor Universal - também Doutor da Igreja. Em 1252 foi transferido para Paris, como Mestre do Estudo Geral da Ordem, cargo que exerceu por quatro anos. "Desde o primeiro instante superou todos [os professores], inclusive os mestres mais célebres e encanecidos na cátedra, por seu novo método de ensinar, por sua extraordinária originalidade, qualidades que lhe granjearam uma grande simpatia e uma admiração sem limites por parte dos estudantes ". 2 As aulas de Frei Tomás eram tão concorridas, que a sala de aula mal podia conter todos aqueles que a procuravam. Tal era a fama de sua sabedoria, que o rei São Luís IX da França "o consultava sempre sobre os negócios mais graves de governo; e, quando devia celebrar conselho, tinha o costume de informar, na véspera, a Frei Tomás, rogando-lhe que desse seu parecer na primeira hora do dia seguinte. O santo cumpria fiel e escrupulosamente esses encargos ". 3

Pois "o Santo de Aquino não é um expectador frio dos acontecimentos de sua época; pelo contrário, vive suas lutas, é beligerante no mais nobre sentido da palavra, em uma época na qual florescem os espíritos combativos. É um convencido de sua vocação apostólica, a qual vive com entusiasmo juvenil e o jogo que lhe comunicou a alma ardente e dulcíssima do patriarca São Domingos ". 4 Não cabe nesta breve síntese narrar todas as lutas de Santo Tomás contra os hereges e heretizantes da época, nem a sublime santidade que atingiu. Basta dizer que ele faleceu

santamente no dia 7 de março de 1274, com apenas 49 anos de idade, sendo canonizado no dia 18 de julho de 1323. Entretanto, vale a pena ressaltar sua extremada devoção ao Santíssimo Sacramento. O Ofício que ele elaborou para a festa de Corpus Christi, o sermão que pregou diante do Consistório, e o celeste hino Pange Lingua Gloriosi, que compôs para aquela festa, são "os mais ternos, devotos e profundamente teológicos que se conhece na sagrada liturgia ". 5 Sua devoção a Nossa Senhora, como não podia deixar de ser, era terníssima, como

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Filosqfia já depurada e mais bem cultivada, além do argumento tradicional de autoridade ".1 Essa obra magna foi encomendada pelo Papa a Santo Tomás, que a levou a cabo com toda a força de seu talento e de sua piedade, sobretudo com a monumental Suma Teológica. Ta l era seu domínio sobre a matéria, que ele realizou esse imenso traba lho ditando ao mesmo tempo a três ou quatro amanuenses. 8 Título de Expositor por excelência

Com a sua assombrosa capacidade de trabalho, Frei Tomás pôs mãos à obra. E, "em vez de traba-

lhar sobre Aristóteles, transmitido em traduções i1?fiéis e glosado por árabes e judeus, como fez seu mestre [Santo Alberto Magno], procurou isolá-lo de todas suas aderências, e purfficá-lo de todas as incorreções, graças a uma tradução direta e fie l de seu amigo Gui-

lherme de Moerbeke, feita a partir

Santo Tomás com o Papa Urbano V na definição do Dogma da Transubstanciação

terna era a que devotava aos anjos e aos santos.

depurando Aristóteles, para que sua filosofia pudesse serv ir eficazmente à Teologia. Para eles, "a Filosofia

A magna obra de Santo Tomás de Aquino

deveria ser cultivada sobre bases mais amplas, não se contentando Como surgiu a grande obra somente com Aristóteles, nem com filosófica e teológica de Santo To- · Platão, mas procurando harmomás? Como discípulo de Santo nizar entre si, numa síntese nova A lberto Magno, os dois santos se e superio,; o verdadeiro existente deram conta da dificuldade que em ambos ". 6 Do mes mo modo, "a havia naquela época em canalizar própria Teologia deveria também os estudos filosóficos, corrigindo e ampliar suas bases, servindo-se da

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dos melhores manuscritos gregos. E, sobre tal base, empreendeu um comentário literal de suas obras principais, verdadeiro modelo em seu gênero por sua sagacidade e exatidão, que lhe mereceu o título de Expositor por excelência ". 9 "Ascensão do pensamento humano"

Pelo que "a Filosqfia de Santo Tomás é o ponto culm inante de uma lenta e laboriosa ascensão do pensamento humano ", 10 "a síntese .filosófica mais pe1feita que o engenho humano criou ", 11 e "a síntese de uma filosofia perene ". 12 Por isso, "com Santo Tomás começa verdadeiramente uma nova época da Filosqfia e da Teo logia;

a mudança sofrida por elas foi, em realidade, profimda e gigantesca. A colaboração da fé e da razão na obra mancomunada da ciência teológica.ficava assegurada para sempre, por estar fimdada sobre bases · ' · n 13 tnamov1ve1s . "Homem mais sábio até o fim do mundo"

enigmas da Escritura, desatando os nós de suas dificuldades, elucidando suas obscuridades e aclarando as dúvidas que surgem em seu estudo ". 16 "Não há erro que não tenha demolido"

Já o Beato Pio IX "celebra seu

gênio sobre-humano, que lhe per-

Santo A lberto Magno, que foi seu mestre e o conhecia muito bem, dizia de seu discípu lo "que era a flor e a hon-

ra do mundo, o homem mais sábio do seu tempo até o fim do mundo, sem temor de ser superado por ninguém, cujos escritos brilham sobre todos os demais por sua pureza e sua veracidade ".14

agita-se desesp eradamente em um agnosticismo universal. Só se pode curar tamanha doença com a clara Filosofia do Doutor de Aquino ".18 Como desde então o mundo não fez senão decair, pois muitos filósofos e teólogos se tornaram praticamente ateus e até subversivos, daí a necessidade premente de se voltar à escolástica e à sua mais alta expressão, o tomismo. "Reconduzir pelo Rosário a humanidade extraviada"

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E o futuro Papa Clemente VI, fazendo o panegírico do sa nto na primeira vez que se celebrava sua festa na Universidade de Paris (7 de março de

1324), "compara sua sabedoria à de Salomão; porque, assim como o Rei sábio superou nela todos os hebreus, egípcios e orientais, assim Santo Tomás excedeu em saber a todos os filósqfos e 'teólogos, havidos e por haver, na Universidade parisiense. E acrescenta que sua doutrina é verdadeira, sem contágio algum de falsidade, clara sem sombra alguma nem enfado de obscuridade, útil e frutffera sem deixar-se levar de uma curiosidade excessiva nem de vãs sutilezas, é copiosa e abundante por sua variedade e universalidade ". 15 Por sua vez, o Beato Urbano V o chama "Doutor egrégio que,

com seus ensinamentos saudáveis e transparentes, iluminou a Igreja universal, pondo de man[festo os

mitiu escrever insuperavelmente sobre as coisas divinas e humanas, merecendo a aprovação do próprio Deus. Porque, na realidade, deduziu toda a ciência de princípios incontestáveis e invulneráveis, e a organizou em um corpo de doutrina claramente disposto com tal arte, que não há verdade que não tenha captado, nem erro que não tenha demolido ". 17 O célebre convertido inglês, carqeal Manning, analisando a situação em que estava o mundo em seu tempo, isto é, em meados do sécul o XIX, afirma: "A moderna

Filosofia quis fazer do homem um Deus, mas um Deus que tem olhos e não vê, que tem ouvidos e não ouve. Duvida de tudo, não admite nada,

Mais tarde Leão XIII, que foi cognominado o Papa de Santo Tomás e do Santo Rosário, "expressa sua convicção

profanda e sua vontade decidida de dirigir as inteligências pela doutrina de Santo Tomás, e os corações pelo Rosário; quer dizer, de reconduzir a humanidade extraviada aos caminhos da verdade e da verdadeira vida por esses dois meios eficacíssimos de salvação ". 19 Na encíclica Aeterni Patris, esse Pontífice trata da "necess idade e utilidade de uma Filosofia sã e robusta, que possa servir convenientemente à.fé sem menoscabo de sua própria dignidade de ciência humana". Ora, "a Filosofia de Santo Tomás possui eminentemente essas qualidades". Pois, "dotado de um engenho aberto e penetrante, de uma memória fácil e retentiva, de uma vida sem mancha, sem outro norte que a verdade, e imensamente rico em conhecimentos divinos e humanos, foi comparado justamente ao sol que fecunda a terra com o calor de suas virtudes, e a enche e ilumina com o resplendor de sua ciência". Pelo que "é necessário voltar à Filosofia de Santo Tomás,

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ENTREVISTA segui-la.fielmente, e propagá-la por todos os meios ".20 E o mesmo Papa assim sintetiza a razão pela qual declarou solenemente Santo Tomás Santo Doutor e Patrono de todos os Estudos católicos em todos os seus graus: "O Angélico se destaca eminentemente, sobre todos os demais, sendo o modelo que os sábios católicos devem imitar em seus diversos estudos. Ele possui, certamente, as melhores e mais brilhantes qualidades de coração e de inteligência que arrastam à sua imitação: uma doutrina riquíssima de conteúdo, saníssima, perfeitamente organizada, admiravelmente de acordo com as verdades reveladas por Deus e, portanto, sinceramente obsequiosa com a f é; acrescente-se a tudo isto uma vida integérrima e sem mancha, ilustrada com as virtudes mais excelsas ".2 1

é um gravíssimo perigo". E acrescenta: "O que digo de sua Filosofia deve entender-se a fortiori de sua Teologia, na qual não é só o príncipe, mas o mestre e guia de todos ",23 "como honra do orbe cristão e luminar da Igreja ", "que vale para todos os tempos e não envelhece nunca ". 24 Como consequência, "nada é tão útil à igreja como formar o clero na doutrina do Angélico ", 25

"Afastar-se de Santo Tomás leva à apostasia"

Para não nos alongarmos mais, citemos :finalmente o imortal São Pio X, que no Motu Próprio Doctoris Angelici, de 29 de junho de 1914, declara que "os princípios básicos da Filosofia de Santo Tomás não devem ser considerados como meramente opináveis ou discutíveis, mas como fundamentos em que se apoiam todos os nossos conhecimentos do humano e do divino". Pelo que, "rechaçados ou alterados de qualquer modo esses princípios, os jovens estudantes eclesiásticos acabarão por não entender nem sequer a terminologia . empregada pela Igreja na proposição dos dogmas de nossafé". 22 Por isso o santo Pontífice alerta que "abandonar Santo Tomás, sobretudo em questões de Metafisica,

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"para arrancar o f ermento de tantos erros como circulam por todas partes sobre o divino e o humano, e para que a verdade católica, devidamente conhecida, se incruste indelevelmente nas almas de todos". São Pio X conclui com esta terrível advertência: afastar-se da doutrina de Santo Tomás leva à apostasia. "Uma triste exp eriência ensina que, particularmente em nossos dias, os que se separam de Santo Tomás acabam finalmente por apostatar da igreja de Cristo ".26 Que a Santíssima Virgem, Sede da Sabedoria, nos obtenha a graça de assistir a um verdadeiro renascer

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da doutrina de Santo Tomás - cuja festa é celebrada em 28 de janeiro - para honra e glória da Igreja. !•

Revolução Tribalista sob investigação

Notas: 1. Utilizamos para este artigo a excelente lntroducción General escrita pelo Pe. Santiago Ramírez, O.P. na Introdução da Suma Teologica de Santo Tomas de Aquino, da Biblioteca de Autores Cristianos, Madri , 1957, tomo 1, referindo o número da página em que aparecem as citações. 2. Ramírez, p. 15. 3. Guillelmus de Tocco, O.P., Vita S. Thomae Aquinati, apud Ramírez, p. 28. 4. Fr. José Maria de Garganta, O.P., lntroducción General, p. 8, Suma Contra /os Gentiles, tomo 1, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1952. 5. Juan de Colonna, O.P., De Viris 1//ustribus, apud Ramírez, p. 57. 6. Metaphysica, 1. 1, apud Ramírez, p. 79. 7. Ramírez, p. 79. 8. Cfr. Ramírez, p. 38. 9. Luis de Valhadolid, Brevis historia ... , apu d Ramírez, p. 80. 10. Cardeal C. Laurenti, San Tommaso Dottore e Santo, apud Ramírez, p. 82. 11. O. Mazzella, San Tommaso e Aristotele, apud Ramírez, p. 82. 12. ld.ib., apud Ramírez, p. 82. 13. Ramírez, p. 82. 14. Bartolomé de Capua, Processo napolitano de canonização, apud Ramírez, p. 87. 15. M.H. Laurent, O.P., Pierre Roger et Thomas d 'Aquin, apud Ramírez, pp. 9899. 16. J. Berthier, O.P., S. Thomas Aquinas, Doctor Communis, apud Ramírez, p. 103. 17. ld., apud Ramírez, p.108. 18. ld., apud Ramírez, p. 119. 19. Carta de 20 de setembro de 1892 ao Geral dos Dominicanos, André Fruhwirth, apud Ramírez, p. 112. 20. Apud Ramírez, pp. 113 a 117. 21. ld. ib., apud Ramírez, p. 127. 22. Motu próprio Doctoris Angelici, AAS 6, apud Ramírez, p. 137. 23. J. Berthier, op.cit., apud Ra mírez, p. 135. 24. Epístola ao P. Em Hugon , O.P., 16 de julho de 1913, apud Ramírez, p. 135. 25. ld. ib., apud Ramírez, p. 136. 26. Epistola ao P. Tomás Pegues, O.P., 17 de novembro de 1907, em Berthier, Ramírez, p. 136.

A questão indígena no Brasil tem servido a movimentos de esquerda e a certas ONGs como pretexto da luta contra o direito de propriedade, o que tem preju~icado os próprios indígenas. É uma das revelações que um índio narra nesta entrevista. Ele dá o exemplo da reserva indígena Raposa/ Serra do Sol, que se transformou - após sua demarcação e consequente expulsão dos antigos moradores - numa verdadeira "favela indígena".

• • • • • • míd ia brasi leira de modo gera l tem ocultado as denúncias sobre o triba lismo indígena. Vezeira em noticiar alarmismos eco-ambienta listas, ela não o é quando se trata de denúncias sobre a ação criminosa de ONGs, por vezes ditas católicas, e organ izações oficia is que manipu lam os índios para investirem contra propriedades particu lares. Só no Mato Grosso do Su l já foram invadidas mais de 90 fazendas. Catolicismo foi pioneiro ao estampar em sua edição de novembro uma corajosa entrevista da deputada estadua l Mara Caseiro, na qua l ela anuncia a abert ura da Comissão Parlamentar de Inq uérito na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul para investigar o Conselho lndigen ista Missionário (CIM I}, órgão vinculado à CNBB. No mesmo sentido, em meio à despreocupação naciona l e ao enigmático silêncio dos meios de comunicação, a Câmara dos Deputados insta lou em novem-

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"Os índios da Raposa/Serra do Sol estão vendendo tudo para se manter, para comprar arroz, açúcar, feijão, comprar de tudo, até a banana eles levam. É triste!"

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~ catolicismo@terra .com.br / JANEIRO 2016

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bro, sob a presidência do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), uma CPI para investigar a atuação da FUNAI e do INCRA em demarcações de terra. A ele a deputada Mara Caseiro - que preside a CPI sul mato-grossense - entregou recentemente graves e importantes documentos comprovando as denúncias de que o CIMI teria financiado e incitado invasões de propriedades particulares por indígenas no estado de Mato Grosso do Sul. O deputado Alceu Moreira avaliou que há várias formas de influência na demarcação de terras indígenas: do CIMI, de parte da igreja, e da FUNAI. E completou: "Esse crime é de laboratório e feito a muitas mãos." Por seu turno, a sub-relatora sobre o INCRA na CPI da Câmara, deputada Tereza Cristina (PSB-MS), aponta a existência de provas de que integrantes do CIMI ligados à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) teriam instigado conflitos com produtores rurais em todo País. (http:/ /m.correiodoestado.com.br/cidades/documentos-d a-cpi-q ue-investiga-o-c im i-em-ms-ch ega-a-ca ma rafederalj264670 /) Nossos correspondentes Paulo Henrique Chaves e Nelson Ramos Barretto - que estiveram na reserva indígena Raposa/Serra do Sol em 2008 - voltaram recentemente a Roraima para entrevistar in loco os habitantes injustamente expulsos de suas terras para dar lugar a mais uma "favela indígena". (Vide à p. 51 propaganda do livro Roraima: cobiça internacional com novas perseguições aos produtores rurais). Empenhado em continuar esclarecendo seus leitores sobre a grave "questão indígena" que assola o País, Catolicismo traz em primeira mão o depoimento que nossos correspondentes colheram de Silvestre Leocádio da Silva, 66, antigo tuxaua (cacique, nà língua macuxi). *

*

*

Catolicismo - O senhor é índio macuxi?

Silvestre - Sim, tenho duas etnias no meu sangue: meu pai é macuxi e minha mãe é ingaricó. Catolicismo -Qual é a situação hoje da Raposa/Serra do Sol, depois da saída dos arrozeiros e dos senhores

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res. Mas o governo federal simplesmente abandonou a população indígena. E não foi só a da Raposa/Serra do Sol não, foi em todo o estado de Roraima. Catolicismo - E os ianomâmis, o senhor tem notícias deles?

Silvestre - Os ianomâmis estão aí ao léu, andando pelas ruas de Boa Vista com vassouras no ombro para trocar por um calção, por uma camisa, por vestidos para suas mulheres. Eles andam em grupos o dia todo aí pelas ruas da cidade. Então, cadê o dinheiro do governo federal? Demarcaram aquelas terras para os índios, ou para o governo federal ou para as ONGs? Como índio, eu queria ter o prazer de hoje dar uma entrevista e dizer que o índio está muito bem com

"Os cabeças do CIR estão todos empregados na Secretaria do Índio, do INCRA, com bons salários, eles sempre viveram por trás da população indígena"

delá?

Silvestre - Uma tragédia. Se não fosse essa tragédia, hoje os índios estariam muito bem, ganhando dinheiro, recebendo projetos do governo federal, do governo do estado, na Raposa/Serra do Sol, com 1.750.000 hectaCATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

as terras demarcadas, que o índio está ganhando dinheiro, que o índio está na tecnologia, que o índio está participando do progresso brasileiro, do progresso de

Roraima. O que se passa é o contrário. Os índios estão abandonados, e não são só os da Raposa/Serra do Sol. É triste quando você vê os ianomâmis aí passando fome , passando necessidade, sem remédio e sem educação.

doou um pouco para cada um, mas hoje eles estão vendendo tudo para se manter, para comprar arroz, açúcar, feijão, comprar de tudo. Eu vejo eles vindo aqui na cidade; vão aí nesses mercados, e têm que comprar de tudo, até a banana eles levam. É triste!

Catolicismo - E as ONGs, não têm feito nada por eles? Pois, além do governo federal, através da FUNAI havia ONGs fazendo muito barulho ...

Catolicismo - Extrativismo eles não fazem mais? Extrativismo, caça, pesca ...

Silvestre - Eu não conheço vocês e vocês não me conhecem ... A gente está aqui conversando, mas se vocês pegarem um avião e forem a Santa Rosa ou ao Maracá, lá em cima, de onde eles tiraram os garimpeiros por duas ou três vezes, lá está um grupo de americanos, instalado lá com casa, rádio, televisão, tem de tudo. Eles estão lá, mas os brasileiros não podem se instalar lá. Há um grupo lá que se diz missionário ... Os índios da Raposa/Serra do Sol estão todos aí pedindo educação, pedindo saúde, pedindo estrada, porque eles não têm estrada, não têm pontes; eu os vi fazendo essa reivindicação para a governadora daqui do estado. Com um monte de papel na mão, fazendo pedido: querem estrada, querem ponte, não têm dinheiro. E quem criou o problema com a demarcação foi o governo federal. Agora, por que o governo federal não aperta as ONGs, os padres, os missionários? Cadê o dinheiro que eles trouxeram para demarcar e por que não continuam aplicando esse dinheiro lá dentro? Porque lá dá de tudo! Se plantar, dá! Mas como é que o índio vai plantar se não tem apoio? Se não tem maquinário? Se não tem técnica? O índio está lá abandonado! O governo federal simplesrnente demarcou e abandonou! Aqui no município de Alta Alegre, próximo de Boa Vista, nós temos 11 comunidades com terras demarcadas em ilhas, não tem nada dado pelo governo federal para que esse povo tenha dias melhores, para que esse povo tenha um bom relacionamento, que não tem. Catolicismo - Tivemos informações de que na Raposa/Serra do Sol - talvez o senhor conheça mais especialmente o assunto - o Conselho lndigenista de Roraima, ligado à CNBB, estaria ajudando os índios. O senhor sabe como vão funcionando as coisas por lá?

Silvestre - Na verdade é assim: quem tem, tem, quem não tem , não vai ter. Há um gado que foi doado pela Igreja Católica, que na época ficou para poucas comunidades, para algumas comunidades. E a maioria ficou sem nada. O governo do estado, na ocasião também

Silvestre - Olha, não tem mais nada lá. Tem para aqueles que moram perto do rio, aqui próximo de Boa Vista. Porque esses rios lá em cima são rios de cachoeira, não têm peixe. E a caça não existe mais, acabou.

"Há

uma grande cachoeira possibilitando a construção de uma hidrelétrica para abastecer Roraima e outros estados e outros países, mas a luz aqui vem da Venezuela".

Existe muito pouquinho. Eles têm de comprar aqui . No Uiramutã, por exemplo, os marreteiros levam de tudo daqui para vender para eles lá. Levam peixe, levam galeto e eles são obrigados a pagar um preço absurdo. Aqui na capital já está tudo caro. O marreteiro que sai daqui pra vender lá, só pode vender caro. Então, agora está difícil a vida para os índios de lá. Catolicismo - Como vem sendo a atuação do Conselho Indígena de Roraima (CIR) lá na Raposa/Serra do Sol?

Silvestre - O CIR sempre atuou, mas para desmoronar. Os cabeças da entidade estão todos empregados na Secretaria do Índio, do INCRA, com bons salários, eles sempre viveram assim, sempre viveram por trás da população indígena que está lá sofrendo. Catolicismo - Essa Secretaria do Índio é do governo do estado ou do governo federal?

Silvestre - É do governo do estado, embora não seja da competência dele. O estado vem se obrigando a fazer coisas que seriam da competência do governo federal. A Secretaria do Índio ajuda um aqui, outro ali, porque não dá pra ajudar todo mundo. No caso da energia elétrica, numa recente entrevista eu até citei o senador Romero Jucá. Ele vai à televisão e fala assim: "A luz para todos em Roraima

está consumada, a luz para todos atingiu todo mundo catolicismo@terra.com .br / JANEIRO 2016

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Fotos: Nelson Barretto

desempregadas, porque o desemprego é grande aqui. O índio continua abandonado mesmo! Catolicismo - Qual é a sua formação escolar?

Paulo César Quartlero (dlr.), um dos maiores plantadores de arroz de Roraima, teve de abandonar tudo.

em Roraima". Apesar de dizer "energia para todos", a 100 km daqui, no Boqueirão, onde eu morei, eles negociaram para a luz passar dentro de Guri e descer 15 km com a rede, pois hoje estão lá 19 pais de família sem energia. A luz foi colocada só no centro da comunidade e o resto ficou sem nada. Eles estão falando que vão colocar. Catolicismo - E na Raposa/Serra do Sol, não tem energia?

Silvestre - Alguns têm, porque o governo deu um motor de luz pra eles lá. Ou aqueles que têm uma condiçãozinha para comprar um motorzinho. Mas os outros estão lá sem energia! É brincadeira ...

"O

Quartiero tinha 5.000 funcionários trabalhando na empresa de arroz dele. Ele foi retirado, e então essas 5. 000 pessoas estão aí hoje quase todas desempregadas"

choeira possibilitando a construção de uma hidrelétrica para abastecer Roraima e outros estados, até outros países, mas a luz aqui vem da Venezuela. Pode parecer que eu estou mentindo, mas vá lá para ver... Se fizerem a hidrelétrica ali, vai ser a vida para as comunidades indígenas, vai gerar dinheiro, vai gerar luz, vai gerar tudo de bom para aquelas comunidades. Eu me lembro de um ex-governador que já se foi . Ele dizia: "O desenvolvimento do estado e do País chama-se estrada e energia". As terras eram plantadas com arroz do Genor Faccio, do Paulo César Quartiero, daqueles arrozeiros todos que foram retirados de lá. Num dia desses o juiz Dr. Hélder Girão Barreto me perguntou: "Silvestre, me diga uma coisa, como é que está a Raposa/Serra do Sol?". Eu respondi: "Está abandonado, doutor ". Aí ele disse: "A gente sabia. Eu estou.fora disso agora". Ele disse desse jeito pra mim! Mas na época ele foi a favor da demarcação ... Hoje o índio deveria estar plantando, colhendo, ganhando dinheiro e abastecendo o estado. Catolicismo - Parece que o estado perdeu 4% do PIB com a saída dos arrozeiros de lá. É Isso mesmo?

Catolicismo - Para a Raposa/Serra do Sol não vai

Silvestre - Só o Paulo César tinha 5.000 funcionários

energia?

trabalhando na empresa de arroz dele. Ele foi retirado, e então essas 5.000 pessoas estão aí hoje quase todas

Silvestre - Para lá não vai. E temos lá uma grande ca24 1

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Silvestre - Eu só tenho o ensino fundamental. Vou relatar o que aconteceu recentemente comigo e com a minha família. Os garimpeiros sobem para a mina Santa Rosa - como hoje está tudo dificil, então muita gente está aí desempregada e vai atrás de dinheiro seja onde for - , os garimpeiros estão sempre entrando no Santa Rosa para tirar ouro e diamante. Então, minha filha que mora lá na comunidade do Boqueirão - os garimpeiros passam lá na ida e na volta - ela vende comida para eies. Ela vende comida lá e vive disso. Depois a Polícia Federal foi lá prendê-la juntamente com o marido. Em seguida, veio aqui na minha casa me prender. Só não me prendeu porque eu não me encontrava no momento. E sabe qual a razão? Alegava que eu estava apoiando os garimpeiros, estava comprando arma, estava dando todo o apoio aos garimpeiros. E minha filha, os estava alimentando quando eles passavam pelo Boqueirão ... E eu nem conheço esses tipos ... Minha filha tem um telefone rural. O delegado disse para mim que ela não pode ter telefone, porque ele é via satélite. Eu disse para ele: "& delegado, isso aqui é um telefone! Eu sou índio, será que não posso ter um telefone?" Ele respondeu: "Telefone que custa R$ 1.300,00, ela não pode ter..". Mas o que é isso!? A Polícia Federal prendeu minha filha e foi preciso pagar um advogado para soltá-la. A PF foi bater na penitenciária, porque disse que ela e seu marido estavam traficando gasolina, traficando ouro. É triste, hoje as comunidades não podem ter nada, eles querem os índios lá andando nus, pedindo as coisas. É complicado! Eu discordo disso aí, eu como indígena discordo. Eu acho que nós indígenas temos que acompanhar o progresso do Brasil e de todo o mundo, temos que acompanhar o branco, o preto, temos que acompanhar a política brasileira, a política estrangeira, tudo nós temos que ter conhecimento. Se não, para onde nós vamos? Eu trabalhei com os padres durante 20 anos. Por isso, eu aprendi muita coisa, estudei. Era para eu ter ido à Itália me formar; mas então eu não quis. É por isso que não sou formado . Eu comprei muito gado pra Igreja Católica distribuir às comunidades indígenas no município de Alto Alegre. Depois eu saí fora,

porque chegou um momento em que eu entendi que não era o que eu queria, era o que os padres queriam. Depois fui para a SODIUR [Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima], tornei-me presidente dela e nos colocamos contra a demarcação da Raposa/Serra do Sol. Catolicismo -A SODIUR ainda existe?

Silvestre - Existe. Hoje a FUNAI mudou um pouco. Numa época anterior a FUNAI não me considerava como índio porque eu estava na cidade. Eu não tinha direito a fazer um registro indígena, minha mulher não tinha o direito de fazer o "salário maternidade", minha família não tinha direito de tirar o registro indígena, porque já estávamos na cidade. A discriminação é grande!

':4. FUNAI abandona o índio.

Já ficou claro que a Raposa/Serra do Sol foi demarcada para acabar com os índios, pois os índios estão vindo pra cidade!"

A discriminação vem da política, vem da FUNAI, vem das ONGs, vem de todo mundo, é muito triste. E quando falo dessa maneira, as pessoas falam assim: "Você.fala demais". Eu falo a verdade, a dor quem sente sou eu, não posso ser discriminado. Se eu não aprender como o branco procede, ele vai passar por cima de mim, tenho de aprender, tenho de me defender. Se tivéssemos uma FUNAI que nos desse condições para evoluir, hoje não estaríamos sendo tão discriminados. Contrariamente, a FUNAI existe para ganhar dinheiro em nome do índio, só isso. A FUNAI me dizia: "Aqui na FUNAJ não tem coisa para os índios aculturados, só tem para os ianomâmis, eles estão lá isolados. " A FUNAI tinha que ir à Raposa/Serra do Sol e, juntamente com o governo estadual e o federal, fazer escola, fazer posto médico, fazer hospital, fazer estrada, fazer uma agricultura com tecnologia. Penso que a FUNAl existe para isso. Mas ela quer isolar o índio. Se não fosse o governo do estado de Roraima, os índios morreriam de indigência. A FUNAI abandona o índio. Já ficou claro que a Raposa/Serra do Sol foi demarcada para acabar com os índios, pois os índios estão vindo pra cidade! ❖ catolicismo@terra.com.br / JANEIHO 2016

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CAPA

LUIS DUFAUR

Is lã agressivo e inva.sor transpôs as fronteiras da Europa. O início de 201 5 fo i marcado pela chacina . de 12 jornalistas e o ferimento de mais dez, todos eles di retores ou fu ncionários do pasquirn pari siense, obsceno e anticatólico Charlie Hebdo, que havia publi cado charges co ntrárias a Maomé. A França tornou conhecimento que abrigava 1.1 00 jihadistas (so ldados da "guerra sa nta" islâmica), 380 dos quais combatendo na Síri a e no Iraque 1, e que uma galáx ia terrorista agia entre os milhões de muçulmanos instalados no país. O conju nto da Europa não estava em situação melhor: mani fes tações multi tudinárias para revidar o terror acabaram chamando a atenção para a fraqueza de um mundo ocidental amolecido, laicista e despersonalizado. Face ao fa natismo do Islã, a Europa sem espírito de Cruzada reagiu sem a indispensável firmeza. Desde então recrudesceram os atentados em terri tóri o francês, que se manifestara m pelo esfaqueamento de militares, degola de empresári o por fu ncionári o maometano, tentati va de massacre de passage iros de um trem de alta velocidade (TGV) Amsterdã-Paris, frustrada pela corajosa in tervenção de soldados norte-americanos em férias etc. E, em dezembro últi mo, um casal fili ado ao Estado Islâmico (EI) prati cou em San Bernardino (Califórni a) a maior chac ina coletiva nos EUA desde o atentado às Torres Gêmeas 2 • O ano fo i sa lp icado de modo macabro por crimes do EI no Oriente e na África. Massacres coletivos, dego lações (praticadas até por cri anças), crucifixões, afogamentos de prisioneiros em jaulas, lapidações, atentados sui cidas - crimes cuj a crueldade, sadi smo, anticristi ani smo e barbárie levaram outrora Papas a convocar Cruzadas. Houve ainda a

O Atentados, invasões e guerras islâmicas introduziram uma espécie de Ili Guerra Mundial crescente e anárquica. E, segundo órgãos de imprensa, na Igreja Católica há sintomas de algo à maneira de uma "guerra civil". O bolivarianismo, como estrela cadente no céu latinoamericano, perde poder. Aproxima-se o cumprimento das ameaçéls e advertências feitas ao mundo em Fátima em 1917.

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demolição de obras multisseculares do cristianismo na Síria e no Iraque, como também a destruição absurda de tesow-os artísticos milenares, como a cidade de Pa lmi ra.

dentes da Turquia, cujo governo é acentuadamente religioso-maometano. Só em julho, a Grécia recebeu mais refugiados que em todo o ano de 2014. As colunas prosseguiam rumo ao norte, lotando trens ou perInvasões que lembram correndo estradas a pé. A Macedôa queda do Império Romano nia, a Sérvia e a Eslovênia não pudo Ocidente deram detê-las. A Hungria, a CroáEnxurradas mi gratórias majo- cia e a Áustri a ergueram barreiras, ritariamente islâmicas procedentes logo violadas. A Polônia e a Es lovádo Oriente Médio somaram-se às quia decidiram receber apenas imicentenas de milhares de estrangei- grnntes cri stãos, sendo invectivadas pela mídia e pela União Europeia. ros que, provenientes da África, desembarcavam em ilhas mediter- A Dinamarca bloqueou trens vinrân eas da ftália e da Grécia. Até se- dos da Al emanha - país que retembro, eles já atin giram o núme- gistrou 965 mil pedidos de asilo ro de 264.500. Milhares fa leceram entre janeiro e o fim de novembro4. nessa tentativa, inclusive cristãos, Grupos de imigrantes ingressaram jogados ao mar por fanáticos maona Noruega pela região ártica. Na metanos. O fluxo de imigra ntes não Fra nça, os imigrantes acamparam fez senão aumentar a partir do mo- em pontos estratégicos, como na mento em que, na ilha de Lampe- . entrada do túnel da Mancha que dusa, o Papa Francisco atribuiu aos conduz à Inglaterra. A Europa revi" países ricos" a culpa pelo drama , veu o drama das invasões bárbaras e lançou a increpação: "Vergonha, que outrora determinaram a queda vergonha, vergonha! "3 do Império Romano do Ocidente. E m colunas, os mi grantes peConflitos entre facções relinetraram também por terra, proce- giosas ou étnicas de imigrantes,

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CATO LI Cl. MO / www.catolicismo.com.br

depredações e saques de instalações de aco lhida, ataq ues ao pessoal hosp italar que os atend ia, recusa de alimentos não conformes ao Corão ou com o emblema da Cruz Vermelha atiçaram a vio lência. Os recém-chegados entoavam em locais públicos versículos corânicos ou brados de guerra como "Allah akbar" ("Alá é grande"), e os atri tos com as populações locais fo ram inevitáveis. Grupos "progress istas" ou de extrema-esquerda aplaudiram a chegada dos imigrantes, mas colidiram com seus conterrâneos opostos à " nova invasão". E m Colônia, a candidata à prefeitura, Henriette Reker, pró-imigração, e mais quatro pessoas foram esfaqueadas em comício público por um cidadão anti-imigração. Os prefeitos de Magdeburg, Nieheim e Reutligen, bem como membros do Ministério Público de Dresden, receberam ameaças de morte pelo mesmo motivo.5 Acordos constitutivos da União E1,.u-opeia, como o de Schengen, que extingue as fronteiras, viraram letra

morta, fazendo temer uma implosão qualquer governo regional, apesar do bloco. O medo da invasão fez de ter sido o partido mais votado da subir a cotação dos partidos opostos França 10 • à imigração. A Polônia elegeu em maio o presidente Andrzej Duda, do Massacre em Paris Partido Lei e Justiça, que defende a apavorou o mundo família e é contra a imigração. Em Em 13 de novembro, em nome outubro, o centro-direita venceu as do Corão e com requintes de implaeleições gerais em Portugal6• No cabilidade, terroristas suicidas do mesmo mês, o Partido do Povo Suí- Estado Islâmico fuzilaram 129 pesço (SVP) obteve maioria recorde no soas e feriram perto de 400, durante Parlamento, defendendo a identida- atentados em Paris. Os terroristas, de nacional ameaçada pela entrada nascidos na França, circulavam nos maciça de estrangeiros7 • Na Croá- ambientes muçulmanos, que concia, a União Democrata Croata ventam com dezenas de milhões de ceu as eleições parlamentares por adeptos na Europa. Alguns deles razões análogas 8. Nas eleições de- foram treinados na Síria e regrespartamentais francesas de março, o . saram com passaporte de imigrancentro-direita conquistou quase 70 te, concedido por autoridades eurodepartamentos, enquanto o Partido peias. A polícia e o exército francês neutralizaram em Saint-Denis, na Socialista perdeu a metade das 61 circunscrições que comandava. O periferia parisiense, uma célula que Front National, de extrema-direita, preparava novos ataques. A Francujo avanço era trombeteado pela ça e a Bélgica enh·aram em estado mídia, não conquistou nenhuma9. de emergência. Eventos esportivos, Nas eleições de dezembro último, voos comerciais e trens foram suso Front National tampouco obteve pensos, quase a metade das reser-

vas de hotéis e de restaurantes para as festas do fim do ano fo i cancelada, generalizando-se nesses países o sobressalto. Nos mesmos dias, o Estado Islâmico explodiu um avião de bandeira russa sobre o deserto do Sinai, matando todos os seus 224 passageiros e tripulantes. A Rússia havia enh·ado de modo atropelado e confuso na guerra civil da Síria, alegando visar o EI, mas de fato procurando atingir opositores do governo sírio apoiados pelos EUA. A intervenção russa soava como um embate dissimulado contra os americanos. Mas o atentado em Paris favoreceu Putin , a quem a França convidou para formar uma a li ança contra o EI. Isso permitiu ao presidente russo sair do isolamento em que estava após a invasão da Ucrânia. Ele pronunciou trucu lentas ameaças contra os terroristas, mas verificou-se depois tratar-se de montagens da propaganda russa para seduzir ingênuos no Ocidente.

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Conflito análogo a uma ''guerra civil" na Igreja? a Igreja Católica, a passagem de 2014 para 2015 foi bem diversa da ocorrida de 2013 para 2014, quando se verificaram intensos aplausos ao Papa Francisco. Em fins de 2015, em matéria de capa apresentando o rosto do Pontífice na penumbra, Newsweek perguntava: "O Papa é católico?"1 2. Por sua vez, a revista britânica The Spectator publicava em sua capa uma charge do pontífice montado num equipamento de demolição, com o título: "O Papa versus a Igreja - A anatomia de uma guerra civil católica" 13. Em agosto, a Prefeitura da Casa Pontificia informou que o número de fiéis que foram ver o Papa caiu de l.548.500 no primeiro ano (média de 51.617) para 400.100 em 2015 (média de 14.818), ou seja, aquartaparte 14 . Na inauguração do Jubileu da Misericórdia, em 8 de dezembro, havia na Praça de São Pedro apenas 50.000 pessoas, cifra tida como diminuta para um evento tão propalado 15. O Sínodo Ordinário sobre a Família, reunido em Roma de 4 a 25 de outubro, esteve no epicentro da inflexão da imagem do pontificado. Mas não faltaram outros fatores alarmantes. Na mensagem de Natal de 2014, o Pontífice havia denunciado " J 5 doenças graves" que grassariam na Cúria Romana como um "Alzheimer espiritual", uma "esquizofrenia existencial", um "terrorismo da fofoca", uma "patologia do poder", uma "dependência dos próprios caprichos e manias" 16.

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Em mais um episódio confuso, um caça-bombardeiro russo que violava o espaço aéreo da Turquia foi derrubado por um jato desse país. O epi ód io levou Putin a voltar-se contra a Turquia, país membro da NATO, e a reforçar sua colaboração militar com o Irã, nação incentivadora do terrorismo islâmico universal. Desagregação da União Europeia

O caos gerado pelas invasões e pelos atentados ocorreu quando os países europeus se encontravam abalados por graves desavenças. Em janeiro, vencera na Grécia a Coalizão de Esquerda Radical Syriza, disposta a romper os acor7 dos assinados com a União Europeia e com os bancos internacionais que impediam a falência do país. O hino comunista Bandeira Vermelha ressoou nas ruas de Atenas para comemorar a vitória anticapitalista.

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O novo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, voltou-se para a Rússia e aceitou alianças com partidos favoráveis ao governante do Kremlin . Tsipras foi apelidado de 'Che grego', dispensou a gravata e não fez seu juramento sobre a Bíblia. Nomeou Yanis Varoufakis, arauto do "marxismo libertário" e da socialização dos meios de produção, para o Ministério das Finanças. Pelo final do ano, tendo quase perdido o governo, Tsipras preferiu se "acalmar", em troca de mais créditos dos odiados capitali stas, mas sem fazer os ajustes que evitariam a queda do país no abismo. Syriza levou para a Europa o modelo da esquerda "bolivariana" encarnada por Maduro, Lula e Evo Morales. O sucesso de Syriza animou o partido espanhol Podemos, o gêmeo da esquerda radica l espanhola financiado pelo chavismo. Em julho, Podemos conquistou, entre outras, as prefeituras de Ma-

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dri e Barcelona, sonhando aplicar o "socialismo do século XXI" e professando um " messianismo que não oferece programas nem propostas", segundo o diário parisiense "Le Monde" 11 . Em setem bro, o movimento independentista e republicano catalão obteve a maioria das cadeiras do Parlamento regional e iniciou um processo de separação do país, reprovado pelo governo nacional. Explorando a desagregação europeia, o primeiro ministro britânico Cameron apresentou condições draconianas para a Grã-Bretanha continuar na União Europeia. Se as mesmas não forem atend idas, ele cruzará os braços por ocasião do referendo a ser realizado até 2017, o qual , nas condições atuais, aprovará o Brexit ou a saída da Grã-Bretanha do bloco. Essa medida teria efeitos sísmicos, em decorrência do peso econômico-financeiro, militar e populacional britâni co na UE.

A crítica foi aplaudida pelo ex-frei Boff e recebida com perplexidade em ambientes católicos. O "Figaro Magazine" publicou então uma capa com o título: "A guerra secre: ta do Vaticano: como o Papa Francisco está abalando a fgreja" 17, em alusão a surdas oposições que ocorreriam no Vaticano. Polêmicas agitam Igreja

As intensas polêmicas em torno do Sínodo Extraordinário sobre a família de 2014 ainda não haviam amainado quando foram agravadas pelo episcopado alemão. Em março, o presidente da Conferência Episco-

pai da Alemanha, Cardea l Reinhard Marx, defendeu que a Igreja de seu país "não é uma filial de Roma " e que os bispos pregam o Evangelho segundo a cultura local 18, referindo-se à decisão de dar a comunhão aos divorciados " recasados" e de aprovar formas escanda losas de casamento, inclusive entre homossexuais. Para o historiador Roberto de Mattei, essa atitude significava que "de .fáto o cisma já estava instalado na Jgr~ja " 19 • Em janeiro, num voo de retorno das Filipinas, o Papa Francisco disse que os "católicos não deveriam se reproduzir como coe-

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lhos ,,io. A frase pareceu um estímulo ao controle da natalidade, que era discutido na perspectiva do Sínodo. O porta-voz do Vaticano, Pe. Lombardi, como em outras ocasiões, retificou as palavras do Pontífice, mas a expressão chocou especialmente fa mílias que desejam viver na observância da Lei de Deus. No mesmo mês, o Pontífice recebeu em audiência privada uma transexual " nascida mulher", e sua "esposa" 21• A fotografia da recepção foi divulgada na iminência do Sínodo sobre a família. No mês seguinte, em uma audiência pública das quartas-feiras, o Papa recebeu um grupo de defesa dos católicos homossexuais dos EUA22 • Em maio, um referendo na católica Irlanda aprovou o "casamento" homossexual. O arcebispo de Dublin alegou que a omissão do episcopado correspondia à linha adotada pelo pontificado: "Não dizer aos outros como votar"23 • Em junho, a legitimação do "casamento" homossexual pela Suprema Corte dos EUA teve impacto mundial24. O acórdão derrubou leis e referendos estaduais que tinham excluído as uniões contra a natureza por via legislativa. E m junho, os episcopados alemão, francês e suíço realizaram um simpósio reservado na Universidade Gregoriana de Roma sobre o "casamento homossexual" e a comunhão para os divorciados "recasados". O Pe. E berhard Schockenhoff foi um dos palestrantes escolhidos, por sua oposição ao ensino "autoritário" da Igreja sobre a anticoncepção. Ele prega uma moral liberada da Lei nahu-al, defende o "recasamento" civil dos divorciados e não mais Lhes nega a Comunhão25 • Para o "National Catholic Register", foi um conchavo para que o Sínodo aprovasse o "casamento" de homossexuais e

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matérias estranhas ao evento, como a sagração de sacerdotisas26 • Em setembro, o Papa Francisco promulgou dois Motu Proprio que aceleram os processos de reconhecimento de nulidade matrimonial. Estes não terão mais uma segunda instância de Roma, poderão demorar 30 dias e ser gratuitos 27 • Os documentos pontifícios adiantaram que o tema seria tratado no Sínodo. O jornal mineiro "O Tempo"28 concedeu destaque à matéria com o título "Igreja vai facilitar o divórcio". O Cardeal Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, advertiu em Regensburg que a Igreja corria o risco de um cisma: "A reforma protestante começou do mesmo modo", explicou 29 • A revista alemã "Die Zeit"3º avaliou existir uma guerra declarada em ambientes vaticanos que julgam que o Papa teria "tirado a máscara". Ross Douthat, colunista do "The New York Times", observou que o Papa havia inaugurado " uma guerra civil dentro da hierarquia eclesiástica, lançando cardeal contra cardeal e teólogo contra teólogo"; e que "o conflito estava ecoando em livros, declarações, editoriais e dominava o Sínodo sobre a família" 3 1• Apelos ao Papa antes do Sínodo: a "Filial Súplica"

O Papa Francisco fez chegar a toda a Igreja um inquérito para alicerçar o documento de base do Sínodo, o Instrumentum laboris. Do lado "progressista", o episcopado alemão redigiu uma desoladora síntese das respostas, a qual revelou que poucos alemães praticam a moral católica ou aderem a verdades básicas da fé. Mas também desvendou o minguamento do progressismo: na diocese de Essen (850.000 fiéis) , apenas 14 pessoas responde-

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ram; na de Mainz (740.000), 21; na de Magdeburg (86.000), 1832 • Por sua vez, o episcopado suíço pediu que a indissolubilidade matrimonial não seja mais considerada como "um valor absoluto", e que a união homossexual seja "reconhecida, prezada e abençoada" pela lgreja33 • O setor tradicional/conservador mostrou ter muito mais eco e voz na Igreja. Na Inglaterra e País de Gales, mais de 500 sacerdotes solicitaram em carta aberta ao Sínodo que este "se mantenha firme na doutrina e na pastoral da Igreja" baseada na Revelação e em dois mil anos de Magistério34. Cinco bispos americanos e um britânico solidarizaram-se com o pedido. Nos EUA, 1.185 sacerdotes assinaram apelo análogo. 140 ex-pastores protestantes, hoje na sua maioria sacerdotes católicos, solicitaram ao Papa não imitar o percurso das denominações protestantes que se desagregaram ao introduzir a revolução sexual em suas fileiras 35 • A iniciativa "Filial Súplica ao Papa Francisco sobre o Fuhu-o da Família" - à qual aderiram o Ins-

tituto Plínio Corrêa de Oliveira, TFPs da Europa, dos EUA e entidades afins - implorou ao Pontífice " uma palavra esclarecedora" que dissipe a "desorientação generalizada, causada pela possibilidade de que se tenha aberto no seio da Igreja uma brecha que permite a aceitação do adultério - mediante a admissão à Eucaristia de casais divorciados recasados civilmente - , e até mesmo uma virhial aceitação das próprias uniões homossexuais, contrárias à lei divina e natural". Na véspera do Sínodo, 11 cardeais publicaram a obra Permanecer na Verdade de Cristo, alertando contra a protestantização da Igreja

alentada por um grupo de ec les iásticos tidos como muito próximos do Romano Pontífice 36 . Outro grupo de cardeais africa nos e orientais publico u um oom Robett F. V.na opúsculo no mesmo senDom Athaina$1us Sdintlder tido. Foram múltiplas as denúncias de erros doutrinários contidos no lnstrumentum laboris, documento de base do Sínodo. Opção prefer~c,a pel O Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, havia publicado em março o livro Deus ou nada, denunciando o relativismo moral , a ideologia de Gênero, o islamismo, o processo de destruição da fa progress ista considerou nessa carmília e a insinceridade de ta indício de um "complô" visando uma misericórdia se m conversão frustrar o Sínodo e deslegitimar o prévia. Ele sublinhou a imposs ibipontificado. Mons. Péter Fülõp, arlidade, para um Sínodo e inclusive cebispo de Hajdúdorog e cabeça do para um Papa, de mudar a doutrina rito greco-católico húngaro, pediu revelada37 . Episcopados inteiros denunciaram o sacrilégio e a hetero- aos padres sinodais que recu sassem doxia contidos na proposta de dar com clareza o "feroz e enorme ataque" do di abo contra a família. E a comunhão aos divorciados "recasados". Entre esses destaca ram-se a Mons. Tomash Peta, arcebispo de Astana, Cazaquistão, apontou que a Confe rência E pi scopal polonesa e "fumaça de Satanás" - a qua l, sediversos episcopados da África. gundo Paulo VI, "penetrou no temO Sínodo Ordinário da Família plo de Deus" - estava presente em propostas relativistas inadmissíveis Durante o Sínodo da Família, ouvidas no Sínodo38 . Mons. Johan Bonny, bispo de A nComo epílogo, o Sínodo entuérpia, e Mons. Paul-André Durotregou ao Papa Francisco um Recher, ex-presidente do ep iscopado latório Final. Alguns qui sera m ver canadense, ambos da ala progresneste um triunfo do conservadorissista, pediram respectivamente um mo; outros, do progress ismo. Para relativo reconhec imento de casaRoberto de Mattei, catedrático de mentos ilega is e a ordenação de diaconisas. Por sua vez, o Cardea l História, tratou-se de um "documento ambíguo e contraditório que Pell, membro da assembleia sinopermite a todos cantar vitória", emdal, entregou ao Papa uma carta bora "todos acabaram derrotados, assinada por nove cardeais deplorando respeitosa mente a manipul a- a começar pela moral católica, que sai profundamente humilhada" 39 • O ção das exposições de bispos e de votações na au la sinodal. O setor Cardeal Raymond Burke, prefeito Oom Akto di Clllo P.\go\to, SSS

emérito da Signatura Apostólica, refutou a tese de que tal Relatório Final possa abrir a porta à comunhão para os divorci ados recasados: "O Sínodo não pode abrir uma

porta que não existe e não pode existir ". E acrescentou que há uma expectativa de o Sumo Pontífice aprovar uma prática que "está em

conflito com as verdades dafé "4º. O Relatório Final não tem valor mag iste ri a l nem di sciplinar, cabendo ao Papa a última palavra, em documento de sua lavra. Entretanto, a polêmica se acirrou sobre questões mai s di scutidas durante o Sínodo Ordinário. Mons. Athanasius Schneider, bispo-a uxi liar da Astana, Cazaquistão, resu miu assim as suas conclusões sobre o documento sinodal :

"'Non possumus! ' Não aceitarei um ensinamento ofuscado, nem uma abertura habilmente disfarçada da porta dos fimdos, para que por ela passe uma profanação dos Sacramentos do Matrimônio e da Eucaristia. Da mesma forma, não aceitarei uma burla do Sexto Mandamento de Deus. Prefiro ser ridi-

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cu!arizado e perseguido, a ter que aceitar textos ambíguos e métodos insinceros. Prefiro a cristalina 'imagem de Cristo, a Verdade, ao invés da imagem da raposa ornamentada com pedras preciosas ' (Santo lrineu), porque 'sei em quem pus minha corifiança ', 'Seio, Cui credidi! "' (2 Tim. 1: 12 )41 . O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira externou pública adesão ao corajoso pronunciamento de D. Schneider. A encíclica Laudato Si

Em abri 1, com a presença de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, a Pontificia Academia das Ciências reuniu no Vaticano alguns cientistas "aqueci mentistas", ONGs ambientalistas e pregadoras da diminuição da humanidade. Kimoon agradeceu o apoio do Papa às exigências ambientalistas 42. Cientistas opostos ao catastrofismo verde não tiveram lugar. Alguns deles se reuniram então a poucos passos do Vaticano e pediram ao Papa "que não concedesse seu apoio aos catastro:fistas do aquecimento global", cujas teorias ameaçam principalmente o porvir dos pobres do planeta43. Em junho, o Papa Francisco publicou a encíclica Laudato Sisobre ambientalismo, capitalismo e teologia mística, para a qual pedira a colaboração de Frei Betto. O longuíssimo texto, que não apresenta o estilo de encíclica, foi aguardado com ansiedade pela grande mídia e pelas ONGs verdes, mas teve seu impacto diluído pela falta de embasamento científico sólido. O presidente da CNBB, D. Sérgio da Rocha, elogiou a arremetida da encíclica contra "o estilo consumista", e extremistas verdes sonharam reverter com ela seu descrédito na opinião pública. Rubens Ricúpero,

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ex-ministro do Meio Ambiente no Brasil, enalteceu o documento, em particular sua ideia "radicalíssima" sobre "a necessidade de criar um governo supranacional"44 . O exfrade Leonardo Boff comemorou a "espiJitualidade ecológica" da encíclica, que apela para místicos pagãos, inclusive islâmicos ou herméticos, bem como para teólogos condenados pela Igreja, como Teilhard de Chardin e Romano Guardini. Frei Berto destacou que a Laudato Si "faz eco à produção da Teologia da Libertação [... ] e abraça a teoria evolucionista do Universo"45. O líder do MST, João Pedro Stédile, comentou: "Chávez morreu, Fide! está doente. O Francisco tem assumido esse papel de liderança, graças a Deus. Ele tem acertado todas "46 . Por sua vez, AI Gore, arauto do ambientalismo radical, declarou: "Eu me faria católico por causa desse Papa "47. A apresentação do documento foi feita conjuntamente pelo Cardeal Peter Turkson, presidente do Pontificio Conselho Justiça e Paz, pelo metropolita cismático John Zizioulas, pelo Prof. Hans Joachim Schellnhuber, ativista que veicula as teses malthusianas mais radicais, e por Carolyn Woo, presidente da agência humanitária internacional da Conferência Episcopal dos EUA, que financia ONGs promotoras do aborto e de anticonceptivos, e recruta ativistas LGBT48 . O Prof. Denis Lerrer Rosenfield , da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, observou que a encíclica "está baseada numa relativização da propriedade privada" e que por ela "o Brasil se veria destituído de sua soberania sobre a Amazônia" 49. O Dr. Evaristo de Miranda, da Embrapa, constatou que a encíclica usa 74 vezes a pala-

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armas, posições centrais da agenda do presidente Obama. Análogo discurso foi proferido numa sessão plenária da ONU em Nova York, cidade onde ele celebrou Missa campal (Madison Square Garden), tendo a leitura da Epístola sido feita por notório ativista do "casamento" homossexual. A Missa precedeu sua presença no Congresso das Famílias realizado em Filadélfia 56 . Teologia da Libertação e líderes filocomunistas

vra "nat11reza", 55 vezes " meio ambiente" e uma só vez "Jesus Cristo"5º. Para o Prof. José Manuel Moreira , da Universidade de Aveiro, Portugal , o "preocupante é a mistura de 's loga ns ' da esquerda radical" no texto 51. Em julho, o Pontífice reuniu no Vaticano mais de 70 prefeitos de todo o mundo, de predominância esquerdista, ocasião em que os incitou a pressionar a reunião da ONU sobre mudanças climáticas (ou COP21), no mês de dezembro em Paris. Foi criada no Vaticano a " Aliança pelo desenvolvimento sustentáve l urbano", que também deve promover a "gender equality" e a "gender-sensitive solutions", fórmulas da ONU para a Ideologia de Gênero 52 . Na festa da [maculada (8

de dezembro), o Vaticano promoveu o show "fiat Lux", que durante uma hora usou a Basílica de São Pedro como tela para uma projeção chocante da ideologia ambientalista radical panteísta, anticristã, gnóstica e igualitári a, misturada com trechos da laudato Si que horrori zou m11nerosos fiéis da Capital dos Papas53 . O projeto de tratado a ser assinado na COP21 visava instaurar uma espécie de governo ecológico planetário que incluiria um Tribunal Internacional de Justiça Climática para julga r os países que não cumprirem as metas da utopi a verde. E criava o Fundo Climático Verde, para o qual os países " ricos" contribuiriam graciosamente com um mínimo de U$ 100 bilhões anuais 54. Essas metas pareceram extremamente

radicais e inexequíveis. O Secretário de Estado dos EUA anunciou que não assinaria tratado algum 55 . Especialmente na África, o Papa Francisco declarou que seria catastrófico a COP21 não atingir esses objetivos de natureza política, econômica e científica, acompanhando assim a política de governos de esquerda. Em dezembro, a COP2.1 reuniu em Paris 40.000 representantes de 195 países e aclamou como sucesso um acordo escorregadio que mascarou um fracasso das metas radicais, o qual teria frustrado governos, ONGs e a própria Santa Sé. Em setembro, o Papa discurso u no Congresso americano a favor dos imigrantes, do combate à mudança climática, do fim da pena de morte e da proibição da venda de

O ano de 2015 começou sob o signo do restabelecimento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, apoiado pelo Papa Francisco. Uma frase de 1973 atribuída a Fidel Castro parece ter-se efetivado: "Os EUA virão dialogar conosco quando tiverem um presidente negro e no mundo houver um Papa !atino-americano "57 . Em IOde maio, o Papa recebeu no Vaticano o ditador Raul CastTO. Este afirmou que se o pontífice "continuar /à/ando assim, começarei a rezar e voltarei à igreja. E não digo isso como piada "58 • Logo depois, o fundador da Teologia da Libertação, teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, participou pela primeira vez .de uma cerimônia oficial no Vaticano. Ele teve sua teologia revolucionária - outrora condenada - elogiada em a11igo publicado no jornal "L'Osservatore Rornano" 59 , e se considerou feliz pela "mudança na atmosfera" da Santa Sé60 . Em julho, a viagem pontificia aos países "bolivarianos" começou pelo Equador, cujo presidente esperava que ela tivesse um efeito apaziguador, pois grandes manifestações antissocialistas bradavam: "Fora Correa!". A etapa da Bolívia ficou marcada pelo presente oferecido pelo presidente Evo Morales ao Papa: um

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crucifixo em forma de foice e martelo, concebido por um sacerdote subversivo já fa lecido61. O Pontífice também participou, ao lado de Mora les - que usava uma jaqueta com a efigie do Che Guevara 62 - , do "Encontro Mundial de Movimentos Populares" de 40 países. Depois visitou o Paraguai , país que não integra a frente de governos "chavistas", tendo aii proposto "menos ego ísmo e mais hospitalidade"63. Em setembro, sob um imenso poster do Che Guevara, o Papa Francisco celebrou Missa na Praça da Revolução em Havana. E num clima "muito tranquilo, fraternal e amigáve l", segundo o porta-voz do Vaticano, visitou Fidel Castro64 . A visita a Cuba transcorreu sob uma pesada vigilância policial. Dissidentes que desejavam estar com o Pontífice não foram recebidos. Alguns deles foram presos diante das câmaras dos jornalistas. A polícia deteve centenas de "suspeitos" e uma "limpeza social" dos pobres nas ruas maquiou a miserável aparência dos locais visitados. Segundo dissidentes, desde o reatamento de relações diplomáticas com os EU A, a repressão recrudesceu, pois a ditadura experimentou "um sentimento de impunidade"65. A viúva do dissidente Osvaldo Payá, morto em acidente suspeito, denunciou que o arcebispo de Havana, Cardeal Jaime Lucas Ortega y A lamino, trata os católi cos e os dissidentes "com procedimentos análogos aos dos agentes de segmança do Estado" marxista66 . O dissidente ex ilado F lavio Labrador propôs ao Papa Francisco "abraçar antes as vítimas que os carrascos" 67 . Seu apelo não foi atendido. Em novembro, o arcebispo de Cali, Colômbia, Mons. Darío de Jesús Monsalve Mejía, presidiu uma

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Bolivarianismo: ''estre1a ca dente''· no fi rmamento latino-americano Venezuela

jornada de recuperação da memória do sacerdote guerri lheiro Cami lo Torres, morto enq uanto combatia na guerrilha marxista dos anos 7068 . Sombrio fim de ano

Em setembro, a Arquidi ocese de Nova York fecho u quase 40 paróquias, por fa lta de sacerdotes e de recursos econôm icos 69 . Em São Paulo, o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, explicou que a Igreja Católi ca perde anualmente cerca de dois mil religiosos e religiosas 7°. Em dezembro, o Global Sisters Report constatou que restam menos de 50.000 religiosas nos EUA - mesmo número de um sécu lo atrás - e que só 9% delas têm menos de 60 anos 71. Na Alemanha, segundo o episcopado, 218.000 fiéis abandonaram a Igreja em 2014, 39 .000 a mais que em 2013 , quando 179.000 deixaram de pagar o imposto dos fiéis 72 . Centenas de igrejas católi cas na Europa foram postas à venda e algumas já são hotéis, residências, museus, lojas, oficinas, supermercados, floriculturas , e até um bar estilo Frankenstein em Edimburgo, Escóc ia. A igreja de Santa Bárbara,

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Astúrias (Espanha), foi repintada por grafiteiros esotéricos e transformada em ponto de encontro de skaters (foto acima)7 3. O bispo de Besançon, França, permitiu que se realizasse uma exibição equestre em sua catedral. Cerca de 20 igrejas são fechadas anualmente na Inglaterra. A Alemanha fechou 515 numa década e dois terços das ] .600 igrejas católi cas da Holanda serão desativadas proximamente74. Em março, comemorando seu segundo ano de pontificado, o Papa Francisco afi rmou que o mesmo seria "curto" - "4 ou 5 anos" 75 . E m julho, ele defendeu que a Igreja não deveria ter " líderes vitalícios", para não se tornar uma ditadura 76. O tom sombrio com que o Pontífice se referiu numa alocução à nr Guerra Mundial - que ele vê tomar conta da Terra - e a "falsidade" e a "mentira" que nota nas alegrias do iminente Natal , impressionaram os que o ouviram. Em novembro, vaza ram escândalos pela prisão de eclesiásticos e funcionários vaticanos que forneceram documentos privados da Santa Sé para li vros desabonadores da Cúria Romana.

2015 foi um "annus horribilis" do social ismo bolivariano, cujo naufrágio na Venezuela tornou-se patente já nos primeiros meses. À insatisfação causada pela carência de produtos básicos - alimentares, hospitalares, de higiene pessoal, e muitos outros - o governo reagia prendendo executivos das respectivas redes distribuidoras ou os próprios fabricantes. A mídia estava quase toda nacionalizada e o governo se irritava com a atuação de jornalistas estrangeiros. Altas patentes das Forças Armadas foram presas por "conspiração", enquanto o presidente do Legislativo, Diosdado Cabello, foi apontado como chefe de uma rede de generais que controla a exportação de droga. Maduro racionou a energia elétrica e sugou as moedas estrangeiras, a ponto de companhias internacionais fecharem seus negócios e empresas aéreas cancelarem seus voos. As Forças Armadas reprimiram protestos, invadiram fábricas para impedir que se tirassem fotos das filas em busca de alimentos. A inflação oscilou entre 200% e 500%, as cédulas perderam valor (a maior vale R$ 0,42), fazendo com que os próprios bandidos se desinteressem de roubá-las. O governo não tinha sequer papel para imprimir. Nos mercados oficiais, só se compram farinha, leite, xampu, papel higiênico e outros

produtos essenc1ats, num sistema de rodízio semanal definido pelo último número do RG! A carência de itens chegou a 75% em agosto e gerou saques e violências com mortos. Nos hospitais, os parentes dos doentes procuram fora insumos médicos. Mais de mil médicos cubanos enviados ao exterior para sustentar o regime procuraram asilo nos EUA, a fim de fugir da miséria e da violência. Maduro fo1jou atritos fronteiriços visando uma onda de popularidade nacionalista. Muitos colombianos tiveram de abandonar o país em condições dramáticas, cruzando córregos a pé, com os seus pertences nas costas. Eles foram arrancados de suas casas como na época stalinista77 . O pretexto foi a acusação de que atuavam em máfias de contrabandistas, muitas vezes, a liás, li gadas ao governo chavista.

Os distritos eleitorais foram reconfigurados, rebaixando o número de deputados e legíveis em regiões opositoras e aumentando as cadeiras em bastiões chavistas. Líderes opositores foram encarcerados e candidaturas adversas, vetadas. Muitos venezuelanos fugiram da opressão socialista, da miséria e da criminalidade buscando o exterior. Em dezembro, a oposição conquistou - mesmo com as irregularidades denunciadas - dois terços das cadeiras do Legislativo. Maduro reconheceu a derrota, mas logo convocou o exército para uma "guerra não convencional" contra "a direita e a burguesia, que entregam a soberania a partir das posições que conquistaram"78 . Brasil

Em março e abril, manifestações multitudinárias tomaram as ruas, em protestos contra o governo federal. De acordo com a PM, em 15 de março participaram 1,9 milhão de cidadãos em 212 municípios, sendo 1 milhão só em São Paulo. Em 12 de abri l os números foram um pouco menores. As multidões, invocando a brasilidade, o hino, a bandeira, o verde-amarelo, patentearam que o governo perdera a credibilidade e, psicologicamente, a condução do País79 . As tentativas petistas de efetuar manifestações em sentido contrário fracassaram .

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Dilma Rousseff

Em agosto, a presidente Dilma Rousseff bateu o recorde histórico de reprovação: 7 l %. Os frequentes " panelaços" e "buzinaços" foram um meio hab itual de protesto da população. O discurso da presidente em cadeia nacional foi recebido com panelaços em pelo menos 16 capitais e Brasília. Membros dos governos federal, estaduais e municipais ligados ao PT e aliados, além do ex-presidente Lula, dificilmente podiam comparecer em locais públicos, cerimônias oficiais ou restaurantes sem serem invectivados. "O panelaço é, em última instância, uma tremenda vaia", registrou o jornal "O Globo". As manifestações de agosto, segu ndo a PM , mobili zaram cerca de 790 mil pessoas, em 168 cidades l(l de todos os estados do País. Como .!e :õ nos casos anteriores, os organiza, :, a. dores avaliaram que o número real foi muito maior. Nossa bandeira '-~ jamais será vermelha foi um dos 'O ~ brados característicos da multidão ~ em São Paulo. A ascensão do con-

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Manifestação na av. Paulista, no dia 15 de março

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servadorismo social e cultural, que foi reconhecida até por intelectuais de esquerda, cristalizou-se nessas grandes manifestações. Em 13 de dezembro, as manifestações de protesto contra o governo petista tomaram as ruas de uma centena de cidades do País. No Brasil tomou corpo um "crescente movimento de direita" que "dá voz à maioria silenciosa"80. Em setembro, o escândalo da Petrobrás atingiu o Palácio do Planalto, após o STF aprovar pedido de apuração contra figuras do governo. Uma incessante torrente de denúncias, delações e prisões de grandes empresários e políticos acentuou a percepção da existência de uma corrupção genera lizada nas altas esferas, em especial no esquema de governo montado pelo PT durante mais de uma década. Os danos causados ao erário público foram estimados em muitas centenas de milhões de reais. No início de dezembro foi iniciado na Câmara Federal o processo que pode desfechar no impeachment da presidente Dilma. Em meio a esses escândalos, a economia brasileira entrou em recessão. No último ano e meio, o PIB atingiu uma queda de 5,8%, superada apenas pela ocorrida na Rúss ia e na Ucrânia em guerra, bem como na infeliz Yenezuela8 1• No ranking internacional , nossa economia caiu da sétima colocação para a nona, tendo sido superada pela da Índia. A agência de ava liação de risco Standard & Poor s retirou do Brasil o grau de investimento - uma espécie de selo de bom pagador82 • A inadimplência atingiu mais da metade das empresas em operação, segundo o Serasa 83 . A ascensão do conservadorismo incluiu o campo religioso e o culh1ral. Uma amostra: segundo o Pai-

nel Nacional de Televisão (PNT), a imoralíssima Babilônia passou a ser oficialmente a novela das 21 horas menos assistida da rede Globo na história do horárioR4 • Ela e o popular Jornal Nacional foram superados pela novela Os Dez Mandamentos, que focali zou temas bíblicos85 . Argentina

Na Argentina, Cristina Kirchner começou o ano com " um cadáver no colo"86 : o promotor Alberto Nisman, assassinado quando ia apresentar no Congresso o resultado das investigações do atentado perpetrado contra uma associação hebraica, que matou mais de uma centena de pessoas. O relatório indiciava figuras do governo relacionadas com o extremismo árabe anti-EUA. O crime evocou a eliminação de dissidentes na Rússia e sua sombra acompanhou o governo populista argentino até a débâcle final. O Senado americano requereu um " inquérito claro" e o "The New York Times" pediu uma " investigação internacional " sobre a " morte suspei ta" do promotor87 • O governo "nacionalista" multiplicou laços com a China e a Rússia. A presidente franqueou à combalida petrolífera russa Gazprom a exploração das imensas jazidas de gás da Patagônia. Também propiciou exercícios militares conjuntos e troca de informações policiais. Putin considerou a Argentina como "o melhor aliado na América Latina" e prometeu investimentos. Mas estes se revelaram inconsistentes quando o Banco de Desenvolvimento russo não depositou os US$ 2,6 bilhões prometidos para uma barragem88 • Co m a China, Cristina Kirchner ass inou dezenas de acordos, algu ns deles secretos, que permitiram a instalação de uma

base chinesa na Patagônia com objetivos também militares e em cujo recinto não vigora a soberania argentina. O governo peronista sofreu reveses eleitorais até o advento de eleições nacionais em outL1bro, quando foi seriamente derrotados em todos os níveis. Circunscrições eleitorais-chave, governos estaduais e grandes prefeituras passaram para o domínio da oposição. No segundo h1rno, a enorme onda de insatisfação conduziu o opos icionista Mauricio Macri à Casa Rosada. A catástrofe peronista-bolivariana pressagiou um recuo gera l da esquerda latino-americana. O novo presidente anunciou que vai desestatiza r a economia, enfrentar os governos antidemocráticos da Venezuela, de Cuba e da Bolívia, e estreitar os laços diplomáticos e eco nômicos com os EUA. Cri sti na Kirchner não suportou a derrota. Ausentou-se da cerimônia de trans-

missão da presidência, fazendo temer futuros atritos nac ionai s. Bolívia, Equador e Chile

Na Bolívia, o presidente Evo Morales tenta uma reforma lega l para se reelege r, mas a ideia é rechaçada por quase 60% dos eleitores. No Equador, o presidente Rafael Correa, após rápida polêmica com o presidente Macri recém-eleito, anunci ou que não vai se recandid atar. No Chile, a presidente Bachelet tentou aprovar uma impopular reforma constih1cional , mas o eleitorado negou-lhe apo io. No mês de outubro, a taxa ele rejeição a seu gove rn o atingia 57%, superada apenas pelos governos do Brasil [reprovação de 70,9% em julho, pesquisa CNT89], do kirchnerismo na Argentina e de Maduro na Venezuela. Compreende-se que o ex-presidente Lula tenha afirmando na Co lômb ia sentir " um cheiro de retrocesso na América do Sul" 9º.

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Rússia e China: • • • crise e expans1on1smo

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Rússia iniciou o ano numa degringolada. No interior, a fa lta de alimentos, a desva lori zação do petróleo e do gás - fonte quase exclusiva de recursos - e a queda do rublo semeara m profundo mal-estar. O achatamento dos salários, o fechamento de bancos e empresas privadas, a decadência do sistema hospitalar, a queda de av iões civis por fa lta de manutenção, além de um PIB negativo de 4,6% levaram Putin a mudar de estratégia.

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Na Europa Centra l, enquanto assessores de I 8 países modernizavam o exército ucra niano, a Polônia se rearmava e treinava milícias civis com centenas de milhares de cidadãos. Nos países bálticos foram aco lhidas unidades ocidentais, tendo a Lituânia proporcionado cursos de resistência à população e a Estônia erguido cercas defensivas contra a infiltração de age ntes russos. A Ucrânia encetou a "desso-vietização" do país: demoliu estátuas, trocou nomes de logradouros públi-

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cos, proscreveu hinos e símbolos do comunismo. Isso irritou a Rússia, que multi plicou estátuas de Lenine, Sta lin e Putin, enquanto o cismático Patriarcado de Moscou clamava pela restauração dos "valores morais" (sic) da era soviéti ca! A guerra na Ucrâni a tornara-se impopular. Em fevereiro fo i assassinado Boris Nemtsov, que preparava rela-tório sobre a morte de soldados russos na Ucrânia. Seus colegas di vulgaram o impressionante relatório e milhares de pessoas protestaram nas imedia-

ções do Kremlin. Putin fi cou obcecado contra o " inimigo in terno" e recru desceu a repressão dos "agentes do exterior". Nesse co ntexto, o Kremlin mudou a mira de sua política exteri or para o Oriente Médio e a Améri ca Latina. Sofrendo de um lado a pressão dos países ocidentais dev ido à invasão da Crimeia, e de outro, o desca labro eco nômico do país, o governo russo acabou desistindo da compra de dois porta-helicópteros franceses Mistral de última geração, que serão adquiridos pelo Egito91. Contudo, a Rú ssia participou pela primeira vez de exercícios navais com a Venezuela, levou nav ios de guerra à Nica rágua e ancorou em Hava na barcos especiais para espionagem e sabotagem de cabos submarinos. O outro "gigante" as iáti co, a China, passou por turbul ências di gnas de nota. Sua economi a emitiu estalidos que abalaram o mundo. As bolsas despencaram, as exportações ca íra m, mais de cem mil motins pop ul ares pontua is eclod iram, fábricas migrara m para outros países. Os dados econômicos oficiais não são mais dignos de crédi to: "Ninguém tem a menor ideia do qu e está acontecendo", observou um especiali sta92 • O "combate à corru pção" no Partido e no Exército revelou sintomas de decomposição. Um auge dela se patenteou nas explosões de Tianjin, que vitimaram pelo menos 11 4 pessoas e fe ri ram mais de 700. Quinze mil internautas que denu nciaram a incúria socialista foram encarcerados. No primeiro semestre de 20 15, morrera m na China 26 mil operári os em ac identes industri ais, mais de 140 por dia! A fra queza econômica do país evidenciou-se nu ma visita comercial ao

Bras il. A legação chinesa acenou com in vestimentos de US$ 53 bilhões, mas não co ncretizou nâda 93. Na ocasião, a "Folha de S. Paul o" fez um levantamento das promessas fe itas ao Bras il e não cumpri das pela China: elas totali za m ao menos US$ 24 bilhões94 . Como é cada vez maior o número de chineses que desertam do Partido Comun ista, o presidente Xi .Jinping se viu ob ri gado a lança r campanh as para ensinar o marxismo. O cristianismo superou o partido comunista em membros. O governo montou grand es campanhas antirreligiosas. Em maio, o arcebispo eméri to de Hong-Kong, Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, denunciou que "os comun istas removera m a cruz de numerosas igrejas e demoliram outros templos. Dois bispos con-

tinuam na pri são. A Santa Sé faz demas iadas concessões e às vezes aprova ca ndidatos [a bi spos] que não são bons'"95. O mesmo cardeal hav ia dep lorado em março a " rendição incond icional" promovida pela Secretaria de Estado vati cana face aos déspotas comuni stas, e de ixou claro que não se ca lari a, ainda que o Papa Francisco lhe impusesse silêncio96. Peq ui m projetou sua presença mili ta r no exteri or e cri ou ilhas artific iais no Mar da Chin a para o estabelecimento de bases aeronavais, desafia ndo o Japão, as Filipinas e os EUA. Por sua vez, o Japão refo rmou sua Consti tui ção visa ndo a interv ir mili ta rmente no exteri or, passou a se rearmar de modo ace lerado e a exa ltar a me móri a dos heróis de guerras passadas.

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O que acontecerá em 2016? ensando sobre o que advirá no ano que se inicia, fo lheando a coleção de Catolicismo encontrei um arti go do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira de maio de 1952 ! Com lucidez profética não há termo mais adequado - , ele parecia prever, 63 anos atrás, o que aconteceria. Seu tex to nos ilumina e encoraj a na entrada desse novo ano. Confira o le itor: "O fu turo só Deus o conh ece. Ninguém poderi a razoave lmente surpreender-se se toda a estrutu ra da atua l civili zação viesse a desabar frago rosa e trag ica mente, num grande banho de sa ng ue. M as [... ] entre as deso lações da época presente, j á ex iste um prenún cio de vitó ri a: a ação por ass im dizer visíve l, da Virgem Santíss ima na Terra. [ ...] "Todas as circun sta ncias parecem adequadas a um triunfo imenso da Virgem. A cri se é trágica. Ela se aproxima do auge. [ .. .] Todas as característi cas de uma situação humanamente perdida parecem acumul ar-se não só típi ca, mas arquetipicamente no momento presente. "Quem nos poderia salvar? Somente quem tivesse para conosco urna compla cência sem limites, uma compl acência de Mãe, de Mãe ilimitadamente boa, generosa, exorável. E la é Mãe nossa, e Mãe de Deus. Corno não perceber que ta ntos desastres e tantos pecados po1: assim dizer clamam pela intervenção de Maria Santíssima? E como não perceber que ela atenderá a este clamor? "Quando? Durante o grande

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drama que se aprox ima? Depois dele? Não sa bemos. Porém uma coisa parece abso lu tamente prováve l: é que Mari a Santíssima não

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prepara para a Santa fgreja, como desfec ho desta cri se, sécu los de agoni a e de dor, mas uma era de triun fo universa l" 97 .

Notas: 1. O Globo, 08.01.15. 2. O Estado de S. Paulo, 03.12.15. 3 . Radio24, 04/10/20 13, http://www.ra dio24 .ilsole24ore.com/ programma/24mattino/ naufragio-lampedusa-vergogna-vergogna0 9380 3-gSLAfX5 NW?refresI1_ce=1. 4 . Folha de S. Paulo, 07.12.15 . 5. O Gl obo, 18.10.15. 6 . O Estado de S. Paulo, 0 4.10.15. 7. O Estado de S. Paulo, 18 .10 .15. 8. O Globo, 0 9.11.15. 9. O Estado de S. Paulo, 30 .03 .15 . 10. O Globo, 08.12 .15 . 11. LeMonde, 02.02.15 12. Newsweek, 10-09-2015, http://www. newsweek. com/2015/09/18/whos-better-cath olic-pope-francis-a rchdiocesecordileon-37 0451.html 13. The Spectator, 7.11.15 , http//new.spectator. co.uk/2015/ 11/ pope-francis-is-riski ng-a-catholic-civiI-wa r/. 14. Settimo Cielo, 27.08. 15 . 15. Vatica no.com, 0 8 .12.15, http://www.vati ca no.com/ inaugurazione-del-giu bileo-straordinario-della-miseri cordia-8-d icembre-2015/ 16. Folha de S. Paulo, 23.12.14. 17. O Globo, 24 .12.14. 18 . La Cro ix, 0 2.03.15 . 19. li Sito de Firenze, 13.03.15. 20. O Gl obo, 22.01.15. 21. Hoy, 25.0 1.15, http://www.hoy.es/extremad ura/201501/25/ bendito-encuent ro-entre-francisco-20150125003218-v.htm l 22. Folha de S. Pau lo, 19.01.15 23. LifeSiteNews, 21.05.15. 24. O Estado de S. Paulo, 26.06.15. 25. Le Figa ro, 22.05.15. 26. Nat ional Catholic Register, 05.26.15. 27. Corrispondenza Roma na, 0 9 .09.15. 28. 09.09.15. 29. li Foglio, 0 4 .09.15. 30. http://www.zeit.de/gese llschaft;zeitgeschehen/2015-09/papstvatikan-aufstand 31. The New York Tim es, 12.09.15. 32. Junge Freiheit, l1ttps://jungefreiheit. de/kolumne/2015/deutscl1e-bischofskonferenz-dokum ent-eines-kolossalen-scheiterns. 33. Settimo Cielo, 08.05.15 . 3 4 . lnfocatólica , 24.03.15; Catholic Hera ld, 24.03.15. 35. Religión en Libertad, 07.10.15. 36. La Nuova Bussola Quot idiana, 17.08.15. 37. Notizie, analisi, documenti sulla Chiesa Cattolica, 10.04.2015 38. Religión en Libertad, 16.10.15. 39. Corrispondenza Roma na, 26.10.15 . 4 0 . National Catholic Register, 01.12.15. 41. Rorate Caeli, 04.11.15. 4 2. Vat ica n lnsider/ La Stampa, 28.04.15. 4 3. Vat ica n lnsider/ La Stampa, 27.04.15. 4 4 . O Estado de S. Paulo, 19.0615 . 45 . Aditai, 16 .07.15, http://site.adita l.com.br/s ite/noticia. php?lang=PT&cod=85546 4 6. Folha de S.Pau lo, http://wwwl.folha.uol.com. br/ fsp/mu ndo/ 22 5 5 44-e les-te m-oba ma-e-nos-te mos-franc isco-d iz-sted i Ie-emsa nta-cruz.shtm 1

47. Catho liccultu re.org, 12.05.15 . 48 . Lepanto lnstitute, 20 .0 5 .15. http://www.lepantoinstitute.org/ crs/crs-president-comm its-to-fu nding-contra ce ption-provid ers-em. ploying-sa me-sex-married-executives/ 49. O Estado de S. Paulo, 29.06.15. 50. Evaristo de Miranda, 03.08 .15, http:// www.eva ristodemira nda. co m.br/a rtigos-humanidade/habemus-papam-ecologistum-2/ 51. Sapo.pt, Eco nômico, 0 2. 07.15; http://economico.sapo.pt;noticias/enciclica-proverd e_2 22548 .htm l 52. Vatica n Radio, 23.07.15; li Timone, 24 .07.15, http://www.iltimone.org/33537 ,News. htm l. 53. Corrjspond enza Romana , 11.12.15. 5 4 . The Heritage Foundati on, 27.10.15, CFACT, 23 .10.15. 55. O Estad o de S.Paulo, 12.11.15. 56. EI arca , 27.09.15. 57. Clarín, 23/07/ 15 , http://www.clarin.com/ mundo/ Fidel-Cast roCuba-EE-UU-asombrosa-prediccion-1973_0_13 99060294.htm l 58. Folha de S. Paulo, 11.0 5 .15. 59. ACIPrensa, 08 .05.15. 60. Folha de S. Paulo, 12.0 5.15. 61 . li Giornale, 09.07.15. 62. O Est ado de S. Paulo, 0 8 .07.15. 63. O Estado de S. Paulo, 12 .07.15. 6 4 . O Globo, 20.09 .15 . 65. 20minutes.fr, 21.0 5.15. 66. Settimo Cielo, 17. 09 .15 . 6 7. As iaNews, 19 .09.20 15. 68. Rebelión, 14.11.15. 69. Folha de S. Paulo, 0 5.0 8 .15. 70. O Estado de S. Paulo, 20 .0 8 .15. 71. National Ca th olic Reporte r, 09.12.15, http://globalsistersreport. org/news/trends/ new-stud y-n umber-us-wom en-religious-aboutsame-ce nt ury-ago-3512 1. 72. La Croix, 21 .07.15. 73. EI Mundo, ·11.12.15. 74 . lnfoca tólica, 06. 01.15. 75. O Estado de S. Pau lo, 13.0 3.15. 76. Folha de S. Paulo, 0 4 .07.15. 77. O Estado de S. Pau lo, 25.0 8.15. 78. La Nación, 13.12.15. 79. O Estado de S. Paulo, 17.03.15. 80. O Globo, 18. 08.15. 8 1. Folha de S. Pau lo, 01.12 .15. 82. O Estado de S. Pau lo, 09.0 9 .15. 83. Foll1a de S. Paulo, 09.10.15. 8 4 . Folha de S.Paulo, 20 .07.15. 85. O Estado de S.Paulo, 22.11.15. 86. Folha de S. Paulo, 20 .01.15. 87. La Nación, 21.01.15. 88. Clarín, 10 .06.15. 89. EI País, 25.7.15. 9 0. Folha de S. Paulo, 11.11.15 . 9 1. Folha de S. Paulo, 0 6. 08.15. 92. Folha de S. Paulo, 27.08 .15. 93. O Estado de S.Paulo, 20.0 5.15. 94. Folha de S. Pau lo, 22.0 5.15. 95. t.:H omme Nouvea u, 23.05.15. 96. Corriere della Sera, 11.0 3.15. 97. Catolicismo, nº 17, maio de 1952.

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POR QUE

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NOSSA SENl-IORA

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Dinheiro público para a revolução social

grande a rejeição que o MST vem encontrando por parte dos trabalhadores rurais, quando se trata de doutriná-los para formar o "exército de Stédi le" (na expressão de Lula), com vistas a produzir levantes em favor da revolução social marxista. Nem mesmo os ventos fortemente soprados de Roma em favor do líder do MST foram capazes de arrastar nossos meritórios e sagazes homen s do campo. Sempre há os oportu ni stas, à procura de obter vantagens, mas deixar-se leva r por sectarismos anticapitalistas é outra questão bem diferente. Na procura de a lternativas para esse impasse, a esquerda tem lançado com "bombos y platillos" como dizem pitoresca mente nossos vizinhos hi spano-amcri ca nos - ou seja, com grande estardalhaço, uma espécie de MST urbano, vi sa ndo criar nas cidades a agitação que não encontra eco no campo. O novo factoide atende pela sigla MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e, como seu sími le interiorano, não quer ter personalidade jurídica. Ass im, ele pode mais fac ilmente receber dos

governos, através de associações interpostas, os milhões de reais que enchem suas arcas, sem necessidade de prestar contas a ninguém. Seu líder máximo, tirado de um dia para outro da cartola e elevado pela propaganda midiática do anonimato aos ga larins da publicidade, chama-se Guilherme Boulos.

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A respeito desse conjunto artificial , mas perigoso pelos apoios de que goza em altas esferas eclesiásticas e leigas, o diário "O Estado de S. Paulo" apresenta, em editorial de 2 de dezembro último, alguns dados interessantes que vale a pena cons iderar.

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Desde que o PT chegou ao governo federal , o poder público vem financiando "movimentos sociais", sempre prontos para tumultuar o cotidiano dos brasileiros e o funcionamento das instituições. Nascido no fim dos anos 1990 a partir das :fileiras do MST, o MTST visa "formar militantes e acumular forças no sentido de construir uma nova sociedade", segundo o site da organização. Só a Associação de Moradores do Acampamento Esperança de Um Novo Milênio, vinculada ao MTST, recebeu mais de R$ 81 milhões do "Programa Minha Casa, Minha Vida - Entidades" no estado de São Paulo, o equivalente a quase cinco vezes mais que a segunda co-

Lula com líderes do MTST

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locada entre as entidades beneficia- if)g das pelo programa federal. Na lista ~ aparece ainda o Movimento dos Tra- ~ balhadores Sem-Terra Leste J, com ~ repasses de quase R$ 8 milhões. Trata-se, pois, de um movimento "obviamente .financiado p elo Estado para solapar e, se possível, derrubar os alicerces d_emocráticos desse mesmo Estado", diz o editorial. Ora, não cabe ao Estado, com o dinheiro dos impostos, "financiar movimentos que atuam fora da lei ". O MTST prega, por exemplo, a "luta contra o capital e o Estado que representa os interesses capitalistas" e diz abe1tamente que uma de suas formas prediletas de atuação é o bloqueio de rodovias. O que tem esse bloqueio a ver com proporcionar teto a quem não o possui? Absolutamente nada. Mas tem muito a ver com a revolução marxista mundial. E o MTST não o esconde: "Ao bloquearmos uma via importante estamos gerando um imenso prejuízo aos capitalistas. [. ..] Imaginem todas as prin-

cipais vias paradas! E paradas não por horas, mas por dias! Conseguiríamos impor uma grande derrota ao capital e avançar na transformação que queremos. Este é um grande objetivo do MTST ". O movimento de Boulos acaba de acrescentar a suas formas de atuação, também a invasão de escolas, tendo coordenado algumas das invasões de escolas estaduais de São Paulo ocorridas em dezembro último. Se tivermos em vista os apoios eclesiásticos e civis em prol da constituição de uma rede de movimentos ditos "sociais" - MTST, MST, Excluídos, CIMI Uunto aos índios) etc. - todos empenhados em doutrinar a população pobre, a fim ele engajá-la na revolução social anticatólica, compreenderemos melhor por que Nossa Senhora chora. ❖

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SANTA MARIA, MÃE DE DEUS

São João Neumann, Confessor

[Antigamente, Circuncisão do Menino Jesus] Coloquemos nas mãos de Maria o ano que se inicia, para que seja repleto de boas obras. Quem é filho devoto de Maria será defendido nos perigos e livre do pecado (cfr. Oração e Postcomunio da Missa). Primeira Sexta-feira do mês

+ Filadélfia, 1860. Natural da Boêmia, foi para os Estados Unidos como missionário dos imigrantes de língua alemã. Nomeado por Pio IX bispo de Filadélfia, promoveu a educação católica das crianças, fundou uma congregação religiosa feminina com essa finalidade.

São Basílio Magno, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Cesareia, 379. Considerado o "Colosso da Igreja oriental", mereceu o título de "Pai dos monges do Oriente", porque

suas regras deram forma definitiva à vida monástica. Primeiro Sábado do mês

Santíssimo Nome de Jesus

(Domingo entre a Circuncisão e a Epifania) A devoção ao Santíssimo Nome de Jesus, já arraigada na Igreja desde os seus albores, foi pregada e inculcada de modo particular por São Bernardo, São Bernardino de Siena e pelos franciscanos.

Santo Odilon, Abade

+ Cluny, 1048. Um dos grandes abades de Cluny, cujo papel foi primordial na forma ção da Idade Média. A ele devemse a introdução da Festa de Finados e, para controlar o espírito extremamente belicoso do tempo, a Trégua de Deus, que proibia ações bélicas ou pilhagens de qu artafeira à tard e a segunda-feira de manhã.

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viandades mediante grandes penitências.

1 FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

[Domingo depois da Epifania] Esta festa tem por finalidade dar às famílias cristãs um modelo e um exemplo a imitar, bem como um padroeiro a quem recorrer.

São Teodósio o Cenobita, Confessor EPIFANIA DO SENHOR, OU SANTOS REIS

[No calendário tradicional] Epifania significa "manifestação". Com a adoração dos Magos, Nosso Senhor se manifestou a todos os povos, e não só aos judeus.

São Raimundo de Penhaforte, Confessor

+ Espanha, 1275. Dominicano, Príncipe dos canonistas e famoso confessor, igualmente célebre por seus milagres. Com São Pedro Nolasco fundou a Ordem das Mercês, para a redenção dos cativos que eram aprisionados pelos muçulmanos.

São Pedro Tomás, Bispo e Confessor

+ Chipre, 1366. Carmelita, encarregado pontifício de delicadas missões diplomáticas, depois Bispo e Legado universal para todo o Oriente.

sa·nto André Corslni, Confessor

+ Fiésole, 1373. Também carmelita e contemporâneo do anterior, de uma das mais ilustres famílias de Florença , fez-se religioso depois de vida mundana, expiando suas le-

CATOLI CI. MO / www.catolicismo.com.br

+ Palestina, 529. Retirando-se

para o deserto perto de Belém a fim de viver em recolhimento, sua fama de santidade lhe atraiu inúmeros discípulos. Construiu três hospitais. Com São Sabas, lutou valorosamente contra a heresia monofisista, sendo por isso desterrado pelo imperador bizantino.

riano, saindo incólume. Após edificar a todos com sua santa vida faleceu no Senhor.

sitarem depois os cristãos nos cárceres, foram também detidos e martirizados.

15 Santo Amaro ou Mauro, Confessor + Subíaco, 584. Filho de um

senador romano, aos 12 anos foi entregue a São Bento de Núrcia para ser educado. São Gregório Magno o exalta pelo seu amor à oração e ao silêncio. Avançado na virtude, apesar de sua pouca idade, foi incumbido por São Bento de dirigir monges e mosteiros.

São Sebastião, Mártir + Roma, 288. Centurião da guarda pretoriana de Diocleciano, sustentava com zelo apostólico os confessores da fé e os mártires. Denunciado, foi trespassado com flechas. Curado milagrosamente, foi açoitado até a morte. Tornouse um dos santos mais populares da Igreja.

São Marcelo 1, Papa e Mártir

Santa Inês, Virgem e Mártir + Roma, 304. A fortaleza des-

+ Roma, 309. Reorganizou a Hierarquia eclesiástica. Sob Maxêncio, foi exilado e obrigado a viver num estábulo, onde morreu em consequência dos maus tratos.

ta menina de 13 anos assombrou seus verdugos, os quais, entretanto, mataram-na cruelmente. São Dâmaso e Santo Ambrósio cantaram entusiasmados os seus louvores.

Santo Antônio Maria Pucci,

Santo Antão Abade,

Santos Vicente e Anastácio,

Confessor

Confessor

Mártires

+ Viareggio, Itália, 1892. Da Congregação dos Servos de Maria, santificou-se como pároco de um porto pesqueiro e de veraneio. Dedicou-se de corpo e alma à conversão dos infiéis e pecadores, à instrução infantil, bem como ao cuidado dos doentes, anciãos e pobres.

+ Egito, 356. Viveu longos anos de penitência no deserto, onde resistiu como herói católico a violentas tentações do demônio.

+ 304 e + 628. São Vicente foi um valoroso diácono de Zaragoza que para provar sua fidelidade a Cristo enfrentou toda sorte de tormentos, célebre na História da Igreja. Anastácio foi um monge persa decapitado com outros 70 cristãos pelo rei Cosroes.

Batismo de Nosso Senhor

O objeto desta festa é o Batismo de Nosso Senhor por São João Batista e, secundariamente, o nosso nascimento espiritual para a vida da graça.

1 São Félix de Nola, Confessor

+ Nola (Itália), 256. Sacerdote, passou por vários suplícios nas perseguições dos imperadores romanos Décio e Vale-

Santa Prlsca ou Prisclla, Virgem e Mártir

+ Roma, séc. 1. É considerada por muitos a primeira mártir do Ocidente. Foi batizada por São Pedro aos 13 anos e martirizada pouco depois, por terse recusado a queimar incenso aos deuses.

19 Santos Mário e Companheiros, Mártires

+ Roma, 270. Mário, sua esposa Marta e seus dois filhos viajaram da Pérsia a Roma para venerar os sepulcros de São Pedro e São Paulo. Ao vi-

23 Santo Ildefonso, Bispo e Confessor

+ Toledo, 667. Discípulo de Santo Isidoro, fo i arcebispo de Toledo e zelosíssimo defensor da virgindade de Maria contra os hereges, escrevendo um livro para refutá-los.

2 São Francisco de Sales, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

+ Annecy, 1622. Bispo de Ge-

nebra, animado de profundo amor de Deus e das almas, era dotado de bondade e suavidade excepcionais no trato, sólida cultura e ortodoxia. É um mestre da vida espiritual, sendo também patrono dos jornalistas e publicistas católicos. Foi muito odiado pelos protestantes calvinistas, que não lhe permitiram tomar posse da sua diocese de Genebra.

Conversão de São Paulo Apóstolo

Ao cair do cavalo, o perseguidor dos cristãos tornou-se Apóstolo. Instruído pelo próprio Cristo Jesus, foi um dos mais ardorosos proclamadores do cristianismo. Submisso ao Papado, soube entretanto resistir com respeito e firmeza a São Pedro na questão dos judaizantes. São Pedro, demonstrando grande elevação de alma, acabou por dar-lhe razão.

ção da juventude feminina e formação de mães cristãs.

Santo Tomás de Aquino, Confessor e Doutor da Igreja

(Vide p. 16)

São Sulpício Severo, Bispo e Confessor + França, 591. São Gregório

de Tours refere-se a ele com muito respeito, elogiando suas virtudes. Foi nomeado para a Sé de Bourges em lugar de eandidatos simoníacos.

Santa Jacinta Mariscotti, Virgem

+ Viterbo, 1640. Embora educada cristãmente, levou vida frívola e mundana mesmo no convento, onde entrara por ordem do pai. Adoecendo gra-

vemente, o confessor da casa não quis atendê-la, dizendo que o Céu não era feito para pessoas vãs e soberbas. Um terror salutar levou-a ao arrependimento e ao remorso, e depois à reparação, transformando sua vida e conduzindo -a à honra dos altares.

3' São João Bosco, Confessor

+ Turim, 1888. Exerceu enorme influ ência no campo religioso e social, tendo fundado a Sociedade Salesiana e o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. São Pio X afirmou : "O êxito dessa obra só pode explicar-se pela vida sobrenatural e santidade de seu fundador". De alma simples, alegre e ardente, não havia obstáculo que o detivesse na senda do bem .

Intenções para a Santa Missa em janeiro São Timóteo, Mártir, e São Tito, Confessor

+ Ásia Menor, séc. 1. Foram dois discípulos de São Paulo. A Timóteo, seu preferido e fiel compa nheiro, São Paulo escreveu duas epístolas cheias de conselhos. Foi Bispo de Éfeso e morreu apedrejado pelos pagãos. São Tito também acompanhou o Apóstolo em algumas viagens, tornando-se depois Bispo de Creta, onde morreu.

Será celebrada pelo Revmo. Padre David Franclsquinl, nas seguintes Intenções:

• Pelos leitores e benfeitores de Catolicismo, a fim de que, neste novo ano que se inicia, seja m especialmente protegidos na crise atual que atingiu o País, gerando dificuldades financeiras, desemprego e aumento da violência. Mas também para que eles e seus filhos sejam objeto de uma particular proteção espiritual, que lhes conceda forças para resistir às tentações pecami nosas.

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• Na Missa constará menção especial a favor das famílias atingidas na região de Mariana (MG) pelo rompimento das barragens; igualmente, pelas fam ílias que perderam seus entes queridos nos brutais atentados perpetrados pelo terrorismo islâmico em Paris no dia 13 de novembro último.

Santa Ângela de Mericl, Virgem

Intenções para a Santa Missa em fevereiro

+ Bréscia, 1540. Consciente

de que as desordens da sociedade originam-se em grande parte da corrupção da família, fund ou o instituto religioso das Ursulinas, para a educa-

• Rogando a Nossa Senhora de Lourdes (1858), cuja festa é comemorada pela Santa Igreja no dia 11 de fevereiro, que conceda a todos os leitores de Catolicismo - bem como àqueles seus parentes mais necessitados - plena saúde de alma e de corpo.

catolicismo@terra.com .br / JA .ElRO 201 6

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2015 Ano de grandes desafios, mas também de conquistas para a Contra-Revolução FREDERICO R. DE ABRANCHES VIOTTI E DANIEL FÉLIX DE SOUZA MARTINS

ssim como a crise do mundo moderno tem sua origem em uma única crise chamada Revolução, 1 assim também os contra-revolucionários que a combatem devem manter entre si aquela união que Nosso Senhor pediu a seus discípulos: "Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros " (Jo 13,35). Atuando de forma coordenada em quase 30 países, dezenas de associações nascidas sob a inspiração e a liderança de Plínio Corrêa de Oliveira, realizaram em 2015 numerosas atividades em defesa da civilização cristã. Sobre elas haveria muito a relatar, mas a exiguidade de espaço não nos permite. Trataremos principalmente das iniciativas do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Aos que desejarem se aprofundar, aconselhamos a leitura das matérias publicadas por Catolicismo nas edições de julho e outubro/2015. Impossível não destacar, entre as atividades de 2015, as cerimônias havidas em São Paulo nos dias 2, 3, 4 e 5 de outubro, por ocasião dos 20 anos de falecimento do Prof. Plinio (vide Catolicismo , novembro/2015), as quais contaram com a grata presença do bispo Dom Athanasius Schneider, de sacerdotes e lideranças de diversas entidades de vários países, irmanadas no mesmo ideal contra-revolucionário. Nessa oportunidade, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira lançou o livro A minha

A

vida pública, uma compilação com cerca de 800 páginas contendo relatos autobiográficos inéditos de seu inspirador. Campanha "Filial Súplica"

A campanha internacional denominada "Filial Súplica" foi participada por uma coligação de 62 associações. Sua fase inicial consistiu numa coleta de assinaturas pedindo ao Papa Francisco clareza doutrinária no Sínodo sobre a Familia a realizar-se em Roma no mês de outubro. Em pouco mais de 10 meses foram obtidas 888.13 7 assinaturas, provenientes de 178 países, incluindo as de oito cardeais, 48 arcebispos e 155 bispos, além de 215 personalidades de renome. Durante a campanha foi elaborado um opúsculo com 100 perguntas e respostas a respeito da temática do Sínodo. De autoria de três Bispos, com tiragem de 102 mil exemplares, ele foi traduzido em oito idiomas e enviado a todos os prelados do mundo (de aproximadamente 190 países) . A "Filial Súplica" foi entregue na Secretaria de Estado do Vaticano, mas até hoje não recebeu resposta. No site do Instituto* é possível fazer o download gratuito do referido opúsculo.

capital paulista. Atraiu a atenção do público de modo muito especial, a conferência sobre a Ideologia de Gênero, no dia 6 de agosto. Expuseram o tema com a clareza, a segurança e a vivacidade próprias de especialistas, a Prof'. Fernanda Takitani e a Dra. Isabella Mantovani de Oliveira. Ideologia de Gênero

O ano de 2015 assistiu à maior pressão nacional e internacional já vista para a imposição da agenda homossexual , com destaque para a chamada Ideologia de Gênero. Os ativistas desse movimento internacional tentaram o possível e o impossível para tornar compulsória a chamada "desconstrução", na cabeça das crianças, dos papéis próprios aos dois sexos, procurando inculcar que cada pessoa deve "escolher" seu sexo, entre masculino, feminino , transsexual, homossexual , ou ainda outros. Em 2014, o Plano Nacional de Educação tinha sido aprovado e, graças ao esforço de organizações pró-família, entre os

quais o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, a Ideologia de Gênero foi retirada da pauta. Furiosos, os ativistas pró-gênero - em escusa manobra em conlLLio com instâncias governamentais - conseguiram que sua nefanda ideologia fosse novamente colocada em todos os projetos de planos municipais e estaduais de educação a serem votados nos municípios e estados brasileiros! O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira mobilizou-se em todo o território nacional por meio de uma vasta rede de amigos e simpatizantes. E juntamente com beneméritas associações pró-família, conseguiu um resultado excepcional : 90% dos mais de 1300 municípios em que o tema já foi votado rejeitaram a Ideologia de Gênero . Não contentes, os ativistas de esquerda tentaram incluir a malfadada ideologia também na pauta dos Planos Estaduais de Educação. O Instituto esteve profundamente ativo no caso. No Paraná, por exemplo, essa ideologia já foi rejeitada. Em São Paulo, a batalha continua, e por

Estandartes do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, na av. Paulista, no dia 13 de dezembro de 2015

Palestras no Clube Homs

Entre as muitas atividades do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, destacamos as já tradicionais palestras no Clube Homs, na Foto: Pa ulo Ca mpos

CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

ca tolicismo@terra.corn.br / .IAN EI rw 201 6


isso convidamos desde já o leitor, seja qu al for o seu estado natal, a acessa r o site * e envi ar seu protesto aos deputados estadu ais pauli stas para que continuem rejeitand o a Ideologia de Gênero. E ass im como já eles a derrotaram nas comi ssões, que a derrotem em pl enário. A rejeiçã.o de São Paul o a esse projeto terá grande influência so bre os estados qu e ainda não votaram a matéri a. Psicose Ambientalista A Caravana Terra de Santa Cruz, do

Instituto Plínio Corrêa de Oli veira, tem percorrido amplamente o territóri o nac ional em defesa do direito de propri edade e da instituição famili ar. No ano de 201 5, ga nhou espec ial importância o pro bl ema da intern acionalização da Amazô nia, propugnada por numerosas ONGs estrange iras, sob o pretexto de preservação ambi ental. Al ém de atentar contra o di re ito de propriedade - co mo no caso da ex pulsão de faze ndeiros de Roraima - , essa psicose ambientali sta procura convencer a popul ação da iminência de uma catástrofe ambiental , utili za ndo-se para isso de mi tos e conceitos mal definid os. Para faze r frente a essa manobra, o Instituto tem di vul gado larga mente o li vro Psicose Ambientalista, de auto ri a de Dom Bertra nd de Orl éans e Bragança, que no mês de novemb ro teve esgotada a sua 4" edi ção. Manifestações do Brasil profundo em 2015

O instituto Plínio Corrêa de Oli veira também parti cipou das marc has mul titudinári as qu e ocorreram ao longo do ano, a primeira em março e a última em dezembro de 201 5. Marchas essas em que o "Bras il profun do" se fez ouvir. Um Bras il qu e mui tas vezes não aparece na grande imprensa, mas qu e se vê agredido por medidas como a introdução da Ideologia de Gênero nas escolas, o favo rec imento do aborto e da agenda homossexual, as invasões de terra , a lu ta rac ial velada a pretexto de demarcação de reservas indígenas e "qui \o mbolas", entre outras. CATO LI C1 ' ~I O / www.cato licismo.com.br

Congressos, reuniões e acampamentos

Promov ido pelo Instituto PLinio Corrêa de Oliveira com o apoio da Associação Cristo Rei e outras entidades, rea lizo u-se na cidade de São Paul o, durante o ca rn aval de 2015 , o XV Simpósio de Estudos e Ação Contra-Revolucionária. O evento contou com a parti cipação de 90 jovens dos estados do Ri o Gra nde do Sul , Sa nta Catarina, Paraná, São Paul o, Minas Gera is, Ri o de Janeiro, Distrito Federal, Amazonas, Pará, além de representantes da Argentina e do Peru . Nesse contexto, rea lizo u-se na mes ma ocasião em São Bern ard o do Campo (SP), o X I Simpósio da Associação dos Fu ndadores. Pro venientes de vá ri os estados e cidades do Bras il , ami gos e co_laboradores dessa assoc iação participara m com muito interesse dessa atividade anual da entidade. Para a formação de estuda ntes e de jovens, o Instituto orga ni zou di ve rsas reuniões e aca mpamentos nesse último ano, destaca ndo-se os rea lizados nas cidades de São Paul o, Bras ília e Curitiba.

Nesses últimos anos, ficou provado que existe toda uma conspiração internacional formada · por ONGs, órgãos da ONU e figuras esquerdistas do Episcopado Brasileiro atuando em uníssono para criar uma questão indígena baseada no falso conceito de que a catequese e a civilização atentam contra os costumes, as crenças e o modo de viver dos silvícolas.

Nelson Ramos Barretto e Paulo Henrique Chaves

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Missionários, ecologistas fundamentalistas, "pesquisadores" e "agentes" de governos estrangeiros, aos milhares, infiltram-se nos aldeamentos indígenas promovendo sentimentos de revolta e despertando reivindicações as mais diversas contra as autoridades constituídas.

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Roraima parece ter sido alvo predileto dessa campanha subversiva que se vem estendendo a outras regiões do País. Exemplo disso é o decreto do governo federal criando novas unidades de conservação naquele estado, como o futuro Parque Nacional do Lavrado. Os órgãos governamentais responsáveis querem implantá-lo, não por acaso, em mais uma região de fronteira (com a República Cooperativista da Guiana), na região da Serra da Lua.

Caravana "Cruzada pela Família "

Em janeiro deste ano, inicia-se mais uma

Cruzada pela Familia. Trata-se de uma caravana com o propósito de percorrer o in teri or do Brasil , a fi m de alerta r a população para o peri go de ava nço do aborto em nosso País. Além das prec iosas orações, o leito r poderá eventualmente também co laborar com um tanque de combustível, para estender o percurso da caravana. Basta acessa r o site *. •

R$10,00

Notas:

• frete de R$ 10,00

1. "As muitas crises que aba lam o mundo hod ierno - do Estado, da fa mília, da economia, da cult ura, etc. - não constituem senão mú ltiplos aspectos de uma só crise f unda menta l, que tem como campo de ação o próprio homem. Nout ros termos, essas crises têm a sua ra iz nos problemas de alma mais profu ndos, de onde se estendem para todos os aspectos da persona lidade do homem contemporâneo e todas as suas atividades" (Plí nio Corrêa de Oli veira, Revolução e Contra-Revolução, Parte 1, capítu lo 1). * www. ipco.org.br

*

A última novidade da CPT e do CIMI é a divulgação do conceito de "territorialidade" segundo o qual vastas regiões da Amazônia e do Brasil seriam transformadas em territórios autônomos para os índios, para os quilombos e para os "sem-terra". E se isso acontecer, infelizmente, enquanto unidade política e social, a nação brasileira deixará de existir.

Petrus Editora Ltda.

etrus ê01Tlc>IRA

Ru a Vi conde de Ta unay, 363 - Bairro Bom Retiro CEPO l 132-000 - São Paul o-SP Fone/Fax (11) 3333-67 16 -mail : petrus@ li vrariapetrus.com.br Vi itc n s o site na internet: www.li vra ri apetrus .com.br

Adolpho Lindenberg


'

AMBIENTES • COSTUMES • CIVILIZAÇOES

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movimento tem uma beleza própria e reflete a perfeição, a sabedoria e as maravilhas do Criador

• • • PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

eus é admirável em todas as suas obras. É um princípio com o qual todos concordam. Quando se fala de obras, o espírito se volta naturalmente para coisas que Deus criou desde urna pedra até o anjo. Desse modo, lembramonos das belezas da natureza . Entretanto, não corresponde à verdade julga r que com essa visão esgota-se a questão. Há algo também criado por Deus que não co nsiste em seres substanciais: é o movimento uni versal de todas as co isas. Não podemos ter apenas uma visão estática do universo, corno se Deus o tivesse criado sem movimento . Pelo contrário, devemos ter urna noção do universo posto em movimento comunicado pelo Criador. E esse movimento tem uma beleza própria que obedece a regras e que reflete a perfeição, a sabedoria e as maravilhas de Deus. Um exemplo: poderíamos di zer que a queda de uma fo lha de uma árvo re reflete urna beleza da criação. Aque le movimento próprio de uma folha que se desprende do galho e segue, numa qu eda suave e gradual, num momento indefinido, caindo harmoniosa e

placidamente em zig-zag, é tão elegante que se diria que a fo lha está voando e não apenas caindo. E quando a fo lha cai, tocando no chão de modo leve e delicado, tem-se a impressão de que ela oscula a face da terra antes de se desfazer e de transformarse ela mesma em terra. Também os movimentos gerais dos astros apresentam uma grande beleza . Platão imaginava que o astros era m esferas de cristal que giravam sobre si , tendo cada urna, ao girar, sonoridade própria. E que isso produ zia a beleza da música universa l. Se bem que essa concepção seja fantasiosa, ela é muito boni ta e, no fundo , contém algo de verdadeiro para nossos sentidos. Se uma pessoa consegu isse captar no seu conjunto a trajetória das estrelas, não veria qu e elas realizam um movimento muito belo? É bonito o movimento de uma fo lha morta que cai , entreta nto mais maj estoso é o movimento de uma estrela cadente. Caindo, ela sulca o céu com aquele risco de fogo. De repente se apaga, dando a entender que a lu z se recusa a pou ar numa matéria tão vil corno o chão. ❖

Excertos da co nferê ncia proferida pe lo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 26 de outubro de 1967. Sem revisão do autor.



SUMÁRIO

EXCEllTOS

Religião dos mediocratas ecumeni smo., com a infatigável vã ta >a relagem ele seu di álogo, é bem a religião cios medi crata . Uma e p6cie de seguro, ou de resseguro, para a v ida e para a morte, mediante o qual todas as religiões ão so li citadas a d izer em coro que indiferentemente, em qualquer dela , os homens podem alcança r para sua sa úde, seus negocinhos e sua segura nça, e mesmo depois da morte, um bom co nv ív io com Deus. N esta perspectiva, parece que a Deus é indiferente a que se siga qualquer religião. Pode-se até blasfemar contra Ele e persegui-Lo. Pode-se até negá-Lo. E le é indiferente a todos os atos dos homens. O limpica rnente indiferente. Ecumenica mente indiferente. Como aliás os medíocres, por sua vez, tenham eles ou não algu m C rucifixo, algum B uda de louça ou de cerâmica, ou algum amuleto nos locais em que dormem ou em que traba lham, são olimpica rnente indiferentes a Deus. N a atmosfera relativ ista dos paraí sos ·ubi culares mediocráticos, Deus é - segundo o bro ardo ita liano - um ente "con i/ quale os nza i/ q11 de, i/ mondo va tale quale " [c 111 o qual ou en o qual, o mundo vai ta l qual]. N esta per pectiva ta111b6111, 1 ·us pH •ari a aos homens na mesma 1110 da. Po l 'r-s •- ia •111! o di zer que a hu rna nidad 6, pa ra Ele, o formi •u ·iro (ou nó de víboras?) " eon i l quale os nza il 1uu l ', ldd io lo Senhor Deu ] va tal qua l "

"'

Em 6 de janeiro último, foi difundida em todas as redes sociais do mundo, uma videomensagem do Papa Francisco dedicada ao diálogo interreligioso, onde católicos, budistas, muçulmanos· e judeus parecem colocados no mesmo plano como "filhos de (um) Deus"

"'

"'

/\ medi o ·ra ·ia • o indil' ·r ·11ti s1110 r ·li g1oso ão corolári os um do ou tro. ' 01110 tamh ~111, pm s11a vez, esse indi ferentismo não 6 s ·mo uma forma d • ui •fsmo. () ai •(s1110 dos que, mais rad icais (em certo sentido) do qu • os I ró 1 rios ut ·us ·011vL·11cio 11ais, não tomam Deus a s ri o. /\o passo qu ' o al ·u, s · tiv ·ss · a ·vid ·11 ·in de que Deu s ex iste, O odia r ia ... ou , talvez, serv iria... Mn s, ·rn todo ·uso, O tomaria a séri o. A esse ateísmo ecum 'lni ·o e re lativi sl'l co rr •spond · u11 u1 ·s1wdlica modalidade de det ri ora ·._ o moral. Excertos do artigo d Pllnl 20 de junho de 1981.

2

CATOLlCl SMO / www.catolicismo.com.br

, publicado n "I 1111 til

EXCERTOS

4

CARTA DO DIRETOR

5

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? "Esquerda católica" ali ada a movimentos marxistas

O Plinio Corrêa de Oliveira

2

. 1>111110", m

6

CORRESPONDÊNCIA

8

A PALAVRA DO SACERDOTE Na pratica de esportes, há normas para o público feminino?

12

A REALIDADE CONCISAMENTE

14

ENTREVISTA Assédio sex ual co letivo por muçu lmanos na Al emanha ltirc ,or:

19

Pau lo Corrêa el e Brito Fi lho

VARIEDADES

Jornulistu Responsável: clson Ramos Bal'fctto R egistrado na DRT/DF sob o n" 31 16

Reações à islamização do Velho Conti nente

22 26

INFORMATIVO RURAL

A1lministrnçiio: Rua Visconde de Ta unay, 363 Bom Retiro CE.P 01132-000 São Paul o· SP

CAPA Cruel perseguição à Igrej a Católica na China

36

Serviço de Atendimento ao Assinante: ( 1.1 ) 3331-4,522 (11) 3361-6977 (11) 3331-4,790 (11) 2843-9487 (11) 3333-6716 (ll) 333 1.-5631 fax

VIDAS DE SANTOS São Pau lo Miki e Companheiros Márti res

39

EPISÓDIOS HISTÓRICOS Grande batal ha sa lvou Viena do domínio islãm ico

44

SANTOS E FESTAS DO MÊS

46

DISCERNINDO

CórreSJIOndênciu: Caixa Posta l 707 CEP 01031-970 SãQ Pau lo - SP Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda.

Apontamentos de uma princesa russa

49

AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

52

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

E-mail: ca tolicismo@t crra .com. br HomePage: ,vww.caLoli cismo.co o1.br

l SS

Ga leria do castelo de Fonta ineblea u: perspectivas nobres e im ponentes

Nossa Capa: A tu a lmente na China, agentes do regim e cornuni s ta derrubam a cruzes de igrejas de v ári as r egiões. O · católicos reage m d istr ibu indo e ost entando ai nda mai cruzes, mobi liza ndo re i tên cia para imped ir a pa . age m dos agentes qu e rece beram ordem para d est nlÍ-la .

O102-8502

Prnços da assinatura annal para o mês de Fevereiro ele 2016: Comum: Cooperadm·: Benfeitor: Gru ndc B enfeitor: Exemplar avu lso:

catolicismo@terra.com.br / FEVEREIRO 201 6

R$180,00 R $ 270,00 R$ 4,60,00 R, 760,00 R$ 18,00

3


CARTA DO DIRETOR

Caro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

A mídia de modo gera l enaltece o desenvolvimento material da China comunista, apresentando-a como um verdadeiro ucesso ec nômi co e técnico. Se algum progresso houve nesse aspecto, seria bom re saltar que e le decorre da enxurrada de capita is e empresas ocidentais cana li zada para aque le país no decorrer do sécu lo passado - e que prossegue no atual - , benefician do-se, aliás, de mão-de-obra escrava. Entretanto, pouco se noticia sobre a sistemática perseguição movida contra a Igreja Católica pelo regime marxista de Pequim. Com base principalmente na obra O Livro vermelho dos mártires chineses, a matéria de capa desta edição apresenta impressionante documentação sobre o martírio sofrido pelos católicos chineses desde a implantação do regime comunista em 1949 até nossos dias. Em tal ambiente, é preciso constatar o admirável espírito sobrenatmal com que os católicos perseguidos enfrentaram e enfrentam prisões e martírios. Tal documentação poderia figurar em nossa seção "Verdades Esquecidas" ... Assim, é conveniente não esquecer o noticiário sobre o avanço do Dragão do Oriente (de empresas estatais chinesas) em várias regiões do planeta, inclusive no Brasil. A "Revolução Cultural" iniciada por Mao Tsé-Tung em 1966 foi ma is devastadora do que catástrofes naturais como terremotos e pragas. E la mergulhou aquela infeliz nação num completo caos. As pessoas, aterrori zadas, não manifestavam suas opiniões nem mesmo aos parentes. Não bastassem os preocupantes problemas que envolvem nossa vida públi ca, deseja-se agora implantar análoga revolução no Brasil. É o que se deduz do seguinte comentário de Marco Antonio Vi lia ("O Globo", 5- 1- 16): "O

Ministério da Educação está preparando uma Revolução ultura/ que transf ormará Mao Tsé-Tung em um moderado pedagogo [. ..] Sob o disfarce de 'cons·ulta pública', pretende até junho 'aprovar ' uma radical mudança nos currículos dos ensinos .fundamental e médio[. ..}. Nem a União oviélica teve coragem de fazer uma mudança tão drástica como a 'Ba. ·e Na ·ional Comum Curricular '". Caro leitor, uma proposta: peçamos a Nossa Senhora Aparecida, Ra inha e Padroeira do Brasil, que o preserve de uma "Revolução ultural" acaba sendo também política, social e econômica - que possa trans form á-lo num desventurado país marxista. Em Jesus e Maria,

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CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

POR QUE

l

N OSSA SENHORA

CIIORI-\?

Esquerda católica sustenta falso mito

E

nquant.o o cham.ado Movimento dos Trabalhadores Rw-ais sem Terra (MST) vai perdendo a credibilidade (se é que algum dia a teve) entre os próprios homens do campo, a esquerda católica se obstina em defender com unhas e dentes os restos de prestígio desse movimento subversivo. Nascido das entranhas poluídas da "Teologia da Libertação" como movimento auxi liar da revolução social comunista, o MST recentemente resolveu ficar ecologista, para estar aggiornato com a última moda das esquerdas. De vermelho virou verde, como um esperto camaleão. Mesmo assim, está difícil pegar. Como isso "não cola", a propaganda tem insistido em promover o personagem que foi escolhido para ser o símbolo do MST, o marxista João Pedro Stédile. Alguns dados sobre ele - suas ligações com a esquerda católi ca e sua adesão ao eco logismo - nos são fornec idos em interessante artigo "O Natal de Stédile", do jornalista Mario Sergio Conti , publicado no blog leonardobojf.com (22-1215). Sintomático o trecho que abaixo reproduzimos.

*

*

*

"O Brasil é o país que abriga o maior rebanho católico do mundo. Entre eles está João Pedro Stédile, dirigente do Movimento dos Sem Terra. E le é primo de Dom Orlando Dotti, bispo de Vacaria, no Rio Grande do Sul, e de vários frades capuchinhos. Os primos párocos marcaram a sua formação franciscana, que considera 'mais atual do que nunca'. "Stédile sustenta que o líder religioso da hora, o papa Francisco, 'tem um comportamento revolucionário'. O pontífice, disse ele no intervalo de uma peregrinação pelo interior paulista, 'teve uma experiência política no peronismo, é um nacionalista que defende os pobres e é contra o abuso do capital'. "Para ele [Stédile], a encíclica papal sobre o meio ambiente 'é uma obra histórica maior do que dez COP2 l , a conferência da ONU sobre o clima, que não serviu para nada'. "O MST se atualizou na teoria e na prática nos últimos anos. O movimento, diz Stédi le, é contra a 'reforma agrária burra' , que só se

preocupa com a divisão dos latifúndios. Advoga que a agricu ltma produza alimentos saudáveis para o povo, em vez de exportar commodi ties. Prega a ' agroecologia' , técnicas de cultivo que não vitimem a natureza. "Ele também se insurgiu contra o machismo, disseminado no meio rural, inclusive no MST. O movimento conseguiu que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, passasse a entregar títulos de propriedade a casais de sem-terra gays." *

*

*

O realce de Stédi le lhe vem do apoio que recebe da esquerda católica e de certas tubas midiáticas. Ora, que pessoas e movimentos que se dizem católicos, se obstinem em propagandear e patrocinar tal homem e tal movimento, quando este último visivelmente já declina, põe em evidência quão perniciosa tem sido para o Brasil a atuação da corrente denominada "esquerda católica" . E a utilização para tão funesta empresa do sagrado nome de "católico" só pode provocar lágrimas em Nossa Senhora. ❖

catolicismo@terra.com.br / FEVEREIRO 201 6

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CARTAS DOS LEITORES ..............................................................

que observar o monte de lixo retratado na foto pensará que é um monte de lixo abandonado por bagunceiros drogados. Excelente a providência tomada pela faxineira.

IN MEMORIAM

Ela merece um elogio!

(M.H.-RJ)

Libertação do Cel. Plazas

de ser Lumen Gentium (Luz das Gentes) e se perca no

Estou convencido de que as orações e velas acesas ao Altíssimo foram definitivas a fim de inclinar as decisões dos magistrados da Corte Suprema de meu país a meu favor. [Após permanecer oito anos preso em uma insta-

emaranhado dos modismos intelectuais do mundo contemporâneo, esquecendo-se de sacralizar a sociedade

lação militar da capital colombiana, acusado por falsos testemunhos de crimes que não cometeu, foi finalmente libertado no último dia 17 de dezembro o Coronel Luís Alfonso Plazas Vega . Vide entrevista a Catolicismo, edição de janeiro/2013). Muito importantes foram os artigos de imprensa, nos quais eu pude me defender, porque no julgamento não me foi concedida a palavra para fazê-lo. Foi amplamente difundida a entrevista com Hélio Dias Viana para a revista Catolicismo, que me ajudou a espalhar pelo mundo a injustiça à qual fui submetido. Envio-lhes um grande abraço, um Feliz Natal e um 2016 cheio de sucesso.

(LAPV -

Bogotá)

civil.

(M.P.F.A. -

GO)

(R.R.S. - RJ)

Perplexidades Desde a posse do Papa Francisco tenho lido notícias sobre atitudes contraditórias do Sumo Pontífice. Seria ele um reformador da Igreja? Reuniões com comunistas e "Movimentos Sociais", sua preocupação política com Cuba, o ridículo episódio na Bolívia ao receber uma estátua de Cristo crucificado numa foice e num martelo etc.; agora essa invasão de "ecumenismo panteísta" em Roma. Confesso que tudo isso tem gerado confusão na minha cabeça. Ele conta com o apoio da maioria dos cardeais, bispos, padres e fiéis para fazer isso? Seria ele um iluminado? Vamos assistir impassíveis a essa inexorável transformação da Igreja?

(M.F.- IU)

Ano para ser esquecido? Todos os anos espero a análise retrospectiva do ano anterior, que esta revista publica anualmente em janeiro. O retrospecto de 2015, de autoria de Luis Dufaur, deu uma súmula que me impressionou muito. "Um ano para ser esquecido", como muitos dizem. Mas, na minha opinião, não podemos esquecer tantos desacertos, cometidos principalmente por autoridades civis e religiosas que incrementaram o caos nas nações e na Igreja. A somatória de tantas pequenas guerras, guerrilhas, confrontos, atentados terroristas, ecoterrorismo, recessões etc. que aconteceram em 2015, realmente corresponde ao estrago de uma Ili Guerra Mundial. Por comodidade, também eu seria propenso a esquecer tantos horrores; entretanto, precisamos ver de frente os erros, para agir e impedir

"O tempora, o mores!", diz o provérbio latino. A cada dia

Entristece sobretudo constatar que, justamente a Igreja Mãe e Mestra por vocação, se distancie tanto da missão

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CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

(li.D. V. - Buen~s Aires) Para evitar a desonra Parabéns ao Instituto Plínio Corrêa de Oliveira! Nós Homens de Honra (Honestidade, Hombridade e outros adjetivos que comportem o "H" maiúsculo), estamos de ALERTA e esperamos que os Poderes Judiciário e Legislativo tomem as devidas providências. O PT já deveria ter sido extinto quando o deputado Roberto Jefferson fez a denúncia do mensalão.

BA)

Não abuseis da misericórdia!

revolta contra o modo sapiencial com o qual Deus criou

"Convertei-vos às minhas admoestações, espalharei sobre vós o meu espírito, ensinar-vos-ei minhas palavras. Uma vez que recusastes o meu chamado e ninguém prestou atenção quando estendi a mão; uma vez que negligenciastes todos os meus conselhos e não destes ouvidos às minhas admoestações, também eu me rirei do vosso infortúnio e zombarei, quando vos sobrevier um terror. Quando vier sobre vós um pânico, como furacão; quando se abater sobre vós a calamidade, como a tempestade; e quando caírem sobre vós tribulação e angústia. Então me chamarão [os ímpios], mas não responderei; procurar-me-ão, mas não atenderei. Porque detestam a ciência sem lhe antepor o temor do Senhor, porque repelem meus conselhos com desprezo às minhas exortações; comerão do fruto dos seus erros e se saciarão com seus planos, porque a apostasia dos tolos os mata e o desleixo dos insensatos os perde. Aquele que me escuta, porém, habitará com segurança, viverá tranquilo sem recear dano algum" (Provérbios, 1, 23-30).

o homem.

(N.R.F. -

MS)

Ótimo artigo [de Gregorio Vivanco Lopes, "Fazendo girar

ficamos estarrecidos com o desvanescimento da lucidez, da temperança e da sabedoria na civilização ocidental.

histórica de Plinio Corrêa de Oliveira .

de animais protestariam veementemente contra essa desfiguração da natureza caprina. O segundo exemplo

em 2016? Que Deus nos ajude!

"Oh tempos, oh costumes!"

Peçamos a Nossa Senhora, Medianeira Universal de todas as graças, o cumprimento o quanto antes da missão

Os dois exemplos [descritos no artigo "Deus os entregou aos desejos dos seus corações", edição de dezembro/2015] aberrantes são sintomas de revolta. O primeiro revela uma revolta contra a natureza humana, superior a todas as outras criaturas. Se se levasse um bode a tomar hábitos humanos, sociedades proteto ras

Revolução cultural

SP)

Missão

(J.G.F.L. -

Contra a natureza

o alastramento deles neste novo ano. O que nos espera

(A.A.K. -

Lugar de lixo é no lixo Todo o meu apoio para a faxineira do Museu que expôs como "arte" um monte de lixo. Lugar do LIXO (Inversão de Valores) é a lixeira. Legado comunista.

Jeremiah B. WeUs, membro da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Familia e Propriedade (TFP), faleceu aos 81 anos, no dia 11 de janeiro, na sede da entidade em Spring Grove (Pensilvânia - EUA). Graduado pelo Boston College High Schoo.l, i.ngressou em 1977 na TFP, na qual se dedicou como escritor, conferencista, bibliotecário e, principalmente, como professor de História. Além dessa matéria, ensinou também Apologética católica a jovens estudantes, tendo com suas preleções beneficiado a formação moral de centenas deles. Jeremiah Wells era um católico fervoroso. Grande devoto de Nossa Senhora, rezava diariamente o Rosário e o Pequeno Oficio da Santíssima Virgem. Ardoroso defensor da honra, tinha um espírito cavalheiresco impregnado por forte caráter.

as cabeças infantis"]. Os comunistas não desistem, sempre querem "fazer a cabeça" das pessoas. Mas não lograrão êxito, porque o povo brasileiro nao está dormindo e eles querem implementar id eias que estão na contramão da lógica. Também sobre a notícia [publicada na ed ição de deze mbro/2015, sob o título "Faxineira vê 'obra de arte contemporânea' em museu e 'faz li mpeza"' ) gostaria de comentar: Qualquer pessoa sensata

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PALAVRA DO SACERDOTE

Pergunta Monsenhor José Luiz Villac: Existe algum problema moral no fato de mulheres jogarem futebol? Haveria um critério mais ou menos certo para discernir quais são os esportes mais adequados para serem praticados pelo público feminino? Respeitosamente. Resposta - No ano passado, alguns dos nossos leitores engajaram-se a fundo no combate contra a imposição da Ideologia de Gênero nos programas estaduais ou municipais de educação. E os demais certamente acompanharam muito de perto o debate, por tratar-se de um assunto capital para a educação das crianças de acordo com os princípios cristãos e a própria ordem da natureza. Por isso, a pergunta de nossa missivista é de grande atualidade e ajuda a responder à seguinte questão: como foi possível chegar à negaçao de algo tão evidente e fundamental como a ,diferença entre os sexos? E a resposta é que, já há muitas décadas, cc;nneçaram a ser aceitas pela sociedade a prá1 tica de atividades e a confusão, de modos de ser e de apresentar-se que iam eliminando gradualmente essa diferença, conduzindo até ao estilo " unissex" no corte de cabelo, has roupas, no linguajar, no ~omportamento, na vida profissional etc. Ora, tal indiferenciação dos sexos é totalmente oposta ao plan;o de Deus para a humanidade. 'Lemds no Gênesis: "Então Deus disse: Fpçamos o homem à nossa imagem e semelhança. [... ] Deus criou o homem à sua imagem; criou-o ,à imag,em de Deus, criou o homem e a 11"lu8

Monsenhor José Luiz Villac lher" (Gn 1, 26-27). Nessa passagem da Bíblia, a humanidade é descrita como sendo articulada, a partir de seu ponto de partida, pela relação entre o masculino e o feminino. Meditando mais tarde sobre a união entre o homem e a mulher descrita no relato da criação do mundo, o Apóstolo São Paulo exclamou: "Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja" (Ef 5, 32).

própria vida e a dos que a rodeiam. Foi essa, em boa medida, a vocação de Nossa Senhora, ao mesmo tempo Virgem e Mãe de Deus e de todos nós.

conduz até o lugar do descanso na esperança da ressurreição final. No curso da vida, a Igreja consola, dá sustento e, sobretudo, educa cada filho para que siga o caminho que lhe proporciona a verdadeira felicidade. É nessas tarefas que o chamado "gênio feminino" encontra toda sua dignidade e seu significado. A mulher colhe esses elementos, combina-os segundo seus talentos e as circunstâncias concretas da vida. E, conforme a vocação que Deus lhe deu, seja no seio da família ou no seio da Igreja como virgem consagrada, perfuma com o encanto e as virtudes femininas a

Uma revolução feminista e igualitária

Infelizmente, no curso do século XX, a corrente antinatural do chamado "feminismo" convenceu uma paiie considerável das mulheres de que sua feminilidade era sinônimo de fraqueza e de uma inferioridade envergonhada em-relação ao homem. Estas começaram então a olhar com desprezo certas virtudes - como a paciência, a abnegação e a ternura - e quiseram igua-

P. l.M.

Dois pôsteres que revelam a mudança de mentalidade e de indumentária na prática do esqui. O mesmo se deu, de certa forma, em Inúmeras outras práticas esportivas.

O supremo exemplo da Santíssima Virgem

De fato, a maior diferença da mulher em relação ao homem, que a coloca numa situação muito especial na sociedade, consiste precisamente em que ela é chamada a representar, no plano natural, aq uilo que a Igreja realiza no plano sobrenatural: acolhe novos membros e os purifica nas águas do Batismo, ali menta-os com o banquete eucarístico, reconci lia-os com Deus no confessionário, remedeia suas feridas com os santos óleos e, finalm cnlc, os

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lar-se aos homens em tudo, por vezes até mesmo no uso de um linguajar vulgar, para mostrar ao sexo "forte" que elas não eram frágeis e delicadas "bonecas". O feminismo provocou uma "guerra dos sexos" totalmente artificial, e as mulheres que caíram nas suas redes venderam sua grandeza e sua dignidade específicas por um "prato de lentilhas", fechando os olhos para o fato de que Deus criou homens e mulheres, ambos portadores da mesma dignidade humana, mas diferentes e complementares. Componente fundamental da personalidade

As nefastas consequências dessa evolução foram denunciadas em 2004 pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, em um documento da Congregação para a Doutrina da Fé intitulado "Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo". Após assinalar que, na abordagem do tema da mulher, delinearam-se no século XX duas tendências opostas - uma que leva a uma rivalidade entre os sexos e outra que tende a eliminar as suas diferenças, considerando-as a assim chamada Ideologia do Gênero simples efeitos de um condicionamento hi stórico-cultural - , a carta da Congregação afirma que esse "obscurecimento da diferença ou dualidade dos sexos é prenhe de enormes consequên-

cias em diversos níveis". O primeiro deles é nada menos que "o questionamento da familia, por sua indo/e natural biparenta!, ou seja, composta de pai e de mãe", o que favorece "a equiparação da homossexualidade à heterossexualidade", assim como o aparecimento de "um novo modelo de sexualidade polimórfica". "De acordo com tal perspectiva antropológica - prossegue a Carta - a natureza humana não teria em si mesma características que se imporiam de forma absoluta: cada pessoa poderia e deveria modelar-se a seu gosto, uma vez que estaria livre de toda a predeterminação ligada à sua constituição essencial ". Em contraposição à Ideologia do Gênero, o Cardeal Ratzinger reafirma alguns dados essenciais da antropologia bíblica, a começar pelo fato de que "a igual dignidade das pessoas realiza-se como complementaridade jisica, psicológica e ontológica", de onde a importância e o sentido da diferença dos sexos: "A sexualidade caracteriza o homem e a mulhe,~ não apenas no plano flsico, mas também no psicológico e espiritual, marcando todas as suas expressões". Em vista disso não se pode reduzir a sexualidade a puro e insignificante dado biológico, mas é "um componente fimdamental da personalidade, uma sua maneira de ser, de se man{festar, de se comunicar com os outros, de sentir, exprimir e viver o amor humano". Em contraposição ao homem, "a mulher conserva a intuição profimda de que o melhor da sua vida é feito de atividades orientadas para

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o despertar do outro, para o seu crescimento, a sua proteção. Uma tal intuição é ligada à sua capacidade fis ica de dar a vida. Vivida ou potencial, essa capacidade é uma realidade que estrutura em profandidade a personalidade.feminina. [... ] Embora a maternidade seja um elemento-chave da identidade feminina [...] a existência da vocação cristã à virgindade [... ] nega de forma radical toda a pretensão de fechar as mulheres num destino que seria simplesmente biológico", posto que "a maternidade pode encontrar formas de realização plena também onde não há geração.flsica". Influência dos trajes masculinos e femin inos

É nessa perspectiva que "compreende-se o papel insubstituível da mulher em todos os aspectos da vida familiar e social que envolvam relações humanas e o cuidado do outro", e quanto a lu ta dos sexos ou sua indiferenciação não passa de uma il usão e provoca graves consequências para a própria mulher e para a sociedade. Com acu idade e coragem, o então Arcebispo de Gênova e Presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal Giuseppe Siri, já havia descrito antecipadamente, em 1960, o devastador efeito que decorreria da generalização do uso de trajes mascu linos pelas mu lheres, e por que mecanismo se favoreceria a aceitação dessa nova moda: "O motivo que leva [as mulheres] a portar roupas masculinas é sempre o da imitação e da concorrência em relação àquele que é considerado mais forte, mais desenvolto e mais independente. Esse

motivo man[festa claramente que a roupa masculina é um auxilio sensível para criar o hábito mental de ser 'como um homem '. Em segundo lugar, desde que o mundo é mundo, a vestimenta exige, impõe e condiciona gestos, comportamentos e um certo porte, e consegue impor do exterior uma determinada estrutura psicológica. Não se exclua portanto que a roupa masculina vestida pela mulher esconda mais ou menos uma continua reação contra aquela feminilidade que a ela parece inferioridade e é somente diversidade. A contaminação da estrutura psicológica tornase patente" ("A proposito dei costume maschi le della donna", 12-6-1960). A mesma contaminação ficou evidente em outros terrenos, como a vida profissional,

chegando até a aberrações como, em nome da igualdade entre os sexos, certos exércitos ocidentais colocarem mulheres na linha de frente da guerra. O precedente de Santa Joana d' Are não serve para j ustificar essa aberração, precisamente pela excepcionalidade de sua vocação e pelo fato de que, nos combates, ela nunca empunhou armas, mas apenas portava o estandarte e encorajava os guerreiros. O veto do Papa Pio XII e de seu predecessor

Descendo ao problema dos esportes, evocado pela miss ivista, cumpre destacar, em primeiro lugar, tratar-se de uma atividade que ''praticada com moderação e consciência, fortifica o corpo, torna-o são, fresco e robusto"; favorece "o acostumar-se à fadiga, a resistência à dor, os hábitos de con-

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tinência e de severa temperança" com vistas à vitória, podendo ser

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"um antidoto eficaz contra a moleza e a vida fácil", segundo o parecer que deles fez o papa Pio XU, num discurso aos esportistas em 1945. O esporte não é, porém, isento de perigos. Segundo o mesmo Pontífice, o primeiro é o da divinização do corpo e uma concepção materia1ista da vida, que contrariam o fato de que a primazia no composto humano cabe ao espírito, à alma espiritual. O segundo perigo, de acordo com Pio XII, é que embora existam esportes que concorrem para refrear os instintos, outros há que os despertam, "seja pela força violenta, seja pelas seduções da sen-

sua/idade". A lém do que, afirma o Papa, "há no esporte e na ginástica, nos exercícios rítmicos e na dança, um certo desnudamento que não é nem necessário nem conveniente". E o Papa conclui de modo peremptório: "A uma tal maneira de praticar a ginástica e o esporte, o sentido religioso e moral opõe seu veto" (Discurso aos professores de Educação Física, 8- 11-1952). Foi por isso que, no pontificado de seu predecessor, o Papa Pio XI, a Sagrada Congregação do Concílio (12-11930) recomendou "que os pais proíbam a suas filhas a participação em exercícios públicos e concursos ginásticas, e que se suas filhas .forem forçadas a tal participação, velem eles por que elas trajem de modo que respeite a decência, e não tolerem jamais os trajes imorais". *

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*

Acreditamos que, com os sábios ensinamentos citados acima sobre a alteridade entre o homem e a mulher e os perigos envo lvidos no esporte, nossa consulente e nossos leitores em geral terão os elementos necessários para discernir quais deles são mais adequados para serem praticados pelo público feminino e quais sejam as imposições de discrição e decoro de que seu exercício deve revestir-se para não atentar contra a sua própria finalidade de fortalecer as almas das esportistas e proporcionar aos assistentes uma distração moralmente sã. ❖

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China não desiste do controle totalitário dos nascimentos

Uma estranha e forte nostalgia da União Soviética

O Partido Comunista chinês pôs fim à "política do filho único", aplicada durante 35 anos e cujos danos se farão sentir durante décadas. Em 2012, essa política, cujo slogan oficial era "mais va le ter rios de sangue do que nascimentos em excesso", obrigou 6,7 milhões de mulheres a abortar. Centenas de milhões de homens e mulheres sofreram esteri lização forçada e hoje faltam trabalhadores nas fábricas. O desequilíbrio entre sexos provoca compra e venda de mulheres, sodomia etc. Na nova política, o controle continua: o limite máximo são duas crianças por casal, mas este deverá pagar propinas aos chefes comu nistas locais para concebe r cada filho. No Ocid ente, arautos do socialismo e do ambientalismo promovem malfadadas políticas abortistas e antinatalistas que nos aproximam do "modelo" chinês e atraem o castigo divino .

Nossa Senhora do Olvido, Triunfo e Misericórdias

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banidos em cidades italianas No último Natal, o Pe. Marco Oneta, pároco de San Biaggio, em Monza, cancelou a Missa numa reputada esco la católica, para não chocar os estudantes muçulmanos. Os rapazes islâmicos iam à igreja e não se molestavam com a presença de crucifixos nas salas de aulas. Entretanto, o pároco alegou agir em sintonia com a pastoral promovida pe lo Papa Francisco. Em Pádua, a cidade de Santo Antônio, o bispo pediu que não se montassem presépios, invocando também o Papa Francisco. O presidente da Região Vêneta, contudo, _criticou a injustiça da norma . E até o líder islâm ico dessa região , o imã Kamel Layachi, ju lgou-a absurda, dizendo: "Cristãos, defendei o presépio!" E acrescentou : "Quem proíbe ou bane o presépio das escolas, ou está animado por um espírito laicista ou por uma atitude ateia ".

. Exorcismos em larga escala 1 em toda a Polônia

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Na católica Polônia, a preocupação dos fiéis com a influência demoníaca ocasionou uma onda de exorcismos. Sessões de exorc ismo em larga esca la atraem mais pessoas do que jogos de futebol. Segundo o Pe. Grzegorz Bacik, assistente para o exorcismo na arquidiocese de Cracóvia e autor de vários livros sobre a ação do preternatura l no mundo moderno, cada diocese possui em média três exo rcistas. A revista mensal "Exorc ismo", que é a primeira da Europa consagrada ao tem a, trip licou sua tiragem em três anos, chegando a 40 mil exemp lares. Segundo ela, "as pessoas começaram a procurar mais o exorcismo porque são, de modo crescente, vítimas do dem ônio".

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"Cibercrime": sério problema para as nações "O cibercrime pode paralisar um país inteiro ", alertou Marc Goodman , especialista nesse novo tipo de crime, que trabalha para o FBI , a NATO e a lnterpol. "Nos velhos tempos o crime era praticado com facas e pistolas. Mas hoje o crime progrid e com a tecno logia. No ano passado, no hackeo da Sony, mais de 100 milhões de p ssoas foram roubadas ao mesmo tempo. Colocar todos os aspectos da vida na depend ência da informática está nos tornando vulneráveis . Podem-se piratear desde o sistema de se máforos de uma cidade até as centrais elétricas", acrescentou. Porém, "os governos e as empresas não estão aplicando os meios sufic ientes para nos proteger dos riscos qu se avizinham . A AI Qaeda e o Estado Islâmico estão recrutando especialistas inform ático ", adve rtiu Goodman .

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Sua imagem - encontrada milagrosamente em 1831, após uma aparição à célebre Sóror Patrocinio, falecida com fama de grande santidade - está sendo exposta à veneração púb lica em Madri, Espan ha, no mostei ro das Irmãs Concepcionistas franciscanas (da mesma Ordem das religiosas do Mosteiro da Luz de São Pau lo). Nessa aparição, ocorrida em 1831 e aprovada pe lo Papa Gregório XVI , Sóror Patrocinio observou uma imensa batalha futura entre o cato licismo e se us ini migos. Ambos os lados eram representados por leões. O leão catól ico exibia uma cruz na testa, e o outro leão se transformou em dado momento numa cobra. O leão catól ico parecia já desfa lecer, quando a Senhora do Olvido, Triunfo e Misericórdias colocou o Menino Jesus sobre a sua cabeça, e então ele obteve a vitória.

Stalin foi um dos maiores criminosos da História: 20 milhões de assassinatos nu_m cômputo minimalista, escreveu o catedrático espanhol de filosofia Gabriel Albiac Lópiz, da Universidade Complutense de Madri. Acrescentou ainda que a sinistra sombra do assassino de massa está voltando, encarnada no atual chefe do Kremlin, Vladimir Putin . A escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévich, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015, está espantada com "uma forte nostalgia da União Soviética que foi se espa lhando por toda a sociedade. O culto de Stalin voltou ... O partido no poder é uma cópia do Partido Comunista de outrora. Hoje o presidente Putin 1 usufrui de um poder semelhante ao dos secretários gerais do Partido nos tempos soviéticos, um poder absoluto ", ava liou a literata bielorrussa. l!!lll!IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIHlllltlllllllllllllllllllllt!llllllllllltllllllllllllll!llllllllltlllllllllllllllllll!IIIIIIIIIHllllllllllllllll1111ttllll!!lllllllllll1111111111111111!11111!111t!llllllll!llllllllllllllllllllllllllllllllllll!lllllilllllllllllllllllllllllttlltltlllllltllllllllllllltll!lltlltlllllllttltll

Em referendo, Eslovênia repele o "casamento" homossexual Em dezembro de 2015, a Eslovênia rejeitou em referendo a lei que permitia o "casamento " entre homossexuais. A consulta foi um a iniciativa popular, tendo os eleitores abolido es,sa legislação que havia sido aprovada pelos deputados dez meses antes. A maioria ven cedora obteve 63,12% dos votos. O referendo pôde ser realizado graças às 40 mil assinaturas alcançadas pelos grupos pró-vida e tem poder de veto. A Eslovênia pertence à União Europeia e é considerada a mais liberal dentre as antigas nações do Leste europeu, satélites da ex-URSS. Essa lei anti natural, recusada na Eslovên ia, pressagia rejeições análogas nos demais países eslavos libertados da t iran ia soviética. catolicismo@terra.com.br / FEVEREIRO 2016

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ENTREVISTA

Ataques sexuais contra mulheres na virada do ano na Alemanha Acolhidos como refugiados e provenientes sobretudo de países de religião muçulmana, grupos organizaram ataques sexuais na Alemanha na noite de 31 de dezembro último. Casos análogos ocorreram em outros países europeus.

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S

egundo testemunhas, "homens de origem árabe" avançavam sobre mulheres em grupos coordenados e praticavam atos libidinosos, inclusive estupros. Somente na cidade de Colônia,

até meados de janeiro último, cerca de 500 vítimas registraram queixas-crime. Um dos relatos descreve os ataques como um "taharrush gamea" - que em árabe significa assédio sexual em multidões - e os compara aos ocorridos na Praça Tahir, no Cairo, durante as revoltas no Egito anos atrás. Alguns movimentos responsabilizaram o governo alemão, afirmando que o vandalismo na virada do ano é resultado da avalanche produzida pelos mais de 1,1 milhão de imigrantes que entraram pelas fronteiras da Alemanha só no ano passado. Eles estão_tirando proveito da política de "portas abertas" adotada pela chanceler Angela Merkel, que vem sendo duramente criticada por permitir a indiscriminada onda imigratória no país e atuar junto a seus pares da União Europeia para que também abram "generosamente" suas fronteiras. Cabe a pergunta : as guerras e as convulsões que

':4' medida que aumentavam as denúncias de mulheres molestadas pelos muçulmanos, tornava-se cada vez mais claro que a passagem de ano foi um verdadeiro caos''

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estão na origem do êxodo maciço para a Europa não seriam concebidas com vistas exatamente a provocá-lo? Sobre esse evento e sua ampliação, Gideon Machman, redator-chefe da seção internacional do "Financial Times" (13-1-16), chegou a afirmar que o êxodo "é inelutável e levará ao fim da civilização europeia", ou seja, à sua deterioração e tão ansiada dominação por muçulmanos que não toleram a civilização cristã. Essas e outras questões são abordadas nesta entrevista, concedida por Mathias von Gersdorff ao colaborador de Catolicismo Paulo Roberto Campos. Von Gersdorff é presidente da Sociedade Alemã de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP). Estudou Economia nas Universidades de Heidelberg e Bonn (Alemanha), graduando-se nesta última em 1989. Trabalhou depois no mundo financeiro europeu. Desde 1990 atua no movimento Pro-Life e é colaborador assíduo da campanha SOS LEBEN (SOS VIDA), uma iniciativa da Deutsche Vereinigung für eine Christliche Kultur - DVCK (Associação Alemã por uma Civilização Cristã). Dirige a campanha Kinder im Gefahr (Crianças em Perigo), da DVCK, desde sua fundação em 1993. Escreveu diversos livros ,sobre meios de comunicação social e direito à vida, entre os quais figu-

Catolicismo - A imprensa brasileira concedeu pouca divulgação aos distúrbios provocados pelos muçulmanos contra mulheres na Alemanha - uma espécie de "arrastão sexual" - na noite da comemoração do Ano Novo, sobretudo na cidade de Colônia. E a mídia europeia em geral demorou alguns dias para divulgar os fatos. Qual sua opinião sobre tal demora?

':4.s agressões não se circunscreveram a Colônia, mas abrangeram outras grandes cidades alemãs como Frankfurt, Stuttgart e Hamburgo, além de Helsinki, na Finlândia" ram Satanismus, Horror und Gewaltverherrlichung in den Medien (Satanismo, terror e violência nos meios de comunicação social) e Was ist Horror? (0 que é Terror?). Sua última obra, Begegnung mit Plinio Corrêa de Oliveira - Katholischer Streiter in stuermischer Zeit (Encontro com Plinio Corrêa de Oliveira - Paladino católico em uma época tempestuosa) - lançado em Frankfurt no ano passado - recebeu encômios de diversas autoridades, inclusive do Cardeal Raymond Burke. Von Gersdorff é também jornalista e conferencista, colaborando em diversas publicações e pronunciando palestras sobre temas relacionados com Revolução Cultural e a questão islâmica na Europa.

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Mathias von Gersdorff -

Na Alemanha, há vários meses que o tema da imigração domina completamente a discussão pública e a cobertura informativa. Escrevo há muitos anos sobre temas de mídia e não me lembro de um que tenha sido tão onipresente durante tanto tempo quanto o da imigração. Vê-se que para os alemães se trata de um assunto existencial com muitos desdobramentos.. A opinião pública está se polarizando cada vez mais e com isso o debate público tornou-se mais irritadiço, diretamente agressivo. Existe uma desconfiança generalizada nas elites políticas e midiáticas. O caso de Colônia ocorreu neste quadro e por isso teve o impacto de um tsunami. Foi um verdadeiro terremoto. Contribuiu para isso o fato de a polícia da cidade ter manifestado muita incompetência ao enfrentar as violências e as agressões, que tiveram início no último dia do ano, por volta das 18:30hs, ou seja, muito cedo. .Como se isso não bastasse, a política de comunicação não poderia ter sido pior: em 1º de janeiro foi emitido um comunicado de imprensa afirmando que tudo esteve tranquilo e em ordem. Absmdo, pois, como hoje se sabe, já na noite de 31 de dezembro a pocatolicismo@terra.com.br / FEVEREIRO 2016

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lícia - que estava no perímetro em frente da estação central de Colônia - so licitou mais ajuda, que lhe foi negada. À medida que aumentavam as denúncias de mulheres molestadas pelos muçulmanos, tornava-se cada

droga nesse país. Mas, em todo caso, é sintomático que alguém naA lemanJiajulgue que no Méx ico se está mai s seguro do que em so lo pátrio ... · Catolicismo - A Alemanha, assim como os demais países da União Europeia, estão preparados para enfrentar essas e outras ofensivas dos fundamentalistas islâmicos?

"No próprio dia 31

de dezembro último houve uma ameaça de bomba na estação central de Munique, obrigando todos os trens a se desviarem. Tarefa nada fácil" (:Al..-....:.JI ~ D,J

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vez mais c laro que a passagem de ano foi um verdadeiro caos. Somente no dia 4 de janeiro os jornais - tão pressurosos em publicar as novidades - começaram a noti ciar os fatos. Depoi s disso, a polícia passou a fornecer relatórios mais detalhados. Pois bem, todo esse conjunto de fatos provocou uma verdadeira cólera na população, mudando substanci almente a partir de então o clima político e social na Alemanha. Nunca constatei uma polarização tão profunda. Catolicismo - O senhor crê que a agressão sexual conjunta a mulheres no último réveillon foi algo espontâneo, ou previamente organizado?

Mathias von Gersdorff - Para mim, foi organizado, pois só em Colônia os praticantes desses atos infames chegava m a mais de mil. É difícil imaginar que não tenha havido certo grau de organização prévia. Além disso, as agressões não se circunscreveram a Colônia, mas abrangeram outras grandes cidades alemãs como Frankfurt, Stuttgart e Hamburgo, além de Helsinki, na F inlândia. Mas o maior número de agressões teve lugar em Colônia, onde já foram apresentadas à polícia cerca de 500 denú ncias! Catolicismo - Qual foi a atitude das autoridades de modo geral em face dessas centenas de violências, inclusive abusos sexuais?

Mathias von Gersdorff-A polícia mostrou-se completamente incapaz de enfrentar a situação, pois a partir da s 18 horas esse grupo - na sua maiori a muçul manos do norte da África ou do mundo árabe - começou a lançar petardos e foguetes contra a famosa catedral de Colônia, perturbando ass im a celebração da Missa de Ano Novo.

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/óÍ~I ~ Sexuel/e Belastigun

gegen Frauen

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Catolicismo - Que tipo de reação a essas graves agressões ocasionou na opinião pública germânica e no movimento feminista?

Mathias von Gersdorff - A cólera fo i tão grande, que praticamente todos os partidos, inclusive a esquerda poscomunista, estão pedindo medidas de segurança mais severas. O secretário-geral da Democracia Cristã chegou até a ex igir a expulsão de mil refugiados por dia! O movimento feminista assumiu uma posição defens iva, pois def~nde uma ideia completamente " ingênua" da sociedade multicultural. Suas líderes procuraram relativizar as agressões, argumentando que não tinham nenhuma re lação com a descomunal maré de imigração que se vem verificando na Alemanha nos últimos 12 meses. Convém observar que o feminismo no país está dividido a respeito do tema Islã. Enquanto um setor majoritário nega que o Islã propriamente dito tenha algo a ver com esses acontecimentos, outro setor, também de esquerda, o afirma. Desse segundo femi ni smo participam numerosas mulheres do mundo islâmico. Uma das mais conhecidas é Nekla Kelek, que ao longo dos anos vem chamando a atenção sobre a crescente radica lização islâmica. De origem turca, em seu livro Die verkaujie Bratu (A noiva vendida) ela de creve a rápida islami zação que ocorre na Turquia.

Catolicismo - É possível que os imigrantes muçulmanos passem a cometer ataques ainda mais violentos no território alemão? E como se imagina que seriam tais agressões?

Mathias von Gersdorff - Esse é o parecer até da Agência de inteligência. Esta agência governamental afi rm a que a situação de segurança na Alemanha é muito mais grave do que em setembro de 200 l, por ocasião do ate ntado às "Torres Gêmeas" de Nova York. Em abono do que afirma à Agência de Inteligência, acrescento algumas observações: N o próprio dia 3 1 de deze mbro último houve uma ameaça de bomba na estação central de Munique, obrigando todos os trens a se desviarem. Tarefa nada fácil, pois pela referida estação passam todos os comboios provenientes do su l ou do sudeste da Europa com destino ao norte ou ao ocidente. Hoje fo i cancelada a marcha de ca rnaval em Wesel, uma das cidades mai s carnavalescas da Alemanha. A presença da polícia nas ruas aumentou muito, devendo seu efetivo ser ampliado pelo recrutamento de novos policiais. Conversando ontem com uma senhora, ela se mani festo u contente porque uma de suas filhas fo i trabalhar por algu ns meses no Méxi~o! Imaginem. Pode ser que e la não esteja informada sobre a guerra contra a

Mathias von Gersdorff-Se o desejassem, poderiam estar preparados. Mas eles devem decidir enfrentar seriamente essa ameaça. E é nesse ponto que res ide a dificuldade, poi s _o Ocidente encontra-se numa profunda crise de identidade. Basta pensar na grotesca Ideologia de Gênero, que está penetrando nos colégios, nas universidades, nos partidos políticos, no Estado. Quem se atreve a defender a ideia de que ex istem somente homens e mulheres, e não um sem-número de "orientações sex uais", tem dificuldade para se defender contra tal barbarismo. Para seus defensores, essas agressões são simplesmente sintomas de decadênc ia que confere a seus autores o direito, a autoridade mora l para perpetrar assédios e atentados terroristas. Mas, voltando à sua pergunta, creio que se a Europa de fato quiser, ela poderá reagir contra tal ameaça. Catolicismo - Em sua opinião, quais s~riam as principais razões para a presente migração maciça de muçulmanos para a Europa?

Mathias von Gersdorff - O mundo islâmico está afundando na guerra e no caos. Derruba-se um governo após outro. A ordem social se desfaz. A economia de ixa de funcionar. Para muitos o me lhor é emi grar. Estes encontram na E uropa países que lhes dão asilo,

.11.te.,, O parti.do de Merkel está mudando

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de atitude e apoiando-a cada vez menos. As eleições regionais mostrarão o nível desse apoio na opinião pública"

apoi os econômi cos consideráveis e, sobretudo, segurança. Catolicismo - Como está sendo vista pela opinião pública a política da chanceler Angela Merkel de abrir livre e generosamente as fronteiras alemãs para essa imigração? catolicismo@terra.com .br / FEVEH EI HO 20 16

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VAlUEDADES

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Mathias von Gersdorff -

A chanceler encontra-se num verdadeiro ape110. Desde setembro de 2015 mês em cujo início ela abriu as fronteiras para 40 mil refugiados que se encontravam na Hungria - Merkel vem repetindo que a Alemanha é capaz de enfrentar esse desafio. Mas até o seu paitido está mudando de atitude e apoiando-a cada vez menos nessa política. No dia 13 de março haverá eleições regionais importantes que mostrarão o nível desse apoio na opinião pública. Para se formar uma ideia do ambiente na Alemanha neste momento, menciono alguns "fatinhos"

"O Ocidente encontra-se numa profunda crise de identidade. Basta pensar na grotesca Ideologia de Gênero, que está penetrando nos colégios, universidades etc." (como se diz no Brasil): três juízes constitucionais, dois dos quais muito famosos (Hans Jürgen Papier, antigo presidente da Coite Suprema e Udo Di Fabio) afirmam que a política de Angela Merkel é inconstitucional; em vários estados as pessoas estão se armando e formando milícias; um prefeito encaminhou os refugiados de sua cidade para a chancelaria em Berlim ;

os bispos, cuja opinião é de que se deve receber todo mundo, estão cada vez mais calados; Sarah Wagenknecht, uma comunista, está utilizando uma retórica de ultradireita. "Patinhos" análogos poderiam ser contados durante horas. Isso não significa que a esquerda multicultural não procure desviar a discussão. Mas atualmente ela está numa posição bastante defensiva. Catolicismo - Sendo a religião, a cultura e os costumes dos povos islâmicos tão diferentes daqueles vigentes nos povos europeus, o senhor crê que os imigrantes se adaptariam ao modo de vida da civilização ocidental e cristã?

Resistências à islamização da Europa

Mathias von Gersdorff- Se o senhor levanta o tema da religião, a única resposta é sim, possível é. Com efeito, a Igreja Católica converteu os romanos, os bárbaros, as tribos na América etc. Onde intervém a graça através da Igreja Católica, tudo é possível. Mas onde essa graça não está presente, nada é possível.. . Nosso ponto de referência absoluto nesta situação de crise ex istencial deve ser Nossa Senhora, que prometeu em Fátima a vitória final de seu Imaculado Coração sobre os ini migos da Igreja. É absolutamente necessário ter e a visão sobrenatural das coisas no momento presente, pois, do contrário, se cai no desespero ou se busca m vias malucas como confiar que personagens corno Vl adimir Putin possam nos salvar. ❖

GREGORIO VIVANCO LOPES

A

torre.ncial. onda de migrantes que avassala a Europa, provenientes da Síria, do lraque e de outros países muçulmanos, está produzindo um descontentamento formidável nas populações dos países do Velho Continente. Migrações sempre as houve em todas as épocas, mas para que os migrantes possa m ser bem rece-

bidos e instalados nos países que abordam, é preciso que isso se faça dentro de certas regras de proporcionalidade, adequação ao ambiente, bom convívio etc. Caso contrário, elas são vistas antes como invasões do que como migrações. Acontece que nas atabalhoadas migrações atualmente em curso na E uropa - mais de um milhão de pessoas chegaram por mar em 2015

- essas características têm estado ausentes. Trata-se de modo geral de muçulmanos, que não têm apresentado qualquer desejo ou boa vontade de adaptar-se aos hábitos e costumes europeus, muito menos ao cristianismo. Pelo contrário, frequentemente arrogantes, exigem que se instaLirem e preservem as práticas islâmicas nas escolas, nos hospitais

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e por toda pa1te, inclusive pedindo a construção imediata de mesquitas para seu culto. E até que a cruz e outros sinais cristãos sejam removidos dos locais que eles frequentam, para não se sentirem "ofendidos". Fecham-se sobre si mesmos, formando aglomerações à maneira de guetos, e quando saem para a vida da cidade - farmácias, supermercados, lojas etc. - apresentamse de modo ostentatório e causando mal-estar. Nem mesmo certas autoridades europeias, religiosas e civis, que se esforçam em impor a suas populações a aceitação dessa situação anômala, estão conseguindo êxito. A tentativa de fazer deglutir a migração está provocando, pelo contrário, reações um pouco por toda a Europa. Donde os grandes movimentos de protesto ocorridos em diversos países, como também o crescimento dos partidos que se opõem a essa migração descontrolada, alguns simplesmente de direita, que pregam a ordem contra o caos, e outros até, infeli zmente, de tendência nazi fascista.

tes e re.fitgiados ", diz a reportagem. Os partidos anti-imigração "invadiram o centro da política europ eia, com os eleitores rebelando-se contra anos de governos predominantemente socialistas". Seguem exemplos de sucesso de partidos anti-imigração. • França: O avanço do f ront National, que obteve a maioria dos votos nas últimas eleições. • Áustria: O Partido da Liberdade (FPO) teve grande avanço nas eleições locais, duplicando a sua percentagem de votos para mais de 30%, garantindo 18 lugares na Câmara Alta. • Dinamarca: O Partido Popular (DF) foi tão bem-sucedido nas últimas eleições, que agora tem a chave do equilíbrio de poder e poderia derrubar o governo de coalizão dinamarquês. Ele terminou em segundo lugar nas eleições gerais de junho, após garantir 21 % dos votos e 37 cadeiras no Parlamento. • Finlândia: Conhecido como o

A reportagem do "Daily Express"

Tal panorama foi objeto de uma extensa reportagem publicada no "Daily Express", de Londres, em 26 de dezembro último, sob o título: Mapeamento: chocante marcha da extrema-direita em toda a Europa atinge seu auge, pelo receio da migração. A reportagem é pormenorizada, com abundância de dados concretos e ilustrnda com mapas e fotos. "A tivistas anti-imigração têm desfi-utado de enormes ganhos nas eleições deste ano, enquanto milhares tomaram as ruas para protestar contra o enorme qfiuxo de migran-

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"True Finns", o partido conseguiu uma ascensão meteórica e agora é um fator importante no governo de coalizão da Finlândia. Alemanha: Alternative far Deutschland (AfD) defende em sua campanha: Asilo requer limites. Cartão vermelho para Merice/. Duplicou o apoio recebido desde setembro. Realizou um dos seus maiores comícios em Dresden no mês de outubro, com 20.000 pessoas. Grécia: A última eleição sublinhou a crescente popularidade do Partido Golden Dawn (Aurora Dourada), que alcançou o terceirn lugar. Hungria: O presidente direitista e populista Yiktor Orban construiu uma enorme cerca de 110 milhas ao longo da fronteira com a Sérvia para impedir as migrações. Ainda assim, precisou coligar-se com um partido de extrema-direita para governar. Jtália: O partido Liga Norte garantiu seu melhor resultado em eleições regionais e venceu nas

regiões do Vêneto com uma pro~ porção esmagadora de 50% dos votos. Ele acusa o Papa Francisco de trair os cristãos, promovendo o diálogo com os muçulmanos. • Holanda: O Partido para a Liberdade (PVV) aumentou para níveis recordes este ano, abrindo uma vantagem nas pesquisas de 18 pontos sobre todos os seus rivais. • Suécia: Swedish Democrats (SD) tem recebido um aumento de apoio popular em oito pesquisas de opinião distintas deste ano, que o coloca como o maior partido do país. • Suíça: O Partido Suíço Popular (SVP) garantiu seu melhor resultado na eleição de outubro, obtendo 29,4% dos votos. Episódio simbólico às vésperas do Natal

Um episódio digno de nota deu-se em Ajaccio, capital da ilha da Córsega (administrada pela França), tendo sido fartamente divulgado pela imprensa francesa. Na véspera de Natal, alguns jovens encapuzados, tidos como mu-

çulmanos, forjaram um incêndio para atrair os bombeiros a uma emboscada. Quando estes chegaram, atacaram-nos com barras de ferro, paus e pedras, tentando inclusive apoderar-se do carro de combate ao fogo. Resultado: dois bombeiros e um policial saíram muito feridos. A população da cidade passou da solidariedade aos bombeiros à indignação e aos atos. Invadiu o bairro muçulmano, denomir1ado Jardim do Imperador, num verdadeiro desejo de vingança. Uma sala de orações dos muçulmanos e um restaurante kébab foram vandalizados e saqueados. Aos gritos de "Voltem para casa ... ", os manifestantes lembravam que, em janeiro de 2014, nesse mesmo bairro, a bandeira francesa fora queimada numa escola e substituída por uma do Marrocos. Durante quatro dias os manifestantes cercaram o bairro, sem levar em consideração a interdição decretada pelas autoridades locais. O prefeito de Ajaccio disse existir na ilha, como no continente, o temor de que se trata de "uma tentati-. va de colonização do Ocidente cristão por um islã de combate ".

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Numa situação como a atual , não adianta a ONU e algumas autoridades religiosas ficarem batendo na tecla de "direitos humanos", combate à "islamofobia" e outros jargões do gênero. As populações europeias estão se sentindo por demais assediadas e constrangidas dentro de seu próprio território e em sua vida cotidiana para lhes dar ouvidos. Além disso, aqueles que pensam com mais descortino, e tendo em vista horizontes mais amplos, já avaliam o risco de que uma migração descontrolada venha a desvirtuar os valores ocidentais e cristãos que formaram aquele continente. Tais valores, embora hoje decadentes, ainda constituem o cerne da civilização europeia, regada pelo precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e herdeira de Carlos Magno, de São Luís IX e de São Fernando de Castela. Uma Eurnpa arabizada e islamizada perderia completamente a identidade consigo mesma. É o que muitos sentem e não aceitam. ❖

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INFORMATIVO RURAL Em duas operações realizadas no Mato Grosso do Sul, Maranhão e Piauí, a Polícia Federal desbaratou esquemas de fraudes em aposentadorias que totalizaram R$ 15 milhões. A que mais chamou a atenção dos investigadores foi a denominada Operação Coiote Kaiowá. Para fraudar aposentadorias, os donos de unia financeira do Mato Grosso do Sul traziam índios do Paraguai para receber benefícios como se fossem brasileiros. Nesse caso, o prejuízo para o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) foi de R$ 4 milhões. Na outra ação da PF, desencadeada no Maranhão e Piauí as irregularidades somaram mais R$ 11 milhões. Na Operação Coiote Kaiowá, desencadeada em Amambai e Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul as fraµdes envolviam um casal proprietário de um~ financeira e o ex-chefe de uma aldeia indígena da região. Eles falsificavam certidões de atividade rural da FUNAI (Fl.,lndação Nacional do Índio) e registravam índios paraguaios como se fossem brasileiros ... (Cfr. "Agência Brasil"). 1

o maior polo de produção de casulos do Ocidente. Desde sempre voltada para a exportação do fio, a região tenta agora formar uma verdadeira cadeia produtiva que transforme a seda crua em produto final, com vistas a multiplicar a geração de riquezas. Atividade tipicamente familiar, criar bicho-da-seda requer muita disposição. Tarefa para gente como Nivaldo Vilas Boas Simões, 53 anos, há 29 na atividade. Morador da área rural de Nova Esperança, ele se levanta às 4 horas da madrugada para dar de comer à criação. Antes da primeira luz do dia, ele vai à lavoura colher folhas de amoreira para, em seguida, depositá-las cuidadosamente sobre milhares de lagartas

Paraná fai o meltior fio de seda do mundo

Quadrilha usou índios para fraudar aposentadorias

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Racismo financiado pela Fundação Ford A marcha das mulheres negras em Brasília, no dia 18 de novembro de 2015, foi apresentada pelos grandes canais de comunicação como um grande protesto do movimento negro no País. Mas o que ninguém contou é que a Associação Cultural das Mulheres Negréls recebeu 150 mil dólares da Fundação Ford para fomentar tal protesto. Quem pesquisa a fundo o assunto sabe que o movimento multiculturalista negro (de cunho esquerdista) tem recebido volumosos recursos da Fundação Ford para implantar o multiculturalismo no Brasil. Junto com o aparelhamento estatal conduzido (com status de ministério) pela Secretaria de Igualdade Racial do PT, o dano para a cultura brasileira tem sido enorme. Em seu facebook, Álvaro Mendes registra que já havia demonstrado isso no 2 º Simpósio Conservador e aponta o link com a prova da doação: http://www.fordfoundation.org/ .. .jour-grants/gran .. ./ grants-all ...

Cerca de quatro mil famílias paranaenses criam bichos-da-seda. E eles gostaram do Paraná, pois ali tecem o melhor fio de seda do mundo. Matéria-prima de qualidade não falta. Resultado da combinação de clima propício, décadas de melhoramento genético e_ dedicação dos criadores, o fio com o qual as lagartas tecem o casulo é excelente, conforme atestam grifes como a francesa Hermes, que desde 2006 só utiliza fio brasileiro em seus lenços de seda, vendidos a US$ 600 cada. A maior parte dos proprietários se concentra em 29 muniçípios do Noroeste, no chamado Vale da Seda, . i

Agricultura dobra exportação de soja e milho em seis anos Apesar do governo e da crise generalizada; o volume de milho e da soja (grão e farelo) exportados pelo Brasil atingiu 98,07 milhões de toneladas, conforme balançó de 2015 divulgado pela Secretaria de Co'mércio Exterior (Secex). As exportações das principais commodities da agricultura subiram, portanto, mais um degrau na escalada que vem ga'rantindo lastro ao crescimento contínuo da produção nacional. Espera-se que para 2016 tal cifra ultrapasse a barreira dos 100 milhões de toneladas, seis anos depois de ter rompid a casa de 50 milhões. (Cfr. AgroGP)

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Delegado da PF atesta que CIMI financia invasões Alcídio de Souza Araújo foi categórico em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o CIMI criada na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul para apurar se o órgão é culpado pelas invasões de áreas na região sul do estado. Ele garantiu que houve interferência do CIMI no processo das invasões, e movimentação organizada, com técnicas de guerrilha, da parte dos índios, que empunhavam armas de calibre 22. Alcídio Ar.aújo, que liderou o processo de reintegração de posse da Fazenda Buriti, afirmou que existe uma logística muito pesada atrás das invasões, que para serem feitas requerem dinheiro, ônibus ... E tudo vem do CIMI, declarou. Disse que antes do confronto na fazenda, os indígenas assinaram um documento garantindo a saída pacífica do local, o que não ocorreu posteriormente. Para ele, o CIMI instigou os indígenas a resistir e partir para a guerra com a polícia. O delegado contou ainda que, ao chegar à pro-

priedade, deparou-se com o jornalista Ruy, Sposati, do CIMI, cuja máquina fotográfica e computador decidiu apreender, para averiguar as informações que havia recebido anteriormente. O coordenador regional do CIMI, Flávio Machado, também estava no local. No equipamento, de acordo com o depoimento do delegado, foi encontrado um Manual dos Anarquistas, com 360 páginas, que ensinava, entre outras coisas, a fazer bombas caseiras. Esses e outros detalhes constam do inquérito 215/2013. (Cfr. jornal "Progresso", Dourados, MS).

Produtividade da pecuária aumentou 70%

acomodadas em esteiras dentro de um galpão. Ele e a esposa, Creonice, repetem o ritual até cihco vezes ao dia, para garantir que não faltem folhas frescas ao bicho, que só se alimenta da amoreira . A lagarta retribui o carinho após um mês de criação, quando começa a tecer o casulo, trabalho que dura de três a quatro dias. , (Cfr. "Gazeta do Povo ", Curitiba).

Bahia: pessoas coagidas a se cadastrar na FUNAI O sul da Bahia vive um conflito permanente em razão da expu lsão de agricultores de suas propriedades por arte e manha da FUNAI (Fundação Nacional de Índios). Centenas de moradores são coagidos a se cadastrar junto ao órgão como se fossem índios para fins escusos, como o de engrossar as invasões de terra naquela região. O "Jornal da Band " revelou, com exclu-

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sividade, como funciona a fraude qu e criou uma tribo de falsos indígenas. Apesar de a Constitui ção proibir a ampliação de áreas indígenas desde 1988, há quatro anos a FUNAI demarcou uma área de quase 50 mil hectares, que abrange t rês municípios baianos. A referida área fica numa região conhecida como Costa do Cacau e do Dendê, onde as terras são ocupadas há séculos por mesti ços, descendentes de índios, brancos e negros que povoaram o Brasil desde os tempos do Descobrimento. Enquanto o Ministério da Justiça não dá a palavra fin al, mais de 100 prppriedades já foram invadidas por grupos armados liderados por caciques que se dizem índios Tup inambás. Mesmo quem dispõe de mand ado de reintegração de posse é obrigado a aguardar o efet ivo da polícia, aliás, escasso na região. (Cfr. "Jorn al da Ban d").

Os produtores rurais de Mato Grosso aumentaram em 68,8% a produtividade da pecuária na última década, de 2,15 @/ha/ano em 2004 para 3,63 @/ha/ano em 2014. Os dados são do estudo Panorama Pecuária de Mato Grosso, no âmbito do projeto Acrimat em Ação 2015, realizado no primeiro semestre através de parceria entre a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e o Instituto Máto-grossense de Economia Agropecuária (lmea). "O perfil do boi abatido mudou na última década . A precocidade e os investimentos em suplementação denotam adesão às novas tecnologias e o atenção aos nichos de mercado - como é o caso do novilho precoce ", afirma Olmir Cividini, superintendente da Acrimat. (Cfr. site codigoflorestal.com).

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CAPA

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H

oje em dia muito se fala (e de boca cheia) a respeito da China. Louvase seu fo rmidáve l desenvolvimento econômico e técnico (ao menos aparente), bem como sua expansão pelo Ocidente. Entretanto, fala-se pouco ou praticamente nada sobre o regime que a domina - o comunista. Sobretudo quase não se comenta a sistemática perseguição que tal regime ateu e materialista move contra a Igreja Católica, a única e verdadeira Igreja de Cristo. A Editora San Paolo, de Milão, Itália, publicou em 2006 um interessante documento intitulado 1l Libra Rosso dei martiri cinesi (O Livro vermelho dos mártires chineses), contendo documentos pessoais sobre a crue l e implacável perseguição aos cató licos chineses fiéis a Roma. Embora tais documentos se refiram mai s à época de Mao Tsé-Tung, eles conservam sua atualidade, pois a perseguição continua em nossos dias. É o que afirma o destemido Dom José Zen, Cardeal Arcebispo emérito de Hong Kong, no prefác io do I ivro. Afirma o purpurado: "O regime comunista, que foi o responsável pelos sofri mentos descritos neste livro, está ainda no poder[ .. .]. As comunidades [católicas] chamadas de 'clandestinas ' ou ' das catacumbas', que recusam, com boa razão, subme-

Cardeal José Zen, Arcebispo emérito de Hong Kong: "Devo declarar que, infelizmente, há ainda várias dezenas de bispos, sacerdotes e leigos detidos em prisão domiciliar ou em prisões comuns".

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ter-se à política religiosa do governo, são continuamente sujeitas a abusos e mesmo a violências, de modo que não seria exagerado fa lar, nesses casos, de perseguição". E acrescenta: "Devo declarar que, infelizmente, há ainda várias dezenas de bispos, sacerdotes e leigos detidos em prisão domiciliar ou em prisões comuns. Inclusive há alguns de nossos irmãos bispos dos quais há anos que não se tem notícia" . "Livro Vermelho dos Mártires Chineses"

Por isso pareceu-nos útil apresentar algLms aspectos desse livro, muito atuais em relação ao Brasil, onde está em andamento uma verdadeira revo lução que, embora guardando aparências democráticas, é de cunho marxi sta. Basta lembrar, por exemplo, o decreto 8.243 , visando introduz ir as fami geradas comunas populares - verdadeiros sovietes semelhantes ao Parlamento Comunal de Chávez e Maduro - a serem controladas pelos " movimentos sociais", tão bafejados pelo PT. Nosso objetivo é também informar os leitores de Catolicismo sobre o que ocorre com nossos irmãos da fé na tão propagandeada C hina, e proporlhes que rezem pela sua perseverança. 1 Como alerta o editor do referi do livro, a não ser o relato dos sofrimentos e da morte de trinta e três monges trnpistas, vítimas do terror comunista, que mencionaremos adiante, "no estrito senso do termo, nenhum dos eventos aqu i registrados fo i reconhec ido so lenemente pe la Igreja como um ' martírio "'. E ntretanto, o leitor reconhecerá isto imediatamente: os horríveis sofrimentos padec idos pelos protagoni stas dessas hi stóri as, a paciênci a eva ngélica medi ante a qual os aceitaram e enfrentaram, e o fiel testemunho de Cristo de que deram mostra, garantem que todos eles têm boa razão para serem incluídos no Livro Vermelho dos Mártires Chineses (p. 22). O martírio dos religiosos da Ordem Trapista

Com efeito, doi s dos biografados - os padres Tan Tiande e Huang Yongmu - passaram respectivamente 30 e 25 anos de terríveis sofrimentos em

O ódio comunista depreda igrejas católicas e quebra suas veneráveis imagens nas ruas

prisões e campos de trabalhos fo rçados, constantemente suj eitos a "j ulgamentos popu lares", sessões de "reeducação" e maus tratos. Também tiveram que sofrer mui to por sua fidelidad e à verdadeira Igrej a a jovem Gertrude Li Minwen e o Pe. Li Chang, razão pela qual são mencionados no livro. Entreta nto, mais impressionante é o relato dos sofrimentos e do martírio dos monges trnpistas de Yangjiaping, cuj o mosteiro havia sido fundado em 1883 por um abade trapista fra ncês. Seu florescimento em terras chinesas fo i tal , que chegou a ter 120 membros, abrindo uma trapa (co nvento) perto de Pequi m. A persegui ção começou no ano de 194 7, com a chegada das trnpas comun istas. A co munidade de Yangjiaping ti nha então,75 membros, 18 dos quais eram sacerdotes - c inco estrangeiros e os demais chineses. Incitados pe los comuni stas, os aldeões, que mantinham até então muito boas re lações com os monges, começara m a hostili zá-los. O mosteiro foi pil hado repetidas vezes e fi nalmente incendiado. Os monges foram todos apris ionados e sujeitos a inúmeros "julgamentos populares tum ultuosos,

exaustivos interrogatórios e tortura desumana". Obrigaram-nos depois a parti cipar de uma marcha sem fim , acompanhando corno mulas de ca rga o exército comunista, cuj as prov isões e armas carregavam. Como a ma iori a dos monges era constituída de idosos ou doentes, muitos ex piraram no caminho. Seis deles foram sumari amente executados. No fina l, 33 morreram, vítimas do ódio dos sem-Deus. Parte do Corpo Místico de Cristo que é a Igreja

Q ual é o interesse desse relato para nós? É ainda o Cardea l Zen qu em afirma no prefácio : "Os confessores e mártires da Igreja da China pertencem à Cristandade como um todo, e é nosso dever, bem como nosso direito, apresentar seus testemunhos, para que possa m alimentar a fé dos cri stãos através do mundo". Afirmação abso lutamente cheia de sentido, pois eles faze m parte do Corpo Místico de Cri sto que é a lgrej a.

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Alguns dados sobre a perseguição anticatólica

Em meados dos anos 40 do sécul o passado, as fo rças nacionali stas de Chiang Kai-Shek lutavam contra as tropas comuni stas de Mao Tsé-Tung. À medida que as tropas vermelhas conquistavam terreno, sistematicamente perseguiam os católicos da região. No di a l º. de outubro de l949, tendo os comuni stas dominado a situação, proclamaram a República Popular da China. Nessa época já havia cerca de três milhões e meio de católicos chineses.2 Imedi atamente os comunistas iniciara m uma violenta campanha de ateização e uma implacável repressão às forças "contra-revolucionári as", em especial à Igreja Católica, qualifi cada pelos "vermelhos" de "títere do Vaticano". A malfadada e radical Reforma Agrária

Como os comuni stas são ateus e igualitários, proc uraram subverter toda a ord em socia l então vige nte, a fim de adaptá-la à sua ideologia. Ini ciara m então uma Refo rm a Agrári a radical, pois para eles - como para o MST .hoje no Bras il - os propri etári os ru rais não passam de sanguess ugas e inimi gos do povo, "a escóri a da sociedade antiga". O regime insti gava por todos os meios, prin cipalmente pela lu ta de classes, a eliminação dessa catego ri a " perni ciosa". Segundo cálcul os di gnos de fé, durante a impl antação da Refo rma Agrári a fo ram mortas mais de dez milhões de pessoas . Veremos adi ante outros efe itos dessa perve rsa políti ca comuni sta para assegurar seu poder to talitário. Luta de classes como meio para implantar o comunismo

Conta o Pe. João Huang Yongmu, um dos biografados na obra em foco, testemunha e vítima desse violento processo, que passou mais de 25 anos em pri sões e campos de tra balho fo rçado: "Nossas igrejas fora m tra nsformadas em sa las

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Radical coletivização mediante uma reforma agrária que resultou na morte de pelo menos 40 milhões de chineses

de palestras, 'centros de reeducação' e fórun s para aca loradas di sc ussões sobre os programas da reforma agrári a. [... ] Podi a-se di zer que já tínhamos adivinhado o di abólico plano dos comu nistas contra a Igreja Católica. O primeiro passo fo i o de controlá-la; o segundo foi de restringir suas atividades, de modo a destruí-la completamente. Algu mas pessoas não viam claramente o que estava começando a acontecer. Eram otimistas e incli nadas a di zer que o comuni smo chinês era diferente do russo. Mas isso era uma fábula contada por estrangeiros" (pp. 94-95). E acrescenta com muita propriedade: "A Reform a Agrári a provocou uma luta de classes extremamente violenta, co locando os chineses uns contra os outros. Os comunistas queri am uma sociedade igualitári a, e desse modo começaram a reduzir tudo ao nível de uma única classe. Rendas interesses fo ram abolidos. Os proprietários de

terra eram sujeitos a 'julgamentos populares' e a rudes críticas. As terras foram divididas, e os lavradores podiam pilhar as casas e os bens dos proprietários. As ' ovelhas negras' - aqueles que, em outras palavras, se opunham a esse terrível programa - eram expostas ao públi co e criticadas. [.. .] De acordo com a doutrina de luta de classes comunista, quem é rico está errado e, portanto, deve ser punido" (p. 96). Essa é, aliás, a mentalidade dominante em amplas áreas do atual governo bras ileiro, que ati ça uma lu ta de classes e de raças segundo o estilo "nós contra eles". Destruição da família, obstáculo à revol ução comunista

Giro lamo Fazzini , organi zador da ed ição que analisamos, escreve que entre 1958-1962 - "os trágicos anos do 'G rande Salto para Frente'," segundo o jargão comunista - , " Mao Tsé-Tung vi-

sava alcançar a radi cal transformação da economia e incrementar a produção industri al mac iça, em particular a produção de aço. O tradi cional tec ido social chinês, baseado na fa mília e na vida da aldeia, é revolucionado com o estabelecimento das 'comunas populares', com as qu ais o regime comunista tenta coletivi za r cada as pecto da vida dos agri cultores" (p. 3 l 7). Instituídas ofi cialmente em agosto de I958, "essas comunas não seri am supressas senão no começo dos anos 80. As consequências dessa desastrosa campanha fora m sentidas principalmente na agri cultura. A derrubada dos métodos tra di cionais causo u um drásti co declínio na produ ção agrícola e no controle da terra arável, resultando na morte de pelo menos 40 milhões de chineses (ex istiria um documento interno do Partido Comuni sta que fa la sobre cerca de 80 milhões de mortes por 'causas não naturais')" (p. 3 17).

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tais atos de crueldade: uma perseguição de vastas proporções, que destruía tudo e promovia sangrentas :flagelações, torturas e mortes. Toda a nação foi lançada num enorme redemoinho de imenso sofrimento. A assim chamada Revolução Cultural nada tinha a ver com a verdadeira cultura; ao contrário, seu propósito era destruir a cultura chinesa antiga. Essa revolução foi pior do que as catástrofes naturais comuns, como pragas e terremotos, porque era causada pelo homem" (p: 128). "Revolução Cultural" e destruição da alma humana

Sistemática perseguição à Igreja Católica

A persegui ção à verdadeira Igreja de Cri sto fo i inexorável desde o início da era comunista. Já em 1951, para mais eficazmente controlar as reli giões, o governo criou um órgão específico, que fec hava seminários, confiscava hospitais, escolas e asilos diri gidos pela Igreja. Num go lpe de força , em 1955 os comunistas apri sionara m o destemido bispo de Xangai, Dom Inácio Kung, bem como muitos de seus sacerdotes e leigos pertencentes à Legião de Maria (que fo i considerada ilegal e subversiva). Dom Inácio passaria 30 anos na prisão, muitas vezes na solitária. 3 Em agosto de 1957 foi fundada pelo governo comuni sta a Associação Patriótica dos Católicos Chineses, organização títere do regime, a úni ca a ter voz e vez em matéria de catolicismo, com o fim de confundir e desviar a população católica. Vale lembrar que representantes dessa malfadada associação comunista e cismática vieram se aconselhai·

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com altos representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) anos atrás ... A sinistra "Revolução Cultural" promovida por Mao Tsé-Tung

Para mai s eficazmente revolucionar de alto a baixo toda a soc iedade tradi cional chinesa, Mao Tsé-Tung inic iou, co m a "Ci rcul ar de 16 de Maio" de 1966, a proletária Revolução Cultural. Visava ele eli minar assim todos os remanescentes dessa anti ga soc iedade através de uma mudança abru pta e tota l de mentalidade segundo a filosofi a ma rxista. Sobre o signifi cado dessa "revolução" escreve o Pe. João H uang, baseado em sua própria experiência: " Durante o verão de 1966, a furiosa perseguição da Revolução Cultural espalhou-se através do país como um incontro láve l incêndio numa :floresta, com atos de violência e vi ngança sem precedentes. Nunca, na história da China, se ouvira fa lar em

Abordando o mesmo tema, Li Daoming, autor da vida do Pe. José Li, também vítima dessa revolução, observa: "A Revolução Cultural lançou o país num caos completo e absoluto. Ninguém mais trabalhava. Jovens e velhos, sem distinção, passavam todo o tempo em 'reuniões de massa' ou em 'sessões de luta de classes"'. No fundo, em agitações tão ao gosto dos mal chamados Movimentos Sociais que ah,am no Brasil, cujo representante máximo, João Pedro Stédile, fo i duas vezes convidado, recebido e promovido pelo Vaticano ... (vide "Encontro Mundial de Movimentos Populares no Vaticano ", ü1tolicismo dezembro/2014 ). As pessoas que tivessem qualquer vislum bre conservador "eram arrastadas à força e colocadas em plataformas di ante da multidão, sendo alvo de torrentes de acusações e todos os tipos de agressões. Pouco importa-

Dom Inácio l(ung, destemido Confessor da Fé A perseguição religiosa na China comunista é constante e implacável. Não se pode falar dela sem mencionar a heroica figura do Cai·deal Inácio Pin-Mei Kung. Grande devoto de Nossa Senhora do Rosário e de Nossa Senhora de Fátima, quando Bispo de Xangai ele consagrou sua diocese ao Imaculado Coração de Maria (1952). Este intrépido prelado passou mais de 30 anos de sua longa vida na prisão, muitas vezes na solitária, por sua firme recusa de colaborar com o governo comunista nas suas manobras para controlar a Igreja Católica, e por sua fidelidade à Igreja e à Sé de Pedro. Dom Inácio foi criado Cardeal in pectore pelo Papa João Paulo II em 30 junho de 1979, aos 78 anos de idade, quando ainda estava na prisão. Dom Kung faleceu em seu exílio em Stamford (Connecticut, EUA), no dia 12 de março de 2000, aos 98 anos de idade. Para se ter uma pálida ideia da têmpera deste Confessor da Fé, citamos apenas o seguinte fato: em 1955, alguns meses depois de sua prisão, o bispo Kung foi levado a um estádio de corrida de cachorros onde, perante uma multidão - na qual havia muitos católicos levados à força - , o acusaram de "crimes e escândalos". Ele havia sido torturado, caluniado e assediado durante vários meses pelos comunistas. Empurrado diante de um microfone para "confessar seus crimes", no estilo próprio dos julgamentos-show dos comunistas chineses, vestido com um "pijama" da prisão, as mãos amarradas às costas, cercado por forte segurança policial, ao invés de reconhecer seus pretensos cri mes, o corajoso bispo gritou alto e bom som no microfone: " Viva Cristo Rei! Viva o Papal". Ele, assim, dava claro sinal aos seus fiéis de que deviam resistir. Sua mensagem foi entendida: os católicos presentes responderam em uníssono: "Viva Cristo Rei! Viva o Bispo Kung! ". O destemido Bispo de Xangai foi imediatamente arrastado para o carro da polícia, e desapareceu da vista dos fiéis. (Cfr. Plínio Maria Solimeo, D. Inácio Kung, O Cardeal que, do céu, faz tremer a China, Petrus Editora, São Paulo, 2013, p. 34).

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va que as acusações fossem contraditórias ou sem base; os acusados deviam, de qualquer modo, permanecer de pé, imóveis, enquanto cada detalhe de sua vida privada era dado a conhecer a todos. Entre os muitos incapazes de suportar a vio lência desse linchamento moral, vários chegaram a enlouquecer, enquanto outros cometeram suicídio. Não está longe da verdade afirmar que nesses anos o país inteiro se transformara num colossal manicômio. [...] A Revolução Cultural espalhou tal clima de desconfiança e suspeição, que ameaçava sufocar completamente até mesmo o pouco de bondade natural inerente a cada ser humano" (pp. 194-195). Não é para isso que caminhamos com as novas políticas do governo brasileiro? É urna pergunta que se impõe. E conclui: "Em 1974, a desordem e a confusão continuaram a prevalecer no país. À medida que a Revolução Cultural progredia, só os mais rudes, os mais arrogantes e os insensatos conseguiam permanecer no poder. O comum dos cidadãos tinha que aprender rapidamente a escolher cuidadosamente suas palavras e ser muito cauto. As pessoas procuravam esconder suas próprias opiniões até dos parentes mais próximos. Ninguém ousava tomar urna iniciativa pessoal ; todo mundo se limitava a fazer somente o que tinha sido ordenado ou permitido , por aqueles no poder" (p. 203).

nada que ver com a questão de minha inocência. Eu queria unicamente imitar Jesus para preencher o que estava fa ltando nos sofrimentos da Igreja". (p. 60) Ele ai nda comenta: "As pessoas podem maravi lhar-se de corno fui capaz de sobreviver nessas horríveis condições [dos campos de reeducação por mais de 30 anos]. Para quem não crê isso não tem explicação. Pelo contrario, para quem tem fé trata-se da vontade de Deus" (p. 63).

Espírito sobrenatural dos católicos perseguidos

Com bates, perseguições e o prêmio do Céu

Convém ressaltar aq ui o elevado espírito sobrenatural com que os biografados enfrentavam o cárcere e o possível martírio. Citemos o testemunho do Pe. Tan Tiande sobre a sua prisão pela polícia, à potta da catedral de Cantão: "Eu não tinha medo abso lu tamente. Pelo contrário, sentia-me honrado. Quando recebi o Sacramento da Confirmação, prometi que seria um bravo soldado de Cristo [.. .]. Quando me tornei sacerdote, prometi outra vez oferecer minha vida por Nosso Senhor[ ... ]. Hoje eli recebi a graça especia l do Senhor de dar testemunho do Evangelho. Era assim um acontecimento alegre". E acrescenta: "A aceitação 'volun tária' de minha sentença não tinha

Depoi s dos longos e terríveis sofrimentos, tendo o Pe. Tan recobrado novamente a liberdade, vo ltou para a sua querida catedral de Ca ntão, a fim de continuar a exercer ali seu ministério até a morte. Eis as palavras desse verdadeiro heró i da fé: "Recebi muitas graças de Deus em todos aq ue les anos. O que eu poderia fazer em retorno? Gosta ria de gastar todas as minhas energias pela sua Igreja, a ponto de sacrificar minha vida. Espero sinceramente que Deus ouvirá minha prece e aceitará meu sacrificio" (p. 73). Afirmou ainda: "Cada vez que me sinto completamente exausto e tenho que deitar-me [por causa da idade e dos ofrimentos suportados] , gosto de

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Na clandestinidade, sacerdote ensina os rudimentos da fé a novos católicos Funeral de Mons. Xue-Yan Fan, antigo bispo de Baodlng. Ele foi preso pela primeira vez em 1958, por se recusar a juntar-se à Associação Patriótica Católica Chinesa comunista. Sua vida foi uma contínua tortura. Numa manhã de abril de 1992, seu corpo congelado, com muitos ossos quebrados, foi despejado, envolto em plástico, diante da casa de sua família.

