Cebs o que sao livro

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são I Plinio Corrêa de Oliveira

As metas das CEBs no contexto brasileiro II Gustavo Antonio Solimeo - Luiz Sérgio Solimeo

Gênese, organização, doutrina e ação das CEBs



HOJE: agitação em que estão envolvidas as CEBs ... AMANHÃ: "pega-fazendeiro"? Também pega-patrão, pega-patroa? (p. 193)






EDITORA VERA CRUZ LTDA. Rua Dr. Martinica Prado, 246 Ol 224 - São Paulo l.ª Edição, Agosto de l 982 -

12.000 exemplares

Composição e Impressão Artpress - Papéis e Artes Gráficas Ltda. Rua Garibaldi, 404 - São Paulo Fotos Serviço de Imprensa da TFP, Catolicismo, Agência Folhas, Caminho Editorial Ltda., Abril Press, Museu da Imagem e do Som e Tribuna da Bahia. Fotos da capa: TFP e Caminho Editorial Ltda.


Índice I As metas das CEBs no contexto brasileiro ......................

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Introdução - A inércia das elites sociais brasileiras, embaladas pela alternativa otimismo-desalento - O presente estudo, um convite à ação ....................................... .......................................................

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Capítulo I - Em nossa época de caos publicitário, o alcance do esclarecimento doutrinário da TFP junto ao grande público.... .......

33

Capítulo II - O IV Poder (os Meios de Comunicação Social) e o V Poder (a CNBB) coligados para reformar o Brasil: reforma rural, refarma urhana, refarma empresarial .................................. ..

45

Capítulo III - A intelecção defarmada do tríplice "sentire" ("cum Romano Pontifice", "cum Episcopo", "cum Parocho") favorece largamente a eficácia da ação reformista da CNBB ...........

61

Capítulo IV - A Igreja no drama da autodemolição: quem são os artífices dessa autodemolição? - O papel da Sagrada Hierarquia - A Teologia da Libertação - As CEBs ..........................................

69


Capítulo V - As CEBs, potência emergente na política nacional, visam instrumentalizar o Estado a serviço de sua cruzada sem Cruz - Por trás e por cima das CEBs, a CN BB - Novo apelo aos Bispos e às elites silenciosos .................. ... ....... .......................................

79

Conclusão - É possível resistir à ação das CEBs? .............................

99

II

Gênese, organização, doutrina e ação das CEBs ..........

105

Aviso Preliminar .........................................................................................

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Capítulo I -

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Fisionomia das Comunidades Eclesiais de Base .........

l . As CEBs são como os discos voadores: todo mundo fala delas, mas ninguém sabe o que são ............................................................... ..... ............. ............ 2. "Comunidades de Base: expressão inspirada no marxismo, equivalente a soviete" - V m movimento camaleônico que finge não existir . .. ........ . .. .... Origem das Comunidades Eclesiais de Base ..................... ..................... Uma deputada eleita pelas CEBs .. ....... ... ... .. ... ... .... .. .... .. ... ...... ... .......... .. . Peritos dos Encontros Nacionais de CEBs e especialistas do movimento ..... ..................!............................................................................. "Vê se temos cara de seminaristas!" ...................................................... 3. Uma KGB religiosa?.- A ditadura das Comunidades Eclesiais de Base......... 4. Como transformar o membro da CEB num revoltado - A conscientização um processo de "baldeação ideológica inadvertida" ... ............. ........... ....... - A fome não faz revolução, mas sim a conscientização . ...... ... . .. ... .... .. ... . Um discreto treinamento de ativistas ...................... :............ ................. . - Ensinar per~untando, convencer sugerindo ..... ...... ... ... .......... .. ... ... . ... .. ...

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-

"Antes de organizar uma revolução, é preciso aprender a organizar um pique-nique" .. ... .... .. ............ .. .. .. ..... ... .. ..... .. ....... .... .. ... ..... ... ..... .. .... ..... .....

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Capítulo li - A Teologia da Libertação, doutrina das Comunidades Eclesiais de Base. - Sua meta: o comunismo. Sua filosofia : o marxismo. Sua estratégia: a luta de classes...... .. ................. ...... .......

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/. As CEBs, a Teologia da Libertação posta em prática.................................. "O que propomos não é teologia no marxismo, mas marxismo na teologia" - Textos .. ........ ...... ... .... .... ............. ........... ......... .. ............ ... . O mito da "ciência" marxista................................................................ As CEBs criticam a Santa Igreja e pregam uma "Igreja-Nova" iguaÜtária, herética e subversiva - Textos .... .. ... .... ...... ... .......... ..... ................. ... .... A nova religião da "Igreja-Nova": "O mau ladrão também é Deus!" Textos.............. ... ........... ............ .. ... .. ..... ..... .. ...... .................... .. ....... .... ... Uma Igreja autogestionária, numa sociedade autogestionária ............... A desigua ldade de classes decorre da von tade de Deus......................... D. José Maria Pires, corifeu do movimento das CEBs, proclama a prostituição como um verdadeiro serviço de Deus!.............................................

Capítulo III - As CEBs em ação. - No campo. - Na periferia urbana. - Na fábrica. ............................................................................... l. Man ipular palavras e conceitos, para justificar esbulhos e violências .......... 2. Comissão Pastoral da Terra: "Somos a Igreja no meio rural, organizada en1 Comunidades de Base" . ....... ... ..... ..... ................ ... .. .... . ... ... ... ... .. .......... .. . A C PT prega a violência em prosa e verso ......... .. .... ... ... .. . .. . .. . .. .......... ... - "Romaria da Terra" no Rio Grande do Sul - "A lto lá, esta terra tem dono!" ......... ........ ... ...... .... ... ... ..... ...... ...... .... ......... .. ..... ..... .. .'... ....... .. 3. Violência no campo-1 : Alagamar, teoria e prática da tensão social............. - Subversivos assessoram as CEBs . ... ....................... ... ... ....... ...... .. ... ... . .. . 4. Vio l~ncia no campo-2: "Que tal revolução, ao invés de reforma?" ...... ........ 5. Violência no campo-3: Sangue na região das guerrilhas do PC do B ... E as águas do Araguaia continuam a tingir-se de vermelho ................... 6. Violência no campo-4: "A forma concreta que toma a fé nas CEBs": as "operações pega-fazendeiro" .......... ....... ..... .. ... ... .... ...... ...... .. ... .... .. . .. ... . .. ... .

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7.

8. 9. 10. 1J.

Reivindicar... Tensionar.. . Conscientizar .. . - Para conduzir os membros das CEBs ao marxismo na prática ... .. ...... ....... .... .. ... .. .... .. .... ...... ... ... ......... .. . - "Temos organizado invasões de terrenos ... " .. ......... .... ....... ..... ...... .. .. .. ... - Lições para ocupar a terra alheia - A "Cartilha do posseiro urbano" .... ... O Movimento Contra a Carestia, um dos "braços políticos" das CEBs ........... Onde fracassou o PC. triunfam as Comunidades de Base- Um novo si ndicalismo de inspiração religiosa, animado pela Teologia da Libertação .... ........ - Sindicalistas ligados às CEBs de São Paulo . ... ....... ... ........... .... ..... .... .... Por trás das greves, as Comunidades Eclesiais de Base ............. .. .......... ... .. No ABC, os sindicalistas pertencem às CEBs. Mas não vivem dizendo. .. ... - As CEBs, à esquerda do PCB ....... ...... ....................... ...... ..... ... ............

Capítulo IV -

202 207 213 214 217 219 222 223 231

As Comunidades Eclesiais de Base e a política .........

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1. Uma concepção religiosa da política e política da religião ..................... ..... 2. Pressão religiosa para fins eleitorais - A máquina política das CEBS .. .... - Células marxistas? - "Temos que correr o risco" .... .. ... ... ........ .... .. ... ....

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Bibliografia -

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Documentação ................ ................................................


Plínio Corrêa de Oliveira Pres id ent e do Conse lho Nac iona l da Soc iedade Bras ileira de Defesa da Tradição, Famí lia e Propriedade

.4s C EBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são

As metas das CEBs no contexto brasileiro


Em home dores d TFP

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Segm entu numericamente imenso da populaçãu hrasileira

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PROVÁVEL que , à míngua de estatísticas, nã o haja nenhum brasileiro que saiba qual seja, em nosso País , o número que atingiriam, todos somados, os proprietários de imóveis urbanos e rurais , de empresários industriais e comerciais, de acionistas e de detentores de títulos públicos e privados, bem como de donas-de-casa servidas por domésticas . Para os efeitos do que se exporá a seguir, a esse número , já muito considerá ve l, haveria que somar ainda os que, não participando embora de qualquer d as categorias acima , vivem exclusivamente do trabalho de suas mentes. Do trabalho intelectual, tomado este último adjetivo em sentido tão amplo, que chegasse a abranger não só os portadores de diplomas universitários, secundários ou técnicos , mas até profissionais sem estudos de habi-

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litação definidos, que ganham seu pão mercê da argúcia ou da agilidade d e seus espíritos, de seu senso d as realidades , ou da finura de seu trato: qualidades , todas estas , intelectuais a um ou outro título. A numerosa e indispensável classe dos corretores de imóveis, de títulos ou valores, por exemplo. Por sua mera importância numérica , tão vasto conjunto de brasileiros pode constituir no País uma grande força . A força de todos aqueles cuja missão e cujos direitos naturais o socialismo visa minguar, solapar e aviltar. E contra os quais o comunismo desfecha o golpe supremo: quanto aos direitos , negando-os do modo mais radical, e quanto à missão, esmagando-a sob a bota da chamada ditadura

.do prolerariado. Mais ainda do que pelo peso do número, esse segmento social vale pela natural e óbvia influência das funções

A lém de numeroso. altamente in flu e111e


Segurança obstinada

que exerce. De tal forma que, se algum ukasse malfazejo reduzisse de um momento para outro ao trabalho braçal todas essas categorias de brasileiros, o País pararia, e logo depois despenharia pelos resvaladeiros de uma decadência precipitada. Ao país a que se extinguem as elites sucede, em pouco tempo, exatamente o mesmo que a um corpo do qual se corta a cabeça. O conhecimento dessa verdade, definido em uns e nebuloso em outros, mas vivo em todos os componentes dessas elites, explica pelo menos em parte o sentimento de estabilidade profundo e obstinado que nelas deitou raiz. Tanto mais quanto essa derrubada apocalíptica só poderia provir de uma conjuração dos que lhes são inferiores na hierarquia social. Ou seja, do número aliás tão maior dos que vivem do trabalho manual. Mas estes, a ex-

periência quase diária os faz ver tão pacatos, tão estavelmente instalados na sua condição, que, com efeito, uma ofensiva geral deles contra os proprietários e os trabalhadores intelectuais, a quase todos se afigura hipótese longínqua, e talvez até quimérica. Contudo, esse profundo sentimento de estabilidade coexiste contraditoriamente, em muitos dos que o experimentam, com uma impressão oposta. Impressão o mais das vezes indefinida também ela, a mudar a todo momento de intensidade, conforme as notícias de cada dia, ou simplesmente segundo os mil pequenos fatos concretos da vida quotidiana. Porém, de qualquer forma, uma impressão que dispõe a alma a encarar como inevitável a hipótese da vitória do comunismo em nosso País, desde que se apresentem certas circunstân17


As CEBs ... das quais mui/o se fala , p ouco se conhece -

A TFP as descreve como são

c1as ao mesmo tempo imprevisíveis, mas em nada improváveis.

• • • Noções his1óricas sup e rficiais que , sugerem derrolis- : mo

Para tal estado de espírito prepara um fundo de quadro fortemente sugestivo, decorrente de estudos de História sumários, feitos habitualmente nos cursos de segundo grau. Deles emerge com falsa evidência a certeza de que a Revolução Francesa derrubou o trono dos Bourbons por força de uma incontenível conjugação de fatores. Entre estes, notadamente o anseio da maioria dos espíritos por uma ordem de coisas nova, modelada segundo a trilogia Liberdade - Igualdade - Fraternidade. E porque todos esses fatores também existiam, se bem que em estado ainda germinativo, nos outros países da Europa, lograram os exércitos da República e de Bonaparte estender a quase todo o Continente europeu as "conquistas" da Revolução Francesa. "A quase todo o Continente", sim. E não todo ele. Porque impávida ficava a Rússia dos Romanofs. Mas a derrota sofrida por esse país na I Guerra Mundial encerrou os dias da monarquia absoluta no último país europeu em que esta forma de governo ainda tinha vigência. Como se sabe geralmente, derrubaram por terra o trono dos Roma18

nofs fatores análogos aos que haviam abatido , em fins do século XVIII , o trono dos Bourbons. Mas tais fatores vinham carregados, na Revolução Russa, de um radicalismo ainda maior. E assim, ao contrário de seus antecessores franceses de .1789, não se limitou o comunismo vitorioso à instauração da liberdade, da igualdade e da fraternidade (como ele as entende) no campo político, e apenas a meias no campo social, mas se atirou por inteiro no campo sócio-econômico, extinguindo virtualmente a família , abolindo a propriedade, e implantando a ditadura do proletariado. Vistos os fatos segundo este prisma, verdadeiro em alguns aspectos e falso em outros ( 1), pareceria tão inevitável a vitória do comunismo no mundo de hoje, quanto teria sido o da Revolução Francesa nos séculos XVIII e XIX. E nada se afiguraria mais normal do que ver a Rússia soviética desempenhando , em favor da revolução igualitária do século XX, (1) Cfr. Pu N10 CoRRl:A DE ÜLJ VEIR A, Revolução e Contra-Revolução, "Catolicismo", n.0

100, Parte 1, Cap . III , 5. Com o intuito de dar à presente vista pa norâ mica toda a concisã o possível, o autor se d ispensou de m enciona r as provas d e muitas d as a firm ações aqui feitas, remetendo o leitor para obras em que tais provas sã o a presenta das. Razão pela qua l cita várias vezes liv ros que já publicou.



As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TF P as descreve como são

papel análogo ao que desempenhara a França em prol do igualitarismo político no século XIX. Sempre nesta perspectiva, a América do Sul estaria mais "atrasada" nesta incontenível "evolução" rumo ao comunismo. Mas este se propagaria gradualmente a nosso Continente, como no restante do mundo. Prova deste deslize rumo ao comunismo - mais marcado na Europa do que na América - seriam as leis cada vez mais socialistas da generalidade

dos países do Velho Mundo. Prova mais recente de todas, palpitante de· atualidade, pelo menos até há pouco, seria a vitória da coligação socialocomunista nas eleições francesas de maio-junho de 1981 (2). De posse do poder na França, Mitterrand se pôs a expandir desde logo o socialismo autogestionário no mundo inteiro (3). Para o PS francês, a extinção do patronato e o estabelecimento da auto gestão é apenas um complemento -

(2) A crise polonesa de fins de 1981 e, em 1982, a Guerra das Malvinas, as controvérsias sobre o gasoduto europeu, bem como o avivamento da guerra no Líbano, e mais recentemente a guerra entre o Irã e o Iraque, concorreram fortemente para desviar a atenção mundial do êxito eleitoral do Partido Socialista francês . Ao mesmo tempo, o insucesso acentuado dos socialistas e comunistas nas eleições cantonais francesas de março de 1982 e a concomitante onda de descontentamentos contra as reformas autogestionárias impostas à França, são outros tantos fatores que concorreram para empurrar para plano secundário o noticiário que os grandes meios de comunicação social de todo o Ocidente vinham publicando sobre a situação francesa . O que minguou naturalmente a força de impacto internacional da propaganda do socialismo autogestionário propugnado pelo PS francês. A essas circunstâncias se acresceu outra. Até então, em escala internacional, o socialismo autogestionário ainda não fôra questionado em seus últimos fundamentos filosóficos.

É inegável que a Mensagem das treze TFPs intitulada O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-deponte? (cfr. "Catolicismo", n. 0 373-374, janeiro-fevereiro de 1982) e publicada a partir do dia 9 de dezembro de 1981 em 56 dentre os mais importantes jornais de 18 países , abriu uma brecha no silêncio geral a tal respeito . Pondo em evidência a incompatibilidade do programa do PS francês com a doutrina tradicional do Supremo Magistério Eclesiástico, e questionando assim gravemente o sistema autogestionário, a Mensagem das treze TFPs concorreu para dissipar a "lua-de-mel" com a opinião pública, na qual se expandia tão favoravelmente o prestígio da autogestão. Nada disso impediu, entretanto, que o governo Mitterrand aproveitasse tal fase de relativo recesso publicitário para ir impondo, sem excessivo ruído, novas reformas em seu país. E sobre o crescente movimento de oposições a essas reformas, os meios de comunicação social no mundo inteiro passaram a fazer inopinadamente silêncio quase completo ...

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Miuerrand ante a História e a atualidade


Introdução

Parte l

no âmbito interno das empresas ·- da extinção das monarquias no âmbito mais amplo do Estado (4). O chefe de Estado francês, sem embargo de múltiplos fatores contrários, se propõe a completar assim, nos países que ainda não são comunistas, e já agora novamente a partir de Paris, a tarefa revolucionária mundial do socialismo autogestionário francês que Moscou não conseguiu até agora realizar (5). Em tudo isto, os lados de alma desalentados e pessimistas de tantos

das Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFPs - do Brasil, Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Portugal, Uruguai e Venezuela, "Catolicismo", n. 0 373-374, janeiro-fevereiro de 1982, Cap . IV , pp . 39-40.

• O Sr. François Mitterrand , Presidente da França, surgiu, em maio de 1981, em conseqüência do êxito eleitoral do PS que o guindou ao Poder, como a grande vedette do sociali smo no mundo inteiro. E1111e vedetismo internacional desapareceu, e ele hoje nlo tem senlo muito pequenas po1111ibilidades para e irrediaçlo do sociali sm o autogestionério fora da França. E dentro de França, a "lua-de-mel" com e opinilo pública, na qual se expandia tio favoravelmente e eutogestlo, também se di1111ipou. Pare um e outro feto, concorreu poderosamente a Mensagem das treze TFPs. Mitterrand tem, pois, muito com que estar perplexo, como mostra a foto.

(4) Diz um represe ntante qualificado do PS francês : "Em nossas sociedades ociden tais,

- apud PUNIO CORRf:A DE ÜLI VEIRA, op. cit., Nota 15, p. 15).

, (3) Cfr. PuN10 CoRRf:A DE OuvEIRA, O Socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte?, Mensagem

a democracia é mais ou menos tolerada por toda parte. Menos na empresa. O patrão, seja ele um industrial independente ou um alto funcionário do Estado, conserva em mãos os poderes essenciais. Em detrimento de todos. .... A empresa é uma monarquia de estrutura piramidal. Em cada nível, o representan te da hierarquia é todo-poderoso: suas decisões são inapeláveis. O trabalhador de base torna-se um homem sem poderes, que não tem direito nem à iniciativa nem à palavra" (PIERRE MAUROY, Héritiers de l'Avenir, Stock, Paris, 1977, p. 276

(5) O comunismo tem também como meta a autogestão. Lê-se no preâmbulo da Constituição russa que "o objetivo supremo do Esta-

do soviético é edificar a sociedade com unista sem classes, na qual se desenvolverá a autogestão social comunista" ( Constitución - Ley Fundamental - de la Un ión de Repúblicas Socialistas Soviéticas, de 7 de outubro de 1977 , Editorial Progreso, Moscou, 1980, p . 5 apud PuN10 CoRRf:A DE OuvEIRA, op. cit., Nota 36, pp . 32-33).

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhe<e -

A TFP as descre ve co mo são

dos componentes das elites brasileiras encontram apoio e fomento.

* * *

As agitações sociais são noticiadas por grandes órgãos de imprensa como temlveis investidas de uma maré montante de indignação popular. Mas. de outro lado. os mesmos órgãos de imprensa mal conseguem disfarçar o diminuto número de participantes dessas manifestações. Essa contradição alimenta, por sua vez, o duplo estado de Animo das elites, ora desalentado e pessimista. ora otimista e seguro de que a catástrofe não virá. - Na foto, um posto de assinaturas do Movimento do Custo de Vida está à disposição do público. Mas este não aflui ...

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Este fundo de quadro, firmado em concepções históricas nas quais convém insistir - se amalgamam verdades triviais e erros chocantes, é corroborado pela ação dos meios de comunicação social. Estes noticiam, o mais das vezes, toda vitória do expansionismo russo, de maneira a impressionar. E todo avanço da legislação socialista no Ocidente como auspicioso progresso, arrancado pelo crescente poderio dos pobres ao egoísmo dos ricos. Ademais, as agitações sociais promovidas no Brasil principal ou ex-

Conseqüência: o1ilnismo e desalen10 acen1t1ados p elos m eios de com1micação social

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Introdução

Parre I

Otimism o e desalento se co nciliam a ser viç o da inércia

clusivamente pela "esquerda católica" são noticiadas como temíveis investidas de uma maré montante de indignação popular liderada por clérigos a quem as instâncias eclesiásticas superiores não podem ou não querem refrear. , Mas, de outro lado, esta agitação esquerdista tão noticiada, poucos a notam no âmbito concreto de sua vida diária. Deste ângulo, ela parece mais um fantasma do que uma realidade. Tanto mais quanto as manifestações de rua a que esta agitação tem dado lugar apresentam sempre diminuto número de participantes. Sintoma muito significativo, que a maior parte dos noticiários de imprensa mal consegue disfarçar. Assim, a zoeira publicitária dá do perigo comunista uma imagem que parece confirmar, por alguns lados, o fundo de quadro histórico correntemente aceito, e a tendência das elites ao desânimo. E, de outro lado, as ilusões otimistas dessas mesmas elites parecem confirmadas pela experiência pessoal dos que as constituem. Curiosamente, esses dois estados de ânimo - um otimista e seguro de que a catástrofe não virá, e o outro, desalentado e pessimista - coexistem sem choques no espírito da muito grande maioria das eventuais, ou futuras, vítimas do socialismo e do comunismo. É que um e outro estado de

animo convergem para justificar a acentuada disposição dessas vítimas para a inércia. Conforme o noticiário dos jornais do dia , ou as circunstâncias concretas, às vezes bastante miúdas, que marcam cada hora que passa, a mesma "vítima" eventual, ora justifica sua inação ante o perigo comunista, pensando, e dizendo, que é supérfluo reagir contra ele, de tão remoto que é, por enquanto; ora alega, pelo contrário, que a reação anti-socialista e anticomunista "não adianta", "não dá" para ser feita, porque o comunismo vem mesmo. Em um e outro caso , o que preocupa o burguês é justificar a seus olhos , e dos outros, a inércia na qual se apraz. A deleitável inércia de quem quer viver, mais do que tudo, para fruir a segurança e a fartura de sua situação, ou satisfazer as apetências e as ambições infrenes, tão características da assim chamada sociedade de consumo.

* * * A descrição desta situação psicológica, freqüente em nossas elites, sugere-a antes de tudo a observação corrente da realidade. Ademais, a TFP pôde confirmá-la recentemente com exemplos numerosos e concretos, colhidos em mais ou menos todo o território nacional, ao longo da campanha de suas caravanas

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Preciosa experiência da TFP confirma este quadro


As CEBs ... das quais muito se fala , pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

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Depois de percorrer o Brasil inteiro alertando os meios rurai s contra os perigos da investida agro-reformista, os propagandistas da TF P fizeram uma grande divulgaçl o do livro Sou cat6lico: posso sar contra a RBforma Agrária? em

pleno centro de S l o Paulo, no Viaduto do Chá. Em closB, na foto, um cooperador da TFP oferece o livro a duas senhoras.

em prol da venda do livro Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária? (6). Foi objetivo desse livro - aliás largamente alcançado - alertar quan-

(6)

PuN10 CoRRtA DE OLIV EIRA E CARLOS P A-

CAMPO, Editora Vera Cruz, São Paulo, 3.• ed., 1981, 360 pp.

rn1c10

DEL

(7) Cfr. texto publicado pelas Edições Paulinas, Coleção Documentos ·da CNBB, n.0 17, 1980, 38 pp., transcrito na íntegra em Sou católico: posso ser contra a Refarma Agrária?

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to possível a classe dos proprietários agrícolas contra o perigo de uma reforma agrária socialista e confiscatória, em favor da qual se fazia grande zoeira no país em conseqüência da publicação do documento Igreja e problemas da terra, aprovado pela 18.ª Assembléia Geral da CNBB, reunida · em ltaici de 5 a 14 de fevereirÓ de 1980 (7). Para . conseguir tal resultado, os dedicados propagandistas da TFP tiveram que se empenhar muito a fundo na campanha. Pois, freqüentemente, o estado de espírito que encontravam nos proprietários rurais correspondia ao aqui descrito. E só uma obra especialmente consagrada ao tema poderia informá-los adequadamente acerca dos perigos face aos quais se encontram, neles mobilizando assim, contra a investida agro-reformista, o espírito de


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A tomada da Bastilha no dia 14 de julho de 1789 é o grande·evento simbólico que assinala o inicio da Revolução Francesa. Nesse dia. Lula XVI registra em seu diério : "rien" (nada). Para o monarca francês. que acabou executado na guilhotina. nada aconteceu digno de nota nesse dia. É ele o slmbolo trágico das elites imprevidentes e dormentes, que não sabem pugnar dentro da lei por seus direitos legltimos.

iniciativa e de luta que as atividades rurais naturalmente formam no verdadeiro lavrador (8).

* * * In ércia das elites Jaz a/orça dos que a agridem

Na inércia da vítima está a força do agressor. O quadro aqui traçado faz ver que, dada a tão larga despreparação das elites responsáveis do Bra(8) Tal tend ência à inércia se mostrou muito menos fr eqüente no Rio Grande do Sul e em Goiás . Manda a justiça acrescentar que a a mpla difusão desse estado de espírito se explica, em boa parte, pelo fato de que contra ele, além da TFP, poucas vozes se têm feito ouvir.

sil para enfrentar o socialismo e o comunismo, este, ainda que dispusesse de um poder pequeno, teria apreciáveis possibilidades de vencer. Pois a História ensina que o curso dos fatos desserve sempre aos que dormem . E por mais legítimos que sejam os direitos que tocam às elites, estes em nada as protegerão se elas se mantiverem inertes: "Dormientibus non succ~rit jus: o Direito não socorre aos que dormem ". Acresce que a força de impacto da revolução social está longe de ser pequena. Ela consiste muito preponderantemente, no Brasil, como se mostrará a seguir, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

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!111rod11çào


As CEBs ... das quais muiro se fala , pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

A estas, quase todos os meios de comunicação social costumam apresentar como um monstro de poder, próprio a desalentar os pessimistas ... e até os otimistas. A realidade dos fatos parece indicar, pelo contrário, que as Comunidades Eclesiais de Base não têm dentro do panorama nacional, senão as meras proporções de um perigo em crescimento, porém francamente contornável. O que segura, por seu turno , no otimismo, os inertes. Mais um fator da contradição, a qual só pode inclinar nossas elites para a confusão, a dispersão ... a inércia!

* * * Em contara com a realidade, a TFP analisa o Brasil

Os aurores da Parre li do presenre volume

Os resultados a que chegou o estudo sobre as CEBs, que a TFP agora oferece ao público, é bem diverso. Eles constituem um virtual convite à ação. Aqui denunciadas, rejeitadas, combatidas, essas organizações não terão meios de vencer. Mas há que lutar. Pois, como se verá, elas já são bastante fortes para alcançar a vitória, caso nossas elites, desinformadas, continuem a deixar-se embalar na confusa alternação entre otimismo e pessimismo. De tal trabalho de informação e esclarecimento, que desse ponto de vista se poderia qualificar como de salvaçã o nacional, aceitaram de se in-

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cumbir dois soc10s da TFP já com larga folha de serviços prestados à entidade, à qual consagraram por inteiro suas robustas inteligências, seu hábito do estudo e da reflexão, sua cultura e sua generosa dedicação. Não os prende à ordem sócio-econômica vigente qualquer interesse econômico. Não figuram na categoria dos proprietários, e seu valioso trabalho intelectual foi sempre prestado à TFP com a singela contrapartida de que esta lhes assegura simplesmente meios de subsistência suficientes. Para efetuar esse estudo , encontravam-se os dois autores em condições especialmente favoráveis . De um lado, suas leituras de há muito . os vinham pondo ao corrente do pensamento do progressismo e do "esquerdismo católico", que constituem o próprio substrato doutrinário das CEBs, definem as metas e inspiram, em considerável medida, os métodos destas . De outro lado, sua longa militância nas fileiras da TFP lhes havia acrescido aos conhecimentos colhidos em livro aquilo que livro nenhum poderia dar. Ou seja, o conhecimento experimental do progressismo teológico e do "esquerdismo católico" em ação, cujas tendências e cujas táticas só a longa e acurada luta contra eles tão bem desvenda. Compulsando uma massa de documentos que não haveria exagero em


Parte I

Imponente massa d e docume nt os p ermite traçar um quadro geral das CEBs

Int rodução

cha ma r de monumental, ordenandoos, a nalisando-os com penetrante acuidade, e articulando os vários as pectos fugidios que deles se desprendem, em uma larga e lúcida síntese, puderam os dois autores traçar um quadro geral das Comunidades Eclesiais de Base, como elas existem e se expandem no Brasil, em 1982, e que constitui a Parte II do presente volume. Impresso o livro pelos bons préstimos da Editora Vera Cruz, a TFP se dispõe agora a divulgá-lo pelo Brasil.

* * * Objetivo da TFP ao difundir o presente livro

O objetivo de tal divulgação já foi enunciado. Consiste ele em alertar para o perigo do comunismo as classes

que este visa derrubar. Para que, assim alertadas , afinal se a rticulem em torno de seus chefes naturais, com o objetivo de cortar o passo ao adversário que a inércia delas vem tornando perigoso . Só com isto , já elas reduzirão o perigo a suas verdadeiras . proporções. E terão assim condições para, com árduo empenho , o fazer refluir para as dimensões mínimas, abaixo das quais não poderá decair porque lhe são propícias numerosas circunstâncias do mundo contemporâneo. O Brasil poderá assim continuar sua trajetória histórica sem conhecer as discórdias, as agitações, os morticínios em que a guerra de classes tem submergido tantas nações ilustres, nem as longas décadas de sujeição a taci-

Para traçar um quadro geral das Comunidades Eclesiais de Base, os autores da Parte li deste livro tiveram que analisar imponente massa de documentos, compreendendo, além de um número incontável de notícias de jornal e revistas. a abundantíssima literatura publicada pelo movimento . - Na foto. parte das publicações sobre as CEBs e a Teologia da Libertaçlo compulsadas.

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As CEBs ... das quais muito se ja/a, p ouco se co nhece -

A TFP as descreve como são

turnas e estéreis ditaduras do "proletariado", que vêm submergindo crescente número de povos na degradação , na tristeza , na miséria. E, pelo contrário , afastado o perigo, nosso País , com as energias vivificadas pela luta, se irá habilitando para a luminosa missão mundial que o aguarda no século XXI. Elevado ideal em que se irmanam o zelo pela Igreja e pela Cristandade, com o ardente anelo de uma cristã grandeza do Brasil.

* * *

O profeta Ezequiel, do Aleijadinho, no adro da igreja de Congonhas de Campo (Minas Gerais). - Essa magnifica obra da arte barroca brasileira, manifestaçl o eloqüente da fecundidade de engenho de nosso povo, é uma promessa do que o Brasil pode realizar no futuro, se for fiel às ralzes cristls de sua História e à luminosa misslo mundial que o aguarda no século XXI.

28

O que acaba de ser dito poderia dar azo a uma objeção. A TFP estaria então promovendo , a seu modo , a luta dos que têm bens ou estudos contra os que não estudaram ou não têm bens, isto é, uma luta de classes? Nesse caso, a obra da TFP não seria o contrário da que querem levar a cabo as CEBs. Pois estas ateiam a luta de classes dos que não têm ou não sabem, contra os que sabem e têm . Levando ambas as classes à luta entre si , TFP e CEBs seriam igualmente fa utoras desse confronto . A objeção pode impressionar espíritos superficiais. Porém ela não resiste a uma análise objetiva dos fatos. Alertando e estimulando à reação as eventuais vítimas da agressão comunista, a TFP nem de longe tem em vista movê-las à contestação e à tra ns-

\ Tais objetivos são o contrário da luta de classes

A TFP deseja uma ordem social m ode lada pe la j ustiça e pela caridade


lntrodw;iia

Parte I

gressão dos direitos reais dos trabalhadores, e muito menos à extinção absurda - dessa classe. Escrupulosamente fie l à doutrina tradicio nal dos Papas em matéria sócio-econômica, a entidade deseja, pelo contrário , que cada vez mais sejam respeitados estes direitos , em uma ordem social modelada pela justiça e pela caridade, e por isto mesmo constituída de classes sociais distintas, hierárquicas e harmônicas (9). A reação que a TFP deseja promover não ruma, portanto , para uma confrontação sangrenta, mas, pelo contrário, visa obviamente evitá-la. A TFP tem a inteira consciência de não estar contra a classe dos trabalhadores manuais quando ela alerta os outros segmentos da sociedade, mas sim contra os manejas da seita progressista-esquerdista de há muito encastoada no seio da Igreja ( 1O), a qual só conseguiu até o momento levar

(9) Ver em Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, p. 82, significativos textos pontifícios contendo a doutrina tradicional dos Papas sobre a hierarquia social, em oposição à doutrina marxista da luta de classes. ( 1O) O primeiro brado de alerta contra a seita progressista-esquerdista foi dado no Brasil. pelo livro Em defesa da Ação Católica (Pu NIO CoRRtA DE OuvEIRA, Editora Ave Maria, ·são Paulo, 1943, 384 pp .), que foi objeto

A seita progressista-esquerdista encastoada no seio da Igreja lança os prosélitos que acaba de arregimentar, em agitações de rua que servem à luta de classes e à revolução social.

consigo setores ainda definidamente minoritários, de trabalhadores manuais . Esta seita visa a própria extinção das classes sociais contra as quais conspira. Se ela recruta simpatizantes em tais classes não é senão para que

de uma expressiva carta de louvor escrita em nome do Papa Pio XII pelo Substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, Mons . J. B. Montini , mais tarde Paulo VI. Sobre o assunto, ver também a magnífica

Carta Pastoral sobre problemas do Apostolado Moderno - Com endo um Catecismo de verdades oportunas que se opõem a erros contemporâneos, de D. Antonio de Castro Mayer, antigo Bispo de Campos (Editora Boa Imprensa , Campos , 1953 , 144 pp .).

29

A seita progressista-esquerdista visa a extinção das classes e a ditadura de um só laivo de opinião: os revoltados


As CEBs ... das quais muito se fala . pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

TFP CAMPANHA OE OOH,\TIVOS

PAllAOS POBRES

Além de sua obra de esclarecimento doutrinário, a TFP promove o congraçamento das classes sociais, coletando donativos nos bairros abastados e distribuindo-os nas favelas e bairros pobres.

trabalhem dentro destas, a fim de mais rápida e mais inteiramente destruí-las. É em geral este o triste trabalho dos ."inocentes úteis", dos "companheiros de viagem" e dos cripto-socialistas ou criptocomunistas, bem como dos "sapos" (11). E, sobretudo, a seita progressistaesquerdista não visa estabelecer uma cooperação justa e harmônica entre os amigos da ordem em todas as classes sociais, como é ensinada pelos documentos tradicionais do Supremo Ma30

gistério da Igreja. Pelo contrário, ela tem por meta a ditadura de um só laivo de opinião, os revoltados que existem de alto a baixo da estrutura social, entre os quais ela simula propagandisticamente só ver os "pobres". ( 11) Assim chamados , na linguagem da TFP, os burgueses endinheirados que blasonam de adotar uma posição anti-anticomunista , porém não comunista , mas que no fundo fazem - talvez muitos deles inadvertidamente - o jogo do comunismo.


Introdução

Parte I

A tristemente famosa "conscientização"

Como método , de início a seita .,procura a persuasão dos recrutas, pelo sofisma e pela chicana, a fim de constituir o primeiro núcleo de adeptos . Isto feito , ela inicia a ação, tendo como próximo passo a promoção de descontentamento (a tristemente famosa "conscientização"). Segue-se a ação do núcleo inicial, destinada a promover a agitação, os tumultos, e por fim o caos e a revolução social. Tudo bem ao contrário da ação eminentemente suasória e ordeira visada pela TFP, de modo ininterrupto, ao

longo das décadas de sua existência (12) . Em conseqüência, não há verda- / deiro paralelismo entre a ação comuna-progressista e esquerdista de um lado, e a da TFP de outro lado. Mas, pelo contrário, uma dessemelhança absoluta, de espírito e de doutrinas, como de metas e de métodos. Ê nesta perspectiva que convém ver o presente livro, que se alinha no que a História da reação anticomunista de nossos dias chamará a "Coleção TFP" (13).

( 12) Meio século de epopéia anr icomunista, Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.ª ed., 1981, 472 pp .

devido, a importante série de documentos pastorais de D. Antonio de Castro Maye r, até há pouco Bispo de Campos, difundidos igualmente pela TFP, e todos eles relacionados , imediata ou mediatamente, com a grande controvérsia (ver elenco de obras neste volume) . Também D. Geraldo de Proença Sigaud , S.V.D ., antigo Arcebispo de Diamantina, publicou a Carta Pastoral sobre a seita comunista, seus erros, sua ação revolucionária e os deveres dos católicos na hora presente ("Catolicismo", n.0 135, março de 1962; Editora Vera Cruz, São Paulo, 1963 , 176 pp ., 2 edições Total: 26 mii exemplares), e o Catecismo Anticomunista ("Catolicismo", n. 0 140, agosto de 1962; Editora Vera Cruz, São Paulo, 1962, 48 pp ., 5 edições - Total: 122 mil exemplares), que a TFP difundiu largamente por todo o Brasil. A divulgação desses importantes documentos episcopais não foi aliás só da TFP. Também trabalharam nela as circunscrições eclesiásticas dos referidos Prelados , como pessoas das relações deles em vários lugares do Brasil.

( 13) O grupo de amigos de que resultou em 1960 a fundação da TFP , publicara anteriormente a essa data duas obras que são o ponto de partida histórico dessa coleção . A primeira já foi mencionada: Em defesa da Ação Católica, foi o grande divisor de águas entre os militantes católicos que deram origem à TFP, e os que começaram a propaganda do progressismo teológico e do esquerdismo sócio-econômico nos meios religiosos brasileiros . Seguiuse-lhe outro livro, Revolução e Contra-Revolução (PuN10 CoRRl:A DE OuvE1RA, Boa Imprensa, 1959), o qual se constituiu definitivamente no fio condutor do pensa mento de todas as outras obras editadas pela entidade. Fundada em I 960 a TFP, foram publicadas diversas obras , que o leitor encontrará relacionadas no presente volume. É ademais de se registrar aqui, com o apreço

31

Desse melhança absoluta entre a ação da TFP e a da seita comunaprogressista


Capítulo I ... •

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Em nossa épo

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A era da Propaganda

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O M O extraordinário incremento da imprensa, abriuse para a Humanidade, no ·século XIX, a era da Propaganda. Cada vez menos, os movimentos profundos dos povos nasceram de impulsos, tendências ou formais desejos· concebidos nas camadas profundas das psicologias nacionais. E, cada vez mais, os movimentos coletivos vêm sendo induzidos, de fora para dentro, pela Propaganda ..Em outros termos, mais e mais os povos se · foram tornando massas (1).

No momento em que a excelência dos recursos psicológicos e técnicos chegava a uma perfeição que certamente Gutenberg nem sequer imaginava, Marconi deu ao mundo a rádiocomunicação. E quando esta se achava em franca via ascensional, apareceu, por sua vez, uma rival que haveria de reduzir fortemente a influência da imprensa e do rádio, monopolizando para si a liderança da propaganda política, ideológica, ou econômica. É a televisão. E vai se afirmando agora a

( I) O processo é assim descrito por Pio XII : "O Estado não contém em si e não reúne mecanicamente num dado território uma aglomeração amorfa de indivíduos. Ele é, e na realidade deve ser, a unidade orgânica e organizadora de um verdadeiro povo.

de si inerte, e não pode ser movida senão por fora . O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais em seu próprio posto e a seu próprio modo - é uma pessoa consciente das próprias responsabilidades e das próprias convicções. A massa, ao invés, espera o impulso defora.fáciljoguete nas mãos de quem quer que desfrute seus instintos ou impressões, pronta a seguir, vez por vez, hoje esta, amanhã aquela bandeira. Da

Povo e multidão amorfa, ou, como se costuma dizer, 'massa', são dois conceitos diversos. O povo vive e se move por vida própria; a massa é

34

Imprensa, rádio, TV: o que virá depois?


Capítulo I

Parte I

era da cibernética. Pode-se supor que esta última encerre o ciclo das grandes invenções a serviço da Propaganda. Porém, à vista dos progressos da chamada transpsicologia, ainda nebulosos, insólitos e desconcertantes, é possível que novas formas de comunicação entre os homens conduzam a meios de propaganda ainda insuspeitáveis, ainda mais céleres, mais drásticos. Em uma palavra, mais terríveis ... A marcha ascensional que se nota na celeridade dos meios de comuni-

cação se verifica igualmente no tocante à perfeição das comunicações. E também no gradual aprimoramento da sua já exímia capacidade de informar. Neste sentido, a imprensa , o rádio e a televisão, todos em contínuo progresso, se completam de maneira a pôr à disposição do homem uma abundância de idéias e de imagens espantosa. Para informar, impressionar e persuadir o homem, atingiram esses meios de comunicação um poder maior, em muitas circunstâncias, do

exuberância de vida de um verdadeiro povo a vida se difunde, abundante, rica, no Estado e em todos os seus órgãos, infundindo-lhes com vigo r incessantemente renovado a consciência da própria resp onsabilidade, o verdadeiro senso do bem comum. Da f orça elementar da massa, habilmente manejada e utilizada, o Estado pode também servir-se: nas mãos ambiciosas de um só ou de vários que as tendências egoísticas tenham agrupado artificialmente,

o mesm o Estado pode, com apoio da massa, reduzida a não mais que uma simples máquina, impor seu arbítrio à parte melhor do verdadeiro p ovo: em conseqüência, o interesse comum fi ca gra vemente e p or largo tempo atingido e a f erida é bem fr eqüentem ente de cura difícil" (Radiomensagem de Natal de 1944, Discorsi e Radiom essaggi di Sua Santità Pio X II, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI , pp. 238-239).

35

Para inf armar, imp ressionar e persuadir, um poder maior do que os mais salie111es p otentados do passado


As CEBs... das quais muito se fala, p ouco se conhece -

A TFP as descreve como são

que o dos mais salientes potentados do passado. Pois tais meios, sobretudo se conjugados a serviço de uma mesma idéia, ou de um mesmo interesse, poderp influenciar mais o curso dos acontecimentos do que um monarca, um diplomata, um guerreiro, ou um filósofo. Tal o poder da Propaganda ideológica, política ou simplesmente comercial - no respectivo campo. A Propaganda, em caminhada assim ascensional, produziu uma conseqüência óbvia, para a qual os meios de comunicação social pouco chamam a atenção, et pour cause.

* * * Poder p úblico e Propaganda: interação

Ei-la. Dado que os movimentos das massas marcam hoje em dia os rumos para as nações, e os meios de comunicação social marcam os rumos das massas, no mundo contemporâneo cabe a esses meios uma função rectrix, a qual, numa curiosa interação, se por um lado pode menos do que a soberania estatal, por outro lado pode muito mais do que ela. Pois os potentados da Propaganda exercem nas mentalidades da base ou da cúpula do mundo contemporâneo uma forma sui generis de poder, a qual tem algo de um "papado" laico. R óbvio que a comunicação social condiciona a fundo o Poder público, 36

pois que se vai tornando cada vez mais difícil aos políticos galgarem o poder, exercê-lo e nele se manterem sem o apoio da Propaganda. Um observador acrescentaria que a Propaganda moderna exerce, além destas, uma forma de domínio sobre as massas, de natureza imponderável, incompletamente estudado, mas profundamente real. É um certo poder sugestivo e hipnótico , que va:i muito além da ação suasória da imprensa racionalista dos antigos tempos . A inter-relação entre Poder e Propaganda é óbvia nas democracias , em que tudo se decide por via de votações, e estas, por sua vez, são condicionadas a fundo pela Propaganda. De outro lado , o Poder público, cada vez mais "social", e com isto cada vez mais próximo da onipotência, pode sujeitar a Propaganda a formas de pressão múltiplas, às quais só heróis e santos sabem resistir. E estes se vão tornando cada vez mais raros em nosso mundo massificado (2).

(2) Um exemp lo ainda recente: a Mensagem das treze TFPs sobre o socialismo autogestionário francês, publicada sem maior dificuldade em 56 dentre os principais jornais de I 8 países, não o pôde ser na França, ao que tudo indica, por pressões do governo socialocomunista - que entretanto procura apresentar-se como bonachão e de "face humana" sobre os seis maiores diários de Paris não


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A .Propaganda moderna exerce sobre 88 massas um certo poder sugestivo e hipnótico que vai muito além da açlo suasória da imprensa racionalista dos antigo11 tempo .

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As CEBs ... das quais muito se fa la, pouco se conhece -

A Pr opag anda nos regim es totalitários

A TFP as descreve com o são

Mas tais formas de pressão, e outras ainda, existem também nos regimes totalitários, nos quais o Estado se apossa da Propaganda tiranicamente, e se transforma no propagandista de si mesmo. Assim, o póder político de Hitler foi filho da Propaganda. Mas ele a confiscou depois em seu proveito próprio. Onipotente para elevá-lo até às nuvens , a Propaganda teve de cair de joelhos ante ele, logo que esta elevaçã o se consumou. E ele, desconfiado ante esta onipotência genuflexa, resolveu jugulá-la e devorá-la antes que ela, reerguida de sua episódica prostração, tomasse a iniciativa de jugular e devorar o monstro que tinha gerado.

* * * Capitalis m o e Propaganda

Claro fica que a Propaganda, sempre poderosa, raras vezes é autônoma. Pois, ou está nas mãos da iniciativa privada, ou do Estado. No caso concreto do Brasil, detém-na a iniciativa privada. E graças a Deus . Pois pior seria que a detivesse o Estado. declaradamente socialistas ou comunistas (cfr. Pu N10 CoRR ~A DE Ou vE I RA, Na França: o punho estrangulando a rosa, Comunicado das treze Sociedades de Defesa da Tradição, Famíli a e Propriedade, publicado em 30 jorna is de 14 países. - Ver "Catolicismo", n. 0 376, abril de 1982).

38

Mas a iniciativa privada, no caso, existe sob a forma do macrocapitalismo, pois só a este é dado reunir os recursos necessário s para manter um jornal, uma rádio, ou uma TV , em proporções de sensibilizar o País inteiro. E máxime uma cadeia destes sistemas entrelaçados. Em conseqüência, quase ninguém se pode beneficiar da Propaganda sem o apoio do macrocapitalismo. Experimentou-o duramente, no período de 1935 a 1960, o grupo de amigos do qual haveria de nascer a TFP. Para ele, todos os jornais estavam fechados. Se um ou outro consentia em publicar alguma notícia por ele pedida, essa saía quase sempre com dimensões e paginação que mais lhe traziam desprestígio que prestígio. As livrarias - dóceis complementos das grandes máquinas de propaganda atuais - se lhe aceitavam os livros , em geral pouco os expunham, e quase não os vendiam. Fundada em 1960 a TFP, só muito aos poucos esta situação sofreu modificação digna de registro , em alguns raros, e aliás prestigiosos, órgãos de imprensa. Mas, ao mesmo tempo , o macrocapitalismo publicitário, sempre muito aberto para todas as formas de propaganda esquerdista, também se foi abrindo amplamente para sucessivos e espetaculares estrondos publici-

1

Dura experiência da TFP

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A


Capitulo I

Pane l

O fenômeno das "patrulhas ideológicas" - a denúncia de cuja existência ag itou os meios de comunicação social anos atrás - n o é entretan to um fenômeno novo. Sentiu -lh e as con seqüências jé desde 1936, o grupo de amigos do qual haveria de nascer, em 1960, a TFP. Era como se um a "censura branca" impedisse de dar destaque a qualquer noticia sobre ele. Fundada a TFP, só muito aos poucos essa situação sofreu alguma modificação digna de registro.

tários contra a TFP. Aos quais esta foi, a liás, resistindo i"mpávida. Decididamente, o macrocapitalismo publicitário, grosso modo considerado, se tem mostrado infenso à TFP.

* * * O co ntato com a rua - As caravanas

Então a pergunta inevitavelmente se põe. Quais as possibilidades deste livro, que já nasce órfão de propaganda?

Essas possibilidades sem dúvida não são tão grandes como desejáramos . Mas, em todo caso , asseguram ao livro uma repercussão muito ponderável. Mostra-o, aliás, a história de vários deles (3).

(3) Cfr. Meio século de epop éia anticomunista, Editora Vera Cruz, São Pa ulo , 4.ª ed.,

1981.

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--


As CEBs ... das quais nwiw se.fala. pouco se conhece -

Versando temas da mais viva atualidade, a T FP consegue inte ressar largos setores da opinião por temas doutrinários

A TFP as descre ,·e co mo são

Os liv ros editados e difundidos pela TFP têm todos um caráter doutr inári o. Mas os temas sob re que versam são sempre de viva atualidade . Pois se relacionam com problemas sucessiva me nte prepondera ntes , da grande crise processiva - a um tempo re ligiosa, cul tural, social e econômica - pela qual vão passa nd o todos os países católicos, nas últimas décadas . E entre eles o ma is populoso e mais extenso, que é o Brasil. Em virtud e dessa at ua lidade , torna-se possível interessar po r temas d outrinários - e de alto porte - os seto res po pulacionais ha bilitados a deles tomarem conhecimento , mas que até aqui a vida contemporânea, terrivelmente absorvente , manteve afastados de leituras tais.

Assim, a oferta de livros, não ao público restrito que freq üenta as livrarias, mas ao grande púb lico que se encontra nas praças e vias públicas , nos locais de trabalho e nas residências, toma condições de viab il idade. Foi o que intuiu a TFP quando, ademais da boa cooperação que lhe proporcionou em 1960, para o contato com as livrarias, a emp resa dist ribu idora Palácio do Livro, enviou caravanas de sócios e cooperad ores a percorrerem todo o Brasil, oferecendo a obra Refarm a Agrária - Questão de Consciência. Com isto, tornou-se o livro , em pouco tempo , um best-seller nacional. De então pa ra cá, o recurs o às ca ra va nas se aprimorou na T F P , a qual fez desse método de pro paga nd a,

Para fu rar o cerco do macrocap italismo public itá rio e levar a sua vo z até os mais recôndit os ri ncões do Pais, a T FP o rg anizou um si stema de caravanas de propaga ndistas que perc o rre m con stan te mente as ime n sid ões de no sso terri tório , v ende ndo aa o bras da ent idade diretamente ao público . Dai o en o rme sucesso e as gra ndes t iragens das p ublicações d a TFP.

40

As cara1•anas da TFP perco rrem o Brasil de po m a a pomo


Parte I Recurso eficiente para furar o bloqueio do macrocapitalismo publicitário

Capítulo /

o seu grande recurso face ao sistemático cerceamento que sofria do macrocapitalismo publicitário, afirmando assim o direito de manifestar seu pensamento, sem embargo das pressões dos poderosos, e da limitação de seus recursos financeiros (4). Daí, como já foi dito, a muito apreciável tiragem das obras da TFP (5).

* * * Partidos políticos e CEBs

No momento em que as atenções do público se vão voltando cada vez mais para as CEBs, num panorama em que os partidos políticos legais e (4) As caravanas da TFP já percorreram, desde 1970 (quando tiveram início) , 2.629.553 km rodados, o que equivale a 65 voltas em torno da Terra, ou a quase quatro viagens de ida e volta à Lua! No contato direto com o público em 14.142 visitas a cidades de porte grande, médio ou pequeno de todo o território nacional, foram vendidos pelos propagandistas da TFP cerca de 4.500.000 exemplares das diversas publicações editadas ou patrocinadas pela entidade. (5) Entre as páginas desve volume, o leitor encontrará a relação das obras difundidas pela TFP, com o respectivo número de edições e tiragens. Estas são impressionantes, dadas as circunstâncias de nosso País de tão e tão poucas livrarias, no qual, excetuadas as obras didáticas, os livros de que se tirem mais de 5 mil exemplares são considerados como muito difundidos.

ilegais deixam ver sempre mais a exigüidade de sua estatura e de seu sopro vital, as Comunidades Eclesiais de Base estão sendo vistas por crescente número de brasileiros como a potência eleitoral emergente, que nos grandes prélios deste ano dará rumo aos destinos do Brasil. Assim, é de esperar que considerável número de brasileiros se empenhe em saber o que são essas organizações. Para informá-los, os autores da Parte II do presente livro foram colher os dados esclarecedores, por assim dizer dos próprios lábios delas, isto é, dos escritos em que elas se autodefinem para seus aderentes e para o público. Esta é, de longe, a principal fonte de suas informações. Completam-nas notícias de jornais e revistas inteiramente insuspeitos de distorcer os fatos em detrimento das CEBs. E tudo isto de tal sorte que, a queixar-se alguma Comunidade de Base do que aqui vem dito, poderiam os autores responder, com as palavras da Escritura: "De ore tua te judico: julgo-te segundo as palavras de tua boca" (Lc. XIX, 22). Entidade essencialmente extrapartidária, de nenhum modo pretende a TFP favorecer ou combater, com este livro, qualquer partido ou grupo político. Pelo contrário, a todos ela presta indiscriminadamente serviço quando os ajuda a conhecer com quem 41

As CEBs: julgadas p elas palavras que elas m esmas proferem

A atuação da TFP não tem qualquer intuito p o líticopartidário


As C EBs ... das quais muito se fala. pouco se co nhece -

A TFP as descreve co mo são

se aliam, se se apoiarem nas CEBs, e a quem combatem, caso se coloquem na liça em campo oposto ao delas . E, talvez, o serviço mais assinalado ela o preste a esses eventuais aliados das CEBs. Pois em política, como em qualquer outro terreno , não raras vezes as alianças feitas sem as informações necessárias prejudicam a prazo médio ou longo - quando não a prazo imediato - mais do que muito golpe rude do adversário. Mostra-o especialmente a História das grandes Revoluções.

* * * As operações "pega-fazendeiro" "peg(J-parrão" "pega-locador"

E é uma verdadeira Revolução (no sentido lato da palavra), com sérias possioilidades de se tornar muito grande, que as CEBs preparam. Já começam a ecoar nas profundidades de nossos sertões os brados-slogans "pega-fazendeiro" (cfr. Parte II , Cap. 111, 6). Está na linha de pensamento e de ação das CEBs, como na. linha de seu dinamismo "místico" exasperado, que a esses brados se sigam ou se juntem, dentro de não muito tempo, os de "pega-patrão", "pega-patroa", "pega-locador", "pegadirigente". "Pega", enfim, todo mundo que agora dorme indolente um letargo profundo , embalado alternativamente pelo desalento e pelo otimismo. 42

Segundo a doutrina da Igreja, a condição de freira, esposa de Jesus Cristo, é superior à da espo sa e mie de familia . Nlo assim para as CEBs, que vêem com maus olhos o papel da freira tradicional. e preferem a freira guerrilheira, que pega o fuzil para participar de lutas de "libertação nacional", como na revolução sandiniste da Nicarágua .


Parte I

A s CEBs também atacam a família

Capítulo I

Aliás, não é só a propriedade que é duramente atacada pelas Comunidades de Base, mas também a instituição da família . As CEBs, como fica de-

monstrado na Parte II deste trabalho , subve rtem a fundo esta instituição , e tendem à supressão dela por inutilidade . Com efeito, as CEBs proclamam como excelsa a missão que pode ter a prostituta ( cfr. Parte II, Cap. II, 2) , superior até à da freira. Ora, se de um ladó a condição de freira , segundo a doutrina da Igreja , é superior até a da esposa e mãe de família, e de outro lado a "oblação"que a mulher perdida faz de si mesma é mais completa que a das Religiosas , ela fica ipso fa cto num plano superior ao da mãe de família. Esta conclusão, contrária ao senso moral de todos os povos, em todos os séculos, se coaduna bem com a doutrina socialista. Pois se, do ponto de vista do socialismo, a prostituta serve à coletividade, ela é por assim dizer um patrimônio de todos . A esposa é ao mesmo tempo "proprietária" e "propriedade" do esposo. Ela constitui o bem, não da coletividade, mas tão-só de um indivíduo. E, como tal, deve desaparecer no mundo coletivista. Quiçá, quando estiverem sendo desenvolvidas as operações "pega-fazendeiro", "pega-patrão" etc. , o Brasil ainda seja forçado a presenciar a operação , quão mais censurável , "pegaespqsa". E é contra esta imensa e espantosa Revolução que o presente livro previne.

43

Dep ois da op eraç ã o "" p eg a -fa zendeiro", a op eração '"pega-esposa " .?



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... ·Capítulo II t ~ -

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A CNBB

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CONFERBNCIA Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), órgão instituído pela Santa Sé, no ano de 1952 - talvez como prenúncio das tendências à colegialidade, tãÓ pronunciadas no Concílio Vaticano II (1962-1965) - tem por fim coligar em todo o território nacio-nal a ação dos Bispos diocesanos (em número de 233) e dos respectivos Bispos Coadjutores e Auxiliares em exercício (ao todo 55), bem como dos três Ordinários para os -fiéis de Ritos O-

rientais (dados do Diretório Litúrgico de 1982). Também fazem parte integrante da CNBB os 62 Bispos resignatários residentes no País, totalizando assim 353 Bispos com direito a voz e voto no organismo episcopal ( 1). Promove a CNBB uma imensa transformação soc10-econômica de sentido muito marcadamente esquerdista. Constituem pontos capitais dessa reforma, a muitos títulos inquestionavelmente revolucionária, uma re-

( 1) Os Bispos resignatários só não podem votar nas deliberações de que se origine obrigação jurídica (c~r. Estatutos da Con_ferênéia Nacional dos Bispos do Bras1l, artigos 2.0

Sou Católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, Editora Vera Cruz, São Paulo, 3.ª ed ., p. 109.

(3)

Cfr. PuN10 CoRHA DE OuvEIRA E CAR-

LOS PATR1c10 DEL CAMPO,

e 10). . (2)

Cfr.

PuN10

CoRRtA

DE

OuvEIRA

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CARLOS PATR1c10 DEL CAMPO, Sou católico: posso ser contra a Reformá Agrária?, Editora Vera Cruz, São Paulo, terceira edição, página 91.

46

(4) É o que declara enfaticamente o Sr. Cardeal D . Vicente Scherer, antigo Arcebispo de Porto Alegre: "Os grandes proprietários, proclamamo-lo sem cessar, devem conformar-se com a redução dos seus haveres. A disseminação da pro-

Sua obra revolucionária: as reformas


Dobre de finados para a classe dos fa zendeiros ...

modelação da estrutura fundiária rural do País. Tal remodelação tende, em última análise, à divisão de todas as propriedades rurais grandes e médias em propriedades com dimensão suficiente para que cada uma seja integralmente trabalhada pelas mãos do respectivo proprietário e de sua família, no máximo com o auxílio estritamente esporádico de algum coadjuvante efêmero (2). O que importa num dobre de finados para a classe dos fazendeiros.

Tanto mais que estes receberão, na melhor hipótese, uma indenização nitidamente inferior ao presente valor venal de suas propriedades (3), com o que terão de aceitar a degradação (no sentido etimológico do termo) social conseqüente (4). A CNBB promete engajar-se também em uma reforma fundiária urbana que, a ser logicamente deduzida dos princípios norteadores da Reforma Agrária, deve abrir campo para duas medidas essenciais: a extinção do

priedade é um postulado fundamental de uma ordem social aceitável e justa" ("Correio do Povo", Porto Alegre , 3-1-62). "No setor rural, entre as formas de distribuição da propriedade está em primeiro lugar a reforma agrária. . . . . Se nas desapropriações na refarma agrária a compensação se faz pelo valor real, em se tratando de latifúndios, continuará a mesma desigualdade de fortuna e ela se estenderá a outro setor.fora do agrário, pela inversão do preço fabuloso obti-

do em propriedades imobiliárias urbanas" ("Correio do Povo", 12-11-68). O ilustre Purpurado, note-se, é uma das figuras do Episcopado mais freqüentemente apresentadas como moderado . Muitos de seus admiradores timbram até em lhe dar o qu'!llificativo de "direitista", indefensável à vista destes e de outros textos do Prelado. Se essa é a moderação nas fileiras da CNBB, o leitor bem pode ver o que nela é o extremismo.

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. .. da classe dos p roprie1áriosde imóveis urbanos


As CEBs ... das quais muito se fala , pouco se conhece -

.. . da classe dos emp resários

A TFP as descreve como são

inquilinato, em favor dos locatários transformados em proprietários dos espaços que ocupam, e uma redistribuição do espaço, de sorte que cada pessoa, empresa ou família, só ocupe a área arbitrada como vitalmente necessária pela repartição pública encarregada. De maneira que haja área construída suficiente para todos (5). Não é difícil entrever que a CNBB preconize ainda uma reforma empre-

sarial análoga às reformas agrária e urbana que pleiteia.

(5) No docu mento Igreja e problemas da terra, a provado pela 18.ª Assembléia Geral da CNBB, em 1980, o órgão episcopa l tratava de modo específico da Reforma Agrária, e prometia para breve um outro estud o consagrado especialmente ao solo urbano. Entretanto, na 19.ª Assembléia Gera l, realizada em fe ve reiro de 198 1 ( quando se ac hava no prelo , pront o para sai r, o livro Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?), o tema não foi tratado. Deba teu-o a 20.ª Assembléia, de 9 a 18 de fevereiro de 1982, confirmando inteira mente os receios aqui enunciados e já ma nifestados no livro supra-citado (p. 100). O document o So lo urbano e ação pastoral (Coleção Documentos da CNBB, n.0 23, Edições Paulinas, São Paulo, 1982, 48 pp.), aprovado pelos Bispos brasileiros nessa ocasião, relativiza ao máxi mo o direito de propriedade, pondo em xeque o próprio título jurídico legítimo de propriedade e tenta nd o justificar as ocupações e mes mo as invasões de terras: " No caso de muitas ocupações lentas e até nas 'invasões', o título legítim o de propriedade, derivado e secundário, deve ser j ulgado diante do direito fundamental e primário de morar, decorrente das necessidades vitais das pessoas

humanas" (d oe. cit., n.0 79) . Ê mu ito significativo que o docu mento da CNBB ponha aspas na palav ra "in vasões", como se não fossem de fa to in vasões ! Sobre o que pe nsar destas, ver Parte II, Cap. III , 8.

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* * * Ü quadro que assim se patenteia aos olhos dos brasileiros causa espanto . Pois ele nos desvenda a situação de um Estado declarado implicitamente em situação de minoridade pela CNBB. Isto é, de carência de sabedoria ,

E, adia nte, o documento co ntinu a: "Tendo presente a lição de João Paulo li, segundo [sic] a qual sobre toda propriedade particular pesa uma hipoteca social, concluimos que o direit o natural à moradia tem p rim azia sobre a lei positiva que preside à apropriação do so lo. Apenas um título jurídico sobre uma p ropriedade não pode ser um valor absoluto, acima das necessidades humanas de pessoas que não têm onde instalar seu lar" (doe. cit. , n.º 84). Falar de falta de luga r pa ra se instala r num país com 8,5 milh ões de quilômetros quadrados, 60% dos quais inteiramente desocupados (terras devo lutas), é realmente assombroso! Qua nto ta l relativização do direito de propriedade discrepa da doutrina tradiciona l da Igreja, é fácil ve r co mpara nd o-se com os bem conhecidos te xtos pontifícios so bre a matéria (cfr.

PuN10 CoRR!'.A DE OuvEIRA E CARLOS PA-

Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, Editora Vera Cruz,

TR 1c 10 D EL CAMPO,

M in o ri dade d os três Poderes ?.,


Capítulo li

Parte I

Reunidos em ltaici, em fevereiro deste ano, os Bispos aprovam o documento Solo urbano e ação pastoral. que preconiza uma Reforma Urbana, irmã gêmea da Reforma Agréria sociali sta e confiscatória pleiteada no documento Igreja e problemas da terra.

São Paulo , 3. ª cd., 198 1, pp. 156- 160; 180- 182). Mas o documento da CNBB, citando a Gaudium et Spes (n .0 69), chega ao ponto de invocar o princípio de extrema necessid ade para as "pessoas que não têm onde instalar seu

Manifesto ao povo brasileiro sobre a Reforma Agrária, de 24 de dezembro de 1964, in Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária ?,

lar": "Aquele, porém, que se encontrar em extrema necessidade, tem direito a tomar, dos bens dos outros, o que necessita " (doe. cit.,

pp. 239-244). Ao fazer esse precô nio , o documento da CNBB se insurge a té contra as a tuais decisões da M agis tratura, que co ntinua a plica ndo o Código Civil promulgado em 1916: "De fato,

n.0 83). Por isso, é preciso fazer "uma reforma urbana que leve a cidade à condição de um espaço de convivência solidária" (doe. cit., n. 0 99). O documento, entretanto, embora sugira uma série de med idas a curto prazo (tópicos 119 a 130) não delineia os contornos concretos dessa Reforma Urba na . Mas ao constatar que ela "esbarra em diversos obstáculos jurídicos" (doe. cit., n. 0 99), preconiza um "Estatuto do Solo Urbano" símile do "Estatuto da Terra", cujo caráter socialista e confiscatório foi oportunamente denunciado · pela TFP (cfr.

nossa legislação que regula a posse e uso do solo urbano revela uma profunda inadequação à realidade atual, inadequação baseada nwria superada. concepção do direito de propriedade, concepção privatista de um direito absoluto sem nenhuma responsabilidade social. É a concepção de nosso Código Civil, promulgado em 1916, quando o Brasil não chegava a ter 5 milhões de pessoas como população urbana, mas concepção que predomina ainda nas decisões de nossa Magistratura, mesmo quando a própria Constituição de 1969 confirmou o principio da função social da propriedade (art.

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As CEBs ... das quais muito se fala, p ouco se conhece -

A TFP as descreve com o são

A mesa que presidiu a 20.• Assembléia Geral da CNBB. em ltaici: D . Ivo Lorscheiter (centro). D. Clemente J. Carlos lsnard (esquerda). D . Luciano Mendes de Almeida (direita), respectivamente Presidente, Vice-Presidente e Secretário do organismo episcopal.

160. Ili). Tal princípio, entretanto. que de certo modo foi explicitado na elab oração de um Estatuto da Terra Rural. paradoxalmente, num país que se urbaniza rapidamente, não levou ainda à promulgação de um Estatuto do Solo Urbano, que consta ser objeto de um projeto do governo" (doe. cit., n.0 100). Se isto não se fizer , o documento ace na com a revolução social: "A aceleração do processo de urbanização está transferindo para a cidade uma carga conflitual, que poderá assumir as dimensões de uma confrontação entre os muitos que têm pouco a perder e os poucos que têm muito a perder" (doe. cit., n. º 113). "Recusar-se ao trabalho por essas reformas, capazes de conduzir a uma mudança global da sociedade, significa, na prática, provocar a radicalização do processo de mudança" (doe. cit., n.0 115).

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Mas não se pense que os Bispos brasileiros que a provaram o documento co ntentar-se-ão com meras refo rmas. Eles querem uma mudança global do sistema sócio-político-económico vigente: "A implementação das refo rmas necessárias não deve induzir à ilusão de que estas sejam suficientes. Para eliminar a situação de injustiça estrutural, importa visar a novos m odelos de organização da cidade, o que exige, por sua vez, mudança do m odelo sócio-político-econômico vigente" (doe. cit., n. 0 116). Qual é o sistema que os Bi spos propõem para ser instaurado no luga r do atua l? O documento não o diz. Será talvez um meio termo entre o sistema capitalista ocidental e o sistema comunista soviético. O socialismo autogestionário a pregoado por M itterrand , por exemplo ... (cfr. Parte II, Cap. IV, 1 e 2).