Concluímos com o depoimento do Pe. Angelo Lazzaroto, missionário do PIME4 e perito em assuntos chineses: "Para a ideologia reinante [na China], permanece intolerável que as igrejas ofereçam respostas diferentes daquelas do governo comunista sobre as questões fundamentais da vida e da morte. E desse modo, do significado do homem e da sociedade, uma resposta que contradiga a versão 'científica' da verdade apresentada pelo Marxismo-Leninismo e o pensamento de Mao Tsé-Tung. Aqui está a chave para se entender o persistente mal-estar e a mal disfarçada repressão que a Igreja ainda continua a experimentar em nossos dias". 5 ❖ Notas: 1. Seguimos aqui a tradução americana do livro, "The Red Book of Chinese Martyrs", lgnatius Press, San Francisco,

2009. "'

2. Em 1949 havia na China 20 arquidioceses, 85 dioceses, e 34 prefeituras apostólicas. Eram 20 os bispos chineses, mas cerca de 30 seriam nomeados pela Santa Sé nos anos seguintes, até 1955, quando ficou im possível manter contato com a Igreja na China. A Igreja mantinha também muitos serviços sociais apostólicos: 216 hospitais e creches, seis leprosários, 781 dispensários médicos, 254 orfanatos, três universidades, 189 ginásios, 2011 escolas primárias, 2243 escolas catequéticas, 32 ed itoras e cerca de 50 jornais e revistas. 3. Cfr. Plínio Maria Solimeo, O. Inácio Kung - O Cardeal que, do Céu, faz tremer a China, Editora Petrus, São Paulo, 2013.

fechar os olhos e medi tar nessas palavras de São Paulo: 'Eu combati o bom combate, finalizei a minha carreira, guardei a.fé'[ ... ]. Quanto eu desejo ser capaz de finalizar rapidamente minha tarefa terrena e ir ante o trono de Deus receber a coroa que Ele tem preparada para mim! " (p. 80).

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4. Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras, fundado na Itália em 1850, com sede atua l em Roma . Esta organização essencialmente missionária, congrega leigos e padres secu lares diocesanos comprometidos a trabalhar nas missões, sendo por isso um importante auxiliar da Congregação para a Evangelização dos Povos (antiga Propaganda Fide), 5. Prefácio para a edição italiana do livro de James T. Myers, Enemies Without Guns, um profundo estudo sobre a situação da Igreja na China, citado na página 132 da obra que ana lisamos.

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São Paulo Mil~i e Companheiros Mártires Sacerdotes e leigos católicos, alguns dos quais adolescentes, que deram a vida pela fé no Japão

•••••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

o século XVI uma revolução havia dividido o Japão em 66 principados ou reinos independentes. Essa descentralização constituía um momento propício para a implantação do cristianismo. A Providência suscitou então São Francisco Xavier, que em menos de onze anos de apostolado no Oriente batizou aproximadamente dois milhões de pagãos, ganhando para a Igreja o que Ela perdera ao norte da Europa com o protestantismo. Entre os neoconvertidos para a verdadeira fé no Japão havia reis, bonzos (sacerdotes pagãos), generais e primeiros senhores da corte, bem como pessoas de todas as camadas sociais. Sucederam a São Francisco Xavier outros sacerdotes da Companhia de Jesus, que seguiram com o mesmo zelo os passos desse santo apóstolo. Durante 40 anos o cristianismo floresceu na terra do Sol Nascente.

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Conversões ao cristianismo, apesar das perseguições

Em 1582, um homem de ori-

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gem obscura conseguiu impor-se como imperador sob o nome de Taicosama, reduzindo os demais reis a meros governadores, que ele mudava a seu bel-prazer. No início Taicosama favoreceu o cristianismo. Mas aos poucos foi sendo trabalhado pelos inimigos da Religião, os quais alegavam que ela acabaria por governar em seu lugar, entregando o Japão aos espanhóis. Os jesuítas receberam então ordem de expulsão do país num prazo de seis meses. Entrementes os missionários pude-

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ram continuar, com cautela e privadamente, seu apostolado. Assim correram os eventos até 1587 - quando mais de 200 mil japoneses já haviam abraçado a fé - , ano em que foi promulgado novo edito imperial de proscrição da Religião cristã. Vinte e seis residências dos missionários e 140 igrejas foram então destruídas. Os 130 jesuítas que se encontravam no país precisaram se esconder e diminuir muito sua atividade apostólica para não provocar as autoridades. Esse apostolado clandestino surtiu efei-

to, pois, de 1587 a 1597, quando a perseguição se tomou sangrenta, houve mais de cem mil conversões apesar da proibição. 1 Devido a suspeitas, começa a tormenta

Essa era a situação quando, em 1593, sete franciscanos provenientes das Filipinas, estabeleceramse no Japão por ordem de Felipe II, Rei da Espanha, fundando dois mosteiros. Isso contrariava a proibição do Papa, que destinara a evangelização do país aos jesuítas. Esses filhos de São Francisco começaram então zelosamente seu trabalho de caridade e evangelização, pregando publicamente, em violação ao edito imperial. A situação piorou quando o galeão espanhol San Felipe soçobrou nas costas do País do Sol Nascente. Como carregava peças de artilharia, levantou suspeitas das autoridades japonesas sobre as verdadeiras intenções dos espanhóis, suspeitas que elas estenderam aos religiosos. O imperador foi então implacável: condenou à morte os franciscanos e os de sua Casa, num total de 21 pessoas, três das quais ainda quase crianças. A essas foram jw1tados três jesuítas, perfazendo o número de 24 pessoas condenadas. Em melo ao martírio, o ânimo de heróis da fé

Esses confessores da fé deveriam ser levados de Meaco a Nagasaki, onde seriam martirizados, numa marcha forçada de mais de 600 milhas (quase 1000 quilômetros). Mas antes, os verdugos, nwn requinte de crueldade, cortaram a parte superior da orelha esquerda de cada um dos condenados, que

sangrando deram início à longa marcha. Entretanto, no longo percurso sob o gélido frio do inverno japonês, os confessores da fé deram mostra de tanta constância e alegria, que os próprios pagãos demostravam simpatia e admiração em relação a eles. Sucedeu então que dois heróicos cristãos, os irmãos Pedro e Francisco Sukechiro, que seguiam os condenados a fim de assisti-los em suas necessidades, foram presos e incluídos no número dos condenados, elevando assim seu número para 26. Vejamos em rápidas pinceladas quem eram alguns desses mártires. São Paulo Miki

O mais conhecido é São Paulo Miki, oriundo de família nobre e educado pelos jesuítas desde os 11 anos de idade. Aos 22 entrou para o Seminário da Companhia, "por causa da devoção desta à Santíssi-

ma Virgem e do zelo apostólico que nela admirava". 2 Por sua ciência, modéstia e eloquência, ele foi destinado à pregação antes mesmo de ordenar-se, obtendo grandes frutos. Durante a longa viagem a caminho do martírio, Paulo Mik.i não cessava de exortar seus companheiros à constância, e seus guardas pagãos a abraçarem o cristianismo. No momento de sua crucifixão, disse ele a seus carrascos: "A

única razão de minha morte é a de que ensinei a doutrina de Cristo. Agradeço a Deus por isso. [... ] Sei que credes em mim, por isso quero dizer-vos tudo mais uma vez: pedi a Cristo que vos ajude, e sereis felizes. Eu obedeço a Cristo. [... ] Rogo a Deus que tenha piedade deles

(dos perseguidores), e espero que meu sangue caia sobre eles como uma chuva frutuosa". 3 São João de Goto

João de Goto tinha sido batizado quando criança. Estudou com os jesuítas e desejou ser admitido na Companhia de Jesus, mas era muito novo. Por isso tornou-se catequista enquanto aguardava. Pouco antes de ser crucificado, vendo seu pai na multidão, disse-lhe: "Bem vedes,

pai e senhor, que não há no mundo coisa tão amável que se não deva sacrificar pela salvação eterna. Eu tenho a ventura de dar a vida pela fé; agradecei muito ao Céu este grande beneficio que ele nos fez, a mim e a vós". 4 Tinha apenas 19 anos de idade.

São Tiago Klsal

O terceiro leigo próximo dos jesuítas chamava-se Tiago Kisai. Batizado na juventude, ele se distinguia pela piedade e zelo apostólico. Casou-se e viveu modelarrnente, mas sua esposa apostatou. Tiago então a deixou e· providenciou a educação na fé de seu único filho, indo viver com os jesuítas como porteiro e catequista aos 64 anos de idade. Esses dois mártires puderam confessar-se com o Pe. Pásio, missionário presente à execução, através do qual fizeram, em artigo de morte, os votos na Companhia de Jesus, Tiago como irmão leigo.

Os mártires franciscanos

Os seis franciscanos martirizados foram os padres Pedro Batista, Martinho de Aguirre e Francisco

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Blanco, e os irmãos leigos Francisco de São Miguel, Gonçalo Garcia e Felipe de Jesus. Os 17 leigos incluídos na condenação, ou ajudavam na catequese, ou nos oficios divinos. Quase todos eram Terceiros Franciscanos. Desses, três eram ainda quase crianças, como dissemos. São Pedro Batista

Nascido na Espanha, fora missionário na Índia e superior do convento de sua Ordem nas Filipinas. Chefiou o grupo no Japão. Consta que tinha o dom dos milagres.

São Gonçalo Garcia

Irmão leigo nascido em Baçaim, na Índia Portuguesa, de pai lusitano e mãe indiana. Como tinha sido antes mercador, sabia bem a língua japonesa, razão pela qual foi levado para a missão no país. Era excelente pregador. Do alto da cruz exortava os japoneses a abraçarem a religião de Jesus Cristo. São Francisco de São M iguel

Também espanhol, foi escolhido para a missão no Japão por falar bem o japonês.

Espanhol e também irmão leigo, foi favorecido com o dom dos milagres. No Japão, el.e se destacou como o franciscano que obteve o maior número de conversões, apesar de não ser sacerdote. Entre os leigos que viviam com os franciscanos, havia três adolescentes:

São Francisco Blanco

Luís

Assistindo ao fervor com o qual os japoneses se disputavam a felicidade de morrer por Jesus Cristo, este outro garboso espanhol exclamou: "Tenho vergonha de mim mesmo vendo homens que tão recentemente entraram no seio da Igreja mostrar tal coragem.face à morte". 5

Menino de apenas 11 anos, era coroinha. Por ser muito novo, não estava na lista dos condenados. Mas chorou tanto, que foi preciso introduzi-lo. Em Nagasaki, um pagão, vendo-o tão novo ser condenado à morte, propôs-lhe que renunciasse à fé para salvar-se. O menino respondeu: "Pelo contrário, sois vós que deveis vos fazer cristão, pois não há outro meio de vos salvar ". 6

São Martinho Agulrre da Ascensão

São Felipe de Las Casas

Nascido no México de pais espanhóis, após uma vida tumultuada tornou-se franciscano. O navio que o conduzia das Filipinas ao México aportou no Japão no preciso mo:.. mento em que os franciscanos eram aprisionados. Com isso ele teve a glória do martírio aos 23 anos de idade, tendo sido o primeiro a morrer, com três lancetadas. CATOLJ ClSMO /

Antônio

Tinha 13 anos. No momento do martírio, seus pais, que também eram cristãos, o conjuraram a não morrer, mas esperar para confessar a fé numa idade mais avançada. Ao que ele respondeu: "Cessai esses

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A Batalha de Viena A Santa Liga

conselhos, não exponhais assim nossa santa f é ao desprezo e à chacota dos pagãos". 7 Tomás

Tinha 14 anos e era filho de Miguel Cozaki, que também sofreu o martírio.

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Para que se tenha uma idéia do fervor com que esses heróis cristãos procuravam o martírio, citemos um exemplo. Havia no convento dos franciscanos um cristão chamado Matias, que era o provedor. Quando a polícia foi procurá-lo, ele estava ausente. Mas um cristão da vizinhança, que tinha o mesmo nome, apresentou-se aos soldados dizendo: "Eis aqui um Matias; não sou o que procurais; mas sou também cristão e amigo dos padres ". Foi então levado no lugar do outro e recebeu a coroa do martírio. Esses lídimos heróis da fé cuja festividade a Igreja celebra no dia 7 de fevereiro - foram canonizados em 8 de junho de 1862 , festa de Pentecostes, pelo bem-aventurado Papa Pio IX. ❖

Formada a Santa Liga, o rei polonês João Sobieski liderou os exércitos cristãos para a batalha de . salvação da oprimida Áustria. Santos e heróis unidos enfrentaram as hordas de muçulmanos que desejavam o fim da Cristandade.

•• • IVAN RAFAEL DE OLIVEIRA

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a_ra Mustafá contmua enfurecendo-se contra a cidade e raivoso como o demônio no Dia do Juízo ",

infonnou um oficial ao relatar a fúria do general muçulmano que cercava a cidade com seu exército. Para obter do Céu a graça da resistência dos vienenses, em todas as igrejas

da Europa foi exposto o Santíssimo Sacramento, por ordem do Papa, Bem-aventurado ]nocêncio Xl. No artigo anterior, publicado na edição de novembro de 2015, foi relatada a traição do conde húngaro, Américo Thõkõly, e a rápida marcha dos otomanos, no ano de 1683, rumo a Viena. A conquista da capital austríaca era um ponto chave para o su ltão Maomé IV rea lizar o desejo muçulmano, já milenar, de destruir a civilização cristã e conquistar a Europa. Viena prepara-se para o cerco

Quando da ameaça de guerra,

Notas: 1. Cfr. Thomas Kennedy, Nagasaki, in The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 2. Pe. José Leite, S.J., São Paulo Miki, S. Pedro Batista e companheiros mártires, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, tomo 1, p. 187). 3. http://www.americancatholic.org/Features/Saints/saint.aspx?id=1283 4. Pe. José Leire, op.cit., p. 189. 5. Mgr. Paul Guérin, Les Vingt-six Martyrs Ou Japon , in Les Petits Bollandistes, Vies des Saints,Bloud et Barrai, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo X, p. 314. 6. ld., ib., p. 316. 7. ld. lB. catolicismo@terra.com.br / FEVEHE IHO 2016

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Viena encontrava-se extremamente vulnerável. Os fossos e muros da cidade estavam inteiramente descuidados, não havia provisão suficiente de paliçadas e os bastiões não apresentavam proteção senão para dez peças de artilharia. A guarnição para a defesa da cidade foi confiada ao conde Ernst Rüdiger voo Starhemberg, de 48 anos, experiente na arte militar, resoluto e hábil, o chefe certo para despertar confiança, sob cujo comando foram destacados dez mil homens. Por sua vez, as medidas para tal defesa couberam a Gaspar Zdenek, conde de Kaplirz, de 72 anos, que ao grande saber e à experiência aliava um entusiasmo juvenil pela causa do imperador austríaco e da Cristandade. Sob a direção desses enérgicos comandantes, em poucos dias foram tomadas medidas extraordinárias para a fortificação da capital austríaca. Duzentos canhões se posicionaram nas muralhas, prepararam-se prevenções contra incêndios e outros perigos que podiam sobrevir. Dois meses de cerco

No dia 14 de julho de 1683, Viena foi cercada pelos muçulmanos. Após uma segunda intimação para render-se, a que não se deu resposta, os sitiadores iniciaram os bombardeios. Todas as forças úteis se ocupavam em defender a cidade até a chegada do auxílio. O assalto inimigo não se efetuou segundo as regras da arte militar moderna, pois sua principal estratégia era es-

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cavar minas para explodir as torres. Sempre que uma mina explodia, os turcos começavam os ataques; mas, com a graça de Deus, todos eles foram rechaçados. Entretanto, a cada

dia o ataque do inimigo tornava-se mais violento e ameaçador. Além dos homens de Starhemberg, os cidadãos comuns também formaram companhias divididas em corporações. Animados, esses grupos procuravam disputar entre si as guardas e trincheiras. Atuaram assim os estalajadeiros, os comerciantes, os padeiros, os sapateiros, os açougueiros, os cervejeiros e os artesãos. Entre todos, brilhou pelos atos de heroísmo o contingente de 700 estudantes, que se haviam alistado formando três companhias. O comandante deles era o reitor da universidade e os oficiais eram os professores. As mulheres logo se

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acostumaram com o estrondo dos canhões, incêndios, devastações, feridas e mortes. O clero, na época bastante fervoroso, não se mostrou inferior aos leigos em coragem e espírito de sacrificio. O bispo de Neustadt, conde Leopoldo Kolinitsch, distinguiu-se a seu modo. Já antes de ser eclesiástico, como cavaleiro da Ordem de Malta, ele havia se destacado em Candia, capturando galeras turcas, reavendo objetos que estes haviam tomado como insígnias de vitória, além de muitos infiéis que matou com as próprias mãos. Depois, cansado do mundo, ingressou no estado eclesiástico, alcançando o bispado de Neustadt. E naquela ocasião de perigo, o prelado dirigiu-se a Viena para cuidar dos feridos, consolar os moribundos e encorajar os vacilantes com seu exemplo heroico. Durante o cerco, sempre que escasseava o dinheiro, Kolinitsch destinava recursos para fins benéficos, embora para si próprio adotasse a pobreza de um mendigo. Ao final de quase dois meses de cerco, as provisões de pólvora acabavam e era grande a escassez de víveres. As enfermidades foram outro fator de grandes baixas entre os defensores da cidade. A metade dos dez mil soldados havia morrido na luta e mais de dois mil agonizavam nos hospitais. Dos quatro mil cidadãos e estudantes, 1650 haviam falecido nos combates ou devido a doenças. Muitos avisos foram enviados ao imperador indicando o

sumo aperto que se encontrava a cidade. Starhemberg já se preparava para novo combate dentro dos muros da cidade, quando chegou a notícia de que o esperado exército da Santa Liga estava muito próximo. Com ânimo renovado, os sitiados rechaçaram os repetidos assaltos do inimigo. Na noite de 11 de setembro, as cordilheiras ao norte estavam cobertas de fogueiras, que anunciavam estar próximo o fim dos dias de provação.

O exército da Santa Liga

João Sobieski havia demorado um tanto para sair de Cracóvia. Afinal, graças ao dinheiro enviado pelo Bem-aventurado .Inocêncio XI, foi possível aos poloneses partir sem mais delongas. O rei polonês conduzia consigo 25 mil homens, como também seu filho, Tiago Luís de 16 anos, para que o jovem, nesta luta, alcançasse glória e títulos para lhe suceder. Finalmente os poloneses conseguiram reunir-se com os soldados imperiais na cidade de Hollabrunn na noite de 6 de setembro, e juntos atravessaram o rio Danúbio rumo a Viena. No dia seguinte, o príncipe eleitor da Saxônia, Jorge III, atravessou a ponte com seus 11 .000 homens. A seguir foi a vez do príncipe Jorge Frederico de Waldeck-Ei-

senberg com seus 8.400 homens da Francônia e da Suábia. Por último, Carlos de Lorena atravessou o Danúbio com o restante das tropas imperiais. Em 8 de setembro reuniu-se ao exército cristão o príncipe eleitor Maximiliano II Emanuel, de 24 anos. Acompanhavam-no 11.300 bávaros, homens valentes comandados por um chefe sedento de façanhas. As forças cristãs contavam agora com 38 mil infantes e 46 mil cavaleiros. Considerável número de 84 mil homens com 186 peças de artilharia. Leopoldo 1, herdeiro de uma longa estirpe de imperadores, podia prescindir da glória dos combates. Em vista disso, enviou a Sobieski o precioso bastão de .comando. Entre os forasteiros de nome ilustre que se associaram à causa do imperador e da Cristandade havia

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um jovem de 19 anos, cujos olhos vivos e cheios de fogo permitiam a bom conhecedor notar uma vida espiritual profunda. Aquela era a primeira batalha em que tomaria parte o príncipe Eugênio de Sabóia, destinado a brilhar futuramente como um dos maiores generais da História. Em sinal de que não se tratava de uma luta no plano exclusivamente temporal , mas de religião, uma grande bandeira vermelha com uma cruz branca tremulava no acampamento cristão. Apresentando-se Carlos de Lorena a Sobieslci durante a madrugada para receber suas últimas ordens, ambos se dirigirnm ao altar, seguidos pelos demais príncipes. Um frade capuchinho italiano, Beato Marco d' Aviano, que gozava de fama de santidade e de visão profética do futuro, celebrou a Santa Missa. Frei d'Aviano fora enviado pelo próprio Papa, para levar-lhes sua bênção e inflamar os combatentes com sua eloquência. O próprio Sobieski foi o acólito nessa Santa Missa. O sacerdote deu logo a comunhão ao rei, aos príncipes e a bênção ao exército, dizendo: "Em nome do Pai vos digo que a vitória é vossa, se tiverdes confiança em Deus". Após a cerimônia litúrgica, Sobieski fez seu filho ajoelhar-se e o armou cavaleiro. Todos tinham em mente não estar lutando por uma cidade, mas sim por toda a Cristandade. E, com o brado de "Deus é nosso auxílio! ", foi dado o sinal de combate. A grande batalha por Viena

Os turcos contavam com 170 mil guerreiros e dispunham de divisões estacionadas na Hungria. Mas a notícia da chegada dos exércitos da Santa Liga espalhou o terror entre os islamitas. Kara Mustafá decidiu então: enquanto a maior parte

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dos turcos lutaria contra os exércitos cristãos dos salvadores, outra parte prosseguiria o ataque contra a cidade. Os contendores se armaram para a luta decisiva. No dia da batalha - num domingo de 12 de setembro de 1683 - às cinco horas da manhã os canhões troaram. A montanha de onde provinham os cristãos parecia toda em movimento. Ao som das músicas dos regimentos, os católicos desceram em espessas fileiras com passos lentos, devido às dificuldades do caminho. A resistência dos turcos foi desesperada. Por duas vezes as fileiras muçulmanas foram rechaçadas e duas vezes avançaram novamente. A batalha, sangrenta e encarniçada, dw·ou oito horas. Somente às

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João Sobieski, triunfador em Viena (Pintura de Juliusz Kossak).

seis horas da tarde, quando o exército cristão conseguiu um decisivo avanço, os inimigos empreenderam a fuga. Os turcos só não foram aniquilados porque os cristãos, extremamente cansados, se detiveram. O acampamento otomano foi então saqueado. Os despojos da vitória

João Sobieski, em carta a sua esposa, comentou: "Deus seja para sempre bendito, pois nos deu a vitória. Todo o acampamento muçulmano com imensos tesouros caiu em nossas mãos.. . O Grão-Vizit; em sua _fuga, abandonando tudo, levando consigo somente sua roupa e seu cavalo, fez-me seu herdeiro ... Apoderei-me de todas as bandeiras que se levam diante do Vizir. A grande bandeira de Maomé eu a

mandei enviar por Talenti ao Santo Padre... Os Turcos abandonaram também, em sua fuga, muitos prisioneiros do país, especialmente mulheres, embora tenham tentado matar todos que puderam ". Também o bispo de Neusdadt, conde Leopo ldo de Kolinitsch, foi ao aca mpamento: ele congregou 500 crianças cristãs resgatadas e cuidou de seu sustento e ed ucação. Em 13 de setembro Sobieski entrou na cidade. Chegando à igreja dos agostinianos, o rei polonês se ajoe lhou para reza r e logo entoou o Te Deum, sendo aco mpanhado por todos. "Houve um homem enviado por Deus que se chamava João " (Jo 1,6), mui tos exclamaram, repetindo a frase do Apóstolo São João. Fo i um dos dias mais belos de sua vida: conquistara uma grande vitó-

ria e Viena havia sido uma vez mais a barreira co ntra os bárbaros maometanos do Oriente. O júbilo da vitória católica empolgou toda a Europa. Inocêncio X] derramou lágri mas de alegria. Uma iluminação geral de Roma, a Cidade Eterna, soleni zou o acontecimento. Em agradecimento, o Papa transferiu para o dia 12 de setem-

bro a festa do Santíssimo Nome de Maria. No entanto, o invasor muçulmano não havia perdido senão uma batalha. Era preciso dar continuidade à luta, exortou o Bem-aventurado Inocêncio XL Também era desejo de Sobieski prosseguir com a Santa Liga. É o que expore mos em próximo artigo. ❖

- Principal fonte consultada: Historia Universa l, Juan Baptiste Weiss, Editora Tipografia La Ed ucación , Tradução da 5º edição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XI, p. 869 a 891. - Retificação: Por um lapso, o antepenúltimo parágrafo do artigo precedente a este (publicado na edição de novembro último, às págs. 22-25) foi publicado de modo inexato. O texto correto do referido parágrafo é do seguinte teor: "Na noite de 7 de julho, depois de excitar os cidadãos a se defenderem valorosamente e prometer que logo que possível forçaria os turcos a levantarem o cerco, o imperador, não podendo se expor ao risco de cair prisioneiro em caso de derrota, retirou-se da cidade com a corte à luz de tochas. Já no dia seguinte, 8 de julho, Carlos de Lorena entrou de volta em Vi ena com 10 mil cavaleiros".

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1 Santa Verldlana, Penitente

+ Toscana (Itália), 1242. Viveu 34 anos encerrada numa cela na sua cidadezinha. Cumulada de favores celestiais, obteve de Nosso Senhor a graça de compartilhar as perseguições dos demônios sofridas outrora por Santo Antão. São Francisco de Assis foi visitá-la por volta de 1221.

Apresentação do Menino Jesus no Templo e Purificação de Nossa Senhora

Festa também chamada das Candeias ou Candelária e encerrava o ciclo do Natal. Tanto Cristo Jesus, sendo Deus, quanto a sempre virgem Maria, sua Mãe Santíssima, não estavam sujeitos a essas tradições. Mas bastava ser um ato de religião para que a elas se conformassem.

anjo, que lhe ordenou voltar à Itália.

Santo Avito + Vienne (França), por volta de 525. Descendente da nobreza romana, sucedeu a lsíquio como Bispo de Vienne. Graças a ele, Sigismundo, Rei dos Borguinhões, abjurou a heresia ariana. Sua influência estendeu-se até Roma, onde ajudou o Papa Símaco a afastar o antipapa Lourenço. Primeira Sexta-Feira do mês

8 Santa Dorotéla, Virgem e Mártir

+ Cesareia (Turquia), 303. Presa durante a perseguição de Diocleciano (284-305), preferiu morrer a renegar sua fé. Primeiro Sábado do mês

São Paulo Miki e companheiros mártires

sacerdote Sabrício, do qual procurou várias vezes obter em vão o perdão. Essa atitude de Sabrício fez com que na hora do martírio ele fraquejasse e apostatasse, apesar de admoestado por Nicéforo, que se declarou cristão e morreu no seu lugar.

.o QUARTA-FEIRA DE CINZAS

(Jejum e Abstinência) Santa Escolástica, Virgem

+ Úmbria (Itália), 543. Irmã de São Bento, ela fundou uma Ordem que chegou a ter 14 mil conventos em todo o Ocidente.

Nossa Senhora de Lourdes

Aparições a Santa Bernadette Soubirous em Lourdes (França), 1858. No local, os milagres de corpo e de alma se multiplicam sem cessar até hoje.

(Vide p.36). Santa Juliana de Bolonha São Brás, Bispo e Mártir

+ Sebaste (Armênia), 316. Padroeiro contra as doenças da garganta. Há uma bênção especial de São Brás, que é dada pela Igreja neste dia.

São José de Leonlssa, Confessor

+ Nápoles, 1612. Recebeu no batismo o nome de Eufrásio. Tomou o hábito capuchinho antes dos 17 anos, passando a chamar-se José. Em 1687 foi nomeado, a seu pedido, missionário em Constantinopla, a fim de conceder alívio e instrução aos cristãos que se encontravam escravizados pelos maometanos. Tendo sido acusado, foi supliciado e milagrosamente salvo por um

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+ Itália, cerca de 430. O grande Santo Ambrósio compôs um magnífico panegírico das virtudes desta santa, que ele compara com a mu lher prudente da Sagrada Escritura.

Santo Antonio Cauleas, Patriarca

+ Constantinopla, entre 895 e 901. Patriarca de Constantinopla, ele empreendeu os maiores esforços para restabelecer na Igreja do Oriente a paz abalada pelo cisma de Fócio.

São Jerônimo Emiliani

+ Veneza, 1537. Fundador da Congregação de Somasca para atender órfãos, mulheres perdidas e crianças abandonadas. Famoso pelos milagres que operou em vida, ele morreu em consequência da peste que contraiu cuidando dos empestados.

+ Itália, 1590. Esta extraordinária santa entrou aos 12 anos no convento das Dominicanas em Prato, aos 13 foi nomeada Mestra de Noviças, depois superiora, e, aos 30, priora vitalícia.

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Santa Catarina de Ricci, Virgem.

São Nicéforo, Mártir

São Marão, Solitário

+ Antioquia, 260. Era leigo e

+ Síria , por volta de 423. Viveu como monge perto da cida-

teve uma desavença com o

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de de Cir, na Síria. Favorecido com o dom dos milagres, atraiu grande número de discípulos.

Santos Faustino e Jovita, Mártires

+ Bréscia (Itália), cerca de 120. Dois irmãos - o primeiro sacerdote e o segundo diácono - foram interrogados pessoalmente pelo imperador romano pagão Adriano. Após serem submetidos a torturas, foram decapitados.

Santo Onésimo, Bispo e Mártir

+ Roma, por volta de 95. Escravo de um cristão de Colossos chamado Filemon, praticou um roubo e fugiu para não ser castigado. Em Roma, onde se escondeu, encontrou São Paulo, que o converteu.

Sete Santos Fundadores dos Servitas, confessores

+ Florença, séc. XIII. Estes comerciantes florentinos tudo deixaram para seguir a Cristo, fundando para isso a Ordem dos Servos de Maria. Foram tão unidos em vida, que são comemorados juntos depois de sua morte.

8 São Flaviano, Patriarca

+ Turquia, 449. Patriarca de Constantinopla (446-449), tomou parte no Concílio convocado pelo imperador Teodósio li em Éfeso (Turquia) em 8 de agosto de 449. Quando se deliberava a respeito de Utiques e de sua heresia monofisita (segundo a qual em Nosso Senhor Jesus Cristo não haveria as duas naturezas, divina e

humana, mas somente uma), uma multidão de hereges invadiu a igreja e espancou os padres conciliares que se opunham a Utiques, principalmente Flaviano, que morreu devido aos maus tratos recebidos.

9 São Quodvultdeus, Bispo

+ Itália, aproximadamente 444. Seu nome significa O que Deus quer. Bispo de Cartago no século V, ele governava pacificamente o seu rebanho quando Genserico, rei dos vândalos, apoderou-se da cidade em 438. Este príncipe ariano atormentou-o por ódio à fé católica. Mas não conseguindo fazê-lo apostatar, colocou-o junto com outros fiéis em barcos avariados, com a esperança de que perecessem nas águas. Milagrosamente preservados, chegaram sãos e salvos a Campânia, na Itália do Sul.

o Santo Euquérlo, Bispo

+ Hasbain, 738. Na juventude o santo j á era tido como prodígio de ciência e, sobretudo, de santidade. Foi devotíssimo da Santíssima Virgem, a quem chamava constantemente de querida Mãe. Bispo de Orleans durante mais de 15 anos, sofreu desterro em Hasbain após ser caluniado.

2 São Pedro Damião, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

+ Ravena, 1072. Ingressou na Ordem dos Camaldulenses. Nomeado cardeal-bispo de óstia , aceitou o cargo a contragosto, sob pena de excomun hão. Deixou mais de 158

cartas, 60 opúsculos, diversas vidas de santos e admiráveis sermões.

22 Cátedra de São Pedro

Todos os Papas, bispos de Roma e sucessores de São Pedro, a exemplo deste, são os chefes da única e verdadeira Igreja, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

23 São Policarpo, Bispo e Mártir

+ Cesareia (Turquia), 104. Foi discípulo de São João Evangelista. No Tratado das Heresias, Santo lrineu afirma que "Policarpo não só foi ensinado pelos Apóstolos e conversou com muitos que tinham conhecido em vida Jesus Cristo, mas deveu aos mesmos Apóstolos a sua eleição para bispo de Esmirna, na Ásia ". Por increpar corajosamente sacerdotes pagãos, teve sua cabeça decepada.

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panheiro Romeu, irmão leigo do convento. Contagiados pela peste negra, detiveramse na cidade de Lucca, onde morreram no intervalo de uma semana.

26 São Nestor, Bispo e mártir

+ 250. Quando se desencadeou a perseguição do Imperador romano pagão Décio, ocupava Nestor a Sé episcopal de Magidos, na Panfília. Preso, o oficial romano mostrou-se inicialmente benévolo com ele, mas tornou-se violento durante o interrogatório. Após novos interrogatórios, Nestor foi condenado a morrer numa cruz.

27 São Leandro, Bispo

+ Sevilha (Espanha), aproximadamente 600. Irmão de Santo Isidoro, abraçou muito cedo o monacato, sendo eleito bispo de _Sevilha em 579. Desempenhou papel importantíssimo na história religiosa da península ibérica, salvando

-a do arianismo. O Papa São Gregório Magno dirigiu-lhe algumas cartas, nas quais externa a grande afeição que lhe votava.

28 São Torquato, Bispo e Confessor

+ Cadiz (Espanha), séc.

1 ou li. Tido como o primeiro dos "Varões Apostólicos" - bispos enviados de Roma à península ibérica no I século - foi bispo de Cádiz, que edificou com sua ciência e virtude.

29 Santos Sacerdotes, diáconos e leigos

Alexandria - (séc.Ili) "Memória dos Santos Sacerdotes, Diáconos e de muitos outros cristãos que arrostaram a morte com todo o entusiasmo, quando serviam os doentes durante a avassaladora peste que grassou na época do Imperador Valeriano. No religioso sentimento dos fiéis, sempre foram venerados como mártires" (do Martirológio).

São Montano e Companheiros, Mártires

+ Cartago, 259. Estes sete discípulos de São Cipriano, quase todos eles sacerdotes, foram aprisionados um ano depois de seu mestre, torturados e decapitados por ódio à Fé sob o procurador romano Solon .

5 Santo Avertano e Beato Romeu, Confessores

+ Lucca (Itália), 1386. Avertano, devendo escolher seu estado de vida, recebeu a inspiração de entrar na Ordem dos Carmelitas. Tendo manifestado grande desejo de fazer uma peregrinação a Roma, os superiores deram-lhe por com1

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Inten ções para a Santa Missa em fevereiro Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquinl, nas seguintes Intenções:

• Rogando a Nossa Senhora de Lourdes (1858), cuja festa é comemorada pela Santa Igreja no dia 11 de fevereiro, que conceda a todos os leitores de Catolicismo - bem como àq ueles seus parentes mais necessitados - plena saúde de alma e de corpo.

Intenções para a Santa Missa em março • Nesta Semana Santa , pelos méritos infinitos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, pedindo as mais seletas graças para nosso País e nossas famílias; e para que cada um de nós particularmente seja conced ida a graça de um coração contrito e humi lhado na consideração das dores sofridas pelo Divi no Sa lvador.

catolicismo@terra.com.br / FEVEREIRO 2016 li

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DISCERNINDO

Uma princesa, um diário e uma guerra mundial CID ALENCASTRO

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família da princesa russa Marie Vassiltchikov teve de deixar seu país quando ela tinha pouco mais de um ano de idade, devido à perseguição de Lenine aos nobres. Tendo perdido suas propriedades, a família passou por vários países e se dispersou. Em 1940, aos 23 anos, Marie residia em Berlim com sua irmã Tatiana, exercendo funções burocráticas num ministério governamental, onde teve contato estreito com os conspiradores que tentaram matar Hitler no famoso atentado do coronel Stauffenberg. Transferiu-se depois para Viena, como enfermeira, na fase final da guerra.

Marie escreveu um diário extremamente interessante e ilustrativo, abarcando todo o período da guerra. Ele foi publicado em inglês depois de sua morte, ocorrida em 1978, corh acréscimos explicativos de seu irmão Georgie. Para conhecimento dos leitores citamos aqui alguns poucos trechos, extraídos da sua ed ição em língua portuguesa: Diário de Berlim 1940-1945, Editorial Boitempo, São Paulo, 2015. Situação em Berlim e Viena

1. "Um novo decreto do governo: nada de banhos, exceto nos sábados e domingos!" (p. 29) 2. "Nosso vizinho ao lado contou que, enquanto estava na fila do lado de fora do açougue_ onde costuma comprar carne, viu um burro morto sendo carregado para dentro pela porta dos fundos; ele notou pelos cascos e pelas orelhas, que ficaram de fora da lona que o cobria. E ntão é daí que os nossos schnitzels (b ifes) semanais podem estar vindo!" (p. 77) 3. "Hitler parecia ter algum encantamento mágico que o protegia, pois todo atentado contra ele fa lhava." (p. 140) 4. Enterros em Viena, na fase Interior do QG de Hitler após o atentado, em julho de 1944

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Bombardeiros allados sobre o céu da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundlal

final da guerra: Poldi Fugger, general condecorado da Força Aérea, "continua aqui para o enterro de sua mãe. Até o momento o enterro não pôde acontecer devido à falta de caixões. Parece que num primeiro momento as pessoas usavam os papelões que cobriam as janelas quebradas [pelos bombardeios] em muitos prédios, mas agora até isso está em falta. Alguns dias atrás Meli Khevenhüller me disse que ela me proibia de morrer agora: 'Você não pode fazer isso conosco', sugerindo que m u fu neral iria causar problemas demais! Não só faltam cai xões, mas os amigos e parentes do morto devem eles mesmos cavar a cova, pois todos os coveiros foram recrutados. Assim, em muitos lugares, há pilhas de caixões improvisados esperando o enterro. Enquanto durar o inverno, essa situação será apenas estranha, mas só Deus sabe o que acontecerá quando a neve derreter na primavera. Dias atrás foi realizado o funeral de um coronel. Havia até uma banda militar. Quando o caixão estava baixando para a cova, a tampa se abriu e apareceu o rosto de uma mulher grisalha. A cerimônia prosseguiu!" (p. 392)

Bombardeios britânicos em Berlim

1. "De noite eu estava numa festa quando o alarme soou. Os tiros eram muito altos e o pobre Maxchen Kieckbusch, cujos nervos ficaram em frangalhos depois de ser ferido na espinha, na França, rolava no chão gemendo sem parar: 'Eu não posso mais escutar isto '." (p. 73) 2. "Ataque aéreo. Eles estão me atacando os nervos. Agora meu coração dispara cada vez que começam as sirenes." (p. 101) 3. "Bombas caíam por toda parte: sobre a casa, a igreja e outros prédios. Ao todo, cerca de trezentas foram lançadas, de todos os tipos : os chamados 'torpedos aéreos', bombas explosivas, incendiárias etc. Um desses torpedos atingiu a igreja, que pegou fogo imediatamente. Um jovem correu para dentro, pegou o ostensório e o trouxe para fora, queimando as mãos gravemente." (p. 120) Cumplicidade dos Aliados com o comunismo soviético

l. 13-4- 1943: Encontrados numa cova 4.400 catolicismo@terra.com.br / FEVEREIRO 2016

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TFP americana:

aconteceu com o 'Exército de Libertação da Rússia' , do general Vlassov, os ingleses os fizeram acreditar que estavam sendo embarcados para outros lugares, mas, invocando os acordos de Yalta, os forçaram a voltar para a União Soviética. Muitos, inclusive mulheres e crianças, cometeram suicídio. Os oficiais superiores foram enforcados, e os subalternos fuzilados. Os outros desapareceram nos 'gulags', de onde poucos voltaram." (p. 300)

cursos de formação, Natal e campanhas contra a blasfêmia

Exemplo edificante

corpos de poloneses assassinados em Katyn, perto de Smolensk (Rússia). Tratava-se de poloneses que tinham sido aprisionados pelos soviéticos depois da invasão da Polônia. "A descoberta de Katyn foi altamente embaraçosa para os Aliados [... ]. Havia uma grande corrente de simpatia pelos 'galantes aliados soviéticos', o que tornava difícil o reconhecimento de que eles pudessem ser capazes de tal iniquidade. E assim um pacto de silêncio com a complacência dos Aliados bloqueou qualquer outra menção ao assunto até o final da guerra. [... ] Como entre as vítimas de Katyn havia 21 professores universitários, mais de 300 médicos, 200 advogados e 300 engenheiros, além de centenas de professores de escola, jornalistas, escritores e industriais, na Polônia o massacre é visto como uma tentativa de eliminar todos os não comunistas que poderiam liderar o país após sua libertação." (p. 171) 2. Liderados pelo general Andrei Vlassov, o 'Exército de Libertação da Rússia' , composto por russos anticomunistas, lutou contra a Rússia soviética. Em 1945 "se renderam aos Aliados, que, invocando os acordos de Yalta, os entregaram à atenção misericordiosa de Stalin. Muitas dessas 'vítimas de Yalta' preferiram se suicidar a voltar para casa. As outras foram fuziladas imediatamente ou enviadas para o gulag, de onde poucas retornaram. Vlassov, com seus generais superiores, foi enforcado em Moscou em 1946." (p. 258) 3. "Os cossacos, cuja maioria era tradicionalmente anticomunista, foram dos combatentes mais motivados ideologicamente [...]. Nas últimas semanas da guerra eles abriram caminho até a Áustria, onde cerca de 60 mil se entregaram ao Exército britânico. Como

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"Entre os prisioneiros dos nazistas (muitos deles cristãos fervorosos) havia vários clérigos. Através de subornos ou conseguindo a colaboração dos guardas por outros meios, os padres católicos conseguiam ouvir os prisioneiros em confissão e dar absolvição; um dos presos auxiliares trazia uma carta com a confissão e levava outra com a absolvição, junto com uma hóstia consagrada em outro envelope. Assim, apesar do confinamento solitário e da regra de silêncio absoluto, formou-se uma rede de solidariedade cristã que nem mesmo a Gestapo conseguiu romper" (p. 365). Sem entrar no mérito da validade de uma absolvição por carta, o certo é que uma tão grande fé atrai o perdão e a misericórdia de Deus. Nazistas contra a nobreza

1. O jornal oficial da SS [organização paramilitar nazista], Das Schwarze Korps (A Corporação Preta) tem escrito violentamente sobre a "blaublütige Schweinehunde uns Verriiter" ("a corja traidora de sangue azul"). (p. 368) 2. Comentário sobre a situação da nobreza austríaca depois da anexação do país pela Alemanha: "Há uma grande diferença, eu acho, entre a geração dos aristocratas austríacos, que dirigiam um império, e a geração atual que, quase todos, são profundamente provincianos e, mesmo quando há muito dinheiro à volta, mal e mal conseguem falar alguma língua estrangeira e muito poucos estiveram fora da Áustria por algum tempo. Além disso, embora sejam charmosos e em geral uma boa companhia, eles são pesos-leves demais, poucos têm aquelas qualidades fundamentais e sólidas que caracterizam os bons alemães da mesma geração, dos quais conheci tantos em Berlim. Isso pode ser em parte, é claro, consequência do Anschluss (anexação) de 1938, com suas restrições subsequentes (serviço militar, trabalho compulsório etc.), a que se seguiu esta guerra, quase de imediato." (p. 387). ❖

FRANCISCO JOSÉ SAIDL

ntre os dias 20 e 25 de novembro último, enfrentando o clima frio às margens do rio Buffalo, dezenas de adolescentes participaram do V Acampamento de Outono, também denominado Apelo à Cavalaria, na cidade de Ozarks (Arkansas). Alguns pais também participaram da programação, que constou de jornadas de formação, estudos, atos de piedade, reflexões e exercícios de vivacidade, promovido pela seção da Luisiana da TFP norteamericana, que atua no extremo sul do país. Entre o Natal e o Ano Novo, programa análogo realizou-se na sede central em Spring Grove (Pensilvânia). Além disso, o

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coro da TFP americana fez uma apresentação musical na Santa Missa celebrada segundo o rito tradicional na igreja de São Lourenço, na cidade de Harrisburg. No final, ao som do órgão, de tímpanos e de trompetes, foi entoado o Gloria in Excelsis Deo, acompanhado com entusiasmo pelos fiéis. *

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Bem ao contrário do que a Revolução gnóstica e igualitária propugna, através de .seus sequazes, para fazer desaparecer dos ambientes norte-americanos qualquer vestígio do Natal , esta festa magna da Cristandade

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continua viva e tem sido marcada por di versos eventos em louvor do Menino Deus, de sua Mãe Santíss ima e de São José. Pelo terceiro ano consecuti vo, alunos da Academia São Luís de Montfort, da TFP norte-americana, participaram em M iffli nbu rg de uma celebração de Nata l denom inada Christkindlmarkt, durante a qual puderam apresentar músicas natalinas tradi cionais. A nteriormente, no di a 12 de dezembro, eles organizara m um Open House - abriram as portas da Academi a para receber visitas. N a semana seguinte foi a vez da sede principal da TFP norte-americana, locali zada em Spring Grove, repetir esse costume anua l, abrindo suas portas para visitas do público vizinho. A mbos os eventos aco lhera m também fa miliares de membros da TFP, correspondentes e amigos da entidade, que p uderam tomar contato com as ati vidades da mesma, bem como visitar todas as instalações da sede. *

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A crescente onda de blasfêm ias ve io ultimamente se avolumando, de modo especial por ocasião da festa Magna da Cristandade. E m outros tempos, mesmo durante as duas guerras mundiais, nesta data os inimi gos cessavam de combater, a fim de comemora r o N atal. E ntretanto, contra as hostes de Satanás não podemos dar trégua. Assim, um conti ngente de membros da TFP norte-americana partiu da Pensilvânia para a d istante OklahoCATOLICISMO / www.catolicismo.com. br

ma, visa ndo protestar contra um abominável ato anti cristão. O site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, p ublicou sintética cobertura do evento: "Na no ite de N atal, quando as graças sensíveis da D ivina Prov idência descem sobre a humanidade, enchendo os homens de reco lhimento, hu mildade e veneração neste momento em que o Redentor do mundo se faz presente entre nós numa manj edoura, devendo ser adorado co mo Re i e Senhor do U niverso - , as almas ma is enlevadas da Cristandade se enchem de confiança porque sentem que as trevas em que o mundo atua l está submerso d iss ipar-se-ão. E os inimigos de Deus tremem, porqu e sa bem que a hora de sua derrota se aprox ima. "Foi com este estado de alma que fié is católicos de vári as partes dos Estados Un idos reuni ram-se na tarde do d ia 23 de dezembro último diante da Câmara Mu ni cipal de Oklahoma C ity, para reali zar um protesto organ izado pela American So-

ciety f or the Defense of Tradition, Family and Prop erty (TFP) e pela campanha America N eeds Fatima, em rep úd io ao ato sacríl ego e blasfemo que seria praticado no di a segui nte em frente 'à Catedra l de São José. Os manifestantes ped iam ao prefe ito M ick Cornett qu e revogasse a autorização conced ida a um grupo confessadamente satânico para profanar uma image m da Virgem Maria na véspera do Natal. "Mani festa ndo seu grande amor a Deus

e à Santíss ima Virgem, eles recitaram o Sa nto Rosário, cantaram hinos cató li cos e ostentaram dezenas de fa ixas e cartazes ex pressando os sentimentos dos partic ipantes no protesto: 'Revogue a au torização'; 'Satanás não tem direitos'; "Sacrilégio não é liberdade de ex pressão'; 'Vou defender o nome puro e santo de Ma ria com a minha vid a'; e mui tos outros. "O senador Steve F itzgerald, que veio de Kansas com sua esposa a Oklahoma C ity, partic ipou do protesto. Ele ressaltou a necess idade urgente de se manter fi rme na fé e defender a civilização cri stã - como numa nova batalha de Lepanto - co ntra os ataques das trevas. Francis Slobodni k, um dos d iretores de America Needs Fatima, diri giu-se aos presentes di zendo: "Nós não podemos dar à Sagrada Familia melhor presente no Natal do que defender a honra de Nossa Senhora. Este é o maior presente. "

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"Jovens vo lun tá rios da Ação Estudantil da TPP americana portavam grande cartaz com uma citação dos Provérbios (3 1,28) : "Seus .filhos

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se levantaram e A proclamaram Bem-Aventurada ". Membros da TF P Ameri cana, em traje de cerim oni a, ladeava m uma bela image m de N ossa Senhora de Fátima, que oc upava o cen tro do protesto. "Esse ato público fo i apo iado por mais de 47.000 e- mails de pessoas que assinaram uma petição online, promovida pela TFP ameri ca na e env iada ao prefe ito da cidade, pedindo a revogação da absurda autori zação "No di a seguinte, às 15:45, véspera do N atal, os vo luntári os da TFP ameri cana e outros fié is cató licos reuni ram-se para rec i-

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Senador Steve Fitzgerald

ta r um terço na calçada do outro lado da rua da catedral onde oco rreu o sacril égio. "As 16: 15, surgiram vári os satani stas. Seu líder, sini stro e fis icamente suj o, vestido com uma batina caricata que imitava a de um cardeal e com símbo los satâni cos usados ao redor do pescoço, empilhou a lgun s blocos de concreto na ca lçada para servir de pedesta l. Ali co locou o que pa recia ser uma imagem de N ossa Senhora de Lourdes, pondo a inda um rosá ri o ao redor do pescoço. "Assim caracte ri zado, esse indivídu o passou a cobrir a imagem com uma substância com aparênc ia de sa ngue. Esse repul sivo cul to satâni co durou menos de 30 minu tos. " O grupo fo rmado por 40 vo luntári os da TFP e fié is cató licos de Arkansas, Okl ahoma, Kansas e Texas, com a predominânc ia de jovens, rezou co m espec ial vigor e devoção a N ossa Senhora. Q uando os satani stas co meçara m seu ataque verbal contra a M ãe de Deus, o grupo aumentou o vo lume vocal da recitação do Rosári o, abafa ndo compl etamente as repugnantes blasfêmi as dos satani stas. O ato de reparação terminou com o cântico Queremos Deus." (http://ipco.org. br/ipco/ acao/cato Iicos-defe ndem-nossa-senhora- navespera-do-nata 1). ❖ catolicismo@terra.com.br / FEVEREIRO 2016

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"Quase um mundo de fadas, no qual se movimentam a sublimidade real e o esplendor da aristocracia"

•••• PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

foto é de uma galeria do caste lo de Fontainebleau (séc. XVI), na França. Uma galeria com perspectivas co lossais, nobres e imponentes. De dimensões tão amp las, que nela realizavam-se festas e bailes. Chamo a atenção para o teto. Os caixi lhos formam desenhos lindíssimos. Os lustres, altos e elegantes, causam a sensação de que estão flutuando. A preocupação ornamental é toda estabe lecida por um jogo de luz refletido no assoa lho. As janelas, muito altas, com um tipo de cristal vagamente leitoso, de maneira que a luz entra meio tamisada, tocando o assoalho esp lendidamente encerado. Uma luz nobre, que revela a categoria de espírito, numa espécie de mundo irreal, superior, diáfano. Quase um mundo de fadas, no qual se movimentam a sublimidade real e o esp lendor da aristocracia. O jogo de luz da janela, com o marrom claro, uma cor meio pérola, dá a nota cromática da galeria. Um painel com um escudo com as três flores de lis e elementos herá ldicos se repete, formando painéis muito variados; as banquetas repetem-se também. Un idade na variedade, compondo uma harmonia central: no fundo, duas portas servem de enquadramento para um busto do Rei Francisco l , nimbado de glória dentro do jogo de luz. O que me parece tão bem pensado que o indivíduo vê a ga leria, gosta, mas não é capaz de exp licitar, pois, para isso, é preciso tempo. Convém imaginar nessa galeria as danças da época, que começavam com a pavana e acabavam com o minueto. Ao som de uma orquestra com alguns vio linos tocando, damas riquíssimamente vestidas fazem reverência ao Rei e começam a dançar, enchendo a galeria com suas harmonias, seus perfumes e reflexos; o brilho das roupas e a elegância das pessoas famosas - sen horas e senhores que tinham governado feudos , participado de guerras e de ações diplomáticas. Nesse ambiente, notamos um dos aspectos do esplendor. Eu sustento que quem é capaz de amar isso, tem capacidade muito maior de idealismo e de amar a Deus, do que quem não ama esse esp lendor. ❖

A

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 31 de outubro de 1966. Sem revisão do autor.

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SUMÁUIO

EXCEUTOS

ANGELUS a oração do Angelus, há três pontos essenciais: - "O Anj o do Senhor anunc iou a M ari a. E Ela co ncebeu do Espíri to Santo". - "Eis aqui a Escrava do Senhor. Faça-se em mim egundo a vossa palavra". - "E o Verbo de Deus se fez carne. E habi tou entre nós" . O fato de ter havido uma mensage m angé li ca; a atitude de Nossa Senhora de in teira obediência a essa mensagem, e o fato do Verbo de Deus não apenas Se ter enca rnado, mas ter hab itado entre nós, nesses três pontos está condensada toda a hi stória do Natal. E de uma fo rma tão sin tética, lógica e densa, que não se deveri a acrescentar nada mais. Cada ponto é seguido da recitação de uma Ave-Mari a, que é uma glorificação da Santa Mãe de Deus, por esse aspecto daque la verdade que o Anj o anunciava. O ma ior fato da H istória da humanidade, a maior honra para o gênero humano, é exatamente o fa to de o Verbo ter-se encarnado e habitado entre nós. Tornou-se hábito na piedade católi ca repetir essas verdades e louvar Nossa Senhora, pedindo- lhe graças a propós ito dessas verdades. É a recitação da oração do Angelus, rezado pela ma nhã, depois ao me io-dia, e no fi na l da ta rde, às 6 horas. Tem-se a im pressão de um vitral que vai mudando de colorido, assim co mo o Angelus vai mudando de matizes de acordo com as horas do dia. A Igreja cató li ca to ma essa joia, que é o Angelus, e a agita nas vári as horas do dia, co mo para tira r dela toda a beleza. Ass im, compreende-se como nas coisas católi cas - que são todas construídas na Fé, com uma espécie de instin to do Espírito Santo pa ra se fazer bem fe itas - , encontra-se um mundo de harmonia. Admiráve l harmoni a entTe a maior c lemên ia, a ma ior simplicidade e a maior profu ndeza de conceitos. Uma espécie de beleza indefi nível que tem enfe ites poéticos e li terários, que não entra m em choque, mas, pelo contrári o, é uma espécie de complemento. ❖

N Plinio Corrêa de Oliveira

Comentário de Plinio Corrêa de Oliveira a propósito da festividade da "Encarnação do Verbo de Deus", celebrada pela Igreja no dia 25 de março - que neste ano, por admirável coincidência, corresponde ao mesmo dia da Sexta-Feira Santa, quando se celebra a Paixão e Morte na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

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POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? Agonia do amor filial

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DESTAQUE 500 anos da Revolu ção Protestante: estranha comemoração

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CORRESPONDÊNCIA Diretor: Paulo Corrêa de Búto Filho

14

16

A REALIDADE CONCISAMENTE

Jornalista Uesponsável:

SOS .FAMÍLIA

Nelson Ramos Bnrret to Registrado na DRT/DF sob o n'' 3116

Roma: Gigantesca mobilização em defesa da família

19

INTERNACIONAL Colômbia : "Acordo de paz" favorecedor da narcoguerrilha

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VARIEDADES Fracasso do Fórum Social Mundial

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CAPA Meditando a Paixã o de nosso Divino Salvador

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Ol iveira em 1° de ma rço de 1965, sem revisão do autor

Serviço de Ateudimeuto uo Assinante: (11) 3331-4'522 (11) 3361-6977 (11) 3331-4790 (11) 2843-9487 (11) 3333-6716 (11) 3331-5631 fa x Corres11011dência: Caixa Posta l 707 CEP 01031-970 São Paulo - SP

VIDAS DE SANTOS . São Francisco de Paula - 600 anos de seu nascimento

38

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DISCERNINDO

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Estilo marxista do "Movimento Passe Livre "

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40

SANTOS E FESTAS DO MÊS

ISSN 0102-8502 P·reços da assinatura anilai para o rnês de Março de 201 6:

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AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

52

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES A morte de São José, assistido por Nosso Senhor e pela Virgem Puríssim a

A Anunciação - Anton Raphael Mengs, séc. XVIII. Museu Hermitage, São Petersburgo (Rússia)

2

CATOL ICISMO

Nossa Capa: Cristo Flagelado, imagem procedente do Canadá.

Co m11m: Coopei·ador : Benfeitor: Grande Bon foi tor: Exempla r avulso:

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CATOLICISMO Publicnçüo 'm c11Snl da ]~ditorn Pad re l;lolohior de Pootes Ltcln.

Foto: Pa ul o Ca m pos

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CARTA DO DIRETOR

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

Ca ro leitor, Transcorrendo neste mês a Semana Santa, apresentamos como matéri a de capa excertos de admirável confe rência de Plinio Corrêa de Oliveira, proferida em IOde fe vereiro de 1976, na qual ele descreve de modo pungente os sofrimentos da Paixão de Nosso Senhor, ao analisar uma inspirada escultu ra de Cristo fla gelado, coroado de espinhos. É uma imagem do Deus humanado que ressalta os trágicos sofrimentos que padeceu. Os verdugos exerceram sua ação com especial furor para desfigurar aquele corpo sagrado, até que fi casse semelhante a uma enorme chaga. A imagem é de tal reali smo, que cabe a pergunta: como foi possível ao povo eleito por Deus rejeitar daquela maneira seu grande Benfeitor? Os judeus deicidas de então odiaram o Messias que lhes havia concedido favores e graças ex traordin árias. E eles O recusa ram devido à perversidade de suas mentes e corações. Às pavorosas dores fis icas somaram-se os padecimentos morais. O orador rea lça que a face e o olhar do adorável Redentor O mostram meditando a partir de um ponto altíssimo, do mais alto ponto de consideração que se pode atingir. Em meio a tanta dor, Ele estava absorto nas mais altas cogitações, revelando toda a sua nobreza e força moral. Mostram também até que ponto pode chega r a malícia dos seres humanos, devido não só à crueldade, mas também à indife rença das almas tíbias. Nosso Divino Salvador considerou tudo isso naquele passo da Paixão, mas considerou também as almas fe rvorosas que O adora ri am, enl evadas de admiração, meditando sobre aquela trágica situação. Na escultu ra, que poderia ser denominada "Rei da Dor", tra nsparece ansiedade e angú tia, embora sem agitação. Seu olhar meditati vo parece expressa r: "Todo este sofrimento tem sentido e chegarei até o fim desejado". O ex positor observa ainda que, a rogos da Santa Mãe de Deus, ali presente, aqueles sofrimentos fora m suportados em nosso beneficio. Naquele transe, Ela exerceu de modo eminente sua ação de Medi aneira de todas as graças. Aplica ndo essas considerações aos contemporâneos, Plinio Corrêa de Oliveira observa que o sofrimento de um verdade iro cató lico, se aceito com espírito de fé, pode ser co mparado, por analogia, aos sofrimentos infi ni ta mente preciosos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Embora no as do res, f1 icas ou mora is, sejam insignifica ntes em relação à d' lc. Espera ndo que ta is refl exões possam se r pr vc itosas para nosso di lcto leitores durante a Semana Santa, envio-lhes meu vot s de u111 '1 , anta e Feli z Páscoa. Em Jes us e Mari a,

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çl--~

P,OR QUE

N OSSA SENHORA CIIORJ1?

Fenece o vínculo mãe-filho

O

leitor notou que praticamente não se fa la mais em amor fili al nem mesmo em amor

materno? Exaltada durante todo o séc ulo XIX e gra nde parte do sécul o XX co mo o víncul o sagrado por excelência nas relações humanas, a intimidade mãe-filho parece ter perdido seu vi ço neste século XXI , co mo uma flor qu e murchou. O qu e se encontra na literatura, na pintu ra e nas artes em geral dos séculos passados, exaltando o amor recíproco mãe-fil ho, é admiráve l e abundante. E ta l sublimação artística constituía apenas um refl exo da rea lidade social então vigente. . O filh o podi a ter-se tornado o pior dos homens, abandonado de todos e vil ipendi ado até pelos amigos mais próx imos; a úl tima coisa que o acompanhava, aonde quer que seus crimes o tivessem levado, era o amor materno. Este nunca o abandonava. Reciprocamente, a mãe era sempre a fig ura venerada pelo filh o. Ele poderi a tolera r qu alquer ofensa a si mesmo, a seus íntimos e até a seu pai, mas uma ofensa a sua mãe o transportava de indignação e o fazia sair de si de có lera. O que aconteceu para que esse vínc ul o, que parecia imposs íve l

O amor de uma mãe - Gaetano Chierici, séc. XIX. Coleção Particular.

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DESTAQUE ser rompido, fosse se adelgaçando, adelgaçando, até praticamente se dissolver nos dias de hoje? Antes de responder a essa dolorosa pergunta, vejamos rapidamente alguns exemplos chocantes, todos desta década. *

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Si lvana, de 48 anos, é acusada de matar por asfixia a própria filha e de esconder o corpo da criança, para se vingar do ex-marido. O .caso aconteceu em Santa Catarina e chocou a cidade de Tubarão. ("Notícias R7", 16-4-13). Uma idosa de 79 anos foi espancada até a morte pelo próprio filho na noite desta terça-feira, 12, no município de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, dentro da casa da família. O rapaz utilizou uma escada para matar a mãe. ("O Estado de S. Paulo", 13-1-16). Uma mulher matou o próprio filho de quatro anos na zona norte de São Paulo, afogando-o na pia do banheiro. Quando a polícia chegou, a mulher confessou que matou a criança, pois o filho estava possuído pelo demônio. (" da Band - Notícias", 15-10-1 Um sírio de 20 anos exe cutou em público a mãe, após ela tentar convencê-lo a abandonar o grupo extremista EI. A mãe [foi] implorar ao filho que retornasse para casa, pois temia a morte dele nos bombardeios à cidade. O jovem informou os superiores, que determinara m a detenção da mulher. Após a detenção, o próprio filho recebeu a ordem de exe6

cutar a mãe com um tiro na cabeça, diante de quase 100 pessoas reunidas em uma praça de Raqqa. ("O Estado de S. Paulo", 9-1-16). Desde o início do ano, mais de uma dezena de mães assassinaram seus filhos no Brasi l. Quem o desejar, confira quai s foram os casos mais chocantes. ("Portal Terra", setembro/201 O). No fim de 2014, no Jaçanã, zona norte de São Paulo, uma mãe foi morta [por seus filhos] com go lpes de martelo. Os dois irmãos vão responder por latrocínio qualificado por motivo fútil. ("Jorna l da Band", 27-2-15).

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Esses são exemplos extremos de uma realidade mais ampla que é a agonia do amor recíproco mãefilho. Por mais que esse víncu lo seja sagrado na ordem natural, ele não resistiu à onda de pagani zação geral da sociedade moderna: divórcio, controle artificial da natalidade, aborto, feminismo etc. Pois só a civi lização cristã, modelada pela graça de Deus, mantém e vivifica as instituições humanas, mesmo as mais arraigadas. Afastando-se de Deus e de sua santa Religião, tudo fenece, tudo degringola. Por isso Nossa Senhora chora. Embora algum tempo atrás o desaparecimento do amor entre a mãe e o filho pudesse parecer impossível, entretanto a realidade aí está para desmentir essa ilusão, e para confirmar que fora das vias sagradas da civi lização cristã nada de bom se mantém. ❖

O simbólico gesto do Papa Francisco comemorando o heresiarca Lutero LUIZ SÉRGIO SOLIMEO

M

uitas vezes os atos e gestos simbóli cos têm maior força de persuasão do que as palavras e os raciocínios, embora ambos se comp letem. Foi assim com o Divi no Salvador, que alternava continuamente sua pregação com gestos simbó li cos e o uso de metáforas e parábolas. Também por essa razão a Igreja sempre se cerco u de símbo los, a fim de tornar mais perceptíveis a beleza de sua doutrina, a sacralidade de sua li turgia, a dignidade e a autoridade de seus hierarcas. O Papa era coroado solenemente, para simboli zar o poder a ele conferido por Nosso Senhor como sucessor de São Pedro no governo da Igreja e orientação da Cristandade.

Lutero queima, em praça pública, a bula papal

Magistério por atos simbólicos

O Sumo Pontífice atual faz muito uso dos gestos simbóli cos e tem um magistério mais feito de atos e atitudes do que propriamente de palavras, embora as utilize, infelizmente com frequência, de modo confuso e mesmo escandaloso, como o famoso "quem sou eu para julgar?" Na linha de seu magistério através de atos e gestos, reveste-se de suma gravidade sua anunciada participação nas comemorações da revolta do monge apóstata e heresiarca Martinho Lutero. Com efeito, como informou o "Vatican Informati ve Service" de 25 de janeiro último, o Papa Francisco irá neste ano à cidade de Lu nd, na Suécia, onde

"presidirá uma comemoração conjunta da Reforma em 31 de Outubro " 1 com dirigentes lu teranos Como se recorda, foi nessa data que, em 151 7, Lutero teria

afixado as suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. 2 A comemoração de um fato histórico não é urna simples lembrança do mesmo, como poderia ocorrer numa au la de hi stória. É a rememoração festiva e com louvor de algo que se julga di gno de admiração, imitação ou mesmo de devoção. É assim que o orbe católico catolicismo@terra.com.br / MARÇO 201 6

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em seu libelo de i 545 intitulado Contra o Papado em Roma, fundado pelo diabo. Na esteira desses tratados, publicou uma série de xilogravuras escatológicas e violentas que, de um modo grqfico, sugeria como os bons cristãos deviam tratar o Papado. Nesses e em outros tr; tados, Lutero bestializava seus oponentes, com maior .fi'equência comparando-os com suinos ou burros, ou chamando-os de mentirosos, assass inos, e hipócritas. Eles eram todos os asseclas do demônio. [... ] [chamou o Papa Paulo Ili , 1534- 1549] 'Sua Sodomita Infernal ' Papa Paula ill, e utilizou palavras como excremento por toda parte com toda naturalidade. Nas xilogravuras por Lucas Cranach, que Lutero encomendou no.final de sua vida, [... ] sugeria, mais uma vez, que o Papa, os cardeais e bispos deviam ser pendurados na.forca com suas I ínguas de.fora". 4

comemorará em 2017 o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima. Corno pode o Papa Francisco participar ativamente das comemorações da revolta de Lutero contra a Igreja e o Papado sem dar a impressão a católicos e não-católicos de que ele adm ira os atos e as doutrinas do heresiarca? Condenação solene dos erros de Lutero

Convém lembrar que na Bu la Exurge Domine, ele 15 de junho de 1520, o Papa Leão X condenou so lenemente 41. dos erros defendidos por Lutero em 1. 5 17: "Pela autoridade do Deus Todo-Poderoso, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e de nossa própria autoridade, nós condenamos, reprovamos, e rejeitamos completamente cada uma dessas teses ou erros como heréticos, escandalosos, falsos, ofensivos aos ouvidos piedosos ou sedutores das mentes simples, e contra a verdade católica. Listando-os, nós decretamos e declaramos que todos os .fié is de ambos os sexos devem considerá-los como condenados, reprovados e rejeitados [... ] Nós os proibimos a todos em nome da santa obediência e sob as penas de uma automática excomunhão ... " Do mesmo modo, o Papa condenava os outros escritos de Lutero: "A inda mais, por causa dos precedente · erros e de muitos outros contidos nos li vros ou escritos e sermões de Martinho Lutero, nós do mesmo modo condenamos, reprovamos e rejeitamos completamente os livros e t9dos os escritos e sermões do citado Martinho, seja em Latim seja em qualquer outra língua, que contenham os referidos erros ou qualquer um deles; e de ·ejamos que Sf!jam considerados totalmente condenados, reprovados e rejeitados. Proibimos a todos e a qualquer um dos fiéis de ambos os sexos, em nome da santa obediência e sob as penas acima em que incorrerão automaticamente, de /e,~ sustentar, pregw; louva,~ imprimi!'; publicar ou defendê-los ". 3 Furor contra o Papado

Em seu estilo arrogante e vulgar, a resposta do heresiarca foi o panfleto de 4 novembro desse mesmo ano, Contra a Execrável Bula do Anticristo, no qual proclamava: 8

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O mesmo artigo informa: "Quando perguntado por que havia publicado as caricaturas, Lutero respondeu ter p ercebido que não tinha muito tempo de vida e que ainda tinha muito a ser revelado sobre o Papado e seu reino. Por esta razão, ele havia publicado as figuras, cada uma valendo por um livro, do que deveria ser escrito sobre o Papado. Era - afirmou ele - seu testamento". 5

"Tu, então, Leão X, e vós cardeais e o resto de vós em Roma, eu vos digo em vossa face [... ] a renunciar à vossa blasfêmia diabó lica e impiedade audaciosa, e, se não mudardes, teremos vosso luga r como possuído e oprimido por Satanás e como o maldito assento do Anticristo." O furor de Lutero contra o Papado levou-o a incorrer sempre mais na vulgaridade, chegando a u ar termos e a encomendar e promover gravuras inimagináveis (um exemplo acima). Com um pedido de desculpas ao leitor, transcrevemos aqui urna amo tra. Trata-se da apreciação feita por um hi storiador protestante do libelo de Lutero Contra o Papado em Ro11 w, .fi111dado pelo diabo, publi cado na rev ista Con ·ordio 711eologica/ Quarterly da Igreja Luterana do ínodo de Mi ssouri : "Lutero supe:m11 ate; 111esmo a violência e a vulgaridade da onlra l lanswurst [na qual atacava o duq ue cató lico l lenrique de Brunswick l

Em 1529, Lutero proclamava: "Sob o papismo nós estávamos possuídos por cem mil diabos ". 6 Uma das mais suaves críticas de Lutero ao Papa é este seu comentário nas Conversas à mesa: "A nticristo é o papa e o Turco [o Grão-Turco] em conjunto; uma besta cheia de vida deve ter um corpo e uma alma; o espirita ou alma do anticristo é o papa, sua carne ou o corpo, o Turco. O segundo assalta e persegue a igr~ja de Deus cmporalmente; o primeiro, espiritual e também corporalmente, com enforcamentos, fogueiras, assassinatos etc. " 7 Doutrina da falsa misericórdia

A essência da doutrina de Lutero é a justificação somente pela fé. Mas a consequência dessa doutrina é um fa lso conceito da misericórdia de Deus. Analisando o li vro do Cardeal Walter Kasper, Misericórdia: A

Essência do Evangelho e a chave da vida cristã, Frei Serafi no La nzetta escreve: "Historicamente, segundo julga Kasper, apoiado por O. H. Pesch, 'a idéia de um Deus vingativo e castigador lançou muitos na angústia em relação à sua salvação eterna. O caso mais conhecido, e um prenúncio de graves consequências para a História, é o do jovem Martin lutero, que.foi durante muito tempo atormentado pela pergunta: 'Como posso encontrar um Deus bondoso? ', até que ele reconheceu um dia que, no sentido da Biblia, a justiça de Deus não é a sua justiça pÚnitiva, mas a sua justiça justificadora e, portanto, sua Misericórdia"'. 8

Essa doutrina está bem sintetizada na fa mosa carta de Lutero a Melanchthon em 152 1: "Se você é um pregador da misericórdia, não p regue uma misericórdia imag inária, mas a verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, você deve levar em conta um verdadeiro pecado, não um pecado imaginário. Deus não salva aqueles que são apenas pecadores imaginários. S~ja um pecado,~ e peque .fàrt.emente, mas que sua confiança em Cristo s~ja mais forte, e alegre-se em Cristo, que é o vencedor do pecado, da morte e do mundo. [... ] Basta que através da glória de Deus reconheçamos o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Nenhum pecado pode nos separar d'Ele, mesino que matemos e cometamos adultério milhares de vezes por dia. Você acha que t.al Cordeiro exaltado pagou apenas um pequeno preço com um magro sacr/flcio pelos nossos pecados? Reze f orte porque você é um grande pecado1ê No dia da Festa de São Pedro Apóstolo, i 521 ".9 Em outro luga r, escreveu Lutero: "É conveniente que nós nos /.ornemos injustos e pecadores, a.fim que Deus s~ja reconhecido justo em suas palavras ". 10 Alguns escritores, mesmo católicos, procuram apresentar essas palavras ele Lutero como meras hipérboles, urna vez que ele ta mbém fala contra o pecado. No entanto, essa doutrina do peccafortiter (peca fortemente) é a consequência da "iluminação" que ele recebeu na cloaca do convento, ou seja, de que é somente a fé, sem as obras - a "sola.fide" - que sa lva. 11 Já em 1516, portanto antes de sua revolta pública, catolicismo@terra.com. br / MA H(:0 2016

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fesa da Igreja e do Papado, escreveu estas palavras de advertência: "Não compreendo como homens da Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres, mitifiquem a _figura de lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecumênica, de imediato com o protestantismo e indiretamente com todas as religiões, escolas.filosóficas etc. E concluiu: "Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a .formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria - se até lá se pudesse chegar - a verdade total; isto é, a f é católica apostólica romana, sem nódoa nemjaça ".22

Lutero escrevia ao seu confrade agostiniano George Spenlein: "Sê um real p ecado,; porque Cristo habita apenas nos pecadores ". 12 No seu panfleto A igreja no Cativeiro da Babilônia, Lutero deixa claro que o único pecado pelo qual uma pessoa pode se perder é o da incredulidade. Crendo, uma pessoa, por maior pecador que seja, estará salva: "Veja quão rico é, portanto, um cristão, aquele que é batizado! Mesmo que ele queira, ele não poderá se perde,; por mais que peque, a menos que deixe de crer. Porque nenhum pecado pode condená-lo, fora a incredulidade. Todos os outros pecados, enquanto retorne ou permaneça afe na promessa de Deus f eita no batismo, todos os outros pecados, digo eu, são imediatamente apagados por essa mesma f e, ou melho1; através da verdade de Deus, porque Ele não pode negar a si mesmo ". 13 Em um sermão de 1532, Lutero pregava: "Tirando a incredulidade, não há mais pecados: todo o resto são bagatelas. Quando meu pequeno Joãozinho vai def ecar em um canto, a gente ri e acabou-se [... ]. Resumo dos resumos: a incredulidade é o único pecado em relação ao Filho [de Deus]". 14 Lutero: a Missa católica, pior que um prostíbulo

Lutero pregava em 1524: "Sim, eu o digo, todos os prostíbulos, condenados, entretanto, severamente por Deus, todos os homicídios, mortes, roubos e adultérios, são menos prejudiciais do que a abominação da Missa papista ".15 No já citado panfleto O Cativeiro da igreja na Babilonia, Lutero dizia que o padre "oferecendo a missa · [ ] · d ·d d t " 16 como um sacr!,i· 1 1cw .. . e o auge a pervers1 a e . . O Espirito de Verdade não induz ao erro

As citações poderiam continuar, mas os textos apresentados são suficientes para deixar claro que as doutrinas e a personalidade do heresiarca - cuja revolta arrastou nações inteiras para fora do único redil de Cristo - nada têm de comum com a Igreja Católica. Não se entende então por que o atual Papa, ele

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A Igreja vencerá mais esta crise

mesmo um jesuíta, Ordem religiosa suscitada por Deus para combater o Protestantismo, empreenda uma viagem para comemorar o centenário de uma revolta contra a Igreja. A mi são dada a São Pedro foi a de alimentar as ovelhas ele Cri sto; 17 o encargo de confirmar os irmãos na fé ; 18 ele recebeu as chaves do reino dos Céus 19 para conduzir as almas à bem-aventurança eterna. O Concílio Vati ca no 1 deixou claro que: "O Espirita Santo foi prometido aos sucessores de Pedro não para que eles possam, por sua revelação, dar a conhecer algumas novas doutrinas, mas que, pela sua assistência, possam guardar religiosamente e expor fielmente a revelação ou depósito da .fe transmitida pelos apóstolos ". 20 Com efeito, o Espíri to Santo é um "Espírito de Verdade" 2 1 e não pode inspirar o erro, seja por meio de palavras, atos, gestos ou atitudes. "Um sinistro supermercado de religiões"

Em situação semelhante, por ocas ião do quinto centenário do nascimento cio monge apóstata, o Prof. P linio Corrêa de Oliveira, que ded icou sua vida à de-

No seu luminoso ensaio Revolução e Contra-Revolução, o mesmo pensador católico escreveu estas palavras cheias de esperança sobre a lgreja: "Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas, poderia ela dizer ufàna e tranquila em meio às tormentas por que passa hoje. A lgr~jajá lutou em outras terras, com adversários oriundos de outras gentes, e por certo enfrentará ainda, até o .fim dos tempos, problemas e inimigos bem diversos dos de hoje "23 . Aproximando-se o centenário das apançoes de Nossa Senhora em Fátima, peçàmos a E la que apresse o cumprimento da promessa feita nessa ocasião: "Por .fim o meu Imaculado Coração triunfará ". ❖

Notas:

1. http://www.news.va/ en/news/joint-ecu men ical-com memoration-of-the-reformation (Salvo indicaçã o em contrário, todas as ênfases nos textos aqui citados são do autor deste artigo). 2. O historiador Pe. Ricardo Garcia-Villoslada, S.J., em seu livro sobre Lutero, apresenta argumentos e documentação muito convincentes de que este ato não se deu. Nem Lutero o menciona em seus escritos, nem tal fato é registrado por cronistas contemporâneos. Foi somente depois de sua morte que Melanchthon, que não estava em Wittenberg nessa época, mencionou o suposto ato. Caso ele tivesse ocorrido, posto que era véspera de Todos os Santos, uma festa muito concorrida na igrej a do Castelo de Wittenberg, teria chama-

do muito a atenção e seria referido nas crônicas. (Ricardo García-Villoslada, Lutero EI Frayle Hambriento de Dios, BAC, Madrid, 1973, v. 1, pp.334-338). Mas o que importa é que, real ou não, esse fato ficou como símbolo da revolta luterana. 3. Leão X, Exsurge Domine , 15.06.1520, Tradução: José Fernandes Vidal, em http:/ /agnusdei.50webs.com/ exsdom1. htm, acessado em 2/2/16. 4. Mark U. Edwards, Jr., Luther's Last Battles, Concordia Theological Quarterly, Volume 48, Numbers 2 & 3 Abril-julho 1984, pp. 126-127 (emphasis original), http://www.ctsfw. netjmedia/ pdfs/ edwardslutherslastbattles.pdf, acessado em 29/1/16. 5. Idem, p. 133. 6. Werke, t. XXVIII, p. 452, 11, apud J. Paquier, Luther, Dictionnaire de Théologie Catholique, v. IX, premiere partie, col.1170. 7. The table-talk of Martin Luther, tradução: William Hazlitt, Esq. 8. Philadelphia: The Lutheran Publication Society. 1997, at http://reformed.org/master/index.html?mainframe=/documents/Table_talk/table_talk.html, (acessado 27/1/16). Fr Serafino M. Lanzetta, Kasper' s Perplexing Notion of "Mercy" Is Not What Church Has Always Taught - an extensive book review, and its implications for Marriage, at http:// rorate-caeli.blogspot.com/2014/09/kaspers-perplexing-notion-of-mercy-is.html, acessado 1/2/126. 9. Let Your Sins Be Strong: A Letter From Luther to Melanchthon, Letter no. 99, 1 August 1521, From the Wartburg (Segment) Translated by Erika Bullmann Flores from: Dr. Martin Luther's Saemmtliche Schriften Dr, Johannes Georg Walch, Ed. (St. Louis: Concordia Publishing House, N.D.), Vol. 15,cols. 2585-2590. http://www.iclnet.org/pub/resources/ textjwittenberg/luther/letsinsbe.txt (acessado 27/1//16). 10. Werke, t. IV, p. 343, 22, apud J. Paquier, Luther, Dictionnaire de Théologie Catholique, v. IX, premiere partie, col. 1212. 11. Em 1532 Lutero fazia a seus convivas a seguinte confidência , recolhida nas Conversas à mesa: "O Espírito Santo me deu essa intuição nesta cloaca " (T.R., t. li, n. 1681, t. Ili, n. 3232ª, in Paquier, col. 1207). 12. Enders, Luthers Briefwechsel, 1, p. 29, in Hartmann Grisar, S.J., Martim Luther his Life and Work, The Newman Press, Wstminster, Maryland, 1960, p. 68. 13. Martin Luther, The Babylonia·n Captivity of the Church - A prelude 1520, 3.8, at http://www.lutherdansk.dk/Web-babylonian%20Captivitate/Martin%20Luther.htm (acessado 281// 16). 14. Werke, t. XXXVI , p. 183, 7, in Paquier, col. 1249. 15. Werke, t. XV, p. 774, 18, apud J. Paquier, col. 1170. 16. The Babylonian Captivity of the Church, n. 7.11, http://www. lutherdansk.dk/Web-babylonian%20Captivitate/Martin%20 Luther.htm. 17. São João 21:15-17. 18. São Lucas 22:32. 19. São Mateus 16:19. 20. Denzinger 1836. 21. São João 14:21. 22. Lutero pensa que é divino!, 10 de janeiro de 1984, "Folha de S. Paulo", at http://www.pliniocorreadeoliveira.info/ FSP_84-01-10_Lutero_pensa .htm#.VrE9ilkwCZM, acessado 2-2-16. 23. Revolução e Contra-Revolução, li, 12, at http://www.pliniocorreadeoliveira.info/RCR.pdf. acessado 3-2-16.

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CARTAS DOS LEITORES .............................................................. Vetar a mídia esquerdista A China verm elha sustenta diversos movimentos marxis-

bre o estado de nosso País, vítima da ideologia comun ista do PT. O brasileiro, mundialmente conhecido por sua cordura e caráter bondoso, torna-se irreconhecível sob a impiedosa féru la petista. Mud emos de governo antes que o governo mude nosso modo cristão de ser.

(N.R.F-MS)

(Mt 5,10). Nossos irmãos na fé na nação dominada pelo comunismo ch inês estão sofrendo perseguição por amor

tas no mundo. É um plano pa ra passar da sistemática perseguição interna contra o catolicismo à perseguição

à justiça, logo são bem-aventurados e terão a recompen-

Fio de seda

sa eterna. Mas o sa ngue desses mártires poderá atrair a

Traba lh ava no Centro de Ciências da, hoje, UNISC, quan-

externa pe lo mundo afora. A Igreja Católica precisa relembrar sempre as condenações papais contra o comun ismo. Por exemplo, como o fez Leão XIII: "Os comun istas, socialistas e niilistas são uma peste mortal que como a serpente se introduzem por entre as _articu-

ira de Deus para liquid ar de vez com o regime com unista e transforma r a China em nação anticomunista e católi-

do nos veio um grupo de lagartas do bicho da seda para que fizéssemos o seu controle. Era um estudo regional, que abrangia várias cid ades e que visava conhecer as

lações mais íntimas da sociedade humana, e a co loca num perigo extremo". Por isso, gostei muito da revista deste mês [fevereiro/2016]. É uma maneira de furar a ação da mídia esquerdista que vive badalando a "serpente", China comunista como se fosse um paraíso.

Pseudo-ecumenismo

(P.D.M. -

RJ)

Cegueira voluntária Trabalho escravo é o sistema mais corrente na China, entretanto o Ocidente fecha os olhos para essa realida de. No Brasil, quando surge um ou outro caso de que em alguma fazenda os empregados não têm certas comodidades em suas casas, o proprietário é denunciado por esquerdistas e se poderá mandá-lo para o xil indró. Esses mesmos esquerdistas fingem não ver o que se passa na China. Muito menos esses "cegos" querem reconhecer

ca. Será uma glória!

(J.M.F. -

SP)

Muito esclarecedor o artigo "Religião dos mediocratas", do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Esse ecumen ism o que anda por ai é mesmo uma indiferença em relação a Deus, indiferença em relação ao principio de contrad ição. Até se pode perguntar: onde estão os limites para esses catól icos modernos (modernistas na realidade, j á condenados por São Pio X) levarem o seu ecumenismo? Como seria o ecumenismo com um ateu? Como seri a o ecumenismo com os blasfemadores, essas se itas de adoração a satanás? Ecumenismo é mesmo uma pa lavra mágica, que opera no subconsciente uma transformação dos católi cos em indiferentes - ta l qua l ensina o Prof. Plinio a obra "Baldeação ideológica in advertida e

condições clim áticas para a sua cu ltura! Como todos os professores da área estavam assoberbados com tarefas, ofereci-me para realizar a observação. Construí um minigalpão, com escada para o andar de cima, red e para que elas pud esse m ficar e formar seus casu los! Todos os dias, pe la manhã ced inho, buscava folhas de amoreiras, doação de um morador próximo ao Centro! Com lupa, observava e anotava tudo o que acontecia com elas. Sou socióloga e nada sabia de biologia, mas corri atrás do conhecimento, busca ndo livros e revistas sobre o assunto. Como era o mês de dezem bro, mu ito quente aq ui

das lagartas, eu descobri que elas comem a folhas de amoras em posição de oração! Sim! Com a parte menor do corpo sobre o chão e a outra, elevada de forma ereta, como se estivessem ajoelhadas! Comiam segurando a fo lha com as duas "mãos", tipo palma com palma, e cerrando as fo lhas com os "dentes", seguindo sempre o movimento de cima para baixo, como se dissessem humildemente seu sim a Deus! Lindo, lindo! Amei a experiência! Depois, fiquei sabendo que nas demais cidades, a observação também parou na mesma fase! Fiquei conformada!

(M.I.B. -

RS)

Palavra mágica ... Todos esses movimentos ditos "sociais" recebem apoio da Igreja, (talvez até financeiro). Como é possível essa inversão de valores? Uma entidade do bem, que busca a conqu ista da paz, do bem-estar material e esp iritual, ter uma visão tão distorcida da realidade? Ter uma noção de certo ou errado tão invertida? Qualquer projeto espúrio é considerado "bem intencionado", "relevante" etc .... Se receber um verniz "socia l", é uma pa lavra mágica! Corrige tudo! Transforma demônio em santo, bandido em herói!

no RS, meu traba lho não evolui u além da formação dos casulos. Fiqu ei triste, pensando que não fora a "cientista ma is indicada " ... para o estudo. Mas, penso que ganhei

(A.L.C. -

SP)

muito mais do que os parcos conhecimentos sobre esta ma ravilhosa cultura . Al ém de consegu ir distinguir o sexo

Diálogo". Aconselho que se procure na internet, onde se vai achar esse livro esclarecedor.

(C.M-MG)

que os cató licos lá são martirizados.

(D.S.R. -

RS)

Pretexto para invadir Europa Infiltração comunista Graças à vigorosa e inteligente ação de Plínio Corrêa de Oliveira, líder da saudosa TFP, foi possível informar ao povo brasi leiro sobre a infi ltração comunista na Igrej a Católica e imped ir a vitória das hostes esq uerdistas. Hoje tenho 70 anos e sou testemunha viva deste fato, pois acompanhei esta luta durante toda a minha vida.

(M.H.-RJ)

Bem-aventurados

A respeito da entrevista de Mathias von Gersdorff ("Ataques sexuais contra mu lheres na virada do ano na Aleman ha"), comento que, evidentemente, essas guerras nos países muçulman os foram provocadas precisamente para ter um pretexto para invad ir a Europa. A prova é a cumplicidade de todos os governos europeus, títeres dos promotores da Nova Ordem Mundia l. O entusiasmo de clérigos da esquerda católi ca pelas invasões não deixa nenhuma dúvida de qu e se trata do plano da Revolução para destruir a civili zação cristã.

(N.A. -

Espanha)

Sobre a perseguição anticatóli ca na China, que vocês publicaram na edição de fevereiro, só tenho a dizer-lhes que é uma bem-aventurança ta l perseguição religiosa,

Brasi l irreconhecível

perseguidos por amor à fé e à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!"

Bri lhante reportagem! Difi cilmente encontraríamos na mídia naciona l trabalho t ão corajoso e oportuno como este. Ele dá o que pensar, suscita mil considerações o

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CATOLTCíSMO / www.catolicismo.com.br

SANTO ATANÁSIO: "Levais o nome de Cristo, mas seria mais justo se levásseis o nome de Pilatos" "Quereis ser filhos da luz, mas não renunci astes a ser filhos do mundo. Deveríeis crer na penitênci a, mas credes na fe licidade dos tempos novos. Deveríeis falar da Graça, mas preferis falar do progresso humano. Deveríeis anunciar Deus, mas preferis pregar o homem e a humanidade. Levais o nome de Cristo, mas seria mais justo se levásseis o nome de Pilatos. Sois a grande corrupção, porque esta is no meio. Quereis estar no meio, entre a luz e o mundo. Sois mestres do compromisso e marchais com o mundo. Eu vos digo: faríeis melhor se andásseis com o mundo e abandonásseis o Mestre, cujo reino não é deste mundo." ( fr. K. Fiam, Atanasio viene nella metropoli, in una fossa di belve, Breslavia, 1930, p. 84).

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Duas imagens de Nossa Senhora ficam intactas em incêndio

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Um incêndio avassa lador ocorreu em Santarém, oeste do Pará, consumindo inteirame nte uma casa , apesar da intervenção de cinco carros de bombeiros, cuj os integrantes ficaram impressionados pelo fato de duas imagens de Nossa Senhora terem permanecido intactas. O sargento Durval Outra re latou que as imagens são de Nossa Senhora Desatadora dos Nós e de Nossa Sen hora da Glória . Nem as flores que estavam ao redor delas foram consumidas pe lo fogo . Fatos análogos a essa tragédia repeti ram-se em outros lugares, à maneira de um aviso de Nossa Senhora . Sinais da proteção que devemos esperar d'Ela face

L:~ ~:::::::::::,_______________,_______,__,__.,_,__,_ Segundo Maurice Newman, assessor do ex-prem iê australiano Tony Abbott, os líderes mundiais estão agindo "como os antigos druidas, invocando fa lsos deuses para atra ir boas safras ". Ele se referia às reuniões ambienta listas planetárias que imaginam poder mudar o cli ma globa l ape lando para

Pesquisadores da Un ivers idade de Califórnia - lrvine alertaram as mães para não usar telefones ce lulares perto de seus bebês. Eles observaram que um comportamento materno fragmentado e caótico perturba o desenvolvi mento cerebra l de seus pequenos. A Ora . Ta ll ie Z. Baram e suas co legas do UCl's Conte Center on Brain Progra mming in Adolescent Vulnerabilities mostraram que os cuidados maternos ritmados e ordenados são de importância crucia l para o desenvolvimento do cérebro infantil. Uma conduta materna errática aumenta a probab il idade de as crianças adotarem condutas de risco, proc urarem drogas ou serem vítimas de depressão, na ado lescência ou na vida adu lta . "Temos que des ligar nosso celular quando cuidamos de um bebê, para termos uma conduta coerente e previsível", acrescentou a Ora. Baram .

América do Sul pode vencer problemas causados pela fome

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Preocupam-se com o marxismo, e não com a ciência

Uso de celulares danifica desenvolvimento cerebral dos bebês

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Se a Argentina incorporar as novas tecno logias existentes, pod erá alimentar 600 mi lhões de pessoas em 2020. Hoj e, com um uso limitado delas, o país é o ma ior prod utor mundia l de alimentos pe r capita. O Conselho Latino-americano de Proteína Anima l (Colapa) afirma que a Argentina é um dos ma iores produtores de proteína an imal do mundo e, segundo a FAO, os países latino-americanos têm potencial para "romper o ciclo da pobreza e da inseguran ça alimentar" mund ial. A verd adeira esperança dos fam intos do mundo est á em nosso co lossal poten cial agrícola , mas os proble mas do agronegócio argentino são aná logos aos do bras il eiro. Lá tampou co fa ltam os autop roclamados "defensores e arautos dos pobres ", qu e a partir dos ministérios, dos pú lpitos, das cátedras universitárias e das redações pregam contra os produtores rura is, a propriedade privada e a livre ini ciativa, os quais, se deixados em liberdade, afast ariam o fa ntasma da fome da Terra .

Rel igiosas rumam para a extinção na Itália O número das freiras cató licas na It ália dim inu i tão ra pidamente , que por vo lta de 2050 talvez não fique nenhuma. Segundo o censo anual das re ligiosas no mundo, realizado pela agência FIDES, da Congregação para a Evangelização dos Povos, em 1997 havia na Europa aproximadamente 400.000 re ligiosas. Em 2015 elas eram menos de 300.000, com uma perda anua l de quase 8 .000. Nos EUA e na Austrál ia há aná loga decadência. No convento de Santa Ana, em Turim , a irmã Cloti lde diz que a dim inu ição das vocações é também punição pelos "milhões de abortos que acontecem no mundo ". Um verdadeiro tsunami de libera lismo mora l, disciplin ar e na doutri na da fé está enfraquecendo a Igreja no período pós-conci liar, que procurou apresentar uma nova face pseudo-mais atrativa . O resultado aí está. Porém, a Igreja Cató li ca é imortal. E quando esse espectro da Esposa de Cristo se dispersar no nada de onde parece ter saído, a Igrej a Cat ólica bri lhará com um rosto renovado, ainda mais esp lendoroso do que nos séculos de sua .maior glória .

!

uma ciência podre e uma economia também podre, ado- ~ tando uma pseudo-economia pós-moderna destruidora da riqueza e do bem-estar", escreve u Newman . Para ele, a ONU hoje se preocupa ma is em promover o marxismo do que prestar atenção na ciência.

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Presidente checo: Europa objeto de "invasão organizada" O presidente da República Checa, Mi los Ze man, declarou que a Europa é obj eto de uma "invasão organizada" de refugiados. Ele apontou a grande porcentagem de homens jovens e so lteiros entre os imigrantes. "Por que esses homens não lutam contra o Estado Islâmico e pela liberdade de suas pátrias?", indagou. Zeman acrescentou que "é possível ter compa ixão dos velhos, doentes e crianças, mas que os homens jovens devem voltar a seus países para lutar contra os jihadistas ". Ele subl inhou que o país sofre uma "invasão organizada", e "não um movimento espontâneo de refugiados. Este país é nosso ".

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Pesquisa contesta visão de que cientistas são todos ateus A suposi çã o de qu e a maior parte dos cientist sé forma da por ateus ou pregadores do ateísm o foi co ntestada por um in qu érito feito em nível mund ial. Pesqu isad ores da Un ivers idad e Ri ( UA) entrevistaram 9.422 cientistas em oito regiões do mundo: Franç , Hong Kong, Índia, Itá lia , Ta iwan , Turqui a, Rein o Un ido e EUA. "Mais d m tade dos cientistas na Índia, Itá lia, Taiwan e Turquia se identifica como religiosos", re lata Elaine Howard Eck lun d, pri ncipal auto ra da pesqui . No gera l, os resu ltados contestam a suposiçã o corrente sobre o car t r irreligioso dos cientista s de todo o mundo.

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SOS-E~MÍLIA

ROMA Monumental manifestação no ''Dia da Família'' reuniu 2 milhões de participantes A respeito dessa mobilização, um analista político observou acertadamente que as famílias compareceram sozinhas, como ovelhas desacompanhadas de seus pastores

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sarnento" homossexual na Jtália - e à avassaladora "onda" antifamíli a impelida por organi smos da Uni ão Europeia, como a Corte Europeia de Direitos do Homem. Representou também um enérgico protesto contra o plano do gove rno itali ano de favorecer a adoção de crianças por parte de "duplas" do mesmo sexo, designada "stepchild adoption" (adoção de enteado, que incenti va ria a inseminação artific ial e a chamada "barriga de aluguel"), bem como a indignação das fa mílias pela im plantação da i deologia de Gênero nas escolas. O Prof. Roberto de Mat-

te i, da Uni versidade Europeia de Roma, defi niu com exatidão o evento, ao escrever: "A itália do Fa mil y Day é aquele conjunto de pessoas, mais amplo do que habitualmente se imagina, que permaneceu .fiel (ou retornou nos últimos anos) àquilo que Bento XVI definiu como 'valores não negociáveis ' - a vida, a .fàmilia, a educação dos filhos - , na convicção de que somente sobre esses pilares é passivei .fitndar uma sociedade bem ordenada." Forte rejeição a projetos contrários à Lei de Deus

Segundo os organi zadores

PAULO ROBERTO CAMPOS

número de manifesta ntes superou todas as expectativas, apesar de o Vaticano não ter apoiado oficialmente, nem sequer recomendado aos bispos para mobiliza r seus di ocesanos, incentivando-os a afl uir ao "Family Day". Ta l omissão da Hierarquia católica deixou perplexos numerosos fié is, mas alguns prelados, isoladamente, apo iaram a manifestação. No di a 30 de janeiro, o gigantesco evento se realizou bem no coração da Cidade Eterna, no Circo Máx imo, local em que mui tos cristãos foram martirizados no período do Impéri o Romano pagão e onde se conservam diversas ruínas da Roma Antiga. Tão imenso é esse parque público, que especialistas garantira m ser praticamente impossível lotá-lo.

O

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Entretanto, a afl uência fo i mac iça, com pessoas de todas as partes da [tália, além de delegações de outros países. Os mesmos especialistas afirm aram que nunca aquele lugar histórico esteve tão rep leto. E o que mais os surpreendeu fo i que a mu ltidão compareceu por conta própria, sem a colaboração de partidos políticos nem o concurso da esfera eclesiástica. A respeito, um anali sta político observou acertadamente que as fam ílias compareceram sozinhas - as fie is ovelhas desacompanhadas de seus pastores ... Protesto contra fatores da desagregação da família

A gigantesca manifestação representou uma categóri ca recusa à denominada "lei Cirinnà" - um projeto de lei da senadora Mon ica Cirinnà visando estabe lecer o "ca-

CATOLIClSMO / www. catolicismo.com.br

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INTEllNACJONAL do "Comitê de defesa dos nossos filhos", mais de 2 milhões de pessoas estiveram presentes no Circo Máximo. Eram pais, mães e filhos; pessoas de todas as idades e condições sociais; enfim, gente disposta a lutar para proteger a família tradicional como foi estabelecida por Deus, ou seja, entre um homem e uma mulher numa união monogâmica e indissolúvel. Neste sentido, na concentração podiam-se ouvir diversos slogans, bem corno a ex ibição de milhares de fa ixas, inclusive contra o ensinamento da Ideolog ia de Gênero às crianças. Muitos que não puderam viajar a Roma organizaram manifestações menores em suas cidades com o mesmo objetivo: exigir do governo italiano a total rej e ição da " lei Cirinnà", antinatural e fronta lmente contrária à Lei de Deus. No ano passado, o "Fami ly Day'' reuniu quase 1 milhão de pessoas na praça San Giovanni in Laterano e conseguiu barrar temporariamente o insidioso projeto. Mas este foi colocado novamente em pauta, devendo ser votado em breve. Massimo Gando lfi ni, um dos organizadores do evento, declarou sobre o referido projeto antifamília: "Não é aceitável, da primeira à última palavra. E não adianta fazer uma operação cosmética [para salvá-lo], mas é preciso uma operação radical, pois não se trata de mudar algumas palavras. O projeto de lei deve ser rej eitado integralmente. " É o que esperamos para o bem de todas as famílias italianas e do mundo inteiro. E, sobretudo, para a glória de Deus, cuja Lei protege a sagrada e tão combalida instituição fami liar, atacada pelos projetos de lei imorais, ridícu los e anticristãos atualmente em debate no Senado

COLÔMBIA Sob os auspícios do governo em sua convergência com as FARC

O terrorismo se transforma: do fundo das selvas ao coração do Poder

e

om grande alarde, o governo, as FARC [Forças Armadas Revoluc ionárias da Colômbia] e alguns setores da opinião nacional e internacional celebram o próximo fim do conflito

com a guerri lha como suposto fruto do Processo de Paz, mas não conseguem convencer o País de que isto é uma realidade e não uma quimera . Com efeito, são tantas as perplexidades, omissões

italiano. ❖

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mar no fi nal deste, defra udando a promessa ao País de fazer uma consul ta nac ional séri a para referendar os acordos. Prepara-se ass im um pseudoplebisc ito com uma pergunta g lobal e equívoca, em face da qual o votante responderá se deseja ou não a paz, com o que se tentará confundir uma parte da opinião nac ional para que ace ite condições que ela j amais ace itari a caso não se fi zesse uso desse engano. E se estabelece, vi olando com cini smo os princípios mais elementares de uma co nsulta popular, que com a aprovação de apenas 13% do censo e le itoral , o plebiscito será legítimo, quaisquer que sej am as objeções do resto do País. N as trágicas circunstâncias em que se encontra o País - porque se maquina a entrega da Colômbia ao seu inimi go mortal - , é preciso ex igir clareza total sobre os seguintes pontos dos acordos j á firmados, po is do co ntrário s ignifica ria a sua nulidade: e contradi ções emergentes do segredo em torno destes acordos, que se torna fo rçoso perguntar ao governo qual é a verdade tota l sobre o que fo i pactuado. E ta mbém qua is são as razões m isteriosas para não dá- lo a conhecer integralmente à opinião pública, como se as fac uldades do Presidente fosse m onímodas e todos os co lombi anos, menores de idade. A Sociedad Colombiana Tradición y Acción e o Centro Cultural Cruzada se dirigem ao País, a fim de proclamar a mgente necessidade de que todos os acordos pactuados entre o governo e as FAR C sej am conhec idos e debatidos em plena luz ao di a, e não nas sombras, nem no Ex te ri or, nem em segredo, co mo se vem fazendo desde o iníc io. Tudo indica que, ao amparo desse segredo, maquina-se uma grande claudicação do Estado colombiano diante das pretensões inaceitáveis e crescentes da narcoguerrilha, e é claro que se prepara a impunidade para aque les que dura nte meio século cometeram toda espéc ie de crimes e perpetraram as mais graves vio lações dos Dire itos H umanos. Por que esco nder ao Pa ís as co ncessões a serem fe itas às FARC? Pela razão muito simples de que a imensa maioria dos colombianos recusaria esses acordos se conhecesse seu conteúdo. Por isso é cada vez menor o número dos que se sentem interpretados pelo P res idente da República, a ponto de serem enormes seus níveis de desaprovação, entre outras razões porque o anunciado no iníc io do Processo de Paz não co rresponde ao qu e se vai fir-

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1- Impunidade para as FARC Do modo como os acordos estão concebidos, a julga r pe las dec larações dos representantes do governo e da guerrilha, teremos mais uma vez a aberração jurídica e moral de ver os guerrilheiros livres, e os defensores da Nação no cárcere, tal como sucedeu por ocasião do san guinolento assalto do M-19 ao Palácio da Justiça e de seu heroico resgate pelo Exército Nacional. Segundo as exigênc ias das FARC, seus crimes fi carão sem qualquer casti go. Fala-se de penas alternativas, mas sem nenhum tipo de pri são efetiva, a qua l seri a substituída pela permanência dos guerrilheiros culpados nos mesmos territórios assolados por e les durante décadas, numa suposta " liberdade vigiada" que não se sabe bem o que significa. N a reali dade, os guerrilheiros fa lsamente pacifi cados não serão vigiados por guardas do Estado, mas se transformarão em vi gilantes e, no fu ndo, carcereiros e também torturadores da popu lação camponesa, sua principal vítima dmante décadas, a qual ficaria áss im submetida por eles por p razo mais ou menos indefi nido. Ademais, alguns dos eventuais juízes, integrantes de desconhec idos orga ni smos nacionais e internacionais, serão escolhidos pe los mesmos criminosos, transformando a justiça numa fa rsa cruel e nefasta . E também se concederá à subversão o direito de julgar ou, o que é quase o mesmo, exigir que se julguem todos aqueles que de alguma forma se tenham oposto às suas intenções e a cus atos de li tuosos.

2 - Legalização do narcotráfico e da lavagem de ativos ilícitos

O Estado não poderá confisca r o dinheiro obtido pe las FARC por meios criminosos como o narcotráfico, os assa ltos, as extorsões e os sequestros, nem a guerrilha será obri gada a indenizar de fo rma alguma as ce ntenas de milhares de vítimas que produziu . Simplesmente essas enormes fortunas ilegais, ocultas até agora, passarão a ser o elemento-chave do poder guerrilheiro para impulsion ar sua ação na política fu tura e dominar o País. Se há pouco mais de 20 anos algun s milhões de dó lares do narcotráfico fora m chaves para uma eleição pres idencial, não é di fíc il ca lcular quanto conseguirá a guerrilha co m centenas ou milhares de milhões de dó lares para estabelecer a escravi zação da Colô mbi a. 3 - As FARC não entregarão as armas

O governo dec laro u que as FARC entregarão as armas, mas os chefes guerrilheiros disseram, em todos os tons possíveis, que não as entregarão. Em quem acredi tar, se as pos ições são d iameh·almente opostas? O qu e as FARC afirmaram é que farão "depos ição" de las, o que é di fe rente. O u sej a, conservá- las-ão em atitude de ameaça, e voltarão a uti li zá-las quando lhes aprouver, sem que quase ninguém o denun cie ou ev ite ...

4 - Pretende-se desarmar e reduzir o Exército

Como não se pode faze r po lítica co m armas, a guerrilha acusa o Exército N ac iona l de intervir na po lí. tica, razão pela qual ex ige o desarmamento das Forças Armadas. Ass im, e la p rocurará impedi r a efi ciente e apl audida defesa da Nação levada a cabo pe la insti tuição mais querida dos co lombianos, e tanto o Exército quanto a subversão fa rão "depos ição" de suas armas, equiparando-se ass im o deli to sanguinári o à defesa da ordem lega l, e os inimi gos da Pátri a aos se us a bnegados defensores. 5 - Oferece-se aos guerrilheiros acesso ao Congresso

Os líderes das FARC chegarão ao Congresso da República não pelo voto popular, como ex ige a Constitui ção, mas por concessão do Estado. Este será o mode lo de pseudodemocracia, para o qual elas ex ige m todas as reformas poss íve is na Ca1ta, que h-ai1sformarão a ordem j urídi ca do País. Seu "castigo" pelos crimes cometidos durante 50 anos será faze r parte do Congresso, leg is lar para dominar aqu eles qu e fora m respeitosos do Estado de Direito, e obter a e leição de seus ca ndidatos para prefe ituras e governos prov incia is. Esta ex igência é tão absurda que, nas recentes ele ições muni cipa is rea lizadas em mais de mil municípi os da Co lômbi a, não fo i e leito um só prefe ito fa vo-

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rável às FARC, nem tampouco um só governador, pela simples razão de que ninguém as quer como governantes. E este é o motivo pelo qual elas desejam conservar as armas: para, ao longo da vida quotidiana, ir tomando gradualmente o poder pela força, com agressões e ameaças, pois jamais poderão fazê-lo pelas vias legais. 6 - Não reconhecem nem aceitam reparar as vítimas

As FARC cometeram incontáveis crimes contra a população civil e desejam que estes fatos sejam ignorados com o pretexto do fim do conflito. Entre as vítimas estão milhares de sequestrados - os menores de idade recrutados através da força ou do engano, muitos deles mortos depois em combate, e as mulheres, submetidas a brutais abusos sexuais pela tropa subversiva e inclusive forçadas a abortar. Será esta a paz que todos os colombianos anelamos? f

Sem dúvida, a imensa maioria dos colombianos não está de acordo com essas propostas e fará todo o possível para impedir que tal fraude política demolidora se consume em nossa Pátria. Esta é a principal razão pela qual a verdade sobre os acordos é ocultada ao País. A paz verdadeira, a paz autêntica, a paz que todos os colombianos anelamos, não é fruto de uma composição, mas a Paz de Cristo no Reino de Cris-

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to. Ela é - como ensinam a Lei de Deus e a Lei Natural - a tranquilidade na ordem. Jamais haverá verdadeira paz se aqueles que cometeram tantos crimes se apresentam agora como paladinos de uma falsa paz, que impõem com a ajuda de autoridades complacentes, negando e desdenhando o valor da Constituição e das leis. O País seria lançado assim no que se poderia chamar a "paz marxista", cópia da que foi durante mais de 70 anos a pax sovietica, na qual se negaram e eliminaram, em nome da justiça, da liberdade e da paz mal entendidas, todos os direitos da sociedade e das pessoas, para concentrá-los ilegitimamente nas mãos da tiran ia vermelha. Para isto, os verdadeiros conceitos de paz e diálogo foram desvirtuados pelo marxismo, que os con-

verteu em termos talismânicos nunca definidos, mas utilizados a todo propósito num gigantesco e crasso engano, como o demonstra a obra Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo, do insigne pensador católico Plínio Corrêa de Oliveira. Assim, confiar neste processo de paz equivale a dar a vitória à guerrilha na conquista da Colômbia, já não principalmente pela violência das armas, mas pelo engano. Este processo será muito parecido ao sofrido em anos recentes pela nossa vizinha Venezuela, que com a expansão galopante da miséria e a implantação acelerada da ditadura do proletariado impulsionada pelo regime chavista, julgava estar sendo "libertada" das injustiças sociais, até que chegou a um passo do comunismo. Na Colômbia, os guerrilheiros tomarão o lugar das brigadas bolivarianas e os políticos condescendentes se transformarão no que os marxistas chamam ironicamente de " idiotas úteis", para juntos subjugarem o País. Assim, o que se faz com esta grande mentira é empurrar a Colômbia para o abismo, enquanto nossos governantes insistem que vamos rumo ao paraíso da paz. Diante deste panorama de inegável gravidade, desejamos que o País desperte de tão lamentável letargo. A todos os que veem com angústia e preocupação o rumo pelo qual estamos sendo levados, pedimos que abram os olhos, despertem, rompam a hipnose em que foram colocados, pronunciem-se e se manifestem de forma legal, mas incisiva. E que de nenhum modo aceitem que 45 milhões de pessoas sejam derrotadas por uma minoria subversiva e terrorista, a qual proclama diante do mundo uma vitória que nunca obteve, e que deseja impor suas condições a toda a Nação. O único modo de evitá-lo é exigindo que seja dita a verdade. E quando esta for conhecida e a Colômbia souber com clareza para onde está sendo conduzida sem saber nem querer, as trevas começarão a dissipar-se e nossa Nação encontrará seu verdadeiro rumo, que lhe dará a grandeza e a paz autêntica que todos os colombianos de bem ansiamos para ela. Os comentários do Papa não significam obrigação de aprovar 'este processo

Ao que foi dito devemos acrescentar um aspecto especialmente deplorável da atitude do presidente Santos: que manipule, deforme e instrumentalize as opiniões do Sumo Pontífice com transmissões contínuas pelo rádio e pela televisão de partes de seus dis-

cw-sos nas quais tratou dos diálogos para a paz. Ele procura assim induzir a população católica a aceitar de olhos fechados as concessões à guerrilha, que são injustas, ilegais e demolidoras, além de enormemente perigosas. Uma coisa é que a paz seja desejável, como assinalou o Papa, e outra, distinta, é que se queira alcançá-la por meio de claudicações, as quais não se tem sequer coragem de enunciar. Nessas condições, um eventual consentimento nacional careceria de toda legitimidade, limitando-se sua eficácia ao efeito de uma construção de .mal-entendidos, enganos e falsas promessas. Sobre isto é preciso dizer com veneração ao Santo Padre que não está entre as suas atribuições pressionar ou ordenar a população católica a que aceite em matéria temporal atos de governo ou acordos ,políticos que lesem ou ponham em grave risco direitos fundamentais de grande parte da população. E menos ainda se tal se baseia na palavra de um setor que a violou de modo contínuo e sem o menor escrúpulo. Para Marx, a moral consistia apenas nas conveniências da Revolução comunista, à qual tudo deve ser sacrificado, o que confirma a sangrenta história do comunismo por mais de um século e meio. Ademais, ao se referir publicamente em Cuba às negociações que ali se realizam, o Sumo Pontífice deixou claro que obviamente deseja a paz, mas que há ainda numerosos aspectos que é preciso resolver, entre os quais estão a reparação às vítimas e a exclusão da impunidade nos delitos de lesa-humanidade. Diante de nossa Padroeira, a Santíssima Virgem de Chiquinquirá, afirmamos com uma certeza que, estamos convictos, é compartilhada pela imensa maioria dos colombianos, que a verdadeira paz, o autêntico progresso e o efetivo espírito de grandeza que iluminaram a história da Colômbia, não podem ser abandonados para nos submetermos às imposições daqueles que destruíram a Pátria, associados aos que a governam mal. Bogotá, 16 de janeiro de 2016

Sociedad Colombiana Tradición y Acción Centro Cultural Cruzada

* Documento traduzido do original espanhol por Hélio Dias Viana. catolicismo@terra.com.br / MARÇO 201 6

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VARIEDADES

Fórum Social Mundial na UTI GREGORIO VIVANCO LOPES

ançado pela primeira vez em janeiro de 2001 , em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial (FSM) pretendia ser um contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. A propaga nda fo i enorme, pois na prática era a tentativa de construir uma nova internac ional comunista, sob o título de " Internac ional Rebelde". Com altos apo ios nac ionais, internac ionais e eclesiásti cos, o FSM proclamava a "diversidade" como sendo a característi ca ftmdamenta l de sua constituição, ou seja, todos os grupos de esq uerda eram bem-vindos, quaisquer que fosse m suas convicções parti cul ares ou seus métodos de ação, desde

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que unidos contra o capitalismo e a propriedade pri vada. Figuras então "no vento" como Noam Chomsky e Toni Negri eram badaladas como os novos profetas. Procurou-se dar a impressão de que se tratava de um movimento arrasador, que nada deteria, pois passaria imediatamente à prática e mudari a as instituições. Tudo isso e muito mais fo i então denunciado por um opúscul o altamente esclarecedor, pu blicado em 2002, sob o títul o A pretexto do combate à g lobalização - Renasce a luta de classes, sobre o qual Catolicismo publicou ampla reportagem de capa. 1 A segunda edição do FSM, em 2002, ainda alcançou grande repercussão. A parti r de então, a fa lta de

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sOCial

mUNdiAL

apoio popular a suas iniciativas começou a pesar sobre ele como um manto de morte. Veio defi nhando, excursionou sem sucesso por várias partes do Planeta, e ass im chegou à realização de sua 15" edi ção, novamente em Porto Alegre, de 19 a 23 de janeiro de 20 J 6, reduzido agora a mero apêndice do PT e do governo Dilma. Segundo um editori al de "O Estado de S. Paulo" (2 1- 1-20 16), o FSM "consolida-se como um evento ~ficial, com .farto patrocínio estatal, participação direta do governo pelista e agenda ditado pelas conveniências políticas e ideológicas do Planalto". A Petrobrás, que está dispensa ndo milhares de fu ncionári os ter-

ceirizados e cortando gerências por fa lta de verba, contribuiu com R$ 800 mil para a reali zação do Fórum. A ltaipu Binacional, com R$ 180 mil. "Os organizadores do encontro anunciam com orgulho que sete ministros de Dilma estarão presentes, deixando ainda mais cloro o caráter chap a-branca do convescote ", no qual fa lará o presidente do PT sobre ·"tempos de golpismo ", informa o citado editorial. Rotas batidas e desânimo

Na passeata de abertura, criticas ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, f oram os principais temas levantados pelos manifestantes " ("Folha de S. Paulo", 19-1-1 6). Consultando o site do Fórum Social,2 encontramos a lista de temas tratados. Bem analisados, fi ca claro que, junto à apologia das rotas batidas da esquerda, há uma fo rte dose de desânimo. Vejam estes títulos de palestras ou reuni ões: 1 - "Não é.fácil, não está sendo fácil e não será fácil ", diz ministra de Direitos Humanos, cobrada por políticas de governo durante Fórum Social; 2 - Povos indígenas divulgam carta denunciando violações e retrocesso após encontros no Fórum Social; 3 - Assembleia dos movimentos sociais propõe luta global contra retrocessos civilizatóri os do ca pitalismo; 4 - Economia Solidári a busca avanços no Brasil ; 5 - Em mesa do FST [Fórum Social Te mático], líderes da esquerda pedem "mais f orça, mais luta " contra o impeachment; 6 - Nota de Repúdio - Pales-

tinos impedidos de viajar ao Brasil - barrados pelo violento fechamento da cidade de Hebron, na Cisjordâni a; 7 - Ati vidade 'no Fórum Social mostrn que precisamos fal ar da reforma psiquiátrica e de transtornos mentais. Análises, antes e depois do Fórum

O site da Universidade Unisi: nos, dos jesuítas do Rio Grande do Sul , publicou em 20 de janeiro, logo no início do Fórum, artigo de Jacques Távora Alfonsin,3 intitulado "O novo Fórum Social Mundial precisa de coragem". Nele, o insuspeito articulista deixa claro que "o Fórum social perdeu grande parte da sua motivação e do entusiasmo com que.foi inaugurado há J5 anos atrás"[sic]. Para Alfonsin, "essa melancolia resultante desse permanente combate, por vezes j i-·ustrante, vem minando a forço dessa militância, aliásj á envelhecida em grande parte ". O mesmo site, após o encerra mento do Fórum, reproduz_, em 27 de janeiro, uma reportagem assinada por Bia Barbosa, da revi sta "Carta Capital", segundo a qual, )á há quatro anos as organizações que integram o Conselho Internacional do FSM constataram que o espaço vinha perdendo relevância e a capacidade de pautar agendas e articulações de impacto global. [... ] Visões divergentes no seio do Fórum e as mudanças na conjuntura global têm, entretanto, dificultado a capacidade de produção de uma resposta à altura dos atuais desafios". Prossegue a reportagem: "Para Oded Graj ew, outro ativista dos p rimórdios deste p rocesso, h~je na 'Rede Nosso São Paulo ', o FSM está em crise, assim como as associações que dele p articipam". ·

Também Nalu Fari a, da Marcha Mundial das Mulheres, relaciona as difi culdades do FS M com as derrotas dos governos boli varianos na Améri ca Latina: "Não podemos desvincular nossas questões dos impasses, co,?ftitos e limites que esses governos tiveram, e que agora estão implicando nos derrotas que estamos tendo na reg ião. " *

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Como vemos por todo o relatado, o Fórum Social Mundial, que começou 15 anos atrás cantando de ga lo, encontra-se agora atingido por todo tipo de problemas e dificuldades, a maior das quais, de longe, é a falta de respaldo popular para suas doidas utopias. Cegados por sua adesão a uma ideologia de esq uerda, que imag inavam redentora, seus dirige ntes e propulsores esqueceram-se de que ex iste algo chamado realidade, a qual costuma vingar-se dos que impunemente a transgridem. Eis agora o FSM na UTJ das ideologias, de onde já sa íram para o necrotéri o o sovietismo e tantas outras tentati vas frustradas da esquerda mundial. Mas não pense o leitor que com isso aprenderam algo. Nada indica que vão mudar. Realizam o que nos ensina o Apósto lo São Paulo: "Extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato. Pretendendose sábios, tornaram-se estultos " (Rom. 1,2 l-22). •• Notas: 1. Catolicismo fevereiro/2002 ; os autores do opúsc ulo: José Antonio Ureta e Gregori o Viva nco Lopes. 2. http:// fo ru msocialportoa legre.org.br/ 3 . Membro da ONG Acesso, Cidadan ia e Di re itos Humanos e proc urador aposentado do estado do Ri o Grande do Su l.

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PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

izer que essa representação de Cristo flaCristo. E u não tinha informações sobre essa image lado é bela, seria dizer pouco. Muito gem, onde ela se encontrava etc. Isto porque apenas mais do que isso, ela é impressionante. me deram de presente a estampa num quadro ornado Profundamente impressionante! É de com muita bonita moldura, mas sem mais informamolde a despertar muito a piedade, e é enquanto tal ções. Depois soube que é uma imagem do Canadá. que desejo fazer a exposição. Nosso Senhor flagelado pelos verdugos À primeira vista, quando me foi apresentado esse quadro de Cristo flagelado fiquei chocado, porPara que se tenha ideia do que foi a flagelação de que as feridas do corpo Nosso Senhor Jesus Crissagrado de Nosso Senhor to, como está representada estão apresentadas com nessa imagem, é preciso Como tema para meditação, tal realismo e de modo tão compreender todo o signiespecialmente durante a Semana brutal , que o instinto de ficado das chagas terríveis conservação do homem que apresenta, bem como Santa, apresentamos nesta matéria clama vendo a cena; tem da coroação de esp inhos. de capa excertos de conferência · Os verdugos que flaa tendência a fugir e achar proferida por Plínio Corrêa de que não é arte representar gelaram Nosso Senhor de modo tão terrificante. eram malfeitores, bandiOliveira em 10 de fevereiro de 1976 O que é de nossa parte dos, que foram levados para sócios e cooperadores da TFP um primeiro impulso, mas para exercer essa função. A redação de Catolicismo apenas que deve ser dominado, De onde um verdaporque o contrário seria deiro furor dessa gente selecionou os trechos mais adequados uma ingratidão. péssima, com aquele gospara esse período da Quaresma, Ta l será que Nosso to sádico de fazer o mal Senhor Jesus Cristo, teninseriu alguns subtítulos e ·os transpôs que caracteriza esse tipo de pessoas. Homens emdo sofrido tudo o que papara a linguagem escrita. Em deceu por nós, não queibebedados, que já tinham sua exposição - não revista pelo ramos sequer olhar para .flagelado vários condeseu corpo chagado porque nados, estavam no delírio brilhante orador - ele analisa pode nos desagradar. É de seu ódio quando Nosso fotografias de uma imagem de uma ingratidão e uma fa lSenhor lhes caiu nas mãos. Cristo flagelado, tecendo profundas ta de respeito sem nome. Ocorre que gente muito Como um primeiro impulinfeliz com frequência tem considerações que se prestam à so se compreende. É urna ódio de quem é normal e reflexão de nossos prezados leitores. feliz. Assim, eles se desareação quase física. Mas fogam do seu triste estado. seria in gratidão consentir nesse impulso. Antes mesmo da fiagelação começar, Nosso Senhor foi tratado com tal Compreende-se então que o escu ltor tenha chegado a esculpir de modo tão terrivelmente realista brutalidade que estremecia à vista da coluna. essa imagem. O Cordeiro de Deus, os deicidas e os verdugos Primeiramente, analisando o quad ro, cheguei à conclusão de que deveria ser uma e cul tura espanhoSegundo relatos de videntes, Nossa Senhora esla em madeira. Com aquele realismo das imagens tava vendo o que iriam fazer com seu Divino Filho. E nessa perspectiva, olhava no momento em que Ele se espanholas sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus

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judeus de icidas. Até alguns dos so ldados romanos tiveram pena de Nosso Senhor; mas aquele povo não teve. De outro lado, pode-se notar a abominação em que pode cair um povo. Os so ldados romanos andavam de um lado para o utro proferindo insultos. Os judeus de icidas odiavam Aquele que os havi a coberto de benefic ios, dos ma iores atos de benefício e de bondade. O que é próprio a todos os transv iados, a todos os decadentes, a todos os tarados: e les confiam em quem não dévem, desconfi am daque les em quem devem confiar; eles são susceptíve is por ofensas que não recebem e ace itam bem ofensas que não mereciam. Tudo isso dev i.do ao completo desv io de suas mentes.

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Dureza de alma dos homens preocupados só com seus interesses

submeteri a voluntariamente a esse tormento pavoroso. Isso produziu n'Ela o mais explicáve l terror, tendo desmaiado nos braços das santas mulheres que A acompanhava m. Nosso Senhor sofreu uma distensão porque seu corpo pendi a atado à coluna, onde foi flagelado desde a cabeça até os pés. E le gemeu de dores, mas com um timbre de voz dulcíss imo, que se elevou em meio da brutalidade da cena, faze ndo orações enquanto era flagelado de modo pavoroso. A turba multa estava longe, do lado de fora do edificio, acompanhando a fl age lação, e de vez em quando se ouvi a: "Morra! Morra! Crucffica-0 ! ". Escutava m-se ora as vozes bestiais da multidão, ora

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a voz iso lada de Nosso Senhor, na qual se marcavam naturalmente o temor e o tremor, mas junto a decisão de continuar em frente. Era a oração que E le rezava. Também segundo relatos de videntes, enquanto .o Cordeiro de Deus era aço itado, ovelhas que estavam sendo preparadas para a morte baliam. Então havia duas espécies de vozes como que em coro. Um coro que ui vava todos os gritos do ód io, e outro coro, do Co rde iro de Deus e das ovelhas preparadas para o sacrifício que bali am. Nosso Senhor rezava e às vezes ouvia-se a trombeta dos so ldados romanos ordenando silêncio à multidão para que Pilatos pudesse falar. A ma ldi ção pairava sobre os

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Narra-se que os verdugos ficavam cansados de tanto açoitar e tinham que ser substituídos. E N osso Senhor aguentou tudo das turmas sucessivas desses verdugos despencando o ódio contra Ele, açoitado co m varas e látegos com pontas de ferro para arrancar a carne. Pessoas passavam perto do edifício, montadas em seus camelos, inteiravam-se do que ocorria e iam embora. Não desciam para protestar, ao menos para ver Nosso Senhor e ter pena d'Ele. N em queriam ouvir os gemidos d'Aquele que os estava resgatando. É bem a atitude do indiferente, do homem dominado apenas por sua vidinha e por seus in teresses. N ão se pode esquecer que Nos a Senhora estava num ângulo da praça ass istindo a tudo isto: o ód io contra seu F ilho, o ódio dos inimi gos da Igreja Católica, o ódio

do homem possuído pelo demôni o. Pode-se então imag inar o porquê do desmaio da Sa ntíss ima M ãe. Tormento moral soma-se ao tormento físico

Enquanto N osso Senhor era flagelado, j á se preparava a coroa de esp inhos. Uma narração conta que apa receu um homem do povo e cortou as cordas que amarrava m Jesus Cristff à co luna; mas depois desapareceu no meio da multidão. Ele não procurou conclamar as pessoas para sa lvar Nosso Senhor; não optou por sacrifica r sua vida ao lado de Jesus Cristo; teve um lampejo de coragem e fugiu . Viu Nosso Senhor ca ir no so lo, mas não fo i capaz de erg uê-Lo. N essas épocas hi stóri cas até os corajosos são po ltrões, os mais adm iráveis podem também apresentar as pectos de atitudes desprezíveis. O corpo de Jesus permaneceu ca ído ao so lo. Passaram umas mulheres e os so ldados proferiram palavras imorais dirigidas a elas. Q ue houvesse de ocorrer isto: a passage m de mulheres despudoradas, revelando sua frieza diante d 'Ele. Logo E le dirigiu eu olhar para elas - ev identemente uma graça que lhes era conced ida. Q ual a atitude delas? Afasta ram-se. Tudo isso é um contínuo auge do pavoroso. Q uando se imag ina estar tudo esgotado surgiu algo pior a inda, um tormento mora l acrescentou-se ao tormento fisico. Uma coisa inenarráve l. Entretanto, Nosso Sen hor rezava por todos os homens de todos os tempos. É algo mu ito salutar guardarmos a recordação disso. Assim, quando pedirmos alguma co isa a nosso Divino Salvador, supli ca rmos por meio de Nossa Senhora, que pelas orações fe itas por E le

junto à co luna, nos alca nce essa ou aq uela graça. Obtenha-nos a emenda de um pecado, a comoção de nossa alma em tal ponto de dureza, enfim qualquer outra graça. É uma esplêndida oração, que podemos fazer e relacionar com a imagem de Cri sto flagelado. "Ecce Homo"

Uma cena que oco rreu mostra a dureza dos malfeitores. Nosso Senhor caiu no so lo, dilacerado de dor, sem ma is poder mover-se; deram-Lhe pontapés e ordenaram

que Ele se leva ntasse. Não tendo fo rças para levantar-se por si só, fo i co locado de pé e jogaram-Lhe suas roupas. Nosso Senhor limpou o próprio rosto do sa ngue, sem ter quem Lhe ajudasse. Que cena comovente ! Depois de tudo isso, ainda sobreve io a coroação de espi11h os, cuj as pontas penetra ram na ca beça, ferindo o Redentor, tendo o sangue esco rrido até a boca. Flagelação de Cristo - Anônimo alemão, séc. XVI. Museu de Belas Artes, Córsega (França).

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Em seguida, Pilatos apresentou Jesus Cristo ao público dizendo "Eis o homem!" Olhar profundamente meditativo

Nessa imagem, a carne aparece toda entumecida, toda lanhada pela flagelação. Olhem as mãos! Analisem o oi bar! O que considero mais emocionante nela é o olbar, muito pensativo, profundamente meditativo. Tenho visto incontáveis crucifixos em que Nosso Senhor parece abismado, aliás legitimamente e santamente, na consideração de sua própria dor, em que o artista procura atrair a atenção da pessoa que vê o crucifixo para as dores · de Nosso Senhor, visando provocar compaixão: E o próprio olhar d'Ele parece perguntar: "Pelo menos nesta dor tu não tens pena de mim?" Porém, nesta imagem, interpreto o olhar de outra maneira. É bem verdade que a dor está presente. É o olhar de uma pessoa que sofre profundamente. Mas, acima da dor, há uma reflexão proflmda e consternada, de quem pensa com profundidade a respeito do que Lhe está acontecendo. Pensa a respeito do significado transcendente, metafisico e sobrenatural de todas as dores pelas quais Ele está sofrendo. É propriamente uma meditação sobre sua própria Paixão como Ele desejaria que fizéssemos. Meditação que eu interpreto, olhando a face sagrada, partindo de um ponto altíssimo, do mais alto ponto de consideração em que uma mente humana possa colocar-se. Mas é ao mesmo tempo uma meditação que vai até o mais concreto, ao mais palpável, ao mais miúdo, ao mais distante da transcendência, e une

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tudo numa visão comum. Une tudo numa só consideração global não apenas do que contra Ele estão fazendo, mas também do que fazem por Ele. Não apenas os homens vivos de sua época, mas de todos os homens que ao longo dos tempos considerariam esse passo da Paixão e que seriam frios, indiferentes, cruéis; mas também daqueles que O adorariam, h·ansportados de amor, de admiração, de veneração, considerando a situação em que Ele se encontra. Em meio à dor, entregue às mais altas cogitações

Essa imagem me relembra as palavras do profeta Simeão sobre Jesus: "Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os p ensamentos de muitos corações " (São Lucas, 2, 34-35). Quer dizer, dividindo a História, cindindo-a de alto a baixo em dois: os que eram d'Ele e os que eram conh·a Ele; salvando alguns e perdendo os outros. Parece-me que tais considerações, e ouh·as ainda altíssimas, estão expressas nesse olhar, que, como se pode ver, pousa ao longe, num ponto indefinido. Mas de outro lado, a escultura revela uma altaneria na posição d'Ele. Notem que, por mais que esteja alquebrado, E le não está arqueado; pelo contrário, o tronco sagrado ereto numa posição que se poderia chamar nobre. A própria cabeça não está caída de um modo desairoso; sem estar inteiramente erguida, de modo arrogante, está posta com uma naturalidade profunda e nobre sobre o pescoço, e ereta como um homem que pensa

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muito, entregue às suas mais altas cogitações. Em Nosso Senhor, nobreza, beleza e força moral

Notem, em outro aspecto, a posição lindíssima dos braços. Dirse-ia um personagem que está num ato de muito protocolo e etiqueta. Nas cortes, muitas vezes o modo correto de postar os braços diante de um rei ou de uma rainha é este. Assim está Ele. E assim podem vêLo com o corpo flagelado. Há partes da carne sagrada que não foram batidas e outras em que a carne foi arrancada. Historicamente, Jesus Cristo estava cercado por gente que ria d'Ele. Mas Ele não olha para as pessoas. Ele as transcende, não toma conhecimento, está infinitamente acima de tudo isso, entregue a seus pensamentos, à sua oração. Poder-se-ia colocar, entre os muitos títulos que essa imagem mereceria, a frase: "Jesus autem orabat " (Jesus porém orava); como também a frase: "Jesus autem tacebat " (Jesus porém calava-se). Observem o manto da irrisão que os verdugos colocaram sobre os ombros de Nosso Senhor por ocasião da coroação de espinhos. Apesar de tudo, o manto cai de modo composto, indicando nobreza, beleza moral e força moral que não O abandonaram nem mesmo nas situações mais terríveis. Creio que representa a última expressão do comovedor dentro desta linha: Cristo enquanto pensando, enquanto refletindo profundamente, enquanto orando durante sua Paixão. Angústia doce, suave, sem agitação e confiante

Nessa fotografia da imagem,

parece-me discernir no olhar três aspectos: primeiro, muita dor física, que se exprime seguida de muita angústia diante da dor que virá. É uma figura que está no meio de todo · tormento e que sente o que ainda terá que sofrer. Portanto, no auge do horror, em que Ele ainda não padeceu tudo. A morte que O libetiará ainda está longe. Já sofreu tanto que perdeu toda a força para resistir, mas ainda tem que aguentar enormemente. Há uma ansiedade e uma angústia; mas uma angústia doce, suave, sem agitação e confiante: Meu Pai atenderá minha prece, Eu chegarei até o fim . Isto tem um sentido. Notem também a tristeza moral profunda. Como que divinamente decepcionado com aqueles que O abandonaram. Parece que, nessa hora, Ele se lembra não dos miseráveis que O chicotearam, mas dos Apóstolos que O deixaram! Que Ele está, um por um, revendo cada Apóstolo. E está pensando em São Pedro sobre quem Ele edificou a Igreja. Pensando em São João, o Apóstolo virgem, que horas antes ainda deitara a cabeça sobre Seu peito para fazer-Lhe uma pergunta particular. Pensando em São Bartolomeu, que E le mesmo qualificara como um verdadeiro israelita no qual não bavia fraude, e que, entretanto, igualmente O abandonou . Pensando em todos os outros. Com borror, pensando no filho da perdição que O vendeu. Considerando todos aqueles que O trairiam ao longo dos séculos. Mas também está pensando nos sacerdotes, nos bispos, nos cardeais e no Papa de boje. Ele está refletindo em algo que O angustia enormemente, que é magnífico: no sofrimento de Nossa Senhora.

~~MAS QUE MAL FEZ ELE?" "Pilatos perguntou-Lhe ouh·a vez: Nada respondes? Vê de quantos delitos te acusam! Mas Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos ficou admirado. Ora, costumava ele soltar-lhes em cada festa qualquer dos presos que pedissem. Havia na prisão um, chamado Barrabás, que fora preso com seus cúmplices, o qual na sedição perpetrara um homicídio. O povo que tinha subido começou a pedir-lhe aquilo_que sempre lhes costumava conceder. Pilatos respondeu-lhes: Quereis que vos solte o rei dos judeus? (Porque sabia que os sumos sacerdotes o haviam entregue por inveja.) Mas os pontífices instigaram o povo para que pedissem de preferência que lhes soltasse Barrabás. Pilatos falou-lhes outra vez: E que quereis que eu faça daquele a quem chamais o rei dos judeus? Eles tornaram a gritar: Crucifica-o! Pilatos replicou: Mas que malfez ele? Eles clamavam mais ainda: Crucifica-o! Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse crucificado. Os soldados conduziram-no ao interior do pátio, isto é, ao pretório, onde convocaram toda a coorte. Vestiram Jesus de púrpura, teceram uma coroa de espinhos e a colocaram na sua cabeça. E começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus! Davam-lhe na cabeça com uma• vara, cuspiam nele e punham-se de joelhos como para homenageá-lo. Depois de terem escarnecido d'Ele, tiraram-lhe a púrpura, deram-Lbe de novo as vestes e conduziram-no fora para o crucificar". (São Marcos, 15, 9-20)

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Parece-me ver os olhos do pensador meditando, examinando do ponto de vi sta da filosofia e da teo logia aque le acontecimento central da H istóri a: sua Paixão e Morte. Em meio de tudo isso, E le está rezando. A meu ver, é patente que há uma magnífica oração. Meditação que faz sangrar a alma, mas que eleva e santifica

Fotografada a escultura sob outro ângulo, parece-me que a impressão da dor fis ica é um tanto menor, enquanto a impressão da angústia e da refl exão é ainda maior. Noutro ângulo, aparece um conjunto de vári as expressões, de · di versos close-ups de Seu rosto Sagrado. Tudo se junta numa fis ionomi a una, na qu al sobressai a vergastada profunda na testa. Quando uma pessoa pensa, costuma frequentemente formar um vinco desse tipo na testa. É a meditação do verdadeiro Homem-Deus, que é acompanhada de dor e pensamento. Quantas vezes conjuga tristeza e am argura. U ma meditação que fa z sangrar a a lma, que envelhece, encanece, consome, mas também e leva e santifica .

apresentadas inteiramente descontraídas, não há contração nervosa. M as aparecem como as mãos de um re i, prontas para serem oscul adas. É o Rei da dor. Por vezes tais impressões são pessoais. E se bem que as fotografias da escul tura estão muito bem tiradas, sou da tese de que os proj etores '[de slides] raramente dão toda a realidade do que projetam, e que a imagem é muito mais rea l. E u pretendo depois trazer o quadro e colocá-lo em vári os lugares, para que todos os senhores possam vê- lo bem. Após, destinarei o lugar onde com toda propriedade possa fi ca r de modo definiti vo. N ão queria de ixa r de assinalar esta ocasião de graças que todos recebemos. É ev idente que este qu adro, para verdade iros devotos e escravos de Nossa Senhora, segundo a consagração ensinada por São Luís Maria Grigni on de Montfo rt,

Nosso Divino Redentor, o "Rei da dor"

Nessa fotografi a aparece por inte iro o corpo divino. Eu não tenho nada a dizer! Notem a tumefação do braço esquerdo, que nessa visão se percebe melhor. Esses braços ainda vão carregar a C ruz e as mãos ainda vão ser cravadas na C ruz, até Sua Morte. Isso constitui a imensidade de tormentos que O aguardam depois de ter sofrido tanto. E m detalhe, vemos amarradas as mãos sagradas do Onipotente. Percebem-se as pontas dos dedos. É belo contemp lar que as mãos são

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nos induz a entender que tendo Nosso Senhor sofrido tudo isso, fo i pelos rogos de Mari a que esse sangue é aplicável a nós. Se nossa presença não Lhe ca usa horror, mas, pelo contrário, é ace ita com mi seri córdi a, deve-se aos rogos de Mari a. Ela é o ca minho necessári o, por vontade de Deus, para nos aprox imar de seu Divino F ilho. E sermos, não di go di gnos, mas ao menos de algum modo proporcionados para olharmos essa figura e rogar por nós e pela Igreja. Jul go que o escultor produziu uma obra de arte extraordin ári a no seguin te sentido: muitas vezes vemos num quadro ou escultura a ex pressão da alma do arti sta. É o modo pelo qual ele exprimiu o que certo tema lhe prod uziu na a lma. M as muito mais belo é qu ando o arti sta de tal mane ira se deixa identifi car com o tema, que apenas este aparece. N o caso, apenas N osso Se-

nhor Jesus Cristo. Ou seja, o artista de tal maneira viveu, por assim dizer, a dor de Nosso Redentor, que produziu a representação de Jesus, e depois se apaga. Não se percebe qual era o seu estado de a lma a não ser medi ante a extrema inteligência, propriedade, finura , e, sobretudo, a ex trema piedade com que conseguiu apresentar a obra. A meu ver, este é o auge do mérito quanto a uma obra de arte. O católico deve aceitar o sofrimento por amor à Igreja

Uma consideração fin al: hoje a Igrej a está atada à coluna da fl agelação. Fazendo cessar a causa, cessa o efe ito. Se qui sermos e liminar em nossa alma um estado ruim, devemos perguntar qua l a causa desse estado para fazê-lo cessar. Sw-ge então a pergunta: Qual a razão de nossa indife rença? - E la tem sua rai z na indiferença maldita do homem moderno por tudo que não seja ele próprio. Vemos povos afundarem em desditas, lemos nos jornais atrocidades praticadas pelo sistema comunista, mas as pessoas não se importam com isso. Por quê? - Porque só se incomodam consigo mesmas, ape;1as se preocupam com suas coisinhas. Dos verdadeiros interesses sérios elas não cuidam. Interessam-se apenas pelas bagatelinhas de todos os dias. Quantas e quantas vezes autênti cos católi cos são escarnec idos, por vezes até agredidos ! Quem toma pos ição em sua defesa? Todo sofrimento de qualquer católi co, se aceito com espírito de fé, pode ser comparado ao sofri mento infinitamente precioso de ~ Nosso Senhor Jesus Cristo. Há uma ~ analogia. Passamos por muitos so- 'iB ~ frimentos, mas em comparação co m u.. os d'Ele, são insign ificantes. ❖

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respondeu que sim. E chegando à cozinha, encontrou o fogo aceso e os alimentos devidamente cozidos. Os frades de São Marcos queriam conservar consigo aquele adolescente que dava tantas provas de santidade. Mas ele sentia-se chamado para outra coisa. Findo o ano, dirigiu-se com os pais em peregrinação a Roma, Assis, Loreto e Monte Cassino. Neste último lugar, sabendo que São Bento ali se estabelecera aos l 4 anos para entregar-se todo a Deus, fez o mesmo propósito. Pediu aos pais que o deixassem viver como eremita na chácara que habitavam. Os pais não só consentiram, mas passaram a levar-lhe diariamente alimentos. Francisco queria mais solidão. Por isso, um dia desapareceu e subiu uma montanha rochosa, onde encontrou uma pequena gruta que transformou, durante seis anos, em sua morada. Vivendo exclusivamente para Deus, na contemplação e na penitência, alimentavase de raízes e de ervas silvestres. Segundo a tradição de sua Ordem, recebeu ali o hábito monástico das mãos de um Anjo.

São Francisco de Paula (1416 - 2016) No dia 27 deste mês celebramos o VI Centenário do nascimento desse extraordinário santo, profeta, taumaturgo, conselheiro de Papas e Monarcas e Fundador da Ordem dos Mínimos.

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

exemplo dos pais costuma desempenhar importante papel na formação dos filhos. Vemo-lo claramente na vida de São Francisco de Paula, cujos progenitores eram modestos agricultores na pequena cidade de Paula, na Calábria. Tiago, o pai, tirava do campo o sustento da família e santificava-se na oração, no jejum, na penitência e nas boas obras. Sua esposa, Viena, era também virtuosa, secundando-o em suas boas disposições. Mas não tinham filhos. E, para obtê-los, rezavam ao Céu, sobretudo ao seráfico São Francisco de Assis, de quem eram devotos e cujo nome eles prometeram dar ao primeiro filho que tivessem. O Poverello de A_ssis deixou-se comover e o casal teve três filhos, dos quais Francisco foi o primeiro. A alegria, entretanto, foi de pouca duração, pois o recém-nascido sofreu uma infecção nos olhos que lhe ameaçava a visão. Tiago e Viena recorreram de novo ao santo: seria possível que ele tivesse atendido seus rogos pela metade? Prometeram agora, caso o menino sarasse e tão logo a idade o permitisse, vesti-lo com o hábito franciscano e deixá-lo durante um ano num convento da Ordem. A criança sarou e cresceu em graça e santidade, seguindo desde cedo o exemplo paterno de oração e penitência até atingir os 12 anos.

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Primeiros discípulos e a Ordem dos Mínimos

Ainda na infância, os primeiros milagres

Apareceu-lhe então um frade franci scano, lembrando que chegara a hora de seus pais cumprirem a promessa feita. Estes aquiesceram e levaram o menino, com seu pequeno hábito, para o convento franciscano de São Marcos, no qual todo o rigor da regra era observado. Embora não fosse obrigado a isso, Francisco começou a observar a regra com tanta exatidão, que se tornou modelo até para os frades mais experimentados nas práticas religiosas. Alguns milagres marcaram a vida do frade-menino no convento. Certo dia o sacristão mandou-o buscar brasas para o turibulo, mas sem indicar-lhe como. Com toda simplicidade, ele as trouxe em seu hábito, sem que este se queimasse. De outra feita, encarregado da cozinha, colocou os alimentos na panela e esta sobre o carvão, esquecendo-se, contudo, de acendê-lo. Foi depois para a igreja rezar e entrou em êxtase, olvidando-se da hora. Quando alguém, que passara pela cozinha e vira o fogo apagado, chamou-o perguntando se a refeição estava pronta, Francisco, sem titubear,

Surgindo jovens discípulos, esse eremita de 19 anos obteve do bispo local licença para construir um mosteiro no alto de um monte próximo a Paula. Eis a origem da Ordem dos Mínimos , fundada pelo santo em 1435. Essa construção, como outras posteriores, constituiu um contínuo milagre. Dela participavam os habitantes da cidade, ricos e pobres, nobres e plebeus, que foram testemunhas de inúmeros milagres. Enormes pedras saíam do lugar à sua simples voz; pesadas árvores e pedras tornavam-se leves para serem removidas ou transportadas; alimentos que mal davam para um trabalhador alimentavam muitos ... Mesmo pessoas doentes iam participar das construções e se viam curadas. Diz um hagiógrafo do santo: "Não há espécie de doenças que ele não tenha curado, de sentidos e membros do corpo humano sobre os quais não tenha exercido a graça e o poder que Deus lhe havia dado. Ele restituiu a vista a cegos, a audição a surdos, a palavra aos mudos, o uso dos pés e mãos a estropiados, a vida a agonizantes e mortos; e, o que é mais considerável, a razão a insensatos e .fren éticos [ .. .}. Não houve jamais mal, por maior e mais incurável que parecesse, que pudesse resistir à sua voz ou ao seu toque. Acor-

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me tivesse oposto, talvez ele ainda vivesse". - "Quer dizer que você está arrependida?" - insistiu o santo. - "Ah, sim!". Francisco trouxe-lhe então o filho são e salvo, que a mãe abraçou em prantos, concedendo a licença que antes recusara. Outro caso famoso foi o da ressurreição de um homem que havia sido enforcado três dias antes pela justiça. Restituiu-lhe não só a vida do corpo, mas também a da alma. Mas o fato mais extraordinário, e que segundo se sabe só ocorreu com Francisco, foi o de ter ressuscitado duas vezes uma mesma pessoa. Certo Tomás de Yvre, habitante de Paterne, trabalhando na construção do convento dessa cidade, foi esmagado por uma árvore. Levado ao santo, este lhe restituiu a vida. Tempos depois, ele caiu do alto do campanário, espatifando-se em baixo. O santo restituiu-lhe novamente a vida. Coroamento de todas as suas virtudes

ria-se a ele de todas as partes, não só um a um, mas em grandes grupos e às centenas, como se ele.fosse o Anjo Rafael e um médico descido do Céu; e, segundo o testemunho daqueles que o acompanhavam ordinariamente, ninguém jamais retornou descontente, mascada um bendizia a Deus de ter recebido o cumprimento do que desejava ".* Alguns dos grandes milagres operados pelo santo

Dentre os mortos que ele ressuscitou, destaca-se seu sobrinho Nicolas. Este desejava ardentemente fazer-se monge na Ordem que seu tio acabava de fundar, mas sua mãe, por apego humano, a isso se opôs tenazmente. O rapaz adoeceu e morreu. Seu corpo foi levado à igreja do convento, e Francisco pediu que o conduzissem à sua cela. Passou a noite em lágrimas e orações, obtendo assim a sua ressurreição. No dia seguinte, de manhã, quando sua irmã foi assistir ao sepultamento do filho, Francisco perguntoulhe se ela ainda se opunha a que ele se fizesse religioso. Ao que ela respondeu em lágrimas: "Ah! se eu não

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Foi durante esse tempo que lhe apareceu o Arcanjo São Miguel, seu protetor e da nascente Ordem dos Mínimos, trazendo-lhe uma espécie de ostensório em que aparecia o sol num fundo azul e a palavra Caridade, que o Arcanjo recomendou ao santo que tomasse como emblema de sua Ordem. Francisco passava as noites em prece, mal dormindo sobre umas pranchas. Observava uma quaresma perpétua, às vezes comendo a cada oito dias, tendo mesmo passado uma quaresma toda sem alimento, à imitação de Nosso Senhor. Seu hábito era de um tecido grosseiro, que ele portava dia e noite, mas que nem por isso deixava de exalar agradável odor. Seu rosto, sempre tranquilo e ameno, parecia não se ressentir das austeridades que praticava nem dos efeitos da idade, pois era cheio, sereno e rosado. O coroamento de todas as suas virtudes consistia numa admirável simplicidade. Ele era bom, franco, cândido, serviçal, sempre disposto a fazer o bem a qualquer um. Foi esse espírito que ele comunicou a seus filhos espirituais. Francisco era dotado do dom da profecia. Segundo um de seus biógrafos, dele se pode dizer, como do Profeta Samuel, que nenhuma de suas predições deixou de se cumprir. Assim, profetizou que os turcos invadiriam Otranto, na Itália, e que esta seria reconquistada pelo Rei de Nápoles; havia já predito que os mesmos tomariam Constantinopla, o que ocorreu.

Os demônios não podiam resistir-Lhe, e foram inúmeros os casos de possessos que ele livrou do jugo diabólico. Embora analfabeto, pregava com tanta sabedoria, que pasmava a quem o ouvia. E como tinha em grau heroico a virtude da sabedoria e as virtudes cardeais - prudência, justiça, temperança e fortaleza - , elas brilhavam em seu modo de ser e agir, como também em suas palavras. Por isso, sem o menor constrangimento, pod_ia conversar e dar conselhos a Papas, reis e grandes deste mundo.

Sexta-feira Santa do ano de 1507, aos 91 anos de idade. Seu corpo permaneceu incorrupto até 1562. Nesse ano, durante as Guerras de Religião, os protestantes calvinistas - como o santo havia predito - invadiram o convento de Plessis, onde estava enterrado, tiraram seu corpo do sepulcro e, sem se comover de vê-lo em tão bom estado, queimaram-no com a madeira de um grande crucifixo da igreja. O santo foi assim como que ma1tirizado depois de sua morte. Entretanto, apesar do ódio dos inimigos da fé, sua glória permanece para sempre. ❖

Expansão da Ordem dos Mínimos para outras nações

Nota: * Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d'apres te P. Giry, Bloud et Barrai, Paris, 1882, tomo IV, p. 143. Outras obras consultadas: - Father Curthbert, The Catho/ic Encyctopedia, CD Rom edition. - Edelvives, E/ Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo li, pp. 333 e ss. - Pe. José Leite S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1993, pp. 412-413. - Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Afio Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, 3a. edição, pp. 20 e ss.

A fama de suas virtudes chegara até a França, on_de Luís X[ fora atacado por doença mortal. Por isso, pediu ao santo que fosse curá-lo. Mas este só partiu para aquele país com ordem formal do Papa. A viagem revelou-se providencial para a expansão de sua Ordem não só na França, mas também em outros países da Europa, como Alemanha e Espanha. Assim que esteve com o rei, São Francisco de Paula discerniu que a vontade de Deus não era de curá -lo, mas de levá-Lo desta vida. E o disse claramente ao soberano, preparando-o para a morte. O monarca confiou-lhe seus filhos, principalmente o delfim, então com 14 anos. Francisco foi o confessor da Princesa Joana, que depois de repudiada por seu marido, o futuro Luís XU., fez-se religiosa e mereceu a honra dos altares. Foi por conselho de Francisco que o Rei Carlos VIIl casou-se com Ana de Bretanha, herdeira única daquele ducado, que veio assim unir-se ao Reino da França. Entre outros grandes carismas, São Francisco de Paula era dotado de uma graça especial para obter de Deus o favor da maternidade para mulheres estéreis. Muitos milagres desse gênero, alguns em casas reais ou principescas, foram relatados no processo de canonização do santo em Tours. Suas devoções particulares consistiam em cultuar o mistério da Santíssima Trindade, da Anunciação da Virgem, da Paixão de Nosso Senhor, bem como os santíssimos nomes de Jesus e Maria. A "segunda morte" de São Francisco de Paula

Nascido há exatos 600 anos, o santo fa leceu na

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DISCERNINDO

Por a

ue o MPL lembra nião Soviética CID ALENCASTRO

A.

inflação vai corroendo as finanças dos bra~ sileiros, especialmente dos mais pobres. E um fato. Economistas de peso têm analisado o problema e concluído que, unida à estatização desvairada, uma irracional política dita "social" vai destroçando a economia do País, prej udicando a todos, sobretudo os economicamente menos favorecidos . Até aí nenhuma novidade. Onde quer que se implante, o socialismo fu nciona como um câncer que va i putrefazendo os tecidos do organismo, a caminho da morte. Não vamos nos deter nesse fenômeno, por demais conhecido de nossos leitores. Ora, o autointitulado Movimento Passe Livre (MPL) tem procurado agitar o ambiente, sobretudo em São Paulo, organizando manifestações de protesto

contra o aumento das passagens, que está na ordem de R$ 0,30. Navegando numa COt}tradição ululante, o MPL defende o governo do PT, causador da degringolada econômica e, portanto, também da inflação, e criti ca um subproduto menor dessa inflação que é o aumento nas passagens dos transportes coletivos. Conseguindo arrebanhar apenas um contingente reduzido (parece que os sanduíches de mortadela e as go1jetas não estão muito atrativos), os orga ni zadores têm procurado compensar o peq ueno número ·com a promoção de arruaças, quebra-quebras e outros mimos, a fim de atrai r a atenção de um público cada vez mais desinteressado, crescentemente enfas ti ado e mesmo hostil. Tão hostil que mesmo certa imprensa, que vinha

publicitando as manifestações que convencer os trabalhae criticando a polícia, mudou dores ". de bordo e, para não perder O Manual elenca sete leitores, passou a criticar o passos para travar as vias da MPL. cidade com 50 militantes, a Foi nesse contexto que fim de "provocar ef eitos tão se descobriu o óbv io. Ou seja, interessantes quanto os de que o interesse do MPL não um ato com mil". e tava centrado no aumento O fracasso das mani fesdas passagens - mero pretações do MPL constitui apetex to - mas sim em proçlunas um exemplo do que vem Ou sejaJ para aumentar as chances . zir agitação soc ial, a serviço ocorrendo ultimamente com me~to, chegou a hora de come ar de vitória contr.a o au ~ ônibus, grandes avenidas ç a travar terminais de de fo rças escusas. as investidas das esq uerdas, garanti r que a cidade pa e rua s no entorno dos atos para re até que a tarifa baixe. Veio a público então ao menos no Bras il. Não conu'm Manual, no qual o MPL TRAVAMENTO EM seguindo convencer a opinião "instrui seus militantes e pública, e muito menos atrair simpatizantes sobre como grandes contingentes para l i t1co,. pessoas da manifestação para ly-__l bloquear vias importantes suas ações de rua, as esquer;:gan1zar. Troque contato e what ~ e empregar outras táticas PP para facilitar a comunicaçã )/ ' ~\ ~. -"~ \ das se veem na contingência ~~ \ e o reagrupament o . o truculentas " ("O Estado de ava nçar por meio de golpes de S. Paulo", 14 e 17-1de força das autoridades. Estas 16). "Surge a imagem de impõem, em nome da moderum grupo aguerrido, frio e calculista, que não hesita nidade e outras balelas do gênero, leis, decretos, senem apelar para o emprego de métodos violentos para tenças judiciais, regulamentos, injunções policialescas atingir seus objetivos ", di z a reportagem. e o que mais se queira para forçar a população a engoOu seja, cai por terra a fa lsa ideia de que a violênlir suas " modernidades". cia nas manifestações seri a fruto da ação de infiltrados, Tal sistema é eficiente a ape lidados de black-blocs. Na verdade, todos faze m curto prazo, pois quem está parte da mesma panela. com o poder nas mãos imNesse Manual, o MP L deplora põe e está acabado. Mas a o fato de não estar conseguindo adelongo prazo caminha-se sões dos trabalhadores: "Não podepara uma exp losão. Memos fazer es!,:a ação isolada. Temos mento União Soviética. •!

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Or®

Flagrantes de manifestações do MPL

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Santo Albino, Bispo e Confessor

São João José da Cruz, Confessor

+ Angers (França) 550. De nobre estirpe, foi eleito Bispo de Angers já sexagenário; combateu vigorosamente, sob risco de vida, o imoral costume de senhores semibárbaros de se casarem incestuosamente com irmãs ou fil has. Convocou o Concílio de Orleans, que estabeleceu penas severas contra esse abuso. Muitos milagres lhe são atri buídos.

+ Nápoles, 1734. "Ardente discípu lo de São Francisco de Assis e de São Pedro de Alcântara, acrescentou grande glória à Ordem Seráfica. Foi inscrito pelo Papa Gregóri o XVI no Cânon dos Santos" (Martirológio Roma no). Primeiro Sábado do mês

Santa Colete, Virgem

+ França, 1447. Reformadora São Francisco de Paula

(Vide p.34). São Chad, Bispo

+ Lindisfarne (Inglaterra), 672 . Irmão de São Cedd, fo i educado por Santo Aidano na Irlanda. De volta à Inglaterra, tornou-se Bispo de Mércia e Lindisfarne. São Beda, o Veneráve l, ena lteceu suas virtudes.

das Terceiras Franciscanas, fo i das figuras mais importantes da Igreja no século XV. Com São Vicente Ferrer, aconselhou três ca rdea is, que reivind icavam o dire ito à tiara pontifícia, a renunciarem a fim de se proceder a nova eleição.

+ Bamberg (Alemanha), 1040. Esposa de Santo Henrique, com quem vivia em perfeita castidade. Foram ambos coroados imperadores do Sacro Império, em Roma, pelas mãos do próprio Papa. Após a morte do marido, ela empregou sua fortuna em erigir bispados e mosteiros, terminando sua vida como simples religiosa em um deles.

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nobreza romana, foi modelo de esposa e mãe, além de fundadora das Oblatas Beneditinas. Tinha trato fami liar com seu anjo da guarda , a quem vi a continuamente.

São Simplício, Papa

+ 483. Governou a Igreja durante 15 anos, por ocasião da invasão dos bárbaros, que ele procurou converter. 'J Santa Teresa Margarida Redi, Virgem

18 anos no convento carmelita de Florença, e em pouco tempo atingiu grande santidade.

+ Egito, 339. É patrono dos

São Teófano, Abade

que aspiram à santidade em idade avançada. Agricu ltor, aos 60 anos descobriu que sua mu lher o traía. Fugiu então para o deserto onde estava Santo Antão, que aceitou dirigi-lo.

+ Samotrácia, 818. Ele e a esposa renunc iaram a imensa fortuna para se tornarem religiosos. Grande promotor do culto às imagens, fo i por isso exi lado pelo ímpio imperador bizantino Leão, o Armênio, morrendo vítima de maus tratos.

São João de Deus, Confessor. São Julião de Toledo, Bispo

+ Espanha, 690. Sob sua dire-

tres presbíteros de Roma que seguiram São Cornélio ao desterro, tendo sucedido a este no Papado.

ção, a Sé de Toledo tomou a primazia entre todas as da Espanha e Portuga l. Presidiu vários sínodos, reviu e desenvolveu a liturgia mozárabe, tendo

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Santo Eutíquio e companheiros, M ártires

+ Arábia, 741. Patrício romano, foi capturado pelos maometanos contra os quais guerreava, tendo sido ele e seus companheiros torturados e mortos por não renunc iarem à fé católica.

São Longino, Mártir

,;;i,

São Lúcio 1, Papa, Mártir

40

+ Roma, 1440. Da ma is alta

São Paulo, o Simples, Eremita

+ Roma, 254. Foi um dos ilus-

Primeira Sexta-Feira do mês

Santa Francisca Romana , Viúva

+ Florença, 1770. Entrou aos Sant as Perpétua e Felicidade, M ártires.(*)

Santa Cunegundes, Viúva , Imperatriz

sido um dos mais importantes eclesiásticos de seu tempo.

Santa Eufrásia, Virgem

+ Egito, 410. Da nobreza romana. Ao fa lecer seu pai, foi com a mãe para o Egito. Aos sete anos pediu-lhe licença para servir a Deus num mosteiro próximo.

+ Capadócia, séc. 1. Segundo a Tradição, é o centurião romano que durante a Crucifixão reconheceu Cristo como o Fi lho de Deus.

de volta àquela Sé episcopa l, onde tentou reformar os cônegos re laxados. Estes se revo ltaram e foram excomungados pelo Papa. Com o apoio do imperador, os rebelados expu lsaram Santo Anselmo da cidade.

+ Ci lícia (na atua l Síria), 302. São João Crisóstomo fez o elogio deste mártir que, aprisionado por sua fé católica durante o império de Diocleciano, foi colocado dentro de um saco cheio de escorpiões e serpentes e atirado ao mar.

Santa Gertrudes de Nivelles, Virgem

+ Holanda, 659. Filha do Bem -aventurado Pepino de Landen e da Bem-aventurada lta , com a morte do pai ela fundou com a mãe o convento de Nivelles, nele ingressando como abadessa aos 20 anos.

Santo Anselmo de Luca, Bispo

+ Luca, 1086. Sobrinho do Pa pa Alexandre li , retirou-se de sua diocese de Luca para fazer-se monge benedit ino. São Gregório VII ch amou-o

QUINTA-FEIRA SANTA

Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio.

A liturgia deste dom ingo consta de duas partes distintas: uma, impregnada de alegria, é a procissão dos ramos; outra, de tristeza, compõe-se da Missa e do canto da Paixão.

+ Arranmore (Irlanda), 590. Brilhante militar, irmão de Santa Fanchea, é considerado o fundador do monasticismo na Irlanda. Teve como discípulos os Santos Kleran e Brendan.

Santa Leia, Viúva

+ Roma, 383. Matrona romana discípu la de São Jerônimo, de quem mereceu os maiores elogios, entrou num mosteiro após a morte do esposo.

São Toríbio de M ongrovejo, Bispo

+ Lima, 1660. "Arcebispo (de

São Gontran, Rei, Confessor

Anunciação do Anjo e Encarnação do Verbo

O mais importante acontecimento da História: o Verbo de Deus se encarnou no seio puríssimo de Maria.

São Cirilo de Heliópolis, Diácono e M ártir

SEXTA-FEI RA SANTA

Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jejum e abstinência.

SÁBADO SANTO

Jesus Cristo no sepulcro e a soledade de Nossa Senhora.

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO Santo Endeus ou Enda, Confessor

citou verdadeiramente, Alleluia!"

+ Châ lons (França), 592. Rei da Borgonha, após divorciarse e mandar executar seu méd ico, ficou cheio de remorsos e abandonou as pompas do mundo. Empregou então sua fortuna na construção de igrejas e mosteiros e na distribu ição de esmolas, vivendo na mais rigorosa penitência.

SãoJosé

Esposo da Santíssima Virgem, Patrono da Igreja Universal e da Boa Morte Para se ter ideia da grandeza desse santo, considere-se apenas que foi esposo da Ra inha dos Céus e pai adotivo de Jesus.

DOMINGO DE RAMOS São Julião de Anazarbus, Mártir

a fé e a discipli na eclesiástica se disseminaram pela América" (Martiro lógio Romano).

"Cristo

ressuscitou;

ressus-

+ Líbano, 362. Tendo Juliano, o Apóstata, reintroduzido o pagan ismo no império, esse diácono destruiu muitos ídolos, tendo por isso "seu fígado arrancado de seu abdômen e devorado pelos pagãos como bestas selvagens" (Martirológio Romano).

São João Clímaco, Confessor

+ Monte Sinai, 605. Ingressando aos 16 anos no mosteiro situado nesse monte, deixou-o mais tarde para viver em maior solidão. Aos 75 anos foi chamado de volta e eleito abade. Seu livro Clímax ou Escada da Perfeição, do qual lhe veio o cognome Clímaco, foi das obras mais apreciadas na católica Idade Média.

'1. São Guy de Pomposa, Abade

+ Itália , 1046. Sua santidade e sua sabedoria atraíram tantas pessoas a seu mosteiro, que foi obrigado a fundar outro. A seu pedido, São Pedro Damião ministrou durante dois anos aulas sobre as Sagradas Escrituras a seus monges. * Santos já apresentados em calendários anteriores são apenas mencionados, sem nota biográfica.

Intenções para a Santa Missa em março Será celebrada pelo Revmo. Padre David Fra ncisquini, nas seguintes intenções:

• Nesta Semana Santa, pelos méritos infinitos da Pa ixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, pedi ndo as mais seletas graças para nosso País e nossas famílias; e para que cada um de nós particularmente obtenha a graça de um coração contrito e humi lhado na consideração das dores sofridas pelo Divino Salvador.

In tenções parn a Santa Missa em ab ril • Em memóri a da descoberta do Brasil em 22 de abril de 1500, roga ndo a Deus pe la intercessão de Nossa Senhora Aparecida, que a Terra de Sa nta Cruz corresponda plenamente à sua grandiosa vocação no concerto das nações. Na mesma Missa será inserida uma intenção em desagravo por tantos pecados e ofensas cometidos em nossa Pátria contra os Sagrados Corações de Jesus e Maria, e para que os leitores de Catolicismo sejam forta lecidos na defesa da verdadeira Religião.

Lima , Peru), por cujos labores

catolicismo@terra.com.br / MA HÇO 20 16

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XII Simpósio dos Correspondentes da Associação dos Fundadores FÁBIO CARDOSO

ntre os dias 7 e 9 de fevereiro último, rea li zo u-se na cidade de São Bernardo do Campo (SP) o XIl Simpósio dos Co rrespondentes e Simpati za ntes da Associação dos Fundadores. Nes te ano, o simpósio contou também co m o patrocí ni o do i nstituto Plínio Corrêa de Oliveira, dev ido à prox imidade de ideais que un e as duas entidades. Com participantes oriundos de vários estados do Brasil , seu leitmotiv foi "É melhor lutar do que viver acomodado numa civilização devastada e sem honra ", uma adaptação do lema dos heroicos Macabeus, qu e lutara m contra erros na época do Anti go Testamento, porque prefe ri am morrer do qu e viver numa terra devastada e sem honra. De fa to, o senti111ento gera l dos presentes era de mu ita preocupação co m a situação de desfazimento mora l da sociedade, inclusive no seio do próprio ambi ente católico e fa miliar; ademais, pela necessidade de muita vigilância e ação a fi m de contribuir para reverter esta trág ica realidade. A abertura dos di as de estudos consistiu nu ma palestra proferi da pelo Príncipe D. Bertra nd de Orl eans e Bragança, na qual ele discorreu sobre o priv ilégio de defe nder a Santa Igreja em nossos dias, tendo em vista que Ela está se nd o atacada de todos os lados por múltiplos inimi gos, ta nto internos quanto externos. Segun do o Príncipe Imperi al do Brasil , manter a fide lidade à Igreja

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CATOLICI S 'IO / www.catolicismo.com .br

de sempre, nesta hora de ta nta infi delidade e tra ição, é uma glória úni ca na Histó ri a, uma tarefa própria de heróis. Outros ex posições versaram sobre temas correlatos, abordand o o golpe terrí vel que a Europa está sofre ndo com a invasão de mu çulm anos e imigrantes africa nos, bem como a situação caóti ca na qual a Améri ca Latina está se afund ando. E m outras pa lestras fo i abord ado o tema da promessa de assistência de Nossa Senhora a todos aq ueles que se esforçarem para manter a fidelidade aos princíp ios da doutrina católica, seguind o

os passos de Pli nio Corrêa de O li veira, insp irador das enti dades citadas. Foram lembrados vári os exemplos de sua vida, em que ele confio u na Prov idência Di vina, muitas vezes co ntra toda a esperança, tendo sempre obtido seu auxilio em suas iniciativas defendend o a Igreja e a civilização cri stã. No encerramento dos estudos, o Dr. Caio Xavier da Silveira, que dirige o trabalho efetuado por entidades afi ns na Europa, relatou a ex pansão prod igiosa ela atuação contra-revolucionária naquele continente, ressaltando a ex istência de reações muito vivas e não esperadas contra o avanço da revolução cul t11ral anticristã em países europeus. As sessões do Simpósio co ntara m co m a prese nça de image m de Nossa Senhora

de Fátima, para a qual todos podiam vo ltar suas orações. A ass istência religiosa esteve a ca rgo do Pe. David Francisquini, qu e com grande dedicação atendeu espiritualmente os partic ipantes do evento. Ele contou também co m a prestimosa co laboração do Pe. Sáv io e de Frei Yalmir, OP. O sentimento geral dos presentes era de mui ta afinid ade com os idea is ali expostos, bem como o firme desej o de se manterem sempre fié is à Santa Igreja Católica, nas presentes turbul ênçias porque passa. E, em consequência, de se dedi carem cada vez mais aos esforços apostólicos, participando das iniciati vas das ca mpanh as, tanto da Associação dos Fundadores quanto do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. ❖

Aspectos do simpósio

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Dr. Adolpho Lindenberg, Presidente do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira

ternati va diante dos atentados e das invasões de "rt:fúgiados" na Europa. Co mpl e-

A força e o entusiasmo do Cruzado NELSON RAMOS BARRETTO

pós um ano co nturbado, ta nto no âmbi to in ternac iona l quanto nac io na l, o i nstituto Plinio Corrêa de Oli veira promoveu - co m apo io da Associação Cristo Rei e de o utras assoc iações --,-- oXVi Simpósio de Es-

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tudos e Ação Contra-revolucionária. O evento reali zo u-se na capita l pa uli sta dura nte os di as do último carnava l e co ntou co m a part ic ipação de l 00 jovens dos seguintes estados: Amazo nas, Distrito Federa l, M ato Grosso do Sul , Minas Gera is, Paraíba, Para ná, Ri o de Ja neiro, Rio G rande do Sul , Sa nta Catarina e São Pa ul o, além de representa ntes da A rgentina e do Peru. A abertura co ube ao Príncipe Dom Bertra nd de O rl eans e Braga nça e ao Dr. A do lpho Lindenberg, P res idente do i nstituto, seguin do-se uma expos ição de slides do Prof. Fabricio Montand on sobre O Barroco

Mineiro, uma emanação da autêntica alma brasileira . CATO LI CISMO / www.catolicismo.com.br

No domin go, o Sr. L ui s Dufa ur fez uma retrospectiva do ano de 20 15, intitulada Na orla da III Guerra Mundial. Em segui da o autor destas linh as fa lou sobre O que há

por detrás da questão indígena, quilombo/a e ambiental. A próx ima pa lestra fo i do Sr. José Carl os Sepúlveda da Fonseca, que di scorreu sobre A Teologia da História segun-

do o Padre Henri Ramiere. N a parte da tarde, o Pe. Sáv io Fern andes, após fa lar sobre A vida de piedade de um católico contra-revolucionário, deu assistência esp iritual a partic ipantes do S impós io, inc lusive fazen do à impos ição do Escapul ári o de Nossa Senhora do Ca rmo. E também F re i Valmi r aux ili ou-o na ass istê ncia espiri tual aos presentes. À no ite, houve uma pa lestra com expos ição de slides do Sr. Lui s G uillermo Arroyave, in titul ada O es-

plendor das cerimônias da igrt!ja Católica. N o di a seguin te, o D r. Mari o N ava rro da Costa ocupou-se do tema Uma falsa ai-

to u a manhã o Sr. Aleja ndro Ezcurra, co m a confe rênc ia int itu lada Do Pacto das Catacumbas à Teologia do Povo. As du as palestras da tarde - As três

devoções de Dom Basco e a irrevers ibilidade da Conlra- Revolução, pe lo Prí ncipe Dom Bertrand, e Meu primo Plinio Corrêa de Oliveira, pe lo Dr. Ado lpho Lindenberg - s usc ita ram muitas pergun tas dos j ovens, desejosos de conhecer a perso na li dade do Dr. Plinio. À no ite, o Sr. L uis Dufa ur mostro u as Últimas desco.bertas nas vestes fún e-

a nova edição comemorativa de 50 anos da magistra l obra Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo e o li vro De Maria nunquam satis, ambas de Plinio Corrêa de Oli ve ira. Confia ntes no auxíli o da Sa ntíss ima Virgem, os j ove ns retornaram às suas respectivas cida des co m o entusiasmo de Cruzado, que fo i o símbo lo do S impós io, em defesa da [greja Católica. E j á traçava m mudanças de vida co m o fi rme pro pós ito de não apenas defend er, mas restaurar e divul ga r o que ainda resta de civi lização cri stã em nossos d ias. •

Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança

bres de Nos ·o Senhor Jesus Cristo. N a terça-feira , passando pelo Museu do lpiranga, berço da nossa Independência, os pa rticipa ntes se des loca ram até São Bernardo do Ca mpo, onde assist iram à co nferê nc ia de encerramento do co ngresso o rga ni zado pe la As ociação dos Fundadores. Ela esteve a ca rgo do Dr. Ca io Vidigal Xav ier da Si lve ira, que di correu sobre o tema: No auge

da Re volução, a Contra-Revolução ainda tem capacidad de expansão? Na parte da tarde o Dr. Ne lson Frage lli fa lou sobre A missão de Plinio Corrêa de

Oliveira, segundo o recente Li vro do Prof Roberto de Ma/lei. Seguiu-se um a sessão intitul ada Apr"sentaçêío de ações contra-revolucionárias, co m exemp los de Mato Grosso do Sul, Paraná e Mi nas Gera is. Após os re latos sobre a eficác ia da atuação contra- revo lucionária, Dom Bertrand fez o encerramento com a entrega de lembranças: catolicismo@terra.com.br / Mi\ H(:O 20 16

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Semana de Estudos • para1ovens IVAN RAFAEL DE OLIVEIRA

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utemos.por Maria: Deus o quer!", "Dai-nos, ó Virgem pura: Fé, Pureza e Bravura!" - bradaram no centro

da cidade de Atibaia (SP) mais de 70 participantes da Semana de Estudos da ala jovem do instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Neste ano, o si mpósio - do qual participaram jovens de São Paulo, Paraná, Go iás, Tocantins, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal, além do Peru e do Uruguai - ocorreu entre os dias 25 de janeiro e 1°

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de fevereiro , nos arredores da referida cidade, tendo como leitmotiv os "Esplendores da Cristandade". As programações e conferências versaram sobre matérias como os grandes feitos de heróis da Santa Igreja, as cruzadas, a virtude da pureza, a devoção a Nossa Senhora, as Ordens de Cavalaria, e vários outros. O próprio jogo "Caça ao Tesouro" foi inspirado no livro Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luiz Grignion de Montfort. Atra íram especialmente a ate n-

As conferências versaram sobre os grandes feitos de heróis da Santa Igreja, as cruzadas, a virtude da pureza e a devoção a Nossa Senhora

ção as apresentações teatrais que, longe de serem meros passatempos, têm como objetivo estimu lar a prática da virtude e apresentar aspectos da luta entre Deus e o demôni o, entre os filhos da Santíssima Virgem e aqu eles que não A aceitam. A primeira das apresentações, encenando a conversão de um grande príncipe indiano, destacava o papel dos aspectos maravilhosos na criação feita por Deus. Outra, intitulada "O celeste pintor", foi concebida a partir de uma palestra de Dr. Pl ini o, na qual ele apresentava a criação do universo e os artifícios do demônio para destruí- la e conspurcá-la. Uma últim a narrava a hi stória do jovem Elias Ramires, qu e desejava seguir o exemplo dos heróis católicos, mas era impedido por sua moleza. Até o momento em que Santo Elias, se u padroeiro, lhe obteve a graça da mudan ça de espírito. Vencendo seu vício da preguiça, Elias Ramires encontrou a v irtude para trilhar as vias do verdadeiro heroísmo no mundo de hoje. O clima de pi edade im pressionou mui tos dos qu e parti ciparam pela primeira vez da Via Sacra, do ca nto do Ofício parvo de Nossa Sen hora e da oração do terço, rea li zados com so l nidade.

O evento contou ainda com a honrosa presença do Revmo. Padre David Francisquini, que prestou ass istência espiritual aos participa ntes do simpósio, tendo imposto o escapulário do Carmo aos que pediram. Co mo novidade, neste ano os participantes promoveram um desfile na região central de Atibaia, onde, ao som da fanfarra do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, distribuí ram folhetos e conclamaram outros jovens a uma vida de heroís mo. ❖ catolici smo@terra.com.br / MARÇO 20 16

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Diálogo, diálogo, diálogo ... repete-se sem cessar, acrescentando "de paz", esquecendo-se das advertências divinas contra aqueles que "falam de paz com seu próximo enquanto estão maquinando a maldade em seus corações" (Salmo 27-28, 3). Todo coração justo deseja a paz e trabalha por ela. Mas a paz verdadeira não é senão a paz de Cristo no Reino de Cristo, aquela que Santo Agostinho definiu magistralmente como a "tranquilidade da ordem" . Positivamente, não é este o sentido corrente do nobre term o "diálogo" . O livro Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo, do insigne pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira , vem esclarecer as artimanhas verbais e doutrinárias in cubadas na enganosa manipulação desse termo. El e mostra como essa palavra esconde um ardil para modificar as ideias e a conduta do público, que é objeto de uma estratégia e de um processo previamente calculados. O fim desse processo consiste em produzir uma migração ideológica das pessoas, através da qual elas acabem concordando com aquilo que no início do "diálogo" nunca teriam aceitado.

Caravanas em prol de uma civilização autenticamente católica FABIO AUGUSTO FERREIRA

ossa Pátri a defronta-se hoj e com muitos problemas - sociai s, eco nômi cos, po lí ticos. E ntretanto, todos eles têm co mo ra iz a decadência da mora l em que se enco ntra a soc iedade hodi erna. Por isso, no mês de j aneiro , du as ca ravanas de jovens do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira perco rreram dive rsas cidades dos estados de São Pa ul o e Go iás, co m o obj etivo de difundir os ideais da c ivili zação cri stã e esclarecer o pú blico sobre a atual situação do Brasil e do mundo. Vinte e c inco vo luntári os do Instituto dedi ca ram seus di as de fér ias esco lares

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para di vul gar três obras em defesa da famíli a: Catecismo contra o aborto; Homem e mulher Deus os criou - ambos de autori a do Pe. Dav id Fra ncisquini ; e o livro Opção pref erencial p ela fam ilia, de auto ri a de D . A ldo Pago tto (A rcebispo da Paraíba, Brasil ), D . Robert Vasa (Bispo de Santa Rosa, Ca li fó rni a) e D. Athanas ius Schne ider (B ispo auxiliar de Asta na, Casaquistão). Houve ta mbém a d ivul gação do traba lh o jo rna lístico Roraima: Cobiça internacional com nova perseguição aos produtores rurais , de Ne lson Ramos Barretto e Paul o Henrique Chaves. E ntre os di as 4 e 9 de j ane iro , a cara vana que atuou no estado de São Paul o percorreu l l cidades, enquanto o gru po que estava em Go iás vi sitou 13 muni cí pios do di a 5 ao di a 14 de j aneiro. Os carava ni stas foram mui to bem recebidos em todas as cidades, co lhendo exce lentes repercussões. Ho uve fa míli as que acompanharam a ca mpanh a co m entu siasmo, chegando a co nvidar os ca rava ni stas para alm oça rem em suas casas. Oco rreram também, é claro , reações por parte de adversári os da institu ição fa mili ar mode lada pe la Le i de De us; estes tenta ram, em vão, impedir a ação esc larecedo ra dos caravan istas. Ta is reações, favo ráve is ou contrári as, não fi zera m se não es tim ul ar os jovens a conti nu ar a luta em pro l do que ainda resta de Cri standade, à espera dos acontec imentos prev istos por N ossa Senho ra em Fáti ma. Enq uanto isso, agua rd am e les co m ansiedade a próx ima caravana!

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Numa fa ixa da ca mpanha America Needs J<átima, constava a li sta de

TFP americana na 43ª Marcha pela Vida FRANCISCO JOSÉ SAIDL

43ª. Marcha pela Vida, realizada na capital ameri cana no di a 22 de janeiro, fo i talvez a mais memorável de todas neste quase meio século, quando mais de 60 milhões de nascitu ros foram executados pelo aborto, desde a infa me decisão da Suprema Corte americana dando proteção lega l a esse ato crue l. U ma tempestade de invern o ameaçadora ~ das maio res já v istas , c lass ificada por a lgun s de apoca lípti ca - abateu-se sobre a costa leste ameri cana, provoca ndo o ca ncelamento de voos e graves transtornos no trânsito, dific ultando ass im o retorn o dos parti c ipantes da Marcha p ela Vida a seus respectivos loca is de origem. Entretanto, fo i possíve l rea li zá- la em tempo hábil , mesmo sob a neve e o vento, que co meçavam a

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crescer em intensidade. O número de pessoas fo i estimado em 70 mil , c ifra mui to significativa dev ido às aterro rizantes condições meteorol óg icas. Nos anos anteri ores, o trecho percorri do hav ia sido encurtado. Desta vez, vo ltouse ao esqu ema anteri or, o u seja, a concentração começo u no parque adj acente à Casa Branca e termin ou em fre nte ao edi fíc io da Suprema Co rte, na co lina do Ca pitóli o. Cerca de 100 militantes da TFP norte -america na estiveram presentes co m suas conhec idas capas rubras e nove grandes esta ndartes marcados pe lo leão dourado. A Fanfarra dos Santos Anjos, co nstituída po r me mbros dessa TFP e a lunos da Academia São Luiz Maria de Mon(fort, ajudo u a dar brilh o ao evento .

9.229 pessoas qu e, não podendo estar fi sica mente prese ntes à Marcha, env ia ram seus nomes co mo fo rma de adesão. Na ocas ião, a T FP ameri ca na di stribuiu um comuni cado inti tulado Combatendo o aborto em seu núcleo: Um apelo à restauração da rdem, egundo o q ua l co mbate r o aborto impo rta também impedir a expan ã.o de todo o germes des truidore da fa míli a e da sociedade em geral, co mo o di vó rc io, o co ntrol e artific ia l da nata lidade, o "casa mento" ho mossex ua l, a eutanás ia etc. E, ass im, lutar pe la restauração dos va lores morais e cultu rais da civilização cristã, fund ada nos princípios da Le i natu ral e dos Dez M andamentos da Lei de Deus. Estiveram presentes o Núnc io Apostó li co, Mo ns. Vi ganó, e un~ cardea l ameri cano, bem co mo certo número de sacerdo tes acompanhados de seus paroqui anos. O Pe. F rank Pavone, diretor de Priests for Life e. destacado líder anti -aborti sta, que vem enfre ntando hosti tid ades até mesmo ond e esperava e ncontra r ma ior apoio, enumerou as razões de sua ass ídu a presença e dos demais parti cipantes à M archa, entre as qua is esta: " É a voz dos nascituros. É verdade que o

aborto continua sem controle, entretanto não sem opa ·ição. A presença dos manif estante · em Washington é uma chamada prof ética ao governo e à nação. Quando uma tragédia perdura dia após lia, a voz dos que df!fendem as vítima · deve elevar-se e não calar-se". A Marcha p la Vida é rea li zada não apenas m Wa hington, mas também em o utras c idades dos EUA. Membros e support '-'r · da TFP norte-a meri ca na ce rraram fi leiras co m anti -a borti stas em an Aug ustin (F lórida), Da ll as (Tex as), e Littl e Roc k (Arkansas) . ❖ catolicismo@terra.com.br / MA RÇO 2016

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AMBTENTES • COSTUMES • CJVJLTZACÕES

A agonia do Patrono da Boa Morte PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

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ste conju.nto escultural interpreta muito bem a morte de São José, no transe de quem já está agonizando. Ele sofre as dores da morte, mas numa atitude de quem sabe que se encontra assistido pela Santssima Virgem e por Nosso Senhor. São José tem conhecimento de que está tendo contato com o próprio Deus e com sua o virginal esposa e a noção de que .~ isso já é o Céu! ~ São José aparenta deixar '"'-g ~ sua alma aberta para ouv ir o que ~ Eles dizem. Mas só pode prestar ~ meia atençã.o devido à extrema ,gQ dor - propriamente uma ago- ~ nia. Entretanto, nota-se que ele está tranquilo e recebendo graSão José o efe ito do qu~ Ele diz ças e correspondendo a elas. Observem a atitude de Nos- e, assim, continua falando, maso Sen hor. E le fa la com o res- tizando suas palavras de acordo peito com que se fala a um pai, com as reações de seu pai adoconcedendo a São José a honra tivo. Fala com afeto, com muito de tocar n'Ele. Atitude de Mes- cuidado, mas sem apreensão, tre, de autoridade, de sabedoria uma vez que sabe perfeitamente e bondade fantásticas, mas com que São José irá para o Céu. Quanto à Virgem Santíssialgo do respeito de filho para ma, observem que E la se co locom seu pai. Nosso Senhor observa em ca em segundo plano; não fa la, N

conserva a distância que a Virgem mantém em re lação ao seu próprio esposo. E la não fa la, mas se mostra muito carinhosa, ate nta e participando da dor do esposo castíssi mo. A compaixão n'Ela aparece mais acentuada do que em Nosso Senhor, porque Ele é o mestre e Ela é a esposa que acompan ha aquela situação. ❖

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Pl ínio Corrêa de Oliveira em 26 de junho de 1989. Sem revisão do autor.



SUMÁIUO

EXCERTOS

Crise moral e religiosa leva à crise política, social e econômica Plinio Corrêa de Oliveira

Praticamente todos os brasileiros se encontram hoje muito preocupados com a avassaladora crise que se abateu sobre o País. - Há solução? Procuramos uma palavra do Prof. Plinio que ajudasse elucidar a questão, e pareceu-nos encontrá-la numa conferência pronunciada por ele em 3 de dezembro de 1988 para correspondentes e simpatizantes da TFP. Os excertos reproduzidos ao lado - sem revisão do autor - lançam luz no caminho para sairmos da atual crise.

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a situação brasileira, até que ponto está ameaçado o direito que Deus tem de que sua Religião seja ensinada e apoiada, e que os cató licos tenham a liberdade de praticá-la? Sua Le i tem que ser praticada porque Ele é o Supremo cnhor e Criador de todos os seres. Portanto, a Ele todo mundo deve obedi ência. Se analisarmos essas incógnitas, veremos desde logo o cguinl : n âmago desses problemas se encontra uma crise religiosa. Esta va i se l mando cada vez mais evidente. Os senhores conhecem perfeitamente o que é o progressismo católico. Conhecem os erros, os desatinos, as concessões mora is inadmi ss íveis que esse progressismo vai fazendo à modernidade, aos costumes depravados e s nsuai s. Conhecem de que maneira os trajes imorais, a promiscuidade enlrc os s ·xos e a fac ilidade com que se consente nas práticas que são contrárias á natureza ' l ·. Tais erros vão se espalhando, sem nenhuma r ·sisl •ncia ponderável por parte dos meios progressistas que, antes pelo contrário, ás v ·z ·s lhes dão apoio. Por exemp l , padres progressistas que em confessionári s di z m a penitentes que eles podem, 111 smo depois de casados e divorciados, casar ·m-s' 1 novo. O que, ev identemente, 6 contrário à Lei de Deus. A indissolubili da I • do ví ncul o conjugal proíbe o divórci o. E quem se casou uma vez está ligado a um vinculo que ó a morte pode romper. É um vínculo que nem o Papa pocle di spcn ar. O Papa não pode di pen ar um casado da obrigação de fideliclacl para ·0111 a sua esposa, e reciprocamente. /\ ind isso lubilidade desse vínculo fo i inslitufda p •lo próprio Cristo Nosso Senhor, e nin •u 1m pode dispensar. Nessa crise, se tomarmo cm ·onsid ·ração que o eixo ele toda a vida ele um Pnis é a moral , onde a moral cató lica m o pra ti cada , mais cedo ou mais tarde Puís s >~'. Obra. Vendo até que ponto a mora l ·atóli 'a não 6 ensinada e se favorece a trun8t r •sst o desta moral em nome de mo sei qu '"renovação reli giosa", então podemos t ·r id ·i n de como a consistência moral lo pc vo brasileiro está ameaçada. Tanto mai s qu · si11t o1 11us desses, nós os observamos d ' nort ' a sul do País, cio litoral até o mais interior. /\ l'1ise avança por todas a parles. Vemos o povo brasil •iro min •1d por dentro, no que tem de mais fundo , 1111 sun formação reli gio a e na sua própria alma, por tais fatores de decadência · d 'Nll)'ll'! 'll· ção. Também incide sobr · o povo um outro fator péssimo: a propaganda ·0111(11 1111 dn imoralidade difundida p ·la 111klia. Não se abre um jornal, não se liga t111111 t ·il•v1 s1 o, não se fo lheia um a revi sta , 11t o se ouve fa lar de uma fita de cinema nos 1utd , dl 11m modo ou de outro, a moral m o s :iabombardeada . Portanto, não h{1dúvida n •11hu ma a respeito do seguinte: quando a r I igi o otre uma cri se eles a natureza, u ordem política, soc ial e econôm ica entra 111 d · ·11d 111l'i11 . E, nessas condiçõc , vemos o nosso Pais, e sobretudo a Santa Igreja 'utó li ·11 /\ postó lica Romana, num estado d ' ,runde afli ção. Julgo que, antes de t11do, o i111pw t1111 1· é nos convencermo a resp •ito d ·ssa afli ção. ❖

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

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A PALAVRA DO SACERDOTE A questão do vírus zica e dos anticoncepcionais

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CORRESPONDÊNCIA

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.A REALIDADE CONCISAMENTE

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DESTAQUE

Dirci.,~:r: Paulo Corrêa de Brito F ilho

A maior manifestação da História do Brasil

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Jornalista Respousúvcl: Nelson Ramos Banetto Registrado na DRT/DF sob o n'' 3116

MEMÓRIA Notas biográficas de Plinio Corrêa de Oliveira

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Administração: Rua Vi sconde ele Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Patdo - Sl'

ENTREVISTA Roraima: perseguição aos produtores rurais

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Serviço de Atcrulimento ao Assimu1tc: ( ll) 3331.-4-522 (11) 3361-6977 (Jl) 3331-4790 (11) 2843-9487 (ll.) 3333-6716 (11) 333]-5631 fax

DISCERNINDO Extravagante tributo à "arte" moderna

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CAPA São Luís Grignion, doutor marial por exce lência

40 42

Co1·res1,ondênciu: Caixa Postal 707 CEP 01031-970 São Paulo - SP

INFORMATIVO RURAL

Impressão: Prol Editora Gráfica Lt.da.

PÁGINA MARIANA 25 anos da coroação de Na. Sra. do Bom Sucesso

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SANTOS E FESTAS DO MÊS

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AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

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AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

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ISSN 0102-8502 Preços da assina tura anual para o mês de Ab1·il de 2016: Comum: Coopet'ador: Benfeitor: G rande Benfeitor: Ex emplar avulso:

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CA'.fOLICISMO

E státua de São Luís Maria Grignion de Montfort na Basílica· de São Pedro (Roma) e foto da manifestação na Av. Paulist a no dia 13 de março último.

Publica\:âo mensal da Ed i1oru Padre Hclchior ,lc Pon tes Lula.

Fotos: Pm1lo Cn111pos

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CARTA DO DIRETOR

PALAVRA DO SACERDOTE

Caro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

Comemora-se no di a 28 deste mês o terce iro centenário da morte de um santo prov idencial: São Luís Maria Grignion de Montfort, o irande missionário fra ncês e extraordi nário pregador da devoção à antís ima Virgem. Auxil iado pe la graça divina, ele rea lizou uma invul gar obra apostó lica no sécul o do Re i Luís XIV. Tendo consultado o Papa Clemente XI arespeito da região em que deveria exercer seu apostolado, o Sumo Pontífice aco nselhou-o a exercê-lo na F rança. E, para isso, concedeu-lhe o títu lo de "m issionário apostólico". O Santo Rosário representou papel muito importante na ativ idade apostólica de São Luís Grigni on, que considerava essa prática de devoção u ma das mais eficazes para "renovar o espírito do cristianismo entre os crentes ". Os bispos das diocese de La Rochelle e de Luçon, que compreendiam parte da região que se sublevará em 1793 em defesa do altar e do trono, contra a malfadada Revo lução Francesa, deram todo apoio ao destem ido missionário, apesar da perseguição movida co ntra e le em outras regiões da França. Seu zelo apostólico voltou-se também para o mi litares, tendo estabelec ido para ta l fim a confrari a dos Soldados de São Miguel. Fundou ainda a Co ngregação das Filhas da Sabedoria, dedicada ao apostolado no âmbito das escolas gratui tas. Merece menção especial sua obra Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, que constitui uma luz e incentivo à piedade mariana, então combatida pelos hereges calvi ni ta , incenti vo notável até nosso dias. Nesse li vro, o autor aponta as fa l a devoções a Nossa Senhora e apresenta as características da verdadeira: ela ,; interior, terna, santa, constante e desinteressada. Essa análise ev idencia a elevação sobrenatural, o :rrande senso psicológico e o conhecimento elas a lmas do missionári o que duran te anos as orientou nas sendas da piedade maria na. A São Luís Grigni on é líc ito apli ar as inspiradas palavra de é o Paulo ao fina l de sua jornada t rre tre: " ombati o bom combate, t 11mi11ei minha carreira, guardei afe. Já m , stá p reparada a coroa dajustiç ,, que naquele dia me outorgará o ,nhor, j usto juiz ". Desejo a todos uma boa le itu ra.

Pergunta - A epidemia de zika e a associação do vírus a casos de microcefalia serviram de pretexto à ONU e às nossas autoridades de Saúde para promover o uso da pílula anticoncepcional pelas mulheres das zonas afetadas a fim de evitar a gestação, e até o recurso ao aborto caso seja constatada a microcefalia do nascituro. Questionado no avião de retorno do México se o aborto e a contracepção poderiam ser, nesse caso, considerados um "mal menor", o Papa Francisco respondeu que o aborto é um crime e é um mal absoluto, mas que evitar a gravidez não é um mal absoluto. E exemplificou com a permissão para usar contraceptivos que Paulo Vl teria dado a freiras ameaçadas de estupro na África, na década de 1960. O porta-voz do Vaticano, Padre Frederico Lombardi, numa entrevista para a Rádio Vaticano, afirmou mais tarde, referindo-se às palavras do Papa, que o uso do anticonceptivo e do preservativo pode ser objeto de discernimento sério da consciência em situações excepcionais de particular emergência e gravidade. Fiquei muito confusa, porque alguns estão dizendo que a Igreja mudou sua posição e que doravante é lícito o uso da pílula por mulheres casadas para evitar um mal maior, como seria o risco de nascimento de crianças com microcefalia.

Em Jesus e Maria, Resposta - Compreendo a confusão de nossa missivista, que deve ser a de muitos leitores, diante das informações referidas. Como compreendo, nessas situações de per4

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aborto, pois este lhes tira qualquer chance de sucesso. Há melo lícito para se evitar a natalidade?