Capiwlo li

Parre I

Uma objeção em fa vor da CNBB

de força e de poder para tomar conhecimento de seus próprios problemas, encontrar-lhes a solução e, por fim , resolvê-los efetivamente. Por isto , à CNBB caberia supletivamente fazê-lo. - "Fazê-lo"? Não haverá exagero na afirmação, uma vez que a CNBB não pretende impor a Reforma Agrária ex auctoritate propria, mas apela, pelo contrário, para os três Poderes do Estado, a fim de que a implantem? Onde então a usurpação de poderes que o órgão eclesiástico nacional por excelência estaria tendendo a praticar em relação ao Estado? Em que fica cerceado pela CNBB o exercício pleno. das atribuições conferidas pela Constii:uição aos três Poderes da Repú-

blica , a saber, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário? Na ordem da mera especulação jurídica, nada há que objetar a tal. Mas a ordem jurídica não contém em si toda a realidade dos fatos . Um exemplo, aliás apenas incompletamente adequado , o deixa ver bem. O poder dos órgãos de comunicação social sobre a opinião pública - proclamada como soberana pelos Estados modernos - é tal , que lhes confere uma larga participação na fixação dos rumos do país. Por isso, tomados em seu conjunto , têm eles sido cognominados, talvez não sem algum exagero, o IV Poder (6). Mas em tal designação é fácil perceber que

(6) Quem, parece, lançou no Brasi l a expressão foi o grande pensador católico Carlos de Laet, Presidente da Academia Brasileira de Letras, em conferência feita no dia 8 de maio de 1902, no Círculo Católico da Mocidade do Rio de Janeiro: "Tirania da imprensa! Sim , tirania da imprensa ... Agora está lan çaâa a pala vra, le mot est lancé ... Nescit vox missa reverti, não volta atrás o que já se disse, e rem édio não tenho senão justificar a minha tese. Senhores, uma das grandes singularidades dos tempos atuais, é que os povos vivem a combater fantasmas de tiranias, e indiferentes às tiranias verdadeiras. As revoluções derribam m onarcas, que às vezes são magnânimos pastores de povos. Antigamente cortavam-lhes as cabeças, mas hoje nem sequer essa honra lhes fa zem : contentam-se com desp edi-los, fa-

zam-nos embarcar a desoras, porque sabem que já p oucos são os reis cônscios da sua missão providencial e do seu dever de resistência ... Por outro lado, apregoa-se a tirania do capital; e, adversa a todo cap italista e a cada empresário, está uma turba fremente prestes a tumultuar, quando julga m enoscabados os seus direitos ... E todavia , senhores, o povo ainda não compreendeu que uma das maiores tiranias que o conculcam é a da imprensa; e, longe de compreendê-lo. antes a reputa uma salvaguarda dos seus interesses e a vindicatriz dos seus direitos. É contra este sofisma que ora me insurjo. Que é tirania, senhores? Omnis definitio periculosa, diziam os escolásticos; mas creio não errar definindo tirania - o indebito e opressivo p oder exercido por um , ou por p oucos, contra a grande maioria dos seus

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O I V Poder: os Meios de Comunicação Socia l


As CEBs ... das quais muito se fala. pouco se conhece -

A CNBB. o

der

v Po-

A TFP as desc reve co mo são

a parte da realidade, apanhada com viveza e agilmente expressa, é muito maior do que a parte do exagero. Pode-se dizer que, a seu modo, existe incontestavelmente o IV Poder. A seu modo, também, a CNBB se vai erigindo em um V Poder. Em razão do profundo espírito de fé reinante na imensa maioria dos brasileiros , do papel moderado, mas legítimo , exercido pela Igreja ao longo de toda a História do País, do enorme embasamento de instituições dos mais variados gêneros , bem como dos muitos ha veres de que a Igreja dispõe, exerce ela sobre a opinião pública uma influência capaz de disputar galhardamente a primazia aos Meios de Comunicação Social. E, conforme sejam as circunstâncias, de lhes tomar vitoriosamente a dianteira. Nessas condições, desde que ela queira pesar de modo preponderante na fixação dos rumos nacionais, tem

ela meios para fazê-lo. Ou , pelo menos, para tentar fazê-lo com fortes probabilidades de êxito. Isto, que é tão óbvio , a inda se acentua, nos dias que passam, em virtude de uma circu·nstância que, por certo, atrairá fortemente a atenção dos futuros historiadores , se bem que pareça passar hoj e mais ou menos despe rcebida às diversas elites tão profundamente postas em letargia . Tal circunstância consiste em que, por co incidência que não seria fácil explicar, o IV Poder - o dos Meios de Comunicação Socia l - em última análise passa por uma fase de unanimidade impressionante. De modo geral, os impulsos dados à Nação pelos seus componentes sopram no mesmo sentido. Se entre eles há variantes de matiz, estas habitualmente não redundam em polêmica tão rija e profunda que prejudique a convergência de todos numa mesma direção. Essa obser-

conterrâneos. Ora, esta definição maravilhosamente quadra ao chamado p oder da imprensa. Sim, ela é o poder de poucos sobre a massa popular. Contai o número imenso de homens que não figuram , que não podem figurar na imprensa, uns porque lhes faltam aptidões, outros por negação a esse gênero de atividade, outros porque não têm dinheiro ou relações que lhes abram as portas dos jornais; contai, por outra parte, o minguado número de jornalistas, - e dizei-me se não se trata de uma

verdadeira oligarquia, do temeroso predomínio de um pugilo, de um grupinhq de hoinens sobre a quase totalidade dos seus concidadãos. E que poder exerce esse grupo minúsculo? Enorme. A imprensa pode, efetivamente, influir no governo de um país, constituindo aquilo que já se chamou - o quarto poder do Estado " ( O frade estrangeiro e outros escritos, Edição da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. 1953, pp . 80-81).

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Quandoo JVeo v Poder coincidem


Parte I

Capitulo ••

vação poucas exceções teria a registrar. É certo que, nesta caminhada em conjunto, nem todos estão a igual distância da meta última . Enquanto nenhum - ou quase tanto - faz oposição proporcionadamente afincada à contínua hipertrofia dos poderes do Estado, e muitos pelo contrário a favorecem, apenas alguns poucos se dizem de quando em vez anti-socialistas. Mas como o termo "socialismo" é dos mais ambíguos do vocabulário científico como do político, esta posição não impede que esses mesmos órgãos fomentem, de um ou outro modo, a invasão contínua dos poderes do Estado na esfera privada. De onde decorre que vem sendo deploravelmente insuficiente sua oposição a esse fenômeno, o qual - muito notadamente a partir da Presidência do General Ernesto Geisel - tomou proporções alarmantes (7). Ora, ruma genericamente no mesmo sentido a CNBB, isto é, o V Poder.

Os Meios de Comunicação Social têm sido denominados, talvez nlio sem algum exagero. o IV Poder, devido à sua capacidade de impressionar a opiniilo pública e assim influir sobre os destinos do Pais. Mas é fácil perceber que, em tal designação. a parte de realidade. apanhada coni viveza e agilmente expressa. é muito maior que a parte de exagero .

(7) Em outubro de 1979, o Governo do General Figueiredo criou a Secretaria de Controle das Empresas Estatais (SEST), dependente da Secretaria do Planejamento . O objetivo da SEST era fazer um levantamento do complexo das empresas dÓ Estado e proceder a um efetivo controle dos respectivos orçamentos e planos de desenvolvimento . Posteriormente , em julho de 1981, a Presidência da República baixou um decreto constituindo urna Comissão Ministerial para estu-

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As CEBs .. . das quais muito se fala , pouco se co nhece -

A TFP as descreve como são

De sorte que , grosso modo, os dois grandes Poderes oficiosos se apresentam ao observador como decididos "companheiros de viagem" rumo à esquerda. Assim se explica, aliás, que , salvo incidentes esporádicos entre este ou aquele Prelado e este ou aquele órgão de comunicação social, as relações entre o IV e o V Poder sejam, na atualidade, exemplarmente cordiais. A realidade deste fato se pode medir pela amplitude do espaço que tantos meios de comunicação social e dos mais importantes - reservam a toda espécie de notícias provenientes da CNBB, bem como de todas as personalidades e organizações eclesiásticas que atuem na linha desta. É bem verdade que, ao lado dos espaços assim generosamente conce-

<lidos à CN BB , outros maiores há, com freq_üência , franqueados à pornografia. A pornografia descabelada, nã o raro. Mas esta atitude contraditória, que por vezes dei xa atônito o bom "homem da rua", não parece impressionar os detentores do IV Poder... E impressiona os do V Poder menos do que se poderia esperar. De A antena e a Cruz. lado a lado, no alto de algum barracão que sirva de igreja ou capela para alguma comunidade progressista. Os dois grandes Poderes oficiosos - o IV e o V Poder - se apresentam ao observador como decididos "companheiros de viagem" que querem conduzir o Brasil rumo à esquerda .

da r e promover a pa ulatina pri vatização das empresas estata is. Desde a co nstituição desses o rganis mos até o presente, são notória~ as di fi culdades enco ntradas pelo Gove rno, ta nto pa ra controlar o déficit das empresas estata is consid eradas em bloco, como para reà liza r um significati vo processo de privati zação. Em rece ntes decla rações, as próprias a utorid ades eco nô micas têm responsa bili zad o a excessiva estatização da eco nomia pelas d ificuld ades enco nt radas para cont ro la r a inflação e diminui r o estra ngula mento da bala nça de paga mentos: pro blemas esses que estão comprometend o os próprios fund a mentos da econo mia bras ileira .

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Capítulo li

Parte l

algum modo se pode dizer que tudo os une , nada os separa (8) .

• • • Pressão de cúp ula do I V e do V Poder

Pressão de base

Diante dessa impressionante coligação dos Poderes extra-oficiais mas efetivos , a pressão de cúpula sobre os três Poderes oficiais tem condições de êxito óbvias. A coligação de esforços do IV e V Poderes entrou por muito na produção do declínio da influência militar na V República, iniciada em 1964, e sobre a qual as eleições de novembro deste ano dirão se continuará a existir. Estas observações não incluem aplauso nem censura. São mera constatação dos fatos. Introduzido o Brasil nas vias da abertura, e restaurado em quase toda a sua amplitude o poder do voto popular, competia aos Poderes extra-oficiais completar sua ação por (8) Não va i nesta ·descrição da presente atitude do IV e V Poderes qualquer a nimadve rsão pa ra com os Mei os de Comunicação Social ou a CNBB enquanto ta is. Vai, isto sim , a manifestação de um profundo desacordo com os rum os que, consid erados em bl oco, e sa lvas ce rtas exceções, um e outro Poder vão seguindo no cumprimento de suas altas missões. Esse desacordo, aqui ex presso em linguagem se rena e co rtês, está basead o numa obser·vação desinteressada e cri stã da realidade nacional. E, ademais, se apóia em documentação opulenta, no que diga res peit o às CEBs. Desse

meio de uma pressão de base. O IV Poder tem feito o possível para se expandir, e assim se capacitar para reali zar sua pa rte da tarefa . Mas , cumpre registrar, pouco está a seu alcance fazer ainda, para crescer nesta direção. Pelo contrário , ao V Poder sobravam muitos meios de expandir-se, a fim de agir sobre a opinião pública, e por meio desta sobre o eleitorado. Com o que realizaria , já agora de baixo para cima, sua pressão de base sobre os três Poderes oficiais. O grande instrumento que vai sendo posto em prática pela CNBB para isto são as Comunidades Eclesiais de Base.

* * * Diante de tão clara intervenção da CNBB em assuntos de competência mod o, este livro não fa z senão ajudar o IV e o V Poder a verem a rea lidade . Caso um ou outro Poder se molestasse com qua nto aqui fica dito, empreendend o, po r exempl o, alguma campanha difamatória co mo vindita contra a TFP, deixa ria pairar dú vid as so bre a autenticidade das co nvicções libera is e ecumênicas de que se desva nece. Pois o exe rcício do direito de discord a r tem sid o o /eitm o ti v de grand e número de pronuncia mentos de um e outro nos últimos a nos. E seria pasmoso que negassem esse direito qua ndo se trata de disco rda r deles ...

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve co mo são

V

Abandonando sua esfera própria que consiste em ensinar, governar e santificar - docere, regere et sanctificare - as almas, incontáveis membros da Hierarquia e do Clero se embrenham por problemas específicos da ordem temporal, cedendo gostosamente, para reivindicações dessa natureza, não só o adro dos templos, mas o próprio recinto sagrado.

(9) A separação da Igrej a e do Estado foi estabelecida pelo Decreto II 9-A, do Governo Provisório, em 7 de janeiro de 1890. A Constituição de 24 de fevereiro de I 891 confirmou a separação. ( l O) Aqui é feita apenas uma constatação do fato. A doutrina da Igreja preco ni za , entretanto , a união entre os dois Poderes , cujos frutos são descritos magnificamente por Leão XIII, na Encíclica lmmortale Dei, de 1. 0 de novembro de 1885: "Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados.

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especificamente temporal, caberia perguntar em nome de que princípio, de que lei , ela o faz? De lei nenhuma, pois desde 1890 o Estad o brasileiro é laico (9), e não vê na Igreja senão uma entidade privada, como tantas outras, e ipso facto destituída de qualquer função no campo do Direito Público, ainda que meramente supletiva ( 1O). Mas acima de todas as normas legais pa ira um princípio: "Salus popu/i suprema !ex esto: que a salvação do povo seja a suprema lei" (Lei das XII Tábuas, cfr. Cícero, De legibus, III , 9). Se o país, falto de instituições ou de autoridades temporais adequadas, não encontrasse, em uma gravíssima crise, outro recurso senão voltarse para a Igreja, esta não extravasaria da missão a ela confiada pelo Divino Fundador, atendendo ao apelo da nação , e se incumbindo - na menor Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis , as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as rela ções da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legitima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império esta vam ligados entre si por uma feli z concórdia e pela permuta amistosa de bons oficias. Organizada assim, a sociedade civil deu frut os superiores a toda

Em nome de que p rin cípio, de que lei. a CN BBintervém em matéria especif icam ent e temporal?

Violação da distinção entre Poder esp iritual e Poder tem po ral


".,,

f/ST

Pane l

É indispe nsável perguntar se os fatos j ustificam essa intervenção

medida possível, mas também em toda a medida do necessário - da direção da "res publica". Atitude toda ela flagrante e gravemente excecional, que só poderia durar o tempo estritamente necessário. Pois, por pouco que a Igreja excedesse, em tal caso, os limites mínimos de atuação e de duração há pouco mencionados, começaria a violar a distinção entre Poder espiritual e Poder temporal, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo (11). Sem negar, portanto, a possibilidade histórica de uma situação crítica excecional que colocasse a CNBB na contingência de assumir tal encargo, é lícito, mais do que . isso, é indispensável, perguntar se tal é a presente configuração dos fatos. Em termos mais incisivos, mas ante os quais não é possível recuar, é o caso de indagar se os três Poderes oficiais - Executivo, Legislativo e expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada com o está em inúmeros documentos que artificio algum dos adversários p oderá corromper ou obscurecer" (Acta Sanctae Sedis, Typografia Polyglotta S.C. de Propaganda Fide, 1885, vai. XVIII , p. 169). Co ntrasta nd o com essa descrição, Mons . Angelo Dell'Acq ua, Substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, sublinha o fato de que "em conseqüência do agnosticismo religioso dos Estados" fico u "amo rtecido ou quase perdido na sociedade moderna o sentir da Igreja" (Carta ao Cardeal D. Carlos Carmelo de Vas-

Judiciário - se encontram em tão avançado declínio que os dois Poderes extra-oficiais - os Meios de Comunicação Social e a CNBB (IV e V Poderes) - possam e até devam exercer, em relação a eles, papel análogo ao dos todo-poderosos prefeitos de palácio na França medieval, ante a dinastia merovíngia decadente . Como bem concellos Motta, então Arcebispo de São Paulo , a prop ósito do Dia Nacional de Ação de Graças de 1956). Sobre o ass unto , ve r também Pu N10 CoRRtA DE ÜLIV EIRA , A cordo com o regime comunista: para a Igreja, esperan ça ou autodemo/ição.?, Edit ora Vera Cruz, São Pa ulo , 10.ª ed ., pp . 111-113 . ( 11) O tema das relações entre o Poder es piritua l e o Poder tempora l é la rga mente explanado no livro Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, Cap. IV , pp. 67 a 75 .

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O presente livro é um apelo para que as elites em letargo despertem de seu sono e abram 011 olhos para a situaçlo em que abobadamente se vl o deixando enlear. Se nlo o fizerem, nlo restaré outro remédio senlo pedir a Deus que tenha pena do Brasil. .. à vista do que possa acontecer. O sacrllego atentado contra e venerével Imagem de Nossa Senhora Aparecida, no dia 16 de maio de 1978, permanece como um aviso sombrio para o nosso Pais. A TFP foi das poucas organizações que tomou realmente a sério esse sinal, e promoveu uma peregrinaçlo de desagravo ao Santuério da Padroeira do Brasil.

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'


Parte I

Tal situação de nenhum modo se configura no Brasil atual

O que podem fazer os três Podere s? Fec har as CEBs? Cercear a CNBB?

Capítulo li

se sabe, por detrás do diáfano velame do poder merovíngio em vias de extinção, era de fato o poder emergente dos prefeitos de palácio que decidia tudo . Tal situação de nenhum modo se configura no Brasil atual. De sorte que a relação roi fainéant-prefeito de palácio só teria condições de se formar caso os detentores dos Poderes I, II e III quisessem livremente resignar-se a uma passividade "merovíngia" diante da avançada dos Poderes IV e V . Mas - objetará alguém - o que podem os três Podere~ oficiais neste momento de convergência dos dois Poderes extra-oficiais? Fechar, por exemplo, as Comunidades de Base? Cercear a liberdade da CNBB e dos Meios de Comunicação Social? Tudo isso seria pelo menos inábil e até contraproducente (12).

(12) Cfr. Pu NJO C oR R~A DE OuvEJR A, A Igreja ante a escalada da ameaça comunista Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera Cruz, São Paulo , 4.ª ed., 1977, p. 82; PUNJO C ORR~A DE ÜU VE JRA E C ARLOS PATR JCJO DEL C AM PO, Sou católico: p osso ser contra a Ref orma Agrária?, Editora Vera Cruz, São Paulo , 3.ª ed ., 198 1, p. 72.

Bastará que as elites dirigentes do País despertem de seu letargo e abram os olhos para a situação, na qual abobadamente se vão deixand o enlear, para que a fina sensibilidade tática dos Poderes extra-oficiais os faça tomar outros rumos . E também para que os Poderes oficiais encontrem am biente para se defender de modo cômodo, embora dentro da estrita conformidade com as leis vigentes. O presente livro é um apelo para que abram os olhos as elites em letargo. E estas, em rigor de justiça, só podem ver nele um gesto de colaboração da TFP, um testemunho de apreço ao prestígio que elas têm junto ao País, e à nobre missão natural que lhes cabe no organismo social. Só poderá este livro desagradar aos que não queiram ser despertados de seu delicioso sonho. Ou, então, a quem não deseje que eles abram os olhos. Se estes últimos forem muitos, e conseguirem manter em letargo as elites nacionais, não restará outro remédio senão pedir a Deus que tenha pena do Brasil. .. Pois só Ele pode salvar uma nação cujas elites optam pelo sono.

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Que as elites despertem de seu letargo


entrRE curo I

CGC \'9Slõ.,

Sent IRe cum · Rom~JJO Pont1~" rc-e, SentIR€ çum

ep1scopo. . .~.

• A,té elas belíssimas máximas.

>adem ser entendidas de modo de or


A intelecção defarmada do tríplice "sentire" ("cum Romano Pontífice", "cum Episcopo", "cum Parocho") favorece largamente a eficácia da ação reformista da CNBB


~

Pressão de cúpula e pressão de base se conjugam

E

NATURAL que um leitor embalado no letargo atrás descrito, se sinta em presença de um como que pesadelo, ao ler os Capítulos anteriores. Pesadelo tanto mais desagradável quanto apresenta desde logo, aos olhos dele, vários aspectos de óbvia verossimilhança com a realidade, no que toca à pressão de cúpula dos dois Poderes extra-oficiais sobre os três oficiais. Mas também de sensí- , vel inverossimilhança em muito do que foi dito sobre a pressão de base promovida pela CNBB atr~vés das CEBs. Com efeíto, não é fácil imaginar que, simplesmente por meio das CEBs, possa a CNBB levar a uma avançada geral contra o regime de propriedade atualmente em vigor, a imensa massa dos trabalhadores manuais do Brasil. E isto em tempo bastante curto para favorecer as grandes reformas sócioeconômicas cuja urgência o V Poder proclama com insistência.

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Demonstrar a viabilidade de tal tarefa é pois essencial para que, por sua vez, pareça viável o conjunto do plano reformista arvorado pelo V Poder, e o leitor sinta que não está diante de uma quimera. E assim reaja. Da demonstração disto se desempenharam Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sergio Solimeo com profundidade, acerto e esmero, como o leitor comprovará na Parte II do presente trabalho. Aqui apenas toca dar uma vista sumária do contexto no qual se · insere a impressionante realidade descrita na Parte II, a fim de assim encaminhar o leitor para outras considerações ainda.

* * * As Comunidades Eclesiais de Base são grupos recrutados o mais das vezes por elementos do Clero secular e

Provas: a Parte II do presente trabalho


A influ ência do Clero: o "se ntire cum Romano Pontífice"

regular, por Ordens e Congregações religiosas femininas, entre os católicos mais atraídos pelo tema religioso, que precisamente por o serem, se acercam sponte sua dos representantes qualificados da Igreja. A própria posição religiosa desses fiéis os torna peculiarmente receptivos a todo ensinamento, a toda diretriz

emanada da Autoridade eclesiástica. Compenetrados, a justo título, dos dogmas do Primado do Soberano Pontífice e da Infalibilidade Papal, definidos por Pio IX em 1870, no Concílio Vaticano I, a deficiente formação religiosa deles leva-os entretanto a atribuir a estes dogmas uma extensão que de fato eles não têm (1).

(1) A Constituição Pastor Aeternus, do Concílio Vaticano 1, estabelece as condições necessárias para o exercício da infalibilidade nas definições pontifícias. O Papa é infalível "quando fala ex cathedra. isto é, quando, no uso de sua prerrogativa de Doutor e Pastor de rodos os cristãos, e por sua suprema autoridade apostólica, define a doutrina que em matéria de Fé e Moral deve ser sustentada por toda a Igreja" (DENZINGER-ÜMBERG, Enchiridion Symbo lorum , Herder, Barcelona, ed . 24, 1946, n. 0 1839). São quatro , porta nto, as condições necessá rias para que haja um pronuncia mento infalível do Papa ( classificado por teólogos como Magistério Pontifício extraordinário):

1. 0 ) que ó Papa fale como Doutor e Pastor universa l; 2. 0 ) que use da plenitude de sua autoridade apostólica; 3. 0 ) que manifeste a vontade de definir; 4. 0 ) que trate de Fé e Moral. Faltando uma dessas quatro condições, o pronunciamento papal não é por si próprio infalível. Mas o ensinamento pontifício infalível pode dar-se a inda no Magi tério ordinário (isto é, o Magistério comum do Papa, em que cada pronunciamento não é de si infalível, como sucede geralmente nas Encíclicas, Alocuções etc.). Assim, quando uma larga série de Papas ensina a toda a Igreja, constantemente e por



Parte I

"Sentire cum Episcopo", "sentire cum Parocho"

Capítulo III

Ademais, compenetrados, também a justo título, da santidade da Igreja, imaginam tais fiéis importar em ato de impiedade o simples admitir que o relacionamento entre o Papa e os Bispos, os Bispos e o Clero, e, de modo geral, o procedimento deste para com os fiéis, possa não corresponder muito exatamente ao que seria ideal. Daí decorre imaginarem eles que todas as intenções do Sumo Pontífice, todo o seu modo de considerar a realidade presente, e todos os seus atos concretos se beneficiam da infalibililongo tempo, a mes ma doutrin a como integrante da Doutrina re ve lada , deve-se a dmitir a infalibilidade d e ta l Magisté ri o, pois, d o contrá rio, induziria a Igreja e m erro (cfr. J osEPH us A. DE ALDAMA S.J. , Mariologia, in Sacrae Theologiae Summa, BAC, M a triti , 1961. vo l. III , p. 41 8). Segundo a fórmul a cláss ica d e São Vicente de Le rins, o católico deve crer naquilo que foi ensinado se mpre, e m todos os luga res e por todos: "quod semper, quod ubique, quod ab omnibus". Pois falharia a ass istê nci a do Espírito Santo à Igreja se uina doutrina ensinada sob essas três co ndições pudesse ser falsa. Os teólogos enumeram ainda vários outros casos em que pod e oco rrer um ensinamento infalível do Papa: as canonizações (sempre), a Liturgia, as leis ecles iás ti cas, a a pro vação de Reg ras de Ordens e Co ng regações religiosas . O que se di z do ensinamento pa pa l, a plicase também ao e nsiname nto un â nime dos Bispos em união com o Papa . Assim , o pronunciamento solene dos Bis pos em união com o

dade. Que, analogamente, todos os Bispos, na mais perfeita união com o Papa , não fazem senão acatar com a mais entusiasmada e perfeita meticuPapa -

Magisrério Universal exrraordinário

- é ta mbé m por si próprio infalível. Entreta nt o . no Magisrério Un iversal ordinário, ist o é, n o Magistério co mum d os Bis pos em uni ão co m o Pa pa, cada pronunci a mento não é de si in fa lí ve l. Ê p oss íve l que a lgum documento pontifício o u conciliar se oponha frontalment e a e nsinamentos infalíve is do passado? Ê evidente qu e, se o novo pronuncia mento é ta mbé m in fa lí ve l, ta l o posição não pode existir. Mas se não o é, a utores de peso - como S ão Robe rto Bellarmino, Suarez, Melchior Cano, Domingos Soto - encaram tal hipótese como teologicamente possível. E é m a nifesto que o cató1ico d eve ria então perma necer fiel à doutrin a infalíve l. Essa hipótese leva ria os estudiosos à qu es tão multi-secula r, e m que se e mpe nhara m es pec ia lme nte os ma io res teó logos d os Tempos Modernos, da poss ibilidad e de um Papa herege (cfr. AR NA LDO V . XAVIER DA SILVEIRA, Qual

a auroridade dourrinária dos documenros p onrifícios e conciliares?, "Catolicismo", n .ú 202. outubro de 1967).

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A ré com o sacristão ...

losidade todos os ensinamentos e ordens emanadas de Roma. E que o mesmo fazem os Sacerdotes em relação aos Bispos, e as Religiosas em relação aos Sacerdotes. Essa concepção, sem dúvida louvável quanto ao espírito de fé do qual procede, tem como recíproca que toda palavra de um Sacerdote, e até mesmo de uma Freira, deve ser acatada como se fosse da própria Igreja! Dessa maneira, a máxima santa e verdadeira do "sentire cum Romano Pontífice" - maneira excelente de "sen tire cum Ecclesia" - é muito simplisticamente (simploriamente, talvez fosse melhor dizer) transposta para todo e qualquer ato pessoal do Papa. E depois, analogamente, para o escalão imediato: "sentire cum Episcopo". E ainda para o escalão paroquial: "sentire cum Parocho". "Sentire" até com o sacristão, disse certa vez um católico praticante, que exerce de modo idôneo uma função profissional de responsabilidade , tem traquejo da vida, e olhos para ver. .. *

Lu rra o

v Poder

A TFP as descreve com o são

*

*

Com a imensa influência que esse tríplice e hipertrofiado "sentire" lhes confere sobre a maior parte dos mais ardorosos dentre seus fiéis , o Sacerdote ou a Religiosa inteiramente afinados com as diretrizes da CNBB 66

podem fa cilmente levá-los às posições ideológicas mais inesperadas. E até às mais dissonantes com o que é o ensino tradicional e infa lível da Santa Igreja (2). A ação normal do Clero vai de fato muito além dos simpáticos núcleos de fervorosos. Por meio de sermões, da confissão, das múltiplas relações pessoais a que o exercício do Sacerdócio dá lugar, é-lhe possível influenciar uma quantidade indefinida de pessoas. E sua ação é ainda mais ampliada pelas escolas de todo grau, orfanatos, instituições de caridade e outras obras mantidas e dirigidas pela Igreja. Em todo esse público, muitas pessoas há que, mais fervorosas ou menos, supõem entretanto que a plena fide-lidade à Igreja consiste em praticar esses três "sentire" exatamente como acima descritos . O que , por sua vez, leva a que junto a um número muito grande de pessoas, o prestígio da Igreja - certamente menor do que entre os fervorosos, mas nem por isto inexistente - possa ser instrumentalizado pela ação de um Sacerdote ou de (2) Ou seja, as definiçõ es impostas a tod os os ca tólicos pelo Supremo Magistério, bem como o ensinamento uniforme d o seu M agistéri o ordinário e universa l no decurso dos séculos (cfr. OE NZINGER-UMB ERG, Enchiridion Symbolorum, Herder, Barcelona, ed. 24, 1946, n. º s 1683 e 1792).

Influência de amp litude indefinida


Capítulo l/1

A influência normal do Clero, que se exerce por meio de sermões, da confissão, das múltiplas relações pessoais a que o exercício do Sacerdócio dé lugar, é acrescida pela verdadeira "reciclagem" doutrinéria e psicológica imposta pela CNBB à massa da população através da obrigatoriedade dos cursos de preparação para noivos e para padrinhos de batizado.

uma Freira. Por vezes até mediante um simples conselho, uma palavra, um aceno ... Pode-se compreender facilmente a que espantosas conseqüêccias conduz em nossos dias o "jogo" desse tríplice "sentire", entendido com tais impre-

cisões e extensão; e qual a amplitude indefinida dos círculos de influência que um Sacerdote pode desta maneira exercer. Tal influência é ainda acrescida pela verdadeira "reciclagem" doutrinária e psicológica imposta pela CNBB à massa da população, pela obrigatoriedade dos cursos de preparação para noivos, como para padrinhos-de batizado. Nesses cursos, as doutrinas progressistas e esquerdistas podem ser livremente inculcadas em nome da Religião, em pessoas que tinham anteriormente uma formação católica tradicional. Quem não segue tais cursos fica em situação análoga à de um excomungado, pois sofre a punição de não poder casar-se, de não poder ser padrinho de batizado etc. (cfr. Parte II, Cap. 1, 3). Esse draconianismo religioso é exatamente o contrário do ecumenismo tão freqüente na "esquerda católica" e nos meios progressistas. E - note-se - deixa a Igreja em situação confusa. Pois enquanto têm caído vertiginosamente os costumes, e as leis discriminatórias entre católicos e hereges vão desaparecendo, cada vez mais se vai apertando o cerco contra os que permanecem fiéis à doutrina tradicional. O que, tudo, favorece largamente a ação reformista da CNBB.

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A "reciclagem" doutrinária e psicológica imposta aos fiéis




A maior crise da História da Igreja

J o ã o Paul o li: "foram difundidas verdadeiras heresias"

C OMO

ninguém ignora, a Igreja atravessa em nossos dias a maior crise de sua venerável existência, vinte vezes secular. E nessa crise estão compreendidos, não só fiéis, como também Religiosos de ambos os sexos, Sacerdotes, e altos Prelados ( I ). Tal realidade encontra eco em mais de um documento pontifício. João Paulo II assim descreveu a desolação hoje reinante na Igreja: "É necessário admitir realisticamente e com profundá- e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até (1) Quanto a essa crise no Brasil , cfr. Pu-

A Igrej a ante a escalada da ameaça comunista - Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera Cruz, São Paulo , 4.• ed., 1977; Pu N10 C o RR l:.A DE Ouv EIRA, Tribalismo indígena, ideal comuna-missionário para o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São Paulo, 7.• ed ., 1979. NIO CoRR l:.A D E Ou vEIR A,

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desiludidos: foram divulgadas prodigamente idéias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no 'relativismo' intelfctual e moral e por conseguinte no permissivismo, os cristãos sãc tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva" (Alocução de 6 de fevereiro de 1981, aos Re_ligiosos e Sacerdotes participantes do I Congresso nacional italiano sobre o tema Missões ao povo para os anos 80, "L'Osservatore Romano", 7-2-81). João Paulo II parece não fazer senão comentar anteriores afirmações de Paulo VI. Em Alocução aos alunos do Seminário Lombarda, em 7 de dezembro de 1968, disse o Pontífice: A

Paulo VI:" A Igreja é golpeada também pelos que dela fazem parte"


Igreja atravessa hoje um momento de inquietude. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição. É como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão serena dos conceitos amadurecidos na grande assembléia conciliar. Há ainda este aspecto na Igreja, o do florescimento. Mas posto que 'bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu', fixa-se a atenção mais especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que dela fazem parte (/nsegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 1188 destaques nossos; as palavras não são textuais do Pontífice e sim do resumo que delas apresenta a Poliglotta Vaticana). Paulo VI volta ao tema na Alocução Resistite fortes in fide, de 29 de

junho de 1972 (as palavras textuais do Pontífice são apenas as citadas entre aspas no resumo da Alocução apresentado pela Poliglotta): Referindo-se à situação da Igreja de hoje, o Santo Padre afirma ter a sensação de que "por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus". Há a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a insatisfação, o confronto. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro profeta profano [estranho à Igreja] que nos venha f alar, por meio de algum jornal ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntar-lhe se tem a fórmula da verdadeira v,da. E não nos damos conta de já a possuirmos e sermos mestres dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que deviam estar abertas à luz. Da ciência, que é feita para nos oferecer verdades que não afas71

Paulo VI: ~a fumaça de Satanás no templo de Deustt


A bela Imagem da Virgem das Légrim as, da Basflica de Sl o Joio de Deus em Granada (E spa nha), verteu lágrimas de sa ngue, no dia 13 de m eio deste ano. Possam es sas lágrimas de Rainha e Mie penetrar os nossos corações, e fazer-nos \ ~ encarar com uma · , { ) seriedade superla• • tiva a gravidade dos 1

\ º_ 1

,:

· fenômenos da autodemolíção" da Igreja e da penetraçlo da "fumaça de Satanás no Templo de Deus".

tam de Deus, mas nos fazem procurá-10 ainda mais, e ainda mais intensamente glorificá-10, veio pelo contrário a crítica, veio a dúvida. Os cientistas são aqueles que mais pensada e dolorosamerzte curvam a fronte. E acabam por revelar: "Não sei, não sabemos, não podemos saber". A escola torna-se um local de prática da confusão e de contradições, às vezes absurdas. Celebra-se o progresso para melhor poder demoli-lo com as mais estranhas e radicais revoluções, para negar tudo aquilo que se conqÚistou, para voltar a ser primitivos, depois de ter exaltado tanto os progressos do mundo moderno.

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Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concilio, viria um dia ensolarado para a História da Igreja. Veio, pelo contrário, um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de ince,:teza. Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos cavar abismos, em vez de soterrá-los. Como aconteceu isto? O Papa confia aos presentes um pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. O seu nome é diabo, este misterioso ser a que também alude São Pedro em sua Epístola [ que o Pontífice comenta na Alocução]. Tantas vezes, por outro lado, retorna no Evangelho, nos próprios lábios de Cristo, a menção a este inimigo dos homens. "Cremos - observa o Santo Padre - que alguma coisa de preternatural veio ao mundo justamente para perturbar, para sufocar os frutos do Concilio Ecumênico, e para impedir que a Igreja prorrompesse num hino de alegria por ter readquirido a plenitude da consciência de si" (/nsegnamrnti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. X, pp. 707-709). Se a Sagrada Hierarquia reagisse unânime, compacta e claramente, contra essa situação trágica, o quadro da realidade religiosa contemporânea se nos apresentaria límpido e simples de


Capítulo I V.

Parte l

Personalidades dL1 Hierarquia cooperam com o invasor da cidadela sagrada

descrever: os Hierarcas resistindo como um torreão fortificado da cidadela sagrada, ajudados por número maior ou menor de leigos, de um lado; e, de outro lado, os invasores que irromperam muralhas a dentro, e empenham todos os seus esforços no assalto supremo. Basta correr os olhos sobre a Cristandade de nossos dias para perceber desde logo que tal não é o quadro. E que, a se utilizar a metáfora do torreão e da cidadela, deve-se dizer que partes do torreão também já estão em mãos do adversário. Ou seja, personalidades da Sagrada Hierarquia ressalvadas as intenções! - cooperam com o mvasor. É fácil avaliar que desolador efeito isso pode ter especificamente no Brasil. Considere-se que todo personagem hierárquico constitui, para incontáveis católicos brasileiros, a imagem fide líssima do R omano Pontífice, e se aquilatará a que prodigiosa confusão conduz inevitavelmente, em nossos dias, o princípio do tríplice "sentire".

* * * Teologia da Ubertação

Ao serviço dessa confusão está uma corrente de teologia, dita "da libertação". Não é este o lugar de lhe expor na íntegra o conteúdo doutrinário. Basta dizer sumariamente que, alentada na Conferência do Episcopa-

Uma igreja semidestrulda. A destruição é triste . Quanto m ais a autodestruiçilo l

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As CEBs ... das quais muito se fa la. pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Em sua Alocução de abertura da Ili Conferência do Episcopado Latino-Americano em Puebla (México), Joi o Paulo .li condenou a doutrina da Teologia da Libertação que apresenta No110 Senhor Jesus Cri_sto "como po/ltico, revolucionário, como o subversivo de Nazaré" .

do latino-americano em Medellin, em 1968 (2), e explicitada pelos teólogos Gustavo Gutiérrez e Hugo Assmann, ela se expandiu largamente em círculos teológicos de todo o mundo. E que sua doutrina procura dar fundamento na Sagrada Escritura, aos erros veiculados por duas correntes doutrinárias

distintas, mas intimamente conjugadas entre si. Uma é constituída pelo progressismo no campo da Teologia, da Filosofia e da Moral, com os conseqüentes reflexos entre os estudiosos do Direito Canônico, da História Eclesiástica etc. E a outra pelo esquerdismo no campo

(2) Afirma o PE. 8 ATIISTA MoNDIN (professor na Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma e colaborador habitual de "L'Osservatore Romano"): " O primeiro impulso para a

lib erração adquiriu o seu direito de cidadania. Se não é p ossível afirmar que nasceu naquela ocasião, devemos todavia notar que esta circunstância marcou sua acolhida oficial e deu o impulso ao futuro movimento e trabalho teológico na prospectiva da lib ertação .... É, pois, a partir de Mede/lín que o empenho, a reflexão teológica e a m esma produção literária sobre o tema da libertação não só se tornam explícitas como também se intensificam" (Acquisizioni e compiti dei/a teologia latinoamericana, "Concilium", n.0 4, 1974, p. 154

elaboração de uma teologia da libertação foi dado pela célebre conferência do episcopado latino-americano realizada em Medel/ín em 1968. Naquela circunstância a Igreja da América do Sul lançou as bases da teologia da libertação" ( Os teólogos da libertação, Edições Paulinas, São Paulo , 1980, p. 30). No mesmo sentido escreve RA UL VmALEs, na revista "Concilium": "Foi no encontro do

CELAM, em Mede/lín (1968) que a teologia da

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- apud PE. BATIISTA MoNDIN, op . cit., p. 30, nota 9).

Pr og re ss ism o esquerdismv


Parte/

da sociologia católica, também com reflexos conseqüentes nos estudos de Economia e de Política promovidos sob a influência católica, bem como na vida, no pensamento e na ação das correntes políticas denominadas "democratas-cristãs", "socialistas cristãs", "socialistas católicas" etc.

* * * A Teologia da Libertação a serviço da autodemolição

A doutrina da Teologia da Libertação foi condenada sem rebuços por João Paulo II em sua Alocução de Puebla (3). Não obstante, ela continua a se expandir tranqüilamente por todo o Brasil. Tal "teologia" põe ao alcance dos vários escalões eclesiásticos que a quei(3) São palavras do Pontífice: "Circulam hoje em muitos lugares - o fenômeno não é novo - 'releituras' do Evangelho, resultado de especulações teóricas mais do que de autêntica meditação da palavra de Deus e de um verdadeiro compromisso evangélico. Elas causam confusão ao se apartarem dos critérios centrais da Fé da Igreja, caindo-se ademais na remeridade de comunicá-las, à maneira de catequese, às comunidades cristãs. Em alguns casos, ou se silencia a divindade de Cristo, ou se incorre de/ato em formas de interpretação conflitantes com a Fé da Igreja. Cristo seria apenas um 'profeta', um anunciador do Reino e do amor de Deus, porém não o verdadeiro Filho de Deus, nem seria portanto o centro e o objeto da própria mensagem evangélica.

Em que pese a advertência de Joi o Paulo li, a Teologia da Libertação continua faze ndo suas devastações: na Revolução Sandinista da Nicarágua, cujo caráter marxista nAo chegou a ser disfarçado, a participação de freiras foi ostensiva, como esta que ajuda um guerrilheiro ferido em Matagalpa .

Em outros casos se pretende mostrar a Jesus como comprometido politicamente, como um lutador contra a dominação romana e contra os poderes e, inclusive, como implicado na luta de classes. Esta concepção de Cristo como político, revolucionário, como o subversivo de Nazaré, não se compagina com a catequese da Igreja. Confundindo o pretexto insidioso dos acusadores de Jesus com a atitude de Jesus mesmo - bem diversa - se aduz como causa de sua mbrte o desenlace de um conflito político e se silencia a vontade de entrega do Senhor, e ainda a consciência de sua missão redentora" (lnsegnamenti di Giovanni Paolo li, Libreria Editrice Vaticana, vol. II, 1979, pp . 192-193). E mais.adiante: "Percebe-se, às vezes, certo mal-estar relacionado com a própria interpre-

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As CEBs ... das quais muiro se fala, pouco se co nhece -

A TFP as descreve como são

ram usar, os textos da Escritura que, por ela interpretados, podem servir de base para a atuação dos elementos afinados com o programa reformista da CNBB. E pode, assim , transformar os leigos em artífices dessa reforma,

tação da natureza e da missão da Igreja. A lu-· de-se, por exemplo, à separação que alguns estabelecem entre Igreja e Reino de Deus. Este, esvaziado de seu conteúdo total. é entendido em sentido mais bem secularista: não se chegaria ao R eino pela Fé e pela pertencença à Igreja, mas pela simples mudança estrutural e pelo compromisso sócio-político. Onde há um certo tipo de compromisso e de praxis pela j ustiça, ali estaria iá presen te o Reino. Esquece-se, deste modo. que 'a Igreja .... recebe a missão de anunciar o R eino de Cristo e de Deus, e instaurá-lo em todos os povos, e constitui na terrà o germe e o princípio desse Reino' (Lumen Gentium, n. 0 5)" (op. cit., p. 197 - cfr. também PU NIO CoRR Í:A DE ÜLIV EIRA, A mensagem de Puebla: notas e comentários, "Folha de S. Paulo", 26-3-79; 7, 14 e 26-4-79; 19-5-79).

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na medida mesma em que eles seJam sensíveis à voz da Igreja! Tantas potencialidades de ação suscitadas ou estimuladas pelo progressismo pedem , por sua própria natureza, uma organização que dê, no

plano concreto, unidade de metas e de métodos aos clérigos e fiéis engajados no empreendimento de "reformar o Brasil". Esta organização é constituída pelas CEBs.

* * * Tudo isto faz ver quanto de seiva vital circula nas CEBs. A Parte II do presente trabalho mostra a doutrina disseminada por estas, sua organização, seus métodos para recrutamento de aderentes, e para a ação desses aderentes sobre o conjunto do corpo social.

Ourro insrrumende autodemolição: as CEBs sua eficácia

10


Parte I

Capiwlo I V

Assim o leitor poder~ inteirar-se da envergadura do organismo enquanto tal, e da eficácia de que é dotada a sutil e complicada metodologia que a este cabe pôr em ação. E, conseqüentemente, de todas as possibilidades de êxito que as CEBs levam consigo , ani-

madas e apoiadas que são pela CNBB em todo o território nacional. O leitor poderá tomar conhecimento , na mesma Parte II deste trabalho, de algo do histórico das CEBs no Brasil, e dos resultados que estas proclamam ter alcançado.

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Capítulo V 1 . .

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A Teologia da Lib e rra ç ã o. " reinterpreta" as Escrituras ...

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OMO se viu (cfr. Parte I, Cap. IV), está na Teologia da . Libertação a motivação religiosa da dedicação que os membros de primeiro, de segundo, e até de terceiro escalão - Bispos, Sacerdotes e leigos - votam às CEBs. Se eles recrutam, articulam, organizam e dão impulso a estas, é essencialmente porque, em via de regra, numa primeira etapa se lhes persuadiu de que a doutrina da Igreja em matéria social - e, conseqüentemente, a atuação da Igreja face às

situações sócio-econômicas contemporâneas - mudou, por efeito de uma interpretação mais fina , sutil e plástica dada à Sagrada Escritura por João XXIII e Paulo VI , e que João Paulo II vem continuando a desenvolver ( l). Mas aos que caminharam mais longe nessa trajetória, as coisas se apresentam posteriormente de outra manein. Medellin e Puebla denunciaram uma "realidade" vista enquanto situação de pecado, de opressão e

(1) De que modo possa dar-se isto sem prejuízo da coerência entre Papas e Papas imprescindível, J,'l que uns e outros são mestres autorizados e, conforme as circunstâ ncias , até infalíveis do inva riável ensina mento de Nosso Senhor J es us Cristo ("Jesus Christus

ma m categoricamente que os Papas tradicionais erraram. O .único meio de se desembaraça r desta dificuldade consiste em escamoteála. E, por sua vez, o único meio de escamoteála consiste em qualifica r como mera diferença de matizes o contraste entre os ensinamentos sócio-econô micos tradiciona is da Igreja e os da Teologia da Libertação. Formulaçã o vaga, e por isto mesmo ambígua, especialmente inaceitável em se tratando de matéria que não permite a menor ambiguidade. Ora, o que

heri et hodie, ipse et in saecula: Jesus Cristo ontem e hoj e, ele mesmo sempre por todos os séculos", Heb. XIII , 8) -

é esta uma objeção das mais embaraçosas para a Teologia da Libertação como para as C EBs, que não afir-

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Medellin e Puebla


de injustiça estrutural. Esta "visão da realidade" serve de base para a interpretação da doutrina católica e para a fixação do rumo da Igreja, o qual só pode ser um: combater a situação de pecado institucionalizadu nas estruturas sócio-políticas, econômicas e culturais da América Latina. Tornando essa "realidade" assim arbitrária e simplisticamente descrita como "lugar social" a partir do.qual se devem interpretar as Sagradas Escrituras, esses neo-exegetas deduzem que

a Igreja não deve manter o statu quo atual, corrigindo-o apenas no necessário, pois nisso ela continuaria a pregar uma "religião alienante". Pelo contrário, ela deve ser revolucionária, pregando uma religião libertadora, cuja ação específica é, na prática, a derrocada do statu quo atual. Essa é a interpretação que a Teologia da Libertação faz de Medellin. Segundo ela, a realidade atual, conflitiva, dialética, marcada pela luta opressor x oprimido, dá origem a uma

vem a ser precisamente um "matiz", em matéria como esta? A própria palavra matiz comporta tantas matizações ... Entretanto , qualquer sentido que se lhe dê, cumpre ponderar que nenhum há que se ajuste a diferenças - ·melhor seria dizer contradições tão evidentes como as que existem entre a Teologia da Libertação e o ensino tradicional do Supremo Magistério da Igreja. A gravidade de tal contradição fê-la notar João Paulo II em sua já citada alocução de Puebla, na abertura

da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (cfr. Parte I, Cap. IV , Nota 3). Nada disto impediu , entretanto, como foi lembrado (Parte I, Cap. IV), que a Teologia da Libertação tivesse continuado a vicejar e até a prosperar impunemente nas CEBs , a ponto de constituir a grande motivação essencial de seus dirigentes e de seus militantes , os quais , por sua vez, a vão inoculando gradualmente, e de início implicitamente, nos respectivos recrutas .

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A Teologia da Libertação induz a Jazer política p or razões religiosas


As CEBs ... das quais mui10 se fala . pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

nova interpretação da Escritura, do Dogma, da Moral, e portanto da Justiça. Em virtude dessa reinterpretação, a Teologia da Libertação induz a fazer política por razões religiosas (prática da justiça, amor de Deus, libertação do mundo sujeito ao pecado) e chega à seguinte concl usão: visto sob o prisma político, o amor de Deus é, por sua vez. um ato político, e se pratica pelas reformas de estrutura (cfr. Parte II, Cap. li, 1).

.• * * Revolução religiosa e revolução a1éia

Mais eficaz a revolução religiosa

Tudo isto ponderado, e dada a grande afinidade do pensame nto só:.. cio-econômico existente entre as CEBs e as correntes socialistas ou comunistas do Brasil ou de qualquer outro país, é-se levado a concluir que, grosso modo, a revolução sócio-econômica promovida por estas e a das CEBs são uma só. Diferencia-as apenas a natureza das respectivas motivações filosóficas e religiosas. O dirigente, militante ou recruta das CEBs deduz da Religião (reinterpretada pela Teologia da Libertação) as l'Onclusões sócio-econômicas que o PC e o PS deduzem da irreligião. Essa revolução religiosa e a revolução atéia têm, no mais, tudo ou quase tudo para se irmanarem largamente no campo da ação. Entretanto, esta fundamentação religiosa da revolução confere às CEBs, 82

Na foto, um circulo de estudos do IV Encontro lntereclesial de CEB s, realizado em ltaici, em abril deste ano. - A motivaçllo fundamentalmente religiosa das CEB s lhes dá uma possibilidade de êxito que o comuni smo nl o tem. Este fez vencer uma revoluçllo atéia, derrubou igrejas (como esta , ao lado, no Vietnll), mas nllo matou a Religião. As CEBs, pelo contrário, fazem uma revolução em nome da Religillo, e trabalham pela vitória - no próprio interior da Igreja - do laicismo pregado pela Teologia da Libertação.

no mundo de hoje, características próprias e vantagens específicas, que a revolução atéia não possui. Cumpre dizer aqui uma palavra sobre o tema. A motivação religiosa da subversão das CEBs lhes dá uma possibilidade de êxito, pelo menos a longo prazo, que Lênin não teve.


Parti! l

Capitulo V

Com efeito, este fez vencer uma revolução atéia, porém não matou a Religião. E nem incutiu na alma popular verdadeira apetência pela ordem coletivista. A prova disso é a contínua repressão policial exercida na Rússia contra a expansão religiosa, bem como contra a propagação de qualquer doutrina contrária ao comunismo. Pelo contrário, as CEBs fazem uma revolução em nome da Religião, e trabalham para a vitória de um !ai-

cismo ( ou seja, de uma forma de ateísmo), pregado pela Teologia da Libertação (cfr. Parte II, Cap. II, !).

* * * Assim posta no devido realce a motivação fundamentalmente religiosa da revolução que as CEBs querem promover, pode-se afirmar que esta constitui uma guerra psicológica revolucionária movida contra as elites do País. A guerra psicológica pode ser muito sumariamente definida como um conjunto de operações psicológicas destinadas a atuar sobre o ânimo do adversário, de sorte a levá-lo à capitulação antes mesmo que qualquer operação o tenha derrotado pela força. A guerra psicológica pode ser conduzida, quer contra um inimigo externo, quer contra o adversário interno. Ela assegura ao atacante as vantagens da vitória sem os esforços, os gastos e os riscos da guerra. A guerra psicológica pode ser desenvolvida simultaneamente com a guerra convencional (2).

(2) A existência da guerra psicológica é reconhecida tanto por especialistas do Ocidente, como por comunistas: Diz o Marechal soviético Nikolay Bulganin: "A guerra moderna é uma guerra psico-

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A guerra psicológica revolucionaria m ovida p elas CEBs


As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece Não exclui avioléncia

A TFP as descreve como são

Não se pens·e, aliás, que· a guerra psicológica exclui inteiramente o emprego da força. Pois a intimidação do adversário faz parte de tal guerra, e certas operações de força ("invasões de terras", sabotagens, atentados, seq üestros, motins etc.) podem intimidar, e levar à capitulação a classe social que se queira derrubar. · Assim vistas as coisas, pode-se afirmar que a lqnga série de desordens de todo gênero, e até mesmo de guer-

lógica, devendo as Forças Armadas servir apenas para deter um ataque armado ou, eventualmente, para ocupar o território conquistado por ação psicológica" (apud H ERMES DE ARAÚJO OLIVEIRA, Guerra re volucionária, Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1965, p. 60). T ERENCE H. Q uALTER, da Universidade de· Waterloo (Iowa), Estados Unidos, observa: "Originariamente, a guerra psicológica era planejada como uma preliminar da ação militar, com o objetivo de desmoralizar os soldados inimigos antes que o ataque f asse lan çado, ou como aux iliar da ação militar, apressando e reduzindo os crlS/os da vitória. Hoje ela se tornou um substituto da ação militar. .... Uma derrota na guerra fria p oderia ser tão real e tão definitiva quanto uma derrota militar, e, certam ente, seria seguida da derrota militar" (Propaganda and Psycho/ogical Warfare, Random House, New York, 1965, pp. XII-XIII). O G ENERAL HuM BERTO B. MARTINS, Comandante da Academia Militar de Portugal, assim a apresenta: "Uma nova arma secreta foi encontrnda e é habilmente manejada pelos que

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rilhas sem qualquer forma sena de êxito, desenroladas na América do Sul no fim da década de 50 até meados da década de 70, não passaram de operações de guerra psicológica revolucionária destinadas a intimidar as elites, e fazê-las capitular ante revoluções armadas de esquerda, que ao longo desse período aqui e lá foram intentadas. Sobre este assunto é altamente coneludente o livro lzquierdismo en la lglesia: companero de ruta dei comu-

o show 1upama,o

f

pretendem alcançar a sua total hegemonia na Europa e na Ásia. As técnicas letais, baseadas fundam entalmente no estudo dos recursos de manobra psicológica das massas, são magistralmente reunidas em sistemas de forças convergentes que visam o aniquilamento da estrutura moral, econômica e militar das nações visadas en cada fase" (Prefácio do livro de HERMES DE ARAÚJO OLIVEIRA, Guerra revolucionária, Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1965, p. 21 ). É do especialista francês Maurice Mégret a observação de que "de Clausewitz a Lênin, a evolução das técnicas e o progresso das ciências psicológicas conspiraram para conferir à guerra psicológica os poderes quase mágicos de uma 'arte da subversão" (La guerra psicológica, Editorial Paidós, Buenos Aires, 1959, p. 31). Outro conhecido especialista francês, RoGER M UCCHIELI, acrescenta: "A concepção clássica fazia da sub versão e da guerra psicológica uma máquina de guerra entre outras, durante o tempo das hostilidades,

'9

-


Capítulo V

Parte 1

A violência, no caso concreto das CEBs

nismo en la larga aventura de los fracasos y de las metamorfosis, em que a TFP do Uruguai mostra como o terrorismo tupamaro não passou de um show, com a participação cúmplice dr importantes setores da Hierarquia e do Clero daquele país, para nele instaurar um regime socialo-comunista. A violência representa algum papel na guerra psicológica revolucionária das CEBs? Prova-o largamente o

estudo desenvolvi<;io na Parte II do presente trabalho. Nesse sentido a operação "pega-fazendeiro", aí aludida, constitui um sinal precursor bastante significativo (cfr. Parte II, Cap. III, 6). O papel esperado da forte e ágil engrenagem das CEBs não consiste em conquistar toda a massa que, dado o vulto da população brasileira - 120 milhões de habitantes - seria por demais longo influenciar.

e cessavam com o fim destas. Os Estados de hoje, imobilizados por esta distinção arcaica, não compreenderam que a guerra psicológica faz estourar a distinção clássica entre guerra e paz. É uma guerra não convencional, estranha às normas do Direito Internacional e das leis de guerra conhecidas; é uma guerra total que_ desconcerta os juristas e persegue seus objetivos ao abrigo de seus códigos . .... A guerra moderna é antes de Judo psicológica, e a relação com as armas clássicas está invertida. Hoje é o combate no campo (a guerrilha) que se tornou auxiliar da subversão ( La subversion, Bordas, Paris , 1972, pp . 26-27) . O mesmo Roger Mucchieli explica que "a subversão (tal é a denominação dada por ele ao que outros chamam guerra psicológica] não é uma agitação, nem mesmo uma propaganda política propriamente dita; não é uma conspiração armada nem um esforço de mobilização das massas. Ela é uma técnica de enfraquecimen/o do poder e de desmoralização dos cidadãos. Esta técnica é fundada no conhecimento das leis da psicologia e da psico-sociologia, porque visa tanto a opinião pública quanto o

poder e as forças armadas de que este dispõe. Ela é uma ação sobre a opinião por meios sutis e convergentes, como descreveremos. A subversão é, pois, mais insidiosa do que sediciosa. A ruína do Estado (quando se trata de subversão interna) ou a derrota do inimigo (quando se trata de subversão organizada do Exterior) são visadas e obtidas por vias radicalmen/e diferentes da revolução (entendida no sentido de levante popular) e da guerra (entendida no sentido de confronto entre exércitos adversários e de batalha territorial). O Estado visado afundará por si m esmo na indiferença da 'maioria silenciosa' (porque esta é w.1 produto da subversão); o exército inimigo cessará por si mesmo de combater, porque será completamente desmoralizado e desarticulado p"e/o desprezo que o cerca" ( op. cit. , p. 7). MAR1us TRAJANO T . NErro, do Exército brasileiro, conclui acertadamente que "a Guer-

ra Revolucionária é .... mui/o mais uma Guerra de Almas do que de Armas" (A guerra revolucionária e o misoneísmo, in "Military Review", edição em português, agosto de 1974, p. 53).

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As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Basta que essa engrenagem conquiste, um pouco por toda parte, alguns segmentos da massa, ainda que minoritários, para que a guerra psicológica revolucionária tenha êxito. Com efeito, bem adestrados, os componentes destes segmentos podem dar aos olhos do grande público por meio de manifestações de massa, de operações de sabotagem e de violência de várias ordens etc. - a impressão de que toda a massa operária está convulsionada. Reforçada essa impressão pelo noticiário sensacionalista de tantos meios de comunicação social, as elites indolentes se sentirão propensas a concessões ditas prudentes, e por fim à capitulação. Chegará até a guerra civil?

Pode a guerra psicológica revolucionária das CEBs degenerar em guerra civil? Isso depende da sedução que ela consiga exercer nos escalões inferiores das Forças Armadas. Bem como da confusão e do desalento em que consigam pôr elementos dos mais altos escalões, à vista do show bem organizado de um operariado "inteiro" revoltado contra a ordem sócioeconômica vigente.

* * * A guerra psicológica revolucionária constitui hoje em dia, como acaba

de ser lembrado (cfr. Nota 2 deste Capítulo), uma arma absolutamente equiparada às demais pelos entendidos. Desencadeada em nome da Religião, pode ela ser definida como uma cruzada? - Sim, uma estranha cruzada sem Cruz. Entretanto, uma guerra essencialmente subversiva dos verdadeiros elementos de ordem vigentes na sociedade, não é uma cruzada, mas antes uma contra-cruzada.

Guerra psicológica revolucionária desencadeada em nome da Religião...

... mas com um fim não religioso, e sim estritamente temporal

A contra-cruzada das CEBs falta aliás ... a característica religiosa. Pois, desencadeada, é verdade, por eclesiásticos, o fim dela não é religioso, mas estritamente temporal. De espírito essencialmente ecumênico, ela não visa o triunfo da Religião Católica sobre as igrejas e correntes que se lhe opõem, mas tão-só de uma justiça social concebida à maneira da Teologia da Libertação, dentro do âmbito meramente · temporal. Ademais, essa concepção de justiça social se aparenta bastante como há pouco foi lembrado - com a do próprio comunismo ... Nessa cruzada sem Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo é mencionado com certa freqüência pelas CEBs. Mas não como o Homem-Deus, e sim como um chefe revolucionário, um tanto guru, bem exatamente segundo a interpretação marxista da figura e do papel histórico do Messias, apresen-

Cruzada sem Cruz



As CEBs ... das quais mui/o se fala, p ouco se conhece -

A TFP as descreve como são

tada pela Teologia da Lil;>ertação (cfr. Parte 1, Cap. IV, Nota 3).

* * * Cruzada reformis. ra e polírica

Essencíalmente, as CEBs constituem uma cruzada política. Cruzada sem Cruz, como acaba de ser dito, pois sem embargo do seu fundamento religioso, e de apresentarem com linguagem "místic_a" os fundamentos éticos das transformaçõ.es sociais que propugnam, elas concebem de modo inteiramente secularizado o "Reino de Deus" que visam implantar. Cruzada

política, que não exclui a passagem da luta cívica legal para o campo da violência, sempre que não haja outro meio para implantar as reformas visadas. As CEBs introduzem, pois , no panorama político brasileiro, uma alteração fundamental. Em tal panorama só figuravam até aqui ·abertamente os partidos políticos. Estes têm em comum com as CEBs o fato de que fazem da política seu campo próprio de ação. Mas eles têm de diverso das CEBs duas características: l) de nenhum modo, e nem no mais extremo

Manifestaçlo em frente à .Igreja Matriz de Sl o Bernardo do Campo-SP.

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Alreração fundamenral no panorama polírico brasileiro


Capítulo V

Parte l

A s CEBs parecem ser a própria Igrej a em ação na política

A "libertação" que as CEBs preconizam

do seu horizonte, visam a violência; 2) haurem toda a sua força de seus próprios quadros. Pelo contrário, como até aqui se viu e em seguida ainda melhor se verá, as CEBs vivem de uma força institucionalmente alheia ao campo da política; ou seja, a CNBB. Entidade que, essencialmente representativa do Episcopado nacional, pertence ipso facto à ordem espiritual e não à ordem temporal. A importância da primeira característica (espiritual) é óbvia. Uma palavra cabe sobre o alcance da segunda (extra-temporal). Com efeito, é seu caráter religioso que atrai às CEBs o apoio, o fomento e o prestígio da CNBB. E como esta última tem a representação do Episcopado, concretamente as CEBs se beneficiam do apoio, do fomento e do prestígio da própria Igreja. Ao que lhes parece dar oficialmente um título, o próprio qualificativo de "eclesiais", pelo qual a linguagem corrente entende "eclesiásticos". Em suma, tudo nelas parece indicar, ao nosso País altamente católico, que elas são a própria Igreja em ação na política. Aliás,é bem o'que pensa da Igreja e das CEBs a Teologia da Libertação. Cumpre à Igreja libertar as massas da situação injusta em que se encontram. Para isto as CEBs as "conscientizam",

isto é, lhes dão consciência de que sofrem injustiças, lhes incutem desejos de libertar-se destas e as aglutinam de modo a poderem operar a libertação que almejam. Mas esta libertação, segundo as CEBs, só pode decorrer de leis que reformem as atuais estruturas sócio-econômicas. E como as leis só podem ser mudadas pelo concurso dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o único modo do qual dispõem as CEBs para tornar efetiva a desejada libertação consiste em contar com legisladores federais, estaduais e municipais que adotem o programa delas. Em tese, as CEBs poderiam contentar-se em exercer uma influência meramente ideológica sobre os legisladores e os detentores do Executivo, ou candidatos a tal. Esta influência ideológica poderia não assumir caráter partidário, e portanto também não constituir uma incursão eclesial (ou eclesiástica), no campo específico da política. Por exemplo, foi o que fez a Liga Eleitoral Católica - LEC - nos anos 30. Ela apontava ao eleitorado algumas reivindicações, de ordem aliás essencialmente religiosa, a serem aceitas pelos candidatos que quisessem o seu apoio (3). Porém, não inter(3) Nas eleições para a Assembléia Constituinte de 1933-1934, as "reivindicações católicas" mínimas foram o ensino religioso nas escolas públicas, a indissolubilidade do vinculo

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' Ao contrário da LEC. cujas reivindicações eram essencialmente religiosas ...


As CEBs ... das quais muito se fal~. pouco se conhece -

..:o programa das CEBs afeta matérias de comp etência do Estado

A TFP as descreve como são

vinha de modo algum na estrutura do Estado, nem da sociedade civil. Aos deputados eleitos em razão de terem sido recomendados pela LEC era simples e claro o dever a seguir. Pelo contrário, o programa das CEBs afeta a quase totalidade das matérias sobre as quais é competente a ação legislativa do Estado, já que ele visa uma reforma completa da sociedade. E por isto condiciona toda a atividade do -legislador. Assim, para este se ver quite com as CEBs não lhe basta votar segundo o desejo delas em alguns poucos pontos, -como eram as chamadas "reivindicações católicas" dos anos 30. Ser-lhe-á ainda necessário . ter o espírito e a doutrina das CEBs, consultar a todo momento os dirigentes destas, em suma, aceitar que estes últimos lhe sirvam de bosses; diria um crítico pejorativo: de "gurus". Mais uma vez, não se vê como as reformas das CEBs possam ser transformadas em lei, sem o concurso de numerosos vereadores, deputados estaduais e federais, senadores e, mais ainda, governadores e o próprio presidente da República. Para reformar o País tão amplamente como desejam as CEBs, elas precisam governar o Brasil. conjugal, as capelanias religiosas junto às Forças Armadas, nos hospitais, penitenciárias e outros estabelecimentos públicos. Foram todas introduzides na Constituição de 1934.

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Em uma palavra, precisam entrar na política.

• • • Diante deste quadro, e dada a anemia em que estão nossos partidos políticos, o que resta a estes fazer? Em vista da atual lei eleitoral, as CEBs não podem se transformar em partido político. Resta-lhes tão-só entrar nos vários partidos, ter candidatos em todos, e coordenar a todos para reformar cabalmente o Brasil. · Por sua vez, os partidos políticos se sentirão assim como que constrangidos a entrar nas CEBs. Ou seja, a inscrever nas fileiras destas o maior número de adeptos, a galgarem dentro delas os cargos de direção etc., de sorte que os interesses regionais e pessoais que as classes políticas corporificam possam instrumentalizar quanto possível o elã, o prestígio e a força eleitoral das CEBs. A instrumentalização dos partidos políticos pela Religião (leia-se Teologia da Libertação) e pela Igreja (leia-se CNBB-CEBs) trará como corolário a instrumentalização das CEBs, da CNBB e da Religião pelos partidos políticos. Em suma, seria uma convulsão o ' caos:·· ~ COIJ?- maior amplitude do que à pnmeua VlSta se pode imaginar. Para que se compreenda a amplitude que o fenômeno possa ter é pre-

M atr eira instrumentalização da p"olítica e da Religião

Convulsão e caos


Capítulo V

Parte I

A Liga Eleitoral Católica - LEC - criada pelo Episc opado brasileiro, na década de 30, respe itava claram ente a diatinçl o entre a esfera tempora l e a eapirit ual, pois, embora destinada a orientar o eleitorado católico, suas re ivind icações eram de natureza essencia lmente religiosa. - Na foto, a bancada paulista na Constit uint e de 1 934 (na primeira f ila, sentadas, as eapoaaa de algun s deputados), na qual oa deputados eleitos com o apoio doa católicos tiveram decisiva atuaçlo para o triunfo das chamadas "reivindicações católicas": o ensino re ligioso nas eacolaa, a indiaaolubilidade do vinculo conjugal e aa capelaniaa religiosas .

ciso considerar que esta peculiar decorrência da Teologia da Libertação em nossos meios não se dará apenas nos lugares em que haja CEBs organizadas e dotadas de vitalidade. Bastará que o Vigário esteja pessoalmente persuadido das teses da Teologia da Libertação, ou que simplesmente seja propenso a estas, para que sua influência sobre os fiéis, acionando o possante mecanismo do tríplice "sentire" (cfr. Parte I, Cap. III), descar-

regue em favor dos candidatos das CEBs, apresentados pelos vários partidos políticos, o peso eleitoral,sempre considerável, de que a Igreja dispõe nas várias paróquias. Quantos são os Sacerdotes brasileiros pró-CEBs? O número deles não é nada pequeno. Mas seu total constitui uma incógnita. Só o que se sabe, por ser óbvio para todos, é que o número dos que combatem as CEBs é minúsculo. .. Ora, quando em um de91


As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

terminado campo - no caso o religioso - os combatentes de um lado são numerosos, organizados e cheios de elã, e de outro lado os que se lhes opõem são poucos, tantas vezes esparsos e tímidos, não há dúvida de que os primeiros se tornarão donos do campo. * o papel dos "moderados úteis"

Neste ponto cabe uma palavra sobre os "moderados úteis", cujo papel é especialmente importante na ofensiva revolucionária da "esquerda católica" na atual conjuntura. Com efeito, a guerra psicológica revolucionária das CEBs está apenas em seus primórdios, aliás vigorosos. Em conseqüência, ela ainda não pode dirigir inteiramente a seu talante as elites sociais que deseja derrubar. Por isso, cumpre-lhe tranqüilizar, sobre os cometimentos das CEBs, os elementos de elite cuja contra-ofensiva ainda poderia ser perigosa. Para esta delicada tarefa, são de muita utilidade os simpatizantes da "esquerda católica" que, por se terem deixado persuadir de uma suposta inocuidade das CEBs, e por terem um temperamento moderado, capaz de tranqüilizar os sobressaltos esporádicos dos elementos indolentes das elites, previnem qualquer contra-golpe destas.