Monsenhor José Luiz Villac plexidade, a iniciativa de consultar alguém que possa resolver as dúvidas seguindo o ensino autêntico do magistério da Santa Igreja. Antes de entrar nos aspectos estritamente morais do caso, convém ressaltar dois fatos que contribuem para desinflar a zoeira midiática em torno do vírus zika e reduzir o problema às suas verdadeiras proporções. O primeiro fato é a insuficiência de evidência científica de que o aumento dos casos de microcefalia seja provocado pelo mosquito. A Missão permanente de observação da Santa Sé junto à ONU emitiu, no dia 16 de fevereiro passado, uma declaração questionando a precipitação em concluir a relação direta entre o zika e malformações congênitas. Segundo a declaração, é preciso fazer mais pesquisas e não se deixar levar pelo pânico. O segundo fato digno de destaque é que a microcefalia não constitui necessariamente uma malformação grave, como testemunhou em São Paulo a jornalista Ana Carolina Cáceres, dizendo que tal condição é na realidade "uma caixa de surpresas" e que, de qualquer maneira, o que os pacientes de microcefalia precisam é de assistência e não de

Isso esclarecido, desçamos ao núcleo do problema moral, que é o seguinte: admitindo-se argumentandi gratia (só para argumentar) que o vírus zika provocasse a microcefalia e que esta fosse uma malformação gravíssima, seria lícito evitar a gravidez durante a duração da epidemia? A resposta direta à pergunta é que o controle da natalidade seria lícito quando há para isso razões graves, e que evitar uma malformação da criança pode ser uma razão proporcionada que o justifique. É o que o Papa Francisco afinnou, no avião, ao dizer que "evitar a gravidez não é um mal absoluto". Mas é preciso acrescentar, logo em seguida, que o meio empregado para evitar a gravidez deve ser lícito. Ou seja, deve respeitar a finalidade primária do ato sexual, que é a procriação. O meio lícito mais seguro de controle da natalidade é o da abstinência total das relações conjugais. Mas também é lícito limitá-las aos períodos de infertilidade natural da mulher, porque nesse caso os cônjuges nada fazem antes, durante ou depois do ato conjugal para torná-lo infértil. É o que lembra o nº 16 da encíclica Humanae vitae de Paulo VI: "Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições flsicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores [por exemplo, a epidemia de zika], a Igreja ensina que então é lícito ter

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em conta os ritmos naturais ima- 1951 e 1958; João XXIII, Enc. Ma- írem a porta de uma casa para resnentes às funções geradoras, para ter et Magistra)", ensina a Huma- gatar a vítima de um in cêndio. Um " mal" é feito (a destruição da porusar do matrimônio só nos perío- . nae vitae no seu nº 14. dos infecundos e, deste modo, reEsse procedimento é sem- ta), mas esse mal é um mal f1sico , gular a natalidade, sem ofender os pre um mal, porque atenta contra não é um mal moral, porque derruo fim natural primário do ato conbar aquilo que impede chegar até a princípios morais". jugal, separando suas dimensões · vítima é úm ato moralmente bom. "Princípio do mal menor" procriativa e unitiva, naturalmenPelo contrário, o fato de um caMas, note-se que o Papa não te inseparáveis. Quem recorre a sal usar contraceptivos ou preservadisse "usar contraceptivos artifi- tais manobras comete sempre um tivos para evitar a gravidez é praciais não é um mal absoluto" para mal moral. Todo ato conjugal con- ticar um mal moral, no caso um regular os nascimentos. Porque traceptivo é intrinsecamente mau e ato conjugal artificialmente privauma tal afirmação chocaria com o não há nenhuma circunstância, por do ele seu poder generativo. Logo, ensinamento multissecular e cons- mais grave que seja, que o torne lí- trata-se de um meio imoral, intrincito, porque nunca se pode prati- secamente pecaminoso, inadequatante da Igreja, reafinnado pela Hucar um mal para que dele resulte do para obter um bem ou evitar um manae vitae que acabamos de citar. Não entra na natureza desta coluna um bem. É a regra primeira da mo- dano (que, aliás, pode ser alcançadeter-se a estudar se o Pe. Frederico ral, que contradiz o princípio exeLombardi interpretou corretamen- crável de Maquiavel: "O fimjustite ou não as palavras (infelizmen- _fica os meios". te, confusas e ambíguas) do Papa no avião. Mas o que é ce1to é que Ilicitude da tese as declarações do Pe. Lombardi, do mal moral menor No que se refere a uma suposporta-voz da Santa Sé, à Radio Vaticano, são inaceitáveis e contradi- ta aplicação do "princípio do mal zem o ensinamento da Igreja quanmenor", vejamos primeiro no que to aos métodos artificiais de contro- realmente consiste esse princípio. le da natalidade e à aplicação prá- Não se trata de fazer um mal motica do chamado "princípio do mal ral menor para evitar um mal maior menor". É o que veremos a seguir. (por exemplo, matar um inocente Quanto à contracepção artifi- para salvar muitos outros), porque, cial, ela é definida como todo pro- como acabamos de ver, isso seria I cedimento com a finalidade de im- maquiavélico e imoral. pedir a concepção que pode resulNo vocabulário corrente, a pa- do por outros meios lícitos, como a tar de um ato conjugal: "Devemos, lavra "mal" não é empregada ape- abstenção total ou periódica). Eis como a encíclica 1-fumauma vez mais, declarar que[ ..] é, nas para referir-se a um mal moainda, de excluir toda a ação que, ral, mas significa também uma im- nae vitae resume o exposto acima: ou em previsão do ato conjugal, ou perfeição, uma carência, um dano, "Não se podem invocar, como radurante a sua realização, ou tam- uma perda, como seria, por exem- zões válidas, para a justificação bém durante o desenvolvimento das plo, o mal de perder a visão. O prin- dos atos conjugais tornados intensuas consequências naturais, se cípio do mal menor é a regra de cionalmente infecundos, o mal mebom senso que nos autoriza a fazer nor[ ..] Na verdade, se é licito, alproponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação" ou a permitir um mal - ne se sen- gumas vezes, tolerar o mal menor (cf. Cathechismus Romanus Con- tido não moral - para impedir um para evitar um mal maior, ou para cilii Tridentini; Pio XI, Enc. Cas- outro mal ou obter um bem maior. promover um bem superior (Cf. Pio ti Connubii; Pio XII, alocuções de Por exemplo, os bombeiros destru- XII, Alocução ao Congresso Nacio-

na! da União dos Juristas Católicos, 6 de dezembro de 1953 ), nunca é lícito, nem sequer por razões gravíssimas, fazer o mal, para que daí provenha o bem (Cf. Rom 3, 8 ); isto é, ter como objeto de um ato positivo da vontade aquilo que é intrinsecamente desordenado e, portanto, indigno da pessoa humana, mesmo se for praticado com intenção de salvaguardar ou promover bens individuais, familiares, ou sociais" (cf. nº 14). O pecado não é justificável sob pretexto algum

Afirmar ou sugerir que alguma "emergência" ou "situação especial" poderia permitir em consciência o uso de contraceptivos ou preservativos , é, portanto, contrá-

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rio à Teologia Moral católica, porque privar voluntariamente o ato conjugal de seu poder generativo é sempre imoral. Como poderia uma

é um efeito secundário não desejado do tratamento. Tal uso é justificado, como explica o nº 15 da Humanae vitae: "A Igreja, por outro lado, não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, guerido diretamente. " Finalmente, poder-se-ia objetar com o caso evocado pelo Papa na entrevista no avião, ou seja, das religiosas africanas supostamente autorizadas pela Santa Sé a tomar a pílula na previsão de um estupro iminente. Deve responder-se que nunca foi demonstrado que dita autorização tenha existido. Segundo o conceituado vaticanista Sandro Magister, "em nenhum lugar se encontra que Paulo VI tenha concedido explicitamente essa permissão" (www.chiesa, 24/2/2016). Porém, mesmo supondo-se que ela tenha existido, é improcedente extrapolar de um caso de legítima defesa contra um agressor (que pode eventualmente autorizar a vítima a matar o estuprador e, a fortiori, permite impedir uma fecundação forçada) ao caso de relações conjugais consentidas, como seriam as das mulheres em zonas afetadas pelo vírus zika que tomassem pílulas para tomá-las infecundas. Se algum leitor estiver interessado, poderei voltar em outra ocasião à espinhosa questão moral posta pela legítima defesa contra o esção é simples: as pílulas são fornetupro. Mas uma coisa desde já é cidas como tratamento terapêutico e não como anticoncepcionais, certa: sua solução é inaplicável ao pelo que a infertilidade temporária caso hoje estudado. •••

emergência ou uma situação especialmente grave justificar aquilo que é sempre um pecado? É uma deturpação do uso da consciência conduzi-la, em circunstâncias graves, a "discernir" como lícita a prática de um ato imoral. Uma das tarefas da consciência é precisamente incitar a pessoa a respeitar as normas morais em cir~ .cunstâncias especiais. O martírio, por exemplo, é o resultado de um "discernimento" de que é preciso recusar um ato mau (a abjuração da fé) numa situação de emergência. Algum leitor poderia objetar que certas mulheres que sofrem de dores agudas por causa de um cisto no ovário ou de endometriose são tratadas com pílulas contraceptivas, que as tornam inférteis durante o tratamento. A resposta à obje-

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CARTAS DOS LEITORES

podemos compreender, porque o que dela atualmente

Imagem de um anti-Brasil Em nosso País, a indústria do Turismo, do Lazer e do Sexo encontram seu ápice na indústria do carnaval! O

Igreja autêntica e heresias

Imagem sobrenatural

aparece é autenticamente anticatólico. Se fosse só esta atitude, poderíamos encontrar alguma razão válida. Mas não, toda a ação atua l da Igreja, da Hierarquia, se pauta por não auxiliar em nada, mas prejudicar, a ação de leigos que pretendem atuar de acordo com as Escrituras.

Os comentários do Prof. Plinio sobre os sofrimentos de Cristo durante a flagelação são sublimes! Meditação

No olhar meditativo da imagem impressionante de

Até quando, Senhor, isto acontecerá?

desse tipo é que nos enche a alma e não esses mi-mim is que o clero de esquerda solta nas igrejas durante a Semana Santa (e em todos os domingos do ano ouvimos a mesma pregação oca). Em vez de falar das dores de

Nosso Senhor analisada por Dr. Plinio, nota-se um Céu. Um céu de cogitações que desejaria "ler" naquele olhar. A divindade se nota expressada numa imagem de modo quase impossível de se conceber. Como pôde um artista expressar numa obra material a divindade? Acho que só

Cristo, devido a nossos pecados e, desse jeito, mover as almas e convertê-las, a CNBB vem falar de água e coisas

mesmo por meio de uma ação sobrenatural. Uma coisa meio angélica. Não acham?

ecológicas! Peço a esses senhores bispos que deixem esses temas com a SABESP e outras companhias de águas e esgotos. Não é tema para a Santa Igreja, muito menos para a Quaresma. Tenha a santa paciência! Desculpe-me pelas expressões, mas não suporto mais esse mi-mi-mi sem nexo com a salvação das almas que prega esse clero. Às vezes tenho a paciência de ouvir certos padres esquerdistas e fico com a impressão de que são de outra religião e não da verdadeira Igreja de Cristo. Este Divino Cristo que, lendo as palavras do Prof. Plinio ao comentar aquela emocionante Imagem do flagelado

(M.P.P.K. - PR)

Os judeus rejeitaram o Salvador da humanidade e o crucificaram. Assistindo aos noticiários diários, fica-se com a impressão de que a rejeição a Ele está por toda parte em nossos dias. Por exemplo, lendo as notícias que estão no artigo "O simbólico gesto do Papa Francisco comemorando o heresiarca Lutero" [de Luiz Sérgio Solimeo], fiquei com essa mesma impressão. O

questão poderia me alongar, mas acho desnecessário, comentando outras informações que obtive na revista de março, como o artigo sobre o presidente da Colôm-

Reparar as dores de Cristo

bia estendendo as mãos aos terroristas e traficantes de drogas. Não é estender as mãos aos flageladores do Salvador da humanidade?

Vendo como agem muitos "católicos" (apenas de nome) em torno de mim, a impressão que me causa é de que eles presentemente continuam aquela mesma flagelação de Jesus Cristo. São novos verdugos, pois agem de modo oposto ao ensinamento evangélico e de luta contra os inimigos de Jesus Cristo. O verdugos tinham seus corações endurecidos para flagelar aquele corpo santíssimo, mas os novos verdugos também, ainda que não ajam com o flagelo em mãos, flagelam com seus comportamentos anticatólicos. Gostei muito mesmo do texto da conferência de Plínio Corrêa de Oliveira e vou espalhar o texto entre conhecidos. É um meio que encontrei para diminuir as dores de Jesus Cristo e da Mãe Dolorosa. Feliz Páscoa!

(A.G.J. -SP)

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(A.E-!, - MG)

Realmente preocupante Apreciei muitíssimo a reportagem "Resistência à Islamização da Europa" [de Gregorio Vivanco Lopes]. Gostaria de apresentar-lhe uma questão: os casais europeus têm pouquíssimos filhos. Os do Islã, ao contrário, têm filhos demais. Em pouco tempo serão maioria na Europa. Que desastre! Minha preocupação procede?

(E.F. -nF) Até quando, Senhor? É lamentável a atitude da cúpu la da Igreja quanto à gigantesca mobilização em defesa da família [em Roma, no Family Day, no dia 30 de janeiro último]. Não a

maioria das pessoas sequer percebe que está sendo usada como "bem de consumo" e en riquecendo os bolsos de quem fomenta e administra estas indústrias. De há muito, o carnaval deixou de ser uma festa com significado da alegria verdadeira que sinaliza o fim do Período Natalino e antecede o período de recolhimento religioso, a Quaresma! Período de reflexão sobre a Vida , Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, em preparação da grande Festa de sua Ressurrei ção .

(M.H.-RJ)

Semana Santa e sempre. E que deixem de lado aqueles temas próprios à esquerda, que têm causado tantos desvirtuamentos da verdadeira Igreja.

PE)

A agropecuária brasileira tem evitado que o Brasil entre em colapso e que falte comida em nossas mesas. Ressalto o papel fundamental da EMBRAPA, aliás, criada durante os "famigerados" governos militares, tempo em que havia visão de futuro e planejamento estratégico em

Continuação da flagelação

se inspirar nesses comentários para seus sermões de

(A.C.B. -

Êxito agropecuário

nosso País.

modo de aliviar as dores do Salvador é denunciando as aberrações pregadas por Lutero e impedir que outras pessoas caiam naqueles erros luteranos, e não fazendo "bilu-bilu" no pai da heresia protestante. Sobre a mesma

e coroado de espinhos, tanto mexeu comigo, com minha alma e consciência. Precisamos convencer o clero a

(J.G.B.M. - RJ)

que mais me entristece é saber que turistas do mundo · inteiro vêm para cá, para buscar a vivência da luxúria, com oferta fácil e leviana. E neste ema ranhado de comportamentos levianos, somos caracterizados! A grande

(M.I.B. - RS)

Alicerce do Brasil Pelo menos estamos vendo na agricultura um pilar do nosso Brasil. Se o governo do PT tivesse um mínimo de justiça Uustiça social de que falam ... ), declararia o setor agropecuário como sustentáculo do Brasil. E aproveitaria para pôr o Stédile e seus capangas na cadeia, porque estão destruindo o alicerce do Brasil. Mas parece que é o contrario: dos impostos cobrados à agropecuária saem as polpudas verbas para sustentar os invasores rurais.

(C.M.-MG)

Crise do mundo moderno

F RASES S ELECIONADAS • • • • • • • • • • • • • • • • • • • "O cântico do sofrimento unido aos Seus sofrimentos é o que mais cativa o Seu coração. Jesus arde de amor por nós ... ! Olha a Sua Face adorável ... ! Olha os Seus olhos apagados e baixos ... ! Olha essas chagas ... Olha a Face .de Jesus ... Ali verás como nos ama." (Santa Teresinba)

Todos falam sobre a crise de valores e têm razão, mas normalmente não meditam sobre a causa desta crise. A destruição das famílias foi, em grande medida, causada pelos próprios pais de família. Para não serem considerados "retrógrados", seguiram a onda do modismo revolucionário sem pestanejar. Mães que tiveram um passado casto agora incentivavam o namoro imoral das filhas, pois não queriam contrariar os "novos tempos" ... com o auxílio dos meios de comu nicação de massa, trouxeram para dentro de seus lares o péssimo exemplo de artistas, futebolistas e toda a vulgaridade das falsas elites de hoje. Consequência: família destruída, religião relegada, sociedade falida, em resumo: Mundo contemporâneo! Mas para o cristão sempre é tempo de recomeçar. Com seriedade meditemos e com cabeçà ergu ida e olhos postos no Céu reformulemos nossas vidas, pois a graça de Deus não falta para quem a pede e só com ela

"Coisa culmirável! Esse M"édico celeste quis tornar-se doente para ·nos curar de nossa doença com a sua." (Santo Agostinho)

"Com seu Filho sofredor e agonizante, Maria padeceu o sofrimento e quase a morte. Abdicou os seus direitos maternos sobre seu Filho a fim de obter a. salvação dos homens. E para aplacar a _justiça divina ta.nto quanto lhe era possível, imolou seu Filho, de tal modo que se pode afirmar com razão que, _juntamente com Cristo, Ela resgatou todo o ~ humano. " genero (Papa Bento XV)

poderemos vencer nossos defeitos!

(H.S.B .N. - RJ) catolicismo@terra .com.br / ABRIL 2016

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Exorcista afirma que satanás está por trás do Estado Islâmico

Suécia persegue parteiras que se negam a praticar abortos Na clínica de mu lh eres de Nykõping (Suécia), a Sra. Steen foi recusada co mo parteira porque não queria fazer abortos. A gerência da clínica lh e escreveu dizendo que "não temos a política nem o costume de deixar espaço à objeção de consciência". Ellinor Grimmark, outra parteira que se opôs a participar de um aborto, foi processada e condenada por um tribunal sueco em novembro de 2015. A ADF lnternational - aliança de advogados que defendem o direito de praticar livremente a fé - afirmou que "essas parteiras foram capacitadas para trazer a vida ao mundo. Mas estão sendo punidas porque se negam a fazer algo moralmente incorreto ". Os direitos humanos estão sendo mais uma vez distorcidos para el iminar a moral e a ordem natural e cristã.

Em asilos alemães, os refugiados islâmicos agridem cristãos Na Alemanha, refugiados cristãos (parcela muito minoritária do total) sofrem assédio e viol ência por parte dos islam itas nos asi los oferecidos pelo governo. Os seguranças de etn ia turca ou árabe fingem desconhecer essas violências. No asi lo de Oberu_rseler, 14 cristãos foram insultados, espa ncados e feridos por refugiados muçulmanos quando exibiam pequenas Bíblias, sendo por isso retirados do local. O porta-voz da políti ca de integração do partido Democrata Cristão em Hesse, lsmail Tipi, lamentou ter subestimando as maquinações islâmicas montadas nos asilos. Episódios como esses patenteiam que a maciça invasão islâmica da Europa visa errad icar o cristianismo, e especia lmente os cató licos.

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Itália e Japão perdem população A numerosa, trabalhadora e inteligente população itali ana contribuiu possantemente para o crescimento de países como o Brasil , a Argentina e os EUA. Porém , a taxa de natalidade na Itália em 2015 foi a mais baixa dos últimos 154 anos. Nasceram apenas 488.000 crianças, cifra insuficiente para compensar os 653.000 falecimentos. A expectativa de vida para homens e mulheres nunca ca iu tanto desde 1974. Pior ainda foi a queda da população japonesa, que em cinco anos perdeu 947.000 pessoas. Segundo a ONU , o Japão é o único entre os 20 países mais povoados cuja popula ção decresce. As leis burocráticas não resolvem o problema da Itáli a e do Japão. Entretanto, tal atuação não se observa apenas nesses países. A propaganda sistemática contra a religião, a família, a moral e favorável ao aborto é a responsável por esses nefastos resultados .

O mosteiro de Santo Elias (foto abaixo), o mais antigo do Iraque, foi destruído pelo Estado Islâm ico - grupo terrorista que baseado nos ensinamentos de Maomé, visa extinguir o cristianismo. Diante de qualquer vestígio de cultura do passado, in clus ive pagão, o islamismo age como um anjo das trevas, que surge das cavernas mais escuras do inferno para pisar até nos velhos demônios de épocas anteriores. O Pe. Amorth, exorcista de Roma, observou que nas perseguições contra os cristãos praticadas pelo Estado Islâmico, vêse a pata do demônio. "Onde está o mal, está sempre o demônio por trás, incitando. Qualquer forma de mal, grande ou pequena, sempre é sugerida pelo diabo", explicou o exorcista à imprensa .

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Síria: bombardeio russo a hospitais _ força migração em massa

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1 Grupos civis sírios denunciaram que a aviação rus1 sa tem atacado hospitais civis. A Sociedade Médica j

acusou-a de atingir o centro médico de 1 Sírio-Americana Sarmin, matando pelo menos 12 pessoas. Outros 15 i

civis morreram num hospital em Azaz. A ONG Médicos

1 Sem Fronteiras (MSF) informou que pelo menos nove pessoas mo_rreram num ataque a seu hospital em

1 Maarat al-Numan . Em Asaz, sete mísseis russos atingi1

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ram uma escola que abrigava refugiados, matando 14 deles. A diretora da MSF, Raqu el Ayora, revelou que as pessoas têm medo de ir aos hospitais, fugindo desesperadas do país. A Rússia nega os bombardeios, mas o pavor que estes provocam estimula a invasão através das fronteiras da Europa. Tal situação obrigou Putin a recuar, decidindo retirar suas tropas da Síria.

Imagens de Nossa Senhora saem ilesas de desastres Uma casa de mad eira em Dracena (SP), ficou toda queimada por um incênd io que consum iu móveis e objetos. Porém, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida ficou intacta . O bombeiro Anderson Batista comentou: "Um milagre, pois a temperatura era muito alta para uma simples imagem resistir". No mesmo dia, na cidade de Assis (SP), o te lhado da Capela do Centro Comunitário Santa Edwiges desabou, destruindo tudo. Porém, entre as estruturas de aço e as te lhas, sobressaia a imagem de Nossa Sen hora Aparecida . ~ Ela permaneceu de pé no altar, sem sofrer qua lquer dano. "Emociona, porque a gente é católico e tem fé ", comentou o ze lador Silvério Gandolfo Neto.

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DESTAQUE

Basta de demagogia, corrupção, impunidade e bolivarianismo O autêntico povo brasileiro não suporta mais ver o País desfigurado por ideologias marxistas, diametralmente opostas aos grandes valores de seu glorioso passado.

••••• PAULO ROBERTO CAMPOS

13 de março de 2016 - data que passa a ser considerada um marco na História do Brasi l. Nesse dia ocorreu a maior mobilização popular de nossa história. Nunca tantas pessoas saíram tão indignadas às ruas de tantas cidades para protestar contra o governo federal, pedir o impeachment da presidente Dilma e exaltar a Operação Lava-Jato, dirigida pelo juiz federal Sérgio Moro. O acontecimento realmente foi sem precedentes. Famílias inteiras de todas as capitais e de centenas de cidades manifestaram-se contra o atua l_governo. Os números exatos se discutem, mas o certo é que elas saíram às ruas enraivecidas com a grave situação causada por um governo de esquerda bolivariana com projeto de perpetuar-se no poder e, desse modo, sustentar no Brasil movimentos de ideologia comunista, além de financiar a manutenção de governos bolivarianos em outros países da América Latina. E tudo isso mediante um criminoso esquema de corrupção. Recorde de público jamias alcançado no Brasil

No total, segundo estimativas de alguns órgãos da mídia, os números somados de todas as cidades, ultrapassaram os três milhões de participantes. As impressionantes fotos não deixam dúvidas. Só na capital paulista, onde ocorreu o maior dos protestos anti-PT, aproximadamente um milhão e meio de pessoas saí-

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ram às ruas, segundo a Polícia Militar. A cifra representa mais do que o triplo do recorde já alcançado, que foram as manifestações pelas "Diretas Já" (1984), com 400 mil pessoas. Cartão postal da cidade de São Paulo, a famosa Avenida Paulista ficou pequena para conter tanta gente. Como também as ruas paralelas e transversais a ela ficaram entupidas. Com lotação total dos logradouros, era de se recear a ocorrência de graves incidentes, o que não aconteceu . Eram pessoas educadas, de todas as classes sociais e de todas as raças. Ao contrário do que prega a esquerda católica, aliada e favorecedora do PT, não impulsionou os manifestantes o ímpeto de luta de classes e de raças. Nas ruas estava o Brasil autêntico, pacífico e ordeiro, que se manifestou com uma indignação trnnquila mas decidida, contra ·os desmandos do governo federal. As ruas foram tomadas por um povo que não suporta mais presenciar de braços cruzados a degringolada da Pátria em mãos de políticos comunistizantes.

"Quero meu País de volta"

Compareceram ao ato muitas famí lias levando seus filhos - até os bem pequenos, e mesmo bebês em . seus carrinhos - , bem como pessoas idosas, algumas em cadeiras de rodas. Ostentavam diversos cartazes de protesto, sendo um muito frequente: "Q11ero meu País de volta". Elas não toleram mais ver nossa Pátria desfigw·ada por ideologias de cunho sociali sta e desejam o retorno do Brasil profundo, fie l às suas raízes cristãs. Tudo se realizou num amb iente gentil e quase festivo. Todos esperançosos de que se chegue ao fim do atual governo, que tantos males tem infligido ao País. Por isso, um dos brados que ecoou nas multitudinárias manifestações foi: "Fora PT. Fora Com11nismo. O Brasil não é Venezuela". As forças de segurança estavam presentes, mas não tiveram o que fazer. .. Ficaram fixas em seus postos, recebendo aplausos, atendendo às perguntas dos passantes e entabulando com eles animadas conversas. As famí lias tiravam se/fies com os policiais, e sorridentes prosseguiam, como se estivessem passeando. Tudo transcorreu num clima de cordialidade - bem diferente de manifestações de certos movimentos ditos "sociais" vinculados ao progressismo católico, como o MST e outros grupos que se caracterizam por suas arruaças, invasões de propriedades privadas e todo tipo de vandalismo. Fracasso das manifestações petistas

Inicialmente, movimentos petistas também haviam marcado, no mesmo dia 13 de março, manifestações em cidades de todo o País. Depois - percebendo que o fracasso numérico seria vergonhoso, sobretudo se comparado com as maciças manifestações contra o governo e o PT - desmarcaram os eventos, alegando terem decidido seu cancelamento "para se evitar confrontos" ... Nesse mesmo dia, apenas se concentraram numa única manifestação, em frente do prédio onde reside o ex-presidente Lula da Silva. Foi um fracasso : compareceram apenas poucos militantes. Convém notar que as grandes manifestações contra o governo federal foram suprapartidárias e que as pessoas compareceram por conta própria - aliás, num domingo, pois trabalham nos dias de semana. Enquanto as ridículas manifestações pró-governo ocorrem em dias da semana, para causar impacto fechando o trânsito. Estas são exclusivamente partidárias, organizadas pelo PT, que conduz as pessoas em frotas de ônibus de luxo, dando-lhes muitas vezes algum dinheiro pela catolicismo@terra .com.br / Al3IffL 201 6

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to intitulado MENSAGEM AOS EVE NTUAIS SUCESSORES DO GOVERNO PT. Eis um dos trechos do referido texto: "Caso venha a ocorrer o impeachment, o governo que suceder ao PT, ou respeita os pontos descritos [no manifesto], decorrentes da ordem natural das coisas, ou aprofúndará inexoravelmente o fosso entre governo e população, levando a novas crises, quiçá à ingovernabilidade ". Recomendamos a leitura da íntegra desse oportuno documento, distribuído por jovens voluntários da entidade e avidamente acolhido pelos manifestantes. Seu texto pode ser obtido acessando o seguinte link: http ://ipco.org. br/ ipco/bras i1/naciona !/mensagem-aos -eventuais-sucessores-do-governo-do-pt Autêntica democracia ou fraude

Um dos milhares de cartazes ostentados na Avenida Paulista afirmava: "IMPEACHMENT - Se o participação no ato, bem como bonés, bandeiras, camisetas vermelhas e sanduíches de mortadela ... Foi o que aconteceu nas micro-manifestações próDilma/Lula, organizadas pelo governo no dia 18 último (uma sexta-feira ... ), em algumas cidades. Mesmo a maior delas - a da Avenida Paulista - , os portadores de bandeiras vermelhas do MST, da CUT, do PT e do PC do B ocuparam apenas alguns quaiteirões, tendo sido numericamente irrisória se comparada com a monumental manifestação contra o governo em 13 de março (um domingo ... ). Segundo o instituto DataFolha, na manifestação pró-governo havia somente 95 mil pessoas (80 mil, de acordo com a PM). Em qualquer caso, uma cifra insignificante, sobretudo se considerarmos que na organização do evento foi empregado todo o aparelho governamental, além da presença do ex-presidente e ex-icone da esquerda, Luís Inácio da Silva. "Não desisto do meu Brasil"

Cinco dias antes, no memorável dia 13 de março, o que se presenciou de noite a sul e de leste a oeste, foi nossa Pátria ficar colorida de verde e amarelo, um dia em que as cores do Brasil revestiram o País inteiro e os brasileiros foram confirmados numa certeza: a onda verde e amarela triunfará sobre os erros do comunismo espalhados no Brasil. Ouvia-se com frequ ência o Hino Nacional, cantado a plenos pulmões e com ufania. Chamou também especialmente a atenção a quantidade de slogans, fai-

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xas, camisetas e cartazes com frases improvisadas pelos próprios manifestantes, com letras que revelavam as várias idades de seus autores, como estas: "Não desisto do meu Brasil", "O Brasil é nosso e não do PT". Assim como os "pixulecos" (de Lula e Dilma), pessoas vestidas de presidiárias, estampas com fotos de jararacas etc. Em algumas cidades, apareceram até serpentes infláveis, denominadas ')araralecos". Inquietação quanto ao futuro do País

As manifestações não se circunscreveram ao Brasil. No exterior, muitos brasileiros inconformados com o que está acontecendo se reuniram em pontos estratégicos nos países em que se encontram, visando protestar e pedir o fim da gestão lulopetista. É digno de nota o realce dado aos protestos pelos grandes jornais da América Latina, dos EUA e da Europa. Alguns afirmaram que tudo indica ter chegado ao fim , de modo vergonhoso, o projeto petista de governo iniciado com Lula da Silva e terminado com Di lma Rousseff. Sim, término do atual governo! Mas ... e depois? Era o que, muitos preocupados, se perguntavam nas ruas. E após, que governo virá? E vários manifestantes lamentavam : "Encontramo-nos como órfãos de líderes autênti cos". Donde o perigo: o surgimento de uma fa lsa liderança, de um novo "salvador da Pátria" . Em vista dessa orfandade, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, que participou com brilho das manifestações em algumas capitais, distribuiu um manifes-

Congresso não aprova,; o povo vai pressionar. No Brasil, quem manda é o povo". A respeito, vem a propósito lembrar uma advertência feita por Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Pro. j eto de Constituição Angustia o País: "Se a democracia é o governo do povo, ela só será autêntica se os detentores do Poder Público.forem escolhidos e atuarem segundo os métodos, e tendo em vista as metas desejadas p elo povo. Se tal não se dá, o regime democrático não passa de uma vã aparência, quiçá de umafi-aude. "* Hoje constatamos que sua advertência não foi levada em consideração pela classe política. Falando em nome do ·povo, de fato ela vem menosprezando os grandes valores do autêntico povo brasileiro. Este se manifestou no histórico dia 13 de março, br dando em alto e bom som: "Brasil, um filho teu não foge à lutai"; "lmpeachment já!" "Basta de demagogia, corrupção e impunidade!" "Cansamos de ficar calados!" ❖

* Plínio Corrêa de Oliveira, Projeto de Constituição angustia o País, Catolicismo, Ed. Extra, SP, 1987, Parte 1, Cap. 1, n. 9.

Insatisfação generalizada entre todas as classes sociais Repórteres do jornal madrilenho "EI País ", no momento em que ocorriam os protestos anti-PT na Avenida Paulista, percorreram a periferia da cidade (nas zonas leste, norte e sul de São Paulo), para ouvir a voz daqueles que não estavam nas manifestações. Eles mostraram como a insatisfação em relação ao governo é generalizada, não apenas nas classes mais elevadas. Segue um sintomático trecho da reportagem, publicada por aquele diário em 13-3-16.

"Enquanto milhões de pessoas participaram dos protestos no Brasil , E liane de Jesus visitava seu filho na Fundação Casa (antiga FEBEM). Lá, aos 17 anos, está preso por tráfico de drogas. E le e sua mãe são parte de um outro Brasil, cuja voz não ecoou nas ruas desde que os protestos contra o governo de Dilma Rousseff e o PT começaram a vestir verde e amarelo: o que vive na periferia das grandes cidades e longe do local onde normalmente ocorrem as manifestações. E liane também é contra o governo e quer que 'essa mulher saia de uma vez'. "Apesar de não se somarem aos protestos deste domingo, todos os entrevistados por este jornal não estão satisfeitos com o governo Dilma - algo que não chega a surpreender, já que a popularidade da presidenta não supera os 10%, segundo todas as pesquisas. A maioria deles é favorável ao impeachment, mas são céticos com relação a qualquer l'l.1udança para melhor. "Anderson, por exemplo, acha que ajuda mais mobilizando as pessoas pela Internet. Até tem vontade de deixar as redes sociais para se manifestar nas ruas a favor da destituição [da presidente Dilma]. 'Mas é complicado ', diz, após um longo suspiro. 'Moro longe, em Cidade Tiradentes. Sai muito caro, e você sai para a rua e não acontece nadai ', argumenta este subgerente de produção, na fila para pegar o ônibus no terminal Itaquera, na zona leste de São Paulo, ponto final da linha 3 vermelha de metrô e ponto de encontro dos que vivem nesta região".

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MEMÓRIA

Fatos e documentos inéditos revelados em notas biográficas de Plinio Corrêa de Oliveira Livro revela virulência da luta de bastidores travada no Brasil entre o catolicismo tradicional e o nascente progressismo católico sob o pontificado de Pio XII. O Papa estava a par da polêmica e atuou contra o progressismo católico, em apoio às teses de Plinio Corrêa de Oliveira.

••••• FREDERICO ROMANINI DE ABRANCHES VIOTTI

ma compilação de memórias de Plinio Corrêa de Oliveira com mais de 800 páginas traz pela primeira vez à tona detalhes inéditos sobre os primeiros embates entre o catolicismo tradicional e o progressismo dito católico no Brasil. O livro, publicado pelo instituto Plinio Corrêa de Oliveira sob o título Minha Vi.da Pública, revela a articulação, no ano de 1935, de uma congregação secreta de freiras, composta por moças da melhor sociedade de São Paulo formadas na mentalidade progressista por uma professora belga, Adele de Loneux. Essa congregação foi a ponta de lança do movimento progressista em São Paulo, tendo desenvolvido uma campanha surda contra as Congregações Marianas e o grupo do jornal "Legionário" (órgão oficioso da arquidiocese de São Paulo) dirigido por Pli11io Corrêa de Oliveira. Dr. Plinio afirma que seu livro Em Defesa da Ação Católica teve como objetivo. combater os desvios e a mentalidade errada observados nessas jovens e em outros próceres progressistas,

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como Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde ). Tais pessoas estã.o 110 nascedouro dos tristes desvios da Ação Católica no Brasil, movimento precursor das CEBs e da própria Teologia da Libertação. Plinio Corrêa de Oliveira se refere também à estreita amizade que o ligava no início a Alceu Amoroso Lima, a qual só se rompeu quando este enveredou rumo ao progressismo e se tornou o líder brasileiro da esquerda católica. Também é detalhado o ambiente criado contra Dr. Plinio, após a designação de D. Carlos Ca rmelo de Vasconcelos Motta para Arcebispo de São Paulo . Documentos inéditos publicados 110 livro revelam ainda que o Papa Pio XII acompanhava atentamente a polêmica no Brasil, e em várias ocasiões tomou medidas que representaram apoio indireto, ou mesmo direto, à posição assumida pelo grupo do "Legionário" . Outros fatos corno esses vêm detalhados em Minha Vida Pública, cuja linguagem amena ecoloquial o torna de fácil leitura.

LINIO CORRÊA DE OLIVEIRA não nos deixou uma autobiografia. Entretanto, os traços fundamentais de sua admirável vida e obra podem ser delineados no imenso acervo de documentos que os compiladores destes relatos autobiográficos tiveram à sua disposição. Alguns desses documentos revelam aspectos inéditos e às vezes surpreendentes do prélio travado por ele, tanto no âmbito da Igreja quanto da sociedade temporal. A linguagem coloquial torna a obra de atraente leitura, pois o leitor é convidado a considerar os fatos segundo o olhar de Plinio Corrêa de Oliveira. Este livro nem de longe pretende esgotar os quase noventa anos de vida e setenta anos de militância católiéa desse grande batalhador. Com um senso da realidade que excluía qualquer ilusão, a sua atuação deve ser vista sob dois prismas diferentes. O primeiro, a denúncia profética por ele feita da imensa conjuração progressista no interior da Igreja, que hoje atinge patamares insuspeitados. O segundo, o combate acérrimo e eficaz, sempre nas vias da legalidade, ao processo revolucionário que, dos séculos XIV e XV aos nossos dias, visa à completa laicização e consequente descristianização da sociedade temporal. Sua vida foi inteiramente conforme aos princípios por ele fixados e~ seu livro Revolução e Contra-Revolução. A luz que emana dessa obra nos ilumina constantemente ao longo desta compilação.

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ENTREVISTA

Vitória em RORAIMA, mas persegu1çao aos ruralistas continua Reportagem realizada numa expedição à região da Serra da Lua denuncia tentativa de expulsão de produtores rurais, vítimas de alegações demagógicas e ecológicas inventadas pelo CIMI, IBAMA e ONGs internacionais, ditas ambientalistas, que visam favorecer um equivocado indigenismo e, assim, demolir o sagrado direto de propriedade. Providências foram tomadas a fim de se evitar a catástrofe.

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te com a Associação dos Moradores e Produtores Rurais da Serra da Lua, para que se obtivesse uma vitória muito significativa: o governo federal, além de atender

a fim de explicar sua viagem àquela região e a campanha de difusão da mesma obra.

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"Tivemos notícias de que a nossa

estado de Roraima ainda padecia da tragédia da demarcação do Território Indígena Raposa/Serra do Sol - em decorrência da qual mais de 300 famílias, além de uma dezena de arrozeiros, responsáveis por 8% do PIB estadual, foram cruelmente enxotadas de suas casas pela força policial da União - , quando nova perseguição começou a se abater sobre ruralistas pioneiros em outra região do estado. Tratava-se desta vez de expulsar da Serra da Lua seus habitantes tradicionais, para dar lugar ao Parque Nacional do Lavrado. Contudo, Deus dispôs as coisas de tal maneira que bastaram alguns meses de campanha de Paz no Campo e do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, juntamen-

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reportagem chegou às mãos das autoridades, que se empenharam em tomar provi~ dências imediatas para impedir a demarcação"

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vinha agindo para expulsar as 132 famílias de produtores da região da Serra da Lua, que exploram a pecuária nessas terras há mais 4e 100 anos".

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a outras exigências, acabou por revogar aquela absurda pretensão e os produtores não serão mais expulsos de suas terras. O livro-reportagem Roraima: cobiça internacional com novas perseguições aos produtores rurais, de Nelson Ramos Barretto e Paulo Henrique Chaves, somado à forte resistência do povo roraimense, já alcançou assim o seu objetivo maior: a revogação do decreto que impunha a desapropriação de mais uma larga faixa de terras junto à fronteira com a Guiana inglesa, bem como integrar o estado ao Sistema lnterligadp Nacional de energia elétrica, outra demanda dos roraimenses. Catolicismo trouxe em primeira mão a notícia daquela perseguição, e agora apresenta outra, anunciando vitória. Para isso entrevistamos Paulo Henrique Chaves, nosso colaborador e coautor do mencionado livro,

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Catolicismo - Qual o objetivo da sua viagem para a região da Serra da Lua em a Roraima?

Paulo Henrique Chaves - Em primeiro lugar, devo dizer que fui acompanhado do experiente jornalista Nelson Ramos Barretto, residente em Brasília. Em meados do ano passado, fomos procurados pela veterinária Cristiane Thomé, da Associação dos Moradores e Produtores Rurais da região da Serra da Lua, que nos relatou a preocupação e a grande aflição dos proprietários que estavam para ser expulsos de suas terras em virtude do Decreto 6.754, de 2009. Portanto ainda no governo Lula da Silva, que transferia "gratuitamente" as terras da União para o novo estado de Roraima, mas colocando como condição a criação do Parque Nacional do Lavrado. Para torná-lo realidade, o IDAMA vinha agindo para expulsar as 132 famílias de produtores rurais da região da Serra da Lua, que exploram a pecuária nessas terras há mais de 100 anos. Diante de tamanha injustiça, resolvemos regressar a Roraima, onde havíamos estado em 2008, por ocasião de outra iniquidade que foi a demarcação do território indígena Raposa/Serra do Sol, viagem da qual resultou uma extensa reportagem, consubstanciada também em livro. Agora retomamos à região da Serra da Lua, catolicismo@terra.com.br / ABRIL 2016

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município de Bonfim, fronteira com a ex-Guiana inglesa, no extremo norte de nosso país-continente, para saber in loco o que se passava com os descendentes de desbravadores, ameaçados de expulsão de suas terras para dar lugar a mais um parque ecológico.

"Em recente viagem a Roraima, a Presidente da República anunciou a assinatura de decreto abdicando da construção da Unidade de Conservação do Lavrado"

Catolicismo - Poderia relatar para os nossos leitores o resultado dessa expedição?

Paulo Henrique Chaves - De nossa viagem resultou um livro-reportagem, o qual foi , por sua vez, veiculado nas redes sociais, alcançando grande repercussão. A partir de então os meios políticos começaram a se mover, a fim de evitar outra catástrofe naquela circunscrição do Brasil. Tivemos notícias de que nossa reportagem chegou às mãos das autoridades de Roraima, que se empenharam em tomar providências imediatas para impedir a demarcação. Daí resultou a primeira vitória, que consistiu simplesmente na revogação do decreto de 2009. Catolicismo - Em que consistiu mesmo essa vitória?

Paulo Henrique Chaves -

Em recente viagem a Ro-

Desapropriações Injustas foram feitas, não ·apenas em Roraima, mas em todo o País, para dar continuidade a planos prenhes de utopia soclallsta e conducentes forçosamente à miséria!

raima, a Presidente da República anunciou a assinatura de decreto abdicando da construção da Unidade de Conservação do Lavrado, desobrigando assim o estado de criá-lo, como estava previsto no decreto 6.754/2009. Eis suas palavras textuais: "Assino hoje, aqui em Boa Vista, um novo decreto sobre destinação de terras da União abdicando da criação de unidades de conser~ "(*) vaçao. Outra vitória foi a liberação da licença do IBAMA, que permitirá a integração de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN) através do linhão de Tucuruí. Roraima era o único estado da Federação que por mero capricho da FUNAI não se achava unificado ao sistema, constituindo um escândalo a ser divulgado pelos quatro cantos do Brasil. Salientamos em nossa reportagem que tal interligação significava, mais do que energia abundante e barata, uma real necessidade para o desenvolvimento do estado. A partir de agora não faltará mais luz, como ocorria nos últimos tempos, quando tal estado enfrentou diversas quedas de energia devido a falhas no fornecimento da companhia estatal venezuelana Guri, que abastece Roraima. Catolicismo - Não ocorrerão mais perseguições aos ruralistas?

Paulo Henrique Chaves - Não nos iludamos com esse passo atrás por parte do governo federal. Pareceu-nos muito mais um recuo tático e circunstancial em busca de apoio político, do que persuasão do erro anterior, quando praticamente 90% do território de Roraima foram "engessados". Por outro lado, a cobiça internacional sobre a Amazônia não deu mostras de arrefecimento. É incessante a febre de demarcações dos governos do PT. Para perseguir produtores, eles fazem surgir índios onde nunca os houve; transformam descendentes de negros em quilombolas onde jamais existiram quilombos; espalham favelas rurais como praga em nossos campos com a demagógica Reforma Agrária; erigem parques ecológicos em terras trabalhadas por pioneiros nelas radicados há mais de um século. Catolicismo - Qual tem sido a repercussão do livro?

Paulo Henrique Chaves - Cito apenas comentário sintomático de um leitor que nos escreveu: "Um trabalho tão corajoso e oportuno como este dá o que p ensar, e dificilmente teria saido na mídia nacional. Ele suscita mil considerações sobre o estado de nosso

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País, vítima da ideologia comunista do PT. O brasileiro, conhecido por sua cordura e caráter bondoso, torna-se irreconhecível sob a impiedosa.férula p elista. Mudemos de governo antes que o governo mude o nosso modo cristão de ser. " Nossa tese é a de que os produtores rurais brasileiros não suportam mais tanto descaso em relação ao seu direito natural à propriedade privada, ao trabalho e ao sustento familiar, direito esse concedido por Deus e anterior à noção de estado. Quantas desapropriações injustas foram feitas pelos últimos governos, não apenas em Roraima, mas em todo o País, simplesmente para dar continuidade a planos prenhes de utopia socialista e conducentes forçosamente à miséria! Catolicismo - Houve repercussão dessa reportagem na mídia em geral?

Paulo Henrique Chaves-A mídia nacional tem sido muito parcimoniosa no que se refere às denúncias de abusos praticados a pretexto de favorecer o tribalismo indígena. Na proporção em que a mídia é useira e vezeira em notici ar alarmismos eco-ambientalistas, ela o deixa de ser quando se trata de denúncias sobre a ação criminosa de ONGs e organizações oficiais que manipulam os índios para investir contra propriedades particulares. Só no Mato Grosso do Sul já são quase 100 fazendas invadidas por indígenas, movidos na maior parte das vezes pelo Conselho lndigenista Missionário (CIMI) - órgão vinculado à CNBB. Catolicismo - E nos meios políticos, o que vem acontecendo?

Paulo Henrique Chaves - A revista Catolicismo foi pioneira ao estampar em recente edição [novembro/2015) entrevista com a deputada estadual Mara Caseiro, na qual ela anunciava a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul para investigar o CIMI. No mesmo sentido, em meio à despreocupação geral e ao enigmático silêncio dos meios de comunicação, a Câmara dos'Deputados instalou, em novembro de 2015 , presidida pelo deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), uma CPI para investigar a atuação da FUNAI e do INCRA ein demarcações de terras. Foi a ele que a deputada Mara Caseiro - presidente da CPI sul mato-grossense - entregou recentemente graves e importantes documentos comprovando as denúncias de que o CIMI teria financiado e incitado invas_ões de propriedades particulares por indígenas no estado de Mato Grosso do Sul. O deputado Alceu Moreira avaliou que há várias formas de influências na demarcação de terras indígenas: do CIMI, de um setor da Igreja e da FUNAI. E completou : "Esse crime é de laboratório e f eito a muitas mãos ". Catolicismo - Como o senhor qualifica essas iniciativas parlamentares? Elas pressagiam a resolução, depois de várias décadas, do problema da invasão criminosa de terras no País?

Paulo Henrique Chaves - São duas CPis, uma estadual e outra federal, que poderão resultar na descobe1ta e penalização dos agentes ocultos dessa imensa revolução tribalista que ameaça o estado de direito do

"º . pro dutores, farara perseguir zem surgir índios onde nunca os houve; transformam descendentes de negros em quilombolas onde jamais existiram quilombos" Brasil. A CPT e o CIMI pregam abertamente o conceito de "territorialidade", segundo o qual vastas regiões da Amazônia e do País deveriam ser transformadas em territórios autônomos para índios, quilombolas e "sem-terra" . Se isso infelizmente acontecer, a nação brasileira deixará de existir como unidade política e social. catolicismo@terra .com.br / ABRIL 2016

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DISCERNINDO dios, não foram poucos os que o acusaram de visionário e alarmista. Nesses últimos 40 anos, no entanto, ficou provada a existência de toda uma conspiração internacional, formada por ONGS, órgãos da ONU e figuras esquerdistas da CNBB, atuando em uníssono para criar, entre outras éoisas, uma questão indígena baseada O() falso conceito de que a catequese e a civilização atentam contra os costumes, as crenças e o modo de viver dos silvícolas. Catolicismo - Encerrando, o senhor poderia comentar algo diretamente para nossos leitores?

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..i1JAll- lili Catolicismo - Juntamente com o jornalista Nelson Barretto, o senhor vem publicando trabalhos sobre a questão fundiária no Brasil, ora sobre a Reforma Agrária, ora sobre os quilombolas, ora sobre os índios. O que os senhores esperam desta espécie de cruzada

Paulo Henrique Chaves -Apenas que fiquem atentos, pois a febre de demarcações do governo não cessa. Para perseguir as propriedades, seus agentes são capazes de tudo: "ressuscitar" tribos de índios, inventar falsos quilombolas, criar assentamentos de Refonna Agrária e, agora, instituir parques ecológicos de conservação ambiental em terras de particulares. Aos interessados, recomendamos que assistam aos depoimentos(**) de Alceu Thomé, morador na Serra da Lua, bem como de Dorinha Lima Pereira e outros [abaixo seguem os links]. Aos que desejarem conhecer a matéria do livro-reportagem, os pedidos poderão ser feitos através dos sites http://paznocampo. org.br/ e http://www.livrariapetrus.com.br/. ❖

em defesa da propriedade privada?

Paulo Henrique Chaves - Desculpe-me fazer uma pequena digressão. Em 1961 , ainda estudante secundarista, conheci Plinio Corrêa de Oliveira numa conferência pública sobre a Reforma Agrária. De lá para

"Os produtores rurais brasileiros não suportam mais tanto descaso em relação ao seu direito à propriedade privada, ao trabalho e ao sustento familiar"

cá, nunca me esqueci do conferencista nem do tema tratado por ele, e a partir de então resolvi seguir suas pegadas em defesa do direito de propriedade privada. Isto dito, já na década de 1970, quando Dr. Plinio publicou sua obra Tribalismo Indígena, ideal comunamissionário para o Brasil no século XXI, denunciando a ação do CIMI por sua ação subversiva junto aos ín-

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*http://www2.planalto.gov.br/acompan he-o-planalto/ discursos/ discursos-da -presidenta/ discurso-d a-p residenta-da-re publica -d i l ma-rousseff-d u ra nte-ceri mon ia-de -entrega-de-uni d a d es-ha bita eio na is-e m-boa-vista-rr-e-e ntregas-si m ultaneas-no-ma ra n hao-pa ra-ba h ia-e-rio-de-janeiro-do -programa-minha-casa-mi n ha-vida-boa-vista-rr

** Depoimentos: Roraima: Nova perseguição aos produtores rurais #1 https://www.youtube.com/watch?v= HcKv0q3QjaA&1ist=PLGxx5ctWQuPmpJwJifPbkWnFpUWmf4Qq-&index=1 Roraima: Nova perseguição aos produtores rurais #2 https:j /www.youtube.com/watch?v=y4SnfbBDRx4&1ist= PLGxx5ctWQuPmpJwJifPbkWnFpUWmf4Qq-&index=2 Roraima: Nova perseguição aos produtores rurais #3 https://www.youtube.com/watch?v=ezTQcd36bSg&list=PLGxx5ctWQuPmpJwJifPbkWnFpUWmf4Qq-&index=3 Roraima: Nova perseguição aos produtores rurais #4 https://www.youtube.com/watch?v= ZDnXriWH7dA&in dex=4&1ist=PLGxx5ctWQuPmpJwJifPbkWnFpUWmf4QqAdolpho Lindenberg comenta situação agrária de Roraima https://www.youtube.com/watch?v=V5SUbfz3mDA&list=PLGxx5ctWQuPmpJwJifPbkWnFpUWmf4Qq-&ind ex=5 CPI do CIMI - Denúncia de Nelson Barretto https://www.youtube.com/watch?v=fYf _xLTCEok&i ndex=6&1ist=PLGxx5ctWQuPmpJwJifPbkWnFpUWmf4Qq-

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Haja dinheiro para esbanjar CID ALENCASTRO

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a Gazette Drouot" é uma revista semanal francesa de ofertas de vendas em leilão. Entre outras coisas, paga tributo à chamada arte moderna nos objetos que apresenta. Mas se fosse só isso! O mais espantoso é que várias das tais modernidades que oferece, de uma mediocridade supina, estão à venda por preços astronômicos, como se fossem preciosidades. Veja-se esta escrivaninha de quatro gavetas, um tampo de madeira em forma de ameba irregular, duas perninhas esguias para sustentação ... e só. O infeliz que fosse utilizá-la para seus trabalhos, perderia a inspiração se fosse um poeta, embaralharia os números se um economista, e ficaria propenso ao ateísmo caso fosse um religioso. Pois bem, esse canhestro objeto, ao qual se atribuiu o nome de "Presidência" ( autoria de Jean Prouve), está sendo oferecido aos simplórios (em 3-12-2015) pela bagatela de 451.325 euros - perto de 2 milhões de reais, na cotação do momento em que escrevo.

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Para estar à altura de escrever sobre esse tampo ameboide, é preciso uma caneta especial, de 17,6 cm, que o mesmo número da "Gazette Drouot" oferece. Por apenas (!) 194.060 euros (perto de 850 mil reais). Trata-se, explica a revista, de "uma legendária [caneta] Dunhill Namiki, f eita p elo mestre laqueador Kiusai Yoshida, o qual se inspirou na lenda de Genji, do teatro Nô, retomando a máscara do demônio f eminino Hannya ". Pernosticismo à parte, se o ingênuo comprador não souber quem foi Namiki, nem Yoshida, nem Nô, nem mesmo conhecer a lenda de Genji, não tem a mínima importância, desde que desembolse o dinheiro e saiba que está adquirindo a figura de um demônio para infestar seus escritos. A esse ponto chegamos! A isso se chama "arte". E haja dinheiro para esbanjar! ❖

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arza

famoso teólogo do século XIX, Pe. Frederico William Faber (1814-1863), convertido ao catolicismo, no prefácio da edição inglesa do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, traduzido por ele, escreve: "Poucos homens, no século XVlll, trazem em si mais fortemente gravados os sinais do homem da Providência do que esse novo Elias, missionário do Espírito Santo e de Maria Santíssima. Toda a sua vida foi uma tal manifestação da santa loucura da cruz, que os seus biógrafos são concordes em classificá-lo com São Simão Salus [santo eremita sírio do século VI, chamado o Santo Louco] e São Felipe Néri [ ... ] Será di:ficil achar, depois das epístolas dos Apóstolos, palavras

tão ardentes como as 12 páginas de sua Prece pelos missionários de sua Companhia.( ... ) Suas prédicas, seus escritos, sua conversação eram impregnados de profecias e de visões antecipadas das últimas eras da Igreja". 2 Tenha-se presente que estas palavras foram escritas quando Luís Maria não tinha sido ainda elevado à homa dos altares. No dia de sua canonização, o Papa Pio XII disse que ele foi "o humilde sacerdote bretão do século de Luís XIV, cuja curta vida, surpreendentemente laboriosa e fecunda, mas singularmente atormeri-

tada, incompreendido de uns, exaltado por outros, o colocou diante do mundo 'em sinal de contradição' (Lc 2, 34)" . O Sumo Pontífice louvou "a sua tenacidade perseverante em buscar seu santo ideal, o único ideal de toda sua vida: ganhar os homens para lhes dar Deus" .3 "Custou-lhe muito vencer a paixão da cólera"

Luís Grignion nasceu no dia 31 de janeiro de 1673, em Montfortla-Cane (hoje Montfort-sur-Meu), na Bretanha. Foram seus pais João

PLINIO MARIA SOLIMEO

Comemorando-se no corrente mês o terceiro centenário da morte deste grande apóstolo de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima, ocorrida em 28 de abril de 1716, nada mais natural do que dedicar-lhe a matéria de capa desta edição 1

Casa natal de São Luís M aria e quarto onde nasceu

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Por sua devoção a Nossa Senhora, ào ser crismado Luís acrescentou Maria ao seu nome. Embora seu pai fosse um cristão convicto, que educou a família como patriarca, "no temor de Deus", seu gênio era muito difícil, com explosões de ira incontroláveis, pelo que sua esposa, amável e bondosa, tinha que suportá-lo com paciência. O filho herdou o temperamento do pai. Ele afirmará depois que ''.custava-lhe mais vencer sua veemência e a paixão da cólera, do que todas as demais [paixões] juntas". Um dos sacerdotes que o acompanharam nos últimos anos de sua vida, Pe. Pedro Bastieres, escreverá sobre o Pe. Montfort: "Realizou esforços incríveis para vencer sua natural veemência; e o conseguiu, adquirindo a encantadora virtude da doçura" 5 que tanto atraía as multidões. "Não se compreende Montfort sem a perspectiva sobrenatural mariana"

Batista Grignion, senhor de Bachelleraie e advogado do município de Montfort, e Joana Roberto, senhora de Chesnais. Dois séculos antes, o grande apóstolo e profeta, São Vicente Ferrer (1350-1418), pregando na região, anunciou a vinda de um "poderoso missionário", predileto de Deus.

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Um tio de Luís conseguira um título de nobreza. Mas tal não sucedeu a seu pai 4, que possuía alguns outros títulos, mas pouca fortuna para educar sua numerosa prole de 18 filhos , dos quais o santo era o segundo. Uma de suas irmãs, Joana Guyonne - sua preferida - morreu também em odor de santidade.

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Um dos biógrafos de Luís Maria afirma que ele "é um santo de legenda, que ultrapassa a mediana humanidade". 6 Desde muito cedo como ardente devoto da Santíssima Virgem, "retirava-se para um canto da casa para dedicar-se à oração e rezar o rosário diante de uma pequena imagem de Nossa Senhora". 7 Afirma outro de seus biógrafos: "Não se compreende Montfort criança, nem se compreenderá Montfort no seu labor apostólico, sem a perspectiva sobrenatural mariana, na qual ele sempre se manteve. Blain [um dos seus condiscípulos em Rennes e depois em Saint Sulpice, a quem devemos muitos traços da vida do santo], não esquece de salientar: 'A Santíssima Vir-

gem foi a primeira a escolhê-lo e a elegê-lo como um dos seus mais favoritos, e gravará na sua jovem alma a ternura tão singular que ele sempre lhe votara"'. 8 Máxima comprovação da profundíssima devoção do Pe. Montfort a Nossa Senhora, assim como de sua consagração total a Ela, é sua obra Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem (escrito em 1712), que representou um marco na espiritualidade mariana. A respeito desse livro providencial, vide quadro às pp. 38-39 e matéria de capa publicada em Catolicismo, edição de abril de 2012. De acordo com os seus primeiros mestres, "ele nunca lhes causou nenhuma dificuldade, cumpria, por si próprio, as suas obrigações, sem que fosse preciso forçá-lo por castigo ou ameaças, e já exercia o seu oficio de missionário relativamente aos seus colegas, lendo-lhes o catecismo ou livros de devoção". 9 Outro de seus contemporâneos, o Pe. Picot de Cloriviere, acrescenta que seus mestres "logo se deram conta de que se tratava de uma dessas almas privilegiadas, em quem Deus se cómpraz em manifestar os tesouros de sua graça, e que não se ressente quase nada da natureza infectada pelo pecado".1º Luís Maria demonstrou desde cedo possuir pendor para a pintura, a escultura e a arquitetura. Receberá algumas lições de desenho em Rennes, as quais lhe serão de grande proveito no restauro e na ornamentação de igrejas, bem como na confecção dos estandartes dos Mistérios do Santo Rosário, que utilizava em suas missões. Entre oütras obras, esculpiu um piedoso crucifixo e uma imagem de Nossa Senhora, que o acompanharão nas missões.

Aluno brilhante, à frente de seus condiscípulos

Quando Luís Maria completou 12 anos, em 1685, seus pais o enviaram ao colégio São Tomás Becket, dos jesuítas de Rennes, onde o estudo era gratuito. Ele permanecerá ali durante oito anos, nó decurso dos quais rev,elou-se um aluno brilhante, colocando-se à frente de seus condiscípulos. Luís Maria hospedou-se na casa de um seu tio eclesiástico, e todos os dias, no caminho para o colégio, visitava uma das imagens da Virgem, especialmente Nossa Senhora dos Milagres, na igreja do Salvador. "Esta devoção afetuosa à Imaculada granjeou-lhe o insigne privilégio não apenas de conservar a sua pureza intacta, mas também de desenvolvê-la ao abrigo da tentação".11 Nessa época Luís Maria contraiu os hábitos de penitência que marcaram toda a sua vida, e que a nós, homens do século XXI, tão

amolecidos e inclinados às comodidades e ao gozo da vida, causam espanto. Entretanto, "tais mortificações, inspiradas por um amor ardente, longe de ensombrar o caráter do jovem, conferiram-lhe uma paz, uma doçura e uma serenidade que nunca se alteravam, mesmo em meio às piores contradições e humilhações mais sensíveis". 12 Cresceu nele um desejo ardente de ajudar o próximo. Como diz um seu biógrafo, "seu bom coração, cheio de misericórdia e de compaixão para com o próximo, o levava, no colégio, a ocupar-se em ampa. rar os escolares [mais] pobres que estudavam com ele. Não podendo socorrê-los com seus próprios recursos, solicitava esmolas para eles junto às pessoas caridosas". 13 Congregado Mariano

No colégio, Luís Maria tornou-se amigo de dois excelentes colegas: Jean-Baptiste Blain, do qual já falamos , e Claude-François

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Poullart des Places. O primeiro irá para Rouen, após ser ordenado, e ali conhecerá São João Batista de la Salte, ·de quem será biógrafo. O segundo, filho único de rica família, em sua curta vida será o fundador da Congregação do Espírito Santo e manterá estreitas relações com Montfort. Com esses dois amigos e mais alguns outros condiscípulos, Luís Maria formou uma associação em honra da Santíssima Virgem. No Colégio São Tomás Becket, só a partir do terceiro ano se podia entrar para a Congregação Mariana, estabelecida para os melhores alunos. Luís Maria foi admitido em 1688. Desta Congregação, afirma um historiador, "saiu uma multidão de jovens para se consagrar ao serviço dos altares, e os que permaneciam no mundo contribuíam para sua edificação". 14

vezes do seu amor pela pobreza e pelos pobres, da sua caridade e do seu zelo, e sobretudo das sua grande ternura e devoção pela Santíssima Virgem; e, o que é espantoso, duvidava-se se ele caminhava na via dos santos." O depoente confessa humildemente: "Foi, entretanto, este mistério que me gelou relativamente ao padre Montfort, que me impediu de unir-me a ele, fazendome até recear o excessivo convívio na sua companhia." 15 Por isso, "com este jovem transbordante de generosidade, mas tão original, a autoridade usou meios excepcionais: contrariavam seus desejos, ridicularizavam seus modos, o confiaram - finalmente - ao diretor mais apto para redu-

"Zelo excessivo e indiscreto"

Decidido a ser sacerdote, Luís Maria ingressou em 1692 no seminário de São Sulpício, em Paris. Uma senhora amiga custodiou seus estudos. Nesse seminário multiplicavam-se, por influência de seu fundador, Mons. Olier, as práticas da devoção mariana, às quais Luís Maria aderiu de corpo e alma. Entretanto, a cruz de Nosso Senhor, tão amada por ele, o acompanhará por toda sua vida. Em São Sulpício ela não podia deixar de lhe fazer companhia, pois logo encontrou conh·adições. Seu condiscípulo Blain tenta descrever um paradoxo: "Reconhecia-se que ele era um santo e fazia-se o elogio ora da sua grande modéstia, ora do seu recolhimento, ora da sua humildade, muitas vezes das suas grandes mortificações e austeridades, outras

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zir ao max1mo suas excentTicidades mediante humilhações inverossímeis para nós. Ao cabo de seis meses, o mestre domador teve que reconhecer seu fracasso. Para os sulpicianos, Montfort continuava sendo um enigma". 16 "Não no Canadá, mas na França"

São Luís Maria foi ordenado sacerdote no dia 6 de junho de 1700, tendo-se preparado durante vários dias para a primeira Missa, celebrada numa capela da Virgem no seminário. Citemos mais uma vez a Blain: "Creio poder afirmar que Grignion recebeu [nessa época] favores divinos. Tão semelhante aos santos pela sua vida, acredita-se facilmen-

te que o tenha sido nas suas graças. A grande inocência unida à maior penitência, seus profundos silêncios, seu recolhimento íntimo, sua oração quase contínua e sua mortificação sem limites, tinham preparado sua alma para se aproximar

do Esposo celeste, e apresentavam ao Espírito Santo um coração puro e disposto a todas as suas operações" .17 Como seu único desejo era salvar almas, o neossacerdote pediu ao Superior que o mandasse para o Canadá, então sendo colonizado. Mas não foi aceito. Pelo contrário, enviaram-no a Nantes. "Desde o começo do sacerdócio, [o Pe. Montfort] h·aça o programa da sua vida: ir de paróquia em paróquia, catequizar os pequeninos, converter os pecadores, pregar o amor de Jesus, a devoção à Santíssima Virgem e reclamar, em alta voz, uma Companhia de missionários para abalar o mundo através•de seu apostolado". 18

vida de jejum, oração e caridade. Faleceu em 1707, por ocasião de uma cura em Bourbon-1 'Archarnbault, depois de ter feito uma confissão pública". 20 Por várias circunstâncias, Luís Maria teve que recorrer a Madame de Montespan para ajudar suas irmãs, por indicação do preceptor dos filhos dela, Pe. Girard, futuro bispo de Poitiers. Ele a visitou pela primeira vez em 1697. A marquesa ficou tão impressionada com sua virtude, que encaminhou duas irmãs do santo para a abadia de Fontevrault, da qual Madame de Rochechouart era abadessa. Depois de ordenado, Luís Maria escreve: "Tive a honra de entabular várias conversas particulares com a senhora de Montespan". A São Luís e Madame marquesa se interessou pelo seu fude Montespan turo e lhe ofereceu um canonicato Um fato pouco conhecido na para o sustentar. "Agradeci-lhe huvida de São Luís foi sua aproxi- mildemente, alegando que jamais mação da célebre ex-concubina de queria mudar a divina Providência Luís XIV, Madame de Montespan num canonicato ou uma prebenda". (Francisca Athenais de Rochechou- Ela então recomendou que ele faart de Mortemart), cujas relações lasse com o bispo de Poitiers "a fim ilícitas com o rei constituíram fonte de lhe manifestar minhas intenções. [... ] Obedeci-lhe cegamente para de múltiplos escândalos. Tendo caído em desgraça, a cumprir a santa vontade de Deus, antiga favorita converteu-se since- que era a única coisa que me preramente, ao que tudo indica, segun- ocupava".21 do o insuspeito memorialista SaintFinalmente, a célebre marqueSimon. Este afirma que ela "acabou sa foi testemunha de um estupenpor dar quase tudo o que possuía do milagre do santo. Ele acabava aos pobres. Trabalhava para eles de celebrar Missa em sua capela, e muitas horas por dia em tarefas bai- entrava na sacristia para fazer sua xas e grosseiras, e obrigava a traba- ação de graças, quando encontrou lhar quem a rodeava. A mesa, que um cego. Perguntou-lhe se queria ela amara em excesso, tornou-se ser curado. À resposta afinnatimais frugal, os jejuns multiplica- va, "Montfort molhou um dedo na ram-se; a oração interrompia o seu saliva, esfregou-lhe os olhos e, no convívio" .19 mesmo instante, o cego recuperou Outro testemunho afirma que a vista e gritou que estava vendo "ela reencontrou a humildade cris- muito bem". 22 Isso só fez aumentar tã, procurou resgatar seus pecados . a veneração da grande dama pelo e o escândalo do adultério por uma humilde sacerdote. catolicismo@terra.com.br / ABRIL 2016

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tabelecendo-se no Hospital Geral. Essa instituição "não estava destinada ao serviço dos enfermos, mas a manter encerrados os mendigos que molestavam a boa sociedade". 24 Vendo aquele sacerdote mais pobre do que eles, os pobres se cotizaram para lhe dar esmola. E escreveram ao Bispo, solicitando-lhe que o constituísse seu capelão. O santo fundou naquele hospital uma associação de internas, que "dedicou à Sabedoria do Verbo encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do mundo, ao estabelecer nela a loucura do Evangelho". 25 Era formada por 12 internas, doentes, coxas, aleijadas, a cuja frente colocou uma das mais inteligentes e virtuosas, mas cega. Deu à associação o nome Sabedoria. Nessa escola de humildade, pobreza e obediência instruir-se-ão a que será a primeira das Filhas da Sabedoria, beata Marie-Louise Trichet, e sua companheira Cathérine Brunet. 26 Estátua de São Luis Maria Grlgnion de Montfort pisando o demônio. (Basílica de São Pedro)

Desapego dos bens terrenos

São Luís tinha abraçado a pobreza. E queria que sua família dela participasse. Vimos como se interessou pelas suas irmãs, mas como exceção. Não queria que isso se transformasse em regra, intervindo na sua vida apostólica. Ele o diz taxativamente à sua mãe, que escreveu lamentando de sua pobrezçi e pedindo-lhe que a ajudasse e aos outros irmãos. Em carta de 28 de agosto de 1704, o santo lhe escreve: "É infinitamente precioso para vós sentir-vos empobrecida a ponto de vos

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recolher em um hospital, se tal for a vontade de Deus, e serdes desprezada a ponto de vos encontrar abandonada por todos e morrer vivendo". Depois acrescenta com energia: "Não me molesteis com o cuidado de meus irmãos e irmãs. Fiz por eles quanto Deus me pedia por amor. De momento, não tenho nenhum bem temporal que proporcionar-lhes, porque sou mais pobre que todos eles. Eu os ponho, com toda a família, nas mãos de Quem os criou. Que me considerem como morto. Sim, repito-o para que não o esqueçam: considerem-me como morto".23 Apostolado em Poitiers

São Luís foi para Poitiers, es-

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O Amor da Sabedoria Eterna

Por que escolheu o santo o nome de Sabedoria para a Associação e, depois para a Congregação que fundará? Seu amor a Nosso Senhor Jesus Cristo como a Sabedoria Encarnada era tão vivo, que o levou a escrever o pequeno tratado O Amor à Sabedoria Eterna, " livro de capital importância. Ele, e só ele, nos apresenta a espiritualidade montfortiana em seu conjunto". 27 Nessa obra, o insigne missionário expõe um programa de vida evangélica baseada na cruz. "O Amor à Sabedoria Eterna marca todo o itinerário espiJitual de Montfort, que alguém pôde defini r como ' um movimento processional inintenupto em busca da cruz do Mestre de Sabedoria"'. 28

Seu amor à Sabedoria eterna era de tal magnitude, que o fazia exclamar: "Ah! Se os cristãos conhecessem o valor das cruzes, caminhariam cem léguas para encontrar uma só! Porque na amável cruz se encontra encerrada a verdadeira Sabedoria, que noite e dia busco com mais ardor do que nunca". 29

pedindo a divina Sabedoria para este miserável pecador; através de cruzes, humilhações e pobreza. Ânimo, querida filha! Fico-te infinitamente agradecido. Experimento os efeitos de tuas preces, porque me encontro empobrecido, crucificado e humilhado como nunca. Homens e demônios nesta grande cidade de Paris, me armam uma guerra muito

Primeira missão: Nantes

São Luís Maria foi encarregado de uma missão nos arredores de Nantes. "Servido por notável inteligência, dotado de 'zelo' e ' habilidade' , Montfort não podia, desde a sua primeira missão, ser um apóstolo improvisado. Aliás, não se encontrava ele finalmente no seu elemento? Tinha 28 anos, urna voz potente, um fogo de juventude que cintilava nos seus sermões e nos seus cânticos". 3º Voltou a Poitiers em 1703, onde teve que dissolver a comunidade da Sabedoria, devido às perseguições. Viajou para Paris, mas foi mal recebido pelos antigos diretores de São Sulpício. Retornou a Poitiers, como diretor do Hospital Geral, e um ano depois deverá deixar definitivamente o cargo. Suas pregações nos bairros populares ocasionaram-lhe e granjearam uma reprimenda pública do Vigário Geral e, pouco depois, a ordem de abandonar a diocese. Recorre ao Soberano Pontífice

Sobre as perseguições implacáveis que sofria o santo nessa época, ele próprio observou, em 1703, numa carta a Marie-Louise Trichet: "Dou-me conta de que continuas

grande campo para exercer vosso zelo; não vades algures, e trabalhai sempre com perfeita submissão aos bispos nas dioceses para as quais vos chamarem". Para isso, concedeu-lhe o título de "missionário apostólico". 33 Aperfeiçoando seu método de apostolado

De volta à França, Luís Maria encontrou-se com o Pe. Leuduger, que chefiava um grupo de sacerdotes dedicados à missão. Com ele o santo adicionou ' sua experiência vários elementos, como a importância do canto nas missões, a pedagogia das grandes procissões etc. Trabalhou com o missionário seis meses, e depois voltou à sua terra natal com dois irmãos leigos que se tinham agregado a ele. Um deles, Mathurin Rangeard, uniu-se ao santo quando contava 18 anos. Ele servirá o Pe. Montfort até sua rn01ie, e depois a seus sucessores durante 55 anos, tornando-se célebre como Irmão Maturin. De 1708 a 171 O, Luís Maria, nomeado diretor das missões na diocese de Nantes, trabalhará sem descanso. Um contemporâneo afirma: "O que mais se destacava nele era um dom e uma graça singular para ganhar os corações. Quando o tivesses ouvido, punhas nele toda tua confiança [... ] A confiança pronta e fácil que as pessoas tinham nele era tão grande, que conseguiu estabelecer em várias paróquias a oração da noite, o rosário e a sepultw-a nos cemitérios [contra o costume de se enterrar nas igrejas], o que não se tinha conseguido obter até então". 34

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amável e doce. Que me caluniem, que me ridicularizem, que façam em pedaços minha reputação, que me encerrem num cárcere! Que regalos tão preciosos."31 Em vista dessas provações, mais uma vez, diz seu amigo Blain: "Encontrnva tantas dificuldades para fazer o bem na França[ ... ] que se perguntava se devia deter-se e ir a outra parte em busca de uma colheita mais abundante". 32 Foi quando resolveu ir a Roma consultar o Santo Padre. O Papa Clemente XI (reinou de 1700 a 1721), inspirado pelo Espírito Santo, respondeu-Lhe: "Vós tendes na França, senhor padre, um

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O Calvário de Pont-château

Um fato muito conhecido e doloroso na vida de São Luís foi o do calvário de Pont-château, na Bretanha. Tendo pregado nas circunvizinhanças daquela cidade, ocorreulhe é;l ideia de acrescentar, à ereção de uma cruz em cada paróquia, a construção de um calvário gigante que dominaria toda a região. Propôs isso ao clero, à população, e foi aprovado com entusiasmo. As obras começaram em julho de 1709. Um dos missionários, companheiros do santo, afirma que acudiam diariamente de 400 a 500 pessoas, tanto camponeses quanto pessoas de qualidade, para cavar a terra e trnnsportá-la em cestos. Calcula-se que mais de 20 mil pessoas participaram da obra. Entretanto, à véspera da bênção solene, chegou a proibição do prelado de Nantes. Algumas autoridades locais que acusavam o santo de exagerado, o haviam indisposto junto ao bispo. O assunto chegou até a administração real, em Versalhes. Os inimigos do santo informaram com muito exagero às autoridades que o tal calvário era uma fortaleza não longe do litoral , por onde cruzavam navios ingleses nesse período de guerra. Consequência: "Por ordem do rei", o calvário deveria ser demolido. Pouco depois, Luís Grignion recebeu uma carta do bispo: "Ao lê-la, ele chorou. Foi uma das decepções mais amargas da sua vida. Dom Gil de Bauveau proibiu-lhe o ministério, a prédica e a permissão de confessar em toda a diocese" 35 de Nantes. Um dos seus colegas missionários comentou a reação de São Luís Maria a esses fatos dolorosos: "Esta paciência, esta submissão à Provi-

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dência numa ocasião tão delicada, a serenidade, até a alegria que lhe transparecia no rosto apesar do golpe tão acabrunhador, :fizeram-me então olhá-lo como a um santo, e inspiraram-me sentimentos de respeito e veneração pela sua virtude."36

e do trono, durante a satânica Revolução Francesa,. Pois "o exército da Vandeia que se erguerá[ ... ] para defender a sua fé com a imagem do Sagrado Coração no peito e o rosário na mão nascerá destas duas dioceses. Mon-' tfort e os seus missionários tinham esculpido a sua alma católica". 39 O que confirma Pio XII, no documento citado: São Luís Maria tornou-se "o apóstolo por excelência do Poitou, da Bretanha e da Vandeia. Pôde-se mesmo escrever outrora , sem exagero, que 'a Vandeia de l 993 foi obra de suas mãos "'. 4º Será nessas dioceses que o grande missionário trabalhará nos últimos cinco anos de sua vida.

Papel do rosário nas missões

Por sua devoção ao rosário, São Luís Maria quis ingressar na família dominicana, como Irmão Terceiro. Realmente, "o rosário ocupa um posto importante na atividade apostólica de São Luís Maria de Mon tfort - a quem as pessoas simples chamavam o Padre do rosário grande. Embora se trate de urna prática particular e exterior da devoção à Santíssima Virgem, Montfort está plenamente convencido de seu valor e de sua eficácia pastoral. Considera-o um dos meios mais eficazes para 'renovar o espírito do cristianismo entre os crentes'". 37 Sobre o papel do santíssimo Rosário, o santo é categórico: "Não consideres esta prática insignificante e de poucas consequências. Assim a olham o vulgo e também muitos sábios orgulhosos. Porque, na realidade, ela é grande, sublime e divina. O Céu no-la deu para converter os pecadores mais endurecidos e os hereges mais obstinados. Deus vinculou a ela a graça nesta vida e a glória no Céu. Oh! Que felicidade a do sacerdote e diretor de almas a quem o Espírito Santo revelou este segredo, desconhecido da maioria dos homens, ou só conhecido superficialmente por eles. Se obtiveres seu conhecimento prático, recitá-lo-ás todos os dia s e impulsionarás os demais a recitá- lo. Deus e sua Mãe santíssima derramarão sobre ele graças abundantes

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Método para converter os protestantes

a fim de que seja instrumento de sua glória."38 Na Vandeia Militar

Os bispos das dioceses de La Rochelle, D. Étienne de Champflour, e de Luçon, D. Jean-François Salgues de Lescure, publicaram em julho de 1710 uma prescrição episcopal contra o livro do herético Pe. Pascase Quesnel (1624-1719), que ressuscitava a heresia do jansenisrno. Eram, portanto, genuínos bispos católicos, que darão todo apoio a São Luís Maria para trabalhar em suas dioceses. As dioceses de Luçon e de La Rochelle compreendiam então uma parte da Vandeia Militar, ou seja, as regiões que se sublevarão depois, no ano de J 793, em defesa do altar

Em La Rochelle, onde havia alentados restos de calvinismo, São Luís pregou três importantes missões: uma para homens, outra para mulheres, e a terceira para soldados. Foi nisso ajudado pelo Pe. Gabriel-François e por vários outros sacerdotes, entre os quais alguns dominicanos. Sobre essa missão, diz uma testemunha ocular: "Toda a cidade de La Rochel le ficou tocada, emocionada, quase mudada por completo. Os soluços explodiam no auditório, e o missionário suplicava: ' Meus filhos , não choreis, porque me impedis de falar!"'. 41 Os confessores mal bastavam para ouvir as confissões gerais. São Luís Maria fez circular pela cidade um folheto intitulado Demonstração da Fé, com sábias refutações da doutrin a protestante. Escreveu também um Método para converter os protestantes. Entretanto, deixou aos missionários indicados pelo bispo as contrnvércatolicismo@terra.com.br / ABRIL 2016

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soldados na procissias com os hereges, são final , que coprocurando convertê roou os exercícios: -los, como São Do"Todos e les marchamingos em relação vam descalços, um aos albigenses, pelo crucifixo numa mão rosário e através de e o rosário na outra. contatos pessoais. Um oficial vinha à Conquistou desse frente, também de modo uma imporpés nus, e transportante dama calvitava uma espécie de nista, que arrastou bandeira ou estanconsigo para a verdadeira fé muitas darte da cruz. Todos cantavam as ladaioutras almas de boa nhas da Santíssima vontade. Em La RochelVirgem. [... ] Todos os que ass istiam se le o missionário foi vítima de enveneemocionaram diante de tal espetácu lo".43 namento pelos calComo muitos dos vinistas. O santo soldados não sabiam tomou antídotos e ler, o santo compôs salvou a vida, mas o para eles uma regra mal estava feito: sua de vida bem simsaúde ficou aba lada ples, sob a forma de para o resto da vida, Imagem feita pelo santo cântico, para memoencurtando seus rizarem, do qual citamos um tredias. Apesar disso, ele se empenhou na missão para os so ldados. cho: "Quero ser um so ldado va lente e servir, junto ao Rei dos Céus, Missão para os soldados a meu rei , um monarca triunfante. Ao combate me apresso ardoroso, São Luís dedicava muito empenho nas missões para os so lda- com a cruz e as flores de lis. Quero dos, por serem e les geralmente s_e r, ao mesmo tempo, bom cristão e so ldado francês. [... ] Só um monsmuito esql,)ecidos. Numa visita ao célebre santuário do Monte São tro me inquieta, me espanta: o peMiguel, concebera a ideia de esta- cado, que muitos não temem. O temê-lo leva-me ao Éden!". 44 belecer nas paróquias, sobretudo nas guarnições militares, a confra"Carta Circular aos ria dos Soldados de São Miguel. Amigos da Cruz" A missão que pregou aos miliPor toda parte onde evangelitares da guarnição de La Rochelle marcou-os tão profundamente, que zava, o bom Pe. Montjàrt, como era "durante os sermões, os militares carinhosamente chamado, fundava exprimiam em alta voz o seu ar- associações de Amigos da Cruz, rependimento e, mais de uma vez, com o fim de venerar especialmenantes de sair da igreja, foram vistos te esse instrumento de nossa Reprosternando-se por terra pedindo denção. A respeito de seu amor à Cruz, misericórdia". 42 Um dos missionários descreve a participação dos apre entamos o depoimento do seu

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primeiro biógrafo: "O Pe. Grignion, apoiando-se naquela máxima de Jesus Cristo de que, para pertencer ao número de seus discípulos, é necessário renunciar a si mesmo, carrega r sua cruz todos os dias, e segui-Lo [... ] procurava inspirar em todas as pessoas o amor às cruzes [ .. .] Pregava esta grande verdade com palavras e, ainda mais eficazmente, com seus exemplos. [... ] Para inspirar esta devoção - tão contrária aos sentidos e à natureza corrompida - criava associações de fiéis sob o título da cruz; dava-lhes regulamentos e práticas aprovadas pelos bispos. [... ] Compôs vários cânticos sobre a cruz e publicou na imprensa uma Carta Circular aos Amigos da Cruz". 45 O santo escreveu essa obra em Rennes, em 1714·, num período de calma em seu apostolado: "Durante esses dias de recolhimento e so lidão, completamente concentrado nos sofrimentos de Jesus Cristo, e como que submerso no mistério desse Deus crucificado, compôs a Carta Circular que dedicou aos A migas da Cruz" 46 da paróquia de São Sim iliano, de Nantes. "Sem trégua nem descanso há 13 anos"

Ainda sobre o amor do santo à cruz de Nosso Sen hor, reportemo-nos mais uma vez a B lain: "O Pe. Montfort dedicava muito tempo à leitura [.. .] Gostava sobretudo [do li vro] intitulado Os Caminhos da Cruz [do monsenhor Henrique Maria Bourdon]. Este livro - tão conforme a seus gostos pessoais - repetia-lhe tudo o que o Espírito Santo lhe havia dito no coração. Deu-lhe uma estima e um gosto tão grande pelas penas e pelos desprezos, que não cansava de fa lar da alegria das cruzes e do mérito dos sofrimentos".47

duas primeiras religiosas de sua Congregação, Marie-Louise Trichet e Cathérine Brunet, de Poitiers para La Rochelle, a fim de cuidarem da obra das escolas gratuitas. Esse foi o início da Congregação das Filhas da Sabedoria.

"Ó Judas, tua perfídia é monstruosa e infame"

Versa sobre esse tema uma memorável carta que o santo escreveu em agosto de l 7 J 3 à sua irmã Luísa: "Se soubesses, no mínimo, as minhas cruzes e as minhas humilhações, duvido que tivesses tanta ânsia em ver-me. Com efeito, não posso chegar a nenhuma parte sem fazer partícipes de minha cruz meus melhore ami gos, frequentemente apesar ela minha vontade e da deles. Toei aquele qu e me defende ou se declara cm meu favor, tem que sofrer por is ·o, e às vezes cair sob a fúria do inferno, que combato; do mundo, qu e contradigo; da carne, que p rsigo. [.. .] Sempre aler-

ta, sempre sobre espin hos, sempre sobre pedras afiadas, encontrn-me como uma pelota num jogo: tão logo a lançam de um lado, já a rechaçam do outro, golpeando-a com violência. Assim estou eu, sem trégua nem descanso, há 13 anos, desde que saí ele São Su lpício". 48 Início das Filhas da Sabedoria

Em l 714 o santo viajou outra vez a Pa ri s e escreveu a Regra dos missionários da Companhia de Maria visando conquistar a lguns seminaristas do Seminário do Espírito Santo para sua obra. No ano seguinte, chamou as que seriam as

Em 1.716, juntamente com o irmão Gabriel, São Luís Maria encontra-se em Saint Laurent-sur-Sevre para algumas missões. Acompanham-no também os padres Renato Mulot e Adriano Vatel, os dois primeiros membros da Companhia de Maria que ele fundará. Bastante doente, o santo escolheu para seu sermão, que seria o último, "a doçura de Nosso Senhor". O ardente missionário, já tocado pela morte, ultrapassa a si mesmo falando do adorável Salvador. Quando chega à cena da agonia, gritou com voz potente: "Ó Judas, como a tua perfidia é monstruosa e infame! Tu te aproximas de Jesus como amigo; cumprimenta-O como um discípulo ao seu mestre, beija-O como o filho beija o pai, e vais traí-Lo com o teu beijo!'. O auditório desatou em soluços. É o triunfo supremo do incomparável apóstolo". 49 "Combati o bom combate, terminei minha carreira"

Atingido por uma pleurisia aguda, o organismo arruinado do santo não pôde resistir. Foi para a cama para não mais se levantar. No dia 28 de abri Ide 1716, esse batalhador incansável entregou sua alma a Deus aos 43 anos de idade. "Escravo de Jesus em Maria, expirava, com os braços, o pescoço e os pés rodeados de cadeias de ferro; na mão direita segurava o crucifixo in-

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dulgenciado por Clemente XI, e na esquerda estreitava uma pequena imagem da Santíssima Virgem que trazia sempre consigo; com ternura contemplava estas imagens queridas, e beijava-as, invocando os nomes de Jesus e de Maria".50 São Luís Maria bem podia apropriar-se das palavras de São Paulo: "Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a .fe. Já me está preparada a coroa da justiça, que naquele dia me outorgará o Senho,~ justo juiz " (2 Tim. 4, 7-8) . ••• Notas: 1. Baseamo-nos sobretudo em duas obras para este artigo: 1) Lou is Le Crom, São Luís Maria Grignion de Montfort, Editora Civi lização, Porto, 2010, que citaremos como Le Crom dando o número da página. 2) San Luís María Grignion de Montfort, Obras, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1984, citando especialmente o autor da Introdução Geral, Pe. Louis Perouas, que indicaremos simplesmente como Perouas. 2. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Editora Vozes Limitada, Petrópolis, 1961, Prefácio, pp. 9-10. 3. L'omelia nella canonizzazione di S. Ludovico Maria Grign ion da Montfort, 20 de ju lho de 1947, Oiscorsi e radiomessaggi di sua Santitá Pio XII , Vol. IX, Tipografi a Poligotte Vaticana, Angelo Belardetti - Ed itore, Roma, s/data , pp. 177-178. 4. Le Crom, p. 16; Perouas, 5. 5.Apud Perouas, 5. 6. Le Crom, p. 22. 7. Perouas, 6. 8. Manuscrito, par. VI, apud Le Crom, 2425. 9. Grandet, La vie de Messire Louis-Marie Grignion de Montfort, prêtre, missionaire apostolique , 1.1 ,c.1, p. 4, apud Le Crom , 22. 10. Apud Le Crom, 23. 11. Le Crom, 31. 12. Le Crom, 32. 13. Les Petits Boulland istes, Vies des Saints, d'apres le Pere Giry, Paris, Bloud et Ba rrai, Libraires-Éditeurs, 1 1882, tomo XV, p. 320. 14. Picot de Cloriviere, apud Le Crom, 42.

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15. Apud Le Crom, 139-140. 16. Perouas, 9. 17. Apud Le Crom , 62. 18. Le Crom, 107. 19. Memoires de Sa int Sim on, Hachette, Paris, 1865, 1. IV, p.9, apud Le Crom, p. 90. 20. https://fr.wikiped ia.o rg/wiki/M adame_de_Montespan. 21 . Cartas, Carta a Leschassier, 4/5/1701, BAC,p. 76 . 22. Le Crom 117 e nota 21. 23. Cartas, Carta 20, BAC, op.cit., p. 99. 24. Perouas, 10. 25. Grandet, p. 18, apud Pio Suarez e Lu ís Sa laún , EI Amor de la Sabiduria Eterna, lntroducción, p. 118. 26. Cfr. Perou as, p. 11. 27. Pe. Henri Hu ré, apud Pio Suarez e Luís Sa laún, EI Amor de la Sabiduria Eterna, lntroducción, BAC, op. cit. p.117. 28. M.Quemeneur, Sa int L-M Grignion de Montfort, p. 8. Apud Pio Suarez e Luís Sa laú n, EI Amor de la Sabiduria Eterna, lntroducción, p. 118. 29. Cartas, Carta 13, oútono de 1702, BAC, op. cit. p. 91. 30. Le Crom, 112. 31. Cartas , Carta 16, BAC, op.cit., p. 94. 32 . Apud Perouas, 14. 33. Le Crom, 184. 34. Coupperie des Joncheres, apud Perouas, 16. 35. Le Crom, 268. 36. Grandet, apud Crom 270. 37. Pio Suarez, Luís Salaún, EI Secreto Admirabl e dei Santisimo Rosario, lntroduccion , op. cit. p.395. 38. EI Secreto Admirable dei Santisimo Rosario, Dedicatória , BAC, op. cit. p. 397. 39. Le Crom, 285. 40. Op. cit. p. 178. 41. Pe. Besnard, apud Le Crom, 291. 42. Le Crom , 291. 43. Grandet, apud Le Crom, 292. 44. Canticos, cantico 95, in BAC, op.cit., p.714. 45. Pio Suarez e Lu ís Salaún, Carta Circular a los Amigos de la Cruz, lntroducción, BAC, op.cit., p. 209 . 46 . Besnard, apud Perouas Pio Suarez e Luís Sa laún, id. ib., p. 210. 47. ld.ib. 48. Cartas, Carta 26, BAC, op.cit., p. 104. 49. "Possu ímos o resumo deste sermão em dois belos capítu los de L'Amour de la Sagesse Eternei/e, cap. X e XI". Le crom , pp . 404-405. 50. Le Crom, 410.

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orno condi ção de vitória, sem se desprezar nem de leve as providências concretas, devemos contar essencialmente com os recursos sobrenaturais. A História demonstra que não há inimigos que vençam um país cristão que possua três devoções: ao Santíssimo Sacramento, a Nossa Senhora e ao Papa. Investigue-se bem a queda de nações aparentemente muito fervorosas em sua adesão à Igreja: alguma broca secreta as minava em uma dessas três virtudes-chave. A vitória, pois, depende de nós. Tenhamos em dia nossa consciência, estejamos tranquilos em Deus, e venceremos. *

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*

lsto explica o extraordinário relevo que damos a uma notícia apagada, que os jornais reproduziram há pouco: a canonização iminente do Bem-aventurado Lu ís Maria Grignion de Montfort. A notícia nada significa para o comum das pessoas. Ela significa tudo, para os que conhecem o verdadeiro fundo das coisas. A Providência resolveu jogar sua bomba atômica contra os adversários da Igreja. Perto desta bomba, as convulsões de Hiroshima e Nagasaki não passam de inocentes tremedei ras. Há dois sécu los que está pronta a bomba atômica do Catolicismo. Quando ela explodir de fato , compreenderse-á toda a plenitude de sentido da palavra da Escritura: "Non est qui · se abscondat a colore ejus " [Não há quem possa subtrair-se a seu calor]. Esta bomba se chama com um nome muito doce. É que as bombas

Grignion de Montfort PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

da Igreja são bombas de Mãe. Chama-se O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Livrin ho de pouco mais de 100 páginas. Nele, cada palavra, cada letra é um tesouro. Este o livro dos tempos novos que hão de vir. *

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Nosso artigo já está por demais longo, para que demos um resumo biográfico da extraordinária vida desse Bem-aventurado. Não sei de nenhuma, que seja mais empolgante e mais edificante. O que em nosso assunto é essencial, em poucas palavras se diz. O Beato Grignion de Montfort expõe em sua obra no que consiste a perfeita devoção dos fiéis a Nossa Senhora, a escravidão de amor dos verdadeiros cató licos à Rainha do Céu. Ele nos mostra o papel fundamental da Mãe de Deus no Corpo Místico de Cristo e na vida espiritual de cada cristão . le nos ensina a viver nos a vida espiritual em consonância com essas verdades. E nos inicia cm um processo tão ublimc, tão doce, tão abso lutamente marav ilhoso e perfeito, de no unirm o a Maria Santíssima, que nada há na literatura cristã de todo os ·éculos, que o exceda neste ponto. lista devoção, diz Grignion

de Montfort, unindo ~ mundo a Nossa Senhora, uni-lo-á a Deus. No dia em que os homens conhecerem, apreciarem, viverem essa devoção, nesse dia Nossa Senhora reinará em todos os corações, e a face da Terra será renovada. De que forma? Grignion de Montfort esclarece que seu li vro suscitaria mil oposições, seria caluni ado, escondido, negado; que sua doÚtrina seria difamada, ocultada, perseguida; que ela suscitaria automaticamente uma antipatia profunda nos que não têm o espírito da lgreja. Mas que um dia viria, em que os homens por fim compreenderiam sua obra . Nesse dia, escolhido por Deus, a restauração do Reino de Cristo estaria assegurada . Durante sécu los, a canonização do Beato Grignion vem caminhando. Por fim , ela chegou a seu

termo. É abso lu tamente impossíve l que esse fato não tenha um nexo pt-cifundo com a dilatação da Verdadeira Devoção no mundo. E, nós o repetimos, é essa Verdadeira Devoção a bomba atôm ica que, não para matar mas para ressuscitar, Deus pôs nas mãos da Igreja em previsão das amarguras deste sécu lo. Pois bem, nosso otimismo é este: confi amos imensamente mais na bomba atôm ica de Grignion de Montfort, e em seu poder, do que nós receamos da ação devastadora de todas as forças humanas. "Legionário", 21-10-1945

Estatueta de São Luís escrevendo o Tratado da Verdadeira Devoção

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INFORMATIVO RURAL "Exército do Stédile" (1)

CPI investiga terra indígena em Roraima

- Barbaridade, ódio e impunidade Atacada pelo MST, uma fazenda em Marabá (PA) teve todos os seus animais mortos barbaramente, incluindo as fêmeas que estavam em gestação. Fotos publicadas por Rodrigo Tavares Alves já receberam milhares de compartilhamentos e foram "curtidas" nas redes sociais. Para as fotos, click no link abaixo. Aqui o texto da postagem: "Boa noite pessoa/. Essas fotos foram tiradas na Fazenda Cedro, na região de Marabá, invadida pelo movimento MST. Os animais de alto valor genético, as vacas estavam prenhes, um verdadeiro massacre! E agora eu gostaria de saber cadê as autoridades. Será que vão tomar alguma atitude ou o PT vai abafar tudo como sempre? Compartilhem ao máximo possível até chegar a alguém que possa fazer alguma coisa ".

btl.p://www.radioclubecidadefm com.br/2015/12/fazenda-atacada-pelo-mst-tem-todos-os btm!?utm source-ctlvr.it&utm medium=facebook

l l l l l l li l l l l l l l l li li l l l 111111111 111111 111 11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111 1 li li li l l 111111111111111111111111111111 11 111111111111 1111 1111111 111 1111 1 "Exército do Stédile" (li) - MST invade viveiro de pinus Mais uma ação criminosa, desta vez com o envolvimento de cinco mil mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra , destruiu aproximadamente 1,2 milhão de mudas de pinus de um viveiro do Projeto Quatro, da Araupel, em Quedas do Iguaçu , no sudoeste do Paraná. A invasão aconteceu na madrugada do dia 8 de março p.p., numa ação relâmpago que causou um prejuízo estimado em R$ 5 milhões. Desde julho de 2014, quando a fazenda de reflorestamento foi ocupada por centenas de invasores, o clima é tenso na região e a titularidade da área vem sendo disputada na Justiça. "Em março, a empresa obteve duas vitórias no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRT4), o que alterou os ânimos do MST", avalia a empresa. "Há mais de um ano a Araupel tem a seu favor um mandado de reintegração de posse e aguarda o cumprimento por parte do governo do estado". Neste período, a Araupel calcula perdas de mais de R$ 35 milhões com as invasões. No site oficial do MST, o grupo "justifica " a ação para denunciar o que eles consideram "modelo destrutivo de agronegócio". O episódio, mais uma vez, foi amplamente repudiado. E constituiu pauta extraord inária de um evento do setor florestal realizado na tarde

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desta quarta-fe ira na Federa ção das Indústrias do Paraná . O G7 - grupo que reúne as principais entidades representativas do setor produtivo paranaense - deve divulgar uma nota de repúdio, exigindo que o governo determine o cumprimento da ordem judicial para que os invasores, ditos sem-terra, deixem a área. A Associação Brasileira dos Produtores de Mudas Florestais também divulgou nota contra a ação. "Não podemos, em hipótese alguma, permanecer calados diante de tais atrocidades ", ressaltou o presidente da entidade, Ricardo Vilela. Nas redes sociais, a página "Sou a Favor da Araupel" recebeu numerosas manifestações de apoio. Convidamos os leitores a manifestarem aprovação à Araupel no site de " Painel Florestal": http://www.pa inelfloresta l .com .br

Agropecuária: o maior saldo comercial da história, apesar do governo O Brasil obteve em 2016 o maior saldo comercial para um mês de fevereiro desde 1989, quando se iniciou a série histórica , segundo divulgou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O País obteve um superávit de US$ 3,04 bilhões na ba lança comercial do mês. Somando-se ao resultado de janeiro, o Brasil já acumu la, em 2016, um

saldo de US$ 3,97 bilhões com seu comé rcio exterior, o melhor resultado para um primeiro bimestre desde 2007. O recorde no saldo comercial do mês de fevereiro foi resu ltado do grande avanço nas exporta ções do País, e pela queda ainda maior nas importações. Nesse mês, o Brasil vendeu ao exterior US$ 13,35 bilhões, valor 10,4% maior em comparação com o mesmo mês de 2015. Ao mesmo tempo, importou US$ 10,31 bilhões, 31,0% a menos que no segundo mês do ano passado. Devido a essa queda mais acentuada nas importa ções, a corrente de comércio de fevereiro somo u US$ 23,65 bilhões, cifra 12,5% inferior à do mesmo mês do ano passado. Segund o a Confederação da Agricultura e Pecuá ria do Brasi/-CNA, a agropecu ária foi indispensável para esse resultado . Os 15 principais produtos do setor trouxe ram ao País US$ 5.41 bilhões no m " , 40,6% do tota l exportado e 53,4~ ma is que o valor das vendas extern as desses mesmo prod utos em fevereiro do ano passa do. Além dos c rnpeões de exportações, como o milho (US$ 89 2 mil hões) e a soja em grãos (US$ 715 milhões), é inter nte notar o crescimento da cad eia do açúcar e do L nol.

A criação de uma área indígena que destrói as cidades de Pacaraima e Uiramutã , em Roraima , pode isolar a fronteira norte do Brasil , naquela unidade da Federação. A propósito, o deputado federal Valdir Colatto quer ouvir indígenas, Exército e Ministério da Defesa na CPI de FUNAI. Sete de seus requ erimentos foram aprovados pela CPI que investiga as ações da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Os requerim entos solicitam documentos e informações consolidadas aos ministros da Defesa ; do Planejamento, Orça mento e Gestão; da Justiça e da Casa Civil, bem como do Reitor da Universidade de Brasília. Um dos pedidos solicita ainda que a CPI ouça lideranças indígenas. O deputado Colatto, que é sub-relator da CPI, evidenciou ·a importância do requerimento remetido ao Ministério da Defesa . "Que remos saber qual é o posicionamento do Ministério da Defesa quanto à criação da Terra Indígena no município de Pacaraima tendo em vista sua origem de natureza militar, a partir da instalação do 3° Pelotão Especial de Fronteira, na década de 1970", justificou. Para o parlamentar, a criação de uma terra indígena naquele município reforça a percepção de que está em andamento um processo para unir a Terra Indígena (TI) Raposa/ Serra do Sol à reserva lanomâmi, isolando por completo a fronteira norte do Brasil em Roraima. Col atto requereu ainda a presença dos líderes indígenas Álvaro Tukano, da etnia Tukanos, da região de São Gabriel da Cachoeira/ AM, e Almir Suruí, · da etnia Suruís, da TI Sete de Setembro, em Cocal/ RN, e ainda da tenente do Exército Brasileiro Sílvia Nobre Lopes, servindo no Hospital Central do Exército no Rio de Janeiro. "Queremos ouvir os citados, pois os mesmos são oriundos de três regiões diversas da Amazônia e têm revelado excepcional liderança e independência de ação ao longo de suas trajetórias de vida ", justificou o deputado C9latto. A data das audiências será marcada pela presidência da CPI. catolicismo@terra .com.br / ABBTL 2016

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PÁGINA MARIANA

Nossa Senhora do Bom Sucesso Bodas de Prata da Coroação Canônica de sua Imagem

••••• CEL. CARLOS A. E. HOFMEISTER POLI

splendorosas, sim, rea lmente ~splendorosas foram as comemorações de Nossa Senhora do 80111 Sucesso, Abadessa do Rea l Mosteiro das Concepcionistas Franciscanas de Quito (Equador), no dia a Ela consagrado, 2 de fevereiro, quando se celebraram as Bodas de Prata da Coroação Canônica da fmagem, por Decreto Pontifício. As comemorações iniciaram-se com o "Rosário da Aurora", procissão rea li zada às 5 horas da manhã pelas ruas do centro históri co de Quito, conduzindo neste ano a própria Imagem Milagrosa (habitualmente é levada uma miniatura do sécul o XVII), cercada de honras militares. Em seguida, o Comandante do ExÚcito outorgou a Nossa Senhora do Bom Sucesso o Bastão de General. Convém previamente foca lizar que Nossa Senhora do Bom Sucesso foi du ra nte muitas décadas objeto de devoção especial do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, em cuja Imagem e no "admiráve l Mosteiro das Concepcionistas de Quito" ele vi a um nexo com a sua vocação contra-revolucionária e com a obra que fund ara no Bras il e in pi rara em mais de 20 paíse : a TFPs (Tradição, Famíli a e Propriedade). No início dos anos 70, o pró-

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prio Dr. Plínio incumbiu o Dr. Lui z Antoni o Frage lli , recém-chegado ao Equador, de faze r as primeiras pesquisas sobre Nossa Senhora do Bom Sucesso. Vimos nos empenhando na promoção dessa devoção, orga ni za ndo

e diri gindo, a pedido da Superiora do Mosteiro, vári as iniciativas, em particul ar a do " Rosário da Aurora". Cump re ressa ltar que tais atividades, ao par dos grandes esforços que ex igem de nós, têm sido ocas ião de graças a sinaladas, e co rrespondem a um

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compromisso fe ito por Dr. Plinio em 1979 à então Superiora do Mosteiro, Madre Rosário, quando lhe di sse em ca rta que ela poderi a contar sempre com seus di scípulos, especialmente nos traslados da Sagrada Imagem. Assim, ao tra nsmitir ao "Grupo" (modo simplificado de se referir à nossa fa míli a de almas) esse seu compromisso, Dr. Plínio uso u as seguintes palav ras: "Façam questão de vida e de morte de se desincumbirem bem disso [. ..}, fàço disso uma questão de honra para o 'Grupo ' do mundo inteiro, não só para o Equador" (Reuni ão em 13-7- 1979). Um fato interessa nte e signifi cati vo: di as antes das comemorações, o General Ca rlos Obando, Comandante do Exército do Equador, conhecera pessoa lmente a lmagem de Nossa Senhora do 80111 Sucesso. lsso se deveu a uma concessão especial da Superi ora, Madre lnés Ma ría dei Sagrario, pois a Imagem permanece habi tualmente no Coro alto, na clausura do Mosteiro. Não ti ve ocasião de conversa r com o Gen. Ca rl os Obando sobre o que se passou com ele ao conhecer Nossa Senhora do Bom Sucesso, uma de cuj a características é a de deslumbrar e cativa r os fi éis que a contempl am: régia, materna, paradi gma

perfe ito e insuperável de beleza. Mas posso conj eturar algo a respeito: régia, materna, belíssima.. . circundam outras altas rea lidades da Mãe de Deus. Por exemplo, a superioridade, pois Ela é o pináculo da Cri ação. A propósito de superi oridade, reporto-me a uma consideração de Dr. Plínio: "Tudo que me supera, (toda superioridade, portanto) me eleva, me explica, me completa". Por isso - bem ao arrepio e em completo co nfronto com o orgulho comunista, laicista, ateu, iguali tá rio, miserabilista, levado até ao ódi o - o superi or, a superioridade, tudo aquilo que o supera, constitui para o homem reto gra nde benefício. Portanto, é através das superi oridades recebidas com gratidão e amor que o homem pode chega r a co nhecer e amar a suprema e infi ni ta superi ori dade que é Deus, e ó ass im seu ato de adoração terá consistência. Quando temo diante dos olhos uma supcri ori lade de ra inha que tudo pode, e que também a melhor de toda as mãe e Mãe de cada um de nós, p r mai tíb ios, fracos e pecadores que sejamos, o que mais importa é Ela se r Mãe, e nós fil ho ·. Dr. Plínio ass ina lava que na ordem do universo, nunca uma ra inha é mais minha do que qua ndo é mãe. E toda 111 1 -, por mais modesta que seja, na 111 ·dida cm que é esposa e mãe é rainha.

Alemanha, do Bras il, da Colômbi a, dos Estados Unidos, da França, da [ndia e, corno não poderia deixa r de ser, também do Equador, integrantes estes da equipe de preparação e co ndução do " Rosá rio da Aurora" (foto ao lado). Após percorrer solenemente a nave da Igreja, a Sagrad a lmagem foi posta co m suma reverência sobre um veícul o mili ta r de combate - um T-Iummer - decorado com flores e tecidos azul e bra nco. A 50 metros, já na "Plaza Grande", em frente ao Palác io Pres idencial, uma Guard a de Honra do ExérDonde o sentimento de pieda- cito esperava Nossa Senhor . após de, que muitas vezes se explicita, de doi s clarin s executa rem os respectiquem contempl a Nossa Senhora do vos toques, a Guarda de Honra e toBom Sucesso: "Minha Rainha, mi- dos os mili ta res manejam com ga rbo nha Mãe ... Minha Mãe, minha Rai- suas armas, espadas e lanças, presnha! Sou vosso filh o, vosso súdito, tando o "Apresentar Armas!". Em quero Vos pertencer inteira mente". posição de continência e co m piedosa Ass im, no di a 2 de fevereiro emoção, todos ouve m o Hino Nac iodeste ano, quando às 3:5 0 da madru- nal do Equador. gada as portas da igreja do Mosteiro A Sagrada Image m flutu ava se abri ram de par em par e um corpo triunfa nte nas ruas de Quito, a mais de cadetes e de outros militares exí- de três metros de altura, com mamiamente comandados adentra ram jestade indizíve l e bondade ta l, que com passos cadenciados e solenes aqueles milhares de fi éis se senti am, para ocupar seus lugares, lembrei-me todos e cada um, dentro do Coração com emoção: "Santo, Santo, S.a nto, é da Santíssima Virgem, do qual não o Senhor Deus dos Exércitos!". Era queri am se apartar. a nobreza própria à condi ção militar Enquanto eu tinha a honra de levada ao seu mais alto signifi cado, a acompanhar a Sagrada Imagem no fo rça das arm as prestand o legítimo e /-fummer, .a sacralidade do que vi a me devido tributo à verdadeira Religião. lembrou considerações de Dr. Plíni o: A igreja do Mosteiro era a mes- é real a grande e execrável cri se moral ma, os obj etos, os mesmos; porém, do mundo de hoje, que atin giu até o algo que não sei enunciar - di áfano, que há de mais sagrado, o Corpo Mísséri o, afáve l, austero, piedoso, reve- ti co de Cristo, a Santa e ]mortal Igreja rente, respeitoso, fi li al, confi ante Católica Apostólica e Romana; é real parecia presente e marcava o ambi en- o grande poder do demôni o em sedute, envo lvendo suave e solenemente zir as almas; mas também é verdade os mili tares que lá estava m, os ec les i- que Nossa Senhora está aqui com as ásticos e os fi éis que chegavam para suas legiões de anjos, que Ela envi ará a procissão. oportunamente à Terra para socorreÀs 5 horas da manhã sa iu do rem os que se puserem sob o seu manpresbitério a Cruz Processional, se- to real. Compactadas pelo excess ivo gui da por elementos do clero presennúmero, mais de 20 mil pessoas tes. Ergueu-se então majestosa mente eclesiá ticos, autoridades civis e mium gra nde andor, carregado a omlitares, bem como o público em geral bros por 12 devotos provenientes da - cantava m e rezava m em uníssono. catolicismo@terra.com.br / A 13 Rl L 20 16

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A Santíssima Virgem do Bom Sucesso _Nossa _Senhora do Bom Sucesso apareceu em 1610 a Madre Mariana de Jesus Torres [quadro a~a~o], fundador~ e_~badessa do Real Mosteiro da Imaculada Conceição de Quito, dando a conhecer trag1cas e extraord111anas revelações sobre os nossos dias.* A fim de perenizar essa aparição, a Santíssima Virgem encarregou a Madre Mariana de mandar esculpir uma imagem que A representasse tal como Ela estava sendo vista no momento, para ser venerada de , modo visível como perpétua Abadessa daquele Mosteiro.

Que impressões o conjunto me causava? Esses são filhos da Santíssima Virgem, os quais nossa Rainha e nossa Mãe terá sempre corno propriedade sua; todos estavam nirnbados por algo de angé lico, de aspirantes à Corte celestial, com os olhos fixos em sua Rainha: andavam, caminhavam, mais parecendo flutuar que tocar no chão. Eram estes, a meu ver, os imponderáveis que pairavam no ambiente. De regresso da procis ão, encontrei o motorista do Hummer. Bom homem, de seus 50 anos, respe itável e respeitador. Estava sentado num banco, aguardando as religiosas servirem um delicioso chocolate com bolos para os militares (delicadezas que só a vida religiosa consegue imaginar). Olhava ele para um ponto indefinido, indicando estar refletindo, refletindo, refl etindo ... Cumprimentou-me com pequeno aceno de cabeça cordial, e também como quem insinua, "Cel. Poli, deixe-me pensar, estou maravilhado ... " Às I0:30h, após o sermão ela Missa celebrada pelo Núncio Apostólico, Dom Giacorno Ottonello Pastorino, o Gen . Carlos Obando, Comandante do Exército do Equador - presentes mais três generais e diversos coronéis - entregou a Nossa

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Senhora através do Núncio o bastão de comando ele General do Exército, que o colocou na mão direita da Imagem; foi também entregue a Nossa Senhora uma espada (foto acima). Em di scurso muito adequado à ocasião, o Gen. Carlos Obando di sse: "Eu, enquanto CoÍnandante do Exército do Equador, coloco sob o Manto de Nossa Senhora do Bom Sucesso todos os integrantes do Exército. " E acrescentou: ''Enquanto Comandante do Exército do Equado1~ coloco sob o Manto de Nossa Senhora do Bom Sucesso todos os escalões intermediários de comando do Exército, 1i ara que decidam sempre com retidão; agradeço ao S1'. Núncio, Dom Giacorno Ottonello Pastorino, ao & Arcebispo Castrense, Dom René Coba Galarza, à Madre lnés e às Monjas deste Mosteiro que me_proporcionaram conhecer a devoção a Nossa Senhora do Bom Sucesso; agradeço também à Tradição, Família e Propriedade por isso. " Finalmente, parece-me pi edoso considerar que, ao conceder tantas graças no dia 2 de fevereiro passado, uma tal Rainha e uma tal Mãe não pos a deixar de ter de ígni os especiais sobre os filho s que Ela reuniu e a todos os que a eles se queiram jun-

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tar: que Ela nos faça cada vez mais católicos, apostólicos e romanos, filhos extremados da única e verdadeira Igreja; que abominemos o mundo laico e amoral, igualitário e gnóstico, blasfemo e satanizado de nossos dia ; que nos dê horror ao pecado mortal e nos leve a confessá-lo tão logo tenhamos tido a infelicidade de o cometer; que nos dê o bom sucesso, o supremo bom sucesso: nossa sa lvação eterna. Nossa Senhora do Bom Sucesso revelou a Madre Mariana ele Jesus Torres um castigo espantoso através cio qual Deus punirá e purificará a Terra: "Ha verá um momento em que tudo parecerá irremediavelmente perdido e paralisado. Terá chegado então a minha hora, em que de uma maneira assombrosa destronarei o soberbo satanás, colocando-o debaixo dos meus p és e encadeando-o no abismo il1fernal, deixando por.fim livres a igreja e a Pátria dessa cruel tirania " (ver quadro ao lado). "Eu sou poderosa para aplacar a Justiça Divina e alcançar piedade e perdão para toda alma pecadora que a Mim recorrer com o coração contrito, porque sou a Mãe de Misericórdia e há em Mim bondade e amor ". Nossa Senhora do Bom Sucesso, rogai por nós! ❖

Diante da surpresa de Madre Mariana sobre como algo de tão belo poderia ser materializado, Nossa Senhora indicou que um devoto escultor, Francisco dei Castilho, se desincumbi:ria da tarefa, .acrescentando que tudo se arranjaria posteriormente. · Francisco se pôs a trabalhar com afinco ao longo dos meses, mas, ao chegar a hora de esculpir o rosto, pediu licença às religiosas para fazer um retiro, pois queria pedir inspiração ao Céu. Nesse ínterim, no dia 16 de janeiro de 1611 , enquanto Madre Mariana rezava no Coro - onde os trabalhos estavam sendo feitos - , apareceram os Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael , que se encarregaram de concluí-la, conferindo-lhe uma beleza impossível de ser realizada por qualquer mão humana.

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* Para obter mais informações sobre Nossa Senhora do Bom Sucesso e Madre Mariana de Jesus Torres, ver o excelente livro do Pe. Manuel de Sousa Pereira, Vida Admirável da Reverendíssima .Madre Mariana de Jesus Torres, que pode ser adquirido por meio do site www.livraria etrus.com.br ~ ~ ~'-"-"e.e.='"'-"=-""""-'"""-"""-"'-!.


São Macário, o Milagroso, Abade

+ Ásia Menor, 830. Abade de Pelecete, nas proximidades de Constantinopla, famoso pelos seus milagres. Exilado duas vezes pelos imperadores bizantinos contrários ao culto das imagens, faleceu no segundo exílio, devido aos sofrimentos que lhe foram infligidos. Primeira Sexta-feira do mês

São Francisco de Paula, Confessor

Eucaristia, a quem Deus comunicou o desejo de possuir uma festa dedicada ao Corpo de Cristo. Perseguida em sua própria comunidade, teve que se desterrar seis vezes até sua morte.

São Marcelino de Cartago, Mártir

+ África, 413. Representante do imperador Honório na África para fazer cessar a agitação produzida pelos hereges donatistas. Ao lhes propor o retorno à verdadeira fé, eles o mandaram assassinar.

+ Plessis, 1508. Italiano, fundou a Ordem dos Mínimos. Luís XI obteve do Papa que o enviasse à França, a fim de preparar o monarca para a morte. Primeiro Sábado do mês

São Ricardo de Chichester, Bispo

+ Inglaterra, 1253. Chanceler da Universidade de Oxford, conselheiro de São Edmundo Rich e São Bonifácio, arcebispos de Cantuária, teve de lutar contra a prepotência do rei Henrique Ili.

Santo Isidoro de Sevilha, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

+ Espanha, 636. Sucedeu a seu irmão São Leandro na Sé de Sevilha. A ele se devem a criação de sem inários, a unificação da litu rgia, a regulamentação da vida monástica e outras importantes obras da disciplina eclesiástica.

Santo Henrique Walpole, Mártir

+ Inglaterra, 1595. Após ter aderido ao cisma de Henrique VIII , reconc iliou-se com a Igreja. Ordenado em Roma no Colégio dos Ingleses, voltou como jesuíta à Inglaterra, onde socorreu os católicos perseguidos e recebeu a pa lma do martírio.

São Dionísio, Bispo

+ Corinto, 180. "Devido à ciência e à graça de que foi dotado, [. ..] ilustrou o povo não somente da sua cidade e província, mas [ ... ] também bispos" (Do Martiro lógio).

Santa Cacilda, Virgem

+ Burgos (Espanha), 1007. Filha do rei mouro de Toledo, ela se converteu ao beber a água milagrosa do poço de São Vicente:

São Terêncio e Companheiros, Mártires

riram morrer do que oferecer sacrifícios aos ídolos.

Santo Estanislau, Bispo e Mártir

+ Cracóvia, 1097. Grande defensor da mora l catól ica e da santidade do matrimônio, foi assassinado a mando do rei Boleslau li por increpar sua vida desregrada.

São Júlio 1, Papa

+ 352. Defendeu o mistério da Santíssima Trindade contra os hereges e reabilitou Santo Atanásio no Concíl io de Sárdica, proclamando a primazia da Sé episcopa l de Roma. Comemora-se também: Santa Teresa de Jesus de los Andes, Chile, 1920.

Santo Hermenegildo, Mártir + Sevilha, 586. Filho do Rei

Leovigildo da Espanha visigótica, ariano, foi convertido à ortodoxia por sua esposa lndegunda. Deserdado pelo pai por não querer abjurar a fé católica, morreu decapitado. Três anos após seu martírio, toda a nação visigótica retornou à fé católica .

Santa Lydwina de Schiedam, Virgem

+ Holanda, 1433. Como vítima expiatória, sofreu durante mais de 20 anos de quase todas as moléstias imagináveis, em meio 'à extrema miséria. Tinha constantes visões de Nosso Senhor, do Paraíso, do Purgatório e do Inferno.

Santa Juliana de Cornlllon, Virgem

+ Cartago, 250. Na perse-

Santas Balissa e Anastácia, Mártires

+ França, 1258. Religiosa agostin iana grande devota da

guição do im perador romano Décio, estes 40 cristãos prefe-

+ Roma , 66. Il ustres matronas romanas discípulas de São

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CA.TOL LCl MO / www.catolicismo.com .br

Pedro e São Paulo, sofreram cruel martírio por terem recolhido as relíquias do Príncipe dos Apóstolos para dar-lhes sepultura.

São Benedito José Labre, Confessor

+ Rom a, 1783. Mendigo voluntário por amor a Cristo, peregrinava entre os mais célebres santuários da Europa, sofrendo humilhações e maus tratos. Ao falecer em Roma, as crianças espontaneamente saíra m gritando pelas ruas: "Faleceu o santo ".

Santos Elias e Isidoro, Mártires

+ Córdoba, 856. Sacerdote o primeiro e monge o segu ndo, "foram condenados à morte ao confessarem sua fé cristã diante do Islamismo" (do Martirológio).

São Teótimo, Bispo e Confessor

São Gregório de Elvira, Bispo e Confessor

+ Ásia Menor, séc. V. "Nascido pagão, tornou-se especia lmente célebre por seus conhecimentos de filosofia grega, dando realce a esta ciência por uma rigorosa prática do cristianismo. Mais tarde tornou-se bispo de Cítia" (do Martirológio).

+ Espanha, séc. IV. Famoso pelo zelo apostólico, ciência em inente, santidade e inflexibil idade de princípios, nunca quis pactuar com os hereges arianos, cujos artifícios e invectivas desvendava e desarmava, não recuando nem sequer diante das ameaças do Imperador ariano.

São Simão Barsabeu, Bispo e Mártir

+ Selêucia, 341. Aprisionado e torturado por ter-se recusado a adorar o sol durante a perseguição de Sapor li, da Pérsia , foi obrigado a assistir à decapitação de uma centena de cristãos antes de ser também martirizado. Comemora-se também:

+ Egito, 86. Discípulo de São Pedro e apóstolo do Egito, onde foi martirizado. No sécu lo XI seus sagrados restos mortais foram trasladados para Veneza.

Santo Anselmo, Doutor da Igreja.

Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano Santo Estêvão de Perm, Bispo e Confessor

São Leônidas, Mártir

São Laseriano, Bispo e Confessor

+ Alexandria, 204. Retórico,

+ Irlanda, 639. Monge, foi ordenado por São Gregório Magno em Roma. Vi ajou para a Irlanda, onde apoiou a litu rgia romana e sua data para a fixação da Páscoa. Consagrado bispo e legado papal na Irlanda, consolidou essas reformas. '

filósofo e professor de renome em Alexandria, foi pai do célebre Orígenes. Este tinha 17 anos quando León idas foi preso e o incentivou a enfrentar o martírio. Uma rica cristã socorreu depois a viúva e os sete filhos do mártir, cujos bens haviam sido confiscados.

Santa Ema, Viúva

São Geraldo de Toul, Bispo e Confessor

+ Alemanha , 1045. Fi lha do rei dos saxões que, depois de 32 campanhas, fo i vencido por Ca rl os Magno e se converteu . Ema casou-se com o Conde de Ludgero. Enviuvando ai nda moça, ded icou-se à educação do filho ún ico e a obras de misericórdia, falecendo num mosteiro por ela f undado em Bremen.

São Marcos Evangelista, Bispo e Mártir

+ França, 994. Cônego da Catedral de Colônia nomeado Bi po d Toul , diocese que gov ' mou clurnnte 31 anos. Not, vul p, ogador, transformou u.i '"l<• 11piscopa l num centro l! • •,.i lH ,, trazendo monges da h 1 111 cl I e• da Grécia. Fundou nio: .!1•hns, edificou igrejas e Ulll lio• p1tol.

+ Moscou, 1396. Monge russo, Santo Estevão foi missio-

nário nos montes Urais e depois bispo de Perm. Devido à sua oposição às heresias dos hussitas loca is, teve que fugir para Moscou, onde faleceu .

Santo Antimus, Bispo e .Mártir

+ Nicomédia, 303. Bispo que "por sua confissão de Cristo, obteve um glorioso martírio por decapitação. Quase todos os seus fiéis o seguiram, alguns dos quais o juiz mandou que fossem decapitados à espada, outros qu_eimados vivos, outros colocados num navio e afogados no mar" (do Martirológio).

feminina da Ordem Dominicana, Santa Catarina trabalhou para a volta dos Papas de Avinhão a Roma, pediu a reforma do clero e a organização de uma cruzada contra os infiéis.

Santo Eutrópio de Saintes, Bispo e Mártir

+ França, 404. Romano, acompa nhou São Dionísio à França, sendo o primeiro Bispo de Saintes. ''Após ter exercido durante longo tempo o ofício de pregador, foi decapitado em testemunho a Cristo, morrendo em triunfo " (do Martirológio). Comemora-se também: São Pio V, Papa e Confessor

São Luís Maria Grignion de Montfort, Confessor

(antes a 5 de maio).

[Vide matéria à p. 26]

Nota:

Santa Catarina de Siena, Virgem

+ Itália, 1380. A maior glória

lntençõe para a Santa

Mi ssa

Os santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui seus nomes apenas enu nciados, sem nota biográfica.

em abr il

Será celebra da pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções:

• Em memória d_a descoberta do Brasil em 22 de abril de 1500, rogando a Deus, pela 1ntercessao de nossa Rainha e Padroeira, para que a Terra de Santa Cruz corresponda plen~mente_à sua grandiosa vocação no concerto das nações. Na mesma Missa sera tambem inserida uma intenção em desagravo por tantos pecados e _ofensas cometidos em nossa Pátria contra os Sagrados Corações de Jesus e Ma na, e para que os leitores de Catolicismo sejam forta lecidos na defesa da verd adeira Religião.

lntcn çõcs para a Santa Missa crn maio • Em comemoração do 99º aniversário da 1 ª aparição de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorzinhos, no dia 13 de maio de 1917. Pedindo pelo triunfo do Imacu lado Coração de Maria em todo o mundo, especialmente em nossa Pátria, que atravessa um~ cnse sem precedentes. Para que o povo brasileiro não esmoreça nas boas reaçoes em defesa de um Brasi l autenticamente cristão.

catolicismo@terra .com.br / ABRIL 2016

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A

COLOMBIA

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''Acordo de Paz'' com o narcoterrorismo?

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OSCARVIDAL

__..

Agora livre, o co ron el viria ao Brasil para pronunciar sua esperada conferência, organizada pelo instituto Plinio Corrêa de Oliveira no Club Homs da capital pauli sta. Entretanto, co mo algumas figuras do bloco da esquerda co lombiana não ocu ltam seu desejo de mandar o heroico militar de vo lta à pri ão, ac usa ndo-o de ter cometido excessos na de temida operação de retomada do Palác io da Ju tiça, ele preferiu não sair dos Estado Unidos, ond e se encontra. Tanto mais qu anto e tranhas prisões vêm sendo rea li zada na olômb ia, inclusive a de um

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-.,,,,, -,...-

stava marcada para o dia 3 de março uma conferência do Coronel Luís Alfonso Plazas Vega em São Paulo. Mas por motivos graves, relacionados com a presente situação de seu país, infelizmente ele não pôde comparecer. Herói da resistência ao comunismo e ao narcoterrorismo na Colômbia, o valoroso militar faria uma exposição sobre a retomada do Palácio de Justiça em Bogotá, invadido em 1985 pelo movimento guerri lheiro M-19 com o objetivo de dar um go lpe de Estado, derrubar o Presidente da República e implantar um regime comunista. Na ocasião, os guerri lheiros executaram a sangue frio magistrados, funcionários e pessoas do público que se encontravam no local. Em meio àquela tragédia, o Cel. Plazas Vega recebeu ordem de reconquistar o Palácio. Ele o adentrou com tanques, e ao perceberem os terroristas a eficác ia da atuação militar, atearam fogo ao edifício, deixando um saldo de 94 mortos e reduzindo a cinzas todos os processos judiciais em tramitação ... Em síntese, a operação foi um sucesso: retomou-se o Palácio, 260 reféns foram libertados e os terroristas, mortos. O M-19 depoi s se dissolveu, vários de seus líderes passaram a ocupar altos cargos públicos, enquanto os militares que os combateram - e qu e ainda combatem as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), organização que substituiu o M-19 - estão hoje perseguidos e injustamente condenados à prisão.

E

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f

l.

CATOLICISMO / www.catolicismo.corn.br

Um deles é o Cel. Plazas. F uriosa por essa derrota do co munismo, a esquerda colombiana - em moldes semelhantes à "Comissão da Verdade" criada no Brasil - o acusou de ser o responsável pelo desaparecimento de algun s terroristas, obtendo, com base em fa lsos testemunhos, sua condenação a 30 anos de reclusão. Só recentemente, após ter passado oito anos e meio na prisão, a Suprema Co rte da Colômbia reconheceu sua inocência e o libertou.

irmão do ex-pres idente Álvaro Uri be, tornand o a im desaconselháve l a vi agem do C' ·I. Pla zas Vega a nosso País. 1~m vi ta dessa conjuntu ra, o el. Pl azas foi ubstitu íd o pelo Sr. E ugeni o Trujillo Vil! •gas, diretor da Sociedad olombiana '/h ulición y Acción, talentoso orador e gra nd l onhecedor da grave situação pela qual atrn v ·ssa sua pátri a. Tradición y Acción lan1,· 011 n.·ccntemente corajoso manifesto sobre o psl·11do Acordo de Paz que o atual governo catolicismo@terra. com.br /AB RIL 20 16

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No Reino Unido, conferência sobre o livro

Minha Vida Pública GABRIEL MONTEIRO ZEYMER

o di a 7 de fevereiro de 201 6, a Tradition Family Prop erty Association promoveu em sua sede de G las?ow (Escócia), um a conferência d. e Dr. Eduardo de Ba rros Brotero so bre o livro Minha Vida Pública - relato autobiográfi ·o de Plinio Corrêa de Oliveira. O conferenc isata é direto r do conceituado Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, no Brasil. A prove itando sua passagem por aq uele pa ís, a TFP do Rei no Unido o co nvido u para fazer essa expos ição a seus ami gos e sim patizantes. O confe rencista não podi a ter id o mais be m esco lhido para tratar do tema, uma vez que de de muito j ovem atuou jun to a P lini o Corrêa de Olive ira, participando da fund ação da TFP bras il eira em

N

co lombiano está promovendo com os guerrilh e iros marxistas das FARC em Cuba, com o apo io do ditador Raúl Castro. A prevalecer tal "acordo" - que vem enco ntrando fo rte opos ição da opini ão pública da nação viz inha - , os .farcistas seri am ani sti ados, não seri am obri gados a se desarmar, não responderi am pelos se us inúmeros crimes cometidos, como assass inatos, sequestros, tráfi co de drogas, etc. Pe lo co ntrári o, entre diversos benefíci os, os narcoterroristas poderi am oc upar ca rgos públi cos e receber vultosas verbas governamenta is. Publicado por esta revista em sua edição de março último (pp. J9-23), o menc ionado mani fes to intitul a-se O terrorismo se

transforma: dofitndo das selvas ao coração do Poder. Arites de iniciar sua brilhante ex pos iCATOLJC I MO / www.catolicismo.com .br

ção, E ugeni o Trujill o projetou um vídeo gravado pelo Ce l. Plazas. N ele, o militar colombiano, após lamenta r sua ausênc ia e expli car a atua l situação em que se enco ntra , afirma : "Eu estava com

todo entusiasmo para ir manif estar aos senhores minhas experiências, não somente nos fatos militares de armas em ocasiões nas quais cumprimos com a tare/à de de.fender a democracia na Colômbia, como para contar-Lhes a terrível experiência de ter estado sof i-endo um cativeiro de oito anos e meio por delitos que me imputaram sem tê-los cometido". A gravação da co nco rrid a conferênc ia, bem co mo o víd eo estão à di spos ição on-line no site do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira. N a mesma gravação o leitor poderá ass istir um breve docu mentá ri o sobre a épica reconqui sta do Pa lác io de Ju sti ça (http :// ipco.org.br).

1960. O expositor re lato u candentes fatos da batalh a daque le que já mereceu o título bi ográfico de O Cruzado do Século XX, ev idenc iando como, em meio a tanta hedi ondez do mundo moderno, pode-se lu tar efi cazmente pe los idea is pe renes da Cristandade. A reuni ão desp ertou grand e in teresse, pois mui tos dos fatos narrados fo ram também v ividos pe lo pa lestrante. E m seguida, fo i servido um cocktail aos presentes e anunc iado estar no prelo a tradu ção para o in g lês da obra Minha Vida Pública. A Tradition Family Property Association atua há mais ele três décadas no Rei no Unid o. Além de grand e ·ampanh a de difu ão da Mensagem de Fátim a e outra em pro l da institui ção da famíli a, ela edita um bo letim trimes tra l, TFI Vi ~wpoint. Sua sede na • cóc ia está insta lada em tradi c io na l casa de campo na prox im idades de G lasgow, onde a entidade promove regularmente conferênc ias para simpati zantes da causa co ntra-revo luc ionária. E a partir da li envi a a todo o Rein o Uni do mailings sobre a mensage m de !•Mi ma e em defesa da in titui ção fa miliar. Fotos: Ga briel Zeymer Os interessados em aprofundar seu conhecimento sobre a obra de P líni o Corrêa de 01 1vuira poderão adquirir Minha Vida Pública no site http://www.livrariapetrus.com.br ❖ catolicismo@terra.com .br / AB HI L 20 16

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Sala de Conselho de Luís XV no castelo de ~ PLIN IO CORRÊA DE OLIVEIRA

gênero de beleza evoluiu do tempo de Luís XIV para o de Luís XV. Enquanto a nota do raffiné de Luís XIV era o imponente, na época de Luís XV o raffiné é o gracioso. Um esplêndido gracioso, mas é um valor menor que o imponente. Nesta sala do castelo de Fontainebleau* notem as formas arredondadas em tudo. Entretanto, os ângulos retos exprimem muito mais a força do que o arredondado, o qual exprime o jeito, a conciliação, o sorriso. Por outro lado, as cores se tor- afirmada. Dir-se-ia que, de algum nam mais delicadas. O ar triunfal, modo, ela é até mais refinada que que manifestavam as salas de Luís os salões de Luís XIV Dentro desse grac ioso há XIV, desapareceu. Não é uma sala para um Rei vencedor do mundo qualquer coisa de tristonho. Não - corno Luís XIV pretendia ser, está presente aque la alegria matie em certa medida fo i - , mas para nal dos ambientes de Luís XIV. É um Rei que leva uma vida gosto- uma beleza e um gracioso crepussa e, nas horas vagas, realiza uma cu lar, mas com todos os encantos do crepúscu lo. reunião de seu Conselho. Numa monarqui a com uma Desta sala não resulta a conquista do universo nem a preven- rainha regente, esta sala estaria ção da Revolução.** O ambiente é adequada - mas não para uma raiotimista, de quem não deseja ver o nha da têmpera de uma Branca de processo revolucionário se forman - · Castela. O ambiente, em todo o seu do e adensando. Considerado sob o maravilhoso, poderia servir para prisma do maravilhoso, ela o expri- lazer num palácio real. Mesmo asme com uma nota de gracioso. Nes- sim, há algo de perigoso, porque te sentido, o faz magnificamente. ficando muito tempo aqui , não se A linha da feeria está inteiramente tem vontade de passar para outros

O

salões. A sala contém qualquer coisa do anestés ico do otimismo, na linha da cançãozinha ''Tout va tre · bien, Madame la Marquise". ❖

*O

Castelo de Fontai nebleau, na França, fo i co nstru ído no séc ul o XVI pelo monarcas da dinastia de Va lo is. Quando e la se exti nguiu, passou para a dinastia dos Bourbons. Fo i ini nterrupta mente residênc ia real até a Revo lução Francesa. Napo leão I e Napoleão m também habitara m o castelo. Depois de Versa illes, Fontaineblea u é o mais importante dos castelos franceses.

** As palavras "Revo lução" e "revolucionário" são aq ui em pregadas no sentido que lhes atribui Plínio Corrêa de O li veira em seu livro Revolução e ContraRevolução, publicado primeiramente em Catolicismo, nº 100, abril/ 1959 .

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 31 de outubro de 1966. Sem revisão do autor.



EXCERTOS

SUMÁRIO

Predileção da Divina Providência pelo Brasil Plinio Corrêa de Oliveira

Considerem os grandes homens que apareceram na história colonial do Brasil: Anchieta, Nóbrega, todos os heróis da evangelização, os heróis do bandeirismo, os heróis que recuaram as fronteiras da Nação. Todos foram homens de uma estatura colossal.

Excertos de conferência de Plínio Corrêa de Oliveira, pronunciada em 27 de março de 1993. Os trechos transcritos não foram revistos pelo autor.

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CATOLICISMO

S

e formos estuda_r a hi stóri a do Bras il nas s~as ori gens ,_ 1.1~is '.·emotas, encontramos cont111uamente um amor especial da Prov 1denc1a para com nosso País. E la semp re di spensou ao Brasil grandes graças, mas pedindo uma correspondência e um élan v igoroso. A Divina Prov idênc ia deu tudo ao Brasil. Inclusive concedeu à alma bras ileira muitas formas de riqueza - uma variedade de riquezas naturais e graças que são harmônicas . M as, no centro de tudo, a Prov idência pediu ao Brasil uma co isa: "Se tu me amas, toma a minha cru z e segue-me!" Ou sej a: "Tu terás tudo, se ti veres espírito de cruz; terás espírito de cruz se ti veres espírito de sofrimento; terás espírito de sofrimento se ti veres verdadeiro amor aos princípios e aos ensinamentos da Santa I grej a Católi ca A postólica Romana. D e tal maneira que serás chamado a construi r em ti um tipo de v irtude que não te parece natu ral. Serás chamado - e é esta a tua cruz - a desenvo lver um gênero de ação que não corresponde à tua propensão. Terás que navega r no ri o dos teus problemas interi ores não como quem segue a corrente, mas como quem rema contra ela. E somente quando tiveres remado contra a corrente até chegares à nascente do rio, é que tu encontrarás as riquezas de toda ord em, sobretudo espirituais e sobrenaturais que Eu te destino." Considerem os grandes homens que apareceram na hi stória colonial do Brasil : Anchieta, N óbrega, todos os heróis da eva ngeli zação, os heró is do bandeirismo, os heróis que recuaram as fronteiras da N ação. Todos foram homens de uma estatu ra co lossa l. E o povo bras ileiro é chamado a ter uma estatura, uma energia, uma capacidade de lúta para remar dentro de si contra si, como quem afi rm a: "Eu sou um mole, mas serei um herói; sou um molusco, mas serei um gigante! Serei tudo isso não para ser um grande homem, mas para servir a N o sa en hora e a Santa I greja Católi ca, A postóli ca e Romana!" Ocorre que a predestinação do Bras il leva a uma vocação que seri a admirável se tivesse encontrado um número sufic iente de homen do porte de um D om V ita l. Se homens assim houvesse na quantidade que a Prov idência destinou para serem ass im e tivessem correspondido, o Brasil seri a outro . Seria um dos maiores países do mundo. Seri a o maior da catolicidade - que é mui to mais do que ser um dos maiores países. Entretanto, o que aconteceu? Pelo contrári o, a partir de um determinado momento, as figuras do catolicismo bras ileiro em vez de se parecerem com os profetas do Aleij adinho - com certo tipo de iconografi a do tempo co lonial, como o magnífico crucifixo de São João dei Rei e alguns outros do gênero - , passaram a tomar um outro feitio. Começaram a amolecer e a se deixar contagiar pelas molezas do Ocidente. Assim, o B rasil deu no que vemos hoj e. ❖

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

5

VERDADES ESQUECIDAS Fun estas consequ ências da admissão do divórcio

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CORRESPONDÊNCIA

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A PALAVRA DO SACERDOTE A grnça divina antes da vinda de Cristo à Terra

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A REALIDADE CONCISAMENTE

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NACIONAL As reações pró-impeachment prevaleceram

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BRASIL REAL A índole cordata do brasileiro repudia o /ulopetismo

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VARIEDADES Impugnando a tend ência mórbida ao miserabilismo

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DISCERNINDO Milagre obtido por meio de São Charbel Maklouf

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POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? Desiguald ades devem ser justas e harmônicas

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CAPA Fátima, o mundo laico/ateu e o Anjo de Portugal

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VIDAS DE SANTOS Santo Antonino, Arcebispo de Florença

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EPISÓDIOS HISTÓRICOS A Santa Liga contra o invasor mu çulmano (séc. XVII)

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SANTOS E FESTAS DO MÊS AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES A tulipa enquanto refl exo de uma obra-prima de coerência

NOSSA CAPA: Conjunto escultu ra l representando a apari ção do Anjo de Portugal aos três pastorinhos de Fátima / Foto: Fredericoviotti

Uirett»r: Pa ulo Corrêa de Bri to F ilh o Joruulislu Responsável: elson R amos Barre llo Rcgist.rado n a DRT/DF sob o n" 3.116 Atlmiuistroção: Rua Visconde de Ta unay, 363 Bo m Retiro CEl' 0ll 32-000 São P a ulo - SP Serviço ,Jc Atendimento ao Assinuntc:

(11) 3331-11,522 (ll) S36 1-6977 (11) 3331-4,790 (l 1) 2843-9487 (l l) 3333-6716 (11) 3331-5631 fax Corrcspomlêucia: Ca ixa Posta l 707 CE P 01031-970 São Pa ulo - SP Impressão: P rol Ed itora Gráfica L Lda. E -111uil: ca Lolicismo@ terra .co,,,.br

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CARTA DO DIRETOR

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

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Caro leitor, Em épocas anteriores à nossa, a Providência Divina suscitou grandes santos com a missão de alentar os homens e os preparar para o advento de grandes calamidades. Na época contemporânea, Deus destinou a sua própria Mãe para transmitir à humanidade, através dos três pastorinhos, a Mensagem de Fátima. Entretanto, já em 1916, visando prepará-los para a grande missão de di fundir tal mensagem, o Anjo de Portugal apareceu a Lúcia, Jacinta e Franci co. A matéria de capa desta edição comemora o centenário dessa aparição angélica, bem como o significado profundo das aparições da Santíssima Virgem em 1917. Com vistas a esclarecer os leitores sobre o ponto essencial de tão importante evento, convidamos nosso colaborador Antonio Augusto Borelli Machado, grande conhecedor de assuntos relacionados com as aparições de Fátima, a redigir a matéria de capa desta edição. Nossa Senhora, Mãe misericordiosa, antes do castigo previsto, pede oração e penitência - o que poderia evitar a catástrofe - e mostra aos três pastorinhos o inferno, para onde são lançadas as almas impenitentes. Ela também se refere a guerras, a nações que serão aniquiladas e a perseguições aos bons. Com a parte da humanidade que sobreviver, constituir-se-á a civilização cristã anunciada em Fátima, que deverá ser uma continuidade, em seus princípios fundamentais, da civilização cristã medieval, como esclarece o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução, editado em 1959. O a1tigo discorre ainda sobre os males do laicismo moderno, citando o Papa Leão Xlll. O Pontífice, em sua encíclicalmmortale Dei, denuncia a tendência de expulsar a Igreja Católica da sociedade, e, como consequência prática, o estabelecimento do Estado laico/ateu. Um resultado calamitoso foi a aceitação paulatina por católicos de situações radicalmente condenadas pela Moral da Igreja. O articulista também constata que muitos propagandistas de Fátima omitem um aspecto fundamental da Mensagem - o castigo - , pois, segundo eles, "assustaria a muitos! ". Contudo, a Mensagem de Nossa Senhora apresenta uma alternativa: ou o mundo moderno se converte, sendo o castigo afastado, ou não se converte, e será castigado severamente. É necessário reconhecer, porém, para além dessa alternativa, o anúncio do smgimento de uma civilização católica sobre as ruínas do mundo laico e ateu instalado em nossos dias. Tais considerações, por certo, poderão ser úteis aos caros leitores para avaliar a crise que assola a civilização contemporânea e as esperanças em re_lação ao futuro. Em Jesus e Maria,

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Os Inales terríveis que o divórcio acarreta c, c,

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m verdade, é custoso ter necessidade de dizer quantas consequências ftmestíssimas encerra em si o divórcio. Com ele as alianças matrimoniais tornam-se instáveis, o afeto mútuo enfraquece, a infidelidade recebe perniciosos incitamentos, ficam comprometidas a proteção e a educação dos filhos, proporciona-se ocasião de se dissolverem as sociedades domésticas, semeiamse no seio da família os germes da discórdia, diminui-se e abate-se a dignidade da mulher, porque corre o perigo de ser abandonada depois de ter servido às paixões do homem. E, como nada contribui mais para arruinar as familias e enfraquecer os Estados do que a corrupção dos costumes, fácil é reconhecer que o divórcio é, sobretudo, o inimigo da prosperidade das famílias e dos povos, visto que, sendo a consequência dos costumes depravados, abre a porta, como a experiência o demonstra, a uma depravação ainda mais profunda dos costumes particulares e públicos. "Todos reconhecerão que estes males serão ainda muito maiores, se refletirem que, desde o momento em que o divórcio haja sido autorizado, não haverá freios bastante fortes para mantê-lo dentro dos limites fixos que a princípio pudessem ser-lhe assinalados. "É muito grande a força do exemplo, maior ainda a das paixões; e, graças a esses estímulos, forçosamente deve suceder que, tornando-se cada dia mais geral e profundo o desejo infrene do divórcio, invada maior número de almas como uma doença que se propaga pelo contágio, ou à maneira das águas represadas que, tendo triunfado dos diques que as sustinham, irrompem por todas as paites." (Papa Leão XIII, Encíclica Arcanum Divinae Sapientiae, de 10-2-1880) . •

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CARTAS DOS LEITORES .............................................................. Consagração a Nossa Senhora Sou devota de São Luís Maria Grignion graças a uma senhora que mora na minha rua. Ela e seu esposo falaram-me desse santo (que eu ainda não conhecia). Eles disseram-me que ele tinha sido um dos maiores devotos de Maria Santíssima e do Rosário. Alguns dias depois, eles me emprestaram o livro "Tratado da Verdadeira Devoção ". Após o que eles me ensinaram a respeito da consagração, hoje sou consagrada a Nossa Senhora segundo o modo ensinado por São Luís Maria. Gostei muitíssimo do artigo sobre ele e falei para o casal amigo dos 300 anos da morte. Eles tinham esquecido dessa data importante. Logo depois, emprestei-lhes a revista e agora eles não querem mais me devolver. Então, peçolhes o favor de conseguir uma outra revista deste mês para mim.

Aborteiros de plantão

Ou seja, "voto cabresto ". Gente que só vota no PT por medo (sem fundamento algum) de perder a esmola mensal. Para mim PT não é partido político, mas máfia criminosa instalada no Poder para levar o Brasil aos pés de Fidel Castro, Nicolás Maduro, Evo Morales & Cia . É claro que o povo deseja o fim dessa sigla favorecedora

Na minha opinião, todo esse noticiário exagerado sobre

do bolivarianismo, que não representa os trabalhadores

zika, enquanto responsável por microcefa lias, é proposital para incrementar o aborto. É o "controle da natalidade" financiado pela ONU e por funda ções internacionais, que por sua vez pagam a mídia para difundir mais ainda

brasileiros, mas, sim, os explora.

o pânico. São os é;lborteiros de plantão, sempre prontos a aproveitar qualquer possibilidade de gerar pânico nas mulheres e, desse jeito, obte r o que a lei não perm ite: o aborto em todos os casos e não apenas em casos de estupro. Gosto muito desses temas de moral tratados pelo Monsenhor na revista e felicito-os por essa excelente publicação.

(M.L.S. -

SP)

Eixo de um País é a moral

tenho dito, eu não tenho muita esperança com o governo pósPt e com o impeachment, mas teremos algo menos pior que o desgoverno jararaca. Esta é símbolo do mal, como é a serpente, pronta a de modo traiçoeiro picar e injetar seu veneno no povo. Os brasileiros hão de pisar a

de estupro. Nunca li ou ouvi que o Papa Paulo VI tenha dado essa autorização. Mas a Conferência Episcopal

cabeça da serpente! Xô j araraca !

quer justificação. Um abuso inaudito dos Bispos. Aliás, se as freiras estavam autorizadas a tomar contraceptivos para não engravidarem em caso de estupro, porque essa autorização não foi tomada em rela ção a todas as mulheres em idade de engravidarem? Qual é o mal? O

que o verdadeiro povo defende. Quer saber o que é MASSA? Massa é aquilo que o PT pretende fazer dos brasileiros. Vamos reagir! Vamos impedir isso! (C.M.-MG)

Enquanto a modéstia não for colocada em prática, o mundo vai continuar a se degradar! O materialismo em

Um abuso inaudito

Espanhola deu essa autorização há uns anos atrás, o que motivou uma carta minha ao meu Bispo, Cardeal Salles, que foi de imediato respondida por Dom Estevão Bettencourt, a pedido do Cardeal, e uns tempos depois pelo próprio Cardeal. A meu ver erroneamente, sem qual-

Nas manifestações contra o PT em todas as capitais e em numerosas cidades brasileiros, vemos o que propriamente se pode chamar POVO. Pessoas que se levantam para afirmar os direitos da família. É a HONRA do Brasil

( A.R.P. -

SP)

PT da Igreja progressista Na charge ilustrativa do texto "O Brasil em histórica encruzilhada", a enfermeira está com toda a razão. Os senhores leram a entrevista do Roberto Jefferson - aquele que denunciou o "mensalão" - para "O Estado de São Paulo"? Informei-me pela internet. Ele confirma uma coisa que eu já sei há mais de 50 anos: "O PT nasceu dentro da Igreja católica progressista".

(A.T.M. -

SP)

si conduz fatalmente para o caos. Inexiste alternativa. Como prova cabal disso, até hoje nenhum país materialista-ateísta, como os comunistas, avançou, ou estão parados no tempo e espaço, em que a opressão violenta e muita miséria, atraso e morte estão juntas, e sempre em franco crescimento! Conforme disse Plínio Corrêa de Oliveira : "Nessa crise, se tomarmos em consideração que o eixo de toda a vida de um País é a moral, onde a moral católica não é praticada, mais cedo ou mais tarde o País soçobra. Vendo até que ponto a moral católica não é ensinada e se favorece a transgressão desta moral em nome de não sei que 'renovação religiosa', então podemos ter ideia de como a consistência moral do povo brasileiro está ameaçada. Tanto mais que sintomas desses, nós os observamos de norte a sul do País, do litoral até o mais interior. A crise avança por todas as partes". Como se tem sentido isso! Vemos o que sucede hoje na miserável Venezuela, outrora muito rica e prós-

estupro ou darem à luz um filho originado no estupro? Aliás, a autorização dos bispos pode até ensejar que as freiras não usassem todos os meios para não serem estupradas. Vou ser estuprada, mas daí não resulta um filho, porque tomei contraceptivo. Paciência, não vou

Estive com alguns de minha família na Av. Paulista no protesto contra esse partido que se diz dos trabalhadores e que os está levando à miséria, ou os esta ma nten-

pera, mas que optou pelo diabólico marxismo populista e hoje está sob as patas dos fantoches de Fidel Castro! O pior? É que tudo sucede às vistas de nossos altos hierárcas que deveriam estar numa cruzada nacional pela moralidade; a CNBB age em sentido contrário, apoiando

lutar, porque essa luta até pode originar a morte, vou me entregar.

do na pobreza com esmolas tipo "bolsa família ". O governo PT não propicia emprego para o trabalhador, mas dá

os caóticos e deverá em breve ficar viúva pela perda dos aliados comunistas do PT! Na realidade - a começar nas

esmola para mantê-lo pobre e dependente do governo.

homilias - deveriam admoestar o povo, ce nsurando as

(J.G.B.M. -

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RJ)

ir à zona boêmia, tanto faz! Outro dia, escrevi uma carta ao vigário de uma paróquia que frequento, com mais · de 50% de mulheres na Santa Missa. Muitas delas, até idosas, escandalosas, despudoradas, alienadas, na casa do Senhor Deus [ ... ] E não é só nessa paróquia mencionada . Outras idem, ou quase. Até hoje nunca vi nenhuma referência - nesses últimos 30 anos, à exceção de um sacerdote idoso - de forma bem clara sobre o assunto! Acho que as legiões dos demônios causadores do respeito humano e da mudez estão mais atuantes do que nunca!

(G.P. --;;; BA)

F RASES S ELECIONADAS •• • • • • • • • • ••• • • • • • •

Achei este artigo muito, muito bom. Absolutamente necessário no momento. Por isso, agradeço muito ao autor, Mons. José Luís Villac. Mas escrevo este comentário por causa da autorização dada a freiras para usarem contraceptivos em zonas onde se possa correr riscos iminentes

ES)

Povo e massa ...

Xô jararaca! Agradeço o envio do folheto "O Brasil em histórica encruzilhada" [encartado na edição de abril), alertando sobre a difícil situação em que se encontra nosso País. Como

(M.A.S. -

(W.1.-SP)

novelas, BBBs, vídeos etc., e mostrar a possibilidade de se cometerem até pecados mortais ao se compartilhar esses espetáculos eróticos, lascivos; assistir-se a eles ou

Bolivarianismo

''A Santíssima Virgem possui certa dignidade infinita, devido à sua maternidade divina, resultante do bem infinito que é Deus. Nada de superior a Ela pode ser .feito por tal Criado,; da m esma forma que nada pode existir superior a Deus." (Santo Tomás tle Attuino)

" Tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria Santíssima é pouco em relação ao que m erece por sua dignidade de Mãe de Deus." (Santo Agostinho)

"Em nossas angústias e preocupações, devemos nos lembrar que quando o tormento chegar ao auge, é hora de preparar o incenso e todo o necessário para cantar o Magnijicat, porque Nossa Senhora intervirá e nos salvará." (Plínio Corrêa de Oliveira)

" Tornando-se homem, D eus tomou para Si uma Mãe humana, para que o homem tivesse por Mãe a Mãe de Deus." (Padre Émile Neuhert)

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PALAVRA no SACERDOTE

Pergunta - Eu gostaria de saber se a doutrina católica sobre a Graça aplica-se da mesma forma também aos que viveram antes de Cristo e, caso a resposta seja positiva, se apenas aos judeus. Igualmente, se com a graça já havia a infusão das virtudes teologais. Resposta - A pergunta de nosso missivista é muito oportuna em vista do 500º. aniversário da revolta de Lutero (representação à direita), que teve a pretensão de ter sido favorecido com uma "revelação" (numa cloaca!) a respeito da justificação somente pela fé - o princípio solafide do protestantismo. Com efeito, para o heresiarca alemão do século XVI, a natureza humana foi absolutamente corrompida pelo pecado original, ficando cada homem absolutamente incapaz até de praticar ínfima boa obra. Apenas a fé na Morte salvadora de Cristo o revestiria exteriormente dos méritos infinitos do Salvador, pelo que ele encontraria graça diante de Deus sem ser renovado interiormente, permanecendo, nas palavras de Lutero, simui justus et peccator, ou seja, ao mesmo tempo justo (pela fé) e pecador (pela permanência da corrupção do pecado original). Por isso, o fiel não seria sequer capaz de fazer o ato bom de aceitar a fé, o qual resultaria de uma ação exclusiva de Deus, sem nenhuma cooperação do homem e nenhum mérito de sua parte. Participação na própria vida divina

Não tardou para que Calvino tirasse a consequência lógica de 8

Monsenhor José Luiz Villac

novado, recebendo urna participação na própria vida divina (que é a graça santificante) e as virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade, assim chamadas porque têm a Deus por objeto. Vivendo na graça de Deus e praticando as vi1tudes teologais, o fiel não somente está inserido no Corpo Místico de Cristo (como São Paulo, que disse de si mesmo "não sou eu quem vivo,

mas é Cristo quem vive em mim "), que Deus daria a alguns a graça eficaz para crer (posto que a vontade e a liberdade humana não entram em nenhuma conta), sendo predestinados ao Céu, e a outros E le a recusaria, sendo predestinados ao Inferno. Essa visão deturpada e deprimente das consequências do pecado original no homem conduz a uma visão igualmente negativa e deprimente do próprio Deus. Porque se pelo Batismo e os demais Sacramentos, Deus não renovasse interiormente o homem, de modo a que este deixe de ser pecador e se transforme num santo, de duas uma: ou Ele não podia fazê-lo (e, então, não se1'ia onipotente), ou, pior, não quis fazê-lo mesmo podendo (e, então, Ele não seria infinitamente bom e misericordioso). Pelo contrário, a doutrina católica, na sua verdade incontestável, apresenta uma visão equilibrada e muitíssimo consoladora de nossa justificação, que mostra o infinito poder e misericórdia de Deus Nosso Senhor. Pelo Batismo, o pecador não recebe apenas uma vestimenta exterior que cobre sua podridão (nisso consiste a pseudo-justificação luterana), mas ele é interiormente re-

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mas já participa antecipadamente da visão e da união com Deus que ele terá no Céu. O grave erro da doutrina da predestinação

Daí se deduz que, por cau-

sa dessa vida da graça e da íntima união com Jesus, as orações e os atos bons do fiel têm um mérito que unido aos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo, contribui para a própria salvação e a salvação de outros. Pode-se imaginar, por exemplo, quantas almas foram salvas pelas orações e pelos méritos insondáveis de Nossa Senhora ao pé da Cruz! Contrariamente à aberrante doutrina protestante da predestinação (Deus teria criado homens com a intenção de enviá-los ao Inferno!), a doutrina católica ensina que a graça divina é necessária, gratuita e universal. O fato de ser ela necessária in-

dica que, sem a mesma, o homem seria incapaz de se salvar por suas próprias forças, ao contrário do que pensava o herege Pelágio. O fato de ser ela gratuita indica que a graça não é de nenhum modo merecida pelo homem, mas livremente concedida por Deus, e isso não apenas quanto à graça inicial, com a qual tem início toda a obra da salvação, mas inclui todo o edificio de graças subsequentes que repousam sobre a primeira. O fato de ser ela universal indica que Deus deseja que todos os homens tenham a eterna felicidade e não predestinou ninguém ao Inferno, como Ele próprio o afirma:

"Não me comprazo com a morte do

pecador, mas antes com a sua conversão, de modo que tenha a vida" (Ez. 33,11). E isto a ponto de, "por nós

homens e para nossa salvação, Ele desceu do Céu e encarnou-se por obra do Espírito Santo", como reza o Credo. Que o "nós homens" sejam todos os homens, deduz-se das palavras de São João : "Ele é

a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo " (1 Jo, 2,2). Essa graça universal é, porém, condicional, no sentido de que ninguém poderá salvar-se se não desejar fazê-lo ou não cumprir com as sapienciais condições postas por Deus para a salvação.

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Méritos da Redenção: graça atual e graça santificante

Desta maneira, como bem ex~ plica em seu livro A doutrina católica o Cônego Boulanger, "a Re-

denção é uma obra universal que se desenvolveu num lugar e num momento determinados, mas cujos

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€:feitos abarcam todos os momentos e todos os pontos do tempo e do espaço. Antes da vinda do Messias, Adão e todos os seus descendentes puderam, portanto, salvarse, porque Deus aplicava-lhes de antemão os méritos da Redenção e lhes dava a graça atual e a graça santificante. As Escrituras não nos

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falam amiúde dos justos que viveram sob a Antiga Lei? Agora, como não há justos sem a graça, deduz-se que os homens podiam já. merecer o Céu, mesmo que não pudessem entrar nele antes da vinda de Jesus Cristas" (cfr. Tome I: Exposition du dogrne, éd. Emmanuel Vitte, 10º111" leçon, § 74). Poder-se-ia objetar que o Catecismo da Igreja Católica, após afirmar em seu número 1964 que "a Lei antiga é uma preparação para o Evangelho" porque "ela profetiza e preanuncia a obra de libertação do pecado, que será realizada por Cristo", cita uma passagem da Suma Teológica na qual Santo Tomás de Aquino conclui: "Em todo o caso, a Lei antiga, embora prescrevesse a caridade, não dava o Espírito Santo, pela qual 'a caridade se difúnde em nossos corações'" (Rm 5, 5). A objeção poderia ser reforçada com a alegação acrescentada alhures pelo Doutor Angélico: "A bondade tem diversos graus [... ] Assim, o remédio perfeitamente bom nos cura; o imperfeito ajuda, mas não pode curar. [... ] O bastante à perfeição da lei humana, que é proibir os pecados e cominar a pena, não o é à perfeição da lei divina, que há de tornar o homem totalmente capaz de participar da felicidade eterna. Ora, isto não pode ser senão por graça do Espírito Santo, pela qual 'se d(funde nos nossos corações a caridade ', que cumpre a lei [... ] Mas, esta graça a lei antiga não a podia conferir, pois isso estava reservado a Cristo. Porque, como diz João, a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade foram trazidas por .Jesus

Cristo. Donde vem que a lei antiga era por certo boa, mas imperfeita" (1-fl, q.98, a. l, resposta). Fora da Igreja Católica não há salvação

Na realidade, no começo da primeira passagem da Suma Teológica citada pelo Catecismo, Santo Tomás afirma que "houve[ ... ] na

vigência da Antiga Aliança, pessoas que possuíam a caridade e a graça do Espírito Santo, e aspiravam acima de tudo às promessas espirituais e eternas". Contradição? De nenhum modo, porque, como ele observa a seguir, "sob este aspecto, [eles/ já pertenciam à nova Lei ". E, pertencendo à nova Lei, eles pertenciam espiritualmente à ]greja, como afirma o Catecismo de São Pio X: "(168) Pode alguém salvarse fora da lgrf!Ja Católica, Apostólica, Romana? - Não. Fora da !grf!fa Católica, Apostólica, Romana ·ninguém pode salvar-se, como ninguém pôde salvar-se do dilúvio fora da arca de Noé, que era.figura desta Jgrf!Ja. "(169) Como então se salvaram os antigos Patriarcas, os Profetas, e todos os outros justos do Antigo Testamento? - Todos os justos do Antigo Testamento se salvaram em virtude da/é que tinham em Cristo que havia de vir, por meio da qual eles já pertenciam espiritualmente a esta Igreja. " Dessa maneira, alguns deles podiam até receber, a título pessoal e em vista da missão a cumprir, uma graça tão plena quanto os santos do Novo Testamento, como afirma Santo Tomás (Comentá-

rio das Sentenças, lib. l, dist. 15, q. 5, a. 2, ad 2). Basta pensar na santidade de um São José ou de um São João Batista, ambos mortos antes da Paixão .de Nosso Senhor, para compreender a grandeza dos dons sobrenaturais que, na sua infinita Bondade, Deus podia conceder aos justos do Antigo Testamento. Como também na glorifi~ cação que Nosso Senhor quis dar a eles na Transfiguração, querendo aparecer junto a Moisés e Elias aos olhos dos três Apóstolos. Méritos da Encarnação do Verbo

Alguém poderá pergunt~r se não haveria então nenhuma diferença entre eles e os santos do Novo Testamento. Havia, sim, e de grande importância. De um lado, após a morte, os justos do Antigo Testamento não podiam subir imediatamente ao Céu, mas deviam ficar aguardando até que Nosso Senhor lhes abrisse as portas, porque "nem afé nem a

justiça de ninguém bastava para remover o obstáculo produzido pela culpa de toda a raça humana,· mas dito obstáculo foi removido pelo preço do Sangue de Cristo" (Suma Teológica, UI, 49, 5, ad 1.). De outro lado, a Encarnação do Verbo mudou profundamente as coisas e fac ilitou sobremaneira a salvação dos homens: "Porque pela vinda de Cristo o obstáculo da antiga danação foi afastado ", afirma Santo Tomás, "todo o gênero humano ficou mais disposto a acolher a graça do que antes; seja por causa do pagamento do preço do resgate e a vitória sobre o diabo, seja também por causa da

doutrina de Cristo, pela qual os homens conhecem muito mais claramente aquilo que é divino" (id. lib. 1, d. 15, q. 5, a. 2, resposta). *

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Em resumo e respondendo ao nosso caro missivista: - Mesmo antes de Cristo, todos os homens e não apenas os judeus podiam receber a graça, que é universal, e ninguém estava predestinado ao Inferno; - Os justos recebiam com a graça santificante as virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade. Quem negasse que os Patriarcas e os Profetas do Antigo Testamento possuíam a caridade acabaria necessariamente caindo na heresia protestante da sola fide. Porque toda a tradição católica ensina que os justos da Antiga Lei era1~ justificados pela fé na futura vinda do Messias. Se, por absurdo, junto com a fé eles não possuíssem também a caridade, Deus os teria declarado justificados apesar de permanecerem interiormente injustos e pecadores. Do ponto de vista negativo, sua justificação não seria uma supressão do pecado, mas apenas uma não imputação ou uma cobe1tura do mesmo. E do ponto de vista positivo, ela não seria uma renovação interna nem uma santificação, mas apenas uma imputação externa da justiça futura de Cristo Redentor. Ou seja, seria, nem mais nem menos, a heresia protestante, cuja irrupção hoje se deseja celebrar até nas mais altas esferas da Igreja Católica, para imenso escândalo dos fiéis. "

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Personalidades pedem perdão pelos crimes do Patriarcado de Moscou Dezoito personalidades da cismática religião denominada "ortodoxa" pediram perdão ao Rito Greco-católico pela criminosa supressão do catolicismo na Ucrânia, perpetrada pelo Patriarcado cismático de Moscou em conluio com a ditadura comunista em 10 de março de 1946. Esse Patriarcado é hoje presidido pelo patriarca Kirill (foto à dir.), que recentemente assinou a Declaração de Havana com o Papa Francisco. No referido pedido de perdão, os "ortodoxos" afirmam sentirem-se "responsáveis pelo silêncio culpável que envolve a destruição desta Igreja católica por obra do regime soviético com a participação do Patriarcado de Moscou ". Este Patriarcado cismático, contudo, não cogita fazer a necessária reparação e se nega a devolver os bens roubados dos católicos.

Centenário de Fátima: cresce o temor pelos castigos anunciados

Estado Islâmico esquarteja prisioneiros para vender seus órgãos O Estado Islâmico encontrou base no Corão para arrancar os "órgãos sãos do corpo dos apóstatas ". Os chefes islâmicos manipulam a confusa e imoral literatura corânica para justificar a vivissecção dos chamados "apóstatas", afirmando que "os juristas permitiram o consumo de carne humana[. .. ] Os prisioneiros sofrem cirurgias prévias à execução para lhes extrair os órgãos desejados ", afirmou Hashem el Hashimi, especialista em segurança. Hashem mantém contatos em Mosul, cidade onde os jihadistas executaram dezenas de médicos que se recusaram a cumprir ordens perversas. Um infame comércio "exporta" os órgãos para outros países. Tal prática confirma a constatação do exorcista de Roma, Pe. Gabriel Amorth, de que o Estado Islâmico é inspirado por Satanás!

Bandeira neozelandesa que evoca a monarquia é conservada Em recente referendo, a Nova Zelândia preferiu conservar a bandeira nacional ligada à tradição britânica e à Coroa de Elizabeth 11, que também é rainha do país. O primeiro-ministro John Key julgava poder abolir o símbolo dos fundadores do país. A nova bandeira teria uma nota ecológica e esportiva, além de embutir matreiramente um significado fortemente esquerdista. Mas os neozelandeses preferiram conservar sua "relíquia colonial", como a qualificava o primeiro-ministro. 56,61% dos eleitores aprovaram a bandeira tradicional e 43,16% o modelo recusado. A bandeira tradicional ostenta Cruz da Grã Bretanha - ou Union Jack - e o Cruzeiro do Sul.

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Romenos apoiam iniciativa em defesa da família na Constituição Na Romênia, em tempo recorde _de um mês e meio, uma iniciativa cidadã reuniu dois milhões de assinaturas - o equivalente a 10% da população nacional - para a introdução de uma emenda constitucional de proteção à família. A meta inicial era de 500.000 assinaturas em seis meses, como prescreve a lei. Com essa iniciativa, a coalizão pela família Coalitia pentry Familie visa evitar falsas interpretações da Constituição que levem a introduzir o "casamento" homossexual no país. O povo romeno quer se livrar de restos da imoralíssima legislação imposta pela ocupação soviética, em larga medida ainda vigente na Rússia atual.

Professora desvenda métodos KGB de Putin para seduzir franceses Cécil e Vaissie (foto acima), professora da Universidade de Rennes-2, publicou um estudo aprofundado sobre as redes russas de espionagem e sabotagem que operam na França desde a época da URSS. O livro descreve como Moscou infiltra a mídia e conquista ambientes políticos com financiamentos ocultos. Embora 85% da população francesa não gostem da Rússia, algumas dessas redes vêm agindo desde a era soviética; outras foram reativadas por Putin, enquanto as mais surpreendentes espalharam-se na chamada "extrema-direita". A professora estima a nação russa, mas denuncia o erro de se acreditar na união do povo com os líderes do país. Segundo ela isso é falso, porque o atual Kremlin não representa o povo russo nem seu passado não comunista. Antes da queda da URSS, Moscou confiava no Partido Comunista Francês. Atualmente, procura apoios na "extrema direita" francesa oferecendo créditos e ajud as enganosas, além de apresentar Putin e sua equi pe como "defensores da tradi ção".

Em vista do centenário das aparições de Fátima, aumenta a preocupação pelo iminente cumprimento das terríveis advertências feitas por Nossa Senhora em 1917 caso o mundo não fizesse penitência. A corrupção invadiu as esferas oficiais, civis e eclesiásticas, e o pedido da consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria não foi atendido. Neste contexto, o Santuário de Fátima, em Portugal, registrou em 2015 a maior afluência de peregrinos desde que existe cômputo: 6,7 milhões de romeiros provenientes de 162 países. Em boa medida, a crise que aflige o Brasil atual é devida à difusão dos "erros da Rússia" contra os quais Nossa Senhora preveniu o mundo em 1917.

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NACIONAL

O Brasil no memorável dia 17 de abril Reações contra a esquerdização do País e alerta para a atual crise política, social e econômica cuja origem reside numa crise religiosa e moral

••••• PAULO ROBERTO CAMPOS

e

multidões nas ruas das principais cidades, o povo brasileiro virou uma página de sua história. Entretanto, muitas outras páginas ainda precisam ser viradas para que o Brasil reencontre o seu caminho e realize sua missão providencial no concerto das nações. Para fa lar de um local onde estive - Avenida Paulista - , os manifestantes que a lotavam celebraram cada voto pró-impeachment emitido no plenário da Câmara dos Deputados no histórico dia 17 de abri 1. Com os ol hos fixos nos telões - e censurando a verborragia de muitos "nobres deputados" - , eles comemoraram 367 vezes os votos pelo SlM! e vaiaram 137 vezes os votos pelo NÃO! Encerraram a celebração daquela vitória cantando o Hino Nacional. Eventos análogos ocorreram em todas as regiões do País. Notei na fis ionomia de numerosos manifestantes que eles se sentiam como se estivessem recebendo urna lufada de ar fresco em meio à poluição petista que há 13 anos espalhou-se pelo Brasil ; ou como se tivessem a alegria de ver, depois de tantos anos, uma luz no fim de um túnel muito sombri o. Esperemos que o Senado e o STF não venham a frustrar, com delongas, o que a imensa maioria dos brasileiros espera: a aprovação d~ processo de impeachment. Um fato ficou evidenciado: o Brasil real é bem diverso do Brasil oficial. Ou seja, o Brasil autêntico e cristão não deseja que no livro de sua história, no capítulo denominado PT, o atual governo seja registrado corno bom para o povo brasileiro. Este rejeita a

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CATOLJCJ 'MO / www.catol icismo.com.br

desfiguração do Brasil por ideologias marxistas; rejeita figuras opostas aos grandes va lores de seu glorioso passado; recusa a "cubanização" do País. Nesse sentido , urna das fa ixas muito charnativa na Avenida Paulista continha estes dizeres: "Deputado que vota NÃO, nunca mais ganha eleição!". r

DEPUTADO QUE VOTA NÃO, UNC MAIS GANHA ELEIÇAO!

Ação anticomunista

Voluntários do instituto Plinio Corrêa de Oliveira estiveram presentes na Aven ida Paulista, distribuindo um manifesto intitulado O BRASIL EM HISTÓRICA ENCRUZ ILHADA - o mesmo que foi encartado na edição anterior desta revista, com acréscimo da introdução Abra e veja: Operação para enganar o público e tentar salvar o projeto soc_ialista que vem demolindo o Brasil há vários anos! Como os leitores já devem ter lido, o documento não trata apenas da tremenda cri se que deixou o País à deriva pela ap licação do projeto comuno-bolivariano do governo lulopetista, mas versa também e principalmente sobre a conjuntura que eventualmente nos aguarda em decorrência dessa crise sem precedentes, cujo fim após a provável ace itação do impeachment é muito dificil determinar. Petismo sem PT

Com relação ao período pós-PT - com impeachment ou não - o manifesto oferece subsídios para um sadio debate, e levanta algumas possíveis soluções que poderiam aj udar o País a enfrenta r com denodo as atuais dificuldades. Por exemplo, ao afirmar que "a saiucatolicismo@terra.com.br / MAIO 20 16

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ção verdadeira não está por ser inventada. Trilhando as vias da.fidelidade aos princípios da civilização cristã, o Brasil, sempre fiel a si mesmo, poderá esperar as bênçãos do Cristo Redentor". Levanta ainda algumas hipóteses, as quais poderiam sugerir falsas soluções. Urna delas seria o perigo de o País naufragar em mãos de aventureiros - novos "salvadores da pátria", velhos conhecidos - ou de um governo que não se apresentaria como petista, mas que continuaria a empregar o mesmo estratagema do PT. Popularmente falando, seria seguir "tudo como dantes no quartel de Abrantes" ... Tal hipótese se realizaria, por exemplo, com a implantação de um "sistema melancia" (verde por fora e vermelho por dentro), meio ecologista, meio petista. Um regime comuno-miserabilista como aquele que arruinou a infeliz Cuba e no qual afunda a vizinha Venezuela, onde o governo bolivariano debilitou as autênticas tradições cristãs consubstanciadas na instituição da família e no direito de propriedade. No Brasil, contribuiu para o atual estado de coisas a chamada esquerda católica, bafejada pela CNBB (Conferência Nacional do Bispos do Brasil) e pelos "teólogos da libertação", que procuraram iludir o povo católico a respeito do PT, exaltando-o e abençoando -o como se fosse uma espécie de "partido salvador do trabalhador oprimido". Mesmo com o governo petista no fundo do poço, sem qualquer credibilidade, o clero esquerdista ainda procura dar-lhe uma sobrevida. Contribui assim para a desesperada tentativa de implantar em solo pátrio o regime de miséria e de fome reinante na Cuba de Fidel Castro e repetido na Venezuela, primeiro no governo do falecido Hugo Chávez e agora no de Nicolás Maduro - regime, aliás, agonizante. Vigilância contra falsas soluções

Entretanto, é exatamente isto que o povo brasileiro rejeita. A prova são os recentes e monumentais protestos que transcorreram ordeiros e pacíficos em todo o território nacional. Milhões de compatriotas nossos manifestaram-se indignados com os erros que serpenteiam, espalhados sobreh1do pelo PT e assimilados. Nesta "encruzilhada histórica" - com a eventual queda do governo petista e para evitar que a demolição do País prossiga - , a referida introdução ao manifesto do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira alerta para os enganosos rumos e falsas alternativas que "poderão nos levar ao mesmo abismo a que a cobra socia-

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lista nos está tentando conduzir nos últimos anos. É só pelo retorno à.fonte de nossa civilização cristã e aos seus pilares que são a tradição, a fam ilia e a propriedade - que disporemos da assistência divinq, com cujo auxilio e com nossos esforços poderão estar à altura da imensa tarefa de reconstrução moral e material do nosso querido Pais. Que a isso nos ajude o Cristo Redentor". Peçamos a Ele, por meio da Rainha e Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que ampare nossa Pátria nesta difícil encruzilhada, não permitindo que a serpente infernal continue afligindo o povo brasileiro, enganando-o ou conduzindo-o rumo às mencionadas falsas soluções. Mas o Divino Redentor deseja nossa contribuição: não devemos permanecer de braços cruzados face às investidas venenosas da víbora marxista, causadora da atual crise política, social e econômica, que encontra sua origem numa crise religiosa e moral. ❖ catolicismo@terra.com .br / MAIO 2016

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VARIEDADES

BHASIL HEAL

A bondade venceu o ódio HÉLIO DIAS VIANA

GREGORIO VIVANCO LOPES

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enho lido, um pouco por toda parte, críticas ao voto pró-impeachment dos deputados que em 17 de abril último o fi zeram em nome de Deus, da Pátria, da família e dos filhos, entre outras menções. N ão morro de vergonha, antes pelo contrário, orgulho-me de dizer que, como bras il eiro e como católi co, estou do lado deles, embora saiba que muitos não são católicos, nem levam uma vida fa mili ar consentânea com os senti.mentos ali expressos. Mas estou com eles porque, com uma simplicidade e um modo de ser autentica mente brasileiros, mani festaram com evocações famili ares a preeminência destes valores sobre os demais, tendo sido esta uma das principais razões por que votavam, em consequência, pelo impedimento da pres idente Dilma. N o entanto, aqueles que os criticam não têm a mesma censura em relação aos vi tupéri os de muitos deputados contrários ao impeachment, inclusive os de um sacerdote e de algumas mulheres que vomitaram ódi o revoluc ionário de causar estupor. Houve quem evocasse os sanguinári os Lamarca, Mari ghella e outros comuni stas de aná logo jaez, a causa da Reformá Agrári a socialista e os ag itadores Sem-Terra. Porém, com isso, sem o perceberem, e les assustaram não só a opinião pública, mas também os parlamentares que ainda pudessem

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O abade Suger refuta o ''Pacto das Catacum bas'' c ulto divino deve ser cercado de esplendor e magnifi cência ou, pelo co ntrário, deve ser pobre e despojado? As igrejas e as catedrais devem dar mostras de gra nde elevação e sublimidade, ou ser simples, acanhadas e sem arte? O espírito cató li co deve querer refletir-se em cerimôni as de grande pompa e majestade, ou apenas recolh er-se em si mes mo, sem manifestações ex teriores? Essas são pergun tas de grande atualidade, no momento em que as consequências doutrinári as, litúrgicas e simbó li cas do Concíli o Vaticano II vão se desdobra ndo cada vez mais, a ponto de haver quem dê preeminência na Igreja ao chamado "Pacto das Catacumbas".

O estar indecisos naque le momento. Que contraste com as evocações re1igiosas e fa mili ares dos deputados

pró-impeachment! A índo le do brasileiro é co rdata. N ão gostamos de encrenca nem de ca rranca. Mui to menos de ser enga nados. Consti tuímos uma grande fa mília, estabelecida num vasto territóri o posto sob a égide do Cruzeiro do Sul e abençoado pelo Cristo Redentor. A irreli gios idade, a imoralidade, a menti ra, a fa lta de cordu ra, o espírito de vingança, a ausência de amor à Pátri a (cuj os interesses foram substituídos pelos da ideologia do partido), o ódi o entre classes e raças - tudo isso promovido durante 13 anos pela gestão petista - , refl etira m-se em alguma medida nas fi sionomi as, nos gestos e nas palavras de certos parlamen-

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tares que defendiam o governo contra o pretenso "golpe", levando ao resul tado de 367 votos contra 137. Lembrados de todas essas coisas negativas, contrári as aos nossos senti mentos, aos nossos costumes e às nossas tradi ções, os lul opetistas se esquecera m do principal: que somos um povo bondoso e temente a Deus, amante da ordem e da paz, e que apesa r de estarmos di spostos a dar até a últim a gota do nosso sangue para que nossa bandeira jamais seja vermelha, queremos despedir a pres idente não co m o ódi o de que so mos objeto, não co m am eaças tipo "exérc ito de Stédile", mas com uma fó rmula bem bras ileira - "tchau, querida " - , uma das poucas expressões limpas que encheu de significado um di álogo deprimente entre Lul a e Dilma.

"Apresentado em nossos dias como singular moda póstuma, o Pacto das Catacumbas.foi um compromisso assinado por 40 Padres Conciliares na época do Concílio Vaticano JJ no qual, de acordo com Dom Pedro Casa fdáliga, seus signatários p reconizavam 'o advento de uma outra ordem social, nova' ". Ao longo dos anos foram aderindo a e le numerosos outros bispos, propugnadores da simplic idade no cul to católico (Missa de costas para o Sacrário), na arquitetura religiosa 1

(igrejas em fo rma de ameba), nos trajes ec les iásti cos (adeus à batina) e nos costumes da Igreja em geral (vale tudo). U ma espéc ie de miserabilismo ecles iásti co. Já em 1960, no livro Reforma

Agrária - Questão de Consciência, Plínio Corrêa de Oliveira criticava esse "complexo de simplismo". Afirm a ele que "as magnificências da natureza e da arte, bem utilizadas p elo homem temperante, constituem meios de elevá-lo a Deus. Sem dúvida foram utilizadas neste sentido por muitas pessoas que viveram em meio a o~jetos do mais requintado luxo, e hoj e estão na glória dos altares: Papas, reis, cardeais, príncipes, nobres e outros grandes da Terra ". A tendênci a mórbida a um miserabilismo a qualquer preço considera o homem apenas nas suas más inclinações - frutos do pecado original, que convém combater, como o orgulho e a ostentação - , e não nos anelos que a graça põe em sua alma de ver refl etidas nesta Terra as grandezas e as magnificências do Céu, para se preparar melhor para elas. Também não considera - e este é o ponto capi tal ...:_ que Deus deve ser cultuado com o que de melhor e mais requintado exi ste nesta Terra, e que pa ra O reverenciar

deve o homem empregar o ouro, a prata, as pedras prec iosas, o incenso. Ademais, deve pôr a servi ço do culto divino todas as luzes de sua inteligência, todo o fe rvor de sua vontade e todos os recursos de sua se nsibilidade, a fim de excogitar os meios para que esse culto sej a esplêndido sem exagero, brilhante sem artifi cialismo, elevado sem ostentações inúte is. *

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Foi o que compreendeu admiravelmente no sécul o XII o hábil dipl omata, teó logo e poeta, abade Suger, de Sain t-Deni s (França), conselheiro de L uís VI e de Luí s VII e Regente da França durante a Segunda Cruzada (1147-1149). Em artigo de Dominique A li bere intitulado Tout commence à Saint-Denis, a revi sta "L'Histoire" (nº 41 9, janeiro/20 16) apresenta algun s traços característi cos do pensamento e da personalidade do abade Suger. Às perguntas que el.e ncamos · no início deste artigo, o abade Suger responde com nove séculos de antecedência:

"Tudo o que é muito refinado e muito p recioso deve ser utilizado principalmente para a administração da Santíssima Eucaristia. Se

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[na Antiga Lei] vasos de libação com ouro, galhetas de ouro, pequenos cálices f oram usados em ouro, de acordo com a palavra de Deus ou a ordem do Profe ta, para recolher o sangue de bodes, bezerros ou novilhos, o quanto mais vasos de ouro, pedras preciosas e tudo o que há de mais caro entre as coisas criadas devem servir para conter o sangue de Jesus Cristo [. ..] Alguns

críticos objetam, sem dúvida, que uma alma santa, um espírito puro, uma reta intenção devem ser su_ficientes para este ministério. Também nós afirmamos que tudo isto é particularmente importante. Mas é também pelos ornamentos externos dos vasos sagrados e por toda a nobreza exterior que nos convém proclamar que nada deve ser tão venerável quanto o serviço do Santo

Sacrfficio " (cf. F. Gasparri, Traité sur son administration abbatiale, Les Bel les Lettres, 2001 ). Prossegue o sábio abade: "Suspiraremos em nossos corações: "Toda pedra preciosa, diziame eu, é para Vos revesti!; ó Deus: calcedônia, topázio, jaspe, crisólita, ônix e berilo, sqfira, turquesa e esmeralda. [. ..] Assim, quando

É marcante a semelhança ou talvez se possa falar em identidade - da concepção que tem o abade Suger dessa região longínqua que não está inteiramente no limo da terra nem inteiramente na pureza do Céu, com a concepção de transesfera de que nos fala Plinio Corrêa de Oliveira em muitas de suas palestras.3

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no meu amor pelos ornamentos da casa de Deus, o esplendor multicolorido das gemas por vezes me distrai das minhas preocupações externas, e uma meditação elevada me leva a refletir sobre a diversidade das santas virtudes, transferindo-me das coisas materiais para as imateriais, eu tenho a impressão de estar em uma região longínqua da esfera terrestre, que não está inteiramente no limo da terra, nem inteiramente na pureza do céu, e assim poder ser transportado pela graça de Deus deste [mundo] interior para o [mundo] superio,; conforme o modo anagógico. "2 20

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O abade Suger é considerado o primeiro "mestre-de-obras" da sublime arquitetura gótica, pelas inovações que promoveu na Basílica de Saint-Denis. Em seu artigo citado, o historiador Dominique Alibere comenta que o abade Suger "que,; em SaintDenis, prefigurar a Jerusalém celeste. E ele está plenamente consciente, neste contexto, dos desqfios contidos na nova estética que deu origem ao gótico. Nas linhas que dedica a uma das capelas da abadia, aquela consagrada a São Romano, ele escreveu: 'Como este lugar é secreto, como é apto ao recolhimento, propício à celebração dos oficias divinos. Aqueles que nele servem a Deus o sabem, como se enquanto sacrificam na Terra, sua habitação já estivesse de algu1· . , ''' ma.1orma no ceu. ••• ♦

Notas:

1. http://ipco.org.br/ipco/agronegocio/ reforma-agraria/complexo-de-simplismo-no-pacto-das-catacumbas 2. Define o dicionário Houaiss anagogia como sendo a interpretação mística · dos símbolos e alegorias das Sagradas Escrituras, de obras literárias clássicas ou de inspiração religiosa. 3. A respeito da concepção de transesfera em Plinio Corrêa de Oliveira, ver: http://www.plin iocorreadeoliveira . info/Livro%2Oda%2O1nocencia/2OO8_ IP_18_11_Cap_10_Uma_vis%C3%A3o_ sublimada.htm

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DISCERNINDO

O milagre de São Cliarbel CID ALENCASTRO

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·_fne G uti érrez, mãe de fa míli a de origem hi spânica, res idente em Phoeni x (Ari zona-EUA), estava completamente cega devido à malformação chamada "síndrome de Arno ld Chi ari " , que lhe fo ra di agnosti cada j á na adolescência. Em j aneiro de 20 16 ela fo i rezar di ante das relíquias de São Charbel Maklouf, que peregrinavam pela cidade, confesso u-se e comungou. Pouco depo is estava curada. A reportagem em que nos baseamos fo i publicada em 3 de fe vereiro úl timo no conceituado portal espanhol de notícias, "Reli gión en L ibertad". Segundo o relato, aos 13 anos os médicos descobri ram que Dafoe sofria da referida síndrome. Com o tempo a doença foi progredindo, chegando a formar um edema pap ilar que acabou por ating ir o nervo ótico e a consequente cegueira. U ma intervenção cirúrg ica revelou-se inútil. N o outono de 2014 ela perdeu a visão do olho esquerdo, que j á vinha se debilitando. E m novembro de 201 5 fo i a vez do o lho direito. N ão conseguia ver sequer um raio de luz. Com 30 anos de idade, casada e mãe de três filhos, segundo os médicos sua cegueira era irreversível. A Sra. Dafne G uti érrez pensava reti rar-se a um insti tuto de cegos, a fi m de não constituir um peso para a família, quando soube que urna re líqui a de São Charbel visitava a paróquia maronita de Phoenix. Tratavase de um frag mento ósseo, contido numa ampola de cedro . Animada por ami gos e paroquianos, fo i à igrej a venerar a relíquia e pedir a ema. Era um sábado. Confesso u-se. Voltou no domingo, dia 17 de j ane iro, ass istiu à Mi ssa no ri to maronita e comungou. Ao comungar, conta, "não voltei a sentir meu corpo igual. Não via nada, mas sentia o corpo diferente. Perguntei-me 'o que está acontecendo comigo, o que sinto?'". Vo ltou para casa.

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N o di a seguinte, segunda-fe ira, às 5 horas da manhã, despertou com grande ardência nos o lhos e fo rte pressão na cabeça e nas órbi tas oculares. Acordou seu marido, ainda com o quarto às escuras. "Eu disse a ele 'doem-me os olhos, tremem, me doem '. Ele me disse que sentia um odor como de carne queimada ". O marido então acendeu um abajur e Dafne, emoc ionada, di sse-lhe que podia vê- lo com ambos os olhos. ª Meus.filhos gritavam : 'mamãe pode ver! Deus curou mamãe'". Três di as depo is, um exame oftalmológico constatou a cura . A té agora, cinco médi cos exa minaram Dafne e não encontram expli cação cien tífica. Segundo o médico que a vinha acompanhando, em 40 anos de exercício da medicina nunca hav ia registrado qualquer exempl o de urna cu ra deste tipo. Tecni camente "não é possível ", afirmo u . ❖

Quem foi esse santo libanês, chamado Charbel Maklouf? Sobre ele escreveu Plinio Corrêa de Oliveira: "Charbel Maklouf, falecido em 1898, santo contemplativo de uma Ordem religiosa do rito me/quita, no Líbano, entrou muito jovem no convento, tendo vivido em isolamento e meditação completos. "Tem.:se a impressão, observando-se seus olhos, de que eles são duas janelas abertas para o Céu. Olhos de um escuro profundo - ou talvez castanho, mas muito escuro - que refletem profundidade; e no fundo dessa profundidade há algo de sublime e celestial. Vê-se que ele olha para o Céu, o qual se reflete em seu olhar, e que peregrinando dentro do olhar dele encontra-se o Céu. É uma verdadeira maravilha [. .. } São Charbel Maklouf é como um verdadeiro cedro do Líbano!". (Catolicismo, fevereiro/2005). Em uma época de ateísmo como a nossa, não seria altamente benfazejo que milagres como o de São Charbel - e como os que ocorrem habitualmente em Lourdes - fossem muito difundidos? Por que não os divulga a grande imprensa? Por que não os tornam conhecidos as Conferências Episcopais, os Bispos, os padres? Não é estranho esse silêncio, tão acabrunhador quanto incompreensível?

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POR QUE

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NOSSA SENHORA.

CHORA?

O exemplo de Perpétua e Felicidade todo momento lê-se na imprensa, vê-se na televisão, ouve-se no rádio que é preciso tomar medidas contra a desigualdade, que esta aumenta, que o governo não consegue controlá-la etc. etc. Mas nunca se faz a distinção absolutamente indispensável - entre a desigualdade exagerada e abusiva, portanto condenável, e a desigualdade boa e legítima, que está de acordo com a ordem natural das coisas. De modo que a impressão subliminar que o noticiário transmite é de que toda desigualdade, seja qual for, é sempre um mal e deve ser erradicada. Segundo essa concepção, o ideal - não explicitado, mas latente - seria alcançado numa sociedade onde houvesse a igualdade absoluta, de todos os modos e em todas as formas . É a utopia revolucionária em sua formulação crua e nua. Tal teoria acaba arrombando as portas das mentes das pessoas, que_não se dão ao trabalho de refletir e analisar aquilo que vem subentendido no noticiário, instalando-se assim no universo de conhecimentos de cada indivíduo como uma espécie de verdade evidente, que não é preciso demonstrar.

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Ora, nada de mais falso. As desigualdades exageradas e abusivas são más, não por serem desigualdades, mas por serem exageradas e abusivas. As desigualdades justas e harmônicas são um bem. Não seria difícil provar essa tese, mas seria longo e não caberia nesta seção. Baste-nos lembrar o ensinamento de Plínio Corrêa de Oliveira: "Em um universo no qual Deus criou desiguais todos os seres, inclusive e principalmente os homens, a injustiça é a imposição de uma ordem de coisàs contrária à que Deus, por altíssimas razões, f ez desigual. Assim, a justiça está na desigualdade. [... ] Com ef eito, Deus criou as desigualdades, não aterradoras e monstruosas, mas proporcionadas à natureza, ao bem-estar e ao progresso de cada ser, e adequadas à ordenação geral do universo. E tal é a desigualdade cristã " (Ajustiça está na desigualdade cristã, "Jornal da Tarde", São Paulo, 9-6-1979).

Para o espírito malfazejo da Revolução, toda desigualdade deve gerar um ódio e uma luta de quem é menos contra quem é mais. Pelo contrário, onde entrou o espírito autenticamente cristão, a desigualdade gera respectivamente o serviço e a proteção, ligados pelo la·ço do amor a Deus. Foi o que se deu , por exemplo, com as santas Perpétua e Felicidade (século Ili). Perpétua era uma nobre romana muito rica, que se converteu ao cristianismo. Felicidade era sua escrava, que igualmente se converteu. Por isso foram conduzidas à prisão e condenadas à morte. Amarradas com arame e colocadas na arena diante de um toro bravo, este a princípio as atacou, mas depois desistiu. O povo sanguinário que a tudo assistia pediu então que lhes cortassem as cabeças. A senhora e a escrava abraçaram-se emocionadas. Felicidade teve sua cabeça cortada por um golpe de machado. O ver-

dugo, muito nervoso, errou o golpe em Perpétua. Ela deu um grito de dor, mas em seguida posicionou melhor a cabeça e indicou ao verdugo onde deveria atingi-la. De tal modo elas foram unidas na fé, que a senhora e a escrava morreram juntas, sendo por isso seu ma1iírio celebrado pela Igreja no mesmo dia 7 de março. Sem querer de nenhum modo justificar aqui a escravidão romana, que tinha aspectos altamente censuráveis, a lição que nos dão Perpétua e Felicidade é de como a fé cristã e o amor de Deus unem de modo perfeitíssimo pessoas colocadas nos extremos opostos da escala social. Perpétua não desprezou Felicidade, nem esta se revoltou contra a sua se- · nhora. Permanecendo cada uma na sua condição social, o amor de Cristo as uniu na Terra e na Eternidade. Como pode Nossa Senhora não chorar ante a pregação injusta e antinatural de uma igualdade a qualquer preço? ❖

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Santo Antonino,

Arcebispo de Florença Sua vida foi tão exemplar e santa, que o Papa Nicolau V afirmou que o Julgava digno de ser canonizado em vida

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

antoAntonino - afetuoso diminutivo de Antonio que lhe davam seus diocesanos por sua fragilidade e pequena estatura - nasceu em Florença em 1389. Seu pai, Nicolau Pierrozi, notário, e sua mãe, Tomazina, tiveram grande cuidado em educá-lo no temor de Deus. Entretanto, como diz um de seus biógrafos, "eles não tiveram grande trabalho, porque Antonio era de uma natureza tão boa, que se pode dizer que a virtude tinha nascido com ele ".1 Crescendo, Antonino empregava seu tempo nos estudos, sem descuidar da oração e da mortificação. Assim, ia rezar frequentemente diante de um Crucifixo na igreja do Arcanjo São Miguel, "suplicando com muita instância a Nosso Senhor que lhe outorgasse graça para guardar a pureza de sua alma e virgindade, perpetuamente sem mancha ". 2 O Divino Salvador inspirou-lhe então a ideia de entrar em religião, tomando o hábito do Patriarca São Domingos.

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Aprendeu o Direito Canônico de cor

Aos 15 anos ele pediu admissão na Ordem Dominicana. Segundo vários de seus biógrafos, o então superior do convento - o Beato Frei João Dominici, mais tarde Cardeal-arcebispo de Ragusa, legado da Santa Sé na Hungria e continuador da reforma da Ordem iniciada por Santa Catarina de Siena - , julgando o candidato muito novo, perguntou-lhe que estudos havia feito. Antonino respondeu que estudava Direito Canônico. Como evasiva, o Bem-aventurado lhe disse: "Estude bem esse direito, e quando o tiver aprendido de cor, prometo recebê-lo". O santo não se pe1turbou. Voltou para casa e, um ano depois, procurou outra vez João Dominici. Este, agradavelmente surpreso, cons-

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tatou que Antonino aprendera exemplarmente o Direito Canônico. Recebeu-o então, aos 16 anos de idade. 3 Antonino foi o primeiro a receber o hábito no convento de Fiésole, fundado pelo próprio Frei João Dominici. Alí teve como co-irmãos o Beato FraAngélico e Frei Bartolomeu. O primeiro é o celeste pintor, que ainda hoje extasia o mundo com suas pinturas, e o segundo um famoso miniaturista. Os três foram mandados depois para o convento de Cortona a fim de iniciarem o noviciado sob a direção do Beato Lourenço de Ripafratta.4 A carreira de Santo Antonino foi a de um gigante: "A virtude, suprimindo nele a idade, fez que fosse escolhido, embora muito jovem, para governar o convento de Roma. Nomearam-no sucessivamente prior dos conventos de Nápoles, Baeta, Cortona, Siena, Florença e outras cidades da Itália; por toda a parte ele reavivou o espírito primitivo da regra [seguindo fielmente a reforma começada pelo Beato Dominici}, sobretudo p elo exemplo. Nomeado Vigário Geral da província da Toscana, e depois de Nápoles, nada afrouxou de suas austeridades ". 5 Fiel ao Papa verdadeiro

Santo Antonino viveu em p leno "Cisma do Ocidente", no qual três papas disputavam o trono de São

Pedro. Em 1409 ele e seus religiosos tiveram que fugir de seu convento em Fiésole e refugiar-se no de Foligno, para escapar às arbitrariedades do governo florentino, partidário do antipapa Bento XIII. Durante esse cisma os dominicanos permaneceram fiéis ao verdadeiro papa, Gregório XII, do qual o Beato Dominici se tomou.conselheiro e cardeal. 6 Essa terrível e confusa situação da Igreja, que muito afligia Santo Antonino, só terminaria em 1415, no Concílio de Constança. Neste, Gregório XII aceitou renunciar para terminar com o cisma; João XXIII foi deposto [considerado antipapa, seu nome foi retomado no século XX pelo sucessor de Pio XII], submetendo-se depois; e finalmente Bento XIII foi cortado do corpo da Igreja, tomando-se "um papa sem uma Igreja e um pastor sem um rebanho ". Foi então legalmente eleito Martinho V para a Sé Apostólica.7 Fra Angélico no mosteiro de São Marcos

Quando Santo Antonino era provincial da Toscana, os dominicanos ocuparam o célebre convento de São Marcos, em F lorença, reformado graças à munificência de dois irmãos, Cosme e Lourenço de Medieis. Para lá foram transferidos os frades do convento de Fiésole, entre os q uais Fra Angélico, que o embelezou com suas insuperáveis pinturas. Foi também durante

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seu governo que, com o patrocínio do mais famoso dos dois Medieis, o humanista Cosme (1389-1464) - renomado banqueiro e político chamado o "Pai da Pátria", homem "sinceramente religioso no fim da vida, associado a S. Antonino e aos frades dominicanos" 8 - , Santo Antonino reformou a igreja de São Marcos, que se tornou a favorita do mecenas e a cuja consagração esteve presente o próprio Papa Eugênio IV. O dever de aceitar o Episcopado

Quando o arcebispo de Florença, Dom Bartolomeu Zabarela, faleceu em 1446, o Papa Eugênio IV, que tinha por Santo Antonino a mais alta das considerações, nomeou-o sucessor do prelado falecido. Embora o santo quisesse de todos os modos evitar tal nomeação, o Papa ordenou-lhe que, em virtude da santa obediência, recebesse o quanto antes a sagração episcopal. No dia 13 de março de 1446, no momento em que Santo Antonino se dirigia à catedral para tomar posse, ocorreu uma cena bem característica da Idade Média e digna de constar em uma iluminura: "Naquele dia saiu toda a cidade para recebê-lo, homens, mulheres, nobres e plebeus, pobres e ricos, os quais, vendo seu arcebispo tão humilde e devoto, enterneciam-se e se compungiam, prostravam-se no solo e lhe pediam a bênção com as mãos juntas e em grande reverência e respeito, como se ele fosse o próprio Sumo Pont{fice "9, pois já o consideravam santo. Os males do Renascimento

"No século XV, no qual a santidade era rara sobre a Terra, Antonino f ez reviver em sua p essoa todas as virtudes que haviam brilhado nos maiores bispos da Antiguidade. Seu zelo apostólico, as obras de sua caridade, a austeridade de sua vida são a glória da igreja de Florença, que.foi confiada a seus cuidados ". º Com efeito, Santo Antonino viveu no século XV, quando desapareciam os últimos vestígios da Idade Média, "a doce primavera da.fé ", nas palavras de Leão XIII, e começava a grassar a mentalidade materialista do chamado "Humanismo", ou "Renascença". Esta foi descrita por um autor como "a implantação do espírito moderno em oposição ao espírito que prevaleceu na Idade Média " 11 , espírito genuinamente católico. "Um extraordinário entusiasmo p ela Antiguidade clássica [pré-medieval] se estabeleceu, combinando uma ilimitada liberdade de opinião com uma laxidão 1

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da moral, que em todo tempo dava escândalo tanto a crentes quanto a não crentes, e com uma magnificência f estiva que lembrava os dias e noites da 'casa dourada' de Nero [nababesco palácio construído por esse imperador para suas orgias] ". 12 Vários foram os fatores que levaram a esse estado de espírito, contrário ao do verdadeiro cristianismo. O líder católico, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, assim os descreve em sua magistral obra Revolução e Contra-Revolução : "No século XV começa a observar-se, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade que, ao longo do século, cresce cada vez mais em ni- · tidez. O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. As diversões se vão tornando cada vez mais frequentes e mais suntuosas. Os homens se preocupam sempre mais com elas. Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza. Há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao f estivo. Os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrificio, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de santidade e vida eterna. A Cavalaria, outrora uma das mais altas expressões da austeridade cristã, se torna amorosa e sentimental, a literatura de amor invade todos os países, os excessos do luxo e a

consequente avidez de lucros se estendem por todas as camadas sociais ". 13 Foi esse pernicioso estado de espírito e de coisas que o grande arcebispo teve que enfrentar nos 13 anos de seu episcopado, combatendo-o a tempo e a contratempo. "Se naqueles primórdios do movimento renascentista tivesse surg ido uma verdadeira coorte de santos que o combatesse como o f ez Santo Antonino, por certo a Renascença, com seu espirita naturalista e neopagão, não teria dominado os espíritos e penetrado nos ambientes católicos como ocorreu nos séculos XV eXVJ " .14 "Antonino dos Conselhos"

Eram, pois, tempos muito difíceis para um governante, por causa da mentalidade então em voga. Era preciso praticamente recristianizar o povo, ao que o santo arcebispo se empenhou com denodo. "A partir desse momento, ele não teve senão um pensamento: dedicar-se sem reserva à sua Igreja e a seu povo. Ele se tornou o homem de todos e o modelo dos pastores, num tempo em que o exemplo não descia sempre suficientemente do alto. [... ] Assistência aos pobres até o despojamento de si mesmo, conselhos a todos nos negócios dificeis, visitas às igrejas e aos mosteiros, reforma do clero, pregação e defesa da f é, direção de almas piedosas, composição de obras destinadas à

instrução religiosa de seus padres e de seus fiéis, tais foram os deveres múltiplos que o absorveram nos 13 anos de episcopado, pelo que seus contemporâneos · o chamaram, por causa de sua prudência, 'Antonino dos conselhos "'. 15 E, sobretudo, "em nenhuma coisa se desvelava mais do que em desenraizar os pecados e as ofensas a Deus. [... ] Afastava das igrejas, com grande severidade, as mulheres que vinham a elas para enlaçar as almas, e os moços lascivos que as iam ver. Não consentia em casas de jogo nem em coisas escandalosas [... ] e não poucas vezes tirou os dados, os naipes e o dinheiro aos que Jogavam ". 16 Indulgência para quem oscular seus pés

Tal era sua fama de santidade que, quando ele faleceu no dia 2 de maio de l 449, o Papa Pio Il concedeu sete anos de indulgência a todos aqueles que fossem visitar seus restos mortais e lhe osculassem os pés. Por isso seu corpo precisou ser exposto durante oito dias, exalando durante todo esse tempo agradável odor. Santo Antonino foi canonizado por Adriano VI no dia 31 de maio de 1523 e sua festividade é celebrada pela Igreja em 10 de maio. ,, Notas: 1. Mgr. Paul Guérin, Les Petits Bollandistes, Vies des Saints Bloud et Barrai, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo V, p. 436. ' 2. Pe. Pedro de Ribadeneira, Fios Sanctorum, in Dr. Eduardo Maria Vi/arrasa, La Leyenda de Oro, L. González y Compaiiia - Editores, Barcelona, 1896, tomo li , p. 168. 3. Cfr. Ribadeneira, op. cit., pp. 168-169; Mgr. Giry, p. 436; Pe. José Leite, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, vol. li ,, p. 53. 4. Cfr. A.L. Macmahon, St. Antoninus, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 5. Pe. José Leite, op.cit., p. 53. 6. Cfr. P.Mandonnet, Saint Antonin, Dictionnaire de Théologie Catholique, Librairie Letouzey et Ané, Paris, 1932, tomo 1, col. 1450. 7. Cfr. Thomas J. Shahan, Council of Constance, The Catholic Encyclopedia , CD Rom edition. 8. Edmund G. Gardner, House of Mediei, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 9. Ribadeneira, op.cit. p. 170. 10. Dom Próspero Guéranger, EI Ano Liturgico, Ediciones Aldecoa, Burgos, 1956, tomo Ili, p. 816. 11. Will iam Barry, The Renaissance, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 12. William Barry, op.cit. 13. Parte 1, Cap. Ili , 5, A. 14. Hélio Viana, Santo Antonino, Arcebispo de Florença, in Catolicismo, maio/1998. 15. P. Mandonnet, op.cit., col. 1451. 16. Ribadeneira, op.cit., p. 170.

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HISTÓRICOS

Santa Liga e a Reconquista Após a vitória católica em Viena, em 1683, prosseguiram as batalhas da Santa Liga contra o invasor muçulmano. Áustria, Polônia e Veneza uniram-se, sob as bênçãos do Papa, para reconquistar os territórios dominados pelos turcos.

••••• IVAN RAFAEL DE OLIVEIRA

imos no art.igo anterior 1 como se frustrou - graças à ação da Santa Liga convocada pelo Papa - a tentativa muçulmana de con- . quistar Viena. Esta não havia sido a primeira investida dos turcos visando destruir a Cristandade. Fazia-se então necessária uma reação católica à altura daquela ameaça, não só para barrá-los na Áustria, mas para reconquistar os reinos católicos que padeciam sob o jugo otomano. Essa reação ao ataque muçulmano era tanto do desejo do Papa quanto do rei polonês João Sobieski, que de boa vontade se teria precipitado sobre a importante cidade de Buda, onde Kara Mustafá, derrotado, reunira suas tropas fugitivas. Em 17 de setembro, por sua própria iniciativa, o soberano polonês tomou o caminho da Hungria.

V

Batalhas de Parkany e Esztergom

Em 7 de outubro de 1683 começaram os combates pela reconquista da cidade de Parkany. Sobieski, embora desejoso de lutar e

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Batalha de Parkany - Martlno Altomonte (1657-1745). Lviv National Art Gallery, Lvlv (Ucrânia).

confiante na vitória, avançou demasiadamente o exército e caiu em uma cilada dos turcos. Um cavaleiro inimigo já brandia um machado de combate sobre sua cabeça, quando um de seus nobres o salvou, recebendo em seu lugar o golpe mortal. Dois mil de seus poloneses foram feridos e até seu filho viu-se em grande perigo. A chegada do exército austríaco salvou-os de serem aprisionados pelos maometanos. Dois dias depois os cristãos obtiveram seu revide em Parkany. Foi renhida a batalha, sendo finalmente rechaçados os turcos. Como a única saída deles para a fuga era a ponte que liga Parkany a Esztergom, se diri giram a ela. Mas foi tal a confusão que se estabeleceu, atropelando-se uns aos outros, que a ponte desmoronou e muitos morreram afogados nas águas do Danúbio. As perdas dos muçulmanos pela espada dos cristãos e por afo-

gamento foram calculadas em 15 mil homens. Imediatamente estabeleceu-se o cerco a Esztergom, que jazia sob a tirania turca há 78 anos. A cidade santa dos húngaros, após breve defesa, se rendeu em 28 de outubro. O Grão-vizir se retirou para Belgrado, terminando então a investida otomana daquele ano. Chegando a Maomé l V a notícia da perda dessas duas cidades, ele atribuiu tais derrotas à indolência e avareza do chefe muçulmano Kara Mustafá, cuja decapitação confiou então ao Agá dos Janízaros2, que a executou em 25 de dezembro de 1683. Veneza ingressa na Santa Liga

Em 1684, Veneza entrou na Santa Liga contra os turcos. A aliança foi concluída em 5 de março, graças ao empenho do Papa Beato Inocêncio XI. Todos os príncipes

da Cristandade foram convidados a entrar nessa Liga contra os turcos. Muitos creram então que havia chegado a hora de lançar a Europa contra o Islã. Como patrono da Santa Liga foi designado o Papa, o qual a auxiliaria também com suas forças. Assim, o teatro de batalha se estendeu. A Polônia atacaria a Turquia pelo norte, enquanto os auslTíacos avançariam pela região da Hungria. Veneza entraria por terra na Dalmácia e lançaria sua frota de navios nos mares gregos, tentando a conquista do Peloponeso. Investida polonesa

A atenção de toda Europa voltou-se para os acontecimentos da Santa Liga. Em vão procurou Luís XIV separar o rei polonês do Imperador Leopoldo, pois o rei João Sobieski considerava a luta contra o Islã o cerne de sua vida. Em agosto, na região da atual

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Ucrânia, Sobieski conquistou a cidade de Jaslowiec e construiu uma fortaleza próxima a Kamieniec Podolski, a fim de ameaçar esse importante baluarte dos turcos. A fortaleza recebeu o belo nome de "Trincheira da Santíssima Trindade". Porém, nesse ano ele não obteve nenhuma vitória relevante. Isto porque Solimão Paxá, que com 100 mil homens deveria proteger as fronteiras contra Sobieski, retirava-se constantemente, não travando batalha. Em vista disso, Sobieski regressou em novembro daquele ano à Polônia. Em dezembro de 1684, os generais poloneses Kunicki e Potocki dispersaram os tártaros na região do Danúbio inferior. Na Moldávia, Potocki aprisionou o hospoda,;:, Ducas, que havia tomado parte no cerco de Viena. E também restabeleceu o hospodar PetTiceicu. Nessa ocasião, os boiardos da \;'aláqu ia4 acorreram para prestar homenagem aos poloneses. O Papa então abençoou Sobieski, enviando-lhe uma espada, e para a rainha, uma rosa de ouro. Avanços na Hungria

As investidas na Hungria começaram somente em junho de 1684. Em poucos dias Carlos de Lorena conquistou as cidades de Visegrád e Waizen. Os austríacos encaminharam-se logo em seguida para a cidade de Peste, que à -sua chegada, foi incendiada pelos turcos e abandonada. Em 14 de julho, justamente um ano desde o início do cerco de Viena, o Duque Carlos de Lorena iniciou o cerco da fortaleza de Buda. 46 1

Esta cidade era considera pelos muçu Imanos ponto chave do Império Otomano. Para sua conservação faziam-se conclamações públicas em

Constantinopla. Dez mil homens de tropas especiais a defendiam sob o comando de lbrahim Scheitan. Oito dias depois, Carlos de Lorena derrotou em Hamzsabég um exército turco que tentava impedir o cerco de Buda. Nessa batalha foi aprisionado um turco também chamado de Hamzsa-beg, que, enquanto dominador dessa cidade havia ali provocado impressionantes devastações. Entre as atrocidades por ele praticadas conta-se o seguinte: um prisioneiro chamado Pedro Szapary, nobre húngaro, foi atrelado por ele a um arado, apesar de sua esposa ter oferecido 30 mil florins pelo seu resgate. Agora, estando as situações invertidas, o

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mesmo Szapary disse a seu antigo carrasco estas palavras: "T11 praticaste em mim muitas crueldades, e agora estás em meu poder; mas para que vejas como um cristão é melhor do que um turco, dou-te a liberdade". O turco, porém, já havia tomado veneno. Mas a magnanimidade do nobre húngaro de tal modo o comoveu, que em seguida ele abandonou o islamismo e se fez batizar, tendo falecido poucas horas depois. Os sitiados de Buda ofereceram ferrenha resistência, enquanto os sitiadores empreendiam audaciosos assaltos. No entanto, as enfermidades, as fortes chuvas e a guerra arrebataram em pouco tempo mais de 20 mil homens do exército cristão, e o próprio Carlos de Lorena caiu enfermo. O Imperador austríaco persistiu na continuidade do cerco durante mais de cem dias, mas em 29 de outubro se viu forçado a interrompê-lo, o que muito entristeceu o Papa. A frota veneziana

Veneza começou a luta empregando todas as suas forças. Em 15 de julho de 1684 declarou formalmente guerra em Constantinopla, quando até então a iniciativa havia sido sempre dos otomanos. Veneza solicitou da Alemanha e da Suécia hábeis generais, tendo nomeado o aguerrido Francisco Morosini comandante do seu exército. Morosini e sua h·ipulação desembarcaram em 20 de julho na ilha de Santa Maura. Em 8 de agosto conquistaram a fortaleza, como também seis ilhas situadas ah·ás

de Santa Maura. Pouco depois, na Grécia, era conquistada Prevesa. A Turquia empregou todos os meios para se defender pelo mar; até então ela não havia guerreado contra tantas potências ao mesmo tempo. A conquista de Neuhausel

Dmante o ano de 1685 reali zaram-se muitos combates. Os otomanos reuniram em Belgrado 80 mil homens e 640 canhões. Em julho, o exército imperial se pôs em movimento. Desta vez, diversas regiões do Império austríaco apoiaram seu imperador. Além dos austríacos, marchara m para a Hungria 40 mil soldado oriundos da Baviera, de Colônia, de Brunsw ick, da Francônia, do Al to Reno e da Suábia. Com tão poderoso exército, Carlos de Lorena ·e lançou à reconquista de Neuh~i uscl. 5 Uma das mais importantes da época, él fo rtaleza de Neuhausel era

quase inexpugnável. o cerco estava bem estabelecido quando chegou a notícia de que os muçulmanos sitiaram Esztergom. Como esta era uma cidade estratégica para a conquista de Buda, Carlos de Lorena partiu para salvá-la com 40 mil homens, deixando somente 16 mi 1 em Neuhausel. Em 16 de agosto, na batalha que se trnvou diante de Esztergom, os otomanos foram rechaçados com grandes perdas. Três dias depois, Neuhausel foi conquistada pelos cristãos que nela haviam permanecido. Como prêmio pela conquista de Neuhausel , os príncipes e os destacamentos da Suábia receberam a simbólica bandeira da fortaleza. De cinco metros e meio de comprimento por três e meio de largura, esse pendão era tão pesado que um homem sozinho não conseguia carregá- lo. Na Alemanha, Polônia e Itália

celebraram-se festividades pelas vitórias cristãs. Contudo, as três nações ainda aspiravam como ideal as conquistas de Buda, Kamieniec e do Peloponeso. Era preciso que a Santa Liga prosseguisse sua indômita pia pugna contra o inimigo da Cristandade. É o tema que será exposto em próximo artigo. ❖ Notas:

Principal fonte consultada: Historia Universal, Juan Baptista Weiss, Editora Tipografia La Educación, Tradução da 5 º edição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XI, p. 903 a 916. 1. Publicado na edição de fevereiro último de Catolicismo . 2.Janízaros: constituíram a elite do exército otomano. Essa milícia era constituída de meninos cristãos capturados em batalha, levados como escravos e pervertidos ao Islamismo. Agá era o título do comandante dessa tropa. 3 . Hospodar: título de Governador da Moldávia. 4. Boiardos: membros da aristocracia. 5.Atualmente a cidade é denominada Nové Zámky (Castelo Novo).

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1 São José Operário, Esposo da Santíssima Virgem De estirpe real, aprouve no entanto a Deus que exercesse o trabalho manual, a fim de servir de exemplo a todos os trabalhadores católicos

2 Santos Exupério, Zoé, Clríaco e Teodolus, Mártires + Panfília (Ásia Menor), 140. Por se recusar-se a participar de ritos pagãos, esta família de escravos - pais e filhos foi severamente açoitada e queimada viva.

3 Santos Felipe e Tiago Menor, Apóstolos + Séc. 1. São Felipe deixou a casa, mulher e filhos em Betsaida para seguir a Nosso Senhor, sendo martirizado em Hierápolis, na Frígia (Ásia Menor). São Tiago Menor, primo de Nosso Senhor, foi o primeiro Bispo de Jerusalém, onde sofreu o martírio. É autor de uma admirável epístola. (no Calendário tradicional: Dia da Invenção da Santa Cruz)

4 São Roberto Lawrence, Abade, Mártir + Tyburn (Inglaterra), 1535. Abade da Cartuxa de Beauvale, em Nottinghamshire, foi barbaramente torturado e enforcado por recusar o Ato de Supremacia, através do qual o herético Henrique VIII se nomeava cabeça da Igreja na Inglaterra (origem do anglicanismo).

5 ASCENSÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Santo Hilário de Arles, Bispo + França, 449. De família pagã da alta nobreza e ocupando elevado cargo no govern o, re-

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nunciou a tudo após ser convertido por Santo Honorato, seu parente, a quem seguiu no Mosteiro de Lerins e depois sucedeu no Bispado de Arles.

6 São João Apóstolo na Porta Latina + Séc. 1. O imperador romano Domiciano fez com que aos 90 anos ele fosse lançado em uma caldeira de azeite fervente junto à Porta Latina. Dela, contudo, o Apóstolo virgem saiu rejuvenescido. Foi então desterrado para a ilha de Patmos, sendo o único Apóstolo não mártir. Primeira sexta-feira do mês.

7 São João de Beverly, Bispo + Inglaterra, 721. Monge beneditino e depois Bispo de York, onde sucedeu a São Bosa. Notável por sua contemplação contínua, santidade de vida e dom de milagres, teve sua biografia escrita por São Beda, o Venerável, a quem ordenara sacerdote. Primeiro sábado do mês.

numerosos pagãos por suas palavras, exemplo e santidade de vida.

9 São Beato de Vendôme, Confessor + França, séc. Ili. Missionário

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mártires e distribuído sua fortuna entre os pobres, faleceu santamente aos 16 anos de idade.

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Santo Antonino de Florença, Bispo e Confessor (Vide p. 40)

São João Nepomuceno, Mártir + Praga, 1393. Consagrado a Deus pelos pais desde o nascimento, tornou-se confessor da rainha e "cônego da catedral. Tentado em vão (pelo rei Venceslau IV) a trair o sigilo confessional, foi lançado ao Rio Moldávia, merecendo assim a palma do martírio (do Martirológio Romano).

Santo Austregésilo, Bispo e Confessor + Bourges, 624. Abade em São Nizier, Lyon, depois Bispo de Bourges, já era honrado como santo em vida, tal o brilho de suas virtudes.

11 São Francisco de Girolamo, Confessor + Nápoles, 1716. Pregador popular, jesuíta, passou a vida evangelizando o sul da Itália, onde seus sermôes atraíam multidôes. "Mostrou maravilhosa caridade e paciência em procurar a salvação das a/mas " (do Martirológio Romano).

12 São Domingos de la Calzada, Confessor + Espanha, 1109. Este eremita teve a singular vocação de tornar menos rude o caminho dos inúmeros peregrinos que se dirigiam a Compostela, construindo para eles uma estrada (ca/zada), uma ponte e uma hospedaria.

8 São Pedro de Tarantésia, Bispo e Confessor + França , 1174. Ingressou no Mosteiro cisterciense de Bonnevaux, no que foi seguido pelo pai e por dois irmãos. Nomeado arcebispo de Tarantésia, reformou a disciplina eclesiástica e substituiu um clero corrupto de sua catedral por cônegos regulares. Depois desapareceu, tornando-se irmão leigo em um convento na Suíça. Encontrado, teve que reassumir as suas funçôes.

de do Mosteiro de São Demétrio, em Kiev, e por fim, Bispo de Rostov. Trabalhou para converter os pagãos.

13 Primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima, em 1917

14 São Matias, Apóstolo e Mártir + Séc. 1. Um dos 72 Discípulos de Cristo, foi eleito à sorte para substituir o infame traidor Judas lscariotes no Colégio Apostólico (festividade anteriormente celebrada a 24 de fevereiro).

15 DOMINGO DE PENTECOSTES Santo Isaías de Rostov, Confessor + Rússia, 1090. Monge, Aba-

l

17 São Pascoal Ballão, Confessor + Valência, 1592. Irmão leigo franciscano de pureza angélica, passava horas diante do Santíssimo Sacramento, onde recebeu a profunda ciência com que refutava hereges e explicava sabiamente os mistérios de nossa Fé.

8 São João 1, Papa e Mártir + Ravenna (Itália), 526. "Aí aprisionado por Teodorico, rei ariano da Itália, por causa de sua fé ortodoxa, foi longamente afligido na prisão até morrer. Seu corpo foi levado a Roma e enterrado na Basílica de São Pedro" (do Martirológio Romano).

19 Santos Pudêncio, Mártir, e Pudenciana, Virgem + Roma, séc. li. Pudêncio era um senador romano bati zado pelos Apóstolos e martirizado por sua fé, sorte que coube também a uma de suas filhas, Santa Pra xedes. A outra filha, Pudenciana, após ter reverentemente sepultado muitos

23 São Desidério, Bispo e Mártir + França, 607. Por reforçar a disciplina eclesiástica, combater a simonia e denunciar a conduta imoral da rainha Brunilda, esta o acusou de paganismo ao Papa. Exonerado e banido, retornou quatro anos depois, sendo assassinado por ordem do rei Teodorico, a quem também tinha publicamente censurado.

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Santo André Bobola, Mártir + Polônia, 1657. Oriundo de uma das mais antigas famílias da Polônia, entrou para a Companhia de Jesus, dedicando-se à pregação na Lituânia e depois na Polônia . Foi martirizado por cossacos russos cismáticos com tantos requintes de maldade, que a Sagrada Congregação dos Ritos afirma ter sido o martírio mais cruel já apresentado àquela Sagrada Congregação.

NOSSA SENHORA AUXÍLIO DOS CRISTÃOS Apareceu durante a batalha de Lepanto (7 de outubro de 1571), vencida pelos cristãos, espalhando terror entre os muçulmanos.

22 DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE. Santa Rita de Cássla, Viúva + Itália, 1457. Durante 18 anos suportou as asperezas e infidelidades de um marido de caráter bruta l, a quem converteu com sua paciência e espírito sobrenatura l. Tendo · ele sido assassinado, pediu a Deus a morte dos filhos, que queriam vi ngar a do pai. Após a morte destes, ent rou para o convento das agostinianas, onde rec beu na fronte um dos espin hos da coroa do Salvador. Op · rou ta ntos milagres, que passou a ser conhecida como a "Advogada das causas perdidas " e "Sa nta dos impossíveis".

25 São Gregório VII, Papa + Salerno, 1085. Um dos maiores Pontífices da Santa Igreja, foi seu acérrimo defensor contra as investidas do poder temporal, promoveu importantes reformas no clero relaxado e morreu no exílio, perseguido pelo imperador alemão Henrique IV.

26 SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. São Filipe Nerl, Confessor + Roma, 1595. Fundador da Congregação do Oratório, cuja principal finalidade era a renovação da vida cristã entre os leigos de Roma.

27 Santo Agostinho de Cantuária, Bispo e Confessor + 605. Enviado pelo Papa São

Gregório Magno, evangelizou a Inglaterra, sendo considerado o apóstolo daquela nação.

8 São Bernardo de Montjoux, Confessor + Aosta, 1081. Vigário Gera l da diocese de Aosta, durante mais de 40 anos trabalhou como missionário na região dos Alpes. Fundou duas hospedarias nos passos chamados Pequeno e Grande São Bernardo, onde estabeleceu um mosteiro de monges agostinianos dedicados a socorrer, com seus grandes cães, viajantes extraviados na neve.

29 São Cirilo de Cesaréia, Mártir + Ásia Menor, 251. Menino ainda , abraçou o cristianismo sem o conhecimento do pai. Este o expulsou de casa e o denunciou. Como se negou a renunciar à Fé, foi decapitado. Modelo de todos os que perse-

veram na fé contra a perseguição de pais ímpios.

30 Santa Joana D'Arc, Virgem. + Rouen (França) 1431. Suscitada por Deus para livrar a França do jugo inglês, esta virgem guerreira foi depois traída e queimada como feiticeira. Reabilitada por Calisto Ili em 1456, teve a heroicidade de virtudes reconhecida por São Pio X em 13 de dezembro de 1908, foi por ele beatificada em 1909 e canonizada por Bento XV em 1920.

31 VISITAÇÃO DE NOSSA SENHORA (no Calendário tradicional, Nossa Senhora Rainha)

Nota: Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui apenas seus nomes enunciados, sem nota biográfica.

Intenções para a Santa Missa em maio Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes Intenções:

• Em comemoração do 99° an iversário da 1ª aparição de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorzinhos, no dia 13 de maio de 1917. Pedindo pelo triunfo do Imacu lado Coração de Maria em todo o mundo, especialmente em nossa Pátria, que atravessa uma crise sem precedentes. Para que o povo brasileiro não esmoreça nas boas reaçôes em defesa de um Brasil autenticamente cristão.

Intenções para a Santa Missa em junho • Suplicando ao Sagrado Coração de Jesus - principa l celebração de junho - que cumule nossos leitores e suas respectivas !amílias de graças muito especiais e uma ardente devoção Aquele Coração que tanto sofreu para alcançar a nossa salvação.

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COLOMBIA Protestos contra o governo por favorecer terroristas das FARC OSCARVIDAL

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ssim como no Brasil e em outras nações vizinhas, o povo colombiano também está acordando. Em toda a América Latina crescem as reações à medida que os descalabros produzidos por governos ·esquerdistas vão ficando patentes. No dia 2 de abri l passado, apesar do mau tempo em algumas regiões, os co lombianos saíram às ruas de 3 J cidades para protestar contra o governo do Presidente

Juan Manuel Santos. Sobretudo contra a funesta negociação, promovida por ele em Cuba, a fim de estabelecer um "acordo de paz" com as FARC (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia), movimento narcoterrorista que há seis décadas dilacera o país vizinho na tentativa de tomar o poder e implantar um regime marxista. Se o pseudo-acordo de paz com as FARC for aprovado nos termos em que está sendo negociado, os terroristas entrarão na política com foro privilegiado e, uma vez empoleirados no governo, não desejarão mais largá-lo, nem serão mais processados pelos numerosos 1crimes que cometeram ~ assassinatos, sequestros, tráfico de drogas, graves vio lações dos direitos humanos etc. - e sequer serão obrigados a reparar as vítimas ... Os colombianos desejam obviamente a paz, mas sabem que para isso é necessário CATOLICIS~IO / www.catolicismo.com .br

que os terroristas respondam por seus crimes, entreguem as armas e sejam encarcerados. Os colombianos também sabem que os guerrilhe iros comu ni stas das FARC, não consegu indo tomar o Poder por meio das armas, planejam adotar o método que obteve êxito em a lgumas nações: conq ui stá- lo através da política. Inclusive esperam co ntar para isso com o apoio do Papa Francisco, a quem env iaram uma mensagem, já que as contribuições do atual presidente da Co lômbia, embora muito efetivas, têm sido insuficientes para convencer os co lombianos.

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O terrorismo se transforma: do fundo das selvas ao coração do Poder". A respeito do pseudo acordo de paz com a narcoguerrilha, esse oportuno documento a firma: "A paz verdadeira, a paz autêntica, a paz que todos os colombianos anelamos, não é.fruto de uma composição, mas a Paz de Cristo no Reino de Cristo. Ela é - como ensinam a Lei de Deus e a l ei Natural - a tranquilidade na ordem. Jamais haverá verdadeira paz se aqueles que cometeram tantos crimes se apresentam agora como paladinos de uma.falsa paz, que impõem com a ajuda de autoridades complacentes, negando e desdenhando o valor da Constituição e das leis. O pais seria lançado assim no que se poderia chamar a "paz marxista", cópia da que foi durante mais de 70 anos a pax soviética, na qual se negaram e eliminaram, em nome da justiça, da liberdade e da paz mal entendidas, todos os direitos da sociedade f das p s oas, para concentrá-los ilegitimamente nas mãos da tirania vermelha. " ❖

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Nas imagens que ilustram este artigo, vemos multidões que saíram às ruas no dia 2 de abri l para protestar contra o governo e o "acordo de paz" favorecedor das FARC. A Sociedad Colombiana Tradición' y Acción e o Centro Cultural Cruzada, ambas entidades autônomas e coirmãs do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, participaram dos protestos em Bogotá e Medellín, respectivamente. Por ocasião da s manifestações, jovens vo luntários de ambas entidades colombianas distribuíram um comunicado inti tulado "COLÔMBIA - Sob os auspíc ios do governo em sua convergência com as FARC. catolicismo@terra.com.br / MATO 2016

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Entre as flores, ela simboliza uma obra-prima de coerência PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

A

tulipa é tão bonita que me pergunto se há alguma flor mais bela. Ela floresce em várias cores, inclusive existe a tulipa negra. Na cor bordeaux ela não aparenta nada de indefinido, como, por exemplo, na orquídea, cujas cores variam muito. Enquanto a orquídea é parasita, a tulipa evoca ideias de autossuficiência. É altaneira, sua ponta parece um cálice e sua haste, uma lança. Além da beleza da cor, ela tem a beleza da harmonia. Há uma proporção entre altma e di âmetro que faz dela uma obra-prima de coerência. Em relação à rosa, a tulipa seria flor de segunda classe? - Bela como a rosa ela não é, mas não é de segunda classe. É uma linda flor, que constituiria por si uma maravilha da ordem floral do universo das coisas criadas por Deus. E la está junto à rosa, mas nem se deve comparar, porque tem uma forma de beleza na qual é suprema. É menos bela que a rosa, mas devemos considerar a graduação das coisas e amar o belo específico nos seus devidos graus. A orquídea evoca um ensinamento de modéstia, encontra-se em alta posição na hierarquia dos valores, mas não é a primeira. Prova de que a hierarquia tem razão de ser: não é um achatamento do outro, mas um respeito recíproco. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que a orquídea é uma flor representativa do anti-igualitarismo.

Se a rosa é uma flor que reflete o anti-igualitarismo para mostrar a beleza do grau supremo, a orquídea é uma flor simbólica do anti-igualitarismo para mostrar o belo dos graus intermediários, em relação aos quais o espírito moderno tem dificuldade em compreender bem. *

*

*

Quando soube que havia tulipas negras, perguntei-me pela razão de sua existência. Seria para cruzes em velórios? Em certa ocasião, passando de automóvel por uma rua de Paris, vi , colocado numa vitrine, um jarro com tulipas de várias cores e, entre elas, uma tulipa negra. Compreendi então por que Deus criou tulipas pretas. Foi para realçar a beleza de todas as outras. Daquela " noite escura" saía tal contraste das cores com o preto, que compunha uma das notas mais bonitas do jarro. Compunha uma forma de fantasia racional - no estilo das coisas francesas - como se fosse um teorema a respeito de cores. Mas o automóvel passou rápido, com a rapidez dos táxis velhos da França, quer dizer, numa rapidez lenta. E u arregalei os olhos com o que via na vitrine e compreendi a razão de ser de mais uma maravilha da criação divina. ❖

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 6 de março de 1971. Sem revisão do autor.



EXCEllTOS

SUMÁRIO

Nossa Senhora do Sagrado Coração: síntese das demais • 1nvocaçoes

2

EXCERTOS

4

CARTA DO DIRETOR

5

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? lmpeachment e os dois Brasis

6

CORRESPONDÊNCIA

8

A PALAVRA DO SACERDOTE O Islã conquistará a Europa pela "guerra dos berços"?

Plinio Corrêa de Oliveira

P

or mais variadas e belas que sejam as invocações com que a Santa Igreja se refere a Nossa Sen hora, em nen huma delas deixaremo. s de encontrar uma relação entre Ela e o amor de Deus. Essas invocações, ou celebram um dom de Deus, ao qual Nossa Senhora soube ser perfeitamente fiel, ou um poder especia l que Ela tem junto ao seu Divino Fi lho. Ora, o que provam os dons de Deus, senão um amor especia l do C riador? E o que prova o poder de Nossa Senhora junto a Deus, senão este mesmo amor? É com toda a propriedade que Nossa Senhora pode ao mesmo tempo ser chamada Espelho de justiça e Onipotência suplicante. Espelho de Justiça, porque Deus A amou tanto, que n 'E la concentrou todas as perfeições que uma criatura pode ter, e por isto mesmo em nenhuma E le se espe lha tão perfeitamente como n'E la. Onipotência suplicante, porque não há graça que se obtenha sem Nossa Senhora, e não há graça que Ela não obtenha para nós. Assim, pois, invocar Nossa Senhora ob o título do Sagrado Coração é fazer uma síntese belíssima de todas as o utras invocações, é lembrar o reflexo mais puro e mais belo da Maternidade Divina, é fazer vibrar harmonicamente a um só tempo todas as co rdas do amor que tocamos uma a uma enunc iando as várias in vocações da Ladainha Lauretana ou da Salve Rainha. Mas há uma invocação que quero lembrar especia lmente. É a de advogada dos pecadores. Nosso Senhor é Juiz. E por maior que seja a sua misericórdia, não pode também deixar de exercer a sua função de juiz. Nossa Senhora, porém, é só advogada. E ninguém ignora que não é função do advogado outra coisa senão defender o réu. Assim, dizer que Nossa Senhora do Sagrado Coração é nossa advogada implica dizer que temos no Céu uma advogada onipo. tente, em cujas mãos se encontra a chave de um oceano infinito de misericórdia. · O que de me lhor para se mostrar a esta human idade pecadora, à qual, se não se fa la de Justiça de Deus se embota cada vez mais no pecado, e se dela se fala, desespera de se sa lvar? Mostremos a Justiça: é um dever cuja omissão tem produzido os mais lamentáveis frutos. Ao lado da Justiça que fere os impenitentes, nunca nos esqueçamos, entretanto, da misericórdia, que ajuda o pecador seriamente arrependido a abandona r o pecado e, ass im , a se sa lvar ("O Legionário", 2 1-7-40). ❖

12

A REALIDADE CONCISAMENTE

14

ENTREVISTA

Diretor: Pao lo Corrêa de Brito Filho Joroulistu Uesponsável:

olso n Ramos Banetto Registrado na DRT/DF sob o n" 3116

Rainha D. Maria 1, a Piedosa

22

Administração:

ESPLENDORES DA CRISTANDADE

Rua Viscond e de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 0J132-000 São Paulo - SP

Jumiêges: uma das mais admiráveis ruínas na Fran ça

26

Serviço de Atendimento uo Assinante:

CAPA

(11) (11) (ll) (ll) (l 1)

Justiça e misericórdia não se excluem

36

NACIONAL Após o impeachment, a imprescindível vigilância

3331-4522 3361-6977 3331-4790 2843-9487 3333-6716

(li) 3331-5631 fax Correspomlênciu:

38

VIDAS DE SANTOS

Caixa Posta l 707 CEP 01031-970 São Paulo - SP

São João Fisher

Impressão:

42

Prol Editora Gráfica Ltda.

DISCERNINDO

E-mail:

"Nada , a não ser Vós mesmo, Senhor"

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44

HomePugc:

VARIEDADES

www. catolici smo.com.br

"Ninguém fica depravado de repente"

46

lSS

0102-8502

Preços da assinatura anua l para o mês de Junho de 2016:

SANTOS E FESTAS DO MÊS

Con1 um :

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Cooperador: B,wfoiLor: Gra,lde Benfeitor: Exemplar avulso:

.2

AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA ê ro

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AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

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R$180,00 R$ 270,00 R$460,00 R$ 760,00 H$ 18,00

CATOLICISMO

Winston Churchill: um gênio com aspectos plebeus e nobres

Publica ção mcusnl da Editora .Padre Belchior de Pontes Ltda.

NOSSA CAPA: Imagem do Sagrado Coração, igreja de Lourdes, Bogotá (Colômbia) /Foto: Luis Guillermo Arroyave

2

CATOL IC[SMO / www.catol icismo.com.br

catolicismo@terra .com.br / J UNHO 2016

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CARTA DO DIRETOU

l

Caro leitor,

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA?

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

A magnífica festividade do Sagrado Coração de Jesus comemora-se este ano no dia 3 de junho. A ela Catolicismo d~dica sua matéria de capa, recordando a conhecida revelação de Nosso Senhor a Santa Margarida MariaAlacoque em Paray-le-Monial, no século XVII. Contudo, seu enfoque principal é ressaltar uma visão harmônica entre misericórdia e justiça, que devem coexistir numa autêntica concepção do Coração divino e na devoção a E le. Fala-se hoj e muito de misericórdia. Inclusive o Papa Francisco, através da bula Misericordiae Vultus, declarou 2016 o "Ano Santo da Misericórdia". Cumpre entretanto lembrar que em Deus não há contradição: se de um lado Ele concede aos homens a possibilidade da salvação, perdoa o pecador arrependido e lhe oferece misericordiosamente a felicidade celeste por toda a eternidade, de outro lado a divina misericórdia é sempre associada à justiça, pois Deus é o Ser perfeitíssimo. Assim sendo, Ele premia a virtude e pune o pecado. Caso o homem cometa pecado grave e permaneça impenitente, o Criador não seria justo se não o castigasse proporcionadamente, inclusive, conforme o caso, com as penas eternas do Inferno. A alma humana progride na virtude mantendo o equilíbrio entre a confiança na misericórdia e o temor da justiça divina. A Santíssima Virgem proclama em seu sublime cântico do Magnificat: "A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem". Há em nossos dias uma acentuada tendência em ressaltar apenas a misericórdia. Invocam-se nesse sentido passagens do Evangelho, mas segundo uma visão unilateral, e portanto adulterada, como em certos comentários sobre a mulher adúltera que seria apedrejada. Nosso Senhor impediu que ela fosse lapidada, mas em seguida lhe disse: "Vai e não pe<1ues mais". Tal recomendação torna patente na atih1de de nosso Salvador a harmonia da prática da misericórdia com uma condenação formal do pecado mortal de adultério. Misericórdia e justiça são assim duas virtudes que se complementam, constituindo apanágio tanto do proceder de Deus quanto do homem virtuoso temente a Ele. Cumpre a propósito lembrar a expressiva frase de Santo Afonso de Ligório "Deus envia mais gente ao inferno por abusar de sua misericórdia, do que por obra de sua justiça". Todas essas considerações são de molde a esclarecer nossos caros leitores a respeito de um tema básico para nossa vida espiritual, numa época em que visões obliteradas podem causar graves danos às almas. Em Jesus e Maria,

4

CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

o

eachment e os ois Brasis

N

a votação ocorrida na Câmara dos Deputados em 17 de abril último, da qual resultou a aprovação naquela Casa Legislativa do parecer favorável ao impeachment da presidente Dilma, grande número dos parlamentares justificou sua escolha pelo "sim" com base em Deus, na família, nos filhos, netos etc. Essa escolha religiosa-social chamou a atenção do Brasil inteiro. A maior parte de nossos patrícios ficou agradavelmente surpresa com essas justificativas apresentadas pelos deputados. Aliás, é de notar que, em boa medida, eles assim justificaram seu voto para agradar suas bases eleitorais, uma vez que o Brasil autêntico quer ouvir falar em Deus e nos valores familiares, diferentemente desse Brasil de superficie retratado pelas novelas, pelos conchavos políticos, e por tantas outras coisas que desagradam o Brasil autêntico. Depois disso veio a votação no Senado com a consequente suspensão das funções da presidente Dilma por 180 dias, até que se consume todo o processo e se pronuncie . o impeachment definitivo, o que parece provável acontecer.

O Brasil autêntico recebeu com alívio e com calma esse tão esperado afastamento da presidente. As poucas e insignificantes manifestações de desagrado, produzidas por arruaceiros dos movimentos ditos "sociais", não impressionaram. A esquerda católica, origem do PT, estrebuchou. O diário "EI País", de Madrid, viu no impeachment "O crepúsculo dos deuses das esquerdas latino-americanas ". Jmpeachment passou a ser a palavra de desafogo do brasileiro comum. Entretanto, não faltaram os que criticaram acerbamente os deputados pelas justificativas que apresentaram. Deles tratou o jornalista Luiz Felipe Pondé em artigo para a "Folha de S. Paulo" (2-5-16), intitulado "Nojinho de Deus e da família". Afinna Pondé que, para tais críticos, "o nojinho aqui vai além do blábláblá sobre a 'qualidade de nossos politicos '. O nojinho é, na verdade, nojinho de Deus, da religião e da família mesmo. Seria fácil identificar em muitos ateus rancorosos (mesmo que digam que não) um ódio de Deus que os jàz pensar mais Nele do que os crentes o fazem. [... ]

"Claro que em épocas do politicamente correto todo mundo tem que posar de 'doce relativista' e esconder que suspeita que essa 'gente simples' que crê em pastores, padres e afins seja gente ignorante que não entende nada da realidade. [... ] "E o nojinho dafamília? Esse é fruto de ideias como .familia é o lugar da opressão patriarcal', .família é coisa de gente heteronormativa '. Basta alguém dizer que uma mulher é 'recatada e do lar' para um exército de chatos e ofendidos protestarem contra a opressão exercida pelas mulheres 'recatadas e do lar 'sobre todas as outras que não querem ter recato ou um lar". *

*

*

Esses tais que contribuem para que o País oficial (da política, da TV etc.) discrimine e mesmo massacre o País real (dos que creem em Deus, amam a família, defendem a propriedade), provocam as lágrimas de Nossa Senhora. De que pranto se trata? Nesta proximidade do centenário das aparições da Virgem Santíssima em Fátima, convém lembrar que "o misterioso pranto nos mostra a Virgem de Fátima a chorar sobre o mundo contemporâneo, como outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de afeto terníssimo, lágrimas de dor profimda, na previsão do castigo que virá" (Plinio Corrêa de Oliveira, "Lágrimas, milagroso aviso", in Catolicismo, julho/1997). ❖

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CARTAS DOS LEITORES

e de progresso, de acordo com os ensinamentos conti-

triunfo do Imaculado Coração e intensifica nossas espe-

dos no Evangelho. Muitos ex-petistas já estão se dando

ranças. Maravilha! Fico emocionado com reações dessa linha. A derrota do Mal está próxima ...

conta dos prejuízos causados em toda a sociedade pelos 13 anos de petismo. Roguemos a Deus e a Nossa

(N.A.G.P. -PR)

Senhora Aparecida que nos mande líderes impregnados

Como extirpar o câncer moral?

tra esses movimentos, ditos sociais, alimentados pela

Muito esclarecedor o artigo sobre as mensagens de

esquerda católica. Uma atividade incompreensível por

Nossa Senhora de Fátima, que me ajudou a aprofundar

parte de tal clero, uma vez que esses movimentos são

o que tenho ouvido e lido a respeito. Vemos que Ela

opostos aos princípios da civilização ocidenta l e cri stã.

Tradição, Família e Propriedade

cristãos, o Brasil não poderá se recuperar do caos político,

alerta o mundo e deseja salvá-lo. Mas para isso precisa

Rezemos por uma restauração do Brasil com a sa ída da

Envio-lhes uma observação interessante que confirma

jurídico e econômico no qual está mergulhado! A única

extirpar o câncer moral que toma conta de todo o corpo

presidente Dilma, poste apagado de Lula, cujo governo

a análise contida no artigo "A bondade venceu o ódio":

esperança é a intercessão da Virgem Santíssima junto ao

social no Brasil e no mundo inteiro, em grande parte

planejava o golpe para dominar nossa Pátria com um

seu Divino Filho; se não, todos seremos castigados.

devido à implantação do Estado laico. Tal extirpação

sistema bolivariano de governo.

antiga, dos bons tempos da Rua Rio Grande do Norte). Hoje está cada vez pior! O último número de Catolicismo

desses valores, capacitados e com visão de futuro.

(E.F.F. - PR)

completa. Ou seja, a conversão da humanidade com o

Jararaca na UTI

consequente retorno a Deus, ou o terrível castigo para

Como a esperança é a última que morre, nesse desenho da jararaca na UTI eu gostaria de ver alguns bispos

dos durante tanto tempo nessa verdadeira apostasia dos

da CNBB de joelhos pedindo perdão por terem criado

referência à Tradição, Família e Propriedade.

povos. Vamos evitar a catástrofe? Tudo depende de nós,

a jararaca que picou mortalmente o Brasil. Será que

de qual caminho preferimos. De um ou de outro modo, a mensagem de Fátima se cumprirá e vencerá o Imacula-

terei algum dia essa alegria? Acho muito difícil. Só se

do Coração de Maria!

"cnbebistas" (apesar de não aparecerem no desenho) ,

Prenúncio É no mínimo reconfortante tomar conhecimento dessas

devem estar de joelhos rezando pela saúde da jararaca,

manifestações [Family Day, em Roma], é como estar

(R.I.J. - SP)

dependendo de nossas disposições no desejo da cura

que a humanidade abandone todos os erros acumula-

(M.L.S. - SP)

acontecer um milagre, porque hoje em dia esses bispos

(B.M.-DF)

para que ela volte à Presidência da República a fim de

presenciando as palavras do Gênesis: "Esta te ferirá a

Por Maria e com Maria

transformar o Brasil numa grande Cuba. Pelo menos

cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar." É um prenúncio do

Obrigado por nos ir preparando para o Centenário das

essas têm sido as orações da CNBB desde o nascimento

aparições de Fátima no próximo ano, assim como o Anjo

do PT nas sacristias de São Bernardo do Campo e de

de Portugal preparou os três pastorinhos um ano antes

São Paulo. Infelizmente!

ria vá à frente, abrindo os caminhos. Somente assim, por

Brasil profundo

Ela e tendo-A como General nesta luta contra o demônio

Totalmente de acordo com essa publicação! O Brasil está

(G.M.-RJ)

(M.H.-RJ) Deus vai intervir 'Tá ruim, tá ruim, tá ruim de amargar, se Deus não intervier como vai acabar?" (trecho de uma cançãozinha

está ótimo! Tirei xerox do artigo "Conflito análogo a uma guerra civil na Igreja?") e estou distribuindo para alguns padres, "Orat et Labora".

(S.L.P. - MG)

(J.A.P. - SP)

das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Neste tempo de preparação, temos de pedir insistentemente que Ma-

e o mundo, é que os guerreiros alcançarão a vitória.

Em 1988 o Professor Plínio já apontava como crítico o problema moral. Com lideranças que não praticam os valores

"O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), negou haver a ideia de antecipar eleições [. .. ] É um Congresso em que mais da metade dos que votaram ontem tem alguma acusação de corrupção[... ] O resultado mostra também a baixa compreensão [dos deputados arespeito do processo de impeachment]. Muitos dedicavam o voto a Deus, à família . Parecia a TFP", disse, fazendo

do "câncer" se fará por meios suaves ou catastróficos,

Crise moral leva à crise social

nas ruas protestando contra a esquerda. Vamos construir o verdadeiro Brasil baseados nos princípios morais.

(A.M - MG)

Equívoco: dissimular os interesses da Igreja a fim de comprazer o mundo

Agradecemos as orações Minha família e eu apreciamos fazer leitura do que os

Bondade suplanta o ódio

senhores escrevem de forma tão sóbria, honesta, since-

Muito preciso e oportuno o comentário [do artigo "A bon-

ra e até emotiva, em Catolicismo. Que bom ser assinan-

dade venceu o ódio", de Hélio Dias Viana] . É o que todos

te da revista! Oro todos os dias pelos senhores.

(E.F.C. - DF)

nós conservadores pensamos, embora a grande mídia tenha desprezado a autêntica manifestação daq ueles que representam o pensamento do povo brasileiro!

(A.D.II. - MG)

Dilma, Lula e o bolivari~nismo Os católicos tradicionais devem ter voz ativa nas próximas eleições, e a CNBB e seus seguidores devem

Divinos ensinamentos

emudecer, pois saíram envergonhados com as grandes

A união entre todos os brasileiros se dará quando nosso

manifestações contra a esquerdização do Brasil. O povo

lema "Ordem e Progresso" estiver não apenas em nossa

verdadeiro saiu às ruas, indignado contra o PT e con-

bandeira, mas no desejo de toda nossa gente de ,ordem

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CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

"Estão muito equivocados os que acreditam possível e esperam para a Igreja um estado permanente de plena tranquilidade, de prosperidade universal, e um reconhecimento prático e unânime de seu poder, sem contradição alguma; porém, é pior e mais grave o erro daqueles que se iludem pensando que alcançarão essa paz eiemera mediante a dissimulação dos direitos e interesses da Igreja, sacrificando-os aos interesses privados, diminuindo-os injustamente, comprazendo ao mundo, 'no qual domina inteiramente o demônio' (Jo 5, 19), com o pretexto de captar a simpatia dos fautores de novidade e atraí-los à Igreja, como se fora possível a harmonia entre a luz e as trevas, entre Cristo e o demônio. Trata-se de sonhos doentios, de alucinações que sempre ocorreram e ocorrerão enquanto houver soldados covardes que deponham as armas à simples presença do inimigo, ou traidores que pretendam a todo custo fazer as pazes com os opositores, a saber, com o inimigo irreconciliável de Deus e dos homens." (Da Encíclica "Communium Rerum ", de 21 de abril de 1909, do Papa São Pio X)

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PALAVRA DO SACERDOTE

Pergunta - Apreciei muitíssimo a reportagem de Catolicismo sobre a "Resistência à Islamização da Europa". Gostaria de apresentar-lhe uma questão: os casais europeus têm pouquíssimos filhos. Os do Islã, ao contrário, os têm inúmeros. Em pouco tempo eles serão maioria na Europa. Que desastre! Isso não acarreta para os casais católicos obrigações morais suplementares? Resposta - A questão da missivista não podia ser mais atual e oportuna, não somente para a Europa, mas para todos os países de maioria cristã, especialmente os do mundo desenvolvido, onde as taxas de fertilidade por mulher em idade de ter filhos ficaram abaixo do mínimo necessário para que o número de habitantes não diminua, com o consequente envelhecimento da população. Na década de 1960, com base em relatórios infundados e alarmistas, propagou-se a falácia malthusiana da "explosão demográfica", ou seja, que a população estava crescendo mais do que a produção de alimentos, tornando-se indispensável reduzir drasticamente o crescimento populacional. A pressão midiática e política em favor da redução das taxas de natalidade influenciou hierarcas da própria Igreja Católica, a ponto de no Concílio Vaticano II um dos presidentes da assembleia conciliar, o cardeal Léon-Joseph Su~nens, dizer que cabia à Igreja "responder ao problema imenso posto pela explosão demográfica atual e pela superpopulação em muitas regiões da Terra". Ele sugeriu então que a co8

cimento da população, a falência dos sistemas de previdência social, a pressão migratória de populações para os países mais desenvolvidos onde não há mais braços jovens etc. O que, por sua vez, recoloca o problema moral do verdadeiro conceito de "paternidade responsável", que não consiste em evitar os filhos, mas em tê-los numerosos.

Monsenhor José Luiz Villac

"Do Criador vem a própria instituição do matrimônio"

m1ssao vaticana que estava estudando a liceidade do uso da pílula contraceptiva se colocasse "na linha do progresso científico", concluindo em tom dramático: "Sigamos o progresso da ciência. Conjuro-vos, Irmãos. Evitemos um novo 'processo Galileu'. Basta um para a Igreja". Não é de assombrar que o cardeal Suenens, conhecido como progressista extremado, tenha sido depois um dos principais opositores da encíclica Humanae vitae, na qual o Papa Paulo VI reiterou o ensino multissecular da Igreja condenando os métodos artificiais de contracepção. Pecaminosa cumplicidade e envelheciment o da população

Nem a "revolução verde" e o conseguinte aumento exponencial de alimentos, nem a publicação da encíclica Humanae vitae conseguiram, porém, frear a propaganda a favor da redução drástica da natalidade, a qual passou a ser justificada em nome da preservação do meio ambiente e do desejo de maior autonomia

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Enquanto a população da Europa envelhece, carrinhos de bebê •aguardam por crianças ...

e felicidade dos casais. Com a cwnplicidade de confessores e de episcopados inteiros, milhões de mulheres católicas passaram ou continuaram a usar a pílula contraceptiva como meio de evitar a gravidez. Paradoxalmente, os próprios defensores da Humanae vitae contribuíram de modo involuntário para a difusão da mentalidade contraceptiva, ao insistirem no fato de que aquilo que a encíclica proibia não era o controle dos nascimentos, mas apenas utilizar um método artificial imoral, quando na realidade os casais podiam obter o mesmo resultado pelo emprego dos métodos naturais de planejamento familiar. Em muitas dioceses dirigidas por bispos conservadores favoráveis à Humanae vitae, chegou a

ocorrer de os cursos de preparação para o casamento se transformarem em aulas de planejamento natural da família, contribuindo para dar solidez à ideia de que a "paternidade responsável" consiste em ter poucos filhos. Tudo sornado, nos países europeus de tradição católica houve urna queda dramática da natalidade, sendo Portugal o infeliz campeão dessa corrida rumo ao despovoamento, com uma diminuição, entre 1960 e 2014, de 3,20 para 1,33 filhos por mulher em idade fértil, sendo que o mínimo para manter a população existente é de 2, 1. Diz-se que a natureza nunca perdoa. Os efeitos catastróficos da queda da natalidade agora começam a aparecer com o envelhe-

Cumpre inicialmente relembrar que o casamento não se reduz a um contrato privado entre um homem e uma mulher que se amam e querem viver juntos. Ele é uma instituição fundada na Lei natural, um ato público verdadeiro e real que dá origem a uma sociedade, a qual é, por sua vez, a célula-mater da sociedade: a família. "O matrimônio, na verdade, não é um acontecimento que diz respeito só a quem se casa. Por sua própria natureza é também um fato social, que compromete os esposos ante a sociedade " (João Paulo II, Familiaris Consortio, nº 68). Mais ainda, como lembra Pio XI na encíclica Casti connubi, "a união santa do verdadeiro casamento é constituída, ao mesmo tempo, pela vontade divina e humana: de Deus vem a própria instituição do matrimônio, os seus fins, as suas leis e os seus bens ", o primeiro dos quais é, precisamente, a progenitura: "Entre os beneficias do matrimônio ocupa, portanto, o primeiro lugar, a prole", ensina Pio XI na mesma encíclica. E acrescenta: "Na verdade, o próprio Criador do gênero humano que, na sua bondade, quis servir-se dos homens como

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ministros seus para a propagação da vida, assim o ensinou quando, no paraíso terrestre, instituindo o matrimônio, disse aos nossos primeiros pais e, neles, a todos os faturas esposos: 'crescei e multiplicai-vos e enchei a Terra " '. Tanto mais quanto o casamento tem como fim primário não somente gerar novos cidadãos para a sociedade, mas também novos eleitos para o Céu: "Precisamente neste papel de colaboradores de Deus, que transmite a sua imagem à nova criatura, está a grandeza dos cônjuges, dispostos 'a colaborar com o amor do Criador e Salvador, que por meio deles aumenta cada dia mais e enriquece a sua familia '" (João Paulo II, Evangelium Vitae, nº 43). Por isso é que Jesus Cristo o elevou à dignidade de sacramento, dotando-o de conteúdo e de meios espirituais sobrenaturais, inserindo-o desse modo no plano da salvação. Donde resultou maior responsabilidade aos cônjuges, "pois, em primeiro lugar, atribuiu-se à sociedade conjugal uma finalidade mais nobre e mais excelsa que antes, porque determinou-se que sua missão não consistia apenas na propagação do gênero humano, mas também na geração da prole da Igreja, 'concidadãos dos santos e membros da familia de Deus ' (Ef 2, 19), isto é, a procriação e a educação do povo para o culto e a religião do verdadeiro Deus e de Cristo nosso Salvador " (Leão XIII, Arcanum Divinae Sapientiae, nº 8). O real sentido da vida conjugal

De onde resulta que a verdadeira e principal responsabilidade de um casal consiste em ter filhos,

e não em evitá-los: "Esta paternidade-maternidade é chamada 'responsável ' nos documentos recentes da Igreja, afim de destacar a consciência e a generosidade dos esposos sobre a sua missão de transmitir a vida, que possui em si um valor de eternidade, e para reevocar o seu papel de educadores ", declara o Vademecum para os corifessores sobre alguns temas de moral relacionados com a vida conjugal, preparado pelo Conselho Pontifício para a Família e assinado pelo seu então presidente, cardeal Alfonso López Trujillo. Em vista do que foi dito, explica-se que Pio XII, num discurso dirigido às famílias numerosas, tenha chegado a dizer que "convém colocar entre as aberrações mais daninhas da sociedade moderna paganizante a opinião de alguns que ousam qualificar a f ecundidade dos casais como 'doença social', da qual as sociedades afetadas deveriam tratar de curar-se por qualquer meio" (Discurso de 20-11958). Pelo contrário, as famílias numerosas constituem uma grande riqueza para as nações e, em particular, para a Igreja, porquanto é sabido que elas são também um viveiro de vocações sacerdotais e religiosas. Em vista disso, mesmo que seja lícito a um casal limitar o uso do matrimônio aos períodos de esterilidade natural da mulher, é preciso que os motivos sejam graves e proporcionados. Pois, como ensinou Pio XII, "o contrato matrimonial, que concede aos esposos o direito de satisfazerem a inclinação da natureza, estabelece-os

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num estado de vida, o estado conjugal. Ora, aos esposos que fazem uso deste, praticando o ato específico do seu estado, a natureza e o Criador impõem a fanção de prover à conservação do gênero humano. Tal é a prestação característica que faz o valor próprio do estado deles, o bonum prolis. Na ordem estabelecida por Deus, o indivíduo e a sociedade, o povo e o Estado, a própria Igreja, dependem, para a sua existência, do matrimônio fecundo. Por consequência, abraçar o estado de matrimônio, usar constantemente da faculdade que lhe é

própria e que só é licita em seus limites, e, por outra parte, subtrairse sempre e deliberadamente, sem grave motivo, ao seu dever principal, seria um pecado contra o próprio sentido da vida conjugal " (Discurso sobre o apostolado das parteiras, de 29-10-1951). O Islã conquistará a Europa pela "guerra dos berços"?

Pio XIl dava-se bem conta de que, na vida matrimonial, mesmo quando não está em jogo o pecado grave, a consciência bem formada impõe amiúde a alternativa "herois-

mo ou pecado". Por isso, ele já dizia numa alocução a jovens casais de 6 de dezembro de 1939: "Os deveres da castidade conjugal vos são conhecidos. Eles exigem verdadeira coragem, por vezes até heroica, e uma.filial confiança na Providência: mas a graça do sacramento vos foi dada precisamente para assumir esses deveres". Compreende-se que o pelo menos inoportuno comentário feito pelo Papa Francisco no voo de retorno das Filipinas tenha causado espécie nos heroicos pais de famílias numerosas: "Alguns acre-

ditam que - desculpem a palavra - para ser bons católicos devemos ser como coelhos. Não. Paternidade responsável" - afirmou. Poucos dias depois, numa homilia na residência Santa Marta, ele se viu obrigado a retificar tal assertiva, criticando "estes matrimônios que não querem os filhos , que desejam permanecer sem f ecundidade. Esta cultura do bem-estar de dez anos atrás convenceu-nos: 'É melhor não ter filhos! É melhor! Assim tu podes ir conhecer o mundo, de ferias, podes ter uma casa no campo, tu estás tranquilo '". Ele acrescentou, num discurso ·pronunciado pouco depois para a Associação Nacional das Famílias Numerosas: "Cadajàmilia é célula da sociedade, mas a família numerosa é uma célula mais rica, mais vital, e o Estado tem todo o interesse em investir nela! " E ressaltou um dos aspectos desse beneficio: "os filhos e as filhas de uma família numerosa são mais capazes de comunhão fraterna desde a primeira infância. Num mundo muitas vezes marcado pelo egoísmo, afàmilia numerosa é uma escola de solidariedade e de partilha; e destas atitudes se benf?:ficia toda a sociedade ". Mas o maior grau desse beneficio é gerar um povo "para o culto e a religião do verdadeiro Deus e de Cristo nosso Salvador". Cumpre relembrá-lo, antes que na Europa o Islã vença a "guerra dos berços" ... •

Famílias inteiras de sírios buscan refúgio na Europa. Seus carrinhos de bebê já chegam ocupados...

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Surpreenda-se: Graças ao CO, a Terra ficou mais verde! Estudo da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) constatou que nos últimos 33 anos a Terra aumentou em 36 milhões de quilômetros quadrados sua superfície verde, o equivalente a três vezes a área da Europa. Nesse período, a biomassa terrestre cresceu em 40% das áreas da Terra e diminuiu apenas em 4% delas. O fato se deve ao aumento de C02, que é um poderoso fertilizante. "Pudemos atribuir o enverdecimento do planeta ao aumento dos níveis atmosféricos de C02provocado pelo consumo de combustíveis fósseis ", conclui o trabalho. Comemoremos o fato: a superfície do mundo coberta pela vegetação ganhou 36 milhões de quilômetros quadrados graças ao tão denegrido C02!

Chineses pedem ao Papa que atue pelo fim da perseguição religiosa O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun (foto), bispo emérito de Hong-Kong, promoveu uma campanha de assinaturas pedindo ao Papa Francisco que reze pelo fim da perseguição religiosa na China. O apelo implora ao Pontífice que exija do governo chinês o fim da remoção das cruzes das igrejas e que reze pelos bispos de Baoding e de Yixian, desaparecidos nas mãos da ditadura socialista. "Esses bispos ficaram presos mais da metade de suas vidas e estão sequestrados há 18 e 15 anos ", explica a petição. Os signatários da petição imploram ao Papa "que em suas conversações com as autoridades chinesas se informe sobre a situação dos dois".

Água doce subterrânea poderia cobrir a superfície terrestre Enquanto a propaganda ambientalista e a Campanha da Fraternidade da CNBB propagam que a água doce é um bem raro, escasso e caro, uma equipe de cientistas da Universidade de Vitoria (Canad á) reuniu informações de aproximadamente um milhão de bacias hidrográficas do mundo, bem como de mais de 40.000 modelos de águas doces, para compor um "mapa-múndi das águas subterrâneas". Eles identificaram um volume total de 23 milhões de quilômetros cúbicos de água doce subterrânea! Se fosse possível tirar essa água e depositá-la sobre a parte seca da Terra, ela cobriria todos os continentes com uma altura de 180 metros. Ou se fosse espalhada sobre o globo inteiro, poderia elevar em 52 metros o nível dos mares. Os demagogos vermelhos ou verdes são sem pre igu ais e obedientes à risca do imoral conselho de Voltaire: "Menti,

Metade dos adolescentes dos EUA é viciada em celular Metade dos adolescentes dos EUA se julga viciada·no uso de celular. A maior parte deles consulta seus aparelhos pelo menos a cada hora e sente-se pressionada a responder imediatamente as mensagens, segundo pesquisa da Common Sense Media, que consultou 1.240 pais e crianças. Cinquenta e nove por cento dos pais dizem que seus filhos com idades entre 12 e 18 anos não conseguem largar seus celulares. Cerca de um terço deles briga todos os dias por causa dos smartphones. Segundo a pesquisa, a realização de múltiplas tarefas simultâneas afeta a memória e a falta de interação humana dificulta o bom relacionamento com seres de carne e osso ...

Chef vegano recusado pelos pobres das ruas de Bol~nha Os pobres de Bolonha (Itália) queixam-se dos pratos que recebem dos frades f ranciscanos. "Antes nos davam frango assado e churrasco para suportar as noites de frio . Mas agora nos estão dando umas saladinhas bem condimentadas". No centro das críticas está o chefvegetariano Simone Salvini (foto), tido como guru da religião vegana do jet-set, dos adoradores das modas e dos clérigos adeptos do ecologismo miserabilista. Os poveracci de Bolonha não querem a revolução religiosa e cultural, que lhes dá a comer couve e rabanetes, tidos como "obras de arte" por ricos, snobs, modelos, esportistas e eclesiásticos ambientalistas. Tais pobres têm bom senso e nada os consola tanto quanto o bifinho como a mãe prepara em casa, ou aquele prato caseiro que se comia em família. 11111111111111111111111u11111111111111,u1111111111111111111111111111111t1111111111111111111111111111111111111t11111111111111111111111111111m1111111 11111 11111111111111111111111111 1111111111 111111 111111111111111111111111111111111111 11111 11 1111111 11111111m1

Opositores russos agredidos por agentes de Putin No centro de Moscou, agentes putinistas atacaram a romancista Lyudmila Ulitskaya, uma crítica da "Nova Rússia " de Vladimir Putin. Lyudmila partipava de uma reunião do grupo Memorial, ded icado a resgatar a memória dos milhões de vítimas do comunismo soviético, quando seus agressores, coordenados pelo deputado pró-Kremlin Evgueni Fiodorov, lançaram contra ela ovos e líquidos químicos. Eles carregavam bandeiras vermelhas com a foice e o martelo e cantavam canções soviéticas, que identificam os adeptos da " Nova Rússia". No mesmo dia, o dissidente Alexe"f Navalny também foi agredido com ácido em seu escritório de Moscou. Essas provocações têm aumentado sob o olhar cumplice da polícia russa.

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menti, algo sempre ficará!"

Milagres durante o terremoto que atingiu o Equador Uma imagem de Nossa Senhora de Monserrate surgiu ilesa das ruínas da torre da igreja de Montecristi que caiu no terremoto de abril no Equador. Sua veste de ouro e sua coroa permaneceram também intactas. Na cidade de Playa Prieta, a Irmã Estela Morales não pensou em salvar sua vida, mas em resgatar o Santíssimo Sacramento. "Quando ela tinha o Senhor em suas mãos, tudo desabou em volta dela, e ela mesma foi cair no andar de baixo. E o Senhor a resgatou", revela relatório da comunidade. Em Tarqui, a imagem de Nossa Senhora da Luz ficou intacta em sua redoma de vidro, assim como Jesus Sacramentado no altar. Fato análogo ocorreu na_mesma cidade com a Virgem do Rosário. Será preciso que o m_undo seja reduzido a ruínas como essas para que os homens respeitem a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia e reconheçam a dignidade devida à sua Mãe, Medianeira de todas as graças?

Trabalhadores re movem escombros na basílica de Montecrlst l após o terremot o

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ENTREVISTA

D. Maria I Rainha Piedosa e Fidelíssima A vida da augusta Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves - nossa primeira Soberana - evoca-se especialmente neste ano em que se recorda o bicentenário de seu falecimento. Sua admirável vida vem sendo reconsiderada pelos historiadores atuais.

••••• a História do Brasil e de Portugal uma personagem real é atacada e menosprezada precisamente por sua religiosidade e seus grandes feitos em prol dessas nações. Trata-se da Rainha D. Maria 1, a Piedosa, que por três meses foi soberana de jure do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. No fim de sua vida foi acometida por uma doença mental, o que levou seus detratores a qualificá-la simplesmente como Dona Maria, a louca. Os historiadores imparciais, contudo, põem hoje em realce quão injusto é esse título para uma Rainha de tantos méritos. No dia 20 de março último completaram-se 200 anos de sua morte. Em Portugal, para relembrar essa importante efeméride, realizou-se no Grêmio Literário de Lisboa um Colóquio de Evocação de Dona Maria /, com a participação de distintos estudiosos portugueses e brasileiros e do Príncipe Dom Gabriel de Orleans e Bragança, que fez a leitura de uma mensagem do Chefe da Casa Imperial do Brasil, seu tio Dom Luiz de Orleans e Bragança.

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"No dia 16 de dezembro de 1815 foi criado o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A ' ideia de elevação do Brasil a Reino foi, certamente, de grande inspiração"

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O jornalista responsável por Catolicismo, Nelson Ramos Barretto, esteve presente e obteve uma esclarecedora entrevista com um dos palestrantes e orga nizadores do brilhante evento, Prof. lbsen Noronha (foto), professor de História do Direito na Faculdade de Direito

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da tradicional Universidade de Coimbra e autor de vários livros, entre os quais Aspectos do Direito no Brasil Quinhentista e História do Direito Brasileiro.

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Como testemunha de sua sincera piedade, leio trecho do Elogio Acadêmico da Senhora Dona Maria Primeira, recitado por José Bonifácio, em sessão pública da Academia Real de Ciências de Lisboa, aos 20 de março de 1817: "Nos deveres da .fe, no Amor da

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Catolicismo - Por que foi organizado essse evento pela Evocação de Dona Maria I?

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Ibsen Noronha - Para reavivar as mais belas tradições religiosas e culturais que a figura de Dona Maria 1 representa e fez frutificar no Reino Unido. No dia 16 de dezembro de 1815 foi criado o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A ideia de elevação do Brasil a Reino foi , certamente, de grande inspiração e também um ato de Justiça. O texto do decreto assinado por Dom João, Príncipe Regente, que criou o Reino Unido, é de grande beleza e declara, logo no seu início: "Faço saber aos que a presente Carta de Lei virem, que tendo constantemente em Meu Real Ânimo os mais vivos desejos de fazer prosperar os Estados, que a Providencia Divina confiou ao Meu Soberano Regimen [ .. .] " Importa realçar a concepção transcendente do poder que o Príncipe Regente reafirma. A visão de mun-

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"Estava vincado na ideia de que a instrução não poderia ser separada da formação moral. Por isso os alunos da Real Casa Pia aprendiam as obrigações de católicos romanos" do do Antigo Regime ainda estava bastante marcada pelo pensamento jurídico-político que fundamenta o exercício do Poder no serviço de Deus. Mas não era apenas o Poder que estava marcado pela sacralização. Todos os aspectos da vida estavam, de uma forma ou de outra, plenos de concepções que eram informadas pelo respeito a tradições e modos de ser e agir que nada mais são que produtos de uma civilização. O Reino Unido de Po1tugal , Brasil e Algarves teve uma Rainha! E essa Rainha, cuja memória evocamos hoje aqui em Lisboa, foi a primeira Rainha do Brasil, representando, em muitos aspectos, a fidelidade às tradições e a percepção da necessidade da sacralização da vida social. Dona Maria I merece a Justiça da História.

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Catolicismo - Por que o título de Rainha Piedosa e Fidelíssima?

Ibsen Noronha - O Papa Bento XIV, em 1748, concedeu a Dom João V, muito querido avô de Dona Maria, o tratamento de Fidelíssimo, para que fosse usado pelos soberanos de Portugal. Poderia ousar afirmar que o cognome de a Piedosa, pelo qual ficou conhecida a Rainha Dona Maria I, consagra o perfeito conúbio com o trntamento concedido pelo Sumo Pontífice aos soberanos de Portugal, e que foi usado pela primeira Rainha do Brasil. De fato Dona Maria foi piedosa e fidelíssima. E são esses dois atributos que foram sa_lientados nesta tarde em Lisboa . . . Lisboa a viu nascer no dia 17 de dezembro de 1734, muito perto daqui, do Grêmio Literário, no Paço da Ribeira. Seu Pai era, então, Príncipe do Brasil, título trad icional que Dona Maria irá usar a partir de ,1750.

Santa Religião, que professamos, ninguém excedeo a Maria, bem poucos a igualarão. Que dia houve desde a sua mais tenra mocidade, em que ella se não empregasse em afervoradas orações ? Que dia houve em que seus olhos não arrebentassem em devoto pranto, prostado ante os altares de seu Deos! "Quantas outras provas fazia ella da sua piedade! Para se humilhar ante a Divindade muitas vezes pelas sêdas, e cambraias do leito mudava huma manta grosseira; pelas sobejidões da meza Real hum pedaço de pão secco, quando muito acompanhado de um simples conducto. E para dizer tudo de huma vez, em tudo se lhe transluzia hum coração inflamado em pura religião; e estava esta, por assim o dize,; transvazada em sua alma, de modo que em nenhum tempo da sua existência andava apartada della; e toda a sua vida f oi huma copia .fiel do original que tinha gravada no intimo do seu p eito. "

tras. Também havia o colégio de São José, espécie de creche para crianças órfãs que não haviam alcançado a idade de iniciar a aprendizagem. A Real Casa Pia possuía ainda escolas superiores: um colégio onde era ensinado o alemão e a escrituração mercantil ; o colégio de São Lucas, onde se ensinavam as ciências. Os alunos frequentavam aulas de farmácia, desenho, gramática latina, anatomia, inglês, francês e princípios de navegação. A partir dessa formação, segundo as vocações, os alunos seguiam para outras instituições para aprofundarem seus conhecimentos. O espírito da instituição estava vincado na ideia de que a instrnção não poderia ser separada da formação moral. Por isso os alunos da Real Casa Pia aprendiam as obrigações de católicos romanos. Para além de muitas atribuições - que pediriam uma palestra sobre o tema, pois é difícil conceber hoje a sua eficiência - a Casa Pia casava órfãs beneficiando-as com dotes aV11ltados. Os novos casais eram destinados a colonizar terras do imenso Portugal daquele tempo. Sabe-se que até 1795 a Casa Pia já tinha patrocinado 91 casamentos.

Catolicismo - Quais foram as obras mais características de Dona Maria I?

lbsen Noronha - Poderia relembrar, primeiramente, a criação da Real Casa Pia de Lisboa, em 1780. Nesse mesmo ano a Rainha D. Maria I nomeara como Intendente Geral da Polícia da Corte e do Reino o Dr. Diogo Inácio de Pina Manique, que se manteve em funções até 1805. A preocupação com os desvalidos marca a atuação dessa instituição comandada por Pina Manique, que formava solidamente a moral de órfãos e os preparava para o exercício de uma profissão. Tendo sido instalada originariamente no Castelo de São Jorge, possuía diversas casas de acolhimento e formação . A casa de Santa Isabel recebia órfãs de tenra idade, e a de Santo Antônio órfãos para receber as primeiras tecatolicismo@terra.com.br / J UN CIO 20J 6


guel da Anunciação em 1768, sabe-se que as doutrinas dessas obras vicejaram e foram o fundamento para o distanciamento do Papado propugnado por Pombal. O prelado de Coimbra foi preso devido à Carta Pastoral que publicou condenando os erros doutrinários que já preparavam a Revolução Francesa. A fidelidade de Dona Maria ao trono de São Pedro será bastante notável na reaproximação e no efetivo reatamento das relações com a Santa Sé, que se deu logo nos primeiros anos do seu reinado. Numa Carta ao Núncio Apostólico em Lisboa, datada 3 de abril de 1777, o Cardeal Palaviccini , Secretário de Estado de Pio VI, expressava o contentamento do Santo Padre ao sentir as luminosas provas de religião e piedade com que os novos soberanos haviam assumido a Monarquia ... e augurava os mais felizes e gloriosos progressos. O reinado anterior também havia suspendido a admissão às ordens sacras. Tal disposição foi revogada. Catolicismo - Ela também oficializou a devoção do terço e restaurou a devoção dos santos?

Jbsen Noronha -

O novo reinado determinou a de-

''O novo reina . d o determinou a A proteção da Rainha, que visitou frequentemente a Casa Pia, foi fundamental para o desenvolvimento da instituição, que teve o seu apogeu no final do século XVIII e no início do século XIX, tendo sido interrompido pelas invasões francesas. Catolicismo - O reinado do pai de Dona Maria 1, Dom José 1, e de seu ministro, o Marquês de Pombal, foi marcado pela laicização do Estado e perseguição da Igreja e dos jesuítas. Como ela corrigiu esses erros?

lbsen Noronha - Durante os primeiros 15 anos do reinado de Dona Maria I foi necessário restabelecer as relações com a Santa Sé, que haviam sido rompidas devido à hipertrofia das concepções sobre o poder então em voga em Portugal, o chamado regalismo. As doutrinas de Febronius haviam sido introduzidas na Universidade de Coimbra e as suas teses que enfraqueciam o pode~ do Papa e propugnavam a nacionalização da Igreja Católica - influenciaram as relações com a Igreja dmante o consulado pombalino. Apesar de o De Statu Ecclesiae, e do Legitima Potestate Romani Pontificis, de Febronius, terem sido condenados pelo grande Bi spo de Coimbra, Dom Mi-

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devoção do terço para as tropas. E essa

se tornou a oração habitual dos oficiais e soldados, que deveriam alargar o tempo que dedicavam à piedade" voção do terço para as trnpas. E essa se tornou a oração habitual dos oficiais e soldados, que deveriam alargar o tempo que dedicavam aos atos de religião. Pombal , logo após o rompimento das relações com a Santa Sé, determinou que fossem excluídos do hagiológio português os nomes de Santo lgnáci o de Loiola, de São Francisco Xavier e de São Francisco de Borgia. A Rainha soberana ordenou o restabelecimento do culto dos Santos jesuítas - tão ligados à História dos Descobrimentos e da Missionação da Índia e do nosso querido Brasil. _ O Bispo de Coimbra voltou à sua Diocese, num ato de estrita justiça. Dom Miguel da Anunciação, envelhecido e doente após anos de maus tratos e cativeiro, regressou à sede do seu apostolado. Foi reparada a injustiça e sua chegada à Diocese de Coimbra foi uma

verdadeira apoteose, tendo acorrido todo o Povo fiel, num cortejo que está gravado nos anais da história da cidade do Mondego. E cuja cerimônia na Sé foi marca-

desde a Manifestis Probatum, bula que reconheceu a independência de Portugal no sécu'lo XII. Catolicismo - Nosso Senhor apareceu a Santa Marga-

"Impossível não referir ao culto e à devoção ao Sagrado Coração de Jesus que D. Maria I fomentou em Portugal, que teve, de fato, o seu dia consagrado no calendário litúrgico" da pela beleza litúrgica e a imponência na reafirmação dos poderes espirituais daquele exímio e exemplar sucessor dos Apóstolos. Em 1778 foi estabelecida nova Concordata entre Portugal e a Santa Sé. A Rainha ratificou o acordo a 11 de agosto, e o Papa Pio VI no dia 10 de setembro. A Concordata corrigiu os abusos do regali smo. Durante quase meio século esteve em vigor e regulou as tão importantes relações que marcam a História de Po1tugal

rida Maria Alacoque e pediu a consagração da França ao seu Sagrado Coração. Como Dona Maria I incrementou o culto ao Coração de Jesus em Portugal?

Jbsen Noronha - Impossível não referir, com certa emoção, ao culto e à devoção que a Rainha Dona Maria I fomentou em Portugal. O Sagrado Coração de Jesus - que desde o século XVII deveria ter sido venerado em França a partir das aparições em Paray-leMonial - teve, de fato, o seu dia consagrado no calendário litúrgico português graças à Rainha. Em 6 de junho de 1777, na Igreja da Bemposta, foi celebrada com grande pompa a primeira festa do Sagrado Coração de Jesus. Mas a Rainha, que fonnulara voto de mandar edificar um templo que fosse consagrado especialmente ao Sagrado Coração de Jesus, decidiu cumpri-lo. E, em 24 de outubro de 1779, foi lançada a primeira pedra, por seu esposo Dom Pedro III, da hoje famosa Basílica da Estrela. A piedosa e catolicismo@terra .com.br / JUNHO 201 6

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magnânima intenção acabou por edificar o primeiro templo consagrado ao Sagrado Coração de Jesus em toda a Cristandade. · Catolicismo - Como Dona Maria I combateu o laicismo?

lbsen Noronha - O poder espiritual em Portugal, no Reinado de Dona Maria, voltou a ser exercido pelas autoridades legítimas e equi libraram-se as relações com o poder temporal. A doutrina gelasiana, fundamento da publicística cristã, foi recuperada após o interregno do despotismo iluminista. Pode-se ponderar que as duas décadas de hegemonia do regalismo que precederam o novo Reinado haviam rompido com o regime tradicional da Monarquia portuguesa. As normas tradicionais foram relegadas e substituídas pelas normas racionalistas que traduziam a moda jusracionalista importada da Europa protestante. A sociedade orgânica, regida pelas leis tradicionais e pelos bons ofícios do trono e do altar, fora fer ida pelas concepções contratualistas que preparavam as grandes conturbações que se aproximavam. As cerimônias de aclamação da Rainha tiveram lugar no Terreiro do Paço a 13 de maio de 1777 dia em que Dom João completava 10 anos de vida; o Príncipe, durante a cerimônia, tinha a espada desembainhada, pois desempenhava as funções de Condestável nesse dia!

"Em 24 de outubro de 1779 foi lançada a primeira pedra da hoje famosa Basílica da Estrela, o primeiro templo consagrado ao Sagrado Coração de Jesus em toda a Cristandade" A liturgia da aclamação e do juramento reafirmavam todas ·as concepções de sécu los de tradições renovadas. Teorias e doutrinas se manifestavam tendencialmente nos atos e gestos naquele .d ia esplêndido em Lisboa - como notaram qs croni stas. Foi uma Missa pontifical que deu início às festas. C lero, Nobreza e Povo estavam presentes tanto no cortejo quanto na multidão que se aglomerava no Terreiro do Paço. A Rainha vinha imponente e merece leitura a descrição feita pelo cronista : " Vinha a Rainha Nos-

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sa Senhora riquissimamente vestida com o precioso manto de tafetá tecido com fio de prata, e recamado com /antijoias, canutilhos e palheta; o assento que parecia totalmente coberto de ouro; o p eitilho, e corpo interior era todo guarnecido com flores de brilhantes de excessivo preço, e admirável artificio; vendo-se p endente da fita cor de fogo a Cruz da Ordem de Cristo, composta de diamantes brilhantes de uma extraordinária e pasmosa grandeza: igualmente se admirava no mais adorno ricos adereços, e jóias, d 'onde pendião diversos, e preciosos.fios de brilhantes de inexplicável preço. "O toucado fingia uma Coroa imperial tecida de inumeráveis diamantes, cingindo-lhe com tal arte a Regia.fronte, que.figurava ser de uma so p edra sem similhante na preciosidade, e bom gosto: sobre o mesmo vestido lhe accomodárão o Manto Real de volante carmesim tecido com fio de prata, que p endendo dos hombros, se via forrado da mesma tela, tendo vinte e dous palmos no comprimento da cauda, guarnecido pelas extremidades com renda de ouro: o corpo do manto, bandas e forro erão recamados de ouro, interpostas /antijoias, canutilhos e palheta; vendo-se no grande campo semeados em proporcionadas distancias cento e vinte castelos com as Reaes Quinas, tecidos com fio de ouro: seguravão o dito Manto Real duas presilhas de brilhantes de imponente custo. " Ao sentar-se no trono , a Rainha recebeu o cetro de ouro esma ltado. O Desembargador do Paço, José Ricalde Pereira de Castro, proferiu a fa la da aclamação . O orador invocou a origem divina do poder, doutrina que , na Península Ibérica, pode remontar-se a Santo Isidoro de Sevilha na época visigótica. Exaltou a piedade e a clemência da soberana . .. Termin ado o discurso passou-se à cerimôni a do juramento. A Rainha ajoelhou -se e pôs a mão direita sobre o missal e o crucifixo que segurava o Patriarca, e disse : "Juro, e prometo com a graça de Deus vos rege,~

e go vernar bem, e direitamente, e vos administrar justiça, quanto a humana fraqu eza permite; e de vos guardar vossos bons costumes, privilégios, graças, mercês, liberdades, e franqu ezas, que pelos Reis Meus Predecessores vos foram dados 1 outorgados, e confirmados. " Foi renovado o pacto entre a Rainha e a Nação! As descrições dos festejos impressionam. A aclamação fo i marcada pelo entusiasmo. No já citado Elogio Acadêmico da Senhora Dona Maria Primeira, José

Bonifácio lembrava que nenhum monarca português fora aclamado com mais vivas de alegria, nem maiores esperanças. Catolicismo - Depois de uma descrição tão bela e sacral do Antigo Regime, o senhor poderia expor suas considerações finais?

"No Elogio Acadêmico da Senhora Dona Maria Primeira, José Bonifácio lembrava que nenhum monarca português fora aclamado com mais vivas de alegria, nem maiores esperanças" lbsen Noronha - Gostaria de encerrar esta breve entrevista fazendo alusão ao que disse no in ício: a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves! A criação do Reino Unido pelo decreto assinado pelo Príncipe Regente assinalou a elevação do Brasil à posição

que merecia no concerto das Nações. Era um imenso Portugal que atingia a maioridade e precisava seguir o seu caminho na História da humanidade. Os laços com o Reino de Portugal eram muito fortes , mas era preciso começar a tri lhar o caminho que a Providência, desde toda a Eternidade, havia desejado. E é belo, extremamente belo, que a primeira Rainha do Brasil seja Dona Maria, cujo breve reinado - de 16 de dezembro de 1815 a 20 de março de 1816 - simboli za, de tantas maneiras, a piedade, a devoção, a fidelidade e a vocação da História de Portugal. Os sofrimentos de Dona Maria podem ser vistos como um sinal para aquele novíssimo Reino do Brasil. Um Reino que já contava com mais de três séculos de hi stória, que terá na elevação da Santa Cruz e na celebração da primeira Missa por Frei Henrique de Coimbra também um sinal da sua vocação. Nascia o Brasil para se tornar o maior país católico do mundo, um país que adora o Deus crucificado. A memória da vida de Dona Maria 1, das suas ventw-as e desventuras, alegrias e sofrimentos, vitórias e derrotas, são, para dizer tudo, a vida de uma Rainha F idelíssima! ❖ catolicismo@terra.com.br / JUNHO 201 6

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A força e a beleza de uma ruína GABRIEL J. WILSON

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nriquecido às portas de Paris pelas verdes águas de seu principal afluente oriundo do Leste, o rio Mame, o Sena serpenteia preguiçosamente a partir da capital francesa rumo ao mar, passando pela bela e vetusta capital da Normandia: Rouen, fundada no século II. Nesse trecho final, suas imponentes falésias de calcário branco formam um verdadeiro paredão junto a sua margem direita, dando abrigo a inúmeras habitações ditas "trogloditas", como as denominam os franceses modernos. Muitos alí fazem suas caves, depósitos, moradias, e até igrejas. Normandia! Uma das mais belas e típicas regiões da França, com suas lindas choupanas de traves aparentes, cobertas de colmo (palha de trigo ou centeio). Sua população risonha e amável, como era a normanda Santa Teresinha do Menino Jesus, nem parece reportar sua origem aos terríveis vikings vindos do Norte, especialmente da Noruega e da Dinamarca. Entretanto, assim foi.

Um mergulho na História

A França, como se sabe, provém da antiga Gália, dominada pelos romanos 50 anos antes de Cristo. Mais tarde, os francos, oriundos da Germânia, estabeleceram-se ao norte da Lutécia romana para conquistar o coração do que seria mais tarde o seu reino. A conversão de Clóvis, em 496, foi de algum modo para os francos o que a conversão de Constantino representara para o Império Romano, em 313. Cristianizada a partir do século II, Rouen e sua região foram ocupadas por Clóvis em 497. Os primeiros mosteiros aí fundados datam do século VI. 22 1

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Na metade do século VII, durante a época merovíngia, o rei Dagoberto teve como chanceler Ouen, ligado por estreita amizade a Filisberto e Wandrille. Os três amigos foram canonizados pela Igreja, numa época em que se levava a sério a santidade ... Santo Ouen (pronuncia-se "uã") tornou-se bispo de Rouen e fundou nessa cidade a célebre abadia que ainda hoje tem seu nome. Wandrille fundou a abadia de Fontenelle em 649, hoje chamada de São Wadrille, também junto ao Sena. Pouco depois, em 654, São Filisberto erigiu a abadia de Jumieges, situada entre as duas anteriores, à margem direita do terceiro meandro do Sena depois de Rouen, a pouco mais de 20 quilómetros dessa capital. Após a morte do fundador, em 685, a abadia foi dizimada por uma epidemia que teria tirado a vida de mais de 400 monges. Não obstante, como Fontenelle, Jumieges teve um rápido desenvolvimento. Um documento 1 registra 114 monges em 826. Outras fontes, menos confiáveis, falam em 900 monges no século anterior. Favorecida por doações de reis e grandes senhores, a abadia de Jumieges tornou-se conhecida pela sua generosidade em relação aos necessitados e aos peregrinos. Mas sua história ainda estava apenas no começo. Com efeito, desde o século II as costas do Canal da Mancha vinham senµo regularmente invadidas pelos audazes guerreiros vikings, oriundos da Escandinávia. Em princípios do século IX, os homens vindos do Norte - daí o nome de normandos - voltaram para ficar. Em 841, penetrando pelo vale do Sena, incendiaram Rouen e Jumieges, e chegaram a sitiar Paris (885). A paz foi obtida com um tratado através do qual o rei dos francos conferia ao chefe viki ng Rollon o tí-

tulo de duque da Normandia. O rei Carlos, o Simples, cedeu-lhes terras em 911 e 924. O rei Raul cedeu outro tanto em 933. E os normandos, pacificados, permitiram a volta dos monges aos seus mosteiros. Quando o segundo duque da Normandia, Guilherme Espada Longa, em uma saída de caça deparou com as ruínas de Jumieges, decidiu mandar reconstruir a abadia. E pediu a sua irmã, casada com o conde de Poitiers, que obtivesse monges para habitá-la. Com o apoio do duque, os monges puderam assim reconstituir Jumieges. Isto ocorreu em 940, ou pouco antes. Com o assassinato do duque Guilherme em 942, a Normandia sofreu novas convulsões. O governador de Rouen, Raul Torta, mandou então destruir a abadia para utilizar suas pedras no reparo de uma fortaleza. Um novo alento veio, entretanto, por volta do ano mil, quando o duque Ricardo II mandou vir da abadia de Cluny o monge Guilherme de Volpiano, cujo discípulo, Thierry, tornou-se abade de Jurnieges, com autoridade também sobre as abadias de Bernay e do Monte St-Michel. Ele decidiu mandar reconstruir e restaurar a igreja abacial de Nossa Senhora. Mas a obra só foi concluída por seu sucessor, Roberto Champart, em

1040. Terra de conquistadores

À margem da história da abadia, ocorreu a história da Normandia. Em 1066, Guilherme, chamado o bastardo, conquistou a Inglaterra. Por isso é conhecido como Guilherme, o Conquistador, tendo grande parte da nobreza inglesa origem normanda. Mais tarde alguns de seus descendentes se ilustrariam nas Cruzadas, como Ricardo Coração de Leão. Outro normando igualmente conquistador foi Roberto de Hauteville, dito Roberto Guiscard, que organizou uma expedição à Itália meridional para arrebatar todo o sul da península aos bizantinos e a Sicília aos sarracenos. Assim, as espadas de antigos bárbaros serviram à Cristandade contra os infiéis. "Deus escreve direito por linhas tortas", diz um ditado brasileiro. É bem o caso. Um povo bárbaro se civilizou e tornou-se ilustre. A milenar abadia de Nossa Senhora de Jumieges catolicismo@terra.com.br / JU HO 2016


só foi destruída em 1790, mais de mil anos depois de sua ftmdação, pelo ódio dos asseclas da Revolução Francesa. Suas pedras foram colocadas à venda, como se tratasse de uma pedreira. Visitando em 1835 o que restou desse augusto monumento, Victor Hugo ficou impressionado por sua beleza. Por sua vez, o historiador Robert de Lasteyrie du Saillant considerou-a uma das mais admiráveis ruínas existentes na França. Ainda em nossos dias, elas atraem visitantes aos milhares. A vida monástica

Como pode uma ruína causar tanta impressão nos espíritos? Em Jumieges viveram almas que abraçaram o sofrimento e o anonimato por amor de Deus. Ali praticaram a humildade na oração, no estudo e no trabalho. A Regra de São Bento considera o ócio como inimigo da alma. Por isso ela estabelece que os monges devem alternar, em horas fixas, oração, leitura espiritual e trabalhos manuais. "Ora et labora" é a divisa da Ordem. Assim, além do canto do Oficio e outras orações em comum, uma parte do dia beneditino é consagrada ao trabalho manual - sem o qual a comunidade não poderia subsistir. E cada mosteiro deve bastar-se a si mesmo, a fim de conservar a liberdade na prática da Regra e da virtude. Também o indispensável trabalho intelectual, sem o qual os monges não poderiam cultivar a própria alma. Por isso, muitos deles passavam grande parte do seu tempo a ler e copiar manuscritos. Isso explica por que os mosteiros se tornaram centros de vida intelectual e focos de santidade, além de formar verdadeiros artistas na cópia e iluminura de manuscritos. O Inimigo por excelência de toda ordem, de todo esplendor, de toda hierarquia, de toda harmonia, de CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

toda desigualdade, e, em consequência, de toda variedade entre os seres da Criação, é o que Prof. Plinio Corrêa de Oliveira designou de Revolução.2 Onde há amor às desigualdades harmônicas e proporcionadas, há ordem. Onde existe ordem, há amor de Deus, porque Ele é o Autor de todas as desigualdades

proporcionadas e retçis. Os normandos amaram as desigualdades e a ordem nascida da Europa medieval, por isso compreenderam a grandeza da Religião cristã, ou seja, católica, apostólica romana. Também por isso a Revolução Francesa, em todas as suas fases e formas, foi o inimigo mais daninho à Cristandade no tocante à ordem temporal. Como o é em nossos dias em relação à verdadeira Religião católica o chamado progressismo, inimigo de todas as sãs desigualdades e, portanto, do próprio Deus. E quando se ama a Deus de espada em punho como o fez Santa Joana d'Arc, ou de terço na mão como tantos santos, compreende-se o valor da luta. Quando se ama a Deus a ponto de dar a vida por Ele, a alma emite, por assim dizer,

um perfume próprio que a todos conquista. Só umá alma que soube lutar e sofrer, como a de Santa Teresinha, pode conquistar outras almas para a verdadeira Igreja, hoje devastada pelos mais abomináveis inimigos internos de todos os tempos. No contexto da França - e mesmo da França revolucionária de hoje - , a Normandia é um jardim, no qual se destaca uma flor: Santa Teresinha do Menino Jesus ... Representando o papel de Santa Joana d' Are, ela foi uma insígne batalhadora de espada na mão contra os infiéis. Mas, sobretudo, foi a continuadora dos contemplativos de Jumieges, conquistadores de almas e de heróis! ❖ Notas: 1. Livre de confraternité, da abadia de Reichenau, à qual a abadia de Jumiéges estava vinculada por uma comunidade de orações. 2. Revolução e Contra Revolução, Catolicismo nº 100, abril/1951.

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CAPA

HARMONIA ENTRE JUSTIÇA E MISERICÓRDIA A misericórdia de Deus é infinita, como o é também sua justiça. Estes dois atributos divinos não se excluem, mas se integram maravilhosamente numa perfeita aliança. Nesse sentido, o Sagrado Coração de Jesus é invocado na ladainha: "Coração de Jesus, receptáculo de justiça e de amor".

••••• PAULO ROBERTO CAMPOS

A

principal celebração .da Santa Igreja em junho é a festividade do Sagrado Coração de Jesus, comemorado este ano no dia 3, na sexta-feira seguinte à Oitava de Corpus Christi. Por fe liz coincidência, corresponde neste ano à primeira sexta-feira de junho. Mas todo o mês é dedicado de modo especial ao Sacratíssimo Coração, que transpassado pela lança de Longino jorrou sangue e água - símbolos do sangue eucarístico e da água batismal que regeneram as almas. O Apóstolo São João presenc iou essa pavorosa crueldade no alto do Calvário e dela prestou testemunho (Cfr. Jo

19, 33-37). Com a dedicação do mês junho ao Sagrado Coração de Jesus, a Igreja visa homá-Lo e incentivar essa primordial devoção, a cujo respeito escreveu o Cardea l Pie: "O culto ao Sagrado Coração é

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Longino atravessa o lado de Nosso Senhor Jesus Cristo - Fra Angélico séc. XV. Museu de São Marcos, Florença (Itália).

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contra os corações obstinados dos pecadores ". 2 Perigo da visão equivocada sobre a misericórdia divina

pelo saerlcórdla

a quintessência do cristianismo, o compêndio e sumário de toda a Religião". Mas visa também promover atos de reparação pelos pecados dos homens, especialmente pelas ignomínias praticadas pelos ímpios, como aqueles que ultrajam a Sagrada Eucaristia (vide quadro à p. 30). Essencial devoção para os atuais e calamit osos dias

Uma das grandes revelações do infinito amor de Deus para com a humanidade foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque (16471690), religiosa do convento da Visitação de Santa Maria, em :r>aray-le-Monial (vide Çatolicismo junho/2003). Uma das mais célebres afirmações de Nosso Senhor Jesus Cristo a essa freira visitandina, "confidente do Sagrado Coração de Jesus", está expressa nestas 28 1

sublimes palavras pronunciadas em 16 de junho de 1675: "Eis aqui o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para testemunhar-lhes seu amor; e, por reconhecimento, não recebe da maior parte deles senão ingratidões, por suas irreverências, sacrilégios e pelas indiferenças e desprezos que têm por Mim no Sacramento do amo,~ Mas o que Me é ainda mais penoso é que corações que Me são consagrados agem assim. " 1 Especialmente para a nossa época caótica, que se debate em meio à gravíssima crise religiosa, moral e social, a devoção ao misericordiosíssimo Coração se faz mais necessária do que nunca, pois Deus não abandona a humanidade pecadora mesmo nas piores crises, chamando-a constantemente à con-

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versão. Ele oferece todos os meios para que o pecador se arrependa, repare suas culpas e se salve eternamente. Mas se formos ingratos e indiferentes, desprezando os preceitos divinos e as graças concedidas misericordiosamente para nossa conversão, senÚremos o poder de sua justiça, que, assim como a mi sericórdia, é também divina. Co mo reza a ladainha do Sagrado Coração de Jesu s: "Coração de Jesus, receptáculo de justiça e de amor, tende piedade de nós". Ou, como numa outra ladainha, na qual ao mesmo tempo em que se invoca o "Coração de Jesus, cuja doçura se instila perenemente na alma fiel", Ele também é invocado como "Coração de Jesus, inimigo de toda e qualquer culpa", ou ainda corno "Jesus, em ci!fo coração permanece escondido o dia da vingança

Esta revista já publicou algumas matérias (vide edições de junho/ 1986, julho/ 1988, junho/1992, junho/1994 e junho/2003) sobre a extraordinária devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Na presente edição abordaremos um aspecto diferente: o verdadeiro conceito de misericórdia divina. Nos dias atuais, fala-se exaustivamente de misericórdia. Sobretudo neste ano, declarado "Ano Santo da Misericórdia" (ou "Jubileu Extraordinário da Misericórdia") pelo Papa Francisco através da bula Misericordiae Vultus (O Rosto da Misericórdia). Mais recentemente, com a divulgação da "Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris lcetitia" (A alegria do amor), o tema da misericórdia foi ainda mais focalizado. Em suas 272 páginas, o documento pontifício - publicado no dia 8 de abril a propósito do último Sínodo da Família - emprega 46 vezes a palavra misericórdia. Entretanto, não se pode ter uma visão equivocada, considerando Deus de modo unilateral, pois Ele é infinitamente misericordioso, mas também infinitamente justo. Em nosso Divino Criador, evidentemente, não há contradição. Ele deseja a salvação de todos e, para isso, nos oferece misericordiosamente o Céu por toda a eternidade. Porém, condena o pecador impenitente; aquele que, recusando toda a bondade divinai se aferra ao pecado mortal. Este, se não se arrepender, permanecendo obstinado no pecado grave, será atingido pela divina justiça.

Pecou gravemente e não deseja ser condenado? - Não se desespere, pois há remédio. Com o coração contrito e humilhado e sinceramente arrependido, faça uma boa confissão com o firme propósito de não mais pecar. Nesse perdão - a absolvição dos pecados concedida pelo sacerdote - vemos o que realmente é misericórdia. Patenteia-se a beleza da clemência de Deus para com seus filhos e o extremo desejo que Ele tem em salvá-los. Por isso, não há razão para desespero, porque mesmo temendo a justa punição por nossos pecados, devemos confiar e esperar a misericórdia do Divino Redentor, reservada especialmente àqueles que O temem. "Et misericordia eius a progenie in progenies timentibus eum " (A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem), como está expresso na oração da Santíssima Virgem o Magnifica! - registrada por São

Lucas (Cfr. Lc 1, 39-56). Aliás, Ela é o sublime canal que nos leva ao mar de misericórdia que é o Sagrado Coração de Jesus. É nesse equilíbrio entre a confiança na misericórdia e o temor do castigo que a alma progride na virtude. São as duas "asas" de que a alma necessita para progredir, análogas às de um pássaro que precisa das suas para voar. Apenas confiar na misericórdia sem o temor de Deus seria abuso da divina misericórdia. Nesse sentido, prescreve o Livro do Eclesiástico "Não digas: A misericórdia do Senhor é grande, ele terá piedade da multidão dos meus pecados, pois piedade e cólera são nele igualmente rápidas, e o seu faror visa aos pecadores" (Ecl. 5, 6-7). No Evangelho, o caso da "mulher adúltera"

Conforme a narrativa do Evangelho, no caso da mulher que os

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"Festa especial para honrar meu Coração" "Que se comungue nesse dia e se faça reparação através de um pedido de perdão, a fim de reparar as afrontas que Ele recebeu durante o tempo em que esteve exposto nos altares".

E

sta.ndo diante do San. tíssimo Sacramento um dia, dentro da oitava de Corpus Christi (em junho de 1675) - narra Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa visitandina e grande vidente, escolhida por Nosso Senhor para comunicar ao mundo a devoção a seu Sagrado Coração - , recebi de meu Deus enormes graças de seu amor. E sentindo-me tocada pelo desejo de Lhe retribuir algo, de Lhe pagar amor com amor, disse-me Ele: "Tu não Me podes conceder maior retribuição do que fazendo o que já tantas vezes te pedi". Então, mostrando-me seu divino Coração: "Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até esgotar-se e se consumir para lhes testemunhar seu amor; e como recompensa não recebo da maior parte deles senão ingratidões, por suas irreverências e seus sacrilégios, e por friezas e desprezos que têm para comigo neste Sacramento de Amor. Mas o que Me é ainda mais sensível é que são os corações que Me são consagrados que se comportam assim. É por isto que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava de Corpus Christi seja dedicada a uma festa especial para honrar meu Coração, que se comungue nesse dia e se faça reparação através de um pedido de perdão, a fim de reparar as afrontas que Ele recebeu durante o tempo em que esteve exposto nos altares. Eu te prometo também que meu Coração se dilatará para derramar com abundância os efeitos de seu divino amor sobre aqueles que Lhe dispensarem esta honra e se empenharem para que ela Lhe seja prestada ". Confidente do Salvador e depositária de suas

expressas intenções sobre o dia e a finalidade a que o Céu queria ver destinada a nova festa, Santa Margarida Maria ficou realmente encarregada de promulgá-la e dirigir sua celebração no mundo inteiro. Para conseguir o resultado que ultrapassava as forças pessoais da humilde religiosa, o Senhor havia aproximado misteriosamente de Santa Margarida Maria um dos mais santos religiosos que possuía então a Companhia de Jesus, o Revmo. Pe. Cláudio de la Colombiere. Ele reconheceu a santidade das vias pelas quais o Divino Espírito conduzia a santa e se fez o apóstolo devotado do Sagrado Coração, em Paray-Ie-Monial primeiramente e até na Inglaterra, onde ele mereceu o glorioso título de confessor da fé, nos rigores das prisões protestantes. Esse fervoroso discípulo do Coração do Homem-Deus morreu em 1682, esgotado por trabalhos e sofrimentos. Mas, na ocasião, a Companhia de Jesus inteira herdou seu zelo em propagar a devoção ao Sagrado Coração. A aprovação formal da Sede Apostólica a essa devoção não deveria tardar muito em relação ao empenho já manifestado pela piedade católica quanto ao divino Coração. Roma havia já concedido numerosas indulgências às práticas privadas e erigido mediante breves pontificios inúmeras confrarias quando, em l 765, Clemente XIU, cedendo às instâncias dos Bispos da Polônia e da Arquiconfraria Romana do Sagrado Coração, emitiu o primeiro decreto pontifical em favor da festa do Coração de Jesus, aprovando para comemorá-la uma Missa e um Oficio. Concessões locais estenderam pouco a pouco este primeiro favor a outras circunscrições eclesiásticas, até que enfim, no dia 23 de agosto de 1856, Pio IX, de gloriosa memória, solicitado por todo o Episcopado francês , emitiu o decreto que inseria no calendário litúrgico a festa do Sagrado Coração e ordenava a sua celebração à Igreja universal. Trinta e três anos mais tarde, Leão XIII elevava a rito de pri meira classe a solenidade que seu predecessor havia estabelecido.

(D. Prosper Guéranger, t:Année Liturgique - Le temps aprês la Pentecôte, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922, quinziême éd ., Tome 1, excertos das pp. 540 - 545).


escribas e fariseus queriam apedrejar por prática de adultério, Nosso Senhor Jesus Cristo não disse a ela: "Mulhe,~ pode ir embora ". Mas ordenou-lhe: "Vai e não peques mais" (Jo 8,11). Infelizmente, muitos comentam de modo estrábico essa passagem, dizendo apenas que Jesus não condenou a adúltera; omitindo que Ele a perdoou, mas lhe disse para não mais pecar. Somente alguém psicologicamente e moralmente estrábico afirmaria que misericórdia é sinônimo de tolerância para com o pecado ou qualquer forma de mal. Deus manifesta suprema misericórdia para com o pecador verdadeiramente arrependid0 - e, nessa situação, a ninguém falta a graça divina - , mas também manifesta sua justiça para com o pecador empedernido, que abusa de modo contumaz de sua misericórdia.

Justo castigo por abusar da misericórdia divina

Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787), Doutor da Igreja (quadro ao lado), Padroeiro dos Confessores e dos Moralistas, define perfeitamente essa questão ao afirmar: "Deus envia mais gente ao inferno por abusar de sua misericórdia, do que por obra de sua justiça. " É o tema que esse santo desenvolve ao tratar em um de seus sermões do abuso que o pecador faz da misericórdia, cujo trecho transcrevemos no final deste artigo. Ele afirma que o próprio demônio n'os engana inspirando-nos o falso conceito de misericórdia, para que levemos uma vida pecaminosa, sem nos arrepender de nossas culpas nem confessá-las a um bom sacerdote.

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Impossibilidade de ser misericordioso sem ser justo "Sem dúvida Deus é misericordioso, mas é também justo. Queriam os pecadores que Deus fosse misericordioso sem ser justo; mas isso é impossível. Ora, se Deus perdoasse sempre e nunca castigasse, faltaria à justiça. Vem a propósito a observação do Padre-Mestre de Ávila: 'Se Deus, diz ele, sofresse que se abusasse da sua misericórdia, para mais livremente O ultrajar, tal paciência não seria bondade, mas sim falta de justiça '. Deus tem de castigar os ingratos: suporta-os até certo ponto, depois castiga-os.[ ... ] '" Não vos enganeis: de Deus não se zomba ' (Gal. 6, 7). Seria com efeito escarnecer de Deus querer continuar a ofendê-lo ' ' sempre, e esperar contudo possuí-lo no Paraíso. 'Colherá cada um o que tiver semeado ' (ibid. 8). Quem semeia boas obras~ colherá recompensas; quem semeia pecados, colherá castigos. 'E abominável a esperança deles ', está escrito em Job (Job 11, 20); sim, a esperança dos que pecam porque Deus perdoa é abominável diante de Deus. É que esta mesma esperança atrai sobre a cabeça deles um castigo mais pronto, como a audácia de um escravo a quem a bondade do seu senhor levasse a faltar-lhe o respeito".

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(Santo Afonso de Ligório, O caminho da Salvação e da Perfeição, trad. De Mons. M. Marinho, Tipogr. Fonseca, Ltda., Editora, Porto, 1948, p. 26).

O renomado jornalista italiano Evitemos qualquer forma Sandro Magister, especializado em de unilateralismo ternas religiosos, publicou recenteEm seu livro Em D~fesa da mente um interessante artigo inti- Ação Católica, Plinio Corrêa de tulado Giubileo dei/a misericordia, Oliveira desenvolve o tema da jusma con i conjessionali vuoti (Ju- tiça e da misericórdia, do perdão e bileu da misericórdia, mas com os do castigo divinos, recomendando confessionários vazios), no qual re- não sermos unilaterais, vendo apeproduz a carta de um sacerdote, que nas um aspecto de Deus. O autor lhe escreveu fazendo a seguin te ob- cita D. Antonio Joaquim de Melo servação: neste "Ano Santo da Mi- (1791-1 861 ), "um dos maiores Bissericórdia" os confessionários estão pos que teve o Brasil", que - corvazios - como se a misericórdia roborando a afirmação acima citadispensasse o pecador do sacra- da de Santo Afonso de Ligório - , mento da penitência (ou confissão). dizia: "a Misericórdia de Deus tem EntTetanto, no "Ano Santo da Mise- mandado mais almas para o inferricórdi a" deveria ocorrer justamen- no do que sua Justiça. ". E o Prof. te o contrár io: aproveitar a ocasião Plínio comenta: "Em outros termos, para pedir especial misericórdia ao a.firmava o grande Prelado que a Sagrado Coração de Jesus, acorren- esperança temerária de salvação do mul tidões aos confessionários. É p erderá maior número de almas, o que não acontece. Os confessioná- do que o temor excessivo da Justiça rios e tão às moscas ... de Deus. Do mesmo modo, é indis-

cutível que a excessiva benignidade na aplicação das penas, que ora se observa em muitas associações religiosas, e a inteira carência delas em certos setores, têm depauperado mais as.fileiras dos filhos da luz, do que os atos de energia inconsiderados e talvez excessivos, eventualmente levados a cabo".3 A misericórdia de Deus não contradiz a sua justiça

Se Deus em sua infinita misericórdia não punisse os pecados cometidos, Ele seria injusto. Assim, o verdadeiro amor a Deus consiste em amá-lo e glorificá-lo tanto por sua misericórdia quanto por sua justiça. Do contrário, seria como se não desejássemos a punição devida aos pecados, às ingratidões, aos crimes, às blasfêmias etc. Seria como um pai que elogiasse seu filho por

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e não deixarei que o menor pecado fique sem castigo, nem que o menor bem fique sem recompensa. Infiltrados na Santa Igreja, pessoas que pecam sem medo negam que eu sou justo. "4 Misericórdia para quem teme a Deus e não para quem abusa dela

algum ato bom praticado, mas não o repreendesse devido a algum mal cometido. Donde o proverbio "An-

dam juntas em Deus a justiça e a misericórdia". Em seus últimos momentos antes da agonia na Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu um supremo exemplo: perdoou o ladrão que se mostrou arrependido, mas não o ladrão obstinado em seus pecados.

"Misericórdia e ira estão sempre em Deus, grandemente misericordioso, porém capaz de cólera. Os seus castigos igualam sua misericórdia; ele julga o homem conforme as suas obras. O p'ecador não escapará em suas rapinas, e não será postergada a espera daquele que exerce a misericórdia " (Livro do Eclesiástico 16, 12-14). Confirmando essa passagem da

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Como referido acima, segue a transcrição de um trecho do sermão de Santo Afonso Maria de Ligório, considerado um dos maiores moralistas de todos os tempos. Com este trecho - que parafraseando Joseph de Maistre poder-se-ia intitular "la colere de f'amour" (a cólera do amor) - , encerramos estas considerações pedindo à Virgem Maria, Mater Misericordiae, que nos alcance as miNosso Senhor, sericórdias do Sagrado Coração de aparecendo um dia Jesus, compreena Santa Brígida, dendo bem a perSagrada Escritura feita união entre queixou-se: "Eu sou e a fim de se evia misericórdia e a tar uma concepjusto e misericorjustiça divinas. ção equivocada de dioso, mas os peca"Pode ser que misericórdia, em dores não querem . haja, no meio de uma revelação feita a Santa Brígida vós, meus irmãos, ver senão minha alguém que se enda Suécia ( 1303misericórdia" contre com a alma 1373) [ilustração carregada de pecaacima] Nosso Sedos e que - longe nhor Jesus Cristo de pensar em se lilamentou: "Todos creem e pregam que sou misericor- vrar deles pela confissão e penitêndioso, entretanto quase ninguém cia - não cessa de cometer novos crê que eu seja um Juiz justo. Con- pecados, se sobrecarregando ainda sideram-me um juiz que não tem mais. Este, certamente, abusa da equidade. De fato, um juiz seria misericórdia divina; pois, a que fim iníquo se, ao lado da misericór- nosso Deus tão bom deixa que este dia, deixasse os ímpios sem castigo pecador viva senão para que el.e se de forma que pudessem continuar converta e, por consequência, escaoprimindo os justos. Contudo, Eu pe da desgraça de perder sua alma? Ele merece as severas censusou um Juiz justo e misericordioso

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ras que o Apóstolo dirigiu ao povo judeu impenitente: Porventura desprezas as riquezas da bondade, da paciência e da longanimidade de Deus? Ignoras que sua bondade te convida à penitência? Mas que na tua dureza e coração impenitente, acumu las para ti um tesouro de ira no dia da ira e da manifestação do justo juízo de Deus (Rom. ll. 4,5). Eu quero vos afastar, meus irmãos, desse funesto abuso, e vos preservar da desgraça de cair na morte eterna do inferno. A esse propósito, chamo vossa atenção para a seguinte verdade: Quando uma alma abusa da misericórdia divina ' a misericórdia divina está bem próxima de a abandonar[ .. .]. Santo Agostinho observa que, para enganar os homens, o demônio emprega ora o desespero, ora a confi ança. Após o pecado, o demônio nos mostra o rigor da justiça de Deus para que desconfiemos de Sua misericórd ia. Entretanto, antes do pecado, o demônio nos co loca

diante dos olhos a grande misericórdia de Deus, a fim de que o receio dos castigos, devidos ao pecado, não nos impeça de satisfazer nossas paixões [ ... ]. Essa misericórdia sobre a qual vós contais para poder pecar, dizeime, quem vo-la prometeu? -:- Não Deus, certamente, mas o demônio, obstinado em vos perder. Cu idado!, diz São João Crisóstomo, de dar ouvidos a este monstro infernal que vos promete a misericórdia ce leste[ .. .].

'Deus é cheio de misericórdia, eu pecarei e em seguida conf essar-me-ei '. Eis aí a ilusão, ou antes, a armadilha que o demônio usa para arrastar tantas almas ao inferno! [ . .. ]. Nosso Senhor, aparecendo um dia a Santa Brígida, queixou-se: 'Eu sou justo e misericordioso, mas os pecadores não querem ver senão mi nha misericórdia' (Ego sum jus-

tos et misericors; peccatores tantum misericordem me existimant - Rev. 1. l. c. 5). Não duvideis,

diz São Basílio, que Deus é misericordioso, mas saibamos que Ele é também justo, e estejamos bem atentos para não considerar apenas uma metade de Deus. Uma vez que Deus é justo, é impossível que os ingratos escapem do castigo [ ... ]. Misericórdia! Misericórdia! Sim, mas para aque le que teme a Deus, e não para aquele que abusa da paciência divina!".5 ❖ Notas:

1. Sainte Marguerite Marie, Sa vie écrite par elle-même, Edições Saint Paul, Paris, 1947, pp. 70-71. lmprimatur de M. P. Georgius Petit, Bispo de Verdu n.

2. Diarium Perpetuum Clericorum et Religiosorum, Typographia Pontifícia in Instituto Pii IX, Roma, 1911. 3. Plínio Corrêa de Oliveira, Em Defesa da Ação Católica, Artpress, 2ª edição, 1983, pág. 153. 4. As Profecias e Revelações de Santa Brígida da Suécia, Livro 1, Capítulo 5.

5. Sermons de S. Alphonse de Liguori, Analyses, commentaires, exposé du systême desa prédication, por R.P. Basile Braeckman, da Congregação do T. S. Redentor, Tomo Segundo. Jules de Meester-lmprimeur-Éditeur, Roulers, pp. 55-60).

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NACIONAL

Brasil, América Hispânica e o ''Livro Negro" do populismo JAVIER GONZÁLEZ

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mpla maioria de senadores aprovou a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, com seu consequente afastamento do cargo por um período de até 180 dias, enquanto durar o processo. Esse fato, de alto conteúdo simbólico, foi a justo título interpretado por muitos como um dos maiores revezes políticos sofridos pelo populismo es- ~ querdista brasileiro em particular, e latino-americano em geral. Trata-se, com efeito, da inter- º ã:i rupção da hegemonia política do ~ Partido dos Trabalhadores (PT), ::ie que já durava 13 anos e chegou a junto com a mansidão da pomba, a abarcar dois períodos presidenciais astúcia da serpente. de Lula e um período e meio da preVej amos um exemplo, que sidente Dilma. parece ilustrativo quanto à necesNuma exteriorização do oti- sidade de continuar a exercer um mismo que atualmente contagia redobrado espírito de vigilância em não poucos brasileiros, o conheci- relação ao populismo e a sua potendo jornalista Reinado Azevedo es- eia! capacidade de se reerguer. No creveu no dia seguinte à suspensão Brasil, na Argentina, no Uruguai, no Chile, na Venezuela, bem como de Dilma de suas funções de presidente: "O PT está fora do pode," E, em outros países governados nos acreditem, é para sempre " ("Folha últimos anos por partidos políticos de S. Paulo", 13/5/2016). esquerdistas, ficou provado que toNa realidade, neste momento dos esses partidos, incluindo alguns de debacle populista, as sãs alegrias de seus mais importantes líderes, se se justificam; mas talvez·seja neces- contaminaram e sujaram com a corsário ter muita cautela ao considerar rupção, apesar de terem sempre se se de fato o populismo brasileiro e apresentado como incorruptíveis. · hispano-americano entrou irreverEmbora a corrupção esquersivelmente em estado terminal. Na di sta seja um e lemento sumamente hora da análise política, requer-se, grave, ela não constitui o pior dano

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causado pelas esquerdas. A maior destruição causada por estas na América Latina, especialmente pelas que chegaram ao poder nos últimos anos, foi uma erosão cultural, psicológica e social na população, incluindo setores do centro e até da direita . Uma erosão sistemática, com estilo e métodos gramscianos, maquiavelicamente mai s eficazes do que os das esquerdas clássicas, e cujo objetivo principal é drenar e secar gradual e inadvertidamente na sociedade os princípios básicos da civilização cristã. Tudo isso num clima anestesiante, a fim de não despertar reações incômodas. Sobre a corrupção esquerdi sta, muitos fa lam. Sobre a revolução anticulh1ral esq uerdi sta em nível brasi leiro e latino-americano -

muito mais profunda e destruidora que a corrupção econômica quase ninguém trata. Por exemplo, muito haveria a dizer sobre o predomínio hegemônico da mentalidade marxista nos meios educacionais e culturais, o qual faz com que o ensino em todos os níveis, bem como as artes e a cultura continuem em mãos de professores e intelectuais muitas vezes nitidamente de esquerda marxista. Nesse sentido, a gigantesca propaganda direta e indireta a favor da nefasta revolução comunista em Cuba constitui todo um capítulo. Deste modo, a grande arma anticultural _e hegemônica das esquerdas - que mereceria um detalhado "Livro Negro" de denúncia - permanece protegida e quase intocada, pronta para preparar o caldo de cultura de um eventual ressurgimento populista no continente, com ocasionais adaptações cosméticas. No Brasil, por exemplo, o novo governo está emitindo sinais diferentes e até mesmo contraditórios. Enquanto uma nota do Ministério das Relações Exteriores criticou duramente a intromissão dos governos bolivarianos nos assuntos internos do Brasil, foram nomeados para o novo governo alguns ex-ministros de Lula e Dilma, e o novo ministro da Defesa pertence a um partido de esquerda, inclusive com um passado de militância comunista. Isso não obstante, um clima de distensão vai tomando conta do Brasil, enquanto a indignação em relação ao PT e seus próceres parece amortecer e diluir-se. Fica aqui um convite à vigilância. E também a um sério debate sobre temas tão relevantes para o futuro da grande nação brasileira e de toda a América Latina. ❖

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São João Fisher Martirizado por defender a indissolubilidade do matrimônio, resistindo heroicamente ao cisma provocado pelo rei Henrique VIII

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

ascido em Beverley, condado de Yorkshire (lnglaterra), em 1469, João Fisher foi um dos quatros filhos do comerciante Roberto Fisher e de sua esposa Inês. Seu pai faleceu quando ele tinha oito anos. Após fazer os primeiros estudos na sua cidade natal, cursou a Universidade de Cambridge. Em 1491 recebeu dispensa papal para ser ordenado aos 22 anos, antes da idade canônica. Em 1497 foi nomeado vigário de Northallerton. Por sua piedade e erudição, tornou-se capelão e confessor da mãe do rei Henrique VII, Lady Margarida Beaufort, condessa de Richmond e de Derby. Ao mesmo tempo que cuidava de sua dirigida espiritual, empregava seu crédito na corte para favorecer a religião católica. Graduado doutor em Sagrada Teologia em 1501, João Fisher foi nomeado vice-chanceler e depois chanceler vitalício da Universidade de Cambridge. Em 1504, com apenas 35 anos, por insistência pessoal do rei Henrique VU, tornou-se bispo de Rochester, conservando seu cargo em Cambridge. Embora a diocese de Rochester fosse considerada a mais pobre da Inglaterra e o primeiro passo para futuras promoções, João Fisher nela permaneceu durante seus 31 últimos anos de vida.

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Primeiro embate com o novo soberano

Muito piedoso e de hábitos austeros, Fisher punha uma caveira sobre o altar enquànto celebrava, ou no refeitório enquanto tomava as refeições, a fim de ter sempre presente a imagem da morte. Quando Henrique VIJ faleceu , em 1509, o bispo Fisher teve um primeiro atrito com o novo monarca, Henrique VIII, que queria apropriar-se dos fundos que

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sua avó havia deixado para financiar fundações em Cambridge. Mais tarde, Henrique VIII escreveu contra Lutero o 1ivro Em def esa dos Sete Sacramentos, que lhe mereceu o título de Def ensor da Fé. Muitos afirmam que seu verdadeiro autor foi São Thomas Morus, mas isso é contestado.

Entretanto, tendo o rei sido contra-atacado por Lutero, Fisher o refutou, defendendo também o caráter sagrado do sacerdócio e da autenticidade da Sagrada Escritura. O rei declara-se Chefe da Igreja na Inglaterra

. Henrique VIII casara-se havia 20 anos com Catarina de Aragão e tiveram vários filhos, que não sobreviveram. Apaixonou-se então por uma dama da rainha, Ana Bolena, com a qual pensou contrair matrimônio. Para consegui-lo, lançou mão de todos os meios para anular o seu casamento com a rainha. O bispo Fisher opôs-se veemente e tornou-se o principal apoio de Catarina e seu conselheiro mais ouvido. Nessa qualidade, compareceu diante dos legados da corte, declarando que, como São João Batista, estava disposto a morrer para defender a indissolubilidade do matrimônio. O rei ficou tão furioso ao saber disso, que compôs um longo texto em latim, dirigido aos legados, para refutar Dom Fisher. Mas este não se deixou abalar. As coisas então se precipitaram. Em novembro de 1529, insuflado pelo rei, o Parlamento começou a invadir as prerrogativas da Igreja. Como membro da Câmara dos Lordes, Dom Fisher alertou que tais atos só podiam resultar na destruição da Igreja Católica na Jnglaterra. Os deputados da Câmara dos Comuns reclamaram então ao rei, dizendo que o bispo estava interferindo nas prerrogativas do Parlamento. Diante disso o monarca convocou o prelado a comparecer em sua presença. Para mostrar-se magnânimo, aceitou aparentemente as explicações do bispo, mas deixou aos Comuns a tarefa de contraditar as razões dadas por ele. Transcorrido um ano, como prosseguissem as investidas contra a Igreja Católica, Dom Fisher e os bispos de Bath e de Ely apelaram para a Santa Sé. A reação do rei não se fez esperar: emitiu um edito proibindo tais apelos e mandou encarcerar os prelados, libertando-os alguns meses depois. Em fevereiro de 1531, Henrique VIII deu então um passo decisivo: convocou todos os membros do clero a comparecer a sua presença, a fim de lhe pedir perdão por terem reconhecido o Cardeal Wolsey como legado papal sem a sua autorização real. Para isso deveriam os eclesiásticos pagar uma multa de 100 mil libras, com a qual "comprariam" o perdão do monarca. E m seguida, revelando ao mesmo tempo o fim último da convocação, intimou todo o clero, em especial os prelados, a reconhecê-lo como Protetor e Cabeça Suprema da

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Igreja na Inglaterra. Presente, Dom Fisher conseguiu adicionar ao documento desse reconhecimento a cláusula: "tanto quanto a lei de Deus o p ermita ". Atentado contra a vida do bispo Fisher

Alguns dias depois, nesse mesmo ano de 1531 , Richard Roose (ou Coke), cozinheiro de Dom Fisher, colocou veneno na sopa a ser servida no palácio e aos pobres. Em consequência, dois pobres morreram e vários outros passaram mal, como também alguns criados. O bispo Fisher adoeceu gravemente, só não morrendo por milagre. O fato impressionou muito desfavoravelmente a opinião pública, que viu nele um atentado contra a vida de Dom Fisher. Para mostrar que nada tivera com o caso, Henrique VIII mandou passar um ato no Parlamento considerando o envenenamento crime de alta traição, passível de morte lenta do réu por cozimento, sorte reservada a Richard Roose, o primeiro a ser assim executado. 1 Entre o povo miúdo correu a voz de que a mão da família Bolena estaria por detrás do atentado corno meio de afastar um obstáculo ao divórcio do rei , mas isso não chegou a ser esclarecido. Encarceramento na Torre de Londres

Em ma io de 1532, Sir Tomás Morus, Chanceler do Reino e futuro mártir, resignou à Chancelaria para não ter que aprovar o divórcio do rei. Um ano depois, Tomás Cranmer, titular da Sé de Canterbury, aprovou em ma io o divórcio de Henrique VIII e no dia 1° de junho coroou Ana Bolena rainha da Inglaterra. Os acontecimentos precipitaram-se ainda mais. Em 1534 o Parlamento fez passar um Ato de Sucessão obrigando todos a reconhecer com juramento como legítimos herdeiros do trono os filhos da união de Ana Bolena com o rei . Dom Fisher recusou-se a prestar tal juramento, sendo por isso novamente encarcerado. Teve ainda todos os seus bens confiscados e sua Sé de Rochester declarada vacante. São Tomás Morus, que também se. recusou a prestar o juramento, foi igualmente preso poucos dias depois. A alguns bispos que tentava111 fazê-lo ceder, disse Dom Fisher: "A f ortalezá está traída p or esses mesmos que a deveriam df!fender".2 Com efe ito, com exceção dele, a totalidade dos bispos ingleses, por medo e falta de ze lo, aceitou a ruptura com Roma e a fun dação de uma igreja anglicana.

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Que um episcopado inteiro rompa com a Fé por medo ou para obter alguns benefícios, mostra quão putrefato estava! E, com poucas e honrosas exceções, a nação inteira aderiu a essa apostasia. O cisma da Inglaterra constitui por isso um dos fatos mais surpr~endentes da História. Como pôde uma nação inteira romper da noite para o dia com a Fé de seus antepassados - a qual lhe havia merecido o epíteto de "Ilha dos Santos" - para seguir um soberano prevaricador? Essa apostasia tão completa do clero e do povo só se explica por uma decadência muito profunda e prolongada da fé e da prática da Religião Católica, há séculos vigente na Inglaterra.

Na prisão, criado Cardeal-Presbítero

Em maio de 1535 o Papa Paulo III elevou Dom Fisher à honra de Cardeal-Presbítero de São Vital, para que ele recebesse melhor tratamento na prisão. Mas isso teve um efeito contrário. O rei proibiu que seu chapéu cardinalício fosse levado à Inglaterra, dizendo que antes enviaria a Roma a cabeça do prelado. De fato, com base em falsos testemunhos e tratando o

~risioneiro como cidadão comum, uma corte de justiça declarou-o réu de alta traição e o condenou a ser enforcado, estripado e esquartejado. Não podia ir mais longe o ódio contra esse paladino da fé. Como a sentença provocou muita reação na população de Londres, Henrique VlII substituiu-a pela decapitação. No dia 22 de junho de 1535, tendo o agora cardeal João Fisher sido despeitado às cinco horas da manhã para ser executado, pediu li cença para ... descansar um pouco mais. E dormiu profu ndamente por mais duas horas. O que revela a paz de consciência e tranquilidade de espírito desse herói da fé diante da morte cruel. No momento da execução, disse ao povo presente: " Vim aqui para morrer pela f é da Igreja Católica e de Cristo ". Após rezar o Te Deum e o salmo ln Te Domine sp eravi, foi decapitado. "Os últimos momentos de Fisherforam como sua vida. E/ ~enji--entou a morte com uma calma e uma coragem que muito impressionaram os p resentes. Seu corpoJói tratado com particular ranco,; aparentemente por ordem de Henrique, sendo desnudado e deixado no cadc{fàlso até a noite, quando f oi atirado nu num tosco t!Ímulo [ ..}, Quinze dias depois seu c01po repou-

Católicos romanos decapitados por ordem de Henrique VIII, entre os quais São Tomás Morus, São John Flsher e a condessa de Sallsbury em 1535

sou ao Lado do de Sir Tomás Morus na capela de São Pedro ad, Vincula, na Torre de Londres. Sua cabeça f oi colocada num poste da Ponte de Londres. Mas sua aparência corada e como que viva, excitou tanta atenção que, quinze dias depois foi lançada no Tâmisa, sendo colocada em seu lugar a de Sir Tomás Morus, cujo martírio, também na colina da Torre, ocorreu no dia 6 de julho ".3 Esses dois mártires de Nosso Senhor Jesus Cristo - cardeal João Fisher e Sir Tomás Morus - foram beatificados pelo Papa Leão XIII em 1886 juntamente com outros 52 mártires ingleses, e canonizados por Pio XI no dia 19 de maio de 1935. Comemoramos suas festas no mesmo dia 22 de junho.. !• Notas: 1. Cfr. Francis Hackett, Henrique Vlll, Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, sem data da edição, p. 211; G. Huddleston, St. John Fisher, The Catholic Encyclopedia, 2014, disponível em http:// www.newadvent.org/ cathen/08462b.htm. 2. Pe. José Leite, São João Fisher, in Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, p. 282. 3. G. Huddleston, St. John Fisher, The Catholic Encyclopedia.

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DISCERNINDO

O sonho de Ruperto CID ALENCASTRO

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uma dessas andanças pelas ruas da cidade, que to_do p~ulist~no se vê cons.trangido por mil razoes drferentes a fazer, encontrei casualmente meu amigo Ruperto. Conhecíamo-nos de longa data. ' Nada de especial, pois, em haver um encontro casual, a não ser uma circunstância. Já de longe, notei que ele parecia desnorteado, como que afligido por algum problema que lhe afetara os nervos e esbugalhara os olhos. Tão preocupado estava, que ia passando por mim sem me ver. Atalhei-lhe o passo. - Então Ruperto, como vai? Ele, com uma voz rouca que não lhe era habitual, respondeu: - Estou transtornado. Não sei se procuro um neurologista ou um sacerdote, talvez um exorcista. - Mas o que houve, Ruperto? - Tive um sonho. - Ora, bobagem, quem se preocupa com sonhos!? - Foi um pesadelo ... terrível! A essa altura eu estava profundamente penalizado com o pobre Ruperto, e também surpreso. Havia ali próximo um desses bares que colocam mesinhas na calçada. Convidei-o a tomar um refresco. Ele aceitou. Sentamo-nos, mandei vir um refresco de maracujá com uma porção de pão de queijo. - Você não sabe o que eu vi numa noite dessas, disse-me ele em tom de desabafo. Apareceu-me um homem, não sei se homem, se fantasma, se extraterrestre ou demônio, não sei. Um de seus olhos era de um azul faiscante e odiento, e o outro, verde langoroso e triste. Ambos ficavam o tempo todo girando. De uma das narinas saía uma espécie de fogo ardente, e a outra era murcha e sem expressão. Os cabelos estavam divididos ao meio por uma risca; de um lado bem penteados, como assentados por um fixador; do outro, estavam em convulsão, como se fosse um nó de cobras em movimento. Enquanto falava comigo, a altura

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do personagem ora aumentava, ora diminuía; também ele ora ficava mais magro, ora mais gordo. Nele, nada combinava com nada. Aterrador. - E o que lhe disse esse homem? - perguntei, fazendo esforço para não me deixar tomar pelo estado emocional de meu amigo. - Disse-me que se chamava Contradição Ululante, e que era ele quem dominava o estado de espírito do mundo atual. Em seguida passou a desfiar vários pontos daquilo que denominava ser o seu "reino" sobre as almas. Mandei vir nova dose de maracujá e Ruperto prossegum. - O tal homem começou a falar da contradição da ideologia de Gênero. "Fui eu quem introduzi esse conceito nas mentes", asseverou. "Você quer maior contradição do que essa? O menino que acha que é menina e a menina que acha que é menino! Totalmente absurdo. Mas eu introduzi isso nas mentes de alguns e eles propagam. E afirmam, contra toda evidência, que o sexo de cada um é opcional e não natural. Com isso eu consigo transtornar as psiques das pessoas, e elas já não se guiam mais pela razão e pela evidência, mas por teorias inventadas e absurdas. E u sou a contradição". - Ele citou mais algo? - Sim. Falou da ecologia. " Inventei uma série de catástrofes naturais que poderão ocorrer se não se renunci ar ao progresso", disse ele. "Quero impor no mundo o miserabilismo socialista, todos iguais na miséria. E as pessoas não se dão conta de que, para evitar um risco futuro imaginário, lançam-se desde já num poço de pobreza total, sob a férula de um governo mundial. Além disso, deixam de crer em Deus e em sua providência, para adotar o culto fetichista da chamada Mãe Terra. Mais uma vez, a contradição. Eh, eh, eh!", ria ele de modo sinistro. - Incrível tudo isso! - Mas há mais. O homem prosseguiu. "Fiz Obama ir a Cuba para apoiar a ditadura comunista em

nome da democracia, falar de direitos humanos num regime que não cessa as perseguições, convidar os dissidentes para um encontro, quando estes estão presos ou são proibidos pelo governo de sair de casa. Também o Papa Francisco esteve em Cuba, prestigiando o ateísmo em nome da religião. Oh, como eu amo a contradição!". A essa altura, Ruperto estava um pouco mais distendido. Não sei se pelo fato de poder abrir-se a um amigo ou se por efeito do maracujá. Por via das dúvidas, mandei vir mais refresco. E ele prosseguiu. E m certo momento, o homem tornou-se especialmente zombeteiro: "Eu faço usar a palavra ' diálogo ' a todo propósito para evitar que as pessoas reajam contra o socialismo, o comunismo, o terrorismo etc. A cada novo avanço do socialismo, ou a cada novo crime do terrorismo, eu inspiro às vítimas que é preciso dialogar, e assim o mal avança sem obstáculos. Elas não se dão conta da contradição que há em querer dialogar com quem quer destruí-las. Veja por exemplo o diálogo do governo colombiano com os guerrilheiros das FARC!". - E le falou ma is de democracia? - Sim, insistiu no fato de que grande número de pessoas não quer nenhuma dessas capitulações nem desses horrores, mas tudo continua sendo feito em nome do povo e da democracia. E todos têm que engo lir essa contradição. Ele disse ainda muitas outras coisas, mas não me lembro de todas. Eu realmente estava impressionado com essas " reve lações" feitas pelo tal indivíduo do sonho, mas o sol já declinava e era preciso ir. Pedi a conta ao garçom, e quando já estávamos de pé, Ruperto atalhou. - Ah ! Estava me esquecendo de uma contradição importante. Foi a última coisa que me disse aquela figu ra fa ntasmagórica, antes de eu acordar do sonho. Trata-se de uma contradição particular imposta aos atólicos. Disse o homem: "Eu consegui que um

Pontífice, especialmente encarregado por Jesus Cristo de pregar a verdade a todos os povos, nem sequer fa le em apostolado, conversão e proselitismo. E que, quando multidões de imigrantes de outras religiões invadem a Europa e põem em risco o que ainda resta de civilização cristã, a preocupação dele não é com os males que tal situação acarreta aos católicos, mas sim com que muçulmanos, hinduístas e outros sejam acolhidos e bem tratados. Ademais, quando pobres miseráveis, oriundos de nações de estrutw-a socialista ou tribal, buscam os países capitalistas para poderem sobreviver, o acusado por essa situação é o capitalismo e não os regimes desumanos de onde eles provêm. Eh eh eh, eu sou o rei da contradição". *

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Confesso que depois dessa conversa, o aterrado era eu, mais do que Ruperto. Não podia livrar-me da terrível impressão de que o monstruoso personagem que aparecera a meu am igo dissera a verdade e só a verdade sobre o mundo atua l. Sentia necessidade de limpar-me da sensação fuliginosa que me impregnava, por viver no meio da contradição, e fui em busca de algo que me fizesse imergir nas águas límpidas da lógica e do bom senso. Foi então que relembrei um episódio da vida de Santo Tomás de Aquino, que realça quanto a imensa sabedoria desse luminar da Igreja lhe vinha de sua união com Deus, sem a qual tudo é trevas, como também ignomínia e contradição. Certa vez, diante de um Crucifixo em Nápoles, ouviu ele estas palavras de Jesus: "Bem escreveste sobre Mim, Tomás; o que desejas que te dê em recompensa?" Ao que Santo Tomás respondeu: "Nada, a não ser Vós mesmo, Senhor" (Nihil, nisi Te, Domine). Para o leitor, que como eu vive cercado por esse mundo de contradições, resolvi contar tod o esse episódio. O título poderia também ser: Nisi Te, Domine. ❖ catolicismo@terra.com.br / JUNHO 2016

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VARIEDADES

A lição de Juvenal GREGORIO VIVANCO LOPES

quase-nudismo que toma conta das cidades modernas vai aproximando as pessoas da prática de quase se despirem completamente em público, à maneira dos selvagens e dos índios primitivos. Para as mulheres, são shorts, micro-saias, decotes escandalosos, abdômen e costas de fora, calças apertadíssimas realçando as formas do corpo, ou roupas transparentes. Para os homens, dispensa-se até a camisa, ao mesmo tempo em que uma espécie de bermuda põe em realce a feiura das pernas. Tudo quanto as pessoas - homens e mulheres - têm de cicatrizes, deformidades, manchas da pele, partes malconformadas do corpo, ossos salientes, rugas, vai sendo mostrado desinibidamente. Os modos de estar ou de sentarse em público tornam-se cada vez mais permissivos, provocantes e degradantes. Perde-se o senso da beleza, da dignidade, da compostura, do recato, do pudor. É a civilização que afunda aos poucos na barbárie. E para apontar bem claramente o termo rumo ao qual se caminha, as manifestações de nudismo completo vão se tornando cada vez mais frequentes. Está ocorrendo o fato de pessoas se apresentarem nuas nas ruas para protestar contra alguma coisa. Já se fizeram protestos ~em roupa contra o preço da gasolina, contra o aquecimento global, por mais ciclovias, contra as touradas, contra o consumo de carne etc. Ou seja, tais reivindicações mais parecem

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pretexto para propagar o nudismo do que outra coisa. Certas feministas são useiras e vezeiras desse tipo imoral de propaganda. E, para além do nudismo, caminha-se em direção ao amor livre. Simplesmente porque não é possível pessoas conviverem nuas onde quer que seja, sem que o instinto sexual, mesmo nas suas formas mais degradantes, não se veja atiçado e chegue às últimas consequências. É o que vem sendo denunciado em certas praias nudistas. Alega-se que é por falta de vigilância. Mas se um lugar necessita ser constantemente vigiado para que nele as pessoas não se entreguem às piores imoralidades e obscenidades, então que lugar é esse? Um bordel? Um "campo de concentração" de devassos? Voltemos ao início destas considerações. O famoso escritor latino Juvenal (séc. II), * em seu livro de Sátiras, escreve: "Nemo rep ente fuit turpissi1 mus " (Juvenal , Satirae 2.83) - "Ninguém fica depravado de rep ente". Será que o espetáculo de seminudismo que se tornou habitual nas cidades modernas não prepara as abominações que atualmente já vêm sendo denunciadas nas praias nudistas? Fica a pergunta para o leitor responder. ❖

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Santa Igreja recomenda não compa-

rar santos. Contudo, quando se trata de Santa Teresa d'Ávila, uma das maiores figuras da Contra-Reforma católica, todos os adjetivos são insuficientes. Sua ação marcou não só o Século de Ouro da Espanha, mas também toda a Cristandade. E sua fama é tão universal, que extravasa o âmbito da própria Igreja Católica, sendo seu gênio admirado até nos campos mais alheios à religião. Assim, Santa Teresa, cuja extraordinária personalidade e obra são cantadas em prosa e verso no mundo inteiro, não necessita praticamente de apresentação. É suficiente dizer que, para citar o farto material existente sobre ela, seriam necessários vários volumes. O nosso objetivo é bem mais modesto: com base em alguns

autores, e sobretudo em seus escritos - dos

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quais o mais importante é a sua autobiografia - , procuramos apresentar ao leitor um como que resumo de sua vida e obra, para incentivá-lo a se aprofundar no tema, o que ele poderá fazer lendo as Obras Completas da Santa.

* ,Juvcnal -

Fal ec ido aprox im adamente em 130 d.C., é o autor das Sátiras, em que ridiculariza os costumes da Roma pagã de sua época, contrapondo-a aos costumes severos vige ntes durante a República aristocráti ca. Esta fo i enaltecida pe lo renomado escritor C ícero e pe lo hi storiador romano Tito Lívio.

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1 São Panfílio e Companheiros, Mártires + Cesareia (Palestina), 309. O maior dos exegetas do seu tempo, Panfílio fundou uma escola bíblica, centro de saber e virtude. Encarcerado e torturado em ódio à fé, foi depois martirizado com alguns discípulos e companheiros de prisão.

2 São Nicolau, o Peregrino, Confessor + Trani (Itália), 1094. Carregando pesada cruz e cantando o Kyrie Eleison, esse jovem grego peregrinava a pé pelos santuários do sul da Itália. Faleceu aos 19 anos de idade. Muitos milagres se operaram em seu túmulo.

3 SAGRADO CORAÇÃO DEJESUS (Vide p. 26) Primeira Sexta-feira do mês.

4 São Francisco Caracciolo, Confessor + Agnone (Itália), 1608. De nobre família napolitana, "fundador da Congregação dos Clérigos Regulares Menores" (do Martirológio Romano). Tinha o dom de profecia, sendo favorecido com êxtases. Primeira Sábado do mês.

5 São Bonifácio, Bispo e Mártir + Dokkun (Holanda), 754. Inglês de nascimento e Apóstolo da Alemanha, nos últimos

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anos de sua vida deixou a Sé episcopal para se dedicar aos frísios (holandeses), que haviam recaído no paganismo, sendo por eles martirizado.

6 São Norberto, Bispo e Confessor + Magdeburgo (Alemanha), 1134. Era clérigo mundano até ser atingido por um raio, quando se converteu. Fez-se pregador itinerante e fundou mais tarde os Cônegos Regulares (Premonstratenses). Foi nomeado posteriormente arcebispo de Magdeburgo.

7 Santo Antônio Gianelli, Bispo e Confessor + Bobbio (Itália), 1846. Empenhou-se no campo das missões e da educação. Como bispo de Bobbio, governou com sabedoria e prudência sua Sé episcopal.

8 São Medard, Bispo e Confessor + França, 558. Irmão de São Gildard, Bispo de Rouen, foi eleito para a diocese de Noyon, à qual se uniu mais tarde a diocese de Tournai.

9 Beato José de Anchieta, Apóstolo do Brasil, Confessor + 1597. Converteu numerosos · índios à fé católica, salvando-os das trevas do paganismo. Colaborou decisivamente com Estácio de Sá, fundador do Rio de Janeiro, para a expulsão dos calvinistas franceses dessa cidade.

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Ainda em vida, operou numerosos milagres.

10 Santo Itamar, Bispo e Confessor + Inglaterra, 656. Nascido em Kent, foi o primeiro anglo-saxão a ser nomeado para uma Sé inglesa, ao suceder a São Paulino como bispo de Rochester.

11 São Barnabé, Apóstolo + Chipre, sec. 1. Fiel companheiro de São Paulo na evangelização, este o chama de Apóstolo, embora não fosse um dos Doze.

12 São João de Sahagun, Confessor + Salamanca (Espanha), 1479. Da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho. Por denunciar o mal existente nos mais altos postos da sociedade na qual vivia, sofreu vários atentados, sendo por fim envenenado pela concubina de um nobre.

13 Santo Antônio de Pádua, Confessor e Doutor da Igreja + Pádua (Itália), 1231. Chamado de ''Arca do Testamento" e "Martelo dos hereges", esse grande taumaturgo foi uma das glórias da Ordem Franciscana.

14 São Metódio de Constantinopla, Bispo e Confessor + Constantinopla (Turquia), 847. Italiano de nascimento, ele tornou-se monge e valente

opositor dos iconoclastas. Foi nomeado Patriarca de Constantinopla por interferência da imperatriz Teodora.

15 Santa Germana Cousln, Virgem + Pibrac (França), 1601. Pobre, escrofulosa, negligenciada pelo pai e maltratada pela madrasta, morreu aos 22 anos, abandonada em seu leito de palhas no celeiro paterno.

16 São Cyro e Santa Jullta, Mártires + Síria, séc. IV. Julita, por não querer renegar a fé, estava sofrendo o martírio quando seu filho Quirico, ou Cyro, de apenas três anos, que lhe fora arrancado dos braços, juntou-se a ela para morrer, afirmando que também era cristão.

17 Santa Teresa de Portugal, Viúva + 1250. Filha do Rei Sancho 1de Portugal. Tendo seu casamento sido declarado nulo por motivo de consanguinidade, fundou um convento cisterciense.

18 Santos Marcos e Marcelino, Mártires + Roma, 287. De acordo com a tradição, durante a perseguição movida por Diocleciano esses dois irmãos gêmeos "tiveram o lado traspassado por lanças, entrando assim no Reino dos Céus pela glória do martírio " (do Martirológio Romano).

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São Romualdo Abade, Confessor + Itália, 1027. De nobre família de Ravena, entrou aos 20 anos num mosteiro. Fundador da Ordem dos Camaldulenses.

FESTA DA NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA

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Beatas Sancha, Teresa e Mafalda de Portugal + Portugal, séc. XIII. Filhas de D. Sancho 1, ambas renunciaram às glórias do mundo para se entregarem a Deus através da vida religiosa.

São Próspero de Aquitânia, Confessor + França, 463. Leigo e casado, devotado ao estudo da teologia, correspondia-se com Santo Agostinho, a quem admirava e com o qual combateu a doutrina herética dos semipelagianos sobre a graça. Indo para Roma, tornou-se secretário do Papa São Leão Magno.

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São Luís Gonzaga, Confessor

anos na Companhia de Jesus. Tinha uma pureza angelical. Morreu aos 24 anos como mártir da caridade, vítima de uma moléstia contraída ao assistir os enfermos durante uma epidemia. É patrono da juventude.

Santos João e Paulo, Mártires + Roma, 362. "O primeiro era governador de palácio, e o segundo camareiro da virgem Constância, filha do Imperador Constantino. Ambos obtiveram a palma do martírio sob Juliano o Apóstata, morrendo pela espada" (do Martirológio Romano).

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20

+ Roma, 1591. De família principesca, ingressou aos 17

São Paulino de Nola, São Ladislau, rei da Hungria, Bispo e Confessor Confessor + 431. Pagão de nobilíssima + Nitra (Boêmia), 1095. Confamília, ainda jovem tornou-se siderado um dos heróis da prefeito de Roma e senador. Hungria católica, esse rei derCasado com uma cristã, ele rotou sucessivamente os polose converteu e, de comum de · neses, os russos e os tártaros. acordo com a esposa, renun- Pela morte da irmã, anexou ciou a tudo e se fez sacerdote. ao reino a Dalmácia e a Croácia. Apoiou Sâo Gregório VII 23 contra o imperador Henrique São José Cafasso, Confessor IV, incentivou o trabalho mis+ Turim (Itália), 1860. Conter- sionário em seus territórios, râneo e mestre de São João construiu vários mosteiros e Bosco, reitor do Internato igrejas. Eclesiástico São Francisco de 28 Assis, de Turim, formou o clero · piemontês nos bons princípios São João Southworth, de São Francisco de Sales e Mártir Santo Afonso de Ligório. + Tyburn (Inglaterra), 1654.

Ordenado sacerdote na França e enviado à missão na Inglaterra, ele foi preso várias vezes e depois libertado pela intercessão da Rainha Henriqueta, esposa de Carlos 1. Após a execução deste rei, sob o regime ditatorial e herético de Cromwell, foi aprisionado e martirizado.

29 Comemoração de São Pedro e São Paulo, Apóstolos

30 São Teobaldo de Provins, Eremita, Confessor + Salonigo (Itália), 1066. Filho dos Condes de Champagne, ele trocou a carreira militar pela vida eremítica. Depois de uma peregrinação a Roma, entrou para a Ordem dos Camaldulenses em Salonigo.

Nota: Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui apenas seus nomes enunciados, sem nota biográfica .

Intenções para a Santa Missa em Junho Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisqulnl, nas seguintes Intenções: • Suplicando ao Sagrado Coração de Jesus - principal celebração de junho - que cumule nossos leitores e suas respectivas famílias de graças muito especiais e uma ardente devoção Àquele Coração que tanto sofreu para alcançar a nossa salvação.

Intenções para a Santa Missa em julho • Missa com especial menção a Nossa Senhora do Carmo (cuja festividade se comemora no dia 16 de julho) e a Santo Elias (considerado fundador do Carmelo e celebrado no dia 20), rogando graças pela sa lvação eterna de cada um dos assinantes e leitores de Catolicismo. E também pedindo graças para uma maior expansão da devoção ao Santo Escapulário do Carmo entre os brasi leiros, tão necessitados de graças superabundantes nestes tempos de crise.

catolicismo@terra.com .br / JUNHO 2016

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Zika vírus: jogo para a legalização do aborto? NELSON RAMOS BARRETTO

o dia 28 de abri l último o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promoveu no Club Homs, situado na Avenida Paulista, a conferência "O zika vírus na berlinda ", a cargo da Dra. Elizabeth Kippman, ginecologista obstetra, e do jurista Dr. Paulo Leão, os quais demonstraram que a infecção causada pelo zika não tem relação provada com o surto da microcefalia no Brasil. Antes da conferência muitos pareciam céticos quanto à afirmação de que o mosquito aedes aegypti e o zika não fossem de fato os vilões da microcefalia. Com tanta publicidade na mídia, imaginava-se que tudo estivesse comprovado. Inclusive, muitas grávidas já estavam viajando ao exterior para dar à luz com mais segurança. Falavase até em ampliar as causas não penalizadas de aborto! O presidente do Instituto, Dr. Adolpho Lindenberg, abriu a sessão saudando os palestrantes e os presentes, e manifestando sua alegria pelo fato de um determinado grupo de pessoas constituir um público constante nos eventos realizados no Club Homs. À medida que a primeira conferencista, a Dra. Elizabeth Kippman, desenvolvia com segurança e conhecimento o tema, expondo gráficos e mapas, o ceticismo ia sendo substituído por uma indignação diante da manipulação do noticiário e dos corifeus abortistas. Numa exposição muita didática, a Dra. Elizabeth explicou primeiramente as várias causas da microcefalia, mostrando que não há prova de que ela seja provocada pelo zika vírus; e depois as doenças transmitidas pelo

aedes aegypti, como a dengue, a chikungunya e o zika. Assim, no mapa do Brasil com incidência de zika, o Mato Grosso aparece em primeiro lugar e o Nordeste em último. Pelo contrário, no mapa com ocorrência da microcefalia, o Nordeste está disparado na frente, especialmente Pernambuco, en-

N

CATOLICI SMO / www.catol icismo.com.br

Dra. Ellzabeth Klppman

Dr. Adolpho Llndenberg

Dr. Paulo Leão

quanto Mato Grosso nem sequer aparece ... Então, qual seria a causa da ocorrência d mi crocefalia em Pernambuco? ;\ provável resposta veio com a eloquen te xposição do Dr. Paulo Leão. Ele levantou a questão da trípl ice vacina utilizada para ·arampo, coqueluche e rubéola, a qual não p <leria ter sido aplicada em gestantes, ou , pelo menos, três meses antes da gestação . Tal res trição consta dos avisos do labo ra tório fabricante da vacina. Parece que m o houve essa cautela na campanha de vainação. O Dr. Paulo citou a opinião abalizada do Dr. Pli nio Bezerra dos Santos Filho, com Ph D nos Estados Unidos, que realizou estu-

Dom Bertrand de Orleans e Bragança

catolicismo@terra.com.br / JUNHO 2016

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dos e assinou denú ncia junto ao Ministério Público. Uma denúnc ia de crime praticado contra a população brasileira por urna sequência de erros e procedimentos grosseiros do Ministério da Saúde, do SUS, de seus institutos associados e autoridades constituídas, que provocaram e continuam provocando a atual crise de microcefalia em todo o Brasil. Uma análi se mais deta lhada e específica de dados e fatos referentes ao estado de Pernambuco acompanha a denúncia, segundo a qual a crise de microcefalia que surgiu nessa unidade da Federação, com um pico máxi mo de casos em novembro de 2015 , não se deve ao vírus zika e nem é uma epidemia. Ademais, existem quatro fatoscausa principais que explicam claramente os dados, números de casos e períodos das notificações.

Outro fato curioso: embora os Estados Unidos fossem há alguns anos o país com o maior índice de mícrocefal.ia, lá entretanto não havia surto de aedes aegyptí, nem tampouco de zíka. Este vírus mais recentemente foi objeto, no Suriname, de um estudo por uma equipe internacional, a qual constatou que não obstante a zíka vírus ter tomado uma proporção endêmica nesse país, não houve incidência de microcefalia. Entretanto, os corifeus do aborto e a mídia ínteroaciooal insistem em relacionar o aedes aegyptí com o zíka e a microcefalia. De onde a pergunta que teima em não se calar: A quem aproveita o delito? CATOLTCISMO / www.catolicismo.com.br

Ante a onda criada, aparece a tropa de choque dos cientistas que começam a defender o aborto dos bebês com microcefalia. E que dão como certo que a causa é o zíka e o aedes aegypli. Em seguida, a busca desenfreada de um caso, pelo menos, que prove que a mãe contraiu o zíka vírus e o nascituro está com microcefalia. Se encontrarem esse caso, terão a prova de que a causa da microcefalia foi o zíka, e que, portanto, é necessário abortar todas as crianças em fase de gestação em que a mãe esteja com esse vírus. Alguém dirá que esta argumentação é muito rocambolesca e que não se pode levá-la a sério. Mas os fatos estão aí para provar que é a justificativa dos abortistas para legitimar o aborto de microcéfalos - assim como ocorreu anteriormente no caso de bebês portadores de anencefalia. Assim, os corifeus pró-aborto pensam e manipulam a doença para difundir o infanticídio pré-nata l. Nesse sentido, o secretáriogeral da OEA, Luis Almagro, chegou a declarar no dia 26 de abril p.p. que o zika era uma "oportunidade" para o que ele chama " igua lar os direitos" (sic ).

*

*

*

N a segunda parte do evento o Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança discorreu sobre as manifestações pelo imp eachment da presidente petista.

E le começou mostrando corno o noticiário apresenta praticamente só a reje ição à corrupção do PT, e não o aspecto id eo lógico da reação ao comunismo e ao socia li smo. E lembrou que, ao ass umir o poder, o PT cujos dirigentes foram em grand e parte formados pe la esq uerda católica, o u seja, pela Igreja da Teologia da Libertação - dec larou , pela boca de José Dirce u, que se u proj eto de poder era de 30 anos. Dom Bertrand mostrou a inda como a corrupçã.o fo i disse min ada e utili zada pe lo governo petista para a manutenção do poder e a di fu ã.o da !'evo lu ção socialista na Améri ca Latina e África; co mo e le desperdi ço u a bonança eco nômica co m o populi smo e a corrupção; e como con tribuiu para a destruição da famíli a e da juventude através da

Ideologia de Gênero. Prosseguindo, o príncipe descreveu a corrosão da propriedade privada levada a cabo pelo PT, seu incentivo às invasões do MST e do MTST, bem como a demarcação de terri lórios para fa lsos indígenas e quilombolas. EI favoreceu ainda a criminalidade através do desarmamento dos homens honestos. Afirmou que à medida que o PT fo i maquin ando para implantar o socia li smo, as reaç< 'S fora m crescendo e cri ando uma distânc ia ' nlrc o Bras il cristão, latente, e o Brasil gov ·rni sla patente. Lembrou o ensinamento cl ' Pio X I de que "socialismo e catolicismo srio lc>nnos contraditórios" e comentou q ue nu s manifestações de rua havi a um c lima

ordeiro e de bom humor com o ''Tchau querida", o qual só fez crescer com a aprovação inicial do impeachment pe la Câ mara, cujo anúncio causou uma sensação de alívi o e de exorcismo de um demônio que pesava sobre a Nação. Ao finali zar, Dom Bertrand disse que o nosso futuro eleve estar na trilha bendita da civilização cristã segundo o lema "Jnstaurare omnia in Christo" de São Pio X para qu em a civilização não está para ser inventada, deve ndo apenas ser resta urada em C ri sto. E lembrou as palavras de Plínio Corrêa de Oliveira no di scurso do Cong resso E ucarístico de ] 942, di ante de cerca de um milh ão de pessoas reunidas no Va le do Anhangabaú, no centro de São Paulo: "É

mais .facil arrancar o Cruzeiro do Sul do céu, do que a Fé e a soberania de nosso povo! " . ❖

catolicismo@terra.com.br / J UNTI O 201.6

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AMBIENTES • COSTUMES • CJVJLIZACOES

ersonagem com uma cabeça coruscante: Churchill. Uma ordem de grandeza humana autêntica, homem que tinha não sei quanto de história atrás de si. Ele possuía também, amalgamado, algo de carroceiro ao lado do duque inglês; era um gênio, no qual coexistia o carroceiro e o duque.

sentado junto com Roosevelt e Stalin. Roosevelt no meio, como um burguês de boa família que ele era, bem tratado, fino, despretensioso. Na foto à esquerda, Stalin. Um homem de botequim, ordinário, todo vestido de traje novo, mas não habituado a se vestir assim. Sobretudo, não habituado a roupas limpas, uma coisa repugnante; a fera em dia de circo, o bigode saltado, um ar de quem diz: "hoje eu te pego para te matar, ou para te .roubar", todo vaidoso com a farda nova. À direita, Churchill, que arranjou um jeito de sentar-se de modo a parecer como se não estivesse no grupo. Stalin e Roosevelt formam um grupo. Churchill está completamente alheio, até olhando para a máquina fotográfica, mas como um homem que estivesse sentado em sua cadeira na Câmara dos Lordes e pensativo. De maneira tal , que entre ele e os outros. há uma distância invisível e enorme, pela qual se percebe o lorde e o gênio. Isto porque seus olhos estão

Ele apresentava, ao chupar aquele charuto, certos ares próprios de quem começou fabricando cabos de vassoura, ou coisa do gênero, com aquele jeito de bebezão mal humorado no qual se percebia o plebeu. Mas, por outro lado, apresentava certas atitudes mediante as quais o nobre aparecia de corpo inteiro. Vendo uma revista com várias fotografias dele, percebi esse jeito. Numa delas, Churchill encontra-se

coruscando de inteligência, ao lado do olhar opaco e moderado de Roosevelt e do olhar vagabundo de Stalin. Churchill, naquela circunstância, sendo politicamente o mais fraco dos três, entretanto, ao mesmo tempo, o maior dos três, pois sabia enfrentar a si tuação. Mais fraco como Chefe de Estado, superior como capacidade humana, tradição e tudo mais. ❖

CHURCHILL Um gênio no qual coexistiam o carroceiro e o duque

••••• PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 15 de junho de 1973. Sem revisão do autor.

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EXCERTOS

SUMÁRIO

São Thoinas Morus modelo que os políticos deveriam seguir

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Plinio Corrêa de Oliveira

Nascido em Londres em 7 de fevereiro de 1478, São Thomas Morus foi Chanceler da Inglaterra. Por não ter aprovado o divórcio do rei Henrique VIII, foi martirizado em Towe, HIii no dia 6 de julho de 1535. Foi beatificado por Leão XIII em 1886 e canonizado por Pio XI em 19 de maio de 1935.

á entre o político que ascende ao mai altos graus da admiração, munido de profu ndo conh cimento fil fi e , j urídi co e sociais, e o político que leva à eminência do p der, m única bagagem, uma p quena cul tu ra e uma grand ambi ção, a mesma diferença que existe entre o médico e o cura ndeir . primeiro e orientará pela ciência não menos do que pela prática. egund procederá com um empiri smo cego, aplica ndo aos problemas de hoje me mo repertóri o de fórmulas que ele viu "dar certo" ontem. Pertencia à primeira categoria Thomas Moru : o político não matou nele o filósofo nem o teólogo; mas o fi lósofo e o teólogo govern aram o político, iluminando- lhe o caminho, di tando-lhe os horizonte e diri gindo-lhe a ação. [... ] Nos intermináve is in terrogatórios, fo i-lhe ao encontro a perfidia de Thomas Cromwe ll [primeiro-ministro de Henrique VIII], que procurava por meio de hábeis pergu ntas, convencê- lo do crime de alta tra ição. Morus, porém, não se deixou enredar e, com a tra nqüila firmeza de uma alma pura, pronunciou esta frase que resume toda a sua defesa: "Sou fiel ao rei, não faço o mal a ninguém, nem difamo a quem quer que seja; se isto não é siifi.ciente para salvar a vida de um homem, não quero viver por mais tempo". ❖ * Excertos do art igo pu blicado em "O Jorna l", Ri o de Ja neiro, 22 de ju nho de 1935.

2

EXCERTOS

4

CARTA DO DIRETOR

5

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? Aborto? Em nenhuma hipótese!

6

CORRESPONDÊNCIA

8

A REALIDADE CONCISAMENTE

10

INTERNACIONAL Polônia: proteção jurídica ao nascituro

14

DISCERNINDO Direita x Esquerda e metamorfoses

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VIDAS DE SANTOS São Bento de Núrsia

21

ENTREVISTA Fraudes fiscais no Governo Federal

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CAPA Autêntica concepção de Justiça e Misericórdia

38

SANTOS E FESTAS DO MÊS

40

AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

52

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES A morte de Stalin, derrotado por Deus

NOSSA CAPA:

Encon tro de São Thomas Morus com sua filh a, após ter sido sentenciado à morte - Yea mes William Frederick, 1863. Coleção Privo ln.

2

O Juízo Final - Fra Angélico, séc. XV. Gemaelde Galerie, Berlim. No alto, Nosso Senhor Jesus Cristo enquanto Juiz. Embaixo, à sua direita, junto com os anjos, os bem-aventurados; à sua esquerda os condenados junto com os demônios.

ltirefur:

Pa ul o Con-êa de Brito F ilh o Jornalista Rcsponsí,vcl: Nelso n R a mos B arrcu o Registrado na DRT/DF sob o n'' 3ll 6 Admiuistra\:âo: lha Visco nde de Ta un ay, 363 B om Retiro CEP 011 32-000 S5o Pa ulo - SP Serviço de Atcmlimcnlo ao Assi1111ntc: (11) 333 1-11,5 22 (U) 3361-6977 (ll) 3331-47 90 (11) 2843-91187 (11) 3333-671 6

( 11) 3331-5631 fa x Corrcspondêucim Ca ixa Posta l 707 CEPO 1031-970 São Paulo - SP bnprcssüo: P rol Editorn Gráfica Ltd a. E-mail: cat olicismo@ terrn.corn.b1·

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CARTA DO DIRETOR

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Caro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

Como na introdução da matéria de capa a Direção desta revista já analisa o sentido das expressões Justiça e Misericórdia, observando que elas são frequentemente adulteradas e empregadas num sentido materialista, julgamos oportuno tratar de tais virtudes do ponto de vista da imutável doutrina da Igreja. Por isso, ao abordar aqui o tema da justiça, ressalta-se o fato de que seu significado religioso mais profundo se deu com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo à Terra. É ajustiça de Deus, da qual o homem participa. Em seu Evangelho, São Mateus fala de "justo", o que significa santo, fiel a Deus, perfeito, piedoso. Como virtude cardeal, a justiça é um hábito sobrenatural que inclina a vontade, de modo constante, a conceder a cada qual o que lhe é estritamente devido. Após distinguir os tipos de justiça, o artigo refuta a doutrina socialista, tão difundida em nossos dias, segundo a qual todas as desigualdades, de qualquer gênero, são injustas em si mesmas. E embasa sua argumentação em textos de Santo Tomás de Aquino extraídos da Suma Teológica e da Suma Contra Gentes, bem como em admiráveis excertos dos Papas Leão XIII e Pio XI. Aparentemente, parece haver certa oposição entre justiça e misericórdia. Entretanto, Deus - como esclarece o Doutor Angélico - , ao aplicar a misericórdia, não elimina a justiça. Na verdade, a misericórdia é a plenitude da justiça. Em seus sentidos autênticos, a misericórdia e a caridade não impedem a aplicação da mais estrita justiça, antes constituem o seu complemento. Foi o que sempre ensinou a doutrina católica genuína. E, sobretudo na época de crise em que vivemos, cumpre aos católicos defendê-la contra os que propugnam um igualitarismo antinatural, oposto às justas e proporcionadas desigualdades do Universo criado por Deus. Encerrando, aproveitamos para chamar a atenção do leitor para a importante matéria, também publicada nesta edição, referente à plena proteção jurídica de cada nascituro, iniciativa civil da entidade polonesa Stop Aborto, promovida pelo Instituto pela Cultura Jurídica Ordo Juris. Tal iniciativa constitui admirável exemplo de posição antiabortista dada pela católica Polônia aos países do mundo inteiro. Desejo a todos uma boa leitura. Em Jesus e Maria,

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CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

POR QUE NOSSA SENHORA CIIOR.A?

Nada justifica o aborto provocado ornais, televisões rádios e internet noticiaram abundantemente, dias a fio, o caso de uma adolescenquentadora de bailes funk e usuária de drogas, que sofreu um estupro coletivo no Rio de Janeiro, em 21 de maio último. Algumas notícias falam em 30 agressores, outras dizem mais modestamente tratar-se de três ou quatro. No momento em que escrevemos, os fatos ainda não estão inteiramente elucidados. Seja como for e quaisquer que sejam as condições, o estupro é sempre condenável e os fautores desse crime devem ser punidos. Até aí, nada de novo. Mas o que pareceu estranho foi a avalanche de notícias, comentários, cartas etc. que esse fato reprovável ocasionou, grande parte dos quais tinha um mal disfarçado fim: defender a prática do aborto em casos de estupro, como se um crime justificasse outro! Mas a onda propagandista foi ainda mais longe, pedindo que fossem ampliados os casos em que o aborto não é penalizado - e não apenas quando ocorre estupro. Fica a impressão de que o altamente condenável estupro coletivo foi utilizado pela corrente abortista

J

como uma ocasião propícia para fazer sua propaganda malévola, mais preocupada estava ela em propagar a interrupção voluntária da gravidez que em condenar o pecado de estupro.

nota representa um recuo de Pelaes que, quando era deputada f ederal, havia se manifestado contra o direito de aborto para vítimas de estupro". ("UOL Notícias", 1°/6/2016) *

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A pressão do lobby que propugna a matança de inocentes no seio materno vai tão longe, que busca forçar mudanças de posição até em representantes de setores públicos. Compare o leitor as duas notícias abaixo. • "Apresentada nesta terça/ eira, 31, como a nova gestora da Secretaria de Políticas para Mulheres, a ex-deputada f ederal Fátima Pelaes (PMDB-AP) é evangélica e não concorda com a descriminalização do aborto. Ela já se manifestou contra o procedimento inclusive em casos de estupro ". ("O Estado de S. Paulo", 31-5-2016) • No dia seguinte, após graride pressão do lobby abortista: "A secretária de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes, emitiu uma nota nesta quarta-fe ira (1) def endendo o direito de aborto para mulheres que engravidaram após serem estupradas. O conteúdo da

O Catecismo da Igreja Católica é bem claro: "2270. A vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do momento da concepção " [. ..] "2271. A igreja afirmou, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral[. ..] "2272. A colaboração formal num aborto constitui.falta grave. A Igreja pune com a pena canônica da excomunhão este delito contra a vida humana". Diante de tantas pressões abortistas e tantas concessões, como pode Nossa Senhora não chorar? A propósito convém lembrar a frase do Profeta Isaías: "O Senhor chamou-me desde o útero, e do ventre da minha mãe chamou-me p elo meu nome" (Is 49,1). ❖

catolicismo@terra.com.br / JULHO 2016

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CARTAS DOS LEITORES ........................... ...................................

análise depende quase inteiramente da formação do formulador e do inquirido. No entanto, as provas estão organizadas no sentido de só admitirem uma resposta e esta é a que está nos compêndios de estudo. O aluno pode ter uma visão totalmente diferente que pode ser sustentada

Meu coração se encheu de alegria fazendo a leitura do tema da misericórdia e da justiça de Deus, ambas vir-

a mensagens como essa sobre os Sagrados Corações. Sempre peço à Santíssima Virgem que tenha piedade de nós e proteja o Brasil e o povo brasileiro.

tudes correlacionadas no texto com o Sagrado Coração

(M.H.-RJ)

Visão distorcida da misericórdia

neste mês do Sagrado Coração para que as pessoas

ram divulgar, esquecendo o lado da justiça. Realmente, tenho ouvido de muitos (até muitos do clero e mesmo alguns que ocupam altos cargos na Igreja) uma divulga-

com uma argumentação válida, mas como esta não é possível, se não responder como desejam os que fizeram

Corrupção e vulgaridade

as perguntas, chumba! Isto, além de matar no aluno o desejo de se aprofundar, de emitir uma resposta sólida

O suposto bem que "Lula Analfabeto Honoris Causa" fez ao Brasil não passou da obrigação institucional de um presidente da República. Afinal ele estava no Palácio do

planificação única que não é senão a visão comunista . O aluno pode, em sua casa, pelos seus pais, ser bem elu-

Planalto para isto. O País não se obriga a aceitar todas

revista Católica Apostólica Romana . Muitas vezes tiro

cidado, mas tudo isto ele tem de esquecer para passar

cópias dela para enviar a jornalistas, políticos, padres e amigos. Aproveito esta ocasião para enviar-lhe algumas cópias de meu trabalho contra-revolucionário inspirado

no exame. E isto se passa com milhões de alunos a cada ano. Estamos a prepará-los para serem comunistas.

ção desvirtuada da virtude da misericórdia, que escurece em vez de colaborar para esclarecer. E isso causa muitos prejuízos para termos uma melhor compreensão de Deus e amá-Lo como realmente Ele é. Não digo isso só para criticar, mas para ajudar as pessoas, porque o

para implantar o Reino do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria e estabelecer assim a

abuso da misericórdia poderá perder muita gente.

Civilização do Amor.

proteja. Rezo sempre: Vinde, Senhor Jesus, não tardeis,

(J.N.K. - RS)

RS)

(J.G.B.M. - RJ)

Erros espalhados pelo petismo De fato viramos apenas uma página do livro de nossa história e precisaremos virar muitas e muitas outras para nos livrar do comunismo petista que espalhou sua

PT, nesses 13 anos de malefícios, deixou sua poluição

Verdadeira devoção

Desobrigação

Gostaria de agradecer a matéria principal da revista des-

Do ponto de vista católico, quando um Papa se pronun-

te mês, pois me ajudou muito para ter uma VERDADEIRA devoção ao Sagrado Coração de Jesus. "Harmonia entre

cia sobre matéria exclusivamente cientifica, ele expressa

ças já estão impregnadas de petismo a prendido nas

a sua posição pessoal; em nada envolve a obrigação do

escolas. Como agora nos livrar dessa infestação? Não é

justiça e misericórdia ", é isso mesmo que se deve ter sempre presente. Não se pode separar uma coisa da

fiel católico seguir.

nada fácil. Temos que reconstruir o País? Os pais e mães que fiquem atentos! É um modo de nos livrar do PT os pais e mães irem limpando das cabecinhas de seus filhi-

(M.C.-MG)

(E.C.N. - PE)

Importante elucidação Extraordinárias as palavras de Santo Afonso [de Ligório] sobre a misericórdia divina. Devemos espalhar este texto, assim como os outros publicados pela [revista] Catolicismo sobre o mesmo assunto, para contribuirmos

Parabéns Monsenhor! Achei excelente a resposta do Monsenhor José Luiz a respeito do problema do envelhecimento da população no Ocidente, sobretudo na Europa. Parabéns Monsenhor! Se os ocidentais continuarem sem filhos, ou com poucos, ao mesmo tempo em que os muçulmanos se multiplicam tanto nos países deles quanto nos países europeus, quem ganhará os territórios?

nhos os erros espalhados pelo petismo. Por isso gostei especialmente de ver uma das fotos da manifestação na Av. Paulista. Senhoras idosas levando uma faixa: "Avós preocupadas com o futuro de seus netos". Isto é que precisamos mesmo: rasgar as páginas de nossa história que contém os erros comunistas do PT. Mas, sobretudo, não permitir que tais erros fiquem impregnados nas mentes de nossos filhos e netos.

(J.W.-SP)

a elucidar este tema que vem sendo tão adulterado, cau-

(M.A.-SP)

sando muito dano aos fiéis católicos. Estes estão indo na direção errada devido aos maus conceitos de misericórdia que se espalham por todos os lados hoje em dia. De minha parte, prometo dar a minha contribuição elucidando os meus próximos.

(R.C.M. -

SP)

Mensagens celestes Nesta época de pouca fé, é importante termos acesso

6

CATOLICI SMO / www. catolicismo.com.br

Ensino marxista nas escolas

Importante denúncia

Tenho duas netas no segundo ano do ensino médio que

Devemos ficar atentos e denunciar publicamente, inclusive na imprensa de nosso País, o número absurdo de seres humanos que seguem como PRISIONEIROS POLÍTICOS na COLÔMBIA sob a omissão deste atual presidente JUAN MANUEL SANTOS. São mais de 2.000 patriotas colombianos injustamente presos nas masmorras hedion-

estão a fazer um simulado do Enem. Ontem foi o dia de "ciências humanas e suas tecnologias" e "ciências da natureza e suas tecnologias". À noite, estive a ler as provas. Fiquei estarrecido! Praticamente todas as perguntas admitem mais do que uma resposta. Não estamos a falar sobre leis imutáveis, mas de teorias e hipóteses, cuja

as baixarias (roubos de patrimônio, política que institucionalizou a corrupção, propinoduto das empreiteiras, roubo de empresas brasileiras para financiar sua Base Aliada [ ... ] Querem abrigar Lula na blindagem criminosa com o roubo de empresas para financiar a corrupção na compra de votos e manter seu partido político. Roubo do patrimônio do Estado para comprar parlamentares e para perpetuação no poder. O Brasil não merece esses que continuam a demolir e arruinar o bem político, jurídico e patrimonial do estado brasileiro.

(D.G.-PR)

poluição ideológica pelo Brasil inteiro. Isto porque não basta derrubar o PT e colocar outro partido no lugar. O impregnada em todas as instituições. Principalmente ... LAMENTAVELMENTE ... nos livros escolares. Nossas crian-

outra. Nada de concepções falseadas que impedem a objetividade em ver as coisas de Deus como elas são.

(A.S.O. - RJ)

com bons argumentos, vai "lavando" o cérebro para uma

nesta prestigiosa revista Catolicismo . Que o Divino Espírito Santo os ilumine e que os Santos Anjos da Guarda os

(P.G.C.F. -

ao conhecimento desta nossa imprensa omissa?

Revista católica É com muita satisfação que renovo a assin atura desta

de Jesus. Com isso estou direcionando minhas orações compreendam melhor essa questão, não ficando com uma visão distorcida da misericórdia como muitos procu-

o TERRORISMO das FARC, ELN e M-19. Neste ponto, também está aprisionado o irmão do valoroso ex-presidente ÁLVARO URIBE. O que podemos fazer, além de levarmos

. . . . . . . . . . . . . . . .. . .

F RASES S ELECIONADAS "Quanto mais corrupto o E stado, maior o número de leis". (Tácito)

"O primeiro sinal da corrupção em uma sociedade é quando se impõe a tese de que os fins justificam os m eios" ( Geo1·ges Bemanos)

" Quando os que mandam p erdem a vergonha, os que obedecem p erdem o resp eito" (Cardeal de Retz)

"Quando todo mundo des~ja viver à custa do governo, o governo acaba vivendo à custa de todo mundo" (Max Weher)

"O preço a pagar p elo seu desinteresse p ela política é seres governado por quem é inferior" (Platão)

das dessa nação, pelo simples fato de terem combatido catoli cismo@terra.com .br / JULHO 2016

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Desmorona a aliança bollvariana A aliança "bolivariana" cai aos pedaços. A Venezuela não conta mais com governos aliados no Brasil e na Argentina, país onde a estatal Petróleo de Venezuela (PDVSA) faliu. Quando de sua implantação, Chávez viajou a Buenos Aires e anunciou que a Shell seria nacionalizada pelo seu amigo, o falecido ex-presidente Nestor Kirchner. Hoje, o presidente da Shell é ministro da Energia na Argentina. O governo platino cancelou sua participação na Telesur, canal de TV criado por Chávez. Grandes empresas argentinas que produziam alimentos para atender acordos faraônicos do casal Kirchner com a dupla Chávez-Maduro beiram a falência. Elas estão sendo salvas pela sua transferência para o setor privado.

Ditos de Trump atemorizam países livres

Moscou ameaça com "Satã 2" porque Ocidente se defende! A Romênia instalou uma base de escudos antimísseis para se defender de regimes "bandidos" como o do Irã. A cólera do Kremlin explodiu imediatamente, alegando que a base estava programada contra a Rússia. Mas, de fato, seu protesto pareceu montado para justificar o início dos testes com o míssil estratégico apelidado "Satã 2", um monstro de massacre indiscriminado que pode destruir em segundos um território "do tamanho de Texas ou da França " e que seria operacional em 2020.

Zâmbia teme corned beef chinês com carne de cadáver O embaixador da China na Zâmbia desmentiu apressadamente a notícia segundo a qual seu país exporta para a África carne enlatada com restos humanos. Uma zambiana que é empregada na China alertou seus compatriotas para não comprarem corned beef, porque os chineses misturariam carne de cadáveres humanos em produtos destinados ao mercado africano. Os zambianos também acusam as empresas chinesas de descuidarem da segurança dos trabalhadores e pagarem ordenados inju~tos. Até na China o governo comunista vem sendo denunciado por atentados contra a segurança alimentar, como o emprego, numa fábrica de Xangai, de carne estragada por uma fornecedora da rede McDonald's.

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Os homens? Que as feras os despedacem! Um gorila do zoológico de Cincinnati (EUA) arrastou uma criança de quatro anos que caíra na área de isolamento, ferindo-a. Para evitar que ela fosse morta, as autoridades abateram o animal. O fanatismo ambientalista voltou-se então contra a polícia e o zoo pela morte do gorila. Em Thornton Beach (Austrália), um crocodilo devorou uma banhista. Em vez de tomar as dores da vítima e empenhar-se para que fatos semelhantes não se repitam, o deputado federal Warren Entsch reagiu com uma campanha visando impedir a limitação da proliferação de crocodilos. Na Austrália, militantes ecologistas se opõem à lei que permite aos pescadores matar baleias assassinas. Eles se preocupam com os animais perigosos ao homem e raras vezes com o próprio homem, ao qual, por sua posição anti-humana, qualificam de "o maior predador da Terra!".

Para os Países Bálticos, o candidato populista Donald Trump é visto como um amigo do agressivo Putin. Por sua vez, o jornal oficial da Coréia do Norte, cujo governo é comunista, comemorou uma eventual vitória de Trump, a quem chamou de "político sábio". Trump havia declarado que não garantirá a defesa atômica da Coréia do Sul, um regime antimarxista. Ao que o regime comunista norte-coreano respondeu em editorial de seu jornal oficial: "Sim, faça-o, e logo", acrescentado que esta frase substituirá o velho slogan comunista "Yankee, go home".

- Ler em dispositivos virtuais diminui a intelecção A abstração é um elemento decisivo da vida intelectual: transformar os dados captados pelos sentidos em ideias que residem na alma e que constituem o ponto de partida da cultura e da atividade humana. Porém, as pessoas que leem em plataformas digitais como tablets, smartphones e até em PCs e notebooks, ficam prejudicadas em sua capacidade de interpretar a informação, isto é, na abstração. A constatação foi apresentada na ACM CHI 2016, conferência top mundial sobre a Interação HomemComputador, realizada em São José (Califórnia). Geoff Kaufman, professor da Universidade Carnegie Mellon, destacou que "o pensamento abstrato gera mais capacidade de compreender aos demais, mais criatividade, enquanto quem fica no concreto cai em generalizações negativas e frustrantes".

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Transgênicos são tão saudáveis como os outros alimentos O maior estudo sobre os organismos geneticamente modificados (OGM}, feito pela Academia Nacional de Ciências dos EUA, concluiu que os mesmos são indistinguíveis dos demais alimentos e que não há prova alguma de impacto negativo deles na saúde humana. O relatório revisou todos os estudos científicos dos últimos 30 anos. Entre as principais conclusões, estas: 1) não há "nenhuma evidência" de que os OGM causem mal à saúde; 2) não faz diferença para a saúde consumir um alimento transgênico e outro que não o é; 3) os OGM beneficiaram a saúde humana; 4) os OGM não reduzem a diversidade vegetal ou animal e até podem aumentá-la; 5) os genes dos alimentos transgênicos não danificam o meio ambiente; 6) está desaparecendo a linha divisória entre os OGM e os que não o são; 7) os OGM beneficiaram a economia. O trabalho desaconselha rotular os produtos OGM para salvaguardar a saúde pública.

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INTERNACIONAL

Polônia rumo

"'à plena proteção jurídica de cada

. criança por nascer'' ,

Projeto de iniciativa civil Stop aborto Jaroslaw Kaczynski, presidente da Polônia, terá coragem e determinação para pôr fim à morte dos nascituros?

PAWEt OZDOBA

Lei comunista e compromisso abortistas

iniciativa civil Stop Aborto, preparada pela Fundação Pró-Direito à Vida e pelos advogados do Instituto pela Cultura Jurídica Ordo Juris , é mais uma tentativa levada a cabo nos últimos anos para introduzir na legislação a plena proteção jmídica da vida das crianças, tanto antes quanto depois do nascimento. Tudo indica que desta vez a inteira proibição do aborto será possível. Os líderes do partido conservador que governa o país manifestaram seu apoio à defesa dos nascituros. Infelizmente, o caminho que vai das declarações políticas até a votação da lei no Parlamento é longo. Será que o partido de Jaroslaw Kaczynski terá coragem e determinação para pôr fim à morte dos nascituros?

A

Esperança de mudança num governo conservador

A situação sociopolítica polonesa é bem interessante, sob muitos aspectos. Após vários anos de um governo liberal da Plataforma Civica, em outubro do ano passado o partido Direito e Justiça saiu vitorioso nas eleições parlamentares. Alguns meses antes, o candidato dessa agremiação, Andrzej Duda, havia sido eleito presidente. Os acontecimentos políticos da segunda metade de 2015 alimentaram a esperança de uma mudança de rumo na política governamental no tocante às questões morais. Caminharam também no mesmo sentido as votações dos deputados do partido Direito e Justiça da anterior legislatura. Uma maioria decidida deles apoiava a ideia da defesa da saúde e da vida desde o momento da concepçãó. Infelizmente, pela posição liberal da Plataforma Cívica, todos os projetos tramitados na assembleia eram rejeitados. Embora hoj e a si-

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AUTOREM

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tuação tenha mudado diametralmente, não se pode ainda ter certeza de que o partido de Jaroslaw Kaczynski vá apoiar esse projeto de iniciativa civ il. Os princípios inscritos nesse projeto vêm provocando ultimamente um sério debate na Polônia, com grande repercussão em muitos países, não só da E uropa, mas do mundo inteiro. Isso tudo porque as organizações pró-vida polonesas não se dão por derrotada e, com grande entusiasmo, começaram a convencer o políticos de que cada criança por nascer tem o inegável direito à vida, resultante diretamente da dignidade do homem.

Para se compreender melhor a realidade polonesa, cumpre lembrar como é a sua atual legislação. No dia 27 de abril p.p. completaram-se exatamente 60 anos da entrada em vigor, pelas autoridades comunistas da ex-República Popular da Polônia, da lei do aborto que eliminava a proteção legal das crianças antes do nascimento. Tal lei permitia matar o nascituro quando houvesse instruções médicas concretas, difíceis condições de vida da mulher, e também quando existisse a probabilidade de a criança ter sido concebida em consequência de um crime. Em 1993 foi possível limitar em boa medida essa lei [originária do período da República Popular] pela introdução do chamado "compromisso abortista", que vigora até hoje. Em princípio o aborto é proibido, salvo em três casos: quando a vida da mãe corre perigo, quando existe uma fundamentada desconfiança de que a criança pode nascer com defeitos genéticos permanentes, e quando a concepção se deu em consequência de ato proibido (por exemplo, violência). Calcula-se que vários milhares de crianças morreram desde então, vítimas do aborto. ln dubio pro vita humana

Todo o procedimento "legal" do aborto reali za-se apesar da decisão do Tribunal Constit11cional de 28 de maio de 1997, o qual afirmou que "a vida humana é protegida pela Constit11ição a partir de sua concepção. Isso diz respeito também à fase pré-natal". Além disso, outra decisão do Tribunal Constitucional dirimia toda e qualquer dúvida de acordo com o princípio "in dubio pro vita humana", isto é, na dúvida , deve-se decatolicismo@terra.com.br / JULI IO 2016

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Coleta de assinaturas em prol do projeto de lei Stop aborto. Para que o Parlamento se ocupe dele, será necessária a adesão de pel9 menos 100 mil cidadãos.

fender a vida humana. Até hoje não se colocam tampouco em prática as indicações incluídas na Declaração dos Direitos da Criança da ONU e na convenção sobre os direitos da criança, segundo as quais "a criança, devido à sua imaturidade intelectual e física, exige especial assistência e atenção, incluindo proteção jurídica apropriada, tanto antes quanto depois do nascimento". Essas diretivas estão incluídas no projeto de iniciativa civil Stop aborto. Preparado pelos juristas do Instituto pela Cultura Jurídica Ordo Iuris, ele prevê uma proteção completa à vida da criança, tanto antes quanto depois do nascimento. Também remove, por anticonstitucionais e não éticas, as circunstâncias existentes que anulavam a proteção da vida da criança no período pré-natal. Essa iniciativa obriga ainda o Estado a proteger as famílias nas quais são educadas crianças retardadas ou concebidas em circunstâncias decorrentes de um ato proibido. Atualmente está sendo realizada uma coleta de assinaturas em prol do referido projeto. Para que o Parlamento se ocupe dele, será necessária a adesão de pelo menos 100 mil cidadãos ..:_ cifra que já foi ultrapassada e se obterá ainda mais, pois, como ficou provado nos anos anteriores, os meios contrários ao aborto têm

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condições de obter muito mais. Em 2015, em relação a projeto análogo, foram recolhidas mais de 400 mil assinaturas. O que na verdade essa iniciativa estabelece

No transcurso da discussão midiática surgiram muitas mentiras e interpretações erradas relativas ao projeto de lei Stop aborto, resultantes com frequência de ignorância, mas também, em outros casos, de hostilidade à proposição de proibir o aborto na Polônia. Uma das objeções mais frequentes ao projeto era a automática anulação da impunidade das mulheres que cometem conscientemente o aborto ilegal. A atual regulamentação dessa questão provém do direito comunista, da lei do aborto de 1956.