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Na realidade, porém, os "moderados úteis" costumam ser "companheiros de viagem" das esquerdas mais ousadas, até o fim do caminho. Ou seja, tranqüilizam até onde é possível, o centro e a direita, acerca das ousadias da esquerda. E quando já não é mais possível, cruzam os braços, e se põem a considerar de maneira ostensivamente benévola a esquerda descabelada, em sua marcha terminal furibunda. Um exemplo: o que significa precisamente "Comunidade Eclesial de Base"? É esta uma pergunta a que a grande maioria do público não sabe dar resposta. E para a qual um brasileiro explicavelmente sobressaltado pode pedir a ajuda de um "moderado útil". Este dificilmente lhe contará a verdade, dita com desenvoltura por D . Miguel Balaguer, Bispo de Tacuarembó (Uruguai). Isto é, que "comunidade de base" é expressão equivalente a soviet (cfr. Parte II, Cap. I, 2). A voz pública cognominou o Sr. Arcebispo de Recife, D . Helder Câmara, de "Arcebispo Vermelho". É de crer que ela só não alcunhou de "Cardeais Vermelhos", o Sr. D. Paulo Evaristo Arns e o Sr. D. Aloisio Lorscheider, porque tal implicaria em redundância, sendo o vermelho a cor tradicional do cardinalato. O Sr. Cardeal D. Eugenio Sales e o Sr. Cardeal D. Avelar Brandão Vilela

Prelados "vermelhos" e Prelados "moderados"


Parle I

Capí1ulo V

são mais bem tidos por centristas. Mas, segundo fazem ver os efeitos das suas operações na última década, se parecem bem mais com os "moderados úteis". O Sr. Cardeal D. Vicente Scherer costuma ser tido por direitista. Entretanto, suas declarações favoráveis à Reforma Agrária beneficiam mais a esta última do que todas as do Sr. Cardeal-Arcebispo de São Paulo. Pois o primeiro, tido por direitista, passa ipso facto por insuspeito. E como, ao

mesmo tempo, ele preconiza uma Reforma Agrária sem violência, isto o faz passar por direitista "equilibrado" ou "moderado". Compreende-se assim quanto suas declarações agro-reformistas "moderadas" ( cfr. Parte I, Cap. II, Nota 4) servem, por isso mesmo, a causa da Reforma Agrária.

* • • Por tudo quanto foi visto, não há dúvida de que as CEBs, muito e mui-

A s CE&, po1ência emergente na política

Prelados "vermelhos" e Prelados "moderados":

D. Vicente Scherer

D. Helder Cllmara

D. Eugênio Sales

D . Avelar Brandlo Vilela

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As CEBs .. . das quais muito se fala, pouco se conhece -

In s trum e ntalização do Estado pelas CE&

A TFP as descreve como são

to mais do que o PC, são a grande potência emergente na política brasileira. Quem tome em linha de conta a amplitude total dos planos reformistas das CEBs, não pode imaginar que o âmbito da ação política do movimento se limite à conquista de algumas cadeiras parlamentares, de alguns mandatos de vereador ou de prefeito, ou mesmo de alguma pasta ministerial. A tríplice reforma rural, urbana e empresarial visada pela CNBB, pelas CEBs, ou de modo mais amplo pela "esquerda católica", se algum dia implantada, trará como conseqüência a reforma pelo menos parcial do Código Civil, do Código Comercial, dos Códigos de Processo Civil e Penal, e de quase toda a vastíssima legislação ordinária em vigor no País. Com a corolária reforma de um sem-número de leis, regulamentos, portarias etc. Sem todas essas modificações, a tríplice reforma rural, urbana e industrial constituirá tão-só letra morta. Ora, todo este imenso labor reformista só pode ser levado a cabo se nele se engajarem a fundo todos os órgãos do Estado. Portanto, ou o Estado será todo ele instrumentalizado pelas CEBs, ou os intuitos reformistas destas serão vãos. As CEBs não podem, portanto, deixar de tender para instrumentalizar 94

inteiramente o Estado brasileiro, a serviço de sua cruzada sem Cruz.

* * * As CEBs? À primeira vista, sim. Mas o que são elas senão um conjunto de brasileiros por sua vez dependentes da CNBB, em virtude do mecanismo do tríplice "sentire"? Por trás das CEBs, por cima delas está a CNBB. Mas, por sua vez, o que é a CNBB? Em tese, ela é a estruturação jurídica do Episcopado nacional (cfr. Parte I, Cap. li). Na realidade, ela é o dispositivo jurídico cujos corpos de direção a "esquerda católica" - ou mais precisamente a esquerda eclesiástica utiliza para se impor à maioria dos Bispos, os quais docilmente mantêm o silêncio em suas reuniões, votam como a esquerda quer que votem (4), e (4) Sobre como são estudados, debatidos~ votados e aprovados os documentos nas Assembléias Gerais da CNBB dá um impressionante depoimento o Sr. D . Alberto Gaudêncio Ramos, Arcebispo de Belém do Pará (o Arcebispo trata especificamente do documento Igreja e problemas da terra, aprovado na 18.ª Assembléia Geral, em fevereiro de 1980; os subtítulos são nossos) : Como se estuda. - "De ínício, devo esclarecer como são aprovados esses documentos da CNBB. Algum tempo antes da Assembléia, cada bispo recebe um ante-projeto do assunto a ser tratado. Confesso de minha parte, que

Por trás e por cima das CEBs, a CNBB

A maioria silen· ciosa do Episcopado


Capitulo V

Parte I

A votaçlo doa documentos debatidos nas Auembléiaa da CNBB é feita, item por item, mediante o levantamento de cartões verdes (aprovaçlo), amarelos (aprovaçlo com emendas) ou vermelhos (rejeiçlo). Segundo D. Alberto Gaudêncio Ramos, Arcebispo de Belém do Par6, na pressa que geralmente caracteriza o final das Assembléias, "• tendllncia tf p•r• •prov•r tudo o que •p•r11ç•"·

raras vezes disponho de tempo para estudá-lo a Jundo. Quase sempre o faço já durante a viagem de avião. E como eu procedem muitos outros bispos atarefados". " .... A comissão que, a seu [próprio] critério,_ aceita ou recusa". - "Aberta a assembléia, os diversos temas vão sendo expostos sucintamente por um relator, depois do que todos vão para os "grupos integrados", constituídos de bispos, sacerdotes, religiosas e leigos, dos mais diversos pon tos do Brasil. Uma comissão especialmente designada recolhe as observações que procedem dos diversos círculos e elabora nova redação, que depois é mimeografada e

distribuída. Em plenário, muitos solicitam a palavra para elucidar alguns pontos, pedir correções, dar ênfase a outros pontos: eté. Tanto essas intervenções orais como as escritas são encaminhadas à comissão que exaustivamente seleciona e agrupa as opiniões similares e, a seu critério, as aceita ou recusa. Novos círculos de estudo são Jeitos, já agora constituídos pelos bispos de um mesmo regional". Como se vota. - "Há ainda debates em plenário para destaques ou correções, e a aprovação é feita, item por item, mediante o levantamento de um cartão verde, amarelo ou vermelho. Os secretários dos Regionais con-

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

saem dos bem conhecidos colóquios de ltaici precisamente como entraram: isto é, sem manifestar alegria, nem esperança, como também não pesar ou apreensão. O que pensa essa maioria a respeito de quanto se passa aos olhos dela, em nome dela, e sem que se perturbe o silêncio dela?

O Brasil inteiro gostaria de saber. Um veemente Apelo para que ela explicasse, ou pelo menos para que abandonasse seu invencível mutismo, teve larga acolhida no País. .. porém não tirou do seu silêncio os Bispos Silenciosos (5). Diante desse perseverante silêncio, uma só pergunta resta. As numerosas

tam as exibições dos cartões e vão levar o resultado, em voz baixa, à mesa da secretaria, e nisso pode haver uma margem de equívocos ou distrações".

pode afirmar, talvez, que não concorda com todas as expressões, com todos os argumentos, até mesmo, com todos os acontecimentos aludidos. Eu também levantei o meu cartão vermelho, a alguns pontos, mas fui vencido pela maioria.

Na pressa final ... "a tendência é para aprovar tudo o que apareça". - "A aprovação de tão importantes documentos é feita, quase sempre de afogadilho, quando muitos bispos já partiram de madrugada, quando todos estão fatigados e alguns olhando os relógios, já de olho no ônibus para a rodoviária ou para o aeroporto ... Está claro que, nestas circunstâncias, a tendência é para aprovar tudo o que aparece.

Saímos todos de lá sem termos o texto definitivo, pois algumas modificações são introduzidas na última hora, e o conjunto ainda está submetido a um aperfeiçoamento redacional". Críticas. - "Não se pode, por conseguinte afirmar que se compreende 'a atitude dos bispos que, a exemplo de D. Luciano, se eximiram de assiná-lo'. Ninguém assinou documentos. Apenas se firmaram as folhas de presença. Seria difícil obter unanimidade de pensamento, em questões não doutrinárias, de perto de 230 cabeças. Por isso o meu combativo e inteligente amigo, D. Luciano Cabral

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Está agora o documento sendo bombardeado pelos economistas, pelos capitalistas, pelos agrônomos, pelos governantes ou por outras pessoas competentes. Cumpre não esquecer que não pretendem os bispos dar lições técnicas aos entendidos". ... . Mão à palmatória. - "Podemos dar a mão à palmatória reconhecendo as deficiências de um trabalho feito da maneira acima relatada. Porém, mesmo que haja algum dado inexato, que nem todos os latifundiários mereçam nossas censuras, esperamos que, pelo menos, o documento valha como um alerta aos que porventura erraram, e como um protesto aos abusos que realmente estão sendo cometidos em algumas partes do país" (artigo Terra a terra, na secção "Recanto do Pastor", "Voz de Nazaré", 16-3-80, 1.8 página). (5) Cfr. PuNio CoRRtA DE OuvEJRA, A Igreja ante a escalada da ameaça comunista Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera

A maioria silenciosa na esfera civil


Parte I

Capítulo V

entidades de classe, os partidos políticos, os órgãos de comunicação social, as personalidades em evidência, às quais caberia preservar a esfera temporal dessa instrumentalização pela esquerda eclesiástica encastelada na CNBB, manterão elas também o silêncio a esse respeito, no qual - salvas as honrosas exceções - se encontram? Assim favorecida simultaneamente pelo duplo mutismo dos silenciosos na esfera espiritual e na esfera temporal, avançará a esquerda eclesiástica até a instrumentalização do próprio Brasil?

Seja-nos licito esperar que não. Pois, possivelmente, na esfera temporal muitos silêncios se expliquem pela inadvertência acerca dessa tão inverossímil e entretanto tão real instrumentalização do País. Possa a publicação do presente livro abrir os olhos às elites nacionais para que intervenham a tempo. Se tiverem savoir Jaire, poderão intervir com êxito, sem em nada desdourar a Santa Igreja, nem violar os direitos sagrados a que sua divina missão faz jus.

Cruz, São Paulo, 1976, 4 edições, 51 mil exemplares. Só não mantiveram silêncio sobre este livro Bispos nada silenciosos. Assim, o Sr. Cardeal Arns publicou duas notas oficiais de protesto, uma delas conjuntamente com seus oito Bispos-Auxiliares. Também se pronunciaram o Sr. D. Ivo Lorscheiter, Bispo de Santa Maria, então Secretário-Geral da CNBB, e o próprio Secretariado-Geral do órgão episcopal; e, por fim, a Arquidiocese de Olinda e Recife, da qual é Arcebispo D. Helder Câmara, que emitiu

duas notas contrárias ao livro . Nos diversos comunicados de imprensa com que o autor do livro respondeu a essas notas ponderou que elas constituiam invariavelmente mero protesto, sem qualquer documentação ou refutação. Não obstante, até hoje nenhuma refutação veio a lume. Quanto aos Srs. Bispos que já eram silenciosos antes da publicação do Apelo, ao que consta continuaram tais enquanto esses fatos se davam, e tais continuam até o presente momento.

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Esperança de que este livroabra,por fim , os olhos



ConclusĂŁo

das CEBs?


P e ri go p o nde -. rável, mas contornável

A s e lit e s t êm m eios para encontrar uma pronta e justa solução dos problemas nacionais

T

UDO quanto foi aqui visto mostra que as CEBs constituem presentemente um perigo muito ponderável, mas ao mesmo tem- · po inteiramente contornável. Muito ponderável esse perigo o é, não apenas pelo que as CEBs já são, como sobretudo pelo que podem vir a ser no dia de amanhã, se Íhes for deixado livre o campo para progredir. Mas, igualmente, esse perigo será muito controlável se as elites brasileiras, as quais as CEBs têm em mira, compreenderem a necessidade de começar quanto antes uma ação visando contê-las. De que natureza seria tal ação? A TFP não cabe dar diretrizes nem traçar programas para as classes a que ela aqui alerta. Sobram a estas os recursos de inteligência, os relacionamentos sociais e políticos e as disponibilidades econômicas para arquite100

tar e pôr em prática uma larga campanha de esclarecimento do País sobre os problemas que as CEBs levantam, as imputações que as CEBs a elas fazem , e os pontos de vista das mesmas elites sobre o que convém ao País fazer, dentro da justiça e da paz, para a pronta_sol':1ção dos grandes problemas nac1ona1s. A tal propósito, a TFP deseja registrar somente um ponto. Por enquanto, a forte maioria das massas trabalhadoras ainda não está atingida pela detração sistemática que as CEBs movem contra as elites. O ódio de classes ainda não existe entre nós. Pelo contrário, os trabalhadores manuais são sensíveis aos esclarecimentos que lhes queiram dar as elites nacionais. Portanto, toca a estas dirigir-se a eles o quanto antes. Pois já amanhã, com o crescimento das CEBs, talvez seja tarde demais ... (1).

Os trabalhadores manuais ainda não estão atingidos pelo ódio de classes... mas com o c r es ciment o das CE&, amanhã talvez seja tarde demais!


Contributo especial da TFP: as CEBs não estão em consonância com os ensinam e n tos tradicionais da Igreja

Para esse esclarecimento, a TFP dá aqui seu contributo. E este é de importância fundamental. Com efeito, sendo fundamentalmente religioso o motivo pelo qual as CEBs conseguem aglutinar e mobilizar as massas, nada é mais próprio para obstar tal mobilização e aglutinação, senão mostrar que as CEBs rião são consonantes com os ensmamentos tradicionais dos Romanos Pontífices, e que a luta de classes

fomentada pelas CEBs é condenada pela Igreja. E, principalmente, que o fatal sistema do tríplice "sentire", como o apresenta entre nós uma longa tradição de ignorância religiosa, exagera a um grau quase inimaginável o que a Igreja ensina sobre os sagrados deveres de obediência do fiel à Hierarquia Eclesiástica. A demonstração deste último ponto, a TFP a tem feito de modo explícito ou implícito, e com grande

(1) Tal estado de ânimo, a luta pela vida nas grandes cidades não o conseguiu eliminar. Tampouco o conseguiu o fluxo imigratório torrencial que se despejou sobre o Brasil no último quartel do século passado e no primeiro quartel deste século , e aqui fixou a presença de etnias e de tradições tão diversas. A consonância desse tradicional e perseverante estado de ânimo brasileiro com os preceitos e conselhos do Evangelho, deixa ver em que larga medida ele resulta da influência

cristã. Nada pois mais eficaz para eliminá-lo do que o trabalho metódico de, por influência da CNBB, nele incutir precisamente o oposto, isto é, as ardências desordenadas do ódio de classes e do espírito revolucionário. Para isto, a Teologia da Libertação , tão disseminada nas Comunidades de Base, cria todas as condições favoráveis. E o ódio de classes, por sua vez, leva à violência . Sobre o caráter marxista da Teologia da Libertação, poucas dúvidas pode haver (cfr.

101


As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Profeta Joel, do Aleijadinho, em Congonhas do Campo, Minas Gerais.

abundância de documentação, ao longo dos seus 22 anos de luta. Da riqueza dessa argumentação, dá provas o fato de que, sobre vários assuntos Parte II, Cap. II, 1). O "povo de Deus", do qual tanto se fala na "esquerda católica", é entendido como sendo constituído especificamente pelos pobres, os quais formariam ex natura propria o Corpo Místico de Cristo (cfr. Parte II , ibidem). O "povo de Deus", os oprimidos, seriam o novo Messias (cfr. Pa rte II, ibidem). Por fim, os ricos são qualificados como o opróbrio da terra e os malfeitores máximos

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correlatos, a TFP já tem, public a e largamente difundida no País, t da uma biblioteca (2), além de opulen s coleções dos órgãos de imprensa "L gionário" e "Catolicismo", em que seu pensamento está expresso. Quanto ao valor lógico da argumentação contida nessas obras, fala de modo concludente o fato de que elas têm suscitado muitos aplausos, mas também muitos ódios. Esses ódios se têm manifestado em campanhas de difamação e estrondos publicitários de dimensões ciclópicas. Nunca, porém, em contra-argumentações de qualquer espécie, Em relação à TFP, o adversário não teme difamar, embora ele saiba de antemão que suas falsas imputações acabarão rolando pelo solo à míngua de provas. O que o adversário teme, isso sim, é discutir. A não ser tal campanha de difamação, é difícil conjecturar qual possa ser a réplica do "esquerdismo católico" ao presente livro. Pois a argumentação e a documentação produzi-

bn relação à TFP. o adversário não teme difamar . Mas teme discutir

contra a sociedade (cfr. Parte II , ibidem): gênero de crime que o socialismo tende a considerar o maior e quase o único, a contrario sensu da ordem individualista e capitalista, a qual considera quase exclusivamente os crimes contra o indivíduo. (2) Ver neste volume a relação das obras divulgadas pela TFP.

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Parte l

Como a TFP, que as elites nacionais entrem na liça com as armas pacíficas e legais

Confiança em Nossa Senhora de Fátima

Se as elites não aruarem, não foi por falta de quem as alertasse

Conclusão

das na Parte II não deixam margem a qualquer réplica. Lançando este livro, a TFP mais uma vez entra na liça de combate. Nesta, ela usa as armas pacíficas e legais próprias a controvérsias de alto nível, e incita as elites do país a que, por sua vez, façam o mesmo com não menor destemor. A TFP não reclama para si proeminências nem lideranças. Ela reconhece de público que, nessa batalha, ela não deve ser senão uma das componentes do grande front anti-socialista e anticomunista a se organizar. E conclui esta parte de seu livro-manifesto, pedindo a Nossa Senhora de Fátima, a qual já em I 917 alertou o mundo para o perigo do comunismo, que ajude nossas classes dirigentes a saírem de seu Ietargo, e a exercerem efetivamente sua missão de orientadoras de todo o corpo social. Se não o fizerem, a História alegará um dia que as massas foram transviadas porque as elites desdenharam de as orientar. Mas registrará igualmente - convém ainda uma vez dizê-lo - que não faltou quem as alertasse na hora extrema. A TFP cumpre aqui esse dever, movida por seu amor à Igreja, à civilização cristã e à querida Pátria brasileira. Mais do que isso não pode ela fazer!

Em Fátima , em 1917, Nossa Senhora advertiu que, se os homens nlio se emendassem, "a

Rússia espalharia seus erros pelo mundo". Nossos olhos se voltam para os do Mlie de Deus, pedindo a Elo que ajude os classes dirigentes a solrem de seu letargo e a resistirem, dentro da lei e do ordem, à penetraçlio insidiosa dos erros do comuni smo, principalmente nos meios católicos .

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Socialismo Autogestionário: Hoje, França - Amanhã, o Mundo?


Designados de m odo diverso na linguagem corrente - guerra f ria, política da mão estendida, coexistência pacífica. queda das barreiras ideo lógicas. d étente, Ostpolitik alemã, O stpoli tik vaticana, def esa dos direitos humanos (fórmula Carter). eurocomunismo, comunism o de'face humana etc. - os esforços diplomáticos para caracterizar as difíceis relações entre as p otên cias de aquém e além cortina de f erro, deix am ver, em seu todo, algo de muito claro: eles exprimem o desejo de explorar em fa vo r do imp erialism o soviético a larga ansiedade dos hom ens diante do perigo de uma catástrof e atômica eventualmente resultan te do malogro total da diplomacia, e da irrupção de uma Ili Guerra Mundial. Esta p erspectiva sinistra leva incontáveis pessoas no mundo inteiro a sonhar com uma fórmula sócio-econômica de meio termo entre o comunism o e o capitalism o. Pois o en contro dessa fórmula importaria - imaginam eles - na extirpação de uma das causas mais ativas da tensão Leste-Oeste, ou seja, o desacordo ideológico entre comunistas e não-comunistas. Bem entendido, para que essa fó rmula evitasse ef etivamente o tão receado perigo, seria necessário que não contivesse em seu boj o princípios tão contrários à ordem natural e à justiça - ou m ais até - quanto os que caracterizam o supercapita/ism o, o so cialism o e o comunism o. Pois a paz é frut o da justiça: "opus justitiae pa x" (Isaías 32, 17) era o lema do Pontificado d o pranteado Pio X II. Injustiças e deso rdens institucionais ainda mais agudas d o que as do Ocidente hodierno só poderão agra var o grande conflito em perspectiva. Uma das f órmulas m ais antinaturais e mais injustas para a pretensa con vergência entre o Ocidente e o Oriente é o socialism o autogestionário fran cês, vitorioso com as eleições presidenciais e legislativas do ano passado.

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É o que uma análise acurada do tema faz ver. As Sociedades de Defesa da Tradição. Família e Propriedade - TFPs - de. treze países (Argentina , Bolívia. Brasil, Canadá, Chile, Colôm bia. Equador, Espanha, Estados Unidos, Fran ça, Portugal, Uruguai e íYenezuela) dirigiram, em conjunto, ao público das respect ivas nações. uma Mensagem intitulada O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeçade-ponte? Um a frase colocada em epígrafe destaca: O duplo jogo do socialismo francês : na estratégia gradualidade - na meta rad icalidade .

A Mensagem, de autoria do Prof Plinio Corrêa de Oliveira , Presidente do Conselho Naciona l da TFP brasileira. fo i p ublicada em 47 grandes jornais da América do No rte, Europa e A mérica do Sul. a partir do dia 9 de de zembro do ano passado . As TFPs são entidades anticom unistas. coirmãs e aut ônomas. inspiradas nos documentos tradicionais dos Papas. A primeira delas f oi f un dada em São Paulo, Brasil, pelo ex-dep utado fede ral. professor universitário, <:scritor e jorna list'a Plinio Co rréa de Oliveira. Do Brasil. o ideal das TFPs se irradiou po r quase todos os países da América e di versos dos da Europa. Em Roma está instalado o Ufjicio Tradizione, Famiglia, Proprietà, escritório de representação das T FPs na Itália. Há também um escritório de representação das TFPs em Was hington , e o utro em Johannesburg. O leit or encontra a seguir uma síntese desse leal e valente documento.


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P11. •10 CoR Ri:A DE O 1.. 1vEJRA nasce u em São Pau lo, Brasi l, em 1908. Diplomado pela Facu ldad e de Direito da Uni ve rsidad e de São Paulo, fo i Professor de História da Civ ilização no Co légio Universitário da mesma Universidade. Em seguida ass umiu a Cá tedra de Hi stór ia Mode rna e Co ntemporânea nas Faculda des São Bento e Sedes Sapientiae da Pontifícia Universi dade Catól ica de São Paulo. Destacou-se desde jovem como orador, co nfere ncista e jornalista católico. Colaborou durante anos no sema nário ca tólico "Legionário", do qual foi diretor. At ua lmente esc reve pa ra o mensário "Ca to licismo" e para a "Fol ha de S. Pa ul o", um dos diários de maio r circulação no Brasil. É a utor de vá rios livros . Em l 960, fundou a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedad e TFP, e tem sido , desde então, Presidente d o Conselho Nacional da entidade. In sp irad as em Revolução e Contra-Revolução e em outras obras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, TFPs e ass ociações congêneres se desenvolveram igua lmente em doze países das Amé ri cas e da Euro pa.

ill ailla11r~1,1ia A Me nsagem das treze TFPs faz detida análise d o socialismo a utogestioná rio francês, que iniciou vigo roso processo de expa nsão internacional com a ascensã o de François Mitterrand à Presidê ncia da Re públi ca Fra ncesa. C om ab und a ntes citaç ões de documentos oficiais do PS, a Me nsage m sustenta que o socialismo autogest ionário - a o con trário do qu e muitos imaginam - não co nstitui uma modalidade do esq uerdismo , ava nçada se m dú vid a, mas

bonacheirona e gradualista. A Mensagem põe em evidência que o programa autogestionário visa a desagregação da sociedade atual em corpúsculos a utônomos, dotados de uma quase soberania, o que redundará na implantação da utopia anárquica na França . Essa utopia, entretanto, o socialismo autogestion ário não a reconhece como desordenada e caótica . Verdadeira escola filosófica substancialmente marxista , e portanto também evolucionista, o soc ia li smo francês espera promover, com a graIII


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dual aplicação da reforma a utogestioná ria , uma transformação fundament a l, nã o só da empresa industrial , comercial e rural, como também da família, da escola, e de toda a vida socia l. Ma is ainda, ele pretende influir a fundo na própria vida individual, modelando a seu gosto os la ze res e o próprio arranjo interior das casas.

Caos na família ~

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De outra parte, essencialmente laico, ele visa . admitir, em termo último , tão-só a escola autogestionária laica , à qua l os pais devem entregar seus filhos logo que completem dois anos de id ade . A escola privada religiosa , ele visa aboli-la enquanto propriedade individual, e enquanto religiosa. A essa reforma geral, não poderia ficar alheia a família. A Mensagem mostra que o programa do PS equipara inteiramente o casamento à união livre entre os sexos, e reivindica a equivalência entre a união heterossexual e a união homossexual. Feminista ao ·e xtremo, o socialismo autogestionário exige, ademais, para a mulher, a inteira equivalência com o homem, inclusive na responsabilidade como no fardo dos trabalhos com que ela tenha que arcar.

Acabar com o patrão A empresa, no final da evolução autogestionária , não tem patrão. A direção dela cabe, em última instância, à assembléia geral dos trabalhadores. Esta tem o direito de tomar periodicamente conhecimento de todas as atividades empresariais. Nem sequer o segredo industrial lhe pode ser oculto. Os dirigentes da empresa são eleitos pela assembléia dos trabalhadores, a qual é soberana no que diz respeito às atividades empresariais . Como se vê - e os documentos do PS o afirmam sem rebuços - uma reforma tão completa da sociedade supõe uma reforma igualmente completa do próprio homem . É em função da

• natureza humana assim reformada, que o socialismo autogestionário reclama não ser qua li ficado de utópico.

A gradualidade

"Liberté -

Egalité -

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O PS não espera realiza r esta reforma total , da sociedade e do homem , em um só sa lto , mas por tra nsformações sucessivas. Um dos meios essencia is pa ra pôr em movimento e levar a termo essa reforma do homem e da sociedade é a luta de classes. Negando não só o princípio de autoridade co mo toda hiera rquia , o PS abre campo pa ra ess luta, na empresa leva ntando os operários contra os pa trões, e os dirigidos contra os dirigentes . Na família , s uscitando a luta dos filho s contra os pa is . Na escola, entre os alunos e mestres. E assim por diante. O programa do PS não nega a liberdade de funcionamento da fgreja . Mas esta - comenta a Mensagem - ficará reduzida a viver numa sociedade inteiramente laicizada até nos seus menores aspectos, que, enquanto tal , não tomará em qualquer linha de conta as obrigações do homem para com Deus, nem os princípios da ordem na tural delineados na Lei que Deus revelou a Moisés . Ela fica , pois, estranha à ordem civil, que tomará um rumo oposto ao ensinamento dela .

Fraternité"

O socialismo autogestionário francês se proclama inteiramente coerente com a trilogia da Revolução de 1789: "Liberdade - Igualdade - Fraternidade". Para ele, a abolição do patronato na empresa é a conseqüência lógica da instauração da república . Ele aponta no patrão um peq ue no rei que remanesce no interior da empresa, e no rei o grande patrão que a república democrática eliminou. Entre a vitória final do socialismo autogestionário e a Revolução Francesa, ele traça toda

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uma genealogia de revoluções: 1848, 1871 e a Sorbonne-1968. A Encíclica de João Paulo II Laborem Exerc:en!i é uma versão católica do socialismo a utogestionário francês? Compreende-se o alcance da pergunta. especialmente na perspecti va católica, que é a das TFPs. Também este assunto vem abotdado na Mensagem .

Mitterrand difunde a autogestão pelo mundo

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A que título se ocupam as TFPs de uma problemática à primeira vista toda ela francesa , e ant a qual, portanto, só competiria à TFP francesa tomar posição? A Mensagem põe em realce o imperialismo doutrinário muito marcante que caracteriza a política exterior do PS , e portanto também do atual governo francês . Ela mostra que a expansão internacional do socialismo autogestionário é meta relevante da diplomacia do Sr. François Mitterrand. E que o melhor meio para defender se us países contra o que qualificam de agressão ideológica_ socialista consiste em revelarlhes a ve rdadeira face do socialismo autogestionário , conhecida pelos militantes do PS , não porém pelo grande público não socialista . No que diz respeito à França, a Mensagem demonstra que a vitória socialista nas eleições de maio-junho do ano passado não resultou de um aumento do eleitorado de esquerda. mas da desorientação do eleitorado católico, do qual uma parcela ponderável votou por Mitterrand, e do grande número de abstenções que houve no eleitorado não socialista, resultado de uma campanha conduzida sem o empenho necessário pelos partidos de centro-direita. Abrir todos os olhos também na França, à verdadeira fisionomia da autogestão, parece às TFPs ser o meio mais útil para que a população

fra ncesa, recusando seu apoio ao socialismo. obste a que o prestígio político e cultural dessa nação seja empregado a serviço da agressão ideológica autogestionária. A Mensagem se encerra com um belo tex to em que o Papa São Pio X afirma sua esperança de que a França venha a reluzir no mundo com todo o brilho cristão que lhe compete como filha primogénita e bem-a mada da Igreja .

Uma Mensagem ampla, efeitos muito mais amplos ainda Ao encerrar o resumo da Mensagem das treze TFPs à opinião pública do Ocidente, é impossível ev itar que aflore ao espírito de muitos leitores a seguinte pergunta: - Transcorreram oito meses da divulgação inicial desse substancioso documento ... Que efeitos produziu ele? - A resposta não é fácil de condensar numa síntese como a presente. Pois foram tantos, que só muito esquematicamente enunciados podem aqui caber. Distingamos entre efeitos dentro da França e fora da França. E, para maior comodidade do leitor, comecemos por estes últimos: a) Fora da França. - A correspondência que afluiu às Sedes ou Bureaux das TFPs indicados nos cupons para pedidos é a bem dizer incontável. Anda pelos milhares de cupons e cartas. A muito grande maioria delas pede exemplares para distribuição entre parentes, amigos ou colegas, ou para bibliotecas de Universidades. Mui tas contêm, ademais, palavras de caloroso a poio. Uma minoria quase insignificante exprime desacordo, geralmente em termos ultrajosos. E quase sempre sem assinatura ou endereço . Além da correspondência, foram numerosos os telefonemas, uma certa parcela dos quais proveniente de órgãos de imprensa interessados em entrevistas ou declarações do autor da Mensagem,


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Prof. Plíni o Corrêa de Ol iveira ; o utros era m de pess oas que cumprimentava m efusiva mente pela publicaçã o da Mensagem e pedi a m ma is exe mplares pa ra distribuir, e enfi m uma mino ria que não po upava insult os e desaforos, gera lme nte a nônimos . Pa rece legítimo afirm a r que em todo o Oc idente o socia lismo , fa ceiro de sua propaganda nos vários países, e dos sucessos que em muitos vinha obtendo, passou a uma posição de discrição e reserva. Algo mudou na ma tizaçã o político-ideológica do Ocidente tomado com o um tod o. Também fora do Ocid ente ecoou a Mensage m com uma a mplitud e surpreend ente. Entre as missivas rece bid as, d ive rsas procedem de pa íses da África , da Ásia e da Oceania , como África do Sul , Argélia, Bofutatswana , Botswa na, Ca marões, Gâmbia,Gana, Ilhas Ma urício , Lesoto, Marrocos, Na míbia , Nepa l, Rodésia, Senegal , Siskei, Suazilândia, T ranskei, Tunísia, Venda, Arábia Saudita, Ba ngladesh, Chipre, Kuwait , Israel, Turquia, China comunista, Coréia do Sul, Fi lipinas, F o rmosa, Hong Kong, Japão, Ma cau, Ma lásia, Rúss ia , Singapura, Ta ilâ ndia , Austrá lia, Nova Ca ledónia, Nova Zelâ ndia. Nos pa íses detrás da cortina de ferro , ao que co nste , quase não houve repercussões. Ex plica-se. A cortina de fe rro ... é co rtina de fe rro! b) Na França. - O oco rrid o na Fra nça surpree nd eu, desconcerto u... os otimi stas, os ingê-

nu os. E deixou em po:;1ça o co ntrafeita, ta nto os socia lo-com un istas decla rado s, qua nto os inocentes úteis. As co isas se passara m como se o go verno socia li sta de Mitterra nd, receoso da di vulgaçã o da Me nsage m, ti vesse opta do po r em prega r co ntra ela os métodos dita to riais característicos dos regimes com unistas . Dado que o socia lis mo a ut ogesti o ná ri o fra ncês se ga ba de democrá tico e libera l em ma téri a políti ca . na tu ra l era q ue a Me nsagem, publ icada se m mai or di fic uld ade na gra nde imprensa de mocrá tica de todo o Ocidente, ta m bé m não encontra sse óbice em ser reprodu zid a nos principa is diá rios fra nceses do ce nt ro e da d ire ita. Para esse efeito, as treze l'F Ps se dirigira m a seis dos ma iores qu otidia nos pa risienses. E de tod os recebera m seca e inex plicáve l recusa . Um d os ma is importan tes desses jorna is chegara mes mo a contra ta r a publicação, rompend o o co ntra to po uco depo is, de ma neira a brupta. A co nduta unâ ni me dessas fo lhas é ta nt o ma is inex pl icá vel q ua nto a Mensagem constitui ma téria paga de vulto, que nenhuma agência publicitá ria rec usa ria . Assim impedida de se d ifund ir no rma lmen te em so lo fra ncês, as treze TF Ps tivera m qu e se co ntenta r com uma di vulgação posta l fei ta do mod o ma is a mplo possíve l segund o o moderno siste ma d o mass mailing. Fora m di stribuíd os assim 300 mil exe mpla res

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da Mensagem. A distribuição suscitou a bundante e calorosa correspondênc ia. E, segu nd o vá ri os o bservadores, teve reflexo sensível na derrota espetacula r sofr id a pela coligação governa mental socialo-comunista nas recentes eleições cantonais francesas . · Em 24 jornais de onze países as treze TFPs publicaram o Comunicado Na França: o punho estrangulando a rosa, em que denunciam à opinião mundia l a presumível interferênc ia do governo socialista francês no estranho e despótico cerceamento da liberd ade de opinião delas . De fato , por força do regime socialista que está sendo implantado na França, todo proprietário de empresa pode se r pri va do dos se us direitos pelo governo, rebaixado a mero funcionário , ou até expulso da empresa. Co m essa es pada de Dâ mocles suspensa sobre a cabeça, é ilusória a independência de qualquer proprietário de jorna l em relação ao Poder público. Esse Comunicado , que por sua vez suscitou intensa correspondência, contribuiu muito se nsivelmente para desiludir o gran-

de púb lico das promessas libera is do regime socialista. Esta consta tação é de. grande a lcance. Pois abstração fei ta da promessa de liberdade, só res ta no regime a utogestio ná ri o o que ele tem de afim com o comunismo .

* * *

...

A Me nsage m das treze TFPs so bre o socialismo a utogestionário va i assim a brindo se u caminh o larga mente pelo mundo afora . E, ao lo ngo deste tudo tem encontrado: ódios furibundos , críticas infundad as, omissões ine xplicáveis, velhas e luminosas so lid a ried ades que nunca se deixaram desonrar pelo medo incontáveis adesões novas, algumas das quais inesperadas e magníficas . D e,. tudo isto - e do que ainda acontecer - se esc reverá um dia a História. A Hist ória épica de um dos supremos esforços empreendidos "in signo Crucis" a fim de evitar à civilização ocidental agonizante, o soço bro fina l para o qual esta se vai dei xa ndo rolar.

As treze TFPs recomendam empenhadamente dos documentos tradicionais do Supremo Magisque os leitores deste resumo tomem conhecimento tério da Igreja. do texto integral da Mensagem aqui referida, de Textos da Mensagem em inglês, francês, aleautoria do Prof. 'Plinio Corrêa de Oliveira, a qual mão , português, espanhol e italiano podem ser constitui uma análise particularmente penetrante e facilmente obtidos mediante carta ou envio de documentada do socialismo autogestionário à luz cupom dos interessados à Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade Rua Dr. Martinico Prado, 246 - 01224 - S. Paulo - Tel.: (011) 221-8755 Por favor, envie-me gratuitamente: exemplares do text o integral da Mensagem "O socialismo aurogestionário: em vista do comunismo. barreira ou cabeça-de-ponte? exemplares do resumo "Socialismo Autogestionário: Hoje, França - A manhã, o Mundo .?" em

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A Mensagem, o Comunicado, e u m amplo resumo de ambos o s documentos, foram publicados nos segu intes jornais: nos ESTADOS UNIDOS, Washington Post, The New York Tim es, !Vali , Street Joumal, Los Angeles Tim es, Dallas Morn i11.g News e L '!talo-americano de Los A ngeles; no CANADÁ, Th e Glob e a nd Ma il de. Toronto, La Presse de Montréal e Speakup de Toronto: na ALENfANHA , Fra11kf11rter A /lgem eine Zeitung de, Frankfu rt, Hamb urger Abendb latt, Suddew sche Zeitung de Munique e Die We lt de Hamburgo; na Á USTRFA , Die Presse e Groschenblatt de Viena: na INGLA TERRA, Th e Observer, The Daily Telegraph e Th e Guardian de Londres; em PORTUGAL , Comércio do Porto, Diário de Noticias e O Dia de Lisboa · na ESPANHA, La Vanguardia de Barcelona e Hoja dei Lunes de Madrid, Barcelo na, Bilbao, Sevilha e Va /éncia, Sur de Málaga, Suroeste de Sevilha, Odiei de H11elb a, Cordoba, E/ Mundo Finan ciero e Servieio de Madrid; na FRANÇA , lnternational Hera/d Tribune e Rivarol de Paris; na IRLANDA, lrisch !ndependent e Irisch Times de Dublin; na ITÁLIA , li Tempo de R oma , li Giomale Nuovo de Milão , Giomale di Sicilia de Palermo e Gazzetta dei Sud de Messina; no LUXEMBURGO, Luxemburger Wort; na SUJÇA , La Tribune de Genéve de Genebra: 110 BRASIL , Folha de S. Paulo, Última Hora do Rio de Janeiro, A Tard e de Salvador, Estado de Minas de Belo Horizon te, Jornal do Comm ércio de R ecife, O Estado do Paraná de Curitiba, O Popular de Goiânia e Jornal de Santa Catarina de Blumenau, Correio do Po vo, Zero Hora de Porto A legre, ,Peu tsche Zeitung e Brasil Post de S. Paulo , O Mo nitor Campista de Campos, A República de Natal, Diário de Natal, A Provincia do Pará de Belém, O Jornal de Unigua iana, O Estado do Maranhão de S.Luis, Gazeta de Alagoas de Maceió e Letras em Marcha do Rio de Janeiro ; na ARGENTINA, La Nación de Buenos A ires, Mendoza e Los A ndes de /vlendoz a, La Nueva Pro11incia de Bahia Bianca, Diário de Cuyo de San Juan , E! Sol de Caramarca, Cios Polski, Precisiones e La Palabra Ucronia de Buenos A ires e Nueva Jornada de Gal. Madariaga; no CHILE, El Mercurio de Santiago; 11 0 URUGUAI, El Pais de Montevidéu ; na BOL{VIA. E! Diário de La Paz e E! :Mundo de Santa Cn1z; no EQUA DOR , E! Tiempo e E! Comercio de Quito , e E! Universo de Guayaquil; na COLÔMBIA. El Tiempo de Bogotá, E/ Pais de Ca/i, E/ Colombian o de Medellin , Diario de la Frontera d e Cucutá e Diario dei Hui/a de Neiua; na VENEZUELA, Diário de Caracas, El Universal e E/ /l'tfundo de Caracas, E/ Impulso de Barquisimeto e Panorama de Maracaibo; no PERU, E/ Comercio de Lima; 110 PARAGVAI, Hoy e ABC de Assunção; na COSTA RICA, La Nación de San Jose; na AUSTRÁLIA, Sydney Hera/d, The A ustralian de Sidney e The Me lb oume Age; nas FILIPINAS , The Times Journal de Manilha; na ÃFRJCA DO SUL , Th e Star, Th e Citizen, Th e Sunday Tim es e Rapport de Johanesburgo e The A rgus da Cidade do Cabo. Além destes, o Resumo dos documentos foi publicado também nas edições especiais de SELEÇÕES DE REA DER 'S DIGEST, que circulam em 65 poises das Américas, Europa , Ásia, África e Oceania.

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Pessoas indicadas para receber o resumo "Socialismo Autogestionário: Hoje, França - Amanhã, o Mundo?" Nome Endereço Cidade : Nome Ende reço Cidade Nome Endereço Cidade

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Gustavo Antonio Solimeo Luiz Sérgio Solimeo

As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são

II

Gênese, organização, doutrina e ação das CEBs



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AUTORES deste trabalho, em vinte anos de convívio fecundo com o Professor Plínio Corrêa de Oliveira, dele receberam admirável exemplo de virtude e de destemor, na polêmica contra a investida do progressismo. E além do exemplo, possante estímulo para o estudo e a pesquisa; ao que se soma lucidíssima orientação concreta com a qual o Mestre abriu as vias para os discípulos. Tal é a monta do que receberam, e ainda de modo particular para a elaboração do presente trabalho, que um dever de justiça e de reconhecimento os leva a afirmar de público a parte eminente do Mestre, no estudo que se segue ..


AVISO PRELIMINAR

AS COMUNIDADES Eclesiais de Base são aqui estudadas em seu conjunto, enquanto um movimento. É preciso que fique claro que não se pretende atribuir a toda e qualquer Comunidade de Base os erros -de doutrina e desvios de conduta apontados neste trabalho, nem tampouco negar a presença nelas de gente de boa-fé. Haverá, certamente, Comunidades que não merecem tais reparos. Não são elas, entretanto, que dão a tônica e representam o dinamismo do movimento. Por outro lado, o movimento não pode ser visto como um conjunto de CEBs inarticuladas entre si. Pelo contrário, ele constitui uma vasta rede que favorece o intercâmbio de pessoas e publicações, tornando assim fácil a propagação dos erros de doutrina e desvios de conduta aqui apontados. Uma vez que tais Comunidades Eclesiais de Base aceitam o rótulo (embora possam por vezes não aceitar por inteiro o conteúdo), cabe a elas desfazer perante o público os equívocos a que tal situação se presta. Pois o que aparece como sendo a doutrina, os métodos e a atuação das CEBs, quer no noticiário e nos comentários da grande imprensa, quer nas publicações católicas de um modo geral, quer nos trabalhos de especialistas (inclusive em Estudos da

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CNBB), assim como nos documentos provenientes das próprias Comunidades e, sobretudo, dos Encontros nacionais e internacionais já realizados ·no País, é o que vem denunciado nestas páginas. As diferenças de matizes de opinião e de conduta dentro do movimento podem ser explicadas pelas próprias diferenças de feitio pessoal, de temperamento, de grau de adesão de seus membros. Mas podem ser vistas também como uma decorrência da própria natureza camaleônica do movimento, bem como do caráter gradualista de sua metodologia. Desse modo, coexistem em seu seio desde Comunidades num estágio incipiente do processo de conscientização - voltadas mais para as práticas estritamente religiosas e conservando ainda uma fisionomia tradicional -, até aquelas num estágio mais avançado do mesmo processo, para as quais a prática religiosa e a prática política se confundem. O presente trabalho, ao traçar o perfil do movimento das CEBs em seu conjunto, denunciando-lhe os erros e o perigo que ele representa, visa não somente a alertar a opinião pública, especialmente a católica, m :tS também a ajudar a todos quantos militam de boa-fé no movimento, desconhecendo a sua verdadeira natureza, a hete-


Parte li

rodoxia de suas doutrinas, bem como suas metas últimas, no plano político-social e religioso.

* * * As páginas que se seguem são apenas o resumo de alguns dos principais capítulos de um trabalho muito mais extenso (cerca de 500 páginas) que está sendo lançado pela Editora Vera Cruz em edição mimeografada, sob o título As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são - Comentários e documentação totim. Nesse trabalho, as afirmações aqui contid as além de outras que não constam destas páginas são esteiadas em uma abundância de documentação, uma riqueza de fatos e um desenvolvimento doutrinário que a exigüidade do presente volume não poderia conter. Para a elaboração do estudo completo foram compulsados, cuidadosamente classificados e analisados 214 livros, 153 monografias, ensaios e artigos especializados; 67 relatórios das CEBs para os Encontros Nacionais e 52 outros relatórios; 437 cartilhas e folhetos publicados ou di stribuídos por I 77 entidades diversas; coleções dos principais órgãos da imprensa naciona l, religiosa e leiga, no

período I975-1982; alguns milhares de recortes avulsos de cerca de 100 jornais e revistas de todos os quadrantes do País, ademais de deze nas de documentos eclesiásticos sobre o tema. A pesquisa e estudo de toda essa documentação (a liás já retirada de qualquer sede da TFP e guardada em lugar inatingível por q ualquer operação "pegaarquivo" ... ) levou cerca de quatro a nos, de 1978 até a presente data . Na impossibi lid ade - por razões de espaço de dar conhecimento aqui de toda essa documentação, os Autores limitaram-se a a presentar as refe rências bibliográficas indispensáveis para documentar de modo suficiente as afirmações contidas nestas páginas. O leitor interessado na bibliografia mais completa, ou desejoso de um maior aprofu ndame nto no estudo do fe nômeno das Comunidades Eclesiais de Base, está convidado a recorrer ao volume mimeografado , contendo o resultado completo dessa pesquisa. Sobretudo estão convidados a tal aq ueles dos leitores que quiserem impugnar as apreciações e co nclusões do presente vo lume. (*) Os destaques em negrito constantes desta parte do traba lh o são dos Autores.

Nota da Editora: O referido volume mimeografado - "As CEBs ... das quais muito se

fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são - Comentários e documentação totais" - poderá ser adquirido na Editora Vera Cruz Ltda., à Rua Dr. Martinico Prado, 246, CEP 01224, São Paulo. Tel. (011) 221-8755, ramal 247.

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• Celebraçlo durante o 4 .0 Encontro Nacional de Comunidades Eclesiais de Base no antigo noviciado dos Padres Jesultas, em ltaici-SP, abril de 1981.

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As CEBs são como disc s voadores: todo mundo fala delas, mas ninguém sabe o que são

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PE. JACQUES Loew (superior dos padresoperários franceses de Osasco-SP), não sem algum humor, anos atrás, comparava as Comunidades Eclesiais de Base com os "discos voadores": todo o mundo fala deles, mas ninguém sabe ao certo do que se trata ... E, realmente, para a maioria dos brasileiros, ainda hoje, as CEBs continuam a ser "objetos nãoidentificados". O que se compree;1de, pois um de seus principais divulgadores, o Pe. José Marins, diz que as CEBs, se não são secretas, são ao menos discretas e podem adotar qualquer nome, ou nenhum nome ... Parece ter chegado a hora de tirá-las do anonimato, de identificá-las apresentando a sua fisionomia.

Como nascem as Comunidades Eclesiais de Base As Comunidades Eclesiais de Base não brotam do chão da noite para o dia, como' cogumelos depois da chuva. Tampouco nascem por geração espontânea. Elas são, ao contrário, o resultado de um longo, sistemático e persistente trabalho de cerca

de 100 mil agentes pastorais (Bispos, Padres , freiras, leigos engajados) que atuam por todo o País, mas concentram seus esforços de modo especial em certas áreas, como a periferia dos grandes centros urbanos e a zona rural (!). A motivação para a formação das CEBs é sempre religiosa: as pessoas participam delas , primeiro e antes de tudo, por causa da religião e não por objetivos educacionais, profissionais ou políticos. Até mesmo as motivações não religiosas que podem aparecer no surgimento de algumas CEBs (de caráter assistencial ou social, por exemplo) só têm efetividade porque introduzidas por pessoas ou instituições ligadas à Igreja. A iniciativa da criação das Comunidades de Base cabe quase sempre ao clero e aos agentes pastorais, os quais procuram aproveitar nesse ( 1) A expressão e a figura do "agente de pastoral", ou simplesmente "agente pastoral" são de criação relativa mente recente. A expressão não tem a precisão da terminologia eclesiástica tradicional , sendo ao contrário vaga e ambígua, usada ao sabor das conveniências. Em sentido amplo, abrange todos aqueles que se dedicam a atividades pastorais, sejam Bispos, Padres, Irmãos, Freiras, se minaristas ou simples leigos. Em sentido restrito, des igna os "leigos engajados", de ambos os

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A TFP as descreve como são

sentido as atividades e estruturas religiosas já existentes (reza do terço, novenas, Campanha da Fraternidade; capelas, associações tradicionais, movimentos). Tais elementos são reenfocados numa perspectiva "libertadora". Há também uma outra razão para a proliferação das CEBs: em certas dioceses, sobretudo no Interior, o indivíduo é obrigado a pertencer a alguma Comunidade de Base para poder participar da vida religiosa local, inclusive para receber os Sacramentos. Isso força muita gente, não raro a contragosto, a participar das atividades comunitárias. Como já se disse, antigas associações e movimentos (Congregações Marianas, Apostolado da Oração, Vicentinos, Legião de Maria, ou, mais à esquerda; Cursilhos, TLC, Movimento Familiar Cristão) foram trabalhados pelos agentes pastorais e transformados em Comunidades de Base, conservando embora as antigas denominações. Ficaram, já se vê, apenas os velhos rótulos, sendo o conteúdo bem outro ... sexos, especialmente treinados em Institutos de pastoral, ou instituições análogas, para o trabalho de conscientização das populações dos bairros periféricos e da zona rural. Tais agentes vivem exclusiva ou predominantemente de seu trabalho pastoral, sendo sustentados pelas paróquias, prelazias, dioceses ou organismos eclesiásticos, inclusive ligados à CNBB, como a Comissão Pastoral da Terra-CPT e o Conselho Indigenista Missionário-CIMI, por exemplo. Com frequência, são bolsistas ou estagiários de instituições européias, norte-americanas e canadenses de ajuda ao Terceiro Mundo. Grande parte dos sacerdotes que deixaram o ministério continuam a exercer atividades religiosas na qualidade de agentes pastorais remunerados. Nem todos esses agentes pastorais são católicos: por exemplo, são frequentes os protestantes entre os agentes pastorais na CPT. Basta citar os luteranos ainda há pouco envolvidos em conflito sangrento de terras em Rondônia, integrantes da CPT da Prelazia de Ji-Puaná.

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A iniciativa da criaçlo de CEBs cabe quase sempre aos bem treinados agentes pastorais, os quais se aproveitam das estruturas e associações religiosas jé existentes. Encontro de agentes pastorais e animadores de Comunidades de Base ·em ltaquera, Zona Leste de Slo Paulo.

O que slo as Comunidades Ecleslals de Base As Comunidades Eclesiais de Base - CEBs são pequenos grupos de caráter religioso, organizados por iniciativa do clero e de agentes pastorais, em torno das paróquias e capelas. Cada CEB tem 10, 30 ou 50 membros, ou até mais, como ocorre em cidades do interior e na zona rural, onde 100, 200 e mais pessoas se reúnem aos domingos para a Missa ou o "culto". Nesse caso, costuma ser dividida em grupos menores conhecidos por "grupos de base", "grupos d; oração", "grupos de reflexão", "círculos bíblicos" e outras denominações (a terminologia varia muito).


Parte li

Os grupos de base têm suas reuniões próprias, uma vez por semana, havendo mensalmente uma reunião conjunta de toda a Comunidade, a "assembléia", "plenário" ou "grupão". O mais comum é chamar de CEB ao conjunto de vários desses grupos de base reunidos em torno de uma capela ou de um centro comunitário (dez, em média). Mas acontece também de se dar essa denominação a cada um desses pequenos grupos, o que pode ocasionar confusões, sobretudo quando se trata de avaliar o número de Comunidades existentes em algum lugar. Cada paróquia ou capela pode abranger um sem-número de Comunidades. As várias CEBs de uma paróquia, bairro ou setor são assistidas e coordenadas por um agente ou uma equipe pastoral, que faz a ligação delas entre si e com o Vigário. Em alguns casos o grupo de CEB toma algum nome (é freqüente a denominação Comunidade Cristo Libertador ou Comunidade Cristo Ressuscitado), mas em geral são conhecidas pelo Padroeiro da matriz ou capela ( Comunidade Santo Antonio, Comunidade Nossa Senhora Aparecida), ou simplesmente pelo nome do lugar ( Comunidade do Parque Cocaia). Seus membros referemse a elas apenas por "a Comunidade".

Capítulo I -

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um ou outro pequeno comerciante, alguma professora, e aposentados; na zona rural, são assalariados, posseiros, parceiros ou arrendatários, pequenos proprietários, e seus familiares. As Comunidades organizam-se, pelo comum, segundo um critério geográfico. Às vezes, entretanto, agrupam-se por idade ou categoria profissional e ambiental: grupo de jovens, de empregadas domésticas, lavadeiras, soldados, favelados, internos de sanatórios, presidiários e até ... prostitutas! (De que há indícios nas Dioceses de Juazeiro-BA, Rio Branco-AC, Lins-SP e Crateús-CE, por exemplo). Há também CEBs de índios (tais os xocós da Diocese de Propriá-SE, os quais invadiram terras da família do prefeito de Porto da Folha, tempos atrás). Os membros das CEBs slo recrutados nas camadas mais simples da população. em geral as mais religiosas da sociedade. E por sua atraçlo religiosa que aderem ao movimento. - Reunilo da Comunidade de Mangueirinha (Recife) .

Quem slo os membros das CEBs De modo geral as CEBs são homogêneas quanto ao nível cultural e sócio-econômico dos participantes: membros de uma família, vizinhos, colegas de serviço, moradores da mesma rua ou bairro, freqüentadores da mesma paróquia ou capela. Na periferia urbana são, na maioria, donas-de-casa, operários, pequenos funcionários, empregados do comércio e do setor de serviços,

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A s CEBs ... das quais muito se fala, p ouco se conhece -

A TFP as descreve com o são

A direção da CEB: "Um grupinho que age na surdina, planeja e decide, mas sem aparecer... " Algumas Comunidades de Base apresentam uma organização interna de caráter mais ou menos convencional, com presidente, secretário, tesoureiro. A maior parte delas, porém, rejeita esses esquemas formais, muito pouco de acordo com o igualitarismo que serpeia no movimento, e apresentam uma direção colegiada, sob a forma de equipes. Contudo, os dirigentes - sejam indivíduos ou equipes - não passariam de meros intérpretes da vontade geral da Comunidade, na qual residiria todo o poder e toda a autoridade, conforme a utopia autogestionária. A direção ostensiva cabe aos bem treinados monitores (também chamados animadores, coordenadores ou líderes), que vivem fazendo cursos de técnicas de liderança, de direção, de trabalho em comum e de dinâmica de grupo, em centros de treinamento das dioceses e prelazias. Na realidade, quem de fato orienta e dirige a CEB é .um grupinho, o qual "age na surdina", "planeja e decide, mas sem aparecer" - como se pode ler em relatório do Regional Nordeste-! da CNBB. Mas a atuação desse grupinho, chamado "grupo fermento" (por trás do qual, obviamente, está o Padre, a freira, o agente pastoral) é feita com muito jeito, para que os membros todos tenham a ilusão de estar participando da co-gestão da CEB, e de que esta se governa a si própria sem interferência externa; ou seja, é autogerida. Com propósito, o Pe. Pascoal Rangel comenta que os membros da CEB evidentemente repetirão o que clérigos ou agentes bem treinados lhes ensinarão a dizer, já que estão criticamente desarmados. Mas,

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à força de repetir, não acabarão por acreditar que foram eles mesmos que chegaram por si sós àquelas conclusões? Este é, aliás , um dos principais artifícios empregados no processo de conscientização.

O grande objetivo das CEBs: a conscientização A grande maioria dos agentes pastorais considera a conscientização como o grande objetivo e a principal função das Comunidades Eclesiais de Base. Ela ocupa em torno de dois terços dos esforços dos agentes pastorais e demais animadores; para ela são aproveitadas todas as atividades internas e externas das Comunidades: cultos e celebrações; reuniões de reflexão, de discussão e ação; mutirões de trabalho; lazer comunitário; campanhas e movimentos reivindicatórios e de pressão sobre as autoridades.

Ver-Julgar-agir... como querem os agentes pastorais O local de reunião varia conforme as circunstâncias: pode ser a igreja, o salão paroquial, a capela, o centro comunitário, a creche, a escola ou um simples galpão; em muitos lugares as celebrações e reuniões realizam-se cada vez na casa de um dos participantes; também não faltam aquelas ao ar livre, à sombra acolhedora de alguma árvore ou numa discreta clareira da mata. As reuniões seguem quase sempre por toda a parte o esquema ver-julgar-agir. Depois de orações e cânticos, o monitor, animador ou coordenad.or pergunta como foi a semana em casa, no bairro, no trabalho e os participantes fazem seu relato. Escolhe-se uma ou duas questões consideradas·


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mais importantes e prossegue-se a reunião em torno delas. Ou senão o monitor apresenta um problema (deficiência dos transportes ou posse da terra, por exemplo) e pede que cada um relate suas experiências pessoais a respeito. Isso constitui o ver. Passa-se a seguir ao debate do "porquê" dos problemas levantados, à discussão das "causas": é o julgar. - O que Deus acha disso? Vai-se então à Bíblia e toma-se uma passagem que apresente semelhança ou analogia com a situação descrita e faz-se a aplicação. Por fim vem o agir: combina-se a ação concreta para resolver o problema ou mudar a situação: mutirão para construir o centro comunitário, manifestação de protesto diante da Prefeitura, formação de uma chapa de oposição para concorrer às eleições no sindicato. Ou ainda uma "operação pega-fazendeiro". Não é difícil perceber o quanto tal método se presta à manipulação da gente mais simples e totalmente confiante no que lhe vem do Padre, pelos bem adestrados monitores e agentes pastorais, os quais conduzem o debate para a direção As CEBs rumam para um mundo sem atrativos, todo.ele prético, funcional, laico e igualiürio. Aos poucos, as igrejas vlo aendo substituldaa por "Centros Comuniürios" como o da Comunidade Cristo Libertador, de Macapé.

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que lhes convém, levantam as questões que lhes interessam e têm sempre à mão o texto bíblico adequado aos seus objetivos, interpretados, naturalmente, numa perspectiva "libertadora" (existem já prontos verdadeiros "receituários" para as mais diversas ·situações). Da discussão sobre a falta de água, luz, transporte ou a alta do custo de vida, para a contestação do regime sócio-político e econômico vigente o passo é pequeno (e os animadores, suficientemente habilidosos para provocá-lo). Por isso Frei Beto (apontado como um dos principais articuladores do movimento) diz que as CEBs têm um caráter pastoral que é político, enquanto faz emergir a "consciência crítica". E que querer "despolitizá-las" é privá-las desse caráter "pastoral libertador".

"Ceder uma parte do seu EU, substltuldo por um NOS envolvente e conglomerante ... " As reuniões semanais são de importância vital para as Comunidades: elas é que garantem a coesão do grupo, o inter-relacionamento dos participantes, a troca de informações e experiências. Numa palavra, elas é que fazem surgir o espírito comunitário. Papel importante cabe às convivências - atividades sociais visando à maior integração do indivíduo na Comunidade e a aproximação entre os participantes dela: almoços, passeios, piqueniques, bailes. Não menos importantes são os jomaizinhos e boletins mimeografados, tanto para a vida interna da CEB, como para o intercâmbio com as demais. Além das reuniões regulares e das celebrações, as CEBs desenvolvem um sem-número de ativi117


As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

dades comunitárias, de caráter religioso (catequese, cursos bíblicos, equipes de liturgia, de canto, de preparação para os sacramentos etc.); social (trabalho coletivo, cursos de alfabetização, corte e costu ra, de leis etc.); e econômicas (roças comunitárias, farmácia s comunitárias, compras comunitárias, caixa comum etc.), O comunitarismo exacerbado é característica das CEBs: pretende-se fazer com que os participantes ponham toda a sua vida em comum, desde as preocupações religiosas, sociais e econômicas, até as familiares e o próprio lazer. Mesmo os problemas mais íntimos e pessoais devem ser apresentados, debatidos e resolvidos na Comuni-

dade. Inclusive cas0os de adultério, como refe re Frei Clodovis Boff em livro sobre as CEBs do Acre. Como escreve um autor, é preciso que o indivíduo "ceda uma parte do seu EU, fazendo com que seja substituído por um NÓS envolvente e conglomerante... "

Em lugar do pão e do vinho, cacau, cafê, peixe, polvilho de mandioca ... As celebrações e o culto constituem o centro da vida das CEBs. Segundo o espírito e as doutrinas do movimento, a liturgia da Comunidade deve refletir a

As celebrações nao CEBs assemelham -se a autênticos culto protest antes, quando não descambam para rituai s grot escos. Os textos "litúrgicos" têm se m pre um caráter con scientizado r e "libertador" . - "Celebração da Eucaristia " (sem Padre) , .na Comunid ade de Barro do Vento , Tau é-CE.

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Parte II

vida de seus membros. Por conseguinte, está cada vez mais sendo confiada a eles a elaboração dos textos litúrgicos, dos cânticos e do roteiro das celebrações. E o que se tem presenciado são atos que se assemelham a autênticos cultos protestantes (quando não descambam para rituais com conotações fetichistas). Em tais atos - como no Protestantismo ocupa papel preponderante, quando não exclusivo, a chamada "Celebração da Palavra", a qual pode consistir na leitura de um texto bíblico, de uma carta de protesto às autoridades ou de uma poesia subversiva de D. Pedro Casaldáliga. Às vezes se resume na discussão dos "problemas do ·povo". Quanto às "Celebrações da Eucaristia", o que se entende por tal nas CEBs não difere muito, se em algo difere, do que por tal se entende nas seitas protestantes que não a aboliram de todo. Fica relegado a plano secundário, quando não é negado implícita ou explicitamente, o caráter sacrifical da Santa Missa, reduzida a mera refeição (o "ágape" ou "Ceia do Senhor", dos protestantes), a uma "janta", como prosaicamente a qualifica um livrinho das CEBs da Prelazia de São Félix do Araguaia, que tem por finalidade precisamente responder à pergunta contida no título: Missa, o que é? (Livrinho que, seja dito de passagem, foi publicado pela Editora Vozes, de Petrópolis, e largamente difundido por todo o País). Adiante o livrinho ensina: "A missa é uma refeição. Jesus escolheu para esta refeição pão e vinho, porque era a comida que tinha em toda casa do povo dele, feito o arroz, a farinha e o café aqui para nós". Se a Missa é uma simples refeição e se o pão e o vinho foram utilizados por Jesus por serem a comida do seu povo, porque, então, não utilizar

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nas "Celebrações da Eucaristia" aquilo que constitui a comida do nosso povo - o arroz, a farinha , o café? Ora, é precisamente o que se faz . Em celebrações no norte do Espírito Santo, as espécies eucarísticas foram substituídas por cacau, café, garrote, peixe e polvilho de mandioca, conforme o produto predominante na região. Na Paraíba, fez-se a partilha do cuscuz, para simbolizar a fração da hóstia. E os textos "litúrgicos" apresentam sempre um aspecto "conscientizador" e "libertador", porejando o espírito de revolta e a luta de classes.

A vasta "periferia" dos "simpatizantes" e "aliados" e a "massa de manobra" Em grande número de paróquias, especialmente em bairros periféricos, pequenas cidades e capelas rurais, as atividades religiosas do lugar constituem praticamente um prolongamento da atuação das Comunidades de Base. Pois os seus membros é que preparam e conduzem as celebrações, novenas, festa do Padroeiro, procissões e outras manifestações da chamada "religiosidade popular", as quais oferecem excelente ocasião para o trabalho de recrutamento e de conscientização da massa,dos fiéis. O mesmo se dá com os cursos de preparação para o Batismo, a Primeira Comunhão, o Casamento, dos quais são, via de regra, os responsáveis. As atividades externas mais importantes das CEBs são as campanhas de mobilizaçio popular para promover 'alguma reivindicaçio: reúnem na igreja, capela ou centro comunitário os moradores do bairro, favela ou zona rural para tratar de algum problema local (água, luz, esgoto, posse da terra, sindicalismo) e em torno desse ponto desen-

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As CEBs ... das quais muito se fala , pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

volvem um intenso trabalho de conscientização da população. Alguns acabam por integrar-se na CEB; outros passam a constituir os "simpatizantes" ou "aliados"; uma boa parte, sem o saber (e, não raro, sem o querer), acaba constituindo importante "massa de manobra" das CEBs. Por essa forma o movimentq das Comunidades Eclesiais de Base vai formando em torno de si uma vasta periferia ou coroa, da qual elas são o núcleo ou cerne duro.

A "maquina" das CEBs O movimento das CEBs passa a dispor, assim, de poderosa "máquina" de atuação, cujas peças são os organismos por elas criados ou infiltrados: clubes de mães; movimentos de reivindicações das

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As CEBs atingem setores refratários à pregação co munista direta: pacatos chefes de familia, tranqüilas donasde-casa. ordeiros trabalhadores. - Concentração de 1. 0 de maio de 1978 no Colégio Santa Maria (S ão Paulo): não faltaram os punhos cerrados. conhecido gesto comunista.

periferias (água, luz, transporte, creches, posto de saúde, luta contra os loteamentos clandestinos); grupos de rua; grupos de quarteirão; grupos de música e teatro; comissões de visitas; Movimento Contra a Carestia; Movimento de Favelas; Assembléia do Povo; Oposição Sindical; Sociedade de Amigos de Bairro etc. São ainda as CEBs que animam entidades eclesiásticas mais amplas, como a Comissão Pastoral da Terra, Pastoral Operária, Comissões de Justiça e Paz, Centros de Defesa dos Direitos


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Humanos e outras. Elas é que fornecem os ativistas em nível de base, sem os quais essas entidades, de modo geral, não passariam de_ simples rótulos. Com tudo isso, as Comunidades Eclesiais de Base vão salpicando de descontentamento e de revolta os ambientes em que se movem. Elas transformam as doutrinas marxistas da Teologia da Libertação em práxis miúda, atingindo por essa forma setores da população refratários à pregação comunista direta.

Instrumentalização de uma confiança Ingênua Por seu caráter religioso e sua constituição peculiar, mobilizam em prol da luta pela derrubada das atuais estruturas, um número, mas sobretudo um tipo de pessoas normalmente avessas a qualquer militância política: pacatos chefes Referências: CNBB, Pastoral Social, Estudos da CNBB-10, São Paulo, 1976; IDEM, Comunidades: Igreja na Base, Estudos da CNBB-3, São Paulo, 1975; IDEM, Comunidades Eclesiais de Base no Brasil, Estudos da CNBB-23, São Paulo, 1979; FREI ALMIR RIBEIRO GUIMARÃES OFM, Comunidade de Base no Brasil: uma nova maneira de ser em Igreja, Vozes, Petrópolis, 1979; PE. JosÉ MARINS, Comunidades Eclesiais de Base na América Latina, in "Concilium", n. 0 104, 1975; IDEM, Comunidade Eclesial de Base: prioridade pastoral, Paulinas, São Paulo, 1976; PAUL SINGER e VINICIUS CALDEIRA BRANDT (org.), .São Paulo: o Povo em movimento, Vozes-CEBRAP, Petrópolis-São Paulo, 1980; FREI BETo, O que é Comunidade Eclesial de Base, Ed. Brasiliense, São Paulo, 1981; PE. ROGÉRIO AucrNo PIME, Comunidade, líder, paróquia, Paulinas, São Paulo, 1977; FREI CLOD0VIS BoFF OSM, Deus e o homem no inferno verde - Quatro meses de convivência com as CEBs do Acre, Vozes, Petrópolis, 1980; IDEM, A influência política das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), in "SEDOC", janeirofevereiro 1979; CNBB-REGIONAL oo NORDESTE-!, XVI Encontro da Comissão Episcopal Regional N E-/, Teresina, janeiro 1980,

Capítulo I -

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de família, tranqüilas donas-de-casa, operários ordeiros e homens simples da roça. Isto ocorre em virtude da confiança irrestrita no Padre, que caracteriza o brasileiro comum. Tal confiança - em si mesma louvável - é entretanto nas mais das vezes deformada por uma compreensão inexata da infalibilidade pontifícia, a qual é indevidamente estendida para os Bispos, Sacerdotes e até mesmo religiosas. Para o católico brasileiro comum, o Padre é a encarnação da própria Igreja. Ele toma suas palavras e suas atitudes como sendo sempre e indiscutivelmente a expressão fiel, autêntica e completa do pensamento da Igreja, por mais estranhas, heterodoxas e chocantes que sejam. E o Clero engajado nas CEBs - negador de todas as infalibilidades e de todas as autoridades - sabe explorar essa deformação em proveito da Revolução no seio da Igreja e da sociedade (cfr. Parte 1). Anexo 2; CNBB-REGJONAL SuL-2, Manual sobre as Comunidades Eclesiais de Base, Vozes, Petrópolis, 2.• ed., 1977; EQUIPE DE REDAÇÃO DAS DIOCESES DE CARATINGA, TEÓFILO 0TONI, DIVINÔPOLIS E ARAÇUAI, Abra a poria - cartilha do Povo de Deus, Paulinas, 2.ª ed., 1979; PE. RAUL M0TTA DE ÜLIVEIRA, Manual das Comunidades Eclesiais de Base, Editora Dom Carlota, Caratinga, 1978; PE. G. DEELEN SSCC, La /g/esia ai encuentro dei pueb/o en América Latina: las comunidades de base en Brasil, in "Boletin Pro Mundi Vita", abril /junho 1980 (Bruxelas); PE. J. KERKHOFS SJ, Comunidades Eclesiais de Base en América Latina, in "Boletin Pro Mundi Vita", setembro 1976; PE. JEsus ANDRÉS VELA SJ, Las Comunidades de Base y una lglesia Nueva, Editorial Guadalupe, Buenos Aires 1971 · Relatórios e depoimentos dos Encontros Nacionais de Comu'. nidades Eclesiais de Base, publicados em "SEDOC", maio 1975, _outubro 1976, novembro 1976, outubro 1978, janeirofevereiro 1979, setembro 1981; PE. DOMINIQUE BARBÉ, En e/ futuro, las Comunidades de Base, Studium, Madrid, 1974 (prólogo de Jacques Loew).

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"Comunidade de Base. . . marxismo, equz

OM MIGUEL Balaguer, Bispo de Tacuarembó (Uruguai), tem uma curiosa explicação quanto à origem da expressão "Comunidades de Base". Falando da necessidade de pequenas comunidades, acresce nta: "Agora elas foram batizadas com o nome de 'comunidades de base'; expressão inspirada na terminologia marxista, equivalente a soviete; mas isso não é motivo para rejeitá-la. Tínhamos o nome já escolhido para uma criança que cuidávamos que nascesse o quanto antes". Pois bem, o estudo da história, da doutrina e da atuação das Comunidades Eclesiais de Base mostra que a inspiração marxista não fica apenas no nome ... Por outro lado, a declaração do Bispo uruguaio - que quase choca pela franqueza - desfaz um dos mitos mais cuidadosamente alimentados pelo movimento das CEBs: o mito da espontaneidade. Espontaneidade que é apresentada como sinal da ação do Espírito.

O mito da espontaneidade As Comunidades Eclesiais de Base têm verdadeira necessidade de não aparecer aos olhos do grande público - e, mais ainda, de seus próprios membros - como um movimento organizado. 122

Isso por razões tanto doutrinárias, quanto estratégicas. Por um lado, as próprias CEBs se autodefinem como "uma Igreja que nasce do povo pelo Espírito de Deus". Testemunho dessa ação do Espírito seria o caráter espontâneo de sua origem e formação, no qual se deveria ver um "sinal dos tempos". Elas corresponderiam a um processo espontâneo e desarticulado, suscitado pelo "Espírito", ao mesmo tempo, em várias partes do mundo, sobretudo na América Latina. Cada Comunidade seria um grupo autônomo e soberano, autogerido, nascido da realidade local. Elas são apresentadas desse modo ao gra nde público, e é possível que como tais apareçam aos olhos de não poucos de seus membros de base, os quais talvez até acreditem ser os protagonistas dessa "no.va maneira de ser Igreja" ... (Na realidade, por trás desse aparente igualitarismo e democratismo radical, está um grupo de gente bem treinada, que manipula os cordéis ... ). Por outro lado, pretendem ser já a realização, a um tempo, do modelo da nova Igreja e da nova sociedade: sem estruturas, sem organização, sem autoridade, em conformidade com a utopia autogestionária que está no bojo de sua doutrina.


Parte li

O mito da espontaneidade é assim muito importante para a legitimação das CEBs aos olhos do público e de seus próprios membros. Pois, se elas nascem espontaneamente, por moção do Espírito, quem pode contestar sua fisionomia, sua doutrina e seus métodos?

Um movimento que não é secreto, mas é "discreto" Mas quem acompanha com atenção o noticiário da imprensa e estuda a abundante documentação concernente a elas, acaba constatando que por toda a parte as CEBs apresentam as mesmas características fundamentais , as mesmas doutrinas, os mesmos objetivos, os mesmos métodos de recrutamento, formação e atuação, e até um jargão próprio. Por outro, realizaram-se no País quatro Encontros Nacionais e dois Internacionais de Comunidades de Base, além de numerosos encontros inter-diocesanos, regionais etc. Tudo isso, evidentemente, exige planejamento, organização, coordenação, financiamento etc. Não parece, pois, infundado concluir que, in concreto e independentemente de estruturas de caráter organizacional cuja existência se possa identificar, as Comunidades Eclesiais de Base constituem um movimento coeso e solidário, bastante disciplinado, não só de caráter nacional, mas até internacional. E tanto é assim, que autores insuspeitos (por serem mentores ou simpatizantes das CEBs), inclusive publicações da própria CNBB, referem-se a elas como o "movimento das Comunidades Eclesiais de Base" (em que pesem as tímidas reservas de D. Eugênio Salles com relação ao 4.0 Encontro Nacional - reservas, aliás, de caráter meramente disciplinar, sem qualquer refe-

Frei Betto (à esquerda). cúmplice do terrorista comunista Marighela. é um dos principais articuladores das CEBs em nlvel nacional. - Durante a famosa "Noite Sandinista", realizada em São Paulo em 19B0. ele confabula com o Pe. D'Escoto, Chanceler da Nicarágua.

rência de ordem doutrinária ou metodológica). Como, entretanto, caracterizar um movimento que, se não é secreto, é pelo menos discreto? E que, ademais, pode adotar qualquer nome, ou nenhum nome, conforme afirmações do Pe. José Marins, um de seus principais teóricos e expoentes em nível internacional?

Quem dirige o movimento das CEBs? Em princípio, cada Bispo é responsável pelas CEBs de sua diocese e cada Vigário p~las de sua

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As CEBs ... das quais mu110 se fa la, pouco se conhece -

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paróquia . E, de fat o, sem seu conhecimento e aprovação, ao menos tácita, elas não podem ser formadas (1). Mas uma pergunta fica: quem as coordena em nível interdiocesano, estadual, regional e nacional? E mundial? Ao contrário de outros movimentos religiosos, as CEBs não têm uma direção central ostensiva, nem responsáveis conhecidos em escalões mais elevados, menos ainda em nível nacional. Nem por isso deixa de haver uma coordenação geral do movimento comunitário, a qual, se passa despercebida ao grande público (e talvez à maioria dos próprios membros das CEBs ... ), não é menos real e efetiva. A unidade do movimºe nto é garantida, em larga medida, pelos inúmeros encontros, assembléias e reuniões em todos os níveis; pelos cursos de formação e treinamento de líderes e agentes pastorais; pelo intenso intercâmbio de pessoas e de publicações (dados recentes falam em mais de três milhões de exemplares mensais, só de boletins mimeografados). O que supõe a existência de um organi~mo coordenador, composto por pessoas coni autoridade, acatadas e respeitadas pelas Comunidades de t.odo o País. - Quem serão essas pessoas? Um conjunto de Bispos, Padres, freiras, agentes pastorais, teólogos, sociólogos, pastores protestantes, têm acompanhado mais de perto as Comunidades de Base, participando inclusive de seus Encontros nacionais ou internacionais. Se(1) Em 1975, Paulo VI estabeleceu na Exortação Apostó lica Eva ngelii Nuntiandi as condições para que uma "comunidade de base" pudesse ser considerada "eclesial" e não mera entidade sociológica. Entre essas condições está a união com a H ierarquia (Doe. cit., n. 0 58).

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rão eles os dirigentes nacionais do movimento? A suposição não é descabida, pois, em concreto, suas diretrizes teóricas e práticas é que têm orientado as CEBs brasileiras. Centenas de centros espalhad o s por todo o Brasil produzem uma infinidade de folhetos, cartilhas e boletins, num esforço de "conscientizar" as " bases" e assegurar a unidade de doutrinas, de métodos e de objetivos do movimento das CEBs .


Capítulo I - 2

Parte II

Origem das CEBs A S PRIMEIRAS Comunidades de Base teriam surgido no Brasil pelos fins dos anos 50, com os "catequistas populares" estabelecidos por D. Agnelo Rossi em Barra do Paraí, e com os grupos de "educação de base" do Movimento de Natal, criado anos antes por D. Eugênio Sallese D . Nivaldo Monte, então jovens sacerdotes. Em nível nacional, o Plano de Emergência da CNBB ( 1962) assentou os seus fundamentos e o primeiro Plano de Pastoral de Conjunto . (1965) já menciona explicitamente as "Comunidades de Ba_se". Nos anos seguintes passaram a constituir uma das prioridades da pastoral da CNBB. Assim amparadas pelo Episcopado, elas começaram a se multiplicar por toda a parte, sobretudo depois da Conferência de Medellin ( 1968), quando foram consideradas opção prioritária para a pastoral em todo o Continente.

100 mil CEBs, 2,5 milhões de membros? - Qual o número total de CEBs no Brasil? Quantas pessoas militam no movimento? Duas perguntas que nem a própria CNBB sabe responder. Ou diz que não sabe. Pois os Bispos responsáveis devem informar-se a respeito. Em 1974, um levantamento feito pelo CERIS (espécie de IBGE eclesiástico) dava o total de 40 mil CEBs em todo o Brasil, sem informar, contudo, o número de participantes. Em 1980, para atender a um pedid o de informação do Vaticano, o mesmo CERIS fez uma projeção, que deu como resultad o 80 mil CEBs no País; também

não aparece o total de membros. Para hoje não há dados oficiais. As estimativas veiculadas pela imprensa religiosa e leiga variam de 80 a 90 ou até 100 mil CEBs, totalizando um contingente de 2 a 2,5 milhões de pessoas conscientizadas. Frei Leonardo e Frei Clodovis Boff chegam a falar em 4 milhões de membros, o que constitui evidente exagero. Faltam meios para controlar essas estimativas e para avaliar, ainda que por aproximação, o número de CEBs existentes, bem como o total de seus membros. Entretanto, mais do que a falta de dados estatísticos atualizados, o que torna difícil avaliar o contingente das CEBs é o caráter discreto do movimento, e seu aspecto camaleônico, que ora toma um nome, ora outro, ora nenhum, agindo no anonimato ou por trás de biombos e fachadas .

"Pressão de base" das CEBs e "pressão de cúpula" da CNBB Quaisquer que sejam os números, o certo é que as Comunidades Eclesiais de Base representam um contingente ponderável de pessoas. Ainda que minoritário face à população total do País, e pequeno para os objetivos que se propõe, esse contingente é, no entanto, suficientemente grande para promover uma agitação que permita à CNBB, a certos setores políticos e da imprensa apresentá-las como uma força irresistível, ante a qual é preciso ceder. Para representarem o show da pressão de base que permita à CNBB exercer a verdadeira pressão de cúpula sobre as classes dirigentes, no sentido de forçar a aprovação das reformas de estruturas (Reforma Agrária, Reforma Urbana, Reforma Empresarial e outras), que eliminem a propriedade privada e conduzam o País rumo ao socialismo autogestionário.

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Uma deputada eleita pelas CEBs

E é preciso reconhecer que as Comunidades de Base encontram-se espalhadas por todo o Brasil, fazendo sentir sua ação nos mais diversos aspectos da vida nacional: religioso, político, sindical, educacional, tanto nas capitais corno no interior, nos bairros, nas favelas , no campo e até nas profundezas da selva amazônica. · No ano passado, as depredações de ônibus em Salvador e as invasões de terrenos urbanos em várias capitais alarmaram a opinião pública. O caso dos padres franceses acusados de incitarem 126

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O DIA 15 de novembro de 1971 duas freiras foram dar um curso sobre renovação da Igreja nesta paróquia [Nossa Senhora das Graças, Vila Remo, São Paulo]. Nesse dia passaram o filme 'O valor da pessoa humana', mostrando que todo mundo tem valor, que todos têm que ter um papel na sociedade. A proposta das freiras: que não se ficasse somente neste encontro mas que continuasse em outros trabalhos. Fundar o Clube das Mães, por exemplo . .... "Ficou marcado para todas as quintas-feiras nova reunião. Uma das freiras , Irmã Verónica, saiu. Outra, Irmã Angélica, continuou com o trabalho. A té que um dia ela teria de receber [emitir] o voto perpétuo e ficar no convento. Reuniu a comunidade e fez a proposta: deveria voltar para sua Ordem ou ficar com as mães? Depois dessa reunião, ela desistiu de ser freira. Hoje está casada, tem um filho e no m ês que vem nascerá o segundo filho . Essa moça é deputada estadual, e seu nome é Irma Passoni" ("O São Paulo", 10-5-79).

ao crime os "posseiros" do Araguaia, ou o dos colonos de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul, apenas ilustram essa atuação multiforme das CEBs, na qual não faltou correr o sangue. Referências: Além das referências do capítulo anterior, ver: D . MIGUE L BALAGUER, Carta ai Presbiterio, in "Vida Pastoral", Montevidéo, 45 (1975); lsMA R DE ·ou vEIRA SOARES, Comum·cação Libertadora, in "Familia Cristã", setembro 1980; "Veja", 2-7-80 e 17-12-80; "Isto é", 29-4-81; P E. EDUARDO HooRNAERT, Os perigos que ameaçam as CEBs, in "SEDOC", outubro 1976, col. 276.


Capítulo l - 2

Parte II

Peritos dos Encontros Nacionais dé CEBs e especialistas do movimento Frei Leonardo Boff OFM. - Professor no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, Redator da "Revista Eclesiástica Brasileira" e da revista teológica internacional "Concilium". Um dos mais prolíficos mentores das· CEBs, seus escritos versam especialmente acerca da eclesialidade das Comunidades de Base. Ministra cursos para Bispos, Padres, freiras, agentes pastorais leigos e líderes de CEBs por todo o País. Expoente da Teologia da Libertação em nível internacional. Frei Gilberto Gorgulho OP. - Professor de Sagrada Escritura na Faculdade de Teologia N. Sra. da Assunção e Coordenador de Pastoral na Arquidiocese de São Paulo, responsável pelas CEBs. . Pe. José Oscar Beozzo. - Diretor do Instituto Teológico de Lins. Sociólogo. (Essa diocese é um dos grandes centros nacionais de irradiação de Comunidades de Base). Encarregado de coordenar a preparação do 4. 0 Encontro Nacional. D. Frei Beto (Carlos Alberto Libãnio Christo). - Religioso dominicano; apesar de ter os estudos necessários, não quis ordenar-se Sacerdote, ficando como uma espécie de irmão leigo . . Passou quatro anos na prisão, condenado pela Justiça por envolvimento com a guerrilha urbana de Carlos Marighela, que ensangi.lentou , o País. Ào sair da prisão, foi trabalhar junto às _Comunidades de Base da Arquidiocese de

Vitória. Coordenou o 4.° Congresso Internacional Ecumênico de Teologia (Congresso de Taboão da Serra) e a "Noite Sandinista". Inte:grante da Pastoral Operária · da Diocese de Santo André, teve papel de destaque na articulação das greves metalúrgicas do ABC em 1980. Faz ainda visitas de "assessoramento pastoral" a CEBs de dioceses e pi-e~azias. Publicou alguns trabalhos de ca ráter teórico-prático. Apontado como o principal articulador do movimento em nível nacional. • Pe. Eduardo Hoornaert. - Belga. Professor no Instituto Teológico de Recife. Especialista em História Eclesiástica, a qual está reescrevendo, segundo a "ótica do · oprimido". Moos. Gérard Cambrón. - Canadense. É considerado um dos maiores especialistas em Comunidades de Base, junto às quais atua, há vários anos; no Maranhão. Frei Carlos Mesters O. Carm. - Holandês. Exegeta "oficial" do movimento. Percorre todo o País ministrando cursos para agentes pastorais, líderes e membros das CEBs, sobre Sagrada Escritura, sendo o principal divulgador do mét_odo de "reflexão bíblica" adotado por elas e autor de diversos rote)ros para tal fim ( os Círculos Bíblicos), além de outras obras. , Pe. João Batista Libânio SJ. - Assessor da CRB-Conferência dos Religiosos do Brasil; membro do Centro .João XXIII (dos Jesuítas e..

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do Rio, que presta assessoria à CNBB) e professor na PUC carioca. Especialista nos aspectos -teológicos da metodologia das Comunidades Eclesiais de Base. Frei Clodovis Boff OSM. - Professor no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis. Leciona seis meses por ano," passando os outros seis junto às CEBs da Prelazia do Acre e Purus. Tem vários trabalhos publicados sobre Comunidades de Base, especialmente sobre a participação destas na política, e sobre Teologia da Libertação. ;,

Jether Pereira Ramalho. - Sociólogo e pastor protestante. Membro do CEDI-Centro Ecumênico de Documentação e Informação, cuja revista "Tempo e Presença" é um dos porta-vozes da Teologia da Libertação e das Comunidades de Base, embora mantida por instituição metodista. Pedro Assis Oliveira Ribeiro. - Sociólogo do CERIS-Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais, órgão anexo à C NBB. · Colaborador da "Revista Eclesiástica Brasileira".

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Vê se temos cara de seminaristas!"

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SEMINARISTAS estão sendo, cada vez mais, formados no contexto das Comunidades de Base. É o caso, por exemplo, de Deville Alonço de 29 anos e Wilson de Oliveira Salles, 26 anos, seminaristas da Região Episcopal Belém, da Capital paulista. Eles representam bem o novo tipo de Padre que está

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surgindo na "Igreja-nova-que-,nasce-do-povo", como se pode ver por estas palavras suas a uma revista de inícios de 1979: "Deville - Uma boa pergunta a fazer é saber se somos seminaristas. Somos seculares, não pertencemos a ordens ou congregações. Devemos total e irrestrita obediência ao nosso bispo. Espera um pouco, corta o total e irrestrita. Devemos obediência ao bispo. Somos 'leigos engajados', eu já disse. Olha para nós e vê se temos cara de clérigos, noviços, essas coisas . .... Nós nos matamos nas comunidades de base . .... Nossa formação é na prática, junto ao povo, sofrendo com ele. .... Wilson - .... Aquilo que nós, os seculares, os leigos engajados e alguns outros padres regulares muito conscientes pretendemos, é a evangelização a partir da realidade concreta, numa ótica marxista mesmo" ("Brasil Reportagem", ano 1, n.º 2, 1979, p. 16; "O São Paulo", 30-11-79, pp. l e 5).


A ditadura das Comunidatles Eclesiais de Base

OUCO S E FALA sobre um dos aspectos mais terríveis do movimento das Comunidades Eclesiais de Base , que é a verdadeira ditadura religiosa que ele vai instaurando por toda a parte. Em muitos lugares começa ( ou já va i adiantada) verdadei ra perseguição reli giosa contra as pessoas refratá rias às CEBs.

Sanções religiosas e sociais Para levar os recalcitrantes, os omissos ou passivos, ao engajamento comunitário onde, através da conscientização, terão suas mentalidades mudadas, o clero engajado lançou mão do mais eficiente instrumento de coação de que se possa dispor: as sanções religiosas. E para tornar efetivas tais sanções, vão-se criando dispositivos de controle dos fiéis, algo assim como uma Gestapo ou KGB do progressismo e da esquerda católica, que fazem lembrar as temíveis polícias políticas do regime nazista e do soviético. Desse modo, por quase todo o País, mas sobretudo nas zonas mais isoladas do Interior, dificilmente alguém poderá participar dos Sacramentos ou de qualquer atividade religiosa - como sejam, Batismo, Crisma ou Primeira Comunhão

dos filhos, ser pad rinho d1~ Batismo ou Crisma, ou simplesmente testemunha de casa mento - se não pertence r a alguma Comunidade de Base e não obtiver dela a autorização escri ta pa ra ta l. Vê-se bem como ta l "excomunhão" religiosa implica müítas vezes em autêntica "excomunhão social" do indivíduo. Tal o caso do Batismo , Crisma e, sobretudo, Casamento, atos religiosos que constituem ao mesmo tempo acontecimentos sociais, de aproximação entre parentes e amigos . É preciso ter isso presente para avaliar a força de tais sanções religiosas , principalmente nas pequenas localidades, onde todos se conhecem e se relacionam.

A mercê dos lideres comunittírios Na Diocese de São Mateus-ES, por exemplo, exige-se para tudo um Atestado de Residência Religiosa, fornecido apenas sob condições severíssimas, entre as quais está o compromisso de participar nos grupos de reflexão pelo menos uma vez por semana, e mais a seguinte coação moral e política: "10. Aceita a caminhada da Igreja Católica nesta Diocese, que escolheu caminhar com os pobres e aceita a conscientização sobre problemas sociais e a orientação sobre a política?" Esta é uma das condições para cuja observância as instruções 129


As CEBs.. . das quais muito se fala, pouco se conhece -

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aos dirigentes das Comunidades pedem a maior vigilância e o maior rigor. O candidato ao atestado preenche um questioná rio , sob as vistas dos líderes. Mand am-lhe voltar dentro de algum tempo, para saber se foi aprovado ou não. Nesse intervalo, os líderes se reúnem com a Equipe de levantamento da vivência cristã, a qual procede a investigações sobre a vida do candidato, para decidir se ele satisfaz ou não às exigências requeridas para o fornecimento do atestado. Se concluírem que sim, fornecem-lhe o papel, assinado por pelo menos quatro dirigentes. Se considerarem que a pessoa não está em condições de receber o atestado - dizem as instruções -, os líderes não poderão assinar. Em vez de assinar, cada um escreverá "em observação", e explicarão ao interessado que o caso dele não está maduro ainda, e que dentro de alguns meses, com a boa vontade dele em "caminhar com a Comunidade", o caso dele poderá ser resolvido, dentro do possível.. . Quando se dá o caso, o atestado é feito em duas vias, ficando a primeira com o Coordenador da Vivência Cristã, para o Padre conferir no dia da visita.

"Não afrouxar o laço!" Frei Beto, falando a respeito da mesma questão no Acre, adverte: "Os monitores devem estar bem atentos para não afrouxar o laço e considerar a presença dos pais em 3 ou 4 reuniões como pertença e participação na comunidade. .... Isso vai durar até que o povo esteja conscientil.ado".

A ditadura do "flchArlo" Na Paróquia de Itarana-ES (Arquidiocese de Vitória), resolveu-se, a partir de 1966, adotar o

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esquema de Comunidades Eclesiais de Base. Decidiu-se que o Batismo seria celebrado tão-somente na comunidade e exclusivamente de gente da comunidade "que tivesse os compromissos"; os padrinhos só poderiam ser igualme nte pessoas da comunidade e que "cump rissem também os compromissos". Entre os compro missos exigidos estava: "Conscientização num círculo bíblico semanal". A Primeira Comunhão foi retard ada para os 15 ou 16 anos, sendo levado mais em consideração o compromisso assumido pelo candidato. Cada aluno do Catecismo tem sua ficha, "que é zelada com muita atenção". Aliás, o sistema de fi chas está muito em uso em quase_todas as paróquias que, como a de Itarana, adotaram o regime ditatorial das Comunidades de Base. Cada membro da Comunidade tem uma ficha na qual são anotados os progressos ou retrocessos no engajamento comunitário, para acompanhamento pelos agentes pastorais e pelo Vigário. Em Itarana chama-se também "fichário" à equipe que cuida da atualização das fichas e que exerce a coordenação (na verdade um férreo controle) da Comunidade. Não é demais insistir o quanto tais dispositivos de controle dos fiéis se assemelham aos organismos de vigilância e repressão dos regimes totalitários.

Os famosos "curslnhos preparat6rlos" Frei Marcos Sassatelli, dominicano da Arquidiocese de Goiânia, informa que nas CEBs locais o batismo é administrado apenas duas ou três vezes por ano, quando a Comunidade acha que os interessados estão preparados; o mesmo se dá com o casamento. Na mesma Arquidiocese (como, de resto, por toda a parte) insiste-se, nos cursos de preparação aos Sacramentos ( os famosos ."cursi-


Capítulo l -

O sacramento augusto que introduz o homem na Santa Igreja Católica Apostóli ca Romana , é ministrado em ato essencialmente religioso. Para realçar sua importência, a Igreja sempre lançou mi o de todos os recursos da arte. - Na foto. bela Pia Batismal da Igreja de Santa Cecllia, em Slo Paulo .

nhos preparatórios"!), que se deve exigir mais das pessoas, "principalmente em relação à vivência comunitária e à conscientização sobre o papel do cristão no mundo de hoje". Tem havido algumas reações a essa verdadeira ditadura eclesiástica, a essa verd adeira perseguição religiosa contra os refratá rios às CEBs. Mas são reações isoladas e, na maior parte, de alcance apenas local, visto como a estrutura eclesiástica brasileira, em todas as suas instâncias, dá mão

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Contrastando com a tradição da Igreja. para batizar seus filho s hoje, os pais encontram cada vez maior dificuldade. têm q ue se sujeitar cada vez maia às exigências das CE Bs . Estas se servem desse Sacramento de salvaçlo como doa demais Sacramentos - para f ina de conacientizaçlo. - Cartazes informam os fiéis sobre "curain hoa" de batizado e casamento.

firme ao movimento das Comunidades Eclesiais de Base. Assim, ou os fiéis se submetem, ou fica m privados dos Sacramentos. E não são poucos os que abandonam a Igreja e perdem a Fé ...

Exemplo pungente Um exemplo pungente da eficácia dessas sanções religiosas, para obter a conscientização do indivíduo e seu engajamento no movimento comu-

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Depois de andar léguas para batizar o filho , um pobre pai é informado pelo Padre que,

" ssm uma carta da Comunid• d11 ", ele não poderia batizar... A Comunidade exigiu um ano de participação nas reu niões, para da r a carte l. ..

nitário, dessa pressão sobre o povo simples e sem defesa, é narrada por Frei Beto, a quem Dom Moacir Grechi encomendou um assessoramento pastoral na sua Prelazia do Acre e Purus. Conta o cúmplice do terrorista Carlos Marighela:

"Um pai foi procurar o padre na casa paroquial, na cidade. 'O que quer o senhor?', perguntou o padre. 'Vim pedir que o senhor batize o meu filho'. 'Onde é que você mora?'. 'Moro no seringai Montevidéo', respondeu o pobre homem. O padre olhou o seringueiro e perguntou: 'Trouxe a carta do monitor de seu seringai, assinada pelos membros da comunidade?' O homem respondeu: 'Não senhor. Nem sabia que tinha de trazer esta carta'. 'Só posso batizar seu filho - explicou o padre tendo nas mãos esta carta'. "O homem regressou ao seringai. Procurou o monitor: 'Queria levar meu filho para o padre batizar. Você pode me dar a carta para o padre?' O monitor explicou: 'A ssinada só por mim, a carta não vale. Para valer, tem que ter pelo menos 5 assinaturas. Mas o pessoal só assina depois que você e sua mulher já tiverem pelo menos I ano de participação na comunidade'. Ao fim desse ano de

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participação, o seringueiro não precisou levar o filho ao padre: havia tomado consciência de que o batismo pelo monitor tinha o mesmo valor" conclui Frei Beto. Mas não era só: o pobre seringueiro tinha mudado sua mentalidade, sua visão da Igreja e do mundo. Referências: DIOCESE DE SÃO MATEUS-PAROQUIA DE BARRA DE s. FRA NC1sco-ES, Folha de prova, exame, ao Atestado de Residência Religiosa, mimeografado, s. d.; IDEM, Um Caminho(Normas e Instruções para lideres de Comunidades), dezembro 1978, mimeografado, pp. 6-9; IDEM, Atestado de Residência Religiosa - Folhas de Instruções aos responsáveis, mimeografado, s. d., n.ºs 4 e 9; FREI ALBERTO LIBÃN EO CHRISTO (FREI BETO), O canto do galo - Relatório pastoral de uma visita à Prelazia do Acre e Purus, Secretariado da Pastoral Arquidiocesano-SP AR, Goiânia, mimeografado, p. 11 , transcrito da "Revista Eclesiástica Brasileira", junho 1977; Comunidades Eclesiais de Base Uma Igreja que nasce do povo - Encontro de Vitória-ES, Vozes, Petrópolis, 1975, pp. 38-41 , 52, 69-70, 79; FREI M ARcos SASSATELLI, Comunidade de Base, in "Revista da Arquidiocese", Goiânia, setembro 1976, p. _633; " Revista da Arquidiocese", Goiânia, julho 1976, p. 493; CNBB-SuL II, Manual sobre as Comunidades Eclesiais de Base, Vozes Petrópolis, 2.• edição, 1977, pp. 72-73, 77; FREI BETo, Batism~ de Sangue - Os dominicanps e a morte de Marighela Civilização Brasileira, Rio, 1982. '


A PRESENTA-SE neste capítulo, de modo esquemático e numa visão de conjunto, a evolução psicológica e doutrinária do indivíduo, desde o momento em que é atraíçlo para a CEB, até ao final do processo, quando já está completamente integrado no movimento, aceitando suas doutrinas e objetivos, e participando de suas atividades. Semelhante evolução bem poderia ser qualificada de "baldeação ideológica inadvertida", segundo a expressão cunhada pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira para designar certa técnica de persuasão implícita e sub-reptícia, utilizada pelo comunismo internacional. Com efeito, há não poucas analogias entre um processo e outro ( l ).

a) Atração através da religião l) Aproveitando a religiosidade do nosso povo (sua prática religiosa, sua simpatia para com a religião e seus representantes), os ·agentes pastorais aproximam a pessoa, da Comunidade de Base, atraindo-a para uma prática mais intensa da vida religiosa.

2) A participação num grupo religioso leva a pessoa a sentir-se valorizada, amparada e orientada em meio ao anonimato e ao caos da vida mod erna . Ela tend e a abrir-se, a se tornar se mpre mais sociável nesse grupo que se lhe mostra propício e acolhedor. 3) Essa tendência a maior sociabilidade dos neófitos das CEBs é exacerbada pela supervalorização dos aspectos "comunitários" não só da prática religiosa, como de todas as demais atividades (sociais, culturais, profissionais, familiares e até de lazer). Aos poucos, vai-se formando uma "consciência comunitária". A opinião prevalente na comunidade passa a ser a regra do bem pensar, bem sentir, bem agir. 4) À medida que a pessoa se integra dessa forma na vida da Comunidade, ao mesmo tempo que vai participando das atividades e recebendo encargos, seus mecanismos de defesa e de censura vão se desmobilizando, e ela vai ficando menos ela mesma, e mais permeável às influências do grupo e de seus mentores. Dissolve-se nele.

b) Doutrinação sub-reptfcia (1) PLI NIO CoRRtA DE OLI VEIR A, Baldeação Ideo lógica Inadvertida e Diálogo, Edit ora Ve ra Cruz, São Paulo, 4.• ed ., 1974.

1) A desmobilização e permeabilizaçã o psicológica torna o indivíduo mais suscetível à doutrinação.

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2) Esta não é feita de modo formal e explícito, mas de maneira sutil e sub-reptícia. 3) Por um sistema de afirmações apresentadas sob forma interrogativa, de debates discreta e jeitosamente orientados, e de dúvidas sutilmente levantadas, a pessoa vai tendo sua mentalidade alterada, suas certezas abaladas, suas convicções gradualmente transformadas, sem que se dê conta disso. Vai respondendo sempre mais, de acordo com o que lhe foi sugerido, e reagindo conforme o desejado. Mas ela crê, não obstante, que tudo corresponde aos seus próprios pensamentos e sentimentos e que chegou por si mesma às conclusões a que foi induzida.

e) Critica da "religião antiga" e apresentação da Igreja-nova

Em sua beleza simples, cheia de graça e de nobreza, a Capela do Outeiro da Glória, no Rio, representa bem o tipo de religiosidade que as CEBs combatem: a elevaçlo da alma para o sublime, o sagrado, pera Deus.

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1) Dessa maneira vai-se fazendo a crítica da "religião antiga" e a apresentação da Igreja-nova. E o paciente vai tendo operada em si a mais profunda das transformações que se possa dar na mente humana: uma radical tra_rv,formação religiosa. De um antípoda ele passa para outro. 2) Insinua-se-lhe aos poucos, que ao contrá rio da Igreja-nova, a "Igreja antiga" não dava oportunidade ao povo: ele não era consultado, tudo era feito pelo Vigário, que era uma espécie de patrão na esfera religiosa. 3) Estabelece-se assim um paralelo entre a Igreja "antiga" e a sociedade civil: em ambas o pobre não tinha "voz nem vez". Só os ricos, os poderosos, mandavam e eram ouvidos. 4) Afirma-se que a Igreja "antiga" só se preocupava com o pecado individual, e não com a injustiça social. Por isso era alienante; impedia o "pequeno" de sair de sua situação de opressão


Capítulo I -

Parte li

nesta terra, ace nando-lhe como ficha de consolação a felicidade no Céu ... 5) Ap resenta-se então como sendo a verdadeira Igreja, aquela que se empenha em "libertar" o homem de todo o mal, decorrência do pecado, já aqui nesta terra .

d) Mudança da visão da religião I) Mostra-se então que a "verdadeira" prática da religião consistiria na luta contra o "pecado social", o "pecado institucionalizado" nas "estruturas de dominação"; que a "raiz de todo o pecado" se encontraria nas estruturas capitalistas, "fruto do egoísmo". Assim, não pode haver harmonia entre as classes, porque não pode haver harmonia entre o egoísta explorador e o pobre explorado, entre o oprimido e o opressor. Ser católico seria aceitar essa concepção revolucionária da doutrina da Igreja e da prática das virtudes cristãs individuais (relegadas para o segundo plano se não inteiramente olvidadas), e praticar a fundo a grande virtude cristã por excelência, que consiste em ser revolucionário e em fazer na prática a revolução socialista e comunista. 2) Esse teria sido o ensinamento do próprio Cristo, ao fazer a "opção pelos pobres", pelos "oprimidos", pelos "marginalizados". Ele se teria encarnado na luta de classes, para vencer o pecado e instaurar o Reino de Deus. Teria sido morto pelos imperialistas da época (os romanos) com a cumplicidade do clero (pontífices e doutores da Lei) e dos chefes do povo (Sinédrio), que não queriam perder seus privilégios . 3) O Reino de Deus, embora só se realize em sua plenitude no fim dos tempos, começaria já, "aqui e agora", nesta terra, pelo estabelecimento de uma sociedade sem classes e sem dominações.

4

A fome não faz revolução, mas sim a conscientização

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PRÓPRIO ex-secretário-geral do PCB, Luís Carlos Prestes, dá-se bem conta da necessidade da conscientização política para levar o povo à revolução. Declarou ele em Porto Alegre: "O povo está cada vez mais para a esquerda em conseqüência da inflação, mas a fome não faz revolução e, sim, a conscientização política" ("O Estad o de S. Paulo", 27-12-80). O chefe comunista ensina assim a tantos magnatas do capitalismo que se prezam de "modernos" e marxistas, que a boa ordenação dos assuntos econômicos não basta para pôr dique à expansão comunista.

e) Transformação das mentalidades pela consclentlzação I) Ao mesmo tempo que lhe é incutida uma religião nova, revolucionária, sua mentalidade é modificada mediante um processo de conscientização: procura-se provocar no indivíduo e no grupo a consciência das desvantagens de sua situação na sociedade e a necessidade de participar em sua alteração. 2) Essa conscientização começa em geral com uma "pesquisa" na qual se faz o "levantamento da realidade" do bairro, da região etc. Entrevistando os moradores, colhendo dados , os participantes da

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clima, pobreza do solo etc.), mas sim a conseqüência inevitável de um "sistema de pecad o". 4) A mentalidade do membro da Comunidade de Base torna-se, assim, tensa, reivindicativa, inconformada, revoltada contra sua situação. Passa de uma "consciência ingênua" para uma "consciência crítica"; ou seja : "toma consciência" da "situação ·de opressão" em que vive na atu al sociedade de classes. 5) Não basta, porém , "tomar consciência" de que é oprimido e querer sair dessa situação . É preciso empenhar-se pessoalmente na luta, pois "ninguém liberta ninguém", e cada um deve ser o "agente de sua própria libertação", começando po r modificar-se a si mesmo, livrando-se de uma mentalidade "alienada". "conformista" .

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f) Mobilização para a ação reivindicativa e de protesto

ti: u Um anticapitalismo virulento e sem matizes caracteriza as cartilhas e folhetos em uso nas Comunidades Eclesiai!l de Base.

1) Uma vez detectada a carência local (falta de posto de saúde, transportes, água encanada , asfa lto etc.), tem início a mobilização para a ação .

Comunidade vão-se conscientizando de sua situação de carência. 3) Identificadas as carências, deficiências e irregularidades das quais a vida moderna está cheia , passa-se à "análise" dessa situação . Os agentes pastorais, monitores ou líderes da Comunidade conduzem o "debate", por meio das perguntas conscientizadoras, para "descobrir" as "raízes do mal". Chega-se à conclusão de que todas essas mazelas são fruto não de situações conjunturais muito complexas (como a grande concentração urbana, por exemplo), da insuficiência de recursos ou de circunstâncias adversas (rudeza do

2) Esta ação ad extra constitui um poderoso fator de conscientização dos próprios membros das CEBs, como também de toda a população do bairro, a qual, por repercussão, vai adquirindo o mesmo estado de espírito tenso e reivindicativo dos membros da Comunidade, tornando-se facilmente manipulável. 3) A luta pelas "reivindicações populares" altera por completo a vida dos integrantes das Comunidades de Base. O comportamento dessas pessoas simples, que antes nunca tinham tido atuação além do âmbito de suas modestas relações familiares e de vizinhança, fica profundamente modificado. As numerosas concentrações, assem-

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Capítulo 1- 4

bléias de morad ores, coleta de assinaturas, visitas a jornais; o contato com gente importante (advogados, políticos, autoridades); a oportunidade de falar, de repetir de forma escachoante a enorme quantidade de slogans e frases-feitas que assimilaram, t udo isso tem o efeito de retirá-los - pelo menos quando fazem agitação social - do prosaísmo da vida quotidiana: sentem-se agora valorizados, importantes, paladinos de uma causa político-religiosa. 4) A ação é, pois, indispensável para a plena integração do indivíduo na CEB, para despertar nele o prurido contestatório das estruturas reli-

Um discreto treinamento de ativistas

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A TIVIDADE de J. [Pe. José Mahon, criador da Pastoral Operária do ABC] não pára por aí, apoiando somente as CEBs e a Pastoral Operária. Ele também é pároco, e não de uma só paróquia, mas de duas . .... Quando os operários das paróquias que J. assume aprendem a se expressar · em público, a dirigir, e a avaliar reuniões ou celebrações, eles estão aprendendo (muitos deles já aprenderam) sua profissão de 'ser gente'. E essa 'profissão' vão aplicá-la na Associação de Amigos de Bairro, no sindicato ou na oposição sindical, e também, porque não, num partido político que esteja realmente nas mãos dos trabalhadores" (F1LH0s DA CARIDADE, Os Filhos da Caridade na Diocese de Santo André, Oficinas das Edições L,oyola, São Paulo, 1980, pp. 13-14).

gi osas e sociais, para manter acesa a "chama sagrada" da luta pela libertação de todas as opressões. Nesta altura, pode-se dizer, o processo tornou-se irrevers ível: dificilmente a vítima dele quererá e conseguirá voltar ao estado anterior, de simples operário, ordeiro lavrad or, pacato chefe de família ou tranqüila dona-de-casa de subúrbio , preocupados unicamente com os mil probleminhas concretos que constituem a vida prosaica de todos os dias ...

g) "Leitura consclentlzadora" da Blblla 1) A ilusão de serem paladinos de uma luta sagrada de caráter libertador é exacerbada nos membros das Comunidades Eclesiais de Base pelo verdadeiro fundamentalismo bíblico (2) que vige no movimento. (2) O fund11mentalismo bíblico é uma postura diante da Bíblia, que vê nos Livros Sagrados - entendidos antes de tudo em se u sentido literal - a única e suprema fonte de todo o saber e de toda a autoridade. Inspira a maioria das sei tas protestantes do tipo "pentecostalista" e de fundo milenarist11. Os milen11rist11s, interpre ta ndo erradamente uma passage m do livro do A poca lipse (A p. 20, l-6) , esperam uma nova vind a de Nosso Se nhor Jesus C risto , que rein a ria direta mente, e m pessoa, durante mil a nos, instaurando uma fe licidade completa na terra. Condenada como herética , a idéia do milê nio é co ntinuamente retoma da por seitas religiosas ó u filosó ficas (mesmo, a se u mod o, se itas a téias como é o caso do ma rxi smo), as qua is põe m sua espe ra nça num estágio de perfeição d a humanidade q ue e liminaria toda dor, todo sofrimento , faze nd o reinar um~ fe licidade perfeita sobre a terra (cfr. Les Religions, verbetes

Fondamen ralisres e Milenarisme; JULES MONNEROT, Sociologie de la Révolurion, 2.eme panie, Les millenium sur la rerre et les terreurs de l'h isroire, Fayard, Paris, l 969; PE. GEORGES M. M. CoTI1ER OP. Marxisme et messianisme, in "Ateís mo e D iálogo" , Bolletin o del Segretariato pe r i non credenti, Città de! Va ticano, settembre 1974).

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

2) Com efeito, a Bíblia vai ocupando cada vez mais papel preponderante na vida das CEBs, vindo a constituir-se no único ponto de referência, na instância última e soberana, olvidado e posto de lado o Magistério da Igreja. 3) Nos "círculos bíblicos", "cultos dominicais", "reuniões de reflexão" e outras, adota-se o método chamado "integração Bíblia-vida": tomase um texto bíblico e faz-se a comparação com a situação atual; ou o inverso: parte-se de um fatõ de hoje e procura-se a semelhança com algum episódio bíblico. Subjacente a esse método está o princípio de que Deus Se revela do mesmo modo tanto na Bíblia quanto nos acontecimentos; de que é Palavra de Deus tanto o que está na Sagrada Escritura quanto o que acontece agora. Então a Bíblia precisa ser entendida à luz dos acontecimentos atuais, e os acontecimentos atuais dev~m ser interpretados à luz da Bíblia. 4) Conclusão desse princípio é que se Deus inspirou e iluminou os Patriarcas, Profetas e outros personagens bíblicos, do mesmo modo Ele inspira e ilumina os homens de hoje. Essa posição fundamentalista leva muitos integrantes das CEBs a mitificarem suas vidas, identificando-se com os personagens bíblicos e considerando-se, como eles, investidos de uma missão sagrada e guiados diretamente por Deus. 5) Isto conduz, naturalmente, ao mais completo livre-exame e abre caminho para todas as divagações - portanto também para todas as aberrações doutrinárias e desvios de personalidade. ln concreto no caso das CEBs gera um fanatismo messiânico e milenarista. 6) A esta distorção acresce a "leitura dialética da Bíblia": as Sagradas Escrituras devem ser lidas a partir de uma posição classista - o "lugar social do pobre", isto é, a partir da "ótica do oprimido".

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Ensinar perguntando, convencer sugerindo ...

O

CERNE da conscientização consiste em fazer com que as pessoas tenham a impressão de que são elas que estão chegando por si mesmas às conclusões ou posições que lhes são sugeridas, e não percebam que estão tendo sua mentalidade, temperamento ou opinião modificados por sugestões vindas de fora. Um dos artifícios mais eficazes para alcançar tal resultado consiste em introduzir sob forma interrogativa o assunto que se quer tratar e, através de questões sucessivas, ir conduzindo os espíritos para os pontos de vista do agente de pastoral. As perguntas, na verdade, já contêm implicitamente sua resposta, ou ao menos elementos dela, indicando o tom, o rumo que ela deve tomar. A interrogação está quase que apenas na forma, pois de fato as perguntas apresentam afirmações, suscitam dúvidas, levantam suspeitas etc. Tudo sob o pretexto de procurar obter o "consenso grupal", apontado como sendo a resultante das opiniões dos membros do grupo. Na verdade, esse consenso grupal não é senão o objetivo previamente estabelecido pelo agente pastoral, introduzido sob forma de perguntasafirmações. O consenso grupal constitui um dos elementos de pressão psicológica mais poderosos sobre os membros de um grupo, pois em seu nome faz-se os recalcitrantes aceitarem determinado ponto de vista ou resolução, sob pena de se marginalizarem. Esse artifício é muito utilizado nas téc nicas de Dinâmica de Grupo, nas quais os agentes pastorais são altamente treinados.


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Outrora Deus inspirou os judeus oprimidos na luta contra os egípcios opressores, libertando-os do cativeiro mediante a atuação conscientizadora de Moisés. Hoje também, o povo (os pobres, os marginalizados) está oprimido pelo cativeiro das estruturas capitalistas. A missão da Igreja, como a de Moisés, é a de conscientizar o povo para que ele, uma vez despertado, lute pela sua libertação, destruindo as estruturas de pecado do regime capitalista. 7) Assim, seria o próprio Deus quem inspiraria diretamente toda a agitação político-social promovida pelas Comunidades Eclesiais de Base. o que faz com que elas não recuem diante de nenhuma lei ou autoridade, civil ou religiosa. Com efeito, que lei ou pessoa, por mais augusta que seja, pode querer interpor-se à vontade do próprio Deus, manifestada nas CEBs? Con scientiza da, um a oradora das CEBs dissemina em torn o de si a conscientiza ç ão. Man ifestação do Movimento Con-

tra a Carestia em São Paulo, em 1978

Capítulo I -

4

h) Papel "legltlmador" do Bispo 1) Em geral ao ingressarem no movimento, os fiéis não se dão conta dos erros e desvios dele. Entretanto, à medida que o processo conscientizador avança, o senso católico leva-os a perceber as discrepâncias entre o que ouvem e presenciam, e a doutrina católica tradicional. Muitos abandonam desde logo o movimento, tornando-se, em não poucos casos, hostis a ele. Alguns, desconfiados, se não rompem abertamente, tendem a retrair-se. Outros, enfim, perplexos, procuram conciliar as novidades com o que aprenderam no catecismo. Pode instalar-se neles um conflito interno , uma situação de angústia, ou até de desespero . 2) Para fazer frente a semelhantes situações, o movimento dispõe de poderoso recurso de legiti-


As CEBs ... d~ quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

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Antes de organizar uma revolução, é preciso aprender a organizar um pique-nique,,

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PE. DOMINIQUE Barbé, padre-operário

francês , coordena a Pastoral Operária da Região Episcopal de Osasco e integra a da Arquidiocese de São Paulo. Grande propulsor de CEBs em bairros operários, traça o retrato de uma delas - a de Vila Yolanda - em um livro traduzido para vá rios idiomas. No texto abaixo, extraído do mencionado livro, o Pe. Barbé deixa claro como as atividades mais correntes, inclusive a Liturgia, podem ser utilizadas como eficiente adestramento para a atuação revolucionária: "Depois de ter estudado, durante três meses, todos os textos da ressurreição, uma equipe redige o folheto de que falamos, que vem a ser a síntese de suas descobertas. A ninguém escap'a que, se são capazes de compor o texto de um jornalzinho, aprenderam ao mesmo tempo a escrever uma petição, uma carta, uma reivindicação coletiva, no dia em que isto for neces-

mação: o aval dos Bispos tranqüiliza as pessoas quanto à catolicidade das CEBs, sua fidelidade à Igreja. Pois se radicou no espírito de nosso povo, como corolário aliás gratuito da infalibilidade papal, a convicção da infalibilidade do Bispo em sua união com o Papa. De onde o fiel imagina que haveria de sua parte impiedade e até dúvida na Fé, se não aceitasse como indiscutível tudo quanto o Bispo pensa. E até tudo quanto ele faz. De onde, se

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sário, evidentemente, para defender uma causa justa. .... Luís, Renato e Francisco dirigem a missa há seis meses. Não é certo que se aprendem a falar e a ler em público quando estão na Igreja, o farão com mais desenvoltura em outras ocasiões? Isso pode ser-lhes de grande utilidade". E mais adia nte: "Com o mesmo grupo de jovens descobrimos que antes de pensar em organizar a revolução, era preciso saber organizar um pique-nique. Querem a revolução ... . nós lhes propomos um pique-nique e .... juntos descobrimos que se quiserem ter no dia de amanhã responsabilidades políticas, tomar parte nas mudanças de estruturas sociais, levar a bom termo uma greve justa, é preciso passar humildemente pela organização de um piquenique. Ê assim que se aprende a paciência, a longanimidade, o domínio de si e a estratégia da ação" (DoMINIQUE BARBI:, En E/ Futuro, Las Comunidades de Base, Studium, Madrid, 1974, pp. 58-59).

o Bispo dá aval às CEBs, fá-lo em consonância com o pensamento e as diretrizes do Papa. E portanto o fiel pode aceitar como católico tudo o que as CEBs dizem, mesmo que em oposição ao ensinamento tradicional da Igreja. Pois o Bispo não tem lapso em sua fidelidade ao Papa. E este não erra ... 3) É, pois, a crença na infalibilidade da Igreja, que leva o indivíduo a se engajar num processo


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que, sem isso, reJe1taria. Daí a importância da presença do Bispo não só no começo do processo, mas em todo o seu desenvolvimento - pessoalmente ou por interpostos agentes pastorais, que se sabe gozarem de sua confiança. Igual papel exercem, a fortiori, órgãos de cúpula do episcopado: CNBB, CELAM etc., ao apoiarem as CEBs.

1) Um método cientificamente estudado e aplicado l) Todo este método é estudado cientificamente e elaborado a partir das experiências da Ação Católica, do "método Paulo Freire" ("pedagogia libertadora"), e outras técnicas psicológicas e sociais, por peritos altamente especializados, sendo aplicado por pessoal muito bem treinado. 2) Embora esse método possa ser aplicado em nível individual, ele é concebido para ser utilizado sobretudo em grupos. 3) Sua grande eficácia, aliás, está em ser aplicado a grupos: um número suficientemente grande, de modo a permitir a pressão do grupo sobre o indivíduo, impedindo que se ressaltem as individualidades, e se imponham aos demais; mas

Capítulo / - 4

não tão grande, de forma a impedir que o indivíduo se mantenha alheio ao processo, isolando-se dentro do grupo. 4) Mediante dinâmicas de grupo e outras técnicas psico-sociais, o indivíduo vai-se tornando cada vez mais dependente do conjunto e incapaz de pensar, querer ou agir por si mesmo. Vai-se tornando cada vez mais mero fragmento do grupo e menos ele próprio. Assim, o grupo todo caminha junto, dando os passos decisivos que cada indivíduo, isoladamente, talvez não desse. O dinamismo coletivo arrasta o indivíduo, mas ele não se dá conta disso e, ao fim da caminhada, julgará ter andado com as próprias pernas ... 5) As etapas do processo não são estanques, mas se interpenetram. O processo alimenta-se a si mesmo: na medida em que a pessoa vai-se azedando temperamentalmente, cresce nela o prurido de reivindicações e protestos; na medida em que tal prurido aumenta, ela se torna mais aberta à luta de classes; na medida em que se atira à luta de classes toma-se mais propensa a aceitar as transformações doutrinárias, e assim por diante. A "conscientização" desencadeia a ação e a ação reforça a "conscientização".

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• Padres. freiras. agentes pastorais e membros das CEBs aplaudem os expoentes mundiais da Teologia da libertação e os chefes da guerrilha nicaragüense. durante a "Noite Sandinista", no teatro da Universidade Católica de São Paulo. Em destaque: D. Casaldáliga veste o uniforme de guerrilheiro com que foi presenteado na ocasião.

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D•

MOACIR GRECHI, Bispo-Prelado do Acre e Purus e um dos principais mentores nacionais do movimento das Comunidades Eclesiais de Base, definiu as CEBs como "a parte concreta da Teologia da Libertação". E D. Valdir Calheiros, Bispo de Volta Redonda-RJ, outro de seus próceres ( organizador do 1. 0 Encontro Latino-Americano e presidente do 4. 0 Encontro Nacional de CEBs), considera as Comunidades de Base como "a Teologia da Libertação posta em prática". Frei Leonardo Boff, por seu lado, afirma que a vinculação entre Comunidades Eclesiais de Base e Teologia da Libertação não é casual, mas necessária. "As comunidades eclesiais e a teologia da libertação - diz ele - são dois momentos de um mesmo prõcesso de mobilização do povo", as primeiras representando "a prática da libertação popular" e a segunda "a teoria dessa prática".

CEBs-TL, um nexo que não é casual Não é, pois, mera coincidência que os principais mentores das Comunidades Eclesiais de Base em nosso País sejam precisamente os mais notórios representantes nacionais da Teologia da Libertação-TL. Basta citar, entre outros, os irmãos Frei Leonardo e Frei Clodovis Boff, Frei

• Beto, Frei Carlos Mesters, Frei Gilberto Gorgulho, o Pe. J. B. Libânio SJ e o Pe. Eduardo Hoornaert. Também não foi por simples casualidade que o IV Congresso Internacional Ecumênico de Teologia reuniu em Taboão da Serra-SP, em fevereiro de 1980, os principais expoentes mundiais da TL, especialmente os latino-americanos (Pe. Gustavo Gutiérrez, Pe. Jon Sobrino, Pe. Pablo Richard, Pe. Ronaldo Mufioz, pastor J. Míguez-Bonino) para - juntamente com seus colegas nacionais e militantes de CEBs - debater o tema Eclesiologia

das Comunidades Eclesiais de Base.

Teologia da Libertação, doutrina rellglosa que explica a atuação das CEBs A Teologia da Libertação é, portanto, o conteúdo da doutrina religiosa das Comunidades Eclesiais de Base (1). Tal doutrina religiosa modela todo o programa das CEBs, sua atuação externa e (1) Alguém poderia objetar não ser admissível que as doutrinas da Teologia da Libertação circulem nas CEBs porque a TL foi condenada por João Paulo II em Puebla. Em primeiro lugar, cabe responder que a vi nculação entre CEBs e Teologia da Libertação, aqui apontada, é afirmada por

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As C EBs ... das quais muiro se fa la, pouco se conhece -

A TF P as descreve como são

sua vida interna; dá a justificação moral a suas metas de igualitarismo religios o, social, político e econômico; confere impulso e força de impacto à atuação dos corifeus e mentores maiores e menores do movimento, desde Cardeais e Bispos até agentes pastorais leigos e simples monitores de CEBs perdidas pela imensidão de nosso território . Teologia da Libertação e Comunidades Eclesiais de Base constituem, convém acentuar, dois momentos de um mesmo processo: a teoria e a prática da "libertação popular". A TL esclarece a atuação das CEBs, de modo que atividades aparentemente sem gravidade, inócuas ou até louváveis, se vistas sob a luz da TL, ganham novo significado. A TL aponta o horizonte para onde devem caminhar as CEBs e estas realizam o programa da TL. Assim, para formar uma idéia clara da verdadeira fisionomia das Comunidades Eclesiais de Base e para compreender a fundo a sua atuação, torna-se indispensável conhecer, ainda que nas mentores naciona is do movimento das Comunidades de Base, em declaraç ões contemporâneas ou posteriores a Puebla. Por outro lado, os erros doutrinários e desvios de conduta são denunciados no prese nte trabalho com apoio em abundante documentaçã o, provinda das fontes mais idôneas, ou seja, escritos do s principais id eó logos do movimento e textos elaborados pelas próprias CEBs. Ora, os erros a í encontrados foram bem caracterizados e condenados por João Paulo II , no discurso de inauguração da Conferência de Puebla, como mostrou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em lúcidos artigos publicados na imprensa diá ria no s meses de março e abril de 1979. Ademais, a afirmação de que a TL foi condenada por João Paulo em Puebla é categoricamente co ntestad a por prelado s altamente colocados na cúpula do ó rgão que fala em nome dos Srs. Bispos bras ileiros: D. Ivo Lorsc heiter, pres idente da CN BB e D . Luci ano Mendes de Almeida, secretário, a lém de outros Prelados, como D. Cândido Padim, de Bauru. A declaração de D. Ivo Lorscheiter (a qual, diga-se de

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suas linhas gera is , os princípios básicos da Teologia da Libertação.

Da Redenção sobrenatural,

A "libertação" polltlca A Teologia da Libertação põe inteiramente na sombra (quando não despreza de todo) o ponto central da libertação operada por Nosso Senhor Jesus Cristo, qual seja, o resgate da dívida da Humanidade para com a justiça divina ofendida, efetuado por meio de sua Paixão e Morte na Cruz. Resgate que só Ele poderia realizar, uma vez que a ofensa feita ao Deus infinito, pelo pecado original, só poderia ser resgatada pelo próprio Deus. Portanto, nossa libertação da tirania do demônio , do pecado e da morte eterna - com todas as conseqüências de ordem social, terrena - foi uma libertação sobrenatural, um dom gratuito da misericórdia divina, à qual os homens devem associarse por suas boas obras. passage m, não prima pela lógica) foi feita a Frei Betto, o qual ind ago u se o Pontífice havia condenado a T eo logia da Libertação. O presidente da CNBB foi enfático: " De jeit o nenhum. O Papa apenas chamou a arenção para o risco de alguns abusos. A Teo logia da Liberraçíio já foi incorporada à dourrina oficial da Igreja (sic!), arravés da Evangelii Nuntiandi, onde Paulo VI, sem negá-la (sic!) rambém adverte sobre alguns exageros que podem ser comeridos em seu nome". Não é fácil entender a afirmação de que um Pa pa incorp oro u determinad a teologia à doutrina da Igreja , a penas porque não a nego u (sic!). e além disso fe z advertências contra possíveis exageros em nome dela. Mas, o que vem ao caso é que D. Ivo (como ta mbém D. Luciano e D . Padim) conteste que a TL tenha sid o condenada. O que importa em admitir que ela tem li vre curso, não só nas Comunidades Ecles ia is de Base, como em todos os a mbiente s católicos. De resto , basta entra r em uma li vra ri a religiosa para constatar que é precisa mente o que oco rre. O u então , folhear documentos da pró pria CNBB ...


Capítulo li -

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1

0 que propomos não é teologia no marxismo# mas marxismo na teologia" -

Textos -

Frei Leonardo Boff FREI LEONARDO BoFF: "A teologia da libertação .... relê e interpreta a realidade social conflitiva. E aqui aflora o problema: importa conhecer de modo o mais científico possível esta realidade/ .... A opção política, ética e evangélica prévia em favor dos pobres contra a sua pobreza ajuda a escolher aquele instrumental que faça justiça aos reclamos de dignidade por parte dos explorados. Neste momento de racionalidade e objetividade, o teólogo pode se

utilizar do aporte da teoria marxista da história . .... O que propomos não é teologia dentro do marxismo, mas marxismo (materialismo histórico) dentro da teologia" ( I ). PE. ALFONSO GARCIA RuBio (analisando a TL): "Uma vez que o marxismo é ciência, do

ponto de vista cristão não há problema algum em adotá-lo" (2). PE. JuAN Luis SEGUNDO SJ:

"O marxismo

pretende evidenciar a mentira social, e para isso elaborou um instrumental analítico científico. É algo de que deve regozijar-se o cristão, como deve alegrá-lo o fato deste instrumental ser

empregado também para manifestar a ideologização da própria Igreja e da reflexão teológica. Purifica-se, assim, a Igreja, coisa de que ela sempre tem necessidade" (3). PE. FRANCISCO T ABORDA SJ: "O meu ideal é

o que está no evangelho, a fraternidade e o amor, mas o evangelho não me dá o instrumental científico de análise da realidade . .... A análise marxista da realidade é uma aquisição das ciências sociais" (4). Lmz ALBERTO GôMEZ DE SouzA: "Para a teologia da libertação não existe, atualmente, outra reflexão teórica melhor que o marxismo, que está inserido na práxis da realidade" (5). (1) Marxismo na Teologia, in "Jornal do Brasil", 6-4-80. (2) Teologia da Libertação: Política ou Profetismo?, Edições Loyola, São Paulo, 1977, p. 243. (3) Resumido pelo PE. A. G. RueIO, op. cit. , p. 227. (4) "Jornal do Brasil", 24-8-80. (5) Apud PE. RoGER VEKEMANS SJ, Expansión mundial de la Teología de la liberación latinoamericana , in Socialismo y Socialismos en América Latina, Secretariado General dei CELAM, Bogotá, 1977, p. 276.

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A s CEBs ... das quais muito se fala , pouco se conh ece -

A TFP as descreve com o são

A concepção marxista adotada pela Teologia da Libertação, e corrente nas CEBs, vê no "pobre" o verdadeiro "messias" e "redentor" da humanidade. - Este "crucifixo", estampado pelo "Boletim da CPT" (Comissão Pastoral da Terra, ligada à CNBB), está inteiramente de acordo com tal concepção.

A TL, deixando de lado a noção do resgate , transforma a Redenção (do latim Redemptio , que quer dizer resgate) , numa libertação como outra qualquer, à qual se pode chegar por outros meios que não o pagamento de um débito contraído . De onde, o papel de Nosso Senhor Jesus Cristo ficar inteiramente esvaziado de sua importância fundamental, o mesmo acontecendo com o caráter da gratuidade do dom recebido. A libertação assume para a TL um caráter eminentemente político - e não sobrenatural segundo o qual o próprio Cristo é visto apenas como um líder popular que foi morto ao tentar sacudir o jugo do Império Romano e o dos chefes da Sinagoga. Do mesmo modo a ação dos Profetas, especialmente de Moisés, são apresentadas como lutas políticas para libertar o povo das opressões. A causa de todas as opressões, que até hoje dominam o povo, segundo a TL, são as desigualdades políticas, econômicas, sociais e inclusive religiosas . Uma vez eliminadas essas desigualdades, se conseguirá libertar afinal o homem, e nisso consiste a verdadeira redenção da Hunanidade.

Marxismo e luta de classes

_.,

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Transformado o conceito de redenção, a TL passa a utilizar uma filosofia que está inteiramente de acordo com a nova concepção . Ou seja, é no marxismo que ela vai buscar uma nova explicação para a salvação dos homens e os meios estratégicos para. consegui-la. O Pe. Battista Mondin , professor na Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma , comenta: "O princípio arquitetônico [da TL] é constituído pelo mistério da libertação da Humanidade realizado por Cristo: o princípio hermenêutico [interpretativo] é a filo-


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sofia marxista da libertação . .. .. E a estratégia para conseguir a libertação é a proposta por Marx, a luta de classes". Uma vez adotados os novos conceitos, utilizad a a estratégia da luta de classes, quem é que substitui a Cristo, como o redentor da Humanidade?

O proletariado: "messias" e "redentor" A resposta de Marx é clara: o único elemento capaz de salvar os homens da situação de opressão em que se encontram na sociedade de classes, fundada na propriedade privada e na livre iniciativa, é a classe do proletariado. Segundo o autor de O Capital, o proletariado resulta de um sistema de opressão, no qual a riqueza de uns é fruto necessário da exploração de outros. Como ele nega a legitimidade do lucro, a riqueza só pode ser obtida mediante o roubo dos trabalhadores, a exploração de seu trabalho pelo mecanismo da mais-valia. Para Marx, no momento em que essa classe, o proletariado, empobrecida, despojada, marginalizada, se unir e quebrar o jugo dos exploradores, ela destruirá o próprio mecanismo da exploração, fonte do egoísmo que, segundo ele, é a propriedade privada. Com isso, o proletariado não somente se libertará a si mesmo, mas libertará, redimirá, os próprios opressores.

O "pobre" das CEBs ê o "proletariado-redentor" de Marx O marxismo considera, portanto, o proletariado como o verdadeiro "messias", conforme têm demonstrado vários autores, entre os quais o

Os sofrimentos inenarráveis de Nosso Senhor Jesus Cristo em 1ua Paixlo e Morte na Cruz, preço de noa18 Redençlo, estio expre1ao1 com a veneraçlo e o carinho da piedade criatl tradicional neste belo crucifixo, venerado na Sede principal da TFP, em Slo Paulo.

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As CEBs ... das quais muito se fa la. pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Karl Marx

O mito da "ciência,, marxista

A

TEOLOGIA da Libertação afirma partir dos dados da realidade para a sua elaboração teológica, ao inverso da Teologia tradicional, que parte dos dados da Revelação. Entretanto, argumentam, o Evangelho não oferece nenhum critério científico para a anál ise da realidade. Logo, é preciso buscá-lo nas ciências sociais. E concluem que o método científico mais apto para tal análise é aquele oferecido pelo materialismo histórico: a análise marxista. Ora, pretender que o marxismo seja uma ciência é, em rigor de lógica, um absurdo. Pois como "provas" do acertado de suas conclusões

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ele só apresenta suas próprias premissas teóricas. Por outro lado, os fundamentos doutrinários do marxismo não são dedutíveis por via lógica, a partir de press up ostos bem demonstrados, mas são mera decorrência de afirmações gratuitas, tomadas como se fossem dados revelados. Como a partir do absurdo tudo é possível, uma vez aceitas como válidas essas afirmações, pode-se construir todo um sistema com apa rência de correção lógica, no qual umas afirmações vão servindo de "prova" e de sustentação às outras. O Pe. Baldomero Ortoneda, jesuíta espanhol, auxi liado por uma equipe e orientado por especiali stas, deu-se ao trabalho de analisar do ponto de vista da filosofia e das ciências naturais, os princípios básicos do marxismoleninismo. Ao cabo de 700 páginas de comparação das afirmações (mais de 15 mil) de cerca de 900 autores comunistas , com os dados da biologia, da química, da física, da geologia e das matemáticas, além da filosofia, constata a existência de perto de 400 erros de caráter científico, 600 erros de raciocínio e 200 erros filosóficos. O que desqualifica totalmente qualquer sistema (cfr. BALDOMERO 0RTONEDA, Principias Fundamentales dei Marx ismo-Leninismo, México-Madrid, 1974). Por conseguinte, a análise marxista da realidade não é senão a adaptação da realidade aos pressupostos apriorísticos do materialismo histórico. Assim, a realidade não é investigada segundo a objetividade dos fatos, mas interpretada e adaptada às conclusões prévias da doutrina.


Capíwlo II -

Parte II

dominicano suíço Fr. Georges M .M . Cottier e o sacerdote espanhol Pe. Gregorio Rodríguez de Yurre. Ora, nos escritos dos teó logos da libertação e em documentos emanados das CEBs ou a elas destinados, omodo como é apresentado o "pobre" (ou o "povo", já que nesse contexto um equivale ao outro), identifica-o inteiramente com a concepção marxista do "proletariado". Portanto, do "messias" e "redentor"!