Os meios esquerdistas, tomando uma pos1çao hostil à proposição do Ordo Iuris, empenharam-se em convencer a opinião pública de que a forma desse projeto de lei traz como consequência a condenação das mulheres que pratiquem o aborto ou simplesmente perdem a criança (por exemplo, em consequência de um parto prematuro). Na realidade, o projeto introduz o postulado da não punição das mulheres, e, ao mesmo tempo, elimina o até agora automático regulamento de impunidade. Também estabelece que, ocorrendo a morte da criança ainda não nascida em consequência de ação consciente da mulher, o tribunal, levando em consideração as circunstâncias do incidente, pode renunciar à aplicação da pena, ou atenuá-la muito. Mas é preciso sublinhar - pois esse tema se presta a muita manipulação - que a pena não diz respeito às mulheres que perdem o filho devido ao parto prematuro, ou causam involuntariamente a sua morte. Vale a pena observar aqui que a impunidade automática das mulheres é um vestígio do bloco dos antigos países socialistas. Na Europa, nenhum país, cujas características de defesa da vida são semelhantes às existentes na Polônia, permite a exclusão da impunidade de mulheres que matam o filho concebido. A pena pelo aborto consciente e ilegal está prevista, entre outros, nos seguintes países: Irlanda, Irlanda do Norte, Malta, Liechtenstein, Mônaco e Vaticano. A punição de mulheres que provocam a morte do filho concebido também existe em alguns países cuja legislação admite o assim chamado "aborto de desejo" ou "aborto por motivos sociais". Isso diz respeito a situações nas quais a interrupção da gravidez é praticada contra a lei. Entre outros países, preveem-na: Alemanha, Espanha, Portugal, Hungria, Estônia, Inglaterra, Áustria, Itália e Suíça. Outro problema importante, em torno do qual se difundiram muitas inverdades, é o de salvar a vida da mãe. O projeto de Ordo Iuris não muda os regulamentos atualmente existentes na legislação polonesa, os quais permitem uma atuação médica necessária para salvar a vida da mãe e que resulta na morte do filho por nascer. Tal situação pode se dar, por exemplo, no caso da gravidez fora do útero. Como lemos nos documentos do Instituto Ordo Iuris, "quando o desenvolvimento do caso inevitavelmente conduz à morte da mãe ou da criança, à mãe deve caber a escolha entre salvar a sua vida ou a da criança". Também não são verdadeiras as informações de que o projeto recusa aos pais o direito de realizar exames pré-natal. Na justificação do

projeto, os autores sublinharam claramente que o acesso aos exames pré-natal fica garantido pela legislação. O projeto e o Catecismo da Igreja Católica

O princípio geral de defesa legal da criança antes e depois do nascimento, contemplado no projeto, está em pleno acordo com a posição da Igreja Católica, contida no número 2273 do Catecismo da Igreja Católica, na citação da Instrução Donum Vitae. Nela podese ler que o respeito e a assistência devidos à criança por nascer, a partir do momento da sua concepção, devem ser manifestados por uma correspondente sanção penal por cada voltmtária violação do seu direito. Essa posição foi lembrada também no "Esclarecimento da Congregação para a Doutrina da Fé sobre o aborto", publicado em 2009. Agora ou nunca

A questão da plena proteção legal da vida e da saúde de cada criança concebida, e, portanto, a proibição do aborto, provocou uma onda de críticas dos meios de esquerda e de feministas que, propagando informações mentirosas, empenham-se em apresentar a iniciativa sob a pior das luzes. Os protestos já provocaram as primeiras reações de políticos do partido Direito e Justiça, os quais começaram a se exprimir de modo algum tanto menos decidido sobre o eventual apoio ao projeto no Parlamento. Apesar disso, os cada vez mais decididos militantes.pró-vida na Polônia não perdem a esperança, pois, pela primeira vez depois de muitos anos, apareceu uma real chance de eliminar esse cruel método de matar nascituros. Como indicam as pesquisas, a maioria dos poloneses apoia plenamente a defesa da vida da criança desde o momento da concepção. Será que o partido de Jaroslaw Kaczynski e de Beata Szydlo terá a coragem de realizar essa mudança histórica na legislação polonesa? Só nos convenceremos disso provavelmente no começo do próximo outono [europeu], quando o projeto será ana lisado pelo Parlamento. Se os políticos do Direito e Justiça não se deixarem intimidar pela tempestade midiática e aprovarem o projeto que proíbe totalmente o aborto, eles inscreverão seus nomes com sílabas de ouro na história da Polônia, e, sobretudo, preservarão milhares de crianças de uma morte cruel. ❖ Tradução de Leonardo Przybysz

Pawet Ozdoba -Jorna lista do portal Polonia Christiana PCh24.pl; membro da Sociedade Polonesa de Ciências Políticas; voluntário da Associação pela Cultura Cristã Padre Piotr Skarga.

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DISCERNINDO

Reflexões atualizadas sobre ''d.1re1ta . '' e ''esquerda'' CID ALENCASTRO

o ponto de vista ideológico e político, os termos "direita" e "esquerda" apareceram durante a Revolução Francesa de 1789, quando os membros da Assembleia Nacional se dividiam em partidários da religião, do rei e da ordem, sentados à direita do presidente, e os partidários da revolução igualitária e do ateísmo à sua esquerda. Um deputado, o Barão de Gauville, explicou: "Nós começamos a nos reconhecer uns aos outros: aqueles que eram leais à religião e ao rei ficaram sentados à direita, de modo a evitar os gritos, as imprecações e indecências que tinham rédea livre no lado oposto. " Ao longo das décadas os termos "direita" e "esquerda" foram se adaptando para designar as metamorfoses sofridas pelas novas orientações religiosas, ideológicas, sociais e políticas que vieram se explicitando. Mas sempre conservando na raiz sua ligação com a origem dos termos.

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Século XIX: Monarquia x República

Durante o século XIX, a "direita" designava sobretudo os monarquistas, que tinham por evidente a ligação entre monarquia e catolicismo, e que alcançaram enorme influência e apoio popular, chegando quase a galgar o poder. O grande golpe contra essa corrente foi dado pelo Papa Leão XIII, que instituiu a política do chamado Ralliement (reconciliação), pela qual os católicos ficavam livres para apoiar a República maçônica e igualitária da época, expressão política e ideológica da "esquerda". Século XX: TFP e "esquerda católica"

No século XX, os h_erdeiros mais autênticos da Revolução foram os comunistas, que passaram a ser designados como "extrema-esquerda", enquanto seus homólogos socialistas, distribuídos em diferentes ga14 1

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mas de densidade ideológica, representavam diversos graus de "esquerdismo", desde os socialdemocratas até os anarquistas. A "direita" anticomunista exprimiu toda a sua autenticidade no movimento Tradição, Família e Propriedade (TFP), fundado por Plinio Corrêa de Oliveira. Diluições do "direitismo" foram representadas pelas várias formas da corrente conservadora, como também da pró-capitalista, sendo presentes ainda no panorama os remanescentes da posição monarquista. Um fenômeno novo nos arraiais da "esquerda", ao menos enquanto força de influência, foi a chamada "esquerda católica", que trabalhou em favor da Revolução com muito mais garra, inteligência e poder do que os comunistas e socialistas de todos os matizes. Através de suas várias facetas - como as Comunidades Eclesiais de Base e a Teologia da Libertação - e gozando 'de altos apoios na esfera eclesiástica, a "es-

querda católica" não só dispensou proteção aos guerrilheiros e terroristas, mas tinha potencial para derrocar as instituições em vários países da América Latina, com vistas depois a influenciar a Europa e a Ásia. Não fossem as contínuas denúncias e a oposição inteligente que lhe fez a TFP, a história das Américas hoje seria outra. Assim, embora a "esquerda" tivesse provocado grandes e fundas devastações na religião, na sociedade e na política dw-ante o século XX, entretanto não conseguiu alcançar seu objetivo maior, que era a imposição, como fato consumado, de sua ideologia antinatural e anticristã aos povos e às nações. As resistências foram grandes e o principal fator de penetração com que ela contava - a "esquerda católica" - chegou ao fim do milênio muito avariada em seu prestígio e sua influência. Albores do século XXI: o ecologismo

Com isso adentramos o século XXI. Por necessidade de sobrevivência, mas também para dar um passo adiante nas sendas da Revolução, a "esquerda" se metamorfoseou em ecologismo. Tal metamorfose trouxe uma dupla vantagem para as hostes revolucionárias. Primeiramente, ela se apresentava aos olhos dos povos como nada tendo a ver com o comunismo e o socialismo, já muito desgastados. A Revolução, na sua fase ecologista, deixou cair sua pele vermelha e revestiu-se de uma verde. De outro lado - esta é a segunda vantagem - manteve desapercebidamente em seu bojo todas

as teses da esquerda mais radical, como sejam, resumindo, de um lado o igualitarismo social e religioso, e de outro o miserabilismo anticapitalista. A própria "esquerda católica" revestiu-se de verde, passando a usar uma roupagem de catolicismo ecológico. Hoje, os seguidores fiéis de Plinio Corrêa de Oliveira se espraiam por numerosos países do mundo, em diversas associações coirmãs, com uma atuação e uma repercussão impressionantes. No Brasil, eles estão representados no Instituto Plínio Corrêa de Oliveira. Importa ainda notar que a "esquerda", mesmo tendo perdido muito de seu elã e de sua influência junto ao público, entretanto conseguiu galgar elevados postos, tanto no plano religioso quanto no temporal, o que significa um trunfo não pequeno. Ainda estamos nos albores do século XXI. Como prosseguirá essa batalha? Não sabemos. Mas o ce,to é que o almejado cumprimento das profecias de Fátima pode mudar todas as regras do jogo. Outro capítulo ainda haveria para tratar, importantíssimo e mesmo fundamental : o papel do "centro" nessa batalha. Mas isso nos levaria longe demais. Cristo sentado à direita do Pai

Uma observação final se impõe. Pode-se afirmar que a guerra "direita" x "esquerda" interessa ao Céu? Sobre esse ponto, de capital importância, haveria muito a dizer. Como, porém, o espaço que me é destinado vai chegando ao fim , limito-me a reproduzir um testemunho do conhecido e conceituado teólogo dominicano francês Reginald Garrigou-Lagrange (1877-1964). Ei-lo: "Pessoalmente, sou um homem de direita, e não vejo por que o haveria de esconda Creio que muitos daqueles que se servem da .formula citada, fazem uso dela porque abandonam a direita para se inclinar à esquerda, e querendo evitar um excesso, caem no excesso contrário, como aconteceu em França nos últimos anos. Creio, também, que é preciso não confundir a verdadeira direita com as.fàlsas direitas, que def endem uma ordem .fàlsa e não a verdadeira. Mas a direita verdadeira, que def ende a ordem fundada sobre ajustiça, parece ser um reflexo do que a Escritura chama a direita de Deus, quando diz que Cristo está sentado à direita do seu Pai e que os eleitos estarão à direita do Altíssimo. " ❖ (http//www.pliniocorreadeoliveira.info/Cruzado0305.htm)

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São Bento de Núrsia, Patriarca dos Monges do Ocidente "Glória não só da Itália, mas de toda a Igreja, qual astro esplendoroso irradia sua luz refulgente em meio às trevas da noite" 1

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

om Prosper Guéranger (1805-1875), restaurador e abade do priorado beneditino de Solesmes, na França, assim exclama a respeito de São Bento: "Com que veneração devemos nos acercar hoje deste homem de quem São Gregório Magno escreve que 'esteve cheio

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do espírito de todos os justos! '. [... ] Estes rasgos sobrenaturais [de São Bento] encontram-se realizados por doce majestade, grave severidade e misericordiosa caridade, que brilham em cada uma das páginas de sua biografia escrita por um de seus discípulos, o Papa São Gregório Magno, que se encarregou de transmitir à posteridade tudo o que Deus havia Se dignado realizar em seu servo Bento" . Com efeito, continua o abade de Solesmes, foi ele quem "por meio de seus filhos [...] levantou as ruínas da sociedade romana, esmagada pelos bárbaros; quem presidiu ao estabelecimento do direito público e privado das nações que surgiram depois da conquista [... ] quem, enfim, salvou o tesouro das letras e das artes do naufrágio que ia devorá-las para sempre e deixar a raça humana sumida nas trevas" 2• Sobre essa missão única de São Bento, realizada pessoalmente e através de seus discípulos na formação da Idade Média, a doce primavera da Fé, acrescenta outro beneditino: "O patriarca presidiu ao nascimento da cristandade medieval quando, em um tempo de profundas transformações, os mosteiros beneditinos, onde quer se estabelecessem, constituíram lares de vida cristã, a par de influentes núcleos de civilização e cultura. [... ] São Bento influiu poderosamente nos novos povos, inoculando-lhes algo de seu amor à ordem e ao trabalho, de seu sentido de vida em comum, de seu espírito de disciplina e colaboração, desse cristianismo autêntico e sobretudo profundo, que constitui as próprias entranhas da instituição beneditina" 3 •

ernaJ1te, suafánilll , modesta aldela nas monto.D História de São Bento (afresco) - Giovanni Antonio Bazzi, séc. XVI. Grande Abadia di Monte Oliveto Maggiore (Asciano, Siena).

As "grandes Invasões"

O século em que viveu São Bento foi "uma época dificil, de decadência, de desagregação e de confusão; em pleno período daqueles ingentes movimentos de povos mal chamados 'as grandes invasões' . A Itália, empobrecida, despovoada e desmoralizada[ ... ] estava vendo, desde os princípios daquele nefasto século V, o cúmulo de suas calamidades com as sucessivas invasões de diversos povos bárbaros" 4. Infelizmente, a situação na Igreja não era menos grave, pois, com a morte do Papa Anastácio II em 498, houve um cisma de três anos, durante o qual disputavam o trono pontificio o verdadeiro Papa Símaco e o antipapa Lourenço. "Varão de vida venerável"

São Gregório Magno assim principia seu livro sobre o Patriarca do Ocidente: "Houve um varão de vida venerável, bento por graça e por nome, dotado desde sua mais tenra infância de uma cordura de ancião. Com efeito, antecipando-se por seus costumes à idade,

jamais entregou seu espírito a qualquer prazer, mas, estando ainda na Terra e podendo gozar livremente dos bens temporais, desprezou o mundo com suas flores, como se estivessem murchas" 5 • São Bento nasceu em Núrsia, Itália, provavelmente pelo ano 480 de nossa era. Nada sabemos sobre seus pais, exceto que deveriam ser pessoas abastadas. O Santo tinha uma irmã, Escolástica, também santa, a quem amava temamente e a cujo lado quis ser enterrado. Bento era ainda jovem quando Teodorico, o Grande (454-526), rei dos ostrogodos - um dos muitos bárbaros que invadiram a Itália - , tendo dominado Roma, procurou fazê-la reflorescer. Com valiosos colaboradores, restaurou monumentos antigos, erigiu outros novos, e governou com sabedoria, reerguendo assim a decaída nobreza romana e dando a todos um período de paz e tranqüilidade em meio a tantas catástrofes. Primeiro milagre

Escrevendo sobre Roma em 413, São Jerônimo afirma que ela detinha a palma de todos os vícios. Isso

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para que a dor fizesse calar os ardores da carne. A partir de então, não sentiu jamais as solicitações da luxúria. O cálice que se parte

A pa1tir do momento em que Bento foi descoberto por caçadores, começaram a surgir seus primejros discípulos, que levando como ele vida solitária, se reuniram em torno de sua cova. Os monges de um mosteiro vizinho forçaram-no depois a ser seu abade. Mas logo se arrependeram, pois o novo superior os fazia andar estritamente no caminho da observância monástica e do dever. Quiseram então envenená-lo, mas ele, abençoando o cálice em que com o vinho e_stava a peçonha, o mesmo se partiu. O santo voltou então para sua cova. Superior de doze mosteiros

momento em que um corvo leva no bico o pão envenenado com o qual tentavam matar o Santo.

não havia mudado um século depois. Razão pela qual Bento resolveu deixar casa, bens paternos e estudos, a fim de procurar um lugar em que pudesse servir melhor a Deus. Acompanhado de sua governante, que não quis separar-se dele, retirou-se então para Efide, modesta aldeia nas montanhas de Sabina. Foi aí que ele operou seu primeiro milagre, reconstituindo uma jarra de barro quebrada por sua governante, que lamentava em prantos seu estabanamento por tê-la deixado cair no chão. Para fugir à popularidade que se seguiu, Bento retirou-se, desta vez só, para as montanhas de Subíaco. Nesse lugar inóspito encontrou um monge de um mosteiro vizinho, Romão, que lhe conferiu o hábito monástico. O mesmo encarregou-se de sua alimentação, fazendo chegar à sua gruta, por meio de uma corda, a provisão diária de pão, que pegava em seu mosteiro. Nesse isolamento, desconhecido de todos, exceto de Romão, Bento entregou-se à direção do Espírito Santo, que foi o seu verdadeiro guià espiritual e mestre de noviços. Ele, entretanto, não estava só, pois o pai da mentira aparecia para provar o.novo discípulo de Cristo. E tentou-o uma vez tão fortemente contra a virtude da pureza, que Bento se lançou entre urtigas e espinhos

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Entretanto, os discípulos continuaram a afluiT, mas desta vez em tão grande número, que foi preciso dividi-los em grupos de doze monges, em doze mosteiros diferentes, cada um deles regido por um abade sob a supervisão de Bento. Sob a direção do grande abade, a existência dos primeiros monges beneditinos transcorria pacífica e prosperamente, dedicada por intei.ro à oração e ao trabalho. Os milagres, a doutrina, a santidade de Bento lhe atraíam numerosas vocações. Mesmo de Roma afluíam nobres varões, desejosos de se tornarem seus discípulos, enquanto patrícios lhe entregavam seus filhos para que os educasse. Foi o caso dos meninos Maw·o e Plácido, posteriormente também elevados à honra dos altares, que ficaram famosos na história de São Bento. O Mosteiro de Monte Cassino

Novos dissabores fizeram com que Bento resolvesse partir, desta feita para um local entre Roma e Nápoles denominado Cassinum, antiga vila fortificada dos romanos. Ali se instalou com os que o seguiram na fortaleza abandonada, que ele reformou, dando origem à célebre Abadia de Monte Cassino. Sob a direção do santo, o novo mosteiro floresceu . "Pai bondoso e ao mesmo tempo mestre rigoroso, o homem de Deus os corrige [os monges] e repreende sempre que necessário; nem uma só falta de seus discípulos, seja coletiva, seja pessoal , lhe passa inadvertida. Todos no mosteiro sabem por experiência que têm um abade extraordinário, a quem nada se pode ocultar de

quanto pensam no mais recôndito da alma (Diálogos), de quanto fazem fora de casa. [.. .] Já em Subíaco, vários de seus milagres ressaltaram com força o valor da oração, da confiança na Providência, do trabalho, da obediência" 6. Os últimos anos de São Bento transcorreram no Monte Cassino. "A morte, ou melhor, o trânsito de São Bento - como é descrito por São Gregório Magno tem a majestade, a elegância e a placidez de uma cerimônia litúrgica" 7 . Ela ocorreu provavelmente no dia 21 de março de 547. A Regra de São Bento

Para Bossuet, o erudito bispo e teólogo do século XVLI, a Regra de São Bento é " uma suma de cristianismo, um douto compêndio de toda a doutrina do Evangelho, de todas as instituições dos Santos Padres, de todos os conselhos de perfeição. Nela sobressaem eminentemente a prudência e a simplicidade, a humil-

dade e o valor, a severidade e a mansidão, a liberdade e a dependência; nela a correção desdobra todo o seu vigor, a condescendência todo o seu atrativo, a autoridade a sua robustez, a sujeição a sua tranqüilidade, o silêncio a sua gravidade, a palavra as sua graça, a força o seu exercício, e a debilidade o seu sustentáculo" 8. Figura moral de São Bento

Com o subtítulo " A figura Moral", Dom Garcia M. Colombas, monge de Montserrat, na sua Introdução à Vida e Regra de São Bento, que estamos seguindo, nos oferece em rápidas pinceladas alguns traços da personalidade do santo, baseado no que este di z em sua Regra. Citaremos alguns deles. Gravidade

"Uma das características que chama a atenção ao contemplar a figura moral do santo é a austeridade, a dureza, a virilidade de seu caráter, marcado pelo selo

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ENTREVISTA de seu país de origem. [...] O patriarca não é arnígo de muito falar, detesta o riso imoderado, proíbe com singular energia as piadas (Regra, 6,8); a cada momento nos descobre seu desgosto diante do olvido da própria responsabilidade, pelas decisões prematuras, ligeireza de espírito. E essa gravidade que exige dos outros, brilha em cada uma de suas frases; ao dispor qualquer detalhe da observância monástica, desde o mais trivial ao mais importante, suas palavras são sempre circunspectas" 9. Objetividade

"Toda a Regra leva a marca de um espírito que não constrói a priori, segundo um ideal abstrato e um plano rígido, mas que vê a realidade tal qual é, e tenta adaptar-se a ela" 10• "Temperamento de chefe, e de chefe romano, quer que no mosteiro tudo esteja em ordem, que tudo se cumpra nele com perfeição". "Outro aspecto da personalidade moral de São Bento, que começa por ser um dos predicados mais importantes de seu temperamento romano e acaba com um marcado caráter de virtude sobrenatural, é a sua discrição. Misericórdia e justiça, força e doçura, natureza e graça, lei e privilégio, caridade e disciplina, tudo na Regra se acha em perfeito equilíbrio" 11 • Em nada vulgar

"Rebento de uma família rica e distinta, São Bento se mostra em todo momento cheio de nobreza, de finura, de urbanidade. Tanto em seu porte quanto em suas relações sociais, em seu pensamento como na forma de expressá-lo, nada achamos nele que seja vulgar" 12 • São Bento "possuiu do pensador a amplitude e a profundidade do olhar que compreende os problemas da vida e, em seus próprios limites, procura resolvê-los. A Regra nos revela esta inteligência poderosa, muito mais prática que especulativa, cujos dotes essenciais são a clareza e a lógica.[ ... ] Outra característica notável da inteligência de São Bento é sua penetração psicológica. O patriarca conhece o homem, suas possibilidades, suas fraquezas, suas reações" 13 •

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"Plus pater"

"Graças a essas qualidades de coração, São Bento pôde encarnar plenamente o pius pater que deve ser todo abade beneditino. A Regra inteira está impregnada do espírito de paternidade afetuosa e terna, que sabe compreender e adaptar-se, dissimular e alentar" 14 • "A virtude da religião nele é algo mais que uma característica: é o sentimento dominante que informa toda sua maneira de julgar e de agir, que unge inteiramente a figura, a vida e a Regra do patriarca, constituindo sem dúvida o verdadeiro fundo de sua personalidade" 15• Enfim, São Gregório Magno declara em seus Diálogos: "Se alguém quer conhecer mais profundamente sua vida e seus costumes [de São Bento], poderá encontrar no mesmo ensfoamento da Regra todas as ações de seu magistério, porque o santo varão de modo algum pôde ensinar outra coisa se· " 16. •••♦ não o que e1e mesmo viveu

Notas: 1. Pio XII, Carta encíclica em comemoração do XIV centenário da morte do patriarca de Montecasino, 1947, Apud Dom Garcia M. Colombas, San Benito, Su Vida Y Su Obra , Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1968, Prólogo, p. XIII. Seguimos principalmente essa obra para a elaboração deste artigo, citando o número da página e o local em que se encontra a citação. 2. Dom Próspero Guéranger, EI Afio Liturgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, vol. 11, pp. 885-887. 3. Dom Garcia M. Colombas, San Benito, Su Vida, Su Regia. Prologo, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1968, p.xiii. 4. Dom Colombas, op.cit., lntroducción General, p. 49. 5. Livro li dos "Diálogos" , Introdução, in op.cit. p.173. 6. Dom Colombas, op.cit., p. 62. 7. ld. lb., p. 65. 8. ln Dom Colombas, lntroducción General, op.cit., p.143. 9. 0p.cit., pp. 67-68. 10. ld.ib., p. 69 11. ld . ib., pp. 70-71. 12. ld .ib., p. 73. 13. ld. ib., p. 75. 14. ld.ib., p. 79. 15. ld. ib., p. 81. 16. Diálogos, li, 36, in op. cit. p. 255.

A gravidade das .irregularidades nas contas do governo Com exame meticuloso, o Tribunal de Contas da União aponta a verdadeira dimensão do quadro de calamidade nas contas do governo em 2014 devido ao mau uso do dinheiro público

••••• Dr. Leonel Munhoz Coimbra

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conferência Jmpeachment da Oi/ma e as "Pedaladas Fiscais ", promovida pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira no dia 19 de maio último, foi coroada de êxito. Os dois conferencistas - Dr. Leonel Munhoz Coimbra e deputado federal Paulo Martins - superaram a expectativa do auditório lotado do Club Homs (vide p. 43). O debate sobre a importância de controlar as contas públicas é muito atual. De fato, ele acompanha a História desde a Idade Média e já está consignado desde a Carta Magna inglesa de 1215. Tendo o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff sido objeto de várias versões, Catolicismo, para esclarecer seus leitores, entrevistou o Dr. Leonel Coimbra, para quem houve, sim, "pedaladas fiscais" que caracterizaram gravíssimo crime de responsabilidade. Leonel Coimbra é bacharel em Administração com pós-graduação em Orçamento Público e curso MBA Formação Geral de Altos Executivos pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. Auditor Federal de Controle Externo

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do Tribunal de Contas da União há mais de 13 anos, el e integrou o quadro de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental. É também instrutor e palestrante, com atua ção em diversos eventos nas áreas de Orçamento Público, Controle Externo, Forma ção de Instrutores e Multiplicadores, dentre out ros.

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Catolicismo - A preocupação com as despesas do Erário remonta à Idade Média. Dentro de nossa tradição lusitana, quando começou a regulamentação e a criação de órgãos do Estado para fiscalização e controle das despesas do governo?

Elas têm origem em Portugal, conforme registros do Recabedo Regni, li vros em que eram escrituradas não só as rendas do reino, mas também as da Coroa, bem como os direitos de cobrança concedidos aos donatários, o que permitia ao povo dispor de um registro permanente que lhe possibilitava questionar eventuais abusos cometidos nas freguesias, vilas, cidades e conselhos do Re ino. Enfim, Portugal foi a primeira nação europeia a unificar-se e a constituir um Estado centralizado sob a condução de um monarca. Em 1370 já existiam lá os chamados "Vedores da Fazenda", cuja atribuição era ver a coisa pública e fiscalizar as receitas e despesas. Eu os considero a origem histórica dos Auditores do TCU. Em fi nais do século XlV, durante o reinado de D. Dinis l, dá-se regimento à chamada "Casa dos Contos", com a clara missão, já naquela época ( 1389), segundo nos diz o Tribunal de Contas de Portugal, de "dominar e disciplinar a burocracia que aumentava em número e abusos" ...

Leonel Coimbra -

Catolicismo - E no Brasil?

Desde o Descobrimento, a ação da "Casa dos Contos" também abrangia o Brasil. Há registros e documentos conservados mostrando que as expedições portuguesas prestavam contas das trocas de mercadorias realizadas com os índios ao retornar de suas incursões ao interior do Brasil. No sécu lo XV ll , no reinado de Leonel Coimbra -

pesas. Busçava D. João V] imprimir maior raciona lidade à estrutura admin istrativa, garantir o ingresso das receitas realizadas, manter em dia as despesas e os ompromissos da Coroa, enfim, aumentar a eficiência e coibir a corrupção e os desvios. Nesse mesmo Alvará de 28/6/1808, D. João Vl instit11iu que a escrituração contábi l a ser utilizada para registro das finanças públicas adotasse o chamado "método das partidas dobradas", que vigora até hoj e. Catolicismo - Há pessoas que associam o período do Império do Brasil e a monarquia, em geral, ao exercício despótico do poder. Havia controle nessa época?

Leonel Coimbra - A Constituição do Império do Brasil, em 1824, já estabelecia os orçamentos e balanços gerais; contemplava o princípio da universalidade no orçamento, a obrigatoriedade da prestação anua l de contas ao Parlamento, chamado à época de "Assembleia Gera l", a quem cabia estabelecer os impostos, e previra a instituição do "Tribunal do Thesouro", o que se dará em 183 1, sendo esse o órgão então encarregado da fiscalização geral e da apl icação de sanções administrativas, além do controle do end ividamento público. Tais cuidados são mais bem compreendidos quando se reconhece que em um regime monárquico, o principal interessado em zelar pelo erário é o monarca, pois, além de personificar a Nação, ele deverá ter sempre a preocupação de legar a seus descendentes e sucessores um país mais rico, bem organizado e dispondo de melhores condições e meios para governar.

':4. lei estabelece como crimes de responsabilidade os atos que atentarem contra a Constituição Federal, e, especialmente, contra a probidade na administração e a lei orçamentária" D. João IV, foi dado o "Regimento dos Contos do Estado do Brasi l". Com a vinda da família real para o Brasil, D. João Vl realizou, logo ao chegar, o que hoje chamaríamos uma " reforma administrativa", ~om a instalação do Erário Régio e a criação do Conselho de Fazenda. Surgia uma jurisdição unificada, centra lizando todas as receitas e des22

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"Se formos às causas do problema, lá estará o Estado-leviatã, perdulário, mal gerido, endividado e com pretensões de onipotência e onipresença na vida de cada um de nós"

Catolicismo - As chamadas "pedaladas fiscais" constituem crime com qual gravidade?

Os chamados "crimes de responsabilidade" são assim denominados em razão de poderem ser praticados somente por determinadas pessoas, alçadas ao exercício de funções da maior responsabilidade na gestão da coisa pública e, portanto, detentoras de um poder muito grande. Cometer "crime de responsabilidade" é para quem pode e não para quem quer. E a lei estabelece como crimes de responsabilidade os atos que atentarem contra a Constituição Federal, e, especialmente, contra a probidade na administração, a lei orçamentária, a guarda e o lega l emprego dos dinheiros públicos. Mas a expressão "peda ladas fiscais", revestida até de um tom jocoso, pode desviar nossa atenção da verdadeira dimensão das graves irregularidades constatadas pelo TCU no exame das Contas de Governo de 20 14, que configuram um quadro de verdadeira calamidade nas contas públicas. As chamadas Contas de Governo constituem uma singularidade para o TCU, pois se trata do único caso em

Leonel Coimbra -

Considerando o tamanho que o Estado assum iu, o desempenho do governo afeta, para o bem e para o mal, o desempenho da economia. Uma vez que, ao longo dos anos mais recentes, prosperou a ideia de que o Estado é "o principal indutor" do desenvolvimento, parece ser razoável estabelecer uma direta correlação entre o desempenho do governo e o desempenho da economia. E o que temos hoje? Um quadro de depressão econômica, mais de 11 milhões de desempregados, queda na poupança interna e na taxa de investimento, juros altíss imos, redução do PIB per capita, inflação fora de controle ... E, ainda assim, uma carga tributária asfix iante e crescente. Se formos às causas do problema, lá estará o Estado-leviatã, perdulário, mal gerido, endividado e com pretensões de onipotência e onipresença na vida de cada um de nós. Leonel Coimbra -

que o julgamento não é proferido pelo Tribunal, mas sim pelo Congresso. Nesse caso, compete ao Congresso avaliar o parecer prévio emitido pelo TCU e julgar as contas. Conclusivamente, se o Congresso entender pela ocorrência de "crimes de responsabilidade", além da eventual perda do mandato e inabilitação para o exercício de qualquer função pública, o responsável também estará sujeito à persecução judicial em face das disposições vigentes no Código Penal que tratam dos crimes contras as finanças públicas. Observo, por fim, que ainda se discute no Congresso se as Contas de 2014, que ainda não foram julgadas, integram ou não, em sentido estrito, o objeto do atua l processo de impeachment instaurado contra a presidente da República. Catolicismo - E quais têm sido as consequências da má gestão das contas públicas para a nossa economia?

Catolicismo - Como se permitiu a falência do País?

Se me for possível dar uma resposta única, considero mais adequadas as palavras do Prof. Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, quando afirmou que ''se simplesmente aqueles que são bons tivessem consciência do momento atual, se eles tivessem consciência do que eles poderiam, se se levantassem e se unissem... ". O mal prospera em razão da falta de ação dos bons, talvez por pensarem que não são suficientemente capazes para enfrentar o mal. Por ser um homem de fé , penso que, porque fracos, devemos rezar e contar com a ajuda da ProLeonel Coimbra -

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vidência para que os bons se unam e se tornem capazes de combater e vencer o mal. Se essa unidade nos faltou até agora, não acredito que não seja possível construí-la, desde já, entre pessoas de boa vontade. Catolicismo - É verdade ou não que "pedaladas ficais" semelhantes já foram praticadas por outros presidentes, governadores e prefeitos?

Leonel Coimbra - Tal argumentação já foi refutada pelo próprio TCU no parecer prévio que emitiu a respeito das Contas de Governo Federal 2014. Vejamos o que disse o Min istro Re lator Augusto Nardes: "As alegações partem de premissas falsas e não têm como prosperar. Isso porque não há registro na jurisprudência do Tribunal que possa ser entendido como chancela a condutas referentes à realização de operações de crédito nos moldes apontados nos itens seguintes, razão pela qual não há que se falar em violação à segurança jurídica. Somase a isso o.fàto de que a magnitude das operações realizadas em 2014 e seu impacto negativo sobre o resultado fiscal podem ser considerados ponto fora da curva, sem precedente nas duas últimas décadas. " Creio que essa é uma das raras situações em que, de fato, seja possível aplicar com propriedade a frase de que "nunca antes na história desse país" se esteve diante de coisa semelhante. Catolicismo - O senhor foi elogiado pela sua clareza a respeito da liceidade e legalidade do processo de impeachment da presidente Dilma. Mas também chamou a atenção sua menção às fraudes encontradas no programa de Reforma Agrária e sua suspensão. Poderia nos dizer algo a respeito dessas fraudes?

Leonel Coimbra - O Programa de Reforma Agrária, que tem origem com a aprovação do chamado "Estatuto da Terra", em 30/11/1964, e, posteriormente, com o advento da Constituição de J988, vem apresentando ao longo desses anos diversos problemas e irregularidades, segundo os próprios Ministros do TCU. Há pouco, em notável trabalho de fisca lização realizado por colegas Auditores lotados na chamada SecexAmbiental, foram apontadas graves irregu laridades na execução do programa, o que levou o TCU a determinar a suspensão imediata da concessão dos beneficios da Reforma Agrária (Acórdão 775/2016 - Plenário). Dentre as irregularidades, verificou-se a concessão ilegal de novos lotes a pessoas já beneficiadas; menores de idade; servidores públicos; empresários; estrangeiros; aposentados por invalidez; pessoas CO!l) maus antecedentes criminais e beneficiadas pelo auxíli o-reclusão; titu lares de mandatos eletivos; falecidos; pessoas com renda superior ao previsto em lei; portadores de deficiência fisica ou mental

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que os impossibi litam para exercer o trabalho agrícola; pessoas que permanecem residentes em local diverso ao do lote concedido; pessoas que ostentam sinais exteriores de riqueza, tais como a propriedade de veículos de luxo (Volvo FH 460 6X4T, Porsche Cayenne GTS, Land Rover Range Rover, BMW X5 XDRIVE30D, Camaro 2SS Conversível), e indivíduos que receberam serviços de assistência técnica em parcelas nas quais eles não fazem parte da respectiva relação de beneficiários. Tais irregularidades foram constatadas em 578 mil distintos beneficiários, tendo os prejuízos financeiros potenciais decorrentes delas alcançado R$ 2,83 bilhões, dos quais R$ 89,3 milhões em curto prazo e R$ 2,74 bilhões em méd io prazo. Isso significa que metade dos gastos real izados com o programa estaria comprometida por irregularidades, situação que deve ser considerada gravíssima, pois coloca em questão a real uti lidade de se continuar a execução desse programa. Há mais de 50 anos, começou-se por dizer que deveriam ser distribuídas as terras vazias ao longo da faixa de domínio das rodovias federais. Em seguida, veio a ideia de que as terras devolutas deveriam ser retomadas e destinadas à reforma agrária. Depois, que também as terras particulares, mesmo com títulos regulares de propriedade, poderiam ser desapropriadas mediante indenização, desde que fossem consideradas "terras improdutivas". Logo, falava-se de forma exaltada em desapropriar os " latifúndios" em que se praticasse a "monocultura". Chegamos ao ponto em que qualquer propriedade rural ou urbana encontra-se em risco, não mais de ser desapropriada, mas sim invadida, depredada e destruída sem qualquer restrição, ferindo de morte o Direito natural à propriedade que antecede e se sobrepõe a qualquer ordenamento jurídico. E isso para quê? Fazer justiça? Que tipo de justiça pode decorrer do incentivo à cobiça e ao roubo e destruição das coisas alheias? No entanto, não poderia deixar de assinalar que o TCU circunscreve sua atuação nos li mites da legislação vigente, sem poder adentrar no mérito desta ou de outras políticas públicas a cargo do Governo, avaliando, tão somente, o cumprimento das normas legais e a efetividade alcançada na execução das políticas, tal como constam em sua formu lação. Cabe à população, portanto, util izar-se dos canais de expressão disponíveis, para requerer ao Congresso e às demais autoridades uma profunda reflexão a respeito dessa política pública e que reais efeitos ela tem acarretado ao País. Entendo que a questão da Reforma Agrária foi tratada de forma percuciente, há mais de 50 anos, no livro Reforma Agrária - Questão de Consciência, cuja leitu-

ra recomendo, indicando que ele se encontra disponível para download gratuito no site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira: www.pliniocorreadeoliveira.info. Para ampliar o conhecimento sobre o tema, não poderia deixar de também recomendar a leitura do livro Reforma Agrária - o Mito e a Realidade, lançado em 2004, de autoria do jornalista e estudioso do assunto Nelson Ramos Barretto, que na sua preparação percorreu mais de 20 mil quilômetros pelo Brasil inteiro, visitou 60 assentamentos da Reforma Agrária, muitos dos quais tidos como 'modelos' , tendo constatado o surgimento de um novo problema social: as "favelas rurais". O li vro, infelizmente já esgotado, está por merecer nova ed ição. Catoliclsmo - Pela sua experiência, quais os pontos de maior desperdício da verba pública? Em quais pontos de serviços e benefícios poder-se-ia reduzir o gasto na Administração Pública?

Leonel Coimbra - Se a corrupção tem merecido atenção da imprensa e do público, a questão do desperdício causado pelo mau uso do dinheiro público parece ficar em segundo plano. Mas, possivelmente, seja causa de perdas iguais ou mesmo maiores do que as decorrentes da corrupção. Com base apenas na experiência cotidiana, respondo sem hesitação que a maior causa de desperdícios é a falta de planejamento adequado das atividades na Administração, de modo particular na execução de obras públicas. Mas tal constatação também se verifica nas demais contratações de serviços e aquisições realizadas pelo Estado, que podemos agrupar na expressão "compras governamentais". Mas há outros pontos de desperdíc io derivados da concepção de que o Estado tem o direito de arrecadar e gastar sem freios de qualquer natureza. Despesas com publicidade e manutenção de veícu los de comunicação sob

'~lém da perda do mandato e inabilitação para o exercício de qualquer função pública, o responsável estará sujeito à persecução judicial em face das disposições do Código Penal" o controle direto do Estado, gastos com viagens (d iárias, passagens, agregação de vastas comitivas), manutenção de aeronaves para uso de autoridades, cartões corporativos, em muitos casos revestidos de injustificável sigilo, indicam claras oportunidades de combate ao desperdício de recursos públicos. Catolicismo - Gostaria de acrescentar outras considerações ao término de nossa entrevista?

Leonel Coimbra - Apenas expressar minha admiração ao Grupo de Fundadores, discípulos do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, pelo notável trabalho que é desenvolvido no Instituto que leva seu nome, com a ajuda dos jovens caravanistas e tantos outros colaboradores, por vezes anônimos, para preservar a memória e difundir a obra desse brasileiro extraordinário. Imagino que nesse trabalho diuturno, diante das muitas atribu lações de nossa época, os colaboradores hão de se perguntar se o seu esforço está fazendo alguma diferença. De minha parte, posso lhes assegurar que a riqueza do pensamento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira revela-se a cada dia mais atual, porque fundado em princípios e valores perenes. E é pela pe1tinência do pensamento e da obra dele para os dias de hoje que esse trabalho realizado pelos senhores vem frutificando de forma surpreendente. ❖ catolicismo@terra.com.br / JULHO 2016

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CAPA

Jesus Cristo cura o doente na piscina de Bethesda Carl Heinrich Bloch (1834-1890). Bri~ham Young University, Museum of Art, Utah (EUA).

m vista do grande interesse suscitado pela matéria de capa da edição anterior, sobre o Sagrado Coração de Jesus enquanto espelhando misericórdia e justiça dois atributos divinos que não se excluem - , Catolicismo oferece nesta edição alguns aprofundamentos doutrinários sobre essa questão de capital importância para o proveito espiritual e intelectual dos prezados leitores. "Justiça social" e "misericórdia" são duas "palavras-talismãs"1 muito em voga em nossos dias. Elas têm sido frequentemente usadas - inclusive por certas autoridades eclesiásticas - num sentido materialista e marxista, sem nenhuma referência à glória de Deus e ao fim sobrenatural para o qual o homem foi criado. Assim sendo, pareceu-nos de interesse dos nossos leitores continuar a tratar dos conceitos de justiça e misericórdia, agora do ponto de vista da lídima e imutável doutrina da Igreja, aplicável a todos os tempos e lugares, ressaltando seus lados mais esquecidos ou propositadamente omitidos nos dias de hoje. A Direção de Catolicismo

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e das misericórdias de Deus. [ ..] 'Ainda que uma mãe se esquecesse de seu filho pequenino eu não te olvidarei' (Is. 49, 15)". 3 Em Jesus Cristo, a Justiça e a misericórdia se completam

AFONSO DE SOUZA

m estrito senso, a misericórdia é um atributo divino. Por sua natureza e essência, é a bondade de Deus enquanto socorre e alivia os nossos males. Como o principal mal é o pecado, o pecador arrependido se torna o principal o_bjeto da misericórdia de Deus, onde ela mais se exerce através do perdão. Deus é amor e, enquanto tal,

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misericordioso. Sendo misericordioso, este atributo divino é como o motor que guia toda a história da humanidade. Com efeito, "a história da misericórdia de Deus é a mesma que a história da Humanidade e a história do próprio Deus: 'A terra está cheia de sua misericórdia' (Sl 32, 5). 'A misericórdia de Deus vem da eternidade, e se seguirá estendendo eternamente sobre aqueles que o temem ' (SI 102, 17) ". 2 Quando na história da Criação

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aparece o pecado - ou seja, uma ofensa e uma ingratidão a Deus merecedora da condenação eterna - , então "intervém a misericórdia e busca o restabelecimento do p lano de origem, e o próprio pecado é ocasião de.fazer esse plano mais admirável por meio da Encarnação. [ ..] Quanto mais a Humanidade se afasta de Deus, tanto mais se afirma sua misericórdia para com os homens. A história do povo de Israel não é outra coisa senão a história das quedas do homem

Sendo Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo é também o Deus de misericórdia. E isso transparece de modo claro e refulgente em todas as páginas do Novo Testamento. Quando iniciava a sua vida pública, falando na sinagoga de Nazaré, Ele atribui a Si a profecia de Isaías: "O Espírito do Senhor [repousou] sobre mim; pelo que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os contritos de coração, a anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a recuperação da vista, a pôr em liberdade os oprimidos e a pregar o ano favorável do Senhor" (Lc 4, 18-19). Essas palavras do Divino Redentor resumem as obras de misericórdia pregadas por Ele, como a Igreja ensina. Sendo médico do corpo, Cristo Jesus o é sobretudo das almas: "Ó homem, são-te perdoados os teus pecados " diz Ele ao paralítico ao curá-lo de sua enfermidade (Lc 5, 20; 7, 48; Mt 9, 2). Na tocante parábola do Filho Pródigo, o Verbo Encarnado deixa transbordar a misericórdia do seu coração na imagem do pai que não só perdoa, mas recebe com alegria o filho prevaricador arrependido (Lc 15, 20 a 24). Sobre a nossa regeneração pelo batismo (foto), diz São Paulo em sua epístola aos Efésios: "Éramos por natureza filhos da ira, como todos os outros. Mas Deus, que é rico em misericórdia, pela sua extrema caridade com que nos amou, estando nós mortos pelos pecados, deunos a vida em Cristo (por cuja gra-

çafostes salvos), e com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus com Jesus Cristo, a fim de mostrar aos séculos futuros as abundantes riquezas da sua graça, por meio da sua bondade para conosco em Jesus Cristo" (Ef 2, 3 a 7). Misericórdia sobretudo para os que temem a Deus

Segundo as Sagradas Escrituras, a misericórdia de Deus se exerce sobretudo em relação aos que lhe são fiéis: "Sua misericórdia se estende de geração em geração, sobre os que O temem" (Lc 1, 50). Esse é um aspecto frequentemente desprezado nos dias de hoje, quando se fala de misericórdia. Na acepção moderna do termo, ela se transformou numa espécie de cumplicidade, sobretudo em relação aos malfeitores e prevaricadores· que não querem deixar seu pecado; ou aos chamados "injustiçados" que, ao contrário de outros, não possuem bens. Isso independente de amarem ou não a Deus, de O temerem ou não. Daí o fato de, no Sínodo dos bispos realizado este ano em Roma, muitos pregarem, sob o pretexto de

"misericórdia", a cumplicidade em relação aos "recasados", ou seja, às pessoas que vivem objetivamente no pecado, ou aos chamados "casais" homossexuais. A misericórdia deve visar mais à alma que ao corpo

Por outro lado, a misericórdia deve visar mais à alma que ao corpo. As obras de misericórdia espirituais são em si superiores às materiais, pois têm como objeto a parte mais nobre do homem que é a alma. Assim como devemos procurar o bem de nossa própria alma antes que o do corpo, também devemos atender às necessidades espirituais do nosso próximo antes, ou ao mesmo tempo, que as do corpo. Desse modo, corrigir os que erram, dar bom conselho, ensinar ao que não sabe, em si mesmo é superior a simplesmente dar de comer a quem tem fome ou vestir os nus. Evidentemente uma coisa não exclui a outra, e o ideal é somá-las. Fala-se muito em ajudar os pobres, não tanto porque eles são necessitados, o que seria louvável, quanto por se lhes atribuir um "di-

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reito igualitário" de ter tudo que os outros têm. Esquecem-se de que Nosso Senhor afirmou que 'íJobres os tereis sempre entre vós", e que Ele próprio quis nascer pobre numa simples Gruta de Belém. No conceito de "pobre" se incluem ainda, de cambulhada, os que vivem nas ruas porque culposamente se entregaram às drogas, à bebida, a desmandos sexuais ou outros, que provocaram as suas enfermidades. Ou, em casos não raros, também os que se deixaram dominar pela preguiça. Uns e outros merecem a nossa compaixão e são candidatos a receber de nós auxílio, mas sobretudo espiritual e moral, que os ajude a sair da miséria de alma (e também de corpo) em que se encontram. Obrigação da prática da misericórdia

Tanto no Velho quanto no Novo Testamento existe uma urgência da parte de Deus em que o homem tenha sentimentos de misericórdia. O supremo argumento é que Deus é misericordioso. Por isso, o homem, criado à sua imagem e semelhança, também deve sê-lo. É a lei da santidade, que em São Lucas (6,35) adquire uma forma categórica: "Sede misericordiosos como vosso Pai celeste é misericordioso". Quer dizer, misericordiosos como o próprio Deus, isto é, visando mais à salvação das almas do que socorrer o corpo. Segundo a Sagrada Escritura, há uma obrigação formal pará o homem ser misericordioso: "Eu te mostrarei, ó homem, o que te é bom, o que o Senhor requ~r de ti: É que pratiques ajustiça, que ames a misericórdia, e que andes solícito com o serviço do teu Deus" (Mq 6,

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Justiça Divina e Caridade

8). "O juízo será sem misericórdia para o que não usou de misericórdia" (Tg 2, 13). "Bem aventurados os misericordiosos, porque eles encontrarão misericórdia" (Mt 5, 7). "Porque o que eu quero é a misericórdia e não o sacrificio, o conhecimento de Deus mais que os holocaustos" (Os 6,6). Essa obrigatoriedade de praticar as obras de misericórdia vem do próprio mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Como o amor ao próximo nos é imposto por preceito, deve manifestar-se pelas obras, como nos ensina o Apóstolo virgem: "Não amemos só de palavras e com a língua, mas com obras e em verdade" (I Jo 3, l8). Segundo o moralista Pe. Royo Marin, todos temos a obrigação de dar esmolas segundo as nossas possibilidades e as necessidades do próximo. E essa obrigação é tanto mais peremptória quanto maior a necessidade do pobre, por exemplo, se estiver passando fome. Essa é uma obrigação grave e claríssima,

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decorrente do Direito natural e divino, pois a vida do próximo vale mais do que toda classe de bens supérfluos que tenhamos. 4 Infelizmente, "está muito estendido entre pessoas de consciência reta e, mesmo entre cristãos praticantes, a ideia de que as obras de misericórdia são excelentes atos de virtude, mas de simples conselho. Não são, portanto, estritamente obrigatórias. Tal ideia, sem embargo, é completamente errônea. Na medida e grau das próprias possibilidades, o exercício das obras de misericórdia é de rigoroso preceito para todos. Santo Tomás expõe com sua lucidez habitual o raciocínio para demonstrá-lo (cfr. Suma Teológica n-II, q.32, a.5)". 5 Assim, conforme o caso, a omissão pode resultar em pecado mortal. Na passagem citada, diz Santo Tomás: "É de preceito dar esmola do supérfiuo e dá-la a quem se encontra em necessidade extrema. Fora dessas condições, é de conselho (e não de preceito), assim como é de conselho qualquer bem menor ".

Na Sagrada Escritura o termo justiça aparece com matizes de significados muito mais amplos do que na acepção moderna. Grosso modo falando,justiça significa o compêndio de todas as virtudes e de todos os valores, isto é, a santidade. Nesse sentido, estritamente falando , refere-se só a Deus: " Vós sois justo, Senhor! Vossosjuízos são cheios de equidade, e vossa conduta é toda misericórdia, verdade e justiça" (Tb 3,2). Por isso, "Justiça Divina" é empregada no Livro Santo não só para se referir ao julgamento que está de acordo com a Lei Divina, mas sobretudo à perfeição de Deus em todas suas dimensões. "Ele mesmo julgará o universo com justiça, com equidade pronunciará sentença sobre os povos " (SI 9, 9); "E os céus proclamam sua justiça, porque é o próprio Deus quem vai julgar" (SI 49, 6); "A justiça e o direito são o j imdamento de vosso trono, a bondade e a.fidelidade vos precedem" (Sl 88 , 15). De onde procede, por analogia, que na linguagem bíblica o "homem justo" é aquele que vive segundo Deus, cumprindo todos os seus mandamentos. "Quem segue a justiça e a misericórdia, achará vida, justiça e glória" (Pv 21 ,21). "Feliz o homem que persevera na sabedoria, que se exercita na prática da justiça, e que em seu coração p ensa no olhar de Deus que tudo vê" (Ecco 14,22). "Se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ele ensina a temperança e a prudência, ajustiça e a/orça" (Sb 8,7). Desse modo, na Bíblia, o termo justiça vai além do âmbito da moral e do direito, embora o inclua, para adentrar-se na esfera mais profund a do religioso. E, como conse-

quência da justiça divina, a justiça dos homens deve subordinar-se a essa dimensão religiosa. Nesse sentido, o significado de justiça na Sagrada Escritura confunde-se por vezes com o da aliança de Deus com os homens, assim descrita: " Vistes o que.fiz aos egípcios [castigando-os], e como vos trouxe sobre asas de águia, e vos tomei para mim. Se, portanto, ouvirdes a minha voz e observardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos; [. ..} Sereis para mim um reino sacerdotal e uma nação santa" (Ex 19, 4 a 6). Assim: "O primeiro valor da

justiça na Sagrada Escritura se move no âmbito da.fidelidade, conformidade, sinceridade e cumprimento das exigências da Aliança de Deus. [. ..} Deus assume o compromisso de salvar; o homem assume o compromisso de fidelidade ao pacto. Esta atitude mútua realizada e vivida jàz emergir o âmbito da justiça, configura sua própria noção. Em Deus a justiça é benevolência, salvação. No homem.fiel, sua relação com Deus e com os demais em .fidelidade pessoal, que impregna o ser de cada homem e consequentemente suas relações na comunidade ". 6 Como decorrência do que ficou

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dito, justiça humana significa, em primeiro lugar, a fidelidade à aliança com Deus. Como o homem, por si só, não é capaz de permanecer justo e fiel a essa aliança, necessita da graça divina. Deus lhe concede a justiça como um dom, ensinandolhe a obrar sempre com justiça: "Julgai com retidão e justiça, livrai da mão do caluniador o oprimido violentamente, não contristeis o estrangeiro, nem o órfão, nem a viúva, nem os oprimidos injustamente, nem derrameis sangue inocente neste lugar" , diz o profeta (Jr 22,3). E também: "O Senhor me retribuirá segundo a minha justiça e segundo a pureza de minhas mãos diante dos seus olhos [ ..] Com o puro serás puro, e com o perverso procederás segundo a sua perversidade" (2 Sm 22, 25-27). Como está longe disso certo conceito de "justiça", frequentemente empregado em nossos dias ...

alturas, o vosso orvalho, e as nuvens façam chover o Justo; abra-se a terra e brote o Salvador, e ao mesmo tempo nasça ajustiça" (4, 8). Segundo o Novo Testamento, o conceito de justiça "é, portanto, muito mais profundo que a justiça jurídico-social que regula as relações humanas e morais. É algo in-

Justiça, no Novo Testamento Com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Justo por excelência, o conceito religioso de justiça no Novo Testamento adquire sua dimensão mais profunda. Pois Ele: "Será chamado Admirável, Conselheiro, Deus forte, Pai do século futuro, Príncipe da paz. [... ] sentarse-á sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o firmar e fortalecer pelo direi~o e pela justiça, desde agora e para sempre" (Is 9, 6). E ainda: "Derramai, ó céus, lá das

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terior que inunda o espírito para buscar com todas as forças o Reino. É uma atitude que deriva do cumprimento de toda a Lei, de levar a cabo a vontade de Deus, que se revela na Sagrada Escritura. É, portanto, ajustiça de Deus, da qual participa o homem para caminhar pelas sendas dos Mandamentos (cfr, SI 119,32). [ ..] Resumindo muito, esta justiça é a santidade, a graça".1 É neste sentido que São Mateus (1 , 19) chama de justo a São José, o que equivale a dizer santo, fiel a Deus e a seus mandamentos, perfeito, piedoso . E é nesse sentido também que Nosso Senhor, quando São João Batista relutava em batizá-Lo, lhe disse: "Deixa por agora, pois devemos cumprir toda justiça ". "Justiça, aqui, inclui tudo o que Deus mandou, previu, quis; implica, pois, uma atitude de identificação total com a vontade de Deus, atitude que move a agir para pôr por obra tudo o que Deus quer. Justiça, portanto, é 'caminhar na Aliança '. 'cumprir os Mandamentos ', 'deixar-se conduzir pelo Espírito ', 'viver o Evangelho, o dom de Deus"'. 8 São Paulo afirma que "nele [no crente] se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à f é, como está escrito: O justo viverá p ela f é" (Rm 1, 17). Para ele é ' justo", aquele "que tem a fé em Jesus Cristo" (Rm 3, 26; Gl 3,11). Portanto, segundo o Apóstolo das Gentes, um ateu não pode ser "justo" neste sentido mais elevado da palavra.

Justiça como virtude cardeal

Como virtude cardeal, a justiça é um hábito sobrenatural que inclina a vontade constante e perpetuamente a dar a cada qual o que lhe é devido (cfr. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-li, q.58). Nesse conceito, "a j ustiça é uma virtude cardeal, que reside na vontade, mediante a qual somos inclinados a dar a cada um o que é seu,· seja o seu individual, o seu da sociedade, ou o seu dos indivíduos, como membros da sociedade".9 Sob esse ponto de vista, as relações da justiça são sempre bilaterais, uma vez que só se pode ser justo ou injusto em relação a um terceiro. Esta justiça "deve conformar-se com a ordem da Criação, que exige o respeito à autonomia do individuo e dos grupos sociais, que devem ser p rotegidos e coordenados pelo Estado, sociedade perfeita no temporal. A negação desta doutrina engendrou o Estado totalitário, que sob o disfarce democrático ou ditatorial, é o grande dano dos tempos modernos. " 1º Segundo tal conceito, a justiça pode chamar- se bem comum quando regula não só as relações das pessoas entre si, mas a atu ação dos membros de uma sociedade - seja autoridade, seja cidadão comum - visando ao bem do conjunto e de cada um . Os v ínculos entre os membros de uma sociedade têm por fund amento, portanto, o bem comum, quer para exigir a contribuição de cada um, quer para efetuar entre eles partilhas de qualquer natureza que sejam. Nestas, é importante manter a proporção entre a qu alidade da pessoa e o que se lhe atribui. Qualidade aqui no sentido amplo, que engloba condi ção social, qualidades intelectuais ou artísticas, capa-

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"A transgressão da Justiça sempre envolve a obrigação de fazer a restituição. É violada por um grande número de pecados, como o homicídio, a calúnia, a Injúria, o roubo, o prejuízo e muitos outros que estão enumerados e explicados na teologia moral"

cidade de trabalho, esforço efetivamente di spendido, deficiências mentais ou fís icas etc. Chamamos j ustiça comutativa àquela que move os indivíduos de uma sociedade a dar aos outros que a compõem aquilo que Lhes é devido enquanto pessoas privadas. E la é a justi ça em todo o sentido do termo, uma vez que tem que ver com os direitos e deveres dos indivíduos entre si. "Coincide quase exatamente com a p rópria d~finição de j ustiça: a vontade constante e perpétua de um indivíduo de render a outro o que lhe é devido, em estrita igualdade. Dai sua transgressão sempre envolve a obrigação de fazer a restituição. É violada por um

grande número de pecados, como o homicídio, a calúnia, injúria, o roubo, o prejuízo e muitos outros que estão enumerados e explicados na teologia moral ". 11 Após o ac ima exposto, passamos a considerar um tema muito importante para a prática da justiça. Trata-se do dever de restituição da coisa roubada (ou " invadida", "desapropriada injustamente"). Isso porque "a justiça lesionada exige a conversão do pecador a Deus, reconhecendo sua culpabilidade moral, com o propósito efetivo de reparar o dano causado. Santo Agostinho afirma que a restituição não é mais que o primeiro grau da satisfação ou reparação ante Deus

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gá-los aos criminosos sistemas do novo socialismo e comunismo". 16

e sintoma do propósito de não voltar a cometer injustiça (Cfr. Epis. Ad Mared. 6,20: Sl 33,622). O dever moral de restituir inclui não só devolver os bens espirituais ou materiais lesionados, mas reparar também os danos causados (Suma Teológica II-II, q.62, a.1) e isso é tão importante que o pecado de injustiça não se perdoa [mesmo na confissãoJ até que não se produza a restituição, ou ao menos se tenha o propósito de.fazê-lo ". 12

Justiça e Paz

A justiça, quando bem observada, prepara o caminho para a verdadeira paz, que · Santo Agostinho define como "a tranquilida-

Dignidades e merecimentos na justiça

"Denominou-se justiça distributiva aquela versão da justiça que deve cumprir-se ao repartir .fimções, beneficias e cargos públicos, bem como às compensações p elo trabalho realizado. Sobre a justiça distributiva disse Aristóteles (e sobre isso insistiu Santo Tomás) que esta exige que, no repartir, as p essoas iguais recebam porções iguais, e as desiguais, porções desiguais, segundo suas dignidades e merecimentos diferentes ". 13 No caso de uma igualdade pura e simples, ou aritmética, a justiça comutativa exige que as pessoas, as situações, as coisas e os fatos iguais sejam tratados de um modo igual. Pelo contrário, nas relações da justiça distributiva, as pessoas devem ser tratadas de um modo desigual, embora calibrado. É obvio que, como regra geral, o Direito não deve atribuir efeitos jurídicos às diferenças físicas ou de talento. Mas quando se trata de recrutar pessoas para determinadas funções - para a polícia, por exemplo - , é evidente qu~ devem ser tomadas em consideração as aptidões fisicas e um mínimo de formação cultural do candidato. Com 34 1

muito maior razão quando se trata de nomear catedráticos ou juízes, devendo o Direito então atribuir efeitos decisivos com relação aos dotes de inteligência, de cultura, de honestidade, de especialização etc. Como afirma Plínio Corrêa de Oliveira, "em si mesma, a desigualdade não é injusta. Em um universo no qual Deus criou desiguais todos os seres, inclusive e principalmente os homens, a injustiça é a imposição de uma ordem de coisas contrária a que Deus, por altíssimas razões, f ez desigual [. ..] Assim, a justiça está na desigualdade". 14

A desigualdade para os socialistas

Ora, para a doutrina socialista, tão propagandeada em nossos dias, "todas as desigualdades, sejam elas de fortuna, de prestigio,

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de cultura, ou quaisquer outras, são injustas em si mesmas ". Para os correligionários de um socialismo mais avançado, "no atual estágio da evolução humana, já é possível abolir a propriedade, a hierarquia social e a familia (esta última é uma evidente .fonte de desigualdades), e reconhecer que o Estado é o único titular de todos os direitos. [. ..] Nesta concepção igualitária, sempre que uma elite se forma é, ipso facto, defraudadora da maioria. Maioria e elite minoritária são forças necessariamente em luta. É o mito pagão da luta de classes, tantas vezes condenada p elos Papas e ciuo desf echo é o esmagamento do escol pela massa, o triunfo da quantidade sobre a qualidade, e a ruína de todos na escravidão do Estado-patrão ". 15 Donde considerar como sendo família toda união, " temporária" ou "estável",

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entre d01s seres, 111 e- · . pendente do sagrado vínculo do matrimônio. E conceder à "companheira" ou concubina os mesmos direitos que à esposa legítim.a. O auge disso é reconhecer um como que "casamento", com todos os direitos legais, às chamadas uniões homossexuais. Tudo isso vai inteiramente contra a doutrina imutável da Igreja. Para citar um só exemplo, eis o que diz o bem-aventurado Pio IX em sua Encíclica Noscitis et Nobiscum, de 8 de dezembro de 1849: "Tão pouco desconheceis, Veneráveis Irmãos, que os principais autores desta intriga tão abominável não se propõem outra coisa senão impelir os povos, agitados já por toda classe de ventos de p erversidade, aos transtornos absolutos de toda a ordem humana das coisas, e entre-

de'da ordem", e a Escritura como "obra da justiça". "Estritamente falando, a paz deriva direta e imediatamente da caridade, que é o traço de união, mas procede indiretamente da justiça, que remove os obstáculos para a paz. Cfr. Santo Tomás, Suma Teológica U-II, q.29, a. 3, ad 3". 17 Muitos, mesmo entre pessoas altamente colocadas na estrutura eclesiástica, propugnam a implantação da "justiça social" no mundo - no sentido materialista da expressão - como único meio de se obter a paz. "Grave erro, [. ..] pois

a mensagem cristã é espiritual e sobrenatural, e consiste em levar os homens a seu destino eterno, julgando todas as realidades com .fim sobrenatural. A Igreja, enquanto tal, não tem por missão estabelecer a justiça no mundo, seguindo assim a Cristo que, afirmando que seu Reino não é deste mundo (Jo 19,36), negou-se expressamente a ser constituído juiz ou promotor dajustiça humana (cfr. Lc 12,13 ss.). [. ..]Ajustiça, sendo tão . importante, é inseparável da caridade, e incompleta sem ela: 'O propósito de manter a t , paz e a concórdia entre os homens será insiifiâente, se por debaixo desses preceitos, não lança raízes o amor ' (Santo Tomás, Suma Contra Gentes, 3,130)". 18 Quando a "justiça" é aplicada no sentido socialista do termo, não se terá uma verdadeira paz, mas uma convulsão social. É o que afirma o Papa Leão XIII: "Suprimi o temor de Deus e o respeito devido às suas leis; deixai cair em descrédito a autoridade dos príncipes; daí livre curso e incentivo à mania das revoluções; largai a brida às paixões populares, quebrai todo .fi'eio, salvo o dos castigos, e pela força das coisas ireis ter a uma revolução universal e à ruína de todas as instituições: tal é, em verdade, o escopo provado, explicito, que demandam com seus esforços muitas associações comunistas e socialistas ". 19 E o mesmo Pontífice adve1te que "ainda que os socialistas, abusando do próprio Evangelho a fim de

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Por isso a caridade ou misericórdia não se opõem à justiça, mas, pelo contrário, é sua plenitude e perfeição". 24 Esta é a genuína doutrina católica, sempre ensinada na Igreja. Já dizia o Apóstolo Virgem: "Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que fomos trasladados da morte para a vida, porque amamos nossos irmãos. Aquele que não ama, permanece na morte. [... ] Nisto conhecemos o amor de Deus: em ter dado a sua vida por nós; igualmente nós devemos também dar a vida pelos nossos irmãos. O que tiver bens deste mundo, e vir o seu irmão em necessidade e lhe fechar o seu coração, como está nele a caridade de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra e com a língua, mas por obra e em verdade. Por isto conhecemos que somos da verdade, e tranquilizaremos os nossos corações diante de Deus" (1 Jo 3, 13 a 19). ❖

enganarem mais facilm ente os espíritos incautos, tenham adotado o costume de o torcerem em proveito de sua opinião, entretanto a divergência entre as suas doutrinas depravadas e a puríssima doutrina de Cristo é tamanha, que maior não podia ser. Pois, 'que pode haver de comum entre ajustiça e a iniqüidade? Ou que união entre a luz e as trevas? '(2 Cor 6, 14) ".20 Se em vez de uma doutrina materialista, nossos pastores pregassem verdadeiramente o Evangelho, "esta verdade evangélica praticada em toda sua extensão e de acordo com todas suas exigências, é o maior complemento da justiça e a única solução estável e definitiva para estabelecer no mundo a paz e o bem-estar social", diz o moralista, Pe. Royo Marin. 21 Misericórdia e justiça

Aparentemente, há certa incompatibilidade entre a misericórdia e a justiça. Por exemplo, quando se trata de castigar um malfeitor. Em que ponto deve a justiça cessar para dar lugar à misericórdia? Entretanto, como explica Santo Tomás de Aquino, tal incompatibilidade não existe. Pois quando Deus usa de misericórdia, não obra contra sua justiça, mas faz algo que está acima dela. Por onde se vê que a misericórdia não destrói a justiça, mas, ao contrário, é a sua plenitude e perfeição. Por isso, diz o Apóstolo São Tiago: "Haverájuizo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento " (Tg 2,13). 22 Convém notar que . em nossos dias, nos quais tanto se fala de 'justiça social", fala-se também, de modo equivocado, de misericórdia

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Notas:

e de caridade. Pois, segundo certas correntes progressistas, os pobres e os necessitados "têm direito" às mesmas op01tunidades que os outros. Omitem que os homens foram criados não para galgar postos nesta Terra, mas para se santificarem e assim alcançarem o Céu. Daí os chamados "movimentos sociais", de inspiração marxista, pregarem a luta de classes, invadirem propriedades, roubarem e danificarem o bem alheio. É por isso que muitos da ala esquerdista do clero afirmam a necessidade de "menos caridade e mais justiça", como eles a concebem.

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Bem entendidas, a misericórdia e a caridade em nada se opõem ao exercício da mais estrita justiça, antes constituem o seu complemento. Pois, "longe de os diminuir, a caridade urge e apres_!a os direitos e exigências da justiça, já que, à luz da caridade evangélica, as relações humanas não se estabelecem unicamente no plano meramente natural de homem a homem, mas no plano sobrenatural de filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo". 23 Um verdadeiro católico que vê seu irmão sofrer é levado, pelo amor que tem a Deus e ao próximo, a socorrê-lo na medida de suas pos-

sibilidades. Aliás, "as exigências da justiça podem cumprir-se de uma maneira fria e desumana, inclusive desprezando interiormente seu beneficiário, coisa que jamais poderá fazer a caridade cristã, obrigada como está em ver no necessitado um verdadeiro irmão e um membro padecente do Corpo místico de Cristo. Por outro lado, ajustiça cumpre plenamente seu cometido quando dá estritamente o que deve e nada mais; a caridade, por sua vez, não se contenta com isto, mas vai muito mais longe, atendendo o próximo com generosidade e largueza até exceder as exigências da justiça.

1. Plínio Corrêa de Oliveira, em sua obra Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo, (Editora Vera Cruz, São Paulo, 1974, pp. 13 e ss.) explica que algumas palavras, em torno de seu significado legítimo, começaram a ser utilizadas pela imprensa "de um modo tão forçado e artificial, com ousadias tão desconcertantes e sentidos subjacentes tão vários ", que causava a impressão de que havia nisso algo de intencional, uma lógica interna, planejada e metódica, em que "cada palavra constituía um como que talismã a exercer sobre as pessoas um efeito psicológico próprio. E o conjunto dos efeitos dessa constelação de talismãs nos parecia de molde a operar nas almas uma transformação paulatina, mas profunda ". A isso o Autor qualificou de "palavras talismãs ". Assim , são usadas hoje em dia, entre outras, as palavras "justiça social" e "misericórdia". 2. Pe. Maurício Meschler, S.J., Historia de la Misericordia de Dios, in Explanación

de las Meditaciones dei Libro de los Ejercicios de San lgnacio de Loyola, Editorial Razon y Fe, S.A., Madri, 1951, p.190. 3.ld. lb. 4. Cfr. Pe. Royo Marin, O.P., Misericordia, Obrigatoriedad de las obras de misericórdia, in Gran Enciclopedia Rialp, tomo XVI, p. 16. 5. Pe. Royo Marin, O.P., ld. ib. 6.J.M. Casciaro Ramírez, V. Vegazo Sánches, Justicia, Sagrada Escritura, in Gran Enciclopedia Rialp, Ediciones Rialp, S.A., Madri, 1973, tomo XIII, p. 679. 7. Ramirez.Sanches,, ld.p. 680. 8.ld. lb. 9. Bernardino Linares Montejano, Justicia, Filosofia, in Gran Enciclopedia Rialp, vol.cit., p. 681. 10. E.Brunner, o.e. La Justicia, México, 1961, p.173, apud Montejano, op.cit. p.682. 11. Pe. Antonio Royo Marin, O.P., The Virtue of Justice and its Parts, in The Theology of Christian Perfection, The Foundation for a Christian Civilization, lnc., Nova York, 1987, pp. 378-379. 12. Miguel Angel Monge, op. cit., p. 697. 13. Luis Recaséns Siches, Justicia, Filosofia dei Derecho, in Gran Enciclopedia Rialp, vol. cit., p. 683. 14. A Justiça está na desigualdade cristã, in "Jornal da Tarde" (SP), 9 de junho de 1979. 15. D. Geraldo de Proença Sigaud, S.V.D., D. Antônio de Castro Mayer, Plínio Corrêa de Oliveira e Luiz Mendonça de Freitas, Reforma Agrária - Questão de Consciência, Editora Vera Cruz Ltda., São Paulo, 1962, pp. 31, 32. 16. ln Coleccion Completa de Enciclicas Pontificias, Editorial Poblet, Buenos Aires, p.121. 17. Pe. Royo Marin, Theology of Christian Perfection, p. 643, nota 2. 18. Miguel Angel Monge, Justicia, Teologia Moral, in Gran Enciclopedia Rialp, vol. cit., p. 696. 19. Encíclica Humanum Genus, de 20 de abril de 1884, Editora Vozes, Petrópolis, pp. 20 e 21. 20. Encíclica Quod Apostolici Muneris, de 28 de dezembro de 1878, Editora Vozes Ltda., Petrópolis, p. 8. 21. Pe. Royo Marin, Misericordia, in Gran Enciclopedia Rialp, Tomo XIV, p. 17. 22. Cfr. Pe. Royo Marin, Misericordia, in Gran Enciclopedia Rialp, p. 17. 23. ld. lb. 24. ld. lb.

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1 Festa do Preciosíssimo Sangue

Santo Antonio Maria Zaccaria, Confessor

(No calendário tradicional)

+ Itália, 1539. Foi um dos gran-

Santo Olivério Plunkett, Bispo e Mártir

des santos que se empenharam na restauração da Igreja na Itália antes do Concílio de Trento. Fundou a Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo, ou "Barnabitas".

+ Londres, 1681. Irlandês, ordenado sacerdote em Roma e depois eleito Bispo e Primaz da Irlanda, foi martirizado em Londres. Primeira Sexta-feira do mês.

Santa Maria Goretti, Virgem e Mártir

(No calendário tradicional, Visitação de Nossa Senhora ) São Bernardino Realino, Confessor

+ Lecce (Itália), 1619. Formado em Direito Civil e Canônico, advogado fiscal de Alessandria, no Piemonte, tudo abandonou para servir a Deus na Companhia de Jesus. Primeiro Sábado do mês.

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+ Ferriere di Conca (Itália), 1902. Esta menina de 12 anos incompletos preferiu ser submetida a uma morte cruel, antes que perder sua pureza virginal. Pio XII afirma ser ela "o fruto de lar cristão onde se reza, se educam cristãmente os filhos no santo amor de Deus, na obediência aos pais, no amor à verdade, na honestidade e na pureza ".

dição, pregou o Evangelho na Armênia, na Média, na Pérsia e na Índia, onde foi martirizado. Uma tradição diz que passou pela América, inclusive pelo Brasil. Por seu apostolado e sua morte, confessou a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, da qual du·vidara por momentos.

4 Santa Isabel, Rainha de Portugal Santo Ulrico, Bispo e Confessor

+ Augsburgo (Alemanha), 972. Zelou pela disciplina do clero em sínodos anuais, reafervorou o povo por meio da pre-· gação e de visitas pastorais, protegeu os pobres e fundou mosteiros.

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Santa Paulina do Coração de Jesus Agonizante, Virgem

+ São Paulo, 1942. Oriunda da Itália, aos dez anos emigrou com a família para o Brasil, estabelecendo-se inicialmente em Santa Catarina. Fundou a primeira congregação religiosa feminina brasileira, as Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

10 Beato Pacífico, Confessor

+ Bélgica, 1230. Trovador, converteu-se aos 50 anos, após ouvir São Francisco pregar. Este o recebeu em sua Ordem, enviando-o depois para estabelecê-la em Paris.

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São Tomé, Apóstolo

+ Índia, Séc. 1. Segundo a Tra-

burgo, a cunhada deste mandou assassiná-lo na ausência do Duque.

Beatos Rogério Dickenson e Raul Milner, Mártires

+

Winchester (Inglaterra), 1591. Raul, agricultor analfabeto, abjurou o protestantismo e foi preso no dia de sua Primeira Comunhão. Liberado, passou a auxiliar os católicos perseguidos. Uniu-se ao Pe. Rogério, ajudando-o no ministério clandestino entre os católicos. Encarcerado com o mencionado sacerdote, recusou-se a abjurar a verdadeira fé. Ambos foram executados.

8 São Quiliano, Bispo e Mártir

+

Wurtzburgo (Alemanha), 689. Irlandês de origem, partiu para evangelizar a Baviera. Quando seu apostolado ia ser coroado de sucesso com a conversão do Duque de Wurtz-

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11. São Bento, Abade

(Vide p.16)

respectivamente. Santo Henrique era Duque da Baviera quando recebeu do Papa a coroa do Sacro Império Romano Alemão, por seu zelo em prol da propagação da fé e sua vida profundamente religiosa. Sua esposa, Santa Cunegundes, após a morte do marido, ingressou num mosteiro por ela fundado.

São Camilo de Lellis, Confessor

+ Roma, 1614. De nobre família, foi expulso do exército por mau caráter e vício de jogar. Por causa do jogo, perdeu a fortuna e teve de mendigar. Tocado pela graça, entregouse ao serviço dos enfermos nos hospitais, especialmente dos pestíferos. Fundou para isso a Ordem dos Ministros dos Enfermos, ou dos Camilianos. Morreu vítima de sua caridade, com moléstia contagiosa que contraíra. Leão XIII declarou-o patrono dos hospitais e dos enfermos.

ao cárcere e depois martirizado pelos maometanos.

Beato Inácio de Azevedo e Companheiros, Mártires

+ 1570. Quando estavam a caminho de nossa Pátria, que vinham evangelizar, estes 40 Mártires do Brasil foram vítimas de piratas heréticos protestantes. Em um êxtase, Santa Teresa os viu entrando no Céu.

L São Filastro, Confessor

+ Bréscia (Itália), 386. Acérrimo inimigo dos arianos, foi nomeado pároco de Bréscia.

t Santo Arsênio, Confessor

+ Mênfis (Egito), 412. Romano, retirou-se para o deserto no Egito, a fim de fugir das ciladas do mundo.

~-e Santo Elias, Profeta

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Cruz e foi a primeira a ter notícia da Ressurreição. Antiga tradição diz que morreu no sul da França.

5

Santo Apolinário, Bispo e Mártir

+ Dalmácia, séc. 1. Discípulo de São Pedro, este o sagrou bispo de Ravena, de onde foi expulso pelos pagãos. Foi martirizado na Dalmácia.

São Charbel Makhlouf Santa Luíza de Sabóia, Viúva

+ Orbe (Suíça), 1503. Descendente do Beato Amadeu IX de Sabóia , casou-se com Hugo de Châlons. Perdendo o marido dez anos depois, entrou num convento franciscano.

l5

+ Séc. 1. Irmão de São João, foi um dos três Apóstolos presentes na Transfiguração e na Agonia do Horto. Pregou na Judéia, Samaria e Espanha. Seu sepulcro em Compostela foi um dos mais famosos da Idade Média. Patrono e protetor da Espanha .

São Boaventura, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

+ Inglaterra, 1598 e 1679 res-

+ Lyon (França), 1274. Discípulo de São Francisco de Assis, distinguiu-se por sua sabedoria e piedade. Seus escritos, impregnados de unção sobrenatural, lhe valeram o título de Doutor Seráfico. Gera l dos franciscanos e cardeal, morreu em Lyon durante um concílio.

rânea dos Apóstolos e irmã de Santa Prudenciana, foi de suma generosidade para com os cristãos, manifestando intrepid ez em auxiliar os mártires.

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22

Nossa Senhora do Carmo São Sisenando, Mártir

Santa M aria Madalena, Penitente

Santa Natália e Companheiros, Mártires

+ Córdoba (Espanha), 851.

+ Séc. 1. "Porque muito amou, muito lhe foi perdoado". Acompan hou o Divino Mestre até a

+ Córdoba, 852. Natália e o marido, de origem muçu lmana, converteram-se ao cris-

pectivamente. De família católica galesa, João Jones entrou na Ordem Franciscana em Roma. Enviado para a missão inglesa, acabou sendo preso, decapitado e esquartejado por ód io à fé. João Wall , também franciscano, trabalhou na clandestinidade durante 22 anos no Condado de Worcester, onde foi executado.

1 Santo Henrique li e Santa Cunegundes

+ Alemanha , 1024 e 1033

Pregador audaz e fogoso, portugu ês de origem, foi lançado

+ Roma, séc. li. Contempo-

30 São Justino de Jacobis, Confessor

+ Etiópia, 1853. Lazarista italiano, foi vigário apostólico na Abissínia.

1 Santo Inocêncio 1, Papa

+ Roma, 417. Papa em uma das mais turbulentas épocas da Igreja, quando a Itália era invadida pelos godos e pela heresia pelagiana. Condenou esta última a pedido de Santo Agostinho.

Santa Marta, Virgem Santo Olavo Rei, Confessor

+ Noruega, 1030. Estabeleceu o Catolicismo como religião oficial do Estado.

Santo Inácio de Loyola, Confessor São Germano de Auxerre, Bispo e Confessor

+ Ravena (Itália), 450. Doutor em Direito Canônico e Civil. Ao morrer Santo Amador, bispo daquela cidade, Germano foi eleito para seu lugar.

Nota : Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui apenas seus nomes enunciados, sem nota biográfica.

São Tiago Maior, Apóstolo e Mártir

Beatos João Jones e João Wall, Mártires

São Lourenço de Brindisi, Confessor e Doutor da Igreja Santa Praxedes, Virgem

tianismo, sendo imitados por Félix e Liliosa, também cristãos ocultos. Todos foram condenados à morte juntamente com o monge palestino Jorge, a quem davam abrigo.

2 São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria Santíssima

+ Séc. 1. Descendentes de reis e pontífices, sua maior glória consiste em terem sido pais da Virgem Maria e avós do Verbo de Deus Humanado.

Intenções para a Santa Missa em Julho Será celebrada pelo Revmo. Padre David Franclsqulnl, nas seguintes intenções:

• Missa com especia l menção a Nossa Senhora do Ca rmo (cuja festividade se comemora no dia 16 de ju lho) e a Santo Elias (considerado fundador do Carmelo e celebrado no dia 20), rogando graças pela salvação eterna de cada um dos assinantes e leitores de Catolicismo. E também pedindo graças para uma maior expansão da devoção ao Sa nto Escapulário do Carmo entre os brasileiros, tão necessitados de graças superabundantes nesta época de crise.

I ntenções para a Santa Missa em agosto • Pelos méritos e graças da Assunção da Mãe de Deus ao Céu - principal celebração mariana deste mês - , reza ndo pela fid elidade do clero brasi leiro à autêntica doutrina católica, para que o Brasil e nossas famílias sejam preservados das heresias, do ateísmo e dos efeitos da Revolução Cultura l que prejud ica mais profundamente a juventude.

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Livro denuncia o desastre pastoral do Ralliement de Leão XIII ATILIO FAORO

Paris - Diante de seleto público, foi lançado na França o livro Le Ralliement de Léon XIII - L 'échec d'un projet pastoral (A Reconciliação de Leão XIII - o fracasso de um projeto pastoral, em tradução livre), de autoria do historiador italiano Roberto de Mattei. Baseada em ampla e irrefutável documentação, a obra mostra que o Papa Leão XIII frácassou no seu projeto pastoral de convencer os católicos franceses a aderir à República francesa, liberal e anticatólica. E CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

abriu uma via desastrosa pela qual a Igreja renuncia ao ideal da civilização cristã e aceita a modernidade revolucionária como modelo. "O tema a ser tratado hoje poderá parecer limitado à França ou circunscrito a uma época histórica. Na realidade, falar do Ralliement nos ajuda compreender numerosos problemas atuais, não somente quanto à política da França, mas também no que diz respeito à vida da Igreja". Com essas

palavras o Prof. Roberto de Mattei iniciou sua palestra para cerca de 130 pessoas reunidas no conhecido Salon Hoche, em Paris, no dia 30 de abril de 2016. A sessão foi patrocinada por quatro associações francesas: Fédération Pro Europa Christiana, Société française pour la défense de la Tradition, Familie et Propriété e as associações Droit de Naftre e Avenir de la Culture. Para o intelectual e historiador italiano de renome internacional, o assunto de seu livro não é a figura do Papa Leão XIII - que reinou de 1878 a 1903 - nem o seu magistério, mas a sua política de governo, com ênfase particular no que ficou conhecido como o Ralliement, isto é, "a política de conciliação e de compromisso entre a Santa Sé e a Terceira República francesa, maçônica e laica ". O documento-base dessa política fo i a encíclica Au milieu des sollicitudes, de 16 de fevereiro de 1892. "Este Ralliement em relação à Terceira República francesa pode ser considerado tanto como projeto político quanto pastoral", explicou o conferencista. "O projeto político nasce da tentativa de resolver a chamada Questão romana apoiando-se na Terceira República francesa para combater a monarquia italiana, culpada de lhe ter subtraído os Estados Pont[flcios. O projeto pastoral se baseia num novo relacionamento com a modernidade. Leão XIII a combatia no plano filosófico, mas pensava que era possível reconciliar-se com ela no plano político ". Prosseguindo sua explanação, o Prof. de Mattei afirma que "o projeto de Leão XIII era de convencer os católicos franceses a mudar de atitude em relação à República". Os católicos no fim do século XIX "eram na sua grande maioria monarquistas e monarquistas enquanto católicos. Seus modelos eram a França de São Luís e de Santa Joana D 'Are, onde o rei era um coacfjutor de Nosso Senhor na Terra". "A Terceira Republica se estabeleceu na França após a queda de Napoleão III, em 1870. A partir das eleições de 1877, que levaram ao poder governos maçônicos

e laicos, foram aprovadas leis que resultaram na expulsão dos jesuítas, na interdição dos sacerdotes católicos de ensinar nas escolas públicas, na abolição do ensinamento católico em todas as escolas, na introdução do divórcio, na obrigação do serviço militar para os clérigos. Apesar disso, Leão XIII estava convencido da possibilidade de um acordo entre a Santa Sé e a classe politica republicana. Para ele, a responsabilidade do anticlericalismo da Terceira República era dos monarquistas, que combatiam a República em nome da sua Fé católica". "A mencionada encíclica Au milieu des sollicitudes não pedia aos católicos para se tornarem republicanos, mas as diretrizes da Santa Sé aos núncios e aos Bispos, provenientes do próprio Pontifice, interpretavam a sua encíclica de 1892 neste sentido. Uma parte da Hierarquia católica na França atribuía à encíclica un caráter de infalibilidade. Exercia-se sobre os .fiéis uma pressão sem precedentes, a ponto de lhes fazer crer que aqueles que continuassem a sustentar a monarquia cometiam um pecado grave. Alguns fiéis foram impedidos de comungar por terem cometido 'um pecado de monarquia'.

Prof. Roberto

de Mattei

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Os católicos e os monarquistas se dividiram em dois grupos, os 'coligados' e os 'refratários ', rep etindo uma situação análoga à da época da Revolução Francesa com a Constituição civil do clero, na qual havia sacerdotes 'juramentados ' e 'refratários '". Para o Prof. de Mattei, "apesar do engajamento de Leão XIII e do Cardeal Rampo!la, seu Secretário de Estado, o Ralliement com a Terceira República fracassou, não chegando a realizar os objetivos a que se propunha nem no plano pastoral - a cessação do anticlericalismo na França - , nem no plano politico a recuperação dos Estados Pontifi,cios ". "Mas as consequências desastrosas do Ralliement aparecem em toda a sua evidência, sobretudo na França, logo após a morte de Leão XIII, ocorrida em 20 de julho de 1903. Em outubro desse mesmo ano, mais de l O mil escolas mantidas por congregações religiosas foram f echadas. Na Sexta:feira Santa de 1904, todos os crucifixos foram re-

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tirados das escolas e dos tribunais, e no dia 7 de julho do mesmo ano a República.francesa, após ter expulsado as congrega<jões de ensino católicas, as excluiu de todo o ensino público, até mesmo aquelas que estavam autorizadas legalmente para isso. No dia 29 de julho de 1904, as relações diplomáticas entre a França e a Santa Sé foram rompidas. ''Tendo chegado o momento previsto de aplicar a lei de 11 de dezembro de 1905 sobre a separação entre a Igreja e o Estado, várias medidas anticlericais sob o governo de Clemenceau foram brutalmente aprovadas em dezembro de 1906. A igreja na França perdeu um património de 450 milhões de .francos, ou seja, um montante superior dez vezes ao orçamento anual do culto. " Pouco antes de encerrar, o Prof. de Mattei emitiu sua apreciação de historiador: "Nós podemos hoje afirmar que há um percurso desastroso de Leão XIII até os nossos dias, um percurso no qual se renuncia à tese da civilização cristã. E a hipótese da aceitação da modernidade torna-se o modelo irreversível. Entre doutrina e pastoral, entre teoria e prática deve haver uma intima coerência. Esta coerênciafaz fàlta no projeto pastoral de Leão XIII. " Aplicando ao que atualmente se passa na Igreja, Roberto de Mattei deplora que "hoje se nos propõe uma mudança pastoral que conduz necessariamente a uma mudança doutrinária. O Bispo de Oran (Argélia) , D. Jean-Paul Vesco, afirmou em uma entrevista concedida ao hebdomadário La Vie em 11 de abril de 2016, que na Exortação Apostólica Amoris Laetitia do Papa Francisco 'nada muda na doutrina da i greja e, entretanto, tudo muda em relação ao mundo moderno'. É bem o projeto pastoral do Ralliement aplicado à época atual". ❖

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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promove palestras sobre o Impeachment RODRIGO DA COSTA DIAS

1 nstituto Plinio Cor.rêa de Oliveira promoveu no dia 19 de maio no Clube Homs (São Paulo), duas conferências sobre o tema Brasil pós-impeachment. Tratou-se das chamadas " pedaladas fiscais" da presidente Dilma Rousseff e do processo de impeachment. Os expositores foram o Dr. Leonel Munhoz Coi mbra, auditor do Tribunal de Contas da Uni ão (TCU), e o deputado federal Paulo Eduardo Ma rtins (foto à direita). Após saudar os presentes, o Dr. Leonel Coim bra externou sua admiração pelo Instituto, agradecendo pelo trabalho que reali za

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na "preservação da memória e na difusão do p ensamento desse extraordinário brasileiro que é Dr. Plinio Corrêa de Oliveira ". Em seguida, mostrou com muita clareza a liceidade do atual processo de impeachment, cujas causas vão muito além das "pedaladas ficais". O TCU emitiu dois acórdãos analisando as contas do governo federal do ano de 2014 e solicitou à presidente da República para apresentar as justificativas de sua conduta. Entre os pontos examinados pelo TCU figuravam o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, o desempenho da economia brasileira no período e as providências adotadas pelo governo para a correção das falhas apontadas referente ao exercício de 2013. O desempenho da economia brasileira em 2014 foi o pior resultado do PIB desde 2009, sendo nosso PIB inferior ao de países como o Cazaquistão. A inflação saiu de controle e o Brasil começou a ter um crescimento inferior às médias dos BRICs; a oferta de emprego e o consumo estagnaram, a poupança nacional diminuiu, a taxa de investimento caiu e a taxa de juros subiu; o real perdeu seu valor em relação ao dólar e o rating de risco do Brasil piorou. Isso em 2014. Depois a situação continuou piorando.

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Os auditores começaram a observar que a União não contabilizou em seu passivo certas operações que deveriam ter sido contabilizadas para compor a sua dívida. E perguntaram como é possível que valores de financiamentos concedidos à União, no montante de R$ 40,25 bilhões, estejam registrados nos ativos do Banco do Brasil, BNDES e do FGTS sem a devida contrapartida? Onde foram registrados esses passivos? O TCU constatou ainda a ocorrência de "atrasos sistemáticos no repasse de volume expres~ivo de recursos do Tesouro Nacional para a Caixa efetuar os pagamentos de despesas da União, constituindo-se uso desmedido da força institucional do ente controlador soCATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

bre a instituição financeira controlada" (Parecer do TCU, p. 610). Entretanto, as "soluções" cogitadas pelo governo do PT para resolver a crise são: • Aumentar impostos (IR de 40%, heranças 25%, IOF) (PEC 140/2015) • Reduzir valores de aposentarias e pensões com reajustes abaixo da inflação = sacrificar idosos, viúvas e órfãos. • Dar uma "uma guinada à esquerda" com mais apoio, ou seja, mais dinheiro para os movimentos sociais. • Reduzir o orçamento dos órgãos de controle e congelar salários do funcionalismo público, especialmente Polícia Federal e auditores do TCU. • Anunciar um novo PAC. • Aumentar gastos com publicidade. A situação do governo federal pode ser comparada à de uma pessoa que estourou o limite do cheque especial, fez vales na boca de caixa da empresa onde trabalha, soltou cheques pré-datados para pagar com o salário do próximo mês e ainda quebrou o "porquinho" com as economias das crianças para suprir despesas domésticas etc. Uma pessoa assim se descontrolou financeiramente. É isto o que, segundo o auditor do TCU, aconteceu no governo de Dilma Rousseff. Tern1ü1ou a palestra afirmando que a solução já tinha sido prevista pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: "Se simplesmente aqueles que são bons tivessem consciência do momento atual, se eles tivessem consciência do que eles poderiam, caso se levantassem e se unissem[ ..]. Eu não quero dizer que com o simples fato de se levantarem, ganhariam a batalha. Mas eu afirmo, pelo menos, que eles se levantando, a batalha teria outra fisionomia e seria a letra maiúscula de um capítulo de ouro cuja palavra.final seria VITÓRIA! ". Fotos e vídeos das conferencias podem ser acessados no site do Instituto, no link: http://ipco.org.br/ipco/video-da-conferencia -i mpeachment-da-d il ma-pedaladas-fiscais/#. V2fpl9KU3IU *

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A segunda conferência foi proferida pelo deputado federal e jornalista Paulo Eduardo Martins, figura conhecida nos meios conservadores. O presidente do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, Dr. Adolpho Lindenberg, o apresento\! dizendo que certamente ele é uma esperança para o novo quadro político brasileiro. O deputado parabenizou a apresentação do Dr. Leonel Coimbra, afirmando que, "diante de tantos fatos tão bem detalhados e explicados de uma forma tão didática, se Dilma Rousseffestivesse presente nesta sala, ela diria: 'Eu confesso!'" O orador observou que durante as discussões no Congresso Nacional, até jornalistas e apresentadores de telejornais estavam convencidos de que houve as tais "pedaladas fiscais" e crime de responsabilidade fiscal. Contudo, continuavam afirmando que a Dilma é uma pessoa honesta. Disse enfaticamente que ela fez parte de uma organização visando "assaltar" a Petrobras. Em "uma empresa do porte da Petrobras, o presidente do Conselho (cargo ocupado por Dilma de 2002 até 2010) e demais conselheiros recebem minuciosos relatórios de técnicos competentes, auditoria externa [ ..], ela não tinha como não saber". Tanto o processo de impeachment de Collor quanto o de Dilma só começaram a andar após as manifestações do público; se não fosse a pressão da opinião pública, o processo jurídico não teria ocorrido, assinalou. Para o deputado, os políticos em Brasília vivem numa outra realidade. Eles não compreendem os autênticos anseios da opinião pública e formam suas opiniões pelo noticiário da mídia. Apresentou propostas para a renovação e reforma do sistema eleitoral e conclamou os presentes a não abandonar as manifestações nas ruas. *

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A conferência foi encerrada pelo Dr. Adolpho Lindenberg. Ele afirmou que, se tivesse oportunidade, proporia ao presidente interino do nosso País, tomar conhecimento da conferência do Dr. Leonel Coimbra, para

entender a real situação em que recebeu o governo do Brasil. É um caminho semelhante ao da Venezuela. Agradeceu aos palestrantes por suas exposições e se referiu também ao apoio que o deputado Paulo Eduardo Martins concedeu à Caravana do instituto Plinio Corrêa de Oliveira na cidade de Curitiba na época em que os jovens caravanistas sofreram um ataque de adversários. Por fim, ressaltou que o Instituto procura alertar a população contra os desmandos de um regime socialista, estatista e populista. ❖ catolicismo@terra.com.br / JULHO 2016

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Idealismo, nobreza de alma que a todos convém SANTIAGO LAIA

á certas palavras que se vão transformando ao longo das gerações; às vezes elas significam determinada coisa, embora sua musicalidade lhe confira um simbolismo um pouco diverso. É o que ocorre, por exemplo, com a palavra "ideal" e, por extensão, "idealismo". Mesmo as gerações de nossos dias percebem que a palavra "ideal" reveste-se de certa ressonância, de certa luminosidade sonora, que lhe dá um significado especial.

gargalhada ou o ultraje dos malévolos e imbecis, cujo número é considerável. Tais debiques ele os enfrenta com superioridade destituída de arrogância, mas não os revida. Não entra no campo baixo das injúrias pessoais. Mas se chegar a receber urna agressão física, então responde com a altaneria e a eficácia de quem sabe defender sua honra e está preparado para isso. É o jovem que se tem oposto por esta forma a uma imagem antiquada e errada do que significa ser "bom jovem" no Brasil. "Esta

"O modo próprio de dizer 'ideal' quase obriga a canta,"· É uma palavra que, de alguma maneira, força o menor dos poetas a exclamar como num cântico: 'Oh Ideal! '" 1

imagem falsa do jovem é o funeral da própria bondade. Se, para ser bom, um jovem tivesse de ser um su~jovem; se tivesse de renunciar a tudo aquilo que forma o brilho da j uventude; se não tivesse de ser combativo; se não tivesse de ser intransigente em favor do bem e da verdade; não devesse ser verdadeiramente um cruzado; se não tivesse a coragem de falar alto e bom som; se não tivesse de discutir;

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Está surgindo um tipo novo de jovem.

"Não é o jovem revoltado, inconformado, preguiçoso. O novo tipo de jovem não tem medo de se afirmar, não é indiferente e não vive exclusivamente para o trabalho e a carreira " [... ]. É o jovem idealista, enérgico, realizador, corajoso, abnegado". 2 Ele gosta de pensar, gosta de analisar os acontecimentos e os fatos para formar sua opinião, tantas vezes contrária ao politicamente

correto. Ele busca sua fonte de inspiração em algo para o qual valha a pena viver, como é a doutrina autêntica da Igreja Católica, que pode ser o sol que ilumina seus caminhos. É, sobretudo, o jovem que não se incomoda de sair às ruas para defender uma causa e receber muitas vezes a incompreensão, a CATOLICISMO / www.catolicismo.com .br

não soubesse argumentar; se não soubesse proclamar o porquê de ser puro de costumes - se um jovem, para ser bom, não devesse ser assim, mas devesse ser um subjovem, seria o caso de dizer que a bondade não é bondade ". 3 Este jovem, que se ufana de ser católico, ele também se proclama puro e combativo.

"Compreende que a impureza é uma vergonha, e que a pureza por amor de Deus é uma glória. "4 Compreende que o jovem ter um ideal e lutar por ele, renuncia legitimamente a fazer urna carreira sem desprezar os que ass im agem. E ele sabe dizer claramente as verdades para cada um; apoia os que têm reta intenção, mas é altaneiro e mais forte contra os mal-intencionados. Coloca-se no âmago da luta e enfrenta com destemor, contudo, sem prepotência, os que o desafiam. E le di vide o ambiente em que está. É como um faro l em meio da tempestade, contra o qual as águas da opinião pública se dividem em doi s caudais. Tal jovem separa os bons dos maus, o belo do feio e a verdade do erro, seguindo Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio para ser "um sinal de contradição" (Lc 2,34). *

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Com a intenção de formar esses jovens que buscam o Idealismo que a Ação Jovem

pela Terra de Santa Cruz e a Frente Estudantil Lepanto promoveram no último feriado de Corpus Christi os seus já conhecidos acampamentos de formação católica. Entre os dias 25 a 29 de maio, o evento realizou-se em três cidades simu ltaneamente: Brasília, Curitiba e Campos dos Goytacazes (RJ). Para eles acorrem jovens cansados da falta de horizontes mentais e espirituais do mundo moderno. Nos acampamentos foram abordados temas como Cavalaria, História da Idade Média, Doutrina Católica. Através de exemplos significativos da Cristandade, foi apresentado aos jovens um mundo que faz reviver nas almas o idealismo, a nobreza e o desejo de estar à altura dos grandes embates em prol do bem e da verdade. Ao final de cada reunião, havia uma sessão de perguntas e respostas para elucidar dúvidas, como também avaliar o grau de atenção e assimilação do conteúdo dela. Durante todas as refeições eram lidas diversas notícias da atualidade, realçando para

os presentes a necessidade de uma sadia reação aos erros e calamidades do mundo de hoje. Os tradicionais "jogos medievais", iluminados pela luz de tochas e ao som de gaitas de fole, lembraram a têmpera e a varonilidade do Cruzado medieval, convidando todos a terem não só força e agilidade, mas também santa perspicácia e astúcia do verdadeiro católico. Um solene jantar à luz de velas, em estilo medieval, marcou o final das programações, causando profunda alegria no semblante de todos. Não apenas o contentamento por um beneficio recebido, mas aquela calma alegria que brota do espírito refletido e idealista. Nessa perspectiva, o convívio transcorreu o tempo todo de modo elevado, ameno e agradável.

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Caro Jovem, é a você que me dirijo, Se você está cansado dos prosaísmos da vida contemporânea, está cansado da agitação, do frenesi e do corre-corre sem sentido de todos os dias ... Ou, ainda, está cansado da inanição causada pelos produtos eletrônicos ... Se está cansado do errado, do feio e do horrendo que a todo momento nos assalta, seja na escola, seja nos ambientes públicos, por toda parte... Pelo contrário, se você deseja uma vida cheia de luzes, de heroísmo e aventuras em prol dos mais altos valores do Brasil e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana ... Se você deseja conhecer a verdade, o belo e o maravilhoso; em síntese, se você almeja ser verdadeiramente um católico militante, ter um ideal, eu o convido: junte-se a nós, seja um idealista do século XXI, nobre impostação que a todos convém. Entre em contato conosco para nos conhecer e combinar sua inclusão na próxima programação. Eis nosso e-mail para esse efeito: eventos@lepanto.com.br. ❖ Notas:

1.Trecho do livro Idealismo, Nobreza de Alma que a todos convém, Leo Daniele, Artpress Industria Gráfica e Editora Ltda, São Paulo, p.15. 2. Op. cit., p. 29. 3. Op. cit., p. 29. 4. Op. cit., p. 30. CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

Em Roma, import ante manifestação contra o aborto SAMUELE MANISCALCO

Roma - Proclamando em alta voz NÃO ao aborto, realizou-se na manhã de domingo, 8 de maio, em Roma, a sexta edição da Marcha Nacional pela Vida e defesa dos princípios não negociáveis. Abriram o cortejo S. Emcia. Cardeal Raymond Leo Burke, Patrono da Soberana Ordem Militar de Malta, S. Exa. Mons. Luigi Negri , Arcebispo de Ferrara (primeiro bispo italiano a participar deste evento), e S. Exa. Mons. Athanasius Schneider, Bispo-auxiliar de Astana, Cazaquistão (foto). catolicismo@terra.com.br / J ULHO 201 6

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No coração da Cristandade, milhares em seu discurso de abertura a cifra do masde pessoas com centenas de faixas e bandeisacre causado pela legalização do aborto na ras das respectivas associações ocuparam as Itália. ruas para fazerem ouvir "Nestes 38 anos, em sua voz. Estavam tamhospitais italianos f oram bém presentes numerosos mortas mais de 5 milhões sacerdotes e seminaristas, e 700 mil crianças. Hoje a maioria deles de batina, .fàlamos em cerca de J 00 como também numerosas mil abortos por ano, uma religiosas de várias concriança morta a cada gregações. 5 minutos e meio. Mas Iniciada na Praça ninguém quer contabiBocca della Verità, a 300 lizar estes números [. ..] metros do Circo Máximo Um assassinato repetido - em cuja arena inúmecinco milhões de vezes ros mártires preferiram não se torna um direito, enfrentar as feras a repuporque os direitos não diar a Fé Cristã - , a masurgem da dependência nifestação terminou na ao mal: torna-se um geVirginia Coda Nunziante Praça de São Pedro, onde nocídio. Como podemos o Papa Francisco, após a oração do Regina permanecer em silêncio diante de tal genoCoeli, qirigiu, de passagem, brevíssima saucídio ?" dação aos milhares de participantes presentes. Ostentando suas características capas Virgínia Coda Nunziante, porta-voz navermelhas e estandartes auri-rubros com o cional para a Marcha pela Vida , relembrou leão rompante, cerca de 40 sócios e coopeCATOLICI SMO / www.catolicismo.com.br

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radores de TFPs da Europa e dos Estados Unidos parti cipa ram da marcha, a qual contou também com a presença de um jovem da TFP escoce a vestindo o tradicional kilt, que executava mú icas tradicionais em sua gaita de fole. Muitos transeuntes se fizeram fotografar ao lado dele. Estiveram ainda presentes à mar ha, apoiada este ano por 114 associaçõe estrangeiras de 29 países, delegados de vária a sociações coirmãs de TFPs, que fazem parte da vasta família de almas inspirada por Plinio Corrêa de Oliveira. À vista do quadro dantesco do aborto, reveste- e de grande mérito a iniciativa da instituição Ordo luris, da Polônia, iniciativa da TFP daquele país, que elaborou o texto de um projeto - logo assumido pelo partido da maioria Direito e Justiça - visando abolir toda e qualquer forma de aborto em território polonês. Entre as autoridades eclesiásticas que expressaram seu total apoio à iniciativa, cumpre citar o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; o Cardeal George Pell, Prefeito da Secretaria de Assuntos Econômicos da Santa Sé; o Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e o Arcebispo Paul Richard Gallagher, Secretário para as Relações com os Estados. Nos dias anteriores à Marcha, em dois congressos separados, importantes persona1idades do mundo eclesiástico e civil fizeram ouv ir a sua voz. No Hotel Columbus, na Via delta conciliazion , durante o simpósio internacional Rom ~ lif e Forum patrocinado pela associação inglesa Voice of the Family, destacados oradores de todo o mundo tornaram possível entender e interpretar teinas de maior atu alidade eclesial. Limitamo-nos apenas a mencionar a intervenção de S.E. Dom Athanasius Schne ider, que realçou como a revolta contra a Lei divina e a Lei natural , que atingiu hoje di mensões apocalípticas, é o resultado de um relativ ismo contra o qual já advertiram o oncílio Vaticano I (1869-1870), São Pio X e Pio XII. O restabelecimento da prática

da Lei nah1ral e moral é a condição para a restauração da civilização cristã. No simpósio "Pela vida sem compromisso",. promovido este ano por Human Life lnternational e a associação italiana Comitê Verdade e Vida no auditório da Libera Università Maria Santíssima Assunta (LUMSA) em Roma, S. Exa. Dom Luigi Negri, no seu discurso de encerramento, definiu a situação atual como um "confronto radical

e, de alguma forma definitiva, entre a concepção secularista da vida e a cristã". O próximo evento para a Itália, sempre em Roma, já foi definido: 13 maio 2017, com a sétima edição da Marcha pela Vida. Uma data não acidental, pois coincidirá com o centenário das aparições de Fátima. ❖

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AMBIENTES• COSTUMES• CJVJLIZACÕES

AMORTE DE STALIN AYITÓRII DE DEUS PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

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á um. a narração da morte de Stalin, redigida por sua própria filha, que é muito bem feita. Ponham diante dos olhos as vastidões do Kremlin . Misteriosa forta leza-palácio, inteiramente murada, em Moscou. Dentro dela, mais um drama se desenrola: a morte do ditador · Stalin. Um homem devasso, que está expirando. A inevitável doença, ou envenenamento, que atinge determinado paroxismo e que produz o estraçalhamento, a dilaceração: a alma está se separando do corpo. Stalin encontra-se impotente, mas seu organi smo poderoso luta contra a morte. Mas, apesar dessa reação - um a espécie de f(u-ia selvagem e de poder biológico e psico lógico - , a morte vai prostrando o ditador. Ele vai sendo estraçalhado e reagindo com uma impetuosidade, uma força de resistência maior à medida que vai notando que os go lpes da morte vão se abatendo sobre ele. Constata-se, porém, que Stalin morre longe da graça de Deus. Nada há que externe a ideia de reli gião. A vida dele fo i a de um ateu e de um propugnador do ateísmo. De um homem que, ainda que se às ocu ltas acreditasse em Deus , de tal maneirá ofendeu o Criador, que é de se pres umir que tenha caído no pecado de desespero, ou no pecado da negação da ex istê ncia de Deus. Portanto, morrendo com ódio, desesperado. Sua reação é vã, o ar vai faltando, sua natureza está minada por todos os lados. Em certo momento, o ditador percebe a situação em que se encontra. Ele, que não tinha feito outra coisa na vida a não ser governar pelo terror, impulsionado pela força do ódio, abre os olhos e - talvez sem dar-se bem conta do que estava acontecend o, considerando-se envenenado ou vítima de uma conspiração - fita todos os prese ntes no loca l

com um o lhar terrível ; e, se ntindo confusamente que estava sendo derrotado, procura ainda reag ir. A seguir, leva nta o braço num gesto de ameaça - a úni ca coisa que ele sabia faze r. Pouco depoi , Deus chama sua alma para julgamento. O braço cai , ele não é se não um cadáver. O homem que passou a vida inteira odiando, e que hav ia gove rnado com brutalidade, verga, qu ebra, rui . Sobrevém a plac idez do cadáver. Para uma pessoa qu e sabe interpreta r essas cenas com os olh os da fé, uma só coisa constata como epílogo: a vitória de Deus! ❖

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 13 de j aneiro de 1975. Sem revisão do autor.

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SlMÁlllO

EXCEllTOS

Atentado terrorista em Nice e uma lição da História

e Plinio Corrêa de Oliveira

ement ando em artigo para a " Folha de S. Paulo" (31 -1-1971) o vergonhoso Acordo de Munique (1938), Plinio Corrêa de Oliveira explicita a ment alidade pacifist a daqueles q ue preferem "ceder para não perder" - e acaba m por perder t udo ... Cons iderando esse a rtigo uma lição histórica para os nossos dias e tendo em vista o cruel, bá rbaro e covarde atentado perpetrado pelo terro rismo is lâ mico e m Nice (14-7-16), selecionamos a lguns excertos do mesmo. Frente à atua l invasão da Euro pa pelos " imigra ntes" muçulmanos, j ulgue o leitor se nos deparamos ou não com proble ma análogo: o ma io r perigo é o quimérico PACIFISMO. Ou, como veremos no t ext o que segue, o "AVESTRUZISMO" .

*

Acordo de Munique

náti co fechar os olhos, ceder, recuar. [ ...] O A cordo de M unique não foi apenas um grande episódio da História deste século. É um acontecimento-símbolo na História de todos os tempos. Sempre que haj a, em qualquer tempo e em qualquer lugar, um confronto diplomático entre belicistas delirantes e pacifistas delirantes, a vantagem ficará com os p rimeiros e a frustração com os segundos. E se houver um homem lúcido a considerar o confronto e a frustração, censurará os Chamberlains e os Daladiers do futuro com as palavras de Churchill: 'Tínheis a escolher entre a vergonha e a guerra: escolhestes a vergonha

e tereis a guerra '. [... ] O que é esse neopacifista avestruz? É o que fecha os olhos para o perigo interno, como o de 1938 os fechava para o perigo externo. [ ...]. Quando a onça comunista [poderíamos hoj e substi tuir por "onça islam ita"] se ti ver cevado à vontade comendo a carne e os ossos da sociedade atual, comerá o avestruz! Enquanto isto não se der, o avestruz continuará com a cabeça metida na areia. (... ] Se se deixar o campo livre aos avestruzes, não haj a dúvidas. [ ... ] Escolheremos Nice - Recente ataque terrorist a muçulmano a vergonha para fugir da luta. E depois cairemos num pandemônio. O que fazer, então? - O contrário do que faz o avestruz. Criar um estado de contínuo alerta contra o 'avestruzismo' e seus perigos. Pregar a lucidez, a previdência, a luta ideológica onde o avestruz pratica a política dos olhos fechados, da despreocupação tonta, da inércia ideológica frívola e das concessões imprudentes. * íntegra desse artigo no link: Repito. O grande perigo do momento não é o comunismo [ou " islamismo", http://www.plin iocorreadeoliveira.info/ poderíamos hoj e dizer], nem o esquerd ismo em si. É o 'avestruzismo'". ••• FSP%2071-01-31%20Chu rchi 11.htm CATOLI CfSMO / www.catolicismo.com.br

EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

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DESTAQUE Aná lise crítica da Exortação Apostólica Amoris laetitia

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CORRESPONDÊNCIA

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A PALAVRA DO SACERDOTE Conselhos para uma boa confissão Dirc for:

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A REALIDADE CONCISAMENTE POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? Processo de autodemolição da Igreja

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"É próprio ao belicismo fanático delirar e agredir. É próprio ao pacifismo fa-

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2

COMPORTAMENTO Gravata. Com ou sem? O que ela representa

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ESPLENDORES DA CRISTANDADE Portugal - um castelo e os ideais do país

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A1lminist raçiio: H1111 Vi~cond,• tlc Ta111111y, 36:1 Bom Retiro CEP 0·1132-000 São Paulo - SP Scr vi,,o de A tc1.1di111cuto no Assina,ote::

(J l) 33:31-452'.l (11 ) :1361-6977 (] 1) 3331-4790

CAPA

VIDAS DE SANTOS São Bernardo de Claraval

48

.hmm lfata n ~,sponsávd : Nelsou Hu111os Barn,tto Regis1rnJo nn DBT/ DF $Oh o 11" 31 l6

(] 1) 284,3-9•t87 Reino Unido, rejeição da República Universal

43

Pa11lo Conêà de Brito Filho

SANTOS E FESTAS DO MÊS

(li) 3:133-6716 ( 11) :H3 I -5631 fax Corr:cs1~omlénci.n: (:uixi, Postal 707

CEP Ol031.-9i0 ::ião J>a11lll-SP Jmp1·cssâo1 Prol Edi 1.ora (;r6 fi1·11 Ll'da.

E-1netil: cn Lu)id~n,0@1 cr ru.co 111. l.1r

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AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA Polônia - Petição de total proibição do aborto

H<iutc Page:

www.catolicisn,u.co1n.br

I.SSN O102-8502

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AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES Basílicas de São João de Latrão e de São Pedro

Pt·c-.~os da assinnl ura anual

pnrit o mê, de Agc>sto dç 2016: Comuu1:

NOSSA CAPA:

H$ IU0,00

Cooporu\lor:

H$ 270,00

Bonfei1 0,·: Cranrli, B cufoito,·:

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Ex.,,nplar avulso:

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Fotomontagem do ateliê artístico de Catolicismo

C \TOLI Cl~MO •'>ul,lic.uçtio u1~11~d d;t €<liLota Putlro BclcbioT dt Pouh·$ I.Jtdn.

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DESTAQUE

CARTA DO DIRETOR

PRONUNCIAMENTO DO INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

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Caro leitor, No início dos artigos que compõem a matéria de capa desta edição colocamos algumas notas que explicam as razões de nos ocuparmos de um tema de alcance internacional: a saída do Reino Unido da Uniã.o Europeia (UE) - o já famoso Brexit. Desde seus primórdios, em fevereiro de 1952, nossa revista analisava o cerne desta problemática. U m artigo do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, publicado naquele ano, alertava para o enorme alcance da fundação dos "Estados Unidos da Europa". Embora naquela época ainda não existisse a UE, nem os burocratas de Bruxelas que atualmente a dirigem, já se planejava a constituição da Federação Europeia, sua precursora. Dentro dessa mesma temática, reproduzimos também dois artigos de Plinio Corrêa de Oliveira que revelam sua visão premonitória dos acontecimentos internacionais. Foram eles publicados em l 943 no "Legionário", jornal do qual era então diretor. Ao tomar conhecimento desses textos, o l.e itor poderá comprovar a impressionante e equilibrada previsão do Prof. Plínio a respeito do assunto. E le apontava, a par de algumas vantagens, os imensos riscos inerentes àquele proj eto de unificação dos povos europeus. Ainda hoje, apesar da decadência de todas as coisas, quem viaja pelo continente europeu encanta-se com a variedade e diversificação de espírito de seus habitantes. Em Portugal, nossa Mãe Pátria, a mansidã.o, a bondade e a galhardia do autêntico povo ressaltam a solidez do espírito luso. Na Espanha, nota-se a vivacidade de uma população alegre e combativa, que durante séculos lutou contra os maometanos. Na França, reluz o alto nível de uma cultura que influenciou profundamente nações no mundo inteiro. Na Alemanha, é patente o gênio político que modelou o Sacro Império Romano Alemão, cuja existência, só possível graças à Áustria, estendeu-se até 1806, constituindo uma glória na história universal. Na Itália, uma joia de vários Estados diversificados, que sob a influência do Papado produziu maravilhas culturais e artísticas. Poder-se-ia prosseguir a enumeração de valores variados em todas as nações europeias, mas o acima exposto é suficiente para exaltar a sua magnificência e lamentar a sua homogeneização anorgânica e artificial, buscada pela UE. Roguemos a nossa Mãe Maria Santíssima que vele por seus filhos europeus e impeça que as maravilhas produzidas por e les durante séculos sejam definitivamente substituídas por uma realidade sem ligação com suas raízes históricas. Desejo a todos uma boa leitura. Em Jesus e Maria,

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Catolicismo julga oportuno apresentar a seus leitores elementos essenciais de um importante documento de autoria do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira sobre a Exortação Apost ólica Amoris laetitia. Nossa revista oferece assim um meio para se avaliar a gravidade da crise que atinge hoje tanto a esfera espiritual quanto a temporal. No fina l é indicado o site do Instituto, para que os leitores possam tomar conhecimento da íntegra do documento. A Direção de Catolicismo

A Amoris laetitia abre os braços da Igreja e da sociedade para a demolição programada do casamento e da família Apelo aos Prelados e movimentos leigos silenciosos

F

ace às sérias reservas e objeções apresentadas por personalidades da Igreja e do laicato católico à Exortação Apostólica Amoris laetitia (AL), bem como à crescente cqn:fusão que esse documento vem semeando nos espíritos em temas de moral familiar, o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira j ulgou seu dever se pronunciar publicamente a respeito. No dia 16 de julho, festa de Nossa Senhora do Carmo, ele emitiu uma declaração pública sob o título acima. Integrado por leigos católicos, o rnstituto tem-se empenhado desde sua fundação na defesa da instituição da família, alvo central da ofensiva revolucionária no sécul.o XX.l. O documento lembra os quase 900 mil fiéis de todo o mundo, incluindo Cardeais, Arcebispos e Bispos, que enviaram ao Papa Francisco uma Filial Sú-

plica, na qual Lhe pediam respeitosamente que não permitisse "a relativização do próprio ensinamento de Jesus Cristo" no tocante à família. Após a publicação de Amoris laetitia, esse escol da população católica mundial só experimentou o gosto amargo da decepção. O Papa Francisco, tão pródigo em receber e afagar acatólicos e até anticatólicos do mundo inteiro, não teve uma palavra para esses fiéis.

Grave ruptura com o ensinamento da Igreja - Relativização do Decálogo Caberia esperar que um documento pontifício dedicado à fam ília advertisse sobre essa gravíssima ameaça. Mas, pelo contrário, na AL se encontra uma indissimulada mudança fundamental na prática pastoral catolicismo@terra.com.br / AGOSTO 2016

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Evolucionismo antropológico - inversão da ordem nas finalidades do casamento

relativa aos chamados "casais inegulares", e em particular aos divorciados ditos " recasados", permitindo que sejam absolvidos na confissã,o e recebam a Sagrada Comunhão, com a única ressalva de que sej a "caso a caso", conforme o " discernimento" do sacerdote. Autorizadas figuras da Igreja e do laicato têm denunciado que tal mudança não é apenas disciplinar, mas imp.lica grave ruptura com o ensinamento tradicional da Igreja. E pedem, portanto, a revogação da AL, pedido ao qual o i nstituto Plinio Corrêa de Oliveira se soma fundamentadamente. Isso se dá enquanto eclesiásticos progressistas aplaudem calorosamente a AL. O cardeal Cristoph Schõnborn, ao apresentar oficialmente o texto, regozijou-se porque este "supera" a divisão - que ele julga "attificial"- entre uniões ditas regulares e irregulares, ou seja, líc itas e pecaminosas. De fato, para a AL, conforme as circunstâncias, o concubinato e o adultério (ela evita as palavras, mas o sentido é claro) poderiam até constituir uma "doação" a Deus! - havendo inclusive, nessas situações de pecado, "sinais de amor" que· ''refletem de algum modo o amor de Deus". Com essa linguagem insidiosa, não apenas perdem sua validade prática o VI e o IX Man6

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damentos ("Não cometerás adultério" e "Não desejarás a mulher do teu próximo"), mas é toda a ordem natural e divina sintetizada no Decálogo que fica relativizada, em nome de uma apreciação subjetiva das circunstâncias.

Um novo modelo familiar anti-hierárquico Gravemente questionável é também o modelo "comunitário" de família proposto pela AL, que abw1da em alusões negativistas e depreciativas à família tradicional baseada na autoridade paterna, enquanto apresenta a figura idílica de um modelo familiar igualitário, que despoja o marido de sua função de chefe de família e dilui o princípio de autoridade. Inclusive desvaloriza o preceito de São Paulo "as mulheres sejam submissas a seus maridos " (Ef. 5: 22) - , aduzindo ser uma mera "roupagem cultural" da época. E nisto se contrapõe à doutrina católica magistralmente exposta na Encíclica Casti Connubi de Pio XI, que ensiJ1a ser imutável a ordem hierárquica na fa mília.

Tanto a relativização do adultério quanto o novo paradigma familiar preconizado pela AL se justificariam por uma suposta "mudança antropológica" que estaria a requerer "soluções mais inculturadas", conforme o grau evolutivo dessa mudança em cada lugar. O cardeal Kasper, principal inspirador da AL, fornece exemplos dessa " inculturação", nos quais o sentimentalismo e o subjetivismo erigem-se em critério para admitir divorciados "recasados" aos Sacramentos. Afastando-se do modelo tradicional e institucional do matrimônio e aproximando-se do modelo individualista contemporâneo, no qual o vinculo matrimonial fica reduzido a um mero reconhecimento social e legal do afeto mútuo do casal, a AL consagra uma radical inversão na hierarquia dos fins do matrimônio, ao sustentar que este seria "em primeiro lugar", uma "comunidade da vida e do amor conjugal" . Esta afirmação contradiz frontalmente o ensinamento magisterial da Igreja compendiado na Casti Connubi, de que o casamento "tem por fim primeiro e íntimo, não o aperfeiçoamento pessoal dos esposos, mas sim a procriação e a educação da nova vida. Os outros fins, embora sendo igualmente queridos pela natureza, [ .. .] lhe são essencialmente subordinados ". Nesse sentido, o instituto P linio Corrêa de Oliveira faz notar que, ao se rebaixar a finalidade procriativa do casamento a um segundo lugar e dar a primazia ao "compromisso público de amor", até os indivíduos LGBT poderão alegar que eles também se "amam", e reclamar assim um status matrimonial!

Legítima e respeitosa resistência - Apelo aos Prelados silenciosos Em conclusão de sua pormenorizada e documentada análise, o instituto Plinio Corrêa de Oliveira assinala que, ante um texto tão próprio a desorientar os

fiéis e a diluir neles a adesão aos ensinamentos morais da Igreja, "por um dever de consciência e com todo o respeito que merecem a investidura e a pessoa do Sumo P ontffice, vemo-nos obrigados a externar publicamente os graves reparos que o documento suscita em nós", e "dizer lealmente ao Papa Francisco que não podemos em consciência aceitar os enunciados, a disciplina s,,cramental e as propostas pastorais ,la Amoris laetitia que vimos questionam/o aqui". Ao dar este passo de "legítima e respeitosa resistência" aos pontos da AL conflitantes com a doutrina da Igreja, os membros do rnstituto afirmam em seu documento que se sentem amparados no ensinamento de São Pedro, de que é preciso "obedecer a Deus antes que aos homens" (At. 5, 29); bem como no exemplo de São Paulo, que "resistiu em face" ao mesmo São Pedro (Gal. 2, 11 ), precisamente a propósito de erros disciplinares que este propunha; e também pelo Direito Canô11ico, que no cânon 2 12 § 3 consagra o direito, e por vezes o até dever, de expor respeitosamente a discordância da Autoridade eclesiástica. E acrescenta o documento: "Pela similitude de situações, adotamos aqui a a.firmação do Prof' Plínio Corrêa de Oliveira na conclusão de seu famoso manifesto de Resistência à política de distensão do Vaticano com os governos comunistas: 'Esta explicação se impunha. Ela tem o caráter de uma legítima defesa de nossas consciências de católicos"'. O Instituto Plínio Corréa de Oliveira conclui instando os Prelados e movimentos até aqui silenciosos a "dissipar a confusão doutrinária reinante", e a reafirmar "p ublicamente e por todos os meios ao seu alcance, os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santa i greja" sobre a natureza divina e irreformável do matrimônio, seu caráter indissolúvel, a primaz ia da procriação sobre as demais finalidades do casamento, a estrutura hierárquica da família, e "a impossibilidade de se dar a absolvição sacramental e a Sagrada Comunhão aos que se obstinam em viver publicamente numa situação o~jetiva de pecado".

Recomendamos a leitura do texto completo do estudo em: www.ipco.org.br

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CARTAS LEITORES ....... ..... ... .... ...DOS ..... ... ...... ............ ............ .. Dias confusos A Bíblia ensina a verdadeira misericórdia pregando: "Para com uns exercei a vossa misericórdia, repreendendo-os, e salvai-os, arrebatando-os do fogo. Dos demais tende compaixão, repassada de temor". A falsa misericórdia, ao contrário do que se propõe, leva ao inferno, uma vez que o pecador não é incentivado a se arrepender. Eu peço para todos a proteção misericordiosa de Deus, mas peço que todos não se esqueçam da divina JUSTIÇA do Criador. Na igreja "atualizada", com doutrinas novas sobre misericórdia sem sentido e ou deturpadas, estão deixando tudo confuso. Vamos rezar ao Espírito Santo para iluminar as mentes dos católicos para não embarcarem nessa falsa concepção de misericórdia. Rezar muito é a necessidade principal nesses dias confusos em que vivemos.

(M.P.P.K. - PR) Justo por excelência Nada melhor do que a pura doutrina católica para nos limpar de conceitos equivocados, como no caso da expressão tão utilizada: "misericórdia". Muitas vezes usada no sentindo materialista . A Igreja não contribui para a salvação das almas, pelo contrário perde, omitindo o divino aspecto de Deus que é o Justo por excelência. E porque é Justo, Ele é o misericordioso por excelência. O clero não precisa ficar escondendo a justiça de Deus com o pretexto da misericórdia. As duas virtudes devem andar de mãos dadas.

(A.G.J. - SP) Ato de misericórdia Para mim é incompreensível a tendência de se camuflar a justiça divina. Noto que muitos só falam de misericórdia, e quando falam de justiça é só no sentido de justiça enquanto necessidade para se evitar as injustiças cometidas "pelazelites" (conforme expresso de um ex-presidente, cujo nome preferimos esquecer, para que saia rapidamente de nossos pensamentos). Nosso muito obrigado pela matéria destacando o que se procura colocar sob o tapete: a justiça divina. Esse destaque é um ato de misericórdia. No dia do Juízo de Deus muitos também

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vão lhes dizer "muito obrigado", pois, t emendo a Deus, O amaram sinceramente e, por isso, se salvaram.

(P.E.N. - SC) Alegria e tristeza Este tema desenvolvido em torno da questão resumida no título da capa [Catolicismo, julho/2016] "A misericórdia é a plenitude da just iça", proporcionou-me muito contentamento. Alegria por reler a doutrina da Igreja Católica que é sempre a mesma, não mudando e nem se adaptando aos tempos, pois estes é que precisam se adaptar à Igreja, uma vez que ilumina os caminhos dos homens para chegar a Jesus Cristo. Mas causoume também tristeza, porque fica mais evidenciado o quanto a igreja progressista e esquerdista distanciouse da d'Aquele que é o caminho, a verdade, a luz e a vida. Tristeza por ver que até notícias que nos chegam do Vaticano vão em direção contrária ao mencionado caminho de verdade e vida. Tais notícias quando não indicam caminhos errados, silenciam sobre o verdadeiro caminho. Como filha de uma família católica desde sempre, ficamos até envergonhados ao ler notícias provenientes de altos escalões de membros de nossa Igreja. Esta é santa, mas seus membros ... por vezes até nos escandalizam devido ao pronunciamento de palavras impróprias e por vezes por omitirem temas indispensáveis para a salvação dos fiéis católicos. Nestes casos, como acho que devemos proceder? Meu conselho é sempre este: procurar viver conforme os exemplos dos santos e santas. Uma razão a mais, para que eu me apegue especialmente à coluna desta revista sobre a vida dos santos.

(K.S.B. - SP) Análises objetivas A leitura mensal da revista Catolicismo tem sido de grande valia para se entender a situação confusa em que vivemos, inclusive dentro da Igreja. Os artigos são bem selecionados e as análises dos fatos t êm sido objetivas e precisas. Na edição do mês de j unho, em minha opinião, dois artigos foram especialmente importantes: o da matéria de capa sobre a misericórdia

e justiça divinas e o out ro sobre a situação política do Brasil e demais países sul-americanos. Este chamado Ano da "Misericórdia" causou muit a estran heza e perplexidade em muitos espíritos. Pareceu-nos uma versão religiosa da malfadada polít ica de "direitos humanos", adotada pelos governos de esquerda de uma boa parte dos países ocidentais. Na propaganda que se tem feito pela mídia, t anto religiosa quanto leiga, desta iniciativa de Francisco 1, há uma unilateralidade que o artigo de Catolicismo soube muito bem corrigir. Como se explicou, a misericórdia de Deus, Nosso Senhor, não pode incentivar o pecado. Pelo contrário, a sua infinita bondade e misericórdia deve nos mover ao arrependimento e emenda de vida, deve certamente levar o pecador à conversão e não ao empedernimento no mal. Quanto ao artigo da página 36: Brasil, América Hispânica e o "Livro Negro" do populismo, a advertência quanto à necessidade de continuar a exercer um redobrado espírito de vigilância ao perigo do reerguimento das esquerdas, veio em boa hora. Muitos espíritos otimistas podem se distender e abrir a guarda para o recrudescimento deste mal que tem nos assolado, tanto mais que sua ideologia está viva, atuante e com grande influência nos meios

As boas contas... As palavras do Dr. Leonel Munhoz Coimbra em sua entrevista, assim como em sua conferência j untamente com o Deputado Paulo Martins (que, aliás, apresentou · muito boas propostas para acabar com a corrupção), contêm excelentes denúncias da peste vermelha petista. A vacina contra tal peste está sendo a operação LavaJato, mas as colocações do Dr. Coimbra podem auxiliar no combate dessa vagabundagem instalada em altos cargos da nação. Os esquerdistas no Brasil viraram sinônimo de experts estelionatários, mas também experts em se livrarem dos crimes de responsabilidade por meio de uma "mãozinha'' (outras pedaladas?) até de alguns membros da alta corte de justiça. Outra "mãozinha", da esquerda, tem sido a do clero ligado à CNBB, que deixa as ovelhas à mercê dos lobos petistas. O que Cristo denunciaria dessa "mãozinha" esquerdista do clero? Sejamos, senhores bispos, apóstolos de Cristo e não dos atuais dilapidadores do patrimônio público. É a Cristo que deveremos prestar contas, e em boas contas não pode haver "pedaladas"! (M.H.M. - DF)

ditos intelectuais.

(F.C.-RJ)

F RASES S ELECIONADAS • •• • • • •• •• • • •• • • • ••

Monarquia X bolivarianismo Para eliminarmos o nefasto socialismo comunista e seus ''adoradores" empoleirados em governos de nosso Continente, precisamos difu ndir no povo exemplos como aquele da Rainha da Inglaterra censurando a grosseria dos comunas da China vermelha. A apologia desses bons exemplos encanta as populações que estão à busca de um norte para seus países. Alguns países latino-americanos estão af undando na direção do marxismo-bolivariano e, nesse afundamento, muito sangue correrá se não se colocar uma barreira imediata no passo desses comunas retardados e retrasados e stalinistas. Muita arma pesada esses líderes comunistas têm adquirido da Rússia, e se não houver uma reação anticomunista eficaz, um banho de sangue se anuncia. E proximamente, com o Trump ou com a Clinton, os EEUU ficarão ainda mais distantes da possibilidade de defender os países latino-americanos. Portanto é urgente a reação eficaz de nossa parte para levar ao total f racasso a expansão do bolivarianismo em nossas Pátrias. Um bom exemplo para nós está t ranscorrendo na Polônia. Prestemos

"O homem que diz que a verdade não existe est~ lhe p edindo que não acredite nele" (Roger Scruton)

"O erro não confrontado é aprovado; e a verdade defendida apenas minimamente é oprimida" (Pa11a São Felix ill)

''A primeira lei da história é de não ousar mentir; a segiinda, de não tem er exprimir toda a verdade'~. (Papa Leão Xill)

" Sócrates é m eu amigo, mas sou mais amigo da verdade" (Aristóteles)

"Nunca procurei outra coisa senão a verdade" (Santa Teresinha)

atenção neste país.

(J.P.S.G. - AC) catol icismo@terra.com.br / AGOSTO 2016

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PALAVRA DO SACEHDOTE

Pergunta - Nunca me confessei e gostaria de saber o que devo fazer antes de contar meus pecados a um padre. Resposta - Nada torna o homem mais feliz nesta vida do que a paz de a lma. E nada o toma ma is inquieto do que saber que ofendeu a D eus e não te m certeza de ter sido perdoado. Por isso, o sacramento da Penitência, ou da Confissão, é uma das mais consoladoras verdades e práticas da Igreja Católica, pois tira da própria consciência o imenso peso de nossas faltas e pecados, restituindo-nos a amizade de Deus. O sacramento da Pe nitência realmente nos confere a certeza de que, respe itadas as condições para a validade do sacramento, quando o sacerdote nos dá a absolv ição e nos diz: "Eu te absolvo dos teus peca-

tro lado, deu aos fi éis o preceito de confessar seus pecados para alcançar o perdão. Os B ispos comunicam o poder de perdoar os pecados aos sacerdotes que e les julguem aptos para ouvir confissões (são raríssimos os sacerdotes que não têm esta licença), excetuados "certos peca-

Monsenhor José Luiz Villac '·O Filho do Homem tem na Terra o poder de perdoar os pecados" (Me 2, 1O). E o Evangelho narra como, em várias op01t unidades, Jesus exerce este poder divino: "Os

teus pecados são-te perdoados!" (Me 2, 5). Porém, "em virtude da

sua autoridade divina, [Ele} concede este poder aos homens para que o exerçam em seu nome" (Catecismo, 11° 144 1).

dos em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo ", ele não faz senão emprestar seus lá bios a Deus, que é o único que pode perdoar as ofensas cometidas contra E le, e que de fato nos perdoa. A lgumas pessoas afirmam sentirem-se após a confissão como se lhes tivesse sido tirado um imenso peso das costas, ficando mais fe lizes do que se possuíssem os maiores tesouros da Terra. A causa dessa sensação advé m do fato de e las passarem a sentir a prox imidade de Deus, que gratifica o pecador convertido com o festim com que o Pai recebeu de volta e m su a casa o F iU10 Pródigo da parábola. Como dissemos acima, com base no Catecismo da igreja Cató-

lica, "só Deus perdoa os pecados ". Mas Jesus, precisamente por ser Filho de Deus, disse de S i próprio:

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"Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados"

O sacramento da Penitência foi efetivamente instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo no primeiro encontro que teve com os Apóstolos no Cenáculo, no dia da Ressurreição: "Disse-lhes outra vez: A paz

esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós. Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Áqueles a quem perdoardes os pecados, ser1hes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 2 1-23 ). Com essas palavras, de um lado Jesus conferiu aos Apóstolos e a seus sucessores, os bispos, o poder de perdoar os pecados e, de ou-

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dos particularmente graves [que] são punidos pela excomunhão[ ..] e cuja absolvição, por conseguinte, só pode ser dada, segundo o direito da Igreja, pelo Papa, pelo bispo do lugar ou por sacerdotes por eles autorizados'' (Catecismo, nº 1463), como acontece, por exemplo, neste Ano Jubilar, no qual muitos sacerdotes, designados como "missioná rios da misericórdia", receberam autorização para perdoar mesmo os pecados reservados à Santa Sé. Em caso de perigo de morte, porém,

"qualquer sacerdote, mesmo que careça da faculdade de ouvir confissões, pode absolver de qualquer pecado e de toda a excomunhão " (idem). Do d ito acima resulta que o sacerdote ocupa no confessionário o Jugar de Deus, em cujo nome como dissemos - perdoa os pecados.

Condições para uma confissão bem feita

Como Nosso Senhor concedeu aos Apóstolos e a seus sucessores o poder de perdoar ou reter os pecados, disso resul ta que a confissão é um tribunal no qua l o réu se apresenta voluntariamente e faz o papel do próprio acusador. E o sacerdote, corno _juiz, decide se o penitente é d igno ou não da absolvição e lhe impõe uma penitência para sacatolicismo@terra.com.br / AGOSTO 20 1.6

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tisfação de seus pecados. É por isso que, no caso de penitentes que não estão verdadeiramente arrependidos nem dispostos a abandonar o pecado (por exemplo, os divorciados recasados civilmente que querem continuar a viver como adúlteros), o sacerdote é obrigado a recusar-lhes a absolvição, sem por isso transformar o confessionário numa "câmara de torturas". Essa recusa, aliás, é um incentivo a que eles abandonem o pecado e se reconciliem com Deus. É, pois, também um ato de caridade. Além de juiz, o sacerdote exerce no tribunal da Penitência os oficios de mestre e médico, porque deve instruir o penitente quando percebe que ele ignora algumas coisas inerentes à sua conduta moral e porque deve "receitar-lhe" alguns conselhos para curar-se de seus defeitos e afeições desordenadas. Da parte do penitente, para fazer uma boa e digna recepção dosacramento da Penitência, requer-se: • O exame de consciência, depois de invocar o Espírito Santo para que nos ajude a lembrar de nossas faltas e a perceber sua maldade (o meio mais fácil é percorrer os 1Omandamentos e os 7 pecados capitais); • A contrição, ou seja, o arrependimento sincero por ter ofendido a Deus, o que inclui o aborrecimento do pecado (não se trata, portanto, de um movimento de sensibilidade, mas de um ato da vontade); • O propósito sério, apoiado na graça de Deus, de evitar com empenho todo pecado e toda ocasião próxima de cometê-lo;· • A confissão exata, sincera e · humilde de todos os pecados mor-

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tais de que temos consciência, do número de vezes ou pelo menos a frequência com que os temos cometido e das circunstâncias dos mesmos, caso elas façam variar a espécie do pecado (por exemplo, subtrair um objeto sacro de uma igreja não é mero roubo, mas passa a ser um sacrilégio); • A satisfação, ou seja, o cumprimento da penitência que nos tenha imposto o confessor, o que pode por vezes incluir a obrigação de ressarcir o dano que foi causado ao próximo ou de reparar o escândalo dado. Alegria por evitar que uma alma seja condenada às penas eternas

Para uma pessoa que nunca se confessou ou que faz muito tempo que não se confessa, o mais dificil psicologicamente é vencer a vergonha de contar os seus pecados ao sacerdote. Ajuda muito a superar essa vergonha o fato de saber que o sacerdote não pode manifestar absolutamente a ninguém nada daquilo que soube em confissão, nem sequer ao próprio Papa, e isso ainda que o ameacem de morte. Em segundo lugar, convém lembrar que Deus confiou esse sacramento a homens como nós, e não a anjos, pelo que o sacerdote não se escandalizará em absoluto por aquilo que o penitente lhe contar. Pelo contrário, quanto maior for o pecado confessado, mais contente o bom sacerdote ficará, porque o confessor é como um pescador que, quanto maior for o peixe que cai em sua rede, mais alegre fica por ajudar uma alma a se salvar eternamente. E, por fim, con-

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vém recordar que um dia deveremos passar pelo Juízo Final, durante o qual aquilo que tivermos escondido por vergonha será revelado aos olhos de todo o mundo. Entretanto, os pecados já confessados e perdoados serão escondidos a todos por Deus, segundo ensinam Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Bernardo. São Boaventura nos dá um conselho muito salutar: confessar primeiro aquele pecado que mais nos envergonha, porque coro isso toma-se muito mais fácil confessar os demais. E se custar extraordinariamente confessar um determinado pecado, é preciso pelo menos dizer ao confessor: "Padre, cometi um pecado que não me atrevo a confessar", porque o sacerdote poderá ajudar o penitente a vencer o medo. O que não se pode nunca fazer é calar um pecado por vergonha, porque com isso comete-se um sacrilégio e não se obtém o perdão de nenhum pecado, ficando-se,

portanto, obrigado a confessar depois não somente o sacrilégio, mas o pecado omitido e novamente todos os pecados desde a última confissão válida. Propósito firme de nunca mais pecar

Mas, o que é passar por uma pequena vergonha, se comparado com os imensos efeitos do sacramento da Penitência? De fato, pela confissão nós recebemos as seguintes graças: 1) Obtemos o perdão de todos os pecados cometidos e da pena eterna que merecem (quanto à pena temporal, temos de pagá-la nesta Terra - com a penitência que nos impõe o confessor, mais orações e penitências voluntárias; ou então pagá-las no Purgatório). 2) Recuperamos a amizade de Deus, como também todos os méritos alcançados pelas boas obras anteriores, aumentando em nós a gra-

ça santificante pela qual participamos da vida divina. 3) O Espírito Santo nos proporciona forças para evitar os pecados futuros e combater as nossas más inclinações. 4) Alcançamos uma gr~mde paz de alma, como dizíamos no início. Para w 11 adulto que nunca se confessou ou que esqueceu como se recebe o sacramento da Penitência, o mais fácil é simplesmente comunicar isso ao sacerdote e pedirlhe que o ajude a fazer a confi ssão. O mais frequente, em certos países, é que o padre diga ao penitente "Ave Maria Puríssima ", ao que ele responde: "Sem pecado concebida. Abençoe-me, padre, porque eu pequei. Há X tempo que fiz minha última corifissâo e acuso-me de ter cometido os seguintes pecados". Depois de uma pequena exortação, o sacerdote pede ao penitente para recitar o Ato de Contrição, cuja fórmula tradicional é:

"Senhor meu, Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas e porque Vos amo e estimo, pesa-me, Senhor, de todo o meu coração, por Vos ter ofendido e merecido o inferno; e proponho firmemente, ajudado com os auxílios de vossa divina graça, emendar-me e nunca mais tornar a Vos ofender; e espero alcançar o perdão de minhas culpas, por vossa infinita misericórdia. Amém ". Depois de recitado o Ato de Contrição, o sacerdote dá a absolvição, impõe uma penitência e manda o penitente ir em paz. Se a penitência for recitar uma oração, convém fazê-lo imediatamente após a confissão, para não esquecer; e aproveitar a ocasião para agradecer a Deus por ter feito uma boa confissão, pedindo a Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia e Refúgio dos Pecadores> a graça de perseverar nos bons propósitos. ❖

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Espanha: desastrosos efeitos do progressismo católico

Cardeal de Praga pede só aceitar imigrantes cristãos

Mexicanos impedem legalização do "casamento" homossexual

Arcebispo húngaro: islâmicos querem conquistar a Europa "A Europa ficou mentalmente esvaziada e está pronta para ser conquistada pelas multidões de imigrantes; quem o negar, mente ou erra", disse D. Gyula Márfi (foto), Arcebispo de Veszprém, na Hungria. E acrescentou: "A superpopulação, a pobreza ou a guerra têm apenas um papel de segundo ou terceiro nível nessa migração. Eles se julgam seres superiores e a Jihad (Guerra Santa) lhes impõe conquistar o mundo de qualquer jeito. No momento atual, o objetivo é ocupar a Europa".

Nas eleições estaduais mexicanas, os 70 movimentos pró-vida, reun idos na coalizão Juntos por México, pesaram decisivamente em sete dos 12 Estados nos quais se realizaram os pleitos eleitorais. O grande derrotado foi o presidente Pena Nieto, que tentava modificar a Constituição para legalizar o "casamento" homossexual. O Episcopado mexicano infelizmente atuou pouco contra o projeto, alegando que a Constituição proíbe os religiosos de intervir na política. Cont udo, o problema em questão não é político, mas moral e rel igioso. E os leigos católicos mostraram mais amor e coragem na defesa da moral e religião do que os próprios eclesiásticos.

Para o Cardeal Dominik Duka, Arcebispo de Praga, "uma cultura de boas-vindas" irrefletida levaria Europa a uma "catástrofe humanitária e econômica monumental". O cardeal tcheco defendeu que a melhor solução para os imigrantes "é restabelecer os aparelhos do Estado em seus países de origem para lhes garantir lá uma vida digna". E que a única exceção que se poderia abrir seria para os cristãos, porque "têm uma tradição e uma cultura em plena consonância com as raízes tradicionais europeias ", que são cristãs. Além do mais, "são o grupo mais perseguido e se teme pelas suas vidas", acrescentou.

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Como herança do Concílio Vaticano li, o número de religiosos cai vertiginosamente na Espanha: desde o dia 1º de j aneiro do ano passado, 341 casas ou mosteiros fecharam sua~ portas, por escassez de vocações ou ancianidade de seus membros. Um a cada 36 horas! Os edifícios ficam aguardando quem os aproveite para qualquer outra atividade, inclusive profana, escandalosa, incompatível com o catolicismo, ou até mesmo como templo de abominação. Dessas edificações, 270 pertenceram a frei ras e 71 a sacerdotes ou frades. O t riste recorde coube às Filhas da Caridade, que fecharam 23 de suas residências: mais de uma por mês! O atual flagelo não tem precedente, nem mesmo com os saques praticados pelos comun istas durante a Guerra Civil (1936-1939). A exceção foram os conventos masculinos de .vida contemplativa - bened itinos, cistercienses, cartuxos e outros- que não fecharam comunidades. FIihas da Caridade 1957

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Ambientalistas e Putin aliados contra o Ocidente Investigação da Washington Free Beacon and Environmental Policy Alliance revelou que o círculo mais íntimo de Putin financia o ecologismo radica l no mundo. Em troca, o movimento verde ecoou a propaganda russa em favor da invasão da Ucrânia. Os principais fios de comunicação entre Moscou e Londres passam pelo líder do Partido Trabalhista britânico Jeremy Corbyn, admirador de Karl Marx, e por organizações pacifistas. Os ambientalistas radicais nessa hora se esquecem do suposto "aquecimento global" e manifestam não acreditar nos pânicos sobre o planeta e em outras montagens que forjam quando estão em jogo os interesses da "nova URSS" - mostrou o estudo.

Generais montam cenário provável de ataque geral da Rússia O general britânico Sir Richard Shirreff, ex-comandante supremo da OTAN, descreveu em livro como seria um temido ataque russo contra o Ocidente em 2017. Ele começaria pelos Países Bálticos e Moscou utilizaria a bomba atômica. "Putin invadiu a Geórgia, a Crimeía, a Ucrânia e apelou para a força para atingir seus objetivos", justificou. Por sua vez, o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, esclareceu que exercícios feitos pelo .exército russo com armas atômicas "visam intimidar[... ]. Estamos vendo um modelo perigoso na conduta russa: anexação, ações agressivas e intimidação" observou.

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O astronauta que comungava no espaço O astronauta americano Michael S. Hopkins (foto), "Mike", serviu na Estação Espacial Internacional. Ali, na parte chamada "Cúpula", rezava e ... comungava! Com autorização da Arquidiocese de Galveston-Houston, ele levou consigo seis hóstias consagradas partidas em quatro, para poder comungar durante as 24 semanas de sua missão. Segundo Mike, as práticas de fé na estação espacial são comuns entre os católicos.

Mike nasceu metodista, mas antes de viajar tornou-se católico, porque "sentia que lhe faltava algo na vida'' . A possibilidatle de comun gar inspirou todas as formas de heroísmo ao longo dos séculos. Porém, deparamonos hoje com a reprováve l tendência dos que desejam distribuir a Eucaristia a quem não pode recebê-la por se encontrar em estado de pecado mortal, com grave profanação, sacrilégio e desrespeito. catolicismo@terra.com.br / AGOSTO 20J 6

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'POR QUE

NOSSA SENHORA

C1 IOR11 ?

Passo ousado na demolição da Igreja

Cátedra de Pedro, questionando a palavra unitiva de Nosso Senhor: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18). "Não prevalecerão"! É absolutamente certo, como certa é a pa-

calíptico das palavras do arcebispo Dom Georg Ganswein, durante anos secretário particular do Papa Bento XVI e atualmente Prefeito da Casa Pontificia. ·Ele foi porta-voz de um lance recente e espantoso na propulsão desse processo de demolição que faz Nossa Senhora chorar,

Mons. Georg Gãnswelo com Bento XVI

ão é preciso dizer como vai adiantado o processo de autodemolição da Igreja, refeddo pelo Papa Paulo Vl. A "fumaça de Satanás", que o mesmo Pontífice constatou ter penetrndo no templo de Deus, vai sufocando os católicos do mundo inteiro. Sob a designação de "progressismo", esse processo infernal demole a cada dia uma parte da Igreja: um costume milenar que é contrariado, um aspecto capital da liturgia que é substituído, a moral que é conspurcada, uma prática diplomática que conduz à

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derrota do bem, uma doutrina que é silenciada hoje para ser negada amanhã, e assim por diante. Recentemente, não foi uma parte da mwalha que caiu; tomou corpo uma investida que busca abalar a própria noção da indivisibilidade da

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lavra de Deus. Mas até onde podem ser abaladas as noções fundamentais do Papado, antes que uma intervenção divina ponha cobro a tantos desvarios e pecados? Estas considerações nos fazem medir melhor o alcance apo-

lance esse que busca agora atingir a própria noção de indivisib.ilidade do Papado, falando-nos de um Papado "expandido". Para resumir, transcrevemos o rápido apanhado feito a respeito do tema pelo professor e historiador italiano Roberto de Mattei: ''No auditório da Pontifícia Universidade Gregoriana, Moos. Georg Ganswein enfatizou o ato de renúncia do Papa Ratzinger ao pontificado com estas palavras: 'A partir de 11 de fevereiro de 2013 o ministério papal não é mais aquele de antes. Ele continua a ser o fundamento da Igreja Católica; e, entretanto, é um .fundamento que Bento XVI transformou profunda e duravelmente no seu pontificado de exceção'. "De acordo com o arcebispo

Ganswein, a renúncia do Papa teólogo introduziu na Igreja Católica a nova instituição do ' Papa emérito', transformando o conceito de munus petrinum (ministério petrino): 'Antes e depois de sua renúncia, Bento entendeu e ainda entende seu dever como uma participação em tal ministério petrino. Ele deixou o trono pontificio e, entretanto, não abandonou absolutamente esse ministério. Em vez disso, integrou o oficio pessoal com uma dimensão colegial e sinodal, quase um ministério em comum [. ..]. Desde a eleição de seu sucessor Francisco, em 13 de março de 2013, não há portanto dois Papas, mas de fato um ministério expandido [ allargattoJ - com um membro ativo e um membro contemplativo. É por isso que Bento XVI não renunciou nem ao seu nome, nem à batina branca. Por isso o tratamento correto que se lhe aplica ainda hoje é Santidade; é também por isso que ele não se retirou para um mosteiro isolado, mas permaneceu dentro do Vaticano - como se tivesse dado apenas um passo de lado para abrir espaço ao seu sucessor e a uma nova etapa na história do papado'. "Este an-azoado tem um caráter pertLu-bador, demonstrando por si só como estamos não 'além', mas mais do que nunca 'dentro' da crise da Igreja. O Papado não é um ministério que pode ser 'expandido', porque é um 'cargo' concedido pessoalmente por Jesus Cristo a um único Vigário e a um único sucessor de Pedro. [... ] O discurso de Mons. Ganswein, que não se entende aonde quer chegar, sugere uma Igreja bicéfala e acrescenta confusão a uma situação já demasiadamente confusa" ("A crise da Igreja à luz do Segredo de Fátima", in "Corrispondenza Romana", 25-5-16). ❖

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COMPO lfl'AM Erro

M_an!er a grava!a nao e mera opçao

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MARCOS LUIZ GARCIA

gravata já não é necessária" é o tíllilo de matéria publicada no diário madrilense "El País" de 16 de maio último. A articulista, Este! Vilaseca, baseia-se em refl exões de Vanessa Friedman, jornalista de modas do "The New York Times", sobre o fato de três figuras de destaque midiático da esquerda internacional - Barack Oba.ma, Pablo Iglesias e Alexis Tsipras - estarem cada vez mais dispensando o uso da gravata e apresentando-se de maneira mais informa l e "espontânea". Ao evidenciar tal proceder, Vilaseca não visa criticá-los nem desestimulá-los em sua tendência despojadora. Pelo contrário, a intenção da articulista é atrair para a esteira rolante que conduz ao neoprimitivismo cavernícola o mundo civilizado. Com efeito, o homem moderno está se aproximando cada vez mais dos cavernícolas ... Quem tiver oport1111idade de analisar o livro de Melissa Leventon, A história ilustrada do vestuário, da PubliFolha, constata que ao longo de toda a história da humanidade, salvo algumas exceções, os homens sempre buscaram instintivamente se adornar cobrindo o próprio corpo e valorizando sua aparência.

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Como surgiu o uso da gravata?

A civilização cristã aprimorou o bom gosto e as vestimentas se elevaram em categoria e elegância. Isso se deu especialmente na França. Também, em grande parte por influência da "Filha Primogênita da Igreja", em toda a Europa. A vestimenta era a moldura das boas maneiras, do respeito mútuo e da elevação de espírito. O fato de os homens não serem meros animais, mas sim animais racionais, dotados de inteligência, impôs ao longo da História que eles se apresentassem de modo a expressar sua mentalidade, sua personalidade. O adorno sobre o corpo visa ressaltar a alma. Além disso, pode expressar a dignidade e as funções de quem faz uso desse adorno. Se alguém quiser conhecer a mentalidade de outrem, um indício importante consiste em analisar como ele se veste e deseja ser visto pelos outros. Mas não é só isso. A maneira de se apresentar expressa ainda a consideração do homem em relação aos demais seres humanos. Essa mút11a consideração chegou a constituir um ambiente do verdadeiro esplendor de vida, em todos os níveis so-

ciais, como ocorreu na época denominada Ancien Rég ime. Em seu livro A essência do estilo, Joan De Jean explica ter a gravata sido adotada na França por volta de l670, durante o reinado de Luís XIV. E o portal OI, de 24 de janeiro de 2009, confirma que em 1618 um regimento croata passou pela França durante a Guerra dos Trinta Anos usando um lenço no pescoço para conter o suor. Posteriormente a nobreza, influenciada por Luís XIV, aderiu à moda, certamente aprimorando-a e popularizando-a com o nome de "cravale", palavra derivada de croata. A "cravate" tornou-se desde então um símbolo de distinção, masculinidade e honra. Seu uso se prolongou no tempo, durante a Revolução Francesa e todo o século XIX. No século XX ela tomou o formato at11al, como um complemento indispensável ao terno. Na realidade, é o último adorno tradicional que persiste no vestuário masculino. No livro-álbum O design do século XX (pp. 140-14 1), de Michel Tambini, ficam evidentes a transformação da moda e a "neoprimitivização" do vestuário, acompanhando todos os demais aspectos da vida, o que vai conduzindo a humanidade à perda acent11ada do bom gosto, da distinção, da elevação etc. Luís XIV

Transformação da moda e consequências morais

Há um aspecto mais grave a considerar. As transformações que a moda vem gerando ao longo dos úJti mos cem anos pelo menos, constituem uma manifestação de algo mais profundo, de cunho moral e rel igioso. Isso ao arrepio daqueles

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Prim~ira edição brasileira do livro A PAIXAO DE JESUS NOS SEUS ELEITOS O autor mostra como um novo olhar sobrenatural se volt a sobre esse mundo dado a conhecer profundamente a tão poucos. Mundo de grande realismo, cujos acontecimentos estao maravilhosamente testemunhados e garantidos, em muitos aspectos, melhor e mais solidamente do que muitos outros acontecimentos da História.

obstinados em não reconhecer que o afundamento no neoprimitivismo ou no neopaganismo constitui recusa e alijamento, por parte da sociedade atual, de Deus. Nesse sentido, convém registrar que em seu livro Arquivo Urbano, Jussara Romão relacio na o advento da minissaia com a estabi lização do uso da pílula anticoncepcional (p. 14). Ademais, na página 169 registra que, na década de 60, "a virgindade foi posta em xeque e a nudez deixou de ser pecado mortal". Evidentemente, isto se deu apenas dentro de cabeças relativistas da nossa época... e de nenhum modo na inteligência divina! Todavia é preciso reconhecer que a gravata temse mantido de uma fom1a quase inexplicável. Seu uso se mantém nas cerimônias de casamento, na posse de cargos oficiais. Outros exemplos de seu uso poderiam ser citados. Em matéria de vestuário, apog~u da decadência

A realidade cotidiana nos revela ad nauseam que estamos chegando ao ponto ma is decadente da história da humanidade em matéri~ de vestuário. Do ponto de vista. do bom gosto, nunca as pessoas se apresentaram de modo tão ÜTacional, grotesco, indigno, como em nossos dias, com honrosas exceções. O estilo atual se

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caracteriza quase como " nada combina com nada nem com a pessoa". Nesta situação, a gravata representa uma trava, talvez a última, antes de tudo all'ebentar definitivamente em matéria de vestuário. Razão pela qual ela merece ser defendida e ma ntida a todo custo. Lembro-me que, no ano de 1973, perguntado por um jornalista da "Associated Press" sobre a razão pela qual a aparênc ia da TFP era sempre a mesma, com terno, gravata e cabelo curto, o Prof Plinio Co1Têa de Oliveira lhe deu a seguinte resposta: "Eu podia virar a pergunta: por que os hippies nunca usam terno, gravata e cabelo curto? A razão é a mesma". Substitua o leitor os já ultrapassados hippies pelos neocavernicolas de nossos d ias e constatará que a resposta valerá para estes úl timos. Por isso, uso e defendo a gravata. E la se tornou um símbo lo dos que não desejam deixar-se arrastar para o neocavernicolismo. Isso não sign ifica que todos os homens devam usar gravata, mas os que têm razões sérias para seu uso, não devem abandoná-la. Julgo necessário resistir à avassaladora onda de vulgaridade e decadência que atingiu o vestuário contemporâneo. ❖

Diz Hõcht: "Ensinemos, por fim, que a vida dos estigmatizados, que é a causa de Cristo, sempre vence, apesar dos aparentes obst áculos exteriores. Por meio deles, tenhamos em conta com j úbi lo, que também nos tempos mais duros de afast amento de Deus, está Ele conosco e-não nos abandona. Recebamos da vida dos co-pacientes com o Senhor, uma nova confiança em Cristo e em seu Divino Amor, e criemos, para nossa própria essência cristã , uma consciência de missão e de vitória." Formato: 16x23 cm. 600 páginas (ilustrado)

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as a espera essurgimento GABRIEL J, WILSON

Situado no distrito de Coimbra, no centrn de Po1tugal, o rio Mondego passou a constituir a divisa natural que separava os territórios cristãos das terras ocupadas pelos moLtros após a decadência da província romana da Lusitânia. No século vm os muçulmanos do Norte da África invadiram a Península Ibérica. Um chefe mouro teria construído uma fortificação e uma mesquita no lugar onde se encontra o castelo de Montemor o Velho. Após a reconquista de Coimbra ao rei de Castela no século XI, Afonso Vl reconstruiu a fortaleza e fez erigir a igreja de Santa Maria da Alcáçova, ali abrig gada até nossos dias, objeto embora de várias restau~ rações. Portugal ainda não existia como reino. Os beneditinos da Abadia de Cluny, na Borgonha, exerceram a sua influência junto aos monarcas cristãos da Pe-nínsula Ibérica, a fi m de auxiliá-los na luta contra os mouros. Foi assim que o conde Henrique de Borgonha, do ramo capetíngio, veio ao reino de Leão para servir Afonso VI na luta contra os maometanos. O rei de Castela e Leão deu-lhe em casamento uma de suas filhas, Teresa, e como dote o te1Titório que constituía o Condado Portucalense. Seu fil ho Dom Afonso Henriques proclamou a

o

castelo de Montemor o VeU,o - com suas muralhas a coroar o monte, tendo a seus pés a vila, próxima do rio Mondego, na planície final que o conduz ao mar - constitui u1Í1 exemplo entre tantos da vocação guerreira que marcou Portugal desde os primórdios de sua existência corno nação cristã. 22 1

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parece de maneira m isteriosa no campo de batalha! No próprio dia em que e le morre u - numa época e m que não havia qualquer meio de comunicação - três almas santas noticiaram entristecidas e apavoradas: o rei D om Sebastião de Portugal morreu em A lcácer Quibir! Uma dessas almas foi Santa Teresa de Jesus, a grande. Outra foi o Pe. José de A nchieta - hoje santo canonizado - o grande apóstolo do Brasil: "Morreu o rei de Portugal! Grande desastre para a Cristandade!". Talvez se possa conjecturar que depois desse desastre, Portugal - e com ele o Brasil - não voltaram a ser os mesn'tos. Faltou-lhes o rei-mode lo que esperavaín. Portugal ficou submisso à coroa espanhola. Veio a restauração com os Bragança. Mas o último rei e seu herdeirn seriam brntalmente assassinados em 1908. A República, proclamada em 191O, conduziu Portugal à mediocridade e à pobreza de nossos dias, sempre destru indo costumes e tradições, jamais proporcionando qualquer opo1tunidade de elevação que lembre a grandeza de seu passado. A Providência, entretanto, teve a suprema mise1icórdia de transformar Portugal em a ltar para as aparições da Rainha dos Céus e da Terra. As profecias de Fátima, que vão se cumprindo, são o foco de todas as esperanças de uma punição exemplar e defi nitiva do mal e o triunfo fi nal do Coração Imaculado e cheio de Sabedoria de Maria Santíssima. ❖ independência de Portugal e iniciou a reconquista dos territórios ao sul, tomados pelos mouros. O prime iro rei expandiu a fronteira até ao Alentejo e seus filhos Sancho I e Sancho II completaram a configuração que grosso modo o país apresenta até hoje. Se a parte mais fértil do novo re ino eram as terras entre Douro e Minho, foi nas margens do Mondego que se decidiram avanços e recuos na peleja entre c ristãos e muçulmanos. Compreende-se assim a importânc ia estratégica de Montemor o Velho na ocasião. Hoje, suas pedras nos recordam epopeias e personagens de outros tempos. Q ue força, que ímpeto, que almas tinham esses portugueses que não recuavam diante dos inimigos! E, não contentes e m limpar deles a pátria; saíram a conquistar mundos novos ao velho mundo! A ÍncJita Geração, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, Dom Sebastião ... Quem se atreveria comparar-se a essas estrelas que brilham no firmamento de Portugal? O próprio Camões, quase contemporâneo, já se a larmava com os estigmas de decadência. E Afonso de Albuquerque, voltando de uma expedição ao Mar Vermelho rumo a Goa, ao saber da nomeação de um fidalgo-comerciante para substituí-lo no governo da Índia, só exalou esse gemido: "Não há mais honra em Portugal!" E morreu antes de chegar a Goa. O novo governador já não vi-

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nha com o intuito de conquistar almas para a C ristandade, mas para fazer comércio .. . O último florão do heroísmo épico português talvez te nha sido Dom Sebastião, "o desejado", porque assim o povo intuiu que devia esperá-lo. O Prof. P linio Corrêa de O live ira via nessa intuição uma espécie de regra de tudo quanto é vivo. Resumindo muito o seu pensamento, e le observava que tudo quanto é vi vo, quando progride como deve, produz e m certo momento um fruto muito superior ao que se poderia imaginar. Seria como uma planta da qual nasce inesperadamente uma flor magnífica, maravilhosa. Assim foi Dom Sebastião de Pmtugal, o rei virgem, o re i cruzado, nascido numa época já contaminada pelos erros da Renascença, toda voltada para os prazeres da Terra e tisnada de neopaganismo. D a sua condição de católico lhe vinha toda a força, toda a grandeza e o me lhor da beleza, que é a beleza mora l. Essa era a esperança que as almas boas tinham em Dom Sebastião. O povo português teve a nobreza de reconhecer ne le o re i de seus sonhos, capaz de ressuscitar e fazer refulgir o espírito de cavalaria agonizante. Depois, o mistério: Dom Sebastião vai para a África e a batalha de Alcácer Quibir se revela um desastre. E e le, em quem os po1t ugueses viam um novo São Luís IX, um novo São Fernando de Castela, desacatolicismo@terra.com.br / A(;OSTO 2016

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terna em epf_gfafe, tão noticiado nos presentes dias - e tão amargamente lamentado pelas esquerdas do mundo inteiro - ganha maior dimensão se considerado na perspectiva da análise feita por Plinio Corrêa de Oliveira no artigo A Federaçilo Europeia à luz da doutrina católica, publicado nesta revista em fevereiro de 1952. Aqui o reproduzimos integralmente, pois se tornou documento revelador de um certeiro prognóstico sobre o atualíssimo problema que hoje enfrenta o Velho Continente. Planejava-se, já naquela época, a formação de uma Federação Europeia destinada a ser uma espécie de Estados Unidos da Europa, ou algo nos moldes da atual União Europeia (UE). "Um acontecimento imenso" - comentava então o Prof Plinio -, pois "são nações que desaparecem depois de terem enchido o mundo e a História com a irradiação de sua glória". A retirada do Reino Unido da UE, aprovada mediante plebiscito popular realizado no dia 23 de junho último - que obteve 51,9% contra a permanência na UE e 48,1 % a favor-, pode ter tido como causa profunda o desejo do eleitorado britânico de ver-se livre das tirânicas imposições da UE. Com a vitória do Brexit (Britain + exit, saída) o Reino Unido abandona o barco europeu, conduzido com mão de ferro pelos burocratas de Bruxelas (capital da UE). Assim, os britânicos procuram evitar o seu afundamento no possível naufrágio da UE. E também salvar sua identidade, suas próprias leis, suas belas tradições, suas "pompas e circunstâncias", bem como a enorme riqueza que suas artes e seus valores peculiares encerram. No mencionado artigo, Pli.nio Corrêa de Oliveira prognosticava os males que a constituição de um só


bloco de nações europeias poderia trazer a seus componentes, uma vez subjugado por burocratas que ditariam como cada país deveria ou não proceder, não levando em consideração séculos de história de sociedades formadas organicamente. Esse condenável intervencionismo é exatamente o que os britânicos rejeitaram. Apenas um exemplo: a intervenção de Bruxelas impondo cotas de imigrantes do mundo islâmico a cada país europeu. Também em outras nações europeias, parcelas ponderáveis da opinião pública começam a manifestar o desejo de não serem governadas através de trata-

dos impositivos, desrespeitosos da ordem natural e dos princípios de uma civilização verdadeiramente cristã, como a fmjada no período do Sacro Império Romano Germânico (809- J806), quando as leis de Deus tinham primazia. Em sua análise, Pl ínio Corrêa de Oliveira aborda o perigo que representaria uma Federação Europeia como plano de tipo marxista para a implantação de uma Repúbl ica Universal, cujo governo visaria el iminar as desigua ldades justas e ha1111ônicas dos povos, assim como a beleza existente nas sadias características e costumes próprios da alma e cultura de cada região. Para constit1.1ir essa República Universal, seus dirigentes visariam também fundir as nações num amálgama amorfo e igualitário, suprimindo os governos próprios de cada país, bem como suas fronteiras. Por isso, certamente, a maioria dos britânicos, receando perder algo de sua soberania, optou pelo Brexit. Seu exemplo inspira outras nações, e já se começa a falar de Frexit (saída da França), Swexit (saída da Suécia), Spexil (saída da Espanha) ... Direção de Catolicismo

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A Federação Europeia à luz da Doutrina Católica PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA Catolicismo. nº 14 - Fevereiro/1952

AfOJLECISMO

ma das datas mais importantes do séA •·1mEHA(",\O m1mu•H1A culo XX é sem dúÀ U 'Z ltA ltOIJTIUN A 4:ATOl,U;;\ vida a da reunião de Paris, em que os representantes da França, da Itália, da Alemanha Ocidental, e das pequenas potências do grupo Benelux - Bélgica, Holanda, Luxemburgo - decidiram, em princípio, a constituição da Federação Europeia, com a formação de uma só entidade de Direito Internacional Público, e, consequentemente, de um governo comum, a se acrescentar, com o caráter de superestrutura, aos vários governos nacionais. Antes da última guerra mundial, passaria por sonhador quem ideal izasse tal plano para o século XXl, e por débi l Tempos Modernos, pareciam inmental quem o imaginasse viável susceptíveis de serem englobadas para o século XX. A El1ropa ainda em um Lodo político por mais vago estava incandescente do ódio fran- e frouxo que fosse. Seria necessáco-alemão que ocasionara o con- ria a tragédia da segunda guerra flito de 1914-19 18, e haveria de mund ial e o consequente desmandesempenhar importante papel na telamento da economia das nações deflagração de 1939-1945. Todas europeias, para que, extenuad9 o as nações europeias, estuantes de fô.lego de sua vida cultural, e suvida cultura l e econômica própria, jeitas todas ao risco iminente - e marcadas ainda em sua alma pelos que já dura sete anos - de uma ressentimentos, pelas ambições, nova invasão de bárbaros, as doupelas rivalidades herdadas dos tri nas unitárias encontrassem ter-

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reno propício, e o plano de uma Federação Europeia se tornasse viável. O alcance da fundação dos Estados Unidos da Europa

O verdadeiro alcance da formação dos Estados Unidos da Europa fo i bem definido pelo Sr. Alcide De Gasperi, Presidente do Conselho de Ministros da Itália, que equiparou este acontecimento ao ato pelo qual as colônias inglesas da América do Norte se uniram para constituir uma Federação, e os cantões suíços renunciaram a ser um conglomerado de nações soberanas, para fon:nar um Estado federa l. O exemplo norte-americano é sobejamente conhecido. Sabe-se que a Inglaterra tinha na América cio Norte 13 colônias inteiramente distintas entre si, e ligadas diretamente à metrópole. Tornando-se independentes, deveriam constituir 13 nações diferentes. Entretanto, essas colônias preferiram unir-se em uma só nação de caráter federativo. Menos conhecido, mas igualmente signjficativo, é o exemplo

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suíço. Quando, depois da queda definitiva de Napoleão em 1815, o Congresso de Viena reorganizou o mapa europeu, fez da Suíça, que era uma nebulosa política formada de numerosos pequenos cantões independentes, dominados cada qual pela respectiva classe dirigente patriciado urbano ou aristocracia rural - uma Confederação de 22 cantões perfeitamente independentes entre si, e ligados apenas por um "pacto federal" que em última a ná lise não passava de um tratado de aliança e boa vizinhança. A Suíça continuava, pois, a não ser um Estado, mas um conglomerado de Estados. Esta sih1ação só cessou quando, depois de uma série de lutas cruentas, em que as elites locais reagiam contra a centralização, e os católicos g loriosamente ligados no "Sonderbund" procuravam evitar a hegemonia protestante, os partidários da formação de um Estado suíço venceram. Nasceu daí a constituição suíça de 1848 que, sem suprimir os cantões com _seus governos locais (à maneira dos estados norte-americanos, ou brasileiros) incumbidos da direção dos assuntos também locais, colocava os interesses comuns nas mãos de um só governo central, de caráter federativo. A atual República Suíça estava fundada.

"Desaparecimento" de gloriosas nações

No fenômeno americano, como no suíço, há pois a marcha da independência para a Federação. Os Estados, outrora independentes uns dos outros, passaram a ser simplesmente autônomos, dando lugar à absorção das soberanias locáis por um governo central. É o que, segundo o " premier"

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Representação da Federação Helvética

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italiano soube claramente ,..,,... exprimir, acaba de ser re, ..,, solvido na Europa. Entre a França e a Alemanha, f, ........ ll'-J.i.~ a Itália e a Holanda etc., 1•ac1at11\o..,_ haverá daqui por diante, ::~..:~·~ ::t~ .,....,, não os abismos que até ._ agora existiam, mas ape,........, .._ 1•*• nas a linha demarcatória de interesse quase exclusivamente administrativo, que existe entre O hio e Massachusets, Rio e São Paul.o , ou Lucerna e Friburgo. Como se vê, traMapa dos 26 cantões su1ços que ta-se de um aconteciformam a atual Repúbllca Suíça mento imenso. São nações que desaparecem provável guerra mundial. Ningué m depois de ter enchido o mundo e pode prever o que sucederá a esta a H istória com a irradiação de sua glória... e um novo Estado Federal Federação em estado genninativo, que aparece, cujo futuro não é fácil ao longo da guerra, e depois dela. Tanto poderá consolidar-se de vez, de prever. quanto poderá ser queimada no incêndio, sem que sequer se note o Viabilidade do novo plano traço de suas cinzas. Ainda que façamos abstração O primeiro obstáculo para a cabal rea lização do plano - que da gue1n, outras dific uldades aparecerão. Uma Federação que propor e nquanto existe apenas no papel, como o Exército do Atlântico e cura passar a esponja sobre tantos outras coisas que tais - está numa séculos de História, evidentemen-

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te não pode ser construída só por um grupo de políticos e homens de gabinete, mediante a assinatura de um tratado. É preciso uma longa propaganda junto aos povos federados, para fazer nascer ne l.e s a consciência de que, por cima dos blocos nacionais em que se sentem integrados por vínculos que estão na massa do sangue e são tãceis de perceber, paira um todo federal abstrato, que não está na massa do sangue, mas apenas na tinta com que se escreveu um tratado. E enquanto esta consciência não se forma é claro que o novo organismo nã.o começou a ter vida natural e real.. Não está aí, porém, a verdadeira dificuldade. O homem contemporâneo, despersonalizado, extenuado, pela desorientado confusão reinante, vivendo na dependência mental - à qual tão gostosamente se entrega - da imprensa, do rádio, da televisão etc., pode ..... facilmente ser persuadido de qualquer coisa. Há técnicos que fabricam em sua alma "consciências" de coisas reais ou ineais, que nunca estiveram efeti vam ente na mentalidade do público, com a desenvoltura com que os cirurgiões enxertam num organismo humano um pedaço de carne, um dedo ou um olho que até aqui lhe foi absolutamente extrínseco. O perigo está antes na formação de correntes nacionalistas em alguns países " federados". Mas ainda isto não parece v iável. Uma humanidade que, dia a dia, se vai tornando mais ávida de

alimento, tranquilidade e prazeres, não é naturalmente propensa a se entusiasmar por si mesma, em favor de nacionalismos de qualquer espécie... Assim, pois, resumindo nossa impressão, tudo indica que, exceto uma guena, nenhum fato nah1ral deterá a constituição da Federação. Tanto mais quanto seus dirigentes já declararam oficialmente que saberão andar passo a passo, montãndo aos poucos as peças do novo organismo, e começando judiciosamente pelos alicerces.

A Federação é uma novidade?

Se se pergunta se é uma novidade a Federação, a resposta deve ser negativa. A Europa j á constituiu, em outros tempos, um grande todo de natureza federa l, pelo menos no sentido muito amplo e muito genérico da palavra. Em 476, o Império Romano do Ocidente deixou de existir. O território europeu, cobe1t o de hordas bárbaras, não possuía Estados definidos e de fronteiras duráveis. Era toda uma efervescência de selvage-

ria, que só foi amainando à medida que a ação dos grandes m issionários assegurou, um pouco por toda parte, um início de pujante germinação para a semente evangélica. A esta altura, tomando os costumes menos rudes, a vida menos incerta e turbil honante, a ignorância menos espessa, estava constituído na Europa um grande conglomerado de povos cristãos que, por sobre todas as suas diversidades naturais, estavam unidos por dois vínculos comuns profundos, nascidos de um grande amor, e de um grande perigo: a) - sinceramente, profundamente ctistãos, adorando pois em espírito e verdade (e não apenas em palavras e rotina) a Nosso Senhor Jesus Cristo, amavam e desejavam verdadeiramente praticar a sua Lei, e estavam convictos de sua missão de estender o domínio desta Lei até os últimos confins da Te n a; b) - como fruto desta fé coerente e robusta reinava em todos os espíritos um mesmo modo de conceber o homem, a família, as relações sociais, a dor, a alegria, a glória, a humildade, a inocência, o pecado, a emenda, o perdão, a ti -

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queza, o poder, a nobreza, a coragem, em uma palavra, a vida; c) - daí, também, uma forte e substancial unidade de cultura e civilização, a despeito de variantes locais prodigiosamente ricas em cada nação, em cada região, e em cada feudo ou cidade; d) - diante da dupla pressão dos sarracenos vindos da África, e dos pagãos vindos do Oriente da Europa, a ideia de um imenso risco comum, em que todos deviam auxiliar a todos, para uma vitória que seria de todos. O Sacro Império Romano Alemão

Todo este conjunto de fatores de unidade enconh·ou seu grande catalisador em Carlos Magno (742-814), que encarnou aos olhos 9e seus contemporâneos o tipo ideal do soberano cristão, forte, bravo, sábio, justiceiro e paternal, profundamente amante 32 1

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Coroa de Carlos Magno

da paz, mas invencível na guerra, considerando sua mais alta missão pôr a força do Estado ao serviço da Igreja para manter a Lei de Cristo em seus reinos, e defender a Cristandade contra seus agressores. Este homem-símbolo realizou seus ideais, e quando Leão Ili, no ano de 800, na Igreja de Latrão, o coroou Imperador Romano do Ocidente, deu o mais alto remate à obra que Carlos Magno estava levando a efeito: fi cava constituído, abrangendo toda a Europa cristã,.urn grande Império, destinado antes de tudo a manter, a defender, a propagar a Fé. Este lmpério durou de 809 a 9 11. Em 962, o Impe-

rador Otão, o Grande o ressuscitou, dando origem ao Sacro Império Romano Alemão. Assim, com vicissitudes diversas, das quais a mais terrível foi a cisão trágica do protestantismo e a eclosão das tendências nacionalistas, no século XVI, manteve-se pelo menos teoricamente esta grande instituição até 1806, quando Napoleão Bonaparte obrigou Francisco ll, o último Imperador Romano Alemão, a aceitar a extinção do Sacro Império, e a assumir o simples título de Imperador da Áustria com o nome de Francisco 1. Não obstante certos períodos de crise, o Sacro Império teve grandes eras de glória, e sua estrutw·a serviu de fato para exprimi r o ideal cristão de uma grande família de povos, unida à sombra maternal da

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tatização brutal. Tudo se centraliza, se planifica, se artificializa, se tiraniza. Se a Federação europeia entrar por este caminho, aberrará das normas muito sábias do discurso do Papa Pio XIJ aos dirigentes do movimento internacional em favor de uma Federação Mundial. (vide Catolicismo", nº 8, Agosto/ 19'5 l).

Uma Federação Europeia não pode ser a hidra devoradora de nações

Igreja, para manter a paz, a Fé, a moral, para defender a Cristandade, e apoiar no mundo inteiro a livre pregação do Evangelho. Que pensar da Federação Europeia?

Assim, em princípio, vê-se que a Igreja não se limita a pennitir, mas favorece de todo coração as superestruturas internacionais, desde que se proponham um fim lícito. Em essência, pois, só merece aplausos a ideia de aproximar num todo político bem construído, os povos europeus.

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As circunstâncias de momento parecem tornar particularmente opottuna a medida. D iante de um inimjgo externo comum, lutando com uma crise econômica internacional, nada mais justo e recomendável do que todas as nações da Europa livre convergirem para lutar e vencer. Mas aprovar a ideia em princípio é uma coisa. Aprová-la incondicionalmente, quaisquer que sejam suas aplicações práticas, é outra. E até esta incondicionalidade não podemos chegar. Vivemos em uma época de es-

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Antes de tudo, devemos fazer sentir que a Igreja é contrária ao desaparecimento de tantas nações para constitu ir um só todo. Cada nação pode e deve manter-se, dentro de uma estrutw-a supranacional, viva e definida, com seus limites, seu território, seu governo, sua língua, seus costumes, sua lei, sua índole própria. Já tivemos ocasião de desenvolver este princípio quando comentamos em números anteriores a alocução monumental do Papa Pio XII, há pouco citada (Catolicismo, nºs 8, 9, 11 e 12). A Alemanha é uma nação, a França outra, a Itália outra. Se alguém as quisesse fundir como quem joga num cadinho joias de fi níssimo valor, para as transformar num maciço lingote de ouro, inexpressivo, anguloso, vulgar, certamente não agiria segundo as v istas de Deus, que criou uma mdem natural na qual a nação é uma realidade indestrutível. Assim, pois, se a Federação Europeia tomar esse caminho, será mais um mal, do que um bem. Deve ela ser a protetora das independências nacionais e não a hidra devoradora das nações. As autoridades federais devem existir para suprir a ação dos governos nacionais em certos assuntos de interesse supranacional; nunca para os eliminar.

Sua atuação nunca poderá ter em vista a supressão das características nacionais de alma e cultma, mas antes, na medida do possivel, seu robustecimento. Precisamente corno no Sacro Império, em que cada nação podia desenvolver-se, dentro da órbita dos interesses legítimos e comuns da Cristandade, segundo a sua índole peculiar, sua capacidade, suas condições, ambientes etc.

Federação Europeia: um passo para a República Universal maçônica?

De outro lado, a esb1.1turação econômica não deve chegar a um planejamento tal, que implique numa supersocialização. Se o socialismo é um mal, sua transposição para o plano superestatal não poderá deixar de ser um mal ainda maior. No Sacro Império, todo penetrado de feudalismo, de regionalismo sadio, de autonomismo municipal, do autonomismo gruParlamento Europeu reunido em Estrasburgo

pai das corporações, das Universidades etc., tal perigo só começou a se infiltrar quando apareceu, com os legistas, a semente do socialismo hodierno. Mas os legistas forám sempre uma excrescência na Cristandade, e sua influência coincidiu precisamente com o declínio do verdadeiro ideal cristão do Estado. Por fim , permita-se-nos uma afi1111ação bem franca. Nenhuma sociedade, seja ela doméstica, profissiona l, recreativa, sej a ela Estado,

Nenhuma sociedade, seja ela doméstica, profissional, recreativa, seja ela Estado, Federação de Estados, ou Império mundial pode produzir frutos estáveis e duráveis se ignorar oficialmente o Homem Deus, a Redenção, o Evangelho, a Lei de Deus, a Santa Igreja e o Papado.

Federação de Estados, ou Império mundial pode produzir frutos estáveis e duráveis se ignorar oficialmente o Homem Deus, a Redenção, o Evangelho, a Lei de Deus, a Santa Igreja e o Papado. Ocasionalmente, podem alguns de seus frntos ser bons. Mas se forem bons não serão d Ltráveis e, se forem maus, quanto mais duráveis tanto mais nocivos. Se a Federação Europeia se colocasse à sombra da Igreja, fosse inspirada, animada, vivifi cada por Ela, o que não se poderia esperar? Mas, ignorando a Igreja como Corpo Místico de Cristo, o que esperar dela? Sim, o que esperar dela? Alguns frutos bons, que convém notar e proteger de todos os modos, sem dúvida. Mas como é fundado esperar também outros frutos! E se estes frutos forem amargos, quanto se pode temer que nos aproximemos assim da República Universal cuja realização a maçonaria há tantos séculos prepara? ❖

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CAPA

Perigo catastrófico para as nações: Um mundo composto por alguns blocos superpoderosos

Problemas internacionais PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA ("Legionário", nº 560, 2 de maio de 1943)

gostaríamos que o Sr. Salazar, quando falou da imi-

obre a mesma temática analisada nas páginas precedentes (artigo de Catolicismo de fevereiro de 1952), ou seja, a possibilidade de constituição de blocos de nações reunidas numa federação nos moldes da atual União Europeia, seguem dois magistrais artigos premonitórios de Plinio Corrêa de Oliveira (foto ao lado) para o jornal "Legionário", do qual na época era diretor. Essas matérias foram redi gidas em 2 e 9 de maio de 1943, durante a II Guerra Mundial. Nelas o Prof. Pl ínio já advertia para o grave perigo de um projeto pós-conflito que quisesse reestruturar o mundo unificando as nações em blocos dotados, entre outras coisas de uma moeda única. E todas elas diri' por uma espécie de supergoverno, com gidas poderes acima das soberanias nacionais, que absorveriam "todos os regionalismos sadios, deformando o mundo". Nesse sentido, o autor observou com penetração: "Que produções intelectuais e culturais terá um homem assim prisioneiro de um mundo que parece mais feito contra ele do que para ele? - Provavelmente a mesma que teria uma sardinha enlatada viva. " _ Além desses perigos que ameaçariam os povos, o Prof. PIJnio alertava para outro trágico risco, que poderia decorrer dessa projetada "ordem nova" para as nações: a eclosão de nova guerra universal ainda mais catastrófica que as duas primeiras guerra.s mundiais. E apontava a solução: o retorno da humanidade "às rotas gloriosas da civilização cristã católica".

Direção de Catolicismo

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nência do perigo comunista, também tivesse feito as necessárias referências ao perigo nazista. S. Ex.a

foi ao menos imprudente. A própria estrutura das instituições a que preside presta-se facilmente à ideia de que ele simpatize com o "eixo". Ficar-lhe-ia bem, portanto, uma declaração tão incisiva, tão categórica, tão iniludível, sobre o totalitarismo estatal da direita, que excluísse qualquer interpretação desfavorável de suas palavras. Estas declarações S. Ex.a não as fez. Não obstante, o "Legionário" considera s uas observações a r·espeito da futura estruturação do mundo dignas de aplauso e estes aplausos ele os dá com alegria tanto maior quanto é evidente que tudo quanto nos

vem de Portugal encontra em nosso coração de católicos e de brasileiros um eco particularmente grato. *

Sr. Oliveira Salazar (acima·), chefe do governo português, fez recentemente algumas declarações que não podem passar sem algumas observações. Disse o estadista luso que Portugal, mantendo-se embora inteiramente neutro na presente conflagração, não queria aderir sem mais exame a qualquer das várias formas de organização internacional que, segundo os comentários de certos jornais e declarações de alguns estadistas, se esboçam para depois da guerra. Com efeito, disse o Sr. Salazar, é preciso que o desejo de inaugurar uma cooperação internacional regular e fixa não nos

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leve ao extremo de diluir todas as pátrias nas grandes federações europeias, asiática etc., planejadas para o futuro. Nestas declarações do governante po1tuguês, nem tudo pode ser aprovado sem reservas. Assim,

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As declarações da imprensa sobre o mundo de pós-guen-a têm sido algum tanto confusas. É possível, pois, que muitos leitores não as tenham lido com cuidado, e que, assim, não tenham em mente o plano geral que em certos setores da opinião se esboça. Digamos, pois, a este respeito, algumas palavras. O pensamento dominante de todos estes planos consiste em criar vastas federações de Estados

formadas por povos de tradições raciais ou culturais, de interesses econômicos e geográficos afins. Cada uma destas federações formaria uma só entidade diplomática, ou seja, um só organi smo comum dirigiria todas as relações do grupo com as demais. Teria também uma só moeda. Teria ainda forças militares federais e coletivas. Em suma, seria um grande supergoverno a enfeixar, conter e canalizar a soberania e as atividades dos governos federados. Por sua vez, essas vastas federações - três ou quatro para o mundo inteiro - teriam um órgão federal que a todas uniria, e que seria uma nova "Liga catolicismo@terra.com.br / AGOSTO 20 16

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das Nações". Mas uma Liga muito diversa da anterior, pois enquanto esta se compunha das inúmeras delegações de todos os povos, pelo contrário, a Liga futura só constará dos representantes das federações. Evidentemente, o plano pode despertar simpatia debaixo de certos pontos de vista. Em primeiro lugar, em uma época em que tudo se "tecnifica", e há organismos especializados para evitar todos os flagelos, desde as epidemias até o desemprego, pareceria ilógico que não se constituísse um órgão técnico especializado para evitar o maior e mais monstruoso de todos, que é a guerra. Em segundo lugar, um fortalecimento dos laços que vinculam entre si todos os povos poderia tornar mais numerosos e ricos os benefícios da paz. Cessada a mútua desconfiança, a cooperação seria mais ampla e mais fecunda. E, como é dela que em ultima análise nasce a felicidade internacional, parece fora de dúvida que ela trará grandes vantagens à humanidade. Entretanto, este é apenas o aspecto brilhante e atraente do plano. E, digamos assim, seu lado poético. A técnica tem exigências mais precisas do que a poesia. Tecnicamente consideradas as coisas, os horizontes estão muito menos luminosos do que à primeira vista poderia parecer. *

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O primeiro problema salta aos olhos. Para o progresso da humanidade, para a grandeza espiritual e material do gênero humano, é preciso que os homens vivam unidos na variedade. Cada povo tem a sua índole nacional, sua psicologia coletiva, suas tradições próprias. Este fato, que é de comezinha observação, não existe sem um sábio e amoroso desígnio da Providência Divina. Mostrá-lo-emos em duas palavras. Consideremos por instantes o mapa da Europa. Houve tempo em que cada um dos seus países tinha uma cultura própria, nitidamente individualizada e distinta dos demais. Cada uma destas culturas, expressão florescente dos feitios diversos de cada povo, constitui um tesouro. Como teria sido mais pobre a civilização ocidental e cristã, se todos os povos europeus tivessem tido a mesma arte, a mesma cultura, a mesma mentalidade! Co.ordenadas e harmonizadas essas tendências variegadas, dentro da grande, augusta e substancial unidade de espírito da Cristandade, ela era, não genne de luta nem fonte de atritos, mas exclu38 1

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sivamente expressão de pujança, de riqueza, de capacidade criadora. As condições técnicas do mundo moderno vieram, infelizmente, criar sérios embaraços à continuidade desta situação. Com efeito, a mentalidade revolucionária arrastou o mundo inteiro num mesmo turbilhão, e insuflando a todas as massas a mesma tendência niveladora e destruidora, a mesma monomania igualitária e iconoclasta, teve como lamentável consequência um desejo desregrado de impor os mesmos hábitos, os mesmos costumes, os mesmos trajes, a mesma arte, a mesma filosofia, e até a mesma culinária ao mundo inteiro. O progresso técnico do século XIX, excelente para dar a todas as verdades como a todos os erros um desenvolvimento célere, facilitou enormemente o curso desta evolução. E, hoje, nos hotéis de Xangai, Lausanne, Capetown ou Québec come-se mais ou menos as mesmas coisas, dorme-se em quartos arranjados mais ou menos do mesmo modo, e recebem-se as visitas em salões mais ou menos iguais. Esta uniformidade não é só nos hotéis; é nos filmes que os cinemas exibem, é na popularidade dos mesmos atores, na voga das mesmas peças teatrais, na uniformidade do noticiário telegráfico dos jornais, na frequência com que os mesmos livros, traduzidos para todas as línguas, ocupam lugar vistoso nos mostruários das livrarias, na insistência com que as mesmas modas, elaboradas nos estabelecimentos ditatoriais das modistas dos grandes centros, imediatamente, encontram admiradoras dóceis nos quatro quadrantes da Terra. O homem não é tal que um estado de coisas assim possa subsistir para ele sem grave inconveniente. Quem não perceberá, por exemplo, que um adolescente que forme seu espirito em pleno sertão goiano ou paranaense, em contato com a paisagem e o ambiente de nossa terra, mas que ao mesmo tempo assobia a última cançoneta yankee, ouvida pelo rádio, comenta com seus amigos o filme chinês que assistiu, procura realizar em suas maneiras o possível de cortes ia francesa, e lê com entusiasmo as traduções dos autores russos ou alemães, há de ter necessariamente em sua alma uma multidão de tendências que não chegaram a se definir, de sentimentos que vagueiam indecisos pelo seu cérebro nos raros momentos de melancolia e solidão, como sombras fantásticas de urna vida e de um ambiente que ele não viveu; esta gestação violentamente interrompida de ideias que morrem asfixiadas no nascedouro por fa lta de expressão adequa-

Cervejarias belgas promovem periodicamente no Japão o "Belgian Beer Weekend". Japoneses americanizados copiam costumes que não fazem parte de suas tradições.

da, reprimida pela moda literária artística ou filosófica do dia? E quem não vê que o homem que vive assim em um ambiente não feito para ele e por ele, mas estandardizado para um homem internacional abstrato, que não existe realmente e concretamente em parte alguma, quem não vê, dizíamos, que esse homem há de sofrer de um mal-estar interior imenso? Quem não vê que se cava assim um abismo profundo entre as produções artísticas, literárias, cientificas e até as instituições políticas e sociais formadas nesse ambiente cosmopolita e o mundo interior de cada homem que nada tem de ver com isto, que no fundo detesta isto, e que, entretanto, vive sob o jugo disto? Qual a consequência? Na cultura, o artificialismo, a esterilidade, o menosprezo por todos os frutos da inteligência e o exclusivo endeusamento dos valores materiais, únicos que realmente ainda afinam com o homem. Um exemplo: um homem que não encontra na literatura, nem na música, nem nas belas artes, uma consonância com seu temperamento, abo1Tece-se de tudo isto. Mas ele é homem, e por isto não se aborrecerá dos prazeres materiais. Resultado: o material dominará inteiramente nele o gosto pelo intelectual. Na vida social, o agastamento, o nervosismo, a explosão violenta de desequilibrios de toda ordem. Na vida politica, o desinteresse, a displicência, o desprezo pd o Estado, considerado não mais a chave de cúpula da nacional idade, sua expressão social mais nobre e mais genuína, mas uma inevitável instituição de utilidade geral, que tem o direito de ser tirânica como,

por exemplo, as repartições de limpeza pública, mas que não desperta, nem amor, nem respeito, nem entusiasmo, nem dedicação. Um mal necessário. Um mal insípido. Um mal desinteressante. Uma máquina tão prosaica quanto um tram way, tão desagradável quanto uma camisa de força e tão inevitável quanto uma cadeira elétrica. Em suma, uma acabrunhadora e gigantesca pirâmide de leis, regulamentos, portarias, editais, decretos, instruções, sentenças, acórdãos, repartições públicas, organismos paraestatais etc. etc., tudo mecânico, anônimo, automático, em uma palavra, inumano. Que produções intelectuais e culturais terá um homem assim, prisioneiro de um mundo que parece mais feito conlrn ele do que para ele? Provavelmente a mesma que teria uma sard inha enlatada viva. Não é preciso ser observador muito arguto para compreender até que ponto estas vastas federações estatais acentuariam este fenômeno absorvendo todos os regionalismos sadios e deformando o mundo. Porque a cultura e a civilização são obra do homem. E quando o homem vive oprimido, contrafeito, subjugado pela ditadura cultural do cosmopolitismo, ele mingua, definha, se deforma, e finalmente decai. Não podemos, católicos que somos, pactuar com esse •mal. Ou as federações futuras tomarão isto em conta, e terão um espírito e uma estrutura radicalmente diversa da que ora se delineia, ou assimilarão a ruína da humanidade. Veremos em outro artigo os demais aspectos da questão. * catolicismo@terra.com.br / AGOSTO 20 l6

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Reformemos o homem PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA ("Legionário", nº 561, 9 de maio de 1943)

ostramos em nosso último artigo que os interesses mais fundamentais da cultura humana exigem imperiosamente que a estruturação do mundo depois da guerra seja feita de forma a não destruir nem comprimir a personalidade de cada um dos povos que por disposição da Divina Providência existem neste planeta. Toda a verdadeira política tem de ser dei ineada em função da real idade, e sempre que as concepções artificiais dos estadistas de gabinete abstraem da reaJidade, esta se vinga destruindo-lhes irremediavelmente a obra. Os problemas sociais são como os ferimentos: quanto mais comprimidos, tanto mais se inflamam. É urna realidade evidente que cada povo tem sua personaJidade coletiva. Não haverá tratados que destruam esta realidade, ligas e nem federações que dela se possam esquecer impunemente. Nega-se, esquece-se, cancela-se arbitrariamente a personalidade coletiva de um povo inteiro, ou antes, de todos os povos da Terra? A cultura é obra desta personalidade. E quando se perturba ou se destTói a fonte, é indiscutível que as águas brotarão escassas, turvas, daninhas. Que cultura sairá, que civ ilização brotará, que mundo se construirá sobre estas ruínas psicológicas?

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Diz Santo Agostinho que o coração humano foi feito para o amor de Deus, e se agita inquieto enquanto não repousa em Deus. Poder-se-ia dizer que o mundo foi feito para viver em uma ordem determinada por Deus, e delira inquieto enquanto não se estrutura segundo esta ordem. Deus, autor da natureza, organizando-a como a organizou, impôs implicitamente ao homem que não estruturasse sua vida contrariamente a ela. Qualquer alteração da imutável natureza das coisas é indiretamente uma revolta contra Deus. É uma violação da ordem. E, portanto, uma desordem;

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1961: divisão da Alemanha e construção do "Muro de Berlim"

e assim como uma desordem no corpo humano se chama doença, produz dores e perturbações e por fim causa a morte, assim também uma desordem no corpo social há de produzir mal-estar, lutas, e por fim os grandes colapsos que são as guerras. Por mais sábia, pois, que seja a argumentação econômica aduzida em beneficio do plano que ora se delineia, não deixa de ser fora de dúvida que ele não produzirá a paz. Porque onde não há ordem nos espíritos não pode haver paz, e a possível abundância dos bens materiais, longe de ser um fator de concórdia, excitará ao auge os apetites, as ambições, as discórdias, acabando por gerar novo colapso. *

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Ora, imagine-se um mundo dividido em três ou quatro grandes federações, ou seja, em três ou quatrn grandes potências que enviam cada qual seus representantes a uma conforência internacional, digamos a uma Iiga mundial das federações soberanas ou autônomas. Caso estes potentados queiram entender-se, os povos da Terra encontrarão tranquilidade, ao menos, no sentido material da palavra. Caso, porém, o espírito de rivalidade, de competição, de inveja se apodere destes potentados, que sucederá? Uma guen-a entre eles, evidentemente. Mas, desta vez, uma guerra terrivelmente universal, que arrastará necessariamente todos os povos, já que todos estão federados e, pois, obrigados a lutar. Nossos maiores chamaram mundial a guerra 1914- 1918 e nós sorrimos desta afirmação, porque estamos em condições, nestes dias, de provar que a guerra atual merece muito mais exatamente este triste epiteto. E quando o mundo estiver "federado" sorrirão de nós: aí é que veremos o que pode ser uma guerra verdadeiramente mundial. Mas, dir-se-á, é possível que duas federações briguem entrn si sem que uma terceira ou quarta federação também entre em guerra. Não se poderia supor, portanto que esta organização federal significa um meio feliz de manter povos e povos, continentes inteiros talvez, em um bloco pacífico unido, e fora da guerra? Não ousamos alimentar esta esperança. Caso as federações existam, deverão ter forças equilibradas. Se uma destruir a outra cm seu próprio proveito, crescerá tanto que obrigará as outras a uma intervenção. Mas, dir-se-á, por isto mesmo as federações neutras se porão sempre do lado da inocente, e tomarão impossível a guerra. E se nenhum dos dois lados tiver razão inteira, o que em política não é coisa rara? Juízo arbitral? Com que garantias de imparcialidade no juiz, de docilidade nas partes li tigantes, de reta intenção, enfim, em todos? Porque se os homens forem gananciosos e prepotentes, brigarão por força. E, como o homem contemporâneo é prepotente e ganancioso, por força brigará.

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do mundo supõe a reforma do homem. Enquanto o homem contemporâneo for o que for, quanto maiores forem suas obras, maiores serão as ruínas que acumulará em torno de si. Seu poder será o agente de sua própria destruição; enfermiço, incrédulo, egoísta, sem moral nem princípios de qualquer espécie, nada poderá organizar de durável. Ele contagia com sua moléstia todas as suas obras. A argamassa com que unimos as pedras de nossos edificios contém dinamite. As traves sobre as quais esteamos nossas casas têm cupim. Amanhã virá sobre nós ajustiça de Deus, e então se verá que tudo será ruína. Não nos iludamos. O mundo pensa muito em uma "ordem nova", que espera das potências deste século. Hitler inventou a expressão, mas a ideia de tudo organizar em bases inteiramente diversas anda pelo ar, adotada até mesmo por muitos dos que odeiam sinceramente o abominável ditador pagão. No prestigio desta alcunha de "novo", na esperança que suscita, na convicção que ela pressupõe, de que só será realmente desejável na medida em que for "nova", isto é, na medida em que dife1ir de tudo quanto a precedeu, existe o estigrna fatal que mostra toda a sua debilidade e toda a sua fraqueza. A mania do "novo" implica necessariamente a do "efêmero", porque quando o espirito de uma época chegou a tal degradação que as coisas, por pouco que durem, lhe desgostam e isto só porque duram, o eremero é a condjção do êxito, e a solidez o

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Tocamos ai no pivot da questão. Do que se precisa é ele uma reforma do mundo. Mas a reforma

City Hall, em Londres: a mania do "novo" implica necessariamente a do "efêmero"

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Estátua de São Pedro na praça em frente à basíllC(I que leva seu nome

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fator de impopularidade e decadência. Esta ordem que assoma nos horizontes de hoje pactuando ab initio com o ídolo do dia, que é a mania do novo, e inscrevendo em seu frontispício o nome de Deus, sela-se a si própria com o ferrete do efêmero. Enquanto for nova, viverá. O que implica dizer que viverá muito pouco.

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Pensa de modo diverso a Santa Igreja de Deus. Das mãos do Papa [na época Pio XD], nunca pattirão para o mundo moderno promessas chispeantes e rútilas de uma próxima idade de ouro, e seus lábios sacrossantos jamais se abrirão para lisonjear a idolatria do " novo", prometendo ao mundo algo de inteiramente diverso do passado. A Igreja começa por exigir a derrubada do ídolo. Ela o quer quebrado. Quer destruídos seus altares, feitas em pedaço suas imagens, atirados aos quatro ventos os instrumentos de seu culto. A Igreja não se incomoda com o "novo" nem com o "velho" tanto quanto com o "verdadeiro" e o "bom". Enquanto não rompermos com a idolatria do " moderno", do "novo", não teremos criado em nós, nem em torno de

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nós, ambiente propício à ação da Igreja. Ela não nos promete uma "ordem nova". Ela nos promete uma ordem verdadeira, uma ordem construída com respeito para com a essencial e invariável ordem da natureza, e toda impregnada de um princípio ordenador vital incomparável, que é o sobrenatural. É isso o que a Igreja nos promete. Nesta ordem, encontra-se tudo quando houve de justo, de grande, de belo, de verdadeiro no passado. N ela se encontra também a possibi lidade de muito e muito fazer ainda em conformidade com as linhas essenciais deste passado. Do passado deverá sobreviver tudo quanto é imutável. Do presente, só pode sobreviver o que estiver em conformidade com as co isas definitivas que o passado nos legou. Em outros termos, tudo quanto a lgreja construiu de definitivo no passado se conservará. Os homens devem procurar construir mais coisas dentro da linha do definitivo, coisas que serão "novas" no melhor sentido da palavra e de tal. maneira "novas", que gozarão a eterna novidade que o definitivo tem aos olhos dos homens sensatos. Tudo bem pesado, trata-se de reconduzir o homem às rotas gloriosas da civilização cristã católica que abandonou, e de o conservar, não fixo e estável no mesmo ponto, mas em marcha ascensional nessa estrada, em demanda de alturas sempre maiores, de uma ordem cada vez mais profundamente identificada com a natureza e retificada pelo sobrenatural, sem os miasmas de desregramento, de cupidez, de sensualidade, de incredulidade. Tais desregramentos, tornam o homem um revoltado contra a ordem da natureza e os beneficios inestimáveis da graça, fazem dele um filho das trevas, um sombrio partidário do reino da anarquia e da ruína. As obras deste homem serão necessariamente obras de ruínas e de trevas. Não se espere dele outra co isa. Sua grandeza se medirá pela grandeza de seus crimes e de suas devastações. Sua glória se medirá pelo número de oprimidos que gemerem a seus pés. Esta sinistra contrafação da grandeza e da glória será a única que os seus semelhantes saberão ver e aplaudir. Com homens assim, as obras não podem durar, e as que durarem causam horror.** Notas: * http:j/www.pliniocorreadeoliveira. info/LEG_430502_PROBLEMASINTERNACIONAIS.ht rn#.V4A2b9KU31U ** http:j/www.pliniocorreadeoliveira.info/LEG_430509_ReforrnemosoHomem. htm#.V4A96NKU31U - Os negritos são nossos.

São Bernardo de Claraval, ''Doutor Melífluo'' Doutor da Igreja, pregador de Cruzada, fundador de Claraval, sua ação se estendeu do claustro à Igreja universal, e depois a todo o mundo.

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

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este mês de agosto comemoramos tantos e tão grandes santos, que fica dificil a escolha de um para nossa coluna. Com efeito, no dia 1º. temos o notável Santo Afonso Maria de Ligório e, no dia seguinte, São Pedro Julião Eymard, fundador dos Sacramentinos. Logo depois, no dia 4, São Cura d'Ars e no dia 8, São Domingos de Gusmão, fundador dos dominicanos. No dia 20 festejamos o grande São Bernardo e no dia 2 1, o imortal Papa São P io X. Logo em seguida, no dia 23, Santa Rosa de Lima, padroeira da América Latina, no dia 25, São Luís Rei de França, e por fim, no dia 28, o grande Padre e Doutor da Igreja, Santo Agostinho. Como já ti-atamos de todos esses santos em nossa coluna, voltamos hoje com novas infonnações sobre São Bernardo, fu ndador do mosteiro de Claraval, que comemorou no ano passado o nono aniversário de sua fundação, ocorrida no dia 25 de junho de I J 15. Bernardo e a reforma da Igreja

Um abade cisterciense, nosso contemporâneo, assim situa São B ernardo em sua época: "No primeiro quarto do século XII a Igreja vive uma grande renovação, que dura meio século: é a reforma gregoriana. Uma reforma eficaz, que restabelece a ordem na sociedade cristã do Ocidente, e põe remédio aos principais abusos. Os frutos são inimagináveis: entram em vigor as coleções de cânones, estabelece-se uma administração, e se restauram, adaptam e aperfeiçoam as instituições. [ ..] Bernardo tem a graça de compreender que a Ig rej a necessita de urna reforma, não tanto legislativa e jurídica, quanto espiritual; não de

corte organizativo e politico, mas essencialmente religioso. Neste nível tão elevado, ele desdobrará todas suas energias durante outro quarto de século, em[.. .] obras dos mais diversos gêneros, mas cujo denominador comum é promover, no maior número po:;sível de cristãos, a renovação do homem interior: a união pes-

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Abadia de Claraval

Casa natal de São Bernardo em Fontalne-les-DIJon. Junto foi construída uma Igreja.

soai, real, íntima, profunda de cada um com o mistério que Deus Pai revelou em seu Filho Jesus Cristo, e que o Espírito não cessa de atuahzar na Igreja pela Fé, os Sacramentos e a caridade". 1

objetividade ante as realidades deste mundo e as exigências de Deus". "Bernardo era dócil, vigoroso mentalmente e tenaz, capaz inclusive de grandes esforços. , 'do "2 . [... ] M as, ao mesmo tempo, tim1

"Dócil, vigoroso mentalmente e tenaz"

Fundação de Claraval

Bernardo nasceu no ano de l 090 no castelo de Fontaines, em Dijon, na França. Pertencentes à mais alta nobreza da Borgonha e modelos de virtude, seus pais foram Tescelin, senhor de Fontaines, e A leta ou Alícia de Montbard, elevada à honra dos altares. Bernardo foi o terceiro dos sete filllos do casal, dos quais seis eram varões. Contrariamente a seus irmãos, todos engajados na carreira das armas, Bernardo estudou. O que depois lhe seria providencial para a direção de seus monges e toda sua ação pública. "Desde sua juventude, e talvez desde a infância, vai realizando em si mesmo uma estranha aliança entre temperamento e graça. É generoso, se bem que seu ardor o leva ao desinteresse, sem perder p or isso

No ano de 1098, São Robet1o, abade do mosteiro de Molesmes, que estava em decadência, fundava outro em Cister, cerca de Dijon, com o propósito de restaurar nele a Regra de São Bento em sua integridade. Voltando a seu mosteiro, deixou Santo Alberico no governo da nova fundação. Este faleceu em 1109, sendo sucedido em 1113 pelo inglês Santo Estevão de Harding. A vida austera de Cister afastava os pretendentes, e os monges antigos iam falecendo. Tudo indicava que o fim do convento estava próximo. Entretanto, um dia desse mesmo ano de 1113, pede nele admissão um grande grupo de candidatos. Era Bemardo que trazia consigo seu tio, irmãos, primos e amigos mais íntimos, num total de 30 pessoas. O que mostra muito o espí-

rito de liderança desse jovem de 22 anos. Mais tarde seu pai e o irmão mais moço o seguirão; a única irmã também abandona o mundo, para viver na oração e penitência, morrendo como morrem os eleitos. Bernardo e seus seguidores fazem juntos o noviciado e a profissão monástica e, apenas três anos depois, Santo Estevão o manda fundar uma filial do mosteiro num local inóspito, chamado Vale do Absinto, na Champanhe. Bernardo, então com 25 anos de idade, transformará esse vale no Claro Vale, ou Claraval, nome com que ficou universalmente conhecido. Expansão e Influência de Claraval

''Durante 30, a expansão de C/araval prossegue ao ritmo de duas fundações por ano. Isto dá a ideia da vitalidade monástica, do irif/u.xo exercido por Claraval na sociedade e na Igreja de então. Ao morrer Bernardo, em 1153, será pai de setenta comunidades, às q111.1 s,• hão de somar outras afiliadas, o que supõe um 111í111ero de 174 casas, quer dizer, cerca da metade das que constituíam a Ordem Cisterciense ".3

Durante esse período, a atividade de Bernardo ultrapassa- os limites da Ordem Cisterciense. É ele escolhido para árbitro em questões tanto civis quanto eclesiásticas. Por questão de espaço, limitar-nos-emos a mencionar apenas algumas. "Se bem que sofrendo constante debilidade fLSica, tendo que governar um mosteiro que logo abrigou várias centenas de monges, e estava regularmente mandando grupos para começar novos mosteiros [. ..} ele ainda encontrou tempo para compor muitas evariadas obras espirituais que ainda hoje nos falam. Ele lançou um sólido fundamento para a vida espiritual em suas obras sobre a graça e o livre arbítrio, humildade e amor. Seus dons como teólogo foram procurados para r~ponder aos perigosos ensinamentos do cintilante Pedro Abelardo, de Gilberto de la Porree e de Arnoldo de Brescia ".4 Por isso diz o jesuíta Pe. Pedro de R.ibadeneira, discípulo e biógrafo de Santo Inácio: "A alguns parecerá coisa maravilhosa que um pobre relig;oso, vestido de saco vil e desprezivel,jizesse coisas tão grandes

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e tão surpreendentes; e que tivesse tanta autoridade e força, não somente para converter, do século ao Senhor; tantas pessoas de todos os estados, mas para unir a Igreja desunida, sujeitar reis, causar espanto aos príncipes, confundir os hereges, e persuadir os povos [a fàzeremJ tudo o que queria, corno se fosse senhor dos corações [ ..] A opinião da santidade de Bernardo era grandíssima ".5

das mãos, ele deu a vista a onze cegos, movimento aos paralíticos, e fez andar dezoito coxos. E na cidade de Colônia, em três dias, curou doze coxos, dois estropiados, três mudos e dez surdos. 7 O santo e os Cavaleiros Templários

No ano de 1118 fora fundada na Jerusalém reconquistada pelos Cruzados para a verdadeira fé, uma Ordem de Apostolado da pena cavalaria que, por ser muito incipiente, seus Aonde não pomembros eram chamadia ir pessoalmente, o dos de Pobres Guerreisanto enviava suas paros do Templo, mais tarlavras por meio de carde simplesmente Temtas. Restam-nos cerca plários. Esta Ordem, de 500. Da importância pela bravura e abnegadelas, diz um estudioso: ção de seus membros, "Além de sua grande foi crescendo, mas sem importância histórica, uma regra escrita. as cartas de São Ber"Um escritor connardo nos são um inditemporâneo desses moncqdor de sua influência ges-guerreiros, Jacques religiosa e política. São de Vitry, assim os desBernardo trocou cartas creve: 'Ao mesmo tempo com homens e mulheleões na guerra e cordeires dos mais diferentes ros em casa;formidáveis níveis - sua corresponaos inimigos de Cristo, a dência incluiu monges, própria gentileza com os diáconos, bispos, abaamigos'. Tendo remmdes, reis, santas virgens, ciado a todos os prazecondessas. papas, duSão Bernardo entrega as regras aos Te mplários res da vida, encaravam ques e duquesas. Ele era a morte com altiva ind{ferença; eram os primeiros no sempre muito vivo em suas apresentações, e agradável ataque e os últimos a recuar, sempre dóceis à voz de seu em seu tom, mesmo quando estava defendendo brava6 líder, tendo sido acrescentado à sua disciplina de monge mente suafé". a de soldado ".8 MIiagres confirmam sua santidade São Bernardo entusiasmou-se com esses monges-soldados, e foi um dos seus mais ardorosos partiA pregação de São Bernardo era confinnada por dários. Enaltece seu espírito bélico a serviço da Igreestupendos milagres. Com sua bênção expulsava os ja, afirmando - muito a contragosto do vil pacifismo demônios dos possessos, restituía a vista aos cegos, moderno! - que o Templário, "morrendo, favorece fazia andar os paralíticos, dava voz aos mudos e fazia a si mesmo; matando, favorece a Cristo. E não é ouvir os surdos. sem razão que o soldado carrega uma espada. Ele é Godofredo, monge_de Claraval, companheiro e ministro de Deus para a punição dos ímpios e para secretário de Bernardo, afinna que em uma aldeia da a exaltação dos bons. Quando ele mata um homem cidade de Constância, em um só dia, pela imposição

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mau, não é um assassino, mas por assim dizer um malicida; é preciso ver nele tanto o vingador que está a serviço de Cristo, como o defensor do povo cristão. Quando, pois, ele morre, é preciso pensar que não está morto, mas está na glória eterna" (De laude novae Militiae). 9 Em 1128 o abade de Claraval foi convocado pelo Papa a participar do Concílio de Troyes, no qual deveriam ser reguladas algumas matérias concernentes à Igreja na França. Foi nesse concílio que, segundo alguns historiadores, São Bernardo escreveu a regra ou o esboço dela parn os Templários. 10 Entretanto, segundo outros, "os Templários adotaram a Regra de São Bento como havia sido recentemente reformada pelos cistercienses. [... ] Eles também adotaram o hábito branco dos cistercienses, acrescentando a ele a cruz vermelha". 11 Pelo que é possível conjeturar-se que São Bernardo tenha feito apenas o esboço da regra dos Templários, adaptando-a segundo a regra reformada de Claraval. Agindo contra o cisma

ra. Nesse mesmo sentido viajou por toda a França e Alemanha, foi três vezes à Itália para obter a adesão de seus governos à causa de Inocêncio. Em Liege, encontrou-se com Lotário, Imperador do Sacro Império. Este também aceitou o papa verdadeiro. Enfim, muitíssimo mais poder-se-ia dizer deste Santo excepcional. 12 Estando para morrer, seus filhos espirituais faziam violência aos Céus para segurá-lo na Terra. Ele lamentou-se docemente: "Por que desejais reter aqui um homem tão miserável? Us·ai de misericórdia para comigo, eu vos peço, e deixai-me ir para Deus ". O que ocorreu no dia 20 de agosto de 1153. ❖ Notas:

1. Dom Jean Leclercq, Prologo, in Obras Completas de San Bernardo, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1983, vol. 1, pp. xiii-xlv. 2. Pe. Francisco Rafael de Pascual, Perfil Blografico, in BAC, op.cit., pp. 129-130. 3. ld.ib. p. 132. 4. Dom M. Basil Penn ington, OCSO, St Bernard of Clairvaux. in The Cistersians, disponível em http:/fwww. osb.org/cistjbern. html. 5. Pe. Pedro de Ribadeneira, San Bernardo Abad, in Fios Sanctorum, apud D. Eduardo Maria Vilarrasa, La Leyenda de Oro, L. González y Compar'í ia - Editores, Barcelona, tomo Ili, 1897, p. 341. 6. Emmalon Davis, Works by St. Bernard of Clairvaux, ln Christian Classics Ethereal Library, disponível em http:/ /www.ccel.org/ccel/bernard. 7. Cfr. Pedro de Ribadeneira, op. cit.

No dia 14 de fevereiro de 1130 falecia o papa Honório II. O clero e o povo de Roma, muito divididos sobre quem escolher para a Sé vacante, acabaram el.egendo dois papas, Relíquia de São Bernardo Inocêncio II e Anacleto li. Este P.341. último conseguiu banir de Ro8 . Charles Moeller, The Knights Templars, The Catholic Encyclopedla, CD Rom edition. ma Inocêncio, que se refugiou na França. 9. Apud Roberto de Mattei, Plínio Corrêa de Oliveira - Profeta O rei francês convocou então um concílio naciodo Reino de Maria, Editora Artpress, São Paulo, 2015, p. nal para resolver a crise que se estabelecera na Igreja 236. e, por conselho dos bispos, solicitou a Bernardo que 10. Cfr. Encyclopedia Britannica Ready Reference, 2003, CD Rom edition; M. Gildas, St. Bernard of Clairvaux, The Catholic comparecesse para julgar quais dos dois papas era o Encyclopedia, CD Rom edition verdacl(jiro. Analisando as provas, o Santo se decidiu 11. Charles Moeller, op. cit. em fovor de Inocêncio. Fez mais, empenhou-se a fim12. Para mais dados sobre o Santo, ver nosso artigo São Berdo na causa do Papa verdadeiro para obter o apoio do nardo de C/araval, Glória da Igreja e da Cristandade, em Catolicismo, agosto de 2001. rei l ,uls VI da França, e de Henrique I, da Jnglater-

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Santo Afonso Maria de Llgórlo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Pagani, 1787. Fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, dedicada à pregação de missões populares. Grande moralista.

:1. São Pedro Julião Eymard, Confessor + França, 1868. Fundador do Instituto do Santíssimo Sacramento para a adoração perpétua, seus últimos anos foram cheios de sofrimentos. Dizia a Nosso Senhor: "Eis-me aqui, Senhor, no Jardim das Oliveiras; humilhai-me, despojaime; dai-me a cruz, contanto que me deis também o vosso amor e a vossa graça".

'i São Pedro de Anagni, Bispo e Confessor + Anagni, 1105. De família nobre, tendo entrado ainda jovem num mosteiro daquela cidade italiana, foi nomeado seu bispo pelo Papa lá exilado. O Pontífice enviou-o posteriormente a Constantinopla, como embaixador junto ao Imperador bizantino.

Santo Abel de Relms, Bispo e Confessor + Lobbes (Bélgica), séc. VIII. São Bonifácio, chamado por Pepino o Breve para reformar a Igreja na Gália, escolheu Abel para Bispo de Reims. Impedido de tomar posse dessa diocese, ele se refugiou na Bélgica, onde morreu entregue à oração e à penitência pelos seus diocesanos. Primeira Sexta-feira do mês.

6 Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo Primeiro Sábado do mês.

7 São Slsto li, Papa, e Companheiros, Mártires + 258. O perverso Imperador Valeriano estabelecera no Império Romano a pena de morte -"sem julgamento, só com verificação da identidade" - para bispos, padres e diáconos cristãos. Sisto li foi executado na Via Ápia, no mesmo lugar onde celebrava clandestinamente os Santos Mistérios. Na ocasião foram também martirizados seis diáconos que o assistiam.

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São João Maria Vlanney, Cura d'Ars Confessor, Patrono dos Párocos + Ars, 1859. Sua fama de pregador e confessor atraía pessoas de todas as partes da França. São Pio X constituiu-o patrono de todos os párocos e pastores de almas.

São Domingos de Gusmão, Confessor + Bolonha, 1221. Oriundo de nobre família, foi cônego de Osma, na Espanha. Ao se dirigir em peregrinação a Roma, viu 6 dano que a heresia albigense fazia no sul da França. Ali permaneceu para pregar e defender a verdade, fundando a Ordem dos Pregadores. Para vencer os albigenses, Nossa Senhora lhe revelou o modo de rezar o Rosário.

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Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

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Santos Juliano, Mariano e Companheiros, Mártires + Constantinopla, séc. VIII. Esses 10 eclesiásticos, por terem defendido o culto das imagens, sofreram "inúmeros tormentos e foram mortos pela espada" (do Martirológio).

Santa Anastácia, Abadessa + Egina (Grécia), séc. IX. Por duas vezes teve de casar contra a sua vontade. Na primeira vez, enviuvou. Mas o segundo marido, com o qual se dedicava às boas obras, resolveu fazer-se monge. Ela fundou um mosteiro no deserto de Tímia, governando-o até a morte.

iO São Deodato, Confessor + Roma, séc. VI. Era sapateiro. "Segundo São Gregório Magno, ele distribuía no sábado tudo quanto havia ganho na semana precedente" (do Martirológio).

1:1. Santa Clara, Virgem + Assis, 1253. Digna êmula de seu conterrâneo e contemporâneo São Francisco de Assis, fundou a Ordem segunda dos franciscanos, conhecida como Clarissas, dedicada à contemplação e ao cultivo da mais estrita pobreza.

ló ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA AOS CÉUS

.6 São Roque, Confessor + Montpellier, séc. XIV. Tendo perdido os pais aos 20 anos, partiu em peregrinação a Roma, passando pelos lugares empestados para tratar dos enfermos. Voltando à sua cidade natal, foi tomado como revoltoso e levado à prisão, onde morreu na miséria ao cabo de cinco anos.

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pido cristão, movido por uma graça particular, apresentouse à entrada do tribunal da cidade e desafiou: "Desejo morrer, porque sou cristão". Depois de diversas torturas, foi decapitado.

São Jacinto, Confessor + Polônia, 1257. "Depois de ter estudado em Cracóvia, tomou o hábito dos frades pregadores em Roma, das mãos do próprio São Domingos. Fundou a província dominicana da Polônia e estendeu seu apostolado para a Rússia e Prússia" (do Martirológio).

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Santo Euplúslo, Mártir + catânia, séc. IV. Este intré-

Santa Radegunda Rainha, Viúva + Poitiers, 587. Esposa de Clotário 1, rei dos francos, por sua virtude exerceu grande influência na corte. Retirou-se depois para um mosteiro que fundara em Poitiers.

9 São João Eudes, Confessor + França, 1680. Dele disse São Pio X: "Ardendo de amor extraordinário pelos Sagrados Corações de Jesus e Maria, foi o primeiro a pensar, e não sem inspiração divina, em tributar-lhes um cu lto litúrgico". Fundou o Instituto de Jesus e Maria (Eudistas) e as Filhas de Nossa Senhora da Caridade.

Santo Agaplto, Mártir

+ Palestina, séc. Ili. Com apenas 15 anos, mas j á cheio de amor de Deus, foi duramente flagelado com nervos de boi. depois entregue aos leões, que não o tocaram. Finalmente teve a cabeça decepada.

São Bernardo, Abade e Doutor da Igreja (Vide p. 43) :t

São Pio X, Papa e Confessor + 1914. O lema do seu pont ificado era Restaurar tudo em Cristo. Foi o grande Papa da Eucaristia, do Catecismo, do Direito canônico, do Canto gregoriano, e, sobretudo, o grande batalhador contra os erros da heresia modernista, antecessora do atua I progressismo.

NOSSA SENHORA RAINHA Antigamente esta festa comemorava-se a 31 de maio. No dia 22 de agosto celebrava-se a festa do Imaculado Coração de Maria.

Santa Rosa de Lima, Virgem, prlnclpal Padroeira da América Latina + 1617. Aos cinco anos fez voto de virgindade, vivendo entre extraordinárias penitências e mortificações, perseguições diabólicas e com unicações divinas. Tinha frequentes colóquios com seu Anjo da Guarda e com a Mãe de Deus. Foi a primeira santa elevada

à honra dos altares no Novo Continente.

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São Bartolomeu, Apóstolo

+ Séc. 1. Segundo autores antigos, seu verdadeiro nome seria Natanael, de quem Jesus disse: "Eis um verdadeiro israelita, no qual não há dolo". Levou o Evangelho a vários países, inclusive à Pérsia, Índia, Arábia e Armênia, onde teria sido esfolado vivo.

São Luís IX, Rei de França, Confessor + África, 1270. Árbitro entre os reis da Europa - e depois até mesmo entre os infiéis, por ocasião da VII Cruzada -, foi pai de seu povo, juiz para os ímpios, e defensor da fé contra os muçulmanos. Morreu vitimado pela peste na costa da África.

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Santo Agostinho, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Hipona, 430. Dele disse Leão XIII: "É um gênio vigoroso que, dominando todas as ciências humanas e divinas, combateu todos os erros de seu tempo". Morreu quando os vãndalos punham cerco ã sua sede episcopal, a cidade de Hipona, ao norte da África.

São Flacre, Confessor + França, 670. Era filho de um rei da Escócia. Instalou-se na França, onde construiu um mosteiro. Monge desbravador, muito venerado pelos jardineiros e horticu ltores, tornou-se muito popular na França.

29 Martírio de São João Batista São Seba Rei, Confessor + Essex (Inglaterra), 700. Rei de Essex, dele diz São Beda, o Venerável: "Era homem muito dado a Deus. Preferia uma vida isolada de caráter monástico a todas as riquezas e todas as honras do reino".

31 São Paulino de Tréverls, Bispo e Confessor + Tréveris, 358. Defensor da fé no Concílio de Nicéla e grande partidário de Santo Atanásio, ele foi por isso exilado pelo Imperador ariano Constâncio para a Ásia Menor, onde morreu entre não católicos, vítima de sofrimentos e fadigas. Nota: Os Santos Já referidos em Calendários anteriores têm aqui apenas seus nomes enunciados, sem nota biográfica.

'lti Santa Teresa de Jesus Jornet-e-lbars, Virgem + Líria (Espanha), 1897. "Nascida na Catalunha de uma famílía de agricultores, consagrou-se inicialmente ao ensino; depois fundou o Instituto das Irmãzinhas dos Idosos Abandonados" (do Martirológio Romano - Monástico). O Instituto logo se espraiou por toda a Espanha e também para o exterior.

7 Solenidade de Nossa Senhora dos Prazeres Um de seus santuários mais famosos no Brasil, o dos Montes Guararapes, nas cercanias de Recife, foi onde se travou a batalha decisiva dos brasileiros contra os hereges calvinistas.

Intenções para a San ta Missa em agosto Será celebrada pelo Revmo. Padre David Franclsqulnl, nas seguintes Intenções: • Pelos méritos e graças da Assunção da Mãe de Deus ao Céu - principal celebração mariana deste mês -, rezando pela fidelidade do clero brasileiro à autêntica doutrina católica, para que o Brasil e nossas famílias sejam preservados das heresias, do ateísmo e dos efeitos da Revolução Cultural, que prejudicam mais profundamente a j uventude.

Iu tenções para a Santa Missa em setembro • Em honra da Exaltação da Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pedindo para todos os colaboradores, assinantes e leitores de Cé!tolicismo o amor à Santa Cruz e as forças necessárias para suportarem corajosamente as cruzes que se apresentarem ao longo de suas vidas. Também rogando graças especiais para que todos os catól icos perseguidos em países de religião islã mica não esmoreçam, mas que, pelo contrário, sejam muito fortalecidos na fé.

catolicismo@terra.com.br / AGOSTO 2016

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LEONARDO PRZVBYSZ

ovos e frescos ventos sopram sobre a Polônia e a estão mudando desde a grande vitória, nas eleições de outubro de 20 15, ~o partido opositor Ordo Juris (Direito e Justiça) sobre o partido alinhado à política de Bruxelas, a Plataforma Cívica. Após anos de paciente espera, a opi-

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nião pública resolveu vingar-se e manifestar claramente sua adesão aos imutáveis e fu ndamentais princípios cristãos nos quais se baseia a sociedade polonesa. Apesar da crise que assola e ameaça destruir esta última, os poloneses veem na nova situaçã.o política uma grande chance de implantar leis que garantam a defesa da fam ília contra tudo que a vem minando sistematicamente. Assim, as forças sadias da sociedade se puseram sem tardar em ação, pedindo a total proibição do aborto, tendo recoibido para

esse fim 457 mil assinaturas, já encaminhadas à Câmara de Deputados. Sob o sopro desses novos ventos e para desagrado da esquerda, o governo cortou o financiamento do método de fertilização in vitro. Os grupelhos que promovem a agenda homossexual estão um tanto desanimados com a situação e resolveram recuar, pelo menos por alguns anos. O 111cs1110 se passa com aqueles que, com zelo diabólico, lentam implantar a Ideologia de Gênero. Nesse novo quadro político, foi igualmente bem rccubicla pelas famíl ias polonesas a decisão do novo

governo de lhes conceder ajuda mensal de 500 zlotys (aproximadamente 11 0 euros) por cada fil ho que nascer. Importa ressaltar que essa nova situação política na Polônia - no que concerne à defesa dos valores cristãos, como a família, a luta contrn o aborto, a fecundação.in vitrn, o homossexualismo e à Ideologia de Género - , se deve em larga medida à ação das Marchas pela Vida e pela Família iniciadas há 11anos pela Associação Padre Piotr Skarga sob o signo de seu estandarte auri-rubro, marchas que hoje se realizam anualmente em cerca de 140 cidades de todo o país. ❖ catolicismo@terra.com.br / AGOSTO 20 16

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A MBIENTES • C OSTlJM ES • CrVJLJ ZACOES

SAO JOAO DE LATRAO ESAOPEDRO Duas Basílicas romanas - duas fases distintas da Igreja Católica PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

uem visita Roma nota uma diferença que chama a atenção, e ntre a Basílica de São João Latrão e a Basílica de São Pedro. A Basílica de São Pedro é gloriosa, magnífica, ostenta todo o esplendor da Renascença. Entretanto, depois que se examina bem, fica no fundo da cabeça uma impressão de festa de casamento. A Basílica de São João de Latrão é mais discreta. Mas apresenta um tom de "grande dame", de uma nobreza, grandeza e paz. Ela reflete a consciência de sua própria dignidade, predicado que não possui a Basílica de São Pedro. Esta parece aflita em se exibir para obter adesão daqueles que a contemplam. Enquanto que na Basílica de Latrão isto está ausente. Esta é cônscia de si mesma, como que dizendo: "Em minha naturalidade sou assim. Não me enfeito, sou o que sou. Mas naquilo que sou, sou digna de respeito e veneração". É outra a impressão que se manifesta em relação à Basílica de São Pedro. São interessantes estas impressões, porque exprimem duas fases diversas da vida da Igreja. A Basílica de Latrão pode se~admirada em toda sua nobreza: representa a fase em que :ficamos em presença de uma espécie de naturalidade, dignidade e compostura. Já a Basílica de São Pedro reflete o bafo ou hál.ito da Renascença, representando outro espirita e modo de se apresentar. ❖ Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em 9 de novembro de 1965. Sem revisão do autor.



EXCEllTOS

SUMÁllIO

Renovação da mentalidade pública

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

á que tanto se fa la em renovação, seja na política, seja na leis, s 'ja na economia nacional, é tempo que se cuide da renovação fundame ntal de que o Brasil carece, isto é, a renovação da mentalidade púb li ca. Quebrada a unidade de pensa mento estabelecida pela Igreja na Média, a diversidade de tendências reli giosas e fil osóficas fo i gradualmente tomando tal incremento, que a anarqu ia triunfou completamente no domíni o da vida intelectual, estendendo-se daí, como onda de lava destruidora, a todas as instituições, a todas as nações e a todos os continentes. O Brasil sofre a ta l ponto das desastrosas consequências desse mal, que é imposs ível constituir-se hoje uma grande corrente de pensamento que seja capaz de se concentrar em um programa completo de reorgan ização nacional. É freq uente presenciar pontos de vista rad icalmente inconci liáveis defendidos por uma mesma pessoa com igual calor. São deste naipe os conservadores socia listas, os comu nistas que desejari am a abo lição da propriedade e a manutenção da famí li a, os li berais socialistas, os reacionários li berais etc. Todos os sentimentos, mesmo os mais nobres, são postos em xeque por doutrinas exóticas, sempre aceitas com fervo r. E, enquanto subsistir esse caos no mundo do pensamento, será absolutamente impossíve l instituir uma ordem duráve l no domínio da política e da

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DISCERNINDO

eco n om i a. ❖

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J Plinio Corrêa de Oliveira

É frequente

presenciar pontos de vista radicalmente inconciliáveis defendidos por uma mesma pessoa com igual calor. São deste naipe os conservadores socialistas, os comunistas que desejariam a abolição da propriedade e a manutenção da família, os liberais socialistas, os reacionários liberais etc.

Preguiça mental ou loucura?

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CORRESPONDÊNCIA

10 . A PALAVRA DO SACERDOTE Destinos finais do homem

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A REALIDADE CONCISAMENTE

Diretor1

Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável:

Nelson Ramos Barretto Registrado na DRT/DF sob o n" 3116 Administração:

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DESTAQUE Degolamento do idoso sacerdote católico na França

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VIDAS DE SANTOS São Mateus, Apóstolo e Evangelista

Excertos do artigo "Patriotismo", em "O Legionário" , n. 0 105, de 2 de outubro de 1932.

Rua Visconde de Taunay, 363 Bom Retiro CEP 01132-000 São Paulo - SP Serviço de Atendimento ao Assinante: (11) 3331-4522 (11) 3361-6977

CAPA

(11) 3331-4790 (11) 2843-9487 (11) 3333-6716 (11) 3331-5631 fax

O lugar da Anunciação e da Encarnação

Correspondência:

ENTREVISTA Os últimos Sínodos sobre a Família e "palavras-talismã "

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SANTOS E FESTAS DO MÊS

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AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

Ca ixa Postal 707 CEP 01031-970 São Paulo - SP Imrressão1

P rol Editor a Gráfi ca Ltda. E-mail:

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AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES Na arte, a escola veneziana e a florentina

NOSSA CAPA: A Santa Casa de Loreto

Preços da assinatura anual para o mês de Setembro de 2016: Comum: Cooperador: Benfeitor, Grande Benfeitor: Exemplar avulso:

R$ 180,00 R$ 270,00 R$ 460,00 R $ 760,00 R$ 18,00

CATOLICISMO P ublicação mensal da E di to ra Padre Bolcl,ior de Pon tes Ltda .

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CARTA DO DIRETOR

Uma obra de impacta'1te atualidade! Caro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

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Loreto é um dos santuários marianos mais célebres do mundo. É compreensível, pois as paredes que encerram a casa sagrada são testemunhas da Anunciação angélica do plano da Redenção do gênero humano e da Encarnação do Verbo de Deus. O artigo de capa desta edição descreve o percurso comprovado do milagre das três paredes da Santa Casa em Nazaré, na Palestina, até Loreto, na Itália. Especialista italiano sobre o tema desse grande prodígio explica que pelo menos cinco trasladações foram constatadas, não só das paredes, mas também do Altar dos Apóstolos, onde eles celebravam a Missa, por ocasião de suas visitas à Santíssima Virgem. As pedras do sagrado edificio apresentam a mesma origem na Palestina do mencionado Altar dos Apóstolos. A trasladação desse conjunto, ocorrida no século XIII, é atribuída a uma ação angélica, reconhecida por Papas e santos, bem como por testemunhas oculares e místicos. Merece menção outro fato extraordinário: a instalação da Santa Casa numa estrada pública de Loreto. Arqueólogos e arquitetos, examinando o subsolo da construção, julgam impossível humanamente essa instalação, pois inexistem as bases materiais para a edificação de uma casa. Ademais, investigações demonstraram um claro contraste da Santa Casa com as construções da região de Loreto e os costumes urbanísticos do século XIII. Enquanto as paredes são constituídas por pedras, as construções em Loreto são de tijolos. O Bem-aventurado Papa Pio IX, na Carta Apostólica Inter Omnia, de 1852, afirma: "Entre todos os Santuários consagrados à Mãe de Deus, a Imaculada Virgem Maria, um se encontra em primeiro lugar e brilha com incomparável fulgor: a venerável e augustíssima Casa de Loreto". O relato histórico apresentado nesta edição e esse incomparável elogio papal ao Santuário servem como estímulo a uma cresce:r:ite devoção de Nossa Senhora de Loreto. Desejo a todos uma boa leitura. Em Jesus e Maria,

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Desacreditada junto à opinião católica, a Teologia da Libertação (TL) procura reviver agora com novas roupagens - como as chamadas teologias negra, indigenista, ambientalista, de "gênero", etc - , favorecida por inesperados apoios eclesiásticos e publicitários. Essa reaparição torna atualíssimo o tema do presente livro, Teologia da Libertação - Um salva-vidas de chumbo para os pobres, em cujas páginas o leitor encontrará uma ampla e documentada relação das origens históricas da TL, a sequência dos eITos dos quais se nutre, as estratégias que utiliza para se apresentar na Igreja, os altos e baixos de sua trajetória lado a lado com o comunismo; corno também para revelar seus nefastos efeitos, piorando a situação daqueles a quem ela presume " libertar", os pobres da América Latina. Inclui ainda o detalhe das novas aventuras nas quais a TL se lançou no século XXI, sempre procurando revolucionar a Igreja e a sociedade. Pelo seu excepcional valor didático, apologético e documental, esta obra constitui eficaz antídoto contra o veneno da TL. Sendo assim, certamente contribuirá para precaver os católicos contra as tentativas de fazer ressurgir, metamorfoseada e camuflad.a,. uma corrente revolucionária que tanto d à Santa Igreja, ao l3r ~$ da América Lât


DISCERNINDO

Da r:r:eguiça mental a loucura CID ALENCASTRO

xistem dois tipos de loucos. Um é o pobre coitado que, por uma deformidade cerebral, congênita ou adquirida, ou mesmo pela idade avançada, perde a capacidade de se autogovernar. Merece ele nossa compaixão e ajuda em toda medida do possível. Mas há outro tipo de louco, este culposo. É aquele que, sem padecer de nenhuma anomalia cerebral, viciou-se em agir de modo contrário à razão e ao bom senso. Peca contra a sabedoria, em geral porque se entregou a alguma paixão desvairada que o tiraniza e lhe impede o reto agir e pensar. As subespécies deste tipo de loucura são infindas. Exemplifiquemos. Logo se poderá .pensar na paixão da sensualidade, com sua variante romântica, que cega o indivíduo e o faz transgredir todas as normas da prudência e do bom senso, e por vezes também da justiça, podendo facilmente chegar até o crime. Tudo para satisfazer um impulso irracional que o escraviza e arrasta. É um louco. Mas a sensualidade é apenas uma das paixões que enlouquecem o homem. Poderíamos falar da ambição, do orgulho, da inveja etc. Pode parecer surpreendente, mas talvez apreguiça, sobretudo a mental, seja a paixão mais frequente em produzir mentecaptos. Habituando-se a não fazer esforço, a não querer enfrentar o ambiente hostil que o rodeia, a nunca lutar - "dá trabalho" ... "dá preocupação" ... "exige empenho" ... "não é comigo" ... - a pessoa acaba ficando meio abobada e se deixa levar pela televisão, pela moda, pela opinião dos outros, como uma folha seca que

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o vento carrega para qualquer lado e acaba por ser pisada como inútil e desprezível. É um néscio, um idiota, um imbecil com o qual não se pode contar para nada de sério ou racional. A preguiça mental costuma exercer forte tirania em relação aos seus escravos, a ponto de estes preferirem qualquer coisa a terem que lutar ou fazer algum esforço. Disseram-me que o colesterol é produzido por gorduras que aderem às faces internas das veias e impedem o sangue de circular

normalmente. A imagem me é muito cômoda para exprimir esse "engorduramento" das veias do pensamento, que impede a irrigação do cérebro pelo sangue vivo e borbulhante da reflexão bem feita, da observação precisa, da análise objetiva da realidade. E, tudo isso, porque pensar pode levar a conclusões desagradáveis, pode ser um convite à luta, ao esforço, em suma, obriga a sair de entre os lençóis mentalmente "engordurados" da preguiça para o campo de batalha. Se as evidências furam os olhos, o melhor é fechá -los para não ver e não ter que sair das prazerosas comodidades interiores da moleza. Esse gosto mórbido da inação mental explica que tenha sido possível aos arautos da esquerda ir introduzindo no convívio social das nações, sem opos ção proporcionada, as mai

res aberrações intelectuais, como a Ideologia de Gênero, a generalização da matança de inocentes no ventre materno, os horrores da arte moderna; e, na Igreja, a contestação de doutrinas evidentes, a demolição de cerimônias ancestrais belíssimas, de costumes tocantes. São máquinas de opinião pública que vêm despejando sobre as pessoas esses e outros horrores, como certos tubos enormes despejam asfalto numa via de terra para se construir ali uma estrada, enquanto o "louco" olha para isso com olhar desagradado, mas aparvalhado. Alguém dirá: mas muitas pessoas não estiveram de acordo com essas novidades malsãs! O problema é exatamente esse! A grande maioria dos que não estavam de acordo não quis lutar, limitou-se a um choramingo de desagrado. Preferia que não houvesse essas mudanças, rnas deixar suas comodidades interiores para entrar no campo de batalha ideológico, muitas vezes psicológico, isso não! Ante tal O!Jlissão, as muralhas da civilização cristã foram sendo derrubadas uma a uma, sem que os habitantes da cidade de Deus se levantassem denotadamente para impedir a entrada dos inimigos. Hoje estes dominam. Tudo isso é verdade, pode-se ponderar, mas agora já é tarde, o mundo está entregue e muitos pastores se transformaram em lobos. O que fazer? Nossa Senhora prometeu em Fátima que ao final de todo esse processo de horror e de pecado o seu Coração Imaculado triunfaria. Comecemos nós a rezar e a lutar para que, quando esse triunfo se der, ele encontre almas prontas a recebê-lo e a entusiasmar-se com ele. E não almas modorrentas que só servem como palha para o fogo. Triunfarão com a Santíssima Virgem aqueles que agora, in extremis, se levantarem e lutarem por Ela. Surrexerunt fili ejus, et beatissimam praedicaverunt (Prov. 31,28) - Seus filhos se levantaram e A proclamaram bem-aventurada. ❖ catolicismo@terra.com.br / SETEMBRO 2016

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CARTAS DOS LEITORES .............................................................. God save the Britain Concordo integralmente com o artigo Reino Unido abandona o barco furado da União Europeia. Eu só peço a Deus que a Inglaterra consiga perseverar na sua decisão.

havia uma união de ideais, fundada nos valores cristãos, enquanto qu e a unificação atual da Europa é imposta por ditadores socialistas. Isto não se sustenta e tende a ruir como ruiu a velha União Soviética. A saída do Reino Unido é apenas o primeiro passo.

(W.G.D.-RS)

(C.L.-RJ)

Palavras imorredouras

"Borracha ditatorial"

Grande Professor Plínio Corrêa de Oliveira! Seus escritos são sempre atuais, são palavras imorredouras que ecoam em nosso século. A previsão dos problemas decorrentes da União Europeia , provocando mais desuniões que confraternizações, é prova de que ele foi um Profeta enviado por Deus para nos alertar contra os planos da maçonaria secreta e anticristã.

Os ditadores que dirigem a UE estão passando a borracha em todas as maravilhas produzidas pela diversidade das nações europeias. Isto enquanto favorecem a entrada dos islâmicos, que se incumbirão de dar o tiro de misericórdia no que sobrar da "borracha" ditatorial. Tais ditadores espalharam o pânico do afundamento do Reino Unido se ocorresse a separação; mas, pelo contrário, pelo que temos visto a economia do Reino Unido, após o Brexit, está mais sólida.

(L.M. - SP)

(T.G.O. - MG)

Plano anticristão Ao estudar os escritos do Prof. Plínio sobre o plano de implantação de uma "República Universal", consolidouse bastante minha opinião sobre a União Europeia. Tal federação é a realização de um plano maquiavélico da velha maçonaria anticristã. Pretextando união entre os povos, causará ainda mais repulsa entre eles. Em nome do "politicamente correto" e do "multiculturalismo"., os mentores da UE produzirão ainda mais desastres políticos e econômicos, talvez até guerras. Tudo fruto do "belo" objetivo "multicultural " de igualar todos os povos europeus e depois da Terra inteira. É o velho sonho igualitário do totalitarismo. O exemplo da Inglaterra, espero, inspirará os demais países a se livrarem o quanto antes da catástrofe e, inclusive, do domínio dos "refugiados" muçulmanos.

(C.K.P. - SC) UE ruirá como a União Soviética União ou desintegração europeia? Acho que essa união artificial vai mais para desintegração social, política e econômica, destruindo o rico passado da Cristandade, que criou fecundas raízes no solo do velho continente. Eliminando-se os últimos frutos do Sacro Império Romano Alemão, a UE fica presa no totalitarismo, num como que "Estados Unidos da Europa" dirigidos com mão de ferro pelos burocratas de Bruxelas. No Sacro Império

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Destruição da base moral Apesar de tudo, a saída inglesa da União Europeia foi um revés para a ONU! Mas seus agentes não desistirão de seus planos: a satanomaçonaria é implacável! O neocomunismo do século XXI contra-ataca seduzindo as pessoas para a alienação, pois sabe que dominar os cristãos bem informados é impossível. Confira se os métodos de tais agentes não estão criando o caos social pela "luta de classes" e implantação do relativismo, querendo extinguir todos os vestígios do cristianismo católico, em particular: "Usemos os idiotas-úteis na linha de frente, instiguemos os ódios entre pessoas e grupos; destruam sua base moral, a família e a espiritualidade e comerão as migalhas que caem de nossas mesas" (Lênin). Os programas ideológicos que impingem nos países da UE e afins estão na contramão dos 10 mandamentos do Senhor Deus, pois esses conspiradores, diabólicos déspotas, exaltam o homossexualismo, o aborto, a pedofilia, a Ideologia de Gênero, ódios, vinganças, roubos, traições, espiritismo, incesto, corrupções gerais etc. E quem não aceitar as ideias desses impostores é tratado como discriminador, intolerante, homofóbico etc. Existem ao acaso manifesta ções homossexuais em capitais de países comunistas, como Havana, Moscou , Pequim , Pyongyang, mesmo de seus aliados muçulma-

nos? A tática dos conspiradores da UE é hipocritamente facilitar a integração dos povos, e quem recusar tentarão massacrar! No entanto, os planos deles direcionam para a massificação dessas nações: aliená-las, sufocá-las e depois as submeter; e como têm a grande mídia a favor, ajudará! E os planos iam bem, até que os ingleses deram essa freada; resta saber até quando resistirão ao assédio do globalismo, aliado dos muçulmanos!

(G.I.P. - SP) Complô progressista Parabéns ao Instituto Plinio Corrêa de Oliveira pelo valioso trabalho ("Amoris laetitia abre os braços_da Igreja e da sociedade para a demolição programada do casamento e da família") em favor da Igreja de Cristo e da família cristã. Mais do que nunca se faz necessário desmascarar e trazer a público toda a armação arquitetada pelos progressistas para destruir a verdadeira doutrina.

(S.S.-PR)

Dolorosa perplexldade Há algum tempo estou preocupado com os pronunciamentos sobre a "Família" do Papa Francisco. Tenho acompanhado com atenção e sempre me causam perplexidade. Li todo o manifesto do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e agora percebo bem que as forças antifamília estão aproveitando nosso respeito e veneração pelo Papa, e usando o Papado para a demolição da Cristandade e da Moral. Ora, o Papa deveria ser o guardião da Moral, deveria ser aquele que nos governa e santifica, e pelo contrário ele tem usado a linguagem dos d_estruidores da família, os jargões dos promotores do feminismo e da homossexualidade! A situação é realmente muito triste, mas nossa fidelidade à Igreja nos deve levar a ver o problema e não nos calar. Obrigado pela coragem de esclarecer e de falar.

(L.M.A. - SP) O perigo da "quinta-coluna" Totalmente de acordo com o Arcebispo de Vészprem (Hungria) e com o Cardeal Arcebispo de Praga em suas declarações contra a invasão islâmica na Europa. Eles dizem o que todas as pessoas sensatas sabem e dizem. Por enquanto, o perigo não está na invasão da Europa, mas nas suas "quintas-colunas" dentro da Europa. Aumenta o perigo o fato desta "quinta-coluna" ser formada por vultos de primeira ordem, dos quais é justo esperar um pouco de bom senso.

PT sorrateiro Sou totalmente a favor do movimento ANTI-PETETIZAÇÃO. O domínio do PT vem sendo implantado no Brasil de forma sorrateira, por pessoas sem escrúpulos, com ideologias análogas às do Maduro na Venezuela. Fora PT e seus projetos comunistas.

(D.H.R. - BA)

Não desistir, mas resistir... Eu simplesmente desisti. Fui um empreendedor, lutei com todas as minhas forças, empreendi coisas grandiosas, mas no final sempre quem ganhou foi o Estado, quase nada sobrou para mim; aliás, sobrou um pequeno apartamento num bairro popular, cujo condomínio eu tenho dificuldades para pagar. Esse é o Brasil: suga toda energia vital de seus empreendedores para manter um monte de preguiçosos inúteis se achando os seres mais importantes do planeta. Não trabalho mais para o governo, vou viver um dia após o outro. Aliás, como a CNBB quer..., vou me manter pobre para não poder ajudar mais ninguém ... E muitos como eu desistiram. Por isso o Brasil, se continuar com tal sistema, não irá nunca mais crescer e se desenvolver, vai para o quinto mundo, pois é isso que a igreja esquerdista e o governo querem. Venezuela, estamos chegando.

(P.P.-SP)

F RASES S ELECIONADAS ••••••••••••••••••••

"A boa educação é moeda de ouro: em toda parte tem valor" (Pe. Vieira)

"O homem não educado é a caricatura de si próprio" (Schlegel)

"Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos" (Pitágoras)

"Dar livro, além de uma gentileza, é um elogio" (Sêneca)

"A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces" (Aristóteles)

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PALAVRA DO SACERDOTE

Pergunta - Num artigo anterior desta seção, o senhor fala sobre o nosso destino após o Juízo Final, que terminará em "novos céus e nova terra". Mas se o Céu será o lugar de eterna felicidade para os que se salvarão, e o Inferno o de tormento sem fim para os que se condenarão, como desfazer a dúvida de que teremos "três" destinos após o julgamento universal? Resposta - O nosso missivista faz referência ao terceiro capítulo da Segunda Epístola de São Pedro, na qual o Príncipe dos Apóstolos fala do fim do mundo: "Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se dissolverão, e será consumida a Terra com todas as obras que ela contém. "Uma vez que todas estas coisas se hão de desagregar, considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade, enquanto esperais e apressais o dia de Deus, esse dia em que se hão de dissolver os céus irifl,amados e se hão de fundir os elementos abrasados! "Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova Terra, nos quais habitará ajustiça" (2 Pd 3, 10-13). Com efeito, como ensina o Catecismo da Igreja Católica, "o triunfo de Deus sobre a revolta do mal tomará a forma de Juízo Finql, após o último abalo cósmico deste mundo passageiro " (nº 677). E mais adiante: "Também o universo visível está, portanto, destinado a ser transformado, 'a fim de que o próprio mundo, restaurado em seu

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Monsenhor José Luiz Villac primeiro estado, esteja, sem mais nenhum obstáculo, a serviço dos justos' (S. Jreneu), participando de sua glorificação em Cristo ressuscitado" (nº 1047). A glória celestial ou o tormento infernal

Caso tenhamos entendido corretamente a questão colocada por nosso missivista, ela parece supor que "os novos Céus e a nova Terra " corresponderiam a um terceiro destino para os homens após o Fim do Mundo, entre o Céu e o Inferno. Na realidade, como dissemos em artigo anterior desta seção a respeito da glorificação dos corpos, essa purificação final da Terra tem como objetivo rodear os homens de um universo físico que esteja de acordo com o estado incorruptível dos bem-aventurados. Portanto, os "novos Céus e a nova Terra" identificam-se lato sensu com o Céu empíreo e não constituem um lugar intermediário entre ele e os antros infernais. Outra interpretação possível da pergunta do nosso missivista seria que ele imaginasse que o Purgatório, o qual constitui atualmente um terceiro estado, distinto daque-

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le dos santos e dos precitos, continuaria a existir após a ressurreição dos corpos. Na realidaâe, não será assim. No "dia da manifestação do Senhor Jesus ", como diz São Paulo aos Tessalonicenses, "Ele descerá do Céu com os mensageiros do seu poder, por entre chamas de fogo, para fazer justiça àqueles que não reconhecem a Deus " (2 Ts 1,8). E, para os justos que viverão nos Últimos Tempos, dito fogo será a sua derradeira prova, a qual suprirá para eles o Purgatório. Portanto, as chamas purificadoras deste último extinguir-se-ão no momento mesmo da ressmTeição dos corpos, para não se acender mais. Dessa maneira, só há dois destinos eternos, e não três: ou a felicidade do Céu ou os tormentos do Inferno.

final do grande drama de Criação. Todos os elementos hostis a Deus terão desaparecido. Nosso Senhor Jesus Cristo terá aniquilado e afastado toda maldade e oferecerá ao Pai Eterno a coroa dessa nova humanidade. Ele mesmo, enquanto Cabeça dessa humanidade, submeter-se-á ao seu Pai: "Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus ao Pai, depois de haver destruído todo

principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que Ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés. O último inimigo a derrotar será a morte, porque Deus sujeitou tudo debaixo de seus pés. Mas quando ele disser que tudo lhe está sujeito, é claro que se excetua aquele qüe lhe sujeitou todas as coisas. E, quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho rende-

rá homenagem àquele que lhe sujeitou todas as coisas, afim de que Deus seja tudo em todos" (1 Cor. 15, 24-28). Nosso destino é, portanto, a posse de Deus e a vida eterna. O Céu, eis a luz que faz empalideCoroação de Nossa Senhora e Juízo Final (1260- 70). Díptico do acervo do Metropolltan Museum of Art de Nova York.

Coisas que acontecerão no fim dos tempos

Uma verdade muito consoladora a respeito do estado escatológico do mundo é precisamente esta: ele se caracterizará por uma propriedade que não se encontra nesta Terra - a separação. Separação do bem do mal, da felicidade da infelicidade, da harmonia da cacofonia. Para os bem-aventurados, será urna verdadeira "ilha da felicidade". Não se verá mais coexistir lado a lado, como neste vale de lágrimas, a virtude e o vício, a verdade e o erro, o amor e o ódio. A plena harmoni a caracterizará "os novos Céus e a nova Terra " e seus habitantes. É por essa separação definitiva que São Paulo caracteriza o ato catolicismo@terra.com.br / SETEMBRO 2016

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cer os atrativos, por vezes tão vivos, das coisas presentes, e nos leva, como aos santos, a enfrentar os mais rudes trabalhos e a nos alegrar das nossas provações! Como diz o Apóstolo, citando Isaías, lá veremos "coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam" ( 1 Cor. 2,9).

mal: "Deus enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição" (id. 21,4); "Já não haverá noite, nem se precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e hão de reinar pelos séculos dos séculos" (Ap 22, 5).

"Deus enxugará toda lágrima de seus olhos"

Pelo contrário, o Inferno é também um lugar e um estado da alma. É o lugar dos eternos tormentos, que Nosso Senhor caracteriza como "as trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes" (Mt 8, 12), aquela geena feita de 'fogo inextinguível, onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga" (Me 9, 43-44). Nesse lugar, os condenados padecerão principalmente da privação eterna da visão de Deus (também chamada pena de dano). Além do mais, passarão o tempo todo na companhia dos demônios e dos outros precitos, aborrecendo-se mutuamente e cometendo entre si todo tipo de crueldades. E sofrerão, finalmente, o tormento do fogo, como se depreende dos ensinamentos de Nosso Senhor: "Sou cruelmente atormentado nestas chamas", queixa-se, por exemplo, o homem rico da parábola (Lc 16, 24). Se pensarmos que por um só pecado mortal o homem se afasta inteiramente de Deus e, se morrer privado de sua graça, é como o sarmento seco que é jogado ao fogo, somos loucos se não nos arrependennos imediatamente, não pedir-

Se o céu estrelado já é tão belo, quão mais belas serão as cercanias do trono de Deus! Se esta Terra já nos oferece tantos deleites, o que serão os deleites do Céu, em comparação com o qual a Terra parece um deserto? Mas os gozos do Céu não são meros prazeres sensíveis como os da Terra, porque mais do que um lugar de delícias, é um estado da alma que consiste na visão de Deus, na paz e no gozo do espírito. De fato, nós gozamos no Céu sobretudo da visão direta de Deus, pois "hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a.face" (1 Cor. 13, 12) e, por isso, "seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como Ele é" (1 Jo 3,2). Rejubilar-nos-emos também com o amor da amizade dos outros moradores do Céu, onde se realizará na sua plenitude a união de corações que Nosso Senhor pediu para a Igreja: "Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti" (Jo 17, 21). E, por último, como já dissemos, gozaremos da isenção de todo

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Lugar onde "o fogo não se apaga"

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mos a ajuda de Nossa Senhora, e não formos nos confessar para tirar beneficio da infinita Misericórdia que está à nossa espera para se reconciliar conosco. E se considerarmos a imensidade de pecados que são cometidos a cada minuto em nossa sociedade neopagã, e quantas almas vão para o Inferno por causa da atual corrupção moral, não pouparemos esforços para atender aos pedidos

formulados por Nossa Senhora em Fátima, particularmente a devoção reparadora dos cinco Primeiros Sábados.

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Para concluir, apenas uma precisão: quando dissemos acima que há somente dois destinos eternos, a felicidade do Céu ou os tormentos do Inferno, estamos nos referindo a todos os batizados e aos adul-

tos não batizados. Pois os teólogos tradicionais formularam a hipótese teológica do "limbo das crianças", ou seja, uma morada de plena felicidade natural para as crianças e as pessoas desprovidas de razão (incapazes, portanto, de pecar) que morreram com a mancha do pecado original, as quais, por não terem sido batizadas, não podem gozar da visão beatífica. Esta hipótese, que tem preva-

lecido nos manuais desde a Idade Média, entretanto não exclui que Deus possa ter disposto outros meios, não comunicados aos homens, para salvar até mesmo as crianças que morrem sem o batismo. Por exemplo, abrindo para elas uma oportunidade de escolher entre o bem e o mal. ❖ Representação do Juízo Final na fachada da catedral de Relms (França)

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Enérgica atitude anticomunista de cardeal chinês

Satânica profanação pública de imagem de Cristo no Chile Agitadores que saíam de uma passeata estudantil esquerdista em Santiago do Chile arrancaram um grande crucifixo da igreja da Gratidão Nacional, profanando-o e destruindo-o na rua em um ato satânico. O responsável pela paróquia pediu proteção policial, mas as autoridades do país, presidido pela socialista Michelle Bachelet, só intervieram quando o mal estava consumado. Os fautores do crime contra a Religião estão na vanguarda da Revolução Cultural ateia e materialista. Mas por que espezinham uma imagem de gesso? Eles o fazem porque são movidos por um ódio infernal que supera o raciocínio e o próprio materialismo, ódio esse que se volta contra Cristo, a Igreja Católica e seus mais sagrados e genuínos símbolos.

Se for estabelecido um acordo entre a China comunista e a Santa Sé com "a aprovação do Papa ", os fiéis não estarão obrigados a levá-lo em consideração, declarou o Cardeal Joseph Zen, arcebispo emérito de Hong Kong. Ele aconselhou os católicos chineses a uma atitude de resistência diante de eventuais acordos entre Pequim e o Vaticano. O purpurado prognostica um futuro catacumba! para os fiéis que não aceitam tal acordo com o regime comunista chinês: "Pode ser que não tenhais local público algum para rezar nem possais receber os sacramentos, mas o Senhor Jesus descerá até os vossos corações ". A "resistência" que ele antevê poderia ser breve: "A Igreja primitiva teve de esperar 300 anos nas catacumbas. Acredito que não teremos de esperar tanto. O inverno está para acabar".

Redes sociais: acentuado perigo para a infância Menina argentina de 12 anos foi assassinada por um hom em de 26 que a conheceu no Facebook. Crianças de 8 a 12 anos constituem o grupo mais vulnerável por abusadores sexuais via Internet. Segundo especialistas, os pais que só se preocupam com a vida virtual de seus filhos quando estes completam 12 anos estão chegando tarde . Embora sejam ainda crianças, só viveram relações virtuais, quase sem contato com o mundo, ficando indefesos face aos perigos que este representa. "Os filhos só têm o conhecimento instrumental, mas muitas vezes não percebem a dimensão do perigo. É preciso alertá-los a respeito e perguntar o que eles fizeram na Internet, o que viram, com quem fa laram ", observam especialistas na matéria .

Estudo do sol prevê surgimento de mini-era de gelo Em 7 de julho não se observou nenhuma mancha de explosão no sol. O fenômeno caracteriza uma baixa ativid ade solar e sinaliza a aproxima ção de um " mínimo solar" ou período de baixa atividade do astro-rei, significando que nova " mini-era do gelo" pode estar a caminho. Esta poderá ser análoga à situação iniciada em 1645, quando o rio Tâmisa (Inglaterra) chegava a congelar no inverno, para alegria das crianças e negócio dos feiran.:tes. A evolução solar detectada esvazia pretensões do terrorismo ambientalista de um aquecimento global, susceptível de induzir a tragédias planetárias dramáticas.

Muçulmanos que se voltam para a Igreja Católica Na Áustri a, no primeiro trimestre de 2016, a Igreja Católica registrou 300 pedidos de batismo de adultos, 70% dos quais de refugiados. Em Liverpool (Inglaterra), a maioria dos cerca de 100 a 140 fi éis que assistem à Missa é formad a por imigrantes do Afegan istão e do Irã . Johannes,.iraniano que reside em Viena, declarou : "O Islã era totalmente diferente do que eu tinha aprendido na escola, é uma religião que se estabeleceu pela violência ". Na Arábia Saudita, Mohammed (nome fictício) pediu o batismo numa igreja do exterior e regressou a seu país. Dom Bechara Boutros Ra'i", Patriarca católico maronita de Antioquia , constatou "conversões secretas ao Cristianis mo entre os muçulmanos " e previu uma "primavera cristã ". No Marrocos, a presença cristã triplicou em 15 anos. Os neófitos associam o Islã à ign orância . Essas conversões são um tanto delicadas, porque a lei islâmica ordena matar todos os que se torn em cristãos. Ante tal situa ção, é incompreensível que católicos progressistas sejam indiferentes a essas almas com o pretexto de não prejudicar o "diálogo religioso" ...

Vietnã: catolicismo cresce e polícia comunista aplica violência No distrito de Mung Khuong, policiais comunistas irromperam durante a Missa , expulsaram os fiéis, espancaram um jovem e prenderam dois outros. Trn T.T, testemunhou : "Golpearam-me como se fosse um criminoso. Estrangulavam-me enquanto batiam minha cabeça contra o muro e apagaram todos os arquivos de meu celular". Na delegacia , Trn disse: "A polícia quis me obrigar a assinar um documento garantindo que não iria mais à Missa. Eu não assinei". Apesar do terrorismo oficial, os fiéis do Sul não se rendem. No Vietn ã oprimido , 24 milhões de pessoas (sobre um total de 90 milhões de habitantes) praticam alguma religião. Há 5.658.000 católicos (6,87 % da população total), 26 dioceses, 2.228 paróquias e 2.668 sacerdotes.

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Universitários chineses desconsideram aulas de marxismo Quem almeja obter título universitário na China deve ser bem-sucedido na disciplina de marxismo. Como o comunismo está perd endo fôlego na juventude, o presidente Xi Jinping necessita promovê-lo artificialmente! Os estudantes julgam que essa doutrina igualitária "é chata, não é útil e é uma perda de tempo ", como observou um deles, que pensa como quase 99% de seus colegas. Os membros do partido comunista estão diminuindo. Faltam mestres marxistas, embo ra sobre dinheiro para pagá-los. Os pensadores comunistas alertam para a margi na liza çã o da teoria de Marx, enquanto cresce o interesse pela religião. Quando uma ideologia não persuade, ela morre nas mentes, não adiantando querer impô-la pela força .

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DESTAQUE

FRANÇA O sacrílego e bárbaro atentado do terrorismo islâmico O atentado perpetrado pelos muçulmanos que degolaram o idoso sacerdote francês reveste-se de um significado simbólico, que deveria ser próprio a despertar o espírito de cruzada na alma dos católicos

••••• PAULO ROBERTO CAMPOS

a manhã do dia 26 de julho, dois muçulmanos degolaram o Padre Jacques Hamel, de 86 anos [foto]. Armados com facas e gritando "Allahu Akbar" (Alá é Grande), bem como outros louvores ao "Estado Islâmico", os sequazes de Maomé invadiram a igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray (Norte da França), enquanto o sacerdote celebrava a Missa matinal. Alguns dos presentes foram tomados como reféns, entre os quais duas freiras. Ato contínuo, com suma crueldade e covardia, os terroristas obrigaram o sacerdote a ajoelhar-se diante deles, e ali mesmo o degolaram. Dois paroquianos foram gravemente feridos. Uma religiosa, irmã Danielle Delafosse, conseguiu fugir e chamou a polícia, que cercou a Igreja e abateu os dois assassinos. O "Estado Islâmico" assumiu a autoria de mais este cruel atentado na França, jactando-se que os terroristas eram "dois de nossos soldados ". O sacerdote degolado mantinha relações cordiais e colaborava com os muçulmanos da cidade, a ponto de há 16 anos ter oferecido um terreno para a construção da mesquita local... É bem o caso de recordar o dito espanhol: "Cria cuervos que te sacarán los ojos " ("Cria corvos, e eles te arrancarão os olhos" ...).

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"Marcharemos sobre Roma para quebrar as cruzes"

Enquanto alguns chefes de Estado europeus abrem indiscriminadamente suas fronteiras para a entrada de "imigrantes" maometanos, estes vão se estabelecendo e sendo aliciados e preparados por chefes da religião islâmica para perpetrarem atentados terroristas visando colocar a Europa "de joelhos" e dominá-la. Sempre alentando o projeto de aniquilação da Cristandade europeia, por meio de uma espécie de gigante ca

contra-cruzada pela destruição da Cruz de Cristo e a implantação do Crescente de Maomé! Entretanto, segundo a Agência de Notícias "Zenit" (26-7-16), o Pe. Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, difundiu na ocasião uma nota à imprensa na qual simplesmente lamentava a execução do sacerdote francês. Sem denunciar o islamismo, escreve: "Sigamos a situação e esperemos mais informações para compreender melhor o que aconteceu ". A fim de se "compreender melhor o que aconteceu ", o momento é oportuno para relembrar a ameaça a Roma proferida em 1962 por Gamai Abdel Nasser, presidente do Egito entre 1954 a 1970: "O Crescente arrastou a Cruz na lama... Só uma cavalgada muçulmana é que nos poderá restituir a glória de outrora. Essa glória não será reconquistada senão quando os cavaleiros de Alá tiverem pisoteado São Pedro de Roma e Notre-Dame de Paris" ("Nouvelles de Chrétienté", Nº 362, de 13-9-1962). E mais recentemente, o comandante do grupo terrorista "Estado Islâmico", Abu Bakr Al-Baghdadi, ameaçou: "Marcharemos sobre Roma para quebrar as cruzes ".

mou os príncipes europeus a se unirem numa frente comum contra o invasor. Reuniu uma pequena esquadra, que entregou ao comando de Dom João d' Áustria, pedindo-lhe que partisse logo ao encon-

No século XVI, o impedimento da invasão islâmica na Europa

Conviria também recordar que, no século XVI, quando a Europa esteve prestes a ser invadida por mar pelos maometanos, o Papa São Pio V conclacatolicismo@terra .com.br / SETEMBHO 201 6


Cristina de Assis Ribeiro e sua filha, Kayla, de apenas seis anos! Declarações desse gênero tendem a enfraquecer a w-gente necessidade de resistência ao crescente perigo de domínio maometano no continente europeu. E para se opor a tal domínio, além da oração, va\e lembrar o exemplo dos cruzados. *

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· Em oposição ao perigo islâmico, no dia 30 de julho a associação francesa Avenir de la Culture* lançou um comunicado com uma caita dirigida a Dom Georges Pontier, Presidente da Conferência dos Bispos da França. Trata-se de urna súplica em defesa da identidade cristã daquele país, tendo em vista. a grave ameaça que o islamismo representa especialmente para. a nação "filha primogênita da. Igreja católica". A seguir, a transcrição integral da muito oportuna carta acima mencionada.

Um martírio que parte o coração, Inas abre os olhos! Súplica a Dom Georges Pontier, Presidente da Conferência dos Bispos da França tro do inimigo. No dia 7 de outubro de 1571 travouse a célebre Batalha de Lepanto no golfo do mesmo nome. Dom João d' Áustria mandou hastear o estandarte oferecido pelo Papa e bradou: "Aqui venceremos ou morremos", e deu início à batalha contra os seguidores de Maomé. Os primeiros embates marítimos foram favoráveis aos muçulmanos que, formados em meia-lua, desfecharam violenta carga. Os católicos, com o terço ao pescoço, prontos a dar a vida por Deus e tirar a dos infiéis, responderam aos ataques com o maior vigor possível. Por fim, através de um surpreendente e milagroso auxílio da Santíssima Virgem aos cristãos, a esquadra maometana bateu em retirada. Os infiéis perderam 224 navios (130 capturados e mais de 90 afundados ou incendiados), quase 9.000 maometanos foram capturados, tendo morrido 25.000, enquanto as perdas católicas foram bem menores: 8.000 homens e apenas 17 galeras perdidas. Com essa memorável vitória católica em Lepanto a Europa ficou livre da dominação islâmica naqueles idos. (Cfr. William Thomas Walsh, Felipe 11, EspasaCalpe, Madrid, 1951, p. 575). E em nossos dias? Os europeus assistirão de braços cruzados à nova tentativa de domínio do glorioso Velho Mundo? Permitirão que o perigo maometano se agigante em tais proporções a ponto de não adiantar mais resistir? . CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

"Conviver com o terrorismo" ou seguir o exemplo dos cruzados?

No ano passado, após um dos atentados do terrorismo islâmico em Paris, Aboubakar Shekau, líder do grupo muçulmano Boko Haram, declarou: "Estamos muito felizes com o que aconteceu no centro da França. Ó,franceses, vocês que seguem a religião da democracia, entre vocês e nós a inimizade é eterna."· Um ano antes dessa patética declaração, Dom Amei Nona, Arcebispo de Mosul - terceira maior cidade do Iraque - , após relatar as atrocidades praticadas pelos maometanos em sua região, como abuso de meninas, incêndios de igrejas e casas, escravidão de mulheres que viram seus maridos serem degolados etc., afumou: "Nossos sofrimentos de hoje constituem o prelúdio daqueles que vós, europeus e cristãos ocidentais, experimentareis num futuro próximo". Quantas cabeças ainda precisarão rolar na Emopa para que as autoridades tomem providências sérias e eficazes e não fiquem mais repetindo o mantra "politicamente coITeto" de que o "islamismo é uma religião de paz"? Ou ainda o disparate proferido pelo primeiro-ministro francês Manuel Valls? Este, em 15 de julho último, declarou: "Entramos em uma nova era. E a França terá que conviver com o terrorismo". Isso dito no dia seguinte ao terrível atentado terrorista islâmico em Nice, que atropelou centenas de pessoas e matou quase 100 - entre os mortos uma brasileira, EI izabeth

Excelência, Na terça-feira, 26 de julho, a Igreja teve seu primeiro mártir em solo francês no século XXI: o Padre Jacques Hamel, de 86 anos, seJvagemente degolado por islamitas enquanto celebrava a Missa na periferia de Rouen. Este acontecimento dramático, cujo caráter histórico não pode ser negado, suscitou viva emoção em todo o país e no Exterior. O que ontem estava reservado aos nossos irmãos cristãos do fraque, do Paquistão ou da Nigéria, entrou bruscamente no nosso cotidiano. A legítima cólera dos franceses em relação às mais altas autoridades do Estado transpôs um novo marco. É provável que a História julgue com severidade aqueles que, por sua ingenuidade culposa e seu laxismo, entregaram a França à barbárie dos esbirros do Estado Islâmico. Em agosto de 2014, o Arcebispo de Mossul, no Iraque, Dom Amei Nona, dava o sinal de alarme em uma entrevista concedida ao "Corriere della Sera": "Nossos sofrimentos de hoje constituem o prelúdio daqueles que vós, europeus e cristãos ocidentais, experimentareis numfúturo próximo.[ ..] Vós acolheis em vossos países um número cada vez maior de muçulmanos. [.. .] Se não o compreenderdes a tempo, tornar-vos-eis vitimas do inimigo que acolhestes em vossa casa." É com profundo pesar que me sinto na. obrigação de lembrar que, infelizmente, as autoridades civis não

são as únicas responsáveis pelas últimas consequências de sua cegueira. Longe de levar em conta esse apelo do Arcebispo de Mossul e de outros similares, grande parte da hierarquia eclesiástica preferiu, em resposta à guerra que nos é declarada, obstinar-se em promover valores profanos e comportamentos i.renistas cuja impotência se tornou evidente para todos, salvo, ao que parece, para V. Exa. e para a maioria de seus confrades no episcopado. Enquanto um de seus padres, após 58 anos desacerdócio, acabava de ser martirizado, Dom Dominique Lebrun, Arcebispo de Rouen, ousou qualificar de "vítimas" os assassinos (!), em um comunicado publicado no site de sua diocese. Dom Delannoy, Bispo de SaintDenis, inquietou-se, não pela segurança de seus fiéis, mas pela perenidade do diálogo islamo-cristão! Vossa Excelência mesmo declarou que "somente a fraternidade[.. .] é a via que conduz à paz durável", um exclusivismo que passa. sob silêncio que "a legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem ", uma vez que "defender o bem comum implica colocar o agressor injusto na impossibilidade de fazer mal." (Catecismo da Igreja Católica, nº 2265). Após o~ primeiros a.tentados islamitas na França, não se viu na maioria das declarações episcopais qualquer apelo no sentido de preservai· a nossa identidade cristã e de resistir à ofensiva daqueles cuja "religião" mata os corpos e as almas em nosso solo. Este preconceito irenista. feriu profundamente o rebanho entrecatolicismo@terra.com.br / SETEMBRO 2016

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gue ao seu cuidado, tanto mais quanto ele se inscreve numa "pastoral do diálogo" que o episcopado francês conduz há vários anos numa via sem contramão nem resultado: • publicação por um serviço da Conferência Episcopal da brochura "Deve-se temer o Islã?", na qual se faz uma defesa do mesmo; • convite feito por Dom Dubost para a recitação do Corão na sua catedral de Év1y; • formação de imãs pelo Instituto Católico de Paris; • disponibilização de edifícios pertencentes à Igreja para o culto muçulmano; • reiteração de mensagens de saudação por ocasião do ramadã; • apoio do cardeal Barbarin ao Instituto Islâmico de Lyon, financiado pela Arábia Saudita. Excelência, a lista das concessões estéreis que abrem a porta à islamização da França é tão longa, que se torna impossível enumerá-las aqui. Vossa Excelência e seus confrades obstinam-se em imaginar um Islã idílico, nos moldes do Cristianismo,justificando seus "gestos de boa vontade" no desejo ilusório de promover um Islã pacífico e compatível com o Evangelho, sem levar em conta a agressividade da mensagem corânica nem o fato de que o Corão, pelo seu caráter supostamente divino, não é susceptível de interpretações. Vossa Excelência não recebeu a missão de procurar debalde reformar o Islã, mas de ir e constituir "discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo " (Mt 28, 19). Deixar, por suas atitudes, os muçulmanos crerem que sua religião é tão boa quanto aquela fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo - a Igreja Católica se define como a única Igreja do ún ico Deus verdadeiro - e continuarem a ignorar a Boa Nova, contradiz a Misericórdia, cujo ano jubilar o Santo Padre acaba de decretar, e põe em perigo o próprio futuro da Filha primogênita da Igreja. Seja-nos permitido instar aqui Vossa Excelência a abrir finalmente os olhos: o Islã é a primeira causa de perseguição dos cristãos no mundo. Desejar a paz para o nosso país sem antes a construir pela libertação pelo batismo daqueles que jazem sob o jugo dessa falsa religião é um erro dramático do qual as gerações futuras sofrerão as consequências. Excelência, pelo amor de Deus, da Santa Igreja, da França e dos fiéis de quem é pastor, nós lhe supli-

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Igreja na qual o Pe. Jacques Hamel foi assassinado

São Mateus, Apóstolo e Evangelista Coletor de impostos, rico, deixou sua banca para seguir Nosso Senhor, cuja vida foi o primeiro a escrever

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

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ateus, "filho de Alfeu", como diz São Marcos (2, 14), chamava-se também Levi, pelo costume que tinham os hebreus de muitas vezes ter um segundo nome, como Saulo e Paulo. Depois do encontro com Nosso Senhor, passará a ser conhecido somente pelo primeiro nome, que significa "dom de Deus". Embora Eusébio, o "Pai da História da Igreja" (entre 260-341), diga que Mateus era sírio, 1 de acordo com a tradição ele era galileu, e mesmo, segundo alguns, de Caná da Galileia, onde Cristo Jesus operou seu primeiro milagre, transformando a água em vinho.2 Como nenhum dos três evangelistas que narram a vocação de São Mateus fazem qualquer alusão a que ele tenha deixado a família, pode-se supor que era solteiro quando encontrou Nosso Senhor.

camos e aos seus confrades suspender toda iniciativa que, sob o pretexto de favorecer o diálogo interreligioso, entretém a ideia de que as religiões se equivalem. É mais do que tempo de promover a identidade cristã da França e de varrer a utopia de que seu futuro seria forçosamente multicultural. Na certeza de que Vossa Excelência acolherá com benevolência este urgente pedido dos simpatizantes de Avenir de la Culture, peço a sua bênção e apresentolhe minhas respeitosas saudações. ❖ * Fonte: "Avenir de la Culture", 30-7-16. Matéria tradu zida do original francês por Hélio Dias Viana. http:// www.aven i rdelacu ltu re .fr/i ndex. ph p?q =a rticl e/ u n -martyre-qui-brise-le-coeur-mais-ouvre-les-yeux

Chefe dos "publicanos"

Mateus era um dos coletores de impostos para os romanos. Vivia em Cafarnaum, importante centro de tráfico às margens do lago de Genesaré. Por ali passavam as caravanas provenientes de Damasco e das cidades da Mesopotâmia com destino à Palestina, ao Egito e aos portos do Mediterrâneo. Essa profissão, que consistia em ter "comércio público e banco aberto para passar letras de câmbio, exp edir mercadorias, arrecadar tributos e passá-los a Roma '',3 era mal vista pelos judeus, que os chamavam pejorativamente de "publicanos". Ainda mais porque, sendo uma profissão muito lucrativa, lhes proporcionava ocasiões de procurar ganhos ilícitos.

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Divino Mestre em sua casa, afirmando-Lhe: "Dou a metade dos meus bens aos pobres e, se a alguém defraudei em alguma coisa, devolvo-lhe o quádruplo ". Essa honestidade e retidão de consciência levou nosso Redentor a exclamar: "Hoje a salvação veio a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão" (Lc 19, 1-10). Por isso, segundo muitos teólogos, tudo leva a crer que o evangelista Mateus era honesto, religioso, de bons costumes e fiel cumpridor da lei de Moisés, o que atraiu o divino olhar de Jesus. Mateus "Levantando-se, seguiu-O"

O próprio São Mateus nos narra seu encontro com Jesus. O Divi no Mestre acabara de operar em Cafarnaum mais um de seus estupendos milagres, ao cw-ar

um paralítico cujos companheiros o haviam feito descer de modo dramático do teto ao meio da sala onde estava o Messias. Pouco depois, ''passando Jesus dali, viu, sentado ao telônio, um homem por nome Mateus, e lhe disse: 'Segue-me '. "E ele, levantando-se, seguiu-O" (10, 9). São Marcos e São Lucas dão praticamente a mesma versão. O ilustre Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938) comenta assim essa passagem do Evangelho: "O mundo não compreende esse impulso irresistível de certas almas que, abandonando tudo, se consagram exclusivamente ao serviço de Deus. Deixemo-lo zombar do que não entende, pois só os que têm fé conhecem o segredo destes mistérios da graça. Era preciso que Jesus fosse bastante poderoso, que fosse verdadeiramente Deus, para que assim se fizesse obedecer tão prontamente e com toda abnegação."

Segundo o hagiógrafo grego do século X, Simeão Metafrastes - principal compilador das legendas dos Santos no calendário da Igreja Bizantina4 - Mateus era o chefe e o principal dos publicanos que residiam na cidade. Profissão comparável à dos cri minosos!

Como cobradores de impostos para Herodes Antipas, representante dos romanos, os publicanos eram odiados pelos judeus mais observantes, por julgarem um absurdo que eles, pertencendo ao povo eleito, cobrassem um tributo para um poder usurpador e, sobretudo, pagão. Com efeito, para eles "o pagamento do tributo ao estrangeiro era um ato ilícito, uma coisa proibida pela Lei, um verdadeiro sacrilégio; e, portanto, o que colaborava com esse sacrilégio fazia uma traição à pátria, associava-se aos ímpios, vendia-se aos gentios, e era mais execrável do que eles. Sua condição só podia comparar-se à dos criminosos e das prostitutas ". 5 Entretanto, é preciso notar que, apesar de os publicanos serem tidos como pecadores pelos fariseus, sua profissão era lícita, e muitos deles eram judeus pra-

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ticantes e agiam de boa-fé. É o que se vê no Evangelho de São Lucas, quando narra que entre os que iam batizar-se com o Precursor estavam publicanos, que lhe perguntaram: "Mestre, que havemos de fazer [para nos salvar]?". São João Batista não lhes disse que deixassem sua profissão, mas para "não exigir nada além do que fora taxado" (Lc 3, 12-13). Quer dizer, que fossem honestos em seu trabalho. Pelo que se deduz que muitos entre eles podiam estar de boa-fé. O mesmo São Lucas acrescenta também que "todo o povo, mesmo os publicanos, depois de ouvi-lo [ao Batista], conheceram a justiça de Deus, recebendo o batismo de João" (7,29). O próprio Cristo Jesus disse aos príncipes dos sacerdotes e aos fariseus: "Os publicanos e as mulheres de má vida vos precedem no reino de Deus. Porque veio a vós João pelo caminho da justiça, e não crestes nele, ao passo que os publicanos e as meretrizes creram nele " (Mt 21,31-32).

"Hoje entrou a sa lvação nesta casa"

Outro exemplo disso: Zaqueu, que era "ch~fe dos publicanos e rico ". Ele teve a graça de hospedar o

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Por sua vez, afirma D. Guéranger: "Mateus tinha uma alma reta; e, iluminada por Deus, deixou tudo, cedeu a outro seu oficio, e seguiu Jesus. Desde então mereceu com razão ser chamado Mateus: o dom de Deus. Mas, quão maior era o dom que .Deus fazia a Mateus! O Mestre veio escolher o que no mundo havia de mais baixo, o mais desprezado na ordem social, para convertê-lo em príncipe de seu povo, e elevá-lo à dignidade mais alta que existe na Terra depois da dignidade. da Maternidade divina: a dignidade de Apóstolo. " 7 Admirável atração que exercia Jesus

Morando em Cafarnaum, onde o Divino Mestre estabelecera residência durante sua vida pública, Mateus deveria ter ouvido falar muito do Messias, e mesmo ter tido conhecimento ou assistido a algum dos muitos milagres que operava. "Aliás, se a sua conversão tivesse sido obra de um único instante, o fenômeno psicológico estaria em pe,jeita relação com o espantoso poder de atração que Jesus exercia sobre os corações." 8 São Mateus era bem rico. Embora Nosso Senhor tenha dito que é muito dificil os ricos ganharem o Céu "Passando Jesus dali, viu, sentado ao telônio, um homem por nome M a teus, e lhe disse: 'Segue-me'. "E ele, levantando-se, seguiu-O"

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por causa do apego às riquezas, Ele não afumou ser impossível. Pois o bom uso dos bens terrenos, aliado a uma vida de piedade, pode também levar à santidade. Por isso o Divino Mestre o escolheu, depois de ter chamado alguns modestos pescadores. Mateus então, para comemorar o seu chamado para o Colégio Apostólico, "ofereceu-lhe um grande banquete". Note-se a palavra grande! Dele participaram, além do Divino Mestre e seus primeiros discípulos, "muitos publicanos e pecadores" (Mt 9, 10). 9 "Cristo quis, como em seguida declarará aos fariseus, oferecer ocasião àqueles homens, desprezados por todos e espiritualmente abandonados, de conhecer a doutrina de seu novo reino, que vinha pregando, no qual todos, sem exceção, tinham entrada. 'Veio Cristo ao banquete - explica São João Crisóstomo -, veio a Vida ao convite, para fazer viver consigo aos que estavam condenados à morte'". 1º

continuar a pregação na Palestina. Foi então que São Mateus, como os demais apóstolos, deve ter tomado a resolução de 'sacudir o pó dos pés '(Mt 1O, 14) e diri. gir-se definitivamente aos gentios. Para este momento histórico, foi escrito o primeiro Evangelho". 13 O "Evangelho Católico"

"Na Igreja antiga 'o evangelho segundo Mateus' obteve a maior autoridade entre todos. Foi ele o mais usado, o mais citado e comentado, e foi sempre colocado em primeiro lugar. Ele é chamado o católico, porque traz os textos mais importantes sobre o primado de Pedro (16, 17-19), sobre a jurisdição na Igreja (18, 18) e a missão universal de evangelização de todas as gentes (28, 19-20). [. ..] São Mateus nos propõe um vastíssimo material, mas numa concisão que se restringe sempre ao essencial para provar a sua tese da emancipação da Igreja da sinagoga". 14 A Santa Igreja celebra a festividade de São Mateus no dia 21 de setembro.

Três anos na proximidade com o Redentor

Embora o Evangelho também não registre, é possível que Mateus, fiel ao conselho de perfeição dado por Nosso Senhor ao moço rico, tenha antes de O seguir vendido todos seus bens e dado o produto aos pobres. Depois desta passagem do Evangelho, São Mateus desaparece do cenário bíblico, só sendo mencionado na lista dos Apóstolos. Mas é certo que, como discípulo e Apóstolo, ele permaneceu junto ao Divino Mestre dmante os três anos de sua vida pública, desfrutando de sua intimidade, sendo testemunha de seus milagres e ensinamentos - que depois narrou em seu Evangelho. Como também de sua ressurreição e ascensão aos Céus. Junto a Nossa Senhora e aos outros Apóstolos, recebeu o Espírito Santo por ocasião de Pentecostes, pregou em Jerusalém e depois partiu para evangelizar o mundo.

Martírio na Etiópia?

Sobre os países evangelizados por São Mateus há divergências. "Santo lrineu (+202) nos diz que ele pregou o Evangelho entre os hebreus. São Clemente de Alexandria acrescenta que ele fez isso durante quinze anos, e Eusébio afirma que, antes de ir a outros países, ele escreveu seu Evangelho em sua lingua materna.

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Notas:

Antigos escritores[ ..] quase todos mencionam a Etiópia, ao sul do Mar Cáspio (não a Etiópia na África), e alguns a Pérsia e o reino dos Partas, Macedônia e Síria " como lugares evangelizados por ele ". 11 Segundo a tradição corrente, São Mateus morreu mártir, provavelmente na Etiópia, apesar de São Clemente de Alexandria, baseado no escritor Heracleon, afirmar que ele teve morte natural. Os vários relatos existentes sobre seu martírio são considerados apócrifos e carentes de valor histórico. Outros escritos atribuídos ao Apóstolo, além do seu Evangelho, são também considerados apócrifos. D. Guéranger segue a tradição de que São Mateus "morreu na Etiópia, de onde seu corpo foi levado para Salerno,· a igreja catedral dessa cidade lhe está dedicada. Clemente de Alexandria diz que São Mateus era de grandíssima austeridade de vida e a tradição conta que morreu mártir por ter de.fendido os direitos da virgindade que se oferece a Deus ". 12 O primeiro Evangelho

Pouco antes da Paixão, Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos Apóstolos que "o Espírito Santo, que o Pai

enviará em meu nome, esse vos ensinará tudo, e vos trará à memória tudo quanto eu vos disse" (Jo 14, 26). Foi isso que possibilitou aos Evangelistas escreverem seus Evangelhos. Santo Irineu, Bispo de Lyon e Padre da Igreja (início do século II), afuma que São Mateus escreveu seu Evangelho para os judeus, e Orígenes (185-254) especifica que, por isso, foi escrito em língua hebraica. Pelo que os exegetas salientam seu caráter judaico, que é plenamente confirmado pelo próprio Evangelho. Quanto à data em que foi escrito, também há muita divergência. Santo Irineu afirma que "Mateus escreveu o seu evangelho entre os hebreus, enquanto Pedro e Paulo pregavam em Roma e fundavam a Igreja". "Foi este o tempo em que as paixões nacionalistas do judaísmo se foram irifl,amando cada vez mais, em que a pregação de um Messias crucificado devia parecer uma traição da causa santa do povo de Deus. Foi 'a hora em que julgavam prestar um serviço a Deus ' matando os apóstolos (Jo 16,2). Era o tempo em que, fugindo de cidade em cidade, não podiam terminar ['as cidades de Israel'] até que viesse o Filho do Homem (Mt 10,23) para castigo dos judeus que se obstinavam na incredulidade. Não havia mais cabimento

1. Cfr. E.Jacquier, St. Matthew, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 2. Vide, p.ex., Pedro de Ribadeneira, Fios Sanctorum, in La Leyenda de Oro, Dr. D. Eduardo Maria Vilarrasa , L. González y Compafiia , Barcelona, 1897, tomo Ili, p. 589. 3. D. Duarte. Leopoldo e Silva, Concordância dos Santos Evangelhos, Escola Tipográfica Salesiana, São Paulo, 1903, p. 231, nota 1. 4.Apud Adrian Fortescue, Symeon Methaphrastes, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 5. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Afio Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo Ili, p. 667. 6. Op. cit., p. 63. 7. Op. cit. p. 456. 8. Louis-Claude Fillion, Jesus Cristo, segundo os Evangelhos, Civilização Editora, Porto, 2007, p.135. 9. "A palavra pecador não tinha para os judeus o mesmo significado que tem para nós, cristãos; significava antes uma impureza legal ou por descuido das prescrições farisaicas rituais ou por desempenhar um ofício proibido". João Leal, S.J., La Sagrada Escritura, Nuevo Testamento , Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1964, tomo 1, p. 99, nota4. 10. ld.ib., p. 101. 11. E.Jacquier,. op.cit. 12. Op. cit. p. 458. 13. Novo Testamento, Introdução ao Evangelho de São Mateus, Dr. Fr. Mateus Hoepers, O.F.M., Editora Vozes, Petrópolis, 1958, p. 20. 14. Hoepers, op.cit., p. 21.

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O maior ato de aceitação submissa e solene teve lugar nessa Santa Casa como cenário: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra ". O Anjo retirou-se. Por uma insondável ação do Divino Espírito Santo, a Imaculada Concepção havia se operado em Nossa Senhora. O acontecimento pro- . fetizado durante séculos pelos Patriarcas e Profetas se realizara!

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aviam-se completado os tempos e o Arcanjo Gabriel trouxe à Terra um anúncio. Ele era portador de mensagem para uma Virgem desposada com José, que morava num local que o Evangelho informa como desconhecido: "uma cidade da Galileia, chamada Nazaré". A Virgem não chamava as atenções, mas era casada com um príncipe da Casa de Davi. Entrando onde Ela · se encontrava, o Arcanjo disse: "A ve, cheia de graça, o Senhor é contigo " (S. Lucas, l , 26ss). Ao dizer "entrando, o anjo" a narração evangélica nos dá ideia de um recinto recolhido, de uma clausura santa que não se pode violar, de um lar povoado de imponderáveis sobrenaturais. Os muros desse lar testemunham em silêncio o acontecimento-chave do plano da Redenção: a Anunciação e a Encarnação do Verbo. Se eles pudessem falar, poderiam descrever Nossa Se11hora sozinha nesse instante augusto, desconhecida do mundo, rezando em seu isolamento. Esse isolamento inadmissível na ótica do mundo agitado e imerso na perdição, constituía o ambiente ideal para o mensageiro divino, proveniente dos mais altos páramos celestiais. Podemos imagiCATOLICISMO / www.catolicismo.com .br

ná-lo ingressando para executar a missão de transmitir a mais importante mensagem da História. A natureza angélica é tão superior à humana e tão majestosa, que faz tremer quem se encontra diante dela. Foi o que aconteceu com as crianças de Fátima e com numerosos santos. Mas não com Nossa Senhora, que manteve uma .distância psíquica e sobrenatural maravilhosa, ainda que perturbada na sua humildade pela saudação angélica, que Ela analisou pensativa, indagando sobre o seu significado. As palavras de São Gabriel reboaram então naquele ambiente sacra! e familiar: "Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho , e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e seu reino não terá.fim. O Espirita Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. " Essas palavras do Arcanjo foram certamente acompanhadas de uma enorme graça de paz sobrenatu ra l.

materiais que explicam o acontecido e confirmam a fé de modo smpreendente. Percurso das paredes de Nazaré até Loreto

A tradição sempre afirmou que, entre 1291 e 1296, as três únicas paredes da Santa Casa de Nazaré foram milagrosamente transportadas a "vários lugares" por ministério angélico. Isso está registrado em documentos antigos. Por exemplo, em Tersatto, Dalmácia (hoje Trsat, * * * Croácia), onde a Santa Casa permaneceu entre IO de maio de 1291 e l O de dezembro de O leitor pode imaginar o 1294. Razão pela qual se pode que significa conhecer a Casa afirmar ter ocorrido um duplo onde este fato sublime se deu? milagre: o transporte assomPois bem, esse local existe atualmente, é a casa de Nosbroso das três paredes na sua integridade; e, em segundo lusa Senhora. Seus fundamentos continuam em Nazaré, na Tergar, junto com elas, mas como ra Santa, mas as três paredes objeto distinto da casa, o Altar de que se compunha foram dos Apóstolos. Nesse altar os transportadas a Loreto, na ItáApóstolos celebravam a Missa quando iam visitar a Virgem lia, encontrando-se no interior da basílica da Santa Casa. Santíssima; e ainda após Ela Em Nazaré, sob a cúpula subir ao Céu, por razões de seda igreja da Anunciação, pergurança, para Éfeso. O Prof. Giorgio Nicolimaneceram os fundamentos ni, especialista na Santa Casa do local onde ocmTeu esse sue autor do livro La veridicità blune mistério; e que seria a storica de/La miracolosa Tras"quaita parede" ou, mais prelazione della Santa Casa di cisamente, uma gruta cavada Nazaré a Loreto ( "A veracina terra que complementava dade histórica da milagrosa a humilde residência familiar. trasladação da Santa Casa de Como se explica a dupliciNazaré a Loreto "), explicou dade de endereços? à agência Zenit2 "Sobre a autenticidade da Santa Casa de A Santa Casa encerra maLoreto enquanto 'verdadeira ravilhosos fatos religiosos, Casa nazarena ' de Maria, janotadamente a sua trasladação Imagem do altar da Santa Casa de Loreto mais houve dúvida alguma, a até Loreto por obra dos anjos. não ser da parte daqueles que O fa to é smpreendente, mas a não conhecem os estudos científicos a respeito. i sso é ciência apresenta dados taxativos a respeito. tão verdadeiro que todos os Sumos Pontffices, durante Não incumbe à ciência declarar se um fato foi misete séculds, confirmaram a autenticidade com solelagroso ou não, se foi operado por anjos ou não. Mas nes atas canônicas de aprovação ". im analisar a realidade, aplicando suas técnicas, seus Nicolini demonstra que, do ponto de vista hismétodos, seus instrumentos e objetivos próprios. E as tórico e arqueológico, pelo menos cinco trasladações ciências, trabalhando sobre o mistério da Santa Casa milagrosas :ficaram constatadas de modo indiscutível de Nossa Senhora, vêm trazendo a lume revelações catolicismo@terra.com.br / SETEMBRO 201 6

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entre 1291 e 1296. Todas essas mudanças foram registradas nos diversos lugares por testemunhas oculares da época e rigorosamente controladas pelos Bispos diocesanos, que emitiram pronunciamentos canônicos sobre a veracidade dos fatos e dos testemunhos. Para maior confirmação, remanescem as igrejas construídas nos diversos locais no período das mudanças, as quais foram consagradas pelos Bispos de Fiume, Ancona, Recanati , Macerata e Nápoles, entre outros. Nicolini esclareceu que em Loreto se encontram apenas as três paredes que constituíam o quarto de Nossa Senhora, geralmente chamado de Santa Casa, local da Anunciação. A quarta parede do quarto é a gruta, que pode ser visitada na igreja da Anunciação

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em Nazaré, na Terra Santa. Ali só restaram essa gruta e os alicerces da Casa, enquanto em Loreto se venera a Casa desprovida de seus alicerces. Análise de pedras, tijolos e argamassa

A análise química da massa que une as pedras apresentou características típicas da zona de Nazaré e sua homogeneidade exclui qualquer possibilidade de uma hipotética desmontagem e remontagem das pedras. A massa foi confeccionada com sulfato de cálcio hidratado (gesso) engrossado com pó de carvão de madeira, segundo uma técnica utilizada na Palestina há 2.000 anos e jamais empregada na Itália. Acresce que a viga da porta é de cedro, madeira também inexistente catolicismo@terra.com .br /

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naquela zona da Itália. Portanto, a Santa Casa chegou a Loreto com as pedras e os tijolos unidos pela mesma massa usada há 2.000 anos em Nazaré, assim se encont:rando até hoje. Só a ignorância leva a duvidar da trasladação angélica

Casa foi salva, pois se situava, juntamente com a gruta, na cripta do santuário; e os infiéis cegados não o perceberam. Após a conquista de Jerusalém por Godofredo de Bouillon, um magnífico santuário foi edificado sobre a cripta. Ele foi visitado por São Francisco de Assis e pelo soberano francês São Luís IX, além de numerosos romeiros e cruzados. Em 1263 os islâmicos demoliram o santuário, mas a cripta foi novamente salva providencialmente. Em 1291, com a queda da última fortaleza dos cmzados, os dias estavam contados para essa relíquia extraordinária da História da Salvação.

O arquiteto Nanni Monelli e o Pe. Giuseppe Santarelli, diretor-geral da Congregação da Santa Casa de Loreto, constataram que as pedras que se encontram na Gruta da Anunciação, em Nazaré, Terra Santa, têm a mesma origem da pedra do altar dos Santos Apóstolos na Casa de Nossa Senhora em Loreto. O Altar dos Apóstolos é ~~~t.~-- i~ constituído por uma pedra +-.. . : --:--'t" • hoje coberta por uma grade de -- •..,... º, ;,. • •'-~ metal - trabalhada em estilo nabateano, típico da Palestina. Nicolini acrescentou que :. ..; o estudo do Altar dos Após':?:':• tolos "é importante porque, =-Ê além de proporcionar uma prova adicional da autenticidade da Santa Casa de Loreto como a Casa de Maria em Nazaré, proporciona também prova ainda mais espetacular da milagrosa trasladação da Santa Casa de Nazaré". Percurso da Santa Casa desde Palestina até Loreto

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Rapidez inexplicável da trasladação

Os dados históricos averiguados apontam que a Santa Casa saiu de Nazaré em maio de 1291. Achegada a Tersatto (primeira etapa) deu-se entre 9 e 10 de maio de 1291, segundo registro escu lpido em pedra na época. A Santa Casa foi retirada mi lagrosamente da Palestina para impedir que caísse em poder dos maometanos. De fato, São João de Acre - a última fortaleza do Reino Latino de Jerusalém criado durante as Cruzadas - começou a ser sitiada pelo sultão Kbalil em 5 de abri l de 1291 e acabou caindo em mãos anticristãs em 28 de maio de 1291. Nazaré dü;ta41 km desse antigo enclave cristão. Essa desgraça pôs fim à hegemonia católica na Terra Santa. A primeira igreja em Nazaré que acolheu a Santa Casa foi construída no reinado do Imperador romano Constantino. Os turcos seljúcidas, que invadiram Terra Santa, arrasaram essa igreja em 1090. Mas a Santa

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A cronologia da milagrosa trasladação

Num congresso promovido pelo Centro Cultural "Amici dei Timone" em Staggia Senese, Itália, sob o títu lo "A santa Casa. História da incrível traslação angélica da Casa de Maria de Nazaré a Loreto",3 desenvolveu-se particularmente um tema levantado pela engenharia. Como pôde a Santa Casa ser retirada da sapata e, íntegra como saiu, aparecer apro-· ximadamente a 3.000 quilômetros de distância, conservando-se nesse estado até boje? A trasladação aconteceu no século XIII, segundo provas históricas. Mas, como ela pôde ter se realizado considerando-se a pobreza dos recursos tecnológicos da época? Ela é atribuída a uma ação angélica, reconhecida oficialmente por Papas e defendida por santos, testemunhas oculares e místicos. Mas essas autorizadas aprovações não visam explicar tecnicamente o procedimento usado para transportar um objeto do tamanho da casa de um para outro continente no período máximo de uma noite. O Prof. Giorgio Nicolini, que consagrou sua vida de estudos e investigação do caso, apresentou no referido Congresso argumentos científicos que demonstraram a veracidade histórica do milagroso traslado. Segundo ele, existem muitos documentos e testemunhas oculares do traslado. Ademais possuímos hoje também provas históricas, documentais e arqueológicas do fato .

Ensinamento dos Papas sobre a Santa Casa de Loreto Bem-aventurado Papa Pio IX escreveu na Carta Apostólica Inter Omnia, de 26 de agosto de 1852:(1) "Entre todos os Santuários consagrados à Mãe de Deus, a Imaculada Virgem Maria, um se encontra em primeiro lugar e bri lha com incomparável fulgor: a venerável e augustíssima Casa de Loreto. Consagrada pelos mistérios divinos, ilustrada por inumeráveis milagres, homada pelo concurso e afluência dos povos, a glória de seu nome atinge toda a Igreja Universal e constitui muito justamente objeto de culto para todas as nações e para todas as raças humanas. "Em Loreto venera-se aquela Casa de Nazaré, tão querida ao Coração de Deus, e que, construída na Galileia, foi mais tarde separada de suas bases e, pela força divina, trasladada além do mar, primeiro à Dalmácia e logo à Itália". O Santo Pontífice acrescentou: "Exatamente naquela Casa, a Santíssima Virgem, que por eterna e divina disposição ficou perfeitamente isenta da culpa original, foi concebida, nasceu e cresceu, e o celestial mensageiro A saudou 'cheia de graça' e 'bendita tu és entre todas as mulheres'. Exatamente naque la Casa, Nossa Senhora, repleta de Deus e sob a ação fecunda do Espíi-ito Santo, sem perder nada de sua inviolável virgindade, tornouse a Mãe do Filho Unigênito de Deus". Po r sua vez, o Sumo Pontífice Leão XIII escreveu no Breve Felix Nazareana,(2) de 23 de janeiro de 1894: "Compreendam todos, e em primeiro lugar os italianos, quão especial dom lhes foi concedido por Deus que, com suma providência, subtraiu prodigiosamente a Casa a um poder indigno [Nota: refere-se aos muçulmanos] e com um expressivo ato de amor ofereceu-a a eles. De fato, naquela beatíssima moradi a fo i sancionado o início da salvação humana, com o grande e prodi-

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gioso mistério de Deus fazendo-se homem, que reconcilia a humanidade perdida com o Pai eterno e renova todas as coisas". E ainda: "Deus quis de tal maneira exaltar o Nome de Maria para tornar realidade neste lugar (Loreto), aquela famosa profecia: 'Todas as gerações chamar-me-ão bem-aventurada"'. Numerosos Papas aprovaram ininterruptamente, desde o início, a veracidade histórica do milagroso traslado da Santa Casa, engajando sua Suprema Autoridade Apostólica: desde Nicolau IV em 1292 até João Paulo TI em 2005 . Bento XVI visitou Loreto em 2007. A Festa da Trasladação, no dia 10 de dezembro de todo ano, foi definitivamente estabelecida por Urbano VJU em 1624. O culto das milagrosas trasladações foi aprovado por diversos bispos da região. A trasladação foi reconhecida por diversos Papas, entre os quais se incluem Paulo II, Júlio II, Leão X, e Pio XI, além dos já citados. Os respectivos documentos em que eles reconhecem o fato como sobrenatural têm, além de seu valor religioso, o valor de reconhecimento pela ciência histórica. A Ladainha de Nossa Senhora mundialmente recitada é a chamada Ladainha Lauretana (de Loreto ), nascida no Santuário da Santa Casa e aprovada em 1587 pelo Papa Sixto V. Entre os incontáveis privilégios e acréscimos feitos pelos Papas, mencionamos que Leão XIII decidiu que essa Ladainha fosse rezada no fim do Rosário. Not as:

1.https:j/books.google.ie/books?id=Yi M RAAAAYAAJ&pg=PA373&hl=pl&sou rce=gbs_toc_r&cad=3#v=onepage&q&f=false 2.http://w2.vatican .va/content; leo-xi ii/it/briefs/documents/hf_l-xiii_brief_18940123_felix-Nazaréana.htm l

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1905); por exemplo, constatou que "a Santa Casa está apoiada em parte sobre a extremidade da estrada ve, lha e em parte sobre um antigo fosso ",4 inexistindo

Desenho antigo representando a chegada da Santa Casa a Loreto

base material para ali erigir uma casa. Por baixo das partes que estão no vazio pode-se passar a mão e o braço até o outro lado. Um elemento arqueológico relevante - o qual .fala em favor do fato de que a casa "pousou", e não que foi construída ou "reconstituída - é o seguinte: no local foi encontrado um espinheiro na margem da estrada. Este ficou preso e esmagado entre a Casa e o solo no preciso momento em que a Casa desceu. Após um incêndio em 1921, ocasião em que foi necessário renovar o piso, o arquiteto Federico Mannucci (1848-1935) foi encarregado pelo Papa Bento ' XV de examinar os alicerces da Santa Casa de Nossa Senhora. Em 1923 ele redigiu um relatório, no qual afirma ser "absurdo achar" que a construção possa ter sido transportada "com meios mecânicos".5 Mannucci escreveu que "é surpreendente e extraordinário o fato

O Prof. Nicolini estabeleceu uma cronologia das mudanças de local. 1. No dia 9 de maio de 1291 a Santa Casa se encontrava ainda em Nazaré. 2. Na noite entre 9 e 10 de maio de 1291 ela percorreu aproximadamente 3.000 quilômetros, tendo chegado a Tersatto, na região então da Dalmácia, hoje Fiume, na Croácia. Naquela ocasião, o senhor feudal de Tersatto, Nicolo Frangipane, enviou pessoalmente uma delegação a Nazaré para constatar se, de fato, a Santa Casa havia desaparecido de seu lugar original. Os emissários não só constataram o desaparecimento, mas encontraram a sapata sobre a qual a Casa havia sido construída e de onde as paredes tinham sido retiradas em bloco. Esses fundamentos estão na cidade de Nazaré, e, em torno deles, foi construída a atual basílica da Anunciação. Em Loreto encontra-se a Casa, desprovida de base e apoiada diretamente no solo. 3. Na noite entre os dias 9 e 10 de dezembro de 1294, a Santa Casa desapareceu de Tersatto e pousou "em diversos lugares" da Itália. E la se estabeleceu du-

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rante nove meses numa colina sobre o porto de Ancona. Por isso passou a ser denominada "Posatora", do latim "posat et ora ". No local foi edificada uma igreja· como lembrança do fato, segundo registrou na época um sacerdote que assina don Matteo, provavelmente testemunha ocu lar. Também duas lápides comemoram o fato . Uma é da mesma época do evento e está escrita em latim vulgar antigo. A outra, do século XVI, cópia da mais velha, está escrita em vernáculo. A lápide mais antiga de "Posatora" já se referia a "Nossa Senhora de Loreto", sendo claro que a inscrição fora feita após sua partida do local. 4. Em 1295, após nove meses em "Posatora", a Santa Casa foi trasladada para uma floresta pertencente a uma mulher de nome Loreta, nas proximidades da cidade de Recanati. Donde provérn o nome Loreto. 5. Entre 1295 e 1296, após permanecer oito meses nesse local, a Santa Casa foi transpo1tada milagrosamente até uma roça que pertencia a dois irmãos da famili a Antici, sobre o Monte Prodo. 6. Em 1296, após permanecer quatro meses nessa roça, a Santa Casa partiu e fo i pousar num cami nho

público que ligava Recanati e Ancona, sobre o Monte Prodo, caminho ainda existente. Três igrejas foram construídas em Ancona - duas delas permanecem até hoje - lembrando que testemunhas oculares constataram ter a Santa Casa chegado "voando" a Ancona e parar em "Posatora". A cresce-se a isso que em Forio, na Ilha de Íschia, os pescadores que comerciavam comAncona voltaram narrando os fatos ocorridos em 1295 . O relato moveu os habitantes da cidade a construir uma basílica consagrada a "Santa Maria di Loreto". E les também viram com seus próprios olhos a Santa Casa em Ancona. O Prof. Nicolini referia-se à mentalidade materialista - ora agnóstica e ateia, ora protestante - , que pretende desacreditar a autenticidade da Santa Casa venerada em Loreto. Sem alicerces: um milagre permanente

Outro fato extraordinário é sua instalação numa estrada pública de Loreto, posição humanamente impossível, segundo os arqueólogos e arquitetos que examinaram o subsolo da Santa Casa e a estrada sobre a qual ela pousou. O arquiteto Giuseppe Sacconi (1854-

de o prédio da Santa Casa se conservar inalterado, sem ceder o mínimo sequer, e sem a menor rachadura ou lesão nas paredes, apesar de não se encontrar apoiado em alicerce algum, sobre um terreno sem qualquer consistência, solto e sobrecarregado, ainda que parcialmente, pelo peso da cúpula construída para substituir o teto ". 6 Religioso cientista explica o prodígio

O Pé. Giuseppe Santarelli, OFM Cap, diretor-geral da Congregação da Santa Casa de Loreto, historiador e arqueólogo de renome internacional, dedicou grande parte da sua vida a organizar, em colaboração com outros cientistas famosos, pesquisas sobre a origem da Casa. Suas numerosas publicações sobre o assunto fizeram história. A Casa foi trazida de Nazaré à Itália ''para salvá-la da destruição", explica o religioso-cientista.

"Na segunda metade do século XIII, a Palestina vivia uma grande e violenta invasão mulçumana, com a destruição sistemática de lugares santos cristãos ". 7 Mas por que foi para a Itália e não para outro lugar? "Não sabemos. Os antigos historiadores, fiéis

naturalmen_te, diziam que 'por um desígnio providencial ', a casa da Virgem havia passado da terra de Cristo à terra do Vaticano de Cristo ". Loreto então fazia parte dos Estados Pontifícios. "Foram realizadas investigações de todo tipo. Elas demonstraram sempre que a narração da história é autêntica. Isso significa catolicismo@terra .com .br / SETEMBRO 201 6

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Maquete da casa de Nazaré: as três paredes foram para Loreto; a gruta e os alicerces ficaram.

Graflttl, legívels sobre diversas pedras da Santa Casa de Loreto

que a Casa de Loreto é a mesma de Nazaré", observou o frade historiador. Investigação do arqueólogo Nerio Alfieri

"Naturalmente - prossegue o Frei Gi useppe Santarelli - as investigações mais importantes foram executadas nos tempos modernos. Sobretudo as realizadas em Nazaré entre 1955 e 1960, supervisionadas pelo padre Bellarmino Bagatti, um dos mais ilustres arqueólogos do século XX, e as realizadas em Loreto pelo arquiteto Nerio Alfieri , professor de arqueologia na Universidade de Bolonha. "As investigações do Prof. Alfieri demonstraram que esta construção está cheia de anomalias absw-das, em claro contraste com as construções da região e também com as regras w-banísticas existentes no sécu lo

XIII.

.

"A casa não tem bases próprias, é constituída somente por três paredes, as quais, até uma altw-a de quase três metros, estão construídas com pedra, quando é sabido que na região não existem pedreiras e que todas as construções daquela época eram feitas com tijolos.

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"É anômalo que a única porta, a original, se encontre no centro da parede larga e não da pequena; como em todas as igrejas e capelas daque le tempo; e que esteja colocada ao norte, exposta a fortes e frequentes intempéries, contra todo costume de construção local. "É anômalo também que a única janela esteja colocada a oeste e, portanto, aberta a uma pequena iluminação. Prática de construção também não executada na época. "Todavia, se compararmos com os resultados das investigações feitas em Nazaré, todas essas anomalias desaparecem. A Casa de Loreto não tem bases porque as bases estão em Nazaré, onde antes se encontrava. Possui somente três paredes porque estava apoiada em uma gruta escavada na rocha, que abrigava um único bloco habitacional". Arquiteto Nanni Monelli: concordância das medidas

Um estudo extraordinário, realizado em 1982 pelo arquiteto Nanni MoneUi, demonstrou que as medidas

da casinha de Loreto e também a espessura de suas três paredes correspondem perfeitamente às medidas das bases que se encontram em Nazaré. As pedras e paredes são tipicamente palestinas, como o são também os tipos de trabalho aplicados na pedra. "Nanni Monelli aprofundou a investigação das pedras. Chegou à conclusão de que estão trabalhadas com uma técnica específica desses lugares palestinos, p rópria da cultura nabatea ", sublinha o Pe. Santarelli .

conclusão: a Casa de Loreto é precisamente aquela que até 1291 se encontrava na Palestina e que era venerada havia ·quase l .300 anos como a Casa da Virgem. Depois de anos de estudos, análises e investigações arqueo lógicas rea lizadas com os meios mais sofisticados, somos capazes de afirmar categoricamente que esta casa é exatamente aquela que até o final do século XIII era reverenciada em Nazaré como a Casa da Virgem", conclui u.

Os graffitti

Desmentida a intervenção humana

"Eu - acrescenta o Pe. Santarelli - realizei depois um estudo específico sobre os grafitti, legíveis sobre diversas pedras da Santa Casa de Loreto. "Identifiquei por volta de 50 inscrições próprias dos judeu-cristãos da Terra Santa e semelhantes às encon tradas em Nazaré. Também decifrei uma inscrição em caracteres gregos sincopados, que traduzida diz: ' h Jesus, filho de Deus' - frase inicial de uma oração que se encontra escrita em uma gruta anexa à casa de Maria em Nazaré. "Estes e muitos outros detalhes levam à mesma

Aventaram-se hipóteses de uma tras ladação operada por homens. Além de carecerem de qualquer documentação, elas se reve laram insustentáveis do ponto de vista científico. Frnjou-se até a novela de que uma fantas iosa família principesca de Epiro, chamada "Angeli", teria desmontado a Casa e transportado tijolo por tijo'to, a pedido dos cruzados. Tal famí lia teria depois reconstruído a casa em Loreto. Nas condições de transporte do século Xlll, tal operação teria sido uma façanha mais mllagrosa do que a trasladação angé lica. catolicismo@terra .com.br / SET EM BRO 20 16

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Acresce que, se a Casa foi desmontada e restaurada em diversos locais por mão humana, não se entende como teria sido possível conservar as exatas proporções geométricas da Casa de Nazaré, cujos fundamentos hoje coincidem perfeitamente com os muros de Loreto. Tampouco teria sido possível que ninguém percebesse que a Casa estava sendo desmontada e depois reconstruída, mais ainda no breve lapso de uma noite, no centro do santuário de Nazaré e depois na Itália. Todavia, mais inexplicável é o fato de a Santa Casa ter sido ·finalmente depositada cortando uma velha estrada de terra. A Prefeitura de Recanati havia proibido já naquela época construir casas nas estradas públicas e ordenou demolir todos os prédios que fossem feitos em violação à norma. Outr<l grande dificuldade provém da ausência de meios naquela época para transportar uma casa inteira, ainda que desmontada tijolo por tijolo e pedra por pedra. Tratar-se-ia de algumas toneladas. O transporte por terra teria sido impossível, pela demora e pela quantidade de charretes, animais e homens necessários. Por mar, embora mais factível, teria sido também demorado e sujeito a perdas nas tempestades. Mais complicado ainda seria cortar as paredes em partes e levá-las sem desmanchar numa viagem de 3.000 quilômetros e depois recolar sem deixar sinais dos pontos de junção. Esses fatores, explicou o Prof. Nicolini, postulam a impossibilidade de um transporte com os meios técnicos da época. Também é errada e falsa a interpretação do documento em que se baseia a teoria descartada. O Prof. Andrea Nicolotti, da Universidade de Estudos Históricos de Turim, após aprofundado exame, concluiu ser uma "falsidade histórica" a interpretação do "Chartularium Culisanense", da qual se pretende tirar a ideia de um transpo11e por obra humana. Na única linha desse documento que fala da Santa Casa está escrito textualmente: "As Santas Pedras tiradas da Santa Casa de Nossa Senhora a Virgem Madre de Deus". Fica evidente que o documento não fala de toda uma casa, mas só de algümas pedras de uma casa cuja localização não é mencionada. Por isso é razoável concluir que dito documento - se for verdadeiro - nem se refere à Casa de Nazaré. Da longa e detalhada demonstração do Prof. Nicolini se deduz como muito mais razoável que a traslação angélica é resultante de um<) obra maravilhosa de Deus, para Quem nada é impossível e que tem operado milagres bem maiores do que esse.

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despojo o grande estandarte de Maomé IV e montando o cavalo do Grande Vizir. Ele assistiu à Missa ajoelhado e, durante o sermão, o beato capuchinho aplicou a ele o texto evangélico: "Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João " (S. João, 1,6). Muitos haviam morrido no combate e a igreja não apresentava cantores. "Não importa ", disse Sobieski ; e com voz potente entoou o "Te Deum" ao pé do altar-mor da igreja da dona da Santa Casa. Depois, o rei polonês levou consigo a imagem, esmagando o restante do exército muçulmano. Finalmente, entron'izou-a em sua capela pessoal , onde mandou celebrar Missa e cantar a Ladainha Lauretana diariamente. Na Capela Polonesa da Basílica da Santa Casa em Loreto há um afresco representando o vitorioso rei polonês e o Bem-aventurado Marco d' Aviano com a referida imagem. Sobieski enviou o estandarte de Maomé IV de presente ao Papa Bem-aventurado Inocêncio XI, o qual, em preito de homenagem, ofereceu-o como exvoto à Basílica de Nossa Senhora em Loreto. O estandarte foi transformado em pálio e ali conservado na Sala do Tesouro. O santo Pontífice mandou imprimir no " Agnus Dei" do primeiro e do sétimo ano de seu pontificado: "Santa Maria de Loreto, rogai per nós". A História se repete. Hoje, mais do que na Viena de 1683, com os olhos postos na impressionante mensagem de Fátima, é premente implorarmos com redobrado fervor: " Santa Maria de Loreto, rogai por nós". •!• Notas:

Vitória de Nossa Senhora de Loreto sobre o Islã em Viena

Em um dia 11 de setembro aconteceu aquela denominada "mãe de todas as batalhas". Não foi em 2001 , ano do atentado contra as Torres Gêmeas, nos EUA, mas em 1683, ano da vitória das armas católicas contra o imenso exército muçulmano de Maomé lV comandado pelo Grande Vizir Kara Mustafà. Viena era a porta de entrada para a invasão maometana da Europa. E à testa dos exércitos católicos que a defendiam, destacava-se o Rei da Polônia, João Sobieski. No dia 12 de setembro foi encontrado, sob as ruínas provocadas pelos canhões dos turcos, um quadro que representava Nossa Senhora de Loreto. A imagem tinha a seu lado um anjo que sustentava uma coroa com uma mão e com a outra, junto com um segun-

do anjo, segurava uma inscrição em latim: "Com esta imagem de Maria serás vencedor, ó João [Sobieski]; com esta imagem de Maria vencerás, ó João ". Tratava-se da imagem levada havia mais de dois séculos por São João de Capistrano na triunfante cruzada contra os turcos na Hungria e em Belgrado. O capelão de todas as forças católicas, o Bem-aventurado capuchinho Marco d' Aviano, vendo a desigualdade de forças em favor do Islã, fez um voto a Nossa Senhora de Loreto, cuja Casa havia deixado Nazaré, ameaçada pel avanço dos adeptos do Corão. Após vencer pelas armas, o rei polonês João bieski entrou vitorioso em Viena e desejou ter o em-aventurado Marco d'Aviano a seu lado exibindo dita imagem. 9 O cortejo triunfal dirigiu-se à igreja de Nossa Senhora de Loreto, com Sobieski levando como

1. Rosarium, 1 Mist. Gaud., vv.73 ss. - tradução do texto latino publicada pelo "Messaggio della Santa Casa", 2001, nº 7, p.211. 2. http://www.zenit.org/article-10787?l=portuguese 3. http://www.bastabugie .it/it/articoli.php?id=3782 4 .Annali Santa Casa, ano 1925, nº 1. 5. F. Mannucci, Annali dei/a Santa Casa, 1923, pp. 9-11. 6 . F. Mannucci, Annali dei/a Santa Casa, 1932, pág. 290. 7. As afirmações do Pe. Giuseppe Santarelli citadas neste artigo foram extraídas da reportagem da RAI Due em Youtube: IL MISTERO DELLA SANTA CASA https:j/www.youtube.com/ watch?v=BqtgNN3ZERg; https:j/www.youtube.com/watch?v=i2Y-gNLHrU; https:j/www.youtube.com/watch?v=koV8x-xw17M . 8. Mons. Pietro Valente Martorelli, Teatro istorico dei/a Santa Casa Nazarena dei/a B. Vergine Maria, Roma, 1732, p. 134135. 9. Cfr. Pe. Arsenio d'Ascoli, / papi e /a Santa Casa, Loreto, 1969, p. 54ss, apud Santuario Monastero OSBV Madonna delle Grazie PN , https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1510326239205401&id=1486038854967473 catolicismo@terra .com .br / SETEM BRO 201 6

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ENTREVISTA

Um ''novo vocabulário" para uma "pastoral revolucionária" A reviravolta dos dois Sínodos dos Bispos sobre a fa mília e da Exortação Apostólica Amoris laetitia, do Papa Francisco. Mudanças na linguagem e o emprego de palavras-talismã numa nova pastoral relativista e permissiva incapaz de iluminar os que erram, converter os pecadores e solidifica r os fundamentos da institu ição familiar.

••••• debate que animou os dois últimos Sínodos dos Bispos sobre a família (2014 e 2015) tem suscitado reações opostas, mas os documentos publicados não avançaram propostas concretas sobre como curar os males da vida matrimonial e doméstica. Alguns comentaristas concluíram que os Sínodos não mudaram nada de substancial. No entanto, a Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris laetitia, recentemente publicada pelo Papa Francisco, propõe explicitamente uma nova abordagem global da pastoral familiar. Para termos uma opinião abalizada que pudesse esclarecer a questão, entrevistamos o estudioso italiano Guido Vignelli , residente em Roma, diretor durante 20 anos do Projeto SOS Jovens e ex-membro da Comissão sobre a Família junto à Presidência do Conselho de Ministros da Itália. Recentemente ele escreveu o livro intitulado Uma revolução pastoral - Seis palavras-talismã no debate sinodal sobre a família, precisamente sobre os problemas suscitados pelas palavras, ideias e tend ências emergentes após os dois Sínodos. A obra está sendo divulgada em três língl)as pela TFP italiana, e uma edição brasileira está sendo preparada. Guido Vignelli visa sistematicamente a realidade. Ele vai buscá-la no flu xo das modas sempre cambiantes, no curso das ideias em circulação, no estrépito dos acontecimentos atuais. Sua acuidade penetra a modernidade com seus alegres enganos e manifestações otimistas. Vi-

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são da realidade é virtude cada vez mais rara , seja nos livros, seja no jornalismo. Prevalece de modo geral o "pensamento único", o famoso "politicamente correto ". Ele mostra em suas obras, subjacente à euforia moderna , a profunda insatisfação do homem contemporâneo, consequência do fato de se ter liberado de Deus e menosprezado a sua Lei. Também aborda o tema dos malefícios da televisão e sua ação brutal , particularmente sobre a infância. Seus escritos sobre técnicas modernas têm acolhida sobretudo em meios católicos. Visam devolver à sociedade a felicidade perdida pelo afastamento da Igreja . Os erros penetrados na Igreja atingem hoje graus paroxísticos. Fiéis são constrangidos em massa a adotar uma "nova mentalidade" e a ter a sa lvação eterna como fruto apenas de "boa consciência", sem consideração pela lei moral. Uma alegada sinceridade de sentimento prima sobre a noção de pecado. Pecado? Este é tido como um conceito superado. Nesta entrevista, Guido Vignelli , a propósito de seu livro Uma revolução pastoral, analisa um método insidioso de penetração de erros atuais na Igreja com o fim de destruir a moral básica da instituição familiar. Ferramenta essencial desse método são as "palavras-talismã", cuja magia midiática penetra os espíritos e até importantes documentos do magistério eclesiástico. Essa obra de Vignelli se inspira na análise percuciente da realidade efetivada por Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo, obra básica do pensamento católico contra-revolucionário, da qual este autor italiano é inca nsável difusor na Europa .

ças vão modificar a pastoral familiar não em sua substância, mas apenas em seu " estilo" de expressar-se e de agir. Cumpre objetar-lhes que é precisamente este campo delicado e escorregadio que causará problema. As mudanças na linguagem e na.prática podem ser decisivas porque, quando se modifica a maneira de expressar e de agir, as coisas tendem a mudar. Tanto os sínodos episcopais quanto a posterior E xortação pontifícia Amoris laetitia propuseram "um novo léxico que revoluciona a pastoral", como adve1tiu " Avvenire" - jornal da Conferência Episcopal Italiana (24-4-16). Portanto, pode-se esperar que esse " léxico revolucionário" exercerá influência cada vez maior, não só na questão familiar, mas também em toda a vida eclesial.

''As palavras-talismã dominantes no debate sinodal e confirmadas por A moris laetitia foram: pastoral mi ericórdia - escuta - discernimento acomp anhamento - integração"

* Guido Vignelll

*

*

Catolicismo - Que tipo de mudanças são esperadas na nova pastoral familiar?

Guido Vignelli -

A lguns afirmam que essas mudan-

A mensagem sinodal e a papal se impõem não tanto pelo seu diagnóstico e sua terapia, quanto pela sua intenção explícita de promover uma " conversão pastoral " da linguagem e da prática que favoreça uma " inversão de perspectiva" não só na vida familiar, mas também eclesial, como disseram os cardeais que apresentaram a Amoris laetitia à imprensa. A " conversão pastoral " consiste em adequar cr itérios, m étodos e meios eclesiais à pretensão do homem moderno de agir seguindo apenas a própria consciência subjetiva e sati sfazendo as exigências permissivas daí resultantes. A " inversão de perspectiva" consiste em colocar não mais os meios a serviço do fim, mas o fim ao serviço dos meios, ou seja, em colocar a verdade e as leis catolicismo@terra.com.br / SETEM BRO 2016

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evangélicas a serviço da nova pastoral eclesial, o que vale também para o Direito canônico e inclusive para os Sacramentos. Para esse fim, surgiu a perigosa tendência de encarar a verdade evangélica sobre o casamento e a família como se fosse "um modelo ideal", ou seja, uma bela teoria, mas muito abstrata e dificil de alcançar, que depois vai adequar-se às exigências pastorais exigidas pelas situações concretas. Por isso se prevê avaliar e resolver essas situações recorrendo a atenuantes morais e exceções, derrogações e licenças jurídicas. Desta forma, contudo, o mencionado modelo evangélico perde o seu rigor ideal, e com ele também a sua força de sedução e atração; além disso, o acúmulo de exceções à regra acaba frustrando a própria regra, deslizando-se na insegurança jurídica.

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Catolicismo - Qual é o papel dessa nova linguagem eclesial nas mudanças previstas?

Guido Vignelli -A nova linguagem sinodal é dominada por certas palavras-chave que, mediante máxi-

"Chega-se a justificar o pecado e a absolver o pecador impenitente, concedendo-lhe o acesso à Comunhão sem prévia conversão e reparação. Tal misericórdia é contrária ao Magistério". mas correlativas, fórmulas e slogans, definem os problemas examinados e orientam as soluções propostas, de modo a sugerir uma mudança substancial de toda a prática eclesial. Em resumo, essas palavras-chave são neutras e de uso comum. Na prática, no entanto, elas estão inseridas em um contexto que lhes confere um significado enganoso e as faz exercer uma perigosa influência sobre os que as usam, manipulando a sensibilidade e a mentalidade dos fiéis através de uma técnica de persuasão psicológica oculta, análoga àquela utilizada pelos sistemas de propaganda de massa, por exemplo, na publicidade. É por isto que tais palavras nós as podemos definir como "palavras-talismã", comparando-as com as fórmulas mágicas. Ou seja, elas não se limitam a exprimir o que significam (uma ideia, um valor, um julgamento), mas tendem a realizar aquilo que significam, isto

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é, a produzir um efeito (uma escolha, uma posição, wn comp011amento) capaz de seduzir e atrair um ouvinte ingênuo, distraído ou conformista. Quem usa tais palavras-talismã é depois empurrado inconscientemente· para uma detenninada direção, an-iscando ser "baldeado" de uma posição antiga e rigorosa para uma nova e permissiva. Como se sabe, esse tipo de palavras e o mecanismo sutil desencadeado por elas foram analisados com acuidade pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra intitulada Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo (1965), um ensaio de importância histórica e profética, muitas vezes surrupiado por estudiosos e apologistas por sinal, mas quase nunca citado como fonte autorizada. Catolicismo -

seis palavras se repetem com :frequência nos atos oficiais dos dois Sínodos: pastoral (90 vezes), misericórdia (48), discernimento (45), acompanhamento ( l 02); a palavra integração ocorre apenas 24 vezes, mas, se a unirmos à palavra que a pressupõe, ou seja, acolhida, repetida 74 vezes, juntas formam um total de 98. Houve ouh·as palavras-chave recorrentes, como complexi-

'~ abordagem metodológica está em suma na exigência pastoral e no primado da misericórdia. O problema é que essas duas palavras-chave foram falsificadas em seu significado".

Quais são as "palavras-talismã" que

emergiram dos dois Sínodos?

Guido Vignelli - De acordo com protagonistas e observadores oficiais, as palavras-talismã dominantes no debate sinodal e confirmadas por Amoris laetitia foram as seguintes: pastoral - misericórdia - escuta discernimento - acompanhamento - integração. Essas

dade, ap rofundamento, desafio, mas que não parecem ler a importância das precedentes. Essas palavras-talismã são relacionadas entre si. /\ nova pastoral exige tratar com misericórdia as situações conjugais e familiares imorais, que não devem por isso ser julgadas eticamente, mas através da escuta de suas experiências e necessidades, a fi m de discernir

em todas o que é "autêntico", com vistas a acompanhá-las rumo a um processo de acolhida, obtido com a plena integração na comunidade eclesial e na vida sacramental. Catolicismo - Qual é a impostação da nova pastoral?

Guido Vignelli - A nova pastoral familiar é baseada no pressuposto de que os agentes pastorais devem limitar-se a utilizar apenas métodos e meios de "diálogo", da persuasão e do exemplo, renunciando à reprovação, à denúncia, para a condenação e punição do pecador. Acredita que métodos penais não são misericordiosos. Consequentemente, mesmo quando a culpa é obstinada, pública e escandalosa, nenhum pecador pode ser marginalizado ou expulso da comunidade da Igreja. Em concreto, o pecador não é tanto perdoado quanto escusado, aduzindo-se atenuantes justificatórias, por exemplo, o fato de viver em uma situação matrimoniàl ou familiar supostamente insanável. Então, tende-se ser misericordioso, não só com o pecador (que sempre pode converter-se), mas também com a sua situação pecaminosa (que nunca pode converterse, mas deve simplesmente desaparecer); não se limita catolicismo@terra.com .br / SETEMBRO 2016

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a "odiar o pecado e amar o pecador", como afirma Santo Agostinho, mas chega-se a justificar o pecado e a absolver o pecador impenitente, concedendo-lhe até o acesso à Sagrada Comunhão sem prévia conversão e reparação. Tal misericórdia é contrária ao ensinamento da Igreja, inclusive o da encíclica Dives in Misericordia de João Paulo II. Esse permissivismo, que ontem era concedido apenas aos que erravam, estende-se hoje aos pecadores públicos. Se esta abordagem liberal fosse aplicada com rigor, nenhuma sociedade poderia conservar-se por longo tempo, nem sequer a da Igreja, que é divina, porque os tribunais tornar-se-iam ilícitos e, portanto, seriam abolidos. A abordagem metodológica está em smna na exigência pastoral e no primado da misericórdia. O problema é que essas duas palavras-chave foram falsificadas em seu significado e traídas na sua missão. Na ânsia de diagnosticar as situações pecaminosas absolvendo-as da devida condenação moral, a pastoral tende a eludir a verdade revelada; na ânsia de curar essas situações poupando-as dos inevitáveis sofrimentos, a misericórdia tende a escapar da justiça divina. O resultado é uma pastoral relativista, incapaz de iluminar os que erram e uma misericórdia permissiva incapaz de converter os pecadores. Catolicismo -

Qual é a teoria implícita nessa nova

pastoral?

Guido Vignelli - Se consideradas nas suas relações, as mencionadas palavras-chave se explicam e se apoiam mutuamente, sugerindo uma nova metodologia que nos leva a passar de um conceito rigoroso

conceitos de " mal absoluto" e "estado de pecado" são implicitamente rejeitados como abstratos e rigoristas. O que leva ao seguinte paradoxo: quanto mais um cristão se obstina em viver num estado público de pecado, violando gravemente os mandamentos relativos à fidelidade e à castidade matrimonial, ele pode lícita e canonicamente considerar-se "simul justus et pecador" ("que é pecador justificado"), como pretendia o heresiarca Lutero. A nova pastoral pressupõe e insinua uma teoria moral relativista e permissiva, semelhante à "nova moral" denunciada em seu tempo por Pio XII: afirma-se que, "libertada das sutilezas sofisticas do método tradicional, a moral seja reconduzida à sua forma originária e remetida à inteligência e à determinação da

Quanto mais um cristão se obstina em viver num estado público de pecado, vlolando gravemente os mandamentos relatlvos à fldelldade e à castidade matrimonial, ele pode líclta e canonicamente considerar-se "slmul Justus et pecador" ("que é pecador Justificado"), como pretendia o heresiarca Lutero.

consciência individual. [. ..] A 'nova moral ' afirma que a Igreja, em vez de fomentar a lei da liberdade humana e do amor, pelo contrário leva, quase exclusivamente e com excessiva rigidez, à.firmeza e intransigência das leis morais cristãs, recorrendo com.frequência àqueles 'sois obrigados ' e 'não é licito ' que têm muito sabor de um pedantismo desalentador. [. ..] Com o resultado de que a acusação de dureza opressora, do movimento 'nova moral' contra a Igreja, vai na verdade atingir em primeiro lugar a própria Pessoa adorável de Cristo" (Pio XII, Rádio Mensagem de 23 de março de 1952, por ocasião do Dia da Família). Prepara-se, portanto, uma revolução pastoral no sentido relativista e permissivo. É uma revolução no sentido relativista, porque o diagnóstico das situações

familiares se baseia não na avaliação moral objetiva delas, mas em detectar a experiência psicológica subjetiva e prever as consequências práticas, com o perigo de fazer a consciência perder o sentido de pecado, já tão obnubilado. Com efeito, não se fala mais de "situações imorais" (como o concubinato), nem tampouco de "situações irregulares", mas apenas de "s ituações complexas" ou "difíceis". É também uma revolução no sentido permissivo, porque a terapia para tratardessas situações se reduz ao uso de paliativos e anestésicos que, longe de eliminar as causas do mal, aliviamlhe apenas os sintomas, ou seja, as consequências dolorosas, com o resultado de eludir o restabelecimento e tornar crônico o vício. Desta forma, a pastoral familiar é reduzida a uma psicologia ou sociologia da família semelhante à laicista. Catolicismo - Há também motivos de uma esperança não sentimental, mas racional, quanto ao futuro da família?

Guido Vignelli - Não obstante a mesma análise sinodal admitir que a atual situação familiar global é totalmente desastrosa, pesquisas sociológicas e estatísticas também revelam alguns sinais de esperança quanto ao futuro. Na verdade, apesar de as autoridades tornarem cada vez mais difícil para os jovens constituir família, opondo obstáculos culturais, políticos e econômicos inimigos da castidade, da estabilidade e da procriação, o desejo de família está crescendo precisamente entre as últimas gerações; isto também se aplica à nobre nação brasileira. Talvez seja até para perve1ier essa saudável tendência juvenil que a pro1

':4. propaganda revolucionária "Prepara-se uma revolução pastoral no sentido relativista e permissivo. É uma revolução, porque o diagnóstico das situações familiares não se baseia na avaliação moral objetiva". a um permissivo, não só da pastoral doméstica, mas também da moral familiar. A avaliação moral é de fato posta na dependência dos tempos, lugares, pessoas e situações, com base, portanto, em critérios não mais absolutos ( ou seja, universais e necessários), mas relativistas (ou seja, particulares e subjetivos); os próprios CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

tenta distorcer o conceito de família , tornando-a "pluralista", introduzindo nela todas as formas possíveis de convivência ( inclusive a homossexual) ". paganda revolucionária tenta distorcer o conceito de família, tornando-a "pluralista", ou seja, introduzindo nela todas as formas possíveis de convivência (inclusive a homossexual). Mais uma razão para impelir os cristãos a defender a verdadeira identidade e definição de família. Trata-se da própria sobrevi vência da humanidade, como também da Igreja. ❖ catolicismo@terra.com.br / SETEMBRO 201 6


1 Santa Margarida de Riéti, Virgem + Florença, 1770. De família abastada, ingressou no Carmelo aos 19 anos, onde permaneceu até o seu falecimento, aos 23 incompletos. Pelo seu empenho em não aparecer, essa grande mística ficou conhecida como a Santa da Vida Oculta.

Santo Antônio, Mártir + Síria, séc. IV. "Jovem cristão de 20 anos, cortador de pedras por profissão, quebrou em pedaços ídolos pagãos. Foi por esse motivo condenado a morrer na própria construção de uma igreja em que estava trabalhando" (do Martirológio Romano - Monástico). Primeira sexta-feira do mês.

3 São Gregório Magno, Papa, Confessor e Doutor da Igreja + Roma, 604. De família senatorial romana, quando ainda muito jovem foi prefeito da cidade. Herdou uma enorme fortuna e fundou seis mosteiros, fazendo-se beneditino em um deles. Delegado Apostólico em Constantinopla e depois Papa, exerceu com firmeza e energia o governo da Igreja, destacando-se sua atuação na organização do culto e do canto sacro. Primeiro sábado do mês.

4 Patriarca Moisés, Profeta + Palestina, séc. XIII a.e. Profeta e legislador, Moisés "recebeu de Deus a missão de libertar o povo de Israel oprimido no Egito pelo Faraó. Falava com Deus face a face como

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se fala a um amigo" (do Martirológio Romano - Monástico).

São Bertino, Confessor

+ Luxeuil (França), 700. Este patriarca fundou com Santo Omer a abadia de Luxeuil, da qual 22 monges foram elevados às honras dos altares.

6 Seis bispos africanos, Mártires + África, séc. VI. Estes prelados, "como verdadeiros pastores ofereceram suas vidas pelos seus rebanhos durante a perseguição do Rei Hunerico " (do Martirológio Romano).

7 Santa Regina de Alésla, Virgem e Mártir + Borgonha, séc. li. Seu culto na Borgonha "é documentado desde o século V por uma basílica edificada sobre seu sarcófago. Uma tradição designa assim o lugar do martírio de Alésia: 'Aqui César venceu a Gália; aqui uma virgem venceu César"' (do Martirológio Romano - Monástico).

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Santa Pulquérla Imperatriz, Viúva + Bizâncio, 453. Batizada por São João Crisóstomo, ainda jovem fez o voto de virgindade com suas duas irmãs mais novas. Aos 15 anos sucedeu ao pai, pois seu irmão, Teodósio li , ainda não havia atingido a maioridade. Tendo que se afastar da corte devido aos ciúmes da cunhada, voltou a pedido do Papa São Leão para combater as heresias de Eutiques. Com a morte do irmão, tornou-se imperatriz. Para estabelecer sua autoridade, casou-se com o general Marciano, com quem viveu em castidade.

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

11 São João-Gabriel Perboyre, Mártir + China, 1840. Depois de ter trabalhado na formação da juventude em várias escolas católicas da França, foi enviado às missões na China. Deus atendeu ao seu pedido, concedendo-lhe a graça do martírio durante uma inesperada e cruel perseguição.

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NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA

Santíssimo Nome de Maria

9 São Pedro Claver, Confessor + Cartagena (Colômbia), 1654. Apóstolo dos Negros. Nasceu na Espanha e partiu para a então Nova Granada, dizendo: "Quero passar toda minha vida trabalhando pelas almas, salvá-las e morrer por elas ". Foi o que fez, vivendo por mais de 40 anos no apostolado entre os negros, morrendo vítima de moléstia contraída ao atender empestados.

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13 São João Crisóstomo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Armênia, 407. Um dos quatro grandes doutores da Igreja Oriental e bispo de Constant inopla, notabilizou-se pela rara eloquência, de onde seu nome Crisóstomo (boca de ouro). Perseguido e desterrado pela Imperatriz Eudóxia, morreu a caminho do exílio. São Pio X declarou-o patrono dos oradores cristãos.

15 NOSSA SENHORA DAS DORES Festa instituída por Pio VII em 1814, em substituição a duas outras muito antigas, para rememorar as dores da Corredentora do gênero humano.

6 Santa Edite, Virgem + Wilton (Inglaterra). "Filha do Rei Edgar, da Inglaterra. Consagrada a Deus desde a mais tenra infância (no Mosteiro de Santa Maria, em Wilton), morreu aos 23 anos, pranteada unanimemente por suas irmãs" (do Martirológio Romano - Monástico).

17 São Roberto Belarmino, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja + Roma, 1621. Jesuíta , autor das admiráveis Controvérsias, obra em que refuta os sofismas protestantes. Foi arcebispo de Cápua, cardeal, consultor das principais congregações romanas e conselheiro de vários Papas.

18 São João Macias, Confessor + Lima, 1645. Contemporâneo de São Martinho de Porres e dominicano como ele, embora em outro convento de Lima. Foi modelar em todas as virtudes, principalmente na obediência e na pureza.

19 Aparição de Nossa Senhora em La Salette (França) Em 1846, aos dois pastorinhos Maximin e Mélanie, recomendando a oração quo-

tidiana e a santificação dos domingos. A Santíssima Virgem denunciou em termos candentes os pecados do clero.

o Santos Eustáquio e companheiros, Mártires + Roma, 120. Eustáquio foi um dos maiores generais do exército romano imperial e notável por sua caridade, apesa r de pagão. Numa caçada, o cervo que perseguia voltou-se para ele com uma cruz entre os chifres. Eustáquio converteu-se e sofreu o martírio com a esposa e dois filhos, assados dentro de uma enorme estátua de metal aquecida.

:1 São Mateus, Apóstolo e Evangelista + Antioquia, séc. 1. Deixou sua mesa de arrecadador de impostos em Cafarnaum quando o Senhor, fixando-o, disse-lhe simplesmente: "Segue-me". Foi o primeiro que, por inspiração divina, escreveu o Evangelho. Segundo a Tradição, foi martirizado em Antioquia ou na Etiópia, onde teria instituído um convento de virgens.

2 Santo Emerano, Bispo e Mártir + Aleman ha, séc. VII. Apóstolo da Baviera, foi ma rtirizado p los pagãos. Sobre o seu túmlllo foi erguida a abadia ben dltlna de Kleinch elfendorf, que se tornou lugar de perep;rlnação.

23 São Pio de Pletrelclna, Confessor nnta Tecla, Virgem e Mártir 1 Selêucia (Turquia), séc. 1.

Convertida por São Paulo, sofreu inúmeras perseguições para conservar seu voto de virgindade, saindo incólume do tormento da fogueira, dos leões e das serpentes. Embora a tenham deixado livre depois disso, é cónsiderada pelos Padres da Igreja como a "primeira das mulheres mártires ", e "semelhante aos Apóstolos" (do Martirológio Romano).

Nossa Senhora das Mercês

Beato Hermano Contractus, Confessor + Baden, 1054. Filho de condes, ao nascer foi vítima de um traumatismo obstétrico, tendo de ser carregado no colo durante toda a sua vida. Donde o cognome de Contractus ou Entrevado. Mas a Providência compensou essa lacuna corporal com dons de inteligência que lhe mereceram outro cognome, o de Maravilha do século, por sua ciência e virtude.

Santa Teresa Couderc, Virgem + Lião, 1885. Fundadora da Congregação de Nossa Senhora do Cenáculo, dedicada à obra dos retiros espirituais para senhoras, sofreu toda sorte de humilhações, ingratidões e rivalidades, sendo-lhe arrebatado o cargo de superiora da obra que fundara e negado o título de fundadora.

São Vicente de Paulo, Confessor + Paris, 1660. Cognominado o grande Santo do grande século na França, fundou os Laza-

ristas e as Irmãs de Caridade. Praticamente não houve atividade religiosa ou de caridade a que não estivesse ligado. Os membros das congregações por ele fundadas foram peças fundamentais para fazer o protestantismo retroceder e perder força naquele país. No Conselho de Regência, foi responsável pela nomeação de bispos virtuosos, o que auxiliou a realização de uma verdadeira reforma religiosa . Incentivou uma cruzada contra a Inglaterra, que naquela época perseguia cruelmente os católicos. O empreendimento não foi possível devido à oposição do Cardeal de Richelieu.

la , mudou-se para a Palestina a fim de se tornarem religiosas sob a direção de São Jerônimo.

São Venceslau, Rei e mártir Santa Eustóquia, Virgem + Palestina, 418. Virgem romana que, com sua mãe Pau-

Nota: Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui apenas seus nomes enunciados, sem nota biográfica .

9 Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael

o São Jerônimo, Confessor e Doutor da Igreja Santo Honório, Bispo e Confessor + Cantuária, 653. Discípulo e sucessor de Santo Agostinho na Sé de Cantuária, seguiu-lhe os passos na evangelização dos anglo-saxões.

Intenções para a Santa Missa em seLembro Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções: • Em honra da Exaltação da Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pedindo para todos os colaboradores, assinantes e leitores de Catolicismo o amor à Santa Cruz e as forças necessárias para suportarem corajosamente as cruzes que se apresentarem ao longo de suas vidas. Também pedindo graças especiais para que todos os católicos perseguidos em países de religião islâmica não esmoreçam , mas que, pe lo contrário, sejam mais fortalecidos na fé .

lnLenções para a Santa Missa em ouLubro • Para que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil - cujo Ili Centenário comemoramos no próximo ano - , livre nossa Pátria de todo tipo de corrupção, sobretudo da corrupção mora l, que vem arruinando as famílias brasileiras. Pedindo a Ela que neutralize a ação de certos movimentos ditos "sociais", que visam impedir que o País saia da atual crise. E também que favoreça o crescimento da devoção ao Santo Rosário no seio de todas as famílias católicas.

catoli cismo@terra.com.br / SETEM BRO 2016

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AVANTE, CARAVANISTAS! IVAN RAFAEL DE OLIVEIRA

urante os meses de julho e agosto, os jovens do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira atuaram novamente em defesa da Lei de Deus e pelos ideais da civilização cristã! Três caravanas percorreram vastidões brasileiras, levando ao público das ruas e praças o convite para atuar por esses ideais.

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Caravana pelo Paraná

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A prime ira dessas caravanas, com 18 jovens voluntários do Instituto , cruzou o estado do Paraná entre os dias 4 e 24 de julho. Foram 22 cidades em que os jovens se dedicaram à divulgação das obras Catecismo contra o Aborto, de autoria do Padre David Francisquini , e Psicose Ambientalista, do Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança. Os caravanistas passaram também pelas famosas cataratas do Iguaçu, junto às quais altearam seus estandartes. No Sudeste, caravana percorre três estados

Entre os dias 1O e 22 de julho, urna segunda caravana com nove participantes percorreu 17 cidades do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, divulgando as obras Homem e Mulher Deus os criou e Catecismo contra o Aborto, ambas de autoria do Padre David, o livro de Dom Bettrand acima aludido, bem como a obra Milagre do Sol, que versa sobre o grande milagre de Nossa Senhora ocorrido em Fátima no ano de 1917. Atuação em Mato Grosso do Sul

Tribalismo Indígena - ideal comunamissionário para o Brasil do século XXI, de CATOLIClSMO / www.catolicismo.com.br

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Plinio Corrêa de Oliveira, foi o livro difundido pelos caravanistas que percorreram o Mato Grosso do Sul. Ele contém uma denúncia das políticas de esquerda que, sob o pretexto de "defesa da raça indígena", desapropriam importantes áreas de agropecuária para transformá-las em "reservas indígenas" nos moldes do regi me comuno-tribalista. Tais desapropriações, ao invés de favorecerem a dignidade e o desenvolvimento dos indígenas, pretendem mantê-los no estado selvagem, e até obrigando a voltar a ele índi os já perfeitamente integrados na sociedade. No Mato Grosso do Sul, cidades inteiras correm o risco de sofrer tais demarcações suspeitas! Foram percorridas 20 cidades entre os dias 1° e 12 de agosto, quando os 32 caravanistas puderam entrar em contato direto com a população afetada por essa equivocada política indigenista. Não apenas "brancos de cidade", mas também silvícolas de aldeia (não os ligados à FUNAI nem influenciados pelo CIMI, é claro ... ) mostraram-se indignados com tais demarcações. Foram difundidos quase 1200 exemplares da obra, o que representa um verdadeiro ucesso! ❖ catol icismo@terra.com.br / SETEMBRO 2016

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O BRASIL QUE DESEJAMOS SANTIAGO LAIA

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o,~ltimo dia 31 dejulho - p~la set1ma vez em um ano e meio, de norte a sul do País - , o verde e amarelo voltou a inundar as ruas e praças de diversas capitais. Famílias inteiras, pessoas de todas as idades e classes sociais saíram às ruas, para manifestar seu apoio ao afastamento definitivo da petista Dilma Rousseff. Em meio ao vaivém de manifestantes, sob um sol vespertino de domingo que lançava lampejos de luz sobre os arranha-céus que circundam a Avenida Paulista, voluntários da Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, portando seus tradicionais símbolos, estiveram junto à multidão presente ao evento na capital de São Paulo. Também em algumas outras capitais eles participaram das manifestações. Ao som de gaitas de foles, os jovens do Instituto distribuíram um resumo do manifesto O Brasil em histórica encruzilhada, exibido na íntegra em sua página da internet como um alerta para os falsos rumos propostos por alguns "líderes" para o Brasil. * Nesse resumo, intitulado O Brasil que queremos, destaca-se a unidade das manifestações ocorridas em diversas partes do País, onde frases como "Eu quero o meu Brasil de volta " refletiam a posição inequívoca da Nação face ao projeto político implantado pelo PT, que durante 12 anos de poder desfigurou a identidade do Brasil. A matéria salienta ainda a existência, em quase todos os países da América Latina, de um gradual divórcio entre Nação e Estado, previsto por Plinio Corrêa de Oliveira e fruto da tentativa de comunistização da América Latina. O texto esclarece, por :fim, que tal divórCATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

cio só tenderá a aumentar enquanto não houver no Brasi l uma verdadeira restauração moral, e que sem esse "retomo à ordem" qualquer solução será apenas mais uma aventura. Os paiticipantes dessas manifestações populares,jamais vistas em nossa história, esperam que elas possam contribuir para restaurar a face autêntica de nosso País. E almejam também que a derrota do projeto da esquerda petista não seja apenas uma vitória do Brasi l profundo, verdadeiro e cristão, mas um exemplo para as vizinhas nações bolivarianas, submetidas a um análogo projeto totalitário e socialista. Para isso nos ajudem o Cristo Redentor e Nossa Senhora Aparecida. ❖ Notas: * http://ipco.org. br / i pco/brasi 1-em-h istoricaencruzilhada/?origem=banner#.V6ut0fkrLIU

catolicismo@terra.com .br / SETEMBRO 201 6

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AMBIENTES • COST1JM[S • CfVJLTZACOES

VENEZA E FLORENÇA

exemplo: a arcada é toda ela repleta de decorações e enfeites. Um esplendor no qual a cor prepondera, porque tudo é muito mais pintura do que escultura. Cores luminosas, vivas e impressionantes . No segundo quadro, também de Duas cidades, duas escolas de arte outro grande pintor, Piero della Francesca, que trabalhou em Florença, rePLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA presentou uma cena pobre do Natal do Menino Jesus. Observe-se o contraste: enquanto Canaleto pintou uma das basílicas mais suntuosas da Cristandade, duas naves transversais completando s artistas ~enezi~nos q~ase na cena do Natal quase tudo é desesempre sao mais apaixoo formato da cruz. O estilo arquitenho, as cores não têm tanta relevância. nados pelas cores, enquantônico é simples, porém tudo é abunVê-se Nossa Senhora olhando para o dantemente pintado e colorido! Um to os florentinos são mais Divino Menino deitado numa atraídos pelas formas. almofada. Veneza é colorista por naOs personagens, ao contureza. Isto devido a seus patrário dos venezianos, todos são lácios e lagunas, recebendo da magros. Em Veneza, tendência presença da água o encanto de para os prazeres da mesa; em um ar colorido. Assim, realça Florença, inclinação para uma todas as coisas e explica a tenatitude ascética. Na cidade vedência de seus artistas a salienneziana, todos os personagens tar a cor como elemento de arte. estão fazendo movimentos vivos Por sua vez, em Florença, e exclamativos; na cidade florenseus artistas - não recorrendo tina, movimentos muito comepredominantemente à cor como didos. Nossa Senhora olha para principal elemento ornamental seu Filho. Ela aparece enlevada, - valem-se do desenho, cujas mas sem transportes exclamatiobras de arte são o que há de vos, mas gestos concisos. melhor. No primeiro plano há fiEntão, a respeito da diguras tocando instrumentos de ferenciação entre a escola vecorda em louvor do Menino neziana e a florentina pode-se Jesus. Certamente, as canções levantar a seguinte pergunta: Interior de São Marcos - Cana letto, 1755. Royal Collection, Windsor. deles não eram dramáticas, mas como transformar este tema sóbrias. Quase todos vestidos num assunto que se compreenda de verde, em tons diversos. e desperte interesse? Para isso Nossa Senhora também com vamos dar dois exemplos. um traje verde. No segundo plaNeste primeiro quadro no há outras pessoas igualmente [o interior da Basílica de São em vestes de um colorido semeMarcos em Veneza, pintado por lhante. Nos outros personagen Canaletto] nota-se uma linha também as cores não são muito mestra: a igreja apresenta uma vistosas. planta em forma de cruz, que A vida do quadro reside é traçada a partir de uma linha mais nas linhas elegantes das desde a porta principal. pessoas, em suas atitudes sóO grande pintor Canaletto bri as e no desenho perfeito. A colocou-se de costas para a porcor desempenha papel secundáta e de frente para o altar-mor. rio. •!• Na altura do púlpito, abrem-se

O

Natal - Piero della Francesca (1420 - 1492). Nationa l Gallery, Londres.

Excertos da conferência proferida pe lo Prof. Plínio Corrêa de Olivei ra em 12 de agosto de 1989. Sem revi são do autor.



SUMÁIUO

EXCERTOS

Infiltração da mentalidade • comunista em meios católicos Plinio Corrêa de Oliveira

O objetivo do movimento infiltrante será, então, uma metamoifose ideológica dos pacientes, que os deixe a dois dedos do comunismo, quando não os faça propriamente comunistas.

mito das massas famintas e revoltadas vai sumindo em diversos setores da opinião pública. Quando o ja.nguismo levantou entre nós o estandarte de sua reforma agrária e a TFP lhe opôs o livro Reforma Agrária - Questão de Consciência, muitos dos arditi do agro-reformismo acenaram com a ameaça de urna revolta geral dos trabalhadores rurais, caso a partilha de terras não viesse logo. Ouvi, em gravação, as conferências feitas no Chile por um agro-reformista insigne e abrasado, D. Helder Câmara. Ele não fala mais da revolta das massas corno um perigo iminente. Pelo contrário, diz que as massas são átonas em relação às reformas, porque são famintas ... Assim, a fome, que outrora servia para dar certa verossimilhança ao espantalho da revolução social, hoje serve para explicar a notória atonia

O do povo!

É necessário voltar sempre a essa tese básica da impopularidade do credo vermelho, se se quiser compreender algo sobre os reais problemas da propaganda comunista. Se, pregando-o às escâncaras, o comunismo causa horror, como fazê-lo vencer? Evidentemente, é ensinando-o sorrateiramente. Como se faz isto? Lançando movimentos com rótulo não comunista, que se infiltrem em meios anticomunistas e ali transformem f·urtivamente as mentalidades. Conforme a psicologia do ambiente a ser infiltrado, varia o rótulo. Assim, para urna infiltração em meios católicos, o rótulo há de ser necessariamente religioso. O objetivo do movimento infiltrante será, então, urna metamorfose ideológica dos pacientes, que os deixe a doi s dedos do comunismo, quando não os faça propriamente comunistas. O que acabamos de enunciar caracteriza os organismos altamente suspeitos - é o menos que se pode dizer - de serem instrumentos a serviço da obra diabólica de "comunistizar" os milhões de católicos. ❖

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

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CORRESPONDÊNCIA

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A REALIDADE CONCISAMENTE

10

ENTREVISTA Considerações sobre a Mensagem de Fátima

22

DISCERNINDO

Diretor: Paulo Corrêa d e .Bri to Filho

A pretexto dos "excluídos" , defende-se o marxismo

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Jo .. nnlistu Rcsponsi1vcl: Nelso n H a nios B a rre ll o Regis trad o na DHT/l)F sob o nº 3 ll 6

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA? A bondade da Santíssima Virgem

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26

CAPA Influência da França em Plínio Corrêa de Oliveira

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VIDAS DE SANTOS Santa Margarida Maria Alacoque

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EPISÓDIOS HISTÓRICOS

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SANTOS E FESTAS DO MÊS

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AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES Santa Teresinha (sem deformações iconográficas e biográficas)

SP

Serviço ilc ALctulimenlo ao Assinante:

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Reconquista da cidade húngara de Buda (séc. XVII)

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Ad,ninislração: Hua Javaés, 681 l" and a r - Bom R e tiro CE PO 11 30-0l O São Paulo -

333 1. -4522 3361-6977 3331-4-7 90 2843-9487

(11) 3333-6716 Co1·rcsponilêi1eia: Cai xa Pos tal 707 CEP 01031-97 0 Sã o Paulo - SP [mpressão: Prol Editora Cnífica LI.da. E-mail: cato li cisJn o Lc rra. com.b r HomcPagc: w,vw. catoJi cis rno. com .ln

I SSN 0102-8502 PTcços da assinatura a mrn l para o111ês dc Ou1ubro d e 2016:

NOSSA CAPA: Plínio Corrêa de Oliveira em 1984. Fundo: Recepção do "Grand Condé" em Versalhes

Con1un1:

Coopm·ador: B cnfoi1or:

C rand.c Bcnl'eito,·: Exentplar avul so:

R $ 180,00 R$ 270,00 H$ 4-60,00 R$ 760,00 R$ 18,00

- Jean-Léon Gérôme, 1878. Museu Carnavalet, Paris.

CATOLICISMO Publi cação n~cti. a i cfa E diLoxu

* Trechos do artigo publicado na "Folha de S. Paulo", 21 de maio de 19 69 .

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catolicismo@terra.com.br / OUT UBRO 201 6

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CARTA DO DlRETOU Caro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

Nesta edição de outubro, mês em que tradicionalmente publicamos matérias em memória do inspirador de Catolicismo, apresentamos aos nossos leitores uma descrição, em rápidos traços, do ambiente no qual Plínio Corrêa de Oliveira se formou - a capital paulista de então. Nosso colaborar Gabriel J. Wilson procura ressaltar a tônica desse ambiente em São Paulo no início do século XX, penetrado inegavelmente pela influência preponderante da cultura francesa. D iscorrendo sobre a ancestralidade do Prof. Plínio, o articulista ressalta a cortjunção providencial da tradicional família Ribeiro dos Santos, à qual pertencia sua mãe, e a de seu pai, da família Corrêa de Oliveira. Na época da infância de Plínio, a instituição familiar era sólida no Brasil; o divórcio ainda não havia sido introduzido na legislação, e era inimaginável uma loucura chamada Ideologia de Gênero, que seria tida muitíssimo mais do que hoje como inaceitável, execrável e antinatural. A matéria cita reveladoras declarações do conhecido político francês Georges Clemenceau, publicadas em 1911, nas quais ele expõe suas impressões sobre a cidade de São Paulo. Elas poderiam se resumir em dois pontos: 1) O fazendeiro paulista era como "um senhor feudal imbuído de p ensamento europeu ",· 2) A sociedade paulista apresentava "o duplo f enômeno de se orientar de modo resoluto para o espírito francês e de, paralelamente, desenvolver todos os traços da individualidade brasileira ". Em face desse duplo fenômeno, Plínio assumiu em toda a sua integridade os princípios da civilização cristã, dedicando-se de corpo e alma à causa católica contrarrevolucionária. De onde ele ter sido a justo título cognominado "O Cruzado do século XX". Homem de pensamento, luta e ação, sua capacidade de agir acertadamente visando à vitória dos princípios católicos era fruto de uma contemplação dos valores eternos, não só considerados em si mesmos, mas enquanto refletidos nas pessoas e coisas deste mundo. Plínio tinha sempre em vista a H istória, os santos, os grandes personagens da sociedade temporal , os ambientes, costumes e civilizações, assim como o combate do "Corpo Místico da Igreja" contra o poder das trevas. Desejo aos prezados leitores uma profícua leitura dessa importante matéria. Em Jesus e Maria,

Uma promoção que aj~dará o leitor a entender melhor a importância da MENSAGEM DE FÁTIMA nos dias de hoje!

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CARTAS DOS LEITORES

PT e falsários aliados de ideologias infiltrados na Igreja etc., ocupam postos de poder, organizam-se e depois mostram as garras. O caso mais adiantado é o da França,

Milagre estupendo Gostei muito da história sobre a Casa de Nossa Senhora levada para a Itália. Toda ela despertou muito meu interesse em conhecer ainda mais, pois quase não se fala desse milagre estupendo, nem nas comunidades católicas. Adorei a narrativa, que eu não conhecia, e vou compartilhar. Espero um dia conhecer pessoalmente o santuário que guarda a Sagrada Casa na cidade de Loreto. Certamente um lugar abençoado e guardado também por anjos e por isso eu gostaria de tocar aquelas paredes e rezar junto a elas.

(R.U.-SC)

Momento inesquecível Desde menina, Maria Santíssima Nossa Senhora é minha preferida para fazer chegar a Deus as minhas orações. Sempre recorro a Ela, que está sempre de braços abertos (como numa imagem que tenho d'Ela em

misericórdia de nós!

Zen, Arcebispo de Hong-Kong. Também o falecido Cardeal Paul Yu Pin manifestou enérgica repulsa aos

onde mais de 70% da delinquência provêm dos maometanos e de seus descendentes! [ ... ] Enquanto isso, os cristãos servem de pasto às hienas do Islã sem nenhuma condenação do Ocidente ou do Vaticano. Aliás, desde sua

acordos do Vaticano com o regime comunista da China. Ver a esse propósito o artigo "Mais um Cardeal em Resistência", de Plínio Correa de Oliveira, publicado na "Folha de S. Paulo" em 12 de maio de 1974.

gênese, o Islã tenta se disfarçar como religião. No entanto, trata-se de muitos grupos detestando-se entre si e que se guerreiam da mesma forma por dinheiro e poder! Do fato de os muçulmanos serem aliados dos comunistas

Meus parabéns ao Instituto Plínio Corrêa de Oliveira por tão necessário pronunciamento em defesa da Família, do Matrimônio, da Santa Igreja (Catolicismo, edi ção de

(C.M.-MG)

Misteriosos caminhos Com certeza, Deus escreve certo por linhas tortas ... Por que Ele escolhe certos lugares? ... Certas pessoas? ... Só o Diviníssimo Espírito Santo sabe ... Só os misteriosos cam inhos da Divina Providência ... Esse arcebispo chinês [Cardeal Joseph Zen] com certeza é um iluminado.

(N.A.T.G.P.-PR)

Avestrusismo

pode-se ter ideia de que laia eles são! Dessa forma, têm procedido e seguem tal e qual, desde sua fundação pelo profeta da violência e da desgraça totais, Maomé. Como consequência, várias dezenas de milhões de mortos e também a eterna guerra entre sunitas versus xiitas; por sinal, esses mais próximos dos radicalíssimos do Talibã!

(G.A.O. -

RJ)

Perguntar não ofende É indignante ver esses atentados islâm icos contra os

braços abertos esses bárbaros. Parecem não perceber o perigo em que colocam a Europa. Pelo andar da carruagem, com a marcha do feminismo, ateísmo, socialismo e outros ismos, a Europa ocidental está se destruindo. Enquanto isso, vemos nos representantes da Igreja o comportamento de avestruz.

(P.P.-BA)

Islamismo O islamismo e o comunismo, para se desenvolverem

Dr. Plínio Corrêa de Oliveira foi um gênio e um profeta. Aprendi com ele durante toda a minha .vida. Guardo com cuidado os seus livros e passo seus ensinamentos aos meus filhos, netos e conhecidos!

nismo disfarçado, o qual usa de sedução conducente ao mesmo fim - um dos 1001 focinhos do mesmo diabo

(M.H. - RJ)

-, enquanto os comunistas do modelo Trotsky-stalinista,

Cardeal em resistência

caso do ex-PT, chegam virando a mesa, atirando para depois perguntar! As víboras muçulmanas entram no país

Muito oportuno o pronunciamento do Cardeal Joseph

com ajuda de seus aliados socialistas: Hollande, Merkel,

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CATOUCISJ\110 / www.catolicismo.com .br

(J.A.F. -

RS)

razão alguém que comentou: a guerra do Islã está declarada. Acordemos antes que seja tarde. Pergunta: o que

numa nação, têm de encontrar terreno propício para essas super-virulentas bactérias vingarem, sendo o relativismo seu principal alimento! Não existe islamismo moderado. Sua "moderação" é comparável à do comu-

Profetismo

pois, tudo que lhe é contrário!

Confirmação na fé

durante 800 anos. E agora a Igreja de novo acolhe de

RJ)

Jesus. Amoris Laetitia é uma afronta à Santa Igreja, ao Matrimônio, à Família. Tem que ser revogada! Bendito seja Deus que garantiu que as portas do inferno não prevalecerão contra a Santa Igreja. Confiemos n'Ele! Sigamos defendendo a Santa Madre Igreja! Rechacemos,

Agradeço o envio da revista Catolicismo, que muito me confirma na fé e a expandir a fé entre meus próximos.

mágico e in esquecível na minha vida.

(A.A.S. -

agosto de 2016). Como foi declarado por um prelado: "Não se muda a Doutrina da Igreja com uma nota de rodapé ". É nosso dever defender a sã doutrina, conforme definida por Nosso Senhor. Nem nota de rodapé, nem Papa, ninguém pode modificar o que foi estabelecido por

está sendo pisada . Agora é em território europeu! Tem

está fazendo o Vaticano e o Papa Francisco em favor da liberdade dos católicos praticarem a verdadeira fé?

O trecho do artigo de Dr. Plínio [Renova ção da mentalidade pública] foi um dos melhores comentários que já li na minha vida. Ele foi ao ponto central de todas as crises políticas de nossa sociedade. Dr. Plínio enxergava anos luz à frente, a ponto de parecer que ele escreveu esse artigo no dia de hoje, para a atua l realidade brasileira.

Em defesa da sã doutrina

Esse padre francês [Jacq ues Hamel] assassinado por

fácil da península ibérica pelos adoradores de Maomé. Para se livrarem deles os ibéricos tiveram que lutar

No ponto central

MG)

dois muçulmanos tinha oferecido um terreno da igreja para construção de uma mesquita. Recebeu a paga por isso. Foram bispos e padres que permitiram a invasão

SP)

(A.C.R. -

católicos. Vamos notar bem: já não é a liberdade dos católicos do século XI em venerar o Santo Sepulcro que

minha sala} para nos amparar em nossas necessidades. Agora com a leitura sobre a Santa Casa de Loreto, onde tantas maravilhas aconteceram na Sagrada Família, minha predileção por Ela aumentou muito e agradeço essa publicação por me ter proporcionado este momento

(D.A.e. -

mental à loucura] . Quanta tibieza espiritual nas igrejas, e não só da parte dos fiéis, mas também de sacerdotes, ministros da Eucaristia, catequistas etc. Que Deus tenha

(M.M.-MG)

Aborto e crescimento do Islã Além da crescente onda de imigrantes muçulmanos vindos de países em guerra, há um fato marcante para o crescimento do islamismo na Europa: enquanto os casais europeus só querem ter um filho e muitos não querem ter filhos, os casais muçu lmanos europeus têm em média oito filhos! Você sabe qual é o lema dos muçulmanos europeus? - "Pelo ventre de nossas mulheres conquistaremos a Europa!". Na Inglaterra, os muçulmanos ingleses costumam apontar para as igrejas católicas e anglicanas e dizer: "Daqui a cem anos esta igreja será uma mesquita!". Por isso, eu afirmo que o aborto legalizado na Europa é responsável pelo crescimento do islamismo e, com isso, pelo aumento dos atentados terroristas no Velho Continente!

(A.L.A.L. - PR)

Cuidado com os mornos Excelente artigo da revista Catolicismo [Oa preguiça

(L.L.J. -PE)

F RASES S ELECIONADAS

...................

"Fora ela Igre_ja é possível tudo, excel,o a salva,ção. É possível ter honras, é possível ter sacramentos, é possível cantar aleluias, é possível responder aniém, é possível possuir o Evangelho, é possível ter fé no nome elo Pai e elo Filho e elo Espírit;o Santo, é possível pregar; mas em nenhum lugar senão na Igre_ja Católica. é possível encontrar a salvação". (Santo Agostinho)

"Sou filha ela Igreja, e a lgre_ja é Rainha, pois é t;ua Esposa, ó Divino Rei elos .H.eis". (Santa Tcresinba)

"Não precisamos ele uma Igre_ja que mude com o mundo. Precisamos ele uma Igre_ja que mude o mundo". (Chcstcrton)

catolicismo@terra.com.br / OUTUB HO 2016

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População chinesa poderá reduzir-se à metade

Monges trapistas fazem a melhor cerveja do mundo

Devido à "política do filho único" - que vigorou por 30 anos e induzia a abortar as crianças de sexo feminino-, a população chinesa cairá para a metade até o fim do século: 580 milhões em 2100 e 280 milhões em 2150, segundo Huang Wenzhen, da Universidade de Wisconsin; ou, de acordo com o Prof. Yi Fuxian da mesma Universidade, 560 milhões no final deste século. Huang estima que as mulheres com possibilidade de serem mães diminuirão 40%, enquanto os bebês cairão 50%. Como para o igualitarismo comunista só interessa o operariado, essa diminuição populacional acarretará menor produção, prejudicando o sonho maoísta de hegemonia universal. Isso preocupa, e muito, os ditadores de Pequim. ltll !l lll ll !lll l lll •IIIHIIIIIIHIIUIIIUllllllllllllll!!llllll•,111,,111111,111111,,,,.,,,1,1111111m1,1,,111,,11111111,,,u,,,11m11111111111111111111,,,u,,,u,,1,,,,,,,,,,,,,,u11,111,,1,,,,1, ,1u,, .. ,, .. ,1,,,,,,,, ,u1, u,,

Os monges trapistas da abadia de São Sixto de Westvleteren, na Bélgica, prosseguem a tradição de produzir uma cerveja artesanal que ocupa o primeiro lugar entre as melhores do mundo. Eles não aumentam a produção para não prejudicar a vida monástica nem fabricam o ano todo; apenas vendem num período limitado, sem fazer publicidade. Nos dias de venda a região é invad ida e os carros fazem filas de três quilômetros para adquirir a preciosa bebida. A abad ia vive como na Idade Média, na fidelidade ao "Ora et labora", lema do grande São Bento, que fundou essa família monástica há 16 séculos!

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França: por cada sacerdote ordenado morrem oito! Segundo D. Bernard Podvin , antigo porta-voz da Conferência Episcopal Francesa , o clero católico "modernizado" se extingue no país, pois "quando são ordenados cem sacerdotes por ano e morrem 800 no mesmo período, a conclusão é evidente" ... Em 1789, a França tinha 110.000 sacerdotes para uma população de menos de 12 milhões. Em 1970 eles eram quase 50.000, em 1995 caíram para 29.000 e hoje são 13.000, quando a população é de quase 67 milhões. Em 2014 houve 140 ordenações, em 2015 elas caíram para 120, e a perspectiva é de 87 para 2016. O fato notável é que os institutos que dão formação tradicional não param de crescer. Estão com 140 seminaristas, 16% dos 840 existentes hoje na França.

Antártida está esfriando e confraria alarmista procura escapatória

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~::~:=a~:~o::::l~;aaq:ir:n:e:::q:s:~i;d:ii:av~::up:~:;stado Islâmico, aproximadamente 100 crianças receberam a Primeira Comunhão das mãos do Patriarca Católico de Babilônia dos Caldeus, D. Luís Rafael Sako. Assistiram à cerimônia todos os sacerdotes

Tendo os cientistas verificado que Í desde 1998 a temperatura da Antártida vem caindo - suas oscilações cíclicas haviam sido manie religiosos da cidade e mais de 700 • fiéis. Na frente militar, osjihadistas fo1 puladas para forjar dramatizações gem cada vez mais da região, podendo ambientalistas-, os porta-vozes § a capital temporária do Estado Islâmico ambientalistas agora reconhecem a improcedência dos receios de seu vir a cair. O Patriarca pediu às crianças para não abandonarem sua terra e rederretimento. O biólogo Fernando construírem a herança católica. Ao que Reinhach escreveu que na Históê um dos meninos lhe respondeu : "Quando crescer, eu serei sacerdote para ria "muitas verdades aceitas pela maioria dos cientistas se mostraservir melhor". O Patriarca não. pôde esconder sua emoção. Em que igreja ram equivocadas", e isso vale para • do Ocidente ocorreu fato mais belo em nossos dias? os aquecimentistas. Contudo, o "aquecimento global" não é um fato científico, mas um "dogma", e pô-lo em dúvida atrai severas penas contra os "hereges". O esfriamento constatado na Antártida deixou mal à vontade a confraria verde-rubra ...

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Animais morrem de fome no zoológico de Caracas A Argentina recuperou o segundo lugar como fornecedora mundial de milho, sua exportação de trigo cresceu 100,5% e a próxima safra aumentará entre 50% e 60%. "A bota do Estado pisando encima do campo acabou" com a saída do governo Kirchner, declarou Juan Curutchet, presidente do Banco Provincia . Enquanto isso, na Venezuela bolivariana a opressão continua. Exemplo patético foi a morte de fome de 50 animais no maior zoológico de Caracas nos seis últimos meses. Marlene Sifontes, funcionária do zoo, comentou: "O que está acontecendo com os animais é a metáfora do sofrimento dos venezuelanos". Os arautos progressistas, que esbravejam contra a fome em órgãos internacionais, ONGs e até no Vaticano , pouco falam da imensa desgraça em que j az a Venezuela e, entretanto, criticam a recuperação da Argentina.

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Fiéis abandonam catolicismo alemão, infeccionado de relativismo Segundo a Conferência Episcopal Alemã , há no país 23,7 milhões de católicos - 29% da população-, mas em 2015 afastaram-se 181.925. Em 1995 foram batizadas 260 mil crianças, mas em 2015 apenas 167 mil. Em 1995 houve 85.456 casamentos, mas em 2015 somente 44.928. Em 1995, 18,6% dos católicos alemães iam à Missa, mas em 2015 só 10,4% vão. Apenas 54% dos sacerdotes se confessam uma vez por ano. 91% dos agentes de pastoral não se co nfessam uma vez por ano ou nunca. Apesar desse quadro, o Cardeal Marx, presidente da Conferência Episcopal Alemã e um dos líderes mundiais da subversão da moral tradicional católica, comemorou a situação da Igreja no país, que, segundo ele, tri lha a estrada da exortação apostólica Amoris Laetitia do Papa Francisco.

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CATOLICISMO

www.catolicismo.com.br

Robô mais avançado é menos autônomo que uma barata O físico da Universidade Politécnica de Madri, José Antonio Villacorta Atienza, explicou que "o robô mais avançado é menos autônomo que uma simples barata. Nunca haverá robôs como os que aguardamos. O único robô que vocês vão ver em casa vai ser o aspirador", brincou. Supor que um robô terá uma mente parecida à humana "não faz sentido, pelo menos nos próximos séculos ". Mas, e se por uma mágica os robôs passassem a ter consc iência? Isso não pode acontecer pelas leis da matéria , cortou o especialista. "Nem bêbados chegaremos ", conclu iu . Se isso acontecer, será por um fator externo à matéria.

cato licismo@terra.com.br /OUTUBRO 201.6

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ENTllEVlSTA expectativa mundial de que o 3 º Segredo seria revelado naquele ano. A resposta do Cardea l Ratzinger é altamente reveladora das graves razões que orientaram a decisão da Santa Sé. Tão importante informação não poderia deixar de ser levada ao conhecimento de nossos leitores. Para "No Concílio Vati·esse efeito, pedimos ao nos- cano IL influentes so co laborador Benott Be- Padres conciliares melmans que entrevistasse estavam animados a a respeito um conceituado especialista no assunto, An- promover um rallietonio Au gusto Borelli Macha- ment da Igreja com o do, do que resultou matéri a mundo moderno - em que expli cita os grandes problemas que afligiram a Igre- perfeita consonância ja e o mundo, nesse longo com o de Leão XI.II" período de 100 anos que deco rreram desde as aparições de Fátima. Embora haj a divergências entre os especialistas a respeito do fato do texto divulgado pelo Vaticano co rresponder ou não à integralidade do 3 º Segredo, publicamos a seguir a entrevista na qual o texto do Segredo é tom ado tal qual foi divulgado, sem analisar nem entrar em polêmica co m outras posições a respeito.

MENSAGEM DE FÁTIMA

Por que o 3° Segredo de Fátima não foi divulgado em 1960?

E

m 13 de julho de 1917, Nossa Senhora comunicou aos t rês pequenos vid entes de Fátima uma mensagem que não deveriam revelar a ninguém. Quando interrogados, logo depois da Aparição , sobre o que a Santíssima Virgem lhes tinha dito, responderam que era segredo. De forma que se fi co u desde logo sabendo que havia um Segredo na Mensagem de Fátima. Assim fazendo, Nossa Senhora estava obviamente querendo atra ir a atenção do mundo para algo muito importante, cujo conteúdo apenas seria tornado público no momento que a Provid ência divin a julgasse oportu no. Tudo isto criou uma auréola de mistério em torno de Fátim a e do Segredo, o qua l foi crescendo ao longo dos anos e das décadas, ressaltando com isso a importância de seu co nteúdo. As duas prim eiras partes do Segredo foram divulgadas pela Irmã Lúcia, por inspiraçã o de Nossa Senhora, na terceira Memória, escrita pela vidente em 31 de agosto de 1941. Em 3 de janeiro de 1944, a instâncias "O Cardeal Ratzindo Bispo de Leiria e com a ger reconhece que a devida perm issão da Mãe de revelação do Segredo Deus, a Irmã Lúcia escreveu em 1960 perturbaria a terceira parte do Segrepolíticas muito impor- do, que mandou entregar ao Bispo, por meio de portador, tantes que a Santa Sé em envelo pe lacrado, com tinha em vista.. . Quais uma nota de que não poderia ser divulgado antes de são essas metas?" 1960. O Bispo Dom José Alves Correia da Silva co locou o envelope que recebera da Irmã Lú cia dentro de outro envelope, que por sua vez lacrou e guardou na ca ixa-forte da Cúria episcopal.

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CATOL ICISMO / www.catolicismo.com.br

Direção de Catolicismo

tor português da Secretaria de Estado. Tendo decidido

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j Em princípios de 1957, a Sagrada Congregação do Santo Ofício, atual Con gregação para a Doutrina da Fé, pediu que o documento fosse remetido a Roma. Para esse efeito, o mesmo foi entregu e na Nunciatura Apostólica de Lisboa, de onde o Núncio Mons. Fernando Cento cond uziu-o até o Vaticano, quando deu entrada no Arquivo Secreto do Santo Ofício no dia 4 de abril de 1957. Req uisitado por João XX III no dia 17 de agosto de 1959, o Papa recebeu o documento das mãos de um Comissário do Santo Ofício, abrindo-o alguns dias depois pela primeira vez e lendo-o com a ajuda do tradu-

não publicá-lo, devolveu-o ao Santo Ofício. Essa decisão, como era previsível , provocou gra nde frustra ção em todo o mundo, dando origem aos mais sensatos ou descabidos vaticín ios sobre o conteú do do Segredo. Os pontífices que se seguiram, Paul o VI e inicialmente João Pau lo li , confirmaram tal decisão. João Pau lo 11, quando foi a Fáti ma em 13 de maio de 2000, anu nciou que o 3 º Segredo seria afina l revelado com um oportuno comentá ri o da Congregação para a Doutrin a da Fé, o que se deu em 26 de junho do mesmo ano. Nessa data, em sessão so lene presidida pelo Cardea l Joseph Ratzinger na Sala Stampa do Vaticano, foi apresentado aos jornalistas credenciados junto à Sa nta Sé o texto do 3 º Segredo, que foi divulgado a partir de então por todo o mundo. Na ocasião, facultou -se aos principais vatica nistas a formulação de perguntas de esclarecimento. Uma dessas perguntas versava precisamente sobre a razão que levou a Santa Sé a frustrar em 1960 a

Catolicismo - Em 1960, a expectativa de que fosse divulgado o 3 º Segredo chegou ao auge. Mas essa revelação não se deu, provocando grande frustração. Somente 40 anos depois, no fim do milênio, a Santa Sé o publica. Durante a apresentação, jornalistas presentes fizeram perguntas sobre o porquê da demora. Qual a explicação do Cardeal Ratzinger, que presidia a sessão?

Antonio Borelli Machado - Qua ndo fo i divulgada essa parte do Segredo, em 26 de junho de 2000, a Santa Sé reso lveu fazê- lo com um lançamento de grande aparato publicitário, a cargo da Congregação para a Doutrina da Fé. Jornalistas credenciados junto ao Vaticano foram convidados. Aos presentes fo i distribuído um exemplar do opúsculo A Mensagem de Fátima, contendo o texto do Segredo. A sessão foi presidida pelo Cardeal Ratzinger, com a participação de Mons. Bertone, secretário da mes ma congregação, e do diretor da Sala de [mprensa da Santa Sé, Navarro Vais. Emissoras de TV de diversas partes do mundo a catolicismo@terra.com.br / OüTU l:lHO 2016

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transmitiram ao vivo. Depois das exposições do Cardeal Ratzinger e de Mons. Bertone, o diretor da Sala de Imprensa franqueou a palavra aos jornalistas presentes, para que formulassem "Como os homens da perguntas. Dentre estas, três justamente sobre Igreja estavam resol- versaram as razões que levaram os vidos a alcançar, a Papas a adiar a divulgação do 3° Segredo para exatos qualquer custo, essa 40 anos depois da data esaproximação com perada. A pergunta mais o mundo moderno, bem articulada foi a do estinham que optar critor e vaticanista Gian Franco Svidercoschi !foto pela não revelação abaixo], que foi vice-diredo 3 º Segredo " tor do "Osservatore Romano". Sua pergunta (extrnída do vídeo da sessão disponibilizado pela Sala de Imprensa) foi a seguinte: "Eminência: Permito-me.falar sobre o porquê do atraso, deste prolongamento da prudência da Igreja de 1960 até hoje. O senhor de algum modo já respondeu,fàlando justamente da evolução da História. [. ..] Há também a descrição de Mons. Bertone das decisões diversas tomadas pelos papas, mudadas as situações histórico-políticas. Mas eu lhe pergunto: a Igre]a não acabou pagando um preço alto demais por este longo silêncio, este longo segredo sobre o Segre,lo? No fim das contas, a terceira parte do Segredo não

contém já a segunda parte, ao acenar ao bispo vestido de branco? A terceira parte não é afinal senão, digamos, o corolário do que já está dito nas partes precedentes? Este martírio [descrito no terceiro Segredo]já existia em 1960. Não há um modo diferente, por parte da Igreja, não apenas em relação a Fátima, para tomar posição face às revelações privadas - que não afetam o depósito da Fé - e, portanto, poder-se-ia ter evitado provocar toda essa série de instrumentalizações e de escândalos que houve precisamente por causa desse silêncio que durou tanto? Obrigado". A isto, o Cardeal Ratzinger respondeu sem hesitação: "Certamente a decisão dos três Papas de não publicar o Segredo - porque também o Papa atual [João Paulo II], em 1981, não queria publicá-lo era uma decisão não dogmática, mas prudencial. E se pode sempre discutir sobre a prudência de uma decisão, se politicamente uma outra prudência não teria sido preferível. Portanto, não se deve dogmatizar esta atitude dos Papas. Todavia, considerando retrospec'tivamente, direi: certamente pagamos um preço pelas especulações que tivemos nestes últimos decênios. Mas, de outra parte, penso que era apropriado esperar um momento para termos uma visão retrospectiva. Em 1960, estávamos no limiar do Concílio, essa grantle esperança de poder alcançar uma nova relação positiva entre mundo e Igreja, e também de abrir um pouco as portas fechadas do comunismo. O mesmo ainda no tempo do Papa Paulo VI: ainda estávamos, por assim dizer, na digestão do Concílio, com tantos problemas, que este texto [o terceiro Segredo] não teria tido a sua colocação correta. Idem logo depois do atentado [a João Paulo II]: nesse momento sair imediatamente com este texto não teria produzido, parece-me, a compreensão siifi,ciente. Penso, sem dogmatizar esta decisão, mas pessoalmente com uma sincera convicção, penso que era bem, tudo somado, esperar um pouco o final do século, para ter uma visão mais g lobal, e poder compreender melhor o verdadeiro imperativo e as verdadeiras indicações desta visão". Catolicismo - Portanto, o Cardeal Ratzinger reconhece que a revelação do Segredo em 1960 perturbaria políticas muito importantes que a Santa Sé tinha em vista ... Quais são essas metas que seriam prejudicadas pela revelação do 3º Segredo nessa altura do século XX?

CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

Antonio Borelli Machado - Três metas políticas e religiosas de primeira importância marcaram a vida da Igreja na segunda metade do século XX, mencionadas sucessivamente pelo Cardeal Ratzinger em sua resposta: 1) O ralliement* da Igreja com o mundo moderno: "essa grande esperança de poder alcançar uma nova relação positiva entre mundo e IgreJa "; * Acordo, adesão.

2) A Ostpolitik vaticana, isto é, o ralliement da Igreja com o comunismo: a esperança "de abrir um pouco as portas fechadas do comunismo"; 3) A implantação das direh-izes do Concílio que visavam promover esse duplo ralliement, e que foram a causa de "tantos problemas" de "digestão" das inovações conciliares pelo mundo católico. Catolicismo - Em que o 3º Segredo de Fátima colide com essas metas?

Antonio Borelli Machado - O 3° Segredo consiste numa visão em que aparece "um An]o com uma espada de fogo", a qual , "ao cintilar, despedia chamas que, parecia, iam incendiar o mundo". Ora, um mundo que Deus quer punir dessa forma é um mundo que está provocando a rejeição divina... Não era um mundo que autorizasse "essa grande esperança de poder alcançar uma nova relação positiva entre mundo e IgreJa". Portanto, divulgar em 1960 o 3° Segredo teria sido andar na contramão do ralliement da Igreja com o mundo moderno. Uso aqui a palavra ralliement em referência à famosa política de Leão XIII em relação aos Estados laicos instalados pelo mundo na esteira da Revolução Francesa. Em particular a república laica vigente na França. Como se sabe, aquele pontífice chegou a lamentar, na velhice, o fracasso de suas esperanças*. * Sobre o ra/Liement de Leão Xlll, veja-se o livro de PuN10 CoRRÊA DE OuvEIRA, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio Xll ao Patriciado e à Nobreza romana, Apêndice m, 3. Leão XIII intervém, pp. 235-239. Livraria Civilização-Editora, Porto, 1993. Ver também RoBERTO DE MATTEI, II ralliement di Leone XIII - II .fàllimento di un progetto pastora/e, Le Lettere, Firenze, 2014, 366 pp.