- Como se opera essa rotação de conceitos? Ainda aqui, pela adoção do marxismo. A Teologia da Libertação toma o conceito de "pobre" de grande significado bíblico, e o reduz a uma categoria meramente sócio-política, a de "classe oprimida", própria à análise marxista, segundo a qual a sociedade se divide em burguesia e proletariado, opressores e oprimidos. Dessa forma, o "pobre" da TL equivale ao "proletariado" de Marx.

A "classe oprimida": "Povo de Deus", destlnatãrlo da mensagem evangélica Outro conceito bíblico interpretado do mesmo modo é o de "povo de Deus". Ele deixa de constituir uma realidade religiosa, para se transformar numa categoria meramente sociológica, entendida igualmente num sentido classista, equivalente também a proletariado (o "povo", por excelência, segundo Marx) . O mesmo se dá com tantos outros conceitos. É ao pobre - tomado nessa acepção - que se destina a mensagem evangélica, lê-se em documentos das CEBs e escritos de teólogos da libertação. Não, porém, em virtude de suas disposições pessoais, de abertura, de aceitação dessa mensagem, mas unicamente em razão de sua situação de

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"despojamento", que o identifica com o proletariado da concepção marxista. Esse "pobre", esse "povo", entendido como "classe oprimida", é pura e simplesmente tomad o como sendo o "Povo de Deus". Ou seja, como a própria Igreja. "Se não se é povo, como ser povo de Deus?", pergunta-se num relatório para o 2. 0 Encontro Nacional de CEBs. Desse modo, "ou a libertação vem pelo povo, ou não há libertação", sintetiza a Men sagem de Natal de 1978 da Diocese de Goiás. Nem podia ser de outra forma : não é o "povo", o "pobre", o "oprimido", o novo "r,1essias", o novo "redentor", colocado pela Teologia da Libertação no centro do mistério da sal~ação?

A "Igreja-que-nasce-do-povo", igreja marxista da Teologia da Libertação Conferido ao pobre esse caráter messiânico, compreende-se que se fale em "uma Igreja que nasce do povo" (slogan dos dois primeiros encontros nacionais de CEBs): o "pobre", o "povo", enqua nto "redentor" da humanidade, substitui-se a Nosso Senhor Jesus Cristo. Por conseguinte, a Igreja, em vez de nascer do lado aberto do Salvador morto na Cruz, nasce do sofrimento e da luta desse "povo-pobre-redentor", éle sua "práxis libertadora".

O que faz inteiramente sentido com todos os pressupostos da Teologia da Libertação, com sua adoção da análise marxista. Assim, não há como fugir à conclusão: a "Igreja-que-nasce-do-povo", as CEBs, não são senão a "Igreja" marxista da Teologia da Libertação. E sua finalidade não pode ser outra senão "ajudar a construir uma sociedade mais igualitária, cuja matéria possa tornar mais viável e con151


A s CEBs ... das quais muito se fala, p ouco se conhece -

A TFP as descreve como são

ereto o Reino de Deus neste mundo", na expressão de Frei L. Boff. Ou seja, buscar a sociedade sem classes da utopia comunista.

A linguagem de duplo sentido - Mas como fazer aceitar pelos católicos esse novo conteúdo de antigos conceitos? Pela utilização de um artifício muito sutil: a ·linguagem de duplo sentido. Os teólogos da libertação, os mentores de CEBs e progressistas em geral, empregam uma linguagem aparentemente bíblica, cheia de citações escriturísticas, que são tomadas, pelo leitor menos atento, em seu sentido natural e próprio, quando na realidade têm uma significação marxista camuflada. É, em grande medida, graças ao emprego dessa linguagem de duplo sentido, que tais eclesiásticos e agentes pastorais têm levado muitos fiéis a concordarem com propostas aparentemente sadias, mas de fato revolucionárias, que certamente teriam rejeitado se tivessem entendido o verdadeiro sentido da linguagem que ouviam. Referênc ias: Livros - P E. BATTISTA MoNDIN, Os Teólogos da libertação, Ed ições Paulinas, 1980; P E. A. G. R ue10, Teologia da Libertação: Política ou Profe1ismo?, Edições Loyola, São Paulo, 1977; PE. GusTAVO GuTlfRREZ, Teologia da Libertação, Vozes, Petrópolis, 1975; FREI LEONARDO BoFF OFM, Jesus Cristo Libertador, Vozes, Petrópolis, 1974, 4.ª edição; IDEM, Teologia desde e/ cautiverio, lndo-America n Press Service, Bogotá, 1975; FREI CLODov1s BoFF OSM , Comunidade Eclesial - Comunidade Política, Vozes, Petrópolis, 1978; PE. ÁLVARO BARREIRO SJ, Comunidades Eclesiais de Base e a Evangelização dos Pobres, Edições Loyola, São Paulo, 1979; PE. GR EGORIO RODRIGUEZ DE YuRRE, E/ Marxismo, BAC, Madrid, 1979, 2 volumes. A rtigos - FR EI LEONARDO BoFF OFM , Comunidades Eclesiais de Base e Teologia da Libertação, in "Convergê ncia" {Revista da Conferência dos Religiosos do Brasil),

]52

Frei Carlos Mesters é o principal divulgador do método de reflexão bíblica empregado nas Comunidades Eclesiais de Base.

setem bro 198 1; IDEM, Marxismo na Teologia, in "Jornal do Brasil", 6-4-80; ID EM, Igreja Povo que se Liberta, in "Revista Eclesiás tica Brasileira", setembro 1978; PE. J. B. L1BÃN10 SJ, Congresso Int ernacional Ecumênico de Teologia. in "Revista Ecles iástica Brasileira", març o 1980; PE. J . KERKHOFs SJ. Las comunidades de base en la lglesia , in "Boletin Pro Mund i Vita" (Bruxelas), setembro 1976; PE. G. D EELEN SSCC. La lglesia ai enwentro dei pueblo en América Latina: las comunidades de base en Brasil, "Boletín Pro Mundi Vita", abril /junho 1980; PE. GEORGES COTT IER OP, Marxisme e1 Messianism e, in " Ate ísmo e Dialogo" (Bolletino dei Segretariato per i non credenti, Città deli Vaticano ), settembre 1974; MARIA Jos~ SARNO, Pobre, Teologia e Libertação. in "O São Paulo", 2-10-8 1; HUGO AsSMANN , A memória dos p obres com o revelação de Deus, in "O São Pau lo", 10-4-8 1; "The Ch urch of the Poor" - Latin America 's comunidades de base keep growing. "Time", May 7, 1979; "Movimento". 29-1-79; Na tal: A Igreja vo lra a fa lar de jusriça, in "Jornal da Tarde". São Paulo, 25-12-78; PUNIO Co RRéA DE OLIVEIRA, A mensagem de Puebla: noras e comenrários, in "Folha de S. Paulo", 26-3; 7, 14, 26-4 e 19-5-79. Documentos - Dowmentojinal do Congresso Internacional Ecumênico de Teologia (Congresso de Taboão da Se"rra-SP), in "Revista Eclesiásti ca Brasileira", março 1980; Carta aos Cristãos que vivem e celebram sua fé nas Comunidades Cristãs Populares dos países e regiões pobres do mundo {Congresso de Taboão da Serra-SP), ib idem.


Parte II

Cap ítulo II -

A s CEBs criticam a Santa Igreja e pregam uma " /greja-No"!fa" igualitária, herética e subversiva -

Textos

I

NO 1. 0 ENCONTRO Nacional das Comunidades Eclesiais de Base (Vitória-1975), fala-se na "Igreja no va que nasce no meio do p ovo, principalmente através das comunidades eclesiais de base", e procu ra-se "delinear seu perfil", descobri r suas "características futuras ". Essa "Igreja- Nova" é incompatível com a verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo - a Santa Igreja Católica Apostólica Romana - , a qua l é apresentada pelas CEBs e pela Teologia da Libertação como uma Igreja "opressora" e "alienadora". Os textos abaixo - extraídos de documentos de encontros de CEBs ou de obras e declarações de "teólogos da libertação" - servem para ilustrar o modo injurioso como é tratada a Igreja tradicional e para apresentar algumas características dessa '' Igreja-nova-que-nasce-do-po vo·'.

A. Critica da Igreja tradicional A "Igreja de ontem" era alienante 2.0 Encontro Nacional das CEBs (Relatório das Comunidades de Ribeirão Bonito e Cascalheira - Prelazia de S. Felix-MT): "A Igreja de ontem, o povo julgava que os padres eram donos da salvação. Ela tem culpa de nós não enxergar e não ter uma vida melhor. .. . . Antigamente os padres pregavam o sermão e rezavam o terço inteiro sozinho. E sempre querendo saber se o povo sabia as orações. . . . . Espancavam, queria surrar o povo e o colocar em sujeição. Eles eram ricos como os tubarões e não tinham comunidade com o povo. Naquele tempo o camarada era atrasado e os padres eram sabidos. O povo era besta e

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

os padres iam se prevalecendo da bestagem do povo. Eles não davam orientação" (1) .

Luta revolucionãria para libertar-se de uma religião alienante Pe. Gustavo Gutiérrez: "O homem latinoamericano ao tomar parte em sua própria libertação, .... na lura revolucionária liberta-se de algum modo da tutela de uma religião alienante que tende à conservação da ordem" (2) .

A "Igreja tradicional" não testemunha a palavra e a vida de Jesus 2. 0 Encontro Nacional das CEBs (Mensagem da Igreja de Goiás - Diocese de Goiás Velho): "Perante o · Evangelho, a Igreja tradicional se

apresenta como um terreno que precisa mesmo de destaca. Continua funcionando, mas parece que alguma coisa impede que testemunhe a palavra e a vida de Jesus" (3).

Afastava de Jesus "O tronco é Jesus Cristo e só ele. Muitos querem outro tronco, ou seja o padre ou seja algum santo. E na Igreja tradicional, os padres agiam de um modo que favorecia este engano" (4).

E opressora e impede a caminhada da "Igreja-Nova" 3. 0 Encontro Nacional das CEBs (Conclusões do Relatório das Comunidades do Estado de São

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Paulo): "A Igreja antiga está ao lado do capitalismo. O domínio da Igreja tradicional impede a caminhada da nova, porque é bem diferen te. A

Igreja tradicional não acredita no povo, tem medo do povo, medo de perder o trono. Regime ditatorial: tudo é decidido de cima e o p ovo simplesmente acompanha". "Sinais de escravidão: uma Igreja que concentra toda a estrutura de poder: político, econômico e cultural .... não fez uma opção pelo pobre .... apresenta · a leitura do Evangelho a partir do opressor; transfere a Deus os problemas ( Deus quer assim ... ; sempre haverá pobres ... ; quanto mais se sofre aqui... ;) ... . se julga a única capaz de ensinar a verdade" (5).

Prega um Deus alienador 3. 0 Encontro Nacional de CEBs (Relato dos participantes das CEBs): [Quem está adubando a raiz do mal]: "É a própria religião que existe e que

bota umas coisas na cabeça do pessoal. Uma fama que foi colocada na cabeça do pessoal de como é Deus: um Deus alienador" (6).

B. Perfil da Igreja Nova das CEBs-Teologia da Libertação Nasce através das CEBs I.º Encontro Nacional das CEBs (Relatório do Encontro): "O objetivo do encontro foi delinear o

perfil e descobrir as características futuras da Igreja nova, que nasce no meio do povo, principalmente através das Comunidades Eclesiais de Base" (7).


Capítulo li -

Parte II

E uma "Igreja-povo", ·que não fica cega fitando o Evangelho 2.0 Encontro Nacional das CEBs (Mensagem da Igreja de Goiás): "Nossa Igreja é para quem quer e não para quem pode". "E do povo e não do dinheiro". "Está com o povo e não por cima do povo". "É um compromisso com a vida e não com a religião". "Não fica cega fitando o Evangelho, mas vê sua claridade nas coisas da vida". "Enxerga como o pecado se arruma na organização da sociedade e sabe que só vencerá na mudança". "Uma Igreja que se coloca decididamente a serviço do povo aos poucos se transforma numa Igreja-povo". "Se não se é povo, como ser povo de Deus?" (8).

Uma Nova Igreja, sem religião, sem hierarquia, com outro evangelho 2.0 Encontro Nacional das CEBs (Comunida-

des de Ribeirão Bonito e Cascalheira - Prelazia de São Félix do Araguaia): "Hoje a Igreja volta ao tempo de Cristo, está mostrando o verdadeiro caminho cristão. .. .. Estamos aqui formando a Nova Igreja". "Deus não quer a terra, nem o céu para uns poucos só. Tubarão, egoísta, não tem vez no reino de Deus. Quem tudo quer para si está fora do reino de Deus". "A glória do Pai é assim: ninguém mais alto, ninguém mais baixo". "Prescindir da religião e partir mais para a fé .

Prescindir de nossa religião e partir mais para a mensagem central de evangelho: Anúncio de Deus como pai, anúncio da salvação. Confronto de

I

nosso evangelho com o evangelho do povo em fase de antigo testamento" (9).

Outra Igreja, que se compromete com a mudança de estruturas, econômica, social e polltica 3.0 Encontro Nacional das CEBs (Relatório das Comunidades do Estado de São Paulo): "Outra Igreja [a Igreja-Nova das CEBs] é a que se compromete com a mmlança de estruturas econômica, social e política; alimenta a fé, que dá

coragem e fundamento para a luta (ex.: grupos CPT, CIMI... ); revê a própria história e relê a Bíblia através da situação do oprimido" (10).

Organizar os trabalhadores, missão da Igreja 3.0 Encontro Nacional das CEBs (Relatório do

Encontro): "Os Padres ligam a Igreja com os pobres . .... A gente tá refletindo sobre o Evangelho, sobre Política e tentando organizar os trabalhadores (Goiás)" ( 11).

Igreja e movimento popular, uma s6 realidade Congresso de Taboão da Serra (Documento Final): "Na luta do povo, a Igreja redescobre sempre mais a sua identidade e a sua missão próprias. - A corrente cristã no interior do movimento popular e a renovação da Igreja a partir de sua opção pelos pobres são um movimento eclesial único e específico. Este movimento eclesial vai configurando diferentes tipos de comunidades eclesiais de base onde o povo encontra um

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As CEBs... das quais muito se f ala. p ouco se conhece -

A TFP as descreve co n: o são

espaço de resistência, de luta e de esperança fr ente à dominação. A li os pobres celebram sua f é em Cristo libertador e descobrem a dimen são p olítica da caridade" ( 12).

Igreja: povo a serviço do povo

povo, ti ra r-lhe o medo do co munism o?): " R . Sim.

O p roblema é acabar com o m edo diante do com un ism o; ser um elem ento de mudança e de reforma. e ajudar na construção do socialism o na A m érica Latina, até alcançar a p az e realizar a construção do socialism o. Isto f eito, p artir para a construção da sociedade.final comunista, isto é, a funda ção do 'reino do am or'" (14) .

Frei Gilberto Gorgulho OP: "A Igreja simplesm ente é um p ovo a serviço do próprio povo. A p resença e ação pastoral da Igreja alcança uma dimensão pastoral que desemboca no campo p olítico" ( 13).

Função da "Igreja-Nova": acabar com o medo do comunismo Pe. Ernesto Cardenal (Pergunta do repórter Peter Klein: Isto quer dizer que o trabalho de um cristão ou de um padre no Terceiro Mund o deve ser transmitir o conhecimento do comunismo ao

Papel do Episcopado: favorecer a Revolução Pe. Alfonso Garcia Rubio: " O que esp era a Teologia da libertação da Hierarquia eclesiástica.? Que se dessolidarize ef etivamente d o sistema imp erante, e que admita, de fat o, no seu interior. op ções claramente revolucionárias . .. .. Na grande maioria dos países latino-americanos ... . significa normalmente a op ção p olítica de esquerda uma op ção contra o sistema dominante, considerado com o opressor e anti-humano" ( 15).

«A missão dá Igreja é pregar o comunismo» O p ensam enlo d e Er11esto Carde,uu- padre , p oeta . guerrilheiro e. agoru m iniJtro da &J ·,CIJ+(J() do lf Ot.ro g 01Xm o da N icanigJUJ. l.lltra h,ra

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Parte li

Sacramentos: ações libertadoras e celebrações conscieniizadoras nas CEBs Pe. Juan Luis Segundo SJ (resumido pelo Pe. A. G. Rubio): "Os sacramentos, ou constituem 'uma celebração conscientizadora e motivadora da ação libertadora do homem na história' ou contribuem para a desumanização do homem . .... Assim como em toda verdadeira conscientização há sempre uma dimensão comunitária, dado que o diálogo é absolutamente indispensável (ninguém se conscientiza nem se liberta sozinho), assim também uma prática sacramental libertadora tem necessidad€. de comunidades eclesiais reais, comunidades de base" (16). 2.0 Encontro das CEBs (Mensagem da Igreja de Goiás): "O batismo só tem sentido se for recebido dentro de uma comunidade. .. .. Reparamos que o batismo era desperdiçado por toda parte . .... Fomos examinar os outros sacramentos e deu no mesmo resultado. .... 'Terá sentido celebrar o sacramento numa sociedade que tem por lei o capital e o lucro, o que leva a desprezar as pessoas?' .... A Igreja de Goiás resolveu diminuir a celebração dos sacramentos para dar mais tempo e atenção à evangelização" (17).

Novo Santo: o militante polltico Frei Leonardo Boff OFM: "Nas comunidades de base criou-se a situação para um outro tipo de santidade, aquela do militante. Mais que lutar contra as próprias paixões (é uma luta permanente), luta-se, politicamente, contra a espo liação e geração de mecanismos de acumulação excludente

"Eu me sinto, vestido de guerrilheiro, como me poderia sentir paramentado

de Padre", diz D. Casaldéliga, ao vestir o unifonne guerrilheiro com que foi presenteado na " Noite Sandinista", em São Paulo.

e no esforço de construir relações mais comunitárias e equilibradas" ( 18). "Em contraposição ao santo cristão - um observante, um asceta - nas bases surge outro tipo: o militante, solidário às lutas do po vo, surgem santos operrírios, de gravata" ( 19). NOTA": (1) "SEDOC", novembro 1976, col. 565. (2) Teologia da libertação, Vozes , Petrópolis, 1975, p. 67. (3) "SEDOC", novembro de 1976, col. 501. (4) Id em, col. 518. (5) Idem, outubro 1978 , col. 329 . (6) Idem, col. 433. (7) Comunidades Eclesiais de Base: uma Igreja que nasce do povo, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 11. (8) "SEDOC", novembro 1976, cols. 515, 523 . (9) Idem, cols. 565, 567 . (10) Idem, outubro 1978, col. 329. (11) Ibidem, col. 419. (12) Documento Final do Congresso Ecumênico Internacional de Teologia, n.ºs 20 e 21. (13) "Folhetim", 28-1-79, p. 6. (14) "O Estado de S. Paulo", 19-1-79. ( 15) Teologia da libertação: Política ou Profetism o?. Edições Loyola, São Paulo, 1977, p. 31. (16) Idem, p. 157. (17) "SEDOC", novembro 1976, cols. 501-502. ( 18) Características da Igreja encarnada nas classes subalternas, in "SEDOC', janeiro-fevereiro 1979, col. 841. (19) "O Estado de S. Paulo", 29-2-80.

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As CEBs .. . das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve com o são

de fundamento e de manifestação das p essoas Trinitárias ... " (2).

A nova religião da lgreja-Nova": "O mau ladrão também é Deus" 11

- Textos -

Mistura de concepções heréticas modernistas com as idéias-força marxistas de luta de classes e de domínio da economia (o modo de produção) sobre todas as demais atividades do homem, inclusive a religiosa, a Teologia da Libertação doutrina que anima o movimento das Comunidades de Base - acaba sendo praticamente uma transposição do marxismo em termos religiosos. A coletânea de textos que se segue - extraídos de documentos ou de obras e declarações de próceres dessa corrente - apresenta diferentes aspectos dessa nova religião.

Deus: o homem. lnterpretaçlo marxista da Santlsslma Trindade Pe. Gustavo Gutiérrez: "No encontro com os homens dá-se nosso encontro com o Senhor . .... É conhecida esta poesia de León Felipe, da qual muito gostava 'Che' Guevara . .... 'Amo-te, Cristo/ .. .. Tu nos ensinaste que o homem é Deus ... / Um pobre Deus crucificado como tu / e aquele que está à tua esquerda no Gólgota / o mau ladrão / também é Deus!' " (1). D. Alfonso López Trujillo (referindo-se à Teologia da Libertação): "Conhecem-se ensaios de uma 'Teologia Trinitária marxista', nos quais as Cf]tegorias: política, economia, sociedade, servem

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Palxlo de Cristo: palxlo do povo, vitima do capltallsmo e da Igreja tradlclonal Pe. Antonio Haddad SSS: "Mas hoje a Igreja tenta mostrar que essa morte de Cristo tão chorada e lamentada na 6.ª f eira da Paixão é também a morte do povo. O povo que morre nas crueldades da luta diária pela sobrevivência. E se o Cristo continua morrendo hoje e o po vo também .. . quem são os assassinos? • Mata o Cristo e o povo quem apóia os empresários do A BC e não ouve os operários. • Mata o Cristo e o povo quem quer manter o sistema capitalista brasileiro. • Mata o Cristo e o povo quem continua defendendo uma Igreja tradicionalista desligada dos problemas do mesmo povo. .... E o povo deve descobrir neste dia de luto para a humanidade que esta morte ainda vai ser fonte de nova vida como foi a do Cristo. É o sangue do operário, do marginalizado e do injustiçado que vai fazer desta terra brasileira um País onde aqueles que são maioria tomarão o seu destino nas mãos" (3). Frei Leonardo Boff OFM: "Tenho para mim que a morte de Jesus foi humana, provocada p elos antagonismos que havia em sua época" (4).

Demõnlo: o lucro, o capltallsmo Pe. Juan Luis Segundo SJ: "Quando se batiza uma criança, o ritual prescreve algumas orações para expulsar o demônio da criança .... porque não ensaiar uma terceira possibilidade: chamar pelo nome e sobrenome esse demônio que se quer


Parte li

Capírulo li -

expulsar? .... Se se trata de uma criança pobre, porque não dizer: 'Sai daí espírito imundo do capitalismo'. .... Se se trata de um rico, porque não dizer: 'Sai desta criança, espírito imundo do lucro' " (5). Socorro Guerrero (Representante das CEBs da Nicarágua no Congresso de Taboão da Serra): "O capitalismo é o pior, o maior inimigo. É aquilo que chamamos o diabo, na Bíblia. Porque o diabo em si, não existe, mas o capitalismo sim, existe" (6).

Pecado Original: a propriedade privada Congresso de Teologia de Taboão da Serra (Documento final): "O Deus em que acreditamos é Para Marx. o prole·tariado carrega a cruz de todos os sofrimentos da humanidade, sendo por isso o verdade iro "redentor" doa homens. Esta ilustraçlo de uma

"Via-Sacra" estampada em "O Slo Paulo" - órglo da Arquidiocese paulistana mostra como, introduzida pela Teologia da Libertaçlo. essa concepçlo tornou-se corrente

nos meios católicos.

1

o Deus da Vida, da liberdade e da justiça. Ele criou 'a terra e tudo que nela existe' a serviço do homem e da mulher, para que eles vivam, comuniquem a vida e transformem esta terra em lar para todos os seus filhos. O pecado do homem que se apropria da terra e assassina seu irmão não destrói o desígnio de Deus (Gn. 2-4) (1). Por isso Ele chama Abraão para ser o pai de um povo (Gn. 12ss) e ( 1) A passagem citada do documento final do Congresso de Taboão da Serra pretende apresentar um resumo da história da criação, da ruptura da aliança entre Deus e o homem pelo pecado original, e a renovação dessa aliança por meio de Abraão e Moisés. Ora, a única referência ao pecado que rompeu a aliança entre Deus e o homem vem nas palavras: "O pecado do homem que se apropria da terra e assassina seu

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As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Uma Igreja autogestionária, numa sociedade autogestionária

UNIDADE de pensamento na Revolução: propagada no Estado, ela filtra para a Igreja, e propagada na Igreja filtra para o E_st~do. O Pe. Domingos Barbé mostra a mt1ma conexão que existe entre a implantaç~o da autogestão na sociedade e na Igreja: "E coisa estranha e contraditória, pedir para a sociedade civil a autonomia, a autogestão, a democracia, a socialização, inclusive do poder e, ao mesmo tempo, não deixar as CEBs serem autônomas, se 'autogerirem' mesmo no que diz respeito à sua vida eucarística" (Artigo O ministério Eucarístico e as Comunidades Eclesiais de Base, in "O São Paulo", 20-2-81, p. 4). As CEBs não desejam, portanto, reformar apenas o Estado e a est_r~tura política, -~as · também as estruturas soc1a1s e mesmo rehgio. sas segundo seu ideal de igualitarismo radical. Reforma portanto da Igreja e da sociedade civil conjugadas entre si, para cria_r um _mun~o novo , um "Reino de Deus" que se 1dent1ficana com a 1sociedade sem classes e "autogerida" da etapa ; final do comunismo.

irmão". A frase que "assassina seu irmão" só pode referir-se à morte de Abel por Caim, relatada no Gênesis. Entreta~t_o , o fratiddio praticado por Caim deu-se depois do p~ca.do ongmal; logo, não pode ser relacionado com ele; ademais, ocorreu por inveja e nada tem a ver com o que, no texto dos teólogos da libertação, o antecede: a "apropriação da terra". Logo, o pecado do homem, o pecado original, só pode entender-se como sendo a "apropriação da terra". Ora, os Capítulos 2 a 4

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M oisés para libertar este povo da opressão, fazer com ele uma aliança e encaminhá-lo à terra prometida (tx odo, Deuteronômio)" (7).

Pecado atual: o capltallsmo Mensagem às Comunidades de Base (Congresso de Teologia de Taboão da Serra): "... . nos organizemos numa luta comum para tirar o pecado do mundo, o grande p ecado social do sistema capitalista que mata a vida de tantos irmãos" (8). 3.0 Encontro Nacional das CEBs (Conclusões): "Toda essa opressão que chega sobre nós tem sua raiz no pecado: . .. . Esse grande pecado é agora social e se chama sistema capitalista" (9).

Redenção: libertação s6cio-polf tlca Pe. Gustavo Gutiérrez: "O pecado exige uma libertação radical, mas esta inclui necessariamente uma libertação política" (10). Frei Leonardo Boff OFM: "A salvação é um conceito englobante. Não se restringe às libertações sócio-econômicas e políticas. Mas não se realiza também sem elas" ( I I ). Pe. Alfonso Garcia Rubio: "No contexto latino-americano [os teólogos da libertação] atribuem às tendências revolucionárias importância prioritária à libertação política. Nesta vive o cristão o amor a Deus e ao próximo, .... empenhando-se do livro do Gênesis, narram a criação do homem, a queda original fruto da desobediência a Deus, e a morte de Abel por Caim. Nem uma palavra é dita sobre o "pecado da apropriação da terra". Quem considera a "apropriação da terra" como uma espécie de "pecado original" são os comunistas, que dizem que o "comunismo primitivo" terminou por causa da apropriação dos meios de produção (representada principalmente pela terra) surgindo assim a sociedade de classes.


Capitulo li -

Parte li

I

vontade de Deus

o

ENSINAMENTO do Magistério tradicional da Igreja a respeito da diversidade de classes vem expresso de modo claro e inequívoco nesta passagem do Papa Bento XV: "Os que ocupam situações inferiores quanto à posição social e à fortuna devem convencer-se bem de que a diversidade de classes na sociedade vem da própria natureza, e-de que se deve procurá-la, em última análise, na vontade de Deus: 'porque ela criou os grandes e os pequenos' (Sap. 6, 8), para o maior bem dos indivíduos e da sociedade. Essas pessoas humildes devem compenetrar-se desta verdade: qualquer que seja a melhora que obtenham para a sua situação, tanto pelos seus esforços pessoais como com o concurso dos homens de bem, sempre lhes ficará, como aos demais homens, uma pesada herança de sofrimentos. Se tiverem essa visão exata da realidade, não se esgotarão em esforços inúteis para se elevarem a um nível superior às suas capacidades, e suportarão os males inevitáveis com a resignação e a coragem que a esperança de bens eternos dá" (BENTO XV, Carta Soliti Nos, de 11 de março de 1920, ao Bispo de Bérgamo, Les Enseignements Pontificaux - La Paix lntérieure des Nations, par les Moines de Solesmes, Desclée & Cie, pp. 293-294).

Papa Bento XV (1914-1922)

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As CEBs .. . das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

corajosamente na práxis libertadora até dar a vida pelos outros" (12).

Moral: bom ê aquilo que favorece a revoluçlo Pe. Ronaldo Muiioz SSCC: "Penso que como cristãos, podemos aceitar, em geral, a concepção marxista de que é eticamente bom aquilo que na práxis revolucionária se vai mostrando eficaz para a causa do proletariado" ( 13).

O ldeArlo soclallsta-comunlsta: reallzaçlo da utopia cristã Frei Leonardo Boff OFM: "O que a teologia poderá dizer é que o ideário socialista-comunista propiciaria à fé, caso venha a se historizar, mais possibilidades que o capitalismo de realizar topicamente a utopia cristã acerca do homem e da sociedade" (14).

Reino de Deus: Instauração da (iltlma etapa do comunismo Pe. Pablo Richard: "Para nós, com o triunjo das forças populares, o povo da Nicarágua se encontra, agora, mais próximo do reino de Deus" ( 15). Frei Betto e Pe. Pablo Richard: "Vários teólogos insistiram na integração entre ciência e fé comenta 'Movimento' - e tanto Pablo Richard como Frei Beto - um teólogo, outro agente pastoral - afirmaram que o socialismo 'é apen"as uma etapa do Reino de Deus'" (16). Pe. Ernesto Cardenal (líder sandinista e atual Ministro da Cultura da Nicarágua): "Em um dos meus versos escrevi uma vez a seguinte linha: 'comunismo e reino de Deus na terra significam a mesma coisa'. E com isto eu queria dizer que o

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comunismo e o Estado da 'sociedade final comunista' que ainda não está realizada em parte alguma do mundo - pois até agora nos encontramos ainda na fase da construção do socialismo que esta futura sociedade comunista será, ela mesma, o 'Reino de Deus na Terra' " ( 17). "O comunismo, segundo Marx, é a sociedade na qual não haverá egoísmo nem injustiça de nenhuma espécie, é o mesmo que os cristãos entendemos por reino de Deus na Terra" (18). NOTAS (1) Teologia da Libertação, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 171. (2) Teologia Liberadora en América Latiria, Ediciones Paulinas, Bogotá, 1974, p. 105. (3) "O São Paulo", 6-4-79, p. 4. (4) Citado por FR EI BEno, Diário de Puebla, Civilização Brasileira, 1979, p. 60. (5) Apud MoNS. ALFONSO LOPEZ TRUJILLO, op. cit., p. 79. (6) "Catolicismo", julho-agosto 1980, p. 20. (7) Documento Final do Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, n. 0 29, in "Revista Eclesiástica Brasileira ", março 1980, p. 156. (8) Carta aos Cristãos que vivem e celebram a sua f é nas Comunidades Cristãs Populares dos países e regiões pobres do mundo, in "Revista Eclesiástica Brasileira", março 1980, p . 168. (9) 3. 0 Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base - Igreja Povo que se Liberta, in "Revista Eclesiástica Brasileira", setembro 1978, p. 510; "SEDOC", outubro 1978, cols. 447-448. (10) Apud PE. A . G. RueJO, Teologia da Libertação: Política ou Profetismo?, Edições Loyola, São Paulo, 1977, p. 135. (11) Que é fazer Teologia partindo de uma América Latina em cativeiro?, in "Revista Eclesiástica Brasileira", dezembro 1975, p. 863. (12) Op. cit. , p. 213 . ( 13) Apud MoNS. ALFONSO LOPEZ TRUJILLO, op. cit., p. 31. (14) Marxismo na Teologia, in "Jornal do Brasil", 6-4-80. (15) "Movimento", 25-2-80. ( 16) Idem, 3-3-80. (17) "O Estado de S. Paulo", 17-1-79. (18) "Movimento", 6-8-79.


D. José Maria nes corifeu do movimento das CEBs, ro ama a prostituição como um verda eiro -serviço de Deus!

o

SEMANÁRIO da Arquidiocese de São Paulo mostra a que extremos pode conduzir a Teologia da Libertação com sua concepção "messiânica" da figura do "pobre". Em reportagem sob o título Um encontro da mulher marginalizada, o jornal dirigido pelo Bispo Auxiliar D. Angélico Sândalo Bernardino descreve o trabalho da Diocese de Juazeiro-BA com as prostitutas da cidade. Diz a reportagem: "A Escola Senhor do Bonfim tem como objetivo primeiro de promover as prostitutas, fazendo com que elas se sintam 'gente', filhas de Deus e capacitando-as profissionalmente . .... As metas de trabalho junto às mulheres é ajudá-las a descol)rir seus valores, criando uma consciência crítica afim de que elas percebam toda a exploração de que são vítimas . .... Como uma das metas prioritárias da mesma [Diocese de Juazeiro] são as Comunidades Eclesiais de Base, se fez um levantamento, aproveitando as visitas, convidando-as para encontros semanais na Escola visando, a longo prazo, a formaçio de CEBs e tardes recreativas". É por considerá-las "exploradas", "marginalizadas", portanto "pobres", de acordo com a TL, que as Comunidades iniciaram seu trabalho junto às mulheres de vida infame. Isto fica mais claro ainda em outra reportagem do mesmo semanário,

relatando semelhante trabalho na localidade de Sobradinho, sempre na Diocese de Juazeiro. Assim o jornal do Cardeal Arns conclui esta segunda reportagem: "Nesse caminho a comunidade de Sobradinho vem descobrindo que é imenso 'o potencial evangelizador dos pobres, enquanto estes interpelam, constantemente [a Igreja], chamandoà conversão' (Puebla 1147)". Ao lado dessa reportagem, o jornal publica um estudo do Pe. Hugues d'Ans, de Lins, intitulado "Elas nos precederão no Reino de Deus", no qual afirma: "Entendemos melhor agora por que Jesus coloca as prostitutas no primeiro lugar no Reino de Deus: com efeito, ao contrário do que se pensa geralmente, elas não são 'mulheres de vida fácil', mas sim pobres (em todos os sentidos do termo), oprimidas e exploradas". P or isso ele as apresenta como "o rosto do Cristo Sofredor, o Senhor que nos questiona e interpela (Puebla, 31)". Se as mulheres que exercem a profissão infame são tão-só "pobres" e não pecad oras públicas, por que, então, não formar CEBs com elas e não as admitir nas Comunidades já existentes? (1)

ª

(!) Há fortes indlcios de formação de CEBs com prostitutas, ou pelo menos de sua participação ativa nas Comuni-

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As C EBs .. das quais muito se fa la. p ouco se co nhece -

A TFP as descreve co m o são

O. José Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa

Por outro lado, como "pobre-redentor", na concepção da TL, a mulher pública tem um papel messiânico, uma missão religiosa. - De que natureza seria esse papel, essa missão? D. J ,sé Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa e corifeu do movimento das Comunidades Ecledades , em diversos outros lugares como por exemplo Lins-SP, Rio Branco-AC e Tauá (Diocese de Crateús-CE).

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siais de Base , responde a essas perguntas, de modo a não deixar dúvidas sobre até que aberrações pode levar a aceitação dos pressupostos marxistas da Teologia da Libertação . São tão chocantes suas afirmações, que é preciso ler suas próprias palavras. Numa entrevista a W. J. Solha, comentando o romance Mutirão para matar, de um certo Barreto , seu amigo, diz o Arcebispo de João Pessoa: "Há um trecho bom no livro . É um em que ele conta como uma prostituta era estimada num lugarejo apesar da profissão. É que, desde que chegara à cidadezinha, nunca mais marido nenhum bateu na esposa, buliu com as moças. Mas vai daí que um belo dia essa m•ilher morre e tudo volta a ser como era . .... Havia então, no lugar. uma moça de boa família, que estava prestes a ser freira. Tudo parecia caminhar normalmente, até que ela ... percebeu o drama da sua comunidade... e colocou-se em questão: se não serviria melhor ao Senhor substituindo a meretriz. Nesse impasse, abria-se com o pai, que se limitou a lhe advertir: 'Minha filha: no convento você está servindo a Nosso Senhor e, ao mesmo tempo, estará num lugar tranqüilo, com suas horas de sossego. Ali [no prostíbulo], não: você será o próprio Cristo!' Ela optou pela prostituição" - conclui o Arcebispo da Paraíba! O repórter perguntou se o fato era real. D. José Maria respondeu que não. O fato real, que ele havia contado ao romancista, era o de uma prostituta que estava para morrer e foi atendida por um Bispo. Este insistia em que ela lhe contasse "as boas ações" que tivesse feito. Afinal a mulher infame lhe disse : "Não sei se ... Talvez Jesus considerasse ... Tenho até vergonha de dizer ... mas em todos os natais eu ia sempre à prisão e... dava o meu corpo ... àqueles prisioneiros que tinham a condenação maior, àqueles que mais precisassem de mulher... "


Parte li

Capítulo li -

2

A Igreja nunca se desinteressou do problema da prostituição. Mas ela sempre procurou resolver esse problema tirando a mulher da vida infame, da miserável condição a que esta se tinha deixado arra star. Seguindo tão nobre tradição, Santa Maria Eufrásia Pelletier fundou a Congregação do Bom Pastor, cuja finalidade era amparar as peca doras arrepe ndidas e desejosas de mudar de vida, bem como preservar desse perigo meninas e moças desampara das. A Congregação do Bom Pastor, fundada na França no século passado, difundiu -se por todo o mundo . As fotografias apresentam Santa Maria Eufrásia quando jovem, antes de entrar para o convento, e já no fim da vida : uma vida austera e operosa, toda consagrad a a resolver o problema da impureza em sua forma extremada , a prostituição . Mais ainda do que o curso do tempo, a tarefa complexa e absorvente fez da jovem rica em formosura de semblante e de alma, a veneranda anciã dignificada pela fidelidade na sublime vocação.

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As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

O jornalista comentou que o fato real era muito melhor do que o imaginado. D. José Maria Pires confirmou: "Claro! E tem uma conotação nova ... e clara ... do verdadeiro sentido do serviço de Deus!" Nesta declaração cumpre ressaltar dois pontos. Primeiro, que o Arcebispo de João Pessoa, ao qualificar de "bom" esse trecho do romance, admite, com o suposto pai de família, que uma jovem "no convento está servindo a Nosso Senhor", porém no prostíbulo "será o próprio Cristo". Segundo, ele afirma de modo inequívoco, que a prostituição "tem uma conotação nova ... e clara ... do verdadeiro sentido do serviço de Deus". Ou seja, que a prostituição, ou pelo menos certa forma de prostituição, constitui um verdadeiro "serviço de Deus". Vale dizer, é sagrada. Nessa perspectiva se entendem as palavras de uma freira que trabalha com prostitutas, relatadas por Frei Clodovis Boff em seu livro sobre as CEBs do Acre: "As prostitutas me trouxeram muita riqueza religiosa e humana. Muitas são exemplo para mim. Vivem até melhor que eu, que sou religiosa. .. .. Tem uma que sempre reza o credo antes de dormir com homem". Palavras escandalosas, máxime nos lábios de

uma Esposa de Cristo, mas que faz sentido com a concepção religiosa da prostituição, proclamada pelo Arcebispo da Paraíba, parecendo conferir um caráter oblativo ao próprio ato pecaminoso: "Tem uma que sempre reza o credo antes de dormir com homem''. Não é de estranhar, assim, o slogan ostentado por um grupo de prostitutas, que participaram de uma celebração litúrgica presidida pelo Bispo Prelado de Acre e Purus, D. Moacir Grechi, no encerramento de um curso de Teologia ministrado por Frei Clodovis Boff a Padres, freiras , agentes pastorais e líderes de CEBs: "Últimas na Sociedade e primeiras no Reino". Referências: T EóFILO CELSO DA SILVA, Relatório de uma visita às cidades de Uns. Mirandóp olis e A raçatuba-SP, São Pa ulo, 1981 , p. 1, oolicopiado; P E. HUGUES DºANS E IOLAN DA TOSHI E ID E, As prostitu/as vos precederão no Reino de Deus, in "Vida Pastoral", maio-junho 1981, PP- 7-12; P E. H uGUES D'ANS, Elas nos precederão no Reino de Deus, in "O São Paulo", 19-6-8 1, p. 4; Pastoral em vez de violência, idem, ibidem; Um encontro da mulher marginalizada, idem, 22-1-82, p . 5; Dom José diálogo com W. J. Solha, "Correio da Paraíba", 18-7-78, 5.• página; FREI Cwoov1s BoFF OSM , Deus e o homem no inferno verde - Quatro m eses de con vivência com as CEBs d o A cre, Vozes, Petrópolis, 1980, p. 117; ID EM, A Igreja, o Poder e o Povo (Relatório de um Curso de Teo logia), in " Revista Eclesiás tica Brasileira", março 1980, p. 47.

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AS PROSTITUTAS VOS PRECEDERÃO NO REINO,DE DEUS Pe. Hugues d' Ans e lolanda Tosh ie Ide A/g i m ., exclam arão : ··1;11,to provocador.'" 9:J _.J).fO.~titu ~~ão,_ ,_ ó_q uy --ª·" ~acla lr na,_ I1c m Pois 11àc,; porem a_~!"~_j~- Mt 21.31. Q diw 'c:9 m -2 irrfim a p a.r~.L .?em.1m.:.. iil:i.uficien _t<: p a r:;, de Jesus e ain i rn1gçào~11 ~ çier. pw r as nu 1T1eros~~ clivi_clas_p 9r ela ~ \<J.fl: tra!d;,1, 0 • • Qu em a pro ve it a me,mu da p ru , titui1-er ad e". T en1Qí_/illlli]J.'.11LfilWL prouess~u J!U r ·

Página de "Vida Pastoral", revista distríbulda gratuitamente aos ag ent es pastorais, contendo o artigo do Pe. H. d' Ans e sua colaboradora.


Parte li Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fétima que chorou em Nova Orleans (Estados Unidos). em julho de 1972. A fotografia foi tirada pelo Pe. Romagosa durante a extraordinária lacrimação. O misterioso pranto mostra a Virgem a chorar sobre o mundo contemporâneo. como outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de dor profunda. na previsão do castigo que virá. Em que medida as aberrações que circulam nos ambientes das CEBs contribuíram para este pranto 7




• Lançamento oficial do Movimento do Custo de Vida - um dos "braços pollticos" das CEBs - em 1978. no Colégio Arquidiocesano de São Paulo.

170


Manipular palavras e conceitos, para justificar esbulhos e violências

OS

AGENTES pastorais que atuam no campo aplicam o rótulo de "posseiro" a todo homem do campo ligado às CEBs rurais, que esteja em conflito com donos de terras, companhias agropecuárias ou colonizadoras, órgãos públicos etc. Ora, posseiro é categoria juridicamente definida em nossa complexíssima legislação agrária, com direitos e deveres definidos e fixados. Ao darem tal qualificaiivo a todo e qualquer lavrador em litígio, as CEBs estão muitas vezes cobrindo com o manto protetor da Lei não só os verdadeiros posseiros, mas também os simples invasores de terras. Estes, se estão de boa-fé, merecem por certo a compreensão tanto dos proprietários rurais, como das autoridades. Mas nem por isso deixam de ser invasores, nem adquirem direitos. Quanto aos invasores de má-fé, estes sujeitam-se às penas que a Lei prevê para o crime de esbulho possessório: não passam de esbulhadores, portanto. É fácil ver como os agentes pastorais, líderes e monitores de CEBs, por meio da conscientização, conseguem fazer crer àquelas pessoas simples que elas são de fato posseiros (detentores, portanto, de certos direitos), quando na realidade, muitas vezes, nem elas próprias sabem qual é sua verdadeira

situação legal; em casos não raros sabem muito bem que esta é insustentável. .. Para colorir a situação, os agentes pastorais criaram uma nova figura, a do "migrante". A esta figura, justapõem outra - também de recente lançamento - que a completa e quase a define: a do "carente". A partir delas , fixam como única norma do direito de propriedade, ou antes, do uso e posse da terra, a necessidade, ou - como dizem documentos de CEBs rurais e urbanas - a "precisão". Estabelece-se, então, a seguinte relação: migrante = caren te = posseiro. Ou seja: todo o migrante, por essa simples razão, é um carente; sendo a precisão o único título legítimo para a posse da terra , todo o carente se transforma desde logo em posseiro. Inversamente, todo aquele que detém a propriedade da terra, mas não a cultiva diretamente, ou não vive exclusivamente dela, é considerado usurpador, ainda quando seja comprovadamente ·o proprietário legítimo. Assim, recebem os rótulos pejorativos de "grileiro", "tubarão" e outros; e seus empregados são sempre rotulados de "jagunços", "pistoleiros", "capangas". É exatamente o que fazem os autores de um Estudo da CN BB, tendenciosamente intitulado Pastoral da Terra: posse e conflitos, realizado sob 171


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Uma nova figura com eça a ser introduzida pelos agentes pastorais nos conflitos de terras:. a do "migrante" . Cartaz do Centro de Estudos Migratórios (S ã o Paulo) e Centro Pastoral dos Migrantes (Diocese de Santo André).

responsa bilidade da Comissão Episcopal de Pastoral , à qual, precisamente, estava subordinada a Comissão Pastoral da Terra. Ao aprese ntar o quadro dos conflitos de terras na A mazônia Legal, o refer id o Estudo inverte completamente as posições, qualifica ndo de "invasor" da "terra dos posseiros", os proprietários e os empresários, tanto quanto os chamados "grileiros" (indivíduos que

172

procuram apossar-se de terra alheia mediante falsos títulos de propriedade e outros recursos desonestos). Ou seja, transforma o proprietário e o empresário em esbulhador, sujeito às penas da Lei! Feita essa subversão de conceitos, o caminho fica aberto para toda espécie de violências: nem tudo o que é legal ( o título de propriedade) é legítimo, proclamam os agentes pastorais e líderes de CEBs. Já se vê que estão aqui atingidos não somente os proprietários rurais supergrandes (em gera i empresas agropecuárias) e os muito grandes, mas também os grandes, médios e até pequenos fazendeiros, pois semelhante visualização contesta o próprio direito de propriedade e a legitimidade de outros títulos que não o trabalho e a "precisão". Não é de admirar, pois, que se chegue a aberrações como as chamadas "operações pega-fazendeiro" e os "mutirões contra a jagunçada", narradas adiante. Essa completa subversão da ordem jurídica traz como conseqüência lógica o questionamento das decisões judiciais em favor do proprietário e a resistência à ação da Polícia , encarregada de fazer cumprir tais decisões. Daí o desprestígio sistemático do Poder Judiciário e da Polída, apresentados sempre como aliados dos "grileiros". O que só agrava os conflitos de terras. Característica nesse sentido é a seguinte passagem cto relatório de uma CEB rural do Maranhão: "Lá os grileiros destruíram umas roças, nós procuramos a Secretaria de Segurança, mas nada ela fez. Os grileiros continuaram destruindo as roças. Quando a polícia veio foi p ra prender alguns de nós. A polícia e os juízes estão sempre ao lado dos grileiros. Nas reunião a gente reflete tudo isto. Os posseiros não tem escrituras das terras. Os grileiros jogaram capangas dentro de nossas terras


Parte li

Capitulo li! -

e devoraram nossas roças. Os posseiros procuraram os seus direitos, nós recebemos apoio do Sindicato e da CPT (Comissão Pastoral da Terra). As autoridades nada faziam. Então nós resolvemos derrubar as cercas que os grileiros tinham feito. Agora eles estão fazendo prisões, mas o pessoal está unido. O juiz lá manda a polícia prender

I

pessoa livre para julgar, que esteja do lado dos trabalhadores". - Justiça de classe? Fica aqui lançada a suspeição sobre a integridade dos juízes de um modo geral: o magistrado que não estiver "do lado dos trabalhadores" não é

"uma pessoa livre para julgar". Encontra-se com freqüência em documentos das CEBs ou a elas destinados a acusação velada ou explícita de parcialidade sistemática da Justiça e da Polícia. Nas conclusões finais do 2. 0 Encontro Nacional de Comunidades de Base (Vitória, 1976), está afirmado: "Os grandes (latifundiários e até órgãos governamentais, como FUNAI, CODEVALE) procuram expulsar os posseiros e pequenos proprietários para se apoderarem de suas

os posseiros e defender os grileiros". Sintomática também a seguinte instrução contida em um folheto do Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Regional Nordeste II da CNBB, apresentado por D. Helder Câmara: "Quer dizer,

procurar o Juiz é um caminho certo e legal. Acontece que nestas áreas de posseiros existe muita dificuldade de encontrar o Juiz. Não é só encontrar qualquer juiz. É preciso que o Juiz seja uma

A pressão do clero esquerdista sobre o Judiciário foi particularmente intensa por ocasião do julgamento dos Padres Camio e Gouriou. Por toda a parte realizaram-se atos de solidariedade aos sacerdotes franceses. - Na Catedral de São Paulo, o Cardeal Arns presidiu uma concelebração com seus Bispos Auxiliares e numerosos Padres.

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terras. .. .. Nessa luta os grandes têm sempre o apoio das autoridades e da polícia, ~ os pobres nada valem, nem têm direito a nada. São tratados pior que cachorro". Já o "Boletim da Comissão Pastoral da Terra" enfatiza: "Os ricos que sempre querem mais terra, como querem sempre mais dinheiro, fazem todo tipo de pressão, de ameaça, de violência direta, muitas vezes até matam, ou mandam matar... E estão sempre soltos, inocentados, livres e protegidos. O dia, porém, que os índios, posseiros ou outros lavradores cansam e veem que é inútil apelar por justiça, - pois nada e ninguém acode e defende de fato seu direito -, e passam a REA GIR, enfrentando direto e igual seus agressores, às vezes e em último caso até f erindo ou matando seus concorrentes violentos, não poucas vezes acompanhados de soldados da polícia -, aí sim a autoridade aparece já e pronta para dominar os revoltosos, prender os violentos assassinos, desarmar todo mundo (menos os agressores), castigar .. ." Se o Juiz e o Delegado "estão sempr:e do lado dos grileiros", que resta fazer? o (.:l

contra lavradores. No momento, entretanto, é tal a campanha movida pelo clero esquerdista e pelas CEBs (com ampla cobertura por parte da grande imprensa) contra o instituto da propriedade privada , que não é necessário deter-se neste aspecto da questão. Sobretudo tendo em vista que o objeto do presente estudo não é a situação global da realidade rural ou urbana brasileira, mas tão-só a atuação das CEBs como agente tensionante , perturbador da ordem e da concórdia.

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É evidente que não se pretende negar aqui os t abusos, injustiças e até violências praticadas por u 1 grileiros, proprietários ou mesmo autoridades , "' ~

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"'oe. Referências: CNBB - COMI SSÃO E PISCOPAL DE P ASTORAL, Pas- ~ torai da Terra-2: posse e conflitos, Estudos da CNBB-13, Edi- -~ ções P a ulinas, São Paulo , 1976, pp. 232 ss.; CNBB - NoRDES- "' T E li , R<Jorma Agrária Terra para quem trabalha na terra, Ediç ões Paulinas, São Paulo , 1979, p. 52; "SEDOC", outubro :§

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1978, col. 416; " SEDOC", outubro 1976, col. 441 ; " Boletim d a Co mi ssão Pa storal da Terra", setembro-outubro 1977, p. 2, Editorial.

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Com seus folhetos, boletins, cartazes e cartilhas, a CPT - Comissão Pastoral da Terra, semeia o descontentamento e a revolta entre os trabalhadores do campo .


Comissão Pastoral da Terra: "Somos a Igreja no meio rural, organizada em Comunidades de Base" Fundação e estrutura da CPT O principal agente de organização, conscientização e mobilização do trabalhador rural, por meio das Comunidades de Base, é a Comissão Pastoral da Terra - CPT. Em 1975 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Pontifícia Comissão de Justiça e Paz (Secção brasileira) patrocinaram um encontro em Goiânia, do qual resultou a criação de um organismo oficioso do Episcopado, especialmente destinado a tratar dos assuntos relacionados com a propriedade, posse e uso da terra: a Comissão Pastoral da Terra - CPT, ligada à CNBB por intermédio da Comissão Episcopal de Pastoral. Seus objetivos declarados são: a) Promover o "processo global de Reforma Agrária do nosso País"; b) Promover a sindicalização rural; c) "Organizar uma assessoria jurídica para tudo o que se refere aos problemas da terra e dos trabalhadores rurais"; d) "Promover campanhas de conscientização para os trabalhadores rurais e agentes de pastoral"; e) Promover a instituição de uma Justiça Agrária.

A CPT está organizada em nível nacional, sob a presidência e a vice-presidência de membros do Episcopado (presentemente, D. Moacir Grechi, Prelado do Acre e Purus e D. Pedro Casaldáliga, Prelado de São Félix do Araguaia-MT) ; em níve l regional, sob a responsabilidade dos Secretariados Regionais da CNBB; em nível de dioceses e prelazias e, por fim , em nível paroquial e até de Comunidades de Base. Uma vasta r·ede, como se vê. Integram a CPT, em seus vários níveis, Bispos, Padres, freiras , agentes pastorais leigos de ambos os sexos, assessores (advogados, agrônomos, sociólogos, antropólogos, economistas) e, também, lavradores. Estes - segundo D. Moacir Grechi, presidente da entidade - são quase todos membros e até mesmo monitores ou coordenadores de Comunidades Eclesiais de Base. Aliás, a própria Comissão Pastoral da Terra se autodefiniu em sua 2.ª Assembléia Nacional: "Somos a Igreja no meio rural, organizada na forma de Comunidades Cristãs de Base, onde brotam os grupos da CPT". São, portanto, as CEBs que fornece m à Co missão Pastoral da Terra os elementos de base, por meio dos quais o trabalho da CPT atinge os mais remotos rincões do mundo rural brasileiro. Por outro lado, a CPT - como orga nismo eclesiás175


As CEBs .. . das quais muito se fala . pouco se conhece -

A TFP as des creve como são

trabalha e vive; .... 3 - No direito do trabalhador rural que não tem terra, inclusive dos que foram expulsos da terra, de tomar posse de áreas produtivas não cultivadas dos grandes latifúndios e das

terras públicas. .... Apelamos a todas as mulheres do meio rural, para que participem das organizações de base e das lutas pela terra, pondo fim ao machismo e à opressão dentro das próprias famílias". Se "a terra é de quem nela trabalha e vive", então o proprietário que não cultiva sua gleba com "Não existe uma entidade como a Igreja que vá à base p ara o trabalho, pega o homem realmente onde ele está, nos bairros, na roça, no interior da Amazônia ... " (D. Angélico S. Bernardino, Bispo Auxiliar de São Paulo).

D. M oacir Grechi, Bispo do Acre e Purus, um dos principais mentores do movimento das Comunidades de Base e presidente nacional da CPT - Comissão Pastoral da Terra.

tico ligado à CNBB - dá cobertura a toda a agitação promovida nos campos pelos agentes pastorais e membros das Comunidades de Base, estendendo sobre eles o manto protetor da invulnerabilidade de que goza ela própria.

Programa da CPT: "A terra ê de quem nela trabalha" Quanto a o programa difundido pela CPT, basta co n:siderar a lgumas das conclusões da referida 2. ª Assembléia Nacional: "Companheiros e Companheiras, .. .. decidim os apoiar os trabalhadores .... 1 - Na luta pela Reforma A grária, porque acreditamos que a terra é de quem nela

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Parte li

as próprias mãos e nela não vive, não é mais que um usurpador. E a terra, roubada, deve ser "libertada". É o que proclama em editorial o boletim da CPT: "Essa é a nossa 'páscoa camponesa': A LUTA PARA LIBERTAR A TERRA! .... A terra, livre

das cercas e da ganância dos ricos". E o Calendário do Lavrador para 1979, publicado pela mesma CPT, é categórico: "As cercas roubaram a terra dos homens. .. .. Quando amanhecerá o derradeiro dia de todas as cercas?" É por isso que elas são consideradas "malditas":

- "Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas!" Eis aí, resumido em quatro versos de D. Pedro Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia e vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra, todo o programa que inspira a agitação rural levada a efeito pelos agentes pastorais e militantes de CEBs por todo o País.

Refer ências: CNBB, Pastoral da terra, Estudos da CNBB-11 , Edições Paulinas, Sã o Paulo, 1976, p. 24; CNBB , Comunidades Eclesiais de Base no Brasil, Estudos da CNBB-23, Edições Paulinas, São Paulo, 1979, p . 50; CPT, Calend á rio do La vrador-1979 ; FR EI BETo, O que é Comunidade Eclesial de Base. Brasiliense, São Paulo, 1981 , p. 26; D . P ED RO CASA LDALI GA, Tierra nuestra, libertad, apud PU NIO C oRR~A DE OLI VEIR A, A Igreja ante a escalada da ameaça comunista - Apelo aos Bisp os silenciosos, Editora Ve ra C ru z, São Pa ul o, 1976, p. 13; "O Sã o Pa ulo", 29-4-80 e 5-10-79 ; "SEDOC", m a io 1978 , col s. 1009-1011 ; D1R CE CAR VA LH O, Pastoral da Terra em def esa do trabalhador rural, in "Família Cri stã", maio d e 1980 , p. 5; "Boletim d a Co mi ssão Pastora l d a Te rra", nove mbro-deze mbro 1977, p. 3 e ma rço-a bril 1979, pp. 1-2; "Diá rio de Pe rn a mbuco" , 5-1 -79.

"Malditas todas as cercas! Manditas todas as propriedades privadas!" - proclama o Bispo de São Félix do Araguaia e vice-presidente nacional da CPT, D . Pedro Casaldáliga .

A CPT prega a violência em prosa e verso '·

"Tem havido muita luta, muito sangue derramado, ou se entra na peleja ou o terreno é tomado, ou os posseiros arrisca a vida, ou p erde todo bocado." ("Boletim da Comissão Pastoral da Terra" julho-agosto 1977, p. 9). '

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As CEBs ... das quais muito se fa la. po uco se co nhece -

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"Romaria da Terra" no Rio Grande do Sul: Alto lál esta terra tem donor 11

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MOACIR Grechi, Bispo-Prelado do Acre e Purus e presidente nacional da Comissão Pastoral da Terra, liderou em fevereiro de 1980 a terceira "Romaria da Terra", realizada na loca lidade de Tiaraju, a 12 quilômetro s de São Gabriel , no Rio Grande do Sul. A escolha da localidade não foi obra do acaso : ali morreu o índio Sepé Tiaraju , o "São Sepé", na luta contra os povoadores brancos , no século XVIII... Outro não foi o tema dessa singular "romaria" : durante todo o dia os oradores se sucederam na "Tribuna do Povo" manifestando sua disposição de "lutar pela terra que nos está sendo roubada pelos grandes latifundiários" .. . D. Moacir quis , com sua prese nça, reanimar essa luta . Fez-se a Via-Sacra. - Via-Sacra? De fato houve uma caminhada transportando uma cruz, com paradas regulares para meditação ("estações") . Nada porém de contemplar a Verônica enxugando o rosto do Salvador, o Cirineu ajudando-O a carregar a Cruz; menos ainda o encontro de Maria Santíssima com seu Divino Filho . . "Cada 'estação' da Via-Sacra - relata um matutino gaúcho - é dedicada a um dos temas atuais. Assim êxodo, a falha assistência médica, a exploração nos preços, o peleguismo nos sindicatos"...

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Os cantos eram igualmente "piedosos": "Nós vamos lutar / a terra nossa ocupar / a terra vai pra quem trabalhar / a história não falha / nós vam os ganhar. / Já chega de tanto esperar / já chega de tanto sofrer / a luta vai se r tão difícil / na lei ou na marra / nós vam os ganhar. / Se a gente morrer nessa luta, / o sangue será semente / a história não falha / nós vamos ganhar ".

"Na lei ou na marra", "se a gente morrer nessa luta", "o sangue será semente" ... Versos que dão o que pensa r, sobretudo quando cantados no local onde houve luta pela terra , há du ze ntos anos, entre índios e brancos ... Mas não foi só: D. Moacir Grechi sugeriu que a frase: "Alto lá , esta terra tem dono", atribuída ·ao líder guarani , servisse de slogan para todos os que se áefrontam com os "novos in vaso res". Já se viu quem são os "invasores", segundo estudo da CNBB, prefaciado pelo mesmo D . Moacir Grechi, e como a CPT considera "dono" da terra apenas "aquele que nela trabalha e nela vive". "Alto 'lá, srs. proprietários! esta terra tem dono!" Esse parece ser o brado de guerra sugerido pelo Prelado aos "posseiros" de todo o País contra os detentores dos títulos de propriedade . Referências: " Folha da Manhã", Porto Aleg re. 2 1-2-80; "J orn al do Brasil", 27-2-80.


VIOL~NCIA NO CAMPO -

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LAGAMAR, na Paraíba, oferece um exemplo característico do modo de atuar das Comunidades de Base em conflitos de terras, para criar "área de tensão social", com vistas à desapropriação.

Um exemplo "quente" da atuação das CEBs Em conferência pronunciada no Teatro da Universidade Católica, no dia 29 de fevereiro de 1980, D. José Maiia Pires, ao tratar das Comunidades de Base, a certa altura diz o seguinte: "Eu

gostaria, se houvesse tempo, de apresentar, agora, um exemplo que esquentasse um pouco mais. Seria a situação de algumas comunidades, especialmente da comunidade de Alagamar". O próprio D. José Maria Pires e seu então Bispo Auxiliar, D. Marcelo Carvalheira (ambos corifeus nacionais do movimento das Comunidades Eclesiais de Base), haviam apresentado esse exemplo "q uente" como modelo para as CEBs da Arquidiocese de João Pessoa, em Carta Pastoral de 12 de fevereiro de 1978, a qual mandam que seja lida "na primeira reunião das Comunidades de

Base e dos Grupos de Reflexão". Em poucas palavras , o "caso Alagamar" pode resumir-se no seguinte: cerca de 450 famílias de

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lavradores viviam nas terras do Sr. Arnaldo Maroja, pagando-lhe "foros" (espécie de aluguel anual pelo uso da terra). Em novembro de 1975 esse proprietário morreu sem herdeiros necessários. Deixou, entretanto, estabelecido em testamento que suas terras (cerca de 13 mil hectares) fossem vendidas e a importância apurada, distribuída entre as 42 pessoas ali designadas.

Os agentes pastorais criam o caso Interferindo na questão, os agentes de pastoral que atuavam na região fizeram pressão para que o governo adquirisse as terras e implantasse nelas um núcleo de colonização e Reforma Agrária. Tal não se deu e as terras foram vendidas a dez pessoas diferentes. Quando os novos proprietários quiseram fazer uso delas, plantando ca na e criando gado, começaram os conflitos.

"Foi então que o povo de Alagamar tomou contato com o movimento de Não-Violência. A prendeu a se unir e se organizar em torno de seus direitos" - comenta "O São Paulo", semanário da Arquidiocese de São Paulo. Além de entrar em contato com o movimento "Não-Violência" (ou seja com o próprio D. José M. Pires, que é um de seus dirigentes), o pessoal de

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As CEBs ... das quais muito se fa la, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Alagamar passou a receber orientação também do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba. Como se recorda, esse Centro foi organizado e era dirigido , desde fins de 1977, por Vanderlei Caixe, sentenciado como terrorista (ver quadro). Não cabe aqui entrar no mérito da pendência entre os lavradores de Alagamar e os novos proprietários das terras. Mas mesmo abstraindo do mérito de tal questão, não é difícil perceber, pela seqüência dos fatos e dos pronunciamentos, que o Arcebispo, diretamente ou através dos agentes pastorais e das Comunidades Eclesiais de Base, tenha enxertado um sentido subversivo na ação em favor dos ocupantes de Alagamar.

Destruir as cercas, arrancar a cana, prender o gado dos proprietãrios: alguns exemplos de "ação não-violenta" ... Na citada Carta Pastoral escrevem D. José Maria Pires e D. Marcelo Carvalheira : "Quando começaram as dificuldades, [os agricultores] sempre procuraram seus órgãos de classe, a saber, o Sindicato e a Federação. Nunca recorreram à violência. Procuraram agir dentro da lei e buscaram contato com as autoridades". Contraditoriamente, acrescentam logo em seguida : "Arrancaram as cercas que foram feitas em suas posses. Tangeram e prenderam o gado solto que devorava suas plantações. Reuniram-se em grande número (cerca de 300) para arrancar a cana plantada indevidamente. Deram toda assistência possível aos oito companheiros que foram presos por ordem judicial ou detidos por ordem da Segurança Nacional". Se arrancar cercas, tanger e prender gado dos

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Em A lagamar, os agentes pastorais procuraram, por meio das CEBs, criar um "foco de tensão social" a fim de forçar o Governo a desapropriar as terras . Entre esses agentes pastorais estavam duas freiras holandesas, a Irmã MarIene e a Irmã Tony .

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proprietários , arrancar a cana plantada pelos donos da terra não constituem objetivamente, medidas violentas, então as palavras já não têm sentido . Convém insistir num ponto: o Arcebispo de João Pessoa e seu Bispo Auxiliar mandam que o documento em que narram tais atitudes seja lido "na primeira reunião das Comunidades de Base e dos Grupos de Reflexão". Isso não equivale a dar uma diretriz a tais Comunidades e grupos para que procedam da mesma forma quando se apresentar o caso?

Quem é o agressor: o dono da terra que planta a cana, ou aquele que a arranca? D. José Maria Pires e D. Marcelo perguntam a seguir: "Quem tem mais direito de ficar com aquelas terras? As 446 famílias (700 segundo outros) que ali moram e trabalham, ou uma dúzia de pessoas abastadas que residem confortavelmente em Pernambuco?" É o caso de perguntar se o direito de pro-


Capítulo Ili - 3

Levar a opção pelos oprimidos a conseqüências "mais pesadas" ...

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priedade depende da "a bastança" ou do "conforto" de alguém, ou se é um direito natural, assegurado pela legislação dos países não-comunistas. " Quem é o agressor?" - continuam os Bispos. "Os compradores que trazem gado de fora e o soltam nas terras ou os lavradores que tangem e prendem o gado para que não estrague suas lavouras? Quem é o agressor? O comprador que planta cana nas posses dos moradores ou os que arrancam a cana para defenderem a sua posse?" Note-se que os Bispos não acusam os fazendeiros de se ttrem apossado por meios ilícitos ou fraudulentos da propriedade em questão. Pura e simplesmente negam que seja legítimo o direito que adquiriram sobre ela, tratando-os como agressores por quererem plantar ou criar gado numa terra que compraram, e dando razão àqueles que prendem esse gado e arrancam suas plantações : "E, se as agressões partem dos proprietários, porque é que, até agora, somente agricultores foram presos ou detidos quando não fazem outra coisa senão defender, por meios não-violentos, os seus direitos?"

As perguntas indignadas dos dois Prelados carecem de senso lógico pois referem-se aos fazendeiros como proprietários, compradores, e ao mesmo tempo qualificam-nos de agressores por quererem utilizar as terras que adquiriram. Se os Bispos nega m a legitimidade dos direitos deles, então deviam referir-se a eles como usurpadores, "grileiros" ou qualquer outro qualificativo mais adeq uado . Mas a lógica não costuma estar prese nte na pena dos esquerdistas, ecles iás ticos ou leigos. "A Igreja da Paraíba tomou posição" - dizem. "Ela está do lado dos agricultores de A lagamar. E o faz por fidelidade ao Evangelho e por amor ao po vo. Como Jesus, fizemos uma opção pelos opri. midos, embora reconheçamos que estamos ainda longe de levar às conseqüências mais pesadas esse compromisso. Mas estamos caminhando nessa direção e o número dos que se comprometem com o povo cresce constantemente". - Quais seriam essas "conseqüências mais pesadas" em cuja direção os dois Bispos dizem estar caminhando?