No Concílio Vaticano II, influentes Padres conciliares estavam animados por análogo otimismo de

Papa Leão XIII

promover um ralliement da Igreja com o mundo moderno - em perfeita consonância com o de Leão XUI. Se tivessem consagrado a devida atenção às duas partes do Segredo de Fátima já então reveladas, teriam talvez moderado seu otimismo: basta atentar para a frase "várias nações serão aniquiladas", contida na segunda parte do Segredo. A revelação da tercei"Quem se declara ra parte em 1960, se difundida amplamente, com neutro entre a verdade os oportunos comentários e o erro, na realidade - pense-se na "grande ci- se coloca a.favor de dade meio em ruínas" ... todos os erros contra poderia abrir-lhes os olhos; ou, pelo menos, fazê-los a única verdade. Tal compreender que a opinião aposição do laicismo católica não compreenderia em.face da Igreja vertal ralliement, o que possidadeira" velmente os inibisse de dar esse passo. Como os homens da Igreja estavam resolvidos a alcançar, a qualquer custo, essa aproximação com o mundo, tinham que optar pela não revelação do 3° Secatolicismo@terra.com.br / OUTUBRO 2016

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gredo e pagar o preço do estra nhamento que isso produzisse entre os fiéis católicos, como de fato ocorreu. Catolicismo - Um tão grande castigo a pairar sobre o mundo indica que a conduta da sociedade humana atual está em contradição com os princípios que Deus queria que nela vigorassem. É possível destacar o ponto em que reside essencialmente essa contradição?

Antonio Borelli Machado - Para que o público de nossos dias compreenda a que distância se está da reta ordem das co isas vem a propósito citar um fa moso texto de Leão XUJ: "Tempo houve em que afiloso_fia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a religião instit1tída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao jàvor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados. Então o sacerdócio e o império estavam ligados entre si por 1tma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons o/leios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos q1te art~ficio algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer" (Encíc li ca l mmorlale Dei, de 1° de novembro de 1885 , nº 28). Ora, os Estados de nossos dias, em decorrência do laicismo que professam, se sentem desobrigados de ajusta r as normas de conduta individual e social aos Dez Mandamentos da Le i de Deus, e de conferi r à "A posição firme de Igreja "o grau de dignidaPio IXfoi contraposta de que lhe é devido". Em pelo pontífice seguin- conseq uência, va i se imte, Leão XIII (1878plantando mundo afora toda espécie de transgressão às 1903), que promoveu Le is natural e d ivi na, como na França a política o divórcio, o aborto, a uni ão de ralliement com a homossex ual etc. Ass im, o laicismo de república nascida da Revolução Francesa" Estado, que se proclama neutro em matéria de Religião e de Moral, se reve la inimigo obstinado da Igreja Católica e da Moral cristã. E isso é uma consta nte da História : quem se declara

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CATOLLC ISMO / www.catolicismo.com.br

neutro entre a verdade e o erro, na rea lidade se co loca a favo r de todos os erros co ntra a úni ca verdade. Tal a pos ição do laicismo em face da Igreja verdadeira. O laicismo não é neutro em matéria de religião, mas militantemente ateu. E isto o indica Leão XUI, na mesma encíclica lmmortale Dei: "Relativamente à re-

ligião, pensar que é ind(ferente tenha ela formas disparatadas e contrárias equivale simplesmente a não querer nem escolher nem seguir qualquer delas. É o ateísmo menos o nome " (nº 37). O laicismo é, pois, a "não religião" do mundo moderno, isto é, o ateísmo; ateísmo doutrinário e prático, que pervade toda a sociedade. Sobre esta paira a Mensagem de Fátima, que av isa: ou a sociedade se converte e faz penitência, ou virá um Castigo de proporções cós mi cas. Como alimentar "essa grande esperança de po-

der alcançar uma nova relação positiva entre m1tndo e Igreja''? - Para as pessoas que estavam animadas de tal esperança, não convinha abso lutamente que o 3° Segredo fosse revelado em 1960 .. . Catolicismo - Quando surgiu na Igreja esse desejo de estabelecer uma "relação positiva" com o mundo?

Antonio Borelli Machado - A palavra mundo aparece nos Eva nge lhos ora com um sentido genérico, ora para designar os que não aceitavam a pregação de Nosso Sen hor Jesus Cristo e se opuseram a Ele. Neste segundo sentido aparece, por exemp lo, no Evange lh o de São João, nos versícul os 18 e 19 do capít1il o 15: "Se o mundo vos odeia, sabei que antes odiou a mim " (Jo 15,18). E logo em seguida: "Porque não sois do mundo, [... ]porissoomundovosodeia " (Jo 15,19). Esta mesma sina atinge todos os discípulos de C ri sto, desde então até os dias de hoje. Donde o fato de a parcela mais tíbia do campo católi co tentar arrefecer o ód io do mundo entrando em composição com ele. Está na natureza decaída do homem e por isso se manifestou em todos os períodos da hi stória da Igreja. É só abri r os compênd ios para constatá- lo. Com uma característica fác il de perceber: os que cedem a essa tentação procuram ficar a meio caminho entre a verdade e o erro. Vamos diretamente aos tempos modernos: Erasmo de Rotterdam (1466- 1536), cé lebre humani sta, difundia "um espirita de reação contra a escolástica, de liberdade de p ensar e simpl[ficação do cristianismo " *, o que o conduziu a uma tentativa de aproxima-

ção com Lutero - fracassada dev ido ao carácter be1icoso deste úitimo. Assim, desde a Pseudo-Reforma protestante e a Renascença, uma corrente de católicos, largamente inspirada em Erasmo, tentava entrar em composição com os erros de sua época.

A posição firme de Pio IX fo i, entreta nto, conti-aposta pelo pontífice seguinte, Leão X III ( 1878- 1903), que promoveu na França a política de ralliement com a república nasc ida da Revolução Francesa, à qual se "Com a promulgaa ludiu acima (cfr. 2" Perção da Constituição gunta). Esse pontífice esperava que tal po lítica, con- Pastoral Gaudium et duzida com obstinada de- spcs, por Paulo VI ao terminação durante todo o final do Concílio, a seu pontificado, fosse conpolítica de ralliement tinuada pelos Papas sucessivos. Isso certamente teria com o mundo foi afiacontecido se seu Secretári o nal decretada e estende Estado, o ca rdea l Mari adida a todo o orbe" no Rampolla dei Tíndaro, tivesse sido ele ito Papa, como se acred itava. A imprev ista ele ição do ca rdeal G iuseppe Sarto, com o nome de Pio X ( 1903- 19 14), fr ustro u a continuidade imed iata dessa política. Ela ressurge de forma já bem definida, em meados dos anos 30, no Pontificado de Pio X I (1922- 1939), nas asas do otimismo e da abertura para o mundo propugnada pelo mov imento de Ação Católi ca*. N o campo inte lect11a l, alimentavam pos ição aná loga autores muito aprec iados nesses mesmos meios da Ação Católica, espec ialmente Jacques Marita in com seu livro Humanismo integral (1936).

* G u 1LLERM0 FRA ILE, Historia de la filosofía, BAC, Madrid, 199 1, 3" ed., tomo 111 , p. 74.

. * C fr. Pu NIO C oRRl~A DE OLI VEIRA, Em def esa da Ação Católica, Editora Ave Maria, São Paulo, 1943 .

A ideia de um reatamento da Igreja com o mundo resultante da Revolução Francesa fo i preconizada pelos católicos liberais do século XJX, a partir de Félicité de Lamennais, logo condenado por Gregóri o XV I (183 J- 1846). Pio IX (1846- 1878) compendia os erros do libera lismo católi co no Sy llabus praecipuorum nostrae

Desde então, a atitude de ral/iement com o mundo moderno não de ix ou de se manifestar claramente nos ambi entes cató li cos libera is, mas só fo i publicamente ass umida, quase meio sécul o depois , pelo Papa João xxnr (1958- 1963). N o discurso de abertura do Concí li o Vaticano f1 ( 11 de outubro de 1962), referindo-se àqueles que "nas presentes condições da sociedade

aetatis errorum (Silabo dos principais erros de nossa época), de 8 de dezembro de 1864, os quais ele si ntetiza na proposição 80: "LXXX. O Romano Pontifi,ce pode e deve se reconciliar e recompor com o progresso, com o liberalismo e com a civilizaçüo moderna". Observe-se desde logo que a opos ição da Igreja não era co ntra o progresso em si , mas contra o que este traz ia de revolucionário em seu bojo, com vistas a demo lir o que a sociedade do tempo, já decadente, conservava de bom e de conforme aos princípios da ordem nat11ral e cristã.

humana, não são capazes de ver senão ruínas e calamidades", o Pontífice declara: "Mas a Nós parece que devemos discordar inteiramente desses projetas de desgraça, que anunciam acontecimentos semP.re infaustos, como se estivesse iminente o fim do ,mmdo" (subtítul o Opportunitas celebrandi Concilii). Com a promulgação da Constituição Pastora l Gaudium et spes, por Paulo VI ( 1962- 1978), ao final do Concí li o ( 1965), a política de ralliement com o mundo moderno foi afinal decretada e estendida a todo

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o orbe. A linha pastoral preconizada pela Gau,lium et spes não constituíu uma novidade concebida pelos Padres Conciliares do Concílio Vaticano II, mas foi a concretização efetiva de uma "pastoral" já propugnada por Lamennais em 1830! "Em vez de prevenir Desse modo, em vez de os católicos para o prevenir os católi cos para o Castigo anunciado Casti go anunciado por Nossa Senhora em Fátima, o por Nossa Senhora Concílio Vaticano II propôs em Fátima, o Concíestabelecer boas relações lio Vaticano 11 propôs entre a Igreja e o mundo, estabelecer boas rela- auspiciando o advento de uma era de alegria e espeções entre a Igreja e rança para a humanidade de o mundo moderno " nossos di as. Tal o efeito subliminar produzido simplesmente pelo título dado ao documento conciliar - Gaudium et spes - que exprimi a, independentemente de seu complexo conteúdo, as novas e benévolas di spos ições que o Concílio assumi a perante o mundo de nossos dias. A M ensagem de Fátima, porém, ia num sentido diametralmente oposto! Catolicismo - Essa noção da vinda de um grande Castigo também não está muito presente nos comentários ao 3º Segredo feitos por estudiosos e pregadores ...

Antonio Borelli Machado - Entreta nto, ela está presente no principa l dos comentadores, que fo i ceitamente o Cardeal Ratzinger.. . Com efe ito, na interpretação do 3° Segredo por ele fe ita, e que in tegra o fascículo A mensagem de Fátima, está di to: "A palavra-chave desta parte do 'segredo ' é o tríplice grito: 'Penitência, Penitência, Penitência! ' Volta-nos ao p ensamento o inicio do Evangelho: 'Paenitemini et credite evangelio ' (Me 1,15). Perceber os sinais do tempo significa compreender a urgência da p enitência, da conversão, da f é. Tal é a resposta justa a uma época histórica caracterizada por grandes p erigos, que serão delineados nas sucessivas imagens. [. ..} O anjo com a espada de fogo à es,,uerda da Mãe de Deus lembra imagens análogas do Apocalipse: ele representa a ameaça do j uízo que p ende sobre o mundo. A possibilidade que este acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje j á não aparece ,Je CATOLICI SMO / www.catolicismo.com.br

forma alguma como pura fantasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fogo " (A Mensagem de Fátima, p. 39). A conclusão é clara: o mundo de nossos dias o mundo moderno - está posto diante da seguinte alternativa: a) ou ele se converte, e tal conversão implica abandonar os falsos princípios sobre os quais está constituído, e assim deixar de ser laico, ateu ... , "moderno"; b) ou não se converte, e será reduzido a ruínas pelo fogo. Na segunda hipótese, sobre suas ruínas se levantará uma civilização nova, que São Luís M ari a G ri gni on de Montfort nomeava corno o Reino de Maria (Tratado da verdadeira devoção, nº 2 17) em perfeita consonânc ia com a Mensagem de Fátima: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará " (2° Segredo). Catolicismo - Poder-se-ia dizer que este é o ponto central da Mensagem de Fátima?

Antonio Borelli Machado - Exatamente. A iminência de um grande Castigo. Muitos pregadores imaginam que, anunciando-o, assustariam seus ouvintes, e assim não o fazem . Ora, a mi ssão dos profetas tem sido frequentemente de convocar o povo à penitênc ia, anunciando castigos. Se fo rem ouvidos, o casti go se desv iará. Se não fo rem ouvidos, o castigo se desencadeará. É uma questão de fi delidade a Nossa Senhora anunciar a Mensagem de Fátima na sua inteireza. Na verdade, há um ponderável número de almas que, por si mesmas, formaram a noção do desconcerto do mundo moderno, e de que, sem uma intervenção extraordinária da Providência, esse mundo não tem conserto. Tais almas cultivam, no segredo dos seus corações, a esperança dessa in tervenção e se sentiriam confirmadas ao ouv ir o mesmo diagnóstico dos lábios dos pastores da Igreja. Não é, pois, de temer que a lmas assim se assustassem com a profecia do Castigo; pelo contrário, exultarão com o prenúncio da vitória do bem sobre o mal. Como o profeta Simeão ficou consolado ao ver o M essias nos braços da Santíss ima Virgem: "Agora, Senhor, p odeis deixar partir o vosso servo em paz, porque os meus olhos viram a vossa salvação " (Lc 2, 29-30). O fato é que, sem a menção do Castigo, a Meu-

sagem de Fátima fica esvaziada do seu caráter específico para os dias de hoje. Não se compreende que o ponto nuclear dessa Mensagem sej a omitido. Os pregadores não devem, pois, temer q ue seus ouvintes se assustem. Para un s será a confirmação do que pensavam, e uma consolação! Para os que ficarem sobressaltados, servirá de advertência, qui çá de ocasião, para abrirem suas almas à graça de Fátima. Também não basta dizer - como muitos faze m - que a Mensagem de Fátima, pelo fato de pregar a oração e a penitência, está em perfeita conformidade com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. É verdade, e é bom que o di gain. Mas é preciso ademais ressaltar a enormidade do Casti go que pende sobre o mundo. Só assim um grande número de almas será movido a uma penitência séria. E só ass im poderão constituir as pedras vivas do Re ino de Maria que virá ! Catolicismo - Com referência ao comunismo, o uso da palavra ralliement pode parecer excessivo. Não se poderia dizer que a Ostpolitik vaticana visava apenas minorar as perseguições desencadeadas pelos governos comunistas? O Cardeal Ratzinger fala expressamente em "abrir um pouco as portas fechadas do comunismo".

Antonio Borelli Machado - Trata-se de um processo. No início, a Ostpolitik parece apenas uma distensão, uma cessação de hostilidades. E m segu ida, a di stensão se transforma num convív io normal. Por fim, desfecha na cooperação para uma finalidade comum . Mas essa fi nalidade não é escolhida de com um acordo: é a que interessa ao parceiro co muni sta. Co m isso, produz-se, na parte católica, um abandono paulatino de princípios inalienáveis, que entram em olvido, sendo substituídos na prática pelos princípios e metas do inimigo. É o resultado do processo de baldeação ideológica inadvertida, como o denomina P línio Corrêa de Oliveira* . * Cfr. Baldeação ideológica inadvertida e diálogo, Edi tora Vera Cruz, São Paulo, 1974, 5" ed., 11 8 pp. Ver também, do mesmo autor, Acordo com o regime comunista: para a Igreja, esperança ou autodemolição (publicado ori ginalmente em Catolicismo, nº 152, sob o título A liberdade da Igreja no Estado comunista) , Editora Vera Cruz, São Paulo, 1963, 128 pp.

O secretári o-gera l do paitido comuni sta espanhol,

Sa ntiago Ca rrill o (19 15-201 2), questionado por alguns "camaradas" se a colaboração com os católi cos não mudari a o conteúdo ideológico do partido, respondeu com uma pergunta: "Desde que começamos esta politica, quantos camaradas vocês conhecem que se tornaram crentes? Por outro lado, quantos católicos se tornaram comunistas ? "* . Pergunta que di spensou i·esposta ... * SANTIAGO CARR ILLO, Maífona Espaífo, Colección Ebro, Paris, 1975, p. 232.

Essa di stensão fora inaugurada por Mauri ce Thorez (1900-1 964), em célebre pronunciamento na Rádio Paris, em 17 de abril de 1936, no qua l propôs aos católicos, em nome do Partido Comunista Francês, a politique de la main tendue *. * Cfr. MAURICET1-10REZ, Oeuvres, Édi tions Sociales, Paris, 1954, tomo Xl, p. 203. A proposta encontrou, da parte do Papa Pio X I, viva repulsa, expressa na encícli ca Divini Redemptoris, sobre o comunismo ateu, em 19 de março de 1937 . Esse documento sucedia a outro - a encíclica Mit brennender Sorge, de 15 de março de 193 7 - que condenava as persegui ções sofridas pela Igreja da parte do Reicb alemão, sob o regime nazista. A quase simultaneidade dos dois documentos - apenas quatro dias de dife rença - faz pensar que a in tenção fo i ev itar que se a legasse que, condenando um sistema, não se condenava o outro. Na verdade, nazismo e comu-

nismo eram duas faces da mesma moeda socialista , contra as qua is o Po ntífice alertava simul tanea mente as fil e iras católi cas. Não obstante, a proposta de Thorez fez seu ca"A missão dos profeminho nas hostes católi cas. Fo i di sso mani festação ine- tas tem sido.frequenquívoca o surgimento, bem temente de convocar mais ta rde, de uma co rrente o povo à penitência, teo lógica de índole marxisanunciando castigos. ta, contra a qual advertiu a Instrução sobre alguns as- Se.forem ouvidos, o pectos da Teologia da Li- castigo se desviará. bertação , da Congregação Se não forem, o castipara a Doutrina da Fé, de 6 go se desencadeará" de agosto de 1984, ass inada pelo Cardea l Ratzinger. No âmbito di plomáti co, cumpre ass inalar outra mani festação impo rtante de ralliement: a chamada Ostpolitik vatica na. catolicismo@terra.com.br / OUT UBHO 2016

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O Ca rdeal Agostino Casaroli , Secretá ri o de Estado da Santa Sé sob o pontificado de Paul o VI e condutor dessa política, declarou em 1974, quando esteve em Cuba, qu e os católicos desse país se consideravam fe li zes so b o regime ali vigente. Era uma maneira clara de indicar qu e tal política vi sava a "queda das barreiras ideológicas" entre Igreja e comunismo*. * C fr. Pu N10 CoRRÊA DE OuvEIR A, A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas - Para a TFP: omitir-se? ou resistir?, Catoli cismo, nº 280, abril de 1974.

Essa distensão dos cató licos face ao comuni smo se desenvolvia em duas frentes. A frente propriamente dipl omáti ca - indicada pe la palavra Ostpolitilc - e a fre nte pastoral, ex pressa, no Concílio Vati ca no Il, pela Constituição Pastoral sobre a igreja no mundo deste tempo, mais conhecida pelas suas palavras iniciais Gaudium et spes, à qual já nos referimos (cfr. 5" Pergunta) . Por deste tempo entenda-se o mundo moderno, pois a Exposição introdutória desse documento é in titulada precisa mente Da condição do homem no mundo hodierno. Tal abertura da Igreja ao comunismo não passou despercebida aos próceres do partido. Ass im, Roger Garaudy ( 19 13-201 2), elemento de destaque do Partido Co muni sta Francês (do qual depois fo i exc luído por suas posições independentes, tendo aderido ao islamismo, após uma passagem pelo protestantismo e pelo catolicismo), escreveu em li vro: "A grande novidade do Vaticano II - expressa no texto Gaudium et Spes, de 1966 [sic ! é de 1965] - era a abertura ao numdo, a renúncia à pretensão de governá-lo, para, pelo "O governo soviécontrário, servi-lo, à luz da tico concordou em humildade e vangélica, redar autorização para conhecendo 'a autonomia das realidades terrestres'. que a Igreja Orto[. ..} Em nenhum outro ludoxa Russa enviasse gar do mundo, a não ser na representantes, com América Latina, esta mensagem sobre a m issão libera condição de que o Concílio se abstivesse tadora da Ig reja te ve eco maior. Partindo de uma side condenar o comu- tuação histórica de m iséria . " msmo e de opressão, e das práticas concretas das 'comunidades eclesiais de base', nasceram desta dupla experiência, a partir de 1970,

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as teologias da libertação. Elas se baseavam na opção e vangélica prrqferencial pelos mais desprovidos" *. *

R oGER GARA UDY, lntégrismes, Pierre Be lfo nd, Pari s, 1990, pp.50-5 1.

Hoje é sa bido que João xxrn desejava imperi osa mente qu e nessa Magna Assembleia estivessem presentes represe ntantes do Patri arcado de Moscou. O governo soviéti co russo co ncordou em dar autori zação para que a Igreja Ortodoxa Russa enviasse esses representantes, com a co ndi ção de que o Concílio se absti vesse de qualquer condenação do co munismo. O Papa acei tou essa condi ção* . * Cfr. R OBERTO DE M ATrEI , li Concilio Vaticano li - Una storia mai scrilta, Lindau, Torino, 20 1O, pp. 172- 180, 360-364, 422-426, 492-504, 5 125 14, 563-567, 580-588 .

Esse fa to ex plica que a peti ção de 2 13 Padres concili ares em sentido oposto - isto é, de que o Concí lio condenasse os erros do marxi smo, do socialismo e do comunismo* - não ti vesse sido levada em conta nem por João XXIII nem por Paul o Vl. * Cfr. Catolicismo, nº 157, janeiro de 1964, p. 5.

A Gaudium et .spes limitou-se a uma análise ul tracompreensiva das di versas fo rmas de ateísmo (GS nºs 19, 20 e 21), análise essa que desfecha numa declaração de que "credentes et non credentes " "devem

contribuir para a reta edificação deste mundo no qual vivem em comum ", "o que certamente não pode ser f eito sem um sincero e prudente diálogo " (GS nº 2 1). Mas é possível haver "um sincero e prudente diálog o" com diri gentes ateus de um Estado laico assa nhado contra a Igreja, como a Gaudium et .spes descreve logo na frase seguinte?: A Igreja "deplora, portanto, a discriminação entre crentes e não crentes, que alguns governantes, não reconhecendo os direitos f undamentais da p essoa humana, introduzem injustamente " (GS nº 21). Como imaginar, pois, qu e esses governantes se prestassem a colabora r para uma "reta ed(ficação deste mundo no qual vivem em c_omum "? - Era uma esperança frustra, como provaram os 50 anos decorridos desde então. Portanto, não é excessivo o uso da palavra ralliement pa ra indica r que a Ostpolitik va ti ca na visava efetivamente obter a colaboração dos ateus comuni stas para uma obra co mum . O 3° Segredo de Fátima nos apresenta uma imen-

sa fil eira de leigos católicos de todas as condi ções sociais, precedidos por Papa, bi spos e sacerdotes, religiosos e reli giosas, que sobem uma escabrosa montanha, no cimo da qual são recebidos a tiros e setas por um grupo de soldados. Esta cena evoca os pelotões de fuzilamento de regimes comunistas ... Tal lembra nça teri a sido inoportuna em tempos de ralliement com o co munismo! Ass im, se revelado em 1960 e oportunamente comentado, o 3° Segredo leva ntaria difi culdades para tal política. Seus mentores considera ra m mais seguro não divulgá-lo. Catolicismo - Que consequências acarretou para a vida da Igreja essa abertura ao mundo moderno?

Antonio Borelli Machado - Consequências muito graves, pois eliminou as barreiras que protegiam os fi éis da con taminação dos erros do mundo moderno. Com efeito, a queda das barreiras ideológicas entre a Jgreja e o mundo teve como resultado precisamente levar os fié is a abdica rem de princí pios inalienáveis da doutrina católica - o qu e, em co nsciência, não poderi am fazer - e a ass umirem em larga escala o modo de pensa r e de agir do mundo, exacerbando todos os problemas que a pastoral da Igreja tem de enfre ntar em nossos di as. Esta consequência, aliás, não escapou ao olhar solerte do Ca rdea l Ratzinger. Eleito Pontífice no Conclave de 2005, em importante discurso à Cúria ro mana por ocasião da apresentação dos votos nata lícios, em 22 de dezembro desse mesmo ano, advertiu : "A questão torna-se mais clara se, em lugar do termo genérico 'mundo de hoj e ', escolhêssemos um outro mais preciso: o Concilio de via determinar de modo novo a relação entre ig reja e idade moderna. [. ..] Quem esperava que com este 'sim 'f imdamental à idade moderna todas as tensões se dissolvessem e a 'abertura ao mundo' assim realizada transf ormasse tudo em pura harmonia, subestimou as tensões interiores e até as contradições da própria ida,le moderna: subestimou a perigosafi-agilidade da natureza humana que, em todos os períodos da história e em toda configuração histórica, é uma ameaça para o caminho do homem. [. ..] Também em nosso tempo a ig reja continua sendo um 'sinal de contradição ' (Lc 2, 34). [. ..] Não po<lia ser intenção do Concílio abolir esta contradição do Evangelho em f ace dos perigos e dos erros do homem ". Ora, tivesse o 3° Segredo sido entendido e ori en-

tado as opções da Hierarquia da lgreja, ter-se-ia evitado que os fi eis se contaminassem com os erros do laicismo dos Estados modernos. Catolicismo - Como afinal se chegou à divulgação do 3º Segredo?

Antonio Borelli Macha"Não é excessivo o do - O Papa João Paul o [[ fora vítima de um sacrí- uso da palavra rall ielego atentado à bala em 13 ment para indicar que de maio de 198 1, _no próprio a Ostpolitik vaticana di a em que se co memorava a primeira apari ção de Nos- visava efetivamente sa Senhora em Fátima. Essa obter a colaboração coincidência obviamente dos ateus comunistas levava o mundo católico a para uma obra cose perguntar se havia algu,, ma re lação entre o atentado mum e as profec ias de Fátima. É compreensível que o própri o Pontífice deitasse especial atenção no 3° Segredo. Ass im , ainda no Poli clínico Gemeili , no qual esteve entre a vida e a morte, logo que pôde pediu para ver o Segredo. A assoc iação entre o atentado que sofrera e o martíri o de um Pa pa nele descrito era impressionante, embora não absolu ta, uma vez que no Segredo o Papa morre e ele hav ia sobrevivido. O que não o impedia de crer que tivesse hav ido uma in tervenção miraculo a da Virgem, desviando de órgãos vita is a trajetóri a do projétil, o qu al fo i mais ta rde entregue aos responsáveis pelo Santuári o de Fátima e encastoado na coroa da Imagem ali cull1rnda. O tema Fátima não era estra nho ao Pontífice , pois ele fo ra um dos 5 1O signatários da peti ção a Pa ulo VI para que aproveitasse a presença dos bi spos de todo o orbe em Ro ma, por ocasião do Co ncílio, para fa zer a consagração da Rú ss ia e do mundo ao Imacul ado Coração de Mari a. Esta consagração hav ia sido pedi da por Nossa Senhora como penhor da conve rsão daquele país comunista e da suspensão dos castigos que pendem sobre o mundo moderno. Recuperado dos efeitos do ate ntado, João Paul o II fez repetidas vezes a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. A que mais se aprox imou das condi ções requeridas por Nossa Senhora foi a de 25 de março de 1984, na qual, porém, constrangido pelas travas da Ostpoliti/c vaticana, não pronunc iou o nome da Rússia, embora - segundo declarou - a tivesse incluído mentalmente na consagração. catolicismo@terra.com.br / OUT UBHO 20 16

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Restava por fim a questão da divulgação do Segredo. Diz o ditado que "Roma não tem pressa". Porém , como evidenciou Svidercoschi em sua pergunta ao Ca rdeal Ratzinger, citada no início, especulações "A consagração da sensacionalistas sobre o seu Rússia e do mundo ao conteúdo deixavam inquieImaculado Coração to o povo fiel e constrangida a suprema direção da Igreja. de Maria havia sido Foi assim que, em depedida como penhor ze mbro de 1999 - dezoito da conversão da Rús- anos depois do atentado sia e da suspensão João Paulo ll resolveu autodos castigos que pen- rizar a sua publicação, encarregando o Bispo de Leidem sobre o mundo ria-Fátima de anunciar que moderno" o Segredo seria por fim revelado quando o Papa fosse a Fátima em 13 de maio de 2000. Nesta data, um pequeno adiamento. O Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, ponderara ao Pontífice a necessidade de esclarecer o povo fiel sobre o alcance das revelações privadas, mesmo as de Fátima, por mais atestadas que sejam. Com efeito, elas não impõem a aceitação dos fiéis como a um dogma da fé . Aliás, o fato de o Segredo não ter sido divulgado em 1960 fora o resultado de uma decisão prudencial e não dogmática, como observa o mesmo Cardeal Ratzinger: "Certamente a decisão dos três Papas de não publicar o Segredo [. ..} era uma decisão não dogmática, mas prudencial. E se pode sempre discutir sobre a prudência de uma decisão, se politicamente uma outra prudência não teria sido pre.ferivel. Portanto, não se deve dogmatizar esta atitude dos Papas ". E não se ndo um ato dogmático, não é gara ntido pelo cari sma da infalibilidade: "Pode-se sempre discutir sobre a prudência de uma decisão". Por fim , o 3° Segredo foi revelado no ano 2000. E deu-se o que previu o Cardeal Ratzinger, logo no início de seu Comentário teológico : "Quem lê com atenção o texto do chamado terceiro "segredo" de Fátima, que depois de longo tempo, por disposição do Santo Padre, é aqui publicado integralmente,ficará presumivelmente desiludido ou surpreso* depois de to,las as especulações que.foram feitas. Não é revelado nenhum grande mistério; o véu do.fitturo não é rasgado. Vemos a igreja dos mártires deste século que está para findar, representada através duma cena descrita numa

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lingiu,gem simbólica de dijlcil decifração. É isto o que a Mãe do Senhor queria comunicar à cristandade, à humanidade num tempo de grandes problemas e angústias ? (A Mensagem de Fátima, Congregação para a Doutrina da Fé, Libreria Editrice Vaticana, Città dei Vaticano, 2000, p.31 ). * Na edição em português do opúsculo A Mensagem de Fátima, da Congregação para a Doutrina da Fé, a palavra meravigliato, do original italiano, equivalente a swpreso em português, foi traduzida erroneamente por maravilhado. Colocamos acima a tradução correta.

Salva toda a reverência que merece o autor desse comentário, ademais elevado ao sólio pontifício no conclave de 2005, o 3° Segredo revela dois pontos importantes do "véu do futuro", hoje muito presentes na atenção mundial : o anúncio profético dos mártires do século XXI e a perspectiva de uma destruição de porte universal. Ademais, como vimos, é o próprio Cardeal Ratzinger quem destaca, em seu Comentário teológico, esses dois pontos: o martírio e a destruição. Catolicismo - Quais serão as proporções do Castigo anunciado em Fátima: significará uma destruição do mundo até seus alicerces?

Antonio Borelli Machado - É muito sugestivo que, no 3º Segredo, se descreva "uma grande cidade meio em ruinas ". O que está "meio em ruínas" não está totalmente destruído. Portanto, do que existe hoje, algo ficará de pé. Pode-se pensar que a destruição será seletiva ... No trecho da encíclica Immortale Dei, há pouco citado, Leão XIII observava que, em tempos passados - e é intuitiva a remissão dele à Idade Média - "a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que ar#flcio algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer ". Se tais "documentos", "artificio algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer", afortiori se deve inferir que Deus os preservará, ao desencadear o Castigo. Que documentos são esses? A memória do passado subsiste não apenas em documentos históricos, mas também no cerne das leis e das instituições consolidado ao longo dos séculos; bem como, de modo ainda mais visível, nos

monumentos que o tempo e os homens não destruíram. Exemplo de causar arrepio e espanto foi a intenção dos revolucionários de 1789 de demolir a Catedral de Notre-Dame de Paris - essa joia da Cristandade medieval. Ela chegou a ser posta à venda e surgiu até um comprador. Com as perturbações da Revolução, o comprador não chegou a pagar e a compra se desfez. Agora, com a aproximação do centenário de Fátima, os revolucionários de nossos dias tentam desferir o assalto derradeiro à civilização cristã: investem com ódio cego contra os princípios sagrados da família que ainda restam de pé, e pretendem, entre outros maléficos desígnios, transtornar a própria natureza biológica do homem, propugnando o que chamam Ideologia de Gênero. Segundo esta, não se nasce homem ou mulher, mas cada um se faz homem ou mulher segundo seus pendores pessoais. Uma concepção inaudita! É consolador ver que muitos de nossos contemporâneos, que antes assistiam passivamente as investidas revolucionárias, hoje começam a reagir e criam obstáculos inesperados a essa ousadia final da Revolução*. * Para uma percuciente análise do processo revolucionário que veio erodindo a civilização cristã a partir dos fins da ldade Média até hoje, veja-se o ensaio Revolução e Contra-Revolução, de PuNIO CoRRÊA DE OuvEIRA, editado em português (língua original), com várias edições em outras línguas: alemão, bielo-russo, espanhol, estoniano, francês, húngaro, inglês, italiano, japonês, lituano, polonês, romeno, russo e ucraniano.

Diante do exposto, pode-se prognosticar que o processo revolucionário não alcançará a destruição total que almeja - dos princípios, instituições e monumentos da civilização cristã - , mas se chocará contra a resistência de um pequeno, mas crescente número de almas fiéis. Não sem profunda emoção se vê surgir, na cena final do 3° Segredo, a inesperada fileira dos que estavam longe de Deus, e que, reaproximando-se d'Ele, são ungidos com o sangue dos mártires, recolhido pouco antes por dois Anjos, em regadores de cristal, sob os braços da Cruz. A esses beneficiários ignotos do sangue dos mártires, segundo o princípio enunciado por Tertuliano, caberá juntar com amor os restos da Cristandade os documentos a que fazia referência Leão XIII - e reedificar sobre eles a civilização cristã do futuro, ele-

A Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima chora milagrosamente na cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 1972

vando-a ao máximo esplendor, não alcançado durante a Idade Média. Para isso, deverão remover todos os escombros do Estado laico, igualitário e ateu que tiverem restado na face da Terra e reconstruir sobre eles uma "civiliza-

ção cristã, austera e hierárquica, fimdamentalmente sacra/, anti-igualitária e antiliberal", como ensina o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em Revolução e Contra-Revolução*. * Parte 11 , cap. li.

"Com a aproximação do centenário de Fátima, os revolucionários tentam desferir o assalto derradeiro à civilização cristã: investem com ódio contra os princípios sagrados da.família"

Tudo com um tônus profundamente marial, segundo preconiza São Luís Grignion de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção (nº 217): - "Quando virá o dia em que as almas respirarão Maria, como o corpo respira o ar?" Não sabemos quando isso ocorrerá. Uma coisa, porém, é certa: tal se dará efetivamente, pois Nossa Senhora assegurou, no final do 2° Segredo: "Por.fim, o meu Imaculado Coração triunfará!" ❖ catolicismo@terra.com.br / OUTUBRO 201 6

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DISCERNINDO

o

ue berra o ''Grito os Excluídos" CID ALENCASTRO

P

atro~inado pe las_ pastorai s da Confe rênci.a Nac1?nal dos Bispos do Brasil (CNBB), coadJuvadas por movimentos de invasão de terras e de casas, eufemi stica mente denominados " movimentos sociais", reali zou-se 110 dia 7 de setembro úl timo o denominado "G rito dos Exc luídos".*

. A data em que se comemora a independência n~c1 ona l é escolhida a dedo para indicar que o povo amda não seri a independente, pois estari a preso nas eng renagens malsãs do capitalismo. Só um socialismo - soviético, chinês, cubano, vietnamita, ou outro, pouco importa - trari a a redenção popular, com tintas de eco log ismo. Tese perfe itamente comuni sta, diga-se de passagem, mas que neste ano se mostrou claramente nos fatos li gados ao "G rito". Aco ntece que o povo bras il eiro sufic ientemente inteli gente e perspicaz par~ não entra r em canoa furad a, não tem fe ito eco a esse "grito". A não ser, ev identemente, os ag itadores de sempre, que conseguem ainda arrebanhar um punhado de inocentes-úteis ou incautos. Com isso, depo is de duas décadas de insistênc ia, o "G rito" não tem obtido melhor sorte que os chamados Fórun s Sociais em seu afã de lançar o B ras il numa revo l:1ção de cunh o igualitá ri o-socialista. De fato, segundo A ri A lberti , da coordenação do "Grito dos Excluíd os", o evento ex iste há 22 anos e nasceu com a ide ia de que "é preciso cons-

truir um projeto popular de sociedade. Passados esses 22 anos a gente percebe que as mudanças estruturais não aconteceram", afirma ele melancoli ca mente. Convido o le itor a prestar atenção no fo lheto de propaga nda do "G ri to", na A rquidi ocese de São Paul o [foto]. A ce na é dominada por uma mulher hi stéri ca

que abre uma bocarra num ri cto de angústia e desespero. Junto a e la, uma es péc ie de demô ni o es boça um sorri so sarcástico enqu anto segura um maço de notas, ao que parece de dó lares. Sua boca demoníaca expele uma chama que se espraia pelo ambiente e serve de leito para corpos insepultos. A cena é infe rna l e repug na a toda a lma qu e conserve a lgo de ordenação e pureza. Completam o fo lheto frases contra o capitali smo, bem como a exaltação do soc ialismo, além da desi gnação dos autores: as Pastorai s socia is e outros coadjuvantes. O Sa ntuário de Aparecida costuma ser esco lhido corno um dos focos do "Grito". Em 7 de setembro, uma publicação anunciava: "Aparecida deve receber

l 00 mil romeiros para o Grito dos Excluídos, hoj e". E ntretanto, depo is do evento, a notíc ia era: "Cerca de

2 mil romeiros, segundo o Santuário de Aparecida, participaram do ato ". Parece que ao encontro marcado faltaram nada menos que 98 mil! Mesmo esses 2 mil , co mo é ev idente, são em grandíss ima parte romeiros que aproveitaram o fe ri ado para presta r suas homenagens à Padroeira do Brasil, e não para parti cipar de qualquer mov imento de agitação. Lá chegando, toparam com os ta is "excluídos". Não só co m eles, mas também co m o bispo emérito de B lumenau (SC), dom Angé li co Sândalo Bernardino, que conduziu

"a reflexão sobre o tema do Grito, 'Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata'. Tema inspirado em fras e do Papa Francisco, dito durante o Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em j ulho de 2015, naBolivia ". Desta vez o "G rito dos Excluídos" levou às ruas um tema mais diretamente ligado à política e focou suas mani fes tações co ntra o novo governo de Miche l Temer. Ou sej a, inconfo rmidade notória com o desprestíg io de Dilrna, e com ela o de Lula e do PT. Para o coordenado r da Central de Mov imentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim , o plano de governo Temer vai levar milhões de pessoas à exclusão soc ial. "Por isso estamos hoje pelo

'Fora Temer '". O utro foco de mani festações do " G ri to", a lém de Aparecida, fo i a Catedra l da Sé, em São Paul o. Só que

"as escadarias da Catedral, na Praça da Sé, reuniam menos de J00 pessoas, às 9h30, hora marcada para a

concentração dos participantes do 22. º Grito dos Excluídos ". Um terce iro foco foi a Avenida Pauli sta, cuj o ponto de encontro fo i na altu ra da P raça Osva ldo C ruz. Ali hav ia número pouco maior de pessoas, não por causa dos "excluídos", mas porque nesse local se re uni am promiscuamente todos os adeptos esquerdi stas do "Fora Temer" , quais sej am o MST, o PT, o MTST e quej andos. Em busca de popularidade, compareceram também Fe rnando Haddad, prefe ito de São Paulo candidato à ree leição, e o candidato derrotado ao Senado e agora postul ante a vereador, Eduardo Supli cy, além de outros po líticos petistas . Fo i um pouco fru stra nte para eles, pois a passeata que se seguiu não teve maior impacto. Ao qu e parece, o fracasso reiterado do "G rito dos Exc luídos" em convencer os pobres de que o soc ialismo reso lverá seus pro blemas, está levando à exasperação os promotores dessas manifes tações. Em co nsequ ência a utili zação de urna linguagem demagóg ica e fo ra da realidade. Por exempl o, Dom Mil ton Kenan Juni or, bispo da Diocese de Barretos (S P) e membro da Comi ssão E pi scopal Pastoral para o Servi ço da Ca ri dade, da Justiça e da Paz, da CNB B, desa bafou: ''Esse sistema [o capital ismo] é insuportável. É um sistema

que exclui e gera grande massa de humanos vivendo nas periferias do mundo, sem acesso ao que é.fundamental e necessário à vida. E leva uma grande massa a se contentar com as migalhas que caem da mesa. É um sistema que nega à grande maioria das pessoas os acessos às condições básicas ". Pena qu e o Bispo Kenan se te nha esquec id o de que a ma ior mi séria sempre fo i p roduzida pe los sistemas soc ialistas, como ocorreu na Uni ão Sovi éti ca e, na atualidade, em Cuba, Venezuela, Coreia do No rte etc. Ev identemente ninguém nega que o capitalismo atual tenha defe itos e lacunas a serem corri gidos. Mas enquanto regime que defende a propri edade pri vada e a li vre ini ciativa, e le está de acordo com a ordem natural das co isas. Enquanto o soc ialismo, por seu caráter estatiza nte e igua litári o, é fundamenta lmente reje itáve l. Mas isso não interessa aos promotores do "G ri to". E enquanto fica m gritando palavras de ordem de índole soc ialo-comuni sta, o autêntico povo bras il eiro não lhes dá atenção .. . •! Nota :

* Os dados pa ra este artigo foram extraídos das seguintes fo ntes: "Agê ncia Brasil " (1°-9-16); Revista "Isto é" (7-9-16); "O Est ado de S. Paulo (7 e 8-9-16); "O Globo" (8-9-16). catolicismo@terra.com.br / O UTUB HO 20 16

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POR QUE

NOSSA SENHORA

CIIORH?

A imagem estava lá ... · m saltimbanco desempregado cha.mado Jeff apresentouse num circo famoso, buscando alguma colocação para poder sobreviver. O dono do circo marcou então uma data para que ele fosse fazer alguns testes. No dia aprazado, chegando ao circo, Jeff notou, bem junto à abertura na lona que servia de porta de entrada, uma imagem de gesso de Nossa Senhora com os braços ligeiramente abertos e pendentes, em atitude de acolhimento. Preocupado como estava em obter emprego, lançou sobre ela um olhar desatento e passou adiante. Os testes não foram nada fáceis: corda bamba, motocicleta no globo da morte, cambalhotas no ar etc. Mas Jeff era experiente, saiu-se bem e o contrataram. Como estava exausto, foi descansar. E ao passar pela porta, lá estava a imagem de Nossa Senhora que ele vira ao chegar. Começou então a rotina de apresentações no circo, nas

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quais Jeff ia se firmando. E todos os dias, ao chegar, ele notava a presença da imagem, sempre com os braços ligeiramente abertos e pendentes. E, ao sair, igualmente lá estava ela. Assim passaram-se muitas semanas, até que num determinado dia Jeff "abafou a banca ". Sua exibição foi tão brilhante, que o público o aplaudiu de pé. E finalizada a apresentação, numerosas pessoas foram cumprimentá-lo pelo seu formidável desempenho. Ele recebeu nesse dia tantas felicitações, que foi o último a sair do circo. E, ao fazê-lo, lá estava, junto à porta, a imagem de Nossa Senhora. Em consequência dessa apresentação, Jeff adquiriu fama e seu salário foi aumentado. Passou-se mais algum tempo até que, numa jornada particularmente dificil - oh infelicidade! - todos os números executados por ele foram um rotundo fracasso. Por pouco não morre na motocicleta que se desviou e furou o globo da morte; caiu da corda bomba e ficou todo

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machucado; errou a cambalhota e foi parar no meio do público. As vaias se sucediam, cada vez mais sonoras. Era um desespero! Naquele dia Jeff saiu do circo cabisbaixo e, ao passar pela porta, a imagem de Nossa Senhora estava lá. Chamado pelo dono do circo, ele se apresentou no dia se-

guinte, e ao chegar, a imagem suas alegrias e seus sofrimentos, como também com seus momenestava lá. Foi despedido. Seu êxito tos triviais e rotineiros, em todos anterior fora esquecido e seu re- os momentos Nossa Senhora cente fracasso o desqualificara estava lá pedindo-lhe um olhar, suplicando-lhe um movimento para a função. Saiu acabrunhado e, ao trans- de alma voltado para Deus, uma por a porta, olhou pela última vez conversão. E ele, só preocupado com para a imagem que estava lá e oh prodígio! - Nossa Senhora sua vida pessoal, seu emprego, tioha uma lágrima nos olhos! Jeff · seu salário, seus divertimentos, não resistiu mais: ajoelhou-se em abafava qualquer movimento de prantos diante da Virgem, solu- alma, qualquer veleidade de muçando. Num instante ele com- dança de vida. preendeu que, em toda sua vida, Agora, num instante, uma com suas vitórias, suas derrotas, lágrima de Nossa Senhora o havia curado de tanta indiferença, tanta frieza, tanto distanciamento em relação a Ela. E le chorava amargamente seus pecados. Mas eram lágrimas também de felicidade, por ter finalmente dado ouvido àquele apelo insistente da graça que ele sempre se recusara a ouvir. *

*

*

Permita-me, caro leitor, uma pergunta, se não for indiscreta: conhece alguém que vive dando cambalhotas pela vida, passando por alegrias e decepções, mas sempre frio e indiferente aos apelos que lhe faz a graça para que abra os olhos e se converta? Caso conheça, conte-lhe então a história de Jeff. Quem sabe se as lágrimas de Nossa Senhora, abundantemente derramadas por suas imagens ao redor do mundo, enfim o convertam. ❖ catolicismo@terra.com.br / OUTU BRO 2016

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CAPA

Plínio aos 4 anos, época em que visitou a França com a família.

Scéne sur /es Champs-É/ysées - Jea n Béraud (18 49-1936). Soth eby"s.

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Nas

considerações que seguem, é meu intuito homenagear o Prof Plinio Corrêa de Oli veira de modo especial com a recordação de alguns fatos e observações a respeito das relações desse grande pensador com a França, ou, mais precisamente, com o espírito francês, que ele tanto apreciou. Espero com isso, igualmente, proporcionar aos leitores elementos para melhor compreensão do ambiente geral e de ce1tos aspectos da vida quotidiana como era há cerca de cem anos, transmitidos em memórias, pinturas e obras li terárias. Sabemos que Dr. Plínio nasceu em São Paulo no dia 13 de dezembro de 1908. Mas o que significa essa data em termos de costumes, de visão do mundo, da vida e da civilização? A vida moderna é tão intensa, tão repleta de novidades e distrações, que a maioria das pessoas pouco reflete sobre o passado, entretanto tão rico em lições para o presente e o futuro. Assim, proponho ao leitor um rápido bosquejo que situe o início do século XX em relação a outros períodos da nossa história.

Retrato de Charles-Maurlce de Talleyrand-Pérlgord - François Gérard (1770-1837). Museu de Versalhes, França.

Heranças do Brasil monárquico

A bem dizer, o Brasil só alcançou a sua maioridade quando a família real se transferiu para o Rio de Janeiro, devido à invasão de Portugal por tropas de Napoleão. Ele era governado por Dom João VL Príncipe Regente.

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Todos sabem que a descobe1ta oficial do Brasi I se deu em 1500, no reinado de Dom Manuel, e que o povoamento e colonização de nosso então informe território iniciou-se efetivamente apenas sob Dom João III de Portugal, quando ele instituiu o governo-geral (regimento de 17-12-1548), após o fracasso da grande maioria das capitan ias hereditárias. Esse rei empenhou-se particularmente no envio para o Brasil de missionários jesuítas e de colonizadores, a fim de catequizar os índios e colonos, desbravar e civilizar o território. Foi trabalho difícil, lento, longo e penoso. A bem dizer, nosso País só alcançou a sua maioridade quando a família real se transferiu para o R io de Janeiro, devido à invasão de Portugal por tropas de Napoleão. E le era governado por Dom João VI (quadro à direita), Príncipe Regente, uma vez que a Rainha Dona Maria I, sua mãe, ficara muito traumatizada em 1792, ao tomar conhecimento das barbaridades cometidas durante a Revolução Francesa. A primeira medida tomada pelo Príncipe Regente foi a abertura dos portos brasileiros, em 1808. Ele concebeu um plano de grande envergadura, que chegou a concretizar-se no decreto de 16 de dezembro de 1815: a criação do Reino Un ido de Portugal, Brasil e Algarves. Tal medida estipulava que os três reinos formassem doravante um único Reino, sob aquele títu lo.

A ideia teria sido sugerida pelo célebre Charles-Mamice de Talleyrand-Périgord, então embaixador da França, em conversa com o representante diplomático de Po1tugal no Congresso de Viena, segundo hipótese apresentada por Mello de Moraes. Após informar-se longamente sobre o Brasil, o célebre estadista francês teria aconselhado o Príncipe Regente a não regressar a Portugal por mais algum tempo, e que enviasse o seu primogênito para a Europa. Nas condições geopolíticas de 1815, após a independência dos Estados Unidos da América, ocorrida em 1776, Talleyrand considerava "como uma .fortuna que se estreitasse por todos os meios passiveis o nexo entre Portugal e o Brasil; devendo este país, para lisonjear os seus povos, para destruir a

Talleyrand considerava "como uma fortuna que se estreitasse por todos os meios possíveis o nexo entre Portugal e o Brasil; devendo este país, para lisorzjear os seus povos, para destruir a ideia de colônia, que tanto lhes desagrada, receber o título de reino ' e o vosso soberano ser rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil".

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Dom Pedro I e a Princesa D. Leopoldina de Habsburgo

Culturalmente era da capital francesa que São Paulo recebia a maior influência europeia. O brilho social de Paris, os seus literatos, o seu poder político e o império colonial francês certamente contribuíam para tal.

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ideia de colônia, que tanto lhes desagrada, receber o titulo de reino, e o vosso soberano ser rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil". Infelizmente, o decreto de Dom João VI não chegou a durar sete anos; pressionado pelos liberais (a esquerda da época) dos dois lados do Atlântico, o Príncipe foi obrigado a retornar a Lisboa (1816). Por outro lado, seu filho Dom Pedro proclamou pouco depois (1822) a Independência do Brasil, deixando sem efeito o mencionado decreto. A proclamação da república - no Brasil, em 1889; em Portugal, em 1910 - viria sepultar para sempre um plano que poderia ter mudado a história de ambos os países e quiçá de ambos os continentes. A verdadeira emancipação da nação brasileira só se daria no fecundo período imperial, notadamente sob o longo reinado de Dom Pedro II. Filho de Dom Pedro I e da Princesa D. Leopoldina de Habsburgo, o segundo Imperador do Brasil trazia nas veias as mais nobres ancestralidades da Europa cristã. Sua mãe era filha do último imperador do Sacro-Império Romano Alemão, Francisco II (depois primeiro imperador da Áustria, sob o nome de Francisco 1), e seu pai de um Bragança e Bourbon, Rei de Porh1gal. Por outro lado, a estampa de D. Pedro II era bem a de um homem do século XIX, possuidor de invejável cultura. A nação era jovem; o crescimento, prodigioso. Mas o que ainda faltava desenvolver era gigantesco. Basta dizer que, durante a primeira infância de Plínio Corrêa de Oliveira, ainda havia no interior do estado de São Paulo tribos de índios que atacavam os funcionários incumbidos de construir a Estrada de Ferro Noroeste do Brasi 1, como se pode ler no jornal "O Estado de S. Paulo" da época (1911). Ancestralidade

Tudo isso teria seu peso no futuro de um país que apenas começava a dar os primeiros passos como nação independente. E também sua influência na formação de Plínio, destinado a combater de frente o Leviatã revolucionário que assomava no horizonte, naquela aurora do século XX. Alguns dados sobre a sua ancestralidade nos ajudarão a compreender melhor sua vinculação com São Paulo, sua cidade natal, e com o Nordeste, terra de seu pai. Em 1893 os Ribeiro dos Santos - família à qual pertencia a mãe de Plínio - se estabeleceram na capital paulista, após passarem alguns tantos anos como fazendeiros no interior de São Paulo, na região de Pirassununga, distante pouco mais de 100 km ao norte de Campinas. Dr. Antônio Ribeiro dos Santos, avô de Plínio, era casado com Dona Gabriela, a matriarca da família e monarquista convicta, amiga da Baronesa de Muritiba, dama da corte da Princesa ]sabei. Uma das filhas do casal, Lucília, viria a ser a mãe de Plínio.

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. A respeit? de Dr. Plinio e os Ribeiro dos Santos os leitores encontrarão mteressant~s mformações na entrevista, de agradabilíssima leitura, que Dr. Adolpho Lmdenberg concedeu a esta revista e publicada em sua edição de outubro do ano passado. Nesse meio inseriu-se, ao casar-se com Lucília Ribeiro dos Santos, o advogado pernambucano João Paulo Corrêa de Oliveira, pai de Plínio e sobrinho de João Alfredo Corrêa de Oliveira Conselheiro do Império, senhor de engenh~ em Goiana, no estado de Pernambuco. Plínio herdou a calma e o espírito admirativo de sua mãe, bem como a palavra fácil e a vivacidade nordestina de seu pai, a par de uma inteligência brilhante e um modo de ser cerimonioso. Quando Plinio nasceu, o Imperador D. Pedro II havia perdido a coroa há pouco menos de 20 anos. E só um século antes os portos brasileiros tinham sido abertos ao comércio internacional.

Lucilia Ribeiro dos Santos e João Paulo Corrêa de Oliveira, pais de Dr. Pllnio

Plinio e a França

~ão obstante São Paulo já fosse em 1908 uma verdadeira capital sua urban,1zação não seguia, entr~tanto, o modelo das cidades portuguesas, ;orno nos s~culos XVL e XVII, e sim o de Paris. ~ explic~ve!, po~qu~ culturalmente era da capital francesa que a cidade recebia a maior mflu_enc1a europeia. O brilho social de Paris, os seus literatos: o seu poder_P~líttco _e~ império colonial francês certamente contribuíam Pª 1_ª tal: Se~_duv1da _ex1st1a tan~bém o_ prestigioso império britânico e .o podeioso _1m_pe110 al_emao, sob a f~rre~ disciplina militar do Kaiser. Mas, para os brasileiros, ce1tos fatores os mcltnavam decididamente para a influência francesa. Em ~rimeir~ lugar, porque a Família Imperial brasileira mantinha vínculos mt:1to part1culare~ com a França: a Princesa Isabel casara-se com 0 Conde d Eu, neto do rei dos franceses , Luís Filipe. Missão militar francesa form~va nossos futuros ?ficiais. E Paris era a capital preferida, onde as elites de ~ao Paulo ~ ~ 10 apnmoravam-se quanto ao bom gosto e brilho da vida soc 13 I. A propos1to, convém lembrar que a arte de saber agir (savoir fàire) de expressar-se bem (savoir dire) e saber agradar (savoir plaire) pro~ém d~ França, sobretudo a partir do reinado de Luís XIV. Para bem ~o~preender essa época, é oportuno ler a descrição de uma cena, d~ rua pans1ense ~i~ta~a por Jean Béraud ( 1849-1935) e reproduzida pag~na 3~. O comentano e de um francês de talento e figura num calendá110 (mes de Jmil10 de 2012) da prestigiosa TFP francesa.

~-ª

. " ~ vida, as cores, a elegância são os elementos que atraem O olhar no pnme~ro ~elance. Chamam a atenção a distinção no traje das duas mulheres em pnme1ro plano e os mil detalhes qu e convidam, por assim dizer, a entrar

A Princesa Isabel se casou com o Conde d'Eu, neto do rei dos franceses, Luís Filipe

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agitação das ruas. Hoje, faz-se em uma noite a viagem que outrora demorava um mês ... ou fica-se parado num engarrafamento do trânsito durante horas! E o computador executa em alguns minutos uma tarefa que podia levar horas ou dias, mas as cabeças já não produzem ideias, porque a televisão não as deixa pensar. .. Nem sempre a qualidade corresponde à rapidez, enquanto a elegância vai cedendo sempre mais à vulgaridade.

Testemunho insuspeito

Le Boulevard des Capucines - Jean Béraud (1849-1935). Coleção Privada.

As diferentes classes sociais misturam-se harmoniosamente. Vê-se na cena uma sociedade que ainda é análoga a um corpo vivo, onde cada membro ocupa seu lugar e desempenha · seu papel...

na cena. Nesta, todos estão absorvidos por ocupações, mas não se percebe nenhum nervosismo. O caixeiro de uma loja vai entregar os pacotes; um varredor empurra para ralos os restos de neve e lixo; a empreg~d~ de _uma casa, de avental branco, atravessa a rua. As diferentes classes sociais misturam-se harmoniosamente. Vê-se na cena uma sociedade que ainda é análoga a um corpo vivo, onde cada membro ocupa seu lugar e desempen~a se~1 pap~l; el_a não se baseia no orgulho, tampouco na inveja de quem possui mais ou e mais que os outros. . "Os fiacres circulam em bom número, mas pode-se cruzar a rua mais ou menos em qualquer lugar e como se quiser, sem ser enquadrado por milhares de regulamentos de trânsito meticulosos. E a adoração da técnica ainda não invadiu nem subverteu todos os valores". *

*

*

Era bem esta a Paris, pintada por Jean Béraud, que fascinava a sociedade paulistana e encantou o pequeno Plinio há cerca de um_século. A vida de família era então sólida. Escrevia-se à mão, com bela caligrafia. E ra demorado, mas pululavam as ideias e os literatos. O automóvel e o avião apenas começavam a desenvolver-se. . Mais tarde ocorreu significativa mudança: a cidade de São Paulo cresceu desmesuradamente; as velocidades aceleraram-se ... até travar as atividades dos habitantes com os intermináveis congestionamentos de veículos e a

O fato é que, por certas razões, naquele tempo São Paulo inspirava-se em padrões parisienses, a ponto de Georges Clemenceau (político e estadista, cognominado "o Tigre" por seu radicalismo) nela sentir-se muito à vontade quando a visitou, em 1910. E m suas notas de viagem sobre o Brasil, publicadas em 1911 pela revista "L'II lustration", ele descreve o fazendeiro paulista como "um senhor f eudal imbuído do p ensamento europeu", e o considera "infinitamente superior (sic!) à generalidade dos seus similares do Velho Continente, tanto os nascidos da tradição quanto os que surgiram dos acasos da democracia ". Esse superlativo elogio é de deixar pasmo, sobretudo na pena de um francês que ocupou os mais altos cargos em sua nação. Ao leitor do século XXI, tal descrição pode até parecer inverosímil. Desde já é preciso insistir que, depois disso, ao longo de um século a sociedade paulista mudou assustadoramente. Clemenceau era um revolucionário de esquerda, ateu e anticatólico, o que torna insuspeito seu depoimento. Além disso, suas observações datam do período da Belle Époque ( 1871-1914), época em que as imprecisões e incorreções de linguagem não eram perdoadas, sobretudo tratando-se de um homem que fora ministro e chefe de governo, e que voltaria novamente a sê-lo durante a Primeira Grande Guerra. Clemenceau considerava também que havia "muitas afinidades entre os dois povos" (o francês e o brasileiro), das quais ele afirmava convencerse a cada momento. "Tive a inexprimível sati~fàção de o comprovar em meu primeiro contato com o grande público do Rio, e a experiência foi renovada em São Paulo com tantafelicidade que fài possível entregar-me sem reservas ao prazer de /alar como.francês a outros franceses, sem que nada me.fizesse notar as particularidades de alma de um estrangeiro ao qual eu tivesse de me adaptar", afirma ainda o político francês. E acrescenta: "A cidade de São Paulo (350 mil almas) é tão curiosamente francesa em alguns de seus aspectos que, durante toda uma semana, não me lembro de ter tido nem uma só vez a sensação de encontrar-me fora da França. O fàto de a línguafi··ancesa ser ali falada correntemente não é uma particularidade de São Paulo. A sociedade paulista, que por tradição tem talvez uma personalidade mais marcante do que a de qualquer outro conjunto semelhante na República do Brasil, apresenta o duplo f enômeno de se orientar de modo resoluto para o espirita francês e de, paralelamente, desenvolver l?dos os traços da individualidade brasileira que determinam o seu caráter. E indubitável que o paulista é paulista até o fundo da alma; paulista tanto

Georges Clemenceau, que foi ministro e chefe de governo da França

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Ruas Direita e 15 de Novembro, em São Paulo, nos anos 10

"A cidade de São Paulo (350 mil almas) é tão curiosamente francesa em alguns de seus aspectos que, durante toda uma semana, não me lembro de ter tido nem uma só vez a sensação de encontrarme fora da França". Georges Clemenceau

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no Brasil como na França ou em qualquer outro lugar. isso posto, dizei-me se algum dia houve, sob as aparências de um homem d~ negócios Ct_º mesmo tempo prudente e audacioso que soube valorizar o ca.fe, u": .(rance~ de ~naneiras mais corteses, de conversação mais amável e de espmto mats anstocraticamente leve. " Dessa descrição, retenhamos dois pontos: . . , . l. O fazendeiro paulista era como "um senhor f eudal tmbiudo de p ensamento europeu "; 2. A sociedade paulista apresentava "o duplo.fenômeno de se orientar de modo resoluto para O espirita .francês e de, paralelamente, desenvolver todos os traços da individualidade brasileira ".

autônomas para sobreviver buscavam proteção junto a um senhorio mais poderoso, em condições de assegurar-lhes certos direitos e liberdades. Nasceu assim o sistema feudal , tendo por base um conjunto de relações pessoais fundadas na ajuda recíproca. Convinha aos poderosos, porque estes precisavam de homens para os trabalhos da agricultura e para seus pequenos ou grandes exércitos. Convinha aos mais fracos, pois sem a proteção de um exército não tinham condições de enfrentar invasões predatórias, numa época que conservava ainda muito de barbárie. E o relaciona1nento feudal era de tipo paterno e filial. Mais do que sua definição histórica ou sociológica, o que interessa ressaltar aqui é o significado de senhor feudal. Este indica um homem de valor excepcional, por suas qualidades de liderança, de combãte, por seu espírito empreendedor, dispondo de recursos que o torna capaz de dominar e proteger os territórios sob a sua jurisdição ou influência. Ao mesmo tempo protetor dos mais fracos e necessitados. A epopeia das Cruzadas decorrera em grande parte da fé de senhores feudais. Godofredo de Bulhões, Simão de Montfort e tantos outros heróis foram senhores feudais e cruzados, como também São Luís IX, rei de França, e ainda outros soberanos. Godofredo conquistou Jerusalém. Simão erradicou a heresia cátara do sul da França. Ambos foram católicos de grande estarura, não obstante as detrações de que eles são objeto por parte de inimigos da Religião Católica. Plinio Corrêa de Oliveira (foto) foi cognominado, como dito acima, o "Cruzado do século XX", por sua combatividade, pela pureza de seu ideal católico e contrarrevolucionário. Se ele jamais empunhou contra alguém uma espada, entretanto sempre empunhou o gládio do espírito. Basta folhear qualquer de suas biografias para convencer-se do quanto ele realizou como homem de luta e de ação.*

O homem de salão O senhor feudal

Quem eram os senhores feudais? Quando da decadência do Império Romano e a invasão da Europa por povos bárbaros oriundos do leste e do norte do continente europeu, boa dose de caos se fez presente em vários lu~ares. Em 711, os maometanos invadiram também pelo sul , dom111ando_aPen111sul a Ibérica. Mas foram derrotados por Carlos Martel ao tentar conquistar o re mo dos francos. A personalidade excepcional do Imperador C~r~os 1'.1,a~n_o ~oloco~ certa ordem na Europa de então. Após sua morte, o lmpeno foi d1v1d1do entr e seus três filhos, que não possuíam as qualidades do pai. Js_so ~rovocou enfraquecimento e a fragmentação dos Estados, gerando muita 111segurança, s?breh.1do entre os mais fracos. Assim, numerosos pequenos feudos ou propnedades

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Os senhores feudais constituíram também a matéria-prima da aristocracia, com a obrigação de frequentar as cortes de seus reis ou suzeranos, onde era mister aprimorar-se no trato social, na elegância, e nos requintes de educação e caridade que constiruíam o ornato de um governante. No Ancien Régime, época histórica que antecedeu a Revolução Francesa, as contendas já não se decidiam somente nos campos de batalha, mas principalmente nas cortes, entre diplomatas, ministros e outros representantes da sociedade, inclusive da burguesia, cujo papel assumiu impo1tância cada vez maior na Europa , a partir do século XIV. Apareceram então os homens simultaneamente de combate e de salão, como os mosqueteiros do Rei Luís XIII. Homens que eram tão experientes no manejo da espada como no trato social e em manobras políticas; mestres catolicismo@terra .com.br / OUTUBRO 2016

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no saber como fazer, como agradar, o que dizer (savoir fàire, savoir plaire, savoir dire). , No mesmo sentido, na alta nobreza que frequentava a corte d~ L~11s XIV havia figuras de relevo no campo militar, como o fulgurante Pnnc1pe de Condé ("te Grand Condé") e o marechal Henri de La Tour d'Auvergne, visconde de TLU·enne, grande estrategista militar do Rei Sol.

o contemplativo e o homem de ação

Príncipe de Condé ("te Grand Condé")

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Tudo isso chamava a atenção de Plinio. Adulto, ele assumiu conscientemente os princípios da civilização cristã, para colocar-se a serviço da causa católica contrarrevolucionária. Plínio Corrêa de Oliveira, como vimos, foi um cruzado de seu tempo, manuseando com destreza o gládio da fé. Foi igualmente brilhante na esgrima intelectual pelo "esprit de repartie", seu agudo espírito de resposta, como escritor, polemista e orador. Ademais era extraordinário o atrativo de sua conversa. De onde lhe provinha essa capacidade de ação? Ela não era espontânea, mas pensada e desejada com vistas a um objetivo: a formação de um movimento de católicos militantes, a serviço da Igreja e da civilização cristã. É fruto da contemplação. Contemplação das verdades católicas antes de tudo. Mas também das almas, da História, das sociedades, do~ ambientes, costumes e das civi li zações, dos santos e de grandes personagens. Ele acima de tudo contemplou de modo contínuo a luta entre bem e mal, entre a luz e as trevas, entre o Corpo Místico de Cristo e os asseclas de satanás. A evolução dos inventos, das técnicas, dos trajes, da vida social'. ~a linguagem, das mentalidades ... Tudo isso despertava a atenção de Pl11110 em seus tenros anos. Mais tarde ele viu com clareza: uma força profunda e p~derosa movia a sociedade, as próprias almas, sempre no sentido de destruir a civilização cristã que ele tanto amava! A essa força ele deu um nome: ~evolução. E compreendeu que, para vencê-la, só as alm~s íntegr~s p?denam alcançar êxito. Por isso, escreveu no prefácio de seu livro Mew seculo de epopeia anticomunista (1980): "Quando ainda muito jovem Considerei enlevado as ruínas da Cristandade. A elas entreguei meu coração. Vo ltei as costas ao meu futuro E fiz daquele passado carregado de bênçãos o meu porvir ... "

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Plinio Corrêa de Oliveira acompanhando a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em visita ao Brasil nos anos 70

O bom combate contra-revolucionário

Aos 20 anos, engajou-se no movimento das Congregações Marianas. Seu apostolado atra iu os primeiros companheiros de luta na mesma causa. Tornou-se colaborador e mais tarde diretor de "O Legionário", órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. Orador brilhante, proferiu conferências em

numerosas cidades do País. Ele fez do combate à Revolução o ideal da sua vida. As ideias que professou estão explicitadas em Revolução e Contra-Revolução - livro de cabeceira de todos desejosos de segui-lo nesse combate. Merece especial menção a influência que teve na vida de Plínio Corrêa de Oliveira a obra Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de autoria do grande missionário francês do século XVIII São Luís Maria Grignion de Montfort. A admirável devoção mariana como escravo de amor a Maria Santíssima, segundo a doutrina desse grande santo, constituiu traço saliente da profunda espiritualidade do Prof. Plínio. Como líder católico, advogado,jornal ista, deputado à Assembleia Constituinte de 1934, escritor, Plínio Corrêa de Oliveira batalhou continuamente no Brasil, particularmente em São Paulo, onde formou um grupo de discípu los. E mais tarde fundou a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Familia e Propriedade (TFP). Entidades autônomas e coirmãs formaram-se em outros continentes. Como dessas entidades, com suas histórias repletas de assinalados lances, nossos leitores já possuem um bom conhecimento, aqu i dispensamos a narração. ❖

Plinio Corrêa de Oliveira batalhou continuamente no Brasil, de modo particular em São Paulo, onde formou um grupo de discípulos. E mais tarde fundou a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP).

* Veja-se

a obra "Minha Vida Pública - re latos autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira ": http//www.p liniocorreadeoliveira.info/Minha_Vid a_publica/MVP_OO_Apresentacao.htm#. V9N3Xo-cHmQ

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Santa Margarida Maria Alacoque Grande mística, esta confidente do Sagrado Coração de Jesus consagrou-se a Nossa Senhora como escrava e recebeu as grandes revelações no covento de Paray-le-Monial

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

anta Margarida Maria viveu em pleno Ancien Régime (Antigo Regime), o período da História europeia que terminou com a Revolução Francesa. Segundo a Enciclopédia Larousse, "a ata de nascimento do Ancien Régime é dfficil de precisar". Para alguns o Ancien Régime vai desde o fim das Guerras de Religião (Tratados de Westfalia, que puseram fim à Guerra dos Trinta Anos) até a Revolução Francesa, ou seja, de 1648 a 1789. Em relação à França, da qual nos ocupamos, a expressão Ancien Régime é comumente usada para indicar o período entre o reinado do primeiro dos Bombons (Henrique IV, 15941610) e a Revolução Francesa. No campo religioso, o jansenismo - espécie de infiltração do espírito calvinista dentro da Igreja causava grandes estragos nas almas dos fiéis na França dos séculos XVII e XVIII, destruindo nelas a noção da misericórdia de Deus e da confiança filial que devemos ter em relação ao Pai Celeste, inculcando-lhes um temor unilateral, desprovido de amor, e as inclinando a fugir dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Foi então que o Sagrado Coração de Jesus apareceu a Margarida Maria, jovem religiosa da Ordem da Visitação, fundada por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal para transmitir sua mensagem de misericórdia e confiança expressa no Coração humano e divino do Verbo Encarnado. Santa Margarida Maria, grande mística, vivia quase completamente imersa no sobrenatural. Sua vida já foi exposta nesta revista e por isso dela daremos apenas breve resumo biográfico, para nos concentrarmos nas promessas do Sagrado Coração de Jesus.

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Desse modo, por volta de apenas quatro anos de idade Margarida fez voto de castidade: "Sem saber o que dizia, sentia-me continuamente impelida a dizer estas palavras: 'Meu Deus, eu vos consagro a minha pureza, e vos faço voto de pe,pétua castidade',, (Autobiografia, 2). Afirma seu primeiro biógrafo: "Desde a infância o Espírito Santo Lhe ensinou o ponto capital da vida interior, comunicando-lhe o dom da oração. O seu maior prazer era passar horas inteiras em oração,· e, quando não a encontravam em casa, fam à igreja, onde a achavam imóvel diante do Santíssimo Sacramento,, .2 Com o falecimento do pai em 1655, Margarida, então com oito anos, foi colocada como educanda no convento das religiosas clarissas em Charolles. Consagra-se à Santíssima Virgem

A devoção a Nossa Senhora é sinal de predestinação. Por isso Margarida sempre a teve desde os albores da razão. Maria Santíssima retribuía amor com amor: "A Santíssima Virgem teve sempre grandíssimo cuidado de mim, e a Ela é que eu recorria em todas as minhas aflições. Foi Ela que me afastou de perigos muito grandes", confessa Margarida. Antes mesmo de São Luís Maria Grignion de Montfort ter popularizado a devoção da Sagrada Escravidão a Nossa Senhora, Margarida, ainda menina, consagrou-se a Ela como escrava (Autobiografia, 22).

a vida religiosa, mas a mãe e os irmãos, perseguidos por parentes do falecido marido, quiseram obrigá-la a . se casar, a fim de aliviar a difícil situação da família. Entretanto, vencida a pressão, Margarida Maria ingressou no convento da Visitação, em Paray-le-Mon_ial. Assim que entrou no locutório, ouviu interiormente estas palavras: "É aqui que te quero,, (Autobiografia, 26). Como não trataremos da vida da santa em Paray-le-Monial, passemos às Grandes Revelações do Sagrado Coração de Jesus que recebeu. Manifestações do Sagrado Coração

Importa dizer que o Sagrado Coração de Jesus foi Se revelando a Santa Margarida Maria aos poucos, nos anos J 672 e 1673, até chegar a fazê-lo claramente em 1674 e 1675. Dez anos depois, em 1685 e 1686, Ele ainda lhe revelou suas magníficas promessas ao gênero humano. Assim, nos primeiros meses de 1673, por entendimento interior, Margarida Maria viu seu coração como um átomo todo negro e desfigurado unir-se ao belo Coração de Jesus, mais brilhante que o sol e de uma grandeza infinita. Era sua primeira visão do Sagrado Coração, toda ela espiritual. 3 *

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As quatro grandes Revelações do Sagrado Coração de Jesus

O sofrimento: sinal dos eleitos

Voto de perpétua castidade

Nascida em 22 de julho de 1647, filha de Cláudio Alacoque e de Felisberta Lamyn, Margarida Maria era a quinta dos sete filhos do casal. Deus a queria só para Si. Por isso, como ela mesmo revela em sua Autobiografia, preservou-a praticamente desde o berço da mais leve mancha de pecado. 1 O Divino Mestre a dirigia nos segredos da vida interior, para que sua comunicação fosse só com o Céu.

Margarida tinha cerca de 11 anos quando uma grave doença pôs em risco sua vida, obrigando a família a retirá-la do convento e levá-la para casa. Ela ficou semiparalítica e tão magra que, segundo narra, "os ossos furavam-m e apeie por todos os lados". Tampouco podia andar. Os médicos esgotaram toda a sua ciência e não obtiveram qualquer resultado, levando-a à suposição de que a principal origem da doença fosse sobrenatural. A doença durou quase quatro anos e Margarida só se curou depois que se consagrou a Nossa Senhora. No convento de Paray-le-Monial

Ao atingir a adolescência, Margarida quis abraçar

Primeira grande revelação

Para nos situarmos um pouco no ambiente da França em que se deu a primeira grande aparição do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria, transcrevemos as palavras do Padre Augusto Ramon, um dos melhores biógrafos da Santa: "Na manhã de 27 de dezembro de 1673 [dia em que se deu a primeira grande Revelação], a vida em nossa terra da França foi retomada no ponto onde os homens a haviam abandonado na véspera, à noite. Por toda parte as mesmas ocupações, os mesmos prazeres, as mesmas dores, os mesmos ódios e as mesmas ternuras, os mesmos trabalhos e as mesmas guerras,· Bourdaloue e Bossuetpregam, La Fontaine pensa em catolicismo@terra.com.br / OUT U.BHO 20·16

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suas Fábulas, Boileau rima a Arte Poética, Racine compõe Efigênia, Turenne dt!fende a fronteira do Reno contra os Imperiais, Condé a [fronteira] do Norte contra Guilherme de Orange, Luís XIV, todo voltado à sua glória e a seus prazeres, faz face à Europa, e ninguém sabe que Jesus Cristo vai nos revelar seu Coração divino ". 4 Era a festa de São João Evangelista. Margarida Maria rezava diante do Santíssimo Sacramento quando Nosso Senhor ''fez-me repousar por longo tempo em seu divino peito; e ali me revelou as maravilhas do seu amor e os segredos insondáveis do seu Sagrado Coração [... ]. Disse-me Ele: 'O me11 divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em partic11lar para contigo, q11e não podendo já conter em si as chamas de s11a ardente caridade, precisa derramá-las por te11 meio, e manifestar-se-lhes para enriq11ecê-los de se11s preciosos teso11ros, q11e e11 te mostro, os quais contêm a graça santificante e as graças sal11tares indispensáveis para afastá-los do abismo da perdição; e escolhi-te a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para q11e t11do seja feito por Mim"' (Autobiografia, 53). Segunda grande revelação

É de todo provável que a segunda Grande Revelação - da qual, infelizmente, não se consignou a data - tenha ocorrido numa primeira sexta-feira do mês, no ano de 1674. O Sagrado Coração apareceu-lhe rodeado de espinhos encimado por uma cruz. "E Ele me fez ver [que] o ardente desejo q11e tinha de ser amado pelos homens e de retirá-los da via da perdição, onde Satanás os precipita em m11ltidão, O havia feito formar esse desígnio de manifestar se11 Coração aos homens, com todos os teso11ros de amor, misericórdia, graça, santificação e salvação q11e Ele continha, a fim de q11e todos os q11e q11isessem render-Lhe e proporcionarLhe todo amor, honra e glória q11e estivessem em se11 poder, Ele os enriq11eceria com ab11ndância e prof11são desses divinos teso11ros do Coração de De11s, de q11e era a fonte; e q11e era necessário honrar sob a fig11ra desse Coração de carne, do q11al Ele queria a imagem exposta e colocada sobre mim e sobre o coração, para aí imprimir se11 amor e c11m11lar de todos os

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dons de q11e estava pleno, e para nele destruir todos os movimentos desregrados. E q11e em toda parte onde essa santa imagem fosse exposta para ser ali honrada, Ele espargiria suas graças e bênçãos. E q11e essa devoção era como 11m último esforço com q11e se11 amor q11eria favorecer os homens nestes últimos séc11los desta redenção amorosa, para retirá-los do império de Satanás, q11e Ele pretendia arruinar, ecolocá-los sob a doce liberdade do império de se11 amor, q11e Ele q11eria restabelecer nos corações de todos os q11e q11isessem abraçar essa devoção. " 5

que esteve exposto nos altares. E Eu te prometo que o meu Coração se dilatará para derramar com ab11n. dância o influxo do seu divino amor sobre aqueles que Lhe renderem esta homenagem". 6 Comunhão reparadora

Para concluir, citamos a consoladora promessa das primeiras sextas-feiras do mês: Em carta à Madre de Saumaise, a santa relata essa grande graça que lhe foi concedida quase no fim de sua vida (provavelmente em 1688): "Numa Sexta-feira, durante a santa Comunhão, Ele disse estas palavras à sua indigna escrava, se ela não se engana: 'Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que seu amor todo poderoso concederá a todos aqueles q11e comungarem nas nove primeiras sextas-feiras do mês seguidamente, a graça da penitência final, não morrendo em minha desgraça e sem receber os Sacramentos, [me11 divino Coração] tornando-se seu asilo seguro no derradeiro momento". 7 Santa Margarida Maria faleceu no dia 17 de outubro de 1690 e foi canonizada por Bento XV em 1920. ❖

Terceira grande revelação

A data da chamada Terceira Grande Revelação tampouco ficou registrada. Ocorreu provavelmente também em 1674, num dia em que o Santíssimo Sacramento estava exposto. Assim, estando ela mais wna vez diante desse Sacramento do Amor, entrou em êxtase e viu Nosso Senhor Jesus Cristo "todo radiante de glória com suas cinco chagas, brilhantes como cinco sóis; e a sua sagrada humanidade lançava chamas de todos os lados, mas, sobretudo, de seu sagrado peito, que parecia uma fornalha; abrindo-o, desvelou-me seu amantíssimo e amabilíssimo Coração, que era a/ante viva daquelas chamas. [...} Foi então que Ele me mostrou as maravilhas inexplicáveis do seu puro amor, e o excesso a q11e Ele tinha chegado no se11 amor aos homens, dos quais não recebia senão ingratidões efriezas". Disse-lhe o Redentor do Mundo: "Isto [as ingratidões e friezas] c11sta-me m11ito mais do q11e tudo q11anto sofri na minha Paixão; tanto q11e, se eles [os homens] correspondessem com 11m po11q 11inho de amor, Eu teria um pouco de tudo quanto fiz por eles, e ainda q11isera fazer, se possível fosse; contudo, eles não têm senão friezas e rep11lsas para todo este meu afã de lhes fazer bem" (Autobiografia, 55). Quarta grande revelação

Embora Margarida Maria não mencione a data desta revelação, os estudiosos julgam que teria ocorrido entre 13 e 21 de junho de l 67 5, denh·o da oitava da festa do Corpo de Deus. Ela a narra em sua Autobiografia (92) e em carta a São Cláudio de la Colombiere. Estando corno de costume diante do Santíssimo

Notas: São Cláudio de la Colomblere ministra a Sagrada Eucaristia a Santa Margarida

Sacramento, Nosso Senhor lhe disse, apresentando seu divino Coração: "Eis o Coração que tanto amo11 os homens, que nada po11po11, até se esgotar e consumir para lhes testem11nhar o se11 amor. E, em reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelos desprezos, irreverências, sacrilégios e friezas q11e têm para comigo neste Sacramento de amor. Mas o q11e é ainda mais doloroso, é que os que assim me tratam são corações que Me são consagrados. Por isso te peço que a primeira Sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa partic11lar para honrar o meu Coração, reparando a sua honra por meio de um ato público de desagravo, e comungando nesse dia para reparar as injúrias que recebeu durante o tempo

1. Autobiografia de Santa Margarida-Maria Alacoque, 4 ª Edição, Editorial A. O., Braga, 1984, (citado: Autobiografia). Também: Marguerite-Marie Alacoque, Sainte, Sa vie par e/le-même, Monastere de la Visitation, Paray-le-Monial, Éditions Saint-Pau/, Paris-Fribourg, 1993; nº 2 . 2. Abbé CROISET, Abrégé de la vie de la soeur Marguerite-Marie Alacoque ... Lião, Tip. Antoine e Horace Molin, 1691, apud BOUGAUD, Mons., História da Beata Margarida Maria ou origem da devoção ao Coração de Jesus, Porto, Imprensa Moderna , 2ª edição, p. 36. 3. Lettres de la Sainte, Lettre XXII, à la Mere de Saumaise, Avril 1683, in Monastere De La Visitation - Paray-le-Monial, Vie et oeuvres de Sainte Marguerite-Marie, Éditions Saint-Paul, Paris-Fribourg, 1990, tomo 2, p. 168. 4 . HAMON, Auguste, Histoire de la Dévotion au Sacré-Coeur de Jésus, Vie de la Bienheureuse Marguerite-Marie, d'apres /es manuscrits et /es documents originaux, Gabriel Beauchesne & Cie. Éditeurs, Paris, 1907, p, 146. 5. Lettres de la Sainte, Lettre CXXXIII au R.P. Croiset, 3 novembre 1689, op. cit. pp. 477 a 479. 6. Cláudio La Colombiere, Notas íntimas e outros Escritos Espirituais, Editorial A.O., Braga, 1983, pp. 150-151. 7. Lettres de la Sainte, Lettre LXXXVI, à Mére de Saumaise, maio de 1688, op. cit. p. 297.

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HISTÓRICOS Marquês Luís de BadenBaden - Anônimo, 1705. Heeresgeschichtllchen Museum, Viena.

A Reconquista da cidade de Buda, antiga capital da Hungria "Foi o Santo Padre quem conquistou Buda, ' como libertou Viena. Há séculos não havia sentado outro Papa semelhante na Cátedra de Pedro", afirmou Jaime li, Rei da Inglaterra, ao saudar o Núncio Apostólico após a reconquista de Buda, que será narrada a seguir.

••••• IVAN RAFAEL DE OLIVEIRA

ns após os outros, castelos, fortalezas e cidades iam sendo retomados pelos austríacos das mãos dos muçulmanos. Após tantas derrotas, Américo Thõkõly, que liderara a traição dos húngaros, foi preso por seus aliados muçulmanos e seria executado, se Solimão, "o trapaceiro", não tivesse derrubado e substituído o grão-vizir, o Negro Ibrahim. O novo comandante deu liberdade a Thõkõly e env iou-o com novos destacamentos à Hungria. Em artigo anterior, publicado na edição de maio de 2016, foram descritas as batalhas travadas pelo Império Austríaco, Polônia e Veneza, membros da Santa Liga, de 1683 a 1685, visando reconquistar os territórios católicos dominados pelos turcos. Neste artigo, enfocaremos a gloriosa batalha que libertou Buda, antiga capital da Hungria.

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loneses alcançaram pouco sucesso em sua luta contra os turcos. Para favorecer as batalhas travadas em 1686, o Sumo Pontífice enviou 200 mil florins ao rei da Polôniç1., 100 mil oferecidos por Cardeais e 100 mil por damas romanas. O rei da Polônia, João Sobieski , havia planejado grandes lances por parte da Santa Liga. Então, não só os turcos como também os tártaros deveriam ser rechaçados da Europa. Essa iniciativa ficaria a cargo da Rússia, caso esta aceitasse ingressar na Santa Liga. Visando à reconquista de Constantinopla, a Áustria deveria avançar a pa rtir da Hu ngria, enquanto os venezianos viriam pelo sul da Grécia e os poloneses pelo rio Danúbio. Era desejo de toda a Cristandade obter a destruição do império sob Maomé IV, formado por Maomé II. Em 26 de abri l de 1686, a princesa Sofia Romanov, regente do Império russo, confirmou a aliança contra os turcos. Os russos deveriam atacar os turcos e os tártaros, desde o Cáucaso até o rio Dniester. Ficaria assim seriamente ameaçada a existência do Império Otomano.

A Rússia entra para a Santa Liga

O Papa Inocêncio XI desejava ardentemente a libertação de tantas nações cristãs oprimidas pelos muçulmanos. No ano anterior, os po-

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Renasce o glorioso espírito de Cruzada

Sob o comando do duque Carlos de Lorena, na primavera de

puchinho, depois beatificado, teve por encargo ser mediador entre os chefes e entusiasmar os soldados.

. O cerco da cidade de Buda

1686 o exército imperial congregou-se na cidade de Komarno. Todas as regiões do império enviaram va li osos auxílios para a reconqu ista de Buda: apresentaram-se mais de seis mil suábios, oito mil de Brandenburgo, cinco mi l saxões, oito mil bávaros e três mil francônios. Incenti vados pela vitória obtida em Vi ena e pe la va lentia dos que estavam na luta, a listaram-se também ma is de sete mi l voluntários proveni entes de todos os países da E uropa. O espírito das Cruzadas parec ia ter retornado a empolgar a Cri standade. Personagens distintas e pessoas humil des chegavam decididas a morrer pela Cruz de Cristo. Os acontecimentos do cerco de Buda eram seguidos com grande expectativa em todo o continente europeu. E m julho, ainda chegaram ma is regimentos vindos da Suécia.

Vários espanhóis eminentes destacaram-se na luta em torno de Buda. Só em Barcelona, 60 artesãos fizeram votos de combater os turcos; todos eles, durante o cerco, entregaram suas almas a Deus. Grande incentivo para eles foi a figura do príncipe Eugênio de Saboia, que, após a campanha de 1685, foi a Madri, sendo aí tratado pelo monarca hispânico como Grande de primeira classe. Nessa ocasião, Eugênio se apressou para tornar parte nessa gra nde expedição. Na corte de Viena, depositavam-se nele as maiores esperanças. O marquês L uís de Baden-Baden o havia recomendado ao imperador austríaco: "Esse jovem saboiano igualar-se-á um dia a todos aqueles que o mundo considera hoje como grandes generais". Por desejo do Imperador, o Papa enviou frei Marco D ' Aviano ao exército cristão. O intrépido ca-

Os austríacos lançaram-se diretamente ao ataque contra Buda, deixando de lado - contrariamente à expectativa dos turcos - outras cidades impo11antes. Buda era a décima cidade mais importante do mundo muçulmano, considerada pelos turcos como a "casa da guerra sagrada", baluarte limítrofe do Islã na Europa e chave do Império Otomano. Por isso, tinham-na abastecido bem de mantimentos, armas e pólvora. Para a defesa, posicionaram-se mais de J 6 mil homens de tropas de elite, sob o comando de Abdulrahman Paxá. O cerco começou em J 8 de junho de 1686 e o primeiro assalto ocorreu no dia 24, dia de São João, visando o muro inferior. Os turcos instalaram muitas minas em ambas as partes dessa mu ralha. No dia 15 de julho, quando a explosão numa dessas partes abalou os muros da cidade, o general cristão deu o sinal de assalto. Infelizmente, a explosão de outra mina causou particu lar dano aos cristãos, e a investida foi rechaçada. Mais de 1.400 soldados imperiais morreram nessa batalha, além de muitos espanhóis, dentre os quais o Duque de Béjar, comandante de um regimento de Flandres. Durante os 15 dias seguintes, é desfechado um bombardeio contra a cidade. Destacou-se na ocasião

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mesquita, apareceu uma imponente dos. Luís de Baden-Baden e EugêImagem de Nossa Senhora em seu nio de Saboia detinham o recuo e nicho, que ali permanecera escon- levavam novas tropas para a linha dida e esquecida desde a invasão de frente. A bandeira imperial já tremulava na brecha, quando uma otomana, 150 anos antes. 2 Os próprios sitiantes cristãos mina explodiu no meio dos cristãos ficaram tão espantados pela explo- causando grandes estragos; alguns são, que no primeiro momento dei- que já haviam penetrado na cidade xaram de atacar. O duque de Lorena morreram nessa ocasião. Ajornada Uma explosão e a imagem imediatamente requisitou a rendi- deste dia custou a vida de cerca de de Nossa Senhora aparece ção, mas Abdulrahman respondeu quatro mil cristãos. Ao receber novas intimações, o Paxá respondeu Subitamente, uma bala incen- que todas as cabeças da guarnição que era impossível entregar a fordiada atinge um armazém de pólvo- estavam consagradas à morte, e que taleza, que o "Profeta " rechaçaria ra dos otomanos e o fez voar. A ter- o ruído de uma torre de pólvora que o próximo assalto como fizera com ra estremeceu até uma grande di s- voa não era capaz de os assustar. Em 27 de julho, ocorreu um os anteriores. Abdulrahman dispôstância ao redor, o rio Danúbio saiu se a entregar qualquer outra fottalede suas margens, e no muro abrin- segundo assalto. Foi uma luta de giza da Hungria, mas não Buda; emdo um grande rombo. E para espan- gantes, destacando-se especialmenbora, depois, até Buda, se com isso to dos turcos, atrás de uma parede te os bávaros, que lutaram como Lese pusesse termo à investida cristã; que desmoronou na antiga igreja do ões. Das muralhas, sacos de piche ao que Carlos de Lorena respondeu castelo de Buda, transformada em e enxofre chamejantes eram lança-

um frade franciscano, Pe. Gabriel, denominado pelos húngaros "Gabriel, o entusiasmado", que se revelou mestre em arti lharia; e junto a ele, um espanhol de nome González, inventou uma forma aprimorada de morteiros.

Retomada de Buda em 1686 - Anônimo. Deutsches Historisches Museum, Berlim.

Retomada de Buda em 1686 - Benczúr Gyula (1896). Galeria Nacional Húngara, Budapeste.

que então só uma ráp ida rendição poderia salvá-lo. A situação dos cri stãos também ficara grave, pois o Grão-v izir chegou co m um exército de 80 mil homens em socorro do Paxá. Os cristão teriam agora de se defe nder e entrincheirar. O grão-v izir a seguir iniciou pequenos combates para tentar ca nsar os cristãos e in troduziu reforços na cidade de Buda. Os cri stãos também não quiseram empreender uma batalha decisiva, poi s esperavam igualmente reforços. Não obstante, em 10 e 14 de agosto se travaram sérios combates em l lamzsabég, nos quais mais de oito mil turcos pereceram. Trezentos janízaros consegui ram chega r à cidade, mas fracassaram outros intentos de faze r penetrar reforços em Buda. Buda novamente nas mãos católicas!

Tendo Abdul rabman recusado uma última intimação de rendição, o duque de Lorena decidiu conquistar a forta leza sob as vistas do próprio grão-vizir Solimão. Em 2

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de setembro de 1686, às 6 horas da manhã, começou o assa lto no qual pela primeira vez se empregou a baioneta em gra nde escala. Ambas as partes lutara m com suma bravura. O paxá morreu lutando ferozmente, enquanto outros quatro mil turcos caíram ao fio da espada. À noite, em ação de graças pela vitória, ca ntou-se o Te Deum na igreja principal da cidade libertada. . O mais notável entre os prisioneiros foi o Agá dos janízaros, Maomé Csonkabeg. Convertendose, ele se fez batizar com o nome de Leopoldo, em homenagem ao imperador austríaco. Posteriormente fo i elevado à nobreza, recebeu um regimento húngaro e lutou com muito valor pelo imperador junto ao rio Reno. No di a seguinte, após celebrar a Missa, o Beato D ' Aviano promoveu uma procissão com a Imagem de Nossa Senhora que fora encontrada -nas paredes da mesquita. Considerada como autora da explosão, foi- lhe concedido o título de "Nossa Senhora da Pólvora". Nenhum príncipe se alegrou tanto com a conqui sta dessa importante

cidade como aquele que ocupava então a Cátedra de Pedro, o grande Papa Beato Inocêncio XI. Os otomanos haviam dominado Buda dw·ante 145 anos e sua perda abalou-os profundamente. As cidades de Simontornya e Siklos se renderam ao Marquês de Baden-Baden. Kaposvár e Torda foram incendiadas, Pécs foi dominada e Szeged conquistada após um cerco de quatro semanas. O grão-v izir foi obrigado a retirar-se para Belgrado. No próximo artigo, serão narradas as próximas batalhas e o desempenho de outros membros da Santa Liga. ❖ Notas:

Principa l fonte consu ltnda: Histori a Universal, Juan Baptiste Weiss, Ed itora Tipografia La Educación, Tradução da 5 º ed ição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XI, p. 917 a 923. 1. Nessa época, Budapeste, atual capital húngara, era dividida em duas cidades, Buda e Peste. A reconquista de Peste foi exposta no artigo anterior. 2. Sobre a Imagem Milagrosa: http:// www.adorans.hu/node/2414 http:/ /www.sacred-destinatio ns.com/ h u nga ry/ buda pest-matth ias-eh u rch http://www.templom.hu/phpwcms/index.php?id=14,164,0,0,1,0

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1 Santa Teresinha do Menino Jesus, Virgem, Doutora da Igreja

+ Lisieux (França), 1897. A grande sa nta de nossos tempos entrou no Carmelo aos 15 anos, levando uma vida de imolação e sacrifícios em favor das missões e da Igreja. Desejando possuir todas as vocações para nelas glorificar o Criador, encontrou no amor a Deus, conforme ela dizia, a solução para o seu problema . Por isso foi nomeada padroeira das missões sem nunca ter deixado a clausura . Sua doutrina espiritual da "pequena via " abriu as portas da perfeição a numerosas almas. Primeiro Sábado do mês.

Santos Anjos da Guarda São Tomás de Ereford, Bispo e Confessor

+ Inglaterra, 1282. Descendente de uma das mais ilustres famílias da Inglaterra, após ser ordenado sacerdote foi chanceler da Universidade de Oxford, e depois arcebispo de Ereford.

São Francisco de Borja, Confessor

+ Roma, 1572. Vice-Rei da Catalunha e duque de Gandia , renunciou às atrações do mundo ao ver o cadáver da outrora belíssima rainha Isabel. Enviuvando aos 40 anos, ingressou na Companhia de Jesus, da qual foi depois Superior Geral.

uma semelhança física em relação a Ele. Com São Domingos, foi uma das colu nas da Igreja em seu tempo, contribuindo para renovar com seus heróicos exemplos os costumes decaídos daquela época. Pregou o cristianismo diante de um sultão muçulmano no Egito e por pouco não foi martirizado. É uma das maiores glórias da Santa Madre Igreja em todos os tempos.

Santa Flor ou Flora, Virgem

ela queimou seus vestidos e joias para tornar-se religiosa num mosteiro no deserto.

9 São Luís Beltrán, Confessor

+ Val ência, 1581. Sacerdote dominicano, aos 23 anos era mestre de noviços. Seu extraordinário zelo levou-o a desejar combater os protestantes. Mas a Providência encam inhou-o para a Colômbia, onde durante sete anos evangelizou os índios.

+ Beaulieu (França), 1347. Filha de pais nobres, ingressou muito cedo como religiosa na hospedaria dos Cavaleiros de São João de Jerusalém para cu idar dos doentes e peregrinos.

Santa Maria Francisca das Cinco Chagas, Virgem

+ Nápoles, 1791. Entrou aos 16 anos na Ordem Terceira de São Francisco, entregando-se à oração, ao jejum e à penitência, sendo visitada por seu anjo da guarda, que a animava. Foi retirada do convento pelo pai, que a encarregou dos cuidados da família.

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Festa instituída por São Pio V em ação de graças pela vitóri a obtida por D. João d'Áustria na batalha de Lepanto contra os maometanos, em 1571, durante a qua l Nossa Senhora apareceu. Vitória atribuída à recitação do Rosário.

São Paulino de York, Confessor

+ Inglaterra, 644. Enviado por São Gregório Magno para evangelizar a Inglaterra, realizou frutuoso apostolado nas regiões de Kent e da Nortúmbria, converteu o rei Edwin e fundou o bispado de York.

São Sármatas, Mártir

+ Tebaida (Egito), 357. Discípulo de Santo Antão, foi morto pelos sarracenos por ód io à fé. Dizia: "Prefiro um homem que, tendo pecado, reconhece esse pecado e faz penitência, a um que não tenha pecado e se considere justo ".

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA, RAINHA E PADROEIRA DO BRASIL

Santos Fausto, Januário e Marcial, Mártires Santa Taís, Penitente

+ Assis (Itál ia), 1226. O Poverello de Assis amou tão apa ixonadamente o Sa lvador, que adquiriu seus estigmas e até

+ Egito, Séc. IV. Inspirado por Deus, São Pafúncio deixou seu retiro no deserto para conduzi -la ao bom cam inho. Cortesã,

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+ Glasgow, 1615. Calvinista inglês convertido pelo célebre exegeta jesuíta Cornélia a Lápide. Ingressou na Companhia de Jesus e voltou a seu país para socorrer os católicos perseguidos. Depois de converter muitos hereges, foi traído e entregue ao arcebispo protestante, sendo condenado à morte.

1 Santa Teresa de Ávila, Virgem, Doutora da Igreja

+ Alba (Espanha), 1582. Alm a

Primeira Sexta-feira do mês.

São Francisco de Assis, Confessor

14 São João Ogilvie, Mártir

+ Córdoba, 307. Esses três irmãos increparam Eugênio, novo governador romano da Espanha, por sua crueldade para com os cristãos, sendo então martirizados.

ardente e enérgica, empreendeu a reforma do Carmelo, tendo sido auxiliada por São João da Cruz no tocante ao ramo masculino. Padeceu muitos trabalhos e doenças por amor de Deus. Unia a mais sublime contemplação a uma extraordinária capacidade de ação. Foi uma das colunas da Contra-Reforma .

16 Santa Margarida Maria Alacoque, Virgem

e dos Atos dos Apóstolos. É célebre um quadro de Nossa Senhora que ele teria pintado. Embora não se tenham dados concretos a respeito de sua morte, tradição autorizada afirma que sofreu o martírio.

Santos João de Brébeuf, Isaac Jogues e companheiros, Mártires

+ América do Norte, séc. XVII. Jesuítas franceses que evangelizavam o então Canadá (atual norte dos Estados Unidos) e regara m essas terras com seu sangue ao serem martirizados pelos ferozes índios iroqueses.

São Pedro de Alcântara, Confessor

dor Miguel, tornou-se monge aos 14 anos e depois abade, fundando três mosteiros. Patriarca de Antioquia.

Santo Antonio Maria Claret, Bispo e Confessor + Fontfroide 1França), 1870.

Incansável missionário, queria sa lvar o mundo todo com suas pregações. Arcebispo de Cuba, profetizou os castigos que hoje afligem essa Ilha. Fundou a Congregação Missionária dos Filhos do Coração Imaculado de Maria. Confessor e conselheiro da rainha Isabel li, da Espanha , influenciou a eleição de bispos dignos que foram depois "a gua rda pessoal do Papa" no Concílio Vaticano 1, no qual desempenhou um papel preponderante.

+ Arenas (Espan ha), 1562. Padroeiro principa l do Brasil, foi admirável por suas mortificações e penitências. Reformador dos franciscanos da Espanha, auxi liou e incentivou Santa Teresa na refo rma do Carmelo.

(Vide p. 38)

Santo Antonio de Sant'Ana Galvão, Confessor

+ São Paulo, 1822. Natural de Guaratinguetá (SP), franciscano, foi fundador do Recolhimento Mosteiro da Luz, que dirigiu até sua morte.

+ Séc. li. Discípulo dos Apóstolos e sucessor de São Pedro na Sé de Antioquia, com São Policarpo foi o mais ilustre dos Padres Apostólicos. Suas cartas às igrejas da Ásia e de Rom a são os documentos mais preciosos da época. Conduzido a Roma, foi devorado pelas feras no Coliseu.

18 São Lucas Evangelista, Mártir

+ Séc. 1. Médico de Antioquia convertido por São Paulo, a quem acompanhou em várias viagens. Autor do Ili Evangelho

+ Palestina, séc. IV. Filho de pagãos, que o enviaram para estudar em Alexandria, converteu-se e pa rtiu para o deserto, onde foi dirigido por Santo Antão.

Santa Maria Salomé, Viúva

+ Palestina, séc. 1. Segundo a tradição, era prima da Santíssima Virgem e mãe de São Tiago Maior e São João Evangelista. Foi uma das Santas Mulheres que estiveram ao pé da Cruz.

Santo Inácio, Bispo, Confessor

+ Síria, 877. Filho do impera-

teiramente a Deus, retirandose para a solidão.

o Santos Simão e Judas Tadeu, Apóstolos, Mártires

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

+ Séc. 1. São Judas Tadeu era irmão de São Tiago . Menor, filhos de Cleofas e Maria, primos de Nosso Senhor. Pregou o Evangelho na Judeia, Samaria , Síria e Mesopotâm ia. Escreveu uma epístola exortando os fiéis a perseverarem na fé, atacando vigorosamente os soberbos, os luxuriosos e os falsos doutores. São Simão, cognominado Cananeu ou Zelador, era originário da Galileia. Segundo a tradição, ambos morreram mártires.

(No calendário tradicional) Festa instituída por Pio XI em 1925 para proclamar a realeza socia l de Nosso Senhor Jesus Cristo.

?

Santa Ermelinda, Virgem

+ Meldert (Bélgica), séc. VI. Filha de pais nobres e ricos que desejavam casá-la, ela cortou os cabelos para dedicar-se in-

Santa Joana Delanoue, Virgem

+ França, 1736. Herdou do pai um modesto bazar, que com habilidade fez prosperar. Começou a dedicar-se também a obras de caridade, a ponto de ser chamada mãe dos pobres. Fundou um asilo ao qual denominou "A Providência ". Nota: Os Santos já referidos em Calendários anteriores têm aqui apenas seus nomes enunciados, sern nota biográfica.

Jn tcn ções para a San ta Missa cm

011 Lubro

Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções:

Santo Hllarlão, Abade Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir

la. Foram depois aprisionados e sofreram o martírio.

Santos Rogaciano e Felicíssimo, Mártires

+ África, séc. Ili. "São Cipriano deu testemunho deles numa carta dirigida aos cristãos perseguidos: 'Sigam em tudo o sacerdote Rogaciano, que para a glória do nosso tempo vos aponta o caminho pela valentia de sua fé "' (Martirológio Romano Monástico).

I Santos Vicente, Sabina e Criseta, Mártires

+ Ávila, séc. IV. Vicente, depois de defender corajosamente a fé diante do governador romano Daciano em Talavera, fugiu com suas duas irmãs para Ávi-

• Para que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil - cujo Ili Centenári o comemoramos no próxim o ano - livre nossa Pátria de todo t ipo de corrupção, sobretud o da corrupçã o mora l, que vem arru inando as fam íli as brasileiras. Pedindo a Ela q_ue neutra lize a ação de certos movim entos ditos "sociais", que visam imped ir que o País sa ia da atual crise. E ta mbém que favoreça o crescimento da devoção ao Sa nto Rosá rio no seio de todas as famílias católicas. .ÍI 1Lcnções para a Sa11 ta .Missa em 11ovcmbro • Missa de Finados pelas almas do Purgatório, roga ndo a intercessão de Nossa Senhora da Medalha Mi lagrosa - devoçã o celebrada no dia 27 de novembro - pelo sufrágio das almas de pa rentes e conhecidos dos leitores de Catolicismo. • Em razão do t rágico terremoto que castigou o cent ro da Itália na Missa haverá um memento roga ndo à Provid ência Divina e~pecial proteção para as famílias mais penaliza das.

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇAO ,.._

Um salva-vidas de chumbo para os pobres RODRIGO DA COSTA DIAS

o dia 18 de agosto último, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promoveu no Club Homs, situado na Avenida Paulista, conferência sobre o tema: "A teologia da libertação morreu?". O orador foi o Prof. Julio Loredo de Ízcue, presidente da TFP italiana e autor do livro Teologia da Libertação - Um Salva-vidas de chumbo para os pobres, cujo lançamento no Brasil ocorreu por ocas ião dessa conferência. Com o aud itório superlotado, o presidente do Instituto, Dr. Adolpho Lindenberg, abriu a sessão manifestando seu contentamento por assistir ao lançamento dessa obra, que foi uma das últimas iniciativas do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, pois ele havia sugerido ao autor a redação do livro. Tratava-se de mostrar a "Teologia da Libertação" enquanto importante plano da revolução em ambientes eclesiásticos. Após lembrar o relevante papel do Prof. Plínio - não apenas em sugerir a elaboração do trabalho, mas também em explicitar os primeiros lineamentos do mesmo - , Loredo analisou a gênese da "Teologia da Libertação". Lembrou que a Igreja Católica foi tradicionalmente o grande baluarte na luta contra o comunismo. Mas este acabou se infiltrando em amb ientes católicos, transformando-os em adeptos de um socialismo dito "cristão".

N

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Fruto de ideias dissemin adas em ambientes da Igreja Católica, infiltrados a partir dos anos 30, a "Teologia da Libertação" foi fundada pelo sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez após o Concílio Vaticano 1[ e a Conferência de Medellín (1968), contando posteriormente no Brasil com a adesão do ex-frade Leonardo Boff e de Frei Betto, além de outros adeptos do progressismo católico e das "Comunidades Eclesiais de Base". Atuais próceres da esquerda no Brasil e na América Latina sofreram decisiva influência desses movimentos. O conferencista denunciou que a "Teologia da Libertação" não é defensora dos pobres, mas se utiliza deles para promover a revolução marxista, como, por exemp lo, a Reforma Agrária socialista e confiscatória. Com isso os pobres acabam sendo o mais prejudicados. Donde o título do livro apontando a "Teologia da Libertação" como "salva-vidas de chumbo" para os mais necessitados. As palavras finais foram pronunciadas pelo Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança, mostrando que, apesar da grave s ituação atual, despontam sinais da proteção de Nossa Senhora no Brasil e no mundo. Os leitores que desejarem assistir à íntegra dessa importante conferência poderão fazê-lo acessando o vídeo no seguinte endereço na internet: http: //ipco.org.br/ ipco/ video-da-conferenci a-a-teolog ia-da-1 ibertacao-morreu/ ❖ catolicismo@terra.com .br / OUTUBRO 2016 •

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RETORNANDO ' A ORDEM SANTIAGO LAIA

RETORNO À ORDEM: De uma economia frenética a uma sociedade orgânica cristã, obra escrita pelo vice-presidente da TFP Americana, John Horvat II, que recentemente obteve ~ seu décimo prêmio. Esse livro apre- § ui senta a seus leitores uma proposta vi- 1o sando um retorno à ordem perdida. i ui Retorno que não é uma volta nos- ~ tálgica ou romântica ao passado, mas aos princípios eternos da civilização cristã e às nossas raízes consagradas pelo tempo, que podem ser hoje aplicados, adaptando-os às circunstâncias presentes ou a outras inteiramente novas. Com vistas a esse "retorno", a TFP americana procura articular em todo o país uma vasta rede de simpatizantes, amigos e correspondentes por meio de campanhas públicas. Exemplo dessa articulação é a campanha América Necessita de Fátima, que promoveu no dia 25 de junho a recitação de 2.20 l terços em locais públicos, um ano após a aberrante legalização do "casamento" homossexual pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Robert Ritchie, diretor de tal campanha, afirma que "a mensagem básica destas manifestações foi simples e p ositiva: 'Que Deus salve o casamento natural ', sem o qual a vida humana torna-se impossível." Ele está agora preparando o "Rosário Anual em Praça Pública", previsto para o dia 15 de outubro, em 15.000 locais de alta visibilidade em todo o país. CATOLICI SMO / www.catolicismo.com.br

Apelo à Cavalaria - 2016 Jovens da TFP ameri cana pro movem anualmente os j á conhec idos aca mpamentos de formação contra- revo lucionári a. O mais rece nte deles oco rreu de 9 a 18 de junho nas co linas da Pensil vâni a rura l e contou exposições sobre sa ntos e heró is católi cos que defendera m com honra, pureza e piedade viril a Igrej a Cató lica. O evento encerrou-se com um "banquete medi eval". Depois do prato principal, a fa mosa pael!a es panho la (fo to acima) , ao toque de trompete entrou uma réplica do Castelo es panhol de Manzanares e/ Real: era o bo lo, servido como so bremesa. Em seguida, di stribuiu-se a cada parti cipante uma placa em relevo co m a image m do herói católico E! Cid Campeador. ❖ catolicismo@terra.com.br / OUT UBHO 2016

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AMBTENTES • COSTUMES • CJVJLIZACOES

Santa Teresinha ·do Menino Jesus PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

S

e não toda, pelo menos certa iconografia, sem alterar os traços de Santa Teresinha do Menino Jesus, lhe alterou contudo a fisionomia. O mesmo se dá com sua biografia. Certa literatura sentimental-religiosa, sem adulterar propriamente seus dados biográficos, encontrou meios de interpretar tão unilateral e superficialmente ceiios episódios de sua vida, que chegou a desfigurar de algum modo seu significado. As deformações iconográficas e biográficas se fizeram todas em uma mesma direção: ocultar o sentido profundo, admirável, heróico e imortal da vida da imortal Santinha. [.. .] Praticando a conformidade plena com a vontade de Deus, ela não pediu sofrimentos, nem os recusou; Deus fizesse dela o que entendesse. Jamais pediu a Deus ou a suas superioras que dela afastassem qualquer dor ou mortificação. Submissão plena era o seu caminho. E, em matéria de vida espiritual, plena submissão equivale a plena santificação . Seu método se caracteriza ainda por outra nota importante. Santa Teresinha não praticou grandes mortificações físicas. Ela se limitou simplesmente às prescrições de sua Regra. Mas esmerou-se em outro tipo de mortificação: fazer a toda hora, a todo instante, mil pequenos sacrifícios. Jamais a vontade própria, jamais o cômodo, o deleitável. Sempre o contrário do que os sentidos pediam. E cada um destes pequenos sacrifícios era uma pequena moeda no tesouro da Igreja. Moeda pequena, sim, mas de ouro de lei: cada pequeno ato consistia no amor de Deus com que era feito. E que amor meritório! Santa Teresinha não tinha visões, nem mesmo os movimentos sensíveis e naturais que tornam por vezes tão <1mena a piedade. Aridez interior absoluta, amor árido, mas admiravelmente ardente, da vontade dirigida pela fé, aderindo firme e heroicamente a Deus, na atonia involuntária e irremediável da sensibilidade. Amor árido e eficaz, sinônimo de vida de piedade, de amor perfeito ... Grande caminho, caminho simples. Não é sim-

ples fazer pequenos sacrificios? Não é mais simplc não ter visões do que as ter? Não é mais simples acei tar os sacrifícios em lugar de os pedir? Caminho simples, caminho para todos. A mi são de Santa Teresinha foi de nos mostrar uma vida que todos pudéssemos trilhar. Oxalá ela nos auxilie a percorrer esta estrada real, que levará aos altare não apenas uma ou outra alma, mas legiões inteiras. ❖

Trechos do artigo publicado no jornal "O Legionário " em 29-9-1947.


Nº 791 - Novembro 2016 - Ano LXVI

oVOTO

EUDO ''ACORDO DE PA '' Colom , a. ~ a exigências d . nar

laram diante , oristas das F


SUMÁIUO

EXCEllTOS

PROTESTANTISMO - negação do caráter monárquico da Igreja, revolta contra o Papado Plínio Corrêa de Oliveira

O heresiarca Lutero com a Bula papal de sua excomunhão

[O neopaganismo] investiu às escâncaras contrn a Igreja. O orgulho e a sensualidade, em cuj a satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protestantismo. O orgulho deu origem ao espíri to de dúv ida, ao livre exame, à interpretação natu ralista da Escritura. Produziu ele a in urreição contra a autoridade eclesiásti ca, expressa em todas a eitas pela negação do ca ráter monárquico da Igreja, isto é, pela revolta contra o Papado. A lgumas, mais rad icais, negaram também o que se poderi a chamar a alta aristocracia da l grej a, ou sej a, os Bispos, seus Príncipes. Outras ainda negaram o próprio sacerdócio hierárquico, reduzindo-o a mera delegação do povo, único detentor verdadeiro do poder sacerdotal. N o plano moral, o triunfo da sensualidade no protestantismo se afi rmou pela supressão do ce libato eclesiástico e pela introdução do divórcio. 1 [ •• • ] Como os cataclismos, as más paixões têm uma força imensa, mas para de truir. Essa força j á tem potencialmente, no primeiro instante de suas grandes explosões, toda a virulência que se patenteará mais tarde nos seus piores excessos. Nas primeiras negações do protestantismo, por exemplo, já estavam implícitos os anelos anarqui stas do comunismo. Se, do ponto de vista da formulação explícita, Lutero não era senão Lutero, todas as tendências, todo o estado de alma, todos os imponderáveis da explosão luterana já traziam co nsigo, de modo autêntico e pleno, embora implícito, o espírito de Voltaire e de Robespierre, de M arx e de Len ine. 2 ❖

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

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INMEMORIAM

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CORRESPONDÊNCIA

8

A PALAVRA DO SACERDOTE Nossa Senhora morreu e foi levada ao Céu?

12

A REALIDADE CONCISAMENTE

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NACIONAL

ltirc tm·:

Paul o Couêa el e IJrito F ilh o

Eleições municipais: fragorosa derrota das esq uerdas

Jorualislu Ucsponsávcl:

16

Nc lso11 Ram os .Banc l.lo .Hcg isLraclo na DRT/D.F so b o .11" 3116

DESTAQUE Lutero? Não há o que co memorar

21

Ad1ni11is tn1ção:

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA?

Rna Jnva és, 68] l" a n.da r - Bom Hc1·iro CEP OU 30-0 LO Sã o Pa ul o - S P

Carnaval e ultraje a Nossa Senhora Aparecida

22

Serviço de Alc111limc nlo ao Ass inante: (J 1) 333 .1-4522

EXORCISMO Como se livrar das influências do Maligno?

26

(] 1.) :3361.-6977 ( 11.) 333 1-4790 ('I 1) 284,:3-9487 (11.) 3333-67 1.6

CAPA Colombianos rejeitam "Aco rdo de Paz" com as FARC

37

C:orrcspomlênciu: Ca ixa P os tal 707 CEP OI 031-970 São .Pa ulo - SP

VIDAS DE SANTOS

l'nl prcssão: Pro l Ed itora C n\fica Ltd a .

Santo And ré, o Apóstolo da Cruz

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LEITURA ESPIRITUAL

E-mail: ca toJicis.ono@t cr.ra .corn. b r

Por que Deus permite os sofrimentos?

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llornc Pagc: w,vw.ca Lol icis n10. con1 .b r

SANTOS E FESTAS DO MÊS

l SS

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AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

Preços da ass in.atnra anua l

para o mês de Novembro de 2016:

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Co rnunt:

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Cooperad or: B enfeitor: Grand e Bcufci Lo,r: E xemplar av ul so:

Escorial: convite à concentração e a pensamentos das grand ezas do Céu

1.

Pl ínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte 1, Cap.

Ili, 5 B 2. Op. cit. Parte 1, Cap. VI , 1 B.

0102-8502

R$ l.80,00 R$ 270,00 R$ 460,00 R$ 760,00 R$ J8,00

CATOLICISMO

NOSSA CAPA:

Puhli c.ru,: ão 111c11sal du EdiL0 1·a

O presidente da Colômbia, Juan Man uel Santos,

Pad re Bclc: hior de Po u1 c · Lula.

cumprimenta efusivamente o chefe guerrilheiro das FARC, Timochenko

2

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CARTA DO DlllETOR

IN MEMORIAM Ca ro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

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No dia 2 de outubro último realizou-se na Colômbia um plebiscito para a aprovação ou rejeição dos "Acordos de Paz" entre o governo e os narcoterroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). O presidente Juan Manuel Santos e as FARC, após anos de conversações em Havana, elaboraram um volumoso documento de 297 páginas visando a estabelecer um acordo de paz, o qual eq uivalia na rea lidade a uma verdadeira rendi ção do Estado colombiano às ex igências dos guerrilheiros marx istas. A aplicação do documento acarretaria uma " reforma rural" socialista e confiscatória da propriedade privada, uma debilitação da fa mília e do ordenamento jurídico, que seri a substituído por uma multiplicidade de "comissões" compostas à maneira de sovietes por representa ntes das FARC e do governo. Ta is "com issões" control ariam a Colômbi a, prescindindo do Estado de Direito. Ademais, os crudelíssimos crimes cometidos pelas FARC não seriam punidos; o narcotráfico não seria considerado assunto penal, mas político; os guerrilheiros seriam favo recidos por recompensas econômicas ao abandonarem as armas; e ainda vários deles ocupariam cadeiras no Senado e na Câmara de Deputados sem necessidade de voto popular. No plano moral, merece destaque a defesa enfática da absurda e antinatural Ideologia de Gênero, a qual é citada 144 vezes no fastigioso documento. Figuras de realce no plano internacional se conjugaram para oferecer inexplicável apoio a essa demolidora iniciativa. E, apesar de todo esse gigantesco esforço propagandístico, quando a vitória do SIM parecia certa, eis que os eleitores optam pelo NÃO! Embora por pequena margem, a Co lômbia profunda não se deixou embair pelo plano arrasador de sua autêntica identidade: umas das nações mais católicas na cristandade latino-americana! Para tal, certamente contribuíram as cam panhas denunciadoras desse plano destruidor realizadas pelas entidades coirmãs do Instituto Plinio Corrêa d Oliveira: a Sociedad Colombiana Tradición y Acción e o Centro Cultural Cruzada. Essa al11ação culminou, dias antes do plebiscito, com a publicação de um manifesto nos três maiores jornais do país, intitulado Não à entrega do país às fi'A RC - O Estado de Direito será substituído por sovietes, para fazer da Colômbia uma nação socialista. E também de uma carta a todos os bispos da Colômbia - à qual aderiram milhares de colombianos - sob o título Católicos colombianos pedem aos bispos: Recusem os acordos de Havana!. Neste mesmo esforço de esclarecer a op inião pública, grupos de jovens de Tradición y Acción difundiram dezenas de milhares de exempl ares do fol heto A Colômbia pede Não. Após a derrota no plebiscito, a concessão do Prêmio Nobel da Paz ao presidente Santos assume, para o público dotado de um mínimo de discerni mento, o caráter de um desajeitado "prêmi o de consolação" ... Desejo a todos uma boa leit ura. Em Jesus e Maria,

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Aos 87 anos, confortado pelos Sacramentos da Igreja, faleceu no dia 23 de setembro em Porto A legre Dr. Ildefonso Homero Gonçalves Barradas. A1J.tigo professor de Direito, tabelião na capital gaúcha e jornalista, fo i colaborador de Catolicismo desde seus primeiros anos, redigindo artigos, sobretudo a respeito de aspectos pouco divulgados da História do Brasil. É autor do livro O Brasil nos tempos de El-Rei, uma coletânea de artigos publicados em nossa revista. Estudioso incansável desse tema, ampliou sobre e le suas pesquisas em prolongadas estadias em Portugal e proferiu brilhantes conferências em vários estados brasileiros. No ano de 1953, apesar de não ter podido comparecer, inscreveu-se para a l". Semana de Estudos de Catolicismo, tendo participc1-do de todas as demais. Propagandista entusiasta de nossa revista no Rio Grande do Sul, Dr. Barradas foi diretor da secção gaúcha da TFP e seu principal sustentáculo durante décadas. Seu generoso apoio se estendeu a outras secções da entidade. Encabeçava todos os anos uma importante delegação de rio-grandenses aos Encontros de Correspondentes da TFP, e posteriormente a análogas reuniões do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Em outubro de 2015, não obstante estar já com a saúde debilitada, fez questão de viajar a São Paulo para participar dos solenes atos em memória do vigés imo ano de falecimento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Era viúvo da Sra. Catbarina Pereira Barradas, que lhe deu os filhos Ildefonso, Ondina, Maria Felícia e José Ricardo; deixou oito netos.

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Sócio dedicado da Sociedade Brasileira de D ~f'esa da Tradição, Familia e Propriedade (TFP) durante várias décadas, nas quais labutou também como escritor, arti culista e revisor de Catolicismo e da Agência Boa Imprensa (ABIM), e ainda como membro exemplar do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e colaborador assíduo de seu site, Dr. Gregório Vivanco Lopes faleceu no dia 28 de setembro. E le completava 76 anos e entregou sua alma a Deus poucos minutos após chegar à sede do Instituto e sentar-se na Sala da Santa Cruz, junto a um belo Crucifixo. A li "adormeceu no Senhor", enquanto aguardava o início de uma reunião. Portava consigo o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, o Santo Rosário e a Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças. E m 1956, ainda ado lescente, quando estudava no Colégio Estadual Antonio F irmi no de Proença, na Mooca, Gregório conheceu o grupo formado por Plinio Corrêa de Oliveira. Em janeiro de 1957 participou da " V Semana de Estudo de Catolicismo". Na primeira metade dos anos 1960 fez parte do grupo de alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, que em pleno regime janguista enfrentava sob a orientação do Prof. Plinio o esquerdi smo imperante naquela instituição tmiversitária, na qual se formou. Com a fundação da TFP em 1960, foi nela incumbido de importantes responsabilidades, entre as quais a formação de jovens membros da entidade e a direção de campanhas e caravanas promovidas pela TFP. É autor dos livros Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil e, em colaboração, Apretexto do combate à globalização, renasce a luta de classes. Lúcido palestrante, com :frequência pronunciava exposições para seus irmãos de ideal. Também prestou excelentes serviços gratui tos de advocacia pará muitos que o procuravam. Foram quase 60 anos de dedicação exclusiva à causa contra-revolucionária, que a Providência Divina recompensará com o prêmio demasiadamente grande que tem reservado para os seus diletos filhos.

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CARTAS DOS LEITORES .............................................................. Brasil / França Na minha opinião, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira parece ter aliado o melhor da cultura luso-brasileira com a cultura francófila. E o fato de ele ter nascido na cidade de São Paulo do início do século passado certamente foi um fator que corroborou nesse vínculo das duas culturas, assim como o vínculo das duas ilustres famílias das quais ele descende. Como muito bem disse Clemenceau sobre o típico fazendeiro paulista : "um senhor feudal imbuído de pensamento europeu". Acredito que essa afirmação combina perfeitamente com o que foi esse grande brasileiro, fundador da TFP.

(N .P.S.F. - SP) Cultura francesa Gostei muito do artigo de Gabriel Wilson. Meus parabéns! Ele discorreu dentro de um aspecto (a cultura francesa) da vida do saudoso Plínio Corrêa de Oliveira que não tinha notado especialmente, mas agora ficou evidente para mim.

(L.N.E.-SP)

Brilho de Paris Lendo e vendo fotografias da capital paulista no final do século XIX e início do século XX, assim como do Rio de Janeiro, que foi a capital do Império, noto que foram cidades como que iluminadas pelo brilho de Paris. As sociedades foram bem impregnadas pelas novidades que da França chegavam ao Brasil, por exemplo, modelos de trajes e de arquitetura. Algo desse brilho ainda sobrevive aqui e acolá, mas é preciso procurar muito, pois, com o passar das décadas, os brasileiros foram se afastando da influência europeia e se aproximando das coisas novas que nos chegam dos Estados Unidos. Seria interessante se Dr. Plínio ainda estivesse entre nós, para juntos fazermos algo para dar uma reviravolta nesse processo de americanização dos ambientes brasileiros de nossa época.

(A.G.J. - SP) Centenário de Fátima Para meus estudos sobre a mensagem de Nossa Senhora de Fátima, aos pequenos a quem Ela apareceu em 1917, a entrevista do Prof. Antonio Borelli Machado é

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preciosíssima. De coração envio-lhe os meus agradecimentos, pois suas respostas me ajudaram a esclarecer muitas coisas, particularmente a respeito da razão da demora na revelação da grande mensagem de Deus para nossos tempos. É uma grande interrogação que gira em minha cabeça. Agora cabe à Igreja não a aproximação com o mundo moderno, como com tristeza temos visto, mas o rompimento com os erros do mundo, justamente como meio de salvá-lo. Quando essa salvação acontecerá? No centenário das aparições?

"Justiça social", mero pretexto Os esquerdopatas são os maiores ilusionistas de si próprios, pretendendo iludir a humanidade com seus sofismas. Curioso como gente que defende o aborto, o fim da propriedade privada e da livre iniciativa emprega palavras mágicas como "justiça social" e "vida" em primeiro lugar. Só mesmo rindo desses palhaços sem graça.

(N.A.T.G.P. - PR) Incompreensível ... O que eu não consigo entender é como Lula, a Dilma e a PETEZADA toda apoia o governo chavista da Venezuela que mata de fome até os animais de seu zoo.

(D.H.R. - RJ)

(C.K.P. - SC) Devoção mariana Prenúncios de Fátima Encontrei entre objetos de piedade de minha avó um pequeno folheto sobre Nossa Senhora de Fátima e o "Sábado de Desagravo ao Imaculado Coração de Maria ". Esse folheto, de 1946, veio de São Leopoldo (RS). Nele vejo duas informações, certamente já conhecidas dos senhores, mas que transmito: 1) São Pio X tinha instituído, em 13 de junho de 1912, "a Comunh ão repa radora nos primeiros sábados, concedendo indulgência plenária sob as condições costumadas, fazendo-se desagravo à Mãe de Deus ". 2) A Companhia de Jesus fez sua consagração oficial ao Puríssimo Coração da Virgem Maria em 1887. O folheto sugere que essa consagração prenuncia a intenção de Nossa Senhora ao pedir em Fátima a consagração do mundo ao Imaculado Coraçã o de Maria .

(N.l•. -MS) "Grito dos Excluídos" Pena que o Bispo Kenan [Diocese de Barretos-SP] tenha se esquecido de que a maior miséria sempre foi produzida pelos sistemas socialistas, como ocorreu na União Soviética e, na atualidade, em Cuba, Venezuela, Coreia do Norte etc.

(C.M. -MG) Veja-se o resultado das eleições ...

Eu estive visitando a Santa Casa de Loreto na Itália e me emocionei muito, pois sou apaixonada pela Virgem Maria, "Aquela que disse o seu SIM a Deus". (E.L.Y. -ES)

"Palavras-talismã" Antes do atual Papa, todos sabemos que muitos católicos já viviam em discordância com a Doutrina da Igreja, ou por fraqueza, ou por convicção. Porém, nenhum deles podia defender essa discordância em público, sem sofrer as devidas consequências por não dispor do respaldo de nenhum Papa. Hoje, infelizmente, isso já é possível. Em sites católicos que frequento na internet, tem sido comum encontrar "católicos" defendendo abertamente pretensos direitos de homossexuais, divorciados e mesmo pessoas de comportamento revolucionário e anticristão, com o pretexto de pôr em prática o novo conceito de misericórdia, acolhida, pastoral, acompanhamento etc. A entrevista do Sr. Guido Vignelli foi mais um tiro certeiro desta revista, num assunto tão sério. Estou ansioso pela publicação em português do livro em que o Sr. Vignelli esmiúça esse assunto. Sugiro, caso isso não ocorra na obra do Sr. Vignelli, que esse "novo vocabulário " seja confrontado com o sentido ortodoxo de misericórdia, pastoral e todos os outros, deturpados por esta exortação apostólica Amoris laetitia.

(G.C.-BA)

A esquerda tupiniquim ainda não se convenceu de que perdeu o apoio do povo. Eles são fanáticos e irão continuar tentando transformar o Brasil num país socialista. Não vão conseguir!

(M.11. - RJ)

Considerações de um leitor Com relação à seção " Palavra do Sacerdote ", quanto à dúvida de um leitor que estava entendendo haver três Céus no Final dos Tempos, gostaria de expressar minha

opinião. Acredito que existem duas potências eternas: O Inferno e o Paraíso. O Purgatório deixará de existir no último dia, do Juízo Final. O novo Céu e a nova Terra se referem ao fim do segundo advento, após a segunda vinda de Jesus, quando a Terra será totalmente renova da, voltando a ser como foi com os nossos progenitores Adão e Eva, unida ao Paraíso, onde estará a Jerusalém Celeste. Portanto, o novo Céu se refere a este que vemos hoje, renovado, e como estará unido ao Paraíso, tratase na verdade de um único Céu . Penso que foi isso que Monsenhor José Luiz Villac nos demonstrou com sua minuciosa explicação. Com relação à entrevista de Guido Vignelli, falando sobre a pastoral revolucionária do Papa Francisco, fico contente em saber que não sou o único a ter percebido que algo de estranho está acontecendo no Vaticano. Creio firmemente que estamos de fato muito próximos da segunda vinda de Jesus, porque o cisma da Igreja Católica já começou e, a partir dele, todos os outros acontecimentos Apocalípticos virão, um atrás do outro. A Igreja Católica está ligada ao final dos tempos porque o sacrifício Perpétuo mencionado nas revelações é a Eucaristia e nós sabemos o que se fala a respeito de sua Abolição, para que a abominação se instale a fim de que a desolação tome conta dos fi éis. Também sabemos que no final venceremos, e esta certeza me acalma a alma, numa intensa paz interior.

(A.e.e. - PR)

F RASES S ELECIONADAS ••• • • •• • • • • • • • • • • • • "Melhpr nos é morrer em combate do que ver os . santas ". males de nosso povo e das coisas (Macabeus, Livro I, 3,59) " Que aprove-ita ao homem ganhar todo mundo, se vier a perder a sua alma?". (São Mateus, 16, 26)

''A juventude é um vento que passa; a beleza dissipa-se como a fuma ça; as paix ões envelhecem como roupa; a vida acaba como um suspiro; nada sobra,". (Santa Clara de Assis) "Cada instante da vida é um passo para a. morte". (Comcillc)

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PALAVRA DO SACEJlDOTE

Pergunta - Na homilia da Festa da Assunção, o padre afirmou que Nossa Senhora morreu e depois foi levada aos Céus de corpo e alma. Também afirmou que o Profeta Elias morreu e depois foi arrebatado em uma carruagem de fogo. Ele disse que o certo é Assunção de Maria, e não de Nossa Senhora, porque Maria só se tornou Nossa Senhora depois de assunta aos Céus. Saí bastante confuso da igreja. Poderia, por favor, me esclarecer este assunto? Muito obrigado! Resposta - Na interessante pergunta de nosso missivista há, na realidade, duas questões distintas. O primeiro tema levantado é se a Santíssima Virgem morreu, ou se foi levada diretamente ao Céu sem passar pela morte. O segundo é se Ela se tomou Nossa Senhora somente após a Assunção. Quanto ao primeiro tema, não A Dormição da Virgem, 1430. Victoria and Albert Museum, Londres.

zir de sua isenção do pecado original a sua isenção da morte, mas é preciso lembrar que o homem é naA Assunção da Virgem - Alonso López de Herrera, séc. XVII. Museu Nacional de Arte, Cidade do México.

Monsenhor José Luiz Villac ternos nenhum dado histórico nem pronunciamento definitivo do Magistério da [greja. Santo Epifanio (+403) fez pesquisas sobre as circunstâncias do fim da vida de Maria, mas não encontrou nenhum dado seguro e não quis decidir se Ela tinha morrido ou não (Haer. LXXVIII, l l). Porém, o ensinamento geral dos Padres da Igreja e de sua Liturgia é de que Nossa Senhora morreu. A festa da Anapausis (Dormitio, ou seja, Dormição) é antiquíssima e provavelmente a festa litúrgica mais antiga de Maria. Sem dúvida, poder-se-ia dedu-

(Foto: Frederico Vlottl)

turalmente mortal e que a imortalidade corporal de nossos primeiros Pais foi uma graça especial, isto é, um dom preternatural que estava acima de sua natureza. Ora, na ordem concreta da salvação, Deus não quis unir esse dom de imortalidade ao estado de justiça, posto que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, como ensina Santo Agostinho (De pecc. Merit. Et remi . II, 29), se não tivesse morrido de morte violenta, teria morrido de maneira natural. Além do mais, convinha a Nossa Senhora, Mãe do Redentor que salvou o mundo pela sua morte, parecer-se com seu Filho também na morte, ao invés de estar acima d'Ele nesse particular. Por essas razões, Maria teria morrido, embora sua morte não tenha sido consequência direta do pecado original ou de um pecado pessoal. Os teólogos admitem que Ela não morreu em consequência de uma doença ou de outra maneira que não conviesse à sua dignidade de Mãe de Deus, mas que sua morte foi livre, provocada pela violência de seu amor por seu Filho e por Deus. Por isso é que a liturgia chama sua morte de "dormição". Nossa Senhora Mãe de Deus

Passemos ao segundo tema, ou seja, se Maria se tornou Nossa Senhora somente após suaAssunção e sua Coroação como Rainha do Céu e da Terra, ou se esse título já lhe convinha antes de sua morte.

Catedral de Colônia, Alemanha, fachada principal. (Foto: Frederico Vlottl)

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Colocamos como premissa que, se no caso de Nosso Senhor Jesus Cristo todos os privilégios e perfeições de sua humanidade têm sua razão de ser e sua fonte última na união hipostática com a divindade (ou seja, no fato de Ele ser o Verbo de Deus encarnado), todos os privilégios e vantagens de Nossa Senhora têm como fundamento a união especialíssima que Ela tem com Nosso Senhor por ser sua verdadeira Mãe. Todos os demais dons e privilégios d 'Ela (sua isenção do pecado original, sua virgindade, sua realeza etc.) decorrem da maternidade divina. O Concí lio de Éfeso (431) definiu que Maria é Mãe de Deus no sentido verdadeiro e próprio do termo, contra Nestório que pretendia que Ela havia dado à luz um homem, sendo por isso " Mãe de Cristo", mas não "Mãe de Deus". Pelo contrário, o Concílio definiu que Maria é a Theotokos , ou seja, "Aquela que deu à luz Deus ". Esse ensinamento de fé foi depois confirmado e reforçado nos Concílios de Calcedôn ia (451) e de Constantinop la (680-681). Nessas definições exprime-se um duplo fato : a) que Maria verdadeiramente concebeu e deu à luz, e que portanto Ela é verdadeiramente Mãe, como todas as outras mães; b) que E la concebeu e deu à luz a Deus, no sentido próprio do termo, posto que seu Fi lho é o Verbo de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Jesus Cristo tem, portanto, "dois· nascimentos" e duas filiações. Segundo a divindade, o Verbo é gerado eternamente pelo Pai e recebe d'Ele a filiação divina. Esse mesmo Fi lho nasceu de Maria segundo sua

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humanidade e i·ecebeu d'Ela sua fili ação humana. Porém, não são dois Fi lhos, porque não foi um Fi lho humano distinto do divino. Apenas o mesmo Fi lho divino, pela Encarnação, passou a ser Filho de Maria, segundo sua humanidade. Por essa maternidade, Nossa Senhora adquiriu tal dignidade interna e obteve tal intimidade com o Verbo Eterno, como de modo geral com toda a Santíssima Trindade, que é preciso fazer derivar dessa maternidade todos os seus privilégios. Não somente aqueles negativos, como a isenção do pecado e da concupiscência, mas também seus privilégios de graça, ou seja, positivos. Tudo que Maria é, Ela o é pelo seu Filho; tudo que E la recebeu, recebeu-o por causa de seu Filho. Um desses privilégios positivos é a sua Realeza, pela qual nós A chamamos, muito apropriadamente, de Nossa Senhora. Realeza de Nossa Senhora

Falando da Realeza de Maria, o Pe. Emílio Neubert - conceituado mariólogo francês - , em seu tratado Maria como a Igreja a ensina (Editora Petrus, São Paulo), afirma: "Cristo é Rei como Deus, por

ser o Senhor soberano de todas as coisas; e também como homem, em virtude da união hipostática que torna sua humanidade e sua divindade uma só Pessoa. [ ..] A realeza de Maria se fundam enta, como a de seu Filho, na sua participação nos mistérios da Encarnação e Redenção, e ainda na sua função de Mãe de todos os homens. Maria é Mãe do Homem-Deus, que é rei; e a mãe do rei é rainha, participando em certa medida da sua soberania.

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Este principio, que é verdadeiro no caso das mães de reis comuns, é ainda mais verdadeiro no que se ref ere a Maria. [ ..] Em primeiro lugar porque Jesus, no seu infinito amor por sua Mãe, afez participar em todas as suas prerrogativas, na medida em que podem ser transmitidas a uma criatura [. ..] Por que a deixaria sem participação na sua realeza? Em segundo lugar, porque Maria deu Jesus ao mundo para ser rei, de acordo com a mensagem do anjo afirmando que 'Ele reinará para sempre '. Dependeu do consentimento de Maria para adquirir essa realeza, tornando-se rei no momento em que se tornou filho de Maria, não depois do seu nascimento ".

Coroação da Virgem - Gentile da Fabriano, séc. XV. The J. Paul Getty Museum, Los Angeles (EUA).

nando-as suavemente a observar todos os mandamentos de seu divino Filho, mesmo os mais rigorosos; reina sobre os corpos, ensinando os homens a submeter-se à lei de Deus p ela prática da temperança e da castidade. Quanto mais Maria reina numa alma, tanto mais domina nela a realeza de Jesus ". Mas há também um aspecto que se passa hoje sob si lêncio e que convém ressaltar, junto com o mesmo mariólogo: "Reinar consis-

Ora, para irmos ao ponto específico da pergunta de nosso missivista, ou seja, a partir de que momento Maria passou a ser Nossa Senhora, se antes ou se depois de sua Assunção, pelo dito acima fica claro que, essencialmente, Ela se tornou Rainha no mesmo momento em que seu Fi lho ficou Rei - a partir, portanto, do momento da Encarnação, quando Ela disse: "Eis aqui

a serva do Senho,: Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38). Reino de Maria, Reino de Cristo

É verdade que essa Realeza originária foi corroborada depois da sua Assunção, quando a Santíssima Trindade A corou como Rainha do Céu e da Terra. É preciso ressaltar, junto com o Pe. Neubert, que "pertencendo a

realeza de Maria a uma mãe, tratase antes de tudo de um reinado de bondade e misericórdia. A celeste Rainha exerce suas funções d(fi m-

dindo alegria e beneficias aos seus súditos.fieis, tanto no Céu como na Terra. [. ..] Reinar consiste em exercer dominação sobre os súditos, e Cristo reina sobre as inteligências, os corações, as vontades, como também sobre os corpos dos fiéis, além de distribuir benefícios. Maria exerce influência análoga sobre

seus súditos. Reina sobre as inteligências, fazendo-as compreender melhor a doutrina de Cristo, sobretudo a que se relaciona com a devoção ao Pai e seu amor aos homens,· reina sobre os corações, atraindo-os p elos encantos do seu afeto materno a.fim de conduzi-los a Jesus,· reina sobre as vontades, incli-

te ainda em lutar para ampliar o domínio sobre todos os que, por direito, devem estar submissos à autoridade do soberano, tanto os que dela se distanciaram quanto os que ainda não lhe estão submissos. A realeza de Cristo está longe de ser proclamada em todo o mundo. Mal conhecida, e até combatida em nações cristãs, é ainda desconhecida completamente por dois terços da humanidade. Cristo deve submeter todas essas multidões, e nesse trabalho de conquista Maria tem seu papel a desempenha,: Sua realeza sobre a Terra é sem dúvida de amor, mas também militante e conquistadora. Da mesma forma que os pastores e os reis magos, os hereges e idólatras encontrarão Jesus junto a Maria. É preciso que Maria reine para que venha o reinado de Cristo, a fim de realizar-se plenamente a prece que o Senhor nos ensinou a rep etir diariamente: Adveniat regnum tuum. Apressar a vinda do reino de Maria é apressar a vinda do reino de Cristo ".

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Mais de 300 mil iranianos se converteram ao cristianismo No Irã, berço da revolu ção islâmica xiita, há um gotej ar si lencioso de novos cristãos. A mídia não noticia porque a conversão é crime para o Islã. Mas os novos cristãos desafiam a censura familiar e socia l, a marginali zação e até a morte. O padre francês Pierre Hu mblot, expu lso do Irã após 45 anos, "fa lou de 300 mil iranianos convertidos ao cristianismo", revelou o especia lista li banês Camille Eid. As conversões de maometanos à Cruz de Cristo também se multiplica m em outros países de maioria muçulmana e na própria Europa. O fenômeno só se explica por uma ação do Espírito Santo e de Nossa Senhora, pois o clero progressista não se empenha em obter conversões à fé cató lica .

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::~o~:;~~::~:opulação

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1 latibn o-americana descendem de no res portugueses e espanhóis, segundo pesquisas do ~-i sociólogo colombiano Ma rio Jaramillo. Elas desmitificam a = ª "lenda negra", que rotula os co1.

1 :v~~;i:i~~sd:e~e~~nc~~;:~~;,,~u ª Por isso, segundo Jaram illo, "os conceitos de nobreza e fidalguia são ava liados muito positivamente na América Latina". A

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Martín García ónez de Loyola, sobrinho-neto de Santo Inácio e governador do Chile, junto à sua

atiça o ódio do marxismo e da "Teologia da Libertação", contrários à existência de catego ri as sociais mais elevadas.

1 Farmacêuticos que vendem maconha estão na mira do narcotráfico Cinquenta farm ácias uruguaias que se dispuseram a vender maconha estão em perigosa enrascada. O presidente do país, Taba ré Vá zqu ez, afirm ou na TV que "os narcotraficantes são implacáveis se alguém disputa o seu negócio. O narco do bairro irá à farmácia dize r ao dono: 'se você continuar vend endo, isto pod e pegar fogo ou você poderá ta lvez sofrer um acidente'" . Embora o presidente tenha prometido proteção aos farmacêuticos, suas promessas não os tiraram da mira das gangues. A lei fingia ser contra o narcotráfico, mas criou uma situação insustentável para os farmac êuticos, sujeitos a requ intes da crimina li dade.

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1 Franciscanos abandonam San Marino, devido à crise de vocações

Após 800 anos de gloriosa presença na pequena Repúb lica de San Marino, encravada na Itália, a Ordem francisca na abandona o país, devido ao esvaziamento de seus mosteiros no resto do mundo. O convento de San Marino já abrigou 30 frades, mas atualmente só restam três. A crise de vocações que ocorre u após o 1 aggiornamento disposto pelo Concílio Vatica no li levou a Ordem a ~ fechar 15 conventos e reconcentrar os frades restantes, em geral muito idosos. A "modernização" esvaziou os mosteiros, afastou as ~ bênçãos divinas e não atra i novos ca ndidatos.

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Milita ntes ecologistas alegam que, para lutar contra o "aquecimento global" , os países ri cos devem imped ir o nascimento de crianças, Travis Rieder, do Instituto Berman de Bioética, afirma que meio filho por mulher "poderia nos sa lvar. Talvez sa lvemos nossos filhos não os tendo". A ONG americana "Futuro concebíve l" defende que "a crise do clima é uma crise reprodutiva ". As posições vão além da "política do filho único" do sistema comun ista chinês. Se os governos as adota rem, tratados e leis ditatoriais tornar-se-ão in evitáveis. O absurdo antinatural e anticristão sa lta aos olhos.

Alemanha prepara população para catástrofe mundial

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Impedir os nascimentos para desaquecer o planeta?!

A Alemanha recomendou aos seus cidadãos o estoque de alimentos, água, reméd ios, pilhas, além de dinheiro vivo, na previsão de um ataque terrorista ou de alguma grande catástrofe. O plano inclui "restaurar o sistema de alistamento militar em todo o país em tempos de crise " para "defender as fronte iras exteriores da OTAN", prevendo algo de gravidade sem igua l desde a li Guerra Mundial. Essa preparação não tem proporção com os atentados islâm icos, mas sim com uma event ual guerra mundial ou ataque atôm ico. A única potência que poderia provocar tamanha desgraça é a Rússia de Putin , que já acenou com essa aterradora perspectiva. . L:t.

Perseguição anticatólica e reação dos fiéis na China comunista O bispo de Mindong, D. Vicente Huang Shou cheng, morreu aos 93 anos, governando até o último instante a diocese que o Papa lhe havia confiado. Ele passou 35 anos em cárceres e campos de trabalhos forçados. "Seus sofrimentos trouxeram grandes frutos", disse um sace rdote. O governo com unista proibiu que ele fosse enterrado revestido das insígn ias episcopa is (mitra, báculo, cruz pectoral e o ane l). Proibiu também o compa recimento de muitos fiéis, bloqueando estradas. Apesar das proibições, acorreram 20 mil católicos e os comun istas toleraram a cruz peitoral e o anel episcopa l. Quanto à mitra e ao báculo, os fiéis completaram o esquife: fizeramnos com flores!

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NACIONAL

As últimas eleições • • • mun1c1pa1s: patente recuo da esquerda FREDERICO ROMANINI DE ABRANCHES VIOTTI

Após as grandes manifestações pelo impeachment da expresidente Dilma Rousseff e contra o PT, ocorridas a partir de 2013 em todo o território nacional, os brasileiros demonstram crescente insatisfação com a classe política, especialmente com os partidos de esquerda. 14 1

Ci\T OLI CfSM O / www.catolicismo.com.br

preciso reconhecer que, nas eleições, o povo enterrou nossas propostas, ditas de esquerda, representadas sobretudo p ~to PT. Mas não foi só o PT' (Senador Cri tovam

Buarque, PPS). 1 O importante diário "The New York Times" publica uma gra nde reportagem sobre esse encolhimento da esquerd a, não apenas no Brasil, mas ta mbém na América Latina: "Em menos de um ano, eleitores.frustraram movimentos de esq11 ~rda na Argentina, elegeram um ex-banqueiro de investimentos no Peru, enquanto parlamentares cassaram o mandato da líder de esquerda no Brasif'.2 A reportagem ainda di scorre sobre a

vitória do "Não" no plebiscito da Colôm bia e o res ultado das eleições municipais brasileiras. O projeto bolivari ano, capitaneado pela Venezuela, sofreu um nítido retrocesso no continente. No Brasil, o Partido dos Trabalhadores, da ex- presidente Dilma Rousseff, foi o mais castigado nas urnas. Como comenta Merval Pereira em arti go para "O Globo", "essa humilhação nacional sofdda pelo PT, na d~finição perfeita do 'Financial Times', é a prova de que a ampla maioria dos cidadãos brasileiros rej eitou o partido que se diz vitima de perseguição política ".3 A tese de que o impeachment da ex-pres idente teria sido um golpe legislativo foi, defi nitivamente, enterrada pelas urnas. Dos 25 candidatos a prefeito que votaram contra o impeachment, apenas doi s fora m eleitos. Outros três di sputam o 2º. turno, mas nenhum deles foi o mais votado no 1º. turno eleitoral. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), uma das mais virulentas defensoras da ex-presidente, conseguiu apenas a 7ª co locação para a prefeitura do Rio de Janeiro. 4 Para se ter uma ideia da derrota sofrida pelo partido de Dilma Rousseff, considere-se que, nas 93 maiores cidades do País, as quais abriga m 38% do eleitorado nac ional, o partido elege u apenas um prefeito no primeiro turno, em Rio Branco, capital do Acre. E no 2°. turno dificilmente elegerá mais do que três ou quatro. Em 2008, o PT chegou a administrar 25 dessas 93 prefeituras, ocupando o primeiro luga r entre os partidos que administravam as maiores cidades brasileiras. Hoje, após o primeiro turno eleitoral, o partido ocupa o oitavo lugar. Mas a situação ainda é pior do que os números acima apresentam. Ern Osasco (SP), que já foi um dos mais fo rtes redutos eleitora is do PT, o partido não conseguiu eleger nenhum vereador. 5 Em São Bernardo do Campo (SP), berço do PT, os dois candidatos que foram para o segundo turno disputam entre si qual deles é o mais antipetista. 6 Em termos de população que o partido administra, o PT encolheu 84%. Em 201 2, o partido ad ministrava cidades que, somadas, englobavam uma população de 38 milhões de habitantes. Agora, após as eleições, esse número cairá para cerca de seis milhões. Fora do Pa lác io do Planalto e com centenas de prefeitura a menos do que tinha conq uistado em 20 12, o PT julga que perderá o controle de 50 mil cargos comiss ionados. Tal situação conduz a uma questão

prática: "As doações dos filiados - agora sem cargo - devem despencar". 1 Eliane Cantanhêde, em arti go para o "O Estado de São Paulo", comenta: "O PT perdeu a joia da coroa, São Paulo, perdeu os anéis em Belo f-lorizonte e perdeu os dedos no Rio, onde sequer apresentou candidato. Também não deslanchou em Salvado,: acabou em terceiro [lugar} em Porto Alegre, f ez f eio em praticamente todo o Nordeste, viu escorregar das mãos quase 60% das atuais pref eituras e.ficou abaixo de 20% no Pais inteiro ".8 Em São Paulo, o candidato João Doria, do PSDB, venceu no primeiro turno. O candidato do PT e atual prefe ito de São Paulo, que tentava a reeleição, Fernando Haddad, amargou a pior elei ção da história do partido. Ser de esquerda, após as manifestações multitudinári as que percorreram o Brasil nos últimos anos, passou a ser mal visto. A tal ponto isso é assim, que a própria ex-petista e também candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, chegou a dizer: "Eu nunca me coloquei como alguém de esquerda ".9 O Brasil passa por uma gra nde encruzilhada de sua hi stória, sobre a qual o lnstituto P/inio Corrêa de Oliveira emitiu importante comunicado di sponível na internet. 10 O recuo da esquerda é um primeiro e importante passo, mas ele será curto e inócuo se não for seguido de urna verdadeira restauração mora l. Agradecendo a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, pelo advento de tais acontecimentos, peçamos-Lhe que esse movimento político de recuo das esq uerdas possa ser incrementado, atingindo também a esfera moral e reli giosa . • Notas:

1. Andreza Matais e Marcelo de Mora is , "Pronto, falei "; "O Estado de S. Paulo", 4-10-16, Coluna do Estadão. 2. Daniel Buarque, UOL, 4-10-16. 3 . Merval Pereira, "Rever a Relação", "O Globo", 4-10-16. 4. Fernando Rodrigues, UOL, 4-10-16. 5. Mônica Bergamo, "Folha de S. Paulo" , 4-10-16. 6 . Ca rolina Unha res, "Berço do PT, São Bernardo do Ca mpo tem disputa entre antipetistas" , "Folha de S. Paulo", 8-10-16. 7. Natuza Nery, Painel, "Folha de São Paulo" , 6-10-16. 8. Eliane Cantanhêde, "Eleição enterra o golpe", "O Estado de São Paulo", 4-10-16. 9. '"Eu nunca me co loquei como alguém de esq uerd a', diz Marta Suplicy", "Folha de São Pau lo", 20-9-16. Para ler o com unicado do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, visite a página de internet: http://ipco.org.br/ ipco/ wp-content; upl oads/ 2016/03/ IPCO-O-Brasil-em-hist%C3%B3 rica-encruzilhada.pdf cato licismo@terra. com.br /

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DESTAQUE

Comemorando o heresiarca Lutero, que odiava a Igreja e o Papado iiliiiil

magistério do Papa Francisco vem secaracterizando principalmente por gestos e atos simbólicos, acompanhados às vezes por palavras pouco propícias a dissipar a confusão. Neste sentido, sua participação nas comemorações da revolta de Martinho Lutero, o monge apóstata e heresiarca, é particularmente grave. No dia 13 de outubro (data em que os católicos do mundo inteiro rememoram a última aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima, em 1917), ocorreu no Vaticano um encontro do Pontífice com aproximadamente 1000 luteranos provenientes da região de Lutero, na Alemanha. Nessa ocasião, o Papa afirmou: "O proselitismo é o veneno mais forte contra o caminho ecumênico" ("Zenit", 13-10-16). E, segundo a mesma agência de notícias, respondendo a uma pergunta, ele disse que "os grandes reformadores de nossas Igrejas são os santos". E a outra pergunta, respondeu: "Gosto dos

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luteranos bons, aqueles que seguem a fé de Jesus Cristo. Não gosto dos católicos tíbios e dos luteranos tíbios". No referido encontro, o Papa confirmou sua viagem à cidade de Lund, na Suécia, no dia 31 de outubro, a fim de presidir, juntamente com a Federação Luterana Mundial, a comemoração da "Reforma Protestante". Nessa data, há 499 anos, Lutero pregou suas 95 teses na porta da capela do castelo de Wittenberg - marco do início à reforma do heresiarca na Alemanha. A comemoração de um fato histórico não é uma simples lembrança - como ocorre com os acontecimentos narrados num curso de História -, mas a recordação festiva e laudatória de fato julgado digno de admiração, de imitação, e mesmo de devoção. Em livro-entrevista, o cardeal Gerhard Müller foi peremptório: "Nós, católicos, não temos qualquer motivo para celebrar o dia 31 de outubro de 1517, data do início da Reforma". Por sua vez, o cardeal Kurt Koch já havia prevenido em 2012: "Não podemos celebrar um pecado". E acrescentou: "Os acontecimentos que dividem a Igreja não podem ser chamados dias de festa ". Como pode o Papa participar ativamente das comemorações da revolta de Lutero contra a Igreja e o Papado sem dar aos católicos e não católicos a impressão de que ele admira os atos e as doutrinas do heresiarca? Para fornecer alguns elementos de reflexão sobre a gravidade desse gesto, transcrevemos a seguir dois artigos do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP brasileira , escritos por ocasião do quinto centenário do nascimento de Lutero. Como o leitor poderá constatar, eles conservam toda a atualidade.

Lutero: não e não PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Transcrito da "Folha de S. Pau lo", 27 de dezembro .de 1983

T

ive a honra de ser, em 1974, o primeiro signatário de um manifesto publicado nos principais jornais do Brasil e reproduzido em quase todas as nações onde existiam as então onze TFPs. Era seu título: A politica de disten-

são do Vaticano com os governos comunistas - Para a TFP: Omitir-se? Ou resistir? (cfr. "Folha de S. Paulo", 10-4-74). Nele, as entidades declaravam seu respeitoso desacordo face à "ostpolitik" conduzida por Paulo VI, e expunham pormenorizadamente suas razões para tanto. Tudo - diga-se de passagem - expresso de maneira tão ortodoxa que ninguém levantou a propósito qualquer objeção. Para resumir numa frase, ao mesmo tempo toda a sua veneração ao Papado e a firmeza com a qual declaravam sua resistência à "ostpolitik" vaticana, as TFPs diziam ao Pontífice "Nossa alma é Vossa,

nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não nos mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe ". Lembrei-me desta frase com especial tristeza lendo a carta escrita por João Paulo II ao cardeal Willebrands (cfr. "L'Osservatore Romano", 6-11-83), a propósito do quingentésimo aniversário do nascimento de Martinho Lutero, e assinada no dia 31 de outubro p.p. data do primeiro ato de rebelião do heresiarca, na igreja do castelo de Wittenberg. Está ela repassada de tanta benevolência e amenidade, que me perguntei se o Augusto signatário esquecera as terríveis blasfêmias que o frade apóstata lançara contra Deus, Cristo Jesus Filho de Deus, o Santíssimo Sacramento, a Virgem Maria e o próprio Papado. O certo é que ele não as ignora, pois estão ao alcance de qualquer católico culto, em livros de bom quilate, os quais ainda hoje não são diflceis de obter. Tenho em mente dois deles. Um, nacional é "A Igreja, a Reforma e a Civilização", do grande jesuíta

Pe. Leonel Franca. Sobre o livro e o autor, os silêncios oficiais vão deixando baixar a poeira. O outro livro é de um dos mais conhecidos historiadores franceses do século XX, Funck-Brentano, membro do Instituto de França, e aliás insuspeito protestante. Comecemos por citar textos colhidos na obra deste último : " Luther" (Grasset, Paris, 1934, 7ª ed., 352 pp.). E vamos diretamente a esta blasfêmia sem nome: "Cristo - diz Lutero - cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte, de que nos fala João. Não se murmurava em torno dele: "Que fez, então, com ela? Depoi s com Madalena, em seguida com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim Cristo, tão piedoso, também teve de fornicar, antes de morrer" ("Propos de table", nº 1472, ed. de Weimar 2. 107 - cfr op. cit. p. 235). Lido isto, não nos surpreende que Lutero pense catolicismo@terra. com.br /

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- como assinala Funck-Brentano - que "certamente Deus é grande e poderoso, bom e misericordioso [... ] mas é estúpido" - ''.Deus est stultissimus" ("Propos de table", no. 963, ed. de Weimar, I, 487). "É um tira~ no. Moisés agia movido por sua vontade, como seu lugar-tenente, como carrasco que ninguém superou, nem mesmo igualou em assustar, aterrorizar e martirizar o pobre mundo" (op. cit. p. 230). Tal está em estrita coerência com estoutra blasfêmia, que faz de Deus o verdadeiro responsável pela traição de Judas e pela revolta de Adão: "Lutero comenta Funck-Brentano - chega a declarar que Judas, ao trair Cristo, agiu sob imperiosa decisão do Todo-poderoso. Sua vontade (a de Judas) era dirigida por Deus: Deus o movia com sua onipotência. O próprio Adão, no paraíso terrestre, foi constrangido a agir como agiu. Estava colocado por Deus numa situação tal que lhe era impossível não cair" (op. cit. p. 246). Coerente ainda nesta abominável sequência, um panfleto de Lutero intitulado "Contra o pontificado romano fundado pelo diabo", de março de 1545, chamava o Papa, não "Santíssimo", segundo o costu111e, mas "infernalíssimo", e acrescentava que o Papado mostrou-se sempre sedento de sangue (cfr. op. cit. pp. 337-338). Não espanta que, movido por tais ideias, Lutero escrevesse a Melanchton, a propósito das sangrentas perseguições de Hemique VIH contra os católicos da Inglaterra. "É lícito encolerizar-se quando se sabe que espécie de traidores, ladrões e assassinos são os papas, seus cardeais e legados. Prouvesse a Deus que vários reis da Inglaterra se empenhassem em acabar com eles" (op. cit. p. 254). Por isso mesmo exclamou ele também: "Basta de palavras: o ferro! o fogo!" E acrescenta: "Punimos os ladrões à espada, por que não havemos de agarrar o papa, cardeais e toda a gangue da Sodorna romana e lavar as mãos no seu sangue?" (op. cit., p. l 04). Esse ódio de Lutero o acompanhou até o fim da vida. Afirma Fuck-Brentano: "Seu último sermão público em Wittenberg é de 17 de janeiro de 1546; o último grito de maldição contrn o papa, o sacrifício da missa, o culto da Virgem" (op. cit., p. 340). Não espanta que grandes perseguidores da Igreja

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tenham festejado a memória dele. Assim "Hitler mandou proclamar festa nacional na Alemanha a data comemorativa de 31 de outubro de 1517, quando o frade agostiniano revoltoso afixou nas portas da igreja docastelo de Wittenberg as famosas 95 proposições contra a supremacia e as doutrinas pontifícias" (op. cit., p. 272). E, a despeito de todo o ateísmo oficial do regime comunista, o Dr. E rich Honnecker, presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Defesa, o primeiro homem da República Democrática Alemã, aceitou a chefia do comitê que, em plena Alemanha vermelha, organizou as espalhafatosas comemorações de Lutero neste ano (cfr. "German Comments", de Osnabruck, Alemanha Ocidental, abril de 1983). Que o frade apóstata tenha despertado tais sentimentos num líder nazista, como mais recentemente no líder comunista, nada de mais natural. Nada mais desconcertante e até vertiginoso, do que o ocorrido quando da recentíssima comemoração do quingentésimo aniversário do nascimento de Lutero num esquálido templo protestante de Roma, no dia 11 do corrente. Deste ato festivo, de amor e admiração à memória do heresiarca, participou o prelado que o conclave de 1978 elegeu Papa. E ao qual caberia, portanto, a missão de defender, contra heresiarcas e hereges, os santos nomes de Deus e de Jesus Cristo, a Santa Missa, a Sagrada Eucaristia e o Papado! "Vertiginoso, espantoso" - gemeu, a tal propósito, meu coração de católico. Que, sem embargo, com isto redobrou de fé e veneração pelo Papado. No próximo artigo me resta , citar "A Igreja, a Reforma e a C i)'t vilização", do grande Pe. Leonel Franca.

Lutero pensa que é divino! PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Transcrito da "Folha de S. Paulo", 10 de janeiro de 1984

ão compreendo como homens da Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres, mitifiquem a figura de Lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecumênica, de imediato com o protestantismo, e indiretamente com todas as religiões, escolas filosóficas etc. Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria - se até lá se pudesse chegar - a verdade total; isto é, a fé católica apostólica romana, sem nódoa nem jaça. Sobre Lutero - a quem caberia, sob certo aspecto, o papel de ponto de partida nessa caminhada para a balbúrdia total - publico hoje mais alguns tópicos que bem mostram o odor que sua figura revoltada espargiria nesse supermercado, ou melhor, nesse necrotério de religiões, de filosofias, e do próprio pensamento humano. Segundo em anterior artigo prometi , tiro-os da magnífica obra do padre Leonel Franca S. J., "A Igrej a,

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"Eu não posso e não vou me retratar". Com essas palavras, Lutero defende os seus escritos na Dieta de Worms, em abril de 1521.

a Reforma e a Civilização" (Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 3'' ed., 1934, 558 pp.). E lemento absolutamente característico do ensinamento de Lutero é a doutrina da justificação independente das obras. Em termos mais chãos, que os méritos superabundantes de Nosso Senhor Jesus Cristo só por si asseguram ao homem a salvação eterna. De sorte que se pode levar nesta Terra uma vida de pecado, sem remorsos de consciência, nem temor da justiça de Deus. A voz da consciência era, para ele, não a da graça, mas a do demônio! Por isso escreveu a um amigo que o homem vexado pelo demônio, de quando em quando "deve beber catolicismo@terra.com.br / NOVEMB RO 20 16

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com mais abundância,jogar, divertir-se e mesmo fazer algum pecado em ódio e acinte ao diabo, para lhe não darmos azo de perturbar a consciência com ninharias [.. .] Todo o decálogo se nos deve apagar dos olhos e dà alma, a nós tão perseguidos e molestados pelo diabo" (M. Luther, "Briefe, Sends breiben und Bedenken", e. De Wette, Berlim, 1825-1828 - cfr. op. cit., pp. 199200). Neste sentido, escreveu ele também: "Deus só te obriga a crer e a confessar. Em todas as outras coisas te deixa livre e senhor de fazeres o que quiseres, sem perigo algum de consciência; antes é certo que, de si, Ele não se importa, ainda mesmo se deixasses tua mulher, fugisses do teu senhor e não fosses fiel a vínculo algum. E que se lhe dá (a Deus), se fazes ou deixas de fazer semelhantes coisas?" ("Werke", ed. de Weimar, 12, pp. 131 ss. - cfr. op. cit., p. 446). Ta lvez ainda mais taxativo é este incitamento ao pecado, em carta a Melanchton, de 1° de agosto de 1521: "Sê pecador, e peca a valer (esto p eccator et p eccafortiter), mas com mais firmeza ainda crê e alegra-te em Cristo, vencedor do pecado, da morte e do mundo. Durante a vida presente devemos pecar. Basta que pela misericórdia de Deus conheçamos o Cordeiro que tira os pecados do mundo. Dele não nos há de separar o pecado, ainda que cometêssemos por dia mi l homicídios e mil adultérios" (Briefe, Sendschreiben und Bedenken", ed. De Wette, 2, p. 37 - cfr. op. cit. p. 439). Tão descabelada é esta doutrina, que o próprio Lutero a duras custas nela conseguia acreditar: "Nenhuma religião há, em toda a Terra, que ensine esta doutrina da justificação; eu mesmo, ainda que a ensine publicamente, com grande dificuldade a creio em particular" (Werke", ed. de Weimar, 25, p. 330 - cfr. op. cit. , p. 158). Mas os efeitos devastadores da pregação assim confessadamente insincera de Lutero, ele mesmo os reconhecia: "O Evangelho hoje em dia encontra aderentes que se persuadem não ser ele senão uma doutrina que serve para encher o ventre e dar larga a todos os caprichos" ("Wekw", ed. de Weimar, 33 , p. 2 - cfr. po. cit., p . 212). E Lutero acrescentava, acerca de seus sequazes evangélicos, que "são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriaguez e a toda espécie de vícios. Expulsamos um demônio (o papado) e vieram sete piores" 20

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("Werke", ed . de Weimar, 28, p. 763 - cfr. op. cit., p. 440). "Depois que compreendemos não serem as boas obras necessárias para a justificação, ficamos muito mais remissos e frios na prática do bem [... ] E se hoje se pudesse voltar ao antigo estado de coisas, se de novo revivesse a doutrina que afirma a necessidade do bem fazer para ser santo, outra seria a nossa alacridade e prontidão no exercício do bem" ("Werke", ed. de Weimar, 27, p. 443 - cfr. op. cit., p. 441). Todas essas insânias explicam que Lutero chegasse ao frenesi do orgu lho satânico, dizendo de si mesmo: "Este Lutero não vos parece um homem extravagante? Quanto a mim, penso que ele é Deus. Senão, como teriam os seus escritos e o seu nome a potência de transformar mendigos em senhores, asnos em doutores, falsários em santos, lodo em pérolas!" (Ed. Wittemberg, 1551, t. 4, p. 378 - cfr. op. cit., p. 190). Em outros momentos, a opinião que Lutero tinha de si mesmo era muito mais objetiva: "Sou um homem exposto e implicado na sociedade, na crápula, nos movimentos carnais, na negligência e em outras moléstias, a que se vêm ajuntar as do meu próprio oficio" ("Briefe, Sendschreiben und Bedenken", ed. De Wette, 1, p. 232 - cfr. op. cit., p. 198). Excomungado em Worms em 1521, Lutero entregou-se ao ócio e à moleza. E a 13 de julho escreveu a outro prócer protestante, Melanchton: "Eu aqui me acho, insensato e endurecido, estabelecido no ócio, oh dor!, rezando pouco, e deixando de gemer pela Igreja de Deus, porque nas minhas carnes indômitas ardo em grandes labaredas. Em suma, eu que devo ter o fervor do espírito, tenho o fervor da carne, da libidinagem, da preguiça, do ócio e da sonolência" (Briefe, Sendscheiben und Bedenken", ed. De Wette, 2, p. 22 - c:fr. op. cit. p. 198). Num sermão pregado em 1532: "Quanto a mim confesso - e muitos outros poderiam sem dúvida fazer igual confissão - que sou desleixado assim na disciplina como no zelo, sou muito mais negligente agora que sob o papado; ninguém tem agora pelo Evangel ho o ardor que se via outrora" ("Saemtliche Werke", ed. de Plochman-Irmischer, 28 (2), p. 353 - cfr. op. cit. p. 441). *

*

*

O que de comum se pode encontrar, pois, entre esta moral, e a da Santa Igreja Católica Apostólica Romana? •

l?OR QUE

NOSSA SENHORA.

Cl-IORll?

Grave ofensa a Nossa Senhora Aparecida no após ano, o carnaval no Brasil .ven~ apresenta. ndo e.s peta.·cu los de imo. ralidade desbragada, festas do neopagan1smo e, em certos casos, até de orgias. Em 2017, à corrupção moral somar-se-á uma grave ofensa a Nossa Senhora Aparecida, cuja imagem a escola de samba paulistana "Unidos de Vila Maria" pretende levar ao sambódromo do Anhembi ... Mas isto se os católicos não reagirem! Tal agremiação carnavalesca alega tratar-se de uma homenagem à Padroeira do Brasil pelos 300 anos de sua aparição, em 1717, nas águas do rio Paraíba do Sul. Mas a alegação não pode ser considerada atenuante, e sim, agravante. Alegase também que a Arquidiocese de São Paulo e o Santuário de Aparecida concordaram com o evento, que representará um ultraje à Santa Mãe de Deus. Para a realização dessa injúria, a agremiação carnavalesca disse ter recebido de um bispo auxiliar da Arquidiocese e de wn sacerdote do Santuário uma réplica da Imagem Sagrada, o que deixou numerosos católicos escandalizados! A fim de evitar essa afronta à Padroeira e Rainha do Brasil, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira convoca os católicos para uma reação visando impedir que essa exposição blasfema e sacrílega se realize naquele ambiente de exaltação da imoralidade e até do nudismo. Para tal, a entidade promove uma campanha on-line de assinaturas a uma carta dirigida a Dom Raymundo Damasceno de Assis, Arcebispo de Aparecida, solicitando-lhe não permitir a presença da imagem de Nossa Senhora no sambódromo. Caro leitor, participe também dessa reação! Será um modo de praticar um ato de desagravo e reparação à Santíssima Virgem, e de evitar assim mais este grave pecado coletivo. Para isto, sugerimos-lhe acessar no link abaixo e assinar o protesto on-line, que será enviado em tempo·oportuno a Dom Raymundo Damasceno. ❖

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EXOUClSMO Mas é fato que eles se enco ntra m em grave ri sco de se tornarem vítimas do demôni o.

Exorcizada, bruxa volta à verdadeira fé

Tudo começa de modo "inocente"

O repórter pergunta à ex-bruxa colombi ana como fo i sua entrada nesse mundo tenebroso. E la ex plica que tudo começou da maneira ma is " inocente", como passatempo da juventude: "Quando era muito j o-

A fim de se evitar influências do Maligno, recomenda-se especialmente a recitação do Santo Rosário, como afirma um exorcista italiano: "Uma medida dissuasória formidável contra a insídia do demônio" é a Virgem Maria, que "o põe em fuga com a meditação e reza do Rosário".

••••• AFONSO DE SOUZA

maior di ário da Colômbia, "EI Tiempo", de Bogotá, pu bli cou em 20 14 extensa entrev ista com A manda Londofío, a que fo i a mais famosa bruxa do país, co m o título: "A bruxa mais jàmosa da

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Colômbia é agora um apóstolo de Deus ". E la era procurada por políticos, arti stas, importantes autoridades, esportistas , e por todos aque les que desejavam, po r me ios mágicos, obter fa ma ou dinheiro. 1 Tudo isso não vai se m uma grande ajuda do demôni o. Aqui cabe uma explicação: " É certo que o homem, p ela sua natureza, não tem nenhum poder sobre o demônio, não podendo, portanto, obrigá-lo a atender às suas solicitações, nem a cumprir o que.foi pactuado com ele. Porém, não é menos certo que o demônio - sempre à espreita de uma ocasião parajàzer mal aos homens e p erdê-los - não deixaria escapar a oportunidade única de atuar, quando convidado por eles próprios. Assim, se Deus o permiti!~ ele pode atender aos pedidos que lhe são.feitos e obte,~ para

"Comecei com a [leitura] das cartas"

os homens que a ele recorrem, riquezas, poder político, satisfação de paixões e ambições, e mesmo prejudicar outras p essoas ".2 Po r isso é muito peri goso abrir as portas para o espírito infe rnal querendo conhecer o futuro, que só a Deus pertence, ou obter beneficios sem esfo rço - que, no futuro, o "favorecido" paga rá demasiadamente caro; ou ainda prej ud icar a lgum desafeto, o que é muito comum nos despac hos de macumba,

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recorrendo, como veremos, a fo rças ocul tas.

"A bruxa mais influente da Colômbia "

"Entre os anos 70 e 80, [a entrevistada} foi a bruxa mais influ ente da Colômbia, e sua vida.faz parte de um livro do jornalista colombiano Germano Castro Caycedo intitulado A bruxa, coca, po líti ca e demôni o que, há 20 anos, causou

grande polêmica no país, e inclusive/oi obj eto de uma telenovela". Essa fa ma não é estranha num pa ís onde é muito grande o número de bruxas e fe iticeiros, procurados até por altas personali dades do Estado. Ass im, após ser e leito, o pres idente co lombi ano Santos se diri giu co m sua fa míli a à Serra Nevada, em Santa Marta, onde fo i "abençoado" por um xa mã.3 Du ra nte o processo de paz elaborado em Havana, os jornais noticiara m que houve m ais de um ri tual de macumba para o bom êxito do mesmo. E durante a recente ass inatu ra em Ca rtagena dos aco rdos do governo co lombi ano com as FA RC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) , que favorece m amp lamente o grupo narcoguerrilheiro e põem em gravíssimo ri sco a Co lômbia, houve cerimôni as de magia em várias praças da c idade. Casos de recurso às fo rças ocul tas para a obtenção de bene-

fícios também ocorrem ev identemente no B rasil. C itamos apenas um deles, que horrori zou o país no ano de 1992. Numa cidade do litoral paranaense, a esposa e afi lh a de um conhecid o político que era ca ndidato a prefeito, sequestraram e sacrificara m em di abó li co ritual tÍm menino de apenas seis anos de idade, para que o ca ndidato fosse ree le ito.

"Depois de estrangular a criança, .fizeram-lhe um talho no pescoço para que o sangue escorresse numa vasilha; o peito fo i aberto e o coração retirado; abriram também o ventre e extraíram as vísceras; depois, deceparam o órgão sexual do menino; em seguida, retiraram o couro cabeludo com uma navalha e cortaram as orelhas; porfim, lhe amputaram as mãozinhas e os dedinhos do pé. Tudo isso.foi recolhido numa tigela de barro" e oferec ido a Exu nesse ritual satâni co. 4 É claro que nem todos que recorrem a esses fe iticeiros e bruxos têm em vista chega r a tal extremo.

vem, conheci uma pessoa que adivinhava a sorte, e éramos muitos os que a visitávamos por passatempo. Essa pessoa me ensinou. Comecei com a [leitura} das cartas e o cigarro, e me converti numa p erita. Fui levando outras pessoas a crerem naquilo que eu estava crendo". Pergunta o repórter: "Quais são os perigos que há nisso?" E la inicia sua resposta faze ndo uma perg unta: "Quem fez ler as cartas ou usaram uma pulseira para atrair a boa sorte? E a resposta, quase sempre, é, quase todo mundo o tem f eito por curiosidade. E o que sucede? Abrimos nosso corpo e nosso coração para que entrem os espíritos do mal. Eu esclareço: como existe Deus, existem a bruxaria e o poder do maligno. Mas a gente pensa que não há nada de mal em que se adivinhe a sorte. E passamos a vida sem dar-nos conta de que permitimos que o mal entre em nós. Por isso muitas vezes não se encontra [êxito} na vida prqfissional, na vida econômica, e no amor; tudo é um desastre, e isto pode transcender até a terceira ou quarta geração. Isso diz o Evangelho. É uma catástrqfe espiritual". Continu a a entrev istada: "Em todas as épocas há pessoas que advinham a sorte e jàzem bruxaria. Vejam a televisão e suas men-

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sagens, que promovem pessoas às quais se pode acudir quando o marido deixa a mulher, ou o noivo a noiva. Não há anúncios que dizem: 'Venha e lhe falo sobre o futuro'? Claro! Na rua, nos entregam papeizinhos que dizem: 'Reatamos com o seu ente querido, e se ele não chegar, devolvemos-lhe o dinheiro '. "A bruxaria é um negócio do maligno, no qual a pessoa algumas vezes crê que está/alam/o [com o espírito das trevas], e outras sabe certamente que com isso se faz o mal". Ela acrescenta: "Quando falo disto, eu me refiro a que não temos a confiança plena no Senha,~ nem esperança n 'Ele. Não sabemos pedir-lhe, e não O temos como Pai. E cremos que uma planta, uma bebida ou uma ferradura têm mais poder que Ele". O começo da conversão

Num domingo, a bruxa foi a uma igreja assistir à Missa (sim,

senhor, na Colômbia o povo é tão religioso que até pessoas ligadas à bruxaria são impelidas a irem à igreja, o que não é incomum também no Brasil com algumas mãesde-santo ou adeptos do candomblé ou de outras religiões afro-brasileiras). No templo sagrado a bruxa viu uma freira e, movida pela graça, abraçou-a, dizendo: "Irmã, salve-me, eu/aço bruxaria!". A freira começou a rezar, e convidou-a a ir ao seu convento. Recomendou-lhe que rezasse o Rosário, para que Deus lhe fizesse ver mais claramente as coisas no dia seguinte. "Passei a noite muito intranquila ". No dia seguinte, "quando nos vimos, a madre orou, e eu pus uns pequenos vermes pela boca. Isso me aterrou. Era mulher de muito êxito, amiga dos politicos. Cria ter o mundo a meus pés, mas me faltava o mais importante: Deus ". A religiosa levou-a então a um monsenhor, e ela fez uma confissão de toda sua vida. E ntretanto,

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voltou a fraquejar, quando vieram lhe pedir que fizesse novo despacho. E recomeçou a bruxaria. Isso até o dia em que, indo com outras pessoas fazer um despacho, sentiu como que alfinetadas no corpo. Ficou desassossegada e não conseguia dormir. Buscou um psiquiatra, mas em vão. Depois soube que lhe haviam feito um maleficio. Não era capaz de comer nem engolir. O pior era urna voz que lhe sussurrava ao ouvido: "Mata-te". Era o demônio tentando levá-la ao desespero.

- com uma só mão, e a lançou sobre o sacerdote e o derrubou. De sua boca saía puro fumo". É preciso dizer que a pessoa possuída pelo demônio manifesta muitas vezes ações que estão além da natureza, como falar e compreender línguas estrangeiras sem tê-las aprendido antes, manifestar força fisica acima de sua idade e condição, revelar coisas secretas ou distantes etc .. Entretanto, uma das coisas mais comuns nos possessos é agredir o exorcista, pelo que este, no geral dos casos, tem a seu lado um ou dois guarda-costas para protegê-lo de qualquer agressão. E a bruxa prossegue: "No exorcismo volto a vomitar vermes, cai terra do teto e cuspo a(finetes. Sim, a(finetes. O sacerdote orava. Eu comecei a expelir coisas [estranhas] quando ouvi uma voz que me dizia para matar o sacerdote, que era muito alto e robusto. Não sei que força eu tive, que o peguei pela garganta e cravei nela as unhas. Mas ele continuava rezando, e me apresentou uma hóstia consagrada. Caio então ao solo, peço-lhe perdão e lhe digo que esse ataque não havia saido de mim, e nos prostramos diante do Santíssimo. Desde esse momento _fiquei libertada do maligno, e pude retomar minha vida da mão de Deus ".

O exorcismo

Últimas recomendações

Nessa angústia, ela vol tou a ver a freira e o monsenhor, que rezaram em sua intenção. Mais tarde um sacerdote fez-lhe um exorcismo. E la fora até ele acompanhada do marido e de várias pessoas, inclusive de outra bruxa, "que era mais bruxa do que eu, e que num momento dado levantou a mesa do refeitório - que era pesadíssima

Pergunta: "O que recomenda nesses casos ? " Resposta: "Quem se meteu nestas coisas, vá a um sacerdote para que o oriente e faça uma oração de libertação. Ou faça tuna confissão de todo o coração, para que o perdoe desse atentado contra Deus. Se o caso for muito grave, talvez se requeira o exorcismo.

Mas deve ser com um sacerdote autorizado, não com um qualquer". Pergunta: "Sentiu-se alguma vez tentada a voltar a fazer bruxa. ?" na.

Resposta: "Não, nunca mais. Não voltaria a fazer. Privo-me de muitas coisas, de ter objetos que sei que induzem ao mal. Sou inimiga do 1-Ching, da Nova Era, do Feng shui, porque tudo isto desloca a Deus, e eu quero levar a Deus

Epílogo

Amanda Londofío agora faz conferências narrando a sua experiência, além de, como boa católica, ser ativa na campanha pela famí lia e contra o aborto. Tornou-se também divulgadora do Rosário, seguindo o que diz o Pe. Ermes Macchioni , exorcista da diocese de Reggio Emíli a, na Itália. Esse sacerdote, com muita prática de exorc ista, diz · que hoj e em dia há muita infestação diabólica porque as pessoas "têm querido substituir a Deus pela idolatria, que vai contra o projeto divino, e porque os que se dizem cristãos rezem pouco, ou afazem mal". Para reverter essa situação, indicou que se deve recorrer ao Santo Rosário: "Uma medida dissuasóriaformidável contra a insidia do demônio " é a Virgem Maria, que "o põe emfúga com a meditação e reza do Rosário ".5 ❖ Notas:

em meu coração. É necessário pedir.fortaleza para não voltar·a cair. Quando a pessoa diz 'a mim não entra nenhum mal', eu me rio, porque, para que não te entres nada mal, tens que estar confessado, comungado, rezar o Rosário. Essas são as armas ". El.a poderia ter acrescentado aqui muitas outras coisas aparentemente inocentes, mas que também acabam levando por esse diabólico camin ho, como o tabuleiro ouija, e um seu semelhante que está muito em voga nas escolas hoje em dia, ou seja, o jogo de adivinhação pelo movimento de um lápis, o Reilci, Yoga, e outros métodos de pseudo cura orientais.

1.Seguimos sobretudo essa reportagem: http://www.eltiempo.com/archivo/docum ento/CMS-13663195, bem como a de https:j/www.aciprensa.com/noti eia s/ era -la-b ru ja-m as-famosa-d e-colom bia-la-exorcizaron-a bra zo-la-fe-y-hoy -es-apostol-del-rosario-16457/ 2. Gustavo A. Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo, Anjos e Demônios - A luta contra o poder das trevas, Artpress, São Paulo, 1996, p. 147. 3. "O xamã é a pessoa a que se atribui a capacidade de modificar a realidade ou a percepção coletiva desta, de maneira a que não respondem a uma lógica causa l. Isto se pode expressar finalmente , por exemplo, na faculdade de curar, de comunicar-se com os espíritos e de apresentar habilidades visionárias e divinatórias" https:j/es.wikipedia.org/wiki/Cham%C3%A1n 4 . Gustavo A. Solimeo, op. cit. , p. 227. 5. https//www.aciprensa.com/ noticias/ exorcista-exp lica-ra zo nes-de-por-que -aumenta -e 1-sata n ismo-e n-e l-m u ndo-16252/

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Documento do "Acordo de Paz" com as assinaturas do presidente colombiano e do ch efe guerrilheiro Timochenko


recusa dos co lombianos aos chamados "Acordos de Paz" entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e a narcoguerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), no plebiscito do dia 2 de outubro, significou uma derrota de alcance histórico não apenas para a guerrilha e seus cúmplices na Colômbia, mas também para toda a esquerda internacional e seu variegado cortejo de "companheiros de viagem", não poucos deles eclesiásticos. A América Latina nunca tinha presenciado, em relação a um assunto estTitamente de política interna de urna de suas nações, uma pressão internacional tão formidável como a exercida para impor aos colombianos a aceitação desses acordos iníquos. E nunca uma jogada revolucionária dessa envergadura havia sido derrotada de modo tão estrepitoso. A negociação dos acordos foi realizada em Havana, em estrito segredo e sem ouvir a opinião pública, e teve um significativo articulador: ninguém menos que o hierarca comunista cubano Raul Castro.

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Absurdos em cadeia para realizar gigantesca demolição

Fidel Castro (círculo), na Colômbia, durante o trágico "Bogotazo"

Absurdo dos absurdos, camufladas num palavreado pacifista e técnico, as cláusulas do acordo equivalem a uma rendição do Estado colombiano às exigências das FARC.

Esse foi o primeiro passo de uma sequência de absurdos em cadeia, que caracterizam de modo sistemático esse processo de "paz" marcado pela irracionalidade. O presidente Juan M anuel Santos pareceu ignorar a pesada responsabilidade do castro-comuni smo no ciclo de violência desencadeada na Colômbia desde os anos 60, e mesmo antes. Cumpre recordar que Fidel Castro, então com 21 anos, participou em 1948 do sangrento motim denominado Bogotazo, que incendiou Bogotá durante três di as, causou milhares de vítimas e foi o ponto inicial da onda de violências sem precedentes que assolou o país. Anos depois, já insta-

O presidente Santos cumprimenta o guerrilheiro Timochenko sob o olhar satisfeito de Raul Castro, no fim das conversações em Havana

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Na cidade de Bucaramanga, movimentos pró-família levaram milhares de pessoas às ruas para protestar contra a política do governo que procurava impor a Ideologia de Gênero. O presidente se viu obrigado a recuar e pedir desculpas à nação.

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lados no poder em Havana, os irmãos Castro promoveram a erupção de guerrilhas marxistas em todo o continente, do que resul tou, em 1964, a criação das FARC. Assim se ndo, de que espéc ie de paz podiam ser os articuladores, senão de uma "paz" sob med ida para a extrema-esq uerda? Outro absmdo: os termos do acordo só fo ram dados a público poucas semanas antes do plebiscito, num fa ti ga nte documento de 297 páginas, que apenas poucos dos 35 milh ões de eleitores colombi anos teri am possibilidade de conhecer e avaliar, vendo-se forçados a aprovar algo que não conheciam . Absurdo dos absurdos, camufl adas num palavreado pacifista e técnico, as cláusulas do acordo equi va lem a um a rendição do Estado colombiano às exigências das FARC, implicando numa múltipl a demoli ção : do ordenamento constitucional , da propriedade privada (começando por uma "i·eforma rural" socialista e confiscatóri a), da fa míli a e da instituc ionalidade política, substituída por um enxame de "comi ssões" no estil o dos sovietes, integradas conjuntamente por elementos das FA RC e do governo, e que na prática assumiriam o controle do país à margem do Estado de Direito . Como se essa irracionalidade não bastasse, eis outras " benesses" concedidas às FARC nos mencionados Acordos de Paz: seus crimes ficariam impu nes; o delito de narcotráfico de ixaria de ser assunto pena l para converter-se em tema "político"; os guerrilhe iros receberiam sucul entas reco mpensa econômicas ao abandonarem as armas, e vários deles ocupariam dezenas de cade iras de senadores e deputados sem necessidade de serem eleitos por voto popular. Ou seja, esse arremedo de paz significava, para as FARC, o que Marx chamava de "salto qualitativo brusco " que as catapu ltasse ao poder para implantar sua versão século XXI do comu nismo: um comuni smo updated, que acolhe todas as reivindicações dos lobbies LGBT e da perversa Ideologia de Gênero (palavra que parece obcecar os redatores dos Acordos, que a empregam 144 vezes!). O comunismo e o liberalismo convergem, ass im, na

O comunismo e o

liberalismo convergem: um comunismo updated, que acolhe todas as reivindicações dos lobbies LGBT e da perversa Ideologia de Gênero (palavra que parece obcecar os redatores dos Acordos, que a empregam 144 vezes!)

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Interferência papal: como explicar o inexplicável?

Um grande show midiático, realizado na cidade de Cartagena no dia da assinatura do acordo, contava influenciar de modo possante milhões de colombianos a votar pelo SIM. A realidade, contudo, foi bem outra ...

As principais agências de pesquisa, sem exceção, previam um folgado triunjo do SIM A lpsos-Napoleón Franco, por exemplo, indicava que depois do show de Cartagena o apoio ao SIM havia subido para 66%. Outras chegaram a dar-lhe 75%!

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tentativa de demolir os últimos restos da civilização cristã, reve lando serem duas caras de uma mes ma moeda ideo lógica.

Líderes mundiais instrumentalizados pelas FARC

A avassa ladora pressão político-publicitária chegou a seu c límax no giga ntesco show da ass inatura dos acordos, montado na cidade de Cartagena no dia 26 de setembro (o u seja, seis di as antes do plebiscito). Segundo o jornal "EI Tiempo", essa "cerimônia protocolar[. ..] estava desenhada parti ser o impulso final a favor do 'SJM"'. Figuras do primeiro plano político e econômi co mundi al se apressaram em colaborar com esse " impulso final". E ntre tais figuras estavam, instrumentali zados pelo tri o Sa ntos-FAR C-Castro, os secretários de Estado do Vaticano e dos Estados U nidos, o secretário-geral da ONU, o ex-rei Juan Carl os da Espa nha, os presidentes do Banco Mundial e do FMI, ao lado de 15 chefes de Estado da A méri ca Latina e do Ca ribe, além de outros 2.500 convidados. O governo se sentia co m tais apo ios tão seguro do triunfo do SIM, que - novo absmdo - nem seq uer elaborou um plano alternativo no caso de vencer o NÃO. Juan Manuel Santos agiu neste particular como um principiante, e não demoraria em ficar numa situação de ridícul o diante do mu ndo inte iro. Mas no momento da assinatura dos acordos, as principais agências de pesquisa pareciam dar razão a essa temeridade: todas elas, sem exceção, previam um fo lgado triu nfo do SIM A Jpsos-Napoleón Franco, por exemplo, ind icava que depois do show de Ca rtagena o apo io ao SIM havia subido para 66%. Outras chega ram a dar-lhe 75% !

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Entretanto, a lguns alarmes soavam nesse clima de otimismo: pesquisas confidenciais alertavam para o crescimento do NÃO. Ve io então o apoio inesperado. Faltando apenas dois dias para a votação, toda a mídi a colombiana divulgou estas pa lavras do Papa Francisco, pronunciadas quando da assinatura dos acordos: "Tenho a dizer que o presidente Santos está arriscando tudo pela paz, mas há outra parte que está arriscaiulo tudo para continuar a guerra, e os que estão com a guerra f erem a alma". 2 Também prometeu viajar a Colômbi a, mas com a condição de que o aco rdo de paz "seja blindado no plebiscito". E completou em espanhol : "Muchas gradas, Santos! ". 3 Agradecer ao presidente Santos por entregar o pa ís à narcoguerrilha?' Todos os co lombianos interpretara m com razão essa lamentáve l interfe rência papa l como sendo indevida. O Papa Fra nci sco parecia dar a entender que a paz só podia ser essa paz, e não outra; que aqueles que por qua lquer razão justa se opusessem a esses acordos queriam necessariamente "continuar a guerra"; e que se o S/Mnão vencesse, ele não viajaria à Colômbi a. Portanto, causa ndo a impressão de uma mal dissimulada pressão política. Ora, justamente nessa semana o Papa havia afirmado qu e a "Ideologia de Género é um grande inimigo do matrimônio " e a arma de "uma guerra mundial para destruir o matrimônio ".4 Por que, então, contraditoriamente favo receu esses acordos que, entre outras cláusul as nefastas, pretendem implementar ta l ideo logia? Suas palavras suscitaram imediatamente fortes réplicas, como a do exlUNr S

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candidato pres idenci al e conhecido dirigente católico José Galat Noumer, que em carta aberta ao Papa Francisco indicou-lhe que a aprovação desses acordos significaria estabelecer na Colômbia "o socialismo do século XXI", a nefasta Ideologia de Gênero, e "um estado ditatorial, sem verdade, sem paz e sem justiça". 5

ao engano, e com isso deu ao mundo uma lição de sensatez, de racionalidade e de cordura. "Quanto a Colômbia dói!", é o expressivo título de um artigo do sacerdote populista argentino Eduardo de la Serna, cabeça do chamado "Grupo de Padres em Opção pelos Pobres" de seu país, que resume perfeitamente a consternação e o desânimo que se alastram na esquerda. 6

Surpreendente vitória do NÃO: triunfo da sensatez, confusão e furor da esquerda

Fatores meteorológicos em cena: sinais da Providência?

C hegou-se nesse clima ao di a da votação. Contra toda a expectativa, o NÃO se impôs. Por uma pequena margem - menos de 60 mil votos sobre Assim noticiou "EI País", 13 milhões - , mas suficiente para jogar por terra urna inaudita e colossal de Espanha, o resultado manobra revo lucionári a. do plebiscito colombiano A imprensa liberal e de esquerda manifestou seu assombro e confusão. Surpresa foi a palavra que dominou as manchetes impressas, televisivas e de internet. Tudo esELPAÍS 101 • u tava montado para festejar a vitória do SIM. De repente, vlot.o em poucas horas, a gigantesca trama revolucionária urdida lM~r~Mac....-doconl,HFARC c:onun,0.24.. durante vários anos desabava irremediavelmente ... O di ário socialista espa nhol "EI País", oráculo da · erdo con las FARC "esquerda caviar" hi spano-americana, que se empenhou la ·no· M piu l1rTMdo con IOfl-'óõun1nr~Odo trn1nlot-r1 e-1 pl<'lllSC toctk'l>nlóohoyeo a fundo pelo SIM, dedicando-lhe páginas interm ináveis, 1>,111, Coov199,37% dola~11!05d~eonl<1b!h.tctdas.. oi rechazo ai acuerdo obUtnt 6 400 516 vol0$. k> que repres.nta S0.2J em sua primeira manchete sobre o imprevisto resultado % m1f'ntm<:, ti'"_ qu~ecmtn1óJ1dttt1ndoel rKut"ntnale.lnZ.a 6 338 473 p.tpelcl~. un4976~ não pôde conter o seu desalento e disparou contra o povo colombiano: "A Colômbia se precipita no abismo ao recusar a paz com as FARC" (quando o abismo teri a sido se ela tivesse votado pelo SIM). E iniciava assim o seu relato : "Em um mundo de loucuras semji-onteiras, a Colômbia optava neste domingo a dar um salto no vazio ou ser exemplo para o p laneta. Ganhou a primeira opção. " A ofuscação ideológica imped iu aquele jornal de ver que o resultado foi precisamente o contrário das " loucu ras" : a Colômbia evitou saltar no vazio ao dizer NÃO act,IM.lt.lOO l1J'~

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Certos fenômenos naturais pareceram ter relação com esse resultado. No dia 25 de setembro, véspera da assinatura dos "Acordos de Paz", um imenso arco-íris completo se fez ver num céu lilás sobre Medellín , baluarte do NÃO, o que foi interpretado por muitos como augúrio de que Deus manteria sua aliança com a Colômbia (nação consagrada oficialmente ao Sagrado Coração de Jesus desde 1902) e a protegeria dos ruinosos pactos de· Havana. No dia da votação, a cauda do errático furacão Matthew tocou a costa do Caribe co lombiano - sobretudo o departamento (estado) costeiro de Magdalena, bastião eleitoral de Santos e mais favorável ao SIM - , descarregando chuvas torrenciais e causando inundações que impediram muitos de saírem de casa para votar. O sociólogo espanhol Prudencio García, que assessorou as negociações de Havana, assim relata o fato: "Como se um obscuro poder maléfico, inimigo da paz e arrastado pelo rancor, tivesse prevalecido no momento e lugar preciso, um fator - natural, mas venenoso para efeitos eleitorais - , acudiu em auxílio do 'NÃO', lançando uma mão (mortal) no pescoço do sim". 7 Essa "mão" é a Providência divina? O certo é que nas eleições presidenciais de 2014 votaram nessa região pouco mais de dois milhões de pessoas, nquanto desta vez não chegaram a 1.150.000, urna diminuição de 43%, presumivelmente em sua maioria votantes do SIM. Por fim , no dia 7 de outubro, simul taneamente ao anúncio da concessão do Prêmio Nobel da Paz ao presidente Santos, "para completar a semana frenética, o vulcão que tinha causado uma das maiores tragédias naturais

No dia da votação, a cauda do errático furacão Matthew (fotos acima) tocou a costa do Caribe colombiano - sobretudo o departamento (estado) costeiro de Magda/ena, bastião eleitoral de Santos e mais favorável ao SIM-, descarregando chuvas torrenciais e causando inundações que impediram muitos de saírem de casa para votar.