Se "a terra é de quem nela trabalha", porque não a fãbrica? Os dois Prelados prosseguem, defendendo o princípio de Marx da distribuição das riquezas "segundo as necessidades": "Os compradores de Alagamar não precisam daquelas terras para viver. Os agricultores que nelas residem e trabalham dependem delas para sua sobrevivência. O bem com um está, pois, exigindo que elas sejam desa181


Liderados por D . Pires e mais três Bispos - D. Helder, D . Manoel Pereira (Campina Grande) e D . Francisco Austregésilo (Afogados da lngazeira-PE) - os "posseiros" de Alagamar espantam o gado solto pelos donos das terras.

propriadas. Sustentamos que a compra, por dinheiro, não pode ser a única nem a principal fonte de direito de propriedade. A necessidade e o trabalho são títulos mais nobres e mais legítimos. Quem precisa da terra tem mais direito do que quem não precisa. Quem a cultivou com carinho é mais dono do que aquele que tem dinheiro mas 'nunca plantou um c11roço de nada' ... " Essa última afirmação é de estarrecer: por trás dela está o princípio comunista de que "a terra é de quem nela trabalha". De onde decorre também que "a fábrica é de quem nela trabalha". Pois se para ser dono da terra é preciso ter plantado algum "caroço" de alguma coisa, a nalogamente, para ser dono de fábrica é preciso ter fabricado alguma peça . Ou seja, ser operário. O trabalho passa a ser a única fonte do direito, como na doutrina marxista .

ao semanário da Arquidiocese de São Paulo: "Temos con tinuado a acompanhar a caminhada nãoviolenta de Alagamar. Estive lá e pude ver de perto a animação e o grau de consciência daquela gente. Houve pelo menos dois sinais de crescimento na linha de ação não-violenta. O primeiro foi um ato de desobediência à proibição judicial. O juiz havia proibido a utilização dos cocos colhidos e depositados num barracão. Os moradores descobriram que estavam sendo ludibriados por agentes dos proprietários e invadiram pacificamente (sic!) o barracão e distribuíram os cocos entre si". Aqui a subversão às leis não está apenas aprovada, sugerida, mas elogiada e posta como exemplo (aumento do "grau de consciência")! A isto o Arcebispo chama de "caminhada não-violenta"!

"Pressão de base" e "pressão de cúpula" O caso vem-se arrastando ao longo dos anos, com sucessivos desdobramentos. Graças à "tensão D. Hélder Câmara em Alagamar

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Capitulo Ili - 3

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Subversivos assessoram CEBs

Paul o Fontelles de Lima

P AULO Fontelles de Lima é assessor jurídico da Comissão Pastoral da Terra na região do Araguaia-Tocantins (sul do Pará), palco na década passada da mais violenta guerrilha rural que o País já conheceu. Fo ntelles é admirador dessa guerrilha, aliás, bastante informado de seus meandros, como se pode constatar pela série de artigos que publicou no jornal do PC do B, faze ndo "de dentro" o histórico da luta sangrenta promovida por aquele partido . Com efeito, só alguém muito chegado aos

social" criada, parte das terras já foi desapropriada . Mas o Prelado garante: "O Governo com o tempo vai ter que continuar a desapropriação". Ou seja, a "tensão" fabricada através das CEBs, vai continuar até atingir seus objetivos últimos ... Aplicação local do binômio "pressão de basepressão de cúpula", com vistas ao reformismo radical pleiteado pela CNBB.

guerrilheiros poderia estar informado de pormenores do que se passava naquele movimento insurrecional , como os relatados por P. Fontelles. Escreve ele: "A preparação de futuras lideranças camponesas também se fa zia. Pacientemente, através do estreito contato pessoal, os futuros guerrilheiros iam descobrindo os camponeses mais firmes e decididos, mais esclarecidos. Sabe-se que, a boca fe chada, algumas questões de natureza política eram tratadas

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Referências: D. Josf MARIA PIR ES, Do centro para a margem, Ed. Acauã, João Pessoa, 1978, pp. 40-53. 155-167 e 18 1-195; J osf J . QUEIROZ (org.), A Igreja dos pobres na América Latina, Brasiliense, São Paulo, 1980, pp . 82-97; "Boletim da CPT' n ° 15 , março-abril 1978, pp. 3-10; "Isto é", 18-4-79, p. 15 e 23-i°-80, p. 22; "O Norte" (João Pessoa), 6-2-79; "Kosmos" (São Paulo), março-abnl 1980, p. 3; "SEDOC", deze mbro 1977, cols. 540543 e maio 1978, cols. 1025-1030; "O São Paulo", 15-7-78 p. 5; 22-7-78 , p. 5; 23-11-79, p. 4 e 15-2-80, p. 7.

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As CEBs ... das quais muito se fa la, pouco se conhece - A TFP as descreve como são

entre os militantes do PC do B e algumas lideranças de massa, preparando os embates que viriam . Paralelamente a esse trabalh o, no mais rigoroso segredo, ia se fa zendo a preparação militar, individual e coletiva, teórica e prática. Toda a região ia sendo mapeada, os igarapés reconhecidos, as grutas anotadas, a selva tornando-se amiga". Paulo Fontelles de Lima e sua mulher Hecilda foram presos em Brasília à época das guerrilhas ( 1971 ), acusados de envolvimento com a luta armada. Acabaram sendo condenados (ela a um ano de prisão, ele a um ano e oito meses) por vinculação com a organização clandestina Ação Popular Marxista-Leninista, panfletagem contra o Governo na Universidade de Brasília, pixações e tentativas de reorganização da UNE - União Nacional dos Estudantes. Anteriormente, nos anos 1968-1969, havia participado da agitação estudantil em Belém. Foi um dos fundadores e presidente da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, entidade inti~ mamente vinculada à atuação contestatória promovida pelo Clero engajado, em todo o Estado do Pará, sobretudo na capital.

V

ANDERLEI Caixe, fundador e, até há bem pouco tempo, dirigente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba (o qual tem ocupado papel preponderante na agitação rural promovida pelas CEBs naquele Estado de que é exemplo o caso Alagamar) é ele próprio um ex-terrorista urbano , preso, julgado e sentenciado como tal.

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Numa entrevista à T V Borborema, da ca pital paraibana, a uma pergunta sobre a acusação de co munista que pesava sobre aquele seu au xiliar direto , respondeu D. J osé Maria Pires: "Trata-se do advogado Vanderlei Caixe, que eu conheci quando ele estava preso em Presidente Venceslau, juntamente com três dominican os. Eu f ora visitar os três dominicanos que esta vam presos e aí tomei conhecimento com mais alguns presos políticos, entre eles o Vanderlei. Dep ois que ele cumpriu a p ena e foi colocado em liberdade, ele terminou o curso de direito, quando foi preso já estava no último ano e sempre se interessou pelos direitos humanos. Nós mantivemos muitas e longas conversas. Mantivemos uma correspondência muito grande, e eu pedi ao Vanderlei que viesse me ajudar a organizar o Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Ele prestou esse serviço, e depois convidado por mim, se dispôs a assumir a coordenação do Centro. Até hoje, pelo que eu sei, Vanderlei tem se situado dentro da lei. Ajudando os pequenos a buscar o recurso da lei. Se ele foi ou é comunista; se esteve ou não preso , é outra coisa ".. . Sendo homens como tais os assessores das CEBs rurais , os conselheiros de pobres lavradores sem instrução, mas confiantes na orientação eclesiástica, pode-se ficar surpreendido de que a tensão e a violência no campo cresça cada vez mais? Ref erências: Viver e lutar com o povo, in "Tribuna Operária", 3-1-81; "Resistência", Belém, a bril 198 1, pp . 8-9; " O No rte", João Pessoa, 6-2-79.


VIOLÍ:NCIA NO CAMPO -

2

vés de refarma?"

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UE TAL revolução, ao invés de refarma?" É com esse título que o semanário da Arquidiocese de São Paulo publicou,em fevereiro de 1980, declarações de D. Tomás Balduíno. - "O nome verdadeiro não é reforma agrária, é revolução agrária, e isso não vem apenas com boa vontade, com gestos cordiais", afirmou o Bispo de Goiás Velho. Logo, é preciso gestos não cordiais? .. . Ou seja, revolução ao pé da letra? Esse parece ser exatamente o sentido de suas palavras, como se pode ver por esta entrevista, três meses depois, a um jornal de Goiânia : "A Reforma Agrária deve ser a que o povo desejar . .... Eu acredito, inclusive, que falar de reforma radical é uma incoerência. Só uma revolução pode ser radical. Uma reforma é sempre ajeitar as coisas ... É pintar a casa, quando a solução, talvez, fosse derrubá-la". Mas D. Tomás Balduíno não constitui a única voz episcopal a pregar a violência no campo, conforme ressalta da seguinte observação feita durante o XVI Encontro do Regional Nordeste I da CNBB (Bispos do Maranhão, Piauí e Ceará), em janeiro de 1980: "Os Bispos devem respeitar a dinâmica dos agentes de pastoral da terra sem forçá -los a assumirem posições violentas".

Por seu lado, D . Pedro Casaldáliga afirmou que "agora a questão não é mais de defender as terras, mas de invadi-las". Palavra-de-ordem que, aliás, os sindicatos de sua Prelazia (controlados pelas CEBs) já estavam pondo em prática, segundo o jornal do PC do B: "O Sindicato dos Trabalhado res Rurais de Santa Terezinha informa: começou em fevereiro último um 'surto de ocupação de terras' à beira da BR-158, na região de São Félix, Mato Grosso do No rte . .... É um movimento novo, diferente do que havia há alguns anos atrás. Antes, havia a luta entre posseiros e grileiros, pelas terras devolutas. Agora, o fundo das terras devolutas da região praticamente acabou. As ocupações se dão em fazendas já instaladas, cercadas e f uncionando. A primeira razão para isso se ouve da própria boca dos posseiros: 'É a lei da precisão'. .. .. O Sindicato de Santa Terezinha informa que a reação da classe dominante veio imediata: 'os destacamentos policiais nos povoados da BR-158 foram reforçados, vários posseiros tiveram suas armas de caça apreendidas, além de ameaças de morte e intimidações às lideranças sindicais e agentes pastorais da igreja local. .... Raimundo Muriçoca, 0 combativo presidente do Sindicato .. .. diz que 'é a

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reforma agrária sendo feita pelas mãos do próprio povo'" - Que falta, pois, para a "revolução agrá ria" proposta por D. Tomás Balduino? Que seja cruenta? Não falta muito ... se é que algo falta! •

*

No já citado XVI Encontro do Regional Nordeste I da CNBB (Maranhão , Piauí e Ceará), presentes Bispos, Padres, freiras , agentes de pastoral , sindicalistas e dirigentes de CEBs, a delegação do Maranhão assim apresentou a situação fundiária em seu Estado: "Muitas terras sem título onde o primeiro que chega se fa z dono, fi cando o posseiro prejudicado por ignorância e falta de condições para a legalização; ameaças de morte contra posseiros e numerosos casos de violência mortal .... Diante dessa problemática os posseiros estão conseguindo êxito através da resistência armada e através da conscientização das Comunidades de &se". "Resistência armada", "conscientização das Comunidades de Base": dois elementos que têm aparecido juntos com uma freqüência alarmante. Ou que, pelo menos, devia alarmar.

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"O nome verdadeiro não é reforma agrária, é revolução agrária! " - afirma D. Tomás Balduino, Bispo de Goiás, vice-presidente do CIMI {Conselho lndigenista Missionário) e prócer nacional das Comunidades de Base . Referências: "O São Paulo", 15-2-80; "Tribuna Operária", 194-80; Relatório do XVI En contro do Regional No rteste- 1 CN BB, 4/ 9-1-80, p. 10; idem , Anexo/, p. 3; Entrevista de D. Tomás Balduíno ao jornal "Cinco de Março" (Goiânia), 26-580, tran sc rita no "Boletim da Comissão Pastoral da Te ~ra", maio-junh o 1980, pp. 17-1 8.


VIOLf.NCI A NO CA M PO -

3

Sangue na região das guerrilhas do PC do B - ... E as águas d Araguaia de vermelho

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DAS regiões brasileiras onde os conflitos de terras têm sido mais graves é o sul do Pará, cenário também das sangrentas guerrilhas rurais da década passada. Coincide pouco mais ou menos com o território das Dioceses de Marabá e Conceição do Araguaia, cujos Bispos são D. Alano Pena e D. Patrick Joseph Hanrahan (o qual em abril de 1979 substituiu a D. Estêvão Cardoso de Avelar, transferido para Uberlândia).

"Os posseiros resolveram resistir ... " Em 1979, o jornal "O São Paulo", assim descrevia a situação na região: "Em outubro último, a Comissão Pastoral da Terra regional Araguaia-Tocantins, denunciou, em Brasília, a eminência (sic) de um conflito de largas proporções entre posseiros, latifundiários e a Polícia Militar, no sul do Pará. Somente em Conceição do Araguaia, em questão de 45 dias, nos meses de setembro e outubro, ocorreram nada menos que 25 conflitos armados, com dois pistoleiros mortos e nove outros feridos, segundo o relato. Além disso, o advogado Paulo Fontelles, da CPT, explica que houve uma radical mudança de posição por parte dos posseiros, nestes últimos tempos: 'Cansados de

tantas injustiças, eles resolveram não sair da terra e resistir' ".

O semanário dirigido por D. Angélico Bernardino se refere às baixas entre os que qualifica de "pistoleiros", mas não diz quem fez os disparos que os vitimaram. O advogado e assessor da CPT, Paulo Fontelles, entretanto, se apressa em justificar os "posseiros": "Cansados de tantas injustiças, eles resolveram não sair da terra e re5istir". Teriam eles por si sós "resolvido" a adotar a "resistência" ou seria esta uma conseqüência da conscientização das Comunidades de Base?

"A paciência do povo se esgota, sr. general!" No dia 25 de maio de 1980 o Bispo de Marabá, D. Alano Pena, enviou uma carta ao General Manuel de Jesus e Silva, Comandante da 23.ª Brigada de Infantaria da Selva, a qual dá bem idéia do acirramento das tensões. Depois de se referir ao que qualifica de desmandos de "grileiros", perora o Prelado: "Agora não dá mais para agüentar isso, sr. general. A paciência do povo se esgota. Que 187


As CEBs ... das quais muiro se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

regime é esse nosso que só aciona com eficiência a solução dos problemas dos ricos e dos que têm for ça econômica na mão? Que regime é este que assiste de braços cruzados ao esmagamento progressivo de centenas de pobres, só porque são pobres? O pobre é sempre o ladrão, é sempre o invasor. O rico é sempre o homem de bem, com todos os direitos do seu lado . .... A té quando, sr. general? Receio que esteja para estourar coisa bem desagradável por aí, com muito sangue correndo e nós, que vamos fa zer? A Igreja não pode, sob pena de trair seu mestre, pedir a um povo torturado pela inseguran ça e ameaças constantes, que tenha paciência. Isto seria uma afron ta à dignidade humana deste povo pisoteado".

"Gringo": dirigente de CEB e lfider da Oposição sindical - Morte e vingança Na realidade, os receios do Prelado eram um pouco tard ios: a "coisa desagradável" havia j á estourado, e o sangue já começara a correr. Dias antes fora morto por um grupo de 42 posseiros o faze ndeiro Fe rnando Leitão D iniz. E o sa ngue continuou a correr: dias depois, aparecia morto em Aragua ína,Ra imund o Ferreira Lima, o "Gringo", age nte pastoral e candidato de oposição à presidência do Sindicato de Tra ba lhadores R urais de Conceição do Araguaia. Ao que consta, um

O Bispo de Marabá, D. Alano Pena, não esconde sua admiração pelos guerrilheiros do PC do B que atuaram no território de sua Diocese, na região do Araguaia: " - Os guerri-

lheiros de vez em quando entravam nas vilas, assim ... incursões-relâmpago, e via-se que era um pessoal muito idealista, talvez um pouco suicida, porque eles supervalorizavam um apoio de bases populares que ainda não dava para ter aqui no nosso meio. Mas, o certo é que ninguém vai negar o valor da coragem deles, inclusive a de dar a vida aí, pelo que desse e viesse, por causa desse ideal. E não sei se a ,J \

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turma que está aí defendendo o Sistema faria a mesma coisa ... " ("Jornal da Tarde", 13- 1-79, p. 5; PALMÉRIO DôRIA E OUTROS, A Guerrilha do A raguaia , Col. História Imediata- ! , Ed itora Alfa-Ômega, São Paulo, 1978, p. 59).


Parte 1/

Capítulo Ili - 5

filho de criação Jo fazendeiro assassinado jurara matar o "Gringo", por considerá-lo responsável pela morte de Leitão Diniz. O secretário-geral da CNBB, D. Luciano Mendes de Almeida, afirmou naqueles dias que a Igreja estava sofrendo uma lamentável campanha difamatória na região. Sobre o assassínio do fazendeiro Fernando Leitão Diniz, D. Luciano disse que, segundo informações prestadas pela Comissão Pastoral da Terra à CNBB, os posseiros atiraram em legítima defesa com armas de caça. O insuspeito semanário de D. Paulo Evaristo Arns conta como os posseiros (1) se "defenderam" do fazendeiro: "Um grupo de lavradores da região esteve na redação de O São Paulo, para dar a versão correta dos fatos . .. .. São inúmeros os casos de grileiros que estão praticando o 'arrastão', isto é, demarcando áreas além das estipuladas nos títulos. Por exemplo, o conflito da Fundação Brasil Central, na região de São Geraldo, a 500 km de Conceição do Araguaia, cujos desdobramentos terminaram na morte do 'Gringo'. Um conhecido grileiro Oliveira Paulino - vendeu uma gleba de 300 alqueires a outro, Fernando Dias Leitão (sic), que tentou estender os domínios para uma área de 1.800 alqueires ao redor do lote, expulsando mais ~ de 800 famílias. .... Os posseiros tentaram um ..:.

"'"' ( 1) Convém se mpre ter em vista que, para o clero progressista que promove agitação rural , os proprietários são sistematicamente tratados por "grileiros", de modo que nunca se sabe - ao ler seus relatos - se a pessoa designada por esse epíteto é ou não desonesta. Do mesmo modo, os empregados desses fazendeiros são qua lificados de "pistoleiros", "jagunços" etc. E os lavradores envolvidos em litígi os (com freqüência membros de CEBs ou por elas manipulados), são sempre apresentados como "posseiros" ainda qua ndo , na realidade , se trate de simples invaso res.

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~'---------------------_J As tensões e conflitos no Sul do Pará - palco de guerrilhas na década de 70 - tem sido agravada pela atuação do clero esquerdista, por meio das Comunidades de Base.

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As CEBs ... das quais muito se fala, p ouco se conhece -

A TFP as descreve como são

acordo com Fernando Leitão Diniz, mas depois de D iniz .... contestou ontem as acusações feitas, à marcarem um encontro e o grileiro não aparecer, Igreja de ter orientado o crime e também os resolveram procurá-lo. Ele estava concluindo a . posseiros para que apresentassem uma mesma versão à polícia. .. .. Por mais que o delegado José demarcação da área expandida, com o qual os Maria Alves se esforçasse no interrogatório para posseiros não concordavam, e estavam parados pelas questões legais. Dois homens desarmados identificar um líder, um mandante ou quem atirou foram falar com ele e seus jagunços, e um grupo de primeiro, nada conseguiu. Essa união dos possei40 lavradores ficou esperando, a 40m do local. ros praticamente impedirá à Justiça apontar um ARMADO. Os posseiros notaram que eles culpado porque se foram 42 os que dispararam e estavam armados e então correram, e o grupo de 16 os tiros que atingiram o fa zendeiro .... prevale40 que estava ao longe, se confrontou com Leitão, cerá no final a dúvida. Como a Justiça consagra o que morreu no local. Os lavradores se escondeprincípio de que a dúvida benefi cia o réu, esse crime deverá ficar impune". ram na mata, e avisaram que só se renderiam ao Convém recordar quem é o advogado Paulo Exército. Mais tarde, eles se apresentaram à Justiça em Conceição do Araguaia. Nesse mesmo dia Fontelles: simpatizante das guerrilhas do Ara- 23-5 - os prefeitos de Conceição do Araguaia e guaia, ex-militante da Ação Popular Marxistade Araguaínajuntamente com os presidentes peleLeninista e cola borador do jornal do PC do B... gos dos sindicatos de lavradores das duas cidades, Não parece demais insistir: se os "posseiros" foram ao ministro da Justiça dar a sua versão dos tivessem sido previamente instruídos sobre como fatos , dizendo que 'os padres estavam de metraproceder, de modo a garantir a impunidade, não lhadoras na beira do Araguaia, organizando a teriam procedido de outra forma, antes, durante e guerrilha'... ". depois da ação delituosa. Dias depois, como já se disse, foi morto o líder desses mesmos posseiros e agente pastoral RaiEstratégia para garantir mundo Ferreira Lima, o "Gringo", aparentemente a impunidade? em represália pelo assassínio do fazendeiro Leitão Diniz. Qualquer que seja a versão exata dos fatos - e aqui não cabe entrar no cerne desta questão - a atuação dos posseiros parece ter obedecido a uma Exploração polftica de estratégia previamente estudada, com assistência um epls6dio trAgico jurídica, para garantir a impunidade dos "posseiros". A hipótese ganha corpo se se analisa sua A morte de "Gringo" foi explorada pelas esconduta antes e depois do confronto com o fazenquerdas, "católicas" ou não, as quais procuraram deiro , e durante o inquérito policial. colher dividendos políticos do trágico episódio, A propósito, comenta o correspondente de um apresentando-o como fruto das "estruturas injustas". jornal paulista : "O advogado Paulo Fontelles, que Por toda a parte organizaram-se atos de repuldá assistência jurídica em Conceição do Araguaia sa, terminando as manifestações com uma concenaos posseiros que mataram o fazendeiro Leitão tração político-religiosa em Conceição do Ara-

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Parte II

guaia, no dia 8 Je junho de 1980, promovida pelas CEBs e CPT da região, com o apoio de 30 entidades, entre as quais a CNBB, a UNE, a CONT AG, a Sociedade Paraense dos Direitos Humanos. Várias personalidades estiveram presentes: D. Albano Cavallin (Bispo Auxiliar de Curitiba, representando a CNBB); D. Celso Pereira de Almeida (Bispo de Porto Nacional e presidente da CPT da região de Araguaia-Tocantins); D. Alano Pena (Bispo de Marabá); D. Estêvão Cardoso de Avelar (Bispo de Uberlândia e antigo Bispo de Conceição do Araguaia); os deputados Aurélio Perez (das Comunidades de Base de São Paulo), Lucival Barbalho, Roman Tito, Jader Barbalho, além do vereador paulistano Benedito Cintra (muito chegado, ele também, às CEBs). Naturalmente, não faltou o advogado Paulo Fontelles. Nem o "agente pastoral" Nicola Arpone. D. Celso discursou: "A igreja, meus caros, não tem medo de sangue, o povo unido não tem medo de sangue, porque foi do sangue que foi construída a base da sociedade. E hoje nós temos o sangue do 'Gringo' construindo a base da oposição, da chapa 2, e o sindicato livre de Conceição do Araguaia". No mesmo sentido falou D . Estêvão Cardoso Avelar: "Raimundo queria um sindicato livre e libertador e não amarrado às autoridades". Falaram também diversos representantes das CEBs rurais.

Frutos amargos da conscientização dos lavradores Nessa mesma região, em 13 de agosto 'do ano passado, ocorreu uma emboscada em que morreu o gerente de castanhal Luiz Antonio dos Santos e ficaram feridos quatro agentes da Polícia Federal e do GET AT - Grupo Executivo de Terras do

Capírulo III - 5

Araguaia-Tocantins. A emboscada foi armada por 13 "posseiros", incitados, segundo a Polícia Federal, pelos padres franceses Aristide Camio e François Gouriou . Os religiosos e os "posseiros" ligados às CEBs da região (2) - foram presos e condenados em primeira instância pela Justiça Militar, por crime contra a Segurança Nacional (os advo_gados vão recorrer da sentença). - "E a Igreja quem provoca essas in vasões de terras e emboscadas", acusa o Cel. Fernando Miranda, do GETAT.

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Para fazer pressão sobre as autoridades e impressionar a opinião pública durante o julgamento dos Padres Aristide Camio e François Gouriou, foi criado o MLPA Movimento pela Libertação dos Presos do Araguaia.

(2) O boletim de documentação das Missões Estrangeiras de Paris, Congregação religiosa a que pertencem os Padres Camio e Gouriou, ao narrar todo o caso, diz que estes "animavam Com unidades de Base, em ligação com agentes pastorais" e si ntetiza : "A CEB torna-se assim um lugar de questionamento do sistema social em ligação com a situação real e vivida pelos posseiros. É no contexto desta ação pastoral que se deve colocar a ação dos Padres Aristide Camio e François Gouriou, presos no dia 3/ de agosto de /981".

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descréve como são

O Pe. Ricardo Rezende , da Comissão Pastoral da Terra, alega: "Nós ainda conseguimos impedir

que os posseiros atirem nos soldados. mostrando que só irão prejudicar-se se resistirem à polícia". Observa porém que "é impossível impedir que os posseiros e pistoleiros se matem. O ódio entre eles é muito grande". Ódio que a conscientização nas Comunidades de Base não faz senão aumentar. Seja qual for o veredicto final da Justiça quanto à responsabilidade dos dois sacerdotes franceses e dos posseiros na emboscada do dia 13 de agosto de 1981, uma coisa é certa: enquanto continuar o processo de conscientização dos lavra-

dores pelas CEBs rurais e a "assessoria" de agentes pastorais e membros da CPT, os conflitos de terras não cessarão, e as águas do legendário Araguaia continuarão a tingir-se de vermelho ... Ref erências: "O São Paulo", 23-11-79. 6 e 12-6-80; "Movimento" , 16-6-80; "O Dia", Rio de Janeiro, 25-5-80 ; "O Estado de S. Paulo", 30-5-80, 8. 12, 18 e 26- 11-81, 23-6-82; "Resistência ", Belém, julho 80; "Tribuna Operária", 14-6-80; CIC, 246-80; "Isto é", 16-12-8 1, p. 53 ; "Folh a de S. Paulo··, 10 e 18-128 1; "Jornal do Brasil", 16-10-8 1; P E. FRA NÇO IS Go uR 1ou, Noel derriere les barreaux, in "Echos de la Rue du Bac" (Bulletin de documentati on des Miss ion s Êtrangeres), n. º 159. fé vricr 1982, pp . 5 1-54; CLA UDE L ANGE , L'Ég lise (! / la q11es1io11 agraire en Amazonie, id em , n.0 16 1. av ril 1982. pp. 107-113 .

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VIOL~NCIA NO CAMPO -

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ACRE, escassamente povoado, em grande parte recoberto por extensos seringais e pela mata impenetrável, situa-se na atual "fronteira agrícola" do País. Para lá se têm dirigido levas de colonos vindos do Nordeste, do Leste (capixabas, sobretudo) e também do Sul (gaúchos e paranaenses). O Estado tem atraído igualmente o interesse de investidores do Sul, os quais aproveitam-se de incentivos fiscais para adquirir grandes áreas, destinadas à implantação de projetos agropecuários de algum porte. O preço até há pouco relativamente baixo de suas terras, e a boa qualidade das mesmas, atraiu igualmente para o Estado fazendeiros de outras regiões do País. Embora nem todos procedam de São Paulo, esses novos fazendeiros são conhecidos em quase toda a Amazônia por "paulistas". Mas essa expansão agrícola não se tem verificado sem choques e tensões : como em toda região pioneira, são ali numerosos os casos de conflitos por questões de terra. Curiosa coincidência: a quase totalidade dos conflitos tem ocorrido na região sudeste do Estado, entre os rios Acre e Purus. - Coincidência? Parece haver algo mais do que isso: esse território corresponde à Prelazia do Acre e Purus, que

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tem por Bispo precisamente D. Moacir Grechi, presidente da Comissão Pastoral da Terra, da CNBB, e um dos mais ativos mentores nacionais das Comunidades Eclesiais de Base.

Sindicalização em massa D. Moacir Grechi não esperou pelas conclusões do 2.0 Encontro Nacional de CEBs ( 1976), nas quais se lê: "O Sindicato torna-se um instrumento, uma ferramenta para a conscientização e a união dos lavradores". Desde que assumiu a Prelazia (1973), D. Moacir mobilizou todo o pessoal ligado à estrutura eclesiástica no sentido de promover a sindicalização em massa, não só rural , mas também urbana: Padres, freiras, agentes pastorais, monitores de Comunidades Eclesiais de Base. Até Frei Beto andou por lá dando assessoria. Depois de três ou quatro anos podia apresentar um resultado de fazer inveja a qualquer líder sindical: 20 mil pessoas sindicalizadas, numa população de 300 mil almas! Lavradores, seringueiros, estivadores, lavadeiras, oleiros, - ninguém ficou sem seu sindicato ou associação de classe, cujos dirigentes se confundem, aliás, com os monitores e membros das CEBs. Tal é o caso de Wilson

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

de Souza Pinheiro, monitor de Comunidade de Base e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, na divisa com a Bolívia, o qual , aliás, acabou tragicamente morto por questões de terra, sendo vingado por seus companheiros de CEB e de sindicato. Mas não convém adiantar aqui os fatos. Já se verão com pormenores as conseqüências da conscientização dos trabalhadores rurais sindicalizados pelas CEBs do Acre e Purus.

"Operações pega-fazendeiro" e "mutirões contra a jagunçada" Frei Clodovis Boff, assessor pastoral do Bispo do Acre e Purus e presidente nacional da CPT, D. Moacir Grechi, apresenta, de maneira por assim dizer didática, em artigo na "Revista Eclesiástica Brasileira", a tensão e a violência promovida pelas CEBs nas fazendas e seringais acreanos (!) . Com o objetivo de "mostrar a forma concreta que toma a fé nas CEBs em termos de mobilização libertadora", o Religioso servita conta alguns casos. O próprio modo de ele se referir a tais casos já diz muito: "operação pega-fazendeiro", "mutirão contra a jagunçada" ... É tal a gravidade dos fatos narrados, que pareceu mais conveniente transcrever as próprias palavras de Frei C. Boff: ( I) Os relatos a seguir foram colhidos em fonte suspeita (por se u facciosismo em favor das CEBs). De modo que procuram da r a impressão de que, nos três casos relatados , as au torid ades militares e policiais teria m dado razão aos a uto res das violências descritas, o que poderia le va r a admitir que eles tinham o direito de se u lado. Seja como for, os métodos empregados caracterizam-se pela violência . e num país civilizado , com um Poder Judiciário organizado, a violência nã o é o meio de se reivindicarem direitos.

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"I .0 caso: 'Operação pega-fazendeiro' Já fazia algum tempo que um seringalista do seringai 'Guanabara', no A lto lacó, mancom unado a um desses fazendeiros paulistas que estão invadindo, 'grilando' e ocupando a Amazônia, estava ameaçando de expulsão os seringueiros e lavradores de uns quatro seringais daquela área. Estes resistiram em conjunto. Mas as pressões continuaram. A água ia subindo. Em dado momento, bastou o insulto à dignidade dos lavradores (disseram deles que eram 'cachorros que latem mas não mordem') para que aqueles homens se levantassem. Quarenta e um deles embargaram com estacas e rolos de pau, por duas semanas, a pista, no meio da mata, onde descia o fa zendeiro paulista com seu aviãozinho. Um segundo insulto acompanhando o início da derrubada de uma estrada de seringa (de que vive ainda boa parte daquela gente), levantou dessa vez mais de cem homens. Armaram-se com suas espingardas de caça e foram prender por conta própria o paulista e o seringalista. Depois de pegas, montaram-nos em dois jumentos e conduziram-nos, sob armas, em três dias de caminho, até um batalhão do exército situado na fronteira com o Peru. E lá obrigaram-nos a assinar, diante das autoridades militares, um termo pelo qual se comprometiam a não mais invadir as terras dos lavradores e seringueiros. Importa notar neste caso que a maioria absoluta daqueles homens estavam ligados às CEBs da região. A própria iniciativa e a estratégia da operação 'pega-fazendeiro' foi discutida e liderada pelos membros mais atuantes das mesmas CEBs". Frei Clodovis relata, com toda a tranqüilidade, como os membros das CEBs constituíram-se juízes em causa própria e fizeram-se também justiça com as próprias mãos, invadindo propriedade alheia,


prendendo pessoas e as coagindo, "sob armas", a acompanhá-los. Para que os lavradores e seringueiros pudessem "resistir em conjunto" (ou mesmo individualmente), era preciso que o direito estivesse do lado deles, que o seringalista e o fazendeiro fossem realmente grileiros e não legítimos proprietários. Mas isto cabe à Justiça verificar e não aos Bispos, agentes pastorais ou líderes das CEBs. Ou, então que estivessem praticando violências físicas ou fortes coações morais contra eles. Mas, ainda assim, só poderiam agir em legítima defesa, e uma vez esgotados todos os recursos legais. Ora, o frade, tão informado dos pormeno-

res dessa e de outras "operações pega-fazendeiro", não diz entretanto qual a violência que estaria sendo cometida contra os lavradores e seringueiros, aludindo vagamente a "ameaças de expulsão", "pressões" e "insultos"; quanto aos "insultos à dignidade dos lavradores", alegados como a "gota d'água", a julgar pelo exemplo aduzido (teriam dito que eles eram "cachorros que latem mas não mordem") - por si sós, eles não justificariam uma reação armada tão violenta e radical como a relatada. Uma operação que reúne l00 homens armados para atacar propriedades, prender pessoas e man195


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tê-las sob coação durante três dias, caracteriza antes uma ação de banditismo ... ou de insurreição. Pois representa a rejeição, pelo menos de fato, das leis e das instituições do País, submetendo parte dele à jurisdição de "tribunais" privados e de "milícias populares". Convém acentuar, com o próprio Frei Clodovis, "que a maioria absoluta daqueles homens estavam ligados às CEBs da região". Mais ainda: "A própria iniciativa e estratégia" da operação, foi discutida e decidida nas reuniões das CEBs. Em um livro sobre as Comunidades de Base do Acre , Frei C. Boff, falando sobre um encontro de monitores de CEBs, volta a referir-se à "operação pega-fazendeiro": "No último dia foi feita uma análise de uma confrontação que, armados, os posseiros da região tiveram com os fazendeiros. No balanço, o pessoal falou da coragem e união que o povo mostrou. O negativo foi a falta de uma organização maior e principalmente ter deixado a solução final do conflito nas mãos de 2 ou 3 pessoas, que botaram muita coisa a perder, já no fim do 'pega'. A parte do uso de armas foi muito discutida: tinha gente que dizia: 'Está certo'; e outras: 'Não está certo'. Até que todo o mundo achou que, naquele caso, não tinha outro jeito. Isso mostra que o uso da força faz sempre problema para a consciência, mas que, às vezes, ele se impõe. As circunstâncias obrigam a vontade". O relato de Frei Clodovis deixa entrever o papel decisivo do fator religioso para arrastar os lavradores a ações violentas: o "problema para a conscifncia" dos agressores só foi aquietado graças ao prestígio moral da Igreja (como também não parece temerário supor - à habilidade dos agentes pastorais que , segundo técnica já descrita, orientavam discretamente a discussão , até levar 196

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.____,__ ___,__~~~--- -- - - - - ~ O boletim do MLPA - Movimento pela Libertação dos Presos do Araguaia - dá sua versão da embosca·a a de agosto de 1981, em razão da qual foram condenados pela Justiça os Padres Camio e Gouriou, e treze lavradores.

"todo o mundo " a "achar" que naquele caso "não havia outro jeito", senão "o uso da força" ... ). Se foi preciso apelar para a religião a fim de tranqüilizar alguns dos participantes da "operação pega-fazendeiro", qual não terá sido o peso desse fator para levá-los a empreender uma ação que repugnava pelo menos a alguns , ainda não inteiramente "conscientizados"? Frei Clodovis prossegue seu relato sobre a "mobilização libertadora" das CEBs acreanas: "2.0 caso: 'Mutirão contra a jagunçada' Esse caso se passou no Km 38 da estrada que liga Rio Branco com Boca do Acre (AM). Aí


Parte li

estavam já há algum tempo sitiadas perto de 40 famílias de posseiros ocupando e trabalhando aquela região. Mas entrou um fazendeiro paulista com meia dúzia ou mais de jagunços e decidiu botar para fora aquelas famílias a pretexto de que a terra era dele pelo fato de tê-la comprado [sic!]. Mas as famílias de posseiros resistiram, até que a situação se tornou mortalmente ameaçadora. Aí o Sindicato dos Trabalhadoris Rurais em articulação com gente da Igreja resolveu entrar em ação. Programou realizar um gesto concreto de solidariedade àquelas famílias ameaçadas. Mais de 300 homens, vindos de diversos lugares, chegaram ao local em tensão armados com terçados [facões] e alguns de armas de caças . .... O resultado foi que prenderam os pistoleiros que puderam (outros fugiram) e apresentaram-nos e as suas armas às autoridades em Rio Branco. Com o afastamento dos grileiros e seus capangas, restituíram a paz às famílias ameaçadas". Frei Clodovis procura, neste caso, disfarçar um tanto a responsabilidade das CEBs, mas não faz senão confirmá-la: "Deve-se aqui observar que esta ação não foi um empreendimento organizado a partir das CEBs .... Foi enquadrada substancialmente pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais. .... A Igreja institucional apoiou essa iniciativa e participou ativamente nela (irmãs se encontravam entre os trabalhadores, padre foi rezar missa de solidariedade e ação de graças no lugar), mas muitos membros das CEBs e sobretudo monitores tiveram um papel de destaque. Foi uma ação que se manteve como referência importante nas reuniões posteriores das CEBs, que viam com naturalidade essa iniciativa popular como uma ação própria. Diga-se também que tanto no seu nascimento quanto atual desenvolvimento, os sindicatos rurais

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estiveram estreitamente vinculados às CEBs, sendo comum que hoje um monitor seja ao mesmo tempo líder sindical". f: tal o envolvimento das CEBs nesta ação, quer por meio de seus monitores, quer de seus membros, quer dos sindicatos rurais controlados por ela, que quase não se compreende a ressalva do frade servita de que não se tratou de "um

empreendimento organizado a partir das CEBs". A ressalva parece ter um caráter meramente formal. Entretanto, ao fazê-la, Frei Clodovis deixa vazar um dado de extrema importância para se compreender toda a agitação rural, não só no Acre, mas em muitas outras partes do Brasil trabalhadas pela CPT e seus agentes pastorais: os sindicatos rurais, tanto no seu nascimento, como no seu desenvolvimento, estão estreitamente vinculados às CEBs e é comum que o monitor seja ao mesmo tempo líder sindical. No seu citado livro sobre as CEBs dei Acre, ao descrever um treinamento de monitores, Frei C. Boff acrescenta alguns dados sobre esta ação: "Havia entre os monitores de Brasiléia gente que tinha participado do 'mutirão contra a jagunçada'. Eles contaram o fato dizendo: 'Fomos lá cortar a cabeça da cobra porque o rabo já estava se mexendo por aqui'. Com figuras assim, o povo mostra que enxerga: enxerga que existe um sistema de exploração. Que se tem problema de terra em Boca do Acre, ele está ligado ao problema da terra no outro lado, aqui em Brasiléia". O "povo" estará realmente "enxergando" por si mesmo o "sistema de exploração", ou serão os agentes pastorais "conscientizadores" que o estarão fazendo "ver"? Seja como for, sem a existência de uma organização como o movimento das CEBs por trás dos

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lavradores e seringueiros do Acre, não seria possível toda essa articulação entre gente de pontos tão distantes, como Boca do Acre, no Estado do Amazonas, junto à confluência dos Rios Acre e Purus, e Brasiléia, "do outro lado", como diz Frei Clodovis, na fronteira com a Bolívia. E menos ainda se explicariam esses deslocamentos tão freqüentes de pessoas de poucos recursos , de um extremo ao outro da Prelazia de D. Moacir Grechi, para empreender "mutirões contra a jagunçada" e "operações pega-fazendeiro". Mas não ficam por aí os casos de tropelias e violências praticados por membros das CEBs acreanas, com os quais Frei C. Boff brinda os leitores da "REB": "3.0 caso: 'Operação pega-fazendeiro II' Esse cc.so se passou perto do último Natal [1979], no seringai "Nova Empresa", não longe de Rio Branco. A situação se apresentava aí como mais um caso de ameaça de expulsão da terra contra algumas dezenas de famílias posseiras naquela área. Depois_de o 'paulista' ter destruído e até queimado várias casas dos lavradores, esses não suportaram mais. Uns cinqüenta deles se uniram, se armaram e se dirigiram à casa do patrão para prendê-lo a ele e a seus capangas. Estes, tendo-o percebido em tempo fugiram . Os lavradores crivaram de balas a casa do 'paulista' rebentaram-na toda por dentro, mas a deixaram ainda em pé. Depois foram até a casa de um dos pistoleiros e a colocaram abaix o. Tendo vindo da capital um destacamento da polícia, comandado pelo próprio Secretário de Segurança, entregaram-se pacificamente, convencidos da justiça da sua causa. Efetivamente três dias depois voltaram para suas casas, mas já agora decididos a colocar a questão da terra em pratos limpos com o 'paulista' que, para salvar a pele, achou por bem ceder.

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Esta ação foi uma iniciativa de lavradores que na sua maioria quase absoluta era gente das CEBs. Foi, aliás nas reuniões das mesmas que aqueles camponeses se tinham decidido por aquela operação . .... O próprio 'paulista' entendeu que aquela ação surgia direta do trabalho pastoral da Igreja e ele também, foragido que estava, veio procurar o vigário pedindo proteção, contra os posseiros que não tinham ainda desistido dele ... " Estranha situação esta em que um cidadão brasileiro "para salvar a pele" é obrigado a pedir proteção ... ao Vigário! Não há de ser muito diferente da do Irã do aia to lá Komeini ... a não ser num ponto: lá o "clero" xiita tomou formalmente o poder. .. O último caso relatado por Frei C. Boff na "Revista Eclesiástica Brasileira" revela um grau de organização e de coordenação, como também um "enquadramento" dos "lavradores e ex-lavradores", que dão que pensar: "4. 0 caso: A invasão da área relativa ao projeto de assentamento 'Pedro Peixoto' O que estava em questão era uma vasta área (uns 300 milha) que estava destinada pelo Governo à colonização. Como o projeto tardasse a ser implantado, alguns grandes fazendeiros se apropriaram daquela área e começaram a explorá-la por conta, inclusive com a anuência de gente do Governo. Diante da impassibilidade do INCRA, um bom grupo de lavradores sem terra ou exlavradores das periferias da capital, muitos dos quais membros das CEBs, se reuniu só na base da boca para o ouvido e, com o apoio e enquadramento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Branco e da Comissão Pastoral da Terra decidiu invadir aquela terra e aí se estabelecer. Mais de 100 homens munidos de facões, numa primeira tentativa, na véspera do Nataf. não con-


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seguiram penetrar na área. A operação era por demais vistosa e já tinha despertado a atenção dos grileiros e em seguida do próprio Governo que interveio policia/mente e impediu em tempo aquela invasão. Aí os lavradores e ex-lavradores fizeram um recuo estratégico para permitir cair as suspeitas e, logo após o Natal, de maneira inapercebida, em pequenos grupos, entraram na área, abrindo assim, caminho para outros. Deste modo consumaram, sob os olhos das autoridades a ocupação da terra".

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É de surpreender que tal processo de violência, armada ou não, acabe por provocar vítimas fatais, tanto do lado dos proprietários e "grileiros", quanto do dos lavradores conscientizados pelas CEBs? É precisamente o que se tem dado, conforme se verá a seguir, na aprese ntação de outros incidentes ocorridos no Acre. Antes, porém, convém recordar que Frei Clodovis Boff considera os casos que narra como exemplos da 'forma concreta que toma a fé em termos de mobilização libertadora". Em outros

Francisco Julillo, fundador das famigeradas Ligas Camponesas da época de Jango, em carta a D. Helder Câmera, chama as CEB s de "admiráveis". O ex-deputado (que nessa mesma carta se declara marxista e manifesta entusiasmo pelo revolucionério comunista vietnamita Ho Chi Mine por Sandino). tem muita razão para admirar as Comunidades de Base: as "operações pega-fazendeiro" promovidas por elas. estão criando no campo bra sileiro um clima de inseguranç-'\ e de revolta semelhante ao que ele insuflou com suas Ligas naqueles conturbados dias que precederam a Revolução de 1964 ...

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termos: as tropelias e violências promovidas pelas CEBs no Acre são decorrência de uma motivação religiosa. Daí a sua radicalidade.

Monitor de CEB e dirigente sindical é morto e vingado Em 1979, um grupo de 94 seringueiros impediu a derrubada de alguns alqueires de mata nas terras de Nilo Sérgio de Oliveira, em Brasiléia, na fronteira com a Bolívia. Algum tempo depois , o presidente do sindicato rural local, Wilson Pinheiro de Souza, também monitor de CEB, era assassinado. Para os companheiros da vítima, havia apenas um culpado: o fazendeiro Nilo Sérgio. Dias depois da morte de Wilson Pinheiro, no domingo, 27 de julho, realizou-se em Brasiléia uma reun_ião dos sindicatos de trabalhadores rurais de Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Xapuri, Sena Madureira e Boca do Acre (AM), com a presença de Jacob Bittar e Luiz Inácio da Silva, Lula. Segundo o Secretário de Segurança, houve "pronunciamentos quentes" durante a reunião com a presença de cerca de 600 pessoas. Um dia depois, Nilo Sérgio foi morto por um grupo de seringueiros armados na rodovia que liga Brasiléia a Assis Brasil... Algum dia talvez se chegue a esclarecer todo esse assunto e a estabelecer a autoria e a responsabilidade por ambos os crimes. Isto, contudo, compete à Polícia e à Justiça. O presente trabalho tem por objetivo apenas mostrar a atuação das Comunidades Eclesiais de Base, na selva, no campo e na cidade. Por essa razão, apresentam-se aqui alguns dados sobre o malogrado sindicalista assassinado, promotor, aliás, de uma das operações antes descrita por Frei Clodovis ("2. 0 caso: 'Mutirão contra

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"Terra e guerra", é como um semanário paulistano de centro-esquerda se refere aos conflitos no campo: em que medida as "operações pega-fazendeiro", promovi das pelas CEBs, estão na origem ou desenvolvimento nessa "guerra'?

a jagunçada'"). Quem os fornece é o mesmo Frei

Clodovis Boff, que o conheceu nos encontros de treinamento de monitores de CEBs, e está contida no livro já referido: "No treinamento de Brasiléia, no começo de dezembro [de 1979), impressionou-me a convicção que o Wilson mostrou dando seu depoimento . Foi depois que o Centro de Defesa dos Direitos Humanos tinha passado uns diapositivos falando da situação dos direitos humanos básicos no Acre: terra, segurança, escola, casa. Na discussão que se seguiu, o senhor Wilson disse: Estamos lutando há quatro anos no Sindicato de Brasiléia. Mas tem ainda muito trabalhador


Parte 1/

"Nós já sublinhamos que na América Latina e em quase todos os países subdesenvolvidos, o campo é que, nas condições atuais, constitui o terreno de luta ideal; dessa forma, a base das reivindicações sociais que o guerrilheiro deve levantar será a mudança de estruturas da propriedade agrária. A luta deve desenvolver-se, pois, continuamente sob a bandeira da Reforma Agrária" (Ernesto "Che" Guevara, Oeuvres J - Textes militaires, François Maspero, Paris, 1976, pp. 52-53).

que i contra o sindicato dele. Então, a culpa da opressão do trabalhador é também do próprio trabalhador. Quando tem problema de terra, o pessoal recorre ao Sindicato. Então nós temos por princípio empatar a venda da terra. Mas o posseiro cede. Ele vende a terra. Vem para a cidade e depois volta querendo de novo a posse da terra. Para Boca do Acre, contra a jagunçada, levamos 73 homens. .. .. Nós fomos e voltamos com a vitória. O que eu não canso de dizer é isso: O próprio trabalhador é responsável de sua miséria. A ndo dia e noite por todas as colocações (área de exploração entregues a um seringueiro) dando explicação para o trabalhador .. .. '

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E o Wilson teve o destino de Jesus e de todos os profetas - prossegue Frei Clodovis. Os grandes jornais do Brasil do mês passado ljulho de 1980) noticiaram o assassinato de Wilson pelos fa zendeiros. Noticiaram também que, por demora da justiça, os companheiros do mártir não tiveram paciência: fizeram justiça com suas próprias mãos - mataram o que eles consideravam o responsável daquela morte. Agora está no Acre a Comissão Justiça e Paz dos Bispos do Brasil (CNBB) para acompanhar de perto os fatos". Deixando de lado qualquer outra consideração que o texto possa sugerir, é de estranhar a facilidade com que o mentor de CEBs atribui a este ou aquele grupo ou pessoa a responsabilidade pela morte do dirigente sindical e monitor de CEBs, sem esperar pela conclusão dos inquéritos competentes. Da mesma forma, causa espécie a pressa do frade em justificar "os companheiros do mártir": "por demora da justiça", eles "não tiveram paciência" e "fizeram justiça com suas próprias mãos". Basta uma simples verificação de datas para constatar que a vingança dos companheiros de Wilson não se deveu à "demora da justiça": o sindicalista foi morto no dia 21 de julho de 1980; a reunião dos sindicatos à qual compareceu Lula foi no dia 27 do mesmo mês; o assassínio do fazendeiro Nilo Sérgio ocorreu no dia seguinte, 28. Ou seja, uma semana apenas depois da morte de Wilson . Ref erências: FR EI Cwoov1s BoF F, Deus e o Homem no Inferno Verde, Vozes, Petrópolis, 1980, pp . 44. 81-82; IDE M, CEBs e Práticas de übertação, in "Revista Eclesiástica Brasileira", dezembro 1980, pp. 600-603; CARLOS ALB ERTO LIBÃN IOCH RISTO (FR EI BETo), O Canto do Galo - Relatório Pastoral de u:na visita à Prelazia de Acre e Purus, SPAR , Goiâ ni a, 1977; "SEDOC", outubro 1976, col. 442 e maio 1980, col. 1145; "Folh a de S. Pa ulo" , 29-7-79; "Jornal do Brasil", 24-8-80.

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Reivindicar... Tensiona . . . Conscientizar ... Para conduzir os ,membros das CEBs ao marxismo na prática ,,.

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NA CHAMADA "periferia" das grandes cidades que a ação reivindicativa e de protesto de caráter político empreendida pelas CEBs se desenvolve de maneira mais intensa, porém quase impalpável. Agentes pastorais bem treinados (Padres, freiras, leigos) instalam-se junto às sofridas populações dos bairros periféricos e aproveitam-se das carências locais para atrair, mobilizar e conscientizar os moradores. A partir de problemas muitas vezes reais, mas sempre exagerados e tratados de modo tensionante, vão criando um clima de descontentamento generalizado, de revolta e de luta de classes. Por -toda a parte, esses agentes vão suscitando movimentos reivindicatórios, ou encampando os já existentes, conferindo-lhes uma nota política e ideológica antes desconhecida. Mas essa politização dos movimentos reivindicatórios não começou desde logo por uma pregação doutrinária: partiu de problemas que tocam diretamente o homem comum, que dizem respeito à sua vida de todos os dias , às suas aspirações mais imediatas, ou antes, às suas necessidades mais prementes . Essa movimentação toda das CEBs nas "periferias" e nas favelas não tem por finalidade última

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resolver problemas concretos de injustiças ou carências reais, mas sim, aglutinar, conscientizar e mobilizar a população, e ao mesmo tempo mostrar a falên cia do sistema e promover a sua derrocada. Não que neste ou naquele caso o objetivo visado não seja de fato o atendimento de determinada reivindicação concreta: as CEBs têm necessidade de algumas vitórias, até por razões de credibilidade (uma atuação que nunca leva a nada desmoraliza qualquer movimento) . Mas essa não é a finalidade principal, como salienta D. Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de Sã o Paulo e mentor de CEBs na Arquidiocese : " Toda reivindicação, mesmo aquela que não dá certo, é uma etapa importante na conscientização do p ovo". O importante é, portanto, reivind icar. Reivindicar sempre e por toda a parte, mesmo que não dê certo: a luta comum ajuda a criar a "consciência de classe", explica o marista gaúch o Irmão Antonio Cechin, coordenador das CEBs da Arquidiocese de Porto Alegre e mentor dos lavradores de Ronda Alta . Muitas vezes os membros das CEBs pedem com urgência o que sabem que não há recursos para se lhes dar logo. Ou pedem o impossível, para não serem atendidos, e assim provocarem a revolta.


Parte ll

Ademais, todas as reivindicações são acres, com um fundo de indignação o qual estoura em manifestações de protesto se não forem atendidas. Em outros termos, o processo reivindicatório conduz os membros das CEBs à luta de classes e ao marxismo na prática, antes mesmo de eles conhecerem a doutrina marxista, como salienta Frei Clodovis Boff. Aliás, não é por acaso que o Partido Comunista Brasileiro atribui importante conteúdo político D . Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São Paulo: "Toda reivindicação. mesmo aquela que não dá

certo. ajuda a conscientizar o povo ... ..

Capitulo Ili -

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às reivindicações promovidas pelas CEBs nos bairros periféricos e nas favelas . Tais movimentos reivindicatórios e de protesto não devem, entretanto, ser considerados em si mesmos, isoladamente, em seus aspectos, por assim dizer, episódicos, mas devem ser inseridos no contexto mais amplo da intensa ação política desenvolvida pelo clero engajado, por meio das Comunidades Eclesiais de Base e organizações auxiliares. Essa atuação constitui o que se costuma denominar "pressão de base", a qual se conjuga com a "pressão de cúpula", exercida pela CNBB, contra as instituições vigentes, em conformidade com a estratégia comunista aplicada em tantas nações, no sentido de promover as reformas de estrutura (Reforma Agrária, Reforma Urbana, Reforma da Empresa etc.), as quais conduzirão o País para um regime cada vez mais próximo da meta final: o socialismo autogestionário , última e mais radical etapa do comunismo. Seria cansativo passar em revista aqui toda essa movimentação das CEBs , sobretudo nas periferias dos grandes centros urbanos, da qual a imprensa se ocupa largamente.

Como se faz a "pressão de base" Alguns exemplos, tomados entre muitos, podem dar ao leitor uma idéia do clima emocional, de tensão e revolta em que é realizada essa "pressão de base". E de como fatos, muitas vezes realmente lamentáveis e dignos de reprovação, são instrumentalizados para efeitos de conscie ntização ou para exacerbar os ânimos e provocar a indignação. O que interessa ressaltar aqui não é o mérito das questões, mas a forma como as mesmas são conduzidas, e sua finalidade.

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A s CEBs ... das quais muito se fala , pouco se conhec~ -

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• No bairro de Artur Alvim, um trem colheu um ônibus _que atravessava os trilhos, matando muitas pessoas. Fato trágico. Imediatamente realiza-se manifestação junto aos trilhos, liderada pelo Bispo que atua na região, D. Angélico Sândalo Bernardino. Em meio a discursos e cartazes, D. Angélico propõe suspender todas as Missas, em um domingo, e convocar todo o povo para sentarse nos trilhos, caso não fossem colocadas porteiras na passagem de nível. Foi dado à empresa ferroviária um prazo de 60 dias para o atendimento da reivindicação. Concomitantemente, membros da Comunidade fazem correr um abaixo-assinado As reivindicações promovidas ou encampadas pelas CEBs são conduzidas de modo a criar um clima de descontentamento e tensão . - Concentração diante da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.

pelo bairro, exigindo a colocação das referidas porteiras. • A questão da falta de água nas periferias de São Paulo - cidade que cresce numa velocidade vertiginosa - serve de ocasião, quase se diria de pretexto, para manifestações promovidas pelas CEBs. - No Jardim Eliana, "200 moradores" promovem uma passeata-procissão, até a bica que fornece água. Rezam e cantam. Um dos cânticos tem a seguinte estrofe (inspirada em versos de D. Pedro Casaldáliga):

"Somos povo, somos gente, somos o povo de Deus queremos água em casa só temos água na bica. Conhecemos a verdade e o direito de ser mais. Exigimos liberdade te, ra, casa, água e paz". A propósito da falta d'.água, por pouco não se chegou ao slogan de Lênin: "Pão, paz e terra" ... O próprio semanário da Arquidiocese de São Paulo reconhece que "o pequeno passeio da comunidade não teria sido possível, sem a presença de três seminaristas" que há quatro anos "participam das atividades da Paróquia do Grajaú, constituída de sete pequenas comunidades do Setor Interlagos". • No Jardim Romano, o estaqueamento prévio para uma obra de grande vulto, faz secar os poços da região. A situação é aflitiva. D. Angélico sobe na carroceria de um caminhão, flaoqueado por dois violeiros, para arengar o "povo". Afirma que é só o povo se reunindo que as .1utori-

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Capítulo III -

Parte II

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• No Parque Cocaia, Santo Amaro, os "moradores" cantam, diante da Imobiliária, os mesmos versos de D. Casaldáliga cantados pelos habitantes do Jardim Eliana, a propósito da falta d'água, só que, mudado o pretexto, os outros versos, de circunstância, também são alterados: "Somos povo, somos gente, somos um povo de Deus, queremos nossas escrituras queremos nossos terrenos".

"Tenho sedei" - exclamou Nosso Senhor no alto da Cruz. Este pungente brado do Divino Redentor é aplicado num sentido todo material por membros de CEBs da Zona Leste de SIio Paulo, para protestar contra a falta de égua.

dades atendem, que a greve é um exemplo disso e que o governo tem medo do povo reunido. • Na Vila Ré , um "Posto de Saúde" é a reivindicação. Os promotores dizem que lutam pelos seus direitos e afirmam que só os ricos são privilegiados. O povo da periferia não tem nada daquilo a que teria direito. - Outro problema que dá margem a uma série de "pequenas ações conscientizadoras" (a expressão é de D. Angélico), é o da irregularidade em loteamentos populares. De si, evidentemente, é odioso explorar o pobre em seus já parcos haveres. Mas a se levar em consideração unicamente a movimentação promovida pelas CEBs, em São Paulo não existiriam senão loteadoras inescrupulosas e fraudulentas.

O ponto de encontro dos "moradores" foi o Centro Comunitário da Igreja Nossa Senhora das Graças, sede da equipe do Pe. Mariano Baraglia, dedicada à formação de Comunidades de Base na Arquidiocese de São Paulo . • Dia 6 de março de 1979, parque do Ibirapuera: liderados pela deputada estadual Irma Passoni (a ex-Irmã Angélica, líder de CEBs), mais de mil favelados chegam ao gabinete do Prefeito para pedir a posse de todos os terrenos ocupados por favelas . O prefeito recebe uma comissão de moradores e diz que não pode atender seu pedido. A deputada leva a notícia aos que ficaram fora do gabinete, e inicia-se o comício político. Altofalantes, discursos inflamados e apartes revoltados compõem o quadro de hostilidade ao alcaide paulistano. É acentuado o inconformismo dos favelados. Além da proposta de compra do lote onde têm barraco, com prazo de um ano para construir uma casa de blocos de cimento, com pagamento do terreno proporcional aos vencimentos de cada família , pediram também a instalação de rede de água e esgoto, luz, policiamento, canalização de córregos, creche, uma escola e a criação de um posto de saúde. Os favelados , quando desembar-

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são

caram no pátio, em frente do gabinete do prefeito, foram informados que apenas seria recebida uma comissão. Contrariados por não poderem se reunir com o prefeito, os favelados decidiram pedir, através de seus representantes, que o prefeito fosse até eles para prestar os esclarecimentos sobre as reivindicações. O Chefe do Executivo municipal não cedeu a essa pressão, mas recebeu os vereadores e parlamentares que acompanhavam os favelados, e os representantes destes, e apresentou algumas soluções aos pedidos feitos , explicando a impossibilidade de atender a tudo. A resposta desagradou os "faveleiros". O incidente denuncia o modo de agir característico das Comunidades de Base: exigência de que a autoridade receba diretamente seus membros ou compareça às concentrações que promovem; apresentação de reivindicações impossíveis de serem atendidas, quer pela sua natureza, quer pelo seu número, quer pela falta de recursos; com isso, os dirigentes criam entre as "bases", ingênuas e fáceis de serem manipuladas, sentimentos de frustração e revolta contra o poder constituído, o qual é acusado pelos mentores do movimento de

serem surdos aos "pequenos", aos "oprimidos", só dando ouvido às exigências dos "grandes", dos "ricos", dos "poderosos". Referências: Livros: P AUL SI NGER, Movimentos de bairro , in PAUL SI NGER E VINICIUS C ALDEIRA BRANDT (org.), São Paulo: o povo em movimento, Editora Vo zes-CEBRAP, 1980, p. 91 ; IR MÃO ANTON IO CECHIN, A catequese nas comunidades eclesiais de base, in D. ADRIANO HIPÓLITO E OUTROS, Pastoral popular libertadora, Escola Superior de T eologia São Lourenço de Brindes, Porto Alegre, 1981 , p. 124; COLETIVO NACIONAL DE DIRIGENTES COMU NISTAS, Teses para um debate nacional de comunistas pela legalidade do PCB, Editora Juruá , São Paulo, 1981, pp. 92-93. Artigos e notícias: FREI BETo, Da prática da pas1oral popular, in "Encontros com a Civilizaçã o Brasileira", agosto 1978 , pp. 105- 106; ARQUIDIOCESE DE s. P AULO - R EG IÃ O EPI SCOPAL DE SÃO MIGUEL, O povo se organiza caminhando Assembléia de Comunidades, 1981 , mimeografado; FR EI CL0oov1s BoFF OSM , A influência po/í1ica das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), in "SEDOC", janeiro-fevereiro 1979, col. 816; "Boletim das Porteiras", mimeografado; "Brasil Mulher", novembro de 1978, p. 5; "Movimento", 12-5-80, p. 11 ; "Veja", 29-12-76, pp. 30-31; "Folhetim" n. 0 106, 28-1-79, p. 4; "Jornal do Brasil", 14-5-78 ; " Folha de S. Pa ulo", 14 e 23-4-79; 29-6-81. "O Estado de S. Paulo", 8 e 22-3-79; 3-4-82. "O São Paulo", 25-677, p. 10; 2-7-77, p. I; 10-7-77, p. 1; 16-7-77 , pp. 4-5 ; 27-8-77, p. 2; 3-9-77, pp. J , 8 e 10; 22-10-77, p. 10; 29-10-77, p. 8; 31-12-77, p. 5; 15-7-78, p. 5; 6- 1-79, p. 5; 24-4-81 , p. 4.

A "máquina" das CEBs se serve também dos favelados para pressionar as autoridade s. Na foto, concentração diante da Prefeitura de Sl o Paulo: o cartaz improvisado (cheio de erros - propositais? - de português) contrasta com a faixa confeccionada de acordo com os melhores padrões técnicos do gênero.


A

DEPUTADA estadual Irma Passoni (PT), falando na Universidade Metodista de Piracicaba, em março de 1981, sobre sua atuação nas CEBs da Zona Sul de São Paulo, fez a seguinte confissão: "Temos organizado, muitas vezes, invasões aterrenos do IAPAS porque os favelados não têm mais onde construir". Meses depois, D. Angélico Sândalo Bernardino, Bispo da Zona Leste de São Paulo, afirmava ser preciso que, mediante a organização do povo, "a terra que foi roubada do povo, e está nas mãos de poucos, passe a ser posse de todos, seja através da legitimação, seja através da invasão de terrenos pertencentes ao governo". Tanto o Bispo Auxiliar de São Paulo, como a deputada, ambos corifeus do movimento das Comunidades Eclesiais de Base, são taxativos ao afirmar que se deve invadir, e que já se estão invadindo terrenos urbanos. E D. Angélico, lembrando Marx e Proudhon, explica a razão: fazer com que a terra que "foi roubada do povo e está nas mãos de poucos, passe a ser posse de todos". Ou seja, instaurar o socialismo coletivista. Promover uma Reforma Urbana radical. A espetacular ocupação da Fazenda ltupu, de propriedade do IAPAS, no bairro Alto da Riviera, Zona Sul de São Paulo, ilustra bem a atuação das CEBs nas invasões de terrenos urbanos.

lnvasiles na Zona Sul de SIio Paulo: "organização caprichada" Embora a invasão da área de 28 alqueires, próxima à Represa Guarapiranga, Zona Sul de São Paulo, no dia 6 de setembro de 1981, não tenha sido a primeira das ocupações de terrenos promovidas pelas CEBs na capital paulista, foi sem dúvida a mais espetacular. A antiga Fazenda ltupu foi durante dias palco de um muito bem montado show ou ação de guerra psicológica, destinado a impressionar o País: os "carentes", levados pelo desespero, invadiram áreas "abandonadas", procurando solucionar por conta própria um dos mais angustiantes problemas urbanos - o da moradia -, que uma sociedade falida não podia ou não queria resolver. Segundo declarações do diretor do DEOPS paulista à imprensa, a invasão da Fazenda Itupu foi decidida e planejada em uma série de reuniões realizadas durante meses na Sociedade dos Amigos do Alto Riviera e nas Comunidades Eclesiais de Base, com a participação, entre outros, de Padres Oblatos de Maria Imaculada (norte-americanos); de Frei Airton Pereira da Silva, dominicano; dos deputados Aurélio Perez (PMDB) e

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As CEBs ... das quais muito se fala, p ouco se conhece -

A TFP as descreve como são

Irma Passoni (PT) e do vereador Benedito Cintra (PMDB).

Os Padres James Gibbons (superior provincial dos Oblatos) e John Drexel negaram o envolvimento de sua Congregação com a invasão, mas admitiram que a proposta de invasão havia sido levantada em reunião de uma Comunidade Eclesial de Base da região, tendo sido "totalmente refutada" (sic). Numa última reunião, com os mesmos participantes, dois dias antes da invasão, os pormenores da operação foram acertados. É de um semanário pauiista o relato abaixo: "Dois dias antes, um grupo bem menor, cerca de vinte pessoas, havia realizado um outro encontro, entre quatro paredes, na sede da Sociedade Amigos do Alto da Riviera - região do bairro onde está situada a fazenda -, para planejar a invasão. Todos os detalhes foram considerados ali. O essencial era formar, antes de tudo, uma comissão coordenadora do movimento. Ou seja, um grupo que se encarregasse de espalhar pelo bairro a falsa notícia de que a Prefeitura estava doando terras ali perto; outro que arregimentasse voluntários para o trabalho braçal (preparar o loteamento); mais um para organizar e dirigir as assembléias diárias dos posseiros; e, finalmente, uma turma que cuidasse para que ninguém abandonasse completamente seu terreno - orientando os invasores para trazerem cobertores, lampiões e café para suportar as madrugadas. Organização caprichada".

Nessa mesma reunião ficou combinada uma concentração prévia no campo de futebol do bairro da Figueira Grande: de lá, cerca de 200 a 400 pessoas, armadas de foices, facões, picaretas, enxadas, cavadeiras e munidas de trenas e outros apetrechos, deslocaram-se para a antiga fazenda

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do IAPAS. Os organizadores haviam já espalhado pela região a falsa notícia de que a Prefeitura ia doar terras da Fazenda ltupu (artifício, aliás, utilizado em várias outras invasões, não apenas em São Paulo), e que cada interessado deveria demarcar o seu lote. Os coordenadores do movimento foram levados ao campo de futebol num carro dos Padres Oblatos, os quais, juntamente com Frei Airton, respondem pela Paróquia de Vila Remo, próxima dali. Consumada a invasão, os dirigentes da operação (identificados por um grande crachá de cartolina branca, sem nomes, apenas com a inscrição "Comissão") começaram a orientar os invasores, por meio de assembléias, realizadas várias vezes por dia. Apesar do anonimato, a imprensa identificou como um dos mais ativos membros da "Comissão" o marido da deputada Irma, o professor Armelindo Passoni: "As operações de campo foram visivelmente comandadas por Arme/indo, que, munido de uma prancheta, .... trabalhava desde o rair do sol até o final da noite cadastrando posseiros, espichando a fita métrica de uma trena para cima e para baixo, orientando todo o trabalho da 'comissão' ". Dias depois, D. Fernando Penteado, Bispo Auxiliar e Coordenador das Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese de São Paulo, visitou a área invadida e ocupada. Os deputados Aurélio Perez e Irma Passoni e o vereador Benedito Cintra negaram terem instigado a invasão, mas não desmentiram o seu apoio decidido aos invasores. Comentando a invasão, Aurélio Perez teve uma frase enigmática: "O próximo passo é o saqueamento dos supermercados, pois o homem com f orne é uma fera". - Prognóstico ou ameaça? D. Angélico Sãndalo Bernardino considerou a invasão como um "gritante sinal q_ nos indicar que


Parte II

o povo busca sua libertação ". "Libertação", por meio da violência e invasões, com desprezo da ordem constituída, tem um nome: Revolução. No sexto dia da ocupação (11 de setembro) foi efetuada a desocupação da gleba e a reintegração de posse ao IAPAS, decretadas pela Justiça. A operação de despejo transcorreu sem incidentes, mas não sem desgaste para o Poder constituído, obrigado a mobilizar forte contingente policialmilitar (cerca de três mil homens da Polícia Militar, da Civil e da Federal) para garantir o cumprimento da decisão judicial. Uma semana depois da desocupação judicial do terreno do IAP AS, cerca de 300 pessoas, lideA ocupação da Fazenda do IAPAS, em São Paulo, foi um bem montado show de guerra psicológica revolucionária : "carentes", em desespero, invadem áreas "abandonadas". Um dos planejadores do lance teria sido Aurélio Pérez, deputado e animador de CEBs (foto menor) . Armelindo Passoni, marido da deputada lrma, coordenou a operação (foto grande) .

Capítulo III -

8


As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

radas pelos mesmos deputados Aurélio Perez e Irma Passoni e pelo vereador Benedito Cintra, concentraram-se diante da sede da Prefeitura de São Paulo, no Parque do lbirapuera, para "cobrar do prefeito a promessa de ceder uma área municipal para construção de nossas casas". Posteriormente o prefeito afirmou ter provas de que 80% desses auto-intitulados "posseiros da Fazenda ltupu",na realidade não haviam participado da invasão do terreno do IAP AS. Não passavam, pois, de meros figurantes de um novo show: os pobres "posseiros" expulsos de "suas" terras, a pedir justiça ... Além disso, o prefeito apresentou fotografias para comprovar que vários dos manifestantes eram os mesmos que no ano anterior tinham estado na Prefeitura para reivindicar creches. Entre estes achava-se Maria Saraiva, responsável pelo aluguel dos ônibus que levaram os manifestantes à Prefeitura, e que, ela sim, havia participado ativamente da invasão da Fazenda ltupu, usando inclusive megafone para dirigir a ocupação. Maria Saraiva, que liderou outras invasões na região, é das mais destacadas ativistas do Movimento Contra a Carestia, um dos "braços políticos" das CEBs, que conta entre seus principais dirigentes precisamente os deputados Aurélio Perez e Irma Passoni .

Monte Ta6: as CEBs de São Paulo Invadem também n·a Zona Leste Na Zona Leste de São Paulo, as invasões de terrenos foram precedidas de "encontros" de Comunidades Eclesiais de Base, os quais tinham como roteiro o livrinho O povo se organiza caminhando, lançado pela Região Episcopal de São Miguel, cujo Bispo é D. Angélico Sândalo Bernardino. O livrinho apresenta como tema de 210

"reflexão" e discussão das Comunidades, em forma de celebração, com características de sociodrama, o caso da invasão de um terreno da Prefeitura, na Rua Monte Taó, patrocinada pelas próprias CEBs. O semanário da Arquidiocese de São Paulo, de larga penetração nas Comunidades de Base, ocupou-se também do caso em várias reportagens. A invasão do terreno da Rua Monte Taó, Jardim Camargo Novo, Itaim Paulistá, não foi tão espetacular como as que vieram depois. Começou discretamente, em fins de maio de 1981: uma família, seguida depois de outras, instalou-se no terreno em questão. Um morador da rua, alegando ser proprietário da área, comunicou a invasão à Prefeitura e chamou a Polícia. Entram então em cena as Comunidades de Base, conforme o relato de "O São Paulo":


Capítulo Ili - 8

Parte li

A invasã o de terrenos na Zona Leste de Silo Paulo (na fot o da página precedente, invasores do Jardim Robru), foi preparada por encontro das CEBs da região. Ao lado, a cartilha que serviu de roteiro para esse encontro.

O POVO

"Uma pessoa da Comunidade São Marcos, que ia passando pelo local, resolveu verificar o que estava acontecendo. Assim que constatou as violências que estavam sendo sofridas pelas famílias, se dirigiu imediatamente ao salão da comunidade, e ali com outras pessoas pertencentes à comunidade resolveram apoiar as famílias despejadas e ainda fazer um levantamento de outras famílias em igual situação . .... Enquanto isso, uma comissão de 8 pessoas, entre as quais várias que também iriam invadir o terreno, relacionaram 20 famílias que estavam passando por gran-des dificuldades, e resolveram organizar um mutirão durante todo o dia e toda a noite do dia 13 / 06. E encerrar simbolicamente esse mutirão com uma celebração da qual participariam cerca de 30 comunidades de todo o Itaim Paulista . .... No mesmo dia a partir

de 15 hs começou o mutirão. Ele/oi noite adentro com o apoio de quase todas as famílias da comunidade. .... O mutirão terminou com uma celebração no local no dia 14/06, do qual participaram cerca de 30 comunidades, que vinham até o local em caminhada com faixas e cartazes. .... Além das comunidades as famílias contaram com a presença de D. Angélico, bispo da região, e da Deputada Irma Passoni". O livrinho destinado às CEBs da Região de São Miguel apresenta o caso de Monte Taó como "a história da luta por um pedaço de terra e a opressão dos poderosos". E a compara com a "história do Servo Sofredor" (profecia de Isaías a respeito de Nosso Senhor Jesus Cristo), depois do que vêm as perguntas-insinuantes e as conclusões conscientizadoras: · "O POVO SE ORGANIZA CAMINHANDO Animador: O que virá? Não se sabe ainda. Vão ser retirados do local? · Vão vencer resistindo até o fim? Vão conseguir outro local para morar? Para enfrentar essa opressão, o povo está se UNINDO e ADQUIRINDO EXPERIÊNCIAS NA ORGANIZAÇÃO à medida em que novas represálias e novas dificuldades surgem. Leitor: Em todas as idas às autoridades (Regional, Prefeitura, Delegacia, Cabes) uma COMISSÃO se prepara junto com o pessoal para falar e defender a posição de todos. Todos são responsáveis. Não se entrega ninguém. É a fome, a necessidade, a precisão que faz com que todos lutem por um pedaço de chão. Essa história nos ensina uma coisa muito séria e indispensável: TODOS: O POVO SE ORGANIZA CAMINHANDO, ASSUMINDO E EXECUTANDO SUA MISSÃO!"

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As CEBs .. . das quais muito seja/a, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

E termina com o ítem: "Discuta com seus companheiros": "J. O nosso grupo e nossa Comunidade é solidária às lutas populares que acontecem no Brasil, em São Paulo, em nossa Região? Como apoiamos? · 2. O que a luta de MONTE TAÓ tem a nos ensinar? 3. O que significa caminhar unidos e organizados?" Esse roteiro era destinado a preparar ás CEBs da região de São Miguel para o Encontro Regional de Comunidades, a realizar-se em 20 de setembro de 1981. Depois de semelhantes "reflexões" e "discussões", é de estranhar que em 1. 0 de outubro começassem as invasões de terrenos na região?

Terá sido por mera coincidência que, após as invasões em série de terrenos (além de São Paulo, o fato se repetiu nas principais capitais do País), no ano de 1981, a CNBB, em sua reunião plenária do começo do ano seguinte, tenha aprovado um documento pleiteando a Reforma Urbana? Referências: ARQUIDIOCESE DE GOIÂNIA - SECRETARIADO DA PASTORAL, Cartilha do posseiro Urbano, 1980; "Tribuna Piracicabana" (Piracicaba-SP), 27-3-81; "Isto é", 16-9-81 ; "Folha de S . Paulo", 8 a 23-9-81; "Jornal do Brasil", 14-7, 7 e 8-9-81; "O Estado de S . Paulo", 9, 19, 22 e 30-9, 1-10-81; "O São Paulo", 3-7 e 28-8-81 ; "Brasil Reportagem", Ano 1, n. 0 2, 1979, pp. 36-37; ARQUIDIOCESE DE SÃO P AULO, Guia Geral 1980; R EGIÃO EPISCOPAL DE SÃO MIGUEL (Arquidiocese de São Paulo), · povo se organiza caminhando, mimeografado, s.d.; "Isto é", 16-9-81, pp. 21-23; "Jornal do Brasil", 7-9 e 8-9-81; "Folha de S. Paulo", 8-9, 11-9, 19-9 e 23-9-81 ; "O Estado de S . Paulo", . 19-9, 22-9, 23-9 e 30-9-81, 1-10-81 ; "O São Paulo", 13-7-81 , p . 9 e 11-9-81.

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Mais um ato do show das invasões: para pre1111ionar as autoridades, invasores de terrenos urbanos se valem do titulo de "posseiros".

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Capítulo lll - 8

Parte /l

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Lições para ocupar a terra alheia A

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ARQUIDIOCESE de Goiânia lançou uma Cartilha do Posseiro Urbano, a qual tem orie_ntado invasões de terrenos não só naquela capital, mas também em outras partes do Brasil (foi encontrada, por exemplo, entre os ocupantes da Vila dos Bancários, em Porto Alegre). A Cartilha parte do princípio seguinte: a Constituição brasileira estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para atender a todas as necessidades do trabalhador, entre as quais a de moradia digna. Sempre que tal não acontecer, este tem o direi~o de procurar um terreno vazio e ali construir seu barraco, "crente que aquele terreno é de direito do trabalhador que faz a ri9ueza do Brasil". Criando a figura do "ppsseiro urbano", a Cartilha afirma que o invasor de um terreno "abandonado" que nele construiu um barraco e fez outras benfeitorias não pode ser incomodado, pois "este é o maior documento que se torna até mais sagrado que o documento escriturado que ficou abandonado". Recomenda que qualquer "ato de violência ou tentativa de retirada dos moradores" seja denunciado à Comissão Pastoral da Terra, aos jornais e à televisão. Aconselha ainda a "procurar ajuda e solidariedade nas Comunidades de Base, nas Igrejas e nas Paróquias". A Cartilha joga de modo ambíguo com os termos "desocupado", "vazio" e "abandonado" . . ... . ' mais ou menos como smommos de "terra de

ninguém". Uma das ilustrações, por exemplo, apresenta um homem com um saco às costas dizendo à mulher: "Maria! Aquela terra está abandonada! Deve ser de ninguém. Vamos fazê o nosso barraco lá!?" Depois de explicar os casos em que o "posseiro" pode ser despejado por ordem judicial, a Cartilha ensina: "Antes que chegue nesta situação, ainda há mais um recurso que é a força da união, capaz de mudar o rumo suspendendo o despejo, dando-lhe da posse o direito através da desapropriação". Ou ·seja ensina a resistir em grupo, gerando um foco ·d~ tensão e pressionando as autoridades a promoverem a desapropriação do terreno por interesse social, nos termos da legislação vigente. Para tal resistência, insiste na "união comunitária", na formação de comunidades e associações de moradores, as quais devem estudar em conjunto as propostas de acordo feitas pelos proprietários ou autoridades para desocupação da área invadida, e impedir acordos individuais. Todo o línguajar da Cartilha é eivado do espírito da luta de classes, apresentando sempre o proprietário, o rico, como opressor, que quer aumentar seus lucros, engrossar seu capital pela exploração do pobre, do trabalhador. Referências: "Correio do Povo" e "Zero Hora" (Porto Alegre), 18 e 19-8-81; ARQUIDIOCESE DE GOIANIA- SECRETARIADO DA PASTORAL, Cartilha do Posseiro Urbano, 1980.

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O Movimento Contra a 'Carestia, un1 dos "braços polít ico ' das C EBs

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GRAVES distúrbios 4ue abalara~ Salvador nos meses de agosto e setembro do ano passado trouxeram de novo para as páginas dos jornais o nome de uma entidade nascida nas CEBs da Zona Sul de São Paulo e que se espalhou por todo o País: o Movimento Contra a Carestia MCC (anteriormente chamado Movimento do Custo de Vida - MCV) . Com efeito, foi a partir das ~anifestaç~e~ do MCC contra o . aumento das tanfas dos ombus urbanos, que tiveram 1mc10 as depredações de vekulos, tentativas de saques a supermercados e outros atos de violência, que mantiveram a capital baiana em contínuo desassocego durante três semanas. O saldo dos distúrbios iniciados no dia 20 de agosto foi trágico e os danos materiais imensos: quatro mortos , dezenas de feridos , centenas de ônibus total ou parcialmente destruídos , centenas de milhões de cruzeiros de prejuízos. Para os dirigentes do MCC, entretanto, o balanço foi "positivo". Pelo menos assim o considerou a coordenadora local do Movimento, a médica Jane Vasconcellos, numa entrevista ao jornal do PC do B: "O saldo organizativo foi

hé111 , que a umao. a pressão popular pode nos trazer vit órias. pode levar os poderosos a recuar".

enorme: conseguimos criar novos núcleos do MCC em diversos bairros. Ficou provado, tam-

A mais publicitada campanha do Movimento foi o abaixo-assinado contra a carestia, lançado

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A médica, que integra também a coordenação nacional do MCC, foi responsabilizada em inquérito da Polícia Federal (junto com outras seis pessoas, entre as quais Haroldo Lima, dirigente nacional do PC do B) pelos distúrbios de Salvador. Seja qual for a responsabilidade do MCC em tais acontecimentos, é preciso que se saiba que a depredação de veículos, como forma de protesto, tem sido levantada nas reuniões de Comunidades de Base, conforme depoimento da deputada Irma Passoni, em conferência na Universidade Metodista de Piracicaba, sobre a atuação das CEBs da Zona Sul de São Paulo: "Muitas vezes, em grupos, chegamos a discutir o que era melhor: reivindicar mais transporte ou participarmos de quebraquebra contra os ônibus. A maioria do pessoal de

bairro optou pela reivindicação. Mas após as depredações da FEPASA (Ferrovias Paulistas S.A.) a gente ficou perguntando se não seria melhor deixar tudo como está para que se arrebente de vez".


Parte li

CapĂ­tulo Ili -

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As CEBs ... das quais muito se fala, poucu sr conhece - A TFP as descreve co mo são

o quebra-quebra de velculos como forma de protesto foi debatido em reuniões de Comunidades Eclesiais de Base. Nas fotos, depredação de trens suburbanos e manifestação do Movimento Contra a Carestia, em São Paulo .

em 1978, e que se constituiu numa das bandeiras da Oposição, sendo que no pleito daquele ano foram eleitos diversos dirigentes do MCV: Irma Passoni e Marco Aurélio Ribeiro, a deputado estadual; Aurélio Perez, a deputado federal , todos pela sigla oposicionista (MDB). Esse abaixo-assinado teve ainda importante papel na deflagração e sustentação das greves desencadeadas em São Paulo e no ABC, a partir de 1978. Por isso tudo, o Movimento do Custo de Vida - hoje Movimento Contra a Carestia - foi consi-

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derado por um comentarista como o principal dos "braços políticos" das Comunidades Eclesiais de Base. Referências: "A Tarde", 22 e 23-8, 3, 4 e 22-9-81; "Correio da Bahia", 22-8-81; "Jornal da Bahia", I 1, 15, 21 e 22-8-81; "Tribuna da Bahia", 21 a 27-8, 15-9-81: "Jornal do Brasil", 23, 26 e 27-8, 21-9-81; "Folha de S. Paulo", 22 a 27-8, 4-9-81; "O Estado de S. Paulo", 21 a 29-8, 4 e 5-9, 24-lú -81 ; "Veja", 99-81 , pp. 20-23; "Tribuna Operáric1", 29-9-8 I, p, 2; "Tribuna Piracicabana", 27-3-81; P. S1NGER E V. C. BR ANDT :org.), São Paulo: o povo em movimento , Vozes-CEBRAP, PctrópohsS. Paulo, 1980, pp. 97-101 ; "O São Paulo", 10-5-79; "Isto é", 22-3-78, pp. 8-1 I; 3-5-78, p. 24; 21-2-79, p. 23; "Cadernos do CEAS", setembro-outubro 1978, p. 23.


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Função social, p orrete e faca

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PLINIO CORRtA DE OLIVEIRA

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Dado o esquema especial de imposição das páginas do presente volume, sobrava em branco um fólio . Constituía-se assim, para a Editora, o minúsculo problema de aproveitar ou desperdiçar essas duas páginas em branco. Não há empresa de publicidade que perca qualquer ocasião para se dirigir ao público. .. Como aproveitá/a, então? -A solução se apresentou à Editora desde logo, providencial. E simples como tantas vezes são as coisas da Providência.

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primeira vista, nada de mais simples, nem de mais claro: se A é proprietário de bens que lhe sobram, e B está em risco de vida porque lhe falta uma parcela desses bens e, ademais, B não tem com o que pagar A, estabelece-se entre A e B uma situação conflitual. Pois o direito à vida de B entra em choque com o direito de propriedade de A. Qual dos direitos deve prevalecer? Evidentemente o de B, pois o direito que um homem tem à sua vida é preeminente em relação ao direito que outro tem à sua propriedade. Esta solução tão simples, que se prende à função social da propriedade, constituía matéria para investigações - obras-primas de subtileza e sansatez - dos moralistas católicos antigos. Assim , debatiam eles se a obrigação de A assistir a B pertencia aos deveres de caridade ou aos de justiça. Neste último caso, em que gênero de justiça se encaixavam: comutativa ou distributiva. E sendo na distributiva, caso o beneficiário adquirisse posteriormente haveres que lhe sobrassem, se era obrigado a reembolsar o benfeitor. Em qualquer eventualidade, ficaria B devendo gratidão a A, isto é, afeto, respeito, ajuda quando ocorresse o caso? E assim outras questões, algumas das quais nada simples, todas muito importantes não só para a boa formação moral do católico mas também para o adequado relacionamento entre os homens.

Com efeito , o mais recôndito background da demagogia sócio-econômica das Comunidades Eclesiais de Base está na deturpação de um ensinamento muito verdadeiro da Doutrina da Igreja sobre a função social da propriedade. Publicar, pois, algo sobre essa defarmação enriquece o presente livro. No caso, enriquece-o especialmente por se tratar da transcrição de um luminoso artigo escrito pelo Prof Plinio Corrêa de Oliveira para a "Folha de S. Paulo " (12-8-82), contendo sobre o qssunto uma argumentação jamais apresentada até hoje - que saibamos. Exemplifico. Se alguém não tem como pagar moradia, e outrem tem casas de sobra, o segundo deve franquear gratuitamente alguma habitação ao necessitado; ou se alguém não tem onde plantar, e outrem tem terras de sobra, este último deve facilitar as terras necessárias ao primeiro. "Franquear", "facilitar"? O que querem dizer exatamente esses vocáde carência? Ou dar? Opino que, sempre quando a situação de B possa ser remediada com um simples empréstimo, exigir a doação constitui autêntico abuso. Um pouco como S6, precisando de pão um indigente, o padeiro lhe tivesse que dar a padaria, e não apenas o pão. Opino ainda que, podendo o indigente que consiga abastança reembolsar quem lhe cedeu o uso gratuito, ou a propriedade de algum bem, deve fazê-lo . E que, em qualquer caso, o beneficiário fica vinculado ao benfeitor pelos laços do respeito e da gratidão . Deve-lhe homenagem e assistência.

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• • • Bem entendido, assim não pensa a "esquerda católica". O carente deve ver em todo abastado um ladrão , o qual está indebitamente de posse de algo daquilo a que o carente tem direito estrito. Pelo que, ao carente toca o

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direito de ava nçar pura e simplesmente - de porrete ou faca na mão, se fo r preciso - contra o abastado, e arranca r-lhe o necessário. Quem julga da quantidade e da qualidade desse necessário? h o carente. Tanto mais que ao lado dele está o berrei ro demagógico da imprensa esquerdista e, muito frequentemente, o apoio ai nda mais demagógico do bispo local. Berreiro e apoio sem os quais o carente jamais ousaria empunhar a faca, ou o porrete.. . Do papel da caridade cristã para resolver pacificamente situações dessa natureza, a "esquerda católica" nada diz. Ou quase nada . Da justiça comutativa, pela qual alguém deve pagar o que comprou, ou fornecer o que vendeu, e da distinção entre esta justiça e a distributiva, idem. Dos deveres de gratidão, de homenagem e de assistência do beneficiário, menos ainda. Ela pretende fulminar todas essas nobres obrigações com uma só injúria: "cheiram à I.d ade Média". E, munida de uma noção assim empobrecida do que seja a justiça social, a "esquerda católica" investe contra toda a ordem sócio-econômica vigente. Com gáudio , é bem claro, do PC, do PC do B, e de todo gênero de socialistas, utopistas ou terroristas . O mais curioso é que, assim procedendo , a "esquerda católica" não hesita em afirmar que tenta introduzir entre os homens a plena vigência dos princípios de igualdade e fraternidade , os quais , se olhados de certo ângulo , perdem o espírito subversivo que lhes deu a Revolução Francesa. Ora, é precisamente o contrário que se dá . Com sua justiça social falha de matizes, descabelada e agressiva, a "esquerda católica" não faz senão introduzir a escravidão entre os homens. Vamos aos fatos. Até aqui se considerou como atributo essencial do homem livre a escolha da profissão. E do lugar, bem como das condições em que essa profissão se haja de exercr. r. Consideremos, entretanto, uma região sertaneja para onde tenham afluído muitos desbravadores. Ali faltam médicos. E de vez em quando alguém morre à míngua de tratamento . Ou ali faltam casas razoáveis, pois não há engenheiros nem mestres-de-obra. Ou, enfim, ali pululam os crimes, porque falta m advogados que promovam a defesa dos direitos genuínos. Nas

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regiões vizinhasJ pelo contrário, há fa rtura de médicos, ad vogados e engenheiros. Em consequência, dá-se um choque entre o direito à vida, à moradia condigna e à segurança pessoal do sertanejo_, de um lado, e de outro lado o direito dos médicos, advogados e engenheiros de exercerem sua profissão onde entendam. Repete-se a situação conflitual entre A e B descrita no começo deste artigo . · · Ora, não é só ao direito de propriedade que toca uma função social, mas a todo direito humano. Logo, a raciocinar simplística e demagogicamente sobre o assunto, caberia aos sertanejos exigir que os ditos facultativos se transladassem para o seu sertão. O que daria forçosamente no direito, pa ra o Poder público, de requisitar os facultativos que entendesse, e mandá-los - pobres mujiques intelectuais - para onde fossem designados. Mas, bem analisadas as coisas, não seria difícil descobrir cem outras situações análogas: dentistas, donos de aparelhos de radiografia, de laboratórios de análise, de hospitais, de empresas de recreação (não é também esta indispensável à vida humana?), professores etc. Tudo isto podia ser agarrado com pinça nas partes "privilegiadas" das grandes cidades, para ser redistribuído pelos bairros, ou pinçado indistintamente nestas últimas, para ser atirado por esses sertões imensos do Brasil, ao encalço dos desbravadores, onde quer que essses se atirassem à busca de riquezas .. . para si mesmos. Mais ainda. Se o afluxo de candidatos a certa profissão indispensável baixasse no País, o Estado teria o direito de promover nas escolas secundárias os inquéritos adequados para discernir as pobres crianças que tivessem jeito para elas, e obrigá-las a seguir essa profissão, até contra o gosto delas e dos pais: função social.

• • • A função social, assim simplística e demagogicamente entendida, promete liberdade e igualdade. E cria uma nova classe de mujiques, de escravos no estilo da Rússia comunista. " Função social, função social, de quantas injustiças e até de quantos crimes vai sendo ameaçado, em teu nome todo o Brasil" - tenho vontade de exclamar, quand~ penso em tudo isto!

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PC, desde Base

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FAMÍLIA de José Pedro da Silva, originária de Minas Gerais, era muito religiosa. Ele próprio, aos 14 anos, entrou para a Congregação Mariana, no Norte do Paraná, onde moravam. Quando tinha 19 anos, Zé Pedro veio com a família para São Paulo. Algum tempo depois, em 1968, entrou para a Comunidade de Base de Vila Yolanda, em Osasco, município fabril da Grande São Pl.'ulo, dirigida por uma equipe de padresoperários franceses, Jiderada pelo Pe. Dominique Barbé. A partir daí, sua vida mudou.

Zé Pedro começou a se desinibir, a se politizar e a se encaminhar para a militância sindical. Em 1974 Zé Pedro foi eleito vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco. Mas, em pouco tempo, se incompatibilizou com seus companheiros de Diretoria e passou a militar na Oposição sindical, tornando-se seu elemento de maior destaque. A história de Zé Pedro ilustra bem o papel das Comunidades de Base no novo sindicalismo que vem surgindo no País, desde fins dá década de 60: um sindicalismo politizado e de inspiração religiosa, animado pela Teologia da Libertação.

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"Zé Pedro"

Novas lideranças surgidas nas paróquias Esse novo movimento sindical, segundo uma publicação dos Padres Jesuítas, surgiu e se desenvolveu numa semiclandestinidade, no período de repressão e de intervenção nos sindicatos, que se seguiu às greves de Osasco e Contagem (MG) em 1968, a partir de grupos de base quase sempre ligados às comunidades e paróquias operárias. As Pastorais do Mundo do Trabalho, ou simplesmente Pastorais Operárias, foram apontadas como os mais fortes canais que substituíram os sindicatos na formação política dos operários na época aludida: foram as reuniões nas paróquias à noite ou nos fins de semana que formaram os novos líderes que agora voltam aos sindicatos. Muito a propósito, a revista "Isto é" (de centroesquerda e, por isso mesmo , insuspeita) comenta que a Igreja substituiu os partidos po~íticos legais e ilegais - na mobilização dos trabalhadores. Cita o boletim então clandestino "Voz Operária" , no qual o Partido Comunista Brasileiro constatava sua falta de penetração entre os trabalha-

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As CEBs ... das quais muito se fa la. pouco se conhece -

A TFP as descreve com o são

dores: '1Devemos] encontrar formas e meios de

romper a barreira que nos separa de nossa base social: a massa trabalhadora e a classe operária ". Conclui "Isto é": "Nem PC. nem A rena, nem M DB, portanto. Mas há um organismo poderoso atuando junto aos meios operários desde 1968: a Igreja Católica". A revista resume bem a realidade: o Partido Comunista desgastou-se inteiramente em sua ação junto a o operariado, e os pa rtidos legais então existentes não conseguiram se nsibilizá-lo (como, de resto , ocorre também com os atuais), mas foram substituídos por organismos que a tua m em nome da Igreja - força muito ma is pod erosa que os pa rtidos e a única ca paz de fazer moverem-se os brasileiros - operários ou não - numa direção que lhes repugna. Seus membros mais dinâ micos aproveitam-se das altas posições que ocupam , para promoverem - em nome dela - a demolição da sociedade atual e sua substituição por um socialismo indefinido, que cada vez mais vai assumindo o colorido róseo tendente ao rubro do regime autogestionário do Partido Socialista Francês de M.itterrand. E seu instrumento para isso são as Pastorais Operárias que, por meio das Comunidades Eclesiais de B_ase, atingem o trabalhador e sua família na fábrica, na paróquia, no bairro. Com efeito: uma vez que o recrutamento dos membros das CEBs na zona urbana se faz sobretudo entre os operários da "periferia", era inevitável que, eles, uma vez conscientizados, procurassem influir no meio operário. A maneira mais natural de influírem nesse ambiente é certamente a militância sindical, para a qual se acham preparados pela própria vida interna das CEBs, como também pela sua atuação externa, de mobilização, reivindicação e protesto. Muitos deles, ademais, foram treinados em técnicas de liderança, de atua-

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ção em conjunto, de din â mica de grupo e outras. Tal treinamento dá-lhes condições não só de influir nas decisões das assembléias gremiais, mas até mesmo de virem a domina r os si ndicatos onde, até há bem pouco tempo , os únicos militantes organizados e adestrados eram os comunistas .

"Pollticos na leitura do Evangelho, religiosos na luta sindical" É tão notória a presença do Clero esquerdista e das Comunidades de Base no movimento sindical que muitos se perguntaram se esse Clero não teria uma estratégia para dominar os sindicatos. D. Tomás Balduino, Bispo de Goiás Velho, por ocasião do 3.0 Encontro Nacional de CEBs (João Pessoa, 1978), tentou negar a existência de qualquer plano nesse sentido, mas seu desmentido não convenceu: ele afirmou que o pessoal ligado ao Clero entrava espontaneamente para os sindicatos ... Entretanto, D . Tomás reconhece - e isso é de suma importância - que esse pessoal se engajou na militância sindical em conseqüência de uma motivação religiosa, inspirada pela Teologia da Libertação: "Assim como eles eram políticos na

leitura do Evangelho, eles se tornam religiosos na luta sindical". Essa nota religiosa é que marca a militância dos membros das CEBs, tanto nos sindicatos como na oposição sindical, do mesmo modo que nas greves inspiradas ou sustentadas por elas.

Sindicalização consclentlzadora Etapa da estratégia empregada pela:; CEBs para dominar os sindicatos, ou pelo menos fortalecer a própria posição dentro deles, é a intensa campanha de sindicalização promovida pelos seus


Capitulo Ili -

Parle li

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Sindicalistas ligados às CEBs de São Paulo Waldemar Rossi

ENTRE OS líderes sindicais mais atuantes ligados às CEBs e à Pastoral Operária na região de São Paulo, podem ser citados José Pedro da Silva, o "Zé Pedro", de Osasco; Anísio de Oliveira, membro da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo e candidato da Chapa 3 de Oposição à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1978; o malogrado Santo Dias da Silva, candidato à vicepresidência na mesma chapa, igualmente da Pastoral Operária, agente pastoral e coordenador da Comunidade de Base de Santa Margarida (Vila Remo), além de representante operário na CNBB (morto em 1979 num confronto entre piquete grevista e policiais); Aurélio Pérez, ex-seminarista, formador de inúmeras Comunidades de Base na Zona Sul de São Paulo e foi eleito por elas deputado federal pelo antigo

membros, não só ingressando eles mesmos nos respectivos sindicatos, mas levando a isso seus parentes, vizinhos e companheiros de serviço. Tal campanha - além da vantagem óbvia de aumentar os próprios contingentes para eventuais disputas eleitorais - oferece aos membros das CEBs ocasião de se porem em contato com larga parcela do operariado, ampliando por esse modo seu raio de influência. A campanha apresenta um caráter conscientizador, uma vez que procura fazer com que os

MDB, hoje no PMDB; um dos fundadores do Movimento do Custo de Vida (atual Movimento Contra a Carestia - MCC) e candidato derrotado à presidência do Sindicato dos Metalúrg1cos de São Paulo em 1981, ao que consta, com o apoio do PC do B; Waldemar Rossi, o qual , poucos meses depois de saudar João Paulo II em nome dos operários brasileiros, fez campanha para eleições sindicais com o apoio ostensivo do ex-secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, Luís Carlos Prestes; Caetano Matanó; Santo Conte; Hélio Bombardi; Fernando do ó, e outros (cfr. "SEDOC", outubro 1978, cols. 360-362; "Brasil Reportagem", Ano l , n.0 2, 1979, pp. 36-7; "O Estado de S. Paulo", 31-10-79 e 25-7-81 ; "Isto é", 16-9-81, p. 22; "Jornal do Brasil", 14-7-81; "Folha de S. Paulo", 25-7-81).

trabalhadores se associem ao sindicato, tendo em vista não tanto os benefícios previdenciários, sociais e recreativos, mas a "participação na luta por conquistas reais para toda a classe" - conforme se lê no relatório da Comunidade de Santa Margarida (Vila Remo, São Paulo).

Uma nova oposição sindical A Pastoral Operária vem criando, por meio das Comunidades de Base, um novo tipo de

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As CEBs ... das quais muito se fa la, pouco se conhece -

A TFP as descreve com o são

Um novo sindicalismo, animado pela Teologia da Libertação ... Assembléia de metalúrgicos em greve na Igreja Matriz de SIio Bernardo do Campo-SP, em 1980.

oposição sindical. Oposição aos sindicatos de tipo "assistencialista" ou "pelego" (como chamam, em geral, os sindicatos que aceitam a política oficial, como também aqueles que não se empenham muito a fundo na luta de classes, ou são apenas moderados). Oposição de caráter doutrinário, religioso. Até então, as oposições sindicais visavam diretamente a conquista dos postos de direção das entidades de classe. Tinham, pois, um caráter

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quase exclusivamente eleitoral, com duração efêmera, dissolvendo-se ao término dos pleitos sindicais. A nova oposição sindical, inspirada pelas CEBs-Pastoral Operária, ao contrário, tem por objetivo não apenas ganhar eleições, m;is sobretudo conscientizar os trabalhadores, infundir-lhes uma nova mentalidade, convencê-los de que não basta lutar por melhores salários e melhores condições de trabalho, mas que é preciso suprimir o


Capítulo Ili -

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próprio sistema capitalista, apontado como a causa de todos os males da classe operária e dos pobres em geral. Por conseguinte, a nova oposição sindical não tem o caráter transitório das anteriores, e não se esgota com o processo eleitoral: continua ativa, à maneira de um sindicato paralelo. Assim, as CEBs-Pastoral Operária costumam lançar chapas de oposição a eleições sindicais ainda quando não têm a menor possibilidade de vitória. Ê que a campanha eleitoral constitui uma importante ocasião para o seu trabalho de arregimentação de novos adeptos e, sobretudo, de conscientização dos operários. Além do que, o simples fato de seus membros disputarem cargos eletivos confere-lhes estabilidade no emprego, em virtude da legislação vigente, o que lhes permite continuar impunemente seu trabalho de agitação nas fábricas.

Mobilização de toda a familia Essa atuação no interior das fábricas é meticulosa e procura mobilizar os operários por meio de "pequenas lutas", contra "irregularidades" internas de cada indústria, que vão desde problemas de refeitório, instalações sanitárias etc., até à luta por melhorias salariais, passando pelas reivindicações em torno da assistência e convênios médicos. Vale a pena conhecer as táticas utilizadas, conforme o relatório da Comunidade de Santa Margarida: "Nesse trabalho de articulação e de pequenas lutas, todos os métodos possíveis foram usados. Desde a conversa ao pé da máquina ou no banheiro, até à distribuição de boletins e a convocação de encontros maiores, a pesquisa de opinião que resultou na história em quadrinhos chamada Zé Marmita".

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As CEBs-Pastoral Operária têm promovido, ainda , nos bairros, a articulação de trabalhadores de fábricas diversas, fora da estrutura sindical, em grupos chamados "interfábricas", para a sua conscientização. As eleições sindicais, como já foi dito, são excelente ocasião de conscientização, não só dos membros das CEBs e de seus colegas de trabalho , mas também das famílias dos trabalhadores; as Comunidades mobilizam nessas campanhas todo o mundo que podem: mulheres, velhos, jovens e até crianças. Desse modo, pessoas que não estão diretamente envolvidas nas lutas sindicais e que são, até, refratárias a tal tipo de atividade, acabam participando delas pela motivação religiosa que as CEBs lhes conferem.

Expulsar os "vendilhões" do ... Sindicato A motivação religiosa da nova oposição sindical é bem ilustrada por uma passagem do já citado relatório da Pastoral Operária da Comunidade de Santa Margarida para o 3.0 Encontro nacional. Ao tratar do item "oposição sindical", o relatório cita o Evangelho de São Lucas: "Entrando no Templo [Jesus], começou a expulsar os vendedores e compradores, dizendo: 'Minha casa é casa de oração. Vós porém a haveis convertido em covil de ladrões' (Lc. 9, 45-46)". O Templo, no caso, é o Sindicato, dominado pelos "pelegos", os "vendilhões" que devem ser expulsos com o açoite ...

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Referências: PE. D. 8ARB~, e/ futuro, las Comu:1idades de Base, Studium, Madrid , 1974; CEDAC, Perspe,::tiva!i do novo sindicalism o, Apresentação de José Ibrahin, Edições : .oyolaCEDAC, 1980, pp. 33-37; "O São Paulo", 18-2-78 e 29-7-78; "Folhetim", 28-1-79; "Isto é", 3-5-78, p. 20 ss.; Relatório da Comunidade de Santa Margarida, in "SEDOC", outubro 1978, cais. 356. 357 , 358 e 261.

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GREVE dos metalúrgicos do ABC em 1980 teve tal duração e revelou tal organização, politização e radicalização - com aspectos de ilegalidade e turbulência estranhos à índole ordeira e tranqüila do povo brasileiro - que muitos se perguntaram que fator novo estaria interferindo no meio operário-sindical. Durante os dias mesmos daquela greve, o então secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, Luis .Carlos Prestes, depois de elogiar Lula, admitiu que _a Igreja, "uma das piores adversárias" do PC até 1964, "hoje está em comunhão" com os comunistas, "na medida em que seus representantes apoiarem a greve dos metalúrgicos". Em muito e muito la_rga medida, então, cabe observar, uma vez que à época o apoio do Clero progressista à greve metalúrgica foi total. Não foi esta a primeira vez (nem a última) que o velho dirigente comunista fez alusões a uma aliança pelo menos tácita entre a Igreja e o Partido Comunista, sem ter sido jamais desmentido de modo convincente e irretorquível, ou provocar a indignação que a hipótese deveria suscitar nos meios eclesiásticos. - Teria havido uma aliança efetiva entre setores esquerdistas do Clero e comunistas, em torno daquelas greves do ABC?

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A presença de Bispos e Padres no movimento grevista foi notória. Por outro lado, houve inúmeras denúncias de infiltração comunista nas greves, por parte de autoridades civis, policiais e militares. - Haveria razões doutrinárias que justificassem tal aliança? Se se tiver em conta que os agentes pastorais, Padres e Bispos com participação ativa naquelas greves, são seguidores da chamada Teologia da Libertação, não seria difícil encontrar razões de caráter doutrinário para justificar semelhante aliança. Pois foi justamente em nome da "opção pelos pobres" e da "libertação dos oprimidos" - princípios básicos da TL - que o Clero em questão assumiu as greves do ABC em 1980. Assim, independentemente de qualquer eventual aliança de fato que possa ter havido entre setores esquerdistas do Clero e esta ou aquela corrente comunista, a realidade é que tú, eclesiásticos, in concreto, constituíram-se, mutu proprio e sem conchavos, em aliados objetivos do comunismo internacional, uma vez que seus princípios doutrinários e as atitudes práticas deles decorrentes conduzem a uma identidade de metas e fins últimos com o comunismo: a destruição das atuais


Capilulo III -

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estruturas soc1a1s, a eliminação da propriedade privada e a implantação de um regime socialista. E o principal instrumento do Clero esquerdista nessa atuação têm sido as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs.

"As greves não calram do céu" As greves de 1978-1979-1980 não podem ser tomadas separadamente, como se uma não tivesse relação com a outra. Ao contrário, elas constituem um processo reivindicatório único (inserido no processo político); no qual o elemento de longe mais ativo, o que empenhou de modo mais decisivo seu apoio - moral, material e de recursos humanos - foi, sem dúvida, o Clero progressista. Essas greves, entretanto, "não caíram do céu como o maná no deserto", conforme acentua o relatório da Comunidade de Santa Margarida; elas foram, ao contrário, o "resultado de um lento,

paciente e teimoso trabalho de base". No que se refere às greves dos metalúrgicos do ABC em 1980, esse "longo, paciente e teimoso trabalho de base" pode ser acompanhado pelas páginas de "O São Paulo", semanário da Arquidjocese paulopolitana. A preparação começou meses antes da abertura do dissídio, em março daquele ano, em reuniões da Pastoral Operária de São Paulo.

A Pastoral OperAria planeja, as CEBs executam ... Já em 2 de dezembro do ano anterior ( 1979), militantes e agentes de vários grupos e pastorais puseram-se a estudar um boletim da Pastoral Operária da Região Episcopal Leste-2 da Arquidiocese de São Paulo, que propunha, entre outros,

No ABC, os sindicalistas pertencem às CEBs. Mas não vivem dizendo ...

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VÉSPERA da eclosão do movimento paredista, Frei Beto - tido e havido como o principal articulador das CEBs em nível nacional - declarou: "Existe todo um vínculo entre

a maioria dos trabalhadores e a Igreja, pois eles participam de comunidades de base, da pastoral operária, freqüentam as igrejas, encontram nas capelas e templos de seus bairros seus locais habituais de reunião . .... No ABC, a Pastoral Operária e a Ação Católica Operária procuram sistematizar mais essa presença do trabalhador na Igreja e dela entre os trabalhadores. Esse trabalho se dá permanentemente na área, mas se torna evidente em momentos de crise como este quando toda a infraestrutura da Igreja é acionada pelos próprios trabalhadores que participam das comunidades de base . .... Os militantes sindicais são membros das comunidades de base de suas paróquias, mas não vivem declarando isto o tempo todo" ... ("Companheiro", 7-5-80).

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BOLETIM

COMISSÃO NACIONAL DE PASTORAL OPERÁR IA

os seguintes pontos: "Organizar o fundo de greve permanente"; "aproveitar de todos os movimentos religiosos e de bairro para propagar e levantar as lutas, como por exemplo missa do trabalhador, novena de Natal; movimentos de reivindicação de água, luz ... "; "reforçar os comandos e reuniões interfábricas" e "continuar criando e incentivando os grupos de apoio". Para todas essas tarefas , os militantes das CEBs e das Pastorais deviam "procurar conhecer as pessoas mais combativas nos bairros, nas fábricas".. . No dia 20 de janeiro de 1980, os mesmos grupos reuniram-se em São Miguel Paulista ( onde residem muitos operários do ABC), para debater esses pontos. Em 9 de março , toda a Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo reuniu-se no Colégio Arquidiocesano para fazer uma avaliação do movimento operário no ano anterior e traçar as metas para 1980. Chegou-se à conclusão de que embora a greve de 1979 não tivesse alcançado resultados positivos no aspecto econômico, ela representou um avanço político. Em 15 de março a Pastoral Operária volta a reunir-se em São Miguel Paulista . Tudo é pensado e programado. Fixam-se metas e distribuem-se tarefas: "Engajar os grupos de Igreja em apoio concreto ao Movimento Operário: clubes de mães, grupos de ruas, direitos humanos, jovens etc."; "apoio às greves através dos grupos de Igreja"; 'formação de um fundo de apoio permanente (formar uma equipe de finanças com representantes de várias pastorais)". Não se podia desejar preparação mais minuciosa dos meios operários com vistas às greves programadas. E só a estrutura eclesiástica dispunha de recursos para tal. É, aliás, o que afirma um dos articuladores de toda essa mobilização, D. Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São

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CONCLAT PELA UNIÃO DOS TRABALHADORES

FIAT DO RIO Greve contra desemprego CEBS

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POLÍTICA METALÚRGICOS DE RECIFE

Também em nível nacional é íntima a conexão entre as CEBs e a Pastoral Operária . - Boletim da Comissão Nacional de Pastoral Operária, da CNBB, publicado em Volta Redonda, sob os auspícios de D . Valdir Calheiros, um dos próceres nacionais das Comunidades Eclesiais de Base .

Paulo, responsável pela Pastoral Operária: "Não existe uma entidade como a Igreja que vá à base para o trabalho, pega o homem realmente onde ele está, nos bairros, na roça, no interior da Amazônia". No que lhe assiste toda razão ...

"Sofisticada engrenagem organizacional" Um comentarista observou que a referida greve dos metalúrgicos do ABC só foi possível graças a uma "sofisticada engrenagem organizacional" que prescindia não somente da sede do sindicato, mas do próprio Lula. "Sofisticada engrenagem" que tinha como eixo a Pastoral Operária e o movimento das Comunidades Eclesiais de Base.


Capítulo Ili -

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Tal realidade foi reconhecida pelo principal articulador dessas greves, Frei Beto, o qual afirmou que a maioria dos trabalhadores e militantes sindicais participa das Comunidades de Base e da Pastoral Operária de suas paróquias, embora não o declarem ... O próprio coordenador das CEBs do ABC, Astrogildo Cândido de Souza, declarou que estas atuaram diretamente na organização dos metalúrgicos. Astrogildo disse que os núcleos de seu bairro, na Vila Homero Thon, em Santo André, se dividiam de modo a que cada membro ficasse com a tarefa de chamar para reuniões nas paróquias os metalúrgicos de determinada rua, convocando-os à sustentação do movimento. Aí aparecem em plena atividade os famosos grupos de rua, mencionados na descrição do movimento. Tarefa semelhante desempenharam as oito Comunidades de Base da Vila Palmares: qualquer comunicação do comando grevista era encaminhada aos "representantes de setor", os quais a passavam a "representantes de rua", e estes, por sua vez, iam de casa em casa transmitindo a palavra-de-ordem. Coube às CEBs papel destacado na arrecadação de mantimentos para o Fundo de Greve, através de "mutirão nas ruas" e, também da organização de chás beneficentes. De grande importância foi a atuação das comissões de visita cuja principal função era convencer as mulheres dos metalúrgicos a terem maior participação na greve.

o 'piquete'

mais poderoso e inatacãvel

Nos próprios piquetes, a participação das Comunidades de Base foi intensa. O mesmo coordenador delas no ABC, Astrogildo Cândido de Souza (ele próprio motorista de transporte esco-

li

lar), declarou que os membros das CEBs - "embora nem todos fossem metalúrgicos" - participavam dos piquetes, saindo às 4 horas da manhã para os pontos de ônibus e portas de fábricas, num esforço de conscientização. Em São Miguel, na Zona Leste de São Paulo, era nas reuniões diárias das comunidades que se preparavam os piquetes que na manhã seguinte iriam interceptar os ônibus das empresas e convencer os mais vacilantes ... O Movimento Contra a Carestia - MCC constituiu-se num dos principais "grupos de apoio" aos grevistas, tendo sido uma das entidades organizadoras do "1. 0 de Maio Unificado", que levou ao ABC gente de toda a Grande São Paulo, num apoio farfalhante ao movimento paredista. Ademais, parti-::ipou ativamente da coleta de dinheiro e gêneros para o Fundo de Greve. Em suma, a Pastoral Operária, as CEBs e demais organismos e entidades a elas vinculados constituíram-se naquilo que um semanário marxista denominou - com muita propriedade - "o 'piquete' mais poderoso e inatacável de que os operários dispõem".

MIiitantes das CEBs na "Comissão dos 400 lulas" Como já foi ressaltado, a greve dos metalúrgicos do ABC em 1980 foi planejada de tal forma que prescindisse não somente da sede do Sindicato, mas do próprio Lula e demais dirigentes da entidade: foi montado uma espécie de comando dirigente, o qual começou a funcionar antes mesmo da eclosão da greve, a Comissão de Salárioí- e Mobilização. Essa comissão (apelidada, com espírito, de "Comissão dos 400 lulas") era composta por 480 metalúrgicos - 430 homens e 50 mulheres. Foram

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Logo no inicio da greve doa m etalúrgicos do ABC em 1980, Frei Betto passou a seguinte palavra-de-ordem:

"No caso de intervençlo nos sindie11tos, os metalúrgicos poderio usar as igrejas, i' destae11das para isso. E se 11 pollcia tentar 'intervir' nas p aróquias, por exemplo, cercando 11s praças. esta,, configurado um 'estado de represslo à Igreja neste pais"' ("O Slo Paulo". 6-4-80).

necessárias 215 reuniões, durante três meses (de fins de novembro a começo de março), para a sua formação . Dela faziam parte desde novatos sem nenhuma experiência anterior, até velhas raposas do sindicalismo dos anos 60; alguns conhecidos ativistas do Sindicato, como "Alemão", "Osmarzinho"; dois ou três ex-estudantes há muito integrados como operários em São Bernardo; e, finalmente, "inúmeros líderes operários formados nos movimentos religiosos de base da regiio".

Um assessor multo especial: Frei Beto "Valeu muito a ajuda de Frei Beto, o dominicano que divulga e coordena trabalhos das comunidades eclesiais de base em São Paulo, hoje uma espécie de assessor e escudeiro de Lula" informa um semanário socialista.

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Foi Fréi Beto quem orientou a "Comissão dos 400 lulas"; foi ele quem dividiu o trabalho em subcomissões, "para evitar que todos discutissem tudo sem ter nenhuma tarefa concreta"; ele ainda quem deu a idéia de substituir uma parte das reuniões gerais por reuniões de subgrupos de 8 a 10 operários, cada um com tarefas específicas (segurança do palanque do Estádio de Vila Euclides, preparação de lanches, distribuição de folhetos e informações, programação do "trabalho de persuasão dos fura-greve para o dia seguinte"). Graças a esta estratégia, as fastidiosas assembléias gerais no Estádio, nas quais se revezavam os sindicalistas profissionais, foram substituídas por miniassembléias de trabalhadores, divididos por fábricas e dirigidas por membros da Comissão. A participação de Frei Beto no movimento grevista do A.BC foi bem focalizada pelo jornalista José Nuemanne Pinto, e vale a pena transcrever suas palavras: "Frei Beto tornou-se uma espécie de eminên-' eia parda da greve. Amigo pessoal e homem de confiança de Lula, passou a morar com o líder operário em sua casa, no Jardim Assunção, em São Bernardo do Campo. Frei Beto é conhecido por suas instruções táticas e, segundo um militante sindical. 'é ele quem empurra Lula para a frente, na hora em que os pessimistas vêm com seus conselhos negativos e suas lamentações' ". · Outras publicações confirmam essa apreciação, ao mencionar frases que se teriam ouvido aqui e ali: "Lula deu para seguir os conselhos de um padre ex-terrorista" ou "Lula está sendo asses~ sorado por radicais". Alusões evidentes ao fato de Frei Beto ter sido condenado à prisão por envolvimento na guerrilha urbana de Carlos Marighela, que ensanguentou o País nos últimos anos da década de 60.


Capítulo III -

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"Guerra contra os patrões" A greve dos metalúrgicos de São Bernardo e Santo André, declarada ilegal por Tribunal competente, foi mais do que uma greve reivindicatória. Essa greve desfechou numa "declaração de guerra ao patronato e ao governo", numa "verdadeira guerra contra os patrões", como acentuaram dois jornais de esquerda. Em plena matriz de São Bernardo, na última assembléia grevista, foi lida essa "declaração de guerra", contida num boletim distribuído pela diretoria deposta do sindicato metalúrgico e pela Comissão de Salários e Mobilização: "Que os patrões e o governo saibam: atrás de cada máquina terão um trabalhador em guerra; .... a guerra continua porque em nosso coração e em nossa alma carregamos a ira dos justos e a eterna sede de justiça". Isso significa: "Nenhuma hora extra, marcha lenta, reduzir a produção, esculhambar a qualidade, companheiro demitido, máquinas paradas até a readmissão". As palavras do último orador da assembléia, Wagner Lino Alves, membro da "Comissão dos 400 lulas", indicam o clima no qual essa guerra seria conduzida: "Amanhã, quando entrarem nas fábricas, vocês devem deixar o amor na porta. Dentro do coração de cada trabalhador o que vai existir é o ódio ".

"Uma greve polltlca, sim Senhor" Durante a greve, o aspecto político da mesma foi bem ressaltado. Numa reportagem intitulada Uma greve política, sim Senhor, o jornalista Ivan Valente salienta o conteúdo político das reivindicações dos metalúrgicos do ABC. De fiito, um

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Na " Missa de Páscoa dos Trabalhadores", celebrada durante as greves de 1980, o Bispo de Santo André, D . Cléudio Hummes, relacionou as reivindicações dos metalúrgicos com a primeira Péscoa, a "libertação dos

judeus de escravidão do Egito".

comunicado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, do início de abril, dizia que a greve continuava "não só pelas reivindicações econômicas, mas sobretudo pelas garantias sociais, principalmente a estabilidade no emprego". Na realidade, desde o início, esta greve tinha por objetivo o fortalecimento sindical, como deixa claro um folheto distribuído pelos sindicatos metalúrgicos, antes mesmo de começarem as negociações. Entre as 25 reivindicações apresentadas um mês antes da deflagração da greve, algumas são de

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caráter eminentemente político, numa linha autogestionária: "livre acesso dos dirigentes sindicais às indústrias, para verificar as condições de trabalho"; ,;controle de chefias, isto é, o direito dos trabalhadores punirem as chefias injustas e, a cada seis m eses, manifestarem-se sobre o comportamento de seus chefes, com a substituição daqueles cujo comportamento não for aprovado pelos trabalhadores". Outra reivindicação era a do delegado sindical gozando de estabilidade; os operários exigiam ainda que as empresas só poderiam dispensa r os trabalhadores por motivo de crise fin anceira ou técnica. Mesmo assim, em primeiro luga r seriam dispensados os empregados que estivessem interessados em sair da empresa, depois os de menores encargos familiares , e assim por diante. Ou seja, as empresas não podiam punir com a demissão os agitadores político-sociais, os quais ficariam assim livres para tumultuar o funcionamento das fábricas. O controle das chefias pelos operários, com a possibilidade de punir seus chefes e até mesmo de afastá-los do cargo, bem como o controle da demissão dos empregados, representam os passos iniciais para o estabelecimento da ditadura autogestionária (como na França de Mitterrand), colocando as empresas à mercê das minorias politizadas dos militantes das Comunidades de Base e dos sindicatos.

Uma greve "libertadora" O caráter religioso , que caracteriza o novo sindicalismo das CEBs, esteve presente nas greves dos metalúrgicos do ABC em 1978-1980. Foi ele acentuado não somente pela transformação das Igrejas em centros grevistas e locais de assem-

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Lula o Dom Paulo E11or1i.. 10 Arn:. sv encon1,a1om na semana PIUS.Jda du · ran te um debate promo~1do polo 1om a1

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bléias, pelo apoio decidido da CNBB e de prelados como D. Cláudio Hummes, Bispo de Santo André e do Cardeal Arns e seus Bispos auxiliares, mas sobretudo pela filo sofia que insp;rou o movimento. Em plena greve de 1980, foi celebrada no Estádio de Vila Euclides (São Bernardo), uma "Missa de Páscoa dos Trabalhadores", durante a


Cap itulo Ili -

li

poderosos, mas organizou o seu povo e conseguiu derrotar o faraó. Cada um de vocês deve ser um Moisés com a missão de libertar os trabalhadores".

Em entrevista posterior, o Bispo de Santo André enveredou mais claramente pelas vias da Teologia da Libertação, aceitando a concepção marxista do "proletariado-redentor" (ver reportagem sobre a Teologia da Libertação) e o papel dirigente do "povo organizado". D. Cláudio afirmou que a Igreja do ABC queria ser fiel à "opção preferencial pelos pobres", e acrescentou: "Dentro desse contexto de Puebla, a Igreja pretende ser uma Igreja que está presente no meio do povo, e evidentemente, daquela parte do povo que é mais organizada, a parte do povo que mais tem possibilidades de cumprir um papel histórico em nome de todos: a tarefa histórica de mudança das atuais estruturas da nossa sociedade, onde há injustiça, opressão e corrupção . .... E a parte já mais organizada deste povo é que leva a luta da construção de um mundo novo. E o resto do povo, que ainda não conseguiu se organizar, deve ser conscientizado a apoiar a parte mais organizada". Suas palavras ganham em significação se comparadas com a seguinte afirmação de Lênin: "Só uma classe, exatamente os operários industriais urbanos e fabris em geral, têm condições para dirigir toda a massa de trabalhadores e explorados na luta para derrubar o jugo do capital". qual D. Cláudio Hummes relacionou à "primeira Páscoa", a "libertação dos judeus da escravidão do Egito" com as reivindicações dos metalúrgicos do ABC. Dias depois, em assembléia grevista na Matriz de São Bernardo do Campo, D. Cláudio Hummes retomou a comparação entre os judeus oprimidos e os operários grevistas: "Moisés incomodou os

Sob o signo da Revolução da Nicarãgua A greve de 41 dias dos metalúrgicos do ABC foi conduzida, como se viu, com o pseudo-misticismo religioso, que impregna o novo sindicalismo promovido pelas Comunidades Eclesiais de Base,

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As CEBs ... das quais muito se fala. pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

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Em 28 de fevereiro de 1980 realizou -se no teatro da PUC paulistana a "Noite Sandinista", com a presença de chefes da guerrilha nicaragüense. Frei Bato, Lula, sindicalistas e membros de CEBs reuniram-se naqueles dias, a portas fechadas, com os dirigentes sandinistas. Um mês depois, eclodiam as greves .. . - Nicarágua, apenas o começo?

alimentadas pela Teologia da Libertação. Mais precisamente, pela TL posta em prática. Ora, segundo o semanário da Arquidiocese de São f>aulo , "a expressão mais alta da prática concreta da Teologia da Libertação" foi a Revolução Sandinista da Nicarágua ... Cerca de um mês antes da eclosão do movimento grevista do ABC, reuniu-se em Taboão da

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Serra-SP o 4.° Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, com a participação dos principais representantes mundiais da Teologia da Libertação, tendo por tema a "Eclesiologia das Comunidades Eclesiais de Base". TL e CEBs reunidas num mesmo encontro, portanto . Coincidência ou não, o coordenador desse congresso não foi 'outro senão o já por demais referido Frei Beto ... A grande atração do Congresso de Taboão da Serra foi a delegação da Nicarágua, da qual faziam parte destacadas figuras da Frente Sandinista de Libertação e membros de Comunidades de Base. O "caso da Nicarágua" foi apresentado como paradigma para a ação "libertadora" das Comunidades Eclesiais de Base ... Paralelamente ao Congresso, realizou-se uma Semana de Teologia, com sessões no Teatro da Universidade Católica - TUCA, destinadas especialmente aos membros das CEBs paulistanas. Em uma dessas sessões, a "Noite Sandinista" (presidida pelo mesmo Frei Beto), Socorro Guerrero integrante de uma Comunidade de Base de Manágua e do dispositivo de sustentação da guerrilha concitou (sob aplausos) os militantes das CEBs brasileiras a seguirem o exemplo das de seu país, as quais se engajaram na insurreição armada para derrubar o capitalismo, "o diabo da Bíblia", segundo suas palavras (1). No encerramento dessa Semana de Teologia, o Cardeal Arns tomou a palavra: - "Como concluir? - perguntou. Não há conclusão. A coisa apenas começou ... .... Vejam esta pergunta: Chega (1) A TFP promoveu larga difusão do número de "Catolicismo" contendo ampla reportage m fotográfi ca, bem como o texto de todos os pronunciamentos dos oradores da "Noite Sandinista", comentados pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira (cfr. "Catolicismo", julho-agosto 1980).


Capítulo Ili -

Parte II

de teo logia e vamos à pra11ca: onde estão os grupos que vão para a Nicarágua, para aprender? Eu respondo: Sei que, em São Paulo, há grupos se preparando e de malas p rontas para partir. Até com a permissão do A rcebispo de São Paulo ... " Mas não foi preciso ir até a Nicarágua para aprender: naqueles dias mesmo, o comandante Daniel Ortega, um dos principais chefes guerrilheiros e membro da Junta de Governo , e o Pe. Miguel D'Escoto, chanceler, ambos presentes em Taboão, reuniram-se a portas fechadas com "representantes dos movimentos de base da Igreja na periferia" (CEBs), das Pastorais da Arquidiocese, e ... o Sr. Luís Inacio da Silva, "Lula", além de outros dirigentes do PT. O Cardeal tii,ha razão: a "coisa" parece que tinha apenas começado .. . Com efeito, menos de um mês depois eclodia a greve "libertadora" do ABC, sob a conduta ostensiva de Lula (e a velada de Frei Beto) e com as bênçãos do Sr. Cardeal-Arcebispo de São Paulo ... Referências: "O Estado de S. Paulo", 20-3, 22-4, 26-4 e 6-5-80; "Jornal do Brasil", 21-4 e 22-4-80; CARLOS CASTELLO BRANCO, Substituem-se os p ersonagens, "Jornal do Brasil" - "Colun a do Castello", 23-4-80; "O Dia", Ri o de J a neiro, 20-4-80: "Folh a da Tarde", São Paul o, 1-5-80; "SEDOC", outubro 1978, cols. 355-363; "O São Paulo", 18-1 , 2-5, 7-3, 14-3, 23-3 e 11-4-80; " Compa nheiro", 27-2, 9-4 e 7-5-80; "Movimento", 3-3, 14-4 e 12-5-80; "O Trabalho", 23-4-80; " Isto é", 12-3, 9-4 e 30-4-80;. " Em Tempo", 15-5-80; "Folha de S. Pa ulo", 2-5 e 13-5-80; "Cadern os do CEAS", setembro-outubro 1978, pp . 20 ss.; "Jornal de Brasília", 1-5-80; "Folhetim", 28-1 -79 e 11-5-80; "Catolicismo", julho-agosto 1980; "Jornal da Tarde", "O Globo", " Diá ri o de Perna mbuco" de 7-4-80; A greve na voz dos trabalhadores - Da Scania a !tu, Coleção Histó ria Imediata, Ed . A lfa Ô mega, São Paulo, J979, pp. 52-53 ; LENIN, Obras. t. 29, p. 387, ci tado por V. G. AFANASS IEV, Filosofia Marxista - Compêndio Popular, Ed it o ria l Vitória , Rio de Janeiro, 1963, p. 313; P E. J . B. LIBÃNIO, Congresso Int ernacional Ecumênico de Teologia, in " Revista Eclesiástica Brasileira" , ma rço 1980, pp. 126- 133.

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As CEBs,

à esquerda doPCB D . Paulo Arns

ANALI SANDO a atuação do Sr. Cardeal Arns nas greves de 1979, o Pe. Sellitti, de "O Lutador", semanário católico de Belo Horizonte, tem o seguinte comentário: "Essa cessão

dos templos só pode ser compreendida em sua dimensão real se percebermos, por trás do fato, algo mais que a necessidade de defender o di~eito de reunião dos operários em greve, pnvados de suas sedes. E que a greve e os comandos de greve não representavam a posição dos sindicatos, mas das oposições sindicais. Uma minoria sem dúvida, mas muito ativa, em que as esquerdas radicais e menos conciliadoras se encontram com os líderes de movimentos populares estimulados pela Igreja. É nessa zona de turbulência que se tem colocado as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), à esquerda do PCB. Isto me parece revelar uma dimensão pouco visível, pouco declarada, mas real, da decisão que levou a Igreja paulistana a ceder se'us templos para sede dos comandos de greve; é que os militantes dos movimentos de Igreja (CEBs) estavam na frente de uma greve, defla- . grada pela oposição sindical e não pelo sindicato" (Artigo Igreja mais política e Igreja mais religiosa, transcrito no "Mensageiro de Santa Rita", Franca-SP, dezembro 1979, p. 76).

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'tranJ.bĂŠrn na de 1982


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Uma concepção ,;e/i iasa da política e polítioa da religião

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UAL A FORÇA política das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs? A questão - de grande interesse em si mesma - ganha atualidade com a abertura do processo eleitoral. Dos ambientes eclesiásticos e da esfera restrita dos políticos, governantes e elites dirigentes, ela desceu ao domínio do grande público, ganhou as páginas dos jornais e se tornou tema de conversas. Chegou mesmo a provocar polêmicas, por vezes acaloradas, envolvendo personalidades dos mais diversos setores da vida nacional. Seria, entretanto, dar mostras de uma concepção demasiado estreita e anacrônica da política confinar a importância das Comunidades Eclesiais de Base ao terreno puramente eleitoral. Sem negligenciar as manifestações de pujança que elas já demonstraram nesse terreno, é preciso descer mais fundo para avaliar a verdadeira importância política das CEBs no panorama brasileiro. Mais do que seu número e sua estrutura organizacional (de resto nada desprezíveis), o que torna as Comunidades Eclesiais de Base uma "potência emergente" no panorama político brasileiro é sua característica de movimento eclesial. É por serem organismos da Igreja, fomentados, apoiados, prestigiados pelo Episcopado, que elas ganham credibilidade junto à população majorita-

riamente católica do País e recebem toda a cobertura por parte da grande maioria dos órgãos de imprensa (sempre pródigos em conferir-lhes espaços e emprestar-lhes as tubas da publicidade), bem como dos "sapos" - esses plutocratas amigos de todas as esquerdas. E aqui já se chega ao âmago da questão: é a Religião que confere às CEBs a sua força política. Não só pelo apoio externo, isto é, pela legitimação episcopal, mas pela própria dinâmica de suas concepções religiosas é que as CEBs emergem como força política.

Toda prãtlca "Libertadora" ê prãtlca religiosa Com efeito, as CEBs apresentam-se como a "prática concreta" da Teologia da Libertação, e a TL afirma que a fé tem uma dimensão política: a finalidade da religião é a libertação do homem d·e toda a "opressão". A opressão, em nossos dias, no mundo ocidental, se corporifica nas estruturas da sociedade capitalista - dizem os "teólogos da libertação". Para libertar "o homem todo e todos os homens" é preciso transformar essas estruturas. O que se faz pela atuação política (ou pela revolução arma-

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As CEBs ... das quais muito se fala, pouco se conhece -

A TFP as descreve como são

da .. .). A prática religiosa é, pois, prática libertadora. Reciprocamente, toda prática libertadora é intrinsecamente religiosa, pouco importando a qualidade ou a intenção dos agentes: a essência da religião, da fé - afirmam - está no ato libertador, não na crença em dogmas e na observância dos Mandamentos. Política e religião encontram-se, nessa perspectiva, tão intimamente unidas, que o membro das CEBs engaja-se na luta política por razões religiosas e pratica a religião de um modo político: são políticos na prática da religião e religiosos na prática política. O que conta é o caráter libertador de uma e de outra. Daí decorre uma concepção mais ampla da atividade política, que não se restringe ao jogo político-eleitoral e à militância partidária, mas se este_nde a toda a at uação libertadora das Comunidades de Base: movimentos reivindicatórios ou de protesto, greves, luta sindical, agitação rural e tudo o mais que se viu. A polêmica a respeito da importância política das CEBs girará em falso enquanto negligenciar essa realidade e se cifrar no risco de sua instrumentalização por partidos (legais ou ilegais, abertos ou clandestinos) e à sua participação no processo político-elei torai.

A consclentlzação: da religião à polftlca A passagem da esfera religiosa à política dá-se como conseqüência imediata e inevitável do processo de conscientização das bases comunitárias, considerada pela maioria dos agentes pastorais como a principal atividade das CEBs e que ocupa cerca de dois terços de seu tempo.

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Dois ambientes em torno do crucifixo, duas concepções de religil o: à esquerda a Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Silo Peulo, transformada em local de comlcio; à direita, monges espanhóis em oraçl o.

A essência da conscientização consiste em despertar o indivíduo (em nome da Religião) para problemas que o rodeiam (dos quais nem sempre se dava conta, e com os quais, via de regra , convivia de maneira suportável), com o intuito deliberado de provocar nele a insatisfação com sua situação presente e o desejo de participar na transformação das estruturas da sociedade, onde residiria a causa de todos os seus males. Mas a transformação da sociedade não se faz cabalmente sem a atividade política ( ou a ação


Cap ítulo I V -

Parte li

I

por força da conscientização, tornou-se um descontente com a sociedade vigente e decidiu engajar-se na luta pela transformação de suas estruturas, atuando de acordo com metas e estilos que as CEBs lhe incukaram serem os melhores. O membro da CEB, ao ingressar na vida político-partidária, leva consigo uma nova visão do homem e do mundo e está tomado por um estado temperamental que condiciona sua atuação, ainda que se tenha desligado formalmente do movimento das Comunidades de Base, como querem alguns Prelados.

Parlamentares, s_lm. Membros das CEBs também

revolucionária ... ). Portanto, o indivíduo, na medida em que é conscientizado, é arrastado para a arena política. Postas as coisas por essa forma, não tem sentido dizer, como se tem ouvido tantas vezes, que as CEBs enquanto tais não fazem política partidária e que, se seus membros ingressam nos partidos, fazem-no a título pessoal. Pois quem ingressa na vida partidária já não é o cidadão comum, levado a isso por razões pessoais, circunstanciais, ou quaisquer outras. É o indivíduo que,

É preciso ressaltar que, embora militando em partidos políticos diversos, os membros das Comunidades Eclesiais de Base, em sua maioria, continuam, naturalmente, a freqüentar as reuniões destas , inclusive por motivações estritamente religiosas. E continuam, inevitavelmente, em sua atuação pública, abertos a todo o estado de ânimo do movimento, expresso, por exemplo, em comentários sobre a situação política e em sugestões sobre o que fazer ou evitar, apresentadas a eles pelos dirigentes imediatos das CEBs. Estes, por sua vez, recebem de dirigentes superiores as orientações que vêm da cúpula do movimento. Tudo isso importa, pelo menos para a maioria dos membros, em um verdadeiro sistema de transmissão de orientações. De modo que, em muitas matérias, a atuação dos políticos oriundos das Comunidades de Base pode ser muito mais condicionada pela cúpula suprema do movimento do que pelas direções dos partidos a que estão filiados .