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O Nobel dado a Santos tornou-se um "prêmio de consolo" de sabor amargo, concedido por aguem l , "de casa ,, : p ela Noruega, que participou ativamente das conversações em Havana ...

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da Colômbia, a avalanche de Armero, provocou um sismo que foi sentido em Vil/amaria, Manizales e Pereira", noticia a revista "Semana". 8 - Novo sina l? Faltando o esperado SIM, o presidente Santos ficou como um noivo que está no altar para se casar e ali recebe da noiva - a opin ião pública - um solene NÃO! A festa à noite, no presti gioso Hotel Tequendama, já estava organ izada para comemorar a vitória do SIM, mas fo i preciso cancelar tudo. O Nobel tornou-se, portanto, um "prêmio de consolo" de sa bor amargo, concedido por alguém "de casa": pela Noruega, que participou ativamente das conversações em Havana ... O certo é que esse Prêmio concedido ao presidente colombiano foi o último capítulo do show dos acordos. Embora ele tenha perdido muito de seu va lor e significado, estava obviamente previsto para ser o ato fina l, a "cereja no chantilly" que coroaria triunfalmente todo o processo, após ser ratificado pelo SIM nas urnas. Mas fa ltando esse SIM, ficou como uma distinção sem sentido, que condecora o que o povo colombiano rec usou: o desatino final de uma cadeia de absurdos.

Maldonado e outros, mas sem dúvida as reali zadas por Cruzada e Tradición y Acción alcançaram considerável impacto.

Durante três anos, e com maior intensidade à medida que se aproximava a data do plebiscito, ditas associações (cujo elenco de atividades é tão numero ·o que seria impossível apresentá-lo aqui) se entregaram a um trabalho persistente e sacrificado de esclarecimento da população através de manifestos, livros, comunicados, declarações, conferências, reportagens radiofônicas e televisivas. Mas, sobret11do, por constantes campanhas públicas, que se revelaram de extraordinária eficácia para, na rua, defender pessoa por pessoa contra a avassa ladora propaganda a favor do SIM. Tal atuação cu lminou, na semana prévia ao plebiscito, com a publicação nos três maiores jornais do país - "EI Tiempo" de Bogotá, "EI C(?lomb iano" de Medellín e "EI País" de Cali - de um manifesto intitulado "Não à entrega do país às FA RC - O Estado de Direito será substituído por sovietes, para.fàzer da Colômbia uma nação socialista ", o qual desnudava a iniquidade dos acordos;9 e de uma impactante carta a todos os bispos do país, aco mpanhadas de milhares de ass inaturas - "Católicos colombianos pedem aos bispos: Recusem os acordos de Havana! ". º Paralelamente, grupos de jovens de Tradición y Acción difund iam nas ruas de Bogotá dezenas de milhares de volantes sob o título ''A Colômbia pede Não" aos aco rdos de Havana. Esses três documentos - publicados ta mbém em jornais do Panamá e de Miami, locais com grande presença colombiana - punham a descobe,to as concessões ao comunismo incluídas nos acordos. E davam realidade às palavras de Nosso Senhor: "Não há nada oculto que não venha a ser revelado e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz" (Luc. 8, 17). O povo compreendeu que e tava sendo enganado, e o resultado do plebiscito patenteou que muitos conseguiram abrir os olhos a tempo. Está criado, ass im, um impasse nas negociações de paz. Os co lombianos fica ram advertidos; e eventuais novas negociações que venham a se realizar não poderão se efetuar na sombra, nem a não sabendas del es. Não obstante, é evidente que, com a concessão do Prêmio Nobel da Paz a Juan Man ue l Santos, tentou-se " recauchutar" o mal conceb ido, absurdo, 1

As razões profundas do NÃO e o impasse da Revolução

Enquanto a credibilidade dos órgãos de pesquisa colombianos ficou mais uma vez merecidamente desacreditada, as desconcerladas esq uerdas e sua coo1te de " inocentes úteis" liberais ainda continuam se perguntando o que aconteceu, por que essa mudança de opinião para o NÃO. A explicação é bem simples: tudo aquilo que o binômio Santos-FARC quis esconder da nação em matéria de concessões inadmissíveis à narcoguerrilha acabou, finalmente, sa indo à luz. E isto - di zemo-lo com verdade ira alegria - se deveu em considerável medida às campanhas de denúncias conduzidas por assoc iações co-irmãs do Instituto Plinio Corréa de Oliveira na Colômbia: a Sociedad Colombiana Tradición y Acción e o Centro Cultural Cruzada (fotos acima). Certamente houve denúncias similares de grande mérito, como as efetuadas pelo ex-procurador-geral Alejandro Ordónez

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Por que houve essa mudança de opinião para o NÃO? A explicação é bem simples e isto - dizemo-lo com verdadeira alegria - se deveu em considerável medida às campanhas de denúncias conduzidas por associações coirmãs do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira na Colômbia: a Sociedad Colombiana Tradición y Acción e o Centro Cultural Cruzada.

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O apoio ao SIM, da alegria ...

danoso - e agora também combalido - "Acordo de Paz", convertido por uma propaganda enganosa em exemplo marcante de abuso da classe política sobre o país, como se as centenas de mi lhares de vítimas fatais não contassem para nada. Deus e a H istória ju lgarão severamente aqueles que maquinam assim a demo lição de uma nação católica, a qua l querem ver transformada, pelas mãos ensanguentadas de seus algozes, em um regime marx ista que antecipadamente se declara "blindado", ou seja, férreo e perpétuo. Mas Deus, sem dúvida, se rirá deles e saberá desbaratar seus planos. Os colombianos devem à sua Padroeira, Nossa Senhora de Chiquinquirá, um ato de profundo agradecimento por esse extraordinário resultado: "laqueus contritus est, et nos liberati sumus " - o laço se rompeu, e ficamos livres (Sal. 124, 7). ❖ Fonte:

à tristeza ...

Enquanto nas filei ras do NÃO...

1 .ht tp s:/ / ww w. go og le.com. pe/ sea rch?q = EI+ Ti e m po+ la+ce remon ia+ est aba+dise%C3%81ada+para+ se r+ el+impu lso+fina l+a+favor+de l+%E2%80%98s%C3 %AD%E2 %80 %99 &oq = El+ Ti empo+&aqs =c h ro me.0.69i59j69i57j69 i60j 0I3.6723j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8 2. http://www.eltiempo.com/ politica/gobierno/ papa-francisco-en-colombia-en-2017/ 16714464. 3. http://noticias.caracoltv.com/ colom bia/ papa-dice-quevisita ra-colom bia-si-acuerdo-de-paz-es-bl i n dado-po r-el -plebiscito 4 .http://www.lan ac ion .com .a r/ 194322 2-francisco-denuncio-una-guerra-mund ial-para-destruir-al-matrimon io 5.http:// infovat ica na .com/ blogs/ cristo-era-sa bio/ ca rta-abierta-jose-ga lat-a I-pa pa-colom bia/ 6.http://www.i hu.unisinos.br/ noticias/ 161-noticias-espanol/560763-cuanto-duele-colombia 7. Futuro entorpecido, pero inevitable, "EI País", 3-102016. ht tp :/ / e I p ai s . c om / e l p a i s/ 2016 / 10/ 0 3 / opi nion/ 1475491576_151425.html 8. http:j/ www.semana.com/ notici as/ sismo/ 103913 9. "EI País", Ca li , 29-09-2016; "EI Colombiano", Medellín, 1-10-2016. Texto completo en: http://www.credochile. clj destacados/ el-estado-de-derecho-sera-reem plazado -por-soviets-para-h acer-de-colombia-un-pais-socia lista/ 10. http:j/ www.votocatoli co.co/2016/ 09/ fi eles-catolicos -piden-los-obispos.html; http:// www.tradicionyaccion. org.pe/spip. php?a rticle406 .

* * * Nota: É digno de menção a presença de uma estranha

comitiva de bruxos e xamãs, muito apreciados, ao que parece, pelo presidente Sa ntos, para cuja posse, em janeiro de 2012, sua equipe de campanha havia contratado, pelo "módico" preço de três milhões de pesos (cerca de 1.500 dólares), os "serviços " de um ta l "senhor Jorge González (xamã) .... para evitar a chuva". Desta vez a presença de bru xos fo i maior: oito elementos, incluindo santeiros vudus vindos de Cuba. http://www.dinero. com/ pais/ articul o/c hama n-s i-contratado-pa ra-posesion-juan-manuel-santos/ 143239

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Santo André, o Apóstolo da Cruz Primeiro discípulo a conviver com Cristo, pregou denodadamente a Cruz; amarrado a ela teve a graça de confessar a sua fé

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

ilustre abade de Solesmes, na França, Dom Prosper Guéranger, comenta que normalmente a festa de Santo André, no dia 30 deste mês, é celebrado no primeiro domingo da época do Advento, in ício do novo Ano Litúrgico. E acrescenta que se o ve lho ano se extingue com a Cruz, o novo deve começar por ela: "Dizemos isto porque todos os fiéis devem saber que Santo André é o Apóstolo da Cruz. Jesus Cristo deu a Pedro a firmeza na Fé; a João, a ternura do Amor; André é o encarregado de representar a Cruz do divino Mestre. [. ..}Éa razão pela qual Santo André, depois dos dois Apóstolos que acabamos de nomeai; seja objeto de uma especial veneração na Liturgia ". 1 São muito poucos dados nos Evangelhos a respeito de Santo André - como da maioria dos Apósto los. Entretanto, o historiador e hagiógrafo jesuíta, Pe. Pedro de Ribadeneira, afirma que "o resto de sua vida, pregação e martírio, temos que extrair de graves e santos autores, e especialmente do que os presbíteros e diáconos da igreja de Acaia (como testemunhas oculares) escreveram de sua gloriosa morte a todas as igrejas da Cristandade".2 Entretanto, "a maioria dos historiadores modernos consideram apócrifa a célebre carta dos sacerdotes e diáconos de Acaia que ref ere o martírio de Santo André, e da qual extrai suas mais belas passagens o Oficio [litúrgico do Santo} de 30 de novembro. Mas todos admitem tratar-se de um documento da mais alta antiguidade. Os protestantes o rechaçaram, principalmente por nele se encontrar uma explicita pro.fissão de f é na realidade do Sacrifi.cio da Missa e do sacramento da Eucaristia ".3 Seja como for, vamos nos basear sobretudo nos

Santos Evangelhos e na Tradição, citando essa fonte apenas de passagem. Filho de Jonas e Maria Salomé, irmão de São Pedro

Santo André, fi lho de Jonas e Maria Salomé, era pescador originário de Betsaida, às margens do Mar de Tiberíades ou Lago de Genesaré, e morava com São Pedro na casa da sogra deste (Me 1, 29). Sua cidade, na Galileia, tornou-se conhecida por ser o berço dos qua-

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tro primeiros Apóstolos. Mas, sobretudo, por causa da maldição que o divino Redentor do Mundo fulminou contra ela, por sua infidelidade às graças recebidas: "Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e Sidônia os milagres que.foram realizados em vosso meio, há muito tempo teriam se arrependido sob o cilicio e a cinza" (Mt 1 l, 21 ). É São João quem narra o primeiro encontro de dois dos futuros Apóstolos com o Salvador. Estava São João Batista com dois de seus discípulos, João e André, quando passou Jesus de Nazaré e lhes disse: "Eis o Cordeiro de Deus". Intuindo que seu mestre com isso os induzia a seguir a Jesus, os dois foram atrás d 'Ele. O Divino Mestre, voltando-se, perguntou-lhes: "O que procurais?" Não sabendo bem o que dizer, eles balbuciaram: "Mestre, onde morais?". Disse Jesus: "Vinde e vede". André e João O seguiram, e passaram a tarde com Ele (Jo I, 35-39).

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Sobre esse conv1v10 indizivelmente abençoado com o Filho de Deus, exclama o grande Doutor da Igreja Santo Agostinho: "Oh dia ditoso! Quem pudera dizer-nos o que naquelas horas aprendeu o afortunado discipulo! "4 Ao que acrescenta um renomado hagiógrafo: "A História Sagrada não nos declara os maravilhosos efeitos da conversa que tiveram com Ele, que era a sabedoria do Pai; deixando à nossa consideração, mais que à nossa noticia, o tesouro de graças que beberam na própria fonte de quem era a salvação de todo o mundo ". 5 Pescadores, mas sobretudo Apóstolos

É notável constatar como esses primeiros discípulos, apesar de sua humilde profissão, tinham preocupações religiosas e eram, de ce110 modo, bem instruídos nessa matéria e muito apostólicos. O que faz supor que fossem pelo menos alfabetizados e possuíssem uma

cultura religiosa não desprezível. André tinha uma natureza ardente, unida a um coração singelo, e buscava lealmente o reino de Deus. Por isso, a primeira coisa que fez ao chegar em casa foi procurar seu irmão mais velho, Pedro, e dizer-lhe: "Encontramos o Messias" (Jo 1, 41). Se ele disse "encontramos", é porque O estavam procmando. E se O estavam procurando é porque conheciam as Escrituras e certamente por São João Batista, seu mestre, sabiam que a vinda do Messias estava próxima. André conduziu Pedro a Jesus. Vendo-o, disse o Filho de Deus: "Tu és Simão,.filho de Jonas; serás chamado Kefas, que quer dizer Pedro" (Jo 1, 42). "Kefas ou Cefas" é uma palavra de origem siríaca que significa "pedra". Mais tarde o Salvador dirá por que motivo lhe deu esse nome. Em outra ocasião, narram os Evangelhos que estando Pedro e André pescando no Mar da Galiléia, risto Jesus passou por eles e lhes disse: "Vinde após mim, e Eu vos farei pescadores de homens" (Mt 4, 19). -<' les deixaram tudo, e O seguiram defini tivamente. Mais tarde, por ocasião da primeira m ultiplicação dos pães e dos peixes, o Messias perguntou se havia

algum pão. Foi Santo André quem informou que ali havia um jovem com cinco pães e dois peixes. Contudo, demonstrando uma fé ainda vacilante, acrescentou: "Mas que é isto para tanta gente?" (Jo 6, 9), como que duvi_d ando que Jesus pudesse multiplicá-los. Certo dia, alguns pagãos gregos "que tinham ido adorar a Deus no dia dafesta" da Páscoa, disseram ao Apóstolo Felipe que desejavam ver Jesus. Felipe falou com André, como a um dos primeiros e o mais familiarizado com o Messias. Os dois comunicaram então a Jesus (Jo 12, 22). Quando Nosso Senhor, às vésperas de sua Paixão, descreveu a futura ruína de Jerusalém e o fim do mundo, Santo André foi um dos Apóstolos que depois perguntou particularmente ao Messias quando é que isso ' iria ocorrer (Me 13, 3). "Ide e pregai a todas as gentes"

E lê-se no Evangelho de São Marcos "Durante três anos, André recolheu os segredos do coração do Mestre, assistiu seus milagres, ouviu com avidez sua doutrina, e foi testemunha de sua Paixão e Morte. Foi o primeiro

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LEITURA ESPIIUTUAL

dos Doze a seguir Jesus; e aquele primeiro entusiasmo não desmaia nunca, nem nos caminhos da Galileia, nem nos silêncios do deserto, nem diante dos muros inimigos de Jerusalém. Ouve com os demais Apóstolos o mandato divino 'Ide e pregai a todas as gentes' [Me 16, 15] ; e quando chega a hora de lançar-se através do mundo para pregar a boa-nova, deixa para sempre sua terra e o lago inolvidável onde haviam brilhado para ele a luz da verdade, e caminha através do mundo romano arvorando intrepidamente a tocha divina ".6 O Pe. Ribadeneira diz que na divisão do mundo entre os Apóstolos, "coube a Santo André a província da Citia,7 como diz Origenes,· e Sofrônio acrescenta que não somente pregou aos citios, mas também aos sogdianos, aos sacas feitios asiáticos] e aos povos da Etiópia. E o mesmo dizem Doroteu e Santo Isidoro. O Martirológio Romano diz que pregou na Trácia e na Cítia. O mesmo diz Nic~fàro, e que ilustrou, com a luz do Evangelho, a Capadócia, Galicia e Bitinia até o Mar Negro. São Gregório Nazianzeno cifirma que se estendeu até o Épiro, que agora chamamos Albânia, e São João Crisóstomo que pregou aos gregos ".8

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Por ordem do governador romano Egeas, Santo André morreu crucificado numa cruz em forma de X, em Patra, capital da Acaia, por volta do ano 60 de nossa era. Para que ele sofresse ainda mais, não o pregaram na cruz, mas amarraram-no, para que expirasse lentamente. São Bernardo, em um sermão, diz que "quando viu a cruz, o rosto do santo Apóstolo não se alterou como acontece com a fraqueza humana, nem perdeu a voz, nem tremeu seu corpo, nem se turbou sua alma, nem perdeu o juízo. Antes, o.fogo da caridade que ardia em seu peito, lançou chamas pela boca. [. ..} Santo André era homem semelhante a nós e aprazível. Mas tinha tão grande sede da cruz e com um gozo jamais ouvido estava tão regozijado e como fora de si, que prorrompeu naquelas palavras tão doces e tão amorosas ",9 "que a Igreja recolheu em sua liturgia: 'Ó cruz que servistes de leito a meu Senhor e Mestre, recebeme em teus braços, e leva-me do meio dos homens para que por ti, me receba quem me redimiu por ti, e seu amor me possua eternamente! ' " 10 Segundo Dom Guéranger (abade de Solesmes, na França), seus restos mortais foram transportados para Constantinopla na época do Imperador Constâncio, e logo para Amalfi, na província de Nápoles. Sua cabeça, levada para Roma no pontificado de Pio II, foi colocada na Basílica de São Pedro. 11 ❖ Notas:

1. E/ Afio Litúrgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1954, tomo 1, pp. 513-514. 2. ln Fios Sanctorum, em La Leyenda de Oro, L. González Y Compania - Editores, Barcelona, 1897, tomo IV, p. 435. 3. Dom Guéranger, op. cit., p. 514, nota 1. 4. ln Frei Justo Perez de Urbel, O.S.B., Afio Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo IV, p. 436. 5. Pe. João Croisset, S.J., Afio Cristiano, Madri, Saturnino Calleja, 1901, tomo IV, p. 688. 6. Urbel, op. cit., p. 438. 7. "A Cítia foi uma região na Eurásia habitada na Antiguidade por um grupo de povos iranianos que falavam línguas iranianas conhecidos como citas. A localização e extensão da Cítia variou com o tempo, da região dos Montes Altaionde às fronteiras de Mongólia, China , Rússia e Cazaquistão e se encontram à região do baixo Danúbio na Bulgária". pt.wikipedia. org/wiki/C%C3%ADtia . 8 . Ribadeneira, op. cit., p. 435. 9. ld. p. 437. 10. Urbel, op. cit., p. 439. 11. Op. cit., p. 516.

Se Deus é bom, por que as pessoas sofrem? Indagação corriqueira e facilmente compreensível à luz da doutrina católica, infelizmente não mais ensinada com adequação nos dias atuais. Em consequência, vai se alastrando a incompreensão do plano de nosso Criador.

••••• VALDIS GRINSTEINS

M

uitas vezes encontramos pessoas que, sabendo da nossa condição de católicos, nos perguntam, como se fôssemos membros de uma religião absurda ou contraditória: "Por que Deus, sendo bom, deseja que as pessoas sofra m?". Depois dessa pergunta são apresentadas outras, no mesmo sentido: - Por que as crianças adoecem? - Por que mui tas vezes os bons morrem jovens e os maus vivem por muito tempo? - Por que há bandidos ricos e pessoas boas e pobres? - Por que alguns têm boa saúde, inte ligência, sorte etc., enquanto para outros tudo sai errado? - Por que temos de morrer? E, nesse mesmo tom, prosseguem por mui to tempo, no fu ndo qu eixando-se de que Deus operou uma criação imperfe ita, mal organizada e, no fu ndo, injusta. E se é uma criação errada, como pode ser Deus? Como um Ser perfe ito pode ser autor de uma cri ação imperfe ita? Observemos, de início, que as perguntas estão mal formuladas. A pergu nta correta deveria

Jesus cura o cego de nascença - Duccio Di Buoninsegna, séc. XIV. National Gallery, Londres

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ser: por que Deus deseja que soframos nesta vida? Que Deus é bom prova-o o fa to de Ele desejar que sejamos fe lizes para sempre, mas na vida eterna. As pessoas que faze m perguntas desse gênero não têm uma visão comp leta do problema. Seria como alguém que di ssesse que o médi co é mau porque operou uma pessoa do apêndi ce e a operação fo i dolorida.

a uma prova, pudesse dizer: " Pud e esco lher entre Vós, entre vosso amor e tal ou qual prazer; e como renunciar a esse prazer, provo assim o meu amor". O Criador altera o plano original

Mas, o que aco nteceu qu ando Adão e Eva foram subm etid os

Provar o verdadeiro sentido do amor a Deus

Para responder corretamente a todas essas perguntas importa considerar o panorama inte iro. Q ue plano tinha Deus ao cri ar? Ele, em sua bondade, colocou o homem e a mulher num para íso onde eles d ispunham de tudo que ca usa fe li cidade à nossa natureza. Possuíam ciência infu sa, não adoeciam nem morri am e mantinham contato com o própri o Cri ador. Os teó logos julga m que no Paraíso Terrestre, conhecendo todas essas marav ilhas, o homem dev ia aperfe içoar-se com a contemplação delas e crescer no amor a Deus. E isto, de tal maneira que, em determinado momento, quando tivesse chegado a um alto grau de amor, iri a diretamente para o Céu, sem morrer. E ntretanto, para que ta l pla no fosse perfe ito, seria necessário que o· homens passasse m por uma pro,va. Q ual a razão? Porque se alguém nos ama e nos concede tudo e nós não podemos oferecer-lh e nada em troca , sentir-nos-íamos fr ustrados. Era necessário que, em determinado momento, o homem, submeti do

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a um a prova no paraíso terrestre? Fracassaram co mp letamente. Amaram a si p róprios ma is do q ue a Deus. E les não senti am in c linação alguma para o mal, não tinham fa lhas de in te ligênc ia o u qua lquer moti vo de queixa contra o C ri ador. Por isso seu pecado fo i grav íss imo, mui to mais grave do que os nossos, pois nascemos com in c li nação para o mal. Tã o grave , que Deus, em s ua sabedoria, mud ou o plano origi nal.

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Contudo, o que hav ia de ma is importante no plano ori gina l da C ri ação, se manteve : o homem podi a ir para o Céu e ser fe li z por toda a eternidade. Apenas a lterou a fo rma de alca nçá- lo. Desde então, e le não mais viveri a num paraíso nem teria todas as perfe ições natura is poss íve is. Pelo contrári o, nasceri a com o pecado ori gina l que o inclinari a para o ma l. Como consequência desse defe ito, teri a fa lhas de inte li gência, más inclinações, fa lta de constânc ia, adoeceri a e, sobretudo, morreri a para obter o Céu. Viveri a numa Terra onde a natureza podi a tornar-se uma inimiga, os animais serem- lhe hostis, co mo ta mbém ter de ga nhar o pão com suor de seu rosto. Mas, po r o utro lado, a graça de Deus o auxiliari a a tornar-se melhor; as numerosas provas decorrentes do pecado orig ina l fa ri am com q ue ele pudesse demonstra r constantemente seu amor a Deus ao vencê- las; o Cri ador co nceder-lhe-ia uma institui ção dotada de doutrina perfe ita - a Igreja Católi ca - para gui á- lo pe lo bom camin ho; e, sobretudo, para reparar o pecado cometido, o próprio Fi lho de Deus, Nosso Sen hor Jesus C ri sto, viria v ive r entre nós, medi ante o mi stéri o da Encarnação. O sofrimento nos purifica e conduz ao Céu

Embora seja verdade que Deus mudou seu plano origina l, o novo plano di vin o é mais perfeito que o anterior. E o demôni o, que julgava ter obtido uma grande vitóri a quan-

que Deus tem um plano para cada pessoa, e a cada um concede qua li dades na medida em que necess ita para pôr em prática ta l plano. Mas, co mo Deus é justo, a quem dá mais, pedirá mais. Por isso o julga mento de qu em recebeu mais talentos, como inteligência, be leza, saúde, dotes artísticos etc., será mais severo para ele do que para quem recebeu menos ta lentos. A tentação e o pecado original

do induziu nossos primeiros pais a co meterem o pecado origina l, de fato perdeu ainda mais. Se compreendermos o signifi cado desse novo plano de Deus, teremos resposta para as perguntas fo rmul adas no iníc io. - Por que as pessoas sofrem? Porque com os sofrimentos elas co mpra m o méri to que as co nduz ao Céu. A uns o sofrimento leva a praticar virtudes como a paciência, a outros permite praticar virtudes co mo a caridade e a mi seri córdi a. - Por que as cri anças adoecem? Para mostra r como o pecado a fetou todos nós, até os inocentes. s pais veem na dor de seus filh os o efeito do pecado; e as crianças, na medida em que compreendem, vão aprendendo como as co isas deste mundo são passageiras e que o mais importante é ama r a Deus.

- Por que muitas vezes os bons morrem j ovens e os maus vivem por mui to tempo? ~o rque Deus leva os bons para o Céu, a fi m de goza rem eternamente quando estão preparados, enquanto concede tempo aos maus para que se arrependam e faça m penitência. - Por que há bandidos ri cos e pessoas boas e pobres? Porque Deus, conhecendo em sua infi nita sabedori a que há bandidos que vão se condenar e passar a eternidade sofrendo no infe rn o, lh es dá neste mundo o prêmi o por a lguma coisa que tenh am fe ito de bom, enquanto permite muitas vezes aos bons prati carem por meio da pobreza virtudes como a humildade e a ga nharem méri tos para o Céu. - Por que alguns têm boa saúde, inte li gência, sorte, etc. e para outros tudo sa i errado? Por-

Se entendermos o pecado origina l e seus efeitos, compreenderemos melhor muitas co isas. No paraíso, Deus hav ia concedido a A dão apenas uma pro ibição: a de não co mer da árvore da ciência do bem e do mal. E de ixou claro que morreri a irremedi avelmente caso o fizesse . Portanto, em seu amor pelo homem, Deus o tinha advertido do que poderi a ocorrer. Mas o demôni o, qu e j á hav ia fracassa do na sua prova de amor a Deus, fora autori zado a te nta r os homens. E fê-lo então com Eva, co loca ndo-lhe uma pergun ta mentirosa: - Como lh es proibiu Deus co mer o fr uto de abso lutamente qua lquer árvore do ja rdim ? Ao que Eva redarguiu com a res posta co rreta: que podi am comer do fruto de todas as árvores, exceto o de uma, pois do contrári o morreriam. O u seja, sa bia perfe itamente o que Deus queri a e o que ela faz ia. Eva deveria ter desconfia do do demôn io, po is se alguém fa z uma pergun ta mentirosa, é porque alimenta má in tenção. Portanto, ela cometeu o erro de não fug ir da tentação. E continu ou conversa ndo. E o demôni o uma segunda vez, afi rmo u que não morreri am, mas que se riam co mo deuses. O u seja, uma tentação de orgulho. Eva sabia perfe itamente como era Deus, cuj a perfeição e beleza ela co nhe-

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eia. Por outro lado, que prova tinha Eva de que a serpente sabia mais do que Deus? Se o Criador dizia uma coisa e a serpente outra, a quem deveria crer? Eva sabia perfeitamente que Deus tinha razão; contudo caiu na tentação do demônio, comeu o fruto proibido e foi tentar Adão a comê-lo também. Adão não apresentava falhas de inteligência como nós. E , como Eva, sabia perfeitamente que Deus tinha razão, que morreria caso comesse o fruto da árvore proibida. Por outro lado, também queria ser como um "deus" e agradar à mulher. Por isso, aceitou comer o fruto proibido. Seu pecado foi maior, porque ele era o principal, a cabeça da criação, aquele com quem Deus conversava ao passear no Paraíso (Gênesis 3,8). Os efeitos do pecado original se fizerem imediatamente sentir. O homem e a mulher se viram desnudos e quando Deus perguntou a Adão por que ele pecou, este respondeu que foi a mulher que Deus lhe havia dado quem o tentou (Gênesis 3, 12).

E Adão é também castigado. Não só terá de sofrer para produzir seu alimento, C()mo a Terra, por sua culpa, recebe uma maldição e todos os seres humanos terão de morrer. E as portas do Céu estarão fechadas até que o pecado venha a ser reparado. Mas Deus que é misericordioso, com pena do homem pecador, muda seu plano original e introduz outro, novo e melhor. E através de seus profetas promete enviar ao homem um Redentor, que repare o dano feito, a ofensa cometida. A parte central e mais importante do novo plano é Nosso Senhor Jesus Cristo. O pecado cometido

Deus castiga, mas tem pena do pecador

Cometido o pecado, sobreveio o castigo, sendo os seus protagonistas castigados na ordem em que pecaram, e justamente pelas razões por que pecaram. O demônio, cheio de orgulho, e que desejava ser o primeiro na Criação, é castigado a ser o último, o menor, o mais desprezível. A mulher, que sonhava tornarse uma "deusa", estará submetida a seu marido. E o texto bíblico esclarece: "Multiplicarei os sofrimentos

de teu parto, darás a luz com dores, teus desejos te impelirão para teu marido e tu estarás sob seu domínio" (Gênesis, 3, 16).

necessitava uma reparação, que deveria ser proporcional à ofensa praticada e à pessoa ofendida. Quem teria proporção suficiente para reparar uma ofensa feita a Deus? Só o próprio Deus. Por isso, Nosso Senhor veio à Terra para reparar tal ofensa. Também para nos dar exemplo de como sofrer e de resignação em nossas provações e limitações, por amor a Deus. O Divino Redentor, exemplo da aceitação da dor

Jesus Cristo era verdadeiro homem, e, portanto, "semelhante a

nós em tudo, menos no pecado " (Heb. 4, 14-16). Sentia fome, sede,

cansaço, porque deseja padecer como nós. Nas Sagradas Escrituras, vemo-lo manifestando sentimentos humanos: alegri a, tri steza, surpresa, admiração, amor, indi gnação etc. Foi igualmente tentado pelo demônio corno nós. Mas há uma grande diferença . Como fomos concebidos no pecado ori g inal, ternos em consequência dele, más inc linações. O sofrimento e as ten tações nos educam e obrigam a praticar virtudes. Nosso Senhor não necessitava do sofrimento pa ra produz ir esses efe itos, pois era perfeito . Mas acei tou sofrer, para nos ens inar e dar-nos exemplo. Em sua infini ta sabedoria, qui s nascer pobre, mas te ndo como Mãe a mais perfeita das criatmas e como pai ofic ial um santo da Casa real de David. Assim o dispôs para nos patentea r o pri mado das coisas espiri tuais sobre as materi ais. Quis ser

perseguido desde o início para nos mostrar que o pior não são as perseguições, mas o pecado; permitiu que o demônio O tentasse tr~s vezes para esclarecer que os ataques do inimigo infernal faz parte das provas desta vida. Jesus foi' caluniado, suas divinas intenções foram mal interpretadas, aqueles a quem curou milagrosamente não lhe manifestaram o devido agradecimento ; e, por fim , todo o bem por ele praticado foi retribuído com a morte mais dolorosa e infame. Nosso Senhor escolheu o sofrimento para nos ensinar a sofrer com resignação, sem rebeldia. A Santíssima Virgem, modelo de amor à Cruz

Nossa Senhora foi isenta do pecado ori ginal. Mas escolheu o sofri mento para nos dar o exemplo de como devemos carregar nossas cru-

zes. Ela foi um modelo de humildade, o oposto de Eva, que pecou por orgulho. A Santíssima Virgem respeitava os Apóstolos como bispos da Igreja e reconhecia sua superioridade concedida por Deus. Hoje, lamentavelmente, não se prega corno anteriormente o amor à Cruz nem se explicam às pessoas os motivos pelos quais Deus permite o sofrimento. É um grande apostolado poder expô-los às pessoas conhecidas que não receberam adequadas lições de catecismo. Peçamos a Nossa Senhora obter-nos de seu Divino Filho a graça de entender a razão dos padecimentos nesta vida, e de que as cruzes que Ele nos envia não são arbitrárias, mas fazem parte de um plano superior. Compreendendo e amando esse plano divino, estaremos em condições de alcançar a bem-aventurança eterna. ❖

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TODOS OS SANTOS

Celebrada já no século V como de Todos os Mártires, estafesta adquiriu mais tarde caráter universal, sendo fixada neste dia. É a comemoração da Igreja Triunfante, formada por todos os bem-aventurados que gozam da glória eterna , aos quais podemos pedir que nos alcancem graças.

FINADOS

Comemoração da Igreja Padecente, formada pelas numerosas almas que sofrem no Purgatório, pelas quais devemos rezar. *

São Martinho de Porres, Confessor

+ Lima, 1639. Mestiço, era filho de um descendente de cruzados e de uma escrava liberta. Entrou como "doado" para um dos conventos dominicanos de Lima, onde levou uma vida extraordinária por sua humildade, penitência, caridade e dom de milagres.

+ Séc. 1. Sua fé mereceu-lhes gerar na velhice aquele que prepararia os cam inhos do Salvador. Primeiro Sábado do mês.

São Nuno Álvares Pereira, Confessor

+ Lisboa, 1431. Armado cavaleiro aos 13 anos e Condestável de Portugal aos 25, a ele D. João I deveu seu trono e Portugal sua independência, pela retumbante vitória em Aljubarrota.

São Vilibrardo, Bispo e Confessor

+ Alemanha, 739. Nascido na Irlanda, foi sagrado bispo de Echternach , de onde seus missionários partiam para evangeliza r a Renân ia. Seu zelo chegou até a Dinamarca.

São Claro, Confessor + Tours, 386. Pertencente a uma família da alta nobreza, foi ordenado sacerdote ainda jovem, deixando tudo para viver junto ao grande bispo de Tours, São Martinho.

São Carlos Borromeu, Bispo e Confessor

+ Milão, 1584. Cardeal aos 21 anos, depois Arcebispo de Milão, realizou plenamente seu ideal de episcopado mediante as reformas do Concílio de Trento. Faleceu aos 46 anos, tendo sido uma das figuras exponenciais da Contra-Reforma. Primeira Sexta-feira do mês.

Santos Zacarias e Isabel, Pais de São João Batista, o Precursor

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CATOLJC ISMO

Dedicação da Basílica de São João de Latrão, Roma

Catedral dos Bispos de Roma e uma das primeiras basílicas dedicadas por Constantino ao culto cristão, ela foi consagrada por São Silvestre em 324.

o São Leão I Magno, Papa e Confessor

+ Roma, 461. Governou a Igreja por 21 anos, durante a invasão dos bárbaros. Lutou contra os hereges eutiquianos e www.catolicismo.com .br

donatistas; deteve o huno Átila às portas de Roma; defendeu intrepidamente os direitos da Sé Apostólica; incrementou e deu novo esplendor às cerimônias litúrgicas. Por tudo isso, recebeu da posteridade o título de Magno.

:J São Bartolomeu Abade, Confessor

+ Grotaferrata,

1065. Calabrês, entrou muito jovem para um mosteiro ítalo-grego, colocando-se sob a direção do fundador, seu compatriota São Nilo.

,.2 São Teodoro Studita, Confessor

+ Constantinopla, 826. Considerando as Ordens monásticas como "os nervos da Igreja ", fez do mosteiro bizantino Studios - que chegou a ter mil monges - um centro de santos e sábios.

1 Santo Estanislau Kostka, Confessor

+ Roma, 1567. Pertencente a uma das mais nobres famílias da Polônia , sua vida é palmilhada de maravilhas. Foi recebido por São Pedro Canísio no noviciado da Companhia de Jesus na Alemanha , depois enviado a Roma e acolhido paternalmente por São Francisco de Borja.

14 São José Pignatelli, Confessor

+ Roma, 1811. Nobre espanhol de origem italiana, entrou aos 15 anos para a Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote, dedicou-se ao

magistério e aos ministérios apostólicos. Foi o Provincial e um dos baluartes da Companhia, restaurada no reino de Nápoles por Pio VII.

15 Santo Alberto Magno, Bispo e Doutor da Igreja

+ Colônia (Alemanha}, 1280. Pouco dotado para o estudo, por ser grande devoto de Maria recebeu d'Ela a ciência, que lhe valeu de seus contemporâneos o título de Doutor universal. Foi professor de Santo Tomás de Aquino.

'

Santa Gertrudes, a "Magna", Virgem

+ Helfta (Alemanha), 1303. Considerada uma das maiores místicas da Idade Méd ia, entrou para um mosteiro com apenas cinco anos de idade.

17 Santa Isabel da Hungria, Viúva

+ Turíngia, 1231. Filha do rei da Hungria, casou-se com o duque da Turíngia e tiveram três filhos. Aos 20 anos ficou viúva, sendo então abandonada e perseguida pelos parentes de seu marido. Sem recursos, ofereceu seus serviços a um hospital de leprosos, falecendo na paciência , pobreza e humilhação aos 24 anos de idade.

18 Dedicação das basílicas de São Pedro e São Paulo

Na primeira, no Vati cano, encontra-se o túmu lo de São Pedro, o primeiro Papa; a segunda, na Via Óstia, foi construída no local do sepu ltamento de São Paulo.

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Santos Roque González e Companheiros, Mártires

São Clemente 1, Papa e Mártir

+ Rio Grande do Sul, 1628.

+ Roma, séc. 1. Terceiro sucessor de São Pedro, conheceu os Apóstolos e conviveu com eles. Sua carta dirigida aos Coríntios é documento fundamental para comprovar as teses do primado universal do Bispo de Roma e da constituição hierárquica da Igreja.

Missionários jesuítas que evangelizaram a região das Missões. Na de Caaró (RS}, quando o Pe. Roque terminava a Missa, índios sublevados pelo pajé (feiticeiro) partiramlhe a cabeça com uma clava. Fizeram o mesmo com o Pe. Afonso Rodríguez. O Pe. Juan dei Castillo havia sido martirizado anteriormente, na missão de Pirapó.

o Santo Edmundo, Mártir

+ Inglaterra, 870. Subindo ao trono inglês aos 15 anos, governou com sabedoria e prudência de ancião. Protegeu pobres, órfãos e viúvas, sendo um pai para seus súditos. Por não querer apostatar, foi decapitado por pagãos dinamarqueses que invadiram o país.

21 APRESENTAÇÃO DE NOSSA SENHORA

Esta tradição, recolhida por São João Damasceno, nos diz que os pais da Santíssima Virgem a oferecera m ao Templo para ser educada entre as virgens.

22 Santa Cecília, Virgem e Mártir

+ Roma, séc. Ili. Padroeira da música sacra e uma das mais ven eradas mártires da Igreja prim itiva, Cecília já tinha feito voto de castidad e quando o pai a casou com Valeriano. Ela o converteu , bem como ao cunh ado Tibúrcio, tendo todos eles sofrido o martírio pela fé.

24 Santos André Dung-Lac e Companheiros, Mártires

+ Vietnã, séc. XVI. Vietnamitas "convertidos pelos missionários dominicanos que haviam começado a evangelizar a região, foram martirizados sob a acusação de estarem introduzindo no país uma religião estranha" (do Martirológio Romano).

Santa Catarina Labouré, Virgem

+ Paris, 1876. Esta fi lha espiritual de São Vicente de Paulo recebeu de Nossa Senhora a revelação da Meda.lha Milagrosa, que tantas graças, conversões e milagres tem obtido em todo o mundo.

rou-se em Teologia, tornandose exímio pregador, diretor de almas, conselheiro e defensor dos pobres e humildes.

Santo André Apóstolo, Mártir

(Vide p. 37)

Notas: Santo Estêvão e Companheiros, Mártires

+ Constantinopla, 764. Monge do Mosteiro Studios, foi martirizado com centenas de outros companheiros por terem defendido o cu lto às imagens.

,9 São Francisco Antonio Fasani, Confessor

+ Itália, 1742. Franciscano no convento dos Frades Menores Conventuais de Lucera, douto-

* "Aos que visitarem algum cemitério e rezarem, ainda que só mentalmente, pelos defuntos, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos; diariamente, do dia 1 º ao dia 8 de novembro, nas cond ições costumeiras. Isto é: confissão sacramental, comunhão euca rística e oração nas intenções do Sumo Pontífice; nos restantes dias do ano, Indulgência Parcial (Enchir. lndulgentiarum, nº 13)".

s Santa Catarina de Alexandria, Virgem e Mártir

+ Séc. IV. Uma das santas mais populares dos primeiros séculos, recebeu aos 17 anos o dom da sabedoria e era tida como a mais sábia das jovens do Império Romano.

6 São Pedro de Alexandria, Bispo e Mártir

+ 311. "O historiador Eusébio saudava-o como um desses pastores divinos, pela vida virtuosa e por sua sagrada eloquência. Foi uma das últimas vítimas das perseguições romanas" (do Martirológio Romano).

FESTA DE NOSSA SENHORA DA MEDALHA MILAGROSA

Jnteuçõcs p ar a a SaJ1 la Mi ssa cm nove mbro Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes intenções:

• Missa de Finados pelas almas do Purgatório, roga ndo a intercessão de Nossa Senhora da Meda lha Milagrosa - devoção celebrada no dia 27 de novembro - pelo sufrágio das almas de pa rentes e conhecidos dos leitores de Catolicismo. • Em razão do trágico terremoto que castigou o centro da Itá lia, na Missa haverá um memento roga ndo à Provid ência Divina especial proteção para as famílias mais pe nalizadas.

lnle nçõcs pa ra a Sa11La M issa cm deze mbro • Missa de Natal. Suplican do ao Divino Men ino Jesus, pela intercessão de sua Mãe Puríssima, que conceda abunda ntes e especiais graças às fam ílias de todos os assina ntes, leitores e em agradecimento a todos que colaborara m com Ca tolicismo ao longo de 2016.

catolicismo@terra.com.br / NOVl~MB RO 201 6

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CURSO DE VERAO NAPOLONIA A

LEONARDO PRZYBYSZ

ara as pessoas que têm as mesmas opiniões e perseguem os mesmos objetivos, estarem juntas é motivo de alegria. É de Aristóteles a frase "similis sim ili gaudet" (o semelhante se alegra com o que lhe é semelhante). Foi nessa atmosfera, de muita seriedade, consonância e amizade que se realizou, de 22 a 26 de agosto passado, mais urna Universidade de Verão, promovida por algumas TFPs da Europa. Como nos anos anteriores, o evento se desenrolou no castelo de caça dos reis poloneses, na cidade de Niepolomice, sob o título "Nova militância católica em confronto com os novos desafios". Estudar estratégias para fazer face de modo eficaz a esses desafios, nos dias conturbados em que vivemos, foi o esforço dessas jornadas de intenso trabalho. A participação de uma centena de jovens provenientes de 15 países europeus e dos Estados Unidos foi bem a prova do interesse despertado pelos temas abordados e ana li sados segundo o processo descrito no livro Revolução e Contra-Revolução do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Eis alguns dos temas tratados: a sacralidade da civilização cristã; ecologia; o secular processo revolucionário; a JV Revolução; o desafio do Islã; a defesa dos restos da civilização cristã; Plinio Corrêa de O liveira, exemplo de católi co militante; a espiritualidade de São Luís Grignion de Montfort e de Plinio Corrêa de Oliveira; apresentações de atividades das TFPs em vários países. O encerramento ficou a cargo do Duque Paul de 01denburg. Fizeram parte da programação visitas às famosas minas de sal de Wieliczka, ao castelo de Wisnicz, à bela e histórica cidade de Cracóvia e às instalações dos escritórios da TFP polonesa. A assistência diária à Santa Missa proporcionou aos participantes o conforto espiritua l de que precisavam e as forças para empreender o bom combate em defesa da civilização cristã em seus respectivos países. ❖

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CATOLICT MO / www.catolicismo.com.br

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Instalações dos escritórios da TFP polonesa

catolicismo@terra.com.br / NOVEMBRO 2016

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''Estamos engajados numa guerra religiosa" FRANCISCO JOSÉ SAIDL

iante de um se leto público reunido no dia 15 de setembro na sede do Bureau america no de TFPs em Washington, o escritor húngaro Sebastian Gorka afi rmou: "Estamos engajados na mais longa guerra da história americana e não há razão para perdê-la". Professor em tempo integral de Estratégia e Guerra Irregular do Instituto de Política Mundia l em Washington e membro fundador do Conselho para Assuntos de Segurança Naciona l, o Prof. Gorka é dos ma is autorizados e procurados espec iali stas no combate ao terrorismo e atua como diretor associado para os Assuntos do Congresso e Relações com a Comunidade de Operações Especiais da Universidade de Defesa Nacional. Filho de refugiados húngaros, ele nasceu no Reino Unido e tornouse cidadão americano em 2012. Por ocasião desse encontro na capita l americana, ele desenvo lveu a tese de seu recente livro Defeating Jihad - The Winnable War (Derrotando a Jihad - A guerra possível de vencer).

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Afirmou ele, elencando as teses de sua obra: - Temos combatido a Jihad desde o inicio da história de nossa nação, como atesta o hino dos Fuzileiros Navais ("Dos palácios de Montezuma às praias de Tripoli, no ar, na terra ou no mar, combatemos pelo nosso país"). - O Islã é totalitário. Ou você se submete, ou é escravizado ou morto. - Estamos perdendo por causa da ideologia. Não se menciona a Jihad ou o Islã pelo nome. - Quando não se pode nomear o inimigo, arrisca-se a perder a batalha. - O governo esconde os nomes !SIS, Alá, A 1-Baghadi em atentados como os de São Bernardino e Orlando. - O que o ISJS está fazendo na América? Diz o governo que isso não é um problema. - Quando o inimigo controla o que se pode dizer sobre ele, leva vantagem. - É impossível entender osjihadistas sem considerar o aspecto religioso. O que os move tem um jimdamento religioso. Secularistas são incapazes de entender a sua motivação. - Aje errônea deles é o que os motiva, por exemplo, para atentados com bombas suicidas.

* * *

Fa lando recentemente sobre o assunto em palestra para mili tares, fez-lhes notar que, ou se deixam im pu lsionar por um idea l muito e levado, ou não serão capazes de se engajar por nenhum preço nessa tarefa. Por fi m, respondendo a uma pergun ta sobre o iso lac ionismo, afirmou que isto não é uma solução: "Não estamos apenas defendendo um território. Múitos terroristas nasceram neste país." Após a conferência, seguiu-se uma sessão de autógrafos de seu li vro. Os pa1ticipantes distribuíram-se pelas salas do Bureau, onde foram servidos aperitivos e bebidas, dando ocasião a prolongadas conversas em torno deste tema de palpitante atualidade . ❖ CATO LI CISilO / www.catolicismo.com.br

O confuso debate dentro e fora da Igreja, antes, durante e depois dos dois últimos Sínodos Episcopais sobre a família, ao invés de esclarecer os delicados e decisivos problemas levantados, suscitou novas dúvidas e perplexidades. Esse debate lançou ou relançou algumas palavras-chave - de caráter mágico ou talismânico - já amplamente divulgadas pela mídia. Trata-se de palavras e máximas ambíguas, destinadas a encetar uma "conversão pastoral da linguagem da Igreja" com vistas a criar uma "pastoral da misericórdia" entendida em sentido permissivo. Esta propaganda é susceptível não só de confundir ainda mais a opinião pública católica, mas também de espalhar o relativismo na vida da Igreja e, consequentemente, também na esfera civil. Parece, portanto, necessário que tais .palavras-talismã não sejam ignoradas, mas examinadas em seu sentido original, · comparando-o com o que houve de novo e distorcido no debate pós-sinodal. É o que procuramos fazer neste pequeno volume, escrito às vésperas da publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Francisco.

Petrus Editora Ltda. Rua Javaés, 681 - 1º andar - Bairro Bom Retiro CEP 01130-010 - São Paulo-SP Fone/Fax (11) 3333-6716 E-mail: petrus@livrariapetrus.com.br Visite nosso site na internet: www.livrariapetrus.com.br


ESCORIA Símbolo do , ... nlo, da grandeza e da ai cio espanhol

PLINIO CORRtA DE OLIVEIRA

fachada do Escorial* apresenta alguma semelhança com a fachada de Versailles: longa, enorme, com motivos que se repetem. Mas na fachada do Escorial há uma nota de simplicidade, de sobriedade e de serenidade que Versailles não tem. Versailles é um edificio festivo; o Escorial é um edificio pensativo. Versailles convida à exibição das grandezas do mundo; o Escorial convida à concentração e a pensamentos das grandezas do Céu. Nos pavilhões do Escorial há uns tetos esguios que apontam para o céu, com umas esferas em cima que dão a impressão de que algo pegou a Terra, meteu um garfo e a levantou para o Céu. A Terra é espetada e conquistada em ordem ao Céu. É o que não se vê em Versailles, onde tudo é horizontal, nada aponta para o Céu, os troféus indicam a glória terrena dos Bourbon e de Luís XIV. Há qualquer coisa de um pouco monótono nas fachadas do Escorial. Numa delas só há janelas que se repetem; não há um portal ornamental, não há uma consolação para a alma dentro da monotonia invariá-

A

vel das janelas. Mas quando se sabe analisar, nota-se algo da grandeza espanhola. É certa forma de austeridade, de segurança de si, sem enfeite. Há certa pertinácia na monotonia, como quem diz: "Sou eu. Sou assim e assim está bem. Eu desafio! ". E há qualquer forma da grandeza de gentil-homem combatente, que é preciso saber interpretar para se entender o sabor desse palácio espanhol. ❖

*

Palácio de San Lorenzo de E/ Escoria l, da época de Felipe 11, foi construído entre 1563 e 1584. É considerado um dos principais monumentos do Renascimento espanhol.

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Pl ínio Corrêa de Oliveira em 21 de fevereiro de 1970. Sem revisão do autor.



EXCERTOS

SUMÁIUO

O declínio do espírito católico em um povo é o declínio de seu ardor na defesa da pureza da doutrina

Plínio Corrêa de Oliveira

O zelo pelos direitos de Seu Pai, levou Nosso Senhor a expulsar os vendilhões do Templo.

orno a doutrina católica é. a própria Vcrdad. e e o própri.o Bem, quem a ama sem reservas deve amá-la como ela quer ser amada, isto é, com aquela ordenação sábia de caridade, que fazendo dela o centro de toda a vida e reconhecendo nela a fonte de todo o Bem, nem por isto, ou antes, exatamente por isto, dá a cada qual o que é seu. De sorte que, quanto mais radicalmente católico se é, tanto mais se respeita, depois dos direitos de Deus, os direitos de todos os homens. Assim, não é possível que o amor entusiástico e sem limites à Igreja venha redundar em qualquer desordem. Este amor se confunde com a própria ordem. Tal preliminar estabelecida, pode-se verificar que o sintoma mais característico do declínio do espírito católico em um povo é o declínio de seu ardor na defesa da pureza da doutrina. Quando, em um movimento católico, qualquer que ele seja, a preocupação dominante é de ceder, de transigir, de calar, de acomodar a todo o preço acomodações que entretanto não têm preço, a situação é clara: há um processo espiritual análogo à tuberculose que mina a fundo o sp írito religioso. Pelo contrário, quando o m vimento se destaca por seu radicalismo, isto é, por sua sede de ortodoxia completa e minucio a, de perfeição autêntica e sem "maquillage", de cnso profundo do sobrenatural que há na Igreja, não há esperança que não se possam nutrir a respeito de tal movimento. ❖

e

Trecho extraído do periódi co "O Legionário", nº 429, 1° de dezembro de 1 '1,

2

CATOUCJSMO / www.catolicismo.com.br

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EXCERTOS

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CARTA DO DIRETOR

5

NACIONAL Eleições: desmoronamento da esquerda

8

CORRESPONDÊNCIA

10

A PALAVRA DO SACERDOTE Comunhão a casa is divorciados recasados no civi l?

14 16

Dird,or:

Paul o Co rrêa de B ril o Filho

A REALIDADE CONCISAMENTE

Jornalista Hcs11onsávcl:

INTERNACIONAL

Ne lson Ra,11 0s Harrcl 10 Registrad o "" D HT/ D F sob o 11" ,1116

Consequências das eleições americanas

20

Administração:

H11 a .lavaés, 68 1 I" a nd ar - 130111 Retiro Cl~P0 11 30-0 IO Sã0 Pa11 lo -S P

DESTAQUE Carta de Cardeais ao Papa Francisco

26

Serviço de Ate ndimento ao Assinante: ( 1 1) 3:33 1-<l,522

CAPA

( 11) :Bó 1-6977 ( 11 ) :333 1-1,790 ( 1 1) 284,:/-94,87 ( 11 ) 33,H -67 16

Uma meditação transcendente para o Natal

34

VIDAS DE SANTOS

Co1·res1•ornlê11ciu:

São Pedro Canísio

Ca ixa Postal 707

C:E P OJ0,3 1-970 Sno Pau lo - S P

40

ENTREVISTA

lm1ll'e são:

Prol

Invasão maometana na Europa

44

SANTOS E FESTAS DO MÊS

46

AÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

E ditora C rá íi c;;i Lid a. E~111ai l: c at o li c is m o t c rra. co 111 . hr

1lornc Pagc: ww w.ca t,o l ic is m o .c o m. br

1.S •

52

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

O102-11502

Prc<,:o da ass inalura a 1111 ~il para o rn6s de Dc,crn bro el e 20 16:

O Men ino Jesus nos braços de Sua Mãe:

Con11.1 111 :

presente para os homen s

Coo perador: Bc11f'c itor: Gra nd e 13~nf'eil or:

NOSSA CAPA:

Ex empl a r avu lso:

R.· 180,00 R. · 270,00 R '160,00 H$ 760,00 R$ 18,00

Adoração dos Reis Magos - Bartolomé Esteban Murillo, séc. XVII.

Museu de Arte de Tol ed o-Ohio (EUA).

CATOLICISMO Pu hli <'aQílo 1111• n i;a l d a l~diLora Pnd rc l:l c luhior de Po 111 m; Lida .

catolicismo@terra.com.br / D l~Zl~M 13 RO 20 16

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CARTA DO DIRETOR

NACIONAL Caro leitor,

Paulo Corrêa de Brito Filho DIRETOR

Segundo nossa tradição, a matéria de capa das edições de dezembro de Catolicismo reproduz matérias de autoria de Plínio Corrêa de Oliveira sobre a data magna da Cristandade. O artigo que ora apresentamos aos leitores foi publicado na edição de dezembro de 1963. De início, o autor ressalta uma augusta realidade: jamais uma criatura, como a Santíssima Virgem, adorou a Deus com tão profunda humildade. E a propósito da frase do Evangelho de São Lucas "Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na Terra aos homens de boa vontade", ele comenta que em nossos dias se acentua o aspecto "paz na Terra", enquanto a "glória de Deus" fica relegada a segundo plano pelos homens. Entretanto, a "gloria de Deus" prima com toda evidência sobre a "paz aos homens de boa vontade". Tal inversão de valores denunciada no início de 1960 só se agravou no início do século XXI. Durante as justas alegrias que sintamos no Natal deste ano, é criterioso não olvidarmos esse motivo de tristeza que deve pesar em nossos corações de católicos fiéis! *

*

*

Destaco ainda, nesta edição, a publicação na íntegra de duas importantes matérias: uma referente ao âmbito espiritual e outra ao terreno temporal. A primeira consiste numa respeitosa carta enviada pelos cardeais Walter Brandmüller, Raymond L. Burke, Cario Caffarra e Joachim Meisner ao Papa Francisco. A segunda reproduz criterioso documento de autoria da TFP norteamericana sobre as últimas eleições presidenciais nos EUA. Dispensamos tecer aqui comentários sobre essas temáticas, porquanto elas vêm precedidas de notas explicativas da Direção de Catolicismo. Desejamos a todos nossos diletos assinantes e leitores, como a suas famílias, sinceros votos de um Santo Natal. E que o ano de 2017 lhes seja cumulado de graças especiais. Em Jesus e Maria,

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Incógnitas no panorama político brasileiro Resultados do segundo t urno confi rmam retração dos partidos de esquerda no Brasil e lançam incertezas sobre o futuro próximo

••••• FREDERICO R. DE ABRANCHES VIOTTI

"PT Saudações". Com esse título, Vera Magalhães começa seu artigo no diário "O Estado de S. Paulo". Observa ela que o eleitor brasileiro tratou de dizer, de ''.fàrma clara e cristalina ", que a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2018 não vai acontecer. A ex-presidente Dilma Rousseff, por sua vez, "tem sido vista fazendo compras tranquilamente no Rio, em um sinal inequívoco de que o discurso de que houve um golpe era uma.1antasza . O resultado das eleições fo i desastroso para o Partido dos Trabalhadores (PT), que perdeu inclusive nas sete cidades do ABC Paulista, seu berço políti co. Nelas, faixas com a frase "Tchau, queridos. Fora daqui!" foram espalhadas nas ruas da região, em provocação ao partido. 2 /;

"

1

Alguns resultados dessas eleições

No segundo turno eleitoral, o PT não elegeu sequer um candidato nas cidades em que concorreu . No total nacional, das 638 prefeituras que detinha com as eleições de 2012, administrará agora apenas 254. E os 11 ,2 milhões de eleitores sob a sua gestão diminuíram para 1,6 milhão em 20 L7. 3 Outro grande derrotado foi o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), fund ado por ex-petistas que o consideram uma "alternativa poiitica à esquerda que pudesse abrigar os lutadores pelo socialismo "4 . Não elegeu nenhum prefeito no chamado G93 (grupo das 93 cidades brasi leiras com mais de 200 mi l eleitores) e

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j catolicismo@terra.com.br / DEZEMB RO 2016

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ponde pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão.fraudulenta de divisas. No processo em que é investigado, chamou 22 testemunhas,

teve menos votos do que nas e leições de 20 12, embora concorrendo no Rio de Jane iro com a ca ndidatura de Marcelo Freixo. 5 O PDT e o PC do B crescera m no número tota l de prefe itos. Juntos, c begaram a e leger 4 16 ca ndidatos nesta última ele ição, mas perdera m espaço no G93 (de 15 para 5 prefeituras). O PSB, por sua vez, diminui u de 460 prefeitos para 415 eleitos. 6 O Brasil , a título de comparação, tem ma is de 5.500 municípi os. Enquanto o PM DB fez 1.038 prefeitos, o PSDB e legeu 803. Abstenções em alta

Um aspecto importante nesse segundo Lurno eleitoral fo i o a lto número de votos brancos, nulos e a bstenções, que chegou a 21,5% dos inscritos. 7 Desi lu didos com a c lasse política - e, o que é mais profundo, também com o próprio s istema representativo nascido com o Estado Moderno - muitos e leito res preferiram não depos itar seu voto no "mal

6

CATO LI CISMO / www.catolicismo.com .br

menor", ex pressão cada vez mais uti li zada para designar a esco lha do ca ndidato "menos ru im". Diante desse quadro, algun s analistas ass inalam o risco da eventual irrupção de um populi sta - um outsider - como alternativa viáve l na próxima ele ição pres idenc ial , capitaneando o descontentamento do e leitorado. A esse respeito, convém lembrar que Pli nio Corrêa de O li veira advertia constantemente obre o risco do surgimento de umafàlsa direita, de uma candidatura que tivesse uma capa conservadora, mas que servisse para desmobi li zar os espíritos contra o erros da Revolução e impl antar, paul atinamente, uma agenda soc ialista. Processos judiciais e investigações

Uma questão que não se pode deixar de mencionar é a incerteza deri vada das inúmeras in vesti gações e processos jud iciais. O ex-presidente da Câmara dos De putados, Eduardo C un ha, está preso preventiva mente e res-

inclu indo o ex-pres idente Lul a da Silva e o atua l pres idente Mi che l Temer.8 Além disso, C unh a ameaça iniciar uma delação premiada que poderá implicar dezenas de po líticos em exercício nos seus ca rgos.9 Já o herdeiro da construtora Odebrec ht, Marce lo Odebrec ht, que está preso desde junho do ano passado, fir mou aco rdo co m o Mini stéri o Pú bli co Federa l (M PF) por meio de delação premiada. A delação da Odebrec ht é uma das ma is aguardadas pelos in vestigadores da Lava Jato. Cerca el e 80 executivos e outros fun cionários da empresa negoc iam com a PGR (Proc uradoria-Geral ela República) e a força-ta refa em C uritiba. 10 O utro processo que tomou as páginas da imprensa é o ela ''Farra das Passagens ". O MPF investi ga a regul aridade da emi ssão de milhares ele passagens aéreas, entre 2007 e 2009, por deputados federais. Ao todo, respondem ao processo 443 ex-deputados, sendo que 2 15 de les estão atualmente em cargos com foro privilegiado. São deputados, senadores, governadores, mini stros do TCU (Tribuna l de Contas da Un ião) e do governo Michel Temer. 11 Por seu lado, Temer enfrenta o ri sco de ver se u mandato cassado pelo Tribu nal Supe ri or Ele itora l (TSE). A chapa "de Oi/ma e Temer responde por abuso de poder político e econômico na eleição à presi-

dência em 20 14 em uma ação movida pelo PSDB. A ação contra a chapa investiga se a campanha à reeleição de Di/ma e Temerfoi abastecida com recursos desviados da Petrobras. " 12 Com a ausênci a ela Pres idente da República (D il ma Rou sseff, qu e sofreu impeachment) e no caso de se u Vice-Pres ide nte ter o mandato cassado pe lo TSE, deveri a assumir, provisoriamente (até que seja feita a eleição indireta de um novo Pres idente da República), o Presidente do Senado, Senador Rena n Calheiros. Todav ia, em processo perante o Supremo Tribuna l Federal (STF), pede-se que ele seja afastado do ca rgo se vi er a se tornar réu em al guma ação pena l na Corte. Renan Calheiros ainda não é réu, mas cot:re contra

e le umá investigação, e dependerá exc lusivamente do STF ace itar dec lará- lo réu nessa ação. 13 Saudável reação conservadora

Diante desse quadro, é d ifici l prever co mo os acontec im entos po lítico-partidários se desenro larão. As institui ções republi canas estão fragmentadas e desac reditadas, o ele itor está cansado dos políticos e o peri go da ascensão de um a .fàlsa direita não deve ser desca rtado. Apesar di sso, um fato é claro. O Bras il se di stanciou do PT e a esq uerda perdeu terreno na opinião pública nac ional. A chamada " onda conse rvadora" fo i observada por inúmeros periódi cos, incluindo jorna is estrange iros co mo o " Wall Street Journal", a agência ele notícias "Associated Press", o " EI Pa is" e o " Le Moncle". 14 Q ue a Sa ntíss ima Virge m Aparec ida, Padroe ira do Bras il , faça frutifica r essa onda conservadora para que e la se torne um a corrente ele op ini ão firme , cada vez mais di sta nte dos erros revoluc ionár ios e atenta às fa lsas so luções que poderão surg ir. Notas:

1. Vera Magalhães, PT Saudações, "O Estado de S. Paulo", 31-10-16. 2. Fábio Munhoz, Faixas com provocações ao PT são espalhadas pelo ABC Paulista, " IG São Paulo", 3811-16. 3. Ricardo Senra e Thiago Guimarães, Como as eleições municipais desidrataram os partidos de esquerda, "BBC Brasil ", 31-10-16. 4 . História do PSOL disponível no site do partido: http://www. psol50.org.br/partido/historia/ 5. Fernando Rodrigues, PSOL: menos votos que em 2012 e só 2 prefeitos no país, UOL, 31-10-16. 6. Ricardo Senra e Thiago Guimarães, op. cit. 7. ld. lb. 8. Eduardo Cunha pede que Lula e Temer sejam suas testemunhas de defesa, "IG", 2-11-16. 9. Cunha manda recados ao governo e ameaça fazer delação para proteger família, "IG São Paulo", 2-11-16. 10. Marcelo Odebrecht faz acordo com a Lava Jato e sairá da cadeia em 2017, "Último Segundo", 2-11-16. 11. Governadores devem ser investigados por 'farra das passagens', "Folha de S. Paulo", 4-11-16. 12. Temer diz que usará os "recursos necessários" para evitar cassação pelo TSE, UOL, 11-10-16. 13. Supremo pode derrubar Renan Calheiros do comando do Senado?, BBC, 3-11-16. 14. Imprensa internacional destaca vitória de Crivella e guinada conservadora, "Estadão conteúdo", 30-10-16. catolicismo@terra.com.br / D 1,:z l~M 13 HO 20 16

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CARTAS DOS LEITORES Cumplicidade Inacreditável ler sobre um governo, como o colombiano, que negocia com terroristas das FARC, que não renun ciam aos seus princípios destruidores da- nacionalidade colombiana. Inclusive defendem a Ideologia de Gênero. Esses terroristas são contra a Pátria, contra a Propriedade, contrários à Família. O presidente Manuel Santos seria ingênuo? Ou cúmplice?

(C.M. -

MG)

Rejeição das FARC Excelente artigo! Aqui no Brasil a mídia infiltrada e dominada pelo socialismo bolivariano deu pouca importância ao NÃO do povo colombiano e não informou ao povo brasileiro que já se posicionou contra os golpistas bolivaria nos existentes em nosso País.

(M.H. -

RJ)

Inexplicável O chamado "Acordo de Paz", na Colômbia era um trampolim para os chefes das Farc terem direito a cadeiras no Parlamento - automatica mente!!! Por qu e razão a grande mídia , a ONU, o Vaticano e Cuba estavam tão empenhados nesse acordo? Interferência papal: como explicar o inexplicável?

( M.M. - MG)

Igreja e fez de tudo para destruí-la? Meu Deus do Céu, tenha pena de nós católicos! Se os protestantes se converterem, tudo bem, as portas estarão abertas para eles, mas só podemos ter união na VERDADE e não nos erros da heresia .

(O.S.M. -

ES)

Falso ecumenismo Preocupante esta aproximação com o protestantismo, pois libera todos os fi éis e sacerdotes para procedimento id êntico. Alguns poderão entender estarem liberados para comparecer a cultos, cerimônias e comemorações de outras religiões, sofrendo assim as influências desses contatos, cujo resultado será a confusão. Dúvidas sobre pontos doutrinários, análises comparativas entre as normas católicas e as da religi ão visitada, como, por exemplo, o celibato clerical. Afinal , nós católicos seremos os únicos certos nesta matéria? Quem nasceu para o altar tem de viver exclusivamente para o altar? Não pode desenvolver uma atividade remuneratória paralel a para custear suas despesas? Tudo isso poderá contribui r para o fim do celibato clerical, juntam ente com o fim da Igrej a Católica tal como a conhecemos hoje, para dar lugar a outra coisa muito próxima do modelo da Igreja Universa l do Reino de Deus, onde até o termo "bispo" é usado para designar seus dirigentes.

(A.L.C. -

BA)

Comemorar Lutero?! No início desse papado, fiqu ei espe ra nçosa de qu e aconteceria uma renovação boa, mas minha espe-. rança durou pouco. Isto porqu e com ecei a fi ca r muito preocupada com os atos do Papa Francisco abrindo as portas da Igreja para que nel a entrasse m as porcarias do mundo peca minoso e não o que esperávamos que entrasse: o oxigênio da pureza da doutrina católica. Depois, depois, depois, nem prec iso enum erar. Foram tantas as decepções qu e fiqu ei pensa ndo: Só Deus mesmo para sustar esse sistema de .atos qu e des prestigiam a Igreja d'Ele. Aquele raio que ca iu na basílica de São Pedro eu penso ter sido um grande aviso. Não adiantando, vieram os terremotos na Itália. Acho qu e são sin ais de qu e Deus est á muito descontente co m os Atos desse papado. Agora Francisco vai com emorar a heresia? Comemorar aqu ele hom em que saiu da

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CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

Surpreendente O Papa Fra ncisco somente me surpreenderá quando se pronunciar em defesa da ortodoxia da nossa Fé. Desde a sua posse, aos poucos, ele vai saindo da dubiedade das palavras e gestos para o esca ncarado ataque à Santa Dout rin a.

(R.R.S. -

SP)

Sinais dos tempos? O Papa part icipando dessa abominação na Suécia e os terremotos aba lando a Itália. Será simples coincidência?

(M.F.C. -

RS)

Revolução Protestante As posições de Lutero foram claramente heréticas. m nenhum momento os ensinamentos da Igreja deixaram

transparecer qualquer contradição na historicidade dos fatos relacionados com as ações do heresiarca. Bem diferente da concepção que se busca disseminar hoje, de modo especial na consciência dos católicos, que por razões lógicas haverão de se opor a uma post ura de negação por parte da Igreja. Com efeito, o pano de fundo com o qual se busca justificar a Revolução promovida por Lutero é a sutileza de uma mensagem subjetiva e sutil, fundamentada na ideia de que a sua posição se resumia no protesto contra práticas maliciosas da Igreja na vivência dos ensinamentos evangélicos. Cito o exemplo da negação das indulgências, argumento bastante utilizado pelos protestantes nas suas diversas denominações para atacar a Igreja, cujo jargão é: "A Igreja vendia indulgências". Penso que não podemos deixar de nos preocupar com a possibilidade de a Igreja estar sendo conduzida por um caminho perigoso, à custa da negação de verdades fundamentais de seu Magistério bimilenar. Na medida em que busca justificar suas ações para efetivar um anelado ecumenismo, quem garantirá que no futuro tais ações não sirvam de argumentos dos opositores da Igreja para alegar supostas contradições dos ensinamentos evangélicos sobre a indissolubilidade do casamento, a prática do aborto e do homossexualismo?

(J.L.F.G.A. -

RJ)

tadas e fãzendo demonstrações de suas danças típicas de centros espíritas! Infelizmente, os desrespeitos e os maus exemplos têm começado por membros da Igreja. Não deixaremos de protestar contra essa profanação ·que farão contra a Santíssima Virgem e Mãe no bacanal conhecido como carnaval - dias dedicados a Satã! "Todavia , se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade" (1 Tm 3,15).

(G.R.-RJ)

Sacrilégio Levar a Imagem de Nossa Senhora Aparecida a uma escola de samba no carnaval é sacrilégio. Mãe de todos nós, escolhida para ser a Mãe do Salvador, está sendo ofendida por aqueles prelados que deveriam protegê-la . Eles estão permitindo que esse ato sacrílego seja praticado por proprietários de escolas de samba, expondo a Mãe de Jesus juntamente com um bando de homens que não são católicos. Pense bem, Senhor Bispo de Aparecida, não permita que esse ato aconteça. Não dê permissão. Maria é Santa e nossa Mãe.

(E.M.C. -

SP)

F RASES SELECIONADAS ••• •• • ••••••• ••• • • •

"Fumaça de Satanás" Analisando tudo quanto disse e realizou o Papa Paulo VI, não me parece que tenha , sinceramente, "lamentado" a intoxicação [da Igreja] pela "fumaça de Satanás". Com todo o respeito devido ao Papado, tenho a convicção de que não só ele, como também João XXIII e os demais Papas pós-conciliares, especialmente Francisco, se empenharam na "autodemolição" da Igreja e da Civilização Cristã, assim como um número expressivo de outras autoridades eclesiásticas. Delas não ouvimos a voz de Cristo, mas sim a de Belial.

(R.A.L. -

BA)

Infiltração na Igreja Os maiores inimigos de Nossa Senhora estariam dentro da Igreja? As ofensas à Santíssima Virgem Mãe têm começado pelos maus exemplos a partir de dentro, como recentemente todos tiveram a lastimável oportunidade de presenciar e ver pelas redes os vídeos, grupos de umbanda - que são satanistas - entrando, com seus trajes, na Basílica de Nossa Sen hora Aparecida entoando cânticos executados em se us terrei ros! Entraram também mulheres umbandistas com rou pas muito deco-

"Fez-se pequeno para nos tornar grandes; quis ser envolvido em paninhos para nos livrar das cadeias da morte; desceu à Terra a fim de que pudéssemos subir ao Céu. " (Santo Ambrósio)

''Amai, pois, almas cristãs, amai essa. criança que é tão amável! Grande é o Senhor, merece louvores infinitos; p equeno é o Senhor, merece infinitamente nosso amor." (São Bernardo)

"Ó Santa e Imaculada Virgindade, não sei com que louvores Vos hei de exaltar, porque encerrastes em vosso seio A quele a quem os céus não podiam conter." (Da Coroinha da Santíssima Virgem)

"O presépio e a árvore de Natal são a afirmação de que, com o nascimento do M enino J esus, a natureza inteira tinha se rejubilado." (Plinio Corrêa de Oliveira)

catolicismo@terra.com.br / DEZEMBRO 2016

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PALAVRA DO SACEJUlOTE

Pergunta - Em recente conversa com participantes de meu Grupo de Oração, manifestei minha estranheza de que na paróquia vizinha estivesse sendo dada a comunhão a casais divorciados recasados no civil. Foi-me respondido que a regra geral de não admitir os pecadores públicos à Eucaristia não mudou, mas que na Amoris laetitia o Papa Francisco sugere um discernimento "caso por caso", que pode levar à conclusão de que, num caso particular, dadas as circunstâncias específicas, a regra geral não é inteiramente válida. Acrescentaram que isso não é "jesuitismo" do Papa, mas uma forma de casuística que está prevista por São Tomás de Aquino (e citaram uma palavra grega que não guardei). Fiquei muito confuso e gostaria de ser esclarecido. Obrigado. Resposta - Presumo que se us colegas do Grupo de Oração estivessem se referindo aos itens 300 e 304 da Exo rtação pós-sinodal Amoris laetitia, que têm o seguinte teor: "330. Se se tiver em conta a vari edade inumerável de situações concretas, co mo as que mencionamos antes [divorci ados recasados, pessoas unidas civilmente, concubinas etc.], é compreensível que não se devia espera r do Sínodo ou dessa Exo rtação uma nova normativa gera l de tipo ca nôni co, aplicável a todos os casos. É possível apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particul ares, que deveria reconh ecer: uma vez que 'o grau de responsabilidade não é igual em todos os casos',

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Monsenhor José Luiz Villac

por todos. [...] Quanto mais se desce ao particular, tanto mais aumeota a indeterminação'. [Swnma theologiae 1-fl, q. 94, art. 4.) É verdade que as normas gerais apresentam um bem que nunca se deve ignorar nem transcurar, mas, na sua formulação, não podem abarcar absolutamente todas as situações particulares. [... ]" [negrito no o] *

[Re fatio finalis, 51] as consequências ou efeitos duma norma não devem necessariamente ser sempre os mesmos. [Em nota: E também não devem ser sempre os mesmos na aplicação da disciplina sacramental, dado que o discernimento pode reconhece r que, numa situação parti cul ar, não há culpa grave. Neste caso, aplica-se o que afirm ei noutro documento (cfr. Exo1t. ap. Evangelii gaudiwn, 44.47] [.. .]" "304. É mesquinho deter-se a considerar apenas se o ag ir duma pessoa co rresponde ou não a urna lei ou norma geral, porque isto não basta para discernir e assegurar uma plena fid elidade a Deus na ex istência concreta dum ser humano. Peço enca recidamente que nos lembremos sempre de algo que ensina São Tomás de Aquino e aprendamos a ass imilá- lo no discernimento pastoral: 'Embora nos princípios gera is tenhamos o ca ráter necessári o, todavia à medida que se abordam os casos parti culares, aumenta a indeterminação [...] No âmbito da ação, a verdade ou a retidão práti ca não são iguais em todas as aplicações particulares, mas apenas nos princípios gerais; e, naqueles a retidão é idênti ca nas próprias ações, esta não é igualmente conhecida

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Nessa última fra se a Amoris laetitia sugere, sem empregá-lo de modo explícito, o termo utili zado certamente pelo seu interlocutor: epiqueia ou equidade. Essa palavra fo i de fato muito usada nas discussões dos dois sínodos sobre a família, particul armente pelo Cardeal Walter Kasper e no grupo linguístico alemão. Santo Tomás fa la desse conceito no tratado da Suma Teológica sobre a justi ça, perguntando se a epiqueia é uma virtude, respondendo pela afirmativa: "Como j á dissemos quando tratamos das leis, os atos humanos, que as leis devem regula,~ são particulares e contingentes e podem variar ao in_finito. Por isso, não é possível instituir nenhuma lei que abran_ja todos os casos; mas, os leg isladores legislam tendo em vis/a o que sucede mais fi-equentemente. Contudo, é contra a igualdade da j ustiça e contra o bem comum, que a lei seja cumprida em certos casos determinados" (Summa, 11-11, q. 120). Contrariar as leis divinas?

O que vem a ser, então, a tal

epiqueia? Trata-se da virtude que procura alcançar o bem visado pela lei nos casos em que esta última resulte defeituosa, precisamente por causa de sua universalidade. Co ntrari amente ao privilégio, a lei é por definição universal: ela visa ao bem comum e por isso aplica-se a todos; mas obviamente não pode abarcar todos os casos imagináveis. Podem apresentar-se situações não previstas pelo legislador, nas quais, para alcançar o bem comum (que é o que o legislador procura com a lei), é preciso contrari ar o sentido li teral da lei. A lei proíbe um condutor de veículo cruza r com sinal vermelho; mas se ele estiver numa rua estreita e fu rar o sinal para deixar passar os bombeiros, é evidente que o bem comum pede que a norma seja violada.

Santo Tomás dá outro exemplo: "A lei determina que os depósitos S(4jam restituídos, porque tal é justo na maioria dos casos; mas, p ode acontecer que seja nocivo, num caso específico. Por exemplo, se um louco, que entregou em dep ósito uma esp ada, a exige de volta no acesso da loucura; ou se alguém exige o depósito para lutar contra a pátria. Nesses casos e em outros semelhantes é mau observar a lei estabelecida" (idem). Pode-se aplicar esse princípio de eq uidade ao caso das pessoas que vivem situações matrimoni ais irregul ares, como sugere a Amoris laetitia? A resposta foi dada antecipadamente pelo Cardeal Cario Cafarra no capítulo que ele escreveu para o livro Permanecer na verdade de

Cristo: "A r(4/erência à epiqueia é sem .fundamento. O motivo da epiqueia está no.fàto de que, por causa da limitação do legislador humano, é impossível promulgar uma lei que tenha em conta lodos os casos. Mas se o legislador é Deus, aplic<lr a epiqueia às leis divinas signfficaria atribuir " Deus a incapacidade própria do legisl<ldor humano. A epiqueia, como virtude, exerce-se somente no âmbito das leis /n onanas " . No mes mo sentido se mani festara o Ca rdeal Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a DoutTina da Fé, num texto divulgado no site do Vati cano, no qual ele refutava a proposta fe ita pelo Cardeal Walter Kasper du rante o consistóri o de fevereiro de 20 l 4, de dar acesso à comunhão aos di vorciados reca-

catolicismo@terra.com.br / DEZl~M BRO 20 16

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sados: "A doutrina da epiqueia, segundo a qual uma lei é válida em termos gerais, mas não cobre sempre de modo adequado o agir humano concreto, também não pode ser aplicada nesse caso, porque a indissolubilidade do matrimônio sacramental é uma norma de direito divino que não está à disposição do poder discricionário da Igreja" (Sobre a indissolubilidade do matrimônio e o debate sobre os divorciados recasados civilmente e os sacramentos).

Absurda tentativa de justificar pecados

Além do anterior, o que a dita passagem da Amoris laetitia não leva em consideração é que há normas morais - chamadas absolutos

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morais - que, por sua própria na- to aos atos que, por si mesmos, são tureza, não admitem tais exceções, pecados (cum iam opera ipsa pecpor tratar-se de normas cuja trans- cata sunt) - escreve S. Agostinho gressão li teral não pode jamais al- - como o furto, a fornicação, a cançar o bem visado pela lei . Nes- blasfêmia ou outros atos semelhanses casos, a aplicação da epiqueia tes, quem ousaria afirmar que, reseria um contrassenso, porque na alizando-os por boas razões (cauviolação da lei seria inelutavelmen- sis bonis), já não seriam pecados ou, conclusão ainda mais absurda, te transgredido o bem moral. Trata-se daqueles atos que a que seriam pecados justificados ?"' tradição moral da Igreja chama de (João Paulo II, encíclica Veritatis intrinsecamente maus, isto é, os splendor, nº 85). atos que, em virtude de sua identidade essencial, são contrários à reta razão: "Se os atos são intrinseca- Em nenhuma hipótese mente maus, uma intenção boa ou o pecado é lícito circunstâncias particulares podem "Ao ensinar a existência de atenuar a sua malicia, mas não · atos intrinsecamente maus, a Igreja suprimi-la: são atos 'irremedia- cinge-se à doutrina da Sagrada Esvelmente' maus, que por si e em critura", diz alhures a mesma ensi mesmos não são ordenáveis a cíclica: "O apóstolo Paulo afirma Deus e ao bem da pessoa: 'Quan- categoricamente: 'Não vos enga-

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neis: Nem imorais, nem idólatras, se dispensar nos preceitos, quando lhe faça o que se lhe não deve fazer, nem adúlteros, nem efeminados, ocorrer algum caso particular, em e a cada um lhe seja pago o devido; pois, a esta luz é que devem ser nem sodomitas, nem ladrões, nem que, observadas as palavras da lei, avarentos, nem maldizentes, nem contrariar-se-ia a intenção do le- entendidos os preceitos do decáloos que se dão à embriaguez, nem gislador. Ora, a intenção de qual- go. Logo, esses preceitos são absosalteadores possuirão o Reino de quer legislador se ordena, primei- lutamente indispensáveis" (1-11, q. 100, a. 8). ro e principalmente, para o bem coDeus' (1 Cor 6, 9-1 O)" (idem). É, aliás, surpreendente que mum; e segundo, para a ordem da a exortação pós-sinodal do Papa justiça e da virtude, pela qual se "Misericórdia sem a justiça Francisco silencie outros textos de conserva o bem comum e a ele se é a mãe da dissolução" Santo Tomás de Aquino, nos quais chega. [. ..] Ora, os preceitos do deNo caso específico do VI Mano Doutor Comum deixa claro que cálogo exprimem a intenção mesdamento da Lei de Deus, o ato moa aplicação da epiqueia não é lícita ma de Deus legisla,lor. Pois, os da ral de manter relações seem se tratando da lei divina. xuais fora do casamento leNo seu Comentário à gítimo é sempre pecado de Epístola aos Romanos, por adultério (se a pessoa for exemplo, ele pergunta qual é casada) ou de fornicação o motivo que leva São Pau(se a pessoa for solteira), lo a omitir, em Rom 13,9, o não havendo nenhuma cirIV Mandamento (honrar pai cunstância que possa modie mãe) na enumeração dos ficar sua especificação mopreceitos relativos ao próral. Por isso, uma pessoa ximo, inscritos na segunque vive em concubinato da tábua da Lei de Deus. E em adultério, não pode ou o Aquinate responde: "Porjamais invocar o princípio que os preceitos negativos da epiqueia para permanesão mais universais quanto cer nessa situação, aleganàs situações [. ..] porque os do que na sua situação espreceitos negativos obrigam pecífica a lei geral não é vásemper ad semper (sempre lida. e em qualquer circunstânSe ele não tiver o procia). Em nenhuma circunspósito firme de sair dessa tância, de fato, se deve rousituação de pecado, não pobar ou cometer adultério. Os derá receber a absolvição preceitos positivos, pelo consacramental nem a Sagratrário, obrigam semper, mas da Comunhão. Nessa senão ad semper, dependenveridade da Lei de Deus e do do lugar e das circunstânda disciplina da Igreja não cias" (c. 13, l. 2). há nenhuma oposição entre Na própria Suma Teolójustiça e misericórdia, pois, como primeira tábua, que ordenam para gica, pouco depois do artigo citado diz Santo Tomás, "a justiça sem a Ele, contêm a própria ordem final pela Amoris laetitia, Santo Tomás explica por que não se pode recor- para o bem comum, que é Deus. E misericórdia é crueldade, ao passo rer à epiqueia no que respeita aos os da segunda, a ordem da justiça que a misericórdia sem ajustiça é a mãe da dissolução " (Lectura super absolutos morais: "Como j á se dis- a ser observada entre os homens, se (q. 96, a. 6; q. 97, a. 4), deve- de modo que, p. ex., a ninguém se Mattheum, n. 429). ❖ catolicismo@terra.com.br / DEZEMBRO 2016

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Portugal cobra por panorama e uso de luz solar!

La "büche de Noel"

Prefeituras portuguesas conceberam um imposto ambiental contrário à propriedade privada, chamado pelos lusos de "taxa da luz" por incidir sobre as casas com ma ior exposição ao sol ou com uma visão panorâmica melh or. O sec retário de Estado das Finanças disse que a fina li dade é igua litária: que paguem mais aque les que recebem ma is luz so lar e usufruem de benefícios de natureza ambienta l do panorama. Nas últimas décadas os préd ios foram fe itos "ecologicamente corretos", priorizando a exposição à luz so lar para reduzir o consumo de energia . Agora o Alcorão verde os castiga sem clemência ...

Durante sécu los, na noite de Nata l as famílias francesas acend iam um pedaço de lenha entoando canções nata linas. Era a "büche de Noel", abençoada pe lo pároco e que protegia a casa e seus habitantes. Na Borgon ha, a lenha devia arder toda a noite, a fi m de que a Sagrada Famíl ia, batendo à porta, pudesse entrar e se aq uecer... Com os modern os sistemas de aq uecimento, as lareiras se extinguiram . Mas a "büche de Noe l" co mo que se transformou em obra-prima da pâtisserie francesa e sobremesa ind ispensáve l: bolo ou sorvete nos lares daq uele País, nos dias sagrados do nascimento do Rede ntor da humanidade.

Até no futebol venezuelano, mordaça e repressão

2016

G20 HANGZHOU SUMMIT 20161 9A4 !>FI

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Nos rece ntes terremotos oco rri dos da Itá lia, a Providê ncia divina man ifesto u sua proteção. Uma igrej a foi tota lmente destruída em Pescara dei Tronto, mas a imagem da Vi rgem Maria ficou intacta . Na cidade de Cássia, onde com a an uência do bispo havia sido fe ita uma exposição pornográfica explícita na igreja de São Francisco, as religiosas agostinianas t iveram que abandonar a basíl ica de Santa Rita, que ameaçava ru ir. Cássia está loca li zada na diocese de Núrsia, onde um aba lo sísm ico arrasou a basíl ica de São Bento, construída sobre a casa em que nasceu esse grande santo, fundador da Europa cristã. Como estranhar então que aconteçam outras desgraças, se elas estão sendo ocasionadas por tantas ofensas à Re ligião?

Na China comunista, ofensas protocolares aos EUA

CHINA

=+!j]~(j]~~Amffi dJf ~ rtl

Numa cidade alemã, aluguel de R$ 3,20 se mantém até hoje ...

Terremotos na Itália e castigos da Providência divina

As seleções do Brasi l e da Argentina que jogaram nas recentes Venezue lamas de Maduro sentiram-se na necessidade de levar até papel de toalete e água, embora tivessem reservado hotel de cinco estrelas em Caracas. Comprar ingressos para o jogo era luxo. No caso da Argentina, só a estata l do petróleo PDVSA os distribuiu . Por outro lado, o que o governo venezue lano tem ia, ocorreu no jogo com o Brasil: a energia elétrica ca iu e o púb lico bradou: "Este Gobierno va a caer". Os jogadores venezue lanos guardavam mutismo para não sofrerem represálias. Um deles ousou confessar a um jornal inglês: "A vida em Caracas já não é vida . Você é assediado pela incerteza de ser morto; se sai de casa para traba lhar, não sabe se volta", tendo sido repreendido pelo presidente da Federação Venezue lana de Futebol. Os jorna listas locais não interrogaram ma is os esport istas, temendo a cassação de sua carte irinha.

G20

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20111

Recebendo no G20 os chefes de Estado e de governo das 20 ma iores economias do mundo, a China ofereceu um show de mau governo em Hangzhou: ruas vazias, prédios sem luz, lojas fechad as. Os moradores foram "convidados" a abandonar a cidade. Além de evacuada, boa parte dela fo i cercada. O governo comunista fingiu para os participantes do G20 e jorna listas acreditados ao evento que levantava a censura dos sites web ma is popu lares do planeta, mas cada pessoa tinha uma chave de acesso que permitia serespionado. No aeroporto, o regime de Pequ im destratou com petulância o presid ente dos EUA, sua comitiva, bem como jorna listas estrangeiros.

Ci\'1'0 1,ICl SMO / www.catolicismo.com.br

No ba irro de Fuggerei, em Augsburg (Alemanha), o aluguel não sobe desde o sécu lo XVI. Os res identes pagam um fl orim (moeda desaparecida), equ iva lente a R$ 3,20 de al uguel por ano. Naquele ba irro res idem 150 pessoas, em casas pitorescas visitadas por t uristas. Em 1521, o banqueiro Jakob Fugger, "o Rico", custeou um comp lexo residencial para os necessitados. As cond ições que ele exigi u por escrito incluíam, além da pobreza, ser cató lico e rezar três vezes ao dia. O bairro possui uma igreja e um sacerdote; e suas portas devem ser fechadas às 22 horas, sob pena de mu lta entre R$ 1,80 e R$ 3,60, dependendo do atraso. A pitoresca Fuggerei reve la o grande equ il íbrio psíqu ico e espiritua l de almas, há sécu los em consonânc ia com a Igreja Católica . llllllllllllllllllllllltllllltlllllllllllllllllllltlll1lll!lllll!llllllllllllll11111111111111111t!llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll111111111111Hllllllllllllllllllllllllltllllllllllll!llllllllllllllllltlllll11111111111111tlllllllllll!lllll111111111111111tllll!llllllllllllllllllllllllllllllllllllillllllllllllllllllllllllllllllllllillll111111llllllllllllllt111111111111111111111111111111111111111111111111111111!!tlllltllllllllltllllllllllllll!IIIIIIIIIIIIIIIIIIII

Ocidente anestesiado diante das perseguições aos crist ãos sírios Os cristãos na Síria "estão dispostos a dar suas vidas e ter suas cabeças cortadas para testemunhar Jesus Cristo", afirmou a re ligiosa missionária Maria de Guada lupe, que vive há cinco anos em Aleppo e é vítima da perseguição anticristã . Ela ju lga que a ignorância do mundo cristão ocidental quanto à situação da Síria é fruto de uma "a nestesia" provocada pela inocu lação dos jornais, de órgãos internaciona is e até por figuras vaticanas, que exigem a migração islâm ica para Europa, cujas raízes são cristãs. Há algo de profundamente enganoso da parte dos promotores dessas migrações, que ocupam altas posições no Ocidente e empregam pa lavreado humanista e pseudo-cristão.

Cuba volta à dependência do petróleo russo Raúl Castro, ditador marxista de Cuba , estendeu seu chapéu de mend igo à Rússia de Vladimir Putin (foto), 1 ex-corone l da KGB , para implorar petróleo e derivados. Cuba os obtinha quase de graça da Venezue la, detentora das maiores reserva s mundiais de petróleo, cujo regime conseguiu a façanha de arruinar com a sua produção . A Rúss ia, que parece ter petró leo sob rando, mas necessita de dinheiro com urgência, sabe de antemão que Havana não poderá pagar. O socialismo sobrevive sugando recursos dos países li vres ou das empresas privadas. Agora, o eixo Moscou-Havana - que continuava vigorando em surd ina - torna-se patente mediante essa operação de • salvamento energético da ilha-presídio. catolicismo@terra.com .br / Dl~1/,l•: ~1BHO 20 16

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INTERNACIONAL

Para restaurar a sua grandeza, os Estados Unidos devem voltar-se para D A fim de informar adequadamente nossos leitores sobre o acontecimento político de transcendência internacional representado pelas últimas eleições presidenciais norte-americanas - de cujo resultado a esquerda ainda não se refez-, Catolicismo apresenta a seguir um abalizado documento. Trata-se de um manifesto da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), no qual ela apresenta um conjunto de fatores intrincados existentes naquele país, cuja elucidação requer um conhecimento aprofundado. Julgamos que sua publicação na íntegra seria o meio mais apropriado para uma compreensão cabal do tema.

A Direção de Catolicismo

M

ais do que uma corrida entre dois candidatos à Casa Branca, a eleição de 20 l 6 refletiu a maré-montante de descontentamento com o tom cada vez mais socialista dos Estados Unidos. Hoje, graças a Deus, o voto conservador conquistou a Casa Branca, o Senado, a Câmara, além de número recorde de governos estaduais e maiorias nas assembleias legislativas respectivas. Esta realidade trouxe alívio e despertou grandes esperanças. Acima de tudo, os conservadores sentem-se animados com as promessas do Presidente eleito, Donald Trump, que lhes assegurou que não serão esquecidos, mas ouvidos. Chegou a hora de ele cumprir essas promessas. Os eleitores norte-americanos conservadores não devem ser traídos. Unindo-se às numerosas organizações do movimento conservador e atuando como porta-voz na defesa dos valores morais, a Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), apoiada por seus 200.000 membros em âmbito nacional, vem manifestar através deste manifesto suas esperanças e enumerar suas exigências quanto às medidas a

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CATOLICISMO / www.catolicismo.com.br

serem tomadas para corrigir o curso da nação americana. *

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O que motivou os eleitores menosprezados dos EUA em 8 de novembro foi o desmoronar de uma ordem que tem afetado todos os aspectos da vida. Como se repetiu durante o ciclo eleitoral, todo o sistema está quebrado, sua visão esquerdista e permissiva da sociedade encontrase em ruínas, e os eleitores procuram desesperadamente soluções. Sobrecarregado por um excesso de regulamentação e pelo colapso social, o model o americano, que funci onou por

muito tempo, já não funciona mais. Pior, o sistema prejudica os interesses dos cidadãos. Ele não mais acalenta sonhos, mas semeia incertezas e pesadelos, causando estresse, ansiedade e depressão.

Requisitos para um retorno à ordem

É por isso que a solução para a atual crise deve incluir um retorno à ordem que analise em seu conjunto tudo aquilo que deu errado nos EUA, e não apenas algumas peças do quebra-cabeça. Ela deve, sobretudo, trntar das questões morais esquecidas, que os políticos comumente deixam para trás. Com demasiada frequência , os conservadores têm lutado com unhas e dentes contra aquilo que não querem ver perpetrado no País:

aborto, socialismo, transgenerismo, engenharia social nas Forças Armadas. Esta vitória eleitoral oferece a oportunidade para delinear tipo de ordem que eles querem para os E UA. Assim, qualquer proposta de retorno à ordem deve incluir os três pontos abaixo:

o

1. Deve ser uma ordem moral na qual os líderes façam destemidamente todo o possível para avançar a causa da vida, da família tradicional e da moral cristã. Para que a nação prospere, ela precisa retornar ao código moral baseado nos Dez Mandamentos e no direito natural , que fez a grandeza dos E UA. As pessoas já não devem ter medo de afirmá-lo e de confrontar a cultura do politicamente correto, que insiste não existir certo nem errado,

apagando toda e qualquer definição. Sem este requisito essencial, os EUA não vão se recuperar. Na verdade, sem esse retorno à moralidade qualquer tentativa de estimular a economia falhará, uma vez que um sistema econômico não pode prosperar sem estar firmemente alicerçado em uma ética de trabalho, honestidade e confiança. Uma cultura que desconhece freios morais e é obcecada com a intemperança frenética do prazer instantâneo será sempre desequilibrada e, em última análise, falhará. Uma nação que encetar o caminho da destruição moral não pode esperar senão um desastre.

2. Deve ser uma ordem antissocialista baseada na livre iniciativa. Os EUA devem ser libertados do fardo de regulamentações one-

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rosas, altos impostos e progra mas governamenta is gigantescos com soluções "úni cas" aplicadas a todos. É hora de encontra r soluções orgânicas baseadas na inventividade do povo ameri cano, no seu amor pela liberdade ordenada, e no seu espírito prático de faze r bem as co isas. É tempo de os líderes se colocarem em todos os níveis da sociedade à altura da situação, apresentando soluções cri ati vas que evitem o governo intervencionista. Não haverá retorno à ordem enquanto os EUA esti verem sufoca dos sob o jugo da ti ra nia sociali sta. 3. Deve ser uma ordem na qual Deus seja novamente entroni zado. Os EUA sempre foram uma nação confia nte na Di vina Providência. No entanto, tal confia nça se encontra em dec línio. E se não estamos do lado de Deus, como poderemos esperar que Ele esteja do nosso lado? Entronizando novamente Deus

Os conservadores menosprezados, que trabalharam tão arduamente para obter esta vi tóri a, querem um retorno à ordem que devolva aos EUA sua grandeza. Ainda mais importante, desejam construi r uma nação moral abençoada por Deus. Não faz sentido que um país construído sobre princí pios cri stãos, que derrotou o nazismo e o comuni smo ateus, se encontre em uma situação onde monumentos aos Dez Mandamentos, cruzes, presépios e canções de Nata l se tornem alvos da cólera laicista. O poli ticamente correto vem desde muito tempo dominando, ex pulsa ndo Deus de seu legítimo lugar na soc iedade, e em alguns casos até substituindo-O pelo cul to públi co a Satanás. Os americanos de todas as camadas sociais devem ter a coragem de exercer seu direito de honrar Deus em praça pública. Não devem ter medo de pedir a bênção de Deus e im plorar Sua ajuda nestes tempos difíceis. Devem observa r e respeita r a Sua Lei levando uma vida de virtude e caridade. Se a Améri ca desejar prosperar e torn ar-se grande, deve novamente entronizar Deus. M udança t otal

Devemos ago ra adota r um programa global de mudanças, com ações executivas, legislativas e judiciári as imed iatas e urge ntes para corri gir o curso da nação. O tra balho a ser fe ito não engloba apenas mudanças no gove rno, mas no própri o cerne de nossa cultura. Ma is do que exigir que nossos governantes elei18

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tos cumpram suas promessas, a tarefa envolve todo o mundo do movimento conservador: clero, indivíduos, fa mílias, orga nizações de base, grupos de refl exão e acadêmicos. Para efetua r esta necessári a mudança cumpre mudar a mentalidade de muitos ameri canos. É um trnbalho monumental , que requer uma vontade de lutar maior do que a obstinada oposição dos esquerdistas, cuj a agenda levou o País à beira da ruína. Lutando pela vida

Entre os eleitores menosprezados dos EUA encontram-se aqu eles que lutam pelos mais vulneráveis - os nasc ituros - exi gindo que o seu fund amental direito à vida seja respeitado. Chegou a hora de lavar a honra dos EUA, manchada pelo seu grande pecado contrn Deus: [a decisão] Roe v. Wade [que implantou o aborto no País]. Esses eleitores menosprezados esperam que o Presidente eleito, Trump, nomeie juízes inquesti onavelmente pró-vida para a Suprema Corte e os tribunais federais, e que a maioria republicana no Senado os confirme. Esses juízes devem seguir nossa tradi ção jurídica oriunda da Common Law (direito consuetudinári o), respeitando a lei superi or (divina e natural) que deve pautar as leis do País. Eles devem interpretar a Constituição no sentido em que fo i escrita e desejada pelos nossos Pais Fundadores, pondo fi m ao ativi smo judicial das últimas décadas. Os eleitores esperam que o governo federal e os estaduais cortem as verbas da Planned Parenthood. O eleitor pró-vida menosprezado não só espera a proteção da vida dos nasc ituros, mas também a dos cidadãos, suj eitos à eutanás ia e ao suicídio ass istido, práticas que devastam a paisagem mora l e ameaçam as pessoas mais vulneráve is da sociedade. Lutando pela família americana

Fazem também parte dos eleitores ameri canos menosprezados aqueles que defendem as sagradas instit11ições do casamento e da fa mília. Chego u a hora de derrubar este segundo pecado imenso contra Deus: Obergefel/ v. Hodges [decisão legali zando o "casamento" homossexual]. Juntamente com a retificação do matrimôni o, os eleitores pró-família menosprezados esperam que o govern o Tru mp revogue a tirâni ca dec isão de Oba ma impondo políticas pró-homossexuais e transexuai em re lação a funcionári os e empreite iros do governo fed eral, militares, e, ac ima de tudo, às escolas do País.

Tudo isso está dilacerando as famíl ias e o País. É chegada a hora de dar um basta. Sem famí lias fo rtes, a América jamais será grande. Os eleitores pró-família menosprezados esperam que a lei de educação Common Core seja prontamente enterrada, bem como a No Chi/d Lefi Behind, E very Chi/d Succeeds (que nenhuma criança fiqu e para trás, que todas sejam bem-sucedidas) e uma porção de outras cangas socialistas impedindo uma sólida e saudável educação das cri anças norte-americanas. Lutando por uma América antissocialista

Os eleitores menosprezados da nação rejeitam e exigem a imedi ata revogação da maré-montante de regulamentação, legislação e benesses socialistas que inibem o desenvolvimento econômico do País e frustram seus esforços de prosperar. Têm eles dois conjuntos de ex igências à liderança política da nação. Primeiro, exigem a rápida revogação do Obamacare, do Dodd-Franlc (o imposto sobre a herança), e os milhares de regul amentos sociali stas e decisões executivas que estão paralisando e sufocando a economia. Isto libertará o potencial da nação, criando empregos e estabilizando a economia. Em segundo lugar, exigem que o governo tenha seu tamanho reduzido aos legítimos limites constitucionais. E não apenas o governo federal, mas também os inchados e hipertrofiados governos estaduais e mu111c1pa1s. Lutando pelas Forças Armadas e pela Polícia

Os eleitores menosprezados dos EUA exigem a revogação dos cortes automáti cos em nosso orçamento de defesa, bem como da política imposta por Obama às nossas Forças Armadas de admitir homossex uais, transgêneros e mulheres em combate. Se destruirmos o leviatã regulatório socialista e diminuirmos o inchaço do governo, a economia será estimulada ao mesmo tempo em que as despesas públicas e a dív ida serão reduzidas a níveis administráveis. Os eleitores ex igem Forças Armadas reforçadas e um governo que as apoie em sua missão de defender a nação contra toda e qualquer ameaça. Isso inclui a Rússia rediviva, a China e os islamitas, que prometem destru ir os EUA e a civilização cristã ocidental. Eles estão alarmados com os assassi natos de policiais e com a anarqui a que começa a pipocar em todo

o País. Anseiam por um retorno ao Estado de direito e a uma sociedade na qual a lei e a ordem sejam apreciadas e se imponham. Lutando pela soberania e por uma política externa pró-americana

O respeito às suas fro nteiras é para uma nação o equivalente à propriedade privada para uma família. Os eleitores menosprezados dos EUA exigem que suas fronteiras sejam respeitadas e que se ponha fim às "cidades-santuári o", que não passam de uma zombaria anárquica de nossas leis de imigração. Ex igem o fi m da fa rsa eleitoral através da qual os não cidadãos são admitidos a votar. Eles exigem uma inversão completa da política externa desastrosa de Obama, inclusive o acordo com o Irã, a normalização de relações com a Cuba marxista de Castro (a ilha-prisão) e o Aco rdo de Paris sobre Mudanças Climáticas. Exigem que os EU A tranquili zem imedi atamente seus aliados tradi cionais no sentido de que a nação permanecerá sempre fiel à sua palavra de honra e está pronta para defendê-los em caso de guerra. Alertam contra uma confiança equivocada e sem fund amento na cooperação com a Rússia nac ionalista insurgente e a China comuni sta e insincera. E exortam para que sejam tomadas medidas cautelosas e prudentes a fi m de evitar o perigo de um crescente autoritarismo, como o que recentemente se manifes tou na Turquia islamita. *

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Às vésperas da inauguração da nova admini stração Trump, são essas as ex igências de milhões de eleitores americanos menosprezados, a cuj a voz a TFP se une. Que Deus conceda sabedori a, prudência, temperança, justiça e coragem ao Presidente eleito e a todos os nossos governantes vitori osos na eleição. Queira a Mãe de Deus proteger e favorecer todos os norte-americanos fié is aos Dez Mandamentos, que trabalham na gigantesca reconstrução a ser fe ita, na gratifi cante labuta de tornar os EUA "uma nação sob o império de Deus". 15 de Novembro de 201 6 The American TFP

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DESTAQUE

Um apelp para _desatar os nos contidos

em Amoris laetitia

P

reocupados com a desorientação e a confusão disseminadas entre os fiéis sobre interpretações díspares e mesmo contraditórias de bispos e de teólogos ao Capítulo VIII da Exortação Apostólica Amoris laetitia, os cardeais Walter Brandmüller, Raymond L. Burke, Cario Caffarra e Joachim Meisner enviaram em 19 de setembro último uma carta ao Sumo Pontífice, na qual formulam

perguntas referentes a cinco graves questões sobre Teologia Moral e Sacramental. Para colocar ao alcance de seus leitores assunto tão relevante como atual, a direção de Catolicismo reproduz a íntegra da carta, que pede - em tom respeitoso, mas com firmeza doutrinária - o desatamento de verdadeiros nós contidos na Exortação Apostólica.

De caridade: queremos ajudar o Papa a prevenir divisões e contraposições na Igreja, pedindo-lhe para dissipar todas as ambiguidades. Cumprimos também um estrito dever. Segundo o Código de Direito Canônico (can. 349), incumbe aos cardeais, mesmo tomados isoladamente, a missão de ajudar o Papa no cuidado da Igreja universal. O Santo Padre decidiu não responder. Interpretamos esta sua soberana decisão como um convite para continuar a reflexão e a discussão, de modo sereno e respeitoso. E, portanto, informamos dessa nossa iniciativa todo o povo de Deus, fornecendo a documentação completa. Esperamos que ninguém interprete o fato segundo o esquema "progressistas-conservadores": estaria totalmente equivocado. Estamos profundamente preocupados com o verdadeiro bem das almas, suprema lei da Igreja, e não em fazer avançar qualquer forma de política dentro da Igreja. Esperamos que ninguém nos julgue, injustamente, adversários do Santo Padre e pessoas privadas de misericórdia. O que fizemos e estamos fazendo nasce do profundo afeto colegial que nos une ao Papa, e da preocupação apaixonada pelo bem dos fiéis . Card. Card. Card. Card.

Walter Brandmüller Ray mond L. Burke Cario Caffarra Joachim Meisner

2. A carta dos quatro cardeais ao Papa

Card. Walter Brandmüller

Card. Raymond L. Burke

Card. Cario Caffarra

Card. Joachim Meisner

ESCLARECIMENTO 1. Uma premissa necessária

O envio desta carta ao Papa Francisco por parte de quatro cardeais nasce de uma profunda preocupação pastoral. Temos constatado uma grave desorientação de muitos fiéis e uma grande confusão em relação a questões de grande importância para a vida da Igreja. Temos notado também que inclusive no seio do colégio episcopal se fazem interpretações contrastantes do capítulo oitavo de "Arnoris laetitia".

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A grande Tradição da Igreja nos ensina que o caminho para sair de situações como esta é o recur o ao Santo Padre, pedindo à Sé Apostólica para resol ver aquelas dúvidas que são causa de desorientação e confusão. O nosso ato é, portanto, de justiça e de caridade. De justiça: com a nossa iniciativa, professamos que o mini stério petrino é o ministério da unidad , e que compete a Pedro, ao Papa, o serviço de confirmar na fé.

Ao Santo Padre Francisco e para o conhecimento de Sua Eminência o Cardeal Gerhard L. Müller Beatíssimo Padre, Após a publicação da Vossa Exortação Apostólica "Arnoris laetitia", foram propostas por teólogos e estudiosos interpretações não só divergentes, mas também contrastantes, sobretudo em relação ao cap. VIII. Além do mais, os meios de comunicação enfatiza ram essa diatribe, provocando, desse modo, incerteza, confusão e desorientação entre muitos dos fiéis. Por essa razão, a nós, abaixo assi nantes, como também a muitos Bispos e Presbíteros, chegaram numerosos pedidos da parte de féis pertencentes a diversas condições sociais, a respeito da correta interpretação a dar ao cap. VIII da Exortação.

Assim, movidos em consciência pela nossa responsabilidade pastoral e desejando pôr em prática aquela sinodal idade a que Vossa Santidade nos exorta, com profundo respeito permitimo-nos pedir-Vos, Santo Padre, como Mestre supremo da fé chamado pelo Ressuscitado a confirmar os seus irmãos na fé, dirimir as incertezas e esclarecer, dando benevolamente resposta aos "Dubia" que nos permitimos juntar à presente. Queira Vossa Santidade abençoar-nos, enquanto Vos prometemos uma constante lembrança na oração. Card. Card. Card. Card.

Walter Brandmüller Raymond L. Burke Cario Cajjàrra Joachim Meisner

Roma, 19 de Setembro de 2016. 3. Os "Dubia"

1. Pergunta-se se, de acordo com quanto se afüma em "Amoris laetitia", n. 300-305, se tornou agora possível conceder a absolvição no sacramento da Penitência, e, portanto, admitir à Sagrada Eucaristia, urna pessoa que, estando ligada por vínculo matrimonial válido, convive "more uxorio" com outra, sem que estejam cumpridas as condições previstas por "Familiaris consortio", n. 84, e entretanto confirmadas por "Reconciliatio et paenitentia", n. 34, e por "Sacramenturn caritatis''; n. 29. Pode a expressão "em ce1tos casos", da nota 351 (n. 305) da exortação "Arnoris laetitia", ser aplicada a divorciados com uma nova união que continuem a viver "more uxorio"? 2. Continua a ser válido, após a exortação pós-sinodal "Arnoris laetitia" (cf. n. 304), o ensinamento da encíclica de S. João Paulo II "Veritatis splendor", n. 79, assente na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, acerca da existência de normas morais absolutas, válidas sem qualquer exceção, que proíbem atos intrinsecamente maus? 3. Depois de "Amoris laetitia" n. 301 , pode ainda afirmar-se que uma pessoa que viva habitualmente em contradição com um mandamento da lei de Deus, como, por exemplo, aquele que proíbe o adultério (cf. Mt 19, 3-9), se encontra em situação objetiva de pecado grave habitual (cf. Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, Declaração de 24 de junho de 2000)? 4. Após as afirmações de "Amoris laetitia", n. 302, relativas às "circunstâncias atenuantes da responsabili-

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dade moral", ainda se deve ter como válido o ensinamento da encíclica de S. João Paulo li "Yeritatis splendor", n. 81 , assente sobre a Sagrada Escritura e sobre a Tradição da Igreja, segundo o qual: "as circunstâncias ou as intenções nunca poderão transformar um ato intrinsecamente desonesto pelo seu objeto, num ato ' subjetivamente' honesto ou defensável como opção"? 5. Depois de " Amoris laetiti a", n. 303 , ainda se deve ter como válido o ensinamento da encíc li ca de S. João Paul o 11 " Veritati s splendor", n. 56, assente sobre a Sagrada Escritura e sobre a Tradi ção da lgrej a, que exclui uma interpretação cri ativa do papel da consciência, e afirm a que a consciência j ama is está autorizada a legitimar exceções às normas mo rais absolutas qu e proíbem ações intrinseca mente más pe lo próprio objeto?

4. Nota explicativa dos quatro cardeais

O CONTEXTO Os "dubia" (do latim, "dú vidas") são questões forma is diri gidas ao Papa e à Congregação para a Doutrina da Fé, pedindo urna c larificação acerca de temas particul ares relativos à doutrina ou à práti ca. O que estes pedidos têm de particul ar é o fato de serem fo rmul ados de modo a pedirem corno resposta um "sim" ou um " não", se m argumentações teo lógicas. Não fomos nós a in ventar esta modalidade da forma de se diri gir à Sé Apostóli ca; é urna práti ca secul ar. Tratemos agora do que está em j ogo. Depois da publicação da exortação apostóli ca pós-s inoda l " Amori s laetiti a", sobre o amor na fa míli a, levantou -se um ampl o debate, em especia l a respeito do capítulo oitavo. Mais especificamente ainda, os parágrafos 300-305 têm sido objeto de interpretações di vergentes. Para mui tos - bi spos, párocos, fié is - , estes parágrafos faze m alusão, o u ensinam explic itamente, uma mudança da di sciplina da Igreja a respeito dos di vorc iados que vivem num a nova uni ão, ao passo que outros, admitindo embora a fa lta de clareza, ou mesmo a ambi guidade das passagens em ques tão, arg umentam que estas mesmas páginas podem ser lidas em continuidade com o magistéri o precedente e não co ntêm uma modifi cação quanto à práti ca e aos ensinamentos da lgreja. Animados por uma preocupação pastoral para co m os fié is, quatro cardeais enviara m uma carta ao

Santo Padre sob a forma de " dubi a", esperando ass im obter clareza, dado qu e a dúvida e a incerteza são sempre em grandíssimo detrimento do cuidado pastoral. O fa to de que os intérpretes cheguem a diferentes conclusões deve-se também à existência de vias divergentes a propósito da compreensão da vida cri stã. N esse se ntido, o que está em jogo em " Amori s laetitia" não é somente a questão de se saber se os divorci ados que iniciaram uma nova uni ão - sob certas circunstânc ias - podem ser readmitidos ou não aos sacramentos. É ma is do que isso, já que a interpretação do documento implica mane iras diferentes e contrastantes de encarar o estilo de vida cri stão. Assim, enquanto a primeira questão dos " dubi a" diz respeito a um tema prático relativo aos divorciados recasados civilmente, as resta ntes quatro questões são relativas a temas fund amenta is da vida cri stã.

AS PERGUNTAS Dúvida número 1: Pergunta-se se, de acordo com quanto se afirma cm "Amoris lactitia", n. 300-305, se tornou agora possível conceder a absolvição no sacramento da Penitência, e, portanto, admitir à Sagrada Eucaristia, uma pessoa que, estando ligada por vínculo matrimonial válido, convive "more uxorio" com outra, sem qu e estejam cumpridas as condições previstas por "Familiaris consortio", n. 84, e entretanto confirmada s por "Reconcilia tio ct paenitcntia", n. 34, e por "Sacramentum caritatis", n. 29. Pode a ex pressão "cm certos casos", da nota 351 (n. 305) da exortação "Amoris laetitia", ser aplicada a divorciados com uma nova união qu e continuem a viver "more uxorio"? A primeira pergunta refere-se, em parti cular, ao n. 305 de " Amori s laetitia" e à nota de pé de pág ina 351 . A nota 35 1, pese embora fa lar especificamente do sacramentos da penitência e da comunhão, não menciona, nesse contexto, os divorciados recasados civilmente, co rno também não o faz o texto principal. O n. 84 da exo1tação apostólica "Fa miliari consortio", do Papa João Paul o ll, já contempl ava a possib ilidade de admitir os di vo rciados recasados c ivilmente aos sacra mentos. Menc ionava m-se a í três co ndições:

- as pessoas interessadas não podem separar-se se m co meter uma nova injustiça (poderia acontecer, por exempl o, que fosse m responsáve is pela educação dos próprios filh os); - os interessados assumem o co mpromi sso de v iver de acordo com a verdade da própria sit11ação, cessa ndo de viver juntos como se fossem marido e mulher (" more uxorio"), e abstendo-se dos atos próprios do esposo ; - os interessados evitam dar escânda lo (isto é, evitam a aparênc ia do pecado para evitar o ri sco de levar os outros a pecar). As co ndi ções indi cadas em " Fa miliari s consorti o", n. 84, e nos sucessivos documentos ac ima mencionados mostram-se imediatamente razoáveis, assim que se recorda que a uni ão co njugal não se base ia apenas na mútua afeição, e que os atos sex uais não são apenas uma ati vidade a mais entre outi-as que o casal possa prati car. As relações sex uais são para o amor conjuga l. São algo de tão importante, de tão grande bondade e de tão precioso, que requerem um contex to particul ar: o co ntexto do amor conjuga l. Por conseguinte, não só os divorc iados que vivem numa nova uni ão se devem abster, mas também qu alquer pessoa que não esteja casada. Para a Igreja, o sex to mandamento, " não cometer adultéri o", sempre abrangeu qualqu er exercício da sex ualidade que não fosse conjuga l, ou seja, qualquer tipo de ato sex ual a lém do que se tem co m o próprio esposo. Parece que, se fosse m admitidos à co munhão os fi éis que iniciaram uma nova uni ão no âmbito da qua l vivem como se fossem marido e mulher, a Igreja estari a a ensinar, através de tal práti ca de admi ssão, urna das seguintes afirmações a propós ito do matrimônio, da sex ua lidade hu mana e da natureza dos sacramentos : - O di vórcio não dissolve o vínculo matrimoni a l, e os parceiros da nova união não estão casados. Apesa r di sso, as pessoas que não estão casadas podem, em certas cond ições, rea li za r legitimamente atos de intimidade sex ual. - O divórc io di sso lve o vínculo matrimo ni al. As pessoas que não estão casadas não podem rea liza r legitimamente atos sex ua is. Os divorc iados recasados são esposos legitimamente, e os seus atos sexuais são atos conj uga is li citamente. - O di vórcio não di ssolve o ví ncu lo matTimonial, e os parceiros da nova união não estão casados. As pessoas que não estão casadas não podem praticar atos

sex uais. Por isso, os di vorciados recasados civilmente vivem numa sit1iação de pecado habitual, público, objeti vo e grave. Todavia, admitir uma pessoa à Eucari stia não signifi ca para a Igreja aprovar o seu estado de vida público; o fi el pode aprox imar-se da mesa eucarística, mesmo co m a consciência de pecado grave. Para se receber a absolvição no sacramento da penitência não é sempre necessá rio o propósito de mudar a própria vida. Por conseguinte, os sacra mentos estão desligados da vida: os ritos cristãos e o culto estão numa esfera diferente relativamente à da vida mora l cri stã.

Dúvida número 2: Continua a ser válido, após a exortação pós-sinodal "Amoris lactitia" (cf. n. 304), o ensinamento da encíclica de S. João Paulo H "Veritatis splendor", n. 79, assente na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, acerca da ex istência de normas morais absolutas, válidas sem qualquer exceção, qu e proíbem atos intrinsecamente maus? A segunda pergunta di z respe ito à ex istência dos ass im chamados atos intrinseca mente maus. O n. 79 da encícli ca " Veritati s splendor", de .João Paulo II, assevera que é poss íve l "qualifica r como moralmente má segundo a sua espécie [ . . .] a esco lha deliberada de a lgun s compo rtamentos ou atos determinados, prescindindo da intenção com que a escolh a é fe ita ou da totalidade das consequênc ias prev isív is daque le ato para todas as pessoas interessadas". Ensina, pois, a encíc li ca qu e há atos que são se mpre maus, pro ibidos por aque las normas mora is qu e obri ga m sem admitir qu a lquer exceção ("absolutos mora is"). Estes abso lutos mo rai s são sempre nega tivos, isto é, di ze m-nos o qu e não deverí amos fazer. "Não matar" . "Não co meter adultéri o" . Somente as norm as negati vas podem obriga r se m qua lquer exceção. De aco rdo com " Veritati s splendor", no caso dos atos intrinsecame nte maus, não é necessá ri o qualquer di scernimento das circun stâ ncias o u das intenções. Ainda que um agente secreto pudesse arranca r info rmações valiosas à mulher de um terrori sta cometendo adul téri o co m ela, tanto que pudesse até salvar a própria Pátri a (isto, que soa rá a um exempl o saído de um film e de James Bond, fo ra j á contemplado por São To más de Aq uino em De Maio, q. 15, a. 1). João Paul o JJ afirma que a intenção (neste caso, "salva r a Pátri a")

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não muda a espécie do ato ("cometer adultério"), e que é suficiente saber a espécie do ato ("adultério") para se saber que não se deve praticá-lo. Dúvida número 3: Depois de "Amoris laetitia" n. 301, pode ainda afirmar-se que uma pessoa que viva habitualmente em contradição com um mandamento da lei de Deus, como, por exemplo, aquele que proíbe o adultério (cf. Mt 19, 3-9), se encontra em situação objetiva de pecado grave habitual (cf. Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, Declaração de 24 de junho de 2000)? No parágrafo 301, "Amoris laetitia" recorda que a "Igreja possui uma sólida reflexão sobre os condicionamentos e as circunstâncias atenuantes", e conclui que "por isso, já não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada "irregular" vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante". Com a Declaração de 24 de junho de 2000, o Pontificio Conselho para os Textos Legislativos pretendeu clarificar o cânone 915 do Código de Direito Canónico, que determina que "não sejam admitidos à Sagrada Comunhão" aqueles que "obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto". A Declaração do Pontificio Conselho afirma que este cânone é aplicável também aos fiéis divorciados e recasados civilmente. Esclarece ainda que o "pecado grave" deve ser entendido objetivamente, dado que o ministro da Eucaristia não tem meios para julgar da imputabilidade subjetiva da pessoa. Vemos assim que, para a Declaração, a questão da admissão aos sacramentos tem que ver com o juízo da situação de vida objetiva da pessoa, e não com o juízo de que tal pessoa se encontra em estado de pecado mortal. De fato, subjetivamente poderia não ser plenamente imputável, ou até nem sê-lo de todo. Na mesma linha, na sua encíclica "Ecclesia de Eucharistia", n. 37, S. João Paulo II recorda que, "tratando-se de uma avaliação de consciência, obviamente o juízo sobre o estado de graça compete apenas ao interessado". Por conseguinte, a distinção mencionada em "Amoris laetitia", entre a situação subjetiva de pecado mortal e a situação objetiva de pecado grave, já se encontrava bem estabelecida no ensinamento da Igreja. Contudo, João Paulo II continuava, insistindo em que, "em casos de comportamento externo de forma grave, ostensiva e duradoura contrário à norma mo-

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ral, a Igreja, na sua solicitude pastoral pela boa ordem comunitária e pelo respeito do sacramento, não pode deixar de sentir-se chamada em causa". Fazendo-o, reafirmava ainda o ensinamento colhido no cânone 915 , já mencionado. Vê-se assim que a questão 3 dos "dubia" pretende que se esclareça se, mesmo depois de "Arnoris laetitia", é ainda possível dizer que as pessoas que habitualmente vivem em contradição com o mandamento da lei de Deus, vivem em situação objetiva de grave pecado habitual, mesmo quando, por qualquer razão, não for certo que elas sejam subjetivamente imputáveis quanto à sua h·ansgressão habitual. Dúvida número 4: Após as afirmações de "Amoris laetitia", n. 302, relativas às "circunstâncias atenuantes da responsabilidade moral", ainda se deve ter como válido o ensinamento da encíclica de S. João Paulo II "Veritatis splendor", n. 81, assente sobre a Sagrada Escritura e sobre a Tradição da Igreja, segundo o qual: "as circunstâncias ou as intenções nunca poderão transformar um ato intrinsecamente desonesto pelo seu objeto, num ato 'subjetivamente' honesto ou defensível como opção"? No parágrafo 302, "Arnoris laetitia" sublinha que "um juízo negativo sobre uma situação objetiva não implica um juízo sobre a imputabilidade ou a culpabilidade da pessoa envolvida". Os "dubia" fazem menção do ensinamento - tal como foi expresso por João Paulo II em "Veritatis splendor" - , segundo o qual as circunstâncias e as boas intenções jamais podem fazer com que um ato intrinsecamente mau passe a ser um ato bom ou sequer desculpável. A questão está em saber se " Amoris laetitia" concorda em dizer que qualquer ato que transgrida os mandamentos de Deus, como o adultério, o furto, o pe1júrio, consideradas as circunstâncias que mitigam a responsabilidade pessoal, jamais se pode tomar num ato bom ou sequer desculpável. Continuam estes atos, a que a Tradição da lgrcja chamou de pecados graves e maus em si, a ser destru tivos e danosos para quem quer que os cometa, qualq uer que seja o estado de responsabilidade moral em que se encontre? Ou podem estes atos, dependendo do estado ubjetivo da pessoa, das circunstâncias e das intenções,

deixar de ser danosos e tomar-se louváveis ou, pelo menos, desculpáveis? Dúvida número 5: Depois de "Amoris laetitia", n. 303, ainda se deve ter como válido o ensinamento da encíclica de S. João Paulo II "Veritatis splendor", n. 56, assente sobre a Sagrada Escritura e sobre a Tradição da Igreja, que exclui uma interpretação criativa do papel da consciência, e afirma que a consciência jamais está autorizada a legitimar exceções às normas morais absolutas que proíbem ações intrinsecamente más pelo próprio objeto? Em "Amoris laetitia", n. 303 , afirma-se que a "consciência pode reconhecer não só que uma situação não corresponde objetivamente à proposta geral do Evangelho, mas reconhecer também, com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta gene- ~ rosa que se pode oferecer a Deus". g Os "dubia" pedem uma clarifica- ~ , ção destas afirmações, por isso ~ que as mesmas são susceptíveis de ~ interpretações divergentes. Para os que propõem a ideia de uma consciência criativa, os preceitos da lei de Deus e a norma da consciência individual podem estar em tensão, ou até em oposição, ao mesmo tempo que a palavra final sempre deveria caber à consciência, que decide em última instância acerca do bem e do mal. De acordo com "Veritatis splendor", n. 56, "sobre esta base, pretende-se estabelecer a legitimidade de soluções chamadas "pastorais", contrárias aos ensinamentos do Magistério, e justificar uma hermenêutica "criadora", segundo a qual a consciência moral não estaria de modo algum obrigada, em todos os casos, por um preceito negati vo particular". Segundo esta perspecti va, para a consciência moral , jamais será suficiente saber que "isto é adultério", "isto é homicídio", para saber se se trata de algo que não pode e não deve fazer-se. (l)

Em lugar disso, dever-se-ia ainda olhar para as circunstâncias e para as intenções, a fim de se saber se um tal ato poderia, apesar de tudo, ser desculpável ou mesmo obrigatório (cf. pergunta 4 dos "dubia"). Para estas teorias, de fato , a consciência poderia decidir legitimamente que, num certo caso, a vontade de Deus para mim consiste num ato mediante o qual eu transgrido um dos seus mandamentos. "Não cometer adultério" passaria a ser visto como uma norma geral, quando muito. Aqui e agora, vistas as minhas boas intenções, cometer adultério seria, afinal, o que Deus realmente me está a pedir. Nesses termos, seria possível pôr-se a hipótese - no mínimo - de casos de adultério virtuoso, de homicídio legal e de pe1júrio obrigatório. Isto significaria conceber a consciência como uma faculdade para decidir autonomamente acerca do bem e do mal, e a lei de Deus como um fardo que é arbitrariamente imposto e que, a dada altura, poderia opor-se à nossa felicidade. Sucede, porém, que a consciência não decide do bem e do mal. A ideia de "decisão em consciência" é enganadora. O ato próprio da consciência é o de julgar e não o de decidir. Ela di z tão-só "isto é bom", "isto é mau". Essa bondade ou maldade não dependem dela. O que ela faz é aceitar e reconhecer a bondade ou a maldade de uma ação, e para isso, ou seja, para julgar, a consciência necessita de critérios; ela é inteiramente dependente da verdade. Os mandamentos de Deus são uma ajuda bemvinda oferecida à consciência para que escolha a verdade e para que, assim, possa julgar segundo a verdade. Os mandamentos de Deus são uma expressão da verdade sobre o bem, sobre o nosso ser mais profundo, mostrando algo de crucial acerca de como viver bem. Também o Papa Francisco se exprime nestes mesmos termos em "Amoris laetitia", n. 295: "também a lei é dom de Deus, que indica o caminho; um dom para todos sem exceção". :• catolicismo@terra.com .br / DEZEMBRO 201 6

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Adoração dos Reis Magos (detalhe) - Georges Lallemand, 1624. Hermitage, São Petersburgo.

epousais, Senhor, em vosso misérrimo e augustíssimo presépio, sob os olhos da Virgem, vossa Mãe, que vertem sobre Vós os tesouros inauferíveis de seu respeito e de seu carinho. Jamais uma criatura adorou com tão profunda e respeitosa humildade o seu Deus. Nunca um coração materno amou mais ternamente seu filho. Reciprocamente, jamais Deus amou tanto uma mera criatura. E nunca filho amou tão plenamente, tão inteiramente, tão superabundantemente sua mãe. Toda a realidade desse sublime diálogo de almas pode conter-se nestas palavras que indicam aqui todo um oceano de felicidade, e que em ocasião bem diversa haveríeis de dizer um dia do alto da Cruz: "Mãe, eis ai teu.filho. Filho, eis ai tua Mãe" (c:fr. Jo. 19, 26). E, considerando a perfeição deste recíproco amor, entre Vós e vossa Mãe, sentimos o cântico angélico que se levanta das profundezas de toda alma cristã: "Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na Terra aos homens de boa vontade" (Luc. 2, 14).

Fala-se mais de paz do que da glória de Deus

"Paz na Terra aos homens de boa vontade": o jogo complicado, mas célere das associações de imagens me faz sentir imediatamente que em numerosas ocasiões no ano que finda ouvi falar de paz, e de homens de boa vontade. Curioso ... dou-me conta de que ouvi falar menos, e até muito menos, da glória de Deus no mais alto dos Céus. A bem dizer, disto quase não ouvi falar. Nem mesmo implicitamente; pois implicitamente se fala da glória de Deus quando se afirmam os soberanos direitos d'Ele sobre toda a criação, e, por amor a E le, se reivindica o cumprimento de sua Lei por parte dos indivíduos, famílias, grupos profissionais, classes sociais, regiões, nações, e toda a sociedade internacional. Por que este silêncio? - Pergunto-me. Por que os homens querem tanto a paz? Por que tantos homens se ufanam de ter boa vontade? E por que tão poucos são os que se preocupam com a glória de Deus, e se blasonam de por ela agir e Lutar? A paz dos homens vale mais que a glória de Deus?

Em outros termos, o fato essencial do vosso Santo Natal, Senhor, seria só a paz na Terra para os homens de boa vontade? E a glória de Deus no mais alto dos Céus seria como que um aspecto colateral, longínquo, confuso e insípido para os homens, do grande evento de Belém? Em outros termos ainda, a paz dos homens vale mais que a glória de Deus? A Terra vale mais que o Céu? O homem vale então mais do que Deus? E a paz na Terra pode ser obtida, conservada e até incrementada sem que com isto nada tenha a ver a glória de Deus? Por fi m, o que é um homem de boa vontade? É o que só quer a paz na Terra, indiferente à glória de Deus no Céu? Todas estas questões convidam a uma detida análi se do cântico angélico.

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Meditar no Santo Natal de modo transcendente

Adm iráve l profundidade de toda palavra inspi rada! Tão simp les que até uma cri ança o pode compreender, o cântico dos Anj os de Belém encerra entretanto verdades das mais profundas. Como é p roveitoso, pois, nutrir o espíri to com essas palavras, para partic ipar dev idamente das festas do Santo Nata l! Ajudai-nos, Mãe Santíss ima, Sede da Sabedori a, com vossas preces, para que, iluminados pelas claridades que de Jesus dimanam, possa mos entender o câ ntico angé li co que é o mais perfe ito e autori zado comentário do N atal.

"Boa vontade" em relação a quem?

Se só Deus é bom, a boa vontade autêntica é a que se volta toda para Deus, e ama o próximo, não pelo mero amor do próximo, mas pelo amor de D eus.

"Homem de boa vontade" : o que representa isto aos olhos de tantos e tantos de nossos contemporâneos? Para o sabermos, basta indaga r: boa vontade para com q uem? A resposta salta impetuosa e impaciente, como sói acontecer quando a pergun ta tem algo de oc ioso por inquirir o que é quase evidente. Ora bolas, dirão mui tos de nossos coetâ neos, boa vontade para com o próx imo. Aquele que, ateu ou sequaz de uma reli gião, seja e la qua l fo r, adepto da propriedade pri vada, do sociali smo ou do comun ismo, quer que todos os homens vivam alegres, na fartura, sem doenças, sem lutas, se m ri scos, ap roveitando o ma is poss ível esta vida, este é um homem de boa vontade. Visto nesta perspecti va, o homem de boa vontade é um artífice da paz. Di z o di tado que "em casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão ". Logo, onde há pão todos têm razão e há paz. Onde há pão, teto, remédi os, segurança, co m maior razão há necessa ri amente a paz.

Paz interna sem implicações religiosas?

E a glória de Deus? Para o "homem de boa vontade " ass im concebido, é e la um elemento supérfluo no que se refere à paz na Terra. Pois é da adequada ordenação da economia que decorre a boa ordem na vida socia l e política, e portanto a paz. "Supérfluo" é di zer pouco, a respeito da glória de Deus no Céu, considerada em fu nção da paz na Terra. Como alguns homens creem em Deus, e outros não creem, e como entre os que creem há diversidade no modo de entender Deus, este úl timo pode atuar como peri goso fa utor de divi sões, di scussões e polêmi cas. Deus é um senhor por demais comprometido há milhares de anos em polêmicas, para que dele se fa le a toda hora. Para ter paz na Terra é melhor não estar fa la ndo a todo momento sobre Deus e sua glória no Céu. E depois ... o Céu é tão vago, tão longínquo, tão incerto ! Que dele fa lassem os Anjos, vá lá, pois lá moram. Mas nós homens, cuidemos da Terra. U ni r a glória celeste à paz terresh·e é para o "homem de boa vontade" a lgo de tão incorreto, supérfluo e pejado de fatores de luta como é, por exemplo, imprudente uni r a [greja ao Estado. A Igreja li vre do Estado e o Estado li vre da [greja, eis um anelo bem típico do "homem de boa vontade". A paz terrena li betta de implicações religiosas, e Deus no seu Céu e sua glória, sor-

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rindo de braços cruzados para a Terra em paz, a uma ta l di stância da Terra que lá não chegue nem sequer o Lunik, eis o ideal do "homem de boa vontade".

Sem que os homens deem glória a Deus, não há paz no mundo

. Estas são as considerações do "homem de boa vontade" entre aspas, coração está longe do Céu, e cuj o olhar só se detém so bre a Terra. Contudo, quanto di vergem elas do sentido próprio e natura l do câ ntico angéli co! CUJ O

Rea lmente, se o Natal dá glóri a a Deus no mais a lto dos Céus e simultaneamente é a fo nte da paz na Terra para os homens de boa vontade - fo i o que os Anjos proclamaram em seu cânti co - não se pode di ssociar uma · coisa da outra. Sem que os homens deem glóri a a Deus, não há paz no mundo. E a guerra, enquanto considerada no agressor culpado, é incompatíve l co m a glória de Deus. Vós, Senhor Jesus, Deus humanado, sois entre os homens o Príncipe da Paz. Sem Vós a paz é uma menti ra e, afi na l, tudo se converte em guerra. E é porque os homens não compree ndem isto, que proc ura m de todos os modos a paz, mas a paz não habita no me io de les.

A "boa vontade" inautêntica e agnóstica

Adoração dos Reis Magos (detalhe) - Wouter Pietersz Crabeth li, séc. XVII. Museum het Catharina Gasthuis Gouda, Países Baixos.

O que é então o homem de boa vontade, se não é o ho mem que ama o próximo? Será porventura o que ode ia seu próx imo? Ao fa ri seu, que Vos chamou de bom Mestre, pergun tastes: por que Me chamais de bom, se só Deus é bom? (cfr. Luc. 18, 19 ). Se só Deus é bo m, a boa vontade autêntica é a que se vo lta toda para Deus, e ama o próximo, não pe lo mero amor do próx imo, mas pelo amor de Deus. O homem é ta l, que não pode amar o próx imo pe lo próx imo. Ou o ama por amor de si mes mo, e isto é egoísmo. Ou o ama por Deus, e isto sim é amor verdadeiro. E m consequência, a "boa vontade" agnóstica e a paz terrena que e la tende a instaurar, nem são boa vontade autêntica nem ' paz verdadeira. E o falso " ho mem de boa vontade" é em última análi se um emeador de guerras e um artífi ce de ru ínas.

Paz é a mera abstração de controvérsias?

Mas, dirá alguém, como pode ser Jesus o fu ndamento da pa z, se ni nguém co mo E le tem suscitado tanto ódi o? O popul acho, cumul ado por Ele de favo res espirituais e materi ai s de toda ordem, p referi u Barrabás, um bandido. Isto não é ódio? Os Imperadores contra E le moveram perseguiç cs atrozes. Os aria nos contrn Ele mobi lizaram todas as potências da Terra. Depois vi era m os maometanos. 1~ depois, e depois, todos os grandes vagalhões da catolicismo@terra .com .br / DEZEM Hl{O 20 16

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Históri a, até o nazismo e o com uni smo. A li ás, acrescentaria ta lvez a lguém, S imeão bem ex primiu essa verdade, profetiza ndo que Ele seri a ao longo da Históri a uma pedra de escândalo, um sin al de contradi ção pa ra a morte e ressurreição de muitos (cfr. L uc. 2, 34). E le própri o di sse de S i que trazia à Terra o g ládio (cfr. M at. l O, 34). Por melhor que tudo isto sej a - poderi a a rgume nta r um "homem de boa vontade " entre aspas - , a verdadeira paz, isto é, uma plena e compl eta desmobili zação dos espíritos, uma inteira cessação não só de todas as guerras como de todas as po lê micas, não é poss ível com Jes us C ri sto. A paz só é autênti ca quando a bstra i de todas as controvérsias, inclusive aquelas a que Jesus C ri sto - sem culpa própri a, concede o "homem de boa vontade " - dá ocas ião.

A verdadeira paz não exclui a luta do bem contra o mal Sim, diri a um homem de boa vontade autêntico, isto é, um home m que com todas as veras de sua alma a ma a D eus. Neste caso, é por burl a que a Escri tura cha ma Jesus C risto Príncipe da Paz (cfr. Is. 9, 6), e a Igrej a, faze ndo eco ao Bati sta (cfr. Jo. J, 29 e 36), O apresenta como um manso Cordeiro a que m os homens deve m pedir o dom da paz: "Agnus Dei, qui tal/is peccata mundi, dona no bis pacem " (E is o Co rdeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo - Jo, J, 29). O u é por que a verdadeira paz não excl ui a luta do bem co ntra o mal, a po lêmi ca entre a luz e as trevas, o perpétuo esmagar da cabeça da Serpente pela Virgem sem mancha, a hostilidade entre a raça oriunda da Virgem e a raça da Serpente? A paz é a ordem de C ri sto no Reino de Cristo . Ela tem, pois, como condi ção a luta dos sequazes de C ri sto con tra os inimi gos de C ri sto. A paz de C ri sto não se ide ntifica de modo nenhum co m a fa lsa paz, sem lutas nem po lê mi cas, do pretenso "homem de boa vontade ". *

A adoração dos pastores (detalhe) - Giorgione, séc. XVI. Samuel H. Kress Collection, National Gallery of Art, Washington.

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Três grandes li ções, ó D eus-Menino, reco lhemos do vosso Santo N ata l. F ica mos sabendo que não há paz na Terra sem Vós. Q ue homem de boa vontade autênti co não é quem ama o homem pelo home m, mas que m o ama por a mo r de Vós. E que vossa Paz inc lui a cessação de todas as lutas exceto a vossa incessante e g lori osa gue rra contra o demônio e seus a li ados, isto é, o mundo e a ca rne. Virgem Ma ria, M ed ianeira de todas as graças, debruçada em adoração sobre o Deus- Menino, obtende-nos uma plena compenetração de todas estas verdades. E perm iti que nas perspectivas que e las desvendam, cantemos convosco e com todas as cri aturas celestes e terrenas das quais sois Ra inha :

"Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na Terra aos homens de boa vontade ".

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São Pedro Canísio Consultado por Papas, Reis e Bispos, este grande jesuíta combateu a Pseudo-reforma protestante de Lutero, cujos erros contagiavam o clero e a sociedade da época. E reconduziu tantos alemães à verdadeira fé, que mereceu de Leão XIII o título de "segundo apóstolo da Alemanha." '

••••• PLINIO MARIA SOLIMEO

edro Canísio nasceu em Nimega, atual Holanda, então parte da A lemanha, no dia 8 de maio de 1521. Seu pai, Jacó Canísio, foi várias vezes prefeito da cidade e incumbido de importantes missões em diversas cortes. Sua mãe faleceu quando ele era ainda pequeno. Naquele mesmo ano Lutero rompia definitivamente com Roma, e Inácio de Loyola, ferido no cerco de Pamplona, renunciava as coisas mundanas. Um quartel mais tarde, após estudar artes, direito e teologia nas universidades de Colônia e Louvai n, era a vez de Pedro Canísio fazer o mesmo ... Na primavera de 1543, ao saber que São Pedro Fabro, primeiro discípulo de Santo Inácio e cofundador da Companhia de Jesus, se encontrava em Mainz, fez com ele os Exercícios Espirituais. Saiu tão transformado que ingressou no Noviciado da Companhia de Jesus, tornando-se o seu primeiro apóstolo na Alemanha. Na semana anterior a Pentecostes de 1546 recebeu a ordenação sacerdotal.

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Combate o arcebispo herege de Colônia

Com alguns colaboradores, São Pedro fundou em Colônia a primeira casa dos jesuítas na Alemanha. O arcebispo dessa cidade, Herman de Wied, era partidário das novas ideias e vivia cercàdo de protestantes. Canísio não só pregou contra ele como obteve do Imperador Carlos V que o herege fosse deposto. Tendo ido em fevere iro de l 547 ao Concílio de Trento como teólogo de D. Oto von Truchess, Bispo de Augsburg, ali conheceu Laínez, Salmerón e Le Jay,

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três baluartes da Companhia fundada por Santo Inácio de Loiola. O primeiro teve influência decisiva em sua vida. Precursor da devoção ao Sagrado Coração

No ano seguin te Pedro Canísio foi a Roma, onde conheceu Santo fnácio, que viu nele um precioso auxil.iar. Por isso, o fundador o conservou alguns meses sob a sua direção, env iando-o depois para lecionar retórica em Messina. No dia 4 de setembro de 1549, Canísio fez em Roma sua profissão solene nas mãos de Santo Inácio. Num dos dias em que rezava diante do sepulcro dos santos Apóstolos na capital da Cristandade, apareceu-l he o divino Salvador, mostrando-lhe seu Sagrado Coração. Essa visão marcou-o profundamente por toda a vida. É de se notar que o fato se deu mais de cem anos antes das grandes revelações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque. O que torna São Pedro Canísio um precw-sor dessa devoção. "Restaurador do catolicismo alemão"

Atendendo ao pedido do Papa Paulo III e do Duque Gui lherme IV, da Baviera, Inácio enviou Canísio, Cláudio Le Jay e Alfonso Salmerón para a Univers idade de Ingolstadt, na Alemanha. Mas antes, como queria que seus filhos estivessem à altura dos seus oponentes da Pseudo-reforma chefiada pelo heresiarca Lutero, Santo Inácio determinou que, no caminho para a Alemanha, os três apóstolos recebessem em Bolonha o doutorado em Teologia. Desse modo, eles só chegaram a Ingolstadt em novembro desse ano de 1549. "Começa então a carreira do restaurador do catolicismo alemão. [. ..] Um dos pontos-chave de sua obra/oi o ensino,já que o maior mal da Alemanha era a ignorância religiosa. A Baviera estava em grave perigo de abandonar a.fé católica. Sua Universidade de lngolstadt era, para os católicos, o que Wittenberg era pam os protestantes. Se lngolstadt caísse nas mãos dos luteranos, a instrução do clero perdia ''2 o seu maior baluarte. Donde a importância que representa o trabalho dos jesuítas nessa uni versidade. Como não podia deixar de ocorrer, os luteranos haviam movido guerra sem quartel contra a filosofia escolástica, o que provocou o enfraquecimento dos estudos teológicos. Coube a Canísio e a seus compa-

nheiros o ônus de fazê-los rev iver, não só em lngolstadt, mas em todas as universidades católicas em que lecionaram. Sob a direção dos jesuítas, em pouco tempo a Universidade de lngolstadt alcançou notável florescimento, tornando-se um esteio da Religião católica no decorrer da Contra-Reforma. Uma verdadeira e salutar reforma religiosa

"Esses trinta anos [que se seguiram, ou seja, de 1549 a 1580) marcam o ponto culminante na vida do santo; eles compreendem todo o tempo em que ele passou na Alemanha desde sua chegada a lngolstadt em novembro de 1549, até sua partida para a Suíça, no fim de 1580. Anos cheios em que Canísio aparece ao mesmo tempo como educador da juventude, pregador e missionário, organizador e sustentador de sua Ordem, conselheiro e diretor de príncipes, campeão do catolicismo nas dietas do Império, núncio de Papas, publicista. Mas, nessa vida tão variada, uma ideia domina e lhe dá alma e unidade: opor à pretendida reforma dos luteranos um movimento de verdadeira e salutar r<qfàrma religiosa, para consolidar a je católica nos territórios que p ermaneceram fiéis a Roma, e jàzer desses países uma muralha contra o protestantismo que ameaçava invadir toda a Alemanha. "3 Os males da época vistos pelo Santo

Desde o fim da Idade Média e o surgimento do Renascimento, a acentuada decadência da fé e dos costumes preparara o terreno, sobretudo na Alemanha, para o smgimento do protestantismo e de outras heresias. As igrejas ficaram vazias, conventos inteiros abandonaram a fé, e o povo entregou-se a todos os desmandos na nova religião. Mesmo na parte da Alemanha em que ainda a fé católica subsistia, ela estava tão débil que agonizava. São Pedro Canísio, em cartas à Companhia ou aos dois campeões do catolicismo na época, os cardeais Othon von Truchess e Estanislau Osius, descreve com cores vivas o estado de calamidade em que se encontrava a Religião nesses estados. Eis um resumo: "Nas universidades e nas escolas, uma juventude licenciosa e sem gosto p elo estudo; mestres frequentemente impregnados de luteranismo ou deixando livre curso à dffusão de livros heréticos; no povo, negligência nas práticas mais vitais do catolicismo, desprezo pela au-

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Preservando as partes não atingidas pela heresia protestante

toridade dos pastores e da Igreja e, como consequência, uma ignorância profunda das tendências anticatólicas, que se traduziam por pedidos imperiosos, como o da comunhão sob duas espécies. No clero, nenhuma disciplina nem respeito pela lei do celibato eclesiástico, e a ignorância atingindo também nele proporções incríveis. [. ..] Nos soberanos católicos, ameaçados por seus inimigos protestantes e pouco sustentados pela nobreza de seus próprios Estados, muita timidez e indecisão. [. ..] Mais ou menos a mesma atitude [notase] com relação aos príncipes eclesiásticos, desigualmente zelosos, mas sempre perturbados em seus bons desejos pelo elemento heterodoxo de suas dioceses, e a resistência que encontravam em seu clero, sobretudo em seus capítulos. "4 Compreende-se que, neste quadro terrível, a heresia encontrasse campo propício para suas investidas.

A pedido de Ferdinando I, Canísio abriu um colégio católico em Praga, o qual foi depois transformado em universidade. Também pregou na catedral dessa cidade contra os erros de João Huss, precursor de Lutero, que seduzia muitos. Igual zelo demonstrou na renovação das universidades da Polônia, de Friburgo e de Brisgau. Em 1549, o bispo e depois cardeal Otto Truchess von Waldburg fundou em Dillingen um seminário para formar sacerdotes. E em 1554 obteve do Papa um decreto elevando tal seminário a universidade, cuja direção confiou em 1564 aos jesuítas dirigidos por São Pedro Canísio. Foi devido ao incansável labor desse prelado e do santo que grandes parcelas da diocese não foram perdidas para a heresia protestante. 5

Colégios e universidades para combater o protestantismo

Recebe Santo Estanislau Kostka na Companhia de Jesus

Entre os meios para consolidar ou despertar a fé dos católicos, além da pregação da sã doutrina, Canísio colocava em primeiro lugar a formação da juventude. De onde seu empenho na fundação de universidades e colégios católicos - e, sobretudo, de seminários eclesiásticos para a boa formação do clero - , o que foi primordial na luta da Contra-reforma católica nos países em que atuou. Como é impossível abordar nos limites de um só artigo toda a atividade de São Pedro Canísio, não só na Alemanha, mas em todos os países europeus onde sua benéfica ação preservou o que restava de catolicismo, vejamos apenas alguns fatos. Também - o que aconselhamos vivamente aos leitores - a leitura de sua PROFISSÃO DE FÉ, transcrita à p. 38. Em 1552, por mandato do Papa Júlio III e ordem de Santo Inácio, São Pedro Canísio partiu para o novo colégio dos jesuítas em Viena. Na capital imperial ele advertiu verbalmente e por escrito Ferdinando I, irmão do Imperador Carlos V e então Rei dos Romanos, que seu filho mais velho, futuro Imperador Maximiliano II, nomeara como pregador da Corte um padre casado - Fauser - que difundia a doutrina luterana. Canísio enfrentou o herege em público e por escrito, obrigando Maximiliano a demiti-lo. Por isso o imperador, que simpatizava com as novas ideias, sempre guardou rancor do santo.

Atendendo ao pedido de São Pedro Canísio, Santo Inácio ordenou que todos os jesuítas rezassem mensalmente uma Missa pela Igreja na Alemanha e no norte da Europa. E em 7 de junho de 1556 nomeou-o Provincial dos Jesuítas da Alemanha Superior, Áustria e Boêmia. Nessa qualidade ele recebeu na Companhia, em 1567, Santo Estanislau Kostka (1550-1568), encaminhando-o depois para a Casa Mãe em Roma, dirigida por São Francisco de Borja. No Tirol, em 1564, "suas pregações na Corte do arquiduque Ferdinando II tiveram felizes frutos, e contribuíram muito para a santificação das cinco arquiduquesas, irmãs desse príncipe. "6 Uma delas, Madalena, foi declarada Venerável por São Pio X.

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Refutação dos teólogos protestantes - Mariologla

Para anular os efeitos perniciosos da propaganda protestante, São Pedro Canísio publicou em 1571, a pedido de São Pio V, os Comentários às alterações da palavra de Deus, que foram as primeiras refutações às Centúrias de Magdeburgo, dos protestantes. Nessa obra o santo demonstrou um profundo domínio da Sagrada Escritura, além de grande conhecimento da literatura protestante. "No segundo tomo, dedicado à Virgem, é o primeiro teólogo que trata a mariologia de uma maneira ampla e sistemática. [. ..] [sendo esse

trabalho] uma apologia clássica de toda a doutrina católica sobre Maria. " 7 Em louvor da Mãe de Deus ele fundou várias Congregações Marianas, tanto para estudantes quanto para o povo em geral. Catecismo ou Súmula da Doutrina Cristã

Entretanto, seu trabalho mais popular e de maior repercussão no país foi o Catecismo ou Súmula da Doutrina Cristã, dirigido às classes intelectuais, o qual foi seguido de outro catecismo mais breve para o povo; e, finalmente, de um ulterior, para as crianças das escolas médias. Esses catecismos se tornaram de tal maneira populares, que até o século XIX Canísio, na Europa, era sinônimo de catecismo. Afirma-se que, na época, nenhuma outra obra, exceto a Bíblia, teve mais reimpressões e traduções em todas as línguas da Europa. Lendo seu catecismo, São Luís Gonzaga decidiu ingressar na Companhia de Jesus (quadro ao lado). Fortalece Friburgo na fé católica

Em 1580 Canísio fundou um colégio jesuíta em Friburgo, na Suíça, que estava ameaçada pelo protestantismo. Sua atuação na cidade e região foi crucial para que o cantão perma necesse no redil católico até os nossos dias. Numa peregri nação que realizou ao santuário da milagrosa imagem da Santíssima Virgem, cm Einsiedeln, apareceu-lhe São Nicolau, Padroei ro de Friburgo, suplicando-lhe que não deixasse o cantão. 8 Desse modo ele passou os últi mos anos

de sua vida em Friburgo, devotando-se a instruir os conversos, dar direção espiritual aos membros de sua . Companhia, e a escrever e reeditar livros católicos contra a seita protestante. Nesse sentido, ele incitou o governo da cidade a fundar uma tipografia para esse trabalho, concedendo privilégios especiais aos impressores. Enfim, cheio de méritos, o incansável batalhador entregou sua alma a Deus no dia 21 de dezembro de 1597, sendo beatificado pelo imortal Pio IX em 1864 e canonizado por Pio XI em 1925, que também o declarou Doutor da Igreja . •• Notas: 1. Para este artigo, baseamo-nos sobretudo no excelente estudo de X. Le Bachelet no Dictionnaire de Théologie Catholique, Letouzey et Ané, Éditeurs, Paris, 1903, tomo li, artigo "Canisius". Citaremos a coluna em que aparece cada citação. 2. Quintin Aldea, San Pedro Canisio, Gran Enciclopedia Rialp, Ediciones Rialp, S.A., Madri, 1974, tomo XVIII, p.171. 3. Bachelet, 1509. 4. Bachelet, 1509-1510. 5. Cfr. Joseph Linz, Augsburg, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 6. Bachelet 1519. 7. ld. ib., p. 172. 8. Cfr. Otto Braunsberger, 8/essed Peter Canisius,The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition.

Sapatos usados por São Pedro Caníslo

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·A profissão de fé de SÃO PEDRO CANÍSIO rofesso diante de Vós minha fé, Pai e Senhor do Céu e da Terra, Criador e Redentor meu, minha força e minha salvação, que desde os meus mais tenros anos não cessastes de nutrir-me com o pão sagrado da vossa Palavra e de confortar meu coração. A fim de que eu não vagasse, errando como as ovelhas transviadas que não têm pastor, Vós me congregastes no seio de vossa lgreja; colhido, me educastes; educado, continuastes a me ensinar com a voz daqueles Pastores nos quais Vós quereis ser ouvido e obedecido como em pessoa pelos vossos fiéis. Confesso em alta voz, para a minha salvação, tudo aquilo que os católicos sempre acreditaram de bom direito em seus corações. Abomino Lutero, detesto Calvino, amaldiçoo todos os hereges; não quero ter nada em comum com eles, porque não falam nem ouvem retamente, nem possuem a única regra da verdadeira Fé proposta pela lgreja una santa católica apostólica e romana. Uno-me, em vez disso, na comunhão, abraço a fé, sigo a religião e aprovo a doutrina daqueles que ouvem e seguem a Cristo, não apenas quando ensina nas Escrituras, mas também quando julga pela boca dos Concílios Ecumênicos e define pela boca da Cátedra de Pedro, testemunhando-a com a autoridade dos Padres. Professo-me também filho daquela Igreja romana que os ímpios blasfemos desprezam, perseguem e abominam como se fosse anticristã; não me afasto de nenhum ponto de sua autoridade, nem me recuso a dar a vida e derramar meu sangue em sua defesa, e creio que os méritos de Cristo podem obter minha salvação e a de outros somente na unidade desta mesma Igreja. Professo francamente, com São Jerônimo, de ser unido com quem é unido à Cátedra de Pedro, e protesto, com Santo Ambrósio, seguir em todas as coisas aquela Igreja romana que reconheço respeitosamente, com São Cipriano, como raiz e mãe da Igreja universal. Confesso essa Fé e doutrina que aprendi ainda criança, confirmei na juventude, ensinei como adulto, e que agora, com minha força débil, defendi. Ao fazer esta profissão, não me move outro motivo senão a glória e a honra de Deus, a consciência da verdade, a autoridade das Sagradas Escrituras, o sentimento e o consenso dos Padres da Igreja, o testemunho de fé que devo dar aos meus irmãos e, finalmente, a salvação eterna que espero no Céu e a felicidade prometida aos verdadeiros fiéis. Se acontecer de eu vir a ser desprezado, maltratado e perseguido por causa desta minha profissão, considerá-lo-ei uma graça e um favor extraordinários, porque isso significará que Vós, meu Deus, me destes a ocasião de sofrer pela justiça e não quereis

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que me s,ej_am b~nevolentes aqueles que, como inimigos declarados da Igreja e da verdade catolica, nao podem ser vossos amigos. No entanto, perdoai-os, Senhor, porque, instigados pelo diabo e cegados pelo brilho de uma falsa doutrina, não sabem o que fazem , ou não querem saber. Concedei-me, contudo, esta graça: de que na vida e na morte eu renda sempre um teste~unho autênt!co d~ sinceridade e fidelidade que devo a Vós, à Igreja e à verdade, que nao me afaste Jamais do vosso santo amor, e que esteja em comunhão com aqueles que Vos temem e guardam os vossos preceitos na Santa [greja romana, a cujo juízo, com ânimo pronto e respeitoso, eu me submeto e toda a minha obra. Todos os santos, triunfantes no Céu ou militantes na Terra, que estais indissoluvelmente unidos no vínculo da paz na Igreja Católica, mostrai vossa imensa bondade e rezai por mim. Vós sois o princípio e o fim de todos os meus bens; a Vós sejam dados, em tudo e por tudo, louvor, honra e glória sempiterna. Amém. (Fonte: Pe. Benigno Hernández Montes, S.J. (19361996), San Pedro Canisio, autobiografía y otros escritos, Editorial Sal Terrae, Santander, 2004, 366 páginas. Cfr. páginas 121 e 122). https://books.google.com.br/books?id = e VswyUNGayOC& pg=PA122&Ipg=PA122&dq=%22san+pedro+canisio%22+1utero+calvino&sou rce= bl &ots=J636kc5fJt&sig=qSTBoo6B2B yBKPxo qDL8spH2Kg&hl=pt=-BR&sa =X&ved-:: OahU KEwjK5umV-4fQAhXJEZAKHfuCAS4Q6AEIMzAl #v= onepage&q= %22san %20pedro%20 canisio%22%20Iutero%20calvino&f=false Nota do Autor: Esta profissão de fé foi impressa por Canísio em vários de seus livros a partir de 1571, ano em que a publicou por primeira vez em sua Summa doctrinae christianae. As principais razões desta pública profissão da fé foram que em 1568 espalhou-se em algumas regiões que Ca_nísio tinha se tor~ado protestante _ e que alguns de seus adversários (como Felipe Melanchlon,_Joao Marbach e Joao Gnyphaeus) afirmavam em seus livros que Canísio defendia a doutrina cntol,~a. malgrado saber que era falsa . Nesta belíssima págin 9 Canísio manifesta sua firmeza na fc catol,ca, sua adesão inque_b~antável à Igreja de Roma .e ao Sumo Pontífice, seu recha ço frontal cio protestantismo e a d1spos1çao a dar sua vida pelé! Fé eçitólic.a. (id. ibid. , p. 121).

Tam_bém em_: _"Corrispondenza Romana ", 13-1-2016 - http://www.corrispondenzaromana.it;san p1etro-ca n IsI0-pregh iera-per-con serva re-la-vera-fede/. . .

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D 8ZEM IHlQ .201 6

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ENTREVISTA

EUROPA Invasão islâmica No continente europeu, o governo alemão foi o que mais abriu suas fronteiras para a entrada de imigrantes, a maior parte dos quais é constituída por maometan_os, inclusive militantes do "Estado Islâmico", que aproveitam de tal abertura para se introduzirem na Europa, onde arregimentam novos adeptos para perpetrar delitos de toda ordem e mesmo atentados terroristas.

••••• á mais de um ano, quando se difundiu a notícia de que a Alemanha havia aberto suas fronteiras para dar entrada a fugitivos da guerra na Siria, habitantes de outros países de religião maometana, aproveitando-se dessa abertura, acorreram em massa para a Alemanha,

H

numa verdadeira invasão de imigrantes. A ocasião foi especialmente aproveitada pelo Estado Islâmico (ISIS) para introduzir seus agentes na Europa e, assim, cumprir sua agenda de subversão da ordem social por meio de atentados e crimes comuns. De fato, estes últimos são os que mais causam "Entre os fugitivos de medo à população euronações africanas havia peia, pois a priva da certegrande presença de za de levar uma vida normal muçulmanos e mesmo nas ruas e praças públicas, de militantes do Estado nos centros comerciais, nos transportes urbanos etc. Em Islâmico, que aproveialgumas cidades, a própria taram a onda para se polícia já não consegue ininfiltrarem na Europa" tervir para manter a ordem, pois tais refugiados avançam em grupos e, muitas vezes, utilizam de violência contra os agentes da ordem, servindo-se como arma de qualquer objeto que encontrem pelas ruas. Para atualizar os leitores de Catolicismo sobre graves problemas, decorrentes dessa invasão islâmica

na Europa, entrevistamos o Sr. Benno Hofschulte (acima), do TFP-Bureau em Frankfurt. Na Alemanha desde 1983, ele representa TFPs (Tradi ção, Família e Proprie-

dade) de vários países. Ele é também diretor da Deutsche Vereinigung für eine Christliche l<.ultur (Associação Alemã por uma Civilização Cristã), em cujo âmbito dirige o movimento anti-abortista Aktion SOS LEBEN (Ação SOS VIDA). Através de visitas pessoais, reuniões, conferências e contatos com movimentos afins, Benno Hofschulte vem promovendo a difusão dos ideais da civilização cristã, hoje tão golpeada pela decadência geral dos costumes e por culturas estranhas e até mesmo contrárias àquela sobre a qual se construiu a Europa.

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Catolicismo - Como tem sido o afluxo de refugiados na Alemanha, a grande maioria dos quais é de religião muçulmana?

Benno Hofschulte - Há mais de um ano, os alemães foram surpreendidos pela entrada de milhares de pessoas, que se aproveitaram da abe1tura das fronteiras . O intuito primeiro e principal era receber e dar asilo a fugitivos da guerra na Síria, que eram recebidos como verdadeiros refugiados, em vista da situação insustentável na qual se encontravam em seu país. Com a decisão de se implantar a base do "Estado Islâmico" (TSTS) na Síria, um grande número de fugitivos, talvez a maioria, era de cristãos, que vinham sendo brutalmente perseguidos da forma mais inumana possível por fanáticos muçulmanos. Foram esses cristãos que formaram a primeira onda de fugitivos que procuraram a Alemanha para asilo. Mas na medida em que ia ficando claro que a Alemanha estava disposta a receber sem restrições qualquer refugiado , instalou-se no norte da África uma verdadeira máfia de comércio humano. Centenas de mil hares de africanos, vindos de países nos quais certamente havia pobreza, mas onde não se constatava em absoluto perseguição religiosa, foram atraídos com a promessa de que encontrariam o paraíso na Europa. Quase todos vendiam o que possuíam para financiar a travessia do Mediterrâneo, na esperança de encontrar sustento, moradia e trabalho. Milhares deles perderam suas vidas nos diversos naufrágios ocorridos durante a viagem, não apenas pela precariedade das embarcações, mas também pelo excesso de passageir s a bordo. Contudo, nem isso provocou dimi nuição do número daqueles que buscavam o "paraíso" europeu.

Ora, entre esses fugitivos havia grande presença de muçulmanos e mesmo de militantes do !SIS, que aproveitaram a onda para se infiltrarem na Europa. Como a Alemanha era o único país que oficialmente deixava entrar esses prófugos sem maior controle de suas fronteiras, eles confluíram em massa para cá. "A política da igreja é a

equivocada opinião segundo a qual o melhor Catolicismo-Qual tem sido meio de combater o a reação do público alemão medo é entrar em diálodiante de tudo isso? Benno Hofschulte - Pou- go com os muçulmanos, co a pouco, o público ale- para assim conhecer a mão acabou abrindo os religião islâmica" olhos, entendendo que havia provavelmente nessa onda migratória outro intuito que não apenas o de ajuda humanitária, visando acostumar a população ordeira daqui a viver porta a porta com um cultura completamente estranha à cultura cristã sobre a qual está baseada a civilização europeia.

Catolicismo - Que dificuldades e perigos o incremento do elemento islâmico representa para a Igreja católica no panorama religioso alemão?

Benno Hofschulte - Dificuldades e perigos de fato existem, devido ao caráter fanático dos extremistas islâmicos. Insiste-se sempre em que não se pode generalizar, de que não é por causa de uma minoria fanática que se deve considerar o Islã uma religião fundamentalista desejosa de impor-se pela violência. Embora seja verdade que os muçulmanos fanáticos como os do ISIS são minoria, cabe salientar que a ocorrência frequente de atentados cometidos por esses fanáticos vem criando uma tendência nos alemães em atribuir ao Islã essa característica de violência. A Igreja insiste em favorecer o diálogo inter-religioso com o Islã, para tentar incutir confiança nele. Há mesmo em certas paróquias cursos de catecismo para muçulmanos que manifestam o desejo de se converterem, e realmente tem havido verdadeiras conversões. Mas à vista de atentados sacrílegos, como o ocorrido na França com um sacerdote que dirigia um grupo de diálogo com muçulmanos e que foi degolado por dois fanáticos em plena Missa, essa confiança fica extremamente abalada. catolicismo@terra.com.br / DEZEMBRO 2016

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Catolicismo - Diante da queda demográfica na Alemanha, o senhor julga acertada a política da chanceler Angela Merkel de abrir as fronteiras para esses refugiados que poderiam representar mão-de-obra "Há um equívoco em jovem e barata? imaginar que muçul-

manos tornar-se-iam moderados e benévolos caso percebessem que os cristãos não têm animosidade contra eles, e que esse seria o verdadeiro Islã"

Benno Hofschulte Absolutamente não.

Catolicismo - Por quê?

Benno Hofschulte - Posso enumerar vári as razões. Quanto aos que vêm do norte da Áfri ca, realmente são jovens, mas não possuem a menor qualificação para uma atividade profissional o u mesmo amadora. Acresce-se a isso outro obstácul o não pequeno para a inserção deles no mercado de traba lho : a fa lta do conhecimento da língua alemã. Ora, uma língua estrangeira não se aprende sem estudo. O Estado deverá arca r com os cursos de aprendizado do alemão, além de fin anciar tudo o que fo r necessá rio para que eles vivam com di gnidade - moradi a, roupa, saúde - , sem que haja num curto prazo compensação de trabalho produtivo da parte dos benefi ciados. Ademais, as estatísti cas provam que não é esse tipo de imigração que resolverá o problema demográfico da A lemanha. Porque demografia não é só uma questão de número de habitantes, mas de habitantes que produza m algo para manter a estabilidade social e econômi ca de um pa ís.

Catolicismo - Qual a posição da Hierarquia eclesiástica diante do crescimento dos muçulmanos e de sua influência na vida pública? Ela julga que a Fé católica está em perigo?

Benno Hofschulte - Não ! De modo nenhum ela considera que a Fé católi ca esteja em peri go. Reconhece, no entanto, que o povo em gera l está com medo de que a qua lquer momento e em qua lquer lugar sobrevenham atentados públicos ou agressões fi sicas, como aque la ocorrida algumas semanas atrás em Hamburgo, quando um jovem que passeava co m uma ami ga pelas margens do lago Al ster fo i esfaqueado pe las costas, falecendo pouco depois. Esse temor público é razoável. A política da Igreja

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e Frankfurt. É como se essas c idades desaparecesse m ago ra. Historiadores afirm am que a queda da fe rtilidade de um povo está intimamente li gada a uma massiva seculari zação, o u seja, a religião já não exerce mais influência sobre a vida das pessoas. Esse processo de seculari zação vem ocorrendo na Al emanha desde os anos de 1960: o número de paróqui as, bati smos, casamentos re li giosos, ordenações sacerdotai s, conversões para o catolicismo e frequênc ia à Mi ssa do mini ca l vêm conhecendo declínio vertiginoso. Fal a-se de uma era de " novo ateísmo", de um a "sociedade sem D eus" que se estari a fo rmando. A Alemanha poderi a ainda ser considerada um país cri stão, mas dentro de a lguns anos será ma is acertado fa lar de um país predominantemente ateu co m minori as re li giosas.

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Catolicismo - Quem preencheria esse vazio deixado pela religião?

católica, no entanto, é a equivocada opinião segundo a qual o melhor meio de combater esse medo é entra r em di álogo com os muçulmanos, para ass im conhecer de modo autênti co a religião islâmi ca e o que nela ex istiri a de verdade e santidade. Segundo a ori entação de padres e bispos, o católico deve aprender a ter confia nça, respeito e consideração pelos muçulmanos, ressa ltando os lados que temos em co mum . Faz parte desse esquema a visita de escolares a lemães a mesquitas, para lá "ex perimentarem" o modo de prestar culto a Alá ... A meu ver, há um grande equívoco em imaginar que os muçulmanos tornar-se- iam moderados e benévolos caso percebessem que os cristãos não têm animosidade contra e les, e que esse seria o verdadeiro Jslã.

Catolicismo - O senhor pensa que os políticos da Aktion für Deutschland poderão apresentar soluções adequadas aos problemas da Alemanha referentes ao islamismo?

Benno Hofschulte - De momento eu não teria elementos para responder, uma vez que o partido é novo e seus membros e leitos são um tanto inexperi entes no exercíc io de cargos políticos. O pro blema islâmi co ex iste e é muito séri o, mas a polí ti ca não se limi ta apenas a ele.

De momento a AfD está encontrando difi culdades no Parlamento a lemão, porque nenhum dos partidos constituídos ousou ainda faze r coalizão co m os políti cos dessa nova agremi ação qu e, enquanto se manti ver isolada, não terá mui ta fo rça e influência nos gove rnos. M esmo que apresente so luções vá lidas para o problema islâmi co, o partido não conta no momento com número sufic iente de cade iras para fazer passa r tais so lu ções.

Catolicismo - Apesar do horizonte sombrio que o senhor descreve, vê luzes de esperança para um futuro cristão da Alema nha?

Benno Hofschulte - Com mui ta frequênc ia a mídi a pu blica dados estatísti cos de co mo a população germânica se apresentará dentro de um fu turo próx imo. Em outubro úl timo, por exemplo, o di ário " Die Welt" prognos ticou que dentro de 20 anos os cri stãos, que hoje ai nda representam uma grande maioria no país, tornar-se-ão mi noria. O vaz io dei xado pelos cristãos na Alema nha será preenchido por uma sociedade multi cul tura l e islâmi'a. A queda do índ ice de nata lidade terá então excluído uma popul ação maior do qu e a da antiga A lemanha Ori enta l, o que equi va le à soma dos habi ta ntes das cidades de Berlim, Ham burgo, M unique, Co lô nia

Benno Hofschulte - Políticos e analistas fa lam se m rodeios na cri ação de um " Islã. a lemão". Não é preciso insistir que esse quadro traz perspectivas trágicas para o cri sti ani smo na Al emanha. Mas não só para ela, pois todos os países da Europa encontra m-se em situação semelhante. O qu e se consta ta é que a Mensagem de Nossa Senhora de Fátim a em 19 17, cuj o centenári o será no próx imo ·ano, nã.o fo i tomada a sé ri o, so bretudo no que di z respe ito às profecias refe re ntes à apostas ia das nações do verdade iro ca minho de sa lvação por E la indi cado. No entanto, a Mensagem de Fá tima tor- "Políticos e analistas na-se cada vez ma is o úni co falam sem rodeios na fa rol a iluminar o caminho tenebroso pelo qu al os po- criação de um 'Islã vos e as nações envereda- alemão '. Não é preciso ra m em busca do progresso insistir que esse quadro técni co e do bem-estar pes- traz perspectivas trágisoal que aca baram não en- cas para o cristianismo contra ndo.. . na Alemanha" Nossa Senho ra de Fátima é a grande esperança da instauração na Terra de uma ordem mundia l justa e sa nta, na qual os homens possa m realiza r o fi m para o qual fo ram cri ados: co nhecer, amar, se rvir e dar glóri a a Deu s . ❖

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1 Santos Edmundo Camplon, Roberto Southwell e Companheiros, Mártires

+ Inglaterra, entre 1581 e 1679. Desses 10 jesuítas, oito eram ingleses e dois do País de Gales. Foram martirizados por ódio à fé.

2 São Cromáclo, Bispo e Confessor

+ Itália, 407. Bispo de Aquileia, no Vêneto, desenvolveu em sua Sé uma espécie de ordem religiosa com vida clerical em comunidade. São Jerônimo denominou-o "o mais santo e o mais douto dos bispos ". Primeira Sexta-feira do mês.

vida eremítica nos desfiladeiros do Cedron reuniu e dirigiu numerosos eremitas, fundando o mosteiro que depois levou seu nome.

+ Shangchuan, 1552. Discípulo de Santo Inácio de Loyola, apóstolo da Índia e do Japão, seu zelo alcançou Málaca e as Molucas. Faleceu aos 46 anos de idade na ilha de Shangchuan, China, país que pretendia evangelizar. São Pio X declarou-o patrono especial da obra da Propagação da Fé e das Missões católicas. Primeiro Sábado do mês.

4 Santa Bárbara, Virgem e Mártir

+ Séc. Ili ou IV. Não é possível precisar os locais de seu nascimento e martírio. Padroeira da Artilharia, ela é invocada contra raios, morte súbita e impenitência final.

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+ Mira, 324. Bispo de Mira, na Ásia Menor, de eminente caridade, foi desterrado pelo Imperador Licínio. Derrotado este por Constantino, voltou à sua diocese, onde operou estupendos milagres. No Concílio de Niceia foi dos mais ardorosos adversários doarianismo. É um dos santos mais populares, tido como distribuidor de prêmios para os bons meninos.

7 Santo Ambrósio, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

+ Milão, 397. De nobre família romana, governador civil de Milão e depois bispo, conselheiro de imperadores e do Papa, teve papel decisivo na conversão de Santo Agostinho.

8 FESTA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA SANTÍSSIMA VIRGEM

Festa instituída oficialmente pelo Bem-aventurado Pio IX em seguida à promulgação desse dogma, em 1854, com base nos Evangelhos e coroando tradições muito antigas a respeito do assunto.

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São Sabas, Confessor

São Pedro Fourrler, Confessor

+ Palestina, 532. Cognominado "a pérola do Oriente", após

+ França, 1640. Entrou para a Congregação dos Cônegos Re-

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Trasladação da Santa Casa de Loreto

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Santas Virgens, Mártires

6 São Nicolau, Bispo e Confessor

3 São Francisco Xavier, Confessor

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foi designado bispo para governar a região ainda bárbara de Thérouanne (norte da França).

guiares, que revigorou por sua virtude e talento.

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São Daniel Estlllta, Confessor

+ Constantinopla, 493. Depois de visitar os Lugares Santos, fixou-se numa coluna às margens do Bósforo, aí vivendo como estilita por 33 anos.

+ África, 480. Quando da invasão do norte da África pelos vândalos arianos de Hunerico, estas muitas virgens consagradas a Deus "defenderam a honra da Igreja de Cristo em meio a atrozes torturas" (Martirológio Romano Monástico).

12 Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira prlnclpal da América Latina

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São Teófilo de Alexandria e Companheiros, Mártires

+ Séc. Ili. "Estes soldados cristãos do tribunal imperial, vendo um de seus irmãos na fé vacilar diante do juiz, fizeramlhe sinais para encorajá-lo. Ao perceber os seus gestos, o juiz os intimou e eles não hesitaram em confessar sua fé, sendo imediatamente condenados à morte " (do Martirológio).

São Pedro Canísio, Confessor e Doutor da Igreja

(Vide p. 34)

Cinquenta Soldados de Gaza, Mártires

+ Siracusa, séc. IV. Consagrando a Cristo sua virgindade e renunciando em favor dos pobres seu rico patrimônio, foi degolada à espada. Santo Tomás a cita duas vezes na Suma Teológica. É invocada nas doenças dos olhos.

+ Egito, 630. Ao general árabe que os intimava a apostatar sob pena de morrerem, responderam: "Ninguém poderá nos separar do amor de Cristo; nem nossas mulheres, nem nossos filhos, nem as riquezas do mundo, pois somos servidores de Cristo, Filho do Deus Vivo, e estamos prontos a morrer por Aquele que morreu e ressuscitou por nós" (do Martirológio).

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São João da Cruz, Confessor e Doutor da Igreja

São Gatlano, Bispo e Confessor

São Sérvulo, Confessor

+ Tours (França), séc. IV. Primeiro a pregar o Evangelho na região de Tours, da qual foi bispo.

+ Roma, 590. São Gregório Magno relata sua vida em seus "Diá logos". Paralítico, vivia de esmolas sob o pórtico da igreja de São Clemente em Roma.

13 Santa Luzia, Virgem e Mártir

+ Ubeda (Espanha), 1591. Co-reformador, com Santa Teresa, do ramo masculino da Ordem do Carmo e grande místico. Poucos penetraram mais a fundo nos arcanos da vida interior.

15 São Folcuíno, Bispo e Confessor

+ França, séc. IX. Primo-irmão do Imperador Carlos Magno, por sua autoridade e energia

19 São Nemésio, Mártir

+ Alexandria, séc. Ili. Absolvido de falsa acusação de roubo durante a perseguição de Décio, quando saía do tribunal foi denunciado como cristão e condenado pelo juiz a ser queimado vivo, recebendo assim a coroa do martírio.

Santa Juta, Virgem

+ Alemanha, séc. XI. Foi ter com ela, aos oito anos de idade, a futura profetiza do Reno, Santa Hildegarda. Juta instruiu-a, dando-lhe noções de latim, medicina e História Natural, familiariza ndo-a tão bem com os textos litúrgicos e a Sagrada Escritura que, ao falecer, Hildegarda substituiu -a como abadessa.

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condenação dos hereges priscilianistas.

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Santo Estêvão, Protomártir

+ Jerusalém, séc. 1. Um dos sete primeiros Diáconos nomeados e ordenados pelos Apóstolos. Relatam os Atos dos Apóstolos que ele "fazia prodígios e grandes sinais entre o povo". Não podendo isso suportar, membros da sinagoga alegaram que ele blasfemava, e o lapidaram.

1 São João, Apóstolo e Evangelista

+ Éfeso, séc. 1. O Discípulo amado por sua virgindade representou a humanidade ao receber, junto à Cruz, Nossa Senhora como Mãe. Foi o Evangelista por excelência da divindade de Cristo. Perseguido pelo imperador Domiciano, foi levado a Roma e mergulhado num tacho de azeite fervente, de onde saiu rejuvenescido. Foi então deportado para a ilha de Patmos, onde escreveu o Apocalipse. Escreveu seu Evangelho e três epístolas, para refutar as heresias que negavam a divindade de Nosso Senhor e pregar o amor entre os cristãos.

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São Delfim, Bispo e Confessor

Santos Inocentes, Mártires

., França, séc. IV. Paladino e Intrépido defensor da Igreja, foi Bispo de Bordeaux e partilpou do Concílio de Sa ragoça, onde muito contribui para a

+ Judeia, séc. X a.e. Escolhido pelo próprio Deus para su-

São Davi, Rei e Profeta

ceder a Saul, primeiro rei de Israel, entrou a serviço deste como tocador de cítara e derrotou o gigante Golias. Subindo ao trono, instalou a Arca da Al iança em Sion, que transformou na capital de Israel.

o Santo Aníslo, Bispo e Confessor

+ Macedônia, 407. Discípulo de Santo Ascólio e seu sucessor na Sé de Tessalônica, foi nomeado por São Dâmaso Vigário Pontifical na llíria.

São Silvestre 1, Papa e Confessor

+ Roma, 335. Foi um dos primeiros santos não mártires que recebeu culto público. Sob o seu pontificado a Igreja começou a sair das catacumbas e a construir basílicas magníficas. Iniciou a série de Papas-reis, · como fundador dos Estados Pontifícios.

Intenções para a Santa Missa em dezembro Será celebrada pelo Revmo. Padre David Francisquini, nas seguintes Intenções:

• Missa de Natal. Suplicando ao Divino Menino Jesus, pe la intercessão de sua Mãe Puríssima, que conceda abundantes e especiais graças às famílias de todos os assinantes, e em agradecimento a todos que colaboraram com Catolicismo ao longo de 2016.

Intenções para a Santa Missa em janeiro • Neste novo ano que se inicia, pedindo à Sagrada Família que preserve de qualquer forma de pecado, violência e desemprego todas as famílias que nos são próximas. E para que suas crianças possam crescer longe de ideologias perversas e imorais, e também das drogas, difundidas até em certas escolas.

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TFP americana: preparaçao para o Centenário de Fátima FRANCISCO JOSÉ SAIDL

o albores deste sécu lo, o Duque Paul de Oldenburg, diretor da Federação pela Europa Cristã, orga ni zo u na cidade alemã de Mainz uma recitação pública do Santo Rosá ri o. Em 2007, por ocas ião do 90º. aniversário das apari ções de Nossa Senhora em Fátima, a campanh a América Needs Fátima , uma iniciativa da TFP norte- ameri cana, colheu essa fe li z ideia que, como se verá, se espa lhou em pouco tempo co mo rastilho de pólvora . A entidade esta belece u uma meta e fixou um a data: o sábado mais próximo a 13 de outubro, quando se co memora a últi-

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ma das apari ções da Virgem Santíssima na Cova da Iri a. O segundo passo foi montar um secretariado em Kansas para recrutar voluntários. No primeiro ano, a meta de um milhar de rallies, que parecia ousada, foi largamente superada. Encorajada por tal resultado, a TFP estabeleceu que tais eventos repetir-se-iam nos anos sucessivos. No quadro anexo verifi ca mos as cifras que vêm se sucedendo ano após ano. Para 20 16, a perspectiva era consegu ir LS mil voluntários, mas eles totalizaram 16.323 (foto abaixo). Com tais resultados, os enca rregados da campanha estabeleceram para 20 17, ano do

Centenário de Fátima, a meta de 20 mil voluntários, o que poderá fazer com que mais de l (um) milhão de fi éis part icipem da recitação do Rosário. Em outubro próximo passado, o palco da maior concentração foi o centro da cidade de Nova York, em frente à catedra l de Sa int Patrick, onde uma cópia da imagem peregrina intern ac ional de Nossa Senhora de Fátima, escoltada por membros da TFP, presidiu solenemente o evento. A imagem fo i entronizada ao cântico do Ave de lourdes acompanhado pela fa nfarra dos alunos da Academia São Luís Grignion de Montfàrt da TFP america na. Dois mil fo lhetos ex plicativos foram, distribuídos aos transeuntes, convidando-os .. a se assoc iarem à recitação do Rosário. O fo lheto exp licava a finalidade da Sociedade Americana de Df{fesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) e a razão da recitação em público do Santo Rosá rio.

Palestra de Dom Athanasius Schnelder ~

Conferência de Dom Athanasius Schneider

Com os olhos postos no ano do centenári o das aparições da Santíssima Virgem em Fátima, Sua Excelência Reverendíssima Dom Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana (Cazaq uistão), proferiu no dia 20 de outubro úl timo uma palestra para seleto público que lotou o auditório do prestigioso Clube Cosmos, no coração da capita l america na. "A vitória de Maria sobre todas as heresias" foi o tema de sua confe rência no evento promovido conjuntamente pela TFP Washington Bureau e o Paulus Institute for lhe Propagation o/Sacred Liturgy. Dom Schneider - que vem sendo so licitado a fa lar em diferentes países, especialm nte para esclarecer os fiéis sobre alguns pontos, depois da gra nde confu são causada pela Exortação Amoris laetitia - di ssertou sobre a Fé, a salvação e a vasta crise em que s ' encontra atualmente a Santa Igreja Cató1ica. Citando nu merosos santos qu e se distinguiram pela piedade mariana, tais como

São Luís Maria Gri gni on de Montfort e São Max iliamo Kolbe, ele exp licou que Maria é o ce ntro da luta contra as heres ias: "Estamos assistindo a imensidade do mal que o poder das trevas instalou por toda parte, até os confins da Terra ". Finali zou encorajando todos a não perderem a esperança e a buscarem refúgio na fé cató lica e na inigualáve l proteção da Virgem Santíssima.

Dom Athanasius com jovens membros da TFP norte-americana

Encontro de Correspondentes e Simpatizantes

Procedentes de vários Estados dessa nação-co ntinente, quase duas centenas de corcatoli cismo@terra.com.br / 1rnzi.: ~11rno 20 J 6

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respondentes e simpati zantes da TFP americana se reuniram nos últimos dias de outubro na sua sede principal em Spring Grove (Pensil vân ia). Os temas abordados pelos diversos oradores giraram em torno da atua l crise da Igreja e das profecias fe itas por Nossa Senhora há 100 anos na Cova da Iria. Três zelosos sacerdotes deram assistência religiosa, tendo a Santa Missa de encerramento sido celebrada no rito extraordinário na Basílica Nacional do Sagrado Coração de Jes us, em Connewago. Como nos anos anteriores, S.A .1.R. Dom Bertra nd de Orleans e Bragança (foto acima) proferiu palavras de encorajamento aos presentes: Delas, destacamos as seguintes: "Este encontro foi d[ferente dos anteriores. Atacamos a Revolução, mas voltamos nossos olhos de modo especial para o fúturo : o futuro de Fátima. E o futuro de Fátima é o grande retorno à ordem, ou seja, o Reino de Maria. "Aproximando-se o centenário das aparições de Fátima, devemos p ensar sobre ofúturo. Aproxima-se o tempo do cumprimento das promessas de Nossa Senhora. Faz sentido nos reunirmos para debater sobre o futuro de Fátima. "Isto foi o que fizemos. Foi um fim de semana intenso, permeado de bênçãos e graças. O.fúturo de Fátima.foi o centro de nossas palestras, orações e conversas. Este é o momento para g izarmos o .fúturo. CATOLICISMO / www.catol icismo.com.br

Revolução Cultural na família e seus reflexos "Solicito que levem daqui para seus lares uma mensagem de esperança e um desejo ardente da derrocada da Revolução e a implantação do Reino de Maria, que significa a restauração da sociedade orgânica cristã, como bem definiu o Prof Plinio Corrêa de Oliveira e está tão bem descrita na obra RETU RN TO ORDER. E isto se obterá somente com grande esforço. "Fazemos parte da Igreja Militante. Nossa luta se reveste de um caráter ainda mais necessário em.face da trágica situação em que se encontra atualmente a Santa igreja Católica Apostólica Romana. "Cada um de nós tem um papel a desempenhar nessa batalha. Não devemos nos contentar com uma p equena vitória. Devemos aspirar ao triunfo. E Nossa Senhora prometeu que a vitória chegará ". ❖

na legislação RODRIGO DA COSTA DIAS

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or .iniciativa do instituto Plinio Corrêa de Oliveira, realizou-se no dia 18 de outubro no Clube Homs de São Paulo uma conferência sobre o tema em epígrafe, proferida pelo desembargador Ricardo Henry Marques Dip, Presidente da Seção de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP). A sessão foi aberta pelo diretor do instituto, Dr. Eduardo de Barros Brotem, que acentuou a alta relevância para a causa da ontra-Revolução do assunto a ser tratado, pois a instituição fami liar tem sido um dos principais alvos dos revolucionários. Lem-

brou também que o lema da sociedade fundada por Plínio Corrêa de Oliveira, patrono do Instituto, era Tradição, Família e Propriedade, e que, portanto, tudo o que se refere à

Dr. Eduardo de Barros Brotero

catolicismo@terra.com.br / DEZEMBRO 2016


defesa da instituição famili ar era particul armente grato. A conferência do Dr. Ricardo Dip (foto à dir.) girou em torno da desconstrução e reconstrução dos direitos de registros públicos, apontando o que se poderi a chamar de "direito clássico" e o que qualifi cou co mo "direito revolucionário socialista". O primeiro apresenta no plano das obrigações a ideia da autonomia privada, enquanto que o segundo visa o regulamento dos contratos. O "direito clássico" sustenta a necessidade, a justi ça e a ampla va ntagem econômica da ex istência da propriedade, enquanto o "direito revolucionário socialista " propugna ampla limitação e até supressão da propriedade privada. O "direito clássico" sustenta ser a fa mília a célula mater da sociedade, constituída por uma sociedade conjugal monogâ mica, fo rmada por homem e mulher, enquanto o "direito revolucionário socialista" propugna a uni ão li vre, tomando contornos poligâ mi cos e aspectos de caráter homossexual, podendo chega r mesmo a propostas de zoofil ia e de absurdos "casamentos" com travesse iros, móveis... O Dr. Ri ca rdo Dip afirm ou qu e, até há pouco, o alvo principal do processo revolucionári o era a destrui ção da propriedade privada, o que levou os seus fa utores a desconstruir os registros de imóveis a fim de lhes facilitar o escuso obj etivo. Depois de deixar a propriedade combalida, os revolucionári os se

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DOAÇAO Faça chegar a revista CATOLICISMO a um maior número de religiosos A Editora Padre Belchior de Pontes, responsável pela publicação de Catolicismo, pretende ampliar a divulgação gratuita da revista para sacerdotes, seminaristas e conventos religiosos, muitos dos quais desejam recebê-la, mas por vezes não dispõem de recursos :financeiros para fazer uma assinatura.

voltaram contra a institui ção da família e os cartórios de registros civis se tornaram o seu alvo predileto. Quanto aos fin s remotos, o ilustre palestrante explicou que eles coincidem com os fin s gerais da pós-modernidade, ou seja, de que tudo é possíve l, bastando apenas querer! Assim, nos planos da fa mília e do casamento, tudo será possíve l. Por fim , lembrou que em sua juventude conheceu o Prof. Plinio Corrêa de Oli veira, tendo sido para ele uma parti cul ar emoção faze r uma confe rência no Insti tuto que leva o seu nome. As palavras de encerramento fo ram de Dom Bertra nd de Orlea ns e Bragança. Ele ressa ltou que a confe rência fo i uma confirmação do vaticí ni o do Prof. Plinio de que estamos sendo vítimas de um processo revolucionári o visa ndo à destrui ção da Cristandade e à implantação de uma ordem de coisas absolutamente co ntrári a à boa ordem criada por Deus. Apesa r dessa ação demolidora, o Príncipe se disse reconfortado ao constatar um número sempre crescente de jovens que desejam lutar pelos princípios do Direito Natural e do verdadeiro catolicismo. Os leitores que desejarem ass istir à íntegra dessa 1mpo rtante confe rência poderão fazê- lo acessa ndo o vídeo no seguinte endereço na internet: http://ipco.org. br/i pco/fotos -e-videos-da-co nfe rencia-a-revo Iucao-cu Itura 1-na-fam ili a-e-seus- refl exos-na-lei ••

Temos atendido de bom grado a uma parte dos pedidos, mas não a todos, como gostaríamos. Para concretizarmos este objetivo apostólico de difusão da boa doutrina estamos recorrendo a nossos diletos leitores, a fim de que nos ajudem a expandir essa divulgação. Para colaborar, deposite o respectivo valor na conta corrente abaixo. Como as despesas com essas assinaturas são mensais, se for possível, informe seu desejo de colaborar mensalmente através de boleto ou cartão de crédito, cujos formulários para preenchimento ser-lhe-ão enviados. Em sinal de gratidão, o nome de cada doador será colocado nas intenções de uma Missa mensal celebrada pelo Padre David Francisquini, bem como nas orações dos religiosos beneficiados com a assinatura.

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O Menino Jesus em seus braços representa um donativo infinitamente precioso aos homens PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

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imagem de Nossa Senhora Auxiliadora possui vários atributos, mas o mais bonito é considerá-la com o Menino Jesus em seus braços. Que conjunção há entre essa ideia de Maria Santíssima enquanto Auxiliadora e com o Menino Jesus em

seu colo? O período em que a mãe tem mais intimidade com o filho, e em que o amor do filho pela mãe marca para a vida inteira, é exatamente o período em que o filho é pequeno, em que a mãe governa o filho e este vive da vida dela. É também o período em que a efusão do carinho e do amor da mãe é tal, que todo o amor que ela terá pelo filho por toda a vida é um desdobramento desse amor que ela teve no tempo em que ele era uma simples criancinha em seus braços. Considerem que a criancinha que brinca nos braços de Nossa Senhora - colocada naquela singeleza, simplicidade, intimidade, afabilidade e dependência em relação a Ela - é Deus Onipotente, Criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Temos algo de realmente maravilhoso e insondável. Imaginem o que significa a Santíssima Virgem brincar em seu colo com o próprio Deus, cuja majestade e santidade são imensas, mas refletidas num menino. Tal é a bondade d'Ele, tal é a pequenez que Ele intencionalmente assume para depender d'Ela e por Ela ser apresentado aos homens! A infância de Jesus é um donativo infinitamente precioso de Nossa Senhora aos homens. Quem brinca com o próprio Deus no colo, obtém tudo quanto Ele pode dar. Evidentemente, nesse exemplo, a onipotência suplicante da Santa Mãe de Deus se fundamenta de modo esplêndido. Tais considerações são úteis para compreendermos o quanto Ela pode nos auxiliar. Ela deseja nos auxiliar porque é detentora de toda misericórdia de um Deus que se fez Menino. Ela pode nos auxiliar porque este Menino está inteiramente na dependência d'Ela. Esse Menino-Deus é súdito d 'Ela. Eis uma meditação sobre Nossa Senhora enquanto Auxiliadora, que leva em suas mãos o Menino Jesus. ❖ Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 19 de maio de 1966. Sem revisão do autor.


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