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Um centauro polftico-religioso - Diante de tal quadro, que representam propriamente as Comunidades Eclesiais de Base na vida política do Brasil? Trata-se, antes de tudo, de um movimento, de uma corrente filosófico-religiosa que, à semelhança dos partidos comunistas e socialistas, quer apropriar-se do Estado, do Poder Público, para colocá-lo a serviço de suas próprias concepções religiosas e filosóficas, no caso, a Teologia da Libertação. - As CEBs constituem, então, um partido político? Em certo sentido sim, em certo sentido não. Elas não se reduzem a um mero partido político, embora possam ser consideradas como tal em certa manifestação de sua atividade. Mas pelo seu vulto, sua doutrina, seus objetivos, transcendem de muito os estreitos limites de simples agremiação partidária: elas constituem uma espécie de religião (de fato, são uma Igreja-Nova a germinar obscuramente nas fileiras católicas, como se viu no capítulo relativo à Teologia da Libertação) que

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pretende dominar o Estado e instrumentalizá-lo em determinada direção. Talvez se pudesse dizer, metaforicamente, que as CEBs são um partido, assim como um centauro é um cavalo: movimento híbrido, político e religioso, da mesma forma que o mítico centauro é metade homem, metade cavalo. É esse movimento híbrido, esse centauro político-religioso ( ou religioso-político), que procura, por meio da política, dominar o Estado. Política, vale repetir, que não se restringe à atividade partidária e eleitoral, mas que também não · a exclui. Sem se identificar inteiramente com nenhuma das legendas, as CEBs pairam sobre todas, de mo90 a que seus membros possam atuar com liberdade de movimento em cada partido, na medida em que o exijam as circunstâncias pessoais, locais ou políticas (*). (º) Por ocasião de sua visita ao Brasil, em 1980, S. S. João Paulo II confiou à CNBB uma mensagem dirigida às Comunidades Eclesiais de Base do Brasil, na qual se podem ler as seguintes palavras: "Se nos anos passados, as Comunidades Eclesiais de Base latino-americanas, brasileiras em particular,


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Capítulo / V -

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É desconhecer o radicalismo do movimento pretender que as Comunidades Eclesiais de Base,

quando se lançam no processo político-eleitoral, não têm maiores ambições que a conquista de algumas cadeiras parlamentares, de alguns mandatos de prefeito, ou mesmo a ocupação de uma ou outra pasta ministerial. Elas visam assenhorear-se do Estado, mas apenas como instrumento, já que o seu projeto leva à extinção do próprio Estado, de conformidade com a utopia anarquista de Marx. Elas pretendem - por meio de uma atuação política global - influir, não só na vida pública da

manifestaram enorme vitalidade e foram acolhidas como valiosíssim o elemento pastoral; se tiveram, além disso, notável repercussão no Exterior, foi justamente porque souberam manter, sem desvios nem alterações, a dimensão eclesial, fugindo à contaminação ideológica" ( Todos os pronunciamentos do Papa no Brasil, Edições Loyola, São Paulo, 1980, p . 268). Tudo quanto o presente livro informa ace rca das CEBs é fundamentado em documentos incontroversos. Deve-se então concl uir que o Pontífice estava insuficientemente informado quando sob re elas assim se pronunciou? Tal hipótese não implica na menor irreve rência em relação à Cátedra de São Pedro, pois a doutrina da Igreja admite a possibilidade de um Pontífice estar mal informado acerca de alguma associação ou movimento. Ademais, embora as palavras de João Paulo II soem como um elogio irrestrito às CEBs brasileiras, elas talvez comportem uma outra interpretação. Com efeito, linhas antes , o Pontífice havia externado sérias apreensões em relação às Comunidades Eclesiais de Base, exortando-as à vigilância: "Entre as dimensões das Comunidades Eclesiais de Base, julgo conveniente chamar a atenção para aquela que mais profundamente as define e sem a qual se esvairia sua identidade: a eclesialidade. Sublinho esta eclesialidade porque está explícita já na designação que, sobretudo na América Últina, as comunidades receberam. .... Sublinho também esta eclesialidade porque o perigo de atenuar essa dimensão, se não deixá-la desparecer em beneficio de outras, não é nem irreal nem remoto, antes é sempre atual. É particularmente insistente o risco de inlTomissio do político. Esta intromissão pode dar-se na própria gênese e formação das

comunidades, que se congregariam não a partir de uma visão de lgre_ia, mas com critérios e objetivos de ideologia política. Tal intromissão, porém, pode dar-se também sob a forma de instrumentalização política de comunidades que haviam nascido em perspectiva eclesial. Uma delicada atenção e um sério e corajoso esforço para manter em toda a sua pureza a dimensão eclesial dessas comunidades é um eminente serviço que se presta, de uma parte, a elas próprias e, de outra parte, à Igreja: .... A oportunidade desta viagem parece-me momento adequado para exortar as Comunidades & lesiais de Base no Brasil a conservarem intata a sua dimensão eclesial não obstante tendências 011 impulsos que venham do Exterior ou do próprio país num sentido diverso (op. cit. , pp. 268-269 - destaques nossos). Em seu sentido imediato, estas palavras premunem as CEBs contra um perigo apenas possível. Mas perigo gra ve e insistente , que põe notoriamente a vigilância do Pontífice em um estado de viva apreensão, pode-se até dizer de sob ressalto. Ora, esse 's obressalto é pouco provável que se exprimisse com tais matizes de linguagem se ele tivesse as CEBs em conta de campos de escol, inteiramente imunes à semeadura da má semente. Ou seja, se ele não discernisse nas CEBs tendências para absorver a ação ideológico-política do esquerdismo. E tendências vivas! Tomando assim o pronunciamento pontiflcio em seu conjunto, vê-se que os dados informativos publicados no presente livro de algum modo caminham ao encontro de a preensões que já afligiam João Paulo li. Põem-lhe simplesmente em mãos material informativo sobre uma realidade que ele já . parecia entrever. Neste sentido , a confirmam dolorosamente.

Para que rumos corre tão desabaladamente esse centauro político-religioso (instigado pelos setores mais radicais do Clero), procurando arrastar consigo o País?

Socialismo autogestionãrio francês ou sandinismo nicaragUense?

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As CEBs... das quais muito se fa la, pouco se conh ece -

A TFP as descreve como são

nação, mas na vida particular dos cidadãos; impor um novo tipo de organização ·política, uma nova sociedade, um homem novo . Numa palavra, querem implantar no Brasil um regime socialista autogestionário, semelhante ao

que o Partido Socialista Francês de Mitterrand está procurando instaurar na França por meio de reformas aplicadas com gradualidade, e também àquele que os sandinistas tentam impor a ferro e fogo na sofrida e infeliz Nicarágua.

R eferên cias: F REI LEONARDO E FR EI CLODOVIS BoFF, Com unidades Cristãs e Política Partidária, in "Encontros com a Civili zaçã o Brasileira", n.0 3, sete mbro 1978, p. 15 (esse estudo "foi discutido e aprovado em reuniões com as bases e com a prese nça de dezessete bispos da Igreja Católica no Bras il"); FREI LEONARDO BoFF OFM , Que é fazer Teologia partindo de uma América Latina em cativeiro?, in " Rev ista Eclesiástica Brasileira", deze mbro 1975, p. 863 ; P E. G usTAVO G ur1fRREZ, Teologia da Libertação, Vozes, Petrópolis, 2.ª ed., 1975 ; P E. A. G. R uem, Teologia da Libertação: Política ou Profetismo.?, Edições Loyola, São Paulo, 1977; FREI CLooov1s BoFF OSM, A influ ência política das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), in "SEDOC", janeiro-fevereiro 1979 , cols. 802-808; 4. 0 ENCONTRO NACIONAL DAS COMUNIDADES ,ECLES IAIS DE BASE (ltaici, 1981 ), Relatório geral - Carta conclusão do encon tro, in "SEDOC", setembro 1981 , col. 139; CLAUDIO G urnEs, O conflit o é entre o regime e a Igreja, in "Voz da Unidade", 14-11-80;

Mal orientada. CEB pode virar grupo político (entrevista de D. José Varani), "Voz do Para ná" , 23-10-77, p. 7; Bispo reme influência marxista na Igreja, "Jorna l de Brasília", 23-9-80; Cardeal alerta para infiltração nas comunidades de base do Rio, "O Globo", 8--12-80; Núncio acha exagerada denúncia de infiltração, "O Estado de S. Paulo", 20- 12-80; H ELENA SALEM (coordenação), A Igreja dos Oprimidos, Col. Bras il Ho_ie-3. Ed. Brasil Deba tes, São Paulo , 198 1, p. 204; Bispo Auxiliar pede "reformas urgentes", "Jorn al do Brasil", 5-12-80; CANDIDO PROCÓPIO F ERREIR A DE CAMARGO E OUTROS, Com un idades Eclesiais de Base, in P . S1NGE R E V. C. BRANT (org.), São Pauln: o p ovo em m ovimento, Vozes-CEBRAP, Petrópolis, 1980, p. 78; O. SEIXAS B1ANCHI NI E A. P ALME IR A, Experiências comunitárias: mito e realidade - Viagem aos Municlpios de São Mateus. Pinheiros e Boa Esperança - Estado do Espírit o Santo, a bril 198 I, policopiado.

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EM

MEIO à cnse de valores e ao caos do mundo contemporâneo , e em que pese todo o processo de dessacralização por que ele tem passado, é ainda no Clero que nosso povo deposita grande parte de sua confiança , restos de uma veneração de tempos idos. Portanto, caso o Clero, ou parte dele, queira fazer uso de sua força e corroborar a atividade política das CEBs, esta pode se transformar num elemento decisivo da vida política brasileira. O que parece estar acontecendo . Com efeito, o dia em que se fizer um levantamento rigoroso sobre a participação das Comunidades Eclesiais de Base no processo políticoeleitoral brasileiro, especialmente no que se refere ao nível municipal, a opinião pública terá certamente uma surpresa quanto à extensão do fenômeno: elas constituem uma "potência emergente" na vida pública do Brasil.

Dados fragmentãrios, mas expressivos Com seus milhares de núcleos espalhados por todo o País - englobando um contingente de membros difícil de calcular - as CEBs ultrapassam de longe a rede de diretórios de qualquer dos partidos políticos existentes, quiçá de todos eles somados. Com-

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preende-se, pois, que políticos, homens públicos e cidadãos responsáveis de modo geral, estejam atentos a esse pote!].cial e se preocupem com o risco de sua canalização para objetivos eleitorais. Faltam, entretanto, dados completos e atualizados para avaliar a atuação eleitoral das CEBs . O que existe são dados fragmentários, que vez por outra vêm à tona nas águas relativamente tranqüilas do noticiário político . São, entretanto, suficientes para deixar entrever o que ocorre nas regiões mais profundas dessas mesmas águas. Um crimentarista político chegou a afirmar que as CEBs influíram decisivamente nas eleições parlamentares de 1978, garantindo a vitória do partido oposicionista em regiões até então sob o controle da Arena. Foi precisamente o que ocorreu em São Paulo, onde as CEBs da Zona Sul elegeram para a Assembléia Legislativa e a Câmara Federal, pela legenda da Oposição, dois de seus mais destacados membros - a ex-freira Irma Passoni e o animador comunitário Aurélio Pérez -, numa região da cidade considerada reduto eleitoral de conhecido político situacionista, o qual a duras penas conseguiu assegurar uma cadeira no legislativo estadual. As CEBs paulistanas fizeram

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As CEBs .. . das quais muito se fala , p ouco se conh ece -

A TFP as descreve como são

Câmara Municipal, sob a ameaça de boicotarem as eleições. Os candidatos das CEBs foram eleitos com facilidade. No pleito seguinte ( 1976), elegeram pelo MDB dois líderes de Comunidade, Gualter Nunes Loureiro e Túlio Paris, para os cargos de. prefeito e vice-prefeito. Com isso, as CEBs, que já dominavam a Câmara Municipal, passaram a controlar também o Executivo. Depois de quatro anos de mandato, o prefeito Loureiro não aceitou a prorrogação do mesmo, sendo substituído pelo vice, Túlio Paris, o que garantiu às Comunidades a continuidade na aplicação de seu programa em nível municipal.

ainda outro deputado estadual, também pelo MDB, na pessoa do advogado Marco Aurélio Ribeiro, do Movimento do Custo de Vida.

Não s6 na Oposição Mas não é só na Oposição que as Comunidades de Base marcam sua presença no panorama político-partidário brasileiro. Em Curitiba, por exemplo, nas eleições municipais de 1976, as CEBs decidiram lançar pela Arena a candidatura de seu ativo militante João lglosso, e ele acabou sendo o vereador mais votado da cidade. No mesmo pleito, as Comunidades reconduziram à Prefeitura de Boa Esperança, no Espírito Santo, o ex-prefeito Amaro Covre, do partido governista. Já em 1972, na vizinha cidade de São Mateus, as CEBs ha ·iam imposto aos diretórios locais dos dois partidos Arena e MDB - seus próprios candidatos à

Também no Nordeste, no Estado do Rio e no Paranã Também a Prefeitura de Aratuba - pequeno município produtor de frutas e verduras na serra de Baturité, a 140 quilômetros de Fortaleza - é praticamente dominada pelas 72 Comunidades de Base locais. Elas elegeram um prefeito cujo filho e principal assessor é ativo militante comunitário. E já se preparam para eleger no pleito deste ano alguém de seus próprios quadros, de preferência um trabalhador rural. No sertão pernambucano, o prefeito de Calçado presta contas às CEBs, antes mesmo de tratar com a Câmara de Vereadores. E em Trajano de Moraes, município pobre do interior fluminense, as lideranças comunitárias dominam completamente a vida pública local, substituindo os antigos chefes partidários.

O papel polltico das CEBs é continuamente salientado por jornais de todas as tendências .

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À margem dos quadros institucionais vigentes, as Comunidades Eclesiais de Base estão criando um novo instrumento de atuação política direta -


Cap ítulo I V - 2

Parte II Manifestação do Movimento Contra a ·carestia, na Catedral de São Paulo. - O MCC é considerado um dos principais "braços políticos" das CEBs. Em 1978, três de seus dirigentes foram eleitos deputados: Irma Passoni, Marco Aurélio Ribeiro e Aurélio Pérez (na foto, assinalado pela aeta).

as "Assembléias do Povo" ou "Conselhos Populares" - , os quais, em cidades da importância de Campinas e Osasco, foram oficializados pelas administrações municipais como o canal entre o Poder Público e os moradores dos bairros periféricos e favelas , em detrimento da Câmara de Vereadores. De maneira rr.ais discreta, exercem influência análoga junto às Prefeituras de Joinville e Lajes (Santa Catarina) e outras localidades. O domínio político de certas Prefeituras pelas CEBs aparece às vezes marcado por um arzinho ditatorial nada tranqüilizador: "A nossa classe lá se envolveu na política - lê-se num relatório de Comunidades do Ceará. Vamos experimentando o prefeito, se não servir nós bota para fora" ...

São Mateus: ao assalto do governo municipal A estratégia pela qual - através da conscientização política e de um cuidadoso planejamento a longo prazo - as Comunidades Eclesiais de Base asseguram esse domínio político, aparece claramente no relato da experiência levada a cabo na cidade de São Mateus, no litoral norte do Estado do Espírito Santo. Foi ele apresentado no 2. 0 Encontro Nacional das CEBs em 1976. É tão exemplificativo que merece ser transcrito no essencial, com alguns subtítulos acrescentados para facilitar a leitura.

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As CEBs... das quais muito se fala . p ouco se conhece -

A TFP as descreve como são

e Conscientização política das bases comunitárias . - "Em 1972 iniciou-se na paróquia um trabalho de conscientização política, solicitada por muitas comunidades. Nas reuniões de animadores procurava-se descobrir as dificuldades e os problemas das comunidades. [Seguem-se vários depoimentos]. Daí vem o questionamento: ' Por que tudo isso? Será que é porque o Mun icípio é pobre? porque o governo não tem dinheiro?'. 'Não. O município tem meios! Só que não zela pelo interior. Nós do interior somos esquecidos pelas autoridades, os políticos só lembram da gen te-na hora das eleições, depois não valemos mais nada: somos explorados pelo voto. Só nos fa zem promessas que nunca D . Aldo Gema, Bispo de Sã o MateusES. - No norte capixaba, quem quiser participar da vida religiosa é obrigado a pertencer a alguma Comunidade de Base e a aceitar a "conscienti-

zação sobre problemas sociais" e a "orientação sobre política" da dioce se.

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As cartilhas de e co nsc ient izaçã o -~ política elaboradas por dioceses de t o- 0 do o Pais apresen - ~ tam uma visão sim - ,, plística da realida - ; de brasileira, pró- ~ pria a alimentar a 5 luta de classes. A cartilha da Arq ui- g diocese do Rio de ~ Janeiro (foto) em ~ nada difere das de- ~ mais nesse ponto. iii

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cumprem'. 'É certo tudo isso? Será que não podemos.fazer algo para mudar esta situação? Como?'" • Pressão sobre os partidos para imposição de candidatos das CEBs. - "Entre os vários questionamentos descobriu-se um f enômeno: a Câmara municipal não representava o povo do interior. Só um dos nove vereadores morava no in terior: todos os outros eram da cidade, desligados de qualquer vivência comunitária. .. . . Com a ajuda de alguns animadores mais entrosados na política foi planejado um programa de conscientização. Nas reflexões de grupo, no culto, nas reuniões os assuntos verteram sobre o sentido da verdadeira política, sobre os deveres dos cidadãos em relação à política, à dign idade da pessoa que não deve deixar-se


Capiwlo I V -

Parte li

comprar, sobre o sentido do voto etc. Como conseqüência prática foi feita uma pesquisa entre as comunidades para que indicassem o candidato a vereador que preferiam. A escolha caiu sobre pessoas que viviam com o povo. Os candidatos foram propostos aos diretórios dos dois partidos políticos com esta condição: 'Ou vocês os colocam entre os candidatos para vereadores, ou nós não votaremos'. A cúpula dos partidos, apesar de não estar de acordo, teve que aceitar as pessoas indicadas pelas comunidades". Cabe aqui um parêntese para observar que, sendo o voto uma obrigação legal , a instigação ao boicote eleitoral importa núma instigação à ilegalidade. Prossegue o relatório das CEBs de São Mateus. "No pleito que seguiu. cada distrito do interior conseguiu eleger com facilidade seus representantes. Naturalmente, em seguida, não faltaram dificuldades e perseguições por parte daqueles que viram desta maneira seu domínio político abalado". Em 1976, como já ficou dito, as CEBs conquistaram a Prefeitura, elegendo (pelo MDB) o prefeito Gualter Nunes Loureiro e o vice Túlio Paris, ambos líderes comunitários. Adquiriram assim condições para impor seu programa. Que partido político dispõe de semelhante máquina de pressão, de tão apurado know-how e de agentes tão bem treinados? • Pressão religiosa par11 fins políticos. - Para se fazer uma idéia dos instrumentos empregados por essa verdadeira máquina de pressão políticoreligiosa , convém saber que na Diocese de São Mateus, os fiéis para receber os Sacramentos, casar, bati.zar os filhos , ser padrinhos de Batismo e Crisma , ou simplesmente testemunhas de casamento , são submetidos a exigências descabidas: é

2

preciso apresentar um "Atestado de Residência Religiosa" , fornecido pelos líderes da Comunidade ... Entre as exigências para receber tal atestado consta a seguinte: " /0. Aceita a cam inhada da Igreja Católica nesta Diocese, que escolheu c·aminhar com os pobres e aceita a consci~ntização sobre problemas sociais e a orientação sobre política ?" É possíve l violentar de modo mais brutal as consciências, em nome da Religião , para fins declarada mente políticos? E quantos serão os fiéis em condições de resistir a tal máquina de pressão religiosa?

Quando as CEBs tomam o poder: Boa Esperança, esboço de autogestão comunitãria No vizinho município de Boa Esperança, a máquina das Comunidades Eclesiais de Base fez eleger por dois mandatos intermitentes ( 1971-1972 e 1977-1980, prorrogado até 1982) Amaro Covre, do partido situacionista. Adquiriram assim condições para a::1licar naquela localidade capixaba sua experiência de "democracia direta ", de "autogestão comun itária". • O "milagre" de Boa Esperança. - O "milagre" de Boa Esperança vem relatado com indisfarçável simpatia pelo sociólogo esquerdista Maurício Tragtenberg, em artigo sob o título Administração comunitária ressuscitou Boa Esperança. A crer no relato, a cidadezinha de Boa Esperança estava destinada a desaparecer do mapa: seu comércio reduzido a uma casa de secos e molhados e duas lojinhas de tecidos. O Tribunal de Contas do Estado chegara a aconselhar a extinção do Município e sua incorporação ao de São Mateus .

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As CEBs ... das quais muito se fala . p ouco se conhece -

A TFP as descreve com o são

Ocorreu então o "milagre": "Deu-se o estancamento do êxodo rural, erradicação da miséria, pleno emprego para todos, eletrificação rural, construção de 300 km de estradas, produção de 12 milhões de sacas de café, produção de 26 mil litros de leite diários, mil sacos de farinha de mandioca e a existência de 33 mil cabeças de gado, devido à mobilização comunitária como base da administração municipal, posta em prática pelo prefeito Amaro Covre de 1971 a 1973 retomada em 1977, quando ele foi eleito por novos quatro anos". Com que recursos Boa Esperança realizou seu "milagre econômico"? Segundo Tragtenberg, tudo se fez "sem recursos financeiros, sem contar com o apoio do governo estadual e f ederal". Verdadeiro milagre, com efeito! Matriz de Boa Esperança-ES

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·"Boa Esperança realizou seu 'milagre econômico' através da sua capacidade em mobilizar recursos a partir da comunidade, eliminando assim o êxodo rural, a miséria e decadência econômica", afirm a Tragte nberg. Explicação basta nte simples, para querp queira acreditar nesse tipo de "milagre". Pois não aponta como se conseguiu "mobilizar recursos" a partir de uma comunidade que - segundo o relato do próprio Tragtenberg - estava às portas da miséria ... Mas é preciso que a autogestão seja a::,resentada com as atrações das coisas mágicas, "talismânicas", que eliminam sem maior esforço todos os problemas da humanidade ... • O papel das Comunidades de Base . - Acrescenta M . Tragtenberg: "Papel fundamental cabe às comunidades de base desenvolvidas pela Igreja que, a partir de 1971, assumiram a forma de entidades civis compostas por representantes de entidades econômicas, culturais e líderes de comunidades do Município". A cidade toda está organizada "comunitariamente": "Os problemas são levantados a nível de comunidade de base, cada escola do Município se constitui numa comunidade e para cada 1?. famílias há um líder por rua, escolhido por elas, r.eúnem-se mensalmente por convocação, pela professora local e coordenados pelos líderes . ... . Conjuntos de comunidades formam o centro de irradiação ou agrovila, cujos membros reúnem-se a cada bimestre com todos os líderes, vereadores, prefeito e assessores, delegado de polícia, diretores de escola; e passam a analisar as atas advindas da comunidade de base e a elaborar plano de trabalho a nível de centro de irradiação, para beneficiar todas as comunidades". • As Comunidades é que decidem . - Vem, então, a descrição da "estrutura do poder comuni-


Capítulo IV -

Parte li

tário": "A estrutura do poder comunitário de Boa Esperança se compõe de 150 líderes de comunidades de base rurais e 49 de bases urbanas. A Prefeitura anima o poder comunitário. O poder político real está nas comunidades de base, fundamento dos centros de irradiação base do Conselho Municipal de Desenvolvimento, que tem funções executivas, legislativas e fiscalizadoras. através das Assembléias e ação de seus líderes. Ao conselho, assembléia soberana do Município, submetem-se o prefeito, a burocracia e os . vereadores. O vereador é eleito pelos cidadãos e é um líder comunitário eleito pela comunidade a que pertence". Essa apresentação do poder comunitário de Boa Esperança parece referir-se a outro país que não o Brasil, pois aqui não existe, legalmente instituído, nenhum superpoder municipal, com funções executivas, legislativas e de tribunal de contas, como as atribuídas ao Conselho de Desenvolvimento Municipal, ao qual prefeito, vereadores e toda a administração devem estar submetidos. Não existe, no quadro institucional brasileiro, nenhuma "assembléia soberana do Município": Executivo e Legislativo municipais são poderes iguais, cada qual gozando de autonomia na esfera própria. Modernamente, é característica dos regimes absolutistas, totalitários ou ditatoriais o enfeixa mento dos dois poderes (mais o de fiscalizar) nas mãos de uma única pessoa, categoria ou instituição. A funcionar na prática, tal conselho seria, pois, um verdadeiro ditador colegiado comunitário, em nível municipal, como o regime socialista autogestionário francês o é em nível nacional, de acordo com a denúncia do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em "Mensagem" já célebre.

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A TFP as descreve como são

Células marxistas? 11

Temos que correr o risco ... ,,

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JORNAL do PCB publica um artigo de Cláudio Guedes, no qual se pode ler o seguinte: "Em poucas palavras, a Igreja que apoiou os golpistas em 64 e cuja tradição no país era de apoio às classes dominantes, mudou. Esta mudança está claramente exposta nos objetivos pastorais definidos em _Medellin (1968) e confirmados por Puebla 1979: é tarefa dos católicos opor-se às injustas estruturas sociais e políticas que oprimem e degradam milhões de pessoas na América Latina. Esta orientação tem se concretizado fundamentalmente pela atuação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)" ("Voz da Unidade", 14-11-80). Não é de estranhar, pois, que se fale em infiltração comunista nas CEBs, ou até mesmo em sua transformação em "células comunistas". Em uma entrevista de 1977, o então Bispo de Jaboticabal-SP, D. José Varani, afirmava: "Se o líder for de mentalidade, digamos, esquerdista, pode fazer da CEB uma célula comunista" ("Voz do Paraná", 23-10-77, p. 7). D. Tomás Murphy, Bispo Auxiliar de Salvador, concorda com a afirmação de que há o perigo de que as CEBs percam seu caráter eclesial, religioso e se transformem em "células marxistas". Entretanto, esse prelado acha que "temos que correr o risco" ("Jornal de Brasília", 23-9-80).

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Mal .orientada, CEB podevirar grupop11ítico Professor de T eoloq,o, Filosof,o e Direito Canónico. o bi spo de Jobot,cabol, no ,n ter,or 11orr e de São Poulo. dó 11e"o ' Rodo V,vo" suo visão sobre os · prob lemas o,ua,s do lare10 Dom José Voro 111 C' anos. podre desde 1'"'1 39 e b, spo desde 1950 1robolhou o maior porte de '"º , ,da sace rdotal com o povo si mples do ,nterior Ta lvez par

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O Sr. Cardeal-A rcebispo do Rio de Janeiro, D. Eugênio Sales, também manifestou sua preocupação de que as CEBs sejam infiltradas pelo comunismo, embora não seja contra a participação política, a título pessoal, de seus membros (cfr. "O Globo", 8-12-80). Já o recentemente falecido Núncio Apostólico, D . Carmine Rocco, considerou "exageradas" as afirmações de que há infiltração de esquerda nas CEBs. Para poder chamá-las de comunistas seria necessário que "elas falassem alguma coisinha a mais" ("O Estado de S. Paulo", 20-12-80).


Parte li

Capítulo I V -

2

A busca da autogestlo socialista pelas CEBs seguirá apenas a "via eleitoral" de Mitterrand, ou descambará para a luta de "libertaçllo" armada, como na Nicarágua? As duas formas nll o se excluem necessariamente ... - Na foto da esquerda, Mitterrand durante sua campanha presidencial. A direita, o "Comandante" sandinista Daniel Ortega faz a aaudaçlo comunista no teatro da Universidade Católica de SIio Paulo, aplaudido por Frei Bato, padres, freiras e dirigentes de CEB11.

Vem a seguir, no artigo de M . Tragtenberg, um tópico de especial interesse, para quem tem dúvidas de que as Comunidades Eclesiais de Base constituem um verdadeiro partido camuflado, por trás dos partidos políticos registrados: "Vereado-

res do PDS ou PMDB se distinguem mais em função de suas tarefas como líderes comunitários. Não são as direções partidárias que decidem seus compromissos e tarefas, mas sim as comunidades a que pertehcem". E o Prof. Tragtenberg expõe a filosofia que está por trás desse governo das CEBs: "Boa Esperança realiza a prática da democracia direta onde

as relações de trabalho apresentam cunho igualitário não se orientando para ·um modelo de crescimento fundado na· concentração de renda, propriedade e poder''. A experiência de Boa Esperança - tal como tem sido apresentada - parece indicar o rumo que as Comunidades Eclesiais de Base querem imprimir à sociedade brasileira: o da autogestão. Mas a autogestão das CEBs é mera aparência uma vez que é o Clero - e mais especialmente os Bispos, em cujas mãos está o Clero - quem as manipula.

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As CEBs.. . das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são

Aliás, que é a autogestão, senão um imenso blefe, no qual as verdadeiras forças que dirigem seja o Clero, um partido ou qualquer outra - não aparecem? Referências: Livros: MARCIO MOREIRA ALVES, A Força d<1 Povo - Democracia Participativa em l.Ages, Brasiliense, São Paulo, 1980. Artigos: PAMELA NUNES, CNBBfica na expectativa, in "Folha de S. Paulo", 11-3-79; "Movimento", 11-9-78, pp. 6 e 10; Os eleitos pela Fé, "Brasil Reportagem", Ano 1, n.0 2, 1979, pp. 36-37; CLôv1s Ross1, As CE&, tão temidas como desconhecidas, in "Folha de S. Paulo", 29-6-80; Comunidades de Base, uma Igreja a ser revúada, "O Globo", 29-1-79; D1ocESE DE S. MATEus-ES, Pastoral libertadora (Relatório ao 2. 0 Encontro Nacional de CEBs), in "SEDOC", novembro 1976, cols. 466-467; "Folha de S. Paulo", 4-1-81; MARCOS DESA CoRREA, As comunidades e os polític,s, in "Jornal do Brasil" ("Coluna do Castello"), 14-2-78; MARI A HELENA PAssos, O Partido dos pobres, in "Coojomal" (Porto Alegre), setembro 1979, pp. 25 27; "Jornal do Brasil", 14-5-78; CoMUNIDAr-~s DO CEARA, I Encontro Estadual (Relatório) , in "SEDOC", setembro 1981, col. -174; Relatório ao 3. 0 Encontro Nacional de CE&, in "SE-. ,DOC', outubro 1978, col. 285; D1ocESE DE SAo MATEUs-ES, Pastoral Libertadora (Relatório ao 2.0 Encontro Nacional de CEBs), in "SEDOC', novembro 1976, col. 466-467 ; D1ocESE DE SÃO MATEUS - PAROQUI A DE BARRA DE S. FRANCISCO-ES, Folha de prova, exame, ao Atestado de Residência Religiosa, s. d., mimeografado; PAROQ UIA DE BARRA DO s. FRA NCISCO, Um caminho (Normas e instruções para líderes de Comunidades), dezembro 1978, mimeografado, pp. 6-9; DIOCESE DE s. MATEUS, Atestado de Residência Religiosa (Folhas de Instruções aos responsáveis), s. d., mimeografado, n.0 9; "Folha de S.Paulo", 4-1-81 ; PUNJO CORREA DE ÜLIV EIRA, O socialismo autogestionário - em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte? (Mensagem das Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFPs de treze paises, publicada nos principais jornais do Ocidente), in "Catolicismo", janeiro-fevereiro 1982; Força popular tem apoio da Igreja em Campinas, "O Estado de S. Paulo", 24-2-80; Favelados de Campinas impedem obras de creche, idem, '5-5-81 ; Cartilhas e "slides" para os favelados, "Correio Popular" (Campinas), 10-9-81 ; Jô AZEV EDO, Comunidade t'ambém é um lugar de amadurecimento político do' cristão, in "O São Paulo", 1-5-81 ; HELô CAPONI, Conselho Popular servirá como escola de demo cracia, in "Folha de S.

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Em memor6vel Mensagem, cuja divulgaçlo j6 atingiu 30 milhões de exemplares em todo o mundo, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira desmascarou a utopia autogestionéria.

Paulo", 19-5-81 ; IDEM, Universidade recebe populares para discutir o poder, idem, 11-6-81 ; H. C., Osasco discute o Conselho Popular, idem, 17-6-81 ; Luiz RoeERTO SAVIANI, R eivindicações de fa velados, in "Folha de S. Paulo", 1-3-8 1; 10 anos! e depois?, "Hora Sacra" (Campinas), 12-10-80; TEôFILO CELSO DA SILVA, CEBs, comunitarismo e política partidária no Norte do Espírito Santo - Relatório de uma visita a Boa Esperança e São Mateus, maio 1981, policopiado.


A TFP recomenda recimentas - quer no campo religioso, quer campo temporal - que passaram a fazer parte da História de nosso País. Desses livros f oram em geral tiradas muitas edições e vendidas dezenas de milhares de exemplares de cada um. Co nhecê-los é indispensável para quem queira se f ormar um panorama autêntico e completo da lura contra o comunism o , ·e m nosso País, no decurso dos últim os cinqüenta anos .

A s doutrinas propugnadas p ela TFP estão exp ostas em diversas publicações - livros, manifestos, declara ções, comunicados, cartas aberras etc. "Catolicism o " tem franqu eado suas p áginas para rodos os pronunciamentos da TFP. O leit or encontrará ainda, nesse prestigioso m ensário de cultura cat ólica, informações e notícias sobre as diversas atividades da associação. Dos livros difundidos pela TFP, vários produziram , a seu tempo, tal impc cro sobre os acon-

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• EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA (1943) Plínio Corrêa de Oliveira Primeiro brado de alerta contra o progressismo nascente. Aponta e refuta os erros infiltrados no laica to católico , es pecia lmente nas orga nizações de Ação Católica. Prefácio do Cardeal Bento Aloisi Masella, então Núncio Apostólico no Brasil. Objeto de expressiva carta de louvor escrita em nome do Papa Pio XH pelo Substituto da Secretaria de Estado da Sa nta Sé, Mons. J . B. Montini. mais tarde Paulo VI. 384 p p. - Edição esgotada . • REFORMA AGRÁRIA - QUESTÃO DE CONSC IÊNCIA (1960) D. Geraldo de Proença Siga ud , Arcebispo de Dia mantina D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Ca mpos Prof. Plínio Corrêa de Oliveira Economista Luiz Mendonça de Freitas

oomftO DE CONSCl(NCIA

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Besr-seller polêmico que a lertou o povo brasileiro cont ra a reforma agrá ria socialista e anticristã . Estudo doutriná rio e técnico, baseado nos princípios da d outrina social católica , em considerações históricas e em abundantes estatísticas . Contribuiu decisiva mente para form ação do clima ideológico no qual eclod iu no Bras il o grande movimento anticomunista de ma rço de 1964. 520 pp. - Quatro edições em português e três em espanh ol. Tota l: 39 mil exemplares .

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e ACOR DO COM O R EGI ME CO MUNISTA: PA RA A IGR EJ A, ESP ER ANÇA OU AUTO DEM O LIÇÃO? ( 1963) Plinio Corrêa de Oli eira Denun cia a manobra do comunismo que induz os católicos a aceita rem a eliminaçã o da propriedad privada em troea de uma tal ou qu a l liberd ade de culto . O bra elogiada e recomendada em ca rta da agrada Congregaçã o d os Seminá rios e Un ive rsidades como "eco fidelíssimo" dos documentos do S upre mo Magistério da Igrej a. Publicada origina riamente sob o tít ulo A liberdade da Igreja no Estado comunista. l 28 pp. - Dez ed ições em português, onze em espanho l. cinco em fra ncês, q uatro em inglês , três em ita liano, d uas em polonês, uma em alemão. uma em húnga ro e uma em vietna mita. Tra nscrito em 39 jornais ou revistas de treze dife rentes pa íses . Total: 171 mil exempla res.

DECLA R AÇÃO DO MORRO ALTO ( 1964) Pelos mesmos a utores de RA-QC

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Progra ma positi vo de po lítica ag rária com o o bjetivo de resolve r a fund o problemas do cam po, sem entreta nto desfi gura r a estrutura rura l vige nte. 32 pp. - D uas ed ições, 22 .500 exempla res.

BAL D EAÇ ÃO ID EO LÓGICA INA D VE RTIDA E DI ÁLOGO (1965) Plí nio Corrêa de Oli veira Descreve o p rocesso cert eiro e subtil pelo qu a l, através do diálogo irenista, muitos ca tólicos se tra nsforma m inadve rtidamente em comunistas. 128 pp. - Cinco edi ções em portu guês, qua tro em es pa nhol , uma em ita lia no e uma em a lemão . Re produzid o em seis jo rn a is e rev istas de qu atro pa íses . T ota l: 98,5 mil exemplares.

• A IGR EJ A ANTE A ESC ALADA DA AMEAÇ A COMUNISTA A P ELO AOS BISPOS S IL ENCIOSOS ( 1976) Plíni o Corrêa de Oliveira P ri meiro estud o a a presenta r ao p úblico bras ileiro um vasto pa nora ma da gra nd e pe leja dout rinária q ue surgi u há ma is de qua renta anos em pequenos núcleos católicos e ga nhou progress iva mente todo o Bras il. No mesmo volume, res umo d o mome ntoso livro da TF P chilena , A Igreja do Silêncio no Chile - A TFP andina p roclama a verdade inteira. 224 pp . - Quatro edições , 5 1 mil exe mpla res.

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OL _ÇÃO E +

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CONTRA-REVOLUÇAO Plinio Corrêa de Oliveira Revolução e Contra-Revolução é todo um programa de vida adotado por milhares de pessoas no mundo inteiro. Consubstancia os ideais das TFPs, e é assim o livro de cabeceira dos sócios, cooperadores e simpatizantes dessas associações. Nesse monumental estudo, Plínio Cor- . rêa de Oliveira analisa o processo de descristianização da sociedade temporal e laicização da sociedade espiritual iniciado no século XV e que vai atingindo seu ápice nos dias que correm. É a Revolução, cujas grandes molas propulsaras são o orgulho e a sensualidade. A primeira grande explosão desse processo revolucionário foi, no campo cultural e artístico, a Renascença, que com o seu humanismo naturalista, quebrantou a pureza e a austeridade de costumes da Europa cristã; e no religioso, a Reforma de Lutero, a qual, rejeitando a autoridade do Papa e dos Bispos, introduziu alterações igualitárias na estrutura eclesiástica. A Revolução Francesa de 1789 produziu na estrutura hierárquica do Estado efeitos análogos aos do protestantismo na estrutura da Igreja. Esta segunda Revolução erigiu como lema a célebre trilogia - liberté, égalité, fraternité - mas não a levou até às últimas conseqüências, e manteve mais ou menos intactas as desigualdades no campo sócio-econômico. Caberia à terceira Revolução - o Comunismo -assestar o golpe de morte na última desigualdade que restava, a de condição social e de fortuna . Porém, antes mesmo de atingir o seu termo, o comunismo vai engendrando, como fruto pútrido de si mesmo, a Quarta Revolução. Esta vai constituindo um fenômeno com-

plexo, que comporta a desagregação total do Estado, substituído por miríades de corpúsculos sociais muito largamente autônomos, a abolição virtual da família e da propriedade individual, e a reforma do homem, o qual, freudianamente "liberado" de qualquer freio , viveria segundo o livre impulso de seus instintos. Assim, uma sociedade a-sacra!, completamente igualitária e anárquica é a grande meta para a qual tende o processo revolucionário . Em Revolução e Conira-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira aponta as metas e os métodos aptos a cortar o passo e extinguir o processo revolucionário. E assinala as razões não só de esperança como de certeza da vitória da Contra-Revolução: as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.

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64 pp. - Uma edição em português, cinco em espanhol, três em italiano, duas em inglês e duas em fra ncês. Publicado originariamente em "Catolicismo". Total: 86 mil exemplares.

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• T RIB A LIS MO INDÍGENA, IDEAL COMUNO-MIS S IONÁRIO PARA O BR ASIL NO SÉCULO X I (1977) Plínio Corrêa de O liveira Denuncia a corrente neomissioná ria aggiornara que se opõe à cateq uese e à civil ização dos indíge nas, e prega uma es pécie de "luta de classes" entre silvícolas e brancos. Es tu do ind ispensável pa ra o co nhecimento da gra nde crise pela qua l passa a Igreja no Brasil e que tende a se tra nsfo rma r, de crise religiosa, em crise de todo o Pa ís. l 28 pp. - Sete edi ções em portu guês, alé m da tra nscrição em "Ca tolicismo". Publicado em inglês na revista "Crusade for a Christia n Civi lizatio n" . Tota l: 87 mil exemplares .

• ME IO SÉC ULO DE EPOPÉ IA ANT ICOMU NISTA ( 1980) His toria os 50 a nos de luta em defesa dos princípios bás icos da civilizaçã o cristã iniciada por Plínio Corrêa de Oliveira em 1928 nos a mbientes es pecificamente católicos, e da qua l desabrochou em 1960 a Sociedade Bras ileira de Defesa da T ra dição, Fa mília e Pro priedade - TFP, que vem tendo desde então marca nte presença no confront o ideológico de nossos dias, nã o só na sociedade brasileira , como em todo o mundo. 472 pp . -- Quatro edições em po rtuguês, uma em inglês . Tota l: 43 mil exe mplares. e SO U C AT Ó LI CO: POSSO SE R CONTRA A REFO RMA AGRÁRIA? ( l98 1) Plínio Co rrêa de Oliveira e Carl os Patrício de i Campo

Ana lisa ac urada mente o d ocumento Igrej a e problemas da terra emitido pela Co nferência Nacio na l dos Bispos do Bras il (CN BB) e most ra que não há consonâ ncia ent re a Reforma Agrá ria preconizada por esse do cumento episcopal e os ensinamen tos trad icionais d o Supremo Magistério da Igreja . 360 pp . - T rês edições em português, 24 mil exempla res. • FRE I, O KERENSKY C HIL EN O (1967) Fa bio Vidiga l Xavie r da Silveira Considerado livro profético q ua ndo, em 1970, se cumpriu sua previsão , feita três a nos a ntes. de que a política esquerdista do P residente demo-cristão Edua rdo F rei prepa rava a asce nsão de um governo marxista no Chile. 208 pp. - D uas edições em português, sete em espanhol e uma em ita liano . Pu blicado d uas vezes em "Catolicismo" ( 1967 e 1970) e t rês vezes na revista "Cru zada" de Buenos Aires. Tra nscrito em numerosos jornais e rev istas do Exterior. Total: 128,8 mi l exemplares.

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D. Antonio de Castro Mayer, até há pouco Bispo de Campos, publicou em sua profícua e luminosa atuação à testa daquela Diocese uma série de importantes documentos pastorais, todos eles relacionados, imediata ou mediatamente, com a grande controvérsia originada pelo aparecimento do progressismo teológico e do esquerdismo sócio-econômico nos meios religiosos brasileiros: • POR UM CRISTIANISMO AUTÊNTICO (1971) Texto integral de nove Cartas Pastorais, uma Instrução Pastoral e uma Circular. Cartas Pastorais: Sobre a definição do dogma da Assunção da Bem-Ave111urada Virgem Maria ( 1950) • Sobre problemas do apos1olado m oderno ( 1953) • Prevenindo os diocesanos co111ra os ardis da sei/a comunisla (1961) • Cas1idade, humildade, peni1ência - carac1erís1icas do cris1ão, alicerces da ordem social ( 1963) • Os Documen1os Conciliares sobre Sagrada Li/urgia e inslrume/1/os de comunicação social ( 1963) • Considerações a propósito da aplicação dos Docume111os p romulgados pelo Concílio Ecumênico Vaticano /l(l966) • Sobre a preservação da Fé e dos bons cos/Um es ( 1967) • Sobre o Sa1110 Sacrifício da 1'vfissa ( 1969) • Aggiornamento e Tradição ( 1971) • Instrução Pastoral sobre a Igreja ( 1965) • Circular sobre a reverência aos Sa111 os Sacrame111os ( 1970). 402 pp . - Dois mil exemplares. • CARTA PASTORAL SOBRE CURSILHOS DE CRISTANDADE (1972) Advertência sobre os erros que se introduziram nos até então incontrovertidos Cursilhos de Cristandade. 112 pp . - Três edições em português, uma em inglês . Publicada na íntegra em "Catolicismo". Total: 96 mil exemplares. • CA RTA PASTORAL PELO CASAMENTO INDISSOLÚVEL (1975) Ex posição precisa e acessível da doutrina católica contrá ria ao divórcio . 64 pp . - Duas edições em português. Transcrita em cinco jornais ou revistas de qua tro países. Total: 119 mil exemplares.

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• CARTA PASTORAL SOBRE A REALEZA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (1977) 64 pp. - Uma edição em português. Publicada na íntegra em "Catolicismo". Total: 8,5 mil exemplares.

• CARTA PASTORAL SOBRE A MEDIAÇÃO UN IVERSAL DE MARIA SANTÍSSIMA (1978) 64 pp. - Uma edição em português. Publicada na íntegra em "Ca tolicismo" e em "Cristia nità", Itália. Total : 13,5 mil exemplares.

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e EL NACIONALISMO, UNA INCÓGNITA

EN CONSTANTE EVOLUCIÔN (1970) Cosme Becca r Varela Hijo, Carlos F. lbarguren , Jorge M. Storni, Miguel Beccar Varela e Ernesto P. Burini, da Comissão de Estudos da Sociedade Argentina de Defesa da Tradição. Família e Propriedade. Mostra como o nacionalismo argentino evoluiu de uma posição tradicional católica e hispânica para uma posição nitidamente esquerdista. 264 pp . - Três edições, seis mil exemplares.

-~ e LOS "KERENSKYS" ARGENTINOS (1972) Sociedad Argentina de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad

Denuncia uma minoria revolucionária constituída por "sapos" da alta finança , clérigos esquerdistas, homens de imprensa, figuras do Governo de então e da intelligentsia, bem como por políticos profissionais, cuja atuação visava conduzir a Argentina ao socialismo populista, pela instauração de um governo esquerdista moderado - muito esquerdista e pouco moderado. 192 pp. - Três edições, 13 mil exemplares.

" ALLENDE ET SA "VOIE CHILIENNE" ... POUR LA MISERE (1974) Reportagem so bre o malogro da experiência de "socialismo em liberdade" do governo da Unidade Popular no Chile, feita in loco, imediatamente após a queda de Allende, por enviados das TFPs brasileira, argentina e chilena . 240 pp. - Publicado em jornais ou revistas das TFPs e entidades congêneres do Brasil , Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile , Estados Unidos, Uruguai e Venezuela. Total : 69 mil exemplares .

• LA IGLESIA DEL SILENCIO EN CHILE LA TFP PROCLAMA LA VERDAD ENTERA (1976) Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Descrição e análise do desconcertante apoio que uma grande parte do Episcopado e uma ponderável parcela do Clero chilenos, encabeçados pelo Cardeal Silva Henríquez, deram ao marxista Allende para sua ascensão ao poder e permanência nele . 468 pp. - Edições também na Argentina , Colômbia, Espanha, França e Estados Unidos. Total: 24 mil exemplares. Resumos amplamente difundidos no Brasil , Argentina e Bolívia.

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• IL CREPUSCOLO ARTIFICIALE DEL CILE CATTOLICO (1973) Coletânea de artigos do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira e de man_ifestos da T~P chilena sobre as conseqüências ruinosas da instalação do marxismo no Chile. 208 pp . - Edição da Alleanza Ca1tolica, de Piacenza, Itália. • IZQUIERDISMO EN LA IGLESIA: "COMPANERO DE RUTA" DEL COMUNISMO EN LA LARGA AVENTURA DE LOS FRACASOS Y DE LAS METAMORFOSIS (1976) Comisión de Estudios de la Sociedad Uruguaya de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad Mostra como uma parcela iníluente da Hierarquia e do Clero uruguaios apoiaram a subversão que durante vários anos convulsionou o país, e que teve como braço armado o movimento guerrilheiro tupamaro. 384 pp. - Duas edições no Uruguai e uma na Espanha. Total: 11 mil exemplares. • DÉVELOPPEMENT ET PAIX: UN SOCIALISME MULTICOLORE AU SERVICE DU COMMUNISME (1978) Jeunes Canadiens pour une Civilisation Chrétienne Denuncia as tendências marxistas da Organisation Catholique Canadienne pour /e Développement et la Paix, fundada pelo Episcopado daquele país para ajudar as nações subdesenvolvidas. 128 pp . - Editado em francês e inglês .

• COLEÇÃO "DIÁLOGOS SOCIALES" (1967) l . ?LA PROPIEDAD PRIVADA ES UN ROBO? - Propiedad privada: ?Derecho sagrado o privilegio odioso? 2. ?UD DEBE TRABAJAR SOLO PARA EL ESTADO? - Propiedad privada: ?Como puede servir ai bien comun? ?Cual es su función social? 3. AHORRAR PARA LOS HIJOS ?ES ANTTSOCIAL? - Propiedad privada y clases sociales: ?Servidoras o enemigas de la familia? 4. UN SOLO PATRON Y TODOS PROLETARIOS: ideal socialista - Dirigismo estatal: ?Favorable o nocivo a la libre iniciativa y a la dignidad humana? Temas da problemática comunismo x anticomunismo apresentados de forma resumida e substanciosa, na mesma linguagem de que estes costumam se revestir em conversas caseiras e encontros de rua . 32 pp. cada - Nove edições em espanhol e cinco êm português (somente dos três primeiros). Total: 459 mil exemplares .

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• AS APARIÇÕES E A M,ENSAGEM DE F ÁTIMA CONFORME OS MANUSC RITOS DA IRMÃ L UC IA (1967) Antonio A ugusto Borelli Machado Texto das célebres reve lações feitas em 1917, em Fá tima, Portuga l, nas qua is Nossa Senh ora adverte o mundo so bre o perigo da expansão do comunismo. Acompanham notas explicativas e comentários. . . 96 pp . - Dezesseis edições em português, treze em espa~hol e quatro em _1ta lta!1º · Publicado originariamente em "Catolicismo" e transcnto em diversos Jornais e revistas de sete países . Total: 600 mil exemplares.

Para entender o que se passa, leia ...

({IA:f"q,~~ÇE~Mº Re percute no mundo

inteiro o Mensagem dOB TFPe ~

• O desenrolar desco ne xo e co nfuso dos acontecimentos mundia is produz o sentim ento fru strante de que "não é passivei entender mais nada". • Pa ra quem se coloca no mirante da doutrina católica, esses aco ntecimentos têm entreta nt o uma explicação. É a luta permanente entre o Bem e o M a l, entre a cidade terre na e a cidade celes te, de que falam os Santos. es pecialmente San to Agostinho. • "Catolicismo" oferece a seus leitores uma a nálise dos fa t os à luz dos ensinamentos tradi cion ais d a Igreja . E mostra co mo o mundo se a pro xima do momento ápice em que os inimigos de Deus tentarão o supremo esfo rço para a implantação de U'll estado de coisas tota lmente co ntrá ri o aos princípios do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cri sto . É disto exemp lo frisante a sa nha co munista, a qua l ati nge, nos dias que co rre m, o parox ismo da impudência . • "Catolicismo" mostra que, de ou tro la do, é de se espe ra r que, cm tal eme rgência, a Providência Divina intervenh a de m od o fulgurante para derrot a r os sequazes d e Satanás e implanta r nesta terra o Rein o do Im aculado Coração de Maria , conforme Nossa Senhora manifest ou em Fátima: " Por fim, o meu Imaculado Coração 1riunfará". Isto é, a plena vigê ncia d os princípios do Evangelho ta nt o na socied ade espiritua l quanto na sociedad e temp ora l.

s, e.

Pedidos à EDITORA P ADRE BELCHIOR DE P o TES Ru a Dr. Martinica Prado 27 1 - CEP 01224 - São Paulo Tel.: 22 1-8755 (ramal 235).

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Mensário alua/idades.


BIBLIOGRAFIA-DOCUMENTAÇÃO

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As CEBs, das quais muito se fala, pouco se conhece... a TFP as descreve como são

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C~~

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254

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Bibliografia Documemação (Pernambuco), A luta do Povo nos bairrouio Recife, 1981 (São Paulo), /tfo vimentos de &irra x E.uado na A ITl irica LAtina, 1982 O Facão rd comendo!, 198 1 FETAPE - Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco, Camponeses unidos lwam por stw direitos F NT - Frente Naciona l do Tra balho, Éfdcil negociar com as máquinas paradas!, jul. 78 CET - Fundação Centro de Estudos do Trabalho - Belo Horizonte, A Igreja que o Papa veio vu, 1980 Daqui não saio, 198 1 Da roça para a cidad~. 1980 1N quem é a culpa da crist ?, 198 1 Documento de São &rnardo, 1980 t, mundo velho stm porteiro!!, 1981 ú vando f é na rapaziada, 1980 O 1. 0 d~ Maio Parcipaçào no sindicato, 1980 Saldrio e Custo de Vida, 1980 GETEC - Grupo de Estudos e Trabalho e Educação Comunitária - Belo Hori zo nte, "Not icias G ETEC', nov. 78 Cadu no Popular n.0 / GRUPOS DE EVA NGELIZAÇÃO DA PERIFERIA DE SALVAD9R, Carta ao, Bispos GRUPOS JÓY ENS CATOLICOS DEABAETETUBA-PA '"Ixspertador" n."s 5/ 16, dez. 76/_a~o. 78 · ' GRUPO DE PARÓQUIAS DE SALVADOR, O Povo caminha - t nds cristi!os? IPPH - Instituto Paulista de Promoção Humana - LlnsSP, .. Desenvolvimento"', jul. 79 Manual do Agenr, de Saúde, 1978 MCC - Movimento Contra a Carestta, Todo· o apoio à gre,,e dos metalúrgicos do ABC, 1980 MCV - Movimento do Cu.no de Vida (Goíá,), Um novo p wso: 6.• Asstmbliia do /tfo vi~nto do Cwto ck Vida de Goids MEB - Movimento de Educação de Base, "MEB Hoje", mnr. -a br. 77, jan. 8 1 M LPA - Movimento pela libertação dos presos JlO Araguaia, Carajds: Progresso ou ve.nda da Pdtria? Oposiç4o Sindical no Campo - A Luta da chapa ] no Sindicato dos Trabalhadores Rurais d, A ndradina-SP OPOSIÇÃO SINDICAL DE CAMPO GRANDE-ES, Movim,nto Op,rdrio no Esplrito Santo, 1980 PARôQUIA DA CATEDRAL DE T. OTONI, Ek f oi "demirido", 1979 A criança ,! Jesus, 1979 Estes peq~ninos PARôQUIA DIVINO SALVADOR - Campinas-SP, "SIC - Seu Informativo Comunitário·". n.0 1, 1979 "Nossa Comunidade", maio 1981 PARÓQUIA ITABERAI-GO, "A caminhada da EJperança•, jul 74 PAROQUIA JARDIM MIRIAM-SP, "Jornal da Gente" ~~77 . ' PARôQUJA N. SRA. IMACULADA CONCEIÇÃO_ T. Otoni- MG, Anunciar aos p obres o Evangelho da libertaçdo, 1979 PARÓQUIA N. SRA. GUADALUPE - São Paulo, "Construindo", ago. 75 PARÓQUIA SANTA RITA DE CASSIA - São Paulo "Rccadlo", out. 75 '


Bibliografia Documenração

Parte li PARÓQ UIA SANTA T E REZA - Anur Alvim. São Pnul o , "Boletim da s Porteiras" PARÓQ UIA S. FRANC ISCO DE ASS IS - Ba rra de S. Francisco-ES. Um caminh o, 78 PARÓQU IA S. PEDRO - J o invi lle-SC, Aos Cris1ãos da comu11itlade de S. Pedro. 1978 PARÓQ UIAS. J UDAS TADE U APÓSTOLO - Silo Paulo. Mi ssa da Ju ve ntude PARÓQ UIAS STO. ANTONIO DE T AUÁ , NOVA TIMBOTEUA E CURUÇÁ-PA, Para onde vais? C F-80 Sa údt• para todos, CF-8 1 PAR00UIA S DE T . OTON I, Terra pra morar - A Re.<· sur ..ei,;ão conrinua , 1980 " Povo unid o .. - Um jorn al do povo, n.0 4 PRELAZ IA D E CÂN DIDO MENDES-MA, Cris10 ontem , hoje. sempre. 1973 ··oo Turi ao Gurupi" ( In forma ti vo). n.ºs 1, 2, 1973 PRELAZIA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUA IA-MT, M issa o ·que é.', J980 [)em na vida do povo ( Roll'iros para CE& e grupos de base}, 198 1 Diante da política e das eleições , 1978 PRELA Z IA DO XINGU, "A voz do Xingu". Altamira-PA, 9 P;6v2r~~~i ECLES IÁST ICA DO CEARÁ, Rela1ório do Encon tro da li-frruoco , 1979 Relató rio do 4.0 Encontro de animadores jovem e adult<!,S da Pasto ral de Ju ventude do No rdeste, Olinda, 9-8-8 1 SOC IEDA DE AM IGOS DE C IDADE A. E. CARVAL HO - São Paulo. Boletim .. Bolsa". 8-77 S DDH - Sociedade Pa raense de Defesa do s Direitos Hu ma nos, O po vo do Pará se manifes1a - 1976- /979 As onças e os gorns

MATERIAL DOS QUATRO ENCONTROS NACIONAIS DE CEBs (ESTUDOS , RELATÓRIOS , DEPOIMENTOS E CONCLUSÕES)

Acre e Purus; Diocese de Goiás: Barrcirinhas-MA : Unhares (C EBs rurais) ; Paróq uia de Poranga ( Di oc. C rateüsCE); Diocese d e Volta Redo nda ; Paróquia de lt acibáCa ri acica -ES; S. Mateus-M A: Ribeirão Boni to e Cascalheira (Prel. S. Félix-MD; Barra do Ven to (Dioc. Crateü s-C E): Diocese de Bauru-S P. ESTUDOS DOS PERITOS : Fr. L. BOFF, Eclesiogénese: As comunidades eclesiais de base re- in ven tam a Igreja; Pe . E. HOORNAERT. Os perigos que ameaçam as CEBs; Pc. J . 8 . LIB ÃN IO, Uma comun idade que se redefine; Fr. C. MESTERS, Flor sem defesa; P. A. R. OLIVEIRA, A posição do leigo nas com unidades eclesiais de base: J . P. RAMALHO. CEBs: nova forma partiripatória do Povo

• 4.0 ENCONTRO NAC IONAL - ITA IC I-SP - 198 1: Comun idades Eclesiais de &se: Igreja. PD\'O oprimido que se organi:a para a libertação (SE DOC. set emb ro 198 1).

RELATÓR IOS DAS CEBs DE: Parâ: Cea rá; Pa ralba; Ba hia: Espirito Sa nt o; C PT-ES: Minas Gerais: Região do Triângulo Mineiro: Es tado d o Rio de Janeiro; Estad o de S. Pa ulo: Paraná: Sta . Ca ta rina; R. G. do S ul. RESPOSTAS AO QUEST IONÁR IO PARA A PREP ARAÇÃO DO ENCONT RO - CE Bs DE : lb itin ga -M oj uPA; Ceará: Pnraiba : Ilha das Flo res-SE: S ta . Rosa-GO: Sta. Amaro-São Paulo; Decálogo da Pas toral de Partid os da Pre lazia d o Ac re e Purus (Não fora m publica dos es· tud os dos perit os).

• J.0 ENCONT RO NAC IONAL -

JOÃO P ESSOA 1978: Com unidades Eclesiais de Base: Igreja, PO\'O que se liberta (SEDOC, ou tubro 1978 e janeiro-feverei ro 1979) RELATÓRIOS DAS CEBs D E: Faze nda Retirad a-Caa pori!- PB; Alha nd ra-PS; Ta nque do Chi'io-Pi lõczi nh os- PB; Movi mento "Enco ntro de lrmàos"- P E; Pa n o da Fol hnSE: Cea rá; Pará; Libcrd ade-Sa nta rém- PA ; Nova Ca nindé-Bragança-PA; Prelazia de Llbrea; S La . Terezinha-Luciarn-MT; Alto Pa rag ua i-MT: Estad o de Goiás: Estad o de S. Paul o; Na. S ra. das Graças -J . GrajaÚ-Sào Paulo; Sta. Marga rida -V ila Re mo-S. Pau lo: Sa nt a Margarid a (Past. Operá ria)-São Paulo ; R. G. d o Sul e Sta. Ca tarin a: Miguel Gustavo-Rio de Janeiro; Mangueira -Ba rra Man saRJ ; Dioceses de Gov. Valada res- MG, h ab ira-MG , Ru y Ba rbosa-BA. S. Mateus-ES e Vi tóri a· Co bra ice-Co nceição da Ba rra-ES: Vila Rubim-Vi tória. ESTUDOS DOS PERITOS : Frei BETO. A educação nas classes populares; Fr. C. BOFF. A influênria polirica das CE&; Fr. L. BOFF, Caracteristicas da Igreja encarnado nas classes subalternas: ?e . E. HOORNAERT, Comunida_des de & se: de: anos de experiência; Pe. J . 8 . LIBANIO. Comunidade Eclesial de Bas,·: pletora de discurso; Fr. C. MESTERS. A brua le\·e. uma no\'a leirura da Biblia; P. A. R. OLIVE IR A. As comunidades na caminhada comra a pobre:a e a opressão: J . P. RA MAL HO. Ecumenismo brotando da base.

PERIÓDICOS (coleções 1975-1982) •

IMPR ENSA LEIGA .. Co mpa nh eiro" São Pau lo ... Em Temp o"'(Bclo Ho ri10ntc), "Folh a de S. Paulo", " Isto é" (São Pa ul o). "J o rnal do Bras il" (Rio de J aneiro). " Movime nt o .. (São Pa ul o). ··o Estado de S. Pa ul o ... ··o Glo bo·· (Rio de J a neiro). " Re· sistência" (Rclém). "Trib un a Ope rá ria ·· (São Paul o ). ··veja" (Silo Paulo).

IMPR ENSA R ELI G IOS A '"A tuali1.ação·· (Belo Ho rizo nte ). .. Bip jornar· (Ar4u1d 10ccse do Rio de J aneiro). "Ca dern os do CEAS"' (Sa lva d o r) . "Ca tolicismo" (Campos-RJ), " Familia Cri stã" (São Paulo). "O São Pa ulo" (Arq uid iocese de São Pa ul o ). ··Ren ovação" ( Regio nal S ul -3 da CN BB. Porto Aleg rc). " Re vista da Arquidi ocese" (Goi3 nia). "Revista Eclesi:is1ica Bra sileira" (Petrópolis). "SEDOC" (Pe trópolis).

Recortes avulsos de mais de uma cc n1 ena dc jorn ais e rcvisias de todo o Brasil e do Ex terior.

e 1.º ENCONT RO NAC IONAL - VITÓRIA - 1975 : Cormmidades Eclesiais de Base: uma Igreja que nasce do povo (SEDOC, maio 1975) R ELA TÓRIOS DAS CE Bs DE: Paróq uias de S. Domingos e Novo Brasil-ES ; lta ra na-ES; Linh ares-ES (CE Bs rurai s); Diocese S. Ma1 cus-ES (CEBs ru rais): Aho do PascoalRecifc; Diocese de Goiás; Ma rroás (Dioc. Cra teüs-CE ): Bairro d o Ran gel-João Pessoa ; Maranhão (CEBs rurais ): Co munid ade da Ressurreição-Vitória ; Volta Redond a . ESTUDOS DOS PER ITOS: Fr. L. BOFF, As eclnio /ogias µresenres nos Comunidades eclesiais de base; Mons. G. CA MBRON. Com unidades Eclesiais de &se; Fr. C. MESTER$, O f uturo do nosso passado. • 2.0 ENCONT RO NAC IONAL - VITÓRIA - 1976: Comunidades Eclesiais de Base: uma Igreja que nasce do povo pelo Espírito de Deus (SEDOC. out ubro e novembro 1976) RELATÓRIOS DAS CE Bs DE: Taca imbó- PE; Diocese de lt a bira-MG: Di ocese de S. Mateus- ES: Diocese de J alesS P; Paróq ui a de Mogci ro (Arq . da Paraíba); Pre lazia d o

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4º~.~ . ----------------------, ~~

Um documento de João Paulo li

~V

...

Já estava no prelo o presente volume, quando foi divulgado o texto integral da carta de João Paulo II aos Bispos da Nicarágua. A carta - datada de 29 de junho e lida nas igrejas daquele país no dia 8 de agosto deste ano deixa ver a preocupação do Pontífice acerca de problemas de natureza muito afim com os que são tratados neste livro. A esse titulo, é útil transcrever aqui o trecho mais candente do momentoso documento: "Dai o absurdo e perigoso que é imaginar, à margem - para não dizer contra - a Igreja construida em torno do Bispo, outra Igreja concebida como 'carismática' e não institucional, 'nova' e não tradicional, alternativa, e, como se preconiza ultimamente, uma Igreja Popular. . Não ignoro que a tal denominação - sinônimo de 'Igreja que nasce do povo' - se pode atribuir uma significação aceitável. Com ela se pretenderia indicar que a Igreja surge quando uma comunidade de pessoas - especialmente de pessoas dispostas, por sua pequenez, humildade e pobreza, à aventura cristã se abre à Boa Nova de Jesus Cristo e começa a vivê-la em comunidade de fé, de amor, de esperança, de oração, de celebração e de participação nos mistérios cristãos, especialmente na Eucaristia. Sabeis, porém, que o documento final da III Conferência do Episcopado Latino-americano em Puebla declarou 'pouco feliz' este nome de 'Igreja Popular' (cfr. n. 0 263). E o fez depois de maduro estudo e reflexão entre Bispos de todo o Continente, consciente que estava de que tal nome encobre, em geral, outra realidade. 'Igreja Popular', em sua acepção mais comum, visível nos escritos de certa corrente teológica, significa uma Igreja que nasce muito mais de supostos

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valores de uma camada da população do que da livre e gratuita iniciativa de Deus. Significa uma Igreja que se esgota na autonomia das chamadas bases, sem referência aos legítimos Pastores ou M estres; ou, ao menos, sobrepondo os 'direitos' das primeiras à autoridade e aos carismas que a fé faz perceber nos segundos. Significa - já que ao termo povo se dá facilmente um conteúdo assinaladamente sociológico e político - Igreja encarnada nas organizações populares, marcada por ideologias, postas ao serviço de suas reivindicações, de seus programas e grupos considerados como não pertencentes ao povo. É fácil perceber - e o nota explicitamente o documento de Puebla - que o conceito de 'Igreja Popular' dificilmente escapa à infiltração de conotações fortem ente ideológicas, na linha de uma certa radicalização política, da luta de classes, da aceitação da violência para a consecução de determinados fins etc. Quando eu mesmo, em meu discurso de inauguração da A ssembléia de Puebla, fiz sérias reservas a respeito da denominação 'Igreja que nasce do povo', tinha em vista os perigos que acabo de recordar. Por isso, sinto agora o dever de repetir, valendo-me de vossa voz, a mesma advertência pastoral, afetuosa e clara. É um apelo aos vossos fiéis, por meio de vós, Uma 'Igreja Popular' oposta à Igreja presidida pelos legítimos Pastores é - do ponto de vista do ensinamento do Senhor e dos Apóstolos no Novo Testamento, bem como do ensinamento antigo e recente do Magistério solene da Igreja - um grave desvio da vontade e do plano de salvação de Jesus Cristo. É, ademais, um inicio de abertura de uma trinca e ruptura daquela unidade que Ele deixou como sinal característico da mesma Igreja, e que Ele quis confiar precisamente aos que 'o Espírito Santo estabeleceu para governar a Igreja de Deus' (Heb . XX, 20)" ("L'Osservatore Romano", 7-8-82).



• Um clérigo de nome Teófilo - narra a lenda medieval - fôra embaldo pelo demônio, a quem se entregara por meio de um pacto escrito. Porém, caindo em si, recorreu à Mie de Deus, que impôs ao Maligno a restituiçl o do documento e a renúncia ao poder que adquirira sobre o infeliz . - No grupo em relevo (tímpano da Catedral de Notre Dame de Paris, século XIII), a Virgem Santíssima protege Teófilo e brande contra o demônio, vencido e apavorado. seu gl6dio cruciforme.


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Nas poéticas margens do rio Araguaia, feitas por Deus para encantar o homem, a luta de classes já derramou sangue...



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